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Documento - Departamento de Prospectiva e Planeamento

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Fluxos inter-regionais e consistência inter-matricial nos sistemas multi-regionais<br />

(MRIO)<br />

Natalino Martins<br />

natalino@dpp.pt<br />

DPP – <strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Prospectiva</strong> e <strong>Planeamento</strong><br />

www.dpp.pt<br />

<strong>Documento</strong> apresentado ao 6º Workshop da APDR – 30/04/2010 – Angra do<br />

Heroísmo – Universida<strong>de</strong> dos Açores<br />

Os sistemas <strong>de</strong> matrizes multi-sectoriais multi-regionais são os mais interessantes do<br />

ponto <strong>de</strong> vista da avaliação <strong>de</strong> impactos territoriais <strong>de</strong> variações na procura final,<br />

nacional ou <strong>de</strong> qualquer região, no sentido em que permitem avaliar as<br />

inter<strong>de</strong>pendências entre regiões e, consequentemente, os efeitos difusores, não<br />

apenas intersectoriais, mas também inter-regionais, dos choques <strong>de</strong> procura ocorridos.<br />

Tornam-se, todavia muito exigentes em termos da avaliação dos fluxos <strong>de</strong> comércio<br />

inter-regional e em termos da compatibilização entre as matrizes que constituem o<br />

sistema.<br />

No primeiro caso, no limite, a vantagem está na sectorialização dos fluxos interregionais<br />

<strong>de</strong> produtos (IRIO - Inter-regional input-output account), a qual permite<br />

estabelecer uma interacção mais fina entre sectores produtivos <strong>de</strong> diferentes regiões.<br />

Todavia, não havendo estatísticas <strong>de</strong> comércio inter-regional, mesmo a obtenção<br />

<strong>de</strong>sses fluxos sem sectorialização (sistemas multi-regionais) exige o recurso a<br />

métodos <strong>de</strong> estimação que se tornam muito sensíveis pois vão influenciar o que se<br />

torna essencial na utilida<strong>de</strong> das matrizes, a saber, os multiplicadores inter-regionais.<br />

No segundo caso, para além da consistência intra-matricial (equilíbrios <strong>de</strong> oferta e<br />

procura em cada matriz do sistema) há que assegurar a consistência entre matrizes<br />

regionais e matriz nacional. Se se preten<strong>de</strong>r um sistema <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong> produção<br />

regional, adicionalmente torna-se necessário garantir a consistência, em cada região,<br />

entre as matrizes que o compõem (matrizes <strong>de</strong> relações totais, <strong>de</strong> produção regional e<br />

<strong>de</strong> margens). Trata-se <strong>de</strong> um problema complexo solúvel através da aplicação <strong>de</strong><br />

métodos <strong>de</strong> ajustamento proporcional em escala superior à bidimensional, o que po<strong>de</strong><br />

colocar problemas adicionais <strong>de</strong> convergência e obriga à adopção <strong>de</strong> métodos<br />

iterativos na construção matricial.<br />

Tirando partindo da literatura especializada e da experiência do autor na construção<br />

<strong>de</strong> matrizes regionais, nomeadamente na construção da matriz regional <strong>de</strong> 1998 para<br />

os Açores, bem como consi<strong>de</strong>rando a fase <strong>de</strong> arranque da construção <strong>de</strong> um novo<br />

sistema <strong>de</strong> matrizes regionais no DPP, apresenta-se nesta comunicação uma reflexão<br />

sobre aqueles temas, conducente à apresentação <strong>de</strong> propostas <strong>de</strong> soluções. Tendo<br />

em conta o faseamento dos trabalhos <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados no DPP, restringir-nos-emos à<br />

avaliação <strong>de</strong> fluxos inter-regionais não sectorializados e à consistência relativa ao<br />

sistema <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong> relações totais. Trata-se, por conseguinte, <strong>de</strong> uma abordagem<br />

mais <strong>de</strong> natureza operacional do que teórica.<br />

1


Palavras-chave: Input-output, Mo<strong>de</strong>los multi-regionais, Matrizes inter-regionais,<br />

Consistência matricial, RAS<br />

ÍNDICE<br />

1. Matrizes regionais e multi-regionais: implicações nos métodos <strong>de</strong> construção<br />

2. Fluxos inter-regionais: métodos <strong>de</strong> estimação e sectorialização<br />

3. Níveis <strong>de</strong> consistência nos sistemas multi-regionais: problemática e métodos<br />

4. Conclusões<br />

5. Referências bibliográficas<br />

1. Matrizes regionais e multi-regionais: implicações nos métodos <strong>de</strong><br />

construção<br />

Normalmente, na construção <strong>de</strong> matrizes regionais tem-se distinguido entre a<br />

perspectiva <strong>de</strong>scentralizada – bottom up, em que o construtor não persegue objectivos<br />

<strong>de</strong> compatibilização da(s) matriz(es) regional(ais) com a matriz nacional, e a<br />

perspectiva centralizada – top down, em que o construtor toma a matriz nacional como<br />

um referencial a que o sistema regional <strong>de</strong>verá submeter-se. Na prática, e tomando as<br />

matrizes <strong>de</strong> relações totais a preços <strong>de</strong> aquisição 1 , a consistência inter-matricial<br />

significa que a soma das matrizes relativas a todas as regiões do país <strong>de</strong>verá igualar a<br />

matriz nacional. Esta condição acresce ao equilíbrio entre recursos e empregos em<br />

cada matriz. A consistência inter-matricial nas matrizes <strong>de</strong> produção regional torna-se<br />

mais complexa não cabendo aqui abordá-la.<br />

A opção pelo método centralizado torna-se tanto mais útil para o construtor, quanto<br />

maior for a escassez <strong>de</strong> informação, o que correspon<strong>de</strong> à maioria dos casos<br />

aten<strong>de</strong>ndo à insuficiência dos sistemas estatísticos <strong>de</strong> base. Efectivamente, com este<br />

método, ao invés <strong>de</strong> estimar todos os fluxos e agregados <strong>de</strong> raiz, torna-se possível<br />

“regionalizar” os elementos da matriz nacional, para os quais não se dispõe <strong>de</strong><br />

informação própria suficiente, pelo recurso a proxies – trata-se da metodologia mista<br />

ou híbrida. Esta é, aliás, a prática seguida nas Contas Regionais construídas segundo<br />

os procedimentos estipulados pelo EUROSTAT.<br />

É na perspectiva da consistência inter-matricial, que se torna pertinente questionar se<br />

a distinção entre num extremo, o caso da construção <strong>de</strong> matrizes para uma única<br />

região e, no outro extremo, o da construção <strong>de</strong> matrizes para todas as regiões <strong>de</strong> um<br />

país, não é artificial.<br />

A metodologia seguida pelo autor em projectos <strong>de</strong> construção matricial para uma única<br />

região (casos do Norte, relativa a 1990, e dos Açores, relativa a 1998) baseou-se, nas<br />

primeiras iterações, num sistema a duas regiões – a região <strong>de</strong> referência e o “resto do<br />

1 Que englobam fluxos produzidos e importados, e em que os fluxos englobam todas as margens –<br />

impostos líquidos, comércio e transportes.<br />

2


país”. Todavia, as operações <strong>de</strong> equilíbrio intra-matricial foram efectuadas apenas<br />

para a região <strong>de</strong> referência, o que significa que, na prática, o “resto do país” foi tratado<br />

como um resíduo. No sistema multi-regional <strong>de</strong>senvolvido, com referência ao ano <strong>de</strong><br />

1977 e para as cinco regiões do Continente (quando as únicas matrizes existentes<br />

eram as do ex-GEBEI, e as regiões autónomas não eram abrangidas), a consistência<br />

entre as matrizes regionais e as matrizes do Continente ficou simplificada por, na<br />

estimação do comércio inter-regional, se ter seguido o método dos saldos, o que<br />

significa que todos os enviesamentos <strong>de</strong> estimação dos vários fluxos foram remetidos<br />

para os saldos.<br />

No sistema <strong>de</strong> matrizes para todas as regiões (NUTS II) do País, cuja construção se<br />

está a configurar no DPP, procura-se recorrer a métodos <strong>de</strong> estimação do comércio<br />

inter-regional, alternativos ao método dos saldos, o que coloca a questão da<br />

consistência inter-matricial num patamar <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> bastante mais elevado,<br />

exigindo adaptações nos métodos <strong>de</strong> ajustamento matricial normalmente seguidos, a<br />

saber, o RAS 2 . Num caso e noutro, nas soluções a ensaiar, para além do que se<br />

possa retirar da bibliografia especializada, filtrado pelas disponibilida<strong>de</strong>s estatísticas<br />

nacionais com <strong>de</strong>talhe regional, procura-se também tirar partido <strong>de</strong> alguns ensaios<br />

realizados com a construção da matriz para os Açores.<br />

2. Fluxos inter-regionais: métodos <strong>de</strong> estimação e sectorialização<br />

Na ausência <strong>de</strong> estatísticas <strong>de</strong> comércio inter-regional, a estimação dos fluxos <strong>de</strong><br />

comércio <strong>de</strong> cada produto i entre cada par <strong>de</strong> regiões r e s – – tem sido feita<br />

frequentemente com base em métodos que conduzem à <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> um fluxo<br />

líquido <strong>de</strong> exportação ou <strong>de</strong> importação. Trata-se do método dos saldos (aplicável<br />

quando se dispõe da oferta e da procura doméstica e internacional <strong>de</strong> cada produto<br />

em cada região) e do método dos quocientes <strong>de</strong> localização (quando não se dispõe<br />

daquela informação). Ambos os casos têm subjacente uma limitação essencial:<br />

quando o comércio mundial é crescentemente intra-sectorial o comércio inter-regional<br />

assim <strong>de</strong>terminado é do tipo intersectorial.<br />

Sargento (2009) faz uma apresentação <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> métodos, incluindo dos<br />

processos <strong>de</strong> sofisticação do método dos quocientes <strong>de</strong> localização que visam<br />

resolver o problema do benchmarking que, na formulação original daquele indicador, é<br />

resolvido <strong>de</strong> forma insatisfatória assimilando a estrutura intersectorial da produção (ou<br />

do emprego) do país à estrutura sectorial <strong>de</strong> procura interna da região. É possível<br />

complementar aqueles métodos com a aplicação <strong>de</strong> parâmetros <strong>de</strong> crosshauling<br />

share 3 os quais nos dão o peso que o saldo <strong>de</strong> comércio inter-regional tem no valor<br />

bruto das exportações inter-regionais. Conhecidos aqueles parâmetros é possível<br />

<strong>de</strong>terminar, para cada produto, os fluxos <strong>de</strong> importação e exportação inter-regional<br />

(Sargento, 2009).<br />

2 Outros métodos têm sido referidos na literatura, mas os estudos comparativos efectuados, com todas as<br />

suas limitações pois não há verda<strong>de</strong>iramente benchmark, têm apontado para o RAS como sendo o método<br />

mais a<strong>de</strong>quado. Acresce ainda a maior facilida<strong>de</strong> da sua aplicação, comparativamente a outros métodos<br />

mais elaborados (Lenzen, Gallego e Wood, 2008).<br />

3 Que, embora mantendo a <strong>de</strong>signação inglesa, arriscamos traduzir por “parâmetros <strong>de</strong> extracção” das<br />

exportações inter-regionais.<br />

3


O problema está em <strong>de</strong>terminar os valores daquele parâmetro para cada produto (e<br />

para cada par produto / região se estivermos perante um sistema matricial multiregional).<br />

Ramos e Sargento (2003), referidos por Sargento (2009), fizeram<br />

estimações daqueles coeficientes para as regiões portuguesas com base nas<br />

estatísticas <strong>de</strong> fluxos inter-regionais <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> mercadorias mas, como refere<br />

Sargento (2009), a solução revelou-se limitada <strong>de</strong>vido às insuficiências daquelas<br />

estatísticas (nomeadamente as <strong>de</strong>correntes da nomenclatura <strong>de</strong> transportes e da não<br />

cobertura dos serviços, bem como da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distinguir entre os fluxos<br />

entre fornecedor e utilizador <strong>de</strong> cada produto e os fluxos <strong>de</strong> intermediação).<br />

Alves, Martins et al (2004) na matriz dois Açores recorreram às estatísticas <strong>de</strong><br />

transporte marítimo para, com base nas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scarregadas e carregadas nos<br />

portos açorianos (após <strong>de</strong>dução dos fluxos inter-ilhas e internacionais) e nos preços<br />

médios <strong>de</strong> importação e exportação internacionais, proce<strong>de</strong>rem à estimação <strong>de</strong> fluxos<br />

<strong>de</strong> importação e exportação, <strong>de</strong> e para, o resto do país. Para além das limitações<br />

<strong>de</strong>correntes dos problemas <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> estatísticas, referidos no parágrafo anterior,<br />

que no caso vertente se esperava ver diminuídas <strong>de</strong>vido à insularida<strong>de</strong> da região, o<br />

método acabou por não ser retido na totalida<strong>de</strong> dos produtos por os resultados, na<br />

confrontação entre oferta e procura regional, não se afigurarem satisfatórios.<br />

Bo e Asao (2005), a partir do cruzamento do carácter probabilístico ou <strong>de</strong>terminístico<br />

dos métodos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação daqueles fluxos com a sua fundamentação em escolhas<br />

individuais ou em processos da física social, referem os procedimentos baseados na<br />

escolha individual, que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>terminísticos ou probabilísticos, e os<br />

procedimentos baseados na física social, que po<strong>de</strong>m ser gravitacionais ou entrópicos.<br />

Na sequência, aqueles autores propõem a inserção das teses da teoria da escolha<br />

<strong>de</strong>terminística na estrutura do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> input-output inter-regional: o fluxo <strong>de</strong><br />

comércio inter-regional <strong>de</strong> cada par produto / região passa assim a ser <strong>de</strong>terminado<br />

pelo preço <strong>de</strong> aquisição (preço no produtor mais custo <strong>de</strong> transporte) e por um<br />

parâmetro <strong>de</strong> substituição (assente na hipótese <strong>de</strong> Armington <strong>de</strong> substituição<br />

imperfeita no comércio entre regiões), po<strong>de</strong>ndo o mo<strong>de</strong>lo ser resolvido como problema<br />

<strong>de</strong> maximização do lucro ou <strong>de</strong> minimização do custo. Para além do cativante<br />

interesse teórico <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> soluções, o problema resi<strong>de</strong> na sua operacionalida<strong>de</strong><br />

tendo em conta as variáveis que se torna necessário valorizar e a ausência <strong>de</strong><br />

informação estatística para o efeito, o que implica o recurso a proxies que são<br />

frequentemente <strong>de</strong> difícil i<strong>de</strong>ntificação.<br />

Lindall, Olson e Alward (2006), estabelecem um mo<strong>de</strong>lo gravitacional com dupla<br />

restrição, baseado no Mo<strong>de</strong>lo IMPLAN <strong>de</strong> Comércio Inter-regional dos EUA, para<br />

estabelecer Coeficientes <strong>de</strong> Compra Regional (Regional Purchase Coefficients). Para<br />

<strong>de</strong>senvolver o seu trabalho apoiaram-se em bases <strong>de</strong> dados associadas àquele<br />

mo<strong>de</strong>lo contendo as distâncias e tempos <strong>de</strong> viagem entre unida<strong>de</strong>s territoriais<br />

estatísticas elementares por modo <strong>de</strong> transporte e as toneladas X milhas percorridas.<br />

Saliente-se que o coeficiente <strong>de</strong> compra regional <strong>de</strong>fine-se pela parcela da procura<br />

regional <strong>de</strong> cada produto que é satisfeita com produção da própria região. Também<br />

Robinson e Liu (2006) recorreram a este tipo <strong>de</strong> conceito para, baseando-se naquelas<br />

fontes <strong>de</strong> dados, estimarem os fluxos <strong>de</strong> mercadorias entre condados do Missouri,<br />

comparando os respectivos resultados com os apurados pelo método dos Quocientes<br />

<strong>de</strong> Localização.<br />

4


Leontief e Strout (referidos em Bo e Asao, 2005) propõem o seguinte mo<strong>de</strong>lo para a<br />

estimação dos fluxos inter-regionais do produto i no contexto <strong>de</strong> um sistema regional<br />

fechado ao exterior:<br />

5<br />

(Eq. 2.1)<br />

Em que representa o fluxo do produto i exportado <strong>de</strong> r para s, a produção <strong>de</strong> i<br />

em r e a procura <strong>de</strong> i em s. constitui um parâmetro <strong>de</strong> atrito da distância sobre<br />

os fluxos inter-regionais que, na nossa interpretação, assimilamos a um parâmetro <strong>de</strong><br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> comércio inter-regional 4 .<br />

Efectivamente, se o atrito da distância é suficientemente gran<strong>de</strong> para que não<br />

haja comércio inter-regional, se é não há qualquer atrito da distância ao<br />

comércio inter-regional, pelo que a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> comércio é total. O 2º coeficiente, que<br />

<strong>de</strong>signamos por α, representa a quota da região r na produção <strong>de</strong> i.<br />

Des<strong>de</strong> logo ressalta aqui uma dificulda<strong>de</strong>: T <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> D sendo que para se<br />

conhecer D é preciso conhecer T. Consi<strong>de</strong>rando ainda o sistema regional como<br />

fechado em relação ao exterior, Moses (referido em Bo e Asao, 2005) propõe que:<br />

(Eq. 2.2)<br />

on<strong>de</strong> representa os totais <strong>de</strong> empregos <strong>de</strong> i internos à região s com origem na<br />

própria região, que po<strong>de</strong>mos assimilar a fluxos do produto i produzido e utilizado na<br />

própria região. Daquela equação resulta que:<br />

(Eq. 2.3)<br />

Em 2.1 quanto maiores forem a quota <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> r e o grau <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comércio entre r e s, maior será a sua quota <strong>de</strong> mercado em s ( ) e,<br />

consequentemente o seu volume <strong>de</strong> exportação para s - . Para além disso, o<br />

parâmetro é único para todas as regiões r, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da propensão <strong>de</strong><br />

4 No sentido da Nova Geografia Económica.


cada região para importar das outras regiões, não relevando também da propensão <strong>de</strong><br />

cada região para exportar.<br />

A formulação <strong>de</strong> sugere, todavia, que po<strong>de</strong>rá gerar-se um problema <strong>de</strong><br />

sobrevalorização das exportações. Concretamente, no limite, quando ambos os<br />

parâmetros são iguais a um (concentração total da produção <strong>de</strong> i em r e liberda<strong>de</strong> total<br />

<strong>de</strong> comércio) toda a procura <strong>de</strong> i por s é sustentada em importações <strong>de</strong> r ( ),<br />

mas a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> vai gerar procura infinita (neste caso, basta que a produção<br />

<strong>de</strong> i em s seja nula).<br />

Uma solução alternativa po<strong>de</strong> passar pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> coeficientes que, ainda que <strong>de</strong><br />

forma indirecta e aproximativa, integrem no mo<strong>de</strong>lo a propensão <strong>de</strong> r para exportar e<br />

também a propensão <strong>de</strong> s para importar das outras regiões, coeficientes que sendo<br />

uniformes, no caso das exportações, para cada região <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino e, no caso das<br />

importações, para cada região <strong>de</strong> origem, acabam por resultar diferenciados <strong>de</strong>vido à<br />

filtragem exercida pelo parâmetro da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> comércio.<br />

Trata-se <strong>de</strong> ter presente:<br />

Deste modo:<br />

Que a propensão para a exportação inter-regional <strong>de</strong> r <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> também da<br />

sua própria procura do produto i. Quanto mais a região pesar na procura <strong>de</strong> i<br />

menor será a sua disponibilida<strong>de</strong> para exportar para as outras regiões; e,<br />

Que a propensão <strong>de</strong> s para a importação inter-regional <strong>de</strong> i <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do seu<br />

peso na procura <strong>de</strong>sse produto.<br />

6<br />

(Eq. 2.4)<br />

Coloca-se novamente o problema da <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> , que nesta formulação se<br />

agrava, pois não apenas permanece a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o <strong>de</strong>nominador da função <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r ser igual a zero o que, como se po<strong>de</strong> verificar pela fórmula seguinte,<br />

suce<strong>de</strong>rá sempre que o somatório no <strong>de</strong>nominador for igual a um, como também os<br />

parâmetros e passam a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> .<br />

(Eq. 2.5)<br />

Antes <strong>de</strong> passarmos a uma possível aproximação a que possa evitar o recurso à<br />

equação acima indicada, generalizemos aquela solução para um sistema aberto ao<br />

exterior, cuja representação matricial se exprime na 2.2.


Figura 2.2<br />

Matriz <strong>de</strong> fluxos inter-territoriais do produto i<br />

Orig/Dest 1 2 … r s … k e Oferta<br />

1 … …<br />

2<br />

…<br />

… … … … … … … … … …<br />

r<br />

s<br />

…<br />

…<br />

… … … … … … … … … …<br />

k<br />

e<br />

Procura<br />

…<br />

…<br />

…<br />

Consi<strong>de</strong>rando aquela matriz, on<strong>de</strong> as exportações <strong>de</strong> r para o exterior estão<br />

assinaladas como , teremos que:<br />

7<br />

…<br />

…<br />

…<br />

…<br />

…<br />

…<br />

(Eq. 2.6)<br />

No quadro das disponibilida<strong>de</strong>s estatísticas, para a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> não vemos<br />

outra solução que não a <strong>de</strong> nos basearmos nas primeiras estimativas feitas a partir<br />

das fontes estatísticas. Efectivamente, consi<strong>de</strong>rando o método <strong>de</strong>sconcentrado <strong>de</strong><br />

estimação dos fluxos <strong>de</strong> procura intermédia e final interna <strong>de</strong> cada região, baseado na<br />

regionalização dos fluxos da matriz nacional <strong>de</strong> relações totais, po<strong>de</strong>remos consi<strong>de</strong>rar<br />

que os mesmos abrangem os fluxos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> cada região , mais as<br />

importações internacionais <strong>de</strong> cada região e as importações inter-regionais <strong>de</strong><br />

cada região correspon<strong>de</strong>ntes ao fluxo da origem inicial (o produtor) para <strong>de</strong>stino final<br />

(o utilizador). Isto é, excluem apenas os fluxos <strong>de</strong> intermediação que na matriz<br />

nacional estão consolidados. Por exemplo, se um produto produzido no Norte é<br />

objecto <strong>de</strong> consumo final em Lisboa, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> passar por um intermediário do Centro,<br />

apenas o fluxo entre o Norte e Lisboa está implícito na matriz nacional.<br />

Deste modo, segundo o método <strong>de</strong>sconcentrado, cada fluxo do produto i na matriz<br />

nacional <strong>de</strong> relações totais, correspon<strong>de</strong> a:<br />

(Eq. 2.7)


on<strong>de</strong> , e correspon<strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> relações totais <strong>de</strong> i para j<br />

na matriz da região s (fluxo <strong>de</strong> todas as origens).<br />

Por conseguinte, numa primeira fase po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que:<br />

8<br />

(Eq. 2.8)<br />

em que j representa os ramos <strong>de</strong> procura intermédia e <strong>de</strong> procura final interna mais as<br />

exportações internacionais, isto é, só não inclui as exportações inter-regionais.<br />

Deste modo teremos que:<br />

. (Eq. 2.9)<br />

Colocam-se então os problemas da <strong>de</strong>terminação do parâmetro da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comércio <strong>de</strong> cada produto e da aferição dos fluxos <strong>de</strong> comércio assim <strong>de</strong>terminados.<br />

Para a obtenção do parâmetro da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> comércio po<strong>de</strong>r-se-á recorrer a<br />

mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> inter-acção espacial, ou a procedimentos mais elementares, recorrendo,<br />

por exemplo, às matrizes <strong>de</strong> transporte inter-regionais (ITR complementado pela<br />

matriz <strong>de</strong> transportes ferroviários). Po<strong>de</strong>-se inclusivamente recorrer a um método<br />

misto, em que se estima o grau <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> comércio inter-regional apenas para<br />

os produtos pon<strong>de</strong>rosos consi<strong>de</strong>rando-se igual a um nos restantes casos.<br />

Saliente-se que, nas condições <strong>de</strong> Portugal Continental, os custos <strong>de</strong> transporte não<br />

são muito relevantes pois as distâncias também não o são, exceptuando entre regiões<br />

antípodas na direcção norte – sul, e as diferenças <strong>de</strong> especialização “impõem”<br />

<strong>de</strong>terminados fluxos inter-regionais. A geografia produtiva do país dá-nos alguns<br />

exemplos, como o da cortiça produzida no Alentejo e transformada no Norte, embora<br />

tratando-se <strong>de</strong> um produto pon<strong>de</strong>roso. O custo <strong>de</strong> transporte para as regiões<br />

autónomas torna-se mais relevante, todavia a sua posição insular e ultraperiférica em<br />

relação aos espaços continentais acaba por beneficiar o Continente que lhes é mais<br />

próximo.<br />

Todavia, mesmo apenas no caso do Continente, como se po<strong>de</strong> ver pelas figuras 2.1 e<br />

2.2, em 2007, os volumes totais <strong>de</strong> tráfegos em toneladas inter-regionais, segundo o<br />

Inquérito ao Transporte Rodoviário <strong>de</strong> Mercadorias, são bastante inferiores aos<br />

volumes intra-regionais, e ten<strong>de</strong>m a diminuir à medida que passamos <strong>de</strong> regiões<br />

contíguas para regiões não contíguas. Naturalmente que os tráfegos por produto<br />

po<strong>de</strong>rão apresentar perfis territoriais diversificados em que aquela característica não<br />

seja observada. Uma avaliação mais <strong>de</strong>talhada permitirá respon<strong>de</strong>r a essa questão e<br />

ajudar a melhor <strong>de</strong>cidir sobre os procedimentos a adoptar.


Figura 2.1<br />

Peso do transporte rodoviário <strong>de</strong> mercadorias inter-regional no transporte intraregional<br />

2007 - origens<br />

1,000<br />

0,800<br />

0,600<br />

0,400<br />

0,200<br />

0,000<br />

Fonte: DPP baseado em ITR/INE<br />

Figura 2.2<br />

Peso do transporte rodoviário <strong>de</strong> mercadorias inter-regional no transporte intraregional<br />

2007 - <strong>de</strong>stinos<br />

1,000<br />

0,800<br />

0,600<br />

0,400<br />

0,200<br />

0,000<br />

Fonte: DPP baseado em ITR/INE<br />

9<br />

Algarve<br />

Alentejo<br />

Lisboa<br />

Centro<br />

Norte<br />

Algarve<br />

Alentejo<br />

Lisboa<br />

Centro<br />

Norte<br />

Norte<br />

Centro<br />

Lisboa<br />

Alentejo<br />

Algarve<br />

Norte<br />

Centro<br />

Lisboa<br />

Alentejo<br />

Algarve


Para aferição dos fluxos inter-regionais estimados segundo a metodologia que se<br />

propõe, po<strong>de</strong>-se estipular que os mesmos <strong>de</strong>vem assegurar que o saldo <strong>de</strong> r daí<br />

resultante, iguale o saldo que resulta do diferencial entre recursos e empregos da<br />

região r, antes da <strong>de</strong>terminação das exportações e importações inter-regionais.<br />

Admite-se, assim, que as reexportações inter-regionais são nulas.<br />

Deste modo, consi<strong>de</strong>rando o total <strong>de</strong> exportações <strong>de</strong> i, <strong>de</strong> r para as outras regiões<br />

como sendo<br />

10<br />

(Eq. 2.10)<br />

e o total <strong>de</strong> importações <strong>de</strong> i por r, provenientes das outras regiões, como sendo<br />

tem que se garantir que, para cada produto i,<br />

(Eq. 2.11)<br />

(Eq. 2.12)<br />

em que correspon<strong>de</strong> à produção <strong>de</strong> i em r, correspon<strong>de</strong> à importação<br />

internacional <strong>de</strong> i por r, correspon<strong>de</strong> ao total <strong>de</strong> margens inci<strong>de</strong>ntes no produto i na<br />

região r e correspon<strong>de</strong> à procura <strong>de</strong> i interna da região r estimada com a equação<br />

2.8.<br />

Uma vez que, como vimos acima, o cálculo dos fluxos inter-regionais é <strong>de</strong>terminado e<br />

<strong>de</strong>termina a procura regional do produto i, a aplicação <strong>de</strong> todo o algoritmo <strong>de</strong> cálculo<br />

dos fluxos inter-regionais tem <strong>de</strong> ser efectuada <strong>de</strong> forma iterativa e os ajustamentos<br />

com as margens previamente fixadas tem <strong>de</strong> ser feito por procedimento RAS ou outro<br />

semelhante.<br />

Porque o RAS não é aplicável a diferenças, o procedimento a seguir <strong>de</strong>verá ser o<br />

apresentado na secção seguinte, consi<strong>de</strong>rando-se os como correspon<strong>de</strong>ndo aos<br />

recursos totais do ramo j e o como correspon<strong>de</strong>ndo aos empregos do produto i.<br />

Haverá, no entanto, que garantir, no caso dos fluxos inter-regionais, que o total <strong>de</strong><br />

importações inter-regionais <strong>de</strong> cada produto tem <strong>de</strong> igualar o total <strong>de</strong> exportações<br />

inter-regionais <strong>de</strong>sse mesmo produto, o que significa introduzir uma restrição <strong>de</strong><br />

compatibilida<strong>de</strong> inter-regional diferente da aplicada às restantes colunas da matriz.<br />

Não está no âmbito do projecto DPP, na primeira fase, proce<strong>de</strong>r à sectorialização dos<br />

fluxos inter-regionais, <strong>de</strong>terminando os sectores <strong>de</strong> origem e <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> cada fluxo<br />

inter-regional – fluxos intersectoriais inter-regionais (IRIO – Interregional Input-output).<br />

Para a estimação <strong>de</strong>sses fluxos há procedimentos sofisticados, nomeadamente os que<br />

envolvem a programação quadrática ou funções <strong>de</strong> entropia (Canning e Wang, 2005)<br />

que, partindo <strong>de</strong> estimativas iniciais <strong>de</strong>sses fluxos, visam garantir a sua coerência com<br />

o sistema multi-regional na sua globalida<strong>de</strong> e permitem atenuar o problema da<br />

explosão dimensional que po<strong>de</strong> ocorrer quando, nas aplicações reais, se acrescentam<br />

os fluxos intersectoriais inter-regionais aos sistemas multi-regionais. Trata-se <strong>de</strong><br />

metodologias a explorar no caso da extensão do projecto do sistema multi-regional do<br />

DPP àqueles fluxos.


3. Níveis <strong>de</strong> consistência nos sistemas multi-regionais: problemática e<br />

métodos<br />

O RAS constitui um procedimento, já muito disseminado, <strong>de</strong> ajustamento biproporcional<br />

<strong>de</strong> matrizes, visando minimizar os <strong>de</strong>svios entre as somas em linha e em<br />

coluna <strong>de</strong> uma matriz e as margens tomadas como objectivo para a matriz que se<br />

preten<strong>de</strong> apurar. Trata-se <strong>de</strong> um procedimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> na construção <strong>de</strong><br />

matrizes <strong>de</strong> input-output. Aplica-se a matrizes bidimensionais, e segue um<br />

procedimento iterativo <strong>de</strong> ajustamento proporcional, alternadamente em linha e em<br />

coluna, até os referidos <strong>de</strong>svios se reduzirem para níveis consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong>sprezíveis.<br />

Reunindo as condições <strong>de</strong> convergência, os <strong>de</strong>svios que se vão obtendo em cada<br />

iteração vão ten<strong>de</strong>ndo para zero.<br />

O RAS não é totalmente estranho aos procedimentos <strong>de</strong> programação quadrática e <strong>de</strong><br />

entropia, como referem (Canning e Wang, 2005) ao escreverem que the entropy<br />

function is motivated from the information theory and is the objective function<br />

un<strong>de</strong>rlying the wellknown RAS procedure e que, no caso da solução quadrática, When<br />

the initial estimates are taken as the weights, solution of the mo<strong>de</strong>l gives a weighted<br />

constrained least-square estimator, which is … a good approximation of the RAS<br />

solution.<br />

No caso dos mo<strong>de</strong>los multi-regionais surge a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se proce<strong>de</strong>r a<br />

ajustamentos matriciais em sistemas tridimensionais, uma vez que, para além <strong>de</strong> se<br />

ter <strong>de</strong> garantir o equilíbrio interno a cada matriz regional do sistema, tem que se<br />

garantir a consistência dos fluxos <strong>de</strong> cada matriz regional com os fluxos homólogos da<br />

matriz nacional. Em termos muito simples, e como se referiu já na secção anterior, tem<br />

que se garantir que fluxo nacional tem <strong>de</strong> ser igual à soma dos fluxos regionais<br />

homólogos, isto é:<br />

11<br />

(Eq. 3.1)<br />

O algoritmo que se apresenta <strong>de</strong> seguida constitui uma solução para este problema e<br />

<strong>de</strong>signamo-lo <strong>de</strong> RAS por ciclos a dois tempos uma vez que, iterativamente, em<br />

cada ciclo se proce<strong>de</strong> sequencialmente:<br />

a um ajustamento inter-regional intra-sectorial, em que, para cada sector, se<br />

estabelece a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre o somatório dos fluxos regionais e o<br />

correspon<strong>de</strong>nte fluxo nacional, como se ilustra na equação 3.1; e,<br />

a um ajustamento intra-regional intersectorial, em que cada matriz regional é<br />

tornada consistente com as margens que lhe são previamente fixadas, isto é:<br />

e .<br />

A figura 3.1 ilustra este processo, e na figura 3.2 proce<strong>de</strong>-se a uma explicitação da sua<br />

aplicação a um sistema matricial a dois sectores e duas regiões. Havendo<br />

convergência matricial em cada tempo <strong>de</strong> cada ciclo, haverá convergência entre<br />

tempos.


Para aplicar este procedimento <strong>de</strong> RAS, parte-se da estimativa inicial da<br />

regionalização <strong>de</strong> cada uma das colunas da matriz (1º tempo do 1º ciclo) e no segundo<br />

tempo proce<strong>de</strong>-se à composição da matriz <strong>de</strong> cada região e, com o RAS, proce<strong>de</strong>-se<br />

ao seu ajustamento <strong>de</strong> modo a garantir a consistência em linha salvaguardando a<br />

consistência em coluna. No 1º tempo do ciclo 2, recompõem-se as matrizes interregionais<br />

por ramo e, através do RAS, proce<strong>de</strong>-se à compatibilização <strong>de</strong> cada uma<br />

com a respectiva coluna da matriz nacional, salvaguardando a sua consistência em<br />

coluna.<br />

Genericamente, em cada ciclo t, reequilibra-se a matriz inter-regional <strong>de</strong> cada ramo<br />

herdada do ciclo t-1, tornando a soma das suas colunas (as regiões) idêntica à coluna<br />

homónima da matriz nacional, <strong>de</strong>sequilibrando cada matriz regional. No 2º tempo,<br />

recompõe-se a matriz <strong>de</strong> cada região com as matrizes inter-regionais <strong>de</strong> cada ramo, e<br />

proce<strong>de</strong>-se, através do RAS, ao seu ajustamento <strong>de</strong> modo a que as somas em linha e<br />

coluna gerem o mesmo valor para cada produto e ramo homónimos (equilíbrio <strong>de</strong> input<br />

e <strong>de</strong> output), rompendo a condição <strong>de</strong> equilíbrio inter-regional em cada ramo.<br />

Por conseguinte, o processo assenta numa alternância <strong>de</strong> equilíbrios – <strong>de</strong>sequilíbrios<br />

que ten<strong>de</strong>m a ser progressivamente menores: estabelece-se o equilíbrio inter-regional<br />

intra-sectorial rompendo o equilíbrio intra-regional intersectorial; restabelece-se este<br />

último rompendo o primeiro, e assim sucessivamente.<br />

Respeitadas as condições <strong>de</strong> convergência 5 , os vectores <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio entre a matriz e as<br />

margens objectivo no final <strong>de</strong> cada tempo <strong>de</strong> cada iteração, ten<strong>de</strong>rão para zero. Feito<br />

um número <strong>de</strong> ciclos suficiente, os <strong>de</strong>svios serão marginais e po<strong>de</strong>rão ser<br />

<strong>de</strong>sprezados.<br />

Na figura 3.2, as setas a vermelho indicam a dimensão em que, no tempo anterior se<br />

reintroduziram discrepâncias que <strong>de</strong>vem ser anuladas com a aplicação do RAS nesse<br />

tempo.<br />

Este procedimento foi aplicado na matriz dos Açores (Alves, Martins et al, 2004) a uma<br />

situação (o apuramento <strong>de</strong> outputs por produto e <strong>de</strong> inputs por subsector do sector<br />

primário, para os Açores e para o Resto do País) um pouco mais complexa no sentido<br />

em que não se verificava a igualda<strong>de</strong> entre inputs e outputs em cada matriz, impondo<br />

assim que cada ciclo comportasse três tempos. Certamente que, trabalhando a sete<br />

regiões e várias <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> sectores o cálculo torna-se mais pesado e, por isso, mais<br />

exigente em termos informáticos. Simultaneamente, a aplicação concreta do método<br />

exige várias truncagens (<strong>de</strong> todos os elementos que se <strong>de</strong>vam consi<strong>de</strong>rar fixos) e a<br />

resolução dos problemas <strong>de</strong> convergência em presença <strong>de</strong> fluxos negativos. Não<br />

trataremos aqui <strong>de</strong>ssas questões. Há também a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um procedimento<br />

específico para os fluxos inter-regionais, como <strong>de</strong>corre do exposto na secção anterior.<br />

Cabe, no entanto, referir que no caso dos fluxos negativos se po<strong>de</strong> recorrer à<br />

segmentação da matriz a ajustar em duas, uma <strong>de</strong> valores positivos e outra <strong>de</strong> valores<br />

negativos. Trata-se do método GRAS <strong>de</strong>senvolvido por Junius e Oosterhaven (2003)<br />

referido por Lenzen, Gallego e Wood (2008). Estes autores propõem uma extensão do<br />

5 Que po<strong>de</strong> ser impossibilitada nos casos <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> valores negativos e <strong>de</strong> insuficiente<br />

preenchimento da matriz <strong>de</strong> partida face às margens objectivo estabelecidas. Para além disso, as margens<br />

<strong>de</strong>vem ser estabelecidas com valores pontuais, não admitindo <strong>de</strong>finições por intervalos (Lenzen, Gallego<br />

e Wood, 2008, referindo Taracon e Del Rio, 2005)<br />

12


GRAS, que <strong>de</strong>signam por KRAS, com que preten<strong>de</strong>m evitar a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acertos<br />

manuais na truncagem. A solução proposta, que não cabe aqui <strong>de</strong>senvolver, baseia-se<br />

na já referida analogia do RAS à minimização <strong>de</strong> uma função <strong>de</strong> entropia.<br />

Figura 3.1<br />

Ajustamento matricial biproporcional num procedimento cíclico a dois tempos<br />

13


Figura 3.2<br />

Aplicação do ajustamento matricial biproporcional num procedimento cíclico a dois<br />

tempos, a uma economia a duas regiões e dois sectores<br />

14


4. Conclusões<br />

A estimação <strong>de</strong> matrizes multi-regionais é muito exigente em informação, e apresenta,<br />

entre outros, dois gran<strong>de</strong>s problemas: os fluxos inter-regionais, especialmente se<br />

forem, simultaneamente intersectoriais (matrizes <strong>de</strong> relações intersectoriais interregionais)<br />

e a compatibilização entre diferentes tipos <strong>de</strong> matrizes e níveis territoriais<br />

(consistência matricial).<br />

Para a estimação dos fluxos inter-regionais, vários tipos <strong>de</strong> soluções têm sido<br />

<strong>de</strong>senvolvidas. Umas, menos exigentes em informação estatística, têm o<br />

inconveniente <strong>de</strong> assentarem numa perspectiva <strong>de</strong> comércio inter-sectorial quando a<br />

abertura das economias tem acentuado o carácter intra-sectorial do comércio externo.<br />

Outras, porventura com resultados mais interessantes, são muito mais exigentes em<br />

informação o que as torna inviáveis nos países com sistemas estatísticos mais fracos<br />

nesta perspectiva.<br />

Neste texto, apresenta-se uma proposta que assenta na exploração da solução <strong>de</strong><br />

Leontief e Strout, introduzindo parâmetros <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lação da oferta e procura regional<br />

<strong>de</strong> comércio inter-regional, e propondo uma solução para a <strong>de</strong>terminação prévia da<br />

procura regional <strong>de</strong> cada produto que sirva como base para a primeira iteração da<br />

estimação dos fluxos inter-regionais <strong>de</strong> comércio por produto, quantificados por origem<br />

e <strong>de</strong>stino. Trata-se <strong>de</strong> um procedimento ainda não testado, mas que se prevê que o<br />

venha a ser no âmbito do projecto <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> matrizes regionais<br />

para as sete regiões NUTS II nacionais, em curso no <strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Prospectiva</strong> e<br />

<strong>Planeamento</strong> do MAOT.<br />

Relativamente à consistência matricial, preconiza-se uma aplicação do RAS por ciclos<br />

a dois tempos, em que alternadamente se proce<strong>de</strong> ao ajustamento inter-regional <strong>de</strong><br />

cada ramo das matrizes regionais, compatibilizando-as com a matriz nacional, e ao<br />

ajustamento <strong>de</strong> cada matriz regional, compatibilizando-a com as respectivas margens.<br />

Trata-se <strong>de</strong> um procedimento já aplicado, noutra dimensão, na matriz regional dos<br />

Açores <strong>de</strong> 1998.<br />

5. Referências bibliográficas<br />

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15


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