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Algumas propostas razoáveis<br />
Eis aqui um exemplo. Existem quatro a seis formas de traduzir, na maior parte <strong>das</strong><br />
línguas, a frase “vous l’aimez plus que moi” (você a ama mais que eu), se só se leva em<br />
conta o aspecto gramatical da frase (com o aspecto semântico – a distinção entre “aimer<br />
d’amour”, inglês to love, e “aimer par goût”, inglês to like – seria preciso dobrar o número<br />
de possibilidades). O aluno de esperanto terá sido obrigado a distinguir as seis fórmulas,<br />
como segue:<br />
1) você ama mais esse homem do que você me ama: vi amas lin pli ol min;<br />
2) você ama mais esse homem do que eu o amo: vi amas lin pli ol mi;<br />
3) você ama mais essa mulher do que você me ama: vi amas ŝin pli ol min;<br />
4) você ama mais essa mulher do que eu a amo: vi amas ŝin pli ol mi;<br />
5) você ama mais esse animal ou essa coisa do que você me ama: vi amas ĝin pli ol min;<br />
6) você ama mais esse animal ou essa coisa do que eu o/a amo: vi amas ĝin pli ol mi;<br />
Em esperanto, o sistema é simples e regular: o sujeito do amor é designado por um<br />
pronome terminando em -i, o objeto do amor por um pronome terminando em -in. Além do<br />
mais, ele é uma língua na qual não há gênero, mas na qual o pronome varia na terceira<br />
pessoa conforme se trate de um homem, de uma mulher ou de uma coisa. (Para simplificar,<br />
eu classifiquei os animais com as coisas; de fato, pode-se lhes atribuir o pronome masculino<br />
ou feminino se queremos indicar que damos importância a seu sexo). Essa ausência de<br />
gênero se encontra em inglês, mas na língua de Shakespeare o aluno tem uma tarefa mais<br />
complicada, visto que ele tem que aprender variações irregulares, por exemplo I → me, she<br />
→ her. O esperanto torna a precisão gramatical transparente, mas não obriga nada além<br />
daquilo que é necessário à clareza. Ele é baseado no princípio do “necessário e suficiente”.<br />
De fato, a aprendizagem de um língua nova compreende um aspecto intelectual, um<br />
aspecto motor e um aspecto afetivo.<br />
No plano intelectual, duas operações são sempre indispensáveis, descondicionar-se e<br />
recondicionar-se: desembaraçar-se dos reflexos da língua materna, e adquirir aqueles que<br />
caracterizam a expressão na língua estrangeira.<br />
No plano motor, a mesma coisa: os movimentos da língua, dos lábios, do velo do<br />
palato e outros órgãos fonatórios variam de uma língua para outra. É preciso então se<br />
desfazer dos hábitos motores ancorados no sistema nervoso desde a primeira infância para<br />
aprender um estilo de movimentos até ali desconhecidos.<br />
No plano afetivo, uma atitude positiva revela-se indispensável: sentir-se bem nessas<br />
operações delica<strong>das</strong> de recondicionamento, experimentar um sentimento de segurança, não<br />
se sentir inferior ou ridículo, assumir um novo personagem e ao mesmo tempo permanecer<br />
você mesmo.<br />
O ensino atual não leva suficientemente em conta essas realidades psicológicas.<br />
Intelectualmente, faz-se passar o aluno diretamente de um sistema complexo, rígido<br />
e arbitrário a outro sistema igualmente complexo, rígido e arbitrário, sem nada fazer para<br />
facilitar de maneira concreta a articulação entre os dois sistemas. A mesma observação vale<br />
para o plano motor.<br />
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