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Sobre a influência de Paul Bourget no pensamento tardio de ...

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comunicação e transporte, a distância se tor<strong>no</strong>u me<strong>no</strong>r. As correntes intelectuais cada<br />

vez me<strong>no</strong>s conheciam limites, na medida em que as inúmeras traduções <strong>de</strong> obras<br />

inglesas, alemãs, francesas, russas, italianas, americanas, ultrapassavam as fronteiras.<br />

Os transeuntes <strong>de</strong> vários países alimentavam-se <strong>de</strong> teorias <strong>de</strong>sabrochadas em terras<br />

remotas e propagadas rapidamente com o aumento da circulação <strong>de</strong> pessoas pelo<br />

continente. O cosmopolitismo se espalhou pela Europa e produziu ligeiramente, por<br />

toda parte, um processo <strong>de</strong> hibridismo intelectual que os Ensaios <strong>no</strong>tam <strong>no</strong>s seguintes<br />

termos: “Uma das leis da <strong>no</strong>ssa época não é <strong>de</strong> misturar as idéias, e o conflito <strong>de</strong>ntro<br />

dos <strong>no</strong>ssos cérebros, a todos, <strong>de</strong> sonhos do universo elaborados pelas diversas raças?”<br />

(BOURGET, 1920, p. 62). Diante da troca <strong>de</strong> teorias, estilos, culturas, o homem estaria<br />

cada vez mais em conflito com seus i<strong>de</strong>ais e as nações sob o risco <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r seu vigor e<br />

originalida<strong>de</strong>. <strong>Bourget</strong>, ele mesmo um viajante e cosmopolita (inserido em um meio<br />

também <strong>de</strong>veras cosmopolita : Paris) repugna visivelmente os que se colocavam contra<br />

o cosmopolitismo, mas alerta acerca <strong>de</strong> sua <strong>no</strong>civida<strong>de</strong> :<br />

O moralista é obrigado a reconhecer que as nações per<strong>de</strong>m muito mais<br />

do que elas ganham se misturando umas as outras e que as raças,<br />

sobretudo, per<strong>de</strong>m muito mais do que ganham <strong>de</strong>ixando o canto <strong>de</strong><br />

terra on<strong>de</strong> elas cresceram. (BOURGET, 1920, p. 317).<br />

Em suma, a crise da religião que afasta do homem seu <strong>de</strong>sejado além-vida, a<br />

crise da <strong>de</strong>mocracia que <strong>de</strong>sperta <strong>de</strong>scontentamentos entre setores, o sofrimento gerado<br />

pelo i<strong>de</strong>al romântico nunca alcançado, a resposta <strong>de</strong>sejada e não obtida na ciência, o<br />

diletantismo e o cosmopolitismo que cada vez mais acentuados enfraquecem o apego a<br />

um i<strong>de</strong>al, a uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, todos estes elementos evi<strong>de</strong>nciam o mal provocado pelo uso<br />

abusivo do <strong>pensamento</strong>: a dolorosa discrepância entre o mundo i<strong>de</strong>alizado, isto é, o<br />

mundo “como <strong>de</strong>veria ser”, e a realida<strong>de</strong> tal como se apresenta. Esta divergência<br />

constitui o elemento seminal do pessimismo, niilismo e da neurose generalizada do<br />

século XIX, conforme ressalta <strong>Bourget</strong>:<br />

Consi<strong>de</strong>rar então o <strong>pensamento</strong> como um po<strong>de</strong>r, não bem feitor, mas<br />

mortífero, é ir contra a toda <strong>no</strong>ssa civilização mo<strong>de</strong>rna, que vê, ao<br />

contrário, <strong>no</strong> <strong>pensamento</strong> o termo supremo <strong>de</strong> seu progresso. Superexcitar<br />

e redobrar as forças cerebrais do homem, procurá-lo, impor-lhe<br />

ainda um trabalho intelectual cada vez mais complicado, mais e mais<br />

equipado, tal é a preocupação constante da Europa oci<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

final da Ida<strong>de</strong> Média. [...] Mas nós avaliamos bem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa<br />

máquina humana que nós sobrecarregamos <strong>de</strong> conhecimentos? [...]<br />

Vol. 4, nº 1, 2011.<br />

www.marilia.unesp.br/filogenese 77

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