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Avaliação da Susceptibilidade aos Perigos Naturais da Região

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PROSPECTIVA E PLANEAMENTO, Vol. 17−2010<br />

AVALIAÇÃO DA SUSCEPTIBILIDADE AOS PERIGOS NATURAIS<br />

DA REGIÃO DE LISBOA E VALE DO TEJO<br />

Catarina Ramos 1<br />

José Luís Zêzere 2<br />

Eusébio Reis 3<br />

Centro de Estudos Geográficos, Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, Universi<strong>da</strong>de de<br />

Lisboa<br />

1. O PAPEL DO ORDENAMENTO E GESTÃO DO TERRITÓRIO NA PREVENÇÃO DOS<br />

RISCOS<br />

Um dos objectivos essenciais do ordenamento do território é o de garantir a sua<br />

utilização sustentável, maximizando os recursos que ele apresenta e minimizando os<br />

riscos que o afectam. O desafio prioritário do ordenamento territorial é o de conseguir a<br />

interligação geográfica harmoniosa <strong>da</strong>s activi<strong>da</strong>des económicas, que sustentam qualquer<br />

socie<strong>da</strong>de e que criam a riqueza necessária para o bem-estar social, com o<br />

funcionamento dos sistemas naturais, que fornecem recursos imprescindíveis, mas que<br />

também, com a sua dinâmica, podem constituir situações de perigo. Nesta perspectiva, o<br />

ordenamento territorial deverá assentar em dois vectores essenciais: i) “<strong>da</strong>r espaço” <strong>aos</strong><br />

sistemas naturais para que se possam auto-renovar e auto-regenerar; ii) manter as<br />

pessoas e bens afastados dos perigos com incidência espacial, levando à diminuição do<br />

risco; ou seja, a adopção dos princípios <strong>da</strong> prevenção e <strong>da</strong> precaução, que estão na base<br />

do desenvolvimento sustentável de qualquer socie<strong>da</strong>de.<br />

Daqui resulta que a gestão territorial não pode ser casuística, nem deve ziguezaguear ao<br />

sabor de interesses particulares, resultando num c<strong>aos</strong> urbanístico, na delapi<strong>da</strong>ção de<br />

recursos e do incremento <strong>da</strong>s situações de risco. Ao contrário, a gestão territorial deve<br />

ser eminentemente estratégica, garantindo, entre outros, aqueles dois vectores<br />

1<br />

catramos@campus.ul.pt<br />

2<br />

zezere@campus.ul.pt<br />

3<br />

eusebioreis@campus.ul.pt<br />

Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais


58<br />

Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais<br />

Catarina Ramos; José Luís Zêzere; Eusébio Reis<br />

essenciais, e implica a monitorização dos vários sistemas naturais e antrópicos de<br />

incidência territorial e <strong>da</strong>s suas interacções.<br />

Em Portugal, o sistema de gestão territorial foi definido através de um conjunto de<br />

instrumentos identificados na Lei de Bases <strong>da</strong> Política do Ordenamento do Território e de<br />

Urbanismo (Lei 48/98 de 11 de Agosto), com as actualizações introduzi<strong>da</strong>s pela Lei<br />

54/2007 de 31 de Agosto, dos quais se salientam, a escalas progressivamente maiores:<br />

i) o Programa Nacional <strong>da</strong> Política de Ordenamento do Território (PNPOT, Lei nº 58/2007<br />

de 4 de Setembro); ii) os Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT); iii) os<br />

Planos Municipais de Ordenamento do Território (PMOT).<br />

Os signatários deste artigo, integraram a equipa de Riscos e Protecção Civil, coordena<strong>da</strong><br />

por J. L. Zêzere (Zêzere et al, 2008 e 2010), respectivamente, na elaboração do PROT<br />

do Oeste e Vale do Tejo (PROTOVT) e na revisão do PROT <strong>da</strong> Área Metropolitana de<br />

Lisboa (PROTAML). Esta equipa teve como missão: i) definir os tipos de perigos<br />

(naturais, ambientais e tecnológicos) com maior incidência nestas duas regiões; ii)<br />

definir critérios que permitissem espacializar os perigos; iii) elaborar um mapa de síntese<br />

que pudesse ser integrado no modelo de desenvolvimento regional e iv) indicar as<br />

directrizes e normas, no âmbito <strong>da</strong> gestão dos riscos, que deverão ser respeita<strong>da</strong>s e<br />

aplica<strong>da</strong>s pelos PMOT, no sentido de prevenir e minimizar os riscos.<br />

Da experiência resultante do trabalho nestes dois PROT, e <strong>da</strong> discussão com outras<br />

equipas similares que trabalharam noutros (Centro e Norte), são de salientar os<br />

seguintes aspectos: i) problemas ao nível conceptual na utilização de diferentes termos<br />

para os mesmos fenómenos; ii) diferentes critérios de análise e tratamento dos perigos,<br />

que impossibilitam a comparação entre regiões pertencentes a diferentes PROTs e, como<br />

tal, à avaliação integra<strong>da</strong> dos riscos a nível nacional; iii) perspectivas diferentes, quanto<br />

<strong>aos</strong> riscos a integrar nos instrumentos de ordenamento e planeamento territorial,<br />

relativamente <strong>aos</strong> que devem integrar os instrumentos do planeamento de emergência<br />

ou de política sectorial.<br />

Relativamente ao primeiro problema, foi <strong>da</strong>do, entretanto, um passo decisivo para a<br />

uniformização conceptual no “Guia Metodológico para a Produção de Cartografia<br />

Municipal de Risco e para a Criação de Sistemas de Informação Geográfica de Base<br />

Municipal” (Julião et al, 2009). Assim, os conceitos que serão aqui utilizados estão de<br />

acordo com o referido Guia. Destes, destacam-se os conceitos de perigo,<br />

susceptibili<strong>da</strong>de, perigosi<strong>da</strong>de e risco 4 .<br />

4 Perigo: processo ou acção (natural, antrópico ou misto) susceptível de produzir per<strong>da</strong>s e <strong>da</strong>nos.<br />

Susceptibili<strong>da</strong>de: incidência espacial do perigo. <strong>Perigos</strong>i<strong>da</strong>de: probabili<strong>da</strong>de de ocorrência de um<br />

processo ou acção com potencial destruidor numa <strong>da</strong><strong>da</strong> área e num <strong>da</strong>do período de tempo. Risco:<br />

Probabili<strong>da</strong>de de ocorrência de um processo (ou acção) perigoso e respectiva estimativa <strong>da</strong>s suas<br />

consequências sobre pessoas, bens ou ambiente, expressas em <strong>da</strong>nos corporais e/ou prejuízos<br />

materiais e funcionais, directos ou indirectos.


<strong>Avaliação</strong> <strong>da</strong> Susceptibili<strong>da</strong>de <strong>aos</strong> <strong>Perigos</strong> <strong>Naturais</strong> <strong>da</strong> <strong>Região</strong> de Lisboa e Vale do Tejo<br />

Em relação ao segundo problema, era quase inevitável que acontecesse. De facto,<br />

existem metodologias varia<strong>da</strong>s aplica<strong>da</strong>s na análise de perigos e riscos. Afigura-se, no<br />

entanto, plausível, que na próxima revisão dos PROT se possam utilizar critérios<br />

semelhantes na análise e avaliação dos perigos. É este o timing certo dessa discussão.<br />

Quanto ao terceiro problema, deve também ser discutido, porque se existem fenómenos<br />

que ocorrem especificamente em determinados locais ou áreas (como por exemplo as<br />

cheias), outros existem que têm uma expressão espacial independente <strong>da</strong>s<br />

características físicas do território e do uso que dele fazemos (como por exemplo as<br />

on<strong>da</strong>s de calor). No primeiro caso, a sua avaliação deve integrar o ordenamento e<br />

planeamento territorial, no segundo caso, o planeamento de emergência.<br />

Este artigo, na sequência do Seminário de Formação “Ordenamento Territorial,<br />

Competitivi<strong>da</strong>de, Coesão e Sustentabili<strong>da</strong>de”, organizado em Maio de 2010, pelo<br />

Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais (MAOT), procura<br />

ser um contributo para a discussão dos critérios de avaliação <strong>da</strong> susceptibili<strong>da</strong>de <strong>aos</strong><br />

perigos que afectam o território, ou seja, para a definição e delimitação <strong>da</strong>s áreas<br />

atingi<strong>da</strong>s por fenómenos perigosos, que, como tal, devem merecer especial atenção na<br />

forma como são utiliza<strong>da</strong>s e usa<strong>da</strong>s pelas diferentes activi<strong>da</strong>des humanas.<br />

2. PERIGOS NATURAIS ANALISADOS NA REGIÃO DE LISBOA E VALE DO TEJO (LVT)<br />

Neste trabalho foram apenas seleccionados os perigos de origem natural e que são<br />

intrínsecos ao funcionamento dos sistemas naturais, mas que um correcto ordenamento<br />

do território e o cumprimento de regras e normas de construção/uso pode reduzir<br />

drasticamente os seus efeitos nefastos e, portanto, o risco a eles associado.<br />

Os perigos naturais seleccionados abrangem causas diversas: climáticas, hidrológicas,<br />

geológicas e geomorfológicas (quadro 1), váli<strong>da</strong>s para a região de LVT, e manifestam-se<br />

a diferentes escalas espacio-temporais. A proposta metodológica que aqui se apresenta é<br />

sustenta<strong>da</strong> pelo trabalho efectuado no PROTOVT e no PROTAML que levou à elaboração<br />

dos respectivos mapas de perigos e <strong>da</strong> sua incidência espacial (figuras 1 e 2,<br />

modifica<strong>da</strong>s). Esta metodologia tem a vantagem de se poder aplicar a qualquer uni<strong>da</strong>de<br />

territorial administrativa (NUTs, concelhos, ou outras) e permite comparar: i) os perigos<br />

entre si, quanto às suas diferentes incidências espaciais, e ii) as diferentes uni<strong>da</strong>des<br />

administrativas quanto à sua susceptibili<strong>da</strong>de a esses perigos. Este facto, permite<br />

alicerçar uma visão estratégica na gestão dos diversos tipos de riscos e nos programas<br />

de financiamento que os poderão suportar, apoiando as opções e decisões políticas<br />

regionais ou intermunicipais na minimização de determinados tipos de riscos.<br />

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Catarina Ramos; José Luís Zêzere; Eusébio Reis<br />

A uni<strong>da</strong>de administrativa considera<strong>da</strong> foi a concelhia, tendo sido construí<strong>da</strong> uma base de<br />

<strong>da</strong>dos única para os 51 concelhos que integram os dois PROTs, distribuídos por cinco<br />

NUTS III. A área total abrange cerca de 13% de Portugal continental, e comporta 33%<br />

<strong>da</strong> população portuguesa (quadro 2).<br />

Tipo de perigo<br />

natural<br />

Quadro 1 – <strong>Perigos</strong> naturais analisados e respectivas causas que<br />

afectam a região de LVT<br />

sismo sismo de eleva<strong>da</strong><br />

intensi<strong>da</strong>de<br />

movimentos de<br />

vertente<br />

tsunami<br />

(maremoto)<br />

Sub-tipo Causa Factor desencadeante<br />

deslizamentos,<br />

desabamentos,<br />

balançamentos,<br />

escoa<strong>da</strong>s,<br />

expansões laterais<br />

geológica movimento brusco de falhas<br />

tectónicas<br />

hidrogeomorfológica<br />

e<br />

climática<br />

locais e regionais geológica e/ou<br />

geomorfológica<br />

precipitações abun<strong>da</strong>ntes e/ou<br />

intensas<br />

sismos, movimentos de<br />

vertente subaéreos ou<br />

submarinos e erupções<br />

vulcânicas<br />

cheias rápi<strong>da</strong>s, lentas climática precipitações abun<strong>da</strong>ntes e/ou<br />

intensas<br />

erosão costeira de praias,<br />

de dunas,<br />

de arribas<br />

contaminação de<br />

aquíferos<br />

porosos, cársicos,<br />

fissurados<br />

climática e<br />

hidrogeomorfológica<br />

storm surge, subi<strong>da</strong> do nível<br />

do mar de origem eustática,<br />

movimentos de vertente<br />

geológica (*)<br />

(*) Os factores desencadeantes na contaminação de um aquífero podem ser naturais ou antrópicos.<br />

Contudo, neste caso, o que se analisa é a susceptibili<strong>da</strong>de à contaminação dos aquíferos, que<br />

depende <strong>da</strong>s características físicas intrínsecas do próprio aquífero e do território em que está<br />

inserido.<br />

Quadro 2 – Características administrativas <strong>da</strong> região de LVT<br />

<strong>Região</strong> Área (Km2) População NUTS III<br />

OVT 8792 805633<br />

AML 2963 2661850<br />

Oeste<br />

Médio Tejo<br />

Lezíria do Tejo<br />

Grande Lisboa<br />

Península de Setúbal<br />

Nº de<br />

concelhos<br />

Total 11755 3467483 5 51<br />

% total 13% 33& 17% 17%<br />

33<br />

18


<strong>Avaliação</strong> <strong>da</strong> Susceptibili<strong>da</strong>de <strong>aos</strong> <strong>Perigos</strong> <strong>Naturais</strong> <strong>da</strong> <strong>Região</strong> de Lisboa e Vale do Tejo<br />

3. AVALIAÇÃO DA SUSCEPTIBILIDADE AOS PERIGOS NATURAIS<br />

Uma vez que a susceptibili<strong>da</strong>de representa a incidência espacial de um fenómeno<br />

perigoso, foram defini<strong>da</strong>s cinco classes de susceptibili<strong>da</strong>de, que definem a área afecta<strong>da</strong><br />

por ca<strong>da</strong> perigo no contexto <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des territoriais (neste caso, os concelhos). Assim,<br />

foi cria<strong>da</strong> uma escala de 0 (zero) a 10 (dez), com um incremento de dois graus entre<br />

ca<strong>da</strong> classe de susceptibili<strong>da</strong>de, a saber (quadro 3):<br />

Quadro 3 – Classes e respectivos índices de susceptibili<strong>da</strong>de<br />

Classe de susceptibili<strong>da</strong>de Índice<br />

% <strong>da</strong> área do<br />

concelho<br />

% do troço costeiro<br />

Não aplicável 0 n/a n/a<br />

Baixa 2 ≤ 10 ≤ 10<br />

Modera<strong>da</strong> 4 10 - 25 10 - 25<br />

Eleva<strong>da</strong> 6 25 - 50 25 - 50<br />

Muito eleva<strong>da</strong> 8 50 - 75 50 - 75<br />

Extremamente eleva<strong>da</strong> 10 75 - 100 75 - 100<br />

Quando o perigo não afecta o concelho em questão, o índice é 0 (zero) e quando mais de<br />

¾ <strong>da</strong> área do concelho é afecta<strong>da</strong> então o índice toma o valor máximo de 10. Saliente-se<br />

o caso particular <strong>da</strong> erosão costeira, cujo grau de resolução (à escala regional) não<br />

permitiu a sua definição por área afecta<strong>da</strong>, mas sim por troço costeiro afectado. Neste<br />

caso, considerou-se como 100% a totali<strong>da</strong>de do troço costeiro concelhio.<br />

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Catarina Ramos; José Luís Zêzere; Eusébio Reis<br />

Figura 1 – Mapa de perigos naturais <strong>da</strong> <strong>Região</strong> do Oeste e Vale do Tejo<br />

Fonte: Extraído de Zêzere et al, 2008, modificado.


<strong>Avaliação</strong> <strong>da</strong> Susceptibili<strong>da</strong>de <strong>aos</strong> <strong>Perigos</strong> <strong>Naturais</strong> <strong>da</strong> <strong>Região</strong> de Lisboa e Vale do Tejo<br />

Figura 2 – Mapa de perigos naturais <strong>da</strong> Área Metropolitana de Lisboa<br />

Fonte: Extraído de Zêzere et al, 2010, modificado.<br />

3.1. Susceptibili<strong>da</strong>de sísmica<br />

A região de LVT encontra-se num dos sectores mais perigosos do território do ponto de<br />

vista sísmico, não só pela sua proximi<strong>da</strong>de <strong>aos</strong> acidentes tectónicos activos submarinos<br />

que se localizam a SW e a S do território, potencialmente geradores dos sismos máximos<br />

regionais (Grácia et al, 2003), que afectam também o Algarve e a metade sul e oeste do<br />

Alentejo, mas também por ser atravessa<strong>da</strong> pelo(s) acidente(s) tectónico(s) do vale<br />

inferior do Tejo (Carvalho et al, 2006).<br />

Para a definição <strong>da</strong>s áreas afecta<strong>da</strong>s por sismos potencialmente perigosos, utilizaram-se<br />

três critérios: i) isossistas de intensi<strong>da</strong>des máximas, basea<strong>da</strong>s na sismici<strong>da</strong>de histórica<br />

(LVT situa-se nas zonas de intensi<strong>da</strong>de VIII a X); ii) peak ground acceleration (PGA), de<br />

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acordo com a distribuição <strong>da</strong>s PGA para um período de retorno de 475 anos (Montilla e<br />

Casado, 2002); iii) efeitos de sítio que produzem a amplificação do perigo sísmico, a<br />

saber: formações geológicas sedimentares não consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s, formações geológicas<br />

sedimentares com algum grau de consoli<strong>da</strong>ção, e faixa de 100m relativamente às falhas<br />

activas. O cruzamento destes critérios levou à definição de áreas de perigo sísmico<br />

baixo, moderado, elevado e muito elevado (Zêzere et al, 2007/08, Zêzere et al, 2008 e<br />

Zêzere et al, 2010). As áreas de perigo sísmico elevado a muito elevado, ou seja, onde<br />

pode ocorrer a destruição do edificado e um número elevado de feridos e vítimas<br />

mortais, foram incorpora<strong>da</strong>s na matriz de susceptibili<strong>da</strong>de <strong>aos</strong> perigos naturais (quadro<br />

4), cuja legen<strong>da</strong> se encontra no quadro 3. Como é visível nessa matriz, 21 concelhos de<br />

LVT têm mais de 75% <strong>da</strong> sua área afecta<strong>da</strong> pelo perigo sísmico elevado a muito elevado<br />

(índice 10 – susceptibili<strong>da</strong>de extremamente eleva<strong>da</strong>). Dentro destes, destacam-se os<br />

concelhos de: Alcochete, Alma<strong>da</strong>, Cartaxo, Lisboa, Moita, Montijo, Palmela, Salvaterra de<br />

Magos, Seixal, Sesimbra, Setúbal, Sobral de Monte Agraço e Vila Franca de Xira, por<br />

terem a totali<strong>da</strong>de do seu território concelhio abrangido pelo perigo sísmico elevado a<br />

muito elevado.<br />

3.2. Susceptibili<strong>da</strong>de <strong>aos</strong> movimentos de vertente<br />

Ao contrário do perigo sísmico, os movimentos de vertente (desencadeados na região<br />

por chuvas abun<strong>da</strong>ntes ou intensas) têm uma incidência espacial circunscrita a<br />

determinados locais, onde a conjugação <strong>da</strong>s características litológicas e estruturais e do<br />

declive potenciam a instabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s vertentes e os movimentos de massa. Embora<br />

circunscrito, este tipo de perigo <strong>da</strong>nifica gravemente habitações e diversos tipos de infraestruturas,<br />

<strong>da</strong>s quais se salientam as rodoviárias, em especial as de nível hierárquico<br />

superior (auto-estra<strong>da</strong>s e vias rápi<strong>da</strong>s).<br />

Embora as condições geomorfológicas <strong>da</strong> região de LVT (predomínio <strong>da</strong>s superfícies<br />

aplana<strong>da</strong>s e vertentes pouco compri<strong>da</strong>s e de fraco comando) sejam muito diferentes <strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong> Madeira e Açores, onde este tipo de perigo é frequentemente mortífero, a sua<br />

diversi<strong>da</strong>de litológica e, sobretudo, a abundância de rochas sedimentares plásticas<br />

(margas e argilas), pertencentes <strong>aos</strong> terrenos <strong>da</strong> Orla Sedimentar Mesocenozóica, e dos<br />

depósitos superficiais, nesta, nos terrenos do Maciço Antigo e nos <strong>da</strong> Bacia Sedimentar<br />

do Tejo, potenciam um elevado número de movimentos de massa. Com base em vários<br />

trabalhos científicos (teses de doutoramento e de mestrado) já efectuados ou em<br />

execução nesta região, Zêzere et al (2007/08) definiram limiares de declive críticos para<br />

a instabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s vertentes, em função dos tipos litológicos existentes, vali<strong>da</strong>dos por<br />

levantamentos de campo. As várias litologias, obti<strong>da</strong>s a partir do mapa geológico, foram<br />

agrupa<strong>da</strong>s em oito conjuntos litológicos espacialmente relevantes na região (depósitos<br />

superficiais, rochas carbonata<strong>da</strong>s compactas, rochas sedimentares detríticas, rochas


<strong>Avaliação</strong> <strong>da</strong> Susceptibili<strong>da</strong>de <strong>aos</strong> <strong>Perigos</strong> <strong>Naturais</strong> <strong>da</strong> <strong>Região</strong> de Lisboa e Vale do Tejo<br />

sedimentares plásticas, rochas graníticas e afins, rochas quartzíticas e afins, rochas<br />

xistentas e rochas vulcânicas). Os declives foram obtidos a partir do modelo numérico de<br />

elevação com base na altimetria à escala 1:25000.<br />

Foram considerados limiares de declive crítico: i) a partir de 10º, para os depósitos<br />

superficiais e rochas sedimentares plásticas; ii) a partir de 15º, para as rochas<br />

sedimentares detríticas e para as rochas xistentas; iii) a partir de 20º, para as rochas<br />

vulcânicas; iv) a partir de 25º, para as restantes.<br />

A aplicação deste critério <strong>aos</strong> 51 concelhos em análise permitiu verificar que, apesar de<br />

ser um fenómeno circunscrito espacialmente, a sua eleva<strong>da</strong> frequência afecta 10 a 25%<br />

<strong>da</strong>s áreas concelhias de 11 concelhos (quadro 4) e mesmo 30 a 40% <strong>da</strong>s áreas dos<br />

concelhos de Arru<strong>da</strong> dos Vinhos, Mafra e Sobral de Monte Agraço.<br />

3.3. Susceptibili<strong>da</strong>de a tsunami (maremoto)<br />

Os tsunamis são, dos seis tipos de perigos naturais em análise, os de menor<br />

probabili<strong>da</strong>de de ocorrência. Contudo, os registos históricos mostram-nos que os<br />

tsunamis com consequências devastadoras, atingiram por cinco vezes a região de LVT<br />

nos últimos 2000 anos (dois no período romano, dois no século XVI e um no século<br />

XVIII). Os tsunamis ocorrem devido a sismos com epicentro no oceano, a movimentos<br />

de massa em vertentes submarinas ou subaéreas (que atinjam o mar) ou a erupções<br />

vulcânicas.<br />

O enquadramento geotectónico de Portugal Continental mostra que os principais locais<br />

geradores de tsunamis se enontram no Banco de Gorringe, nas falhas submarinas<br />

activas N-S que se estendem ao largo <strong>da</strong> costa alentejana e na falha Açores-Gibraltar.<br />

Estas estruturas geram os chamados “tsunamis locais”, os mais perigosos, porque<br />

chegam em poucos minutos à região de LVT. Contudo, existem também outros locais<br />

que poderão gerar os “tsunamis regionais”, que levam entre 1 a 3h a chegar à região.<br />

O zonamento <strong>da</strong> susceptibili<strong>da</strong>de à inun<strong>da</strong>ção costeira por tsunami foi efectuado com<br />

base na simulação modelística do maremoto gerado pelo sismo de 1755 (Baptista et al,<br />

2003). Consideraram-se on<strong>da</strong>s de SW com 6 m de altura, um run-up de referência de<br />

15m e efeitos locais, a saber: i) tipo de litoral (praia, arriba), ii) geometria <strong>da</strong> linha de<br />

costa e sua relação com a direcção (SW) mais provável <strong>da</strong> propagação <strong>da</strong>(s) on<strong>da</strong>(s), iii)<br />

altimetria <strong>da</strong> faixa litoral e sua relação com a altura <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s de tsunami, iv) presença,<br />

disposição e geometria de obstáculos que canalizem a propagação <strong>da</strong> on<strong>da</strong>. Foram<br />

considera<strong>da</strong>s duas zonas com probabili<strong>da</strong>de de serem atingi<strong>da</strong>s por este fenómeno,<br />

sendo aqui considera<strong>da</strong> a zona 1, de maior probabili<strong>da</strong>de (quadro 4), embora nos mapas<br />

dos dois PROTs tenham sido considera<strong>da</strong>s as duas zonas. As áreas mais atingi<strong>da</strong>s são os<br />

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Catarina Ramos; José Luís Zêzere; Eusébio Reis<br />

litorais baixos e arenosos e as reentrâncias <strong>da</strong> linha de costa, de onde se destacam os<br />

estuários do Tejo e Sado, as lagoas de Óbidos, S. Martinho do Porto e Albufeira, e ain<strong>da</strong><br />

a faixa costeira <strong>da</strong> Nazaré e <strong>da</strong> Costa <strong>da</strong> Caparica (até à base <strong>da</strong> arriba fóssil). Os<br />

concelhos com susceptibili<strong>da</strong>de a tsunami eleva<strong>da</strong> (entre 25 e 40% de área afecta<strong>da</strong>)<br />

são os de Alcochete, Barreiro e Moita. Com susceptibili<strong>da</strong>de modera<strong>da</strong> encontram-se os<br />

de Alma<strong>da</strong>, Seixal e Vila Franca de Xira (entre 10 e 20% <strong>da</strong> sua área).<br />

Quadro 4 – Matriz de susceptibili<strong>da</strong>de <strong>aos</strong> perigos naturais, por<br />

concelho, na região de LVT<br />

Concelhos Sismos<br />

Mov.<br />

vertente<br />

Tsunami Cheias Aquíferos Erosão<br />

costeira<br />

Abrantes 2 4 0 2 4 0<br />

Alcanena 2 2 0 2 8 0<br />

Alcobaça 4 2 2 2 6 6<br />

Alcochete 10 2 6 6 8 0<br />

Alenquer 10 4 0 2 4 0<br />

Alma<strong>da</strong> 10 2 4 2 8 6<br />

Almeirim 10 2 0 4 8 0<br />

Alpiarça 10 2 0 6 10 0<br />

Amadora 8 2 0 2 0 0<br />

Arru<strong>da</strong> dos Vinhos 10 6 0 2 0 0<br />

Azambuja 10 2 0 6 2 0<br />

Barreiro 10 2 6 2 8 0<br />

Benavente 10 2 0 6 2 0<br />

Bombarral 4 2 0 2 2 0<br />

Ca<strong>da</strong>val 2 4 0 2 2 0<br />

Cal<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Rainha 2 4 2 2 4 10<br />

Cartaxo 10 2 0 6 8 0<br />

Cascais 2 2 2 2 2 4<br />

Chamusca 2 0 2 6 0<br />

Constância 2 2 0 4 6 0<br />

Coruche 6 2 0 2 8 0<br />

Entroncamento 8 2 0 2 10 0<br />

Ferreira do Zêzere 2 4 0 2 4 0<br />

Golegã 10 2 0 10 10 0<br />

Lisboa 10 2 2 2 0 0<br />

Loures 8 4 2 4 0 0<br />

Lourinhã 2 2 2 2 2 10<br />

Mafra 2 6 2 2 0 10


<strong>Avaliação</strong> <strong>da</strong> Susceptibili<strong>da</strong>de <strong>aos</strong> <strong>Perigos</strong> <strong>Naturais</strong> <strong>da</strong> <strong>Região</strong> de Lisboa e Vale do Tejo<br />

Moita 10 2 6 6 8 0<br />

Montijo 10 2 2 2 10 0<br />

Nazaré 6 2 2 2 6 4<br />

Óbidos 4 4 2 2 4 10<br />

Odivelas 8 4 0 4 0 0<br />

Oeiras 8 2 2 2 0 0<br />

Ourém 2 2 0 2 6 0<br />

Palmela 10 2 2 2 10 0<br />

Peniche 6 2 2 2 2 8<br />

Rio Maior 4 2 0 2 6 0<br />

Salvaterra de Magos 10 2 0 4 10 0<br />

Santarém 4 2 0 4 6 0<br />

Sardoal 2 2 0 2 0 0<br />

Seixal 10 2 4 2 8 0<br />

Sesimbra 10 2 2 2 6 2<br />

Setúbal 10 4 2 2 6 2<br />

Sintra 2 2 2 2 2 8<br />

Sobral de Monte Agraço 10 6 0 2 0 0<br />

Tomar 2 2 0 2 4 0<br />

Torres Novas 2 2 0 2 6 0<br />

Torres Vedras 4 4 2 2 2 10<br />

Vila Franca de Xira 10 4 4 8 2 0<br />

Vila Nova <strong>da</strong> Barquinha 4 2 0 2 4 0<br />

3.4. Susceptibili<strong>da</strong>de às cheias<br />

As cheias são um fenómeno muito frequente, pois ocorrem quase todos os anos. São<br />

essencialmente de dois tipos: as cheias lentas (ou progressivas) e as cheias rápi<strong>da</strong>s (ou<br />

repentinas) 5 . As primeiras afectam os grandes cursos de água <strong>da</strong> região, em especial o<br />

Rio Tejo, e secun<strong>da</strong>riamente os rios Sado, Zêzere, Nabão e Sorraia; as segun<strong>da</strong>s<br />

ocorrem nas pequenas e médias bacias de drenagem, afluentes <strong>da</strong>queles rios ou que<br />

drenam directamente para o oceano (Ribeiras do Oeste).<br />

Na região de LVT, as cheias lentas são devi<strong>da</strong>s a períodos chuvosos que se prolongam<br />

por várias semanas, diminuindo o efeito regularizador <strong>da</strong>s barragens, e as cheias rápi<strong>da</strong>s<br />

são devi<strong>da</strong>s a períodos curtos de precipitação intensa que ocorrem em algumas horas.<br />

5 A região de LVT também pode ser afecta<strong>da</strong> por um terceiro tipo de cheias: as cheias de derroca<strong>da</strong><br />

devido ao rebentamento de barragens, que, felizmente, nunca ocorreu. Neste contexto, a barragem<br />

potencialmente mais perigosa para a região, pela sua posição e volume de água armazenado, é a de<br />

Castelo de Bode.<br />

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Catarina Ramos; José Luís Zêzere; Eusébio Reis<br />

As cheias rápi<strong>da</strong>s têm um historial mortífero em LVT, pela rapidez com que se formam e<br />

por afectarem áreas, por vezes, densamente urbaniza<strong>da</strong>s com ocupação indevi<strong>da</strong> dos<br />

leitos de cheia. As cheias lentas, embora sejam responsáveis por vários cortes em vias<br />

de comunicação e inundem vastas áreas, raramente são mortíferas, porque permitem<br />

accionar, em devido tempo, os sistemas de alerta, diminuindo o seu grau de risco.<br />

Para a delimitação <strong>da</strong>s zonas afecta<strong>da</strong>s por cheias (ZAC) do Vale do Tejo e dos troços<br />

terminais dos seus afluentes, que ele invade durante as cheias de maior magnitude<br />

(“cheias de jusante”), teve-se em consideração o disposto na Lei <strong>da</strong> Água (Lei nº<br />

58/2005, artigo 4º, alínea ggg), ou seja, foram utiliza<strong>da</strong>s as cotas atingi<strong>da</strong>s pela ponta<br />

de cheia de Fevereiro de 1979 (a maior cheia regista<strong>da</strong> no século XX). Para a cartografia<br />

<strong>da</strong>s cheias nos restantes fundos de vale, foi ti<strong>da</strong> em conta a informação constante nos<br />

Planos de Bacia Hidrográfica <strong>da</strong>s Ribeiras do Oeste e do Sado, complementa<strong>da</strong> com a<br />

análise geomorfológica dos fundos de vale, nomea<strong>da</strong>mente a individualização de<br />

planícies aluviais, a partir <strong>da</strong> altimetria e topografia na escala 1: 25000. Nos casos de<br />

vales de fundo estreito, foram representados os troços afectados pelas cheias e não as<br />

ZAC, propriamente ditas, uma vez que a sua delimitação só é possível a uma escala<br />

maior, que a escala dos PROT não comporta. Por tal motivo, na matriz do quadro 4,<br />

apenas foram considera<strong>da</strong>s as ZAC.<br />

Do conjunto dos concelhos <strong>da</strong> região de LVT destacam-se os <strong>da</strong> Golegã, com mais de<br />

75% <strong>da</strong> sua área em leito de cheia (cheias do Tejo) e o de Vila Franca de Xira, com mais<br />

de 70% (nas classes de susceptibili<strong>da</strong>de extremamente eleva<strong>da</strong> e muito eleva<strong>da</strong>,<br />

respectivamente). Os concelhos na classe de susceptibili<strong>da</strong>de eleva<strong>da</strong> (25 a 50% <strong>da</strong> sua<br />

área inun<strong>da</strong><strong>da</strong>), são: Alcochete, Alpiarça, Azambuja, Benavente, Cartaxo e Moita. Todos<br />

estes concelhos são afectados essencialmente por cheias lentas. O concelho onde as<br />

cheias rápi<strong>da</strong>s abrangem uma maior extensão é Loures (figura 2).<br />

3.5. Susceptibili<strong>da</strong>de à erosão costeira<br />

O litoral <strong>da</strong> região de LVT é dominado por sistemas costeiros de tipo arriba e praiaarriba.<br />

As arribas são talha<strong>da</strong>s em calcários, margas e arenitos <strong>da</strong> Orla Mesocenozóica<br />

Ocidental e secun<strong>da</strong>riamente em formações detríticas terciárias <strong>da</strong> Bacia Sedimentar do<br />

Tejo. Embora os troços litorais submetidos a erosão marinha mais intensa sejam os de<br />

praia e praia-duna, as arribas são afecta<strong>da</strong>s frequentemente por movimentos de massa,<br />

de tipo deslizamento e desabamento, e por fenómenos de erosão hídrica de tipo<br />

ravinamento.<br />

A avaliação <strong>da</strong> susceptibili<strong>da</strong>de à erosão costeira, porque efectua<strong>da</strong> à escala regional,<br />

não permitiu definir áreas afecta<strong>da</strong>s, pelo que se optou pela definição de troços<br />

costeiros, correspondendo os 100% à totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> linha de costa do concelho (quadro


<strong>Avaliação</strong> <strong>da</strong> Susceptibili<strong>da</strong>de <strong>aos</strong> <strong>Perigos</strong> <strong>Naturais</strong> <strong>da</strong> <strong>Região</strong> de Lisboa e Vale do Tejo<br />

4). Foram definidos os tipos de litoral presentes na região, a saber: i) litoral arenoso<br />

(sistemas praia, praia-duna e praia-planície aluvial); ii) arriba (mergulhante ou com<br />

plataforma rochosa de sopé); iii) arriba com praia estreita no sopé; iv) litoral<br />

artificializado.<br />

O perigo de erosão costeira foi classificado como elevado ou moderado atendendo <strong>aos</strong><br />

seguintes critérios: i) dinâmica geomorfológica descrita na bibliografia científica<br />

(Marques, 1997; Neves, 2004); ii) caracterização dos troços constantes nos POOC de<br />

Alcobaça-Mafra, Sintra-Sado e Ci<strong>da</strong>dela-S. Julião <strong>da</strong> Barra); iii) para as arribas: tipos de<br />

litologia e respectiva resistência mecânica e pendor <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s e respectiva geometria<br />

em relação à disposição <strong>da</strong> linha de costa; iv) pontos críticos identificados pelo INAG e<br />

por fotointerpretação.<br />

No quadro 4 foi apenas considerado o perigo de erosão costeira elevado. Assim, a maior<br />

parte dos concelhos com linha de costa (9 em 13) possui uma susceptibili<strong>da</strong>de eleva<strong>da</strong> a<br />

extremamente eleva<strong>da</strong>. A esta última classe pertencem os concelhos de Cal<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

Rainha, Lourinhã, Mafra, Óbidos e Torres Vedras. O ponto crítico principal, pelo<br />

desaparecimento do sistema costeiro inicial praia-duna e pela excessiva construção,<br />

situa-se em Alma<strong>da</strong> (Costa <strong>da</strong> Caparica).<br />

3.6. Susceptibili<strong>da</strong>de à contaminação dos aquíferos<br />

A contaminação de aquíferos integra os perigos ambientais, porque conjuga o<br />

funcionamento destes hidrossistemas com as activi<strong>da</strong>des humanas que os poderão<br />

contaminar. Embora este tipo de perigo não tenha sido tratado pela equipa de Riscos e<br />

Protecção Civil, mas sim pela de Recursos Hídricos e Saneamento, pelo que não consta<br />

nos mapas de perigos do OVT e <strong>da</strong> AML, foi integra<strong>da</strong> nesta análise, como perigo natural,<br />

porque o que aqui se considera é a susceptibili<strong>da</strong>de à contaminação, que depende <strong>da</strong>s<br />

características físicas e hidrodinâmicas do aquífero e <strong>da</strong>s características geomorfológicas<br />

do território em que se insere, independentemente <strong>da</strong>s activi<strong>da</strong>des que o possam<br />

contaminar.<br />

A região de LVT é muito rica em recursos hídricos subterrâneos, o que constitui<br />

simultaneamente um recurso de inestimável valor e um desafio na sua preservação,<br />

atendendo à varie<strong>da</strong>de e densi<strong>da</strong>de de activi<strong>da</strong>des humanas que os podem contaminar.<br />

A região de LVT possui 15 sistemas aquíferos, dos quais 9 são detríticos e 6 são cársicos<br />

(Almei<strong>da</strong> et al, 2000). Os aquíferos cársicos distribuem-se na sua totali<strong>da</strong>de pela Orla<br />

Mesocenozóica Ocidental (Penela-Tomar, Sicó-Alvaiázere, Maciço Calcário Estremenho,<br />

Cesare<strong>da</strong>, Ota-Alenquer e Pisões-Atrozela), enquanto os detríticos se localizam na Orla<br />

Ocidental (Vieira de Leiria-Marinha Grande, Ourém, Alpedriz, Paço, Torres Vedras e<br />

Cal<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Rainha-Nazaré) e na Bacia Sedimentar do Tejo-Sado (Aluviões do Tejo,<br />

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Catarina Ramos; José Luís Zêzere; Eusébio Reis<br />

Margem Direita e Margem Esquer<strong>da</strong>). Este último possui cerca de metade <strong>da</strong>s reservas<br />

de água subterrâneas de Portugal continental.<br />

Para a definição <strong>da</strong> susceptibili<strong>da</strong>de à contaminação destes aquíferos, foram utilizados os<br />

critérios referidos em Ramos et al (2009 e 2010), para a delimitação <strong>da</strong> Áreas<br />

Estratégicas de Protecção e Recarga dos Aquíferos – AEPRA (Lei <strong>da</strong> REN – Decreto-Lei nº<br />

166/2008), ou seja: i) litologia e estrutura <strong>da</strong> zona vadosa, parâmetro que toma valores<br />

de 1 a 10 refletindo a permeabili<strong>da</strong>de vertical nas formações hidrogeológicas <strong>da</strong> região<br />

de LVT; ii) recarga potencial, calcula<strong>da</strong> ao nível do solo em mm/ano; iii) declive <strong>da</strong><br />

superfície topográfica. O índice final (recarga efectiva, IRef) que resulta <strong>da</strong> média<br />

pondera<strong>da</strong> dos três parâmetros anteriores, com incremento de 3 para o primeiro e de<br />

um para os outros dois, varia de 1 a 9,8. Estes valores foram agrupados em 10 classes.<br />

Como áreas a proteger pela susceptibili<strong>da</strong>de à contaminação foram selecciona<strong>da</strong>s as<br />

classes 8 e 9 do IRef, independentemente do declive, e as classes 6 e 7 do IRef apenas<br />

em terrenos com fraco declive (


<strong>Avaliação</strong> <strong>da</strong> Susceptibili<strong>da</strong>de <strong>aos</strong> <strong>Perigos</strong> <strong>Naturais</strong> <strong>da</strong> <strong>Região</strong> de Lisboa e Vale do Tejo<br />

susceptibili<strong>da</strong>de, ou seja, a incidência espacial de um determinado fenómeno perigoso.<br />

Este trabalho pretendeu ser um contributo metodológico para uma uniformização <strong>da</strong><br />

avaliação <strong>da</strong> susceptibili<strong>da</strong>de, possibilitando a comparação dos seus resultados nas<br />

diferentes regiões do território. Foram, para já, aqui integra<strong>da</strong>s duas: as dos PROTs do<br />

OVT e <strong>da</strong> AML. Georreferencia<strong>da</strong>s as áreas susceptíveis <strong>aos</strong> fenómenos perigosos, é<br />

possível com a sobreposição, também georreferencia<strong>da</strong> dos diferentes usos do território,<br />

avaliar os elementos expostos a esses perigos (infra-estruturas, áreas habitacionais,<br />

industriais, agrícolas, ou outras) e monitorizar, ao longo do tempo, os usos compatíveis<br />

ou incompatíveis que os diversos municípios vão efectuando nos respectivos territórios.<br />

Este facto, poderá aju<strong>da</strong>r a criar uma política de responsabili<strong>da</strong>de (e responsabilização)<br />

ao nível municipal pela forma como se utiliza e gere o território.<br />

Figura 3 – Susceptibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> região de LVT <strong>aos</strong> perigos naturais analisados e<br />

variação máxima e mínima no conjunto dos 51 concelhos<br />

%<br />

100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

sismos<br />

inst.vertentes<br />

tsunami<br />

cheias<br />

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cont.aquíferos<br />

erosão<br />

costeira<br />

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Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais<br />

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Departamento de Prospectiva e Planeamento e Relações Internacionais<br />

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