Coletânea Prosa.pmd - Fundação Guimarães Rosa
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I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO<br />
GUIMARÃES ROSA”/2006.<br />
COLETÂNEA DAS PROSAS CLASSIFICADAS E PREMIADAS<br />
(ORGANIZADA POR JOÃO BOSCO DE CASTRO).<br />
Alunos Premiados:<br />
Jonathan de Freitas Souza<br />
e Dayse Nayara dos Santos.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 1<br />
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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 2<br />
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FUNDAÇÃO GUIMARÃES ROSA.<br />
I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO<br />
GUIMARÃES ROSA”/2006.<br />
COLETÂNEA DAS PROSAS CLASSIFICADAS E PREMIADAS<br />
(ORGANIZADA POR JOÃO BOSCO DE CASTRO).<br />
Alunos Premiados:<br />
Jonathan de Freitas Souza<br />
e Dayse Nayara dos Santos.<br />
Editora O Lutador.<br />
Belo Horizonte-MG, Brasil.<br />
2006.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
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Direitos Autorais: patrimoniais, da <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>;<br />
morais ou intelectuais, dos autores classificados e premiados.<br />
Capa: André Ferreira Santos, com engenhos armoriais de João Bosco<br />
de Castro.<br />
Editoração e Arte-Finalização: Jornalista Ana Lívia Azevedo Castro e<br />
1º Sgt. PM Antônio Geraldo Alves Siqueira.<br />
Planejamento, organização e coordenação de editoração e artefinalização:<br />
João Bosco de Castro.<br />
Revisão: dos textos classificados e premiados: Professora Sílvia de<br />
Lourdes Araújo Motta;<br />
dos conteúdos pré-textuais e pós-textuais: João Bosco de<br />
Castro.<br />
Coadjuvação Editoral: Jornalista Juliana Leonel Peixoto.<br />
Tiragem: mil e quinhentos exemplares.<br />
Ficha Catalográfica*:<br />
4<br />
C694 <strong>Coletânea</strong> das <strong>Prosa</strong>s Classificadas (<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, I<br />
Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”<br />
/2006). João Bosco de Castro (org.). Belo Horizonte-MG:<br />
O Lutador, 2006. 112p.<br />
Autores premiados: Jonathan de Freitas Souza e<br />
Dayse Nayara dos Santos.<br />
Prefaciada por João Bosco de Castro.<br />
1. História da Literatura Brasileira. 2. Biobibliografia de João<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, prosa literocientífica __ coletânea. I. Castro, João Bosco<br />
de. II. Souza, Jonathan de Freitas. III. Santos, Dayse Nayara dos. IV. <strong>Fundação</strong><br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />
CDD __ 3B 869.8<br />
* Elaborada por Rita Lúcia de Almeida Costa, CRB 6 ª R1730.<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />
“JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2006.<br />
Curador:<br />
<strong>Prosa</strong>dor e Crítico Professor João Bosco de Castro<br />
(da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas<br />
Literárias, Cadeira n o 6).<br />
Julgadores de Texto:<br />
<strong>Prosa</strong>dor e Crítico Professor João Bosco de Castro;<br />
Professor Capitão Giovanni Franco, da Academia de<br />
Polícia Militar da PMMG;<br />
Professora Sílvia de Lourdes Araújo Motta,<br />
Presidenta do Clube Brasileiro da Língua<br />
Portuguesa.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>:<br />
Superintendente-Geral: Álvaro Antônio Nicolau;<br />
Superintendente Operacional: Pedro Seixas da<br />
Silva;<br />
Gerente do Departamento Social: Zílton Ribeiro<br />
Patrocínio.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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SUMÁRIO<br />
Resultado do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica<br />
“João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/2006 ....................................<br />
Prefácio, por João Bosco de Castro ................................... 11<br />
Textos Classificados e Premiados ...................................<br />
Primeiro Lugar:<br />
O Genial: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, de Minas para o Mundo,<br />
de Jonathan de Freitas Souza ....................................<br />
Segundo Lugar:<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Vida e Obra: Análise Profunda<br />
de Sua Importância, de Dayse Nayara dos Santos ......<br />
Regulamento e Atos do I Concurso de <strong>Prosa</strong><br />
Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”2006 ................<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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RESULTADO DO I CONCURSO DE PROSA<br />
LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES<br />
ROSA”/2006.<br />
Identificação de Autores.<br />
O Gerente do Departamento Social da <strong>Fundação</strong><br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> e o Curador do I Concurso de <strong>Prosa</strong><br />
Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>” / 2006, de acordo<br />
com § 2º do art. 5º do Regulamento do mesmo Certame,<br />
identificaram os autores mais bem-classificados em tal<br />
Concurso Literocientífico, de acordo com o resultado<br />
exarado pela competente Comissão Julgadora, da<br />
seguinte forma:<br />
Primeiro Lugar:<br />
Autor: JONATHAN DE FREITAS SOUZA (do<br />
Colégio Tiradentes Nossa Senhora das Vitórias /<br />
PMMG – Belo Horizonte).<br />
Texto: O Genial: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, de Minas<br />
para o Mundo.<br />
Segundo Lugar:<br />
Autora: DAYSE NAYARA DOS SANTOS (do<br />
Colégio Tiradentes Nossa Senhora das Vitórias /<br />
PMMG – Belo Horizonte).<br />
Texto: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Vida e Obra: Análise<br />
Profunda de Sua Importância.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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PREFÁCIO.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
João Bosco de Castro * .<br />
Esta <strong>Coletânea</strong> publica os textos vencedores do I<br />
Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>” /<br />
2006, empreendido pela <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />
estabelecida em Belo Horizonte-MG.<br />
Desse importantíssimo Certame poderiam participar<br />
Discentes do Ensino Médio de todo o Brasil, com a inscrição<br />
de prosa literocientífica de média extensão acerca da vida e<br />
obra do Escritor Mineiro João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />
Eis os dois textos vencedores do Concurso e integrantes<br />
deste Livro:<br />
Primeiro Lugar: O Genial: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, de Minas<br />
para o Mundo (de Jonathan de Freitas Souza, aluno<br />
do Ensino Médio do Colégio Tiradentes da Polícia<br />
Militar − Nossa Senhora das Vitórias − de Belo<br />
Horizonte, Prado);<br />
Segundo Lugar: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Vida e Obra:<br />
Análise Profunda de Sua Importância (de Dayse<br />
Nayara dos Santos, aluna do Ensino Médio do<br />
Colégio Tiradentes da Polícia Militar − Nossa<br />
Senhora das Vitórias - de Belo Horizonte, Prado).<br />
* Presidente do Conselho Superior da Academia de Letras “João<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”, da PMMG. Titular da Cadeira n o 6 da Academia<br />
Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias. Tenente-Coronel,<br />
Professor do Sistema de Educação de Polícia Militar de Minas Gerais.<br />
Curador do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006, pela <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />
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Malgrado o reduzido índice de textos inscritos para<br />
avaliação __ provavelmente pela complexidade e elevado nível<br />
de exigências técnico-formais da prosa literocientífica! __ , o<br />
Certame bem-cumpriu seu principal desiderato: o melhoramento<br />
do Aluno de nível médio pela prática da boa-leitura e produção<br />
de texto, segundo os cânones mais consagrados e autênticos<br />
da estrutura erudita da Língua Portuguesa, e a formatação de<br />
relatório simples de pesquisa, de acordo com a essência do<br />
texto axialmente dissertativo.<br />
Elegeu-se o tema Vida e Obra de João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>, não só para reforço da entronização do insuperável<br />
neologista humanizador da natureza e cultura brasileiras, e<br />
arquiteto solene de Grande Sertão: Veredas (seu único<br />
romance, agora cinqüentão!) __ o digno Patrono da <strong>Fundação</strong><br />
promotora deste Concurso Literocientífico __ , mas também para<br />
inserção do mesmo Aluno de nível médio na oficina da crítica<br />
transdimensional pelo traslado da região sertaneja ou rural para<br />
o universo cósmico ou caótico, sob a tutela metafísica da<br />
antropomorfização combinada com a zoomorfização. O cenário<br />
das elaborações rosianas reinventa a metáfora em prosa<br />
(Sagarana, Estas Estórias, Corpo de Baile, Manuelzão e<br />
Miguilim, No Urubuquaquá, no Pinhém, Noites do Sertão,<br />
Primeiras Estórias, Tutaméia e Grande Sertão: Veredas) e<br />
em versos (Magma), mediante a desmontagem e remontagem<br />
dos recursos léxicos, particular e espontaneamente articulados<br />
no domínio da linguagem acima de no da língua, para<br />
autenticidade e consagração dos modos brasileiros de emprego<br />
dos meios lusófonos, na mais profusa interpenetração entre<br />
saberes e sabedorias, entre artes e ofícios populares e<br />
12<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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tradicionais, entre crenças e mitos, entre pessoas e bichos. Isso,<br />
nesta Era dos Signos, Códigos e Linguagens inauguradora de<br />
padrão estético-ideológico mais consentâneo com o rótulo de<br />
Neomodernismo, facilita e remultiplica o exercício de misteres<br />
sinfrônicos indispensáveis ao entendimento do mundo e<br />
compreensão do outro, por meio do não-entendimento e nãocompreensão<br />
do nada.<br />
Esse exercício de misteres sinfrônicos é a chave para<br />
a abertura da interpretação e análise de obra literária,<br />
especialmente da literatura magicamente concebida e tecida<br />
por João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>!, para a formulação metodológica<br />
do juízo literocientífico sobre o texto lido: abundante<br />
expressão e pouquíssima comunicação, mercê da<br />
plurissignificação engendrada pela plástica vocabular da<br />
linguagem estética. A densa literariedade rosiana confirma<br />
essa tese de hermetismo semântico e escancaramento<br />
sugestivo, porque a palavra de <strong>Rosa</strong> é para ser sentida, em<br />
vez de entendida: palavra enfeitiçada e enfeitiçante, avessa<br />
a verbetes, contrária à ortodoxia sintática e metodológica,<br />
viçosa no reino aléxico da enálage, poderosa nos meandros<br />
do transporte de mudanças imagético-sensoriais,<br />
inexpugnável na empreitada recriadora da mimese<br />
oximorosa e do oxímoro mimetoso, estórica e a-histórica<br />
em paraísos da intuitiva supra-realidade, atemporal nos<br />
engenhos da implicitude ambígua da mensagem polissêmica,<br />
diabólica no retempero da analogia fantasiosa com a<br />
fenomenologia irrefletida e irreflexiva, porque palavra<br />
prodigiosa e inexplicável, heterodoxa e bela!<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
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A par dessas boas-intenções, a <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> espera, com esta e outras versões do Concurso de <strong>Prosa</strong><br />
Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”:<br />
1. Enfatizar ao Jovem Brasileiro a importância etnológica<br />
e social da Gramática: a mais profunda essência humana de<br />
toda e qualquer civilização - particularmente em domínio lusobrasileiro<br />
−, a serviço da produção de texto qualitativo.<br />
Somente pode ignorá-la quem não se dá conta da<br />
superioridade comunicativa e expressiva do Homem nem<br />
conhece o real significado de Pátria.<br />
2. Levar o mesmo Jovem à efetiva produção de textos<br />
claros e escorreitos, congruentes e agradáveis, prioritariamente<br />
em prosa objetiva, cujo nível de qualidade privilegie a forma<br />
culta da Língua Portuguesa, mediante processos (dissertativo,<br />
narrativo, descritivo e dialogal) isentos de vícios de linguagem<br />
(solecismo, barbarismo, anfibologia, obscuridade,<br />
preciosismo, redundância, tautologia, hiato, eco, suarabácti,<br />
provincianismo, verbiagem, colisão, cacofonia, prolixidade,<br />
queísmo e andendindondo), em proveito da totalidade<br />
verbal (harmonia entre a forma, o conteúdo, a organização<br />
de idéias e a adequação ao objetivo e ao assunto) e da<br />
estruturação da notícia lingüística espontânea ou<br />
sistemática, observada, na urdidura da prosa informativa, a<br />
primazia comunicativa da ordenação dialética, em qualquer<br />
processo de realização da mensagem verbal concorde com<br />
as funções da linguagem.<br />
3. Estimular o Aluno do Ensino Médio ao devassamento<br />
crítico de produções escritas em Língua Portuguesa, literárias<br />
14<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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e técnico-científicas, especialmente as de autores lusófonos __<br />
particularmente brasileiros e portugueses __ , para tal Discente<br />
exercitar o pensamento, aplicar o raciocínio lógico e verbal,<br />
apreciar articulações estéticas da Palavra subjetiva e<br />
polissêmica, adquirir capacidade global de domínio e emprego<br />
de conhecimentos e estruturas gramaticais e recursos<br />
estilísticos, acumular erudição geral e específica, analisar,<br />
interpretar e reconstruir a realidade com equilíbrio,<br />
fundamentação racional e percepção contextual e sensitiva.<br />
4. Mostrar a esse Aluno a importância e utilidade<br />
socioculturalizante imanentes na boa-leitura.<br />
5. Fazer o Discente do Ensino Médio mais íntimo do<br />
Vernáculo, em intimidade gramatical em vez de gramaticalista<br />
ou gramatiqueira com a Gramática normativo-utilitária, sem<br />
rejeição da Estilística erudita. Isso implica a hegemonia da<br />
clareza embutida na conação frásica sobre a sinergia<br />
expressivo-comunicativo-referencial da mensagem.<br />
6. Introduzir o Aluno em propósitos de autoconfiança,<br />
mercê da prática proveitosa de leitura e redação, para a<br />
maior fluidez do pensamento e a mais desembaraçada<br />
articulação da notícia escrita.<br />
7. Abrir ao Aluno as portas da humanização éticoestética<br />
pela insubstituível leitura sinfrônica, em vez de pela<br />
superficial e restritivista leitura dinâmica, em razão de o Livro<br />
ser a suprema fonte de meios e modos metodológicos de<br />
autocrítica, autotransformação, autodignidade,<br />
autoconfiança, autodoação, auto-educação, auto-estima,<br />
autofelicidade e autonomia pessoal.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
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Os dois textos vencedores do I Concurso de <strong>Prosa</strong><br />
Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/2006 e publicados nesta<br />
<strong>Coletânea</strong>, se não lograram o nível de qualidade pretendido<br />
pela respectiva Promotora quanto à totalidade verbal,<br />
principalmente quanto à morfossintaxe e apropriação de meios<br />
estilísticos, ambos representam louváveis esforços intelectuais<br />
dos respectivos Autores, especialmente em termos de<br />
adequação ao assunto, exploração do tema, coerência e<br />
coesão, e capacidade objetiva de pesquisa da vida e obra do<br />
eminente refazedor de códigos lingüísticos: o capitão-mágicodas-letras,<br />
o universal João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, criador de<br />
Magma, Grande Sertão: Veredas e outras Delícias.<br />
Por isso, esses Textos foram aprovados e classificados<br />
pela competente Comissão Julgadora!<br />
16<br />
Por isso, merecem esta publicação especial!<br />
Parabéns à <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, ao Colégio<br />
Tiradentes da PMMG __ Belo Horizonte __ Nossa Senhora das<br />
Vitórias __ Prado e aos Alunos Jonathan de Freitas Souza e<br />
Dayse Nayara dos Santos __ respeitáveis Autores dos Textos<br />
Classificados __ , pelo valioso empreendimento contido nesta<br />
importante <strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica<br />
“João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/2006: exemplo sobranceiro de coparticipação<br />
humanística e socioeducativa.<br />
Belo Horizonte-MG, 27 de junho de 2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 16<br />
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TEXTOS CLASSIFICADOS E PREMIADOS.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 18<br />
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PRIMEIRO LUGAR.<br />
O Genial:<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, de Minas para o Mundo.<br />
Jonathan de Freitas Souza.<br />
Para falarmos de João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>; aquele célebre<br />
contista, novelista, romancista e diplomata, que foi, e sempre<br />
será, um dos maiores escritores brasileiros que atingiu<br />
repercussão internacional; temos que levar em conta a<br />
revolução literária brasileira que o mesmo proporcionou;<br />
recriando e inventando palavras, adaptando termos e<br />
expressões extraídas de várias línguas modernas e clássicas<br />
antigas; com uma prosa que aprofunda a tendência, à<br />
análise psicológica das personagens, para revelar seus<br />
dramas e angústias, e os problemas comuns de todos os<br />
homens: o destino, a existência ou não de Deus, o significado<br />
da morte, a luta entre o bem e o mal...<br />
Retratando o sertão misticamente; onde o mesmo envolve<br />
os jagunços, os fazendeiros, os cantores, os loucos, os animais,<br />
e até mesmo as crianças; tudo enriquecido pelas lendas e<br />
crendices da cultura popular; faz desse sábio um possuidor<br />
de uma cultura que adquiriu desde os primórdios de sua<br />
vida, que pretendemos expressar com clareza nessa prosa.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
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A dimensão de seu brilho vai além das fronteiras do<br />
Brasil, onde livros seus foram traduzidos para os mais<br />
importantes idiomas: o francês, o inglês, o italiano, o<br />
espanhol, o alemão. Contudo, podemos concluir que<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> nasceu para brilhar, com uma sabedoria<br />
vasta e diversa.<br />
Tudo começa quando Joãozito, como era chamado pela<br />
família, nasce em Cordisburgo, município sertanejo próximo<br />
a Curvelo e Sete Lagoas, área de fazenda e engorda de<br />
gado; Cordisburgo, conta Vilma, filha de <strong>Guimarães</strong>,<br />
“era a linha reta de uma rua, poucas casas muito<br />
simples, a pequena igreja, um céu puro, muito azul. E<br />
a vastidão dos campos a se estender, sem limites<br />
visíveis.”; a vinte e sete de junho de mil novecentos e<br />
oito; e o interessante é que teve como pia batismal uma<br />
peça singular talhada em milenar pedra calcária,uma<br />
estalagmite arrancada à Gruta de Maquine, responsável<br />
pelo grande fluxo de turistas à sua cidade natal.<br />
Desde pequeno era sossegado, calado, calmo,<br />
observador, singelo, gostava de ler... e, por ser sossegado e<br />
observador, disserta: “Não gosto de falar da infância. É<br />
um tempo de coisas boas, mas sempre com pessoas<br />
grandes incomodando a gente, estragando os prazeres.<br />
Recordando o tempo de criança vejo por lá um excesso<br />
de adultos, todos eles, mesmo os mais queridos, ao<br />
modo de soldados e policiais do invasor, em pátria<br />
ocupada. Fui rancoroso e revolucionário permanente,<br />
então. Já era míope, e nem mesmo eu, ninguém sabia<br />
20<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 20<br />
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disso. Gostava de estudar sozinho e de brincar de<br />
geografia. Mas tempo bom de verdade só começou<br />
com a conquista de algum isolamento, com a segurança<br />
de poder fechar-me num quarto e fechar a porta.<br />
Deitar no chão e imaginar estórias, poemas, romances,<br />
botando todo mundo conhecido como personagem,<br />
misturando as melhores coisas vistas e ouvidas.”<br />
E relembra, em seguida, algumas de suas distrações<br />
infantis: “Armar alçapões para apanhar sanhaços. Que<br />
maravilha! Puxar sabugos de espigas de milho, feito<br />
boizinhos de carro, brinquedo saudoso: atrelar um<br />
sabugo branco com outro vermelho, e mais uma junta<br />
de bois pretos – sabugos enegrecidos ao fogo. Prender<br />
formiguinhas em ilhas, que era pedras postas num<br />
tanque raso, e unidas por pauzinhos, pontes para<br />
formiguinha passar. Aproveitar um fiozinho d’água,<br />
que vinha do posto das lavadeiras, e mudar-lhe duas<br />
vezes por dia o curso, fazendo-o de Danúbio ou de<br />
São Francisco, ou de Sapakral-lal (velho nome<br />
inventado), com todas as curvas dos ditos, com as<br />
cidades marginais marcadas por grupos de pedrinhas,<br />
tudo isso sob o vôo matinal das maitacas de Nhô<br />
Augusto Matraca, no quintal.”<br />
E conclui em seguida, com uma promessa: “Um dia<br />
ainda hei de escrever um pequeno tratado de brinquedos<br />
para meninos quietos.” A sua posição preferida para a<br />
leitura era sentado no chão, de pernas cruzadas, com o<br />
livro aberto sobre as pernas, curvado até bem próximo<br />
deste e com dois pauzinhos nas mãos, batendo sobre as<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 21<br />
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páginas, ora um, depois o outro, compassadamente, em<br />
ritmo variado, ligeiro ou mais lento, conforme na leitura se<br />
movesse o pensamento. Lembra seu tio, Vicente <strong>Guimarães</strong>,<br />
dois anos apenas mais velho que <strong>Rosa</strong>.<br />
Essa preocupação com o ritmo do discurso, desde cedo<br />
manifestada, ajudaria a compor, mais tarde, juntamente com<br />
outros atributos, a magistral prosa-poética rosiana. E, por<br />
conta de ler curvado até bem próximo dos livros, o Dr.<br />
Lourenço, do Curvelo, descobriu a miopia do garoto.<br />
Situação relatada mais tarde, no episódio final da novela<br />
Campo Geral, a esplêndida novela de abertura de Corpo<br />
de Baile, que nos traz muito do ambiente de meninice do<br />
escritor onde se detém na investigação da intimidade de<br />
uma família isolada no sertão, destacando-se a figura do<br />
menino Miguelim e o seu desajuste em relação ao grupo<br />
familiar; surge como uma fábula do despertar do<br />
autoconhecimento e da apreensão do mundo exterior, onde<br />
o esplendor de um mundo surgido de repente através dos<br />
óculos, se entrosa, perfeitamente, com as confissões do<br />
escritor na mesma entrevista. Mas, só em Belo Horizonte,<br />
aos nove anos incompletos, <strong>Rosa</strong> começa a usar óculos.<br />
Primeiro dos seis filhos de D. Francisca <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />
conhecida como Da. Chiquitinha, e de Florduardo Pinto <strong>Rosa</strong>,<br />
mais conhecido por “Seu Fulô”, abastado negociante e<br />
contador de estórias. Florduardo tinha uma venda, que era<br />
freqüentada pela gente sertaneja, especialmente por<br />
vaqueiros que conduziam boiadas a Cordisburgo para<br />
embarque nos trens da Central do Brasil com destino a<br />
Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo; e a seu<br />
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<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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contragosto, Joãozito ficava a escutar a um canto do<br />
estabelecimento as conversas e as estórias contadas pelos<br />
vaqueiros enquanto comiam, bebiam e descansavam. Mais<br />
tarde, porém, “Seu Fulô”, homem de escasso estudo mas<br />
em compensação dotado de inteligência aguda e memória<br />
louvável, em muito contribuiria para a elaboração dos<br />
livros do primogênito, fornecendo-lhe rico material<br />
representado por estórias, casos, relatos de caçadas,<br />
cantigas, informação sobre crimes e demandas, e muitas<br />
outras coisas vistas e ouvidas na roça.<br />
O nome do pai, de origem germânica – Frod (prudente)<br />
e Hard (forte); e o nome da cidade natal, que presta uma<br />
homenagem ao padroeiro Sagrado Coração de Jesus, já<br />
que Cordis significa coração e Burgo significa cidade;<br />
por sua sonoridade, sua força sugestiva e sua origem,<br />
podem desde cedo ter despertado a curiosidade do<br />
menino do interior, estimulando-o a se preocupar com a<br />
formação das palavras e com seu significado, onde não<br />
surpreenderia ser tivessem sido invenção do próprio<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, que sempre demonstrou profundo<br />
interesse pela natureza, por bichos e plantas, pelos<br />
sertanejos e pelo estudo de línguas.<br />
Com menos de sete anos, inicia seus estudos primários<br />
com Mestre Candinho, em Cordisburgo, e começa a estudar<br />
francês sozinho, por conta própria; quando ganha de um<br />
viajante, amigo de seu pai, uma gramática e um dicionário<br />
para ler revistas francesas que chega à cidade; mas somente<br />
com a chegada do Frei Esteves, frade franciscano, dá<br />
continuação ao Francês, e aos seis anos ler o primeiro<br />
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livro em francês, Les Femmes qui Aiment. Sempre foi<br />
aluno excelente, surpreendendo os professores pela<br />
inteligência e aplicação.<br />
Seus primeiros textos foram jornais feitos à mão,<br />
escritos quase sempre em folhas de papel de embrulho da<br />
venda do pai, sendo ele o diretor e único redator. Cada<br />
número trazia artigo, conto, noticiário, seção humorística e<br />
crítica de costumes sociais. Nenhum exemplar foi guardado.<br />
Também escrevia cartas para os irmãos, com charadas cheias<br />
de logogrifos, desenhos horográficos que irá manter por<br />
toda a vida, dando futuramente as indicações para Poty, o<br />
ilustrador de seus livros.<br />
Segundo seu “Dom”, dissera uma vez: “Desde menino,<br />
muito pequeno, eu brincava de imaginar intermináveis<br />
estórias, verdadeiros romances; quando comecei a<br />
estudar Geografia – matéria de que sempre gostei –<br />
colocava os personagens e cenas nas mais variadas<br />
cidades e países. Mas, escrever mesmo, só comecei foi<br />
em mil novecentos e vinte e nove, com alguns contos,<br />
que naturalmente, não valem nada. Até essa ocasião<br />
(vinte e um anos), eu só me interessava, e intensamente,<br />
pelo estudo, da Medicina e da Biologia.”.<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> viveu em Cordisburgo durante quase<br />
os seus primeiros dez anos de vida, onde em mil novecentos<br />
e dezoito vai morar com o avô e padrinho Luís <strong>Guimarães</strong>,<br />
em Belo Horizonte, onde foi matriculado no primeiro ano<br />
ginasial do Colégio Arnaldo, onde estudaram também Carlos<br />
Drummond de Andrade e Gustavo Capanema; o Colégio,<br />
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de padres alemães, fez com que imediatamente, iniciasse o<br />
estudo do alemão, que aprendeu em pouco tempo. Antes<br />
dos dezesseis, <strong>Rosa</strong> obtém licença para freqüentar a<br />
Biblioteca da Cidade de BH, que embora o seu grande<br />
amor era o estudo, não desprezava os esportes,<br />
principalmente futebol, mas foram as línguas a sua principal<br />
paixão: estuda-as com dedicação, sem se descuidar das<br />
respectivas gramáticas; outra matéria de sua predileção foi<br />
a História Natural.<br />
Dos dez aos quatorze anos colecionou insetos,<br />
borboletas; amava os animais, aprendeu a conhecê-los<br />
intimamente, e a sua obra mostra bem os profundos<br />
conhecimentos que tem da matéria. Quando ia a Cordisburgo,<br />
pelas férias, explorava os matos, à procura de cobras.<br />
Lia bastante, tendo conhecido Euclides da Cunha, autor<br />
de Os Sertões, ainda nos bancos escolares. Entretanto, o<br />
estilo árido, difícil para a sua idade, fazia-o pular páginas,<br />
amortecia-lhe o interesse. Só muito mais tarde, quando<br />
Sagarana já se encontrava em provas, é que o releu<br />
devidamente.<br />
Em mil novecentos e vinte cinco, terminados os<br />
preparatórios, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> matricula-se na Faculdade<br />
de Medicina de Minas Gerais, com apenas dezesseis anos.<br />
Segundo depoimento do Dr. Ismael de Faria, colega de<br />
turma do escritor, quando cursavam o segundo ano, em<br />
mil novecentos e vinte seis, ocorreu a morte de um<br />
estudante de Medicina, de nome Oseas, vitimado pela<br />
febre amarela; o corpo do estudante foi velado no<br />
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anfiteatro da Faculdade. Estando Ismael de Faria junto ao<br />
caixão do desventurado Oseas, teve a oportunidade de<br />
ouvir a comovida exclamação de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>: “As<br />
pessoas não morrem, ficam encantadas”, que seria<br />
repetida quarenta e um anos depois por ocasião de sua<br />
posse na Academia Brasileira de Letras.<br />
Durante o curso médico conheceu no hospital da Santa<br />
Casa de Belo Horizonte, o Dr. Juscelino Kubitschek de<br />
Oliveira, de quem se tornou bom amigo. A propósito dele,<br />
dizia <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> ao seu amigo o romancista e<br />
Professor Geraldo França de Lima: “Jamais uma pessoa<br />
me tratou tão bem.”<br />
Sua estréia nas letras se deu em mil novecentos e<br />
vinte e nove, por necessidade financeira e ainda como<br />
estudante, quando escreve quatro contos: Caçador de<br />
Camurças, Chronos Kai Anagke, título grego, significando<br />
Tempo e Destino, O mistério de Highmore Hall e Makiné<br />
para um concurso promovido pela revista O Cruzeiro.<br />
Todos os contos foram premiados e publicados com<br />
ilustrações em mil novecentos e vinte e nove e mil<br />
novecentos e trinta, alcançando o autor seu objetivo, que<br />
era o de ganhar a recompensa nada desprezível de cem<br />
mil réis. (um total de quatrocentos mil réis). Chegou a confessar,<br />
depois, que nessa época escrevia friamente, sem paixão,<br />
preso a modelos alheios. Seja como for, essa primeira<br />
experiência literária de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> não poderia dar<br />
uma idéia de sua produção futura, confirmando suas próprias<br />
palavras em um dos prefácios de Tutaméia: “Tude se<br />
finge, primeiro; germina autêntico é depois.”<br />
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Em vinte e sete de junho de mil novecentos e trinta, ao<br />
completar vinte e dois anos, casa-se com Lígia Cabral<br />
Penna, então com apenas dezesseis anos. Ainda nesse ano,<br />
forma-se em Medicina, tendo sido o orador da turma,<br />
escolhido por aclamação pelos trinta e cinco colegas. Seu<br />
padrinho foi o Prof. Samuel Libânio e os professores<br />
homenageados foram David Rabelo, Octaviano de Almeida,<br />
Octávio Magalhães, Otto Cirne, Rivadávia de Gusmão e<br />
Zoroastro Passos.<br />
O discurso de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, publicado no jornal<br />
“Minas Geraes” de vinte e dois e vinte e três de dezembro<br />
de mil novecentos e trinta, já denunciava, entre outras<br />
coisas, o grande interesse lingüístico e a cultura literária<br />
clássica de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, que começa sua oração<br />
argumentando com uma “lição da natureza”: “Quando o<br />
excesso de seiva levanta a planta jovem a escalar o<br />
espaço, só á custa de troncos alheios logra ela chegar<br />
á altura – faltando-lhe as raízes, que somente os<br />
anos soem improvisar, restar-lhe-á apenas o epiphytismo<br />
das orchideas.<br />
Tal a lição da natureza que faz com que a nossa<br />
turma não vos traga pela minha boca a discussão de<br />
um tema científico, nem ponha nesta despedida tese<br />
alguma de medicina aplacada, que oscilaria, aliás,<br />
inevitavelmente, entre a parolagem incolor dos<br />
semidoutos e o plágio ingênuo dos compiladores.”<br />
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Um ano depois, formado e casado, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
vai exercer a profissão de médico em Itaguara, pequena<br />
cidade que pertencia ao município de Itaúna, Minas Gerais,<br />
onde permanece cerca de dois anos. Relaciona-se com a<br />
comunidade, até mesmo com raizeiros e receitadores,<br />
reconhecendo sua importância no atendimento aos pobres<br />
e marginalizados, a ponto de se tornar grande amigo de<br />
um deles, de nome Manoel Rodrigues de Carvalho, mais<br />
conhecido por “seu Nequinha”, que morava numa “caverna”<br />
enfurnado entre morros, num lugar conhecido por Sarandi.<br />
Espírita, “Seu Nequinha” parece ter sido o inspirador da<br />
figura do Compadre meu Quelemém, espécie de oráculo<br />
sertanejo, personagem de “Grande Sertão: Veredas.”<br />
<strong>Guimarães</strong> revela-se um profissional dedicado, espeitado,<br />
famoso pela precisão dos seus diagnósticos. O período em<br />
Itaguara influi decisivamente em sua carreira literária. Para<br />
chegar aos pacientes, desloca-se a cavalo. Inspirado pela terra,<br />
costumes, pessoas e acontecimentos do cotidiano, <strong>Guimarães</strong><br />
inicia suas anotações, colecionando terminologias, ditos e falas<br />
do povo, que distribui pelas histórias que já escreve.<br />
Perder um doente, era para ele, particularmente, algo de<br />
trágico. E uma vez em que isso aconteceu ficou aflitíssimo,<br />
sem saber que solução tomar. O padre já esperava ao lado do<br />
morto, para encomendar-lhe o corpo, e <strong>Rosa</strong> ainda lhe aplicava<br />
injeções sobre injeções, como se pretendesse ressuscitá-lo.<br />
Foi uma noite de agonia. Em casa, mais tarde, o futuro<br />
escritor fechou-se no quarto, sem querer jantar, imaginando<br />
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epresálias por parte dos parentes e amigos do morto, quem<br />
sabe um linchamento. Soube depois que a preocupação era<br />
inteiramente infundada, e que todos haviam reconhecido que<br />
ele fizera o impossível.<br />
Diante de sua incapacidade de por fim às dores e aos<br />
males do mundo numa cidade que não tinha nem energia<br />
elétrica, segundo depoimento de Vilma, o autor, sensível<br />
como era, acaba por afastar-se da Medicina; onde<br />
contribuiu também para isso o fato de o escritor ter que<br />
assistir o parto de sua mulher; isso porque o farmacêutico<br />
de Itaguara, Ary de Lima Coutinho, e seu irmão, médico<br />
em Itaúna, Antônio Augusto de Lima Coutinho, chamados<br />
com urgência pelo aflito Dr. <strong>Rosa</strong>, só chegaram quando<br />
tudo já estava resolvido. E ainda é Vilma quem relata que<br />
sua mãe chegou a se esquecer das contrações para<br />
apenas se preocupar com o marido que chorava<br />
convulsivamente.<br />
Duas coisas impressionavam o <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> médico:<br />
o parto e a incapacidade de salvar as vítimas da lepra.<br />
Duas coisas opostas, mas de grande significado para ele.<br />
Segundo Vilma, que lançou na década de oitenta o livro<br />
Relembramentos, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Meu Pai, uma<br />
coletânea de discursos, cartas e entrevistas concedidas<br />
pelo escritor; ele passava horas estudando, queria aprender,<br />
rapidamente, a estancar o fluxo do sofrimento humano,<br />
que logo constatou que seria uma missão difícil, se não<br />
impossível. A falta de recursos médicos e o transbordamento<br />
de sua emotividade impediram que ele prosseguisse a carreira<br />
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de médico. Mas, para a filha, João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> nasceu<br />
mesmo, é para ser escritor. A medicina não foi o seu forte,<br />
nem a diplomacia, atividade a que se dedicou a partir de<br />
mil novecentos e trinta e quatro, levado pelo domínio e<br />
interesse por idiomas. Aliás, o conhecimento de línguas<br />
estrangeiras seria um aliado de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, especialmente<br />
no que diz respeito à tradução da sua obra, já que o<br />
escritor mineiro se notabilizou pela invenção de vocábulos,<br />
além do registro da linguagem sertaneja brasileira, inacessível<br />
a tradutores estrangeiros.<br />
Ademais, consta que o Dr. <strong>Rosa</strong> cobrava as visitas que<br />
fazia, como médico, pelas distâncias que, a cavalo, tinha de<br />
percorrer. Nem podia ser de outra forma, porque, quando<br />
chegava ao local, o dono da casa, a fim de baratear a consulta,<br />
aproveitava-lhe a presença para uma revisão geral na saúde<br />
da família. No conto Duelo, de Sagarana, o diálogo entre os<br />
personagens Cassiano Gomes e Timpim Vinte-e-Um testemunha<br />
esse critério, comum entre os médicos que exerciam seu<br />
ofício na zona rural, de condicionar o montante da<br />
remuneração a ser recebida à distância percorrida para<br />
visitar o doente.<br />
Semelhante critério aplicava-o, também, o Dr. Mimoso<br />
a seu ajudante-de-ordem Jimirulino, protagonista do conto –<br />
Uai , eu?, de Tutaméia.<br />
Outra ocorrência curiosa, contada por antigos moradores<br />
de Itaguara, diz respeito a atitude do Dr. <strong>Rosa</strong> quando a<br />
chegada de um grupo de ciganos àquela cidade. Valendose<br />
da ajuda de um amigo, que fazia as vezes de intermediário,<br />
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o jovem médico procurou aproximar-se daquela gente<br />
estranha; uma vez conseguida a almejada aproximação,<br />
passava horas envolvido em conversa com os “calões”<br />
na “língua disgramada que eles falam”, como diria,<br />
mais tarde, Manuel Fulô, protagonista do conto Corpo<br />
fechado, de Sagarana, que resolveu viajar no meio da<br />
ciganada, por amor de aprender as mamparras lá deles.<br />
Também nos contos Faraó e a água do rio, O outro ou<br />
o outro e Zingaresca, todos do livro Tutaméia; <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> refere-se com especial carinho a essa gente errante,<br />
com seu peculiar modo de viver, seu temperamento artístico,<br />
sua magia, suas artimanhas e negociatas.<br />
Aos vinte e três anos retorna a Belo Horizonte, para tuar<br />
como médico voluntário da Força Pública, por ocasião da<br />
Revolução Constitucionalista de mil novecentos e vinte e<br />
dois, indo servir no setor do Túnel. Encontrou-se de novo<br />
com o amigo Doutor Juscelino, e na pequena localidade<br />
estreitaram as relações.<br />
Posteriormente <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> entra para o quadro da<br />
Força Pública, por concurso.<br />
Em mil novecentos e trinta e quatro, com vinte e seis<br />
anos, vai para Barbacena como Oficial Médico do Nono<br />
Batalhão de Infantaria. Segundo <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, em seu<br />
discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, o quartel<br />
pouco exigia dele, quase que somente a revista médica, rotineira,<br />
não tendo mais as dificultosas viagens a cavalo que eram o pão<br />
nosso da clínica em Itaguara, e solenidade ou outra, em dia<br />
cívico, quando o escolhiam para orador da corporação.<br />
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Sendo assim, sobrava-lhe tempo para dedicar-se com maior<br />
entusiasmo ao estudo de idiomas estrangeiros. E através de<br />
um russo branco que se encontrava meio perdido por aquelas<br />
bandas, como soldado da Polícia Militar de Minas, pôde<br />
confrontar pela primeira vez a sua pronúncia. Depois, por<br />
intermédio de cadetes e de antigos oficiais do exército czarista,<br />
aparecidos em Barbacena como componentes do coro dos<br />
cossacos do Juban e do Dom, pode aperfeiçoar seus estudos.<br />
Ademais, no convívio com velhos milicianos e nas demoradas<br />
pesquisas que fazia nos arquivos do quartel, o escritor pôde<br />
estar obtendo valiosas informações sobre o jaguncismo<br />
barranqueiro que até por volta de mil novecentos e trinta<br />
existiu na região do Rio São Francisco.<br />
Quando <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> servia em Barbacena, um<br />
amigo de convívio diário, impressionado com sua cultura,<br />
vasto e variado saber, e, particularmente, com seu notável<br />
conhecimento de línguas estrangeiras, lembrou-lhe a<br />
possibilidade de prestar concurso para o Itamarati,<br />
conseguindo entusiasmá-lo. O então Oficial Médico do nono<br />
Batalhão de Infantaria, após alguns preparativos, segue para o<br />
Rio de Janeiro onde prestou concurso para o Ministério do<br />
Exterior, obtendo o segundo lugar. Nesse mesmo ano nasce<br />
sua segunda filha, Agnes.<br />
Já era por demais evidente sua falta de “vocação” para o<br />
exercício da Medicina, conforme ele próprio confidenciou a<br />
seu colega Dr. Pedro Moreira Barbosa, em carta datada de<br />
vinte de março de mil novecentos e trinta e quatro: “Não<br />
nasci para isso, penso. Não é esta, digo como dizia<br />
Don Juan, sempre “ après avoir couché avec...”<br />
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Primeiramente, repugna-me qualquer trabalho material<br />
– só posso agir satisfeito no terreno das teorias, dos<br />
textos, do raciocínio puro, dos subjetivismos. Sou um<br />
jogador de xadrez – nunca pude, por exemplo, com o<br />
bilhar ou com o futebol.”<br />
Durante todo esse tempo, manteve suas ligações com a<br />
literatura, escrevendo contos e versos.<br />
Em mil novecentos e trinta e seis, organizando uma seleção<br />
de versos intitulada Magma, concorre ao prêmio de poesia da<br />
Academia Brasileira de Letras, onde o livro saiu vitorioso. O<br />
poeta Guilherme de Almeida, relator do parecer da comissão<br />
julgadora, dirigiu palavras altamente elogiosas ao livro do<br />
escritor mineiro, concedendo-lhe o primeiro lugar e negandose<br />
a aprovar qualquer outro trabalho em segundo lugar, tal o<br />
desnível de qualidade que havia entre os demais concorrentes<br />
e o primeiro colocado. Não seria injusto considerar Guilherme<br />
de Almeida o verdadeiro descobridor de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />
aquele que teve a lúcida antevisão do “gênio engarrafado”. Em<br />
seu parecer, o poeta assim se referiu a Magma: “Nativa,<br />
espontânea, legítima, saída da terra com uma<br />
naturalidade de vegetal em ascensão, Magma é poesia<br />
centrífuga, universalizadora, capaz de dar ao resto do<br />
mundo uma síntese perfeita do que temos e somos”.<br />
Em mil novecentos e noventa e sete, o livro foi<br />
publicado, o único livro de poemas de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />
em meio a discussões sobre a conveniência desta publicação,<br />
já que o próprio autor havia, de uma certa forma,<br />
manifestado o desejo de que seus poemas permanecessem<br />
inéditos.<br />
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Isso testemunha a preferência de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> pela<br />
prosa, em detrimento dos versos, conforme atestam suas<br />
próprias palavras: “(...) revisando meus exercícios líricos, não<br />
os achei totalmente maus, mas tampouco muito<br />
convincentes. Principalmente descobri que a poesia<br />
profissional, tal como se deve manejá-la na elaboração<br />
de poemas, pode ser a morte da poesia verdadeira.<br />
Por isso retornei à “saga”, à lenda, ao conto simples,<br />
pois quem escreve estes assuntos é a vida e não a lei<br />
das regras chamadas poéticas. Então comecei a escrever<br />
Sagarana (...), convenci-me que era possuidor de uma<br />
receita para fazer verdadeira poesia.” (<strong>Rosa</strong>, 1997, p.69-<br />
70) Entrevista a Gunter Lorenz.<br />
Livre das amarras das regras poéticas, <strong>Rosa</strong> vai em busca,<br />
portanto, da verdadeira poesia. Nessa trajetória, incorpora<br />
procedimentos dos versos na prosa, transformando poemas<br />
de Magma, como Boiada e Maleita, em um acervo poético a<br />
ser vivificado em O burrinho pedrês e Sarapalha<br />
respectivamente, contos de Sagarana.<br />
Diga-se de passagem que em entrevista concedida a<br />
Gunter Lorenz, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> lança alguma luz sobre o<br />
provável motivo de seu comportamento em relação ao livro<br />
em questão, ao lhe dizer em tom confidencial: “Meu começo,<br />
foram poesias (...) escrevi um volume nada pequeno de<br />
poesias que foram até elogiadas, e que me proporcionaram<br />
louvor. Mas aí, eu, quase diria felizmente, comecei a ser<br />
absorvido pela minha profissão: eu viajei no mundo,<br />
conheci muita coisa, aprendi línguas, acolhi tudo isso<br />
em mim, mas não pude mais escrever. Assim se<br />
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passaram 10 anos até eu poder dedicar-me de novo à<br />
literatura. E quando eu revi, então, meus exercícios<br />
líricos, achei-os na verdade não ruins de todo, mas<br />
também não particularmente convincentes. Sobretudo<br />
descobri que a poesia profissional que a gente tem de<br />
lançar mão nos poemas pode ser a morte da<br />
verdadeira poesia. Por isso eu me voltei para a lenda<br />
heróica, o conto fabuloso, a estória simples. Por que<br />
isso são coisas que a vida escreve, não a legalidade<br />
das chamadas regras poéticas. Então, eu me sentei e<br />
comecei a escrever “Sagarana.”<br />
Em mil novecentos e trinta e sete, durante “sete meses<br />
de exaltação e deslumbramento” que ele próprio declararia<br />
mais tarde; escreveu uma série de contos e os reuniu em um<br />
volume; em dezembro do mesmo ano resolveu concorrer ao<br />
prêmio Humberto de Campos instituído pela Livraria José<br />
Olympio Editora. Remeteu os originais à comissão julgadora,<br />
constituída por Graciliano Ramos, Marques Rebelo, Prudente<br />
de Morais Neto, Dias da Costa e Peregrino Júnior, usando, na<br />
oportunidade, o pseudônimo de Viator, e o título dos originais<br />
era tão-somente Contos. Participaram do concurso mais<br />
cinqüenta e sete candidatos e <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> obteve o segundo<br />
lugar, perdendo por três votos contra dois no confronto direto<br />
com Luís Jardim, a que concorria com o livro Maria Perigosa.<br />
Um ano depois, em mil novecentos e trinta e oito, é<br />
nomeado Cônsul Adjunto em Hamburgo, e segue para a<br />
Europa; lá fica conhecendo Aracy Moebius de Carvalho, “Ara”,<br />
que viria a ser sua segunda mulher. Desquita-se de Lígia, em<br />
mil novecentos e quarenta e dois. Quem conta é sua filha Vilma:<br />
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“Papai havia conhecido dona Aracy Moebius de Carvalho<br />
em Hamburgo. Ela era funcionária graduada, no<br />
consulado. Papai e dona Aracy se casaram pelas leis<br />
de outro país, e também mamãe, com o advogado<br />
Arthur Auto Nery Cabral...”<br />
Durante a Segunda Guerra, passa por uma experiência<br />
que detona seu lado supersticioso. É salvo da morte porque<br />
sentiu, no meio da noite, uma vontade irresistível, segundo suas<br />
palavras, de sair para comprar cigarros. Quando voltou,<br />
encontrou a casa totalmente destruída por um bombardeio.A<br />
superstição e o misticismo acompanhariam o escritor por toda<br />
a vida. Ele acreditava na força da lua, respeitava curandeiros,<br />
feiticeiros, a umbanda, a quimbanda e o kardecismo. Dizia que<br />
pessoas, casas e cidades possuíam fluidos positivos e negativos,<br />
que influíam nas emoções, nos sentimentos e na saúde de seres<br />
humanos e animais. Aconselhava os filhos a terem cautela e a<br />
fugirem de qualquer pessoa ou lugar que lhes causasse algum<br />
tipo de mal-estar.<br />
Ademais, embora consciente dos perigos que enfrentava,<br />
protegeu e facilitou a fuga de judeus perseguidos pelo Nazismo;<br />
nessa empresa, contou com a ajuda da mulher, D. Aracy.<br />
Em reconhecimento a essa atitude, o diplomata e sua mulher<br />
foram homenageados em Israel, em abril de mil novecentos<br />
e oitenta e cinco, com a mais alta distinção que os judeus<br />
prestam a estrangeiros: o nome do casal foi dado a um<br />
bosque que fica ao longo das encostas que dão acesso a<br />
Jerusalém. A concessão da homenagem foi precedida por<br />
pesquisas rigorosas com tomada de depoimentos dos mais<br />
distantes cantos do mundo onde existem sobreviventes do<br />
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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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Holocausto, sendo assim a forma encontrada pelo governo<br />
israelense para expressar sua gratidão àqueles que se<br />
arriscaram para salvar judeus perseguidos pelo Nazismo<br />
por ocasião da segunda Guerra Mundial. Com efeito<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, na qualidade de cônsul adjunto em Hamburgo,<br />
concedia vistos nos passaportes dos judeus, facilitando sua fuga<br />
para o Brasil. Os vistos eram proibidos pelo governo brasileiro<br />
e pelas autoridades nazistas, exceto quando o passaporte<br />
mencionava que o portador era católico. Sabendo disso, a<br />
mulher do escritor, D. Aracy, que preparava todos os papéis,<br />
conseguia que os passaportes fossem confeccionados sem<br />
mencionar a religião do portador e sem a estrela de Davi que<br />
os nazistas pregavam nos documentos para identificar os<br />
judeus. Nos arquivos do Museu do Holocausto, em Israel,<br />
existe um grosso volume de depoimentos de pessoas que<br />
afirmam dever a vida ao casal <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>. Segundo D.<br />
Aracy, que compareceu a Israel por ocasião da homenagem,<br />
seu marido sempre se absteve e comentar o assunto já que<br />
tinha muito pudor de falar de si mesmo. Apenas dizia: “Se<br />
eu não lhes der o visto, vão acabar morrendo; e aí vou ter<br />
um peso em minha consciência.”<br />
Em mil novecentos e quarenta e dois, quando o Brasil<br />
rompe com a Alemanha, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> é internado em<br />
Baden-Baden, juntamente com outros compatriotas, entre<br />
os quais se encontrava Cyro de Freitas Vale e o pintor<br />
pernambucano Cícero Dias. Ficam retidos durante quatro<br />
meses e são libertados em troca de diplomatas alemães.<br />
Retornando ao Brasil, após rápida passagem pelo Rio de<br />
Janeiro, o escritor segue para Bogotá, como Secretário<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
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da Embaixada, lá permanecendo até mil novecentos e<br />
quarenta e quatro.<br />
Sua estada na capital colombiana, fundada em mil<br />
quinhentos e trinta e oito e situada a uma altitude de dois<br />
mil e seiscentos metros, inspirou-lhe o conto Páramo, de<br />
cunho autobiográfico, que faz parte do livro póstumo<br />
Estas Estórias. O conto se refere à experiência de “morte<br />
parcial” vivida pelo protagonista, provavelmente o próprio<br />
autor; experiência essa induzida pela solidão, pela saudade,<br />
pelo frio, pela umidade e particularmente pela asfixia<br />
resultante da rarefação do ar.<br />
Em mil novecentos e quarenta e cinco o escritor<br />
retornou ao Brasil depois de longa ausência. Dirigiu-se,<br />
inicialmente, à Fazenda Três Barras, em Paraopeba, berço<br />
da família <strong>Guimarães</strong>, então pertencente a seu amigo Dr.<br />
Pedro Barbosa e, depois, a cavalo, rumou para<br />
Cordisburgo, onde se hospedou no tradicional Argentina<br />
Hotel, mais conhecido por Hotel da Nhatina. Nesse<br />
mesmo ano, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> “retrabalha” os contos que<br />
obtiveram o segundo lugar, ao concorrer ao Prêmio<br />
Humberto de Campos, da Editora José Olympio, e, em<br />
cinco meses de trabalho árduo, refaz inteiramente o livro,<br />
suprimindo duas estórias.<br />
Em carta ao pai, em seis de novembro de mil<br />
novecentos e quarenta e cinco, <strong>Guimarães</strong> fala da retomada<br />
dos originais de Sagarana: “... consegui-a custa de horas<br />
de sono, do descanso dos domingos e de esforço –<br />
preparar, ou, melhor, reestruturar um livro de contos,<br />
para o qual achei imediatamente editor.”<br />
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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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Contudo deu resultado ao livro Sagarana; que<br />
segundo <strong>Rosa</strong>, foi escrito: “quase todo na cama, a lápis,<br />
em cadernos de cem folhas – em sete meses; sete<br />
meses de exaltação, de deslumbramento. (Depois,<br />
repousou durante sete anos); e, em mil novecentos e<br />
quarenta e cinco foi “retrabalhado”, em cinco meses,<br />
cinco meses de reflexão.”<br />
Na primeira edição, em mil novecentos e quarenta e<br />
seis, pela Editora Universal, do Rio de Janeiro, assinada<br />
por <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Sagarana não tem Uma Historia de<br />
Amor e Questões de Família. A edição foi esgotada em<br />
poucos dias e já se falava em segunda edição em maio do<br />
mesmo ano, conforme reportagem de Ascendino Leite.<br />
A escritura de Sagarana vai até a quinta publicação,<br />
onde em cada edição ouvi modificações no livro, até que<br />
na quinta publicação, <strong>Guimarães</strong>, deixou de modificar os<br />
textos desse livro. O dossiê de Sagarana compõe-se dos<br />
seguintes documentos; dois volumes encadernados, um em<br />
couro vermelho e outro em preto, ambos com o título<br />
Sezão; seis pastas com folhas soltas, com os originais<br />
datilografados; originais da quarta e quinta edições, realizados<br />
sobre exemplares da terceira e quarta edições,<br />
respectivamente; dois volumes de provas tipográficas da<br />
quinta edição.<br />
A publicação, alcançou sucesso imediato, garante-lhe um<br />
privilegiado lugar de destaque no grande quadro circular da<br />
literatura brasileira; onde o livro recebe o prêmio da<br />
Sociedade Filipe d’ Olivera e é aclamado como uma das<br />
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mais importantes obras de ficção aparecidas no Brasil<br />
contemporâneo. Apresentando a paisagem e o homem de<br />
sua terra numa linguagem já então exclusiva, faz de<br />
Sagarana a semente de uma obra cujo sentido e alcance<br />
ainda estão longe de ser inteiramente decifrados.<br />
Sagarana reúne nove contos nos quais estão<br />
presentes os temas básicos de João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>: a<br />
aventura, a morte, os animais metaforizados em gente, as<br />
reflexões subjetivas e espiritualistas. Cinco deles; O<br />
Burrinho Pedrês, Duelo, São Marcos, A Hora e a Vez<br />
de Augusto Matraga e Corpo Fechado, trazem para os<br />
sertões de Minas Gerais acontecimentos em drama, de<br />
antigas histórias épicas ou heróicas. O lirismo dos temas<br />
do amor e da solidão transparece em Sarapalha e Minha<br />
Gente. Em A Volta do Marido Pródigo há uma espécie<br />
de heroísmo gaiato, enquanto que as reflexões sobre o<br />
poder e a fraqueza centralizam-se em Conversa de Bois.<br />
O narrador dos contos de Sagarana muitas vezes<br />
caracteriza como folclóricas as histórias que conta, inserindo<br />
nelas quadrinhas populares e dando-lhes um tom épico e<br />
de histórias de fada. Por exemplo, temos o Era uma vez<br />
que inicia o conto O Burrinho Pedrês. Neste conto, assim<br />
como em Conversa de Bois e em A Volta do Marido<br />
Pródigo, os animais se transformam em heróis, questionando<br />
o saber dos homens com o seu suposto não saber.<br />
A onisciência do narrador dos contos em terceira<br />
pessoa é propositalmente relativizada, dando voz própria e<br />
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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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encantamento às narrativas e acentuando sua dimensão<br />
mística e poética.<br />
Repletos de histórias dentro de histórias, de digressões<br />
filosóficas e de monólogos interiores que desvendam o<br />
universo dos homens, dos bichos e das coisas, os contos<br />
de Sagarana nos permitem uma espécie de ritual de<br />
iniciação, ao longo da leitura. Esta iniciação ocorre se<br />
conseguirmos compreendê-los em sua simbologia, na<br />
cosmovisão alógica, mágica, mística e poética que humaniza<br />
em sentido profundo os protagonistas, aparentemente apenas<br />
sertanejos dos Gerais, e universaliza o sertão. O sertão é<br />
o mundo, diz o Riobaldo de “Grande Sertão: Veredas.”<br />
A publicação do livro de contos Sagarana garantiulhe<br />
um privilegiado lugar de destaque no panorama da<br />
literatura brasileira, pela linguagem inovadora, pela singular<br />
estrutura narrativa e a riqueza de simbologia dos seus<br />
contos. Com ele, o regionalismo estava novamente em<br />
pauta, mas com um novo significado e assumindo a<br />
característica de experiência estética universal.<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> dizia, que quase por sorte, sua<br />
carreira profissional começou a ocupar seu tempo: “Viajei<br />
pelo mundo, conheci muita coisa, aprendi idiomas,<br />
recebi tudo isso em mim; mas de escrever simplesmente<br />
não me ocupava mais. Assim se passaram quase dez<br />
anos, até eu poder me dedicar novamente à literatura....<br />
Então comecei a escrever Sagarana.”<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
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E dizia também, que a inspiração era um estado de<br />
transe: “Só escrevo atuado.” E, à filha Vilma, também<br />
escritora, confessou: “Às vezes visualizo, mesmo dormindo,<br />
uma estória completa. Acordo e vou escrevê-la.”<br />
Ainda em mil novecentos e quarenta e seis, <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> é nomeado chefe de gabinete do ministro João<br />
Neves da Fontoura e vai a Paris como mestre da delegação<br />
à Conferência de Paz.<br />
Dois anos depois, o escritor está novamente em<br />
Bogotá como Secretário-Geral da delegação brasileira à<br />
IX Conferência Inter-Americana; durante a realização<br />
do evento ocorre o assassinato político do prestigioso<br />
líder popular Jorge Eliécer Gaitán, fundador do partido<br />
Unión Nacional Izquierdista Revolucionaria, de curta<br />
mas decisiva duração.<br />
De mil novecentos e quarenta e oito a mil<br />
novecentos e cinqüenta, o escritor encontra-se em Paris,<br />
respectivamente como primeiro-secretário e conselheiro<br />
de embaixada. Em mil novecentos e cinqüenta e um é<br />
novamente nomeado Chefe de Gabinete de João Neves<br />
da Fontoura e retorna ao Brasil.<br />
Um anos depois, entre outubro e novembro,<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> e a mulher Aracy realizam uma viagem<br />
turística à Itália. No ano seguinte, nos meses de setembro<br />
e outubro, o casal refaz o roteiro, visitando as mesmas<br />
cidades; e como de costume, o escritor utiliza cadernetas<br />
para gravar sensações, descrever tipos e paisagens, anotar<br />
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<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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expressões, burilar algumas outras. Essas anotações não<br />
têm um objetivo específico, anota como um viajante curioso,<br />
como um permanente estudante da vida e da natureza,<br />
sempre voltado pra o seu trabalho, documentando,<br />
armazenando idéias, exercitando-se no manejo da Língua<br />
Portuguesa.<br />
Em mil novecentos e cinqüenta e um, de volta ao<br />
Brasil, é de novo nomeado Chefe de Gabinete de João<br />
Neves.<br />
Aos quarenta e três anos, faz uma viagem pelo<br />
sertão de Minas Gerais com um grupo de vaqueiros. A<br />
viagem durou dez dias e dela participou Manuel Narde,<br />
vulgo Manuelzão, protagonista de Uma história de amor,<br />
incluída no volume, Manuelzão e Miguilim. E também<br />
escreveu o conto Com o vaqueiro Mariano, que integra,<br />
hoje, o livro póstumo Estas Estórias, sob o título<br />
Entremeio: Com o vaqueiro Mariano, que é uma<br />
reportagem poética. Segundo depoimento do próprio Manuel<br />
Narde, falecido em cinco de maio de mil novecentos e<br />
noventa e sete, durante os dias que passou no sertão,<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> pedia notícia de tudo e tudo anotava: “ele<br />
perguntava mais que padre”, tendo consumido “mais de<br />
cinqüenta cadernos de espiral, daqueles grandes”, com<br />
anotações sobre a flora, a fauna e a gente sertaneja, usos,<br />
costumes, crenças, linguagem, superstições, versos,<br />
anedotas, canções, casos, estórias... A curiosidade<br />
inesgotável demonstrada pelo escritor durante essa famosa<br />
viagem, aproxima-o dos naturalistas europeus que<br />
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percorreram o Brasil no século passado e o<br />
redescobriram, como é o caso, por exemplo, do<br />
dinamarquês Peter Wilhelm Lund, o pai da paleontologia<br />
brasileira, e do extraordinário botânico francês Auguste<br />
de Saint-Hilaire. A propósito, o próprio <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> prestou carinhosa homenagem a esses estudiosos<br />
ao criar a figura ímpar de seu Alquiste, ou Olquiste,<br />
que aparece no conto O recado do morro, cuja trama<br />
se desenrola em Cordisburgo e arredores.<br />
Em carta ao pai, de doze de julho de mil novecentos<br />
e cinqüenta e quatro, <strong>Rosa</strong> confidencia: “Eu estou<br />
trabalhando “burramente”, dia e noite. Para terminar<br />
os livros que estou escrevendo – pois, em vez de um,<br />
como comecei, a coisa logo virou dois...”<br />
Em mil novecentos e cinqüenta e três torna-se Chefe<br />
da Divisão de Orçamento, e três anos depois, lança as<br />
novelas de Corpo de Baile, em dois volumes, oitocentos<br />
e vinte e quatro páginas; onde a partir da terceira edição<br />
o livro passa a ter vida editorial autônoma, sob o título de<br />
Manuelzão e Miguilim. A primeira delas, Campo Geral, é<br />
sobre um certo Miguilim que morava com sua mãe, seu<br />
pai e seus irmãos, longe, muito longe daqui, no Mutum,<br />
no meio dos Campos Gerais.<br />
O universo de Corpo de Baile se aproxima da<br />
forma de vida mais primitiva, a de uma comunidade tribal,<br />
ou das comunidades rurais gregas que predominaram num<br />
passado muito distante, ou quem sabe um feudo medieval.<br />
Por isto o sertão de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> não é apenas um<br />
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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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espaço, é também um tempo; sertão que pertence a um<br />
mundo no qual espaço e tempo se entrelaçam estreitamente.<br />
Em ensaio crítico sobre Corpo de Baile, o professor<br />
Ivan Teixeira afirma que o livro talvez seja o mais enigmático<br />
da literatura brasileira. As novelas que o compõem formam<br />
um sofisticado conjunto de logogrifos, em que a charada<br />
é alçada à condição de revelação poética ou experimento<br />
metafísico. Na abertura do livro, intitulada Campo Geral,<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> se detém na investigação da intimidade<br />
de uma família isolada no sertão, destacando-se a figura<br />
do menino Miguelim e o seu desajuste em relação ao<br />
grupo familiar. Campo Geral surge como uma fábula do<br />
despertar do autoconhecimento e da apreensão do mundo<br />
exterior; e o conjunto das novelas surge como passeio<br />
cósmico pela geografia. <strong>Rosa</strong>na, que retoma a idéia básica<br />
de toda a obra do escritor: o universo está no sertão, e<br />
os homens são influenciados pelos astros.<br />
No mês de maio, é publicado o romance Grande<br />
Sertão: Veredas (no meio da rua, no redemoinho). Livro<br />
diferente, terrível, consolador e estranho, diz <strong>Rosa</strong>.<br />
“É uma autobiografia irracional ou melhor, minha<br />
auto-reflexão irracional.”<br />
Grande Sertão: Veredas é a obra-prima de <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> e um dos mais importantes romances de nossa<br />
literatura. Riobaldo, seu narrador-protagonista, um velho e<br />
pacato fazendeiro, faz um relato de sua vida a um<br />
interlocutor, um “doutor” que nunca aparece na história,<br />
mas cuja fala é sugerida pelas respostas de Riobaldo.<br />
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Assim, apesar do diálogo sugerido, a narração é um<br />
longo monólogo em que Riobaldo traz à tona suas<br />
lembranças em torno de lutas sangrentas de jagunços,<br />
perseguições e emboscadas nos sertões de Minas, Goiás<br />
e sul da Bahia, bem como suas aventuras amorosas.<br />
Ao mesmo tempo, Riobaldo vai relatando as<br />
preocupações com as doutrinas da essência das coisas que<br />
sempre marcaram a sua vida; entre elas, destaca-se a<br />
questão da existência ou não do diabo. Pelo que se<br />
depreende da obra, ele provavelmente fizera um pacto<br />
com o demônio a fim de vencer Hermógenes, chefe do<br />
bando inimigo; sendo assim, desse fator depende a sua<br />
salvação e daí advêm as inquietações do personagem.<br />
O lançamento de Grande Sertão: Veredas causa<br />
grande impacto no cenário literário brasileiro. O livro é<br />
traduzido para diversas línguas e seu sucesso deve-se,<br />
sobretudo, às inovações formais. Crítica e público dividemse<br />
entre louvores apaixonados e ataques ferozes; tornandose<br />
assim um sucesso comercial, além de receber três<br />
prêmios nacionais: o Machado de Assis, do Instituto<br />
Nacional do Livro; o Carmem Dolores Barbosa, de São<br />
Paulo; e o Paula Brito, do Rio de Janeiro.<br />
A publicação dessa famosa obra, faz com que<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> seja considerado uma figura singular no<br />
panorama da literatura moderna, tornando-se um “caso”<br />
nacional. Ele encabeça a lista tríplice, composta ainda<br />
por Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto,<br />
como os melhores romancistas da terceira geração<br />
modernista brasileira.<br />
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<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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Em mil novecentos e cinqüenta e sete se candidata<br />
à Academia Brasileira de Letras pela primeira vez.<br />
Já no ano seguinte, no começo de junho, <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> viaja para Brasília, e escreverá para os pais: “Em<br />
começo de junho estive em Brasília, pela segunda vez<br />
lá passei uns dias. O clima da nova capital é<br />
simplesmente delicioso, tanto no inverno quanto no<br />
verão. E os trabalhos de construção se adiantam num<br />
ritmo e entusiasmo inacreditáveis: parece coisa de russos<br />
ou de norte-americanos” ... “Mas eu acordava cada<br />
manhã para assistir ao nascer do sol e ver um enorme<br />
tucano colorido, belíssimo, que vinha, pelo relógio, às 6<br />
hs 15’, comer frutinhas, na copa da alta árvore pegada<br />
à casa, uma tucaneira’, como por lá dizem. As chegadas<br />
e saídas desse tucano foram uma das cenas mais bonitas<br />
e inesquecíveis de minha vida.”<br />
Nesse mesmo ano, <strong>Guimarães</strong> começa a apresentar<br />
problemas de saúde e estes seriam, na verdade, o prenúncio<br />
do fim próximo, tanto mais quanto, além da hipertensão<br />
arterial, o paciente reunia outros fatores de risco<br />
cardiovascular como excesso de peso, vida sedentária e,<br />
particularmente, o tabagismo. Era um tabagista contumaz e<br />
embora afirme ter abandonado o hábito, em carta dirigida<br />
ao amigo Paulo Dantas, em dezembro de mil novecentos e<br />
cinqüenta e sete; e numa foto tirada em mil novecentos e<br />
sessenta e seis, quando recebia do governador Israel<br />
Pinheiro a Medalha da Inconfidência, aparece com um<br />
cigarro na mão esquerda. A propósito, na referida carta, o<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
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escritor chega mesmo a admitir, explicitamente, sua<br />
dependência da nicotina: ...” também estive mesmo<br />
doente, com apertos de alergia nas vias respiratórias;<br />
daí, tive de deixar de fumar (coisa tenebrosa!) e, até<br />
hoje (cabo de 34 dias!), a falta de fumar me bota<br />
vazio, vago, incapaz de escrever cartas, só no inerte<br />
letargo árido dessas fases de desintoxicação. Oh coisa<br />
feroz. Enfim, hoje, por causa do Natal chegando e de<br />
mais mil-e-tantos motivos, aqui estou eu, heróico e<br />
pujante, desafiando a fome-e-sede tabágica das<br />
pobrezinhas das células cerebrais. Não repare.”<br />
É importante frisar também que, coincidindo com os<br />
distúrbios cardiovasculares que se evidenciaram a partir de<br />
mil novecentos e cinqüenta e oito, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> parece<br />
ter acrescentado a suas leituras espirituais publicações e<br />
textos relativos à Ciência Cristã (Christian Science), seita<br />
criada nos Estados Unidos em mil oitocentos e setenta e<br />
nove por Mrs. Mary Baker Eddy e que afirmava a<br />
primazia do espírito sobre a matéria – “ ... the nothingness<br />
of matter and the allness of spirit”, negando<br />
categoricamente a existência do pecado, dos sentimentos<br />
negativos em geral, da doença e da morte.<br />
Em mil novecentos e sessenta e um, conferem-lhe a<br />
consagração oficial, com a atribuição do Prêmio Machado de<br />
Assis, a Academia Brasileira de Letras, para conjunto de obra.<br />
E essa obra começa, inclusive, a ser reconhecida no estrangeiro.<br />
Nesse mesmo ano, aomesmo tempo que Sagarana é editado<br />
em Portugal, aparece na França a tradução da primeira parte<br />
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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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de Corpo de Baile, lançada pelas edições Du Seuil, onde a<br />
segunda parte só viria a ser publicada no ano seguinte.<br />
Um ano depois, o escritor reaparece com um novo livro,<br />
desta vez um volume magro, com vinte e um contos curtos. Os<br />
temas destas estórias são múltiplos, ediversas também as<br />
situações, onde entre elas encontram-se exemplares de vários<br />
tipos de conto: o fantástico, o psicológico, o autobiográfico, o<br />
anedótico, o satírico, entre outros. Também o tratamento dado<br />
a esses temas é diversificado: ora jocoso, ora patético,<br />
sarcástico, lírico, erudito e popular.<br />
“Primeiras Estórias” constitui, certamente, o melhor livro<br />
para iniciação em <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, sendo assim mais assimilável<br />
pelo leitor. Mas o título desse livro, no entanto, requer uma<br />
explicação, como já observou Paulo Rónai: “Estória é o<br />
neologismo que distingue a história como conto, isto é,<br />
relado de acontecimentos fictícios...” E “primeiras” não é no<br />
sentido de trabalhos já realizados antes, mas sim por ser a<br />
primeira vez que o autor pratica o gênero “estórias”, ou seja,<br />
o conto curto. A maioria dos contos dessa obra desenrola-se<br />
numa região não-especificada, mas reconhecível como a das<br />
obras anteriores, embora o seu cenário seja apenas esboçado.<br />
Nesse mesmo ano é editada a obra O Mistério dos<br />
MMM, pela Gráfica O Cruzeiro, que foi escrito com<br />
colaboração de Viriato Correa, Dinah Silveirade Queirós, Lúcio<br />
Cardoso, Herberto Sales, Jorge Amado, José Condé, Antônio<br />
Callado e Orígenes Lessa. Tratasse de um romance policial de<br />
autoria coletiva, que pode ser definido como uma brincadeira<br />
muito séria, porque cada um dos nove autores, na época já<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
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escritores consagrados, escreveu um capítulo dando seqüência<br />
ao capítulo recebido de outro. Também assumiu a chefia do<br />
Serviço de Demarcação de Fronteiras.<br />
Em maio de mil novecentos e sessenta e três, candidatase<br />
pela segunda vez à Academia Brasileira de Letras, e é eleito<br />
por unanimidade a oito de agosto, para ocupar a vaga de João<br />
Neves da Fontoura; mas não é marcado o dia da posse. Nesse<br />
mesmo ano Primeiras Estórias recebeu o Prêmio do PEN<br />
Clube do Brasil.<br />
Em mil novecentos e sessenta e quatro, Grande Sertão:<br />
Veredas alcança três edições sucessivas, onde na festa de<br />
lançamento, compareceu o Presidente da Alemanha, Luebke.<br />
Um ano depois, seus livros já apareciam traduzidos na<br />
França, Itália, Estados Unidos, Canadá e Alemanha; e passa a<br />
interessar, igualmente aos nossos cineastas.<br />
Levado à tela, Grande Sertão: Veredas constitui uma<br />
experiência não muito feliz; mas o conto A Hora e Vez de<br />
Augusto Mantraga possibilita a Roberto Santos a realização,<br />
em mil novecentos e sessenta e seis, de um filme admirável,<br />
que se projeta em vários festivais internacionais. Nesse mesmo<br />
ano, <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> participa do Congresso de Escritores<br />
Latino-Americanos, em Gênova; e como resultado do congresso<br />
ficou constituída a Primeira Sociedade de Escritores Latino-<br />
Americanos, da qual o próprio <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> e o<br />
guatemalteco Miguel Angel Asturias foram eleitos vicepresidentes.<br />
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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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Em abril de mil novecentos e sessenta e sete, vai ao<br />
México, a fim de representar o Brasil no primeiro Congresso<br />
Latino-Americano de Escritores, no qual atua como vicepresidente.<br />
No regresso, é convidado para fazer parte, ao lado<br />
de Jorge Amado e Antônio Olinto, do júri do segundo Concurso<br />
Nacional de Romance “Walmap”, que pelo valor do prêmio é<br />
o mais importante do país, que foi arrebatado pelo livroJorge,<br />
um Brasileiro, de Oswaldo França Júnior. Nesse mesmo<br />
ano é publicado Tutaméia, livro cujosubtítulo é Terceiras<br />
Estórias; pequenocomo o anterior, um conjunto de quarenta e<br />
quatro estórias curtas.<br />
Numa entrevista a Paulo Rónai, quando o mesmo<br />
perguntava sobre a obra, foi feita a seguinte pergunta sobre o<br />
subtítulo: “Por que Terceiras Estórias se não houve as<br />
segundas? O que diz o Autor?”<br />
“O autor não diz nada.” Respondeu <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
com uma risada de menino grande; e depois de algum tempo,<br />
mostra o índice para Rónai, atento para ver se o mesmo<br />
descobre o mistério.”Será a ordem alfabética em que os<br />
títulos estão arrumados?” Retrucou Rónai. “Olhe melhor:<br />
há dois que estão fora de ordem.” Disse <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />
Segundo <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, era para que os críticos não<br />
achassem tudo fácil. E o interessante é que os títulos “fora de<br />
ordem” compõem as iniciais JGR; sendo assim o seu desejo, o<br />
subtítulo Terceiras Estórias.<br />
Em outubro, participa, na qualidade de relator, do debate<br />
promovido pelo Conselho Nacional de Cultura, em torno do<br />
problema levantado pelos filólogos brasileiros e portugueses,<br />
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em favor de um novo acordo lingüístico luso-brasileiro.<br />
Manifesta-se contra o acordo, sendo o seu parecer<br />
apoiado, por unanimidade, pela comissão, constituída ainda<br />
por Rachel de Queiroz, Adonias Filho, Moisés Vellinho<br />
e Cassiano Ricardo.<br />
Passa-se pouco tempo; e finalmente, depois de quatro<br />
anos de adiantamento, quatro anos de reflexo do medo que<br />
sentia da emoção que o momento lhe causaria, decide-se a<br />
tomar posse na Academia, e marca a solenidade para o dia<br />
dezesseis de novembro, data do aniversário de nascimento de<br />
seu antecessor: João Neves faria então oitenta anos.<br />
Ainda que risse do mal pressentimento, afirmou no<br />
discurso de posse: “... a gente morre é para provar<br />
que viveu”.<br />
Quando se ouve a gravação do discurso de <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> nota-se, claramente, ao final do mesmo, sua voz<br />
embargada pela emoção, era como se chorasse por dentro. É<br />
possível que o novo acadêmico tivesse plena consciência de<br />
que chegara sua “hora” e sua “vez”.<br />
É o dia dezesseis de novembro de mil novecentos e<br />
sessenta e sete. João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, aos cinqüenta e nove<br />
anos, veste o fardão e prepara-se para ir à Academia Brasileira<br />
de Letras tomar posse na cadeira número dois, que tem como<br />
patrono o escritor Álvares de Azevedo, e pertenceu a seu<br />
amigo e antigo chefe no Itamarati, João Neves da Fontoura.<br />
Neste dia, <strong>Rosa</strong> almoça com a mãe na casa de seu tio, o também<br />
escritor Vicente <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, que atribui o adiamento da<br />
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<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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posse à seguinte causa: “De seus sete tios amigos, quatro<br />
morreram quando viviam os cinqüenta e oito anos. Posse<br />
na Academia só mesmo depois dos cinqüenta e nove<br />
anos e ainda com alguns meses distanciados, me disse,<br />
temeroso”.<br />
O escritor Antônio Callado pergunta-lhe sobre o porquê<br />
de tanto empenho em seeleger para a Academia, ao que <strong>Rosa</strong><br />
responde: “O enterro, meu querido, os funerais. Vocês,<br />
cariocas, são muito imprevidentes. A academia tem<br />
mausoléu e quando a gente morre cuida de tudo.”<br />
Quando se candidatou pela primeira vez à Academia<br />
Brasileira de Letras, disse a Otto Lara Rezende, num almoço<br />
no Itamarati, que só se candidatava por duas razões: Primeira<br />
porque sua mãe só acreditaria que ele era um grande escritor<br />
se entrasse para a Academia; e segunda porque não podia<br />
negar a glória acadêmica à sua pequena cidade de Cordisburgo.<br />
A notícia de sua posse na Academia foi dada por Otto,<br />
que relata: Uma vez um jornal mencionou seu nome como<br />
possível candidato ao Prêmio Nobel. Procurou-me aflito e<br />
pediu-me que, por favor, evitasse associar o seu nome ao<br />
Nobel. Por quê? “O Nobel mata” – disse ele, brincando<br />
a sério. E pediu-me ainda que desse uma nota sobre a<br />
candidatura de outro brasileiro ao mesmo Prêmio<br />
Nobel.... “Pode dar, com ele não acontece nada” –<br />
disse. Esse mesmo temor da morte estava associado à<br />
sua posse na Academia, talvez porque tomasse a<br />
Academia como “consagração”, isto é, fim de uma<br />
obra e portanto fim da vida.”<br />
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Na cerimônia da posse, foi saudado pelo acadêmico<br />
Afonso Arinos, e seu discurso foi uma página magnífica, página<br />
tipicamente rosiana... E infelizmente vem a falecer três dias<br />
depois, na noite de domingo, dezenove de novembro de mil<br />
novecentos e sessenta e sete.<br />
Na manhã de segunda-feira foi o corpo transportado<br />
para Academia, onde ficou exposto à visitação. Desfilaram<br />
diante do esquife centenas e centenas de pessoas, desde<br />
anônimos às mais ilustres figuras da política, da diplomacia, da<br />
literatura. Ao sair o corpo da Academia, fala em nome dos<br />
companheiros o Presidente Austregésilo de Athayde.<br />
O sepultamento, com grande acompanhamento, teve<br />
lugar no Cemitério de São João Batista, no mausoléu da<br />
Academia. O Jornal da Tarde, de São Paulo, estampava em<br />
sua primeira página uma enorme manchete com os dizeres:<br />
“MORRE O MAIOR ESCRITOR; João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />
mineiro de Cordisburgo, 59 anos, autor de “Grande Sertão:<br />
Veredas”, com obras publicadas em 12 países, candidato<br />
ao Prêmio Nobel – segundo a crítica, o maior escritor<br />
brasileiro contemporâneo – morreu ontem no Rio, de<br />
enfarte. Quinta-feira passada, ao tomar posse na<br />
Academia Brasileira de Letras, disse: “As pessoas não<br />
morrem, ficam encantadas.”<br />
Nesse mesmo ano, João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> seria indicado<br />
para o prêmio Nobel de Literatura. A indicação, iniciativa dos<br />
seus editores alemães, franceses e italianos, foi barrada pela<br />
sua morte. A sua obra havia alcançado esferas talvez<br />
desconhecidas até hoje.<br />
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<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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Os volumes de publicação póstuma foram, Estas<br />
Estórias e Ave, Palavra, respectivamente; onde o primeiro<br />
foi organizado por Paulo Rónai, e traz contos, como Meu Tio<br />
o Iauaretê. O original do segundo, foi deixado por <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> sob o título Ave, Palavra, título escolhido por ele.<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> definiu o Ave, Palavra como uma<br />
“miscelânea”, querendo caracterizar com isto a despretensão<br />
com que apresentava estas notas de viagem, diários, poesias,<br />
contos, flagrantes, reportagens poéticas e meditações, tudo o<br />
que, aliado à variedade temática de alguns poemas<br />
dramáticos e textos filosóficos; constituíra sua colaboração<br />
de vinte anos, em jornais e revistas brasileiras, durante o<br />
período de mil novecentos e quarenta e sete a mil<br />
novecentos e sessenta e sete, trazendo assim um total de<br />
cinqüenta e quatro textos.<br />
Tudo que foi dito, deste o começo desta prosa até agora,<br />
só confirma as palavras de Sérgio Buarque de Holanda: “Tenho<br />
medo de tentar comparações. Não direi, por isso, que a<br />
obra de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> é a maior da literatura brasileira<br />
de todos os tempos. Direi porém que nenhuma outra, de<br />
nenhum escritor, me deu até hoje, entre brasileiros, a<br />
mesma idéia de tratar-se de criação absolutamente<br />
genial.”<br />
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<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> e sua obra se impuseram não apenas no<br />
Brasil, mas alcançou o mundo; e como dissera Getúlio Dornelles<br />
Vargas: “Saio da vida para entrar na História”, chego à<br />
conclusão que <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> não mais vive, mas já faz parte<br />
da História da Humanidade.<br />
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“As pessoas não morrem, ficam encantadas” .<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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SEGUNDO LUGAR.<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Vida e Obra: Análise<br />
Profunda de Sua Importância.<br />
Dayse Nayara dos Santos.<br />
Introdução<br />
Elaborar uma tese sucinta e consistente do impacto e<br />
importância desse autor, requer uma minuciosa e detalhada<br />
análise de sua vida e obra.<br />
Este autor se consagrou como um revolucionário do<br />
gênero regionalista desenvolvendo de maneira admirável temas<br />
diversificados dentro de seu próprio estilo lingüístico; ele recriou<br />
um novo momento da Língua Portuguesa ao mesclar o poético,<br />
o dramático e o narrativo. Este revolucionário da literatura<br />
brasileira nos impressionou e nos impressiona com facetas<br />
totalmente rosianas. Ele aglutinou em suas obras: o sarcástico,<br />
o lírico, o patético, o jocoso, o erudito, o sertanejo enfim; o<br />
popular, tudo em uma admirável jornada de belas obras. Difícil<br />
é escolher entre suas obras uma que sirva como base para um<br />
trabalho literocientífico, porém entre suas proezas literárias se<br />
destaca com brilho total, o romance “Grande Sertão:Veredas”<br />
que transporta nossa cultura lingüística para um plano de<br />
dimensão nunca alcançado antes, esta obra é seu ponto de<br />
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partida e chegada. Entender, analisar e se informar sobre ela,<br />
nada mais é, do que, mergulhar em um mundo totalmente<br />
grandioso no que tange à inesgotável fonte ficcional rosiana, ao<br />
regionalismo, enfim, ao que há de mais fantástico do mundo de<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> e neste momento nos deparamos com uma<br />
grande dificuldade em classificar como primordial, características<br />
marcantes do mundo deste autor. Para enumerar resumidamente<br />
a margem geral do nosso conteúdo, procuramos já,<br />
antecipadamente na própria introdução algumas visões gerais<br />
e outras parciais do que tem por vir pela frente, ou seja, uma<br />
jornada de informações interessantes e envolventes.<br />
O mito <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> possibilita aos seus leitores<br />
“viajarem” na imaginação, inventar, interpretar, conhecer outros<br />
tempos, outros costumes, outros mundos sem sair do lugar tudo<br />
isso é conquistado através da leitura que diverte, ensina, envolve<br />
e emociona leitores de todas as idades. Um ingrediente essencial<br />
aos leitores é a sensibilidade para se deixar tocar pelas palavras<br />
inspiradoras, emocionantes e instigantes dos escritores; é isso<br />
que <strong>Guimarães</strong> nos fornece com sua arte literária que mexe<br />
com nossos sentidos e imaginação.<br />
58<br />
Desenvolvimento<br />
Desenvolver uma estrutura sólida que contenha de<br />
maneira clara e objetiva cada recorte da literatura rosiana é<br />
uma tarefa desafiadora, pois, ao entrar nesse jogo não devemos<br />
nos esquecer jamais do teor poético da linguagem de <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>, visando mostrar de maneira sofisticada e elegante o<br />
conteúdo geral de cada obra.<br />
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Analisaremos a seguir sínteses de suas obras. No caso,<br />
iremos nos ater na obra que inicia e na que marca sua saga<br />
literária, mas esta análise deverá ser feita com um olhar crítico<br />
de um leitor que não só valoriza a qualidade estética do conjunto;<br />
mas também, prioriza o fundamental: o conteúdo lingüístico.<br />
Para nós, leitores, devemos nos prender não apenas no contexto<br />
literário, mas em sua plenitude extra textual que implica em<br />
nosso crescimento psicológico, cultural e comportamental. A<br />
magia de um grande escritor aí está, estabelecer uma relação<br />
de cumplicidade entre leitor e escritor. Eis um dos motivos pelo<br />
qual, poucos escritores alcançam tamanha proeza, pois<br />
conquistar um público exigente requer um posicionamento<br />
diferenciado e inovador. Portanto, ressaltamos mais uma vez<br />
que esta característica, sim, os livros de <strong>Guimarães</strong> têm de uma<br />
maneira surpreendente e é isso que o torna tão maravilhoso.<br />
Este autor possui uma gigantesca rede de obras plantadas<br />
em solo fértil possibilitando a “colheita” produtiva e farta, no<br />
caso, uma leitura enriquecedora onde o leitor tem um acesso<br />
direto para lançar sementes, ou seja, seu universo particular no<br />
terreno <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, por meio de narrativas diferentes e<br />
interessantes. Tal perfil lhe concede abertura tamanha a qual<br />
atinge desde o grupo dos intelectuais leitores de plantão até os<br />
leitores parcialmente desligados em relação ao que ocorre no<br />
mundo. Isso que é esplêndido em suas obras, atingir diferentes<br />
públicos leitores levando a eles um mesmo conteúdo, porém,<br />
com diferentes possibilidades interpretativas.<br />
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Dentre suas obras, começaremos a análise do ponto que<br />
assinala sua partida ao mundo literário.<br />
60<br />
Sagarana<br />
Em sua primeira obra já nos deparamos com uma<br />
característica rosiana o neologismo no qual ao somar o<br />
germânico “saga” ao sufixo tupi “rana” (“a maneira de”) o autor<br />
procura mostrar que está pronto para desenvolver sua obra<br />
sabendo o que está fazendo.<br />
Sagarana é um livro de contos que reúne uma imensa<br />
fertilidade de personagens e causos.<br />
Neste livro <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> retrata a vida nas fazendas<br />
de Minas Gerais com um imenso aprofundamento na análise<br />
dos tipos humanos. Apesar de se tratar de histórias regionais,<br />
o autor consegue dar um cunho universal aos contos pela riqueza<br />
das imagens e movimentação das narrativas.<br />
A vida, o colorido que seus personagens possuem<br />
enriquecem ainda mais sua obra. No desenrolar das narrativas<br />
não se encontram improvisações; a decorrência dos fatos se<br />
mostra totalmente amuderecida e bem colocada. Ao criar novos<br />
vocábulos há sempre uma justificativa etimológica concreta.<br />
Agora vamos aos contos englobados pelo livro.<br />
“O Burrinho Pedrês” narra a história de uma<br />
transformação brusca e muito ampla das águas de um córrego<br />
que aumenta de volume devido às chuvas, e repentinamente<br />
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<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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surpreende uma boiada e os vaqueiros que a conduzem. A<br />
mudança rápida do córrego mata a quase todos, sobrevivendo<br />
somente um vaqueiro que cavalgava, um burrinho de Pedrês e<br />
um outro que se agarrou à sua cauda.<br />
“A Volta do Marido Prodígio” é uma trama grosseira de<br />
politicagens eleitorais e faz entrar as estrapolias de um invulgar<br />
protagonista Lalino Salanthiel, que vende a mulher, ou seja, a<br />
esposa e depois a recupera de graça.<br />
“Sarapalha” a história de dois primos a tremer de malária<br />
doença maldita e acertar velhas contas do passado.<br />
“Duelo” dois homens com intuitos assassinos se<br />
perseguem mutuamente, porém, por ironia total da vida não se<br />
encontram, embora no fim, a vida cumprirá de sua maneira<br />
seus desígnios.<br />
“Minha Gente” um rapaz, uma moça e dois primos são<br />
surpreendidos por uma aula de coronelismo em uma temporada<br />
numa fazenda local.<br />
“São Marcos” misticismo total nesse conto, que traz<br />
consigo um horrível caso de feitiçaria que dá origem a uma<br />
cegueira maléfica ao protagonista, o que se une a uma tremenda<br />
e reveladora discussão sobre a beleza das palavras.<br />
“Corpo Fechado” em um arraial, um episódio engraçado<br />
de fechamento de corpo sucedido por dois valentões dá bons<br />
resultados.<br />
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“Conversa de Bois” a história de animais falantes e<br />
justiceiros que puxam o carro e iniciam um diálogo como no<br />
início dos tempos, nessa viagem, os animais estão transportando<br />
um defunto e no fim acaba com dois.<br />
“A Hora da vez de Augusto Matraga” relata o caminho<br />
de Matraga, um homem com bons status social, durão e<br />
mandão que perde tudo de uma hora pra outra e se vê vítima<br />
de uma injustiça sendo jogado como morto em um barranco.<br />
Acolhido por um casal de velhos negros que moram em um<br />
simples rancho e por eles tratado; volta a vida e se arrepende<br />
dos pecados que ele cometeu, torna-se assim em um homem<br />
arrependido e penitente chegando ao martírio ao ver<br />
novamente a violência que o regenera; porém agora no lugar<br />
de uma pessoa indefesa, totalmente fraca, e desse modo ele<br />
vai à procura do que mais ansiava naquele momento com aquela<br />
vida, sua hora e vez na morte.<br />
Um dos causos contido no livro: Primeiras Estórias por<br />
ser o mais proeminente e por ter maior alcance do que os outros,<br />
merece destaque neste nosso momento reservado aos contos.<br />
Iremos mostrar um pequeno trecho da mudança na vida de<br />
Augusto Matraga.<br />
62<br />
A Hora e Vez de Augusto Matraga<br />
Agora, parado pranto, a tristeza tomou conta de Nhô<br />
Augusto. Uma tristeza mansa, com muita saudade da mulher e<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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da filha, e com um dó imenso de si mesmo. Tudo perdido! O<br />
resto, ainda podia...Mas, ter sua família direito, outra vez, nunca.<br />
Nem a filha...Para sempre...E era como se tivesse caído num<br />
fundo abismo, e um outro mundo distante.<br />
⎯ Se eu pudesse ao menos ter absolvição de meus<br />
pecados!...<br />
Então eles trouxeram, uma noite, muito à escondida, o<br />
padre, que o confessou e conversou com ele, muito tempo,<br />
dando-lhe conselhos que o faziam chorar.<br />
⎯ Mas, será que Deus vai ter pena de mim, com tanta<br />
ruindade que fiz, e tendo nas costas tanto pecado mortal?!<br />
⎯ Tem, meu filho. Deus me mande a esposa pela rédea,<br />
e não tira o estribo do pé de arrependido nenhum...<br />
⎯ Eu acho boa essa idéia de se mudar para longe, meu<br />
filho.Você não deve pensar mais na mulher, nem em vingança.<br />
Entregue para Deus e faça penitência.<br />
Sua vida foi entortada no verde; mas não fique triste, de<br />
modo nenhum porque a tristeza é o aboio de chamar o Demônio,<br />
e o reino do Céu, que é o que vale, ninguém tira de sua algibeira,<br />
desde que você esteja com a graça de Deus, que ele não regateia<br />
a nenhum coração contrito!...<br />
⎯ Fé eu tenho, fé eu peço padre...<br />
⎯ Você nunca trabalhou não é? Pois agora por diante,<br />
cada dia de Deus deve trabalhar por três, e ajudar os outros,<br />
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sempre que puder. Modere esse mau gênio: -Faça de conta<br />
que ele é um poldro bravo, e que você é mais mandante do que<br />
ele...Peça a Deus assim, com esta jaculatória:“Jesus, manso e<br />
humilde de coração fazei meu coração semelhante ao vosso...”<br />
E, páginas adiante, o padre portou ainda mais<br />
excelentemente, porque era uma brava criatura. Tanto assim,<br />
que, na despedida insistiu:<br />
⎯ Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um<br />
dia de capina com sol quente, que às vezes custa muito a passar,<br />
mas sempre passa. E você pode ter muito pedaço bom de<br />
alegria...Cada um tem sua hora e sua vez:-Você há de ter a sua.<br />
E, lá fora, ainda achou de ensinar a preta um enxofre e tal<br />
para o gogó dos frangos, e aconselhou o preto a pincelar água<br />
de cal no limoeiro, e a plantar tomateiro e pés de mamão.<br />
Meses não são dias, e a vida era aquela no chão da<br />
choupana. Nhô Augusto comia, fumava, pensava e dormia, e<br />
tinha pequenas esperanças: de manhã em diante, o lado de cá<br />
vai doer menos, se Deus quiser...<br />
⎯ E voltou a recordar todas as rezas aprendidas na<br />
meninice, com a avó.Todas e muitas mais, mesmo as mais bobas<br />
de tanta deformação em misturas as que o preto engrolava, ao<br />
lavar-lhe com creolina a ferida da perna, e as que a preta murava,<br />
benzendo a cuia de água, ao lhe dar de beber.<br />
O movimento da obra de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> não está<br />
apenas no movimento físico das personagens, mas na passagem<br />
64<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 64<br />
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que estes efetuam de um estado para outro, na tentativa de<br />
fundir os opostos e de unificar o que é duplo. Não se busca a<br />
eliminação de um dos elementos, mas a sua conciliação, tal<br />
qual se vê na estória de Matraga citada em um pequeno trecho<br />
acima, cujo percurso físico realiza o simbolismo das marcas<br />
opostas a sua carne e a conjunção do imaginário e do simbólico.<br />
No primeiro conto de “Sagarana” percebe-se o aspecto duplo<br />
do burrinho, pertencente a duas esferas, terra e água, além do<br />
espelhamento que estabelece com o major Saulo, ambos são<br />
velhos, sábios e prudentes. Além disso, o burrinho reflete como<br />
um ser humano, enquanto o major é instintivo como um animal.<br />
Em “Sagarana” sempre há esta oscilação entre dois estados e<br />
a tentativa de juntura: entre memória e palavra, como em<br />
“Sarapalha”; entre crença e descrença, como em “São Marcos”;<br />
entre medo e coragem, como em “Corpo Fechado”, entre<br />
realidade e ficção,como em “A Volta do Marido Prodígio”;<br />
entre o desejo e a realização do desejo, como em “Conversa<br />
de Bois”, entre crime e castigo como em “Duelo”.<br />
Por todos os casos levantados, pode-se perceber que a<br />
temática do duplo é constante na obra rosiana, que o autor<br />
procura mostrar como se vê nos textos citados, é a possibilidade<br />
de convivência com esta duplicidade. Não se pode fugir dos<br />
papéis que a sociedade impõe nem desconhecê-los; não há<br />
como escapar. A fuga é a loucura, a queda definitiva no<br />
imaginário. Antes dessa hipótese impossível, resta a conciliação,<br />
a tentativa de depuração, o trânsito entre imaginário e simbólico.<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> desmitifica a imagem do homem como um ser<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
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integral, sem falhas ou dúvidas. Seu personagem consegue fugir<br />
ao imaginário, seja considerando-o como ficção como “outra<br />
cena”, seja convivendo com suas máscaras no simbólico.A<br />
desmitificação da integridade do sujeito apontada por<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> em seus textos, é semelhante à que consegue<br />
em relação ao processo de escritura, através da metalinguagem.<br />
Na medida em que investe contra a “verdade” da ficção, o<br />
autor mostra seus mecanismos de funcionamento, as<br />
engrenagens por trás do palco, conseguindo quebrar o caráter<br />
de ilusão da obra de arte, de que se falou anteriormente. A<br />
temática do duplo e da metalinguagem estão interligadas na<br />
obra rosiana, e, por sua vez, relacionada à questão da mimese,<br />
da verdade e da produção de sentido é preciso que alguém<br />
aprofunde e continue ampliando este leque de interpretações<br />
para que haja um jogo de interpretantes gananciosos de leitores,<br />
novamente impera a perspicácia rosiana.<br />
Com este breve relato dos contos contidos em<br />
“Sagarana”, observamos a inesgotável imaginação de<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>. Iremos nos deparar com isso no marco<br />
principal de sua carreira: A obra: “Grande Sertão: Veredas”.<br />
66<br />
“Grande Sertão: Veredas”<br />
Este romance universal começa e termina com um<br />
interessante e sugestivo início e fim. Primeiramente, o termo<br />
“Nonada” antecedido de um travessão inicia um monólogo.<br />
Este termo quer dizer nada, ou seja, a morte do protagonista, o<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
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travessão indica a fala iniciada dando origem à história e por<br />
fim a última palavra da narrativa que é travessia, que quer dizer<br />
a passagem para um outro plano, ato de atravessar, passagem<br />
para o infinito que é uma contínua busca pelo fim que não existe.<br />
Atravessar significa além de passar do escuro para o claro, da<br />
ignorância para a lucidez, perder o medo e aprender a alegria.<br />
Explicar brevemente, tais termos é uma obrigação, pois<br />
são elementos essenciais na construção literária de <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> e novamente voltamos ao que estávamos nos referindo.<br />
No início do texto encontramos um travessão seguido da palavra<br />
Nonada como já havíamos dito. Esse travessão se transforma<br />
numa tarja preta, na medida em que se inicia um diálogomonólogo,<br />
cujo assunto central será a perda: morte, o mistério,<br />
anunciados ao longo de todo o texto, fatos de que só<br />
tomaremos conhecimento no final da narrativa. Esse travessão,<br />
também marca de luto ,tem sua explicação no final da obra.<br />
O signo de luto é a primeira talhada no corpo da<br />
narrativa que com ele se inicia e ainda se reflete na capitular<br />
N da única palavra escrita com letra maiúscula do livro:<br />
NONADA. A trave central do N, ou seja a linha diagonal<br />
que liga as duas linhas verticais, também se engrossa e se<br />
reproduz em signo de luto, na palavra que irá de certa forma<br />
resumir a dor causada pela perda, pelo absurdo de existir e<br />
pela estranha ambigüidade que atravessa todo e qualquer<br />
sentido presente no texto. Do travessão inicial até o símbolo<br />
do infinito (∞) que fecha a narrativa, vários outros signos<br />
visuais são inseridos, perfazendo inesperadas travessias,<br />
palavra tão cara ao universo rosiano.<br />
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O leitor encontra ao longo do texto signos mais do que<br />
oferecem à necessária leitura, se apresentam, em instâncias<br />
posteriores, à contemplação já não mais como apenas palavras,<br />
mas como objetos de indagações de novos sentidos.<br />
É importante chamar a atenção do leitor para a riqueza<br />
dessas ilustrações, em que a exploração do extrato fônico se<br />
une a sinais gráficos para estabelecer diferenças: o processo<br />
demonstra as infinitas possibilidades de criação oferecidas pela<br />
língua e os diálogos que os textos podem estabelecer com as<br />
outras artes, convidando o leitor a uma leitura plural, que não<br />
se esgota unicamente, nas formas de ler, exigidas pela escrita<br />
tradicional.<br />
As criações lexicais de João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> são<br />
consideradas tradicionalmente como inovações lingüísticas que<br />
se realizam “fora da norma, mas dentro do sistema da Língua<br />
Portuguesa”. As ousadas intervenções morfo-cirúrgicas que<br />
<strong>Guimarães</strong> realizou e utilizou em suas obras possibilitavam e<br />
possibilitam a seus leitores diversas modificações do sistema.<br />
O aparato crítico a respeito da obra de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />
no que diz respeito às suas inovações lingüísticas procurou<br />
ultrapassar o limite do sistema e conseguiu.<br />
Procurar entender termos como os citados, é sempre<br />
complicado, mas muito enriquecedor, pois cada um possui um<br />
leque de sugestivos significados o que é bem caracterizado em<br />
sua obra “Primeiras Estórias”, se nos retermos aos vocábulos<br />
rosianos iremos nos perder na imensidão de termos desse<br />
grande escritor. Voltemos ao nosso enfoque no momento.<br />
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Grande Sertão: Veredas é um relato memorialístico do<br />
Jagunço Riobaldo no qual encontramos de maneira sólida<br />
questões centrais da experiência humana como: a existência do<br />
Diabo, a ambigüidade do erótico, a relação agonística entre o<br />
urbano e o rural, desse modo mergulhar no mundo tão particular<br />
do sertão, protagonistas e figurantes se trata de aprofundar no<br />
que há de mais universal.<br />
Em “Grande Sertão: Veredas”, Riobaldo, o narradorprotagonista,<br />
numa espécie de exame de consciência feito em<br />
sua velhice analisa a bifurcação de sua vida entre o caminho de<br />
jagunço e de um letrado, este duplo destino que cortou sua<br />
vida conta de um interlocutor considerado mudo por não se<br />
pronunciar do início ao fim do romance.<br />
Riobaldo, nascido pobre e bastardo, guarda uma boa<br />
lembrança da mãe, falecida quando o filho mal saía da infância.<br />
Rememora, com freqüência o evento mais marcante dessa<br />
primeira parte de sua vida, a saber do encontro com o “Menino”,<br />
a qual ele fará subseqüentemente repetidas alusões.<br />
Após a morte da mãe, Riobaldo é recolhido pelo padrinho<br />
Selorico Mendes, na verdade o pai ignorado, em cuja fazenda<br />
vai morar.<br />
É o padrinho quem o inicia nas artes da guerra e das<br />
letras. O padrinho tinha ilimitada admiração pelos jagunços e<br />
gostava de se jactar das relações de amizade que tinha com<br />
muitos deles. Nessa ordem de idéias, põe nas mãos do afilhado<br />
diversas armas com as quais deve se exercitar. E, contrariado<br />
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porque o pequeno, analfabeto, não consegue ler os documentos<br />
que lhe mostra para atestar sua familiaridade com jagunços<br />
célebres, decide enviá-los à escola da aldeia mais próxima.<br />
Na escola, Riobaldo mostra boa aptidão para os estudos.<br />
Mas não se sai tão bem nas tarefas da vida prática, extraindo<br />
por isso de seu hospedeiro na aldeia a seguinte observação:<br />
“Baldo, você carecia mesmo de estudar e tirar carta-de-doutor,<br />
porque para cuidar do trivial você jeito não tem. Você não é<br />
habilidoso”. O Professor, Mestre Lucas, confirma: “É certo.<br />
Mas, o mais certo de tudo é que um professor de mão-cheia<br />
você dava...”. A partir daí, Riobaldo passa a assistente de<br />
Mestre Lucas, na escolinha de primeiras letras.<br />
Ao saber, eventualmente, que seu presumível padrinho é<br />
de fato seu pai, Riobaldo foge de casa e arranja um cargo para<br />
ensinar na fazenda por indicação de Mestre Lucas. Até aqui,<br />
dois arbítrios da sorte. Primeiro, a jagunçagem o joga nas letras,<br />
pois o pai o manda alfabetizar-se ao não conseguir ler os<br />
documentos comprobatórios de sua relação com chefes de<br />
bando. Depois as letras o jogam na jagunçagem; o aluno que<br />
o aguarda na fazenda é ninguém menos que Zé Bebelo, de<br />
influência maior na definição de seu destino.<br />
Devido aos brilhantes dotes do aluno, logo o professor<br />
nada tem a lhe ensinar. Mas aceitará o oferecimento do posto<br />
de secretário, assim permanecendo ao pé de Zé Bebelo. A<br />
fazenda deste será em pé de guerra, em meio aos preparativos<br />
de arranjar da campanha para acabar com a jagunçagem<br />
utilizando jagunços. Riobaldo sem nada que o prendesse, segue<br />
junto, embora apenas como secretário não-combatente.<br />
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Mas um dia, presa de desgosto à vista de tanta<br />
mortandade, resolve fugir e abandonar aquela vida. O que faz,<br />
para melhor ser laçado por outro arbítrio da sorte, tornandose<br />
mais completamente presa do destino. Pois, em meio à fuga,<br />
vai topar numa outra fazenda com o “Menino”, agora o adulto<br />
Diadorim, membro importante do bando de Joça Ramiro, que<br />
Zé Bebelo, justamente combatia.<br />
O enredo é emaranhado, e a reflexão de Riobaldo<br />
também, pois se percebe joguete de força que não compreende.<br />
Ao reencontrar o “Menino”, não mais o abandonará, e será ele<br />
quem determinará dali em diante seus passos. Passa a fazer<br />
parte do bando dos adversários de Zé Bebelo e se tornará<br />
definitivamente um jagunço.<br />
Riobaldo e Diadorim<br />
No primeiro encontro entre ambos, ainda na<br />
adolescência, Riobaldo recebera do menino uma lição de<br />
coragem quando da travessia do São Francisco numa canoa.<br />
No segundo encontro, arrebatado pelo fascínio de Diadorim,<br />
vai aprender em sucessivas lições de quanta coragem se precisa<br />
para ser jagunço. Sendo Diadorim filho secreto de Joca Ramiro,<br />
chefe do bando, estabelece-se entre os dois uma relação de<br />
amor e de morte, que se desenrola sob o signo de Deus e do<br />
Diabo. Nessa relação, a camaradagem viril se mistura a um<br />
desejo dos mais ambíguos, assim como o prazer da amizade<br />
entre ambos a guerra incessante em que estão empenhados.<br />
Disso resultará por fim, a morte de Diadorim, da qual Riobaldo<br />
se sentirá culpado pelo resto da vida .<br />
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Riobaldo demora um pouco a perceber que o que sente<br />
é amor, e amor por um outro homem. Sua perturbação é<br />
enorme, e ele chega a pensar em suicídio. Só saberá, para sua<br />
pena e alívio, que se trata de uma mulher disfarçada de homem<br />
nas últimas páginas do livro, quando Diadorim mata e morre,<br />
num duelo a faca com Hermógenes assassino de seu pai, Joca<br />
Ramiro. Seu corpo vai ser preparado para receber a mortalha,<br />
quando também o leitor fica sabendo seu verdadeiro sexo.<br />
A essa ambigüidade se acrescentam os problemas<br />
inerentes à carreira de jagunço vem ser o medo, provar a<br />
destreza nos combates e sobretudo, empenhar lealdade a um<br />
chefe. Tendo pertencido sucessivamente a vários bandos, às<br />
vezes inimigos uns dos outros. Riobaldo não tem clareza sobre<br />
suas próprias motivações. Persistem suas indagações sobre a<br />
injustiça e sobre as causas últimas. Para obter a confiança de<br />
Diadorin, que jurou vingar o assassino do pai matando o<br />
Hermógenes e exige igual juramento do amigo, Riobaldo acaba<br />
por vender a alma ao Diabo em troca de atingir esse objetivo.<br />
A partir daí, diluem-se suas dúvidas, ele destitui Zé Bebelo e<br />
se torna chefe em seu lugar. Passa a ter apenas um alvo,<br />
inexorável .. eliminar o Hermógenes.<br />
É o que se encontra resumido numa frase que serve de<br />
epígrafe ao romance, já na folha de rosto, e que é repetida<br />
inúmeras vezes... “O Diabo na rua, no meio do redemoinho”.<br />
Frase que só se decifra quando Diadorim e Hermógenes afinal<br />
se defrontam e se entrematam no meio da rua, rodamoinhando<br />
um em torno do outro e levantando poeira. Desaparecidos o<br />
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amigo e o inimigo, tudo fica sem sentido, e Riobaldo se retira<br />
da jagunçagem, para deitar-se na rede e ficar cogitando sobre<br />
sua vida, tal como o interlocutor virá encontrá-lo.<br />
Para Antonio Cândido, um dos primeiros estudiosos de<br />
“Grande Sertão: Veredas”, nesse ponto, ao renunciar “aos altos<br />
poderes que o elevaram por um instante acima da própria<br />
estatura, o homem do sertão se retira na memória e tenta<br />
laboriosamente construir a sabedoria sobre a experiência vivida,<br />
porfiando num esforço comovedor, em descobrir a lógica das<br />
coisas e dos sentimentos”.<br />
Assim termina e começa, ou começa e termina, encerrando<br />
o colossal percurso de sua narrativa, esse monumento tanto da<br />
obra Rosiana quanto das letras em Língua Portuguesa.<br />
Terminamos as história de Diadorim e Riobaldo um amor<br />
marcado pela ambuigüidade do erótico, pela caracterização<br />
do bem e do mal, pela ênfase ao regionalismo entre outros<br />
temas; é tudo isto que torna harmonioso, de uma certa maneira,<br />
o texto de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> pois, a influência dessa leitura não<br />
emerge abruptamente numa ou noutra citação, como algo<br />
excrescente, mas permanece sabiamente, durante todo o livro,<br />
tornando impraticável discernir referências pontuais, de tal forma<br />
que o que foi assimilado dissemina-se na escritura: Tudo está<br />
ligado a tudo na vida então observamos que ao lermos<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> não se trata de poder se ver bem mas sim é o<br />
fundo dessas leituras que transparece na reflexão, como se o<br />
autor tivesse internacionalizado de tal maneira os temas que<br />
seu conteúdo passou a constituir verdade íntima, visão de<br />
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mundo, emergindo incoercivelmente nos lances da obra em que<br />
estão em jogo imperativos de ordem totalmente moral. Posso<br />
então considerar “Grande Sertão:Veredas” como sendo uma<br />
autobiografia irracional ou melhor uma autoreflexão irracional<br />
do autor. “Grande Sertão:Veredas” é um texto que foi escrito<br />
sob o signo da dor, da morte, da falta , que traz consigo marcas<br />
visuais tão expressivas e portadoras de significados quanto as<br />
palavras escritas; se colocam aos olhos do leitor, convidandoo<br />
a considerar o livro como um precioso objeto, que além de<br />
lido, deverá ser contemplado. Produzido segundo leis próprias,<br />
imporá um outro caminho de percepção e de leitura, pela<br />
bordadura das marcas autorais, dos ornamentos, da imposição<br />
de uma respiração, ao se executar o ato físico de ler são<br />
estruturas identificadas na leitura dessa obra que sempre<br />
surpreende com uma nova faceta a cada momento descoberta;<br />
é importante chamar atenção do leitor para a riqueza contínua<br />
de ilustrações textuais em que a exploração do extrato fônico<br />
se une a sinais gráficos para estabelecer a diferença; o processo<br />
demonstra as infinitas possibilidades de criação oferecidas a<br />
língua e os diálogos que os textos podem estabelecer com as<br />
outras artes para um estudo mais aprofundado convidando o<br />
leitor para uma leitura plural, que não se esgota unicamente<br />
nas formas de ler exigidas pela tradicional. Um exemplo nada<br />
gratuito está na nomeação da pedra preciosa que Riobaldo<br />
adquire e que acabará por se tornar um prêmio para o leitor<br />
com um olhar mais amplo de sua obra. A esta pedra damos<br />
o valor como sendo uma figura perfeita daquilo que foge ao<br />
caráter explícito dos exemplos apresentados no texto. A<br />
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pedra torna-se valiosa, preciosa pelo valor afetivo investido<br />
nela mais uma vez, na beleza de temas universais inseridos<br />
dentro do mundo rosiano.<br />
Justificativa<br />
Como justificar o estudo mais aprofundado da vida e da<br />
obra de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>? Isto é fácil quando se trata de um<br />
dos maiores escritores da literatura brasileira, não só um autor<br />
que expandiu muito além de nossas fronteiras, da beleza de<br />
nossa cultura ou que revolucionou o mundo regional do Brasil,<br />
ou que ainda inovou o mundo lingüístico com uma imensidão<br />
de vocábulos totalmente novos. Este autor assim como muitos<br />
outros devem ganhar um estudo sobre sua vida e obra, devido<br />
a importância que tiveram e tem no contexto, não só brasileiro,<br />
mas mundial. É complicado enumerar as imensas justificativas<br />
que possuímos; pois a imensidão de temas abordados por este<br />
autor que estamos estudando, vai muito além do que<br />
imaginamos. Este belo escritor possui um leque de estruturas<br />
para serem citadas, porém mesmo procurando citar todas<br />
sempre deixaremos alguma com menos ênfase, pois são tantas<br />
que mesmo com a ambição de lembrarmos de todas não<br />
conseguiríamos. Procuraremos, assim como temos feito desde<br />
o início do nosso trabalho focalizar o que realmente apresentou<br />
uma real importância para o mundo literário.<br />
A leitura de pelo menos uma obra de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
deve ser considerada como uma estrutura de desenvolvimento<br />
cultural para os que se interessam. Por mais que muitos jovens<br />
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não suportem a idéia de ler livros grandes e com um linguajar<br />
totalmente “distorcido” dos seus, as escolas e cursos, em geral,<br />
deveriam possuir uma estrutura mais rigorosa, não que obrigasse<br />
aos estudantes a lerem, mas sim que induzisse à leitura, fazendo<br />
com que eles lessem por interesse próprio e não por obrigação.<br />
Infelizmente é essa a imagem que a leitura ou a própria busca<br />
por informações gera ao leitor jovem. Nosso objetivo maior,<br />
não é influenciar, mas sugerir aos que lerem este trabalho, uma<br />
visão mais ampla e apurada do mundo literário, pois a literatura<br />
marca o desenvolvimento de uma sociedade. Desde os<br />
primórdios vemos que um dos maiores valores de uma<br />
civilização é a palavra e muito do que conhecemos hoje devemos<br />
agradecer aos antepassados que priorizaram antes de tudo,<br />
registrar através da escrita o que acontecia no passado e,<br />
principalmente, a visão que se tinha naquela época a respeito<br />
da sociedade, de sua maneira de pensar, de suas histórias, enfim,<br />
de seu cotidiano. Esta é a função da literatura mostrar o valor<br />
da escrita não só para enriquecer os leitores como também<br />
para enriquecer uma civilização inteira.<br />
Iremos nos deparar a todo momento com uma imensa<br />
rede de obras no contexto literário, abrangendo não só obras<br />
de grande impacto como de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, mas também de<br />
outros escritores porém nosso enfoque é no momento, este<br />
autor. Demonstrar algumas justificativas já demonstramos, já<br />
que é muito difícil terminar essa justificativa, pois como acabamos<br />
de dizer em outras palavras que: “o mundo literário é isso, é<br />
grandiosidade nas palavras, é imensidão de interpretações, é<br />
conhecimento, é cultura, é alegria, é tudo que se pode imaginar<br />
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para fazer o ser humano crescer a partir do mundo da<br />
ficcionalização encontrada em diversos livros ou próprias<br />
narrativas de fundo real nos enobrece, não no sentido de trazer<br />
uma determinada satisfação quando lemos, e por sua vez<br />
conciliamos tal leitura a um fato real, ou até mesmo, quando<br />
lemos e nos surpreendemos com algo chocante que tiramos<br />
do livro e acabamos levando para nossas vidas. Este ato de<br />
enobrecimento ocorre como uma conseqüência do ato<br />
involuntário de gostar de uma determinada obra e mais uma<br />
vez citamos, é isso que <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> causa aos seus leitores<br />
fiéis ou até mesmo passageiros inesgotáveis são meios de<br />
justificar o teor geral do mundo rosiano. Logo, é isso que nos<br />
dá maior prazer ao elaborar tal justificativa. No momento, temos<br />
que vencer mais uma barreira que encontramos no nosso<br />
caminho às vezes, falta uma palavra, uma idéia ou até mesmo<br />
paciência, mas superamos porque a própria vontade de mostrar<br />
a beleza deste universo supera os entraves que a falta de<br />
paciência ou cansaço possam causar, enfim, qualquer barreira<br />
que atrapalhe tal elaboração, torna-se um desafio. Em cada<br />
momento encontramos uma surpresa, novas descobertas e<br />
felicidades. Por outro lado, contrapondo a tudo isso surge a<br />
insatisfação, o desânimo e mais uma vez a ganância por um<br />
trabalho bem feito é maior, felizmente, pois isso faz não só o<br />
trabalho ficar com mais linhas, como também com mais<br />
conteúdo, e é esse o ponto que queremos atingir queremos<br />
chegar ao clímax, ao topo elevar ao máximo o leitor para que<br />
desse modo, através de uma leitura gostosa ele venha interagir,<br />
divertir sem se perder em uma leitura chata e cansativa estamos<br />
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procurando mostrar através de algumas linhas o cenário<br />
camuflado desta tese que procurou equilibrar o que realmente<br />
tem uma importância para o contexto geral de quem irá ler,<br />
mas também para que vejam a dificuldade, principalmente a<br />
superação desta para sua elaboração. Terminamos aqui a<br />
justificativa, não com um encerramento do tipo: “<strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> revolucionou o mundo literário brasileiro” mas sim com<br />
um desfecho que procura mostrar a realidade <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
que modificou uma determinada área antes inalcançável, a de<br />
sugerir aos seus leitores sempre, mas sempre a sua real e<br />
verdadeira visão sobre a vida.<br />
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Uma análise mais aprofundada em termos<br />
psicanalíticos sobre <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
Para Platão, a obra de arte mimética seria imperfeita<br />
porque, ao se reproduzir o real, o faria de forma incorreta,<br />
infiel à idéia, fugindo a toda ordem preestabelecida e a qualquer<br />
controle. A obra questionaria, assim, uma visão única e íntegra<br />
do real, ao mesmo tempo em que afirmaria seu próprio caráter<br />
mimético, de simulacro e não de cópia.<br />
De Platão aos nossos dias, a ciência tem mostrado que<br />
por trás da aparente unidade do mundo e do homem, existe<br />
um movimento e uma multiplicidade de planos e sentidos que<br />
nem sempre se quer admitir. Apesar de se negar o movimento<br />
e a pluralidade em benefício do único e estável, sabe-se que o<br />
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sentido não é dado pela seqüência de significantes e<br />
correspondentes significados, mas pela presença/ausência<br />
indicada pelo eixo paradigmático, contínuo dos interpretantes.<br />
Não há uma estrutura ou um centro irradiador de sentido.<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, ao abordar a questão do duplo, da<br />
loucura ou do teatro, o fará também no sentido de mostrar que<br />
o homem não tem um caráter monolítico, sendo antes um<br />
simulacro, ou seja, uma cópia de si mesmo, variando tanto<br />
quanto varia o objeto de seu desejo. O que apresenta para si<br />
próprio e para os outros é um conjunto de máscaras com que<br />
propicia, ideologicamente, o seu reconhecimento/<br />
desconhecimento.<br />
Biobibliografia<br />
João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, consagrado escritor brasileiro<br />
nascido em Cordisburgo, Minas Gerais, no dia 27 de Junho<br />
de 1908.<br />
Estudou na Faculdade de Medicina da Universidade de<br />
Minas Gerais e clinicou no interior de Minas por dois anos.<br />
Ingressou depois na carreira diplomática e prestou<br />
serviços em Hamburgo, em Baden-Baden, em Bogotá e em<br />
Paris.<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> veio a se tornar mais conhecido como<br />
escritor. Ocupou, todavia, outras profissões como acabamos<br />
de citar algumas.<br />
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Depois de ter aprendido as primeiras letras em sua<br />
cidade natal, Cordisburgo, <strong>Guimarães</strong> teve que deixá-la para<br />
candidatar-se aos benefícios de uma educação propriamente.<br />
Em 1918, aos dez anos, dirigiu-se inicialmente a São João<br />
Del Rey, ao seu colégio Santo Antônio e depois a Belo<br />
Horizonte. Nesta cidade, pela mão de seu avô e padrinho<br />
Luiz <strong>Guimarães</strong>, matriculou-se no Colégio Arnaldo dos Padres<br />
alemães, o mais prestigioso da capital também freqüentado<br />
em diferentes fases por Carlos Drummond de Andrade, Pedro<br />
Nava e Gustavo Capanema.<br />
Ao passar para os estudos superiores na mesma cidade,<br />
inicia em 1925 e conclui em 1930 o curso de Medicina, ano<br />
em que se casa com Lígia Cabral Pena.<br />
Dois anos antes de formar em 1928, obtivera sua primeira<br />
colocação, na Secretaria Estadual da Agricultura. De uma<br />
maneira ou de outra, tramitará como funcionário público por<br />
vários pequenos empregos.<br />
Logo em seguida à formatura, começa a trabalhar em<br />
1931 como Médico em Itaguara, cidade do interior de Minas<br />
Gerais. Ali, nasce-lhe nesse ano a primeira filha Vilma. No ano<br />
seguinte 1932, é nomeado inspetor de Educação e Saúde, em<br />
Itaguara. E, por ocasião da revolução constitucionalista de 1932<br />
em que São Paulo, com grupos mineiros e gaúchos rebelou-se<br />
contra o governo federal, apresentou-se como voluntário a força<br />
pública de seu estado, tendo servido no túnel da Serra da<br />
Mantiqueira, onde ouve uma das mais importantes batalhas da<br />
conflagração.<br />
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Em 1933 presta concurso para a força pública, tornandose<br />
Oficial-Médico, em outra cidade mineira Barbacena, sendo<br />
promovido a Capitão no ano seguinte. Em 1934 nasce Agnes,<br />
segunda filha do casal e de 1933 a 1935 trabalha no serviço de<br />
proteção ao índio. Na corporação militar reencontrou outro<br />
oficial-médico, Juscelino Kubitschek de Oliveira, futuro<br />
Presidente da República que conhecera quando ambos<br />
estagiavam na Santa Casa de Misericórdia, de Belo Horizonte<br />
e a qual, muitos anos mais tarde, em 1958, deveria sua<br />
promoção a Embaixador.<br />
Em 1935, ingressa no Itamarati sendo nomeado cônsul<br />
de terceira classe. Sua trajetória naquele ministério está bem<br />
registrada, em livro interessante que traz alguns documentos<br />
redigidos por <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> e submetidos a seu crivo antes<br />
de serem selecionados para publicação. Dentre eles se destaca<br />
um ofício interno que tem o requinte de limitar-se a palavras<br />
iniciadas com a letra “c”. Os testemunhos convergem para<br />
delinear o perfil de um funcionário consciencioso e trabalhador.<br />
A carteira de diplomata como de praxe, implicaria em<br />
deslocamentos sucessivos. Cônsul-adjunto em Hamburgo<br />
em1938, ali conheceria Aracy Moebius de Carvalho, sua<br />
segunda esposa. Aproveita a oportunidade da sua estada no<br />
exterior para viajar pela Europa. A segunda guerra, provocando<br />
o rompimento de relações com a Alemanha, leva-o a ser<br />
internado por quatro meses em 1942, em Baden-Baden. Nesse<br />
ano é nomeado segundo secretário da Embaixada em Bogotá,<br />
de onde volta em 1944, para trabalhar na Secretaria no Rio de<br />
Janeiro.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 81<br />
16/05/08, 09:11<br />
81
Em 1946 é renomeado chefe de gabinete do ministro<br />
João Neves da Fontoura, com qual desenvolveu calorosa<br />
amizade e do qual faria o elogio protocolar ao tomar posse<br />
vinte anos depois na Academia Brasileira de Letras, ao sucedêlo<br />
na mesma cadeira.Viajaria para Paris nesse ano, para a<br />
Conferência de Paz ao término da guerra, como secretário de<br />
nossa delegação. Em 1948, a mesmo título, vai a conferência<br />
americana, em Bogotá. Antes do fim do ano é nomeado<br />
secretário da Embaixada em Paris, e promovido a conselheiro<br />
no ano seguinte obtendo o cargo de ministro de segunda classe<br />
em 1951, quando reassume seu antigo posto junto a João Neves<br />
da Fontoura, no Rio de Janeiro.<br />
Dois anos depois, passa a chefia da Divisão de<br />
Orçamento e em 1958 a ministro de primeira classe, ou<br />
embaixador. De 1962 em diante seria chefe do serviço de<br />
demarcação de fronteira, posto em que viria a falecer no dia<br />
19 de novembro de 1967.<br />
Procuramos de maneira sucinta descrever o caminho de<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> em percurso totalmente grandioso, em que<br />
ocupou cargos de grande importância na vida pública brasileira<br />
e atuou de maneira brilhante em vários departamentos do mundo<br />
profissional. Ele se envolveu em conquistas profissionais e<br />
pessoais ao se casar e ter duas filhas. Por essa sua vida cheia<br />
de grandes realizações não podemos considerar que este<br />
escritor morreu e sim, que ele partiu para uma dimensão em<br />
que para seus leitores ele jamais morrerá e que pelo contrário<br />
que ele estará eternamente contido em suas obras e jamais sairá<br />
82<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 82<br />
16/05/08, 09:11
de nossas memórias. E é esta a função que estamos possuindo<br />
no momento a de resgatar na memória dos leitores ao mundo<br />
rosiano de maneira bela, procurando sempre vangloriar este<br />
escritor. O restabelecimento constante de <strong>Guimarães</strong> é<br />
simplesmente uma forma satisfatória, de além de uma superação<br />
no que tange à destruição de barreiras para levantar uma<br />
humilde, porém, bela tese de sua vida e obra.<br />
Conclusão<br />
A beleza original e exclusiva das obras rosianas são<br />
simplesmente o nascimento de uma estrutura literária que<br />
engloba de maneira equilibrada temas totalmente universais. Este<br />
grande autor aglutina em suas obras a ambigüidade do erótico,<br />
a relação agonística entre o rural e urbano, caráter rotineiro<br />
das diversas manifestações de violência no Brasil, representado<br />
no mundo da jagunçagem, claramente. O equilíbrio entre o<br />
espiritualismo europeu e o regionalismo brasileiro, a bifurcação<br />
entre o mundo material e espiritual, neologismo, inesgotável<br />
mundo ficcional, fertilidades em temas humanos, o duplo sentido<br />
do sertão, o misticismo, enfim, possuímos um leque de temas<br />
englobados por este autor, se fôssemos enumerar todos,<br />
gastaríamos uma infinidade de folhas e mesmo assim não<br />
teríamos citados todos, sabe porquê ? Porque falar de <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> não tem limites, por isso temos que enfocar os traços<br />
principais de suas características buscando sempre mostrar aos<br />
leitores a importância deste escritor, que revolucionou para<br />
sempre a literatura brasileira.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 83<br />
16/05/08, 09:11<br />
83
Conclui-se então que este grande escritor não levou<br />
somente nossa literatura para uma dimensão nunca antes<br />
alcançada ou mostrou a beleza da cultura brasileira para o<br />
mundo. Este autor com sua sabedoria e beleza expandiu uma<br />
saga de temas realmente importantes, e principalmente, no que<br />
se refere aos aspectos universais da sociedade e este é o papel<br />
da literatura, conduzindo na expansão para um universo muito<br />
maior, não apenas de narrativas interessantes ou intrigantes,<br />
mas sim, levá-lo a um contexto mundial de reais informações,<br />
as quais venha-lhe trazer, enquanto leitor, um conteúdo a mais<br />
em seu livro “psíquico” de informações gerais que englobe desde<br />
a multiplicidade, a diferença, a ruptura de hábitos arraigados, a<br />
exploração de uma vasta rede de indagações com respostas<br />
claras, para o leitor que procura sempre uma interpretação que<br />
traga uma satisfação para seu entendimento.<br />
84<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 84<br />
16/05/08, 09:11
REGULAMENTO E ATOS DO I CONCURSO DE<br />
PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO<br />
GUIMARÃES ROSA”/2006.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 85<br />
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85
86<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 86<br />
16/05/08, 09:11
I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />
“JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2006.<br />
REGULAMENTO.<br />
Art. 1 o — A <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> (04.853.455/<br />
0001-00) e a Academia de Letras “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”<br />
(ALJGR, mantida pelo Clube dos Oficiais — COPM), da<br />
Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), promoverão, coparticipativamente<br />
com patrocinadores e entidades<br />
literoculturais, o I CONCURSO DE PROSA<br />
LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/<br />
2006 (ou I Concurso “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>” FGR/ALJGR<br />
— PMMG, identificado também, neste Regulamento,<br />
simplesmente como Concurso ou Certame).<br />
Parágrafo único — Do Certame disposto no caput a<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> será a provedora logístico-financeira,<br />
à qual compete a divulgação do Certame e o custeio de prêmios,<br />
publicações (principalmente da <strong>Coletânea</strong> do Concurso),<br />
impressões e outros serviços ou recursos necessários à<br />
execução deste Regulamento; a Academia de Letras “João<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”, a provedora intelectual e acadêmica.<br />
Art. 2 o — Do I CONCURSO DE PROSA<br />
LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/<br />
2006 poderão participar alunos regularmente matriculados em<br />
cursos de nível médio, satisfeitas as exigências contidas neste<br />
Regulamento.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 87<br />
16/05/08, 09:11<br />
87
Art. 3 o — As inscrições no Certame serão feitas, de 22<br />
de agosto de 2005 a 16 de dezembro de 2005, exclusivamente<br />
pelos meios de postagem (serviços realizados pelos Correios),<br />
mediante remessa do texto e ficha de inscrição do respectivo<br />
Autor, de acordo com o modelo constante do Anexo Único a<br />
este Regulamento.<br />
Art. 4 o — Cada Concorrente inscreverá apenas um texto<br />
em prosa literocientífica, escrito em Língua Portuguesa e inédito,<br />
sobre a vida e a obra do escritor João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>,<br />
com extensão de 15 à 20 páginas, datilografado ou digitado<br />
em papel A4, espaço dois, corpo doze, com título, sem nome<br />
nem pseudônimo do Autor, em três vias impressas e uma em<br />
disquete ou cd (acondicionadas, com a respectiva ficha de<br />
inscrição, em envelope opaco e lacrado), explicitamente<br />
endereçadas ao<br />
88<br />
I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />
“JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2006<br />
FGR e ALJGR/ PMMG.<br />
Aos cuidados da <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>/Departamento Social.<br />
Rua Paraíba, n o 1441 – Savassi.<br />
CEP 30130-141 – Belo Horizonte – MG.<br />
Parágrafo único — Na pauta do Remetente, apenas<br />
se registrarão os caracteres dos Promotores:<br />
REMETENTE: FGR e ALJGR/ PMMG.<br />
CEP 30130-141.<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 88<br />
16/05/08, 09:11
Art. 5 o — Até 23 de dezembro de 2005, o Departamento<br />
Social da <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> consolidará as inscrições<br />
e codificará, numericamente, por modalidade, os textos e<br />
ensaios recebidos e respectivas fichas de inscrição.<br />
§ 1 o — Em 27 de dezembro de 2005, o Curador do I<br />
CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />
“JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2006 encaminhará a<br />
julgamento os textos e ensaios validamente inscritos e<br />
codificados.<br />
§ 2 o — O Departamento Social da <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> custodiará as fichas de inscrição codificadas e, em época<br />
oportuna, com o Curador do Certame, identificará os Autores<br />
mais bem-classificados.<br />
Art. 6 o — Em 03 de abril de 2006, o Curador proclamará<br />
os resultados do Concurso, os quais serão divulgados pela<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />
Art. 7 o — O Curador do I CONCURSO DE PROSA<br />
LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/<br />
2006 é o <strong>Prosa</strong>dor e Crítico, Tenente-Coronel JOÃO BOSCO<br />
DE CASTRO, Presidente do Conselho Superior da ALJGR/<br />
PMMG, a quem compete, afora as atribuições típicas de<br />
curadoria de ensaística e produção literocientífica:<br />
I — a indicação dos integrantes da Comissão Julgadora<br />
(em regime de voluntariado);<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 89<br />
16/05/08, 09:11<br />
89
II — o convite a especialistas da Comunidade<br />
Literocientífica para colaboração no Certame, em regime de<br />
voluntariado;<br />
III — a coordenação das atividades de planejamento e<br />
execução, julgamento e premiação, explícitas ou implícitas neste<br />
Regulamento;<br />
IV — a organização e coordenação, ou até a execução,<br />
dos procedimentos de revisão, prefaciação, editoração,<br />
ilustração, arte-finalização e publicação da <strong>Coletânea</strong> dos Textos<br />
Premiados e Classificados no Concurso;<br />
90<br />
V — a presidência da Comissão Julgadora;<br />
VI — a solução de casos fortuitos e omissos, em primeira<br />
instância.<br />
Art. 8 o — O julgamento das prosas literocientíficas<br />
inscritas caberá a uma comissão, composta de três Especialistas<br />
em Ensaística e, especialmente, em João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>:<br />
sua vida e obra, para a escolha dos três melhores textos do<br />
Sertame, os quais serão publicados na <strong>Coletânea</strong> do I<br />
CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />
“JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2006, também denominada<br />
simplesmente <strong>Coletânea</strong>.<br />
§1 o — A Comissão Julgadora ? cujas decisões<br />
premunem-se de soberania e irrecorribilidade ? será designada,<br />
em ato conjunto, pelo Superintendente-Geral da <strong>Fundação</strong><br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> e Presidente da Academia de Letras “João<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”, da PMMG.<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 90<br />
16/05/08, 09:11
§ 2 o — A Comissão Julgadora decidirá sobre seus<br />
critérios de julgamento e método de trabalho.<br />
Art. 9 o — Ao Curador e a cada Julgador designado na<br />
forma do § 1 o do art. 8 o será conferida, nas cerimônias dispostas<br />
no art.14, a Medalha de Crítica Literocientífica<br />
“Graciliano Ramos”, cunhada, com o respectivo colar, em<br />
ouro simbólico, acompanhada da respectiva Réplica para lapela,<br />
também em ouro simbólico, e do Diploma consagrador dessa<br />
Comenda.<br />
Parágrafo único — A legitimidade ético-estética da<br />
Medalha disposta no cput é a efígie do romancista e crítico<br />
Graciliano Ramos de Oliveira (autor de Vidas Secas e integrante<br />
da Comissão Julgadora do Concurso do qual participou João<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, com Sagarana, em 1938), insculpida no<br />
centro de expressivo arranjo armorial respeitante ao Certame.<br />
Art. 10 — Haverá prêmios, com os respectivos<br />
diplomas, para os três Autores mais bem-classificados: o<br />
primeiro lugar será premiado com R$ 450,00 (quatrocentos e<br />
cinqüenta reais) em dinheiro e a Medalha de Ouro Fantásticas<br />
Veredas – FGR/ALJGR de <strong>Prosa</strong> Simples e respectiva Réplica;<br />
o segundo-lugar, com R$ 250,00 (duzentos e cinqüenta reais)<br />
em dinheiro e a Medalha de Prata Fantásticas Veredas – FGR/<br />
ALJGR de <strong>Prosa</strong> Simples e respectiva Réplica; o terceiro-lugar,<br />
com R$ 100,00 (cem reais) e a Medalha de Bronze Fantásticas<br />
Veredas – FGR/ALJGR de <strong>Prosa</strong> Simples e respectiva Réplica;<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 91<br />
16/05/08, 09:11<br />
91
Parágrafo único — Os textos premiados, na forma deste<br />
artigo, serão publicados pela <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> na <strong>Coletânea</strong> do I CONCURSO DE PROSA<br />
LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/<br />
2006, em tiragem de mil e quinhentos exemplares, destináveis<br />
às pessoas voluntariamente empenhadas na elaboração da<br />
citada <strong>Coletânea</strong> e distribuíveis a escolas, bibliotecas, entidades<br />
literoculturais e patrocinadores, gratuitamente.<br />
Art. 11 — Outras láureas poderão ser conferidas aos<br />
Autores Premiados e Julgadores de Texto, segundo proposta<br />
oferecida aos Promotores pelo Curador do Concurso.<br />
Art. 12 — Se, por falta de mérito ou valor qualitativo<br />
sentenciada pela Comissão Julgadora, os textos apreciados não<br />
perfizerem as quantidades previstas no art. 8 o , alguns ou todos<br />
os prêmios do art. 10 poderão ser cancelados, ou a <strong>Coletânea</strong><br />
poderá ser publicada com menos textos, em quantidade nãoinferior<br />
a duas prosas e volume do miolo não-inferior a cinqüenta<br />
páginas.<br />
Art.13 — Cada Autor de texto publicado na <strong>Coletânea</strong><br />
estabelecida nos arts. 8 o e 10, o Curador e os Julgadores de<br />
texto receberão de tal livro vinte exemplares.<br />
Parágrafo único — À Academia de Letras “João<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”, da Polícia Militar de Minas Gerais (ALJGR/<br />
PMMG), serão entregues quinze por cento dos exemplares de<br />
cada tiragem da <strong>Coletânea</strong>.<br />
92<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 92<br />
16/05/08, 09:11
Art. 14 — As cerimônias de premiação dos Autores<br />
Laureados e lançamento da <strong>Coletânea</strong> do I CONCURSO DE<br />
PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES<br />
ROSA”/2006 serão concomitantemente realizadas na semana<br />
de junho de 2006 na qual incidir o dia 27, data natalícia do<br />
insuperável romancista João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />
Parágrafo único — Após as cerimônias dispostas neste<br />
artigo, as vias dos textos não-classificados serão destruídas.<br />
Art.15 — Os Promotores e Patrocinadores deste<br />
Concurso poderão expor, divulgar e editar o texto e a imagem<br />
pessoal de qualquer Autor inscrito, sem a ele dever nenhum<br />
direito autoral nem ônus financeiro ou cível.<br />
Art. 16 — Não poderão inscrever-se neste Concurso<br />
as pessoas envolvidas no respectivo processo de planejamento,<br />
ou execução, ou julgamento, ou premiação, nem seus familiares,<br />
dependentes, ascendentes ou descendentes de até terceiro grau.<br />
Art. 17 — Ao <strong>Prosa</strong>dor premiado no I CONCURSO<br />
DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO<br />
GUIMARÃES ROSA”/2006 residente fora da Região<br />
Metropolitana de Belo Horizonte, e a um acompanhante dele,<br />
a <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> assegurará alimentação e pousada<br />
por dois dias, na Capital, quando se realizarem as cerimônias<br />
dispostas no art.14.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 93<br />
16/05/08, 09:11<br />
93
Art.18 — Será desclassificado todo e qualquer texto<br />
contrário a este Regulamento.<br />
Art. 19 — Os casos omissos ou fortuitos serão<br />
resolvidos, em segunda instância, conjuntamente pelos<br />
Promotores deste Concurso.<br />
Art. 20 — Este Regulamento entra em vigor em 22 de<br />
agosto de 2005.<br />
94<br />
Art. 21— Revogam-se as disposições contrárias.<br />
FGR, em Belo Horizonte-MG, 22 de agosto de 2005.<br />
ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU,<br />
Superintendente-Geral da <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 94<br />
16/05/08, 09:11
REESTRUTURAÇÃO DO CERTAME.<br />
I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />
“JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2006.<br />
A partir de hoje, este I Concurso de <strong>Prosa</strong><br />
Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/2006 (ou I Concurso<br />
“João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/FGR, ou Concurso, ou Certame)<br />
terá como provedor intelectual e acadêmico o respectivo<br />
Curador __ <strong>Prosa</strong>dor e Crítico Professor João Bosco Bosco<br />
de Castro __ , dispensada de tal Provedoria a Academia de<br />
Letras “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”, da PMMG, até então Copromotora<br />
do Certame, e mantida como provedora logísticofinanceira<br />
do mesmo Certame a <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
(CNPJ 04.853.455/0001-00).<br />
Cumpram-se todos os outros designativos e<br />
mandamentos do Regulamento do I Concurso “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006, vigentes desde 22 de agosto de 2005.<br />
Belo Horizonte-MG, 26 de dezembro de 2005.<br />
Álvaro Antônio Nicolau,<br />
Superintendente-Geral da FGR.<br />
<strong>Prosa</strong>dor e Crítico Professor João Bosco de Castro,<br />
Curador e Provedor Intelectual e Acadêmico do I Concurso<br />
“João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 95<br />
16/05/08, 09:11<br />
95
96<br />
I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />
‘‘JOÃO GUIMARÃES ROSA’’/2006.<br />
INDICAÇÃO DE COMISSÃO JULGADORA.<br />
Belo Horizonte - MG, 27 de dezembro de 2005.<br />
Senhor Superintendente-Geral:<br />
De acordo com os incisos I e II do art. 7º do Regulamento<br />
do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica ‘‘João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>’’ / 2006, indico a V. Sa., para a Comissão Julgadora dos<br />
Textos inscritos no mesmo Certame, os seguintes Especialistas:<br />
Presidente: <strong>Prosa</strong>dor e Crítico Professor João Bosco<br />
de Castro*, da Academia de Polícia Militar de Minas<br />
Gerais;<br />
Membros: <strong>Prosa</strong>dor e Crítico Professor Capitão<br />
Giovanni Franco, do Centro de Ensino de Graduação<br />
da APM/PMMG;<br />
<strong>Prosa</strong>dora e Crítica Professora Sílvia de Lourdes<br />
Araújo Motta, do Clube Brasileiro da Língua<br />
Portuguesa.<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 96<br />
16/05/08, 09:11
*Inciso V do art. 7º do citado Regulamento, como<br />
Curador do Certame.<br />
Atenciosa e academicamente,<br />
Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO,<br />
Curador do Concurso.<br />
_____________________<br />
Ao Sr. Coronel ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU,<br />
Superintendente-Geral da <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />
Rua Paraíba, Nº 1441 – 8º Andar.<br />
30130-141 – Belo Horizonte – MG.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 97<br />
16/05/08, 09:11<br />
97
98<br />
I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />
‘‘JOÃO GUIMARÃES ROSA’’/2006.<br />
COMISSÃO JULGADORA.<br />
O Superintendente-Geral da <strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
(FGR), Álvaro Antônio Nicolau, no uso de suas atribuições<br />
e em atenção ao disposto no Regulamento do I Concurso de<br />
<strong>Prosa</strong> Literocientífica ‘‘João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>’’ / 2006,<br />
particularmente nos respectivos arts. 7º e 8º, designa a<br />
competente<br />
COMISSÃO JULGADORA DE PROSA<br />
LITEROCIENTÍFICA:<br />
Presidente: <strong>Prosa</strong>dor e Crítico Professor João Bosco<br />
de Castro, da Academia de Polícia Militar<br />
de Minas Gerais;<br />
Membros: <strong>Prosa</strong>dor e Crítico Professor Capitão<br />
Giovanni Franco, do Centro de Ensino<br />
de Graduação da APM/PMMG;<br />
<strong>Prosa</strong>dora e Crítica Professora Sílvia de<br />
Lourdes Araújo Motta, do Clube<br />
Brasileiro da Língua Portuguesa.<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 98<br />
16/05/08, 09:11
2005.<br />
Registre-se e cumpra-se!<br />
FGR, em Belo Horizonte – MG, 27 de dezembro de<br />
ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU,<br />
Superintendente-Geral da FGR<br />
Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO,<br />
Curador do Concurso.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 99<br />
16/05/08, 09:11<br />
99
100<br />
I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />
‘‘JOÃO GUIMARÃES ROSA’’/2006.<br />
PROCLAMAÇÃO DE RESULTADOS.<br />
O Curador do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica<br />
‘‘João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>’’ / 2006, de acordo com o art. 6º do<br />
Regulamento do mesmo Certame e com base na decisão<br />
prolatada pela competente Comissão Julgadora, proclama os<br />
RESULTADOS DO CONCURSO:<br />
I. Primeiro Lugar:<br />
Autor: JONATHAN DE FREITAS SOUZA (do<br />
Colégio Tiradentes Nossa Senhora das Vitórias /<br />
PMMG – Belo Horizonte).<br />
Texto: O Genial: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, de Minas<br />
para o Mundo.<br />
II. Segundo Lugar:<br />
Autora: DAYSE NAYARA DOS SANTOS (do<br />
Colégio Tiradentes Nossa Senhora das<br />
Vitórias / PMMG – Belo Horizonte).<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 100<br />
16/05/08, 09:11
Texto: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Vida e Obra: Análise<br />
Profunda de Sua Importância.<br />
Belo Horizonte – MG, 3 de abril de 2006.<br />
Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO,<br />
Curador do Certame.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 101<br />
16/05/08, 09:11<br />
101
102<br />
I CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA<br />
‘‘JOÃO GUIMARÃES ROSA’’/2006.<br />
COMISSÃO JULGADORA.<br />
DECISÃO.<br />
A Comissão Julgadora dos Textos inscritos no I<br />
Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica ‘‘João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>’’<br />
/2006, após meticuloso julgamento dos Textos a ela<br />
submetidos, prolata a seguinte<br />
DECISÃO:<br />
I. Primeiro Lugar:<br />
Texto: O Genial: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, de Minas<br />
para o Brasil;<br />
Inscrição Nº 02;<br />
Média: 8,66 (oito vírgula sessenta e seis);<br />
II. Segundo Lugar:<br />
Texto: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Vida e Obra: Análise<br />
Profunda de Sua Importância;<br />
Inscrição Nº 01;<br />
Média: 7,00 (sete vírgula zero zero).<br />
De acordo com o art. 12 do Regulamento do Concurso,<br />
a Comissão Julgadora sentencia a inexistência de outros<br />
prêmios, em razão da baixa quantidade de prosas inscritas,<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 102<br />
16/05/08, 09:11
mas atesta a conveniência e a necessidade de publicação da<br />
<strong>Coletânea</strong> prevista no art. 8º e parágrafo único do art. 10 do<br />
citado Regulamento, com os dois Textos classificados.<br />
Belo Horizonte – MG, 14 de março (Dia Nacional da<br />
Poesia) de 2006.<br />
Professor João Bosco de Castro,<br />
Presidente.<br />
Professor Capitão Giovanni Franco,<br />
Membro.<br />
Professora Sílvia de Lourdes Araújo Motta,<br />
Membro.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 103<br />
16/05/08, 09:11<br />
103
104<br />
Belo Horizonte – MG, 15 de maio de 2006.<br />
Prezado <strong>Prosa</strong>dor Jonathan de Freitas Souza:<br />
Temos o prazer de cumprimentá-lo pela forma e<br />
substância de seu texto O Genial: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, de Minas<br />
para o Mundo, com o qual Você mereceu classificar-se em<br />
Primeiro Lugar no I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/2006, promovido por esta <strong>Fundação</strong><br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />
Solicitamos-lhe divida seu justo orgulho e louvável êxito<br />
com seus Professores, Orientadores, Diretora Pedagógica e<br />
sua Escola – o renomado Colégio Tiradentes da Polícia Militar,<br />
Nossa Senhora das Vitórias, Prado.<br />
Convidamo-lo, e a seus dignos Familiares e Amigos,<br />
para a Cerimônia de Premiação dos Vencedores do I<br />
Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/<br />
2006 – FGR, programada para as 19 h de 27 de junho de<br />
2006, no Teatro da Maçonaria (Av. Brasil, 478 – Santa<br />
Efigênia, Belo Horizonte – MG).<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 104<br />
16/05/08, 09:11
Com seus Prêmios, Você receberá vinte exemplares da<br />
<strong>Coletânea</strong> dos Textos Classificados em tão significativo e<br />
importante Concurso Literocientífico.<br />
Parabéns!<br />
Coronel ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU,<br />
Superintendente-Geral da FGR.<br />
Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO,<br />
Curador do Concurso.<br />
______________________________<br />
Ao Aluno Jonathan de Freitas Souza.<br />
Av. Dom João IV, 760 – Apto. 301A.<br />
Bairro Palmeiras.<br />
Cep: 30.580-270 – Belo Horizonte – MG.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 105<br />
16/05/08, 09:11<br />
105
Belo Horizonte – MG, 15 de maio de 2006.<br />
106<br />
Prezada <strong>Prosa</strong>dora Dayse Nayara dos Santos :<br />
Temos o prazer de cumprimentá-la pela forma e<br />
substância de seu texto <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>: Análise Profunda<br />
de Sua Importância, com o qual Você mereceu classificar-se<br />
em Segundo Lugar no I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica<br />
“João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/2006, promovido por esta <strong>Fundação</strong><br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />
Solicitamos-lhe divida seu justo orgulho e louvável êxito<br />
com seus Professores, Orientadores, Diretora Pedagógica e<br />
sua Escola – o renomado Colégio Tiradentes da Polícia Militar,<br />
Nossa Senhora das Vitórias, Prado.<br />
Convidamo-la, e a seus dignos Familiares e Amigos,<br />
para a Cerimônia de Premiação dos Vencedores do I<br />
Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”/<br />
2006 – FGR, programada para as 19 h de 27 de junho de<br />
2006, no Teatro da Maçonaria (Av. Brasil, 478 – Santa<br />
Efigênia, Belo Horizonte – MG).<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 106<br />
16/05/08, 09:11
Com seus Prêmios, Você receberá vinte exemplares da<br />
<strong>Coletânea</strong> dos Textos Classificados em tão significativo e<br />
importante Concurso Literocientífico.<br />
Parabéns!<br />
Coronel ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU,<br />
Superintendente-Geral da FGR.<br />
Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO,<br />
Curador do Concurso.<br />
______________________________<br />
À Aluna Dayse Nayara dos Santos.<br />
Rua da Paz, 202 – Apto. 201.<br />
Bairro Nova Suíça.<br />
Cep: 30.480-540 – Belo Horizonte – MG.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 107<br />
16/05/08, 09:11<br />
107
108<br />
Belo Horizonte – MG, 26 de abril de 2006.<br />
Senhora Diretora Pedagógica:<br />
Temos o prazer de comunicar a V. Sa. que os vencedores<br />
do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006 são alunos do Ensino Médio desse Colégio<br />
Tiradentes da Polícia Militar de Belo Horizonte – Nossa<br />
Senhora das Vitórias – Prado.<br />
Ei-los, com os respectivos textos:<br />
Primeiro Lugar: JONATHAN DE FREITAS<br />
SOUZA;<br />
Texto: O Genial: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, de Minas para<br />
o Mundo.<br />
Segundo Lugar: DAYSE NAYARA DOS SANTOS;<br />
Texto: <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, Vida e Obra: Análise<br />
Profunda de Sua Importância.<br />
Transmitimos-lhe a felicidade maior dessa <strong>Fundação</strong> pela<br />
importante conquista e solicitamo-lhe repasse a esses valorosos<br />
Vencedores e respectivos Professores e Orientadores nossa<br />
mensagem de regozijo e respeito por tão nobre desempenho.<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 108<br />
16/05/08, 09:11
Essa Escola merece nosso aplauso e incentivo a novas<br />
conquistas, principalmente porque a produção de bom texto<br />
implica a melhor leitura, para humanização de talentos.<br />
Cordialmente,<br />
Tenente-Coronel ZILTON RIBEIRO PATROCÍNIO,<br />
Gerente do Departamento Social da FGR.<br />
Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO,<br />
Curador do Concurso.<br />
_______________________<br />
À Sra. Professora Rosemeire Melo Franco Nicolau,<br />
Diretora Pedagógica do Colégio Tiradentes da Polícia<br />
Militar de Belo Horizonte – Nossa Senhora das<br />
Vitórias – Prado, Belo Horizonte – MG.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 109<br />
16/05/08, 09:11<br />
109
110<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 110<br />
16/05/08, 09:11
GRÁFICA E EDITORA<br />
O LUTADOR.<br />
Pça. Pe. Júlio Maria, 01 – Bairro Planalto.<br />
CEP.: 31740-240 – Telefax: (31) 3441-3622.<br />
Belo Horizonte-MG.<br />
<strong>Fundação</strong> <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 111<br />
16/05/08, 09:11<br />
111
112<br />
<strong>Coletânea</strong> do I Concurso de <strong>Prosa</strong> Literocientífica “João <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>”/2006.<br />
<strong>Coletânea</strong> <strong>Prosa</strong>.<strong>pmd</strong> 112<br />
16/05/08, 09:11