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Coletânea Prosa.pmd - Fundação Guimarães Rosa

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I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO<br />

GUIMARÃES ROSA”/2006.<br />

COLETÂNEA DAS PROSAS CLASSIFICADAS E PREMIADAS<br />

(ORGANIZADA POR JOÃO BOSCO DE CASTRO).<br />

Alunos Premiados:<br />

Jonathan de Freitas Souza<br />

e Dayse Nayara dos Santos.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 1<br />

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2<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 2<br />

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FUNDAÇÃO GUIMARÃES ROSA.<br />

I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO<br />

GUIMARÃES ROSA”/2006.<br />

COLETÂNEA DAS PROSAS CLASSIFICADAS E PREMIADAS<br />

(ORGANIZADA POR JOÃO BOSCO DE CASTRO).<br />

Alunos Premiados:<br />

Jonathan de Freitas Souza<br />

e Dayse Nayara dos Santos.<br />

Editora O Lutador.<br />

Belo Horizonte-MG, Brasil.<br />

2006.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 3<br />

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Direitos Autorais: patrimoniais, da <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>;<br />

morais ou intelectuais, dos autores classificados e premiados.<br />

Capa: André Ferreira Santos, com engenhos armoriais de João Bosco<br />

de Castro.<br />

Editoração e Arte-Finalização: Jornalista Ana Lívia Azevedo Castro e<br />

1º Sgt. PM Antônio Geraldo Alves Siqueira.<br />

Planejamento, organização e coordenação de editoração e artefinalização:<br />

João Bosco de Castro.<br />

Revisão: dos textos classificados e premiados: Professora Sílvia de<br />

Lourdes Araújo Motta;<br />

dos conteúdos pré-textuais e pós-textuais: João Bosco de<br />

Castro.<br />

Coadjuvação Editoral: Jornalista Juliana Leonel Peixoto.<br />

Tiragem: mil e quinhentos exemplares.<br />

Ficha Catalográfica*:<br />

4<br />

C694 <strong>Coletânea</strong> das <strong>Prosa</strong>s Classificadas (<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, I<br />

Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”<br />

/2006). João Bosco de Castro (org.). Belo Horizonte-MG:<br />

O Lutador, 2006. 112p.<br />

Autores premiados: Jonathan de Freitas Souza e<br />

Dayse Nayara dos Santos.<br />

Prefaciada por João Bosco de Castro.<br />

1. História da Literatura Brasileira. 2. Biobibliografia de João<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, prosa literocientífica __ coletânea. I. Castro, João Bosco<br />

de. II. Souza, Jonathan de Freitas. III. Santos, Dayse Nayara dos. IV. <strong>Fundação</strong><br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />

CDD __ 3B 869.8<br />

* Elaborada por Rita Lúcia de Almeida Costa, CRB 6 ª R1730.<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 4<br />

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I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />

“JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2006.<br />

Curador:<br />

<strong>Prosa</strong>dor e Crítico Professor João Bosco de Castro<br />

(da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas<br />

Literárias, Cadeira n o 6).<br />

Julgadores de Texto:<br />

<strong>Prosa</strong>dor e Crítico Professor João Bosco de Castro;<br />

Professor Capitão Giovanni Franco, da Academia de<br />

Polícia Militar da PMMG;<br />

Professora Sílvia de Lourdes Araújo Motta,<br />

Presidenta do Clube Brasileiro da Língua<br />

Portuguesa.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>:<br />

Superintendente-Geral: Álvaro Antônio Nicolau;<br />

Superintendente Operacional: Pedro Seixas da<br />

Silva;<br />

Gerente do Departamento Social: Zílton Ribeiro<br />

Patrocínio.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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SUMÁRIO<br />

Resultado do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica<br />

“João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/2006 ....................................<br />

Prefácio, por João Bosco de Castro ................................... 11<br />

Textos Classificados e Premiados ...................................<br />

Primeiro Lugar:<br />

O Genial: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, de Minas para o Mundo,<br />

de Jonathan de Freitas Souza ....................................<br />

Segundo Lugar:<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Vida e Obra: Análise Profunda<br />

de Sua Importância, de Dayse Nayara dos Santos ......<br />

Regulamento e Atos do I Concurso de <strong>Prosa</strong><br />

Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”2006 ................<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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RESULTADO DO I CONCURSO DE PROSA<br />

LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES<br />

ROSA”/2006.<br />

Identificação de Autores.<br />

O Gerente do Departamento Social da <strong>Fundação</strong><br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> e o Curador do I Concurso de <strong>Prosa</strong><br />

Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>” / 2006, de acordo<br />

com § 2º do art. 5º do Regulamento do mesmo Certame,<br />

identificaram os autores mais bem-classificados em tal<br />

Concurso Literocientífico, de acordo com o resultado<br />

exarado pela competente Comissão Julgadora, da<br />

seguinte forma:<br />

Primeiro Lugar:<br />

Autor: JONATHAN DE FREITAS SOUZA (do<br />

Colégio Tiradentes Nossa Senhora das Vitórias /<br />

PMMG – Belo Horizonte).<br />

Texto: O Genial: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, de Minas<br />

para o Mundo.<br />

Segundo Lugar:<br />

Autora: DAYSE NAYARA DOS SANTOS (do<br />

Colégio Tiradentes Nossa Senhora das Vitórias /<br />

PMMG – Belo Horizonte).<br />

Texto: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Vida e Obra: Análise<br />

Profunda de Sua Importância.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 10<br />

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PREFÁCIO.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

João Bosco de Castro * .<br />

Esta <strong>Coletânea</strong> publica os textos vencedores do I<br />

Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>” /<br />

2006, empreendido pela <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />

estabelecida em Belo Horizonte-MG.<br />

Desse importantíssimo Certame poderiam participar<br />

Discentes do Ensino Médio de todo o Brasil, com a inscrição<br />

de prosa literocientífica de média extensão acerca da vida e<br />

obra do Escritor Mineiro João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />

Eis os dois textos vencedores do Concurso e integrantes<br />

deste Livro:<br />

Primeiro Lugar: O Genial: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, de Minas<br />

para o Mundo (de Jonathan de Freitas Souza, aluno<br />

do Ensino Médio do Colégio Tiradentes da Polícia<br />

Militar − Nossa Senhora das Vitórias − de Belo<br />

Horizonte, Prado);<br />

Segundo Lugar: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Vida e Obra:<br />

Análise Profunda de Sua Importância (de Dayse<br />

Nayara dos Santos, aluna do Ensino Médio do<br />

Colégio Tiradentes da Polícia Militar − Nossa<br />

Senhora das Vitórias - de Belo Horizonte, Prado).<br />

* Presidente do Conselho Superior da Academia de Letras “João<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”, da PMMG. Titular da Cadeira n o 6 da Academia<br />

Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias. Tenente-Coronel,<br />

Professor do Sistema de Educação de Polícia Militar de Minas Gerais.<br />

Curador do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006, pela <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />

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Malgrado o reduzido índice de textos inscritos para<br />

avaliação __ provavelmente pela complexidade e elevado nível<br />

de exigências técnico-formais da prosa literocientífica! __ , o<br />

Certame bem-cumpriu seu principal desiderato: o melhoramento<br />

do Aluno de nível médio pela prática da boa-leitura e produção<br />

de texto, segundo os cânones mais consagrados e autênticos<br />

da estrutura erudita da Língua Portuguesa, e a formatação de<br />

relatório simples de pesquisa, de acordo com a essência do<br />

texto axialmente dissertativo.<br />

Elegeu-se o tema Vida e Obra de João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>, não só para reforço da entronização do insuperável<br />

neologista humanizador da natureza e cultura brasileiras, e<br />

arquiteto solene de Grande Sertão: Veredas (seu único<br />

romance, agora cinqüentão!) __ o digno Patrono da <strong>Fundação</strong><br />

promotora deste Concurso Literocientífico __ , mas também para<br />

inserção do mesmo Aluno de nível médio na oficina da crítica<br />

transdimensional pelo traslado da região sertaneja ou rural para<br />

o universo cósmico ou caótico, sob a tutela metafísica da<br />

antropomorfização combinada com a zoomorfização. O cenário<br />

das elaborações rosianas reinventa a metáfora em prosa<br />

(Sagarana, Estas Estórias, Corpo de Baile, Manuelzão e<br />

Miguilim, No Urubuquaquá, no Pinhém, Noites do Sertão,<br />

Primeiras Estórias, Tutaméia e Grande Sertão: Veredas) e<br />

em versos (Magma), mediante a desmontagem e remontagem<br />

dos recursos léxicos, particular e espontaneamente articulados<br />

no domínio da linguagem acima de no da língua, para<br />

autenticidade e consagração dos modos brasileiros de emprego<br />

dos meios lusófonos, na mais profusa interpenetração entre<br />

saberes e sabedorias, entre artes e ofícios populares e<br />

12<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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tradicionais, entre crenças e mitos, entre pessoas e bichos. Isso,<br />

nesta Era dos Signos, Códigos e Linguagens inauguradora de<br />

padrão estético-ideológico mais consentâneo com o rótulo de<br />

Neomodernismo, facilita e remultiplica o exercício de misteres<br />

sinfrônicos indispensáveis ao entendimento do mundo e<br />

compreensão do outro, por meio do não-entendimento e nãocompreensão<br />

do nada.<br />

Esse exercício de misteres sinfrônicos é a chave para<br />

a abertura da interpretação e análise de obra literária,<br />

especialmente da literatura magicamente concebida e tecida<br />

por João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>!, para a formulação metodológica<br />

do juízo literocientífico sobre o texto lido: abundante<br />

expressão e pouquíssima comunicação, mercê da<br />

plurissignificação engendrada pela plástica vocabular da<br />

linguagem estética. A densa literariedade rosiana confirma<br />

essa tese de hermetismo semântico e escancaramento<br />

sugestivo, porque a palavra de <strong>Rosa</strong> é para ser sentida, em<br />

vez de entendida: palavra enfeitiçada e enfeitiçante, avessa<br />

a verbetes, contrária à ortodoxia sintática e metodológica,<br />

viçosa no reino aléxico da enálage, poderosa nos meandros<br />

do transporte de mudanças imagético-sensoriais,<br />

inexpugnável na empreitada recriadora da mimese<br />

oximorosa e do oxímoro mimetoso, estórica e a-histórica<br />

em paraísos da intuitiva supra-realidade, atemporal nos<br />

engenhos da implicitude ambígua da mensagem polissêmica,<br />

diabólica no retempero da analogia fantasiosa com a<br />

fenomenologia irrefletida e irreflexiva, porque palavra<br />

prodigiosa e inexplicável, heterodoxa e bela!<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

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A par dessas boas-intenções, a <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> espera, com esta e outras versões do Concurso de <strong>Prosa</strong><br />

Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”:<br />

1. Enfatizar ao Jovem Brasileiro a importância etnológica<br />

e social da Gramática: a mais profunda essência humana de<br />

toda e qualquer civilização - particularmente em domínio lusobrasileiro<br />

−, a serviço da produção de texto qualitativo.<br />

Somente pode ignorá-la quem não se dá conta da<br />

superioridade comunicativa e expressiva do Homem nem<br />

conhece o real significado de Pátria.<br />

2. Levar o mesmo Jovem à efetiva produção de textos<br />

claros e escorreitos, congruentes e agradáveis, prioritariamente<br />

em prosa objetiva, cujo nível de qualidade privilegie a forma<br />

culta da Língua Portuguesa, mediante processos (dissertativo,<br />

narrativo, descritivo e dialogal) isentos de vícios de linguagem<br />

(solecismo, barbarismo, anfibologia, obscuridade,<br />

preciosismo, redundância, tautologia, hiato, eco, suarabácti,<br />

provincianismo, verbiagem, colisão, cacofonia, prolixidade,<br />

queísmo e andendindondo), em proveito da totalidade<br />

verbal (harmonia entre a forma, o conteúdo, a organização<br />

de idéias e a adequação ao objetivo e ao assunto) e da<br />

estruturação da notícia lingüística espontânea ou<br />

sistemática, observada, na urdidura da prosa informativa, a<br />

primazia comunicativa da ordenação dialética, em qualquer<br />

processo de realização da mensagem verbal concorde com<br />

as funções da linguagem.<br />

3. Estimular o Aluno do Ensino Médio ao devassamento<br />

crítico de produções escritas em Língua Portuguesa, literárias<br />

14<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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e técnico-científicas, especialmente as de autores lusófonos __<br />

particularmente brasileiros e portugueses __ , para tal Discente<br />

exercitar o pensamento, aplicar o raciocínio lógico e verbal,<br />

apreciar articulações estéticas da Palavra subjetiva e<br />

polissêmica, adquirir capacidade global de domínio e emprego<br />

de conhecimentos e estruturas gramaticais e recursos<br />

estilísticos, acumular erudição geral e específica, analisar,<br />

interpretar e reconstruir a realidade com equilíbrio,<br />

fundamentação racional e percepção contextual e sensitiva.<br />

4. Mostrar a esse Aluno a importância e utilidade<br />

socioculturalizante imanentes na boa-leitura.<br />

5. Fazer o Discente do Ensino Médio mais íntimo do<br />

Vernáculo, em intimidade gramatical em vez de gramaticalista<br />

ou gramatiqueira com a Gramática normativo-utilitária, sem<br />

rejeição da Estilística erudita. Isso implica a hegemonia da<br />

clareza embutida na conação frásica sobre a sinergia<br />

expressivo-comunicativo-referencial da mensagem.<br />

6. Introduzir o Aluno em propósitos de autoconfiança,<br />

mercê da prática proveitosa de leitura e redação, para a<br />

maior fluidez do pensamento e a mais desembaraçada<br />

articulação da notícia escrita.<br />

7. Abrir ao Aluno as portas da humanização éticoestética<br />

pela insubstituível leitura sinfrônica, em vez de pela<br />

superficial e restritivista leitura dinâmica, em razão de o Livro<br />

ser a suprema fonte de meios e modos metodológicos de<br />

autocrítica, autotransformação, autodignidade,<br />

autoconfiança, autodoação, auto-educação, auto-estima,<br />

autofelicidade e autonomia pessoal.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 15<br />

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Os dois textos vencedores do I Concurso de <strong>Prosa</strong><br />

Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/2006 e publicados nesta<br />

<strong>Coletânea</strong>, se não lograram o nível de qualidade pretendido<br />

pela respectiva Promotora quanto à totalidade verbal,<br />

principalmente quanto à morfossintaxe e apropriação de meios<br />

estilísticos, ambos representam louváveis esforços intelectuais<br />

dos respectivos Autores, especialmente em termos de<br />

adequação ao assunto, exploração do tema, coerência e<br />

coesão, e capacidade objetiva de pesquisa da vida e obra do<br />

eminente refazedor de códigos lingüísticos: o capitão-mágicodas-letras,<br />

o universal João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, criador de<br />

Magma, Grande Sertão: Veredas e outras Delícias.<br />

Por isso, esses Textos foram aprovados e classificados<br />

pela competente Comissão Julgadora!<br />

16<br />

Por isso, merecem esta publicação especial!<br />

Parabéns à <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, ao Colégio<br />

Tiradentes da PMMG __ Belo Horizonte __ Nossa Senhora das<br />

Vitórias __ Prado e aos Alunos Jonathan de Freitas Souza e<br />

Dayse Nayara dos Santos __ respeitáveis Autores dos Textos<br />

Classificados __ , pelo valioso empreendimento contido nesta<br />

importante <strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica<br />

“João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/2006: exemplo sobranceiro de coparticipação<br />

humanística e socioeducativa.<br />

Belo Horizonte-MG, 27 de junho de 2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 16<br />

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TEXTOS CLASSIFICADOS E PREMIADOS.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

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17


18<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 18<br />

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PRIMEIRO LUGAR.<br />

O Genial:<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, de Minas para o Mundo.<br />

Jonathan de Freitas Souza.<br />

Para falarmos de João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>; aquele célebre<br />

contista, novelista, romancista e diplomata, que foi, e sempre<br />

será, um dos maiores escritores brasileiros que atingiu<br />

repercussão internacional; temos que levar em conta a<br />

revolução literária brasileira que o mesmo proporcionou;<br />

recriando e inventando palavras, adaptando termos e<br />

expressões extraídas de várias línguas modernas e clássicas<br />

antigas; com uma prosa que aprofunda a tendência, à<br />

análise psicológica das personagens, para revelar seus<br />

dramas e angústias, e os problemas comuns de todos os<br />

homens: o destino, a existência ou não de Deus, o significado<br />

da morte, a luta entre o bem e o mal...<br />

Retratando o sertão misticamente; onde o mesmo envolve<br />

os jagunços, os fazendeiros, os cantores, os loucos, os animais,<br />

e até mesmo as crianças; tudo enriquecido pelas lendas e<br />

crendices da cultura popular; faz desse sábio um possuidor<br />

de uma cultura que adquiriu desde os primórdios de sua<br />

vida, que pretendemos expressar com clareza nessa prosa.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 19<br />

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19


A dimensão de seu brilho vai além das fronteiras do<br />

Brasil, onde livros seus foram traduzidos para os mais<br />

importantes idiomas: o francês, o inglês, o italiano, o<br />

espanhol, o alemão. Contudo, podemos concluir que<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> nasceu para brilhar, com uma sabedoria<br />

vasta e diversa.<br />

Tudo começa quando Joãozito, como era chamado pela<br />

família, nasce em Cordisburgo, município sertanejo próximo<br />

a Curvelo e Sete Lagoas, área de fazenda e engorda de<br />

gado; Cordisburgo, conta Vilma, filha de <strong>Guimarães</strong>,<br />

“era a linha reta de uma rua, poucas casas muito<br />

simples, a pequena igreja, um céu puro, muito azul. E<br />

a vastidão dos campos a se estender, sem limites<br />

visíveis.”; a vinte e sete de junho de mil novecentos e<br />

oito; e o interessante é que teve como pia batismal uma<br />

peça singular talhada em milenar pedra calcária,uma<br />

estalagmite arrancada à Gruta de Maquine, responsável<br />

pelo grande fluxo de turistas à sua cidade natal.<br />

Desde pequeno era sossegado, calado, calmo,<br />

observador, singelo, gostava de ler... e, por ser sossegado e<br />

observador, disserta: “Não gosto de falar da infância. É<br />

um tempo de coisas boas, mas sempre com pessoas<br />

grandes incomodando a gente, estragando os prazeres.<br />

Recordando o tempo de criança vejo por lá um excesso<br />

de adultos, todos eles, mesmo os mais queridos, ao<br />

modo de soldados e policiais do invasor, em pátria<br />

ocupada. Fui rancoroso e revolucionário permanente,<br />

então. Já era míope, e nem mesmo eu, ninguém sabia<br />

20<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 20<br />

16/05/08, 09:10


disso. Gostava de estudar sozinho e de brincar de<br />

geografia. Mas tempo bom de verdade só começou<br />

com a conquista de algum isolamento, com a segurança<br />

de poder fechar-me num quarto e fechar a porta.<br />

Deitar no chão e imaginar estórias, poemas, romances,<br />

botando todo mundo conhecido como personagem,<br />

misturando as melhores coisas vistas e ouvidas.”<br />

E relembra, em seguida, algumas de suas distrações<br />

infantis: “Armar alçapões para apanhar sanhaços. Que<br />

maravilha! Puxar sabugos de espigas de milho, feito<br />

boizinhos de carro, brinquedo saudoso: atrelar um<br />

sabugo branco com outro vermelho, e mais uma junta<br />

de bois pretos – sabugos enegrecidos ao fogo. Prender<br />

formiguinhas em ilhas, que era pedras postas num<br />

tanque raso, e unidas por pauzinhos, pontes para<br />

formiguinha passar. Aproveitar um fiozinho d’água,<br />

que vinha do posto das lavadeiras, e mudar-lhe duas<br />

vezes por dia o curso, fazendo-o de Danúbio ou de<br />

São Francisco, ou de Sapakral-lal (velho nome<br />

inventado), com todas as curvas dos ditos, com as<br />

cidades marginais marcadas por grupos de pedrinhas,<br />

tudo isso sob o vôo matinal das maitacas de Nhô<br />

Augusto Matraca, no quintal.”<br />

E conclui em seguida, com uma promessa: “Um dia<br />

ainda hei de escrever um pequeno tratado de brinquedos<br />

para meninos quietos.” A sua posição preferida para a<br />

leitura era sentado no chão, de pernas cruzadas, com o<br />

livro aberto sobre as pernas, curvado até bem próximo<br />

deste e com dois pauzinhos nas mãos, batendo sobre as<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 21<br />

16/05/08, 09:10<br />

21


páginas, ora um, depois o outro, compassadamente, em<br />

ritmo variado, ligeiro ou mais lento, conforme na leitura se<br />

movesse o pensamento. Lembra seu tio, Vicente <strong>Guimarães</strong>,<br />

dois anos apenas mais velho que <strong>Rosa</strong>.<br />

Essa preocupação com o ritmo do discurso, desde cedo<br />

manifestada, ajudaria a compor, mais tarde, juntamente com<br />

outros atributos, a magistral prosa-poética rosiana. E, por<br />

conta de ler curvado até bem próximo dos livros, o Dr.<br />

Lourenço, do Curvelo, descobriu a miopia do garoto.<br />

Situação relatada mais tarde, no episódio final da novela<br />

Campo Geral, a esplêndida novela de abertura de Corpo<br />

de Baile, que nos traz muito do ambiente de meninice do<br />

escritor onde se detém na investigação da intimidade de<br />

uma família isolada no sertão, destacando-se a figura do<br />

menino Miguelim e o seu desajuste em relação ao grupo<br />

familiar; surge como uma fábula do despertar do<br />

autoconhecimento e da apreensão do mundo exterior, onde<br />

o esplendor de um mundo surgido de repente através dos<br />

óculos, se entrosa, perfeitamente, com as confissões do<br />

escritor na mesma entrevista. Mas, só em Belo Horizonte,<br />

aos nove anos incompletos, <strong>Rosa</strong> começa a usar óculos.<br />

Primeiro dos seis filhos de D. Francisca <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />

conhecida como Da. Chiquitinha, e de Florduardo Pinto <strong>Rosa</strong>,<br />

mais conhecido por “Seu Fulô”, abastado negociante e<br />

contador de estórias. Florduardo tinha uma venda, que era<br />

freqüentada pela gente sertaneja, especialmente por<br />

vaqueiros que conduziam boiadas a Cordisburgo para<br />

embarque nos trens da Central do Brasil com destino a<br />

Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo; e a seu<br />

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<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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contragosto, Joãozito ficava a escutar a um canto do<br />

estabelecimento as conversas e as estórias contadas pelos<br />

vaqueiros enquanto comiam, bebiam e descansavam. Mais<br />

tarde, porém, “Seu Fulô”, homem de escasso estudo mas<br />

em compensação dotado de inteligência aguda e memória<br />

louvável, em muito contribuiria para a elaboração dos<br />

livros do primogênito, fornecendo-lhe rico material<br />

representado por estórias, casos, relatos de caçadas,<br />

cantigas, informação sobre crimes e demandas, e muitas<br />

outras coisas vistas e ouvidas na roça.<br />

O nome do pai, de origem germânica – Frod (prudente)<br />

e Hard (forte); e o nome da cidade natal, que presta uma<br />

homenagem ao padroeiro Sagrado Coração de Jesus, já<br />

que Cordis significa coração e Burgo significa cidade;<br />

por sua sonoridade, sua força sugestiva e sua origem,<br />

podem desde cedo ter despertado a curiosidade do<br />

menino do interior, estimulando-o a se preocupar com a<br />

formação das palavras e com seu significado, onde não<br />

surpreenderia ser tivessem sido invenção do próprio<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, que sempre demonstrou profundo<br />

interesse pela natureza, por bichos e plantas, pelos<br />

sertanejos e pelo estudo de línguas.<br />

Com menos de sete anos, inicia seus estudos primários<br />

com Mestre Candinho, em Cordisburgo, e começa a estudar<br />

francês sozinho, por conta própria; quando ganha de um<br />

viajante, amigo de seu pai, uma gramática e um dicionário<br />

para ler revistas francesas que chega à cidade; mas somente<br />

com a chegada do Frei Esteves, frade franciscano, dá<br />

continuação ao Francês, e aos seis anos ler o primeiro<br />

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livro em francês, Les Femmes qui Aiment. Sempre foi<br />

aluno excelente, surpreendendo os professores pela<br />

inteligência e aplicação.<br />

Seus primeiros textos foram jornais feitos à mão,<br />

escritos quase sempre em folhas de papel de embrulho da<br />

venda do pai, sendo ele o diretor e único redator. Cada<br />

número trazia artigo, conto, noticiário, seção humorística e<br />

crítica de costumes sociais. Nenhum exemplar foi guardado.<br />

Também escrevia cartas para os irmãos, com charadas cheias<br />

de logogrifos, desenhos horográficos que irá manter por<br />

toda a vida, dando futuramente as indicações para Poty, o<br />

ilustrador de seus livros.<br />

Segundo seu “Dom”, dissera uma vez: “Desde menino,<br />

muito pequeno, eu brincava de imaginar intermináveis<br />

estórias, verdadeiros romances; quando comecei a<br />

estudar Geografia – matéria de que sempre gostei –<br />

colocava os personagens e cenas nas mais variadas<br />

cidades e países. Mas, escrever mesmo, só comecei foi<br />

em mil novecentos e vinte e nove, com alguns contos,<br />

que naturalmente, não valem nada. Até essa ocasião<br />

(vinte e um anos), eu só me interessava, e intensamente,<br />

pelo estudo, da Medicina e da Biologia.”.<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> viveu em Cordisburgo durante quase<br />

os seus primeiros dez anos de vida, onde em mil novecentos<br />

e dezoito vai morar com o avô e padrinho Luís <strong>Guimarães</strong>,<br />

em Belo Horizonte, onde foi matriculado no primeiro ano<br />

ginasial do Colégio Arnaldo, onde estudaram também Carlos<br />

Drummond de Andrade e Gustavo Capanema; o Colégio,<br />

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de padres alemães, fez com que imediatamente, iniciasse o<br />

estudo do alemão, que aprendeu em pouco tempo. Antes<br />

dos dezesseis, <strong>Rosa</strong> obtém licença para freqüentar a<br />

Biblioteca da Cidade de BH, que embora o seu grande<br />

amor era o estudo, não desprezava os esportes,<br />

principalmente futebol, mas foram as línguas a sua principal<br />

paixão: estuda-as com dedicação, sem se descuidar das<br />

respectivas gramáticas; outra matéria de sua predileção foi<br />

a História Natural.<br />

Dos dez aos quatorze anos colecionou insetos,<br />

borboletas; amava os animais, aprendeu a conhecê-los<br />

intimamente, e a sua obra mostra bem os profundos<br />

conhecimentos que tem da matéria. Quando ia a Cordisburgo,<br />

pelas férias, explorava os matos, à procura de cobras.<br />

Lia bastante, tendo conhecido Euclides da Cunha, autor<br />

de Os Sertões, ainda nos bancos escolares. Entretanto, o<br />

estilo árido, difícil para a sua idade, fazia-o pular páginas,<br />

amortecia-lhe o interesse. Só muito mais tarde, quando<br />

Sagarana já se encontrava em provas, é que o releu<br />

devidamente.<br />

Em mil novecentos e vinte cinco, terminados os<br />

preparatórios, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> matricula-se na Faculdade<br />

de Medicina de Minas Gerais, com apenas dezesseis anos.<br />

Segundo depoimento do Dr. Ismael de Faria, colega de<br />

turma do escritor, quando cursavam o segundo ano, em<br />

mil novecentos e vinte seis, ocorreu a morte de um<br />

estudante de Medicina, de nome Oseas, vitimado pela<br />

febre amarela; o corpo do estudante foi velado no<br />

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anfiteatro da Faculdade. Estando Ismael de Faria junto ao<br />

caixão do desventurado Oseas, teve a oportunidade de<br />

ouvir a comovida exclamação de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>: “As<br />

pessoas não morrem, ficam encantadas”, que seria<br />

repetida quarenta e um anos depois por ocasião de sua<br />

posse na Academia Brasileira de Letras.<br />

Durante o curso médico conheceu no hospital da Santa<br />

Casa de Belo Horizonte, o Dr. Juscelino Kubitschek de<br />

Oliveira, de quem se tornou bom amigo. A propósito dele,<br />

dizia <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> ao seu amigo o romancista e<br />

Professor Geraldo França de Lima: “Jamais uma pessoa<br />

me tratou tão bem.”<br />

Sua estréia nas letras se deu em mil novecentos e<br />

vinte e nove, por necessidade financeira e ainda como<br />

estudante, quando escreve quatro contos: Caçador de<br />

Camurças, Chronos Kai Anagke, título grego, significando<br />

Tempo e Destino, O mistério de Highmore Hall e Makiné<br />

para um concurso promovido pela revista O Cruzeiro.<br />

Todos os contos foram premiados e publicados com<br />

ilustrações em mil novecentos e vinte e nove e mil<br />

novecentos e trinta, alcançando o autor seu objetivo, que<br />

era o de ganhar a recompensa nada desprezível de cem<br />

mil réis. (um total de quatrocentos mil réis). Chegou a confessar,<br />

depois, que nessa época escrevia friamente, sem paixão,<br />

preso a modelos alheios. Seja como for, essa primeira<br />

experiência literária de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> não poderia dar<br />

uma idéia de sua produção futura, confirmando suas próprias<br />

palavras em um dos prefácios de Tutaméia: “Tude se<br />

finge, primeiro; germina autêntico é depois.”<br />

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Em vinte e sete de junho de mil novecentos e trinta, ao<br />

completar vinte e dois anos, casa-se com Lígia Cabral<br />

Penna, então com apenas dezesseis anos. Ainda nesse ano,<br />

forma-se em Medicina, tendo sido o orador da turma,<br />

escolhido por aclamação pelos trinta e cinco colegas. Seu<br />

padrinho foi o Prof. Samuel Libânio e os professores<br />

homenageados foram David Rabelo, Octaviano de Almeida,<br />

Octávio Magalhães, Otto Cirne, Rivadávia de Gusmão e<br />

Zoroastro Passos.<br />

O discurso de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, publicado no jornal<br />

“Minas Geraes” de vinte e dois e vinte e três de dezembro<br />

de mil novecentos e trinta, já denunciava, entre outras<br />

coisas, o grande interesse lingüístico e a cultura literária<br />

clássica de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, que começa sua oração<br />

argumentando com uma “lição da natureza”: “Quando o<br />

excesso de seiva levanta a planta jovem a escalar o<br />

espaço, só á custa de troncos alheios logra ela chegar<br />

á altura – faltando-lhe as raízes, que somente os<br />

anos soem improvisar, restar-lhe-á apenas o epiphytismo<br />

das orchideas.<br />

Tal a lição da natureza que faz com que a nossa<br />

turma não vos traga pela minha boca a discussão de<br />

um tema científico, nem ponha nesta despedida tese<br />

alguma de medicina aplacada, que oscilaria, aliás,<br />

inevitavelmente, entre a parolagem incolor dos<br />

semidoutos e o plágio ingênuo dos compiladores.”<br />

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Um ano depois, formado e casado, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

vai exercer a profissão de médico em Itaguara, pequena<br />

cidade que pertencia ao município de Itaúna, Minas Gerais,<br />

onde permanece cerca de dois anos. Relaciona-se com a<br />

comunidade, até mesmo com raizeiros e receitadores,<br />

reconhecendo sua importância no atendimento aos pobres<br />

e marginalizados, a ponto de se tornar grande amigo de<br />

um deles, de nome Manoel Rodrigues de Carvalho, mais<br />

conhecido por “seu Nequinha”, que morava numa “caverna”<br />

enfurnado entre morros, num lugar conhecido por Sarandi.<br />

Espírita, “Seu Nequinha” parece ter sido o inspirador da<br />

figura do Compadre meu Quelemém, espécie de oráculo<br />

sertanejo, personagem de “Grande Sertão: Veredas.”<br />

<strong>Guimarães</strong> revela-se um profissional dedicado, espeitado,<br />

famoso pela precisão dos seus diagnósticos. O período em<br />

Itaguara influi decisivamente em sua carreira literária. Para<br />

chegar aos pacientes, desloca-se a cavalo. Inspirado pela terra,<br />

costumes, pessoas e acontecimentos do cotidiano, <strong>Guimarães</strong><br />

inicia suas anotações, colecionando terminologias, ditos e falas<br />

do povo, que distribui pelas histórias que já escreve.<br />

Perder um doente, era para ele, particularmente, algo de<br />

trágico. E uma vez em que isso aconteceu ficou aflitíssimo,<br />

sem saber que solução tomar. O padre já esperava ao lado do<br />

morto, para encomendar-lhe o corpo, e <strong>Rosa</strong> ainda lhe aplicava<br />

injeções sobre injeções, como se pretendesse ressuscitá-lo.<br />

Foi uma noite de agonia. Em casa, mais tarde, o futuro<br />

escritor fechou-se no quarto, sem querer jantar, imaginando<br />

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epresálias por parte dos parentes e amigos do morto, quem<br />

sabe um linchamento. Soube depois que a preocupação era<br />

inteiramente infundada, e que todos haviam reconhecido que<br />

ele fizera o impossível.<br />

Diante de sua incapacidade de por fim às dores e aos<br />

males do mundo numa cidade que não tinha nem energia<br />

elétrica, segundo depoimento de Vilma, o autor, sensível<br />

como era, acaba por afastar-se da Medicina; onde<br />

contribuiu também para isso o fato de o escritor ter que<br />

assistir o parto de sua mulher; isso porque o farmacêutico<br />

de Itaguara, Ary de Lima Coutinho, e seu irmão, médico<br />

em Itaúna, Antônio Augusto de Lima Coutinho, chamados<br />

com urgência pelo aflito Dr. <strong>Rosa</strong>, só chegaram quando<br />

tudo já estava resolvido. E ainda é Vilma quem relata que<br />

sua mãe chegou a se esquecer das contrações para<br />

apenas se preocupar com o marido que chorava<br />

convulsivamente.<br />

Duas coisas impressionavam o <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> médico:<br />

o parto e a incapacidade de salvar as vítimas da lepra.<br />

Duas coisas opostas, mas de grande significado para ele.<br />

Segundo Vilma, que lançou na década de oitenta o livro<br />

Relembramentos, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Meu Pai, uma<br />

coletânea de discursos, cartas e entrevistas concedidas<br />

pelo escritor; ele passava horas estudando, queria aprender,<br />

rapidamente, a estancar o fluxo do sofrimento humano,<br />

que logo constatou que seria uma missão difícil, se não<br />

impossível. A falta de recursos médicos e o transbordamento<br />

de sua emotividade impediram que ele prosseguisse a carreira<br />

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de médico. Mas, para a filha, João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> nasceu<br />

mesmo, é para ser escritor. A medicina não foi o seu forte,<br />

nem a diplomacia, atividade a que se dedicou a partir de<br />

mil novecentos e trinta e quatro, levado pelo domínio e<br />

interesse por idiomas. Aliás, o conhecimento de línguas<br />

estrangeiras seria um aliado de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, especialmente<br />

no que diz respeito à tradução da sua obra, já que o<br />

escritor mineiro se notabilizou pela invenção de vocábulos,<br />

além do registro da linguagem sertaneja brasileira, inacessível<br />

a tradutores estrangeiros.<br />

Ademais, consta que o Dr. <strong>Rosa</strong> cobrava as visitas que<br />

fazia, como médico, pelas distâncias que, a cavalo, tinha de<br />

percorrer. Nem podia ser de outra forma, porque, quando<br />

chegava ao local, o dono da casa, a fim de baratear a consulta,<br />

aproveitava-lhe a presença para uma revisão geral na saúde<br />

da família. No conto Duelo, de Sagarana, o diálogo entre os<br />

personagens Cassiano Gomes e Timpim Vinte-e-Um testemunha<br />

esse critério, comum entre os médicos que exerciam seu<br />

ofício na zona rural, de condicionar o montante da<br />

remuneração a ser recebida à distância percorrida para<br />

visitar o doente.<br />

Semelhante critério aplicava-o, também, o Dr. Mimoso<br />

a seu ajudante-de-ordem Jimirulino, protagonista do conto –<br />

Uai , eu?, de Tutaméia.<br />

Outra ocorrência curiosa, contada por antigos moradores<br />

de Itaguara, diz respeito a atitude do Dr. <strong>Rosa</strong> quando a<br />

chegada de um grupo de ciganos àquela cidade. Valendose<br />

da ajuda de um amigo, que fazia as vezes de intermediário,<br />

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o jovem médico procurou aproximar-se daquela gente<br />

estranha; uma vez conseguida a almejada aproximação,<br />

passava horas envolvido em conversa com os “calões”<br />

na “língua disgramada que eles falam”, como diria,<br />

mais tarde, Manuel Fulô, protagonista do conto Corpo<br />

fechado, de Sagarana, que resolveu viajar no meio da<br />

ciganada, por amor de aprender as mamparras lá deles.<br />

Também nos contos Faraó e a água do rio, O outro ou<br />

o outro e Zingaresca, todos do livro Tutaméia; <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> refere-se com especial carinho a essa gente errante,<br />

com seu peculiar modo de viver, seu temperamento artístico,<br />

sua magia, suas artimanhas e negociatas.<br />

Aos vinte e três anos retorna a Belo Horizonte, para tuar<br />

como médico voluntário da Força Pública, por ocasião da<br />

Revolução Constitucionalista de mil novecentos e vinte e<br />

dois, indo servir no setor do Túnel. Encontrou-se de novo<br />

com o amigo Doutor Juscelino, e na pequena localidade<br />

estreitaram as relações.<br />

Posteriormente <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> entra para o quadro da<br />

Força Pública, por concurso.<br />

Em mil novecentos e trinta e quatro, com vinte e seis<br />

anos, vai para Barbacena como Oficial Médico do Nono<br />

Batalhão de Infantaria. Segundo <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, em seu<br />

discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, o quartel<br />

pouco exigia dele, quase que somente a revista médica, rotineira,<br />

não tendo mais as dificultosas viagens a cavalo que eram o pão<br />

nosso da clínica em Itaguara, e solenidade ou outra, em dia<br />

cívico, quando o escolhiam para orador da corporação.<br />

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Sendo assim, sobrava-lhe tempo para dedicar-se com maior<br />

entusiasmo ao estudo de idiomas estrangeiros. E através de<br />

um russo branco que se encontrava meio perdido por aquelas<br />

bandas, como soldado da Polícia Militar de Minas, pôde<br />

confrontar pela primeira vez a sua pronúncia. Depois, por<br />

intermédio de cadetes e de antigos oficiais do exército czarista,<br />

aparecidos em Barbacena como componentes do coro dos<br />

cossacos do Juban e do Dom, pode aperfeiçoar seus estudos.<br />

Ademais, no convívio com velhos milicianos e nas demoradas<br />

pesquisas que fazia nos arquivos do quartel, o escritor pôde<br />

estar obtendo valiosas informações sobre o jaguncismo<br />

barranqueiro que até por volta de mil novecentos e trinta<br />

existiu na região do Rio São Francisco.<br />

Quando <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> servia em Barbacena, um<br />

amigo de convívio diário, impressionado com sua cultura,<br />

vasto e variado saber, e, particularmente, com seu notável<br />

conhecimento de línguas estrangeiras, lembrou-lhe a<br />

possibilidade de prestar concurso para o Itamarati,<br />

conseguindo entusiasmá-lo. O então Oficial Médico do nono<br />

Batalhão de Infantaria, após alguns preparativos, segue para o<br />

Rio de Janeiro onde prestou concurso para o Ministério do<br />

Exterior, obtendo o segundo lugar. Nesse mesmo ano nasce<br />

sua segunda filha, Agnes.<br />

Já era por demais evidente sua falta de “vocação” para o<br />

exercício da Medicina, conforme ele próprio confidenciou a<br />

seu colega Dr. Pedro Moreira Barbosa, em carta datada de<br />

vinte de março de mil novecentos e trinta e quatro: “Não<br />

nasci para isso, penso. Não é esta, digo como dizia<br />

Don Juan, sempre “ après avoir couché avec...”<br />

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Primeiramente, repugna-me qualquer trabalho material<br />

– só posso agir satisfeito no terreno das teorias, dos<br />

textos, do raciocínio puro, dos subjetivismos. Sou um<br />

jogador de xadrez – nunca pude, por exemplo, com o<br />

bilhar ou com o futebol.”<br />

Durante todo esse tempo, manteve suas ligações com a<br />

literatura, escrevendo contos e versos.<br />

Em mil novecentos e trinta e seis, organizando uma seleção<br />

de versos intitulada Magma, concorre ao prêmio de poesia da<br />

Academia Brasileira de Letras, onde o livro saiu vitorioso. O<br />

poeta Guilherme de Almeida, relator do parecer da comissão<br />

julgadora, dirigiu palavras altamente elogiosas ao livro do<br />

escritor mineiro, concedendo-lhe o primeiro lugar e negandose<br />

a aprovar qualquer outro trabalho em segundo lugar, tal o<br />

desnível de qualidade que havia entre os demais concorrentes<br />

e o primeiro colocado. Não seria injusto considerar Guilherme<br />

de Almeida o verdadeiro descobridor de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />

aquele que teve a lúcida antevisão do “gênio engarrafado”. Em<br />

seu parecer, o poeta assim se referiu a Magma: “Nativa,<br />

espontânea, legítima, saída da terra com uma<br />

naturalidade de vegetal em ascensão, Magma é poesia<br />

centrífuga, universalizadora, capaz de dar ao resto do<br />

mundo uma síntese perfeita do que temos e somos”.<br />

Em mil novecentos e noventa e sete, o livro foi<br />

publicado, o único livro de poemas de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />

em meio a discussões sobre a conveniência desta publicação,<br />

já que o próprio autor havia, de uma certa forma,<br />

manifestado o desejo de que seus poemas permanecessem<br />

inéditos.<br />

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Isso testemunha a preferência de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> pela<br />

prosa, em detrimento dos versos, conforme atestam suas<br />

próprias palavras: “(...) revisando meus exercícios líricos, não<br />

os achei totalmente maus, mas tampouco muito<br />

convincentes. Principalmente descobri que a poesia<br />

profissional, tal como se deve manejá-la na elaboração<br />

de poemas, pode ser a morte da poesia verdadeira.<br />

Por isso retornei à “saga”, à lenda, ao conto simples,<br />

pois quem escreve estes assuntos é a vida e não a lei<br />

das regras chamadas poéticas. Então comecei a escrever<br />

Sagarana (...), convenci-me que era possuidor de uma<br />

receita para fazer verdadeira poesia.” (<strong>Rosa</strong>, 1997, p.69-<br />

70) Entrevista a Gunter Lorenz.<br />

Livre das amarras das regras poéticas, <strong>Rosa</strong> vai em busca,<br />

portanto, da verdadeira poesia. Nessa trajetória, incorpora<br />

procedimentos dos versos na prosa, transformando poemas<br />

de Magma, como Boiada e Maleita, em um acervo poético a<br />

ser vivificado em O burrinho pedrês e Sarapalha<br />

respectivamente, contos de Sagarana.<br />

Diga-se de passagem que em entrevista concedida a<br />

Gunter Lorenz, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> lança alguma luz sobre o<br />

provável motivo de seu comportamento em relação ao livro<br />

em questão, ao lhe dizer em tom confidencial: “Meu começo,<br />

foram poesias (...) escrevi um volume nada pequeno de<br />

poesias que foram até elogiadas, e que me proporcionaram<br />

louvor. Mas aí, eu, quase diria felizmente, comecei a ser<br />

absorvido pela minha profissão: eu viajei no mundo,<br />

conheci muita coisa, aprendi línguas, acolhi tudo isso<br />

em mim, mas não pude mais escrever. Assim se<br />

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passaram 10 anos até eu poder dedicar-me de novo à<br />

literatura. E quando eu revi, então, meus exercícios<br />

líricos, achei-os na verdade não ruins de todo, mas<br />

também não particularmente convincentes. Sobretudo<br />

descobri que a poesia profissional que a gente tem de<br />

lançar mão nos poemas pode ser a morte da<br />

verdadeira poesia. Por isso eu me voltei para a lenda<br />

heróica, o conto fabuloso, a estória simples. Por que<br />

isso são coisas que a vida escreve, não a legalidade<br />

das chamadas regras poéticas. Então, eu me sentei e<br />

comecei a escrever “Sagarana.”<br />

Em mil novecentos e trinta e sete, durante “sete meses<br />

de exaltação e deslumbramento” que ele próprio declararia<br />

mais tarde; escreveu uma série de contos e os reuniu em um<br />

volume; em dezembro do mesmo ano resolveu concorrer ao<br />

prêmio Humberto de Campos instituído pela Livraria José<br />

Olympio Editora. Remeteu os originais à comissão julgadora,<br />

constituída por Graciliano Ramos, Marques Rebelo, Prudente<br />

de Morais Neto, Dias da Costa e Peregrino Júnior, usando, na<br />

oportunidade, o pseudônimo de Viator, e o título dos originais<br />

era tão-somente Contos. Participaram do concurso mais<br />

cinqüenta e sete candidatos e <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> obteve o segundo<br />

lugar, perdendo por três votos contra dois no confronto direto<br />

com Luís Jardim, a que concorria com o livro Maria Perigosa.<br />

Um ano depois, em mil novecentos e trinta e oito, é<br />

nomeado Cônsul Adjunto em Hamburgo, e segue para a<br />

Europa; lá fica conhecendo Aracy Moebius de Carvalho, “Ara”,<br />

que viria a ser sua segunda mulher. Desquita-se de Lígia, em<br />

mil novecentos e quarenta e dois. Quem conta é sua filha Vilma:<br />

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“Papai havia conhecido dona Aracy Moebius de Carvalho<br />

em Hamburgo. Ela era funcionária graduada, no<br />

consulado. Papai e dona Aracy se casaram pelas leis<br />

de outro país, e também mamãe, com o advogado<br />

Arthur Auto Nery Cabral...”<br />

Durante a Segunda Guerra, passa por uma experiência<br />

que detona seu lado supersticioso. É salvo da morte porque<br />

sentiu, no meio da noite, uma vontade irresistível, segundo suas<br />

palavras, de sair para comprar cigarros. Quando voltou,<br />

encontrou a casa totalmente destruída por um bombardeio.A<br />

superstição e o misticismo acompanhariam o escritor por toda<br />

a vida. Ele acreditava na força da lua, respeitava curandeiros,<br />

feiticeiros, a umbanda, a quimbanda e o kardecismo. Dizia que<br />

pessoas, casas e cidades possuíam fluidos positivos e negativos,<br />

que influíam nas emoções, nos sentimentos e na saúde de seres<br />

humanos e animais. Aconselhava os filhos a terem cautela e a<br />

fugirem de qualquer pessoa ou lugar que lhes causasse algum<br />

tipo de mal-estar.<br />

Ademais, embora consciente dos perigos que enfrentava,<br />

protegeu e facilitou a fuga de judeus perseguidos pelo Nazismo;<br />

nessa empresa, contou com a ajuda da mulher, D. Aracy.<br />

Em reconhecimento a essa atitude, o diplomata e sua mulher<br />

foram homenageados em Israel, em abril de mil novecentos<br />

e oitenta e cinco, com a mais alta distinção que os judeus<br />

prestam a estrangeiros: o nome do casal foi dado a um<br />

bosque que fica ao longo das encostas que dão acesso a<br />

Jerusalém. A concessão da homenagem foi precedida por<br />

pesquisas rigorosas com tomada de depoimentos dos mais<br />

distantes cantos do mundo onde existem sobreviventes do<br />

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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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Holocausto, sendo assim a forma encontrada pelo governo<br />

israelense para expressar sua gratidão àqueles que se<br />

arriscaram para salvar judeus perseguidos pelo Nazismo<br />

por ocasião da segunda Guerra Mundial. Com efeito<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, na qualidade de cônsul adjunto em Hamburgo,<br />

concedia vistos nos passaportes dos judeus, facilitando sua fuga<br />

para o Brasil. Os vistos eram proibidos pelo governo brasileiro<br />

e pelas autoridades nazistas, exceto quando o passaporte<br />

mencionava que o portador era católico. Sabendo disso, a<br />

mulher do escritor, D. Aracy, que preparava todos os papéis,<br />

conseguia que os passaportes fossem confeccionados sem<br />

mencionar a religião do portador e sem a estrela de Davi que<br />

os nazistas pregavam nos documentos para identificar os<br />

judeus. Nos arquivos do Museu do Holocausto, em Israel,<br />

existe um grosso volume de depoimentos de pessoas que<br />

afirmam dever a vida ao casal <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>. Segundo D.<br />

Aracy, que compareceu a Israel por ocasião da homenagem,<br />

seu marido sempre se absteve e comentar o assunto já que<br />

tinha muito pudor de falar de si mesmo. Apenas dizia: “Se<br />

eu não lhes der o visto, vão acabar morrendo; e aí vou ter<br />

um peso em minha consciência.”<br />

Em mil novecentos e quarenta e dois, quando o Brasil<br />

rompe com a Alemanha, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> é internado em<br />

Baden-Baden, juntamente com outros compatriotas, entre<br />

os quais se encontrava Cyro de Freitas Vale e o pintor<br />

pernambucano Cícero Dias. Ficam retidos durante quatro<br />

meses e são libertados em troca de diplomatas alemães.<br />

Retornando ao Brasil, após rápida passagem pelo Rio de<br />

Janeiro, o escritor segue para Bogotá, como Secretário<br />

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da Embaixada, lá permanecendo até mil novecentos e<br />

quarenta e quatro.<br />

Sua estada na capital colombiana, fundada em mil<br />

quinhentos e trinta e oito e situada a uma altitude de dois<br />

mil e seiscentos metros, inspirou-lhe o conto Páramo, de<br />

cunho autobiográfico, que faz parte do livro póstumo<br />

Estas Estórias. O conto se refere à experiência de “morte<br />

parcial” vivida pelo protagonista, provavelmente o próprio<br />

autor; experiência essa induzida pela solidão, pela saudade,<br />

pelo frio, pela umidade e particularmente pela asfixia<br />

resultante da rarefação do ar.<br />

Em mil novecentos e quarenta e cinco o escritor<br />

retornou ao Brasil depois de longa ausência. Dirigiu-se,<br />

inicialmente, à Fazenda Três Barras, em Paraopeba, berço<br />

da família <strong>Guimarães</strong>, então pertencente a seu amigo Dr.<br />

Pedro Barbosa e, depois, a cavalo, rumou para<br />

Cordisburgo, onde se hospedou no tradicional Argentina<br />

Hotel, mais conhecido por Hotel da Nhatina. Nesse<br />

mesmo ano, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> “retrabalha” os contos que<br />

obtiveram o segundo lugar, ao concorrer ao Prêmio<br />

Humberto de Campos, da Editora José Olympio, e, em<br />

cinco meses de trabalho árduo, refaz inteiramente o livro,<br />

suprimindo duas estórias.<br />

Em carta ao pai, em seis de novembro de mil<br />

novecentos e quarenta e cinco, <strong>Guimarães</strong> fala da retomada<br />

dos originais de Sagarana: “... consegui-a custa de horas<br />

de sono, do descanso dos domingos e de esforço –<br />

preparar, ou, melhor, reestruturar um livro de contos,<br />

para o qual achei imediatamente editor.”<br />

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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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Contudo deu resultado ao livro Sagarana; que<br />

segundo <strong>Rosa</strong>, foi escrito: “quase todo na cama, a lápis,<br />

em cadernos de cem folhas – em sete meses; sete<br />

meses de exaltação, de deslumbramento. (Depois,<br />

repousou durante sete anos); e, em mil novecentos e<br />

quarenta e cinco foi “retrabalhado”, em cinco meses,<br />

cinco meses de reflexão.”<br />

Na primeira edição, em mil novecentos e quarenta e<br />

seis, pela Editora Universal, do Rio de Janeiro, assinada<br />

por <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Sagarana não tem Uma Historia de<br />

Amor e Questões de Família. A edição foi esgotada em<br />

poucos dias e já se falava em segunda edição em maio do<br />

mesmo ano, conforme reportagem de Ascendino Leite.<br />

A escritura de Sagarana vai até a quinta publicação,<br />

onde em cada edição ouvi modificações no livro, até que<br />

na quinta publicação, <strong>Guimarães</strong>, deixou de modificar os<br />

textos desse livro. O dossiê de Sagarana compõe-se dos<br />

seguintes documentos; dois volumes encadernados, um em<br />

couro vermelho e outro em preto, ambos com o título<br />

Sezão; seis pastas com folhas soltas, com os originais<br />

datilografados; originais da quarta e quinta edições, realizados<br />

sobre exemplares da terceira e quarta edições,<br />

respectivamente; dois volumes de provas tipográficas da<br />

quinta edição.<br />

A publicação, alcançou sucesso imediato, garante-lhe um<br />

privilegiado lugar de destaque no grande quadro circular da<br />

literatura brasileira; onde o livro recebe o prêmio da<br />

Sociedade Filipe d’ Olivera e é aclamado como uma das<br />

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mais importantes obras de ficção aparecidas no Brasil<br />

contemporâneo. Apresentando a paisagem e o homem de<br />

sua terra numa linguagem já então exclusiva, faz de<br />

Sagarana a semente de uma obra cujo sentido e alcance<br />

ainda estão longe de ser inteiramente decifrados.<br />

Sagarana reúne nove contos nos quais estão<br />

presentes os temas básicos de João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>: a<br />

aventura, a morte, os animais metaforizados em gente, as<br />

reflexões subjetivas e espiritualistas. Cinco deles; O<br />

Burrinho Pedrês, Duelo, São Marcos, A Hora e a Vez<br />

de Augusto Matraga e Corpo Fechado, trazem para os<br />

sertões de Minas Gerais acontecimentos em drama, de<br />

antigas histórias épicas ou heróicas. O lirismo dos temas<br />

do amor e da solidão transparece em Sarapalha e Minha<br />

Gente. Em A Volta do Marido Pródigo há uma espécie<br />

de heroísmo gaiato, enquanto que as reflexões sobre o<br />

poder e a fraqueza centralizam-se em Conversa de Bois.<br />

O narrador dos contos de Sagarana muitas vezes<br />

caracteriza como folclóricas as histórias que conta, inserindo<br />

nelas quadrinhas populares e dando-lhes um tom épico e<br />

de histórias de fada. Por exemplo, temos o Era uma vez<br />

que inicia o conto O Burrinho Pedrês. Neste conto, assim<br />

como em Conversa de Bois e em A Volta do Marido<br />

Pródigo, os animais se transformam em heróis, questionando<br />

o saber dos homens com o seu suposto não saber.<br />

A onisciência do narrador dos contos em terceira<br />

pessoa é propositalmente relativizada, dando voz própria e<br />

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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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encantamento às narrativas e acentuando sua dimensão<br />

mística e poética.<br />

Repletos de histórias dentro de histórias, de digressões<br />

filosóficas e de monólogos interiores que desvendam o<br />

universo dos homens, dos bichos e das coisas, os contos<br />

de Sagarana nos permitem uma espécie de ritual de<br />

iniciação, ao longo da leitura. Esta iniciação ocorre se<br />

conseguirmos compreendê-los em sua simbologia, na<br />

cosmovisão alógica, mágica, mística e poética que humaniza<br />

em sentido profundo os protagonistas, aparentemente apenas<br />

sertanejos dos Gerais, e universaliza o sertão. O sertão é<br />

o mundo, diz o Riobaldo de “Grande Sertão: Veredas.”<br />

A publicação do livro de contos Sagarana garantiulhe<br />

um privilegiado lugar de destaque no panorama da<br />

literatura brasileira, pela linguagem inovadora, pela singular<br />

estrutura narrativa e a riqueza de simbologia dos seus<br />

contos. Com ele, o regionalismo estava novamente em<br />

pauta, mas com um novo significado e assumindo a<br />

característica de experiência estética universal.<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> dizia, que quase por sorte, sua<br />

carreira profissional começou a ocupar seu tempo: “Viajei<br />

pelo mundo, conheci muita coisa, aprendi idiomas,<br />

recebi tudo isso em mim; mas de escrever simplesmente<br />

não me ocupava mais. Assim se passaram quase dez<br />

anos, até eu poder me dedicar novamente à literatura....<br />

Então comecei a escrever Sagarana.”<br />

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E dizia também, que a inspiração era um estado de<br />

transe: “Só escrevo atuado.” E, à filha Vilma, também<br />

escritora, confessou: “Às vezes visualizo, mesmo dormindo,<br />

uma estória completa. Acordo e vou escrevê-la.”<br />

Ainda em mil novecentos e quarenta e seis, <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> é nomeado chefe de gabinete do ministro João<br />

Neves da Fontoura e vai a Paris como mestre da delegação<br />

à Conferência de Paz.<br />

Dois anos depois, o escritor está novamente em<br />

Bogotá como Secretário-Geral da delegação brasileira à<br />

IX Conferência Inter-Americana; durante a realização<br />

do evento ocorre o assassinato político do prestigioso<br />

líder popular Jorge Eliécer Gaitán, fundador do partido<br />

Unión Nacional Izquierdista Revolucionaria, de curta<br />

mas decisiva duração.<br />

De mil novecentos e quarenta e oito a mil<br />

novecentos e cinqüenta, o escritor encontra-se em Paris,<br />

respectivamente como primeiro-secretário e conselheiro<br />

de embaixada. Em mil novecentos e cinqüenta e um é<br />

novamente nomeado Chefe de Gabinete de João Neves<br />

da Fontoura e retorna ao Brasil.<br />

Um anos depois, entre outubro e novembro,<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> e a mulher Aracy realizam uma viagem<br />

turística à Itália. No ano seguinte, nos meses de setembro<br />

e outubro, o casal refaz o roteiro, visitando as mesmas<br />

cidades; e como de costume, o escritor utiliza cadernetas<br />

para gravar sensações, descrever tipos e paisagens, anotar<br />

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<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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expressões, burilar algumas outras. Essas anotações não<br />

têm um objetivo específico, anota como um viajante curioso,<br />

como um permanente estudante da vida e da natureza,<br />

sempre voltado pra o seu trabalho, documentando,<br />

armazenando idéias, exercitando-se no manejo da Língua<br />

Portuguesa.<br />

Em mil novecentos e cinqüenta e um, de volta ao<br />

Brasil, é de novo nomeado Chefe de Gabinete de João<br />

Neves.<br />

Aos quarenta e três anos, faz uma viagem pelo<br />

sertão de Minas Gerais com um grupo de vaqueiros. A<br />

viagem durou dez dias e dela participou Manuel Narde,<br />

vulgo Manuelzão, protagonista de Uma história de amor,<br />

incluída no volume, Manuelzão e Miguilim. E também<br />

escreveu o conto Com o vaqueiro Mariano, que integra,<br />

hoje, o livro póstumo Estas Estórias, sob o título<br />

Entremeio: Com o vaqueiro Mariano, que é uma<br />

reportagem poética. Segundo depoimento do próprio Manuel<br />

Narde, falecido em cinco de maio de mil novecentos e<br />

noventa e sete, durante os dias que passou no sertão,<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> pedia notícia de tudo e tudo anotava: “ele<br />

perguntava mais que padre”, tendo consumido “mais de<br />

cinqüenta cadernos de espiral, daqueles grandes”, com<br />

anotações sobre a flora, a fauna e a gente sertaneja, usos,<br />

costumes, crenças, linguagem, superstições, versos,<br />

anedotas, canções, casos, estórias... A curiosidade<br />

inesgotável demonstrada pelo escritor durante essa famosa<br />

viagem, aproxima-o dos naturalistas europeus que<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 43<br />

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percorreram o Brasil no século passado e o<br />

redescobriram, como é o caso, por exemplo, do<br />

dinamarquês Peter Wilhelm Lund, o pai da paleontologia<br />

brasileira, e do extraordinário botânico francês Auguste<br />

de Saint-Hilaire. A propósito, o próprio <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> prestou carinhosa homenagem a esses estudiosos<br />

ao criar a figura ímpar de seu Alquiste, ou Olquiste,<br />

que aparece no conto O recado do morro, cuja trama<br />

se desenrola em Cordisburgo e arredores.<br />

Em carta ao pai, de doze de julho de mil novecentos<br />

e cinqüenta e quatro, <strong>Rosa</strong> confidencia: “Eu estou<br />

trabalhando “burramente”, dia e noite. Para terminar<br />

os livros que estou escrevendo – pois, em vez de um,<br />

como comecei, a coisa logo virou dois...”<br />

Em mil novecentos e cinqüenta e três torna-se Chefe<br />

da Divisão de Orçamento, e três anos depois, lança as<br />

novelas de Corpo de Baile, em dois volumes, oitocentos<br />

e vinte e quatro páginas; onde a partir da terceira edição<br />

o livro passa a ter vida editorial autônoma, sob o título de<br />

Manuelzão e Miguilim. A primeira delas, Campo Geral, é<br />

sobre um certo Miguilim que morava com sua mãe, seu<br />

pai e seus irmãos, longe, muito longe daqui, no Mutum,<br />

no meio dos Campos Gerais.<br />

O universo de Corpo de Baile se aproxima da<br />

forma de vida mais primitiva, a de uma comunidade tribal,<br />

ou das comunidades rurais gregas que predominaram num<br />

passado muito distante, ou quem sabe um feudo medieval.<br />

Por isto o sertão de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> não é apenas um<br />

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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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espaço, é também um tempo; sertão que pertence a um<br />

mundo no qual espaço e tempo se entrelaçam estreitamente.<br />

Em ensaio crítico sobre Corpo de Baile, o professor<br />

Ivan Teixeira afirma que o livro talvez seja o mais enigmático<br />

da literatura brasileira. As novelas que o compõem formam<br />

um sofisticado conjunto de logogrifos, em que a charada<br />

é alçada à condição de revelação poética ou experimento<br />

metafísico. Na abertura do livro, intitulada Campo Geral,<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> se detém na investigação da intimidade<br />

de uma família isolada no sertão, destacando-se a figura<br />

do menino Miguelim e o seu desajuste em relação ao<br />

grupo familiar. Campo Geral surge como uma fábula do<br />

despertar do autoconhecimento e da apreensão do mundo<br />

exterior; e o conjunto das novelas surge como passeio<br />

cósmico pela geografia. <strong>Rosa</strong>na, que retoma a idéia básica<br />

de toda a obra do escritor: o universo está no sertão, e<br />

os homens são influenciados pelos astros.<br />

No mês de maio, é publicado o romance Grande<br />

Sertão: Veredas (no meio da rua, no redemoinho). Livro<br />

diferente, terrível, consolador e estranho, diz <strong>Rosa</strong>.<br />

“É uma autobiografia irracional ou melhor, minha<br />

auto-reflexão irracional.”<br />

Grande Sertão: Veredas é a obra-prima de <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> e um dos mais importantes romances de nossa<br />

literatura. Riobaldo, seu narrador-protagonista, um velho e<br />

pacato fazendeiro, faz um relato de sua vida a um<br />

interlocutor, um “doutor” que nunca aparece na história,<br />

mas cuja fala é sugerida pelas respostas de Riobaldo.<br />

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Assim, apesar do diálogo sugerido, a narração é um<br />

longo monólogo em que Riobaldo traz à tona suas<br />

lembranças em torno de lutas sangrentas de jagunços,<br />

perseguições e emboscadas nos sertões de Minas, Goiás<br />

e sul da Bahia, bem como suas aventuras amorosas.<br />

Ao mesmo tempo, Riobaldo vai relatando as<br />

preocupações com as doutrinas da essência das coisas que<br />

sempre marcaram a sua vida; entre elas, destaca-se a<br />

questão da existência ou não do diabo. Pelo que se<br />

depreende da obra, ele provavelmente fizera um pacto<br />

com o demônio a fim de vencer Hermógenes, chefe do<br />

bando inimigo; sendo assim, desse fator depende a sua<br />

salvação e daí advêm as inquietações do personagem.<br />

O lançamento de Grande Sertão: Veredas causa<br />

grande impacto no cenário literário brasileiro. O livro é<br />

traduzido para diversas línguas e seu sucesso deve-se,<br />

sobretudo, às inovações formais. Crítica e público dividemse<br />

entre louvores apaixonados e ataques ferozes; tornandose<br />

assim um sucesso comercial, além de receber três<br />

prêmios nacionais: o Machado de Assis, do Instituto<br />

Nacional do Livro; o Carmem Dolores Barbosa, de São<br />

Paulo; e o Paula Brito, do Rio de Janeiro.<br />

A publicação dessa famosa obra, faz com que<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> seja considerado uma figura singular no<br />

panorama da literatura moderna, tornando-se um “caso”<br />

nacional. Ele encabeça a lista tríplice, composta ainda<br />

por Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto,<br />

como os melhores romancistas da terceira geração<br />

modernista brasileira.<br />

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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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Em mil novecentos e cinqüenta e sete se candidata<br />

à Academia Brasileira de Letras pela primeira vez.<br />

Já no ano seguinte, no começo de junho, <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> viaja para Brasília, e escreverá para os pais: “Em<br />

começo de junho estive em Brasília, pela segunda vez<br />

lá passei uns dias. O clima da nova capital é<br />

simplesmente delicioso, tanto no inverno quanto no<br />

verão. E os trabalhos de construção se adiantam num<br />

ritmo e entusiasmo inacreditáveis: parece coisa de russos<br />

ou de norte-americanos” ... “Mas eu acordava cada<br />

manhã para assistir ao nascer do sol e ver um enorme<br />

tucano colorido, belíssimo, que vinha, pelo relógio, às 6<br />

hs 15’, comer frutinhas, na copa da alta árvore pegada<br />

à casa, uma tucaneira’, como por lá dizem. As chegadas<br />

e saídas desse tucano foram uma das cenas mais bonitas<br />

e inesquecíveis de minha vida.”<br />

Nesse mesmo ano, <strong>Guimarães</strong> começa a apresentar<br />

problemas de saúde e estes seriam, na verdade, o prenúncio<br />

do fim próximo, tanto mais quanto, além da hipertensão<br />

arterial, o paciente reunia outros fatores de risco<br />

cardiovascular como excesso de peso, vida sedentária e,<br />

particularmente, o tabagismo. Era um tabagista contumaz e<br />

embora afirme ter abandonado o hábito, em carta dirigida<br />

ao amigo Paulo Dantas, em dezembro de mil novecentos e<br />

cinqüenta e sete; e numa foto tirada em mil novecentos e<br />

sessenta e seis, quando recebia do governador Israel<br />

Pinheiro a Medalha da Inconfidência, aparece com um<br />

cigarro na mão esquerda. A propósito, na referida carta, o<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 47<br />

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escritor chega mesmo a admitir, explicitamente, sua<br />

dependência da nicotina: ...” também estive mesmo<br />

doente, com apertos de alergia nas vias respiratórias;<br />

daí, tive de deixar de fumar (coisa tenebrosa!) e, até<br />

hoje (cabo de 34 dias!), a falta de fumar me bota<br />

vazio, vago, incapaz de escrever cartas, só no inerte<br />

letargo árido dessas fases de desintoxicação. Oh coisa<br />

feroz. Enfim, hoje, por causa do Natal chegando e de<br />

mais mil-e-tantos motivos, aqui estou eu, heróico e<br />

pujante, desafiando a fome-e-sede tabágica das<br />

pobrezinhas das células cerebrais. Não repare.”<br />

É importante frisar também que, coincidindo com os<br />

distúrbios cardiovasculares que se evidenciaram a partir de<br />

mil novecentos e cinqüenta e oito, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> parece<br />

ter acrescentado a suas leituras espirituais publicações e<br />

textos relativos à Ciência Cristã (Christian Science), seita<br />

criada nos Estados Unidos em mil oitocentos e setenta e<br />

nove por Mrs. Mary Baker Eddy e que afirmava a<br />

primazia do espírito sobre a matéria – “ ... the nothingness<br />

of matter and the allness of spirit”, negando<br />

categoricamente a existência do pecado, dos sentimentos<br />

negativos em geral, da doença e da morte.<br />

Em mil novecentos e sessenta e um, conferem-lhe a<br />

consagração oficial, com a atribuição do Prêmio Machado de<br />

Assis, a Academia Brasileira de Letras, para conjunto de obra.<br />

E essa obra começa, inclusive, a ser reconhecida no estrangeiro.<br />

Nesse mesmo ano, aomesmo tempo que Sagarana é editado<br />

em Portugal, aparece na França a tradução da primeira parte<br />

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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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de Corpo de Baile, lançada pelas edições Du Seuil, onde a<br />

segunda parte só viria a ser publicada no ano seguinte.<br />

Um ano depois, o escritor reaparece com um novo livro,<br />

desta vez um volume magro, com vinte e um contos curtos. Os<br />

temas destas estórias são múltiplos, ediversas também as<br />

situações, onde entre elas encontram-se exemplares de vários<br />

tipos de conto: o fantástico, o psicológico, o autobiográfico, o<br />

anedótico, o satírico, entre outros. Também o tratamento dado<br />

a esses temas é diversificado: ora jocoso, ora patético,<br />

sarcástico, lírico, erudito e popular.<br />

“Primeiras Estórias” constitui, certamente, o melhor livro<br />

para iniciação em <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, sendo assim mais assimilável<br />

pelo leitor. Mas o título desse livro, no entanto, requer uma<br />

explicação, como já observou Paulo Rónai: “Estória é o<br />

neologismo que distingue a história como conto, isto é,<br />

relado de acontecimentos fictícios...” E “primeiras” não é no<br />

sentido de trabalhos já realizados antes, mas sim por ser a<br />

primeira vez que o autor pratica o gênero “estórias”, ou seja,<br />

o conto curto. A maioria dos contos dessa obra desenrola-se<br />

numa região não-especificada, mas reconhecível como a das<br />

obras anteriores, embora o seu cenário seja apenas esboçado.<br />

Nesse mesmo ano é editada a obra O Mistério dos<br />

MMM, pela Gráfica O Cruzeiro, que foi escrito com<br />

colaboração de Viriato Correa, Dinah Silveirade Queirós, Lúcio<br />

Cardoso, Herberto Sales, Jorge Amado, José Condé, Antônio<br />

Callado e Orígenes Lessa. Tratasse de um romance policial de<br />

autoria coletiva, que pode ser definido como uma brincadeira<br />

muito séria, porque cada um dos nove autores, na época já<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 49<br />

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escritores consagrados, escreveu um capítulo dando seqüência<br />

ao capítulo recebido de outro. Também assumiu a chefia do<br />

Serviço de Demarcação de Fronteiras.<br />

Em maio de mil novecentos e sessenta e três, candidatase<br />

pela segunda vez à Academia Brasileira de Letras, e é eleito<br />

por unanimidade a oito de agosto, para ocupar a vaga de João<br />

Neves da Fontoura; mas não é marcado o dia da posse. Nesse<br />

mesmo ano Primeiras Estórias recebeu o Prêmio do PEN<br />

Clube do Brasil.<br />

Em mil novecentos e sessenta e quatro, Grande Sertão:<br />

Veredas alcança três edições sucessivas, onde na festa de<br />

lançamento, compareceu o Presidente da Alemanha, Luebke.<br />

Um ano depois, seus livros já apareciam traduzidos na<br />

França, Itália, Estados Unidos, Canadá e Alemanha; e passa a<br />

interessar, igualmente aos nossos cineastas.<br />

Levado à tela, Grande Sertão: Veredas constitui uma<br />

experiência não muito feliz; mas o conto A Hora e Vez de<br />

Augusto Mantraga possibilita a Roberto Santos a realização,<br />

em mil novecentos e sessenta e seis, de um filme admirável,<br />

que se projeta em vários festivais internacionais. Nesse mesmo<br />

ano, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> participa do Congresso de Escritores<br />

Latino-Americanos, em Gênova; e como resultado do congresso<br />

ficou constituída a Primeira Sociedade de Escritores Latino-<br />

Americanos, da qual o próprio <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> e o<br />

guatemalteco Miguel Angel Asturias foram eleitos vicepresidentes.<br />

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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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Em abril de mil novecentos e sessenta e sete, vai ao<br />

México, a fim de representar o Brasil no primeiro Congresso<br />

Latino-Americano de Escritores, no qual atua como vicepresidente.<br />

No regresso, é convidado para fazer parte, ao lado<br />

de Jorge Amado e Antônio Olinto, do júri do segundo Concurso<br />

Nacional de Romance “Walmap”, que pelo valor do prêmio é<br />

o mais importante do país, que foi arrebatado pelo livroJorge,<br />

um Brasileiro, de Oswaldo França Júnior. Nesse mesmo<br />

ano é publicado Tutaméia, livro cujosubtítulo é Terceiras<br />

Estórias; pequenocomo o anterior, um conjunto de quarenta e<br />

quatro estórias curtas.<br />

Numa entrevista a Paulo Rónai, quando o mesmo<br />

perguntava sobre a obra, foi feita a seguinte pergunta sobre o<br />

subtítulo: “Por que Terceiras Estórias se não houve as<br />

segundas? O que diz o Autor?”<br />

“O autor não diz nada.” Respondeu <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

com uma risada de menino grande; e depois de algum tempo,<br />

mostra o índice para Rónai, atento para ver se o mesmo<br />

descobre o mistério.”Será a ordem alfabética em que os<br />

títulos estão arrumados?” Retrucou Rónai. “Olhe melhor:<br />

há dois que estão fora de ordem.” Disse <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />

Segundo <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, era para que os críticos não<br />

achassem tudo fácil. E o interessante é que os títulos “fora de<br />

ordem” compõem as iniciais JGR; sendo assim o seu desejo, o<br />

subtítulo Terceiras Estórias.<br />

Em outubro, participa, na qualidade de relator, do debate<br />

promovido pelo Conselho Nacional de Cultura, em torno do<br />

problema levantado pelos filólogos brasileiros e portugueses,<br />

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em favor de um novo acordo lingüístico luso-brasileiro.<br />

Manifesta-se contra o acordo, sendo o seu parecer<br />

apoiado, por unanimidade, pela comissão, constituída ainda<br />

por Rachel de Queiroz, Adonias Filho, Moisés Vellinho<br />

e Cassiano Ricardo.<br />

Passa-se pouco tempo; e finalmente, depois de quatro<br />

anos de adiantamento, quatro anos de reflexo do medo que<br />

sentia da emoção que o momento lhe causaria, decide-se a<br />

tomar posse na Academia, e marca a solenidade para o dia<br />

dezesseis de novembro, data do aniversário de nascimento de<br />

seu antecessor: João Neves faria então oitenta anos.<br />

Ainda que risse do mal pressentimento, afirmou no<br />

discurso de posse: “... a gente morre é para provar<br />

que viveu”.<br />

Quando se ouve a gravação do discurso de <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> nota-se, claramente, ao final do mesmo, sua voz<br />

embargada pela emoção, era como se chorasse por dentro. É<br />

possível que o novo acadêmico tivesse plena consciência de<br />

que chegara sua “hora” e sua “vez”.<br />

É o dia dezesseis de novembro de mil novecentos e<br />

sessenta e sete. João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, aos cinqüenta e nove<br />

anos, veste o fardão e prepara-se para ir à Academia Brasileira<br />

de Letras tomar posse na cadeira número dois, que tem como<br />

patrono o escritor Álvares de Azevedo, e pertenceu a seu<br />

amigo e antigo chefe no Itamarati, João Neves da Fontoura.<br />

Neste dia, <strong>Rosa</strong> almoça com a mãe na casa de seu tio, o também<br />

escritor Vicente <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, que atribui o adiamento da<br />

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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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posse à seguinte causa: “De seus sete tios amigos, quatro<br />

morreram quando viviam os cinqüenta e oito anos. Posse<br />

na Academia só mesmo depois dos cinqüenta e nove<br />

anos e ainda com alguns meses distanciados, me disse,<br />

temeroso”.<br />

O escritor Antônio Callado pergunta-lhe sobre o porquê<br />

de tanto empenho em seeleger para a Academia, ao que <strong>Rosa</strong><br />

responde: “O enterro, meu querido, os funerais. Vocês,<br />

cariocas, são muito imprevidentes. A academia tem<br />

mausoléu e quando a gente morre cuida de tudo.”<br />

Quando se candidatou pela primeira vez à Academia<br />

Brasileira de Letras, disse a Otto Lara Rezende, num almoço<br />

no Itamarati, que só se candidatava por duas razões: Primeira<br />

porque sua mãe só acreditaria que ele era um grande escritor<br />

se entrasse para a Academia; e segunda porque não podia<br />

negar a glória acadêmica à sua pequena cidade de Cordisburgo.<br />

A notícia de sua posse na Academia foi dada por Otto,<br />

que relata: Uma vez um jornal mencionou seu nome como<br />

possível candidato ao Prêmio Nobel. Procurou-me aflito e<br />

pediu-me que, por favor, evitasse associar o seu nome ao<br />

Nobel. Por quê? “O Nobel mata” – disse ele, brincando<br />

a sério. E pediu-me ainda que desse uma nota sobre a<br />

candidatura de outro brasileiro ao mesmo Prêmio<br />

Nobel.... “Pode dar, com ele não acontece nada” –<br />

disse. Esse mesmo temor da morte estava associado à<br />

sua posse na Academia, talvez porque tomasse a<br />

Academia como “consagração”, isto é, fim de uma<br />

obra e portanto fim da vida.”<br />

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Na cerimônia da posse, foi saudado pelo acadêmico<br />

Afonso Arinos, e seu discurso foi uma página magnífica, página<br />

tipicamente rosiana... E infelizmente vem a falecer três dias<br />

depois, na noite de domingo, dezenove de novembro de mil<br />

novecentos e sessenta e sete.<br />

Na manhã de segunda-feira foi o corpo transportado<br />

para Academia, onde ficou exposto à visitação. Desfilaram<br />

diante do esquife centenas e centenas de pessoas, desde<br />

anônimos às mais ilustres figuras da política, da diplomacia, da<br />

literatura. Ao sair o corpo da Academia, fala em nome dos<br />

companheiros o Presidente Austregésilo de Athayde.<br />

O sepultamento, com grande acompanhamento, teve<br />

lugar no Cemitério de São João Batista, no mausoléu da<br />

Academia. O Jornal da Tarde, de São Paulo, estampava em<br />

sua primeira página uma enorme manchete com os dizeres:<br />

“MORRE O MAIOR ESCRITOR; João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />

mineiro de Cordisburgo, 59 anos, autor de “Grande Sertão:<br />

Veredas”, com obras publicadas em 12 países, candidato<br />

ao Prêmio Nobel – segundo a crítica, o maior escritor<br />

brasileiro contemporâneo – morreu ontem no Rio, de<br />

enfarte. Quinta-feira passada, ao tomar posse na<br />

Academia Brasileira de Letras, disse: “As pessoas não<br />

morrem, ficam encantadas.”<br />

Nesse mesmo ano, João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> seria indicado<br />

para o prêmio Nobel de Literatura. A indicação, iniciativa dos<br />

seus editores alemães, franceses e italianos, foi barrada pela<br />

sua morte. A sua obra havia alcançado esferas talvez<br />

desconhecidas até hoje.<br />

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<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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Os volumes de publicação póstuma foram, Estas<br />

Estórias e Ave, Palavra, respectivamente; onde o primeiro<br />

foi organizado por Paulo Rónai, e traz contos, como Meu Tio<br />

o Iauaretê. O original do segundo, foi deixado por <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> sob o título Ave, Palavra, título escolhido por ele.<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> definiu o Ave, Palavra como uma<br />

“miscelânea”, querendo caracterizar com isto a despretensão<br />

com que apresentava estas notas de viagem, diários, poesias,<br />

contos, flagrantes, reportagens poéticas e meditações, tudo o<br />

que, aliado à variedade temática de alguns poemas<br />

dramáticos e textos filosóficos; constituíra sua colaboração<br />

de vinte anos, em jornais e revistas brasileiras, durante o<br />

período de mil novecentos e quarenta e sete a mil<br />

novecentos e sessenta e sete, trazendo assim um total de<br />

cinqüenta e quatro textos.<br />

Tudo que foi dito, deste o começo desta prosa até agora,<br />

só confirma as palavras de Sérgio Buarque de Holanda: “Tenho<br />

medo de tentar comparações. Não direi, por isso, que a<br />

obra de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> é a maior da literatura brasileira<br />

de todos os tempos. Direi porém que nenhuma outra, de<br />

nenhum escritor, me deu até hoje, entre brasileiros, a<br />

mesma idéia de tratar-se de criação absolutamente<br />

genial.”<br />

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<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> e sua obra se impuseram não apenas no<br />

Brasil, mas alcançou o mundo; e como dissera Getúlio Dornelles<br />

Vargas: “Saio da vida para entrar na História”, chego à<br />

conclusão que <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> não mais vive, mas já faz parte<br />

da História da Humanidade.<br />

56<br />

“As pessoas não morrem, ficam encantadas” .<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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SEGUNDO LUGAR.<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Vida e Obra: Análise<br />

Profunda de Sua Importância.<br />

Dayse Nayara dos Santos.<br />

Introdução<br />

Elaborar uma tese sucinta e consistente do impacto e<br />

importância desse autor, requer uma minuciosa e detalhada<br />

análise de sua vida e obra.<br />

Este autor se consagrou como um revolucionário do<br />

gênero regionalista desenvolvendo de maneira admirável temas<br />

diversificados dentro de seu próprio estilo lingüístico; ele recriou<br />

um novo momento da Língua Portuguesa ao mesclar o poético,<br />

o dramático e o narrativo. Este revolucionário da literatura<br />

brasileira nos impressionou e nos impressiona com facetas<br />

totalmente rosianas. Ele aglutinou em suas obras: o sarcástico,<br />

o lírico, o patético, o jocoso, o erudito, o sertanejo enfim; o<br />

popular, tudo em uma admirável jornada de belas obras. Difícil<br />

é escolher entre suas obras uma que sirva como base para um<br />

trabalho literocientífico, porém entre suas proezas literárias se<br />

destaca com brilho total, o romance “Grande Sertão:Veredas”<br />

que transporta nossa cultura lingüística para um plano de<br />

dimensão nunca alcançado antes, esta obra é seu ponto de<br />

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partida e chegada. Entender, analisar e se informar sobre ela,<br />

nada mais é, do que, mergulhar em um mundo totalmente<br />

grandioso no que tange à inesgotável fonte ficcional rosiana, ao<br />

regionalismo, enfim, ao que há de mais fantástico do mundo de<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> e neste momento nos deparamos com uma<br />

grande dificuldade em classificar como primordial, características<br />

marcantes do mundo deste autor. Para enumerar resumidamente<br />

a margem geral do nosso conteúdo, procuramos já,<br />

antecipadamente na própria introdução algumas visões gerais<br />

e outras parciais do que tem por vir pela frente, ou seja, uma<br />

jornada de informações interessantes e envolventes.<br />

O mito <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> possibilita aos seus leitores<br />

“viajarem” na imaginação, inventar, interpretar, conhecer outros<br />

tempos, outros costumes, outros mundos sem sair do lugar tudo<br />

isso é conquistado através da leitura que diverte, ensina, envolve<br />

e emociona leitores de todas as idades. Um ingrediente essencial<br />

aos leitores é a sensibilidade para se deixar tocar pelas palavras<br />

inspiradoras, emocionantes e instigantes dos escritores; é isso<br />

que <strong>Guimarães</strong> nos fornece com sua arte literária que mexe<br />

com nossos sentidos e imaginação.<br />

58<br />

Desenvolvimento<br />

Desenvolver uma estrutura sólida que contenha de<br />

maneira clara e objetiva cada recorte da literatura rosiana é<br />

uma tarefa desafiadora, pois, ao entrar nesse jogo não devemos<br />

nos esquecer jamais do teor poético da linguagem de <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>, visando mostrar de maneira sofisticada e elegante o<br />

conteúdo geral de cada obra.<br />

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<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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Analisaremos a seguir sínteses de suas obras. No caso,<br />

iremos nos ater na obra que inicia e na que marca sua saga<br />

literária, mas esta análise deverá ser feita com um olhar crítico<br />

de um leitor que não só valoriza a qualidade estética do conjunto;<br />

mas também, prioriza o fundamental: o conteúdo lingüístico.<br />

Para nós, leitores, devemos nos prender não apenas no contexto<br />

literário, mas em sua plenitude extra textual que implica em<br />

nosso crescimento psicológico, cultural e comportamental. A<br />

magia de um grande escritor aí está, estabelecer uma relação<br />

de cumplicidade entre leitor e escritor. Eis um dos motivos pelo<br />

qual, poucos escritores alcançam tamanha proeza, pois<br />

conquistar um público exigente requer um posicionamento<br />

diferenciado e inovador. Portanto, ressaltamos mais uma vez<br />

que esta característica, sim, os livros de <strong>Guimarães</strong> têm de uma<br />

maneira surpreendente e é isso que o torna tão maravilhoso.<br />

Este autor possui uma gigantesca rede de obras plantadas<br />

em solo fértil possibilitando a “colheita” produtiva e farta, no<br />

caso, uma leitura enriquecedora onde o leitor tem um acesso<br />

direto para lançar sementes, ou seja, seu universo particular no<br />

terreno <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, por meio de narrativas diferentes e<br />

interessantes. Tal perfil lhe concede abertura tamanha a qual<br />

atinge desde o grupo dos intelectuais leitores de plantão até os<br />

leitores parcialmente desligados em relação ao que ocorre no<br />

mundo. Isso que é esplêndido em suas obras, atingir diferentes<br />

públicos leitores levando a eles um mesmo conteúdo, porém,<br />

com diferentes possibilidades interpretativas.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

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Dentre suas obras, começaremos a análise do ponto que<br />

assinala sua partida ao mundo literário.<br />

60<br />

Sagarana<br />

Em sua primeira obra já nos deparamos com uma<br />

característica rosiana o neologismo no qual ao somar o<br />

germânico “saga” ao sufixo tupi “rana” (“a maneira de”) o autor<br />

procura mostrar que está pronto para desenvolver sua obra<br />

sabendo o que está fazendo.<br />

Sagarana é um livro de contos que reúne uma imensa<br />

fertilidade de personagens e causos.<br />

Neste livro <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> retrata a vida nas fazendas<br />

de Minas Gerais com um imenso aprofundamento na análise<br />

dos tipos humanos. Apesar de se tratar de histórias regionais,<br />

o autor consegue dar um cunho universal aos contos pela riqueza<br />

das imagens e movimentação das narrativas.<br />

A vida, o colorido que seus personagens possuem<br />

enriquecem ainda mais sua obra. No desenrolar das narrativas<br />

não se encontram improvisações; a decorrência dos fatos se<br />

mostra totalmente amuderecida e bem colocada. Ao criar novos<br />

vocábulos há sempre uma justificativa etimológica concreta.<br />

Agora vamos aos contos englobados pelo livro.<br />

“O Burrinho Pedrês” narra a história de uma<br />

transformação brusca e muito ampla das águas de um córrego<br />

que aumenta de volume devido às chuvas, e repentinamente<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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surpreende uma boiada e os vaqueiros que a conduzem. A<br />

mudança rápida do córrego mata a quase todos, sobrevivendo<br />

somente um vaqueiro que cavalgava, um burrinho de Pedrês e<br />

um outro que se agarrou à sua cauda.<br />

“A Volta do Marido Prodígio” é uma trama grosseira de<br />

politicagens eleitorais e faz entrar as estrapolias de um invulgar<br />

protagonista Lalino Salanthiel, que vende a mulher, ou seja, a<br />

esposa e depois a recupera de graça.<br />

“Sarapalha” a história de dois primos a tremer de malária<br />

doença maldita e acertar velhas contas do passado.<br />

“Duelo” dois homens com intuitos assassinos se<br />

perseguem mutuamente, porém, por ironia total da vida não se<br />

encontram, embora no fim, a vida cumprirá de sua maneira<br />

seus desígnios.<br />

“Minha Gente” um rapaz, uma moça e dois primos são<br />

surpreendidos por uma aula de coronelismo em uma temporada<br />

numa fazenda local.<br />

“São Marcos” misticismo total nesse conto, que traz<br />

consigo um horrível caso de feitiçaria que dá origem a uma<br />

cegueira maléfica ao protagonista, o que se une a uma tremenda<br />

e reveladora discussão sobre a beleza das palavras.<br />

“Corpo Fechado” em um arraial, um episódio engraçado<br />

de fechamento de corpo sucedido por dois valentões dá bons<br />

resultados.<br />

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“Conversa de Bois” a história de animais falantes e<br />

justiceiros que puxam o carro e iniciam um diálogo como no<br />

início dos tempos, nessa viagem, os animais estão transportando<br />

um defunto e no fim acaba com dois.<br />

“A Hora da vez de Augusto Matraga” relata o caminho<br />

de Matraga, um homem com bons status social, durão e<br />

mandão que perde tudo de uma hora pra outra e se vê vítima<br />

de uma injustiça sendo jogado como morto em um barranco.<br />

Acolhido por um casal de velhos negros que moram em um<br />

simples rancho e por eles tratado; volta a vida e se arrepende<br />

dos pecados que ele cometeu, torna-se assim em um homem<br />

arrependido e penitente chegando ao martírio ao ver<br />

novamente a violência que o regenera; porém agora no lugar<br />

de uma pessoa indefesa, totalmente fraca, e desse modo ele<br />

vai à procura do que mais ansiava naquele momento com aquela<br />

vida, sua hora e vez na morte.<br />

Um dos causos contido no livro: Primeiras Estórias por<br />

ser o mais proeminente e por ter maior alcance do que os outros,<br />

merece destaque neste nosso momento reservado aos contos.<br />

Iremos mostrar um pequeno trecho da mudança na vida de<br />

Augusto Matraga.<br />

62<br />

A Hora e Vez de Augusto Matraga<br />

Agora, parado pranto, a tristeza tomou conta de Nhô<br />

Augusto. Uma tristeza mansa, com muita saudade da mulher e<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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da filha, e com um dó imenso de si mesmo. Tudo perdido! O<br />

resto, ainda podia...Mas, ter sua família direito, outra vez, nunca.<br />

Nem a filha...Para sempre...E era como se tivesse caído num<br />

fundo abismo, e um outro mundo distante.<br />

⎯ Se eu pudesse ao menos ter absolvição de meus<br />

pecados!...<br />

Então eles trouxeram, uma noite, muito à escondida, o<br />

padre, que o confessou e conversou com ele, muito tempo,<br />

dando-lhe conselhos que o faziam chorar.<br />

⎯ Mas, será que Deus vai ter pena de mim, com tanta<br />

ruindade que fiz, e tendo nas costas tanto pecado mortal?!<br />

⎯ Tem, meu filho. Deus me mande a esposa pela rédea,<br />

e não tira o estribo do pé de arrependido nenhum...<br />

⎯ Eu acho boa essa idéia de se mudar para longe, meu<br />

filho.Você não deve pensar mais na mulher, nem em vingança.<br />

Entregue para Deus e faça penitência.<br />

Sua vida foi entortada no verde; mas não fique triste, de<br />

modo nenhum porque a tristeza é o aboio de chamar o Demônio,<br />

e o reino do Céu, que é o que vale, ninguém tira de sua algibeira,<br />

desde que você esteja com a graça de Deus, que ele não regateia<br />

a nenhum coração contrito!...<br />

⎯ Fé eu tenho, fé eu peço padre...<br />

⎯ Você nunca trabalhou não é? Pois agora por diante,<br />

cada dia de Deus deve trabalhar por três, e ajudar os outros,<br />

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sempre que puder. Modere esse mau gênio: -Faça de conta<br />

que ele é um poldro bravo, e que você é mais mandante do que<br />

ele...Peça a Deus assim, com esta jaculatória:“Jesus, manso e<br />

humilde de coração fazei meu coração semelhante ao vosso...”<br />

E, páginas adiante, o padre portou ainda mais<br />

excelentemente, porque era uma brava criatura. Tanto assim,<br />

que, na despedida insistiu:<br />

⎯ Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um<br />

dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a passar,<br />

mas sempre passa. E você pode ter muito pedaço bom de<br />

alegria...Cada um tem sua hora e sua vez:-Você há de ter a sua.<br />

E, lá fora, ainda achou de ensinar a preta um enxofre e tal<br />

para o gogó dos frangos, e aconselhou o preto a pincelar água<br />

de cal no limoeiro, e a plantar tomateiro e pés de mamão.<br />

Meses não são dias, e a vida era aquela no chão da<br />

choupana. Nhô Augusto comia, fumava, pensava e dormia, e<br />

tinha pequenas esperanças: de manhã em diante, o lado de cá<br />

vai doer menos, se Deus quiser...<br />

⎯ E voltou a recordar todas as rezas aprendidas na<br />

meninice, com a avó.Todas e muitas mais, mesmo as mais bobas<br />

de tanta deformação em misturas as que o preto engrolava, ao<br />

lavar-lhe com creolina a ferida da perna, e as que a preta murava,<br />

benzendo a cuia de água, ao lhe dar de beber.<br />

O movimento da obra de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> não está<br />

apenas no movimento físico das personagens, mas na passagem<br />

64<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 64<br />

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que estes efetuam de um estado para outro, na tentativa de<br />

fundir os opostos e de unificar o que é duplo. Não se busca a<br />

eliminação de um dos elementos, mas a sua conciliação, tal<br />

qual se vê na estória de Matraga citada em um pequeno trecho<br />

acima, cujo percurso físico realiza o simbolismo das marcas<br />

opostas a sua carne e a conjunção do imaginário e do simbólico.<br />

No primeiro conto de “Sagarana” percebe-se o aspecto duplo<br />

do burrinho, pertencente a duas esferas, terra e água, além do<br />

espelhamento que estabelece com o major Saulo, ambos são<br />

velhos, sábios e prudentes. Além disso, o burrinho reflete como<br />

um ser humano, enquanto o major é instintivo como um animal.<br />

Em “Sagarana” sempre há esta oscilação entre dois estados e<br />

a tentativa de juntura: entre memória e palavra, como em<br />

“Sarapalha”; entre crença e descrença, como em “São Marcos”;<br />

entre medo e coragem, como em “Corpo Fechado”, entre<br />

realidade e ficção,como em “A Volta do Marido Prodígio”;<br />

entre o desejo e a realização do desejo, como em “Conversa<br />

de Bois”, entre crime e castigo como em “Duelo”.<br />

Por todos os casos levantados, pode-se perceber que a<br />

temática do duplo é constante na obra rosiana, que o autor<br />

procura mostrar como se vê nos textos citados, é a possibilidade<br />

de convivência com esta duplicidade. Não se pode fugir dos<br />

papéis que a sociedade impõe nem desconhecê-los; não há<br />

como escapar. A fuga é a loucura, a queda definitiva no<br />

imaginário. Antes dessa hipótese impossível, resta a conciliação,<br />

a tentativa de depuração, o trânsito entre imaginário e simbólico.<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> desmitifica a imagem do homem como um ser<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

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integral, sem falhas ou dúvidas. Seu personagem consegue fugir<br />

ao imaginário, seja considerando-o como ficção como “outra<br />

cena”, seja convivendo com suas máscaras no simbólico.A<br />

desmitificação da integridade do sujeito apontada por<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> em seus textos, é semelhante à que consegue<br />

em relação ao processo de escritura, através da metalinguagem.<br />

Na medida em que investe contra a “verdade” da ficção, o<br />

autor mostra seus mecanismos de funcionamento, as<br />

engrenagens por trás do palco, conseguindo quebrar o caráter<br />

de ilusão da obra de arte, de que se falou anteriormente. A<br />

temática do duplo e da metalinguagem estão interligadas na<br />

obra rosiana, e, por sua vez, relacionada à questão da mimese,<br />

da verdade e da produção de sentido é preciso que alguém<br />

aprofunde e continue ampliando este leque de interpretações<br />

para que haja um jogo de interpretantes gananciosos de leitores,<br />

novamente impera a perspicácia rosiana.<br />

Com este breve relato dos contos contidos em<br />

“Sagarana”, observamos a inesgotável imaginação de<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>. Iremos nos deparar com isso no marco<br />

principal de sua carreira: A obra: “Grande Sertão: Veredas”.<br />

66<br />

“Grande Sertão: Veredas”<br />

Este romance universal começa e termina com um<br />

interessante e sugestivo início e fim. Primeiramente, o termo<br />

“Nonada” antecedido de um travessão inicia um monólogo.<br />

Este termo quer dizer nada, ou seja, a morte do protagonista, o<br />

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<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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travessão indica a fala iniciada dando origem à história e por<br />

fim a última palavra da narrativa que é travessia, que quer dizer<br />

a passagem para um outro plano, ato de atravessar, passagem<br />

para o infinito que é uma contínua busca pelo fim que não existe.<br />

Atravessar significa além de passar do escuro para o claro, da<br />

ignorância para a lucidez, perder o medo e aprender a alegria.<br />

Explicar brevemente, tais termos é uma obrigação, pois<br />

são elementos essenciais na construção literária de <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> e novamente voltamos ao que estávamos nos referindo.<br />

No início do texto encontramos um travessão seguido da palavra<br />

Nonada como já havíamos dito. Esse travessão se transforma<br />

numa tarja preta, na medida em que se inicia um diálogomonólogo,<br />

cujo assunto central será a perda: morte, o mistério,<br />

anunciados ao longo de todo o texto, fatos de que só<br />

tomaremos conhecimento no final da narrativa. Esse travessão,<br />

também marca de luto ,tem sua explicação no final da obra.<br />

O signo de luto é a primeira talhada no corpo da<br />

narrativa que com ele se inicia e ainda se reflete na capitular<br />

N da única palavra escrita com letra maiúscula do livro:<br />

NONADA. A trave central do N, ou seja a linha diagonal<br />

que liga as duas linhas verticais, também se engrossa e se<br />

reproduz em signo de luto, na palavra que irá de certa forma<br />

resumir a dor causada pela perda, pelo absurdo de existir e<br />

pela estranha ambigüidade que atravessa todo e qualquer<br />

sentido presente no texto. Do travessão inicial até o símbolo<br />

do infinito (∞) que fecha a narrativa, vários outros signos<br />

visuais são inseridos, perfazendo inesperadas travessias,<br />

palavra tão cara ao universo rosiano.<br />

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O leitor encontra ao longo do texto signos mais do que<br />

oferecem à necessária leitura, se apresentam, em instâncias<br />

posteriores, à contemplação já não mais como apenas palavras,<br />

mas como objetos de indagações de novos sentidos.<br />

É importante chamar a atenção do leitor para a riqueza<br />

dessas ilustrações, em que a exploração do extrato fônico se<br />

une a sinais gráficos para estabelecer diferenças: o processo<br />

demonstra as infinitas possibilidades de criação oferecidas pela<br />

língua e os diálogos que os textos podem estabelecer com as<br />

outras artes, convidando o leitor a uma leitura plural, que não<br />

se esgota unicamente, nas formas de ler, exigidas pela escrita<br />

tradicional.<br />

As criações lexicais de João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> são<br />

consideradas tradicionalmente como inovações lingüísticas que<br />

se realizam “fora da norma, mas dentro do sistema da Língua<br />

Portuguesa”. As ousadas intervenções morfo-cirúrgicas que<br />

<strong>Guimarães</strong> realizou e utilizou em suas obras possibilitavam e<br />

possibilitam a seus leitores diversas modificações do sistema.<br />

O aparato crítico a respeito da obra de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />

no que diz respeito às suas inovações lingüísticas procurou<br />

ultrapassar o limite do sistema e conseguiu.<br />

Procurar entender termos como os citados, é sempre<br />

complicado, mas muito enriquecedor, pois cada um possui um<br />

leque de sugestivos significados o que é bem caracterizado em<br />

sua obra “Primeiras Estórias”, se nos retermos aos vocábulos<br />

rosianos iremos nos perder na imensidão de termos desse<br />

grande escritor. Voltemos ao nosso enfoque no momento.<br />

68<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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Grande Sertão: Veredas é um relato memorialístico do<br />

Jagunço Riobaldo no qual encontramos de maneira sólida<br />

questões centrais da experiência humana como: a existência do<br />

Diabo, a ambigüidade do erótico, a relação agonística entre o<br />

urbano e o rural, desse modo mergulhar no mundo tão particular<br />

do sertão, protagonistas e figurantes se trata de aprofundar no<br />

que há de mais universal.<br />

Em “Grande Sertão: Veredas”, Riobaldo, o narradorprotagonista,<br />

numa espécie de exame de consciência feito em<br />

sua velhice analisa a bifurcação de sua vida entre o caminho de<br />

jagunço e de um letrado, este duplo destino que cortou sua<br />

vida conta de um interlocutor considerado mudo por não se<br />

pronunciar do início ao fim do romance.<br />

Riobaldo, nascido pobre e bastardo, guarda uma boa<br />

lembrança da mãe, falecida quando o filho mal saía da infância.<br />

Rememora, com freqüência o evento mais marcante dessa<br />

primeira parte de sua vida, a saber do encontro com o “Menino”,<br />

a qual ele fará subseqüentemente repetidas alusões.<br />

Após a morte da mãe, Riobaldo é recolhido pelo padrinho<br />

Selorico Mendes, na verdade o pai ignorado, em cuja fazenda<br />

vai morar.<br />

É o padrinho quem o inicia nas artes da guerra e das<br />

letras. O padrinho tinha ilimitada admiração pelos jagunços e<br />

gostava de se jactar das relações de amizade que tinha com<br />

muitos deles. Nessa ordem de idéias, põe nas mãos do afilhado<br />

diversas armas com as quais deve se exercitar. E, contrariado<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

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porque o pequeno, analfabeto, não consegue ler os documentos<br />

que lhe mostra para atestar sua familiaridade com jagunços<br />

célebres, decide enviá-los à escola da aldeia mais próxima.<br />

Na escola, Riobaldo mostra boa aptidão para os estudos.<br />

Mas não se sai tão bem nas tarefas da vida prática, extraindo<br />

por isso de seu hospedeiro na aldeia a seguinte observação:<br />

“Baldo, você carecia mesmo de estudar e tirar carta-de-doutor,<br />

porque para cuidar do trivial você jeito não tem. Você não é<br />

habilidoso”. O Professor, Mestre Lucas, confirma: “É certo.<br />

Mas, o mais certo de tudo é que um professor de mão-cheia<br />

você dava...”. A partir daí, Riobaldo passa a assistente de<br />

Mestre Lucas, na escolinha de primeiras letras.<br />

Ao saber, eventualmente, que seu presumível padrinho é<br />

de fato seu pai, Riobaldo foge de casa e arranja um cargo para<br />

ensinar na fazenda por indicação de Mestre Lucas. Até aqui,<br />

dois arbítrios da sorte. Primeiro, a jagunçagem o joga nas letras,<br />

pois o pai o manda alfabetizar-se ao não conseguir ler os<br />

documentos comprobatórios de sua relação com chefes de<br />

bando. Depois as letras o jogam na jagunçagem; o aluno que<br />

o aguarda na fazenda é ninguém menos que Zé Bebelo, de<br />

influência maior na definição de seu destino.<br />

Devido aos brilhantes dotes do aluno, logo o professor<br />

nada tem a lhe ensinar. Mas aceitará o oferecimento do posto<br />

de secretário, assim permanecendo ao pé de Zé Bebelo. A<br />

fazenda deste será em pé de guerra, em meio aos preparativos<br />

de arranjar da campanha para acabar com a jagunçagem<br />

utilizando jagunços. Riobaldo sem nada que o prendesse, segue<br />

junto, embora apenas como secretário não-combatente.<br />

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<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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Mas um dia, presa de desgosto à vista de tanta<br />

mortandade, resolve fugir e abandonar aquela vida. O que faz,<br />

para melhor ser laçado por outro arbítrio da sorte, tornandose<br />

mais completamente presa do destino. Pois, em meio à fuga,<br />

vai topar numa outra fazenda com o “Menino”, agora o adulto<br />

Diadorim, membro importante do bando de Joça Ramiro, que<br />

Zé Bebelo, justamente combatia.<br />

O enredo é emaranhado, e a reflexão de Riobaldo<br />

também, pois se percebe joguete de força que não compreende.<br />

Ao reencontrar o “Menino”, não mais o abandonará, e será ele<br />

quem determinará dali em diante seus passos. Passa a fazer<br />

parte do bando dos adversários de Zé Bebelo e se tornará<br />

definitivamente um jagunço.<br />

Riobaldo e Diadorim<br />

No primeiro encontro entre ambos, ainda na<br />

adolescência, Riobaldo recebera do menino uma lição de<br />

coragem quando da travessia do São Francisco numa canoa.<br />

No segundo encontro, arrebatado pelo fascínio de Diadorim,<br />

vai aprender em sucessivas lições de quanta coragem se precisa<br />

para ser jagunço. Sendo Diadorim filho secreto de Joca Ramiro,<br />

chefe do bando, estabelece-se entre os dois uma relação de<br />

amor e de morte, que se desenrola sob o signo de Deus e do<br />

Diabo. Nessa relação, a camaradagem viril se mistura a um<br />

desejo dos mais ambíguos, assim como o prazer da amizade<br />

entre ambos a guerra incessante em que estão empenhados.<br />

Disso resultará por fim, a morte de Diadorim, da qual Riobaldo<br />

se sentirá culpado pelo resto da vida .<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

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Riobaldo demora um pouco a perceber que o que sente<br />

é amor, e amor por um outro homem. Sua perturbação é<br />

enorme, e ele chega a pensar em suicídio. Só saberá, para sua<br />

pena e alívio, que se trata de uma mulher disfarçada de homem<br />

nas últimas páginas do livro, quando Diadorim mata e morre,<br />

num duelo a faca com Hermógenes assassino de seu pai, Joca<br />

Ramiro. Seu corpo vai ser preparado para receber a mortalha,<br />

quando também o leitor fica sabendo seu verdadeiro sexo.<br />

A essa ambigüidade se acrescentam os problemas<br />

inerentes à carreira de jagunço vem ser o medo, provar a<br />

destreza nos combates e sobretudo, empenhar lealdade a um<br />

chefe. Tendo pertencido sucessivamente a vários bandos, às<br />

vezes inimigos uns dos outros. Riobaldo não tem clareza sobre<br />

suas próprias motivações. Persistem suas indagações sobre a<br />

injustiça e sobre as causas últimas. Para obter a confiança de<br />

Diadorin, que jurou vingar o assassino do pai matando o<br />

Hermógenes e exige igual juramento do amigo, Riobaldo acaba<br />

por vender a alma ao Diabo em troca de atingir esse objetivo.<br />

A partir daí, diluem-se suas dúvidas, ele destitui Zé Bebelo e<br />

se torna chefe em seu lugar. Passa a ter apenas um alvo,<br />

inexorável .. eliminar o Hermógenes.<br />

É o que se encontra resumido numa frase que serve de<br />

epígrafe ao romance, já na folha de rosto, e que é repetida<br />

inúmeras vezes... “O Diabo na rua, no meio do redemoinho”.<br />

Frase que só se decifra quando Diadorim e Hermógenes afinal<br />

se defrontam e se entrematam no meio da rua, rodamoinhando<br />

um em torno do outro e levantando poeira. Desaparecidos o<br />

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<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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amigo e o inimigo, tudo fica sem sentido, e Riobaldo se retira<br />

da jagunçagem, para deitar-se na rede e ficar cogitando sobre<br />

sua vida, tal como o interlocutor virá encontrá-lo.<br />

Para Antonio Cândido, um dos primeiros estudiosos de<br />

“Grande Sertão: Veredas”, nesse ponto, ao renunciar “aos altos<br />

poderes que o elevaram por um instante acima da própria<br />

estatura, o homem do sertão se retira na memória e tenta<br />

laboriosamente construir a sabedoria sobre a experiência vivida,<br />

porfiando num esforço comovedor, em descobrir a lógica das<br />

coisas e dos sentimentos”.<br />

Assim termina e começa, ou começa e termina, encerrando<br />

o colossal percurso de sua narrativa, esse monumento tanto da<br />

obra Rosiana quanto das letras em Língua Portuguesa.<br />

Terminamos as história de Diadorim e Riobaldo um amor<br />

marcado pela ambuigüidade do erótico, pela caracterização<br />

do bem e do mal, pela ênfase ao regionalismo entre outros<br />

temas; é tudo isto que torna harmonioso, de uma certa maneira,<br />

o texto de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> pois, a influência dessa leitura não<br />

emerge abruptamente numa ou noutra citação, como algo<br />

excrescente, mas permanece sabiamente, durante todo o livro,<br />

tornando impraticável discernir referências pontuais, de tal forma<br />

que o que foi assimilado dissemina-se na escritura: Tudo está<br />

ligado a tudo na vida então observamos que ao lermos<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> não se trata de poder se ver bem mas sim é o<br />

fundo dessas leituras que transparece na reflexão, como se o<br />

autor tivesse internacionalizado de tal maneira os temas que<br />

seu conteúdo passou a constituir verdade íntima, visão de<br />

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mundo, emergindo incoercivelmente nos lances da obra em que<br />

estão em jogo imperativos de ordem totalmente moral. Posso<br />

então considerar “Grande Sertão:Veredas” como sendo uma<br />

autobiografia irracional ou melhor uma autoreflexão irracional<br />

do autor. “Grande Sertão:Veredas” é um texto que foi escrito<br />

sob o signo da dor, da morte, da falta , que traz consigo marcas<br />

visuais tão expressivas e portadoras de significados quanto as<br />

palavras escritas; se colocam aos olhos do leitor, convidandoo<br />

a considerar o livro como um precioso objeto, que além de<br />

lido, deverá ser contemplado. Produzido segundo leis próprias,<br />

imporá um outro caminho de percepção e de leitura, pela<br />

bordadura das marcas autorais, dos ornamentos, da imposição<br />

de uma respiração, ao se executar o ato físico de ler são<br />

estruturas identificadas na leitura dessa obra que sempre<br />

surpreende com uma nova faceta a cada momento descoberta;<br />

é importante chamar atenção do leitor para a riqueza contínua<br />

de ilustrações textuais em que a exploração do extrato fônico<br />

se une a sinais gráficos para estabelecer a diferença; o processo<br />

demonstra as infinitas possibilidades de criação oferecidas a<br />

língua e os diálogos que os textos podem estabelecer com as<br />

outras artes para um estudo mais aprofundado convidando o<br />

leitor para uma leitura plural, que não se esgota unicamente<br />

nas formas de ler exigidas pela tradicional. Um exemplo nada<br />

gratuito está na nomeação da pedra preciosa que Riobaldo<br />

adquire e que acabará por se tornar um prêmio para o leitor<br />

com um olhar mais amplo de sua obra. A esta pedra damos<br />

o valor como sendo uma figura perfeita daquilo que foge ao<br />

caráter explícito dos exemplos apresentados no texto. A<br />

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<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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pedra torna-se valiosa, preciosa pelo valor afetivo investido<br />

nela mais uma vez, na beleza de temas universais inseridos<br />

dentro do mundo rosiano.<br />

Justificativa<br />

Como justificar o estudo mais aprofundado da vida e da<br />

obra de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>? Isto é fácil quando se trata de um<br />

dos maiores escritores da literatura brasileira, não só um autor<br />

que expandiu muito além de nossas fronteiras, da beleza de<br />

nossa cultura ou que revolucionou o mundo regional do Brasil,<br />

ou que ainda inovou o mundo lingüístico com uma imensidão<br />

de vocábulos totalmente novos. Este autor assim como muitos<br />

outros devem ganhar um estudo sobre sua vida e obra, devido<br />

a importância que tiveram e tem no contexto, não só brasileiro,<br />

mas mundial. É complicado enumerar as imensas justificativas<br />

que possuímos; pois a imensidão de temas abordados por este<br />

autor que estamos estudando, vai muito além do que<br />

imaginamos. Este belo escritor possui um leque de estruturas<br />

para serem citadas, porém mesmo procurando citar todas<br />

sempre deixaremos alguma com menos ênfase, pois são tantas<br />

que mesmo com a ambição de lembrarmos de todas não<br />

conseguiríamos. Procuraremos, assim como temos feito desde<br />

o início do nosso trabalho focalizar o que realmente apresentou<br />

uma real importância para o mundo literário.<br />

A leitura de pelo menos uma obra de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

deve ser considerada como uma estrutura de desenvolvimento<br />

cultural para os que se interessam. Por mais que muitos jovens<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

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não suportem a idéia de ler livros grandes e com um linguajar<br />

totalmente “distorcido” dos seus, as escolas e cursos, em geral,<br />

deveriam possuir uma estrutura mais rigorosa, não que obrigasse<br />

aos estudantes a lerem, mas sim que induzisse à leitura, fazendo<br />

com que eles lessem por interesse próprio e não por obrigação.<br />

Infelizmente é essa a imagem que a leitura ou a própria busca<br />

por informações gera ao leitor jovem. Nosso objetivo maior,<br />

não é influenciar, mas sugerir aos que lerem este trabalho, uma<br />

visão mais ampla e apurada do mundo literário, pois a literatura<br />

marca o desenvolvimento de uma sociedade. Desde os<br />

primórdios vemos que um dos maiores valores de uma<br />

civilização é a palavra e muito do que conhecemos hoje devemos<br />

agradecer aos antepassados que priorizaram antes de tudo,<br />

registrar através da escrita o que acontecia no passado e,<br />

principalmente, a visão que se tinha naquela época a respeito<br />

da sociedade, de sua maneira de pensar, de suas histórias, enfim,<br />

de seu cotidiano. Esta é a função da literatura mostrar o valor<br />

da escrita não só para enriquecer os leitores como também<br />

para enriquecer uma civilização inteira.<br />

Iremos nos deparar a todo momento com uma imensa<br />

rede de obras no contexto literário, abrangendo não só obras<br />

de grande impacto como de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, mas também de<br />

outros escritores porém nosso enfoque é no momento, este<br />

autor. Demonstrar algumas justificativas já demonstramos, já<br />

que é muito difícil terminar essa justificativa, pois como acabamos<br />

de dizer em outras palavras que: “o mundo literário é isso, é<br />

grandiosidade nas palavras, é imensidão de interpretações, é<br />

conhecimento, é cultura, é alegria, é tudo que se pode imaginar<br />

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para fazer o ser humano crescer a partir do mundo da<br />

ficcionalização encontrada em diversos livros ou próprias<br />

narrativas de fundo real nos enobrece, não no sentido de trazer<br />

uma determinada satisfação quando lemos, e por sua vez<br />

conciliamos tal leitura a um fato real, ou até mesmo, quando<br />

lemos e nos surpreendemos com algo chocante que tiramos<br />

do livro e acabamos levando para nossas vidas. Este ato de<br />

enobrecimento ocorre como uma conseqüência do ato<br />

involuntário de gostar de uma determinada obra e mais uma<br />

vez citamos, é isso que <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> causa aos seus leitores<br />

fiéis ou até mesmo passageiros inesgotáveis são meios de<br />

justificar o teor geral do mundo rosiano. Logo, é isso que nos<br />

dá maior prazer ao elaborar tal justificativa. No momento, temos<br />

que vencer mais uma barreira que encontramos no nosso<br />

caminho às vezes, falta uma palavra, uma idéia ou até mesmo<br />

paciência, mas superamos porque a própria vontade de mostrar<br />

a beleza deste universo supera os entraves que a falta de<br />

paciência ou cansaço possam causar, enfim, qualquer barreira<br />

que atrapalhe tal elaboração, torna-se um desafio. Em cada<br />

momento encontramos uma surpresa, novas descobertas e<br />

felicidades. Por outro lado, contrapondo a tudo isso surge a<br />

insatisfação, o desânimo e mais uma vez a ganância por um<br />

trabalho bem feito é maior, felizmente, pois isso faz não só o<br />

trabalho ficar com mais linhas, como também com mais<br />

conteúdo, e é esse o ponto que queremos atingir queremos<br />

chegar ao clímax, ao topo elevar ao máximo o leitor para que<br />

desse modo, através de uma leitura gostosa ele venha interagir,<br />

divertir sem se perder em uma leitura chata e cansativa estamos<br />

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procurando mostrar através de algumas linhas o cenário<br />

camuflado desta tese que procurou equilibrar o que realmente<br />

tem uma importância para o contexto geral de quem irá ler,<br />

mas também para que vejam a dificuldade, principalmente a<br />

superação desta para sua elaboração. Terminamos aqui a<br />

justificativa, não com um encerramento do tipo: “<strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> revolucionou o mundo literário brasileiro” mas sim com<br />

um desfecho que procura mostrar a realidade <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

que modificou uma determinada área antes inalcançável, a de<br />

sugerir aos seus leitores sempre, mas sempre a sua real e<br />

verdadeira visão sobre a vida.<br />

78<br />

Uma análise mais aprofundada em termos<br />

psicanalíticos sobre <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

Para Platão, a obra de arte mimética seria imperfeita<br />

porque, ao se reproduzir o real, o faria de forma incorreta,<br />

infiel à idéia, fugindo a toda ordem preestabelecida e a qualquer<br />

controle. A obra questionaria, assim, uma visão única e íntegra<br />

do real, ao mesmo tempo em que afirmaria seu próprio caráter<br />

mimético, de simulacro e não de cópia.<br />

De Platão aos nossos dias, a ciência tem mostrado que<br />

por trás da aparente unidade do mundo e do homem, existe<br />

um movimento e uma multiplicidade de planos e sentidos que<br />

nem sempre se quer admitir. Apesar de se negar o movimento<br />

e a pluralidade em benefício do único e estável, sabe-se que o<br />

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<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

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sentido não é dado pela seqüência de significantes e<br />

correspondentes significados, mas pela presença/ausência<br />

indicada pelo eixo paradigmático, contínuo dos interpretantes.<br />

Não há uma estrutura ou um centro irradiador de sentido.<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, ao abordar a questão do duplo, da<br />

loucura ou do teatro, o fará também no sentido de mostrar que<br />

o homem não tem um caráter monolítico, sendo antes um<br />

simulacro, ou seja, uma cópia de si mesmo, variando tanto<br />

quanto varia o objeto de seu desejo. O que apresenta para si<br />

próprio e para os outros é um conjunto de máscaras com que<br />

propicia, ideologicamente, o seu reconhecimento/<br />

desconhecimento.<br />

Biobibliografia<br />

João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, consagrado escritor brasileiro<br />

nascido em Cordisburgo, Minas Gerais, no dia 27 de Junho<br />

de 1908.<br />

Estudou na Faculdade de Medicina da Universidade de<br />

Minas Gerais e clinicou no interior de Minas por dois anos.<br />

Ingressou depois na carreira diplomática e prestou<br />

serviços em Hamburgo, em Baden-Baden, em Bogotá e em<br />

Paris.<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> veio a se tornar mais conhecido como<br />

escritor. Ocupou, todavia, outras profissões como acabamos<br />

de citar algumas.<br />

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Depois de ter aprendido as primeiras letras em sua<br />

cidade natal, Cordisburgo, <strong>Guimarães</strong> teve que deixá-la para<br />

candidatar-se aos benefícios de uma educação propriamente.<br />

Em 1918, aos dez anos, dirigiu-se inicialmente a São João<br />

Del Rey, ao seu colégio Santo Antônio e depois a Belo<br />

Horizonte. Nesta cidade, pela mão de seu avô e padrinho<br />

Luiz <strong>Guimarães</strong>, matriculou-se no Colégio Arnaldo dos Padres<br />

alemães, o mais prestigioso da capital também freqüentado<br />

em diferentes fases por Carlos Drummond de Andrade, Pedro<br />

Nava e Gustavo Capanema.<br />

Ao passar para os estudos superiores na mesma cidade,<br />

inicia em 1925 e conclui em 1930 o curso de Medicina, ano<br />

em que se casa com Lígia Cabral Pena.<br />

Dois anos antes de formar em 1928, obtivera sua primeira<br />

colocação, na Secretaria Estadual da Agricultura. De uma<br />

maneira ou de outra, tramitará como funcionário público por<br />

vários pequenos empregos.<br />

Logo em seguida à formatura, começa a trabalhar em<br />

1931 como Médico em Itaguara, cidade do interior de Minas<br />

Gerais. Ali, nasce-lhe nesse ano a primeira filha Vilma. No ano<br />

seguinte 1932, é nomeado inspetor de Educação e Saúde, em<br />

Itaguara. E, por ocasião da revolução constitucionalista de 1932<br />

em que São Paulo, com grupos mineiros e gaúchos rebelou-se<br />

contra o governo federal, apresentou-se como voluntário a força<br />

pública de seu estado, tendo servido no túnel da Serra da<br />

Mantiqueira, onde ouve uma das mais importantes batalhas da<br />

conflagração.<br />

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Em 1933 presta concurso para a força pública, tornandose<br />

Oficial-Médico, em outra cidade mineira Barbacena, sendo<br />

promovido a Capitão no ano seguinte. Em 1934 nasce Agnes,<br />

segunda filha do casal e de 1933 a 1935 trabalha no serviço de<br />

proteção ao índio. Na corporação militar reencontrou outro<br />

oficial-médico, Juscelino Kubitschek de Oliveira, futuro<br />

Presidente da República que conhecera quando ambos<br />

estagiavam na Santa Casa de Misericórdia, de Belo Horizonte<br />

e a qual, muitos anos mais tarde, em 1958, deveria sua<br />

promoção a Embaixador.<br />

Em 1935, ingressa no Itamarati sendo nomeado cônsul<br />

de terceira classe. Sua trajetória naquele ministério está bem<br />

registrada, em livro interessante que traz alguns documentos<br />

redigidos por <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> e submetidos a seu crivo antes<br />

de serem selecionados para publicação. Dentre eles se destaca<br />

um ofício interno que tem o requinte de limitar-se a palavras<br />

iniciadas com a letra “c”. Os testemunhos convergem para<br />

delinear o perfil de um funcionário consciencioso e trabalhador.<br />

A carteira de diplomata como de praxe, implicaria em<br />

deslocamentos sucessivos. Cônsul-adjunto em Hamburgo<br />

em1938, ali conheceria Aracy Moebius de Carvalho, sua<br />

segunda esposa. Aproveita a oportunidade da sua estada no<br />

exterior para viajar pela Europa. A segunda guerra, provocando<br />

o rompimento de relações com a Alemanha, leva-o a ser<br />

internado por quatro meses em 1942, em Baden-Baden. Nesse<br />

ano é nomeado segundo secretário da Embaixada em Bogotá,<br />

de onde volta em 1944, para trabalhar na Secretaria no Rio de<br />

Janeiro.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 81<br />

16/05/08, 09:11<br />

81


Em 1946 é renomeado chefe de gabinete do ministro<br />

João Neves da Fontoura, com qual desenvolveu calorosa<br />

amizade e do qual faria o elogio protocolar ao tomar posse<br />

vinte anos depois na Academia Brasileira de Letras, ao sucedêlo<br />

na mesma cadeira.Viajaria para Paris nesse ano, para a<br />

Conferência de Paz ao término da guerra, como secretário de<br />

nossa delegação. Em 1948, a mesmo título, vai a conferência<br />

americana, em Bogotá. Antes do fim do ano é nomeado<br />

secretário da Embaixada em Paris, e promovido a conselheiro<br />

no ano seguinte obtendo o cargo de ministro de segunda classe<br />

em 1951, quando reassume seu antigo posto junto a João Neves<br />

da Fontoura, no Rio de Janeiro.<br />

Dois anos depois, passa a chefia da Divisão de<br />

Orçamento e em 1958 a ministro de primeira classe, ou<br />

embaixador. De 1962 em diante seria chefe do serviço de<br />

demarcação de fronteira, posto em que viria a falecer no dia<br />

19 de novembro de 1967.<br />

Procuramos de maneira sucinta descrever o caminho de<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> em percurso totalmente grandioso, em que<br />

ocupou cargos de grande importância na vida pública brasileira<br />

e atuou de maneira brilhante em vários departamentos do mundo<br />

profissional. Ele se envolveu em conquistas profissionais e<br />

pessoais ao se casar e ter duas filhas. Por essa sua vida cheia<br />

de grandes realizações não podemos considerar que este<br />

escritor morreu e sim, que ele partiu para uma dimensão em<br />

que para seus leitores ele jamais morrerá e que pelo contrário<br />

que ele estará eternamente contido em suas obras e jamais sairá<br />

82<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 82<br />

16/05/08, 09:11


de nossas memórias. E é esta a função que estamos possuindo<br />

no momento a de resgatar na memória dos leitores ao mundo<br />

rosiano de maneira bela, procurando sempre vangloriar este<br />

escritor. O restabelecimento constante de <strong>Guimarães</strong> é<br />

simplesmente uma forma satisfatória, de além de uma superação<br />

no que tange à destruição de barreiras para levantar uma<br />

humilde, porém, bela tese de sua vida e obra.<br />

Conclusão<br />

A beleza original e exclusiva das obras rosianas são<br />

simplesmente o nascimento de uma estrutura literária que<br />

engloba de maneira equilibrada temas totalmente universais. Este<br />

grande autor aglutina em suas obras a ambigüidade do erótico,<br />

a relação agonística entre o rural e urbano, caráter rotineiro<br />

das diversas manifestações de violência no Brasil, representado<br />

no mundo da jagunçagem, claramente. O equilíbrio entre o<br />

espiritualismo europeu e o regionalismo brasileiro, a bifurcação<br />

entre o mundo material e espiritual, neologismo, inesgotável<br />

mundo ficcional, fertilidades em temas humanos, o duplo sentido<br />

do sertão, o misticismo, enfim, possuímos um leque de temas<br />

englobados por este autor, se fôssemos enumerar todos,<br />

gastaríamos uma infinidade de folhas e mesmo assim não<br />

teríamos citados todos, sabe porquê ? Porque falar de <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> não tem limites, por isso temos que enfocar os traços<br />

principais de suas características buscando sempre mostrar aos<br />

leitores a importância deste escritor, que revolucionou para<br />

sempre a literatura brasileira.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 83<br />

16/05/08, 09:11<br />

83


Conclui-se então que este grande escritor não levou<br />

somente nossa literatura para uma dimensão nunca antes<br />

alcançada ou mostrou a beleza da cultura brasileira para o<br />

mundo. Este autor com sua sabedoria e beleza expandiu uma<br />

saga de temas realmente importantes, e principalmente, no que<br />

se refere aos aspectos universais da sociedade e este é o papel<br />

da literatura, conduzindo na expansão para um universo muito<br />

maior, não apenas de narrativas interessantes ou intrigantes,<br />

mas sim, levá-lo a um contexto mundial de reais informações,<br />

as quais venha-lhe trazer, enquanto leitor, um conteúdo a mais<br />

em seu livro “psíquico” de informações gerais que englobe desde<br />

a multiplicidade, a diferença, a ruptura de hábitos arraigados, a<br />

exploração de uma vasta rede de indagações com respostas<br />

claras, para o leitor que procura sempre uma interpretação que<br />

traga uma satisfação para seu entendimento.<br />

84<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 84<br />

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REGULAMENTO E ATOS DO I CONCURSO DE<br />

PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO<br />

GUIMARÃES ROSA”/2006.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 85<br />

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85


86<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 86<br />

16/05/08, 09:11


I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />

“JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2006.<br />

REGULAMENTO.<br />

Art. 1 o — A <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> (04.853.455/<br />

0001-00) e a Academia de Letras “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”<br />

(ALJGR, mantida pelo Clube dos Oficiais — COPM), da<br />

Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), promoverão, coparticipativamente<br />

com patrocinadores e entidades<br />

literoculturais, o I CONCURSO DE PROSA<br />

LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/<br />

2006 (ou I Concurso “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>” FGR/ALJGR<br />

— PMMG, identificado também, neste Regulamento,<br />

simplesmente como Concurso ou Certame).<br />

Parágrafo único — Do Certame disposto no caput a<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> será a provedora logístico-financeira,<br />

à qual compete a divulgação do Certame e o custeio de prêmios,<br />

publicações (principalmente da <strong>Coletânea</strong> do Concurso),<br />

impressões e outros serviços ou recursos necessários à<br />

execução deste Regulamento; a Academia de Letras “João<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”, a provedora intelectual e acadêmica.<br />

Art. 2 o — Do I CONCURSO DE PROSA<br />

LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/<br />

2006 poderão participar alunos regularmente matriculados em<br />

cursos de nível médio, satisfeitas as exigências contidas neste<br />

Regulamento.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 87<br />

16/05/08, 09:11<br />

87


Art. 3 o — As inscrições no Certame serão feitas, de 22<br />

de agosto de 2005 a 16 de dezembro de 2005, exclusivamente<br />

pelos meios de postagem (serviços realizados pelos Correios),<br />

mediante remessa do texto e ficha de inscrição do respectivo<br />

Autor, de acordo com o modelo constante do Anexo Único a<br />

este Regulamento.<br />

Art. 4 o — Cada Concorrente inscreverá apenas um texto<br />

em prosa literocientífica, escrito em Língua Portuguesa e inédito,<br />

sobre a vida e a obra do escritor João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />

com extensão de 15 à 20 páginas, datilografado ou digitado<br />

em papel A4, espaço dois, corpo doze, com título, sem nome<br />

nem pseudônimo do Autor, em três vias impressas e uma em<br />

disquete ou cd (acondicionadas, com a respectiva ficha de<br />

inscrição, em envelope opaco e lacrado), explicitamente<br />

endereçadas ao<br />

88<br />

I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />

“JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2006<br />

FGR e ALJGR/ PMMG.<br />

Aos cuidados da <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>/Departamento Social.<br />

Rua Paraíba, n o 1441 – Savassi.<br />

CEP 30130-141 – Belo Horizonte – MG.<br />

Parágrafo único — Na pauta do Remetente, apenas<br />

se registrarão os caracteres dos Promotores:<br />

REMETENTE: FGR e ALJGR/ PMMG.<br />

CEP 30130-141.<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 88<br />

16/05/08, 09:11


Art. 5 o — Até 23 de dezembro de 2005, o Departamento<br />

Social da <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> consolidará as inscrições<br />

e codificará, numericamente, por modalidade, os textos e<br />

ensaios recebidos e respectivas fichas de inscrição.<br />

§ 1 o — Em 27 de dezembro de 2005, o Curador do I<br />

CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />

“JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2006 encaminhará a<br />

julgamento os textos e ensaios validamente inscritos e<br />

codificados.<br />

§ 2 o — O Departamento Social da <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> custodiará as fichas de inscrição codificadas e, em época<br />

oportuna, com o Curador do Certame, identificará os Autores<br />

mais bem-classificados.<br />

Art. 6 o — Em 03 de abril de 2006, o Curador proclamará<br />

os resultados do Concurso, os quais serão divulgados pela<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />

Art. 7 o — O Curador do I CONCURSO DE PROSA<br />

LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/<br />

2006 é o <strong>Prosa</strong>dor e Crítico, Tenente-Coronel JOÃO BOSCO<br />

DE CASTRO, Presidente do Conselho Superior da ALJGR/<br />

PMMG, a quem compete, afora as atribuições típicas de<br />

curadoria de ensaística e produção literocientífica:<br />

I — a indicação dos integrantes da Comissão Julgadora<br />

(em regime de voluntariado);<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 89<br />

16/05/08, 09:11<br />

89


II — o convite a especialistas da Comunidade<br />

Literocientífica para colaboração no Certame, em regime de<br />

voluntariado;<br />

III — a coordenação das atividades de planejamento e<br />

execução, julgamento e premiação, explícitas ou implícitas neste<br />

Regulamento;<br />

IV — a organização e coordenação, ou até a execução,<br />

dos procedimentos de revisão, prefaciação, editoração,<br />

ilustração, arte-finalização e publicação da <strong>Coletânea</strong> dos Textos<br />

Premiados e Classificados no Concurso;<br />

90<br />

V — a presidência da Comissão Julgadora;<br />

VI — a solução de casos fortuitos e omissos, em primeira<br />

instância.<br />

Art. 8 o — O julgamento das prosas literocientíficas<br />

inscritas caberá a uma comissão, composta de três Especialistas<br />

em Ensaística e, especialmente, em João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>:<br />

sua vida e obra, para a escolha dos três melhores textos do<br />

Sertame, os quais serão publicados na <strong>Coletânea</strong> do I<br />

CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />

“JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2006, também denominada<br />

simplesmente <strong>Coletânea</strong>.<br />

§1 o — A Comissão Julgadora ? cujas decisões<br />

premunem-se de soberania e irrecorribilidade ? será designada,<br />

em ato conjunto, pelo Superintendente-Geral da <strong>Fundação</strong><br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> e Presidente da Academia de Letras “João<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”, da PMMG.<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 90<br />

16/05/08, 09:11


§ 2 o — A Comissão Julgadora decidirá sobre seus<br />

critérios de julgamento e método de trabalho.<br />

Art. 9 o — Ao Curador e a cada Julgador designado na<br />

forma do § 1 o do art. 8 o será conferida, nas cerimônias dispostas<br />

no art.14, a Medalha de Crítica Literocientífica<br />

“Graciliano Ramos”, cunhada, com o respectivo colar, em<br />

ouro simbólico, acompanhada da respectiva Réplica para lapela,<br />

também em ouro simbólico, e do Diploma consagrador dessa<br />

Comenda.<br />

Parágrafo único — A legitimidade ético-estética da<br />

Medalha disposta no cput é a efígie do romancista e crítico<br />

Graciliano Ramos de Oliveira (autor de Vidas Secas e integrante<br />

da Comissão Julgadora do Concurso do qual participou João<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, com Sagarana, em 1938), insculpida no<br />

centro de expressivo arranjo armorial respeitante ao Certame.<br />

Art. 10 — Haverá prêmios, com os respectivos<br />

diplomas, para os três Autores mais bem-classificados: o<br />

primeiro lugar será premiado com R$ 450,00 (quatrocentos e<br />

cinqüenta reais) em dinheiro e a Medalha de Ouro Fantásticas<br />

Veredas – FGR/ALJGR de <strong>Prosa</strong> Simples e respectiva Réplica;<br />

o segundo-lugar, com R$ 250,00 (duzentos e cinqüenta reais)<br />

em dinheiro e a Medalha de Prata Fantásticas Veredas – FGR/<br />

ALJGR de <strong>Prosa</strong> Simples e respectiva Réplica; o terceiro-lugar,<br />

com R$ 100,00 (cem reais) e a Medalha de Bronze Fantásticas<br />

Veredas – FGR/ALJGR de <strong>Prosa</strong> Simples e respectiva Réplica;<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 91<br />

16/05/08, 09:11<br />

91


Parágrafo único — Os textos premiados, na forma deste<br />

artigo, serão publicados pela <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> na <strong>Coletânea</strong> do I CONCURSO DE PROSA<br />

LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/<br />

2006, em tiragem de mil e quinhentos exemplares, destináveis<br />

às pessoas voluntariamente empenhadas na elaboração da<br />

citada <strong>Coletânea</strong> e distribuíveis a escolas, bibliotecas, entidades<br />

literoculturais e patrocinadores, gratuitamente.<br />

Art. 11 — Outras láureas poderão ser conferidas aos<br />

Autores Premiados e Julgadores de Texto, segundo proposta<br />

oferecida aos Promotores pelo Curador do Concurso.<br />

Art. 12 — Se, por falta de mérito ou valor qualitativo<br />

sentenciada pela Comissão Julgadora, os textos apreciados não<br />

perfizerem as quantidades previstas no art. 8 o , alguns ou todos<br />

os prêmios do art. 10 poderão ser cancelados, ou a <strong>Coletânea</strong><br />

poderá ser publicada com menos textos, em quantidade nãoinferior<br />

a duas prosas e volume do miolo não-inferior a cinqüenta<br />

páginas.<br />

Art.13 — Cada Autor de texto publicado na <strong>Coletânea</strong><br />

estabelecida nos arts. 8 o e 10, o Curador e os Julgadores de<br />

texto receberão de tal livro vinte exemplares.<br />

Parágrafo único — À Academia de Letras “João<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”, da Polícia Militar de Minas Gerais (ALJGR/<br />

PMMG), serão entregues quinze por cento dos exemplares de<br />

cada tiragem da <strong>Coletânea</strong>.<br />

92<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 92<br />

16/05/08, 09:11


Art. 14 — As cerimônias de premiação dos Autores<br />

Laureados e lançamento da <strong>Coletânea</strong> do I CONCURSO DE<br />

PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES<br />

ROSA”/2006 serão concomitantemente realizadas na semana<br />

de junho de 2006 na qual incidir o dia 27, data natalícia do<br />

insuperável romancista João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />

Parágrafo único — Após as cerimônias dispostas neste<br />

artigo, as vias dos textos não-classificados serão destruídas.<br />

Art.15 — Os Promotores e Patrocinadores deste<br />

Concurso poderão expor, divulgar e editar o texto e a imagem<br />

pessoal de qualquer Autor inscrito, sem a ele dever nenhum<br />

direito autoral nem ônus financeiro ou cível.<br />

Art. 16 — Não poderão inscrever-se neste Concurso<br />

as pessoas envolvidas no respectivo processo de planejamento,<br />

ou execução, ou julgamento, ou premiação, nem seus familiares,<br />

dependentes, ascendentes ou descendentes de até terceiro grau.<br />

Art. 17 — Ao <strong>Prosa</strong>dor premiado no I CONCURSO<br />

DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO<br />

GUIMARÃES ROSA”/2006 residente fora da Região<br />

Metropolitana de Belo Horizonte, e a um acompanhante dele,<br />

a <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> assegurará alimentação e pousada<br />

por dois dias, na Capital, quando se realizarem as cerimônias<br />

dispostas no art.14.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 93<br />

16/05/08, 09:11<br />

93


Art.18 — Será desclassificado todo e qualquer texto<br />

contrário a este Regulamento.<br />

Art. 19 — Os casos omissos ou fortuitos serão<br />

resolvidos, em segunda instância, conjuntamente pelos<br />

Promotores deste Concurso.<br />

Art. 20 — Este Regulamento entra em vigor em 22 de<br />

agosto de 2005.<br />

94<br />

Art. 21— Revogam-se as disposições contrárias.<br />

FGR, em Belo Horizonte-MG, 22 de agosto de 2005.<br />

ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU,<br />

Superintendente-Geral da <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 94<br />

16/05/08, 09:11


REESTRUTURAÇÃO DO CERTAME.<br />

I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />

“JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2006.<br />

A partir de hoje, este I Concurso de <strong>Prosa</strong><br />

Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/2006 (ou I Concurso<br />

“João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/FGR, ou Concurso, ou Certame)<br />

terá como provedor intelectual e acadêmico o respectivo<br />

Curador __ <strong>Prosa</strong>dor e Crítico Professor João Bosco Bosco<br />

de Castro __ , dispensada de tal Provedoria a Academia de<br />

Letras “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”, da PMMG, até então Copromotora<br />

do Certame, e mantida como provedora logísticofinanceira<br />

do mesmo Certame a <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

(CNPJ 04.853.455/0001-00).<br />

Cumpram-se todos os outros designativos e<br />

mandamentos do Regulamento do I Concurso “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006, vigentes desde 22 de agosto de 2005.<br />

Belo Horizonte-MG, 26 de dezembro de 2005.<br />

Álvaro Antônio Nicolau,<br />

Superintendente-Geral da FGR.<br />

<strong>Prosa</strong>dor e Crítico Professor João Bosco de Castro,<br />

Curador e Provedor Intelectual e Acadêmico do I Concurso<br />

“João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 95<br />

16/05/08, 09:11<br />

95


96<br />

I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />

‘‘JOÃO GUIMARÃES ROSA’’/2006.<br />

INDICAÇÃO DE COMISSÃO JULGADORA.<br />

Belo Horizonte - MG, 27 de dezembro de 2005.<br />

Senhor Superintendente-Geral:<br />

De acordo com os incisos I e II do art. 7º do Regulamento<br />

do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica ‘‘João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>’’ / 2006, indico a V. Sa., para a Comissão Julgadora dos<br />

Textos inscritos no mesmo Certame, os seguintes Especialistas:<br />

Presidente: <strong>Prosa</strong>dor e Crítico Professor João Bosco<br />

de Castro*, da Academia de Polícia Militar de Minas<br />

Gerais;<br />

Membros: <strong>Prosa</strong>dor e Crítico Professor Capitão<br />

Giovanni Franco, do Centro de Ensino de Graduação<br />

da APM/PMMG;<br />

<strong>Prosa</strong>dora e Crítica Professora Sílvia de Lourdes<br />

Araújo Motta, do Clube Brasileiro da Língua<br />

Portuguesa.<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 96<br />

16/05/08, 09:11


*Inciso V do art. 7º do citado Regulamento, como<br />

Curador do Certame.<br />

Atenciosa e academicamente,<br />

Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO,<br />

Curador do Concurso.<br />

_____________________<br />

Ao Sr. Coronel ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU,<br />

Superintendente-Geral da <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />

Rua Paraíba, Nº 1441 – 8º Andar.<br />

30130-141 – Belo Horizonte – MG.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 97<br />

16/05/08, 09:11<br />

97


98<br />

I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />

‘‘JOÃO GUIMARÃES ROSA’’/2006.<br />

COMISSÃO JULGADORA.<br />

O Superintendente-Geral da <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

(FGR), Álvaro Antônio Nicolau, no uso de suas atribuições<br />

e em atenção ao disposto no Regulamento do I Concurso de<br />

<strong>Prosa</strong> Literocientífica ‘‘João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>’’ / 2006,<br />

particularmente nos respectivos arts. 7º e 8º, designa a<br />

competente<br />

COMISSÃO JULGADORA DE PROSA<br />

LITEROCIENTÍFICA:<br />

Presidente: <strong>Prosa</strong>dor e Crítico Professor João Bosco<br />

de Castro, da Academia de Polícia Militar<br />

de Minas Gerais;<br />

Membros: <strong>Prosa</strong>dor e Crítico Professor Capitão<br />

Giovanni Franco, do Centro de Ensino<br />

de Graduação da APM/PMMG;<br />

<strong>Prosa</strong>dora e Crítica Professora Sílvia de<br />

Lourdes Araújo Motta, do Clube<br />

Brasileiro da Língua Portuguesa.<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 98<br />

16/05/08, 09:11


2005.<br />

Registre-se e cumpra-se!<br />

FGR, em Belo Horizonte – MG, 27 de dezembro de<br />

ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU,<br />

Superintendente-Geral da FGR<br />

Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO,<br />

Curador do Concurso.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 99<br />

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99


100<br />

I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />

‘‘JOÃO GUIMARÃES ROSA’’/2006.<br />

PROCLAMAÇÃO DE RESULTADOS.<br />

O Curador do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica<br />

‘‘João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>’’ / 2006, de acordo com o art. 6º do<br />

Regulamento do mesmo Certame e com base na decisão<br />

prolatada pela competente Comissão Julgadora, proclama os<br />

RESULTADOS DO CONCURSO:<br />

I. Primeiro Lugar:<br />

Autor: JONATHAN DE FREITAS SOUZA (do<br />

Colégio Tiradentes Nossa Senhora das Vitórias /<br />

PMMG – Belo Horizonte).<br />

Texto: O Genial: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, de Minas<br />

para o Mundo.<br />

II. Segundo Lugar:<br />

Autora: DAYSE NAYARA DOS SANTOS (do<br />

Colégio Tiradentes Nossa Senhora das<br />

Vitórias / PMMG – Belo Horizonte).<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 100<br />

16/05/08, 09:11


Texto: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Vida e Obra: Análise<br />

Profunda de Sua Importância.<br />

Belo Horizonte – MG, 3 de abril de 2006.<br />

Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO,<br />

Curador do Certame.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 101<br />

16/05/08, 09:11<br />

101


102<br />

I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />

‘‘JOÃO GUIMARÃES ROSA’’/2006.<br />

COMISSÃO JULGADORA.<br />

DECISÃO.<br />

A Comissão Julgadora dos Textos inscritos no I<br />

Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica ‘‘João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>’’<br />

/2006, após meticuloso julgamento dos Textos a ela<br />

submetidos, prolata a seguinte<br />

DECISÃO:<br />

I. Primeiro Lugar:<br />

Texto: O Genial: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, de Minas<br />

para o Brasil;<br />

Inscrição Nº 02;<br />

Média: 8,66 (oito vírgula sessenta e seis);<br />

II. Segundo Lugar:<br />

Texto: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Vida e Obra: Análise<br />

Profunda de Sua Importância;<br />

Inscrição Nº 01;<br />

Média: 7,00 (sete vírgula zero zero).<br />

De acordo com o art. 12 do Regulamento do Concurso,<br />

a Comissão Julgadora sentencia a inexistência de outros<br />

prêmios, em razão da baixa quantidade de prosas inscritas,<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 102<br />

16/05/08, 09:11


mas atesta a conveniência e a necessidade de publicação da<br />

<strong>Coletânea</strong> prevista no art. 8º e parágrafo único do art. 10 do<br />

citado Regulamento, com os dois Textos classificados.<br />

Belo Horizonte – MG, 14 de março (Dia Nacional da<br />

Poesia) de 2006.<br />

Professor João Bosco de Castro,<br />

Presidente.<br />

Professor Capitão Giovanni Franco,<br />

Membro.<br />

Professora Sílvia de Lourdes Araújo Motta,<br />

Membro.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 103<br />

16/05/08, 09:11<br />

103


104<br />

Belo Horizonte – MG, 15 de maio de 2006.<br />

Prezado <strong>Prosa</strong>dor Jonathan de Freitas Souza:<br />

Temos o prazer de cumprimentá-lo pela forma e<br />

substância de seu texto O Genial: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, de Minas<br />

para o Mundo, com o qual Você mereceu classificar-se em<br />

Primeiro Lugar no I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/2006, promovido por esta <strong>Fundação</strong><br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />

Solicitamos-lhe divida seu justo orgulho e louvável êxito<br />

com seus Professores, Orientadores, Diretora Pedagógica e<br />

sua Escola – o renomado Colégio Tiradentes da Polícia Militar,<br />

Nossa Senhora das Vitórias, Prado.<br />

Convidamo-lo, e a seus dignos Familiares e Amigos,<br />

para a Cerimônia de Premiação dos Vencedores do I<br />

Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/<br />

2006 – FGR, programada para as 19 h de 27 de junho de<br />

2006, no Teatro da Maçonaria (Av. Brasil, 478 – Santa<br />

Efigênia, Belo Horizonte – MG).<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 104<br />

16/05/08, 09:11


Com seus Prêmios, Você receberá vinte exemplares da<br />

<strong>Coletânea</strong> dos Textos Classificados em tão significativo e<br />

importante Concurso Literocientífico.<br />

Parabéns!<br />

Coronel ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU,<br />

Superintendente-Geral da FGR.<br />

Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO,<br />

Curador do Concurso.<br />

______________________________<br />

Ao Aluno Jonathan de Freitas Souza.<br />

Av. Dom João IV, 760 – Apto. 301A.<br />

Bairro Palmeiras.<br />

Cep: 30.580-270 – Belo Horizonte – MG.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 105<br />

16/05/08, 09:11<br />

105


Belo Horizonte – MG, 15 de maio de 2006.<br />

106<br />

Prezada <strong>Prosa</strong>dora Dayse Nayara dos Santos :<br />

Temos o prazer de cumprimentá-la pela forma e<br />

substância de seu texto <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>: Análise Profunda<br />

de Sua Importância, com o qual Você mereceu classificar-se<br />

em Segundo Lugar no I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica<br />

“João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/2006, promovido por esta <strong>Fundação</strong><br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />

Solicitamos-lhe divida seu justo orgulho e louvável êxito<br />

com seus Professores, Orientadores, Diretora Pedagógica e<br />

sua Escola – o renomado Colégio Tiradentes da Polícia Militar,<br />

Nossa Senhora das Vitórias, Prado.<br />

Convidamo-la, e a seus dignos Familiares e Amigos,<br />

para a Cerimônia de Premiação dos Vencedores do I<br />

Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/<br />

2006 – FGR, programada para as 19 h de 27 de junho de<br />

2006, no Teatro da Maçonaria (Av. Brasil, 478 – Santa<br />

Efigênia, Belo Horizonte – MG).<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 106<br />

16/05/08, 09:11


Com seus Prêmios, Você receberá vinte exemplares da<br />

<strong>Coletânea</strong> dos Textos Classificados em tão significativo e<br />

importante Concurso Literocientífico.<br />

Parabéns!<br />

Coronel ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU,<br />

Superintendente-Geral da FGR.<br />

Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO,<br />

Curador do Concurso.<br />

______________________________<br />

À Aluna Dayse Nayara dos Santos.<br />

Rua da Paz, 202 – Apto. 201.<br />

Bairro Nova Suíça.<br />

Cep: 30.480-540 – Belo Horizonte – MG.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 107<br />

16/05/08, 09:11<br />

107


108<br />

Belo Horizonte – MG, 26 de abril de 2006.<br />

Senhora Diretora Pedagógica:<br />

Temos o prazer de comunicar a V. Sa. que os vencedores<br />

do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006 são alunos do Ensino Médio desse Colégio<br />

Tiradentes da Polícia Militar de Belo Horizonte – Nossa<br />

Senhora das Vitórias – Prado.<br />

Ei-los, com os respectivos textos:<br />

Primeiro Lugar: JONATHAN DE FREITAS<br />

SOUZA;<br />

Texto: O Genial: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, de Minas para<br />

o Mundo.<br />

Segundo Lugar: DAYSE NAYARA DOS SANTOS;<br />

Texto: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Vida e Obra: Análise<br />

Profunda de Sua Importância.<br />

Transmitimos-lhe a felicidade maior dessa <strong>Fundação</strong> pela<br />

importante conquista e solicitamo-lhe repasse a esses valorosos<br />

Vencedores e respectivos Professores e Orientadores nossa<br />

mensagem de regozijo e respeito por tão nobre desempenho.<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 108<br />

16/05/08, 09:11


Essa Escola merece nosso aplauso e incentivo a novas<br />

conquistas, principalmente porque a produção de bom texto<br />

implica a melhor leitura, para humanização de talentos.<br />

Cordialmente,<br />

Tenente-Coronel ZILTON RIBEIRO PATROCÍNIO,<br />

Gerente do Departamento Social da FGR.<br />

Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO,<br />

Curador do Concurso.<br />

_______________________<br />

À Sra. Professora Rosemeire Melo Franco Nicolau,<br />

Diretora Pedagógica do Colégio Tiradentes da Polícia<br />

Militar de Belo Horizonte – Nossa Senhora das<br />

Vitórias – Prado, Belo Horizonte – MG.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 109<br />

16/05/08, 09:11<br />

109


110<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 110<br />

16/05/08, 09:11


GRÁFICA E EDITORA<br />

O LUTADOR.<br />

Pça. Pe. Júlio Maria, 01 – Bairro Planalto.<br />

CEP.: 31740-240 – Telefax: (31) 3441-3622.<br />

Belo Horizonte-MG.<br />

<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 111<br />

16/05/08, 09:11<br />

111


112<br />

<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />

<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 112<br />

16/05/08, 09:11

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