R I 5 - Unicuritiba
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Competir ou Retroceder: A Política Externa<br />
Norte-Americana na Administração Clinton<br />
com a alegação de estudiosos, como Kagan e Kristol 3 , de que a globalização<br />
não passaria de um disfarce do imperialismo norte-americano.<br />
Na visão de Clinton, tais metas seriam mais facilmente atingidas<br />
por meio da ampliação da participação do país em fóruns multilaterais e<br />
da atuação de organizações internacionais, como as Nações Unidas<br />
(ONU), notadamente quando se tratasse de questões relacionados à defesa<br />
dos direitos humanos.<br />
Para César Guimarães (2000, p. 9), os objetivos estratégicos do<br />
governo Clinton no que se refere à política externa eram, em síntese,<br />
fortalecer a própria segurança militar, revitalizar a economia e promover a<br />
democracia no exterior. Paradoxalmente, as intervenções militares ocorridas<br />
na Bósnia, no Haiti e na Somália podem ser interpretadas como<br />
recursos para legitimar a interferência norte-americana em nome da democracia<br />
e dos direitos humanos.<br />
Antes de passarmos a detalhar a atuação do governo Clinton no<br />
plano internacional, faz-se necessário introduzir, pelo enfoque sistêmico,<br />
os elementos e conexões que definem o quadro das relações internacionais<br />
no período. A contribuição teórica de Samuel Huntington (1999,<br />
p. 23-28) a respeito facilita esse entendimento, uma vez que o considera<br />
um “híbrido”, tanto unipolar quanto multipolar. Em sua percepção, o sistema<br />
unipolar é aquele no qual se constata a presença de uma superpotência<br />
e de várias potências secundárias. O sistema multipolar, por sua vez,<br />
é formado “[...] por várias grandes potências de força comparável, que<br />
cooperam e competem entre si em combinações sempre mutáveis.” Sua<br />
avaliação é a de que nenhum deles consegue, isoladamente, explicar o<br />
cenário pós-guerra fria, o que justificaria a adoção do modelo unimultipolar,<br />
o qual está referido a uma única superpotência, os Estados Unidos, apta<br />
a defender seus interesses em qualquer lugar do planeta e em todas a<br />
dimensões de poder (econômica, política, cultural, ideológica, tecnológica<br />
e militar). Embora se comportem como uma superpotência, assumindo o<br />
ônus de sua condição de “xerife mundial”, optam por não atuar de forma<br />
totalmente isolada, pois o alinhamento com outras nações é importante<br />
não só para reduzir custos, mas também, porque em operações conjuntas,<br />
amplia a base de legitimidade.<br />
Em conseqüência, os Estados Unidos acabam por compartilhar<br />
suas estratégias com outras grandes potências regionais, assim consideradas<br />
em função da menor capacidade e da possibilidade que possuem<br />
3 In: NYE, Joseph. O paradoxo do poder americano: por que a única superpotência do<br />
mundo não pode prosseguir isolada. São Paulo: Ed. da Unesp, 2002.<br />
Relações Internacionais em Revista, Curitiba, n. 5, p. 87-104, 2005.