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Sobre a influência de Paul Bourget no pensamento tardio de ...

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a realida<strong>de</strong>. <strong>Paul</strong> <strong>Bourget</strong> não aponta uma terapia para a <strong>de</strong>cadência, mas apresenta<br />

duas posturas diante do problema: a político-moral, que tem em vista a mobilização em<br />

prol da restituição do organismo, e a do psicólogo, que privilegia a análise das partes<br />

que compõe o todo. A partir <strong>de</strong>sta última postura é possível observar que a arte<br />

<strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte gera produções estéticas singulares e admiráveis. Neste sentido, <strong>Bourget</strong><br />

atribui uma <strong>no</strong>va perspectiva ao conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência ao mostrar sua faceta positiva.<br />

Nietzsche, que também avaliou os fenôme<strong>no</strong>s do pessimismo e niilismo na<br />

socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua época, assimila em sua obra a estrutura da <strong>de</strong>cadência <strong>de</strong> <strong>Bourget</strong> –<br />

apoiando-se fundamentalmente na <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> <strong>de</strong>generação fisiológica. A partir da <strong>no</strong>ção<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência formulada na obra bourgetiana, Nietzsche faz sua avaliação acerca do<br />

estilo da música <strong>de</strong> Wagner e conclui seu caráter da<strong>no</strong>so, apresentado-a como<br />

representante máxima da <strong>de</strong>cadência <strong>de</strong> sua época. Se <strong>Bourget</strong> vê na obra <strong>de</strong> arte<br />

<strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte admiráveis singularida<strong>de</strong>s, ricas expressões <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos valores estéticos<br />

produzidos, para Nietzsche, a produção estética do artista <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte é o reflexo <strong>de</strong> sua<br />

<strong>de</strong>generação fisiológica, que apenas produz e agrava a <strong>de</strong>cadência. Os valores expressos<br />

na obra <strong>de</strong> arte não são <strong>no</strong>vos, mas sim os valores <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>ntes oriundos da moral cristã.<br />

Diferentemente <strong>de</strong> <strong>Bourget</strong>, Nietzsche apresenta as primeiras expressões da <strong>de</strong>cadência,<br />

o niilismo, na doutrina <strong>de</strong> Sócrates e Platão. Os valores da moral socrático-platônica se<br />

consolidam ao longo do projeto civilizatório levado a efeito pelo cristianismo,<br />

consi<strong>de</strong>rado como formação religiosa hegemônica <strong>no</strong> Oci<strong>de</strong>nte. No cristianismo temos a<br />

<strong>de</strong>svalorização do mundo e da vida em proveito <strong>de</strong> um além-mundo. A trajetória do<br />

niilismo seque os diferentes modos <strong>de</strong> se relacionar como este “mundo verda<strong>de</strong>iro”, até<br />

a consciência <strong>de</strong> que este mundo não passa <strong>de</strong> uma ilusória criação humana. De acordo<br />

com Nietzsche, o niilismo se completa quando o “mundo verda<strong>de</strong>iro” é abolido. Ele<br />

atinge seu ápice “na morte <strong>de</strong> Deus”, ou seja, na crise do fundamento último dos valores<br />

supremos da cultura oci<strong>de</strong>ntal que forneciam respostas às questões essenciais da vida.<br />

Uma vez abolido estes valores, a vida, até então em função do “mundo verda<strong>de</strong>iro”,<br />

passa a não ter mais sentido. Como reação ao problema se faz necessário transvalorizar<br />

os valores da moral platônica-cristã e superar o tipo <strong>de</strong> homem por ele gerado ao longo<br />

do processo civilizatório do oci<strong>de</strong>nte. Somente através da <strong>de</strong>ssa reação é possível<br />

encarar a realida<strong>de</strong> sob uma outra perspectiva e, na medida em que se aceita uma <strong>no</strong>va<br />

concepção <strong>de</strong> mundo, superar a doença da vida mo<strong>de</strong>rna.<br />

Vol. 4, nº 1, 2011.<br />

www.marilia.unesp.br/filogenese 88

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