12. DA TRAGÉDIA AO ROMANTISMO: Dois olhares sobre ... - UniABC
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Da Tragédia ao Romantismo: dois <strong>olhares</strong> <strong>sobre</strong> o amor de Romeu e Julieta<br />
drogado Mercúcio). No terceiro momento, após lutar bravamente contra<br />
as diversas manifestações do Mal, o Bom Romeu tem sua recompensa ao<br />
se unir, em um amor celestial, a Julieta.<br />
Na obra paradigma, porém, entendermos o jovem Romeu não é tão<br />
fácil, pois a luta que nele existe é de um homem que, se inicialmente<br />
enxerga a si como uma “alma de chumbo” (Ato I, Cena V), posteriormente<br />
percebe, ao encontrar seus mortos, que outros homens também suportam<br />
o peso da infelicidade. No sepulcro da família de Julieta, Romeu mata Páris<br />
e, após esse ato insano, expressa sua compaixão por aquele que também<br />
sofre pela morte de Julieta (“Dá-me essa mão, ó tu que estás inscrito, como<br />
eu também, no livro do infortúnio. (...) Repousa, morto, por um morto<br />
enterrado” (Ato V, Cena III)). Ainda neste local fúnebre, Romeu encontra<br />
Tebaldo e sente nesse o sofrimento de uma morte injusta (“Tebaldo, jazes<br />
num lençol de sangue? Oh! que maior favor fazer-te posso do que com esta<br />
mesma mão que a tua mocidade cortou, destruir, agora, também, a do que<br />
foi teu inimigo? Primo, perdoa-me” (Ato V, Cena III)).<br />
Em Shakespeare, portanto, somente a rima do amor pode salvar do<br />
tumulto da existência não apenas o sofredor Romeu, mas também os<br />
homens que possuem uma vida mais fúnebre do que a própria morte. Ou,<br />
como diria Shakespeare em um de seus poemas:<br />
Nem mármore, nem áureos monumentos<br />
De reis hão de durar mais que esta rima,<br />
E sempre hás de brilhar nestes acentos<br />
Do que na pedra, pois o tempo a lima.<br />
(...)<br />
Há de seguir teu passo sobranceiro<br />
Vencendo a morte e as legiões do olvido,<br />
E os pósteros, no juízo derradeiro,<br />
Hão de a este louvor prestar ouvido.<br />
Pois até a sentença que levantes<br />
Vive aqui e no lábio dos amantes.<br />
(SHAKESPEARE, 1994, p. 479)<br />
Letras - Languages - Letras | Humanas | Revista <strong>UniABC</strong> - v.1, n.1, 2010 - ISSN: 2177-5818