educação cooperativista direcionada ao quadro funcional
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Educação e autogestão<br />
Educação Cooperativista <strong>direcionada</strong> <strong>ao</strong> Quadro Funcional: A experiência do<br />
“Prêmio Sicoob Coopemata”<br />
Resumo<br />
Gleice Santana Morais<br />
Universidade Federal de Viçosa<br />
gleice.morais@ufv.br<br />
Liliane Vieira Henriques<br />
Sicoob Coopemata<br />
lilihenriques@yahoo.com.br<br />
“É necessário o conhecimento do funcionário para esclarecimento <strong>ao</strong> cooperado”<br />
Relato de um colaborador do Sicoob Coopemata<br />
O presente artigo tem por objetivo analisar a importância do projeto “Prêmio Sicoob<br />
Coopemata” como um componente pedagógico da <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong>, capaz<br />
de promover o aperfeiçoamento das rotinas operacionais da cooperativa <strong>ao</strong> mesmo<br />
passo que socializa o saber em relação <strong>ao</strong>s aspectos essenciais, e simultaneamente<br />
diferenciais do cooperativismo. O principal público alvo a ser abordado será o<br />
<strong>quadro</strong> <strong>funcional</strong> da cooperativa de crédito Sicoob Coopemata. O estudo parte da<br />
premissa de que o funcionário é um agente multiplicador do conhecimento adquirido<br />
na cooperativa, por isso é necessário proporcionar a esse público instrumentos<br />
necessários para que tomem conhecimento da identidade da cooperativa em qual<br />
atuam. Tal análise se justifica na importância dada à <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong><br />
<strong>direcionada</strong> <strong>ao</strong>s funcionários, e não somente <strong>ao</strong>s cooperados, que já se constitui em<br />
um tópico bastante explorado por muitas pesquisas já publicadas. O artigo propõe<br />
um estudo de caso fundamentado por pesquisa bibliográfica e por aplicação de<br />
questionários. No entanto, o texto também revela a observação e interpretação dos<br />
fatos, a partir da participação e observação direta e pessoal dos autores. Os<br />
resultados obtidos mostraram a eficiência do projeto em contribuir no<br />
aperfeiçoamento de alguns pontos da dupla gestão da cooperativa, gestão social e<br />
empresarial, que implicaram em impactos, embora indiretos, mas benéficos para o<br />
cooperado.<br />
Palavras chave: gestão social, <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong>; <strong>quadro</strong> <strong>funcional</strong><br />
Abstract<br />
This paper aims to analyze the importance of the "Prêmio Sicoob Coopemata" as a<br />
component of the cooperative education, able to promote the improvement of<br />
operational routines of the co-operative and socializes knowledge simultaneously<br />
about the essentials and differentials aspects of the cooperative. The main public to<br />
be addressed are the employees of the Credit Co-operative Sicoob Coopemata. This
study assumes that the employees are multipliers of the knowledge acquired in the<br />
co-operative, so it is necessary to provide them the appropriates tools, intending that<br />
who become aware to identity of the co-operative in which they act. The paper’s<br />
importance is justified in the importance of the cooperative education directed to the<br />
employees, and not only to the cooperated, that constitutes a topic extensively<br />
explored by many published research. The paper presents a case study based on<br />
literature review and questionnaires. However, the text also reveals the observation<br />
and interpretation of the facts from the personal participation and direct observation<br />
of the authors. The results achieved showed the efficiency of the project to contribute<br />
to the improvement of some points of the dual management of the cooperative, social<br />
and business management.<br />
Key words: social management; cooperative education; staff.<br />
Introdução<br />
Atualmente, a permanência das organizações em um mercado tão competitivo<br />
e diversificado está sustentada pela excelência e eficiência na prestação de seus<br />
serviços. No âmbito das instituições financeiras, que sobrevivem das tarifas e juros<br />
cobrados pelos serviços prestados, estas precisam sempre buscar pela inovação no<br />
atendimento <strong>ao</strong> público a fim de atraí-los pelo seu diferencial diante das demais<br />
organizações. Entretanto para atingir tão almejada excelência na prestação de seus<br />
serviços, as empresas precisam buscar pela profissionalização dos seus atores<br />
internos, fruto de um processo educacional de formação e capacitação. No contexto<br />
do presente trabalho, que trata das organizações cooperativas é preciso buscar pela<br />
capacitação tanto de cooperados quanto dos colaboradores. Sendo assim é preciso<br />
“considerar a <strong>educação</strong> e a profissionalização da gestão, a inovação tecnológica e a<br />
capacidade empreendedora como fatores primordiais para o aumento da<br />
competitividade das cooperativas nos mercados externo e interno” (SESCOOP,<br />
2009, p. 5). Dessa forma, fica claro compreender como os custos com <strong>educação</strong> e<br />
profissionalização são na verdade investimentos que potencializam as vantagens de<br />
empresas e cooperativas nas suas relações mercadologicamente competitivas.<br />
Na busca por angariar espaço no mercado competitivo, as sociedades<br />
cooperativas não se distanciam dessa realidade. Sem grandes generalizações,<br />
talvez sejam essas as organizações que mais precisem usufruir desse processo<br />
educacional de formação e capacitação contínua. Em primeiro lugar por questões de<br />
ordem empresarial, para manterem fortes e competitivas as cooperativas devem<br />
adotar estratégias de mercado em nível igual ou superior as sociedades mercantis, e<br />
para isso precisam contar com um <strong>quadro</strong> <strong>funcional</strong> capacitado. E em segundo<br />
lugar, as cooperativas devem conciliar tais interesses de ordem empresarial com os<br />
interesses de ordem social pois, por se tratar de uma sociedade de pessoas e não<br />
de capital, esta dependerá da <strong>educação</strong> para tornar seus cooperados conscientes e<br />
participativos (em termos políticos e econômicos) da vida da cooperativa.<br />
Essa necessidade tão latente pela <strong>educação</strong> e capacitação tem sua origem na<br />
complexidade da sua gestão, que segundo Macedo, Sousa e Amodeo (2010, p. 26)<br />
[...] caracterizada pela sua dupla natureza, as cooperativas são desafiadas<br />
a atingir em sua gestão, <strong>ao</strong> mesmo tempo, objetivos de ordem econômica e<br />
social. Para isto se valem da gestão empresarial e social, onde a primeira<br />
preocupa-se em gerir os interesses e incentivos econômicos dos
associados, já a segunda, volta-se para o relacionamento da cooperativa<br />
com os associados, como forma de promover a participação em processos<br />
decisórios.<br />
Segundo a ACI (Aliança Cooperativa Internacional) “cooperativa é uma<br />
associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer<br />
aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de<br />
uma empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida”. Em suma, tratase<br />
do conjunto de economias individuais que vêem na organização coletiva,<br />
caracterizada pela gestão democrática, uma solução viável capaz de satisfazer suas<br />
necessidades econômicas, sociais e/ou culturais, necessidades essas que se<br />
buscadas isoladamente acabariam por exceder as capacidades individuais dos<br />
agentes envolvidos.<br />
Neste estudo a <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> é vista como um componente<br />
pedagógico da gestão social sendo considerada um mecanismo institucional de<br />
indubitável importância para o modelo de gestão <strong>cooperativista</strong>. Afinal, as<br />
cooperativas são propriedade de um coletivo, e a conciliação dos interesses desse<br />
coletivo se apóia politicamente num processo decisório democrático, logo a<br />
participação dos cooperados, na condição de donos e usuários, deve ser estimulada<br />
a fim de que esses possam ser presença ativa em todos os aspectos do<br />
desenvolvimento da gestão cooperativa. Independente do conceito a ela designado,<br />
e do público que esta irá abranger a <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong>, quando bem<br />
implementada apresenta-se como uma ferramenta de auxilio na gestão social dos<br />
empreendimentos cooperativos, que, por conseguinte reflete em benefícios para a<br />
gestão empresarial.<br />
A <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> tem por objetivo integrar todas as forças produtivas<br />
(órgãos internos, dirigentes, funcionários, técnicos, líderes, comunidade) para<br />
viabilizar a Cooperativa como instrumento de fortalecimento econômico e de<br />
desenvolvimento social dos seus membros.<br />
O estudo de caso que será apresentado é fruto de um contexto onde a gestão<br />
empresarial é visivelmente eficiente em virtude do comprometimento e<br />
profissionalismo dos colaboradores da cooperativa em questão. Entretanto a gestão<br />
social mostra-se deficiente se comparada com a evolução da gestão empresarial. O<br />
artigo ora apresentado não pretende abordar os efeitos diretos da <strong>educação</strong><br />
<strong>cooperativista</strong> como um processo e método capaz de mobilizar a participação dos<br />
cooperados nos processos decisórios, mas sim direcionar esforços para o <strong>quadro</strong><br />
<strong>funcional</strong>.<br />
O fato de o <strong>quadro</strong> <strong>funcional</strong> (os colaboradores) serem considerados, também,<br />
como atores sociais da comunidade a qual a cooperativa se insere, pode-se afirmar<br />
que este público constitui-se em um desdobramento do princípio <strong>cooperativista</strong><br />
referente <strong>ao</strong> “interesse pela comunidade”. Neste caso a cooperativa <strong>ao</strong> mesmo<br />
passo que gera emprego e renda na comunidade mostra também sua face educativa<br />
<strong>ao</strong> proporcionar meios para que os seus colaboradores se empoderem por meio da<br />
construção do saber atinente <strong>ao</strong> cooperativismo.<br />
Procedimentos Metodológicos<br />
O presente estudo, partiu-se primeiramente da inquietude de se mostrar a<br />
relevância das práticas de <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> com o foco no <strong>quadro</strong> <strong>funcional</strong>.<br />
Para isso, levantou-se uma discussão teórica a cerca da <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> e<br />
suas peculiaridades, a fim de contextualizar a problemática em questão.
Para fins de uma abordagem empírica, utilizou-se como estudo de caso o<br />
projeto institucional “Prêmio Sicoob Coopemata”, uma iniciativa da Cooperativa de<br />
Credito Sicoob Coopemata. De acordo com Gil (2002) o estudo de caso permite<br />
preservar o caráter unitário do objeto estudado; descrever o contexto em que se está<br />
sendo feita determinada pesquisa; formular hipóteses ou teorias e explorar as<br />
variáveis causais de determinado fenômeno em situações complexas que não<br />
possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos.<br />
Com o intuito de aprofundar o conhecimento sobre o “Prêmio Sicoob<br />
Coopemata” buscou-se junto a Sicoob Coopemata informações relevantes quanto<br />
<strong>ao</strong>s objetivos e <strong>ao</strong> funcionamento da iniciativa. Além disso, tomou-se informações<br />
provenientes do edital de convocação do evento, acesso <strong>ao</strong> conteúdo dos trabalhos<br />
apresentados, entrevista informal com organizadores do evento, aplicação de<br />
questionários <strong>ao</strong>s colaboradores da Cooperativa com o intuito de averiguar a<br />
percepção desses em relação <strong>ao</strong> projeto “Prêmio Sicoob Coopemata”, além de<br />
considerar a observação participante dos autores.<br />
Os questionários foram enviados a todos os colaboradores da cooperativa por<br />
email devido a distância da sede <strong>ao</strong>s PACs (Posto de Atendimento <strong>ao</strong> Cooperado)<br />
totalizando assim, um montante de 64 questionários aplicados. Deste total, 35,93%<br />
foram devidamente respondidos, os outros 64,07% não foram respondidos.<br />
Gestão Social e Educação Cooperativista<br />
A <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> enquadra-se dentro das competências da gestão<br />
social de uma cooperativa, neste ambiente as propostas de <strong>educação</strong> são<br />
desenvolvidas e materializadas em programas e projetos que passam a ganhar<br />
significado no momento de sua implementação.<br />
Segundo Amodeo (20-??, p. 2) gestão social <strong>cooperativista</strong> constitui-se em<br />
[...] um campo complexo e multidimensional de conhecimentos, métodos e<br />
práticas, que têm como objetivo o desenvolvimento do relacionamento dos<br />
cooperados com a cooperativa, do sentimento de pertencimento, da<br />
identidade, da fidelidade e da confiança entre os associados e sua<br />
cooperativa, mediante a participação, a capacitação, a comunicação e o<br />
fluxo de informações entre todos os membros da organização, elementos<br />
todos que contribuirão para um democrático e economicamente eficiente<br />
exercício do poder na cooperativa.<br />
Ainda para Amodeo (20-??), esta aponta a <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> como um<br />
componente pedagógico atrelado a gestão social e vinculado a gestão empresarial,<br />
onde a gestão social mostra-se como um fator relevante para solidificar o<br />
empreendimento cooperativo no mercado. Para Gouvea (20-??. p. 3)<br />
A cooperativa desempenha um papel cada vez mais importante na<br />
economia, em defesa daqueles que, embora capazes, não conseguem se<br />
viabilizar isoladamente, tendo na <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> um de seus<br />
princípios fundamentais, com vistas a organizar e preparar associados,<br />
dirigentes e colaboradores a participarem de forma mais consciente e<br />
responsável da gestão cooperativa, para que possam competir neste<br />
mercado globalizado e altamente profissional e exigente.<br />
Atualmente, não existe um conceito que apresente um consenso quanto <strong>ao</strong><br />
significado de <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong>. Há uma série de autores que definem a
<strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> com base em suas experiências no tema. Mas afinal, o que<br />
se entende por <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong>? Que atividades podem receber o título de<br />
“promotoras do desenvolvimento <strong>cooperativista</strong>”? A <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> limitase<br />
somente <strong>ao</strong> campo de informação sobre os aspectos <strong>cooperativista</strong>s, ou é de<br />
responsabilidade dela fornecer, também, capacitação técnica <strong>ao</strong>s cooperados? Para<br />
quem se destina exatamente o seu público alvo? Não é a intenção do estudo<br />
aprofundar nas respostas de todas essas perguntas, mas expor alguns pontos de<br />
vista que podem nos suscitar alguma reflexões.<br />
Valadares (2005, p. 33) define <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> como:<br />
[...] um processo e um método para formular e executar políticas de<br />
<strong>educação</strong> e comunicação cujas características se referem a aspectos<br />
essenciais à prática da cooperação: a gestão democrática. Compreende o<br />
processo propriamente dito de preparação e adoção de planos e estratégias<br />
por decisões das bases <strong>cooperativista</strong>s e dos dirigentes e sua execução por<br />
parte do órgão responsável pela administração do serviço educacional e<br />
pelo esquema de organização comunitária adotada pela cooperativa.<br />
O autor propõe um modelo que seja contínuo <strong>ao</strong> caracterizá-la como um<br />
processo, não implicando assim em atividades de caráter pontual. Propõem também<br />
uma organização do <strong>quadro</strong> social quando afirma a necessidade de um esquema de<br />
“organização comunitária” a fim de que os membros participem mais ativamente das<br />
decisões da cooperativa.<br />
Em sintonia com os argumentos apresentados por Valares, Sampaio et al<br />
(2008, p. 13) aponta que a “[...] <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> é uma metodologia que visa<br />
disseminar o conceito e os princípios do cooperativismo a fim de estimular e<br />
capacitar o associado a assumir e exercitar seu papel como verdadeiro ‘dono’”.<br />
Nesta perspectiva os autores consideram que a disseminação do conteúdo filosófico<br />
é capaz de estimular as bases cooperativas a assumirem as rédeas do<br />
empreendimento.<br />
A <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> pode ser vista também como uma “estratégia para a<br />
estruturação de mecanismos institucionais que viabilizem a comunicação e a<br />
participação dos membros da cooperativa”. 1<br />
Pode-se perceber que os conceitos apresentados convergem no sentido de<br />
que a <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> busca estimular a participação consciente do <strong>quadro</strong><br />
social na gestão da cooperativa, sendo assim, todo esforço direcionado à prática da<br />
<strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> terá impacto, direto ou indireto, principalmente no<br />
cooperado, e que independente da atividade a que se propõe estabelecer a<br />
<strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> jamais poderá afetar drasticamente e tão pouco<br />
comprometer a gestão social da cooperativa, que constitui sua razão de ser.<br />
Entendemos por impactos diretos as conseqüências originadas de trabalhos de<br />
<strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> realizados diretamente e juntamente com os cooperados,<br />
onde estes são os protagonistas de todo o processo das atividades. E impactos<br />
indiretos quando a <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> está <strong>direcionada</strong> a outros atores, que<br />
não sejam os cooperados, mas que em virtude do relacionamento desses com<br />
aqueles as conseqüências do trabalho de <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> transpassa <strong>ao</strong><br />
cooperado.<br />
Quanto <strong>ao</strong>s públicos envolvidos na cooperativa Franco (1985, p. 20) diz que:<br />
1 Informação verbal (Aulas de <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> II – Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, MG, 2011)
[...] uma cooperativa dependerá da integração de três setores, todos de<br />
fundamental importância, que ele chama de “três mundos”: <strong>quadro</strong> social,<br />
composto pelos associados da cooperativa; <strong>quadro</strong> diretivo, pelos membros<br />
da administração eleitos e ou técnicos contratados, que formam a<br />
administração <strong>cooperativista</strong>; <strong>quadro</strong> <strong>funcional</strong>, pelos operadores do dia-adia<br />
da cooperativa.<br />
Para que um sócio ingresse em uma cooperativa faz-se necessário que este<br />
conheça os valores, princípios e regras que norteiam o movimento cooperativo e<br />
também que conheçam o funcionamento da cooperativa que irá fazer parte.<br />
Entretanto, esse é um discurso que, infelizmente, se concretiza na maioria das<br />
vezes na teoria. Se um mínino de esforço direcionado a <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> não<br />
se encontra enraizado na prática e na cultura organizacional da cooperativa<br />
dificilmente se estabelecerá um ambiente de comunicação entre cooperado [ou<br />
futuro cooperado] e demais agentes envolvidos no empreendimento.<br />
Schneider (2006, p. 14, grifo nosso) afirma que:<br />
Hoje, com a presença de muitas cooperativas de grandes dimensões, com<br />
gestões administrativamente complexas, é cada vez mais difícil um contato<br />
direto e freqüente dos dirigentes eleitos com seus associados. Quando em<br />
tais cooperativas o associado contata a cooperativa, as primeiras<br />
pessoas que encontra, são os funcionários, que o passam a atender<br />
nas diversas instâncias e repartições da cooperativa. Por isso é<br />
importante hoje, que tal funcionário, além de ter uma qualificada<br />
formação profissional, tenha igualmente um bom acervo acumulado de<br />
conhecimentos e experiências sobre a identidade cooperativa, sobre a<br />
especificidade da organização na qual trabalha. Deve poder conceber a<br />
cooperativa como uma empresa, mas como “uma empresa diferente”, pela<br />
filosofia e doutrina que a impregna, pela forma como tratam os associados e<br />
a forma de conceber a própria economia e o papel do capital na mesma.<br />
Na mesma perspectiva Amodeo (20-??, p. 5) acrescenta que<br />
Os funcionários devem ser informados já que eles são geralmente aqueles<br />
que realizam a interfase entre a cooperativa e seus associados. Deve se<br />
promover um intercambio freqüente e fluido que permita estruturar a<br />
organização em torno as linhas estratégicas definidas democraticamente e<br />
transformar as rotinas da organização de forma que acorde com essas<br />
novas estratégias. Isso só se consegue com mecanismos eficientes de<br />
comunicação e participação. Caso contrário, a organização continua<br />
aplicando velhas rotinas, sem aprender nem inovar no sentido estabelecido.<br />
Assim, a aprendizagem organizacional que desenvolve uma cultura<br />
cooperativa específica estará sustentada nos mecanismos de participação,<br />
capacitação e comunicação que sejam escolhidos.<br />
Nesse sentido observa-se a importância de proporcionar formação adequada a<br />
respeito do cooperativismo <strong>ao</strong> <strong>quadro</strong> <strong>funcional</strong> de uma cooperativa, pois, como<br />
destacado anteriormente, são eles que muitas vezes fazem o papel de ponte entre<br />
os interesses dos cooperados <strong>ao</strong> <strong>quadro</strong> diretivo, são os colaboradores que, na<br />
ausência de um agente de desenvolvimento cooperativo, apontam para os<br />
cooperados os diferenciais e os benefícios de serem associado a uma cooperativa.<br />
Os mecanismos de <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> direcionados <strong>ao</strong>s funcionários, ora<br />
explorado no presente estudo, são aqueles que buscam, <strong>ao</strong> mesmo tempo, criar um<br />
espaço de comunicação onde aspectos sobre a filosofia <strong>cooperativista</strong> possam ser<br />
ressaltados e incorporados pelos colaboradores e, <strong>ao</strong> mesmo tempo, capacitá-los
enquanto técnicos, tendo como ponto de partida as reais necessidades da<br />
cooperativa que, nesse caso, são percebidas pelos colaboradores durantes à<br />
execução de seus trabalhos e no seu contato, direto e/ou indireto, com os<br />
cooperados. Nesse ambiente de comunicação Amodeo (20-??, p. 7) sustenta que<br />
[...] deverão se estabelecer instâncias de intercambio e discussão<br />
permanentes, incorporadas no funcionamento da empresa e que habilitem a<br />
participação, a criação e discussão de estratégias, a análise crítica das<br />
informações disponíveis e a proposta de como o resultado desse processo<br />
será incorporado no fazer cooperativo.<br />
A abordagem do conceito de capacitação, inserida no contexto da <strong>educação</strong><br />
<strong>cooperativista</strong> do presente estudo, não será feita nos moldes tradicionais onde<br />
vislumbramos a figura de um profissional que transmite o seu saber <strong>ao</strong>s demais por<br />
meio de aulas/cursos. Schneider (2006, p.39) propõe que “a <strong>educação</strong> cooperativa<br />
deve basear-se não tanto na <strong>educação</strong> bancária, mas, sobretudo, deve saber<br />
despertar a criatividade e o protagonismo das pessoas”. Ainda sobre a capacitação<br />
Amodeo (20-??, p. 5) completa afirmando que a capacitação cooperativa diferenciase<br />
de uma simples capacitação em gestão destinada a associados, operários ou<br />
usuários em geral, dependendo do tipo de cooperativas. O objetivo da mesma não é<br />
só melhorar a gestão econômica, mas também, reforçar a própria relação com os<br />
cooperados.<br />
Sendo assim, o conceito de capacitação por ora empregado está relacionado à<br />
troca de conhecimentos técnicos entre os funcionários da cooperativa. A troca<br />
desses conhecimentos permite que colaboradores tenham a oportunidade de<br />
aprenderem uns com os outros por meio de feedback das atividades que estes<br />
executam na cooperativa e dos seus pareces técnicos direcionados a contribuição<br />
de melhorias tanto para o bom relacionamento com os cooperados quanto na<br />
prestação de serviços.<br />
O Prêmio Sicoob Coopemata<br />
O “Prêmio Sicoob Coopemata” teve sua primeira edição no ano de 2010, é uma<br />
iniciativa da Cooperativa de Crédito de Livre Admissão da Zona da Mata - Sicoob<br />
Coopemata, com sede na cidade de Cataguases MG. Atualmente o <strong>quadro</strong> social da<br />
cooperativa é composto por 3.210 cooperados e, um <strong>quadro</strong> <strong>funcional</strong> de 64<br />
colaboradores (dados de 01/2012), que são distribuídos em sete PAC’s (Posto de<br />
Atendimento <strong>ao</strong> Cooperado), a ver, Cataguases (sede), Muriaé, Ubá, São João<br />
Nepomuceno, Viçosa, Visconde do Rio Branco e Leopoldina. O Sicoob Coopemata é<br />
a primeira cooperativa de crédito a se tornar livre admissão na Zona da Mata<br />
Mineira, fato que representa um grande avanço para a região, uma vez que<br />
proporciona a adesão de cooperados com atividades econômicas diferenciadas, não<br />
privilegiando somente uma segmentação específica da economia.<br />
O “Prêmio Sicoob Coopemata” é uma iniciativa que tem por objetivo distinguir e<br />
reconhecer as melhores práticas <strong>cooperativista</strong>s <strong>direcionada</strong>s para o ramo crédito, a<br />
fim de que estas contribuam de forma exemplar, e simultaneamente estratégica,<br />
para o sucesso econômico e social do Sicoob Coopemata. O evento ocorre<br />
anualmente, e tem seu público alvo voltado para os <strong>quadro</strong>s: diretivo (direção) e<br />
<strong>funcional</strong> (funcionários) da cooperativa. Estes últimos são as peças chave, pois são<br />
eles que elaboram projetos com sugestões de melhorias para o desenvolvimento
das atividades operacionais da cooperativa. O projeto possui duas vertentes: a<br />
primeira preza pela solidez econômica da cooperativa aliada a identificação de<br />
sugestões estratégicas que terão como objetivo encontrar soluções que irão, direta<br />
ou indiretamente, contribuírem para a obtenção de resultados satisfatórios enquanto<br />
“empresa” cooperativa. A segunda tem seu foco na formação do ideal <strong>cooperativista</strong>,<br />
ou seja, estimula reflexões a cerca do cooperativismo, seus princípios, origem, a<br />
estruturação do ramo crédito a níveis nacional e internacional, seu diferencial diante<br />
dos demais empreendimentos enfim, <strong>ao</strong> elaborarem os projetos os funcionários<br />
aprendem sobre questões relevantes a cerca do modelo de organização em qual<br />
trabalham, entendem a complexidade, riqueza e filosofia do movimento<br />
<strong>cooperativista</strong>. Como um veículo de comunicação o “Prêmio Sicoob Coopemata”<br />
possui “importante papel de informar e educar seus destinatários, renovando e<br />
atualizando conceitos, processos produtivos e métodos organizacionais, adequados<br />
à realidade cooperativa e de mercado, promovendo o desenvolvimento integral das<br />
pessoas e das comunidades humanas” (SCHMITZ, 2004, p. 5).<br />
A proposta metodológica do projeto convida os funcionários a formarem<br />
equipes de trabalho entre si e desenvolverem projetos de melhorias <strong>direcionada</strong>s <strong>ao</strong><br />
funcionamento da cooperativa. Os conteúdos abordados são previamente<br />
informados, e a partir deles os colaboradores realizam suas pesquisas com base em<br />
estudos empíricos (a prática vivenciada) e em referenciais bibliográficos. Em alguns<br />
casos, os funcionários se disponibilizam em entrevistar cooperados, a fim de<br />
resgatar neles as soluções cabíveis à cooperativa afinal, é para este público que a<br />
cooperativa busca aperfeiçoar a prestação de seus serviços. Segundo relato de um<br />
colaborador do Sicoob Coopemata “Com a realização do prêmio e apresentação do<br />
trabalho, foi possível ter uma visão melhor do que o cooperado pensa e assim<br />
melhorar os pontos fracos e manter os pontos fortes apontados”. Em sua última<br />
edição, alguns cooperados foram convidados a darem depoimentos sobre a<br />
cooperativa durante a apresentação dos trabalhos, relatando suas opiniões em<br />
relação a satisfação e as vantagens de serem associados <strong>ao</strong> Sicoob Coopemata.<br />
O evento ocorre comumente em Cataguases, e reúne os funcionários de todos<br />
os PACs. Em dia marcado, as equipes que prepararam seus projetos apresentam<br />
suas propostas de melhorias e os resultados obtidos nas pesquisas, <strong>ao</strong> mesmo<br />
passo que demonstram o aprendizado adquirido quanto à filosofia <strong>cooperativista</strong>. O<br />
evento conta com uma banca de júri, que se encarrega de avaliar criteriosamente<br />
cada projeto levando em consideração: 1) A relevância do projeto para a<br />
cooperativa; 2) Contribuição de melhorias para o desempenho econômico e social<br />
da cooperativa; 3) Apresentação da pesquisa; 4) Gestão da pesquisa relatada e 5)<br />
Qualidade das informações prestadas. E há também uma avaliação feita pelos<br />
demais colaboradores que optaram por não participarem como apresentadores de<br />
trabalhos. Ao término todos os projetos apresentados são premiados. Os primeiros<br />
colocados recebem uma gratificação especial pelo destaque. O evento reconhece e<br />
respeita o desempenho de todos os participantes.<br />
A iniciativa cria um ambiente propicio para se repensar os métodos que estão<br />
sendo aplicados na gestão da cooperativa. Proporciona transparência quanto às<br />
falhas de gestão, <strong>ao</strong> passo que soluções são apresentadas. Estimula a criação de<br />
uma identidade cooperativa entre os funcionários, fazendo com que estes<br />
compreendam a razão de ser da organização em qual atual. Em uma pesquisa<br />
realizada por uma das equipes que participaram do “Prêmio Sicoob Coopemata”,<br />
objetivou-se identificar se seus colegas de trabalho [os colaboradores do Sicoob<br />
Coopemata] procuravam divulgar para conhecidos, a partir do conhecimento
adquirido no Sicoob Coopemata, o diferencial em fazer parte de uma cooperativa.<br />
Das respostas obtidas, 97% dos colaboradores afirmaram que sim, estão divulgando<br />
a cooperativa para terceiros. A informação é simples, mas, de acordo com a atitude<br />
dos colaboradores, pode-se perceber uma tendência de que a identidade<br />
cooperativa vem sendo desenvolvida na formação profissional do colaborador,<br />
juntamente com um sentimento de pertencimento.<br />
A partir desse cenário, podemos perceber o quão é importante e necessário<br />
sustentar meios de comunicação provenientes do ensejo da <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong><br />
para os colaboradores. Para Schmitz (2004, p. 4)<br />
[...] o público interno é multiplicador. Nas trocas que se estabelecem no<br />
espaço familiar, na comunidade e em outros ambientes que freqüenta e de<br />
que faz parte, ele será porta-voz da organização. Portanto, a credibilidade e<br />
a confiança que possui em relação a esta instituição, somada a vários<br />
outros fatores intrapessoais e interpessoais, farão com que suas<br />
manifestações tenham caráter positivo ou negativo.<br />
A informação para ser disseminada [ou multiplicada, como foi bem destacada<br />
por Schmitz] precisa ser passada de maneira coesa e correta <strong>ao</strong>s seus destinatários.<br />
Schneider (2006, p. 38) completa afirmando que<br />
[...] a ignorância em relação <strong>ao</strong> processo cooperativo, com todas as suas<br />
expressões e ramificações, implica em uma experiência amarga, correndo o<br />
risco de ser transmitida erroneamente a possíveis interessados e deixando<br />
de tal forma uma imagem negativa sobre a estrutura das cooperativas. E<br />
mais, a ignorância atrai e conduz <strong>ao</strong> submundo, onde o que reina é a<br />
mediocridade. Longe estão as cooperativas de pensar em qualquer situação<br />
relacionada com tal sentimento.<br />
Quando as informações não são transmitidas corretamente as consequências<br />
podem ser danosas, podendo comprometer até mesmo a imagem da cooperativa<br />
perante os seus mais diversos públicos, que acabam por obter uma interpreção<br />
errônea do papel que a cooperativa desempenha.<br />
Apresentação e Análise dos dados<br />
A apresentação e análise dos dados obidos com a aplicação de questionários<br />
serão apresentadas a seguir. Quanto às considerações gerais, estas serão<br />
explanadas de forma genérica nas conclusões finais da pesquisa.<br />
Em primeira instância quis-se identificar, de maneira geral, se o “Prêmio Sicoob<br />
Coopemata” foi capaz de contribuir de fato para ganhos de aprendizagem. As<br />
respostas obtidas demonstraram que o projeto é visto como uma oportunidade de<br />
aprendizado pela maioria dos colaboradores (95%), sendo que 5% não se<br />
pronunciaram a respeito.
Gráfico 1: “O Prêmio Sicoob Coopemata lhe proporcionou ganhos de aprendizagem?”<br />
Fonte: Dados da pesquisa (jan. 2012)<br />
Fora questionado <strong>ao</strong>s colaboradores se estes concordam que o “Prêmio Sicoob<br />
Coopemata” apresenta importância significativa para o desenvolvimento das<br />
atividades operacionais da cooperativa ou se eles acreditam ser uma iniciativa em<br />
vão. Nesta questão pode-se notar que 90% das respostas afirmaram que sim contra<br />
apenas 10% de afirmações negativas. O resultado nos leva a concluir que uma das<br />
vertentes do “Prêmio Sicoob Coopemata” é reconhecida pelos colaboradores, ou<br />
seja, que as sugestões de melhorias apresentadas no evento mostram-se como<br />
estratégias que auxiliam no aperfeiçoamento da gestão empresarial da cooperativa,<br />
garantindo maior eficiência na execução das atividades operacionais. Tal eficiência<br />
aliada <strong>ao</strong> profissionalismo dos técnicos (funcionários) permite que o<br />
empreendimento se solidifique e tenha sua marca reconhecida no mercado. Nesse<br />
sentindo esbarramos no viés técnico da capacitação quando esta se ocupa com as<br />
diversas funções e atividades próprias da cooperativa na sua dimensão de<br />
“empresa” cooperativa.<br />
Gráfico 2: “O Prêmio Sicoob Coopemata apresenta resultados significativos para o desenvolvimento<br />
das atividades operacionais da cooperativa?”<br />
Fonte: Dados da pesquisa (jan. 2012)<br />
Quanto a importância do evento enquanto um mecanismo capaz de<br />
proporcionar um ambiente onde os colaboradores possam expressar suas opiniões<br />
e expor suas sugestões à cooperativa, indagou-se se estes concordavam ser o<br />
“Prêmio Sicoob Coopemata” um mecanismo adequado para exporem tais sugestões<br />
e opiniões de melhorias a cooperativa. Por motivos diversos os colaboradores<br />
podem sentir-se inibidos de terem que apresentar suas propostas abertamente à<br />
diretoria. Entre os motivos podemos destacar: não se sentirem a vontade; não
acharem adequado tamanha exposição (preferindo levar suas opiniões <strong>ao</strong> seu<br />
superior imediato) ou até mesmo por pensarem que poderão ser reprimidos pelos<br />
comentários expostos. Os dados apresentados mostraram que 75% das respostas<br />
vistam o projeto como um meio adequado para se apresentar propostas de<br />
melhorias à cooperativa. A participação direta dos autores no evento comprova que<br />
os colaboradores não se sentiram inibidos <strong>ao</strong> expressarem suas opiniões, muitos até<br />
esporam suas sugestões nos aspectos referentes a “planos de carreira profissional”<br />
sem medo de serem questionados ou inibidos pela diretoria. Cabe aqui uma<br />
observação, o “Prêmio Sicoob Coopemata” não é o único meio pelo qual os<br />
funcionários possam apresentar suas sugestões, pelo contrário, o clima<br />
organizacional do Sicoob Coopemata é propicio e está aberto a novas ideias<br />
sempre.<br />
Gráfico 3: “O evento é um mecanismo adequado para que os colaboradores possam expressar suas<br />
sugestões de melhoria à cooperativa?”<br />
Fonte: Dados da pesquisa (jan. 2012)<br />
Uma das perguntas presentes no questionário visava identificar se a proposta<br />
do projeto Prêmio Sicoob Coopemata gera impacto na relação funcionáriocooperado.<br />
Esta pergunta proporcionou resultados importantes, pois se remete a um<br />
aspecto inerente a gestão social, ou seja, no relacionamento que se estabelece<br />
entre cooperativa [na figura do colaborador] e o cooperado.<br />
Gráfico 4: “A proposta do Prêmio Sicoob Coopemata gera impacto na relação funcionário-cooperado?”<br />
Fonte: Dados da pesquisa (jan. 2012)<br />
Com 90% de afirmações positivas, pode-se concluir que os colaboradores<br />
reconhecem que o aprendizado adquirido no evento gera impactos positivos no<br />
cooperado. Gerar impacto positivo no cooperado é muito importante, pois constitui<br />
em um dos objetivos da <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong>. Entretanto ainda é pertinente
destacar como os cooperados são impactados a partir dessa iniciativa. Por meio de<br />
questões subjetivas os colaboradores apontaram a maneira como veem o<br />
relacionamento cooperado-cooperativa (esta última na figura do colaborador)<br />
impactar positivamente no cooperado.<br />
Vale destacar que nem todos os funcionários que participam do “Prêmio Sicoob<br />
Coopemata” trabalham no setor de atendimento (ou seja, nem todos possuem um<br />
relacionamento direto com os cooperados), mas que mesmo assim souberam<br />
identificar como as questões tratadas no evento podem influenciar no<br />
relacionamento com o cooperado. As respostas foram discursivas, a seguir alguns<br />
relatos que representam bem as opiniões dos colaboradores:<br />
Relato 1: “Quanto maior for nossa intimidade com o sistema <strong>cooperativista</strong>, maior<br />
acúmulo de conhecimento sobre o sistema, maior apoio daremos <strong>ao</strong>s nossos<br />
cooperados.”<br />
Relato 2: “O Prêmio Sicoob Coopemata nos oferece a oportunidade de aprender e<br />
descobrir coisas novas sobre o cooperativismo em geral e, ainda aprofundar os<br />
conhecimentos que já possuíamos. Logo, nosso relacionamento com o cooperado<br />
se torna mais eficaz, pois passamos a conhecer muito mais a cooperativa.”<br />
Os relatos apresentados apontam que a iniciativa do projeto também<br />
proporciona o conhecimento referente <strong>ao</strong>s aspectos do cooperativismo e do “sistema<br />
<strong>cooperativista</strong>”, como afirma o colaborador. Neste sentido a proposta do projeto<br />
estimula o colaborador a refletir a cerca do cooperativismo como um todo, no seu<br />
sentido filosófico. A partir do relato de um colaborador “o funcionário bem informado<br />
poderá responder com maior segurança os questionamentos de cooperados e<br />
futuros cooperados sobre os diferenciais do cooperativismo”. Vemos aqui o papel do<br />
colaborador como multiplicador do conhecimento adquirido na cooperativa.<br />
Concepções errôneas podem levar a resultados desastrosos, daí a importância de<br />
proporcionar espaços de aprendizagem adequados a esse público específico da<br />
cooperativa.<br />
Relato 3: “Entendendo melhor a cooperativa, o funcionário fica mais capacitado para<br />
o atendimento <strong>ao</strong> cooperado”<br />
Relato 4: “Quanto mais conhecermos da cooperativa mais segurança teremos no<br />
atendimento e mais argumentos teremos para mostrar nosso diferencial”<br />
Nesse sentido a capacitação dos colaboradores produziu bons efeitos <strong>ao</strong><br />
propiciar que estes façam cognitivamente as distinções necessárias entre<br />
cooperativa e empresas que visam lucro, ou seja, os diferenciais do cooperativismo.<br />
Percebem-se também as implicações benéficas do projeto para desenvolvimento do<br />
trabalho cotidiano em virtude das sugestões de melhorias. Vemos que o<br />
envolvimento dos colaboradores com o projeto “Prêmio Sicoob Coopemata” estimula<br />
a criação de uma identidade cooperativa. O conhecimento adquirido permite maior<br />
identificação por parte do funcionário a respeito do empreendimento para qual<br />
trabalha, só transmitimos com firmeza aquilo que acreditamos e conhecemos.<br />
Quanto às sugestões de melhorias apontadas pelos colaboradores nas<br />
apresentações orais da segunda edição do “Prêmio Sicoob Coopemata”, procurouse<br />
identificar se era do conhecimento do colaborador se algumas dessas melhorias
foram colocadas em prática ou se pelo menos foram levadas em consideração pela<br />
diretoria da cooperativa. Neste caso tem-se um dado que aponta para um<br />
desdobramento prático do “Prêmio Sicoob Coopemata” no cotidiano da cooperativa<br />
<strong>ao</strong> querer verificar se de fato, as sugestões que são propostas estão sendo coladas<br />
em prática.<br />
Mais da metade (55%) responderam que sim. A participação direta dos autores<br />
no projeto permitiu afirmar que houve uma quantidade significativa de sugestões de<br />
melhorias para a cooperativa, em especial, na segunda edição do “Prêmio Sicoob<br />
Coopemata”. Entre elas a criação de um departamento de marketing na cooperativa<br />
foi bastante frisada pelos colaboradores. Esses verificaram a necessidade de se<br />
investir na marca da cooperativa, e mais que isso, no cooperativismo como um todo.<br />
Em entrevistas informais com os colaboradores estes afirmaram que o<br />
cooperativismo só não é conhecido pela sociedade por falta de divulgação do seu<br />
ideal.<br />
Gráfico 5: “É do seu conhecimento que as propostas de melhoria apresentadas foram levadas em<br />
consideração pela diretoria da cooperativa?”<br />
Fonte: Dados da pesquisa (jan. 2012)<br />
Dentre inúmeras sugestões de melhorias apontadas pelos colaboradores,<br />
foram citadas as que realmente lograram êxito e foram de fato coladas em prática.<br />
Entre elas, a necessidade de se criar um setor de marketing foi tão explicitada que a<br />
sugestão foi levada em consideração. Atualmente a cooperativa contratou um<br />
profissional da área de marketing que ficará incumbido de divulgar a marca “Sicoob<br />
Coopemata” bem como os serviços da cooperativa. As sugestões de planos de<br />
carreira profissional também foram levadas em consideração, os colaboradores<br />
afirmaram terem recebido aumento salarial, bonificações e oportunidades de<br />
crescimento dentro da cooperativa. Quanto a comunicação, houve a implantação<br />
imediata da intranet, a sugestão de aderir um sistema de vídeo conferencia foi<br />
levada em consideração e a possibilidade de sua aquisição está em estudo. Houve<br />
também a ativação dos depósitos nos TAAs (terminais de autoatendimento) que<br />
implicou em menores complicações <strong>ao</strong> cooperado, <strong>ao</strong> invés de esperar na fila para<br />
realizar seu depósito esse poderá fazê-lo no autoatendimento com maior rapidez.<br />
Por fim, divisão da área de superintendência em virtude da expansão da cooperativa<br />
que, além do cargo de superintendente, agora a cooperativa conta com o auxílio de<br />
um consultor para tal atividade.
Considerações Finais<br />
Apesar de ser uma iniciativa recente, o projeto vem demonstrando que é capaz<br />
de gerar resultados positivos. Os desafios do “Prêmio Sicoob Coopemata” permitem<br />
que a cooperativa, enquanto empreendimento social se desenvolva enquanto<br />
desenvolve simultaneamente os seus partícipes.<br />
Os dados apresentados na pesquisa mostram a eficiência do projeto enquanto<br />
ferramenta de aprimoramento da gestão empresarial, com ele, muitas falhas nas<br />
atividades operacionais puderam ser evidenciadas e corrigidas. A participação dos<br />
colaboradores foi de notória relevância, ninguém melhor que os próprios<br />
colaboradores para explicitarem as falhas das suas rotinas afinal, são eles os que<br />
lidam diretamente com as facilidades e dificuldades de sua área.<br />
Os impactos do “Prêmio Sicoob Coopemata” no cooperado são classificados<br />
como impactos indiretos. As afirmações evidenciam que o conhecimento adquirido<br />
no projeto facilita o atendimento <strong>ao</strong>s cooperados e futuros cooperados, se o<br />
colaborador conhece os serviços da cooperativa e as particularidades inerentes <strong>ao</strong><br />
cooperativismo, saberá transmitir com propriedades as informações demandadas<br />
pelos cooperados, estabelecendo assim uma comunicação eficiente com o <strong>quadro</strong><br />
social. O cooperado seria beneficiado diretamente se este também participasse do<br />
evento, podendo assim conhecer um pouco mais sobre a gestão empresarial da sua<br />
própria cooperativa.<br />
Do ponto de vista da gestão social, seriam fundamentais algumas adaptações<br />
no projeto para que a presença dos cooperados no evento “Prêmio Sicoob<br />
Coopemata” se tornasse interessante. Valadares (2005, p.18) argumenta que:<br />
A inexistência de um bom e eficiente sistema de <strong>educação</strong> e comunicação<br />
entre associados, dirigentes e funcionários, voltado <strong>ao</strong>s interesses da<br />
comunidade cooperativa, prejudica o associado na sua função de dono e<br />
usuário da cooperativa, que passa a distanciar se progressivamente de sua<br />
função primordial, que é a prestação de serviços <strong>ao</strong>s associados.<br />
Transforma-se numa empresa ineficiente, por não conseguir o suficiente<br />
grau de adesão dos associados, carentes das informações necessárias<br />
para se comprometerem mais com sua organização; ou transforma-se numa<br />
empresa eficiente, progressista, mas apenas uma empresa como outra<br />
qualquer, valorizando apenas a dimensão econômica e relegando a<br />
dimensão social a segundo ou terceiro plano.<br />
O autor explicita a importância da gestão social na formação de cooperados<br />
conscientes e comprometidos com o empreendimento. A fidelização do cooperado<br />
deve transcender o momento da sua admissão. É preciso dar continuidade <strong>ao</strong><br />
relacionamento com cooperado, este não pode ser lembrado unicamente na<br />
negociação. De qualquer forma a iniciativa já é um grande passo dado, e se mostra<br />
como um mecanismo institucional de <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong> em potencial, e como<br />
tal, possui grande relevância para o desenvolvimento social da cooperativa. No<br />
aspecto da capacitação<br />
[...] mais se ocupa com atividades próprias do campo econômico e técnico/<br />
tecnológico, procurando adestrar as pessoas, associados, funcionários e<br />
dirigentes, para serem bons produtores, bons vendedores e/ou<br />
compradores, bons prestadores dos diversos serviços. [...] ocupa com as<br />
diversas funções e atividades próprias da cooperativa na sua dimensão de<br />
‘empresa’ cooperativa. Opera fundamentalmente em sua vertente<br />
econômica, técnica e profissional (SCHNEIDER, 2006, p. 14).
Enquanto isso, no aspecto destinado a <strong>educação</strong>/formação<br />
[...] se ocupa em trabalhar com os associados, dirigentes e empregados as<br />
questões relativas à identidade, à filosofia da cooperativa, com atividades<br />
que mais se concentram na dimensão da cooperativa enquanto “associação<br />
das pessoas” (SCHNEIDER, 2006, p. 14).<br />
A perspectiva apresentada confirma as duas vertentes abordadas pelo “Prêmio<br />
Sicoob Coopemata”. Enquanto “organização empreendedora” proporciona<br />
capacitação, enquanto “associação de pessoas” formação <strong>cooperativista</strong> de seus<br />
colaboradores.<br />
O presente estudo não tem a intenção de apontar o que é certo ou errado. Tão<br />
pouco tem a pretensão de alterar a natureza do projeto, e sim, de suscitar alguns<br />
pontos considerados relevantes de mais uma proposta de <strong>educação</strong> <strong>cooperativista</strong>.<br />
Na prática, o projeto é bem visto pelos dirigentes e colaboradores, que<br />
acreditam no potencial do “Prêmio Sicoob Coopemata” e investem na iniciativa. A<br />
causa foi abraçada e os planos são de continuidade.<br />
Schneider (2006, p. 47) afirma que:<br />
A <strong>educação</strong> cooperativa deve manter-se alinhada com a capacitação<br />
<strong>direcionada</strong> <strong>ao</strong> crescimento, à produtividade e competitividade, salientando<br />
os valores cooperativos de equidade, solidariedade, de maneira tal que o<br />
movimento cooperativo encontre um equilíbrio entre os objetivos<br />
econômicos - empresariais e a essência do cooperativismo.<br />
As palavras do autor coincidem bem com o papel que o “Prêmio Sicoob<br />
Coopemata” vem desempenhando. A busca pelo crescimento econômico aliado as<br />
reflexões inerentes a cerca do sistema <strong>cooperativista</strong>, permitiram que os<br />
colaboradores contribuíssem de forma consciente para a gestão empresarial e social<br />
da cooperativa.<br />
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