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R I 5 - Unicuritiba

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38<br />

Política externa brasileira para República de Angola:<br />

Um novo olhar para antigas possibilidades<br />

aquele momento havia declarado isenção e prometido ter boas relações<br />

com qualquer partido que no fim predominasse, como poderia naquele<br />

momento recuar, num momento que o MPLA já era o vencedor e se via<br />

ameaçado apenas por invasão estrangeira – a África do Sul –, e justamente<br />

o país do apartheid que revoltava a África inteira? A saída ou era<br />

reconhecer ou sair imediatamente de Luanda. E, ao sair de Luanda, para<br />

Melo, o MPLA não perdoaria o Brasil pelas falhadas promessas de isenção<br />

e durante muito tempo o Itamaraty poderia esquecer as relações com<br />

Angola, Moçambique e provavelmente com toda a África Negra. Seria um<br />

fiasco de proporções continentais.<br />

Em entrevista a Maria Celina D’Araújo e Celso Castro (1994,<br />

p. 343-344), Geisel, ao ser perguntado sobre a mudança da política de<br />

colonização portuguesa, afirmou: “[...] embora eu procurasse ter boas relações<br />

com Portugal, dentro de um certo limite, por causa da Revolução<br />

portuguesa dos Cravos – no caso da África achávamos que o colonialismo<br />

português estava acabado, ultrapassado [...]” Para Ricupero (1993, p. 343),<br />

a política externa independente de Quadros foi retomada por Geisel e<br />

Figueiredo com o pragmatismo responsável. Todavia, o emblema dessa<br />

política, em vez de ser Cuba, no caso de Quadros, passa a ser o abandono<br />

do colonialismo português e o reconhecimento do MPLA em Angola.<br />

O Brasil passou a demonstrar que tinha política própria com o reconhecimento<br />

do MPLA na data da independência. Durante o período em<br />

que perdurou o Acordo de Alvor, o Brasil dialogou com os três movimentos<br />

para decidir o futuro democrático de Angola, o que acabou não acontecendo,<br />

haja vista o fracasso do acordo e a guerra civil instalada no país.<br />

Um forte exemplo do reflexo da posição brasileira de reconhecimento do<br />

governo do MPLA pode ser medida com a demissão do ministro do Exército,<br />

Silvio Coelho Frota, em 1978, que afirmava que o reconhecimento<br />

de Angola era indício da crescente “comunização” em vigor na política<br />

brasileira. Vale lembrar que recentes descobertas apontam para um apoio<br />

secreto no Serviço Nacional de Inteligência, que mandava armas ao MPLA<br />

para combater a UNITA. 9<br />

Essa mudança no aspecto político com a África de expressão portuguesa<br />

significou uma mudança de visão brasileira dentro do próprio<br />

Continente Africano. O “perigo comunista” perdia a força. Isso se deveu<br />

muito à mudança do pensamento da relação mundial bipolar para uma<br />

relação multipolar. A base principal para o argumento de aproximação<br />

9 Ver o intercâmbio entre Brasil e África com relação à venda de armas. (ISTOÉ, 5 jun.<br />

1985).<br />

Relações Internacionais em Revista, Curitiba, n. 5, p. 25-48, 2005.

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