Tecnologia, currículo e projetos - Ministério da Educação
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Maria Elizabeth Bianconcini de Almei<strong>da</strong> 1<br />
Para compreender as contribuições ao ensino e à aprendizagem propicia<strong>da</strong>s pela prática pe<strong>da</strong>gógica com<br />
<strong>projetos</strong>, com o uso de tecnologias, é importante considerar três aspectos fun<strong>da</strong>mentais.<br />
Um deles refere-se à explicitação <strong>da</strong>quilo que se deseja atingir com o projeto e às ações que se pretende realizar<br />
– o registro de intenções, processos em realização e produções. Outro aspecto diz respeito à integração <strong>da</strong>s<br />
tecnologias e mídias, explorando suas características constitutivas, de modo que sejam incorpora<strong>da</strong>s ao desenvolvimento<br />
de ações para agregar efetivos avanços. O terceiro aspecto trata dos conceitos relacionados com distintas<br />
áreas de conhecimento, que são mobilizados no projeto para produzir novos conhecimentos relacionados com a<br />
problemática em estudo. Este texto pretende explorar esses três aspectos, explicitando a importância <strong>da</strong> formação do<br />
professor para que ele tenha condições de desenvolver práticas pe<strong>da</strong>gógicas com <strong>projetos</strong> que favoreçam a<br />
recontextualização do conhecimento na escola e na vi<strong>da</strong> do aluno, a produção colaborativa de representações que<br />
engajam os alunos como aprendizes, construtores de significados. Para enfatizar essas idéias, são comentados<br />
alguns exemplos de práticas de sala de aula em que tecnologias foram articula<strong>da</strong>s a <strong>projetos</strong> para propiciar aos<br />
alunos a aprendizagem significativa, por meio do desenvolvimento de produções com o uso de diferentes mídias.<br />
Mas afinal, o que é projeto?<br />
A idéia de projeto faz parte <strong>da</strong> essência do ser humano consciente de sua condição de incompletude, em<br />
busca incessante de transformar-se para atingir algo desejável e encontrar respostas às suas questões.<br />
Vários pensadores dedicaram-se a aprofun<strong>da</strong>r o conceito de projeto como característica inerente ao ser<br />
humano, que o distingue dos demais seres vivos. Heidegger (1999) coloca o homem em inter-relação com o<br />
mundo no qual ele projeta suas próprias possibili<strong>da</strong>des, e, ao mesmo tempo, participa de sua produção.<br />
Na mesma direção de Heidegger, Sartre (apud Cobra, 2001) acentua a liber<strong>da</strong>de do homem para construir a<br />
própria essência por meio de suas opções, cuja intencionali<strong>da</strong>de leva à produção de <strong>projetos</strong>. O homem não é<br />
concebido a priori; ele é livre para escolher conscientemente seus objetivos, valores, atitudes e <strong>projetos</strong> de vi<strong>da</strong>,<br />
mas essa escolha transcende o indivíduo e engloba to<strong>da</strong> a humani<strong>da</strong>de, adquirindo valor universal. Boutinet<br />
(apud Thurler, 2001, p. 118) acrescenta que a idéia de projeto é inseparável <strong>da</strong> visão e do sentido <strong>da</strong> ação e "supõe<br />
que ninguém aja sem projeto e ninguém deixa de ter projeto".<br />
O homem constitui-se em sua humani<strong>da</strong>de à medi<strong>da</strong> que desenvolve sua capaci<strong>da</strong>de de fazer escolhas e se<br />
lançar ao mundo, transformando-se e transformando-o, em busca de desenvolver <strong>projetos</strong> para atingir metas e<br />
satisfazer desejos pessoais e coletivos a partir de valores históricos, culturalmente situados e socialmente<br />
acor<strong>da</strong>dos (Machado, 2000, p. 2).<br />
Projeto é uma construção própria do ser humano, que se concretiza a partir de uma intencionali<strong>da</strong>de representa<strong>da</strong><br />
por um conjunto de ações que ele antevê como necessárias para executar, a fim de transformar uma<br />
situação problemática em uma situação deseja<strong>da</strong>. A realização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des produz um movimento no sentido<br />
de buscar atingir, no futuro, uma nova situação que respon<strong>da</strong> às suas in<strong>da</strong>gações ou avance no sentido de<br />
melhor compreendê-las. Nesse processo de realização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des, acontecem imprevistos e mu<strong>da</strong>nças<br />
fazem-se necessárias, evidenciando que o projeto traz em seu bojo as idéias de previsão de futuro, abertura para<br />
mu<strong>da</strong>nças, autonomia na toma<strong>da</strong> de decisões e flexibili<strong>da</strong>de.<br />
O projeto distingue-se de conjecturas, porque está em constante comprometimento com ações explicita<strong>da</strong>s intencionalmente<br />
em um plano (esboço ou design) caracterizado pela plastici<strong>da</strong>de, pela flexibili<strong>da</strong>de e pela abertura ao<br />
imprevisível. É carregado de incertezas, ambigüi<strong>da</strong>des, soluções provisórias, variáveis e conteúdos não identificáveis<br />
a priori e emergentes no processo, sendo continuamente revisto, refletido e reelaborado durante sua realização.<br />
O projeto é desenvolvido pelas pessoas que pensam sobre ele e atuam em sua realização. Os autores são<br />
aqueles que participam de todo o desenvolvimento do projeto, concebem e discutem as problemáticas, descrevem<br />
e registram um plano para investigá-las e produzir resultados, desenvolvem as ações e avaliam continuamente se os<br />
resultados que vão sendo obtidos são aceitáveis em termos de satisfazer as intenções deseja<strong>da</strong>s, responder às<br />
perguntas iniciais ou avançar em sua compreensão e até alterar as perguntas iniciais ou levantar novas perguntas.<br />
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