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Sobre a influência de Paul Bourget no pensamento tardio de ...

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Com o advento do <strong>pensamento</strong> kantia<strong>no</strong>, o mundo verda<strong>de</strong>iro passa a ser<br />

concebido como não experienciável, incog<strong>no</strong>scível, e, como nada se po<strong>de</strong> afirmar sobre<br />

ele, não prometível tal como se apresentava <strong>no</strong> <strong>pensamento</strong> cristão até então. As antigas<br />

certezas metafísicas <strong>de</strong>rrubadas por Kant sobre o além-mundo carregam consigo a<br />

credulida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong> supra-sensível e sua cog<strong>no</strong>scibilida<strong>de</strong>. Após o kantismo e o<br />

i<strong>de</strong>alismo, a idéia do mundo verda<strong>de</strong>iro se enfraquece até ser <strong>de</strong>scartada pela razão<br />

como uma criação humana voltada à sobrevivência; dá-se “a morte <strong>de</strong> Deus”.<br />

Com a <strong>de</strong>struição do mundo i<strong>de</strong>al, os valores pregados tradicionalmente <strong>de</strong>ixam<br />

lacunas; uma aguda crise <strong>de</strong> valores, <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> sentido, estabelece-se. As perguntas<br />

mais elementares acerca da existência carecem <strong>de</strong> resposta. A ausência <strong>de</strong> finalida<strong>de</strong> da<br />

vida, <strong>de</strong> respostas aos “porquês” gera um terrível mal-estar. O fenôme<strong>no</strong> do niilismo<br />

torna-se agudo.<br />

Para o filósofo, um passo importante em direção à superação do niilismo<br />

encontra-se na transvaloração dos valores, ou seja, é necessário abandonar<br />

completamente as <strong>no</strong>ções acerca do mundo verda<strong>de</strong>iro e do mundo aparente fornecidas<br />

pelo platonismo e criar <strong>no</strong>vas referencia <strong>de</strong> valor, conferindo uma <strong>no</strong>va concepção<br />

acerca <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>. Seguindo esta linha <strong>de</strong> <strong>pensamento</strong>, o niilismo, para Nietzsche, é<br />

um passo necessário, pois é somente a partir do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>svalorização dos valores<br />

supremos que se po<strong>de</strong> obter <strong>no</strong>vos valores:<br />

Conclusão<br />

Pois por que o advento do niilismo é doravante necessário? Porque<br />

são <strong>no</strong>ssos valores anteriores que trazem <strong>de</strong>le suas últimas<br />

conseqüências, porque o niilismo é a lógica, pensada até seu limite, <strong>de</strong><br />

<strong>no</strong>ssos valores e <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssas maiores ambições, - porque nós <strong>de</strong>vemos<br />

primeiro passar pela prova do niilismo para ali <strong>de</strong>scobrir o que era<br />

realmente o valor dos „valores‟ [...] nós teremos, em algum tempo, a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos valores [...]. (NIETSZCHE, 1997, prefácio, 4, p.<br />

29).<br />

<strong>Paul</strong> <strong>Bourget</strong> apresentou, por meio <strong>de</strong> seus Ensaios, a constatação <strong>de</strong> que a<br />

juventu<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu tempo sofria <strong>de</strong> uma doença da vida moral e i<strong>de</strong>ntificou os fenôme<strong>no</strong>s<br />

pessimismo, niilismo e neurose como sintomas <strong>de</strong>ste mal. Esta enfermida<strong>de</strong> se<br />

evi<strong>de</strong>ncia na <strong>de</strong>cadência que dominava sua época, caracterizada pela <strong>de</strong>generação<br />

fisiológica do indivíduo, do estilo e da socieda<strong>de</strong>. A causa <strong>de</strong>sta doença da vida moral é,<br />

sobretudo, o abuso do <strong>pensamento</strong>; ela gera a discrepância entre os <strong>de</strong>sejos do homem e<br />

Vol. 4, nº 1, 2011.<br />

www.marilia.unesp.br/filogenese 87

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