Revista Santa Cruz Ano 74 - 2010 - outubro/dezembro
Revista Santa Cruz Ano 74 - 2010 - outubro/dezembro
Revista Santa Cruz Ano 74 - 2010 - outubro/dezembro
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
era algo surpreendente. A missa<br />
das 18h, presidida por frei Basílio,<br />
era tão frequentada que não havia<br />
lugar para todos, mesmo de pé.<br />
RSC: Segundo o testemunho de<br />
alguém da comunidade de Santos<br />
Dumont, o senhor “sempre apoiou os<br />
movimentos sociais que buscavam<br />
dar melhores condições de vida às<br />
famílias da área urbana e rural. Por<br />
esse motivo, não era bem entendido<br />
pelos políticos demagogos da época.”<br />
Afi nal, o senhor teve atritos com<br />
políticos, nos lugares onde trabalhou?<br />
Frei Antônio: De 1980 a 1985,<br />
trabalhei em Santos Dumont.<br />
Foi gratifi cante como o povo dali<br />
aderiu às diversas propostas de<br />
evangelização. E na parte social<br />
havia uma longa experiência da<br />
comunidade em acolher os mais<br />
pobres. Em apoio e defesa de uma<br />
turma de moradores que viam<br />
literalmente suas casas deslizarem<br />
morro abaixo, arranjei uma rixa<br />
com o prefeito da época. De ambas<br />
as partes vieram adjetivos pouco<br />
elogiosos. Tempos depois tentaram<br />
afastar-me da cidade, através da<br />
ação do DOPS. Mas quando os<br />
policiais de Belo Horizonte vieram<br />
para verifi car a situação, perceberam<br />
que a realidade era bem diferente<br />
e me deixaram quietinho. Em<br />
Ipatinga, pela atuação pastoral e<br />
pelo apoio a sindicatos combativos,<br />
arranjamos alguns inimigos tanto<br />
de políticos da direita como de<br />
diretores da Usiminas.<br />
RSC: Sua chegada ao Brasil, em 1962,<br />
coincidiu com o início do Concílio<br />
Vaticano II. Como foi sua experiência<br />
pastoral e a receptividade da parte<br />
dos frades e da Igreja do Brasil, face<br />
às ‘novidades’ do Concílio?<br />
Frei Antônio: Quando cheguei,<br />
já havia alguma experiência do<br />
Movimento Litúrgico que buscava<br />
as origens dos costumes. O que<br />
me marcou muito foi a descoberta<br />
de que a Igreja não é a hierarquia,<br />
mas o povo de Deus. Em vários<br />
lugares fi z de tudo para que o<br />
povo assumisse o seu real lugar.<br />
Houve muita formação. A ‘política’<br />
era deixar o povo assumir sua<br />
responsabilidade. Escutar, resolver<br />
juntos, com bastante fl exibilidade,<br />
as questões. O estilo das CEBs, onde<br />
fé e vida são bem conjugadas, vem<br />
ao encontro dessa eclesiologia do<br />
Vaticano II. A meu ver, esta vivência<br />
da eclesiologia do Vaticano<br />
II foi mais acentuada, na minha<br />
experiência de Ipatinga. E mais<br />
tarde também em Roraima. Pelo<br />
que pude observar, a recepção da<br />
nova eclesiologia teve uma certa<br />
difi culdade no Brasil. Ela começou<br />
<strong>Revista</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> - 141