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INFORMAÇÃO INTERNACIONAL - Departamento de Prospectiva e ...

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MINISTÉRIO DO PLANEAMENTO<br />

<strong>INFORMAÇÃO</strong> <strong>INTERNACIONAL</strong><br />

Análise Económica e Política<br />

2000<br />

Volume II<br />

Lisboa<br />

2001


Ministério do Planeamento<br />

<strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Prospectiva</strong><br />

e Planeamento<br />

Directora-Geral<br />

Alda <strong>de</strong> Caetano Carvalho<br />

Subdirectores-Gerais<br />

José Manuel Félix Ribeiro<br />

Manuela Proença<br />

Ficha Técnica<br />

Autor: Direcção <strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> <strong>Prospectiva</strong><br />

Coor<strong>de</strong>nação: José M. Félix Ribeiro<br />

Colaboração: Filipa Silva Abrantes<br />

António Alvarenga<br />

Patrícia Ca<strong>de</strong>iras<br />

Filomena Carvalho<br />

Paulo Soeiro <strong>de</strong> Carvalho<br />

Ana Moncada Costa<br />

Sílvia Martins Dias<br />

João Coutinho Duarte<br />

Carlos Andra<strong>de</strong> Esteves<br />

Ana Lúcia Matos Dias<br />

Rui Nunes<br />

Maria Manuel Ramos<br />

Apoio Gráfico: Rui Trinda<strong>de</strong><br />

Manuscrito terminado em Março <strong>de</strong> 2001<br />

Editor: <strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Prospectiva</strong> e Planeamento<br />

Av. D. Carlos I, 126<br />

1249-073 Lisboa<br />

Fax: (351) 213935208<br />

Telef: (351) 213935200<br />

E-mail: dpp@dpp.pt<br />

Disponível na Internet em www.dpp.pt<br />

Capa: Concepção − PIMC<br />

Impressão − SCARPA<br />

Impressão e Acabamento<br />

Núcleo <strong>de</strong> Informação e Comunicação<br />

ISSN: 0873-1519<br />

Depósito Legal nº 90636/95<br />

Tiragem: 350 exemplares<br />

1ª edição: Abril <strong>de</strong> 2001<br />

Preço: 3 300$00<br />

Distribuição: Núcleo <strong>de</strong> Informação<br />

e Comunicação<br />

As i<strong>de</strong>ias expressas nesta publicação são da exclusiva responsabilida<strong>de</strong> dos respectivos autores, não traduzindo qualquer<br />

posição oficial do <strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Prospectiva</strong> e Planeamento.


NOTA DE APRESENTAÇÃO<br />

A publicação “<strong>INFORMAÇÃO</strong> <strong>INTERNACIONAL</strong>” é um projecto iniciado em 1994, cujo<br />

objectivo principal foi o <strong>de</strong> introduzir uma rotina <strong>de</strong> observação e análise da situação<br />

internacional, nas suas vertentes económica e política, que permitisse suportar activida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> <strong>Prospectiva</strong>, nomeadamente no que se refere à envolvente externa da economia e<br />

socieda<strong>de</strong> portuguesas.<br />

Ao prosseguir este projecto <strong>de</strong> análise periódica da evolução internacional optou-se por darlhe<br />

uma estrutura temática fixa, em que se procuram i<strong>de</strong>ntificar tendências a nível mundial e<br />

europeu mais relevantes. Ao <strong>de</strong>finir essa estrutura procurou encontrar-se um equilíbrio entre<br />

a análise e a informação comentada, procurando sempre ser selectivo.<br />

Os temas da publicação passam a organizar-se em torno das seguintes áreas temáticas:<br />

“As Gran<strong>de</strong>s Economias”<br />

Breve caracterização do “mo<strong>de</strong>lo” socioeconómico das economias <strong>de</strong> mercado ou<br />

em transição; <strong>de</strong>scrição dos modos da sua inserção na economia mundial, com<br />

especial <strong>de</strong>staque para a sua especialização internacional; síntese da evolução<br />

recente e enunciado <strong>de</strong> questões e <strong>de</strong>safios que se lhe colocam a médio prazo;<br />

comparação da sua situação actual e das perspectivas futuras das principais<br />

economias ou <strong>de</strong> macroregiões da economia mundial.<br />

“Economia Internacional”<br />

Análise do comportamento <strong>de</strong> sistemas e fluxos que estruturam o espaço <strong>de</strong><br />

relacionamento internacional entre as economias, nomeadamente no que se refere<br />

ao sistema monetário internacional e à situação cambial, ao comércio internacional,<br />

ao investimento directo e ao investimento <strong>de</strong> carteira, aos mercados <strong>de</strong> capitais, aos<br />

preços das matérias-primas, aos transportes marítimos e fretes, aos movimentos<br />

migratórios internacionais, etc.<br />

“Tendências na Economia Mundial”<br />

Gran<strong>de</strong>s tendências da economia mundial, <strong>de</strong>signadamente no que se refere aos<br />

aspectos <strong>de</strong>mográficos, aos sistemas <strong>de</strong> reformas e <strong>de</strong> proteccção social, à evolução<br />

das tecnologias, à evolução das estruturas produtivas e do emprego nas economias<br />

mais <strong>de</strong>senvolvidas, às alterações na geografia das activida<strong>de</strong>s a nível mundial, às<br />

mudanças potenciais da geoeconomia dos hidrocarbonetos ou às possíveis<br />

evoluções <strong>de</strong> sectores <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>, com especial relevância no médio/longo prazo.


“Horizontes”<br />

Apresentação <strong>de</strong> sínteses <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> prospectiva ou <strong>de</strong> exercícios <strong>de</strong><br />

cenarização realizados por instituições ou autores estrangeiros e <strong>de</strong> interesse pelos<br />

aspectos metodológicos e/ou pelos temas abordados.<br />

“Tecnoeconomia”<br />

Análise integrada <strong>de</strong> tendências na área tecnológica com a dinâmica <strong>de</strong><br />

reestruturação das ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> valor e das estruturas empresariais <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s<br />

económicas e sectores chave na economia mundial e europeia, bem como com o<br />

funcionamento futuro das economias.<br />

“Territórios e Estratégias”<br />

Análise e prospectiva sobre a dinâmica económica <strong>de</strong> territórios ou sobre questões<br />

chave para a valorização diferencial dos territórios, neste caso com <strong>de</strong>staque para as<br />

que se reportam à Europa e à Península Ibérica.<br />

“Eurotendências”<br />

Breves sínteses sobre questões <strong>de</strong> maior actualida<strong>de</strong> económica ou política na<br />

Europa, com <strong>de</strong>staque para a evolução das principais instituições <strong>de</strong> integração,<br />

envolvendo os países da Europa Oci<strong>de</strong>ntal e Central - UE, UEO, NATO - e análise<br />

<strong>de</strong> regiões periféricas da Europa, cuja evolução po<strong>de</strong>rá ter importantes interacções<br />

com os países da Europa Oci<strong>de</strong>ntal e Central (ex: questões dos Balcãs, do Norte <strong>de</strong><br />

África e do Mediterrâneo, etc.).<br />

“Questões Geopolíticas Centrais”<br />

“Em Foco”<br />

Evolução geopolítica e estratégica centrada, nomeadamente num “Arco” que,<br />

partindo do Cáucaso/Ásia Central, passa pelo Médio Oriente e pelo Golfo Pérsico,<br />

pela Ásia do Sul, acompanha a Ásia/Pacífico e termina no noroeste do Pacífico, bem<br />

como as estratégias e os comportamentos internacionais <strong>de</strong> algumas das principais<br />

potências que actuam nos diversos “teatros regionais”, que estruturam esse “Arco", e<br />

ainda a evolução das políticas externas e <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa dos EUA e da Rússia (sem que<br />

esta priorida<strong>de</strong> seja exclusiva).<br />

Informação e, eventualmente, comentários sobre acontecimentos internacionais <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m económica ou política ou temas da actualida<strong>de</strong> seleccionados como os mais<br />

relevantes no período a que se reporta cada número da "<strong>INFORMAÇÃO</strong><br />

<strong>INTERNACIONAL</strong>”.<br />

Estes nove temas continuam a ser analisados, embora repartidos pelos dois<br />

volumes referentes ao ano <strong>de</strong> 2000.


I. AS GRANDES ECONOMIAS<br />

2000 − Volume II<br />

SUMÁRIO<br />

As “Economias Chinesas” (I) – Taiwan. Uma “Economia <strong>de</strong> Silício” 7<br />

II. ECONOMIA <strong>INTERNACIONAL</strong><br />

O Euro e o Dólar – Passado Recente e Futuro Próximo 35<br />

III. EUROTENDÊNCIAS<br />

Os "Envelhecimentos" da População e as suas Consequências na Zona Euro 11 71<br />

O Investimento Directo Internacional nas Economias da Europa Central – Uma Nova<br />

Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Influências Unindo a Europa<br />

A Bélgica e o processo <strong>de</strong> Integração Europeia – <strong>de</strong> um Fe<strong>de</strong>ralismo a Outro? 115<br />

IV HORIZONTES<br />

União Europeia; e se tudo corresse bem? 147<br />

V. TERRITÓRIOS E ESTRATÉGIAS<br />

Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial 199<br />

VI QUESTÕES GEOPOLÍTICAS CENTRAIS<br />

Polónia versus Rússia: do Báltico ao Mar Negro – uma Leitura a partir das Infraestruturas<br />

Energéticas<br />

VII EM FOCO<br />

Acontecimentos Económicos<br />

Irlanda – Crescimento Económico e Factores <strong>de</strong> Sucesso 275<br />

2000 – A Comissão Europeia avalia os Candidatos ao Alargamento 289<br />

A Estratégia <strong>de</strong> Desenvolvimento Industrial na Dinamarca 309<br />

A Índia e os serviços no "Ciberespaço" – Visão <strong>de</strong> um Futuro Possível 325<br />

Acontecimentos Políticos<br />

A OTAN e a <strong>de</strong>fesa Anti-mísseis da Europa 341<br />

Chipre, a Turquia e o Alargamento da União Europeia 343<br />

Comentário<br />

França e Alemanha – tensões a propósito <strong>de</strong> uma ambição comum – a “Europa<br />

potência”?<br />

87<br />

247<br />

355


I<br />

AS GRANDES ECONOMIAS<br />

√ As "Economias Chinesas" (I) − Taiwan: Uma "Economia <strong>de</strong><br />

Silício"


As Gran<strong>de</strong>s Economias<br />

AS "ECONOMIAS CHINESAS" (I) – TAIWAN: UMA ECONOMIA DE SILÍCIO<br />

Ana G. Moncada Costa<br />

1. AS ECONOMIAS CHINESAS – UM BREVE APONTAMENTO INTRODUTÓRIO<br />

Para efeito dos artigos a incluir neste Volume e em volumes posteriores da “Informação<br />

Internacional” consi<strong>de</strong>raram-se sob a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> “Economias Chinesas”, quatro<br />

entida<strong>de</strong>s economicamente distintas (embora duas <strong>de</strong>las politicamente unificadas),<br />

fortemente articuladas por via das relações da “diáspora chinesa”, dos fluxos comerciais, do<br />

investimento directo e da relação <strong>de</strong> todas elas com a economia dos EUA e com o Dólar: a<br />

República Popular da China/Hong Kong, Taiwan e Singapura.<br />

Este conjunto atravessou a crise <strong>de</strong> 1997/98 e a recuperação <strong>de</strong> 1999 do modo que é<br />

ilustrado no Gráfico 1.<br />

%<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

-2<br />

-4<br />

-6<br />

-8<br />

-10<br />

1997<br />

Q1<br />

Gráfico 1<br />

AS "ECONOMIAS CHINESAS" NA CRISE ASIÁTICA<br />

1997<br />

Q2<br />

Indonesia, Coreia,<br />

Malásia, Filipinas e<br />

Tailândia<br />

1997<br />

Q3<br />

1997<br />

Q4<br />

1998<br />

Q1<br />

A crise financeira e cambial <strong>de</strong> 1997/98 permitiu separar claramente na Ásia Pacifico (não<br />

incluindo para este efeito o Japão) dois grupos <strong>de</strong> países:<br />

China<br />

Hong Kong (China), Singapura<br />

e Taiwan (China)<br />

1998<br />

Q2<br />

1998<br />

Q3<br />

1998<br />

Q4<br />

1999<br />

Q1<br />

1999<br />

Q2<br />

1999<br />

Q3


Informação Internacional<br />

8<br />

• as “Economias Chinesas”, que tendo experimentado um abrandamento no<br />

crescimento (no caso <strong>de</strong> Hong Kong, em 1998, este foi mesmo negativo) não<br />

experimentaram crises cambiais e financeiras;<br />

• as cinco economias que experimentaram violentas crises cambiais e financeiras, ou<br />

seja – Coreia do Sul, Tailândia, Malásia, Filipinas e Indonésia.<br />

Por sua vez durante a surpreen<strong>de</strong>nte recuperação verificada em1999, as “Economias<br />

Chinesas” mantiveram o bom comportamento no conjunto, e o outro grupo <strong>de</strong> cinco países<br />

dividiu-se em dois:<br />

• a Coreia do Sul e a Malásia – que tiveram recuperações muito pronunciadas,<br />

arrastadas pela dinâmica das exportações <strong>de</strong> material electrónico e pela melhoria na<br />

situação macro-económica geral;<br />

• a Tailândia, as Filipinas e a Indonésia que tendo participado no movimento geral <strong>de</strong><br />

recuperação, não o fizeram <strong>de</strong> modo tão pronunciado, acumulando graves problemas<br />

por resolver.<br />

Olhando agora para 2000 e 2001 é possível <strong>de</strong>tectar quatro evoluções que não <strong>de</strong>ixarão <strong>de</strong><br />

atingir o conjunto <strong>de</strong>stas economias – o aumento do preço do petróleo; a queda no índice<br />

bolsista que nos EUA melhor representa as empresas <strong>de</strong> alta tecnologia, o Nasdaq; o<br />

abrandamento da economia americana e uma possível quebra no ritmo <strong>de</strong> crescimento da<br />

procura <strong>de</strong> sectores industriais ligados às tecnologias da informação.<br />

Ora segundo o “The Economist”, em “Asia`s Rollercoaster Ri<strong>de</strong>s” publicado em 21 <strong>de</strong><br />

Outubro <strong>de</strong> 2000, estas evoluções e riscos permitem diferenciar as economias da Ásia-<br />

Pacífico (sem incluir o Japão) em três grupos:<br />

• as economias que estão em melhores condições para continuar crescer – a República<br />

Popular da China/Hong Kong e Singapura;<br />

• as economias que permanecerão, muito provavelmente numa situação difícil –<br />

Tailândia, Filipinas e Indonésia;<br />

• as economias que não obstante os seus bons resultados externos nos últimos dois<br />

anos, po<strong>de</strong>m ser afectadas pela evolução do enquadramento externo referido-<br />

Taiwan, Coreia do Sul e Malásia.


As “Economias Chinesas “(I) – Taiwan: uma Economia <strong>de</strong> Silício<br />

AS “ECONOMIAS CHINESAS” NO RANKING MUNDIAL DE COMPETITIVIDADE<br />

O conceito e competitivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com a OCDE, traduz-se no grau em que um país, em<br />

condições <strong>de</strong> economia <strong>de</strong> mercado, produz bens e serviços capazes <strong>de</strong> concorrer no mercado<br />

internacional e em que possa <strong>de</strong> forma continuada manter e expen<strong>de</strong>r o rendimento per capita da<br />

sua população. O World Competitiveness Yearbook avalia e compara <strong>de</strong> que forma os países<br />

fornecem às suas empresas um ambiente que incentive a competitivida<strong>de</strong> doméstica e global das<br />

empresas. Analisa 47 países, os mais importantes para a Economia Internacional, através <strong>de</strong> oito<br />

critérios principais:<br />

Economia Doméstica – Avaliação Macroeconómica;<br />

Internacionalização – Grau <strong>de</strong> Participação no Comércio e Investimento Internacional;<br />

Governo – Avaliação da medida em que as políticas e práticas governamentais levam à<br />

competitivida<strong>de</strong>;<br />

Finanças – Avaliação do Comportamento dos Mercados <strong>de</strong> Capitais e Qualida<strong>de</strong> dos Serviços<br />

Financeiros;<br />

Infra-estruturas – Avaliação da medida em que recursos naturais, transportes e comunicações<br />

são a<strong>de</strong>quados às necessida<strong>de</strong>s das empresas;<br />

Gestão – Avaliação da medida em que as empresas são geridas <strong>de</strong> forma inovadora, rentável e<br />

responsável;<br />

Ciência e Tecnologia – Avaliação da Capacida<strong>de</strong> Cientifica e Tecnológica;<br />

Recursos Humanos – Avaliação da Disponibilida<strong>de</strong> e Qualificações dos Recursos Humanos.<br />

Tal como se po<strong>de</strong> verificar pela síntese das posições ocupadas pelas quatro economias no<br />

“ranking” geral e por cada um dos oito critérios (vd. Figura 1) se há alguns <strong>de</strong>stes que aproximam<br />

as “Economias Chinesas”, como inquestionavelmente acontece com o Governo e os Recursos<br />

Humanos, outros há que não são coinci<strong>de</strong>ntes. Assim:<br />

• Singapura e Hong Kong apresentam uma boa posição em termos <strong>de</strong> Internacionalização –<br />

2º lugar para Singapura e 9º para a região autónoma (?) <strong>de</strong> Hong Kong – e <strong>de</strong> Finanças –<br />

11ª para a primeira e 9ª para a segunda; o que significa que ambas as economias têm uma<br />

participação crescente no Comércio e no Investimento Internacionais, apresentando<br />

Balanças <strong>de</strong> Transações Correntes exce<strong>de</strong>ntárias e que apresentam sistemas bancários e<br />

financeiros saudáveis e mercados <strong>de</strong> capitais activos, sendo ambas importantes praças<br />

financeiras;.<br />

• Singapura e Taiwan apresentam índices elevados no critério <strong>de</strong> Ciência e Tecnologia (9ª<br />

posição para o primeiro e 12ª para o segundo), traduzindo o grau <strong>de</strong> sofisticação tecnológica<br />

já atingido pelas suas economias;.<br />

• República Popular da China apresenta uma melhor posição relativamente ao Critério da<br />

Economia Doméstica – em gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>vido à consi<strong>de</strong>ração do ritmo do seu<br />

crescimento.<br />

9


Informação Internacional<br />

10<br />

Figura 1<br />

AS "ECONOMIAS CHINESAS" NO RANKING MUNDIAL DA COMPETITIVIDADE<br />

RANKING GERAL PONTOS FORTES COMUNS<br />

SINGAPURA 2<br />

HONG-KONG 14<br />

TAIWAN 22<br />

R.P. CHINA 31<br />

PONTOS FRACOS COMUNS PONTOS NÃO COMUNS<br />

- ECONOMIA DOMÉSTICA<br />

(excepto na República Popular<br />

da China que tem vindo a<br />

melhorar neste critério);<br />

- INFRA-ESTRUTURAS<br />

(excepto em Singapura)<br />

Procurando ilustrar um pouco mais os riscos que po<strong>de</strong>m ocorrer nessas economias, tendo<br />

em conta a sua vulnerabilida<strong>de</strong> potencial às evoluções externas e ao grau <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s na<br />

resolução <strong>de</strong> problemas internos, elaborou-se a listagem seguinte:<br />

República Popular da China (RPC)<br />

- GOVERNO<br />

- RECURSOS HUMANOS<br />

- FINANÇAS – Forte em Singapura<br />

e Hong Kong. Fraco na<br />

República Popular da China e<br />

médio em Taiwan;<br />

- <strong>INTERNACIONAL</strong>IZAÇÃO – Forte<br />

em Hong Kong e Singapura.<br />

Fraco em Taiwan e República<br />

Popular da China;<br />

- CIÊNCIA E TECNOLOGIA – Forte<br />

em Singapura e Taiwan. Fraco<br />

na República Popular da China<br />

• vulnerabilida<strong>de</strong> a um abrandamento da economia americana, seu principal cliente<br />

externo;<br />

• impacto reduzido <strong>de</strong> uma eventual quebra temporária no crescimento da procura<br />

internacional <strong>de</strong> produtos electrónicos;<br />

• possível redução dos exce<strong>de</strong>ntes na BTC <strong>de</strong>vido à maior abertura nas importações e<br />

a um aumento do preço do petróleo;<br />

• imperiosa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização das reformas no sector público empresarial, no<br />

sector financeiro e na abertura <strong>de</strong> sectores protegidos, na sequência da a<strong>de</strong>são à<br />

OMC.


Hong Kong/República Popular da China<br />

As “Economias Chinesas “(I) – Taiwan: uma Economia <strong>de</strong> Silício<br />

• economia relativamente protegida face a um eventual abrandamento da economia<br />

dos EUA <strong>de</strong>vido à estreita relação com a República Popular da China, consi<strong>de</strong>rada a<br />

economia com maior potencial <strong>de</strong> crescimento na zona da Ásia- Pacífico;<br />

• impacto reduzido <strong>de</strong> uma eventual quebra temporária na procura internacional <strong>de</strong><br />

produtos electrónicos;<br />

• vantagens para o seu papel <strong>de</strong> centro financeiro e <strong>de</strong> foco do investimento imobiliário<br />

na Ásia no caso <strong>de</strong> se verificar uma <strong>de</strong>preciação do dólar e uma redução das taxas<br />

<strong>de</strong> juro a nível mundial;<br />

• benefício, enquanto centro financeiro, com uma eventual “fuga para activos <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong>” por parte dos investidores da região asiática;<br />

• papel fundamental da manutenção do “currency board” com o dólar e da estabilida<strong>de</strong><br />

no estatuto político <strong>de</strong> autonomia no seio da República Popular da China, na<br />

manutenção da confiança dos investidores.<br />

Singapura<br />

• afectado por uma eventual quebra temporária na procura internacional <strong>de</strong> produtos<br />

electrónicos e pelo aumento do preço do petróleo dada a tripla natureza da sua<br />

economia- pólo logístico e <strong>de</strong> telecomunicações; pólo exportador <strong>de</strong> produtos<br />

baseados nas tecnologias <strong>de</strong> informação e plataforma <strong>de</strong> refinação <strong>de</strong> petróleos e<br />

petroquímica;<br />

• beneficio enquanto centro financeiro <strong>de</strong> uma eventual redução das taxas <strong>de</strong> juro a<br />

nível internacional;<br />

• situação reforçada pelo aproveitamento da crise <strong>de</strong> 1997/8 para proce<strong>de</strong>r a reformas<br />

financeiras e das empresas controladas pelo Estado;<br />

• importância <strong>de</strong> um bom clima bolsista para facilitar a colocação no público <strong>de</strong> parte<br />

dos blocos <strong>de</strong> acções <strong>de</strong>tidos pelo Estado.<br />

Taiwan<br />

• mercado bolsista fortemente influenciado pelo comportamento do Nasdaq, no duplo<br />

sentido da importância e da valorização astronómica atingida por empresas do sector<br />

das tecnologias <strong>de</strong> informação e do comportamento <strong>de</strong> investidores externos que<br />

po<strong>de</strong>rão retirar da bolsa local para compensar perdas verificadas com posições<br />

<strong>de</strong>tidas em empresas do Nasdaq;<br />

• economia vulnerável a uma eventual quebra temporária na procura internacional <strong>de</strong><br />

produtos electrónicos e a um abrandamento significativo da economia dos EUA;<br />

• riscos <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> “crédito mal parado” no sistema bancário, embora os baixos<br />

níveis <strong>de</strong> partida não façam prever a ocorrência <strong>de</strong> situações críticas;<br />

11


Informação Internacional<br />

12<br />

• economia e mercado bolsista afectados por um eventual agravamento nas relações<br />

com a República Popular da China e/ou por uma crise política interna.<br />

Coreia do Sul<br />

• economia vulnerável a uma eventual quebra temporária no comércio internacional <strong>de</strong><br />

produtos electrónicos e a um abrandamento da economia dos EUA, com<br />

consequências imediatas para as exportações sul-coreanas;<br />

• mercado bolsista influenciado pelo comportamento do Nasdaq, como acontece em<br />

Taiwan;<br />

• vulnerabilida<strong>de</strong> ao aumento dos preços do petróleo, que conjuntamente com uma<br />

eventual quebra nas exportações <strong>de</strong>terminaria a passagem <strong>de</strong> exce<strong>de</strong>nte para défice<br />

na BTC;<br />

• eventuais dificulda<strong>de</strong>s no refinanciamento <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 70 mil milhões <strong>de</strong> dólares <strong>de</strong><br />

obrigações <strong>de</strong> empresas, a realizar até ao final <strong>de</strong> 2001;<br />

• riscos no sistema financeiro em consequência da situação dos gran<strong>de</strong>s grupos<br />

empresariais (“chaebol”) cujo processo <strong>de</strong> reestruturação tem vindo a ser difícil.<br />

Malásia<br />

• economia com crescimento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das exportações e por isso vulnerável a uma<br />

eventual quebra temporária no comércio internacional <strong>de</strong> produtos electrónicos e a<br />

um abrandamento da economia dos EUA, com consequências imediatas para as<br />

exportações;<br />

• benefício, enquanto país exportador, com o aumento dos preços do petróleo;<br />

• eventual impacto <strong>de</strong> uma quebra <strong>de</strong> crescimento e <strong>de</strong> crise no mercado bolsista sobre<br />

o sistema financeiro, não obstante as melhorias verificadas na situação do sistema<br />

bancário graças à criação <strong>de</strong> duas agências <strong>de</strong>stinadas a promover uma rápida<br />

recapitalização dos bancos e a ajudar a reestruturar os créditos <strong>de</strong> cobrança<br />

duvidosa;<br />

• margem para atrair investimento externo se abandonar os controlos estritos <strong>de</strong> capital<br />

ainda existentes.<br />

Tailândia<br />

• economia fortemente atingida pelo aumento do preço do petróleo;<br />

• menor vulnerabilida<strong>de</strong> a eventual quebra na procura internacional <strong>de</strong> produtos<br />

electrónicos do que noutras economias da região;<br />

• fragilida<strong>de</strong> a choques externos <strong>de</strong>vido a atrasos na realização <strong>de</strong> reformas no sistema<br />

bancário e <strong>de</strong>moras na venda <strong>de</strong> activos empresariais <strong>de</strong>tidos pelo Estado;<br />

• incertezas políticas com impacto na direcção e rapi<strong>de</strong>z futura das reformas<br />

estruturais.


Filipinas<br />

As “Economias Chinesas “(I) – Taiwan: uma Economia <strong>de</strong> Silício<br />

• impacto do aumento do preço do petróleo sobre as contas externas;<br />

• economia vulnerável a um eventual abrandamento da economia dos EUA;<br />

• riscos <strong>de</strong> agravamento das contas externas, acentuando a perda <strong>de</strong> valor da moeda<br />

local;<br />

• não obstante o país ter sido menos afectado pela crise <strong>de</strong> 1997/8 do que os seus<br />

parceiros da ASEAN (com exclusão <strong>de</strong> Singapura),actualmente acumulam-se sinais<br />

preocupantes <strong>de</strong> má governação económica que tornam a economia mais vulnerável<br />

a mudanças externas (vd. o crescimento explosivo do défice orçamental ou a queda<br />

no valor da moeda local).<br />

Indonésia<br />

• benefício, enquanto país exportador, com o aumento dos preços do petróleo;<br />

• forte incerteza política e dificulda<strong>de</strong>s na realização <strong>de</strong> reformas estruturais que<br />

permitissem criar condições para crescimento mais rápido, sem o qual os problemas<br />

sociais e as questões relacionadas com a partilha territorial da <strong>de</strong>spesa do Estado se<br />

ten<strong>de</strong>rão a agravar;<br />

A diferenciação das economias da região, face a mudanças no enquadramento externo, foi<br />

também analisada num estudo <strong>de</strong> uma instituição financeira que construiu um “índice <strong>de</strong><br />

resistência a choques externos das Economias da Ásia” ilustrado no Gráfico 2, da qual se<br />

<strong>de</strong>staca a posição muito favorável das “economias chinesas”, embora com Taiwan menos<br />

bem classificado que as restantes; as dificulda<strong>de</strong>s previsíveis <strong>de</strong> três das economias da<br />

ASEAN – Tailândia, Filipinas e Indonésia; e uma avaliação mais positiva das perspectivas<br />

da Coreia do Sul.<br />

Gráfico 2<br />

ÍNDICE DE RESISTÊNCIA A CHOQUES EXTERNOS<br />

DAS ECONOMIAS DA ÁSIA<br />

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2<br />

Singapura<br />

Coreia do Sul<br />

Hong Kong<br />

China<br />

Taiwan<br />

Malásia<br />

Tailândia<br />

Indonésia<br />

Filipinas<br />

13


Informação Internacional<br />

14<br />

TAIWAN EM FICHA<br />

Área 36.000 Km 2 População (estimativa 2000): 22,1 milhões<br />

Taxa <strong>de</strong> Câmbio média 1999: 1 USD=32,25 T$<br />

3 Out 2000: 1 USD=31,27 T$<br />

População das Principais Cida<strong>de</strong>s (fim <strong>de</strong> 1997)<br />

Taipei 2,6 milhões<br />

Idiomas Mandarim, Taiwanês, Hakka Kaohsiung 1,4 milhões<br />

Moeda Dólar <strong>de</strong> Taiwan (T$) Taichung 0,9 milhões<br />

Sumário Económico<br />

1999 2000 (previsões) 2001 (previsões)<br />

PIB (mil milhões USD) 288,6 325,2 362,0<br />

Taxa real <strong>de</strong> crescimento PIB (%) 5,42 6,57 6,48<br />

Pib per capita (USD) 13.147 14.700 16.200<br />

Inflação(% mudança) 0,2 1,6 2,2<br />

Produção Industrial (% mudança) 4,7 6,1 5,7<br />

Taxa <strong>de</strong>semprego (%) 2,9 2,8 2,7<br />

Oferta <strong>de</strong> Moeda M2 (% mudança) 8,3 9,0 10,2<br />

Reservas externas (mil milhões USD) 106,2 110,4 116,0<br />

Orçamento Governamental (% PIB) -5,9 -4,8 -4,3<br />

Dívida Externa (mil milhões USD) 31,5 39,2 46,6<br />

BTC (mil milhões USD) 5,8 3,6 2,5<br />

Exportações mercadorias (mil milhões USD) 121,1 135,4 151,1<br />

Importações mercadorias (mil milhões USD) 106,1 128,5 145,0<br />

Balança Comercial (mil milhões USD) 15,0 6,9 6,1<br />

Fonte: EIU; Direcção Geral <strong>de</strong> Orçamento, Contabilida<strong>de</strong> e Estatística<br />

-6,50%<br />

Principais Parceiros Comerciais, 1999<br />

9,80%<br />

-27,60%<br />

21,40%<br />

Constituição Política<br />

24,50%<br />

Coreia do Sul Japão Hong Kong EUA<br />

Importações Exportações<br />

-17,80%<br />

ESTADO Democracia Representativa<br />

Po<strong>de</strong>r Executivo O presi<strong>de</strong>nte nomeia o Primeiro Ministro que li<strong>de</strong>ra o “Executive Yuan”.<br />

Po<strong>de</strong>r Legislativo O “Legislative Yuan”, com 225 mandatos, transformou-se hoje num fórum <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>bate e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> políticas. Recentemente foi-lhe concedido o<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> iniciar o processo <strong>de</strong> emendas constitucionais.<br />

Eleições Nacionais Dezembro <strong>de</strong> 1998 – administração local e “Legislative Yuan”; Março <strong>de</strong> 2000<br />

– presi<strong>de</strong>nciais; próximas eleições legislativas em 2001 e presi<strong>de</strong>nciais em<br />

2004.<br />

Chefe <strong>de</strong> "Estado" Presi<strong>de</strong>nte (Chen Shui-bian, eleito em 2000 por 4 anos).


TAIWAN: UMA ECONOMIA DE SÍLICIO<br />

1. RECORDANDO A CRISE ASIÁTICA 1997/8<br />

As “Economias Chinesas “(I) – Taiwan: uma Economia <strong>de</strong> Silício<br />

No seu texto “What we Have Learned from the Asian Financial Crisis” Peter C.Y. Chow<br />

i<strong>de</strong>ntifica seis características que foram comuns às economias asiáticas que sofreram<br />

maiores danos com a crise financeira e cambial <strong>de</strong> 1997/8:<br />

Desenvolvimento Desigual entre os Sectores Financeiro e Real da Economia<br />

Nas economias emergentes e em industrialização rápida da Ásia Oriental o crescimento e<br />

robustez do sector real – medido através do comércio externo, do <strong>de</strong>senvolvimento industrial<br />

e do nível <strong>de</strong> produção – foi <strong>de</strong> longe superior ao que se verificou nos respectivos sectores<br />

financeiros, em que, em meados dos anos 80, se <strong>de</strong>stacavam instituições bancárias frágeis,<br />

mercados <strong>de</strong> capitais pouco profundos e pouco sofisticados, activida<strong>de</strong>s ultra<br />

regulamentadas; a herança <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sigual tornou-se mais evi<strong>de</strong>nte com a<br />

integração <strong>de</strong>sses sectores com os mais eficientes sectores financeiros das economias<br />

<strong>de</strong>senvolvidas que se realizou graças ao processo <strong>de</strong> globalização do final dos anos 80 e da<br />

década <strong>de</strong> 90; a maioria das economias da Ásia Oriental experimentaram um crescimento<br />

económico forte entre 1991 e 1997, evi<strong>de</strong>nciando altas taxas <strong>de</strong> poupança e <strong>de</strong><br />

investimento, inflação mo<strong>de</strong>rada e défices orçamentais e comerciais, que quando existiram,<br />

assumiram proporções toleráveis; mas por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong>stes indicadores macro económicos<br />

favoráveis acumularam-se problemas crescentes <strong>de</strong> dívida externa, ausência <strong>de</strong> gestão do<br />

risco na exposição a créditos concedidos na maior parte das vezes em dólares americanos,<br />

sobre – investimento, excesso <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>, alimentada nalguns casos por “capitalismos<br />

clientelares” e noutros pelo crescimento sem limites <strong>de</strong> conglomerados gigantescos.<br />

Ausência <strong>de</strong> Sistemas Bancários sólidos e <strong>de</strong> Supervisão <strong>de</strong> Qualida<strong>de</strong><br />

A maior parte dos países asiáticos em <strong>de</strong>senvolvimento integraram os seus mercados <strong>de</strong><br />

capitais nascentes com os das economias <strong>de</strong>senvolvidas, logo <strong>de</strong>pois do Uruguay Round<br />

(iniciado em 1986 e concluído em 1992); ora vários <strong>de</strong>sses países proce<strong>de</strong>ram à<br />

liberalização dos fluxos externos <strong>de</strong> capital sem terem assegurado previamente a<br />

capacida<strong>de</strong> das autorida<strong>de</strong>s monetárias controlarem a oferta <strong>de</strong> moeda e sem garantirem a<br />

soli<strong>de</strong>z dos seus sistemas bancários; além <strong>de</strong> que, enquanto liberalizavam os fluxos <strong>de</strong><br />

capital com o exterior, os governos mantiveram uma influência implícita ou explicita sobre a<br />

orientação <strong>de</strong> concessão <strong>de</strong> crédito interno, contribuindo para distorções na eficiência do<br />

capital e enviando um sinal errado aos credores externos, com a garantia implícita aos<br />

créditos concedidos (fazendo emergir um síndroma <strong>de</strong> “moral hazard” bem antes da crise se<br />

ter <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado).<br />

Erros na Gestão das Taxas <strong>de</strong> Câmbio e Inversão dos Fluxos <strong>de</strong> Capitais<br />

Se é verda<strong>de</strong> que as economias em <strong>de</strong>senvolvimento e emergência da Ásia Oriental<br />

acumularam fragilida<strong>de</strong>s ao nível financeiro, durante o longo período <strong>de</strong> expansão <strong>de</strong> 1991 a<br />

15


Informação Internacional<br />

1997, tal só se tornou aparente graças ao funcionamento dos regimes <strong>de</strong> câmbio escolhidos<br />

pela maioria <strong>de</strong>ssas economias e que ligavam as suas moedas, <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong> outra,<br />

ao dólar dos EUA, mesmo <strong>de</strong>pois da <strong>de</strong>svalorização das moedas chinesas e mexicana em<br />

1994 e da súbita valorização do dólar a partir <strong>de</strong> meados <strong>de</strong> 1995. A gestão <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>quada<br />

das taxas <strong>de</strong> câmbio sob a forma <strong>de</strong> “pegged exchange rates” traduziu-se em dois<br />

problemas principais:<br />

16<br />

• por um lado tornou-se evi<strong>de</strong>nte a incompatibilida<strong>de</strong> entre estes regimes e a<br />

autonomia das políticas monetárias conduzidas com o objectivo <strong>de</strong> manter equilíbrios<br />

macro-económicos, quando existe liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> capitais (<strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

introduzida a convertibilida<strong>de</strong> das moedas nas contas <strong>de</strong> capital);<br />

• por outro lado, o uso prolongado <strong>de</strong>stes regimes, não foi acompanhado pelas<br />

autorida<strong>de</strong>s com actuações pru<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> “hedging” e <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> risco, quando<br />

houve recurso em larga escala pelo sector privado, à obtenção <strong>de</strong> empréstimos<br />

externos em moedas externas.<br />

Nestas circunstâncias os países com ratios <strong>de</strong> serviço da dívida elevados, amplos défices<br />

nas balanças <strong>de</strong> transacções correntes e mais baixos ratios <strong>de</strong> reservas cambiais em<br />

proporção do PIB, foram particularmente atingidos pela crise <strong>de</strong> 1997/8.<br />

Dados os <strong>de</strong>feitos estruturais associados aos regimes cambiais que envolveram sistemas<br />

financeiros liberalizados, em termos <strong>de</strong> fluxos externos <strong>de</strong> capitais, as mudanças na taxa <strong>de</strong><br />

câmbio entre o dólar e o yen nos anos 90 criaram dificulda<strong>de</strong>s a estes sistemas. Assim:<br />

• entre 1990 e 1995 assistiu-se à <strong>de</strong>preciação das taxas <strong>de</strong> câmbio real efectivas dos<br />

países que tinham ligado as suas moedas ao dólar dos EUA, o que facilitou a<br />

obtenção <strong>de</strong> crescimentos das exportações na escala dos dois dígitos, tendo estes<br />

“booms” com base na dinâmica exportadora sido estimulados pela entrada em larga<br />

escala <strong>de</strong> investimento directo estrangeiro (IDE) e, posteriormente <strong>de</strong> “investimentos<br />

<strong>de</strong> carteira”; no contexto <strong>de</strong> elevadas taxas <strong>de</strong> poupança internas e <strong>de</strong> reduzida<br />

difusão do crédito ao consumo, nessas economias os capitais externos canalizados<br />

através dos sectores bancários internos acabaram-se por dirigir para dois tipos<br />

específicos <strong>de</strong> projectos: os que eram promovidos por empresários ligados aos<br />

governos (no caso <strong>de</strong> “capitalismos clientelares” como o da Indonésia) ou pelos<br />

gran<strong>de</strong>s conglomerados que beneficiaram do apoio do governo (caso dos “chaebols”<br />

da Coreia do sul) e os que se dirigiram ao sector imobiliário e a outros sectores mais<br />

protegidos da concorrência internacional (como no caso da Tailândia), com claros<br />

objectivos especulativos; no período <strong>de</strong> 1990 a 1995, como as taxas <strong>de</strong> juro nestas<br />

economias eram superiores às praticados em países <strong>de</strong>senvolvidos, e em especial no<br />

Japão, os bancos <strong>de</strong> vários dos países asiáticos consi<strong>de</strong>raram lucrativo conce<strong>de</strong>r<br />

empréstimos internos a partir <strong>de</strong> créditos obtidos no exterior, nomeadamente junto<br />

dos bancos japoneses, o que contribuiu para o forte crescimento das entradas <strong>de</strong><br />

capitais a curto prazo nessa economias;<br />

• após a valorização rápida do dólar face ao yen, <strong>de</strong> 1996 a 1998, a situação mudou <strong>de</strong><br />

maneira dramática, <strong>de</strong>terminando uma saída <strong>de</strong> capitais em larga escala em 1997<br />

(basta recordar que em 1996 as entradas liquidas <strong>de</strong> capitais na Indonésia, Coreia do


As “Economias Chinesas “(I) – Taiwan: uma Economia <strong>de</strong> Silício<br />

sul, Malásia, Filipinas e Tailândia atingiram os 95 biliões <strong>de</strong> dólares, representando<br />

quase um terço do total dos fluxos <strong>de</strong> capitais que se dirigiram para as economias<br />

emergentes, enquanto em 1997 se assistiu a saídas liquidas <strong>de</strong> capitais no mesmo<br />

conjunto <strong>de</strong> cinco economias, no montante <strong>de</strong> 12 biliões <strong>de</strong> dólares, sendo que a<br />

inversão nos fluxos <strong>de</strong> capital representou aproximadamente, 10 a 12% do PIB<br />

<strong>de</strong>ssas economias); a perda <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> externa, acompanhando um<br />

abrandamento no crescimento da procura internacional <strong>de</strong> produtos electrónicos,<br />

levou ao aumento dos défices nas balanças <strong>de</strong> comerciais, tendo os governos optado<br />

por manter a todo o custo a ligação das suas moedas ao dólar, por razões <strong>de</strong> controlo<br />

inflacionista interno e por receio <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> confiança dos investidores e credores<br />

externos; mas tal provocou uma redução rápida das reservas cambiais, que revelou a<br />

estes a real dimensão dos problemas, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando a sua fuga, o que acabou por<br />

forçar as autorida<strong>de</strong>s a <strong>de</strong>svalorizações bruscas das respectivas moedas.<br />

Impacto dos Padrões Regionais <strong>de</strong> Comércio<br />

Somando-se aos efeitos <strong>de</strong> contágio quer das flutuações <strong>de</strong> taxas <strong>de</strong> câmbios, quer dos<br />

fluxos <strong>de</strong> capitais, dois aspectos do padrão regional <strong>de</strong> trocas comerciais merecem ser<br />

referidos como amplificadores das crises <strong>de</strong> 1997.<br />

O reforço verificado nas trocas intra-regionais da Ásia Pacífico (em consequência da<br />

evolução da divisão <strong>de</strong> trabalho na “ca<strong>de</strong>ia exportadora” da região) e que se traduziu em o<br />

Japão, a Coreia do Sul, Taiwan e Singapura exportarem bens <strong>de</strong> capital e bens intermédios<br />

semiacabados para as economias menos <strong>de</strong>senvolvidas da ASEAN; os bens intermédios<br />

são aqui processados e montados antes <strong>de</strong> serem exportados como bens finais para os<br />

mercados consumidores; o comércio intra-asiático aumentou o seu peso nas exportações<br />

mundiais <strong>de</strong> 31,4% em 1989 para 40,4 % em 1996, não obstante o forte crescimento <strong>de</strong><br />

exportações para outras zonas do mundo; neste contexto a volatilida<strong>de</strong> das taxas <strong>de</strong> câmbio<br />

numa dada economia da região po<strong>de</strong> causar uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> reacções extensiva a toda a<br />

região, sob a forma <strong>de</strong> flutuações nas taxas <strong>de</strong> câmbio.<br />

A forte concentração nos EUA das exportações <strong>de</strong> bens acabados <strong>de</strong>stinadas às economias<br />

<strong>de</strong>senvolvidas, acompanhada por fortes similarida<strong>de</strong>s nos produtos exportados pelas<br />

economias da região e pelos elevados coeficientes <strong>de</strong> correlação das suas “vantagens<br />

comparativas reveladas”; sendo assim, como exportavam produtos similares para o mesmo<br />

gran<strong>de</strong> mercado consumidor, uma súbita e brusca <strong>de</strong>svalorização da moeda numa das<br />

economias da região induz as outras a fazer o mesmo para manterem a competitivida<strong>de</strong>.<br />

Crédito, Capitalismo Clientelar e Conglomerados<br />

A institucionalização <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> “capitalismo clientelar” na Indonésia e <strong>de</strong> uma<br />

estrutura industrial baseada em gran<strong>de</strong>s conglomerados, para além <strong>de</strong> ter dificultado as<br />

reformas financeiras, teria levado as fontes externas <strong>de</strong> capital a subestimar os riscos<br />

potenciais ao lidarem com este tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>vedores, implicitamente protegidos pelos<br />

respectivos governos; tal teria sido o caso dos bancos japoneses e europeus, e em menor<br />

escala dos norte- americanos, que consi<strong>de</strong>raram que, em caso <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s, os governos<br />

acorreriam para “salvar” esses <strong>de</strong>vedores.<br />

17


Informação Internacional<br />

Fluxos <strong>de</strong> Capitais Especulativos<br />

As flutuações nas taxas <strong>de</strong> câmbio yen − dólar, as variações associadas das taxas <strong>de</strong> juro<br />

<strong>de</strong> curto prazo no Japão e no resto da OCDE, bem como a integração dos mercados<br />

financeiros à escala global, provocaram súbitos e intensos fluxos <strong>de</strong> entrada e saída <strong>de</strong><br />

fundos na região da Ásia Oriental, para fins <strong>de</strong> arbitragem, que foram <strong>de</strong>masiado gran<strong>de</strong>s e<br />

rápidos para po<strong>de</strong>rem ter sido travados. Com efeito os fluxos <strong>de</strong> capitais especulativos, num<br />

mundo <strong>de</strong> livre circulação <strong>de</strong> capitais po<strong>de</strong> afectar economias saudáveis e com sectores<br />

fortes e competitivos. Foi assim que Hong Kong e Taiwan , não obstante a soli<strong>de</strong>z dos seus<br />

sectores “reais” foram vulneráveis a fluxos especulativos <strong>de</strong> capitais que se apresentaram<br />

com muito maior rapi<strong>de</strong>z e com volumes muito superiores aos fluxos <strong>de</strong> comércio.<br />

Em resumo: a crise asiática <strong>de</strong> 1997/8 não se ficou a <strong>de</strong>ver a um sobre-consumo, como<br />

aconteceu em 1994 com a economia do o México, mas a um sobre-investimento financiado<br />

em excesso por crédito externo, sobretudo a curto prazo, e canalizado em parte para<br />

projectos <strong>de</strong> baixa qualida<strong>de</strong>.<br />

2. O COMPORTAMENTO DE TAIWAN DURANTE A CRISE ASIÁTICA E A RETOMA DE<br />

1999/2000<br />

No auge da crise asiática, a soli<strong>de</strong>z dos fundamentos da economia <strong>de</strong> Taiwan permitiu<br />

erguer como que uma barreira <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa contra o contágio vindo das economias asiáticas<br />

mais atingidas pela crise e neles se <strong>de</strong>stacaram: o nível muito reduzido da dívida externa<br />

(apenas 100 milhões <strong>de</strong> USD em 1997); as reservas cambiais abundantes (86 mil milhões<br />

<strong>de</strong> USD em 1997, as terceiras mais importantes do mundo a seguir às do Japão e da<br />

República Popular da China) e a obtenção sustentada <strong>de</strong> exce<strong>de</strong>ntes na balança <strong>de</strong><br />

transacções correntes. Não obstante o crescimento abrandou em 1998 para 4,7% − o valor<br />

mais baixo dos quinze anos anteriores.<br />

Ao procurar explicar o que po<strong>de</strong>ria ter contribuído para o comportamento diferenciado <strong>de</strong><br />

Taiwan face a outros países asiáticos fortemente atingidos pela crise, vários factores têm<br />

sido referidos:<br />

18<br />

• a economia <strong>de</strong> Taiwan experimentara durante a década <strong>de</strong> 90 uma vigorosa<br />

transformação estrutural que lhe permitiu evoluir para produções exportadas mais<br />

sofisticadas e localizadas em segmentos com forte procura nas economias<br />

<strong>de</strong>senvolvidas, enquanto transferia para o Su<strong>de</strong>ste asiático e para a República<br />

Popular da China produções mais trabalho intensivas e banalizadas; <strong>de</strong>ste modo a<br />

sua competitivida<strong>de</strong> não sofreu com a concorrência acrescida dos produtos chineses<br />

após a forte <strong>de</strong>svalorização do renmimbi em 1994 e po<strong>de</strong> beneficiar com o dinamismo<br />

da procura dos EUA no “hardware” electrónico;<br />

• a inserção geoeconómica <strong>de</strong> Taiwan facilitou-lhe relações com as duas economias<br />

que melhor se comportaram durante a segunda meta<strong>de</strong> da década no espaço do<br />

Pacífico – os EUA e a China –os EUA foram o mercado fundamental para sofisticação<br />

da economia <strong>de</strong> Taiwan e a China foi uma base <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocalização para os seus<br />

sectores tradicionais.


As “Economias Chinesas “(I) – Taiwan: uma Economia <strong>de</strong> Silício<br />

• a economia <strong>de</strong> Taiwan realizou a sua transformação estrutural mantendo a activida<strong>de</strong><br />

industrial baseada em PME muito dinâmicas e fortemente especializadas, que foram<br />

estabelecendo múltiplas relações <strong>de</strong> fornecimento em competição com as maiores<br />

empresas e formando re<strong>de</strong>s em torno dos produtos chave em que a economia <strong>de</strong><br />

Taiwan se foi especializando internacionalmente; tal configuração <strong>de</strong>u origem a um<br />

tecido industrial flexível, e pelo menos na opinião <strong>de</strong> alguns autores, mais capaz <strong>de</strong><br />

suportar flutuações financeiras do que um tecido baseado em gran<strong>de</strong>s<br />

conglomerados que se endividaram maciçamente para realizarem a sua<br />

diversificação rápida, como aconteceu na Coreia do Sul;<br />

• a economia <strong>de</strong> Taiwan realizou uma transformação estrutural mantendo relativamente<br />

estável o nível do investimento, que se situou em torno dos 25% do PIB, em vez <strong>de</strong><br />

ter sido atingida por “febres <strong>de</strong> investimento” na fase final do “boom” asiático, que<br />

nalguns países que sofreram mais intensamente com a crise, elevaram esses níveis<br />

para os 30 e 40% do PIB, gerando capacida<strong>de</strong>s em excesso e má alocação maciça<br />

<strong>de</strong> capitais;<br />

• a economia <strong>de</strong> Taiwan experimentara na década <strong>de</strong> 90 uma profunda transformação<br />

do seu sistema financeiro interno, no sentido da passagem para um sistema baseado<br />

no mercado <strong>de</strong> capitais e não na intermediação bancária, e <strong>de</strong> um sistema com um<br />

sector bancário com forte peso do sector do Estado para um com a banca privatizada<br />

e com restrições ao crédito (por exemplo a Taiwan Banking Law estabelecia um limite<br />

máximo <strong>de</strong> 20% para a alocação <strong>de</strong> crédito bancário ao sector imobiliário e às<br />

transacções no mercado <strong>de</strong> títulos e estabelecia a responsabilida<strong>de</strong> dos bancos pelo<br />

crédito mal parado); esta evolução facilitou a obtenção <strong>de</strong> financiamentos a longo<br />

prazo para as empresas num ambiente mais concorrencial e menos sujeito às<br />

influências clientelares, além <strong>de</strong> que limitou a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> “bolhas<br />

especulativas” baseadas no preço da terra e dos títulos (recor<strong>de</strong>-se que no Japão, e<br />

nos anos 80 40% do crédito bancário, num sistema financeiro baseado na<br />

intermediação financeira se terá dirigido para este sector);<br />

• a liberalização e mudança do sistema financeiro interno prece<strong>de</strong>u a liberalização<br />

financeira externa, que se foi realizando através <strong>de</strong> um gradual levantamento das<br />

restrições aos movimentos <strong>de</strong> capitais; em consequência <strong>de</strong>ssa política mais<br />

conservadora o capital estrangeiro só <strong>de</strong>tinha na altura da crise 3% do capital total do<br />

mercado <strong>de</strong> acções, enquanto essa relação ultrapassava os 30% nalgumas<br />

economias do su<strong>de</strong>ste asiático; por outro lado o governo <strong>de</strong> Taiwan distinguiu-se por<br />

uma gestão fiscal responsável, uma política monetária pru<strong>de</strong>nte e uma maior<br />

flexibilida<strong>de</strong> na gestão das taxas <strong>de</strong> câmbio, condições fundamentais para lidar com<br />

os fluxos <strong>de</strong> capital privados<br />

• o governo <strong>de</strong> Taiwan face a manifestações <strong>de</strong> crise nalgumas instituições financeiras<br />

que se haviam verificado antes <strong>de</strong> 1997/8, optara por encerrar as instituições que já<br />

não se <strong>de</strong>monstravam viáveis − ao permitir que estas atingissem a falência - ou por<br />

reestruturar completamente as instituições em crise (proce<strong>de</strong>ndo a uma substituição<br />

dos quadros aquando da sua reestruturação ou aquisição por instituições saudáveis);<br />

19


Informação Internacional<br />

20<br />

esta política levada a cabo em Taiwan só encontrou semelhanças em Hong Kong, já<br />

que na Malásia, Indonésia, Singapura ou Coreia as instituições continuavam a operar<br />

com intervenção governamental, apesar das elevadas taxas <strong>de</strong> “crédito mal parado”;.<br />

Quadro 1<br />

INDICADORES ECONÓMICOS – TAIWAN<br />

1995-97<br />

1995 1996 1997<br />

PIB (crescimento) 6,0 5,7 6,8<br />

Investimento interno bruto/PIB 23,7 21,2 21,8<br />

Poupança interna bruta/ PIB 25,6 25,1 24,7<br />

Taxa <strong>de</strong> inflação (Índice <strong>de</strong> Preços do<br />

Consumidor)<br />

3,7 3,1 0,9<br />

Crescimento da oferta <strong>de</strong> Moeda (M2) 9,4 9,1 7,2<br />

Crescimento das exportações <strong>de</strong><br />

mercadorias<br />

20,0 3,8 5,2<br />

Crescimento das importações <strong>de</strong><br />

mercadorias<br />

21,2 -0,1 10,1<br />

Balanças <strong>de</strong> transacções<br />

Correntes/PIB<br />

2,1 -0,1 10,1<br />

Serviço da dívida/Exportações 0,1 0,1 0,1<br />

Fonte: Direcção Geral do Orçamento, Dados Contabilísticos e<br />

Estatísticos, Wu (1997) Asian Development Outlook 1998<br />

• a economia <strong>de</strong> Taiwan experimentara correcções no mercado bolsista antes <strong>de</strong><br />

eclodir a crise asiática – houve um “crash” correctivo em 1996, aquando dos<br />

exercícios militares da China no estreito <strong>de</strong> Taiwan - o que permitiu que os mercados,<br />

em 1997, estivessem 30% abaixo do seu pico anterior e portanto menos vulneráveis à<br />

queda.<br />

2.1. O Comportamento <strong>de</strong> Taiwan na Retoma 1999-2000<br />

O ano <strong>de</strong> 1999 foi o ano da rápida recuperação da Ásia mais atingida pela crise e da<br />

ocorrência <strong>de</strong> um terramoto <strong>de</strong>vastador em Taiwan. Observando o Quadro 2,que nos<br />

permite comparar 1999 com o quinquénio 1995/9 e comparar Taiwan com outras economias<br />

asiáticas po<strong>de</strong>m retirar-se algumas conclusões. Assim:<br />

• o crescimento foi apenas ligeiramente inferior á média do quinquénio, semelhante ao<br />

<strong>de</strong> Singapura, superior ao <strong>de</strong> Hong Kong, mas claramente inferior ao da Coreia do Sul<br />

que experimentara uma profunda recessão em 1998;<br />

• o investimento caiu para valores inferiores ao do quinquénio, o mesmo acontecendo<br />

com o consumo público, revelando, neste caso que, provavelmente, a opção das<br />

autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Taiwan continua a ser o <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>r uma política orçamental<br />

contraccionista, a fim <strong>de</strong> evitar a inflação e o crescimento da dívida.;<br />

%


As “Economias Chinesas “(I) – Taiwan: uma Economia <strong>de</strong> Silício<br />

• a exportação experimentou um crescimento superior ao da média do quinquénio,<br />

enquanto a importação se situou a um nível muito inferior, o quer naturalmente<br />

originou um acréscimo no exce<strong>de</strong>nte comercial;<br />

• o perfil geográfico dos saldos mantém-se com as relações comerciais com os EUA a<br />

gerarem um elevado exce<strong>de</strong>nte, em contraste com o que se passa com o Japão<br />

(facto a que não é estranha a forte <strong>de</strong>pendência das empresas tecnológicas <strong>de</strong><br />

Taiwan face a alguns bens intermédios, importados do Japão)<br />

Quadro 2<br />

O ANO DE 1999 NA ECONOMIA DE TAIWAN<br />

1999 Média Anual – 1995/99<br />

Pib 5,7 5,9<br />

Consumo privado 5,7 6,3<br />

Consumo público -6,3 2,6<br />

Investimento bruto 2,2 5,9<br />

Exportação <strong>de</strong> bens e serviços 9,6 8,0<br />

Importação <strong>de</strong> bens e serviços 4,4 8,0<br />

Crescimento PIB – Comparação regional<br />

Coreia do Sul 10,7 4,8<br />

Hong Kong 3,0 2,2<br />

Singapura<br />

Fonte: EIU, Country Data<br />

5,4 5,9<br />

3. A TRANSFORMAÇÃO ESTRUTURAL DE TAIWAN<br />

3.1. O Papel Central da Indústria <strong>de</strong> Material Electrónico<br />

O sector da indústria transformadora <strong>de</strong> Taiwan, que representava em 1999 cerca <strong>de</strong> 26%<br />

do PIB, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>composto em dois sub-sectores distintos: as indústrias tradicionais,<br />

cujas principais produções são o vestuário, os plásticos, os produtos petroquímicos e o<br />

mobiliário, e as indústrias tecnológicas, produtoras <strong>de</strong> “hardware” e <strong>de</strong> componentes<br />

electrónicos.<br />

Enquanto as primeiras indústrias são trabalho intensivas, as segundas são capital intensivas<br />

e requerem gran<strong>de</strong>s investimentos em I&D; as primeiras têm uma taxa <strong>de</strong> crescimento lenta<br />

e as segundas têm crescido cerca <strong>de</strong> 11% ao ano – ambas contribuindo para um<br />

crescimento do PIB na or<strong>de</strong>m dos 6%.<br />

As indústrias tecnológicas situam-se em torno das 2 maiores cida<strong>de</strong>s – Taipei e Kaohsiung<br />

– e existem dois parques <strong>de</strong> C&Ts que têm sido fundamentais para o seu <strong>de</strong>senvolvimento –<br />

o Hsinchu Science and Technology Park, no Sudoeste <strong>de</strong> Taipei e outro no Sul <strong>de</strong> Taiwan.<br />

21


Informação Internacional<br />

As operações consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong> baixo valor quer das indústrias tradicionais quer das<br />

indústrias tecnológicas <strong>de</strong> Taiwan têm vindo a ser transferidas offshore – o que se <strong>de</strong>ve<br />

principalmente à escassez <strong>de</strong> recursos humanos e à exiguida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos materiais<br />

existentes na ilha.<br />

A presença internacional <strong>de</strong> Taiwan, nas indústrias tecnológicas, concentra-se nos sectores<br />

da tecnologia <strong>de</strong> informação e nos semicondutores. O valor <strong>de</strong> produção das tecnologias da<br />

informação foi estimado, em 1998, em 32.7 mil milhões <strong>de</strong> dólares, dos quais 19.6 mil<br />

milhões foram produzidos internamente. É o terceiro maior produtor mundial, <strong>de</strong>stes<br />

produtos, <strong>de</strong>pois dos Estados Unidos da América e do Japão ∗ .<br />

Taiwan li<strong>de</strong>ra, em primeiro ou segundo lugar, a produção <strong>de</strong> 14 categorias <strong>de</strong> componentes<br />

para computadores, incluindo as motherboards dos PC e os seus chipsets, drives <strong>de</strong> CD-<br />

Rom, placas gráficas e scanners. É também lí<strong>de</strong>r na produção <strong>de</strong> notebooks , mercado on<strong>de</strong><br />

ultrapassou os EUA e o Japão. Taiwan começou também a produzir LCD’s (Liquid Cristal<br />

Displays), on<strong>de</strong> já capturou 9% do mercado, prevendo-se que cresça em 2000 para 16%,<br />

<strong>de</strong>vido ao abaixamento dos preços e ao consequente aumento da procura. Taiwan entrou<br />

neste complexo mercado realizando joint ventures com empresas japonesas e coreanas<br />

(como a Toshiba ou Panasonic) que procuravam um fornecedor externo, e começou ela<br />

própria a investir na produção <strong>de</strong> LCD’s.<br />

Taiwan dispõe já <strong>de</strong> competência <strong>de</strong> primeiro plano em processos <strong>de</strong> fabrico sofisticados e<br />

diversificados como por exemplo na produção <strong>de</strong> scanners on<strong>de</strong> se aliam técnicas <strong>de</strong> óptica,<br />

mecânica e electrónica, ou na produção <strong>de</strong> monitores, muito sensíveis às economias <strong>de</strong><br />

escala, sendo visível o crescente investimento em I&D.<br />

As três principais empresas <strong>de</strong>ste sector – Silicon Integrated Systems, Via Technologies e<br />

Acer Laboratories – controlam meta<strong>de</strong> do mercado mundial <strong>de</strong> “chips”, fornecendo mais <strong>de</strong><br />

10% dos circuitos integrados mundiais. Por outro lado a Taiwan Semiconductor<br />

Manufacturing Company (TSMC) e a United Microelectronics Corp (UMC) são pioneiras no<br />

chamado “foundry business” .Este mo<strong>de</strong>lo consubstancia-se numa espécie <strong>de</strong> contrato <strong>de</strong><br />

fornecimento <strong>de</strong> serviços industriais, no âmbito dos semicondutores. A TSMC não tem<br />

produção com marca própria nem fabrica produtos finais, mas <strong>de</strong>vido aos elevados<br />

investimentos em I&D que tem vindo a realizar consegue prestar serviços <strong>de</strong> fabrico por<br />

conta <strong>de</strong> outrem com elevadíssima qualida<strong>de</strong>, sendo lí<strong>de</strong>r no seu sector <strong>de</strong> mercado.<br />

Outras empresas, como é o caso da Acer, para além <strong>de</strong> terem produtos <strong>de</strong> marca própria,<br />

fabricam uma quantida<strong>de</strong> muito significativa para o chamado mercado <strong>de</strong> Original<br />

Equipment Manufacturer (OEM): as empresas locais fabricam produtos baseados no<br />

<strong>de</strong>senho e nos planos aprovados pela empresa estrangeira, que seguidamente os<br />

comercializam com a sua marca – por exemplo Hitachi ou Fujitsu.(nota: cerca <strong>de</strong> 75% da<br />

∗<br />

O terramoto <strong>de</strong> 1999, em vez <strong>de</strong> funcionar como um travão para o crescimento <strong>de</strong>ste sector, serviu antes para alertar o<br />

mundo da importância <strong>de</strong> Taiwan como fornecedor <strong>de</strong> componentes informáticos: com efeito os preços <strong>de</strong> mercado dos “chips”<br />

subiram, nomeadamente os dos três sectores mais importantes – os semicondutores, os componentes electrónicos e os PC’s.<br />

22


As “Economias Chinesas “(I) – Taiwan: uma Economia <strong>de</strong> Silício<br />

produção do sub-sector das indústrias tecnológicas <strong>de</strong> Taiwan é comercializada com a<br />

marca <strong>de</strong> uma outra empresa).<br />

As empresas <strong>de</strong> Taiwan especializadas em componentes informáticos para o mercado<br />

global têm vindo a adoptar a chamada estratégia BTO (Built to Or<strong>de</strong>r), que visa aumentar as<br />

suas margens <strong>de</strong> lucro e que leva aos contratos OEM. Estes são vantajosos, antes <strong>de</strong> mais<br />

porque geram receitas imediatas e porque minimizam o risco <strong>de</strong> acumulação <strong>de</strong> stocks <strong>de</strong><br />

produtos acabados. Mas também porque oferecem a possibilida<strong>de</strong> a quem produz <strong>de</strong> vir a<br />

apren<strong>de</strong>r com os clientes (o que leva à integração rápida <strong>de</strong> novas tecnologias nos<br />

produtos), e permitem “ignorar” as activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> marketing - dos estudos <strong>de</strong> mercado à<br />

publicida<strong>de</strong> ou distribuição.<br />

3.2. Como funcionam as pequenas empresas tecnológicas <strong>de</strong> Taiwan? O que lhes<br />

permite singrar?<br />

No sub-sector das indústrias tecnológicas existem algumas gran<strong>de</strong>s empresas, mas o tecido<br />

empresarial é constituído essencialmente por PME, com forte articulação em re<strong>de</strong> com as<br />

maiores. À questão – como é que Taiwan evitou os perigos da especialização excessiva e<br />

estabeleceu elos entre as empresas, levando à criação <strong>de</strong> conhecimento? – po<strong>de</strong>-se<br />

respon<strong>de</strong>r que tal se <strong>de</strong>veu às capacida<strong>de</strong>s organizacionais e tecnológicas acumuladas, que<br />

lhes <strong>de</strong>ram as armas para competir numa área on<strong>de</strong> a dimensão empresarial é<br />

<strong>de</strong>terminante.<br />

O primeiro factor que contribuiu para a criação <strong>de</strong> um tecido empresarial peculiar, mas muito<br />

eficaz, foram as políticas governamentais seguidas com vista ao <strong>de</strong>senvolvimento<br />

empresarial. Des<strong>de</strong> o início dos anos 60 que as autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Taiwan encetaram<br />

programas agressivos para encorajar o investimento interno e estrangeiro, promoveram o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e mo<strong>de</strong>rnização das PME (nas áreas <strong>de</strong> gestão, análise <strong>de</strong> mercado,<br />

promoção <strong>de</strong> alianças estratégicas, empréstimos ou <strong>de</strong> upgra<strong>de</strong>s tecnológicos) e por fim,<br />

levaram a cabo uma política que garantia o igual tratamento das empresas nacionais e<br />

estrangeiras, com excepção da regulamentação relativa a participações accionistas das<br />

empresas <strong>de</strong> capital estrangeiro. Em 1973, foi igualmente criado o Industrial Technology<br />

Research Institute que fomentava a aplicação <strong>de</strong> novas tecnologias industriais ao fabrico <strong>de</strong><br />

componentes e <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> capital e, em torno do qual, diversas empresas se pu<strong>de</strong>ram<br />

instalar, beneficiando <strong>de</strong> um espaço comum.<br />

O segundo factor <strong>de</strong>terminante para o sucesso empresarial <strong>de</strong> Taiwan foi o papel dos laços<br />

inter-organizacionais. A estrutura empresarial familiar predominante, apesar dos seus<br />

benefícios traduzidos em menores custos, menores riscos e uma muito maior flexibilida<strong>de</strong>,<br />

passou a revelar-se insuficiente, no contexto da concorrência internacional fortíssima que<br />

caracteriza as indústrias das tecnologias da informação, levando à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

estabelecer relações estratégicas com terceiros. Essas relações estratégicas (laços)<br />

assumem quatro vertentes distintas:<br />

23


Informação Internacional<br />

24<br />

• as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relações informais – relações que permitem o acesso a conhecimentos,<br />

recursos, tecnologia ou informações do mercado; estes contactos estabelecem-se<br />

entre colegas <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong>, com professores ou com outras pequenas empresas;<br />

• o chamado Center Satellite Program (Governamental), instaurado em 1984, que<br />

visava eliminar a competição <strong>de</strong>sleal entre empresas e os preços <strong>de</strong>strutivos<br />

praticados, encorajando laços mais próximos e estáveis entre empresas <strong>de</strong> produtos<br />

finais, e <strong>de</strong>stas com as suas fornecedoras <strong>de</strong> produtos intermédios;<br />

• os elos <strong>de</strong> ligação com empresas <strong>de</strong> maior dimensão; as gran<strong>de</strong>s empresas, que na<br />

maior parte foram privatizadas, facilitam a disseminação e conhecimento nas PME;<br />

as PME <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m das matérias primas a baixos custos e elevada qualida<strong>de</strong><br />

fornecidas pelas gran<strong>de</strong>s empresas e estas últimas funcionam como importantes<br />

intermediárias financeiras para as PME. É importante realçar que quase todas as<br />

PME fazem parte <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> grupo, que facilita este tipo <strong>de</strong> relações. E são as<br />

gran<strong>de</strong>s empresas que <strong>de</strong>têm a pluralida<strong>de</strong> dos contactos com as empresas<br />

estrangeiras;<br />

• os grupos empresariais centrados em torno <strong>de</strong> uma Holding (casa mãe), permitindo<br />

às pequenas empresas melhorar a aprendizagem e criar activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> valor<br />

acrescentado, através do acesso a tecnologias, recursos financeiros, processos <strong>de</strong><br />

conhecimento ou a técnicas <strong>de</strong> prospecção <strong>de</strong> mercado comuns, que culminam numa<br />

marca única.<br />

O terceiro factor foi o papel catalítico do Investimento Directo Estrangeiro (IDE) na fase<br />

inicial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da indústria electrónica em Taiwan. O IDE facilitou o acesso a<br />

novas técnicas <strong>de</strong> gestão organizacional, que conduziram à erosão gradual das técnicas<br />

tradicionais, vincadamente hierárquicas, que se vinham a <strong>de</strong>monstrar ineficientes. Por outro<br />

lado, o IDE levou ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> fornecedores locais <strong>de</strong> bens electrónicos para as<br />

empresas estrangeiras. O exemplo pioneiro <strong>de</strong> IDE em Taiwan foi a IBM, nos anos 60, que<br />

estabeleceu uma filial para on<strong>de</strong> <strong>de</strong>slocalizou as fases produtivas trabalho intensivas, sendo<br />

aliás o primeiro país on<strong>de</strong> a empresa criou uma filial <strong>de</strong>ste tipo. A esta seguiram-se a DEC,<br />

cuja filial <strong>de</strong> Taiwan é hoje a maior produtora mundial <strong>de</strong> <strong>de</strong>sktops, ou a HP que realizou<br />

uma joint venture com uma empresa local, para a produção <strong>de</strong> um “multi layered printed<br />

circuit board”, entre muitas outras. Na indústria electrónica uma das empresas estrangeiras<br />

que se <strong>de</strong>staca é a Philips, que hoje já possui em Taiwan uma unida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>tém a<br />

produção exclusiva <strong>de</strong> uma peça dos monitores, para a totalida<strong>de</strong> do grupo. Apesar da<br />

importância das empresas estrangeiras <strong>de</strong> informática no território o seu papel tornou-se<br />

ainda mais relevante <strong>de</strong>vido à proliferação dos acordos <strong>de</strong> “outsourcing” internacional<br />

(contratos e OEM).<br />

O quarto factor foi a participação em re<strong>de</strong>s internacionais. As re<strong>de</strong>s pioneiras foram as<br />

criadas por empresas como a Apple, a Compaq ou a IBM que subcontratam a produção <strong>de</strong><br />

componentes a outras empresas, sob a forma <strong>de</strong> OEM, usando assim a capacida<strong>de</strong><br />

produtiva e a competência dos fabricantes locais. Isto permite que as empresas electrónicas


As “Economias Chinesas “(I) – Taiwan: uma Economia <strong>de</strong> Silício<br />

<strong>de</strong> Taiwan se concentrem na concepção e fabrico do produto. É, por isso, natural, que ao<br />

olharmos para um computador se acabe por <strong>de</strong>scobrir que o seu microprocessador tem a<br />

sua origem nos EUA, a memória no Japão ou na Coreia, os monitores na Coreia, Taiwan ou<br />

Japão, ou os teclados e as motherboards em Taiwan. Para além das empresas <strong>de</strong> Taiwan<br />

estarem elas próprias dispersas em vários países, são fornecedoras das gran<strong>de</strong>s<br />

multinacionais informáticas em todo o Mundo. Em suma as empresas electrónicas <strong>de</strong><br />

Taiwan estão envolvidas num complexo sistema <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s internacionais <strong>de</strong> produção, que<br />

envolvem transacções entre um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> produção nacionais −<br />

permitindo a pequenas empresas, <strong>de</strong> um pequeno país, participar nelas e melhorar a sua<br />

base tecnológica.<br />

O que leva as empresas a participar nestas re<strong>de</strong>s é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diminuição dos<br />

custos dos componentes, do software e dos serviços – traduzindo uma busca permanente<br />

<strong>de</strong> redução <strong>de</strong> custos, através da racionalização e internacionalização – e o aproveitamento<br />

das economias <strong>de</strong> escala e <strong>de</strong> gama na indústria. Mas para várias <strong>de</strong>las a continuação do<br />

sucesso implicou que tivessem que investir e criar filiais fora <strong>de</strong> Taiwan, a fim <strong>de</strong> ser<br />

possível continuar a manter custos <strong>de</strong> produção reduzidos.<br />

Cada empresa participa, usualmente, em mais <strong>de</strong> uma Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Produção Internacional,<br />

po<strong>de</strong>ndo ganhar mais po<strong>de</strong>r nas relações com as transnacionais. Inserida nestas re<strong>de</strong>s a<br />

empresa procura vir a ter um maior protagonismo através da evolução do acordo <strong>de</strong> OEM<br />

para o <strong>de</strong> ODM (Original Development Manufacturer) – neste último a empresa adquire<br />

competências, po<strong>de</strong>ndo vir a <strong>de</strong>senvolver uma linha particular <strong>de</strong> produtos, tornando-se a<br />

empresa compradora dos “serviços” mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos conhecimentos e competências<br />

da empresa local, embora – continue sem existir marca própria. O tipo <strong>de</strong> produção com<br />

marca própria é <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> OBM – (Own Brand Name Manufacturer ). A ACER<br />

<strong>de</strong>senvolve este tipo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final dos anos 80, ao mesmo tempo que persiste<br />

no <strong>de</strong>senvolvimento e apuramento dos contratos OEM com os gran<strong>de</strong>s clientes,<br />

continuando a levar a cabo, paulatinamente, a estratégia <strong>de</strong> OBM nos países não OCDE.<br />

As relações estabelecidas com as re<strong>de</strong>s OEM ∗ (*) estão a produzir em Taiwan uma nova<br />

divisão <strong>de</strong> trabalho entre as gran<strong>de</strong>s empresas <strong>de</strong> computadores e as PME. As maiores<br />

estabelecem preferencialmente contratos OEM, po<strong>de</strong>ndo fazer um maior uso das economias<br />

<strong>de</strong> escala e <strong>de</strong> gama – só estas têm a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar a <strong>de</strong>pendência face a um<br />

hipotético único fornecedor. Mas as PME consi<strong>de</strong>ram estes contratos arriscados, já que eles<br />

exigem uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção superior à sua, preferindo suster contratos ODM, on<strong>de</strong><br />

têm um base <strong>de</strong> clientes diversificada e po<strong>de</strong>m cobrar preços mais elevados.<br />

As empresas <strong>de</strong> Taiwan retiram enormes benefícios das estratégias OEM e ODM por terem<br />

como principais clientes os li<strong>de</strong>res mundiais <strong>de</strong>stas indústrias, já que lhes conferem<br />

∗<br />

Há contratos OEM que compreen<strong>de</strong>m diversos serviços integrados <strong>de</strong> apoio, como os turnkey production da Mitaq (<strong>de</strong><br />

Taiwan) com a Compaq, em que são contempladas todas as fases <strong>de</strong> fabrico à excepção do marketing estratégico e da I&D<br />

principal.<br />

25


Informação Internacional<br />

preciosos fluxos <strong>de</strong> informação bem como o acesso à aprendizagem <strong>de</strong> tecnologias<br />

inovadoras. Acresce a isso que este tipo <strong>de</strong> contratos são agora muito mais exigentes,<br />

forçando as pequenas empresas a obter maiores competências em termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign e <strong>de</strong><br />

serviços <strong>de</strong> gestão.<br />

4. AS RELAÇÕES ECONÓMICAS EXTERNAS DE TAIWAN<br />

4.1. As Relações Privilegiadas <strong>de</strong> Taiwan com os EUA<br />

As relações <strong>de</strong> Taiwan com os EUA são politicamente estáveis e economicamente muito<br />

fortes. Em termos políticos, apesar dos EUA não reconhecerem Taiwan como Estado<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>vido ao posicionamento da República Popular da China e à importância<br />

das relações bilaterais EUA/China, conferem-lhe um tratamento político privilegiado. O<br />

American Institute em Taiwan, apesar do nome, funciona como uma verda<strong>de</strong>ira embaixada,<br />

em que o seu Director Geral exerce funções <strong>de</strong> embaixador.<br />

Economicamente os laços entre as duas economias têm vindo a solidificar-se cada vez<br />

mais, <strong>de</strong>monstrando a especial admiração norte americana por este regime <strong>de</strong>mocrático<br />

capaz <strong>de</strong> enquadrar uma economia tão dinâmica. Os EUA são o primeiro cliente comercial<br />

<strong>de</strong> Taiwan, correspon<strong>de</strong>ndo a 25,4% do total das exportações, e são o segundo fornecedor,<br />

o que correspon<strong>de</strong> a 17,8% do total do valor importado. As relações <strong>de</strong> fornecimento, atrás<br />

<strong>de</strong>scritas, <strong>de</strong> componentes informáticos pelas pequenas empresas <strong>de</strong> Taiwan às gran<strong>de</strong>s<br />

multinacionais americanas revestem-se <strong>de</strong> uma importância extrema – são fornecimentos<br />

estáveis, já que a produção é feita à medida, permitem uma aprendizagem contínua e<br />

evitam os custos das activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> marketing.<br />

Apesar das autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Taiwan encorajarem o investimento em I&D há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ser criado um Programa Nacional <strong>de</strong> I&D conjuntamente com alianças estratégicas com as<br />

principais empresas <strong>de</strong> electrónica, porque para a prossecução do crescimento económico<br />

são necessários abundantes recursos humanos especializados nesta área. Na maior parte<br />

das Universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Taiwan existem cursos <strong>de</strong> Engenharia e formam-se mais <strong>de</strong> 50.000<br />

engenheiros por ano – mais <strong>de</strong> ¼ do número total <strong>de</strong> graduados. Acresce a isso que<br />

milhares <strong>de</strong> jovens vão estudar nas universida<strong>de</strong>s americanas, acabando, muitas vezes a<br />

trabalhar em Silicon Valley – existindo muitos incentivos norte americanos a este tipo <strong>de</strong><br />

intercâmbio. Estes produzem mais valias para ambos os países, advindas do contacto entre<br />

duas economias e culturas tão diferentes.<br />

26


As “Economias Chinesas “(I) – Taiwan: uma Economia <strong>de</strong> Silício<br />

TAIWAN – UMA ESTRATÉGIA DE AFIRMAÇÃO GEOECONÓMICA – O CONCEITO DE<br />

“ASIAPACIFIC REGIONAL OPERATIONS CENTER (APROC)”<br />

O APROC, que foi consi<strong>de</strong>rado o corolário do <strong>de</strong>senvolvimento económico <strong>de</strong> Taiwan, começou a<br />

ser implantado em 1995, e tinha duas componentes fundamentais:<br />

• pretendia transformar Taiwan num centro financeiro e <strong>de</strong> negócios na região da Ásia<br />

pacífico, tendo como principal autor as multinacionais, que viriam para o território;<br />

• seria um instrumento da liberalização e da internacionalização da economia <strong>de</strong> Taiwan;<br />

Para atingir estes objectivos os princípios da liberalização e internacionalização foram reiterados<br />

como sendo o motor das transformações macro-económicas que enquadrariam o APROC.<br />

• O APROC <strong>de</strong> Taiwan compreen<strong>de</strong> seis componentes principais, que são:<br />

• liberalização do comércio e do investimento, diminuindo as restrições <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong><br />

pessoas e <strong>de</strong> capitais, e a criação <strong>de</strong> um ambiente legal apropriado para as industrias<br />

tecnológicas;<br />

• criação <strong>de</strong> condições para que a indústria transformadora <strong>de</strong> Taiwan possa mo<strong>de</strong>rnizar-se e<br />

para que possam construir-se parques tecnológicos industriais;<br />

• dinamização do sector financeiro a fim <strong>de</strong> criar um mercado cambial, um sistema bancário<br />

offshore e um mercado <strong>de</strong> capitais externos; promover a expansão e a internacionalização<br />

do mercado <strong>de</strong> acções e obrigações, <strong>de</strong>senvolver o mercado <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados, o <strong>de</strong> ouro e <strong>de</strong><br />

capitais seguros;<br />

• melhoria significativa do transporte marítimo, especialmente naquilo que concerne às<br />

facilida<strong>de</strong>s e aos serviços das operações do transporte <strong>de</strong> carga;<br />

• <strong>de</strong>senvolvimento, do transporte aéreo, dos centros <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> passageiros e <strong>de</strong> carga,<br />

construindo uma cida<strong>de</strong> especializada no aeroespacial bem como um novo aeroporto<br />

internacional;<br />

• liberalização das telecomunicações, <strong>de</strong>senvolvendo um centro para as re<strong>de</strong>s empresariais<br />

privadas. Esta liberalização passava pela expansão das ligações por cabo, pela melhoria<br />

das ligações telefónicas e do serviço <strong>de</strong> atendimento aos clientes, suportada por alterações<br />

significativas nos quadro legal das telecomunicações.<br />

O papel das multinacionais, eleitas como actor principal <strong>de</strong>ste processo, po<strong>de</strong> não ser sempre<br />

positivo – são consi<strong>de</strong>radas um motor do <strong>de</strong>senvolvimento económico, mas po<strong>de</strong>m <strong>de</strong> um<br />

momento para o outro alterar esse papel, por exemplo no caso da subida dos custos dos factores<br />

produtivos, em <strong>de</strong>terminado país. Por isto é extremamente importante a implementação <strong>de</strong><br />

reformas estruturais, que criem condições estáveis para a actuação <strong>de</strong>stas empresas.<br />

A implementação do plano APROC, não tem sido nem fácil nem imediata, por exigir<br />

transformações estruturais em Taiwan. É sabido que as operações empresariais <strong>de</strong> valor<br />

acrescentado só po<strong>de</strong>m ser lucrativas se sediadas num território on<strong>de</strong> os recursos financeiros<br />

abun<strong>de</strong>m e as infra-estruturas <strong>de</strong> transporte e <strong>de</strong> telecomunicações estejam <strong>de</strong>senvolvidas. Para<br />

isto, o APROC preten<strong>de</strong> transformar todas as infra - estruturas, físicas e humanas em Taiwan <strong>de</strong><br />

forma a assegurar a livre circulação <strong>de</strong> bens, capitais, serviços, informação e recursos humanos.<br />

Há ainda que criar um novo quadro legal para o sector das indústrias <strong>de</strong> ponta, muito competitivas<br />

em Taiwan.<br />

O APROC encerra uma dimensão internacional, mais fácil <strong>de</strong> atingir <strong>de</strong>pois da liberalização e<br />

27


Informação Internacional<br />

reestruturação interna. Taiwan preten<strong>de</strong> vir a representar o pólo industrial central na região da Ásia<br />

pacífico, tendo como objectivo primordial que as multinacionais e empresas estrangeiras elejam<br />

Taiwan como base <strong>de</strong> produção e distribuição <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> elevado valor acrescentado. Na<br />

sequência <strong>de</strong>ste processo po<strong>de</strong>r-se-á alcançar uma divisão do trabalho regional mais eficaz, com<br />

um mais eficaz uso dos recursos <strong>de</strong> Taiwan e das economias do su<strong>de</strong>ste asiático.<br />

Este plano po<strong>de</strong> ser exequível, apesar <strong>de</strong> muito ambicioso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que exista um esforço<br />

continuado das autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Taiwan em empreen<strong>de</strong>r as reformas a que se propôs. Também<br />

contribuirá, por certo, o bom clima <strong>de</strong> relações com a República Popular da China.<br />

4.2. Taiwan na Região Asiática – Comércio e Investimento<br />

As autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Taiwan, <strong>de</strong>vido a preocupações <strong>de</strong> Segurança Nacional, observam com<br />

prudência o investimento externo das suas empresas. Enquanto para as empresas a<br />

produção ao ser <strong>de</strong>slocalizada levará a novos produtos, com melhores tecnologias e<br />

sobretudo a uma produção mais barata, para as autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Taiwan este investimento<br />

externo é tido como uma preocupação, que leva a diversas medidas restritivas, sobretudo<br />

quando o seu <strong>de</strong>stino é a República Popular da China.<br />

Assim os investimentos tecnológicos, com certas características, ou os investimentos em<br />

projectos <strong>de</strong> infra-estruturas (como estradas ou centrais eléctricas) na China são proibidos<br />

pela legislação <strong>de</strong> Taiwan, por serem consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong> risco. Para além disso as empresas<br />

<strong>de</strong> Taiwan não po<strong>de</strong>m investir mais <strong>de</strong> 50 milhões <strong>de</strong> USD por projecto. Sendo que todas<br />

estas condicionantes acabam por encorajar uma gran<strong>de</strong> proporção <strong>de</strong> investimento não<br />

oficial na China.<br />

Gran<strong>de</strong> parte das PME <strong>de</strong> Taiwan gostaria <strong>de</strong> investir na China já que lá é que se<br />

encontram as principais re<strong>de</strong>s comerciais e tecnológicas, capazes <strong>de</strong> fazer florescer a sua<br />

activida<strong>de</strong>. E as autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Taiwan têm consciência <strong>de</strong> que sem a ligação à China a<br />

atractivida<strong>de</strong> do seu próprio território diminuiria, o que explica que em 2000 estivesse em<br />

curso um estudo sobre a liberalização <strong>de</strong> algumas áreas <strong>de</strong> investimento, com vista ao<br />

estabelecimento <strong>de</strong> agências <strong>de</strong> bancos Comerciais na China ou a abertura <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

transportes.<br />

28<br />

Quadro 3<br />

INVESTIMENTO EXTERNO DE TAIWAN APROVADO<br />

Total e para a República Popular da China<br />

Investimento Externo<br />

Indirecto Aprovado na<br />

China<br />

Nº Casos Valor/milhões<br />

<strong>de</strong> USD<br />

Investimento Externo<br />

Aprovado<br />

Nº casos Valor/Milhõe<br />

s <strong>de</strong> USD<br />

1995 490 1.092,713 339 1.356,878<br />

1996 383 1.229,241 470 2.165,404<br />

1997 636 1.397,432 662 2.633,296<br />

Fonte: Taiwan.com<br />

As empresas <strong>de</strong> Taiwan ten<strong>de</strong>m a internacionalizar-se <strong>de</strong>vido à apreciação da sua moeda,<br />

ao facto dos salários nos países vizinhos, como nas Filipinas ou no Vietname, sejam cerca


As “Economias Chinesas “(I) – Taiwan: uma Economia <strong>de</strong> Silício<br />

<strong>de</strong> 1/20 dos <strong>de</strong> Taiwan e a que nesses países a terra seja mais barata e disponível. Cerca<br />

<strong>de</strong> 80.000 empresas, especialmente as trabalho intensivas, <strong>de</strong>slocalizaram a sua produção,<br />

cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> para a China (sobretudo para Costa Sul) e a outra para os outros países<br />

do Su<strong>de</strong>ste Asiático. Hoje mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> dos produtos electrónicos <strong>de</strong> Taiwan são<br />

fabricados fora da ilha e gran<strong>de</strong> parte dos lucros são originados fora do país e lá<br />

reinvestidos ∗ .<br />

Quadro 4<br />

INVESTIMENTO DIRECTO DE E EM TAIWAN<br />

(Milhões <strong>de</strong> USD)<br />

1993 1994 1995 1996 1997<br />

Investimento estrangeiro em<br />

Taiwan 917 1375 1559 1864 2248<br />

Investimento <strong>de</strong> Taiwan no<br />

Estrangeiro 2611 2640 2983 3843 5222<br />

Fonte: Central Bank of China segundo o EIU Country Profile 98/99<br />

Taiwan é, <strong>de</strong> facto, um país investidor liquido no estrangeiro – <strong>de</strong> 1995 a 1999 o<br />

investimento externo foi <strong>de</strong> 20,3 mil milhões <strong>de</strong> USD enquanto que o IDE em Taiwan foi<br />

somente <strong>de</strong> 8,9 mil milhões <strong>de</strong> USD – e as saídas <strong>de</strong> capitais são maiores do que os<br />

números sugerem, já que estes incluem somente os fluxos oficiais <strong>de</strong> investimento na<br />

China. Entre 1991 e 1999 o investimento aprovado na China foi <strong>de</strong> 14,5 mil milhões <strong>de</strong> USD,<br />

enquanto que o investimento nos restantes países foi <strong>de</strong> 16,6 mil milhões <strong>de</strong> USD,<br />

ressaltando a primazia da China como local <strong>de</strong> acolhimento dos investimentos <strong>de</strong> Taiwan. À<br />

parte da China os EUA são o 2º principal <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino dos investimentos <strong>de</strong> Taiwan com 3,3<br />

mil milhões <strong>de</strong> USD (19,7%), entre 1991 e 1999, seguindo-se os países do Su<strong>de</strong>ste Asiático<br />

– Singapura, Tailândia, Filipinas, Malásia e Vietname – que entre 1991 e 1999, totalizaram<br />

4,4 mil milhões <strong>de</strong> USD (26,5%). O investimento nestes países asiáticos, enquadrava-se na<br />

política “Go South” do Kuomitang, na tentativa <strong>de</strong> encontrar alternativas ao mercado chinês.<br />

Os EUA e o Japão são os maiores investidores em Taiwan – entre 1982 e 1998, o valor<br />

aprovado do investimento do Japão neste país foi <strong>de</strong> 7,8 mil milhões <strong>de</strong> USD, enquanto que<br />

o investimento dos EUA aprovado foi <strong>de</strong> 7,6 mil milhões <strong>de</strong> USD – e ambos representavam,<br />

em conjunto, 53% do total do investimento aprovado em Taiwan.<br />

Des<strong>de</strong> o final dos anos 80 que Taiwan tem vindo a diversificar as suas relações comerciais:<br />

o Japão e os EUA <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ter a primazia <strong>de</strong>stas relações. De acordo com o padrão<br />

tradicional as matérias primas e as tecnologias eram importadas do Japão para a produção<br />

<strong>de</strong> bens, que <strong>de</strong>pois eram exportados para os EUA. A partir do final dos anos oitenta, como<br />

consequência da alteração do local <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino do IDE <strong>de</strong> Taiwan, os principais parceiros<br />

comerciais tornaram-se os países do Su<strong>de</strong>ste Asiático. Ao mesmo tempo que as<br />

exportações para os EUA <strong>de</strong>sceram <strong>de</strong> 44,2 para 24,2%, as exportações para os países da<br />

ASEAN –Tailândia, Malásia, Filipinas, Indonésia e Singapura- aumentaram <strong>de</strong> 3 para 12,7%,<br />

∗<br />

Nos últimos 8 anos cerca <strong>de</strong> 300.000 pessoas saíram do país para estudar ou pesquisar no estrangeiro nomeadamente em<br />

Silicon Valley, on<strong>de</strong> as empresas se querem sediar, procurando obter posições <strong>de</strong> peso, contratando gestores oci<strong>de</strong>ntais e<br />

procurando ser cotadas no Nasdaq.<br />

29


Informação Internacional<br />

em 1997. A parte mais significativa do comércio <strong>de</strong> Taiwan, mantém-se o comércio indirecto<br />

para a China, através <strong>de</strong> Hong Kong – que representava em 1987, 7,6% das exportações,<br />

em contraste com os 23% em 1997.<br />

Po<strong>de</strong>r-se-á afirmar que <strong>de</strong>vido a estas relações na região surgiu uma divisão vertical do<br />

trabalho entre Taiwan e os seus vizinhos, e em <strong>de</strong>terminadas indústrias, o que revela um<br />

aumento do comércio industrial intra-sectorial. Os sistemas produtivos na região,<br />

nomeadamente na área das indústrias tecnológicas, estão assentes numa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção<br />

internacional, no qual cada empresa, em cada país, é <strong>de</strong>tentora <strong>de</strong> um elo fundamental para<br />

toda a ca<strong>de</strong>ia. Os países do Su<strong>de</strong>ste Asiático funcionam não só como aliados <strong>de</strong> produção a<br />

baixos custos, já que todos os factores produtivos são mais abundantes, mas também terão<br />

maiores responsabilida<strong>de</strong>s em termos <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>.<br />

Esta re<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção global, oriunda especialmente da “migração” das empresas <strong>de</strong><br />

Taiwan, vai dinamizar substancialmente os fluxos <strong>de</strong> comércio na região. As empresas que<br />

transferem uma quantida<strong>de</strong> significativa <strong>de</strong> recursos industriais, incluindo a tecnologia,<br />

mercados, facilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção e recursos humanos para os países vizinhos, são assim<br />

o principal motor da integração económica <strong>de</strong> Taiwan na região.<br />

30<br />

TAIWAN: EVITANDO UMA CRISE FINANCEIRA E PRECIPITANDO-SE NOUTRA?<br />

Em 1997/8 Taiwan revelou uma surpreen<strong>de</strong>nte capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resistência à crise que financeira e<br />

cambial que assolou a Ásia/Pacífico. Na ocasião foram referidos diversos factores que po<strong>de</strong>riam<br />

explicar esta resistência: o nível muito mais baixo <strong>de</strong> endividamento externo das empresas; o vigor<br />

do seu sector <strong>de</strong> tecnologias <strong>de</strong> informação que a ligavam mais à economia dos EUA do que ao<br />

resto da Ásia, reduzindo os efeitos <strong>de</strong> contágio por via do comércio; a soli<strong>de</strong>z da balança <strong>de</strong><br />

pagamentos; a existência <strong>de</strong> abundantes reservas cambiais etc.<br />

Mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> finais <strong>de</strong> 1998, começaram a manifestar-se sintomas <strong>de</strong> uma outra crise, que se<br />

acelerou <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2000, data das eleições presi<strong>de</strong>nciais que pela primeira vez<br />

consagraram a <strong>de</strong>rrota do candidato apoiado pelo Kuomitang, o partido no po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a chegada<br />

em 1949, dos restos do exército nacionalista <strong>de</strong>rrotado pelas forças comunistas na China<br />

continental. Vários factos parecem apontar para que se estejam a reunir as condições para uma<br />

crise no sistema financeiro, que po<strong>de</strong>rá ter proporções significativas:<br />

• a “bolha especulativa” que se formara na bolsa <strong>de</strong> Taipé rebentou, ainda antes das eleições<br />

presi<strong>de</strong>nciais, e cerca <strong>de</strong> 30 empresas, a maior parte <strong>de</strong>las com interesses no imobiliário e<br />

ligações ao Kuomitang (KMT), ficaram à beira da bancarrota; o que levou o governo <strong>de</strong><br />

então, controlado pelo KMT, a forçar os bancos a conce<strong>de</strong>r-lhes novos créditos para evitar o<br />

seu colapso; e a <strong>de</strong>cidir colocar sob controlo estatal dois bancos em dificulda<strong>de</strong>s;<br />

• a bolsa <strong>de</strong> Taipé quebrou em 35% <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2000, logo após as eleições<br />

presi<strong>de</strong>nciais que levaram à <strong>de</strong>rrota do candidato apoiado pelo KMT, e na sequência da<br />

queda verificada no Nasdaq dos EUA, que arrastou a quebra das cotações das empresas do<br />

sector das tecnologias da informação taiwanesas; (e segundo rumores também na<br />

sequência <strong>de</strong> vendas precipitadas <strong>de</strong> acções <strong>de</strong>tidas pelo KMT) ; e, por seu lado, o mercado<br />

imobiliário continuou a sua queda iniciada em 1995, queda que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> essa data já<br />

ultrapassou os 50%;


As “Economias Chinesas “(I) – Taiwan: uma Economia <strong>de</strong> Silício<br />

• nos bancos acumulou-se crédito mal parado, que segundo fontes oficiais atingiria 5% do<br />

total do crédito, mas que segundo analistas financeiros po<strong>de</strong>ria estar já num nível duas ou<br />

três vezes superior, sendo que essa <strong>de</strong>gradação da carteira <strong>de</strong> empréstimos dos bancos é<br />

inseparável da <strong>de</strong>svalorização dos activos – acções e terrenos que servem com frequência<br />

<strong>de</strong> garantias colaterais a esses empréstimos;<br />

• os maiores conglomerados taiwaneses começaram a revelar dificulda<strong>de</strong>s em assegurar o<br />

serviço da sua dívida – tendência que não podia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser agravada à quebra dos<br />

preços dos semicondutores e pelas dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mobilizar capital na bolsa, em<br />

consequência da queda das suas acções; e lançaram – se na constituição ou aquisição <strong>de</strong><br />

bancos próprios seguindo um percurso que <strong>de</strong>u já, recentemente, as suas provas muito<br />

negativas noutras economias da Ásia.<br />

Por sua vez a instabilida<strong>de</strong> governativa, associada às tentativas do KMT <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrubar o governo,<br />

utilizando o controlo do Parlamento <strong>de</strong> que ainda dispõe, veio reduzir a confiança dos agentes<br />

económicos e tornar mais complexa a tomada <strong>de</strong> medidas eficazes para ultrapassar os factores <strong>de</strong><br />

crise.<br />

Fonte: “Taiwan`s Financial System: Too Many Debts to Settle”, The Economist November 11th<br />

2000<br />

31


Informação Internacional<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

CHOW, Peter C.Y., GILL, Bates – Weathering the storm [2000] – Taiwan, its neighbours,<br />

and the Asian financial crisis, Brookings Institution Press, Washington D.C.<br />

The World Competitiveness Yearbook [2000], IMD<br />

Taiwan – Country Profile, [2000], Economist Intelligency Unit<br />

The Europe World Yearbook, [2000], 41, Vol. 1<br />

Asian Development Outlook, [1998]<br />

East Asia – Recovery and Beyond, [2000], The World Bank<br />

Frozen Miracle – A survey of East Asian Economies, The Economist, Mars 7, 1998<br />

In Praise of Paranoia – A survey of Taiwan, The Economist, November 7, 1998<br />

Asia’s rollercoaster ri<strong>de</strong>s, The Economist, October 21, 2000, pag 99-101<br />

On their feet again?, The Economist, August 21, 1999, pag 14-16<br />

Will a global sneeze become Asia’s cold?, Far Eastern Economic Revue, October 26, 2000,<br />

pag 40-42<br />

Taiwanese len<strong>de</strong>rs find trouble by banking the Japanese way, Financial Times, August 10,<br />

2000, pag 15<br />

A silicon shield protects Taiwan from China, Financial Times, September 29, 2000, pag 6<br />

Sites da Internet:<br />

The World Bank<br />

International Monetary Fund<br />

Ministério das Finanças Chinês<br />

Euro-Asia Tra<strong>de</strong> Organization<br />

www.virtualtaiwan.com<br />

www.stat.gov.tw<br />

32


II<br />

ECONOMIA <strong>INTERNACIONAL</strong><br />

√ O Euro e o Dólar − Passado Recente e Futuro Próximo


José Félix Ribeiro<br />

Economia Internacional<br />

O EURO E O DÓLAR − PASSADO RECENTE E FUTURO PRÓXIMO<br />

O Euro, como moeda única europeia surgiu com dois objectivos principais − um <strong>de</strong>clarado e<br />

outro implícito:<br />

• consolidar o mercado único, ao constituir o modo mais seguro <strong>de</strong> evitar<br />

<strong>de</strong>svalorizações competitivas no seio <strong>de</strong>ste, e ao suprimir os riscos <strong>de</strong> actuação<br />

especulativa <strong>de</strong> terceiros sobre a anterior grelha <strong>de</strong> parida<strong>de</strong>s fixas, mas ajustáveis,<br />

típica do SME;<br />

• contribuir para a criação <strong>de</strong> um sistema monetário internacional multidivisas,<br />

organizado em torno do dólar, do euro e do yen, pondo fim a décadas <strong>de</strong> hegemonia<br />

do dólar.<br />

Adicionalmente o Euro tem sido entendido como um factor <strong>de</strong> disciplina orçamental e <strong>de</strong><br />

aceleração <strong>de</strong> reformas estruturais que, reduzindo a prazo as pressões sobre os<br />

orçamentos nacionais, permitissem também aumentar a competitivida<strong>de</strong> e inovação das<br />

economias europeias.<br />

As expectativas quanto às potencialida<strong>de</strong>s da futura moeda europeia <strong>de</strong>sempenhar funções<br />

<strong>de</strong> moeda internacional foram referidas na “Informação Internacional” do 2º semestre <strong>de</strong><br />

1996 nos seguintes termos:<br />

“Os último meses confirmaram o carácter quase irreversível do processo que levará à 3ª<br />

Fase da UEM e à criação da moeda única europeia – o EURO. Decisões tomadas no final<br />

<strong>de</strong> 1996 e completadas no primeiro trimestre <strong>de</strong> 1997, <strong>de</strong>finiram um Pacto <strong>de</strong> Estabilida<strong>de</strong> e<br />

Crescimento para funcionar a partir da entrada na 3ª Fase da UEM; <strong>de</strong>senharam a<br />

arquitectura e os modos <strong>de</strong> funcionamento <strong>de</strong> um novo Mecanismo das Taxas <strong>de</strong> Câmbio<br />

para os países europeus que não participarem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, na moeda única;<br />

consagraram o modo <strong>de</strong> operar da política monetária pelo futuro Banco Central Europeu,<br />

etc..<br />

Tais avanços não impe<strong>de</strong>m que continuem a existir dúvidas quanto à composição do grupo<br />

inicial que entrará na 3ª fase da UEM; quanto a um eventual adiamento do arranque, caso<br />

alguma das economias centrais para o processo (Alemanha ou França) não consiga cumprir<br />

a tempo os critérios; quanto à estabilida<strong>de</strong> cambial no período <strong>de</strong> transição 1999/2002 (caso<br />

não haja adiamento da data <strong>de</strong> arranque); quanto à capacida<strong>de</strong> dos diversos países<br />

proce<strong>de</strong>rem às reformas estruturais que permitirão cumprir o Pacto <strong>de</strong> Estabilida<strong>de</strong>, etc.".<br />

Na análise que iremos realizar seguidamente sobre o EURO como moeda internacional<br />

assumir-se-á uma posição optimista quanto à maioria <strong>de</strong>stas dúvidas, consi<strong>de</strong>rando como


Informação Internacional<br />

realizada entre 1999 e 2002 uma UEM <strong>de</strong> composição ampla e um período <strong>de</strong> transição<br />

sem gran<strong>de</strong>s percalços.<br />

As ambições do EURO enquanto moeda internacional partiriam das seguintes constatações:<br />

36<br />

• a UEM, a ser constituída pela maioria dos 15 Estados-membros actuais da UE, terá<br />

uma dimensão económica e comercial comparável à dos EUA e superior à do Japão;<br />

se consi<strong>de</strong>rássemos que integraria a totalida<strong>de</strong> dos Estados-membros, e excluindo as<br />

trocas intracomunitárias do comércio da UE, a sua parte nas trocas mundiais seria<br />

hoje <strong>de</strong> 20,9%, contra 19,6% para os EUA e 10,5 % para o Japão; mas a área EURO,<br />

tal como os EUA, seria uma economia relativamente “fechada”, com o comércio<br />

externo a representar uma parte do produto inferior à dos actuais Estados-membros,<br />

tomados individualmente (excluindo as trocas intracomunitárias o grau <strong>de</strong> abertura da<br />

UE, no seu conjunto atinge hoje os 10,2%, nível equivalente ao dos EUA, e também<br />

do Japão); um espaço <strong>de</strong>sta dimensão po<strong>de</strong>rá com mais facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>nominar as<br />

suas exportações em EUROS e po<strong>de</strong>rá, eventualmente, conseguir que alguns<br />

produtores <strong>de</strong> petróleo e matérias-primas aceitem <strong>de</strong>nominar nessa moeda as<br />

importações dos países da UE;<br />

• a UEM será o foco <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>nsa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações comerciais e <strong>de</strong> investimento,<br />

antes <strong>de</strong> mais com países e regiões situadas na sua periferia mais próxima – Europa<br />

Central e Oriental, Turquia, Rússia e outras economias da ex-URSS, Bacia<br />

Mediterrânica – mas também com agrupamentos regionais da América Latina, da<br />

África etc.; em todos estes casos a posição da UE nas trocas e investimento<br />

internacional dos países ou regiões referidas será significativa, e mesmo nalguns<br />

casos a principal; tal facilitará a penetração do EURO no comércio internacional e,<br />

eventualmente, para alguns países mais integrados, o seu funcionamento como<br />

âncora cambial;<br />

• a realização da UEM terá como efeito criar, potencialmente, um dos maiores, mais<br />

profundos e líquidos mercados <strong>de</strong> títulos do mundo (para tal contribuindo o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um sistema eficaz <strong>de</strong> pagamentos transfronteiriços – Target; a<br />

harmonização dos instrumentos financeiros, implicando uma eventual convergência<br />

para os meios <strong>de</strong> financiamento mais eficazes; uma política monetária única,<br />

implicando um mercado monetário unificado; a supressão do risco <strong>de</strong> câmbio entre os<br />

países participantes, etc.), sendo <strong>de</strong> esperar que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o arranque da UEM todas as<br />

emissões <strong>de</strong> obrigações públicas e das gran<strong>de</strong>s empresas sejam feitas em EURO; tal<br />

não significa que não permaneça uma certa fragmentação entre os mercados <strong>de</strong><br />

capitais nacionais (nomeadamente no que respeita à emissão <strong>de</strong> títulos <strong>de</strong> Estado)<br />

<strong>de</strong>vido às diferenças entre regimes fiscais, entre quadros regulamentares, entre o tipo<br />

<strong>de</strong> instrumentos monetários e financeiros nele transaccionados etc. (esperando-se<br />

que estas distinções sejam temporárias);<br />

• o EURO herdará um crescimento do peso nos mercados <strong>de</strong> obrigações à escala<br />

mundial, das obrigações emitidas por entida<strong>de</strong>s dos Estados-membros da UE, que,<br />

combinado com o ponto anterior possivelmente facilitará uma maior realocação dos<br />

“portfolios“ a favor <strong>de</strong> títulos em EUROS; por outro lado esse mercado <strong>de</strong> capitais<br />

mais integrado vai surgir numa fase em que os investidores institucionais e outros<br />

investidores do “mundo anglo-saxónico” estão a proce<strong>de</strong>r a uma diversificação


O Euro e o Dólar - Passado Recente e Futuro Próximo<br />

geográfica das suas “carteiras” “portfolios”, e serão naturalmente atraídos para os<br />

activos em EURO, se este se mostrar estável e se a integração dos mercados <strong>de</strong><br />

capitais europeus lhe <strong>de</strong>rem a profundida<strong>de</strong> e liqui<strong>de</strong>z que tais investidores exigem;<br />

• a existência <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s países à escala mundial que po<strong>de</strong>rão estar interessados em<br />

vir a equilibrar nas suas reservas oficiais <strong>de</strong> câmbio, o dólar, o EURO e o Yen, como<br />

po<strong>de</strong>rá ser o caso da China, Índia, Rússia; para além da existência <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong><br />

países pequenos e médios, nas periferias da UE, com fortes relações comerciais com<br />

ela que po<strong>de</strong>m ten<strong>de</strong>r a adoptar mais facilmente o EURO, como principal moeda <strong>de</strong><br />

reserva, do que o faziam para o marco.<br />

As vantagens potenciais para a afirmação internacional do EURO, po<strong>de</strong>m, no entanto ser<br />

contrariadas por quatro or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> factores:<br />

• os mercados financeiros da zona EURO não serem suficientemente diversificados e<br />

inovadores em termos <strong>de</strong> instrumentos, <strong>de</strong>vido à predominância na Europa<br />

continental <strong>de</strong> sistemas financeiros baseados no crédito, com mercados <strong>de</strong> capitais<br />

relativamente sub<strong>de</strong>senvolvidos, e dominados pelos títulos do Estado, dos bancos e<br />

das empresas recém-privatizadas – oferecendo uma panóplia <strong>de</strong> instrumentos<br />

claramente mais reduzida, quando comparada com os mercados <strong>de</strong> capitais dos EUA;<br />

• o modo escolhido para a condução da política monetária e a forte influência da<br />

experiência alemã, po<strong>de</strong>rá apontar para que se mantenha o papel central dos bancos<br />

comerciais ou universais; conjugando-se com uma timi<strong>de</strong>z na adopção das inovações<br />

que acelerem a <strong>de</strong>sintermediação ou a generalização dos mercados <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados,<br />

etc.; se assim for reforçar-se-ão as limitações dos mercados <strong>de</strong> capitais da zona<br />

EURO (a adicionar à sua fragmentação nacional, enquanto esta persistir);<br />

• incertezas quanto à promoção <strong>de</strong> reformas estruturais por parte dos Estadosmembros<br />

(vd. os casos dos sistemas <strong>de</strong> segurança social, dos sistemas fiscais, da<br />

continuação das privatizações para novas áreas – conceptualmente pertencentes aos<br />

“serviços públicos” – do mercado do trabalho, etc.); reformas necessárias para limitar<br />

os défices orçamentais e, simultaneamente, estimular o investimento e o emprego;<br />

sem essa <strong>de</strong>terminação reformista multiplicar-se-ão os conflitos em torno da questão<br />

do controlo dos défices públicos, ten<strong>de</strong>ndo a enfraquecer o EURO, nos mercados <strong>de</strong><br />

câmbios;<br />

• incerteza quanto à orientação da política monetária, nomeadamente se a UEM<br />

integrar países com estruturas e vulnerabilida<strong>de</strong>s à globalização muito diferentes, e se<br />

não existirem mecanismos <strong>de</strong> transferências orçamentais vultuosas para compensar<br />

situações <strong>de</strong> crise localizadas; a existência <strong>de</strong> uma política monetária à escala da<br />

zona EURO e <strong>de</strong> diferentes políticas orçamentais nacionais (apenas se exigindo, à<br />

partida, que essas política não originem défices excessivos) po<strong>de</strong>, por sua vez, tornar<br />

difícil o exercício da primeira, e acentuar divisões no seio dos Estados participantes<br />

(vd. o caso do BCE optar por seguir uma política monetária ao serviço <strong>de</strong> um EURO<br />

forte, logo no início da UEM, para afirmar a sua credibilida<strong>de</strong>, tentando transferir para<br />

o EURO, características que foram as do marco, pelo menos até recentemente)”.<br />

37


Informação Internacional<br />

38<br />

O EURO E O YEN EM CONCORRÊNCIA COM O DÓLAR<br />

“Se actualmente a centralida<strong>de</strong> do dólar como moeda internacional é inquestionável, estão em<br />

curso dois processos, que po<strong>de</strong>rão culminar, respectivamente em 2001 e 2002, no surgimento <strong>de</strong><br />

duas moedas internacionais competindo com o dólar, pelo menos nalgumas funções – o Yen e,<br />

sobretudo, o EURO. A data <strong>de</strong> 2001 está associada ao horizonte temporal do “Big Bang” no<br />

sistema financeiro japonês e 2002 é a data estabelecida para a generalização do uso do EURO<br />

nos países então participantes na 3ª Fase da UEM.<br />

Ao analisar a possível evolução do Sistema Monetário Internacional, em termos do aparecimento<br />

<strong>de</strong> moedas internacionais competindo com o dólar, alguns autores apontam para que:<br />

• a actual moeda internacional dominante – o dólar – beneficia <strong>de</strong> externalida<strong>de</strong>s que<br />

resultam <strong>de</strong> menores custos <strong>de</strong> transacção e <strong>de</strong> informação e <strong>de</strong> “efeitos <strong>de</strong> re<strong>de</strong>”; estas<br />

externalida<strong>de</strong>s tornam difícil o aparecimento <strong>de</strong> uma nova moeda internacional;<br />

• a emergência <strong>de</strong> duas novas moedas internacionais, em simultâneo seria mais fácil, porque<br />

a dimensão da actual moeda dominante sofreria uma erosão mais rápida.<br />

Bénassy-Queré consi<strong>de</strong>ra, por seu lado, que as duas moedas internacionais potenciais – o yen e o<br />

euro – iniciarão a sua existência como moedas internacionais numa base regional, sendo que<br />

esta evolução <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá do comportamento dos “parceiros regionais”, respectivamente do Japão<br />

(vd. NIC´s e países da ASEAN) e da UE (vd. Países da Europa Central e Oriental).<br />

Fonte: “Informação Internacional“ 2º semestre <strong>de</strong> 1996<br />

1. DOIS ANOS DEPOIS – O EURO NOS MERCADOS INTERNACIONAIS<br />

1.1. O EURO como Moeda Internacional – Uma assimetria <strong>de</strong> Posições<br />

Ao fim <strong>de</strong> dois anos <strong>de</strong> existência o EURO tinha-se afirmado como moeda <strong>de</strong> emissão, em<br />

especial nos mercados obrigacionistas, mas não como moeda <strong>de</strong> reserva nem como meio<br />

<strong>de</strong> pagamento internacional (em comparação com as moedas que irá substituir).<br />

Como moeda <strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> obrigações, e após dois anos da 3ª Fase da UEM, a parte<br />

<strong>de</strong>nominada em EURO dos mercados obrigacionistas tinha atingido já um lugar <strong>de</strong><br />

relevância incontestável, tendo mesmo ultrapassado o dólar em 1999. Para este<br />

comportamento contribuíram:<br />

• do lado da oferta a conversão da dívida pública dos Estados participantes na moeda<br />

única; o aumento das emissões <strong>de</strong> títulos privados por parte <strong>de</strong> bancos e empresas<br />

europeias (com <strong>de</strong>staque para as empresas ligadas ao sector das telecomunicações<br />

e media) que titularam esses empréstimos em EURO; e o inicio da colocação <strong>de</strong><br />

dívida em EUROS, por parte <strong>de</strong> Estados, agências e empresas <strong>de</strong> economias<br />

emergentes;<br />

• do lado da procura o <strong>de</strong>saparecimento do risco <strong>de</strong> câmbio permitiu a numerosos<br />

investidores europeus diversificar as suas carteiras em termos <strong>de</strong> sector e qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> crédito, saindo das fronteiras nacionais.


A DÍVIDA PÚBLICA DENOMINADA EM EUROS<br />

O Euro e o Dólar - Passado Recente e Futuro Próximo<br />

Em 1995 os governos da União Europeia <strong>de</strong>cidiram que a partir <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1999 toda a dívida<br />

pública emitida <strong>de</strong> novo o seria já em EUROS. Mas nenhuma <strong>de</strong>cisão foi tomada sobre a<br />

re<strong>de</strong>nominação da dívida existente nessa altura. Governos como os da Bélgica e da França foram<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo favoráveis a uma re<strong>de</strong>nominação total e rápida, em contraste com o governo alemão<br />

que permaneceu durante muito tempo in<strong>de</strong>ciso. Mas sob várias pressões, entre as quais as do<br />

sector financeiro alemão, que receava uma perda <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> do mercado <strong>de</strong> obrigações<br />

da bolsa <strong>de</strong> Frankfurt, caso se prolongasse esta situação, a lei <strong>de</strong> introdução do EURO <strong>de</strong> Junho<br />

<strong>de</strong> 1998 acabou por estipular a conversão total da dívida existente em 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1999. Após<br />

esta <strong>de</strong>cisão os governos <strong>de</strong>cidiram dar um novo passo no sentido da criação <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong><br />

mercado europeu para os títulos da dívida pública, homogeneizando as convenções relativas à<br />

gestão das diversas dívidas públicas nacionais.<br />

De acordo com o Quadro 1, enquanto em 1998 as emissões liquidas <strong>de</strong>nominadas em<br />

EUROS tinham representado 32,8% do total das emissões internacionais <strong>de</strong> dívida<br />

(obrigações, notas <strong>de</strong> médio prazo, papel comercial e títulos do tesouro), em comparação<br />

com os 60,3% <strong>de</strong>nominados em dólar, já em 1999 estes valores tinham passado<br />

respectivamente para 47,1% e 44,7%, enquanto em 2000 se assistiu a um retomar da<br />

posição dominante do dólar, com 47,7% do total, em confronto com os 38,7% para o EURO.<br />

A tal facto não é estranho o comportamento cambial do EURO face ao dólar – queda na<br />

maior parte do período <strong>de</strong> dois anos – e o regresso à preferência tradicional das entida<strong>de</strong>s<br />

que emitem empréstimos pelas moedas que se valorizam, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> durante o ano <strong>de</strong> 1999<br />

terem optado por marcar presença no novo mercado, e respectivamente <strong>de</strong> outras<br />

consi<strong>de</strong>rações.<br />

Em % do<br />

Total<br />

Mundial<br />

Quadro 1<br />

ESTRUTURA DOS STOCKS E DAS EMISSÕES DE OBRIGAÇÕES INTERNACIONAIS<br />

EMISSÕES LIQUIDAS EMISSÕES BRUTAS “STOCKS”<br />

1998 1999 2000 1998 1999 2000 1998 (Dez.) 1999 (Dez.) 2000 (Dez.)<br />

EURO 32,8 47,1 38,7 28,3 38,4 34,2 27,3 28,9 30,1<br />

DOLLAR 60,3 44,7 47,7 50,3 43,7 42,3 45,0 46,6 48,7<br />

YEN -3,9 -0,6 0,3 6,3 6,7 11,4 11,5 10,1 8,2<br />

OUTRAS 10,8 8,8 13,3 15,1 11,2 12,1 16,2 14,4 13,0<br />

Fonte: BRI, Março 2001, citado em “L`EURO: <strong>de</strong>ux ans et um peu plus”, “Conjuncture”, BNP-Paribas<br />

Não obstante as primeiras emissões em EUROS <strong>de</strong> dívida soberana, por parte <strong>de</strong> países<br />

emergentes, ou <strong>de</strong> algumas agências fe<strong>de</strong>rais dos EUA, po<strong>de</strong> afirmar-se que o mercado do<br />

EURO ainda é, no essencial, um mercado com expressão europeia (vd Quadro 2). Recor<strong>de</strong>se<br />

que a coincidência do lançamento do EURO com uma fase intensa <strong>de</strong> Fusões &<br />

Aquisições nos sectores das telecomunicações e media na Europa, e com a corrida ao<br />

39


Informação Internacional<br />

financiamento da 3ª geração <strong>de</strong> telefonia móvel, por parte dos operadores <strong>de</strong><br />

telecomunicações europeus, contribuiu para o forte dinamismo verificado na emissão <strong>de</strong><br />

obrigações em EUROS por parte <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s europeias.<br />

As emissões do sector bancário europeu progrediram também substancialmente. Recor<strong>de</strong>se<br />

que nos sistemas financeiros que predominam na Europa Continental o papel central é<br />

ocupado pelos bancos e que estes, perante a fuga dos <strong>de</strong>positantes para outro tipo <strong>de</strong><br />

aplicações e preten<strong>de</strong>ndo entrar em áreas <strong>de</strong> negócio com maior risco e remuneração<br />

recorreram maciçamente aos empréstimos obrigacionistas para obter fundos.<br />

Já como moeda <strong>de</strong> emissão <strong>de</strong> acções a posição do EURO ficou ainda muito aquém do<br />

dólar, <strong>de</strong>vido ao próprio facto da capitalização bolsista dos EUA ser <strong>de</strong> longe muito superior<br />

à europeia, e <strong>de</strong> esta ter a <strong>de</strong>svantagem da fragmentação em mercados nacionais ainda<br />

não ter sido ultrapassada. Mas o maior recurso das empresas europeias ao financiamento<br />

por acções, a aproximação entre Bolsas que tem vindo a verificar na Europa, bem como a<br />

subida na utilização <strong>de</strong> índices europeus <strong>de</strong> acções apontam para uma possível aumento do<br />

papel do EURO neste segmento.<br />

40<br />

Quadro 2<br />

ESTRUTURA DAS EMISSÕES INTERNACIONAIS DE OBRIGAÇÕES POR<br />

MOEDA E POR REGIÃO (EMISSOR)<br />

Em % do Total Mundial 1998 1999 2000<br />

EUROPA (inc. Reino<br />

Unido)<br />

Dólar 27,8 8,8 27,5<br />

Euro 60,7 77,8 58,9<br />

Outras 11,8 13,4 13,6<br />

RESTO DO MUNDO (fora<br />

da Europa)<br />

Dólar 83,3 83,3 80,1<br />

Euro 13,3 14,1 13,7<br />

Outras 3,4 2,6 6,2<br />

TOTAL<br />

Dólar 60,3 44,9 49,3<br />

Euro 32,9 47,0 40,1<br />

Outras 6,8 8,1 10,6<br />

Fonte: BRI, Março 2001, citado em “L`Euro: <strong>de</strong>ux ans et um peu<br />

plus”, “Conjuncture”, BNP-Paribas<br />

Como meio <strong>de</strong> pagamento o EURO não conseguiu <strong>de</strong>stronar o dólar, que continua a ser a<br />

divisa <strong>de</strong> referência, já que 60% do comércio mundial é <strong>de</strong>nominado ou financiado nessa<br />

moeda, parte muito superior ao peso dos EUA nesse comércio. Tal fica a <strong>de</strong>ver-se ao facto<br />

do comércio <strong>de</strong> produtos agrícolas, matérias-primas e energia ser praticamente todo ele<br />

titulado em dólares, o mesmo acontecendo com certas indústrias como a aeronáutica ou<br />

certos segmentos da electrónica. Em contraste, o EURO manifestou a tendência <strong>de</strong> apenas<br />

substituir as moedas nacionais dos países da zona EURO, na <strong>de</strong>nominação do comércio


O Euro e o Dólar - Passado Recente e Futuro Próximo<br />

internacional que os envolve directamente. Sem uma <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> importantes produtores <strong>de</strong><br />

petróleo passarem a aceitar o pagamento em EUROS dificilmente este panorama se<br />

modificará. E até agora apenas o Iraque manifestou tal disponibilida<strong>de</strong>.<br />

Enquanto moeda <strong>de</strong> reserva o comportamento do EURO não tem sido brilhante. Não<br />

conseguiu inverter a tendência à rápida diminuição da importância das moedas europeias<br />

nas reservas oficiais internacionais. Assim, enquanto a parte <strong>de</strong>stas reservas <strong>de</strong>nominada<br />

em dólares representavam 50,6% do total em 1990, 56,8% em 1995 e 65,7% em 1998, o<br />

somatório das moedas nacionais dos países actualmente integrados na zona EURO<br />

representavam 30% <strong>de</strong>ssas reservas em 1990, 22,9% em 1995, 15% em 1998. No final <strong>de</strong><br />

1999 os valores eram <strong>de</strong> 66% para o dólar e 12,5% 1 para o Euro e em 2000.<br />

A esta evolução, verificada ao longo da década <strong>de</strong> 90 não é estranho o facto das economias<br />

emergentes da Ásia e América Latina terem as suas moedas alinhadas, <strong>de</strong> uma maneira ou<br />

doutra com o dólar e nesta moeda terem o essencial das suas reservas. Tal explica o<br />

interesse dos países da zona EURO em que países como a China ou o Brasil –<br />

interessados, por razões políticas, em reduzir a influência dos EUA – venham a utilizar mais<br />

o EURO nas suas reservas.<br />

1.2. O EURO no Mercado <strong>de</strong> Câmbios, face ao Dólar e ao Yen – 1999/2000<br />

Dois anos <strong>de</strong>pois da passagem à 3ª Fase da UEM o EURO tinha se <strong>de</strong>svalorizado face ao<br />

dólar e ao yen, como ilustra o Gráfico 1, ao mesmo tempo que se expandia a sua utilização<br />

nos mercados internacionais <strong>de</strong> obrigações, sem que se tivesse expandido o seu papel<br />

como moeda <strong>de</strong> reserva e sem que tivesse reforçado o seu peso no mercado <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivados.<br />

Convém recordar que o que é <strong>de</strong>terminante é a evolução cambial dólar/EURO, já que esta<br />

<strong>de</strong>verá ter <strong>de</strong>terminado o comportamento dos investidores japoneses no sentido <strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>sfazerem, partir <strong>de</strong> certa altura das volumosas carteiras <strong>de</strong> activos em moedas da zona<br />

Euro que haviam constituído em 1998, contribuindo <strong>de</strong>sse modo para a <strong>de</strong>preciação cambial<br />

do EURO relativamente ao yen.<br />

O que ressalta é que, com alguns sobressaltos temporários, o EURO se tem ficado<br />

claramente abaixo da taxa <strong>de</strong> câmbio em relação ao dólar com que iniciou a sua existência<br />

internacional. E que tal facto influi negativamente na sua generalização como moeda<br />

internacional, pelo menos nalgumas funções.<br />

1 Refira-se que este valor é afectado pelo facto <strong>de</strong> as antigas moedas europeias terem <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong><br />

funcionar como reservas <strong>de</strong> câmbio para os bancos centrais da zona Euro.<br />

41


Informação Internacional<br />

42<br />

Fonte: Financial Times, 23 April 2001<br />

Gráfico 1<br />

O EURO FACE AO DÓLAR E O YEN 1999/2000<br />

2. O “CÓDIGO GENÉTICO” DAS ECONOMIAS DA ZONA EURO E A DINÂMICA DA SUA<br />

<strong>INTERNACIONAL</strong>IZAÇÃO<br />

Antes <strong>de</strong> tentar analisar as possíveis explicações para o comportamento do EURO face ao<br />

Dólar e ao Yen é vantajoso fazer um duplo <strong>de</strong>svio: um, centrado na breve análise das<br />

características do “mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> capitalismo” euro-continental e das suas transformações em<br />

curso aquando do lançamento da 3ª Fase da UEM e outro centrado nas características do<br />

processo <strong>de</strong> internacionalização das economias europeias, por altura <strong>de</strong>sse lançamento.<br />

Um e outro são importantes para compreen<strong>de</strong>r o que se passou nestes dois anos.<br />

2.1. Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Capitalismo Euro-Continental e as Limitações que Gera<br />

As economias da Europa Continental que integram actualmente a zona EURO (com a<br />

notável excepção da Holanda) tinham como “código genético” comum um Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

Capitalismo que no inicio da década <strong>de</strong> 90, se podia caracterizar pelos seguintes traços:<br />

• sistemas financeiros estruturados em torno da intermediação bancária (vd Quadro 3),<br />

com mercados <strong>de</strong> capitais pouco <strong>de</strong>senvolvidos e fragmentados, fracas capitalizações<br />

bolsistas e importância crucial dos títulos do Estado nos mercados <strong>de</strong> capitais;<br />

• sistemas <strong>de</strong> pensões caracterizados pelo predomínio <strong>de</strong> pilares públicos financiados<br />

em regime <strong>de</strong> repartição, com benefícios <strong>de</strong>finidos e assegurando uma generosa<br />

substituição do rendimento, acompanhados quando muito por pilares ocupacionais<br />

em regime <strong>de</strong> capitalização, geridos pelas gran<strong>de</strong>s empresas, mas sem recurso a<br />

fundos <strong>de</strong> pensões;


O Euro e o Dólar - Passado Recente e Futuro Próximo<br />

• fraqueza relativa dos investidores institucionais, bem patente no volume <strong>de</strong> activos<br />

sob gestão <strong>de</strong> fundos <strong>de</strong> pensões que alcançava em 1997 os 5,9% do PIB na Itália<br />

5,6% na Alemanha, 4,5% na França, e 1,7% na Espanha, a comparar com os 89,9%<br />

no Reino Unido e com os 88,5% na Holanda; sendo que as carteiras <strong>de</strong> títulos dos<br />

investidores institucionais existentes – maioritariamente companhias <strong>de</strong> seguros, e<br />

mais recentemente fundos <strong>de</strong> investimento mobiliário, em muitos casos pertencentes<br />

aos grupos financeiros <strong>de</strong> base bancária – era dominado por títulos do Estado e por<br />

obrigações domésticas;<br />

• um mercado pouco dinâmico <strong>de</strong> competição pela proprieda<strong>de</strong> das gran<strong>de</strong>s empresas<br />

<strong>de</strong>vido ao papel <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s accionistas estáveis – bancos, famílias e Estado; sendo<br />

<strong>de</strong> recordar que, em três das principais economias da zona EURO – França, Itália e<br />

Espanha – o sector público <strong>de</strong>tinha ainda em meados da década <strong>de</strong> 90 importantes<br />

posições no capital <strong>de</strong> bancos e empresas dos sectores infra-estruturais e <strong>de</strong><br />

indústrias mais capital e tecnologicamente intensivas;<br />

• um sistema <strong>de</strong> financiamento da inovação baseado nas transferências internas <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s conglomerados industriais, privados ou públicos, <strong>de</strong>tendo um acesso<br />

privilegiado aos mercados públicos, e no financiamento público, primeiro a nível<br />

nacional, e posteriormente a nível europeu;<br />

• uma regulação salarial introduzindo elevada rigi<strong>de</strong>z no funcionamento do mercado <strong>de</strong><br />

trabalho, dificultando a mobilida<strong>de</strong> do capital e a adopção <strong>de</strong> esquemas organizativos<br />

que permitissem o aumento da produtivida<strong>de</strong> do capital;<br />

• um fornecimento <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> mérito (vd. educação e saú<strong>de</strong>) através <strong>de</strong> serviços<br />

públicos, facilitando uma forte influência dos interesses “corporativos” organizados na<br />

sua gestão.<br />

43


Informação Internacional<br />

44<br />

Quadro 3<br />

ESTRUTURA DE FINANCIAMENTO DAS EMPRESAS NÃO FINANCEIRAS NA ÁREA EURO, NOS EUA<br />

E NO JAPÃO<br />

RESPONSABILIDADES ÁREA EURO EUA JAPÃO<br />

ANOS 1997 1998 1999 1999 1999<br />

Empréstimos 30,0 27,2 23,3 5,4 38,9<br />

Concedidos por Instituições Monetárias<br />

e Financeiras da área Euro 21,3 19,5 16,2 - -<br />

Concedidos por entida<strong>de</strong>s financeiras<br />

não monetárias da área Euro 1,9 1,7 1,4 - -<br />

Concedidos por outros sectores da<br />

área Euro e pelo resto do Mundo 6,8 6,0 5,8 - -<br />

Crédito ao Comércio e Pagamentos<br />

Adiantados 10,7 9,8 8,3 7,8 12,4<br />

Títulos sem ser Acções 3,1 2,8 2,4 10,6 9,4<br />

Acções 51,7 56,3 62,6 70,2 33,8<br />

Dos quais Acções cotadas 19,6 22,0 26,3<br />

Outras Responsabilida<strong>de</strong>s 4,5 3,9 3,3 6,1 5,5<br />

Total 100 100 100 100 100<br />

Fonte:” Characteristics of Corporate Finance in the Euro area”, ECB Monthly Bulletin, February 2001<br />

Durante a década <strong>de</strong> 90, <strong>de</strong> criação do Mercado Único e <strong>de</strong> preparação para a UEM,<br />

assistiu-se a uma transformação parcial <strong>de</strong>ste Mo<strong>de</strong>lo caracterizada por:<br />

• um gran<strong>de</strong> processo <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> através das privatizações, que<br />

atingiu em especial os sectores bancários e <strong>de</strong> seguros, os sectores infra-estruturais<br />

das telecomunicações, da energia (petróleo, gás natural e electricida<strong>de</strong>) e do<br />

ambiente (águas e saneamento), bem como dos sectores das indústrias da <strong>de</strong>fesa,<br />

aeronáutica e espaço que ainda estavam em mãos públicas; esse processo contribuiu<br />

<strong>de</strong>cisivamente para a animação dos mercados <strong>de</strong> capitais e para o maior interesse<br />

dos particulares pelas colocações <strong>de</strong> poupanças em obrigações e acções <strong>de</strong><br />

empresas privatizadas;<br />

• uma transformação gradual dos sistemas financeiros no sentido <strong>de</strong> uma maior<br />

competição na prestação <strong>de</strong> serviços financeiros, uma redução do papel dos bancos<br />

na captação das poupanças das famílias (seduzidas pelo investimento em títulos), um<br />

maior papel dos mercados <strong>de</strong> capitais no financiamento das gran<strong>de</strong>s empresas<br />

(incluindo as recém privatizadas, que <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r contar com injecções<br />

volumosas <strong>de</strong> fundos públicos) uma entrada dos grupos bancários “clássicos” em<br />

novos campos – seguros, gestão <strong>de</strong> activos, banca <strong>de</strong> investimento;


O Euro e o Dólar - Passado Recente e Futuro Próximo<br />

• um processo <strong>de</strong> concentração empresarial à escala europeia, levando à reformulação<br />

dos centros patrimoniais que organizam gran<strong>de</strong> parte dos sectores industriais e infraestruturais<br />

europeus;<br />

• um processo <strong>de</strong> flexibilização <strong>de</strong> certos aspectos da regulação salarial, que nalguns<br />

países chegou até a uma certa <strong>de</strong>scentralização na contratação colectiva, processo<br />

esse que, no entanto, foi acompanhado por um recurso às reformas antecipadas<br />

como forma <strong>de</strong> gerir as inevitáveis reestruturações em sectores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong><br />

emprego e forte po<strong>de</strong>r dos sindicatos.<br />

Mas mantiveram-se intocados os regimes <strong>de</strong> pensões – on<strong>de</strong> quando muito foi permitida a<br />

constituição <strong>de</strong> planos individuais <strong>de</strong> poupança-reforma – e o papel central dos serviços<br />

públicos na oferta <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> mérito.<br />

Mas po<strong>de</strong> afirmar-se que, não obstante estas mudanças, as características do “mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

capitalismo” euro-continental tiveram consequências cruciais na evolução das economias da<br />

zona EURO, das quais se po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>stacar as seguintes:<br />

• induziram as empresas a uma política <strong>de</strong> investimento intensivo em capital e pouco<br />

consumidor <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, sem que estivessem reunidas condições para uma<br />

obtenção <strong>de</strong> elevadas produtivida<strong>de</strong>s do capital (facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encerramento rápido<br />

das instalações mais antiquadas, flexibilida<strong>de</strong> na gestão da força <strong>de</strong> trabalho<br />

permitindo uma intensa reorganização dos modos <strong>de</strong> trabalho em torno das<br />

possibilida<strong>de</strong>s oferecidas pelas tecnologias <strong>de</strong> informação etc.), repercutindo-se<br />

assim em níveis <strong>de</strong> rendibilida<strong>de</strong> fracos em muitas das gran<strong>de</strong>s empresas dos<br />

sectores mais expressivos das economias da zona EURO;<br />

• dificultaram as reduções <strong>de</strong> investimento em sectores com fraco crescimento<br />

potencial e a canalização <strong>de</strong> fundos para sectores mais dinâmicos e inovadores, que<br />

não pu<strong>de</strong>ram dispor <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco em abundância;<br />

• permitiram a concentração dos financiamentos nas mesmas entida<strong>de</strong>s empresariais<br />

que funcionavam como organizadoras do sistema produtivo anterior, ao apoiar a sua<br />

diversificação para novos sectores (vd. telecomunicações/multimédia/internet) ou para<br />

novos segmentos <strong>de</strong>ntro dos mesmos sectores (vd. telefonia móvel e serviços<br />

internet, no caso dos operadores tradicionais <strong>de</strong> telecomunicações fixas);<br />

• levaram a que o maior recurso das gran<strong>de</strong>s empresas europeias ao mercado <strong>de</strong><br />

capitais se traduzisse num crescente peso dos investidores institucionais anglosaxónicos<br />

na <strong>de</strong>tenção <strong>de</strong> títulos, dada a fraqueza relativa dos investidores<br />

institucionais europeus e as limitações ainda existentes à gestão das suas carteiras<br />

<strong>de</strong> activos (vd obrigação <strong>de</strong> investir uma parcela elevada em títulos do tesouro<br />

nacionais);<br />

• limitaram a capacida<strong>de</strong> das empresas europeias participarem da forma mais “barata”<br />

no processo <strong>de</strong> F&A à escala mundial <strong>de</strong>vido à sua fraca capitalização bolsista,<br />

obrigando a uma maior recurso ao endividamento para suportar esses movimentos.<br />

45


Informação Internacional<br />

2.2. A Introdução do EURO e as transformações que está a provocar no “Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

Capitalismo Euro-Continental”<br />

A formação do espaço monetário EURO, enquadrado pelo Pacto <strong>de</strong> Estabilida<strong>de</strong> e<br />

Crescimento está contribuir para quatro transformações maiores no “Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

Capitalismo Euro-Continental”:<br />

46<br />

• alterar a natureza dos sistemas financeiros, em consequência da criação <strong>de</strong> um<br />

amplo, profundo e liquido mercado <strong>de</strong> capitais – obrigações e acções – que permitirá<br />

às empresas transferir gran<strong>de</strong> parte do seu financiamento a longo e a curto prazo<br />

para os mercados <strong>de</strong> capitais, em <strong>de</strong>trimento da sua tradicional relação com a banca<br />

comercial ou universal;<br />

• colocar os Governos perante a tarefa <strong>de</strong> reformar os sistemas <strong>de</strong> pensões e <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>, por forma a reduzir os custos orçamentais no curto prazo (caso da saú<strong>de</strong>) e a<br />

reduzir drasticamente a divida implícita dos actuais sistemas <strong>de</strong> segurança social<br />

(mesmo que tal exija um aumento <strong>de</strong> dívida pública a curto/médio prazo para apoiar a<br />

transição para sistemas com pilares dominantes <strong>de</strong> capitalização e seguro privado);<br />

• reduzir o nível <strong>de</strong> investimento público e <strong>de</strong> transferências para as empresas –<br />

nomeadamente para os sectores em <strong>de</strong>clínio-forçando a um aumento da rendibilida<strong>de</strong><br />

das empresas como condição para a inovação, aspecto crucial da competitivida<strong>de</strong> à<br />

escala global e focalizando as ajudas públicas num grupo muito restrito <strong>de</strong> sectores<br />

que tem vindo a ser escolhido pelos principais Estados-membros – aeronáutica,<br />

espaço, indústrias da <strong>de</strong>fesa;<br />

• acelerar a evolução do modo <strong>de</strong> regulação salarial, <strong>de</strong> uma configuração rigidificadora<br />

<strong>de</strong> condições e modos <strong>de</strong> presença no mercado <strong>de</strong> trabalho, centralizada e<br />

“corporativa” para uma configuração mais flexível, competitiva e <strong>de</strong>scentralizada.<br />

Estas evoluções po<strong>de</strong>m encontrar obstáculos sociais e políticos que dificultem a sua<br />

generalização ao “núcleo central” do “Mo<strong>de</strong>lo Euro-Continental” – ou seja a Alemanha e<br />

França.<br />

Mas se estas evoluções não se realizarem, a possibilida<strong>de</strong> do EURO constituir um factor <strong>de</strong><br />

transformação nas “Instituições e Mecanismos <strong>de</strong> Regulação Mundiais” e na geoeconomia a<br />

nível global, será reduzida.


O Euro e o Dólar - Passado Recente e Futuro Próximo<br />

O EURO EO MERCADO DE CAPITAIS NA EUROPA – ALGUMAS TRANSFORMAÇÕES<br />

INDUZIDAS<br />

A criação do EURO teve um conjunto <strong>de</strong> efeitos directos nos mercados <strong>de</strong> capitais da Europa:<br />

• a introdução <strong>de</strong> uma única unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conta permitiu a estandarização dos preços dos<br />

produtos financeiros e simplificou em muito as transacções financeiras, o que se repercutiu<br />

numa redução dos custos <strong>de</strong> transacção;<br />

• a redução dos custos <strong>de</strong> conversão entre moedas europeias está associada a outra gran<strong>de</strong><br />

transformação – a eliminação do risco <strong>de</strong> câmbio entre os países envolvidos na zona EURO;<br />

se bem que a antecipação da 3ª Fase da UEM tivesse vindo já a fazer reduzir a volatilida<strong>de</strong><br />

cambial entre um certo número <strong>de</strong> países, na segunda meta<strong>de</strong> dos anos 90, para níveis<br />

muito baixos, este risco <strong>de</strong> câmbio tinha-se mantido como um elemento importante do risco<br />

<strong>de</strong> mercado, sobretudo para contratos <strong>de</strong> longo prazo; o <strong>de</strong>saparecimento do risco <strong>de</strong><br />

câmbio no mercado europeu veio tornar possível às empresas correr maiores riscos<br />

cambiais com operações <strong>de</strong> investimento fora da Europa, o que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> explicar a<br />

intensificação dos fluxos <strong>de</strong> saídas <strong>de</strong> capitais em direcção aos EUA, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong><br />

1999;<br />

• a maior transparência e a eliminação do risco <strong>de</strong> câmbio permitiu a emergência <strong>de</strong> uma<br />

única curva <strong>de</strong> rendimentos à escala da zona EURO, pelo menos para o mercado <strong>de</strong> dívida<br />

privada, facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma maior liqui<strong>de</strong>z nos mercados interbancário e<br />

<strong>de</strong> títulos;<br />

• a eliminação do risco <strong>de</strong> câmbio no seio da UEM e a maior transparência estimulou as<br />

transacções transfronteiriças <strong>de</strong> títulos, contribuindo para o aumento da procura e, o que fez<br />

com que os mercados, pelo menos para alguns activos, se tivessem tornado mais líquidos,<br />

sendo que este efeito será reforçado se se assistir ao aumento da oferta <strong>de</strong>stes activos ou à<br />

substituibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> activos antes consi<strong>de</strong>rados como distintos; ao contribuir para a<br />

expansão dos mercados <strong>de</strong> capitais o EURO contribui indirectamente para a redução do<br />

risco <strong>de</strong> liqui<strong>de</strong>z neles existente;<br />

• a introdução <strong>de</strong> uma única unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conta, mesmo admitindo que mais nada tivesse<br />

mudado, <strong>de</strong>terminou uma extraordinária ampliação das oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> diversificação <strong>de</strong><br />

carteiras dos investidores institucionais europeus que antes estavam sujeitos a regras que<br />

os impediam <strong>de</strong> dispor <strong>de</strong> mais do que uma limitada % <strong>de</strong>stas carteiras em activos doutros<br />

países e/ou expressos em outras moedas que não as nacionais; com a criação do EURO,<br />

pelo menos estas restrições <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> se aplicar na zona EURO permitindo a aquisição em<br />

larga escala <strong>de</strong> títulos europeus, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do país <strong>de</strong> emissão, ao mesmo tempo<br />

que liberta para investimentos em dólares (ou yens) a parte que <strong>de</strong> acordo com as referidas<br />

regulamentações é possível aplicar em moedas que não aquelas em que estavam<br />

expressas as responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses investidores;<br />

• a implementação da política monetária única pelo BCE veio permitir unificar as<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> refinanciamento dos bancos europeus numa escala sem prece<strong>de</strong>ntes,<br />

enquanto a supressão do risco <strong>de</strong> câmbio facilitou a utilização do mercado interbancário<br />

para o financiamento <strong>de</strong> curto prazo dos bancos europeus.<br />

47


Informação Internacional<br />

48<br />

O EURO EO MERCADO DE CAPITAIS NA EUROPA – ALGUMAS TRANSFORMAÇÕES<br />

INDUZIDAS (CONT)<br />

Não se consi<strong>de</strong>re, no entanto, que existe já hoje um mercado <strong>de</strong> capitais europeu integrado,<br />

susceptível <strong>de</strong> rivalizar na sua profundida<strong>de</strong> e liqui<strong>de</strong>z com o dos EUA. Vários são os obstáculos à<br />

flui<strong>de</strong>z na circulação dos fluxos <strong>de</strong> capitais entre os países da zona EURO que fazem aumentar os<br />

custos do investimento transfronteiriço, em relação ao doméstico. Diversos autores referem<br />

questões como:<br />

• os processo <strong>de</strong> pagamentos transfronetiriços e as respectivas operações <strong>de</strong> compensação<br />

serem substancialmente mais onerosos do que os equivalentes domésticos, bastando<br />

recordar que em 1999 , e nos 11 países que então integravam a zona EURO existiam 18<br />

sistemas para transacções <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> escala, 23 sistemas <strong>de</strong> compensação, 13 sistemas <strong>de</strong><br />

pagamento a retalho, a comparar respectivamente com 2, 3 e 3 sistemas nos EUA.<br />

• existirem diferenças <strong>de</strong> fiscalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> regulamentação<br />

Fonte: Jean-Pierre Danthine, Francesco Giavazzi, Ernst-Ludwig Thad<strong>de</strong>n “European Financial<br />

Markets After MEU: A First Assessment”, Working Paper 8044, NBER Working Paper Series.<br />

Mas as quatro transformações no “Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Capitalismo” referidas atrás, se se<br />

concretizarem po<strong>de</strong>m ter quatro consequências na geoeconomia global:<br />

• atrair os investidores institucionais dos EUA e Japão para uma diversificação <strong>de</strong><br />

carteiras em direcção ás obrigações e acções privadas emitidas em EUROs;<br />

• reforçar a atractivida<strong>de</strong> do EURO como moeda <strong>de</strong> reserva internacional, a partir da<br />

generalização do seu uso nos mercados <strong>de</strong> capitais;<br />

• aumentar a atractivida<strong>de</strong> do “território euro-continental” para o investimento directo<br />

estrangeiro oriundo dos EUA e Ásia e estimular o investimento das gran<strong>de</strong>s empresas<br />

europeias nos EUA, reforçando as relações transatlânticas;<br />

• reforçar as tentativas do Japão para impor o yen como moeda internacional, também<br />

a partir <strong>de</strong> uma presença multifuncional na região da Ásia/Pacífico, criando assim dois<br />

concorrentes (susceptíveis <strong>de</strong> uma eventual coor<strong>de</strong>nação entre si) ao dólar.<br />

2.3. O EURO, as Transformações do “Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Capitalismo” e a Acumulação <strong>de</strong><br />

Vulnerabilida<strong>de</strong>s nas Economias Europeias<br />

Por outro lado o facto <strong>de</strong> o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> capitalismo euro-continental estar em transformação,<br />

acelerada pela própria criação do EURO, não <strong>de</strong>ve escon<strong>de</strong>r dois tipos <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>s<br />

acrescidas que po<strong>de</strong>m ocorrer neste período <strong>de</strong> transição:<br />

• o sistema financeiro nas economias da zona EURO está lentamente a evoluir <strong>de</strong> um<br />

sistema baseado no crédito para um sistema baseado nos mercados; essa transição<br />

está a fazer-se <strong>de</strong> modo muito rápido no que diz respeito à colocação privilegiada das


O Euro e o Dólar - Passado Recente e Futuro Próximo<br />

poupanças das famílias (no sentido do abandono dos <strong>de</strong>pósitos bancários em favor<br />

dos títulos) e ao financiamento das gran<strong>de</strong>s empresas que passaram a recorrer em<br />

larga escala ao papel comercial e aos empréstimos obrigacionistas (embora<br />

recorrendo a crédito bancário para gran<strong>de</strong>s operações <strong>de</strong> F&A);<br />

• os bancos da zona Euro <strong>de</strong>frontam-se assim com quatro problemas: uma fuga <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>positantes; uma redução do peso dos financiamentos às gran<strong>de</strong>s empresas;<br />

limitadas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios oferecidas por uma década <strong>de</strong> crescimento lento<br />

e <strong>de</strong> baixo investimento na Europa; e uma intensificação da concorrência nos<br />

mercados nacionais em consequência das directivas do Mercado Único e da<br />

<strong>de</strong>sregulamentação e liberalização <strong>de</strong> raiz nacional;<br />

• este conjunto <strong>de</strong> transformações simultâneas no contexto operacional dos bancos<br />

provoca inevitavelmente uma corrida às operações activas <strong>de</strong> maior rendimento,<br />

mesmo que sejam <strong>de</strong> risco muito mais elevado do que as que caracterizavam a<br />

relação com os clientes empresariais tradicionais e por outro uma mais pronunciada<br />

procura <strong>de</strong>ssa operações fora da Europa (primeiro nas economias emergentes e<br />

<strong>de</strong>pois na economia americana);<br />

• a maior lentidão na transformação nos sistemas <strong>de</strong> pensões do que no sistema<br />

financeiro, afecta crucialmente a dimensão dos investidores institucionais europeus e<br />

o seu papel fundamental no mercado <strong>de</strong> capitais europeu, e acaba por colocar os<br />

investidores institucionais anglo-saxónicos (e japoneses) e os gran<strong>de</strong>s investidores<br />

individuais das “economias chinesas” como actores cruciais nos mercados <strong>de</strong> capitais<br />

europeus, retirando a estes uma base endógena permanente, com dimensão<br />

semelhante à da própria economia e tornando-os muito sensíveis à evolução dos<br />

mercados dos EUA, do Reino Unido e do Japão.<br />

Estes aspectos terão necessariamente que ser tidos em conta em quaisquer exercícios <strong>de</strong><br />

cenarização, por mais rudimentares que sejam.<br />

2.4. As Economias da Zona EURO, as Forças Motrizes da Economia Global e os<br />

Fluxos <strong>de</strong> Capitais<br />

Consi<strong>de</strong>rando as quatros Forças Motrizes em operação na Economia Global, referidas no<br />

artigo “EUA e o “Mundo do Pacífico – fluxos <strong>de</strong> Capitais” publicado no Volume I do<br />

“Informação Internacional”, as economias da zona EURO podiam sinteticamente ser<br />

posicionadas do seguinte modo, em referência ao ano <strong>de</strong> 1999, em que foi lançada a 3ª<br />

Fase da UEM:<br />

• Mutação Tecnológica – As economias da zona EURO revelavam um claro atraso<br />

face aos EUA no pólo <strong>de</strong> inovação que tem sido mais central na evolução tecnológica<br />

recente – as Tecnologias da Informação e Comunicação 2 – nomeadamente a nível<br />

dos equipamentos para as re<strong>de</strong>s IP (“routers”), do equipamento informático central<br />

2 ver “The Competitiveness of Europe`s ICT Markets-The Crisis amid Growth”, documento preparado<br />

pela Booz, Allen & Hamilton para a Conferência Ministerial <strong>de</strong> 9 e 10 Março <strong>de</strong> 2000, durante a<br />

Presidência Portuguesa da União Europeia.<br />

49


Informação Internacional<br />

50<br />

para as aplicações internet (“servers”), do equipamento informático <strong>de</strong> uso pessoal,<br />

do software <strong>de</strong> aplicações, no software para as aplicações da internet; nos novos<br />

microprocessadores etc., apenas <strong>de</strong>tendo uma posição mais significativa no<br />

fornecimento dos equipamentos para as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> telefonia móvel digital e seus<br />

equipamentos terminais (vd. os casos da Alcatel e Siemens) e dos componentes<br />

electrónicos para as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> telecomunicações; e em termos <strong>de</strong> um outro polo fulcral<br />

<strong>de</strong> inovação tecnológica – a Genética e as Biotecnologias – <strong>de</strong>têm fracas posições<br />

nas sua aplicações à farmácia e estão limitadas no progresso das sua aplicações às<br />

plantas, em consequência da posição hostil dos governos europeus face aos OGM;<br />

MUTAÇÃO DE<br />

TECNOLOGIAS<br />

Figura 1<br />

QUATRO DINÂMICAS CHAVE NA ECONOMIA MUNDIAL<br />

EMERGÊNCIA<br />

DE ECONOMIAS<br />

GLOBALIZAÇÃO DE<br />

POUPANÇAS<br />

Fonte: Direcção <strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> <strong>Prospectiva</strong> – DPP<br />

<strong>INTERNACIONAL</strong>I-<br />

ZAÇÃO DE<br />

EMPRESAS<br />

• Internacionalização das Empresas – As economias da zona EURO estavam<br />

envolvidas num processo maciço <strong>de</strong> investimento directo fora da Europa, sobretudo<br />

por via <strong>de</strong> F&A, com <strong>de</strong>staque para os EUA, processo protagonizado por uma<br />

multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empresas <strong>de</strong> sectores industriais com crescimento lento na<br />

Europa – automóvel, material eléctrico, químicas, alimentares – e pelas poucas<br />

gran<strong>de</strong>s empresas da zona EURO que se actuam em sectores dinâmicos e<br />

tecnologicamente intensivos – serviços <strong>de</strong> telecomunicações, equipamento <strong>de</strong><br />

telecomunicações e electrónica, software, farmácia, equipamento médico –<br />

investimento esse li<strong>de</strong>rado pelas empresas da Alemanha e Holanda, e no qual têm<br />

também participado em menor escala empresas da França;


O Euro e o Dólar - Passado Recente e Futuro Próximo<br />

• Emergência <strong>de</strong> Economias – As economias da zona EURO tinham estado<br />

envolvidas num processo maciço <strong>de</strong> investimento nas “economias emergentes” da<br />

América Latina, sob li<strong>de</strong>rança da Espanha, que em menos <strong>de</strong> uma década, passou a<br />

<strong>de</strong>ter as maiores re<strong>de</strong>s bancárias, <strong>de</strong> telecomunicações e <strong>de</strong> produção e distribuição<br />

<strong>de</strong> electricida<strong>de</strong> da região, que se encontram sob controlo estrangeiro; enquanto a<br />

França e a Alemanha, embora em escala menos impressionante procuraram<br />

assegurar presença na região asiática, em sectores como o automóvel ou a química,<br />

bem como no fornecimento <strong>de</strong> equipamentos e serviços a gran<strong>de</strong>s projectos infraestruturais;<br />

• Globalização das Poupanças – o padrão típico dos sistemas financeiros da zona<br />

EURO coloca os seus principais actores mais vocacionados para o compartimento<br />

dos empréstimos sindicados, e do crédito bancário em geral, quer às empresas dos<br />

EUA, quer às economias emergentes (em que a crise asiática já os encontrou<br />

envolvidos); a necessida<strong>de</strong> dos bancos europeus fazerem face à redução <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>pósitos, à fuga parcial dos seus gran<strong>de</strong>s clientes europeus para o mercado das<br />

obrigações e aos prejuízos verificados nos créditos às economias emergentes<br />

levaram os maiores bancos da Europa a um forte envolvimento em operações nos<br />

EUA (vd. CAIXA); por sua vez, o papel cada vez mais central dos mercados <strong>de</strong><br />

capitais, dos investidores institucionais e dos bancos <strong>de</strong> investimento na gestão do<br />

“pool” mundial <strong>de</strong> poupanças tem vindo a provocar uma reorientação dos sectores<br />

bancários/seguradores da zona EURO para a banca <strong>de</strong> investimento e a gestão <strong>de</strong><br />

activos, principalmente por aquisição <strong>de</strong> posições accionistas em bancos, companhias<br />

<strong>de</strong> seguros e fundos <strong>de</strong> investimento dos EUA, on<strong>de</strong> se concentra a maior<br />

competência mundial nestas activida<strong>de</strong>s (<strong>de</strong>vido ao seu próprio “mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

capitalismo”).<br />

51


Informação Internacional<br />

52<br />

O ENVOLVIMENTO DOS BANCOS EUROPEUS NOS EMPRÉSTIMOS SINDICADOS ÀS<br />

EMPRESAS AMERICANAS<br />

Num estudo realizado pelo banco <strong>de</strong> investimentos americano J.P. Morgan, e citado pelo “Le<br />

Mon<strong>de</strong>” <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2000, afirma-se que os bancos estrangeiros <strong>de</strong>tinham em finais <strong>de</strong><br />

1999 40% dos empréstimos sindicados (empréstimos concedidos por consórcios <strong>de</strong> três ou mais<br />

bancos, e no montante superior a 20 milhões <strong>de</strong> dólares) concedidos às empresas americanas,<br />

<strong>de</strong>tendo os bancos europeus a maior parte, dado que os bancos japoneses, durante os últimos <strong>de</strong>z<br />

anos, se retiraram em larga medida do mercado americano. De acordo com o estudo:<br />

• os bancos europeus em cujas carteiras <strong>de</strong> créditos tinham mais peso os créditos sindicados<br />

concedidos às empresas americanas eram a Socieda<strong>de</strong> Geral (França) com 39 biliões <strong>de</strong><br />

dólares <strong>de</strong> empréstimos, representando 30% da sua carteira; o banco ABN Amro (Holanda)<br />

com 57, 4 biliões <strong>de</strong> dólares e 27% da sua carteira; o Crédit Suisse (Suíça) com 29,4 biliões<br />

e 24%; o Crédit Lyonnais (França) com 19,4 biliões <strong>de</strong> dólares e 21%; o BNP Paribas<br />

(França) com 41,6 biliões <strong>de</strong> dólares e 20%; o UBS (Suíça), com 28,7 biliões <strong>de</strong> dólares e<br />

17%; o Deutsche Bank (Alemanha) com 47,8 biliões <strong>de</strong> dólares representando 16% da sua<br />

carteira;<br />

• a progressão <strong>de</strong>stes créditos foi fulgurante, tendo passado entre 1990 e 1999, <strong>de</strong> 12 a 27%<br />

da carteira <strong>de</strong> crédito do ABN Amro; <strong>de</strong> 6 a 20% no BNP Paribas; <strong>de</strong> 11% a 24% no Crédit<br />

Lyonnais; e <strong>de</strong> 10 a 16% no Deutsche Bank;<br />

• a qualida<strong>de</strong> do crédito concedido seria muito variável conforme os bancos, <strong>de</strong>stacando-se<br />

pelo peso dos créditos com maior risco o HypoVereinsbank (Alemanha), o Crédit Lyonnais, o<br />

Crédit Suisse e o Deutsche Bank, em contraste com o UBS, o Commerzbank (Alemanha) o<br />

SanPaolo IMI (Itália) que teriam sido mais pru<strong>de</strong>ntes.<br />

Em caso <strong>de</strong> um abrandamento brutal da economia americana o estudo do J.P. Morgan consi<strong>de</strong>ra<br />

que o impacto sobre os resultados dos bancos mais envolvidos na concessão <strong>de</strong>stes créditos seria<br />

sensível, po<strong>de</strong>ndo atingir, no caso dos mais expostos, os 2,7 biliões <strong>de</strong> dólares para o Deutsche<br />

Bank, os 2 biliões para o BNP Paribas, os 1,6 biliões para ao AMB Amro e a Socieda<strong>de</strong> Geral; os<br />

1,2 biliões para o Crédit Suisse e, o bilião <strong>de</strong> dólares para o Crédit Lyonnais e o Dresdner Bank<br />

(Alemanha). Mas, segundo os autores do estudo, estes valores não seriam <strong>de</strong> todo ameaçadores<br />

dada a dimensão dos bancos envolvidos e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuírem as perdas potenciais ao<br />

longo <strong>de</strong> vários anos


Figura 2<br />

O Euro e o Dólar - Passado Recente e Futuro Próximo<br />

AS DUAS GRANDES “EXPEDIÇÕES” DA “ZONA EURO” ÀS AMÉRICAS – 1995-2000<br />

EUA<br />

MEXICO<br />

BRASIL/<br />

AMÉRICA<br />

DO SUL<br />

TELEFÓNICA<br />

ENDESA<br />

Fonte: Direcção <strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> <strong>Prospectiva</strong> (DPP)<br />

BANCO<br />

SANTANDER<br />

CENTRAL<br />

HISPANO<br />

BBVA<br />

IBERDROLA LA CAIXA<br />

REPSOL<br />

DEUTSCHE<br />

TELEKOM<br />

BERTELLSMANN<br />

SIEMENS<br />

BAYER<br />

DAIMLER-<br />

CHRYSLER<br />

ALLIANZ<br />

DEUTSCHE<br />

BANK<br />

Ou seja, quando da passagem à 3ª Fase da UEM, em Janeiro <strong>de</strong> 1999 três traços distintivos<br />

caracterizavam a conjuntura económica e financeira:<br />

• a economia mundial, após a crise asiática, encontrara no dinamismo da economia<br />

americana o seu motor praticamente único, enquanto os investidores <strong>de</strong> todo o<br />

mundo encontraram nos mercados <strong>de</strong> capitais americanos, os títulos <strong>de</strong> dívida e <strong>de</strong><br />

capital accionista que ofereciam melhores condições <strong>de</strong> valorização com que fosse<br />

53


Informação Internacional<br />

54<br />

possível apagar o peso dos prejuízos acumulados com a crise asiática ou compensar<br />

a escassez <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s nas suas regiões <strong>de</strong> origem;<br />

• as gran<strong>de</strong>s empresas da zona EURO estavam envolvidas num processo maciço <strong>de</strong><br />

investimento directo nos EUA e em economias emergentes da zona dólar (América<br />

Latina e Ásia Pacífico), quer como modo <strong>de</strong> ganhar dimensão global, quer <strong>de</strong> ganhar<br />

acesso a novas tecnologias e activida<strong>de</strong>s que estavam a ser geradas pela economia<br />

americana;<br />

• os bancos e companhias <strong>de</strong> seguros da zona EURO estavam envolvidas num duplo<br />

processo <strong>de</strong> aprofundamento dos laços com a economia americana, quer por via do<br />

aumento do peso dos créditos sindicados às empresas americanas e da aquisição <strong>de</strong><br />

obrigações <strong>de</strong>ssas empresas (com <strong>de</strong>staque paras “junk bonds”, <strong>de</strong> maior risco), quer<br />

por via <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> aquisições em larga escala <strong>de</strong> bancos, companhias <strong>de</strong><br />

seguros e fundos <strong>de</strong> investimento, que lhes permitissem reforçar em curto espaço <strong>de</strong><br />

tempo a sua participação no mercados <strong>de</strong> capitais.<br />

Os próximos anos po<strong>de</strong>rão inevitavelmente assistir a uma transformação profunda nos<br />

sectores financeiros das economias da zona EURO:<br />

• uma retracção no papel dos bancos – em consequência das dificulda<strong>de</strong>s que irão<br />

sentir especialmente num contexto <strong>de</strong> forte abrandamento da economia, pela sua<br />

exposição ao “boom” imobiliário, ao financiamento da velha/nova economia e ao<br />

eventual fracasso das “expedições às Américas” e a um reforço do mercado <strong>de</strong><br />

capitais no financiamento das empresas e das famílias (“mortgage markets”);<br />

• um forte crescimento dos investidores institucionais – em consequência do<br />

envelhecimento da população e a redução e envelhecimento da população activa na<br />

zona Europa (Vd “Os três envelhecimentos da Europa” publicado neste Volume da<br />

“Informação Internacional 2000”) que irão forçar, com mais ou menos atrasos, à<br />

criação <strong>de</strong> pilares <strong>de</strong> capitalização sob gestão privada especializada (fundos <strong>de</strong><br />

pensões e fundos mobiliários); o crescimento substancial das carteiras <strong>de</strong> activos dos<br />

investidores institucionais <strong>de</strong>corre num período <strong>de</strong> consolidação fiscal continuada que<br />

se traduz na redução da emissão <strong>de</strong> novos títulos da dívida pública; pelo que essas<br />

carteira irão consistir em obrigações e acções <strong>de</strong> empresas europeias e estrangeiras,<br />

em títulos associados ao mercado imobiliário, em títulos da dívida pública emitidos à<br />

maneira anglo-saxónica e em títulos <strong>de</strong> dívida emitidos no âmbito <strong>de</strong> eventuais<br />

reformas sistémicas <strong>de</strong> alguns sistemas <strong>de</strong> pensões.<br />

4. TRÊS EXPLICAÇÕES PARA O COMPORTAMENTO CAMBIAL DO EURO FACE AO<br />

DÓLAR 1999/2000<br />

Após esta breve referência às funções <strong>de</strong> moeda internacional já <strong>de</strong>sempenhadas pelo<br />

EURO, às características do “mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> capitalismo euro-continental” e às transformações<br />

que o surgimento do EURO nele está a provocar, bem como à forma como as economias<br />

europeias estavam envolvidas nos processos globais, aquando da criação do EURO em<br />

1999, po<strong>de</strong>mos avançar com três explicações principais para o comportamento do EURO<br />

face ao dólar nos anos 1999 e 2000:


O Euro e o Dólar - Passado Recente e Futuro Próximo<br />

• O comportamento <strong>de</strong>sigual dos investidores norte-americanos e europeus;<br />

• O <strong>de</strong>sigual <strong>de</strong>senvolvimento das funções internacionais do EURO;<br />

• O carácter virtual do EURO até Janeiro <strong>de</strong> 2002.<br />

4.1. O comportamento <strong>de</strong>sigual dos investidores norte-americanos e europeus<br />

A criação do EURO, em Janeiro <strong>de</strong> 1999, veio inserir-se na dinâmica <strong>de</strong> internacionalização<br />

das economias europeias referida em 3.2 em duas direcções e dois tempos:<br />

• permitiu, logo no curto prazo, uma aceleração e intensificação dos movimentos <strong>de</strong><br />

capitais para fora da zona EURO, dado que o risco cambial <strong>de</strong>sapareceu no seu<br />

interior, o que <strong>de</strong>ixou os bancos e as gran<strong>de</strong>s empresas mais disponíveis para<br />

investimentos noutras zonas monetárias;<br />

• acelerou, no médio prazo, a ligação dos sectores empresariais e das famílias<br />

europeias ao mercado <strong>de</strong> capitais <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando um processo gigantesco <strong>de</strong><br />

criação <strong>de</strong> activos financeiros – acções, obrigações <strong>de</strong> empresas e títulos ligados ao<br />

mercado hipotecário - disponíveis para os investidores institucionais e particulares do<br />

mundo inteiro, incluindo naturalmente os dos EUA.<br />

A fraqueza do EURO nos seus dois primeiros anos da sua existência “virtual”, face ao dólar<br />

e ao yen, po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>screver-se <strong>de</strong> forma simplificada como típica <strong>de</strong> um período em que:<br />

• nos fluxos <strong>de</strong> capitais entre a zona EURO e os EUA predominou a primeira direcção<br />

sobre a segunda – ou seja o investimento maciço nos EUA por parte dos investidores<br />

europeus, em contraste com a maior circunspecção dos investidores norteamericanos<br />

face aos activos expressos em EUROS;<br />

• os investidores japoneses e <strong>de</strong>sfizeram-se das posições que haviam constituído em<br />

activos EURO antes <strong>de</strong> 1999 (como forma <strong>de</strong> diversificação para fora do dólar) <strong>de</strong>vido<br />

à persistente fraqueza do EURO face ao dólar.<br />

O Gráfico 2 ilustra o comportamento da Balança Básica da zona EURO durante o período<br />

<strong>de</strong> quase ininterrupta <strong>de</strong>preciação do EURO, Balança em que são tidos em linha <strong>de</strong> conta<br />

os saldos da balança <strong>de</strong> transacções correntes e da balança <strong>de</strong> capitais a longo prazo. Os<br />

seus valores quase sempre negativos traduzem a saída <strong>de</strong> capitais a longo prazo, já que a<br />

balança corrente não apresentou défices significativos.<br />

55


Informação Internacional<br />

56<br />

50<br />

0<br />

-50<br />

-100<br />

-150<br />

-200<br />

-250<br />

-300<br />

-350<br />

Gráfico 2<br />

BALANÇA BÁSICA DA ZONA EURO<br />

Jan<br />

Fev<br />

Mar<br />

Abril<br />

Maio<br />

Jun<br />

Jul 98<br />

Ago<br />

Set<br />

Out<br />

Nov<br />

Dez<br />

Jan<br />

Fev<br />

Mar<br />

Abril<br />

Maio<br />

Jun<br />

Jul 99<br />

Ago<br />

Set<br />

Out<br />

Nov<br />

Dez<br />

Cumulative basic balance €bn Euro tra<strong>de</strong> weighted in<strong>de</strong>x 1990=100<br />

Fonte: “Capital Outflows put Euro on Slippery Slope”, Financial Times, 22 Setembro 2000<br />

4.2. O <strong>de</strong>sigual <strong>de</strong>senvolvimento das funções internacionais do Euro<br />

O EURO tem sido procurado por Economias Emergentes para colocarem dívida pública e<br />

privada <strong>de</strong> longo prazo, e esse processo é um indicador <strong>de</strong> uma tendência à diversificação<br />

que provavelmente prosseguirá, reforçando o papel do EURO como moeda <strong>de</strong> emissão.<br />

Mas a gran<strong>de</strong> maioria das economias emergentes, e em especial as mais dinâmicas, têm<br />

ainda as suas moedas ligadas – <strong>de</strong> um modo ou outro – ao dólar e os activos a curto prazo<br />

em dólares representam o essencial das suas reservas cambiais. Esta situação traduzindo<br />

uma clara assimetria nas funções internacionais da nova moeda europeia, – afirmação mais<br />

rápida como moeda <strong>de</strong> emissão do que como moeda <strong>de</strong> reserva – teve um duplo impacto<br />

negativo sobre as taxas <strong>de</strong> câmbio do EURO:<br />

• por um lado, sempre que contraem empréstimos obrigacionistas em EUROS, os<br />

Governos e empresas das economias emergentes convertem a seguir, a totalida<strong>de</strong> ou<br />

parte <strong>de</strong>sses EUROS em dólares, o que acaba por representar uma pressão à<br />

<strong>de</strong>preciação da moeda europeia face ao dólar;<br />

• por outro lado as economias emergentes, que têm vindo a acumular exce<strong>de</strong>ntes nas<br />

balanças <strong>de</strong> transacções correntes e a acumular importantes reservas cambiais<br />

fazem-no em dólares – ou seja ainda é muito frágil o movimento <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong><br />

títulos <strong>de</strong> curto prazo em EUROS como materialização <strong>de</strong> reservas cambiais das<br />

economias mais dinâmicas a nível mundial; não se verifica assim um movimento <strong>de</strong><br />

entradas <strong>de</strong> capitais a curto prazo na zona EURO (que a aquisição <strong>de</strong>sses títulos <strong>de</strong><br />

curto prazo representaria) que permitisse compensar, em parte pelo menos, as saídas<br />

<strong>de</strong> capitais a longo prazo para economias emergentes da actual zona dólar.<br />

Jan<br />

Fev<br />

Mar<br />

Abril<br />

Maio 00<br />

Jun<br />

Jul<br />

Ago<br />

100<br />

95<br />

90<br />

85<br />

80<br />

75


4.3. O EURO como “Moeda Virtual”<br />

O Euro e o Dólar - Passado Recente e Futuro Próximo<br />

Entre a passagem à 3ª Fase da UEM, em 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1999, pressupondo a irrevogável<br />

fixação <strong>de</strong> parida<strong>de</strong>s entre as moedas nacionais que integraram a zona EURO e a nova<br />

moeda europeia e 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2002 em que as moedas e notas EURO entrarão em<br />

circulação em todos países que, na ocasião, integrem a UEM, <strong>de</strong>corre um período em que o<br />

EURO <strong>de</strong>sempenha apenas funções parciais <strong>de</strong> uma moeda, o que nos levou a referi-la<br />

como “moeda virtual”. Esta situação não é inócua. Basta recordar que moedas como o<br />

marco, que irão ser substituídas pelo EURO, tinham uma circulação muito significativa fora<br />

do seu país – nomeadamente em países da Europa <strong>de</strong> Leste e na Turquia – quando se <strong>de</strong>u<br />

a passagem à 3ª Fase da UEM.<br />

Têm sido vários analistas a chamar a atenção para um processo que revestiria carácter <strong>de</strong><br />

massa – os <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> marcos não resi<strong>de</strong>ntes na Alemanha estariam a trocar essa<br />

moeda por dólares, que se revalorizaram ao longo dos anos 1999/2000, antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidirem<br />

“regressar” após Janeiro <strong>de</strong> 2002, à nova moeda. De acordo com cálculos <strong>de</strong> Hans-Werner<br />

Sinn, presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> um dos cinco institutos económicos alemães – o IFO <strong>de</strong> Munique –<br />

quando o EURO foi oficialmente introduzido, circulavam fora da Alemanha entre 60 a 90<br />

biliões <strong>de</strong> marcos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Turquia, à Croácia, à Eslovénia e outras economias da Europa<br />

Central e Oriental. Estes holdings <strong>de</strong> marcos por não resi<strong>de</strong>ntes na Alemanha<br />

representavam entre 20 a 30% da base monetária alemã e entre 8 e 11% da base monetária<br />

conjunta da zona EURO, ou seja entre 30 a 45 biliões <strong>de</strong> EUROS, o que a ter-se convertido<br />

em dólares não po<strong>de</strong> ter <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> ter impacto nos mercados <strong>de</strong> câmbios.<br />

O mesmo autor chama atenção para outro tipo <strong>de</strong> situação que po<strong>de</strong> ter levado a uma fuga<br />

generalizada para dólares, mas agora por parte <strong>de</strong> resi<strong>de</strong>ntes dos países da zona EURO –<br />

os que estavam ligados a operações no mercado negro ou a actuações criminosas que<br />

procuraram evitar apresentar os seus haveres em moedas nacionais, para troca por<br />

EUROS, preferindo converter primeiro em dólares e <strong>de</strong>cidir <strong>de</strong>pois quando regressar à nova<br />

moeda europeia sem provocar suspeitas. Segundo Hans-Werner Sinn a parte da moeda<br />

<strong>de</strong>tida pelos operadores no mercado negro <strong>de</strong>veria atingir os 14% da base monetária<br />

conjunta da zona EURO, se os intervenientes na economia paralela utilizassem as mesmas<br />

proporções <strong>de</strong> moeda e cheques do que na economia “oficial”. Ora essa “economia” só usa<br />

moeda, pelo que a parte que representa na base monetária da zona EURO será superior<br />

aos 14% sendo calculada pelo autor em cerca 50 biliões <strong>de</strong> EUROS. Este montante já foi ou<br />

irá ser, provavelmente, trocado por dólares contribuindo par a <strong>de</strong>preciação do EURO face ao<br />

dólar.<br />

57


Informação Internacional<br />

58<br />

A AFIRMAÇÃO <strong>INTERNACIONAL</strong> DO EURO E A SUA DEPRECIAÇÃO FACE AO DÓLAR –<br />

DUAS FACES DE UMA MESMA MOEDA?<br />

Num artigo publicado no Financial Times <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 2000, Ronald McKinon <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u<br />

a seguinte posição:<br />

O EURO contribuiu para a unificação e expansão dos mercados <strong>de</strong> capitais na Europa continental<br />

a um ritmo surpreen<strong>de</strong>ntemente rápido; antes do advento do EURO o D-Marco era a moeda<br />

refúgio na Europa, já que apenas a Alemanha podia sustentar mercados <strong>de</strong> obrigações e<br />

hipotecários <strong>de</strong> dimensão significativa; os países situados na periferia da alemã possuíam moedas<br />

mais “fracas” e com elevados prémios <strong>de</strong> risco nas suas taxas <strong>de</strong> juro, pelo que o financiamento<br />

interno das suas economias baseava-se obrigatoriamente mais no curto prazo e no recurso ao<br />

crédito bancário. Contudo com a substituição anunciada da lira, peseta, escudo, franco, etc. as<br />

empresas <strong>de</strong>stes países passaram a po<strong>de</strong>r financiar-se emitindo obrigações <strong>de</strong>nominadas em<br />

EUROS com taxas <strong>de</strong> juro tão baixas quanto as que eram pagas pelas suas congéneres alemãs;<br />

os prémios <strong>de</strong> risco cambial foram eliminados, pelo que em 2000 as emissões <strong>de</strong> obrigações em<br />

EUROS pelas empresas europeias estavam a ser <strong>de</strong>z vezes maiores do que as emissões antes <strong>de</strong><br />

1999 e nas “velhas moedas". Obviamente a procura <strong>de</strong> obrigações <strong>de</strong>nominadas em EUROS teve<br />

<strong>de</strong> se expandir para acolher este aumento substancial da oferta. Antes <strong>de</strong> 1999 os sectores<br />

financeiros funcionavam em termos estreitos, nacionais. Assim, por lei, ou por prudência, as<br />

companhias <strong>de</strong> seguros italianas, os fundos <strong>de</strong> pensão e outras instituições com<br />

“responsabilida<strong>de</strong>s” <strong>de</strong>nominadas em liras tinham que adquiri activos na mesma moeda, o mesmo<br />

se passando com instituições espanholas e dos outros países europeus.<br />

Com a eliminação das múltiplas moedas europeias, as instituições financeiras <strong>de</strong> cada país<br />

pu<strong>de</strong>ram diversificar a s suas carteiras adquirindo activos <strong>de</strong>nominados em EUROS e emitidos por<br />

entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outros países que não os seus. Esta rápida diversificação criou um novo mercado<br />

gigantesco <strong>de</strong> obrigações <strong>de</strong>nominadas em EUROS, com taxas <strong>de</strong> juros mais baixas e prazos<br />

mais alargados relativamente ao que era então corrente as empresas obterem por via das suas<br />

fontes tradicionais <strong>de</strong> financiamento. Por sua vez, e pelo mundo inteiro, novas emissões <strong>de</strong><br />

obrigações em EUROS encontram-se a par com as novas emissões em dólares, facto a que não é<br />

estranho a Europa ter um exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> transacções correntes e, em conjunto, ser um gran<strong>de</strong><br />

credor. Esta maior disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fundos a longo prazo para as empresas europeias tornoulhes<br />

possível lançar, no último ano, várias operações <strong>de</strong> F&A sobre empresas americanas.<br />

Por outro lado governos e empresas <strong>de</strong> fora da zona EURO <strong>de</strong>cidiram também tomar partido <strong>de</strong>sta<br />

melhoria nos mercados <strong>de</strong> capitais europeus. Devedores não europeus, incluindo <strong>de</strong> países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong>pararam-se com um mercado pronto para acolher emissões <strong>de</strong> obrigações a<br />

taxas <strong>de</strong> juro 1% inferiores às que podiam obter em dólares (nota: na ocasião em que o artigo foi<br />

escrito). Os principais compradores <strong>de</strong>ssa emissões foram instituições financeiras na Europa. Ora<br />

foi exactamente este inesperado aumento das saídas <strong>de</strong> capitais da Europa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong><br />

1999, que tem levado à surpreen<strong>de</strong>nte fraqueza do EURO.<br />

Chegámos, pois, a um aparente paradoxo: o <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> e positiva transformação financeira<br />

Europeia estar a ter como resultado uma <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> na sua nova moeda. Mas este paradoxo não<br />

<strong>de</strong>ve alimentar o <strong>de</strong>sespero acerca do EURO. Com efeito o completar do mercado <strong>de</strong> obrigações<br />

pan-europeu levou a um gigantesco processo – mas um processo instantâneo e não repetível – <strong>de</strong><br />

recomposição das carteiras internacionais <strong>de</strong> obrigações, que apanharam <strong>de</strong> surpresa, quer os<br />

mercados, quer o Banco Central Europeu. Para restaurar a confiança dos mercados e cortar o<br />

“momentum” dos especuladores nos mercados <strong>de</strong> câmbios, o FED e o BCE <strong>de</strong>vem continuar, se<br />

necessário, a intervir em conjunto a fim <strong>de</strong> “trazer” o EURO para valores mais próximos dos que<br />

permitiriam equilibrar a competitivida<strong>de</strong> dos EUA e da Europa reduzindo nesta as pressões<br />

inflacionistas.<br />

Fonte: “Two Si<strong>de</strong>s of the Same Coin”, Ronald McKinon, Financial Times, 28 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 2000.


O Euro e o Dólar - Passado Recente e Futuro Próximo<br />

5. APONTAMENTOS SOBRE UM CENÁRIO OPTIMISTA PARA AS RELAÇÕES EURO-<br />

DÓLAR<br />

5.1. Traços Gerais do Cenário Optimista<br />

Este Cenário teria como elementos <strong>de</strong> base uma “aterragem suave” da economia dos EUA;<br />

o êxito na introdução generalizada do Euro em Janeiro <strong>de</strong> 2002 e a plena exploração do<br />

potencial <strong>de</strong> transformação dos sistemas financeiros euro-continentais nos anos seguintes.<br />

Analisando mais em pormenor:<br />

• verificar-se-ia um abrandamento da economia americana num contexto <strong>de</strong> “aterragem<br />

suave”; sucessivas reduções <strong>de</strong> taxas <strong>de</strong> juro e reduções <strong>de</strong> impostos (explorando a<br />

margem <strong>de</strong> manobra acumulada durante a fase <strong>de</strong> expansão) impediriam uma séria<br />

crise no sistema bancário, na sequência da queda bolsista verificada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Março <strong>de</strong><br />

2000 e evitaria uma queda do consumo paralela à inevitável queda do investimento,<br />

<strong>de</strong>terminada pelos excessos momentâneos <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>, acumulados durante o<br />

“boom”;<br />

• prosseguiria o crescimento europeu (que se acelerou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1998), não ameaçado<br />

por novos aumentos da taxa <strong>de</strong> juro por parte do BCE, e com base no investimento<br />

difusor das novas tecnologias da informação, revelando-se relativamente imune à<br />

<strong>de</strong>saceleração da economia americana;<br />

• assistir-se-ia à recuperação do diferencial <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> que as economias<br />

europeias têm relativamente à economia americana, num contexto <strong>de</strong> consolidação<br />

da fase ascen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> um ciclo <strong>de</strong> negócios <strong>de</strong>sfasado do dos EUA;<br />

• manter-se-ia a procura <strong>de</strong> activos em dólares pelos investidores institucionais<br />

europeus, há medida que as carteiras <strong>de</strong>stes fossem sendo alargadas <strong>de</strong>vido<br />

nomeadamente à privatização parcial dos sistemas <strong>de</strong> pensões; e assistir-se ia a um<br />

processo <strong>de</strong> investimento em larga escala em activos americanos “baratos” por parte<br />

dos investidores japoneses;<br />

• o Banco Central da China passaria a utilizar o EURO como uma das moedas <strong>de</strong><br />

reserva, o mesmo acontecendo com a Coreia do Sul e outros países da Ásia;<br />

reequilibrando mais claramente as funções do EURO como moeda <strong>de</strong> emissão e <strong>de</strong><br />

reserva;<br />

Neste contexto seria <strong>de</strong> esperar uma ligeira melhoria do câmbio do EURO face ao dólar.<br />

5.2. Limitações a um Cenário Optimista<br />

Ora um raciocínio da natureza que enformou o Cenário Optimista não po<strong>de</strong> ser o único a<br />

presidir a reflexões prospectivas sobre o comportamento do EURO nos próximos dois anos,<br />

por três razões principais:<br />

a) a economia da zona EURO não é capaz <strong>de</strong> gerar um crescimento endógeno capaz <strong>de</strong><br />

sobreviver a um a “aterragem turbulenta” da economia americana;<br />

59


Informação Internacional<br />

60<br />

b) sector financeiro das economias da zona EURO está vulnerável a uma grave crise<br />

que a ocorrer po<strong>de</strong>rá pôr em causa a credibilida<strong>de</strong> da própria moeda europeia;<br />

c) EURO não é só uma moeda mas a cúpula <strong>de</strong> uma construção política cujas<br />

oscilações po<strong>de</strong>m afectar o comportamento <strong>de</strong>ssa moeda nos mercados cambiais.<br />

Vejamos cada um <strong>de</strong>stes aspectos.<br />

a) A economia da zona EURO não é capaz <strong>de</strong> gerar um crescimento endógeno capaz <strong>de</strong><br />

sobreviver a uma aterragem da economia americana, sobretudo se esta for turbulenta;<br />

vejamos os seguintes aspectos:<br />

• a economia da zona EURO não está numa mera posição cíclica assimétrica em<br />

relação à economia dos EUA, mas evi<strong>de</strong>ncia uma taxa <strong>de</strong> crescimento potencial<br />

duradouramente inferior à dos EUA; recor<strong>de</strong>-se a este propósito que a economia<br />

americana experimentou taxas <strong>de</strong> crescimento anual do investimento na or<strong>de</strong>m dos<br />

15% ao ano <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1993, com o investimento a representar 15% do PIB em anos<br />

recentes e fortemente concentrado no <strong>de</strong>senvolvimento dos sectores motores do<br />

crescimento futuro (in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> crises conjunturais que possam ocorrer), em<br />

contraste com o crescimento <strong>de</strong> 5% ao ano <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1997 do investimento nas<br />

economias europeias on<strong>de</strong> representa 9% do PIB, concentrado na “superfície<br />

exterior” da “nova economia” (operadores <strong>de</strong> telecomunicações fixas e móveis,<br />

Internet service provi<strong>de</strong>rs);<br />

• uma quebra pronunciada no crescimento da economia americana (tanto mais quanto<br />

fosse acompanhado por um EURO momentaneamente valorizado face ao dólar)<br />

retiraria dinamismo às exportações da zona EURO – <strong>de</strong> produtos tradicionais <strong>de</strong> alta<br />

qualida<strong>de</strong>- que contribuíram proporcionalmente mais para o crescimento económico<br />

recente das economias <strong>de</strong>ssa zona do que as exportações dos EUA para a expansão<br />

americana (que se fez, além disso, com um dólar forte);<br />

• uma quebra ainda maior no mercado <strong>de</strong> acções dos EUA, sobretudo no segmento<br />

“Telecomunicações/Multimedia/Internet (TMI) traduzir-se-ia numa queda paralela nos<br />

sectores idênticos na Europa, com <strong>de</strong>staque para as telecomunicações que constituiu<br />

um dos focos <strong>de</strong> relançamento do investimento nas economias da zona EURO,<br />

realizado com base num gran<strong>de</strong> endividamento (obrigações e créditos bancários);<br />

sendo que no caso europeu as empresas da “nova economia” estão muito mais<br />

ligadas a gran<strong>de</strong>s empresas da “velha economia” (antigos monopólios <strong>de</strong><br />

telecomunicações privatizados; empresas <strong>de</strong> sectores maduros ou em crise que se<br />

lançaram no investimento nas telecomunicações ou na internet, etc.) do que nos EUA,<br />

não estando no centro <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iros “clusters” <strong>de</strong> inovação multifacetada;<br />

• o ponto mais forte em que a Europa po<strong>de</strong>ria competir no segmento TMI com os EUA,<br />

assegurando uma autonomia na valorização dos títulos e na dinâmica do investimento<br />

– os serviços, o “software” e os equipamentos <strong>de</strong> comunicações para a internet móvel<br />

– acaba <strong>de</strong> sofrer um ru<strong>de</strong> golpe <strong>de</strong>vido ao modo como os governos europeus<br />

<strong>de</strong>cidiram conce<strong>de</strong>r as licenças da 3ª geração móvel (UMTS); se esse modo permitiu<br />

(ou <strong>de</strong>veria ter permitido, caso não tivesse ocorrido já na fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>scida do<br />

segmento TMI nos EUA), obter receitas para os orçamentos dos Estados (no exacto


O Euro e o Dólar - Passado Recente e Futuro Próximo<br />

momento em que estes embarcaram numa política <strong>de</strong> cortes <strong>de</strong> impostos <strong>de</strong>stinados<br />

a estimular o crescimento, nomeadamente por via do investimento), tornou muito mais<br />

oneroso para os operadores o lançamento dos serviços <strong>de</strong> internet móvel (já que o<br />

custo das licenças veio adicionar-se aos custos <strong>de</strong> criação das infra-estruturas <strong>de</strong><br />

re<strong>de</strong> necessárias);<br />

• uma queda pronunciada na bolsa dos EUA acompanhada por um eventual “apertar”<br />

<strong>de</strong> crédito por parte da banca <strong>de</strong>terminaria uma rápida liquidação <strong>de</strong> posições nas<br />

bolsas europeias por parte <strong>de</strong> muitos investidores institucionais americanos, que<br />

como vimos, suprem na Europa a <strong>de</strong>ficiente expressão <strong>de</strong> investidores europeus; tal<br />

significa uma muito mais estreita ligação do comportamento das bolsas americana e<br />

europeias;<br />

• uma quebra pronunciada na economia americana, se for acompanhada por uma nova<br />

crise nas economias emergentes da América Latina (vd. as dificulda<strong>de</strong>s da Argentina)<br />

vai colocar graves problemas às empresas que li<strong>de</strong>raram as “expedições” da zona<br />

Euro às Américas, nomeadamente o pequeno grupo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s bancos e empresas<br />

espanholas e alemãs que as protagonizaram (Banco Santan<strong>de</strong>r Central Hispano,<br />

Banco Bilbao Vyscaia Argentaria, Telefónica, En<strong>de</strong>sa/Iberdrola, Repsol, Deutsche<br />

Bank, Daimler Benz, Siemens e Deutsche Telekom); se esses problemas se<br />

verificarem po<strong>de</strong>rão criar <strong>de</strong>sconfiança por parte dos investidores internacionais face<br />

aos activos privados europeus;<br />

A EUROPA E OS EUA – INOVAÇÃO E SECTORES DE ALTA TECNOLOGIA<br />

No relatório referente ao ano 2000 sobre a situação da indústria francesa, publicado pela<br />

Comissão Permanente <strong>de</strong> Concertação para a Indústria, do Ministério da Economia, das Finanças<br />

e da Indústria francês são feitas um conjunto <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações sobre a economia e a indústria<br />

europeias e <strong>de</strong> comparação com os EUA (e o Japão) que merecem referência. Seleccionámos as<br />

seguintes:<br />

• a aceleração recente do crescimento europeu, estimulado pela <strong>de</strong>svalorização do Euro, não<br />

permite alcançar a dos EUA, cujos ritmos <strong>de</strong> produção industrial, do PIB e da FBCF<br />

permanecem superiores, tanto no médio como no longo prazo; assim, em 1999 e 2000 a<br />

FBCF americana crescia ainda ao ritmo <strong>de</strong> 8% (nota: já no final do período <strong>de</strong> expansão <strong>de</strong><br />

uma década), em contraste com os 5% da Europa), sendo no entanto previsível que o ritmo<br />

<strong>de</strong> crescimento do PIB europeu ultrapasse o dos EUA no primeiro semestre <strong>de</strong> 2001;<br />

• o crescimento verificado nos sectores industriais tradicionais confirma a especialização<br />

internacional da União Europeia nos bens <strong>de</strong> equipamento industrial, no material <strong>de</strong><br />

transporte, nos bens intermédios e no agroalimentar; paralelamente o peso <strong>de</strong> certos<br />

sectores básicos, como os metais e a fileira têxtil/vestuário tem diminuído na Europa sob o<br />

efeito das baixas <strong>de</strong> preços e da concorrência dos países em <strong>de</strong>senvolvimento;<br />

• no que respeita às indústrias baseadas nas novas tecnologias da informação e da<br />

comunicação, a União Europeia tem tido resultados na competição internacional<br />

diferenciados. Assim:<br />

• no sector dos equipamentos <strong>de</strong> telecomunicações o valor acrescentado nominal, entre<br />

1988 e 1997, aumentou mais rapidamente do que qualquer outro sector industrial, sendo<br />

que a Europa conta com vários grupos <strong>de</strong> primeiro plano neste sector;<br />

61


Informação Internacional<br />

62<br />

A EUROPA E OS EUA – INOVAÇÃO E SECTORES DE ALTA TECNOLOGIA<br />

• o sector do equipamento informático, pelo contrário, e em igual período, revelou-se o<br />

único daquelas indústrias em que o crescimento nominal se apresentou negativo; embora<br />

este balanço negativo <strong>de</strong>va ser atenuado tendo em consi<strong>de</strong>ração vários factores, como a<br />

rápida redução dos preços das equipamentos ou a <strong>de</strong>slocação do valor acrescentado do<br />

equipamento informático em direcção às activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> serviços, ao “software” e às re<strong>de</strong>s;<br />

• a convergência entre as activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação, informática e conteúdos (por<br />

exemplo a edição, que é o terceiro sector mais gerador <strong>de</strong> riqueza no “ranking” europeu)<br />

po<strong>de</strong> fornecer à Europa uma nova ocasião <strong>de</strong> crescimento:<br />

• reflexo do atraso tecnológico relativo da Europa, está patente no facto da balança <strong>de</strong><br />

pagamentos tecnológicos da União Europeia permanecer <strong>de</strong>ficitária, enquanto a dos EUA<br />

continua largamente exce<strong>de</strong>ntária; o relatório refere que um défice a este nível não é em si<br />

mesmo algo <strong>de</strong> mau, se reflectir uma elevada capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> absorção da tecnologia<br />

estrangeira, como aconteceu com o Japão na sua fase <strong>de</strong> “catching-up”; mas no caso<br />

europeu o défice <strong>de</strong>ve ser visto sobretudo como um indicador da fraqueza das suas<br />

capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inovação face aos EUA;<br />

• entre 1985 e 1998, o esforço <strong>de</strong> I&D oscilou na Europa, segundo os anos, entre 1,8% e 2%<br />

do PIB, em contraste com uma média <strong>de</strong> 2,8% nos EUA e no Japão, sendo que o esforço<br />

europeu nesta área teve tendência para diminuir durante a década <strong>de</strong> 90, enquanto nos<br />

EUA, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma redução que atingiu vários anos, recuperou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1995;<br />

• entre 1985 e 1998, o esforço <strong>de</strong> I&D oscilou na Europa , segundo os anos, entre 1,8% e 2%<br />

do PIB, em contraste com uma média <strong>de</strong> 2,8% nos EUA e no Japão, sendo que o esforço<br />

europeu nesta área teve tendência para diminuir durante a década <strong>de</strong> 90, enquanto nos<br />

EUA, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma redução que atingiu vários anos, recuperou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1995;<br />

• em parte os diferenciais <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> I&D no PIB reflectem as diferentes especializações<br />

sectoriais; por exemplo em sectores como a aeronáutica, montantes consi<strong>de</strong>ráveis <strong>de</strong> I&D<br />

são incontornáveis para inovar nos produtos ou em novos equipamentos, enquanto, para<br />

atingir a mesma finalida<strong>de</strong> noutros sectores são suficientes montantes menores; por outro<br />

lado quando indústrias numa dada região da economia mundial se tornam menos<br />

competitivas, as respectivas implantações industriais são compradas ou instaladas <strong>de</strong> novo<br />

por grupos estrangeiros que realizam o essencial da sua I&D no seu país <strong>de</strong> origem; ora os<br />

EUA estão muito mais claramente especializados do que a União Europeia e o Japão nas<br />

activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alta tecnologia e também um pouco mais especializados nas activida<strong>de</strong>s<br />

industrias com forte componente <strong>de</strong> “marketing”;<br />

• a inovação tecnológica nos EUA continua a realizar-se sobretudo em dois domínios:<br />

biotecnologias e informática (nota: hard e soft); assim os EUA empregam três vezes mais<br />

especialistas em biotecnologia do que a Europa, a sua população está três vezes mais<br />

ligada à Internet do que na Europa e os principais grupos europeus das telecomunicações,<br />

química e farmácia adquirem e integram nas suas estruturas muitos “start-up” e empresas<br />

<strong>de</strong> forte potencial <strong>de</strong> I&D nos EUA, que continuam a realizar os seus esforços <strong>de</strong> I&D em<br />

território americano; basta recordar que já em 1996, as filiais industriais <strong>de</strong> grupos<br />

estrangeiros realizavam 12% da I&D nos EUA; <strong>de</strong>ste modo os grupos europeus <strong>de</strong> ponta<br />

realizam esforços <strong>de</strong> I&D comparáveis aos dos seus congéneres americanos, mas só que<br />

por vezes realizados nos EUA.<br />

Fonte: “Forces et Faiblesses <strong>de</strong> l`Industrie Européenne”, Problémes Économiques, nº 2699, <strong>de</strong> 7<br />

<strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2001.


O Euro e o Dólar - Passado Recente e Futuro Próximo<br />

• uma quebra <strong>de</strong> investimento provocada pela quebra na bolsa, pela drástica redução<br />

nas expectativas <strong>de</strong> crescimento e lucros <strong>de</strong> alguns dos gran<strong>de</strong>s nomes das<br />

telecomunicações e pelos problemas nalguns dos nomes mais célebres do mundo<br />

empresarial europeu, iria reduzir uma segunda mola do crescimento endógeno da<br />

zona EURO (sendo que, mesmo assim, o crescimento do investimento na Europa não<br />

tem comparação com o que foi realizado nos EUA durante a expansão); a queda nas<br />

exportações e no investimento acompanhada por perdas nas bolsas provocaria uma<br />

redução da confiança das famílias, traduzindo-se numa quebra <strong>de</strong> consumo privado;<br />

face a esta evolução restaria o aumento dos défices públicos como forma <strong>de</strong> travar<br />

um abrandamento da economia europeia <strong>de</strong>rivado da quebra <strong>de</strong> crescimento nos<br />

EUA mas com o risco <strong>de</strong> criar tensões em torno do cumprimento do Pacto <strong>de</strong><br />

Estabilida<strong>de</strong> e Crescimento;<br />

• face a uma contracção do crédito nos EUA que acompanhasse uma “aterragem<br />

turbulenta” as empresas americanas mais sólidas e as agências fe<strong>de</strong>rais do tipo<br />

Freddie Mac iriam recorrer numa escala maciça aos mercado das obrigações em<br />

Euros, on<strong>de</strong> os investidores institucionais e particulares europeus, assustados com as<br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empresas e <strong>de</strong> bancos europeus acorreriam a essas<br />

emissões que representaria um novo canal <strong>de</strong> exportação <strong>de</strong> capitais para os EUA;<br />

• sendo assim, se a menor <strong>de</strong>pendência das economias da zona EURO relativamente<br />

ao mercado <strong>de</strong> capitais serviria para limitar a transmissão <strong>de</strong> impactos <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s<br />

nos mercados <strong>de</strong> acções à economia real, não pouparia os impactos sentidos através<br />

da esfera financeira.<br />

b) O sector financeiro das economias da zona EURO po<strong>de</strong> estar vulnerável a uma grave<br />

crise que a ocorrer em 2001/2 po<strong>de</strong>rá pôr em causa a credibilida<strong>de</strong> da própria moeda;<br />

vejamos os seguintes aspectos:<br />

• um forte abrandamento da economia americana afectará directamente vários dos<br />

maiores bancos europeus que <strong>de</strong>têm importantes posições nos empréstimos<br />

sindicados e no mercado das obrigações <strong>de</strong> risco nos EUA;<br />

• uma crise <strong>de</strong> confiança no crescimento do sector das telecomunicações e da internet<br />

móvel na Europa atingirá os bancos europeus (quer os da zona EURO, quer os dos<br />

que estão fora <strong>de</strong>la como o Reino Unido) que emprestaram em larga escala fundos<br />

aos novos e velhos operadores <strong>de</strong> telecomunicações – directamente ou através da<br />

tomada <strong>de</strong> obrigações (vd. CAIXA);<br />

• uma crise que ocorra no seio das empresas que protagonizaram as “expedições” da<br />

zona EURO às Américas atingirá em força um pequeno número <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s bancos<br />

europeus, com posições em re<strong>de</strong>s pan-europeias, que tanto os po<strong>de</strong>m proteger, como<br />

po<strong>de</strong>m ser arrastadas por eles na sua eventual crise;<br />

• o crescimento económico europeu na zona EURO ficou também a <strong>de</strong>ver-se ao<br />

“boom” <strong>de</strong> investimento resi<strong>de</strong>ncial nas economias que mais beneficiaram com a<br />

redução das taxas <strong>de</strong> juro que a sua integração na UEM permitiu, “boom” esse<br />

alimentado pelo credito dos bancos comerciais e hipotecários; um abrandamento da<br />

63


Informação Internacional<br />

64<br />

economia da zona EURO, acompanhada por uma <strong>de</strong>gradação da posição patrimonial<br />

das famílias po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um aumento do crédito mal parado na banca dos<br />

países em que esse “boom” teve maiores proporções.<br />

c) O Euro não é só uma moeda mas a cúpula <strong>de</strong> uma construção política cujas oscilações<br />

po<strong>de</strong>m afectar a sua credibilida<strong>de</strong> e, por essa via, o seu comportamento nos mercados<br />

cambiais; vejamos os seguintes aspectos:<br />

• o resultado do referendo dinamarquês <strong>de</strong> recusa <strong>de</strong> participação no EURO significa,<br />

com forte probabilida<strong>de</strong>, que posição idêntica se venha a manifestar no futuro próximo<br />

no Reino Unido e na Suécia, economias com boas posições orçamentais e que<br />

concentram alguns dos pólos empresariais mais dinâmicos das novas tecnologias da<br />

informação, das comunicações e da saú<strong>de</strong> da Europa; por seu lado, a a<strong>de</strong>são da<br />

Grécia ao EURO, concretizada em Janeiro <strong>de</strong> 2001 faz que as quatro economias do<br />

sul da Europa – Itália, Espanha, Portugal e Grécia – integrem todas a zona EURO,<br />

para <strong>de</strong>sconforto <strong>de</strong> sectores alemães; e por último, as mais prováveis a<strong>de</strong>sões<br />

futuras à zona EURO virão <strong>de</strong> países da Europa Central e Báltica, candidatos à UE,<br />

todos eles com economias ainda frágeis e que, <strong>de</strong> qualquer modo, aceitariam integrar<br />

uma “zona marco” informal, se não existisse o EURO;<br />

• o EURO, se tem já uma existência como moeda internacional, continua a ter uma<br />

existência virtual para a gran<strong>de</strong> maioria dos agentes económicos da respectiva zona<br />

monetária; para ter uma existência real e completa tem que ultrapassar com êxito o<br />

momento simbólico em que a sua criação se revelará o reverso da “morte” do marco;<br />

se nesse momento o EURO permanecer numa posição fragilizada nos mercados<br />

cambiais, e existir gran<strong>de</strong> controvérsia em torno da orientação do BCE não se po<strong>de</strong><br />

afastar a hipótese <strong>de</strong> movimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sobediência civil na Alemanha contra o<br />

abandono da moeda que simbolizou o renascimento económico da Alemanha no pósguerra<br />

e a própria unificação alemã;<br />

• a credibilida<strong>de</strong> do EURO a prazo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da capacida<strong>de</strong> dos governos que<br />

integrarem a UEM – e em particular das quatro gran<strong>de</strong>s economias que constituem o<br />

seu núcleo central – França, Alemanha, Itália e Espanha – levarem a cabo as<br />

reformas estruturais que permitam assegurar a sustentabilida<strong>de</strong> das posições<br />

orçamentais em conformida<strong>de</strong> com as normas do Pacto <strong>de</strong> Estabilida<strong>de</strong> e<br />

Crescimento; dificulda<strong>de</strong>s evi<strong>de</strong>ntes na implementação <strong>de</strong>ssas reformas, porão a nu a<br />

fraqueza política dos governos nessas gran<strong>de</strong>s economias, revelação que não<br />

escapará aos mercados;<br />

• o EURO como moeda é expressão <strong>de</strong> um projecto político <strong>de</strong> integração europeia,<br />

que assenta na relação estável e privilegiada da França e da Alemanha; qualquer<br />

enfraquecimento <strong>de</strong>ssa relação em consequência <strong>de</strong> uma dificulda<strong>de</strong> da França em<br />

aceitar a posição mais central da Alemanha no futura UE tornará mais instável aquele<br />

processo, o que não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> se repercutir no comportamento do EURO nos<br />

mercados cambiais; o mesmo se po<strong>de</strong>ndo referir se se verificar uma clara dissonância<br />

política <strong>de</strong> um dos gran<strong>de</strong>s europeus que integre a UEM – como a Itália – cujas<br />

escolhas políticas sejam objecto <strong>de</strong> confronto por parte da França ou da Alemanha.


O Euro e o Dólar - Passado Recente e Futuro Próximo<br />

OS BANCOS EUROPEUS E AS TELECOMUNICAÇÕES – O PÂNICO DE OUTUBRO DE 2000<br />

No “Le Mon<strong>de</strong>” <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2000” o artigo “La chute <strong>de</strong>s valeurs <strong>de</strong>s télécommunications<br />

déstabilize le secteur bancaire” chamava a atenção para os seguintes factos:<br />

• a queda muito acentuada no Nasdaq nos EUA arrastou a queda das bolsas europeias; os<br />

avisos lançados pelos fabricantes <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> telecomunicações Lucent e Motorola<br />

aumentaram a <strong>de</strong>sconfiança dos investidores face ao sector “Tecnologias”, tendo levado a<br />

quedas <strong>de</strong> 18 e 30% nas acções <strong>de</strong>stas duas empresas, que foram acompanhadas nas<br />

bolsas europeias por quedas <strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> telecomunicações ou fabricantes <strong>de</strong><br />

equipamentos a elas <strong>de</strong>stinados;<br />

• a queda nos títulos <strong>de</strong> empresas tecnológicas transmitiu-se ao sector bancário, sendo <strong>de</strong><br />

recordar que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há meses as autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tutela dos bancos os haviam alertado para<br />

os volumes muito elevados <strong>de</strong> créditos concedidos aos operadores <strong>de</strong> telecomunicações na<br />

Europa, nomeadamente os créditos que se <strong>de</strong>stinaram a financiar a aquisição <strong>de</strong> licenças<br />

UMTS;<br />

• em 10 <strong>de</strong> Outubro um artigo no “Wall Street Journal” havia semeado o pânico ao dar<br />

expressão a rumores que apontavam para a má qualida<strong>de</strong> dos créditos <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um bilião<br />

<strong>de</strong> dólares que o Deutsche Bank havia concedido no operador <strong>de</strong> telecomunicações wireless<br />

Mainstream PCS Holdings, sob a forma <strong>de</strong> ”junk bonds”; esta socieda<strong>de</strong> fora constituída em<br />

Abril <strong>de</strong> 2000 para gerir as re<strong>de</strong>s que a Bell Atlantic, Vodafone e GTE <strong>de</strong>tinham em<br />

Cincinnati e Chicago, e que tinham sido forçadas a <strong>de</strong>sfazer-se <strong>de</strong>vido à sua fusão. As<br />

acções do Deutsche Bank baixaram logo <strong>de</strong> seguida não obstante os <strong>de</strong>smentidos do seu<br />

presi<strong>de</strong>nte e das opiniões <strong>de</strong> analistas que consi<strong>de</strong>ravam que mesmo na pior das hipóteses<br />

em que o banco teria que constituir provisões sobre a totalida<strong>de</strong> do crédito concedido não se<br />

justificava o pânico.<br />

Na sequência <strong>de</strong>stes acontecimentos alguns bancos europeus viram cair as suas acções, com<br />

<strong>de</strong>staque para aqueles que já tinham estado envolvidos em operações <strong>de</strong> risco aquando das crises<br />

asiáticas e da Rússia e <strong>de</strong> que se suspeitava um forte envolvimento no sector Telecomunicações –<br />

Crédit Suisse, Societé Génerale, BNP Paribas, Crédit Lyonnais.<br />

5.3. Uma surpresa que po<strong>de</strong> vir da Ásia?<br />

Qualquer reflexão prospectiva sobre o futuro da relação cambial dólar-Euro tem que incluir<br />

como variável-chave o futuro da relação cambial dólar-yen.<br />

Porque se a actual situação crítica da economia japonesa prenunciar o início <strong>de</strong> uma<br />

tendência “secular” <strong>de</strong> <strong>de</strong>preciação da moeda japonesa face ao dólar, invertendo a<br />

tendência das ultimas décadas, acompanhada por uma “libertação” das poupanças das<br />

famílias japonesas do quadro que as tem mantido “presas” a instituições do sistema<br />

financeiro japonês que acumularam perdas sucessivas ao longo da década <strong>de</strong> 90,<br />

permitindo, nomeadamente que se dirijam com muito maior frequência para activos sólidos e<br />

com valorização potencial quer nas economias japonesa e <strong>de</strong> outros países da Ásia, quer<br />

dos EUA. Neste caso, o processo referido, não só facilitaria a “aterragem suave” da<br />

economia americana - ao aumentar os fluxos <strong>de</strong> capitais para financiar o défice externo e ao<br />

“confortar” Wall Street – como forneceria um “escudo protector invisível” para a moeda<br />

americana.<br />

65


Informação Internacional<br />

66<br />

OLHANDO PARA AS VANTAGENS DE UM YEN DEPRECIADO<br />

O Prof. Jeffrey Sachs, em artigo publicado recentemente no Financial Times, chamou a atenção<br />

para que uma expansão monetária significativa, acompanhada por uma <strong>de</strong>preciação do yen teria<br />

dois efeitos benéficos:<br />

• primeiro, e na medida em que o nível <strong>de</strong> preços internos no Japão se elevasse em<br />

proporção com a <strong>de</strong>preciação do yen, o principal efeito seria o <strong>de</strong> reduzir o valor real do<br />

crédito mal parado existente nos balanços japoneses, sem alterar a competitivida<strong>de</strong> preço<br />

internacional do país; em consequência a activida<strong>de</strong> económica elevar-se-ia há medida que<br />

o peso da dívida fosse sendo aliviado, o mesmo acontecendo com as importações<br />

japonesas oriundas do resto do mundo;<br />

• segundo, e na medida em que a <strong>de</strong>preciação do yen exce<strong>de</strong>sse o aumento dos preços<br />

internos, o preço em dólares dos bens japoneses nos mercados mundiais teria tendência<br />

para baixar, canalizando a procura global em direcção à economia japonesa.<br />

O efeito combinado aumentaria a procura agregada no Japão, com um pequeno efeito liquido na<br />

procura agregada no resto do mundo. Neste resto do mundo, a Ásia, em especial, po<strong>de</strong>ria<br />

absorver um volume superior <strong>de</strong> exportações liquidas japonesas se o excesso crescente das<br />

poupanças sobre o investimento fosse canalizado sob a forma <strong>de</strong> saídas <strong>de</strong> capitais <strong>de</strong> um modo<br />

mais a<strong>de</strong>quado que não reproduzisse o <strong>de</strong>sastre <strong>de</strong> 1997 (em que as saídas <strong>de</strong> capitais para a<br />

Ásia foram sobretudo sob a forma <strong>de</strong> empréstimos bancários a curto prazo, facilmente repatriados<br />

ao menor sinal <strong>de</strong> pânico).<br />

Intuitivamente percebe-se que o Japão precise <strong>de</strong> aumentar as suas exportações para que a sua<br />

economia se aproxime do pleno emprego, enquanto o resto da Ásia necessita dos bens <strong>de</strong> capital<br />

japoneses e da sua tecnologia para manter o seu crescimento em fluxo. Mas maiores exportações<br />

japonesas para a Ásia apenas po<strong>de</strong>m funcionar se o Japão po<strong>de</strong>r oferecer financiamentos<br />

credíveis e se o resto da Ásia for capaz <strong>de</strong> gerir os maiores influxos <strong>de</strong> capitais japoneses.<br />

Mais uma vez se é reconduzido aos sistemas financeiros asiáticos como o nó da questão. Se é<br />

verda<strong>de</strong> que a expansão monetária no Japão faz sentido em termos macroeconómicos, <strong>de</strong>verá ser<br />

combinada com uma intermediação financeira <strong>de</strong> melhor qualida<strong>de</strong>, tanto no Japão, como no resto<br />

da Ásia se se quiser que essa expansão produza os efeitos <strong>de</strong>sejados. Parte da resposta está em<br />

canalizar uma parte muito maior dos fluxos <strong>de</strong> capitais com origem no Japão sob a forma <strong>de</strong><br />

investimento directo, mais do que sob a forma volátil <strong>de</strong> empréstimos bancários. A outra parte está<br />

na recriação <strong>de</strong> sistemas bancários e <strong>de</strong> outros intermediários financeiros que possam vir <strong>de</strong> novo<br />

a emprestar a longo prazo, sem experimentarem frequentes sobressaltos quanto à direcção e<br />

magnitu<strong>de</strong> dos empréstimos.<br />

Fonte: Jeffrey Sachs, “The Benefits of a Weaker Yen” Financial Times, 18 Abril 2001


ANEXO<br />

O Euro e o Dólar - Passado Recente e Futuro Próximo<br />

A SUBAVALIAÇÃO DO EURO – À LUZ DOS “FUNDAMENTOS”<br />

A maioria dos estudos recentes sobre taxas <strong>de</strong> câmbio <strong>de</strong> equilíbrio assentam na abordagem <strong>de</strong><br />

equilíbrio macro-económico. De acordo com esta abordagem, a taxa <strong>de</strong> câmbio é influenciada a<br />

médio prazo por diversas variáveis económicas reais, <strong>de</strong>signadas por “fundamentos”:<br />

• uma escola <strong>de</strong> pensamento, conhecida como a “abordagem da taxa <strong>de</strong> câmbio <strong>de</strong> equilíbrio<br />

fundamental (TCEF)“, centra-se no cálculo das taxas <strong>de</strong> câmbio que são consistentes com o<br />

equilíbrio interno e externo. Nesse sentido diz-se que uma economia se encontra em<br />

equilíbrio interno se, ao nível do produto, funciona <strong>de</strong> forma consistente com o pleno<br />

emprego (ou seja o produto potencial) e com a estabilida<strong>de</strong> dos preços, enquanto o<br />

equilíbrio externo correspon<strong>de</strong> a uma posição sustentável da balança corrente, como<br />

reflectido nos fluxos líquidos <strong>de</strong> capitais subjacentes e <strong>de</strong>sejados. A abordagem da TCEF,<br />

que constitui um conceito bastante normativo, permite que o valor <strong>de</strong> equilíbrio da taxa <strong>de</strong><br />

câmbio varie ao longo do tempo, em reflexo <strong>de</strong> mudanças nos fundamentos económicos<br />

subjacentes, sendo a variação <strong>de</strong>ste valor tipicamente bastante regular e gradual;<br />

• outra escola <strong>de</strong> pensamento atribui uma estrutura menos normativa ao cálculo da trajectória<br />

<strong>de</strong> longo (ou médio) prazo da taxa <strong>de</strong> câmbio. O enfoque <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> análise consiste em<br />

explicar o comportamento das taxas <strong>de</strong> câmbio por meio <strong>de</strong> variáveis económicas relevantes<br />

– “abordagem da taxa <strong>de</strong> câmbio <strong>de</strong> equilíbrio comportamental TCEC”. Neste contexto,<br />

assume-se que movimentos <strong>de</strong> longo (ou médio) prazo da taxa <strong>de</strong> câmbio real são<br />

explicados sobretudo por diferenciais <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> sectorial relativo e pelo stock <strong>de</strong><br />

activos líquidos sobre o exterior. Devido a limitações <strong>de</strong> dados, variáveis orçamentais, tais<br />

como o ratio da <strong>de</strong>spesa pública em relação ao PIB substituem por vezes os activos líquidos<br />

sobre o exterior. Além do mais, as variáveis que explicam choques nos termos <strong>de</strong> troca, bem<br />

como diferenças nas taxas <strong>de</strong> juro real (dada a condição <strong>de</strong> parida<strong>de</strong> <strong>de</strong> juros não coberta),<br />

foram também introduzidas como <strong>de</strong>terminantes adicionais dada taxa <strong>de</strong> câmbio real. Assim<br />

– e ao contrário da abordagem TCEF – a taxa <strong>de</strong> câmbio <strong>de</strong> equilíbrio é calculada utilizando<br />

os níveis actuais dos factores fundamentais, embora em alguns estudos aqueles sejam<br />

também <strong>de</strong>sagregados em componentes permanentes e transitórios. Em todos os estudos<br />

<strong>de</strong>sta escola, a taxa <strong>de</strong> câmbio <strong>de</strong> equilíbrio é avaliada em termos da evolução dos<br />

fundamentos do país <strong>de</strong> origem – por exemplo a zona Euro – relativamente aos seus<br />

principais concorrentes.<br />

(Existem ainda outras abordagens para a avaliação do valor “justo” <strong>de</strong> uma moeda, tais como a da<br />

“taxa <strong>de</strong> câmbio real natural (NATREX)“ ou os mo<strong>de</strong>los macroeconómicos completamente<br />

especificados). Apesar <strong>de</strong> ser necessário bastante cuidado na interpretação <strong>de</strong> estimativas<br />

apresentadas como representando o valor <strong>de</strong> equilíbrio do Euro num horizonte <strong>de</strong> longo (ou médio)<br />

prazo – consi<strong>de</strong>rando o grau <strong>de</strong> incerteza que ro<strong>de</strong>ia estas estimativas e as diferenças observadas<br />

nos valores <strong>de</strong> equilíbrio estimados nos diversos estudos – todos apontam para a conclusão <strong>de</strong><br />

que o Euro se encontra relativamente sub-avaliado face à evolução dos ”fundamentos”<br />

económicos.<br />

Fonte: Boletim Mensal do Banco Central Europeu (BCE), Novembro <strong>de</strong> 2000.<br />

67


III<br />

EUROTENDÊNCIAS<br />

√ Os Envelhecimentos da População e as suas Consequências na<br />

Zona Euro 11<br />

√ O Investimento Directo Internacional nas Economias da Europa<br />

Central − Uma Nova Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Influências Unindo a Europa<br />

√ A Bélgica e o Processo <strong>de</strong> Integração Europeia − <strong>de</strong> um<br />

Fe<strong>de</strong>ralismo a Outro?


Eurotendências<br />

OS “ENVELHECIMENTOS” DA POPULAÇÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA<br />

ZONA EURO 11<br />

António Alvarenga<br />

1. INTRODUÇÃO: OS TRÊS ENVELHECIMENTOS<br />

Não <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> focar a questão das dificulda<strong>de</strong>s enfrentadas pelos actuais sistemas <strong>de</strong><br />

pensões, este artigo tem como objectivo mais lato reflectir sobre as consequências a médio<br />

e longo prazo do fenómeno bem conhecido e quantificado do envelhecimento da população<br />

no mundo industrializado 1 e, muito particularmente, na zona euro. Segundo Géry Coomans,<br />

num artigo publicado em sequência do The Futures Project do Institute for Prospective<br />

Technological Studies (IPTS) 2 , até 2020, a Europa vai sofrer o impacto <strong>de</strong> três<br />

“envelhecimentos” (Gráfico 1).<br />

1.1. Envelhecimento Geral da População<br />

O envelhecimento geral da população é um processo que <strong>de</strong>corre há já algumas décadas<br />

(Gráfico 2), prevendo-se que se venha a tornar ainda mais significativo e preocupante a<br />

partir <strong>de</strong> 2020, em consequência da entrada da geração do “baby boom” na classe etária<br />

dos 65 e mais anos. Este facto colocará pressões adicionais sobre a população activa no<br />

que respeita ao suporte do grupo crescente dos cidadãos reformados que,<br />

simultaneamente, permanecerão muitos mais anos nessa situação.<br />

De facto, nos países da zona euro, a proporção da população com ida<strong>de</strong>s iguais ou<br />

superiores a 65 anos vai aumentar dos actuais 16% para valores próximos dos 20% em<br />

2020, 25% em 2030 e 28% em 2050, o que provocará, nos próximos 50 anos, uma<br />

diminuição do rácio da população em ida<strong>de</strong> activa (15-64 anos) em relação à população<br />

com 65 ou mais anos, <strong>de</strong> valores superiores a 4 para 1.5 em Itália, 2 na Alemanha e 2.3 em<br />

França. Conforme se po<strong>de</strong> observar no Gráfico 2, este processo <strong>de</strong> envelhecimento será, na<br />

zona euro, particularmente significativo na Finlândia e nas já referidas Itália e Alemanha.<br />

1<br />

Se este problema se coloca, na actualida<strong>de</strong>, com maior premência em relação aos países industrializados,<br />

prevê-se que, a médio prazo, ele passe a fenómeno e preocupação global. Tal facto <strong>de</strong>ve-se ao envelhecimento<br />

muito rápido dos países em <strong>de</strong>senvolvimento (com menores rendimentos per capita) graças à redução da<br />

natalida<strong>de</strong> (rápida expansão dos métodos anticoncepcionais) e da mortalida<strong>de</strong> (melhoria dos cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

com difusão veloz das técnicas médicas).<br />

2<br />

“Europe´s Changing Demography Constraints and Bottlenecks”.


Informação Internacional<br />

72<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

40<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

14,4<br />

42,8<br />

UE<br />

18,3<br />

50,5<br />

1,4<br />

6<br />

1,6<br />

6,3<br />

Países cand. à<br />

UE<br />

1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025<br />

Gráfico 1<br />

OS TRÊS “ENVELHECIMENTOS”<br />

Fonte: Eurostat, Demographic Projections, 1997; UNO, Revision World Population, 1997<br />

Em artigo publicado no boletim <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2000 do Banco Central Europeu (BCE) 3<br />

referente ao envelhecimento da população e às suas consequências em termos <strong>de</strong><br />

política fiscal, são apontados como factores fundamentais conducentes a este<br />

envelhecimento a diminuição nas taxas <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> e o aumento substancial na<br />

esperança média <strong>de</strong> vida 4 .<br />

O saldo migratório, variável igualmente importante para a <strong>de</strong>finição da estrutura etária da<br />

população, tem tido menor influência no espaço geográfico da União Europeia (UE) <strong>de</strong>vido,<br />

por um lado, a factores estruturais como a regulação do mercado <strong>de</strong> trabalho e, por outro,<br />

ao historial <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> imigrantes na Europa (manifestamente insuficiente para abrandar<br />

o ritmo <strong>de</strong> envelhecimento da população) e à convicção <strong>de</strong> que a Europa e os países<br />

3 “Population Ageing and Fiscal Policy in the Euro Area”.<br />

8,1<br />

25,5<br />

65-79 >80<br />

10,7<br />

28,1<br />

UE Países cand. à UE<br />

E.U.A. Japão<br />

3,5<br />

14,2<br />

E. U. A. Japão<br />

Envelhecimento da População Activa<br />

6,1<br />

20,2<br />

4 A conjugação <strong>de</strong> taxas <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> incapazes sequer <strong>de</strong> suportar o índice <strong>de</strong> renovação <strong>de</strong> gerações (em<br />

média, situam-se em 1.5 filhos/mulher) com o aumento significativo da esperança média <strong>de</strong> vida (homens (1960-<br />

1997): <strong>de</strong> 67 para 75 anos; mulheres(1960-1997): <strong>de</strong> 73 para 81 anos) levou a um processo <strong>de</strong> envelhecimento<br />

que, dada a evi<strong>de</strong>nte influência que estes factores têm na população activa e no número <strong>de</strong> futuros pensionistas,<br />

põe em causa, entre outras coisas, a sustentabilida<strong>de</strong> dos sistemas <strong>de</strong> pensões na Europa. Simultaneamente,<br />

coloca os Estados europeus perante o carácter imperativo <strong>de</strong> reformas várias ao nível legislativo e da<br />

Administração Pública.<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

Envelhecimento Geral da População<br />

UE Países cand. à UE<br />

E.U.A. Japão<br />

1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025<br />

Envelhecimento no Seio da População Idosa<br />

UE Países cand. à UE<br />

E.U.A. Japão<br />

1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025


Os “Envelhecimentos” da População e suas Consequências na Zona Euro 11<br />

vizinhos po<strong>de</strong>rão ambos beneficiar se os trabalhadores com mais qualificações não<br />

imigrarem, <strong>de</strong> forma a po<strong>de</strong>rem participar activamente no <strong>de</strong>senvolvimento económico das<br />

suas economias <strong>de</strong> origem. Não obstante, a entrada <strong>de</strong> imigrantes po<strong>de</strong>rá ser uma variável<br />

a explorar mais intensamente no futuro, permitindo, eventualmente, uma maior margem <strong>de</strong><br />

manobra na intervenção pública na gestão dos sistemas <strong>de</strong> pensões.<br />

Gráfico 2<br />

POPULAÇÃO COM 65 OU MAIS ANOS EM % DA POPULAÇÃO TOTAL<br />

24<br />

22<br />

20<br />

18<br />

16<br />

14<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

Fonte: Eurostat, Statistiques Démographiques, 1999<br />

Como <strong>de</strong>senvolveremos mais tar<strong>de</strong>, o forte impacto económico adverso que se prevê em<br />

consequência <strong>de</strong>ste envelhecimento 5 , po<strong>de</strong>rá e <strong>de</strong>verá ser minorado através da<br />

implementação <strong>de</strong> reformas a<strong>de</strong>quadas na legislação laboral e nos sistemas <strong>de</strong> protecção<br />

social.<br />

1.2. Envelhecimento da População Activa<br />

1960 1995 2000 2005 2010 2020<br />

Euro 11<br />

O Gráfico 3 representa o processo <strong>de</strong> envelhecimento da população em ida<strong>de</strong> activa<br />

enfrentado pelos países que formam a zona euro. De facto, é já a partir <strong>de</strong> 2010 que,<br />

segundo James P. Gavigan 6 no The IPTS Report <strong>de</strong> Outubro 1999, o envelhecimento da<br />

população activa provocará importantes alterações em termos da a<strong>de</strong>quação dos perfis <strong>de</strong><br />

conhecimentos e <strong>de</strong> competências e da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem dos trabalhadores.<br />

Este fenómeno colocará dificulda<strong>de</strong>s acrescidas ao processo <strong>de</strong> “renovação geracional” dos<br />

5<br />

Convém não esquecer que, embora as previsões apontem para um impacto económico negativo, o<br />

envelhecimento da população constitui, por outro lado, um mercado emergente para sectores como a saú<strong>de</strong>, os<br />

cuidados pessoais, a habitação, o turismo e a ocupação <strong>de</strong> tempos livres, etc.<br />

6<br />

“The Learning Imperative for Europe’s Ageing Workforce”.<br />

It<br />

E<br />

Al<br />

Fr<br />

B<br />

Áu<br />

H<br />

Fi<br />

L<br />

P<br />

Ir<br />

73


Informação Internacional<br />

conhecimentos e competências caracterizado pela entrada no mercado <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong><br />

jovens dispondo <strong>de</strong> conhecimentos e formação actualizados (permitindo, <strong>de</strong>sta forma, a<br />

redução da ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> entrada na reforma).<br />

Tal como se conclui da observação do Gráfico 3, todos os países da zona euro apresentam<br />

uma tendência <strong>de</strong> envelhecimento da população em ida<strong>de</strong> activa (caracterizada pelo<br />

aumento do “peso” <strong>de</strong>mográfico da classe dos 50-64 anos). No entanto, a evolução é mais<br />

vincada em alguns <strong>de</strong>les perspectivando-se, por exemplo, que, em 2020, a classe 50-64<br />

anos represente, em países como a Itália, a Alemanha e a Áustria, bem mais do que 30% do<br />

total da população em ida<strong>de</strong> activa, o que, como vimos, <strong>de</strong>ixa antever fortes transformações<br />

ao nível do mercado <strong>de</strong> trabalho.<br />

74<br />

Grafico 3<br />

POPULAÇÃO COM IDADE COMPREENDIDA ENTRE OS 50 E OS 64 ANOS<br />

EM % DA POPULAÇÃO EM IDADE ACTIVA 7<br />

38<br />

36<br />

34<br />

32<br />

30<br />

28<br />

26<br />

24<br />

22<br />

20<br />

1995 2000 2005 2010 2020<br />

Fonte: Eurostat, Statistiques Démographiques, 1997-99<br />

Euro 11<br />

O impacto económico <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> envelhecimento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá sobremaneira da evolução<br />

dos sistemas <strong>de</strong> ensino e formação, bem como da implementação ou não a nível nacional e<br />

europeu <strong>de</strong> processos efectivos <strong>de</strong> requalificação e <strong>de</strong> “aprendizagem ao longo da vida” 8 .<br />

Estes processos <strong>de</strong>verão estar imbuídos <strong>de</strong> uma filosofia que valorize a experiência e os<br />

conhecimentos acumulados pelos trabalhadores mais velhos, facilitando uma eficiente<br />

transmissão <strong>de</strong> informação e contribuindo para a retenção no mercado <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>ste<br />

valioso capital humano 9 .<br />

7<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se como população em ida<strong>de</strong> activa aquela que se situa na faixa etária dos 15 aos 64 anos.<br />

8<br />

Estes processos são indissociáveis da evolução do modo <strong>de</strong> regulação salarial, nomeadamente no que<br />

concerne à relação entre a acumulação <strong>de</strong> capital humano e a respectiva remuneração.<br />

9<br />

Esta retenção po<strong>de</strong> não ser fácil: se, para alguns, a reforma representa um certo vazio em termos <strong>de</strong> inserção<br />

social e/ou uma redução muito significativa no rendimento e no nível <strong>de</strong> vida, para outros, uma reforma<br />

confortável a partir dos 60/64 anos faz parte <strong>de</strong> um contracto social que tem que ser respeitado integralmente.<br />

It<br />

E<br />

Al<br />

Fr<br />

B<br />

Áu<br />

H<br />

Fi<br />

L<br />

P<br />

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Os “Envelhecimentos” da População e suas Consequências na Zona Euro 11<br />

No seu artigo, James Gavigan distingue dois tipos fundamentais <strong>de</strong> medidas:<br />

• No curto prazo, <strong>de</strong>ver-se-á aumentar as competências e apostar na requalificação<br />

dos trabalhadores (com especial ênfase nos trabalhadores mais velhos), não<br />

esquecendo, no entanto, que esta <strong>de</strong>verá ser apenas uma das dimensões <strong>de</strong><br />

actuação num contexto <strong>de</strong> envelhecimento da população activa;<br />

• No médio e longo prazo, o <strong>de</strong>safio é a reforma completa da cultura implícita nos<br />

sistemas <strong>de</strong> educação e formação com uma aposta fundamental na aquisição<br />

contínua <strong>de</strong> conhecimentos (procurando uma maior eficiência) a todos os níveis das<br />

estruturas económicas e sociais (“lifelong and life-wi<strong>de</strong> learning”).<br />

As empresas em particular, como salienta o relatório da Fundação Europeia para a Melhoria<br />

das Condições <strong>de</strong> Vida e <strong>de</strong> Trabalho sobre a conferência <strong>de</strong> Turku 10 realizada no âmbito da<br />

presidência finlan<strong>de</strong>sa da União, terão que repensar a sua forma específica <strong>de</strong> encarar os<br />

recursos humanos, a formação, a organização do trabalho e mesmo a configuração e<br />

ergonomia no local <strong>de</strong> trabalho. Estas questões ganham ainda maior importância no<br />

contexto actual, caracterizado pela emergência da economia baseada no conhecimento em<br />

que os activos intangíveis (como o capital humano) ganham cada vez maior importância em<br />

relação a outros com um carácter iminentemente tangível (como o capital fixo). A aposta<br />

<strong>de</strong>verá ser, cada vez mais, nas pessoas, factor estratégico fundamental <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>,<br />

crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento 11 .<br />

É fundamental, acima <strong>de</strong> tudo, envolver os próprios trabalhadores e os parceiros sociais<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do processo <strong>de</strong> mudança, implementando uma abordagem preventiva e<br />

integrada a nível público e privado que ultrapasse obstáculos como a eventual<br />

incompatibilida<strong>de</strong> com os esquemas <strong>de</strong> ensino e aprendizagem actuais que se caracterizam<br />

pela sua clara compartimentação temporal antes da entrada no mercado <strong>de</strong> trabalho.<br />

1.3. Envelhecimento no Seio da População Idosa<br />

Para caracterizar o envelhecimento da população mais idosa é, normalmente, analisada a<br />

evolução quantitativa do grupo etário <strong>de</strong> 80 e mais anos (Gráfico 4). Depois <strong>de</strong> uma ligeira<br />

redução entre 1995 e 2000 (dada a menor taxa <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> durante a 1ª Guerra Mundial),<br />

o “peso” dos cidadãos com 80 ou mais anos começará a aumentar muito significativamente,<br />

perspectivando-se um crescimento <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 41% no espaço Euro-11 entre 2000 e 2020<br />

(chegando mesmo países como a França e a Itália a registar crescimentos <strong>de</strong> 84 e 79%,<br />

respectivamente). Este fenómeno será acompanhado, naturalmente, por um aumento<br />

substancial dos níveis <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e das situações <strong>de</strong> invali<strong>de</strong>z e<br />

<strong>de</strong>pendência prolongada que, por sua vez, terão consequências ao nível das taxas <strong>de</strong><br />

10<br />

Subordinada ao tema: “Active Strategies for an Ageing Workforce”.<br />

11<br />

Vários estudos <strong>de</strong>monstram que as empresas mais lucrativas e com maior volume <strong>de</strong> vendas investem, em<br />

média, três vezes mais na formação dos seus trabalhadores que uma empresa média do sector on<strong>de</strong> se<br />

inserem.<br />

75


Informação Internacional<br />

activida<strong>de</strong> (muito especialmente das taxas <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> feminina 12 cujos aumentos<br />

po<strong>de</strong>riam, <strong>de</strong> outra forma (como veremos mais tar<strong>de</strong>), servir para “aligeirar” os impactos do<br />

envelhecimento geral da população).<br />

O impacto económico <strong>de</strong>ste envelhecimento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá, sobretudo, da reforma dos<br />

sistemas <strong>de</strong> protecção social, com especial ênfase nos sistemas <strong>de</strong> pensões e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Tendo sempre por objectivo o aproveitamento da riqueza <strong>de</strong> conhecimentos e experiências<br />

da população mais idosa é fundamental melhorar a saú<strong>de</strong> e in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>stas pessoas<br />

(o que <strong>de</strong>ve começar a ser uma preocupação quando elas são mais jovens) e,<br />

simultaneamente, incentivar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> políticas que tenham especial atenção às<br />

particulares necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> quem se ocupa <strong>de</strong>las.<br />

76<br />

Gráfico 4<br />

POPULAÇÃO COM 80 OU MAIS ANOS EM % DA POPULAÇÃO TOTAL<br />

Da análise <strong>de</strong>stes três tipos <strong>de</strong> envelhecimento surge, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que são<br />

indispensáveis reformas várias a nível europeu, <strong>de</strong> forma a evitar, por exemplo, tensões<br />

adicionais em termos <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> da sua zona monetária que po<strong>de</strong>rão surgir em<br />

consequência das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> controlo sobre os orçamentos dos Estados.<br />

2. ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS: A SITUAÇÃO<br />

ACTUAL E A SUA PROJECÇÃO NO FUTURO<br />

O já citado artigo do BCE alerta para os riscos que uma incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reformar os<br />

sistemas <strong>de</strong> pensões existentes na maioria dos Estados que integram a UEM po<strong>de</strong> acarretar<br />

para a zona Euro. Consi<strong>de</strong>rando que o crescimento futuro das gerações em ida<strong>de</strong> activa é<br />

largamente <strong>de</strong>terminado pelas taxas <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> passadas e que o número dos futuros<br />

pensionistas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da esperança <strong>de</strong> vida das gerações actualmente vivas, cuja evolução<br />

se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar relativamente estável ao longo do tempo, é possível elaborar projecções<br />

12 Consi<strong>de</strong>rando-se que, em muitos casos, é a nível familiar que essas situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência continuarão a<br />

ser resolvidas.<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

1960 1995 2000 2005 2010 2020<br />

Euro 11<br />

It<br />

E<br />

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B<br />

Áu<br />

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Os “Envelhecimentos” da População e suas Consequências na Zona Euro 11<br />

da população muito fiáveis. Assim, e <strong>de</strong> acordo com o Eurostat, os rácios <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência 13<br />

irão duplicar na zona Euro <strong>de</strong> 23% para 48% entre 1995 e 2040, colocando um sério <strong>de</strong>safio<br />

à sustentabilida<strong>de</strong> dos actuais sistemas <strong>de</strong> pensões que predominam na zona Euro. E o que<br />

é mais significativo é que as diferenças existentes entre os Estados da zona Euro quanto à<br />

evolução <strong>de</strong>ste rácio apontam para que seja nalgumas das gran<strong>de</strong>s economias que a<br />

integram que se irão verificar as mais severas mudanças <strong>de</strong>mográficas nas próximas<br />

décadas (em Itália passará <strong>de</strong> 24% para 54,9%; em Espanha <strong>de</strong> 22,2% para 49,2%; na<br />

Alemanha <strong>de</strong> 22,5% para 48,2%) (Gráfico 5).<br />

Gráfico 5<br />

RÁCIOS DE DEPENDÊNCIA E SUAS PROJECÇÕES NA ZONA EURO<br />

EURO-11<br />

Irlanda<br />

Portugal<br />

Luxemburgo<br />

Finlândia<br />

Holanda<br />

Áustria<br />

B é lg ic a<br />

França<br />

Alem anha<br />

Espanha<br />

Itá lia<br />

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0<br />

Rácios <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência 2040 (projecções)<br />

Rácios <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência 1995<br />

Fonte: Eurostat (citado em ECB Monthly Bulletin – July 2000)<br />

Nesta linha <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações, e após uma análise mais aprofundada, o artigo apresenta as<br />

seguintes conclusões:<br />

• O envelhecimento das populações irá constituir, nas próximas décadas, o maior<br />

<strong>de</strong>safio para as políticas orçamentais na zona Euro, nomeadamente em consequência<br />

do impacto das tendências <strong>de</strong>mográficas sobre o nível <strong>de</strong> transferências a assegurar<br />

nas próximas décadas pelos actuais sistemas <strong>de</strong> pensões 14 ;<br />

13<br />

O rácio <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência representa a população com 65 ou mais anos em percentagem da população com<br />

ida<strong>de</strong>s compreendidas entre os 15 e os 64 anos.<br />

14<br />

Sobre este ponto é importante referir as diferenças existentes entre as situações dos diversos países da zona<br />

euro. Por exemplo, a Itália enfrenta uma situação muito difícil que se concretizará, se nada for feito, num<br />

aumento nos gastos com as pensões <strong>de</strong> 13,3% do PIB em 1995 para 21,4% em 2040. Na Alemanha a<br />

situação é semelhante com um aumento previsto <strong>de</strong> 11,1% (1995) para 18,4% (2040). A situação é, no<br />

entanto, bem diferente, por exemplo, na Irlanda, que assistirá previsivelmente a uma diminuição dos gastos<br />

públicos em percentagem do PIB <strong>de</strong> 3,6% em 1995 para 2,9% em 2040.<br />

77


Informação Internacional<br />

78<br />

• dada a dimensão da transformação esperada na estrutura <strong>de</strong>mográfica das<br />

populações na Europa e tendo em conta a parte já representada pelas <strong>de</strong>spesas com<br />

as pensões nos orçamentos dos Estados, a reforma dos sistemas <strong>de</strong> pensões e<br />

outros ajustamentos em larga escala nos sectores públicos é uma tarefa urgente se<br />

se quiser fazer frente a necessida<strong>de</strong>s futuras. Entre outras coisas, os Governos, ao<br />

levarem a cabo a reforma dos sistemas <strong>de</strong> pensões, <strong>de</strong>verão ter como objectivo a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> a longo prazo <strong>de</strong>sses sistemas, mais do que a resposta a<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> financiamento no curto prazo;<br />

• a maioria dos países da zona Euro têm vindo a adiar a implementação das reformas<br />

necessárias e, por isso, parecem encontrar-se mal preparados para lidar com o<br />

previsível aumento das transferências públicas que o envelhecimento das populações<br />

vai implicar; sendo que um certo número <strong>de</strong> países ainda se caracteriza por um nível<br />

excessivo <strong>de</strong> endividamento público e/ou por lhes faltar atingir as posições<br />

orçamentais exigidas pelo Pacto <strong>de</strong> Estabilida<strong>de</strong> e Crescimento 15 ;<br />

• o processo <strong>de</strong> envelhecimento das populações, enquanto risco não relacionado com<br />

os ciclos económicos, aconselha a que, para além dos estabilizadores automáticos,<br />

sejam construídas outras margens <strong>de</strong> segurança nos orçamentos dos Estados. Para<br />

tal, <strong>de</strong>ver-se-á acelerar a redução dos défices e da dívida pública, por forma a que as<br />

finanças públicas se possam encontrar num estado suficientemente saudável quando<br />

se concretizar a fase <strong>de</strong> mais rápido crescimento da população idosa, sendo que o<br />

crescimento sólido que se prevê para a Europa nos próximos anos <strong>de</strong>veria ser visto<br />

como uma óptima oportunida<strong>de</strong> para introduzir as necessárias reformas;<br />

• se a eventual existência <strong>de</strong> situações orçamentais robustas contribuirá para aliviar o<br />

impacto nas finanças públicas da aceleração do envelhecimento das populações (por<br />

exemplo ao reduzir a parte das receitas fiscais directamente ligada ao serviço da<br />

dívida pública) torna-se igualmente necessário implementar reformas específicas nos<br />

sistemas que envolvem transferências do Estado, reduzindo-se, ao mesmo tempo, as<br />

distorções existentes nos mercados <strong>de</strong> trabalho da União Europeia em consequência<br />

das elevadas cargas fiscais e dos <strong>de</strong>sincentivos à oferta e procura <strong>de</strong> trabalho;<br />

• as reformas po<strong>de</strong>rão incidir em parâmetros dos actuais sistemas <strong>de</strong> protecção social,<br />

que se caracterizam pelo predomínio do pilar público, em regime do tipo PAYG<br />

(pay-as-you-go) 16 e com benefícios pré-<strong>de</strong>finidos (em muitos casos francamente<br />

generosos, no que respeita às ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reforma ou ao nível <strong>de</strong> benefícios<br />

assegurados em relação às remunerações existentes nos finais da carreira<br />

15<br />

As disposições <strong>de</strong>ste Pacto requerem que os Estados Membros que integram a zona Euro consigam atingir<br />

uma situação orçamental tal que os estabilizadores automáticos possam funcionar em pleno ao longo do ciclo,<br />

sem que seja ultrapassado o limite <strong>de</strong> 3% para o défice público.<br />

16<br />

Os sistemas PAYG caracterizam-se, essencialmente, pelo facto do financiamento das pensões <strong>de</strong> reforma<br />

pagas na actualida<strong>de</strong> ser, em gran<strong>de</strong> parte, responsabilida<strong>de</strong> dos actuais trabalhadores e seus<br />

empregadores.


Os “Envelhecimentos” da População e suas Consequências na Zona Euro 11<br />

contributiva), mas <strong>de</strong>verão incluir um reforço <strong>de</strong> pilares complementares em regime<br />

<strong>de</strong> capitalização, com envolvimento do sector privado na sua gestão.<br />

Além do mais, são múltiplas as consequências do processo <strong>de</strong> envelhecimento populacional<br />

ao nível <strong>de</strong> outras políticas públicas (Figura 1). Por exemplo, vários investigadores chamam<br />

a atenção para as alterações provocadas ao nível dos sistemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> 17 e <strong>de</strong><br />

educação. Em relação aos primeiros, discute-se se o crescimento dos gastos per capita<br />

provocados pelo aumento da esperança média <strong>de</strong> vida e pelas inovações técnicas cada vez<br />

mais dispendiosas po<strong>de</strong>rão ou não ser compensados pelos ganhos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>. Em<br />

termos <strong>de</strong> sistema educativo consi<strong>de</strong>ra-se, por um lado, a diminuição da população em<br />

ida<strong>de</strong> escolar e, por outro, a possibilida<strong>de</strong> dos gastos aumentarem <strong>de</strong>vido à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

um forte investimento no capital humano, factor crucial <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>.<br />

É, no entanto, a questão do fornecimento público <strong>de</strong> pensões <strong>de</strong> reforma que suscita<br />

maior preocupação e, consequentemente, maior controvérsia. Além dos peso orçamental do<br />

sistema <strong>de</strong> pensões resultante do fenómeno do envelhecimento, há também que ter em<br />

conta factores não <strong>de</strong>mográficos como a maior abrangência das coberturas, o objectivo<br />

redistributivo 18 <strong>de</strong> alguns sistemas e o aumento nos custos com a parte das pensões ligada<br />

aos cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Figura 1<br />

ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO: FACTORES IMPLÍCITOS<br />

E SISTEMA DE INFLUÊNCIAS<br />

Taxa <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> Esperança média <strong>de</strong><br />

vida<br />

Saldo Migratório<br />

Envelhecimento da<br />

população<br />

Sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> Sistema <strong>de</strong> pensões<br />

Sistema <strong>de</strong> educação<br />

17<br />

Na sua comunicação <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1998 sobre o <strong>de</strong>senvolvimento da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública na União<br />

Europeia, a Comissão estima que se assistirá a um aumento mínimo situado entre 1 e 3% do PNB nas<br />

<strong>de</strong>spesas com os cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, apenas em consequência das evoluções <strong>de</strong>mográficas.<br />

18<br />

De facto, a questão dos objectivos redistributivos é central nesta temática. Vários autores <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a i<strong>de</strong>ia<br />

segundo a qual, hoje em dia, a pobreza está menos associada à velhice e mais a novos grupos<br />

<strong>de</strong>sfavorecidos como, por exemplo, o dos pais adolescentes ou o dos jovens <strong>de</strong>sempregados.<br />

79


Informação Internacional<br />

3. ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS: UM CENÁRIO<br />

PREOCUPANTE<br />

Além do previsível aumento substancial dos gastos públicos com o sistema <strong>de</strong><br />

pensões no período 2000-2030 19 , que contribuirá para o aumento do já <strong>de</strong> si elevado valor<br />

da dívida pública actual (o qual, na ausência <strong>de</strong> claros ajustamentos nas políticas, colocará<br />

um gran<strong>de</strong> peso financeiro sobre as gerações vindouras 20 e sobre os <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong><br />

rendimentos baseados no factor trabalho), os “envelhecimentos” da população po<strong>de</strong>rão<br />

ter outras consequências na economia, entre as quais gostaríamos <strong>de</strong> salientar:<br />

80<br />

• uma diminuição da produtivida<strong>de</strong> do trabalho (em consequência do já referido<br />

fenómeno do envelhecimento da população activa e das suas consequências<br />

eventualmente nefastas em termos <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> e flexibilida<strong>de</strong> dos trabalhadores –<br />

apesar da sua maior experiência);<br />

• uma diminuição da oferta <strong>de</strong> trabalho (em consequência do fenómeno <strong>de</strong><br />

diminuição da população activa, potenciado pelo inevitável - se não forem<br />

implementadas reformas - aumento das contribuições para a Segurança Social e<br />

pelos incentivos à reforma antecipada). De facto, segundo o Lombard Street<br />

Research 21 , a diminuição da população em ida<strong>de</strong> activa é já uma realida<strong>de</strong> na maior<br />

parte dos países europeus 22 . Há, no entanto, em vários <strong>de</strong>les (tais como a Itália, a<br />

Espanha e, embora em menor grau, a Alemanha e a França), uma margem <strong>de</strong><br />

crescimento assinalável para a taxa <strong>de</strong> participação na força <strong>de</strong> trabalho da<br />

população entre 15 e 64 anos (taxa <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> 23 – Gráfico 6), que se situa ainda<br />

muito aquém da que se verifica em países como o Reino Unido e os Estados Unidos.<br />

Este facto é ainda mais evi<strong>de</strong>nte em termos <strong>de</strong> participação da população feminina na<br />

força <strong>de</strong> trabalho, embora, como já vimos, o aumento substancial <strong>de</strong>sta participação<br />

possa ser posto em causa (pelo menos em parte) pelo envelhecimento no seio da<br />

população idosa caracterizado pelo aumento das situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência;<br />

• uma diminuição, em consequência do “peso” das contribuições que recaem sobre os<br />

empregadores, na procura <strong>de</strong> trabalho (este fenómeno, conjuntamente com o<br />

anterior, configura claramente uma pressão sobre os níveis <strong>de</strong> emprego no sentido da<br />

sua redução);<br />

19<br />

Perspectivando-se mesmo que, em alguns países, o valor presente do saldo entre transferências públicas e<br />

contribuições – dívida implícita acumulada da Segurança Social – chegue, sem alterações estruturais nas<br />

políticas actuais, a ser superior ao equivalente a 200% do respectivo PNB.<br />

20<br />

Esta sobrecarga que recairá sobre futuras gerações é amenizada pelo volume <strong>de</strong> legados, heranças, doações<br />

e transferências realizadas em proveito <strong>de</strong>ssas gerações.<br />

21<br />

“Global Leading Indicators – November 2000”.<br />

22<br />

Mesmo as previsões para a medida mais abrangente da força <strong>de</strong> trabalho disponível (população entre os 15 e<br />

os 64 anos) apresentam taxas <strong>de</strong> crescimento negativas em vários países. Por exemplo, na Alemanha prevêse<br />

uma queda anual média <strong>de</strong> 0,5% no período 2000-2010, em Itália a diminuição será igualmente <strong>de</strong><br />

0,5%/ano até 2005 e ligeiramente inferior a partir daí e em Espanha a queda anual situar-se-á em 0,04% até<br />

2005 e 0,3% entre 2005 e 2010.<br />

23<br />

A taxa <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> representa a participação na força <strong>de</strong> trabalho (empregados+<strong>de</strong>sempregados) em % da<br />

população feminina e/ou masculina com ida<strong>de</strong>s compreendidas entre os 15 e os 64 anos.


90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Os “Envelhecimentos” da População e suas Consequências na Zona Euro 11<br />

Gráfico 6<br />

TAXA DE ACTIVIDADE<br />

Itália 73,7 45,6 59,6<br />

Espanha *2 78,3 49,9 63,9<br />

França 74,4 61,3 67,8<br />

Alemanha 79,7 62,3 71,2<br />

Reino Unido *2 84,1 68,4 76,3<br />

EU - 15 78,4 59,5 69<br />

EUA *2 84 70,7 77,2<br />

*2 - com ida<strong>de</strong>s compreendidas entre os 16 e os 64 anos<br />

Homens Mulheres Total<br />

• um <strong>de</strong>créscimo da poupança das famílias (por serem menos pessoas a poupar e<br />

pela existência <strong>de</strong> uma certa miopia na tomada da <strong>de</strong>cisão individual <strong>de</strong> poupança –<br />

apesar <strong>de</strong> ser previsível uma tendência para o aumento da preocupação das pessoas<br />

em relação aos seus rendimentos futuros) e do Estado (em consequência dos gastos<br />

com as pensões). Este efeito po<strong>de</strong>rá (pelo menos em parte) ser contrabalançado<br />

pelas já referidas atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> precaução por parte das famílias que levariam a cortes<br />

no consumo actual em resultado da antecipação <strong>de</strong> subidas nos impostos e/ou<br />

<strong>de</strong>créscimos nos benefícios futuros.<br />

Finalmente, este contexto <strong>de</strong> redução dos níveis <strong>de</strong> emprego, <strong>de</strong> crescimento lento da<br />

acumulação <strong>de</strong> capital e <strong>de</strong> menor produtivida<strong>de</strong> do factor trabalho (se se consi<strong>de</strong>rar como<br />

<strong>de</strong>cisiva a redução na mobilida<strong>de</strong> e flexibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma população activa envelhecida),<br />

provocaria uma diminuição no crescimento económico (assumindo-se constante a<br />

produtivida<strong>de</strong> do capital) 24 que teria, inevitavelmente, consequências em termos do nível <strong>de</strong><br />

vida das populações.<br />

Esta ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> reacções esten<strong>de</strong>r-se-ia, igualmente, aos mercados (provocando alterações<br />

ao nível da sua eficiência, dos mecanismos <strong>de</strong> transmissão dos preços, da eficácia da<br />

política monetária – a sustentabilida<strong>de</strong> fiscal é, reconhecidamente, uma condição para a<br />

futura sustentabilida<strong>de</strong> monetária – e da estabilida<strong>de</strong> dos preços) e, eventualmente, num<br />

contexto mundial <strong>de</strong> envelhecimento, ao padrão <strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio da conta corrente da<br />

Balança <strong>de</strong> Pagamentos nas gran<strong>de</strong>s economias <strong>de</strong>senvolvidas, aos fluxos<br />

internacionais <strong>de</strong> capitais e às taxas <strong>de</strong> juro reais (Figura 2).<br />

24 De facto, em última instância, a taxa <strong>de</strong> crescimento económico é <strong>de</strong>terminada pelo nível <strong>de</strong> emprego e “stock”<br />

<strong>de</strong> capital e pelas respectivas produtivida<strong>de</strong>s. Com diminuição dos stocks <strong>de</strong> emprego e <strong>de</strong> capital e da<br />

produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste último, resta a produtivida<strong>de</strong> do capital como forma <strong>de</strong> manter o crescimento.<br />

81


Informação Internacional<br />

82<br />

Figura 2<br />

ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃONA ZONA EURO 2000-2020: CADEIA DE INFLUÊNCIAS (UM<br />

CENÁRIO POSSÍVEL) 25<br />

Fortes pressões sobre o<br />

Orçamento <strong>de</strong> Estado<br />

Aumento do nível <strong>de</strong><br />

contribuições dos<br />

trabalhadores<br />

Diminuição na<br />

população activa<br />

Diminuição na oferta <strong>de</strong><br />

trabalho<br />

Diminuição nos níveis <strong>de</strong><br />

emprego<br />

Menor produtivida<strong>de</strong> do<br />

trabalho<br />

Envelhecimento Geral da<br />

População<br />

Envelhecimento da População<br />

Envelhecimento da População<br />

Activa<br />

Aumento do nível <strong>de</strong> contribuições<br />

dos empregadores<br />

Diminuição na procura <strong>de</strong><br />

trabalho<br />

Crescimento dos gastos com<br />

o sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

Crescimento substancial dos<br />

gastos com o sistema <strong>de</strong><br />

pensões<br />

Crescimento mais lento do<br />

stock <strong>de</strong> capital<br />

Menor crescimento<br />

económico<br />

Diminuição do nível <strong>de</strong> vida<br />

Envelhecimento no Seio da<br />

População Idosa<br />

Diminuição da poupança<br />

pública<br />

Redistribuição inter-geracional e<br />

intra-geracional do rendimento<br />

Decréscimo da poupança das<br />

famílias<br />

Decréscimo da poupança<br />

nacional<br />

Contexto mundial<br />

Diminuição nos fluxos<br />

internacionais <strong>de</strong> capitais<br />

Aumento da taxa <strong>de</strong> juro real<br />

Alterações no padrão <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sequilíbrio da conta<br />

corrente da Balança <strong>de</strong><br />

Pagamentos nas gran<strong>de</strong>s<br />

economias <strong>de</strong>senvolvidas<br />

(Japão/EU/EUA)<br />

25 O cenário que construímos representa apenas uma situação possível que, claramente, po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser<br />

contrariada por <strong>de</strong>cisões políticas emanantes da existente consciência social da sua necessida<strong>de</strong>.


CONCLUSÕES<br />

Os “Envelhecimentos” da População e suas Consequências na Zona Euro 11<br />

Embora a gran<strong>de</strong> maioria dos estudos assente em projecções (<strong>de</strong>vendo, por isso, ser<br />

analisados com as <strong>de</strong>vidas precauções), da sua leitura advém a i<strong>de</strong>ia da insustentabilida<strong>de</strong>,<br />

na maior parte dos países da zona euro, da actual situação em termos <strong>de</strong> política fiscal,<br />

particularmente no que concerne à mais idosos e a medidas específicas <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong><br />

ligadas, por exemplo, aos horários <strong>de</strong> lógica das transferências públicas nos sistemas <strong>de</strong><br />

Segurança Social. Daí se concluir, regra geral, da necessida<strong>de</strong> urgente <strong>de</strong> reformas<br />

associadas, simultaneamente, à diminuição da dívida e do défice públicos, dos gastos<br />

públicos e dos impostos. Estas reformas <strong>de</strong>verão permitir, a médio prazo, através do<br />

aumento da margem <strong>de</strong> manobra orçamental dos governos, compensar os prováveis<br />

acréscimos significativos <strong>de</strong> custos com as pensões e viabilizar a consolidação da zona<br />

monetária europeia.<br />

Neste ponto, convém ter em conta alguns factores e <strong>de</strong>senvolvimentos positivos que<br />

afastam algumas das perspectivas mais catastróficas. Por exemplo, se é verda<strong>de</strong> que existe<br />

um envelhecimento geral da população, também o é que as pessoas estão, em média, em<br />

melhor forma até ida<strong>de</strong>s mais avançadas, permitindo-lhes <strong>de</strong>sempenhar activamente e com<br />

qualida<strong>de</strong> funções bem para lá da ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reforma convencional 26 . É muito importante,<br />

quer em termos orçamentais quer para o mercado <strong>de</strong> trabalho, realizar esta retenção (que,<br />

como vimos, enfrentará inevitáveis resistências), associada a uma melhoria das<br />

oportunida<strong>de</strong>s e das condições <strong>de</strong> trabalho dos trabalhadores mais idosos. Ligado a este<br />

facto está o aumento, apoiado pelo posicionamento recente do Comité Consultivo para a<br />

Política Económica da Comissão Europeia, da ida<strong>de</strong> legal da reforma na Alemanha e em<br />

Itália 27 .<br />

A tendência vai no sentido do não <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> recursos humanos preciosos, beneficiando<br />

com tal facto não só os próprios trabalhadores mais idosos que <strong>de</strong>sejam continuar activos,<br />

mas igualmente os seus empregadores. Também nesta matéria, os quatro pilares das<br />

“Directrizes para o Emprego” <strong>de</strong>finidas em Novembro <strong>de</strong> 1997 (espírito empresarial,<br />

empregabilida<strong>de</strong>, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação e igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s) <strong>de</strong>verão servir <strong>de</strong><br />

orientação e base teórica fundamental para a acção dos Estados-membros.<br />

Em complementarida<strong>de</strong> a uma clara valorização dos trabalhadores idosos e a medidas<br />

específicas <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong> ligadas por exemplo aos horários <strong>de</strong> trabalho e à interrupção <strong>de</strong><br />

carreira, os próprios trabalhadores <strong>de</strong>vem não só participar no <strong>de</strong>bate sobre as<br />

especificida<strong>de</strong>s ligadas à evolução etária mas também <strong>de</strong>monstrar uma atitu<strong>de</strong> pró-activa<br />

face a mudanças horizontais em final <strong>de</strong> carreira. A participação dos sindicatos, através da<br />

26<br />

Entre outras, as funções ligadas à chamada “economia social” (certos serviços à comunida<strong>de</strong>, ensino e<br />

formação, ocupação <strong>de</strong> tempos livres, babysitting,...) po<strong>de</strong>rão ter características a<strong>de</strong>quadas para serem<br />

<strong>de</strong>senvolvidas por pessoas <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> mais avançada e com gran<strong>de</strong> experiência.<br />

27<br />

Embora a ida<strong>de</strong> oficial <strong>de</strong> reforma seja importante, mais fundamental é a ida<strong>de</strong> efectiva, dado que, nos últimos<br />

anos e em consequência da “moda” da reforma antecipada apoiada pelos governos <strong>de</strong> diversos países<br />

(França, Alemanha, Bélgica,...) como medida <strong>de</strong> combate ao <strong>de</strong>semprego jovem, os seus valores têm andado<br />

relativamente afastados. Por exemplo, nos países que hoje formam a União Europeia, em 1950, 80% dos<br />

homens com ida<strong>de</strong>s compreendidas entre os 60 e os 64 anos ainda trabalhavam. Hoje, essa percentagem<br />

baixou para meros 30%.<br />

83


Informação Internacional<br />

assunção como suas <strong>de</strong> medidas em matéria <strong>de</strong> recrutamento e formação que corrijam a<br />

posição normalmente <strong>de</strong>sfavorável dos trabalhadores mais idosos, po<strong>de</strong>rá representar outro<br />

ponto <strong>de</strong> viragem muito importante nesta matéria.<br />

A juntar a isto, temos o posicionamento dos governos <strong>de</strong> países como a Suécia (introdução<br />

<strong>de</strong> um sistema baseado em fundos <strong>de</strong> pensões) e a Irlanda (abertura do sistema <strong>de</strong><br />

pensões à iniciativa privada) e a atenção <strong>de</strong> todos os outros países da zona Euro,<br />

impulsionados pelos rigorosos critérios <strong>de</strong> Maastricht em relação, por exemplo, ao défice<br />

anual (que <strong>de</strong>verá ser inferior a 3% do PIB). Simultaneamente, existe, como já referimos,<br />

uma maior precaução e responsabilização dos cidadãos europeus em relação ao seu<br />

próprio futuro, que tem levado a um aumento significativo do investimento em fundos <strong>de</strong><br />

pensões.<br />

Por outro lado, actualmente, em países como a Itália e a Espanha (na Alemanha e em<br />

França a situação, embora não assumindo contornos tão dramáticos, é semelhante) e em<br />

resultado <strong>de</strong> baixas taxas <strong>de</strong> participação na força <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> altas taxas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>semprego, apenas cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da população em ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se tornar activa trabalha<br />

<strong>de</strong> facto. Este exemplo, per se, <strong>de</strong>monstra a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> actuação no mercado <strong>de</strong><br />

trabalho, através da implementação <strong>de</strong> medidas que diminuam as dificulda<strong>de</strong>s criadas ao<br />

aumento dos níveis <strong>de</strong> emprego, minorando a provável <strong>de</strong>terioração dos rácios <strong>de</strong> suporte 28<br />

(em consequência <strong>de</strong> uma diminuição da população activa e <strong>de</strong> um aumento no número <strong>de</strong><br />

reformados) e permitindo aliviar o peso orçamental dos sistemas <strong>de</strong> financiamento das<br />

pensões. Ainda no contexto do mercado <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>verá ser posta especial ênfase no<br />

aumento da produtivida<strong>de</strong> e na implementação <strong>de</strong> medidas conducentes a uma mais forte<br />

acumulação <strong>de</strong> capital, <strong>de</strong> forma a que se consigam atingir taxas <strong>de</strong> crescimento do produto<br />

mais elevadas, aproveitando as sinergias dos processos <strong>de</strong> globalização e mutação<br />

tecnológica em curso.<br />

28 O rácio <strong>de</strong> suporte <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado sistema consiste na relação entre o número <strong>de</strong> contribuintes e <strong>de</strong><br />

beneficiários <strong>de</strong>sse sistema. No caso do sistema <strong>de</strong> pensões, o rácio <strong>de</strong> suporte é fortemente influenciado<br />

pela ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> reforma, pela taxa <strong>de</strong> emprego e pela taxa <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>.<br />

84


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WALKER, Alan – Managing an Ageing Workforce – a Gui<strong>de</strong> to Good Practice, European<br />

Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions, Dublin, 1998.<br />

WALKER, Alan – O Combate às Barreiras Etárias no Emprego – Resumo da Investigação,<br />

Fundação Europeia para a Melhoria das Condições <strong>de</strong> Vida e <strong>de</strong> Trabalho, Dublin, 1998.<br />

85


Eurotendências<br />

O INVESTIMENTO DIRECTO <strong>INTERNACIONAL</strong> NAS ECONOMIAS DA EUROPA<br />

CENTRAL – UMA NOVA REDE DE INFLUÊNCIAS UNINDO A EUROPA<br />

Sílvia Martins Dias<br />

I. INTRODUÇÂO<br />

O alargamento da União Europeia aos países da Europa Central e Oriental constitui um dos<br />

<strong>de</strong>safios mais ambiciosos não só para a Europa como na relação <strong>de</strong>sta com o resto do<br />

mundo. Os efeitos notar-se-ão a vários níveis, e hoje importa realçar o impacto <strong>de</strong>ste<br />

processo – que se revela simultaneamente complexo e irreversível – em termos do grau <strong>de</strong><br />

atractivida<strong>de</strong> do investimento directo estrangeiro nestes países.<br />

Para além <strong>de</strong> ser imperativo que as empresas invistam cada vez mais em formas avançadas<br />

<strong>de</strong> cooperação, é imprescindível serem activas junto dos <strong>de</strong>cisores políticos e dos sectores<br />

com maior potencial competitivo. Temos que olhar para este novo conjunto <strong>de</strong> consumidores<br />

e para o estímulo à oferta <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado por uma procura numerosa e diversificada.<br />

Este artigo procura, assim, i<strong>de</strong>ntificar os principais benefícios do IDE, quer para os<br />

investidores, quer para os receptores <strong>de</strong>ste, apontando ainda algumas dificulda<strong>de</strong>s<br />

encontradas nos diversos países (sobre os quais se <strong>de</strong>bruça este estudo) e entre sectores.<br />

Todavia, tendo sempre presente o reconhecimento <strong>de</strong> que este processo irá gerar maior<br />

crescimento económico e <strong>de</strong> uma forma mais sustentável e duradoira, com efeitos positivos<br />

para os investidores e, em última instância, para os consumidores.<br />

1. O INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO (IDE) NOS PAÍSES DA EUROPA<br />

CENTRAL E ORIENTAL 1<br />

De acordo com números publicados pelo European Bank 2 , os investimentos cumulativos <strong>de</strong><br />

empresas oci<strong>de</strong>ntais <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1989 atingem mais <strong>de</strong> 50 biliões <strong>de</strong> Euros, sendo que uma parte<br />

significativa diz respeito a empresas oriundas da União Europeia.<br />

1<br />

Para efeitos <strong>de</strong> análise, a Europa Central e Oriental inclui os seguintes países: Albânia, Bielorússia, Bósnia-<br />

Herzgovina, Bulgária, Croácia, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Fe<strong>de</strong>ração Russa, Hungria, Letónia, Lituânia,<br />

Polónia, República Checa, República da Macedónia, República da Moldávia, República Fe<strong>de</strong>ral da Jugoslávia<br />

(Sérvia incluindo Kosovo e Montenegro), Roménia e Ucrânia.<br />

2<br />

European Bank, “Transition Report Update” (April 1998).


Informação Internacional<br />

Em 1999, os fluxos <strong>de</strong> IDE na Europa Central e Oriental aumentou pelo terceiro ano<br />

consecutivo. Pelo segundo ano, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que teve início a transição para uma economia <strong>de</strong><br />

mercado, os inflows anuais exce<strong>de</strong>ram 20 biliões <strong>de</strong> dólares. A República Checa, Hungria,<br />

Polónia e a Fe<strong>de</strong>ração Russa continuam a ser os principais receptores <strong>de</strong> IDE.<br />

No final <strong>de</strong> 1999, o IDE <strong>de</strong>stes países atingiu os 110 biliões <strong>de</strong> dólares, com uma<br />

concentração particular em quatro países – Polónia (30 biliões), Hungria (19 biliões),<br />

Fe<strong>de</strong>ração Russa (17 biliões) e República Checa (16 biliões) – os quais representam, no<br />

seu conjunto, cerca <strong>de</strong> três quartos do total <strong>de</strong> IDE na Europa Central e Oriental.<br />

No caso concreto da Polónia, este país constitui o maior receptor <strong>de</strong> IDE (7,5 biliões <strong>de</strong><br />

dólares), o qual tem vindo a crescer <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1990. Os investidores estrangeiros são atraídos<br />

sobretudo pelo amplo mercado doméstico (o segundo maior <strong>de</strong>pois da Fe<strong>de</strong>ração Russa em<br />

termos <strong>de</strong> PNB e o terceiro maior <strong>de</strong>pois da Fe<strong>de</strong>ração Russa e Ucrânia em termos <strong>de</strong><br />

população). O IDE na República Checa em 1999 (5,1 biliões <strong>de</strong> dólares) exce<strong>de</strong>u os<br />

números registados em 1998, graças à segunda fase <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> privatizações neste<br />

país que abrem as portas à participação estrangeira, à semelhança da Hungria.<br />

Consi<strong>de</strong>rando as diversas crises (na Ásia, Fe<strong>de</strong>ração Russa e Kosovo) que varreram a<br />

confiança nos mercados emergentes, o crescente aumento do IDE nos países da Europa<br />

Central e Oriental assume-se como um facto assinalável. A crise russa <strong>de</strong> 1998 não impediu<br />

que esta região registasse recor<strong>de</strong>s nesta área, e mesmo com os problemas ocorridos em<br />

países como a Bulgária e a Croácia, os níveis <strong>de</strong> IDE mantiveram-se.<br />

Se analisarmos o IDE em 1999, comparando-o em termos percentuais com a formação<br />

bruta <strong>de</strong> capital fixo, verificamos que são os países <strong>de</strong> menor dimensão que continuam a ser<br />

mais internacionalizados através do IDE: é o caso da Bulgária, Estónia e Letónia. A nível do<br />

PNB, são mais uma vez os países mais pequenos (Hungria 40%, República Checa 31%,<br />

Letónia 31%, Estónia 42%) que apresentam rácios mais elevados que os países <strong>de</strong> maiores<br />

dimensões (Polónia 18%, Fe<strong>de</strong>ração Russa 9%, Ucrânia 11%).<br />

Quanto ao IDE <strong>de</strong>stes países no exterior durante 1999, é <strong>de</strong> assinalar que a Europa Central<br />

e Oriental recuperou ligeiramente da diminuição registada em 1998, embora o nível actual<br />

(cerca <strong>de</strong> 2,6 biliões <strong>de</strong> dólares) é ainda mais baixo do que em 1997 (3,6 biliões <strong>de</strong> dólares).<br />

Enquanto que o valor do IDE no exterior aumentou na Fe<strong>de</strong>ração Russa e na República<br />

Checa em 1999, houve um <strong>de</strong>créscimo na Hungria e Polónia.<br />

Os dados disponíveis indicam que o volume <strong>de</strong> IDE <strong>de</strong>stes países no exterior varia <strong>de</strong> país<br />

para país. Destacam-se a Croácia, Estónia, Eslovénia, Eslováquia e República Checa,<br />

seguindo-se a Hungria e a Fe<strong>de</strong>ração Russa. Na maioria dos casos, é notável o peso do<br />

IDE intra-regional – sobretudo entre países vizinhos e mais próximos em termos<br />

geográficos. O restante IDE no exterior é direccionado para a Europa Oci<strong>de</strong>ntal.<br />

88


O Investimento Directo Internacional nas Economias da Europa Central - Uma Nova Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Influências Unindo a Europa<br />

2. OS BENEFÍCIOS DO IDE PARA OS PAÍSES DA EUROPA CENTRAL E ORIENTAL<br />

2.1. Empregos, Qualificações e Know-How<br />

Os investimentos <strong>de</strong> empresas oci<strong>de</strong>ntais, quer directamente, quer em cooperação com<br />

empresas locais, tem vindo claramente a <strong>de</strong>monstrar que, na gran<strong>de</strong> maioria dos casos, se<br />

assiste não apenas à protecção dos empregos já existentes, mas também à criação <strong>de</strong><br />

novos postos <strong>de</strong> trabalho ou funções e <strong>de</strong> novos tipos <strong>de</strong> trabalho. Para além disso, há<br />

evidência que tal estimula o emprego noutros sectores da economia 3 e melhora as<br />

condições remuneratórias e <strong>de</strong> trabalho.<br />

Outro aspecto que importa realçar é o facto <strong>de</strong> estes investimentos se realizarem com o<br />

intuito <strong>de</strong> melhorar as qualificações e know-how dos trabalhadores dos países receptores do<br />

IDE, através da forte aposta na formação contínua do pessoal e na utilização e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tecnologias mo<strong>de</strong>rnas e <strong>de</strong> novos produtos.<br />

Desta forma, acaba por ocorrer uma importante transferência das melhores práticas e <strong>de</strong><br />

técnicas <strong>de</strong> gestão – com as necessárias adaptações –, dando lugar a novas culturas<br />

empresariais – nomeadamente através da priorida<strong>de</strong> dada ao cliente, ao lucro, à qualida<strong>de</strong>,<br />

à produtivida<strong>de</strong>, à <strong>de</strong>scentralização do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. A título <strong>de</strong> exemplo, a BP<br />

investiu significativamente na formação do seu pessoal na Polónia no sentido <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver nestes uma cultura empresarial mais vigorosa.<br />

2.2. Tecnologia<br />

As empresas oci<strong>de</strong>ntais têm igualmente realizado esforços substanciais ten<strong>de</strong>ntes à<br />

introdução e difusão <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> produção e tecnologias mais mo<strong>de</strong>rnas e<br />

avançadas nas empresas que são alvo do seu investimento directo estrangeiro. Por<br />

exemplo, a Solvay investiu cerca <strong>de</strong> 60 milhões <strong>de</strong> Euros na melhoria e instalação <strong>de</strong><br />

tecnologia e equipamento mo<strong>de</strong>rno na fábrica Sodi Devja na Bulgária, tentando assim<br />

melhorar e reforçar a sua competitivida<strong>de</strong> no futuro. Torna-se também importante para estas<br />

empresas introduzir novos conceitos e técnicas operacionais com um nível mais elevado <strong>de</strong><br />

padronização.<br />

2.3. Saú<strong>de</strong>, Segurança e Ambiente<br />

As empresas oci<strong>de</strong>ntais investidoras preten<strong>de</strong>m adoptar normas comuns nas áreas da<br />

saú<strong>de</strong>, segurança e ambiente, e como tal, <strong>de</strong>senvolvem um conjunto <strong>de</strong> acções para atingir<br />

3 Através do “efeito multiplicador”, tais investimentos conduziram à criação <strong>de</strong> outros empregos noutras áreas da<br />

economia. É o caso da Pecs Tobacco, o maior fabricante <strong>de</strong> cigarros da Hungria, que <strong>de</strong>u origem a mais<br />

emprego em cerca <strong>de</strong> 600 contractors <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua aquisição pela BAT.<br />

89


Informação Internacional<br />

tal fim: melhoria dos padrões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e segurança, redução dos danos ambientais 4 ,<br />

melhoria da qualida<strong>de</strong> da água e do ar e estímulo às empresas locais − e também aos seus<br />

fornecedores e subcontratados para cumprirem tais normas prosseguidas pelas empresas<br />

oci<strong>de</strong>ntais. Aquando da aquisição da empresa cimenteira checa Cizkovicka pela Lafarge, a<br />

introdução <strong>de</strong> novas matérias-primas e tecnologias menos poluidoras levou a um<br />

<strong>de</strong>créscimo significativo do consumo <strong>de</strong> energia e das emissões <strong>de</strong> CO2 e <strong>de</strong> poeiras,<br />

melhorando-se, portanto, o seu impacto ambiental.<br />

O Grupo ERT (European Round Table of Industrialists) 5 , procura divulgar e reforçar a<br />

mensagem <strong>de</strong> que as boas práticas ambientais também são sinónimo <strong>de</strong> boas práticas<br />

negociais. Para tal, aposta na formação <strong>de</strong> técnicos <strong>de</strong> ambiente, procura introduzir<br />

sistemas <strong>de</strong> gestão ambiental reconhecidos internacionalmente (através <strong>de</strong> evidência da<br />

importância <strong>de</strong>stes sistemas e do aconselhamento sobre a sua implementação),<br />

disponibiliza informação sobre boas práticas ambientais (sobretudo no que diz respeito às<br />

técnicas <strong>de</strong> minimização dos resíduos, iniciativas <strong>de</strong> reciclagem, poupança <strong>de</strong> energia e<br />

medidas específicas <strong>de</strong> prevenção e controlo) e participa abertamente em discussões com<br />

as autorida<strong>de</strong>s ambientais locais sobre as melhorias ambientais, proce<strong>de</strong>ndo a análises<br />

custo-benefício.<br />

2.4. Incentivo às Empresas Locais<br />

As empresas associadas às empresas oci<strong>de</strong>ntais (em particular às dos membros do Grupo<br />

ERT) têm contribuído <strong>de</strong> forma consistente para a melhoria da qualida<strong>de</strong> dos fornecedores<br />

<strong>de</strong> matérias-primas e <strong>de</strong> produtos intermédios, para além <strong>de</strong> atraírem investimento <strong>de</strong> outras<br />

empresas fornecedoras da Europa oci<strong>de</strong>ntal.<br />

Por outro lado, há um certo estímulo ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> empresas que apresentam<br />

serviços <strong>de</strong> elevada qualida<strong>de</strong> em áreas como a contabilida<strong>de</strong>, serviços bancários,<br />

audiovisual, transportes e marketing.<br />

É ainda clara a influência <strong>de</strong>stas empresas numa melhoria da performance ao nível do<br />

comércio <strong>de</strong> retalho.<br />

4<br />

Por exemplo, a produção industrial da empresa Dero na Roménia, cumpre, neste momento, os standards<br />

mundiais relativos ao ambiente indicados pela Unilever. Procura-se, nomeadamente, solucionar as<br />

consequências ambientais das activida<strong>de</strong>s passadas, e assim, melhorar a qualida<strong>de</strong> ambiental para os<br />

próprios trabalhadores e para a comunida<strong>de</strong> local.<br />

5<br />

Constitui-se como um grupo <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 40 lí<strong>de</strong>res das maiores empresas europeias, cujo objectivo é procurar<br />

reforçar e <strong>de</strong>senvolver a competitivida<strong>de</strong> industrial e tecnológica europeia. Em termos globais, empregam cerca<br />

<strong>de</strong> 4 milhões <strong>de</strong> pessoas em todo o mundo, com um turnover <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 8 biliões <strong>de</strong> Euros. Des<strong>de</strong> a sua<br />

criação, em 1983, ERT tem contribuído significativamente para um aprofundamento do diálogo entre a indústria<br />

e os autorida<strong>de</strong>s governamentais, quer a nível nacional, quer a nível da União Europeia.<br />

90


O Investimento Directo Internacional nas Economias da Europa Central - Uma Nova Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Influências Unindo a Europa<br />

2.5. Sumário<br />

Po<strong>de</strong>remos, <strong>de</strong>sta forma, concluir que, embora a maioria <strong>de</strong>stes benefícios são mais visíveis<br />

a nível das empresas individualmente consi<strong>de</strong>radas, os seus fornecedores e clientes,<br />

também existem claros benefícios económicos para os países da Europa Central e Oriental,<br />

como resultado do investimento das empresas oci<strong>de</strong>ntais.<br />

Destacaria, particularmente:<br />

• A maior amplitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha e <strong>de</strong> acesso a produtos e serviços <strong>de</strong> maior qualida<strong>de</strong>;<br />

• a existência <strong>de</strong> uma força <strong>de</strong> trabalho mais qualificada e formada;<br />

• o rápido acréscimo da produtivida<strong>de</strong>;<br />

• a melhoria das condições <strong>de</strong> emprego e a resolução <strong>de</strong> algumas questões sociais;<br />

• o surgimento <strong>de</strong> novas fontes <strong>de</strong> capital;<br />

• o aumento dos rendimentos por parte dos Governos;<br />

• a melhoria da balança <strong>de</strong> pagamentos;<br />

• um novo “paradigma” <strong>de</strong> crescimento económico, com a melhoria do nível <strong>de</strong> vida<br />

resultante <strong>de</strong> investimento e <strong>de</strong> incentivo às exportações.<br />

3. OS BENEFÍCIOS PARA A UNIÃO EUROPEIA DECORRENTES DO IDE NA EUROPA<br />

CENTRAL E ORIENTAL<br />

3.1. Acesso a Novos Mercados em Crescimento<br />

O investimento <strong>de</strong>stas empresas nos países da Europa Central e Oriental permite-lhes<br />

aumentar as vendas e ganhar posições <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> mercado nos sectores existentes,<br />

graças à aquisição <strong>de</strong> empresas existentes nesses países e à influência <strong>de</strong> marcas globais,<br />

competências, activos e tecnologias. A empresa Krupp, por exemplo, ganhou uma forte<br />

posição no mercado eléctrico da Roménia <strong>de</strong>vido à sua joint-venture com a Compa.<br />

As empresas acabam por estabelecer posições <strong>de</strong> mercado e <strong>de</strong>senvolver activos,<br />

qualificações e competências, antecipando, <strong>de</strong> certa forma, o crescimento futuro do<br />

mercado.<br />

3.2. Base para uma Posterior Expansão dos Mercados nos PECO<br />

Ao investirem nestes países, as empresas estão, <strong>de</strong> certo modo, a prepararem-se para a<br />

sua futura expansão na região, pois a base do seu negócio acaba por projectar a empresa<br />

noutros mercados. Por outro lado, ganham acesso a uma panóplia <strong>de</strong> conhecimentos, knowhow,<br />

competências e experiências relevantes que po<strong>de</strong>m aplicar em investimentos noutros<br />

mercados da Europa Central e Oriental.<br />

91


Informação Internacional<br />

Há ainda a realçar o aspecto que se relaciona com o reforço das relações entre os<br />

Governos e outros parceiros que são importantes para uma expansão futura. Por isso,<br />

ocorre uma melhoria da reputação <strong>de</strong>stas empresas, junto dos clientes e dos próprios<br />

Governos, facilitando-lhes um crescimento futuro noutros países da Europa Central e<br />

Oriental.<br />

3.3. Acesso a Pessoal com Gran<strong>de</strong> Potencial<br />

As empresas investidoras ganham acesso a novas formas <strong>de</strong> gestão e a pessoal com<br />

elevado potencial.<br />

3.4. Eficiência Operativa Global<br />

As empresas passam a usufruir <strong>de</strong> custos mais baixos e simultaneamente a trabalho<br />

altamente qualificado. A Siemens, por exemplo, teve acesso a engenheiros <strong>de</strong> software<br />

bastante qualificados a um custo altamente competitivo através da sua nova organização <strong>de</strong><br />

software na República Checa.<br />

Para além disso, existem condições para <strong>de</strong>senvolverem unida<strong>de</strong>s produtivas altamente<br />

mo<strong>de</strong>rnas e eficientes, com resultados visíveis em termos <strong>de</strong> performance, capacida<strong>de</strong><br />

produtiva, produtivida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong>.<br />

Ora este tipo <strong>de</strong> fábricas mais facilmente se integra em re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção a nível europeu e<br />

global. É o caso da Renault na Eslovénia, a qual tem vindo a investir <strong>de</strong> modo inequívoco na<br />

fábrica Revoz na mo<strong>de</strong>rnização do equipamento, na formação e na introdução <strong>de</strong> técnicas<br />

<strong>de</strong> gestão mo<strong>de</strong>rnas. Este facto contribuiu para melhorar a qualida<strong>de</strong> produtiva 6 e até para<br />

modificar a cultura empresarial.<br />

3.5. Sumário<br />

Daqui po<strong>de</strong>remos enten<strong>de</strong>r que se apresenta um leque atractivo <strong>de</strong> incentivos às empresas<br />

que orientam os seus investimentos para os países da Europa Central e Oriental – que vai<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as perspectivas do alargamento, às oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mercado e aos custos mais<br />

reduzidos até à fiscalida<strong>de</strong>. E embora muitos analistas consi<strong>de</strong>rem que o investimento<br />

crescente nas economias dos países da Europa Central <strong>de</strong> Oriental venha a provocar uma<br />

reorientação dos mesmos para regiões fora da União Europeia, com impacto a nível do<br />

emprego e em particular em <strong>de</strong>terminadas regiões e sectores, tais efeitos po<strong>de</strong>rão ser<br />

comparáveis aos <strong>de</strong>correntes da reestruturação industrial na UE. E torna-se evi<strong>de</strong>nte que o<br />

facto <strong>de</strong> as empresas oci<strong>de</strong>ntais serem bem sucedidas em termos <strong>de</strong> resultados financeiros<br />

e <strong>de</strong> valor negocial ten<strong>de</strong> a beneficiar a nível económico os países da UE – sobretudo no<br />

longo prazo. Os consumidores finais serão, portanto, os gran<strong>de</strong>s beneficiários.<br />

6 Daí que a qualida<strong>de</strong> dos produtos seja neste momento comparável à dos países da Europa Oci<strong>de</strong>ntal.<br />

92


O Investimento Directo Internacional nas Economias da Europa Central - Uma Nova Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Influências Unindo a Europa<br />

4. PROBLEMAS ENCONTRADOS PELAS EMPRESAS OCIDENTAIS QUANDO<br />

REALIZAM INVESTIMENTOS NESTES PAÍSES<br />

A experiência das empresas investidoras nos mercados dos países da Europa Central e<br />

Oriental <strong>de</strong>monstram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se proce<strong>de</strong>rem a mudanças substanciais no sentido<br />

<strong>de</strong> melhorar as relações económicas. Por isso, a busca da estabilida<strong>de</strong> política e económica<br />

constitui uma das priorida<strong>de</strong>s para os investidores oriundos <strong>de</strong> empresas oci<strong>de</strong>ntais,<br />

sobretudo quando procuram justificar investimentos <strong>de</strong> longo prazo. Isso faz com que, para<br />

atrair investimento estrangeiro, os países da Europa Central e Oriental adoptem políticas <strong>de</strong><br />

estímulo a uma maior estabilida<strong>de</strong> macroeconómica e reformas do sistema político e das<br />

condições que têm a ver com o ambiente. E muito embora seja um fenómeno presente, nem<br />

todas as empresas oci<strong>de</strong>ntais enfrentam problemas nos seus investimentos, nem tão pouco<br />

isso se aplica a todos os países da Europa Central e Oriental. Po<strong>de</strong>rão ser enumerados<br />

alguns <strong>de</strong>sses obstáculos:<br />

17 EXEMPLOS DE OBSTÁCULOS<br />

• Elevados impostos directos e indirectos e sistemas fiscais complexos;<br />

• Muitos direitos <strong>de</strong> importação e procedimentos burocráticos;<br />

• Burocracia ou atrasos na obtenção da certificação dos produtos;<br />

• Ausência <strong>de</strong> procedimentos <strong>de</strong> reclamação claros e morosida<strong>de</strong> do processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão;<br />

• Complexida<strong>de</strong> do processo legislativo;<br />

• Adopção lenta do acquis communnautaire (legislação e jurisprudência da UE);<br />

• Restrição à aquisição <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> por parte <strong>de</strong> empresas estrangeiras;<br />

• Atrasos no processo <strong>de</strong> privatização;<br />

• Formação ina<strong>de</strong>quada das pessoas locais (sobretudo na área <strong>de</strong> gestão e <strong>de</strong> marketing);<br />

• Falta <strong>de</strong> clareza em relação à responsabilida<strong>de</strong> anterior a nível ambiental;<br />

• Baixa qualida<strong>de</strong> dos fornecedores locais;<br />

• Sistema bancário ina<strong>de</strong>quado;<br />

• Fraca qualida<strong>de</strong> das infra-estruturas (tais como transportes, telecomunicações, energia e<br />

água);<br />

• Falta <strong>de</strong> competição nos mercados-chave e domínio dos agentes económicos nacionais;<br />

• Preferência concedida a empresas nacionais;<br />

• Sistemas <strong>de</strong> distribuição ineficientes;<br />

• Atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sactualizadas face ao trabalho.<br />

in "The East-West Win-Win – Business Experience", Report by the European Round Table of<br />

Industrialists (ERT)<br />

93


Informação Internacional<br />

4.1. Administração Pública e Contexto Legislativo<br />

As empresas necessitam <strong>de</strong> um ambiente estável e previsível e <strong>de</strong> um suporte legal –<br />

enquadrado por uma administração pública eficiente, a fim <strong>de</strong> justificar investimentos <strong>de</strong><br />

longo termo nos mercados dos países da Europa Central e Oriental.<br />

Regulamentações ina<strong>de</strong>quadas em sectores chave reduzem significativamente a confiança<br />

no mercado e aumentam a volatilida<strong>de</strong>. A existência <strong>de</strong> reduzida qualida<strong>de</strong> regulamentar<br />

torna difícil a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões críticas, prejudica a gestão e aumenta os custos. Por<br />

outro lado, a inconsistência das regulamentações existentes e os atrasos nas <strong>de</strong>cisões<br />

pelas autorida<strong>de</strong>s públicas funciona igualmente como redutor da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inovação<br />

das empresas, da sua funcionalida<strong>de</strong> eficiente e da resposta <strong>de</strong>stas à mudança.<br />

Na verda<strong>de</strong>, há um conjunto <strong>de</strong> países da Europa Central e Oriental que pa<strong>de</strong>ce <strong>de</strong><br />

problemas sérios a serem consi<strong>de</strong>rados pelas empresas oci<strong>de</strong>ntais investidoras, e que<br />

passam pela existência <strong>de</strong> um número excessivo <strong>de</strong> regulamentações, cuja obrigatorieda<strong>de</strong><br />

é muitas vezes realizada <strong>de</strong> modo inconsistente e que se alteram muito rapidamente e nem<br />

sempre são a<strong>de</strong>quadamente comunicadas às empresas oci<strong>de</strong>ntais, para além do elevado<br />

grau <strong>de</strong> burocracia e da <strong>de</strong>mora na obtenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões judiciais e legais (sobretudo em<br />

áreas como a aquisição <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>, a certificação dos produtos e o endividamento).<br />

Assiste-se ainda nalguns países quer à existência <strong>de</strong> lacunas legislativas importantes em<br />

áreas chave (tais como o direito empresarial, a contabilida<strong>de</strong>, os serviços financeiros e a<br />

protecção da proprieda<strong>de</strong> intelectual), quer a estruturas regulamentares ina<strong>de</strong>quadas para<br />

mercados <strong>de</strong> infra-estruturas cruciais (como a energia, a água e as telecomunicações).<br />

Também é <strong>de</strong> realçar que, em muitos casos, os quadros regulamentares integram o acquis<br />

comunitário <strong>de</strong> forma bastante inconsistente.<br />

Po<strong>de</strong>mos ainda salientar a baixa qualida<strong>de</strong> e conteúdo <strong>de</strong> muitas regulamentações nalguns<br />

<strong>de</strong>stes países, particularmente em áreas como a proprieda<strong>de</strong>, a certificação e análise dos<br />

produtos e os impostos (cujo tratamento diferenciado em termos <strong>de</strong> procedimentos e<br />

requisitos dificulta a acção das empresas).<br />

Ora para remover estes obstáculos ao investimento, os países da Europa Central e Oriental<br />

<strong>de</strong>verão:<br />

94<br />

• Realizar reformas relativamente ao quadro regulamentar existente com base nas<br />

priorida<strong>de</strong>s negociais;<br />

• acelerar o processo <strong>de</strong> implementação do acervo comunitário, com instituições<br />

formadas e funcionais, a fim <strong>de</strong> se preparem para o acesso à União Europeia;<br />

• utilizar cada vez mais formas alternativas <strong>de</strong> regulamentação em relação ao tipo<br />

"comando e controlo";<br />

• reformar o processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões regulamentares.<br />

4.2. Competências do Pessoal e Atitu<strong>de</strong>s face ao Trabalho<br />

O sucesso do investimento nos países da Europa Central e Oriental <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> cada vez mais<br />

da capacida<strong>de</strong> das empresas alcançarem padrões globais <strong>de</strong> custo, qualida<strong>de</strong> e


O Investimento Directo Internacional nas Economias da Europa Central - Uma Nova Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Influências Unindo a Europa<br />

flexibilida<strong>de</strong>, através sobretudo <strong>de</strong> uma forte aposta nas pessoas e nas suas atitu<strong>de</strong>s e<br />

competências. Nesse sentido, as empresas investidoras têm sentido algumas dificulda<strong>de</strong>s<br />

resultantes da diferença entre economias centralizadas e <strong>de</strong> livre mercado.<br />

É muito frequente que estas empresas tenham problemas em encontrar pessoas com<br />

qualificações em funções chave (tais como vendas, marketing, gestão comercial e finanças),<br />

assim como implementar métodos e técnicas <strong>de</strong> trabalho, tecnologias e melhores práticas<br />

mo<strong>de</strong>rnas que lhes permitam melhorar a performance e a competitivida<strong>de</strong> e dar resposta ao<br />

fenómeno da globalização. Também se afigura difícil promover junto <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados<br />

trabalhadores a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciativa, a criativida<strong>de</strong>, o empenho e a eficiência. Outra<br />

questão tem a ver com a diferença entre padrões <strong>de</strong> ética negocial entre estes países e os<br />

países <strong>de</strong> on<strong>de</strong> as empresas investidoras são oriundas. Por isso, torna-se imperativo investir<br />

cada vez mais na educação e na formação.<br />

4.3. Fornecedores, Infra-estruturas e Condições Competitivas<br />

Consi<strong>de</strong>rando o facto <strong>de</strong> as empresas mo<strong>de</strong>rnas ganharem crescente vantagem competitiva<br />

graças não apenas à qualida<strong>de</strong> da sua ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fornecedores directos, distribuidores e das<br />

infra-estruturas físicas locais, mas também à presença <strong>de</strong> competidores ao mesmo nível, as<br />

empresas oci<strong>de</strong>ntais têm enfrentado alguns problemas nestes países. Isso <strong>de</strong>ve-se<br />

principalmente à fraca qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fornecedores <strong>de</strong> matérias-primas e produtos<br />

intermédios (em termos <strong>de</strong> confiança, padrões <strong>de</strong> serviço e qualida<strong>de</strong> do produto), ca<strong>de</strong>ias<br />

<strong>de</strong> venda e retalho pouco eficientes, infra-estruturas <strong>de</strong>ficientes (<strong>de</strong> transportes,<br />

telecomunicações, energia, água e ainda ao nível do sistema bancário) e ainda a casos <strong>de</strong><br />

competição <strong>de</strong>sleal e <strong>de</strong> tentativa <strong>de</strong> domínio <strong>de</strong> certos mercados por parte <strong>de</strong> empresas<br />

locais nalguns países, para além <strong>de</strong> nítidas diferenças <strong>de</strong> tratamento entre empresas locais<br />

e empresas oci<strong>de</strong>ntais.<br />

Tais impedimentos só cessarão se os países da Europa Central e Oriental fizerem um<br />

esforço no sentido <strong>de</strong> incentivarem a utilização <strong>de</strong> sistemas internacionalmente<br />

reconhecidos <strong>de</strong> gestão da qualida<strong>de</strong> e melhorarem o nível <strong>de</strong> formação através das<br />

ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> valor negociais, assegurando a continuida<strong>de</strong> dos programas <strong>de</strong> privatização e<br />

liberalização das infra-estruturas locais e a realização <strong>de</strong> investimentos nas áreas<br />

"residuais" do sector público e proce<strong>de</strong>ndo a reformas das regulamentações dos mercados<br />

<strong>de</strong> produtos.<br />

4.4. Atitu<strong>de</strong>s Sociais<br />

Embora as empresas oci<strong>de</strong>ntais possuam o capital, know-how e competências apropriadas<br />

para ajudar os países da Europa Central e Oriental a melhorar o seus padrões <strong>de</strong> vida e a<br />

continuarem a sua transição no sentido da economia <strong>de</strong> mercado, este processo tem vindo<br />

a sofrer atrasos <strong>de</strong>vido à oposição por parte <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> interesse.<br />

Na realida<strong>de</strong>, ao contrário do que se passa nos países oci<strong>de</strong>ntais com economias <strong>de</strong> livre<br />

mercado, a confiança não constitui a base da gran<strong>de</strong> maioria das relações comerciais,<br />

sendo mais forte o aspecto da <strong>de</strong>sconfiança relativamente aos estrangeiros e às empresas<br />

estrangeiras. Também o processo <strong>de</strong> privatização <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas empresas <strong>de</strong>tidas pelo<br />

95


Informação Internacional<br />

Estado, tão importante para obter um clima negocial mais competitivo, enfrenta a relutância<br />

<strong>de</strong> certos grupos. Isto passa-se igualmente no que diz respeito à liberalização do mercado.<br />

Ora é fundamental quebrar estas barreiras e fazer compreen<strong>de</strong>r os benefícios dos<br />

investimentos por parte <strong>de</strong> empresas oci<strong>de</strong>ntais.<br />

Daí, a criação dos <strong>de</strong>nominados Business Enlargement Councils (BEC) nalguns países da<br />

Europa Central e Oriental, constituídos por altos representantes das empresas<br />

internacionais, gestores das empresas locais e representantes governamentais, com o<br />

objectivo <strong>de</strong> discussão das questões relativas à a<strong>de</strong>são <strong>de</strong>stes países à UE, <strong>de</strong> meio<br />

privilegiado <strong>de</strong> comunicação entre os participantes e a UE, <strong>de</strong> apoio ao <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

economia nacional - com realce para as áreas relativas ao investimento directo estrangeiro –<br />

<strong>de</strong> preparação <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> caso sobre os benefícios mútuos do processo <strong>de</strong> alargamento<br />

da União Europeia e promoção <strong>de</strong>ste entre a comunida<strong>de</strong> empresarial europeia.<br />

4.5. Sumário<br />

As empresas enfrentam, todavia, obstáculos diversos que têm maioritariamente a ver com a<br />

ineficácia das administrações públicas e a ina<strong>de</strong>quação dos enquadramentos legislativos, as<br />

fracas competências dos trabalhadores e algumas atitu<strong>de</strong>s face ao trabalho, a falta <strong>de</strong><br />

competitivida<strong>de</strong> dos fornecedores locais e à <strong>de</strong>ficiência das infra-estruturas e ainda com<br />

atitu<strong>de</strong>s sociais incorrectas.<br />

Assim, a fim <strong>de</strong> ultrapassar estes problemas e garantir benefícios mútuos neste processo <strong>de</strong><br />

alargamento, urge sensibilizar os Governos e as empresas da UE e dos Estados candidatos<br />

a prosseguirem as negociações com os futuros Estados-membros, a <strong>de</strong>finirem os períodos<br />

transitórios essenciais (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que realísticos e limitados) para a implementação sem<br />

sobressaltos do acquis comunitário, a introduzirem melhorias nas áreas tidas como as mais<br />

críticas (é o caso dos impostos, finanças, bancos, distribuição, infra-estruturas) e a<br />

investirem, a nível público e privado, na formação e aquisição <strong>de</strong> competências ten<strong>de</strong>ntes a<br />

uma maior competitivida<strong>de</strong> das economias <strong>de</strong> livre mercado.<br />

II. QUEM LIDERA O INVESTIMENTO DIRECTO ESTRANGEIRO (IDE) NA EUROPA<br />

CENTRAL E ORIENTAL<br />

O IDE na Europa Central e Oriental continuou a ser dominado pelos investidores da União<br />

Europeia, que são praticamente 60% da sua totalida<strong>de</strong> (ver Gráfico 1), enquanto que os<br />

Estados Unidos da América investiram cerca <strong>de</strong> 16% no total <strong>de</strong>sta região 7 .<br />

A observação <strong>de</strong>stes dados estatísticos permite-nos avançar algumas tendências:<br />

96<br />

• Os países da Europa Central e Oriental recebem investimentos preferencialmente <strong>de</strong><br />

origem europeia;<br />

7 À excepção da sua posição <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança do investimento na Croácia, Ucrânia e Fe<strong>de</strong>ração Russa.


O Investimento Directo Internacional nas Economias da Europa Central - Uma Nova Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Influências Unindo a Europa<br />

• os países prepon<strong>de</strong>rantes em termos <strong>de</strong> volume <strong>de</strong> investimento nos PECO são a<br />

Alemanha, Holanda, Áustria, França, Reino Unido, Itália, facto que <strong>de</strong>nota as relações<br />

privilegiadas que estabelecem com os seus países vizinhos oci<strong>de</strong>ntais que já fazem<br />

parte da União Europeia (a restante UE representa 7%);<br />

• ou seja, estes países são escolhidos por investidores e parceiros económicos que<br />

geograficamente se encontram mais próximos, pelo que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>duzir uma certa<br />

prepon<strong>de</strong>rância geográfica como critério <strong>de</strong> selecção dos investimentos. Tal é mais<br />

visível no caso da Alemanha, Itália e Áustria, sendo <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar a "excepção" da<br />

Holanda – uma economia "atlântica" no IDE da Europa <strong>de</strong> Leste;<br />

• consequentemente, os maiores investimentos nesta região são realizados por<br />

empresas <strong>de</strong> origem geográfica próxima, o que <strong>de</strong>nota, <strong>de</strong> certa forma, a valência<br />

geográfica que os PECO assumem com um crescente <strong>de</strong>staque.<br />

a) Estimates<br />

Fonte: UNCTAD, FDI/TNC database<br />

Gráfico 1<br />

CENTRAL AND EASTERN EUROPE<br />

GEOGRAPHICAL ORIGIN OF INWARD FDI STOCK, 1999ª<br />

(PERCENTAGE)<br />

Central and<br />

Eastern Europe<br />

3%<br />

United States<br />

16%<br />

Other Western<br />

Europe<br />

6%<br />

Cyprus<br />

4%<br />

Other European<br />

Union<br />

7%<br />

Other and not<br />

specified<br />

11%<br />

Italy<br />

4%<br />

Se analisarmos a incidência sectorial do IDE, registou-se uma subida substancial <strong>de</strong> cerca<br />

<strong>de</strong> 56% do sector dos serviços. Este facto po<strong>de</strong>rá vir a ter um impacto positivo na transição<br />

económica, dado que os ganhos <strong>de</strong> eficiência no sector das manufacturas estão a ser<br />

complementados pelos ganhos <strong>de</strong> eficiência nos serviços, melhorando, assim, a<br />

performance das economias receptoras.<br />

Afinal, os sectores mais importantes nas economias <strong>de</strong> transição da Europa Central e<br />

Oriental são fundamentalmente os serviços, <strong>de</strong>stacando-se o sector financeiro (11%), os<br />

UK<br />

6%<br />

Germany<br />

18%<br />

France<br />

6%<br />

Austria<br />

7%<br />

Netherlands<br />

12%<br />

97


Informação Internacional<br />

transportes e comunicações (9%), a energia (4%), e ainda outras manufacturas (14%) e o<br />

agro-alimentar – F&B e tabaco (11%). O sector primário tem vindo a diminuir o seu peso na<br />

economia <strong>de</strong>stes países (3%) e a indústria automóvel regista 4%.<br />

98<br />

Not specified<br />

3%<br />

Other tertiary<br />

industries<br />

17%<br />

a) Estimates<br />

Fonte: UNCTAD, FDI/TNC database<br />

Gráfico 2<br />

CENTRAL AND EASTERN EUROPE:<br />

INDUSTRY COMPOSITION OF INWARD FDI STOCK, 1999ª<br />

( PERCENTAGE)<br />

Primary sector<br />

3%<br />

Business services<br />

3%<br />

Electricity, gas and<br />

water<br />

4%<br />

Food, beverages<br />

and tobacco<br />

11%<br />

Machinery and<br />

equipment<br />

5%<br />

Transport and<br />

communications<br />

9%<br />

Automotive<br />

4% Chemicals and<br />

pharmaceuticals<br />

4%<br />

Other<br />

manufacturing<br />

14%<br />

Finance<br />

11%<br />

Relativamente às maiores empresas transnacionais (excluindo o campo financeiro) sediadas<br />

na Europa Central e Oriental, há uma forte incidência no sector dos transportes. A li<strong>de</strong>rança<br />

em termos <strong>de</strong> activos estrangeiros é da "Latvian Shipping Company" (Letónia, transportes),<br />

seguida da "Hrvatska Elektroprivreda" (Croácia, utilities) e da "Podravka" (Croácia, F&B e<br />

farmacêutica). Quanto ao grau <strong>de</strong> transnacionalida<strong>de</strong>, temos a "Atlantska Plovidba"<br />

(Croácia) e a "Adria Airways" (Eslovénia), enquanto a "Latvian Shipping Company" aparece<br />

em terceiro lugar.<br />

Por outro lado, também se confirma a diversida<strong>de</strong> da composição por país, incluindo oito<br />

países diferentes: Letónia, Croácia, Eslovénia, República Checa, Hungria, Eslováquia,<br />

Polónia e República da Moldávia.<br />

De realçar o aspecto relativo ao baixo grau <strong>de</strong> transnacionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas empresas, que<br />

sugere, <strong>de</strong> certa forma, uma certa limitação do processo <strong>de</strong> transnacionalização das<br />

mesmas.<br />

As empresas lí<strong>de</strong>res estão a proce<strong>de</strong>r a investimentos e aquisições estrangeiras<br />

substanciais como forma <strong>de</strong> expansão internacional, o que é confirmado pelo aumento dos<br />

seus activos estrangeiros. Uma das mais publicitadas foi a aquisição da Slovnaft (empresa<br />

Tra<strong>de</strong><br />

12%


O Investimento Directo Internacional nas Economias da Europa Central - Uma Nova Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Influências Unindo a Europa<br />

da Eslováquia) pela húngara MOL Hungarian Oil & Gas Plc. por cerca <strong>de</strong> 262 milhões <strong>de</strong><br />

dólares.<br />

Paralelamente à relevância do investimento directo estrangeiro na Europa Central e<br />

Oriental, tem-se vindo a assistir a um crescente fenómeno <strong>de</strong> fusões e aquisições<br />

transfronteiriças nestes países, com efeitos importantes sobre o PNB.<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

Gráfico 3<br />

TOTAL FDI AND CROSS-BORDER M&AS IN CENTRAL<br />

AND EASTERN EUROPE<br />

1990-1999<br />

( Bilions of do lars )<br />

Source: UNCTAD, FDI/TNC database and cross-bor<strong>de</strong>r M&A database<br />

Total cross-bor<strong>de</strong>r<br />

M&As<br />

Privatization<br />

0<br />

Private M&As<br />

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999<br />

Private M&As Privatization Total cross-bor<strong>de</strong>r M&As<br />

A gran<strong>de</strong> maioria das empresas alvo <strong>de</strong> F&A resultou <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> privatização e<br />

pertencem ao sector das infra-estruturas. Devido à natureza <strong>de</strong>stas vendas, as F&A<br />

transfronteiriças na região – à semelhança do IDE – registaram flutuações assinaláveis ao<br />

longo dos anos, sendo a Polónia, República Checa e Croácia os principais países alvo<br />

<strong>de</strong>stas F&A, facto que reflecte nomeadamente os programas <strong>de</strong> privatização<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados nestes países.<br />

São as empresas oci<strong>de</strong>ntais que li<strong>de</strong>ram as F&A nestes países. As empresas do EUA estão<br />

a ter um envolvimento cada vez maior através <strong>de</strong> F&A, mas os volumes <strong>de</strong> negócio são<br />

relativamente reduzidos (cerca <strong>de</strong> 1 bilião <strong>de</strong> dólares). Dado que alguns países – como a<br />

Hungria – têm os seus programas <strong>de</strong> privatização praticamente concluídos sobretudo no<br />

sector das manufacturas, as empresas transnacionais estão a adquirir negócios <strong>de</strong>tidos por<br />

empresas privadas locais. Isto representa negócios baixos comparativamente aos<br />

estabelecidos em processos <strong>de</strong> privatização.<br />

Por outro lado, nesta região ainda não se encontram completos os processos <strong>de</strong><br />

privatização do sector dos serviços, e como tal, a reestruturação e racionalização do sector<br />

99


Informação Internacional<br />

bancário na República Checa e Polónia, por exemplo, continua a exercer uma forte atracção<br />

para as F&A transfronteiriças.<br />

Se proce<strong>de</strong>rmos a uma análise comparativa dos sectores que são alvo preferencial <strong>de</strong> F&A<br />

entre as diferentes regiões e grupos <strong>de</strong> países, verificamos que na Europa Central e Oriental<br />

é dominante o sector financeiro. Por outro lado, o facto <strong>de</strong> as indústrias ligadas aos produtos<br />

petrolíferos e ao sector automóvel exigirem muito capital constituiu um forte elemento <strong>de</strong><br />

atracção para negócios <strong>de</strong> F&A transfronteiriças. O volume relativamente elevado <strong>de</strong> F&A<br />

em áreas ligadas a F&B e indústrias tabaqueiras é também relevante neste grupo <strong>de</strong> países.<br />

As privatizações são, afinal, um dos principais meios <strong>de</strong> atracção <strong>de</strong> IDE – e<br />

consequentemente <strong>de</strong> F&A – nos países da Europa Central e Oriental, fazendo parte<br />

integrante do processo <strong>de</strong> transição para economias <strong>de</strong> mercado.<br />

Po<strong>de</strong>remos concluir que o processo <strong>de</strong> abertura e <strong>de</strong> liberalização que os países da Europa<br />

Central e Oriental estão a viver não só é altamente atractivo para a realização <strong>de</strong><br />

investimentos directos internacionais, como é um passo importantíssimo para a sua a<strong>de</strong>são<br />

à União Europeia, cujas empresas são as que mais contribuem para uma boa performance<br />

económica das economias e para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sectores potencialmente benéficos<br />

quer para os países originários e receptores do IDE, quer para as empresas nele envolvidas.<br />

III. BREVE ANÁLISE PARA CINCO PAÍSES 8<br />

Dos países da Europa Central e Oriental iremos <strong>de</strong>stacar os cinco países da Europa Central<br />

que se encontram mais próximos da a<strong>de</strong>são à União Europeia, realçando que os mesmos<br />

têm sido dos mais importantes <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> IDE (ver gráfico 4).<br />

Em termos globais, a activida<strong>de</strong> económica nos países candidatos à a<strong>de</strong>são ten<strong>de</strong> a revelarse<br />

bastante positiva. O crescimento do PIB real acelerou em praticamente todos os países,<br />

com a inflação em <strong>de</strong>saceleração ou a níveis mo<strong>de</strong>rados. A recuperação da crise que nos<br />

últimos anos afectou o conjunto dos candidatos à a<strong>de</strong>são foi impulsionada pelas<br />

exportações para a União Europeia e pelas expectativas favoráveis (e acima das esperadas)<br />

na Rússia e nos outros países da Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Estados In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes (CEI). O<br />

panorama optimista <strong>de</strong>ve-se também ao aumento da confiança na região 9 , à implementação<br />

<strong>de</strong> políticas macroeconómicas sólidas e aos progressos das reformas estruturais.<br />

Apesar disso, os relativamente elevados défices nas Balanças <strong>de</strong> Transacções Correntes -<br />

resultando essencialmente do aumento do preço do petróleo e das avultadas entradas <strong>de</strong><br />

capitais - causam preocupações ao FMI, pois conduzem a uma apreciação real das taxas <strong>de</strong><br />

câmbio e "baralharam" a política monetária. Nalguns casos, os défices externos foram<br />

alimentados pelo <strong>de</strong>scontrolo das contas públicas 10 .<br />

8<br />

Os dados referem-se, na generalida<strong>de</strong> à situação em meados <strong>de</strong> 2000.<br />

9<br />

Alguns analistas consi<strong>de</strong>ram que este clima favorável po<strong>de</strong>rá vir a animar protagonismos regionais.<br />

10 in "Economia Pura", Novembro/Dezembro 2000.<br />

100


O Investimento Directo Internacional nas Economias da Europa Central - Uma Nova Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Influências Unindo a Europa<br />

Eslovénia<br />

8<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

Fonte: UNCTAD<br />

Gráfico 4<br />

EUROPA CENTRAL – IDE 1998 E 1999<br />

(Biliões <strong>de</strong> dólares)<br />

1999 1998<br />

Polónia Rep. Checa Hungria Rep. Eslovaca Eslovénia<br />

A integração da Eslovénia na primeira linha dos países em pré-a<strong>de</strong>são trouxe uma<br />

confiança acrescida no país, em termos <strong>de</strong> ratings e <strong>de</strong> investimento estrangeiro.<br />

Entre os principais motivos favoráveis ao IDE estão o estádio avançado <strong>de</strong> negociação <strong>de</strong><br />

entrada na UE, a boa saú<strong>de</strong> da economia 11 , a sua posição geográfica privilegiada, a<br />

existência <strong>de</strong> uma força <strong>de</strong> trabalho com formação e eficiente em termos <strong>de</strong> custos, a<br />

estabilida<strong>de</strong> política e o bom funcionamento da administração e o livre comércio -<br />

consolidado por baixas tarifas e facilida<strong>de</strong>s do tipo duty-free para os exportadores.<br />

O rendimento per capita e a estabilida<strong>de</strong> económica da Eslovénia aproximam-na dos países<br />

menos <strong>de</strong>senvolvidos da actual União Europeia, como é o caso <strong>de</strong> Portugal e da Grécia.<br />

O orçamento tem-se mantido equilibrado, apesar dos pequenos défices registados <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1997, e a dívida pública é baixa, não ultrapassando os 25% do PIB, no final <strong>de</strong> 1999 (e<br />

incluindo a parcela da ex-Jugoslávia socialista que os eslovenos assumiram). Des<strong>de</strong> o<br />

arranque do processo <strong>de</strong> transição, as autorida<strong>de</strong>s locais centraram os seus esforços na<br />

redução da inflação e no crescimento do produto.<br />

Devido sobretudo às exportações, o PIB real tem evoluído a um ritmo anual médio <strong>de</strong> 4,0%.<br />

A economia eslovena é muito aberta e as exportações contam com cerca <strong>de</strong> 50% do PIB (e<br />

dois terços <strong>de</strong>stas <strong>de</strong>stinam-se aos mercados da UE).<br />

11 A Eslovénia apresenta o rendimento per capita mais elevado na Europa Central e Oriental.<br />

101


Informação Internacional<br />

A implementação do Acordo <strong>de</strong> Associação com a UE, em Fevereiro <strong>de</strong> 1999, acelerou as<br />

reformas estruturais e institucionais e os novos regulamentos cambiais, <strong>de</strong> Setembro do<br />

mesmo ano, liberalizaram os controlos à movimentação <strong>de</strong> capitais e abriram o sector<br />

bancário ao capital estrangeiro.<br />

A Eslovénia tem quase garantida a sua integração na UE. Falta-lhe apenas avançar mais no<br />

que respeita à harmonização com os Quinze.<br />

Hungria<br />

A Hungria não hesitou escolher a União Europeia e optou por reconquistar o mais cedo<br />

possível o seu lugar entre os países europeus.<br />

As negociações tendo em vista a integração na UE, iniciadas em 1998, têm <strong>de</strong>corrido bem,<br />

mas há reformas a iniciar e as próximas eleições parlamentares, em 2002, tornam ainda<br />

mais imperativo o <strong>de</strong>senvolvimento dos dossiers. O atraso na implementação das reformas<br />

na Hungria e o próprio processo <strong>de</strong> reforma no país torna improvável que a a<strong>de</strong>são possa<br />

acontecer antes <strong>de</strong> 2004. O actual Governo conta com o impacto dos investimentos em<br />

infra-estruturas, que <strong>de</strong>verão contribuir para o crescimento do PIB nos próximos anos.<br />

O crescimento acima das expectativas foi alimentado pela forte evolução das exportações<br />

(35% <strong>de</strong> aumento nos primeiros sete meses <strong>de</strong> 2000) e pelo investimento. A tendência para<br />

um aumento da procura interna arrastou uma inflexão na evolução dos preços, conduzindo à<br />

restrição da política monetária para assegurar as metas oficiais (variação homóloga entre<br />

6,0% e 7,0%, para 2000), que serão ultrapassadas.<br />

O aumento das receitas fiscais permitirá melhorar a situação orçamental. Esta confortável<br />

situação tem permitido um abaixamento <strong>de</strong> impostos e taxas sobre o sector produtivo. O<br />

alinhamento cambial com a Zona Euro tem colocado o Banco Central perante o cenário <strong>de</strong><br />

uma <strong>de</strong>svalorização. Mas o investimento directo estrangeiro evitou um impacto maior na<br />

Balança <strong>de</strong> Pagamentos, suportando a cotação da moeda húngara, que <strong>de</strong>verá manter a<br />

sua in<strong>de</strong>xação ao Euro. Se a procura interna e as exportações crescerem rapidamente,<br />

haverá um impacto positivo na inflação e nas transacções correntes.<br />

A Hungria oferece, <strong>de</strong> facto, boas razões para a captação <strong>de</strong> IDE: regista o maior volume <strong>de</strong><br />

investimento per capita na região, apresenta estabilida<strong>de</strong> a nível macroeconómico, político e<br />

no sector da banca, com um mercado <strong>de</strong> capitais <strong>de</strong>senvolvido, e ainda um notório<br />

crescimento das indústrias ligadas à electrónica, automóveis e telecomunicações.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista económico, a Hungria po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um mercado emergente e,<br />

simultaneamente, um país convergente.<br />

Existe, portanto, uma enorme vonta<strong>de</strong> política, económica, social e cultural <strong>de</strong> estar<br />

preparado para correspon<strong>de</strong>r ao acervo comunitário.<br />

Polónia<br />

A Polónia constitui, segundo alguns analistas, aquilo que se <strong>de</strong>signa por “valor seguro”, na<br />

medida em que é, a muitos níveis, uma história <strong>de</strong> sucesso entre as economias <strong>de</strong><br />

transição. As reformas empreendidas posicionam este país como um dos que melhor<br />

correspon<strong>de</strong> aos requisitos <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são à União Europeia.<br />

102


O Investimento Directo Internacional nas Economias da Europa Central - Uma Nova Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Influências Unindo a Europa<br />

A confiança dos mercados e os fortes fluxos <strong>de</strong> investimento – um dos exemplos mais<br />

notáveis é o do sector bancário, na sua maioria controlado por capitais estrangeiros − são a<br />

base dos equilíbrios externos, que garantem a integração da Polónia na União Europeia.<br />

O crescimento económico sustentável, que em 1999 registou valores à volta dos 4,1%,<br />

<strong>de</strong>verá atingir no ano 2000 os 5,9% e manter-se a esse ritmo no próximo ano. Em Abril <strong>de</strong><br />

2000, com o objectivo <strong>de</strong> controlar a inflação, o Banco Central revogou o sistema <strong>de</strong> banda<br />

<strong>de</strong> flutuação da taxa <strong>de</strong> câmbio, permitindo que a divisa nacional evoluísse livremente. As<br />

reservas internacionais permanecem relativamente elevadas, cobrindo mais <strong>de</strong> sete meses<br />

<strong>de</strong> importações e 350% da dívida <strong>de</strong> curto prazo. No entanto, com o défice da Balança <strong>de</strong><br />

Transacções Correntes projectado para se manter acima dos 7,0% do PIB, as autorida<strong>de</strong>s<br />

precisam <strong>de</strong> prosseguir o seu plano <strong>de</strong> défice geral do Governo, que atingiu os 3,75% do<br />

PIB em 1999.<br />

Assim, a Polónia tem que ter em atenção a evolução do défice, o qual tem a ver<br />

principalmente com a baixa competitivida<strong>de</strong> das exportações para a UE e a sua fraca<br />

performance resultante da apreciação da divisa nacional como consequência da crise russa.<br />

Na verda<strong>de</strong>, o crescimento vivido em 1999 <strong>de</strong>ve-se mais ao elevado nível <strong>de</strong> consumo e<br />

não tanto ao investimento ou às exportações; estas <strong>de</strong>verão registar um aumento<br />

significativo no ano 2000, graças ao crescimento previsto para a UE, em particular na<br />

Alemanha, país que é o principal parceiro comercial da Polónia.<br />

Dotada <strong>de</strong> um sector privado <strong>de</strong> crescente importância 12 e <strong>de</strong> um enquadramento legal e<br />

institucional propício ao <strong>de</strong>senvolvimento da activida<strong>de</strong> económica, a Polónia dispõe <strong>de</strong><br />

condições excelentes para atrair o IDE. Deve, contudo, agir com <strong>de</strong>terminação nos sectores<br />

a reestruturar: a agricultura e as indústrias pesadas (e altamente poluidoras), os quais têm<br />

vindo a per<strong>de</strong>r consi<strong>de</strong>ravelmente o peso que representavam anteriormente.<br />

República Checa<br />

Após três anos <strong>de</strong> recessão, a economia checa retomou uma tendência <strong>de</strong> crescimento no<br />

final <strong>de</strong> 1999 e o cenário <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> política vem reforçar a estabilida<strong>de</strong> económica na<br />

República Checa.<br />

Oficialmente, o défice orçamental situava-se em 2000 em cerca <strong>de</strong> 3,0% do PIB, um valor<br />

que está em consonância com os objectivos <strong>de</strong> Maastricht e os padrões da União Europeia.<br />

Contudo, alguns analistas acusam o Governo checo <strong>de</strong> “cosmética contabilística”. Segundo<br />

os cálculos, o défice do Governo <strong>de</strong>verá realmente rondar os 7,0% do PIB, facto que exige,<br />

necessariamente, medidas <strong>de</strong> correcção para a redução do défice público para valores<br />

consistentes com a Zona Euro.<br />

As reformas <strong>de</strong>senvolvidas pren<strong>de</strong>m-se com o processo <strong>de</strong> privatização das instituições<br />

bancárias e com a adopção <strong>de</strong> importantes incentivos ao investimento. Este tem vindo a<br />

sofrer um incremento substancial, graças ao bom andamento das negociações com a UE, à<br />

12<br />

A meta do Governo polaco no sentido <strong>de</strong> acelerar o processo <strong>de</strong> privatizações obteve enorme sucesso em<br />

1999, em particular no sector financeiro (banca).<br />

103


Informação Internacional<br />

notória fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da economia checa 13 , ao forte movimento <strong>de</strong> atracção <strong>de</strong><br />

IDE, ao elevado potencial, produtivida<strong>de</strong> e eficiência do mercado <strong>de</strong> trabalho, à aposta na<br />

I&D em áreas económicas cruciais (como a electrónica e a indústria automóvel), às boas<br />

infra-estruturas e apreciável oferta, para além do seu posicionamento geográfico estratégico.<br />

As atenções do actual Governo pren<strong>de</strong>m-se sobretudo com a preparação – principalmente a<br />

nível económico – para a integração na União Europeia 14 . A data para a a<strong>de</strong>são está agora<br />

prevista para 2005, embora alguns apontem para o ano 2008.<br />

Sendo uma das economias mais fortes na Europa Central, a expectativa é <strong>de</strong> que o país<br />

alcance um nível <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> que lhe permita a<strong>de</strong>rir à UE, acompanhando as<br />

reformas empreendidas – especialmente no que respeita ao processo <strong>de</strong> privatização, à<br />

liberalização dos preços, à melhoria dos enquadramentos legais para a activida<strong>de</strong><br />

empresarial e à reestruturação das finanças públicas (<strong>de</strong> forma a assegurar a sua<br />

sustentabilida<strong>de</strong>).<br />

O crescimento económico sólido permitirá o reforço da posição externa da República Checa<br />

e a criação do ambiente propício a investimentos estrangeiros continuados.<br />

República Eslovaca<br />

Invertendo a tendência para a aplicação <strong>de</strong> políticas económicas autoritárias, pouco<br />

reformistas e nem sempre transparentes após a dissolução da Fe<strong>de</strong>ração Checa e Eslovaca<br />

(Janeiro <strong>de</strong> 1993), os recentes progressos económicos na República Eslovaca têm vindo a<br />

realçar o seu empenhamento na transição económica da região, sobretudo no que diz<br />

respeito à reestruturação económica e à preparação para o processo <strong>de</strong> privatizações das<br />

chamadas empresas estratégicas. Nesse sentido, foram iniciadas negociações <strong>de</strong> préa<strong>de</strong>são<br />

<strong>de</strong>ste país à União Europeia em 1999.<br />

O abrandamento do crescimento do PIB foi limitado por um forte crescimento das<br />

exportações - reflectindo ganhos <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> associados à <strong>de</strong>preciação da moeda no<br />

primeiro semestre <strong>de</strong> 2000 e a um crescimento forte da produtivida<strong>de</strong> nas indústrias<br />

exportadoras. A produção industrial subiu cerca <strong>de</strong> 9,0% na primeira meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> 2000.<br />

Apesar <strong>de</strong>sta aceleração, o crescimento económico não <strong>de</strong>verá exce<strong>de</strong>r em 2000 o<br />

resultado <strong>de</strong> 1999 (1,9%). O <strong>de</strong>semprego, apesar <strong>de</strong> estar visivelmente em quebra, continua<br />

a ser um dos factores que explica o <strong>de</strong>clínio da procura interna.<br />

Este ano po<strong>de</strong>rá ser necessária alguma austerida<strong>de</strong> das políticas macroeconómicas, dada a<br />

previsão <strong>de</strong> aumento do défice, o qual <strong>de</strong>verá crescer novamente para 5,6% do PIB,<br />

invertendo a tendência <strong>de</strong> quebra registada em 1999. O défice do Governo mantem-se em<br />

2000 em torno dos 2,0% do PIB, mas os fundos autónomos, a segurança social e outras<br />

operações não orçamentais contribuem para o agravamento do défice global do sector<br />

público. O bom <strong>de</strong>sempenho do sector externo contribui para o reequilibro da Balança <strong>de</strong><br />

13<br />

Foi o primeiro país do antigo Bloco Comunista a tornar-se membro da OCDE, em Novembro <strong>de</strong> 1995.<br />

14<br />

A República Checa é o único candidato que já fechou, com sucesso, o dossier sobre a abertura do movimento<br />

<strong>de</strong> bens.<br />

104


O Investimento Directo Internacional nas Economias da Europa Central - Uma Nova Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Influências Unindo a Europa<br />

Transacções Correntes. Este facto possibilitou a melhoria do serviço da dívida. Quanto à<br />

inflação, que em Março <strong>de</strong> 2000 registava uma variação homóloga <strong>de</strong> 16,6%, as autorida<strong>de</strong>s<br />

locais esperam a anulação do efeito-base induzido pelo aumento dos preços, em Julho <strong>de</strong><br />

1999. Uma vez apagado esse efeito, a taxa anualizada cairá, não obstante o impacto da alta<br />

<strong>de</strong> preços do petróleo.<br />

O clima político não é ainda completamente estável, agravando o risco da Eslováquia nos<br />

mercados internacionais.<br />

Contudo, apesar dos níveis <strong>de</strong> investimento directo estrangeiro serem relativamente mais<br />

baixos do que os registados nos países vizinhos – <strong>de</strong>vido ao carácter pouco transparente do<br />

processo <strong>de</strong> privatização encetado pelo Governo anterior e às barreiras à venda das<br />

chamadas “empresas estratégicas” – o Governo actual tem <strong>de</strong>senvolvido esforços no<br />

sentido <strong>de</strong> estimular a entrada <strong>de</strong> capitais e <strong>de</strong> investimentos estrangeiros.<br />

Efectivamente, há bons motivos para consi<strong>de</strong>rar atractiva a realização <strong>de</strong> investimentos<br />

neste país: as negociações para a a<strong>de</strong>são à UE, o empenho governamental quanto à<br />

reestruturação e estabilização económica, a sua localização estratégica e as boas relações<br />

<strong>de</strong> vizinhança com a Rússia e a CEI, a existência <strong>de</strong> uma força <strong>de</strong> trabalho com formação e<br />

eficiente em termos <strong>de</strong> custos, e ainda as inúmeras oportunida<strong>de</strong>s nos sectores das<br />

manufacturas, energia e agro-alimentar. Os investidores po<strong>de</strong>rão apreciar tais possibilida<strong>de</strong>s<br />

em áreas já exploradas nos países vizinhos.<br />

IV. BREVE ANÁLISE PARA CINCO SECTORES NOS CINCO PAÍSES<br />

Banca<br />

Os bancos estrangeiros têm vindo a <strong>de</strong>sempenhar um papel cada vez mais importante<br />

enquanto contribuidor para o processo <strong>de</strong> integração entre o Oci<strong>de</strong>nte e o Leste europeus.<br />

Após a queda do Muro <strong>de</strong> Berlim, as instituições bancárias do Oci<strong>de</strong>nte foram um dos<br />

principais pioneiros comerciais, através da abertura <strong>de</strong> escritórios <strong>de</strong> representação nos<br />

países do Leste. Actualmente, são, no seu conjunto, o maior grupo <strong>de</strong> investimento directo<br />

estrangeiro, representando cerca <strong>de</strong> um terço do IDE total realizado na região.<br />

Graças ao baixo preço do capital (chave da vantagem competitiva na área bancária), os<br />

bancos internacionais estão rapidamente a ganhar quota <strong>de</strong> mercado na região, em prejuízo<br />

dos operadores locais, sobretudo mediante processos <strong>de</strong> privatização.<br />

Sendo o Estado o principal fornecedor <strong>de</strong> serviços financeiros neste região, vê nestes<br />

processo uma forma <strong>de</strong> atrair capital, tecnologia e know-how - essenciais à banca.<br />

A quota <strong>de</strong> mercado dos bancos internacionais na região aumentou consi<strong>de</strong>ravelmente <strong>de</strong><br />

20% em 1997 para 41% no final <strong>de</strong> 1999, prevendo-se que atingirá os 50% no ano 2001 no<br />

caso concretização <strong>de</strong> duas gran<strong>de</strong>s privatizações neste sector na República Checa (o<br />

Komercni Banca) e na República Eslovaca (o Slovenska Sporitelna).<br />

105


Informação Internacional<br />

Em termos <strong>de</strong> dimensão, o maior banco estrangeiro da região é o banco alemão<br />

Hypovereinsbank, na sequência da sua fusão com o Bank Austria, com o objectivo <strong>de</strong><br />

combinar operações nos mercados em crescimento da Europa Central e Oriental. Em<br />

seguida, aparece o banco belga KBC (o qual exerce controlo sobre bancos situados na<br />

Polónia e Hungria) e o banco checo CSOB, seguido do banco italiano Unicredito (o qual<br />

adquiriu o controlo do banco búlgaro Bulbank e da instituição polaca Pekao, planeando<br />

ainda mais negócios em virtu<strong>de</strong> dos processos <strong>de</strong> privatização <strong>de</strong> outros bancos<br />

estrangeiros).<br />

O Tatra Bank, afiliado do banco austríaco RZB, é um dos exemplos mais citados <strong>de</strong> um<br />

banco eslovaco local <strong>de</strong>tido por estrangeiros que tem vindo a crescer substancialmente.<br />

Contudo, apesar do conhecimento da existência <strong>de</strong> diversos nichos a preencher, a<br />

crescente rivalida<strong>de</strong> e competitivida<strong>de</strong> tornam difícil às instituições <strong>de</strong> menor dimensão<br />

sobreviverem e até mesmo manterem a sua in<strong>de</strong>pendência no longo prazo.<br />

Ora o maior factor <strong>de</strong> atracção <strong>de</strong>stes países da Europa Central e Oriental resi<strong>de</strong> no seu<br />

crescimento potencial. A região possui apenas meta<strong>de</strong> dos activos bancários <strong>de</strong> um<br />

pequeno Estado da UE (a Áustria, por exemplo), o que representa 69% do seu PNB 15 , para<br />

além do fraco <strong>de</strong>senvolvimento da activida<strong>de</strong> bancária e económica. Mesmo assistindo-se a<br />

uma mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s, os meios físicos <strong>de</strong> pagamento são maioritariamente notas e<br />

moedas, os cartões <strong>de</strong> crédito não se encontram disseminados e o mercado bolsista é<br />

encarado com <strong>de</strong>sconfiança. Realce-se ainda a existência <strong>de</strong> um mercado bastante<br />

fragmentado - existem mais <strong>de</strong> 40 bancos na Hungria e mais <strong>de</strong> 75 na Polónia.<br />

É pois este mercado amplo e diverso que atrai o investidor mais agressivo, e o Banco<br />

Europeu <strong>de</strong> Reconstrução e Desenvolvimento (BERD), o maior investidor financeiro na<br />

região, preten<strong>de</strong> incentivar a consolidação na área da banca, on<strong>de</strong> se vislumbram algumas<br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vido à insistência dos Governos e clientes <strong>de</strong>stes países em continuarem a<br />

preservar sinais <strong>de</strong> nacionalismo – como a manutenção <strong>de</strong> nomes e marcas locais.<br />

Indústria Automóvel<br />

A indústria automóvel constitui indubitavelmente o sector chave para a integração,<br />

resultando <strong>de</strong> um admirável processo <strong>de</strong> transformação. Há apenas 10 anos atrás, os<br />

Estados 16 <strong>de</strong>tinham o controlo nesta área <strong>de</strong> negócio. Em cada um dos "mercados", as<br />

fábricas produziam automóveis que eram exportados e importados através da respectiva<br />

agência governamental, enquanto que outros pequenos distribuidores <strong>de</strong> automóveis<br />

apresentavam gran<strong>de</strong> morosida<strong>de</strong> na entrega <strong>de</strong>stes aos seus clientes. Os automóveis<br />

seleccionados eram maioritariamente <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los antigos e <strong>de</strong> baixa qualida<strong>de</strong>.<br />

Actualmente, com a privatização das gran<strong>de</strong>s indústrias nos países candidatos à UE, os<br />

automóveis são comercializados através dos mesmos canais daqueles existentes nas<br />

nações mais industrializadas. Por outro lado, estão disponíveis todos os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

automóveis e as preferências <strong>de</strong> consumo aproximam-se cada vez mais entre a Europa<br />

Oci<strong>de</strong>ntal e Oriental.<br />

15 Os activos bancários representam cerca <strong>de</strong> 250% do PNB na Zona Euro.<br />

16 É o caso da Hungria e Polónia.<br />

106


O Investimento Directo Internacional nas Economias da Europa Central - Uma Nova Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Influências Unindo a Europa<br />

A Volkswagen, o maior ven<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> automóveis na Europa <strong>de</strong> Leste na década <strong>de</strong> 90, tem<br />

sido o lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> mercado entre os restantes países <strong>de</strong>sta região. A Volvo, por exemplo,<br />

possui uma fábrica na Polónia para construção <strong>de</strong> todos os autocarros do continente<br />

europeu; a Audi fabrica praticamente todos os seus motores na Hungria.<br />

Todavia, esta integração continental é apenas um dos objectivos da indústria automóvel, a<br />

qual preten<strong>de</strong> estabelecer ligações do bloco <strong>de</strong> Leste a operações à escala mundial, e<br />

<strong>de</strong>ssa forma, diversificar os mo<strong>de</strong>los produzidos e, simultaneamente, especializar certos<br />

países em <strong>de</strong>terminados mo<strong>de</strong>los 17 .<br />

Mas para além <strong>de</strong> se direccionar a Europa <strong>de</strong> Leste para projectos globais neste sector em<br />

termos <strong>de</strong> produção, ressalta ainda a importância atribuída aos componentes para<br />

automóveis. A Delphi, a maior empresa mundial <strong>de</strong> componentes, abriu recentemente um<br />

centro técnico global na Polónia; a Opel, subsidiária alemã da General Motors, produz<br />

motores para exportação na Hungria e em meados <strong>de</strong> 2001 iniciará a produção <strong>de</strong> caixas <strong>de</strong><br />

velocida<strong>de</strong>s. A GM e a Fiat planeiam ainda fundir a sua produção <strong>de</strong> motores e<br />

transmissões na Europa e América Latina.<br />

Ora enquanto que o lado da oferta sofreu uma reformulação radical na Europa <strong>de</strong> Leste, a<br />

procura estagnou. Em termos regionais, as vendas do sector automóvel aumentaram<br />

anualmente nos anos 90, mas regista-se um fraco po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra no Leste quando<br />

comparado com o Oci<strong>de</strong>nte. Este facto torna-se evi<strong>de</strong>nte nos dados <strong>de</strong> vendas <strong>de</strong><br />

automóveis por cada 1.000 pessoas em 1999: 15,8 na República Checa e 15,4 na Hungria,<br />

em contraste com 50,8 na Alemanha e 41,2 no Reino Unido.<br />

Mas há alguns sinais <strong>de</strong> modificação. A Eslovénia apresenta vendas na or<strong>de</strong>m dos 44,5 por<br />

cada 1.000 pessoas, o melhor rácio per capita na Europa <strong>de</strong> Leste. A Polónia, apesar dos<br />

mo<strong>de</strong>stos 18,2 por 1000 habitantes, registou um acréscimo <strong>de</strong> vendas <strong>de</strong> 226.215 em 1992<br />

para 704.272 em 1999. Este país é o 7º maior mercado <strong>de</strong> automóveis novos na Europa, à<br />

frente da Alemanha e atrás da Polónia.<br />

Contudo, a Polónia assume um <strong>de</strong>staque central no sector automóvel na Europa <strong>de</strong> Leste.<br />

Com 38,7 milhões <strong>de</strong> pessoas, competirá certamente com Espanha para ocupar a posição<br />

do 5º maior mercado na Europa. A sua base <strong>de</strong> consumo e a força <strong>de</strong> trabalho é crescente e<br />

jovem, enquanto que a maioria dos países europeus está a "envelhecer". Tem também<br />

fronteira com a Rússia, o maior mercado no Leste, e com a Alemanha, o maior mercado a<br />

Oci<strong>de</strong>nte, sendo a principal "passagem" para o transporte <strong>de</strong> bens continentais - incluindo o<br />

trânsito <strong>de</strong> automóveis roubados.<br />

Assim, a posição da Polónia confere-lhe um estatuto <strong>de</strong> produtor mais cosmopolita <strong>de</strong><br />

automóveis na Europa, produzindo ao longo dos anos as marcas oriundas da República<br />

Checa, França, Alemanha, Itália, Japão, Coreia, Espanha, Suécia, Ucrânia e Estados<br />

Unidos da América.<br />

17<br />

Por exemplo, a Audi especializa-se em automóveis <strong>de</strong>sportivos TT na Hungria e a VW na República Eslovaca<br />

em automóveis utilitários e <strong>de</strong>sportivos do mo<strong>de</strong>lo Colorado e Golf.<br />

107


Informação Internacional<br />

As empresas asiáticas vêem a Polónia como a porta para a Europa Oci<strong>de</strong>ntal. Em 1999, a<br />

japonesa Isuzu lançou neste país o maior investimento do sector automóvel japonês na<br />

Europa <strong>de</strong> Leste: uma fábrica <strong>de</strong> 370 milhões <strong>de</strong> marcos para produzir anualmente cerca <strong>de</strong><br />

300.000 motores a diesel, com vista a fornecer as indústrias automóveis na UE. A Daewoo,<br />

uma das marcas mais agressivas dos chamados Tigres Asiáticos, no período anterior à sua<br />

ruína financeira, planeou investir mais <strong>de</strong> 2 biliões <strong>de</strong> dólares na Polónia para produzir mais<br />

<strong>de</strong> 700.000 automóveis por ano para toda a Europa. Todos estes exemplos <strong>de</strong>monstram,<br />

afinal, o forte domínio da Polónia no sector automóvel.<br />

Ora prevendo-se que os negócios no sector automóvel na Europa <strong>de</strong> Leste progridam ainda<br />

mais com a a<strong>de</strong>são à UE, torna-se necessário concluir <strong>de</strong>terminadas reformas, tais como a<br />

redução gradual das tarifas <strong>de</strong> importação (até à sua eliminação em 2002) no comércio<br />

automóvel entre a UE e alguns Estados candidatos. O facto <strong>de</strong> se tornarem Estados<br />

membros da União Europeia eliminará certamente formalida<strong>de</strong>s aduaneiras bilaterais e<br />

minimizará os obstáculos comerciais bilaterais − contrariamente ao verificado em 1999,<br />

quando a Hungria activou quotas sobre automóveis originários da Polónia como medida <strong>de</strong><br />

retaliação contra as restrições polacas às importações <strong>de</strong> produtos alimentares da Hungria.<br />

E apesar <strong>de</strong> não existirem sérios obstáculos ao comércio automóvel entre o Leste e o<br />

Oci<strong>de</strong>nte, o alargamento da UE po<strong>de</strong>rá, ironicamente, ver aumentar algumas barreiras<br />

comerciais em relação aos automóveis construídos fora do espaço da UE.<br />

Telecomunicações<br />

Se proce<strong>de</strong>rmos a uma análise comparativa do sector das telecomunicações entre a queda<br />

do Muro <strong>de</strong> Berlim e a actualida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>paramo-nos com cenários bastante diferentes.<br />

Enquanto que no início dos anos 90 as infra-estruturas <strong>de</strong> telecomunicações estavam <strong>de</strong><br />

certa forma ina<strong>de</strong>quadas relativamente ao apreciável nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das<br />

economias da região 18 , hoje na maioria dos países a <strong>de</strong>nominada "tele-<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>" (número<br />

<strong>de</strong> linhas telefónicas por cada 100 pessoas) é surpreen<strong>de</strong>nte e os telemóveis são<br />

largamente utilizados, assim como a difusão do acesso à Internet.<br />

O processo <strong>de</strong> liberalização, em particular a introdução da competição, foi um dos factores<br />

mais importantes para o <strong>de</strong>senvolvimento das telecomunicações da região e,<br />

consequentemente, facilitará a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong>stes países à UE no que respeita a este sector.<br />

Alguns países proce<strong>de</strong>ram já à aplicação <strong>de</strong> reformas regulamentares <strong>de</strong> telecomunicações,<br />

mostrando uma competitivida<strong>de</strong> que segue as directrizes da UE.<br />

Contudo, tal <strong>de</strong>senvolvimento não é uniforme na região, po<strong>de</strong>ndo-se <strong>de</strong>stacar três grupos <strong>de</strong><br />

países: em 1º lugar, a República Checa, Estónia, Hungria, Polónia, República Eslovaca e<br />

Eslovénia (países que se aproximam mais dos níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento oci<strong>de</strong>ntais); em 2º<br />

lugar, a Bulgária, Croácia, Letónia, Lituânia, Roménia, Rússia e Ucrânia (países em franco<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, mas com algum "compasso <strong>de</strong> espera"); e em 3º lugar, a Albânia e<br />

Macedónia (países on<strong>de</strong> os progressos nesta área não têm sido expressivos). Nestes dois<br />

últimos grupos <strong>de</strong> países, as <strong>de</strong>cisões políticas ainda se mostram pouco consistentes e<br />

18 O tempo <strong>de</strong> espera para instalação <strong>de</strong> uma linha telefónica chegava a ser <strong>de</strong> 20 anos!<br />

108


O Investimento Directo Internacional nas Economias da Europa Central - Uma Nova Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Influências Unindo a Europa<br />

subsistem monopólios <strong>de</strong>tidos pelo Estado, pelo que alguns autores consi<strong>de</strong>rem que estes<br />

países "irão ficar excluídos da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação" 19 . Por outro lado, para além <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s variações entre estes grupos <strong>de</strong> países, também se registam disparida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> cada país.<br />

Um dos exemplos mais claros do <strong>de</strong>senvolvimento dos países <strong>de</strong> primeira linha é a difusão<br />

do telemóvel, cujo mercado é potencialmente enorme, graças, nomeadamente, à concessão<br />

<strong>de</strong> licenças a novas empresas. Tal ocorreu com êxito na Estónia, Hungria e Polónia,<br />

<strong>de</strong>stacando-se em particular a República Checa, on<strong>de</strong>, segundo as previsões, no final do<br />

ano 2000 teremos um rácio <strong>de</strong> 39 por cada 100 checos portadores <strong>de</strong> telemóvel (o que<br />

representa um aumento <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 100% relativamente a 1999). Na verda<strong>de</strong>, este é sem<br />

dúvida um dos mercados que mais rapidamente cresceu na República Checa, e o principal<br />

operador <strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> telemóvel é a Eurotel Praha, que resulta <strong>de</strong> uma joint-venture entre a<br />

Cesky Telecom e a Atlantic West (a qual, por sua vez, <strong>de</strong>riva também <strong>de</strong> uma joint-venture<br />

entre as empresas americanas Verizon Communications e AT&T), tem sido pioneira na<br />

oferta <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> informação sofisticados.<br />

A Hungria constitui outro exemplo <strong>de</strong> assinalável sucesso na área das telecomunicações,<br />

existindo no país 14 empresas fornecedoras <strong>de</strong> serviços telefónicos locais e 3 operadores<br />

<strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> telemóvel, ao passo que os serviços telefónicos internacionais e <strong>de</strong> longa<br />

distância permanecem nas mãos da Hungary Telecom. O número <strong>de</strong> linhas telefónicas em<br />

serviço aumentou imenso e aproximadamente 1/4 da população possui telemóvel.<br />

Quanto à Polónia, paralelamente à concessão das primeiras licenças para competir com os<br />

serviços da Telekomunikacja Polska, a empresa anteriormente monopólio do Estado, ainda<br />

se registam gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>moras na instalação <strong>de</strong> linhas telefónicas, <strong>de</strong>vido sobretudo à<br />

ausência <strong>de</strong> uma competição eficaz.<br />

Electrónica<br />

O sector da electrónica é um dos sectores mais atractivos e no qual se tem notado uma<br />

expansão massiva, sobretudo fruto do investimento estrangeiro.<br />

Entre as maiores empresas estrangeiras da indústria <strong>de</strong> equipamento electrónico presentes<br />

na Hungria, <strong>de</strong>stacam-se a Nokia (Finlândia), Ericsson (Suécia) e Siemens (Alemanha). O<br />

investimento da Nokia na Hungria é avultadíssimo, li<strong>de</strong>rando o campo das telecomunicações<br />

e outros. Os principais clientes da Ericsson são as maiores empresas <strong>de</strong> telecomunicações<br />

húngaras Matav e Westel 900 GSM; para além <strong>de</strong> aplicar cerca <strong>de</strong> 17% das suas vendas<br />

líquidas em I&D, estabeleceu contractos com outras empresas para a produção dos<br />

telemóveis da sua marca na Hungria, dando assim resposta à procura acrescida e criando<br />

postos <strong>de</strong> trabalho e incrementando o seu volume <strong>de</strong> vendas. A Siemens tem igualmente<br />

afirmado a sua importância no sector da indústria electrónica, sendo responsável por<br />

importantes projectos neste país: é o caso do sistema <strong>de</strong> iluminação do aeroporto militar <strong>de</strong><br />

Kecskemet, o fornecimento <strong>de</strong> um sistema telefónico digital ao Ministério da Defesa e <strong>de</strong> um<br />

novo sistema <strong>de</strong> transmissão digital <strong>de</strong> informação para a empresa <strong>de</strong> caminhos-<strong>de</strong>-ferro<br />

19 Peter Purton, in Financial Times, 24-10-2000.<br />

109


Informação Internacional<br />

húngara (MAV), para além d e operar igualmente na área dos computadores e dos<br />

componentes para automóveis. Investem também na Hungria algumas empresas<br />

americanas (produtoras <strong>de</strong> telemóveis, CDs e equipamento para computadores) e<br />

japonesas (Sanyo e Sony) – produzindo aparelhos <strong>de</strong> TV e ví<strong>de</strong>o e sistemas stereo.<br />

Quanto à Polónia, esta apresenta investimentos estrangeiros avultados na área da<br />

electrónica, particularmente no que se refere ao hardware (área dominante) 20 , software e<br />

serviços <strong>de</strong> tecnologias <strong>de</strong> informação. Basta dizer que apenas 9% dos polacos possui um<br />

PC, o que nos sugere um elevado potencial a dar resposta nos próximos anos, para além da<br />

expansão dos negócios e serviços ligados à Internet. Há a salientar o investimento da<br />

empresa holan<strong>de</strong>sa UPC (United Pan-Europe Communications) no fornecimento <strong>de</strong> serviços<br />

e telecomunicações neste país.<br />

O sector electrónico beneficiou imenso na República Checa do consi<strong>de</strong>rável investimento<br />

da empresa multinacional Matsushita em 1997, contando actualmente com uma elevada<br />

produção <strong>de</strong> TVs e componentes electrónicos e exportação para outros países. O Governo<br />

checo instituiu incentivos atractivos para o investimento directo estrangeiro, que se<br />

concretizou nos seguintes projectos: joint-venture entre as empresas alemãs Epcos AG e a<br />

Siemens (equipamento para telecomunicações e computadores), a empresa americana AVX<br />

(componentes para computadores, chips e produtos electrónicos e <strong>de</strong> telecomunicações), a<br />

empresa tailan<strong>de</strong>sa First International Computer (produtora <strong>de</strong> computadores) e Philips<br />

Electronics.<br />

Por seu lado, a Eslovénia, à semelhança da República Eslovaca, não conta com<br />

investimentos relevantes no sector da electrónica, contrastando com a importância<br />

crescente do sector das telecomunicações em ambos os países.<br />

Energia<br />

Na Hungria, é um dos sectores mais importantes, já que este país importa mais <strong>de</strong> 50% das<br />

suas necessida<strong>de</strong>s energéticas (os seus <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> petróleo e gás natural são escassos).<br />

Após um período <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> recursos da ex-União Soviética, a transição económica<br />

trouxe inevitavelmente algumas lições no que respeita à poupança no consumo <strong>de</strong> energia,<br />

na melhoria da produtivida<strong>de</strong> e redução <strong>de</strong> custos e inaugurou o período <strong>de</strong> privatizações<br />

nesta área. Investidores oriundos da Áustria (ÖMV) e da Inglaterra e Holanda (Shell)<br />

contribuem para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste sector. A produção <strong>de</strong> electricida<strong>de</strong> é facilitada<br />

pelas indústrias nucleares, as quais têm vindo a realizar esforços no sentido <strong>de</strong> cumprirem<br />

as normas <strong>de</strong> segurança e tarifárias exigidas pela UE, assim como a eficiência. As principais<br />

empresas investidoras que aqui operam são sobretudo do Reino Unido (Powergen), Estados<br />

Unidos (AES), Alemanha (RWE e EVS), Finlândia (Voiman) e Japão (Tomen).<br />

O processo <strong>de</strong> privatizações do sector energético em curso na Polónia (quer na produção,<br />

distribuição e transmissão), embora com algumas dificulda<strong>de</strong>s iniciais, facilitará a<br />

consolidação e o surgimento <strong>de</strong> novas empresas ou grupos económicos no sector, sendo<br />

20 Existe um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pequenos produtores (favorável ao aumento da competição), dois produtores<br />

locais dominantes (Optimus e JJT) e ainda empresas internacionais como a Compaq, IBM, HP e Toshiba.<br />

110


O Investimento Directo Internacional nas Economias da Europa Central - Uma Nova Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Influências Unindo a Europa<br />

que as autorida<strong>de</strong>s dão priorida<strong>de</strong> a <strong>de</strong>terminados investidores estratégicos - capazes <strong>de</strong><br />

trazer mo<strong>de</strong>rnização e redução dos ainda elevados custos energéticos. É o caso da<br />

empresa Tractebel (Bélgica), <strong>de</strong> um consórcio entre empresas americanas, holan<strong>de</strong>sas e<br />

japonesas, da Vattenfall (Suécia), HEW (Alemanha), Electricité <strong>de</strong> France (França) e <strong>de</strong><br />

Polenergia (resulta <strong>de</strong> uma joint-venture entre PSE e a empresa alemã PreussenElektra).<br />

Contudo, há ainda que proce<strong>de</strong>r ao alinhamento com as directrizes da UE, nomeadamente<br />

em relação ao aspecto das trocas, do ambiente e dos níveis <strong>de</strong> preços praticados. Este<br />

último facto po<strong>de</strong> constituir um sério obstáculo ao investimento, pois impe<strong>de</strong> a existência <strong>de</strong><br />

um mercado competitivo, penaliza os retornos dos investimentos e envolve maior risco.<br />

Em termos energéticos, a maior fonte <strong>de</strong> energia da Eslovénia é a electricida<strong>de</strong>, que é<br />

gerida em parceria com a Croácia. Este sector tem procurado correspon<strong>de</strong>r gradualmente<br />

às normas comunitárias, nomeadamente em relação ao processo <strong>de</strong> privatizações (na<br />

produção e distribuição), à liberalização do mercado para os membros da UE, à introdução<br />

<strong>de</strong> um novo sistema tarifário (que possa eliminar as distorções à concorrência) e o aumento<br />

do preço da energia, já que o problema do baixo lucro energético <strong>de</strong>sfavorece o sector.<br />

Por seu lado, para a República Eslovaca a energia é um ponto sensível, dado que os seus<br />

escassos recursos a levam a importar mais <strong>de</strong> 80% das necessida<strong>de</strong>s energéticas, em<br />

especial da Rússia, servindo ao mesmo tempo <strong>de</strong> país estratégico no trânsito do gás natural<br />

russo para os países vizinhos e para a Europa Oci<strong>de</strong>ntal. O facto <strong>de</strong> os preços da energia<br />

serem baixos comparativamente aos praticados noutras economias do Leste é apreciável,<br />

muito embora contribua para a existência <strong>de</strong> um sector energético <strong>de</strong> reduzida eficiência.<br />

Por isso, têm sido tomadas medidas com o objectivo <strong>de</strong> estimular a iniciativa privada,<br />

através da implementação do programa <strong>de</strong> privatizações na área energética, dotando ainda<br />

as indústrias nucleares produtoras <strong>de</strong> energia das condições requeridas pela UE.<br />

A República Checa tem como principal fonte energética o carvão e o facto <strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />

anteriormente das importações <strong>de</strong> petróleo, gás natural e energia nuclear da Rússia levou-a<br />

a um processo <strong>de</strong> diversificação para países como a Alemanha e Noruega. Tal como<br />

suce<strong>de</strong> na República Eslovaca, têm sido <strong>de</strong>senvolvidos esforços <strong>de</strong> aproximação do acervo<br />

comunitário neste sector para corrigir alguns aspectos: gestão <strong>de</strong> crises <strong>de</strong> produção,<br />

distribuição e armazenamento, assim como regras relativas ao trânsito, à transparência e à<br />

eficiência energética e segurança nuclear. A recente abertura do mercado à liberalização e a<br />

estratégia <strong>de</strong> privatização são duas priorida<strong>de</strong>s governamentais, tendo em conta que hoje<br />

aproximadamente 70% do mercado é ainda dominado pela empresa produtora e<br />

distribuidora nacional CEZ. Surgem assim novas perspectivas para investimentos neste<br />

sector, em particular da região (Polónia, República Eslovaca, Hungria e Alemanha).<br />

111


Informação Internacional<br />

V. OS GRANDES INVESTIDORES NA EUROPA CENTRAL: UMA REDE DE RELAÇÕES<br />

UNINDO A EUROPA<br />

112<br />

EMPRESAS POLÓNIA HUNGRIA REP.CHECA ESLOVÉNIA REP.ESLOVACA<br />

ALEMANHA E ÁUSTRIA<br />

VOLKSWAGEN/AUDI I I I<br />

SIEMENS I I I I<br />

DEUTSCH TELEKOM % % % %<br />

AUDI I<br />

BERTELSMANN I I I<br />

HOECHST AG JV<br />

HEW I<br />

BA/CA + HBV % %<br />

COMMERZBANK % %<br />

RZB (RAIFFEINSEN<br />

ZENTRALBANK % %<br />

DEUTSCH BANK %<br />

ITÁLIA<br />

FIAT I<br />

UNICREDITO ITALIANO %<br />

EUA<br />

GM /OPEL I I<br />

DELPHI I<br />

FORD I I<br />

ATLANTIC WEST JV<br />

B.A.T. − BRITISH AMERICAN<br />

TOBACCO A<br />

COMPAQ I<br />

IBM I<br />

HP I<br />

TOSHIBA I<br />

SUZUKI I<br />

GOODYEAR JV<br />

CITIBANK % %<br />

JAPÃO E COREIA<br />

MATSUSHITA I<br />

SONY I<br />

SANYO I<br />

DAEWOO I


O Investimento Directo Internacional nas Economias da Europa Central - Uma Nova Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Influências Unindo a Europa<br />

FIRST INTERNATIONAL<br />

COMPUTER I<br />

TOYOTA I<br />

ISUZU I<br />

SUÉCIA, FINLÂNDIA E<br />

DINAMARCA<br />

ERICSSON I<br />

NOKIA I<br />

VOLVO I<br />

VATTENFALL I<br />

TELIA OVERSEAS AB JV I<br />

TELE-DANMARK I<br />

HOLANDA E BÉLGICA<br />

SHELL I I I<br />

PHILIPS I I<br />

TATRA BANK %<br />

UPC – UNITED PAN EUROPE<br />

COMMUNICATIONS I I<br />

KBC % % %<br />

TRACTEBEL %<br />

ABN/AMRO %<br />

FRANÇA<br />

ELECTRICITÉ DE France I<br />

FRANCE TELECOM JV<br />

RENAULT I<br />

LYONNAISE DES EAUX JV JV<br />

LAFARGE I<br />

SAINT-GOBAIN I<br />

I = Investimento<br />

% = Participação no capital<br />

JV = Joint-Venture<br />

A = Aquisição<br />

113


Informação Internacional<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

Czech Republic Country Investment Profile 2000, European Bank for Reconstruction and<br />

Development<br />

Financial Times<br />

Hungary Country Investment Profile 2000, European Bank for Reconstruction and<br />

Development<br />

Poland Country Investment Profile 2000, European Bank for Reconstruction and<br />

Development<br />

Report by the European Bank, Transition Report Update, April 1998<br />

Report by the European Round Table of Industrialists (ERT), The East-West Win-Win –<br />

Business Experience<br />

Revista "Economia Pura", Novembro/Dezembro 2000<br />

Slovak Republic Country Investment Profile 2000, European Bank for Reconstruction and<br />

Development<br />

Slovenia Country Investment Profile 2000, European Bank for Reconstruction and<br />

Development<br />

World Investment Report 2000: "Cross-bor<strong>de</strong>r Mergers and Acquisitions and Development",<br />

United Nations Conference on Tra<strong>de</strong> and Development, New York and Geneva, 2000<br />

114


A BÉLGICA, E O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO EUROPEIA – DE UM<br />

FEDERALISMO A OUTRO?<br />

Maria Manuel Ramos<br />

José Félix Ribeiro<br />

Eurotendências<br />

A configuração política da Europa no futuro está a ser forjada pela interacção <strong>de</strong> dois<br />

processos:<br />

• o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização/fe<strong>de</strong>ralização ao nível dos Estados nacionais-<br />

pelo qual entida<strong>de</strong>s constitutivas <strong>de</strong> Estados Nacionais − Comunida<strong>de</strong>s e Regiões −<br />

com características linguísticas, culturais e históricas distintas forçam uma evolução<br />

da arquitectura institucional dos respectivos Estados no sentido da <strong>de</strong>volução <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>res a essas Comunida<strong>de</strong>s ou Regiões, da consagração <strong>de</strong> formas avançadas <strong>de</strong><br />

autonomia ou <strong>de</strong> pura e simples fe<strong>de</strong>ralização dos Estados; às experiências <strong>de</strong><br />

carácter fe<strong>de</strong>ral ou confe<strong>de</strong>ral já tradicionais no “mundo germânico” – Alemanha,<br />

Áustria e Suíça – vieram acrescentar-se as experiências da Espanha, da Bélgica e,<br />

mais recentemente da Itália;<br />

• o processo <strong>de</strong> integração Europeia, − o qual que está ao entrar numa fase <strong>de</strong><br />

partilha <strong>de</strong> soberania em áreas cruciais dos Estados nacionais – política monetária,<br />

política externa e <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, segurança interna – reforça as pressões no sentido da<br />

institucionalização <strong>de</strong> uma União Política a nível europeu, processo que as regiões<br />

com maior i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> (resultante <strong>de</strong> factores linguísticos, históricos ou culturais)<br />

aproveitam para questionar a organização política dos respectivos Estados nacionais<br />

e para exigir um maior envolvimento no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão a nível europeu.<br />

Por outro lado a Europa é atravessada por um processo económico <strong>de</strong> primeiro plano – o da<br />

competição entre mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> capitalismo, em busca das formas mais eficientes <strong>de</strong><br />

beneficiar das dinâmicas <strong>de</strong> globalização, da mutação tecnológica e da emergência <strong>de</strong><br />

novos sectores <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> com forte potencial <strong>de</strong> crescimento. Essa competição tem<br />

vindo a fazer-se entre o mo<strong>de</strong>lo anglo-saxónico e o mo<strong>de</strong>lo eurocontinental, nas suas três<br />

gran<strong>de</strong>s variantes – o renano, o francês e o escandinavo. Alguns países europeus têm<br />

procurado realizar hibridizações <strong>de</strong> “mo<strong>de</strong>los” sendo esse o caso da Holanda.<br />

A Bélgica é um actor europeu em que é possível analisar não só a intensida<strong>de</strong> do primeiro<br />

processo mas também o modo como este interfere no posicionamento do governo belga<br />

face ao segundo processo.<br />

A Bélgica permite igualmente analisar a emergência <strong>de</strong> uma região – a Flandres − que tendo<br />

sido pouco beneficiada pela variante belga do mo<strong>de</strong>lo eurocontinental se tornou uma das<br />

mais prósperas da Europa, com base na combinação <strong>de</strong> uma forte captação <strong>de</strong> investimento<br />

estrangeiro e da existência <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s regionais <strong>de</strong> financiamento que estimularam o tecido


Informação Internacional<br />

empresarial endógeno E acompanhar o papel crucial que essa região tem vindo a<br />

<strong>de</strong>sempenhar no próprio processo <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo, sem dúvida influenciada<br />

pelo êxito da experiência da Holanda com quem partilha o mesmo património linguístico.<br />

1. A <strong>INTERNACIONAL</strong>IZAÇÃO DA ECONOMIA DA BÉLGICA E O MODELO DE<br />

CAPITALISMO BELGA<br />

A internacionalização da economia belga assentava no inicio da década <strong>de</strong> 90 em três<br />

círculos distintos, conforme se representa na Figura 1<br />

116<br />

• um círculo exterior on<strong>de</strong> se localizam as activida<strong>de</strong>s exportadoras <strong>de</strong> bens e serviços<br />

em que a economia belga <strong>de</strong>tinha as mais importantes posições internacionais, visível<br />

as categorias que geravam os maiores exce<strong>de</strong>ntes comerciais (vd Quadro 1):<br />

• o “cluster” químico – on<strong>de</strong> se sobrepunham duas realida<strong>de</strong>s distintas – uma ligada<br />

às origens da industrialização belga, e na qual se <strong>de</strong>stacam empresas<br />

multinacionais como a Solvay; e outra mais recente, constituída em torno da<br />

plataforma petroquímica do porto Antuérpia – a segunda maior do mundo a seguir à<br />

<strong>de</strong> Houston no Texas – impulsionada pelo investimento <strong>de</strong> grupos multinacionais<br />

americanos e anglo-holan<strong>de</strong>ses;<br />

• o “cluster” automóvel – <strong>de</strong>senvolvido a partir do investimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s marcas<br />

mundiais que aqui localizaram unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> integração e <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>nsa re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

fornecedores <strong>de</strong> materiais, componentes e subsistemas, que transformaram a<br />

Bélgica numa das maiores concentrações da indústria automóvel europeia, não<br />

obstante não dispor <strong>de</strong> um construtor nacional;<br />

• o “cluster” dos materiais plásticos – muito dinâmico, inovador e competitivo,<br />

orientado tanto para a embalagem como para os componentes automóveis e para<br />

os plásticos técnicos e materiais compósitos;<br />

• o “cluster” si<strong>de</strong>rurgia/metalurgia – on<strong>de</strong> coexistem os pólos motores da<br />

industrialização belga do séc. XIX e XX – carvão e aço − e as unida<strong>de</strong>s<br />

metalúrgicas que processavam minérios do império colonial belga, <strong>de</strong> que se<br />

<strong>de</strong>stacavam os recursos da província mineira por excelência da África Central – o<br />

Catanga (actual província <strong>de</strong> Shaba da República Popular do Congo);<br />

• o “cluster” têxtil – outra das bases da industrialização belga, que evoluiu para uma<br />

forte especialização nos têxteis para o habitat e a <strong>de</strong>coração e nos têxteis técnicos;<br />

• o “cluster” diamantes/artigos <strong>de</strong> luxo – em que a posição <strong>de</strong> Antuérpia como o maior<br />

centro <strong>de</strong> lapidação <strong>de</strong> diamantes do mundo fertiliza um sector <strong>de</strong> artigos <strong>de</strong> luxo;<br />

• um círculo intermédio – em que se localizam as activida<strong>de</strong>s infra-estruturais, mais<br />

ligadas ao fornecimento <strong>de</strong> bens e serviços que estão na base <strong>de</strong> todas as<br />

activida<strong>de</strong>s: petróleo/gás, electricida<strong>de</strong>, água/ambiente, telecomunicações, transporte<br />

aéreo; a Bélgica <strong>de</strong>tinha neste círculo, e no inicio da década <strong>de</strong> 90, dois gran<strong>de</strong>s<br />

pólos empresariais sob controlo <strong>de</strong> capitais privados belgas – a Petrofina e a<br />

Tractebel, (accionista maioritária da Electrobel, a produtora e transportadora <strong>de</strong>


A Bélgica - <strong>de</strong> um Fe<strong>de</strong>ralismo a Outro?<br />

electricida<strong>de</strong> com o quase monopólio do sector), e dois pólos sob controlo <strong>de</strong> capitais<br />

públicos – a Belgacom e a Sabena; os sectores infra-estruturais, pelas suas<br />

encomendas, dinamizavam a produção <strong>de</strong> equipamentos eléctricos e electrónicos,<br />

cujos maiores fabricantes locais já nessa altura se encontravam sob controlo francês<br />

− a Alshtom para os equipamentos do sector <strong>de</strong> electricida<strong>de</strong> e a Alcatel para os<br />

equipamentos das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> telecomunicações.<br />

RESUMO<br />

Figura 1<br />

OS TRÊS CÍRCULOS DO PODER EMPRESARIAL NA BÉLGICA<br />

Cluster<br />

Plástico<br />

Cluster<br />

Automóvel<br />

Sabena<br />

Belgacom<br />

Núcleo central - Serviços <strong>de</strong> intermediação e imobiliário<br />

1ª Coroa - Sectores "Infra-estruturais"<br />

Cluster<br />

Químico<br />

Petrofina<br />

Banque<br />

Bruxelles Lambert<br />

Societé<br />

Génerale <strong>de</strong><br />

Banque<br />

Electrabel<br />

Cluster<br />

Electromecânico<br />

Tractebel<br />

Cluster<br />

Têxtil<br />

Couro<br />

Cluster<br />

Metálico<br />

2ª Coroa- Clusters <strong>de</strong> base industrial e/ou combinando indústria e serviços em que<br />

assenta a Especialização Internacional (a nível dos fluxos comerciais)<br />

• um círculo central – em que se localizam os bancos, companhias <strong>de</strong> seguros e outros<br />

fornecedores <strong>de</strong> serviços financeiros – e em que se <strong>de</strong>stacavam dois gran<strong>de</strong>s bancos<br />

privados, a Societé Génerale <strong>de</strong> Banque e o Banque Bruxelles Lambert, uma gran<strong>de</strong><br />

seguradora – a Royale Belge – em paralelo com múltiplos actores <strong>de</strong> menor<br />

dimensão.<br />

117


Informação Internacional<br />

Em termos territoriais esta diferenciação da base <strong>de</strong> internacionalização da economia belga<br />

encontrava expressão em distintas funções regionais:<br />

118<br />

• a região <strong>de</strong> Bruxelas centralizava os serviços financeiros, os serviços às empresas e<br />

o comando sobre os sectores infra-estruturais, com capital privado ou público <strong>de</strong>tendo<br />

uma importante plataforma logística – o seu aeroporto internacional que funcionava<br />

como “hub” do transportador nacional – a Sabena;<br />

• a Flandres em que se localizavam a principal plataforma logística do país centrada<br />

nos portos <strong>de</strong> Antuérpia, Zeebruge e Gand e na articulação com o aeroporto <strong>de</strong><br />

Bruxelas; as duas principais plataformas industriais construídas com a participação do<br />

investimento externo nos “clusters” químico e o automóvel e se os diamantes/metais<br />

preciosos;<br />

• a Valónia concentrava os “clusters” mais ligados à época <strong>de</strong> ouro da industrialização<br />

belga - si<strong>de</strong>rúrgico/metalúrgico, têxtil, químico e equipamento pesado para a energia,<br />

a indústria, os transportes ferroviários e a <strong>de</strong>fesa; em termos logísticos dispunha <strong>de</strong><br />

boas vias fluviais e ferroviárias <strong>de</strong> acesso a frança e ao Reno e <strong>de</strong> uma ligação, por<br />

canal,(?) ao porto <strong>de</strong> Antuérpia.<br />

1.1. O Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Capitalismo Belga<br />

A internacionalização e especialização internacional da Bélgica nas décadas recentes<br />

assentou num mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> capitalismo que constitui uma variante do “mo<strong>de</strong>lo eurocontinental”:<br />

• um sistema financeiro baseado na intermediação bancária, com um mercado <strong>de</strong><br />

capitais pouco dinâmico e “reservado” para a colocação da dívida pública e da dívida<br />

privada <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s grupos empresariais;<br />

• um sistema <strong>de</strong> pensões em regime <strong>de</strong> repartição, generoso e sob gestão conjunta <strong>de</strong><br />

sindicatos, empregadores e Estado;<br />

• uma regulação salarial “corporativa” e centralizada, com um mercado <strong>de</strong> trabalho<br />

apresentando elevada rigi<strong>de</strong>z e um papel chave do sector público na criação <strong>de</strong><br />

emprego;<br />

• uma protecção social abrangente, financiada por empregadores e empregados,<br />

traduzindo-se em elevados custos indirectos do trabalho e fracos estímulos ao<br />

envolvimento no mercado <strong>de</strong> trabalho;<br />

• uma estrutura <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> baseada na existência <strong>de</strong> um número muito reduzido<br />

<strong>de</strong> “holdings” controlando, através <strong>de</strong> múltiplas participações cruzadas, os maiores<br />

bancos e companhias <strong>de</strong> seguros e as principais empresas do sector infra-estrutural,<br />

assegurando assim a existência <strong>de</strong> um controlo belga sobre as gran<strong>de</strong>s empresas do<br />

país, exercido a partir <strong>de</strong> Bruxelas, completada pela proprieda<strong>de</strong> pública sobre<br />

empresas do sector infra-estrutural.


A Bélgica - <strong>de</strong> um Fe<strong>de</strong>ralismo a Outro?<br />

Nesta estrutura <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>stacava-se a importância <strong>de</strong> dois <strong>de</strong>sses “holdings” – o<br />

Grupo Bruxelles Lambert, do barão Albert Frére e a Societé Génerale <strong>de</strong> Belgique. Já nos<br />

finais da década <strong>de</strong> 80 esta estrutura <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> fora abalada pela tentativa falhada <strong>de</strong><br />

OPA hostil <strong>de</strong> Carlo Bene<strong>de</strong>tti sobre a Societé Génerale <strong>de</strong> Belgique, <strong>de</strong> que acabara por<br />

resultar a entrada do Grupo Suez no capital da holding”, funcionando como “protector” face<br />

a essa tentativa <strong>de</strong> OPA.<br />

O funcionamento do capitalismo belga gerou ao longo <strong>de</strong> décadas défices orçamentais<br />

elevados e uma acumulação <strong>de</strong> dívida pública cuja colocação era a principal função do<br />

mercado <strong>de</strong> capitais, retirando a este funções <strong>de</strong> financiamento da iniciativa privada –<br />

excepto dos gran<strong>de</strong>s grupos que constituíam a matriz empresarial do “capitalismo belga”,<br />

com se<strong>de</strong> em Bruxelas e na Valónia.<br />

O “mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> capitalismo” favoreceu a concentração em torno <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s existentes e<br />

dificultou, na generalida<strong>de</strong> o surgimento <strong>de</strong> inovações que se tornam <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do<br />

investimento directo estrangeiro e da existência <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s regionais <strong>de</strong> financiamento que<br />

escapem á dinâmica <strong>de</strong> concentração referida, o que ajuda a explicar a transformação da<br />

Flandres na região belga mais inovadora em termos <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> especialização<br />

empresarial.<br />

1.2. Globalização, Moeda Única e Desarticulação da Estrutura Accionista do<br />

“Capitalismo Belga”<br />

Até inicio da década <strong>de</strong> 90 podia falar-se <strong>de</strong> um “capitalismo belga” no duplo sentido <strong>de</strong>:<br />

• uma modalida<strong>de</strong> do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> capitalismo euro-continental, geradora <strong>de</strong> um dos<br />

maiores défices orçamentais e dívida pública no espaço da UE;<br />

• uma estrutura <strong>de</strong> capital accionista que permitia manter sob controlo belga um<br />

conjunto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empresas em sectores diversificados, sem que a presença do<br />

estado como accionista fosse necessária (ao contrário do que se passava em<br />

França).<br />

Durante a década <strong>de</strong> 90, a interacção entre o processo <strong>de</strong> globalização e o reforço da<br />

integração europeia, marcada pelo lançamento da UEM:<br />

• levaram ao colapso <strong>de</strong>ssa estrutura accionista, levando a que quase todas as<br />

gran<strong>de</strong>s empresas industriais e financeiras da Bélgica se encontrem actualmente sob<br />

controlo <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s da França ou da Holanda e que a própria bolsa <strong>de</strong> Bruxelas se<br />

tenha eclipsado no seio <strong>de</strong> uma aliança entre as bolsas <strong>de</strong> Paris e Amsterdão;<br />

• forçaram uma revisão gradual <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo, numa primeira fase para po<strong>de</strong>r integrar<br />

o grupo fundador da moeda única e mais recentemente para fazer face ás pressões<br />

<strong>de</strong>mográficas futuras e á necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promover o crescimento e o emprego<br />

baseando-se em novos sectores e activida<strong>de</strong>s – numa direcção <strong>de</strong>sejada pela parte<br />

mais dinâmica da economia belga – a Flandres.<br />

O núcleo duro do “capitalismo belga” era constituído pelos “holdings” dos gran<strong>de</strong>s bancos<br />

francófonos <strong>de</strong> Bruxelas que estiveram historicamente ligados ao financiamento do surto <strong>de</strong><br />

119


Informação Internacional<br />

<strong>de</strong>senvolvimento económico da Valónia ocorrido entre a primeira meta<strong>de</strong> do séc. XX e o<br />

período imediatamente posterior à 2ª Guerra Mundial. Estas entida<strong>de</strong>s e as gran<strong>de</strong>s<br />

empresas que materializaram esse surto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, em pouco mais <strong>de</strong> quatro<br />

anos, passaram para o controlo accionista francês e holandês, quer no sector bancário, quer<br />

nos sectores infra-estrutural e industrial.<br />

a) Sector Bancário<br />

Na Bélgica, os contornos do sector bancário, no inicio da década <strong>de</strong> 90 incluíam a fraca<br />

expressão da Administração Central na proprieda<strong>de</strong> dos bancos; um mais forte<br />

intervencionismo do Estado na regulamentação, segmentação e abertura do sector do que<br />

acontecia na Holanda; uma maior fragmentação bancária do que na Holanda; a existência,<br />

tal como na Holanda, <strong>de</strong> um sector bancário cooperativo com expressão significativa.<br />

Entre os gran<strong>de</strong>s estabelecimentos privados <strong>de</strong>stacavam-se a Societé Génerale <strong>de</strong><br />

Belgique e o Banque Bruxelles Lambert (BBL) símbolos da supremacia económica e<br />

financeira tradicional da elite francófona, o Kredietbank, <strong>de</strong> raiz flamenga e o ASLK-CGER<br />

controlado pelo banco holandês ABN-AMRO. De entre os estabelecimentos com capitais<br />

públicos salientava-se o Crédit Communal <strong>de</strong> Belgique, ligado ao financiamento das<br />

autarquias locais.<br />

Posteriormente a 1996 <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia-se um intenso movimento <strong>de</strong> consolidação, que afecta<br />

em particular os sete maiores bancos do país, e apresenta forte expressão <strong>de</strong> soluções<br />

transfronteiriças. Assim:<br />

120<br />

• em 1996 o Crédit Communal <strong>de</strong> Belgique fun<strong>de</strong>-se com o Crédit Local <strong>de</strong> France<br />

dando origem a um po<strong>de</strong>roso grupo bancário bicéfalo, fortemente internacionalizado e<br />

especializado no financiamento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s infra-estruturas – o DEXIA – que em 1999<br />

acabou por ser unificado sob direcção belga; e já antes adquirira parte do capital da<br />

terceira empresa seguradora do país – a SMAP;<br />

• em 1997, o Bacob Bank absorveu o Paribas Banque Belgium dando origem a uma<br />

nova instituição – a ARTESIA;<br />

• em 1998, é a vez da tentativa <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> banco belga, com projecção<br />

internacional, que resultasse da fusão da Societé Génerale <strong>de</strong> Banque (SGB) com o<br />

Banque Bruxelles Lambert (BBL) como chegou a ser pensado e iniciado; tal tentativa<br />

fracassou e os dois bancos acabaram por ser adquiridos;<br />

• a SGB pelo grupo belga – holandês FORTIS, que o integraria posteriormente com o<br />

ASLK – CGER, formando efectivamente um gran<strong>de</strong> grupo bancário europeu, com<br />

“dupla nacionalida<strong>de</strong>” e com uma capitalização bolsista semelhante, em 1998, à do<br />

Deutsche Bank;<br />

• o BBL pelo banco holandês ING que <strong>de</strong>tinha 20% do seu capital <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma tentativa<br />

abortada <strong>de</strong> aquisição em 1992 e que se opôs à diluição da sua posição accionista<br />

que resultaria <strong>de</strong> uma eventual fusão SGB/BBL (a tomada do controlo do BBL <strong>de</strong>u-se<br />

após uma “batalha” entre os dois maiores bancos holan<strong>de</strong>ses – o ING e o ABN-<br />

AMRO – <strong>de</strong> que o primeiro saiu vitorioso).


A Bélgica - <strong>de</strong> um Fe<strong>de</strong>ralismo a Outro?<br />

Em 2001 o grupo DEXIA absorve as activida<strong>de</strong>s bancárias e seguradoras da ARTESIA, que<br />

se torna num dos seus maiores accionistas.<br />

b) Sectores Infra-estrutural/Industrial<br />

O processo <strong>de</strong> fusões e aquisições nestes domínios foi dominado por operações envolvendo<br />

empresas francesas. Assim:<br />

• a Petrofina, empresa multinacional belga operando no sector do petróleo, foi<br />

adquirida pela francesa Total que posteriormente se fundiu com a outra empresa<br />

francesa <strong>de</strong> petróleos, a ELF, para dar origem a um dos maiores grupos europeus do<br />

sector;<br />

• a Cockeril Sambre, o maior grupo si<strong>de</strong>rúrgico belga, e um dos gran<strong>de</strong>s fabricantes <strong>de</strong><br />

equipamento pesado para energia, indústria, transporte ferroviário e <strong>de</strong>fesa é<br />

adquirido pelo grupo si<strong>de</strong>rúrgico francês USINOR, que posteriormente se fundiu com<br />

a empresa si<strong>de</strong>rúrgica ARBED do Luxemburgo (operação que envolveu a participada<br />

espanhola da ARBED a Acerália), dando lugar à formação do maior grupo do sector,<br />

a nível mundial;<br />

• a Tractebel, uma das maiores empresas europeias na área da electricida<strong>de</strong>, água e<br />

ambiente é adquirida integralmente pela francesa Suez Lyonnaise <strong>de</strong>s Eaux, dando<br />

origem a um dos maiores grupos mundiais “multiutilities”.<br />

Se se recordar que a ACEC belga, o maior fabricante belga <strong>de</strong> equipamento eléctrico<br />

pesado já havia sido anteriormente adquirida pela GEC – Alshtom, uma empresa franco –<br />

britânica e que a Alcatel era o principal fabricante belga <strong>de</strong> equipamento para<br />

telecomunicações, po<strong>de</strong> afirmar-se que empresas francesas ocupavam não só uma posição<br />

dominante nos sectores infra-estruturais, como no sector industrial fornecedor <strong>de</strong>stes<br />

últimos (nomeadamente no que respeita ao equipamento para a produção, transporte e<br />

distribuição <strong>de</strong> electricida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> equipamento para telecomunicações). Fora <strong>de</strong>ste<br />

movimento <strong>de</strong> integração empresarial franco-belga ficaram <strong>de</strong> fora duas empresas dos<br />

sectores infra-estruturais controladas directamente pelo Estado:<br />

• a Belgacom – em cujo capital accionista passou a estar os americanos da SBC;<br />

• a Sabena- cujo controlo passou para o grupo suíço Sair (proprietário da Swissair).<br />

A Figura 2 sintetiza transformações havidas no capital <strong>de</strong> algumas gran<strong>de</strong>s empresas<br />

belgas do sector bancário, segurador, infra-estrutural e industrial. Esta alteração tem no seu<br />

centro a opção do Grupo Bruxelles Lambert – GBL. do Barão Albert Frére que preferiu<br />

passar a ser accionista <strong>de</strong> referência em três gran<strong>de</strong>s grupos mundiais – Total Fina Elf,<br />

Suez Lyonnaise <strong>de</strong>s Eaux e Bertelssmann (neste caso ven<strong>de</strong>ndo a sua importante<br />

participação no capital da RTL – Radio Tele Luxembourg, ao grupo alemão dos media) do<br />

que a ser um dos pilares internos <strong>de</strong> um “capitalismo belga” com se<strong>de</strong> em Bruxelas.<br />

121


Informação Internacional<br />

122<br />

Figura 2<br />

A REDEFINIÇÃO DO CAPITAL ACCIONISTA EM ALGUMAS GRANDES EMPRESAS BELGAS 1996-2001<br />

ARTESIA<br />

CRÉDIT<br />

COMMUNALE<br />

Accionistas belgas<br />

Accionistas franceses<br />

Accionistas holan<strong>de</strong>ses<br />

Entida<strong>de</strong>s belgas sob<br />

controlo estrangeiro<br />

DEXIA<br />

CRÉDIT<br />

LOCAL<br />

ING<br />

BBL<br />

ASPHALES<br />

ASAHI LIFE<br />

SWISS RE<br />

Group<br />

Bruxelles<br />

Lambert<br />

(Baron Albert Frére)<br />

GÉNERALE<br />

DE<br />

BANQUE<br />

ROYAL<br />

PETROFINA<br />

BELGE 12% 100%<br />

COCKERIL<br />

100%<br />

100%<br />

9%<br />

100%<br />

FORTIS<br />

AG<br />

GÉNERALE<br />

DE<br />

BELGIQUE<br />

BOLSA<br />

TRACTEBEL<br />

AXA-UAP TOTAL<br />

SUEZ-<br />

LYONNAISE<br />

DES EAUX<br />

USINOR<br />

2. MODELO DE CAPITALISMO E DIFERENCIAÇÕES REGIONAIS – A EMERGÊNCIA DA<br />

FLANDRES<br />

A existência <strong>de</strong> um “mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> capitalismo” belga que privilegiou o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um<br />

conjunto <strong>de</strong> bancos e gran<strong>de</strong>s empresas localizadas na Valónia ou comandados <strong>de</strong><br />

Bruxelas não impediu o <strong>de</strong>senvolvimento da Flandres <strong>de</strong> um modo relativamente autónomo<br />

<strong>de</strong>ste “mo<strong>de</strong>lo”. Tal ficou a <strong>de</strong>ver-se a quatro factores principais:<br />

• a atracção <strong>de</strong> investimento estrangeiro que, aproveitando as condições logísticas<br />

únicas do território, o seleccionou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 60 como localização para<br />

gran<strong>de</strong>s instalações da s indústrias petroquímicas e do automóvel;<br />

• a existência <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações empresariais muito <strong>de</strong>nsa <strong>de</strong> raiz flamenga, que<br />

contribuiu para o financiamento e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> empresas<br />

inovadoras;<br />

• a existência <strong>de</strong> um espaço político próprio <strong>de</strong> âmbito regional que tem vindo a facilitar<br />

a busca <strong>de</strong> consensos para a reforma <strong>de</strong> aspectos essenciais do “mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

capitalismo belga”;<br />

11,7%<br />

24,5%<br />

51%<br />

63,8%<br />

100%<br />

49%


A Bélgica - <strong>de</strong> um Fe<strong>de</strong>ralismo a Outro?<br />

• o papel crescente das autorida<strong>de</strong>s regionais como organizadoras da colaboração<br />

entre sectores empresariais e como estimuladora <strong>de</strong> novas vagas <strong>de</strong> investimento<br />

externo, em sectores com maiores perspectivas <strong>de</strong> crescimento a prazo.<br />

2.1. ”Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Capitalismo” e Mercado <strong>de</strong> Trabalho – a excepção da Flandres<br />

Não obstante as melhorias recentes, ligadas no essencial á conjuntura económica favorável<br />

dos anos 1999 e 2000 o mercado <strong>de</strong> trabalho permaneceu como um dos pontos fracos da<br />

economia belga.<br />

Em 1999 a taxa <strong>de</strong> emprego <strong>de</strong> 58% era das mais baixas da OCDE e mesmo inferior à<br />

média da UE (cerca <strong>de</strong> 64%), sendo que este resultado se po<strong>de</strong>, no essencial, imputar a<br />

três grupos (vd Gráfico 1):<br />

• os adultos com ida<strong>de</strong>s compreendidas entre 55 e 64 anos, em que a taxa <strong>de</strong> emprego<br />

era em 1999 ligeiramente inferior a 25%, – a mais baixa da UE – o que resultou da<br />

política prosseguida nas décadas <strong>de</strong> 70 e 80 <strong>de</strong> facilitar as reformas antecipadas<br />

como modo <strong>de</strong> reduzir o <strong>de</strong>semprego, a que se suce<strong>de</strong>u nos anos 90 um<br />

endurecimento das condições <strong>de</strong>stas “pré-reformas”, mas que foi acompanhado pelo<br />

reforço do programa dirigido aos <strong>de</strong>sempregados com mais ida<strong>de</strong> que são<br />

dispensados <strong>de</strong> procurar novo emprego, o que acabou por ter o mesmo efeito sobre<br />

as taxas <strong>de</strong> emprego <strong>de</strong>ste grupo etário;<br />

• os jovens, com ida<strong>de</strong>s compreendidas entre os 15 e 24 anos, com taxa <strong>de</strong> emprego<br />

<strong>de</strong> 26%, em contraste com os 40% na UE, que se ficou a <strong>de</strong>ver ao facto dos estudos<br />

serem, em média, mais longos na Bélgica do que na generalida<strong>de</strong> dos outros países<br />

da UE e ao fraco <strong>de</strong>senvolvimento do sistema <strong>de</strong> aprendizagem;<br />

• as mulheres, cuja taxa <strong>de</strong> emprego, é em geral mais baixa do que na UE, com<br />

excepção da faixa etária entre os 25 e 34 anos.<br />

Em parte <strong>de</strong>vido aos generosos programas <strong>de</strong> “pré-reforma” ou equivalentes que a<br />

segurança social belga promoveu, a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego oficial conseguiu situar-se, para<br />

1999, imediatamente abaixo da média da UE (9,1% contra 9,2%). Mas não obstante essas<br />

políticas o peso do <strong>de</strong>semprego <strong>de</strong> longa duração era o mais elevado da OCDE, com cerca<br />

<strong>de</strong> 61%.<br />

123


Informação Internacional<br />

124<br />

Dinam arca<br />

Gráfico 1<br />

TAXAS DE EMPREGO NA BÉLGICA E NOUTROS PAÍSES DA OCDE, 1999<br />

E.U.A.<br />

Suécia<br />

Reino Unido<br />

Países Baixo s<br />

Japão<br />

Á ustria<br />

Portugal<br />

Finlândia<br />

Alem anha<br />

UE<br />

Irlanda<br />

Luxem burgo<br />

França<br />

B ÉLG ICA<br />

Grécia<br />

Espanha<br />

Itália<br />

Dinam arca<br />

Suécia<br />

E.U.A.<br />

Á ustria<br />

Portugal<br />

Países Baixos<br />

Finlândia<br />

Reino Unido<br />

Japão<br />

Alem anha<br />

França<br />

Luxem burgo<br />

B ÉLG ICA<br />

UE<br />

Irlanda<br />

Grécia<br />

Itália<br />

Espanha<br />

Total (15-64 anos)<br />

0 20 40 60 80 100<br />

Adultos (25-54 anos)<br />

0 20 40 60 80 100<br />

Dinam arca<br />

Países Baixo s<br />

Reino Unido<br />

Alem anha<br />

Portugal<br />

Finlândia<br />

Espanha<br />

Luxem burgo<br />

B ÉLG ICA<br />

Jovens (15-24 anos)<br />

0 20 40 60 80 100<br />

Fonte: Étu<strong>de</strong>s Èconomiques <strong>de</strong> l`OCDE, “Belgique “, Março <strong>de</strong> 20001, OCDE, Paris<br />

Mas estes valores para a Bélgica escon<strong>de</strong>m duas realida<strong>de</strong>s regionais distintas:<br />

• Com efeito, se a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego (<strong>de</strong>finida pelos critérios estatísticos nacionais)<br />

era <strong>de</strong> 11,6% em 1999, na Flandres atingia apenas 7,5%, em contraste com os 17,3%<br />

da Valónia e dos 18,1% <strong>de</strong> Bruxelas.<br />

O Bureau Fe<strong>de</strong>ral du Plan atribui esta diferença profunda (que se verifica também na menor<br />

redução do emprego industrial verificada na Flandres e na maior procura <strong>de</strong> novos<br />

empregos não satisfeita, ali verificada) a factores estruturais da responsabilida<strong>de</strong> do<br />

E.U.A.<br />

Á ustria<br />

Irlanda<br />

Suécia<br />

Japão<br />

UE<br />

Grécia<br />

Itália<br />

França<br />

Suécia<br />

Japão<br />

E.U.A.<br />

Dinam arca<br />

Portugal<br />

Reino Unido<br />

Irlanda<br />

Finlândia<br />

Grécia<br />

UE<br />

Alem anha<br />

Países Baixo s<br />

Espanha<br />

França<br />

Á ustria<br />

Itália<br />

Luxem burgo<br />

B ÉLG ICA<br />

Adultos + (55-64 anos)<br />

0 20 40 60 80 100


A Bélgica - <strong>de</strong> um Fe<strong>de</strong>ralismo a Outro?<br />

Governo flamengo como sejam a política em relação à atracção do investimento estrangeiro,<br />

a existência <strong>de</strong> subvenções em favor do investimento, o estímulo ao capital <strong>de</strong> risco, a<br />

educação e formação, a política ambiental, ou ainda as condições infra-estruturais.<br />

Esta divergência da situação no mercado <strong>de</strong> trabalho reveste uma importância fundamental<br />

na clivagem política entre a Flandres e as regiões <strong>de</strong> maioria francófona da Valónia e <strong>de</strong><br />

Bruxelas – permite que sectores da opinião pública flamenga <strong>de</strong>fenda o fim <strong>de</strong> um sistema<br />

único <strong>de</strong> segurança social para o conjunto da Bélgica consi<strong>de</strong>rando que este tem protegido<br />

mais a população em ida<strong>de</strong> activa, mas sem activida<strong>de</strong>, nas regiões que se revelaram<br />

incapazes <strong>de</strong> criar um clima favorável ao emprego, utilizando para isso as contribuições<br />

recolhidas na Flandres, que <strong>de</strong>sse modo não estão a ser canalizadas para fortalecer o<br />

sistema <strong>de</strong> pensões <strong>de</strong> reforma da população idosa actual e futura da Flandres.<br />

2.2. Flandres – uma Dinâmica <strong>de</strong> “Clusters”<br />

A Flandres não só apresentava em 1999 taxas <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego muito menores do que as<br />

outras duas regiões, como assegurou ao longo da década <strong>de</strong> 90 taxas <strong>de</strong> crescimento<br />

superiores à média da Bélgica. A este facto não é estranha a captação <strong>de</strong> investimento<br />

estrangeiro e o dinamismo <strong>de</strong> inovação <strong>de</strong> base endógena. Ás activida<strong>de</strong>s tradicionais,<br />

fortemente internacionalizadas, como a da lapidação <strong>de</strong> diamantes que tem em Antuérpia o<br />

seu maior centro mundial, vieram acrescentar-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados dos anos 50 três “clusters”<br />

que transformaram a sua base produtiva – petroquímica e automóvel 1 .<br />

As vantagens logísticas do território contribuíram sem dúvida para o dinamismo <strong>de</strong>stes<br />

“clusters”. Basta recordar que a Flandres integra um gran<strong>de</strong> porto europeu – Antuérpia – e<br />

os outros dois mais importantes portos belgas – Zeebruge e Gand, para além <strong>de</strong> incluir na<br />

sua proximida<strong>de</strong> o aeroporto <strong>de</strong> Bruxelas e dispor <strong>de</strong> óptimas conexões com o Reno e seus<br />

afluentes e com o pólo logístico holandês <strong>de</strong> Roterdão/Amesterdão.<br />

Com base nestas vantagens <strong>de</strong> localização gran<strong>de</strong>s firmas multinacionais americanas,<br />

japonesas e europeias localizaram na Flandres importantes centros <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong><br />

distribuição e mesmo centros <strong>de</strong> I&D:<br />

• “Cluster” Petroquímico – em Antuérpia localiza-se o segundo maior “cluster”<br />

petroquímico do mundo, a seguir ao <strong>de</strong> Houston, no Texas, com cinco refinarias e<br />

quatro “steamcrackers” para a produção petroquímica <strong>de</strong> base; empresas mundiais<br />

como a BASF, Bayer, BP Amoco, Chemical, Dow Chemical, Dupont, Exxon-Mobil,<br />

Kaneka, Texaco têm aqui implantações europeias <strong>de</strong> primeiro plano, aproveitando o<br />

facto <strong>de</strong> Antuérpia ser a principal junção dos pipelines da Europa Oci<strong>de</strong>ntal;<br />

• “Cluster” Automóvel – a Flandres produz mais <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong> automóveis por ano<br />

– constituindo a maior concentração geográfica da indústria a nível mundial – num<br />

raio <strong>de</strong> 40 Km a Ford produz o Mon<strong>de</strong>o e a Transit, a General Motors o Opel Astra, a<br />

Volvo os mo<strong>de</strong>los S70 e V70, a Volkswagen o Golf e o SEAT Leon, sendo a fábrica<br />

1<br />

As referências que se fazem seguidamente aos diversos “clusters” foram elaboradas com base em documentos<br />

do governo da Flandres que po<strong>de</strong>m ser consultados em http:// www.flan<strong>de</strong>rs.be.<br />

125


Informação Internacional<br />

126<br />

da Ford em Gand a maior do grupo, à escala mundial; no que respeita à produção <strong>de</strong><br />

veículos comerciais a Volvo fabrica aqui quase 30% da sua produção, a Von Hool<br />

exporta daqui 80% da sua produção <strong>de</strong> autocarros e empresas <strong>de</strong> veículos especiais<br />

como a Mol fabricam uma extensa gama <strong>de</strong> produtos; marcas como a Honda<br />

fabricam aqui componentes para as suas instalações no Reino Unido, enquanto a<br />

Toyota, a Daimler Chrysler, a Hyundai, a Mazda, a Subaru, a Isuzu ou a Komatsu<br />

localizaram na região importantes centros <strong>de</strong> distribuição e logística pan-europeus; o<br />

“cluster” inclui cerca <strong>de</strong> 260 fornecedores <strong>de</strong> componentes e sub-sistemas; os três<br />

portos da Flandres movimentam, em conjunto, mais do que um milhão e quinhentos<br />

mil veículos automóveis por ano.<br />

Mas não são estas activida<strong>de</strong>s, centradas em sectores maduros que po<strong>de</strong>m assegurar o<br />

futuro da Flandres. O dinamismo empresarial verificado em novas áreas <strong>de</strong> activida<strong>de</strong><br />

polarizadas em torno das Tecnologias da Informação e das Ciências e Tecnologias da Vida,<br />

parecem constituir uma base mais sólida para assegurar o crescimento nos anos próximos.<br />

A Flandres tem vindo a <strong>de</strong>senvolver as activida<strong>de</strong>s associadas ao <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

exploração das Tecnologias da Informação, nomeadamente em domínios como:<br />

• Processamento digital <strong>de</strong> sinal (DSP) – em que se formou um “cluster” agregando<br />

empresas lí<strong>de</strong>r a nível mundial, PME, centros <strong>de</strong> investigação e universida<strong>de</strong>s,<br />

especializadas em vários aspectos do processamento da imagem e do ví<strong>de</strong>o digital,<br />

do áudio digital e do processamento do som, bem como nas tecnologias <strong>de</strong><br />

comunicação e navegação, po<strong>de</strong>ndo actualmente contar com mais <strong>de</strong> 1200<br />

especialistas nestes domínios; entre as gran<strong>de</strong>s empresas <strong>de</strong> nível mundial incluemse<br />

a Alcatel Microelectronics, a Agfa Gevaert e a Philips; ao lado <strong>de</strong> <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />

outras empresas como a Ansem, Barco Silex, Easics; Eonic Systems, Frontier Design,<br />

Sirius Communications e Target Compiler Technologies, algumas das quais, como a<br />

empresa “local” Barco, ocupando posições <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança em nichos <strong>de</strong> mercado; a<br />

base <strong>de</strong> formação e investigação que integra o “cluster” está representada por um<br />

Instituto <strong>de</strong> I&D – o IMEC – especializado nos métodos e ferramentas <strong>de</strong> concepção e<br />

<strong>de</strong>senho <strong>de</strong> circuitos, com <strong>de</strong>staque para os que se <strong>de</strong>stinam às comunicações <strong>de</strong><br />

banda larga e wireless, e por <strong>de</strong>partamentos das universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Lovaina e Gand e<br />

da Universida<strong>de</strong> Livre <strong>de</strong> Bruxelas;<br />

• Processamento digital da linguagem – em que se <strong>de</strong>staca o “Flan<strong>de</strong>rs Language<br />

Valley” (FLV), criado em 1995 com base em fundos <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco, nos quais<br />

participam como investidores, empresas como a Microsoft e a Cisco e que reúne mais<br />

<strong>de</strong> 24 empresas e seis start-ups , envolvidos nas áreas da Linguística Computacional<br />

e da Inteligência Artificial; durante anos a empresa “local” Lernout&Hauspie<br />

<strong>de</strong>sempenhou o papel <strong>de</strong> símbolo da competência flamenga neste domínio;<br />

• Tecnologias Multimedia – em que se formou recentemente o “Flan<strong>de</strong>rs Multimedia<br />

Valley” que engloba já mais <strong>de</strong> 35 empresas como a Interelectra, a Cegeca, RUG,<br />

Sentinel, ou a PIMC e que conta com o apoio <strong>de</strong> um centro <strong>de</strong> I&D <strong>de</strong> base<br />

universitária – o Expertise Center for Digital Media (EDM), que <strong>de</strong>senvolve activida<strong>de</strong>s<br />

em animação e realida<strong>de</strong> virtual, tecnologias multimédia e telemática e com um<br />

Parque <strong>de</strong> Ciência dispondo <strong>de</strong> uma incubadora <strong>de</strong> empresas.


A Bélgica - <strong>de</strong> um Fe<strong>de</strong>ralismo a Outro?<br />

A Flandres tem também activida<strong>de</strong>s empresariais dinâmicas em Ciências e Tecnologias da<br />

Vida, com <strong>de</strong>staque para as áreas farmacêutica, da biotecnologia e da engenharia<br />

biomédica:<br />

• Área farmacêutica – em que se <strong>de</strong>stacam empresas que começaram por ser “locais”<br />

como a Janssen Pharrmaceutica, e acabaram por se transformar em subsidiárias <strong>de</strong><br />

um grupo multinacional, neste caso a norte – americana Johnson&Johnson, não<br />

<strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ter na Flandres a sua base <strong>de</strong> I&D que foi responsável pela <strong>de</strong>scoberta e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> vários medicamentos. Mas além <strong>de</strong>sta estão presentes na região<br />

gran<strong>de</strong>s empresas mundiais como a Pharmacia&Upjohn, AstraZeneca, Shering –<br />

Plough e Pfizer que dispõe <strong>de</strong> instalações <strong>de</strong> produção local e, nalguns casos, aqui<br />

instalaram centros <strong>de</strong> distribuição para a Europa. Mais recentemente uma das<br />

maiores empresas dos EUA, especializada em testes clínicos – a LabCorp – instalouse<br />

na região contribuindo para fortalecer a infra-estrutura <strong>de</strong> suporte às indústrias da<br />

saú<strong>de</strong>;<br />

• Biotecnologia – a região é conhecida sobretudo pelas suas competências em<br />

genética e biotecnologia vegetal. Empresas “locais” como a Innogenetics, DevGen, o<br />

Virco Group e a CropDesign tornaram-se nomes conhecidos a nível mundial, tendo<br />

<strong>de</strong>sempenhado um papel chave na atracção <strong>de</strong> empresas estrangeiras como a<br />

Pharming, Introgene, Quality Biotech Europe. A apoio prestado por um instituto <strong>de</strong><br />

investigação interuniversitário com o prestígio do VIB e a existência <strong>de</strong> fundos <strong>de</strong><br />

capital <strong>de</strong> risco contribuíram igualmente para promover start-ups e atrair empresas<br />

estrangeiras;<br />

• Imagem e Equipamentos médicos – em que está presente outra empresa flamenga<br />

– a Agfa – que ocupa uma posição cimeira a nível mundial na sua especialida<strong>de</strong>. E<br />

nos equipamentos médicos, empresas internacionais como a Becton Dickinson,<br />

Terumo, Cyberonics e Guidant escolheram a Flandres como base para abastecer o<br />

vasto mercado europeu.<br />

2.3. Concentração Financeira e Capital <strong>de</strong> Risco<br />

Em contraste com o processo <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> controlo dos bancos e gran<strong>de</strong>s empresas<br />

<strong>de</strong> Bruxelas e da Valónia para accionistas franceses e holan<strong>de</strong>ses, assistiu-se à formação<br />

<strong>de</strong> um pólo financeiro flamengo. No início <strong>de</strong> 1998, <strong>de</strong>u-se a fusão dos bancos CERA e<br />

Kredietbank, com a companhia <strong>de</strong> seguros ABB, operação que envolveu os “holdings” <strong>de</strong><br />

interesses empresariais flamengos, Almanij e Gevaert bem como o po<strong>de</strong>roso holding ligado<br />

aos sindicatos agrícolas da região, o Boerbond. Formou-se assim um novo grupo europeu<br />

<strong>de</strong> bancassurance <strong>de</strong> média dimensão – o KBC – que iniciou já a sua expansão na Europa<br />

<strong>de</strong> Leste.<br />

A existência <strong>de</strong>ste pólo financeiro permite, em convergência com a intervenção das<br />

autorida<strong>de</strong>s regionais, disponibilizar capital <strong>de</strong> risco para a criação <strong>de</strong> novas empresas e o<br />

lançamento <strong>de</strong> novas iniciativas empresariais na região.<br />

Um exemplo <strong>de</strong>stas últimas, <strong>de</strong>stinada a inserir a Flandres em re<strong>de</strong>s pan-europeias do<br />

audiovisual e a estimular a difusão da TV digital na região, é a tomada <strong>de</strong> controlo da<br />

127


Informação Internacional<br />

Telenet, a empresa que cobre 90% do mercado <strong>de</strong> TV cabo da Flandres, pelo grupo norteamericano<br />

Callahan (proprietário <strong>de</strong> uma das maiores re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> TV cabo na Europa).<br />

Anteriormente a Telenet tinha como accionistas autarquias locais, entida<strong>de</strong>s financeiras<br />

flamengas e o GIMV, um fundo <strong>de</strong> investimento maioritariamente controlado pelas<br />

autorida<strong>de</strong>s regionais, que em conjunto procuraram atrair um investidor externo que<br />

proporcionasse um caminho próprio para a região numa área <strong>de</strong> inovação.<br />

2.4. A Flandres e a reforma do “mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> capitalismo“ na Bélgica<br />

A Flandres conseguiu obter durante a última década um crescimento superior à média da<br />

Bélgica, não obstante os limites que caracterizam o “mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> capitalismo” belga – rigi<strong>de</strong>z<br />

do mercado <strong>de</strong> trabalho; segurança social financiando a retirada precoce do mercado <strong>de</strong><br />

trabalho; um dos mais elevados níveis <strong>de</strong> tributação na Europa; concentração das<br />

poupanças no financiamento dos défices públicos; concentração do crédito dos gran<strong>de</strong>s<br />

bancos e do mercado <strong>de</strong> capitais nas gran<strong>de</strong>s empresas dos sectores infra-estruturais e da<br />

indústria pesada etc..<br />

Mas confrontada com limitações à sua competitivida<strong>de</strong> resultantes <strong>de</strong>sse “mo<strong>de</strong>lo”,<br />

necessitando favorecer a rápida renovação do tecido empresarial, com <strong>de</strong>staque para novas<br />

activida<strong>de</strong>s mais tecnologicamente intensivas, <strong>de</strong>frontando os problemas do envelhecimento<br />

da população, sem po<strong>de</strong>r alterar um sistema <strong>de</strong> pensões público, em regime <strong>de</strong> repartição e<br />

com forte envolvimento dos sindicatos na sua gestão, a Flandres vai inevitavelmente<br />

pressionar para que se introduzam substanciais mudanças naquele “mo<strong>de</strong>lo” tanto mais que<br />

as suas principais “jóias” – ou seja os gran<strong>de</strong>s bancos e empresas que <strong>de</strong>le mais<br />

beneficiaram – já passaram para o controlo externo.<br />

A Flandres, apoiando-se nos po<strong>de</strong>res que a evolução fe<strong>de</strong>ral da Bélgica já lhe conce<strong>de</strong>, e<br />

mantendo latente a ameaça <strong>de</strong> novas exigências quanto a uma nova transferência <strong>de</strong><br />

competências para o nível das entida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>radas (vd. por exemplo a área crucial do<br />

sistema <strong>de</strong> segurança social) vai seguramente li<strong>de</strong>rar o processo da <strong>de</strong> realização <strong>de</strong><br />

profundas reformas estruturais – funcionamento do mercado <strong>de</strong> trabalho; sistemas <strong>de</strong><br />

pensões e segurança social; mercados <strong>de</strong> capitais; fiscalida<strong>de</strong>, liberalização e concorrência<br />

nos mercados <strong>de</strong> produtos etc.. Ora este processo é particularmente difícil na Bélgica, por<br />

duas or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> razões:<br />

128<br />

• a governação política na Bélgica, em que se formou um regime <strong>de</strong> “<strong>de</strong>mocracia<br />

consociativa”, baseia-se na permanente busca <strong>de</strong> consenso entre partidos, parceiros<br />

sociais e regiões/comunida<strong>de</strong>s, o que torna morosos todos os processos que ponham<br />

em causa interesses adquiridos;<br />

• as duas culturas em confronto na Bélgica, francesa e holan<strong>de</strong>sa, <strong>de</strong>ram origem a dois<br />

“mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> capitalismo” que pertencendo à gran<strong>de</strong> “família” eurocontinental” se<br />

distinguem claramente – o “mo<strong>de</strong>lo francês” constituindo a versão mais estatizante do<br />

mo<strong>de</strong>lo eurocontinental (veja-se a existência <strong>de</strong> um forte sector <strong>de</strong> Estado ligado às<br />

novas tecnologias do pós guerra e dos anos 50 e 60 – nuclear, aeronáutica, espaço e<br />

electrónica da <strong>de</strong>fesa) e o holandês caracterizado por uma hibridação <strong>de</strong> elementos<br />

do mo<strong>de</strong>lo anglosaxónico na matriz eurocontinental (“pol<strong>de</strong>r mo<strong>de</strong>l”).


A FLANDRES E ATRACÇÃO DO “POLDER MODEL”<br />

A Bélgica - <strong>de</strong> um Fe<strong>de</strong>ralismo a Outro?<br />

Em 1995, por iniciativa do patronato flamengo, os altos responsáveis <strong>de</strong> todos os partidos<br />

<strong>de</strong>mocráticos da Região/Comunida<strong>de</strong>, do mundo patronal e dos sindicatos(quer o <strong>de</strong> obediência<br />

cristã como o mais próximo dos socialistas) publicaram um manifesto que foi <strong>de</strong>signado como<br />

“Tratado <strong>de</strong> Louvaina” que tinha como objectivo principal a redução da taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego para<br />

um intervalo <strong>de</strong> 3 a 5% em 2003 o que implicava a duplicação da criação <strong>de</strong> emprego<br />

relativamente ao período 1990/6. Nesse manifesto era já evi<strong>de</strong>nte a atracção do “pol<strong>de</strong>r mo<strong>de</strong>l”.<br />

Comentando esse manifesto Jacques Nagels <strong>de</strong>stacava nele dois aspectos:<br />

• o objectivo <strong>de</strong> “uma redução draconiana dos custos do trabalho” – o manifesto consi<strong>de</strong>rava<br />

que esta redução constitui um instrumento essencial da gestão do emprego, propondo-se<br />

diminuir as cotizações patronais para a segurança social em 7% (que na altura atingiam<br />

35% do salário bruto);<br />

• o objectivo <strong>de</strong> uma melhor “repartição do tempo <strong>de</strong> trabalho” mediante a generalização do<br />

trabalho a tempo parcial, que exige uma flexibilização no mercado <strong>de</strong> trabalho.<br />

3. A ORGANIZAÇÃO DO ESTADO NA BÉLGICA E A FORMA DE REGIME POLÍTICO<br />

3.1. O Fe<strong>de</strong>ralismo Belga em 2000<br />

Ao longo das últimas três décadas a Bélgica transformou-se <strong>de</strong> um Estado unitário num<br />

Estado fe<strong>de</strong>ral, composto por comunida<strong>de</strong>s e regiões. A repartição das competências,<br />

realizada através <strong>de</strong> reformas sucessivas do estado evoluiu segundo dois eixos principais<br />

(vd Figura 3):<br />

• o primeiro está associado às diferenças linguísticas, e <strong>de</strong> modo mais geral à cultura,<br />

tendo dado origem à diferenciação em três comunida<strong>de</strong>s: a <strong>de</strong> língua holan<strong>de</strong>sa –<br />

Comunida<strong>de</strong> Flamenga, a <strong>de</strong> língua francesa – Comunida<strong>de</strong> Francesa e a <strong>de</strong> língua<br />

alemã – comunida<strong>de</strong> Germanófona;<br />

• o segundo encontra a sua base na história, e mais particularmente na aspiração <strong>de</strong><br />

alguns a uma maior autonomia económica, e <strong>de</strong>u origem à constituição <strong>de</strong> três<br />

Regiões – a Região Flamenga, a Região <strong>de</strong> Bruxelas – Capital e a Região da Valónia;<br />

sendo que actualmente as regiões belgas são comparáveis, até certo ponto, aos<br />

Lan<strong>de</strong>r alemães no que respeita às suas competências.<br />

O Estado Fe<strong>de</strong>ral conserva as suas competências em múltiplos domínios, dos quais se<br />

<strong>de</strong>stacam a <strong>de</strong>fesa nacional; a política externa; a justiça e uma parte significativa dos<br />

assuntos internos (incluindo as polícias), os assuntos monetários e fiscais; a gestão da<br />

dívida pública; a segurança social (incluindo o sistema <strong>de</strong> pensões); a política <strong>de</strong><br />

rendimentos e preços, a monitorização do sistema financeiro; as empresas públicas <strong>de</strong><br />

âmbito fe<strong>de</strong>ral (ex. caminhos <strong>de</strong> ferro, aeroporto <strong>de</strong> Bruxelas, Correios etc.). Cabe ainda ao<br />

Estado fe<strong>de</strong>ral assumir todas as responsabilida<strong>de</strong>s da Bélgica e das entida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>radas<br />

relativamente à OTAN e à União Europeia.<br />

129


Informação Internacional<br />

As Comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>finem-se em termos linguisticos e as suas competências incluem a<br />

cultura (teatro, audiovisual, bibliotecas etc.), o ensino e a investigação científica, bem como<br />

as matérias mais directamente “personalizáveis” como a saú<strong>de</strong> e os assuntos sociais<br />

(apoios à família, aos jovens, acção social, acolhimento <strong>de</strong> imigrantes).<br />

As Regiões <strong>de</strong>finem-se em função do território e têm competências em assuntos <strong>de</strong><br />

economia, comércio externo, crédito, investigação científica, agricultura, renovação rural,<br />

política da água e ambiente, or<strong>de</strong>namento do território e urbanismo, habitação, obras<br />

públicas, energia, transportes (com excepção dos caminhos <strong>de</strong> ferro e da transportadora<br />

aérea SABENA), tutela sobre as autarquias – províncias, comunas e relações intercomunais.<br />

Recor<strong>de</strong>-se ainda que as Comunida<strong>de</strong>s e as Regiões têm po<strong>de</strong>res para estabelecer<br />

relações com o exterior nas sua áreas <strong>de</strong> competência.<br />

3.2. A evolução da Bélgica em direcção ao Fe<strong>de</strong>ralismo<br />

Foram quatro os momentos chave <strong>de</strong>ssa evolução no sentido do Fe<strong>de</strong>ralismo na Bélgica.<br />

A primeira reforma do Estado, foi realizada em 1970, mediante uma revisão da<br />

Constituição, que consagrou a existência <strong>de</strong> três Comunida<strong>de</strong>s culturais, embora com<br />

competências muito limitadas; esta reforma procurou respon<strong>de</strong>r à aspiração dos flamengos<br />

à autonomia cultural; nessa revisão foi também prevista a criação <strong>de</strong> três regiões, dispondo<br />

cada uma <strong>de</strong> um território e com competências sobretudo na área económica, respon<strong>de</strong>ndo<br />

à aspiração da população francófona – Valões e Bruxelenses a uma maior autonomia<br />

económica.<br />

130


A BÉLGICA<br />

O ESTADO FEDERAL<br />

Fonte: http:// belgium.fgov.be<br />

Figura 3<br />

A BÉLGICA, UM ESTADO FEDERAL – 3 COMUNIDADES, 3 REGIÕES<br />

AS COMUNIDADES<br />

A Bélgica - <strong>de</strong> um Fe<strong>de</strong>ralismo a Outro?<br />

AS REGIÕES<br />

A Comunida<strong>de</strong> Flamenca A Região Flamenca<br />

A Comunida<strong>de</strong> Francesa A Região <strong>de</strong> Bruxelas-Capital<br />

A Comunida<strong>de</strong> Germanófona A Região <strong>de</strong> Wallonne<br />

A segunda reforma do Estado realizou-se em 1980, prosseguindo o trabalho iniciado uma<br />

década antes; as Comunida<strong>de</strong>s culturais transformam-se em Comunida<strong>de</strong>s propriamente<br />

ditas, passando a gerir, para além dos assuntos culturais, matérias relacionadas mais<br />

directamente com as pessoas − saú<strong>de</strong> e assistência social e passando a ser dotadas com<br />

um Conselho (que funciona como Parlamento da Comunida<strong>de</strong>) e <strong>de</strong> um Executivo<br />

(funcionando como governo); São criadas duas Regiões – a Região Flamenga e a Região<br />

da Valónia (não tendo sido possível avançar com soluções para as instituições da Região <strong>de</strong><br />

Bruxelas, já prevista na reforma <strong>de</strong> 1970) cada uma <strong>de</strong>las dispondo <strong>de</strong> um Conselho<br />

(Parlamento) e <strong>de</strong> um Governo, datando <strong>de</strong>sta época a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> fusão entre a<br />

Comunida<strong>de</strong> e a Região Flamenga. Recor<strong>de</strong>-se que os francófonos não pu<strong>de</strong>ram proce<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> igual modo já que existe uma parte significativa da Comunida<strong>de</strong> francófona que não<br />

resi<strong>de</strong> na Região da Valónia, mas sim em Bruxelas (território bilingue, maioritariamente<br />

francófono).<br />

131


Informação Internacional<br />

Em termos <strong>de</strong> finanças públicas, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sta segunda reforma do Estado, as Comunida<strong>de</strong>s<br />

e Regiões eram financiadas principalmente (cerca <strong>de</strong> 80% do total das receitas) mediante<br />

dotações fe<strong>de</strong>rais, sendo os outros 20%, no caso das Regiões, obtido graças à participação<br />

nas receitas <strong>de</strong> certos impostos fe<strong>de</strong>rais e através <strong>de</strong> receitas não fiscais.<br />

A terceira Reforma do Estado realizou-se em 1988/9, e nela tomou forma a Região <strong>de</strong><br />

Bruxelas Capital, que passou a estar dotada, como as outras duas <strong>de</strong> um Conselho<br />

(Parlamento) e <strong>de</strong> um Executivo, tendo sido, por outro lado, alargadas as competências das<br />

Regiões, às obras públicas e aos transportes e das Comunida<strong>de</strong>s, ao ensino.<br />

Em termos <strong>de</strong> Finanças Públicas esta reforma foi muito mais significativa que as anteriores.<br />

A Lei Especial <strong>de</strong> Financiamento aprovada em 1989 e elaborada <strong>de</strong> acordo com o novo<br />

texto constitucional, estabeleceu um esquema <strong>de</strong> financiamento que prevaleceu, com<br />

algumas alterações introduzidas em 1993, até ao acordo <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2000. Desse<br />

esquema, salientam-se os seguintes aspectos:<br />

132<br />

• um forte aumento dos recursos financeiros das entida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>radas, para que<br />

pu<strong>de</strong>ssem fazer face às novas responsabilida<strong>de</strong>s;<br />

• um novo sistema <strong>de</strong> financiamento baseado em dois princípios – autonomia financeira<br />

(mas não fiscal) das entida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>radas e solidarieda<strong>de</strong> entre entida<strong>de</strong>s; a<br />

solidarieda<strong>de</strong> materializa-se nomeadamente pela atribuição <strong>de</strong> uma “transferência <strong>de</strong><br />

solidarieda<strong>de</strong>” quando a capacida<strong>de</strong> contributiva ou fiscal <strong>de</strong> uma entida<strong>de</strong> é inferior à<br />

média nacional;<br />

• a substituição do anterior regime <strong>de</strong> dotações por um mecanismo <strong>de</strong> receitas fiscais<br />

conjuntas e partilhadas, tanto para as transferências verticais – entre a autorida<strong>de</strong><br />

fe<strong>de</strong>ral e as entida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>radas- como para as transferências horizontais- entre<br />

entida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>radas;<br />

• as dotações fe<strong>de</strong>rais foram substituídas pela afectação <strong>de</strong> uma parte das receitas<br />

fiscais fe<strong>de</strong>rais, nomeadamente as que resultam do imposto sobre os rendimentos<br />

das pessoas físicas e a do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA); estes impostos<br />

são colectados <strong>de</strong> modo uniforme em todo o território nacional e são da<br />

responsabilida<strong>de</strong> exclusiva da administração fe<strong>de</strong>ral;<br />

• os orçamentos das entida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>radas passaram assim a ser financiadas pelas<br />

quotas partes que lhe cabiam nas receitas <strong>de</strong>stes dois impostos fe<strong>de</strong>rais, mas<br />

também pela transferência pela administração fe<strong>de</strong>ral do produto <strong>de</strong> impostos<br />

específicos (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o imposto sobre as sucessões, às retenções na fonte dos<br />

rendimentos imobiliários, aos eco-impostos) e <strong>de</strong> taxas (como a que inci<strong>de</strong> sobre a<br />

radiotelevisão) com carácter regional, para além <strong>de</strong> receitas não fiscais;<br />

• a autonomia fiscal das entida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>radas consagrada nesta terceira reforma do<br />

Estado foi mínima – a Lei Especial <strong>de</strong> Financiamento apenas permitia às Regiões, em<br />

certas condições, cobrar sobretaxas ou aprovarem reduções do imposto sobre o<br />

rendimento das pessoas físicas, estipularem aumentos da taxa <strong>de</strong> radiotelevisão e


A Bélgica - <strong>de</strong> um Fe<strong>de</strong>ralismo a Outro?<br />

pouco mais (recor<strong>de</strong>-se que, em termos gerais, a Constituição não permitia às<br />

Comunida<strong>de</strong>s e às Regiões lançar impostos nos domínios que fossem já objecto <strong>de</strong><br />

impostos fe<strong>de</strong>rais).<br />

A quarta Reforma do Estado, realizada em 1993 traduziu-se na transformação<br />

constitucional do Estado belga em Estado Fe<strong>de</strong>ral, com uma <strong>de</strong>finição extensiva das<br />

competências das Comunida<strong>de</strong>s e das Regiões (vd a inclusão da agricultura e do comércio<br />

externo, entre as competências das regiões). A acompanhá-la realizaram-se modificações<br />

limitadas no sistema <strong>de</strong> financiamento, tendo sido introduzida uma ligação positiva entre o<br />

financiamento através do imposto sobre o rendimento das pessoas físicas e o crescimento<br />

económico; realizada uma nova transferência <strong>de</strong> fundos para tornar possível às Regiões<br />

assumir as novas responsabilida<strong>de</strong>s na área da agricultura e comércio externo.<br />

Em 1995 e 1999 realizaram-se eleições para os Parlamentos das entida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>radas.<br />

Em 1999 o Parlamento da Região/Comunida<strong>de</strong> Flamenga abre <strong>de</strong> novo a questão das<br />

competências e dos financiamentos ao aprovar um programa em <strong>de</strong>z pontos (vd Caixa). Em<br />

resposta a esta iniciativa o novo governo empossado em Maio <strong>de</strong> 1999 inicia um processo<br />

<strong>de</strong> negociação intergovernamental que culmina com um acordo comunitário, em Outubro <strong>de</strong><br />

2000, que reforçou a autonomia das entida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>radas, tanto em termos <strong>de</strong> competências<br />

como <strong>de</strong> autonomia fiscal e <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> financeira. Este acordo materializou um clima <strong>de</strong><br />

menor crispação entre as autorida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais e as entida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>radas, a que não terá<br />

sido estranha a mudança <strong>de</strong> Governo Fe<strong>de</strong>ral e na Região/Comunida<strong>de</strong> Flamenga, posterior<br />

às eleições <strong>de</strong> 1999,com a formação, em ambos os casos, <strong>de</strong> maiorias semelhantes<br />

envolvendo o Partido Liberal, o Partido Socialista e os Ver<strong>de</strong>s.<br />

O Primeiro Ministro belga, na sua “Declaração <strong>de</strong> Política Fe<strong>de</strong>ral “Reforçar ainda mais a<br />

Confiança”, pronunciada em 17 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2000, avaliou do seguinte modo o<br />

compromisso alcançado:<br />

• o acordo permitiu alargar sensivelmente o âmbito da autonomia das Regiões e<br />

Comunida<strong>de</strong>s, ao ser <strong>de</strong>cidida a regionalização integral e imediata das competências<br />

nas áreas da Agricultura e do Comércio Externo; e uma transferência <strong>de</strong><br />

competências em certas matérias no domínio da cooperação para o <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

que se realizará a partir <strong>de</strong> 2004;<br />

• o acordo permitiu a regionalização integral <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> receitas com<br />

características regionais, nomeadamente taxas, cujas modalida<strong>de</strong>s, base tributável e<br />

tarifas passaram a ser <strong>de</strong>cididas a nível das regiões; as regiões obtiveram também<br />

uma maior autonomia fiscal traduzida na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicarem aumentos,<br />

reduções ou <strong>de</strong>duções à parte do imposto directo sobre as pessoas físicas que<br />

recebem;<br />

• o acordo permitiu às Comunida<strong>de</strong>s contar com maiores recursos financeiros para o<br />

futuro, por transferência do Estado Fe<strong>de</strong>ral, cujo volume aumentará sistematicamente,<br />

tendo em conta o crescimento da economia, e <strong>de</strong> modo a atingir em 2011 um dado<br />

montante total; a repartição das fontes <strong>de</strong> financiamento <strong>de</strong>sses meios suplementares<br />

evoluirá progressivamente <strong>de</strong> uma repartição mista inicial <strong>de</strong> 65% <strong>de</strong> IVA e 35% <strong>de</strong><br />

imposto sobre as pessoas físicas para uma <strong>de</strong>pendência exclusiva do imposto sobre<br />

as pessoas físicas, a alcançar no prazo <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos.<br />

133


Informação Internacional<br />

3.3.Consolidação Orçamental, Estado Fe<strong>de</strong>ral e Entida<strong>de</strong>s Fe<strong>de</strong>radas<br />

A Bélgica realizou entre 1992 e 2000 um processo <strong>de</strong> consolidação orçamental que lhe<br />

permitiu integrar o núcleo fundador da UEM, não obstante apresentar ainda um nível <strong>de</strong><br />

dívida pública muito mais elevado do que qualquer outro Estados-membros (com excepção<br />

da Itália, que também apresentava valores muito elevados).<br />

A situação orçamental no período referido experimentou uma melhoria mais rápida e mais<br />

sensível do que na média da União Europeia. Assim o saldo das Administrações Públicas<br />

(todos os níveis) passou <strong>de</strong> um défice <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 8% do PIB, em 1992, para uma situação<br />

<strong>de</strong> quase equilíbrio em 2000. Esta melhoria ficou a <strong>de</strong>ver-se em cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> à redução<br />

dos juros, e a outra meta<strong>de</strong> a uma melhoria do saldo primário (exce<strong>de</strong>nte) <strong>de</strong> 2 3/4 % do PIB<br />

em 1992 para 6 1/4% em 2000, imputável à redução <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesas públicas, à introdução <strong>de</strong><br />

novos impostos directos e indirectos, a um ligeiro aumento das cotizações pessoais para a<br />

Segurança Social e à melhoria da colecta dos impostos/intensificação do combate à frau<strong>de</strong><br />

fiscal.<br />

Mas foi muito diferente a contribuição que para tal resultado <strong>de</strong>ram a administração fe<strong>de</strong>ral e<br />

o sistema <strong>de</strong> segurança social (Entida<strong>de</strong> I) e as Comunida<strong>de</strong>s, as Regiões e as<br />

colectivida<strong>de</strong>s locais (Entida<strong>de</strong> II). Com efeito <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1992 o saneamento orçamental foi em<br />

gran<strong>de</strong> parte resultado da actuação da Entida<strong>de</strong> I, cujas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> financiamento<br />

<strong>de</strong>sceram <strong>de</strong> 6,5% do PIB, no início do período e 1,1% no final, e o seu saldo primário<br />

melhorou 2,8% do PIB durante o período a comparar com o 1% da Entida<strong>de</strong> II. Nesta a<br />

melhoria dos saldos primários e global foi mais do que compensada pelo aumento <strong>de</strong><br />

receitas <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 2% do PIB graças a uma transferência <strong>de</strong> receitas por parte da<br />

Administração fe<strong>de</strong>ral.<br />

Mas, a contribuição predominante da Entida<strong>de</strong> I para o saneamento orçamental da Bélgica<br />

fez-se em gran<strong>de</strong> parte por aumento dos impostos(novos impostos e melhor colecta) e por<br />

redução nas <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> investimento. O sector público belga continuou a ter uma<br />

expressão muito elevada no emprego, próxima dos 26% do total, permanecendo nesse<br />

nível nos últimos <strong>de</strong>z anos.<br />

4. AS FAMÍLIAS POLÍTICAS, O ESTADO FEDERAL E AS REGIÕES<br />

A estrutura partidária da Bélgica experimentou no período posterior a 1945 quatro fases<br />

distintas, caracterizadas pela diferente expressão <strong>de</strong> três clivagens básicas:<br />

134<br />

• Clivagem confessional – a que opôs, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros tempos da existência da<br />

Bélgica como Estado in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, católicos, por um lado e laicos por outro,<br />

representados estes inicialmente pelo partido liberal;<br />

• Clivagem social – a que opôs partidos e correntes com base no operariado e com<br />

forte ligação aos sindicatos (partido socialista, e partido comunista e corrente<br />

<strong>de</strong>mocrata cristã) a partidos ou movimentos representativos <strong>de</strong> classes empresariais<br />

e profissões liberais médias ou <strong>de</strong> classes;


A Bélgica - <strong>de</strong> um Fe<strong>de</strong>ralismo a Outro?<br />

• Clivagem cultural – a que dividiu as famílias políticas <strong>de</strong>finidas com base nas<br />

clivagens anteriores ou <strong>de</strong>u origem a novas partidos, com base na clivagem<br />

flamengos/valões 2<br />

No pós guerra a paisagem política foi caracterizada pela existência <strong>de</strong> dois gran<strong>de</strong>s partidos<br />

– socialista e cristão social – cada um <strong>de</strong>les dispondo <strong>de</strong> fortes ligações a sindicatos,<br />

cooperativas e socieda<strong>de</strong>s mútuas – e um terceiro partido dispondo <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> na<br />

socieda<strong>de</strong> civil muito menos estruturada – o partido liberal; cada um <strong>de</strong>les estava presente<br />

nos sectores flamengos e francófono.<br />

Durante estes anos a Bélgica foi elaborando um tipo <strong>de</strong> regime político (<strong>de</strong>signado por<br />

alguns autores como “<strong>de</strong>mocracia consociativa”), no qual:<br />

• o sistema partidário reflecte a divisão da socieda<strong>de</strong> em duas gran<strong>de</strong>s famílias<br />

i<strong>de</strong>ológicas, cada qual dispondo <strong>de</strong> organizações <strong>de</strong> enquadramento (sindicatos,<br />

mutualida<strong>de</strong>s, cooperativas, escolas, universida<strong>de</strong>s), formando o que se po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>signar por “pilares”;<br />

• os gran<strong>de</strong>s partidos representativos <strong>de</strong>ssas “famílias”, dispondo <strong>de</strong> forte<br />

enraizamento nessas organizações da socieda<strong>de</strong> civil – ou governam em coligação<br />

ou quando um <strong>de</strong>les não está no governo tem assegurada uma influência na<br />

governação por via da institucionalização da concertação política e social, geradora<br />

<strong>de</strong> consensos nacionais;<br />

• os gran<strong>de</strong>s partidos, foram dispondo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> na administração pública,<br />

nas empresas públicas e mesmo no po<strong>de</strong>r judicial, cuja criação foi facilitada pelas<br />

suas sucessivas passagens pelo governo.<br />

Esta configuração partidária <strong>de</strong>u origem a governos <strong>de</strong> maioria absoluta católica; a governos<br />

<strong>de</strong> maioria laica – socialista e liberal ;a governos ao centro socialistas/sociais cristãos ou <strong>de</strong><br />

centro – direita sociais cristãos /liberais. Quando se agudizaram as velhas querelas em torno<br />

da Escola foi possível formar coligações laicas – socialistas e liberais. Quando se<br />

agudizaram as tensões sociais foi mais fácil encontrar pontes entre partidos <strong>de</strong>fensores <strong>de</strong><br />

um mo<strong>de</strong>lo económico – social com maior intervenção do Estado do que entre partidos<br />

laicos mas com agendas divergentes em questões económicas, formando-se coligações<br />

cristão sociais/socialistas. Quando foi necessário impor disciplina orçamental ficaram<br />

facilitadas as coligações envolvendo os liberais.<br />

Com a passagem dos anos o partido liberal per<strong>de</strong>u o seu carácter <strong>de</strong> partido<br />

essencialmente laico e anti-clerical, que se aproximava naturalmente dos socialistas na<br />

questão central que dividiu a Bélgica durante décadas – a questão escolar – para passar a<br />

ser um partido caracterizado pela <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> uma agenda económica menos estatista e mais<br />

pró-empresarial (vd. a sua re<strong>de</strong>nominação em 1961 como partido da liberda<strong>de</strong> e do<br />

2 Os flamengos falam holandês mas do ponto <strong>de</strong> vista histórico e cultural existe uma gran<strong>de</strong> diferença entre<br />

flamengos e holan<strong>de</strong>ses: os primeiros estiveram durante séculos sob dominação da Espanha e dos Habsburgos<br />

da Áustria, pontas <strong>de</strong> lança da Contra – reforma na Europa enquanto os holan<strong>de</strong>ses se tornaram in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

sob li<strong>de</strong>rança protestante.<br />

135


Informação Internacional<br />

progresso PLP. Este realinhamento permitiu ao PLP <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser um pequeno partido anticlerical<br />

para se transformar num importante partido conservador.<br />

As eleições <strong>de</strong> 1965 marcaram uma aparente ruptura :o partido socialista PSB-BSP e o<br />

partido social cristão – PSC-CVP obtêm um dos piores resultados <strong>de</strong> sempre e o novo<br />

partido da liberda<strong>de</strong> e progresso PLP obtém um resultado que quase o iguala a qualquer<br />

dos anteriores. Mas a década seguinte viria revelar que esta mudança não tinha raízes<br />

sólidas – o PDL viu reduzir o seu peso.<br />

A partir <strong>de</strong> 1962 e 63 começa a observar-se um novo fenómeno que teve já a sua expressão<br />

plena nas eleições <strong>de</strong> 1968 e 1971 – o do surgimento <strong>de</strong> novas formações políticas com<br />

uma base territorial regional – o Volksunie, flamengo e fe<strong>de</strong>ralista; o Rassemblemet Wallon<br />

e o Front Démocratique <strong>de</strong>s Bruxellois, francófonos.<br />

As sequelas da <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> 1965, a progressão dos partidos regionalistas e a discussão<br />

sobre a reforma do Estado <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>aram nos primeiros anos da década <strong>de</strong> 70 a implosão<br />

<strong>de</strong> duas gran<strong>de</strong>s “famílias” políticas nacionais – sociais cristãos e liberais- <strong>de</strong> acordo com a<br />

clivagem flamengos/valões. Os partidos que se originam nessas famílias e que passam a ter<br />

uma base regional <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ter estruturas comuns <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação, embora possam<br />

participar em conjunto em coligações governamentais. Data <strong>de</strong>ssa altura o surgimento <strong>de</strong><br />

uma assimetria entre as duas principais “famílias políticas”– o partido social cristão<br />

flamengo- CVP- é <strong>de</strong> longe mais significativo que o seu homólogo da Valónia e recebe a<br />

herança do “pilar católico”.<br />

As eleições <strong>de</strong> 1971, posteriores à primeira reforma do Estado, dão gran<strong>de</strong> protagonismo<br />

aos três partidos regionalistas, e tornam mais complexa a formação <strong>de</strong> coligações nos anos<br />

seguintes. Em 1978 é a vez <strong>de</strong> se dar a implosão do partido socialista, <strong>de</strong> acordo com a<br />

mesma clivagem flamengos/valões. A ala flamenga é acusado <strong>de</strong> aproximação aos<br />

conservadores do CVP e o novo Partido socialista flamengo vai estar mais ancorado no<br />

movimento <strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ralização da Bélgica.<br />

Quando se realiza a segunda reforma do estado, em 1980, paisagem política belga tem<br />

como característica principal que em cada uma das três regiões o partido dominante é<br />

diferente: Social Cristão-CVP na Flandres, Partido Socialista-PS na Valónia e Front<br />

Démocratique <strong>de</strong>s Bruxellois FDF, na região <strong>de</strong> Bruxelas – Capital.<br />

O crescimento das alas regionais em cada família política e o avanço na <strong>de</strong>scentralização<br />

do Estado fez per<strong>de</strong>r pouco a pouco o peso dos partidos regionalistas da década <strong>de</strong> 70 – o<br />

Rassemblement Wallon <strong>de</strong>saparece e o FDF e o Volksunie experimentam recuos eleitorais<br />

significativos durante os anos 80.<br />

Na década <strong>de</strong> 80 assiste-se quer ao nascimento <strong>de</strong> dois partidos ecologistas – um flamengo<br />

Agalev e um francófono Ecolo – quer ao surgimento <strong>de</strong> um partido <strong>de</strong> extrema direita na<br />

Flandres – o Vlaams Blok, inicialmente com expressão reduzida e que gradualmente<br />

transformou a luta contra a imigração na sua principal ban<strong>de</strong>ira, expandindo a sua<br />

representação a toda a região.<br />

136


Quadro 1<br />

A Bélgica - <strong>de</strong> um Fe<strong>de</strong>ralismo a Outro?<br />

BÉLGICA − RESULTADOS ELEITORAIS DOS PARTIDOS NAS ELEIÇÕES (REPARTIÇÃO DOS LUGARES<br />

NA CÂMARA DOS REPRESENTANTES)<br />

PARTIDOS/COLIGAÇÕES 1987 1991 1995 1999<br />

Christelijke Volkspartij 43 39 29 22<br />

Parti Social Chrétien 19 18 12 10<br />

Socialistische Partij 32 28 20 14<br />

Parti Socialiste 40 35 21 19<br />

Vlaamse Liberalen en Democraten Partij van <strong>de</strong><br />

Burger/ 25 26 21 23<br />

Parti Réformateur libéral/ Front Démocratique<br />

<strong>de</strong>s Bruxellois Francophones 26 23 18 18<br />

Volksunie 16 10 5 -<br />

VU – ID - - - 8<br />

Vlaams Blok 2 12 11 15<br />

Agalev 6 7 5 9<br />

Ecolo 3 10 6 11<br />

Rossem - 3 - -<br />

- 1 2 1<br />

Fonte: http.//belgium.fgov.be<br />

Nas eleições realizadas durante a década <strong>de</strong> 90 assistiu-se à queda gradual das duas<br />

gran<strong>de</strong>s “famílias” políticas – social cristã e socialista – sem se alterar a sua distribuição<br />

regional- a primeira manteve a sua base principal na Flandres e a segunda na Valónia. A<br />

preparação para a moeda única e a implementação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> rigor orçamental foi<br />

levada a cabo durante a década por uma coligação <strong>de</strong> “bloco central” cristão social e<br />

socialista.<br />

As eleições <strong>de</strong> 1999 – europeias, legislativas fe<strong>de</strong>rais e legislativas regionais- marcaram<br />

uma viragem que se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar histórica - sociais cristãos e socialistas sofreram uma<br />

clara <strong>de</strong>rrota, não chegando a representar 40% dos sufrágios (quando <strong>de</strong>tinham mais do<br />

dobro nos anos 50); os liberais obtiveram um resultado muito mais favorável, sem no<br />

entanto terem crescido substancialmente, conseguindo por estreita margem <strong>de</strong> um <strong>de</strong>putado<br />

137


Informação Internacional<br />

ser a primeira família política na Flandres on<strong>de</strong>, pela primeira vez <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a implantação do<br />

sufrágio universal em 1919, os cristãos sociais não foram a primeira força política da região<br />

em eleições nacionais; os partidos ecologistas cresceram, bem como a extrema direita<br />

flamenga, que passou a ter maior expressão do que o partido socialista.<br />

Em consequência formou-se um a nível fe<strong>de</strong>ral uma coligação “arco-íris” envolvendo<br />

Liberais, Ver<strong>de</strong>s e Socialistas, <strong>de</strong>ixando os sociais – cristãos na oposição, pela primeira vez<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1958, e num processo muito semelhante ao que suce<strong>de</strong>ra anos antes na Holanda.<br />

Em termos das eleições regionais na Flandres os cristãos sociais (CVP) conseguiram mais<br />

um <strong>de</strong>putado do que os Liberais, mas estes conseguiram formar um governo com a mesma<br />

composição “arco-íris”, colocando o CVP perante o dilema <strong>de</strong> se terem <strong>de</strong> aliar à extrema<br />

direita e a outros nacionalistas flamengos, caso não seja possível retomar a experiência <strong>de</strong><br />

bloco central dominante nas últimas décadas.<br />

Esta mudança convergente <strong>de</strong> coligações a nível fe<strong>de</strong>ral e regional flamengo tem sido<br />

responsável <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1999 por um certo <strong>de</strong>sdramatizar das relações inter-comunitárias e<br />

regionais na Bélgica, ao mesmo tempo que reafirmou a postura pró-fe<strong>de</strong>ralista da Bélgica<br />

nos assuntos europeus, fazendo-a aproximar-se mais da visão alemã do que da francesa<br />

5. A BÉLGICA E O FUTURO DA INTEGRAÇÃO EUROPEIA<br />

Esta postura claramente fe<strong>de</strong>ralista nos assuntos europeus, paralela ao próprio processo <strong>de</strong><br />

consolidação do mo<strong>de</strong>lo fe<strong>de</strong>ralista interno esteve já patente nas posições tomadas pela<br />

Bélgica, em conjunto com os outros países do Benelux durante a preparação para a<br />

Conferência Intergovernamental <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2000 mas evi<strong>de</strong>nciou-se sobretudo<br />

através da tomada <strong>de</strong> posições públicas do actual Primeiro Ministro belga Guy Verhofstadt.<br />

5.1. O Benelux e a Conferência Intergovernamental<br />

Em Outubro <strong>de</strong> 2000 os países do Benelux apresentaram na Conferência<br />

Intergovernamental (CIG) um Memorando, do qual ressalta a preocupação em terminar com<br />

êxito a CIG, em 2000, sem encerrar um processo <strong>de</strong> reforma institucional exigido pelo rápido<br />

alargamento da União, <strong>de</strong> que são <strong>de</strong>fensores. Nesse memorando apresentaram um<br />

calendário para o processo <strong>de</strong> reforma institucional da União Europeia:<br />

138<br />

• a CIG <strong>de</strong>veria permitir alcançar no Conselho Europeu <strong>de</strong> Nice, em Dezembro <strong>de</strong><br />

2000, resultados concretos, quer no que respeita aos temas <strong>de</strong>ixados por resolver em<br />

Amsterdão (composição da Comissão, votações no Conselho, maiorias qualificadas),<br />

quer a outros, com <strong>de</strong>staque para as cooperações reforçadas; os resultados a<br />

alcançar nestes aspectos institucionais e <strong>de</strong> funcionamento da União <strong>de</strong>verão abrir<br />

<strong>de</strong>finitivamente o caminho ao alargamento, no respeito pelas conclusões do Conselho<br />

Europeu <strong>de</strong> Helsínquia;<br />

• as negociações com os países candidatos <strong>de</strong>vem ser intensificadas, por forma a que<br />

os primeiros tratados <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são possam ser assinados o mais <strong>de</strong>pressa possível;


A Bélgica - <strong>de</strong> um Fe<strong>de</strong>ralismo a Outro?<br />

• <strong>de</strong>pois do Conselho Europeu <strong>de</strong> Nice, <strong>de</strong>ve prosseguir a reflexão sobre a reforma<br />

institucional da União, conduzindo, eventualmente a reformas institucionais e <strong>de</strong><br />

funcionamento mais profundas; mas este <strong>de</strong>bate não <strong>de</strong>ve constituir um factor <strong>de</strong><br />

atraso no alargamento e <strong>de</strong>ve já implicar os países candidatos;<br />

• em finais <strong>de</strong> 2001 (nota: durante a Presidência europeia <strong>de</strong> um dos Estados do<br />

Benelux – a Bélgica) os chefes <strong>de</strong> Estado e <strong>de</strong> governo <strong>de</strong>verão fazer uma<br />

Declaração na qual sejam <strong>de</strong>finidas as gran<strong>de</strong>s orientações para o futuro político da<br />

União Europeia; e em 2004 o <strong>de</strong>bate em torno <strong>de</strong>sta Declaração <strong>de</strong>verá po<strong>de</strong>r dar<br />

resultados (nota: os países do Benelux colocaram-se assim em condições <strong>de</strong> aceitar<br />

a proposta da Alemanha <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> uma nova CIG em 2004).<br />

Consi<strong>de</strong>rando o processo <strong>de</strong> reforma institucional a completar no médio prazo, os países do<br />

Benelux <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m os seguintes princípios básicos:<br />

• a União Europeia <strong>de</strong>ve ser reformada no quadro das instituições e estruturas<br />

existentes, respeitando a sua natureza enquanto Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> direito; as <strong>de</strong>cisões<br />

<strong>de</strong>verão ser adoptadas conjuntamente pelo Conselho e pelo Parlamento Europeu, por<br />

iniciativa exclusiva da Comissão, sendo que as votações no Conselho se <strong>de</strong>vem<br />

realizar, no maior número <strong>de</strong> casos possíveis, por maioria qualificada; o controlo da<br />

implementação das <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong>ve caber à Comissão e ao tribunal <strong>de</strong> Justiça;<br />

• nesta óptica, <strong>de</strong>ve ser reforçado o papel motor e iniciador da Comissão Europeia,<br />

guiada exclusivamente pelo interesse comunitário, que <strong>de</strong>verá continuar a conduzir o<br />

processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, numa Europa em que os interesses são divergentes;<br />

neste sentido torna-se necessário rever a posição do Alto Representante para a<br />

PESC, que <strong>de</strong>verá ter assento tanto nas reuniões do Conselho como nas da<br />

Comissão; o seu reforço do papel da Comissão Europeia no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão<br />

beneficiará <strong>de</strong> uma maior legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática, preconizando os países do<br />

Benelux que, a prazo, o Presi<strong>de</strong>nte da Comissão seja eleito por sufrágio directo ou<br />

indirecto;<br />

• o método comunitário, único no seu género, e que tem garantido o êxito do processo<br />

<strong>de</strong> integração, <strong>de</strong>ve continuar a ocupar o centro na União Europeia; esse método leva<br />

a que a integração seja realizada passo a passo, através <strong>de</strong> acções que surgem<br />

como respostas a questões concretas e tendo sempre em conta margem <strong>de</strong> manobra<br />

disponível para obter consensos; nesta óptica <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que se realize um esforço<br />

para, a prazo, “comunitarizar” o mais possível da cooperação actual que se<br />

<strong>de</strong>senvolve num quadro intergovernamental; não afastando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

recorrer a outras formas <strong>de</strong> cooperação, bem como a novas formas <strong>de</strong> integração,<br />

tais como as que foram <strong>de</strong>senvolvidas no Conselho Europeu <strong>de</strong> Lisboa (nota: como<br />

por exemplo o “método aberto <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação”) que se revelem <strong>de</strong>sejáveis para a<br />

exploração <strong>de</strong> novos domínios <strong>de</strong> acção ou a procura <strong>de</strong> soluções para problemas<br />

específicos;<br />

• tendo em conta estes princípios os países do Benelux manifestam-se abertos a<br />

reformas que reforcem o arranjo constitucional da União Europeia, sem porem em<br />

causa o equilíbrio institucional, como por exemplo no que respeita à inclusão da carta<br />

<strong>de</strong> direitos Fundamentais no Tratado; à reforma da estrutura dos Tratados; a uma<br />

139


Informação Internacional<br />

140<br />

partilha mais precisa das competências entre a União e os seus Estados-membros,<br />

tendo em conta as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e diversida<strong>de</strong>s regionais ;ou ainda ao reforço da acção<br />

exterior da União; este tipo <strong>de</strong> reformas po<strong>de</strong>m dar uma contribuição importante a um<br />

novo arranjo constitucional que po<strong>de</strong>ria servir <strong>de</strong> base à elaboração <strong>de</strong> uma<br />

Constituição europeia.<br />

Os países do Benelux explicitam nesse Memorando as suas posições sobre os quatro<br />

gran<strong>de</strong>s temas em discussão na CIG. Assim:<br />

• extensão do voto por maioria qualificada – os países do Benelux consi<strong>de</strong>raram que<br />

no futuro o Conselho <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>cidir por maioria qualificada em questões tão<br />

importantes como a livre circulação <strong>de</strong> pessoas (incluindo as questões <strong>de</strong> asilo e<br />

migrações); a política do ambiente; a política comercial comum e a política social<br />

(tendo em conta a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sistemas nacionais); consi<strong>de</strong>rando que em todos os<br />

casos em que as <strong>de</strong>cisões forem tomadas por maioria qualificada, o Parlamento<br />

Europeu <strong>de</strong>verá ter direito <strong>de</strong> co-<strong>de</strong>cisão;<br />

• dimensão e composição da Comissão Europeia – os países do Benelux <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram<br />

uma Comissão Europeia em que cada Estado-membros esteja representado por um<br />

elemento, assegurando-se que não haja nenhuma distinção entre Estados-membros<br />

no processo <strong>de</strong> nomeação dos comissários; recusaram qualquer entorse à igualda<strong>de</strong><br />

entre os comissários, nomeadamente por via do que se convencionou <strong>de</strong>signar por<br />

hierarquização; apoiaram o reforço da posição institucional do presi<strong>de</strong>nte da<br />

Comissão, que <strong>de</strong>verá dispor <strong>de</strong> uma margem <strong>de</strong> manobra confortável para distribuir<br />

funções entre os comissários; e consi<strong>de</strong>raram necessário clarificar as relações entre o<br />

Parlamento Europeu e a Comissão;<br />

• pon<strong>de</strong>ração dos votos no Conselho – os países do Benelux consi<strong>de</strong>raram que era<br />

necessário por <strong>de</strong> pé uma fórmula <strong>de</strong> pon<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> votos que tenha mais em conta<br />

a importância <strong>de</strong>mográfica relativa dos Estados-membros, o que po<strong>de</strong> ser feito ou<br />

através da consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> uma dupla maioria ou pela alteração da chave <strong>de</strong><br />

repartição dos votos; e insistiram em que o equilíbrio entre gran<strong>de</strong>s e pequenos<br />

Estados-membros se <strong>de</strong>ve manter <strong>de</strong>pois do alargamento;<br />

• facilitação das condições para as “cooperações reforçadas – os países do Benelux<br />

mostraram-se claramente favoráveis a uma maior facilida<strong>de</strong> na concretização <strong>de</strong><br />

“cooperações reforçadas”, acabando com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um Estados-membros<br />

opor o seu direito <strong>de</strong> veto a uma proposta <strong>de</strong> “cooperação reforçada”, que <strong>de</strong>verá ser<br />

autorizada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que conte com pelo menos oito Estados-membros e que, por<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong>ve permanecer aberta à futura participação <strong>de</strong> Estados-membros que não<br />

tivessem podido ou querido integrar o núcleo inicial dos seus proponentes; as<br />

“cooperações reforçadas” <strong>de</strong>verão concretizar-se no respeito pelo quadro institucional<br />

da União, não dando origem a novos órgãos que se viessem acrescentar às<br />

instituições existentes; mostraram-se favoráveis à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma integração das<br />

“cooperações reforçadas” no 2º Pilar, para implementação da PESC; consi<strong>de</strong>raram<br />

que tal evolução constitui uma garantia da dinâmica <strong>de</strong> integração europeia, após um<br />

processo <strong>de</strong> alargamento que tornará a União ainda mais diversa; e se não se facilitar<br />

as “cooperações reforçadas”, no quadro institucional da UE corre-se o perigo <strong>de</strong> que


A Bélgica - <strong>de</strong> um Fe<strong>de</strong>ralismo a Outro?<br />

certos Estados-membros procurem encontrar formas <strong>de</strong> cooperação flexíveis fora do<br />

quadro do Tratado;<br />

• outras questões – Política Europeia <strong>de</strong> Segurança e Defesa (PESD) – os países do<br />

Benelux consi<strong>de</strong>raram que a PESD <strong>de</strong>ve estar firmemente ancorada no tratado,<br />

sendo necessário <strong>de</strong>finir bem o processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão da União na<br />

implementação das tarefas <strong>de</strong> controlo das crises e <strong>de</strong>finir claramente o papel que,<br />

nesse contexto, <strong>de</strong>vem ter os novos comités, bem como uma boa coor<strong>de</strong>nação com a<br />

OTAN.<br />

Em Setembro <strong>de</strong> 2000 o Primeiro Ministro da Bélgica, Guy Vershofadt, apresentou a sua<br />

visão do futuro da União Europeia, que seguramente irá influenciar a condução da<br />

Presidência belga do Conselho Europeu. Posteriormente, e noutras tomadas <strong>de</strong> posição<br />

públicas, completou essa visão. Na sua opinião o processo <strong>de</strong> integração europeia<br />

necessita <strong>de</strong> ter um objectivo final claro, sem o qual a dinâmica <strong>de</strong> integração po<strong>de</strong> parar, o<br />

que abriria o caminho à estagnação, ao recentrar dos Estados-membros sobre si próprios e<br />

eventualmente a um recuo no processo <strong>de</strong> integração, traduzido numa tendência ao<br />

restabelecimento da soberania nacional em áreas em que os Estados-membros a haviam<br />

transferido para a UE.<br />

Para o Primeiro Ministro belga não basta ter uma Europa <strong>de</strong>mocrática, pluralista e solidária:<br />

será necessário ter também uma Europa politicamente forte que assuma um lugar <strong>de</strong><br />

primeiro plano a nível internacional, que seja capaz <strong>de</strong> propagar universalmente os seus<br />

valores e <strong>de</strong>, tanto em matéria <strong>de</strong> moral como em questões económicas, imprimir uma<br />

direcção aos acontecimentos, lado a lado com as outras potências <strong>de</strong>mocráticas do mundo.<br />

Para atingir tal <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rato torna-se imperativo elaborar linhas <strong>de</strong> política em quatro áreas em<br />

que actualmente não existem ou são meramente embrionárias:<br />

• Política Externa – que permita, nomeadamente à União Europeia falar com uma<br />

única voz em todos os fora internacionais, nas Nações Unidas, e especificamente no<br />

Conselho <strong>de</strong> Segurança;<br />

• Defesa Europeia Autónoma – que partindo do que foi <strong>de</strong>cidido em Helsínquia<br />

(dirigido à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cumprimento das missões ditas <strong>de</strong> Petersberg – missões<br />

humanitárias, <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> paz e <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> paz), vá bem mais longe do<br />

que a constituição <strong>de</strong> uma força <strong>de</strong> acção rápida, no sentido da constituição <strong>de</strong> uma<br />

verda<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>fesa europeia dispondo <strong>de</strong> forças armadas comuns e <strong>de</strong> equipamentos<br />

comuns, e mesmo <strong>de</strong> uma indústria <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa comum;<br />

• Política Integrada <strong>de</strong> Justiça e Imigração – que é sem dúvida um dos domínios em<br />

que mais se fazem sentir as exigências dos cidadãos relativamente à Europa;<br />

• Plataforma <strong>de</strong> Política Socio-Económica Comum – em complemento da UEM, e<br />

que implique - sob a forma <strong>de</strong> directivas e recomendações – a <strong>de</strong>finição em cada ano<br />

dos contornos <strong>de</strong> uma política socio-económica a nível da União; acompanhada pela<br />

existência <strong>de</strong> um imposto europeu, cobrado directamente junto dos cidadãos<br />

comunitários, para financiar as activida<strong>de</strong>s da UE.<br />

141


Informação Internacional<br />

O conteúdo <strong>de</strong>sta “Europa Potência” está patente no seguinte extracto do referido discurso:<br />

“Permitam-me que traduza esta visão em termos mais concretos. O que nós queremos é<br />

uma Europa que interviesse ela própria nos Balcãs. Uma Europa que fosse capaz, por si, <strong>de</strong><br />

pôr fim à crise étnica na Yugoslávia, em vez <strong>de</strong> uma Europa que espera que o seu aliado<br />

americano tome uma iniciativa, simplesmente porque não dispõe <strong>de</strong> combativida<strong>de</strong> política<br />

nem <strong>de</strong> aparelho militar para se encarregar <strong>de</strong>ssa missão. Queremos uma Europa que<br />

assuma igualmente as suas responsabilida<strong>de</strong>s fora das suas fronteiras, e entre outros<br />

lugares, na África, o continente actualmente exposto aos piores sofrimentos que resultam da<br />

pobreza, da doença e da guerra. Só uma Europa forte, e unânime po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma<br />

parceria duradoura com a África, um pacto <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> capaz <strong>de</strong> fazer sair os africanos<br />

do marasmo económico para que se posicionem <strong>de</strong>finitivamente na via do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento....Enfim queremos uma Europa que, em conjunto com as outras gran<strong>de</strong>s<br />

potências, opte resolutamente por um sistema equilibrado <strong>de</strong> comércio internacional, sem<br />

proteccionismo, sem fecho do seu próprio mercado, a fim <strong>de</strong> gerar nas regiões em vias <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento o crescimento e a prosperida<strong>de</strong> económica, que permitam reduzir os fluxos<br />

migratórios surgidos na última década” 3 .<br />

Quanto às instituições e ao modo <strong>de</strong> funcionamento futuro <strong>de</strong>sta União Europeia, potência<br />

mundial, o Primeiro Ministro belga, reconhecendo as limitações do actual modo <strong>de</strong><br />

concretização do “método comunitário” – falta <strong>de</strong> transparência, burocracia, falta <strong>de</strong><br />

legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática – alertou para os riscos <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>riva inter-governamental que<br />

numa União Europeia a caminho dos 28 membros po<strong>de</strong>ria dar origem à formação <strong>de</strong> um<br />

directório, uma direcção assegurada por um pequeno número <strong>de</strong> Estados-membros,<br />

provavelmente os maiores. Para além <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar que uma abordagem intergovermental,<br />

sob que forma fosse, nunca po<strong>de</strong>ria constituir uma solução à ausência <strong>de</strong> instituições<br />

comunitárias, embora possa constituir uma etapa intermédia na via da integração.<br />

Em termos constitucionais o Primeiro Ministro belga <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a integração da Carta <strong>de</strong><br />

Direitos Fundamentais no Tratado, a reescritura e simplificação dos actuais Tratados e a<br />

<strong>de</strong>finição futura <strong>de</strong> uma clara repartição <strong>de</strong> competências entre a União, os Estadosmembros,<br />

as regiões e as entida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>radas <strong>de</strong>stes Estados-membros.<br />

Quanto ao reforço da legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática das instituições da União G. Vershofadt:<br />

142<br />

• acolheu a i<strong>de</strong>ia lançada pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros alemão <strong>de</strong> criação<br />

<strong>de</strong> uma segunda câmara no Parlamento Europeu – enquanto na primeira estariam os<br />

parlamentares eleitos directamente, com base nos números da população dos<br />

diversos Estados-membros, na segunda estariam os representantes dos Estados com<br />

uma representação permanente e igual;<br />

• <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u um maior equilíbrio entre as instituições traduzida, por exemplo, na<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dissolução do Parlamento Europeu;<br />

• <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u uma outra Comissão cujo Presi<strong>de</strong>nte pu<strong>de</strong>sse vir a ser eleito directamente.<br />

3 Bulletin Quotidien Europe, nº 7881, 15&16 Janeiro 2001, pág.16


A Bélgica - <strong>de</strong> um Fe<strong>de</strong>ralismo a Outro?<br />

Ou seja o Primeiro Ministro belga <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> integração europeia norteado por<br />

dois princípios estreitamente articulados:<br />

• o <strong>de</strong> que o objectivo final do processo <strong>de</strong> integração europeia é a constituição <strong>de</strong> uma<br />

“Europa Potência”, com ambições mundiais;<br />

• o <strong>de</strong> que o processo <strong>de</strong> integração europeia <strong>de</strong>ve revestir uma forma institucional<br />

mais próxima <strong>de</strong> uma Fe<strong>de</strong>ração.<br />

Esta concepção tem as suas raízes no próprio processo <strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ralização interna da Bélgica.<br />

Assim enquanto permaneceriam no Estado fe<strong>de</strong>ral as competências relacionadas com a<br />

justiça, a política económica, a política externa e a <strong>de</strong>fesa, tudo o resto sendo transferido<br />

para as entida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>radas, o Estado fe<strong>de</strong>ral acabaria por ter a sua razão <strong>de</strong> existir como<br />

gestor da transferência <strong>de</strong> soberania nessas áreas em favor da União, local on<strong>de</strong> melhor<br />

seriam assumidas.<br />

Entretanto, a nível interno o Governo da Flandres vem <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo que, numa futura<br />

evolução institucional da União Europeia haja uma clara <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res entre os<br />

níveis europeu, nacional e regional e que as “Regiões Constitucionais” da Europa sejam<br />

reconhecidas como parceiros <strong>de</strong> pleno direito no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão comunitário.<br />

Em Fevereiro <strong>de</strong> 2001 o governo da Flandres tomou a iniciativa <strong>de</strong> realizar em Bruxelas um<br />

“Colóquio das Regiões Constitucionais” com a participação <strong>de</strong>dos governos da Valónia,<br />

Baviera, Salzburgo, Renânia do Norte/Westfália, Escócia e Catalunha.<br />

O BENELUX E O FUTURO DA EUROPA – CONSENSO OU DIVISÃO?<br />

Em Nice os países do Benelux dividiram-se no que repita à repartição dos votos face à exigência<br />

da Holanda <strong>de</strong> ter mais votos no Conselho do que a Bélgica, dado o seu maior peso <strong>de</strong>mográfico.<br />

A Bélgica acabou por aceitar a exigência holan<strong>de</strong>sa, chamando a atenção para que o essencial<br />

tinha sido conseguir que, no seu conjunto, o Benelux ficasse com 29 votos, tanto como os quatro<br />

“gran<strong>de</strong>s” – Alemanha, França, Reino Unido e Itália (*). Esta constatação aponta para um facto<br />

central das novas relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre Estados-membros saída <strong>de</strong> Nice:<br />

• O Benelux – se mantiver a unida<strong>de</strong> – tornou-se num actor ainda mais central na formação<br />

das <strong>de</strong>cisões na União, ao ter assegurado a maior <strong>de</strong>sproporção (neste caso, favorável)<br />

entre votos no Conselho e peso <strong>de</strong>mográfico; mas para fazer funcionar plenamente esta<br />

conquista tem vantagem em fazer alianças com outros pequenos Estados-membros que<br />

permitam ao conjunto reforçar o peso <strong>de</strong>mográfico;<br />

Mas uma questão que se po<strong>de</strong> colocar para o futuro, e que não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> ter consequências<br />

sobre a efectiva influência que o Benelux é a <strong>de</strong> saber se a Holanda acompanhará na íntegra a<br />

visão fe<strong>de</strong>ral para a União Europeia que se encontra expressa nas intervenções do seu Primeiro<br />

Ministro, o liberal flamengo Guy Vershofadt. A este respeito po<strong>de</strong>m vir a ser significativas as<br />

posições públicas assumidas pelo ex-lí<strong>de</strong>r dos Liberais holan<strong>de</strong>ses (também eles peça chave da<br />

coligação <strong>de</strong> governo), o actual comissário da União Europeia, Frits Bolkestein.<br />

Afirmou ele que “ .... será uma aventura arriscada trabalhar no sentido <strong>de</strong> uma Europa fe<strong>de</strong>ral, já<br />

que tal caminho tem uma boa hipóteses <strong>de</strong> falhar e, nesse caso, a Europa po<strong>de</strong>rá acabar por se<br />

encaminhar para a <strong>de</strong>sintegração, como reacção (a essa tentativa falhada). As pessoas que<br />

simultaneamente querem fe<strong>de</strong>ralizar e realizar o alargamento da Europa apoiam-se em bases<br />

pouco sólidas”.<br />

143


Informação Internacional<br />

FONTES<br />

DELVAUX, Béatrice, MICHIELSEN, Stefan – Le Bal <strong>de</strong>s Empires – Les <strong>de</strong>ssous du<br />

capitalisme belgue – Editions Racine 1999 Bruxelles<br />

Ètu<strong>de</strong>s Èconomiques <strong>de</strong> l`ÒCDE – Belgique 2001, OCDE, Março <strong>de</strong> 2001<br />

PASCAL Delwit; Jean; DE WAELE Michel; MAGNETTE Paul – “Gouverner la Belgique –<br />

Clivages et Compromis dans une Societé Complexe”, Presses Universitaires <strong>de</strong> France,<br />

Paris1999<br />

L`État du Mon<strong>de</strong>” – 2000 e 2201<br />

http://www.flan<strong>de</strong>rs.be<br />

http:// belgium.fgov.be<br />

144


IV<br />

HORIZONTES<br />

√ União Europeia; e se tudo corresse bem?


Patrícia Ca<strong>de</strong>iras; António Alvarenga 1<br />

INTRODUÇÃO<br />

UNIÃO EUROPEIA: E SE TUDO CORRESSE BEM?<br />

Horizontes<br />

2010 tem vindo a tornar-se num horizonte apetecível para os cenários prospectivos <strong>de</strong><br />

muitos autores, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> instituições como a Comissão Europeia até diversos centros <strong>de</strong><br />

investigação e investigadores individuais. De facto, <strong>de</strong>pois dos "Scenarios Europe 2010 –<br />

Five Possible Futures for Europe 2 ", e da Presidência Portuguesa da União Europeia ter<br />

fixado como objectivo estratégico para a UE "tornar-se, no espaço <strong>de</strong> uma década, a<br />

economia mais competitiva e dinâmica do mundo, com mais e melhores empregos e mais<br />

coesão social 3 ", foi a vez <strong>de</strong> Charles Grant, director do Centre for European Research<br />

(CER), apresentar um cenário optimista para a UE em 2010. Este autor apresenta-nos um<br />

texto que contrasta com a tradicional visão eurocéptica britânica, caracterizando uma União<br />

Europeia (UE) alargada 4 , na qual o Reino Unido (RU) assume um papel prepon<strong>de</strong>rante<br />

como motor <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> integração cada vez mais sui generis que se distancia <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>los mais “familiares” como o do Estado-nação unitário, o da fe<strong>de</strong>ração ou o da<br />

confe<strong>de</strong>ração.<br />

O objectivo primeiro do artigo publicado pelo CER parece ser <strong>de</strong>monstrar que o Reino Unido<br />

tem muito mais a ganhar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma UE talhada à sua medida do que fora <strong>de</strong>la. Mas o<br />

1<br />

Com a colaboração do Dr. José Félix Ribeiro a quem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, os autores aproveitam para agra<strong>de</strong>cer.<br />

2<br />

Bertrand, Gilles (coord.), Michalski, Anna and Pench, Lucio R., Scenarios Europe 2010: Five Possible<br />

Futures for Europe, European Commission working paper, July 1999.<br />

3<br />

Presidência da União Europeia, Conclusões da Presidência – Conselho Europeu <strong>de</strong> Lisboa, 23-24.03.00,<br />

Ref. SN 100/00.<br />

4<br />

A UE <strong>de</strong>scrita no artigo <strong>de</strong> Charles Grant tem, em 2010, 26 Estados-membros (Alemanha, Reino Unido,<br />

França, Itália, Espanha, Holanda, Grécia, Bélgica, Portugal, Suécia, Áustria, Dinamarca, Irlanda, Finlândia,<br />

Luxemburgo, Croácia, Chipre, República Checa, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia, Eslováquia e<br />

Eslovénia), estando 4 países quase a completar as negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são (Bulgária, Noruega, Roménia e<br />

Suíça), 1 a começar (Turquia) e 6 em vias <strong>de</strong> iniciar esse mesmo processo (Albânia, Bósnia, Kosovo,<br />

Macedónia, Montenegro e Sérvia). De realçar a entrada da Croácia (que, em 2001, não tinha sequer iniciado as<br />

negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são), o facto da Roménia e da Bulgária ainda não serem Estados-membros e a fase<br />

avançada do processo em que se encontram as negociações com a Suíça (o que, só por si, atesta da forte<br />

atractivida<strong>de</strong> da UE em 2010). Por outro lado, o início das negociações (associado às ajudas financeiras e<br />

técnicas e, quando necessário, à intervenção militar) com, por exemplo, os diversos Estados balcânicos tem sido<br />

usado pela UE como forma <strong>de</strong> pressão visando não só a manutenção da paz e da estabilida<strong>de</strong> das fronteiras e o<br />

respeito pelos direitos das diversas minorias étnicas, mas também uma aceleração dos processos <strong>de</strong> reforma<br />

económica e política em curso nestes países.


Informação Internacional<br />

maior interesse do artigo está na forma como o autor expõe os seus argumentos, optando<br />

por apresentar uma UE <strong>de</strong> “estilo anglo-saxónico” que, graças ao papel que o Reino Unido<br />

aceitou <strong>de</strong>sempenhar, "funciona", e rejeitando claramente uma abordagem convencional,<br />

simplista e estática que se caracterizaria por uma enumeração dos ganhos e<br />

perdas/vantagens e inconvenientes <strong>de</strong> um papel mais visivelmente pró-activo na cena<br />

europeia por parte do Reino Unido.<br />

O texto que se segue está organizado em quatro partes:<br />

148<br />

• Numa primeira parte procura-se, <strong>de</strong> forma muito sintética, caracterizar a situação<br />

actual do “sistema UE”, cuja evolução até 2010 o estudo do CER preten<strong>de</strong> antecipar;<br />

• Numa segunda parte resumiu-se o que po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>signar como “Imagem Final −<br />

2010” do cenário <strong>de</strong>senvolvido pelo CER, quer no que respeita ao Mundo quer à UE;<br />

• Numa terceira parte caracteriza-se o cenário enquanto conjunto <strong>de</strong> processos e<br />

acontecimentos que permitem conceber a evolução da situação <strong>de</strong> partida até às<br />

“Imagens Finais 2010”. Esta caracterização é feita em torno <strong>de</strong> quatro i<strong>de</strong>ias chave<br />

que se i<strong>de</strong>ntificaram no exercício <strong>de</strong> cenarização do CER:<br />

• uma economia lí<strong>de</strong>r;<br />

• uma potência emergente;<br />

• um continente organizado;<br />

• um novo quadro institucional.<br />

Inclui-se, para cada um <strong>de</strong>stes aspectos, uma listagem <strong>de</strong> acontecimentos “virtuais” (os que<br />

se reportam a datas posteriores a 2000) referidas no estudo do CER e cuja concretização<br />

teria dado substância aos processos analisados.<br />

• Numa quarta parte faz-se uma breve referência à evolução do posicionamento e do<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> alguns actores – Estados Nacionais – no “sistema UE”, com particular<br />

<strong>de</strong>staque para o actor Reino Unido, cuja evolução neste cenário representa a gran<strong>de</strong><br />

surpresa em relação ao que se po<strong>de</strong>ria consi<strong>de</strong>rar uma evolução ten<strong>de</strong>ncial.<br />

1. A UE EM 2000 − OS PROCESSOS EM CURSO<br />

Para se compreen<strong>de</strong>r qualquer exercício <strong>de</strong> cenarização sobre o futuro da UE é<br />

fundamental começar por indicar <strong>de</strong> modo muito resumido os principais processos − e os<br />

respectivos contornos − em que a União está envolvida no inicio do período <strong>de</strong> cenarização<br />

e <strong>de</strong> cuja interacção vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r em gran<strong>de</strong> parte a configuração futura da UE. Os mais<br />

significativos são os seguintes:


1.1. O lançamento do euro e a União Económica e Monetária (UEM) 5<br />

União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

A UEM representa o mais ambicioso e <strong>de</strong>terminante dos processos em curso na UE,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do seu êxito todos os outros. Nesta breve resenha dos principais processos em<br />

curso optou-se por apenas referir as características mais relevantes da UEM tal como ela foi<br />

<strong>de</strong>finida e começou a ser implementada:<br />

• uma política monetária centralizada com in<strong>de</strong>pendência do Banco Central e<br />

priorida<strong>de</strong> à estabilida<strong>de</strong> dos preços, assumindo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong> 1999, o Banco<br />

Central Europeu (BCE) a total responsabilida<strong>de</strong> pela política monetária na zona euro.<br />

Por seu lado, as responsabilida<strong>de</strong>s relacionadas com a supervisão pru<strong>de</strong>ncial das<br />

instituições financeiras e a estabilida<strong>de</strong> do sistema financeiro recaem nas autorida<strong>de</strong>s<br />

nacionais competentes. O objectivo é que a in<strong>de</strong>pendência do BCE seja um factor<br />

primordial <strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong> e, portanto, <strong>de</strong> êxito do euro. O BCE herda, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua<br />

criação, a credibilida<strong>de</strong> adquirida pelos Bancos centrais nacionais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<br />

facto que beneficia todo o sistema e que torna mais provável a estabilida<strong>de</strong> dos<br />

preços;<br />

• limitações às políticas orçamentais nacionais no quadro restritivo do Pacto <strong>de</strong><br />

Estabilida<strong>de</strong> e Crescimento (ver caixa). De facto, <strong>de</strong> acordo com o princípio da<br />

subsidarieda<strong>de</strong>, a política fiscal dos países da zona euro é, em larga medida, da<br />

responsabilida<strong>de</strong> das autorida<strong>de</strong>s nacionais. Contudo, esta política é formulada no<br />

contexto do referido Pacto, o qual, dadas as condições orçamentais da maioria dos<br />

países da zona euro, impõe restrições ao carácter discricionário das <strong>de</strong>cisões dos<br />

Estados-membros (EM) em matéria fiscal. Assim, apesar <strong>de</strong> se terem verificado<br />

progressos significativos na consolidação dos orçamentos na fase prévia ao<br />

lançamento do euro, os Governos têm que prosseguir os seus esforços no sentido <strong>de</strong><br />

alcançar políticas orçamentais equilibradas;<br />

O Pacto <strong>de</strong> Estabilida<strong>de</strong> e Crescimento é o conjunto <strong>de</strong> regras e procedimentos acordados pelos<br />

Chefes <strong>de</strong> Estado e <strong>de</strong> Governo em Junho <strong>de</strong> 1997, no Conselho Europeu <strong>de</strong> Amsterdão,<br />

<strong>de</strong>stinado a assegurar a continuida<strong>de</strong> do processo <strong>de</strong> convergência após 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1999.<br />

Este Pacto preconiza que, na terceira fase da UEM, os Estados-membros <strong>de</strong>verão evitar défices<br />

orçamentais excessivos e generalizados, salientando a importância da manutenção <strong>de</strong> uma<br />

situação <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> nas finanças públicas que permita reforçar as condições necessárias à<br />

estabilida<strong>de</strong> dos preços e a um forte crescimento sustentável que conduza à criação <strong>de</strong> emprego.<br />

É constituído por dois regulamentos, sendo um relativo ao reforço dos procedimentos existentes <strong>de</strong><br />

supervisão mútua das situações orçamentais e das políticas económicas e outro relativo ao reforço<br />

do procedimento <strong>de</strong>stinado a dissuadir os países <strong>de</strong> incorrerem em défices orçamentais<br />

excessivos. Fornece ainda uma orientação política firme às partes que o implementam.<br />

O apoio ao objectivo <strong>de</strong> situações orçamentais sãs, próximas do equilíbrio ou exce<strong>de</strong>ntárias,<br />

<strong>de</strong>verá permitir que todos os Estados-membros enfrentem as flutuações cíclicas normais,<br />

mantendo o défice orçamental <strong>de</strong>ntro do valor <strong>de</strong> referência <strong>de</strong> 3% do PIB.<br />

5 O texto relativo às características da UEM foi preparado a partir <strong>de</strong> “ A UEM – Características Institucionais e<br />

Robustez face a Choques Assimétricos” <strong>de</strong> Ana Lúcia Matos Luís, in “Informação Internacional 1998”, Ed.<br />

<strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Prospectiva</strong> e Planeamento (DPP).<br />

149


Informação Internacional<br />

150<br />

• <strong>de</strong>finição gradual <strong>de</strong> um quadro institucional para a coor<strong>de</strong>nação das políticas<br />

macroeconómicas, estando as instituições e os processos para a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong><br />

políticas já em marcha. Em primeiro lugar, um défice excessivo conduz a uma<br />

pressão significativa dos pares para gerar políticas orçamentais que o combatam. Em<br />

segundo lugar, existem as Orientações Gerais <strong>de</strong> Política Económica (OGPE), que<br />

permitem que o Conselho emita recomendações dirigidas especificamente a cada<br />

país (tanto ao nível das políticas macroeconómicas como estruturais) e reflectem o<br />

consenso político da comunida<strong>de</strong>. Em terceiro lugar, existem grupos <strong>de</strong> política da UE<br />

ao mais alto nível, tal como o Ecofin (Ministros da Economia e Finanças) e o Euro12<br />

(um subgrupo do Ecofin, específico da UEM), sendo a <strong>de</strong>finição da estabilida<strong>de</strong> dos<br />

preços e a obtenção dos objectivos intermédios <strong>de</strong>ixada aos dois corpos principais <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão do BCE: o Conselho (composto pelos membros da Comissão Executiva e<br />

pelos governadores dos Bancos centrais nacionais) e a Comissão Executiva<br />

(composta pelo presi<strong>de</strong>nte, pelo vice-presi<strong>de</strong>nte e por outros quatro membros);<br />

• existência <strong>de</strong> diferenças institucionais nos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão das políticas<br />

monetária e cambial. A política monetária é <strong>de</strong>cidida pelo BCE, cujo objectivo principal<br />

é, como já atrás foi referido, a manutenção da estabilida<strong>de</strong> dos preços. Esta<br />

instituição tornou-se operacional a partir <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1999 (data em que as<br />

taxas <strong>de</strong> câmbio das moedas dos países participantes no euro foram<br />

irrevogavelmente fixadas) e veio substituir o Instituto Monetário Europeu (IME), criado<br />

em 1994, que se <strong>de</strong>stinava a preparar o caminho para a moeda única. O Conselho do<br />

BCE <strong>de</strong>fine a política monetária, incluindo as <strong>de</strong>cisões respeitantes a objectivos<br />

monetários intermédios, taxas <strong>de</strong> juro básicas e aprovisionamento <strong>de</strong> reservas no<br />

âmbito do Sistema Europeu <strong>de</strong> Bancos Centrais (SEBC), e estabelece as orientações<br />

para a condução, pela Comissão Executiva, da política monetária. Os Bancos centrais<br />

nacionais são parte integrante do BCE (uma vez que os seus governadores têm<br />

assento no Conselho) e, apesar <strong>de</strong> actuarem em conformida<strong>de</strong> com as orientações e<br />

instruções do BCE, mantêm atribuições próprias e continuam a actuar nas suas áreas<br />

específicas: atribuição <strong>de</strong> crédito, mobilização <strong>de</strong> recursos, gestão dos sistemas <strong>de</strong><br />

pagamentos, etc.. A implementação da política monetária única é levada a cabo pelos<br />

Bancos centrais nacionais, os quais terão duas missões principais: contribuir, através<br />

do seu governador, para as <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> política do Conselho do BCE e executar<br />

essas <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong>ntro das fronteiras <strong>de</strong> cada país. Por seu lado, a formulação da<br />

política cambial da zona euro é da responsabilida<strong>de</strong> do Conselho <strong>de</strong> Ministros.<br />

Todavia, as intervenções nos mercados <strong>de</strong> câmbios e a sua gestão corrente são<br />

conduzidas pelo BCE, o qual assegura a compatibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas activida<strong>de</strong>s com o<br />

objectivo da estabilida<strong>de</strong> dos preços;<br />

• separação parcial das responsabilida<strong>de</strong>s entre <strong>de</strong>finição da política monetária e<br />

funções pru<strong>de</strong>nciais, <strong>de</strong> supervisão e <strong>de</strong> len<strong>de</strong>r of last resort. De facto, o BCE não<br />

está nem encarregue das responsabilida<strong>de</strong>s gerais relacionadas com funções<br />

“pru<strong>de</strong>nciais”, <strong>de</strong> previsão e <strong>de</strong> supervisão das instituições <strong>de</strong> crédito, nem com a<br />

estabilida<strong>de</strong> do sistema financeiro (que é da responsabilida<strong>de</strong> das autorida<strong>de</strong>s<br />

nacionais competentes, as quais incluem, na maioria dos países europeus, os Bancos<br />

centrais nacionais). A separação das funções <strong>de</strong> gestão da política macroeconómica<br />

e <strong>de</strong> supervisão bancária implica um alto grau <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência da política<br />

monetária relativamente às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> do sector financeiro. Apesar<br />

<strong>de</strong> nenhuma referência explícita ser feita no Tratado <strong>de</strong> Maastritch relativa ao papel


União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

do SEBC como len<strong>de</strong>r of last resort, a responsabilida<strong>de</strong> em promover o bom<br />

funcionamento do sistema <strong>de</strong> pagamentos (Tratado CE, art.105º, nº 2) é-lhe, <strong>de</strong> facto,<br />

atribuída. Para tal, o BCE tem capacida<strong>de</strong> para fornecer meios <strong>de</strong> financiamento a<br />

instituições <strong>de</strong> crédito, sendo-lhe atribuído o papel <strong>de</strong> len<strong>de</strong>r of last resort apenas em<br />

situações em que este estiver relacionado com o fornecimento <strong>de</strong> liqui<strong>de</strong>z <strong>de</strong> curto<br />

prazo. Relativamente a outro tipo <strong>de</strong> intervenções que não as <strong>de</strong> curto prazo, a<br />

responsabilida<strong>de</strong> recai sobre as instituições nacionais competentes. No médio prazo,<br />

com uma maior integração financeira alcançada, os problemas <strong>de</strong> solvência dos<br />

Bancos em <strong>de</strong>terminado país po<strong>de</strong>m mais facilmente ter implicações para a<br />

estabilida<strong>de</strong> do sistema financeiro para lá das fronteiras nacionais, aumentando a<br />

importância da coor<strong>de</strong>nação, tanto entre autorida<strong>de</strong>s supervisoras nacionais, como<br />

entre estas e o SEBC;<br />

• inexistência <strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ralismo fiscal e <strong>de</strong>scentralização das políticas orçamentais,<br />

diferindo bastante as relações fiscais <strong>de</strong>ntro da UE daquelas que se estabelecem no<br />

interior <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iras fe<strong>de</strong>rações. De facto, o orçamento comunitário é relativamente<br />

pequeno quando comparado com o dos Estados-membros, tendo ficado aprovado em<br />

1992 que po<strong>de</strong>ria aumentar até 1,27% do PNB da UE (sendo <strong>de</strong> notar que a<br />

Comunida<strong>de</strong> não fornece o núcleo central <strong>de</strong> serviços públicos, tais como a <strong>de</strong>fesa ou<br />

a educação), não sendo, igualmente, suficientemente flexível para conseguir que a<br />

Comunida<strong>de</strong> alcance os objectivos <strong>de</strong> estabilização macroeconómica perseguidos.<br />

Contudo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da década <strong>de</strong> noventa, a coor<strong>de</strong>nação da política fiscal tem<br />

sido consi<strong>de</strong>ravelmente reforçada através <strong>de</strong>, por exemplo, critérios restritos que têm<br />

que ser respeitados pelos Estados-membros que queiram a<strong>de</strong>rir à zona euro. O Pacto<br />

<strong>de</strong> Estabilida<strong>de</strong> e Crescimento tornou estes critérios ainda mais apertados, ao <strong>de</strong>cidir<br />

sob a forma como as políticas económicas <strong>de</strong>verão ser conduzidas. O lado<br />

institucional da coor<strong>de</strong>nação tem também sido levado em conta, essencialmente<br />

através das OGPE e do estabelecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados procedimentos a pôr em<br />

prática em caso <strong>de</strong> défices excessivos, sendo que, qualquer que seja a estrutura<br />

escolhida, esta terá que apresentar suficiente flexibilida<strong>de</strong> para reagir <strong>de</strong> forma pronta<br />

aos acontecimentos.<br />

1.2. Um Programa <strong>de</strong> Reformas Económicas<br />

Em Lisboa, em Março <strong>de</strong> 2000, foi <strong>de</strong>cidido pelos Chefes <strong>de</strong> Estado e <strong>de</strong> Governo que no<br />

espaço <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos a UE <strong>de</strong>veria “...tornar-se na economia do conhecimento mais<br />

competitiva e dinâmica do mundo, capaz <strong>de</strong> gerar um crescimento económico sustentável,<br />

com mais e melhores empregos e maior coesão social“. As orientações para as reformas<br />

económicas e sociais necessárias para atingir este objectivo foram as seguintes:<br />

• preparar a transição para uma economia e socieda<strong>de</strong> baseadas no conhecimento,<br />

através da <strong>de</strong>finição e implementação <strong>de</strong> políticas para a socieda<strong>de</strong> da informação e<br />

para a investigação e <strong>de</strong>senvolvimento (I&D), do acelerar do processo <strong>de</strong> reforma<br />

estrutural, do estímulo da competitivida<strong>de</strong> e da conclusão do Mercado Interno;<br />

• mo<strong>de</strong>rnizar o sistema social europeu, investindo nas pessoas e combatendo a<br />

exclusão social;<br />

151


Informação Internacional<br />

152<br />

• sustentar um enquadramento económico sustentável e perspectivas favoráveis <strong>de</strong><br />

crescimento, através da aplicação <strong>de</strong> uma política macroeconómica apropriada.<br />

Compreen<strong>de</strong>-se mais facilmente o significado <strong>de</strong>stas orientações se se recordarem os<br />

gran<strong>de</strong>s temas em que se <strong>de</strong>sdobraram:<br />

• uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação para todos;<br />

• o estabelecimento <strong>de</strong> uma Área Europeia <strong>de</strong> Investigação e Inovação e <strong>de</strong> um<br />

ambiente favorável para as start–ups e para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> negócios<br />

inovadores, especialmente sob a forma <strong>de</strong> Pequenas e Médias Empresas (PME);<br />

• realização <strong>de</strong> reformas económicas para um Mercado Interno completo e operacional,<br />

incluindo mercados financeiros eficientes e integrados;<br />

• educação e formação para viver e trabalhar na socieda<strong>de</strong> do conhecimento;<br />

• mais e melhores empregos para a Europa, mediante uma política <strong>de</strong> emprego activa;<br />

• mo<strong>de</strong>rnização da protecção social;<br />

• promoção da inclusão social;<br />

• coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> políticas macroeconómicas, consolidação fiscal e qualida<strong>de</strong> e<br />

sustentabilida<strong>de</strong> das finanças públicas.<br />

1.3. Uma Agenda Social Europeia<br />

O Mo<strong>de</strong>lo Social Europeu, o qual tem vindo a <strong>de</strong>senvolver-se ao longo dos últimos quarenta<br />

anos, encontrou reconhecimento a nível comunitário em documentos tão importantes como<br />

os Tratados <strong>de</strong> Maastricht e Amesterdão, que passaram a incluir textos em áreas como a<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> circulação dos trabalhadores, a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> sexos no trabalho, a saú<strong>de</strong> e<br />

segurança no trabalho, as condições <strong>de</strong> emprego e trabalho e, mais recentemente, o<br />

combate a todas as formas <strong>de</strong> discriminação. O Conselho Europeu Extraordinário do<br />

Luxemburgo constituiu, por sua vez, um passo maior na mobilização da UE contra o<br />

<strong>de</strong>semprego, enquanto os Conselhos Europeus <strong>de</strong> Lisboa e da Feira introduziram o método<br />

aberto <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação nas áreas do combate à exclusão social e da cooperação na área da<br />

protecção social.<br />

O Conselho Europeu <strong>de</strong> Lisboa <strong>de</strong>finiu com meridiana clareza que “O Mo<strong>de</strong>lo Social<br />

Europeu com os seus <strong>de</strong>senvolvidos sistemas <strong>de</strong> protecção social <strong>de</strong>ve estar na base das<br />

transformações no sentido da Economia do conhecimento” e que “as pessoas são o<br />

principal activo europeu e <strong>de</strong>vem ser o ponto focal das políticas da União. Investir nas<br />

pessoas e <strong>de</strong>senvolver um Estado Providência activo e dinâmico vão ser cruciais quer para<br />

o lugar da Europa na Economia do Conhecimento quer para garantir que a emergência<br />

<strong>de</strong>sta economia não venha agravar os problemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego, exclusão social e<br />

pobreza”.


União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

Por sua vez, a Comissão, na sua comunicação ao Conselho Europeu <strong>de</strong> Nice sobre a<br />

Agenda Social Europeia, consi<strong>de</strong>rou que esta <strong>de</strong>veria fortalecer o papel da Política Social<br />

como factor produtivo, ao mesmo tempo que aumentava a sua eficácia na prossecução dos<br />

seus objectivos específicos <strong>de</strong> protecção dos indivíduos, redução das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e<br />

coesão social.<br />

O Conselho Europeu <strong>de</strong> Nice aprovou dois documentos <strong>de</strong> natureza bem distinta, mas que<br />

convergem na <strong>de</strong>fesa do Mo<strong>de</strong>lo Social Europeu, uma das “preferências estruturais” que se<br />

consi<strong>de</strong>rou contribuir para a coesão do pólo “Reforço da Integração Europeia”. Foram eles:<br />

• A Carta <strong>de</strong> Direitos Fundamentais – na qual são consagrados como direitos<br />

fundamentais no espaço da UE aspectos chave para o funcionamento <strong>de</strong>sse Mo<strong>de</strong>lo<br />

e do tipo <strong>de</strong> regime político que melhor o serve – o que po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>signar por<br />

“<strong>de</strong>mocracia corporativa”;<br />

• A Agenda Social Europeia – na qual se procura realizar uma adaptação do Mo<strong>de</strong>lo a<br />

novas realida<strong>de</strong>s e a exigências que permanecem actuais: mais e melhores<br />

empregos, melhoria do equilíbrio entre flexibilida<strong>de</strong> e segurança, combate à pobreza e<br />

a todas as formas <strong>de</strong> exclusão e discriminação (para promover a integração social),<br />

mo<strong>de</strong>rnização da protecção social e promoção da igualda<strong>de</strong> entre os sexos.<br />

1.4. A implementação <strong>de</strong> uma Política <strong>de</strong> Justiça e Assuntos Internos (Segurança<br />

Interna)<br />

Em 1985 foi <strong>de</strong>cidida a implementação da primeira cooperação reforçada (antes <strong>de</strong>las<br />

serem reconhecidas nos Tratados), com a assinatura do acordo Schengen (pela França,<br />

Alemanha, Bélgica, Luxemburgo e Holanda) que removia os controlos nas “fronteiras<br />

internas“ <strong>de</strong>ste espaço, introduzindo paralelamente um conjunto <strong>de</strong> disposições e criando<br />

um conjunto <strong>de</strong> meios <strong>de</strong>stinados a reforçar a segurança na “fronteira exterior comum” <strong>de</strong>ste<br />

Estado-membro. Este acordo, a que ao longo dos anos foram a<strong>de</strong>rindo mais Estadosmembros<br />

e até Estados não pertencentes à UE (como aconteceu recentemente com a<br />

Noruega), constituiu-se como um primeiro passo muito significativo numa abordagem<br />

comum daquela que se iria tornar uma das áreas chave da futura cooperação e<br />

solidarieda<strong>de</strong> entre os Estados europeus − a que envolve as questões <strong>de</strong> movimentos <strong>de</strong><br />

pessoas (asilo, imigração ilegal, etc.) e <strong>de</strong> combate à criminalida<strong>de</strong> organizada e ao<br />

terrorismo. Consagrada em Maastricht e <strong>de</strong>pois em Amsterdão (com uma <strong>de</strong>finição mais<br />

ampla), esta área <strong>de</strong> actuação da UE passou a constituir o <strong>de</strong>signado “terceiro pilar” da<br />

União – Justiça e Assuntos Internos (JAI) –, passando, <strong>de</strong>sta forma, a UE a ter como um<br />

dos seus objectivos a criação <strong>de</strong> um espaço <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, segurança e justiça (art. 2º TUE).<br />

O elevado nível <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> revelado pelos Estados-membros levou a que todos os<br />

assuntos consi<strong>de</strong>rados no âmbito da JAI − asilo, imigração, controlos <strong>de</strong> fronteiras,<br />

cooperação entre as autorida<strong>de</strong>s policias, judiciais e das alfân<strong>de</strong>gas −, embora objecto <strong>de</strong><br />

discussão e <strong>de</strong>cisão no interior da UE, acabassem por ser colocados no âmbito da<br />

intergovernamentalida<strong>de</strong>, constituindo assim, tal como foi referido, o “3º Pilar“.<br />

Acima <strong>de</strong> tudo por falta <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> política, até 1997, os progressos realizados foram<br />

pequenos. No entanto, as intensas discussões que ocorreram na Conferência<br />

153


Informação Internacional<br />

Intergovernamental (CIG) <strong>de</strong> 1996-97, acabaram por levar a um compromisso, expresso no<br />

tratado <strong>de</strong> Amsterdão:<br />

154<br />

• parte dos assuntos abrangidos pela JAI – nomeadamente as questões <strong>de</strong> livre<br />

circulação <strong>de</strong> pessoas e da cooperação judicial em matérias <strong>de</strong> direito civil − foram<br />

integrados no 1º Pilar, que funciona segundo o método comunitário;<br />

• a cooperação policial e judicial, essencialmente relativa a assuntos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m criminal,<br />

manteve-se no 3º Pilar;<br />

• o acquis <strong>de</strong> Schengen − ou seja, o acordo original, a convenção e todas as <strong>de</strong>cisões<br />

relativas à imigração, ao controlo das fronteiras e à cooperação policial e judicial - foi<br />

incorporado nos Tratados e, posteriormente, subdividido entre o 1º e 3º Pilares<br />

(acompanhando a divisão referida nos pontos anteriores).<br />

Mais recentemente, no Conselho Europeu <strong>de</strong> Tampere (1999) e no seguimento daquilo que<br />

ficou <strong>de</strong>finido no Tratado <strong>de</strong> Amsterdão, foi <strong>de</strong>senvolvida a vertente JAI das novas funções<br />

da UE (estreitamente associada à implementação <strong>de</strong> um espaço <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, segurança e<br />

<strong>de</strong> justiça ao nível da União), tendo sido <strong>de</strong>finidos objectivos e orientações em três domínios<br />

fundamentais:<br />

• Política Comum em Matéria <strong>de</strong> Asilo e Imigração – que envolve uma parceria com os<br />

países <strong>de</strong> origem da imigração, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um regime <strong>de</strong> asilo europeu comum e a<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um tratamento equitativo para os nacionais <strong>de</strong> países terceiros que<br />

residam legalmente no território dos Estados-membros e que <strong>de</strong>ve permitir uma<br />

gestão mais eficaz dos fluxos migratórios na União;<br />

• Espaço Europeu <strong>de</strong> Justiça – que envolve um melhor acesso à Justiça em toda a<br />

Europa, o reconhecimento mútuo das <strong>de</strong>cisões judiciais e uma convergência<br />

acrescida no domínio do direito civil;<br />

• Luta Contra a Criminalida<strong>de</strong> à Escala da União – que envolve a prevenção da<br />

criminalida<strong>de</strong> ao nível da União, a intensificação da cooperação na luta contra a<br />

criminalida<strong>de</strong> (na qual a Europol <strong>de</strong>sempenha um papel fundamental e para apoio da<br />

qual foi criada uma nova unida<strong>de</strong> – Eurojust – composta <strong>de</strong> procuradores,<br />

magistrados e oficiais <strong>de</strong> polícia dos Estados-membros <strong>de</strong>stinada a reforçar a luta<br />

contra as formas graves <strong>de</strong> criminalida<strong>de</strong> organizada), bem como acções específicas<br />

contra o branqueamento <strong>de</strong> dinheiro.<br />

No Conselho Europeu <strong>de</strong> Tampere ficou igualmente <strong>de</strong>finido que todas as competências e<br />

instrumentos <strong>de</strong> que dispõe a União, nomeadamente em matéria <strong>de</strong> relações exteriores,<br />

<strong>de</strong>vem ser utilizados <strong>de</strong> modo integrado e coerente para estabelecer o espaço <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>,<br />

segurança e justiça, sendo que as questões <strong>de</strong> JAI <strong>de</strong>vem igualmente ser integradas na<br />

<strong>de</strong>finição e implementação <strong>de</strong> outras políticas e acções da União. Em especial, foi apoiada a<br />

cooperação regional entre os Estados-membros e os países limítrofes da União em termos<br />

<strong>de</strong> luta contra a criminalida<strong>de</strong> organizada. A este respeito, foram saudados os resultados<br />

concretos obtidos pelos países ribeirinhos do mar Báltico, afirmada a importância particular<br />

atribuída à cooperação na região dos Balcãs e apoiada a realização <strong>de</strong> uma Conferência<br />

Europeia sobre o <strong>de</strong>senvolvimento e a segurança no mares Adriático e Iónico.


1.5. O alargamento da UE e a estabilização dos Balcãs<br />

União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

O processo <strong>de</strong> alargamento da UE iniciou-se formalmente com o Conselho Europeu <strong>de</strong><br />

Copenhaga e foi-se clarificando gradualmente ao longo dos anos seguintes, durante os<br />

quais se tornou evi<strong>de</strong>nte que este processo envolveria sobretudo cinco países da Europa<br />

Central − Polónia, Hungria, República Checa, Eslováquia e Eslovénia, três países do Báltico<br />

− Estónia, Letónia e Lituânia, bem como Chipre e Malta. A Bulgária e a Roménia, embora<br />

formalmente incluídas no grupo que começou o processo <strong>de</strong> negociações com a UE,<br />

apresentam claros atrasos que dificultam a sua a<strong>de</strong>são durante a próxima década.<br />

Uma característica chave <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong> alargamento é que não foi pensado como<br />

factor <strong>de</strong> estabilização da zona mais turbulenta (<strong>de</strong>vido ao estado <strong>de</strong> guerra real ou latente)<br />

das periferias europeias: os Balcãs. No entanto, a crise do Kosovo, em 1999, teve sobre ele<br />

três impactos claros:<br />

• tornou necessário dar um sinal mais claro aos países balcânicos candidatos, e que<br />

haviam colaborado <strong>de</strong> perto com a Organização do Tratado do Atlântico Norte<br />

(OTAN) durante a crise – Bulgária e Roménia – <strong>de</strong> que era firme o empenho da UE na<br />

aceitação da sua a<strong>de</strong>são, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que realizassem os esforços necessários;<br />

• tornou a UE mais sensível às pressões dos Estados Unidos da América (EUA) para<br />

que fosse revista, num sentido positivo, a posição da Turquia no processo <strong>de</strong><br />

alargamento. Esta revisão foi facilitada por um dos acontecimentos geopolíticos mais<br />

importantes <strong>de</strong> 1999: a lenta aproximação entre a Grécia e a Turquia, que se<br />

concretizou nas condições <strong>de</strong> intenso dramatismo que acompanharam os tremores <strong>de</strong><br />

terra que assolaram os dois países e que criaram uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />

recíproca, <strong>de</strong>sconhecida até então;<br />

• forçou a UE a dar maior importância à cooperação financeira com países do Su<strong>de</strong>ste<br />

europeu – nomeadamente através do lançamento <strong>de</strong> um “pacto <strong>de</strong> estabilização dos<br />

Balcãs” aberto à colaboração <strong>de</strong> outros países. Os montantes envolvidos no esforço<br />

<strong>de</strong> reconstrução <strong>de</strong>sta região vieram assim adicionar-se aos que haviam sido<br />

previstos nas “perspectivas financeiras 2000-2006” para o processo específico do<br />

alargamento.<br />

O Conselho Europeu <strong>de</strong> Helsínquia <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1999, na sequência <strong>de</strong> propostas da<br />

Comissão Europeia, <strong>de</strong>cidiu introduzir algumas mudanças <strong>de</strong> rumo no processo do<br />

alargamento, mantendo os seus princípios orientadores. Assim:<br />

• o Conselho Europeu reafirmou o carácter inclusivo do processo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são e, “...à luz<br />

dos recentes acontecimentos 6 e tendo em conta as propostas da Comissão”, <strong>de</strong>cidiu<br />

alargar a um novo conjunto <strong>de</strong> países – Roménia, Eslováquia, Letónia, Lituânia,<br />

Bulgária e Malta – as negociações sobre as condições <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são e as adaptações<br />

que seriam necessárias introduzir nos Tratados;<br />

6 Crise do Kosovo.<br />

155


Informação Internacional<br />

156<br />

• o Conselho Europeu abandonou a abordagem <strong>de</strong> uma negociação <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são por<br />

“vagas <strong>de</strong> países” (com uma vaga inicial constituída por Polónia, Hungria, República<br />

Checa, Eslovénia, Estónia e Chipre), passando a consi<strong>de</strong>rar que, durante o processo<br />

<strong>de</strong> negociações, cada país candidato será apreciado pelas suas particularida<strong>de</strong>s e<br />

realizações próprias. Esta abordagem diferenciadora supõe que a Comissão<br />

abandone o figurino <strong>de</strong> negociação dos dossiers em simultâneo com todos os países<br />

da “primeira vaga” (<strong>de</strong>finidos no Conselho Europeu do Luxemburgo, em Dezembro <strong>de</strong><br />

1997), <strong>de</strong> tal modo que os países que foram mais recentemente inseridos no<br />

processo <strong>de</strong> negociação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que estejam suficientemente preparados, tenham a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alcançar, num prazo razoável, os países com quem as negociações<br />

já começaram há mais tempo (táctica negocial que passou a ser conhecida por<br />

“regata”);<br />

• o Conselho Europeu, ao alargar o âmbito geográfico das negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são,<br />

insistiu simultaneamente no principio da resolução pacífica dos diferendos (<strong>de</strong> acordo<br />

com a Carta das Nações Unidas) e convidou insistentemente os países candidatos a<br />

que tudo fizessem para resolver os seus contenciosos fronteiriços, bem como outras<br />

questões <strong>de</strong> natureza semelhante, indicando que se não conseguirem chegar a<br />

acordo entre si <strong>de</strong>verão obrigatoriamente apresentar o caso ao Tribunal Internacional<br />

<strong>de</strong> Justiça num prazo razoável. Até 2004, no máximo, o Conselho Europeu fará o<br />

ponto da situação no que respeita aos diferendos que então ainda subsistirem, tendo<br />

especialmente em conta o seu impacto nos processos <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, a fim <strong>de</strong> promover<br />

a sua resolução graças à intervenção do referido Tribunal;<br />

• o Conselho <strong>de</strong>clarou a Turquia como um país candidato, com vocação a a<strong>de</strong>rir à UE<br />

na base nos mesmos critérios que se aplicam aos outros países candidatos e<br />

beneficiando, como estes, <strong>de</strong> uma estratégia <strong>de</strong> pré-a<strong>de</strong>são que vise encorajar e<br />

apoiar as reformas. O Conselho, no entanto, não <strong>de</strong>cidiu iniciar negociações com a<br />

Turquia e explicitou que a metodologia <strong>de</strong> resolução dos diferendos fronteiriços<br />

referida atrás se aplicava especificamente ao caso turco (incluindo o contencioso);<br />

• o Conselho tomou a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> não condicionar obrigatoriamente a futura a<strong>de</strong>são <strong>de</strong><br />

Chipre à prévia resolução dos diferendos internos entre as comunida<strong>de</strong>s grega e turca<br />

(<strong>de</strong>ixando igualmente subentendido que a futura a<strong>de</strong>são turca também seria<br />

analisada à luz do comportamento da Turquia no processo diplomático <strong>de</strong>stinado a<br />

resolver a questão da divisão da ilha).<br />

Refira-se que nos esforços <strong>de</strong> pacificação e estabilização dos Balcãs, a UE e os EUA têm<br />

seguido duas orientações básicas: manutenção das fronteiras e preferência por Estados<br />

<strong>de</strong>mocráticos e multiétnicos. Após as intervenções militares da OTAN na<br />

Bósnia-Herzegovínia e no Kosovo, po<strong>de</strong> afirmar-se que o respeito por estes princípios tem<br />

estado associado à criação <strong>de</strong> ”protectorados” internacionais abrangendo aquelas duas<br />

regiões e a uma presença militar da OTAN na Macedónia.


União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

1.6. O alargamento e a reforma das políticas comuns actuais que implicam custos<br />

mais elevados para o orçamento comunitário<br />

As intensas e difíceis discussões que levaram à aprovação da Agenda 2000 e as críticas<br />

constantes <strong>de</strong> que é alvo a UE no seio da Organização Mundial do Comércio (OMC) são<br />

apenas os sintomas mais evi<strong>de</strong>ntes do <strong>de</strong>sgaste <strong>de</strong> políticas comuns que durante muitos<br />

anos formaram a essência da integração europeia. Pressões internas por parte dos<br />

contribuintes líquidos do orçamento comunitário, e externas por parte dos seus principais<br />

parceiros comerciais, lançam um <strong>de</strong>safio claro à UE no sentido da reforma <strong>de</strong>stas políticas,<br />

nomeadamente da política agrícola comum (PAC) e das políticas regional e <strong>de</strong> coesão.<br />

A PAC, criada por iniciativa do país que actualmente mais fundos recebe <strong>de</strong>sta política<br />

comum (a França) para permitir à Europa assegurar a sua segurança alimentar, reformar o<br />

seu sector agrícola e garantir aos seus agricultores um nível <strong>de</strong> vida digno, acabou por levar<br />

a graves distorções. A sobre-produção em vários sectores (que leva a situações inaceitáveis<br />

em que os agricultores são pagos para não cultivar nada), os custos ligados ao<br />

armazenamento dos exce<strong>de</strong>ntes e às restituições à exportação, a nova política agrícola do<br />

Governo alemão (que procura integrar a perspectiva ambientalista), assim como uma certa<br />

tensão internacional por parte dos parceiros comerciais da UE (incompatibilida<strong>de</strong> do sistema<br />

<strong>de</strong> preferência comunitária com as regras do comércio internacional, contradição com a<br />

política <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da UE, preços elevados para o consumidor, consequências<br />

ambientais,...) apelam a uma reforma da PAC. Adicionalmente, torna-se também difícil <strong>de</strong><br />

justificar internamente o seu peso no orçamento comunitário, sobretudo com a perspectiva<br />

do alargamento a leste. De facto, embora se possam prever mecanismos que mantenham<br />

os futuros Estados-membros fora do âmbito da PAC numa primeira fase, o alargamento é<br />

sem dúvida um importante <strong>de</strong>safio para a agricultura europeia. Na sua forma actual, a PAC<br />

seria incomportável numa União alargada pois, entre outras coisas, o sector agrícola nos<br />

Países da Europa Central e Oriental (PECO) é, em média, maior do que o da UE (quer em<br />

termos <strong>de</strong> percentagem do PIB e do emprego, quer em termos <strong>de</strong> superfície), uma parte<br />

significativa dos respectivos tipos <strong>de</strong> produção é igual à dos países da UE e a sua<br />

agricultura atravessa uma crise estrutural ligada à perda dos mercados da ex-URSS e à<br />

transição para a economia <strong>de</strong> mercado.<br />

Finalmente, como ficou patente nas negociações para as perspectivas financeiras 2000-<br />

2006, também a política regional e <strong>de</strong> coesão é objecto <strong>de</strong> pressões no sentido da sua<br />

reforma. O conceito <strong>de</strong> coesão económica e social lançado há quase vinte anos na era<br />

Delors começa a dar mostras <strong>de</strong> erosão. Os países que mais contribuem para o orçamento<br />

comunitário aceitam cada vez menos financiar o <strong>de</strong>senvolvimento dos “mais pobres” e<br />

tentam a todo o custo <strong>de</strong>nunciar a má utilização dos fundos comunitários. Desta forma, a UE<br />

tem hoje “entre mãos” a re<strong>de</strong>finição do conceito <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>.<br />

1.7. A criação <strong>de</strong> uma Política Europeia Comum <strong>de</strong> Segurança e <strong>de</strong> Defesa (PESD)<br />

No Conselho Europeu <strong>de</strong> Colónia, no final da presidência alemã, foi <strong>de</strong>cidido reforçar os<br />

meios <strong>de</strong> que a UE dispõe para po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sempenhar plenamente o seu papel na cena<br />

internacional, mediante a <strong>de</strong>finição e implementação <strong>de</strong> uma PESD dotada das respectivas<br />

capacida<strong>de</strong>s militares. A intervenção da União na cena internacional <strong>de</strong>verá contribuir para a<br />

paz e a segurança internacionais conforme os princípios da Carta das Nações Unidas.<br />

157


Informação Internacional<br />

Des<strong>de</strong> essa altura, a União <strong>de</strong>senvolveu o processo que visa a sua dotação <strong>de</strong> meios e<br />

capacida<strong>de</strong>s que lhe permitam tomar <strong>de</strong>cisões (e ser capaz <strong>de</strong> as implementar) sobre o<br />

conjunto <strong>de</strong> missões <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong> conflitos e <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> crises <strong>de</strong>finidas no Tratado<br />

<strong>de</strong> Amesterdão – as “missões <strong>de</strong> Petersberg”.<br />

No Conselho Europeu <strong>de</strong> Helsínquia, no final da presidência finlan<strong>de</strong>sa, foram tomadas<br />

<strong>de</strong>cisões cruciais para a PESD, envolvendo, nomeadamente 7 :<br />

158<br />

• a opção por <strong>de</strong>senvolver uma capacida<strong>de</strong> autónoma para <strong>de</strong>cidir e, nos casos em<br />

que a OTAN enquanto tal não queira intervir, para conduzir operações militares sob<br />

comando directo da UE, em resposta a crises internacionais (nas conclusões do<br />

Conselho afirmava-se que esta aquisição <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s militares por parte da União<br />

<strong>de</strong>veria ser realizada evitando duplicações e que não implicaria a criação <strong>de</strong> um<br />

exército europeu). Refira-se que a aquisição <strong>de</strong> meios suficientes para uma<br />

autonomia <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão da UE e para a projecção <strong>de</strong> forças em teatros <strong>de</strong> crises<br />

internacionais supõe um gran<strong>de</strong> esforço <strong>de</strong> investimento em meios aerospaciais e<br />

electrónicos por parte dos países europeus, dada a sua clara inferiorida<strong>de</strong> face aos<br />

EUA, como foi evi<strong>de</strong>nte no conflito do Kosovo;<br />

• a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> se dotar, até 2003, <strong>de</strong> uma força <strong>de</strong> reacção rápida, po<strong>de</strong>ndo atingir os<br />

50 ou 60 mil indivíduos, susceptível <strong>de</strong> ser reunida e conduzida aos locais<br />

necessários num intervalo <strong>de</strong> 60 dias e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r manter-se operacional pelo menos<br />

durante um ano <strong>de</strong> forma a efectuar o conjunto das “missões <strong>de</strong> Petersberg”;<br />

• a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> criar, no seio do Conselho e no respeito do quadro institucional único da<br />

UE, novos órgãos e novas estruturas políticas e militares que permitam à União<br />

assegurar a orientação política e a direcção estratégica necessárias a estas<br />

operações;<br />

• a orientação para a procura das modalida<strong>de</strong>s mais a<strong>de</strong>quadas para permitir uma<br />

consulta, uma cooperação e uma transparência plena entre a UE e a OTAN, tendo em<br />

conta as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todos os Estados-membros da União;<br />

• a <strong>de</strong>finição das orientações mais a<strong>de</strong>quadas para permitir − sem prejuízo da<br />

autonomia <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão da UE − aos Estados europeus membros da OTAN, e que não<br />

pertencem à UE (Noruega e Turquia), bem como a outros Estados eventualmente<br />

interessados, a sua contribuição para a gestão militar <strong>de</strong> uma crise, sob a direcção da<br />

UE 8 ;<br />

• a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um mecanismo para a gestão não militar das crises, permitindo<br />

coor<strong>de</strong>nar e utilizar mais eficazmente os diversos meios e recursos civis (em paralelo<br />

com os militares) <strong>de</strong> que dispõem a União e os Estados-membros 9 .<br />

7<br />

Foi no Conselho Europeu da Feira, no final da presidência portuguesa, que estas <strong>de</strong>cisões foram <strong>de</strong>talhadas.<br />

8<br />

O que significa para a Noruega e a Turquia um envolvimento não permanente na PESD, mas sim uma<br />

colaboração ad hoc, conforme as crises.<br />

9 Esta vertente foi <strong>de</strong>fendida com insistência pela Suécia.


União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

Em paralelo com esta <strong>de</strong>finição gradual da PESD, assistiu-se, nos últimos anos, a um<br />

processo <strong>de</strong> concentração das indústrias europeias <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa e do espaço que po<strong>de</strong>rá<br />

facilitar uma maior coor<strong>de</strong>nação das compras públicas dos Estados da União e uma maior<br />

coor<strong>de</strong>nação dos esforços <strong>de</strong> I&D, permitindo à União recuperar atrasos tecnológicos e<br />

envolver-se no <strong>de</strong>senvolvimento e fabrico <strong>de</strong> novos sistemas <strong>de</strong> armas adaptados às<br />

exigências da PESD. Essa concentração levou até agora à criação <strong>de</strong> três gran<strong>de</strong>s pólos<br />

empresariais: um franco-alemão, em torno da Aérospatiale-Matra francesas e da DASA<br />

alemã, que com a CASA espanhola constituíram a EADS; um pólo britânico em torno da<br />

British Aerospace; e um francês em torno da Thomson (agora re<strong>de</strong>nominada Thales).<br />

No entanto, ao mesmo tempo que estas <strong>de</strong>cisões foram tomadas no seio da UE, na OTAN<br />

foram iniciados os estudos prévios <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação da viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

anti-míssil para o “teatro europeu”, nos quais estão envolvidos consórcios <strong>de</strong> empresas<br />

europeias e norte-americanas.<br />

AS GRANDES INCERTEZAS PARA 2000-2010 – UMA HIPÓTESE<br />

• O sucesso da UEM, sem fe<strong>de</strong>ralismo fiscal, face a choques simétricos e assimétricos;<br />

• A manutenção <strong>de</strong> abordagens comuns quanto aos modos <strong>de</strong> tratar as questões dos<br />

sistemas <strong>de</strong> pensões, da fiscalida<strong>de</strong> e das políticas <strong>de</strong> estímulo à inovação e ao<br />

crescimento;<br />

• O sucesso da estabilização dos Balcãs, mantendo a preferência pela estabilida<strong>de</strong> das<br />

fronteiras e por Estados multiétnicos;<br />

• A rapi<strong>de</strong>z do alargamento, face à necessária reformulação das políticas comuns<br />

tradicionais – nomeadamente da PAC;<br />

• O êxito da “nova coesão” em torno das questões da imigração, asilo e combate à<br />

criminalida<strong>de</strong>;<br />

• A manutenção <strong>de</strong> um consenso alargado em torno das priorida<strong>de</strong>s para a Defesa<br />

Europeia: criação <strong>de</strong> meios autónomos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e <strong>de</strong> intervenção em crises a nível<br />

mundial.<br />

2. O MUNDO E A UE EM 2010 – A IMAGEM FINAL DO CENÁRIO OPTIMISTA<br />

2.1. O mundo em 2010<br />

A década <strong>de</strong> 2000/2010 foi uma década <strong>de</strong> crescimento comparável à <strong>de</strong> 90, apenas<br />

interrompida, na sequência <strong>de</strong> um crash bolsista, pela recessão <strong>de</strong> 2004/5 nos EUA. No<br />

entanto, a gran<strong>de</strong> diferença entre as duas décadas foi que, em média, na que terminou em<br />

2010, a UE obteve taxas <strong>de</strong> crescimento superiores às dos EUA, tendo sido pouco afectada<br />

pela recessão. De facto, a dinâmica <strong>de</strong> inovação do seu Mercado Interno e o efeito motor do<br />

rápido processo <strong>de</strong> catching-up da Europa Central e Oriental tornaram a Europa mais<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da conjuntura americana.<br />

159


Informação Internacional<br />

A década 2000/2010 foi um período caracterizado pela expansão do comércio electrónico e<br />

da utilização do “ciberespaço” (que se afirmaram como importantes factores <strong>de</strong><br />

globalização) e pelo forte crescimento (não tão centrado na Ásia Pacífico como na década<br />

anterior) <strong>de</strong> algumas economias emergentes. Se a China continuou o seu impressionante<br />

crescimento, a Índia, o Brasil e a Rússia passaram também a ser “estrelas” globais da<br />

economia.<br />

O mundo <strong>de</strong> 2010 funciona com base em blocos económicos regionais – <strong>de</strong> base<br />

inicialmente comercial, mas ten<strong>de</strong>ndo a evoluir para o domínio monetário. Distinguem-se<br />

três blocos principais:<br />

160<br />

• A UE e a constelação <strong>de</strong> Estados que, <strong>de</strong> uma maneira ou <strong>de</strong> outra, lhe estão<br />

associados no Continente europeu e no Mediterrâneo;<br />

• A "North America Free Tra<strong>de</strong> Area” (NAFTA), que não conseguiu evoluir para uma<br />

zona <strong>de</strong> livre troca hemisférica graças à persistente autonomia do Mercado Comum<br />

do Cone Sul (Mercosul), sob a firme li<strong>de</strong>rança do Brasil;<br />

• A Comunida<strong>de</strong> Económica da Ásia Oriental (CEAO), que reúne o Japão, a China, a<br />

Coreia e os Estados da "Association of Southeast Asian Nations" (ASEAN) 10 e que se<br />

encaminha, em 2010, para a criação <strong>de</strong> uma moeda própria.<br />

Em termos monetários o euro afirmou-se como a segunda moeda internacional, disputando<br />

a primazia do dólar em várias funções. Nos primeiros anos <strong>de</strong> coexistência das duas<br />

moedas, a volatilida<strong>de</strong> foi muito significativa, tendo sido colocada na or<strong>de</strong>m do dia a<br />

hipótese <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> “zonas alvos” para os câmbios do dólar, euro e, posteriormente,<br />

yen, solução que teve a oposição dos EUA. Mais perto do final da década, o Japão <strong>de</strong>sistiu<br />

<strong>de</strong> internacionalizar o yen e passou a apostar (melhoradas que foram as suas relações com<br />

a China) na criação <strong>de</strong> uma União Monetária da Ásia Oriental (UMAO).<br />

Em substituição do tradicional G7 11 , formou-se (com outras gran<strong>de</strong>s entida<strong>de</strong>s económicas),<br />

como principal fórum <strong>de</strong> diálogo e eventual coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong>stes blocos entre si, o G8, que<br />

inclui os EUA, o Canadá, a “Eurolândia”, o Japão, a China, a Índia, a Rússia e o Brasil.<br />

Em termos geopolíticos o mundo esteve num estado <strong>de</strong> relativa pacificação que permitiu<br />

reforçar o sistema da Organização das Nações Unidas (ONU) como quadro multilateral <strong>de</strong><br />

diálogo e governação mundial, tendo o respectivo Conselho <strong>de</strong> Segurança experimentado<br />

uma gran<strong>de</strong> alteração com a entrada como membros permanentes <strong>de</strong> Alemanha, Japão,<br />

Índia e Brasil 12 .<br />

Adicionalmente, ao longo da década, a posição geopolítica dos EUA enfraqueceu <strong>de</strong>vido,<br />

essencialmente, a três processos:<br />

10<br />

Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia, Brunei, Vietname, Laos, Birmânia e Cambodja (em 2000).<br />

11<br />

O G7, grupo dos sete países mais industrializados, reunia, em 2000, Alemanha, Canadá, EUA, França, Reino<br />

Unido, Itália e Japão.<br />

12<br />

Como vimos, China, Índia, Japão e Brasil passaram a ter assento quer no G8, quer no Conselho <strong>de</strong> Segurança<br />

da ONU (como membros permanentes).


União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

• a consolidação <strong>de</strong> um triângulo anti-hegemonia americana formado por China, Rússia<br />

e Índia, cuja convergência dificultou a actuação dos EUA ao longo do “arco <strong>de</strong> crise”<br />

Mediterrâneo Oriental/Noroeste do Pacífico;<br />

• a aproximação económica, tecnológica e empresarial dos dois aliados principais dos<br />

EUA na “guerra fria” – a Europa e o Japão − respectivamente à Rússia e à China,<br />

criando mais ocasiões para a divergência entre os EUA, a Europa e o Japão;<br />

• a priorida<strong>de</strong> dada pela diplomacia da UE ao reforço dos quadros multilaterais − o que<br />

limita a margem <strong>de</strong> manobra dos EUA − nos quais a União, usando da suas “pontes”<br />

para com a Rússia, China, Brasil, etc., se preten<strong>de</strong>u posicionar como “fiel da balança”<br />

entre os EUA e o resto do mundo.<br />

Em termos estratégicos, uma importante evolução foi a redução dos riscos <strong>de</strong> proliferação<br />

nuclear incontrolada (que tanto preocupara os Governos oci<strong>de</strong>ntais no início da década),<br />

tendo a evolução experimentada na Coreia do Norte e no Irão num sentido largamente<br />

estabilizador contribuído <strong>de</strong>cisivamente para este resultado. A este nível, a supremacia dos<br />

EUA mantêm-se intacta, havendo a realçar três evoluções marcantes:<br />

• os EUA ainda não instalaram, por razões técnicas, o seu sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa antimíssil;<br />

• os EUA fracassaram na sua tentativa <strong>de</strong> convencer os europeus a <strong>de</strong>senvolverem,<br />

com a sua colaboração, um sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa anti-míssil na Europa;<br />

• os EUA proce<strong>de</strong>ram a uma reconfiguração global do seu dispositivo militar, retirando<br />

as suas tropas da Europa e recentrando o seu potencial na Ásia e no Golfo.<br />

2.2. A UE em 2010<br />

Em termos institucionais, a UE permanece, em 2010, no essencial, uma união <strong>de</strong><br />

Estados-nação, aparentando-se mais como uma quase fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Estados do que com<br />

um Estado quase fe<strong>de</strong>ral, embora disponha <strong>de</strong> elementos que são característicos <strong>de</strong>stes<br />

últimos (como, por exemplo, um Banco Central, uma política monetária única e uma moeda<br />

única). De qualquer forma, continuam a ser os Estados-Nação, por via <strong>de</strong> Tratados, a<br />

<strong>de</strong>legar competências nas instituições da União, embora essas instituições centralizadas<br />

estejam dotadas <strong>de</strong> fortes po<strong>de</strong>res e disponham <strong>de</strong> efectiva capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acção. O<br />

“cimento” que aglutina os Estados e os povos e fornece os motivos para a actuação externa<br />

da União é, cada vez mais, o reconhecimento <strong>de</strong> valores comuns, tais como os que foram<br />

consagrados na Carta <strong>de</strong> Direitos Fundamentais aprovada em 2000, em Nice.<br />

A principal realização da UE na primeira década do séc. XXI foi a <strong>de</strong> contribuir para a paz,<br />

estabilida<strong>de</strong>, segurança e prosperida<strong>de</strong> do Continente europeu. O principal instrumento para<br />

este fim foi a dinâmica <strong>de</strong> alargamento que está ainda em curso em 2010. De facto, em<br />

161


Informação Internacional<br />

2010, a UE tem 26 Estados-membros 13 e a maioria dos que não a integram ou estão<br />

envolvidos num processo <strong>de</strong> negociação com esse fim ou têm com ela relações económicas<br />

e políticas estruturadas. A UE é o “Sol que ilumina o Continente”.<br />

Em termos económicos, a UE transformou-se numa verda<strong>de</strong>ira superpotência (a par dos<br />

EUA), dispõe do mais vasto mercado único no planeta e a sua taxa média <strong>de</strong> crescimento<br />

anual é já ligeiramente superior à dos EUA, graças, em parte, à integração das economias<br />

menos <strong>de</strong>senvolvidas da Europa Central e Oriental (que se lançaram num vigoroso<br />

processo <strong>de</strong> catching-up, o qual abriu novos mercados às indústrias e serviços da Europa<br />

Oci<strong>de</strong>ntal). O <strong>de</strong>semprego reduziu-se mas permanece acima do americano (tendo<br />

conseguido atravessar um processo <strong>de</strong> restruturação) mas a UE mantêm um nível <strong>de</strong><br />

protecção social superior ao dos EUA. A con<strong>de</strong>nsação <strong>de</strong>ste “renascimento europeu” fez<br />

com que a sua moeda – o euro – seja uma das duas moedas internacionais dominantes.<br />

Em termos geopolíticos e estratégicos a UE está longe <strong>de</strong> se po<strong>de</strong>r consi<strong>de</strong>rar uma<br />

superpotência – facto a que não é alheio o complexo processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão numa<br />

UE tão alargada como a que existe em 2010 e a própria fraqueza relativa do seu potencial<br />

militar (nomeadamente quando comparado com o dos EUA) − mas a sua influência mundial<br />

é muito superior à sua força militar pois <strong>de</strong>senvolveu até à exaustão as virtualida<strong>de</strong>s do<br />

13 Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Espanha, Holanda, Grécia, Bélgica, Portugal, Suécia, Áustria,<br />

Dinamarca, Irlanda, Finlândia, Luxemburgo, Croácia, Chipre, República Checa, Estónia, Hungria, Letónia,<br />

Lituânia, Malta, Polónia, Eslováquia e Eslovénia.<br />

162<br />

Mapa da União<br />

Europeia em 2010<br />

Estados-Membros da UE<br />

que pertencem ao espaço<br />

Schengen<br />

Estados-Membros da UE<br />

mas fora do espaço Schengen<br />

Países da Área Económica<br />

Europeia mas que não pertencem<br />

à UE<br />

Estados-Membros pertencentes<br />

à Zona Euro


União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

exercício do soft power; tendo escolhido áreas em que, recorrendo a esse método, po<strong>de</strong><br />

aspirar à li<strong>de</strong>rança mundial (vd. questões ambientais) e contribuído para o fortalecimento<br />

das instituições multilaterais <strong>de</strong> “governação mundial” (vd. sistema da ONU), nas quais se<br />

move mais à vonta<strong>de</strong> do que os EUA que as encaram como factor limitativo da sua<br />

inequívoca superiorida<strong>de</strong> militar.<br />

Em termos <strong>de</strong> áreas funcionais, a UE experimentou uma sensível transformação, com uma<br />

clara <strong>de</strong>slocação do seu centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> das tradicionais políticas comuns na área<br />

agrícola, regional e <strong>de</strong> cooperação com os Países <strong>de</strong> África, Caraíbas e Pacífico (ACP) –<br />

que foram profundamente reformadas e downsized – para a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> políticas nas<br />

áreas que suportam a UEM, a PESD e os Assuntos Internos. A União, refocalizada nestas<br />

áreas e tendo quase duplicado o número <strong>de</strong> Estados-membros, funciona graças à<br />

flexibilida<strong>de</strong> que lhe é conferida pelos mecanismos <strong>de</strong> “geometria variável”.<br />

3. A UE – OS BLOCOS CONSTITUINTES DO CENÁRIO OPTIMISTA<br />

3.1. Uma economia lí<strong>de</strong>r<br />

A década <strong>de</strong> 2000/10 foi uma “década <strong>de</strong> ouro” para as economias europeias: a inflação<br />

permaneceu, em média, sempre inferior aos 2%; o crescimento anual foi, na maior parte da<br />

década, <strong>de</strong> 3%; e o <strong>de</strong>semprego caiu para 5,5%. Além do mais, a UE ultrapassou<br />

rapidamente a recessão <strong>de</strong> 2004/5 provocada pelo crash bolsista nos EUA.<br />

A Europa Central experimentou taxas <strong>de</strong> crescimento entre os 4 e os 7% e a Rússia iniciou<br />

um renascimento económico notável, contribuindo ambas, pela expansão <strong>de</strong> mercados que<br />

proporcionaram, para a dinâmica <strong>de</strong> crescimento da UE. No entanto, foi sobretudo o vigor<br />

das reformas estruturais e do esforço <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização das economias europeias,<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados pelo que ficou conhecido como “Estratégia <strong>de</strong> Lisboa”, que contribuiu para<br />

aumentar a competitivida<strong>de</strong> e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inovação da União, sem <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar<br />

tensões sociais incomportáveis.<br />

A UEM no centro do sucesso europeu<br />

O euro revelou-se um sucesso e a UEM já integrava, em meados da década, todas as<br />

economias <strong>de</strong>senvolvidas da UE (<strong>de</strong>pois do Reino Unido, da Suécia e da Dinamarca terem<br />

a<strong>de</strong>rido ao euro), chegando mesmo países como a Noruega, ainda no exterior da UE, a<br />

aceitar a circulação do euro, como moeda paralela, no seu território.<br />

O euro acelerou a profunda transformação dos sistemas financeiros europeus, contribuindo<br />

<strong>de</strong>cisivamente para a criação <strong>de</strong> um vasto mercado <strong>de</strong> capitais, líquido e diversificado. Os<br />

hábitos <strong>de</strong> financiamento das empresas alteraram-se, existindo hoje um muito maior recurso<br />

à emissão <strong>de</strong> acções e obrigações. Formou-se, à escala europeia, um mercado activo <strong>de</strong><br />

controlo <strong>de</strong> empresas, traduzido em frequentes takeovers hostis.<br />

A década confirmou a preferência dos países mais ricos da União pela inexistência <strong>de</strong> um<br />

orçamento a nível comunitário com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção contra-cíclica. No entanto,<br />

noutros aspectos e essencialmente fruto <strong>de</strong> pressão <strong>de</strong> circunstâncias exteriores que<br />

163


Informação Internacional<br />

forçaram a correcção <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiências ou fragilida<strong>de</strong>s existentes no “<strong>de</strong>senho” inicial, a UEM<br />

experimentou transformações assinaláveis no seu modo operativo. Estas mudanças foram<br />

mais patentes a três níveis:<br />

• na condução da política monetária: poucos anos <strong>de</strong>pois do lançamento do euro, o<br />

BCE foi forçado a abandonar a estratégia em “dois pilares” que orientava a política<br />

monetária – ou seja, a sua <strong>de</strong>finição em função do crescimento da massa monetária e<br />

da inflação - <strong>de</strong>vido ao crescente uso do euro fora do território da União, às inovações<br />

financeiras e ao crescimento exponencial do uso da “moeda electrónica”. De facto, num<br />

ciberespaço global não foi possível <strong>de</strong>finir uma relação estável entre a moeda e a<br />

“economia real”, pelo que cada vez mais o BCE passou a <strong>de</strong>finir a sua política em<br />

função <strong>de</strong> indicadores da inflação (incluindo a evolução dos preços dos activos<br />

financeiros e imobiliários);<br />

• na coor<strong>de</strong>nação fiscal: até à recessão <strong>de</strong> 2004/5 as diferentes circunstâncias nacionais<br />

e os distintos ciclos eleitorais tinham feito fracassar as tentativas <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação “forte”<br />

das políticas orçamentais, mas, a partir <strong>de</strong>ssa data e em consequência da transformação<br />

do Eurogrupo numa instituição da União, os Ministros das Finanças passaram a <strong>de</strong>finir<br />

anualmente metas <strong>de</strong>slizáveis a três anos para as posições orçamentais quer da<br />

Eurolândia quer nacionais. No entanto, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>stes parâmetros gerais, os Governos<br />

nacionais eram livres <strong>de</strong> fazer as opções que consi<strong>de</strong>rassem mais convenientes;<br />

• na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma política cambial: nos primeiros anos <strong>de</strong> existência do euro, a taxa<br />

<strong>de</strong> câmbio dólar-euro revelou-se extremamente volátil, quer <strong>de</strong>vido ao “<strong>de</strong>sinteresse” do<br />

BCE e da Reserva Fe<strong>de</strong>ral Norte-Americana (FED) pelo comportamento das taxas <strong>de</strong><br />

câmbio, quer à tendência para as reacções excessivas por parte dos mercados<br />

financeiros. No entanto, progressivamente, a consolidação institucional do Eurogrupo<br />

permitiu-lhe ter uma intervenção mais pronunciada na <strong>de</strong>finição da política cambial e na<br />

procura das melhores formas <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação com as outras moedas (tendo ganho<br />

também a este nível uma posição mais central na gestão da UEM a qual, inicialmente,<br />

fora quase um domínio exclusivo do BCE).<br />

Adicionalmente, também ao nível da representação exterior da Eurolândia se <strong>de</strong>ram<br />

modificações. Uma <strong>de</strong>las foi verda<strong>de</strong>iramente revolucionária: os Governos nacionais da<br />

zona euro <strong>de</strong>cidiram proce<strong>de</strong>r à fusão das suas quotas no Fundo Monetário Internacional<br />

(FMI) e no Banco Mundial transformando-se, <strong>de</strong>sse modo, nos seus mais importantes<br />

accionistas e passando a <strong>de</strong>ter a chave da condução da política <strong>de</strong>stas instituições, pondo<br />

fim, <strong>de</strong>sta forma, à hegemonia dos EUA nas duas “instituições gémeas”.<br />

Numa questão crucial para a sustentabilida<strong>de</strong> orçamental futura da zona euro – a reforma<br />

dos sistemas <strong>de</strong> pensões (aspecto central do “mo<strong>de</strong>lo social europeu”) − foi difícil avançar.<br />

No entanto, em 2004, os Governos acabaram por chegar a um acordo quanto a um conjunto<br />

<strong>de</strong> metas: elevação da ida<strong>de</strong> da reforma para os 70 anos (a realizar gradualmente durante<br />

um período <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos); eliminação dos incentivos às reformas antecipadas ainda<br />

existentes; estabelecimento <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> esquemas nacionais, em parte financiados pela<br />

UE, para a requalificação das pessoas com mais <strong>de</strong> 55 anos; criação <strong>de</strong> incentivos ao<br />

crescimento dos esquemas privados <strong>de</strong> pensões (do tipo dos que foram <strong>de</strong>senvolvidos no<br />

Reino Unido e na Holanda) a fim <strong>de</strong> reduzir a pressão sobre os orçamentos.<br />

164


O êxito das reformas económicas<br />

União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

Durante a primeira meta<strong>de</strong> da década foram cumpridos os principais objectivos <strong>de</strong>finidos na<br />

“Estratégia <strong>de</strong> Lisboa”, o que contribuiu <strong>de</strong>cisivamente para a dinamização da economia<br />

europeia. Depois da recessão <strong>de</strong> 2004/5 o programa <strong>de</strong> reformas económicas da UE foi<br />

revisto, no sentido <strong>de</strong> integrar metas ainda mais ambiciosas:<br />

• a opção por uma taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> longo prazo e por níveis <strong>de</strong> investimento nas<br />

indústrias <strong>de</strong> alta tecnologia que acompanhem os dos EUA;<br />

• a convergência dos custos não salariais do emprego com a média dos quatro<br />

Estados-membros com os melhores valores a esse nível;<br />

• um compromisso, quantificado por cada Estado-membro, quanto à melhoria <strong>de</strong><br />

qualificações da população activa.<br />

Paralelamente, em meados da década, tendo em conta as resistências que se manifestaram<br />

relativamente às reformas económicas, o Conselho Europeu <strong>de</strong>cidiu dar mais relevo à<br />

vertente social e ambiental da “Estratégia <strong>de</strong> Lisboa” e à preservação do “mo<strong>de</strong>lo social<br />

europeu”. Entre as novas metas fixadas incluíam-se:<br />

• a garantia <strong>de</strong> acesso <strong>de</strong> todas as famílias à internet, quer através <strong>de</strong> regulamentação,<br />

quer <strong>de</strong> subsídios ou parcerias público/privado;<br />

• o patrocínio pela UE <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong>, especialmente dirigida à população adulta,<br />

funcionando em torno da internet;<br />

• a elaboração pelos Governos nacionais <strong>de</strong> planos para eliminar a pobreza infantil;<br />

• a <strong>de</strong>finição pelos Governos <strong>de</strong> quotas <strong>de</strong> acesso por sexo e por minorias étnicas a<br />

<strong>de</strong>terminadas profissões/funções (no entanto, estas metas a <strong>de</strong>finir pelos Governos<br />

não possuíam um carácter obrigatório);<br />

• a adopção <strong>de</strong> legislação contra a discriminação racial por parte <strong>de</strong> cada Governo;<br />

• a fixação <strong>de</strong> metas para vendas <strong>de</strong> automóveis com “poluição zero”, equipados com<br />

motores baseados em fuel cells;<br />

• a ligação <strong>de</strong> todos os Estados-membros à re<strong>de</strong> transeuropeia <strong>de</strong> comboios <strong>de</strong> alta<br />

velocida<strong>de</strong> (que se <strong>de</strong>veria esten<strong>de</strong>r também à Grécia e aos novos Estadosmembros).<br />

O Ambiente no centro das preocupações da UE<br />

Face à crescente preocupação das opiniões públicas relativamente à elevação das<br />

temperaturas e a uma sucessão <strong>de</strong> fenómenos climáticos fora do comum, os Governos dos<br />

Estados-membros da UE chegaram a um acordo unânime quanto à coor<strong>de</strong>nação dos<br />

impostos sobre a utilização da energia e sobre as emissões <strong>de</strong> CO2. Este acordo teve em<br />

conta certos princípios, incluindo o estabelecimento <strong>de</strong> taxas mínimas. Por outro lado, os<br />

165


Informação Internacional<br />

Ministros das Finanças dos Estados-membros saudaram esta medida como modo <strong>de</strong> fazer<br />

face à queda <strong>de</strong> receitas fiscais do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) provocadas<br />

pelo crescimento maciço do comércio electrónico.<br />

No entanto, para além disto, formou-se uma cooperação reforçada entre países do Norte da<br />

Europa que <strong>de</strong>cidiram adoptar padrões ambientais mais exigentes, como por exemplo os<br />

que se referiam às emissões fabris. Este grupo <strong>de</strong> países não esteve disposto a esperar<br />

para elevar os seus níveis <strong>de</strong> exigência até que novos Estados-membros do Leste europeu<br />

atingissem os standards então existentes na UE.<br />

Em termos internacionais, a UE foi o único dos principais blocos económicos a atingir as<br />

metas estabelecidas em Kyoto em 1997, ganhando com isso uma crescente autorida<strong>de</strong> nas<br />

discussões internacionais sobre regulamentação ambiental global.<br />

A UE e os sistemas comercial e monetário internacionais<br />

A UE, na primeira meta<strong>de</strong> da década, esteve fortemente envolvida na realização <strong>de</strong> mais um<br />

round <strong>de</strong> negociações comerciais multilaterais no seio da OMC. Nesta ronda, a sua posição<br />

negocial ficou substancialmente reforçada após a reforma da PAC, tendo a UE conseguido<br />

que fosse dada uma especial atenção à questão das normas ambientais que <strong>de</strong>veriam<br />

presidir ao comércio internacional. Simultaneamente, a UE promoveu a formação <strong>de</strong> um<br />

fórum entre a OMC e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) <strong>de</strong>stinado a discutir as<br />

normas laborais e o comércio internacional. O objectivo central foi a realização <strong>de</strong> uma<br />

gradual convergência <strong>de</strong> normas, sem que, no entanto, existissem compromissos<br />

formalmente obrigatórios por parte dos Governos.<br />

Finalizadas as negociações multilaterais em 2006, constatou-se um claro <strong>de</strong>scontentamento<br />

dos meios empresariais com os resultados alcançados, o que levou a Comissão a enveredar<br />

por uma estratégia, já aliás ensaiada nos anos 90, <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> zonas <strong>de</strong> comércio livre ou<br />

<strong>de</strong> outros arranjos comerciais com agrupamentos económicos regionais. Assim, em 2007,<br />

iniciaram-se negociações entre a UE e a NAFTA com vista à criação <strong>de</strong> um Mercado Único<br />

Transatlântico (MUT) e, em 2008, iniciaram-se negociações com a CEAO com vista à<br />

formação <strong>de</strong> uma zona <strong>de</strong> cooperação económica euro-asiática. Estas últimas envolveram<br />

discussões sobre questões monetárias e cambiais que viriam a contribuir para a histórica<br />

<strong>de</strong>cisão dos 13 países <strong>de</strong>ssa Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, em 2015, substituir as suas moedas por uma<br />

moeda única, criando um Banco central com se<strong>de</strong> em Xangai, na China, e formando um<br />

Fundo Monetário da Ásia Oriental (FMAO). O objectivo <strong>de</strong>stas “manobras” <strong>de</strong> integração<br />

económica é a emancipação, por parte <strong>de</strong>stes países da Ásia Oriental, da dominância do<br />

dólar e do sistema financeiro americano.<br />

Em termos monetário-cambiais, e <strong>de</strong>pois da institucionalização do Eurogrupo, a UE<br />

perseguiu sistematicamente o objectivo <strong>de</strong> estabelecer uma maior coor<strong>de</strong>nação entre a<br />

principais moedas − dólar, euro e yen − por forma a reduzir a volatilida<strong>de</strong> cambial que<br />

marcou os primeiros anos do euro. No entanto, só no final da década estão reunidas as<br />

condições para o eventual estabelecimento <strong>de</strong> zonas <strong>de</strong> referência para o câmbio dólareuro.<br />

A CEAO, lançada num processo <strong>de</strong> união monetária, manifestou, igualmente, o seu<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> vir a ser envolvida nessas negociações monetário-cambiais sobre zonas <strong>de</strong><br />

referência.<br />

166


AS DATAS CHAVE<br />

União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

• 1985 Livro Branco da Comissão sobre o Mercado Único que teve um papel crucial na<br />

melhoria da percepção da UE pelas empresas e pelo público em geral;<br />

• 1992 Estabelecimento, em Edimburgo, <strong>de</strong> 1,27% do PIB como limite para o orçamento da<br />

UE. Com a ampla reforma da PAC <strong>de</strong> 2006 (incluindo uma renacionalização parcial das<br />

transferências para os agricultores) foi possível manter o orçamento da União <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>stes<br />

limites;<br />

• 1996 Assinatura do Pacto <strong>de</strong> Estabilida<strong>de</strong> e Crescimento que, entre outras coisas, limita os<br />

défices orçamentais a 3% do PIB mas que não proporciona aos Ministros das Finanças da UE<br />

a flexibilida<strong>de</strong> necessária para respon<strong>de</strong>rem mais activamente a superavites ou défices <strong>de</strong><br />

procura;<br />

• 1997 Protocolo <strong>de</strong> Kyoto: a UE comprometeu-se a reduzir em 8%, até 2010, o nível das suas<br />

emissões <strong>de</strong> CO2 registado em 1990;<br />

• 1999 Pacote orçamental <strong>de</strong> Berlim relativo ao período que expira em 2006;<br />

• 1999 Declaração <strong>de</strong> Tommaso Padoa-Schioppa (membro da direcção do BCE)<br />

<strong>de</strong>clarando-se favorável a uma maior coor<strong>de</strong>nação das políticas fiscais entre os<br />

Governos da Euroland. Nesta <strong>de</strong>claração foi referido que, “como instrumento <strong>de</strong> política fiscal<br />

para a zona euro, falta ao Pacto <strong>de</strong> Estabilida<strong>de</strong> e Crescimento a flexibilida<strong>de</strong> que uma<br />

autorida<strong>de</strong> fiscal central normal possui para respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma forma eficiente, se tal for<br />

necessário, a choques assimétricos à dimensão da Euroland .... com o tempo, talvez se mostre<br />

conveniente que a UE seja capaz <strong>de</strong> afirmar o seu próprio posicionamento em termos <strong>de</strong><br />

política fiscal”;<br />

• 2000 (Março) Cimeira <strong>de</strong> Lisboa mostra que a maior parte dos países europeus estão<br />

comprometidos com as reformas económicas (eventualmente conducentes a um mo<strong>de</strong>lo<br />

próximo do anglo-saxónico). De facto, graças ao impulso dado por espanhóis, britânicos e<br />

portugueses, os li<strong>de</strong>res da UE comprometeram-se com uma ampla “receita anglo-saxónica” <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rnização da oferta, a ser implementada essencialmente por pressão do conjunto dos<br />

Estados-membros, com o objectivo <strong>de</strong> alcançar o objectivo estratégico <strong>de</strong> criar “a mais<br />

competitiva e dinâmica economia baseada no conhecimento do mundo, capaz <strong>de</strong> proporcionar<br />

um crescimento económico sustentado com mais e melhores empregos e maior coesão social”.<br />

Esta data passou a ser consi<strong>de</strong>rada pelos historiadores económicos como o ponto <strong>de</strong> viragem<br />

fundamental no <strong>de</strong>stino económico da Europa;<br />

• 2000 A “correcção” a que se assistiu, durante a Primavera, nas Bolsas <strong>de</strong> valores, e que<br />

chegou a dar a impressão <strong>de</strong> que o comércio electrónico tinha sido uma “bolha” que<br />

acabava <strong>de</strong> explodir, <strong>de</strong>ixou, paradoxalmente, as empresas europeias numa melhor<br />

posição no que se refere à nova economia baseada na revolução corporizada, entre<br />

outras coisas, pelo comércio electrónico e pela internet. De facto, espera-se que estas e<br />

outras novas tecnologias constituam um fortíssimo acelerador da economia pela forma como<br />

transformam os mercados e a maneira como as empresas se relacionam com clientes e<br />

fornecedores;<br />

• 2001 (Conselho Europeu da Primavera) lí<strong>de</strong>res europeus <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m transformar o<br />

“processo <strong>de</strong> Lisboa” num programa <strong>de</strong> referência;<br />

• 2001 Início <strong>de</strong> uma ronda <strong>de</strong> negociações no âmbito da OMC (que se concluiria em 2006);<br />

• 2001 Implementação <strong>de</strong> mais 5 “testes” ao euro pelo Governo britânico em resultado das<br />

acusações dos Conservadores (durante a campanha eleitoral) <strong>de</strong> que os primeiros 5 testes<br />

167


Informação Internacional<br />

168<br />

económicos eram tão vagos que, na prática, permitiriam que os Trabalhistas “<strong>de</strong>ixassem cair”<br />

a libra quando bem enten<strong>de</strong>ssem;<br />

• 2003 Os países da ASEAN juntam-se ao Japão, à China e à Coreia do Sul e criam a<br />

CEAO;<br />

• 2003 (Maio) Referendo britânico. Este referendo sobre o euro constituiu um autêntico “thriller”<br />

político: (1) logo no início do ano, Gordon Brown anunciou que os 10 testes económicos tinham<br />

sido superados com sucesso; (2) uma semana antes do referendo a campanha anti-euro tinha<br />

5 pontos <strong>de</strong> avanço nas sondagens mas (3) dois acontecimentos na última semana trouxeram<br />

um novo impulso às forças pró-euro: (3.1.) um documento (que à partida não <strong>de</strong>veria ser do<br />

conhecimento público) do Partido Conservador mostrava que Michael Portillo, o lí<strong>de</strong>r do<br />

Partido, planeava usar um “Não” no referendo como uma rampa <strong>de</strong> lançamento para a<br />

renegociação da a<strong>de</strong>são do Reino Unido à União, tendo como intuito final a retirada; (3.2.) uma<br />

<strong>de</strong>claração pública <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> grupo <strong>de</strong> investidores estrangeiros no Reino Unido (incluindo<br />

a News Corporation <strong>de</strong> Robert Murdoch) na qual afirmavam que, caso o Reino Unido não<br />

a<strong>de</strong>risse ao euro, reavaliariam todos os seus investimentos no país. Estes dois acontecimentos<br />

alteraram as opiniões relativamente ao euro, sendo o resultado final <strong>de</strong> 56% a favor <strong>de</strong>scrito<br />

como “satisfatório” por Tony Blair. Portillo alterou rapidamente a sua posição relativamente ao<br />

euro e à UE, prometendo respeitar o resultado do referendo durante, no mínimo, “duas<br />

legislaturas”, o que levou a que John Redwood e um grupo <strong>de</strong> conservadores anti-Europeus<br />

abandonassem os Conservadores e se unissem ao Partido da In<strong>de</strong>pendência do Reino Unido;<br />

• 2004 Numa tentativa <strong>de</strong> enfrentar, a nível europeu, as consequências do envelhecimento<br />

da população nos sistemas <strong>de</strong> pensões, os Governos da UE acordaram um conjunto <strong>de</strong><br />

medidas comuns aos Estados-membros: aumentar sequencialmente, até 2014, a ida<strong>de</strong> da<br />

reforma até aos 70 anos; acabar com os incentivos à reforma antecipada; implementar uma<br />

série <strong>de</strong> esquemas nacionais, financiados parcialmente pela UE, <strong>de</strong>stinados à formação<br />

profissional dos indivíduos com mais <strong>de</strong> 55 anos; encorajar o crescimento <strong>de</strong> sistemas privados<br />

<strong>de</strong> pensões;<br />

• 2004/05 Recessão na Europa que se seguiu ao crash bolsista com origem nos EUA. Este<br />

foi o único período da primeira década do século XXI durante o qual se assistiu a um<br />

abrandamento do crescimento económico na Europa. Foi durante este período <strong>de</strong> recessão<br />

que os Ministros das Finanças do Euroland <strong>de</strong>cidiram da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma política<br />

orçamental mais coor<strong>de</strong>nada e pró-activa;<br />

• 2005 Tentativa dos membros do Eurogrupo <strong>de</strong> o tornar numa instituição com po<strong>de</strong>res<br />

formais que provocou uma gran<strong>de</strong> contestação dos 6 novos membros da UE (os únicos que<br />

não faziam parte do Eurogrupo), os quais argumentavam que, imediatamente após a sua<br />

entrada no “clube”, os Estados-membros “mais velhos” queriam criar uma nova divisão para<br />

separar o Oeste do Leste. A Comissão também entrou na discussão dizendo que as<br />

disposições relativas à geometria variável não permitiam a criação <strong>de</strong> novas instituições da UE.<br />

A i<strong>de</strong>ia acabou por ser adiada. O que os membros do Eurogrupo queriam era adoptar<br />

procedimentos mais formais na <strong>de</strong>finição da política <strong>de</strong> fixação da taxa <strong>de</strong> câmbio e na<br />

coor<strong>de</strong>nação da política orçamental, bem como ter a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instruir formalmente o seu<br />

porta-voz, Sr. Euroland. O seu argumento era que o alargamento recente tinha tornado o Ecofin<br />

gran<strong>de</strong>, “pesado” e com uma li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong>masiado dispersa para alcançar uma coor<strong>de</strong>nação<br />

eficiente das políticas;<br />

• 2005 A maior parte dos objectivos <strong>de</strong>finidos no Livro Branco da Comissão <strong>de</strong> 2001 sobre<br />

Empreen<strong>de</strong>dorismo, Inovação e Comércio Electrónico tinham sido atingidos. Muitos <strong>de</strong>les<br />

necessitaram <strong>de</strong> acção directa a nível europeu, especialmente por parte do Conselho <strong>de</strong><br />

Ministros das Finanças. Novos e ainda mais ambiciosos objectivos foram <strong>de</strong>finidos;


União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

• 2005 Fixação, pelo Conselho Europeu, <strong>de</strong> objectivos (paralelos aos da reforma<br />

económica) ligados à promoção da coesão social, à redução da exclusão social e à<br />

melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Estes objectivos surgiram como resposta à popularida<strong>de</strong><br />

inicial dos programas <strong>de</strong> reforma económica da UE e, através <strong>de</strong>les, os Governos <strong>de</strong>ixaram<br />

claro que o seu objectivo era mo<strong>de</strong>rnizar e preservar o mo<strong>de</strong>lo social europeu;<br />

• 2005 EUA e UE <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m que as respectivas Agência Alimentares <strong>de</strong>veriam <strong>de</strong>finir<br />

métodos e procedimentos comuns e ter acesso aos trabalhos uma da outra. Esta tomada<br />

<strong>de</strong> posição surgiu em resultado <strong>de</strong> múltiplas querelas transatlânticas nesta área, as quais não<br />

foram solucionadas pela criação, no início da década, <strong>de</strong> uma Agência Alimentar Europeia;<br />

• 2006 A<strong>de</strong>são da Polónia ao euro (e, logo, ao Eurogrupo);<br />

• 2006 (CIG) Atribuição ao Eurogrupo do carácter <strong>de</strong> instituição com po<strong>de</strong>res legalmente<br />

estatuídos. De facto, com a adopção da moeda única pela Polónia, os países da zona euro<br />

persuadiram os restantes (garantindo-lhes que entrariam no grupo assim que a<strong>de</strong>rissem à<br />

moeda única) a uma alteração dos Tratados que conferisse ao Eurogrupo po<strong>de</strong>res<br />

regulamentares. Assim, esta nova instituição, passou, entre outras coisas, a po<strong>de</strong>r mandatar o<br />

Sr. Euroland nas negociações internacionais, aprovar um regime para as taxas <strong>de</strong> câmbio e<br />

<strong>de</strong>cidir acerca do estabelecimento <strong>de</strong> bandas <strong>de</strong> referência para a taxa <strong>de</strong> câmbio dólar-euro;<br />

• 2006 (CIG) Re-arranjo da composição do Conselho do BCE. Com o alargamento, o<br />

equilíbrio existente no Conselho do BCE entre os 6 directores executivos e os governadores<br />

dos Bancos centrais da Euroland <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> existir, fazendo com que certas coligações <strong>de</strong><br />

interesses nacionais se tornassem <strong>de</strong>masiado fortes relativamente ao próprio Banco. Para<br />

corrigir esta situação, a CIG <strong>de</strong>cidiu, seguindo o exemplo do Conselho <strong>de</strong> Segurança das<br />

Nações Unidas, que os países pequenos passarão a enviar à vez os seus governadores para o<br />

órgão <strong>de</strong>cisor do BCE. Adicionalmente, clarificou e <strong>de</strong>finiu o papel do BCE como len<strong>de</strong>r of last<br />

resort do sistema bancário e das bolsas <strong>de</strong> valores;<br />

• 2006 Reforma da PAC, cuja adopção, tal como seria previsível, se revelou muito difícil, com o<br />

acordo a <strong>de</strong>morar vários meses a ser atingido. Com variadíssimos países prestes a entrar na<br />

UE, os Governos dos Estados-membros, pressionados, acabaram por embarcar numa reforma<br />

radical da CAP que envolveu cortes adicionais nos preços, “gradação” da diminuição das<br />

ajudas financeiras (<strong>de</strong> forma que os pagamentos aos agricultores da Europa Oci<strong>de</strong>ntal fossem<br />

diminuindo ao longo do tempo) e “co-financiamento” (<strong>de</strong> forma a que os Governos nacionais<br />

fiquem responsáveis por uma parte crescente dos custos das transferências para os seus<br />

agricultores, tendo como objectivo alcançar os 50% em 2010);<br />

• 2006 (CIG) Todas as <strong>de</strong>cisões no âmbito da política comercial passarão a ser tomadas<br />

por votação por maioria qualificada (VMQ). Na prática, a extensão das VMQ ao comércio<br />

nos serviços e à proprieda<strong>de</strong> intelectual aumentou a autorida<strong>de</strong> da Comissão nas negociações<br />

internacionais;<br />

• 2006 Conclusão da ronda negocial no âmbito da OMC iniciada em 2001. De referir que o<br />

acordo radical alcançado em termos <strong>de</strong> reforma da PAC aumentou o po<strong>de</strong>r da UE no seio da<br />

OMC ao conquistar parcerias entre vários países em vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e contribuiu para<br />

a conclusão <strong>de</strong>sta ronda negocial 14<br />

• 2007 Em resultado do esforço <strong>de</strong> lobby das empresas multinacionais (<strong>de</strong>scontentes com os<br />

resultados da ronda da OMC, particularmente no que concerne às barreiras não-tarifárias), a<br />

14<br />

Para mais pormenores relativos às <strong>de</strong>cisões tomadas nesta ronda <strong>de</strong> negociações da OMC, ver as páginas<br />

37-38 do trabalho <strong>de</strong> Charles Grant (www.cer.org.uk/x0345cer/2010final.pdf).<br />

169


Informação Internacional<br />

170<br />

UE e a NAFTA iniciaram negociações visando a criação <strong>de</strong> um Mercado Único<br />

Transatlântico (MUT) 15 ;<br />

• 2008 Início das negociações entre a UE e a Comunida<strong>de</strong> Económica da Ásia Oriental<br />

(CEAO) visando a criação <strong>de</strong> uma Zona Europeia e Asiática <strong>de</strong> Cooperação Económica<br />

(ZEACE) 16 ;<br />

• 2010 Perspectiva do início <strong>de</strong> discussões entre a Euroland, os EUA e o Japão e<br />

respectivos países associados na Comunida<strong>de</strong> Económica da Ásia do Leste tendo como<br />

objectivo a criação <strong>de</strong> target zones <strong>de</strong> ligação entre o dólar, o euro e o yen (ou mesmo,<br />

entre o dólar, o euro e a planeada EACU – East Asian Currency Unit). Este processo<br />

resulta das sistemáticas e súbitas alterações nas taxas <strong>de</strong> câmbio dólar-euro-yen que<br />

provocaram a troca <strong>de</strong> acusações mútuas <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> <strong>de</strong>svalorizações para ganhar<br />

vantagens competitivas. A perspectiva <strong>de</strong> introdução das target zones bastou para, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo,<br />

diminuir a volatilida<strong>de</strong> dos mercados cambiais para gáudio daqueles que se <strong>de</strong>dicam ao<br />

comércio internacional <strong>de</strong> bens e serviços;<br />

• 2010 Os carros celulares não poluentes passaram a ter preços <strong>de</strong> mercado comparáveis<br />

com as tradicionais viaturas poluentes que funcionam a gasolina e gasóleo. Tal facto<br />

insere-se no contexto <strong>de</strong> um dos objectivos sociais <strong>de</strong>finidos para a UE em 2005, o qual prevê<br />

que, em 2015, meta<strong>de</strong> dos carros vendidos no espaço da União <strong>de</strong>verão possuir motores<br />

celulares totalmente não poluentes;<br />

• 2010 A UE é o único dos principais blocos comerciais globais que respeita aquilo a que<br />

se comprometeu em Kyoto em 1997 (reduzir em 8%, até 2010, o nível das emissões <strong>de</strong> CO2<br />

que registava em 1990). Este facto permitiu-lhe assumir um papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque nas discussões<br />

<strong>de</strong> uma regulação ambiental global;<br />

• 2010 A taxa <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> caiu para valores abaixo dos 10 por 1000 na maior parte dos<br />

países da Europa Oci<strong>de</strong>ntal e a população está a diminuir em vários <strong>de</strong>les. Em muitos dos<br />

EM, o rácio contribuintes-reformados caiu para 2:1;<br />

• 2010 As economias do Brasil, da China, da Índia e da Rússia continuam a crescer a taxas<br />

elevadíssimas;<br />

• 2012 Fim do período <strong>de</strong> transição dos Estados-membros que a<strong>de</strong>riram a partir <strong>de</strong> 2004<br />

relativo à livre circulação <strong>de</strong> trabalhadores. Embora tecnicamente só nesta data os<br />

trabalhadores <strong>de</strong>stes Estados-membros <strong>de</strong>ixem <strong>de</strong> necessitar <strong>de</strong> uma autorização <strong>de</strong> trabalho<br />

nos 15, na prática, por não precisarem <strong>de</strong> visto <strong>de</strong> entrada, vários milhões já trabalham, legal<br />

ou ilegalmente, na Europa Oci<strong>de</strong>ntal (principalmente na Alemanha);<br />

• 2015 Data prevista para a adopção <strong>de</strong> uma moeda única pelos países membros da<br />

Comunida<strong>de</strong> Económica da Ásia Oriental (CEAO);<br />

• 2050 Prevê-se que a população italiana seja inferior a 40 milhões – embora alguns<br />

<strong>de</strong>mógrafos <strong>de</strong>fendam que a imigração ilegal contrariará esta tendência – e que o seu rácio<br />

contribuintes-reformados se situe em 0.7:1.<br />

15 Para mais pormenores sobre o conteúdo específico <strong>de</strong>stas negociações, ver o 2º parágrafo da página 38 do<br />

trabalho <strong>de</strong> Charles Grant (www.cer.org.uk/x0345cer/2010final.pdf).<br />

16<br />

Para uma <strong>de</strong>scrição completa dos pontos em comum entre UE e CEAO e dos tópicos em discussão, ver as<br />

páginas 38-39 do trabalho <strong>de</strong> Charles Grant (www.cer.org.uk/x0345cer/2010final.pdf).


3.2. Uma potência emergente<br />

União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

Em termos diplomáticos, a UE e os seus Estados-membros evoluíram muito <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início<br />

da década, tendo-se tornado numa força a ter em conta a nível mundial. No entanto, o<br />

processo que teve esse <strong>de</strong>sfecho não foi tão linear como o que se po<strong>de</strong>ria pensar no início<br />

do período. A diferença resultara da profunda transformação do sistema das Nações Unidas<br />

que ocorrera após a vitória dos sectores multilateralistas no seio da elite política americana.<br />

Essa transformação consubstanciara-se, entre outros aspectos, pela entrada como<br />

membros permanentes do Conselho <strong>de</strong> Segurança <strong>de</strong> Alemanha, Japão, Índia e Brasil. De<br />

realçar que a UE, como tal, não tem qualquer tipo <strong>de</strong> representação nesse órgão.<br />

A UE como actor internacional: entre a ONU e a PESD<br />

A UE acaba por estar directamente envolvida nesta transformação, pois os Estadosmembros<br />

<strong>de</strong>finiram, gradualmente, como preferência estrutural da sua intervenção externa,<br />

o fortalecimento das instituições multilaterais, nomeadamente do sistema da ONU, em<br />

contraste com a preferência <strong>de</strong> importantes sectores dos EUA que consi<strong>de</strong>ravam tal reforço<br />

como causador <strong>de</strong> constrangimentos à <strong>de</strong>fesa dos interesses nacionais norte-americanos.<br />

No entanto, ao fazerem-no, não podiam <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> aceitar uma reformulação das relações <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r no seio <strong>de</strong>ssas organizações multilaterais, nomeadamente no que respeita ao<br />

Conselho <strong>de</strong> Segurança da ONU (no duplo sentido <strong>de</strong> uma “normalização” do estatuto da<br />

Alemanha e do Japão e <strong>de</strong> um reforço do protagonismo <strong>de</strong> alguns Estados do “Sul”).<br />

Neste contexto, a actuação externa dos Estados europeus passou a <strong>de</strong>correr em dois níveis<br />

distintos, cada um <strong>de</strong>les vocacionado para um <strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong> questões. Assim:<br />

• a um primeiro nível, <strong>de</strong>senvolveu-se uma concertação não institucionalizada, no<br />

Conselho <strong>de</strong> Segurança, entre a França, o Reino Unido e a Alemanha. Esta<br />

concertação ocorria sempre que se tratava <strong>de</strong> questões “hard” – ou seja, crises<br />

repentinas em zonas chave para as potências representadas no Conselho,<br />

intervenções em conflitos <strong>de</strong> segundo plano mas situados fora da zona <strong>de</strong> influência<br />

mais directa da UE, etc.;<br />

• a um segundo nível, consolidou-se a Política Externa e <strong>de</strong> Defesa Comum da UE<br />

como tal, a qual envolveu a concertação <strong>de</strong> todos os Estados-membros e se foi<br />

especializando em três tipos <strong>de</strong> problemas: gestão <strong>de</strong> crises nas periferias directas da<br />

UE, vertentes “soft” da actuação em crises regionais que tinham começado por ser<br />

“hard” e questões “soft” <strong>de</strong> interesse mundial (como as questões ambientais, a luta<br />

contra a criminalida<strong>de</strong> e o terrorismo, etc.) em que a influência da UE se fez sentir no<br />

seio <strong>de</strong> organizações multilaterais (frequentemente em discordância com os EUA).<br />

Refira-se que, enquanto na esfera das relações económicas internacionais a UE funciona<br />

cada vez mais a uma única voz – vd. a presença da Eurolândia no G8 em substituição das<br />

actuais presenças europeias e a “fusão” das quotas dos Estados-membros no FMI e no<br />

Banco Mundial –, na esfera geopolítica, a in<strong>de</strong>pendência dos Estados na cena internacional<br />

é claramente mantida.<br />

171


Informação Internacional<br />

Durante a década, a aplicação da PESD fez-se <strong>de</strong> acordo com os princípios acordados já no<br />

final dos anos 90: as <strong>de</strong>cisões sobre princípios gerais e sobre as linhas gerais <strong>de</strong> estratégia<br />

são tomadas por unanimida<strong>de</strong>; as <strong>de</strong>cisões quanto à implementação <strong>de</strong> estratégias são<br />

tomadas por maioria qualificada; aos Estados-membros que discordam <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>cisão está<br />

aberta, através da figura da “abstenção construtiva”, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manifestarem a sua<br />

posição sem ameaçarem <strong>de</strong> paralisia o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. No entanto, mais importante<br />

do que estas regras foi a consolidação gradual <strong>de</strong> um verda<strong>de</strong>iro “directório” em assuntos <strong>de</strong><br />

Política Externa e Defesa que envolve, além <strong>de</strong> França, Reino Unido e Alemanha, a Itália, a<br />

Espanha e a Polónia. Os consensos obtidos no seu seio são, na prática, as “traves mestras”<br />

das <strong>de</strong>cisões tomadas a 26.<br />

A execução da PESD beneficiou com duas evoluções institucionais:<br />

172<br />

• a fusão, <strong>de</strong>cidida já na segunda meta<strong>de</strong> da década, das “figuras” do Alto<br />

Representante para a Política Externa e do Comissário para as Relações Externas na<br />

pessoa <strong>de</strong> um Vice-Presi<strong>de</strong>nte da Comissão, permitindo a unificação dos staffs e uma<br />

mais completa integração no seio da Comissão;<br />

• a criação <strong>de</strong> um Serviço Diplomático da União, o qual tornou possível uma melhor<br />

integração das vertentes diplomática e económica da Política Externa da UE.<br />

Uma forte cooperação na área da Defesa: a UE e a OTAN<br />

Em termos estratégicos e militares a situação na Europa evoluiu bastante <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2000:<br />

• a OTAN, embora profundamente modificada, manteve-se como organização militar<br />

transatlântica <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa colectiva, tendo evoluído no sentido <strong>de</strong> funcionar mais como<br />

um canal através do qual os EUA disponibilizavam à UE as armas <strong>de</strong> alta tecnologia<br />

que esta continuava a não dispor e forneciam apoio logístico à gestão <strong>de</strong> crises. De<br />

facto, os EUA, ao recentrarem o seu dispositivo militar para lidar com eventuais crises<br />

na Ásia, <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ter tropas estacionadas permanentemente na Europa;<br />

• com os anos, foi-se <strong>de</strong>finindo uma nova divisão <strong>de</strong> trabalho entre os EUA e a UE no<br />

seio da OTAN. Assim, sempre que a OTAN <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> lançar-se numa missão militar, os<br />

europeus fornecem as tropas para as operações <strong>de</strong> manutenção ou <strong>de</strong><br />

implementação da paz enquanto os americanos contribuem com as capacida<strong>de</strong>s em<br />

que continuam a <strong>de</strong>ter supremacia a nível mundial (espaço, comunicações e<br />

observação) pois a UE <strong>de</strong>sistiu, a meio da década, <strong>de</strong> competir com os EUA nestas<br />

áreas;<br />

• a UE levou a bom termo o processo <strong>de</strong> constituição <strong>de</strong> forças e <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong><br />

comando que lhe permitam intervir autonomamente da OTAN, tendo sido criada uma<br />

força <strong>de</strong> intervenção rápida (com quartel general em Estrasburgo) que po<strong>de</strong> mobilizar<br />

as três forças rápidas existentes na Europa e que estão disponíveis para acções<br />

OTAN ou UE: uma sob comando britânico, outra sob comando francês e uma, mais<br />

recente, li<strong>de</strong>rada pela Alemanha. Em termos militares, a UE vocaciona as suas<br />

intervenções autónomas da OTAN para o espaço geográfico contíguo<br />

(nomeadamente nos Balcãs e em África) on<strong>de</strong> dispõe <strong>de</strong> maior po<strong>de</strong>r diplomático e<br />

<strong>de</strong> meios para a ajuda ao <strong>de</strong>senvolvimento;


União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

• a França e o Reino Unido começaram a dar importantes passos no sentido <strong>de</strong><br />

“articular” as suas forças nucleares. Esta coor<strong>de</strong>nação chegou ao ponto <strong>de</strong>stes países<br />

projectarem construir uma nova geração <strong>de</strong> submarinos que albergue os dissuasores<br />

nucleares britânico e francês, o que constitui uma verda<strong>de</strong>ira revolução estratégica na<br />

Europa e contribuiu para que estes dois países <strong>de</strong>sempenhem um papel central em<br />

todo a cooperação militar realizada no seio da UE;<br />

• a UE dotou-se igualmente dos meios financeiros necessários para suportar a vertente<br />

militar da sua acção externa, tendo estabelecido 2% do PIB como limiar mínimo para<br />

as <strong>de</strong>spesas com a <strong>de</strong>fesa dos seus Estados-membros. De forma complementar,<br />

<strong>de</strong>cidiu criar um orçamento para a Defesa a nível da União (separado do orçamento<br />

civil e sem intervenção do Parlamento Europeu) com que passou a suportar os custos<br />

das suas operações;<br />

• os Estados-membros da UE, não obstante a forte pressão dos EUA, acabaram por<br />

<strong>de</strong>sistir <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver e instalar um “sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa anti-mísseis <strong>de</strong> teatro” (que<br />

esteve em estudo na OTAN <strong>de</strong>s<strong>de</strong> finais da década <strong>de</strong> 90) e, ao tomarem tal <strong>de</strong>cisão,<br />

libertaram meios para prosseguir projectos comuns <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

implementação <strong>de</strong> outros sistemas <strong>de</strong> armas. Na base da <strong>de</strong>cisão esteve, por um<br />

lado, o facto dos Estados-membros em questão não acreditarem nos riscos colocados<br />

pelos “Estados párias” da década <strong>de</strong> 90 e, por outro, a sua <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> tentarem<br />

melhorar substancialmente as relações com alguns <strong>de</strong>les (por exemplo, o Irão e a<br />

Coreia do Norte);<br />

• finalmente, os Estados-membros que dispõem <strong>de</strong> indústrias <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa mais<br />

significativas – França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Suécia e Espanha – criaram,<br />

na primeira meta<strong>de</strong> da década, uma Agência Europeia <strong>de</strong> Armamentos (AEA), a qual<br />

constituiu um das cooperações reforçadas concretizadas no período e através da qual<br />

estes Estados-membros avançaram na coor<strong>de</strong>nação das suas compras, encomendas<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> material militar. No entanto, foi muito surpreen<strong>de</strong>nte o fracasso<br />

das tentativas <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> empresarial europeia nas indústrias da<br />

<strong>de</strong>fesa, o que teve reflexos noutros sectores (nomeadamente na aeronáutica civil).<br />

Assim, numa sucessão <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões históricas, a British Aerospace fundiu-se com a<br />

Boeing e abandonou o projecto civil do Airbus; a EADS franco-alemã fundiu-se com a<br />

Lockheed Martin, a qual, por sua vez, regressou à aeronáutica civil como parceira<br />

americana do Airbus; e a Thales/Thomson francesa acabou por se fundir com a<br />

Raytheon americana. Estas <strong>de</strong>cisões, tomadas já perto do final da década, abriram<br />

espaço, pela primeira vez, para um mercado transatlântico das indústrias da <strong>de</strong>fesa,<br />

ultrapassando os esforços da primeira meta<strong>de</strong> da década (mais “eurocentrados”) dos<br />

quais a AEA foi o paradigma.<br />

AS DATAS CHAVE<br />

• 1997 Protocolo <strong>de</strong> Kyoto: a UE comprometeu-se a reduzir em 8%, até 2010, o nível das suas<br />

emissões <strong>de</strong> CO2 registado em 1990;<br />

• 1999 Conflito no Kosovo, durante o qual se começou a assistir a uma “divisão do trabalho”<br />

entre os EUA e a UE. De facto, os EUA forneceram a maior parte do po<strong>de</strong>r aéreo e os<br />

equipamentos <strong>de</strong> comando, controlo e comunicações, enquanto os europeus ce<strong>de</strong>ram a maior<br />

parte dos soldados das forças <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> paz;<br />

173


Informação Internacional<br />

• 2004 O Irão expulsa os Ayatollahs (a quem foi oferecido refúgio pelo Afeganistão) e abre o<br />

caminho para a consolidação da sua <strong>de</strong>mocracia Este facto enfraqueceu a justificação<br />

americana para o <strong>de</strong>senvolvimento do Sistema Nacional <strong>de</strong> Defesa Anti-Míssil (SNDAM);<br />

• 2004 O Governo <strong>de</strong> Blair quase <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> a<strong>de</strong>rir ao SNDAM americano mas, <strong>de</strong>vido à forte<br />

reacção da França e à argumentação <strong>de</strong> Gordon Brown (que afirmou que, se o Ministério da<br />

Defesa britânico fosse gastar 5 biliões <strong>de</strong> euros no SNDAM, não sobraria dinheiro para<br />

aumentar as pensões <strong>de</strong> reforma antes das próximas eleições no Reino Unido), acaba por<br />

abandonar esta i<strong>de</strong>ia;<br />

• 2005 Nas eleições gerais britânicas, os Conservadores falham na sua estratégia <strong>de</strong><br />

ataque ao Governo em que <strong>de</strong>fendiam que este, ao não investir num sistema anti-míssil,<br />

<strong>de</strong>ixara o Reino Unido <strong>de</strong>sprotegido;<br />

• 2005 Fixação <strong>de</strong> especificações comuns para os vários projectos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

Veículos Aéreos Não-Tripulados (VANT) existentes nos Estados-membros, bem como fusão<br />

<strong>de</strong> vários projectos <strong>de</strong> I&D nesta área a nível europeu;<br />

• 2005 A Coreia do Norte <strong>de</strong>cidiu, através <strong>de</strong> um referendo, a união com a Coreia do Sul.<br />

Este facto enfraqueceu a justificação americana para o <strong>de</strong>senvolvimento do SNDAM;<br />

• 2006 (CIG) Fusão das funções <strong>de</strong> Alto Representante para a Política Externa e <strong>de</strong><br />

Comissário para as Relações Externas que veio reforçar a posição <strong>de</strong> Anna Lindh<br />

(Srª PESC);<br />

• 2006 a Alemanha adoptou um exército 100% profissional. Este facto inseriu-se nos esforços<br />

<strong>de</strong> vários Estados-membros para mo<strong>de</strong>rnizar as suas forças armadas;<br />

• 2006 Data prevista para o SNDAM americano se tornar operacional mas que não se<br />

concretizou, apesar do Reino Unido e da Dinamarca terem autorizado os EUA a actualizar e<br />

incorporar no plano SNDAM as suas estações <strong>de</strong> radar <strong>de</strong> aviso precoce em Fylingdales<br />

(Yorkshire) e Thule (Greenland), respectivamente;<br />

• 2006 Utilização, pela Grécia, do seu direito <strong>de</strong> veto na questão do reconhecimento da<br />

in<strong>de</strong>pendência do Montenegro relativamente à Sérvia. Este facto contrariou o costume<br />

vigente segundo o qual, quando os seis gran<strong>de</strong>s Estados-membros apoiavam uma posição <strong>de</strong><br />

política externa, os Estados-membros mais pequenos não utilizavam o seu direito <strong>de</strong> veto. Em<br />

resposta ao veto grego, os 6 começaram a formalizar as suas reuniões e a emitir <strong>de</strong>clarações a<br />

6, o que causou preocupações aos mais pequenos. Consequentemente, a Grécia, pressionada,<br />

entre outros, pela Holanda, acabou por retirar (passado um ano) o seu veto (usando a figura da<br />

abstenção construtiva);<br />

• 2007 Ameaça da Irlanda e da Áustria 17 do uso do seu direito <strong>de</strong> veto na questão da<br />

missão militar da UE na Serra Leoa <strong>de</strong>stinada a acabar com a longa guerra civil e a controlar<br />

as minas <strong>de</strong> diamantes na posse <strong>de</strong> guerrilhas apoiadas pela Libéria. Esta ameaça acabou<br />

quando os “gran<strong>de</strong>s” ameaçaram continuar por meio da figura da geometria variável;<br />

• 2009 Criação <strong>de</strong> um orçamento UE para a <strong>de</strong>fesa. De facto, capacida<strong>de</strong>s e meios comuns<br />

levaram os Estados-membros (li<strong>de</strong>rados pelo Reino Unido com forte apoio da França) a pensar<br />

num financiamento comum que evitasse free-ri<strong>de</strong>rs e outros <strong>de</strong>sequilíbrios;<br />

• 2010 Os orçamentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da China, da Índia e da Rússia continuam a crescer muito<br />

significativamente e a sua aliança, baseada na oposição ao domínio global dos EUA,<br />

tem-se vindo a aprofundar, o que é um motivo <strong>de</strong> preocupação para Washington;<br />

17 Ao contrário da Suécia e da Finlândia, Irlanda e Áustria nunca a<strong>de</strong>riram à NATO.<br />

174


União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

• 2010 A UE é o único dos principais blocos comerciais globais que respeita aquilo a que<br />

se comprometeu em Kyoto em 1997 (reduzir em 8%, até 2010, o nível das emissões <strong>de</strong> CO2<br />

que registava em 1990). Este facto permitiu-lhe assumir um papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque nas discussões<br />

<strong>de</strong> uma regulação ambiental global;<br />

• 2010 Os EUA e a UE estão longe do sonho <strong>de</strong> Jean Monnet relativo a uma soberania<br />

transatlântica partilhada. No entanto, as relações entre estes dois blocos são sólidas,<br />

estáveis e, por vezes, globalmente dominadoras. Os outros países têm que se auto-<strong>de</strong>finir<br />

como sendo a favor ou contra o eixo Washington-Bruxelas o qual, apesar <strong>de</strong> ainda ser li<strong>de</strong>rado<br />

pelos EUA, está bem menos enviesado que no início da década;<br />

• 2012 Data prevista para a implementação <strong>de</strong> uma força comum UE <strong>de</strong> Eurocaças que<br />

estaria ao serviço <strong>de</strong> um único quartel-general, centro <strong>de</strong> treinos e <strong>de</strong> logística. Este projecto<br />

surgiu em sequência do sucesso da frota europeia <strong>de</strong> aviões <strong>de</strong> transporte e tanque Airbus<br />

A400. O Reino Unido e a França, ao contrário da maioria dos outros Estados-membros,<br />

<strong>de</strong>cidiram manter alguns dos seus caças fora <strong>de</strong>sta força europeia.<br />

3.3. Um Continente organizado<br />

A principal realização externa da UE durante a década foi, sem dúvida, o seu papel <strong>de</strong>cisivo<br />

para a estabilização e pacificação da Europa Central e Oriental e a sua participação na<br />

estabilização da parte europeia da ex-URSS (não hostilizando a Rússia, mas conseguindo<br />

salvaguardar a in<strong>de</strong>pendência da Ucrânia e <strong>de</strong> outros Estados relativamente a ela).<br />

Adicionalmente, uma das questões mais complexas com que a UE se <strong>de</strong>parou na realização<br />

conjunta <strong>de</strong>stas duas vertentes foi a questão das relações com a Turquia.<br />

Do alargamento aos protectorados nos Balcãs e às parcerias estratégicas com a<br />

Rússia e a Turquia<br />

Quatro processos foram <strong>de</strong>cisivos para a pacificação e organização do continente:<br />

• a realização <strong>de</strong> um amplo e extenso processo <strong>de</strong> alargamento da UE, sendo a<br />

a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> um novo país encarada como um “prémio” ao seu bom comportamento<br />

relativamente a três preferências estruturais da União: consolidação <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracias<br />

políticas; transição para economias <strong>de</strong> mercado capazes <strong>de</strong> suportar a pressão<br />

competitiva do Mercado Único; salvaguarda dos direitos das minorias étnicas, como<br />

condição imprescindível para a existência <strong>de</strong> Estados multiétnicos que evitem um<br />

processo <strong>de</strong> revisão generalizada <strong>de</strong> fronteiras na Europa. Em 2010, a União tinha já<br />

recebido, como novos Estados-membros, Polónia, Hungria, República Checa,<br />

Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Letónia, Lituânia, Croácia, Chipre e Malta; estando,<br />

por sua vez, na fase final <strong>de</strong> negociações para a a<strong>de</strong>são, a Noruega e a Suíça, entre<br />

os países da Europa Oci<strong>de</strong>ntal, e a Bulgária e a Roménia, da Europa Balcânica;<br />

• a transferência para a responsabilida<strong>de</strong> exclusiva da UE da política <strong>de</strong> “protectorados”<br />

balcânicos, iniciada sob os auspícios da OTAN com a Bósnia, Kosovo, Macedónia e<br />

Albânia e que se esten<strong>de</strong>u ao Montenegro e à Sérvia. Esta política foi suportada pela<br />

implementação <strong>de</strong> um Pacto <strong>de</strong> Estabilida<strong>de</strong> para os Balcãs e pela presença <strong>de</strong> 80<br />

mil soldados europeus, tendo sido uma condição fundamental para o seu êxito o facto<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r oferecer como <strong>de</strong>stino final a participação no processo do alargamento.<br />

175


Informação Internacional<br />

176<br />

Assim, em 2010, aqueles seis “protectorados” iniciaram as negociações com vista à<br />

a<strong>de</strong>são à UE;<br />

• a criação <strong>de</strong> uma Área Económica Europeia (AEE), como “quase extensão” do<br />

Mercado Único, à qual a<strong>de</strong>riram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início um conjunto <strong>de</strong> Estados do Mar Negro<br />

(Rússia, Ucrânia, Bulgária, Roménia e Turquia) 18 . A Rússia e a Ucrânia beneficiam,<br />

no entanto, <strong>de</strong> numerosas <strong>de</strong>rrogações (sob a forma <strong>de</strong> regimes transitórios) às<br />

regras do Mercado Único;<br />

• a celebração <strong>de</strong> “Parcerias Estratégicas” com a Rússia e a Turquia (incluindo<br />

atribuição do estatuto <strong>de</strong> membro associado da UE a ambos os Estados), o que foi<br />

fundamental para o combate à criminalida<strong>de</strong> organizada, ao tráfico <strong>de</strong> droga e ao<br />

terrorismo, bem como para o controlo da imigração ilegal (além <strong>de</strong> ter facilitado o<br />

diálogo relativamente aos Balcãs).<br />

Este gigantesco processo, que teve no centro a UE, provocou profundas transformações<br />

nas priorida<strong>de</strong>s das políticas internas da União, entre as quais gostaríamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar:<br />

• a revisão profunda e a renacionalização parcial da PAC, como condição prévia a um<br />

gran<strong>de</strong> alargamento que não envolvesse um acréscimo incomportável <strong>de</strong> gastos no<br />

orçamento comunitário;<br />

• a transformação das políticas relativas à imigração, ao asilo e ao combate à<br />

criminalida<strong>de</strong> em políticas internas centrais da UE, tornadas imprescindíveis para a<br />

manutenção da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> pessoas no espaço da UE após um<br />

período <strong>de</strong> transição subsequente à integração dos novos Estados.<br />

O alargamento e a reforma da PAC<br />

Uma das gran<strong>de</strong>s consequências do processo <strong>de</strong> alargamento foi, como já referimos, a<br />

reforma drástica da PAC e, consequentemente, do orçamento da União. Logo em 2004, os<br />

países que a<strong>de</strong>riram nesse ano, não receberam a totalida<strong>de</strong> dos benefícios da PAC (com a<br />

justificação <strong>de</strong> que esta seria objecto <strong>de</strong> revisão até 2006, quando terminasse a vigência das<br />

perspectivas financeiras acordadas no Conselho Europeu <strong>de</strong> Berlim, em 1999). Nos<br />

trabalhos preparatórios para a referida reforma colocaram-se três opções:<br />

• esten<strong>de</strong>r os pagamentos a que vinham tendo direito os agricultores da Europa<br />

Oci<strong>de</strong>ntal por via da PAC aos agricultores dos novos Estados-membros (o que<br />

significaria um aumento significativo da dimensão do orçamento comunitário);<br />

• recusar os benefícios da PAC aos agricultores dos novos Estados-membros, o que<br />

parecia ser politicamente inaceitável para os países do leste europeu (sendo que,<br />

aqueles que já eram membros da UE <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2004 ameaçaram vetar esta opção);<br />

• proce<strong>de</strong>r a uma reforma profunda da PAC, envolvendo mais uma série <strong>de</strong> reduções<br />

<strong>de</strong> preços garantidos, a aceitação da “<strong>de</strong>gressivida<strong>de</strong>” (ou seja, da eliminação,<br />

18<br />

A sugestão <strong>de</strong> que a Suíça e a Noruega também integram esta AEE não parece ser uma solução bem<br />

conseguida na versão original do cenário.


União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

escalonada no tempo, das ajudas directas aos agricultores da Europa Oci<strong>de</strong>ntal) e o<br />

co-financiamento (ou seja, o envolvimento dos Governos nacionais em proporção<br />

crescente no financiamento dos apoios da nova PAC aos seus agricultores, o qual<br />

atingiria os 50% em 2010).<br />

Depois <strong>de</strong> acesas discussões, a resistência da França acabou por ser vencida e foi<br />

adoptada uma reforma que na prática correspondia à renacionalização parcial da PAC, ou<br />

seja, daquela que fora a política comum emblemática da Comunida<strong>de</strong> Económica Europeia<br />

(CEE). No seguimento <strong>de</strong>sta reforma, o orçamento comunitário pô<strong>de</strong> manter-se no limiar<br />

dos 1,27% do PIB da União, tal como fora acordado em Edimburgo em 1992.<br />

Um espaço <strong>de</strong> segurança interna numa Europa alargada<br />

Na primeira meta<strong>de</strong> da década, assistiu-se a gran<strong>de</strong>s avanços na <strong>de</strong>finição e<br />

implementação <strong>de</strong> uma política comum nas áreas do direito <strong>de</strong> asilo, imigração ilegal e<br />

combate à criminalida<strong>de</strong>:<br />

• em relação ao direito <strong>de</strong> asilo (e após ter sido possível ultrapassar resistências da<br />

França), acabou por ser aprovado um regime comum, englobando a <strong>de</strong>finição da<br />

figura do candidato ao asilo, dos seus direitos e dos standards mínimos no seu<br />

tratamento pelos Estados-membros;<br />

• adicionalmente, a União <strong>de</strong>finiu um regime comum relativo à concessão <strong>de</strong> visas e <strong>de</strong><br />

autorizações <strong>de</strong> residência e trabalho, ao mesmo tempo que os Estados-membros<br />

aproximaram as suas legislações no que concerne à concessão <strong>de</strong> cidadania;<br />

• a União, aquando da <strong>de</strong>finição, em 2004, do “pacote” <strong>de</strong> medidas relativas à reforma<br />

dos sistemas <strong>de</strong> pensões, <strong>de</strong>cidiu implementar uma política selectiva <strong>de</strong> imigração,<br />

<strong>de</strong>stinada a colmatar os défices <strong>de</strong> activos qualificados em certas áreas, mediante o<br />

estabelecimento <strong>de</strong> quotas a nível da UE (divididas posteriormente pelos Estadosmembros);<br />

• em relação ao combate à imigração ilegal, a UE manteve, por um lado, generosos<br />

programas <strong>de</strong> apoio à estabilização política e ao <strong>de</strong>senvolvimento económico dos<br />

países situados nas suas periferias mais directas (África do Norte, Médio Oriente e<br />

Cáucaso, bem como Ucrânia e Moldávia) através da execução <strong>de</strong> Acordos <strong>de</strong><br />

Parceria que obrigavam os Estados signatários a respeitar os standards <strong>de</strong>finidos<br />

pela UE quanto a direitos humanos, funcionamento da <strong>de</strong>mocracia, etc.; e, por outro,<br />

passou a apoiar financeiramente os Estados-membros situados nas suas fronteiras<br />

leste e sul no exercício do controlo <strong>de</strong>ssas mesmas fronteiras (foi mesmo criada uma<br />

Guarda Europeia <strong>de</strong> Fronteiras e, como uma das cooperações reforçadas, está em<br />

curso, no Mediterrâneo, a formação <strong>de</strong> uma Guarda Costeira);<br />

• relativamente ao combate à criminalida<strong>de</strong>, a Europol transformou-se numa importante<br />

instituição da União, passando também a incorporar o Eurojust (criado em Tampere);<br />

• em relação à cooperação judicial foram também dados vários passos significativos,<br />

nomeadamente nos casos que atravessam várias jurisdições nacionais.<br />

177


Informação Internacional<br />

178<br />

AS DATAS CHAVE<br />

• 1997 Assinatura do tratado <strong>de</strong> Amsterdão que, entre outras coisas, inclui artigos que<br />

permitem ao Conselho Europeu a suspensão dos direitos <strong>de</strong> voto do Governo <strong>de</strong> um Estadomembro<br />

que fosse culpado <strong>de</strong> violar os direitos humanos;<br />

• 2000 (CIG) A CIG fez pouco mais do que limitar o número <strong>de</strong> comissários a um por<br />

Estado-membro, aumentar o peso dos gran<strong>de</strong>s países nas votações e esten<strong>de</strong>r (<strong>de</strong> forma<br />

mo<strong>de</strong>sta, no entanto) as áreas sujeitas a VMQ;<br />

• 2002 Os Estados-membros <strong>de</strong>cidiram adoptar a VMQ nas questões ligadas à política <strong>de</strong><br />

asilo. Este facto permitiu-lhes a adopção <strong>de</strong> um regime comum <strong>de</strong> asilo que englobasse<br />

acordos na <strong>de</strong>finição das condições para a concessão <strong>de</strong> asilo, dos direitos legais dos<br />

candidatos a asilo e <strong>de</strong> standards mínimos para o respectivo tratamento;<br />

• 2004 No seguimento das políticas comuns para obstar ao fenómeno do envelhecimento no<br />

continente europeu, os Ministros da Administração Interna <strong>de</strong>cidiram facilitar a concessão<br />

<strong>de</strong> vistos <strong>de</strong> entrada a certas categorias <strong>de</strong> trabalhadores qualificados <strong>de</strong> que a UE é<br />

carente. Assim, chegaram a acordo para quotas UE (divididas entre os vários Estadosmembros)<br />

para professores <strong>de</strong> matemática, especialistas em tecnologias <strong>de</strong> informação (TI),<br />

engenheiros <strong>de</strong> telecomunicações, enfermeiros e médicos. De referir que alguns países em<br />

vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sentem-se prejudicados pela saída para a UE <strong>de</strong> alguns dos seus<br />

mais talentosos, qualificados e jovens trabalhadores;<br />

• 2004 Entrada <strong>de</strong> 6 novos países na UE 19 à qual se seguiu uma nova CIG que “preparou o<br />

terreno” para uma outra ronda <strong>de</strong> alargamento que se veio a concluir em 2008. Nessa data<br />

(2008), a UE passou a contar com 26 Estados-membros. Entre outras coisas, estes novos<br />

Estados-membros não receberam todos os benefícios previstos na PAC com a justificação <strong>de</strong><br />

que esta seria sujeita a uma profunda reforma em 2006, data <strong>de</strong> expiração do pacote<br />

orçamental <strong>de</strong> Berlim;<br />

• 2004 Estabelecimento, pelo Conselho Europeu, <strong>de</strong> 20 “critérios <strong>de</strong> entrada na UE” que<br />

cobrem temas tão diversos quanto o nível <strong>de</strong> competição no mercado das telecomunicações, o<br />

papel do estado no sistema bancário, o grau <strong>de</strong> interferência política na política da<br />

concorrência, o grau <strong>de</strong> controlo civil sobre as forças armadas, a in<strong>de</strong>pendência dos meios <strong>de</strong><br />

comunicação, os direitos das minorias étnicas e o nível <strong>de</strong> corrupção na administração pública.<br />

Estes critérios surgiram como resposta às preocupações <strong>de</strong> países candidatos que não<br />

a<strong>de</strong>riram em 2004 relativamente à possibilida<strong>de</strong> da UE tentar encontrar “<strong>de</strong>sculpas” para o<br />

adiamento sine die <strong>de</strong> novas rondas <strong>de</strong> alargamento. Todos os anos, a Comissão publica a sua<br />

classificação (numa escala <strong>de</strong> 1 a 10) da performance dos candidatos relativamente a cada um<br />

dos critérios;<br />

• 2004 União entre a Bielorússia (que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> existir enquanto tal) e a Rússia;<br />

• 2007 Criação, pela UE, do cargo <strong>de</strong> Provedor dos Direitos Humanos que tem como função<br />

a investigação e a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> (<strong>de</strong>s)respeito pelos direitos humanos nos<br />

países candidatos à a<strong>de</strong>são à UE. A criação <strong>de</strong>sta figura resultou da pressão <strong>de</strong>sses mesmos<br />

candidatos que salientavam o facto do anterior procedimento utilizado pelo Conselho Europeu<br />

correr o risco <strong>de</strong> se tornar <strong>de</strong>masiado político e pouco objectivo, estando alguns países a ser<br />

beneficiados por essa subjectivida<strong>de</strong>. O provedor trabalha em cooperação e assenta na<br />

experiência do Conselho da Europa nestas matérias. Antes <strong>de</strong> punir um Governo <strong>de</strong> um país<br />

candidato, o Conselho Europeu é obrigado a ter em consi<strong>de</strong>ração os relatórios do provedor;<br />

19 Provavelmente o autor estaria a pensar nos seguintes países: Chipre, República Checa, Estónia, Hungria,<br />

Malta e Polónia.


União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

• 2008 Segunda ronda <strong>de</strong> alargamento, após a qual a UE passou a contar com 26 Estadosmembros;<br />

• 2008 Fortes controvérsias relativas à exclusão, por tempo in<strong>de</strong>finido, <strong>de</strong> alguns dos<br />

novos Estados-membros do espaço Schengen (passaporte único). O pedido da Croácia<br />

para fazer parte do espaço Schengen foi recusado com a justificação <strong>de</strong> que as suas fronteiras<br />

com a Sérvia e a Bósnia eram “porosas”. A Croácia continuo a insistir até que lhe foi dito que,<br />

se não ce<strong>de</strong>sse, po<strong>de</strong>ria ter que esperar pela próxima ronda <strong>de</strong> alargamento. Também a<br />

Letónia e a Lituânia foram excluídas (tal como o tinha sido a Estónia aquando da sua a<strong>de</strong>são<br />

em 2004) indo muito provavelmente suce<strong>de</strong>r o mesmo à Roménia e à Bulgária quando<br />

finalmente entrarem para a UE. No entanto, é prometido a todos os novos Estados-membros,<br />

nos seus Tratados <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, que serão finalmente admitidos ao espaço Schengen quando<br />

correspon<strong>de</strong>rem a <strong>de</strong>terminados standards (por exemplo em termos <strong>de</strong> gestão das trocas <strong>de</strong><br />

informação com as autorida<strong>de</strong>s responsáveis pela imigração nos outros Estados-membros, <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> dos controlos fronteiriços e <strong>de</strong> requalificação dos aeroportos);<br />

• 2008 Fixação <strong>de</strong> uma data para o início das negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são da Turquia 20 em<br />

resultado da concessão por este país <strong>de</strong> direitos culturais aos Curdos e da limitação do papel<br />

do exército na vida pública. Esta fixação <strong>de</strong> data constitui um exemplo da política <strong>de</strong> "sticks and<br />

carrots" utilizada pela UE face aos países candidatos que, sucintamente, se caracteriza pelo<br />

facto dos países que não respeitam os direitos humanos “per<strong>de</strong>rem lugares na fila <strong>de</strong> espera”<br />

para o alargamento enquanto os que melhoram a sua performance nesta área são<br />

recompensados através <strong>de</strong>, por exemplo, um aumento da assistência técnica ou dos fundos<br />

que visam a melhoria da protecção ambiental. A UE tem três gran<strong>de</strong>s prémios políticos a<br />

oferecer: aceitação como candidato, início das negociações para a a<strong>de</strong>são e conclusão <strong>de</strong>ssas<br />

mesmas negociações;<br />

• 2010 Seis Estados Balcânicos (Albânia, Bósnia, Kosovo, Macedónia, Montenegro e<br />

Sérvia) <strong>de</strong>sejam iniciar negociações visando a sua entrada na União, enquanto Bulgária,<br />

Noruega, Roménia e Suíça as estão quase a completar. A Turquia começou<br />

recentemente essas mesmas conversações;<br />

• 2010 O Parlamento Europeu (PE) insiste na avaliação dos Estados-membros pela<br />

Comissão através da utilização dos mesmos 20 critérios que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2004 servem para<br />

avaliar a performance dos países candidatos. A realização <strong>de</strong>sta avaliação (e a publicação<br />

dos respectivos resultados) tem o apoio dos países candidatos e <strong>de</strong> muitos dos Estadosmembros<br />

mas tem contado com a oposição do Conselho Europeu;<br />

• 2012 Fim do período <strong>de</strong> transição dos Estados-membros que a<strong>de</strong>riram a partir <strong>de</strong> 2004<br />

relativo à livre circulação <strong>de</strong> trabalhadores. Embora tecnicamente só nesta data os<br />

trabalhadores <strong>de</strong>stes Estados-membros <strong>de</strong>ixem <strong>de</strong> necessitar <strong>de</strong> uma autorização <strong>de</strong> trabalho<br />

nos 15, na prática, por não precisarem <strong>de</strong> visto <strong>de</strong> entrada, vários milhões já trabalham, legal<br />

ou ilegalmente, na Europa Oci<strong>de</strong>ntal (principalmente na Alemanha).<br />

3.4. O novo quadro institucional: claro reforço do intergovernamentalismo<br />

As inúmeras alterações registadas na primeira década do século XXI na orgânica<br />

institucional da União corporizam, pelo menos aparentemente, uma reforma à medida do<br />

20 Funcionários da Comissão pensam que estas negociações durarão, no mínimo, 10 anos.<br />

179


Informação Internacional<br />

Reino Unido. De facto, a reforma privilegiou o reforço da coor<strong>de</strong>nação graças à melhor<br />

<strong>de</strong>finição do papel <strong>de</strong> algumas instituições. Assim, passou a existir uma verda<strong>de</strong>ira<br />

administração comunitária, composta pela Comissão Europeia, o Secretariado-geral do<br />

Conselho e o Serviço Diplomático. Numa tentativa <strong>de</strong> caracterizar o quadro institucional da<br />

UE vigente em 2010, po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>stacar os seguintes factos:<br />

180<br />

• a Comissão tem iniciativa exclusiva em áreas como a política comercial, o Mercado<br />

Interno, os auxílios regionais, a política ambiental e o alargamento. No fundo, ela é a<br />

gran<strong>de</strong> responsável pela gestão do Mercado Único embora, muitos dos trabalhos<br />

sejam agora realizados por agência exteriores à instituição (que reduziu a sua força<br />

<strong>de</strong> trabalho para 12 mil funcionários);<br />

• a Comissão tornou-se ainda mais impopular junto das opiniões públicas francesa e<br />

alemã <strong>de</strong>vido à política <strong>de</strong> liberalização dos mercados e <strong>de</strong> redução dos auxílios <strong>de</strong><br />

Estado, o que, como era <strong>de</strong> esperar, contribuiu para que fosse consi<strong>de</strong>rada pelo<br />

Reino Unido como uma aliada (visto que promove a agenda liberalizadora britânica);<br />

• o Secretariado-geral do Conselho ficou com o papel coor<strong>de</strong>nador que pertencera<br />

outrora à Presidência rotativa (entretanto abolida). Dele <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m a Sr.ª PESC, o<br />

Sr. Euroland e a Sr.ª JAI;<br />

• o Serviço Diplomático, composto por unida<strong>de</strong>s da Comissão e do Secretariado-geral<br />

do Conselho, gere a política externa da UE;<br />

• a figura da Sr.ª PESC nasceu da fusão dos cargos <strong>de</strong> Alto Representante para a<br />

Política Externa e <strong>de</strong> Segurança Comum e do Comissário para as Relações Externas,<br />

presi<strong>de</strong> às reuniões dos Ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa e é,<br />

simultaneamente, Vice-presi<strong>de</strong>nte da Comissão;<br />

• paralelamente a um esforço <strong>de</strong> clarificação <strong>de</strong> tarefas com vista à sua não<br />

sobreposição (muitas vezes fonte <strong>de</strong> problemas no seio da UE do início da década),<br />

tentou-se acentuar a coor<strong>de</strong>nação, assegurando que os altos representantes<br />

(Sr.ª PESC, Sr. Euroland e Sr.ª JAI) <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ssem ao mesmo tempo da Comissão (da<br />

qual são Vice-presi<strong>de</strong>ntes) e do Conselho;<br />

• o Eurogrupo tornou-se numa verda<strong>de</strong>ira instituição, possuindo capacida<strong>de</strong>, entre<br />

outras coisas, para mandatar o Sr. Euroland em negociações internacionais, aprovar<br />

um regime cambial e <strong>de</strong>cidir uma posição comum da zona euro em matéria fiscal;<br />

• o Sr. Euroland presi<strong>de</strong> ao Eurogrupo e ao Conselho Ecofin;<br />

• o Conselho Europeu continua a ter o papel fundamental <strong>de</strong> fixação dos gran<strong>de</strong>s<br />

objectivos da União. Por ser a autorida<strong>de</strong> política mais visível, indica a direcção<br />

estratégica a ser seguida pelos outros órgãos da UE. A Comissão trabalha a partir<br />

dos mandatos do Conselho Europeu (o que configura um sistema acentuadamente<br />

intergovernamental). Este papel <strong>de</strong> “lí<strong>de</strong>r” assumido permanentemente pelo Conselho<br />

Europeu reforçou, ao longo da década, a legitimida<strong>de</strong> da UE;<br />

• um esforço <strong>de</strong> racionalização está patente no novo papel <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação do<br />

Conselho Assuntos Gerais (CAG) que foi <strong>de</strong>fendido por muitos políticos, entre os


União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

quais Jacques Delors. O CAG é composto pelos “Ministros para a Europa” e tenta<br />

implementar as <strong>de</strong>cisões do Conselho Europeu e supervisionar o trabalho dos outros<br />

Conselhos e da Comissão;<br />

• dos outros Conselhos, apenas restam <strong>de</strong>fesa, finanças, política externa e JAI. O CAG<br />

é a instituição formal por <strong>de</strong>trás da qual há uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> representantes dos<br />

Primeiros-ministros (PM’s) que, embora com um papel informal, se revestem <strong>de</strong> uma<br />

gran<strong>de</strong> importância nas discussões. As reuniões entre estes sherpas foram instituídas<br />

pela Presidência Portuguesa (PP) do 1º semestre <strong>de</strong> 2000 para assegurar que as<br />

<strong>de</strong>cisões tomadas na Cimeira <strong>de</strong> Lisboa, seriam alvo <strong>de</strong> um acompanhamento. Na<br />

verda<strong>de</strong>, estes sherpas sempre existiram, mas eram constituídos pelos Conselheiros<br />

diplomáticos dos Primeiros-ministros. A inovação da Presidência Portuguesa foi ter<br />

juntado pessoas muito próximas dos Primeiros-ministros que trabalharam nos<br />

dossiers <strong>de</strong> Lisboa e os aconselharam nas <strong>de</strong>cisões a tomar, tendo sido gran<strong>de</strong> parte<br />

dos importantes resultados da Presidência Portuguesa obtidos graças às reuniões<br />

entre estes funcionários. O problema para os Estados-membros mais pequenos (que,<br />

aliás não se limita à esfera <strong>de</strong> actuação dos sherpas) é que muitas das <strong>de</strong>cisões são<br />

previamente “cozinhadas” em reuniões <strong>de</strong> representantes dos seis “gran<strong>de</strong>s” (Reino<br />

Unido, França, Alemanha, Itália, Polónia e Espanha);<br />

• a “geometria variável” foi facilitada, tendo sido removido o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> veto individual <strong>de</strong><br />

cada Estado-membro. No entanto, o Tratado apenas permite este tipo <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong><br />

quando uma longa lista <strong>de</strong> condições for satisfeita, incluindo não “ferir” o Mercado<br />

Único e obter a aprovação da Comissão. Assim, surgiram várias cooperações<br />

reforçadas que <strong>de</strong>finiram, por exemplo, standards mais elevados <strong>de</strong> protecção<br />

ambiental (Estado-membro do Norte da Europa) e criaram uma polícia da fronteira<br />

europeia (países Schengen), uma guarda costeira europeia (países mediterrâneos) e<br />

uma agência europeia do armamento (países com maiores indústrias da <strong>de</strong>fesa:<br />

Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha e Suécia);<br />

• o PE continua a ser uma instituição problemática e, apesar <strong>de</strong> ter obtido po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> co<strong>de</strong>cisão<br />

sobre todas as matérias que implicam gastos para a UE, não tem, em 2010,<br />

influência relevante sobre a agenda europeia;<br />

• as eleições específicas para o Parlamento Europeu foram abolidas (durante a CIG <strong>de</strong><br />

2006). Cada Estado-membro elege os seus representantes no Parlamento Europeu<br />

simultaneamente com as respectivas eleições nacionais.<br />

Os Tratados fundiram-se e, <strong>de</strong> seguida, foram divididos em duas partes. A primeira parte do<br />

Tratado é escrita na forma <strong>de</strong> uma Constituição (compreensível para pessoas leigas na<br />

matéria) e <strong>de</strong>fine os objectivos da UE, os seus principais princípios constitucionais e o papel<br />

<strong>de</strong> cada uma das instituições. Realça as várias áreas – tais como o orçamento, a<br />

fiscalida<strong>de</strong>, a educação, a segurança social, a habitação, o planeamento, os transportes e o<br />

policiamento – relativamente às quais os Estados-nação continuam a ser os principais<br />

responsáveis. Esta primeira parte po<strong>de</strong> apenas ser modificada por um acordo intergovernamental<br />

ratificado por todos os Estados-membros. A criação <strong>de</strong>sta “Parte 1” do<br />

Tratado ajudou a dismistificar a UE e a assegurar às pessoas que “Bruxelas” nunca <strong>de</strong>cidirá<br />

em várias áreas <strong>de</strong> política. A segunda parte do novo Tratado cobre as políticas e os<br />

programas da UE e apresenta disposições institucionais mais <strong>de</strong>talhadas. A entrada <strong>de</strong> um<br />

181


Informação Internacional<br />

novo país na UE requer apenas alterações à “Parte 2” do Tratado, para as quais é<br />

necessário o acordo <strong>de</strong> todos os Governos nacionais mas não a ratificação por cada<br />

Estado-membro. A virtu<strong>de</strong> da parte dois do novo Tratado é permitir que a União reforme as<br />

suas políticas e procedimentos sem ter que se preocupar com um referendo ou um voto<br />

parlamentar que possam bloquear as alterações.<br />

182<br />

AS DATAS CHAVE<br />

• 1992 “Não” dinamarquês, “pequeno sim” francês e hesitações <strong>de</strong> John Major<br />

relativamente à ratificação do tratado <strong>de</strong> Maastricht quase <strong>de</strong>stroem o edifício institucional<br />

da UE. Até 2000, pouco foi feito para fortalecer as instituições;<br />

• 2000 Surgimento <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> informal <strong>de</strong> representantes especiais dos Primeirosministros<br />

(“sherpas”) que trabalharam no follow-up da Cimeira <strong>de</strong> Lisboa sobre as reformas<br />

económicas;<br />

• 2000 (Maio) Discurso <strong>de</strong> Joschka Fischer e (Junho) Discurso <strong>de</strong> Jacques Chirac<br />

caracterizados por um renascer da i<strong>de</strong>ologia fe<strong>de</strong>ralista e pelo objectivo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> um<br />

Estado europeu com uma Europa “a duas velocida<strong>de</strong>s” assente num “centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong>”. No<br />

entanto, não prevêem como é que uma UE alargada (por exemplo a 26 Estados-membros)<br />

po<strong>de</strong> funcionar <strong>de</strong> uma forma efectiva principalmente se a i<strong>de</strong>ia em que assentam estes<br />

discursos – a pertença ao Eurogrupo <strong>de</strong>terminará a pertença a outros grupos <strong>de</strong> avantgar<strong>de</strong> –<br />

não se revelar uma tendência claramente dominante. Assim, embora o “grupo pioneiro” referido<br />

por Chirac (que avançaria no processo <strong>de</strong> integração fora ou <strong>de</strong>ntro do quadro institucional da<br />

UE) tenha provocado algum <strong>de</strong>sconforto no Governo britânico (que foi incapaz <strong>de</strong> articular uma<br />

resposta por recear uma reacção <strong>de</strong> elementos eurocépticos dos média britânicos) esta<br />

aparente dificulda<strong>de</strong> em “pensar” uma UE alargada que funcione eficientemente constitui uma<br />

oportunida<strong>de</strong> para a afirmação do Reino Unido;<br />

• 2005 Tony Blair garante a sua terceira vitória consecutiva nas eleições do Reino Unido e,<br />

pouco tempo <strong>de</strong>pois, abandona o cargo <strong>de</strong> Primeiro Ministro inglês;<br />

• 2005 Implementação do sistema <strong>de</strong> um Comissário por Estado-membro;<br />

• 2005 Tentativa dos membros do Eurogrupo <strong>de</strong> o tornar numa instituição com po<strong>de</strong>res<br />

formais que provocou uma gran<strong>de</strong> contestação dos seis novos membros da UE (os únicos que<br />

não faziam parte do Eurogrupo), os quais argumentavam que, imediatamente após a sua<br />

entrada no “clube”, os Estados-membros “mais velhos” queriam criar uma nova divisão para<br />

separar o Oeste do Leste. A Comissão também entrou na discussão dizendo que as<br />

disposições relativas à geometria variável não permitiam a criação <strong>de</strong> novas instituições da UE.<br />

A i<strong>de</strong>ia acabou por ser adiada. O que os membros do Eurogrupo queriam era adoptar<br />

procedimentos mais formais na <strong>de</strong>finição da política <strong>de</strong> fixação da taxa <strong>de</strong> câmbio e na<br />

coor<strong>de</strong>nação da política orçamental, bem como ter a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instruir formalmente o seu<br />

porta-voz, Sr. Euroland. O seu argumento era que o alargamento recente tinha tornado o Ecofin<br />

gran<strong>de</strong>, “pesado” e com uma li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong>masiado dispersa para alcançar uma coor<strong>de</strong>nação<br />

eficiente das políticas;<br />

• 2006 (CIG) Atribuição ao Eurogrupo do carácter <strong>de</strong> instituição com po<strong>de</strong>res legalmente<br />

estatuídos. De facto, com a adopção da moeda única pela Polónia, os países da zona euro<br />

persuadiram os restantes (garantindo-lhes que entrariam no grupo assim que a<strong>de</strong>rissem à<br />

moeda única) a uma alteração dos Tratados que conferisse ao Eurogrupo po<strong>de</strong>res<br />

regulamentares. Assim, esta nova instituição, passou, entre outras coisas, a po<strong>de</strong>r mandatar o<br />

Sr. Euroland nas negociações internacionais, aprovar um regime para as taxas <strong>de</strong> câmbio e<br />

<strong>de</strong>cidir acerca do estabelecimento <strong>de</strong> bandas <strong>de</strong> referência para a taxa <strong>de</strong> câmbio dólar-euro;


União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

• 2006 (CIG) Fim das eleições para o Parlamento Europeu, passando cada país a eleger os<br />

seus <strong>de</strong>putados europeus no mesmo dia em que realiza as eleições nacionais. Esta alteração<br />

fez com que a votação para a eleição dos <strong>de</strong>putados europeus contasse com o dobro dos<br />

votos e, ao reconhecer que o Parlamento Europeu é apenas uma extensão dos sistemas<br />

políticos nacionais, ajudou a dissipar algum do cinismo que ro<strong>de</strong>ava esta instituição;<br />

• 2006 (CIG) Consolidação dos Tratados e respectiva divisão em duas partes com o<br />

objectivo <strong>de</strong> obstar às críticas <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> da UE;<br />

• 2007 Criação, pela UE, do cargo <strong>de</strong> Provedor dos Direitos Humanos que tem como função<br />

a investigação e a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> (<strong>de</strong>s)respeito pelos direitos humanos nos<br />

países candidatos à a<strong>de</strong>são à UE;<br />

• 2010 Crescente apoio a duas reformas muito ambiciosas que têm como objectivo aumentar<br />

a legitimida<strong>de</strong> do Parlamento Europeu e da Comissão ao permitirem uma mais fácil<br />

i<strong>de</strong>ntificação do sistema político europeu com o dos Estados-membros. O primeiro plano <strong>de</strong><br />

reforma, relativo ao Parlamento Europeu, prevê a redução do número <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados<br />

europeus directamente eleitos, substituindo-os por <strong>de</strong>putados dos parlamentos<br />

nacionais o que faria com que passassem a existir dois tipos diferentes <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados<br />

europeus (com diferentes responsabilida<strong>de</strong>s). O segundo plano prevê que cada Estadomembro<br />

eleja directamente o seu Comissário <strong>de</strong> forma a que as pessoas passem a sentir<br />

uma maior proximida<strong>de</strong> do “seu” Comissário em Bruxelas.<br />

4.OS ACTORES DO CENÁRIO<br />

4.1. A gran<strong>de</strong> surpresa: o Reino Unido<br />

4.1.1. O Reino Unido e as encruzilhadas favoráveis <strong>de</strong> 2000<br />

O factor mais surpreen<strong>de</strong>nte do <strong>de</strong>senrolar dos acontecimentos políticos é, sem dúvida, o<br />

papel relevante que o Reino Unido assume para a concretização do cenário positivo. O<br />

Reino Unido passa, assim, <strong>de</strong> eurocéptico a actor <strong>de</strong>cisivo para o futuro <strong>de</strong> uma UE<br />

alargada próspera e coesa, passando também a própria UE a ser fundamental para o<br />

crescimento, prosperida<strong>de</strong> e afirmação do Reino Unido.<br />

Parece-nos importante, no entanto, lembrar que, actualmente (em 2000), o peso do Reino<br />

Unido na agenda europeia é já indiscutível. Inúmeras re<strong>de</strong>s pró-britânicas movem-se todos<br />

os dias nos “corredores <strong>de</strong> Bruxelas” para assegurar o respeito dos interesses britânicos.<br />

Mas esta teia <strong>de</strong> influência nem sempre é visível, talvez numa tentativa do Governo britânico<br />

<strong>de</strong> influenciar as <strong>de</strong>cisões sem <strong>de</strong>pois ser “acusado” <strong>de</strong> ter contribuído para opções menos<br />

populares junto da sua própria opinião pública. Basta olhar para algumas iniciativas levadas<br />

a cabo pelo Reino Unido antes da Cimeira <strong>de</strong> Estocolmo para tentar <strong>de</strong>ixar a sua marca na<br />

estratégia europeia <strong>de</strong> Lisboa 21 ou para o número <strong>de</strong> britânicos em lugares estratégicos 22<br />

(sobretudo directores-gerais <strong>de</strong>ntro da Comissão Europeia) para nos apercebermos da<br />

21<br />

Po exemplo, as várias <strong>de</strong>clarações conjuntas do Primeiro Ministro Blair com alguns dos seus homólogos (carta<br />

conjunta Blair-Kok; Blair-Aznar; Blair-Guterres; Blair-Amato);<br />

22<br />

Por exemplo, o próprio Gabinete do Presi<strong>de</strong>nte Prodi é alvo das influências do Reino Unido através do seu<br />

Chefe <strong>de</strong> Gabinete.<br />

183


Informação Internacional<br />

extensão e do po<strong>de</strong>r do lobbying britânico. Londres tem uma política muito intensa <strong>de</strong>ntro da<br />

UE que parece passar, fundamentalmente, por influenciar o sistema a partir do seu interior<br />

(Comissão, pressões junto <strong>de</strong> Chefes <strong>de</strong> Estado, ...). Por outro lado, embora seja verda<strong>de</strong><br />

que o Reino Unido continua dividido entre o "continente" e os EUA, <strong>de</strong>ve-se, no entanto,<br />

realçar que estas duas opções não são, na maioria dos casos, incompatíveis.<br />

São vários os factores que, conjugados, formam uma conjuntura muito favorável a que o<br />

Reino Unido se torne ainda mais influente no contexto da União:<br />

184<br />

• a UE está maleável. O processo <strong>de</strong> alargamento faz com que os <strong>de</strong>bates sobre o<br />

futuro da União sejam constantes. Um país com uma visão clara da Europa que<br />

preten<strong>de</strong> tem uma gran<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> para "moldar" a UE da forma que melhor lhe<br />

convenha;<br />

• além <strong>de</strong> possuir uma reconhecida força política, invejável para qualquer outro<br />

Governo da UE, o executivo britânico tem i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que, associadas a<br />

forças armadas po<strong>de</strong>rosas, conferem ao Reino Unido um papel essencial para a<br />

Europa do futuro;<br />

• a Europa está a encaminhar-se para um mo<strong>de</strong>lo anglo-saxónico 23 ;<br />

• a Europa sofre <strong>de</strong> uma falta <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança, patente não só no aparente "gripar do motor<br />

franco-alemão”, mas também nas dificulda<strong>de</strong>s da própria Comissão Europeia 24 ;<br />

• a velha geração <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res políticos europeus que lutava por “...uma união cada vez<br />

mais estreita entre os povos da Europa...” 25 <strong>de</strong>sapareceu. A nova geração é mais<br />

pragmática (e, logo, mais próxima das posições do Reino Unido) e acredita que a<br />

fundamental razão <strong>de</strong> ser da UE é trazer benefícios em áreas on<strong>de</strong> o Estado-nação,<br />

sozinho, já não é (ou é menos) eficaz;<br />

• o fe<strong>de</strong>ralismo <strong>de</strong> alguns lí<strong>de</strong>res como Fischer 26 e a multiplicação <strong>de</strong> discursos “vazios”<br />

parece já não convencer. Face ao marasmo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, o pragmatismo (à boa maneira<br />

britânica) po<strong>de</strong>rá ser a solução.<br />

No entanto, bem feitas as contas, parece ser o Reino Unido quem mais per<strong>de</strong> ( pelo menos<br />

a curto prazo) se, apesar <strong>de</strong> tudo, optar por um crescente distanciamento da UE. É, acima<br />

<strong>de</strong> tudo, a sua atitu<strong>de</strong> em relação ao euro que vai <strong>de</strong>terminar se os britânicos conseguem<br />

23<br />

Este argumento parece-nos discutível na medida em que o autor cita a Cimeira <strong>de</strong> Lisboa como exemplo do<br />

empenhamento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte dos Estados-membros na condução <strong>de</strong> reformas económicas. Ora, o que Lisboa<br />

propôs foi um mo<strong>de</strong>lo on<strong>de</strong> o equilíbrio entre reformas económicas e manutenção do mo<strong>de</strong>lo social europeu<br />

constitui a base do sucesso europeu.<br />

24<br />

Embora seja verda<strong>de</strong> que tem havido um esforço por parte da Comissão para melhorar o seu "marketing<br />

político", tendo o Presi<strong>de</strong>nte Prodi lançado uma ofensiva <strong>de</strong> conquista da Comunicação Social (as suas<br />

capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança continuam a ser, no entanto, postas em causa por muitos). Apesar <strong>de</strong> ainda estar<br />

longe do nível da Comissão Delors, o Relatório <strong>de</strong> Síntese da Comissão a Estocolmo, por exemplo, corporiza<br />

essa tentativa da actual Comissão em se afirmar como verda<strong>de</strong>iro motor político.<br />

25<br />

Artigo 1º do Tratado da União Europeia.<br />

26 Ministro alemão dos Negócios Estrangeiros.


União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

ace<strong>de</strong>r ao centro do palco europeu ou continuam à margem. Caso o Reino Unido não agarre<br />

esta oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se tornar parte do motor da integração europeia, o défice <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança<br />

será, muito provavelmente, colmatado por uma nova geração <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res franceses e<br />

alemães. A UE tornar-se-ia, neste caso, muito mais impopular junto <strong>de</strong> uma opinião pública<br />

britânica que se apercebe do fraco peso do Reino Unido na UE. Cada vez mais<br />

Conservadores ousariam pedir a "renegociação" do Tratado <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são e, com toda a<br />

certeza, os Trabalhistas teriam muitas dificulda<strong>de</strong>s em manter o po<strong>de</strong>r. O "cavalo <strong>de</strong> Tróia<br />

dos interesses americanos" (assim apelidava De Gaulle o Reino Unido) tornar-se-ia, <strong>de</strong>sta<br />

forma, menos atractivo (porque menos influente) para a conservação da sua tradicional<br />

"relação especial" com os EUA. Adicionalmente, os Trabalhistas po<strong>de</strong>riam sentir-se tentados<br />

a neutralizar o discurso eurocéptico dos Conservadores adoptando o mesmo tipo <strong>de</strong><br />

argumentos, o que formaria, no Reino Unido, um consenso político anti-UE muito difícil <strong>de</strong><br />

ultrapassar. Ao adiar a sua a<strong>de</strong>são ao euro, o Reino Unido arrisca-se também a que os seus<br />

parceiros reforcem o papel do Eurogrupo (fortalecendo <strong>de</strong>ste modo a coor<strong>de</strong>nação fiscal e<br />

orçamental), o que dificultaria, cada vez mais, a a<strong>de</strong>são do Reino Unido a um "espaço em<br />

construção" que, pelo menos formalmente, não teria sido influenciado <strong>de</strong> forma significativa<br />

pelos britânicos.<br />

Se o Reino Unido não promover a sua própria visão da Europa, a velha i<strong>de</strong>ologia fe<strong>de</strong>ral e<br />

centralizadora acabará, provavelmente, por se impor, pondo cada vez mais em causa a<br />

participação activa dos britânicos no processo <strong>de</strong> integração europeia. Tal facto po<strong>de</strong>rá<br />

mesmo, a médio ou longo prazo, fazer com que o Reino Unido seja substituído pela Polónia<br />

no papel <strong>de</strong> Estado-membro charneira.<br />

Se poucos discutem a importância que o Reino Unido tem para um <strong>de</strong>senvolvimento<br />

equilibrado e sustentável do projecto europeu <strong>de</strong> integração, as opiniões já começam a<br />

divergir <strong>de</strong> forma mais clara quando se começa a discutir como po<strong>de</strong>rá evoluir a posição do<br />

Reino Unido relativamente a esse mesmo projecto. Mas quais serão as condições objectivas<br />

para que os britânicos assumam, sem preconceitos, o papel que lhes parece estar<br />

reservado numa UE rejuvenescida e renovada pela sua presença?<br />

Em termos <strong>de</strong> condições internas é, acima <strong>de</strong> tudo, fundamental obter o apoio da opinião<br />

pública inglesa a uma estratégia <strong>de</strong> constructive engagement na União levada a cabo pelo<br />

Governo <strong>de</strong> Blair. Para tal, é necessário alterar a percepção céptica que os britânicos têm<br />

da UE, potenciando e conce<strong>de</strong>ndo visibilida<strong>de</strong> aos benefícios que uma União reformada e<br />

dinâmica lhes po<strong>de</strong> trazer e salientando o papel central que o Reino Unido po<strong>de</strong> ter na<br />

implementação e gestão <strong>de</strong>ssa reforma.<br />

Para tal, vários factos/acontecimentos po<strong>de</strong>m ser interligados:<br />

Trabalhistas<br />

no po<strong>de</strong>r no<br />

RU<br />

RU na<br />

Euroland<br />

UE ganha<br />

popularida<strong>de</strong><br />

no RU<br />

euro com<br />

sucesso<br />

UE respon<strong>de</strong><br />

aos<br />

interesses do<br />

RU<br />

185


Informação Internacional<br />

Assim, para um ganho <strong>de</strong> popularida<strong>de</strong> da UE no Reino Unido que permita, por exemplo,<br />

um sim a um eventual referendo para a entrada do Reino Unido na zona euro, é<br />

fundamental, por um lado, uma moeda europeia robusta e com sucesso nos mercados<br />

internacionais (que faça com que a emblemática libra seja facilmente esquecida pelos<br />

mercados e pelas pessoas) e, por outro, uma a<strong>de</strong>quação da própria UE e das suas<br />

instituições aos anseios e especificida<strong>de</strong>s britânicas. Esta alavancagem <strong>de</strong> popularida<strong>de</strong> da<br />

UE nas “terras <strong>de</strong> sua majesta<strong>de</strong>” facilitará uma permanência dos trabalhistas no po<strong>de</strong>r o<br />

que, pelo respectivo interesse económico (dado o sucesso do euro e das reformas<br />

económicas e institucionais da União) e político 27 também contribuirá para um reforço da<br />

mensagem europeia no Reino Unido e para a respectiva entrada na Euroland.<br />

De facto, uma vitória <strong>de</strong> Tony Blair nas próximas eleições gerais britânicas parece ser um<br />

ponto central <strong>de</strong>ste cenário para uma UE em 2010 com o Reino Unido em pé <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong><br />

com, por exemplo, a Alemanha e a França. É crucial que o Governo trabalhista conte com<br />

um forte apoio por parte da opinião pública, o que, como vimos, só será possível se esta<br />

perceber que o Reino Unido po<strong>de</strong> tirar benefícios <strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> pró-activa no seio da UE.<br />

Só este apoio permitirá ao Governo levar a cabo essa estratégia <strong>de</strong> constructive<br />

engagement na União, completamente oposta à política seguida pelos Conservadores no<br />

passado. Tony Blair sabe que o Reino Unido tem mais capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> influenciar e <strong>de</strong> tirar<br />

partido da integração europeia tomando parte nos gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>bates e nas gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>cisões.<br />

Assim, pouco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>, em Outubro <strong>de</strong> 1997, o Reino Unido ter <strong>de</strong>cidido não participar na<br />

União Económica e Monetária (UEM), e não obstante o facto <strong>de</strong>, em última instância, essa<br />

<strong>de</strong>cisão vir a ser tomada através <strong>de</strong> referendo 28 , o Governo britânico anunciava cinco testes<br />

ou critérios (enunciados sob a forma <strong>de</strong> perguntas) em função dos quais seria tomada<br />

qualquer <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> integrar a União Monetária:<br />

186<br />

1. Uma a<strong>de</strong>são ao euro encorajaria as empresas que tomam <strong>de</strong>cisões a longo prazo a<br />

investir no Reino Unido?<br />

2. Qual seria o impacto do euro no sector financeiro britânico?<br />

3. A convergência das conjunturas económicas e a compatibilida<strong>de</strong> das estruturas<br />

económicas são suficientes para que britânicos e europeus em geral possam viver<br />

“confortavelmente” com taxas <strong>de</strong> juro europeias?<br />

4. Se surgissem problemas, o sistema seria suficientemente flexível para os tratar?<br />

5. A a<strong>de</strong>são à União Monetária contribuiria para a promoção <strong>de</strong> um crescimento mais<br />

rápido, <strong>de</strong> maior estabilida<strong>de</strong> económica e <strong>de</strong> um aumento duradouro do emprego?<br />

27<br />

De facto, apesar da posição inglesa se pu<strong>de</strong>r consi<strong>de</strong>rar como tradicionalmente céptica, verificamos<br />

claríssimas diferenças entre a forma labour e tory <strong>de</strong> encarar o projecto <strong>de</strong> integração europeia. O Partido<br />

Trabalhista é claramente a favor <strong>de</strong> uma participação mais activa do Reino Unido na política europeia a todos os<br />

níveis enquanto alguns Conservadores mais radicais continuam ainda a exigir uma "renegociação" do Tratado<br />

<strong>de</strong> a<strong>de</strong>são à UE. Por exemplo, foi com os Conservadores que o Reino Unido obteve o opt-out <strong>de</strong> Schengen e da<br />

Carta Social e com os Trabalhistas que os britânicos acabaram por aceitar o Capítulo Social.<br />

28<br />

Assim, outra condição central é um referendo com um resultado favorável à entrada do Reino Unido para o<br />

euro. O respectivo resultado é, sem dúvida, a variável mais difícil <strong>de</strong> prever. O próprio C. Grant tem que recorrer<br />

a um escândalo político envolvendo os Conservadores para justificar, <strong>de</strong> uma forma mais consistente, o "sim".


4.1.2. O Reino Unido em 2010<br />

União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

A agenda europeia tem, em 2010, a marca visível do Reino Unido: promoção do<br />

empreendorismo, reformas económicas e economia baseada no conhecimento. No fundo,<br />

estes não são mais do que os objectivos enunciados na Cimeira <strong>de</strong> Lisboa no longínquo ano<br />

<strong>de</strong> 2000, expurgados, claro está, da respectiva “pen<strong>de</strong>nte” social. Numa UE amplamente<br />

alargada, o Reino Unido conta, normalmente, com o apoio dos Nórdicos, do Benelux, dos<br />

países da Península Ibérica e dos Estados-membros que a<strong>de</strong>riram mais recentemente<br />

(muito graças ao papel claramente pró-alargamento <strong>de</strong>sempenhado pelos britânicos).<br />

Adicionalmente, embora o Reino Unido já possuísse tradicionalmente uma economia forte,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua entrada no euro que atrai volumes substanciais <strong>de</strong> Investimento Directo<br />

Estrangeiro (IDE) e, graças a ter sido o precursor da abordagem privada aos sistemas <strong>de</strong><br />

pensões, tem conseguido superar melhor que os seus parceiros europeus o <strong>de</strong>safio do<br />

envelhecimento da população.<br />

4.2. O Continente<br />

4.2.1. As responsabilida<strong>de</strong>s da UE<br />

Para chegarmos a este cenário optimista, é à UE que cabe a maior responsabilida<strong>de</strong> em<br />

termos <strong>de</strong> reformas. Em primeiro lugar, é necessária uma reforma das políticas com maior<br />

impacto no orçamento comunitário (PAC e políticas regionais e <strong>de</strong> coesão) que <strong>de</strong>verá ser<br />

acompanhada por uma reorientação dos fundos disponíveis para políticas nas quais o Reino<br />

Unido consi<strong>de</strong>re necessária e benéfica (na sua óptica; não necessariamente na do conjunto<br />

da UE) uma acção a nível europeu, ou seja, a UEM, a Política Europeia <strong>de</strong> Segurança<br />

Comum (PESC) e a Defesa, e a JAI.<br />

Esta reorientação correspon<strong>de</strong> a uma re<strong>de</strong>finição dos conceitos <strong>de</strong> autonomia e <strong>de</strong><br />

solidarieda<strong>de</strong>: em termos <strong>de</strong> autonomia, passamos da in<strong>de</strong>pendência e segurança<br />

alimentares (que constituíram as principais justificações para a criação <strong>de</strong> uma política<br />

comum para a agricultura) para uma “autonomia <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão” no domínio da <strong>de</strong>fesa que<br />

implica uma clara realocação <strong>de</strong> fundos e que se constitui, na actualida<strong>de</strong>, como a única<br />

forma (ainda que indirecta) <strong>de</strong> política industrial justificável a nível europeu e internacional;<br />

relativamente à solidarieda<strong>de</strong>, é essencialmente no domínio da JAI que, aparentemente,<br />

esta passará a aplicar-se.<br />

Em segundo lugar, o Reino Unido só virá a ter um papel mais prepon<strong>de</strong>rante na UE se esta<br />

optar <strong>de</strong>finitivamente por um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> integração on<strong>de</strong> o intergovernamentalismo impere,<br />

dando assim a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que as <strong>de</strong>cisões são tomadas pelos Governos europeus e não por<br />

instâncias supranacionais completamente alheias à realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada Estado-membro. O<br />

método comunitário manter-se-ia apenas em áreas muito específicas ligadas ao Mercado<br />

Interno.<br />

Por último, é necessária uma sistematização e um uso mais frequente do mecanismo das<br />

cooperações reforçadas. Em vez <strong>de</strong> UMA cooperação reforçada, como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Jacques<br />

Delors, a evolução da UE <strong>de</strong>verá permitir que sejam criadas diversas alianças (que não<br />

ponham em causa o Mercado Único) segundo as priorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada Estado-membro.<br />

Numa UE <strong>de</strong> geometria variável, seriam possíveis cooperações reforçadas entre os países<br />

187


Informação Internacional<br />

nórdicos para a adopção <strong>de</strong> níveis ambientais mais elevados, entre os países do espaço<br />

Schengen para a criação <strong>de</strong> um corpo policial responsável pelo controle fronteiriço <strong>de</strong>ssa<br />

área, ou ainda entre os Estados-membros com as maiores indústrias <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa (Reino<br />

Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha e Suécia) visando a criação <strong>de</strong> uma Agência<br />

Europeia para o Armamento que, entre outras coisas, fixe regras comuns em termos <strong>de</strong><br />

compras e exportações.<br />

No entanto, se o Reino Unido se afastar (ou se a UE não for capaz <strong>de</strong> o atrair) parece<br />

existir, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, um perigo ligado à emergência <strong>de</strong> uma força anti-Europa nesse país (e a<br />

um eventual pedido <strong>de</strong> renegociação do Tratado <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são se os Conservadores subirem<br />

ao po<strong>de</strong>r) que po<strong>de</strong>ria esten<strong>de</strong>r-se a outros Estados-membros com um importante peso da<br />

opinião eurocéptica.<br />

Por outro lado, a não participação do Reino Unido na UEM significaria não só menos força<br />

para o euro, mas também menos pressão para levar a cabo reformas económicas<br />

essenciais para a afirmação da UE como gran<strong>de</strong> potência económica mundial (o que,<br />

eventualmente, potenciaria a entrada da UE num ciclo negativo). A conjunção <strong>de</strong> uma série<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>safios difíceis (entre os quais a situação nos Balcãs) com a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resposta<br />

por parte <strong>de</strong> uma UE com instituições fracas, levaria por certo a que o Reino Unido optasse<br />

por participar no sistema americano <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa anti-míssil. Criar-se-ia, assim, um abismo<br />

entre Londres e Paris que impediria qualquer capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> progresso da UE na área militar<br />

ou reforma da PAC (com os problemas consequentes no seio da OMC), e levaria a um<br />

adiamento sine die da primeira vaga <strong>de</strong> a<strong>de</strong>sões, à incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir um regime<br />

comum em termos <strong>de</strong> asilo e imigração (que não faria senão conduzir à impopularida<strong>de</strong> da<br />

UE junto da opinião pública dos países que recebem mais pedidos <strong>de</strong> asilo e imigrantes) e,<br />

acima <strong>de</strong> tudo, à estagnação das reformas económicas propiciada por uma série <strong>de</strong><br />

"Presidências fracas". Tudo isto po<strong>de</strong>ria conduzir a uma onda <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontentamento geral<br />

contra a UE na Europa continental e no Reino Unido, fazendo com que as probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

ratificação <strong>de</strong> um novo Tratado fossem escassas.<br />

4.2.2. As mudanças no Continente: os principais actores europeus em 2010<br />

O equilíbrio <strong>de</strong> forças na Europa, apesar <strong>de</strong> algumas inércias po<strong>de</strong>rosas que continua, em<br />

2010, a reflectir, é significativamente diferentes da situação que apresentava em 2000. Por<br />

exemplo, relativamente aos Estados-membros mais po<strong>de</strong>rosos, algumas das situações mais<br />

marcantes são:<br />

188<br />

• o facto da França continuar economicamente forte, mas estar politicamente <strong>de</strong>bilitada<br />

e isolada por ter perdido muitas “batalhas”, continuando hostil ao mo<strong>de</strong>lo<br />

anglo-saxónico e apegada à sua condição <strong>de</strong> excepção. A França é, na realida<strong>de</strong>, a<br />

gran<strong>de</strong> "per<strong>de</strong>dora" <strong>de</strong>ste cenário. Resistiu enquanto pô<strong>de</strong> à reforma da PAC, mas<br />

teve que acabar por aceitá-la, opôs-se à liberalização dos mercados financeiros e <strong>de</strong><br />

utilida<strong>de</strong>s, mas esse facto contribuiu apenas para aumentar o seu isolamento e,<br />

finalmente, teve que aceitar o Inglês como única língua <strong>de</strong> trabalho da UE. De facto,<br />

os comentadores acreditam que este apego francês à sua cultura <strong>de</strong> excepção a<br />

afectará em termos económicos. Em 2010 a França atrai já menos IDE do que a<br />

Alemanha (em consequência não só das batalhas linguísticas <strong>de</strong> 2007-2008, mas<br />

também do forte peso que os sindicatos públicos continuam a ter na economia do


União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

país). Por outro lado, tendo-se revelado algo céptica em relação ao alargamento, a<br />

França não consegue tirar todo o partido da extensão do Mercado Único. Um dos<br />

factores mais reveladores da perda <strong>de</strong> influência francesa no seio da UE é, sem<br />

dúvida, o fim da relação quase exclusiva entre a França e a Alemanha (embora a<br />

Presi<strong>de</strong>nte Martine Aubry e a Chanceler Angela Merkel mantenham um bom<br />

entendimento). A França mantém, no entanto, um certo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão no domínio<br />

da <strong>de</strong>fesa, escolhendo aliar-se ao Reino Unido. Esta aliança, conjugada com o facto<br />

da França também se aliar muitas vezes ao Reino Unido nas questões institucionais<br />

para manter o intergovernamentalismo, não são do agrado da Alemanha que, em<br />

gran<strong>de</strong> parte por causa do alargamento, "não tem tempo para a França";<br />

• a Espanha aparecer como uma das maiores potências da UE, tendo o contencioso<br />

entre esta e o Reino Unido sobre Gibraltar sido resolvido através <strong>de</strong> um acordo <strong>de</strong><br />

partilha <strong>de</strong> soberania;<br />

• a perda <strong>de</strong> influência da Itália face à Espanha, não só por causa da sua dificulda<strong>de</strong><br />

em reformar o sector público e o sistema <strong>de</strong> pensões, mas também <strong>de</strong>vido ao “fardo”<br />

representado pelo Mezzogiorno;<br />

• a relativa soli<strong>de</strong>z da relação franco-alemã apesar <strong>de</strong>, pelos motivos evocados acima,<br />

já não ser tão exclusiva como no passado. Os alemães são agora o lado mais forte do<br />

eixo franco-alemão e contam com outros aliados (Itália, Espanha, Polónia ou Reino<br />

Unido), conforme a questão em <strong>de</strong>bate. Paris, por sua vez, fez, como vimos, do Reino<br />

Unido o seu principal aliado na <strong>de</strong>fesa (isto quando os gauleses conseguem por <strong>de</strong><br />

lado o seu anti-americanismo). A Alemanha está tão atarefada com o seu papel<br />

predominante na Europa <strong>de</strong> Leste (que lhe permite continuar a ser a gran<strong>de</strong> potência<br />

europeia) que tem muito menos incentivos para aprofundar a relação com a França, a<br />

qual continua a estar, frequentemente, numa posição <strong>de</strong> isolamento relativamente à<br />

política externa por continuar amiú<strong>de</strong> a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, contra o eixo Reino Unido-<br />

Alemanha-Espanha (que também conta com o apoio dos Europeus <strong>de</strong> Leste), uma<br />

<strong>de</strong>fesa europeia fora da OTAN;<br />

• a emergência <strong>de</strong> uma "Tripla Aliança" Madrid-Londres-Varsóvia contra o<br />

anti-americanismo. De facto, as i<strong>de</strong>ias anglo-saxónicas parecem ter tomado conta,<br />

pouco a pouco, da política e da economia europeias;<br />

• o facto da Polónia ser, em 2010, uma força maior da “Gran<strong>de</strong> Europa.<br />

4.3. O novo equilíbrio transatlântico<br />

Embora continue sujeita a fortes tensões, a relação transatlântica está agora mais<br />

equilibrada graças ao sucesso do euro e à capacida<strong>de</strong> da UE falar "a uma só voz" em<br />

diversas instituições internacionais. A recusa dos EUA em aceitar a governação das<br />

instâncias internacionais multilaterais (ONU, Tribunal Penal Internacional e os vários<br />

tratados e convenções para o controlo do armamento) surge como a principal fonte <strong>de</strong><br />

quezílias entre os dois mais po<strong>de</strong>rosos blocos mundiais. Apesar <strong>de</strong>stas tensões, a relação<br />

transatlântica permanece um dos dados mais seguros da geopolítica, dando um semblante<br />

<strong>de</strong> controlo a uma or<strong>de</strong>m mundial on<strong>de</strong> se multiplicam blocos e alianças.<br />

189


Informação Internacional<br />

Contra os <strong>de</strong>fensores do unilateralismo e do isolacionismo, muitos políticos norteamericanos<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que os EUA necessitam <strong>de</strong> aliados para fazer face à oposição <strong>de</strong><br />

países como a China, a Índia e a Rússia à dominação global americana. Embora o euro e a<br />

PESD sejam uma ameaça à hegemonia americana, foi graças a eles que a UE conquistou o<br />

respeito dos EUA. A existência <strong>de</strong> um interlocutor único: o Sr. Euroland, na pessoa <strong>de</strong><br />

Gordon Brown, <strong>de</strong>monstra unida<strong>de</strong> entre os europeus e permite-lhes discutir os assuntos<br />

financeiros com credibilida<strong>de</strong>. Também a criação <strong>de</strong> uma PESD credível, apesar <strong>de</strong> ter<br />

perturbado os EUA, <strong>de</strong>u origem a um acordo informal sobre esferas <strong>de</strong> influência,<br />

assumindo, regra geral, a UE a responsabilida<strong>de</strong> nos Balcãs, no Norte <strong>de</strong> África e na África<br />

sub-saariana, e mantendo os EUA um papel predominante no resto do mundo, realçando-se<br />

aí o Médio Oriente.<br />

Os laços institucionais que se foram formando em diversas áreas contribuíram, em gran<strong>de</strong><br />

parte, para este estreitamento <strong>de</strong> relações. É o caso da OTAN e das negociações para a<br />

criação <strong>de</strong> um mercado único <strong>de</strong> equipamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa e do processo em curso que visa o<br />

estabelecimento <strong>de</strong> um mercado único transatlântico entre a NAFTA e a UE.<br />

A pouco e pouco, os europeus vão convencendo os americanos dos benefícios do<br />

multilateralismo, <strong>de</strong> que são gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>fensores. O cenário positivo ainda não prevê a<br />

concretização do sonho <strong>de</strong> Jean Monnet <strong>de</strong> um pool <strong>de</strong> sovereignty entre a Europa e os<br />

EUA, trabalhando juntos no espaço transatlântico mas, embora os EUA continuem a li<strong>de</strong>rar,<br />

a aliança está hoje muito mais equilibrada.<br />

190<br />

AS DATAS CHAVE<br />

• 1999 Conflito no Kosovo, durante o qual se começou a assistir a uma “divisão do trabalho”<br />

entre os EUA e a UE. De facto, os EUA forneceram a maior parte do po<strong>de</strong>r aéreo e os<br />

equipamentos <strong>de</strong> comando, controlo e comunicações, enquanto os europeus ce<strong>de</strong>ram a<br />

maioria dos soldados das forças <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> paz;<br />

• 2004 União entre a Bielorússia (que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> existir enquanto tal) e a Rússia;<br />

• 2004 O Irão expulsa os Ayatollahs (a quem foi oferecido refúgio pelo Afeganistão) e abre o<br />

caminho para a consolidação da sua <strong>de</strong>mocracia. Este facto enfraqueceu a justificação<br />

americana para o <strong>de</strong>senvolvimento do Sistema Nacional <strong>de</strong> Defesa Anti-Míssil (SNDAM);<br />

• 2004 O Governo <strong>de</strong> Blair quase <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> a<strong>de</strong>rir ao SNDAM americano mas, <strong>de</strong>vido à forte<br />

reacção da França e à argumentação <strong>de</strong> Gordon Brown (que afirmou que, se o Ministério da<br />

Defesa britânico fosse gastar 5 biliões <strong>de</strong> euros no SNDAM, não sobraria dinheiro para<br />

aumentar as pensões <strong>de</strong> reforma antes das próximas eleições no Reino Unido), acaba por<br />

abandonar esta i<strong>de</strong>ia;<br />

• 2005 EUA e UE <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m que as respectivas Agências Alimentares <strong>de</strong>veriam <strong>de</strong>finir<br />

métodos e procedimentos comuns e ter acesso aos trabalhos uma da outra. Esta tomada<br />

<strong>de</strong> posição surgiu em resultado <strong>de</strong> múltiplas querelas transatlânticas nesta área, as quais não<br />

foram solucionadas pela criação, no início da década, da Agência Alimentar Europeia;<br />

• 2005 Nas eleições gerais britânicas, os Conservadores falham na sua estratégia <strong>de</strong><br />

ataque ao Governo em que <strong>de</strong>fendiam que este, ao não investir num sistema anti-míssil,<br />

<strong>de</strong>ixara o Reino Unido <strong>de</strong>sprotegido;<br />

• 2005 Espanha e Reino Unido <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m partilhar a soberania sobre Gibraltar que<br />

rapidamente se tornou num centro financeiro em gran<strong>de</strong> crescimento e plenamente integrado<br />

na dinâmica economia espanhola;


União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

• 2005 Fixação <strong>de</strong> especificações comuns para os vários projectos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

Veículos Aéreos Não-Tripulados (VANT) existentes nos Estados-membros, bem como fusão<br />

<strong>de</strong> vários projectos <strong>de</strong> I&D nesta área a nível europeu;<br />

• 2005 A Coreia do Norte <strong>de</strong>cidiu, através <strong>de</strong> um referendo, a união com a Coreia do Sul.<br />

Este facto enfraqueceu a justificação americana para o <strong>de</strong>senvolvimento do SNDAM;<br />

• 2006 (CIG) Fusão das funções <strong>de</strong> Alto Representante para a Política Externa e <strong>de</strong><br />

Comissário para as Relações Externas, o que veio reforçar a posição <strong>de</strong> Anna Lindh<br />

(Srª PESC);<br />

• 2006 a Alemanha adoptou um exército 100% profissional. Este facto inseriu-se nos esforços<br />

<strong>de</strong> vários EM para mo<strong>de</strong>rnizar as suas forças armadas;<br />

• 2006 Data prevista para o SNDAM americano se tornar operacional mas que não se<br />

concretizou, apesar do Reino Unido e da Dinamarca terem autorizado os EUA a actualizar e<br />

incorporar no plano SNDAM as suas estações <strong>de</strong> radar <strong>de</strong> aviso precoce em Fylingdales<br />

(Yorkshire) e Thule (Greenland), respectivamente;<br />

• 2006 Utilização, pela Grécia, do seu direito <strong>de</strong> veto na questão do reconhecimento da<br />

in<strong>de</strong>pendência do Montenegro relativamente à Sérvia. Este facto contrariou o costume<br />

vigente segundo o qual, quando os seis gran<strong>de</strong>s Estados-membros apoiavam uma posição <strong>de</strong><br />

política externa, os Estados-membros mais pequenos não utilizavam o seu direito <strong>de</strong> veto. Em<br />

resposta ao veto grego, os 6 começaram a formalizar as suas reuniões e a emitir <strong>de</strong>clarações a<br />

6, o que preocupou os mais pequenos. Consequentemente, a Grécia, pressionada, entre<br />

outros, pela Holanda, acabou por retirar (passado um ano) o seu veto (utilizando a figura da<br />

abstenção construtiva);<br />

• 2006 Conclusão da ronda negocial no âmbito da OMC iniciada em 2001. De referir que o<br />

acordo radical alcançado em termos da reforma da PAC aumentou o po<strong>de</strong>r da UE no seio da<br />

OMC ao conquistar parcerias entre vários países em vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e contribuiu para<br />

a conclusão <strong>de</strong>sta ronda negocial 29 ;<br />

• 2007 Ameaça da Irlanda e da Áustria 30 do uso do seu direito <strong>de</strong> veto na questão da<br />

missão militar da UE na Serra Leoa <strong>de</strong>stinada a acabar com a longa guerra civil e a controlar<br />

as minas <strong>de</strong> diamantes na posse <strong>de</strong> guerrilhas apoiadas pela Libéria. Esta ameaça acabou<br />

quando os “gran<strong>de</strong>s” ameaçaram continuar por meio da figura da geometria variável;<br />

• 2007 Em resultado do esforço <strong>de</strong> lobby das empresas multinacionais (<strong>de</strong>scontentes com os<br />

resultados da ronda da OMC, particularmente no que concerne às barreiras não-tarifárias), a<br />

UE e a NAFTA iniciaram negociações visando a criação <strong>de</strong> um Mercado Único<br />

Transatlântico (MUT) 31 ;<br />

• 2007 O activista radical francês José Bové candidatou-se às eleições presi<strong>de</strong>nciais como<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e, assentando o seu discurso no anti-americanismo, ganhou 28% dos votos na<br />

primeira volta (ligeiramente menos que a socialista Martine Aubry que ganhou, na segunda<br />

volta, as eleições). Pouco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>stas eleições, 20 dos 21 Estados-membros acordaram<br />

29<br />

Para mais pormenores relativos às <strong>de</strong>cisões tomadas nesta ronda <strong>de</strong> negociações da OMC, ver as páginas<br />

37-38 do trabalho <strong>de</strong> Charles Grant (www.cer.org.uk/x0345cer/2010final.pdf).<br />

30 Ao contrário da Suécia e da Finlândia, Irlanda e Áustria nunca a<strong>de</strong>riram à NATO.<br />

31<br />

Para mais pormenores sobre o conteúdo específico <strong>de</strong>stas negociações, ver o 2º parágrafo da página 38 do<br />

trabalho <strong>de</strong> Charles Grant (www.cer.org.uk/x0345cer/2010final.pdf).<br />

191


Informação Internacional<br />

192<br />

na aceitação do Inglês como a sua única língua <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong> forma a poupar dinheiro<br />

em tradução e interpretação e a tornar as reuniões da UE mais produtivas. A França<br />

usou o compromisso do Luxemburgo para vetar esta reforma, tendo José Bové e Jean-<br />

Pierre Chevènement li<strong>de</strong>rado uma campanha populista contra a língua inglesa (com Joana<br />

D’Arc como símbolo) que se concretizou, entre outras coisas, em vários ataques a símbolos e<br />

proprieda<strong>de</strong>s americanas;<br />

• 2008 A Presi<strong>de</strong>nte francesa Aubry ce<strong>de</strong>u na rejeição da língua inglesa como única língua<br />

<strong>de</strong> trabalho na UE após se tornar claro que muitas multinacionais norte-americanas estavam a<br />

sair da França e a chanceler alemã Merkel ter afirmado que os gauleses <strong>de</strong>ixariam <strong>de</strong> ser<br />

tratados como aliados “especiais” se continuassem a resistir à vonta<strong>de</strong> dos restantes 20<br />

Estados-membros;<br />

• 2009 Criação <strong>de</strong> um orçamento UE para a <strong>de</strong>fesa. De facto, capacida<strong>de</strong>s e meios comuns<br />

levaram os Estados-membros (li<strong>de</strong>rados pelo Reino Unido com forte apoio da França) a pensar<br />

num financiamento comum que evitasse free-ri<strong>de</strong>rs e outros <strong>de</strong>sequilíbrios;<br />

• 2010 Perspectiva do início <strong>de</strong> discussões entre a Euroland, os EUA e o Japão e<br />

respectivos países associados na Comunida<strong>de</strong> Económica da Ásia do Leste tendo como<br />

objectivo a criação <strong>de</strong> target zones <strong>de</strong> ligação entre o dólar, o euro e o yen (ou mesmo,<br />

entre o dólar, o euro e a planeada EACU – East Asian Currency Unit). Este processo<br />

resulta das sistemáticas e súbitas alterações nas taxas <strong>de</strong> câmbio dólar-euro-yen que fizeram<br />

com que se trocassem acusações mútuas <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> <strong>de</strong>svalorizações para ganhar<br />

vantagens competitivas. A perspectiva <strong>de</strong> introdução das target zones bastou para, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo,<br />

diminuir a volatilida<strong>de</strong> dos mercados cambiais (para gáudio daqueles que se <strong>de</strong>dicam ao<br />

comércio internacional <strong>de</strong> bens e serviços);<br />

• 2010 A aliança entre a França e a Alemanha continua forte, sendo a amiza<strong>de</strong> Aubry-Merkel<br />

um reflexo disso mesmo. Estes países dominam, normalmente, as discussões no seio do<br />

Eurogrupo mas a sua relação <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser tão exclusiva. Depen<strong>de</strong>ndo do tema em questão,<br />

os Alemães po<strong>de</strong>m-se aliar à Itália, à Espanha, à Polónia ou ao Reino Unido;<br />

• 2010 As economias do Brasil, da China, da Índia e da Rússia continuam a crescer a taxas<br />

elevadíssimas;<br />

• 2010 Os orçamentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da China, da Índia e da Rússia continuam a crescer muito<br />

significativamente e a sua aliança, baseada na oposição ao domínio global dos EUA,<br />

tem-se vindo a aprofundar, o que é um motivo <strong>de</strong> preocupação para Washington;<br />

• 2010 Os EUA e a UE estão longe do sonho <strong>de</strong> Jean Monnet relativo a uma soberania<br />

transatlântica partilhada. No entanto, as relações entre estes dois blocos são sólidas e<br />

estáveis e, por vezes, globalmente dominadoras. Os outros países têm que se auto-<strong>de</strong>finir<br />

como sendo a favor ou contra o eixo Washington-Bruxelas o qual, apesar <strong>de</strong> ainda ser li<strong>de</strong>rado<br />

pelos EUA, está bem menos enviesado que no início da década;<br />

• 2012 Data prevista para a implementação <strong>de</strong> uma força comum UE <strong>de</strong> Eurocaças que<br />

estaria ao serviço <strong>de</strong> um único quartel-general, centro <strong>de</strong> treinos e <strong>de</strong> logística. Este projecto<br />

surgiu em sequência do sucesso da frota europeia <strong>de</strong> aviões <strong>de</strong> transporte e tanque Airbus<br />

A400. O Reino Unido e a França, ao contrário da maioria dos outros Estados-membros,<br />

<strong>de</strong>cidiram manter alguns dos seus caças fora <strong>de</strong>sta força europeia;


6. DIAGRAMA SÍNTESE – AS INTERACÇÕES BÁSICAS DO CENÁRIO<br />

LEGENDA<br />

Questões<br />

cruciais<br />

Êxito no<br />

alargamento<br />

Acordo<br />

sobre os<br />

fundos<br />

estruturais<br />

Êxito da<br />

“estratégia<br />

<strong>de</strong> Lisboa”<br />

Coor<strong>de</strong>nação<br />

e reforma<br />

dos sistemas<br />

<strong>de</strong> pensões<br />

Formação<br />

<strong>de</strong> um<br />

espaço<br />

<strong>de</strong><br />

segurança<br />

interna<br />

Reforma da<br />

PAC<br />

Contenção e<br />

reorientação<br />

do orçamento<br />

civil da UE<br />

Coor<strong>de</strong>nação<br />

das políticas<br />

orçamentais<br />

Êxito na política<br />

<strong>de</strong>“protectorados”<br />

nos<br />

Balcãs<br />

COESÃO<br />

INTERNA<br />

PROJECÇÃO<br />

EXTERNA<br />

Crescimento<br />

sustentado<br />

Êxito do<br />

euro<br />

Obtenção <strong>de</strong><br />

capacida<strong>de</strong><br />

diplomática<br />

e<br />

militar<br />

Criação <strong>de</strong><br />

um orçamento<br />

UE para a<br />

<strong>de</strong>fesa<br />

Fusão <strong>de</strong><br />

quotas no<br />

FMI e no<br />

Banco<br />

Mundial<br />

Relações privilegiadas<br />

com a Rússia e<br />

a Turquia<br />

Recusa <strong>de</strong><br />

construção<br />

do sistema<br />

anti-mísseis<br />

na Europa<br />

União Europeia: e se tudo corresse bem?<br />

Nova divisão <strong>de</strong><br />

trabalho militar<br />

com os EUA<br />

Posição<br />

charneira da<br />

UE nas<br />

organizações<br />

internacionais<br />

Nova relação com<br />

o dólar<br />

Reforço do po<strong>de</strong>r<br />

face aos EUA<br />

193


Informação Internacional<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

ALVARENGA, Antonio − European Responsibility in Migration: A Socio-Economic<br />

Challenge, College of Europe (Bruges) – Economics Department, 1999.<br />

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194


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THE COMMITTEE OF WISE MEN − (Chairman: Alexandre Lamfalussy), Final Report of the<br />

Committee of Wise Men on the Regulation of European Securities Markets, Brussels,<br />

15.02.2001.<br />

195


V<br />

TERRITÓRIOS<br />

E<br />

ESTRATÉGIAS<br />

√ Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial


Territórios e Estratégias<br />

ESPANHA: INFRA-ESTRUTURAS DE TRANSPORTE E MODELO TERRITORIAL<br />

João E. Coutinho Duarte<br />

INTRODUÇÃO<br />

A análise seguinte procura interpretar numa perspectiva peninsular o Sistema <strong>de</strong><br />

Transportes do país vizinho e respectiva evolução, enfatizando as infra-estruturas<br />

construídas e a construir segundo o plano traçado pelas autorida<strong>de</strong>s (Plano <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento das Infra-estruturas – PDI).<br />

A situação já criada e a criar até 2007, pelo referido Plano e respectivas actualizações<br />

ocorridas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a respectiva aprovação em 1993, abrangerá, directa ou em consequência,<br />

toda a Península, sendo tal propósito indubitavelmente assumido pelo traçado dos Eixos<br />

(Mapa 2) (on<strong>de</strong> apenas lhes faltam alguns prolongamentos para Oci<strong>de</strong>nte) e das Re<strong>de</strong>s<br />

(Mapas 3, 4 e 5) dos diferentes modos <strong>de</strong> transporte, configurando o novo or<strong>de</strong>namento do<br />

território espanhol 1 .<br />

Este novo traçado preten<strong>de</strong> alterar o actual e <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>quado Sistema <strong>de</strong> Transportes <strong>de</strong>ntro<br />

do território, este consi<strong>de</strong>rado, como causa mas também como efeito <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>namento territorial <strong>de</strong>sequilibrado face às necessida<strong>de</strong>s actuais <strong>de</strong> inserção plena nos<br />

mercados mundiais, em parida<strong>de</strong> com os restantes países da UE. Em consequência, tornar<br />

os territórios plasma <strong>de</strong> uma activida<strong>de</strong> empresarial competitiva, on<strong>de</strong> a atracção <strong>de</strong> IDE e a<br />

permanência <strong>de</strong> investimento nacional em território espanhol se tornam objectivos<br />

prepon<strong>de</strong>rantes da política <strong>de</strong> or<strong>de</strong>namento territorial. Nesse sentido, a estratégia adoptada<br />

pelas autorida<strong>de</strong>s do Reino <strong>de</strong> Espanha consiste, em primeira análise, na procura <strong>de</strong> um<br />

mo<strong>de</strong>lo consolidador <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s integradas nas suas respectivas regiões,<br />

correcta e racionalmente hierarquizadas e distribuídas territorialmente, obe<strong>de</strong>cendo a<br />

critérios <strong>de</strong> total respeito pela conservação dos meios ambientais e dos recursos naturais.


Informação Internacional<br />

200<br />

Mapa 1<br />

A POSIÇÃO PERIFÉRICA DA ESPANHA NO ESPAÇO EUROPEU – A VISÃO DO PLANO DIRECTOR DE<br />

INFRA-ESTRUTURAS (PDI)<br />

Lisboa<br />

Glasgow<br />

Madrid<br />

Fonte: Adaptado do PDI/1993-2007<br />

Hamburgo<br />

Roterdão<br />

Londres Berlim<br />

Valência<br />

Paris<br />

Lyon<br />

Barcelona<br />

Marselha<br />

Frankfurt<br />

Milão<br />

Leipzig<br />

Dres<strong>de</strong>n<br />

Roma<br />

Copenhaga<br />

A inserção <strong>de</strong> Espanha numa nova “Banana Europeia” <strong>de</strong>slocando a extremida<strong>de</strong> Sul da<br />

actual para o território espanhol mediterrâneo, visando assim romper com a perifericida<strong>de</strong><br />

do país relativamente às áreas <strong>de</strong> maior centralida<strong>de</strong> do espaço económico europeu,<br />

pesada condicionante a uma convergência real com os países comunitários mais<br />

<strong>de</strong>senvolvidos constitui pois o gran<strong>de</strong> objectivo (Mapa 9).<br />

1. CONSOLIDAÇÃO TERRITORIAL E NOVA INSERÇÃO DA ESPANHA NO ESPAÇO<br />

EUROPEU<br />

Uma observação minimamente atenta do Mapa 2, ilustra uma estruturação territorial da<br />

Península – e não apenas <strong>de</strong> Espanha – a qual lhe confere, em termos peninsulares, o<br />

<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> Lugar Geométrico on<strong>de</strong> todos pontos essenciais do território gozam da<br />

proprieda<strong>de</strong> comum que é a <strong>de</strong>pendência, directa ou indirecta, do Centro Peninsular, isto é:<br />

<strong>de</strong> Madrid.<br />

Obe<strong>de</strong>cendo a um Plano Director <strong>de</strong> Infra-estruturas (PDI) com vigência <strong>de</strong> 1993 até 2007<br />

(já referido), o Plano configura uma estratégia global que partindo da análise das<br />

<strong>de</strong>ficiências existentes 2 , com especial acuida<strong>de</strong> a da perifericida<strong>de</strong> do país face ao Espaço<br />

Praga<br />

Viena<br />

A B<br />

Megalopoles em<br />

retrocesso (A) e progresso (B)<br />

Antigo e novo centro<br />

<strong>de</strong> gravida<strong>de</strong><br />

Eixos e espaços <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento induzido<br />

Tendências <strong>de</strong><br />

novos <strong>de</strong>senvolvimentos<br />

Orbita das altas tecnologias<br />

e cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contorno<br />

Orbita do sub-<strong>de</strong>senvolvimento<br />

Diagonal das dificulda<strong>de</strong>s<br />

Enlances em curso<br />

Escala<br />

0Km 200Km 400Km


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

Económico Europeu (EEE),<strong>de</strong>fine objectivos concretos a curto, médio e longo prazos, bem<br />

como os instrumentos indispensáveis à respectiva obtenção (Mapa 1).<br />

Nesta linha <strong>de</strong> actuação, i<strong>de</strong>ntifica a procura <strong>de</strong> infra-estruturas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo<br />

territorial, sintetizador quer das limitações existentes quer das áreas e eixos <strong>de</strong> potencial<br />

<strong>de</strong>senvolvimento sob a perspectiva <strong>de</strong> uma integração nas Re<strong>de</strong>s Transeuropeias <strong>de</strong><br />

Transporte (RTE).<br />

Não constituindo o favorecimento do transporte intermodal, um fim em si mesmo, o gran<strong>de</strong><br />

objectivo das entida<strong>de</strong>s responsáveis <strong>de</strong> Espanha é, fundamentalmente, criar todas as<br />

condições necessárias para que os transportes <strong>de</strong> todo o tipo se venham a <strong>de</strong>senvolver sob<br />

os melhores padrões <strong>de</strong> eficácia, segurança e no respeito pelo ambiente.<br />

Nesse sentido, o estabelecimento <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> conexão intermodal, como seja a<br />

planificação e construção <strong>de</strong> ligações a<strong>de</strong>quadas aos portos, aeroportos e plataformas<br />

logísticas, assume-se como a pedra-<strong>de</strong>-toque para “integrar” o território espanhol no Gran<strong>de</strong><br />

Espaço Europeu até à primeira década do próximo século.<br />

Em consonância com estes objectivos preten<strong>de</strong>-se, através do mo<strong>de</strong>lo a aplicar no território,<br />

ir atenuando a forte concentração populacional e económica em centros urbanos junto ao<br />

litoral que tem como reverso a <strong>de</strong>sertificação interior penalizando, por consequência, as<br />

interconexões e processos <strong>de</strong> difusão que <strong>de</strong>sactualizam nalgumas vertentes o mo<strong>de</strong>lo<br />

Radial historicamente adoptado no que concerne a vias <strong>de</strong> comunicações terrestres e que<br />

se torna imperioso adaptar às actuais necessida<strong>de</strong>s e tendências. Apenas algumas<br />

ligações, formando corredores litorais e fluviais apresentavam procuras <strong>de</strong> interconexões<br />

contínuas e intensas.<br />

O actual mo<strong>de</strong>lo consagra Eixos 3 e Corredores com grau distinto <strong>de</strong> consolidação e que<br />

evi<strong>de</strong>nciam o papel a <strong>de</strong>sempenhar pelas novas infra-estruturas.<br />

Todavia, a totalida<strong>de</strong> das ligações terrestres previstas para o Oci<strong>de</strong>nte peninsular<br />

encontram-se mais atrasadas, não só na concretização física, como na <strong>de</strong>finitiva opção nos<br />

traçados (regiões a atravessar), articulação e pon<strong>de</strong>ração dos diversos modos <strong>de</strong> transporte<br />

(multimodalida<strong>de</strong>) e estes <strong>de</strong>ntro do traçado <strong>de</strong>finitiva escolhido.<br />

Tais in<strong>de</strong>finições e atrasos para cuja resolução não pareceram, num passado bem recente,<br />

estar as autorida<strong>de</strong>s espanholas <strong>de</strong>masiado empenhadas (caso das ligações e exploração<br />

conjunta <strong>de</strong> tráfegos e trajectos ferroviários), inevitavelmente remetem a faixa atlântica da<br />

Península, nas conexões com as gran<strong>de</strong>s rotas terrestres europeias para uma <strong>de</strong>pendência<br />

acrescida dos espaços geográficos que se interpõem entre a fronteira portuguesa e os<br />

Pirinéus.<br />

E não apenas na vertente terrestre, a <strong>de</strong>pendência dos territórios intermédios nos acessos à<br />

restante Europa se po<strong>de</strong> agudizar. Limitados e <strong>de</strong>ficientes em qualida<strong>de</strong> irão induzir<br />

perversos efeitos noutros modos, <strong>de</strong>signadamente no marítimo e aéreo e,<br />

consequentemente, nas infra-estruturas em terra que os apoiam e viabilizam. Isto é: nos<br />

portos e aeroportos portugueses.<br />

201


Informação Internacional<br />

E nos portos portugueses porque lhes reduzem as potenciais áreas <strong>de</strong> influência <strong>de</strong> que<br />

beneficiariam para além fronteiras cingindo-lhes, tão só e apenas, zonas <strong>de</strong>ntro do espaço<br />

nacional. Isto no curto prazo, porque no médio e longo prazos, com clientes fi<strong>de</strong>lizados a<br />

conquista, por portos espanhóis, do mercado interno no segmento do serviço respectivo<br />

será uma realida<strong>de</strong> e para permanecer se, entretanto, não vierem a ser encontradas<br />

medidas que corporizando a procura <strong>de</strong> exportadores e importadores resi<strong>de</strong>ntes se venham<br />

a assumir como antídotos eficientes.<br />

Os Eixos e Corredores estabelecidos, <strong>de</strong>finindo um “quadrilátero”, configuram pois a<br />

materialização do Plan Director <strong>de</strong> Infra-estruturas (PDI) (1993-2007), a qual virá a servir<br />

“um conjunto <strong>de</strong> áreas e eixos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento potencial, tendo em conta a<br />

sobreposição dos aspectos económicos, das limitações e condicionantes naturais, 4 da<br />

consi<strong>de</strong>ração da perspectiva <strong>de</strong>mográfica e das infra-estruturas <strong>de</strong> transporte existentes, tal<br />

como surgiram no final dos anos 80:” 5<br />

202<br />

• O Eixo mediterrâneo, que une a Catalunha à Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Valência, caracteriza-se<br />

simultaneamente por uma certa especialização industrial, <strong>de</strong> que se <strong>de</strong>staca o sector<br />

automóvel e por especialização no terciário, em parte no sector do turismo mas com<br />

mais forte peso <strong>de</strong> terciário superior na Catalunha, graças sobretudo ao polo urbano<br />

<strong>de</strong> Barcelona; este eixo contribuía em 1992 6 em mais <strong>de</strong> 32% do PIB nacional e todas<br />

as províncias que o compõem apresentavam taxas <strong>de</strong> crescimento superiores à<br />

média nacional; este Eixo simboliza a <strong>de</strong>slocação gradual do centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong><br />

populacional e económico da Espanha para o Mediterrâneo; situa-se face às<br />

principais rotas marítimas <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> contentores para/do Médio e Extremo<br />

Oriente e é servido por dois dos maiores portos espanhóis – Valência e Barcelona –<br />

por um aeroporto internacional – Barcelona – e por variados aeroportos servindo<br />

sobretudo o tráfego interno e os voos “charters”;<br />

• O Eixo do Ebro 7 , que une Tarragona a Bilbau, passando por Saragoça e Rioja,<br />

apresenta uma forte especialização industrial no País Basco e Navarra, e em menor<br />

escala nas regiões a que pertencem estas duas últimas cida<strong>de</strong>s; as taxas <strong>de</strong><br />

crescimento já são aqui inferiores á média nacional, facto a que não são estranhos os<br />

processos <strong>de</strong> reconversão industrial em curso; um certo vazio <strong>de</strong>mográfico na<br />

Província <strong>de</strong> Huesca não permite ter uma imagem tão consolidada <strong>de</strong>ste Eixo, a que<br />

falta um prolongamento até às Asturias; este Eixo, não só põe em ligação o<br />

Mediterrâneo e o Atlântico, no percurso terrestre europeu mais curto <strong>de</strong> ilação entre<br />

ambos, como inclui em Saragoça um nó chave das ligações da região <strong>de</strong> Madrid com<br />

as duas autonomias mais <strong>de</strong>senvolvidas <strong>de</strong> Espanha; este Eixo acompanha os<br />

Pirinéus e com ele todas as travessias para França; dispõe do mais importante porto<br />

espanhol no Atlântico – Bilbau 8 ;<br />

• O Eixo Cantábrico, que não está totalmente consolidado, já que as conexões das<br />

Asturias com a Galiza ou com a Cantábria 9 são insuficientes; a predominância <strong>de</strong><br />

relações N/S, em <strong>de</strong>trimento das O/E 10 em toda a cornija cantábrica torna mesmo<br />

discutível a sua possível consolidação a prazo, sem que tal exigisse uma política<br />

coor<strong>de</strong>nada a todos os níveis; por sua vez, o Corredor que une a fronteira francesa<br />

com a portuguesa, apresenta vários vazios <strong>de</strong>mográficos 11 que tornam o seu


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

“engrossamento” artificial; apresenta nos seus pontos mais <strong>de</strong>senvolvidos tanto uma<br />

especialização industrial, como nos serviços; na segunda meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 80 as<br />

taxas <strong>de</strong> crescimento do PIB evi<strong>de</strong>nciaram um claro processo recessivo;<br />

• A região da Corunha, com a sua especialização industrial e nos serviços encontra-se<br />

relativamente afastada do resto do território, po<strong>de</strong>ndo, no entanto, <strong>de</strong>finir-se um Eixo<br />

Galaico-Português 12 , com alguma potencialida<strong>de</strong> futura, formas do a partir do<br />

Corredor que une a área metropolitana da Corunha, Santiago <strong>de</strong> Compostela e a área<br />

metropolitana <strong>de</strong> Vigo-Pontevedra, sem que seja possível até agora encontrar nesse<br />

eixo uma especialização industrial clara;<br />

• A Rota da Prata, que reúne as cinco Províncias limítrofes <strong>de</strong> Portugal a Oeste<br />

(Zamora, Salamanca, Cáceres, Badajoz e Huelva) 13 , apresentando vazios<br />

<strong>de</strong>mográficos, dificulda<strong>de</strong>s orográficas, um baixo nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento relativo e<br />

uma forte especialização agrícola em todas elas, com apenas duas <strong>de</strong>las (Cáceres e<br />

Huelva) revelando uma certa especialização industrial; das cinco Províncias incluídas,<br />

Huelva 14 como que beneficiando da sua meridionalida<strong>de</strong> apresentou, na segunda<br />

meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 80, uma taxa <strong>de</strong> crescimento do PIB, superior à média nacional;<br />

as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sta Rota se transformar num Eixo consolidado e dinâmico a<br />

médio prazo não são pois consi<strong>de</strong>radas muito elevadas;<br />

• A região <strong>de</strong> Madrid 15 , com uma gran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> terciário<br />

superior, e com processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconcentração industrial para Guadalajara 16 , Toledo<br />

e Cuenca e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento turístico e <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> residência secundárias da<br />

população da capital, a Norte; está ro<strong>de</strong>ada <strong>de</strong> províncias com uma forte<br />

especialização na agricultura “pobre” e na construção que, como que a insularizam,<br />

das regiões em maior <strong>de</strong>senvolvimento; a consolidação dos Eixos radiais com centro<br />

em Madrid po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se alcançável a curto prazo, mas com importantes<br />

“vazios” pelo meio, que retiram potencial a esses eixos radiais, quando comparados<br />

com o Eixo Mediterrâneo ou mesmo do Ebro;<br />

• os potenciais Eixos andaluzes, que reúnem Províncias que crescem com taxas<br />

elevadas, baseadas no turismo e na agricultura industrial e no sector agro-alimentar;<br />

apresentam Corredores potencialmente consolidáveis, tanto ao longo da costa<br />

(Algeciras/Almeria) 17 , como no interior ou a partir do interior (Sevilha) para a costa<br />

(Sevilha-Córdova-Linares; Sevilha-Huelva; Sevilha-Cádiz e Málaga-Linares); contra<br />

estas perspectivas que facilitariam, quer a ligação ao Eixo Mediterrânico, quer a Eixos<br />

radiais a partir <strong>de</strong> Madrid, jogam vazios <strong>de</strong>mográficos e dificulda<strong>de</strong>s orográficas; no<br />

entanto, a integração da Andaluzia no Eixo Mediterrânico 18 é consi<strong>de</strong>rada uma<br />

possibilida<strong>de</strong> viável a médio prazo.<br />

203


Informação Internacional<br />

Fonte: “Portugal 2010 − Posição no Espaço Europeu”<br />

204<br />

Mapa 2<br />

ESTRUTURA TERRITORIAL DE ESPANHA<br />

Antes da caracterização respectiva, sublinhe-se que a construção <strong>de</strong> infra-estruturas, não<br />

constituiu, no passado ainda recente, “a priorida<strong>de</strong>” se comparada com o objectivo <strong>de</strong><br />

industrialização dos anos 50. Assim, privilegiando a indústria e num regime <strong>de</strong> autarcia, as<br />

infra-estruturas <strong>de</strong> transporte foram relegadas para 2º plano e é <strong>de</strong>pois da instalação da<br />

Democracia em Espanha, com uma nítida aceleração após 1986, que os transportes<br />

ganham “alforria” no contexto geral da economia espanhola.<br />

2. INFRA-ESTRUTURAS DE TRANSPORTE E DE LOGÍSTICA<br />

2.1. Gasodutos<br />

EIXO<br />

GALAICO-PORTUGUÊS<br />

EIXO<br />

IRUN-PORTUGAL<br />

EIXO DO<br />

MEDITERRÂNEO<br />

EIXO<br />

DO EBRO<br />

EIXOS CONSOLIDADOS<br />

OU EM CONSOLIDAÇÃO<br />

EIXOS POTENCIAIS<br />

0Km 75Km 150Km<br />

No PEN a vigorar <strong>de</strong>1991 a 2000 19 , uma das priorida<strong>de</strong>s é o gás natural e a ampliação das<br />

Re<strong>de</strong>s distribuidoras (gasoduto Argélia-Marrocos-Espanha e respectiva conexão com a<br />

Re<strong>de</strong> Europeia, via França). Anteriormente a 1996, quando se iniciou o abastecimento pelo<br />

gasoduto Magreb-Europa até Córdova, o gás natural já era introduzido em Espanha através<br />

do porto <strong>de</strong> Barcelona on<strong>de</strong> era regasificado e conduzido por gasoduto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Ebro até<br />

Madrid, via Burgos.<br />

Escala


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

A ampliação da actual Re<strong>de</strong> far-se-á pela Extremadura e por Portugal, acabando por ser<br />

conectada com a Re<strong>de</strong> do Norte em Tuy. O transporte inicial foi <strong>de</strong> 300 milhões <strong>de</strong> m 3 , o que<br />

correspon<strong>de</strong> a 3,24 milhões <strong>de</strong> TEP anuais, po<strong>de</strong>ndo ser este volume ser triplicado em<br />

situações <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>.<br />

2.2. Infra-estruturas Rodoviárias<br />

Assentando no pressuposto <strong>de</strong> que cabe às rodovias o protagonismo no sistema <strong>de</strong><br />

transportes 20 , porquanto são elas que no fundamental garantem as acessibilida<strong>de</strong>s e difusão<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento a todo o território, <strong>de</strong> que resultará a entrada ao serviço <strong>de</strong> 8850 km <strong>de</strong><br />

Vias rápidas sem portagem e mais 2270 km <strong>de</strong> Auto-estradas com portagem, sendo<br />

1375 km <strong>de</strong> vias <strong>de</strong> conexão à Gran<strong>de</strong> Re<strong>de</strong>, permitindo uma mo<strong>de</strong>rna operacionalida<strong>de</strong><br />

das Re<strong>de</strong>s Arteriais <strong>de</strong> estradas e dos acessos aos portos, passando através das cida<strong>de</strong>s<br />

ou contornando-as. Para a respectiva concretização o PDI (rodoviário) assenta em três<br />

gran<strong>de</strong>s vectores:<br />

• actuação preventiva sobre os novos estrangulamentos que se avizinham aten<strong>de</strong>ndo<br />

ao crescimento do tráfego, pelo que haverá <strong>de</strong> actuar no fecho e aumento da<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> das “malhas”, corrigindo a excessiva radialida<strong>de</strong> existente;<br />

• garantir a acessibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma oferta básica a todo o território como meio <strong>de</strong><br />

proce<strong>de</strong>r à coesão económica e social 21 ;<br />

• proce<strong>de</strong>r às conexões com as Re<strong>de</strong>s Transeuropeias, através <strong>de</strong> ligações principais<br />

por Irun, Jaca, Puigcerda, Junquera e Port Bou. Algumas ligações secundárias,<br />

geograficamente intermédias a estas, constituem uma tentativa <strong>de</strong> inverter ou, pelo<br />

menos, <strong>de</strong> atenuar significativamente a tendência actual dos trajectos seguirem junto<br />

às costas marítimas, que canalizando 93% do tráfego total empobrecem as zonas<br />

mais centrais, on<strong>de</strong> corre apenas 7% do tráfego, o que lhe elimina qualquer papel<br />

logístico, já que em termos <strong>de</strong> ferrovia não existem ligações por essas zonas.<br />

Os casos das acessibilida<strong>de</strong>s aos portos <strong>de</strong> Ferrol, Coruña, Algeciras e Malaga em<br />

execução adiantada, ao porto <strong>de</strong> Gíjon com a conexão Lloreda-El Musel em fase <strong>de</strong> estudos<br />

e projectos e os acessos aos portos mediterrâneos, bem como os estudos relativos às<br />

acessibilida<strong>de</strong>s aos portos <strong>de</strong> Almeria, Motril e Castellón, ilustram a política prosseguida<br />

quanto à infra-estruturação do território, e ainda não materialmente terminada, com o claro<br />

objectivo <strong>de</strong> conferir aos portos espanhóis o protagonismo, que a situação geográfica <strong>de</strong><br />

Espanha, como condição necessária mas não suficiente, proporciona.<br />

Acresce ainda aos gran<strong>de</strong>s aos vectores atrás citados as intervenções, muito específicas,<br />

em meios urbanos e <strong>de</strong> que se <strong>de</strong>stacam a linha <strong>de</strong> circunvalação <strong>de</strong> Madrid (M-50) e a<br />

nova cintura viária <strong>de</strong> Barcelona (B-40).<br />

Também as Vias Rápidas Madrid-Valencia, Granada-Motril, os primeiros troços do percurso<br />

na Via Rápida Sagunto-Teruel-Saragoça, a Via Rápida do Cantábrico, as Vias Rápidas da<br />

205


Informação Internacional<br />

Galiza, Albacete-Murcia e Huelva-Ayamonte irão contribuir para a operacionalida<strong>de</strong> do<br />

conjunto da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> estradas.<br />

Tal plano rodoviário mantém 5 gran<strong>de</strong>s ligações ao Atlântico Oci<strong>de</strong>ntal (Portugal): duas a<br />

Norte por Vigo e Verin; ao Centro duas, por Fuentes <strong>de</strong> Oñoro e Badajoz e a Sul por<br />

Ayamonte.<br />

A observação <strong>de</strong>ste Mapa, revela a suprema preocupação das autorida<strong>de</strong>s responsáveis em<br />

proporcionar aos portos <strong>de</strong> “interesse geral” ligações rodoviárias, tal como ferroviárias<br />

(Mapa 4) rápidas e <strong>de</strong> ligação ao centro peninsular, melhor dizendo, ao “porto seco” <strong>de</strong><br />

Madrid. Na realida<strong>de</strong>, todo o PDI <strong>de</strong>monstra uma articulação coerente entre os diversos<br />

modos <strong>de</strong> transporte, numa perspectiva intermodal, “rematada” pela infra-estrutura referida<br />

localizada junto à capital do país.<br />

206<br />

Mapa 3<br />

VIAS RÁPIDAS e AUTO-ESTRADAS<br />

San Ciprián<br />

EL FERROL<br />

A CORUÑA<br />

VILAGARCIA<br />

MARÍN PONTEVEDRA<br />

VIGO<br />

ILHAS CANARIAS<br />

LUGO<br />

ORENSE<br />

BADAJOZ<br />

HUELVA<br />

STª. CRUZ DE TENERIFE<br />

LAS PALMAS DE GRAN CANARIA<br />

ZAMORA<br />

SALAMANCA<br />

CÁCERES<br />

SEVILLA<br />

GIJON<br />

OVIEDO<br />

LEÓN<br />

BURGOS<br />

PALENCIA<br />

VALLADOLID<br />

SEGOVIA<br />

ÁVILA<br />

MADRID<br />

CÓRDOBA<br />

SANTANDER<br />

Fonte: Puertos <strong>de</strong>l Estado nº 77 Agosto-Septiembre 2000<br />

SAN SEBASTIAN<br />

A participação da Rodovia no transporte por terra com origem nos portos tem vindo a evoluir<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1987 (41%) para, <strong>de</strong>z anos após; se situar já em quase 50%, não consi<strong>de</strong>rando para<br />

ambos os anos o transporte <strong>de</strong> Granéis Líquidos por pipeline. Por outro lado, o contributo da<br />

estrada cobre em mais <strong>de</strong> 70% o total das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transporte terrestre relacionado<br />

com a activida<strong>de</strong> marítima (rodo-marítimo) nos principais portos <strong>de</strong> Espanha. Os portos <strong>de</strong><br />

Barcelona, com um movimento médio diário <strong>de</strong> 13626 veículos pesados, <strong>de</strong> Valência com<br />

8600 e <strong>de</strong> Tarragona com pouco mais <strong>de</strong> 3000, clarificam não apenas a correcção das<br />

opções assumidas no planeamento das infra-estruturas, mas também a importância que os<br />

portos do Sul <strong>de</strong> Espanha vêm adquirindo no comércio externo. .<br />

TOLEDO<br />

BILBAO<br />

VITORIA<br />

LOGROÑO<br />

SORIA<br />

PAMPLONA<br />

GUADALAJARA TERUEL<br />

CUENCA<br />

CIUDAD REAL ALBACETE<br />

JAÉN<br />

GRANADA<br />

Motril<br />

MÁLAGA<br />

BAHÍA DE<br />

CADIZ BAHÍA DE ALGECIRAS<br />

CEUTA<br />

MELILLA<br />

MURCIA<br />

ALMERÍA<br />

Carboneras<br />

HUESCA<br />

LLEIDA<br />

ZARAGOZA<br />

CARTAGENA<br />

ALICANTE<br />

GIRONA<br />

BARCELONA<br />

TARRAGONA<br />

CASTELLÓN<br />

DE LA PLANA<br />

Sagunto<br />

VALENCIA BALEARES<br />

Gandia<br />

ILHAS BALEARES<br />

Portos <strong>de</strong> interesse geral<br />

do Estado<br />

Portos <strong>de</strong> interesse geral<br />

do Estado não incluídos<br />

na análise <strong>de</strong> <strong>de</strong>telhe<br />

Auto-estradas<br />

Auto-estradas com portagem


2.3. Infra-estruturas Ferroviárias<br />

Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

A actual estrutura da Re<strong>de</strong>l é Radial, com centro em Madrid e cujos terminus mais<br />

importantes são: La Coruña, Gijón, Santan<strong>de</strong>r, Bilbau, Irún, Port-Bou, Valencia, Alicante,<br />

Málaga 22 , Algeciras, Cádiz e Lisboa (note-se que em todos estes “fins-<strong>de</strong>-linha” se<br />

encontram infra-estruturas portuárias 23 ), cuja construção e/ou mo<strong>de</strong>rnização correspon<strong>de</strong>m<br />

a uma preocupação das Autorida<strong>de</strong>s Portuárias que vêem nas ligações ferroviárias ao<br />

interior, a outros portos e também à re<strong>de</strong> viária, um factor não apenas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

dos portos que administram, mas até <strong>de</strong> sobrevivência <strong>de</strong>ssas infra-estruturas num contexto<br />

<strong>de</strong> concorrência cada vez mais acrescida <strong>de</strong>ntro do território que constitui a UE. Esta Re<strong>de</strong><br />

não é homogénea nem quanto às prestações <strong>de</strong> serviços nem quanto ao respectivo uso.<br />

Em termos gerais, a utilização do Caminho <strong>de</strong> Ferro na década <strong>de</strong> 1985 a 1995 apresenta<br />

alguns indicadores que, por si só, não fornecem elementos <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se possa inferir gran<strong>de</strong>s<br />

evoluções positivas na política ferroviária. Assim, a evolução do sector consubstancia-se,<br />

numa primeira análise, no comprimento total das linhas que foi reduzido em pouco mais <strong>de</strong><br />

500 km, tendo passado <strong>de</strong> 14804 para 14291 km no período em referência. O Número <strong>de</strong><br />

passageiros aumentou substancialmente. De 288 milhões passou para 477 milhões e o<br />

indicador Passageiros x km, em milhões, caiu <strong>de</strong> 17066 para 16599. Quanto às<br />

mercadorias, as toneladas transportadas passaram <strong>de</strong> 39 milhões para 30 milhões e as<br />

Toneladas x km, também em milhões, reduziram-se. De pouco mais <strong>de</strong> 12000, apenas<br />

atingiram 10000 no final do período.<br />

Tal facto não significa queda na mobilida<strong>de</strong>, para gran<strong>de</strong>s distâncias, <strong>de</strong> pessoas e bens,<br />

mas sim nas alternativas que as rodovias, <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> superior e também o transporte<br />

aéreo interno, proporcionam às pessoas e ao movimento <strong>de</strong> mercadorias.<br />

No que respeita ao esforço <strong>de</strong> investimento, francamente elevado e <strong>de</strong>monstrando,<br />

indubitavelmente, o objectivo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização da Re<strong>de</strong>, praticamente duplica no final do<br />

período (176,5 milhares <strong>de</strong> milhões), quando comparado com o ano <strong>de</strong> início (perto <strong>de</strong> 90<br />

milhares <strong>de</strong> milhões). Todavia, há que aten<strong>de</strong>r à acumulação que se efectuou, nos anos<br />

intermédios e que elevou <strong>de</strong> uma forma jamais atingida, mesmo em termos relativos, o<br />

Stock <strong>de</strong> capital ferroviário, quer em infra-estruturas quer em material circulante.<br />

Se o “<strong>de</strong>senho” em Re<strong>de</strong>, completado com estruturas secundárias e com uma série <strong>de</strong><br />

transversais apresenta vantagens, pois assegura o máximo <strong>de</strong> conexões <strong>de</strong> transportes com<br />

o mínimo <strong>de</strong> linhas, reduzindo custos <strong>de</strong> exploração e investimentos iniciais, também se<br />

torna susceptível <strong>de</strong> críticas pelo seu presumível pouco comprimento.<br />

Sendo este comprimento inferior ao <strong>de</strong> outros países, tal facto não parece constituir contudo<br />

grave problema, dado o uso do caminho <strong>de</strong> ferro ser em percursos longos e <strong>de</strong> tráfegos<br />

abundantes e pesados.<br />

207


Informação Internacional<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> Plan Director <strong>de</strong> Infrastructuras (PDI)<br />

208<br />

Mapa 4<br />

REDE FERROVIÁRIA<br />

Via férrea estreita<br />

Via férrea simples electrificada<br />

Via férrea dupla electrificada<br />

Via férrea <strong>de</strong> alta velocida<strong>de</strong><br />

Futura via férrea <strong>de</strong> alta velocida<strong>de</strong><br />

0Km 75Km 150Km<br />

Por outro lado, esta pequena dimensão faz com que o abandono da exploração <strong>de</strong><br />

pequenos ramais e <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> fraco movimento se não torne tão grave como noutros<br />

países europeus.<br />

Também não constitui problema a proliferação <strong>de</strong> trajectos <strong>de</strong> via única em segmentos <strong>de</strong><br />

intenso tráfego, em virtu<strong>de</strong> das novas tecnologias que permitem a sinalização a<strong>de</strong>quada.<br />

Contudo, essa remo<strong>de</strong>lação e mo<strong>de</strong>rnização, embora se encontre em marcha, ainda está<br />

atrasada em relação às necessida<strong>de</strong>s.(Tamames, pp. 288)<br />

A partir da Directiva Comunitária (440/91) que exige a todas as empresas europeias <strong>de</strong><br />

caminho <strong>de</strong> ferro a cisão em empresas <strong>de</strong> gestão da infra-estrutura e da gestão dos serviços<br />

<strong>de</strong> transporte, a RENFE 24 , que diariamente expe<strong>de</strong> 450 comboios, dividiu-se<br />

administrativamente em unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócio autónomas (UN), compatibilizando a oferta às<br />

exigências do mercado (procura).<br />

Escala


EIXO<br />

GALAICO-PORTUGUÊS<br />

ALUM. ESPAÑOLA<br />

ASTANO<br />

EL FERROL<br />

SAN CIPRIAN<br />

BAZÁN<br />

AVILÉS<br />

INESPAL<br />

LA CORUÑA<br />

PETROLIBER<br />

ENSIDESA<br />

ENCESA PONTEVEDRA<br />

ALUM. DE GALICIA<br />

VIGO<br />

BARRERAS<br />

CITROËN<br />

Mapa 5<br />

CORREDORES E DISTRIBUIÇÃO INDUSTRIAL<br />

RIOGULF<br />

RIO PATINO<br />

UERT<br />

SEVILLA<br />

ENCESA<br />

AE SA<br />

HUELVA<br />

UERT<br />

BMC<br />

AE SA<br />

BAZÁN<br />

CÁDIZ<br />

ALGECIRAS<br />

PETRONOR<br />

ACB<br />

AE SA<br />

FIRESTONE EIXO<br />

SANTANDER<br />

IRUN-PORTUGAL<br />

BILBAO LASARTE<br />

TORRELAVEGA<br />

RENTERÍA<br />

NMQ<br />

MICHELIN PAPELERA E.<br />

FIRESTONE<br />

SNIACE<br />

AR. DE DUERO<br />

MICHELIN<br />

VALLADOLID<br />

INESPAL<br />

FASA<br />

IVECO<br />

IVECO<br />

NICAS<br />

ÁVILA<br />

M.IBÉRICA MADRID<br />

CEP SA<br />

TOLEDO<br />

STANDARD<br />

CÓRDOBA<br />

MÁLAGA<br />

PUERTOLLANO<br />

Fonte: DPP/DSP: “Portugal 2010-Posição no Espaço Europeu e adaptação <strong>de</strong> Tamames<br />

SECEM<br />

AMONIACO E.<br />

CITESA<br />

LINARES<br />

SANTANA<br />

MOTRIL<br />

VITORIA<br />

DAIMLER B.<br />

TALBOT<br />

DAIMLER B.<br />

AVIA<br />

STANDARD<br />

REPSOL<br />

ALCUDIA/PAULAR<br />

Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

0Km 75Km 150Km<br />

O Governo <strong>de</strong> Espanha preten<strong>de</strong> articular a Alta Velocida<strong>de</strong>, o serviço a gran<strong>de</strong>s<br />

aglomerados urbanos 25 e o transporte combinado. Isto é: preten<strong>de</strong> conferir ao Caminho <strong>de</strong><br />

Ferro a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proporcionar uma oferta <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />

A estratégia seguida assenta na melhoria das condições <strong>de</strong> exploração comercial na<br />

totalida<strong>de</strong> da Re<strong>de</strong>, don<strong>de</strong> emerge como primeira priorida<strong>de</strong> a inserção na RTE <strong>de</strong> Alta<br />

Velocida<strong>de</strong> 26 ., embora <strong>de</strong> forma gradual.<br />

A Alta Velocida<strong>de</strong> (AVE, Alta Velocida<strong>de</strong> Espanhola), já funciona na linha Madrid-Sevilha<br />

(471 km) e brevemente circulará na nova linha Madrid-Saragoça- Barcelona (esta a entrar<br />

em funcionamento em 2004, passando o percurso a durar apenas 2 horas e 30´, em vez das<br />

actuais 6 horas e 30', o que constituirá a mais alta velocida<strong>de</strong> conseguida a nível mundial) –<br />

fronteira com França (796 km), <strong>de</strong> bitola europeia, como materialização <strong>de</strong>ssa primeira<br />

priorida<strong>de</strong> e entrando em funcionamento em 2006, mas já antes com circulação entre<br />

Madrid e Leida.<br />

Complementar a Re<strong>de</strong> interna <strong>de</strong> Alta Velocida<strong>de</strong> com uma Re<strong>de</strong> Básica, integrada pelos<br />

trajectos <strong>de</strong> maior capacida<strong>de</strong> estruturante, o que pressupõe a construção <strong>de</strong> múltiplos<br />

acessos e variantes ao longo <strong>de</strong> toda a Re<strong>de</strong> convencional da RENFE, assim como<br />

duplicações <strong>de</strong> via e melhoria do traçado em segmentos que o justifiquem <strong>de</strong>vido à<br />

intensida<strong>de</strong> do tráfego e on<strong>de</strong> as novas técnicas e tecnologias <strong>de</strong> sinalização se mostrem<br />

PAMPLONA<br />

MICHELIN SEAT<br />

ENCESA<br />

VIASA<br />

GMC<br />

CAISA<br />

CARTAGENA<br />

ZARAGOZA<br />

VALÊNCIA<br />

AE SA<br />

ENL<br />

FORD<br />

REPSOL<br />

BAZÁN<br />

ASUR<br />

ESSO-PETROL<br />

FERTIBERIA<br />

ESSO<br />

Escala<br />

MONZÓN<br />

CASTELLÓN<br />

SAGUNTO<br />

HIDRONITRO<br />

ASE SA<br />

TARRAGONA<br />

ENPETROL<br />

IQA<br />

AHM<br />

EIXO DO<br />

MEDITERRÂNEO<br />

SEAT<br />

M.IBÉRICA<br />

IVECO<br />

PIRELLI<br />

PAPELERA E.<br />

BARCELONA<br />

EIXO<br />

DO EBRO<br />

ÁREAS METROPOLITANAS<br />

OUTROS CENTROS URBANOS<br />

EIXOS CONSOLIDADOS<br />

OU EM CONSOLIDAÇÃO<br />

EIXOS POTENCIAIS<br />

PORTO SECO<br />

REFINARIAS DE PETRÓLEO<br />

COBRE<br />

ALUMINIO<br />

SIDERURUGICAS INTEGRAIS<br />

CONSTRUÇÃO NAVAL<br />

INDÚSTRIA AUTOMÓVEL<br />

PNEUS<br />

NITRATOS<br />

PETROQUIMICA<br />

CELULOSE<br />

TELEFONES<br />

209


Informação Internacional<br />

insuficientes, constitui outro objectivo prioritário, bem como. potenciar os serviços em torno<br />

dos gran<strong>de</strong>s aglomerados urbanos, conduzindo à criação <strong>de</strong> Re<strong>de</strong>s regionais.<br />

Potenciar todas as infra-estruturas e equipamentos para o Transporte Combinado e<br />

respectivas conexões, é outra meta a atingir <strong>de</strong>ntro do PDI.<br />

Para o ano 2000, a concretização do Plano ferroviário apresenta um investimento previsto<br />

na Re<strong>de</strong> ferroviária interna que ascen<strong>de</strong> a 547 milhares <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> pesetas a distribuir<br />

pelos diversos Corredores, representando um acréscimo <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 45 % relativamente a<br />

1999, confirmando o empenhamento que o país coloca no <strong>de</strong>senvolvimento do caminho <strong>de</strong><br />

ferro, quer para mercadorias, quer para passageiros, on<strong>de</strong> as re<strong>de</strong>s suburbanas e o<br />

incentivo ao transporte público, <strong>de</strong>ntro e no acesso aos gran<strong>de</strong>s centros, <strong>de</strong>signadamente<br />

nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Barcelona e <strong>de</strong> Madrid, se perfila como gran<strong>de</strong> objectivo <strong>de</strong> curto prazo e ao<br />

qual as populações têm respondido positivamente. Também o aperfeiçoamento da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

AVE, com prolongamentos e novos troços a construir, vem constituindo uma clara priorida<strong>de</strong><br />

no investimento da infra-estruturação dos transportes. A distribuição do investimento por<br />

Corredores, efectua-se segundo o esquema seguinte:<br />

210<br />

Pontevedra<br />

La Coruña<br />

Orense<br />

Lugo<br />

Badajoz<br />

Huelva<br />

Fonte: Líneas <strong>de</strong>l Tren, nº242<br />

Cáceres<br />

Cádiz<br />

Gijon<br />

Oviedo<br />

Sevilla<br />

Zamora<br />

Mapa 6<br />

REDE DE ALTA VELOCIDADE<br />

(Executada e a executar até 2007)<br />

León<br />

Salamanca<br />

Palencia<br />

Valladolid<br />

Ávila<br />

Córdoba<br />

Málaga<br />

Santan<strong>de</strong>r<br />

Segovia<br />

Toledo<br />

MADRID<br />

Ciudad Real<br />

Jaen<br />

Granada<br />

Burgos<br />

Bilbao<br />

Vitoria<br />

Soria<br />

Cuenca<br />

ACTUAÇÃO NA REDE<br />

FERROVIÁRIA DE ALTA VELOCIDADE<br />

(Situação em 07-02-2001)<br />

Em Serviço<br />

Obras<br />

Projecto<br />

Em Estudo<br />

• Corredor Nor<strong>de</strong>ste: O Investimento na linha AVE Madrid-Saragoça (em 1 hora e 15)-<br />

Barcelona (a 2 horas e 25 <strong>de</strong> Madrid) − Fronteira francesa atinge perto <strong>de</strong> 241mil<br />

San Sebastian<br />

Albacete<br />

Almeria<br />

Logroño<br />

Pamplona<br />

Murcia<br />

Zaragoza<br />

Teruel<br />

Huesca<br />

Valencia<br />

Alicante<br />

Barcelona<br />

Tarragona<br />

Girona


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

milhões, prevendo-se a conclusão para 2004. Sendo intenção do po<strong>de</strong>r central <strong>de</strong><br />

iniciar as tramitações conducentes à concessão da secção internacional entre<br />

Figueras e Perpignan;<br />

• Madrid-Levante: O montante <strong>de</strong>stinado ao estudo sobre a linha AVE Madrid-Castela<br />

Mancha-Comunida<strong>de</strong> Valenciana-Região <strong>de</strong> Murcia é <strong>de</strong> 2,3 milhares <strong>de</strong> milhões;<br />

• Corredor Mediterrâneo: Destaca-se pelo volume previsto, 12,5 milhares <strong>de</strong> milhões, o<br />

troço Valencia-Tarragona. Quanto à conexão <strong>de</strong>ste Corredor com a linha AVE Madrid-<br />

Barcelona, será submetido brevemente a discussão pública. À ligação ferroviária<br />

Murcia-Almeria são atribuídos 100 milhões para realizar estudos e, simultaneamente,<br />

serão aprovadas os relativos aos acessos a Alicante e Elche. Para os estudos sobre<br />

os novos acessos à região Murciana estão consignados <strong>de</strong> 600 a 2000 milhões;<br />

• Corredor da Extremadura: Para unir Madrid com Cáceres em perto <strong>de</strong> 2 horas e em 3<br />

horas com Badajoz, estão consignados 2000 milhões. Este trajecto beneficiará <strong>de</strong><br />

melhoramentos para adaptação a AVE no troço Aljucén-Badajoz (linha <strong>de</strong> Cáceres-<br />

Badajoz). Entre Cáceres e Aljucén, com o objectivo <strong>de</strong> proporcionar velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

200 km/hora estão consignados 100 milhões para estudos, extensivos aos futuros<br />

acessos a Mérida. Este Corredor, acabou por influenciar o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong>finitivo da<br />

construção do AVE que ligará Portugal a Espanha e ao resto da Europa. Afigurandose<br />

que as obras e projectos em curso concernentes ao território espanhol constituem<br />

um indicador da estratégia consolidada;<br />

• Corredor <strong>de</strong> Andaluzia: Os investimentos repartem-se pela parte Oriental (3,5<br />

milhares <strong>de</strong> milhões) <strong>de</strong>stinados pelo GIF à construção da futura AVE Córdova-<br />

Málaga 500 milhões para a ligação Madrid-Jaén a acrescer a 2000 milhões para a<br />

melhoria dos acesso a Granada. Na parte Oci<strong>de</strong>ntal serão investidos 5,6 milhares <strong>de</strong><br />

milhões na linha Sevilha-Cádiz (Jerez <strong>de</strong> la Frontera) como componente do projecto<br />

relativo à Baía <strong>de</strong> Cádiz. Na linha Sevilha-Huelva está prevista a avaliação do<br />

financiamento necessário às obras <strong>de</strong> melhoria do respectivo traçado. Refira-se, por<br />

último, que Madrid ficará a 4 horas e meia <strong>de</strong> Algeciras;<br />

• Corredor Nor-Noroeste: Corredor apoiado sobre o AVE Madrid-Segovia-<br />

Valldolid/Medina <strong>de</strong>l Campo estão previstos estudos, obras e conclusão <strong>de</strong> projectos<br />

referentes à <strong>de</strong>signada Variante Norte, no 1º dos respectivos troços, saída <strong>de</strong> Madrid<br />

e trajecto até Segóvia e ligações Segóvia-Valladolid. Os acessos à Cornija<br />

Cantábrica, aguardam que até final <strong>de</strong> 2000 estejam concluídos os estudos sobre os<br />

traçados Orense-Santiago e Medina <strong>de</strong>l Campo-Sanabria, ambos previstos para AVE.<br />

As infra-estruturas que efectuarão as conexões com as Asturias aguardam parecer do<br />

Ministério do Ambiente. Valladolid-Burgos e Burgos-Vitoria são outras construções,<br />

mas ainda na fase <strong>de</strong> discussão pública. No País Basco a elaboração dos projectos<br />

visando a união das suas três províncias <strong>de</strong>verá ficar concluída no ano em curso.<br />

211


Informação Internacional<br />

212<br />

Zonas <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> logística<br />

< a 0,3 milhões pass.<br />

0,3 a 1 milhão pass.<br />

1 a 4 milhões pass.<br />

4 a 10 milhões pass.<br />

> a 10 milhões pass.<br />

EIXO<br />

GALAICO-PORTUGUÊ S<br />

Mapa 7<br />

INFRA-ESTRUTURAS DE TRANSPORTES - REDES<br />

(Uma visão para 2007)<br />

Via férrea estreita<br />

Via férrea simples electrificada<br />

Via férrea dupla electrificada<br />

Via férrea <strong>de</strong> alta velocida<strong>de</strong><br />

Futura via férrea <strong>de</strong> alta velocida<strong>de</strong><br />

Vias rápidas<br />

Auto-estradas<br />

EIXO<br />

IRUN-PORTUGAL<br />

Fonte: DSP/DPP com base em “Portugal 2010-Posição no Espaço Europeu e Tamames<br />

0Km 75Km 150Km<br />

Mercasa<br />

< a 8 milhões Ton.<br />

A eficiência do transporte combinado passa pelas conexões a portos e plataformas<br />

logísticas interiores e pela melhoria das instalações <strong>de</strong>dicadas à troca <strong>de</strong> equipamento para<br />

circulação transfronteiriça, implicando bitolas diferentes. Para acréscimo <strong>de</strong> eficiência, as<br />

estações <strong>de</strong> mercadorias nas principais áreas metropolitanas, bem como os respectivos<br />

acessos irão beneficiar <strong>de</strong> investimentos em conformida<strong>de</strong>.<br />

O gran<strong>de</strong> objectivo colocado pela Renfe, num prazo <strong>de</strong> 10 a 15 anos, consiste na<br />

individualização das vias férreas para mercadorias e passageiros 27 . A concretização <strong>de</strong> tal<br />

meta proporcionará uma muito maior competitivida<strong>de</strong> ao caminho <strong>de</strong> ferro, on<strong>de</strong> a<br />

velocida<strong>de</strong> para as mercadorias po<strong>de</strong>rá atingir, logo numa 1ª fase os 65 a 70 km/hora, e<br />

<strong>de</strong>scongestionará a rodovia, reservando-a para distâncias mais curtas, numa articulação<br />

plena e eficiente com o caminho <strong>de</strong> ferro. Por outra parte, conferirá aos portos espanhóis,<br />

quer mediterrâneos, quer atlânticos, uma acrescida capacida<strong>de</strong> concorrencial a Sul<br />

(Mediterrâneo) e a Oci<strong>de</strong>nte (Fachada Atlântica), nomeadamente a portos franceses<br />

relativamente próximos como Bordéus.<br />

Portos<br />

Escala<br />

8 a 20 milhões Ton.<br />

20 a 40 milhões Ton.<br />

>a 40 milhões Ton.<br />

Áreas metropolitanas<br />

EIXO DO<br />

MEDITERRÂNEO<br />

EIXO<br />

DO EBRO<br />

Outros centros urbanos<br />

Eixos consolidados<br />

ou em consolidação<br />

Eixos potenciais


2.4. Infra-estruturas Aeroportuárias<br />

Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

Embora não seja “a condição suficiente” 28 para o <strong>de</strong>senvolvimento do tráfego aéreo a<br />

existência <strong>de</strong> uma companhia aérea nacional, contribui, e muito, para os movimentos nos<br />

aeroportos da nacionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas empresas <strong>de</strong> transporte.<br />

Os tráfegos aéreos internos efectuam-se mediante linhas que unem quase todas as capitais<br />

e cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> importância com Madrid e Barcelona. Quanto a linhas exteriores, funcionam<br />

para todas as capitais europeias e gran<strong>de</strong>s centros da Europa Oci<strong>de</strong>ntal, bem como a<br />

alguns do Leste europeu.<br />

Relativamente ao continente americano, a Re<strong>de</strong> é fortemente <strong>de</strong>nsa, tocando a Ibéria em<br />

todos os países. Para África funcionam várias linhas para o Norte, Golfo da Guiné, Beirute,<br />

Teerão, Kuwait, Arábia Saudita e Cairo. Para a Ásia, o Japão é o país para on<strong>de</strong> se<br />

efectuam voos regulares.<br />

O Rácio tráfegos internos/tráfegos internacionais é bastante superior ao <strong>de</strong> outros países<br />

embora possuidores <strong>de</strong> maiores companhias <strong>de</strong> aviação comercial. Tal facto <strong>de</strong>ve-se,<br />

essencialmente à dimensão territorial do país. Contudo, a Alta Velocida<strong>de</strong> nos comboios<br />

po<strong>de</strong>rá ir retirando passageiros ao avião, o que não acontece na fase actual do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento daquelas linhas, ainda não operacionais.<br />

Dados <strong>de</strong> 1996 indicam que o movimento <strong>de</strong> passageiros nos aeroportos espanhóis com<br />

proveniência e <strong>de</strong>stino ao país foi <strong>de</strong> 43,3 milhões, enquanto que os passageiros <strong>de</strong><br />

proveniência ou <strong>de</strong>stino exterior atingiram no mesmo período 57,6 milhões.<br />

A partir <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1996, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> várias vicissitu<strong>de</strong>s que a Ibéria atravessou,<br />

nomeadamente a aplicação <strong>de</strong> um plano <strong>de</strong> saneamento financeiro, com uma injecção <strong>de</strong><br />

87 mil milhões <strong>de</strong> pesetas, autorizada pela Comunida<strong>de</strong> que não consi<strong>de</strong>rou tal operação<br />

como ajuda <strong>de</strong> Estado, a companhia subscreveu, juntamente com a British Airways e a<br />

American Airlines, um acordo <strong>de</strong> adaptação <strong>de</strong> horários e enlaces, repartindo os proveitos<br />

<strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> tal acordo entre todas.<br />

A nova estrutura <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> aeroportos (actualmente são 39) persegue, como gran<strong>de</strong>s<br />

objectivos a alcançar <strong>de</strong>ntro do período <strong>de</strong> vigência do PDI e do Plano Estratégico Sectorial<br />

(1994-1998), um melhoramento significativo do processamento dos fluxos <strong>de</strong> passageiros<br />

entre as gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, enfatizando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> angariar novos tráfegos <strong>de</strong> caracter<br />

internacional. O objectivo é, em 2020, aumentar o número <strong>de</strong> passageiros <strong>de</strong> Madrid-<br />

Barajas 29 (quase 25 milhões em 1998) processados nesta fase em duas pistas, para 80<br />

milhões (com 70 milhões já para a próxima década), o que implica a construção <strong>de</strong> cinco<br />

pistas e <strong>de</strong> muitos mais terminais.<br />

Com o alargamento para 4 pistas (duas para <strong>de</strong>scolagem e duas para aterragens), obras a<br />

iniciar já no próximo século, com um custo estimado em perto <strong>de</strong> 280 mil milhões <strong>de</strong><br />

pesetas, Barajas transformar-se-á no mais mo<strong>de</strong>rno aeroporto da Europa e ponto <strong>de</strong><br />

conexão preferencial com todo o continente Sul americano, o que vem confirmar e reforçar a<br />

213


Informação Internacional<br />

actual situação, porquanto 44% dos voos dali provenientes ou que o têm como <strong>de</strong>stino,<br />

escalam Madrid. Também para todo o continente europeu, virá a <strong>de</strong>sempenhar o papel <strong>de</strong><br />

Hub, passando a processar 120 operações por hora, o que equivale a aumentar a actual<br />

capacida<strong>de</strong> em 50%.<br />

Assim, daqui por 3 anos e graças já a um novo terminal (Nova Área Terminal-NAT),<br />

estruturado por companhias <strong>de</strong> aviação em vez <strong>de</strong> por <strong>de</strong>stinos, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recepção<br />

<strong>de</strong> passageiros atingirá os 70 milhões. Esta nova infra-estrutura, <strong>de</strong>signada como Gran<br />

Barajas, está na óptica dos especialistas, numa situação privilegiada pois como aeroporto<br />

internacional dista apenas 13 km da capital, situação consi<strong>de</strong>rada ímpar e que além disso<br />

vai beneficiar <strong>de</strong> novos acessos, baseada em gran<strong>de</strong>s eixos, um Norte-Sul, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a estrada<br />

M-40, conectando o novo terminal (NAT) até a Alcobendas e ainda outra Re<strong>de</strong> transversal,<br />

unindo esta NAT com as 3 actuais e prolongando-se até à estrada para Barcelona (NII).<br />

A partir da altura em que a capacida<strong>de</strong> estiver esgotada, o que se admite vir a acontecer na<br />

segunda década do próximo século, as instalações do aeroporto <strong>de</strong> Madrid passarão para<br />

Campo Real, a 33 km <strong>de</strong> distância e a dotar com 6 pistas, o que envolve, a preços actuais,<br />

cerca <strong>de</strong> 1 bilião <strong>de</strong> pesetas em investimento. Internamente, a compatibilida<strong>de</strong> e articulação<br />

com outros modos <strong>de</strong> transporte são consi<strong>de</strong>radas ambas como prioritárias.<br />

Todavia, parecem surgir alguns constrangimentos a este plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Os<br />

termos técnicos em que assentava a prevista ampliação po<strong>de</strong>rão vir a sofrer alterações <strong>de</strong><br />

monta <strong>de</strong>vido às incompatibilida<strong>de</strong>s encontradas com a operacionalida<strong>de</strong> da base militar <strong>de</strong><br />

Torrejón. A duplicação do número <strong>de</strong> pistas actualmente existentes (2) no aeroporto da<br />

capital, possibilitaria um número <strong>de</strong> passageiros/ano <strong>de</strong> 48 milhões (mais 20 milhões que no<br />

presente) e que Espanha não quer <strong>de</strong> modo algum per<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>ntro da estratégia <strong>de</strong> elevar<br />

Barajas a “porta” principal da UE para os tráfegos originários da América do Sul, Caribe e<br />

África Oci<strong>de</strong>ntal. A cumprir-se tal objectivo, a assunção <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> Hub europeu, irradiando<br />

tráfegos para os restantes países da União, é consequência directa e óbvia.<br />

A não realização <strong>de</strong>ste plano, que também compreen<strong>de</strong> a construção <strong>de</strong> um novo terminal<br />

para passageiros, <strong>de</strong> auto-estradas <strong>de</strong> acesso directo e <strong>de</strong> um novo parque <strong>de</strong><br />

estacionamento para um milhar <strong>de</strong> veículos subalternizaria, em <strong>de</strong>finitivo, o aeroporto <strong>de</strong><br />

Barajas no contexto dos gran<strong>de</strong>s aeroportos europeus. Assim, um novo plano alternativo,<br />

que passa pela alteração na orientação da pista da base militar, está em elaboração para<br />

posterior recolher os pareceres que legalmente estão previstos na legislação espanhola.<br />

As 75 operações/hora efectuadas actualmente atingiram o respectivo limite e a sua<br />

superação apenas será possível com mais pistas operacionais. O objectivo das 4 pistas<br />

proporcionará 120 operações horárias e um tráfego potencial <strong>de</strong> 70 milhões <strong>de</strong> passageiros<br />

até 2010.<br />

Além da importância que constitui o crescimento <strong>de</strong> passageiros a escalar Barajas, também<br />

a carga aérea e o <strong>de</strong>senvolvimento do papel <strong>de</strong> plataforma logística do aeroporto se<br />

assumem como elementos <strong>de</strong>cisivos no <strong>de</strong>sejado protagonismo no contexto do Sul da<br />

Europa on<strong>de</strong> nenhum dos gran<strong>de</strong>s aeroportos (Milão, Marselha, Nice, Atenas, Roma e<br />

214


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

também Barcelona) adquiriu até à data o lugar <strong>de</strong> comando na carga aérea, embora seja<br />

aquele que ligeiramente leva algum avanço (295 milhares <strong>de</strong> toneladas para um total geral<br />

<strong>de</strong> 1100).<br />

Com esse fim a CLASA, como Centro <strong>de</strong> Carga Aérea Madrid-Barajas, iniciou em 1994 a<br />

respectiva activida<strong>de</strong> como socieda<strong>de</strong> comercial, única gestora do centro <strong>de</strong> carga e on<strong>de</strong> já<br />

operam 190 empresas e que visa como objectivo prioritário a promoção, construção, gestão,<br />

exploração e conservação dos centros <strong>de</strong> carga aérea da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> AENA. Presentemente,<br />

as activida<strong>de</strong>s esten<strong>de</strong>m-se a El Prat (Barcelona), Vitoria e Saragoça e no exterior situam-se<br />

no México, Colômbia, Uruguay e Perú.<br />

Quanto ao aeroporto <strong>de</strong> Barcelona, El Prat (16 milhões <strong>de</strong> passageiros em 1998, mas já<br />

acusando um crescimento <strong>de</strong> 8,5% no 1º trimestre <strong>de</strong>ste ano em relação a igual período <strong>de</strong><br />

98), cujo objectivo é vir a assumir-se como o gran<strong>de</strong> aeroporto <strong>de</strong> distribuição para todo o<br />

Sul europeu, processa actualmente 50 operações horárias (manifestamente insuficientes em<br />

horários <strong>de</strong> ponta), preten<strong>de</strong>ndo com a construção <strong>de</strong> uma nova pista, a 3ª, chegar às 90 e<br />

com uma movimentação <strong>de</strong> passageiros a atingir os 40 milhões. 30<br />

É pois uma ambição catalã, fazer evoluir este aeroporto, ainda consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> âmbito<br />

regional, para um aeroporto internacional e também Hub, como o <strong>de</strong> Barajas, mas<br />

vocacionado para Sul e Mediterrâneo dando-lhe o carácter <strong>de</strong> motor económico regional.<br />

Operando em Re<strong>de</strong> com os restantes aeroportos da Catalunha (Reus, Saba<strong>de</strong>ll e Gerona)<br />

po<strong>de</strong>rá triplicar os postos <strong>de</strong> trabalho e sextuplicar o volume <strong>de</strong> negócios.<br />

No que se refere a cargas, as infra-estruturas estão potencialmente dimensionadas para o<br />

manuseamento <strong>de</strong> 400000 toneladas, valor jamais atingido. Em 1998 registaram-se 80000<br />

toneladas, muito abaixo daquelas potencialida<strong>de</strong>s e com tendências para um <strong>de</strong>créscimo,<br />

casos <strong>de</strong> 1997 e 1998, embora neste se registasse uma muito ligeira recuperação.<br />

Em face <strong>de</strong>sta situação a Câmara <strong>de</strong> Comércio <strong>de</strong> Barcelona patrocinou a constituição <strong>de</strong><br />

uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>stinada à promoção da carga em El Prat, transformando-o em gran<strong>de</strong><br />

Centro Logístico, aproveitando a respectiva conexão com o Comboio <strong>de</strong> Alta Velocida<strong>de</strong><br />

(AVE).<br />

Neste actual quadro base, as estratégias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento já estabelecidas visam o<br />

seguinte:<br />

• tendo em perspectiva as potencialida<strong>de</strong>s que estas infra-estruturas encerram quanto<br />

à dinamização da activida<strong>de</strong> económica, intensificar a internacionalização dos<br />

aeroportos espanhóis (continentais e insulares) partindo da capacida<strong>de</strong> já instalada.<br />

Nesta linha <strong>de</strong> actuação, os aeroportos <strong>de</strong> Barajas, Palma <strong>de</strong> Maiorca, Barcelona,<br />

Gran<strong>de</strong> Canária, Tenerife Sevilha e Málaga 31 , formando a re<strong>de</strong> aeroportuária<br />

fundamental, beneficiarão <strong>de</strong> avultados investimentos;<br />

• com vista ao crescimento do movimento dos pequenos aeroportos, dotá-los <strong>de</strong> uma<br />

especialização harmonizada com a evolução das necessida<strong>de</strong>s. Neste caso, serão os<br />

das Baleares, Canárias e Melilha, os prioritários;<br />

215


Informação Internacional<br />

216<br />

• o equipamento <strong>de</strong> “ajudas” à navegação aérea, na perspectiva <strong>de</strong> uma harmonização<br />

aos sistemas europeus <strong>de</strong> controlo do tráfego é outra das metas a atingir pela<br />

execução do PDI.<br />

As metas apontadas impõem, portanto, gran<strong>de</strong>s alterações na concepção das próprias infraestruturas,<br />

que <strong>de</strong>verão ser orientadas privilegiadamente para o “<strong>de</strong>sembaraço” das<br />

entradas e saídas dos terminais aéreos.<br />

2.5. Infra-estruturas Portuárias<br />

Com a maior extensão <strong>de</strong> costas do Oci<strong>de</strong>nte europeu, cujo perímetro ascen<strong>de</strong> a 4611 km<br />

(770 do Cantábrico, 771 do Atlântico, 770 correspon<strong>de</strong>ndo às Canárias e 2300 às costas<br />

peninsulares e insulares do Mediterrâneo não possui, apesar <strong>de</strong>stas condições, <strong>de</strong> portos<br />

naturais para além dos que se encontram nas Rias Baixas da Galiza). Concentrando no<br />

litoral, continental e insular, 33% da população e tomando esta situação como dado<br />

incontornável, as autorida<strong>de</strong>s espanholas assumem tal característica geográfica como um<br />

trunfo e, simultaneamente e também sensatamente, como um constrangimento. Por tal<br />

razão não conferem à dimensão da orla costeira o estatuto <strong>de</strong> vantagem absoluta. E não<br />

conferem, porque o afastamento dos gran<strong>de</strong>s centros <strong>de</strong> produção e consumo europeus<br />

remetem os portos da Espanha, mesmo em condições <strong>de</strong> uma total competitivida<strong>de</strong><br />

conseguida pelos investimentos e regras <strong>de</strong> gestão, para uma posição secundária<br />

relativamente aos portos do Norte da Europa como Roterdão, Antuérpia e Hamburgo cujos<br />

hinterlands se esten<strong>de</strong>m a todo o continente europeu.<br />

Ao “afastamento” há que acrescentar a atomização dos tráfegos, que agrava custos,<br />

<strong>de</strong>signadamente os <strong>de</strong> manuseamento das cargas, inviabilizando economias <strong>de</strong> escala.<br />

Contudo, já no que respeita no acesso ao Mediterrâneo, isto é, ao Sul, a situação modificase.<br />

As gran<strong>de</strong>s ligações da Ásia para a Europa e América via Suez, conjugadas com o<br />

potencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do litoral mediterrâneo, transforma o constrangimento,<br />

proveniente da perifericida<strong>de</strong>, num “trunfo” a explorar, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sviar dos<br />

portos do Norte, as mercadorias originárias da Ásia e reexpedidas – por terra – a Espanha.<br />

No país existem cerca <strong>de</strong> 150 portos com dimensão significativa 32 – cuja activida<strong>de</strong> representa<br />

cerca <strong>de</strong> 3% do PIB – sendo 45 <strong>de</strong> “interesse geral” (Puertos <strong>de</strong>l Estado)., que são pertença do<br />

Estado (Ministério do Fomento), tutelados por 27 Autorida<strong>de</strong>s Portuárias (1998) e a seguir<br />

<strong>de</strong>signadas como AP, em regime <strong>de</strong> semi-autonomia, que fixam objectivos e as gran<strong>de</strong>s linhas<br />

<strong>de</strong> gestão, afectação <strong>de</strong> recursos financeiros, planificação global dos investimentos e <strong>de</strong>finição<br />

global da política <strong>de</strong> recursos humanos. Os restantes 105 encontram-se sob jurisdição das<br />

Comunida<strong>de</strong>s Autónomas.<br />

É importante assinalar que apenas 4 <strong>de</strong>sses portos concentram 41% do tráfego total<br />

(Algeciras, Tarragona, Barcelona e Bilbau, por or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente dos volumes<br />

manuseados) 33 .<br />

As Autorida<strong>de</strong>s Portuárias, apesar <strong>de</strong> não intervirem na gestão corrente, supervisionam a<br />

coerência do sistema portuário, exercendo controlo sobre os planos apresentados pelos<br />

portos individualmente, o que na óptica da gestão empresarial dos portos se mostra


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

totalmente compatível. Evitam-se <strong>de</strong>ste modo sobreposições, sobrecapacida<strong>de</strong>s e<br />

sobretudo uma concorrência ruinosa com as inerentes repercussões no aviltamento dos<br />

preços.<br />

O favorecimento <strong>de</strong> uma saudável concorrência, assente na complementarida<strong>de</strong> entre os<br />

portos, qualida<strong>de</strong> do serviço, valor acrescentado e vários serviços a prestar impe<strong>de</strong> a<br />

chamada “guerra” <strong>de</strong> tarifas.<br />

Estas tarifas e taxas que não <strong>de</strong>vem nunca interferir na rendibilida<strong>de</strong> dos portos − sendo<br />

cobradas pelos serviços portuários − são estabelecidas em Conselho <strong>de</strong> Ministros e<br />

permitem variações entre -35% e +10%. Não obstante, o sistema possibilita a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

Directivas comuns no que respeita à redução <strong>de</strong> tarifas. A preços constantes, baixaram 14%<br />

em 1995 e em 1996 17%, <strong>de</strong>vendo-se esta baixa à redução, em 31%, das que incidiam<br />

sobre mercadorias.<br />

Relativamente à gestão das infra-estruturas e aos custos <strong>de</strong> exploração e <strong>de</strong> investimento,<br />

tudo é suportado pela exploração comercial das próprias infra-estruturas. O Investimento,<br />

sendo totalmente suportado pelas receitas provenientes da exploração comercial das infraestruturas,<br />

não beneficia <strong>de</strong> quaisquer transferências do Orçamento <strong>de</strong> Estado, a não ser<br />

em casos verda<strong>de</strong>iramente excepcionais.<br />

O investimento portuário, on<strong>de</strong> se inclui a implantação <strong>de</strong> EDI e a criação <strong>de</strong> Zonas <strong>de</strong><br />

Activida<strong>de</strong> Logística (ZAL) é dirigido aos aumentos <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>,<br />

assentando esta na melhoria <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que aquelas ZAL e a divulgação <strong>de</strong> dados entre<br />

portos (EDI), em conjunto dinamizam, passou <strong>de</strong> 29,7 milhares <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> pesetas em<br />

1989 para 55,5 em 1996, quase o dobro em 8 anos.<br />

O gran<strong>de</strong> objectivo das autorida<strong>de</strong>s e do governo consiste, em primeiro lugar, na alteração à<br />

dimensão dos hinterlands <strong>de</strong> cada porto que, na fase anterior, não ultrapassavam<br />

significativamente o território nacional, além <strong>de</strong> se verificarem sobreposições geográficas<br />

nas zonas <strong>de</strong> negócio <strong>de</strong> cada porto. Em segundo lugar, conjugando com um<br />

reposicionamento do afastamento geográfico actual, proporcionar um nível <strong>de</strong> oferta que a<br />

activida<strong>de</strong> produtiva e as relações económicas externas do país vêm crescentemente<br />

reclamando.<br />

Tanto os Portos do Estado como a Fundação dos Caminhos <strong>de</strong> Ferro Espanhóis irão<br />

beneficiar <strong>de</strong> subsídios (50 % do montante global), concedidos pela Comissão Europeia,<br />

para os transportes 34 , que no caso da 1 ª entida<strong>de</strong> atinge 14491 euros para o projecto<br />

“Implementação da Directiva 95/64/CE relativa a estatísticas <strong>de</strong> transporte marítimo em<br />

Espanha”. A importância <strong>de</strong> uma análise estatística, assente em dados comprovadamente<br />

fiáveis, com correcta inscrição da origem e montante das receitas e respectiva aplicação é<br />

“pedra-<strong>de</strong>-toque” <strong>de</strong> qualquer estruturação que se proponha para uma política marítima<br />

consequente e estratégica. Esta questão está pois não apenas totalmente assumida, como<br />

levada à prática pelas entida<strong>de</strong>s responsáveis.<br />

Toda a política portuária prescrita pelas 27 Autorida<strong>de</strong>s Portuárias dos 45 “Portos do<br />

Estado”, assenta em duas gran<strong>de</strong>s traves mestras:<br />

• no <strong>de</strong>senvolvimento do transporte combinado, cujo centro nevrálgico é o “porto seco”<br />

<strong>de</strong> Madrid, don<strong>de</strong> o elevado e criterioso investimento nas conexões <strong>de</strong> cada porto à<br />

217


Informação Internacional<br />

218<br />

ferrovia, rodovia e aeroportos e ainda na constituição <strong>de</strong> Plataformas Logísticas nos<br />

terrenos adjacentes às instalações portuárias e aeroportuárias;<br />

• na mo<strong>de</strong>rnização da organização portuária e metodologia <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> que é<br />

exemplo marcante a constituição <strong>de</strong> novo organigrama <strong>de</strong> Portos do Estado on<strong>de</strong>,<br />

adstrito ao Conselho Reitor, foi criado um Gabinete <strong>de</strong> Presidência, que funciona com<br />

eficiência e cujas atribuições abrangem as Relações Institucionais, Internacionais,<br />

Comunicação e Imagem, Documentação e Serviços Bibliográficos e Gestão <strong>de</strong><br />

Recursos Humanos Internos.<br />

Na incessante busca <strong>de</strong> maior eficiência na prestação dos serviços foram também criadas 5<br />

Direcções Gerais para os Assuntos Jurídicos, Desenvolvimento Normativo e Controlo<br />

Interno, para a Planificação e Controlo <strong>de</strong> Gestão, para as Infra-estruturas e Serviços<br />

Portuários, para as Relações Laborais e Planificação dos Recursos Humanos e finalmente<br />

para a Administração e Finanças.<br />

Do âmbito <strong>de</strong>ste novo organigrama, <strong>de</strong>ve ser relevada a preocupação <strong>de</strong> atribuir, numa<br />

perspectiva centralizada (Direcção <strong>de</strong> Infra-estruturas e Serviços Portuários) a análise do<br />

meio físico, da avaliação técnica das infra-estruturas existentes, da política <strong>de</strong> preços, da<br />

coor<strong>de</strong>nação das relações comerciais interportuárias, do <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico das<br />

infra-estruturas e serviços, etc.. Igualmente, todo o processo <strong>de</strong> planificação <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong><br />

espaços portuários, planos especiais, planos directores e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> estratégias,<br />

programação e avaliação económica e financeira dos investimentos, bem como a trave<br />

mestra <strong>de</strong> toda as acções sectoriais que consiste no estudo da oferta e da procura e da<br />

planificação logística e intermodal em consonância, está cometida à Direcção <strong>de</strong><br />

Planificação e Controlo.<br />

Embora a in<strong>de</strong>pendência do Orçamento do Estado seja uma realida<strong>de</strong>, a visão global do<br />

sector não é subalternizada nem truncada. Os frutos <strong>de</strong>stes critérios vão-se<br />

consubstanciando nos acréscimos <strong>de</strong> movimentação (no 1º semestre <strong>de</strong> 2000 a<br />

movimentação total e acumulada registada, 165,8 milhões <strong>de</strong> toneladas, representa um<br />

crescimento absoluto <strong>de</strong> 5,3 milhões (+3,3%) em relação ao 1º semestre <strong>de</strong> 1999), não<br />

apenas em termos espanhóis, mas fundamentalmente ibéricos. Esta política <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento do transporte integrado tem vindo a consolidar a posição <strong>de</strong> Espanha<br />

como o centro Logístico do Sul da Europa.<br />

Observada por outra ângulo, esta realida<strong>de</strong> consubstancia-se nos seguintes valores macro<br />

económicos: Mais <strong>de</strong> 85% das mercadorias importadas pelo país efectuam-se por via<br />

marítima, bem como cerca <strong>de</strong> 70 % das exportadas. Estes valores acabam por conferir ao<br />

sistema portuário <strong>de</strong> Espanha uma contribuição <strong>de</strong> 20% da parcela do PIB gerada no sector<br />

Transportes e, só por si, correspon<strong>de</strong> a 1,1% do PIB espanhol.<br />

Em nº <strong>de</strong> navios o crescimento entre Janeiro <strong>de</strong> 2000 e Janeiro <strong>de</strong> 1999 foi <strong>de</strong> 6%,<br />

registando-se em termos absolutos quase 10000 unida<strong>de</strong>s.<br />

Quanto aos tráfegos 35 , que crescem (5,1% em 1999) a um ritmo superior ao do próprio PIB,<br />

registaram-se por tipo <strong>de</strong> tráfego os seguintes valores absolutos e relativos ao ano<br />

antece<strong>de</strong>nte:


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

Granéis Líquidos, 61,6 milhões <strong>de</strong> toneladas (38,6% do total geral), correspon<strong>de</strong>ndo a um<br />

crescimento <strong>de</strong> 2,3%.<br />

Granéis Sólidos, 45,7 milhões <strong>de</strong> toneladas (28,6% do total geral), crescimento <strong>de</strong> 3,4%.<br />

Carga Geral, 52,6 milhões <strong>de</strong> toneladas, crescimento <strong>de</strong> 5,4 %, <strong>de</strong>vido essencialmente ao tráfego<br />

convencional (+10%) sendo a Contentorização (mais <strong>de</strong> 60% da Carga Geral) <strong>de</strong> 3,3 milhões <strong>de</strong><br />

TEU, a que correspon<strong>de</strong> o acréscimo <strong>de</strong> 4,4%.<br />

O porto da Baía <strong>de</strong> Algeciras mantém a sua posição <strong>de</strong> 1º porto espanhol (22,9 milhões <strong>de</strong><br />

toneladas no total) em quase todos os tráfegos (nos Granéis Líquidos com 9 milhões <strong>de</strong> toneladas e<br />

na Carga Geral Contentorizada com 897,6 milhares <strong>de</strong> TEU). Segue-se Barcelona (15 milhões <strong>de</strong><br />

toneladas no total) com 660,3 milhares <strong>de</strong> TEU (+ 8,7%) e Valência (14,2 milhões <strong>de</strong> toneladas<br />

totais) com 617,7 milhares (+9,8%). O porto <strong>de</strong> Gijón, porto da Fachada Atlântica, movimentou 8,3<br />

milhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong> Granéis Sólidos e ocupa o 1º lugar neste tipo <strong>de</strong> tráfego.<br />

2.6. Transporte Combinado Ferro-marítimo<br />

Sendo adquirido que uma correcta conexão ferroviária com as infra-estruturas portuárias<br />

constitui um factor primordial para a melhoria da eficiência da ferrovia no contexto geral dos<br />

transportes, pois constituirá a melhor alternativa para a saída ou entrada <strong>de</strong> mercadorias<br />

nos portos, don<strong>de</strong> o estabelecimento <strong>de</strong> alianças entre operadores logísticos <strong>de</strong> transporte<br />

ter vindo a tornar-se uma constante na UE e Espanha não foge a essa tendência.<br />

A evolução que as normas recentemente introduzidas e a introduzir na exploração<br />

ferroviária, conjugada com a prevista liberalização do uso das infra-estruturas impulsionaram<br />

essas alianças, uma vez que as próprias empresas ferroviárias vêm cada vez mais tomando<br />

posições para se colocarem em lugares estratégicos no mercado do transporte, cada vez<br />

mais competitivo e que se preten<strong>de</strong> regido unicamente pelas leis do mercado, portanto, sem<br />

quaisquer interferências que lhe sejam externas.<br />

Com vista a mudar a situação da supremacia da rodovia, as Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Negócio (UN) <strong>de</strong><br />

Carga e <strong>de</strong> Transporte Combinado da RENFE têm vindo a procurar a constituição <strong>de</strong><br />

alianças com operadores logísticos e com as Autorida<strong>de</strong>s Portuárias. 36 Assim, foram já<br />

estabelecidas alianças em campos diversos como é o caso <strong>de</strong> actuações na infra-estrutura<br />

ferroviária <strong>de</strong>ntro das áreas portuárias nos portos <strong>de</strong> Huelva, Sevilha, Málaga, Santan<strong>de</strong>r,<br />

Ferrol e Marín-Pontevedra.<br />

219


Informação Internacional<br />

220<br />

Mapa 8<br />

REDE TECO DE GRANDE DISTÂNCIA (Transporte Combinado)<br />

10<br />

11<br />

Fonte: Adaptado por DPP <strong>de</strong> Líneas <strong>de</strong>l Tren (nº 241)<br />

Legenda<br />

1 CATALUNHA – GALIZA 1<br />

2 PAÍS BASCO – CATALUNHA 2<br />

3 PAÍS BASCO – VALENCIA 3<br />

4 CATALUNHA – ANDALUZIA (OESTE) 4<br />

5 CATALUNHA – ANDALUZIA (ESTE) 5<br />

6 LEVANTE – CATALUNHA 6<br />

7 LEVANTE – ANDALUZIA 7<br />

8 GALIZA – VALENCIA 8<br />

8<br />

9<br />

9 PAÍS BASCO – ANDALUZIA 9<br />

10 PAÍS BASCO – GALIZA 10<br />

11 GALIZA – ANDALUZIA 11<br />

4<br />

5<br />

7<br />

3<br />

1<br />

2<br />

6<br />

Escala<br />

0Km 75Km 150Km


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

O resultado <strong>de</strong>stes acordos virá a ser plenamente conseguido com o <strong>de</strong>senvolvimento dos<br />

projectos informáticos a instalar brevemente, nomeadamente o EDI (Troca Electrónica <strong>de</strong><br />

Dados no porto <strong>de</strong> Barcelona).<br />

A UN Transporte Combinado, consi<strong>de</strong>ra que as potencialida<strong>de</strong>s abertas pelo crescimento do<br />

Comércio Internacional e o crescente índice <strong>de</strong> contentorização <strong>de</strong> mercadorias <strong>de</strong> elevado<br />

valor acrescentado, a par das importantes obras nas infra-estruturas a realizar e já<br />

realizadas nos portos, vêm abrir novas perspectivas <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

para os anos que se aproximam. Decorrente <strong>de</strong> tal perspectiva <strong>de</strong>senvolve uma estratégia<br />

para a posição que ocupa no mercado marítimo (35% do total da respectiva activida<strong>de</strong>),<br />

superando os 42% do mercado acessível, o que preten<strong>de</strong> atingir com o reforço dos<br />

Comboios-porto, o <strong>de</strong>senvolvimento dos interporto e das alianças com empresas <strong>de</strong><br />

transportes marítimos, Autorida<strong>de</strong>s Portuárias e terminais marítimos.<br />

Aquela UN vem actuando em 9 portos peninsulares, mas com especial acuida<strong>de</strong> em<br />

Barcelona, Algeciras, Santurce e Valência (em 1998 foram transportados com origem ou<br />

<strong>de</strong>stino neste conjunto <strong>de</strong> portos espanhóis quase 2,5 milhões <strong>de</strong> toneladas <strong>de</strong><br />

mercadorias). As carências que ainda subsistem, obstaculizando o crescimento do<br />

Transporte Combinado são, segundo a óptica da UN, a falta <strong>de</strong> instalações a<strong>de</strong>quadas,<br />

<strong>de</strong>signadamente no que respeita às infra-estruturas <strong>de</strong> acesso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os terminais RENFE<br />

às portuárias e, em cúmulo, com o <strong>de</strong>ficiente traçado dos interfaces navio-ferrovia, embora<br />

se vá caminhando rapidamente para a superação <strong>de</strong>stes problemas, com a construção <strong>de</strong><br />

novas estações, em que a manipulação das cargas é muito simplificada com ganhos<br />

substanciais <strong>de</strong> tempo, e com a instalação <strong>de</strong> novos ramais <strong>de</strong> acesso e enlace com<br />

terminais ferroviários.<br />

2.7. O Porto Seco <strong>de</strong> Madrid<br />

Situado junto ao aeroporto <strong>de</strong> Barajas, bem <strong>de</strong>ntro do complexo turístico <strong>de</strong> Coslada-Barajas e ao<br />

lado da estação <strong>de</strong> mercadorias <strong>de</strong> Vicálvaro e em ligação com a Re<strong>de</strong> radial <strong>de</strong> Auto-estradas, é<br />

proprieda<strong>de</strong> das autorida<strong>de</strong>s portuárias <strong>de</strong> Algeciras, Barcelona, Bilbau e Valencia (os quatro<br />

principais portos <strong>de</strong> contentores do país que, sozinhos, movimentaram cerca <strong>de</strong> 73% em 1998 e<br />

passam a estar ligados em “estrela” à capital, isto é: bem no centro da Península), <strong>de</strong> Portos do<br />

Estado, Sociedad Estatal <strong>de</strong> Promoción y Equipamento <strong>de</strong>l Suelo (SEPES) (maioritária) e Instituto<br />

Madrileño <strong>de</strong> Desarrollo (IMADE), em regime societário.<br />

Integrar o Porto Seco na Plataforma Logística <strong>de</strong> Coslada-Barajas, proporcionar-lhe-á um<br />

protagonismo ímpar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> toda a Península conferindo-lhe fortes potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se vir a<br />

tornar no gran<strong>de</strong> centro logístico da Europa e on<strong>de</strong> estão já sediadas gran<strong>de</strong>s empreendimentos<br />

como o Centro <strong>de</strong> Transportes <strong>de</strong> Coslada (CTC) e os Centros Logísticos Aeroportuários (CLASA),<br />

além <strong>de</strong> outros polígonos industriais especializados em logística e transporte.<br />

Graças a tais condições, a conexão dos portos ao interior do país será uma realida<strong>de</strong>, esperandose<br />

que em breve outros portos se venham a associar também, como é o caso <strong>de</strong> Alicante.<br />

Torna-se pois claro que o principal objectivo proposto para este porto interior (seco), a par da<br />

exploração ferroviária dos corredores entre os 4 portos e a capital, abrangendo cerca <strong>de</strong><br />

7,5 milhões <strong>de</strong> habitantes, é a criação das <strong>de</strong>nominadas Pontes Terrestres em “enlace”, formando<br />

re<strong>de</strong>, dos portos mais distantes. Esta opção, perfila-se mais favorável que as ligações por mar.<br />

221


Informação Internacional<br />

As perspectivas <strong>de</strong> evolução do tráfego são <strong>de</strong> 24000 TEU, com 77 por dia, já para o ano em<br />

curso, 73000 para 2000 e 82000 para 2001, atingindo, em 2011, 99000 TEU, com 314 TEU/dia.<br />

Prevendo-se, a partir <strong>de</strong>sta data, uma movimentação <strong>de</strong> 120000 TEU/ano.<br />

As expectativas que se abrem assim para os 4 portos envolvidos são excelentes.<br />

Para Algeciras po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser apenas um porto essencialmente <strong>de</strong> “transbordo” para passar a<br />

ser também um porto <strong>de</strong> entradas e saídas, o que exige a construção <strong>de</strong> uma estação ferroviária,<br />

já projectada e que virá a anular o “afastamento” <strong>de</strong>ste porto às conexões ferroviárias. A captação<br />

<strong>de</strong> quotas a Gioia Tauro é um dos objectivos da AP e para cujo escopo o Porto Seco é necessário.<br />

Para Bilbau, as ligações ferroviárias a Madrid por Coslada, embora já as haja por Azuqueca <strong>de</strong><br />

Henares, irão permitir uma maior penetração nesse mercado, embora se consi<strong>de</strong>re que em termos<br />

<strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> com Valência, o tradicional porto abastecedor da capital e praticamente à<br />

mesma distância, não po<strong>de</strong>rá esten<strong>de</strong>r-se a todo o tipo <strong>de</strong> tráfegos, mas nalguns existem reais<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vir a ganhar algumas quotas.<br />

A integração do Porto Seco <strong>de</strong>ntro da Plataforma Logística <strong>de</strong> Barajas-Coslada 37 , “fecha” a<br />

intermodalida<strong>de</strong> do conjunto, tornando-o no primeiro Centro Logístico do Centro Peninsular e da<br />

Península.<br />

2.8. Ligações Internacionais<br />

As Transpirenaicas cresceram nos últimos 25 anos à média anual <strong>de</strong> 2,7%, sendo o sentido<br />

Norte-Sul percorrido cerca <strong>de</strong> 8 vezes mais que o sentido Sul-Norte. A partir da A<strong>de</strong>são dos<br />

dois países ibéricos (1986), o crescimento acelerou, tendo passado <strong>de</strong> uma média <strong>de</strong> 4,5%<br />

ao ano para 13%. Não obstante, o caminho <strong>de</strong> ferro tem vindo progressivamente a per<strong>de</strong>r<br />

peso na globalida<strong>de</strong> dos transportes terrestres, o que evi<strong>de</strong>ncia o crescimento quase<br />

exponencial por parte do transporte por camião.<br />

A travessia dos Pirinéus, no que respeita ao transporte por terra, on<strong>de</strong> a polarização dos<br />

tráfegos é manifesta ao longo da costa, <strong>de</strong>ixa as zonas centrais praticamente com muito<br />

pouco tráfego – e unicamente por rodovia – contribuindo, <strong>de</strong>sta maneira, para o<br />

empobrecimento <strong>de</strong>ssas zonas, dando-lhes um papel <strong>de</strong> Finisterra Logística 38<br />

Em consequência, o Enlace multimodal <strong>de</strong> Portugal e Espanha com o resto do continente<br />

europeu, tornou-se em 1998 na Decisão mais significativa no campo do transporte<br />

ferroviário do Conselho <strong>de</strong> Ministros Europeu, (Corredor Multimodal Portugal-Espanha-<br />

Resto da Europa). Projecto que integrando no conjunto formado pela nova Re<strong>de</strong><br />

Transeuropeia <strong>de</strong> Transportes, implica o <strong>de</strong>senvolvimento dos caminhos <strong>de</strong> ferro espanhóis<br />

e portugueses, os portos <strong>de</strong> Algeciras, Valência, Barcelona e Bilbau e os portos portugueses<br />

<strong>de</strong> Sines, Setúbal, Lisboa, Aveiro, Leixões, além dos aeroportos e estradas <strong>de</strong> ambos os<br />

países.<br />

Nota-se igualmente que o grosso dos tráfegos se processa por La Junquera e por Irun.<br />

As razões da fraca participação do caminho <strong>de</strong> ferro nas trocas comerciais entre a<br />

Península e o continente resi<strong>de</strong> na diferença <strong>de</strong> bitolas entre Espanha e o resto da Europa,<br />

situação que as autorida<strong>de</strong>s espanholas estão alterando, já que se consi<strong>de</strong>ra que o<br />

mercado do frete por comboio apresenta gran<strong>de</strong>s perspectivas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

222


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

Em consequência do sucesso obtido pelo Comboio <strong>de</strong> Alta Velocida<strong>de</strong> entre Paris e Lyon,<br />

os governos regionais da Catalunha e do País Basco iniciaram estudos relativos à<br />

instalação <strong>de</strong> Comboios <strong>de</strong> Alta Velocida<strong>de</strong>, integrados na Re<strong>de</strong> Transeuropeia <strong>de</strong><br />

Transportes, já com bitola a<strong>de</strong>quada (UIC), sendo o primeiro projecto correspon<strong>de</strong>nte à<br />

Linha <strong>de</strong> Alta Velocida<strong>de</strong> Sevilha-Madrid-Barcelona-fronteira francesa (Perpignan).<br />

Este projecto, <strong>de</strong>nominado “Alta Velocida<strong>de</strong> do Sul”, com um custo estimado em mil milhões<br />

<strong>de</strong> pesetas, <strong>de</strong> que meta<strong>de</strong> está disponibilizado como empréstimo pelo BEI, contempla e<br />

complementa os objectivos do novo enlace multimodal e que abrange as linhas férreas<br />

Madrid-Barcelona-Montpellier-Nîmes e Madrid-Valladolid-Vitória-Dax. A construção <strong>de</strong>sta<br />

linha <strong>de</strong> Alta Velocida<strong>de</strong>, vai reduzir os tempos <strong>de</strong> viagem das actuais 10 horas entre Madrid<br />

e Perpignan para 3 horas e 50´ e conectar o porto <strong>de</strong> Barcelona à Europa, estando<br />

igualmente prevista a circulação <strong>de</strong> comboios <strong>de</strong> mercadorias a velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

120 km/hora.<br />

Quanto ao País Basco, o objectivo é efectuar por Caminho <strong>de</strong> Ferro a ligação, em forma <strong>de</strong><br />

Y, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Vitória e Bilbau, nomeadamente do respectivo porto, à Re<strong>de</strong> Ferroviária francesa<br />

(Irun-Hendaye), servindo 2,1 milhões <strong>de</strong> habitantes.<br />

2.9. Novo Projecto <strong>de</strong> Travessia dos Pirinéus (multimodal)<br />

Este projecto virá criar as condições para a conexão dos países ibéricos com o Norte e Este<br />

da Europa, através <strong>de</strong> maior capacida<strong>de</strong>, maior velocida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> uma nova oferta <strong>de</strong> serviços<br />

<strong>de</strong> transporte no espaço europeu. A oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste novo projecto, multimodal, e<br />

subsequentemente na respectiva realização, radica nas previsões <strong>de</strong> mercadorias a transitar<br />

pelos Pirinéus para o ano <strong>de</strong> 2010 e que apontam para uma distribuição equitativa <strong>de</strong> 5<br />

milhões <strong>de</strong> toneladas nas quatro ligações existentes ou em construção:<br />

• Linha da Catalunha, linha do País Basco, linha Cerbére-Port Bou e linha <strong>de</strong> Irún<br />

Hendaye, o que totaliza 20 milhões <strong>de</strong> toneladas a acrescentar aos 110 milhões a<br />

processarem-se por outras fronteiras e por via rodoviária.<br />

Para passageiros, as previsões avançam com um crescimento <strong>de</strong> 1,97% ao ano, o que com<br />

base no ano <strong>de</strong> cálculo (1996), significa um volume <strong>de</strong> 75 milhões em 2010, cabendo<br />

10 milhões ao Comboio <strong>de</strong> Alta Velocida<strong>de</strong>.<br />

223


Informação Internacional<br />

224<br />

Mapa 9 e 9 A<br />

LIGAÇÕES TRANSPIRENAICAS – Ferrovia (1998)<br />

Bilbao<br />

San Sebastian<br />

Pamp lona<br />

Bayonne<br />

Saragoça<br />

Via dupla electrificada (mercadorias+passageiros)<br />

Via única electrificada (mercadorias+passageiros)<br />

Via dupla não electrificada (mercadorias+passageiros)<br />

Via única não electrificada (mercadorias+passageiros)<br />

Via estreita (passageiros)<br />

Via electrificada reservada a mercadorias<br />

Via não electrificada reservada a mercadorias<br />

MADRID<br />

Fonte: Transports, mai-juin 1999, nº395<br />

Pau<br />

Bordéus<br />

Tarbes<br />

Lérida<br />

Talgo<br />

Agen<br />

BARCELONA<br />

Toulouse<br />

Cahors<br />

Montauban<br />

Barcelona<br />

PA<br />

Béziers<br />

Narbonne<br />

Perpignan<br />

Nimes<br />

Montpellier<br />

ZURIQUE<br />

MILÃO


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

Em resultado <strong>de</strong>stes valores será legítimo inferir que as passagens diárias <strong>de</strong> veículos se<br />

situarão em 107 a 110 milhões, dos quais <strong>de</strong> 17700 a 21800 serão pesados. Esta<br />

movimentação será incomportável, tornando imperiosa outra solução.<br />

Solução <strong>de</strong> novo tipo que resi<strong>de</strong> numa nova exploração do transporte ferroviário, com<br />

dimensão e perspectiva europeias, potenciando as ligações da Península ao resto do<br />

continente, competitivas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as paragens nas fronteiras sejam eliminadas e que<br />

“Eixos” ferroviários lhes venham a ser <strong>de</strong>dicados.<br />

O projecto <strong>de</strong> atravessamento pirinaico em duas vias <strong>de</strong> bitola europeia, com início em<br />

Saragoça e por um túnel <strong>de</strong> 40 km ligando a re<strong>de</strong> ferroviária francesa sobre a transversal<br />

ferroviária Sul <strong>de</strong> Bayonne-Toulouse em qualquer parte entre Pau e Tarbes constituirá um<br />

empreendimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alcance, embora <strong>de</strong> execução <strong>de</strong>morada e diferente da dos<br />

projectos da Catalunha e do País Basco.<br />

As ligações ibéricas e também francesas às Re<strong>de</strong>s Transeuropeias que a concretização<br />

<strong>de</strong>ste projecto virá a proporcionar e que a Comissão se comprometeu a examinar no quadro<br />

da revisão, em 1999, das orientações comunitárias para o <strong>de</strong>senvolvimento das Re<strong>de</strong>s<br />

Transeuropeias beneficiarão também as trocas com a Itália, Alemanha, Holanda, Bélgica e<br />

Reino Unido.<br />

Na perspectiva da Re<strong>de</strong> Ferroviária europeia, os estudos para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste<br />

projecto encontram-se em curso, quer em França quer na Península, estando envolvidas as<br />

empresas SNCF, RFF e RENFE, (<strong>de</strong>sconhecendo-se se a CP ou a REFER também<br />

participam) que procuram encontrar a Norte e a Sul do projecto, os “Eixos” ferroviários já<br />

existentes e que sem gran<strong>de</strong>s custos se possam vir a constituir como as vias <strong>de</strong> acesso ao<br />

empreendimento em questão.<br />

A opção multimodal harmoniza-se perfeitamente com as instalações <strong>de</strong>dicadas à logística e<br />

ao transbordo <strong>de</strong> mercadorias localizadas em volta <strong>de</strong> Saragoça (Centro Sul) e à conexão<br />

com a transversal ferroviária Sul (Centro Norte Pau-Tarbes), próxima dos Nós <strong>de</strong> Autoestradas,<br />

virão a oferecer várias alternativas aos operadores e das quais se <strong>de</strong>stacam:<br />

• a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transportar camiões (e reboques) entre dois dos Centros<br />

anteriormente referidos, após o que retomarão a estrada, quer a montante, quer a<br />

jusante. Este serviço assemelhar-se-á aos serviços prestados pela ferroutage em<br />

navettes que se utiliza no túnel da Mancha 39 ou nalgumas travessias dos Alpes;<br />

• a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Carregar ou <strong>de</strong>scarregar sobre vagões, os reboques e os<br />

contentores que uma vez manipulados, estas Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Transporte Multimodal<br />

(UTI) continuam os respectivos percursos por caminho <strong>de</strong> ferro até ao local <strong>de</strong><br />

transbordo ferroviário e subsequente entrega, por camião, ao cliente;<br />

• a possibilida<strong>de</strong>, se aten<strong>de</strong>rmos ao posicionamento <strong>de</strong> “fim <strong>de</strong> linha” para mercadorias<br />

com bitola europeia <strong>de</strong>ntro da Península Ibérica, o Centro localizado em Saragoça<br />

po<strong>de</strong>rá ainda fazer os transbordos <strong>de</strong> mercadorias para a bitola ibérica e<br />

inversamente e ainda a operação idêntica para os vagões tipo Transfesa.<br />

225


Informação Internacional<br />

2.10. Inserção em Corredores Internacionais <strong>de</strong> Mercadorias<br />

Os objectivos <strong>de</strong> expansão e internacionalização do sector ferroviário espanhol, repousam,<br />

entre outros nas seguintes linhas <strong>de</strong> força:<br />

226<br />

• Desenvolvimento <strong>de</strong> tráfegos com os países <strong>de</strong> Leste e da Escandinávia.<br />

• Abertura dos tráfegos entre a Europa Central e o Magreb.<br />

• Desenvolvimento da “Fachada Atlântica”.<br />

• Desenvolvimento <strong>de</strong> novos tráfegos com o Reino Unido pelo Eurotúnel.<br />

• Desenvolvimento <strong>de</strong> alianças com operadores, potenciando aumentos <strong>de</strong> tráfegos e<br />

aumento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oferta aos clientes finais <strong>de</strong> serviços mais completos e fiáveis.<br />

Em consequência, a RENFE participa, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta linha <strong>de</strong> actuação, em várias<br />

associações, <strong>de</strong>nominadas Agrupamentos Europeus <strong>de</strong> Interesse Económico (AEIE)<br />

<strong>de</strong>dicadas ao tráfego <strong>de</strong> passageiros e encontra-se igualmente ligada a operadores e<br />

empresas logísticas no que respeita ao tráfego <strong>de</strong> mercadorias <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1995.<br />

Nesse ano, juntamente com SNCF (francesa) foi firmado um contrato para a construção <strong>de</strong><br />

uma Linha <strong>de</strong> Alta Velocida<strong>de</strong> para comboios <strong>de</strong> passageiros entre Barcelona e Narbonne,<br />

permitindo a circulação <strong>de</strong> mercadorias entre a capital catalã e Perpignan.<br />

Em 1996, passaram ambas a efectuar a gestão da AEIE Comboios TALGO Transpirinaicos<br />

(TTTP) os comboios internacionais Madrid-Paris, Barcelona-Paris, Barcelona-Milão e<br />

Barcelona-Zurique, entrando no clausulado do acordo a compra pela empresa francesa <strong>de</strong><br />

44 comboios TALGO (6ª geração) por 2000 milhões <strong>de</strong> pesetas.<br />

Em 1997 as mesmas companhias constituíram um grupo <strong>de</strong> Gestão Operativa <strong>de</strong> Tráfego<br />

Internacional (GOTI), sediado em Irún para gerir composições <strong>de</strong> mercadorias no complexo<br />

ferroviário Irún-Hendaye.<br />

Neste tráfego (Irún a Hendaye), a problemática das duas bitolas será resolvida por uma das<br />

seguintes soluções possíveis:<br />

ou<br />

• realizar uma troca <strong>de</strong> eixos dos vagões, o que se efectuará nas instalações da<br />

Transfesa em Hendaye.<br />

• bal<strong>de</strong>ar as mercadorias contentorizadas no terminal <strong>de</strong> Contentores <strong>de</strong> Irún para<br />

outros vagões.<br />

ou<br />

• utilizar eixos variáveis.<br />

No ano <strong>de</strong> 1999 foram já mais <strong>de</strong> 3 milhões <strong>de</strong> toneladas que atravessaram este complexo,<br />

prevendo-se o alargamento das instalações a breve prazo, pois o movimento ten<strong>de</strong> a<br />

crescer significativamente.


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

A RENFE continuando a política <strong>de</strong> um melhor <strong>de</strong>sempenho na travessia dos Pirinéus no<br />

que se refere a tráfego <strong>de</strong> passageiros e <strong>de</strong> mercadorias, reformulou a associação com a<br />

SNCF (anteriormente sob La Agrupación Europea <strong>de</strong> Interés Económico), nascendo <strong>de</strong>ste<br />

novo acordo uma socieda<strong>de</strong> anónima <strong>de</strong>signada como ELIPSOS a iniciar a respectiva<br />

exploração a partir <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2001 (anteriormente a associação respeitava aos<br />

Comboios <strong>de</strong> passageiros Talgo transpirenaicos 40 em serviço nocturno), preparando-as para<br />

os cenários que se avizinham <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>, pela abertura à concorrência, nos<br />

corredores internacionais ferroviários que unem ambos os países.<br />

Prevêem os estatutos <strong>de</strong>sta nova entida<strong>de</strong> como objectivos elaborar e <strong>de</strong>finir a oferta e<br />

características dos serviços propostos à clientela, assegurar-lhes a qualida<strong>de</strong> e<br />

acompanhamento comercial e <strong>de</strong>senvolver a política <strong>de</strong> distribuição e promoção comercial<br />

dos produtos respectivos. Prestará ainda serviços <strong>de</strong> transporte como empresa ferroviária,<br />

sempre que a legislação em vigor o permita, bem como os respectivos sócios, que são as<br />

empresas RENFE e SNCF.<br />

Em 1998, fruto <strong>de</strong> um acordo com a SNCF, RFF (Re<strong>de</strong> Ferroviária <strong>de</strong> França), CFL, SNCB<br />

e FS, a RENFE incorporou o Eixo Valencia-Barcelona-Port Bou, como anteriormente foi<br />

assinalado, no primeiro Corredor Livre <strong>de</strong> tráfego <strong>de</strong> mercadorias por via ferroviária da UE,<br />

configurando o novo Eixo Muizen (Bélgica)-Gioia Tauro-Valencia que vem enlaçar os<br />

centros económicos <strong>de</strong> Muizen, Bettembourg (Luxemburgo), Sibelin/Vinissieux, (França),<br />

Turim-Génova-La Spezia-Gioia Tauro (Itália) e Port Bou-Valencia.<br />

Dentro das orientações e objectivos enunciados atrás, a Renfe, 41 acordou com as empresas<br />

ferroviárias e os gestores das infra-estruturas o lançamento, <strong>de</strong>ntro em breve, <strong>de</strong> dois<br />

Corredores internacionais <strong>de</strong> mercadorias, passando estes a <strong>de</strong>sempenhar o papel <strong>de</strong> Eixos<br />

entre a Península Ibérica e a Alemanha e o outro da Grã Bretanha (Lancaster-Londres) a<br />

Espanha (Sillas-Valencia).<br />

O Eixo Península Ibérica-Alemanha encerra gran<strong>de</strong>s potencialida<strong>de</strong>s, pelo que as empresas<br />

que o utilizam <strong>de</strong>sejam elevar a respectiva qualida<strong>de</strong>. Nesse sentido, a CP (Portugal), Renfe<br />

(Espanha), SNCF (França) e a alemã DB AG, elaboraram um acordo, iniciado com a<br />

formação <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, presidido pela empresa espanhola, e cujas funções<br />

são as <strong>de</strong> gerir a qualida<strong>de</strong> dos comboios que se venham a juntar ao referido grupo,<br />

estabelecer um sistema informatizado <strong>de</strong> seguimento das composições (via Internet) e ainda<br />

criar um sistema <strong>de</strong> informações às empresas ferroviárias.<br />

Relativamente ao problema das faixas horárias, questão fulcral da operacionalida<strong>de</strong> dos<br />

Corredores, é pretensão conjunta dos gestores das infra-estruturas e das quatro empresas<br />

ferroviárias tornar a respectiva gestão mais flexível do que no Corredor BELIFRET, pelo que<br />

a Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Negócios <strong>de</strong> Circulação da Renfe, por incumbência dos restantes gestores da<br />

infra-estruturas, ficou encarregada <strong>de</strong> elaborar os estudos conducentes ao estabelecimento<br />

das citadas faixas horárias.<br />

Quanto ao outro Corredor internacional as reuniões, apenas ao nível dos gestores <strong>de</strong> infraestruturas<br />

espanhóis e dos congéneres britânicos já se iniciaram ficando, por enquanto, as<br />

empresas ferroviárias <strong>de</strong> fora.<br />

227


Informação Internacional<br />

A utilização do BELIFRET (que potencia as capacida<strong>de</strong>s portuárias instaladas no<br />

Mediterrâneo, <strong>de</strong>signadamente <strong>de</strong> Barcelona), cujos tempos <strong>de</strong> trânsito em fronteiras é<br />

curto, constituindo assim um bom factor <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> é, apesar <strong>de</strong>sta boa condição,<br />

consi<strong>de</strong>rado pelos organismos directivos da Renfe (Corredores Internacionais) não<br />

totalmente viável <strong>de</strong>vido às actuais faixas horárias disponibilizadas não interessarem<br />

comercialmente à companhia. No entanto, vai utilizando o Corredor como percurso dos<br />

respectivos tráfegos internacionais. Em consequência, os gestores <strong>de</strong>sta infra-estrutura<br />

concordaram refazer a grelha <strong>de</strong> faixas <strong>de</strong> modo a permitir a satisfação das necessida<strong>de</strong>s<br />

espanholas, o que <strong>de</strong>monstra a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negociação da empresa. Assim, tanto a UN<br />

Cargas como a UN Transporte Combinado reexaminam actualmente as possibilida<strong>de</strong>s da<br />

utilização do BELIFRET, com o objectivo <strong>de</strong> novas ofertas <strong>de</strong> serviços aos clientes.<br />

2.11. A Logística em Espanha<br />

Este sector <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> movimentou em Espanha, no ano <strong>de</strong> 1997, cerca <strong>de</strong> 13 milhões <strong>de</strong><br />

toneladas <strong>de</strong> mercadorias (sendo 24% a temperatura controlada) a que correspon<strong>de</strong>ram, em<br />

volume <strong>de</strong> negócios, perto <strong>de</strong> 200 mil milhões <strong>de</strong> pesetas. A estrutura empresarial está<br />

fortemente internacionalizada através das empresas Grupo Carreras (Saragoça),<br />

Transportes Gerbosa (Santan<strong>de</strong>r), Danzas (Madrid) e CAT España (também em Madrid).<br />

Como “jóia da Coroa” do sistema logístico refira-se ainda e mais uma vez, o porto-seco <strong>de</strong><br />

Madrid por on<strong>de</strong> passarão todos os gran<strong>de</strong>s corredores peninsulares do transporte <strong>de</strong><br />

mercadorias.<br />

2.12. Transporte Marítimo<br />

Na clara assunção das dificulda<strong>de</strong>s que a Marinha <strong>de</strong> Comércio espanhola vem<br />

atravessando, <strong>de</strong>vido à redução da respectiva capacida<strong>de</strong>, quer em número <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s<br />

quer em tonelagem, o que conjugado com o teor da VII Directiva, proibindo ajudas por parte<br />

dos Estados à Construção Naval 42 e também nalguma incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> afectar recursos,<br />

extremamente elevados, à renovação e aumento da capacida<strong>de</strong> da frota por parte dos<br />

armadores, o governo torneou a questão <strong>de</strong> forma eficaz, passando a conce<strong>de</strong>r Avales <strong>de</strong><br />

Estado ao investimento por empresas armadoras resi<strong>de</strong>ntes até 27% do valor <strong>de</strong> aquisição<br />

do navio, novo ou usado, o que implica um investimento global <strong>de</strong> 25000 milhões.<br />

Mas ainda mais importante é o facto <strong>de</strong> que tais mecanismos <strong>de</strong> ajuda ao financiamento não<br />

têm apenas carácter <strong>de</strong> excepção, pois que se preten<strong>de</strong> a respectiva vigência para além dos<br />

anos on<strong>de</strong> sejam votadas tais concessões nos Orçamentos do Estado espanhol.<br />

2.12.1 Posição espanhola sobre o “Livro Ver<strong>de</strong> sobre os portos 43<br />

A respectiva aplicação po<strong>de</strong>rá vir a reor<strong>de</strong>nar toda a posição relativa na hierarquia portuária<br />

da UE, a partir da 4ª ou 5ª posição. Mas po<strong>de</strong>rá também, pelo menos teoricamente, vir a<br />

aprofundar o distanciamento dos actualmente situados nos primeiros lugares da hierarquia<br />

dos restantes. Isto é: entre os portos do Norte e os do Sul.<br />

228


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

Nesse sentido, as autorida<strong>de</strong>s espanholas assumiram uma posição que se afigura bem<br />

clara.<br />

Propõem as entida<strong>de</strong>s sectoriais que cada porto seja consi<strong>de</strong>rado como unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negócio e<br />

cada Autorida<strong>de</strong> Portuária uma única unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gestão, <strong>de</strong> modo a que o princípio do utilizadorpagador<br />

se aplique ao conjunto dos serviços prestados − por cada porto − cobrindo as <strong>de</strong>spesas<br />

correntes, os investimentos novos e <strong>de</strong> reposição.<br />

Por outra parte, em Espanha, como na maioria dos países comunitários, o porto é um instrumento<br />

do or<strong>de</strong>namento do território.<br />

Como os principais portos espanhóis (Portos do Estado) se autofinanciam, todas as posições<br />

quanto à aplicação das novas regras do Livro Ver<strong>de</strong> partem <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong> 44 .<br />

Assim, as autorida<strong>de</strong>s do país colocam três tónicas sobre esta problemática:<br />

A 1ª refere-se à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento dos portos espanhóis do Mediterrâneo, o qual,<br />

se apenas assente no livre jogo do mercado, jamais terá pleno <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Só com medidas específicas, <strong>de</strong>signadamente através <strong>de</strong> esquemas <strong>de</strong> subsidiação, assumidos<br />

pela Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do objectivo da Coesão 45 , será possível a aproximação ao nível <strong>de</strong><br />

tráfego <strong>de</strong> contentores nos portos do Norte.<br />

Acresce que a drenagem para Sul dos tráfegos marítimos produz efeitos nos tráfegos terrestres,<br />

<strong>de</strong>scongestionando zonas altamente saturadas. Don<strong>de</strong> o Livro Ver<strong>de</strong>, segundo a opinião<br />

espanhola, <strong>de</strong>verá propor modificações à actual configuração das Re<strong>de</strong>s Transeuropeias <strong>de</strong><br />

Transportes <strong>de</strong> modo a enquadrar o sistema portuário europeu na sua globalida<strong>de</strong> e optimizar o<br />

uso das re<strong>de</strong>s europeias <strong>de</strong> rodovias e ferrovias induzindo maior equilíbrio entre Norte e Sul.<br />

A 2ª, refere-se à subsidiação e centra-se na questão dos tráfegos <strong>de</strong> Carga Geral contentorizada,<br />

muito mais voláteis do que os tráfegos <strong>de</strong> Granéis (Sólidos ou Líquidos), normalmente fi<strong>de</strong>lizados<br />

a portos concretos 46 .<br />

O princípio do utilizador-pagador, cuja aplicação se consubstancia na internalização dos custos <strong>de</strong><br />

investimento colhe, portanto, o apoio espanhol <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que respeitada a diferença <strong>de</strong> nível entre os<br />

diversos financiamentos outorgados pelos Estados membros aos respectivos portos.<br />

Como 3ª “tónica”: é <strong>de</strong>fendida a compatibilida<strong>de</strong> entre o princípio do utilizador–pagador e o<br />

financiamento pelo FEDER e Fundo <strong>de</strong> Coesão, pois tais Fundos <strong>de</strong>stinam-se ao equilíbrio<br />

regional e territorial da UE.<br />

2.13. As ligações ao extremo Oci<strong>de</strong>ntal da Península (Portugal)<br />

Os mapas disponíveis, datados <strong>de</strong> 1996 e seguindo o Plano anteriormente citado (1993-<br />

2007), embora com pequenas alterações relativamente ao inicialmente divulgado, <strong>de</strong>talham<br />

alguns dos traçados projectados e/ou já em construção nas ligações a Portugal.<br />

Em 1º lugar <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado o acesso ferroviário pelo Norte <strong>de</strong> Portugal: Irún-Porto-<br />

Lisboa e o IP5, ligando Vilar Formoso a Aveiro. Estes dois eixos unir-se-ão em Palencia à<br />

rodovia que conecta Valladolid (quando construída) e Irún.<br />

229


Informação Internacional<br />

Quanto aos restantes projectos, há que relevar os que beneficiaram <strong>de</strong> comparticipações da<br />

UE a nível <strong>de</strong> estudos, numa perspectiva <strong>de</strong> inserção nas Re<strong>de</strong>s Transeuropeias, embora<br />

para alguns <strong>de</strong>les a respectiva execução material (no terreno) não se encontre ainda datada<br />

com rigor.<br />

Assim, a UE financiou durante os anos <strong>de</strong> 1996 e 1997 os estudos e ante-projectos <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rnização, renovação e electrificação das infra-estruturas ferroviárias entre Fuentes <strong>de</strong><br />

Oñoro-Valladolid a integrar na linha Bordéus-Dax-Irún-Vitoria-Burgos-Valladolid-Salamanca-<br />

Porto-Lisboa, que se constituirá como o eixo transversal peninsular percorrendo em gran<strong>de</strong><br />

parte o Vale do Douro e completará a acessibilida<strong>de</strong> Norte e Noroeste da Península à nova<br />

infra-estrutura a construir entre Madrid e Valladolid/Medina <strong>de</strong>l Campo (Variante do<br />

Guadarrama), matéria já aflorada quando das referências ao sistema ferroviário <strong>de</strong><br />

Espanha. 47<br />

Em termos <strong>de</strong> ligação a Portugal refira-se o eixo Sul Atlântico Sevilha-Lisboa que termina o<br />

projecto relativo aos enlaces multimodais peninsulares (projecto nº8) com o resto do<br />

continente. A ligação Ayamonte- Vila Real <strong>de</strong> St.º António, <strong>de</strong>verá estar concluída em 2002.<br />

A ligação Huelva-Sevilha, encontra-se já em funcionamento.<br />

Também os anteprojectos referentes ao eixo Tui-Redon<strong>de</strong>la-Santiago <strong>de</strong> Compostella-<br />

Coruña na “Fachada Atlântica”, correspon<strong>de</strong>ndo ao eixo Norte Atlântico 48 quando efectuada<br />

a ligação com Lisboa, requer um investimento <strong>de</strong> 900 milhões <strong>de</strong> euros, sendo 300 milhões<br />

aproximadamente a quota espanhola, tendo como comparticipação da UE um montante<br />

superior a 26,5 milhares <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> euros. Igualmente, a linha a iniciar em Lisboa (Linha<br />

da Beira Baixa), Vilar Formoso e Fuentes <strong>de</strong> Oñoro, recebeu ajudas da Comunida<strong>de</strong>. Estes<br />

eixos <strong>de</strong> conexão entre o extremo Oci<strong>de</strong>ntal da Península (Portugal) e o resto da Europa,<br />

reúnem-se na recentemente remo<strong>de</strong>lada e electrificada Linha da Beira Alta (já terminada e<br />

em funcionamento) com origem no Porto e passando por Fuentes <strong>de</strong> Oñoro.<br />

Não obstante o interesse sempre <strong>de</strong>monstrado pela CP em que as ligações pelo Trenhotel<br />

Lusitânia se efectuassem por Fuentes <strong>de</strong> Oñoro e Salamanca, a RENFE manteve a posição,<br />

também sempre <strong>de</strong>fendida, <strong>de</strong> que as ligações se <strong>de</strong>veriam efectuar por Marvão-Valencia<br />

<strong>de</strong> Alcântara, em serviço há mais <strong>de</strong> 20 anos, já que a travessia da Extremadura espanhola<br />

possui carácter estruturante do território do país vizinho. Decorrente <strong>de</strong>ssa posição negocial,<br />

o Trenhotel Lusitânia segue por este itinerário, realizando 2 serviços diários e é gerido pela<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mercado Nor<strong>de</strong>ste/Centro, (cabendo-lhe a venda <strong>de</strong> bilhetes) com material<br />

Talgo Pendular.<br />

A perspectiva <strong>de</strong> uma associação do tipo AEIE, à semelhança da associação, <strong>de</strong> riscos<br />

repartidos, entre a RENFE e a SNCF, com o objectivo <strong>de</strong> comercializar e explorar os<br />

tráfegos ferroviários que unem Espanha e Portugal, com principal <strong>de</strong>staque para a ligação<br />

Madrid-Lisboa e dado circular pelo Norte português, esten<strong>de</strong>r-se-ia até França,<br />

atravessando a Meseta ibérica.<br />

Em termos <strong>de</strong> ligações ferroviárias <strong>de</strong> mercadorias há que <strong>de</strong>stacar as que regularmente se<br />

realizam à 3ª, 4ª e 6ª feiras entre a estação <strong>de</strong> mercadorias Can Tunis servida pelo porto <strong>de</strong><br />

Barcelona e Lisboa, passando por Leixões, Aveiro e Setúbal, constituindo um dos principais<br />

230


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

corredores ibéricos, sendo o trajecto inverso efectuado nos mesmos dias. As chegadas<br />

processam-se à 5ª, 6ª e Domingo. Gozam estas composições ainda da particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>rem beneficiar <strong>de</strong> enlaces com outras composições da Re<strong>de</strong> TEM, já em pleno<br />

funcionamento em Espanha 49 .<br />

As composições que circulam são homogéneas, integradas por vagões <strong>de</strong> uso polivalente<br />

para diferentes classes <strong>de</strong> mercadorias, com processos que facilitam cargas e <strong>de</strong>scargas,<br />

garantindo alta fiabilida<strong>de</strong>, entregas porta-a-porta, preços competitivos e cadência <strong>de</strong><br />

transporte assegurada e resultam <strong>de</strong> uma associação entre CP Carga e Cargas RENFE,<br />

tornando operacional um corredor Espanha-Portugal-Espanha como parte integrante da<br />

Nova Re<strong>de</strong> Europeia CEMI/TEMI (Comboios Expressos <strong>de</strong> Mercadorias<br />

Internacionais/Trenes Expresos <strong>de</strong> Mercancias Internacionales, com o objectivo <strong>de</strong> oferecer<br />

ao mercado uma nova possibilida<strong>de</strong> no transporte <strong>de</strong> mercadorias na modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga<br />

completa, entre ambos os países ibéricos.<br />

Os principais clientes <strong>de</strong>ste novo serviço ferroviário são preferencialmente pequenas e<br />

médias empresas ibéricas, quer sejam fabricantes, distribuidoras ou consumidoras <strong>de</strong><br />

produtos <strong>de</strong> elevado consumo mas não perecíveis, como conservas, celuloses, ferramentas,<br />

papel, electrodomésticos, têxteis, vestuário, bebidas, etc. e <strong>de</strong>verão ser paletizadas ou com<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> manipulação mecânica, a fim <strong>de</strong> os tempos <strong>de</strong> carga e <strong>de</strong>scarga serem<br />

bastante reduzidos, assim como as operações <strong>de</strong> armazenagem e distribuição.<br />

Na vertente da Alta Velocida<strong>de</strong>, as ligações a Portugal, à data da elaboração do presente<br />

texto encontravam-se em estudo, no seio <strong>de</strong> uma comissão conjunta, encarregada da<br />

criação <strong>de</strong> um Agrupamento Europeu <strong>de</strong> Investimento Económico (AEIE) <strong>de</strong>stinado ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da conexão, em Alta Velocida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> ambos os países. Assim o traçado, o<br />

percurso que será estruturante para as regiões que atravessar (don<strong>de</strong> algumas tentativas <strong>de</strong><br />

pressão por parte <strong>de</strong> Comunida<strong>de</strong>s Autónomas e/ou províncias, possíveis candidatas ao<br />

atravessamento), os impactos ambientais, o perfil da procura, a avaliação sócioeconomica,<br />

a estrutura dos futuros financiamentos para posterior apresentação na UE, constituem as<br />

áreas em análise para <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> ambos os governos centrais peninsulares.<br />

Os interesses autárcicos espanhóis, nomeadamente <strong>de</strong> Badajoz, não sendo<br />

necessariamente coinci<strong>de</strong>ntes com os <strong>de</strong> outras regiões, acabaram por prevalecer por<br />

opção do governo central tendo em linha <strong>de</strong> conta a estruturação territorial que tal infraestrutura<br />

provocará (conexão das 2 Re<strong>de</strong>s mais a Sul, junto a Cáceres e Mérida).<br />

A harmonização com a restante Re<strong>de</strong> europeia, que a Espanha efectuou recentemente,<br />

configura um passo indispensável para as ligações ibéricas por ferrovia à restante Europa e<br />

muito particularmente da faixa oci<strong>de</strong>ntal da Península.<br />

3. CONCLUSÕES – UMA LEITURA DA ESTRATÉGIA TERRITORIAL DE ESPANHA NO<br />

ESPAÇO EUROPEU<br />

Dos elementos recolhidos, infere-se que no processo global da liberalização do Comércio<br />

Internacional, a estratégia espanhola nos contextos mundial, do EEE, da UE a 15, da<br />

Península Ibérica e ainda da inserção, geograficamente privilegiada, numa zona <strong>de</strong><br />

Comércio Livre da União Europeia com o Magreb, obe<strong>de</strong>ce às seguintes linhas <strong>de</strong> força:<br />

231


Informação Internacional<br />

232<br />

• em primeiro lugar, há muito que <strong>de</strong>ntro da União Europeia, tal como na CEE a que<br />

a<strong>de</strong>riu em 1986, não existem aliados permanentes, mas interesses comuns<br />

consoante os assuntos em discussão e que variam caso a caso;<br />

• em segundo lugar, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre, Espanha tem vindo a encabeçar as<br />

reivindicações dos países do Sul, para quem o alargamento a Leste constitui uma<br />

ameaça <strong>de</strong> redução na canalização <strong>de</strong> Fundos, assumindo-se nitidamente como<br />

lea<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma “frente” mediterrânea, embora não <strong>de</strong>scurando, antes pelo contrário, a<br />

sua situação <strong>de</strong> parceiro comercial e cultural privilegiado dos países latino americanos<br />

e do Magreb (Nonon);<br />

• embora com priorida<strong>de</strong>s claramente hierarquizadas na localização das infraestruturas<br />

no espaço territorial, Espanha revela uma perspectiva abrangente, e<br />

simultaneamente integradora, da multiplicida<strong>de</strong> das referências geográficas e<br />

económicas a que o território e a economia se terão <strong>de</strong> reportar num previsível<br />

horizonte <strong>de</strong> 20 a 30 anos;<br />

• a “aproximação” à "Banana Europeia", espaço <strong>de</strong> acumulação das activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alto<br />

valor acrescentado, constitui uma das gran<strong>de</strong>s priorida<strong>de</strong>s da infra-estruturação<br />

territorial. Isto é: uma “translação” segundo o eixo Poente-Levante, na procura <strong>de</strong> uma<br />

“entrada” na vizinhança dos centros nevrálgicos europeus, acumulados ao longo<br />

daquela “banana”, “puxando-a” para Oeste e para o Mediterrâneo, <strong>de</strong> que a aposta<br />

nos portos do Sul, com claro relevo em Barcelona, Valencia e Algeciras constitui a<br />

expressão acabada da captação das Rotas do Suez e provenientes do Oriente;<br />

• consi<strong>de</strong>rando ainda as orientações Comunitárias, contidas no <strong>de</strong>signado Livro Ver<strong>de</strong>,<br />

no que respeita à eliminação das ajudas estatais aos portos, bem como uma nova<br />

filosofia tarifária que virá a remeter os custos <strong>de</strong>stas infra-estruturas para as<br />

operações ao utilizador, a posição sobre tal matéria das Autorida<strong>de</strong>s Portuárias é <strong>de</strong><br />

concordância. De facto, o Governo Central há muito que <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> envolver o<br />

Orçamento <strong>de</strong> Estado no investimento portuário e as infra-estruturas estão, no<br />

essencial, construídas. Assim, quando tais orientações se transformarem em<br />

Directivas (e po<strong>de</strong>rão sê-lo num período mais curto que o da construção <strong>de</strong><br />

instalações terrestres e marítimas <strong>de</strong> longa duração) não haverá que fazer repercutir<br />

esses custos aos clientes, o que se reflectirá no tarifário, mais baixo e, portanto,<br />

altamente concorrencial com os restantes portos peninsulares;<br />

• em simultâneo, a qualida<strong>de</strong> da “oferta” do território ao investimento estrangeiro,<br />

suporta e complementa essa “aproximação” aos gran<strong>de</strong>s centros <strong>de</strong> produção, <strong>de</strong><br />

investigação científica e tecnológica e, por consequência, aos gran<strong>de</strong>s centros <strong>de</strong><br />

consumo;<br />

• no plano estritamente doméstico, perfila-se com niti<strong>de</strong>z que todo o esforço na<br />

construção e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> infra-estruturas se dirige para uma preparação<br />

acelerada, contínua e coerente das populações, do território e da base económica<br />

interna para a plena imersão nos contextos, sempre fluidos, que se avizinham em<br />

horizontes tangíveis no primeiro quartel do próximo século;


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

• no contexto peninsular, a reafirmação do papel centrípeto <strong>de</strong> Madrid, acentuando-lhe<br />

a vocação para Centro peninsular é clara. A instalação <strong>de</strong> uma Plataforma Logística<br />

com as dimensões do Porto Seco em Barajas-Coslada, qual fecho <strong>de</strong> abóbada,<br />

<strong>de</strong>termina que, pelo menos, o litoral ibérico passa a constituir um conjunto <strong>de</strong> lugares<br />

com uma proprieda<strong>de</strong> comum: a <strong>de</strong>pendência, mais ou menos directa, relativamente<br />

ao Centro, a Madrid;<br />

• noutra vertente, o aeroporto <strong>de</strong> Barajas (Madrid), com movimentos <strong>de</strong> passageiros em<br />

acelerada subida, vai criando as necessárias condições para se po<strong>de</strong>r tornar na<br />

gran<strong>de</strong> placa giratória da e para a América Latina, fi<strong>de</strong>lizando os tráfegos já existentes<br />

e acrescentando-lhe outros, por ganho <strong>de</strong> novas quotas <strong>de</strong> mercado;<br />

• quanto ao aeroporto <strong>de</strong> El Prat, em Barcelona, o papel que lhe <strong>de</strong>stinam é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

Hub quer para o Sul europeu quer para o Magreb;<br />

• com este objectivo atingido até finais <strong>de</strong> 2010, os restantes aeroportos ibéricos<br />

passariam, em termos do longo curso, a “alternantes” daqueles dois, porquanto viriam<br />

a ser estes a concentrar os gran<strong>de</strong>s tráfegos que aí se fraccionarão para <strong>de</strong>pois<br />

irradiarem em estrela, pelo AVE, por avião, ou por rodovia, aos mais diversos lugares<br />

da Península, do Norte <strong>de</strong> África e até doutros lugares do continente;<br />

• reforço do papel da Catalunha, e com especial ênfase para Barcelona, não parece<br />

prefigurar o <strong>de</strong>slize do centro <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> espanhol (MAPA 8), mas antes<br />

materializar a partilha na construção <strong>de</strong> uma arquitectura, assente em fortes e<br />

po<strong>de</strong>rosos pilares que reúnem, e em complementarida<strong>de</strong>, as melhores condições<br />

para suportar, com êxito, o quadrilátero industrial, núcleo vital do tecido produtivo <strong>de</strong><br />

Espanha, cujo lado cimeiro se esten<strong>de</strong> do vértice mediterrâneo, incorporando o Vale<br />

do Ebro, até ao vértice atlântico (Bilbau), numa aposta forte <strong>de</strong> candidatura a entrada<br />

atlântica europeia. Por outro lado, a nível nacional e regional as complementarida<strong>de</strong>s<br />

infra-estruturais necessárias a essa candidatura e materializadas também em outros<br />

portos do Norte <strong>de</strong> Espanha (da Galiza ao País Basco), vão-se <strong>de</strong>senvolvendo numa<br />

ascen<strong>de</strong>nte operacionalida<strong>de</strong>, acelerando já a médio prazo o <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> uma procura<br />

aos portos portugueses, que embora fraca em termos relativos ainda mantém alguma<br />

dimensão;<br />

• em consequência, os portos <strong>de</strong> Espanha, para além dos 4 principais referidos, vão<br />

criando condições em termos peninsulares e europeus para se passarem a colocar<br />

como lugares incontornáveis <strong>de</strong> transhipment e <strong>de</strong> interfaces num futuro<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do Transporte Marítimo <strong>de</strong> Curta Distância (TMCD), intra-europeu;<br />

• nitidamente se configura o objectivo <strong>de</strong> uma reestruturação espacial, <strong>de</strong>mográfica e<br />

produtiva, procurando fixar populações, num repovoamento territorial redutor das<br />

gran<strong>de</strong>s assimetrias existentes, causadas pelas migrações internas;<br />

• também releva da estratégia espanhola quanto à estruturação espacial em curso, que<br />

a Fachada Oci<strong>de</strong>ntal da Península se não reveste, para já, <strong>de</strong> primordial importância,<br />

exceptuando algumas conexões que auxiliam a recuperação <strong>de</strong> zonas periféricas<br />

fronteiriças e/ou lhe facilitam a penetração no mercado português;<br />

233


Informação Internacional<br />

234<br />

• Portugal, no traçado das ligações terrestres às Re<strong>de</strong>s Transeuropeias <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>,<br />

indubitavelmente, do já construído, ou em curso, no lado espanhol, muito mais<br />

avançado em termos materiais;<br />

• no contexto das relações económicas mundiais que se perspectivam para o século<br />

XXI, Espanha, paralelamente à assunção do papel <strong>de</strong> lea<strong>de</strong>r <strong>de</strong> uma “frente”<br />

mediterrânea, <strong>de</strong>senvolve estratégias conducentes à admissão e assimilação, no<br />

palco internacional, <strong>de</strong> um bloco peninsular, aparentemente indiviso, como o único<br />

actor do extremo oci<strong>de</strong>ntal europeu em cena.<br />

Mapa 10<br />

SÍNTESE SOBRE A ESTRATÉGIA BÁSICA PARA UMA NOVA INSERÇÃO<br />

EUROPEIA DE ESPANHA<br />

Lisboa<br />

Glasgow<br />

Madrid<br />

Paris<br />

Fonte: Adaptação pelo DPP do PDI<br />

Londres<br />

Roterdão<br />

Copenhaga<br />

Hamburgo<br />

Berlim<br />

Valência<br />

Lyon<br />

Barcelona<br />

Marselha<br />

Frankfurt<br />

Milão<br />

Leipzig<br />

Dres<strong>de</strong>n<br />

Roma<br />

Praga<br />

Viena<br />

A B<br />

Megalopoles em<br />

retrocesso (A) e progresso (B)<br />

Antigo e novo centro<br />

<strong>de</strong> gravida<strong>de</strong><br />

Eixos e espaços <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento induzido<br />

Tendências <strong>de</strong><br />

novos <strong>de</strong>senvolvimentos<br />

Orbita das altas tecnologias<br />

e cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contorno<br />

Orbita do sub-<strong>de</strong>senvolvimento<br />

Diagonal das dificulda<strong>de</strong>s<br />

Enlances em curso<br />

Escala<br />

0Km 200Km 400Km


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NOTAS<br />

Este texto foi preparado a partir <strong>de</strong> “Espaço Europeu e Mo<strong>de</strong>lo Territorial <strong>de</strong> Espanha“, do mesmo autor,<br />

publicado na revista “<strong>Prospectiva</strong> e Planeamento 2000”, editada pelo <strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Prospectiva</strong> e<br />

Planeamento tendo a informação factual sido actualizada e o enfoque mais direccionado para a análise das<br />

opções espanholas em termos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s infra-estruturas.<br />

1 A Espanha, tal como Portugal, necessita amplamente <strong>de</strong> ajudas comunitárias para a infra-estruturação do<br />

território, cujo or<strong>de</strong>namento estava, ainda em 1993, muito atrasado em relação às necessida<strong>de</strong>s sentidas pelas<br />

Autorida<strong>de</strong>s. No entanto tem vindo, graças ao cumprimento do Plano para vigorar entre 1993-2007 a recuperar<br />

esse atraso, como ao longo do presente texto se po<strong>de</strong>rá verificar. Constituem as ligações terrestres à Europa a<br />

priorida<strong>de</strong> das priorida<strong>de</strong>s, o que não tem sido <strong>de</strong> realização linear <strong>de</strong>vido a algumas reticências, na prática, por<br />

parte dos governos franceses, <strong>de</strong> que é exemplo, no plano ferroviário, o túnel <strong>de</strong> Somport.<br />

2 Até 1964 o sector dos Transportes foi aquele que menos investimento mereceu, <strong>de</strong>ntro da política económica<br />

dos governos franquistas, o que redundou nalguns estrangulamentos que chegaram a ameaçar e nalgumas<br />

situações a influenciar negativamente o <strong>de</strong>senvolvimento económico do país, embora sectores como a produção<br />

<strong>de</strong> energia, algumas produções básicas e o sistema <strong>de</strong> regadio tivessem beneficiado <strong>de</strong> alterações significativas.<br />

Entre a opção <strong>de</strong> produzir ou <strong>de</strong> fomentar melhores condições <strong>de</strong> transporte os governos <strong>de</strong>cidiram pela<br />

primeira, em gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>vido às gran<strong>de</strong>s carências <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> financiamento por parte do Estado.<br />

(Tamames, p.p. 284)<br />

3 A teoria Centro-Periferia que se apoia sobre a existência <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência entre activida<strong>de</strong>s específicas<br />

com localizações geográficas distintas, por vezes dispondo-se <strong>de</strong> acordo com as linhas <strong>de</strong> comunicações<br />

dominantes, que lhes facilitam a transmissão dos efeitos <strong>de</strong> crescimento; são os chamados Eixos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, base <strong>de</strong> um mecanismo <strong>de</strong> difusão espacial do processo <strong>de</strong> crescimento pela via,<br />

nomeadamente, das inovações (Lopes, pp. 137).<br />

4<br />

A “interrupção” a Sul, do Eixo Mediterrânico entre Cartagena e Motril, e em termos do prolongamento <strong>de</strong> infraestruturas<br />

ferroviárias, <strong>de</strong>ver-se-á ao obstáculo que constitui a Serra Nevada.<br />

5 Portugal 2010.<br />

6 Em 1995, tomando como base Madrid=100, o rendimento per capita atingia na Província <strong>de</strong> Barcelona 91,3, na<br />

<strong>de</strong> Tarragona 79,3, na <strong>de</strong> Girona 88,2, Valencia 74,6 e Castellón 77,8. (Tamames, pp. 399)<br />

7 Hoje o Vale <strong>de</strong>ste rio assume-se como um verda<strong>de</strong>iro berço <strong>de</strong> projectos, arrojados pela inovação e<br />

rendibilida<strong>de</strong> que transportam e potenciam. Atravessando as ricas regiões <strong>de</strong> Rioja, Navarra e Aragão, forma um<br />

Corredor económico e Eixo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, esten<strong>de</strong>ndo-se através do Norte <strong>de</strong> Espanha, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Bilbau a<br />

Barcelona, ligadas por Auto-estrada.<br />

Consiste numa área <strong>de</strong> crescimento bem diversificada, embora com uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional semelhante e<br />

cujo rendimento, acima da média nacional, é consi<strong>de</strong>rado como convergente com o da UE. Prevendo-se que nos<br />

próximos 5 anos, graças aos projectos atrás referidos e nos quais se incluem as infra-estruturas, sejam atingidos<br />

elevados níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Saragoça, a cida<strong>de</strong> maior do Corredor, não contando com os extremos, possui uma Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> muito<br />

prestígio e situando-se na rodovia principal, rapidamente adquiriu um estatuto <strong>de</strong> centro das comunicações. Em<br />

Logroño e Pamplona, capital <strong>de</strong> Navarra, existem Universida<strong>de</strong>s, sendo nesta última que se sedia uma das mais<br />

prestigiadas do País.<br />

237


Informação Internacional<br />

Ao longo da A68, correndo paralelamente ao Vale, estão instalados os parques industriais que fornecem<br />

componentes às fábricas Opel (Saragoça) e Volkswagen (Pamplona). Também a Iberdrola preten<strong>de</strong> montar um<br />

parque, a meio do Corredor, perto da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Castejón.<br />

Igualmente produtos brancos como os da Electrolux, têm vindo a concentrar a produção neste Vale.<br />

Será ainda <strong>de</strong> registar que em todos os sectores <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>, existe um misto <strong>de</strong> pequenos e médios<br />

empreendimentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empresas, sendo gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>las empresas multinacionais e só em Navarra<br />

existem mais <strong>de</strong> uma centena, pertencentes no todo ou apenas em parte, a estrangeiros.<br />

Rioja, região on<strong>de</strong> se produzem os mais célebres vinhos espanhóis, tem em Haro, no troço final do Norte do<br />

Corredor, a cida<strong>de</strong> capital <strong>de</strong>ssa produção. Mas a Horticultura (espargos e cogumelos) em Calahorra e Tu<strong>de</strong>la,<br />

rivaliza já com a produção vinícola.<br />

Em termos da administração política das 3 regiões autónomas existe a unânime opinião, por parte dos<br />

respectivos governos que só cooperando entre si, como tem sido o caso, o <strong>de</strong>senvolvimento pretendido será<br />

uma realida<strong>de</strong>.<br />

8 Atravessou um período <strong>de</strong> <strong>de</strong>clínio, mas graças a um plano consistente preten<strong>de</strong> recuperar e inclusive vir a<br />

ganhar o lugar <strong>de</strong> 1º porto atlântico da Península, como na abordagem subsequente e referente ás infraestruturas<br />

portuárias se po<strong>de</strong>rá verificar.<br />

9 Também com Base em Madrid=100, o rendimento per capita das Asturias e Cantábria apresentaram,<br />

respectivamente, os seguintes valores: 62,1 e 74,1 notando-se, todavia e em termos absolutos e brutos, no<br />

período <strong>de</strong> 1985 a 1995,uma nítida ascensão para ambas. A Cantábria, <strong>de</strong> 769396 pesetas para 1821462 e<br />

Asturias <strong>de</strong> 721473 pesetas para 1527120. (Tamames, pp. 399).<br />

10<br />

Claramente prejudiciais às ligações <strong>de</strong> Portugal com os espaços territoriais a Leste dos Pirinéus, ligações<br />

estas que não se configuram prioritárias para o país vizinho.<br />

11 Nenhuma <strong>de</strong>sta Províncias apresenta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional superior a 150 hab./km2, sendo Asturias a que<br />

atinge uma maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>.<br />

12 Este Corredor, cujos principais pontos <strong>de</strong> referência são: A Coruña, Vigo, Valencia, Porto, Lisboa e Sines,<br />

encerra um potencial mercado constituído por mais <strong>de</strong> 6 milhões <strong>de</strong> habitantes e cujo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>mente da construção <strong>de</strong> infra-estruturas entre ambos os países, don<strong>de</strong> se justifiquem, fundamentalmente<br />

na óptica regional, as priorida<strong>de</strong>s estabelecidas <strong>de</strong> renovar a ligação entre a cida<strong>de</strong> do Porto e Vigo e a<br />

instalação <strong>de</strong> infra-estruturas para a Alta Velocida<strong>de</strong>, as quais permitiriam efectuar a viagem do Porto ao Norte<br />

da Galiza em apenas 4 horas.<br />

13 Os <strong>de</strong>sacordos entre os governos quanto a um possível traçado do Comboio <strong>de</strong> Alta Velocida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> ligação a<br />

Madrid, ligando os dois países ibéricos, po<strong>de</strong>r-se-á <strong>de</strong>ver em parte à vonta<strong>de</strong> espanhola <strong>de</strong> beneficiar estas<br />

áreas geográficas, exigindo um percurso pela Extremadura espanhola, quer essa passagem seja por Marvão ou,<br />

como recentemente veio a lume, por Castelo-Branco, on<strong>de</strong> não existe actualmente qualquer linha <strong>de</strong> Caminho <strong>de</strong><br />

Ferro e com passagem por Talavera <strong>de</strong> la Reina.<br />

O Plan <strong>de</strong> Desarrollo Regional <strong>de</strong> Extremadura, já apresentado em Bruxelas, contempla o Comboio <strong>de</strong> Alta<br />

Velocida<strong>de</strong> Lisboa-Madrid, pelo que os Fundos Estruturais, <strong>de</strong>veriam consagrar tal investimento. No entanto,<br />

esta perspectiva não goza, <strong>de</strong>ntro da região, <strong>de</strong> unanimida<strong>de</strong>, pois que existe a <strong>de</strong>fesa, como 1ª priorida<strong>de</strong><br />

regional para o caminho <strong>de</strong> ferro, <strong>de</strong> Comboios <strong>de</strong> Velocida<strong>de</strong> Alta (160 a 200 km/hora), em consequência do<br />

AVE não garantir, por agora, o transporte <strong>de</strong> mercadorias.<br />

Outra hipótese, ainda, seria um percurso por Vilar Formoso e Fuentes <strong>de</strong> Oñoro, posição <strong>de</strong>fendida pelo governo<br />

<strong>de</strong> Castilla-León, em contraposição ao da Extremadura, muito mais onerosa para Portugal e, portanto, sem<br />

qualquer interesse directo para o nosso país, a não ser que possa a vir constituir alguma moeda <strong>de</strong> troca.<br />

Pelo lado português, como é <strong>de</strong> todo evi<strong>de</strong>nte, interessará o trajecto mais curto, sendo porém certo que qualquer<br />

que seja o traçado a vingar, exigirá sempre novas infra-estruturas <strong>de</strong> raiz.<br />

Finalmente e como conclusão, por agora, dos avatares que ro<strong>de</strong>iam esta ligação Portrugal-Espanha por Alta<br />

Velocida<strong>de</strong>, refira-se que na reunião <strong>de</strong> Colónia em Junho <strong>de</strong>ste ano se estabeleceu que antes da <strong>de</strong>finição das<br />

238


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

priorida<strong>de</strong>s quanto a investimentos dos Fundos Europeus, os dois países ibéricos teriam, e em <strong>de</strong>finitivo, <strong>de</strong><br />

chegar a um acordo.<br />

14 Esta cida<strong>de</strong> há cerca <strong>de</strong> 4 décadas, extremamente pobre, possui já uma Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudos latinoamericanos,<br />

atraindo estudantes sul americanos, consolidando e potenciando laços culturais que acabarão por<br />

se reflectir futuramente nas relações económicas <strong>de</strong> Espanha com o Sul do continente americano.<br />

Acresce ainda que as estufas e novos tipos <strong>de</strong> agricultura adoptados em terrenos que à primeira vista se<br />

po<strong>de</strong>riam consi<strong>de</strong>rar inapropriados se vêm mostrando rentáveis, produzindo extra estação, como é o caso da<br />

produção <strong>de</strong> morangos, exportada para quase todo o mundo. Embora com um Índice <strong>de</strong> rendimento per capita,<br />

<strong>de</strong> 56,7, muito abaixo <strong>de</strong> Madrid (=100), em termos absolutos quase que triplicou na década entre 1985 e 1995,<br />

pois que <strong>de</strong> 510811 pesetas passou para 1394336.<br />

Badajoz, nem sequer atinge 50% do Índice base (Madrid=100), apesar <strong>de</strong> registar um notável crescimento em 10<br />

anos no rendimento por habitante. Cáceres e Zamora registam Índices superiores a 50% também com subida em<br />

termos absolutos durante a década em referência.<br />

15 Madrid, <strong>de</strong>senvolveu-se por três gran<strong>de</strong>s or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> razões: 1ª por ser a capital, colocada no centro do país. A<br />

2ª, e também como consequência directa da 1ª, veio a adquirir um estatuto <strong>de</strong> centro <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

importância no contexto geral do território, levando à instalação <strong>de</strong> indústrias formando um verda<strong>de</strong>iro anel e<br />

cujos abastecimentos e distribuição foram facilitados pela radialida<strong>de</strong> do sistema <strong>de</strong> transportes terrestres.<br />

Finalmente a 3ª razão pren<strong>de</strong>-se com o estatuto <strong>de</strong> centro financeiro iniciado no princípio <strong>de</strong>ste século quando<br />

gran<strong>de</strong>s bancos como o Central e o Hispano Americano se instalaram na capital.<br />

16 Instalação do Porto Seco, cuja caracterização se efectuará posteriormente no presente texto.<br />

17<br />

Algeciras, ainda com <strong>de</strong>ficiências nas ligações terrestres ao centro (Porto Seco <strong>de</strong> Madrid), mas já em<br />

resolução no terreno, criam as condições para transformar o porto no maior Hub do Mediterrâneo.<br />

18 Um Corredor a instalar no Sudoeste ibérico, é <strong>de</strong> muito interesse para a UE, fechando <strong>de</strong>ssa forma o “Arco<br />

Mediterrânico” com o Eixo Atlântico da Península, na zona <strong>de</strong> maior perificida<strong>de</strong> do continente. A Auto-estrada,<br />

em construção , ligando Sevilha ao Algarve, reflecte já esse objectivo, no entanto quanto ao modo ferroviário, a<br />

situação parece ainda longe <strong>de</strong> se encontrar resolvida, pelo menos por parte <strong>de</strong> Portugal, consi<strong>de</strong>rando que a<br />

futura conexão com o AVE, por Sevilha, e posterior ligação a Madrid, não se perfila como prioritária.<br />

19 Estima este PEN que, para 2000 haverá necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma potência total <strong>de</strong>51400 MW, mais 8400 que em<br />

1992, diferença essa que <strong>de</strong>verá ser coberta pelo recurso a várias fontes, <strong>de</strong>ntro das quais há que <strong>de</strong>stacar o<br />

carvão nacional com 1338 MW, gás natural com 1835 MW, importação <strong>de</strong> electricida<strong>de</strong> <strong>de</strong> França com 1000<br />

MW, auto geração com 2452 MW, <strong>de</strong> fontes hidráulicas 902, carvão <strong>de</strong> importação com 550 MW e os restantes<br />

por turbinas a gás. (Tamames, pp. 219).<br />

20 A estrutura das empresas rodoviárias espanholas é a seguinte:<br />

Encontram-se registadas 36580 empresas.<br />

Cerca <strong>de</strong> 95% das empresas possuem menos <strong>de</strong> 5 veículos<br />

Com um veículo apenas estão registadas 75% do total.<br />

Apenas uma empresa possui mais <strong>de</strong> 200 veículos.<br />

Apenas 7 empresas possuem uma frota com mais <strong>de</strong> 100 veículos<br />

A média <strong>de</strong> kilometragem percorrida subiu <strong>de</strong> 9925 em 1996 para 10723 em 1998, <strong>de</strong>notando redução no<br />

excesso <strong>de</strong> oferta, uma das maiores <strong>de</strong>ficiências do sector, segundo dados divulgados pelas entida<strong>de</strong>s<br />

responsáveis sectorialmente.<br />

21 Nomeadamente na Andaluzia, as carências em matéria <strong>de</strong> infra-estruturas rodoviárias fazem-se sentir com<br />

particular acuida<strong>de</strong> nas ligações entre cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> média dimensão e na manutenção e conservação da re<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>nsa, <strong>de</strong> estradas complementares e secundárias existente, o que ultrapassado, po<strong>de</strong> vir a dar a estas cida<strong>de</strong>s<br />

protagonismo como centros <strong>de</strong> intermodalismo.<br />

239


Informação Internacional<br />

Todavia, as áreas agrícolas interiores têm <strong>de</strong> um modo geral boas ligações ao exterior, pois encontram-se<br />

situadas nos Corredores das principais comunicações terrestres.<br />

Quanto às áreas <strong>de</strong> montanha têm fracos níveis <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong>s por rodovia, apesar da existência <strong>de</strong> uma<br />

Re<strong>de</strong>, mas com baixa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviço, se comparada com os proporcionados no plano regional. A<br />

requalificação torna-se urgente, pois possibilita uma potenciação do turismo rural, tornando-se especialmente<br />

importante efectuar as conexões das Re<strong>de</strong>s secundárias com a Re<strong>de</strong> principal que está traçada junto a estas<br />

zonas.<br />

22 Na ligação Madrid-Malaga, com o TALGO 200 (Alta Velocida<strong>de</strong>), entrou em funcionamento uma nova<br />

composição que elevou a frequência para 6 comboios diários em ambos os sentidos, o que veio dar resposta à<br />

procura <strong>de</strong>tectada.<br />

23<br />

A Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Negócio <strong>de</strong> Transporte Combinado e Cargas vem incrementando as ligações ferroviárias com os<br />

“Comboios-portos” e “Interportos” (Ruiz, pp. 38).<br />

24 A RENFE conseguiu, através <strong>de</strong> novos processo <strong>de</strong> gestão, a formação <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Negócio e dos novos<br />

Contratos Programa, consi<strong>de</strong>rados como as duas peças-chave, porque estruturantes dado assentarem numa<br />

gestão específica para cada segmento <strong>de</strong> mercado e respon<strong>de</strong>r assim à imposição comunitária sobre o processo<br />

<strong>de</strong> liberalização ferroviária na Europa.<br />

As possibilida<strong>de</strong>s da empresa <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser “pensadas” em termos do papel do Caminho <strong>de</strong> Ferro e do<br />

respectivo apoio dos governos, mas na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> satisfazer os clientes, o que se torna viável passando da<br />

perspectiva macro para a perspectiva micro e entrar na pura lógica da concorrência entre empresas distintas,<br />

como é o caso das rodoviárias, <strong>de</strong> aviação, <strong>de</strong> caminho <strong>de</strong> ferro e até <strong>de</strong> cabotagem que prestam serviços muito<br />

concretos às suas clientelas. O “plasma” já não é o Estado, mas sim o mercado (Escala, pp. 18).<br />

25<br />

A empresa RENFE virá a cobrir Percursos Regionais com 53 composições AVE (Miniaves) <strong>de</strong> 200 lugares<br />

cada, circulando a 270 km/hora em trajectos curtos e <strong>de</strong> bitola variável.<br />

No entanto, <strong>de</strong>ste novo plano <strong>de</strong> ligações ferroviárias <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> Espanha ficará excluído, por agora, uma parte do<br />

território. Apenas 7 áreas, localizadas no território, <strong>de</strong>senhadas segundo uma linha localizada entre os Pirinéus<br />

centrais e o Sul extremenho. A outra meta<strong>de</strong>, no Noroeste, excepto o círculo em torno <strong>de</strong> Valladolid, é excluída<br />

<strong>de</strong>ste novo traçado das ferrovias espanholas.<br />

A UN <strong>de</strong> Passageiros Regionais, preten<strong>de</strong> a exploração ferroviária <strong>de</strong>signada como AVRE (Alta Velocida<strong>de</strong><br />

Regional), para trajectos menores a 200 km <strong>de</strong> distância entre cida<strong>de</strong>s que se po<strong>de</strong>rão conectar em menos <strong>de</strong> 1<br />

hora e numa 1ª fase, cida<strong>de</strong>s como Madrid-Guadalajara, Saragoça-Huesca, Madrid-Ciudad Real ou Puertollano,<br />

Saragoça-Leida e Sevilha-Córdova.<br />

Numa 2ª fase, quando a ligação Madrid-Barcelona estiver operativa (2004), a UN preten<strong>de</strong> colocar ao serviço 34<br />

composições para toda a Catalunha nos troços Barcelona-Leida, Barcelona-Reus, Tarragona-Barcelona,<br />

Barcelona-Tortosa e Barcelona-Figueres.<br />

Depen<strong>de</strong>nte da abertura do túnel sob a Serra do Guadarrama estão as ligações Madrid-Segovia, Madrid-Ávila e<br />

Madrid-Valladolid, mas sempre para tempos inferiores a 1 hora.<br />

Para o horizonte <strong>de</strong> 2010, com a incorporação das Linhas <strong>de</strong> Alta velocida<strong>de</strong> entre Madrid e Valencia, Córdova-<br />

Malaga e Barcelona-fronteira, o parque <strong>de</strong> composições Miniaves, atingirá o número <strong>de</strong> 59 unida<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>ndo<br />

duplicar o movimento <strong>de</strong> passageiros que actualmente a UN Regional da Catalunha transporta.<br />

26 As ligações ao exterior, por caminho <strong>de</strong> ferro, serão tratadas mais adiante.<br />

27 Este objectivo, embora não se mostre incompatível com o do governo central <strong>de</strong> privatizar totalmente a<br />

exploração, nem com a lógica das empresas privadas, pelo contrário, terá <strong>de</strong> colher a concordância e<br />

principalmente o financiamento por parte da entida<strong>de</strong> gestora (Pública) das infra-estruturas (GIF).<br />

28 Segundo alguns especialistas é condição necessária.<br />

29 O aeroporto gera actualmente 13% da riqueza produzida nesta região e proporciona, directa e/ou<br />

indirectamente, perto <strong>de</strong> 9% do emprego. Com a ampliação o número <strong>de</strong> empregos chegará aos 300000.<br />

240


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

30 A Câmara <strong>de</strong> Comércio da Catalunha opina, contrariamente às autorida<strong>de</strong>s da Comunida<strong>de</strong> Autónoma,<br />

que este tecto, <strong>de</strong> 40 milhões <strong>de</strong> passageiros, será alcançado em 2008-10, pelo que uma 4ª pista <strong>de</strong>veria ser<br />

construída, tornando viável a meta <strong>de</strong> 100 milhões <strong>de</strong> passageiros ao ano. No entanto, essa nova pista só seria<br />

construível em espaços ganhos ao mar, o que encarece extraordinariamente o empreendimento.<br />

31 Estes 2 aeroportos, concentram 78 % do tráfego nacional e 95 % do internacional com origem e/ou <strong>de</strong>stino na<br />

Andaluzia. Os voos não regulares, impulsionados por tour-operadores, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> estes aeroportos até aos restantes<br />

países da UE, não <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> crescer nos últimos anos. Também os voos regulares registam constante<br />

crescimento, prolongando se também aos países do Norte da Europa e a alguns do Norte <strong>de</strong> África e Médio<br />

Oriente, em virtu<strong>de</strong> da excelente situação geográfica <strong>de</strong> que gozam, quer em termos <strong>de</strong> espaço aéreo, quer na<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oferta que possuem, aumentada sensivelmente após as obras recentes <strong>de</strong> beneficiação.<br />

A oferta turística litoral é factor <strong>de</strong> primeira gran<strong>de</strong>za para captar mais turismo, fora das épocas altas<br />

Não obstante, os tráfegos <strong>de</strong> mercadorias por via aérea, apresenta-se fraco relativamente ao tráfego geral <strong>de</strong><br />

mercadorias da região, embora existam gran<strong>de</strong>s potencialida<strong>de</strong>s a médio prazo para a situação se alterar se a<br />

captação dos produtos (perecíveis) <strong>de</strong> exportação, produzidos pelas novas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> agricultura do litoral<br />

e <strong>de</strong> outros <strong>de</strong> elevado valor acrescentado.<br />

32 Havendo mais 100, <strong>de</strong> reduzida dimensão, essencialmente <strong>de</strong>dicados à activida<strong>de</strong> pesqueira e da pequena<br />

cabotagem local ou somente funcionando <strong>de</strong> simples abrigo e geridos pelas Comunida<strong>de</strong>s Autónomas<br />

(Tamames, pp. 299).<br />

33 Gijón-Avilés po<strong>de</strong>rá ainda ser consi<strong>de</strong>rado como o 5º porto mais importante embora, em média, movimente<br />

pouco mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Algeciras.<br />

Note-se que o regime jurídico <strong>de</strong> cada porto, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da sua importância (Tamames, pp. 298).<br />

34 Diário Oficial (DO C 41, <strong>de</strong> 16-Fev.-1999).<br />

35<br />

Note-se que 52% do comércio da União Europeia e aproximadamente 96% do comércio <strong>de</strong> países terceiros<br />

transita por portos espanhóis (Puertos <strong>de</strong>l Estado, nº 75, junio <strong>de</strong> 2000, pp.8)<br />

36 Com as empresas Central Lechera Asturiana, Alcoa, Mercadona, Ministério da Defesa, Tradilo (transporte <strong>de</strong><br />

produtos químicos por rodovia) e outras entida<strong>de</strong>s, nomeadamente para o transporte <strong>de</strong> resíduos urbanos, estão<br />

estabelecidos acordos e alianças, acabando assim por serem conseguidas alianças com 7 dos principais<br />

operadores <strong>de</strong> transportes <strong>de</strong> produtos químicos por rodovia.<br />

37<br />

Esta instalação vai contribuir para uma substancial ajuda a uma zona industrial em <strong>de</strong>clínio, como é o caso do<br />

Município <strong>de</strong> Coslada inserido, portanto, no Objectivo nº 2.<br />

38<br />

Termo empregue por Jean Hourca<strong>de</strong>, Membro do Comité Científico para a Travessia Central dos Pirenéus, em<br />

International Rail/Shienen <strong>de</strong>r Welt, pp. 8.<br />

39 Comboios EUROSTAR entre Londres (estação terminal Waterloo) e Paris (estação terminal Paris-Norte),<br />

circulando na parte inglesa por Bromley, Orpington e Tonbridge, com velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 160 km/hora, dado não<br />

existir Linha <strong>de</strong> Alta velocida<strong>de</strong> no Reino Unido. Na parte francesa circulam a 300km por hora entre Lille e Paris.<br />

40<br />

Esta Agrupación Europea, fundada em 1996, já efectua a gestão dos comboios hotel internacionais (Trenhotel)<br />

entre Madrid e Paris, Barcelona e Paris e Barcelona com Milão e Zurique.<br />

41 Constitui, a médio prazo, objectivo do governo central espanhol, à semelhança da situação criada no Reino<br />

Unido, a privatização da exploração comercial do transporte ferroviário sendo possível a entrada no mercado <strong>de</strong><br />

várias empresas ferroviárias que terão <strong>de</strong> adquirir todo o material circulante, continuando o Estado a garantir a<br />

gestão das infra-estruturas através da GIF. A Renfe, entrará assim no mercado apenas como empresa<br />

exploradora das composições <strong>de</strong> que mantiver a proprieda<strong>de</strong>. Este objectivo não colhe, para já, opinião favorável<br />

do público pois se encontra ainda bem recente o aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Paddington na Grã-Bretanha, atribuído à carência<br />

<strong>de</strong> manutenção e <strong>de</strong> investimentos por parte da empresa exploradora privada. Note-se que o AVE Madrid-<br />

Sevilha já funciona neste esquema.<br />

241


Informação Internacional<br />

42 Embora a Espanha tenha conseguido prorrogações aos prazos, alegando o interesse vital dos estaleiros<br />

nacionais para a respectiva economia, <strong>de</strong>signadamente para o emprego, <strong>de</strong>dicou fundamentalmente esta<br />

situação <strong>de</strong> excepção para a construção <strong>de</strong> navios <strong>de</strong> pesca.<br />

43 Proposta da Comissão relativamente aos custos e tarifas portuárias.<br />

44 Incomum aos portos portugueses.<br />

45 Como anteriormente se viu (Nonon), atingir os níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento dos parceiros da UE, constitui a<br />

gran<strong>de</strong> priorida<strong>de</strong> que os sucessivos Governos Centrais, numa linha <strong>de</strong> total continuida<strong>de</strong> e até <strong>de</strong> coerência,<br />

têm vindo a subscrever <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a assinatura do Tratado <strong>de</strong> A<strong>de</strong>são.<br />

46<br />

De facto, a manipulação <strong>de</strong> contentores exige equipamentos cada vez mais sofisticados e dispendiosos e<br />

quando subsidiados pelos Estados, a concorrência é adulterada.<br />

47<br />

As intervenções entre Fuentes <strong>de</strong> Oñoro e Valladolid encontram-se já programadas e no ano 2006 a<br />

velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> circulação po<strong>de</strong>rá atingir mais <strong>de</strong> 150 km/hora.<br />

Relativamente às rodovias, ficará concluída durante 1999 a Auto-via entre Salamanca e aquela cida<strong>de</strong> e até<br />

2006 serão lançadas as obras referentes aos troços entre Salamanca e Fuentes <strong>de</strong> Oñoro e entre Palencia-<br />

Benavente, permitindo o acesso à fronteira com Portugal (Vila Ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> Raia).<br />

No mesmo período, o governo espanhol comprometeu-se já a melhorar a rodovia entre Verin e aquela fronteira,<br />

bem como uma nova entrada em Espanha po<strong>de</strong>rá vir a ser concretizada se a construção <strong>de</strong> uma Auto-via entre<br />

Zamora e Quintanilha (IP4) vier a ser construída.<br />

48 O Norte <strong>de</strong> Portugal e a Galiza, ficarão até 2006 mais próximos, graças ao acordo realizado em Vigo no âmbito<br />

da Comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Trabalho Galiza-Portugal (reunida <strong>de</strong> 2 em 2 anos) e a apresentar aos governos centrais <strong>de</strong><br />

ambos os países.<br />

Esse acordo <strong>de</strong>fine como priorida<strong>de</strong>s, a estabelecer <strong>de</strong>ntro do Inter-Reg III (2000-2006), as seguintes:<br />

Eixo ferroviário-Coruña-Lisboa<br />

Mo<strong>de</strong>rnização do Sistema Portuário do Noroeste Peninsular.<br />

Valorização e coor<strong>de</strong>nação do Sistema Aeroportuário.<br />

Esta proposta <strong>de</strong> acção conjunta, além <strong>de</strong> incluir a componente infra-estrutural, preocupa-se com a<br />

funcionalida<strong>de</strong> do espaço Galiza-Norte <strong>de</strong> Portugal, com cerca <strong>de</strong> 7 milhões <strong>de</strong> habitantes e igualmente<br />

potenciar as economias conjuntas, segundo as <strong>de</strong>clarações do presi<strong>de</strong>nte da CCRN) em 27 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1999 a<br />

“Indústria do Norte” (Portugal).<br />

Este empreendimento vem ultrapassar a capacida<strong>de</strong> financeira que o Inter-Reg III po<strong>de</strong>rá suportar, pois ascen<strong>de</strong><br />

a 65 milhões <strong>de</strong> contos, mas que é susceptível <strong>de</strong> conseguir angariar outros Fundos Comunitários, que no<br />

âmbito do espaço se venham a realizar no Norte do país, embora exista já financiamento comunitário para a<br />

mo<strong>de</strong>rnização da ligação ferroviária Porto-Vigo.<br />

Caberá à Xunta da Galiza, CCRN, REFER e RENFE <strong>de</strong>finir a breve prazo quais as características a que este<br />

projecto <strong>de</strong>verá obe<strong>de</strong>cer para se integrar nas Re<strong>de</strong>s Transeuropeias.<br />

Note-se que em território galego, já se efectua a ligação rodoviária entre Vigo (circunvalação) e a Auto-estrada<br />

(A-9) até Baionna.<br />

Sob a perspectiva económica, haverá forçosamente um <strong>de</strong>senvolvimento substancial das relações entre o Norte<br />

<strong>de</strong> Portugal e Galiza, mais propriamente com a província <strong>de</strong> Pontevedra, cujos empresários realizaram mais <strong>de</strong><br />

90% do investimento em Vale do Lima e Gran<strong>de</strong> Porto.<br />

Esta nova ligação <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 700 km <strong>de</strong> Auto-estrada, com excepção do troço entre Porriño e Vigo (Auto via),<br />

pondo em conexão 4 centros urbanos portugueses (Braga, Porto, Coimbra, Lisboa e Setúbal) com 2 galegos<br />

(Vigo e Coruña), alojando mais <strong>de</strong> 34% <strong>de</strong> toda a população da Península e todos na “Fachada Atlântica”, vem<br />

dar potentes alavancas a uma maior e melhor relação nas áreas económicas, culturais e turísticas.<br />

242


Espanha: Infra-estruturas <strong>de</strong> Transporte e Mo<strong>de</strong>lo Territorial<br />

49 Encontra-se em exploração, por iniciativa da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mercado <strong>de</strong> Tráfego Internacional <strong>de</strong> Transporte<br />

Combinado, em articulação com a Intercontainer-Ibérica, um comboio semanal, por sentido, entre o terminal <strong>de</strong><br />

Tarragona-Constantí e os <strong>de</strong> Lisboa (Boba<strong>de</strong>la) e Leixões.<br />

Os dados estatísticos acumulados no presente ano indicam uma movimentação <strong>de</strong> Contentores <strong>de</strong> 14572 TEU,<br />

o que representa um crescimento <strong>de</strong> 30 % relativamente a igual período <strong>de</strong> 1999 e <strong>de</strong>ve-se aos produtos interportos,<br />

essencialmente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Barcelona, Valencia e Santurce até e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Portugal. No tráfego continental,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os terminais <strong>de</strong> Gíjon, Sevilha, Cádiz e Barcelona. Esta composição, mista, e com um aproveitamento da<br />

capacida<strong>de</strong> perto já dos 85 %, transporta fundamentalmente produtos químicos com origem no “polígono”<br />

petroquímico <strong>de</strong> Constantí e <strong>de</strong>vido às características que possui, toda a gama <strong>de</strong> equipamentos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> caixas<br />

móveis a cisternas e Contentores <strong>de</strong> 20’ e 30’.<br />

Os principais clientes <strong>de</strong>ste comboio são as empresas Multimodal Ibérica, Ivexa, Contank e Bertschi e as<br />

expectativas quanto ao futuro apontam para a entrada em funcionamento, ainda em 2000, <strong>de</strong> uma nova<br />

composição.<br />

243


VI<br />

QUESTÕES GEOPOLÍTICAS<br />

CENTRAIS<br />

√ Polónia versus Rússia – do Mar Báltico ao Mar Negro − uma<br />

Leitura a partir das Infra-estruturas Energéticas


Questões Geopolíticas Centrais<br />

POLÓNIA VERSUS RÚSSIA – DO BÁLTICO AO MAR NEGRO – UMA LEITURA A<br />

PARTIR DAS INFRA-ESTRUTURAS ENERGÉTICAS<br />

Rui Nunes<br />

INTRODUÇÃO<br />

Nas décadas <strong>de</strong> 70 e 80 a URSS realizou um intenso programa <strong>de</strong> investimento na<br />

expansão no sector energético, não só no sentido <strong>de</strong> avançar na exploração dos jazigos <strong>de</strong><br />

hidrocarbonetos da Sibéria Oci<strong>de</strong>ntal, como <strong>de</strong> iniciar a exploração dos gran<strong>de</strong>s jazigos <strong>de</strong><br />

petróleo do Casaquistão e <strong>de</strong> gás do Turquemenistão, mas também concretizando uma re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> pipelines e gasodutos <strong>de</strong>stinados a abastecer os países do COMECON e da Europa<br />

Oci<strong>de</strong>ntal. Data <strong>de</strong>sse período a construção dos dois gran<strong>de</strong>s sistemas <strong>de</strong> interconexão<br />

pan-europeus. Qualquer <strong>de</strong>les atravessava a Ucrânia e se dirigia para o território do que é<br />

hoje a Eslováquia.<br />

A <strong>de</strong>sintegração da URSS arrastou uma profunda mudança no contexto em que a Rússia<br />

passou a ter que pensar o <strong>de</strong>senvolvimento dos seus recursos energéticos. Assim:<br />

• a prolongada crise económica da Rússia e a <strong>de</strong>sarticulação dos mecanismos <strong>de</strong><br />

direcção central que se aplicavam ao sector da energia, traduziu-se por uma quebra<br />

<strong>de</strong> produção do sector energético, pela <strong>de</strong>gradação continuada das condições <strong>de</strong><br />

exploração <strong>de</strong> várias das suas bases produtoras, bem como das infra-estruturas <strong>de</strong><br />

transporte, e pela dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> concretizar, nesse contexto, estratégias <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento intensivo dos recursos para as quais faltavam as tecnologias, os<br />

equipamentos e os financiamentos;<br />

• a Rússia, tendo optado por uma gradual inserção no mercado global, apenas podia<br />

contar com dois sectores chave para assegurar um fluxo <strong>de</strong> exportações – o sector<br />

energético e o sector das indústrias militares e aerospaciais; e dadas as<br />

características <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento extensivo do seu sector energético um aumento<br />

das exportações para a Europa teria maior possibilida<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> novas bases<br />

produtoras situadas na vertente oci<strong>de</strong>ntal da Rússia; daí a importância atribuída pelas<br />

autorida<strong>de</strong>s russas à bacia da península <strong>de</strong> Yamal, situada no Ártico;<br />

• a in<strong>de</strong>pendência dos Estados da bacia energética do Mar Cáspio-Azerbeijão,<br />

Casaquistão e Turquemenistão – abriu a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento<br />

autónomo dos vastos recursos neles existentes, directamente apoiado nas<br />

companhias petrolíferas e <strong>de</strong> gás oci<strong>de</strong>ntais, e em concorrência directa com a Rússia,<br />

tanto maior quanto viessem a conseguir ultrapassar o seu “encravamento” territorial<br />

por via <strong>de</strong> rotas e infra-estruturas que não envolvessem território russo;


Informação Internacional<br />

248<br />

• a in<strong>de</strong>pendência da Ucrânia veio introduzir um factor <strong>de</strong> perturbação potencial no<br />

encaminhamento do petróleo e gás da Rússia e do Turquemenistão para a Europa,<br />

dada a possibilida<strong>de</strong> (teórica?) das autorida<strong>de</strong>s ucranianas interromperem esses<br />

fluxos <strong>de</strong> trânsito ou <strong>de</strong> procurarem utilizá-los para obter condições mais favoráveis<br />

ao seu próprio abastecimento energético;<br />

• Durante a década <strong>de</strong> 90 e perante esta transformação foram-se <strong>de</strong>senhando três<br />

objectivos para a geopolítica da energia, por parte da Rússia;<br />

• travar o <strong>de</strong>senvolvimento autónomo da bacia energética do Cáspio, quer no que<br />

respeita à velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exploração e <strong>de</strong>senvolvimento dos recursos, quer ao<br />

envolvimento <strong>de</strong> empresas russas nesse <strong>de</strong>senvolvimento, quer ainda no que respeita<br />

às rotas <strong>de</strong> acesso aos mercados externos e á utilização das infra-estruturas<br />

construídas em território russo que envolve o acesso directo aos mercados externos;<br />

• envolver os países vizinhos da Rússia nas <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos<br />

campos produtores (<strong>de</strong> Yamal, a oci<strong>de</strong>nte, às Sakalinas, a oriente), mas sem<br />

questionar o comando ou o envolvimento <strong>de</strong> empresas russas e a continuação <strong>de</strong> um<br />

forte controlo do estado sobre os recursos energéticos russos;<br />

• utilizar a questão energética como um instrumento <strong>de</strong> pressão e retoma do controlo<br />

económico sobre a Ucrânia, em vez <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ser por ela utilizada.<br />

Estes objectivos <strong>de</strong>frontaram-se ao longo dos anos com iniciativas quer dos EUA e da<br />

Turquia especialmente em apoio a uma maior autonomia política <strong>de</strong> países produtores como<br />

o Azerbeijão e Turquemenistão face à Rússia (e ao Irão), quer com projectos <strong>de</strong>stinados a<br />

dar maior consistência económica ao “alinhamento” dos Estados saídos da ex-URSS e mais<br />

reticentes ao aprofundamento das relações com a Rússia – Geórgia, Ucrânia, Uzbequistão,<br />

Azerbeijão, Moldova (“alinhamento” conhecido como GUUAM, por referência às iniciais dos<br />

nomes <strong>de</strong>stes Estados).<br />

Ora durante o ano 2000 a Polónia e a Ucrânia foram agitadas pela intenção da Rússia <strong>de</strong><br />

contornar a segunda pela primeira no transporte <strong>de</strong> gás natural <strong>de</strong> Yamal para a União<br />

Europeia (UE), no quadro <strong>de</strong> um novo acordo <strong>de</strong> cooperação energética da Rússia com a<br />

União. Este projecto <strong>de</strong> bypass permite explicitar duas tendências em curso, entre as quais:<br />

• a secundarização da Polónia e da Ucrânia, por parte da UE e da Rússia, que<br />

procuram um entendimento baseado na satisfação do consumo europeu <strong>de</strong> energia<br />

pela produção russa;<br />

• a utilização da energia (produção; transporte/bypass; fornecimento) como arma por<br />

Moscovo para tentar restaurar influências geopolíticas perdidas com a <strong>de</strong>sintegração<br />

da URSS; no caso da Ucrânia estão em curso três bypass, dois no gás e um no<br />

petróleo;


Polónia Versus Rússia – do Báltico ao Mar Negro<br />

1. A POLÓNIA APOIA UMA TENTATIVA DE BYPASS ENERGÉTICO DA RÚSSIA?<br />

O escoamento da produção petrolífera do Azerbeijão e eventualmente dos produtores a<br />

leste do Mar Cáspio encontra um constrangimento permanente sob a forma das limitações<br />

que a Turquia se sente em condições <strong>de</strong> impor à passagem <strong>de</strong> navios pelos Estreitos<br />

(Bósforo e Dardanelos), por razões <strong>de</strong> segurança da navegação. Esse constrangimento<br />

po<strong>de</strong>, teoricamente, ser tido em conta por duas rotas principais que têm vindo a ser objecto<br />

<strong>de</strong> intensa análise:<br />

• uma rota que ligaria directamente o Mar Cáspio ao Mediterrâneo Oriental, não<br />

precisando pois <strong>de</strong> utilizar os estreitos turcos; seria tipicamente a rota do pipeline<br />

Baku-Ceyhan, rota até agora preferida pelos EUA e pela Turquia que seria<br />

duplamente beneficiada (já que esta rota não supõe o uso dos Estreitos e utiliza o<br />

território turco como trânsito);<br />

• uma rota que passando pelo território russo, seguiria do porto <strong>de</strong> NovorossisK para<br />

portos do litoral oci<strong>de</strong>ntal do mar Negro, na Roménia ou na Bulgária e daqui para o<br />

resto da Europa.<br />

OS ESTREITOS TURCOS E ACIRCULAÇÃO ENERGÉTICA NO MAR NEGRO<br />

Os Estreitos turcos (Bósforo, Mar <strong>de</strong> Marmara, Dardanelos) não suportam o crescimento eterno<br />

<strong>de</strong> mais tráfego. Des<strong>de</strong> meados dos anos 70 e até 1995, atravessaram-nos 20 mil navios por ano.<br />

Em termos <strong>de</strong> carga, com referência a 1995, transitaram entre 60 a 70 milhões <strong>de</strong> toneladas (mt)<br />

<strong>de</strong> petróleo oriundo dos portos russos <strong>de</strong> Novorossyisk e Tuapse e <strong>de</strong> O<strong>de</strong>ssa, na Ucrânia. Se<br />

este valor representa a continuação da tendência <strong>de</strong> queda <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o pico <strong>de</strong> 1988 (167 mt) – as<br />

primícias (early oil) cáspias ainda não compensaram as quebras russas –, já o número <strong>de</strong> navios<br />

cresceu 2,5 vezes, para 50 mil em 1997 e 1998, <strong>de</strong>vido à abertura do canal Main-Danúbio à<br />

navegação e ao aumento do comércio que resultou dos Estados nascidos do fim da União<br />

Soviética.<br />

As exportações energéticas russas e da bacia do Cáspio através dos portos do Mar Negro (Vd<br />

Mapa I) totalizam 70 mt/ano (mt/a), correspon<strong>de</strong>ntes a 1,4 mil milhões <strong>de</strong> barris/dia (b/d). Em<br />

OUT99 houve um pico <strong>de</strong> 1,7 mil milhões b/d.<br />

A Agência Internacional <strong>de</strong> Energia admite como um cenário razoável que após 2005 sejam<br />

escoada pelos Estreitos entre 100 e 135 mt/a <strong>de</strong> petróleo. O pressuposto é a concretização das<br />

previsões <strong>de</strong> produção avançadas por Rússia, Azerbaijão, Casaquistão e Turquemenistão e a<br />

não existência <strong>de</strong> pipelines que permitam o bypass dos Estreitos. Uma estimativa mais precisa é<br />

a do intervalo 97,5-115 mt/a (1,95-2,3 milhões b/d). Estes valores resultam da combinação das<br />

exportações <strong>de</strong> Rússia (52,5-60 mt/a ou 1,05-1,2 mb/d), Casaquistão (30-35 mt/a ou 600 mil-700<br />

mil b/d) e Azerbaijão (15-20 mt/a ou 300 mil-400 mil b/d), além <strong>de</strong> pequenas quantida<strong>de</strong>s<br />

provenientes da Geórgia e Turquemenistão.<br />

Novorossiysk, Tuapse, O<strong>de</strong>ssa, Supsa e Batumi são os portos do Mar Negro usados para<br />

exportar petróleo. Novorossiysk tem uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 34 mt/a (680 mil b/d) e planos para<br />

expandir até 42 mt/a (840 mil b/d); esta expansão prepara a exclusão <strong>de</strong> O<strong>de</strong>ssa (capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

10 mt/a) do escoamento <strong>de</strong> parte do petróleo proveniente do território russo, caso da maior parte<br />

249


Informação Internacional<br />

do petróleo casaque. Tuapse exporta 10mt/a (200 mil b/d) e prevê uma expansão <strong>de</strong> cinco mt/a.<br />

Supsa – inaugurado em ABR99, po<strong>de</strong> escoar até 10 mt/a (200 mil b/d) – é a via <strong>de</strong> exportação<br />

dos consórcios AIOC, que opera no offshrore azeri, e TCO que, li<strong>de</strong>rado pela Chevron, opera em<br />

Tengiz (Casaquistão). Batumi, na Adjária, tem uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 3,5 mt/a (70 mil b/d) e<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expansão até 6,8 m/t (136 mil b/d; <strong>de</strong> momento exporta a produção do TCO.<br />

Não se consi<strong>de</strong>ra o aumento do consumo previsto nos Estados do Mar Negro. Mas espera-se que<br />

estes, excepto Rússia, aumentem o consumo <strong>de</strong> petróleo em 22,5-35 mt/a (450-700 mil b/d) até<br />

2010. As refinarias da Ucrânia, Roménia e Bulgária têm uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 90 mt/a (1,8 milhões<br />

b/d), mas apenas um terço está operacional.<br />

Este futuro torna incontornável a meta <strong>de</strong> contornar os Estreitos turcos. Há duas hipóteses além<br />

<strong>de</strong> Baku (Azerbeijão)–Ceyhan, porto turco no Mediterrâneo: via Balcãs ou Ucrânia; ambas<br />

excluem a Turquia.<br />

Balcãs – Há três hipóteses principais: Burgas-Alexandroupolis (Grécia); Burgas-Vlore (Albânia); e<br />

Constanta (Roménia)-Trieste (Itália). Há ainda o transporte fluvial Danúbio-Main-Reno.<br />

250<br />

• o trajecto Burgas-Alexandroupolis era promovido por Rússia, Bulgária e Grécia, rival<br />

regional da Turquia. Porém, em ABR99, quatro empresas russas abandonaram a jointventure<br />

promotora do projecto, a Balkan Oil. Este po<strong>de</strong> ter sido o fim <strong>de</strong>ste projecto, cujo<br />

acordo foi assinado em Janeiro <strong>de</strong> 1997 e previa um custo <strong>de</strong> 575 milhões <strong>de</strong> dólares USD;<br />

• trajecto Burgas-Vlore está a ser estudado e financiado pelos EUA. O Trans-Balkan Oil<br />

Pipeline é promovido pela Albanian-Macedonian-Bulgarian Oil Company (AMBO). Um<br />

estudo – no valor <strong>de</strong> 980 mil USD, pago pela AMBO e a US Tra<strong>de</strong> and Development<br />

Agency (USTAD) – concluíu pela viabilida<strong>de</strong> do projecto, que tem um custo estimado <strong>de</strong><br />

1,1 mil milhões USD. Existem compromissos dos governos da Albânia, Bulgária e<br />

Macedónia com a iniciativa. A AMBO tencionava começar a procura <strong>de</strong> financiamento em<br />

JUL00;<br />

• os projectos mais ambiciosos são, contudo, os que começam em Constanta, a saber, a via<br />

fluvial e a ligação a Trieste, esta com duas rotas: a do Constanta Trieste Pipeline (CTPL) e<br />

a South-East European Line (SEEL). Este último projecto envolve a ENI, que assinou um<br />

acordo em 1998 com a petrolífera romena SNP. Ambos têm capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 660 mil b/d,<br />

com expansão prevista até ao milhão b/d. O CTPL passaria pela Hungria e Eslovénia, e<br />

eventualmente Croácia. A capacida<strong>de</strong> máxima seria atingida em 2012. O custo estimado é<br />

<strong>de</strong> mil milhões USD e <strong>de</strong>veria estar finalizado em 2002. O SEEL passaria por Jugoslávia,<br />

Croácia e Eslovénia; há uma variante neste percurso que é a reversão do fluxo do pipeline<br />

Adria, que abastece refinarias sérvias e croatas a partir do terminal croata <strong>de</strong> Omisalj. A<br />

SNP, empresa petrolífera romena, assinou um protocolo em JUN99 com a KazakhOil e a<br />

Kaztransoil para transportar 140 mil b/d e refinar petróleo casaque e exportar produtos<br />

refinados para a Europa.<br />

Fonte: Os Estreitos Turcos, Informação Internacional 1999, DPP, Lisboa, Vol. II, p. 364.<br />

Encher Baku-Ceyhan Exige Alianças, In formação Internacional 1999, DPP, Vol. II, p.p.: 367-369.<br />

Agência Internacional <strong>de</strong> Energia, Black Sea Energy Survey, Paris, 2000.<br />

United States Energy Information Administration (www.eia.doe.gov).


Polónia Versus Rússia – do Báltico ao Mar Negro<br />

Mapa 1<br />

A INFRA-ESTRUTURA DE TRANSPORTE DE PETRÓLEO NO MAR NEGRO<br />

Fonte: “Black Sea Energy Survey”, International Energy Agency, em cooperação com The Energy<br />

Charter Secretariat OECD/IEA, 2000<br />

• ora a Polónia tem estado envolvida no <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> uma terceira rota – que utilizaria o<br />

território da Ucrânia e da Polónia para ligar a bacia do Cáspio – através <strong>de</strong> um porto<br />

na margem oriental do mar Negro e <strong>de</strong> O<strong>de</strong>ssa na costa ucraniana do mesmo mar do<br />

Mar Negro – à Europa;<br />

• esta proposta (Mapa 2) suporia o trajecto O<strong>de</strong>ssa-Brody, na Ucrânia Oci<strong>de</strong>ntal, ou<br />

O<strong>de</strong>ssa-Gdansk, na Polónia, e é a tentativa mais recente <strong>de</strong> integrar a Ucrânia numa<br />

nova re<strong>de</strong> <strong>de</strong> transporte do petróleo do Cáspio, para consumo, refinação e/ou<br />

distribuição na Europa. Este projecto seria uma autêntica auto-estrada energética Mar<br />

Cáspio-Mar Báltico, que faria o bypass da Rússia e consolidaria a – incipiente e débil<br />

– aliança anti-russa formada pela Geórgia, Ucrânia, Uzbequistão, Azerbeijão e<br />

Moldávia, <strong>de</strong> cujas iniciais fez nome: GUUAM;<br />

• é assim que a Ucrânia está a construir um terminal petrolífero em Piv<strong>de</strong>nny, perto <strong>de</strong><br />

O<strong>de</strong>ssa, com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nove mt/a (180 mil b/d) e um pipeline com 667<br />

quilómetros <strong>de</strong> O<strong>de</strong>ssa a Brody, com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 14,5 mt/a (290 mil b/d), on<strong>de</strong> se<br />

ligaria à linha sul do pipeline russo Druzhba, que transporta petróleo para a Europa<br />

Central. Espera-se que as obras se concluam em meados <strong>de</strong> 2001. Há ainda a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ligar à linha norte do Druzhba, em Adamowa Zastawa, na Polónia, ou<br />

esten<strong>de</strong>r a linha até Schwechat, na Áustria. A USTAD financiou o estudo <strong>de</strong><br />

viabilida<strong>de</strong> do pipeline O<strong>de</strong>ssa-Brody no valor <strong>de</strong> 750 mil USD e o BERD emprestou<br />

251


Informação Internacional<br />

252<br />

100 milhões USD para o terminal. O ministro azeri dos Negócios Estrangeiros já disse<br />

que o Azerbaijão está interessado na rota Baku-Supsa-O<strong>de</strong>ssa-Brody-Gdansk e<br />

discutiu a formação <strong>de</strong> um consórcio para financiar a componente ucraniana;<br />

• este pipeline está em concorrência directa com o <strong>de</strong> Constanta-Trieste, que<br />

correspon<strong>de</strong> ao tipo <strong>de</strong> rotas que preten<strong>de</strong>m ligar o Cáspio à Europa, através da<br />

Rússia e dos Balcãs, mas tem a vantagem <strong>de</strong> estar já em construção;<br />

• refira-se que não existe unanimida<strong>de</strong> na Ucrânia quanto a este projecto. Assim o<br />

secretário do Conselho <strong>de</strong> Segurança e Defesa, Yevhen Marchuk, <strong>de</strong>fensor do<br />

pagamento da dívida do gás com a entrega à Rússia <strong>de</strong> uma parte da empresa<br />

gestora dos gasodutos, questiona a viabilida<strong>de</strong> do oleoduto. Consi<strong>de</strong>ra que o pipeline<br />

O<strong>de</strong>ssa-Brody-Gdansk é parte <strong>de</strong> um projecto «enorme» <strong>de</strong> transportar petróleo do<br />

Cáspio (Casaquistão incluído) que não se faz sem petroleiros, sem coor<strong>de</strong>nar o<br />

transporte do petróleo com os seus proprietários, sem <strong>de</strong>cidir o volume a transportar<br />

através do pipeline (20-25 milhões toneladas/ano, no mínimo) e sem construir um<br />

terminal em O<strong>de</strong>ssa. Porque «nada está resolvido», conclui: «Este oleoduto ou é<br />

gran<strong>de</strong> objectivo ou gran<strong>de</strong> erro».<br />

REP.CHECA<br />

CROÁCIA<br />

Europa<br />

do Norte<br />

Gdansk<br />

Escala<br />

0 Km 200 Km 400 Km<br />

Plock<br />

POLÓNIA<br />

HUNGRIA<br />

Mapa 2<br />

O PIPELINE ODESSA-DANSK – UNINDO O MAR CÁSPIO AO<br />

MAR BÁLTICO E À EUROPA<br />

ESLOVÁQUIA<br />

Europa<br />

Oci<strong>de</strong>ntal<br />

Lvov<br />

GRÉCIA<br />

Brody<br />

ROMÉNIA<br />

BIELORRÚSSIA<br />

BULGÁRIA<br />

MOLDAVA<br />

UCRÂNIA<br />

Moscovo<br />

Fonte: Courrier International (502), 15-21 <strong>de</strong> Junho 2000<br />

Kiev<br />

O<strong>de</strong>ssa<br />

Ceyhan<br />

Novorossisk<br />

FED.RUSSA<br />

Soupsa<br />

Grozny<br />

GEORGIA<br />

KAZAQUISTÃO<br />

AZERBAIJÃO<br />

Bakou<br />

Projecto ucraniano <strong>de</strong> abastecimento <strong>de</strong><br />

petróleo do Mar Cáspio. Uma parte do<br />

oleoduto O<strong>de</strong>ssa-Brody já está<br />

construído.<br />

Oleoduto em funcionamento<br />

Oleoduto em projecto<br />

Estados-membros do GUAM (união<br />

económica "anti-russa"


Polónia Versus Rússia – do Báltico ao Mar Negro<br />

2. A UNIÃO EUROPEIA E A RÚSSIA SELAM UMA ALIANÇA ENERGÉTICA<br />

Em Paris, a 31OUT00, a cimeira bienal UE-Rússia foi dominada pela energia. Com um<br />

eventual objectivo <strong>de</strong> parceria a médio prazo, centrou-se no objectivo <strong>de</strong> duplicar o<br />

fornecimento à UE, no horizonte <strong>de</strong> 20 anos, <strong>de</strong> petróleo, gás e electricida<strong>de</strong> por parte da<br />

Rússia.<br />

A i<strong>de</strong>ia subjacente é a <strong>de</strong> a UE investir nas infra-estruturas russas em troca <strong>de</strong> um<br />

abastecimento assegurado durante 20 anos. Ou seja, o <strong>de</strong>signado Plano Prodi – na<br />

realida<strong>de</strong> com importante contribuição alemã – é uma troca: energia russa por investimento<br />

europeu. Romano Prodi disse ser necessário clarificar o quadro legal russo antes <strong>de</strong> as<br />

importações aumentarem e convir que Moscovo ratificasse a Carta da Energia.<br />

Muita da proposta da UE estava no documento que a Comissão aprovara em 4OUT00 para<br />

apresentar ao Conselho Europeu <strong>de</strong> Biarritz (13-14OUT00), <strong>de</strong>stinado a discutir o<br />

aprovisionamento <strong>de</strong> energia da UE, no rescaldo das turbulências suscitadas pelo aumento<br />

do preço do petróleo, concertado na OPEP. No documento constava, na parte relativa às<br />

relações com os produtores, o diálogo com a OPEP, a recomendação da continuação do<br />

apoio aos Estados ribeirinhos do Mar Cáspio, através do programa INOGATE (Interstate Oil<br />

and Gas Transport to Europe) e a consi<strong>de</strong>ração do interesse da Fe<strong>de</strong>ração Russa quanto às<br />

potencialida<strong>de</strong>s da bacia do Cáspio e infra-estruturas <strong>de</strong> transporte. Em particular,<br />

consi<strong>de</strong>rava-se que «a reabilitação dos gasodutos e oleodutos da ex-URSS e a sua<br />

optimização com vista ao <strong>de</strong>sencravamento dos recursos russos e da bacia do Mar Cáspio<br />

<strong>de</strong>veriam contribuir a prazo para a melhoria do aprovisionamento <strong>de</strong> uma UE alargada».<br />

Por outras palavras, a Rússia é promovida a parceiro fundamental para o abastecimento<br />

futuro <strong>de</strong> energia para a UE. O bypass da Ucrânia e o fim do apoio europeu à rota Baku-<br />

Ceyhan po<strong>de</strong>rão ser contrapartidas pretendidas por Moscovo.<br />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimento nas infra-estruturas russas é reconhecida, por exemplo, pela<br />

Gazprom – que ven<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 75% do gás russo –, cujo "número dois", Valery Remezov,<br />

admitiu (27FEV00) ter <strong>de</strong> cortar a produção – 545,6 mmmc em 1999; 520 mmmc em 2000 –<br />

dada a situação dos gasodutos. Também um relatório do Center for Strategic and<br />

International Studies conclui que os pipelines per<strong>de</strong>m 20 milhões <strong>de</strong> toneladas/ano <strong>de</strong><br />

petróleo. Ainda no gás, a Gazprom estima que a Rússia precisa <strong>de</strong> extrair 633 mmmc/a, em<br />

vez dos actuais 586 mmmc/a, para satisfazer a procura interna e os contratos externos. Ora,<br />

em 2000, segundo o Ministério russo da Energia, a produção <strong>de</strong> gás caiu 1,3%, <strong>de</strong> 592<br />

mmmc para 584,2 mmmc, dos quais 129 mmmc para exportação (evolução contrária teve o<br />

petróleo, com a extracção a aumentar 5,9% para 323,3 milhões <strong>de</strong> toneladas, dos quais<br />

124,5 milhões exportados). Mas além do estado dos gasodutos, também as condições <strong>de</strong><br />

extracção são <strong>de</strong>ficientes. No gás, as estimativas <strong>de</strong> tempo necessário para o aumento da<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> extracção são <strong>de</strong> 10 anos. Daqui que a Rússia se vire para o<br />

Turquemenistão e reduza os subsídios internos, com aumentos no gás e electricida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

30% em 2000 – mesmo assim, os preços internos são um décimo do facturado à UE.<br />

A Gazprom impediu as exportações do Turquemenistão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados da década <strong>de</strong> 90,<br />

com excepção das <strong>de</strong>stinadas à Ucrânia, mercado sem interesse, por insolvente. Mas, em<br />

2000, concordou em comprar 20 mmmc/a <strong>de</strong> gás ao Turquemenistão para os clientes no sul<br />

253


Informação Internacional<br />

da Rússia, o que é a reedição do padrão soviético, quando 60 mmmc/a <strong>de</strong> gás turquemeno<br />

eram <strong>de</strong>stinados ao sul da Rússia, Cáucaso e UE.<br />

Esta necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investimento é acentuada quando a AIE prevê que o mercado europeu<br />

<strong>de</strong> gás natural cresça 2,8% ao ano no período 1997-2020, <strong>de</strong> 344 milhões <strong>de</strong> toneladas<br />

equivalentes <strong>de</strong> petróleo (MTEP) para 650 MTEP – para a Rússia manter a quota tem <strong>de</strong><br />

duplicar a exportação em 20 anos. Ainda segundo a AIE, a Rússia, que tem 33% das<br />

reservas mundiais <strong>de</strong> gás natural, produziu 570,5 mmmc em 1999, cerca <strong>de</strong> 25% da<br />

produção mundial, dos quais exportou 97 mmmc (17%) para os Estados europeus membros<br />

da OCDE.<br />

O lugar do gás na parceria – a Rússia fornece cerca <strong>de</strong> 20% do gás e 16% do petróleo –<br />

será importante, dado que o seu consumo na UE aumentará mais que o do petróleo (0,7%<br />

ao ano no período 1997-2020, ao passar <strong>de</strong> 14,1 milhões b/d para 16,8 mb/d, segundo a<br />

AIE), até porque, no médio prazo, a UE prefere o gás <strong>de</strong>vido às consequências ambientais<br />

do petróleo.<br />

Além do mencionado mal-estar que o entendimento UE-Rússia provocou na Polónia e<br />

Ucrânia, também o pipeline Baku-Ceyhan, e por arrasto a Turquia e o Cáspio, saem<br />

comprometidos. Neste cenário, os per<strong>de</strong>dores são Polónia, Turquia, Geórgia e Azerbeijão –<br />

Estados mais alinhados com Washington do que com as capitais europeias.<br />

Daqui que algumas leituras, como a da Jane's, consi<strong>de</strong>rem que este entendimento é «um<br />

erro estratégico» da UE, uma vez que a parceria energética UE-Rússia significa a<br />

continuação por parte <strong>de</strong> Moscovo do processo <strong>de</strong> restauração <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e influência sobre<br />

as ex-repúblicas soviéticas usando a arma da energia, processo do qual a Ucrânia é a<br />

chave.<br />

Refira-se que no centro da nova aliança energética Rússia/EU começa por se encontrar o<br />

projecto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das gigantescas reservas da península <strong>de</strong> Yamal, no Ártico.<br />

Yamal é dotada <strong>de</strong> elevadas reservas confirmadas <strong>de</strong> gás natural. No onshore ascen<strong>de</strong>m a<br />

<strong>de</strong>z biliões (milhões <strong>de</strong> milhões) <strong>de</strong> metros cúbicos (mc). Isto significa a satisfação das<br />

necessida<strong>de</strong>s da Europa Oci<strong>de</strong>ntal e da Turquia – 450 mil milhões mc – durante 20 anos.<br />

Com o <strong>de</strong>gelo do Ártico, a área coberta pelo gelo reduziu-se 6% <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1978 e a espessura<br />

<strong>de</strong>ste 41% <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 50. Admite-se, em consequência, que as reservas no offshore<br />

aumentem. Em 1998, o The Economist estimava a existência <strong>de</strong> 65 biliões mc, valor<br />

superior ao das reservas em terra. Muitos dos 25 campos <strong>de</strong> gás da península têm secções<br />

offshore.<br />

Mas Yamal tem o problema do Cáspio – como transportar a energia para mercados a<br />

milhares <strong>de</strong> quilómetros? Ao contrário, porém, do Cáspio, não há obstáculos políticos ao seu<br />

fluxo. As dificulda<strong>de</strong>s têm sido financeiras. A construção do gasoduto Yamal-Europa dura há<br />

anos. Prevê-se a sua conclusão em 2010, quando <strong>de</strong>ve ter uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 65 mmmc,<br />

um custo <strong>de</strong> 50 mil milhões USD e originar uma receita anual <strong>de</strong> cinco mil milhões USD.<br />

Lentamente tem vindo a ser construído- em NOV99 foi terminado o Yamal-1, que liga a<br />

Bielorússia (Minsk-Nesvizh) à Polónia (Kondratki-Wloclawek). A partir <strong>de</strong> Kondratki é então<br />

possível avançar com o Yamal-2, que ligará a Velke Kapusany, na Eslováquia, e daqui ao<br />

corredor central do pipeline pan-europeu Druzhba.<br />

254


Berlim<br />

ALEMANHA<br />

SUÉCIA<br />

REP.CHECA<br />

ÁUSTRIA<br />

Mapa 3<br />

GÁS NATURAL – DE YAMAL, SEM A UCRÂNIA<br />

POLÓNIA<br />

FED.RUSSA<br />

ESLOVÁQUIA<br />

HUNGRIA<br />

Polónia Versus Rússia – do Báltico ao Mar Negro<br />

Fonte: “ Pipeline Ploy Displeases Poland and Ukraine”, Financial Times, October 31, 2000<br />

3. A RÚSSIA REALIZA O BYPASS DA UCRÂNIA<br />

LITUÂNIA<br />

A Ucrânia era a segunda mais importante República da ex-URSS, distinguindo-se na divisão<br />

<strong>de</strong> trabalho da era soviética pela sua importância como produtor agrícola e <strong>de</strong> carvão, como<br />

importador maciço <strong>de</strong> petróleo russo e gás da Rússia e do Turquemenistão, como a<br />

segunda base mais importante do complexo militar industrial, e como território <strong>de</strong> trânsito do<br />

petróleo e gás russos e da Ásia Central <strong>de</strong>stinados à Europa oci<strong>de</strong>ntal e aos Balcãs.<br />

Com a sua economia profundamente integrada com a da Rússia, não dispondo <strong>de</strong><br />

produções competitivas no mercado mundial, com a eventual excepção do material<br />

aeronáutico e do espaço a Ucrânia tem evi<strong>de</strong>nciado uma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> em solidificar a<br />

sua in<strong>de</strong>pendência através <strong>de</strong> uma relação com a Europa ou, directamente com o mercado<br />

mundial.<br />

3.1. As Questões energéticas e a in<strong>de</strong>pendência da Ucrânia<br />

0 Km 100 Km 200 Km<br />

As questões energéticas estão no centro dos dilemas da in<strong>de</strong>pendência ucraniana:<br />

Varsóvia<br />

BIELORRÚSSIA<br />

UCRÂNIA<br />

• a Ucrânia <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> completamente das infra-estruturas russas para o seu<br />

abastecimento energético, mas sendo um consumidor ten<strong>de</strong>ncialmente insolvente tem<br />

vindo a acumular dividas para com a Rússia, e em particular com a Gazprom;<br />

Escala<br />

FED.RUSSA<br />

Oleduto para Gas<br />

Passagem Proposta<br />

255


Informação Internacional<br />

256<br />

• pela Ucrânia passam os pipeline e gasoduto pan-europeus, que são cruciais para o<br />

encaminhamento dos hidrocarbonetos russos em direcção aos clientes prósperos da<br />

Europa (por aqui passam actualmente 90% do gás russo para os <strong>de</strong>stinos europeus),<br />

mas que têm vindo a ser alvo <strong>de</strong> roubos e <strong>de</strong>svios;<br />

• no Mar Negro, próximo da costa ucraniana, e perto da Ilha da Serpente, supõe-se<br />

po<strong>de</strong>r existir um gran<strong>de</strong> campo energético por explorar e <strong>de</strong>senvolver situado em<br />

águas disputadas com a Roménia, constituindo este potencial a principal<br />

oportunida<strong>de</strong> para a Ucrânia reduzir a sua <strong>de</strong>pendência para com a Rússia, com base<br />

em recursos próprios;<br />

• a Ucrânia dispõe do porto <strong>de</strong> O<strong>de</strong>ssa, com os seus terminais energéticos, como um<br />

acesso privilegiado a fluxos energéticos originados ou encaminhados doutros locais<br />

do Mar Negro, que lhe permitiriam também reduzir a sua <strong>de</strong>pendência para com a<br />

Rússia.<br />

A UCRÂNIA – ENTRE A POLÓNIA E A RÚSSIA, ENTRE O BÁLTICO E O MAR NEGRO-<br />

O que é a Ucrânia? Enquanto palavra significa "marca", "confim". Indiscutível na sua história<br />

enquanto entida<strong>de</strong> política é a permanente instabilida<strong>de</strong> trazida por invasores, e a correlativa<br />

dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> afirmação <strong>de</strong> um querer próprio, <strong>de</strong> uma alma inconfundível.<br />

No fim do século IX, os Varegues, guerrreiros escandinavos, vieram pelo vale do Dniepr e<br />

instalaram a capital em Kanugard (Kiev).<br />

Um século <strong>de</strong>pois Kiev tornou-se a capital do primeiro Estado russo, situação que se prolongou<br />

durante quase dois séculos. Do fim da Rússia kieviana resultaram, na parte oci<strong>de</strong>ntal, os<br />

principados da Galiza e Volínia, que se uniram em 1199. Na parte central e oriental, os<br />

principados russos caíram sob o jugo dos mongóis, que tomaram Kiev em 1240.<br />

Mais <strong>de</strong> outro século <strong>de</strong>pois, em 1361, o grão-duque da Lituânia apo<strong>de</strong>rou-se <strong>de</strong> Kiev. Em 1386,<br />

com a união da Polónia e Lituânia, a Ucrânia Central e Oci<strong>de</strong>ntal ficou integrada no Estado<br />

polaco-lituano. Integração com resistências religiosa – igreja ucraniana nascida e crescida na<br />

órbita bizantina ortodoxa obrigada a unir-se a Roma, no Concílio <strong>de</strong> Florença (1439) – e social,<br />

<strong>de</strong>vido aos polacos terem constituído gran<strong>de</strong>s proprieda<strong>de</strong>s na Ucrânia on<strong>de</strong> o campesinato era<br />

reduzido à servidão.<br />

Em 1667, a paz russo-polaca divi<strong>de</strong> a Ucrânia, com a fronteira no Dniepr, mas em 1793 a<br />

segunda partilha da Polónia põe toda a Ucrânia sob domínio russo, à excepção da Galiza que fica<br />

para a Áustria.<br />

Depois, é só na turbulência da revolução russa que os ucranianos tentam a in<strong>de</strong>pendência e<br />

proclamam em Kiev em JUL17 a República Democrática da Ucrânia. Porém, em DEZ17, os<br />

bolcheviques proclamam em Kharkov a República Soviética da Ucrânia. Três meses <strong>de</strong>pois, a<br />

paz <strong>de</strong> Brest-Litovsk (MAR18) permite a ocupação alemã da Ucrânia até que a Alemanha per<strong>de</strong> a<br />

guerra e o governo <strong>de</strong> Kiev retoma a capital. Em 1919, a Ucrânia transforma-se em campo <strong>de</strong><br />

batalha entre os exércitos nacionalista ucraniano, branco <strong>de</strong> Denikine e vermelho que apoiava a<br />

república soviética. Em 1920, o exército vermelho domina a Ucrânia, mas os nacionalistas<br />

conseguem retomar Kiev, com a ajuda do exército polaco. O tratado <strong>de</strong> Riga (1921) consagra,<br />

porém, a divisão da Ucrânia entre a Polónia, que fica com a Galiza e a Volínia, e a Rússia.


Polónia Versus Rússia – do Báltico ao Mar Negro<br />

Nos anos 30 morrem cinco a seis milhões <strong>de</strong> camponeses ucranianos, fuzilados ou à fome, entre<br />

1932 e 33, no âmbito da colectivização da terra; Nikita Krutchev é eleito em 1938 para secretáriogeral<br />

do Partido Comunista da Ucrânia, cargo que <strong>de</strong>sempenha até 1949; e a Polónia Oriental é<br />

ocupada pela URSS em 1939, no seguimento do pacto germano-soviético, o que lhe permite<br />

dominar toda a Ucrânia.<br />

Este pacto não impediu que a Alemanha invadisse a Ucrânia em 1941. Durante a guerra os<br />

ucranianos dividiram-se, com os orientais a combater no exército vermelho e muitos oci<strong>de</strong>ntais no<br />

alemão. No fim da guerra, a República Socialista Fe<strong>de</strong>rativa Soviética da Ucrânia aumenta com a<br />

incorporação da Galiza, Volínia, Ruténia subcarpática, Bessarábia e Bucovina do Norte. Em 1954,<br />

Krutchev, então secretário-geral do PCUS, dá a Crimeia, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> Estaline tinha <strong>de</strong>portado os<br />

tártaros, à Ucrânia.<br />

É no pós-perestroika <strong>de</strong> Gorbatchev, e <strong>de</strong>pois do aci<strong>de</strong>nte na central nuclear <strong>de</strong> Chernobyl, em<br />

1986, que suscitara uma reacção contra a russificação, que o parlamento ucraniano proclama a<br />

soberania da república (JUL90) e elege como presi<strong>de</strong>nte Leonid Kravtchuk. No ano seguinte, em<br />

24AGO91, a seguir ao fracasso do golpe <strong>de</strong> Moscovo é proclamada a in<strong>de</strong>pendência, confirmada<br />

por referendo em 1DEZ91.<br />

Ao fim <strong>de</strong>stas convulsões, a Ucrânia caracteriza-se por um espaço físico on<strong>de</strong> se verificam várias<br />

clivagens: populacionais, culturais, regionais, religiosas, políticas.<br />

Das flutuações das fronteiras resultou uma população heterogénea. Dados <strong>de</strong> 1989 indicavam<br />

que dos 51,4 milhões <strong>de</strong> habitantes 37,4 milhões eram ucranianos, 11,3 milhões russos, 485 mil<br />

ju<strong>de</strong>us, 324 mil moldavos, 219 mil polacos, 163 mil húngaros e 134 mil romenos. Os ucranianos<br />

dominam na parte oci<strong>de</strong>ntal; na oriental, na Crimeia e em O<strong>de</strong>ssa a situação é diferente. Mesmo<br />

em Kiev, quase meta<strong>de</strong> da população é russa. Na quase ilha da Crimeia o regresso dos<br />

reabilitados tártaros (muçulmanos) é mais uma fonte <strong>de</strong> tensão, ao se encontrarem em minoria na<br />

sua terra <strong>de</strong> origem.<br />

A não sedimentação das linhas fronteiriças é evi<strong>de</strong>nciada pelas pretensões da Roménia<br />

recuperar a Bucovina e da Moldávia conseguir um acesso ao Mar Negro.<br />

Em termos religiosos há duas religiões principais: a católica e a ortodoxa. Os ortodoxos<br />

atravessam perturbação internas, com a igreja fiel ao patriarca ortodoxo russo Alexis II a braços<br />

com duas dissidências, a do patriarcado <strong>de</strong> Kiev e a da Igreja Ortodoxa Autocéfala. Os<br />

<strong>de</strong>signados greco-católicos, uniatas, são católicos <strong>de</strong> rito oriental. Acantonados na parte<br />

oci<strong>de</strong>ntal, representam aí meta<strong>de</strong> da população, o que equivale a cerca <strong>de</strong> 10% da população<br />

ucraniana. Têm 3600 paróquias. Elegeram como seu patriarca em 26JAN01 o bispo Lubomir<br />

Guzar, um americano <strong>de</strong> origem ucraniana, que saiu da Ucrânia em 1944, com 11 anos, para<br />

regressar 48 anos <strong>de</strong>pois. Des<strong>de</strong> a in<strong>de</strong>pendência que uniatas e ortodoxos disputam a posse <strong>de</strong><br />

locais <strong>de</strong> culto, em particular na Galiza. Em resultado, há <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> paróquias em que as igrejas<br />

são partilhadas pelas diversas confissões e aí celebram os ofícios por turnos. Entre 1991 e 1995,<br />

estas disputas assumiram um carácter violento. O Papa João Paulo II visitará a Ucrânia entre 23<br />

e 27JUN01, a convite <strong>de</strong> Kuchma formulado em SET00. A Igreja Ortodoxa Ucraniana,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Moscovo, manifestou-se contrária à visita, mas o Vaticano já a confirmou.<br />

Em termos regionais, po<strong>de</strong> se dizer que a parte oriental é a que pesa mais em termos<br />

populacionais, religiosos e políticos – e a que tem uma orientação mais pró-russa. A parte<br />

oci<strong>de</strong>ntal é .a mais oci<strong>de</strong>ntal(izada) – católica, dissi<strong>de</strong>nte, anti-russa.<br />

No limite, a in<strong>de</strong>pendência confronta os ucranianos com a questão <strong>de</strong> saber o que são. On<strong>de</strong><br />

está, qual é, o germen, a essência, da ucranieda<strong>de</strong>? Em Kiev, a Russa? No Grão-Ducado da<br />

Galícia, on<strong>de</strong> as elites se refugiaram das invasões mongóis?<br />

As respostas são tão difíceis/fáceis <strong>de</strong> dar como <strong>de</strong>finir a especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> "confim".<br />

257


Informação Internacional<br />

258<br />

A Rússia tem vindo a <strong>de</strong>senvolver uma estratégia <strong>de</strong> cerco à Ucrânia aproveitado a sua<br />

<strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> económica e <strong>de</strong>pendência energética, e que se <strong>de</strong>sdobra em quatro vertentes:<br />

• reduzir, para o futuro, o papel da Ucrânia no trânsito dos recursos energéticos da<br />

Rússia e da Ásia Central para a Europa, <strong>de</strong>senvolvendo prioritariamente bacias<br />

energéticas e explorando rotas que realizem o bypass da Ucrânia;<br />

• assegurar um controlo efectivo sobre os pipelines e gasodutos existentes na Ucrânia,<br />

usando a ameaça constituída pela novas rotas que fazem esse bypass para forçar o<br />

governo ucraniano a garantir a segurança e a manutenção <strong>de</strong>ssas infra-estruturas;<br />

• obter o máximo <strong>de</strong> activos empresariais ucranianos como pagamento da dívida<br />

acumulada ao nível energético, inserindo esta solução num processo mais vasto <strong>de</strong><br />

controlo russo sobre as partes mais valiosas da economia da Ucrânia (vd. empresas<br />

aeronáuticas e aeroespaciais);<br />

• retirar funções ao porto ucraniano <strong>de</strong> O<strong>de</strong>ssa na exportação do petróleo da Rússia e<br />

do Casaquistão, em favor dos portos russos, e nomeadamente <strong>de</strong> Novorrossisk.<br />

O bypass da Ucrânia 1 começou a ser mais do que discurso em 18 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2000,<br />

quando as empresas Gazprom, Rhurgas, Wintershall – estas duas empresas alemãs têm<br />

participações cruzadas com a Gazprom –, SNAM (Itália) e Gaz <strong>de</strong> France assinaram, em<br />

Moscovo, um memorando para o estudo e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma nova secção do<br />

gasoduto Yamal-Europa. Esta prevê a criação na Polónia <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>riva para sul do<br />

gasoduto Yamal-Europa que ligaria na Eslováquia ao gasoduto que traz gás natural <strong>de</strong><br />

Urengoi e Yamburg para Alemanha, Itália e França. O custo estimado é <strong>de</strong> dois mil milhões<br />

USD (cerca <strong>de</strong> 430 MC).<br />

Putin incumbiu o vice-primeiro-ministro Viktor Khristenko <strong>de</strong> negociar com a Polónia a<br />

passagem do novo troço do gasoduto, e garantiu em 22DEZ00, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma reunião com<br />

o presi<strong>de</strong>nte ucraniano, Leonid Kuchma, que a Rússia contornaria a Ucrânia pela Polónia no<br />

transporte <strong>de</strong> gás natural para a UE.<br />

Neste particular, o ano 2000 terminou como começara: em 9 <strong>de</strong> Fevereiro o principal<br />

responsável da Gazprom, Rem Vyakhirev, ameaçara excluir a Ucrânia da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> gasodutos<br />

que transporta o gás russo para os mercados europeus. As razões invocadas são os atrasos<br />

ucranianos no pagamento do gás e os roubos efectuados ao longo do trajecto do gasoduto<br />

na Ucrânia.<br />

Ao longo do ano 2000, multiplicaram-se os acontecimentos relativos às relações energéticas<br />

entre a Rússia e a Ucrânia, as <strong>de</strong>clarações suce<strong>de</strong>ram-se, a Polónia e a UE foram<br />

envolvidas, houve ramificações ao Mar Negro, Cáucaso e Mar Cáspio, e ficou patente que,<br />

mais do que uma questão russo-ucraniana, estavam em causa questões mais<br />

1 Recor<strong>de</strong>-se que actualmente a Rússia exporta anualmente através da Ucrânia 120 mmmc <strong>de</strong> gás natural<br />

proveniente <strong>de</strong> Urengoi e Yamburg, <strong>de</strong>stinados à Alemanha, França, Itália e Espanha (o trânsito é pago pela<br />

Rússia em gás fornecido à Ucrânia, e que constitui apenas uma parte do fornecimento total <strong>de</strong> gás russo) e<br />

que se concretizasse o bypass as autorida<strong>de</strong>s da Ucrânia calculam que esse valor se reduziria para meta<strong>de</strong>, já<br />

em 2005.


Polónia Versus Rússia – do Báltico ao Mar Negro<br />

<strong>de</strong>terminantes, como o abastecimento, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo <strong>de</strong> gás, do rico mercado europeu e do<br />

prometedor mercado turco; as rendas obtidas com o trânsito <strong>de</strong>ssa energia; a recuperação<br />

da influência russa no Báltico, na Europa Central e Oriental, no Cáucaso, na bacia do Mar<br />

Cáspio e na Ásia Central.<br />

A garantia <strong>de</strong> Putin foi a última manifestação em data <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s russas que<br />

visam o controlo da re<strong>de</strong> ucraniana <strong>de</strong> pipelines e infra-estruturas <strong>de</strong> apoio, como<br />

reservatórios e sistemas <strong>de</strong> distribuição, e o fim da posição da Ucrânia enquanto território<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trânsito <strong>de</strong> energia.<br />

Sinal <strong>de</strong> que Kiev leva a Rússia a sério é dado por Kuchma que, apesar <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>svalorizado<br />

o projecto <strong>de</strong> bypass, proce<strong>de</strong>u a várias <strong>de</strong>missões e nomeações, em Outubro <strong>de</strong> 2000,<br />

após um encontro com Putin. Quanto à missão do novo ministro dos Negócios Estrangeiros<br />

foi claro: «Aplacar a Rússia».<br />

Ou seja, a Ucrânia tenta manter-se no mapa do trânsito <strong>de</strong> energia. Para isto tenta «aplacar<br />

a Rússia» e convencer os estrangeiros <strong>de</strong> que é melhor investir na sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong> gasodutos<br />

do que no bypass. Os gasodutos estão avaliados em 20 mil milhões USD; po<strong>de</strong>m<br />

transportar 150 mmmc/ano. O Primeiro Ministro Yushchenko assegura que a capacida<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong> ser aumentada em 60-70 mmmc/a com «alguns» investimentos. Mas o estado dos<br />

gasodutos exige melhorias orçadas entre 500 milhões e dois mil milhões USD.<br />

A questão que se coloca é se a Ucrânia vai a tempo ou se é excluída ou, o que é o mesmo,<br />

se a Rússia consegue o controlo dos seus gasodutos. Então, sem controlar estes e sem<br />

dispor <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> energia – importa 78% do gás natural, 77% <strong>de</strong><br />

petróleo, e 30% do carvão, mas das suas 250 minas apenas três ou quatro terão uma<br />

exploração positiva –, a Ucrânia ficaria ainda mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da Rússia para obter<br />

energia.<br />

3.2. A Rússia à Conquista Económica da Ucrânia<br />

O contencioso energético entre a Rússia e a Ucrânia não se centra só nas ameaças <strong>de</strong><br />

bypass. Existem dois outros problemas sérios: a acumulação <strong>de</strong> pagamentos em atraso<br />

<strong>de</strong>vidos pelo fornecimento <strong>de</strong> gás russo à Ucrânia e as acusações russas <strong>de</strong> <strong>de</strong>svios <strong>de</strong> gás<br />

realizados por entida<strong>de</strong>s ucranianas para venda a terceiros em seu benefício (vd. os casos<br />

dos acordos <strong>de</strong> fornecimento assinados em 1999 e 2000 com a Roménia e a Bulgária para<br />

fornecimento <strong>de</strong> gás). O ano <strong>de</strong> 2000 foi fértil em acontecimentos nestas frentes, com a<br />

Rússia a procurar tirar partido da situação para controlar o maior número possível <strong>de</strong> activos<br />

empresariais ucranianos e forçar a realização <strong>de</strong> “joint-ventures”. Assim:<br />

• em Fevereiro <strong>de</strong> 2000 a Rússia apresentara como condições para a reestruturação da<br />

dívida energética ucraniana o seu reconhecimento como dívida <strong>de</strong> Estado, e não<br />

como mera dívidas das empresas estatais envolvidas no sector das da Naftohaz e<br />

outras e a passagem ao pagamento em dinheiro; um mês <strong>de</strong>pois (7 Março <strong>de</strong> 20000)<br />

o jornal russo Kommersant divulgou que o primeiro-ministro russo, Mikhail Kasyanov<br />

propusera o pagamento através da cessão <strong>de</strong> empresas na energia, metais ferrosos e<br />

não-ferrosos, construção <strong>de</strong> máquinas agrícolas e outras, como a Mykolayiv Alumina<br />

Plant, a refinaria LiNOS, a química Oriana ou a Turboatom, produtora <strong>de</strong> equipamento<br />

para instalações <strong>de</strong> energia nuclear. O presi<strong>de</strong>nte Kuchma teria rejeitado a proposta –<br />

259


Informação Internacional<br />

260<br />

«Nem pensar» – e comentado que «A Rússia não se po<strong>de</strong> portar assim, tanto mais<br />

que só agora acabou <strong>de</strong> renegociar o pagamento da sua dívida ao Oci<strong>de</strong>nte.»;<br />

• em “pagamento” da dívida energética a Rússia já obteve o controlo <strong>de</strong> quatro das seis<br />

refinarias da Ucrânia – O<strong>de</strong>ssa, Naftokhimik Prykarpattya, Kremenchuk e Kherson – e<br />

o próprio secretário do Conselho <strong>de</strong> Segurança e Defesa ucraniano, Yevhen Marchuk,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a entrega à Rússia <strong>de</strong> uma terça parte dos gasodutos para pagar as dívidas<br />

do gás. Em 26 Julho <strong>de</strong> 2000, em entrevista à Interfax, interrogava: «O que é melhor:<br />

dar 30% à Rússia, 30% a um sócio europeu e o Estado guardar o restante terço das<br />

refinarias e do sistema <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> gás e petróleo e obter rendimentos, ou lutar<br />

até ao fim e vir a mostrar as vazias e inoperacionais instalações industriais da energia<br />

aos turistas?»;<br />

• em 17 Novembro <strong>de</strong> 2000, uma reunião entre os Primeiros Ministros russo, M.<br />

Kasyanov, e ucraniano, V.Yuschenko, saldou-se pela repetição do <strong>de</strong>sacordo sobre a<br />

dimensão da dívida da Ucrânia relativa ao gás – dois mil milhões <strong>de</strong> dólares dos EUA<br />

(USD) {cerca <strong>de</strong> 430 milhões <strong>de</strong> contos (MC)}, para Kasyanov; 1,362 mil milhões USD<br />

(cerca <strong>de</strong> 292 MC), para Yuschenko (nota: a dívida externa da Ucrânia era <strong>de</strong> 12 mil<br />

milhões USD no fim <strong>de</strong> 1999). Kasyanov acrescentou que a Rússia po<strong>de</strong>ria conce<strong>de</strong>r<br />

uma moratória <strong>de</strong> oito anos que permitisse à Ucrânia pagar a dívida entre 2008 e<br />

2010, Yuschenko, por sua parte, assegurou que a Ucrânia não entregaria acções <strong>de</strong><br />

empresas para pagamento da dívida e rejeitou o reconhecimento <strong>de</strong>sta como dívida<br />

<strong>de</strong> Estado. Em termos técnicos, a dívida é relativa ao monopólio estatal Naftohaz<br />

Ukrayiny (antiga Ukrhazprom) e outras empresas;<br />

• já em 2001, Igor Sergeyev, ministro russo da Defesa, e o seu homólogo ucraniano,<br />

Oleksandr Kuzmuk, acordaram durante uma visita daquele, em 18-19JAN01, um<br />

plano com 52 projectos para 2001. Destacam-se a instalação em Sebastopol – porto<br />

ucraniano na Crimeia e se<strong>de</strong> da anterior esquadra soviética do Mar Negro –, <strong>de</strong> um<br />

posto <strong>de</strong> observação e um <strong>de</strong>stacamento militar conjuntos para assistência no Mar<br />

Negro; a menção à mo<strong>de</strong>rnização <strong>de</strong> equipamento militar, através da «cooperação<br />

entre os complexos industriais-militares, do seu <strong>de</strong>senvolvimento e da criação e<br />

produção <strong>de</strong> novos tipos <strong>de</strong> armas», segundo Kuzmuk.<br />

3.3. A Ucrânia procura o apoio do Turquemenistão<br />

Para obviar à pressão russa, que tem chegado ao corte <strong>de</strong> fornecimentos, a Ucrânia tem<br />

procurado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há anos abastecer-se directamente <strong>de</strong> gás no Turquemenistão, com quem<br />

aliás também já teve problemas <strong>de</strong> não pagamento e <strong>de</strong> interrupção <strong>de</strong> fornecimentos.<br />

Os esforços <strong>de</strong> aproximação redobraram durante o ano 2000. Em 24 <strong>de</strong> Julho a vice PM<br />

ucraniana Y. Tymoshenko <strong>de</strong>slocou-se à capital turquemena, Ashgabat, on<strong>de</strong> apresentou os<br />

planos <strong>de</strong> um gasoduto Turquemenistão-Ucrânia, que faria o bypass 2 (*) da Rússia, através<br />

2 A vonta<strong>de</strong> mútua <strong>de</strong> fazer bypass, por parte da Rússia e a Ucrânia, envolvendo terceiros, levou a Agência<br />

Internacional <strong>de</strong> Energia (AIE) a referir “...today's almost obsessive attempts to avoid each other (IEA, 2000a:<br />

34)”.


Polónia Versus Rússia – do Báltico ao Mar Negro<br />

do Mar Cáspio (ou Irão), Azerbeijão, Geórgia, Mar Negro até ao porto <strong>de</strong> Feodosiya, na<br />

Crimeia, on<strong>de</strong> se ligaria à re<strong>de</strong> ucraniana.<br />

Nunca ficou clara a lógica <strong>de</strong>sta proposta nem se teria algo a ver com o gasoduto trans-<br />

Cáspio assinado em Istambul, por ocasião da cimeira da OSCE, em 18-19 Novembro <strong>de</strong><br />

1999. Mas po<strong>de</strong> admitir-se que tenha sido um mero bluff, dado o seu contexto – discussão<br />

da dívida ucraniana à Rússia; projecto russo <strong>de</strong> contornar a Ucrânia – e a dimensão do<br />

investimento requerido por tal projecto, que a Ucrânia não tem capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mobilizar. Na<br />

ocasião, Tymoshenko acusara a Rússia <strong>de</strong> planear comprar todo o gás do Turquemenistão<br />

durante 30 anos 3 , o que impediria a Ucrânia <strong>de</strong> diversificar o fornecimento.<br />

Em 4 Outubro <strong>de</strong> 2000 foi a vez do presi<strong>de</strong>nte da Ucrânia, Kuchma se <strong>de</strong>slocar a Ashgabat,<br />

para assinar com o presi<strong>de</strong>nte turquemeno S. Niyazov um acordo mediante o qual o<br />

Turquemenistão fornecerá em 2000 e 20001, 35 mmmc <strong>de</strong> gás. O pagamento em dinheiro<br />

atingirá os 40% em 2000, para subir para 50% em 2001, sendo o restante pago com bens e<br />

serviços.<br />

4. A POLÓNIA – ENTRE A RÚSSIA E A UNIÃO EUROPEIA, OLHANDO PARA A<br />

UCRÂNIA<br />

O acordo energético Rússia- União Europeia veio pôr a nu as divergências <strong>de</strong> interesses<br />

energéticos entre, por um lado o que se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>signar como “núcleo continental” da União<br />

Europeia – Alemanha, França e Itália – interessado no estreitamento das relações com a<br />

Rússia, mesmo que à custa da Ucrânia, e a posição <strong>de</strong> países candidatos como a Polónia,<br />

recém saídos do controlo da ex-URSS, que olham com <strong>de</strong>sconfiança para a Rússia e que<br />

gostariam <strong>de</strong> ver consolidada a in<strong>de</strong>pendência da Ucrânia, incluindo nas questões<br />

energéticas.<br />

Varsóvia não quer ser objecto <strong>de</strong> um bypass político por parte <strong>de</strong> UE e Rússia, como a<br />

Ucrânia se arrisca a ser no trânsito <strong>de</strong> energia. O facto <strong>de</strong> o governo polaco ter dito que<br />

soubera pelos jornais do acordo entre as empresas para o bypass da Ucrânia significa que a<br />

Polónia foi ignorada pelos seus futuros parceiros comunitários.<br />

O pedido <strong>de</strong> a Polónia ser incluída nas discussões sobre o abastecimento em energia da UE<br />

feito ao Presi<strong>de</strong>nte da Comissão Europeia, Romano Prodi, pelo Primeiro-Ministro Polaco,<br />

Jerzy Buzek, em Bruxelas, a 18 Janeiro <strong>de</strong> 2001 veio tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> mais.<br />

Mas se o acordo Rússia/UE pôs em relevo essas divergências <strong>de</strong> interesses, os<br />

acontecimentos ocorridos durante 2000 revelam a intensida<strong>de</strong> das pressões a que a Polónia<br />

foi sujeita e que se traduziram numa aceitação relutante do bypass da Ucrânia,<br />

transformado em peça inicial daquele acordo. Assim:<br />

• em 10 Julho <strong>de</strong> 2000 o Presi<strong>de</strong>nte Polaco Kwasniewski encontra-se com Putin, em<br />

Moscovo, que lhe apresenta a proposta <strong>de</strong> bypass da Ucrânia; Kwasniewski<br />

classifica-a <strong>de</strong> «mais económica do que política», enquanto Bronislaw Geremek, ex-<br />

3 Em Maio <strong>de</strong> 2000, durante a visita do Presi<strong>de</strong>nte Putin ao Turquemenistão a Gazprom acordou com o governo<br />

local o aumento das suas compras anuais em 10mmmc, começando em2002, e até atingir os 60 mmmc por<br />

ano.<br />

261


Informação Internacional<br />

262<br />

ministro dos Negócios Estrangeiros, diz que o governo polaco nunca concordará com<br />

a proposta; a 12 <strong>de</strong> Julho o presi<strong>de</strong>nte polaco telefona ao presi<strong>de</strong>nte ucraniano,<br />

Kuchma e garante-lhe que «a Polónia nunca apoiará nada dirigido contra a Ucrânia».<br />

A 14 <strong>de</strong> julho Kwasniewski relativiza: «Pensamos nos interesses da Polónia;<br />

queremos assegurar os interesses da Ucrânia; preten<strong>de</strong>mos bons contactos com a<br />

Rússia; não temos nada contra fazer lucros com esta proposta»;<br />

• a 15 <strong>de</strong> Julho é o Primeiro Ministro polaco, Buzek que assegura ao Primeiro Ministro<br />

ucraniano, Yuschenko que a Polónia se lembrará dos interesses da Ucrânia. A 21 <strong>de</strong><br />

Julho cabe ao Vice Primeiro Ministro e Ministro da Economia polaco, Janusz Steinhoff<br />

afirmar ao ministro ucraniano da Energia, que a Polónia não concorda com o bypass,<br />

mas gostaria <strong>de</strong> finalizar o acordo <strong>de</strong> 25AGO93 estabelecido com a Gazprom, o qual<br />

prevê a construção <strong>de</strong> dois segmentos do pipeline que vem <strong>de</strong> Yamal, com uma<br />

capacida<strong>de</strong> total <strong>de</strong> 65 mmc (o primeiro segmento abriu em 1999, tem meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta<br />

capacida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>stina-se à Alemanha) 4 ;<br />

• em 19 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2000 o Ministério <strong>de</strong> Steinhoff ainda assegurava que «a Polónia<br />

continua a opôr-se, por razões ecológicas e políticas, ao projecto <strong>de</strong> ligar as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

gasodutos russa e europeias oci<strong>de</strong>ntais». Pelo meio, em 24OUT00, o Presi<strong>de</strong>nte<br />

Polaco, Kwasniewski, admitiu um novo gasoduto se a Ucrânia partilhasse os seus<br />

benefícios com uma joint-venture ou outro mecanismo; entretanto, Steinhoff sugeria<br />

uma conferência internacional para <strong>de</strong>terminar o traçado do gasoduto, até porque o<br />

estudado pelo consórcio <strong>de</strong> empresas passa por dois parques nacionais polacos<br />

situados na fronteira leste.<br />

• em 2 Novembro <strong>de</strong> 2000 o Primeiro Ministro Buzek <strong>de</strong>u uma entrevista à Gazeta<br />

Wyborcza. na qual nem sequer comentou a afirmação <strong>de</strong> Putin <strong>de</strong> que a Polónia<br />

obteria mil milhões USD/ano (cerca <strong>de</strong> 215 MC) <strong>de</strong> receitas <strong>de</strong> trânsito com o bypass<br />

da Ucrânia; tendo <strong>de</strong>stacado antes a importância <strong>de</strong> a UE receber gás através da<br />

Polónia, o que faria <strong>de</strong>sta «um importante laço no sistema europeu <strong>de</strong> segurança, <strong>de</strong><br />

equilíbrio, <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong>»; disse que «uma Ucrânia in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>mocrática e em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento é um elemento da nossa segurança nacional»; e interrogado sobre<br />

se se sentia «cercado» por haver ligações accionistas entre a russa Gazprom e a<br />

alemã Rhurgas, que recebe a maior parte do gás que transita pela Polónia,<br />

respon<strong>de</strong>u: «De forma nenhuma, se aumenta o fornecimento <strong>de</strong> gás do Leste ao<br />

Oci<strong>de</strong>nte, a nossa posição geográfica será fonte <strong>de</strong> força»;<br />

• em 3 <strong>de</strong> Novembro, o Vice Primeiro Ministro Polaco e Ministro da Economia,<br />

Steinhoff, afirmou que o governo estava disposto a abrir conversações com a<br />

Gazprom a propósito da construção <strong>de</strong> um gasoduto <strong>de</strong>stinado a fornecer gás<br />

siberiano à Europa Oci<strong>de</strong>ntal e que representa o bypass da Ucrânia.<br />

Vários factores terão contribuído para o aparente recuo polaco. O cumprimento do acordo<br />

<strong>de</strong> 1993 com a Gazprom – em 1995 assinou outro, para a compra <strong>de</strong> 250 mmmc até 2012,<br />

4 Varsóvia ainda argumentou que o novo gasoduto não <strong>de</strong>sviaria gás já transportado pela Ucrânia; <strong>de</strong> facto, não<br />

<strong>de</strong>svia, uma vez que o gás virá <strong>de</strong> Yamal; mas o <strong>de</strong>cisivo é que o gás <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> passar pela Ucrânia. A Rússia<br />

exporta 120 mmmc/a para a Europa pela Ucrânia, cerca <strong>de</strong> 90% do total; o bypass permitirá a redução <strong>de</strong>sta<br />

quantida<strong>de</strong> em 50 por cento.


Polónia Versus Rússia – do Báltico ao Mar Negro<br />

parte dos quais gratuitos como pagamento do trânsito – e as receitas a obter com o trânsito<br />

do gás natural po<strong>de</strong>rão ter sido argumentos necessários, mas insuficientes.<br />

Des<strong>de</strong> logo, havia a ameaça <strong>de</strong> bypass da própria Polónia. Igor Ivanov, Ministro dos<br />

Negócios Estrangeiros russo, foi claro quando esteve em Varsóvia, em 22-23 Novembro <strong>de</strong><br />

2000 – a primeira visita <strong>de</strong> um diplomata russo <strong>de</strong> topo em quatro anos – ao dizer que «a<br />

Polónia é um país soberano no qual não se po<strong>de</strong> construir ou instalar nada sem a sua<br />

autorização e com o qual gostaria <strong>de</strong> fazer negócio, mas se não quiser temos alternativas».<br />

A visita <strong>de</strong> Ivanov merece atenção especial, se tivermos em conta a <strong>de</strong>terioração das<br />

relações russo – polacas ocorrida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1999. Des<strong>de</strong> Março <strong>de</strong>sse ano– integração da<br />

Polónia na NATO – que a Rússia congelara os contactos diplomáticos <strong>de</strong> alto nível com<br />

Varsóvia.<br />

A situação piorou em 20 Janeiro <strong>de</strong> 2000, quando Varsóvia expulsou nove diplomatas<br />

russos acusados por espionagem, a que se seguiu a imediata (21JAN00) retaliação russa,<br />

com a expulsão <strong>de</strong> nove diplomatas polacos. Continuou a <strong>de</strong>teriorar-se em Fevereiro <strong>de</strong><br />

2000 com a criação do Forum Polaco-Ucraniano que, presidido por Henryk Wujec, da União<br />

para a Liberda<strong>de</strong> (UL) – partido que governou coligado com o Bloco Eleitoral Solidarieda<strong>de</strong><br />

(AWS) até JUN00, quando saiu do governo –, tem por objectivo «traduzir a parceria<br />

estratégica entre a Polónia e a Ucrânia em acções práticas».<br />

O mau “clima” prosseguiu em 17 Abril <strong>de</strong> 2000 com a divulgação, em conferência <strong>de</strong><br />

imprensa com a ministra da Justiça, Hanna Suchocka, da quantificação da repressão russa<br />

sobre a Polónia durante a II Guerra Mundial, que confirmou 566 mil vítimas. Por fim, em<br />

17JUN00, foi inaugurado um cemitério militar polaco em Kharkiv, na Ucrânia, por Buzek e<br />

Yuschenko, com 3800 oficiais e guardas-fronteiriços polacos assassinados pela NKVD em<br />

1940 e cinco mil ucranianos mortos nos anos em que a URSS foi dirigida por Estaline.<br />

Acresce que antes <strong>de</strong> Ivanov chegar a Varsóvia, o Gazeta Wyborcza revelou em 17<br />

Novembro a existência <strong>de</strong> um cabo que une a Rússia à Alemanha, via Bielorússia e Polónia,<br />

instalado ao longo do gasoduto que transporta o gás <strong>de</strong> Yamal para Berlim. A existência do<br />

cabo, com 24 fibras ópticas capazes <strong>de</strong> transmitir 38 milhões <strong>de</strong> chamadas telefónicas<br />

simultâneas, era ignorada no Ministério polaco das Comunicações. O jornal concluía que o<br />

governo <strong>de</strong> Varsóvia per<strong>de</strong> receitas do tráfego telefónico. A Polónia recebe 52 milhões <strong>de</strong><br />

zlotys (cerca <strong>de</strong> 2,5 MC) por ano <strong>de</strong> receitas <strong>de</strong> trânsito <strong>de</strong> telefonemas da Rússia para o<br />

Oci<strong>de</strong>nte.<br />

Sinal da <strong>de</strong>terminação russa em excluir a Ucrânia da sua rota energética – em alternativa ao<br />

controlo do trânsito pela Ucrânia –, Putin aludiu, na cimeira UE-Rússia, realizada em Paris a<br />

30 Outubro 2000 a um gasoduto Rússia-Alemanha via Finlândia. O ponto <strong>de</strong> partida seria a<br />

cida<strong>de</strong> russa <strong>de</strong> Vyborg.<br />

Em 24 Janeiro <strong>de</strong> 2001, durante uma visita do Primeiro Ministro finlandês a Moscovo, em<br />

que se encontrou com Putin e Kasyanov, este projecto foi consi<strong>de</strong>rado como <strong>de</strong> «priorida<strong>de</strong><br />

económica para a Finlândia e a Rússia». O consórcio North Transgas, formado pela<br />

finlan<strong>de</strong>sa Fortum (ex-Neste) e a Gazprom, propõe-se fornecer 30 mmmc/a, e admite<br />

cooperar com a alemã Rhurgas. O custo do gasoduto está estimado entre três mil milhões<br />

USD (cerca <strong>de</strong> 645 MC) e cinco mil milhões USD (cerca <strong>de</strong> mil MC). O abastecimento<br />

263


Informação Internacional<br />

começaria em 2008. Em 1998, o consórcio estudava as rotas Rússia-Finlândia-Suécia-<br />

Alemanha; Rússia-Finlândia-Báltico-Alemanha; e Rússia-Báltico-Alemanha. (nota: a<br />

hipótese da última rota parece ter sido eliminada).<br />

Putin parece estar a usar os bypass energéticos para subjugar os antagonistas: o bypass da<br />

Chechénia está feito e o dos Estados bálticos está em curso – durante a presidência <strong>de</strong><br />

Ieltsin foi reduzida a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> petróleo exportada por Ventspils (Letónia) e<br />

amadurecido o projecto da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pipelines do Báltico, para transportar petróleo <strong>de</strong><br />

Timan-Pechora e Priobskoye para o porto <strong>de</strong> Primorsk, cuja construção <strong>de</strong>veria ter<br />

começado no primeiro trimestre <strong>de</strong> 2000. Porém, durante a referida visita do primeiroministro<br />

finlandês, Paavo Lipponen, a Moscovo, a construção <strong>de</strong> um terminal <strong>de</strong> exportação<br />

petrolífera em Primorsk ainda era consi<strong>de</strong>rado «projecto prioritário» fino-russo. Em AGO00 a<br />

Comissão fe<strong>de</strong>ral russa da Energia encarregue das tarifas do transporte <strong>de</strong> petróleo <strong>de</strong>cidiu<br />

aumentá-las 25,25% a partir <strong>de</strong> 10AGO00, <strong>de</strong> 0,1646 USD/100 toneladas/km para 0,2060<br />

USD/100 toneladas/km, para financiar esta re<strong>de</strong> <strong>de</strong> pipelines.<br />

Mas, regressando à busca <strong>de</strong> possíveis explicações para o recuo polaco, o factor principal<br />

que o po<strong>de</strong> explicar é a <strong>de</strong>sproporção <strong>de</strong> forças. De um lado, Polónia e Ucrânia<br />

preocupadas com a sua in<strong>de</strong>pendência; do outro, UE e Rússia juntas pela energia. Para a<br />

UE se abastecer <strong>de</strong> energia na Rússia, é lógico que não hostilize esta mesma Rússia com a<br />

<strong>de</strong>fesa da Ucrânia, e por isso mesmo não alinhe com a Polónia na <strong>de</strong>fesa da Ucrânia e na<br />

sustentação dos seus interesses estratégicos.<br />

264<br />

A POLÓNIA ENTRE A ALEMANHA E A RÚSSIA<br />

O sentimento nacional polaco é forte, mas tem tido dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> sustentação por si só. A Polónia<br />

tem tido na vizinhança imediata – Alemanha e Rússia – a causa das principais preocupações. Da<br />

II Guerra Mundial resultaram laços preferenciais com ingleses e norte-americanos.<br />

Estas consi<strong>de</strong>rações percebem-se quando se sabe que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o terceiro quartel do século XVIII,<br />

a Polónia foi partilhada cinco vezes (1772, 1793, 1795, 1815 e 1939) e, durante dois períodos <strong>de</strong><br />

tempo (1795-1807 e 1815-1919), <strong>de</strong>sapareceu mesmo enquanto entida<strong>de</strong> política<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte (1) .<br />

Mais perto dos dias <strong>de</strong> hoje, <strong>de</strong>pois das invasões <strong>de</strong> 1939 – a alemã em 1 <strong>de</strong> Setembro; a<br />

soviética em 17 <strong>de</strong> Setembro –, que levaram à sua divisão pelos invasores em 28 <strong>de</strong> Setembro,<br />

suce<strong>de</strong>u a ocupação total pelos alemães em 1941, quando a Alemanha invadiu a União Soviética<br />

– o que motivou um tratado <strong>de</strong> paz polaco-soviético, em 30JUL41 – , e a <strong>de</strong>scoberta, feita pelos<br />

alemães em ABR43, do massacre <strong>de</strong> 15 mil oficiais polacos, aprisionados em 1939, pelos<br />

soviéticos na floresta <strong>de</strong> Katyn, perto <strong>de</strong> Smolensk.<br />

Para trás ficara um período <strong>de</strong> afirmação, que atingiu o apogeu do século XVI ao XVIII, quando a<br />

Polónia se estendia do Mar Báltico ao Negro e incorporava a actual Ucrânia. Des<strong>de</strong> então, a<br />

insegurança, a instabilida<strong>de</strong> e a precarieda<strong>de</strong> estão associadas à sua existência enquanto nação.<br />

Lembre-se que as fronteiras actuais da Polónia resultaram da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Estaline expressa<br />

durante as negociações entre os lí<strong>de</strong>res das potências vencedoras da II Guerra Mundial. A<br />

Conferência <strong>de</strong> Potsdam (JUL1945) fixou a fronteira oci<strong>de</strong>ntal na linha formada pelos rios O<strong>de</strong>r e<br />

Neisse, longa <strong>de</strong> 250 quilómetros, o que correspon<strong>de</strong>u a uma <strong>de</strong>slocação <strong>de</strong> 100 quilómetros da<br />

Polónia para Oci<strong>de</strong>nte, uma vez que per<strong>de</strong>u territórios para a URSS nos quais estavam, por<br />

exemplo, Wilno (Vilnius, a actual capital lituana) e Lwow, a actual ucraniana L'vov. Destas novas


Polónia Versus Rússia – do Báltico ao Mar Negro<br />

fronteiras, princípio admitido pela Conferência <strong>de</strong> Teerão (NOV-DEZ1943), resultou que 40% do<br />

território da Polónia actual era alemão antes <strong>de</strong> 1945, casos <strong>de</strong> Pomerânia, Silésia, sul da Prússia<br />

Oriental e este <strong>de</strong> Bran<strong>de</strong>nburgo, habitados por alemães há sete séculos.<br />

Apesar <strong>de</strong>sta, po<strong>de</strong>-se dizer, refundação territorial, a população da Polónia é homogénea. Dos<br />

seus 39 milhões, 98% são polacos e 90% católicos. A homogeneida<strong>de</strong> actual – em contraste com<br />

a diversida<strong>de</strong> anterior à II GM: 4,5 milhões <strong>de</strong> ucranianos, três milhões <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>us, um milhão <strong>de</strong><br />

bielorrusos, 800 mil alemães –, <strong>de</strong>ve-se ao assassínio da maioria dos ju<strong>de</strong>us durante a ocupação<br />

alemã durante a II GM, ao abandono <strong>de</strong> muitos alemães dos territórios no pós-guerra, quando<br />

territórios alemães foram incorporados na Polónia, e à incorporação na URSS dos territórios<br />

polacos on<strong>de</strong> viviam muitos bielorrussos e ucranianos. Durante a II Guerra Mundial foram mortos<br />

seis milhões <strong>de</strong> polacos e 2,5 milhões foram <strong>de</strong>portados para a Alemanha para trabalhos<br />

forçados.<br />

A questão das fronteiras sempre envenenou as relações germano-polacas. Só um quarto <strong>de</strong><br />

século <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Potsdam (1970) é que a Alemanha, <strong>de</strong>vido a Willy Brandt e à Ostpolitik,<br />

reconheceu as fronteiras oci<strong>de</strong>ntais polacas, primeiro através <strong>de</strong> um entendimento com a Rússia,<br />

formalizado <strong>de</strong>pois com Varsóvia, através dos tratados <strong>de</strong> Moscovo e Varsóvia, em Agosto e<br />

Dezembro, respectivamente. Só <strong>de</strong>pois do reconhecimento alemão é que o bloco oci<strong>de</strong>ntal fez o<br />

mesmo, na Conferência para a Segurança e Cooperação na Europa (1972); até então o<br />

reconhecimento era apenas do bloco socialista. A reunificação alemã (3OUT90) não questionou o<br />

adquirido; o parlamento da Alemanha reunificada ratificou o Tratado <strong>de</strong> Varsóvia em 14NOV90 e<br />

em JUN91 Alemanha e Polónia assinaram um tratado <strong>de</strong> boa vizinhança e cooperação.<br />

Este registo histórico não <strong>de</strong>ve ser ignorado quando a Polónia preten<strong>de</strong> entrar na União Europeia<br />

(UE), na qual a Alemanha tem um peso importante – quiçá <strong>de</strong>cisivo – e da qual a Alemanha é, em<br />

muito, sinónimo para a Polónia, ao ser o primeiro investidor, cliente e credor e único vizinho<br />

comunitário <strong>de</strong>sta.<br />

Mas também com a Rússia, as relações têm sido turbulentas. Como afirmou Kwasniewski em<br />

19JAN01, à DeutschlandRadio: «A história comum russo-polaca é, pelo menos, tão complicada<br />

quanto a germano-polaca». Aliás, a actual Polónia, cuja in<strong>de</strong>pendência estava na agenda do<br />

presi<strong>de</strong>nte americano Woodrow Wilson para o pós-I Guerra Mundial, só estabeleceu as suas<br />

fronteiras orientais em 18MAR21, pelo Tratado <strong>de</strong> Riga, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> combates contra as tropas<br />

soviéticas. Não admira, pois, que a Polónia tivesse sido dos primeiros Estados do bloco socialista<br />

a aproveitar a breve abertura que se seguiu à morte <strong>de</strong> Estaline (1953), que levou ao governo <strong>de</strong><br />

Gomulka (1956); outras expressões do seu pulsar levaram às greves operárias nos estaleiros do<br />

Báltico (1970), que <strong>de</strong>rrubaram Gomulka, às greves <strong>de</strong> 1976, ao Solidarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Walesa, em<br />

1980; a própria eleição do bispo <strong>de</strong> Cracóvia, car<strong>de</strong>al Karol Wojtyla, como papa João Paulo II, em<br />

OUT78, é sintomática do peso do catolicismo na Polónia, do peso <strong>de</strong>sta no mundo católico<br />

oci<strong>de</strong>ntal e da sua especificida<strong>de</strong> religiosa no bloco socialista.<br />

O golpe militar <strong>de</strong> 1981, <strong>de</strong>stinado a conter o Solidarieda<strong>de</strong> e protagonizado pelo general<br />

Jaruzelski – <strong>de</strong>portado em 1939, então com 16 anos, com o pai para a Sibéria –, foi visto como<br />

uma alternativa nacionalista a (mais) uma invasão russa. O resultado foi uma situação nim: nem<br />

comunistas, nem sindicalistas. A perestroika <strong>de</strong> Gorbachev, chegado ao po<strong>de</strong>r em 1985,<br />

<strong>de</strong>scongelou a situação e a Polónia realizou duas premières no bloco socialista: i) uma mesaredonda<br />

entre o po<strong>de</strong>r e a oposição (FEV-ABR89), que conduziu ao acordo <strong>de</strong> Belvedère, do qual<br />

resultaram ii) as primeiras eleições livres no bloco <strong>de</strong> Leste (4JUN89). A eleição do electricista,<br />

sindicalista, ex-dissi<strong>de</strong>nte e ex-prisioneiro político Lech Walesa como presi<strong>de</strong>nte da República em<br />

9DEZ90 foi o culminar da polonização e inversão do rumo da vida política no sentido da<br />

<strong>de</strong>mocracia oci<strong>de</strong>ntal, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> em 12SET89 ter sido formado o primeiro governo não-comunista<br />

em 40 anos, li<strong>de</strong>rado por Ta<strong>de</strong>usz Mazowiecki, um jornalista membro do Solidarieda<strong>de</strong>.<br />

A procura permanente <strong>de</strong> alicerces para uma in<strong>de</strong>pendência sustentada e segurança acrescida<br />

face a uma vizinhança com quem as relações têm sido difíceis levou a Polónia a orientar-se para<br />

a UE e a NATO. Assim, em Fevereiro <strong>de</strong> 1991, a Polónia, a então Checoslováquia – que veio a<br />

265


Informação Internacional<br />

dividir-se em República Checa e Eslováquia – e a Hungria criaram uma plataforma <strong>de</strong><br />

relacionamento (Grupo <strong>de</strong> Visegrado) para cooperarem entre si e se relacionarem com a UE. Em<br />

5ABR94 as autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Varsóvia apresentaram o pedido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são à UE. Dois anos mais<br />

tar<strong>de</strong>, em 22NOV96, a Polónia foi admitida na OCDE, <strong>de</strong>pois da República Checa (21DEZ95) e<br />

Hungria (7MAI96).<br />

A entrada na NATO foi a última manifestação, em data, da inserção da Polónia nas estruturas<br />

economico-politico-militares oci<strong>de</strong>ntais. A a<strong>de</strong>são à NATO, ao mesmo tempo que República<br />

Checa e Hungria, em 1999, por ocasião do 50.º aniversário do Tratado <strong>de</strong> Washington, seguiu-se<br />

à <strong>de</strong>cisão, tomada na cimeira da NATO, <strong>de</strong> Madrid (JUL97), <strong>de</strong> incorporar a Polónia no primeiro<br />

grupo da Europa <strong>de</strong> Leste a entrar na organização.<br />

(1) Em 1772 a Prússia, a Rússia e a Áustria apropriaram-se <strong>de</strong> territórios com uma extensão <strong>de</strong> 221 mil km2<br />

e 4,5 milhões <strong>de</strong> polacos, <strong>de</strong> um total <strong>de</strong> 733 mil km2 e 11,4 milhões, respectivamente.<br />

Em 1793 a Rússia e a Prússia anexaram mais 307 mil km2 com três milhões <strong>de</strong> habitantes. A Áustria,<br />

em guerra com a França, ficou <strong>de</strong> fora <strong>de</strong>sta anexação.<br />

Em 1795, no seguimento da resistência armada à anexação <strong>de</strong> 1793, a Rússia, a Prússia e a Áustria<br />

repartiram o resto. A Polónia <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> existir.<br />

Em 1807 Napoleão cria o Grão-Ducado <strong>de</strong> Varsóvia com os territórios retirados à Prússia, aumentado<br />

<strong>de</strong>pois com possessões austríacas.<br />

Em 1815 o Congresso <strong>de</strong> Viena torna a repartir a Polónia por Rússia, Prússia e Áustria. Pela segunda<br />

vez, a Polónia <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> existir.<br />

266<br />

REINO DA<br />

SUÉCIA<br />

REINO DA<br />

BOÉMIA<br />

Mapa 4<br />

A UNIÃO POLACO-LITUANO DO SÉC. XIV A XVI – DO MAR BÁLTICO AO MAR NEGRO<br />

Danubio<br />

MAR<br />

BÁLTICO<br />

Gdansk<br />

Warta<br />

Kaliningrado<br />

PRUSSIA<br />

REINO DA<br />

POLÓNIA<br />

REINO DA HUNGRIA<br />

Brest<br />

Fonte : George Duby. “Grand Atlas Historique”, Larousse 1999<br />

Dvina<br />

Minsk<br />

MOLDÁVIA<br />

Prout<br />

Dniepr<br />

GRÃ-DUCADO<br />

DA LITUÂNIA<br />

Kiev<br />

Dniestr<br />

MAR<br />

NEGRO<br />

UCRÂNIA<br />

Desna<br />

Dniepr<br />

Volga<br />

KHANAT DA<br />

CRIMEIA<br />

Oka<br />

Moscovo<br />

Donets<br />

O Reino da Polónia em 1370<br />

O Grã-Ducado da Lituânia (séc. XIV e XV)<br />

Expansão da Or<strong>de</strong>m Teutónica<br />

até à Batalha <strong>de</strong> Grunwald (1410)<br />

Territórios reconquistados<br />

à Or<strong>de</strong>m Teutónica<br />

Pela Lituânia (1410)<br />

Pela Polónia (1466)<br />

União polono-lituana (1466)<br />

Território polono-lituano (1466)<br />

Ducados vassalos da Mazovie<br />

ligados à coroa em 1526<br />

Vassalos da coroa<br />

União <strong>de</strong> Lublin (1569)<br />

Nova fronteira entre o reino<br />

e o Grã-Ducado unidos numa<br />

só república<br />

Outros Estados da casa<br />

dos Jagellons (séc. XV e XVI)<br />

Estado russo no início<br />

do século XVI


Polónia Versus Rússia – do Báltico ao Mar Negro<br />

O objectivo nacional da Polónia é a sua existência enquanto entida<strong>de</strong> política in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />

Na estratégia polaca, uma Ucrânia in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte é fundamental – serve <strong>de</strong> tampão à<br />

Rússia, abre uma via <strong>de</strong> comunicação com os aliados anti-russos situados no<br />

Cáucaso/Cáspio – integrantes do GUUAM, a aliança que junta Geórgia, Ucrânia,<br />

Uzbequistão, Azerbeijão e Moldávia – e, exactamente, permite o acesso à energia do<br />

Cáspio.<br />

Ora, parece que a Ucrânia, e por arrasto a Polónia, foi sacrificada a uma parceria<br />

estratégica euro-russa na energia, o que permite especular que a UE pressionou a Polónia<br />

para reduzir a sua oposição ao bypass da Ucrânia.<br />

Para a Polónia, mas também para outros Estados da Europa Central e Oriental até há pouco<br />

membros do Pacto <strong>de</strong> Varsóvia e que se reorientam para Oci<strong>de</strong>nte, uma Ucrânia<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte é importante: pelas razões já aduzidas – manter os russos a mil quilómetros<br />

da Europa Central e limitar a Marinha <strong>de</strong> Moscovo às piores costas do Mar Negro. Brzezinsk<br />

ex-responsável pelo Conselho Nacional <strong>de</strong> Segurança dos EUA durante a presidência<br />

Carter afirmava mesmo que: «It cannot be stressed strongly enough that without Ukraine,<br />

Rússia ceases to be an empire but with Ukraine (...), Rússia automatically becomes an<br />

empire».<br />

Na área energética a Polónia tem vindo a tomar iniciativas para obter uma maior autonomia<br />

face aos fornecimentos da Rússia. Assim em Julho <strong>de</strong> 2000 os Primeiros Ministros<br />

norueguês, Jens Stoltenberg, e polaco acordaram no aumento das compras polacas <strong>de</strong> gás<br />

natural à Noruega 5 e na instalação <strong>de</strong> um gasoduto entre os dois países, capaz <strong>de</strong><br />

transportar 5 mmmc/a, tendo proposto que chegasse à Lituânia e Ucrânia se estas<br />

quisessem.<br />

A Polónia procura assim apoios no mundo marítimo, por contraposição a um mundo<br />

continental (Alemanha; Rússia), fonte tradicional <strong>de</strong> preocupações e ameaças. É por isso<br />

que se enten<strong>de</strong> com a Noruega no gás natural; que vê o Reino Unido <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a sua<br />

entrada na UE em 2004; que <strong>de</strong>posita mais esperanças na OTAN – leia-se: EUA –, do que<br />

na UE.<br />

Ignora-se se este apoio – interessado – do mundo marítimo e a função – casual – <strong>de</strong> trânsito<br />

chegarão para contrariar as consequências <strong>de</strong> a Polónia estar entre um gran<strong>de</strong> produtor <strong>de</strong><br />

energia (Rússia) e um gran<strong>de</strong> consumidor <strong>de</strong> energia (UE).<br />

5<br />

A Polónia compra actualmente dois terços dos 11 mmmc/a <strong>de</strong> gás que consome à Rússia. Da Noruega po<strong>de</strong>m<br />

vir quatro a cinco mmmc a partir <strong>de</strong> 2004 ou 2005 e o dobro até 2020.<br />

267


Informação Internacional<br />

268<br />

A POLÓNIA NA OTAN<br />

Da integração da Polónia na OTAN <strong>de</strong>corre a mo<strong>de</strong>rnização das Forças Armadas, para o que a<br />

aliança atlântica contribui com 500 milhões <strong>de</strong> euros (100 MC) até 2009. Assim:<br />

• em Março <strong>de</strong> 2000 recebeu dos EUA – cujos interesses representa no Iraque <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

guerra do Golfo –, em Norfolk, uma fragata, e está prevista a oferta <strong>de</strong> uma segunda<br />

fragata;<br />

• prepara-se para renovar a esquadrilha <strong>de</strong> aviões <strong>de</strong> combate, composta por velhos MIG-21<br />

soviéticos, à excepção <strong>de</strong> alguns MIG-29 harmonizados pelas normas da NATO. Depois <strong>de</strong><br />

entrar na NATO, em MAR99, a Polónia fez em MAI99 um pedido informal para a<br />

apresentação <strong>de</strong> propostas. Apareceram cinco: Lockheed fornece 16 aviões F-16 a título<br />

<strong>de</strong> empréstimo gratuito, a Polónia apenas pagaria a formação dos pilotos e a mo<strong>de</strong>rnização<br />

dos aparelhos; Dassault (Mirage 2000-5) – que propõe a produção dos Mirage na Polónia,<br />

com a transferência da tecnologia necessária por parte da Dassault, Snecma (motores),<br />

Tales (radares) e Matra BAE Dynamics (mísseis MICA) –; Boeing (F-18); Rússia (MIG-29) –<br />

em 11JAN01, a Rússia e a Alemanha assinaram em Moscovo um acordo para a<br />

mo<strong>de</strong>rnização dos 123 caças MIG-29 possuídos pelos países do ex-Pacto <strong>de</strong> Varsóvia,<br />

mercado estimado em 400 milhões USD –; e um consórcio sueco-britânico, Saab-BAE, que<br />

empresta 16 caças Gripen, que equipa as forças aéreas <strong>de</strong> Suécia e África do Sul, por<br />

cinco anos sem obrigação <strong>de</strong> compra, e oferece a formação dos pilotos;<br />

• anunciou em 19 Janeiro 2001 a intenção <strong>de</strong> se dotar até 2006 <strong>de</strong> seis radares <strong>de</strong> longa<br />

distância para integrar o sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa aérea da NATO. Estes radares custarão 32 MC,<br />

dos quais a NATO suporta 25 MC e a Polónia os restantes sete. Três serão equipados com<br />

radares polacos Nur-12 M e os outros serão adquiridos ao exterior. Em Novembro a<br />

Polónia tinha comprado aos EUA nove radares móveis <strong>de</strong> curta distância por 0,96 MC e<br />

preten<strong>de</strong> adquirir mais 300.<br />

Mas estes apoios não são sem contrapartida. A Polónia também tem a sua parte. Durante a<br />

discussão do orçamento <strong>de</strong> Estado para 2001, o comandante supremo da NATO na Europa,<br />

Joseph W. Ralston, <strong>de</strong>slocou-se a Varsóvia para pressionar o aumento da <strong>de</strong>spesa militar polaca.<br />

O governo tinha proposto uma subida absoluta <strong>de</strong> 3,3 mil milhões USD para 3,6 mil milhões USD,<br />

mas que representava uma queda em termos <strong>de</strong> peso no orçamento, <strong>de</strong> 9,5% para 8,2%. Mesmo<br />

assim o parlamento mostrava-se inclinado para um aumento nominal <strong>de</strong> zero da <strong>de</strong>spesa militar.<br />

Para obter dinheiro, o Ministério da Defesa planeia uma redução <strong>de</strong> efectivos <strong>de</strong> 190 mil para 150<br />

mil até 2006. Desta forma, preten<strong>de</strong> financiar treinos mais complexos e adquirir armas mo<strong>de</strong>rnas.<br />

5. A RÚSSIA ORGANIZA UM SEGUNDO BYPASS DA UCRÂNIA – AGORA PARA A<br />

TURQUIA<br />

A Turquia é o mais importante mercado energético do Mar Negro e com potencial <strong>de</strong><br />

crescimento. Segundo a AIE, e só no que respeita ao gás natural, a Turquia importou 9,89<br />

mmmc em 1998, dos quais 6,55 mmmc da Rússia, 2,84 mmmc da Argélia e 0,5 mmmc dos<br />

Emiratos Árabes Unidos (EAU). A companhia estatal Botas espera que o consumo suba<br />

para 55 mmmc em 2010 e passe os 80 mmmc em 2020; estimativas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, mais<br />

conservadoras, apontam para 40 a 55 mmmc entre 2010-2020 (relembre-se que a Rússia<br />

exporta cerca <strong>de</strong> 100 mmmc para a UE).


Polónia Versus Rússia – do Báltico ao Mar Negro<br />

Ao longo da sua recente história como importador <strong>de</strong> gás natural, a Turquia estabeleceu<br />

diversos contratos:<br />

• com a ex-URSS (Soyuzgazexport), a companhia estatal Botas assinou em 1986 um<br />

contrato para a compra <strong>de</strong> gás natural durante 25 anos, a começar em 1987, a ser<br />

transportado através da Ucrânia, Roménia e Bulgária (ace<strong>de</strong>ndo à Turquia pela sua<br />

parte europeia). O volume máximo fornecido foi <strong>de</strong> 5-6 mmmc/a atingido Em 1993, o<br />

acordo previa que 70% do montante pago fosse aplicado na compra <strong>de</strong> bens turcos;<br />

• com a Argélia (Sonatrach) foi assinado, em 1988, um contrato <strong>de</strong> fornecimento por 20<br />

anos <strong>de</strong> dois mmmc/a <strong>de</strong> GNL; outro em OUT95 <strong>de</strong> 1 mmmc/a <strong>de</strong> GNL a começar em<br />

1997 e um terceiro para mais 1 mmmc/a a começar em 1999; o primeiro terminal <strong>de</strong><br />

GNL ficou localizado em Ereglisi, no Mar <strong>de</strong> Marmara, perto <strong>de</strong> Istambul, dispondo <strong>de</strong><br />

uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 3,5 mmmc/a, expansível até 6 mmmc/a e po<strong>de</strong> ainda armazenar<br />

0,26 mmmc/a <strong>de</strong> gás regaseificado; está operacional <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1994;<br />

• com a Nigéria existe um contrato assinado em 1995 para o fornecimento <strong>de</strong> 1,2<br />

mmmc/a <strong>de</strong> gás natural liquefeito (GNL), a começar em 1999;<br />

• com o Qatar foi assinado em 1995 um memorando para o fornecimento <strong>de</strong> 1 mmmc/a<br />

<strong>de</strong> GNL a partir <strong>de</strong> 2000;<br />

• com a Rússia (Gazprom) em 1996, <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>pois do primeiro contrato celebrado<br />

com a ex-URSS, foram acordadas entregas adicionais por mais 25 anos, apontando<br />

para os oito mmmc/a <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 2002, e através da mesma rota; mas na ocasião<br />

começou já a ser encarada uma outra rota, realizando o bypass da Ucrânia e<br />

ace<strong>de</strong>ndo à Turquia através do Cáucaso (Geórgia), e não dos Balcãs para entregar<br />

16 mmmc/a após 2010;<br />

• com o Irão (NIGC) assinou em AGO96 um contrato, por 23 anos, para o fornecimento<br />

<strong>de</strong> três mmmc/a, que po<strong>de</strong>m chegar a 10 mmmc/a em 2005; os fornecimentos serão<br />

feitos através <strong>de</strong> um gasoduto <strong>de</strong> Tabriz a Erzurum, que <strong>de</strong>verá continuar até Ancara<br />

(1174 km). A secção iraniana do gasoduto está pronta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong> 2000, mas a<br />

turca está atrasada. A Botas admite que os fornecimentos comecem em SET01;<br />

• com o Iémen foi também assinado um memorando, em finais <strong>de</strong> 1996, para a entrega<br />

<strong>de</strong> 3,7 mmmc/a <strong>de</strong> GNL a começar em 2000-2001.<br />

269


Informação Internacional<br />

270<br />

Mapa 5<br />

AS INFRA-ESTRUTURAS DE TRANSPORTE DE GÁS NATURAL NO MAR NEGRO<br />

Fonte: ”Black Sea Energy Survey”, InternationalEnergy Agency (IEA) em colaboração com The<br />

Energy Charter Secretariat, OECD/IEA, 2000<br />

De 1997 em diante surgem duas propostas distintas para um abastecimento da Turquia no<br />

longo prazo 6 :<br />

• uma, conhecida como projecto Blue Stream, parte da iniciativa da Gazprom, com a<br />

sua maior aliada europeia, a italiana ENI; anunciado em 1997, correspon<strong>de</strong> ao bypass<br />

da Ucrânia no transporte <strong>de</strong> gás natural da Rússia para a Turquia; este projecto <strong>de</strong><br />

gasoduto preten<strong>de</strong> ligar Dzhubga a Samsun, no norte da Turquia, através do Mar<br />

Negro, com troços do percurso <strong>de</strong> 1170 km a 2100 metros abaixo do nível do mar; o<br />

seu custo orça em 2,5 mil milhões USD (500 MC); teve o início <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> previsto<br />

para o fim <strong>de</strong> 1999; mas em Janeiro <strong>de</strong> 2000 o ministro turco da Energia, anunciou<br />

que começaria a funcionar só <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sete meses; em Fevereiro <strong>de</strong> 2000 o<br />

presi<strong>de</strong>nte da Gazprom admitiu uma entrada em funcionamento <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um ano; e<br />

em 23 Outubro <strong>de</strong> 2000 foi a vez do Primeiro Ministro russo, em viagem a Ankara,<br />

prever um ano <strong>de</strong> espera até ao início das operações; certo é o objectivo <strong>de</strong> o Blue<br />

Stream fornecer 16 mmmc/a <strong>de</strong> gás natural em 2007;<br />

• outra, favorecida até agora pelos EUA, forneceria a Turquia a partir do<br />

Turquemenistão, e através <strong>de</strong> um gasoduto trans-cáspio; <strong>de</strong>stina-se a fornecer<br />

6<br />

Refira-se que estão ainda em curso negociações com o Egipto para o fornecimento <strong>de</strong> quatro mmmc/a <strong>de</strong> GNL;<br />

o mesmo ocorrendo com o Abu Dhabi e o Omão.


Polónia Versus Rússia – do Báltico ao Mar Negro<br />

igualmente 16 mmmc/a, que po<strong>de</strong>riam subir para 30 mmmc/a; custaria entre 2,5 e três<br />

mil milhões USD (600 MC);<br />

• este último projecto foi posteriormente perturbado pelas <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> gás natural<br />

no offshore do Azerbeijão, realizadas em 1999; e que apontam para reservas da<br />

or<strong>de</strong>m dos 700 mmmc/a, que seriam suficientes para sustentar as exportações azeris<br />

<strong>de</strong> 15-20 mmmc/a, que po<strong>de</strong>riam começar a partir <strong>de</strong> 2004-2005, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o<br />

gasoduto já existente Baku-Batumi (Geórgia) fosse melhorado, o que custaria 230<br />

milhões USD (50 MC); e fosse construída uma extensão para a Turquia cujo custo<br />

seria <strong>de</strong> 650 milhões <strong>de</strong> USD; a concorrência entre o Azerbeijão e o Turquemenistão<br />

ocorrida <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>stas <strong>de</strong>scobertas facilitou o regresso em força da Rússia como<br />

compradora do gás turquemeno, como já se referiu anteriormente.<br />

A Turquia po<strong>de</strong> ainda servir <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong> "consolação" para os produtores cáspios, <strong>de</strong><br />

acordo com a AIE (2000a). Segundo esta organização, o preço é crucial na <strong>de</strong>finição dos<br />

projectos <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> gás. Muitos projectos transcontinentais, como Turquemenistão-<br />

China, Turquemenistão-Europa ou Irão-Europa, são inviáveis nas actuais condições<br />

económicas e técnicas. Isto porque, ao contrário do petróleo, o gás natural é comercializado<br />

sob contratos <strong>de</strong> longa duração (20 anos ou mais), através <strong>de</strong> uma infra-estrutura feita <strong>de</strong><br />

propósito – gasodutos, terminais <strong>de</strong> export/import <strong>de</strong> gás natural liquefeito (GNL) e unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> regasificação. As configurações comerciais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m das infra-estruturas, que só<br />

existirão se se justificarem em termos comerciais.<br />

A AIE calcula que o preço <strong>de</strong> entrega do gás da Ásia Central ou do Irão à Europa seja 1,5<br />

vezes superior ao gás do Mar do Norte, Rússia ou Argélia. Para mais, admite-se que o<br />

preço do gás caia durante esta década na UE <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>sregulação do sector. Esta baixa<br />

<strong>de</strong> preço hipotecaria ainda mais a hipótese <strong>de</strong> colocar o gás da Ásia Central na Europa,<br />

através da Turquia. Acresce que o avanço da tecnologia GNL permite que o transporte<br />

marítimo do GNL ganhe atracção face ao transporte via gasoduto para distâncias superiores<br />

a 4000 km <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> alguns anos, o que melhora as hipóteses <strong>de</strong> Qatar, Omão, Irão ou<br />

Iemen ven<strong>de</strong>rem GNL à UE.<br />

Porém, este raciocínio da AIE parece ser questionado pela notícia recente (19JAN01),<br />

segundo a qual a Grécia e a Turquia assinaram um acordo, no quadro do INOGATE, para<br />

criar um gasoduto que ligaria o Mar Cáspio ao Médio Oriente com passagem pela Grécia e<br />

Turquia e, assim, acesso aos mercados europeus. O acordo foi assinado pelo sub-secretário<br />

<strong>de</strong> Estado turco da Energia e Recursos Naturais, Yurdakul Yigitgu<strong>de</strong>n, e o secretário-geral<br />

do Ministério grego da Energia, Dimitris Kaloudiotis, além <strong>de</strong> Gokham Yardim e Christos<br />

Voudouris, presi<strong>de</strong>ntes das empresas estatais <strong>de</strong> energia, respectivamente, da Botas turca<br />

e da Depa grega.<br />

271


Informação Internacional<br />

FONTES<br />

Agência Internacional <strong>de</strong> Energia (2000a), Black Sea Energy Survey, Paris.<br />

Agência Internacional <strong>de</strong> Energia (2000b), World Energy Outlook 2000 – Highlights, Paris.<br />

Fundo Monetário Internacional.<br />

Imprensa internacional (Alexan<strong>de</strong>r's Gas and Oil, Financial Times, International Herald<br />

Tribune, Jane's Foreign Report, Le Mon<strong>de</strong>, Le Mon<strong>de</strong> Diplomatique, Radio Liberty, Stratfor,<br />

The Economist)<br />

272


VII<br />

EM FOCO<br />

ACONTECIMENTOS ECONOMICOS<br />

√ Irlanda − Crescimento Económico e Factores <strong>de</strong> Sucesso<br />

√ 2000 − A Comissão Europeia avalia os Candidatos ao<br />

Alargamento<br />

√ A Estratégia <strong>de</strong> Desenvolvimento Industrial na Dinamarca<br />

√ A Índia e os Serviços no "Ciberespaço"<br />

ACONTECIMENTOS POLÍTICOS<br />

√ A OTAN e a Defesa Anti-mísseis da Europa<br />

√ Chipre, a Turquia e o Alargamento da União Europeia<br />

COMENTÁRIO<br />

√ França e Alemanha − Tensões a Propósito <strong>de</strong> uma Ambição<br />

Comum − a "Europa Potência"


IRLANDA − CRESCIMENTO ECONÓMICO E FACTORES DE SUCESSO<br />

Maria Filomena Carvalho<br />

INTRODUÇÃO<br />

Em Foco<br />

A Irlanda tem vindo a apresentar um <strong>de</strong>sempenho económico excepcional. Nos últimos 5<br />

anos o crescimento médio anual do PNB foi da or<strong>de</strong>m dos 8%, cerca <strong>de</strong> três vezes superior<br />

ao registado na média da UE no mesmo período (Gráfico 1). O contributo directo do sector<br />

industrial para o PNB passou <strong>de</strong> 36%, em 1993, para um valor superior a 40%, em 1998.<br />

O sector empresarial 1 e particularmente o sector transaccionável foram o motor do<br />

crescimento da economia irlan<strong>de</strong>sa na última década, fornecendo os recursos necessários à<br />

prossecução dos objectivos sociais e económicos nacionais.<br />

Um ambiente macroeconómico estável, um sistema <strong>de</strong> parceria social na <strong>de</strong>finição das<br />

políticas, um ambiente fiscal a<strong>de</strong>quado e uma boa formação e qualificação da mão-<strong>de</strong>-obra,<br />

constituem os factores chave internos <strong>de</strong> suporte do recente crescimento da Irlanda.<br />

O crescimento económico foi altamente intensivo em emprego, conduzindo virtualmente ao<br />

pleno emprego. A taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego na Irlanda é agora meta<strong>de</strong> da registada na média da<br />

UE.<br />

A economia irlan<strong>de</strong>sa beneficiou gran<strong>de</strong>mente da a<strong>de</strong>são à UE, do forte crescimento<br />

internacional verificado no sector da tecnologia <strong>de</strong> informação e da globalização <strong>de</strong> fluxos <strong>de</strong><br />

comércio, investimento e tecnologia. A Irlanda é uma das economias do mundo mais<br />

abertas ao comércio, com um grau <strong>de</strong> abertura ao exterior próximo <strong>de</strong> duas vezes o valor do<br />

PNB.<br />

A Irlanda beneficiou ainda do aumento dos fluxos <strong>de</strong> investimento directo estrangeiro (IDE)<br />

proveniente, particularmente, dos EUA. Captou mais <strong>de</strong> 10% do investimento anual dos<br />

EUA na UE, em IDE, na década <strong>de</strong> 90 (valor que compara com somente 2,5% na década <strong>de</strong><br />

80) e absorve, actualmente, mais <strong>de</strong> 20% dos projectos dos EUA em IDE, na indústria,<br />

software e serviços internacionais.<br />

Por outro lado, as elevadas taxas <strong>de</strong> crescimento da população e do emprego, e da própria<br />

economia nos anos recentes − muitas <strong>de</strong>las não antecipadas − causaram sérios<br />

constrangimentos ao nível das infra-estruturas, assim como <strong>de</strong>sequilíbrios no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da regiões.<br />

1<br />

Sector empresarial, <strong>de</strong>finido como o conjunto <strong>de</strong> empresas nacionais irlan<strong>de</strong>sas e estrangeiras estabelecidas<br />

na Irlanda, ocupadas com a produção industrial <strong>de</strong> bens ou <strong>de</strong> serviços comercializáveis.


Informação Internacional<br />

276<br />

Taxa <strong>de</strong> crescimento médio (%)<br />

18<br />

16<br />

14<br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

Gráfico 1<br />

CRESCIMENTO ECONÓMICO NA UNIÃO EUROPEIA<br />

E NA IRLANDA (1994-98)<br />

8,8<br />

7,7<br />

2,5 2,5<br />

Fonte: CSO, 1999 e Eurostat, 1999<br />

1. ENQUADRAMENTO ECONÓMICO E FACTORES SUBJACENTES AO CRESCIMENTO<br />

A economia irlan<strong>de</strong>sa registou importantes transformações nos anos recentes, conseguindo<br />

um crescimento sustentado e significativo do produto, das exportações e do emprego, com<br />

taxas bem acima das registadas em algumas das economias mais <strong>de</strong>senvolvidas do mundo.<br />

No que se refere aos padrões <strong>de</strong> vida da população, a Irlanda convergiu rapidamente para a<br />

média da UE. Em 1994, o PNB per capita da Irlanda era <strong>de</strong> aproximadamente 79% da<br />

média do UE e, em 1999, esta relação superava os 90%.<br />

Um dos aspectos mais notáveis <strong>de</strong>ste crescimento foi sua intensida<strong>de</strong> em mão-<strong>de</strong>-obra. O<br />

<strong>de</strong>semprego – por muito tempo endémico na Irlanda – começou a reduziu-se <strong>de</strong> forma<br />

importante <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1994. Isto foi conseguido num contexto <strong>de</strong> crescimento da população<br />

activa <strong>de</strong> aproximadamente 3% ao ano, nos anos 90, explicado pelo forte aumento natural<br />

na população com ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar, pelo aumento da participação da mão-<strong>de</strong>-obra<br />

feminina no mercado <strong>de</strong> trabalho e pelo aumento da imigração.<br />

O <strong>de</strong>semprego regrediu rapidamente nos últimos anos, caindo <strong>de</strong> quase 15% em 1994 para<br />

5,5% em 1999. Em termos globais existem fortes evidências para uma manutenção da<br />

tendência <strong>de</strong> diminuição do <strong>de</strong>semprego. Por outro lado, o crescimento do emprego (e a<br />

redução do <strong>de</strong>semprego) <strong>de</strong>u origem a uma escassez <strong>de</strong> trabalhadores em muitos sectores<br />

da economia.<br />

Outro aspecto positivo do crescimento económico <strong>de</strong>ve-se ao facto <strong>de</strong> o mesmo ter tido um<br />

impacto positivo significativo nas finanças públicas. Em 1994, a dívida pública correspondia<br />

a 86% do PIB e <strong>de</strong>sceu para 47% em 1999. O défice do sector público representava 2,5%<br />

do PIB, em 1998, tendo sido realizados novos progressos nesta área, em 1999 (Gráfico 2).<br />

16,7<br />

PIB PNB Exportações B&S Emprego<br />

Irlanda EUR15<br />

7,5<br />

4,3<br />

0,5


%<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

-0,5<br />

-1,0<br />

-1,5<br />

-2,0<br />

-2,5<br />

-3,0<br />

Gráfico 2<br />

DÉFICE ORÇAMENTAL, EM % DO PIB (1994-98)<br />

-1,7<br />

-2,1<br />

Fonte: Department of Finance, Economic Review and Outlook, 1999<br />

Irlanda − Crescimento Económico e Factores <strong>de</strong> Sucesso<br />

As tendências migratórias inverteram-se nos anos recentes. Anteriormente verificava-se, na<br />

Irlanda, uma situação <strong>de</strong> emigração líquida quando, actualmente, a imigração líquida <strong>de</strong>tém<br />

uma importância significativa (Gráfico 3). Como consequência, a população tem vindo a<br />

crescer quase 1% por ano. Uma vez que o crescimento se efectuou, fundamentalmente, nos<br />

centros urbanos, veio a exercer uma pressão significativa no parque habitacional, assim<br />

como noutras infra-estruturas <strong>de</strong>sses centros.<br />

50000<br />

40000<br />

30000<br />

20000<br />

10000<br />

0<br />

-10000<br />

Gráfico 3<br />

EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO NA IRLANDA (1993-1998)<br />

Fonte: Medium Term Review 1999- 2005, ESRI, 1999<br />

No começo do novo século, a Irlanda enfrenta um novo conjunto <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios que incluem:<br />

uma mudança tecnológica rápida e profunda (particularmente em áreas e-business); o novo<br />

-0,2<br />

1994 1995 1996 1997 1998<br />

1993 1994 1995 1996 1997 1998<br />

1,0<br />

Crescimento natural Imigração<br />

2,5<br />

277


Informação Internacional<br />

ambiente económico representado pela UEM; a liberalização global do mercado; e o <strong>de</strong>clínio<br />

dos apoios financeiras externos ao investimento produtivo, nomeadamente, o <strong>de</strong>clínio do<br />

montante <strong>de</strong> fundos estruturais provenientes da UE como reflexo do progresso económico<br />

conseguido pela Irlanda. O regime <strong>de</strong> ajudas <strong>de</strong> estado da UE, que apoia as empresas na<br />

Irlanda e outros países, está também a mudar radicalmente o que terá implicações<br />

significativas no <strong>de</strong>senvolvimento regional na Irlanda.<br />

1.1. Factores subjacentes ao recente sucesso da Irlanda<br />

Os níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento económico e social sem prece<strong>de</strong>ntes conseguidos pela<br />

Irlanda assentaram não só em factores <strong>de</strong> carácter interno, mas também em factores<br />

externos que é importante ter em consi<strong>de</strong>ração. De referir que <strong>de</strong>terminadas <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong><br />

política económica tomadas nos anos 60, em áreas tais como a educação e a política<br />

industrial, contribuíram para o sucesso verificado.<br />

1.1.1. Factores internos<br />

Nos anos 80 foram dados passos no sentido <strong>de</strong> corrigir rapidamente a <strong>de</strong>terioração da<br />

situação das finanças públicas e inverter o <strong>de</strong>clínio da competitivida<strong>de</strong>, num contexto <strong>de</strong><br />

concertação social na negociação e formulação das política salariais. Isto teve como efeito<br />

um aumento progressivo da competitivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma consistente, que resultou em elevados<br />

aumentos dos níveis <strong>de</strong> confiança no meio empresarial.<br />

Os acordos <strong>de</strong> concertação social ajudaram a reduzir a inflação e o crescimento dos<br />

salários e a disciplinar e controlar as finanças públicas, criando um clima <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> no<br />

âmbito das relações industriais. Ajudaram também a reunir as condições que permitiram a<br />

participação da Irlanda na UEM.<br />

A a<strong>de</strong>são a uma política <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> da taxa <strong>de</strong> câmbio <strong>de</strong>ntro do Sistema Monetário nos<br />

finais dos apoios 80, agora institucionalizada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> UEM, ajudou a reduzir as taxas <strong>de</strong><br />

juro, criou um clima económico estável para o comércio e impulsionou o clima <strong>de</strong> confiança<br />

no meio empresarial.<br />

Os avanços feitos no sentido <strong>de</strong> promover a competitivida<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>sregulamentação nos<br />

diferentes sectores da economia 2 , ajudaram a criar as condições <strong>de</strong> base necessárias para<br />

o forte crescimento actual. No entanto, muito caminho há ainda a percorrer, particularmente,<br />

nas áreas <strong>de</strong> energia e transportes.<br />

O investimento em capital humano efectuado nas últimas décadas começou a surtir<br />

efeitos e o nível médio <strong>de</strong> instrução dos que entram na vida activa aumentou rapidamente.<br />

Isto permitiu à Irlanda atrair um nível substancial <strong>de</strong> IDE com incorporação <strong>de</strong> trabalho<br />

altamente qualificado e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver sectores nacionais intensivos em conhecimento,<br />

particularmente na área da tecnologia <strong>de</strong> informação.<br />

2 Como foi fortemente advogado no estudo sobre política da empresa do Relatório Culliton (1992) – "A Time for<br />

Change: Industrial Policy for the 1990’s", Report of the Industrial Policy Review Group, 1992.<br />

278


Irlanda − Crescimento Económico e Factores <strong>de</strong> Sucesso<br />

A elevada taxa <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> na Irlanda até ao inicio dos anos 80 criou uma estrutura<br />

<strong>de</strong>mográfica com um elevado rácio <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência 3 que atingiu aproximadamente 2,3<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes por trabalhador na segunda meta<strong>de</strong> dos anos 80. Posteriormente, <strong>de</strong>vido a<br />

uma baixa taxa <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> e a um aumento do emprego, aquele rácio caiu para<br />

aproximadamente 1,5 em 1998 e é estimado situar-se entre 1,4 e 1,5 em 1999. O significado<br />

<strong>de</strong>ste <strong>de</strong>senvolvimento resi<strong>de</strong> no seu efeito positivo no padrão médio <strong>de</strong> vida da população<br />

e no dinamismo do consumo privado.<br />

1.1.2. Factores externos<br />

Entre os factores externos que tiveram efeitos positivos na economia irlan<strong>de</strong>sa incluem-se o<br />

impacto da construção do Mercado Único Europeu no investimento e o forte crescimento<br />

do sector da tecnologia <strong>de</strong> informação, além <strong>de</strong> um enquadramento externo favorável no<br />

período, apesar da crise asiática.<br />

A participação da Irlanda na UE trouxe benefícios significativos. Cumpridas as condições<br />

requeridas no Pacto <strong>de</strong> Estabilida<strong>de</strong> e Crescimento, a UEM e o mercado único europeu<br />

forneceram um ímpeto à disciplina orçamental, à boa gestão económica e à liberalização<br />

do mercado, o que foi altamente benéfico. Os fundos estruturais e o Fundo <strong>de</strong> Coesão<br />

ajudaram a fortalecer as infra-estruturas <strong>de</strong> base e as potencialida<strong>de</strong> competitivas do país.<br />

Como economia excepcionalmente aberta ao exterior, a Irlanda beneficiou também da<br />

globalização do comércio. Um parte consi<strong>de</strong>rável do crescimento económico do país foi<br />

impulsionado pelas exportações. Em 1999, as exportações <strong>de</strong> bens e serviços da Irlanda<br />

aproximaram-se <strong>de</strong> 50% da procura final, com o comércio total a ascen<strong>de</strong>r quase 200% do<br />

PNB. A quota <strong>de</strong> mercado das exportações da Irlanda no comércio da UE aumentou 50%,<br />

entre 1987 e 1997 (250% se consi<strong>de</strong>rarmos 1980 como ano <strong>de</strong> referência). Em termos<br />

comparativos, po<strong>de</strong> referir-se que, no mesmo período, a quota <strong>de</strong> mercado do Reino Unido,<br />

na UE, registou um crescimento <strong>de</strong> apenas 12%, tendo as quotas <strong>de</strong> mercado da<br />

Bélgica/Luxemburgo, Áustria e Dinamarca aumentado menos <strong>de</strong> 10%.<br />

De forma idêntica, a economia beneficiou da globalização do investimento, com entradas<br />

<strong>de</strong> IDE contabilizadas em 20% da FBCF, em 1996, injecção <strong>de</strong> capital que teve um impacto<br />

dinâmico no sector industrial, impulsionando também o sector dos serviços. Em particular, o<br />

IDE proveniente dos EUA evi<strong>de</strong>nciou uma forte preferência pelo mercado da Irlanda. Este<br />

país captou cerca <strong>de</strong> 10% do total <strong>de</strong> IDE proveniente dos EUA, para a UE, na segunda<br />

meta<strong>de</strong> dos anos 90, face a somente 2,5% nos anos 80. Em 1998, a Irlanda <strong>de</strong>tinha quase<br />

3,7% por cento do stock <strong>de</strong> investimento dos EUA, na UE.<br />

De referir que aproximadamente 6,4% do stock <strong>de</strong> investimento dos EUA, na UE, em<br />

produtos químicos, estão actualmente na Irlanda, assim como 14% do investimento em<br />

equipamento eléctrico e electrónico e 10% <strong>de</strong> outro tipo investimento na indústria. De entre<br />

os Estados <strong>de</strong> Membro da UE, a Irlanda <strong>de</strong>tém a maior fatia <strong>de</strong> mercado, relativo a IDE, em<br />

3 Definido como a relação entre o total da população <strong>de</strong>sempregada e o total da população empregada.<br />

279


Informação Internacional<br />

alguns sectores. Em 1997, a parte <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong>tida pela Irlanda em projectos <strong>de</strong> IDE na<br />

Europa, cobrindo a indústria, software, shared-services e tele-serviços, ascendia a 23% do<br />

total. No que se refere especificamente a projectos industriais, a parte <strong>de</strong> mercado da<br />

Irlanda tem sido mantida em 13%.<br />

1.2. Contribuição do sector empresarial<br />

O sector industrial foi o principal motor do recente crescimento da economia Irlan<strong>de</strong>sa. O<br />

dinamismo da indústria na última década foi <strong>de</strong>terminante para o progresso conseguido no<br />

que se refere ao pleno emprego, à eliminação da emigração involuntária e ao retomar da<br />

saú<strong>de</strong> das finanças públicas.<br />

Em contraste com outras economias <strong>de</strong>senvolvidas, a contribuição do sector industrial para<br />

o PNB aumentou na década <strong>de</strong> 90. Por seu lado, as exportações da indústria aumentaram<br />

59%, em termos reais, entre 1994 e 1998. Vários factores contribuíram para o <strong>de</strong>sempenho<br />

verificado, nomeadamente:<br />

280<br />

• a política <strong>de</strong> captação <strong>de</strong> investimento em sectores com elevada intensida<strong>de</strong><br />

tecnológica foi muito bem sucedida. Não somente foi criado novo investimento,<br />

emprego e novas qualificações mas, <strong>de</strong>vido ao facto <strong>de</strong> os sectores abrangidos serem<br />

sectores em que a procura mundial tem crescido rapidamente, formou-se também um<br />

sector irlandês <strong>de</strong> produção nesta área com uma forte propensão à exportação;<br />

• o <strong>de</strong>sempenho da indústria nacional irlan<strong>de</strong>sa melhorou substancialmente em muitas<br />

vertentes. Excluindo o sector alimentar que está sujeito a constrangimentos do lado<br />

da oferta, as vendas da indústria nacional cresceram 50% em termos reais entre 1993<br />

e 1998, e as margens médias <strong>de</strong> lucro elevaram-se <strong>de</strong> 7% para 9%. A propensão<br />

global à exportação do sector industrial nacional registou, no entanto, um aumento<br />

mo<strong>de</strong>sto, <strong>de</strong> 32%, em 1992, para 34%, em 1997 e, embora seja significativamente<br />

elevada em <strong>de</strong>terminados segmentos, permanece baixa e evi<strong>de</strong>ncia a necessida<strong>de</strong><br />

das companhias nacionais <strong>de</strong>senvolverem mercados <strong>de</strong> exportação não tradicionais<br />

<strong>de</strong> forma a po<strong>de</strong>rem competir com um mercado cada vez mais globalizado. Entre<br />

1992 e 1997, a propensão à exportação do total da indústria transformadora<br />

aumentou <strong>de</strong> 60,2% para 66,5%;<br />

• num <strong>de</strong>terminado número <strong>de</strong> sectores (software e bens <strong>de</strong> consumo alimentar, em<br />

particular) as companhias nacionais Irlan<strong>de</strong>sas <strong>de</strong>senvolveram potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

nível internacional. Por exemplo, em 1993, o sector nacional irlandês <strong>de</strong> software<br />

consistia em 336 empresas, empregando 4.500 indivíduos e com vendas <strong>de</strong> IR£236<br />

milhões. Em 1998, tinha aumentado para 630 empresas, empregando 9.250<br />

indivíduos e as vendas ascendiam a IR£715 milhões. Adicionalmente, um número <strong>de</strong><br />

empresas nacionais irlan<strong>de</strong>sas, com potencialida<strong>de</strong>s a nível internacional, têm-se<br />

tornado actores significativos em <strong>de</strong>terminados nichos <strong>de</strong> mercado;<br />

• embora os serviços comercializáveis localmente tenham sido os que mais<br />

contribuíram para o crescimento do emprego, a evolução do emprego na indústria<br />

transformadora foi bastante significativa, tendo aumentado 24% na última década, em


Irlanda − Crescimento Económico e Factores <strong>de</strong> Sucesso<br />

contraste com a tendência <strong>de</strong> outras economia <strong>de</strong>senvolvidas. Isto é explicado, em<br />

parte, pela boa posição da Irlanda em sectores <strong>de</strong> elevada tecnologia, facto que<br />

contribuiu substancialmente, directa e indirectamente, para o crescimento do emprego<br />

total e para a melhoria dos padrões <strong>de</strong> vida (Gráfico 4).<br />

1000<br />

800<br />

600<br />

400<br />

200<br />

0<br />

Gráfico 4<br />

EMPREGO NO SECTOR EMPRESARIAL (1989 e 1998)<br />

172<br />

136<br />

213<br />

Fonte: Forfás e CSO, 1999<br />

1.3. A importância da produtivida<strong>de</strong><br />

264<br />

Agricultura Indústria<br />

Tranformadora<br />

10<br />

(milhares)<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento económico está estritamente relacionado com a prossecução <strong>de</strong> uma<br />

melhoria sustentável, a longo prazo, do nível <strong>de</strong> vida. O padrão <strong>de</strong> vida é <strong>de</strong>terminado,<br />

essencialmente, pela produtivida<strong>de</strong> da economia. Consequentemente, uma questão central<br />

do <strong>de</strong>senvolvimento económico consiste em saber como criar um ambiente que permita o<br />

crescimento rápido e sustentado da produtivida<strong>de</strong>.<br />

Na Irlanda, o sector empresarial fortaleceu a sua competitivida<strong>de</strong> a nível internacional, tendo<br />

aumentado a sua produtivida<strong>de</strong> e rentabilida<strong>de</strong>. Foi ainda capaz <strong>de</strong> se adaptar às rápidas<br />

mudanças no panorama internacional e <strong>de</strong>senvolveu uma forte presença em sectores<br />

‘high-tech’ que serão o motor do crescimento futuro.<br />

O elevado crescimento médio anual da produtivida<strong>de</strong> da indústria transformadora tem sido o<br />

principal responsável pelo crescimento económico verificado (Gráfico 5). O nível da<br />

produtivida<strong>de</strong> neste sector <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> aumentou 41,2% entre 1992 e 1997, num contexto<br />

<strong>de</strong> aumento do emprego quando, no total da economia, o nível da produtivida<strong>de</strong> aumentou<br />

18,1% no mesmo período (crescimento médio anual <strong>de</strong> 3,6%, face a 6,9% na indústria<br />

transformadora e 0,9% nos serviços).<br />

O aumento da produtivida<strong>de</strong> na indústria transformadora <strong>de</strong>veu-se ao facto <strong>de</strong> a maioria dos<br />

novos empregos criados se ter verificado em empresas com elevada produtivida<strong>de</strong> e porque<br />

46<br />

Serviços<br />

Internacionais<br />

1989 1998<br />

611<br />

847<br />

107<br />

229<br />

Serviços Locais Outras Indústrias<br />

281


Informação Internacional<br />

houve uma <strong>de</strong>slocação do emprego das indústrias <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> baixa, tais como<br />

vestuário, para indústrias <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> elevada, tais como a electrónica e os produtos<br />

químicos. Adicionalmente, em <strong>de</strong>terminados sectores industriais, projectos com valor<br />

acrescentado elevado substituíram projectos com valor acrescentado mais baixos.<br />

282<br />

%<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Gráfico 5<br />

CRESCIMENTO DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO<br />

POR SECTORES DE ACTIVIDADE (1992-97)<br />

9,2<br />

Fonte: CSO, 1999<br />

34,7<br />

A indústria transformadora estrangeira estabelecida na Irlanda registou um crescimento da<br />

produtivida<strong>de</strong> particularmente forte e continua a crescer a um ritmo rápido. Relativamente à<br />

industria transformadora nacional, embora a produtivida<strong>de</strong> tenha crescido, mantém-se baixa<br />

quando medida pelos padrões internacionais. Isto po<strong>de</strong> ser atribuído, em larga medida, à<br />

predominância <strong>de</strong> pequenas empresas com baixa produtivida<strong>de</strong>. É essencial ao futuro do<br />

sector nacional irlandês o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> mais empresas <strong>de</strong> dimensão internacional e<br />

com produtivida<strong>de</strong> elevada. A menos que isto se verifique, muitas firmas não terão<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobreviver à crescente concorrência, subida dos salários e contracção do<br />

mercado <strong>de</strong> trabalho. Este aumento da produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve começar nos novos sector "hightechnology"<br />

e "high-productivity".<br />

As <strong>de</strong>spesas do sector empresarial em Investigação e Desenvolvimento (I&D), na indústria<br />

transformadora, aumentaram substancialmente. Representavam 0,5% do PIB, em 1990,<br />

tendo esta proporção passado para 1,11%, em 1997. Estes valores estão perto da média da<br />

UE (1,15%), embora se espere que este tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesa venha a situar-se acima daquela<br />

média, <strong>de</strong>vido à gran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong> sectores industriais <strong>de</strong> alta-tecnologia na Irlanda.<br />

Em 1997, apenas 3% das companhias nacionais e 7% das firma estrangeiras na Irlanda<br />

gastaram mais <strong>de</strong> 1 milhão <strong>de</strong> £ em I&D, <strong>de</strong> forma que a manutenção do contributo da<br />

indústria para o crescimento económico requer uma intensificação das <strong>de</strong>spesas em<br />

investigação.<br />

41,2<br />

Agricultura Indústria Indústria<br />

Transformadora<br />

5,3<br />

18,1<br />

Serviços<br />

Total


Irlanda − Crescimento Económico e Factores <strong>de</strong> Sucesso<br />

A produtivida<strong>de</strong> no sector <strong>de</strong> serviços tem melhorado a um ritmo lento. Os serviços<br />

registaram um PIB por trabalhador <strong>de</strong> IR£21,040 em 1997, valor que compara com<br />

IR£40,290 na indústria, no mesmo ano. Entre 1992/1997 a produtivida<strong>de</strong> da indústria<br />

aumentou 34,7%, enquanto que nos serviços aumentou 5,3%.<br />

O crescimento dos serviços comercializáveis internacionalmente em sectores conhecimentointensivos<br />

é uma característica do <strong>de</strong>senvolvimento recente em Irlanda. A<br />

internacionalização dos serviços está a impulsionar o crescimento da produtivida<strong>de</strong> e a<br />

criação <strong>de</strong> maior valor acrescentado em serviços intensivos em conhecimento. Nos últimos<br />

<strong>de</strong>z anos foram feitos progressos consi<strong>de</strong>ráveis no que se refere ao <strong>de</strong>senvolvimento e à<br />

criação <strong>de</strong> emprego neste sector, que passou <strong>de</strong> 9618 pessoas em 1989, para 46322 em<br />

1998, sendo o subsector das empresas proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> capitais estrangeiros responsável<br />

pela maior parte do aumento, ao ter passado <strong>de</strong> 5483 para 31441 pessoas.<br />

As empresas <strong>de</strong> serviços comercializáveis internacionalmente estão, na sua maior parte,<br />

posicionadas nos segmentos <strong>de</strong> elevada produtivida<strong>de</strong>, intensivos em conhecimento e em<br />

tecnologia. A produção bruta daquele sector aumentou 140% no período <strong>de</strong> 1992 a 1996,<br />

enquanto que o emprego total quase duplicou, representando 20% do aumento total da<br />

produtivida<strong>de</strong> naquele período. O crescimento da produtivida<strong>de</strong> foi elevada tanto no sector<br />

nacional como no estrangeiro e os dados disponíveis indiciam que, em ambos os sectores, o<br />

nível da produtivida<strong>de</strong> e o nível salarial estão amplamente alinhados com os <strong>de</strong> sectores<br />

como metais e engenharia, mas são mais baixos do que os dos sectores<br />

químico/farmacêutico.<br />

De referir que a incidência do trabalho em part-time é mais elevada no sector dos serviços<br />

do que nos outros sectores industriais, o que po<strong>de</strong> afectar os resultados estatísticos<br />

relativos à produtivida<strong>de</strong>, quando medida pelo número <strong>de</strong> pessoas empregadas.<br />

O aumento real total do salário, medido pelo número médio <strong>de</strong> horas trabalhadas, nos<br />

serviços, entre 1987 e 1994, estava abaixo <strong>de</strong> 21% <strong>de</strong> acordo com o CSO 4 . As tendências<br />

evi<strong>de</strong>nciam que os trabalhadores com maiores qualificações e formação profissional<br />

conseguiram remunerações mais elevadas.<br />

Muitos mercados <strong>de</strong> serviços permanecem relativamente protegidos da concorrência<br />

internacional e, em alguns casos, da concorrência a nível interno, o que po<strong>de</strong> ser um factor<br />

explicativo para os baixos níveis <strong>de</strong> internacionalização dos fornecedores irlan<strong>de</strong>ses <strong>de</strong><br />

serviços, assim como da baixa produtivida<strong>de</strong>. Similarmente, enquanto que políticas <strong>de</strong><br />

liberalização do mercado foram prosseguidas activamente nos últimos 20 a 30 anos na<br />

maioria <strong>de</strong> sectores industriais, elevados níveis <strong>de</strong> regulamentação do mercado<br />

permanecem ainda em <strong>de</strong>terminados mercados-chave <strong>de</strong> serviços. O crescimento da<br />

produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>verá ser incentivado através do aumento da concorrência, da<br />

internacionalização dos serviços e do aumento da eficiência produtiva.<br />

4 Central Statistical Office.<br />

283


Informação Internacional<br />

1.4. Distribuição regional <strong>de</strong> crescimento económico<br />

Pela sua natureza, as activida<strong>de</strong>s que estão na base do crescimento económico ten<strong>de</strong>m a<br />

aglomerar-se, com o fim <strong>de</strong> beneficiar <strong>de</strong>ssa ligação, nomeadamente, do acesso às infraestruturas<br />

sociais e económicas.<br />

Nos últimos 10 a 15 anos, <strong>de</strong>vido à maior preocupação com o combate e prevenção do<br />

<strong>de</strong>semprego, assim como com o controlo da dívida pública e do défice orçamental, a<br />

distribuição regional do crescimento económico ten<strong>de</strong>u a ser vista como um aspecto<br />

importante, mas secundário. Esta atitu<strong>de</strong>, um tanto compreensível do ponto <strong>de</strong> vista político,<br />

conjuntamente com o crescimento no emprego e do produto, causou <strong>de</strong>sequilíbrios<br />

significativos na distribuição geográfica <strong>de</strong>sse crescimento. No que se refere particularmente<br />

ao emprego, a sua distribuição regional evi<strong>de</strong>ncia a prepon<strong>de</strong>rância <strong>de</strong> Dublin, assim como<br />

o aumento significativo da parte do emprego <strong>de</strong>tido por esta região entre 1995 e 1998.<br />

Devido ao facto <strong>de</strong> a taxa <strong>de</strong> crescimento económico e <strong>de</strong> concentração associada ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento ter sido mais elevada do que se esperava, um número <strong>de</strong> características<br />

in<strong>de</strong>sejáveis emergiram:<br />

284<br />

1. intensa pressão ao nível das infra-estruturas sociais e económicas em muitos centros<br />

urbanos e nas suas áreas <strong>de</strong> influência, à medida que o gap entre procura e oferta<br />

aumentou em áreas como, estradas, transportes públicos, empresas <strong>de</strong> serviços<br />

públicos e habitação. Em consequência, tem-se verificado uma <strong>de</strong>terioração da<br />

qualida<strong>de</strong> vida nessas áreas e um ineficiente uso dos recursos públicos disponíveis;<br />

2. uma tendência inflacionista na economia em geral, à medida que a procura <strong>de</strong><br />

habitação, <strong>de</strong> outro tipo <strong>de</strong> construções e <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> manutenção, em centros<br />

urbanos <strong>de</strong> rápido crescimento, exce<strong>de</strong> a oferta;<br />

3. menor acesso às oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego nas zonas do país que ficam fora <strong>de</strong><br />

uma distância razoável da zona urbana/área <strong>de</strong> crescimento rápido;<br />

4. áreas com elevadas carências ao nível económico e social, <strong>de</strong>ntro das áreas urbanas<br />

<strong>de</strong> forte crescimento, com um número significativo <strong>de</strong> pessoas sem qualificações<br />

sociais e vocacionais suficientes para obter vantagens nas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego<br />

existentes, e um aumento associado <strong>de</strong> privação relativa;<br />

5. <strong>de</strong>terioração das condições ambientais em geral, à medida que o ritmo <strong>de</strong><br />

crescimento económico exce<strong>de</strong> a capacida<strong>de</strong> das infra-estruturas existentes.<br />

A prevista continuação do significativo crescimento económico na Irlanda, nos próximos <strong>de</strong>z<br />

anos, fornece uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superar os <strong>de</strong>sequilíbrio verificados ao nível das taxas<br />

<strong>de</strong> crescimento regionais. As agências <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento industrial têm um papel<br />

importante para este efeito, mas constata-se que, dos 311.000 postos <strong>de</strong> trabalhos líquido<br />

adicionais criados na economia entre 1993 e 1998, só 74.600, ou seja, 24%, vieram dos<br />

sectores promovidos por agências. Face a este facto, todo o progresso real no sentido <strong>de</strong><br />

conseguir um crescimento económico regional equilibrado requer uma estratégia espacial<br />

nacional para a promoção <strong>de</strong> infra-estruturas económicas e sociais e do emprego. Tal<br />

estratégia requer, <strong>de</strong>signadamente:


Irlanda − Crescimento Económico e Factores <strong>de</strong> Sucesso<br />

1. uma estrutura <strong>de</strong> distribuição mais ampla da população nos centros urbanos e nas<br />

suas áreas <strong>de</strong> influência nos próximos 20 anos;<br />

2. um reconhecimento <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>senvolvimento ocorrerá, principalmente, nos centros<br />

urbanos, <strong>de</strong>vido a razões que se pren<strong>de</strong>m com uma provisão e utilização eficientes<br />

das infra-estruturas sociais e económicas e que as suas ligações se reforçam<br />

mutuamente em termos económicos;<br />

3. um consequente reconhecimento <strong>de</strong> que o sistema urbano na Irlanda é hierárquico e<br />

inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e que as oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso social e económico a esses<br />

centros, incluindo as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego, abrangem as áreas periféricas;<br />

4. um reconhecimento <strong>de</strong> que as agências governamentais po<strong>de</strong>m influenciar, mas não<br />

ditar a localização do investimento do sector privado;<br />

5. um reconhecimento <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável requer um equilíbrio entre<br />

o crescimento económico e a conservação do ambiente;<br />

6. um reconhecimento <strong>de</strong> que numa economia como a Irlan<strong>de</strong>sa a qual está evoluindo<br />

<strong>de</strong> forma contínua na direcção da uma elevada qualificação profissional,<br />

conhecimento-intensiva, com elevada mobilida<strong>de</strong> da mão-<strong>de</strong>-obra, a manutenção e a<br />

melhoria da qualida<strong>de</strong> ambiental fornece uma vantagem económica bastante<br />

competitiva.<br />

As implicações práticas <strong>de</strong>stes princípios implicam que a provisão <strong>de</strong> infra-estruturas precisa<br />

<strong>de</strong> ser planeada em torno <strong>de</strong> uma hierarquia dos centros urbanos <strong>de</strong> forma a fornecer<br />

oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego e outros serviços às suas áreas <strong>de</strong> influência. A hierarquia dos<br />

centros será <strong>de</strong>terminada, numa extensão consi<strong>de</strong>rável, pela população que servem. O nível<br />

e a qualida<strong>de</strong> das infra-estruturas sociais e económicas proporcionadas em diferentes<br />

centros <strong>de</strong>terminarão também, numa extensão consi<strong>de</strong>rável, a natureza e as oportunida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> emprego. Têm sido empreendidos esforços no sentido <strong>de</strong> estabelecer uma estratégia no<br />

contexto da preparação do Plano <strong>de</strong> Desenvolvimento Nacional 2000-2006. O trabalho<br />

efectuado necessita agora <strong>de</strong> ser integrado numa estratégia espacial global que fornecerá a<br />

estrutura requerida para suportar o trabalho das agências <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento industrial, <strong>de</strong><br />

outros corpos do sector público com uma dimensão regional forte nas suas activida<strong>de</strong>s, e<br />

dos investidores privados.<br />

1.5. O contexto das políticas futuras<br />

No começo do século XXI a economia irlan<strong>de</strong>sa encontra-se inserida num ambiente macroeconómico<br />

que registou significativas alterações face a um passado recente. A participação<br />

da Irlanda na UEM eliminou a margem <strong>de</strong> manobra do país no que se refere à condução da<br />

política monetária nacional e ao estabelecimento das taxas <strong>de</strong> câmbio. O cumprimento dos<br />

objectivos do Pacto <strong>de</strong> Estabilida<strong>de</strong> e Crescimento requer que a política fiscal seja<br />

conduzida <strong>de</strong> forma pru<strong>de</strong>nte, a fim <strong>de</strong> assegurar que o saldo orçamental permaneça perto<br />

do equilíbrio ou do superavit.<br />

285


Informação Internacional<br />

Estes factores ocorrem num contexto <strong>de</strong> aumento da integração da economia mundial −<br />

reflectindo a globalização dos mercados financeiros e <strong>de</strong> capitais internacionais, <strong>de</strong><br />

investimento e dos fluxos <strong>de</strong> comércio − e <strong>de</strong> uma mudança tecnológica acelerada, em<br />

particular, o crescimento explosivo das tecnologias <strong>de</strong> informação e <strong>de</strong> comunicação (ICTs).<br />

Como é óbvio, a interacção das forças <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas pela globalização e pela rápida<br />

mudança tecnológica está a conduzir, inexoravelmente, a uma intensificação das pressões<br />

competitivas ao nível das empresas irlan<strong>de</strong>sas. O alargamento da UE ao leste e novos<br />

progressos na liberalização do comércio mundial e do investimento irão fortalecer <strong>de</strong> forma<br />

significativa estas forças competitivas durante a próxima década.<br />

A manutenção <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento económico e social sustentado enfatizam a<br />

necessida<strong>de</strong> conseguir melhorias <strong>de</strong> eficiência e na produtivida<strong>de</strong> em todos os sectores da<br />

economia, incluindo a administração pública. Adicionalmente, os níveis <strong>de</strong> qualificação da<br />

força <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>vem ser continuamente reforçados uma vez que, <strong>de</strong> acordo com<br />

projecções efectuadas recentemente, estima-se que menos <strong>de</strong> 40% da força <strong>de</strong> trabalho<br />

terá o ensino superior em 2010 (Gráfico 6). Deverão ser postas em prática medidas no<br />

sentido <strong>de</strong> aumentar o nível <strong>de</strong> literacia dos grupos populacionais mais idosos, <strong>de</strong> encorajar<br />

a formação profissional e <strong>de</strong> uma forma geral aumentar a formação linguística, científica e<br />

tecnológica da mão-<strong>de</strong>-obra.<br />

286<br />

Gráfico 6<br />

NÍVEL EDUCACIONAL DA FORÇA DE TRABALHO NA IRLANDA<br />

(1991- 2010)<br />

100%<br />

80%<br />

60%<br />

40%<br />

20%<br />

0%<br />

1991-1995 1996-2000 2001-2005 2006-2010<br />

Fonte: ESRI Working Paper nº 103, 1999<br />

Ensino Primário 9º Ano<br />

12ª Ano Ensino Superior<br />

Num <strong>de</strong>terminado conjunto <strong>de</strong> áreas há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver políticas adicionais,<br />

<strong>de</strong> forma a ter em consi<strong>de</strong>ração as circunstâncias <strong>de</strong> alteração radical da economia<br />

irlan<strong>de</strong>sa, e um mercado mundial on<strong>de</strong> a tecnologia, a política e o ambiente empresarial<br />

estão a mudar rapidamente. Os recursos criados pelo forte crescimento económico dos<br />

anos recentes <strong>de</strong>vem ser usados <strong>de</strong> forma eficaz <strong>de</strong> maneira a construir a base económica<br />

futura.


Irlanda − Crescimento Económico e Factores <strong>de</strong> Sucesso<br />

Uma característica fundamental do crescimento económico conseguido nos anos recentes<br />

foi seu impacto acentuado no mercado <strong>de</strong> trabalho. No período <strong>de</strong> 1994 a 1998, o PNB<br />

expandiu-se a uma média anual <strong>de</strong> quase 8%, levando a um correspon<strong>de</strong>nte aumento anual<br />

do emprego <strong>de</strong> 4,6%. Este crescimento foi suficiente para acomodar os novos trabalhadores<br />

(nova população activa) e muitos <strong>de</strong>sempregados tendo-se verificado, em consequência,<br />

uma redução da taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego.<br />

Um dos mais significativos <strong>de</strong>safios da política económica consiste em enfrentar a<br />

contracção do mercado <strong>de</strong> trabalho. As necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra começaram já a<br />

emergir nalguns sectores, embora o número <strong>de</strong> indivíduos em ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar tenha<br />

aumentando rapidamente. Nos anos mais próximos, a taxa <strong>de</strong> crescimento natural do<br />

mercado <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>verá abrandar consi<strong>de</strong>ravelmente.<br />

Previsões efectuadas sugerem que PNB po<strong>de</strong>rá registar uma taxa <strong>de</strong> crescimento média<br />

anual <strong>de</strong> 5% entre 2000 e 2005. Esta taxa <strong>de</strong> crescimento fica consi<strong>de</strong>ravelmente abaixo<br />

das taxas conseguidas em anos recentes, compreen<strong>de</strong>ndo um crescimento <strong>de</strong> 3% para a<br />

produtivida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> 2% no emprego. Projecções elaboradas sobre a evolução da mão <strong>de</strong><br />

obra, indiciam que o aumento natural na população será somente capaz <strong>de</strong> fornecer,<br />

aproximadamente, meta<strong>de</strong> da procura <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra gerada pelos diferentes sectores da<br />

economia. Em consequência, o diferencial terá <strong>de</strong> ser preenchido com aumentos contínuos<br />

da taxa <strong>de</strong> participação, integração dos <strong>de</strong>sempregados no mercado <strong>de</strong> trabalho e aumento<br />

da imigração líquida.<br />

Com efeito, uma vez que a economia caminha no sentido <strong>de</strong> atingir a sua taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>semprego natural, a oferta interna <strong>de</strong> trabalhadores terá que ser complementada com<br />

fontes externas, a fim sustentar o crescimento. A imigração <strong>de</strong> trabalhadores tem sido<br />

relativamente pequena, mas tem crescido <strong>de</strong> forma cada vez mais significativa. Por<br />

exemplo, entre 1994 e o primeiro trimestre <strong>de</strong> 1999, <strong>de</strong>verão ter chegado à Irlanda uma<br />

média anual <strong>de</strong> 39.000 imigrantes. Torna-se evi<strong>de</strong>nte que, com vários sectores da economia<br />

a <strong>de</strong>clarar falta <strong>de</strong> trabalhadores, a escassez <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra emerge como uma limitação<br />

potencial ao crescimento futuro e a importância da imigração continuará a aumentar para<br />

recurso a trabalhadores novos e qualificados. Face a esta situação, é importante que uma<br />

política transparente e bem estruturada seja levada a cabo <strong>de</strong> forma a permitir que o<br />

processo do imigração contribua para o <strong>de</strong>senvolvimento económico.<br />

Assim, o abrandamento no crescimento natural da população activa não irá constituir uma<br />

limitação ao crescimento económico futuro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que acções a<strong>de</strong>quadas sejam tomadas,<br />

nomeadamente:<br />

• aumento da participação feminina; incentivo a uma maior participação dos<br />

<strong>de</strong>sempregados <strong>de</strong> longa duração (com mais <strong>de</strong> 55 anos) e provisão a<strong>de</strong>quada no<br />

que se refere imigração <strong>de</strong> trabalhadores qualificados;<br />

• melhoria da produtivida<strong>de</strong> daqueles já fazem parte do mercado <strong>de</strong> trabalho através <strong>de</strong><br />

programas <strong>de</strong> instrução e formação profissional (incluindo formação profissional<br />

<strong>de</strong>ntro da empresa), estímulo ao investimento em capital no sector empresarial e<br />

melhoria da eficiência.<br />

287


Informação Internacional<br />

Conseguir estes objectivos constituirá um forte <strong>de</strong>safio para as empresas tanto no que se<br />

refere aos empregadores como aos empregados e para o Governo e suas agências, e<br />

requererá o tipo <strong>de</strong> cooperação e <strong>de</strong> flexibilida<strong>de</strong> que caracterizou os acordos <strong>de</strong><br />

concertação em anos recentes.<br />

Um segundo importante <strong>de</strong>safio é o relativo à capacida<strong>de</strong> e à qualida<strong>de</strong> das infra-estruturas.<br />

As infra-estruturas <strong>de</strong> transporte, habitação, telecomunicações e outros serviços <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong><br />

pública são já ina<strong>de</strong>quados e, se isto não for superado urgente e rapidamente, irá ter um<br />

significativo impacto negativo na competitivida<strong>de</strong>. As infra-estruturas actuais são<br />

<strong>de</strong>sa<strong>de</strong>quadas para suportar um forte crescimento adicional da activida<strong>de</strong> económica. A<br />

robustez das finanças públicas (mesmo com a redução das transferências provenientes da<br />

UE) fornece os recursos e a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suprir estas falhas. Por seu lado, o Plano<br />

Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento contempla um necessário e ambicioso programa <strong>de</strong><br />

investimentos até 2006.<br />

Tão importante como superar o défice <strong>de</strong> infra-estruturas é a necessida<strong>de</strong> conseguir uma<br />

melhor distribuição geográfica do <strong>de</strong>senvolvimento económico. Este objectivo é não<br />

somente uma questão <strong>de</strong> equida<strong>de</strong> social, mas também permite aliviar os problemas<br />

causados pelo forte crescimento nas áreas urbanas principais, tais como os elevados custos<br />

do congestionamento do tráfego automóvel e a subida em espiral dos preços da<br />

proprieda<strong>de</strong>. Um maior equilíbrio nacional em termos <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s sociais e<br />

económicas requer um investimento muito substancial em infra-estruturas sociais e<br />

económicas nas regiões, no âmbito <strong>de</strong> uma bem articulada estratégia espacial a nível<br />

nacional.<br />

FONTE<br />

"Entreprise 2010 – A New Strategy for the Promotion of Entreprise in Ireland in the 21st<br />

Century, FORFÁS", Janeiro 2000<br />

288


Em Foco<br />

2000: A COMISSÃO EUROPEIA AVALIA OS CANDIDATOS AO ALARGAMENTO<br />

Carlos Alberto Esteves<br />

Des<strong>de</strong> a queda do muro <strong>de</strong> Berlim em 1989, que a Europa assistiu à <strong>de</strong>sintegração da<br />

União Soviética e ao fim da guerra fria, processos que tiveram profundas implicações na<br />

or<strong>de</strong>m geopolítica. Por outro lado, na Europa o processo <strong>de</strong> integração experimentou um<br />

novo impulso em torno do aprofundamento e do alargamento da União Europeia. O<br />

alargamento da UE aos países da Europa Central e Oriental (PECO), Chipre, Malta e,<br />

eventualmente, Turquia será uma oportunida<strong>de</strong> da União ter um maior peso e influência em<br />

termos internacionais. Uma União Europeia (UE) maior estimulará o crescimento, criará<br />

novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> investimento, novas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comércio e terá um melhor<br />

contributo internacional nos esforços <strong>de</strong> combate à migração, poluição, tráfico e crime<br />

organizado. Mas um possível alargamento <strong>de</strong>stas proporções mudará a face da Europa e<br />

colocará à União Europeia um <strong>de</strong>safio em termos institucionais e políticos.<br />

O alargamento – âmbito geográfico, ritmo, condições, financiamentos, consequências para<br />

as políticas comuns – tem vindo a ser objecto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1993, ano do Conselho Europeu <strong>de</strong><br />

Copenhaga, <strong>de</strong> sucessivas clarificações, na maior parte dos casos a partir <strong>de</strong> propostas da<br />

Comissão Europeia. Em 8 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2000, a Comissão apresentou um documento <strong>de</strong><br />

síntese e um conjunto <strong>de</strong> relatórios referentes a cada um dos candidatos, que permitem<br />

realizar o balanço do processo, avaliar a situação e o comportamento dos candidatos e<br />

<strong>de</strong>finem propostas <strong>de</strong> orientação para o futuro próximo. Os relatórios por país permitem<br />

traçar um bom retrato da situação política e económica dos candidatos, tendo sido<br />

aproveitados para elaborar um quadro <strong>de</strong> comparação entre cinco <strong>de</strong>sses candidatos –<br />

Polónia, Estónia, Hungria, República Checa e Eslovénia.<br />

1. 1993-2000: MARCOS NO PROCESSO DE ALARGAMENTO DA UNIÃO EUROPEIA<br />

Em 1993 o Conselho Europeu <strong>de</strong> Copenhaga, acordou em que “...Os Estados associados<br />

da Europa Central e Oriental que assim o <strong>de</strong>sejem, adiram à União Europeia. A a<strong>de</strong>são terá<br />

lugar logo que um país associado esteja em condições <strong>de</strong> assumir as suas obrigações <strong>de</strong><br />

membro, ao satisfazer as condições económicas e políticas exigidas. A a<strong>de</strong>são exige:<br />

• que o país candidato disponha <strong>de</strong> instituições estáveis que garantam a <strong>de</strong>mocracia, o<br />

Estado <strong>de</strong> direito, os direitos humanos, o respeito pelas minorias e a sua protecção;<br />

• a existência <strong>de</strong> uma economia <strong>de</strong> mercado em funcionamento e a capacida<strong>de</strong> para<br />

respon<strong>de</strong>r à pressão da concorrência e às forças <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong>ntro da União;


Informação Internacional<br />

290<br />

• a capacida<strong>de</strong> dos candidatos para assumirem as obrigações <strong>de</strong>la <strong>de</strong>correntes,<br />

incluindo a a<strong>de</strong>são aos objectivos <strong>de</strong> união política, económica e monetária; por sua<br />

vez a capacida<strong>de</strong> da União para absorver novas a<strong>de</strong>sões, mantendo<br />

simultaneamente a dinâmica da integração europeia, constitui também um importante<br />

factor <strong>de</strong> interesse geral, tanto para a União como para os países candidatos”.<br />

Neste contexto a União <strong>de</strong>senvolveu posteriormente uma estratégia global <strong>de</strong> pré-a<strong>de</strong>são<br />

que constitui uma das suas principais priorida<strong>de</strong>s e cujas características chave são a criação<br />

<strong>de</strong> relações estruturadas dos países candidatos com as Instituições da União, o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> Acordos Europeus; a assistência financeira no âmbito do Programa<br />

PHARE; a preparação para a integração no mercado interno, <strong>de</strong> acordo com o Livro Branco.<br />

Em Dezembro <strong>de</strong> 1994 o Conselho Europeu <strong>de</strong> Essen, ao procurar remover as oposições<br />

da Grécia à assinatura <strong>de</strong> uma União Aduaneira da UE com a Turquia, acabou por colocar<br />

Chipre na dianteira <strong>de</strong> um futuro processo <strong>de</strong> alargamento, ao <strong>de</strong>finir que no máximo seis<br />

meses <strong>de</strong>pois do final da Conferência Intergovernamental, teriam <strong>de</strong> começar as<br />

negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são com Chipre.<br />

Em Dezembro <strong>de</strong> 1995, aquando do Conselho Europeu <strong>de</strong> Madrid, tinham já sido assinados<br />

Acordos Europeus, que reconhecem o objectivo da a<strong>de</strong>são à União, com <strong>de</strong>z países –<br />

Bulgária, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Polónia, República<br />

Checa e Roménia, sendo que seis <strong>de</strong>stes países (Eslováquia, Hungria, Estónia, Letónia,<br />

Polónia, Roménia – já tinham apresentado até esse momento candidaturas à União e outros<br />

anunciaram que era sua intenção fazê-lo. O Conselho Europeu <strong>de</strong> Madrid incluiu nas suas<br />

conclusões os seguintes aspectos relativos ao alargamento:<br />

• Tomou conhecimento dos relatórios preparados pela Comissão Europeia sobre os<br />

efeitos do alargamento nas políticas da UE, sobre as estratégias alternativas na<br />

agricultura e sobre a evolução da estratégia d pré- a<strong>de</strong>são dos países associados da<br />

Europa Central e Oriental; tendo convidado a Comissão a aprofundar a análise do<br />

impacto sobre as políticas comuns nomeadamente sobre a PAC e as Políticas<br />

Estruturais;<br />

• reafirmou que as negociações com vista à a<strong>de</strong>são por parte <strong>de</strong> Chipre e Malta<br />

começarão, com base nas propostas da Comissão, seis meses após a conclusão da<br />

Conferência Intergovernamental <strong>de</strong> 1996 ∗ , tendo em conta os resultados da mesma;<br />

• confirmou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preparar bem o alargamento na base dos critérios<br />

fixados em Copenhaga e no quadro da estratégia <strong>de</strong> pré-a<strong>de</strong>são <strong>de</strong>finida em Essen<br />

para os PECO;<br />

• convidou a Comissão a preparar activamente os seus parecer sobre as candidaturas<br />

que já forma apresentadas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo que possível após o final da CIG, bem como a<br />

preparar um documento <strong>de</strong> conjunto sobre o alargamento;<br />

∗ Da qual resultou o Tratado <strong>de</strong> Amsterdão


2000: A Comissão Europeia Avalia os Candidatos ao Alargamento<br />

• convidou a Comissão a iniciar, o mais rapidamente possível, uma análise<br />

aprofundada sobre o sistema <strong>de</strong> financiamento da União Europeia afim <strong>de</strong> submeter,<br />

imediatamente a seguir ao fim da CIG uma comunicação sobre o futuro quadro<br />

financeiro da União, a partir <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1999, tendo já em conta a<br />

perspectiva do alargamento.<br />

Em Julho <strong>de</strong> 1997, dando cumprimento às <strong>de</strong>cisões do Conselho Europeu <strong>de</strong> Madrid, a<br />

Comissão Europeia apresentou a sua “Agenda 2000”, <strong>de</strong>stinada em especial a preparar as<br />

reforma das políticas comuns necessárias para viabilizar o alargamento e a <strong>de</strong>finir as<br />

“perspectivas financeiras 2000-2006” As i<strong>de</strong>ias chave retidas no documento relativamente<br />

ao processo do alargamento eram a seguintes:<br />

• o alargamento, como fora sublinhado no Conselho Europeu <strong>de</strong> Amsterdão, <strong>de</strong>ve ser<br />

entendido como um processo <strong>de</strong> conjunto que engloba todos os onze países<br />

candidatos; inclui a abertura <strong>de</strong> negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são com os diferentes países, em<br />

função dos progressos realizados por cada um, no que respeita às condições<br />

mínimas <strong>de</strong> participação e preparação para a a<strong>de</strong>são; engloba um quadro <strong>de</strong><br />

acompanhamento que prevê o reforço da estratégia <strong>de</strong> pré-a<strong>de</strong>são para os países da<br />

Europa Central e Oriental, mediante o lançamento <strong>de</strong> uma nova figura – as Parcerias<br />

<strong>de</strong> A<strong>de</strong>são – e a criação <strong>de</strong> um fórum multilateral <strong>de</strong> cooperação, sob a forma <strong>de</strong> uma<br />

Conferência Europeia;<br />

• a abertura das negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são com Chipre, fora já <strong>de</strong>cidida pelo Conselho<br />

Europeu em 1995, <strong>de</strong>vendo começar seis meses <strong>de</strong>pois do fim da Conferência<br />

Intergovernamental (nota: por razões que se pren<strong>de</strong>ram com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> então<br />

se alcançar um compromisso com a Grécia – <strong>de</strong>fensora <strong>de</strong> uma rápida a<strong>de</strong>são <strong>de</strong><br />

Chipre ou da parte cipriota grega – que tornasse possível viabilizar o estabelecimento<br />

<strong>de</strong> uma união aduaneira com a Turquia);<br />

• quanto aos países da Europa Central e Oriental a Comissão, <strong>de</strong> acordo com a<br />

avaliação realizada, consi<strong>de</strong>rava a Comissão que, naquele momento, nenhum dos<br />

candidatos satisfazia plenamente o conjunto dos critérios, sendo que nove <strong>de</strong>les<br />

cumpriam as condições políticas e alguns já tinham realizado progressos suficientes<br />

do ponto <strong>de</strong> vista das condições económicas e das condições ligadas às outras<br />

obrigações inerentes à participação;<br />

• a Comissão, à luz da análise a que proce<strong>de</strong>u, e tendo em conta os seus méritos<br />

respectivos, consi<strong>de</strong>rou que po<strong>de</strong>riam estar em condições <strong>de</strong>, a médio prazo,<br />

preencher a totalida<strong>de</strong> dos critérios (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que prosseguissem com <strong>de</strong>terminação os<br />

seus esforços <strong>de</strong> preparação) a Hungria, a Polónia, a Estónia, a República Checa<br />

e a Eslovénia, tendo aconselhando o Conselho a iniciar negociações com estes<br />

países (citados na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> apresentação das suas candidaturas) e <strong>de</strong>ixando ficar<br />

para uma outra oportunida<strong>de</strong> negocial a Eslováquia (inicialmente vista como um dos<br />

possíveis candidatos à primeira vaga), a Roménia, a Bulgária, a Latvia e a Lituânia;<br />

291


Informação Internacional<br />

292<br />

• mas a Comissão sublinhava que uma <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> iniciar simultaneamente<br />

negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são com os países mencionados não implica que essas<br />

negociações terminem ao mesmo tempo, sendo que a data <strong>de</strong> finalização para cada<br />

país <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá da realização dos esforços suplementares referidos nos pareceres<br />

relativos a cada país candidato.<br />

Ou seja, a Comissão Europeia em 1997, optou por uma táctica negocial que consistia em<br />

dividir os candidatos em pelo menos duas vagas negociais. A primeira incluiria os três<br />

países que em 1998 a<strong>de</strong>riram à OTAN e mais dois outros países – um na área do Báltico, a<br />

Estónia e outro na área dos Balcãs, a Eslovénia, para além <strong>de</strong> Chipre. Mas sem <strong>de</strong>finir um<br />

calendário fixo ou uma obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> terminar a negociação com todos os elementos<br />

da “primeira vaga” ao mesmo tempo.<br />

Em termos institucionais a Comissão avançou na Agenda 2000 com duas inovações<br />

<strong>de</strong>stinadas para impulsionar o processo <strong>de</strong> pré-a<strong>de</strong>são – as Parcerias <strong>de</strong> A<strong>de</strong>são e a<br />

convocação <strong>de</strong> uma Conferência Europeia.<br />

As Parcerias <strong>de</strong> A<strong>de</strong>são, a celebrar com cada país, agruparão todas as formas <strong>de</strong><br />

assistência aos países da Europa Central e Oriental num quadro único, e <strong>de</strong>verão implicar:<br />

• compromissos claros por parte dos países candidatos nos domínios da <strong>de</strong>mocracia,<br />

da estabilida<strong>de</strong> das políticas macroeconómicas e da segurança nuclear;<br />

• um programa nacional, tendo em vista a adopção do “acquis” comunitário, segundo<br />

um calendário preciso, em conformida<strong>de</strong> com as priorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>finidas no parecer da<br />

Comissão, a concessão <strong>de</strong> assistência financeira por parte da UE <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá da<br />

realização <strong>de</strong>stes objectivos e dos progressos alcançados;<br />

• a mobilização <strong>de</strong> todos os recursos da União que contribuem para o processo <strong>de</strong><br />

preparação dos países candidatos; tratando-se, até agora do Programa PHARE, mas<br />

po<strong>de</strong>ndo vir a ser previstas novas formas <strong>de</strong> assistência;<br />

• sendo que neste contexto <strong>de</strong> Parceria, a Comissão recomenda que, à medida que os<br />

países candidatos vão adoptando progressivamente o “acquis” comunitário, tenham<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar nos programas da União.<br />

A Conferência Europeia, surge porque a Comissão, ao salientar que o alargamento é um<br />

processo a longo prazo que afecta a Europa, no seu conjunto, consi<strong>de</strong>ra vantajosa a<br />

realização <strong>de</strong> uma Conferência anual a nível dos Chefes <strong>de</strong> Estado ou <strong>de</strong> Governo e do<br />

Presi<strong>de</strong>nte da Comissão, que conte com a participação dos Estados-membros da UE e<br />

igualmente <strong>de</strong> todos os países aspirantes (nota: estejam ou não já envolvidos em<br />

negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são); sendo que essa Conferência constituiria um fórum para consultas<br />

sobre uma vasta gama <strong>de</strong> questões nos domínios da política externa e <strong>de</strong> segurança<br />

comuns e da justiça e assuntos internos, além <strong>de</strong> ser uma a estrutura para a qual seria<br />

convidada a Turquia, afastada até então do processo <strong>de</strong> alargamento.


2000: A Comissão Europeia Avalia os Candidatos ao Alargamento<br />

Em Outubro <strong>de</strong> 1997, numa reunião informal <strong>de</strong> Ministros dos Negócios Estrangeiros, a os<br />

Estados Membros aceitou a proposta da Comissão <strong>de</strong> iniciar as negociações do<br />

alargamento em 1998, mas apenas com uma primeira “vaga” <strong>de</strong> cinco dos <strong>de</strong>z candidatos<br />

da Europa Central e Oriental então consi<strong>de</strong>rados – Polónia, República Checa, Hungria,<br />

Eslovénia e Estónia – enquanto que as negociações com uma segunda vaga – Eslováquia,<br />

Latvia, Lituânia, Roménia e Bulgária começariam mais tar<strong>de</strong>. Na ocasião alguns Estadosmembros<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram inicialmente a abertura simultânea <strong>de</strong> negociações com todos os<br />

candidatos, mesmo que, <strong>de</strong>vido a diferentes níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento económico,<br />

pu<strong>de</strong>ssem a<strong>de</strong>rir em momentos diferenciados. Foi essa a posição inicial da Suécia e a<br />

Dinamarca - interessados na mais rápida a<strong>de</strong>são dos três Estados bálticos – bem como da<br />

Espanha e a Grécia. A França , em contrapartida <strong>de</strong> aceitar a proposta da Comissão obteve<br />

o apoio para criação em 1998 <strong>de</strong> uma Conferência Europeia, na qual participassem todos os<br />

candidatos bem como os Estados-membros. Neste encontro foi visível a falta <strong>de</strong><br />

entendimento quanto à posição a tomar perante a candidatura da Turquia, havendo<br />

Estados-membros como a Grécia e a Alemanha que puseram reservas à sua participação<br />

na referida Conferência Europeia.<br />

Em Dezembro <strong>de</strong> 1997, o Conselho Europeu do Luxemburgo consagrou as propostas da<br />

Comissão quanto à condução do processo do alargamento da União Europeia – enquanto<br />

“...prolongamento à escala do continente, do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> integração europeia” – tendo<br />

<strong>de</strong>cidido lançar um processo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são envolvendo <strong>de</strong>z Estados candidatos da Europa<br />

Central e Oriental e Chipre; iniciar as negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são na Primavera <strong>de</strong> 1998 com<br />

uma “primeira vaga” constituída pela Estónia, Polónia, Hungria, República Checa, Eslovénia<br />

e Chipre, através da realização <strong>de</strong> conferências intergovernamentais bilaterais; reforçar os<br />

instrumentos da estratégia <strong>de</strong> pré-a<strong>de</strong>são, nomeadamente com a criação das “parcerias<br />

para a a<strong>de</strong>são” e o aumento das verbas <strong>de</strong> pré- a<strong>de</strong>são. O Conselho confirmou ainda a<br />

elegibilida<strong>de</strong> da Turquia como candidato à a<strong>de</strong>são à União Europeia, embora a não tenha<br />

incluído no grupo dos países com que o processo <strong>de</strong> alargamento iria começar; foi<br />

igualmente aprovada uma “estratégia europeia para a Turquia”, envolvendo o<br />

aprofundamento da união aduaneira, uma implementação da cooperação financeira, a<br />

aproximação das legislações e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participação, a <strong>de</strong>cidir caso a caso, em<br />

certos programas e em certas agências.<br />

O Conselho do Luxemburgo consi<strong>de</strong>rou que as propostas incluídas na pela Comissão<br />

Europeia na Agenda 2000 constituíam uma boa base <strong>de</strong> trabalho para o prosseguimento<br />

das negociações entre Estados Membros sobre o futuro das políticas da União e sobre as<br />

“perspectivas financeiras para 2000-2006”.<br />

Em 1998, as negociações foram efectivamente iniciadas com os seis países consi<strong>de</strong>rados<br />

na Cimeira do Luxemburgo: Chipre, Hungria, República Checa, Eslovénia, Polónia e<br />

Estónia. A Letónia, Lituânia, Bulgária, Eslováquia e Roménia encetariam negociações com a<br />

União numa fase posterior. Em Setembro <strong>de</strong> 1998, Malta reactivou a candidatura no<br />

Conselho Europeu <strong>de</strong> Cardiff e a União iniciou a preparação <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são da Turquia.<br />

O Conselho Europeu <strong>de</strong> Berlim em Março <strong>de</strong> 1999:<br />

293


Informação Internacional<br />

294<br />

• Aprovou as “perspectivas financeiras 2000-2006”, preparadas com base no<br />

pressuposto que a primeira vaga <strong>de</strong> novos Estados Membros a<strong>de</strong>riria em 2002;<br />

• estabeleceu orientações para a reforma da Política Agrícola Comum e dos Fundos<br />

Estruturais, <strong>de</strong> modo facilitar a entrada <strong>de</strong> novos Estados-membros. Mas a reforma<br />

da PAC para a qual foi finalmente possível obter um compromisso foi <strong>de</strong> tal modo<br />

diluída sob a influência da França, que provavelmente terá que ser <strong>de</strong> novo revisitada<br />

antes do alargamento se concretizar; no que respeita ás ajudas estruturais estas<br />

passarão a ser mais concentras nas regiões mais <strong>de</strong>sfavorecidas.<br />

O Conselho Europeu <strong>de</strong> Helsínquia em Dezembro <strong>de</strong> 1999, realizado após a intervenção<br />

militar da NATO no Kosovo, e na sequência <strong>de</strong> propostas da Comissão Europeia, <strong>de</strong>cidiu<br />

introduzir algumas mudanças <strong>de</strong> rumo no processo do alargamento, mantendo os seus<br />

princípios orientadores. Assim:<br />

• O Conselho reafirmou o carácter inclusivo do processo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, e à luz “... dos<br />

recentes acontecimentos (nota: crise do Kosovo) e tendo em conta as propostas da<br />

Comissão” <strong>de</strong>cidiu alargar a um novo conjunto <strong>de</strong> países – Roménia, Eslováquia,<br />

Letónia, Lituânia, Bulgária e Malta - as negociações sobre as condições <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são e<br />

as adaptações que seriam necessárias introduzir nos Tratados; O Conselho estatuiu<br />

que para esse fim se realizariam, em Fevereiro <strong>de</strong> 2000, conferências<br />

intergovernamentais bilaterais;<br />

• O Conselho abandonou a abordagem <strong>de</strong> uma negociação <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são por “vagas <strong>de</strong><br />

países”, com uma vaga inicial constituído pela Polónia, Hungria, República Checa,<br />

Eslovénia, Estónia e Chipre, passando a consi<strong>de</strong>rar que, durante o processo <strong>de</strong><br />

negociações cada país candidato será apreciado pelas suas particularida<strong>de</strong>s e<br />

realizações próprias; sendo que esta abordagem diferenciadora supõe que a<br />

Comissão abandone o figurino <strong>de</strong> negociação dos mesmos “dossiers” ao mesmo<br />

tempo, primeiro com os países da “primeira vaga” <strong>de</strong>finidos no Conselho Europeu do<br />

Luxemburgo, em Dezembro <strong>de</strong> 1997; <strong>de</strong> tal modo que os países que acabaram <strong>de</strong> ser<br />

inseridos no processo <strong>de</strong> negociação terão a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alcançar, num prazo<br />

razoável, os países com quem as negociações já começaram há mais tempo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que se revelem suficientemente preparados (táctica negocial que passou a ser<br />

conhecida por “regata”);<br />

• O Conselho, ao alargar o âmbito geográfico das negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, insistiu<br />

simultaneamente no principio da resolução pacífica dos diferendos, <strong>de</strong> acordo com a<br />

Carta das Nações Unidas, e convidou insistentemente os países candidatos a que<br />

tudo fizessem para resolver os seus contenciosos fronteiriços, bem como outras<br />

questões <strong>de</strong> natureza semelhante, indicando que se não conseguirem chegar a<br />

acordo entre si <strong>de</strong>verão obrigatoriamente apresentar o caso ao Tribunal Internacional<br />

<strong>de</strong> Justiça num prazo razoável; e até 2004, no máximo, o Conselho Europeu fará o<br />

ponto da situação no que respeita aos diferendos que então ainda subsistirem, tendo<br />

especialmente em conta o seu impacto nos processos <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, e a fim <strong>de</strong><br />

promover a sua resolução graças à intervenção do referido Tribunal;


2000: A Comissão Europeia Avalia os Candidatos ao Alargamento<br />

• O Conselho <strong>de</strong>clarou a Turquia como um país candidato, com vocação a a<strong>de</strong>rir à<br />

União Europeia na base dos mesmos critérios que se aplicam aos outros países<br />

candidatos e beneficiando, como estes, <strong>de</strong> uma estratégia <strong>de</strong> pré a<strong>de</strong>são que vise<br />

encorajar e apoiar as reformas; o Conselho, no entanto, não <strong>de</strong>cidiu iniciar<br />

negociações com a Turquia e explicitou que a metodologia <strong>de</strong> resolução dos<br />

diferendos fronteiriços referida atrás se aplicava especificamente ao caso turco<br />

(incluindo o contencioso);<br />

• O Conselho tomou a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> não condicionar obrigatoriamente a futura a<strong>de</strong>são <strong>de</strong><br />

Chipre à prévia resolução dos diferendos internos entre as comunida<strong>de</strong>s grega e turca<br />

(<strong>de</strong>ixando igualmente subentendido que a futura a<strong>de</strong>são turca também seria vista à<br />

luz do comportamento da Turquia no processo diplomático <strong>de</strong>stinado a resolver a<br />

questão da divisão da ilha);<br />

• O Conselho <strong>de</strong>clarou que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as necessárias reformas institucionais<br />

estivessem realizadas, a União <strong>de</strong>veria estar em posição <strong>de</strong> acolher novos Estadosmembros<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o fim <strong>de</strong> 2002.<br />

Durante o ano <strong>de</strong> 2000 foi visível a diferença <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vista entre os Estados-membros<br />

quanto à oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir datas para a a<strong>de</strong>são dos primeiros candidatos, com o<br />

Reino Unido, a Suécia e a Dinamarca em favor da fixação <strong>de</strong>ssa data enquanto a França e<br />

a Alemanha se manifestavam contra, consi<strong>de</strong>rando que a rapi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são <strong>de</strong>pendia antes<br />

<strong>de</strong> mais da preparação dos candidatos, e que a existência <strong>de</strong> eleições legislativas nos dois<br />

países em 2002 tornavam pouco provável a conclusão <strong>de</strong> negociações sobre capítulos tão<br />

polémicos como o livre movimento <strong>de</strong> pessoas ou a agricultura.<br />

O Parlamento Europeu (PE) interveio nesta discussão, e em Outubro <strong>de</strong> 2000 aprovou uma<br />

resolução em que apelou aos Estados-membros e aos países candidatos para fazerem tudo<br />

o que estivesse ao seu alcance para assegurar que o Parlamento Europeu pu<strong>de</strong>sse aprovar<br />

o primeiro grupo <strong>de</strong> Tratados <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são antes das eleições europeias <strong>de</strong> 2004, por forma a<br />

que os novos Estados-membros pu<strong>de</strong>ssem já participar nessas eleições.<br />

2. 2000 – PERSPECTIVAS PARA O ALARGAMENTO DA UNIÃO EUROPEIA<br />

2.1. Novembro <strong>de</strong> 2000 – a Comissão Europeia avalia os candidatos<br />

Em Novembro <strong>de</strong> 2000 a Comissão Europeia apresentou o seu relatório anual <strong>de</strong> avaliação<br />

dos candidatos e do processo <strong>de</strong> alargamento, do qual se retiram as seguintes conclusões<br />

quanto à posição dos países candidatos face aos critérios <strong>de</strong> Copenhaga:<br />

• quanto aos critérios políticos, reconhece que a maioria dos candidatos (com a<br />

excepção da Turquia) já os satisfazem, mas chama a atenção para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rnizar a administração pública, fortalecer os po<strong>de</strong>res judiciais e combater os<br />

níveis elevados <strong>de</strong> corrupção;<br />

295


Informação Internacional<br />

• quanto aos dois critérios económicos – funcionamento <strong>de</strong> economias <strong>de</strong> mercado e<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suportar a concorrência no quadro da União Europeia – consi<strong>de</strong>ra que<br />

apenas Chipre e Malta os cumprem, embora a Hungria, Polónia, República Checa,<br />

Estónia e Eslovénia venham a estar em condições <strong>de</strong> os cumprir a curto prazo (no<br />

relatório <strong>de</strong> 1999 falava-se <strong>de</strong> “médio prazo”), enquanto a Latvia, Lituânia e Eslováquia<br />

apenas estarão nessas condições a médio prazo e a Roménia e a Bulgária num<br />

horizonte mais distante; no que respeita à Turquia esta <strong>de</strong>veria melhorar o<br />

funcionamento da sua economia <strong>de</strong> mercado;<br />

• quanto à transcrição e aplicação do acervo <strong>de</strong> regras e regulamentos da União Europeia,<br />

os candidatos revelam um progresso contínuo a nível legislativo, mas dificulda<strong>de</strong>s na<br />

aplicação, nomeadamente no que respeita às políticas ambientais, à protecção da<br />

proprieda<strong>de</strong> intelectual e aos mercados públicos.<br />

Em última instância os países candidatos <strong>de</strong>vem implementar a totalida<strong>de</strong> do “acquis<br />

communautaire”, servindo as negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são para verificar se cada candidato<br />

cumpriu efectivamente com esta obrigação, e caso contrário, se são <strong>de</strong> admitir períodos <strong>de</strong><br />

transição em domínios específicos. Embora a Comissão pretenda reduzir a um mínimo<br />

essas transições, têm vindo a multiplicar-se, da parte dos candidatos os pedidos <strong>de</strong> medidas<br />

<strong>de</strong> transição, que já ultrapassaram os 500, dos quais 340 referentes a matérias agrícolas.<br />

Este número elevo levou e a Comissão em 2000 a <strong>de</strong>finir um modo <strong>de</strong> os tratar. Assim a<br />

regra básica é a <strong>de</strong> que para o mercado interno, as medidas <strong>de</strong> transição serão difíceis <strong>de</strong><br />

justificar, enquanto para áreas em que o cumprimento envolva recursos financeiros<br />

avultados, como o ambiente, a energia ou as infra-estruturas <strong>de</strong> transporte são aceitáveis<br />

períodos <strong>de</strong> transição reduzidos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que os candidatos apresentem planos <strong>de</strong>talhados e<br />

realistas para realizar a aproximação às normas comunitárias, sendo que cada medida<br />

transitória será aprovada caso por caso<br />

Tomando o conjunto dos critérios, a Comissão proce<strong>de</strong>u à elaboração <strong>de</strong> um ”ranking” dos<br />

candidatos em cinco grupos, dos mais bem posicionados para os que se encontram em pior<br />

situação:<br />

296<br />

• 1º grupo - Chipre e Malta<br />

• 2º grupo - Estónia, Hungria e Polónia<br />

• 3º grupo - República Checa e Eslovénia<br />

• 4º grupo - Letónia, Lituânia e Eslováquia<br />

• 5º grupo - Bulgária e Roménia<br />

No seu documento a Comissão Europeia reconhecia que os capítulos que restavam<br />

negociar com os países candidatos eram os mais difíceis (sendo relativamente a eles que<br />

incidiam a maioria dos pedidos quanto a regimes <strong>de</strong> transição) e propôs um calendário<br />

possível para a sua abordagem. Assim:<br />

• no primeiro semestre <strong>de</strong> 2001: <strong>de</strong>veriam estar terminados os capítulos relativos à livre<br />

movimentação <strong>de</strong> bens, serviços, pessoas e capitais, à legislação sobre empresas, à


2000: A Comissão Europeia Avalia os Candidatos ao Alargamento<br />

política cultural e do audiovisual, às políticas social e ambiental e às relações<br />

exteriores;<br />

• no segundo semestre <strong>de</strong> 2001 <strong>de</strong>veriam estar concluídos os capítulos relativos à<br />

política <strong>de</strong> concorrência, transportes, energia, fiscalida<strong>de</strong>, união aduaneira, Agricultura<br />

(na vertente dos controles veterinários e fitosanitários), pescas, justiça, controle<br />

financeiro;<br />

• na primeira meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> 2002 <strong>de</strong>veriam ser concluídos os capítulos agricultura (nas<br />

restantes vertentes), política regional, provisões orçamentais e instituições.<br />

Refira-se que <strong>de</strong> acordo com este calendário aponta pois para que os primeiros tratados <strong>de</strong><br />

a<strong>de</strong>são pu<strong>de</strong>ssem estar negociados e assinados até ao final <strong>de</strong> 2002 ∗ (*), a que se<br />

seguiriam entre 12 a 18 meses para as ratificações <strong>de</strong>sses tratados por todos os actuais<br />

Estados-membros e pelos países candidatos, o que aponta para que as primeiras a<strong>de</strong>sões<br />

se concretizem em 2004 (ou mais seguramente em 2005), ao contrário das pretensões dos<br />

candidatos mais avançados como a Polónia ou a Hungria que pretendiam que essa a<strong>de</strong>são<br />

fosse realizada já em Janeiro <strong>de</strong> 2003.<br />

A 4 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2000, a reunião do Conselho <strong>de</strong> Assuntos Gerais, pronunciou-se<br />

favoravelmente sobre as orientações propostas pela Comissão para o processo <strong>de</strong><br />

alargamento:<br />

• reafirmou, na oportunida<strong>de</strong>, a priorida<strong>de</strong> política atribuída ao êxito do processo <strong>de</strong><br />

alargamento, consi<strong>de</strong>rando que a União dispõe, além disso, no quadro dos relatórios<br />

regulares e dos painéis <strong>de</strong> avaliação, os instrumentos necessários ao<br />

acompanhamento da preparação <strong>de</strong> cada candidato, bem como dos compromissos<br />

assumidos nas negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são; esses instrumentos, nos quais tanto a União<br />

como os países candidatos terão <strong>de</strong> se apoiar, contribuirão para a eficácia das<br />

negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, e consequentemente para a sua conclusão nos mais breves<br />

prazos;<br />

• consi<strong>de</strong>rou que a intensificação <strong>de</strong>ssas negociações, que nos últimos meses<br />

entraram gradualmente no cerne das questões a resolver, possibilitou progressos<br />

muito importantes que proporcionam uma base sólida para negociações substanciais<br />

relativamente a muitos pontos-chave; sendo que, por um lado, em numerosos<br />

domínios, já não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> negociações suplementares, e por outro lado, a<br />

análise caso por caso dos pedidos <strong>de</strong> regimes transitórios <strong>de</strong>u os seus primeiros<br />

resultados, com a aceitação <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>sses pedidos;<br />

• congratulou-se com a “folha itinerário” sugerida para os 18 próximos meses pela<br />

Comissão, cuja ambição partilha nas suas gran<strong>de</strong>s linhas, consi<strong>de</strong>rando que constitui<br />

∗ Recor<strong>de</strong>-se que até este momento o final <strong>de</strong> 2002 era tido, pelo menos por alguns países candidatos, como<br />

sendo a data para estar já concluído o próprio processo <strong>de</strong> ratificações, por forma a permitir que as primeiras<br />

a<strong>de</strong>sões se realizassem em 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2003.<br />

297


Informação Internacional<br />

298<br />

um quadro indicativo e flexível, que, na sua concretização, po<strong>de</strong>rá ser ajustado em<br />

função dos progressos efectuados com cada candidato, inclusivamente com vista a<br />

dar aos candidatos mais bem preparados a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> progredirem mais<br />

rapidamente nas negociações. O prosseguimento e a conclusão das negociações <strong>de</strong><br />

a<strong>de</strong>são assentam, com efeito, nos méritos próprios <strong>de</strong> cada candidato, o que permite<br />

uma abordagem diferenciada e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recuperação;<br />

• consi<strong>de</strong>rou que após a conclusão da Conferência Intergovernamental sobre a reforma<br />

das Instituições, esta abordagem permitirá à União estar em condições <strong>de</strong> acolher, a<br />

partir <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2003, os candidatos que estiverem prontos, em<br />

conformida<strong>de</strong> com o objectivo adoptado pelo Conselho Europeu em Helsínquia;<br />

• recordou que, no que diz respeito aos períodos transitórios pedidos pelos países<br />

candidatos e que em certos casos po<strong>de</strong>rão afigurar-se necessários, a análise <strong>de</strong>sses<br />

pedidos <strong>de</strong>verá prosseguir com base nos critérios gerais <strong>de</strong>finidos pela União e<br />

segundo uma abordagem caso por caso; a própria União po<strong>de</strong>rá fazer valer a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> certos acordos transitórios, no seu próprio interesse; e tendo tomado<br />

conhecimento, com interesse. da proposta da Comissão que visa clarificar os pedidos<br />

<strong>de</strong> períodos transitórios em três categorias – aceitáveis, negociáveis, inaceitáveis –<br />

consi<strong>de</strong>rou que a análise <strong>de</strong>sses pedidos <strong>de</strong>verá ser acompanhada por um<br />

compromisso claro dos países candidatos no sentido <strong>de</strong> transporem e implementarem<br />

o acervo <strong>de</strong> maneira efectiva.<br />

2.2. Um Mapa Possível para o Alargamento a Médio Prazo da União Europeia<br />

Em síntese po<strong>de</strong> afirmar-se que em finais <strong>de</strong> 2000 e tendo em consi<strong>de</strong>ração:<br />

• o atraso da Roménia e da Bulgária face aos outros candidatos e as resistências<br />

internas na União, relativamente a uma eventual a<strong>de</strong>são da Turquia, e<br />

• a pouca probabilida<strong>de</strong> da a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> só um ou dois dos três Estados bálticos bem<br />

como <strong>de</strong> uma a<strong>de</strong>são da República Checa que não fosse acompanhada pela<br />

Eslováquia, mesmo que em períodos diferentes,<br />

se podia afirmar que a configuração do alargamento que prevalecia ainda nesse momento<br />

no seio da União Europeia apontava para um processo que envolverá:<br />

• quatro países do Báltico – Polónia, Estónia, Lituânia e Latvia – em que a influência<br />

tradicional da Alemanha coexiste com a <strong>de</strong> outros Estados-membros, como a dos<br />

países escandinavos;<br />

• quatro países da Europa Central <strong>de</strong> influência tradicional germânica – Hungria,<br />

República Checa, Eslováquia e Eslovénia;<br />

• dois países do Mediterrâneo-Malta e a República <strong>de</strong> Chipre sob controlo dos cipriotas<br />

gregos e influência da Grécia.


2000: A Comissão Europeia Avalia os Candidatos ao Alargamento<br />

Mas já em 2000, após a mudança <strong>de</strong> regime em Belgrado, que reintegrou a Sérvia e a ex-<br />

Jugoslávia no concerto europeu, se tornou evi<strong>de</strong>nte que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong>ste<br />

alargamento, a União Europeia teria também que respon<strong>de</strong>r, a prazo, e <strong>de</strong> forma interligada,<br />

a duas questões:<br />

• Como tratar da a<strong>de</strong>são da Turquia, da Roménia e da Bulgária?<br />

• Como aprofundar os mecanismos <strong>de</strong> cooperação com Estados dos Balcãs<br />

Oci<strong>de</strong>ntais, existentes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1999 (vd. Caixa)?<br />

Por forma a contribuir <strong>de</strong>cisivamente para a estabilização da zona mais turbulenta da<br />

Europa.<br />

Mapa 1<br />

O ALARGAMENTO DA UNIÃO EUROPEIA – UMA POSSÍVEL CONCRETIZAÇÃO A MÉDIO PRAZO<br />

Estados membros em 2000<br />

Novos Estados Membros da UE<br />

Zona <strong>de</strong> turbulências<br />

não integrada na UE<br />

Dinamarca<br />

Suécia<br />

Finlândia<br />

Estónia<br />

Lituânia<br />

Letónia<br />

Irlanda<br />

Reino Unido<br />

Holanda<br />

Polónia<br />

Alemanha<br />

Bélgica<br />

Luxemburgo<br />

R. Checa<br />

Áustria<br />

Eslováquia<br />

Hungria<br />

França<br />

Eslovénia<br />

Roménia<br />

Croácia<br />

Sérvia+Montenegro<br />

Bósnia-Herz.<br />

Itália<br />

Bulgária<br />

Macedónia<br />

Albânia<br />

Portugal<br />

Espanha<br />

Grécia<br />

Malta<br />

Turqui a<br />

Chipre<br />

299


Informação Internacional<br />

300<br />

A UNIÃO EUROPEIA E OS BALCÃS OCIDENTAIS<br />

Os “Acordos <strong>de</strong> Estabilização e Associação” constituem o quadro para a política da União Europeia nos Balcãs<br />

Oci<strong>de</strong>ntais, fornecendo as bases para o diálogo político, a adopção <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> largo alcance no que<br />

respeita à liberalização do comércio, a assistência financeira, o apoio ao reforço da cooperação entre Estados<br />

vizinhos em múltiplas esferas da vida económica e social, etc.. Este quadro permite a cada país da região<br />

mover-se ao ritmo que preten<strong>de</strong>r, contando para tal com a ajuda técnica e financeira da União. Em Novembro<br />

<strong>de</strong> 2000 a situação quanto a este processo era a seguinte:<br />

• as negociações do Acordo <strong>de</strong> Estabilização e Associação com a FYROM (antiga República<br />

Jugoslava da Macedónia) estavam em vias <strong>de</strong> finalização;<br />

• a Comissão tinha proposto abrir negociações com a Croácia para um Acordo <strong>de</strong>sse tipo,<br />

como reconhecimento da a<strong>de</strong>são aos valores <strong>de</strong>mocráticos revelada pelo novo governo saído<br />

das eleições <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2000, bem como da <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>r um conjunto <strong>de</strong><br />

ambiciosas reformas estruturais;<br />

• o Governo da Albânia estava a colaborar estreitamente com a Comissão Europeia no sentido<br />

<strong>de</strong> introduzir as reformas preparatórias da abertura <strong>de</strong> negociações para um Acordo <strong>de</strong><br />

Estabilização e associação;<br />

• na Bósnia Herzegovina, a Comissão europeia, com o apoio mais amplo da comunida<strong>de</strong><br />

internacional indicou as medidas que seria necessário introduzir a fim <strong>de</strong> criar as condições<br />

para a negociação <strong>de</strong> um Acordo;<br />

• o Governo da República do Montenegro, parte da República Fe<strong>de</strong>ral da Jugoslávia po<strong>de</strong><br />

beneficiar durante o ano 2000 <strong>de</strong> apoio político e financeiro da União Europeia para manter a<br />

sua opção pela <strong>de</strong>mocracia e as reformas, face ao regime sérvio;<br />

• a evolução verificada na Sérvia, que levaram à <strong>de</strong>posição do regime <strong>de</strong> S. Milosevi, e à<br />

<strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> se reintegrar na dinâmica europeia, criou condições para que seja possível<br />

encarar a eventual negociação <strong>de</strong> um acordo com a República Fe<strong>de</strong>ral da Jugoslávia;<br />

• no Kosovo, a União Europeia tem sido o principal doador civil para a reconstrução do<br />

território, nomeadamente através da Agência Europeia para a Reconstrução.<br />

Refira-se que no Conselho Europeu <strong>de</strong> Santa Maria da Feira, em Junho <strong>de</strong> 2000, foi acordado que todos os<br />

Estados dos Balcãs Oci<strong>de</strong>ntais são “candidatos potenciais” à União Europeia.<br />

Fonte: “Strategy paper”, “Regular Reports from the Commission on Progress towards Accession by each of the<br />

Candidate Countries”, November 8, 2000, The European Commission<br />

3. A ANÁLISE COMPARADA DAS ECONOMIAS DOS PAÍSES CANDIDATOS – O CASO<br />

DO 2º E 3º GRUPOS<br />

O texto que se segue recai sobre a avaliação feita pela Comissão Europeia no documento<br />

tornado público a 8 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2000, e inci<strong>de</strong> exclusivamente sobre os aspectos<br />

económicos <strong>de</strong>ssa avaliação e reporta-se apenas aos cinco países incluídos nos 2º e 3º<br />

grupos, por se consi<strong>de</strong>rar são os candidatos da Europa central e báltica com mais fortes<br />

probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> primeiro virem a integrar a União Europeia.<br />

Antes <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r a uma análise que permita distinguir os candidatos, apresentam-se<br />

alguns breves apontamentos sobre a evolução recente verificada no conjunto <strong>de</strong>sses cinco<br />

países:


2000: A Comissão Europeia Avalia os Candidatos ao Alargamento<br />

• no segundo semestre <strong>de</strong> 1999, foi atingida uma certa estabilida<strong>de</strong> em termos<br />

económicos, possibilitando que <strong>de</strong>terminadas políticas adoptadas pu<strong>de</strong>ssem<br />

contribuir para o rápido crescimento das economias, sendo <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar os bons<br />

<strong>de</strong>sempenhos da Hungria, Polónia e Eslovénia, que <strong>de</strong>vem prosseguir em 2000,<br />

enquanto as Repúblicas da Estónia e Checa, <strong>de</strong>siludiram em termos <strong>de</strong> crescimento<br />

económico no ano <strong>de</strong> 1999, havendo sinais <strong>de</strong> retoma em 2000;<br />

• em relação à taxa <strong>de</strong> inflação mantém-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a fazer evoluir para nível<br />

que mo<strong>de</strong>rado, não obstante a conjuntura mundial não ter sido favorável, <strong>de</strong>vido ao<br />

aumento do preço do petróleo e a outros factores, que têm provocado na Hungria,<br />

Polónia e Eslovénia pressões inflacionistas preocupantes;<br />

• em termos do critério <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego, dos cinco países analisados, todos<br />

apresentam taxas elevadas, embora os motivos que contribuíram para esse resultado<br />

sejam díspares: reestruturações sectoriais, diferenças regionais, evolução<br />

<strong>de</strong>mográfica, baixa qualificação da mão-<strong>de</strong>-obra, baixa flexibilida<strong>de</strong> laboral, entre<br />

outros;<br />

• as Balanças <strong>de</strong> Transacções Correntes dos países analisados, com excepção da<br />

Polónia e Eslovénia, apresentaram uma ligeira melhoria em termos <strong>de</strong> saldo, <strong>de</strong>vido<br />

ao aumento da procura externa e à diminuição das importações; contudo os choques<br />

exteriores têm causado preocupações para a economia polaca, o mesmo não<br />

acontecendo com a Eslovénia cujo agravamento do défice se explica pelo forte<br />

crescimento procura interna;<br />

• Quanto ao Investimento Directo Estrangeiro (IDE), que constitui um dos principais<br />

instrumentos <strong>de</strong> transformação económica, po<strong>de</strong> concluir-se que <strong>de</strong> um modo geral<br />

todas elas têm atraído montantes consi<strong>de</strong>ráveis, sobretudo <strong>de</strong> investidores <strong>de</strong> países<br />

da UE, embora a República Checa se venha a <strong>de</strong>stacar como <strong>de</strong>stino preferencial <strong>de</strong><br />

IDE;<br />

A AVALIAÇÃO DA COMISSÃO EUROPEIA Á SITUAÇÃO ECONÓMICA DE CINCO PAÍSES<br />

CANDIDATOS<br />

• A Estónia, é uma economia <strong>de</strong> mercado, capaz <strong>de</strong> fazer face à concorrência a às forças <strong>de</strong><br />

mercado no interior da União, <strong>de</strong>vido aos progressos que tem feito em prol da estabilida<strong>de</strong><br />

macroeconómica assim como as reestruturações <strong>de</strong> empresas e do sector financeiro. As<br />

reformas estruturais em sectores especiais permitem que esteja adaptada à competitivida<strong>de</strong><br />

externa;<br />

• A Hungria como economia <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong> viável <strong>de</strong>verá em breve estar preparada para<br />

enfrentar a concorrência e as forças <strong>de</strong> mercado no interior da União pelo que <strong>de</strong>verá<br />

prosseguir com o seu processo <strong>de</strong> reformas. Actualmente já fez consi<strong>de</strong>ráveis progressos em<br />

termos <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> macroeconómica, <strong>de</strong>vendo continuar a <strong>de</strong>senvolver as infra-estruturas<br />

e reestruturar empresas. De referir que existem gran<strong>de</strong>s assimetrias regionais na Hungria e<br />

falta <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra qualificada em sectores <strong>de</strong> crescimento, por isso há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

lutar contra as disparida<strong>de</strong>s regionais e <strong>de</strong> flexibilizar a mobilida<strong>de</strong> do trabalho. Apesar <strong>de</strong><br />

uma evolução positiva no sector financeiro, este ainda tem um longo caminho a percorrer,<br />

sobretudo nos serviços prestados às pequenas e médias empresas nacionais;<br />

301


Informação Internacional<br />

302<br />

• A Polónia <strong>de</strong>verá continuar o processo <strong>de</strong> reformas, apesar dos esforços em termos da<br />

estabilida<strong>de</strong> macroeconómica terem atingido um nível satisfatório, com resultados mesmo<br />

impressionantes. As privatizações realizam-se a bom ritmo assim como as reestruturações <strong>de</strong><br />

sectores sensíveis. No que refere ao sector financeiro, apesar <strong>de</strong> este se ter <strong>de</strong>senvolvido,<br />

<strong>de</strong>verão ser tomadas medidas em termos <strong>de</strong> regulamentação e supervisão das instituições<br />

financeiras não bancárias;<br />

• A República Checa po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada uma economia <strong>de</strong> mercado viável e <strong>de</strong>verá ser<br />

capaz <strong>de</strong> enfrentar a pressão concorrencial e as forças <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong>ntro da União, pelo que<br />

<strong>de</strong>verá continuar com as reformas estruturais. Em termos <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> macroeconómica<br />

melhorou os seus resultados. As privatizações têm avançado, mas <strong>de</strong>verá prosseguir com a<br />

reestruturação <strong>de</strong> empresas públicas e melhorar a gestão. Em termos do sector financeiro há<br />

que continuar o aperfeiçoamento do quadro regulamentar;<br />

• A Eslovénia à semelhança dos outros países aqui consi<strong>de</strong>rados, também é consi<strong>de</strong>rada uma<br />

economia <strong>de</strong> mercado viável, po<strong>de</strong>ndo em breve enfrentar a pressão concorrencial e as<br />

forças <strong>de</strong> mercado <strong>de</strong>ntro da União, pelo que <strong>de</strong>verá continuar com as reformas necessárias<br />

para reforçar a própria concorrência na sua economia. Em termos <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong><br />

macroeconómica <strong>de</strong>verá melhorar o equilíbrio externo. De referir que o Estado ainda exerce<br />

uma consi<strong>de</strong>rável influência em certos sectores da economia e os processos <strong>de</strong> privatizações<br />

são lentos, afastando por isso o investimento directo estrangeiro.<br />

• as reformas estruturais no sistema financeiro e as privatizações <strong>de</strong> alguns bancos<br />

têm avançado a um ritmo lento, com excepção da Estónia, Hungria e Polónia, em que<br />

o sistema financeiro <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>stes Estados possui um nível elevado <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento. Em contraste com os sistemas financeiros da República Checa e da<br />

Eslovénia apresentam <strong>de</strong>ficiências preocupantes a vários níveis;<br />

• no que se refere aos programas <strong>de</strong> privatizações, constata-se que têm avançado a<br />

bom ritmo nos vários países; sendo a Estónia aquele que se encontra mais avançado<br />

nesta matéria, restando algumas gran<strong>de</strong>s empresas por privatizar; na Hungria o<br />

processo <strong>de</strong> privatizações está praticamente concluído; na Polónia as programas <strong>de</strong><br />

privatizações estão a avançar a bom ritmo, o mesmo não acontecendo na República<br />

Checa on<strong>de</strong> tem havido algumas irregularida<strong>de</strong>s e frau<strong>de</strong>s, provocando atrasos no<br />

processo; enquanto na Eslovénia a falta <strong>de</strong> transparência do sistema e as pressões<br />

políticas existentes afastam os investidores estrangeiros, atrasando o processo <strong>de</strong><br />

Em termos <strong>de</strong> enquadramento empresarial nos vários países, há a referir que as<br />

pequenas e médias empresas têm um peso significativo nas várias economias quer em<br />

termos <strong>de</strong> empregos que geram, quer na sua contribuição para o produto interno bruto<br />

(PIB); no entanto, existem problemas por resolver, que provocam dificulda<strong>de</strong>s às empresas,<br />

como a falta <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra qualificada na Estónia, Hungria e Polónia ou a existência <strong>de</strong><br />

obstáculos jurídicos, burocracias, corrupção, gestão e direcção empresarial pouco<br />

eficientes, etc…. sendo ainda <strong>de</strong> referir que as reestruturações <strong>de</strong> empresas por vezes são<br />

lentas, limitando <strong>de</strong>sta forma os ganhos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>.


3.1. Situação macroeconómica – quadros síntese<br />

3.1.1. Critério do crescimento económico<br />

3.1.2. Critério da inflação<br />

2000: A Comissão Europeia Avalia os Candidatos ao Alargamento<br />

Critério Estónia Hungria Polónia República Checa Eslovénia<br />

Crescimento<br />

Económico<br />

Em 1999, a activida<strong>de</strong><br />

económica recuou 1,1%,<br />

<strong>de</strong>vido à contracção da<br />

procura interna e ao<br />

impacto da crise russa<br />

Mas no primeiro semestre<br />

<strong>de</strong> 2000, o PIB em termos<br />

reais progrediu <strong>de</strong> tal<br />

forma que as estimativas<br />

indicavam um crescimento<br />

<strong>de</strong> 6,4% em relação ao<br />

mesmo período <strong>de</strong> 1999,<br />

sendo provável que , para<br />

2000 no seu conjunto<br />

atinja 5%. Para esta<br />

retoma no crescimento<br />

contribuíram <strong>de</strong> forma<br />

relevante, a formação<br />

bruta <strong>de</strong> capital fixo e as<br />

exportações.<br />

Em 1999, a economia<br />

húngara cresceu, em<br />

termos reais, 4,5%, uma<br />

taxa ligeiramente inferior à<br />

do ano <strong>de</strong> 1998.<br />

Para o primeiro semestre<br />

<strong>de</strong> 2000 foi estimado um<br />

crescimento <strong>de</strong> 6,2% -<br />

“puxado” pelo aumento da<br />

produção industrial <strong>de</strong> -<br />

21%. Para esse valor –<br />

contribuiram em especial<br />

o investimento e as<br />

exportações, que<br />

registararm um<br />

crescimento <strong>de</strong> 35% nos<br />

primeiros sete meses do<br />

ano<br />

Em 1999, a economia<br />

cresceu, em termos reais, a<br />

um ritmo <strong>de</strong> 4,1%. No<br />

primeiro semestre <strong>de</strong> 2000,<br />

houve uma aceleração para<br />

os 5,6%, pelo que se estima<br />

que o PIB tenha aumentado,<br />

para o conjunto do ano, a<br />

uma taxa <strong>de</strong> 5,9% A<br />

produção industrial cresceu<br />

a um ritmo elevado, mais <strong>de</strong><br />

10% entre Janeiro e Maio <strong>de</strong><br />

2000, contra 4,3% no<br />

período homologo <strong>de</strong> 1999.<br />

O consumo privado cresceu<br />

5% em termos reais e a<br />

formação bruta <strong>de</strong> capital<br />

fixo 6,9%. O sector externo<br />

também contribuiu para esse<br />

crescimento, tendo as<br />

exportações, só no primeiro<br />

trimestre, crescido 9,2%.<br />

Em 1997, 1998 e 1999 a<br />

economia checa esteve em<br />

recessão, tendo o seu<br />

crescimento negaitivo em<br />

1999 sido <strong>de</strong> – 0,2%.<br />

Após a recessão a<br />

economia <strong>de</strong>u sinais <strong>de</strong><br />

retoma, embora <strong>de</strong> forma<br />

lenta, “puxada” pela procura<br />

externa - graças<br />

nomedadamente, ao vigor<br />

das exportações para a UE -<br />

e ao consumo privado.<br />

A formação bruta <strong>de</strong> capital<br />

fixo que se reduziu em<br />

(5,5%), no primeiro<br />

semestre <strong>de</strong> 2000 retomou<br />

no segundo e a economia<br />

encaminhava-se para um<br />

crescimento <strong>de</strong> 2,5% no<br />

conjunto do ano 2000<br />

Em 1997, 1998 e 1999 a<br />

economia eslovena cresceu<br />

a um ritmo anual médio <strong>de</strong><br />

4%,, tendo atingido os 4,9%<br />

no último <strong>de</strong>stes três anos,<br />

O crescimento registado<br />

<strong>de</strong>ve-se em gran<strong>de</strong> parte às<br />

exportações (que<br />

representam cerca <strong>de</strong> 50%<br />

do PIB, sendo dois terços já<br />

<strong>de</strong>stinadas aos mercados da<br />

EU), ao investimento e ao<br />

consumo privado. Mas outro<br />

factor possível <strong>de</strong>ste<br />

crescimento vigoroso po<strong>de</strong><br />

ter sido a substituição dos<br />

impostos sobre as<br />

transacções pelo Imposto<br />

sobre o valor acrescentado,<br />

que teria encorajado a<br />

“oficialização” <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s<br />

que pertenciam<br />

anteriormente a uma<br />

“economia subterrânea”.<br />

Critério Estónia Hungria Polónia República Checa Eslovénia<br />

Inflação<br />

No que se refere à taxa <strong>de</strong><br />

inflação, esta tem vindo a<br />

evoluir positivamente nos<br />

últimos anos. De 1996<br />

para 2000, diminuiu, em<br />

termos médios anuais <strong>de</strong><br />

19,8% para 3,7%,<br />

respectivamente.<br />

A inflação tem sido<br />

preocupante para o país..<br />

Em1999, a taxa anual foi<br />

<strong>de</strong> 10%, O aumento do<br />

preço do petróleo e dos<br />

produtos alimentares<br />

contribuíram bastante para<br />

esse aumento. Num<br />

esforço para controlar a<br />

inflação o governo fixou<br />

em 6% o aumento dos<br />

preços para 2000. Mas<br />

<strong>de</strong>vido a antecipações<br />

inflacionistas o aumento<br />

dos salários nominais foi<br />

superior a 13%, tendo o<br />

governo reconhecido que o<br />

objectivo dos 6 % não<br />

seria alcançado,.<br />

estimando-se que em 2000<br />

a inflacção, embora mais<br />

baixa do que no ano<br />

anterior, atinja os 8,3%<br />

A inflação tem constituído<br />

um problma para o governo<br />

polaco. Em 1997 e 1998 a<br />

taxa <strong>de</strong> inflação foi <strong>de</strong> 15,1%<br />

e 11,8%, respectivamente.<br />

No segundo semestre <strong>de</strong><br />

1999 os preços aumentaram<br />

consi<strong>de</strong>ravelmente, <strong>de</strong>vido à<br />

subida do preço <strong>de</strong> produtos<br />

alimentares e dos<br />

combustíveis, à <strong>de</strong>preciação<br />

da divisa polaca, ao<br />

aumento <strong>de</strong> direitos<br />

aduaneiros, mas a inflacção<br />

para o conjunto do ano <strong>de</strong><br />

situou-se num patamar<br />

menos elevado, <strong>de</strong> 7,3%.<br />

Mas as estimativas para<br />

2000 apontam para um novo<br />

salto, agora para os 10,4%.<br />

Em Abril <strong>de</strong> 2000 a Polónia<br />

optou pelo regime <strong>de</strong><br />

câmbios flutuantes <strong>de</strong>cisão<br />

compatível com o objectivo<br />

<strong>de</strong> combate à inflação.<br />

Em relação ao passado<br />

próximo, a inflação, em<br />

termos médios tem vindo a<br />

diminuir fortemente, sendo<br />

que em 1998, situava-se em<br />

10,6%, passando para 2,1%<br />

em 1999. O Banco Nacional<br />

Checo que tinha fixado o<br />

objectivo da inflação em 4,5<br />

+ 0,5%, viu assim este<br />

objectivo respeitado <strong>de</strong><br />

forma significativa. Esta<br />

forte <strong>de</strong>sinflação foi<br />

resultado <strong>de</strong> uma política<br />

monetária pru<strong>de</strong>nte. No final<br />

<strong>de</strong> 1999, com a retoma do<br />

processo <strong>de</strong> liberalização<br />

dos preços, a subida<br />

mundial do preço do<br />

petróleo e o arrefecimento<br />

da activida<strong>de</strong> económica<br />

assistiu-se aum retoma da<br />

inflação que registou em<br />

2000 uma taxa <strong>de</strong> 4,9%.<br />

A inflacção em 1997 e 1998<br />

foi respectivamente <strong>de</strong> 8,8%<br />

e 8%, , tendo <strong>de</strong>scido para<br />

os 6,1 % em 1999<br />

O primeiro semestre <strong>de</strong><br />

2000, foi marcado por uma<br />

aceleração na inflação <strong>de</strong><br />

base, alimentada pela subida<br />

do preço do petróleo, dos<br />

preços administrados, e da<br />

in<strong>de</strong>xação geral dos salários<br />

e pensões. No conjunto do<br />

ano estima-se que ainflação<br />

venha a atingir os 8,7%<br />

Face a esta subida da taxa<br />

<strong>de</strong> inflação e à <strong>de</strong>terioração<br />

da situação na balança <strong>de</strong><br />

transacções correntes, o<br />

Banco da Eslovénia teve que<br />

adaptar a sua política<br />

monetária,<br />

303


Informação Internacional<br />

3.1.3. Critério do <strong>de</strong>semprego<br />

3.1.4. Critério da balança <strong>de</strong> transacções correntes<br />

304<br />

Critério Estónia Hungria Polónia República Checa Eslovénia<br />

Desemprego<br />

O <strong>de</strong>semprego alastrou-se<br />

à população activa no<br />

segundo trimestre <strong>de</strong> 2000,<br />

atingimndo uma taxa <strong>de</strong><br />

13,2%. Esta situação<br />

explica-se essencialmente<br />

pelo diminuição do<br />

crescimento económico<br />

verificada em 1999 e pela<br />

reestruturação <strong>de</strong><br />

numerosos sectores. O<br />

emprego nas activida<strong>de</strong>s<br />

agrícolas, no ensino, e<br />

assistência social<br />

conheceu uma forte<br />

recessão no segundo<br />

trimestre <strong>de</strong> 1999,<br />

enquanto que no sector<br />

manufactureiro se verificou<br />

uma melhoria.<br />

O <strong>de</strong>semprego nos últimos<br />

anos tem diminuído<br />

consi<strong>de</strong>ravelmente. Em<br />

termos <strong>de</strong> população<br />

activa a taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>semprego em Junho <strong>de</strong><br />

2000 situava-se nos 6,5%,<br />

contra 7,4% no mesmo<br />

período do ano 1999.<br />

Mas na Hungria existem<br />

assinaláveis diferenças<br />

regionais em termo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>semprego,: assim,<br />

enquanto que no norte<br />

este atinge uma taxa <strong>de</strong><br />

12%, na região oci<strong>de</strong>ntal<br />

do Danúbio a taxa é <strong>de</strong><br />

apenas 4%.<br />

A taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego<br />

elevada constitui um <strong>de</strong>safio<br />

político muito importante<br />

para a Polónia. <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mês<br />

<strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 1998, que a<br />

taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego não<br />

cessou <strong>de</strong> crescer, atingindo<br />

mais <strong>de</strong> 15% em 1999. Se o<br />

<strong>de</strong>semprego elevado resulta<br />

<strong>de</strong> reestruturações e da<br />

evolução <strong>de</strong>mográfica, há<br />

também necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

melhorar o funcionamento<br />

do mercado <strong>de</strong> trabalho. A<br />

taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego <strong>de</strong><br />

pessoas com menos <strong>de</strong> 25<br />

anos atinge os 30%, e o<br />

<strong>de</strong>semprego afecta bastante<br />

os trabalhadores pouco<br />

qualificados.<br />

Na Polónia a taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>semprego é<br />

territorialmente dispersa<br />

variando entre 9% e 20%,<br />

conforme as regiões.<br />

O taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego é<br />

relativamente elevada na<br />

República Checa. Esta<br />

situação é acompanhada <strong>de</strong><br />

fortes diferenças regionais.<br />

Atingiu 9,8% no final <strong>de</strong><br />

Janeiro <strong>de</strong> 2000,<br />

verificando-se uma inflexão<br />

em finais <strong>de</strong> Agosto, m~es<br />

em que atingiu os 9%. Este<br />

recuo na taxa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>semprego está<br />

directamente relacionado<br />

com a retoma económica e<br />

com os empregos criados<br />

pelos investidores<br />

estrangeiros. Mas a<br />

reestruturação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

empresas, a redução do<br />

<strong>de</strong>semprego estrutural e a<br />

flexibilida<strong>de</strong> no mercado <strong>de</strong><br />

trabalho, continuam a<br />

cosntituir temas <strong>de</strong><br />

actualida<strong>de</strong> na República<br />

Checa,<br />

A taxa média <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego<br />

passou <strong>de</strong> 7,9% em 1998<br />

para 7,6% em 1999, muito<br />

embora o emprego total<br />

registasse uma ligeira<br />

diminuição. O problema<br />

maior na Eslovénia, é o<br />

<strong>de</strong>semprego <strong>de</strong> longa<br />

duração. Este <strong>de</strong>semprego<br />

atinge sobretudo<br />

trabalhadores <strong>de</strong> uma certa<br />

ida<strong>de</strong> e pouco qualificados.<br />

O governo <strong>de</strong>finiu objectivos<br />

estratégicos para o mercado<br />

<strong>de</strong> trabalho num plano <strong>de</strong><br />

acção nacional <strong>de</strong> emprego<br />

para 2000 - 2001. Por outro<br />

lado o projecto lei sobre<br />

relações no mercado <strong>de</strong><br />

trabalho apresentadas em<br />

1997 encontra-se em estudo<br />

no parlamento esloveno.<br />

Uma vez adoptado permitirá<br />

entre outros aspectos<br />

suprimir alguma rigi<strong>de</strong>z no<br />

mercado do trabalho.<br />

Critério Estónia Hungria Polónia República Checa Eslovénia<br />

Balança <strong>de</strong><br />

Transacções<br />

Correntes<br />

Em 1999, o défice corrente<br />

foi <strong>de</strong> 6,2% do PIB, uma<br />

importante diminuição em<br />

relação a 1997 e 1998. No<br />

primeiro semestre <strong>de</strong> 2000<br />

houve um ligeiro aumento<br />

do défice comercial <strong>de</strong>vido<br />

à forte procura interna.<br />

As exportações <strong>de</strong> bens<br />

conheceram um período<br />

<strong>de</strong> crescimento vigoroso<br />

(+49% em valor nos<br />

primeiros sete meses do<br />

ano 2000), mais que as<br />

importações, enquanto que<br />

o aumento continuo das<br />

exportações <strong>de</strong> serviços<br />

(31% no primeiro trimestre)<br />

contribuíram bastante para<br />

o exce<strong>de</strong>nte verificado na<br />

balança <strong>de</strong> serviços.<br />

Para 1999, o défice<br />

corrente foi <strong>de</strong> 4,3% do<br />

PIB, ou seja uma redução<br />

<strong>de</strong> 0,5% em relação a<br />

1998. Esta evolução<br />

favorável prolongou-se nos<br />

primeiros cinco meses <strong>de</strong><br />

2000, mas consi<strong>de</strong>rando o<br />

o conjunto <strong>de</strong>ste ano o<br />

défice acabará acabe por<br />

atingir um valor<br />

ligeiramente mais elevado<br />

do que em 1999 - 4,5%.<br />

O forte crescimento das<br />

exportações e o aumento<br />

das receitas nos sectores<br />

<strong>de</strong> serviços - nomeadamente<br />

receitas <strong>de</strong><br />

turismo - têm permitido<br />

manter o défice quase<br />

estabilizado<br />

O défice corrente em 1999,<br />

representava 7,5% do PIB,<br />

contra 4% em 1998, sendo a<br />

estimativa para 2000 <strong>de</strong><br />

7,4%.<br />

O agravamento do défice<br />

comercial (9,5% do PIB) em<br />

1999 foi consequência <strong>de</strong><br />

choques exteriores. Outra<br />

causa da <strong>de</strong>terioração da<br />

balança comercial, e do<br />

aumento do défice corrente<br />

foi a diminuição dos<br />

exce<strong>de</strong>ntes das operações<br />

não classificadas (comércio<br />

fronteiriço não registado).<br />

O défice corrente reduziu-se<br />

<strong>de</strong> 1998 para 1999,<br />

passando <strong>de</strong> 2,4%, para 2%<br />

do PIB, esta melhoria<br />

<strong>de</strong>veu-se em parte a uma<br />

diminuição no défice<br />

comercial. Em 1998 as<br />

exportações estavam<br />

claramente em redução,<br />

mas continuavam a crescer<br />

mais <strong>de</strong>pressa que as<br />

importações. A dívida<br />

externa nos últimos anos<br />

tem vindo a reduzir-se.<br />

A balança <strong>de</strong> transacções<br />

correntes esteve praticamente<br />

equilibrada em 1997 e<br />

1998, tendo apresentado um<br />

<strong>de</strong>fice <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 2,9% do<br />

PIB, em 1999. O montante<br />

em euros das exportações <strong>de</strong><br />

mercadorias diminuiu em<br />

0,5%, enquanto que as<br />

importações aumentaram em<br />

4,1%. Este aumento das<br />

importações explica-se pela<br />

forte procura <strong>de</strong> bens <strong>de</strong><br />

consumo no primeiro<br />

semestre <strong>de</strong> 1999 e por um<br />

reforço na procura <strong>de</strong> bens<br />

<strong>de</strong> consumo intermédios no<br />

segundo semestre. O défice<br />

<strong>de</strong>verá ser financiado quase<br />

na totalida<strong>de</strong> por empréstimos<br />

externos, assim como<br />

por fluxos <strong>de</strong> IDE. Em 2000 a<br />

estimativas apontam para um<br />

défice <strong>de</strong> 2,5% do PIB.


3.1.5. Critério do investimento directo<br />

3.2. Reformas estruturais e privatizações – quadros síntese<br />

3.2.1. Sistema financeiro<br />

2000: A Comissão Europeia Avalia os Candidatos ao Alargamento<br />

Critério Estónia Hungria Polónia República Checa Eslovénia<br />

Investimento<br />

Directo<br />

Sistema<br />

Financeiro<br />

A a Estónia continua a<br />

atrair capitais estrangeiros,<br />

quer por via do IDE quer<br />

por via <strong>de</strong> investimentos <strong>de</strong><br />

carteira. Em 1999 e no<br />

primeiro semestre <strong>de</strong> 2000<br />

as entradas <strong>de</strong> capitais<br />

ultrapassaram o montante<br />

do défice corrente,<br />

permitindo aumentar as<br />

reservas cambiais. O IDE<br />

representou 4,6% do PIB<br />

em 1999 e 5,7% no<br />

primeiro semestre <strong>de</strong> 2000.<br />

Os investidores da União<br />

Europeia são os que<br />

assumem uma maior<br />

importância. Os lucros<br />

reinvestidos em 1999 e no<br />

primeiro semestre <strong>de</strong> 2000<br />

provam a confiança que os<br />

investidores têm na<br />

economia, o.<br />

O IDE é o principal<br />

instrumento <strong>de</strong> transformação<br />

económica na<br />

Hungria. Em percentagem<br />

do PIB o investimento<br />

conheceu uma progressão<br />

regular entre 1995 e 1999.<br />

Em 1999, as entradas <strong>de</strong><br />

IDE foram superiores a 1,8<br />

mil milhões <strong>de</strong> euros,<br />

representando 2,9% do<br />

PIB, <strong>de</strong>vido em parte ao<br />

encorajamento que os<br />

investidores estrangeiros<br />

têm, motivados pela estabilida<strong>de</strong><br />

do quadro<br />

macroeconómico e da<br />

<strong>de</strong>terminação das autorida<strong>de</strong>s<br />

húngaras em a<strong>de</strong>rir<br />

à União Europeia. Um<br />

nível elevado <strong>de</strong> investimentos,<br />

conjugados com<br />

o rigor salarial permitirá à<br />

Hungria ganhos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong><br />

e competitivida<strong>de</strong>.<br />

As entradas <strong>de</strong> IDE são<br />

significativas permitindo uma<br />

maior mo<strong>de</strong>rnização das<br />

exportações polacas e uma<br />

melhoria da competitivida<strong>de</strong><br />

global. Em 1999 as entradas<br />

<strong>de</strong> capitais exce<strong>de</strong>ram 8 mil<br />

milhões <strong>de</strong> euros. Mais <strong>de</strong><br />

meta<strong>de</strong> das entradas <strong>de</strong> IDE<br />

registadas na última década<br />

foram após 1997. Este IDE<br />

dirige-se para reestruturar e<br />

melhorar a gestão <strong>de</strong><br />

empresas, reforçando a<br />

médio prazo a competitivida<strong>de</strong>.<br />

Refira-se que, no<br />

entanto, Uma parte<br />

importante <strong>de</strong> IDE dirige-se<br />

para sectores não<br />

exportadores; comércio a<br />

retalho, banca ou construção<br />

o que se po<strong>de</strong>rá explicar<br />

em parte pela dimensão do<br />

mercado. O IDE no sector<br />

dos serviços po<strong>de</strong> ter um<br />

efeito benéfico, reduzindo<br />

custos <strong>de</strong> transacção e<br />

atraindo novos investidores.<br />

Os fluxos <strong>de</strong> investimento<br />

directo estrangeiro foram<br />

consi<strong>de</strong>ráveis em 1999,<br />

atingindo 4,79 mil milhões<br />

<strong>de</strong> euros (mais do dobro<br />

que em 1998),<br />

representando 9,1% do PIB.<br />

Este sucesso na atracção<br />

<strong>de</strong> IDE não <strong>de</strong>verá per<strong>de</strong>r<br />

vigor durante o ano <strong>de</strong><br />

2000, visto que as entradas<br />

<strong>de</strong> capitais no primeiro<br />

trimestre já ultrapassavam<br />

ligeiramente mil milhõeo <strong>de</strong><br />

euros, além <strong>de</strong> que durante<br />

o ano realizar-se-ão<br />

importantes privatizações.<br />

O IDE é extremamente<br />

favorável para a economia<br />

checa uma vez que<br />

beneficia o emprego, a<br />

produtivida<strong>de</strong>, o crescimento<br />

e as exportações.<br />

As taxas <strong>de</strong> investimento da<br />

economia eslovena têm<br />

vindo a aumentar, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

alguns anos atrás, criando<br />

assim pouco a pouco<br />

condições propicias à<br />

obtenção <strong>de</strong> melhores<br />

performances. mas estratégia<br />

recente adoptada pelo<br />

governo esloveno para atrair<br />

investimentos externos, no<br />

entanto não tem tido bons<br />

resultados. O IDE representava<br />

0,2% do PIB em 1999. A<br />

paasagem para um nível<br />

amis elevado <strong>de</strong> IDE passa<br />

por uma maior transparência<br />

na economia e pelo<br />

estabelecimento <strong>de</strong> uma<br />

verda<strong>de</strong>ira concorrência nos<br />

seus sectores chave<br />

Estónia Hungria Polónia República Checa Eslovénia<br />

A importância económica<br />

do sector financeiro não<br />

bancário é menor do que a<br />

do sector bancário.<br />

O sector bancário é sólido<br />

e <strong>de</strong>senvolvido. Existem<br />

actualmente 6 bancos e<br />

uma sucursal <strong>de</strong> um banco<br />

estrangeiro. Em finais <strong>de</strong><br />

Junho <strong>de</strong> 2000, os três<br />

maiores bancos controlavam<br />

mais <strong>de</strong> 95% do total<br />

<strong>de</strong> activos. Os bancos têm<br />

uma elevada capitalização<br />

(13,5%) e a estrutura a<br />

longo prazo dos seus<br />

passivos reforça o próprio<br />

sector.<br />

As autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>cidiram<br />

criar uma única entida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> supervisão financeira,<br />

para o sector bancário,<br />

segurador e <strong>de</strong> valores<br />

mobiliários, mas só estará<br />

operacional em 2002.<br />

Vários bancos e organismos<br />

financeiros foram<br />

privatizados e adquiridos<br />

por investidores estratégicos<br />

estrangeiros, com experiência<br />

na gestão do<br />

sector financeiro.<br />

A Postabank ainda é<br />

<strong>de</strong>tida pelo Estado, mas<br />

está em curso a preparação<br />

da sua privatização.<br />

Nos últimos anos, a<br />

rentabilida<strong>de</strong> do sector<br />

bancário foi afectada pela<br />

crise russa e pela comcorrência<br />

acrescida entre<br />

bancos.<br />

O sector financeiro<br />

<strong>de</strong>senvolveu-se <strong>de</strong> forma<br />

progressiva e o seu estado<br />

actual constitui uma base<br />

favorável para <strong>de</strong>senvolvimentos<br />

futuros.<br />

A intermediação financeira<br />

ganhou importância. O<br />

crédito interno cresceu até<br />

28,8% do PIB.e os activos<br />

dos bancos comerciais<br />

representavam 62,3% do<br />

PIB em 1999 (?). A banca<br />

ainda vive hoje, com o<br />

problema dos créditos<br />

irrecuperáveis resultantes da<br />

crise russa. Em finais <strong>de</strong><br />

1999 13,4% dos créditos dos<br />

bancos comerciais eram<br />

duvidosos ou irrecuperáveis,<br />

pelo que se criaram<br />

procedimentos, dando aos<br />

bancos po<strong>de</strong>r sobre as<br />

empresas clientes.<br />

O sector financeiro<br />

apresenta <strong>de</strong>ficiências, que<br />

conjugadas com problemas<br />

das empresas e fraquezas<br />

do sistema jurídico dão<br />

origem a numerosas<br />

práticas comerciais inaceitáveis.<br />

Exemplo <strong>de</strong>stas são<br />

as práticas <strong>de</strong>, conhecidas<br />

por “tunnelling” pelas quais<br />

as direcções <strong>de</strong> empresas,<br />

“<strong>de</strong>snatam” os activos das<br />

empresas em seu benefício”.<br />

Uma melhor<br />

cooperação entre forças<br />

policiais, comissão <strong>de</strong><br />

valores mobiliários, tribunais<br />

e outros organismos <strong>de</strong><br />

supervisão são indispensáveis<br />

para lutar eficazmente<br />

contra essas irregularida<strong>de</strong>s.<br />

Porém os bancos são<br />

pru<strong>de</strong>ntes em termos <strong>de</strong><br />

política <strong>de</strong> crédito.<br />

Os mercados financeiros<br />

continuam particularmente<br />

protegidos da concorrência<br />

internacional, pelas restrições<br />

a certas operações<br />

financeiras <strong>de</strong> curto prazo.<br />

Estas restrições são <strong>de</strong>fendidas<br />

como meios <strong>de</strong> evitar a<br />

<strong>de</strong>sestabilização do sistema<br />

financeiro, <strong>de</strong>vido aos movimentos<br />

<strong>de</strong> capitais <strong>de</strong><br />

natureza especulativa.<br />

A reestruturação do sector<br />

bancário tem sido lenta. O<br />

governo preparou uma<br />

estratégia <strong>de</strong> privatização <strong>de</strong><br />

certos bancos, existindo, no<br />

entanto, pressões políticas<br />

que a po<strong>de</strong>m afectar. No<br />

inicio do ano 2000, mais <strong>de</strong><br />

40% dos activos do sector<br />

bancário estavam sob<br />

controlo directo do Estado<br />

esloveno.<br />

305


Informação Internacional<br />

3.2.2. Privatizações<br />

Privatizações<br />

3.2.3. Enquadramento empresarial actual<br />

Enquadram.<br />

Empresarial<br />

Actual<br />

306<br />

Estónia Hungria Polónia República Checa Eslovénia<br />

Apenas restam algumas<br />

gran<strong>de</strong>s empresas por<br />

privatizar. O sector privado<br />

<strong>de</strong>tém as pequenas e<br />

médias empresas. O<br />

Banco Central privatizou<br />

recentemente o único<br />

banco <strong>de</strong>tido pelo Estado.<br />

e as privatizações <strong>de</strong> duas<br />

companhias ferroviárias<br />

avançam num bom ritmo.<br />

Por outro lado o Estado<br />

continua a ven<strong>de</strong>r as suas<br />

participações minoritárias<br />

em empresas privadas.<br />

Também se acelerou a<br />

privatização <strong>de</strong> activos<br />

<strong>de</strong>tidos por colectivida<strong>de</strong>s<br />

locais e municipais, como<br />

portos, empresas públicas<br />

<strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> água e<br />

aquecimento. O sector<br />

privado gera mais <strong>de</strong> 70%<br />

do PIB. Na sua estrutura<br />

económica predomina o<br />

sector <strong>de</strong> serviços, pelo<br />

que aproxima a Estónia às<br />

economias mais<br />

<strong>de</strong>senvolvidas.<br />

O processo <strong>de</strong><br />

privatizações está praticamente<br />

concluído. Em finais<br />

<strong>de</strong> 1999 o sector privado<br />

representava mais <strong>de</strong> 80%<br />

do PIB. As participações<br />

que o Estado <strong>de</strong>tinha em<br />

vários organismos financeiros<br />

foram vendidas,<br />

mas não avançou na<br />

venda das suas participações<br />

minoritárias em<br />

empresas privadas. A<br />

própria agência <strong>de</strong><br />

privatizações do Estado<br />

<strong>de</strong>tinha activos <strong>de</strong> 3,4 mil<br />

milhões <strong>de</strong> euros e<br />

conservava participações<br />

maioritárias em 134<br />

empresas. Actualmente<br />

está em vista a privatização<br />

do empresa<br />

Hungaropharma, distribuidora<br />

<strong>de</strong> produtos farmacêuticos<br />

e <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong><br />

empresa si<strong>de</strong>rúrgica a<br />

Dunaferr.<br />

O programa <strong>de</strong> privatizações<br />

prevê que 70% das<br />

empresas do Estado<br />

estejam privatizadas em<br />

finais <strong>de</strong> 2002. O sector<br />

privado representa 2/3 do<br />

PIB. Foram privatizadas<br />

gran<strong>de</strong>s empresas do Estado<br />

em sectores industriais,<br />

no sector financeiro, no<br />

sector energético (uma<br />

gran<strong>de</strong> empresa petrolífera -<br />

Polski Koncern Naftowy<br />

(PKN) SA, e várias centrais<br />

eléctricas). Em 2000<br />

realizou-se a segunda<br />

tranche <strong>de</strong> privatização<br />

(35%) do operador <strong>de</strong> telecomunicações<br />

TP SA e está<br />

em fase preparação a<br />

privatiza-ção <strong>de</strong> empresas<br />

do sector do gás, produtos<br />

químicos e energéticos.<br />

Dos 77 bancos comerciais,<br />

70 são controlados pelo<br />

sector privado. No ano <strong>de</strong><br />

1999, dois bancos foram<br />

privatizados (Bank Pekao<br />

S.A. e Bank Zachodni S.A).<br />

Nestes dois últimos anos a<br />

privatização <strong>de</strong> bancos<br />

acelerou-se, Actualmente o<br />

sector bancário é composto<br />

por 42 bancos comerciais.<br />

No ano 2000 o banco Ceska<br />

Sporitelna, foi objecto <strong>de</strong><br />

venda a um banco<br />

estrangeiro, assim como o<br />

Komercni Banka, um gran<strong>de</strong><br />

banco comercial, mas como<br />

existiram irregularida<strong>de</strong>s e<br />

frau<strong>de</strong>s, a conclusão da sua<br />

privatização só será em<br />

2001. O sector privado<br />

representa ¾ do PIB. A<br />

privatização <strong>de</strong> empresas<br />

estratégicas foi retomada. O<br />

banco Ceska Sporitelna<br />

ven<strong>de</strong>u à Volkswagen AG,<br />

30% da Skoda Auto. No<br />

início <strong>de</strong> 2000, uma nova lei<br />

abriu portas às privatizações<br />

no sector das<br />

telecomunicações.<br />

O peso do sector privado na<br />

economia em 1998 estava<br />

estimado em 57,1%. Certos<br />

fundos públicos como,<br />

fundos <strong>de</strong> capital e <strong>de</strong><br />

compensação, <strong>de</strong>tinham<br />

participações minoritárias a<br />

vários níveis da economia.<br />

Uma das características<br />

relativas há transferência da<br />

proprieda<strong>de</strong> é que uma parte<br />

das acções das empresas<br />

transferidas (muitas vezes<br />

10% ou mais), eram dadas<br />

aos fundos sociais (?) para<br />

lhes permitir pagar os seus<br />

encargos futuros. O sector<br />

público tem ainda forte<br />

presença na banca, seguros,<br />

serviços <strong>de</strong> interesse geral e<br />

saú<strong>de</strong>, levando os<br />

investidores estrangeiros, o<br />

que tem implicações na<br />

transparência do sistema. O<br />

governo elaborou um plano<br />

<strong>de</strong> privatizações mas existem<br />

pressões políticas que o<br />

po<strong>de</strong>m afectar.<br />

Estónia Hungria Polónia República Checa Eslovénia<br />

Mais <strong>de</strong> 99% das<br />

empresas estonianas são<br />

PME`s e em finais <strong>de</strong><br />

1998, empregavam cerca<br />

<strong>de</strong> 47% da população<br />

activa, representando a<br />

principal fonte <strong>de</strong> emprego.<br />

Todas as PME são <strong>de</strong>tidas<br />

pelo sector privado<br />

Contudo, têm dificulda<strong>de</strong>s<br />

em recorrer ao crédito e <strong>de</strong><br />

contratar mão-<strong>de</strong>-obra<br />

qualificada. No que se<br />

refere aos direitos <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong>, cerca <strong>de</strong> 80%<br />

da terra será restituída.<br />

Actualmente as parcelas<br />

<strong>de</strong> terra registadas<br />

representam 57% do total<br />

do território mas uma parte<br />

da Estónia (incluindo<br />

terrenos baldios e locais <strong>de</strong><br />

água) não estão<br />

registados. Após a<br />

alteração da legislação em<br />

vigor a privatização das<br />

terras será prosseguida, no<br />

que se refere a terras<br />

agrícolas e florestas.<br />

As PME continuam a<br />

conhecer um crescimento<br />

sustentado e geram 45%<br />

do PIB e empregam 70%<br />

da população activa. A<br />

maioria das PME`s opera<br />

nos sectores não<br />

exportadores,Desequilíbrio<br />

s regionais, estão patentes<br />

no facto <strong>de</strong> nas regiões do<br />

centro e noroeste as<br />

empresas <strong>de</strong> capital<br />

estrangeiro se orientarem<br />

para a exportação,<br />

enquanto que nas regiões<br />

orientais as PME não<br />

terem as mesmas<br />

hipóteses. Por outro lado a<br />

mão-<strong>de</strong>-obra qualificada<br />

encontra-se nos sectores<br />

<strong>de</strong> forte crescimento. A<br />

Húngria precisa continuar<br />

<strong>de</strong>senvolverinfraestruturas,<br />

reestruturar empresas,<br />

melhorar a flexibilida<strong>de</strong> e<br />

mobilida<strong>de</strong> do trabalho<br />

num contexto <strong>de</strong><br />

estabilida<strong>de</strong> económica.<br />

O sector das PME prospera,<br />

representando 99% do total<br />

<strong>de</strong> empresas e é<br />

responsável por 50% do<br />

PIB. No entanto a economia<br />

<strong>de</strong>verá continuar nos<br />

próximos anos a investir em<br />

infraestruturas e em<br />

recursos humanos, através<br />

<strong>de</strong> formação profissional<br />

para fazer face à procura<br />

das empresas que estão em<br />

pleno crescimento. Não<br />

existem obstáculos jurídicos<br />

ou institucionais à criação <strong>de</strong><br />

novas empresas. Só em<br />

1999 registaram-se mais <strong>de</strong><br />

10000 ou seja 7% do total.<br />

Mas há obstáculos à saída<br />

do mercado, nomeadamente<br />

nos casos <strong>de</strong> falência. Os<br />

direitos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> são<br />

transmissíveis, mas os<br />

problemas resi<strong>de</strong>m na<br />

burocracia, nas dificulda<strong>de</strong>s<br />

em executar <strong>de</strong>cisões<br />

judiciais e na corrupção.<br />

As PME são responsáveis<br />

por 53% do PIB e empregam<br />

56% da população<br />

activa. A estratégia<br />

adoptada pelo governo em<br />

1999 visava resolver certos<br />

problemas melhorando o<br />

ambiente empresarial,<br />

facilitando o acesso à<br />

formação e encorajando a<br />

internacionalização das<br />

activida<strong>de</strong>s. Mas as<br />

autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem também<br />

concentrar esforços em prol<br />

da transparência da<br />

activida<strong>de</strong> das empresas,<br />

em particular das PME. A<br />

reestruturação <strong>de</strong> empresas<br />

é essencial e <strong>de</strong>verá ser<br />

acompanhada da efectiva<br />

melhoria na gestão que<br />

contribua para elevar a<br />

produtivida<strong>de</strong> e melhorar a<br />

competitivida<strong>de</strong>. As<br />

reestruturações industriais<br />

prosseguem a bom ritmo,<br />

com o programa <strong>de</strong><br />

relançamento em curso.<br />

As PME têm um peso<br />

significativo na economia.<br />

Em 1998, representavam<br />

99,7% e 57,6% do tecido<br />

empresarial e emprego,<br />

respectivamente. Contudo as<br />

empresas na Eslovénia<br />

enfrentam dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

financiamento junto da banca<br />

bem como obstáculos<br />

administrativos na obtenção<br />

<strong>de</strong> licenças, entre outros.<br />

Com o objectivo <strong>de</strong> reduzir<br />

esses obstáculos o governo<br />

preparou um programa<br />

especial <strong>de</strong> “luta contra a<br />

burocracia”.<br />

As reestruturações <strong>de</strong><br />

empresas prosseguem a<br />

ritmo lento causando problemas<br />

à economia. Se<br />

numa fase o investimento em<br />

novas técnicas <strong>de</strong> produção<br />

mais racionais tiveram impactos<br />

positivos nas empresas<br />

do sector privado, no<br />

sector público os modos <strong>de</strong><br />

gestão impe<strong>de</strong>m uma evolução<br />

encorajadora.


2000: A Comissão Europeia Avalia os Candidatos ao Alargamento<br />

3.3. Quadro síntese <strong>de</strong> indicadores estatísticos e económicos em 1999<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

Indicadores Estónia Hungria Polónia Rep. Checa Eslovénia<br />

População em milhões 1,4 10,1 38,7 10,3 2,0<br />

PIB total em biliões <strong>de</strong> euros 4,6 46,2 145,4 49,2 18,6<br />

Crescimento PIB em % -1,1 4,5 4,2 -0,2 4,9<br />

Crescimento PIB média (1995-2000) % 4,3 4,0 5,4 0,6 4,0<br />

PIB per capita em euros 7048 10384 8061 11830 14492<br />

PIB per capita em % da média UE 34,1 50,3 39,0 57,3 70,2<br />

Saldo das operações correntes % do PIB -6,2 -4,3 -7,5 -2,0 -2,9<br />

Taxa <strong>de</strong> inflação média anual 4,6 10,0 7,2 2,0 6,1<br />

Taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego % da pop. activa 11,7 7,0 15,3 8,7 7,6<br />

Balança comercial export./import. em % 68,3 89,3 59,6 93,0 85,8<br />

Exportações ⇒ U.E. em % das export. totais 72,7 76,2 70,5 69,2 66,0<br />

Importações ⇐ U.E. em % das import. totais 65,0 64,4 64,9 64,0 68,6<br />

Balança da U.E. com os países em milhões euros 531 1270 11357 1482 1545<br />

Invest. directo estrangeiro em milhões euros 2454 19111 19266 16191 2491<br />

Invest. directo estrangeiro per capita em euros 1052 1654 485 1357 532<br />

Invest. directo estrangeiro % do PIB 4,6 2,9 4,3 9,1 0,2<br />

Dívida externa bruta/PIB em % 23,0 55,9 33,6 24,0 28,5<br />

Despesas com a educação em % do PIB 7,3 4,7 5,2 5,4 5,8<br />

Fontes: Eurostat, dados nacionais, OCDE, FMI e<br />

Financial Times, Outubro 24, 2000<br />

From the Commission on the Czech Republic`s. Progress towards accession -2000 Regular<br />

Report- 8 November 2000<br />

From the Commission on the Estonia`s. Progress towards accession -2000 Regular Report-<br />

8 November 2000<br />

From the Commission on Hungary`s. Progress towards accession -2000 Regular Report- 8<br />

November 2000<br />

From the Commission on Poland`s. Progress towards accession -2000 Regular Report- 8<br />

November 2000<br />

From the Commission on Slovenia`s. Progress towards accession -2000 Regular Report- 8<br />

November 2000<br />

Comissão Europeia, Parecer da Comissão relativo ao pedido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são da Eslováquia à<br />

União Europeia – Agenda 2000<br />

Comissão Europeia, Parecer da Comissão relativo ao pedido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são da Eslovénia à<br />

União Europeia – Agenda 2000<br />

307


Informação Internacional<br />

Comissão Europeia, Parecer da Comissão relativo ao pedido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são da Estónia à União<br />

Europeia – Agenda 2000<br />

Comissão Europeia, Parecer da Comissão relativo ao pedido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são da Hungria à União<br />

Europeia – Agenda 2000<br />

Comissão Europeia, Parecer da Comissão relativo ao pedido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são da Letónia à União<br />

Europeia – Agenda 2000<br />

Comissão Europeia, Parecer da Comissão relativo ao pedido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são da Lituânia à União<br />

Europeia – Agenda 2000<br />

Comissão Europeia, Parecer da Comissão relativo ao pedido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são da Polónia à União<br />

Europeia – Agenda 2000<br />

Comissão Europeia, Parecer da Comissão relativo ao pedido <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são da República<br />

Checa à União Europeia – Agenda 2000<br />

Enlargement: Stategy Paper - Regular Reports from the Commission on Progress towards.<br />

Accession by each of the candidate countries – 8 Novembro 2000<br />

Press Release – A new momentum for enlargement – 8 Novembro 2000<br />

“Finantial Times” – 24 Outubro 2000<br />

“Le Figaro-economie” – 9 Novembro 2000<br />

Europa, http:www.europa.eu.int<br />

308


A ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL NA DINAMARCA<br />

Ana Lúcia Matos Luís<br />

Em Foco<br />

O presente artigo baseia-se num estudo elaborado pelo governo dinamarquês entitulado<br />

“Government Industrial Development Strategy”, publicado em Fevereiro <strong>de</strong> 2000. Nele, as<br />

autorida<strong>de</strong>s dinamarquesas mostram-nos a sua visão <strong>de</strong> uma indústria e comércio<br />

competitivos, e a estratégia a seguir. Tal estratégia, baseia-se num <strong>de</strong>terminado número <strong>de</strong><br />

objectivos, ambiciosos mas concretos, que visam o reajustamento da economia<br />

dinamarquesa num mundo cada vez mais global. Neste artigo procura fazer-se uma<br />

apresentação sintética dos objectivos gerais e específicos <strong>de</strong>ssa estratégia e apresentar<br />

alguns exemplos <strong>de</strong> iniciativas do Governo que se inserem na sua concretização.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

As novas economias orientadas pelo conhecimento global navegam em “águas difíceis”,<br />

sendo as dificulda<strong>de</strong>s encontradas tanto pelas empresas como pelas autorida<strong>de</strong>s dos<br />

próprios países. Ciente <strong>de</strong>stas dificulda<strong>de</strong>s, o governo dinamarquês traçou quatro metas a<br />

atingir até 2010, para o <strong>de</strong>senvolvimento industrial da Dinamarca:<br />

• em 2010, espera-se que a Dinamarca se encontre entre os países da OCDE com a<br />

mais alta produtivida<strong>de</strong>. Situa-se actualmente na média da OCDE;<br />

• em 2010 preten<strong>de</strong>-se que a Dinamarca esteja entre os cinco países da OCDE mais<br />

inovadores. Actualmente, situa-se em sétimo lugar;<br />

• preten<strong>de</strong>-se que durante a próxima década, a Dinamarca se posicione melhor que as<br />

chamadas “velhas” economias da OCDE para manter a sua quota <strong>de</strong> mercado, nos<br />

mercados internacionais tanto <strong>de</strong> bens quanto <strong>de</strong> serviços;<br />

• até 2010, a indústria e o comércio tornar-se-ão ainda mais orientados<br />

internacionalmente. O governo preparará um índice, mostrando a participação das<br />

empresas dinamarquesas na globalização, por comparação com outros países da<br />

OCDE.<br />

1.1. Uma Socieda<strong>de</strong> Sustentável<br />

No início do séc. XXI, tanto a indústria como o comércio serão marcados por gran<strong>de</strong>s<br />

mudanças. O mercado global é uma realida<strong>de</strong> e as economias dos países são<br />

constantemente <strong>de</strong>safiadas pelas novas tecnologias.


Informação Internacional<br />

O governo dinamarquês preten<strong>de</strong> inserir o país na nova economia do conhecimento global<br />

através <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> sustentável isto é, através <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> que coloque a<br />

ênfase nos valores humanos e que assente num espírito <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>.<br />

Uma indústria e um comércio competitivos são extremamente importantes para uma<br />

socieda<strong>de</strong> sustentável já que, ao conseguirem uma eficácia acrescida, constituem a base<br />

necessária para investir no futuro – através do aperfeiçoar das competências e da inclusão<br />

<strong>de</strong> todos.<br />

Na competição no novo mundo o acesso às matérias-primas e ao capital não serão tão<br />

<strong>de</strong>cisivos como o foram no passado. As competências, o conhecimento e a criativida<strong>de</strong><br />

serão os factores <strong>de</strong>cisivos e eliminatórios. Está-se portanto a caminhar para um novo tipo<br />

<strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> que trabalha <strong>de</strong> forma muito diferente da socieda<strong>de</strong> industrial tradicional,<br />

conhecida até agora. O documento do Governo dinamarquês i<strong>de</strong>ntifica seis gran<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>safios que se colocam a uma Economia Globalizada e Baseada no Conhecimento:<br />

310<br />

• As Novas Condições nos Mercados Globais – a globalização da economia mundial<br />

está a alterar drasticamente as condições nos mercados para as empresas<br />

dinamarquesas. A competição das empresas estrangeiras torna-se cada vez mais<br />

feroz, a pressão nos preços é uma constante, e as exigências dos consumidores em<br />

qualida<strong>de</strong> e inovação são crescentes. Estes padrões manter-se-ão e intensificar-se-ão<br />

nos próximos anos;<br />

• A Dinâmica do Mercado Europeu – a União Europeia (UE), com a sua moeda única<br />

e os seus 450 milhões <strong>de</strong> consumidores tornar-se-á cada vez mais um mercado<br />

<strong>de</strong>cisivo para a Dinamarca: é um mercado maior que os EUA e com acesso à Europa<br />

<strong>de</strong> Leste a baixos custos. Um mercado “doméstico” <strong>de</strong>sta dimensão, sofisticado, com<br />

mão-<strong>de</strong>-obra bem preparada e com experiência tecnológica, <strong>de</strong>ve ser aproveitado ao<br />

máximo. As empresas dinamarquesas que forem capazes <strong>de</strong> pensar em termos<br />

“europeus” terão um gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> crescimento nos próximos anos;<br />

• As Tecnologias <strong>de</strong> Informação e a Internet – o <strong>de</strong>senvolvimento das tecnologias <strong>de</strong><br />

informação afectará provavelmente tanto a nossa vida durante o séc. XXI como a<br />

electricida<strong>de</strong> mudou o séc. XX. A socieda<strong>de</strong> estará toda ligada através <strong>de</strong> um<br />

“sistema nervoso electrónico”;<br />

• Novos “Marcos” Científicos e Tecnológicos – as economias são atravessadas por<br />

numa nova vaga industrial on<strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas tecnológicas e científicas como por<br />

exemplo nas áreas da biotecnologia, da microelectrónica, das telecomunicações e<br />

dos novos materiais, mudarão a face do mundo. Estes novos marcos tecnológicos<br />

comportam riscos e incerteza acrescidos;<br />

• Consumidores Críticos – uma nova geração <strong>de</strong> consumidores cada vez críticos<br />

contribui para a mudança nas condições industriais do mercado. Estão cada vez mais<br />

conscientes e atentos a questões relacionadas com o ambiente, com a segurança<br />

alimentar, a ética e a responsabilida<strong>de</strong> social na produção;


A Estratégia <strong>de</strong> Desenvolvimento Industrial na Dinamarca<br />

• Exigências Acrescidas no Mercado do Trabalho – a nova economia criará milhares<br />

<strong>de</strong> novos postos <strong>de</strong> trabalho, sobretudo para a mão-<strong>de</strong>-obra treinada e especializada.<br />

Por outro lado, muitos postos <strong>de</strong> trabalho que não requerem formação serão difíceis<br />

<strong>de</strong> manter. Neste aspecto, a concorrência com os países <strong>de</strong> salários mais baixos é<br />

feroz e po<strong>de</strong>rá agravar-se.<br />

Na opinião do documento do governo, a Dinamarca está bem colocada para gerir o avanço<br />

em direcção à economia baseada no conhecimento e na globalização dispondo <strong>de</strong> uma<br />

base <strong>de</strong> partida forte: uma economia sólida, uma força <strong>de</strong> trabalho bem treinada, um<br />

mercado <strong>de</strong> trabalho flexível, uma elevada consciência ambiental e boas condições<br />

industriais. No entanto, o <strong>de</strong>senvolvimento não se difun<strong>de</strong> facilmente, e o país enfrenta<br />

alguns dilemas, tais como:<br />

• como po<strong>de</strong> a Dinamarca, sendo um país pequeno, <strong>de</strong>senvolver “picos” <strong>de</strong><br />

competências?<br />

• como transformar a Dinamarca numa socieda<strong>de</strong> digital, verda<strong>de</strong>iramente partilhada<br />

por todos?<br />

• como “vigiar” a questão ambiental, quando a maioria da produção é partilhada por<br />

muitos países?<br />

• como salvaguardar a coesão e os valores sociais comuns, à medida que as<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tornam mais individuais?<br />

A criação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> sustentável não entra em contradição com os <strong>de</strong>safios<br />

colocados pela economia do saber global. Pelo contrário, uma socieda<strong>de</strong> sustentável<br />

contribuirá para assegurar que a indústria e o comércio possam manter uma posição forte<br />

na competição global no longo prazo.<br />

OS QUATRO OBJECTIVOS DO GOVERNO<br />

O governo escolheu quatro objectivos para o <strong>de</strong>senvolvimento industrial sustentável da Dinamarca<br />

em 2010, tendo como contexto esta socieda<strong>de</strong> sustentável:<br />

1 – O Potencial Económico – A capacida<strong>de</strong> económica <strong>de</strong> um país é normalmente medida pelo<br />

PIB per capita, apesar <strong>de</strong> se po<strong>de</strong>rem apresentar outros indicadores. Relativamente a este<br />

indicador, a Dinamarca encontra-se entre os países melhor colocados. O objectivo do governo<br />

dinamarquês é aumentar o PIB per capita <strong>de</strong> forma a que na próxima década o país se aproxime<br />

dos primeiros <strong>de</strong>z países da Europa.<br />

2 – O Equilíbrio Social – a Dinamarca é um dos países no mundo com um menor número <strong>de</strong><br />

indivíduos em classes economicamente <strong>de</strong>sfavorecidas e no qual o <strong>de</strong>semprego é dos mais<br />

baixos, sendo naturalmente <strong>de</strong>sejo do governo que esta posição se mantenha. Assim, se <strong>de</strong> uma<br />

maneira geral, todos os países europeus viram nos últimos anos aumentar o número <strong>de</strong> pessoas<br />

que <strong>de</strong>ixaram a população activa e aumentar o número <strong>de</strong> transferências para a população<br />

inactiva. <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1994 que a Dinamarca conseguiu suster este aumento e reduzir o número <strong>de</strong><br />

transferências (exceptuando os subsídios para estudantes). Um dos objectivos do governo é<br />

311


Informação Internacional<br />

conseguir que o número <strong>de</strong> pessoas em ida<strong>de</strong> economicamente activa e que beneficiem <strong>de</strong> tais<br />

transferências <strong>de</strong> rendimentos, diminua 1 .<br />

3 – A Adaptação do “Welfare State” – o governo tentará rever as áreas centrais <strong>de</strong> bem-estar:<br />

saú<strong>de</strong>, segurança alimentar, educação/formação, crianças e idosos.<br />

4. – Um Melhor Ambiente – será concebida toda uma nova estratégia para um <strong>de</strong>senvolvimento<br />

económico sustentável que olhará com maior atenção para a área ambiental. Para tal, uma série<br />

<strong>de</strong> novos indicadores serão seleccionados e escolhidos, nos quais as activida<strong>de</strong>s industriais<br />

<strong>de</strong>sempenham um papel importante.<br />

1.2. Uma Indústria e um Comércio Competitivos<br />

Uma das condições básicas para a construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> sustentável é a existência<br />

<strong>de</strong> uma indústria e comércio competitivos e que, com sucesso, possam produzir e ven<strong>de</strong>r<br />

bens e serviços nos mercados internacionais. Esta é uma condição importante para<br />

assegurar a base financeira e para <strong>de</strong>senvolver posteriormente uma socieda<strong>de</strong> baseada no<br />

bem-estar, salvaguardando o equilíbrio social e ambiental. Logo, indústria e comércio<br />

competitivos são a chave para uma política <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento industrial.<br />

A base para se terem condições industriais sólidas são boas condições macroeconómicas.<br />

Tal fornece toda a segurança que o sector empresarial necessita para <strong>de</strong>cidir e investir no<br />

longo prazo. E <strong>de</strong> facto, a economia dinamarquesa <strong>de</strong>tém uma boa posição: exce<strong>de</strong>nte das<br />

finanças públicas, baixo <strong>de</strong>semprego e Balança <strong>de</strong> Pagamentos positiva <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há muito<br />

tempo. Também a confiança externa na economia dinamarquesa é elevada. A Dinamarca<br />

tem sido capaz <strong>de</strong> atrair um gran<strong>de</strong> volume <strong>de</strong> investimento directo estrangeiro (IDE) nos<br />

últimos anos, e muitas empresas dinamarquesas têm investido no exterior.<br />

Quatro áreas são particularmente importantes para reforçar as variáveis macroeconómicas,<br />

no sentido <strong>de</strong> melhorar as condições industriais básicas:<br />

312<br />

• um nível <strong>de</strong> custos competitivo;<br />

• um sistema fiscal que estimule o esforço <strong>de</strong> investimento;<br />

• um mercado <strong>de</strong> trabalho flexível;<br />

• a existência <strong>de</strong> boas infra-estruturas.<br />

O que <strong>de</strong> facto fará a diferença entre os países mais <strong>de</strong>senvolvidos na futura competição<br />

global, não serão tanto os baixos custos ou os impostos mais baixos – os países que<br />

conseguirem criar uma elevada produtivida<strong>de</strong> e inovação estarão melhor posicionados.<br />

Por isso se compreen<strong>de</strong>m os objectivos específicos para o <strong>de</strong>senvolvimento industrial<br />

dinamarquês no horizonte 2010:<br />

1 Excepção feita obviamente a transferências que envolvam motivos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.


A Estratégia <strong>de</strong> Desenvolvimento Industrial na Dinamarca<br />

• A Produtivida<strong>de</strong> – a produtivida<strong>de</strong> é, antes <strong>de</strong> mais, uma medida da eficácia<br />

empresarial. Uma elevada produtivida<strong>de</strong> reflecte-se numa organização do trabalho<br />

apropriada, na disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoal competente, assim como num elevado nível<br />

<strong>de</strong> tecnologia utilizada em <strong>de</strong>terminadas áreas <strong>de</strong> negócios. A produtivida<strong>de</strong> industrial<br />

dinamarquesa actual iguala a média dos países da OCDE. O objectivo das<br />

autorida<strong>de</strong>s dinamarquesas é elevá-la ao nível dos países lí<strong>de</strong>r da OCDE;<br />

• A Inovação – a inovação expressa a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se conseguirem novos produtos,<br />

novos conceitos e <strong>de</strong> melhorar os “processos” dos negócios. A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

inovação é algo difícil <strong>de</strong> medir. O governo dinamarquês utiliza actualmente um índice<br />

baseado nos seguintes indicadores: investimento em I&D, número <strong>de</strong> pessoas que<br />

realizam I&D, investimento em educação/formação, o grau <strong>de</strong> internacionalização e o<br />

grau <strong>de</strong> protecção da proprieda<strong>de</strong> intelectual. Neste índice, a Dinamarca é sétima<br />

entre países da OCDE, e o objectivo do governo é que em 2010 o país se situe entre<br />

os cinco primeiros;<br />

• A Competitivida<strong>de</strong> – a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma dada área <strong>de</strong> negócio para competir nos<br />

negócios internacionais reflecte-se nas quotas <strong>de</strong> mercado que alcança. É difícil medir<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento nas quotas <strong>de</strong> mercado totais, sobretudo no que toca ao rápido<br />

crescimento da exportação <strong>de</strong> serviços. As exportações <strong>de</strong> bens permanecem a<br />

maioria das exportações da Dinamarca mas, à semelhança do que suce<strong>de</strong> na maior<br />

parte dos países industriais tradicionais, a sua parte está a diminuir. É perfeitamente<br />

natural que estes estejam a per<strong>de</strong>r quota <strong>de</strong> mercado à medida que novos países da<br />

Ásia e do Leste da Europa começam a ven<strong>de</strong>r para o mercado global. Olhando<br />

apenas para os produtos industriais e medindo as alterações nas quotas <strong>de</strong> mercado<br />

nos últimos <strong>de</strong>z anos, a Dinamarca situa-se numa posição intermédia entre as<br />

“velhas” economias da OCDE. A quota <strong>de</strong> mercado da Dinamarca aumentou no início<br />

dos anos noventa mas diminuiu recentemente. No futuro, o governo dinamarquês<br />

medirá a sua competitivida<strong>de</strong> internacional como o <strong>de</strong>senvolvimento no total das<br />

quotas <strong>de</strong> mercado em relação às “velhas” economias da OCDE, relativamente a<br />

bens e serviços. O objectivo até 2010 é situar o país nos primeiros cinco países mais<br />

competitivos.<br />

2. A ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL<br />

A estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento industrial seguida pela Dinamarca para os próximos <strong>de</strong>z<br />

anos <strong>de</strong>senvolve-se em seis áreas específicas:<br />

• Competência e Inovação<br />

• Globalização<br />

• O Assumir dos Riscos<br />

• Bom Funcionamento dos Mercados<br />

313


Informação Internacional<br />

314<br />

• Existência <strong>de</strong> uma Boa Regulamentação<br />

• Sustentabilida<strong>de</strong> do Crescimento.<br />

Em cada uma <strong>de</strong>stas seis áreas, o governo dinamarquês formulou uma Visão, uma imagem<br />

do futuro <strong>de</strong>sejado. Esta visão é acompanhada por um <strong>de</strong>terminado número <strong>de</strong> Objectivos,<br />

<strong>de</strong>vidamente i<strong>de</strong>ntificados e mensuráveis, que <strong>de</strong>linearão o curso a seguir e permitirão quer<br />

o posicionamento certo, quer a comparação com outros países.<br />

2.1. Inovação e Competência<br />

Os países ainda estão em muitos casos habituados a uma indústria e a um comércio cujo<br />

progresso se baseiam em activos materiais tangíveis. Recursos naturais, unida<strong>de</strong>s<br />

industriais e equipamento industrial formaram a base do progresso no séc. XX. Ora o<br />

elemento básico da nova economia do conhecimento global é a “capacida<strong>de</strong> para apren<strong>de</strong>r”<br />

isto é, a capacida<strong>de</strong> para adquirir novos conhecimentos e para melhorar os produtos e<br />

serviços. As novas áreas <strong>de</strong> negócios competirão essencialmente nos recursos humanos e<br />

na sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inovar.<br />

A Visão para 2010<br />

Crescimento<br />

Sustentável<br />

Regulamentação<br />

Inovação e<br />

Competência<br />

Estratégia <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento<br />

Industrial<br />

Funcionamento<br />

dos Mercados<br />

Globalização<br />

Riscos<br />

O gran<strong>de</strong> objectivo do governo dinamarquês é que a Dinamarca se <strong>de</strong>senvolva durante a<br />

próxima década numa região particularmente rica em i<strong>de</strong>ias, novos negócios e<br />

competências. Para tal, exige-se um sistema educacional marcado pela qualida<strong>de</strong> e por<br />

uma forte pressão para a experimentação e inovação. A formação será organizada <strong>de</strong><br />

formas muitos diferentes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a formação on-line até experiências num sistema flexível <strong>de</strong><br />

educação/formação, combinando por exemplo a formação recebida em Centros AMU<br />

(esquemas <strong>de</strong> Treino Vocacional) com estágios práticos. A tecnologia <strong>de</strong> informação será<br />

parte cada vez mais importante do quotidiano das populações e da estrutura empresarial,<br />

daí que a proliferação dos computadores, do e-mail e da Internet seja um objectivo central.


Os Objectivos Específicos<br />

A Estratégia <strong>de</strong> Desenvolvimento Industrial na Dinamarca<br />

• um sistema <strong>de</strong> formação adaptado às futuras exigências do mercado <strong>de</strong> trabalho,<br />

mais reforçado, <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, coerente e flexível;<br />

• o <strong>de</strong>senvolvimento da promoção da competência, quer na indústria, quer no<br />

comércio;<br />

• inovação através da interacção – melhores condições para a cooperação entre<br />

instituições;<br />

• a difusão do “negócio digital” – aumento do uso generalizado <strong>de</strong> tecnologia digital,<br />

Internet e comércio electrónico nas trocas e na indústria;<br />

• uma nova cultura empresarial – promoção do auto-emprego na Dinamarca.<br />

EXEMPLOS DE INICIATIVAS A APOIAR<br />

LABORATÓRIOS DE APRENDIZAGEM<br />

Iniciaram-se em 2000 os chamados “Laboratórios <strong>de</strong> Aprendizagem”, que consistem em projectos<br />

<strong>de</strong> investigação e pesquisa nos quais as empresas, as instituições <strong>de</strong> educação/formação e<br />

cientistas, em cooperação, levarão a cabo um certo número <strong>de</strong> experiências acerca do modo como<br />

as pessoas, os negócios e as organizações apren<strong>de</strong>m. A i<strong>de</strong>ia é juntar psicólogos, sociólogos,<br />

linguistas e professores/educadores num novo e sofisticado ambiente <strong>de</strong> investigação. O primeiro<br />

<strong>de</strong>stes projectos focará o ensino/aprendizagem da tecnologia e das ciências naturais, levando a<br />

cabo experiências em novos métodos <strong>de</strong> ensino, e no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos materiais <strong>de</strong><br />

estudo.<br />

A INDÚSTRIA ALIMENTAR<br />

A Dinamarca quer ser vista como um país pioneiro no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> políticas industriais<br />

alimentares. Têm-se analisado os pontos fortes, os fracos, o potencial e os <strong>de</strong>safios que o sector<br />

alimentar dinamarquês enfrenta à luz da globalização crescente dos mercados, e da mudança <strong>de</strong><br />

enquadramento em relação à UE e à Organização Mundial <strong>de</strong> Comércio (OMC).<br />

A análise do sector indica a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iniciativas nas áreas da competitivida<strong>de</strong> e<br />

produtivida<strong>de</strong>, segurança alimentar, ética, qualida<strong>de</strong> exigida pelos consumidores, recursos<br />

humanos e ambiente. Em 2000 iniciou-se um plano <strong>de</strong> acção através do qual o governo<br />

dinamarquês aumentou <strong>de</strong> forma particular os esforços relativamente à segurança alimentar –<br />

controlo, documentação e origem. Tal po<strong>de</strong>rá, entre outras coisas, ser conseguido através <strong>de</strong><br />

cooperação pública e privada no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> projectos focando novos sistemas que<br />

evi<strong>de</strong>nciem as várias fases do processamento alimentar ao longo das diferentes ligações da<br />

ca<strong>de</strong>ia alimentar.<br />

O COMÉRCIO ELECTRÓNICO<br />

O governo dinamarquês, em cooperação com a indústria e o comércio, lançará uma campanha<br />

reforçando a aplicação da tecnologia digital entre empresas públicas e privadas. As empresas<br />

serão incentivadas a elaborar estratégias que envolvam tecnologia digital, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos produtos até à entrada em novas áreas <strong>de</strong> negócios. A campanha<br />

premiará as melhores propostas <strong>de</strong> projectos. O governo dinamarquês suportará ainda os custos<br />

<strong>de</strong> uma campanha que preten<strong>de</strong> aumentar a confiança na Internet. Para tal, serão implementadas<br />

várias directrizes para uma boa utilização e troca segura na Internet.<br />

315


Informação Internacional<br />

2.2. A Globalização<br />

As condições nos mercados internacionais estão a mudar rapidamente. A globalização<br />

conduz a uma competição mais feroz tanto nos mercados nacionais como nos mercados<br />

internacionais. Esta competição acrescida não só se tem intensificado como também tem<br />

alterado a sua estrutura.<br />

No mercado global, atribuir a origem <strong>de</strong> um produto a um único país é cada vez<br />

mais difícil, já que existem bens que não foram produzidos num único país. A<br />

produção está cada vez mais dispersa, e as diferentes tarefas são <strong>de</strong>sempenhadas<br />

on<strong>de</strong> for melhor e mais barato. Muitos produtos são elaborados em verda<strong>de</strong>iras<br />

re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção globais e a Dinamarca, ao colocar-se neste network, po<strong>de</strong>rá<br />

colher os benefícios da globalização.<br />

A Visão para 2010<br />

Preten<strong>de</strong>-se que a Dinamarca, durante a próxima década, se oriente em direcção a uma<br />

socieda<strong>de</strong> mais virada para o exterior. Deverá utilizar a economia global para “cultivar”<br />

novos mercados, encontrar novos parceiros, criar uma produção ainda mais eficaz e<br />

produzir novos postos <strong>de</strong> trabalho.<br />

A Dinamarca será parte integrante <strong>de</strong> uma Europa reforçada e alargada, que cobre a<br />

Europa Central e Oriental. E é esta Europa alargada que o governo dinamarquês começa a<br />

olhar como sendo o seu “mercado doméstico”. As possibilida<strong>de</strong>s são portanto imensas, com<br />

todo um tecido industrial <strong>de</strong> pequenas e médias empresas (PME's) a po<strong>de</strong>rem aumentar as<br />

suas exportações. Uma moeda comum que facilitará as trocas e um Mercado Único ainda<br />

mais aberto e eficaz, tornam a Europa mais atractiva.<br />

Os Objectivos Específicos<br />

316<br />

• o bom funcionamento dos mercados internacionais – espera-se que as regras<br />

internacionais <strong>de</strong> concorrência criem oportunida<strong>de</strong>s e favoreçam os negócios<br />

dinamarqueses, e não criem barreiras <strong>de</strong>snecessárias;<br />

• a promoção das exportações e da globalização – as PME <strong>de</strong>verão ser capazes <strong>de</strong> se<br />

promover no exterior, e <strong>de</strong> estabelecer alianças internacionais;<br />

• a atracção <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra estrangeira especializada – a Dinamarca espera atrair nos<br />

próximos anos mão-<strong>de</strong>-obra especializada;<br />

• acesso ao conhecimento global – <strong>de</strong>verão existir melhores condições para o acesso à<br />

investigação na indústria e no comércio na Dinamarca, acesso ao conhecimento<br />

tecnológico e à formação noutros países.


EXEMPLOS DE INICIATIVAS A APOIAR<br />

O ACORDO DE COOPERAÇÃO COM O MIT<br />

A Estratégia <strong>de</strong> Desenvolvimento Industrial na Dinamarca<br />

O governo dinamarquês tomou a iniciativa <strong>de</strong> estabelecer uma cooperação com o famoso<br />

Massachusetts Institute of Technology (MIT) num projecto <strong>de</strong> investigação cujo objectivo é apren<strong>de</strong>r<br />

com as novas tecnologias. Os dois laboratórios criados para o efeito – o Media Lab e o Learning<br />

Lab, em cooperação com instituições empresariais e educacionais, <strong>de</strong>senvolverão várias<br />

experiências baseadas quer em brinquedos educativos que estimulem a inteligência, quer no uso <strong>de</strong><br />

tecnologias <strong>de</strong> informação no ensino.<br />

Através <strong>de</strong>sta colaboração com o MIT, o governo dinamarquês espera, num futuro próximo,<br />

proporcionar o intercâmbio entre cientistas e estudantes, dinamarqueses e norte-americanos.<br />

O SEXTO PROGRAMA QUADRO DA UE<br />

Durante o ano <strong>de</strong> 2000 foi <strong>de</strong>finida a posição dinamarquesa no sexto programa quadro da UE. O<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> “Centros <strong>de</strong> Excelência” em áreas estratégicas para a pesquisa europeia na<br />

indústria e no comércio está a ser pensado. Um “Centro <strong>de</strong> Excelência” é uma re<strong>de</strong> que procura<br />

ligar instituições <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong> ensino, e empresas privadas com elevadas competências em<br />

áreas <strong>de</strong> investigação específicas. A i<strong>de</strong>ia é estabelecer um novo quadro <strong>de</strong> cooperação e criar uma<br />

melhor coerência entre investigação pública e privada.<br />

Outra possibilida<strong>de</strong> a explorar <strong>de</strong>ntro do sexto programa quadro da UE são os chamados contratos<br />

<strong>de</strong> inovação. Um contrato <strong>de</strong> inovação é um tipo formalizado <strong>de</strong> cooperação entre empresas e<br />

instituições <strong>de</strong> investigação, que assenta em projectos <strong>de</strong> investigação comuns com objectivos<br />

comerciais.<br />

2.3. O Assumir dos Riscos<br />

O bom funcionamento <strong>de</strong> um mercado <strong>de</strong> capitais é vital para que a indústria e o comércio<br />

<strong>de</strong> um país se queiram ajustar à economia do conhecimento global, assim como é crucial<br />

um acesso facilitado ao capital, tanto para empresas nascentes, como para as que se<br />

encontram já em fase <strong>de</strong> maturida<strong>de</strong>, quer para áreas <strong>de</strong> negócio <strong>de</strong> high-tec, quer para<br />

novos serviços ou produções mais tradicionais.<br />

Na nova economia do conhecimento global gerir um negócio é cada vez mais arriscado. A<br />

fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do produto é cada vez mais longa e consome cada vez mais<br />

recursos, e o retorno do investimento só é esperado passado algum tempo 2 . Quando se<br />

trata <strong>de</strong> novas áreas <strong>de</strong> negócio existe também a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma estreita ligação entre<br />

capital e negócios. Existem necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> parceria nas quais quem fornece o capital não<br />

só fornece os fundos como também toma parte activa na gestão estratégica, e contribui<br />

ainda com conhecimento <strong>de</strong> tecnologia e <strong>de</strong> mercados.<br />

2 Por exemplo, as empresas internacionais <strong>de</strong> maior sucesso ligadas às tecnologias <strong>de</strong> informação e à<br />

biotecnologia só tiveram lucro num período <strong>de</strong> 5 a 10 anos posterior ao investimento inicial. É portanto<br />

necessário juntar capital <strong>de</strong> risco com paciência.<br />

317


Informação Internacional<br />

A Visão para 2010<br />

O mercado <strong>de</strong> capitais dinamarquês <strong>de</strong>senvolver-se-á nos próximos anos e adaptar-se-á às<br />

necessida<strong>de</strong>s da nova economia do conhecimento global.<br />

Terão que existir competências capazes <strong>de</strong> ver o potencial <strong>de</strong> pegar numa boa i<strong>de</strong>ia em<br />

fase experimental e <strong>de</strong>senvolvê-la até se tornar num sucesso comercial.<br />

Os Objectivos Específicos<br />

318<br />

• existência <strong>de</strong> uma “cultura <strong>de</strong> acções” – será mais fácil <strong>de</strong>ter e trocar acções, e toda a<br />

estrutura institucional montada será <strong>de</strong>senvolvida para suportar a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

exercer a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acções <strong>de</strong> uma forma activa;<br />

• no crescimento e reajustamento <strong>de</strong> negócios <strong>de</strong> pequena e média dimensão – por<br />

forma a tornar mais fácil o aumento do número e o reajustamento <strong>de</strong> PME's;<br />

• a existência <strong>de</strong> capital para novas áreas <strong>de</strong> negócio inovadoras – será mais fácil para<br />

empreen<strong>de</strong>dores com i<strong>de</strong>ias inovadoras e comercializáveis, conseguirem<br />

financiamentos e po<strong>de</strong>rem gerar novos postos <strong>de</strong> trabalho.<br />

EXEMPLOS DE INICIATIVAS A APOIAR<br />

A PROVISÃO DE CAPITAL DE RISCO E OS FUNDOS DE PENSÕES<br />

O governo dinamarquês fará um convite ao sector dos fundos <strong>de</strong> pensões para que se junte num<br />

diálogo <strong>de</strong> forma a que se possam promover investimentos em acções não cotadas <strong>de</strong> pequenas<br />

empresas. O objectivo é que o sector dos fundos <strong>de</strong> pensões dispense mais atenção a pequenos<br />

mas inovadores negócios. Até agora, os investidores institucionais têm colocado menos <strong>de</strong> 1% dos<br />

seus activos em acções não cotadas. Noutros países, com maior tradição <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> capital<br />

em acções, os fundos <strong>de</strong> pensões têm colocado uma percentagem consi<strong>de</strong>ravelmente maior dos<br />

seus activos em acções não cotadas. Nos EUA este valor é cerca <strong>de</strong> 8%, e na Holanda e no Reino<br />

Unido ronda os 4 a 6%. Dado estes valores, é pouco provável que antes <strong>de</strong> 2005 as instituições<br />

ligadas aos fundos <strong>de</strong> pensões, na Dinamarca, consigam aumentar <strong>de</strong> forma consi<strong>de</strong>rável os seus<br />

investimentos em negócios inovadores. A experiência externa indica que os investimentos em<br />

pequenos negócios inovadores po<strong>de</strong>m, no longo prazo, originar um bom retorno. Os fundos <strong>de</strong><br />

pensões po<strong>de</strong>rão ainda beneficiar <strong>de</strong> joint-ventures com fundos especializados <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

industrial. O capital das pensões dos dinamarqueses não está todo em fundos <strong>de</strong> pensões, está<br />

também em instituições bancárias. Para dar a esta parte das poupanças oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

capitalizarem pequenos negócios, o governo consi<strong>de</strong>rará a hipótese da colocação <strong>de</strong> fundos,<br />

através <strong>de</strong> acordos bancários, em acções não cotadas e trocadas em mercados autorizados.<br />

2.4. O Bom Funcionamento dos Mercados<br />

Os principais componentes do <strong>de</strong>senvolvimento industrial – empresas fortes, pessoal<br />

competente, capital disponível, infra-estruturas a<strong>de</strong>quadas e consumidores críticos,<br />

necessitam <strong>de</strong> interagir bem. O bom funcionamento dos mercados po<strong>de</strong> contribuir para tal.


A Estratégia <strong>de</strong> Desenvolvimento Industrial na Dinamarca<br />

Mas como o bom funcionamento dos mercados não surge por acaso, são precisas regras<br />

específicas, <strong>de</strong>vidamente i<strong>de</strong>ntificadas. Uma das características mais visíveis do bom<br />

funcionamento dos mercados é através <strong>de</strong> uma competição justa. Na Dinamarca, as regras<br />

da concorrência são da competência partilhada do Parlamento (Folketinget), da UE e da<br />

OMC.<br />

A Visão para 2010<br />

A Dinamarca ambiciona ser um país no qual uma competição “feroz” indica um<br />

conhecimento <strong>de</strong> recursos, e produtivida<strong>de</strong> elevada. Os preços pagos pelos consumidores<br />

dinamarqueses não <strong>de</strong>verão ser mais elevados que nos restantes países do Norte da<br />

Europa. A competição <strong>de</strong>verá também pressionar os negócios a conduzir pesquisas e a<br />

<strong>de</strong>senvolver a inovação. A maioria das empresas dinamarquesas competem ferozmente<br />

com empresas estrangeiras pelo mercado dinamarquês o qual não se encontra protegido<br />

por medidas nacionais ou outras barreiras. A competição <strong>de</strong>verá ter tanto <strong>de</strong> feroz, quanto<br />

<strong>de</strong> justa e leal.<br />

Os Objectivos Específicos<br />

• uma competição eficaz que gere inovação – os consumidores dinamarqueses <strong>de</strong>vem<br />

pagar preços razoáveis pelos seus bens, e os negócios <strong>de</strong>vem ser impelidos por uma<br />

competição eficaz para inovar;<br />

• uma melhor informação – a forma <strong>de</strong> conseguir uma melhor escolha para os<br />

consumidores <strong>de</strong>verá ser baseada em informação disponível sobre bens e serviços;<br />

• direitos dos consumidores – direitos transparentes e acessíveis ao público permitem<br />

normalmente um elevado grau <strong>de</strong> confiança no mercado – por exemplo, a falta <strong>de</strong><br />

direitos e regras transparentes dos consumidores no comércio electrónico funciona<br />

como barreira a uma a<strong>de</strong>são ainda maior por parte <strong>de</strong> potenciais consumidores;<br />

• protecção eficaz do conhecimento e a baixo custo – <strong>de</strong>vendo ser conseguido um<br />

equilíbrio razoável entre o direito dos empresários à protecção <strong>de</strong> patentes e o<br />

interesse da socieda<strong>de</strong> em ter acesso à disseminação do conhecimento.<br />

EXEMPLOS DE INICIATIVAS A APOIAR<br />

OS SERVIÇOS DE PROXIMIDADE<br />

O governo está a consi<strong>de</strong>rar a forma como o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos conceitos <strong>de</strong> serviços<br />

po<strong>de</strong> ser iniciado. Os novos conceitos po<strong>de</strong>m ser muito variados, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a prestação <strong>de</strong> cuidados a<br />

cidadãos seniores, cuidados infantis, a manutenção <strong>de</strong> espaços ver<strong>de</strong>s, etc.. Os novos conceitos<br />

<strong>de</strong> serviços formarão parte <strong>de</strong> uma plataforma <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, na qual instituições públicas e privadas<br />

po<strong>de</strong>rão e <strong>de</strong>verão participar relativamente ao <strong>de</strong>senvolvimento dos projectos. O governo abrirá<br />

concurso permitindo que os municípios possam candidatar-se ao <strong>de</strong>sempenho das tarefas.<br />

Espera-se que estas iniciativas aju<strong>de</strong>m ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> para as<br />

áreas <strong>de</strong> serviços seleccionadas.<br />

319


Informação Internacional<br />

2.5. A Existência <strong>de</strong> uma Boa Regulamentação Industrial<br />

Leis e regras formam a “espinha dorsal” <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> organizada. Nas últimas<br />

décadas, o número <strong>de</strong> novos actos legislativos aumentou substancialmente. Cerca <strong>de</strong> 200<br />

novos actos legislativos ou reformulações <strong>de</strong> legislação já existente, são adoptados todos os<br />

anos. Subjacente está uma socieda<strong>de</strong> cada vez mais complexa, na qual vão surgindo novos<br />

problemas.<br />

Fornecer regulamentação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e ao mesmo tempo, limitar o peso administrativo<br />

constitui um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio. De uma maneira geral, todos os países oci<strong>de</strong>ntais têm passado<br />

por este dilema nos últimos anos. A experiência tem mostrado que boas soluções pe<strong>de</strong>m<br />

uma cooperação próxima e <strong>de</strong> confiança, entre o sector público, a indústria e o comércio.<br />

A Visão para 2010<br />

A visão governamental para uma regulamentação <strong>de</strong> elevada qualida<strong>de</strong> e uma<br />

administração mais eficaz passa pela construção <strong>de</strong> uma parceria construtiva na formulação<br />

<strong>de</strong> novos actos legislativos entre a indústria, o comércio e o sector público.<br />

As vantagens e as <strong>de</strong>svantagens <strong>de</strong>stes novos actos legislativos <strong>de</strong>verão ser analisadas e<br />

sujeitas a discussão, como forma <strong>de</strong> encontrar a solução mais expediente. A indústria e o<br />

sector empresarial <strong>de</strong>vem assumir a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolver os problemas nas suas<br />

áreas particulares, e os negócios <strong>de</strong>verão experimentar uma auto-regulamentação<br />

crescente das suas áreas específicas. Isto será obviamente contrabalançado pelo<br />

necessário controlo público.<br />

Será também efectuada, anualmente, uma revisão da legislação existente. Leis<br />

ina<strong>de</strong>quadas às novas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> em mudança serão alteradas, e<br />

legislação obsoleta será eliminada.<br />

A Dinamarca espera vir a estar no topo do <strong>de</strong>senvolvimento da “administração electrónica”.<br />

Todas as comunicações com o público serão electrónicas, quer sejam através da Internet ou<br />

através da transmissão directa entre bases <strong>de</strong> dados do sector empresarial e do sector<br />

público.<br />

Os Objectivos Específicos<br />

320<br />

• a elevada qualida<strong>de</strong> dos novos actos legislativos: assegurando em todos os casos<br />

que as consequências <strong>de</strong> novos actos legislativos para a indústria e o comércio sejam<br />

criteriosamente analisados, serão investigadas possíveis alternativas à<br />

regulamentação tradicional (tais alternativas po<strong>de</strong>rão passar por acordos voluntários,<br />

incentivos fiscais, certificação e auto-regulamentação), quando tais alternativas<br />

pu<strong>de</strong>rem gerar soluções melhores que a regulamentação tradicional;<br />

• a simplificação administrativa: regras obsoletas serão eliminadas, e novas regras<br />

serão formuladas <strong>de</strong> forma a serem o mais facilmente possível geridas pelo sector<br />

empresarial e industrial. Neste sentido, o potencial da interacção electrónica com o<br />

público será consi<strong>de</strong>ravelmente reforçado.


EXEMPLOS DE INICIATIVAS A APOIAR<br />

A ADMINISTRAÇÃO ELECTRÓNICA<br />

A Estratégia <strong>de</strong> Desenvolvimento Industrial na Dinamarca<br />

O governo dinamarquês preten<strong>de</strong> colocar a Dinamarca na frente da e-administration. Para tal, vai<br />

levar a cabo uma série <strong>de</strong> iniciativas como:<br />

• a elaboração <strong>de</strong> novos formulários e guias acessíveis na Internet, e simplificação dos mesmos,<br />

como forma <strong>de</strong> evitar duplicação <strong>de</strong> documentos, perdas <strong>de</strong> tempo <strong>de</strong>snecessárias e burocracias<br />

excessivas;<br />

• a implementação <strong>de</strong> um projecto piloto na Internet, a partir do qual seja possível ace<strong>de</strong>r a toda a<br />

documentação consi<strong>de</strong>rada relevante à indústria;<br />

• garantia <strong>de</strong> que documentos assinados electronicamente tenham a mesma valida<strong>de</strong> que os<br />

restantes;<br />

• acesso a formação em administração electrónica, num diálogo com organizações industriais e<br />

empresariais.<br />

2.6. O Crescimento Sustentável<br />

O sector empresarial dinamarquês necessita <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> bem organizada que se<br />

preocupe com o ambiente e com os problemas sociais. Uma socieda<strong>de</strong> sustentável exige<br />

responsabilida<strong>de</strong> conjunta. Todas as organizações, quer públicas quer privadas, têm a sua<br />

quota parte <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> viável. O objectivo<br />

do governo é encontrar a divisão certa <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e trabalho entre as diferentes<br />

partes.<br />

A Visão para 2010<br />

Na Dinamarca, os valores sociais serão <strong>de</strong> facto postos em agenda. Ética e ambiente serão<br />

<strong>de</strong>clarados objectivos na empresa e interligados nos sistemas <strong>de</strong> gestão empresarial e nas<br />

suas rotinas. O requisito da responsabilida<strong>de</strong> acrescida que valoriza os valores sociais virá<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro das empresas, dos clientes e <strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong> envolvente. A muitos<br />

empregados será dada, por exemplo, a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> planearem a flexibilida<strong>de</strong> dos seus<br />

próprios horários <strong>de</strong> trabalho. Desta forma, estarão em melhor posição <strong>de</strong> prestar uma maior<br />

assistência a filhos menores e <strong>de</strong> ter uma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida acrescida. A Dinamarca<br />

preocupa-se também com o enquadramento a dar a um melhor ambiente <strong>de</strong> trabalho.<br />

Mais empresários terão a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar trabalho àqueles que, por motivos<br />

variados, não conseguem respon<strong>de</strong>r às elevadas expectativas do mercado <strong>de</strong> trabalho cada<br />

vez mais exigente. A Dinamarca proporcionará igualmente uma melhor integração aos<br />

imigrantes, <strong>de</strong> forma a que seja dada a todos igual oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usarem as suas<br />

competências.<br />

O custo do sector empresarial assumir a responsabilida<strong>de</strong> pelo ambiente, pela mão-<strong>de</strong>-obra<br />

e pelos grupos sociais mais <strong>de</strong>sfavorecidos será elevado. O sector empresarial terá que<br />

utilizar elevados recursos para assumir a sua “imagem ver<strong>de</strong>”, para melhorar o ambiente <strong>de</strong><br />

321


Informação Internacional<br />

trabalho, e para po<strong>de</strong>r manter funcionários menos produtivos. O governo compromete-se a<br />

que estes investimentos tenham resultado. O Marketing em valores e responsabilida<strong>de</strong>s<br />

sociais será uma importante fonte <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r competitivo acrescido, no mercado global <strong>de</strong><br />

consumidores cada vez mais conscientes.<br />

Os Objectivos Específicos<br />

322<br />

• a responsabilida<strong>de</strong> ambiental dos negócios – o sector empresarial <strong>de</strong>ve ter uma boa<br />

estrutura para formar e construir sistemas <strong>de</strong> gestão, competências e aplicar<br />

tecnologia capaz <strong>de</strong> melhorar os seus esforços relativamente ao ambiente;<br />

• a “contabilida<strong>de</strong> social” do sector empresarial – será feito com que seja atractivo para<br />

o sector empresarial contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um mercado <strong>de</strong> trabalho<br />

que tenha espaço para todos, mesmo aqueles que não possuem as qualificações<br />

normais.<br />

EXEMPLOS DE INICIATIVAS A APOIAR<br />

A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL EMPRESARIAL<br />

O governo dinamarquês escolheu medir a responsabilida<strong>de</strong> ambiental empresarial através <strong>de</strong> três<br />

indicadores:<br />

• o número <strong>de</strong> empresas com certificado ambiental: nesta área, a Dinamarca é actualmente<br />

segunda na OCDE, em percentagem relativamente ao número <strong>de</strong> habitantes. O governo<br />

preten<strong>de</strong> que o país continue entre os principais países com mais empresas certificadas<br />

ambientalmente;<br />

• proliferação <strong>de</strong> “bens ver<strong>de</strong>s”: o aparecimento <strong>de</strong> “bens ver<strong>de</strong>s” ou “amigos do ambiente” está<br />

rapidamente em expansão na Dinamarca. Também o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> alimentos ecológicos<br />

tem feito gran<strong>de</strong>s progressos em comparação com outros países. Preten<strong>de</strong>-se manter esta<br />

posição já que a confiança por parte do consumidor nestes produtos é bastante elevada. É<br />

objectivo do governo que os produtos com etiqueta “ver<strong>de</strong>” possam aumentar em comparação<br />

com produtos oriundos <strong>de</strong> outros países, e que a Dinamarca possa manter a sua posição <strong>de</strong><br />

li<strong>de</strong>rança relativamente a produtos ecológicos;<br />

• o uso eficaz dos recursos pelos negócios: o governo está a preparar estatísticas totais <strong>de</strong><br />

consumo <strong>de</strong> recursos-chave em numerosas indústrias. Em algumas áreas, conseguiu-se já<br />

quebrar a relação entre crescimento e consumo acrescido <strong>de</strong> recursos. Tal está relacionado por<br />

exemplo com o <strong>de</strong>sperdício industrial e a área energética. O governo ambiciona promover a<br />

eficácia dos recursos em todas as indústrias e para tal vai instalar metas ao nível <strong>de</strong> cada sector,<br />

<strong>de</strong> acordo com os indicadores mais aconselhados.


FONTES<br />

A Estratégia <strong>de</strong> Desenvolvimento Industrial na Dinamarca<br />

“Government Industrial Development Strategy”, Industrial Development Strategy Committee<br />

of Ministers, February 2000, Denmark.<br />

“Studies of Clusters as a Basis for Industrial and Technology Policy in the Danish Economy”,<br />

Danish Research Unit for Industrial Dynamics, Working Paper nº 97-14, December 1997.<br />

Informação diversa recolhida na imprensa nacional e estrangeira.<br />

323


A ÍNDIA E OS SERVIÇOS NO “CIBERESPAÇO” – VISÃO DE UM FUTURO<br />

POSSÍVEL<br />

Paulo Soeiro <strong>de</strong> Carvalho<br />

INTRODUÇÃO<br />

Em Foco<br />

No “Informação Internacional 2000” − Vol. I, no artigo ”A Índia – Novas Tecnologias numa<br />

Economia Emergente”, da Drª Cátia Fernan<strong>de</strong>s, pela primeira vez se analisou nesta<br />

publicação a importância e o significado do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um dinâmico sector <strong>de</strong><br />

“software” na Índia, estreitamente articulado no seu <strong>de</strong>senvolvimento com os EUA. O<br />

objectivo <strong>de</strong>ste artigo é retomar o tema, ilustrando-o com breves reflexões feitas por<br />

diversas entida<strong>de</strong>s sobre as perspectivas futuras para as activida<strong>de</strong>s mais directamente<br />

relacionadas com as Tecnologias da Informação na Índia, em particular na gama crescente<br />

<strong>de</strong> serviços baseados nas TIs.<br />

Alguns dados recentes permitem perceber a dimensão e o ritmo <strong>de</strong> crescimento que a<br />

indústria das TIs na Índia tem vindo a registar ao longo dos últimos anos (NASSCOM, 2001).<br />

• em 1999-2000, a indústria <strong>de</strong> TIs indiana obteve receitas estimadas em cerca <strong>de</strong> 8,67<br />

mil milhões <strong>de</strong> dólares, um crescimento <strong>de</strong> quase 50% face ao ano fiscal <strong>de</strong> 1998-99.<br />

• nos últimos cinco anos (1995-2000), a indústria <strong>de</strong> TIs indiana registou uma taxa<br />

anual acumulada <strong>de</strong> crescimento superior a 42,4%, quase o dobro da taxa <strong>de</strong><br />

crescimento das indústrias <strong>de</strong> TIs na maioria dos países <strong>de</strong>senvolvidos;<br />

• o sector da fabricação <strong>de</strong> TIs tem vindo a crescer a uma taxa média anual rondando<br />

os 30-35% ao longo da última década. O sector tem mais <strong>de</strong> 150 fabricantes <strong>de</strong><br />

hardware <strong>de</strong> primeiro nível alimentados por mais <strong>de</strong> 800 unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suporte e<br />

pequenos fornecedores centrados em sub-montagens e fabricação <strong>de</strong> equipamento;<br />

• o software continua a ser o principal contribuinte para as receitas da indústria <strong>de</strong> TIs.<br />

Durante 1999-2000, as receitas da indústria <strong>de</strong> software ascen<strong>de</strong>ram a mais <strong>de</strong> 65%<br />

das receitas anuais totais da indústria <strong>de</strong> TIs indiana. A indústria <strong>de</strong> software na Índia<br />

cresceu cerca <strong>de</strong> 53% em 1999-2000, com as receitas a atingirem os 6 mil milhões <strong>de</strong><br />

dólares em 1999-2000;<br />

• um estudo recente da Nasscom conclui que duas em cada cinco empresas da<br />

Fortune 500 estavam actualmente a realizar o “outsourcing” <strong>de</strong> algumas das suas<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> software para a Índia. Empresas como a GE, Bank of America,<br />

Target e American Express formaram parcerias com empresas indianas como a Tata<br />

Consulting Services, Wipro, Infosys.


Informação Internacional<br />

1. A ÍNDIA NAS INDÚSTRIAS BASEADAS NAS TECNOLOGIAS DE <strong>INFORMAÇÃO</strong>-<br />

PONTOS FORTES E FRACOS<br />

Recordando elementos referidos no artigo referido da “Informação Internacional 2000” –<br />

Vol. I, aos quais se acrescentaram outros elementos consi<strong>de</strong>rados relevantes, po<strong>de</strong>m<br />

sinteticamente apresentar-se alguns pontos fracos e fortes da Índia enquanto centro <strong>de</strong><br />

atracção <strong>de</strong> empresas ligadas às TIs:<br />

Pontos Fortes<br />

326<br />

• Uma parcela substancial da força <strong>de</strong> trabalho que domina o idioma inglês e apresenta<br />

uma elevada literacia computacional, permitindo aproveitar a procura crescente por<br />

profissionais na área dos serviços suportados em TIs. Acrescente-se que o custo <strong>de</strong><br />

pessoal qualificado é um dos mais baixos no mundo;<br />

• a Índia é actualmente consi<strong>de</strong>rado um país extraordinariamente atractivo para<br />

empresas estrangeiras interessadas no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> software e na prestação<br />

<strong>de</strong> serviços suportados por TIs, seja através da localização no país <strong>de</strong> filiais, ou<br />

optando pela realização do “outsourcing” <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s para empresa locais. O<br />

exemplo <strong>de</strong> Bangalore é ilustrativo <strong>de</strong>ste reconhecimento;<br />

• <strong>de</strong> acordo com os dados divulgados pela Nasscom, em 31 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2000 os<br />

sectores <strong>de</strong> software e serviços <strong>de</strong> TIs empregavam mais <strong>de</strong> 410 000 trabalhadores<br />

qualificados e semi qualificados. Tendo consciência que uma das principais forças da<br />

Índia se encontra na capacida<strong>de</strong> que o país tem <strong>de</strong>monstrado na formação <strong>de</strong> um<br />

número elevado <strong>de</strong> licenciados em engenharia, o governo indiano tem vindo a tomar<br />

passos no sentido <strong>de</strong> triplicar o número <strong>de</strong> estudantes <strong>de</strong> engenharia até ao ano<br />

2008.<br />

• as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> I&D por parte <strong>de</strong> software houses indianas atingiram cerca <strong>de</strong> 3,4%<br />

das receitas totais em 1999-2000. Esta situação traduz um esforço significativo no<br />

sentido <strong>de</strong> afectar recursos crescentes capazes <strong>de</strong> permitirem o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

práticas e conhecimento que permitam avançar na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor.<br />

• a indústria goza <strong>de</strong> um tratamento fiscal favorável. O Governo Central oferece<br />

benefícios fiscais até 2010 para a exportação <strong>de</strong> serviços baseados em TIs, os quais<br />

são complementados pela acção <strong>de</strong> muitos Governos Estaduais da Índia, que<br />

oferecem incentivos especiais e infra-estruturas para o estabelecimento <strong>de</strong> serviços<br />

baseados em TIs;<br />

• uma diferença horária <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 12 horas com os EUA e outros principais mercados<br />

para serviços suportados através <strong>de</strong> TIs;


A Índia e os serviços no "Ciberespaço" - Visão <strong>de</strong> um Futuro Possível<br />

BANGALORE – “SILICON VALLEY” DA ÍNDIA<br />

Ao longo dos últimos anos, Bangalore (situada no Estado <strong>de</strong> Karnataka no Sul da Índia) transformouse<br />

naquilo que muitos <strong>de</strong>nominam <strong>de</strong> “Silicon Valley” da Índia. O Mapa seguinte permite situar a<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bangalore, complementando-a com a apresentação do backbone da re<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

telecomunicações da Índia.<br />

Bangalore<br />

(Esatdo <strong>de</strong> Karnataka)<br />

Fonte: www.mapsofIndia.com.<br />

Mapa 1<br />

LOCALIZAÇÃO DE BANGALORE<br />

Algumas tendências <strong>de</strong> evolução permitem avaliar a dimensão <strong>de</strong>stas transformações:<br />

• <strong>de</strong> 1991-92 para 1999 o número <strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> software em Bangalore cresceu <strong>de</strong> 13 para<br />

cerca <strong>de</strong> 300 unida<strong>de</strong>s;<br />

• as exportações passaram <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> Rs 1,5 em 1991-92 para mais <strong>de</strong> Rs 3 200, menos <strong>de</strong> uma<br />

década <strong>de</strong>pois;<br />

• Bangalore <strong>de</strong>tém mais <strong>de</strong> 32% da produção <strong>de</strong> software do país e o sector das TIs está a<br />

crescer na região a uma taxa que ronda os 58% ao ano;<br />

• embora as razões para tal crescimento sejam múltiplas, algumas são bem conhecidas, como por<br />

exemplo, o excelente clima que proporciona, a quantida<strong>de</strong> significativa <strong>de</strong> profissionais altamente<br />

qualificados, as infra-estruturas <strong>de</strong> formação e as políticas governamentais que têm conduzido a<br />

esta explosão das TIs na cida<strong>de</strong> e no Estado <strong>de</strong> Karnataka (existem cerca <strong>de</strong> 225 centros <strong>de</strong><br />

formação em todo o Estado, a maioria dos quais vocacionado para a oferta <strong>de</strong> competências<br />

computacionais a jovens <strong>de</strong>sempregados com níveis intermédios <strong>de</strong> habilitações);<br />

327


Informação Internacional<br />

• existe uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> fibra óptica ligando todos os centros metropolitanos do Estado <strong>de</strong> Karnataka,<br />

e existe uma vonta<strong>de</strong> firme por parte do Governo <strong>de</strong> Karnataka em implementar serviços <strong>de</strong><br />

banda larga, estando para tal prevista a liberalização total do sector das telecomunicações;<br />

• foi criado um grupo (“Vision Group on Biotechnology”) em Karnataka tendo em vista estudar as<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> utilizar a biotecnologia como nova força motriz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento económico<br />

para o Estado. Está igualmente a ser criado em Bangalore um “Instituto <strong>de</strong> Biotecnologia” o qual<br />

oferecerá cursos avançados em “bio-informática” em colaboração com o IIT (“Institute of<br />

Information Technology”) <strong>de</strong> Bangalore.<br />

Bangalore também tem alguns pontos negativos, que po<strong>de</strong>rão revelar-se obstáculos a<br />

<strong>de</strong>senvolvimentos futuros, entre os quais se po<strong>de</strong>m sublinhar os seguintes:<br />

• Competição crescente na aquisição <strong>de</strong> profissionais altamente qualificados, gerando taxas <strong>de</strong><br />

“turnover” cada vez mais elevadas;<br />

• Infra-estruturas <strong>de</strong> transporte insuficientes;<br />

• Bangalore é a segunda cida<strong>de</strong> indiana mais poluída;<br />

• Fracas ligações aéreas internacionais:<br />

Olhando para o futuro: algumas tendência para a localização <strong>de</strong> novos centros<br />

Embora Bangalore seja actualmente o principal centro <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e exportação <strong>de</strong> software<br />

na Índia, algumas das exigências chave que acompanharão a expansão da indústria <strong>de</strong> software no<br />

país (ex. competências <strong>de</strong> software, qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, qualida<strong>de</strong> das infra-estruturas), po<strong>de</strong>rão<br />

levar ao crescimento <strong>de</strong> novos centros <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> software. Entre as localizações que<br />

parecem ser mais promissoras, encontram-se as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Mumbai (Bombaim), Chennai e<br />

Hy<strong>de</strong>rabad.<br />

Em termos da prestação <strong>de</strong> serviços suportados por TIs, as exigências chave passam pela<br />

disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um stock significativo <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra literada em termos <strong>de</strong> TIs a baixo custo,<br />

dominando a língua inglesa e eventualmente algumas línguas europeias, e igualmente pela<br />

qualida<strong>de</strong> das infra-estruturas. As cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Chennai, Mumbai e Pune surgem como as principais<br />

candidatas para a criação <strong>de</strong> centros vocacionados para estes tipos <strong>de</strong> serviços.<br />

Mumbai (Bombaim) é uma cida<strong>de</strong> que apresenta excelentes perspectivas futuras, não apenas ao<br />

nível do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> software como também <strong>de</strong> serviços suportados por TIs. As razões para<br />

tal facto, <strong>de</strong>rivam das vantagens que a cida<strong>de</strong> apresenta face a outras potenciais localizações,<br />

nomeadamente:<br />

• é já uma das principais cida<strong>de</strong>s exportadoras <strong>de</strong> software da Índia;<br />

• apresenta custos ao nível do imobiliários muito mais baixos do que Bangalore, <strong>de</strong>vido à<br />

existência <strong>de</strong> boas localizações suburbanas;<br />

• apresenta bastantes recursos em termos <strong>de</strong> profissionais qualificados;<br />

• é o principal centro <strong>de</strong> serviços financeiros e <strong>de</strong> engenharia;<br />

• apresenta as melhores ligações aéreas internacionais do país;<br />

• tem as melhores re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transporte públicos e energia eléctrica do país (não sendo necessários<br />

gran<strong>de</strong>s investimentos nestas áreas por parte <strong>de</strong> empresas que aí <strong>de</strong>sejem instalar-se).<br />

328


Pontos Fracos<br />

A Índia e os serviços no "Ciberespaço" - Visão <strong>de</strong> um Futuro Possível<br />

• Encontra-se limitada por um peso burocrático excessivo por parte do governo,<br />

embora a partir <strong>de</strong> 1991 se tenha vindo a assistir a uma tendência mais liberalizadora<br />

e <strong>de</strong>sregulamentadora da economia indiana. De facto, os governos central e<br />

estaduais ainda regulam os preços <strong>de</strong> muitos produtos essenciais, incluindo produtos<br />

agrícolas, açúcar, óleos, serviços médicos básicos, energia, água e muitos inputs<br />

industriais;<br />

• existem receios no que respeita aos crónicos défices orçamentais extremamente<br />

elevados (o défice do governo central tem rondado os 5,5 a 6,5% do PIB, com o<br />

défice do sector público consolidado, incluindo os Estados, a situar-se ao nível dos 9<br />

a 10% do PIB). Ao nível das finanças públicas, estas ainda se encontram muito<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes dos impostos indirectos, nomeadamente <strong>de</strong> tarifas impostas às<br />

importações 1 . Entre 1991 e 1998, os impostos indirectos representaram cerca <strong>de</strong> 70%<br />

das receitas fiscais do governo central, indicador facilmente explicado se se<br />

consi<strong>de</strong>rar que a base <strong>de</strong> tributação <strong>de</strong> impostos directos apenas inclui 20 milhões <strong>de</strong><br />

contribuintes <strong>de</strong> uma população total <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> mil milhões <strong>de</strong> pessoas;<br />

• existem ainda muitas barreiras à entrada nos sectores dos serviços. O governo<br />

controlo a maioria dos sectores <strong>de</strong> serviços, quer parcial, quer totalmente, embora<br />

seja crescente o número <strong>de</strong> participantes do sector privado que obtêm permissão<br />

para competir no mercado. De facto, apesar da entrada <strong>de</strong> bancos privados ainda se<br />

encontrar muito regulada, foram concedidas aprovações para a entrada <strong>de</strong> 25 novos<br />

bancos estrangeiros ou agências bancárias <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1993. Acrescente-se que o<br />

governo está actualmente a rever a sua posição monopolista no sector segurador<br />

tendo em vista uma futura liberalização e reforma do sector. Cada vez mais empresas<br />

estrangeiras, sozinhas ou em parcerias com empresas indianas, estão a entrar nos<br />

sectores das telecomunicações, publicida<strong>de</strong>, contabilida<strong>de</strong> e numa multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

se serviços <strong>de</strong> consultadoria. Estas tendências mostram a percepção crescente do<br />

potencial da Índia como gran<strong>de</strong> exportador <strong>de</strong> serviços e a exigência crescente no<br />

sentido <strong>de</strong> um mercado <strong>de</strong> serviços mais aberto;<br />

• as <strong>de</strong>spesas em TI como percentagem do PIB é actualmente <strong>de</strong> 1,68%. Nos EUA, as<br />

<strong>de</strong>spesas em TIs como percentagem do PIB é superior a 6%;<br />

• o país ainda tem infra-estruturas <strong>de</strong> telecomunicações (cobertura, largura <strong>de</strong> banda,<br />

etc.), e <strong>de</strong> transporte muito insuficientes, bem como necessida<strong>de</strong>s prementes <strong>de</strong><br />

expansão os seus recursos energéticos.<br />

1 Des<strong>de</strong> 1992 o governo indiano tem vindo a eliminar o sistema <strong>de</strong> licenciamento para importações <strong>de</strong> bens<br />

intermédios e <strong>de</strong> capital, e tem vindo a reduzir o peso tarifário sobre as importações (<strong>de</strong> 87% em 1992 para 23%<br />

actualmente). Apesar dos esforços, a Índia ainda mantém restrições sobre importações em mais <strong>de</strong> 1 400 tipos<br />

<strong>de</strong> produtos sobre os quais inci<strong>de</strong>m tarifas, as quais são justificadas com base na situação da sua balança <strong>de</strong><br />

pagamentos, argumentação que foi em 1999 negada por um painel da OMC, da qual a Índia faz parte.<br />

329


Informação Internacional<br />

2. PERSPECTIVAS FUTURAS – RESULTADOS DE ALGUNS ESTUDOS<br />

INTERNACIONAIS<br />

Melhorando algumas das suas fraquezas, a Índia po<strong>de</strong> catapultar os sectores <strong>de</strong> software e<br />

<strong>de</strong> serviços suportados por TIs para níveis <strong>de</strong> sofisticação e valor acrescentado <strong>de</strong> classe<br />

mundial durante a próxima década.<br />

Segundo Michael Dertouzos, director do Laboratory of Computing Science do MIT, a Índia<br />

tem cerca <strong>de</strong> 50 milhões <strong>de</strong> indivíduos que dominam a língua inglesa os quais po<strong>de</strong>m<br />

ganhar cada um cerca <strong>de</strong> 20 000 dólares ao ano fazendo activida<strong>de</strong>s relacionadas com a<br />

prestação se serviços suportados por TIs, o que perfaz um total <strong>de</strong> 1 bilião <strong>de</strong> dólares, ou<br />

seja, duas vezes o actual PIB da Índia.<br />

Outras previsões, embora menos ambiciosas, são mesmo assim impressionantes.<br />

De acordo com um estudo da McKinsey para a Nasscom, os serviços <strong>de</strong> software e <strong>de</strong> TIs<br />

po<strong>de</strong>rão, por volta <strong>de</strong> 2008, representar cerca <strong>de</strong> 2,2 milhões <strong>de</strong> empregos e atrair até 5 mil<br />

milhões <strong>de</strong> dólares em Investimento Directo Estrangeiro – mais do que toda a economia<br />

indiana atraiu em 1998.<br />

O mesmo estudo alerta que dos cerca <strong>de</strong> 87 mil milhões <strong>de</strong> dólares em receitas que a<br />

indústria po<strong>de</strong>rá gerar em 2008 (em 1998 cifraram-se em 3,3 mil milhões), 50 mil milhões <strong>de</strong><br />

dólares <strong>de</strong>rivariam das exportações. A capitalização <strong>de</strong> mercado da indústria po<strong>de</strong>ria<br />

multiplicar por <strong>de</strong>z o valor actual, atingindo os 25 mil milhões.<br />

330<br />

Gráfico 1<br />

UM FUTURO BRILHANTE?<br />

Fonte: McKinsey Quarterly Review, nº 2, 2000<br />

As potencialida<strong>de</strong>s da Índia nestas áreas po<strong>de</strong>rão ser analisadas em torno <strong>de</strong> quatro<br />

gran<strong>de</strong>s segmentos <strong>de</strong> mercado:<br />

• produtos <strong>de</strong> software;<br />

• e-business;<br />

Percentagem das receitas<br />

totais<br />

100% $3,3bn $87,0bn<br />

Serviços <strong>de</strong> TIs<br />

Produtos <strong>de</strong> Software<br />

Serviços “permitidos”<br />

pelas TIs<br />

E-business


A Índia e os serviços no "Ciberespaço" - Visão <strong>de</strong> um Futuro Possível<br />

• serviços permitidos pelas TIs (por exemplo, processamento remoto);<br />

• serviços básicos <strong>de</strong> TIs (propriamente ditos), os quais são a base <strong>de</strong> praticamente<br />

todo o sucesso da Índia nesta indústria. Esta assunção baseia-se no facto da Índia<br />

<strong>de</strong>ter uma forte vantagem competitiva em termos <strong>de</strong> competências associadas às<br />

pessoas e aos ven<strong>de</strong>dores (ver Gráfico 2).<br />

Centrando a atenção nos serviços suportados pelas TIs (eServices), e apesar <strong>de</strong> todas as<br />

potencialida<strong>de</strong>s apresentadas pela Índia, as quais permitem antecipar um crescimento<br />

acelerado na prestação <strong>de</strong> eServices para empresas sediadas em países <strong>de</strong>senvolvidos, é<br />

possível i<strong>de</strong>ntificar esta nova onda como sendo a mais recente das ondas que entretanto<br />

rebentaram antes do tempo, entre as quais é possível i<strong>de</strong>ntificar as seguintes: indústria<br />

energética; telecomunicações; “dot-coms”.<br />

O estudo da McKinsey, apesar das excelentes perspectivas que antecipa para o sector das<br />

TIs e software indianos, alerta igualmente para alguns obstáculos que terão que ser<br />

ultrapassados e opções estratégicas a seguir.<br />

Sofisticação Humana: Nº <strong>de</strong> trabalhadores,<br />

Custo do trabalho, Nível <strong>de</strong> qualificações dos<br />

trabalhadores<br />

Alto<br />

Baixo<br />

Gráfico 2<br />

AS FORTES FUNDAÇÕES DA ÍNDIA<br />

COMPETÊNCIAS DAS PESSOAS E DOS VENDEDORES<br />

♦ Países com exce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> competências (1) • Hubs regionais (2) Países Utilizadores Finais<br />

♦<br />

Indonésia ♦<br />

♦<br />

China<br />

•<br />

Filipinas<br />

Irlanda<br />

•<br />

Singapura<br />

♦Índia<br />

Alemanha<br />

<br />

França<br />

Baixo Alto<br />

Sofisticação dos ven<strong>de</strong>dores: Nº <strong>de</strong><br />

Ven<strong>de</strong>dores, Qualida<strong>de</strong> dos Ven<strong>de</strong>dores<br />

<br />

EUA<br />

RU<br />

(1) Países que têm recursos humanos atractivos mas não <strong>de</strong>têm nem infraestruturas nem a influência política <strong>de</strong> localizações hub.<br />

(2) Países que têm infraestruturas superiores e poucos riscos políticos.<br />

Fonte: MQR, nº2, 2000.<br />

331


Informação Internacional<br />

Neste sentido, a indústria dos serviços <strong>de</strong> software e <strong>de</strong> TIs terá que avançar na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

valor, no sentido da oferta <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> ERP, CRM, manutenção <strong>de</strong> aplicações e serviços<br />

Internet, etc. 2 .<br />

As exportações terão inevitavelmente que representar a maior fatia das receitas. Para as<br />

aumentar até um nível indispensável, a Índia terá que servir mercados fora do mundo <strong>de</strong><br />

língua inglesa. Em 1997-98, cerca <strong>de</strong> 63% das exportações <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> software e <strong>de</strong> TIs<br />

tinham como <strong>de</strong>stino os EUA e o Reino Unido, e essas exportações estavam igualmente<br />

concentradas no sector transformador e nos serviços financeiros para a banca e seguros.<br />

O estudo da McKinsey conclui que para atingir o rápido crescimento projectado, os sectores<br />

<strong>de</strong> software e das TICs terão que entrar em outras áreas como o retalho e a distribuição,<br />

serviços profissionais, cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, comunicações e “utilities”.<br />

A Figura seguinte, permite visualizar quais os sectores que po<strong>de</strong>rão apresentar maiores<br />

potencialida<strong>de</strong>s face às capacida<strong>de</strong>s e vantagens comparativas <strong>de</strong>tidas pela Índia ao nível<br />

do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>senvolvimento centrado no “outsourcing” <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> software e <strong>de</strong><br />

serviços baseados em TIs.<br />

332<br />

Base <strong>de</strong> Custos Global da Indústria<br />

Alto Química<br />

Construção Naval<br />

Aço<br />

Figura 1<br />

POTENCIAL DE AMPLIAÇÃO DOS MERCADOS ALVO<br />

Automóvel<br />

“Utilities”<br />

Médio Electrónica<br />

Transporte aéreo<br />

Equipamentos Energéticos Fabricação <strong>de</strong> Computadores<br />

Bens “packaged”<br />

Farmacêutica<br />

Retalho<br />

Baixo Aeroespacial Entretenimento<br />

Hotelaria<br />

Intermediação imobiliária<br />

Fonte: MQR, nº2, 2000.<br />

Sectores que ten<strong>de</strong>rão a<br />

beneficiar mais<br />

Instituições bancárias e financeiras<br />

Seguros<br />

Telecomunicações<br />

E-commerce<br />

Software<br />

Baixa Média Alta<br />

Parcela relativa e serviços que po<strong>de</strong>m ser outsourced<br />

Para que estes propósitos se possam realizar terá necessariamente que haver importantes<br />

alterações no peso e papel do Governo sobre a economia indiana, nomeadamente em<br />

2 Existem sinais que indiciam que a índia começa a entrar no mercado global dos produtos <strong>de</strong> TIs, o qual é ainda<br />

um território estranho para um sector <strong>de</strong> TIs indiano muito focalizado nos serviços. Um exemplo <strong>de</strong>sta tendência<br />

é dado por uma empresa indiana sediada em Bangalore – a TriVium –, a qual <strong>de</strong>senvolveu um produto inovador<br />

<strong>de</strong> eCRM (Client Relationship Management), e que em apenas seis meses recebeu encomendas <strong>de</strong> 15 clientes<br />

localizados nos EUA, Europa e Índia.


A Índia e os serviços no "Ciberespaço" - Visão <strong>de</strong> um Futuro Possível<br />

sectores que serão vitais e que funcionarão como suportes indispensáveis ao<br />

<strong>de</strong>senvolvimento das TIs e do software durante os próximos anos.<br />

APOSTA NAS INFRA-ESTRUTURAS<br />

O Governo Indiano anunciou para o ano 2001 um conjunto <strong>de</strong> políticas ten<strong>de</strong>ntes a estimular o<br />

crescimento das infra-estruturas da economia indiana, <strong>de</strong>stacando-se as que inci<strong>de</strong>m na liberalização<br />

e mo<strong>de</strong>rnização do sector das telecomunicações (refira-se que a taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> novas<br />

conexões telefónicas manteve-se muito elevada, atingindo 29,8% em 2000):<br />

• abertura do serviço doméstico <strong>de</strong> telefonia <strong>de</strong> longa distância sem qualquer restrição relativa ao<br />

número <strong>de</strong> operadores;<br />

• permitiu à BSNL e à MTNL entrarem como terceiros operadores celulares nos seus respectivos<br />

“círculos”;<br />

• permitiu a entrada <strong>de</strong> um quarto operador celular em todos os “círculos”;<br />

• permitiu a entrada <strong>de</strong> mais um operador <strong>de</strong> serviço básico <strong>de</strong> telefonia;<br />

• apresentou uma proposta <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinvestimento das participações do governo no capital das<br />

companhias aéreas nacionais: a doméstica – Indian Airlines; e na internacional – Air Índia;<br />

• <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> melhorara para os níveis internacionais as condições dos aeroportos <strong>de</strong> Hy<strong>de</strong>rabad,<br />

Ahmedabad, Goa, Kochi e Amritsar;<br />

Fonte: US Department of State, 2001.<br />

3. A ÍNDIA NO FUTURO – UM DOS CENTROS DE E-BUSINESS A NÍVEL MUNDIAL?<br />

Apesar do forte crescimento da Internet na Índia, ela não apresenta a dimensão suficiente<br />

para suportar sites <strong>de</strong> e-commerce focalizados no mercado interno. A IDC estima que<br />

existirão cerca <strong>de</strong> 20 milhões <strong>de</strong> utilizadores Internet na Índia em 2004; referindo a mesma<br />

consultora que em 2003, os países <strong>de</strong>senvolvidos representarão cerca <strong>de</strong> 89% das receitas<br />

globais do e-comerce B2C, e 97% das receitas globais do e-commerce B2B.<br />

Isto significa que o mercado doméstico indiano suportará alguns portais, alguns sites <strong>de</strong><br />

e-commerce B2C e B2B, mas a gran<strong>de</strong> maioria dos sites <strong>de</strong> e-commerce indianos<br />

dificilmente resistirão no futuro. De facto, para além das dificulda<strong>de</strong>s que existem na criação<br />

e <strong>de</strong>senvolvimento sustentável <strong>de</strong> um negócio na Internet (mesmo nos países<br />

<strong>de</strong>senvolvidos), o mercado <strong>de</strong> e-commerce da Índia é igualmente muito pequeno em termos<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra e base <strong>de</strong> clientes. A estas dificulda<strong>de</strong>s acresce o facto da Índia ter que<br />

ultrapassar barreiras infra-estruturais tais como os baixos níveis <strong>de</strong> penetração <strong>de</strong> PCs,<br />

acesso à Internet e telefonia, tanto nos lares como nas empresas.<br />

Neste contexto, as empresas indianas <strong>de</strong> e-commerce e <strong>de</strong> base tecnológica terão mais<br />

oportunida<strong>de</strong>s se se focalizarem num crescimento puxado pelas exportações, em vez <strong>de</strong><br />

se basearem num mo<strong>de</strong>lo exportador puxado pelo crescimento interno (Sawhney, Parikh,<br />

2000).<br />

Tradicionalmente, as empresas industriais indianas privilegiaram o mercado interno, com as<br />

exportações constituindo-se como um alvo que surge posteriormente. De facto, é<br />

333


Informação Internacional<br />

relativamente recente a prepon<strong>de</strong>rância <strong>de</strong> empresas orientadas para a exportação,<br />

li<strong>de</strong>radas pelos sectores <strong>de</strong> vestuário e software (<strong>de</strong> forma contrastada, países como o<br />

Japão e Singapura privilegiaram sempre o mundo “exterior” como os seus mercados alvo).<br />

Neste sentido, as empresas indianas que apostem na área do e-commerce <strong>de</strong>vem evitar<br />

cair na armadilha do mercado doméstico.<br />

3.1. Apostando nos “e-Services” Globais<br />

As melhores oportunida<strong>de</strong>s para as empresas sediadas na Índia ten<strong>de</strong>rão a encontrar-se na<br />

área dos serviços que possam ser “alimentados” através <strong>de</strong> “capital humano” e entregues<br />

sobre a Net para localizações remotas.<br />

A Índia po<strong>de</strong> tornar-se o lí<strong>de</strong>r mundial <strong>de</strong> fornecimentos <strong>de</strong> “inteligência humana” acedida<br />

através da Internet numa base. Sawhny argumenta que a Índia se po<strong>de</strong>rá transformar<br />

naquilo que ele <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> uma “Human Utility Company”.<br />

A redução dos custos <strong>de</strong> transacção possibilitados pela da Internet (ver Gráfico 3), permite<br />

que as empresas façam o “outsourcing” <strong>de</strong> um número crescente <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s e<br />

processos empresariais não nucleares, como a facturação, processamento <strong>de</strong> encomendas,<br />

apoio e serviço ao cliente; po<strong>de</strong>ndo inclusivamente abarcar alguns dos processos<br />

empresariais ditos “nucleares” como o “engineering”, “<strong>de</strong>sign”, e <strong>de</strong>senvolvimento .<br />

Teoricamente, uma empresa po<strong>de</strong> ter as suas activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> I&D em Silicon Valley, o seu<br />

“engineering” na Índia, a sua fabricação na China, ven<strong>de</strong>r o produto nos EUA e ter o apoio<br />

ao cliente através <strong>de</strong> “call centers” localizados na Índia ou na Irlanda.<br />

334<br />

Gráfico 3<br />

DIFERENCIAIS DE CUSTOS DE PROCESSAMENTO PARA<br />

Percentagem<br />

Custos <strong>de</strong><br />

processamento em<br />

países<br />

<strong>de</strong>senviolvidos<br />

Fonte: MQR, nº2, 2000.<br />

SERVIÇOS REMOTOS<br />

Diferencial <strong>de</strong><br />

custos <strong>de</strong><br />

processamento<br />

50-60%<br />

Poupanças<br />

Custos adicionais Custos <strong>de</strong><br />

processamento<br />

para serviços<br />

remotos


A Índia e os serviços no "Ciberespaço" - Visão <strong>de</strong> um Futuro Possível<br />

Neste sentido, é possível falar <strong>de</strong> um “mundo conectado” (on<strong>de</strong> a inteligência flui livremente<br />

como se fossem moléculas no éter, incidindo sobre problemas temporários sempre e on<strong>de</strong><br />

quer que seja necessário resolver os problemas dos clientes). Na economia do<br />

conhecimento, as empresas necessitam <strong>de</strong> conhecimento e inteligência para competirem,<br />

mas o local on<strong>de</strong> essa inteligência se encontra em termos físicos po<strong>de</strong> ser irrelevante<br />

(Sawhney, Parikh, 2000).<br />

Estas activida<strong>de</strong>s que são possíveis <strong>de</strong> realizar em regime <strong>de</strong> “outsourcing” através da<br />

Internet po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>finidas como “eServices” ou “Serviços Remotos”. Estes serviços<br />

entregues através <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m abarcar uma ampla gama <strong>de</strong> sectores, e po<strong>de</strong>m requerer<br />

diferentes níveis <strong>de</strong> capital humano.<br />

As maiores oportunida<strong>de</strong>s para as empresas indianas encontram-se nos “eServices” que<br />

envolvam um elevado nível <strong>de</strong> capital humano, e que possam ser prestados sobre a<br />

Internet. De entre estes é possível referir os seguintes: ensino, “<strong>de</strong>sign”, arquitectura,<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> software, “engineering” <strong>de</strong> vários tipos, análises estatísticas,<br />

publicida<strong>de</strong>, serviços jurídicos, serviços <strong>de</strong> marketing, entre muitos outros.<br />

Estes serviços são muito distintos dos tradicionais serviços que envolvem a presença física<br />

<strong>de</strong> uma pessoa. Neste sentido Sawhney e Parikh (2000) distinguem aquilo que <strong>de</strong>nominam<br />

por “body shopping” – envolvendo o envio <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> TIs até ao local on<strong>de</strong> se<br />

encontra o cliente; do “brain shopping” – on<strong>de</strong> o “brainpower” é entregue através da Internet,<br />

tornando irrelevante a localização da pessoa que presta o serviço (po<strong>de</strong> estar por exemplo<br />

na Índia).<br />

Neste sentido, a re<strong>de</strong> permite que o cérebro seja “separado” do corpo, e isso permite que a<br />

inteligência e o conhecimento humano sejam comprados sem que haja qualquer tipo <strong>de</strong><br />

restrições geográficas.<br />

3.2. Compreen<strong>de</strong>ndo a paisagem das oportunida<strong>de</strong>s dos "eServices"<br />

Como se referiu, optando pelo “outsourcing” <strong>de</strong> serviços permitidos pelas TIs, empresas<br />

estrangeiras conseguem alcançar benefícios significativos em termos <strong>de</strong> custos, qualida<strong>de</strong> e<br />

tempo, permitindo esta opção estratégica a criação <strong>de</strong> plataformas para construir novos<br />

negócios.<br />

Em termos gerais estas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>rivam das vantagens que economias com<br />

exce<strong>de</strong>ntes em termos <strong>de</strong> competências conseguem oferecer, posicionando-se a Índia como<br />

uma das melhores propostas <strong>de</strong> todas as “hubs” <strong>de</strong> serviços baseados em TIs à escala<br />

mundial.<br />

De facto, a Índia está actualmente a assumir-se como a localização preferencial das<br />

operações <strong>de</strong> “back-end” <strong>de</strong> “hubs” <strong>de</strong> serviços baseados em TIs como a Irlanda e<br />

Singapura, tendência justificada pelo facto do “stock” <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra qualificada ser cada<br />

vez mais um recurso escasso nestes países. Outras razões po<strong>de</strong>m ser invocadas para<br />

sustentar esta tendência, entre as quais se sublinham as seguintes:<br />

335


Informação Internacional<br />

336<br />

• os centros <strong>de</strong> serviços baseados em TIs existentes na Índia oferecem garantias <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> elevada <strong>de</strong>rivado dos benefícios da especialização e da escala;<br />

• a Índia já <strong>de</strong>tém um número elevado e em crescimento acelerado <strong>de</strong> fornecedores<br />

que em conjunto cobrem uma ampla gama <strong>de</strong> serviços com diferentes níveis <strong>de</strong><br />

complexida<strong>de</strong> e valor acrescentado;<br />

• empresas estrangeiras po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>scobrir novas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negócios a partir da<br />

base <strong>de</strong> competências que vão <strong>de</strong>tendo através da prestação <strong>de</strong> serviços baseados<br />

em TIs. A GE Capital, um dos maiores operadores <strong>de</strong> serviços baseados em TIs na<br />

área dos serviços financeiros, está actualmente a planear esten<strong>de</strong>r os seus serviços<br />

para clientes exteriores ao universo do grupo GE, prevendo para concretização <strong>de</strong> tal<br />

objectivo aumentar a sua força <strong>de</strong> trabalho na Índia para mais <strong>de</strong> 10 000 empregados.<br />

Neste sentido, os serviços baseados em TIs po<strong>de</strong>rão vir a ser um sector<br />

extraordinariamente importante para a Índia, pois oferecem excelentes potencialida<strong>de</strong>s em<br />

termos <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego e têm-se revelado uma área capaz <strong>de</strong> atrair volumes<br />

significativos <strong>de</strong> investimento estrangeiro. De entre os vários benefícios que se po<strong>de</strong>m<br />

esperar é possível i<strong>de</strong>ntificar os seguintes:<br />

• geração <strong>de</strong> novos investimentos directos ou indirectos;<br />

• aumento <strong>de</strong> receitas para os operadores <strong>de</strong> telecomunicações;<br />

• introdução <strong>de</strong> nova tecnologia;<br />

• transferência <strong>de</strong> novas competências para a Índia;<br />

• aumento <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong>.<br />

O crescimento do segmento dos serviços suportados pelas TIs (num artigo do Economist <strong>de</strong><br />

Março <strong>de</strong> 20001 – “Back-office of the World”, estes serviços são <strong>de</strong>signados genericamente<br />

como “teletrabalho”) nos últimos anos na Índia permite i<strong>de</strong>ntificar dois tipos <strong>de</strong> actores<br />

pioneiros:<br />

• gran<strong>de</strong>s empresas oci<strong>de</strong>ntais que se instalam na Índia e procuram reduzir os custos<br />

<strong>de</strong> “back-office” sem realizarem o “outsourcing” das respectivas operações. Estas<br />

empresas fornecem o grosso do emprego no sector, e têm tido bastante sucesso.<br />

Como exemplificação <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> actores, a GE Capital Services abriu o primeiro<br />

“call-center” internacional da Índia em meados dos anos 90s, e actualmente emprega<br />

mais <strong>de</strong> 5 000 pessoas, cujas activida<strong>de</strong>s vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as tarefas mais simples até às<br />

mais complexas (data mining). Outros exemplos incluem a Swissair e a British<br />

Airways, as quais <strong>de</strong>têm centros que gerem os respectivos programas <strong>de</strong> passageiros<br />

frequentes, e a American Express, que tem um gran<strong>de</strong> centro <strong>de</strong> “back-office” perto<br />

<strong>de</strong> Nova Deli;<br />

• empresas indianas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> que oferecem serviços suportados pelas TIs em<br />

regime <strong>de</strong> subcontratação a empresas estrangeiras. Estas empresas têm tido maiores<br />

dificulda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>vido à rápida multiplicação <strong>de</strong> empresas que se tem vindo a verificar,<br />

situação que tem gerado alguma <strong>de</strong>sconfiança entre os potenciais clientes no que


A Índia e os serviços no "Ciberespaço" - Visão <strong>de</strong> um Futuro Possível<br />

respeita à qualida<strong>de</strong> e fiabilida<strong>de</strong> dos serviços prestados. O exemplo das transcrições<br />

médicas é elucidativo <strong>de</strong>sta situação: estima-se que a Índia tenha cerca <strong>de</strong> 200<br />

empresas que fazem transcrições médicas, empregando 10 000 tradutores, situação<br />

que tem gerado uma sobrecapacida<strong>de</strong> e uma redução do preço por cada linha <strong>de</strong><br />

tradução, ameaçando simultaneamente a qualida<strong>de</strong> e a rentabilida<strong>de</strong> do negócio.<br />

Apesar <strong>de</strong> alguns sinais <strong>de</strong> preocupação, o futuro é auspiciosos, esperando-se um<br />

movimento massivo <strong>de</strong> outsourcing <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s por parte <strong>de</strong> empresas americanas para<br />

a Índia ao longo dos próximos anos.<br />

Roy (no mesmo artigo do Economist), apresenta uma tipologia <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s que se po<strong>de</strong>m<br />

incluir no segmento dos serviços suportados por TIs, or<strong>de</strong>nando-os em termos <strong>de</strong> valor<br />

acrescentado que proporcionam:<br />

• entrada e tratamento <strong>de</strong> dados, incluindo transcrições médicas;<br />

• “processamento baseado em regras”, no qual um trabalhador faz julgamentos<br />

baseado em regras <strong>de</strong>finidas pelo cliente. Ele po<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir, por exemplo, se um<br />

<strong>de</strong>terminado passageiro, <strong>de</strong> acordo com as regras <strong>de</strong> uma companhia aérea, po<strong>de</strong><br />

passar para a classe executiva num <strong>de</strong>terminado voo;<br />

• resolução <strong>de</strong> problemas, na qual um trabalhador <strong>de</strong>tém uma maior autonomia e<br />

responsabilida<strong>de</strong>, por exemplo, para <strong>de</strong>cidir se uma queixa <strong>de</strong> seguros <strong>de</strong>ve ser paga;<br />

• interacção directa com os clientes, activida<strong>de</strong>s que exigem não penas um<br />

conhecimento dos serviços técnicos a prestar, mas igualmente conhecimentos que<br />

po<strong>de</strong>m ir <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as condições meteorológicas, costumes e eventos da região ou local<br />

on<strong>de</strong> se situa o cliente, po<strong>de</strong>ndo ir inclusivamente até ao aperfeiçoamento da<br />

pronúncia local do cliente;<br />

• serviços periciais baseados no conhecimento, os quais po<strong>de</strong>m exigir o recurso a<br />

especialistas (e a ajuda <strong>de</strong> uma base <strong>de</strong> dados). Por exemplo, um trabalhador po<strong>de</strong><br />

prever a mudança <strong>de</strong> comportamento <strong>de</strong> utilizadores <strong>de</strong> cartões <strong>de</strong> crédito se os<br />

limites <strong>de</strong> crédito forem aumentados.<br />

Schawney e Parikh (2000) apresentam uma abordagem mais ampla. Para estes autores, as<br />

oportunida<strong>de</strong>s apresentadas pelos “eServices” po<strong>de</strong>m ser representadas num espaço<br />

bidimensional, no qual qualquer serviço empresarial que exija algum tipo <strong>de</strong> capital<br />

intelectual po<strong>de</strong> ser colocado numa matriz.<br />

As duas dimensões estratégicas utilizadas para posicionar o “eServices” são as seguintes:<br />

Primeira dimensão: intensida<strong>de</strong> do capital humano da activida<strong>de</strong>. Esta dimensão respeita à<br />

quantida<strong>de</strong> e à qualida<strong>de</strong> do capital humano;<br />

Segunda dimensão: grau <strong>de</strong> “digitabilida<strong>de</strong>” do serviço. Alguns serviços po<strong>de</strong>m ser<br />

prestados <strong>de</strong> forma satisfatória sobre a Internet. Serviços que impliquem informação<br />

digitalizada, como a codificação <strong>de</strong> software, ficheiros AutoCad, e dados, são digitais por<br />

natureza. De forma semelhante, serviços <strong>de</strong> apoio ao cliente são bastante propícios à<br />

digitalização, e po<strong>de</strong>m ser prestados através da Internet.<br />

337


Informação Internacional<br />

338<br />

Intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Capital Humano<br />

Gráfico 4<br />

ESTRUTURANDO A PAISAGEM DOS “E SERVICES”<br />

• Consultoria Estratégica<br />

• Design <strong>de</strong> Interiores<br />

• Renovação habitacional<br />

• Consultoria em eBusiness<br />

•<br />

Análises <strong>de</strong> Mercado<br />

Fonte: Sawhney, Parikh, 2000.<br />

• Desenvolvimento<br />

<strong>de</strong> Software<br />

Grau <strong>de</strong> Digitabilização<br />

•<br />

“Engineering Design”<br />

• Tutoria<br />

•<br />

Serviços jurídicos<br />

• Prescrições<br />

médicas<br />

• Apoio<br />

ao Cliente<br />

As maiores oportunida<strong>de</strong>s encontram-se no quadrante superior direito on<strong>de</strong> a intensida<strong>de</strong> do<br />

capital humano e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> digitalização dos serviços são elevadas.<br />

Segundo estes autores, a primeira dimensão assegura a relevância da vantagem<br />

competitiva do capital humano indiano. A segunda dimensão assegura a portabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste<br />

capital humano sobre a Internet. Essencialmente, sempre que é necessária “capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

processamento humano” em gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s para um serviço suportado por TIs, e<br />

sempre que aquela capacida<strong>de</strong> possa ser acedida remotamente sobre a Internet, existe uma<br />

oportunida<strong>de</strong> para fornecedores <strong>de</strong> “eServices” localizados na Índia.<br />

Neste sentido, a Índia po<strong>de</strong> ter um papel <strong>de</strong>terminante a emergente área dos e-Services<br />

através da alavancagem do seu vasto reservatório <strong>de</strong> “ouro cinzento” − a sua base instalada<br />

<strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> profissionais que dominam a língua inglesa e que têm competências ao nível<br />

das TIs.<br />

Os empresários e empreen<strong>de</strong>dores indianos po<strong>de</strong>m criar empresas <strong>de</strong> serviços baseados<br />

na Internet os quais po<strong>de</strong>rão funcionar como “Human Service Provi<strong>de</strong>rs” (HSPs) o<br />

equivalente humano dos ASPs (“Application Service Provi<strong>de</strong>r”). Estas oportunida<strong>de</strong>s<br />

espalham-se sobre vastas áreas, incluindo o <strong>de</strong>senvolvimento e a concepção <strong>de</strong> produtos,<br />

análises <strong>de</strong> mercados, mo<strong>de</strong>lação através <strong>de</strong> software, “eLearning”, e serviços <strong>de</strong> apoio a<br />

clientes situados em países <strong>de</strong>senvolvidos.<br />

Sawhney argumenta ainda que po<strong>de</strong>rão igualmente surgir oportunida<strong>de</strong>s interessantes para<br />

empresas que consigam gerir vários processos empresariais para um único cliente <strong>de</strong> uma<br />

forma integrada, agrupando vários “Human Sevice Provi<strong>de</strong>rs” e assumindo a<br />

responsabilida<strong>de</strong> pelas respectivas performances.


CONCLUSÃO<br />

A Índia e os serviços no "Ciberespaço" - Visão <strong>de</strong> um Futuro Possível<br />

Algumas regiões da Índia são hoje em dia importantes centros ligados às TIs e em particular<br />

ao software (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento, produção e manutenção) havendo um esforço por<br />

parte dos Governos Central e Estaduais em dinamizar e tornar algumas cida<strong>de</strong>s indianas<br />

cada vez mais atractivas para a realização <strong>de</strong> IDE e “outsourcing” por parte <strong>de</strong> empresas<br />

estrangeiras (nomeadamente americanas).<br />

Embora se possa consi<strong>de</strong>rar a indústria <strong>de</strong> software como o núcleo central e a área <strong>de</strong><br />

maior sofisticação da estratégia global para as TIs <strong>de</strong>lineada pela Índia para os próximos<br />

anos, todo o conjunto <strong>de</strong> serviços que po<strong>de</strong>m ser prestados com base em TIs através da<br />

Internet são uma oportunida<strong>de</strong> que a Índia po<strong>de</strong>rá explorar ao longo da próxima década e<br />

que, pelo volume <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, IDE, e potencial exportador à escala global, ten<strong>de</strong>rão a<br />

assumir um papel central na política <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento económico da Índia.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

ARORA, A.; ARUNACHALAM, V.; ASUNDI, J., FERNANDES, R., − “The Indian Software<br />

Services Industry” (2000), www.heinz.cmu.edu/wpapers/active/wp00205.html.<br />

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FERNANDES, C. − ”A Índia – Novas Tecnologias numa Economia Emergente” (2001), in<br />

Informação Internacional 2000 − Vol. I.<br />

MILLER, H. − “A Pasage to the Internet-Economic Health Public Policy and the Networked<br />

World”, (2001), comunicação apresentada à NASSCOM.<br />

NASSCOM (National Association of Software and Service Companies), (2001),<br />

www.nasscom.org, documentação variada disponível no site.<br />

SAWHNEY, M.; PARIKH, D. − “Powered by India” (2000), in www.mohansawhney.com.<br />

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Quarterly, 2000, nº 4.<br />

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McKinsey Quarterly, 2000, nº 2.<br />

US Department of State, Bureau of Economic and Business Affairs (2000), “1999 Coubty<br />

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www.economywatch.com/policywatch/economicsurvey.htm.<br />

www.mea<strong>de</strong>v.gov.in, (2001), “Business Oportunities”.<br />

www.mapsofindia.com<br />

339


A OTAN E A DEFESA ANTI-MÍSSEIS DA EUROPA<br />

Em Foco<br />

Em Outubro <strong>de</strong> 1999 a OTAN <strong>de</strong>u luz ver<strong>de</strong> para a realização <strong>de</strong> dois estudos <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa anti-mísseis <strong>de</strong> “teatro”, que permitisse <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r as forças móveis<br />

da Aliança, com a dimensão <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong> exército, ou situados em zonas <strong>de</strong> alto risco, <strong>de</strong><br />

ataques <strong>de</strong> mísseis lançados por Estados hostis ou por organizações terroristas.<br />

Este novo sistema é concebido, não como uma capacida<strong>de</strong> isolada, mas como uma<br />

extensão multi-níveis do actual sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa aérea da OTAN; o seu nível superior terá<br />

como objectivo <strong>de</strong>struir mísseis balísticos <strong>de</strong> médio ou longo alcance, com raios <strong>de</strong> acção<br />

até aos 3500 Km, quer fora quer <strong>de</strong>ntro da atmosfera, enquanto o nível inferior terá como<br />

objectivo a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> mísseis <strong>de</strong>ntro da atmosfera, <strong>de</strong>stinando-se sobretudo a fazer face<br />

a ataques <strong>de</strong> mísseis <strong>de</strong> curto alcance e <strong>de</strong> mísseis <strong>de</strong> cruzeiro<br />

Este tipo <strong>de</strong> sistema distingue-se obviamente da proposta <strong>de</strong> Defesa Nacional Anti-Missil<br />

<strong>de</strong>fendida pela nova Administração Bush, <strong>de</strong>stinada a proteger um espaço continental <strong>de</strong><br />

ataques <strong>de</strong> mísseis balísticos intercontinentais, dispondo pois das características <strong>de</strong> um<br />

sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa estratégica, ao contrário da encarada na OTAN que tem uma missão<br />

limitada à <strong>de</strong>fesa directa <strong>de</strong> forças ou <strong>de</strong> locais situados num dado “teatro <strong>de</strong> guerra”.<br />

Os dois estudos <strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong>, para cuja realização os concorrentes apresentaram<br />

propostas até 15 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2001 <strong>de</strong>verão estar concluídos no final <strong>de</strong> 2002, seguindo-se<br />

um período <strong>de</strong> um ano em que a OTAN <strong>de</strong>finirá um ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> encargos para a realização<br />

do sistema, iniciando-se assim a sua fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, que <strong>de</strong>verá permitir à<br />

Aliança tomar uma <strong>de</strong>cisão em 2004 sobre o efectivo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um sistema<br />

operacional, cuja instalação se concretizaria em 2010.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um sistema como o que a OTAN preten<strong>de</strong> implementar envolve<br />

tecnologias <strong>de</strong> ponta centrais para as indústrias <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa que quiserem permanecer<br />

competitivas na próxima década, já que exige avanços ao nível das tecnologias <strong>de</strong> recolha e<br />

tratamento <strong>de</strong> informação, comando e controlo, “gestão <strong>de</strong> batalha”, comunicações,<br />

“software”, bem como <strong>de</strong> inovação ao nível das plataformas a lançar e a guiar a partir <strong>de</strong><br />

terra, mar, ar e eventualmente do espaço ou ao nível dos satélites. Não surpreen<strong>de</strong>, pois<br />

que dos quatro consórcios que se apresentaram ao concurso para os dois referidos estudos<br />

<strong>de</strong> viabilida<strong>de</strong>, até à data limite <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 2001:<br />

• cada um <strong>de</strong>les seja li<strong>de</strong>rado por uma das quatro gran<strong>de</strong>s empresas norte-americanas<br />

das indústrias da <strong>de</strong>fesa e do espaço – Lochheed Martin, Raytheon, Boeing e<br />

Northrop Grumman;<br />

• todos eles incluam uma unida<strong>de</strong> distinta do novo conglomerado europeu das<br />

indústrias da <strong>de</strong>fesa – a EADS – constituída em 1999, em resultado da fusão da<br />

francesa Aerospatiale/Matra, da alemã DASA e da espanhola CASA.


Informação Internacional<br />

É interessante notar que a OTAN preten<strong>de</strong> fazer <strong>de</strong>ste projecto um possível campo <strong>de</strong><br />

colaboração com a Rússia dado que as chefias militares russas reconhecem, a prazo, a<br />

ameaça potencial que nas suas fronteiras sul e leste é representada por Estados que têm<br />

vindo a <strong>de</strong>senvolver as suas competências nas tecnologias dos mísseis, como o Iraque ou o<br />

Irão, ou <strong>de</strong> Estados que são potências nucleares como a China, e mais recentemente a<br />

Índia e o Paquistão. Mas a Rússia <strong>de</strong>fronta-se com dois problemas quanto a uma eventual<br />

colaboração com a OTAN neste campo:<br />

342<br />

• uma das direcções da política externa russa, confirmada com o Presi<strong>de</strong>nte Putin, tem<br />

sido o reforço das relações com os Estados que po<strong>de</strong>m causar mais perturbação aos<br />

interesses dos EUA, em áreas chave como o Golfo Pérsico ou a Ásia/Pacifico, tal<br />

como a China, o Irão e o Iraque, com os quais as relações da Rússia têm envolvido a<br />

venda <strong>de</strong> armamento e, nalguns casos, <strong>de</strong> tecnologias na área dos mísseis ou das<br />

armas <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição maciça; ora po<strong>de</strong>-se perguntar se esta orientação é compatível<br />

com uma percepção do risco que esses Estados po<strong>de</strong>m vir representar a prazo para<br />

os próprios interesses russos na Eurásia e na Ásia Central;<br />

• um dos objectivos centrais da Rússia é a <strong>de</strong> ver fortemente reduzido o armamento<br />

estratégico, para níveis que possa financeiramente comportar, quer no que respeita à<br />

sua manutenção quer à sua mo<strong>de</strong>rnização, ao mesmo tempo que quer evitar que os<br />

EUA se lancem no reforço da vertente <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa estratégica, limitada pelos acordos<br />

centrais do período da "détente” – o tratado ABM <strong>de</strong> 1972; por isso a Rússia, pelo<br />

menos durante um tempo, fará sempre condicionar a sua eventual colaboração com a<br />

OTAN no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sistemas anti-mísseis <strong>de</strong> “teatro” a um compromisso<br />

negociado com os EUA no que respeita a este dois aspectos da equação estratégica.


CHIPRE, A TURQUIA E O ALARGAMENTO DA UNIÃO EUROPEIA<br />

Filipa Ferreira da Silva Abrantes<br />

INTRODUÇÃO<br />

Em Foco<br />

O presente texto tem como objectivo integrar a problemática que envolve Chipre, a Turquia<br />

e a Grécia nas negociações <strong>de</strong> Alargamento da União Europeia. Nicósia, capital da parte<br />

grega <strong>de</strong> Chipre, que muitos apelidam <strong>de</strong> "a última cida<strong>de</strong> dividida na Europa", encontra-se<br />

marcada por uma linha ver<strong>de</strong>, patrulhada por elementos da Organização das Nações<br />

Unidas, que mantém cipriotas gregos e turcos separados.<br />

O governo da República <strong>de</strong> Chipre é reconhecido a nível internacional, mas a sua actuação<br />

não se esten<strong>de</strong> ao Norte, que permanece ocupado por trinta mil soldados turcos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

invasão turca <strong>de</strong> 1974. Em 1983, a Administração cipriota turca <strong>de</strong>clarou o território do Norte<br />

como Estado In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, a Republica Turca <strong>de</strong> Chipre do Norte, que só é reconhecida<br />

por Ancara.<br />

Para além da questão <strong>de</strong> Chipre, a Turquia, que há quatro décadas <strong>de</strong>senvolve esforços<br />

para que a sua candidatura à União Europeia seja formalmente aceite, mantém uma disputa<br />

territorial no mar Egeu com a Grécia, membro dos Quinze.<br />

Nas circunstâncias políticas actuais, não é possível i<strong>de</strong>ntificar e <strong>de</strong>screver com precisão as<br />

oportunida<strong>de</strong>s e problemas que po<strong>de</strong>rão surgir no norte da ilha como parte integrante da<br />

União Europeia, mas em todos os capítulos das negociação <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, a União Europeia<br />

faz referência especial à futura participação da comunida<strong>de</strong> cipriota turca.<br />

2. CHIPRE: O ÚLTIMO MURO DA EUROPA<br />

Chipre e a União Europeia (então Comunida<strong>de</strong> Europeia) estão ligados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1973 por um<br />

Acordo <strong>de</strong> Associação, que se perspectivava vir a tornar-se numa União Aduaneira. O<br />

Acordo contém disposições acerca do comércio e da cooperação financeira e técnica.<br />

Na verda<strong>de</strong>, a União Europeia é <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há muito o maior fornecedor <strong>de</strong> bens para Chipre,<br />

representando em 1999, 57% do total das importações e 51% do total das exportações. As<br />

principais importações foram bens <strong>de</strong> consumo e <strong>de</strong> capital, tais como produtos<br />

manufacturados, bens agrícolas e <strong>de</strong> construção, e equipamento <strong>de</strong> transporte. As principais<br />

exportações para a UE foram produtos industriais, sobretudo vestuário, produtos agrícolas<br />

não processados (batata e citrinos) e vinho.


Informação Internacional<br />

Glafcos Cleri<strong>de</strong>s, Presi<strong>de</strong>nte da República <strong>de</strong> Chipre, (cipriotas gregos) acredita que a<br />

a<strong>de</strong>são à União Europeia será o catalisador da reunificação da ilha. O seu governo,<br />

<strong>de</strong>senvolvendo gradualmente negociações em representação <strong>de</strong> toda a ilha, preten<strong>de</strong><br />

completar os procedimentos <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são até ao final <strong>de</strong> 2002, para que Chipre faça parte dos<br />

primeiros países do alargamento a a<strong>de</strong>rir à UE<br />

O actual governo cipriota grego é constituído pelo "Rally" Democrático (que agora inclui o<br />

Partido Liberal), os Democratas Unidos (Edi) e antigos membros do Partido Democrata<br />

(Diko). Não possuindo uma maioria parlamentar, o governo evitou confrontos em assuntos<br />

controversos. Akel, o Partido Comunista 1 , que é o maior grupo com assento no Parlamento,<br />

combate arduamente as medidas <strong>de</strong> liberalização da economia (1) . Todavia, a posição política<br />

po<strong>de</strong> ter-se voltado <strong>de</strong>cisivamente a favor da A<strong>de</strong>são à União Europeia quando a mesma<br />

<strong>de</strong>cidiu na Cimeira <strong>de</strong> Helsínquia que a continuação da divisão não impe<strong>de</strong> Chipre <strong>de</strong><br />

tornar-se membro. A <strong>de</strong>cisão simultânea <strong>de</strong> aceitar formalmente a Turquia como candidata à<br />

a<strong>de</strong>são, <strong>de</strong>pois da Grécia ter retirado o seu veto, parece ter incentivado as comunida<strong>de</strong>s<br />

cipriotas grega e turca a resolver os seus diferendos.<br />

O Concelho Europeu <strong>de</strong> Helsínquia (Dezembro <strong>de</strong> 1999) sublinhou que "um acordo político<br />

(nota: entre as duas comunida<strong>de</strong>s cipriotas) facilitará a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Chipre à União Europeia.<br />

Se não se alcançar qualquer acordo até à conclusão das negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, a <strong>de</strong>cisão<br />

do Conselho acerca da a<strong>de</strong>são será tomada sem que o acima referido seja uma condição<br />

prévia. A este respeito, o Conselho tomará em consi<strong>de</strong>ração todos os factores relevantes" 2 .<br />

Durante vários anos, os políticos cipriotas gregos não empreen<strong>de</strong>ram todas as reformas<br />

económicas necessárias para que Chipre pu<strong>de</strong>sse fazer parte do alargamento da União<br />

Europeia. Todavia, num relatório em Maio <strong>de</strong> 2000, o Fundo Monetário Internacional <strong>de</strong>u o<br />

sinal <strong>de</strong> alarme.<br />

Com o intuito <strong>de</strong> eliminar a reputação <strong>de</strong> Chipre como paraíso fiscal, o Banco Central<br />

or<strong>de</strong>nou o encerramento <strong>de</strong> um sector offshore do "Beogradska Banka", o banco sérvio que<br />

tinha relações próximas com Slobodan Milosevic e <strong>de</strong>tinha activos reclamados pela<br />

Eslovénia.<br />

No seguimento das acusações por parte <strong>de</strong> governos oci<strong>de</strong>ntais no início dos anos 90 <strong>de</strong><br />

que os bancos cipriotas faziam lavagem <strong>de</strong> dinheiro <strong>de</strong> empresas russas e jugulavas<br />

offshore, o Governo introduziu uma dura legislação acerca da lavagem <strong>de</strong> dinheiro.<br />

2.1. Diferenças Norte/Sul<br />

A parte norte <strong>de</strong> Chipre encontra-se muito atrás do Sul da ilha em termos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento económico e rendimento per capita. Enquanto os jovens cipriotas gregos<br />

encontram oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> emprego no sector dos serviços, seja no turismo, nos serviços<br />

1<br />

As eleições legislativas realizadas em Junho <strong>de</strong> 2001 alteraram substancialmente este panorama ao<br />

transformarem o Akel no partido mais votado.<br />

2<br />

"2000 Regular Report – From the Commission on Cypruss Progress Towards Accession", 8 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong><br />

2000.<br />

344


Chipre, a Turquia e o Alargamento da União Europeia<br />

financeiros ou nas subsidiárias <strong>de</strong> produtoras <strong>de</strong> software recém instaladas no Sul da ilha,<br />

para os jovens cipriotas turcos a emigração continua a ser a melhor forma <strong>de</strong> singrar na vida<br />

e para os que ficam o sector público continua a ser a principal entida<strong>de</strong> empregadora.<br />

Dado o actual ambiente político, as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um crescimento económico sustentado<br />

no médio prazo do Norte <strong>de</strong> Chipre são reduzidas. Verifica-se um limitado potencial <strong>de</strong><br />

crescimento das exportações, e as dificulda<strong>de</strong>s práticas <strong>de</strong> receber turistas vindos da União<br />

Europeia limitam o crescimento das receitas do turismo. A <strong>de</strong>pendência financeira face à<br />

Turquia distorceu a activida<strong>de</strong> económica e encorajou o crescimento do sector público. A<br />

recente crise do sector bancário reduziu a confiança no sistema financeiro doméstico e no<br />

futuro po<strong>de</strong>rá inibir o investimento do sector privado.<br />

O embargo à parte norte da ilha atinge não só as exportações, mas também a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> obter moeda estrangeira através do Turismo. Os turistas, em particular os da Europa do<br />

Norte, vêem-se confrontados com o facto <strong>de</strong> os voos charter não po<strong>de</strong>rem aterrar no Norte<br />

sem fazer escala primeiro na Turquia. Como resultado, o Norte está fortemente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

do apoio político e financeiro da Turquia.<br />

2.2. A Ajuda Comunitária<br />

A ajuda comunitária a Chipre formalizou-se através <strong>de</strong> quatro protocolos celebrados com<br />

Chipre entre 1978 e 1999. Os instrumentos utilizados foram sobretudo empréstimos<br />

(incluindo um financiamento especial para projectos <strong>de</strong> infra-estruturas), subsídios<br />

(equipamento, formação em assistência técnica, etc.) e também fundos <strong>de</strong> capital <strong>de</strong> risco<br />

("joint ventures" e participação do Banco Europeu <strong>de</strong> Investimento no capital do Banco <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento <strong>de</strong> Chipre). As priorida<strong>de</strong>s estabelecidas incidiram principalmente nas<br />

áreas do ambiente e das PME.<br />

Após a expiração do Quarto Protocolo Financeiro com Chipre, a 31 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1999, o<br />

Conselho <strong>de</strong> Ministros da UE adoptou a 31 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2000 um Regulamento 3 acerca da<br />

implementação das operações no mo<strong>de</strong>lo da estratégia <strong>de</strong> pré-a<strong>de</strong>são para Chipre e Malta.<br />

(nota: o montante global disponível para a pré-a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Chipre para o período <strong>de</strong> cinco<br />

anos <strong>de</strong> 2000 a 2004 será <strong>de</strong> 57 milhões <strong>de</strong> Euros).<br />

2.3. Critérios para a "parceria <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são"<br />

2.3.1. Critérios Políticos<br />

De acordo com o estabelecido no Conselho Europeu <strong>de</strong> Copenhaga, em Junho <strong>de</strong> 1993, os<br />

critérios políticos a ser cumpridos pelos países candidatos à a<strong>de</strong>são estipulam que esses<br />

países <strong>de</strong>vem ter atingido "estabilida<strong>de</strong> das instituições, garante da <strong>de</strong>mocracia, Estado <strong>de</strong><br />

Direito, respeito pelos direitos humanos e respeito e a protecção das minorias" 4 .<br />

3<br />

Regulamento (CE) 555/2000.<br />

4<br />

"2000 Regular Report – From the Commission on Cypruss Progress Towards Accession", 8 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong><br />

2000.<br />

345


Informação Internacional<br />

No seu relatório <strong>de</strong> 1999 acerca do processo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Chipre, a Comissão concluiu<br />

que:<br />

346<br />

• "Chipre preenche os critérios políticos <strong>de</strong> Copenhaga. Não houve um progresso<br />

significativo no último ano no estabelecimento <strong>de</strong> um acordo justo e duradouro para o<br />

problema geral <strong>de</strong> Chipre, apesar <strong>de</strong> ter havido uma redução na tensão quando o<br />

Governo <strong>de</strong>cidiu não adquirir armamento adicional." 5<br />

Assim, o principal problema político que se mantém é a divisão da ilha, embora ao longo dos<br />

últimos anos tenham sido <strong>de</strong>senvolvidos importantes esforços na procura <strong>de</strong> um acordo,<br />

registando-se, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a IV Ronda <strong>de</strong> Conversações <strong>de</strong> Aproximação, levada a cabo em<br />

Setembro <strong>de</strong> 2000, sinais encorajadores <strong>de</strong> que os dois lados estariam dispostos a dialogar.<br />

2.4. Critérios Económicos<br />

Ao examinar os <strong>de</strong>senvolvimentos económicos <strong>de</strong> Chipre <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1998, a abordagem da<br />

Comissão foi orientada pelas conclusões do Conselho Europeu <strong>de</strong> Copenhaga em Junho <strong>de</strong><br />

1993 que <strong>de</strong>finiu que a a<strong>de</strong>são à União requer:<br />

• a existência <strong>de</strong> uma economia <strong>de</strong> mercado em funcionamento;<br />

• a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar a pressão competitiva e as forças <strong>de</strong> mercado na União.<br />

5 I<strong>de</strong>m.<br />

CHIPRE – PRINCIPAIS INDICADORES ECONÓMICOS EM 1999<br />

População (média) Milhares 667,13<br />

PIB per capita 6 PPC∈<br />

% da média da UE<br />

Quota da agricultura 7 no:<br />

- Valor Acrescentado Bruto<br />

- emprego<br />

%<br />

%<br />

17,082<br />

81<br />

Rácio investimento/PIB 8 % 17,8<br />

Dívida externa bruta/PIB 9 % 155,4<br />

Exportações <strong>de</strong> bens e serviços/PIB % 44,6<br />

Stock <strong>de</strong> Investimento Directo Estrangeiro Milhões <strong>de</strong> ∈<br />

∈per capita<br />

Fonte: "2000 Regular Report - From the Commission on Cypruss Progress Towards Accession", 2000.<br />

6<br />

Os valores foram calculados através do recurso aos dados da população das Contas Nacionais, que po<strong>de</strong>m<br />

diferir dos das estatísticas <strong>de</strong>mográficas.<br />

7<br />

Agricultura, caça, floresta e pesca.<br />

8 Dados referentes à Formação Fixa <strong>de</strong> Capital Bruto como % do PIB.<br />

9 Os dados <strong>de</strong> 1999 para a dívida externa são estimativas.<br />

4,2<br />

9,3<br />

:<br />

:


Chipre, a Turquia e o Alargamento da União Europeia<br />

Ora a economia cipriota (grega) continua a crescer fortemente e opera em pleno emprego,<br />

tendo sido realizados progressos em termos <strong>de</strong> liberalização e <strong>de</strong> reformas estruturais.<br />

Contudo, a estabilida<strong>de</strong> macroeconómica ressentiu-se recentemente, e a situação<br />

orçamental não é sustentável no médio prazo. Também será necessário concluir a<br />

liberalização <strong>de</strong> preços. A competitivida<strong>de</strong> é restringida por alguma rigi<strong>de</strong>z estrutural e por<br />

um significativo envolvimento do Estado na economia.<br />

Se a Comissão Europeia constata que Chipre apresenta uma economia <strong>de</strong> mercado em<br />

funcionamento e que seria capaz <strong>de</strong> lidar com a pressão competitiva e com as forças <strong>de</strong><br />

mercado na União Europeia, também alerta para que a economia cipriota tem <strong>de</strong> preparar<br />

melhor o seu sector privado para operar num ambiente aberto que a integração na União<br />

Europeia requer. E apela a um maior consenso político que é condição para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma agenda <strong>de</strong> reformas estruturais que <strong>de</strong>via limitar a extensão do<br />

envolvimento do Estado nas activida<strong>de</strong>s económicas, abrir sectores chave à concorrência<br />

estrangeira e resolver importantes constrangimentos ambientais.<br />

A Comissão Europeia consi<strong>de</strong>rou que ao longo do ano <strong>de</strong> 2000 se verificaram progressos<br />

na adopção <strong>de</strong> legislação em áreas chave do mercado interno. Contudo, apesar da nova<br />

legislação nalgumas áreas do livre movimento <strong>de</strong> bens, a padronização e a certificação têm<br />

<strong>de</strong> ser reforçadas. Os passos tomados em direcção à liberalização dos movimentos <strong>de</strong><br />

capital são também consi<strong>de</strong>rados positivos embora a Comissão consi<strong>de</strong>re que antes da<br />

a<strong>de</strong>são, há que reforçar a eliminação das restrições ainda existentes.<br />

Quanto aos auxílios do Estado, a situação permanece insatisfatória, já que não existe um<br />

controlo a<strong>de</strong>quado da ajuda, nem base legal para o mesmo.<br />

Na área da justiça e assuntos internos, Chipre progrediu com a adopção <strong>de</strong> legislação sobre<br />

o asilo. Todavia, o controlo fronteiriço <strong>de</strong>via ser reforçado, principalmente porque Chipre virá<br />

a ser uma fronteira externa da União Europeia.<br />

AS NEGOCIAÇÕES SOBRE A UNIÃO ADUANEIRA UNIÃO EUROPEIA/TURQUIA – VIRAGEM<br />

NO POSICIONAMENTO DA EU FACE À QUESTÃO DE CHIPRE<br />

O Conselho Europeu <strong>de</strong> Essen, no final <strong>de</strong> uma Presidência alemã, confirmou claramente a<br />

importância que a União Europeia atribuía à finalização das negociações com a Turquia sobre o<br />

estabelecimento <strong>de</strong> uma União Aduaneira e ao reforço das relações com este país.<br />

Quase em paralelo com a Cimeira <strong>de</strong> Essen ocorreram factos que evi<strong>de</strong>nciam a importância <strong>de</strong> um<br />

bom relacionamento entre a União Europeia e a Turquia. Assim, no seguimento do julgamento dos<br />

<strong>de</strong>putados curdos do Partido Democrático, o Parlamento Europeu adoptou a 15 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong><br />

1994 uma resolução no sentido <strong>de</strong> manter "congelada" a Comissão Parlamentar mista União<br />

Europeia/Turquia e <strong>de</strong> apresentar ao Conselho um pedido <strong>de</strong> suspensão imediata das<br />

negociações sobre a criação da União Aduaneira. Quatro dias <strong>de</strong>pois, e <strong>de</strong>vido ao veto grego<br />

no Conselho <strong>de</strong> Associação, não foi possível <strong>de</strong>cidir as modalida<strong>de</strong>s concretas <strong>de</strong> entrada em<br />

vigor da União Aduaneira prevista para 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1996.<br />

A 14 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1995, o Ministro francês para os Assuntos Europeus apresentou uma<br />

<strong>de</strong>claração da Presidência francesa da União Europeia sobre a questão da União Aduaneira com a<br />

Turquia que apresentava os contornos <strong>de</strong> uma solução <strong>de</strong> compromisso. Essa possível solução<br />

incluía três elementos:<br />

347


Informação Internacional<br />

348<br />

• A União Aduaneira com a Turquia iniciar-se-ia a 1 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1996 e seria acompanhada<br />

<strong>de</strong> uma cooperação financeira, cujas modalida<strong>de</strong>s seriam <strong>de</strong>talhadas no Conselho Ecofin, e<br />

<strong>de</strong> um quadro para o diálogo político;<br />

• A União Europeia comprometer-se-ia a iniciar negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são com Chipre seis<br />

meses após a conclusão da Conferência Intergovernamental;<br />

• A União Europeia confirmaria que o respeito pelo Estado <strong>de</strong> direito e pelas liberda<strong>de</strong>s<br />

fundamentais estaria na base das suas relações com a Turquia.<br />

Esta posição por parte da França representou uma viragem no modo <strong>de</strong> a União Europeia encarar<br />

a questão cipriota. Anteriormente fazia-se <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r a eventual a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Chipre à União Europeia<br />

<strong>de</strong> um acordo prévio <strong>de</strong> paz entre as comunida<strong>de</strong>s cipriotas rega e turca, o que conferia à parte<br />

cipriota turca o po<strong>de</strong>r contratual <strong>de</strong> atrasar a a<strong>de</strong>são, <strong>de</strong>sejada pelos cipriotas gregos; agora<br />

aceitava-se negociar a a<strong>de</strong>são à União Europeia com as autorida<strong>de</strong>s cipriotas gregas, colocando a<br />

li<strong>de</strong>rança da minoria turca perante um facto consumado.<br />

3. TURQUIA: O SONHO DA UNIÃO EUROPEIA<br />

Uma das razões porque a Turquia ainda não conseguiu a<strong>de</strong>rir à União Europeia é o<br />

diferendo que se mantém há quase quarenta anos entre este país e a Grécia, membro da<br />

União Europeia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1981.<br />

Chipre representa mais do que uma disputa entre dois países. A União Europeia solicitou à<br />

Grécia e à Turquia que assumissem uma posição construtiva nas negociações patrocinadas<br />

pela Organização das Nações Unidas para um Acordo Permanente.<br />

Tal como suce<strong>de</strong>u com a Espanha, Portugal e Grécia, a a<strong>de</strong>são à União Europeia<br />

constituirá o motor <strong>de</strong> mudanças profundas na Turquia. Juntamente com o seu 17º acordo<br />

do Fundo Monetário Internacional, a a<strong>de</strong>são é uma verda<strong>de</strong>ira oportunida<strong>de</strong> para a<br />

República Turca. Num discurso após a sua tomada <strong>de</strong> posse, o novo Presi<strong>de</strong>nte, Sr. Sezer,<br />

afirmou que o seu país tem <strong>de</strong> abraçar os valores da União Europeia. Argumentando que os<br />

seus compatriotas mereciam viver num “mundo mais livre e mais próspero”, referiu também<br />

que a eliminação das <strong>de</strong>ficiências na sua <strong>de</strong>mocracia incrementaria o respeito que a Turquia<br />

goza junto das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas 10 . No entanto, se os problemas entre a Grécia e a<br />

Turquia não forem resolvidos, a relação da Turquia com a União Europeia po<strong>de</strong>rá ser<br />

prejudicada.<br />

Sucessivas sondagens <strong>de</strong> opinião (nota: realizadas antes do Conselho Europeu <strong>de</strong> Nice)<br />

<strong>de</strong>mostraram claramente que uma maioria <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> dois terços da população turca<br />

estava a favor da a<strong>de</strong>são, encarando-a como o meio mais seguro <strong>de</strong> alcançar o objectivo<br />

principal da República <strong>de</strong> se tornar numa potência oci<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong> pleno direito. Uluç Ozulker, o<br />

representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros encarregue das relações com a<br />

União Europeia <strong>de</strong>screveu a aceitação da Turquia como candidato ao alargamento como “a<br />

consagração da luta pela oci<strong>de</strong>ntalização <strong>de</strong>ste país”. 11<br />

10 Financial Times, 12 Junho 2000.<br />

11 I<strong>de</strong>m


Chipre, a Turquia e o Alargamento da União Europeia<br />

Entre os principais partidos políticos, a posição até finais <strong>de</strong> 2000 também era<br />

assumidamente favorável à a<strong>de</strong>são à União Europeia. Assim os Islamistas, habitualmente<br />

críticos face à Europa, assumiram subitamente uma opinião favorável à a<strong>de</strong>são, na<br />

esperança <strong>de</strong> que a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão política que a mesma acarreta lhes confira um<br />

ambiente mais favorável para o <strong>de</strong>senvolvimento da sua agenda política; os Secularistas<br />

são tão entusiastas como os Islamistas, esperando que a a<strong>de</strong>são vá garantir uma<br />

progressão da Turquia em direcção ao oci<strong>de</strong>nte; os militares encaram a entrada para a<br />

União Europeia como a salvaguarda da integrida<strong>de</strong> da Turquia, e os Separatistas curdos<br />

vêem a sua salvação no tratamento generoso face às minorias, <strong>de</strong>fendido pela União<br />

Europeia; os Nacionalistas consi<strong>de</strong>ram a a<strong>de</strong>são como uma confirmação implícita da<br />

grandiosida<strong>de</strong> da Turquia; enquanto, por seu lado, os Liberais se voltam para a Europa para<br />

combater tal chauvinismo.<br />

E a classe política em geral ansiava por dispor <strong>de</strong> auxílio para as regiões mais carenciadas<br />

do país, cujos habitantes, por sua vez, estão <strong>de</strong>sejosos <strong>de</strong> emigrar para as gran<strong>de</strong>s<br />

metrópoles europeias. 12<br />

Todavia, se a opinião pública turca no geral era da opinião que a Turquia <strong>de</strong>via pertencer à<br />

União Europeia, a mesma opinião não é expressa pelas opiniões públicas dos Estadosmembros<br />

da UE, como se po<strong>de</strong> observar nos "Eurobarómetros". A dimensão da Turquia,<br />

que o tornaria no segundo maior membro da União Europeia em termos populacionais (*) , e<br />

os receios <strong>de</strong> um maior fluxo <strong>de</strong> imigrantes turcos <strong>de</strong> poucos recursos para os países ricos<br />

da União, parecem ser as maiores preocupações. Mas outras questões são igualmente<br />

relevantes, como as que se relacionam com a aplicação da PAC e da Política Regional à<br />

Turquia, tendo em conta que população agrícola turca é superior ao total da população<br />

belga e que o rendimento per capita na Turquia representa apenas um terço da média da<br />

União Europeia, (nota: mesmo numa comparação "parida<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra", que é<br />

relativamente generosa para a Turquia). E por outro lado, o <strong>de</strong>srespeito pelos direitos<br />

humanos na Turquia é consi<strong>de</strong>rado inadmissível e para aqueles que encaram a União<br />

Europeia como um “clube cristão”, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> muçulmana da Turquia é consi<strong>de</strong>rada outro<br />

problema.<br />

No entanto, a candidatura da Turquia à União Europeia também po<strong>de</strong> ser encarada como<br />

positiva, em termos <strong>de</strong>mográficos, já que a Europa envelhecida necessita <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra<br />

jovem, necessida<strong>de</strong> que os candidatos da Europa <strong>de</strong> Leste não po<strong>de</strong>m suprir, mas que a<br />

Turquia po<strong>de</strong> (nota: actualmente dois milhões <strong>de</strong> turcos já estão na Europa Oci<strong>de</strong>ntal).<br />

Convém ainda recordar que a Turquia (quase setenta milhões <strong>de</strong> pessoas) constitui um<br />

vasto mercado que já recebe mais importações da União Europeia do que vários Estadosmembros<br />

e do que todos os outros candidatos, à excepção da Polónia, sendo que o<br />

(*) De entre todos os Estados-membros actuais e candidatos, apenas a Alemanha tem actualmente maior<br />

número <strong>de</strong> habitantes; e caso a Turquia mantenha a sua elevada taxa <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong>, ocupará a primeira posição<br />

em 2020<br />

12<br />

Recentemente, e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> conhecidos os termos da "Parceria <strong>de</strong> A<strong>de</strong>são" da Turquia à União Europeia,<br />

assistiu-se a uma viragem negativa, eventualmente temporária, mas muito forte, na opinião pública relativamente<br />

às vantagens na a<strong>de</strong>são.<br />

349


Informação Internacional<br />

sucesso da sua união aduaneira com a União Europeia posiciona a Turquia à frente dos<br />

outros candidatos no que respeita ao comércio.<br />

Para além disso, a Turquia ocupa uma posição estratégica importante na área euro-asiática,<br />

com uma potencial zona <strong>de</strong> influência que se esten<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Bósnia ao Cáucaso, e da<br />

Ásia Central ao Médio Oriente. É também o único país muçulmano candidato à a<strong>de</strong>são à<br />

União Europeia.<br />

O <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> satisfazer as condições económicas e políticas para a a<strong>de</strong>são já está a agir<br />

como um forte incentivo à mudança. A histórica <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> Helsínquia abriu um novo<br />

capítulo na conturbada relação entre a União Europeia e a Turquia. As críticas dos<br />

representantes dos quinze Estados-membros relativamente à ausência <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>mocracia<br />

plena e aos constantes abusos dos direitos humanos na Turquia criaram alguma dinâmica<br />

favorável às reformas.<br />

Assim um recente relatório oficial sobre essas reformas, preparado para o Primeiro Ministro<br />

turco pelos seus próprios conselheiros, inclui as seguintes recomendações 13 :<br />

350<br />

• Reformulação da Constituição para "assumir a liberda<strong>de</strong> como uma base e incluir<br />

disposições gerais <strong>de</strong> protecção, em vez <strong>de</strong> restrição"; garantia da igualda<strong>de</strong> dos<br />

sexos, e concessão <strong>de</strong> estatuto constitucional a organizações não governamentais<br />

tradicionalmente encardas com <strong>de</strong>sconfiança;<br />

• formação a<strong>de</strong>quada dos oficiais para "transformar a <strong>de</strong>mocracia num modo <strong>de</strong> vida" e<br />

introdução <strong>de</strong> uma legislação mais <strong>de</strong>mocrática relativamente aos partidos políticos;<br />

• reformulação do papel dos militares no Conselho Nacional <strong>de</strong> Segurança;<br />

• alteração da Lei <strong>de</strong> Imprensa e do Código Penal para acabar com as con<strong>de</strong>nações <strong>de</strong><br />

jornalistas e escritores por motivos que não sejam o incitamento à violência ou o<br />

separatismo;<br />

• estímulo aos "direitos individuais no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia e igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cidadania"<br />

na relação com os curdos instalados no Su<strong>de</strong>ste e, simultaneamente, reforço <strong>de</strong><br />

"medidas para eliminar as bases económicas e sociais do terrorismo" praticado pelo<br />

Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK), que é ilegal.<br />

3.1. Condições Económicas<br />

Um relatório recente do Banco Mundial 14 salientava-se que a taxa <strong>de</strong> emprego da Turquia –<br />

50,2% – era a mais baixa da OCDE, Económica, a seguir à da Espanha, e a distribuição do<br />

rendimento está actualmente entre as mais <strong>de</strong>sfavorecidos no mundo, <strong>de</strong>pois da América<br />

Latina e Rússia.<br />

13 Ibi<strong>de</strong>m.<br />

14 Turkey: Economic Reforms, Living Standards and Social Welfare Study, World Bank, 17 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 2000.


Chipre, a Turquia e o Alargamento da União Europeia<br />

A disparida<strong>de</strong> nos níveis <strong>de</strong> vida entre a Turquia e a média da União Europeia é gran<strong>de</strong>, e<br />

não diminui. Entre 1965 e 1998, o rendimento nacional real per capita na Turquia cresceu a<br />

uma média anual <strong>de</strong> apenas 2,1%. No mesmo período, o rendimento per capita da Itália<br />

cresceu a 2,5%, o <strong>de</strong> Portugal a 3,2% e o da Grécia a 2,4%.<br />

Sendo um país com um elevado crescimento <strong>de</strong>mográfico, a Turquia tem <strong>de</strong> crescer<br />

consi<strong>de</strong>ravelmente mais <strong>de</strong>pressa do que países <strong>de</strong> rendimento elevado para po<strong>de</strong>r<br />

alcançar o seu nível <strong>de</strong> vida.<br />

O crescimento geral é consi<strong>de</strong>rado insuficiente e o emprego não aumentou. Já noutro<br />

relatório, o Banco Mundial 15 refere que a proporção da população activa entre os 15 e os 64<br />

anos caiu abruptamente <strong>de</strong> 69% em 1979, para 50% em 1997. Entre 1981 e 1997, o<br />

emprego total cresceu apenas 1,5%/ano, apesar da população activa ter crescido 3% ano.<br />

Uma gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>sequilíbrio é explicada pelo emprego precário e pela dispersão<br />

nos salários e rendimentos <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s profissionais não assalariadas. Também são<br />

importantes a diferença educacional e regional e a disparida<strong>de</strong> <strong>de</strong> rendimentos entre as<br />

áreas urbanas e rurais. O rendimento per capita na região mais rica do país é três vezes o<br />

da região mais pobre. A proporção da população que completou o ensino secundário e<br />

superior foi <strong>de</strong> apenas 29% em 1994, e 10% eram iletrados.<br />

4. QUERELAS POLÍTICAS DE LONGA DATA<br />

Para a Turquia, é na arena política, mais do que na económica, que a mudança irá<br />

provavelmente colocar o maior <strong>de</strong>safio. E antes <strong>de</strong> mais nas suas relações com a Grécia,<br />

em que o ano <strong>de</strong> 2000 viu realizarem-se alguns passos positivos.<br />

Assim a recente participação conjunta da Grécia e da Turquia em manobras multinacionais<br />

da NATO representou uma melhoria significativa relativamente a Janeiro <strong>de</strong> 1996, quando<br />

só a intervenção <strong>de</strong> Washington evitou um confronto militar em Imia Kardak, um grupo <strong>de</strong><br />

pequenas ilhas rochosas no mar Egeu reclamadas pelos dois países.<br />

O Ministro turco para os assuntos da União Europeia, Ali Irtemçelik, afirmou numa entrevista<br />

concedida aquando da Cimeira <strong>de</strong> Helsínquia, que "... Sabemos que para a<strong>de</strong>rir à União<br />

Europeia também teremos <strong>de</strong> satisfazer a Grécia" 16 . Todavia, a chegada a um acordo seria<br />

proveitosa também para a Grécia. Para além <strong>de</strong> eliminar um obstáculo significativo ao<br />

investimento estrangeiro, uma reconciliação daria à Grécia uma maior credibilida<strong>de</strong> como<br />

membro da zona Euro.<br />

No início <strong>de</strong> 2000, o Sr. Papandreou e Ismail Cem, o seu homólogo turco, assinaram nove<br />

acordos bilaterais para cooperação em assuntos "soft", abarcando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o turismo ao<br />

terrorismo, mas continua a não haver garantia <strong>de</strong> que se vão resolver os assuntos<br />

relevantes.<br />

15 Turkey: Economic Reforms, Living Standards and Social Welfare Study, World Bank, Janeiro <strong>de</strong> 2000.<br />

16 Financial Times, 12 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2000.<br />

351


Informação Internacional<br />

Para a Turquia, o tempo é precioso. Se não houver sinal <strong>de</strong> acordo quando o governo<br />

greco-cipriota tiver concluído as suas negociações <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, a União Europeia po<strong>de</strong>rá ser<br />

forçada a admitir apenas a parte da ilha controlada por cipriotas gregos, excluindo o Estado<br />

turco-cipriota do Norte, financiado e reconhecido apenas por Ancara. Tal conduziria<br />

provavelmente a uma aliança entre a Turquia e o Norte <strong>de</strong> Chipre e, consequentemente, a<br />

uma perturbação da relação da Turquia com a União Europeia como um todo.<br />

No que respeita ao diferendo greco-turco no Mar Egeu a Grécia afirma que existe apenas<br />

um problema a resolver: a <strong>de</strong>lineação da plataforma continental, <strong>de</strong>terminando a extracção<br />

<strong>de</strong> riquezas minerais e energéticas, a pesca e outros direitos económicos. Mas a Turquia<br />

insiste na discussão da plataforma continental como parte <strong>de</strong> um pacote que abranja<br />

também as fronteiras aéreas e marítimas gregas.<br />

5. DESENVOLVIMENTOS RECENTES<br />

A Turquia anunciou a sua candidatura pela primeira vez em 1963, mas os vários golpes<br />

militares (três nos últimos quarenta anos), a violência política e o eterno conflito com a<br />

Grécia adiaram quaisquer negociações. Nos últimos <strong>de</strong>z anos, os sucessivos governos<br />

turcos procuraram uma aproximação à União Europeia e empreen<strong>de</strong>ram esforços para que<br />

o seu país fosse incluído na lista dos potenciais candidatos ao alargamento, <strong>de</strong>cidida na<br />

Cimeira do Luxemburgo em 1997. No seguimento <strong>de</strong>sse encontro, a Turquia acabou por<br />

romper unilateralmente os contactos com Bruxelas quando viu a sua candidatura vetada<br />

pela Grécia.<br />

A emergência <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e confiança mútua entre Ismail Cem, Ministro<br />

turco dos Negócios Estrangeiros, e Papandreu, o seu congénere grego, em consequência<br />

dos terramotos que <strong>de</strong>vastaram os dois países no Verão <strong>de</strong> 1999, proporcionou um<br />

ambiente positivo entre os vizinhos. Meses mais tar<strong>de</strong>, na Cimeira <strong>de</strong> Helsínquia, os<br />

representantes gregos retiraram o seu tradicional veto, mas em contrapartida exigiram a<br />

inclusão no documento que formaliza a aceitação da candidatura da Turquia <strong>de</strong> uma<br />

referência aos conflitos que opõem os dois países: Chipre e disputas territoriais no mar<br />

Egeu.<br />

Assim na Cimeira <strong>de</strong> Helsínquia foram tomadas duas <strong>de</strong>cisões cruciais: a primeira foi a<br />

concessão à Turquia do estatuto <strong>de</strong> candidato formal à a<strong>de</strong>são, apesar <strong>de</strong> haver a ressalva<br />

<strong>de</strong> que as negociações só terão início <strong>de</strong>pois da resolução dos problemas políticos; a<br />

segunda <strong>de</strong>cisão foi a promessa feita à Grécia <strong>de</strong> que Chipre po<strong>de</strong>rá a<strong>de</strong>rir à União<br />

Europeia se cumprir os requisitos políticos e económicos, e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> a divisão<br />

da ilha estar resolvida ou não.<br />

Uma súbita crise entre a Grécia e a Turquia fez com que a aprovação do documento que<br />

estabelece o acordo com a União Europeia tenha estado em dúvida até ao último instante.<br />

As dificulda<strong>de</strong>s começaram quando os representantes gregos conseguiram introduzir na<br />

proposta inicial da "Parceria <strong>de</strong> A<strong>de</strong>são", divulgada no dia 8 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2000, a<br />

questão do conflito cipriota no conjunto das reformas que a Turquia <strong>de</strong>veria tomar a "curto<br />

prazo", ou seja, durante o ano <strong>de</strong> 2001. Esta condição foi violentamente refutada pelos<br />

responsáveis turcos, para quem Chipre é estrategicamente "indispensável". A Grécia<br />

352


Chipre, a Turquia e o Alargamento da União Europeia<br />

enfatizou igualmente que esperava ainda introduzir no documento final a exigência da<br />

mudança "a médio prazo" na posição turca quanto às disputas territoriais no mar Egeu 17 .<br />

O espectro <strong>de</strong> uma nova crise profunda nas relações entre a Turquia e a União Europeia<br />

voltou a pairar, a poucos dias da Cimeira <strong>de</strong> Chefes <strong>de</strong> Estado em Nice. A aprovação do<br />

documento, inicialmente prevista para o dia 20 <strong>de</strong> Novembro, foi então adiada.<br />

Mas no início <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2000, um ano após a Cimeira <strong>de</strong> Helsínquia, o governo turco<br />

e os responsáveis da União Europeia acordaram os termos do documento que estabelece<br />

as reformas políticas necessárias para que a Turquia possa dar início às negociações<br />

formais <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, sendo estabelecidos prazos para que o governo Turco implemente<br />

<strong>de</strong>terminadas reformas políticas e económicas, <strong>de</strong> forma a satisfazer os chamados "critérios<br />

<strong>de</strong> Copenhaga".<br />

O memorando aprovado apresenta uma solução <strong>de</strong> compromisso entre as posições grega e<br />

turca, com uma referência às duas questões problemáticas (Chipre e disputas territoriais no<br />

mar Egeu), mas fora da parte dita "operacional" do documento.<br />

"Chegámos a uma formulação que satisfaz os Quinze e que é aceite pela Turquia", <strong>de</strong>clarou<br />

o ministro dos negócios estrangeiros da França, Védrine, à imprensa. Segundo o mesmo, foi<br />

realizado "um importante trabalho ao nível das palavras" 18 empregues no novo documento<br />

da "Parceria <strong>de</strong> A<strong>de</strong>são".<br />

6. PERSPECTIVAS DE FUTURO<br />

A União Europeia po<strong>de</strong>rá admitir novos membros a partir do final <strong>de</strong> 2002. A Turquia já faz<br />

parte da estratégia <strong>de</strong> alargamento, mas as negociação <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são ainda prometem durar, já<br />

que para além dos critérios económicos, este candidato terá <strong>de</strong> preencher os critérios<br />

políticos <strong>de</strong>finidos pela União, nomeadamente, a abolição da tortura e da pena <strong>de</strong> morte, o<br />

reconhecimento da minoria curda ou a redução da interferência dos militares no processo<br />

<strong>de</strong>mocrático, não esquecendo o eterno conflito com a Grécia.<br />

A gran<strong>de</strong> questão é saber se <strong>de</strong> facto os responsáveis europeus estão efectivamente na<br />

disposição <strong>de</strong> importar um conflito militar para a União Europeia. Como reconheceu um<br />

negociador europeu, "A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> Helsínquia foi tomada com base em esperanças, não<br />

com base na realida<strong>de</strong>" 19 .<br />

A União Europeia está consciente <strong>de</strong> que a não inclusão <strong>de</strong> Chipre no primeiro grupo <strong>de</strong><br />

países do alargamento implicará um possível bloqueio por parte da Grécia a todo o<br />

processo, recusando ratificar os tratados <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são dos novos membros.<br />

É preciso não esquecer que a instituição que hoje é a União Europeia foi criada com o<br />

propósito <strong>de</strong> unificar a Europa e evitar conflitos militares. A a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Chipre e da Turquia<br />

irá colocar um enorme <strong>de</strong>safio, exactamente ao nível da segurança europeia.<br />

17<br />

Expresso, Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Economia <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2000.<br />

18<br />

Público, Ca<strong>de</strong>rno Internacional <strong>de</strong> 04 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2000.<br />

19<br />

Público, Ca<strong>de</strong>rno Internacional <strong>de</strong> 06 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2000.<br />

353


Informação Internacional<br />

FONTES<br />

2000 Regular Report – From the Commission on Cypruss Progress Towards Accession, 8<br />

<strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2000.<br />

"Expresso" – Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Economia, 8 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2000: "Um acordo histórico – uma<br />

crise política <strong>de</strong> última hora entre a Turquia e a Grécia por causa do conflito em Chipre<br />

ameaçou acordo com a UE."<br />

"Financial Times" – Annual Country Report, Greece, 21 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1999.<br />

"Financial Times" – Annual Country Report, Turkey, 12 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2000.<br />

"Financial Times" – Annual Country Report, Cyprus, 3 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 2000.<br />

"Público" – Ca<strong>de</strong>rno Internacional, 06 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2000: "Chipre é vital para a Turquia?"<br />

"Público" – Ca<strong>de</strong>rno Internacional, 04 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2000: "União Europeia: Quinze<br />

aprovam parceria <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são da Turquia"<br />

"Público" – Ca<strong>de</strong>rno Internacional, 05 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2000: "UE aprova estratégia para a<br />

Turquia"<br />

"The Economist", 10-16 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2000.<br />

http://notícias .sapo.pt/artigos<br />

354


Em Foco<br />

FRANÇA E ALEMANHA – TENSÕES A PROPÓSITO DE UMA AMBIÇÃO COMUM<br />

– A “EUROPA POTÊNCIA”?<br />

1. No <strong>de</strong>bate recente sobre o futuro da União Europeia uma i<strong>de</strong>ia tem sobressaído – a <strong>de</strong><br />

que o objectivo a atingir com o processo <strong>de</strong> integração europeia é o <strong>de</strong> construir uma<br />

Europa Potência, entendida como uma Europa forte na cena internacional.<br />

2.Se este objectivo parece partilhado por protagonistas tão diversos como o Presi<strong>de</strong>nte<br />

francês, o Primeiro Ministro belga, o Ministro dos Negócios Estrangeiros alemão e o<br />

Primeiro Ministro inglês, já o mesmo não se po<strong>de</strong>rá dizer do <strong>de</strong>senho institucional que<br />

melhor po<strong>de</strong>ria suportar tal objectivo.<br />

3. A Alemanha parece <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r uma evolução no sentido <strong>de</strong> uma Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Estados<br />

Nações – categoria nebulosa – cujo funcionamento seria baseado no princípio da<br />

subsidiarieda<strong>de</strong>, localizando as funções do Estado em três níveis distintos on<strong>de</strong> elas se<br />

po<strong>de</strong>riam melhor realizar – europeu, nacional e regional. As áreas da Política Externa e<br />

Defesa, da Política Comum <strong>de</strong> Imigração, <strong>de</strong> luta contra a criminalida<strong>de</strong> organizada, bem<br />

como a Política Monetária e Comercial seriam claramente da competência europeia,<br />

enquanto outras áreas hoje coor<strong>de</strong>nadas a partir <strong>de</strong> Bruxelas – como a Política Agrícola<br />

Comum ou a Política Regional - <strong>de</strong>veriam ser transferidas para os níveis nacional ou mesmo<br />

regional, reduzindo a sua pressão sobre o orçamento da União e reduzindo o custo<br />

financeiro do alargamento<br />

4. A França parece <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r uma evolução que permitindo optimizar a influência <strong>de</strong> um<br />

“cartel” <strong>de</strong> países europeus na cena internacional, não obrigasse a transferências <strong>de</strong><br />

soberania para as instituições da União – nomeadamente para a Comissão e para o<br />

Parlamento Europeu – nas áreas que consi<strong>de</strong>ra prioritárias para o aprofundamento da União<br />

– Política Externa e <strong>de</strong> Defesa Comuns<br />

5. Uma primeira explicação possível para esta divergência quanto às questões institucionais<br />

po<strong>de</strong> ter que ver com a própria tradição <strong>de</strong> organização interna dos Estados a que<br />

pertencem estes protagonistas – tradição ou evolução recente no sentido fe<strong>de</strong>ral – casos da<br />

Alemanha e da Bélgica versus tradição <strong>de</strong> Estados unitários e centralizados como a França<br />

e o Reino Unido.<br />

6. Uma segunda explicação para essa divergência po<strong>de</strong> ter que ver com os diferentes<br />

trajectos na cena internacional da Alemanha e da França durante a guerra fria. A Alemanha<br />

viu a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção a nível internacional fortemente limitada e tutelada,<br />

com uma diplomacia essencialmente activa nas questões europeias e na relação com a<br />

URSS e uma <strong>de</strong>fesa completamente gerida no quadro da OTAN; enquanto a França,<br />

sobretudo a partir <strong>de</strong> De Gaulle, procurou ampliar ao máximo o seu espaço <strong>de</strong> afirmação<br />

próprio nas áreas da Política Externa e da Defesa (vd. não integração na estrutura militar da<br />

OTAN etc.).


Informação Internacional<br />

7. Até à ruptura <strong>de</strong> 1989/91 (da queda do Muro <strong>de</strong> Berlim até ao <strong>de</strong>saparecimento da URSS)<br />

estas diferenças <strong>de</strong> organização interna dos Estados e <strong>de</strong> tradição <strong>de</strong> presença<br />

internacional não afectaram <strong>de</strong>cisivamente o processo <strong>de</strong> integração europeia, já que a<br />

então CEE tinha o seu campo <strong>de</strong> actuação circunscrito a um conjunto bem <strong>de</strong>limitado <strong>de</strong><br />

áreas económicas – agricultura, comércio externo, concorrência, mercado único,<br />

cooperação com os ACP etc..<br />

356<br />

EUROPA POTÊNCIA – A VISÃO DE UM FEDERALISTA<br />

Em Setembro <strong>de</strong> 2000 o Primeiro Ministro da Bélgica, Guy Vershofadt, apresentou a sua visão do<br />

futuro da União Europeia, que seguramente irá influenciar a condução da Presidência belga do<br />

Conselho Europeu. Posteriormente, e noutras tomadas <strong>de</strong> posição públicas, completou essa visão.<br />

Para o Primeiro Ministro belga não basta ter uma Europa <strong>de</strong>mocrática, pluralista e solidária: será<br />

necessário ter também uma Europa politicamente forte que assuma um lugar <strong>de</strong> primeiro plano a<br />

nível internacional; que seja capaz <strong>de</strong> propagar universalmente os seus valores e <strong>de</strong> – tanto em<br />

matéria <strong>de</strong> moral como <strong>de</strong> questões económicas – imprimir uma direcção aos acontecimentos,<br />

lado a lado com as outras potências <strong>de</strong>mocráticas do mundo; que partindo do que foi <strong>de</strong>cidido em<br />

Helsínquia (dirigido à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cumprimento das missões ditas <strong>de</strong> Petersberg – missões<br />

humanitárias, <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> paz e <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> paz – vá bem mais longe do que a<br />

constituição <strong>de</strong> uma força <strong>de</strong> acção rápida, no sentido da constituição <strong>de</strong> uma verda<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>fesa<br />

europeia dispondo <strong>de</strong> forças armadas comuns e <strong>de</strong> equipamentos comuns, e mesmo <strong>de</strong> uma<br />

indústria <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa comum.<br />

O conteúdo <strong>de</strong>sta “Europa Potência” está patente no seguinte extracto do referido discurso:<br />

“Permitam-me que traduza esta visão em termos mais concretos. O que nós queremos é uma<br />

Europa que interviesse ela própria nos Balcãs. Uma Europa que fosse capaz, por si, <strong>de</strong> pôr fim à<br />

crise étnica na Yugoslávia, em vez <strong>de</strong> uma Europa que espera que o seu aliado americano tome<br />

uma iniciativa, simplesmente porque não dispõe <strong>de</strong> combativida<strong>de</strong> política nem <strong>de</strong> aparelho militar<br />

para se encarregar <strong>de</strong>ssa missão. Queremos uma Europa que assuma igualmente as suas<br />

responsabilida<strong>de</strong>s fora das suas fronteiras, e entre outros lugares, na África, o continente<br />

actualmente exposto aos piores sofrimentos que resultam da pobreza, da doença e da guerra. Só<br />

uma Europa forte, e unânime po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma parceria duradoura com a África, um pacto <strong>de</strong><br />

estabilida<strong>de</strong> capaz <strong>de</strong> fazer sair os africanos do marasmo económico para que se posicionem<br />

<strong>de</strong>finitivamente na via do <strong>de</strong>senvolvimento...."Enfim, queremos uma Europa que, em conjunto com<br />

as outras gran<strong>de</strong>s potências, opte resolutamente por um sistema equilibrado <strong>de</strong> comércio<br />

internacional, sem proteccionismo, sem fecho do seu próprio mercado, a fim <strong>de</strong> gerar nas regiões<br />

em vias <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento o crescimento e a prosperida<strong>de</strong> económica, que permitam reduzir os<br />

fluxos migratórios surgidos na última década". (*)<br />

Quanto às instituições e ao modo <strong>de</strong> funcionamento futuro <strong>de</strong>sta União Europeia, potência<br />

mundial, o Primeiro Ministro belga, reconhecendo as limitações do actual modo <strong>de</strong> concretização<br />

do “método comunitário” – falta <strong>de</strong> transparência, burocracia, falta <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática –<br />

alertou para os riscos <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>riva inter-governamental que numa União Europeia a caminho dos<br />

28 membros po<strong>de</strong>ria dar origem à formação <strong>de</strong> um directório, uma direcção assegurada por um<br />

pequeno número <strong>de</strong> Estados-membros, provavelmente os maiores. Para além <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar que<br />

uma abordagem intergovermental, sob que forma fosse, nunca po<strong>de</strong>ria constituir uma solução à<br />

ausência <strong>de</strong> instituições comunitárias, embora possa constituir uma etapa intermédia na via da<br />

integração.


França e Alemanha - Tensões a propósito <strong>de</strong> uma ambição comum - a "Europa Potência"?<br />

8. A ruptura <strong>de</strong> 1989/91 implicou a reunificação da Alemanha e traduziu-se numa mudança<br />

radical do panorama geopolítico e <strong>de</strong> segurança europeus. Face a esta mudança radical a<br />

França <strong>de</strong>cidiu apostar o essencial da sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção externa no apoio a<br />

uma evolução da CEE num sentido mais abrangente em termos <strong>de</strong> áreas funcionais - que<br />

aliás já estava em andamento <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a adopção do Acto Único Europeu em 1985. Tanto<br />

quanto se po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a França preten<strong>de</strong>u, <strong>de</strong>ste modo, formalizar, na medida do<br />

possível, um novo tipo <strong>de</strong> condicionamento apertado das actuações futuras da Alemanha,<br />

mas agora <strong>de</strong> matriz exclusivamente europeia.<br />

9. Em Maastritch foi consagrada, com a UEM a realização <strong>de</strong> uma transferência <strong>de</strong><br />

soberania na área monetária que diluiu a prepon<strong>de</strong>rância alemã exactamente na área em<br />

que a Alemanha obtivera maior protagonismo europeu no pós-guerra. Data <strong>de</strong>ssa altura a<br />

reivindicação alemã <strong>de</strong> que esta transferência <strong>de</strong> soberania fosse acompanhada por uma<br />

evolução paralela no sentido <strong>de</strong> uma União Política, que no entanto ficou em suspenso<br />

durante os anos 90.<br />

10. Antes do início da presidência francesa da UE abriu-se um intenso <strong>de</strong>bate exactamente<br />

sobre a União Política. O governo alemão, pela voz do seu Ministro dos Negócios<br />

Estrangeiros, Joschka Fischer avançou com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> uma Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Estados Nações<br />

como futura configuração política da UE. O presi<strong>de</strong>nte francês Chirac, aparentemente não<br />

convencido com esta formula alemã, que procurava apontar um <strong>de</strong>stino fe<strong>de</strong>ral para a<br />

Europa, aceitável pelos Estados Nações, respon<strong>de</strong>u no seu discurso perante o Bun<strong>de</strong>stag<br />

que “...nem vós nem nós visamos a criação <strong>de</strong> um super-Estado europeu que substituiria os<br />

Estados nacionais e marcaria o fim da sua existência como actores da vida internacional”.<br />

11. Em Nice a França, consciente da impopularida<strong>de</strong> das suas posições, quis no entanto<br />

<strong>de</strong>marcar-se do projecto alemão, para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o seu – o <strong>de</strong> uma Europa Potência<br />

funcionando como um cartel <strong>de</strong> Estados (sobretudo os mais po<strong>de</strong>rosos, e não<br />

necessariamente todos os Estados-membros da UE) que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m agir em comum para<br />

maximizar a sua influência num conjunto <strong>de</strong> áreas funcionais internacionalmente relevantes.<br />

E, assim, fazendo aproximou-se das posições dos ingleses mais europeístas, actualmente<br />

no po<strong>de</strong>r em Londres.<br />

12. Em Nice a Alemanha aproveitando a dificulda<strong>de</strong> da França em fazer avançar a sua<br />

visão, conseguiu marcar pontos perante dois grupos <strong>de</strong> países – alguns Estados-membros<br />

ditos “pequenos” – <strong>de</strong>signadamente os do Benelux – receosos <strong>de</strong> um “Directório dos<br />

gran<strong>de</strong>s” e os países candidatos, que mais do que na França, encontram na Alemanha e<br />

nos países do Benelux <strong>de</strong>fensores convictos do alargamento a Leste.<br />

13. Para a Alemanha o projecto europeu consubstanciado na União Europeia – na versão<br />

do Ministro dos Negócios Estrangeiros Joschka Fischer ou mais recentemente do presi<strong>de</strong>nte<br />

Rau ou do chanceler Schroe<strong>de</strong>r – permite simultaneamente, afirmar a sua centralida<strong>de</strong><br />

como potência europeia, sem levantar reacções <strong>de</strong> rejeição, e aumentar o seu valor e a sua<br />

autonomia face aos aliados americanos.<br />

14. Para a França o projecto <strong>de</strong> evolução da União Europeia, na versão <strong>de</strong> Chirac, permite<br />

lidar com o alargamento - que doutro modo traduziria uma redução da sua influência – sem<br />

abandonar a ambição <strong>de</strong> fornecer a orientação básica para a autonomia da Europa face aos<br />

EUA, valorizando os seus activos nacionais mais relevantes – diplomacia e <strong>de</strong>fesa.<br />

357


Informação Internacional<br />

358<br />

REFORMANDO A UNIÃO EUROPEIA – UMA VISÃO ALEMÃ<br />

Em 1 <strong>de</strong> Maio a imprensa alemã tornou público um projecto <strong>de</strong> resolução sobre política europeia a<br />

apresentar ao congresso <strong>de</strong> Novembro do SPD e preparada sob a direcção do Chanceler Gerhard<br />

Schro<strong>de</strong>r. As posições <strong>de</strong>fendidas nesta <strong>de</strong>claração tiveram <strong>de</strong> imediato o apoio dos Ver<strong>de</strong>s, pela<br />

voz do Ministro dos Negócios Estrangeiros alemão Joschka Fischer e da CDU, na oposição,<br />

po<strong>de</strong>ndo por isso consi<strong>de</strong>rar-se que a visão quanto ao futuro institucional da UE que esse projecto<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>claração traduz é partilhada por larga parte do espectro político alemão.<br />

Este projecto reafirma que não existe alternativa ao prosseguimento da integração europeia e<br />

aborda as priorida<strong>de</strong>s dos sociais <strong>de</strong>mocratas quanto à Europa: prosperida<strong>de</strong> e emprego; inovação<br />

e formação; mo<strong>de</strong>rnização do mo<strong>de</strong>lo social europeu; ambiente e protecção dos consumidores;<br />

garantia da segurança interna no espaço da União; reforçar os direitos dos cidadãos; <strong>de</strong>senvolver<br />

a política externa e <strong>de</strong> segurança comum. Mas para além <strong>de</strong>stas afirmações duas questões<br />

principais estão presentes nesta Visão:<br />

Como partilhar as responsabilida<strong>de</strong>s entre os níveis europeu, nacional e regional, por forma a dar<br />

conteúdo ao principio da subsidiarieda<strong>de</strong> tornando mais transparente o funcionamento da União?<br />

Como repartir as funções entre os três principais órgãos da União Europeia – Comissão, Conselho<br />

e Parlamento?<br />

Quanto á primeira questão, que reteve menos atenção por parte da imprensa, um dos aspectos<br />

chave do projecto <strong>de</strong> resolução é a reformulação substancial das áreas <strong>de</strong> competência dos níveis<br />

europeu, nacional e regional, em aplicação do principio <strong>de</strong> subsidiarieda<strong>de</strong>; assim <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-se a<br />

transferência das responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gestão actualmente exercidas ao nível europeu quanto à<br />

Política Agrícola e quanto aos Fundos Estruturais – Infra-estruturas, para os governos nacionais<br />

(ou mesmo para os <strong>de</strong> nível regional) ao mesmo tempo que é proposta uma mais forte<br />

“comunitarização” da política externa e <strong>de</strong> segurança comum.<br />

Quanto à segunda questão o projecto <strong>de</strong> resolução rejeitando claramente o método<br />

intergovernamental avança com uma proposta radical <strong>de</strong> reformulação institucional da União<br />

Europeia. Assim:<br />

• A Comissão Europeia <strong>de</strong>veria centralizar os po<strong>de</strong>res executivos da União Europeia e veria<br />

os seus po<strong>de</strong>res alargados a todas as áreas em que <strong>de</strong>corre a acção da União; o seu<br />

presi<strong>de</strong>nte seria eleito por sufrágio universal (?);<br />

• O Conselho <strong>de</strong> Ministros, que actualmente tem po<strong>de</strong>res legislativos e executivos<br />

<strong>de</strong>sapareceria enquanto tal e seria substituído por uma Segunda Câmara legislativa –<br />

Câmara dos Estados, on<strong>de</strong> estariam representados os Estados Membros, através dos<br />

Governos (segundo o mo<strong>de</strong>lo alemão do Bun<strong>de</strong>srat, Câmara on<strong>de</strong> estão representados os<br />

Estados Fe<strong>de</strong>rados);<br />

• O Parlamento Europeu, passaria a funcionar como segunda Câmara, com po<strong>de</strong>res<br />

reforçados, passando a ter plena soberania sobre o orçamento da União, incluindo a sua<br />

vertente afecta à PAC e veria alargados os seus po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> co-<strong>de</strong>cisão.<br />

O projecto <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que a União Europeia <strong>de</strong>verá ter uma Constituição e na qual seria<br />

integrada a Carta <strong>de</strong> Direitos Fundamentais aprovada em Nice.


França e Alemanha - Tensões a propósito <strong>de</strong> uma ambição comum - a "Europa Potência"?<br />

15. Fica em suspenso a questão <strong>de</strong> saber como é que em torno <strong>de</strong> uma mesma entida<strong>de</strong> –<br />

a União Europeia – fundamental para qualquer dos dois países – vão po<strong>de</strong>r coexistir<br />

projectos e visões aparentemente inconciliáveis quanto ao modo <strong>de</strong> funcionamento <strong>de</strong>ssa<br />

mesma entida<strong>de</strong>.<br />

A “EUROPA POTÊNCIA” E OS EUA COMO “POTÊNCIA EUROPEIA”<br />

Des<strong>de</strong> a 1ª Gran<strong>de</strong> Guerra, que se po<strong>de</strong> afirmar que a paz e a guerra na Europa acabaram por<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r das atitu<strong>de</strong>s assumidas pelos EUA. Des<strong>de</strong> os finais da 2ª Gran<strong>de</strong> Guerra, a presença<br />

militar americana no continente europeu, permitiu a reconstrução, e mais recentemente a<br />

reunificação da Alemanha , num contexto pacífico e aceitável pelos restantes Estados da Europa<br />

Oci<strong>de</strong>ntal. Sem que tal se refira normalmente, a assunção pelos EUA do papel <strong>de</strong> “potência<br />

europeia”, garantindo a segurança e o equilíbrio europeu, foi <strong>de</strong>cisivo para o próprio<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da CEE, e mais recentemente da UE.<br />

A questão que fica no ar é dupla:<br />

• As ambições <strong>de</strong> uma “Europa Potência” num período <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> flui<strong>de</strong>z a nível mundial<br />

complicam ou facilitam a actuação dos EUA, e que conclusões tirarão estes para o seu<br />

papel futuro na Europa?<br />

• A base <strong>de</strong> confiança que torna possível que hoje alguns Estados coloquem na or<strong>de</strong>m do dia<br />

a questão da criação <strong>de</strong> uma “Europa Potência” sobreviverá a uma eventual alteração da<br />

forma sob a qual os EUA influenciam a “ região Europa”?<br />

359

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