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A resistência: elemento normal de toda neurose<br />
para que todo pesquisador interessado possa verificar? Aprender-se-ia assim alguma coisa,<br />
compreender-se-ia melhor o que é preciso fazer, observando aquilo que funciona mal.<br />
De fato, mesmo que a língua esteja em uso há mais de um século, não existe um<br />
único documento que, partindo da observação do real, conclua pela rejeição do esperanto.<br />
Lá se vão quarenta anos que eu coleciono os artigos, discursos de políticos e obras diversas<br />
que tratam da questão. A grande maioria desses textos preconiza a rejeição da língua e a<br />
trata em termos depreciativos. Mas nem um único faz a comparação com os outros sistemas<br />
de comunicação internacional. Há uma correlação positiva absoluta entre “documento<br />
sustentado por fatos verificáveis” e “favorável ao esperanto”, por um lado, e entre “não<br />
contendo qualquer referência à realidade” e “desfavorável ao esperanto” por outro lado. A<br />
partir do momento em que um autor observou os fatos, suas conclusões foram favoráveis. 17<br />
Se eu ouso ser tão categórico, é porque fui consciencioso em minhas pesquisas. Eu<br />
escrevi para centenas de autores que formularam afirmações sobre o esperanto com um tom<br />
de indubitável competência, para perguntar-lhes quais eram suas fontes. Poucos me responderam,<br />
e os que o fizeram nunca puderam justificar seus dizeres: eles se desculparam por<br />
haverem se exprimido sem verificar o bom embasamento de suas afirmações, as quais lhes<br />
pareciam evidentes. Eu também fiz apelos em revistas especializa<strong>das</strong> para que se me<br />
fizessem conhecer fatos ou testemunhos corroborando os diversos defeitos que geralmente<br />
se imputam ao esperanto. Ninguém respondeu a eles.<br />
É possível que eu me engane: eu não pretendo ter a razão. Eu simplesmente digo<br />
que se publicam muitas afirmações negativas sobre a língua de Zamenhof, mas que em<br />
quatro déca<strong>das</strong> de pesquisas minuciosas, eu não consegui encontrar um único documento<br />
que baseasse tais afirmações na observação ou no estudo. A rejeição do esperanto é, em<br />
minha experiência, sempre a priori. Dito isso, como uma pessoa sozinha, mesmo que muito<br />
motivada, não pode ler to<strong>das</strong> as publicações pertinentes num mundo em que as edições se<br />
sucedem num ritmo vertiginoso, eu renovo aqui meu apelo. Eu serei grato a todo leitor que<br />
me fizer conhecer um relatório de pesquisa, um resultado de investigação, uma análise de<br />
linguista, uma reportagem, enfim, um texto circunstanciado apresentando to<strong>das</strong> as garantias<br />
de seriedade e de objetividade normalmente admiti<strong>das</strong> em ciências humanas, cuja conclusão<br />
seria a de que o esperanto funciona menos bem, como meio de comunicação entre<br />
estrangeiros, que o inglês, que a interpretação simultânea ou qualquer outro sistema. Ou que<br />
a aplicação dos critérios normalmente utilizados em literatura comparada situe a literatura<br />
original publicada na língua de Zamenhof em um nível inferior àquele da maior parte <strong>das</strong><br />
outras literaturas durante os cem primeiros anos de suas existências.<br />
Com os meios modernos, não é difícil documentar-se sobre um dado assunto. Eis<br />
porque, se existe um estudo sério demonstrando a ineficácia do esperanto, sua falta de<br />
vitalidade, sua inexpressividade ou seu impacto anticultural, é improvável que me tenha<br />
podido passar despercebido. O que se encontra normalmente, contudo, são julgamentos<br />
feitos de modo incisivo, em total discrepância em relação à realidade que todo pesquisador<br />
honesto pode verificar. Como esses julgamentos são quase sempre emitidos de boa fé,<br />
17 O documento mais recente publicado nesse sentido é a obra de Lilli Papaloïzos Ethnographie de la<br />
communication dans un milieu social exolingue: Le Centre culturel espérantiste de La Chaux-de-Fonds<br />
(Berna: Peter Lang, 1992, 254 pp.).<br />
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