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12. DA TRAGÉDIA AO ROMANTISMO: Dois olhares sobre ... - UniABC

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Da Tragédia ao Romantismo: dois <strong>olhares</strong> <strong>sobre</strong> o amor de Romeu e Julieta<br />

serão desgraçados, pois o destino que os aguarda é a fatídica morte que os<br />

levará à sepultura. Neste momento da análise acrescentamos que, também<br />

segundo Aristóteles, o herói trágico é vítima de um destino inexorável que<br />

lhe traz o infortúnio do extremo sofrimento ou da morte.<br />

Porém, se na tragédia grega os seres melhores possuem um fim fatídico<br />

para mostrar a supremacia dos deuses, na tragédia shakespeariana esse<br />

fim, mais do que pregar a subserviência humana a seu destino, propicia,<br />

segundo o próprio Prólogo, a ventura ao casal de amantes.<br />

Harold Bloom, ao estudar o texto de Romeu e Julieta, observa que o<br />

tema desse não é meramente retratar a fatídica morte dos amantes de<br />

Verona, mas sim mostrar, através dessa, que o sentimento do casal é eterno<br />

porque, antes que morresse, o suicídio dos corpos tornou imortal o Amor<br />

virtuoso experimentado pelas almas.<br />

Nesse sentido, notamos que Shakespeare constrói, durante todo<br />

seu texto, vários retratos de uma sociedade em que habita o amor<br />

corrompido. É o amor perverso que se manifesta nos homens Capuleto<br />

que lutam contra os inimigos não só por uma rincha sem motivos, mas<br />

também para serem cruéis com as donzelas. É o amor efêmero de um<br />

Romeu Montecchio que sofre, no início do texto, não pela jovem Julieta<br />

(a quem conhecerá somente no final do primeiro ato), mas sim porque<br />

não é correspondido pela bela Rosalinda. É o amor luxúria de Mercúcio<br />

que, em sonhos embalados pela feiticeira Mab, vê as raparigas tornaremse<br />

mulheres quando suportam nas costas o peso dos maridos. É o amor<br />

interesse da Ama que aconselha Julieta, no final do terceiro ato, a abdicar<br />

dos votos matrimoniais que fizera com Romeu em prol de um casamento<br />

mais tranquilo com o belo e rico Páris.<br />

Sendo assim, na peça de William Shakespeare, a morte dos amantes<br />

de Verona não simboliza, como no filme de Luhrmann, um amor que<br />

será venturoso porque fora eternizado no Céu católico dos românticos,<br />

mas sim porque invadirá a todos os que ouvirem a história. A diferença é<br />

importante pois, enquanto a visão romântica traz alento somente àqueles<br />

que acreditam na Igreja Católica (mais especificamente na vida pós-morte<br />

pregada pelo cristianismo), a visão shakespeariana é muito mais ampla:<br />

ela servirá como fonte de inspiração não só aos católicos, mas também aos<br />

perversos, aos inconstantes, aos feiticeiros, aos interesseiros... ou seja, a<br />

Letras - Languages - Letras | Humanas | Revista <strong>UniABC</strong> - v.1, n.1, 2010 - ISSN: 2177-5818

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