Pensar o Ambiente - Ministério da Educação
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conseqüências, estas consistem, em princípio, em uma nova e interminável cadeia de<br />
acontecimentos, cujo resultado final o ator é absolutamente incapaz de conhecer ou<br />
controlar de antemão. O máximo que ele pode ser capaz de fazer é forçar as coisas<br />
em uma certa direção, e mesmo disso jamais pode estar seguro. Nenhuma dessas<br />
características se acha presente na fabricação. Face à futili<strong>da</strong>de e fragili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ação<br />
humana, o mundo erigido pela fabricação é de duradoura permanência e tremen<strong>da</strong><br />
solidez. Apenas na medi<strong>da</strong> em que o produto final <strong>da</strong> fabricação é incorporado ao<br />
mundo humano, onde sua utilização e eventual “história” nunca podem ser inteiramente<br />
previstas, inicia a fabricação de um processo cujo resultado não pode ser<br />
inteiramente previsto e que está, portanto, além do controle de seu autor. Isso significa<br />
simplesmente que o homem nunca é exclusivamente homo faber e que mesmo<br />
o fabricante permanece ao mesmo tempo um ser que age, que inicia processos onde<br />
quer que vá e com o que quer que faça.<br />
Até nossa época a ação humana, como seus processos artificiais, confinou-se ao<br />
mundo humano, ao mesmo tempo que a preocupação dominante do homem, em relação<br />
à natureza, consistia em utilizar seu material na fabricação, erigir com ela artefato<br />
humano e defendê-lo contra a avassaladora força dos elementos. No momento em<br />
que iniciamos processos naturais por conta própria – e a fissão do átomo é precisamente<br />
um destes processos naturais efetuados pelo homem – não somente ampliamos<br />
nosso poder sobre a natureza ou nos tornamos mais agressivos em nosso trato com<br />
as forças terrenas <strong>da</strong><strong>da</strong>s, mas, pela primeira vez, introduzimos a natureza no mundo<br />
humano como tal, obliterando as fronteiras defensivas entre os elementos naturais e<br />
o artefato humano, nas quais to<strong>da</strong>s as civilizações anteriores se encerravam. 8<br />
Os perigos desse agir na natureza são óbvios, desde que admitamos como<br />
parte integrante <strong>da</strong> condição humana as menciona<strong>da</strong>s características <strong>da</strong> ação humana.<br />
Impredizibili<strong>da</strong>de não é falta de previsão, e nenhuma gerência técnica dos negócios<br />
humanos será capaz de eliminá-la, do mesmo modo que nenhum treinamento<br />
em prudência pode conduzir à sabedoria de conhecer o que se faz. Unicamente o<br />
total condicionamento, vale dizer, a total abolição <strong>da</strong> ação pode almejar algum dia<br />
fazer face à impredizibili<strong>da</strong>de. E mesmo a predizibili<strong>da</strong>de do comportamento humano,<br />
que o terror político pode impor por períodos de tempo relativamente longos,<br />
dificilmente é capaz de alterar a essência mesma dos problemas humanos de uma<br />
vez por to<strong>da</strong>s; jamais pode estar segura de seu próprio futuro. A ação humana, como<br />
18 Ninguém pode deixar de se impressionar, ao contemplar o que resta <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des antigas ou medievais,<br />
com a finali<strong>da</strong>de com que as suas muralhas as separavam <strong>da</strong> natureza circun<strong>da</strong>nte, fosse ela constituí<strong>da</strong> de<br />
paisagens aprazíveis ou agrestes. A moderna construção urbana, ao contrário, visa a “paisagizar” e urbanizar<br />
áreas inteiras. Onde a distinção entre ci<strong>da</strong>de e campo se torna ca<strong>da</strong> vez mais apaga<strong>da</strong>. Essa tendência<br />
poderia vir a conduzir ao desaparecimento <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, mesmo como as conhecemos hoje.<br />
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