Sobre a influência de Paul Bourget no pensamento tardio de ...
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A crise da religião, sobretudo do catolicismo, está diretamente relacionada ao<br />
progresso do positivismo. A ciência mo<strong>de</strong>rna, por sua vez, não consegue respon<strong>de</strong>r as<br />
lacunas <strong>de</strong>ixadas pela religião. <strong>Sobre</strong> a crise dos valores religiosos <strong>Bourget</strong> afirma:<br />
Pela primeira crença em Deus eles substituirão a crença, seja à<br />
Liberda<strong>de</strong>, à Revolução, ao Socialismo, à Ciência [...]. O que <strong>de</strong> mais<br />
natural, então, que ele seja afetado por uma sensação <strong>de</strong> vazio diante<br />
<strong>de</strong>sse mundo on<strong>de</strong> ele busca em vão um I<strong>de</strong>al concreto que<br />
correspon<strong>de</strong> ao que lhe resta <strong>de</strong> aspirações acerca do Além? [...] Está<br />
ainda, em horas obscuras, a tentativa do retor<strong>no</strong> ao mundo místico<br />
pelo caminho pavoroso. Mas <strong>de</strong>sses caminhos a alma incrédula<br />
retorna mais extenuada, mais persuadida <strong>de</strong> que a religião é apenas um<br />
sonho, pessoal e mentiroso, do homem que mira seu <strong>de</strong>sejo <strong>no</strong> nada da<br />
natureza. (BOURGET, 1920, p. 16-17).<br />
No domínio intelectual, o homem que se <strong>de</strong>dica a refletir sente uma vertigem,<br />
não sabe mais em que crer. As velhas religiões, sem consolo, <strong>de</strong>smoronaram. As idéias,<br />
os sistemas, multiplicam-se e se chocam: spi<strong>no</strong>zismo, hegelianismo, espititualismo,<br />
positivismo, pessimismo, teorias <strong>de</strong> Taine, <strong>de</strong> Darwin, <strong>de</strong> Spencer, <strong>de</strong> Renan. 3 O<br />
homem <strong>de</strong>ixado ao acaso se afunda em um <strong>no</strong>civo diletantismo, que <strong>Bourget</strong> <strong>de</strong>fine <strong>no</strong>s<br />
seguintes termos: “uma disposição do espírito, muito inteligente e ao mesmo tempo<br />
muito voluptuosa, que <strong>no</strong>s inclina mais e mais em direção a formas diversas da vida e<br />
<strong>no</strong>s conduz a <strong>no</strong>s emprestar todas essas formas sem <strong>no</strong>s dar alguma” (BOURGET,<br />
1920, p. 55).<br />
A <strong>de</strong>mocracia, que com o sufrágio universal visa tornar a socieda<strong>de</strong> mais justa<br />
por meio da obtenção <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r pelo mérito <strong>de</strong> seus cidadãos, estimula a “concorrência<br />
das ambições‟‟ (BOURGET, 1920, p. 323) <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. A antiga classe dirigente, afastada<br />
do po<strong>de</strong>r, resiste em aceitar sua <strong>no</strong>va posição. Para <strong>Bourget</strong>, mesmo o burguês teria<br />
dificulda<strong>de</strong>s em admitir que o voto <strong>de</strong> todos tenha o mesmo peso, que seu voto valha o<br />
mesmo que o <strong>de</strong> um carvoeiro.<br />
<strong>Sobre</strong> as nuances da vida sentimental, <strong>Bourget</strong> <strong>no</strong>s mostra, em sua Psicologia do<br />
Amor mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>, que o amor romântico mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> é um jogo cruel, uma mistura <strong>de</strong><br />
egoísmo, perversão, impotência e mesquinhez.<br />
As trocas internacionais cada vez mais favoreciam o progresso do<br />
cosmopolitismo <strong>no</strong> século XIX. Com o consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong>senvolvimento dos meios <strong>de</strong><br />
3 Cf. MANSUY, M. Un mo<strong>de</strong>rne: <strong>Paul</strong> <strong>Bourget</strong> <strong>de</strong> l'enfance au Disciple. Paris: Belles Lettres, 1960, p.<br />
517.<br />
Vol. 4, nº 1, 2011.<br />
www.marilia.unesp.br/filogenese 76