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A FALECIDA NO ENSINO MÉDIO: Uma Proposta de Leitura ... - pucrs

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1 Introdução<br />

A <strong>FALECIDA</strong> <strong>NO</strong> ENSI<strong>NO</strong> <strong>MÉDIO</strong>:<br />

<strong>Uma</strong> <strong>Proposta</strong> <strong>de</strong> <strong>Leitura</strong> Dramática<br />

1<br />

João Gabriel P.N.<strong>de</strong> Paula<br />

(graduando – UEM/ CAPES)<br />

Ibrahim Alisson Yamakawa<br />

(graduando – UEM/ CAPES)<br />

Mirian Hisae Yaegashi Zappone<br />

(UEM) – Orientadora<br />

Teatro. Educação. Elementos que por muito tempo figuraram a margem<br />

<strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> que se mostrava cada vez mais <strong>de</strong>svirtuada, e cujas chagas<br />

eram expostas quanto mais se pretendiam escon<strong>de</strong>r. Instâncias que carregam<br />

em sua essência a formação dos indivíduos, que <strong>de</strong>mandam tempo e trabalho<br />

árduo.<br />

Colhemos hoje os amargos frutos do conservadorismo e do <strong>de</strong>scaso<br />

relegado ao ensino. Observamos no contexto escolar um ciclo <strong>de</strong>sanimador: <strong>de</strong><br />

um lado professores <strong>de</strong>smotivados, que aparentam não encontrar motivos que<br />

possam vir a ser suficientes para se preocupar com as sementes que estão<br />

plantando nas mentes e corações <strong>de</strong> seus alunos, nem com o efeito adquirido<br />

por suas falas , bem como quão relevante é sua incumbência,ao abraçar o ser<br />

em <strong>de</strong>senvolvimento e lhe abrir as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ampliação <strong>de</strong> suas<br />

potencialida<strong>de</strong>s. Do outro lado <strong>de</strong>ssa ponte, vemos o aluno <strong>de</strong>smotivado, que<br />

observa a sala <strong>de</strong> aula como um campo <strong>de</strong> tortura a que é exposto, colocado,<br />

atirado contra sua vonta<strong>de</strong>. Ele é cercado <strong>de</strong> tédio e mergulha num abismo que<br />

lhe suga a vonta<strong>de</strong> crescente do saber.<br />

Criam-se então pensamentos cristalizados, verda<strong>de</strong>iras normoses<br />

(enten<strong>de</strong>mos por normose um conjunto <strong>de</strong> conceitos, <strong>de</strong> valores que ganha<br />

peso e passa a ser aceito socialmente como algo natural, sendo antes <strong>de</strong> tudo<br />

uma construção) a respeito dos elementos que preenchem esse campo<br />

semântico inerente ao ensino: “o professor é chato”. “a aula é uma droga”. “Não<br />

preciso apren<strong>de</strong>r isso, não vou usar para nada da minha vida”.


Po<strong>de</strong>mos verificar também que esses elementos estreitam sua relação<br />

quanto aos motivos que encabeçam essas faltas <strong>de</strong> estímulo.<br />

Do lado do professor vemos que tem sido vinculada a escola uma<br />

atribuição que antigamente não lhe cabia: a formação do indivíduo com relação<br />

a seus valores morais. Diz-se que educação vem <strong>de</strong> casa. Entretanto, não são<br />

raras as vezes em que os alunos são <strong>de</strong>spejados nas portas das escolas,<br />

retirando a responsabilida<strong>de</strong> incumbida aos progenitores <strong>de</strong> educar seu filho,<br />

sobrecarregando a escola. Junte a isso falta <strong>de</strong> estimulo, seja com relação aos<br />

baixos salários, as condições precárias <strong>de</strong> trabalho ou pela pouca renda<br />

<strong>de</strong>stinada a educação e <strong>de</strong>scobriremos alguns dos motivos que levam o<br />

docente a se ver <strong>de</strong>smotivado. É cada vez mais difícil estimular o aluno <strong>de</strong><br />

modo significativo, pren<strong>de</strong>r-lhe a atenção e fazem com que passem a observar<br />

um mundo inteiramente novo que se abre a frente <strong>de</strong> seus olhos.<br />

Percebemos claramente o clamor da educação por mudanças, tanto no<br />

que tange o amparo aos docentes, quanto às estratégias e mecanismos que se<br />

façam eficazes para melhoras as relações <strong>de</strong> ensino-aprendizagem. É em meio<br />

a esse contexto que emerge o conteúdo <strong>de</strong>ssa comunicação. Para fins<br />

didáticos, dividiremos este excerto em partes, cada qual trazendo uma<br />

essência própria, mas que ao mesmo momento não permanece estanque,<br />

articulando-se com o todo do texto. Em um primeiro momento, apresentaremos<br />

o projeto PIBID, suas intenções e aplicações. Posteriormente abordaremos os<br />

conceitos essenciais que o ancoram e, por último, traremos algumas<br />

consi<strong>de</strong>rações acerca do gênero dramático, suas origens, peculiarida<strong>de</strong>s,<br />

informações sobre autor e a peça posta como objeto <strong>de</strong> ensino e quais os<br />

possíveis efeitos em sala <strong>de</strong> aula.<br />

PIBID: revalorização das licenciaturas<br />

O Programa Institucional <strong>de</strong> Bolsas <strong>de</strong> Incentivo à Docência (PIBID) é<br />

um projeto que visa restituir o valor dos cursos <strong>de</strong> licenciatura, aproximando<br />

escola e ensino superior ao conce<strong>de</strong>r a oportunida<strong>de</strong> dos alunos estarem em<br />

sala <strong>de</strong> aula, colaborando na formação dos indivíduos <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada<br />

instituição.<br />

2


De modo mais específico o PIBID Letras- UEM tem como principal<br />

objetivo auxiliar os alunos <strong>de</strong> dois colégios do município <strong>de</strong> Maringá-PR:<br />

Colégio João XXIII e Colégio <strong>de</strong> Aplicação Pedagógica (CAP-UEM). Sendo as<br />

aulas ministradas em período <strong>de</strong> contraturno, <strong>de</strong>stina-se ao trabalho em sala<br />

<strong>de</strong> aula com os alunos, a fim <strong>de</strong> contribuir para uma melhor formação e<br />

preparação dos mesmos para o Processo <strong>de</strong> Avaliação Seriada (PAS).<br />

2 Conceito <strong>de</strong> Letramento<br />

Antes <strong>de</strong> nos aprofundarmos <strong>de</strong> modo mais significativo nas questões<br />

levantadas e tecermos consi<strong>de</strong>rações acerca da proposta apresentada para<br />

este trabalho, faz-se imprescindível trazer para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste excerto alguns<br />

conceitos teóricos que irão subsidiar e intermediar as relações estabelecidas.<br />

Estabelecemos como primeiro conceito imprescindível <strong>de</strong>ste trabalho o<br />

conceito <strong>de</strong> letramento, sem o qual não po<strong>de</strong>remos enten<strong>de</strong>r a intersecção<br />

entre o texto literário e a escola. Temos já <strong>de</strong> início uma árdua tarefa, posto<br />

que o conceito <strong>de</strong> letramento por si só aparece como uma instância que se<br />

abre em uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> significações, a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r daqueles que lhe<br />

lançam o olhar no tempo.<br />

Quando enunciamos letramento, trazemos à tona <strong>de</strong> modo conjunto<br />

outra prática que também se verifica em contextos escolares: a alfabetização.<br />

Cabe-nos, portanto, <strong>de</strong>fini-las e diferenciá-las mediante as <strong>de</strong>vidas relações.<br />

Segundo apontamento do senso comum, <strong>de</strong>ntre os quais po<strong>de</strong>mos incluir o<br />

pensamento governamental, um indivíduo recebe a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong><br />

“alfabetizado” a partir do momento em que se apropria do código,<br />

reconhecendo as letras do alfabeto e utilizando-as para a escrita <strong>de</strong> seu próprio<br />

nome, como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m KLEIMAN & MORAES (1999). As autoras prosseguem<br />

estipulando um contraponto com o conceito <strong>de</strong> letramento, o qual se alia as<br />

noções <strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> do uso da escrita no cotidiano, sendo, portanto o<br />

sujeito letrado capaz <strong>de</strong> preencher, por exemplo, um formulário, escrever um<br />

bilhete, escrever uma receita <strong>de</strong> bolo. O letramento, em seu sentido pleno,<br />

extrapola os limites da materialida<strong>de</strong>, inserindo-se nas práticas orais e<br />

compreen<strong>de</strong>ndo as nuances <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação, numa conversa familiar, em uma<br />

3


entrevista <strong>de</strong> emprego. Abordam, por fim, a responsabilida<strong>de</strong> da escola na<br />

formação <strong>de</strong> sujeitos letrados, não apenas alfabetizados.<br />

3 <strong>Leitura</strong>: a âncora dos seres críticos<br />

Após a breve exposição sobre o conceito <strong>de</strong> letramento, faz-se<br />

necessário marcar nas linhas que seguem algumas consi<strong>de</strong>rações acerca do<br />

conceito <strong>de</strong> leitura. Dividiremos esta etapa em duas, com o intuito <strong>de</strong> melhor<br />

esclarecer as nuances que abarcam dois “subtipos” <strong>de</strong> leitura presentes no<br />

texto: leitura literária e leitura dramática.<br />

A um primeiro momento nos parece fácil <strong>de</strong>finir o conceito <strong>de</strong> leitura,<br />

visto que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios <strong>de</strong> nosso processo <strong>de</strong> alfabetização entramos<br />

em contato com processos <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong>ssa fantástica ferramenta <strong>de</strong><br />

compreensão do mundo. Entretanto, poucas são as mentes que superam o<br />

senso comum e o minimalismo do conceito <strong>de</strong> leitura como sinônimo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>codificação dos sinais gráfico existentes em um texto.<br />

Segundo Antunes (2003, p.67):<br />

“A ativida<strong>de</strong> da leitura completa a ativida<strong>de</strong> da produção escrita. É,<br />

por isso, uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação entre sujeitos, e supõe muito<br />

mais do que a simples <strong>de</strong>codificação dos sinais gráficos. O leitor,<br />

como um dos sujeitos da interação, atua participativamente,<br />

buscando recuperar, buscando interpretar e compreen<strong>de</strong>r o conteúdo<br />

e as intenções pretendidos pelo autor”.<br />

Isso posto, temos na leitura uma prática social , em que o falante se<br />

insere e se marca sócio historicamente, em meio a contextos e situações<br />

específicas, construindo assim relações <strong>de</strong> sentido que extrapolam o nível<br />

superficial <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificação , sendo o texto portanto ponto <strong>de</strong> contato que<br />

instaura o diálogo entre autor e leitor.<br />

Po<strong>de</strong>mos verificar que <strong>de</strong>ntro do âmbito escolar, algumas práticas <strong>de</strong><br />

letramentos são mais valorizadas, <strong>de</strong>ntre elas a leitura literária, a qual se vale<br />

<strong>de</strong> textos literários e obras canônicas como manifestação <strong>de</strong> sua materialida<strong>de</strong>.<br />

Prestam-se, no entanto a ativida<strong>de</strong>s cuja função é muito mais impositiva e<br />

“castradora” do que prazerosa produtora <strong>de</strong> efeitos <strong>de</strong> sentido e conhecimento,<br />

tomando o texto como pretexto para avaliar o aluno.<br />

4


Menegassi (2005), no texto A formação do leitor, evi<strong>de</strong>ncia quatro<br />

processos que compõem o ato <strong>de</strong> ler. São eles: <strong>de</strong>codificação, compreensão,<br />

interpretação e retenção. A <strong>de</strong>codificação aparece como a primeira das etapas<br />

elencadas para a realização do processo <strong>de</strong> leitura, não sendo, portanto, a<br />

única como muitas vezes atesta o senso comum. É por meio <strong>de</strong>ssa etapa que<br />

se dá o reconhecimento dos signos linguísticos usados e arranjados na<br />

disposição textual e as relações estabelecidas com o significado.<br />

Depois da <strong>de</strong>codificação, a compreensão é a etapa na qual o leitor po<strong>de</strong><br />

reconhecer os conteúdos abordados no texto, <strong>de</strong>vendo possuir a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

verificação do modo <strong>de</strong> construção do texto em níveis sintáticos e semânticos.<br />

A interpretação, terceira etapa do processo <strong>de</strong> leitura, configura-se como<br />

momento em que o leitor faz uso <strong>de</strong> seus conhecimentos prévios e <strong>de</strong> mundo<br />

para a concretização <strong>de</strong> hipóteses, <strong>de</strong> inferências, confirmando-as ou<br />

<strong>de</strong>sconstruindo essas mesmas hipóteses ao longo do texto. Por fim e não<br />

menos importante, a retenção é a etapa responsável pela verificação do<br />

conteúdo armazenado pelo leitor, do que consi<strong>de</strong>rou mais relevante. Opera em<br />

dois níveis: retenção do processamento da compreensão e retenção do<br />

processamento da interpretação. Este último possui caráter <strong>de</strong> maior<br />

profundida<strong>de</strong>, visto que trabalha com uma modificação do conhecimento prévio<br />

trazido pelo leitor para <strong>de</strong>ntro do campo textual, ao passo que o primeiro<br />

apresenta apenas a memorização do que foi passado, sem a realização <strong>de</strong><br />

uma análise crítica.<br />

Enxergamos entre essa abordagem e o conceito <strong>de</strong> leitura literária um<br />

diálogo possível, dada a caracterização segundo as palavras <strong>de</strong> Hansen:<br />

4 Teatro: raízes, tons e nuances<br />

Para que uma leitura se especifique com leitura literária é consensual<br />

que o leitor <strong>de</strong>va ser capaz <strong>de</strong> ocupar a posição semiótica <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>stinatário do texto, refazendo os processos autorais <strong>de</strong> invenção<br />

que produzem o efeito <strong>de</strong> fingimento, o leitor <strong>de</strong>ve coincidir com o<br />

<strong>de</strong>stinatário do texto para receber a informação <strong>de</strong> modo a<strong>de</strong>quado.<br />

(HANSEN, 2005, p.19-20).<br />

Passamos então a um segundo momento <strong>de</strong>ntro do excerto. Posta a<br />

primeira parte, composta pela apresentação do projeto, seus<br />

objetivos,implicações e conceitos primordiais, a<strong>de</strong>ntramos em um novo plano,<br />

apresentando agora o objeto <strong>de</strong> ensino , a ferramenta utilizada como<br />

5


mecanismo <strong>de</strong> atuação e modificação da proposta <strong>de</strong> aula a partir dos padrões<br />

interacionistas,a consi<strong>de</strong>rar a bagagem trazida pelo aluno , pautando a<br />

elaboração das aulas a partir da necessida<strong>de</strong> aprendizado, sendo então o<br />

professor uma ponte entre aluno e conhecimento, um facilitador, a contribuir<br />

para que o aluno possa <strong>de</strong>vidamente conhecer o assunto passado.<br />

As origens <strong>de</strong>ssa arte remontam ao berço da civilização oci<strong>de</strong>ntal, a<br />

Grécia antiga. Rendiam-se festas e oferendas ao Deus Dionísio (Baco), e<br />

nessas festas eram encenadas tragédias e comédias. Cantavam-se nessas<br />

comemorações as chamadas Dionisíacas (ditirambos), precursores da<br />

teatralida<strong>de</strong>.<br />

5 E no Brasil?Como o gênero dramático <strong>de</strong>spontou e fixou suas raízes?<br />

O teatro Brasileiro viu seu <strong>de</strong>sabrochar quando da vinda da Corte<br />

portuguesa para o Rio <strong>de</strong> Janeiro. Com a família real <strong>de</strong>sembarcaram artistas,<br />

técnicos e intelectuais que consi<strong>de</strong>ravam fundamental frequentar o teatro, e<br />

tinham por finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver a cultura nesta terra que agora se fazia<br />

importante frente à metrópole europeia. Logo <strong>de</strong>pois, com a in<strong>de</strong>pendência em<br />

1822, e espelhando-se inicialmente nos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> produção advindos do<br />

exterior, iniciam-se os esforços para traçar seu próprio percurso e história, o<br />

que será, um pouco adiante, uma das linhas <strong>de</strong> força do romantismo brasileiro.<br />

Dentre as modalida<strong>de</strong>s artísticas que ainda engatinhavam estava o<br />

teatro, cujo <strong>de</strong>senvolvimento passou a se dar <strong>de</strong> modo mais significativo com a<br />

vinda da família real portuguesa para as terras brasileiras, trazendo consigo,<br />

além incentivos monetários, intelectuais com o intuito <strong>de</strong> promover cultura e,<br />

até mesmo, no âmbito da corte, um público acostumado com o teatro. No<br />

entanto, esse era o momento em que a prosa, especialmente o romance (e,<br />

mais específico ainda, o romance-folhetim), consolidava-se como a forma <strong>de</strong><br />

expressão mais afeita ao cenário burguês, <strong>de</strong>ixando o teatro em segundo plano<br />

antes mesmo <strong>de</strong> sua afirmação como gênero literário.<br />

6 Simplesmente Nelson<br />

Nelson Falcão Rodrigues nasceu no dia 23 <strong>de</strong> agosto do ano <strong>de</strong> 1912,<br />

na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Recife, Pernambuco. Quinto filho <strong>de</strong> uma numerosa família, teve<br />

6


<strong>de</strong>s<strong>de</strong> pequeno aguçado talento para os escritos, valendo-se do cotidiano que<br />

o cercava, os conflitos e dramas vividos pelas mulheres, a vida corriqueira. Foi<br />

autor <strong>de</strong> 17 peças e 9 romances. Dentre as peças, <strong>de</strong>staca-se Vestido <strong>de</strong><br />

Noiva, produção <strong>de</strong> maior sucesso em sua carreira, montada pelo polonês<br />

Ziembinski, no ano <strong>de</strong> 1943. Figurando sempre entre os dois lados da moeda,<br />

foi tido como gênio e louco, moralista e <strong>de</strong>pravado, obteve sucesso e <strong>de</strong>sprezo.<br />

7 A Falecida: Cortinas abertas para Nelson<br />

A peça A Falecida (1953), <strong>de</strong> Nelson Rodrigues, solicitada pelo PAS<br />

(Programa <strong>de</strong> Avaliação Seriada) da UEM figura como oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

possibilitar aos jovens estudantes <strong>de</strong> Ensino Médio uma “nova” leitura,<br />

diferente do que os estudantes das escolas públicas estão acostumados. A<br />

leitura <strong>de</strong> uma peça teatral amplia as perspectivas do aluno ao se relacionar<br />

com a literatura e com o mundo ficcional. O teatro, enquanto, literatura tem o<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> emancipar o homem, <strong>de</strong> propiciar ao sujeito questionamentos acerca<br />

da socieda<strong>de</strong> e do espaço em que ele está inserido. <strong>Uma</strong> proposta <strong>de</strong> leitura<br />

dramática, abordando a peça A Falecida, <strong>de</strong> Nelson Rodrigues, busca<br />

certamente oportunizar ao aluno um melhor entendimento da peça para a<br />

realização da prova do PAS, bem como, ampliar seu horizonte acerca das<br />

possibilida<strong>de</strong>s textuais encontradas na materialida<strong>de</strong> cênica por meio <strong>de</strong> uma<br />

leitura literária da peça. De tal maneira, a escolha <strong>de</strong> um texto dramático é<br />

bastante oportuna se consi<strong>de</strong>rarmos as suas características particulares ao<br />

gênero.<br />

O texto dramático tem como essência a ação, a dinamicida<strong>de</strong> e a flui<strong>de</strong>z<br />

garantindo uma leitura mais envolvente e motivadora para os estudantes <strong>de</strong><br />

Ensino Médio, que hoje acham em filmes <strong>de</strong> cinema e TV, na Internet e em<br />

outros meios <strong>de</strong> comunicação formas ficcionais mais atraentes <strong>de</strong> rápido<br />

consumo. Imediatismo da socieda<strong>de</strong> – ninguém quer apostar em algo cujos<br />

resultados são <strong>de</strong>morados e muitas vezes incertos. Conquanto, o teatro<br />

também em o seu lugar na socieda<strong>de</strong>, e o gênero dramático encontra-se<br />

difundido no meio social sob outras formas.<br />

A teatralida<strong>de</strong> está presente em diferentes meios <strong>de</strong> comunicação sendo<br />

que “através dos veículos <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> massa, o drama transformou-se<br />

7


em um dos mais po<strong>de</strong>rosos meios <strong>de</strong> comunicação entre os seres humanos”<br />

(Esslin, 1978 apud PASCOLATI, 2009, p.93). Em oposição aos gêneros<br />

literários frequentemente cultivados <strong>de</strong>ntro do ambiente escolar, entre eles o<br />

romance, conto, crônica e poesia o teatro, enquanto gênero literário tem uma<br />

particularida<strong>de</strong> que permite aproximar o estudante <strong>de</strong> Ensino Médio da leitura<br />

<strong>de</strong> textos literários; a leitura dramática.<br />

Define-se drama “toda obra dialogada em que se atuarem os próprios<br />

personagens, sem serem em geral apresentados por um narrador”<br />

(ROSENFELD, 2000, p. 17). Grosso modo, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>finir, portanto, leitura<br />

dramática como a leitura em voz alta do texto teatral impresso interpretado ou<br />

dramatizado através <strong>de</strong> inflexões vocais e gestos faciais econômicos (Maciel,<br />

2008). Isso significa que a leitura <strong>de</strong> um texto dramático pressupõe que seu<br />

leitor domine certas regras que regem a escrita dramática. Só para ilustrar,<br />

atenção máxima a flui<strong>de</strong>z dos diálogos, às indicações cênicas para a<br />

constituição das personagens e dos espaços on<strong>de</strong> as ações se <strong>de</strong>senrolam.<br />

Nessa perspectiva, o estudo do texto dramático po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>svinculado<br />

da representação cênica, sendo focado apenas na sua literalida<strong>de</strong>, através do<br />

qual o leitor possa reconstruir os significados do texto que extrapolam a leitura<br />

superficial ou a interpretação literal. Pensando nisso, é importante partimos <strong>de</strong><br />

início com uma leitura contextualizada. Fornecer, portanto, as ferramentas<br />

necessárias para que se possa construir as personagens e a ambientação da<br />

peça.<br />

Tendo isso constituído, o segundo passo seria trabalhar com os<br />

elementos que envolvem uma leitura dramática. Para que uma leitura<br />

dramática aconteça, faz-se necessário o conhecimento sobre como um texto<br />

<strong>de</strong>sse gênero se organiza. Quais são os recursos que o dramaturgo se vale<br />

mão para <strong>de</strong>senvolver a ação.<br />

A peça A falecida (1953), é a primeira tragédia carioca <strong>de</strong> Nelson<br />

Rodrigues. Foi apresentada no teatro no mesmo ano <strong>de</strong> sua publicação. E<br />

causa gran<strong>de</strong> alvoroço no cenário do teatro nacional. Nelson com notável<br />

astúcia nos apresenta Zulmira, a falecida. <strong>Uma</strong> mulher que acredita piamente<br />

que morrerá logo e precisa organizar o seu velório e enterro ostentando luxo e<br />

8


iqueza, apesar <strong>de</strong> ser apenas uma cidadã suburbana moradora da zona norte<br />

do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Dirigido por José Maria Monteiro, com a Companhia<br />

Dramática Nacional - CDN, tendo Sônia Oiticica e Sergio Cardoso como<br />

protagonistas. Gran<strong>de</strong> sucesso <strong>de</strong> bilheteria, A falecida continua contagiando<br />

leitores e espectadores <strong>de</strong> todos os cantos por seu realismo e sua sutileza<br />

incomparáveis.<br />

Conhecer as formas como a peça foi inicialmente montada é o segundo<br />

passo para que efetive uma boa leitura dramática. No processo <strong>de</strong> leitura do<br />

texto dramático, os alunos estariam interagindo com o texto, com eles mesmos<br />

e reconstruindo seus significados. A experiência com a leitura dramática,<br />

conforme afirma Carvalho (2010) permite aos estudantes se posicionarem<br />

diante do texto e estabelecerem relações com seu próprio espaço,<br />

evi<strong>de</strong>nciando assim uma prática altamente letrada. E é através <strong>de</strong> uma leitura<br />

dramática que o texto se atualiza.<br />

Atualizar o texto é uma prática que só po<strong>de</strong> ocorrer quando o sujeito<br />

está familiarizado com a forma teatral. Desse modo, emerge como aspecto<br />

importante a ser tratado é a linguagem teatral. A linguagem teatral configura-se<br />

como manifestação oral no plano ficcional. Para tanto, ela é, em alguns casos,<br />

mais natural e próxima da oralida<strong>de</strong>, contendo expressões coloquiais, dialetos<br />

etc. Os diálogos ten<strong>de</strong>m a ter mais características <strong>de</strong> manifestações orais,<br />

como o aparecimento <strong>de</strong> expressões idiomáticas, gírias, coloquialismos,<br />

regionalismos, estrangeirismo nas falas das personagens (“Alão; pimba, ora<br />

pipocas; angu <strong>de</strong> caroço; all right”.). É justamente nessa relação que o texto<br />

dramático <strong>de</strong>senvolve com a escrita e oralida<strong>de</strong> que fica pressuposta uma<br />

i<strong>de</strong>ntificação maior por parte do leitor com a linguagem <strong>de</strong>sta peça, em<br />

<strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outros textos literários canônicos escritos em prosa ou verso.<br />

8 <strong>Uma</strong> possível conclusão<br />

Vimos ao longo <strong>de</strong>sse percurso sócio-histórico que o teatro emerge<br />

como arte em nosso país em um espaço relativamente tardio. Tímido, vai se<br />

esgueirando por entre as fendas do conservadorismo, pedindo espaço em meio<br />

às formas privilegiadas. De modo ainda mais recente e surpreen<strong>de</strong>nte, por<br />

meio da liberda<strong>de</strong> contida em sua essência mórfica e sua abrangência<br />

9


temática, instaura-se como ferramenta capaz <strong>de</strong> ultrapassar as barreiras da<br />

ignorância, da indisciplina e da ociosida<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong> aprendizagem. Por<br />

meio do diálogo e da interação, permite que o indivíduo se aproprie da<br />

linguagem em seu modo mais pleno, abrindo-lhe os sentidos para a extensão<br />

<strong>de</strong> seu corpo como produtor <strong>de</strong> significação, <strong>de</strong> diferentes intenções.<br />

Apostando em uma interação entre professor,texto e leitor, acreditamos<br />

ser possível uma maior fixação do conteúdo e das entrelinhas dos textos por<br />

meio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> com parcelas <strong>de</strong> elementos lúdicos e estímulos corretos para<br />

a construção <strong>de</strong> um leitor crítico, que possa questionar a veracida<strong>de</strong> e as<br />

correlações que lhe são apresentadas em seu contexto <strong>de</strong> sala, <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong><br />

mundo.<br />

Referências Bibliográficas<br />

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