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Interpretação de textos Prof. Dalvani profguri@gmail.com ... - ALUB

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 1<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

PRINCIPAIS TÓPICOS DE ESTUDOS<br />

COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS<br />

COERÊNCIA E COESÃO<br />

SEMÂNTICA<br />

NÍVEIS DE LINGUAGEM<br />

VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS<br />

FORMA E CONTEÚDOS OS TEXTOS<br />

FUNÇÕES DA LINGUAGEM<br />

FIGURAS DE LINGUAGEM<br />

VÍCIOS DE LINGUAGEM<br />

TIPOLOGIA TEXTUAL<br />

GÊNEROS TEXTUAIS<br />

INTERTEXTUALIDADE<br />

EQUIVALÊNCIA E TRANDFORMAÇÃO DE ESTRUTURAS<br />

PROCESSOS DE COESÃO TEXTUAL<br />

TIPOS DE PARALELISMO<br />

COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS<br />

Em provas <strong>de</strong> concursos, os candidatos que não<br />

têm o hábito <strong>de</strong> ler ou que não <strong>com</strong>preen<strong>de</strong>m um texto,<br />

não têm êxito nas outras matérias também. É bastante<br />

<strong>com</strong>um encontrar aqueles que não sabem ler os<br />

enunciados e não <strong>com</strong>preen<strong>de</strong>m o que está sendo pedido<br />

que se faça.<br />

A <strong>com</strong>preensão e a interpretação dos <strong>textos</strong><br />

<strong>de</strong>vem ser a base dos estudos, tendo em vista que o<br />

<strong>de</strong>sempenho da leitura interfere na aprendizagem <strong>de</strong><br />

todas as outras matérias, além <strong>de</strong> promover a<br />

socialização e a cidadania do candidato-leitor. O bom<br />

leitor sabe selecionar o que <strong>de</strong>ve ler e que efetivamente<br />

po<strong>de</strong> contribuir para sua <strong>com</strong>preensão sobre a<br />

<strong>com</strong>plexida<strong>de</strong> do mundo atual.<br />

Interpretar é criar sentido, pois toda<br />

interpretação provoca a criação <strong>de</strong> “outro texto”. Cada<br />

leitor é um sujeito singular, que utiliza diferentes<br />

estratégias (sua experiência prévia, suas crenças, seus<br />

conflitos, suas expectativas e suas relações <strong>com</strong> o<br />

mundo) para dar sentido ao que lê, sem, no entanto,<br />

eliminar o sentido original do texto. Cabe, porém,<br />

ressaltar que é quase impossível <strong>de</strong>terminar o grau <strong>de</strong><br />

fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um leitor em relação ao texto original.<br />

O ato <strong>de</strong> interpretar possibilita a construção <strong>de</strong><br />

novos conhecimentos a partir daqueles que existem<br />

previamente na memória do leitor. Esses conhecimentos<br />

são ativados e confrontados <strong>com</strong> as informações do<br />

texto, permitindo-lhe atribuir coerência àquilo que está<br />

lendo.<br />

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Procedimentos para uma leitura eficaz:<br />

1. Leia todo o texto, <strong>com</strong> atenção, procurando<br />

enten<strong>de</strong>r o seu sentido geral.<br />

2. I<strong>de</strong>ntifique as i<strong>de</strong>ias o texto (cada parágrafo<br />

contém uma i<strong>de</strong>ia central e outras secundárias),<br />

estabelecendo as relações entre as partes.<br />

3. Procure <strong>com</strong>preen<strong>de</strong>r todos os vocábulos e<br />

expressões. Muitas vezes, o próprio texto já fornece o<br />

significado da palavra. Mas, na medida do possível, use o<br />

dicionário sempre que estiver lendo, pois <strong>com</strong> isso<br />

aumentará os seus conhecimentos e ampliará o seu<br />

vocabulário. Lembre-se <strong>de</strong> que é bastante frequente a<br />

cobrança do significado (tanto literal quanto contextual)<br />

das palavras nessas provas.<br />

4. Leia atentamente as instruções para a resolução<br />

das questões – analise <strong>com</strong> cuidado o que cada<br />

enunciado pe<strong>de</strong>. Muitas vezes, o erro é proveniente do<br />

<strong>de</strong>scuido (da pressa) na hora <strong>de</strong> ler as questões<br />

(principalmente se quando se subestima as informações<br />

dos <strong>com</strong>andos).<br />

Comandos para <strong>com</strong>preensão <strong>de</strong> <strong>textos</strong><br />

Esses <strong>com</strong>andos baseiam-se em verbos que indicam<br />

ações visuais, ou seja, orientam o candidato às i<strong>de</strong>ias<br />

explícitas. Por exemplo:<br />

Percebe-se que... Constata-se que...<br />

Observa-se que... O texto informa que...<br />

O narrador do texto diz que...<br />

Segundo o texto, é correto (incorreto) dizer que...<br />

Comandos para interpretação <strong>de</strong> <strong>textos</strong><br />

Esses <strong>com</strong>andos baseiam-se verbos que indicam<br />

inferências, ou seja, orientam o candidato às i<strong>de</strong>ias<br />

implícitas. Por exemplo:<br />

Depreen<strong>de</strong>-se do texto que...<br />

Subenten<strong>de</strong>-se das i<strong>de</strong>ias e informações do texto que...<br />

A partir das i<strong>de</strong>ias do texto, infere-se que...<br />

O texto permite <strong>de</strong>duzir que...<br />

Po<strong>de</strong>-se concluir do texto que...<br />

A intenção do narrador é...<br />

Comandos para medir conhecimentos gerais<br />

Esses <strong>com</strong>andos visam testar o conhecimento do<br />

candidato a respeito do assunto abordado no texto.<br />

Enfocando o assunto (tema, tese) abordado no texto...<br />

Consi<strong>de</strong>rando a amplitu<strong>de</strong> do tema abordado no texto...<br />

Tendo o texto <strong>com</strong>o referência inicial...<br />

Comandos para medir conhecimentos linguísticos<br />

Esses <strong>com</strong>andos visam testar o conhecimento gramatical<br />

do candidato e po<strong>de</strong>m abordar assuntos <strong>de</strong> morfologia,<br />

<strong>de</strong> sintaxe, <strong>de</strong> semântica, <strong>de</strong> estilística, <strong>de</strong> coesão ou <strong>de</strong><br />

coerência.<br />

Consi<strong>de</strong>rando as estruturas linguísticas do texto, ...<br />

Assinale a alternativa que apresenta erro gramatical.<br />

Aponte a construção que foge aos preceitos da norma<br />

culta.<br />

Com relação aos aspectos gramaticais do texto, ...<br />

Aponte a opção que preserva a manutenção do<br />

registro da norma culta da língua portuguesa.<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 2<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

Erros frequentes na leitura <strong>de</strong> <strong>textos</strong><br />

1. Extrapolação – consiste em acrescentar<br />

informações ausentes no texto original ou mesmo aplicálo<br />

em outros con<strong>textos</strong>.<br />

2. Redução – ocorre quando o leitor diminui as<br />

informações ou a intensida<strong>de</strong> do texto.<br />

3. Inversão – acontece quando o leitor per<strong>de</strong><br />

passagens do <strong>de</strong>senvolvimento do texto ou altera a<br />

orientação <strong>de</strong> seu sentido (fato que po<strong>de</strong> levá-lo a<br />

conclusões opostas às expressas pelo autor).<br />

COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAIS<br />

Coerência e coesão textuais são dois conceitos<br />

importantes para uma melhor <strong>com</strong>preensão do texto e<br />

para a melhor escrita <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> redação <strong>de</strong><br />

qualquer área.<br />

A coerência diz respeito à or<strong>de</strong>nação das i<strong>de</strong>ias e dos<br />

argumentos, ou seja, aborda a relação lógica entre<br />

i<strong>de</strong>ias, situações ou acontecimentos, apoiando-se, por<br />

vezes, em mecanismos formais, <strong>de</strong> natureza gramatical<br />

ou lexical, e no conhecimento <strong>com</strong>partilhado entre os<br />

usuários da língua. Po<strong>de</strong>-se dizer que o conceito <strong>de</strong><br />

coerência está ligado ao conteúdo, no sentido constituído<br />

pelo leitor. A coerência <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da coesão. Um texto<br />

<strong>com</strong> problemas <strong>de</strong> coesão terá, provavelmente,<br />

problemas <strong>de</strong> coerência.<br />

A coesão trata basicamente das articulações gramaticais<br />

existentes entre as palavras, as orações e frases para<br />

garantir uma boa sequenciação <strong>de</strong> eventos, ou seja, é a<br />

correta ligação entre os elementos <strong>de</strong> um texto, que<br />

ocorre no interior das frases, entre as próprias frases e<br />

entre os vários parágrafos. Po<strong>de</strong>-se dizer que um texto é<br />

coeso quando elementos coesivos (conjunções,<br />

preposições, advérbios e pronomes) são empregados<br />

corretamente.<br />

SEMÂNTICA<br />

A semântica é o estudo da significação das<br />

palavras e das mudanças <strong>de</strong> sentido ocasionadas pelo<br />

contexto.<br />

O sentido original é a sua própria significação<br />

etimológica, mas este também sofre constantes<br />

alterações no <strong>de</strong>correr do tempo, <strong>de</strong>vido à sua expansão<br />

ou generalização. Por exemplo, carrasco era o nome do<br />

algoz Belchior Nunes Carrasco e generalizou-se para<br />

todos os algozes. Anfitrião era personagem <strong>de</strong> uma<br />

<strong>com</strong>édia <strong>de</strong> Plauto e se expandiu a todos aqueles que à<br />

sua casa reúnem convidados e amigos.<br />

A palavra (signo linguístico) é uma <strong>com</strong>binação <strong>de</strong><br />

conceito (idéia) e palavra (escrita ou falada), que são:<br />

Significante: é o elemento concreto, material,<br />

perceptível: os sons (fonemas) ou as letras.<br />

Significado: é o elemento inteligível (o conceito)<br />

ou a imagem mental. As palavras possuem significados<br />

que po<strong>de</strong>m ser:<br />

Literal (<strong>de</strong>notativo, real): é o sentido convencional,<br />

que não permite mais <strong>de</strong> uma interpretação, igual para<br />

todos os falantes da língua. Aparece na linguagem<br />

científica, informativa ou técnica.<br />

Contextual (conotativo, figurado): é o sentido<br />

diferente do convencional e que raramente se encontra<br />

no dicionário. Só é possível <strong>de</strong>scobri-lo quando se<br />

observa o contexto em que aparecem. É apropriado à<br />

linguagem artística ou literária, cujas palavras mais<br />

sugerem do que informam.<br />

Campo lexical é o emprego <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong><br />

palavras – ou <strong>de</strong> palavras cognatas (aquelas que<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> um mesmo radical, <strong>de</strong> uma mesma raiz).<br />

Cognação quer dizer parentesco. Por exemplo, do latim<br />

Stella <strong>de</strong>rivam estrela, estelar, estrelar, estrelado.<br />

Veja também:<br />

Campo lexical <strong>de</strong> terra: aterrar, terremoto,<br />

<strong>de</strong>senterrar, aterrissar, <strong>de</strong>sterro, terraplanagem,<br />

térreo, terrestre, território, terráqueo, terracota, etc.<br />

Campo lexical <strong>de</strong> luz: aluno, iluminar,<br />

luminosida<strong>de</strong>, ilustre, ilustrado, iluminado, etc.<br />

Campo semântico é o emprego <strong>de</strong> palavras<br />

que pertencem ao mesmo universo <strong>de</strong> significação,<br />

formando “famílias i<strong>de</strong>ológicas”. Tais palavras se<br />

associam por meio <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> imantação<br />

semântica, ou seja, embora não sejam sinônimas,<br />

remetem um às outras em <strong>de</strong>terminado contexto. Elas se<br />

divi<strong>de</strong>m em:<br />

Hiperônimos: palavras que possuem um sentido<br />

mais genérico. Exemplos: Economia, Direito, futebol,<br />

<strong>com</strong>ponentes automotivos, disciplinas escolares,<br />

pássaros, etc.<br />

Hipônimos: palavras que possuem caráter mais<br />

específico. Observe os exemplos:<br />

Hipônimos <strong>de</strong> Economia: <strong>de</strong>flação, déficit,<br />

superávit, juros, câmbio, balança, etc.<br />

Hipônimos <strong>de</strong> Direito: mandado, arrolamento,<br />

alçada, ementa, agravo, etc.<br />

Hipônimos <strong>de</strong> Futebol: gol, pênalti, escanteio, etc.<br />

OBS: A relação entre hipônimos e hiperônimos não<br />

é absoluta, pois um mesmo termo po<strong>de</strong> exercer as duas<br />

funções, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do contexto: Vertebrado é um<br />

hipônimo <strong>de</strong> animal, mas é um hiperônimo <strong>de</strong> mamífero.<br />

Mamífero é um hipônimo <strong>de</strong> animal e <strong>de</strong> vertebrado,<br />

mas é um hiperônimo <strong>de</strong> roedor, <strong>de</strong> ruminante, etc.<br />

Relações semânticas entre as palavras<br />

SINONÍMIA: ocorre quando palavras po<strong>de</strong>m ser<br />

substituías umas pelas outras, sem prejudicar a<br />

<strong>com</strong>preensão das i<strong>de</strong>ias do texto.<br />

Por exemplo, em uma prova <strong>de</strong> concurso, a banca<br />

fez a seguinte assertiva: “po<strong>de</strong>-se substituir o vocábulo<br />

hemisférica por ”minuciosa” sem que isso altere as<br />

relações <strong>de</strong> sentido do texto.” A princípio, parece ser<br />

impossível estabelecer uma relação <strong>de</strong> sinonímia entre<br />

tais vocábulos, mas o texto trazia o seguinte conteúdo:<br />

“Eu me consi<strong>de</strong>ro um consumidor tão educado que nunca<br />

<strong>com</strong>pra nada sem antes fazer uma tomada hemisférica<br />

<strong>de</strong> preços”. Neste caso, o vocábulo minuciosa não<br />

somente substitui hemisférica <strong>com</strong>o também é o mais<br />

a<strong>de</strong>quado.<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 3<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

Veja outros exemplos:<br />

rival/adversário/ antagonista cara/rosto<br />

cloreto <strong>de</strong> sódio/sal unhas/garras<br />

aguardar/esperar pessoa/indivíduo<br />

íntegro/probo/correto/justo/honesto<br />

ANTONÍMIA: ocorre quando duas ou mais<br />

palavras se opõem quanto ao significado <strong>de</strong>ntro do texto.<br />

Veja:<br />

feliz/infeliz bem/mal<br />

rico/pobre amor/ódio<br />

euforia/melancolia sagrado/profano<br />

claro/escuro<br />

PARONÍMIA: ocorre quando palavras ou<br />

expressões possuem grafia e pronúncia parecidas, <strong>com</strong><br />

sentidos diferentes. Observe os exemplos:<br />

Ir ao encontro <strong>de</strong> = estar <strong>de</strong> acordo.<br />

Ir <strong>de</strong> encontro a = chocar-se, opor-se.<br />

Na medida em que (Loc. Causal) = tendo em vista que.<br />

À medida que (Loc. Proporcional) = à proporção que.<br />

Infração = violação da lei.<br />

Inflação = <strong>de</strong>svalorização da moeda.<br />

Cível = relativo ao direito civil.<br />

Civil = relativo ao cidadão.<br />

HOMONÍMIA: ocorre <strong>com</strong> palavras que possuem<br />

grafia ou pronúncia igual, por casa <strong>de</strong> sua origem, mas<br />

que têm sentidos distintos. As palavras homônimas<br />

po<strong>de</strong>m ser:<br />

Homógrafas (heterófonas): possuem mesma<br />

grafia e pronuncia diferente, <strong>com</strong> sentidos também<br />

diferentes.<br />

Se<strong>de</strong> (ê) = vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> beber.<br />

Se<strong>de</strong> (é) = administração <strong>de</strong> empresa / casa <strong>de</strong> fazenda.<br />

Almoço (ô) = substantivo.<br />

Almoço (ó) = verbo.<br />

Colher (ê) = verbo.<br />

Colher (é) = substantivo<br />

Homófonas (heterógrafas): possuem mesma<br />

pronúncia e grafia diferente, <strong>com</strong> sentidos também<br />

diferentes.<br />

Acen<strong>de</strong>r = atear fogo.<br />

Ascen<strong>de</strong>r = subir, elevar-se.<br />

Coser = costurar<br />

Cozer = cozinhar<br />

Cessão = doação (verbo doar).<br />

Seção = repartição / <strong>de</strong>partamento, divisão.<br />

Sessão = duração <strong>de</strong> um evento.<br />

Perfeitas: Possuem mesma grafia e mesma<br />

pronúncia, <strong>com</strong> sentidos diferentes.<br />

OBS: As homônimas perfeitas são também<br />

chamadas <strong>de</strong> palavras polissêmicas, polifônicas,<br />

plurívocas ou, ainda, plurissignificativas.<br />

Real: verda<strong>de</strong>iro / relativo à realeza / moeda brasileira<br />

Sentença: con<strong>de</strong>nação / frase<br />

Mente: intelecto / verbo / sufixo<br />

FORMAS VARIANTES: palavras que, embora<br />

tenham um mesmo sentido, admitem grafia e pronúncia<br />

diferentes. Exemplos:<br />

cota/quota catorze/quatorze<br />

cociente/quociente traslado/translado<br />

aspecto/aspecto assoviar/assobiar<br />

percentual/porcentual necrópsia/necropsia<br />

céptico/cético projétil/projetil<br />

malformação/má-formação conectivos/conetivos<br />

caráter/carácter/caractere (só um plural: caracteres)<br />

aterrissar/aterrizar<br />

POLISSEMIA: consiste no fato <strong>de</strong> uma mesma<br />

palavra possuir significados diferentes, que se explicam<br />

pelo contexto. Veja exemplos:<br />

Passar uma mão <strong>de</strong> tinta no portão = uma <strong>de</strong>mão;<br />

Dar uma mão = ajudar;<br />

Passar a mão no dinheiro do outro= roubar;<br />

Abrir mão <strong>de</strong>= prescindir, dispensar;<br />

Lançar mão <strong>de</strong> = utilizar;<br />

Abrir a mão = gastar;<br />

Pegar a mão errada da via = sentindo, direção.<br />

Obs.: O antônimo <strong>de</strong> polissemia é monossemia<br />

(quando uma palavra apresenta apenas um sentindo).<br />

AMBIGUIDADE ou ANFIBOLOGIA: Consiste no<br />

fato <strong>de</strong> uma frase admitir mais <strong>de</strong> uma interpretação. É<br />

um recurso linguístico muito utilizado em <strong>textos</strong> literários<br />

e publicitários. Observe os exemplos:<br />

Anúncio em bancas <strong>de</strong> revistas: “Aprenda a<br />

fazer uma galinha no ponto!”. O anuncio dá a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

que querem ven<strong>de</strong>r livros <strong>de</strong> receitas, mas, na verda<strong>de</strong>,<br />

o que será vendido é uma revista <strong>de</strong> ponto-cruz. Ou seja,<br />

aprenda a fazer uma galinha no ponto–cruz, para<br />

bordar em panos <strong>de</strong> pratos.<br />

<strong>Interpretação</strong> do sétimo mandamento, segundo<br />

Bastos Tigres: “Não furtarás – prega o Decálogo; e<br />

cada homem <strong>de</strong>ixa para amanhã a observância do sétimo<br />

mandamento”. A graça vem do fato <strong>de</strong> que pelo fato <strong>de</strong><br />

se utilizar o verbo no tempo futuro, as pessoas estão<br />

sempre prorrogando o prazo para <strong>com</strong>eçar a respeitar o<br />

mandamento.<br />

Não se esqueça <strong>de</strong> que a ambiguida<strong>de</strong> se<br />

transforma em um vício <strong>de</strong> linguagem quando<br />

<strong>com</strong>prometem a clareza do enunciado:<br />

Ven<strong>de</strong>-se leite <strong>de</strong> cabra em pó/ Ven<strong>de</strong>-se leite<br />

em pó <strong>de</strong> cabra.<br />

O <strong>de</strong>putado disse que sempre lutou contra a<br />

corrupção e a ética na política.<br />

NÍVEIS DE LINGUAGEM<br />

A linguagem é qualquer conjunto <strong>de</strong> sinais que nos<br />

permite realizar atos <strong>de</strong> <strong>com</strong>unicação. Depen<strong>de</strong>ndo dos<br />

sinais escolhidos, teremos uma <strong>com</strong>unicação verbal,<br />

visual, auditiva, etc. Damos o nome <strong>de</strong> fala à utilização<br />

que cada membro da <strong>com</strong>unida<strong>de</strong> faz da língua, tanto na<br />

forma oral quanto na escrita. A forma oral se caracteriza<br />

por maior espontaneida<strong>de</strong> do que a forma escrita.<br />

Em <strong>de</strong>corrência do caráter individual da língua,<br />

po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar algumas modalida<strong>de</strong>s:<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 4<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

NORMA CULTA: é a modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linguagem<br />

utilizada em situações formais, principalmente na escrita<br />

– mais planejada e bem elaborada. Caracteriza-se pela<br />

correção da linguagem em diversos aspectos: um<br />

cuidado maior <strong>com</strong> o vocabulário, obediência às regras<br />

estabelecidas pela gramática, organização rigorosa das<br />

orações e dos períodos etc. Confira no texto abaixo:<br />

“(...) O mais forte e apreciável motivo para um estudo<br />

dos assuntos humanos é a curiosida<strong>de</strong>. Esse é um dos traços<br />

distintivos da natureza humana. Ao que parece, nenhum ser<br />

humano é <strong>de</strong>le totalmente <strong>de</strong>stituído, apesar <strong>de</strong> seu grau <strong>de</strong><br />

intensida<strong>de</strong> variar enormemente <strong>de</strong> indivíduo para indivíduo. No<br />

campo dos assuntos humanos, a curiosida<strong>de</strong> nos leva a buscar<br />

uma óptica panorâmica, através da qual se possa chegar a uma<br />

visão da realida<strong>de</strong>, tão inteligível quanto possível para a mente<br />

humana.”<br />

TOYNBEE, Arnold. Um estudo da história. Brasília: EdUnB. 1987. p.<br />

47. (<strong>com</strong> adaptações).<br />

LINGUAGEM COLOQUIAL: usada em situações<br />

informais ou familiares. Caracteriza-se pela<br />

espontaneida<strong>de</strong>, já que não existe uma preocupação <strong>com</strong><br />

as normas estabelecidas (aceita o uso <strong>de</strong> gírias e <strong>de</strong><br />

palavras dicionarizadas). Embora seja uma linguagem<br />

informal, não é necessariamente inculta, pois a<br />

<strong>de</strong>sobediência a certas normas gramaticais se <strong>de</strong>ve à<br />

liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão e à sensibilida<strong>de</strong> estilística do<br />

falante. É facilmente encontrada na correspondência<br />

pessoal (MSN, e-mail etc.), na literatura, história em<br />

quadrinhos, nos jornais e revistas. Veja o exemplo:<br />

Sei lá! Acho que tudo vai ficar legal. Pra que então ficar<br />

esquentando tanto? Me parece que as coisas no fim sempre dão<br />

certo.<br />

LINGUAGEM TÉCNICA (profissional): é a<br />

modalida<strong>de</strong> utilizada por alguns profissionais (policiais,<br />

ven<strong>de</strong>dores, advogados, economistas, etc.) no exercício<br />

<strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s. Exemplo:<br />

“Vamos direto ao assunto: interface gráfica ou não,<br />

muitas vezes, é preciso trabalhar <strong>com</strong> o prompt do DOS, sendo<br />

aborrecedor esforçar-se na redigitação <strong>de</strong> subdiretórios longos<br />

ou <strong>com</strong>ando mal digitados”. Revista PC World, ago/2007. p. 98<br />

OBS: Não se <strong>de</strong>ve confundir vocabulário técnico<br />

<strong>com</strong> jargão (modalida<strong>de</strong> coloquial).<br />

LITERÁRIA (artística): é utilizada <strong>com</strong> finalida<strong>de</strong><br />

expressiva, <strong>com</strong>o a que é feita pelos artistas da palavra<br />

(poetas e romancistas, por exemplo). Observe:<br />

“O céu jogava tinas <strong>de</strong> água sobre o noturno que<br />

<strong>de</strong>volvia a São Paulo. O <strong>com</strong>boio brecou, lento, para as ruas<br />

molhadas, furou a gare suntuosa e me jogou nos óculos<br />

menineiros <strong>de</strong> um grupo negro.<br />

“Sentaram-me num automóvel <strong>de</strong> pêsames”. ANDRADE,<br />

Oswald <strong>de</strong>. Memórias Sentimentais <strong>de</strong> João Miramar.<br />

VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS<br />

São as variações que uma língua apresenta, <strong>de</strong><br />

acordo <strong>com</strong> as condições sociais, culturais, regionais e<br />

históricas em que é utilizada. A língua é um organismo<br />

vivo, que se modifica no tempo, a todo instante. Os tipos<br />

<strong>de</strong> variações mais cobrados em provas são:<br />

EMPRÉSTIMOS LINGUÍSTICOS: vocábulos<br />

incorporados ao nosso idioma em sua forma original ou<br />

aportuguesados. No português usado hoje no Brasil,<br />

existe influência <strong>de</strong> várias línguas: do contato <strong>com</strong> o<br />

índio, incorporamos palavras <strong>com</strong>o cipó, mandioca,<br />

peroba, carioca, etc.; a partir do processo <strong>de</strong> escravidão<br />

no Brasil, incorporamos inúmeros vocábulos <strong>de</strong> línguas<br />

africanas, tais <strong>com</strong>o quiabo, macumba, samba, vatapá e<br />

muitos outros.<br />

Po<strong>de</strong>mos encontrar também, no português atual,<br />

palavras provenientes <strong>de</strong> línguas estrangeiras mo<strong>de</strong>rnas,<br />

principalmente do inglês. Veja alguns exemplos: do<br />

italiano (maestro, pizza, tchau, espaguete); do francês<br />

(abajur, toalete, champanhe); do inglês (recor<strong>de</strong>,<br />

sanduíche, futebol, bife, gol, clube, e muitos outros<br />

mais).<br />

NEOLOGISMOS: São palavras novas, que vão<br />

sendo logo absorvidas pelos falantes no seu processo<br />

diário <strong>de</strong> <strong>com</strong>unicação. Umas, surgem para expressar<br />

conceitos igualmente novos; outras, para substituir<br />

aquelas que <strong>de</strong>ixam e ser utilizada. Os neologismos<br />

po<strong>de</strong>m ser criados a partir da própria língua do país<br />

(cegonheiro, por exemplo), ou a partir <strong>de</strong> palavras<br />

estrangeiras (<strong>de</strong>letar, escanear, etc.).<br />

RECRIAÇÕES SEMÂNTICAS: Existem, também,<br />

aquelas palavras que adquirem novos sentidos ao longo<br />

do tempo. Por exemplo: cegonha (carreta que transporta<br />

automóvel, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as montadoras até as<br />

concessionárias), laranja (testa <strong>de</strong> ferro, pessoa que<br />

empresta o nome para a realização <strong>de</strong> negócios ilícitos).<br />

GÍRIAS: São palavras características da<br />

linguagem <strong>de</strong> um grupo social (os jovens), que, por sua<br />

expressivida<strong>de</strong>, acabam sendo incorporadas á linguagem<br />

coloquial <strong>de</strong> outras camadas sociais. São exemplos <strong>de</strong><br />

gírias: véi (velho), mano, bro (brother), Maneiro!<br />

Radical!<br />

OBS: <strong>com</strong>o as gírias também evoluem (elas<br />

surgem e <strong>de</strong>saparecem <strong>com</strong> o passar do tempo) po<strong>de</strong> ser<br />

que os exemplos dados já tenham caído em <strong>de</strong>suso!<br />

JARGÕES: São os vocábulos característicos da<br />

linguagem utilizada por alguns grupos profissionais<br />

(médicos, policiais, ven<strong>de</strong>dores, professores, etc.) e que,<br />

por sua expressivida<strong>de</strong>, acabam sendo incorporadas à<br />

linguagem <strong>de</strong> outras camadas sociais. Exemplos:<br />

positivo, bico fino, X9 (policiais); caroço (ven<strong>de</strong>dores) e<br />

outros.<br />

REGIONALISMOS: São as variações originadas<br />

das diferenças <strong>de</strong> região ou <strong>de</strong> território. Veja o exemplo<br />

<strong>de</strong> uma varieda<strong>de</strong> regional, também conhecida <strong>com</strong>o<br />

“fala caipira”, própria do interior <strong>de</strong> alguns estados<br />

brasileiros:<br />

“Cheguei na bera do porto on<strong>de</strong> as onda se espaia.<br />

As garça dá meia vorta, senta na bera da praia.<br />

“E o cuitelinho não gosta que o botão <strong>de</strong> rosa caia.”<br />

(Milton Nascimento)<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 5<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

FORMA E CONTEÚDO DOS TEXTOS<br />

Existem duas maneiras <strong>de</strong> se classificar os <strong>textos</strong>,<br />

quanto ao conteúdo e à forma:<br />

POESIA é um gênero textual que se caracteriza<br />

pela escrita em versos (o verso é or<strong>de</strong>nador<br />

rítmico e melódico do poema), que po<strong>de</strong><br />

apresentar rima e métrica e uma elaboração<br />

muito particular da linguagem. A poesia em geral<br />

reflete o momento, o impacto dos fatos sobre o<br />

homem e a criação <strong>de</strong> imagens que reflitam esse<br />

impacto.<br />

Leia:<br />

Eu canto porque o instante existe<br />

E a minha vida está <strong>com</strong>pleta.<br />

Não sou alegre nem sou triste<br />

Sou poeta.<br />

(...)<br />

Sei que canto. E a canção é tudo.<br />

Tem sangue eterno a asa ritmada.<br />

E um dia sei que estarei mudo:<br />

- mais nada.<br />

Cecília Meireles - Motivo<br />

PROSA é um discurso que reproduz a maneira<br />

natural <strong>de</strong> falar, sem métrica nem rima. As linhas<br />

ocupam quase toda a extensão horizontal da<br />

página, <strong>de</strong>marcada, fisicamente, pelo parágrafo –<br />

pequeno afastamento em relação à margem<br />

esquerda da folha. O parágrafo é o or<strong>de</strong>nador<br />

lógico da prosa.<br />

FUNÇÕES DA LINGUAGEM<br />

O modo <strong>com</strong>o a linguagem se organiza está<br />

diretamente ligado à função que se <strong>de</strong>seja dar a ela, isto<br />

é, à intenção do autor. Para os seis <strong>com</strong>ponentes da<br />

<strong>com</strong>unicação, seis são as suas funções:<br />

Emissor: aquele que transmite a mensagem.<br />

Receptor: aquele <strong>com</strong> quem o emissor se <strong>com</strong>unica.<br />

Mensagem: aquilo que se transmite ao receptor.<br />

Referente: assunto da mensagem.<br />

Código: convenção social que permite ao receptor<br />

<strong>com</strong>preen<strong>de</strong>r a mensagem.<br />

Canal: meio físico que conduz a mensagem ao receptor.<br />

EMOTIVA (EXPRESSIVA)<br />

Está centrada na expressão dos sentimentos,<br />

emoções e opiniões do emissor. Reforça o aspecto<br />

subjetivo, pessoal da mensagem. É <strong>com</strong>um nesse tipo <strong>de</strong><br />

função a presença <strong>de</strong> interjeições, reticências, pontos <strong>de</strong><br />

exclamação e, ainda, <strong>de</strong> verbos na 1° pessoa. O narrador<br />

apresenta opiniões <strong>com</strong> as quais outras pessoas po<strong>de</strong>m<br />

ou não concordar. Textos líricos são exemplos <strong>de</strong>ssa<br />

função, já que expressam o estado <strong>de</strong> alma do emissor.<br />

CONATIVA (APELATIVA)<br />

Ocorre quando o receptor é posto em <strong>de</strong>staque e é<br />

estimulado pela mensagem. Há um autor querendo<br />

influenciar o receptor. É <strong>com</strong>um nesse tipo <strong>de</strong> texto o<br />

emprego do modo imperativo dos verbos e <strong>de</strong> vocativos.<br />

REFERENCIAL (INFORMATIVA)<br />

Ocorre quando o referente é posto em <strong>de</strong>staque e<br />

a intenção principal do emissor é informar. Os <strong>textos</strong><br />

cuja função é referencial possuem linguagem clara,<br />

direta e precisa, procurando traduzir a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

forma objetiva. Alguns <strong>textos</strong> jornalísticos, os científicos<br />

e os didáticos são o melhor exemplo disso.<br />

POÉTICA<br />

Po<strong>de</strong>mos encontrá-la nos casos em que o emissor<br />

enfatiza a construção, a elaboração da mensagem por<br />

meio da escolha <strong>de</strong> palavras que realcem a sonorida<strong>de</strong>,<br />

pelo uso <strong>de</strong> expressões imprecisas (legal, hiper, é isso<br />

aí). O texto não é objetivo, traz uma fala cheia <strong>de</strong><br />

ro<strong>de</strong>ios, transmite pouca informação. A função poética<br />

ocorre tanto em prosa <strong>com</strong>o em verso.<br />

METALINGUISTICA<br />

Tem <strong>com</strong>o função realçar o código – quando este é<br />

utilizado <strong>com</strong>o assunto ou explica a si mesmo. Por<br />

exemplo, quando um poema tece reflexões sobre a<br />

criação poética, um filme tematiza o próprio cinema ou<br />

um programa <strong>de</strong> televisão <strong>de</strong>bate o papel social da<br />

televisão.<br />

FÁTICA<br />

Ocorre quando o canal é posto em <strong>de</strong>staque. A<br />

função é testar o canal <strong>de</strong> <strong>com</strong>unicação. Acontece nos<br />

cumprimentos diários, conversas <strong>de</strong> elevador, nas<br />

primeiras palavras <strong>de</strong> uma aula, etc.<br />

Importante:<br />

É possível encontrar em um texto mais <strong>de</strong> uma<br />

função da linguagem. Portanto, cabe ao leitor i<strong>de</strong>ntificar<br />

aquela que predomina e, por conseguinte, a intenção <strong>de</strong><br />

seu autor.<br />

FIGURAS DE LINGUAGEM<br />

São recursos estilísticos utilizados por quem fala<br />

ou escreve para dar maior expressivida<strong>de</strong>, intensida<strong>de</strong>,<br />

força ou beleza à <strong>com</strong>unicação. Ocorrem <strong>com</strong> mais<br />

frequência nas obras literárias, mas, para realçar uma<br />

i<strong>de</strong>ia, aparecem também em:<br />

Propagandas: “Caneta Parker: a máquina <strong>de</strong><br />

escrever”.<br />

Gírias: “Pai, será que dá pra <strong>de</strong>scolar uma grana?”.<br />

Artigos da imprensa: “Assunto novo em briga<br />

antiga”.<br />

Músicas: “O amor é um gran<strong>de</strong> laço, um passo pr’<br />

uma armadilha”.<br />

Duas ou mais figuras po<strong>de</strong>m ocorrer ao mesmo<br />

tempo em uma frase ou verso. Por exemplo, a hipérbole<br />

e a <strong>com</strong>paração: “Os moços da cida<strong>de</strong> não gostavam <strong>de</strong><br />

sua cabeça, plana <strong>com</strong>o mesa.” (Ignácio <strong>de</strong> Loyola Brandão)<br />

FIGURAS DE PALAVRAS apresentam uma<br />

mudança do sentido real para o sentindo figurado da<br />

palavra.<br />

Comparação (Analogia): é uma figura que<br />

consiste em tomar equivalentes coisas diferentes, para<br />

realçar uma possível semelhança entre elas. Em uma<br />

construção, quase sempre utilizamos algumas<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 6<br />

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conjunções entre os termos <strong>com</strong>parados: assim <strong>com</strong>o...,<br />

tanto..., quanto, <strong>com</strong>o, tal qual, feito etc.; Exemplos:<br />

“Tal qual um dois <strong>de</strong> paus ela ficou calada”.<br />

“A sombra das roças é macia e doce, é <strong>com</strong>o uma<br />

carícia”.<br />

Metáfora é o emprego <strong>de</strong> uma palavra ou<br />

expressão fora <strong>de</strong> seu sentido normal, por haver<br />

semelhança real ou imaginária entre os seres que ela<br />

<strong>de</strong>signa. A metáfora é a mais importante das figuras <strong>de</strong><br />

palavras:<br />

Meu pai é um leão quando joga futebol.<br />

Voltou da praia um peru assado.<br />

Eu não acho a chave <strong>de</strong> mim.<br />

Metonímia ocorre quando empregamos uma<br />

palavra em lugar <strong>de</strong> outra, <strong>com</strong> a qual aquela se achava<br />

relacionada. Os principais mecanismos <strong>de</strong> substituição se<br />

dão pelas relações <strong>de</strong>:<br />

a) continente pelo conteúdo<br />

Passe-me a manteiga.<br />

Só bebi um copo.<br />

b) marca pelo produto<br />

Comeu Mc Donalds sozinho.<br />

Limpou <strong>com</strong> Omo.<br />

c) causa pelo efeito<br />

Sócrates tomou a morte.<br />

Cigarro in<strong>com</strong>oda os vizinhos<br />

d) autor pela obra<br />

Vamos curtir Gilberto Gil.<br />

Ela adora ler Machado <strong>de</strong> Assis.<br />

e) abstrato pelo concreto<br />

Amanhã irei aos Correios.<br />

Estou <strong>com</strong> a cabeça em Roma.<br />

f) Símbolo pelo simbolizado<br />

A balança impôs-se à espada.<br />

A cruz é a salvação.<br />

g) instrumento pelo ser<br />

O violão foi a gran<strong>de</strong> atração.<br />

João é um ótimo garfo<br />

A metonímia que estabelece relação entre as<br />

palavras do tipo parte pelo todo recebe <strong>de</strong>nominação<br />

específica <strong>de</strong> sinédoque.<br />

Os faróis apontaram na avenida.<br />

Havia mais <strong>de</strong> cem cabeças no pasto<br />

Antonomásia (Epíteto) é a substituição <strong>de</strong> um<br />

nome próprio pela qualida<strong>de</strong> ou atributo que o distingue.<br />

Exemplos:<br />

Os brasileiros já esqueceram o Águia <strong>de</strong> Haia.<br />

(Rui Barbosa)<br />

O poeta dos escravos é o autor <strong>de</strong> célebre poema “O<br />

navio negreiro”. (Castro Alves)<br />

Sinestesia é uma variante <strong>de</strong> metáfora que<br />

consiste em atribuir, a um ser, sensações que não lhe<br />

são próprias, misturando sensações <strong>de</strong> sentidos<br />

diferentes:<br />

Isso me cheira a confusão.<br />

O sol caía <strong>com</strong> uma luz pálida e macia.<br />

Catacrese é o emprego <strong>de</strong> um tempo figurado por<br />

falta <strong>de</strong> palavra mais apropriada. Não é propriamente<br />

uma figura <strong>de</strong> estilo, pois ela só existe em razão <strong>de</strong> um<br />

esquecimento etimológico. Veja os exemplos:<br />

formigueiro humano (Formigueiro = porção <strong>de</strong><br />

formigas);<br />

realida<strong>de</strong> das coisas (Res = coisa);<br />

espalhar dinheiro (espalhar = separa a palha);<br />

péssima caligrafia (caligrafia= boa letra);<br />

embarcar num avião (embarcar = tomar a barca)...<br />

PERSONIFICAÇÃO (PROSOPOPEIA) é a figura<br />

que consiste em atribuir sentimentos ou qualida<strong>de</strong>s<br />

humanas a seres inanimados ou abstratos. Exemplos<br />

“As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado<br />

retumbante <strong>de</strong> um povo heróico...” (Hino Nacional)<br />

“O cravo brigou <strong>com</strong> a rosa <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> uma<br />

sacada...” (Cantiga Popular)<br />

FIGURAS DE SINTAXE caracterizam-se por<br />

apresentarem uma mudança na estrutura da oração.<br />

Elipse consiste na omissão <strong>de</strong> um termo<br />

facilmente subentendido, ou ainda, que por ser<br />

<strong>de</strong>preendido pelo contexto. Existe elipse <strong>de</strong> preposição,<br />

conjunção integrante, <strong>de</strong> verbo e <strong>de</strong> outros elementos do<br />

texto. Veja os exemplos:<br />

“Ele estava bêbado, (<strong>com</strong>) a calça rasgada e (<strong>com</strong>) a<br />

camisa na mão”.<br />

Zeugma consiste em suprimir, ocultar verbos<br />

(expressos anteriormente) para evitar sua repetição.<br />

Observe os exemplos:<br />

As quaresmeiras abriam a flor <strong>de</strong>pois do carnaval, os<br />

ipês (abriam) em Junho.<br />

O rei da brinca<strong>de</strong>ira-ê José<br />

O rei da confusão-ê João<br />

Um trabalhava na feira-ê José<br />

Outro (trabalhava) na construção-ê João.<br />

Pleonasmo (estilístico) é a repetição <strong>de</strong> um<br />

temo já expresso ou <strong>de</strong> uma idéia já sugerida, <strong>com</strong> o<br />

objetivo <strong>de</strong> realçá-la, torná-la mais expressiva... Po<strong>de</strong><br />

ser:<br />

Semântico: “E rir meu riso e <strong>de</strong>rrama meu pranto”<br />

(Vinicius <strong>de</strong> Moraes)<br />

“E quem sabe sonhavas meus sonhos por fim” (Cartola)<br />

Sintático: A mim, só me resta esperar.<br />

O que você pensa, isso não me interessa.<br />

Cuidado! Há o pleonasmo é vicioso, quando a<br />

repetição for consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong>snecessária ou quando a<br />

redundância não trouxer reforço algum à i<strong>de</strong>ia:<br />

Acabamento final, Adiar para o dia seguinte, Agora já<br />

Ainda mais, Almirante da Marinha, Alocução breve,<br />

Antecipar para antes, Bonita caligrafia, Briga<strong>de</strong>iro da<br />

Aeronáutica, Brisa matinal da manhã, Canja <strong>de</strong> galinha,<br />

Chutou <strong>com</strong> os pés, Conclusão final, Consenso geral,<br />

Continuar ainda, Conviver junto, Criar novos, Dar <strong>de</strong><br />

graça, Decapitar a cabeça, Demente mental, Descer para<br />

baixo, Efusivos parabéns, Elo <strong>de</strong> ligação, Emulsão do<br />

óleo, Encarar <strong>de</strong> frente, Enfrentar <strong>de</strong> frente, Entrar<br />

<strong>de</strong>ntro (ou para <strong>de</strong>ntro), Erário público, Estrelas do céu,<br />

Exultar <strong>de</strong> alegria, Fato verídico, Faz muitos anos atrás,<br />

Fraternida<strong>de</strong> humana, Ganhar grátis (ou <strong>de</strong> graça),<br />

General do Exército, Goteira no teto, Há muitos anos<br />

atrás, Hábitat natural, Hemorragia <strong>de</strong> sangue, Hepatite<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 7<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

do fígado, Inaugurar novo, Introduzir <strong>de</strong>ntro, Já não há<br />

mais, Labaredas <strong>de</strong> fogo, Lançar novo, Manter o mesmo,<br />

Meta<strong>de</strong>s iguais, Monopólio exclusivo, Novida<strong>de</strong> inédita,<br />

Panorama geral, Países do mundo, Pequenos <strong>de</strong>talhes,<br />

Prefeitura Municipal, Protagonista principal, Regra geral,<br />

Relação bilateral entre dois…, Repetir <strong>de</strong> novo, roeu <strong>com</strong><br />

os <strong>de</strong>ntes, Sair fora (ou para fora), Sentidos pêsames,<br />

Sorriso nos lábios, Sua própria autobiografia, Subir para<br />

cima, Surpresa inesperada, Vereadores da Câmara<br />

Municipal, Viúva do falecido.<br />

Silepse ocorre quando efetuamos a concordância<br />

não <strong>com</strong> os termos expressos, mas <strong>com</strong> a i<strong>de</strong>ia que<br />

associamos, em nossas mentes. Divi<strong>de</strong>-se em:<br />

Silepse <strong>de</strong> gênero:<br />

A criança nasceu. Era magnífico.<br />

“Quando a gente é novo, gosta <strong>de</strong> fazer bonito.”<br />

Silepse <strong>de</strong> pessoa:<br />

“Todos os sertanejos somos assim”.<br />

“Os cinco estávamos no automóvel”.<br />

Silepse <strong>de</strong> número:<br />

O pelotão chegou à praça e estavam cansados.<br />

“Coisa curiosa é gente velha. Como <strong>com</strong>em!”<br />

Polissín<strong>de</strong>to repetição da conjunção<br />

coor<strong>de</strong>nativa:<br />

“Suspira, e chora, e geme, e sofre, e sua...” (Olavo Bilac)<br />

“Mãe gentil, mas cruel, mas traiçoeira” (Alberto <strong>de</strong> Oliveira)<br />

Assín<strong>de</strong>to ausência da conjunção coor<strong>de</strong>nativa:<br />

“Suspira, chora, geme, sofre, sua...” (Olavo Bilac - adaptação)<br />

“Mãe gentil, cruel, traiçoeira” (Alberto <strong>de</strong> Oliveira - adaptação)<br />

Hipérbato consiste na inversão da or<strong>de</strong>m natural<br />

das palavras na frase.<br />

Os bons vi sempre passar<br />

No mundo graves tormentos. (Luis Vaz <strong>de</strong> Camões)<br />

Gradação consiste na sequência, que se agrava,<br />

<strong>de</strong> ações.<br />

Balbuciou, sussurrou, falou, gritou,...<br />

A menina sentou-se, os olhos encheram d’água, chorou.<br />

Anacoluto consiste na quebra da estrutura<br />

sintática da oração.<br />

A menina, para não passar a noite só, era melhor que<br />

fosse dormir na casa <strong>de</strong> uns vizinhos”. (Rachel <strong>de</strong> Queiroz)<br />

“Eu, que era branca e linda, eis-me medonha e escura”.<br />

(Manuel Ban<strong>de</strong>ira)<br />

FIGURAS DE PENSAMENTO são processos<br />

expressivos que introduzem uma i<strong>de</strong>ia diferente da que a<br />

palavra habitualmente exprime.<br />

Antítese (Contraste) é a figura que salienta o<br />

confronto oposto entre si:<br />

“Toda guerra finaliza por on<strong>de</strong> <strong>de</strong>via ter <strong>com</strong>eçado: a<br />

Paz!”<br />

“Tristeza não tem fim, felicida<strong>de</strong> sim!” (Vinícius <strong>de</strong> Moraes)<br />

Oxímoro (Paradoxo) é a antítese levada ao<br />

extremo. Exemplos:<br />

“Tem, mas acabou!” (discurso proferido por ven<strong>de</strong>dores para<br />

justificar a ausência <strong>de</strong> um produto na loja).<br />

Amor é fogo que ar<strong>de</strong> sem se ver<br />

É ferida que dói e não se sente<br />

É um contentamento <strong>de</strong>scontente<br />

É dor que <strong>de</strong>satina sem doer. (Luís Vaz <strong>de</strong> Camões)<br />

Hipérbole é uma afirmação exagerada ou uma<br />

<strong>de</strong>formação da verda<strong>de</strong>, visando a um efeito expressivo:<br />

Chorar rios <strong>de</strong> lágrimas, dizer um milhão <strong>de</strong> vezes,<br />

<strong>de</strong>sconfiar da própria sombra, morrer <strong>de</strong> rir.<br />

Esotérico<br />

Não adianta nem me abandonar<br />

Porque mistério sempre há <strong>de</strong> pintar por aí.<br />

Pessoas até muito mais vão lhe amar,<br />

Até muito mais difíceis que eu, pra você.<br />

Que eu, que dois, que <strong>de</strong>z, que <strong>de</strong>z milhões.<br />

Todos iguais. (Gilberto Gil)<br />

Ironia é a figura pela qual dizemos o contrário do<br />

que pensamos, quase sempre <strong>com</strong> intenção sarcástica: O<br />

ministro foi sutil <strong>com</strong>o uma jamanta e <strong>de</strong>licado <strong>com</strong>o um<br />

hipopótamo...<br />

Poeminha à glória televisiva<br />

Não me contem!<br />

Ele era tão famoso<br />

Antes <strong>de</strong> ontem! (Millôr Fernan<strong>de</strong>s)<br />

OBS: A ironia consiste em sugerir pela entonação e pelo<br />

contexto. Por isso, os sinais que mais evi<strong>de</strong>nciam um<br />

pensamento irônico são: ponto <strong>de</strong> exclamação e reticências.<br />

PERÍFRASE consiste em usar expressões ou frase<br />

em lugar <strong>de</strong> uma palavra, <strong>com</strong> o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar<br />

uma característica que a palavra sozinha não evoca.<br />

Veja: Pretendo visitar o país do sol nascente. (O<br />

Japão)<br />

EUFEMISMO é a figura que suaviza a expressão<br />

<strong>de</strong> uma idéia <strong>de</strong>sagradável, por meio da substituição do<br />

termo exato por outro menos ofensivo, menos<br />

inconveniente. Observe os exemplos:<br />

O pobre homem entregou a alma a Deus. (morreu)<br />

Quem faltar <strong>com</strong> a verda<strong>de</strong>, será punido. (mentir)<br />

FIGURAS DE SONORIDADE são processos<br />

expressivos que relacionam os sons das palavras.<br />

Aliteração consiste repetição <strong>de</strong> sons<br />

consonantais próximos.<br />

“Gil engendra em Gil rouxinol (Caetano Veloso)<br />

Assonância consiste repetição <strong>de</strong> sons vocálicos<br />

próximos.<br />

Cunhã poranga na manhã louçã.<br />

Onomatopeia consiste na tentativa <strong>de</strong> imitação<br />

<strong>de</strong> um som natural ou mecânico.<br />

Coxixo, tique-taque, zum-zum, toc-toc, miau, ...<br />

Paranomásia (Trocadilho) consiste no<br />

emprego <strong>de</strong> palavras parônimas (<strong>com</strong> sonorida<strong>de</strong><br />

semelhante) numa mesma frase.<br />

Contudo ... ele está <strong>com</strong> tudo.<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 8<br />

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VÍCIOS DE LINGAUGEM<br />

São alterações <strong>de</strong>feituosas que sofre a língua em sua<br />

pronúncia e escrita <strong>de</strong>vidas à ignorância do povo ou ao<br />

<strong>de</strong>scaso <strong>de</strong> alguns escritores. São <strong>de</strong>vidas, em gran<strong>de</strong><br />

parte, à suposta i<strong>de</strong>ia da afinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma ou<br />

pensamento.<br />

Os vícios <strong>de</strong> linguagem são: barbarismo, anfibologia,<br />

cacofonia, eco, arcaísmo, vulgarismo, estrangeirismo,<br />

solecismo, obscurida<strong>de</strong>, hiato, colisão, neologismo,<br />

preciosismo, pleonasmo.<br />

BARBARISMO:<br />

É o vício <strong>de</strong> linguagem que consiste em usar uma<br />

palavra errada quanto à grafia, pronúncia, significação,<br />

flexão ou formação. Assim sendo, divi<strong>de</strong>-se em: gráfico,<br />

ortoépico, prosódico, semântico, morfológico e mórfico.<br />

Gráficos: hontem, proesa, conssessiva, aza, por:<br />

ontem, proeza, concessiva e asa.<br />

Ortoépicos: interesse, carramanchão, subcistir,<br />

por: interesse, caramanchão, subsistir.<br />

Prosódicos: pegada, rúbrica, filântropo, por:<br />

pegada, rubrica, filantropo.<br />

Semânticos: Tráfico (por tráfego) indígena (<strong>com</strong>o<br />

sinônimo <strong>de</strong> índio, em vez <strong>de</strong> autóctone).<br />

Morfológicos: cidadões, uma telefonema,<br />

proporam, reavi, <strong>de</strong>teu, por: cidadãos, um telefonema,<br />

propuseram, reouve, <strong>de</strong>teve.<br />

Mórficos: antidiluviano, filmeteca, monolinear,<br />

por: antediluviano, filmoteca, unlinear.<br />

OBS.: Diversos autores consi<strong>de</strong>ram barbarismo<br />

palavras, expressões e construções estrangeiras, mas,<br />

nesta apostila, elas serão consi<strong>de</strong>radas<br />

"estrangeirismos."<br />

AMBIGUIDADE OU ANFIBOLOGIA:<br />

É o vício <strong>de</strong> línguagem que consiste em usar diversas<br />

palavras na frase <strong>de</strong> maneira a causar duplo sentido na<br />

sua interpretação.<br />

Ex.: Não se convence, enfim, o pai, o filho, amado. O<br />

chefe discutiu <strong>com</strong> o empregado e estragou seu dia. (nos<br />

dois casos, não se sabe qual dos dois é autor, ou<br />

paciente).<br />

CACOFONIA:<br />

Vício <strong>de</strong> linguagem caracterizado pelo encontro ou<br />

repetição <strong>de</strong> fonemas ou sílabas que produzem efeito<br />

<strong>de</strong>sagradável ao ouvido. Constituem cacofonias:<br />

A colisão.<br />

Ex.: Meu Deus não seja já.<br />

O eco<br />

Ex.: Vicente mente consantemente.<br />

o hiato<br />

Ex.: Ela iria à aula hoje, se não chovesse<br />

O cacófato<br />

o Ex.: Tem uma mão machucada: A aliteração -<br />

Ex.: Pe<strong>de</strong> o Papa paz ao povo. O antônimo é a<br />

"eufonia".<br />

ECO:<br />

Espécie <strong>de</strong> cacofonia que consiste na seqüência <strong>de</strong><br />

sons vocálicos, idênticos, ou na proximida<strong>de</strong> <strong>de</strong> palavras<br />

que têm a mesma terminação. Também se chama<br />

assonância.<br />

Ex.: É possível a aprovação da transação sem<br />

concisão e sem associação.<br />

Na poesia, a "rima" é uma forma normal <strong>de</strong> eco. São<br />

expressivas as repetições vocálicas a curto intervalo que<br />

visam à musicalida<strong>de</strong> ou à imitação <strong>de</strong> sons da natureza<br />

(harmonia imitativa); "Tíbios flautins finíssimos gritavam"<br />

(Bilac).<br />

ARCAÍSMO:<br />

Palavras, expressões, construções ou maneira <strong>de</strong> dizer<br />

que <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser usadas ou passaram a ter emprego<br />

diverso.<br />

Na língua viva contemporânea: asinha (por <strong>de</strong>pressa),<br />

assi (por assim) entonces (por então), vosmecê (por<br />

você), geolho (por joelho), arreio (o qual per<strong>de</strong>u a<br />

significação antiga <strong>de</strong> enfeite), catar (per<strong>de</strong>u a<br />

significação antiga <strong>de</strong> olhar), faria-te um favor (não se<br />

coloca mais o pronome pessoal átono <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> forma<br />

verbal do futuro do indicativo), etc.<br />

VULGARISMO:<br />

É o uso lingüístico popular em contraposição às<br />

doutrinas da linguagem culta da mesma região.<br />

O vulgarismo po<strong>de</strong> ser fonético, morfológico e<br />

sintático.<br />

Fonético:<br />

o A queda dos erres finais: anda, <strong>com</strong>ê, etc. A<br />

vocalização do "L" final nas sílabas.<br />

Ex.: mel = meu , sal = saú etc.<br />

o A monotongação dos ditongos.<br />

Ex.: estoura = estóra, roubar = robar.<br />

o A intercalação <strong>de</strong> uma vogal para <strong>de</strong>sfazer um<br />

grupo consonantal.<br />

Ex.: advogado = a<strong>de</strong>vogado, rítmo = rítimo,<br />

psicologia = pissicologia.<br />

Morfológico e sintático:<br />

o Temos a simplificação das flexões nominais e<br />

verbais.<br />

Ex.: Os aluno, dois quilo, os homê brigou.<br />

o Também o emprego dos pronomes pessoais do<br />

caso reto em lugar do oblíquo.<br />

Ex.: vi ela, olha eu, ó gente, etc.<br />

ESTRANGEIRISMO:<br />

Todo e qualquer emprego <strong>de</strong> palavras, expressões e<br />

construções estrangeiras em nosso idioma recebe<br />

<strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> estrangeirismo. Classificam-se em:<br />

francesismo, italianismo, espanholismo, anglicismo<br />

(inglês), germanismo (alemão), eslavismo (russo, polaço,<br />

etc.), arabismo, hebraísmo, grecismo, latinismo,<br />

tupinismo (tupi-guarani), americanismo (línguas da<br />

América) etc...<br />

O estrangeirismo po<strong>de</strong> ser morfológico ou sintático.<br />

Estrangeirismos morfológicos:<br />

o Francesismo: abajur, chefe, carnê, matinê etc...<br />

o Italianismos: ravioli, pizza, cicerone, minestra,<br />

madona etc...<br />

o Espanholismos: camarilha, guitarra, quadrilha<br />

etc...<br />

o Anglicanismos: futebol, telex, bofe, ringue,<br />

sanduíche breque.<br />

o Germanismos: chope, cerveja, gás, touca etc...<br />

o Eslavismos: gravata, estepe etc...<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 9<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

o Arabismos: alface, tarimba, açougue, bazar etc...<br />

o Hebraísmos: amém, sábado etc...<br />

o Grecismos: batismo, farmácia, o limpo, bispo<br />

etc...<br />

o Latinismos: in<strong>de</strong>x, bis, memorandum, quo vadis<br />

etc...<br />

o Tupinismos: mirim, pipoca, peteca, caipira etc...<br />

o Americanismos: canoa, chocolate, mate,<br />

mandioca etc...<br />

o Orientalismos: chá, xícara, pago<strong>de</strong>, kamikaze<br />

etc...<br />

o Africanismos: macumba, fuxicar, cochilar, samba<br />

etc...<br />

Estrangeirismos Sintáticos:<br />

o Saltar aos olhos (francesismo);<br />

o Pedro é mais velho <strong>de</strong> mim. (italianismo);<br />

o O jogo resultou admirável. (espanholismo);<br />

o Porcentagem (anglicanismo), guerra fria<br />

(anglicanismo) etc...<br />

SOLECISMOS:<br />

São os erros que atentam contra as normas <strong>de</strong><br />

concordância, <strong>de</strong> regência ou <strong>de</strong> colocação.<br />

Solecimos <strong>de</strong> regência:<br />

o Ontem assistimos o filme (por: Ontem assistimos<br />

ao filme).<br />

o Cheguei no Brasil em 1923 (por: Cheguei ao Brasil<br />

em 1923).<br />

o Pedro visava o posto <strong>de</strong> chefe (correto: Pedro<br />

visava ao posto <strong>de</strong> chefe).<br />

Solecismo <strong>de</strong> concordância:<br />

o Haviam muitas pessoas na festa (correto: Havia<br />

muitas pessoas na festa)<br />

o O pessoal já saíram? (correto: O pessoal já saiu?).<br />

Solecismo <strong>de</strong> colocação:<br />

o Foi João quem avisou-me (correto: Foi João quem<br />

me avisou).<br />

o Me empresta o lápis (Correto: Empresta-me o<br />

lápis).<br />

OBSCURIDADE:<br />

Vício <strong>de</strong> linguagem que consiste em construir a frase<br />

<strong>de</strong> tal modo que o sentido se torne obscuro, embaraçado,<br />

ininteligível. Em um texto, as principais causas da<br />

obscurida<strong>de</strong> são: o abuso do arcaísmo e o neologismo, o<br />

provincianismo, o estrangeirismo, a elipse, a sínquise<br />

(hipérbato vicioso), o parêntese extenso, o acúmulo <strong>de</strong><br />

orações intercaladas (ou inci<strong>de</strong>ntes) as circunlocuções, a<br />

extensão exagerada da frase, as palavras rebuscadas, as<br />

construções intrincadas e a má pontuação.<br />

Ex.: Foi evitada uma efusão <strong>de</strong> sangue inútil (Em vez<br />

<strong>de</strong> efusão inútil <strong>de</strong> sangue).<br />

NEOLOGISMO:<br />

Palavra, expressão ou construção recentemente<br />

criadas ou introduzidas na língua. Costumam-se<br />

classificar os neologismos em:<br />

Extrínsecos: que <strong>com</strong>preen<strong>de</strong>m os<br />

estrangeirismos.<br />

Intrínsecos: (ou vernáculos), que são formados<br />

<strong>com</strong> os recursos da própria língua. Po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> origem<br />

culta ou popular.<br />

Os neologismos <strong>de</strong> origem culta subdivi<strong>de</strong>m-se em:<br />

Científicos ou técnicos: aeromoça, penicilina,<br />

telespectador, taxímetro (redução: táxi), fonemática,<br />

televisão, <strong>com</strong>unista, etc...<br />

Literários ou artísticos: olhicerúleo,<br />

sesquiorelhal, paredro (= pessoa importante, prócer),<br />

vesperal, festival, recital, concretismo, mo<strong>de</strong>rnismo etc...<br />

OBS.: Os neologismos populares são constituídos<br />

pelos termos <strong>de</strong> gíria. "Manjar" (enten<strong>de</strong>r, saber do<br />

assunto), "a pampa", legal (excelente), Zico, biruta,<br />

transa, psicodélico etc...<br />

PRECIOSISMO:<br />

Expressão rebuscada. Usa-se <strong>com</strong> prejuízo da<br />

naturalida<strong>de</strong> do estilo. É o que o povo chama <strong>de</strong> "falar<br />

difícil", "estar gastando".<br />

Ex.: "O fulvo e voluptoso Rajá celeste <strong>de</strong>rramará além<br />

os fugitivos esplendores da sua magnificência astral e<br />

rendilhara d‟alto e <strong>de</strong> leve as nuvens da <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za,<br />

arquitetural, <strong>de</strong>corativa, dos estilos manuelinos."<br />

OBS.: O preciosismo também po<strong>de</strong> ser chamado <strong>de</strong><br />

PROLEXIDADE.<br />

PLEONASMO:<br />

Emprego inconsciente ou voluntário <strong>de</strong> palavras ou<br />

expressões involuntárias, <strong>de</strong>snecessárias, por já estar<br />

sua significação contida em outras da mesma frase.<br />

O pleonasmo, <strong>com</strong>o vício <strong>de</strong> linguagem, contém uma<br />

repetição inútil e <strong>de</strong>snecessária dos elementos.<br />

o Voltou a estudar novamente.<br />

o Ele reincidiu na mesma falta <strong>de</strong> novo.<br />

o Primeiro subiu para cima, <strong>de</strong>pois em seguida<br />

entrou nas nuvens.<br />

O navio naufragou e foi ao fundo. Neste caso, também se<br />

chama perissologia ou tautologia.<br />

TIPOS TEXTUAIS<br />

Os tipos textuais <strong>de</strong>signam uma sequência <strong>de</strong>finida<br />

pela natureza linguística <strong>de</strong> sua <strong>com</strong>posição e, para a sua<br />

classificação, são observados aspectos lexicais,<br />

sintáticos, tempos verbais e, principalmente, as relações<br />

lógicas. Por sua estrutura <strong>com</strong>posicional, os <strong>textos</strong> se<br />

divi<strong>de</strong>m em:<br />

1. NARRATIVO<br />

Texto em que se discorre sobre fatos, sobre fazer<br />

relatos. Consiste na elaboração <strong>de</strong> um texto que relate<br />

episódios, acontecimentos e histórias (verda<strong>de</strong>iras ou<br />

fictícias). São exemplos <strong>de</strong> <strong>textos</strong> narrativos: romance,<br />

novela, conto, crônica, anedota e, até, histórias em<br />

quadrinhos.<br />

A narrativa é um texto que possui uma sequência<br />

<strong>de</strong> acontecimentos: <strong>com</strong>eço, meio e fim. No entanto, o<br />

escritor po<strong>de</strong> alterar essa or<strong>de</strong>m, <strong>com</strong>eçando a contar<br />

pelo meio ou pelo fim, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do efeito que<br />

preten<strong>de</strong> alcançar.<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 10<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

Elementos da Narrativa:<br />

1. Narrador: é quem conta a história, um ser ficcional a<br />

quem o autor transfere a tarefa <strong>de</strong> narrar os fatos. Há<br />

<strong>textos</strong> narrativos quase totalmente – ou totalmente –<br />

dialogados. Nesse caso, o narrador aparece muito pouco,<br />

ou fica subentendido.<br />

Atenção: não confunda o narrador <strong>com</strong> o autor da<br />

história. Este é um escritor, <strong>com</strong> uma biografia civil, um<br />

ser humano, que po<strong>de</strong> construir vários narradores (um<br />

para cada história que <strong>de</strong>sejar contar).<br />

2. Personagens: são os seres que estão envolvidos <strong>com</strong><br />

a história, que vivem os fatos e que são caracterizados<br />

física e psicologicamente. Qualquer tipo <strong>de</strong> ser – gente,<br />

bicho, criaturas inanimadas – po<strong>de</strong> ser personagem <strong>de</strong><br />

uma narrativa. Classificam-se em:<br />

Principais: quando participam diretamente da trama.<br />

Secundários: quando participam <strong>de</strong> forma pouco<br />

intensa da história.<br />

Caricaturais: tem os traços <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> ou<br />

padrões <strong>de</strong> <strong>com</strong>portamento realçados, acentuados (às<br />

vezes beirando o ridículo).<br />

3. Enredo: e a história em si, o conjunto enca<strong>de</strong>ado dos<br />

fatos, organizado <strong>de</strong> acordo <strong>com</strong> a vonta<strong>de</strong> do escritor.<br />

Todo enredo supõe um conflito.<br />

OBS: Uma narrativa po<strong>de</strong> apresentar um enredo linear<br />

– quando os fatos vão se <strong>de</strong>senrolando um <strong>de</strong>pois do<br />

outro, em or<strong>de</strong>m cronológica <strong>de</strong> tempo – ou um enredo<br />

não-linear – quando a historia é interrompida por uma<br />

volta ao passado (para algo ser lembrado). E o que<br />

chamamos <strong>de</strong> flashback, muito <strong>com</strong>um em filmes.<br />

4. Espaço: o espaço da narrativa é o local on<strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>senvolve a história, o cenário. A <strong>de</strong>scrição do espaço<br />

serve para criar o clima que envolve o leitor nos<br />

acontecimentos. A <strong>de</strong>scrição do espaço serve, também,<br />

para caracterizar, <strong>de</strong> forma indireta, um personagem.<br />

Po<strong>de</strong> ser:<br />

Físico: é o cenário por on<strong>de</strong> circulam os personagens e<br />

on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senrola a trama.<br />

Mental: é o retrato <strong>de</strong> uma época, a ênfase nos<br />

costumes <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado período da história.<br />

5. Tempo: o tempo da narrativa é o “quando acontece”<br />

a história.<br />

Cronológico: é o tempo marcado pelo relógio, pelo<br />

calendário ou por outros índices exteriores (momentos<br />

do dia, estações do ano, fatos históricos).<br />

Psicológico: é os tempos subjetivos, variáveis <strong>de</strong><br />

indivíduo para indivíduo. Esse tempo marca-se pelas<br />

sensações ou pensamentos do personagem.<br />

Foco narrativo (ou ponto <strong>de</strong> vista):<br />

Quando o narrador participa do enredo, é<br />

personagem atuante, diz-se que é um narradorpersonagem.<br />

Isso constitui o foco narrativo ou ponto<br />

<strong>de</strong> vista da primeira pessoa.<br />

Narrador-observador é o que serve <strong>de</strong><br />

intermediário entre o episódio e o leitor – é o foco<br />

narrativo <strong>de</strong> terceira pessoa.<br />

Ocorrem casos em que o narrador é classificado<br />

<strong>com</strong>o onisciente, pelo fato <strong>de</strong> dominar o lado psíquico <strong>de</strong><br />

seus personagens, antepondo-se às suas ações,<br />

percorrendo-lhes a mente e a alma – também sob o foco<br />

narrativo <strong>de</strong> terceira pessoa.<br />

Formas <strong>de</strong> discurso:<br />

1. O DISCURSO DIRETO caracteriza-se pela<br />

reprodução fiel da fala do personagem. Estrutura-se<br />

normalmente <strong>com</strong> a precedência <strong>de</strong> dois-pontos e iniciase<br />

após travessão. Via <strong>de</strong> regra, vem a<strong>com</strong>panhada por<br />

verbos <strong>de</strong> elocução (dizer, falar, respon<strong>de</strong>r, berrar,<br />

retrucar, indagar, etc.). Observe o exemplo:<br />

“...Botou as mãos na cabeça e a boca no mundo:<br />

- Nossa senhora, meu patrãozinho me mata!” (Fernando Sabino)<br />

O DISCURSO INDIRETO ocorre quando o narrador utiliza<br />

sua própria fala para reproduzir a fala <strong>de</strong> um<br />

personagem. O tempo verbal, no discurso indireto, será<br />

sempre passado em relação ao tempo verbal do discurso<br />

direto. Confira:<br />

“D. Evarista ficou aterrada. Foi ter <strong>com</strong> o marido, disse-lhe que<br />

estava <strong>com</strong> <strong>de</strong>sejos.” (Machado <strong>de</strong> Assis)<br />

O DISCURSO INDIRETO LIVRE é uma mescla do discurso<br />

direto <strong>com</strong> o indireto. No discurso indireto livre, a fala do<br />

personagem se insere sutilmente no discurso do<br />

narrador, permitindo-lhe expor aspectos psicológicos do<br />

pensamento do personagem. Compare os dois exemplos:<br />

“Achamos o nome engraçado. Qual o padrinho que<br />

pusera o nome <strong>de</strong> Milagre naquele afilhado? E o português<br />

explicou que não, que o nome do pretinho era Sebastião.<br />

Milagre era apelido”. (Stanislaw Ponte Preta)<br />

“Sinhá Vitória falou assim, mas Fabiano franziu a testa,<br />

achando a frase extravagante. Aves matarem bois e<br />

cavalos, que lembrança! Olhou a mulher, <strong>de</strong>sconfiado,<br />

julgou que ela estivesse tresvariando”. (Graciliano Ramos)<br />

Características <strong>de</strong> uma narrativa:<br />

Enca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> ações e fatos.<br />

As frases se organizam em uma progressão<br />

temporal (relação <strong>de</strong> anteriorida<strong>de</strong> /<br />

posteriorida<strong>de</strong>), tanto que não se po<strong>de</strong> alterar a<br />

sequência sem afetar basicamente o texto.<br />

Texto dinâmico, uma vez que existem muitos<br />

verbos indicando movimento, ação, e, ainda, a<br />

passagem do tempo.<br />

Dois <strong>textos</strong> narrativos bastante <strong>com</strong>uns em<br />

provas <strong>de</strong> concursos são:<br />

1.1 CRÔNICA – é toda narrativa que obe<strong>de</strong>ce à or<strong>de</strong>m<br />

do tempo (etimologicamente, a palavra vem do grego<br />

chrónos, que significa “tempo”). Mo<strong>de</strong>rnamente, crônica<br />

é um relato sobre os acontecimentos do cotidiano<br />

escrita numa linguagem leve e normalmente <strong>de</strong> caráter<br />

jornalístico. Ela difere do conto não apenas no tamanho,<br />

mas também na linguagem. Ela busca a intimida<strong>de</strong> e o<br />

humor da linguagem. Ela busca a intimida<strong>de</strong> e o humor<br />

da anedota, numa linguagem cotidiana que encontra<br />

receptivida<strong>de</strong> em todos os leitores.<br />

Ao mesmo tempo em que a crônica tem o caráter<br />

transitório <strong>de</strong> um jornal – uma vez que nasceu <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong>sse veículo <strong>de</strong> <strong>com</strong>unicação <strong>de</strong> massa -, ela apresenta<br />

também um narrador (que é o próprio autor),<br />

personagens que se aproximam muito das pessoas da<br />

vida real, enredo, tempo e espaço. Na maioria dos casos,<br />

todos esses elementos são trabalhados numa linguagem<br />

poética. Muitos cronistas contemporâneos conseguem<br />

captar flashes, circunstâncias do cotidiano, <strong>de</strong> uma<br />

maneira tão lírica que fica difícil dizer que tais <strong>textos</strong> não<br />

assumem um caráter literário.<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 11<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

Cabe ressaltar que, apesar <strong>de</strong> ser um gênero<br />

narrativo por <strong>de</strong>finição, a crônica é um texto geralmente<br />

híbrido (uma mescla <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong>s), que não prescin<strong>de</strong><br />

da reflexão e do <strong>com</strong>entário. Leia:<br />

Mas é coisa nossa<br />

Eu ainda estava em jejum quando abri o jornal.<br />

Pensei: quem sabe tomo café primeiro? A foto é tão<br />

chamativa que não dá para <strong>de</strong>sviar a atenção. Todo leitor da<br />

Folha <strong>de</strong>ve ter tido o mesmo choque. Mas eu confesso que<br />

resisti. Pra que, meu Deus, uma foto <strong>de</strong>ssas na primeira<br />

página? Posso falar porque tenho vivido em jornal a vida<br />

toda: jornalista tem essa inclinação para o que é negativo.<br />

Há quem diga que é um traço mórbido. Hoje todo mundo<br />

sabe, na teoria e na prática, que o corriqueiro não é notícia.<br />

Aquele exemplo clássico que já está careca <strong>de</strong> tanto<br />

ser citado. Se um cão mor<strong>de</strong> um homem, nada a noticiar. Se<br />

um homem mor<strong>de</strong> um cão, está aí a matéria-prima. Cumpre<br />

apurar tudo direitinho. Se homem foi vacinado contra raiva.<br />

Se o cão estava quieto no seu canto ou se partiu <strong>de</strong>le a<br />

provocação. Nome, cor e ida<strong>de</strong> da vítima. Enfim, um prato<br />

cheio.<br />

Se notícia é o inusitado, o que sai da banalida<strong>de</strong> e<br />

escapa ao lixo do cotidiano, então por que essa foto na<br />

primeira página? Esse personagem será assim tão insólito?<br />

Imagino que o leitor já esqueceu a foto <strong>de</strong> ontem e o<br />

impacto que ela nos causou. Esquecer um mecanismo é um<br />

ato confortável. É essencial. É o que nos permite continuar<br />

vivendo na santa paz <strong>de</strong> nossa consciência. Que diabo, a<br />

gente tem que se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r. Eu, por exemplo, quando <strong>de</strong>i<br />

<strong>com</strong> a foto, logo pensei <strong>com</strong> meus botões: <strong>de</strong>ve ser coisa <strong>de</strong><br />

Biafra. Você se lembra <strong>de</strong> Biafra.<br />

Biafra ou Blangla<strong>de</strong>sh. Lá nos cafundós, on<strong>de</strong> Judas<br />

per<strong>de</strong>u as botas. Nada a ver <strong>com</strong>igo. E <strong>de</strong>cidi fugir da<br />

legenda. Por via das dúvidas, preferia não saber on<strong>de</strong> vive,<br />

ou sobrevive, aquela coisinha <strong>de</strong> olhos fechados. Ainda bem.<br />

Se tivesse os olhos abertos, grampeava o meu olhar e a<strong>de</strong>us<br />

café da manhã. A mão direita no peito lhe dá um ar contrito.<br />

A mão esquerda segura o pé direito. Segue a firme, a perna<br />

direita cruzada sobre a esquerda. Tem até graça. Uma graça<br />

horrível, mas tem.<br />

E aquela fralda imensa. Branca, farta, não o <strong>de</strong>ixa<br />

nu. Ou nua. Não está dito qual o sexo do top mo<strong>de</strong>l que<br />

posou para o fotógrafo. Tem quatro meses, diz a legenda.<br />

Está internado na Paraíba, <strong>com</strong> suspeita <strong>de</strong> cólera. Como<br />

será o nome do serzinho tão in<strong>de</strong>feso? Aí me ocorreu que<br />

seu nome é legião. Seu sobrenome? Brasil. Por falar nisso,<br />

quando é que a gente vai tomar vergonha na cara?<br />

RESENDE, Otto Lara. Bom dia para nascer. São Paulo,<br />

Companhia das Letras, 1993.<br />

2.1 CRÔNICA REFLEXIVA é uma modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

crônica bastante utilizada nas provas <strong>de</strong> concurso, por<br />

causa <strong>de</strong> sua presença marcante em jornais e revistas <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> circulação.<br />

Na crônica reflexiva, o autor apenas tece reflexões<br />

filosóficas, ou seja, produz opiniões e impressões<br />

(humorísticas ou líricas) sobre um assunto, cativando a<br />

sensibilida<strong>de</strong> do leitor numa abordagem <strong>de</strong>scontraída.<br />

não há preocupação <strong>com</strong> a forma, já que o fluxo<br />

das i<strong>de</strong>ias é livre.<br />

Admite tanto a linguagem culta quanto<br />

coloquialismos, repetições enfáticas e gírias. É a<br />

expressão espontânea do pensamento.<br />

Observe o texto que segue:<br />

Os olhos <strong>de</strong> Isabel<br />

Instalou-se ontem no rio, um banco <strong>de</strong> olhos. Ali<br />

será conservada na gela<strong>de</strong>ira uma parte dos olhos tirado<br />

<strong>de</strong> pessoas que acabam <strong>de</strong> morrer, <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntados e<br />

natimortos.<br />

Os cegos serão capazes <strong>de</strong> distinguir a clarida<strong>de</strong>;<br />

po<strong>de</strong>rão, em muitos casos, ter a vista perfeita, recebendo<br />

nos olhos a córnea da pessoa morta. Já houve muitos<br />

casos <strong>de</strong>ssa operação no Brasil, <strong>com</strong>o o da jovem Isabel,<br />

<strong>de</strong> 18 anos, cega <strong>de</strong>s<strong>de</strong> nascença, que passou a ver bem.<br />

Não a conheço; e estimo que seja feliz e alegre em suas<br />

visões e veja sempre coisas que a façam alegre.<br />

É pelos olhos que entra em nós a maior parte das<br />

alegrias e tristezas. Os meus, ainda que bastante usados,<br />

enxergam bem, e mesmo, em certas circunstâncias,<br />

<strong>de</strong>mais. São, é natural, sujeitos a muitas ilusões: <strong>de</strong><br />

muitas já fui ao empós, e eram miragens que me levaram<br />

ao meio <strong>de</strong> um <strong>de</strong>serto on<strong>de</strong> me alimentei <strong>de</strong> gafanhotos e<br />

lágrimas, tomando sopa <strong>de</strong> vento, <strong>com</strong>endo pirão <strong>de</strong> areia,<br />

<strong>com</strong>o diz a canção.<br />

A fina membrana dos olhos não guarda a<br />

lembrança das visões; mas que sabemos? A matéria viva é<br />

uma coisa sutil e sensível que ninguém enten<strong>de</strong>. O jornal<br />

não diz <strong>de</strong> quem eram os olhos <strong>com</strong> que hoje vê a moça<br />

Isabel; e ela, nunca tendo visto antes, não sabe se as<br />

visões <strong>de</strong> hoje são verda<strong>de</strong> ou fantasia; talvez esteja a ver<br />

este mundo através do filtro emocional <strong>de</strong> uma criatura já<br />

morta; (...) mas tenham visto o que tiveram antes, que<br />

ora vejam tudo em suave e belo azul, a cor dos sonhos e<br />

<strong>de</strong>scobrimentos das navegações dos 18 anos. Que são<br />

tontas, mas belas navegações.<br />

BRAGA, Rubem. O homem rouco. Rio: editora do autor, 1963.<br />

2.3 FÁBULA é uma narrativa <strong>de</strong> caráter alegórico, que<br />

trabalha o imaginário e que preten<strong>de</strong> transmitir alguma<br />

lição <strong>de</strong> fundo moral, tendo geralmente animais <strong>com</strong>o<br />

personagens. Quando ela utiliza objetos inanimados,<br />

recebe o nome <strong>de</strong> apólogo. A fábula constitui uma forma<br />

simples <strong>de</strong> narrativa. Suas raízes remontam à<br />

Antiguida<strong>de</strong> greco-romana, <strong>com</strong> Esopo e Fedro. La<br />

Fontaine, poeta francês, foi quem introduziu e aprimorou<br />

as fábulas antigas, fazendo <strong>com</strong> que chegassem até nós.<br />

No Brasil, coube a monteiro Lobato recriar as<br />

fabulas <strong>de</strong> La Fontaine. E, mais recentemente, Millôr<br />

Fernan<strong>de</strong>s atualizou algumas histórias clássicas e criou<br />

outras <strong>de</strong> humor e filosofia, <strong>com</strong>o mostra o exemplo<br />

abaixo:<br />

A causa da chuva<br />

Não chovia há muitos e muitos meses, <strong>de</strong> modo que<br />

os animais ficaram inquietos. Uns diziam que ia chover logo,<br />

outros diziam que ainda ia <strong>de</strong>morar. Mas não chegava a uma<br />

conclusão.<br />

-Chove só quando a água cai do telhado do meu<br />

galinheiro - esclareceu a galinha.<br />

-Ora, que bobagem! – disse o sapo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da<br />

lagoa. Chove quando a água da lagoa <strong>com</strong>eça a borbulhar<br />

as gotinhas.<br />

-Como assim? – disse a lebre. Está visto só que só<br />

chove quando as folhas das árvores <strong>com</strong>eçam a <strong>de</strong>ixar cair<br />

as gotas d‟água que têm <strong>de</strong>ntro.<br />

Nesse momento <strong>com</strong>eçou a chover.<br />

- Viram? – gritou a galinha. O telhado <strong>de</strong> meu<br />

galinheiro está pingando. Isso é chuva.<br />

- Ora, não vê que a chuva é a água a lagoa<br />

borbulhando? – disse o sapo.<br />

- Mas, <strong>com</strong>o assim? – tomou a lebre. Parecem cegos!<br />

Não vêem que a água cai das folhas das árvores.<br />

Moral: Todas as opiniões estão erradas.<br />

Millôr Fernan<strong>de</strong>s (adaptado)<br />

2. DESCRITIVO<br />

Texto em que é feito a caracterização <strong>de</strong> uma<br />

pessoa, um animal, um objeto ou uma situação qualquer,<br />

inseridos num certo momento estático do tempo.<br />

Diferentemente do texto narrativo, que relata as<br />

transformações <strong>de</strong> estado que vão ocorrendo<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 12<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

progressivamente <strong>com</strong> pessoas ou coisas, o texto<br />

<strong>de</strong>scritivo põe em relevo as proprieda<strong>de</strong>s e aspectos<br />

<strong>de</strong>sses elementos num certo estão, consi<strong>de</strong>rado <strong>com</strong>o se<br />

estivesse parado.<br />

Nos enunciados <strong>de</strong>scritivos, po<strong>de</strong>m até aparecer<br />

verbos que exprimam ação, movimento, mas os<br />

movimentos são sempre simultâneos, não indicando<br />

progressão <strong>de</strong> um estado anterior para outro posterior.<br />

Se ocorrer essa progressão, inicia-se um percurso<br />

narrativo. O fundamental na <strong>de</strong>scrição é que não haja<br />

progressão temporal.<br />

Características <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scrição:<br />

Enca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> informações. Todos os<br />

enunciados apresentam ocorrências simultâneas.<br />

Riqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes e a presença abundante<br />

dos adjetivos.<br />

Não existe temporalida<strong>de</strong> (datas), tanto que se<br />

po<strong>de</strong> alterar a sequência, sem afetar basicamente o<br />

sentido.<br />

Uso dos cinco sentidos.<br />

Texto estático, pois faz um uso reiterado <strong>de</strong><br />

verbos <strong>de</strong> estado (e não <strong>de</strong> ação).<br />

A <strong>de</strong>scrição é um processo <strong>de</strong> caracterização que<br />

exige sensibilida<strong>de</strong> daquele que <strong>de</strong>screve, para<br />

sensibilizar também aquele que lê. Sendo assim, ela se<br />

baseia na percepção – nos cincos sentidos: visão, tato,<br />

audição, paladar e olfato. Observe o trecho a seguir:<br />

A Terra<br />

Ao sobrevir das chuvas, a terra (...) transfigura-se<br />

em mutações fantásticas, contrastando <strong>com</strong> a <strong>de</strong>solação<br />

anterior. Os vales secos fazem-se rios. Insulam-se os<br />

cômoros escalvados, repentinamente ver<strong>de</strong>jantes. A<br />

vegetação recama <strong>de</strong> flores, cobrindo-os, os grotões<br />

escancelados, e disfarça a dureza das barracas, e arredonda<br />

em colinas os acervos <strong>de</strong> blocos disjungidos- <strong>de</strong> sorte que<br />

as chapadas gran<strong>de</strong>s, intermeadas <strong>de</strong> convales, se ligam em<br />

curvas mais suaves aos tabuleiros altos. Cai a temperatura.<br />

Com o <strong>de</strong>saparecer das soalheiras anula-se a secura<br />

anormal dos ares. Novos tons da paisagem: a transparência<br />

do espaço salienta as linhas mais ligeiras, em todas as<br />

variantes da forma e da cor.<br />

Dilatam-se os horizontes. O firmamento, sem o azul<br />

carregado dos <strong>de</strong>sertos, alteia-se, mais profundo, ante o<br />

expandir revivescente da terra. E o sertão é um vale fértil. É<br />

um pomar vastíssimo, sem dono.<br />

Depois tudo isso acaba. Voltam os dias torturantes;<br />

a atmosfera asfixiadora; o empedramento do solo; a nu<strong>de</strong>z<br />

da flora; e nas ocasiões em que os estios se ligam sem a<br />

intermitência das chuvas - o espasmo assombrador da seca.<br />

A natureza <strong>com</strong>praz-se em um jogo <strong>de</strong> antíteses.<br />

CUNHA, Eucli<strong>de</strong>s. Os sertões - campanha <strong>de</strong> Canudos. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Editora Francisco Alves. 1982. Pagina 37-38.<br />

A apresentação conjunta <strong>de</strong> traços físicos e<br />

psicológicos permite que a <strong>de</strong>scrição se torne mais<br />

concreta, mais sensível e mais capaz <strong>de</strong> fazer o leitor<br />

realizar em sua imaginação o objeto <strong>de</strong>scrito/ ser<br />

<strong>de</strong>scrito. Mesmo assim, às vezes. E possível visualizar a<br />

<strong>de</strong>scrição sob dois enfoques:<br />

2.1 OBJETIVO – que procura <strong>de</strong>screver a realida<strong>de</strong>. De<br />

maneira direta e objetiva, sem acrescentar nenhum juízo<br />

<strong>de</strong> valor. O autor torna-se impessoal e a linguagem<br />

utilizada é <strong>de</strong>notativa.<br />

Leia a <strong>de</strong>scrição abaixo e observe que, à medida<br />

que você avança no texto, a imagem do ser <strong>de</strong>scrito vaise<br />

formando em sua mente:<br />

Era um burrinho pedrês. Miúdo e resignado, vindo<br />

<strong>de</strong> Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não sei on<strong>de</strong> no<br />

sertão. Chamava-se <strong>de</strong> Sete-<strong>de</strong>-Ouros, e já fora tão bom,<br />

<strong>com</strong>o outro não existiu e nem po<strong>de</strong> haver igual.<br />

Agora, porém, estava idoso, muito idoso. Tanto,<br />

que nem seria preciso abaixar-lhe a maxila teimosa para<br />

espiar os cantos dos <strong>de</strong>ntes. Era <strong>de</strong>crépito mesmo a<br />

distância: no algodão bruto do pelo – sementinhas escuras<br />

em rama rala e encardida: nos olhos remelentos, cor <strong>de</strong><br />

bismuto, <strong>com</strong> pálpebras rosadas, quase sempre oclusas, em<br />

constante semi-sono; e, na linha, fatigada e respeitável –<br />

uma horizontal perfeita, do <strong>com</strong>eço da testa à raiz da cauda<br />

em pêndulo amplo, para cá, para lá, tangendo as moscas.<br />

ROSA, João Guimarães. Sagarana. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Livraria<br />

José Olympio Editora, 1976.<br />

Observe a <strong>de</strong>scrição objetiva <strong>de</strong> uma personagem<br />

feminina, <strong>de</strong> Aluísio <strong>de</strong> Azevedo:<br />

Rita havia parado no pátio.<br />

Cercavam-na homens, mulheres e crianças; todos<br />

queriam novas <strong>de</strong>la. Não vinha em traje <strong>de</strong> domingo; trazia<br />

casaquinho branco, uma saia que lhe <strong>de</strong>ixava ver o pé sem<br />

meia num chinelo <strong>de</strong> polimento <strong>com</strong> enfeites <strong>de</strong> marroquim<br />

<strong>de</strong> diversas cores. No seu farto cabelo, crespo e reluzente,<br />

puxado sobre a nuca, havia um molho <strong>de</strong> manjericão e um<br />

pedaço <strong>de</strong> baunilha espetado por um gancho. E toda ela<br />

respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual <strong>de</strong><br />

trevos e plantas aromáticas. Irrequieta, saracoteando o<br />

atrevido e rijo quadril baiano, respondia para a direita e para<br />

a esquerda, pondo à mostra um fio <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes claros e<br />

brilhantes que enriqueciam a sua fisionomia <strong>com</strong> um realce<br />

fascinador.<br />

AZEVEDO, Aluísio <strong>de</strong>. O Cortiço. São Paulo: Editora<br />

Scipione, 1995, p. 37<br />

2.2 SUBJETIVO – que busca transmitir o estado <strong>de</strong><br />

espírito do autor diante da coisa observada ou sua<br />

opinião sobre ela. Ele faz uma representação particular<br />

do objeto, normalmente usado à linguagem conotativa.<br />

Leia o auto-retrato da poetisa Cecília Meirelles, num<br />

<strong>de</strong>terminado momento <strong>de</strong> sua vida:<br />

Eu não tinha esse rosto <strong>de</strong> hoje,<br />

Assim calmo, assim triste, assim magro,<br />

Nem estes olhos tão vazios,<br />

Nem o lábio amargo,<br />

Eu não tinha estas mãos sem força<br />

Tão paradas, e frias, e mortas.<br />

Eu não tinha esse coração que nem se mostra<br />

Eu não <strong>de</strong>i por essa mudança<br />

Tão simples, tão certa, tão fácil.<br />

Em que espelho ficou perdida a minha face?<br />

Observe a <strong>de</strong>scrição subjetiva <strong>de</strong> uma<br />

personagem feminina, <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis:<br />

Assomado à porta, levantou o reposteiro e <strong>de</strong>u entrada<br />

a uma mulher, que caminhou para o centro da sala. Não era<br />

uma mulher, era uma sílfi<strong>de</strong>, uma visão <strong>de</strong> poeta, uma<br />

criatura divina.<br />

Era loura; tinha os olhos azuis, que buscavam o céu ou<br />

pareciam viver <strong>de</strong>le. Os cabelos, <strong>de</strong>sleixadamente<br />

penteados, faziam-lhe em volta da cabeça, um <strong>com</strong>o<br />

resplendor <strong>de</strong> santa; santa somente, não mártir, porque o<br />

sorriso que lhe <strong>de</strong>sabrochava os lábios era um sorriso <strong>de</strong><br />

bem–aventurança, <strong>com</strong>o raras vezes há <strong>de</strong> ter tido a terra.<br />

Um vestido ranço, <strong>de</strong> finíssima cambraia , envolvia-lhe<br />

o corpo, cujas formas, aliás, <strong>de</strong>senhava, pouco para os<br />

olhos, mas muito para a imaginação.<br />

A chinela turca. In: obra Completa. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora<br />

Aguilar. 1986 p.301 (adaptado)<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 13<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

3. DISSERTATIVO<br />

Texto em que se faz uma exposição <strong>de</strong> opiniões,<br />

<strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vista, fundamentados em argumentos e<br />

raciocínios baseados na vivência, na leitura, na conclusão<br />

a respeito da vida, dos homens e dos acontecimentos.<br />

O texto dissertativo baseia-se, sobretudo, em<br />

afirmações que transmitem um conceito relativo, pois<br />

suscitam dúvidas, hesitações. Nele, aparecem os pontos<br />

<strong>de</strong> vista diferentes e conflitantes e os graus <strong>de</strong> verda<strong>de</strong><br />

e/ou falsida<strong>de</strong>.<br />

Em um texto dissertativo <strong>de</strong>vem ser usados<br />

a<strong>de</strong>quadamente os pronomes, as conjunções;<br />

observadas a concordância, a regência, a crase e as<br />

corretas relações semânticas entre as palavras.<br />

Características <strong>de</strong> uma dissertação:<br />

Enca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e raciocínio.<br />

Os assuntos são tratados <strong>de</strong> maneira abstrata<br />

e genérica.<br />

As relações internas e a coerência entre as<br />

frases é que lhe garantem o sentido, já que são os<br />

mecanismos <strong>de</strong> coesão (conjunções, preposições e<br />

pronomes relativos, <strong>de</strong>monstrativos) e as palavras<br />

abstratas que integram a estrutura básica do texto.<br />

Estrutura padrão da dissertação:<br />

Introdução: é o parágrafo <strong>de</strong> abertura,<br />

responsável pela apresentação do assunto, em que é<br />

lançada a tese (tópico frasal ou idéia principal) a ser<br />

<strong>de</strong>senvolvida nos parágrafos seguintes.<br />

Desenvolvimento: é a parte fundamental da<br />

dissertação, em que se <strong>de</strong>senvolve o raciocínio ou o<br />

ponto <strong>de</strong> vista sobre o assunto, por meio <strong>de</strong> argumentos<br />

convincentes. Do <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a<br />

profundida<strong>de</strong>, a coerência e a coesão do texto. Cada<br />

argumento (idéia secundária) a ser trabalhado <strong>de</strong>verá<br />

ocupará um parágrafo.<br />

Conclusão: É a parte final o texto, em que se faz<br />

um arremate das i<strong>de</strong>ias apresentadas. É mais <strong>com</strong>um, na<br />

conclusão <strong>de</strong> um texto que o autor ofereça uma sugestão<br />

para o problema levantado. Mas, às vezes, ele se limita a<br />

passar a solução do problema para o leitor, por meio <strong>de</strong><br />

uma pergunta.<br />

O discurso na dissertação:<br />

1° pessoa do singular – imprime extrema<br />

subjetivida<strong>de</strong> no texto e é encontrada <strong>com</strong> mais<br />

frequência nos <strong>textos</strong> literários.<br />

São exemplos do uso da 1° pessoa nos <strong>textos</strong>: Eu<br />

acho, eu acredito, a meu ver, no meu enten<strong>de</strong>r, para<br />

mim, na minha opinião, etc.<br />

1° pessoa do plural – também atribui certo grau<br />

<strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> ao texto. Autores que optam pela 1°<br />

pessoa do plural buscam maior interativida<strong>de</strong> <strong>com</strong> o<br />

leitor, no sentido <strong>de</strong> incluí-lo <strong>com</strong>o participante das i<strong>de</strong>ias<br />

do texto. Exemplo: Vivenciamos atualmente tempos <strong>de</strong><br />

globalização da pobreza... (consenso)<br />

Cuidado! Existe uma 1° pessoa do plural que não<br />

inclui o leitor – é o chamado plural <strong>de</strong> modéstia. Isso<br />

acontece quando um autor produz e assina, sozinho, um<br />

texto no qual ele expressa “Para citarmos um<br />

exemplo...”.<br />

3° pessoa (i<strong>de</strong>ológica) – imprime objetivida<strong>de</strong><br />

no texto, dano à expressão do pensamento um caráter<br />

mais universal. O uso da 3° pessoa facilita a persuasão,<br />

já que confere maior credibilida<strong>de</strong> às i<strong>de</strong>ias. Ex: “A<br />

política econômica do governo Lula não promove, <strong>de</strong><br />

fato, o bem-estar social.”<br />

3.1 ARGUMENTATIVO – texto em que o autor quer<br />

provar a veracida<strong>de</strong> (ou falsida<strong>de</strong>) <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, por meio <strong>de</strong><br />

uma argumentação lógica. Nesse tipo <strong>de</strong> texto, o autor<br />

visa a convencer/persuadir o leitor – por meio <strong>de</strong><br />

argumentos, provas evi<strong>de</strong>ntes, testemunhos - <strong>de</strong> forma<br />

impessoal e objetiva, o que confere ao texto um caráter<br />

imparcial, facilitando a aceitação das i<strong>de</strong>ias expostas.<br />

Observe o exemplo:<br />

CARO DATA VERMIBUS<br />

Carne dada aos vermes. Alguns gramáticos<br />

extravagantes vêem nas sílabas iniciais da expressão latina<br />

CAro DAta VErmibus a origem da palavra cadáver. A ciência,<br />

no seu esforço <strong>de</strong> salvar vidas, logrou, no entanto, a dar-lhe<br />

outra finalida<strong>de</strong> mais nobre: a <strong>de</strong> suprir a falência <strong>de</strong> órgãos<br />

<strong>de</strong> pessoas vivas, substituídos por partes que <strong>de</strong>le possam<br />

ser retiradas. Contra esse benefício para a humanida<strong>de</strong>,<br />

levantam-se barreiras à utilização <strong>de</strong> órgãos removidos <strong>de</strong><br />

cadáveres, se não há, para isso, consentimento familiar,<br />

<strong>com</strong> a invocação <strong>de</strong> princípios que orientam a ética méica.<br />

Benjamim Bentham estabeleceu que o direito e a<br />

moral ocupam círculos concêntricos; o raio maior seria o da<br />

moral. O direito, portanto, seria o mínimo ético. Posta a<br />

premissa, o <strong>de</strong>bate da retirada <strong>de</strong> órgãos <strong>de</strong> cadáveres<br />

<strong>de</strong>ve, necessariamente, ferir-se no campo da Ética.<br />

Contudo, gran<strong>de</strong> diferença vai entre a Ética, <strong>com</strong>o é<br />

consi<strong>de</strong>rada no âmbito da Filosofia, e a disciplina imposta ao<br />

exercício <strong>de</strong> profissões liberais pelos seus órgãos <strong>de</strong> classe.<br />

Na Axiologia, os valores são vistos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma escala,<br />

estabelecida segundo os costumes e a cultura os povos.<br />

O sentido <strong>de</strong>ssa escala é o <strong>de</strong> oferecer fundamentos<br />

para dirimir o conflito que se instale entre esses valores. O<br />

conflito é inerente à vida <strong>de</strong> relação, tanto que, na<br />

organização do estado, é prevista a instituição <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r<br />

só para dirimi-lo: o judiciário. Nenhum país, <strong>com</strong> foros <strong>de</strong><br />

civilização há <strong>de</strong> colocar a vida em segundo plano na escala<br />

<strong>de</strong> valores. Tudo o que se fizer para a salvação <strong>de</strong> uma vida<br />

é, por princípio, ético. A ética, aplicada no uso <strong>de</strong> partes do<br />

cadáver, para restituir a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas ou salvar-lhes a<br />

vida, põe-se diante o seguinte dilema: preservar o cadáver<br />

para satisfazer o <strong>de</strong>sejo da família?<br />

A discussão a lei da doação presumida <strong>de</strong> órgãos é,<br />

diante da ética, absolutamente estéril. Os primeiros<br />

transplantes não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ram <strong>de</strong> lei e ainda hoje, <strong>com</strong>o<br />

antes, a ética lhes dá o necessário suporte. A retirada <strong>de</strong><br />

órgãos <strong>de</strong> cadáveres, para transplante, é ética até contra a<br />

vonta<strong>de</strong>, em Vida, o morto. O direito, ainda <strong>de</strong>ntro do<br />

mínimo ético, colocaria esse ato em face do estado <strong>de</strong><br />

necessida<strong>de</strong>, que o Código Penal consi<strong>de</strong>ra exclu<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

ilicitu<strong>de</strong>.<br />

O artigo 24 do Código Penal calha, no caso, <strong>com</strong>o uma<br />

luva. Se a única alternativa para salvar uma vida é o<br />

transplante <strong>de</strong> órgão <strong>de</strong> cadáver, a sua retirada, para esse<br />

fim, é inteiramente abonada pelo estado <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>.<br />

Conduta em sentido inverso é irrelevante para a<br />

configuração <strong>de</strong> crime por omissão, se o médico podia e<br />

<strong>de</strong>via evitar a morte ou curar a doença. É inconcebível que<br />

todo o pensamento penal tenha sido formulado contra a<br />

Ética. Não há ética que se sustente contra da vida. Por<br />

sentimento da família, leve-se em maior conta o daquela<br />

ligada ao paciente que espera pelo órgão. Se é inevitável a<br />

dor <strong>de</strong> uma, pela falta do órgão, ou <strong>de</strong> outra, pela retirada,<br />

a solução, sempre conflituosa, <strong>de</strong>ve ser buscada na tabela<br />

<strong>de</strong> valores. O cadáver servirá aos vermes ou ao paciente<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 14<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

vivo. Este morrerá ou viverá penosamente. Vida ou saú<strong>de</strong><br />

versus morte ou doença. Para que lado <strong>de</strong>veria pen<strong>de</strong>r a<br />

Ética?<br />

SILVA, E<strong>de</strong>lberto Luiz da. Correio Braziliense, 11/1/98<br />

3.2 EXPOSITIVO – texto que consiste na<br />

or<strong>de</strong>nação/exposição <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias sobre um <strong>de</strong>terminado<br />

assunto. Sua característica básica é o cunho reflexivoteórico.<br />

A dissertação-expositiva segue a mesma<br />

estrutura <strong>de</strong> uma dissertação argumentativa: introdução,<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e conclusão. A diferença resi<strong>de</strong> no fato<br />

<strong>de</strong> que na introdução, em lugar da tese, apresenta-se a<br />

idéia principal o texto. Admite essencialmente a<br />

linguagem culta – simples ou mais elaborada. Lembre-se<br />

<strong>de</strong> que linguagem culta não significa rebuscamento. Leia:<br />

A maioria dos <strong>com</strong>entários sobre crimes ou se limitam<br />

a pedir <strong>de</strong> volta o autoritarismo ou a culpar a violência do<br />

cinema e da televisão, por excitar a imaginação criminosa<br />

dos jovens. Poucos pensam que vivemos em uma socieda<strong>de</strong><br />

que estimula, <strong>de</strong> forma sistemática, a passivida<strong>de</strong>, o rancor,<br />

a impotência, a inveja e o sentimento <strong>de</strong> nulida<strong>de</strong> nas<br />

pessoas. Não po<strong>de</strong>mos interferir na política, porque nos<br />

ensinaram a per<strong>de</strong>r o gosto pelo bem <strong>com</strong>um; não po<strong>de</strong>mos<br />

tentar mudar nossas relações afetivas, porque isso é<br />

assunto <strong>de</strong> cientistas; não po<strong>de</strong>mos, enfim, imaginar modos<br />

<strong>de</strong> viver mais dignos, mais cooperativos e solidários, porque<br />

isso é coisa <strong>de</strong> obscurantista, i<strong>de</strong>alista, per<strong>de</strong>dor ou i<strong>de</strong>ólogo<br />

fanático, e mundo é os fazedores e dinheiro.<br />

Somos uma espécie que possui o po<strong>de</strong>r da imaginação,<br />

da criativida<strong>de</strong>, da afirmação, e da agressivida<strong>de</strong>. Se isso<br />

não po<strong>de</strong> aparecer, surge, no lugar, a reação cega ao que<br />

nos impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar, <strong>de</strong> colocar no mundo algo <strong>de</strong> nossa<br />

marca, <strong>de</strong> nosso <strong>de</strong>sejo, <strong>de</strong> nossa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Quem<br />

sabe e po<strong>de</strong> usar – <strong>com</strong> firmeza, agressivida<strong>de</strong>, criativida<strong>de</strong><br />

e afirmativida<strong>de</strong> – a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> doar e transformar a<br />

vida, raramente precisa matar inocentes <strong>de</strong> maneira bruta.<br />

Existem mil outras maneiras <strong>de</strong> nos sentirmos potentes, <strong>de</strong><br />

nos sentirmos capazes <strong>de</strong> imprimir um curso à vida que não<br />

seja pela força das armas, da violência física ou da evasão<br />

pelas drogas, legais ou ilegais, pouco importa.<br />

COSTA, Jurandir Freire. In: Quatro autores em busca do<br />

Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rocco, 2000, p.43 (<strong>com</strong> adaptações).<br />

3.4 INJUNTIVO – é um texto instrucional, que indica<br />

procedimentos a serem realizados. A intenção po<strong>de</strong> ser<br />

persuasiva ou apenas instrutiva. São exemplos <strong>de</strong> <strong>textos</strong><br />

injuntivos as receitas, os manuais <strong>de</strong> instruções, as bulas<br />

<strong>de</strong> remédios, etc. Neles, predominam:<br />

Verbos empregados no modo imperativo;<br />

Emprego do padrão culto da língua;<br />

Linguagem clara e acessível a todo tipo <strong>de</strong><br />

pessoas;<br />

Função referencial da linguagem. A função<br />

conativa também é bastante recorrente.<br />

Veja um exemplo <strong>de</strong> texto injuntivo (extraído da<br />

prova do Ministério da Saú<strong>de</strong> – aplicada pelo<br />

CESPE/UnB)<br />

Cuidados para evitar envenenamentos:<br />

Mantenha sempre medicamentos e produtos tóxicos<br />

fora do alcance das crianças;<br />

Não utilize medicamentos sem orientação <strong>de</strong> um<br />

médico e leia a bula antes <strong>de</strong> consumi-los;<br />

Não armazene restos <strong>de</strong> medicamentos e tenha<br />

atenção ao seu prazo <strong>de</strong> valida<strong>de</strong>;<br />

Nunca <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong> ler o rótulo ou a bula antes <strong>de</strong> usar<br />

qualquer medicamento;<br />

Evite tomar remédio na frente <strong>de</strong> crianças;<br />

Não ingira nem dê remédio no escuro para que não<br />

haja trocas perigosas;<br />

Não utilize remédios sem orientação médica e <strong>com</strong><br />

prazo <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> vencido;<br />

Mantenha os medicamentos nas embalagens<br />

originais;<br />

Cuidado <strong>com</strong> os remédios <strong>de</strong> uso infantil e <strong>de</strong> uso<br />

adulto <strong>com</strong> embalagens muito parecidas; erros <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificação po<strong>de</strong>m causar intoxicações graves e, às vezes,<br />

fatais;<br />

Pílulas coloridas, embalagens e garrafas bonitas,<br />

brilhantes e atraentes, odor e sabor adocicados <strong>de</strong>spertam a<br />

atenção e a curiosida<strong>de</strong> natural das crianças; não estimule<br />

essa curiosida<strong>de</strong>; mantenha medicamentos e produtos<br />

domésticos trancados e fora do alcance dos pequenos.<br />

Internet: (<strong>com</strong><br />

adaptações) – Extraio da prova do Ministério da Saú<strong>de</strong>.<br />

CARACTERÍSTICAS DE ALGUNS DISCURSOS<br />

Discurso é prática social <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> <strong>textos</strong>.<br />

Todo discurso é uma construção social (e não individual),<br />

que só po<strong>de</strong> ser analisada consi<strong>de</strong>rando-se o seu<br />

contexto histórico-social, suas condições <strong>de</strong> produção e,<br />

essencialmente, a visão e mundo vinculados ao autor do<br />

texto e á socieda<strong>de</strong> em que ele vive. Os discursos que<br />

po<strong>de</strong>m aparecer, frequentemente, em provas <strong>de</strong><br />

concursos são:<br />

Acadêmico é um discurso que tem a finalida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> expor a investigação <strong>de</strong> um fato, <strong>de</strong> um<br />

acontecimento ou <strong>de</strong> uma experiência científica, <strong>com</strong><br />

bastante rigor nos conceitos e informações utilizados.<br />

Tem <strong>com</strong>o característica:<br />

Geralmente explica ou fundamenta as afirmações<br />

<strong>com</strong> base em dados objetivos, cientificamente<br />

<strong>com</strong>provadas;<br />

Po<strong>de</strong> servir-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrições, <strong>de</strong> enumerações,<br />

<strong>de</strong> exposições narrativas, <strong>de</strong> relatos <strong>de</strong> fatos, <strong>de</strong> gráficos,<br />

<strong>de</strong> estatísticas, etc.<br />

Normalmente segue um roteiro preestabelecido:<br />

apresenta, normalmente, introdução, <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

conclusão. Em alguns casos, po<strong>de</strong> apresentar outras<br />

partes, <strong>com</strong>o folha <strong>de</strong> rosto, anexos, sumário, etc.<br />

Linguagem objetiva e impessoal, <strong>de</strong> acordo <strong>com</strong><br />

o padrão culto da língua.<br />

Científico é um discurso <strong>de</strong> natureza expositiva e<br />

tem por finalida<strong>de</strong> expor um assunto <strong>de</strong> cunho científico.<br />

Possui uma estrutura relativamente simples:<br />

apresentação <strong>de</strong> uma tese (explicação sobre o objeto <strong>de</strong><br />

estudo) a ser <strong>de</strong>senvolvida por meio <strong>de</strong> “provas”<br />

(exemplos, <strong>com</strong>parações, relações <strong>de</strong> causa e efeito,<br />

resultados <strong>de</strong> testes, dados estatísticos, etc.). Nesse tipo<br />

<strong>de</strong> texto, a conclusão é facultativa. Este domínio<br />

discursivo aparece em artigos e relatórios científicos,<br />

teses, dissertações, monografias, verbetes <strong>de</strong><br />

enciclopédias, artigos <strong>de</strong> divulgação científica, etc.<br />

Tem <strong>com</strong>o característica:<br />

O máximo <strong>de</strong> precisão e rigor nos conceitos e<br />

informações utilizados;<br />

Presença obrigatória <strong>de</strong> terminologia científica <strong>de</strong><br />

uma ou mais áreas do conhecimento;<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 15<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

Verbos empregados predominantemente no<br />

presente do indicativo;<br />

Linguagem clara, objetiva e impessoal, <strong>de</strong> acordo<br />

<strong>com</strong> o padrão culto da língua.<br />

Literário (ficcional) é um discurso que tem<br />

função estética, no qual o escritor busca não apenas<br />

traduzir o mundo, mas recriá-lo nas palavras, <strong>de</strong> modo<br />

que nele importe não apenas o que se diz, mas o modo<br />

<strong>com</strong>o se diz. Este domínio discursivo aparece em:<br />

contos, fábulas, lendas, poemas, peças <strong>de</strong> teatro,<br />

crônicas, roteiros <strong>de</strong> filmes, histórias em quadrinhos, etc.<br />

Tem <strong>com</strong>o característica:<br />

Predomínio da linguagem conotativa, já que, por<br />

sua função estética, o autor sempre atribui novos<br />

sentidos às palavras.<br />

Utiliza múltiplos recursos estilísticos: ritmos,<br />

sonorida<strong>de</strong>s, repetição <strong>de</strong> palavras ou <strong>de</strong> sons, repetição<br />

<strong>de</strong> situações ou <strong>de</strong>scrições.<br />

Jornalístico é um texto que tem função<br />

utilitária, pois visa informar o leitor. Nesse caso, o plano<br />

da expressão não tem muita importância, já que sua<br />

finalida<strong>de</strong> é apenas veicular conteúdo. Este domínio<br />

discursivo aparece em editoriais, notícias, reportagens,<br />

artigos <strong>de</strong> opinião, <strong>com</strong>entários, cartas ao leitor, crônica<br />

policial, crônica esportiva, entrevistas jornalísticas,<br />

expediente, boletim do tempo, erratas e charges.<br />

Temo <strong>com</strong> característica:<br />

Predomínio da narração, <strong>com</strong> a presença dos<br />

elementos essenciais <strong>de</strong> um texto narrativo: fato,<br />

pessoas envolvias, tempo em que ocorreu o fato, o lugar<br />

on<strong>de</strong> ocorreu, <strong>com</strong>o e por que ocorreu o fato.<br />

Normalmente apresenta um título.<br />

Predomínio da função referencial, na qual se<br />

privilegia a linguagem <strong>de</strong>notativa e as construções<br />

gramaticais em or<strong>de</strong>m direta e clara.<br />

Publicitário é um discurso <strong>de</strong> natureza<br />

dissertativa que tem por finalida<strong>de</strong> apresentar<br />

argumentos (diretos ou indiretos) para persuadir o<br />

interlocutor sobre as eventuais “vantagens” <strong>de</strong> um<br />

produto: quantitativos (ren<strong>de</strong> mais, é mais barato);<br />

qualitativos (o melhor, o mais saboroso, o mais nutritivo)<br />

e i<strong>de</strong>ológicos (mais mo<strong>de</strong>rno, mais arrojado, mais<br />

exclusivo). Este domínio discursivo aparece em<br />

propagandas, anúncios classificados, cartazes, folhetos,<br />

outdoors, inscrições em muros, placas, front lights,<br />

logomarcas, publicida<strong>de</strong> em geral.<br />

Tem <strong>com</strong>o característica:<br />

É quase sempre constituído por imagem e texto.<br />

O nível <strong>de</strong> linguagem utilizado varia <strong>de</strong> acordo<br />

<strong>com</strong> o público que se quer atingir.<br />

Utiliza verbos geralmente no modo imperativo ou<br />

no presente do indicativo.<br />

Faz uso <strong>de</strong> recursos tais <strong>com</strong>o: figuras <strong>de</strong><br />

linguagem, ambiguida<strong>de</strong>s, jogos <strong>de</strong> palavras<br />

(trocadilhos), provérbios, etc.<br />

A estrutura po<strong>de</strong> variar, mas é geralmente<br />

<strong>com</strong>posta por: titulo (que chame a atenção sobre o<br />

produto); texto (que amplie o argumento do título) e a<br />

assinatura (logotipo ou marca do anunciante).<br />

GÊNEROS TEXTUAIS<br />

Os gêneros textuais também estão ligados às<br />

práticas sociais e, portanto, são inúmeros – <strong>textos</strong> orais<br />

ou escritos produzidos por falantes <strong>de</strong> uma língua em<br />

<strong>de</strong>terminado momento histórico. Po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>finidos <strong>de</strong><br />

acordo <strong>com</strong> o estilo, a função, a <strong>com</strong>posição e,<br />

principalmente, o conteúdo. Vale lembrar que muitos<br />

gêneros são <strong>com</strong>uns a vários domínios discursivos.<br />

Alguns gêneros utilizados em provas <strong>de</strong> concurso:<br />

EDITORIAL<br />

É um texto dissertativo, que manifesta a opinião<br />

do jornal ou da revista a respeito <strong>de</strong> um assunto da<br />

atualida<strong>de</strong>, quase sempre polêmico, <strong>com</strong> a intenção <strong>de</strong><br />

esclarecer ou alterar pontos <strong>de</strong> vista dos leitores, alertar<br />

a socieda<strong>de</strong> e, as vezes, até mobilizá-la.<br />

O editorial, <strong>com</strong>o texto argumentativo que é, tem<br />

por finalida<strong>de</strong> persuadir o leitor e, por isso, precisa dar a<br />

impressão <strong>de</strong> que <strong>de</strong>tém a verda<strong>de</strong>, evitando opiniões<br />

pessoais, afirmações generalizantes e sem fundamento.<br />

No <strong>de</strong>senvolvimento das i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> um editorial, os<br />

recursos empregados para dar maior consistência ao<br />

texto e aproximá-lo da verda<strong>de</strong> são exemplos,<br />

<strong>de</strong>poimentos, dados estatísticos, pesquisas, <strong>com</strong>parações<br />

ou relações <strong>de</strong> causa e efeito.<br />

Semelhante a outros <strong>textos</strong> argumentativos, o<br />

editorial normalmente apresenta uma estrutura<br />

organizada em torno <strong>de</strong> três partes: introdução, em<br />

que se anuncia a tese a serem <strong>de</strong>fendidas pelo jornal; o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento, em que são apresentados os<br />

argumentos que fundamentam essa tese; e a<br />

conclusão, em que se faz uma síntese das i<strong>de</strong>ias<br />

expostas.<br />

Leia o editorial abaixo, extraído da revista Época,<br />

<strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2005.<br />

Sinais inequívocos <strong>de</strong> <strong>com</strong>o o homem mo<strong>de</strong>rno já está<br />

prejudicado pelo uso <strong>de</strong>predatório dos recursos naturais têm<br />

se multiplicado mundo afora. No ano <strong>de</strong> 2005, houve um<br />

número sem prece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> irregularida<strong>de</strong>s climáticas <strong>de</strong><br />

consequências trágicas. Quase simultaneamente, houve<br />

ondas <strong>de</strong> calor nos EUA, na Europa, na Ásia e na África.<br />

Inundações na Ásia, nos EUA e na Europa. E também<br />

furacões <strong>de</strong>vastadores nas Antilhas, nos EUA e na Ásia. E<br />

até no Brasil, um caso <strong>com</strong> poucos prece<strong>de</strong>ntes. E ainda por<br />

cima, <strong>com</strong>eçam a se <strong>de</strong>senvolver hipóteses <strong>de</strong> que a<br />

ativida<strong>de</strong> vulcânica, responsável por maremotos (tsunamis),<br />

po<strong>de</strong> ser induzida pelo aumento da temperatura do mar.<br />

Embora não seja consenso, pesquisas científicas<br />

apontam uma relação <strong>de</strong> causa e efeito entre o aquecimento<br />

global e as perturbações climáticas observadas nos últimos<br />

tempos. Com base nisso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1997, representantes <strong>de</strong><br />

cerca <strong>de</strong> duas centenas <strong>de</strong> países têm se reunido para<br />

discutir um protocolo <strong>de</strong> intenções para regular a emissão<br />

dos gases poluidores responsáveis pelo aquecimento global.<br />

A esse protocolo foi dado o nome <strong>de</strong> Kyoto, cida<strong>de</strong> japonesa<br />

on<strong>de</strong> ocorreu a primeira reunião do grupo.<br />

NOTÍCIA DE JORNAL<br />

É um texto narrativo, que expressa um fato<br />

novo, buscando <strong>de</strong>spertar o interesse do público a que o<br />

jornal se <strong>de</strong>stina. Gênero tipicamente jornalístico, a<br />

notícia po<strong>de</strong> ser veiculada em jornais, escritos ou<br />

falados, e em revistas.<br />

Uma notícia <strong>de</strong>ve ser imparcial e objetiva, ou seja,<br />

<strong>de</strong>ve expor fatos e não opiniões, em linguagem clara,<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 16<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

direta e bastante precisa. É encabeçado por um título<br />

(anuncia o assunto a ser <strong>de</strong>senvolvido), no qual são<br />

empregadas palavras curtas e <strong>de</strong> uso <strong>com</strong>um.<br />

Elementos que <strong>com</strong>põem a notícia: são a<br />

resposta a estas seis perguntas básicas.<br />

O quê? - os fatos;<br />

Quem? – os personagens, as pessoas;<br />

Quando? – em que tempo;<br />

On<strong>de</strong>? – em que lugar;<br />

Como? – <strong>de</strong> que maneira, por meio <strong>de</strong> quê;<br />

Por quê? – por que motivo(s).<br />

Estrutura textual:<br />

Lead é um resumo do fato em poucas linhas e<br />

<strong>com</strong>preen<strong>de</strong> normalmente o primeiro parágrafo da<br />

notícia. Contém as informações mais importantes e <strong>de</strong>ve<br />

fornecer ao leitor a maior parte das respostas às<br />

perguntas formuladas anteriormente.<br />

Corpo são os <strong>de</strong>mais parágrafos da notícia, nos<br />

quais se apresenta o <strong>de</strong>talhamento do assunto exposto<br />

no Lead, fornecendo ao leitor novas informações, em<br />

or<strong>de</strong>m cronológica ou <strong>de</strong> importância.<br />

Leia a notícia extraída do jornal Folha <strong>de</strong> São<br />

Paulo:<br />

Assombrado pela necessida<strong>de</strong> e pela fome, Ashkar<br />

Muhammad primeiro ven<strong>de</strong>u alguns <strong>de</strong> seus animais. Aí,<br />

enquanto os meses iam passando, trocou os tapetes da<br />

família, os utensílios <strong>de</strong> metal e até mesmo as toras <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira que sustentavam o teto da cabana que o abriga<br />

<strong>com</strong> a larga prole.<br />

Mas o dinheiro não dava. A fome sempre reaparecia.<br />

Finalmente, seis semanas atrás, Muhammad fez algo que se<br />

tornou infelizmente digno <strong>de</strong> nota no país. Ele levou dois <strong>de</strong><br />

seus <strong>de</strong>z filhos para o bazar da cida<strong>de</strong> mais próxima e os<br />

trocou por sacos <strong>de</strong> trigo. Agora os garotos Sher, 10; Baz,<br />

5, estão longe <strong>de</strong> suas casas. “O que mais eu po<strong>de</strong>ria<br />

fazer?”, pergunta o pai, em Kangori, uma remota vila no<br />

norte do Afeganistão. Ele não quer parecer indiferente:<br />

“Sinto falta <strong>de</strong> meus filhos, mas não havia nada para<br />

<strong>com</strong>er.”<br />

Nas colinas próximas, vêem-se pessoas <strong>de</strong>bilitadas<br />

voltando <strong>de</strong> uma colheita primitiva <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

vegetais da região e até mesmo grama – uma colheita que<br />

só fica minimamente <strong>com</strong>estível se fervida por muito<br />

tempo. “Para alguns, não há nada mais”, balbucia<br />

Muhammad.<br />

BEARAK, Barry. Pai afegão ven<strong>de</strong> filhos para <strong>com</strong>prar<br />

<strong>com</strong>ida. Folha <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo, 17 mar 2006.<br />

REPORTAGEM<br />

É uma modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caráter opinativo, que<br />

estabelece uma conexão entre o fato central e os fatos<br />

paralelos, questiona causas e efeitos <strong>de</strong>sses fatos,<br />

interpretando-os e orientando o leitor sobre eles.<br />

Não possui uma estrutura rígida: <strong>de</strong> modo geral, é<br />

introduzida por um lead e é sempre encabeçada por um<br />

título (que anuncia o fato em si) e po<strong>de</strong> ou não<br />

apresentar subtítulo.<br />

Na reportagem, o autor <strong>de</strong>senvolve a narrativa<br />

pormenorizada dos fatos, <strong>com</strong>pondo-a por meio <strong>de</strong><br />

entrevistas, <strong>de</strong>poimentos, dados estatísticos, pequenos<br />

resumos e <strong>textos</strong> <strong>de</strong> opinião e <strong>de</strong>pois emite sua opinião a<br />

respeito do assunto.<br />

Embora seja um texto <strong>de</strong> linguagem clara,<br />

dinâmica e objetiva (<strong>de</strong> acordo <strong>com</strong> o padrão culto), a<br />

maioria dos jornais e revistas brasileiros costuma<br />

empregar uma linguagem mais informal, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do<br />

público a que esses veículos se <strong>de</strong>stinem.<br />

Leia o excerto abaixo:<br />

Enquanto a notícia nos diz no mesmo dia ou no seguinte<br />

se o acontecimento entrou para a história, a reportagem nos<br />

mostra <strong>com</strong>o é que isso se <strong>de</strong>u. Tomada <strong>com</strong>o método <strong>de</strong><br />

registro, a notícia se esgota no anúncio; a reportagem, porém,<br />

só se esgota no <strong>de</strong>sdobramento, na pormenorização, no amplo<br />

relato dos fatos.<br />

O salto da notícia para a reportagem se dá no<br />

momento em que é preciso ir além da notificação – em que<br />

a notícia <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser sinônimo <strong>de</strong> nota - e se situa no<br />

<strong>de</strong>talhamento, no questionamento <strong>de</strong> causa e efeito, na<br />

interpretação e no impacto, adquirindo uma nova dimensão<br />

narrativa e ética. Porque, <strong>com</strong> essa ampliação <strong>de</strong> âmbito, a<br />

reportagem atribui à notícia um conteúdo que privilegia a<br />

versão. Se a nota é geralmente a história <strong>de</strong> uma só versão<br />

[...], a reportagem é, por <strong>de</strong>ver e método, a soma das<br />

diferentes versões <strong>de</strong> um mesmo acontecimento.<br />

[...]É fundamental ouvir todas as versões <strong>de</strong> um fato<br />

para que a verda<strong>de</strong> apurada não seja apenas a verda<strong>de</strong> que<br />

se pensa que é e, sim, a verda<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>monstra e tanto<br />

que possível se <strong>com</strong>prova.<br />

Jornal, história e técnica: as técnicas do jornalismo. São<br />

Paulo: Ática , 1990.<br />

ARTIGO DE OPINIÃO<br />

É um texto jornalístico <strong>de</strong> caráter dissertativo,<br />

<strong>com</strong> assinatura do autor, no qual ele expressa uma<br />

opinião ou <strong>com</strong>enta um assunto a partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />

posição. É uma modalida<strong>de</strong> na qual o articulista<br />

geralmente apresenta opiniões, que refletem apenas a<br />

forma <strong>com</strong>o ele <strong>com</strong>preen<strong>de</strong> e interpreta os fatos.<br />

Leia o artigo <strong>de</strong> opinião, escrito pelo jornalista<br />

Eugênio Bucci, extraído da revista Veja, <strong>de</strong> 18/09/96.<br />

No seu programa <strong>de</strong> Domingo dia 8 [setembro <strong>de</strong> 1996],<br />

o apresentador Fausto Silva colocou em cena o garoto Rafael.<br />

Logo que o peso-pena pisou no programa. Faustão tentou<br />

entrevistá-lo. O menino, <strong>com</strong> ida<strong>de</strong> mental <strong>de</strong> criança que<br />

acabou <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar a fralda, não entendia as perguntas.<br />

Respondia uma ou outra, <strong>com</strong> uma voz que parecia um<br />

balbucio. Houve então sessões <strong>de</strong> piada tendo o garoto <strong>com</strong>o<br />

tema [...]<br />

A apresentação do bizarro na televisão é um recurso que<br />

dá resultado, sempre <strong>de</strong>u. O bizarro atrai a atenção do ser<br />

humano quase que por instinto, sem que ele raciocine. [...] Se<br />

os telespectadores ficam olhando curiosos, o ibope do<br />

programa sobe. Isso significa sucesso <strong>com</strong>ercial, mais<br />

anúncios, mais faturamento.<br />

Qual é a fronteira, qual a linha divisória entre o que se<br />

po<strong>de</strong> levar ao ar para atrair mais telespectadores? “É tênue a<br />

linha que divi<strong>de</strong> o que é curioso e o que transforma a<br />

curiosida<strong>de</strong> em algo que ridiculariza uma pessoa”, arrisca o<br />

empresário Silvio Santos, dono do SBT, uma emissora que não<br />

raro transpõe essa linha. [...]<br />

EPISTOLAR<br />

É um texto narrativo, escrito sob a forma <strong>de</strong><br />

carta, que se caracteriza por apresentar opiniões,<br />

manifestos e discussões, as quais vão muito além dos<br />

meros interesses pessoais ou utilitários. Texto que<br />

<strong>com</strong>bina paixões e apelos subjetivos <strong>com</strong> o <strong>de</strong>bate <strong>de</strong><br />

temas abrangentes e abstratos.<br />

A partir o renascimento, antes do surgimento da<br />

imprensa jornalística, as cartas exerciam a função <strong>de</strong><br />

informar sobre fatos que ocorriam no mundo. Por isso, as<br />

epistolas <strong>de</strong> um autor, reunidas, po<strong>de</strong>riam vir a ser<br />

publicadas <strong>de</strong>vido a seu interesse histórico, literário ou<br />

documental, <strong>com</strong>o no caso das Epístolas <strong>de</strong> São Paulo<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 17<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

(na Bíblia), <strong>de</strong>stinadas às <strong>com</strong>unida<strong>de</strong>s cristãs e das<br />

cartas do padre Antonio Vieira e <strong>de</strong> Pero Vaz <strong>de</strong><br />

Caminha.<br />

Na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, <strong>com</strong> difusão dos meios<br />

eletrônicos <strong>de</strong> escrita, o gênero epistolar ten<strong>de</strong> a se<br />

reinventar – em outros mol<strong>de</strong>s e estilos, <strong>com</strong>o<br />

mensagens <strong>de</strong> e-mail, por exemplo.<br />

Leia, abaixo, trechos da Carta <strong>de</strong> Caminha, escrita<br />

nos primórdios do <strong>de</strong>scobrimento do Brasil, impressa em<br />

1817 pela imprensa Régia do Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Senhor<br />

Mesmo que o capitão-mor <strong>de</strong>sta vossa frota e também<br />

os outros capitães escrevam a vossa alteza a notícia do<br />

achamento <strong>de</strong>sta vossa Terra Nova que, agora, nesta<br />

navegação se achou, não <strong>de</strong>ixarei, também, <strong>de</strong> dar disso<br />

minha conta a Vossa Alteza, tal <strong>com</strong>o eu melhor pu<strong>de</strong>r<br />

ainda que para bem contar e falar o saiba fazer pior que<br />

todos. Mas tome Vossa Alteza minha ignorância por boa<br />

vonta<strong>de</strong>; e cria, <strong>com</strong>o certo, que não hei <strong>de</strong> pôr aqui mais<br />

que aquilo que vi e me pareceu, nem para aformosear, nem<br />

para afear.<br />

(...)<br />

Mas o melhor fruto que nela se po<strong>de</strong> fazer, me parece<br />

que será salvar esta gente; e esta <strong>de</strong>ve ser a principal<br />

semente que Vossa Alteza nela <strong>de</strong>ve lançar. E que não<br />

houvesse mais do que ter aqui esta disposição para se<br />

cumprir nela e fazer o que Vossa Alteza tanto <strong>de</strong>seja, ou<br />

seja: acrescentamento da nossa Santa Fé. E <strong>de</strong>sta maneira<br />

Senhor, dou aqui a Vossa Alteza notícia do que nesta vossa<br />

terra vi. E se algum pouco me alonguei, Ela me perdoe, que<br />

o <strong>de</strong>sejo que tinha <strong>de</strong> vos dizer tudo me fez assim por pelo<br />

miúdo. Pois que, Senhor, é certo que, assim, neste cargo<br />

que levo, <strong>com</strong>o em outra qualquer coisa, que <strong>de</strong> Vosso<br />

serviço for, Vossa Alteza há <strong>de</strong> ser, por mim, muito bem<br />

servida. A ela peço que, para me fazer singular mercê,<br />

man<strong>de</strong> vir a Ilha <strong>de</strong> São Tomé, Jorge <strong>de</strong> Osório, meu genro,<br />

o que <strong>de</strong>la receberei em muita mercê. Beijo as mãos <strong>de</strong><br />

Vossa Alteza. Deste Porto Seguro <strong>de</strong> vossa ilha <strong>de</strong> Vera<br />

Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1500.<br />

INTERTEXTUALIDADE<br />

Ocorre quando há um diálogo (implícito ou<br />

explícito) entre <strong>textos</strong> ou gêneros textuais. Ela serve<br />

para ilustrar a importância do conhecimento <strong>de</strong> mundo e<br />

<strong>com</strong>o este interfere no nível <strong>de</strong> <strong>com</strong>preensão <strong>de</strong> um<br />

texto. Assim, mesmo quando não há citação explícita da<br />

fonte inspiradora, é possível reconhecer elementos do<br />

outro texto, já que ele é normalmente bastante<br />

conhecido. Esse conhecimento, porém não se dá por<br />

acaso, nem por obra da intuição e, sim, pelo exercício da<br />

leitura. Quanto mais experiente for o leitor, mais<br />

possibilida<strong>de</strong>s ele terá <strong>de</strong> <strong>com</strong>preen<strong>de</strong>r os caminhos<br />

percorridos por um <strong>de</strong>terminado autor em sua produção<br />

e, da mesma forma, mais possibilida<strong>de</strong>s ele terá <strong>de</strong><br />

utilizar seus próprios caminhos.<br />

São exemplos <strong>de</strong> inter<strong>textos</strong>: epígrafe (escrita<br />

introdutória a uma outra); citação (transcrição e texto<br />

alheio, marcada por aspas); paráfrase (reprodução do<br />

texto do outro, <strong>com</strong> palavras daquele que o reproduz);<br />

paródia (forma <strong>de</strong> apropriação que, em lugar <strong>de</strong><br />

endossar o mo<strong>de</strong>lo retomado, rompe <strong>com</strong> ele, sutil ou<br />

abertamente, visando a ironia ou à critica) e tradução<br />

(recriação <strong>de</strong> um texto).<br />

Em sua forma implícita, a intertextualida<strong>de</strong> é<br />

bastante <strong>com</strong>um nos <strong>textos</strong> publicitários e, neste caso,<br />

serve para persuadir o leitor e levá-lo a consumir um<br />

produto ou, até mesmo, para difundir a cultura.<br />

Em sua forma explícita, a superposição <strong>de</strong> um<br />

texto sobre outro po<strong>de</strong> promover uma atualização ou<br />

mo<strong>de</strong>rnização as i<strong>de</strong>ias do primeiro texto, fazendo<br />

chegar ao leitor, <strong>de</strong> maneira mais efetiva, o pensamento<br />

do autor. Esta forma aparece <strong>com</strong> frequência nos <strong>textos</strong><br />

utilizados pelas Bancas examinadoras em provas <strong>de</strong><br />

concursos. No texto que segue, por exemplo, o poeta<br />

Mário Quinatana faz alusão a uma passagem da Bíblia e<br />

a uma famosa frase do escritor francês Voltaire. Veja:<br />

Da imparcialida<strong>de</strong><br />

A imparcialida<strong>de</strong> é uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sonesta. Das duas<br />

uma: ou o imparcial está mentindo, traindo, assim, as suas<br />

mais legítimas preferências, ou então não passa <strong>de</strong> um<br />

exato robô, mero boneco mecânico, sem opinião pessoal,<br />

sem nada <strong>de</strong> humano.<br />

Aquela frase <strong>de</strong> Voltaire, tão citada: “não creio em<br />

uma só palavra do que dizes, mas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rei até a morte<br />

teu direito <strong>de</strong> o dizer. É uma das coisas mais <strong>de</strong>magógicas<br />

que alguém já po<strong>de</strong>ria ter inventando. Se achamos que algo<br />

é nocivo, meu Deus, <strong>com</strong>o conseguiremos dormir tranquilos<br />

sem evitar sua propagação?<br />

Pilatos também é um exemplo <strong>de</strong> imparcialida<strong>de</strong>. Ao<br />

con<strong>de</strong>nar Cristo, aparentemente <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> tomar posição.<br />

Porém, a realida<strong>de</strong> insurge-se contra os fatos. Frente à<br />

massa, procurou preservar seu governo. Desempenhou na<br />

História uma pontinha. Mas que pontinha! Con<strong>de</strong>nou um<br />

inocente, <strong>de</strong>sconhecido a posterida<strong>de</strong>. Esqueceu Pilatos,<br />

entretanto, que a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser reconhecida e<br />

proclamada em qualquer situação.<br />

Mário Quintana, In: ca<strong>de</strong>rno H. Porto Alegre.<br />

EQUIVALÊNCIA E TRANSFORMAÇÃO DE<br />

ESTRUTURAS<br />

PARÁFRASE: consiste no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

explicativo (ou interpretativo) <strong>de</strong> um texto. A paráfrase é<br />

uma espécie <strong>de</strong> “tradução” (<strong>com</strong> palavras da<br />

própria língua) das i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> um texto, sem<br />

<strong>com</strong>entários marginais, sem nada acrescentar e<br />

sem nada omitir sobre aquilo que está no original.<br />

A paródia, por exemplo, é um tipo <strong>de</strong> paráfrase satírica,<br />

<strong>com</strong> intenção crítica, que tem por características a<br />

caricatura, a jocosida<strong>de</strong> e a fuga à intenção primeira do<br />

autor. Existem várias possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se fazer<br />

paráfrases. As mais <strong>com</strong>uns são:<br />

a) Substituição Lexical (sinonímia ou antonímia):<br />

I Apesar <strong>de</strong> ser prolixo, falou apenas o essencial<br />

II Embora não fosse lacônico, falou apenas o essencial<br />

b) Inversões gramaticais (hipérbatos):<br />

I Nada melhor que procurar ajuda divina em momentos<br />

<strong>de</strong> crise emocional ou financeira.<br />

II Em momentos <strong>de</strong> crise emocional ou financeira, nada<br />

melhor que procurar ajuda divina.<br />

c) Substituição <strong>de</strong> orações subordinadas pelas classes<br />

gramaticais correspon<strong>de</strong>ntes (ou vice-versa):<br />

I Ele é uma pessoa que tem fé.<br />

II Ele é uma pessoa fervorosa.<br />

d) Transformação <strong>de</strong> orações reduzidas em<br />

<strong>de</strong>senvolvidas (ou vice-versa):<br />

I Ele afirma sempre ter fé.<br />

II Ele afirma sempre que tem fé.<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 18<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

e) Transposição <strong>de</strong> Voz Verbal<br />

I Quem tem fé vê a Deus <strong>com</strong>o um pai amoroso.<br />

II Deus é visto <strong>com</strong>o um pai amoroso por quem tem fé.<br />

f) Transformação <strong>de</strong> discursos diretos em indiretos (ou<br />

vice-versa):<br />

I O aflito suplicou:<br />

- Valha-me, minha Nossa Senhora.<br />

II O aflito suplicou para que Nossa Senhora o velesse.<br />

PERÍFRASE (ou amplificação): consiste no<br />

emprego <strong>de</strong> um ro<strong>de</strong>io <strong>de</strong> palavras – e outros<br />

adornos <strong>de</strong> linguagem – para exprimir, ampliar<br />

uma i<strong>de</strong>ia, às vezes, uma parte <strong>de</strong> um texto. A<br />

perífrase textual é útil ao escritor porque o leva a<br />

tentativas <strong>de</strong> dizer a mesma coisa <strong>de</strong> maneiras<br />

diferentes, o que contribui para o enriquecimento <strong>de</strong> seu<br />

vocabulário.<br />

RESUMO: é uma con<strong>de</strong>nsação fiel das i<strong>de</strong>ias ou<br />

dos fatos contidos no texto original. É reduzi-lo ao seu<br />

esqueleto essencial sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista três elementos:<br />

captar cada uma as i<strong>de</strong>ias relevantes, obe<strong>de</strong>cer à<br />

progressão em que elas se suce<strong>de</strong>m o<br />

enca<strong>de</strong>amento (correlação) que o texto estabelece<br />

entre cada uma das partes.<br />

SÍNTESE: consiste em reunir em um todo<br />

coerente, estruturado e homogêneo, conhecimentos<br />

referentes a um domínio particular. Na síntese, é<br />

importante agrupar os fatos particulares em um<br />

todo, dando-lhes uma visão geral.<br />

MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL<br />

A coesão <strong>de</strong> um texto é <strong>de</strong>corrente das relações <strong>de</strong><br />

sentindo que se operam entre os seus elementos. Muitas<br />

vezes, a <strong>com</strong>preensão <strong>de</strong> um termo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da<br />

interpretação <strong>de</strong> outro ao qual ele faz referência.<br />

Os elementos <strong>de</strong> que a língua dispõe para<br />

relacionar termos ou segmentos na construção <strong>de</strong> um<br />

texto são os recursos vocabulares, sintáticos e<br />

semânticos – chamados <strong>de</strong> conectivos, coesivos ou<br />

conectores.<br />

frásica<br />

Gramatical interfrásica (junção)<br />

temporal anáfora<br />

referencial<br />

COESÃO catáfora<br />

Lexical<br />

reiteração<br />

substituição sinonímia<br />

antonímia<br />

hiperonímia<br />

hiponímia<br />

Os principais mecanismos <strong>de</strong> coesão textual são:<br />

PREPOSIÇÕES – palavras invariáveis que ligam<br />

outras palavras, estabelecendo entre elas <strong>de</strong>terminadas<br />

relações <strong>de</strong> sentindo e <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência.<br />

As preposições po<strong>de</strong>m ser:<br />

Essenciais (sempre têm essa função): a, ante,<br />

após, até, <strong>com</strong>, contra, <strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>, em, entre, para,<br />

perante, por, sem, sob, sobre, trás.<br />

Aci<strong>de</strong>ntais (circunstanciais, pois po<strong>de</strong>m pertencer<br />

a outras classes gramaticais): afora, conforme,<br />

consoante, durante, exceto, fora, mediante, tirante,<br />

salvo, segundo.<br />

Ao ligarem os termos, as preposições po<strong>de</strong>m<br />

estabelecer relações <strong>de</strong>:<br />

Assunto: O ministro falou sobre Educação.<br />

Causa: Ele vibrava <strong>de</strong> entusiasmo.<br />

Companhia: Estava <strong>com</strong> o secretário particular.<br />

Direção/sentido: Depois seguiu para o Sul.<br />

Especialida<strong>de</strong>: Ele é especialista em Sociologia.<br />

Instrumento: Atrapalhou-se <strong>com</strong> o microfone.<br />

Lugar: Ele mora em Brasília.<br />

Matéria: Aqui <strong>com</strong>prou uma bota <strong>de</strong> avião.<br />

Meio: Certamente voltará <strong>de</strong> avião.<br />

Oposição: Mostrou-se contra a estatização do ensino.<br />

Origem: Na verda<strong>de</strong>, é natural <strong>de</strong> Maceió.<br />

Posse: Em Brasília, hospeda-se na casa <strong>de</strong> Erundina.<br />

Entre outras...<br />

Uma mesma preposição po<strong>de</strong> atribuir i<strong>de</strong>ias<br />

distintas a um texto. Portanto, <strong>de</strong>sista <strong>de</strong> <strong>de</strong>cliná-las<br />

apenas e atente para os possíveis sentidos que po<strong>de</strong>m<br />

trazer ao contexto. Observe:<br />

Ficar <strong>de</strong> pé (modo); morrer <strong>de</strong> fome (causa);<br />

pulseira <strong>de</strong> ouro (material); maço <strong>de</strong> cigarros<br />

(conteúdo); casa <strong>de</strong> Luís (posse); falar <strong>de</strong> futebol<br />

(assunto); <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> alemães (origem); viajar <strong>de</strong><br />

avião (meio); atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> imbecil (semelhança), etc.<br />

Cuidado!!!<br />

A preposição <strong>de</strong> não <strong>de</strong>ve contrair-se <strong>com</strong>:<br />

O artigo que prece<strong>de</strong> o sujeito <strong>de</strong> um verbo.<br />

Ex: É tempo <strong>de</strong> a polícia agir <strong>com</strong> eficácia.<br />

O artigo que faz parte <strong>de</strong> um título.<br />

Ex: O fato <strong>de</strong> O Globo ter noticiado a negociação...<br />

Tratar <strong>com</strong> carinho (modo); ficar pobre <strong>com</strong> a<br />

inflação (causa); vinho se faz <strong>com</strong> uva (matéria); ir ao<br />

cinema <strong>com</strong> o Jonas (<strong>com</strong>panhia); jogar <strong>com</strong> (contra)<br />

os argentinos (oposição).<br />

Escrever em francês (modo); televisor em cores<br />

(qualida<strong>de</strong>/estado); pagar em cheque (meio); ficar em<br />

casa (lugar); pedir em casamento (finalida<strong>de</strong>).<br />

Para mim ela está mentindo (referência); ter<br />

água para dois dias apenas (tempo); nascer para o<br />

trabalho (finalida<strong>de</strong>); ser inteligente para não cair numa<br />

cilada (consequência); vou para Goiânia (lugar) – neste<br />

caso, para dá a idéia <strong>de</strong> estada permanente ou<br />

<strong>de</strong>finitiva, ao contrário da preposição „a‟, que exprime<br />

breve regresso. Desse modo, vamos para o céu ou para<br />

o inferno, já que <strong>de</strong> tais lugares não há regresso.<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 19<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

CONJUNÇÕES – palavras invariáveis que ligam<br />

duas orações ou duas palavras <strong>de</strong> mesma função em que<br />

oração. Po<strong>de</strong>m ser:<br />

Coor<strong>de</strong>nativas ligam orações, estabelecendo<br />

entre elas apenas <strong>de</strong>pendência semântica. São elas:<br />

aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e<br />

explicativas.<br />

Subordinadas ligam orações, estabelecendo<br />

relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência semântica e gramatical, ou seja,<br />

uma oração é termo <strong>de</strong> outra. São elas: integrantes,<br />

causais, <strong>com</strong>parativas, concessivas, condicionais,<br />

conformativas, consecutivas, temporais, finais e<br />

proporcionais.<br />

As orações se apresentam <strong>com</strong>o elementos<br />

capazes <strong>de</strong> estabelecer relações <strong>de</strong> significado ao texto.<br />

A troca <strong>de</strong> uma conjunção por outra muda<br />

<strong>com</strong>pletamente a relação semântica o período. Observe:<br />

a) Todos os seres humanos são iguais e nenhum é<br />

superior ou inferior aos outros. (e = adição entre as<br />

orações)<br />

b) Todos os seres humanos são iguais, portanto<br />

nenhum é superior ou inferior aos outros. (portanto =<br />

relação <strong>de</strong> conclusão)<br />

c) Todos os seres humanos são iguais, porque<br />

nenhum é superior ou inferior aos outros. (porque =<br />

relação <strong>de</strong> causa e feito)<br />

Observe as i<strong>de</strong>ias atribuías por<br />

<strong>de</strong>terminas conjunções e expressões<br />

O conectivo “e” anuncia o <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

discurso e não a repetição do que foi dito antes; indica<br />

uma progressão semântica que adiciona, que acrescenta<br />

um dado novo. É necessário tomar cuidado na análise<br />

<strong>de</strong>ssa conjunção, pois em alguns casos, seu uso se<br />

constitui apenas um recurso estilístico: serve para<br />

enfatizar uma idéia!<br />

O mecanismo Ainda serve para introduzir mais um<br />

argumento a favor <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada conclusão ou incluir<br />

um elemento a mais <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um conjunto qualquer.<br />

Exemplo: “o nível <strong>de</strong> vida dos brasileiros é baixo porque<br />

os salários são pequenos. Convém lembrar ainda que os<br />

serviços públicos são extremamente <strong>de</strong>ficientes”.<br />

Alguns termos servem para introduzir um<br />

argumento <strong>de</strong>cisivo (Aliás, além do mais, além <strong>de</strong><br />

tudo, além disso), apresentado <strong>com</strong>o acréscimo, <strong>com</strong>o<br />

se fosse <strong>de</strong>snecessário, justamente para dar o golpe final<br />

no argumento contrário. Exemplo: “Os salários estão<br />

cada vez mais baixos porque o processo inflacionário<br />

diminui consi<strong>de</strong>ravelmente seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>com</strong>pra. Além<br />

<strong>de</strong> tudo, são consi<strong>de</strong>rados <strong>com</strong>o renda e taxados <strong>com</strong><br />

impostos”.<br />

Algumas expressões (isto é, quer dizer, ou seja,<br />

em outras palavras) introduzem esclarecimentos,<br />

retificações, <strong>de</strong>senvolvimento ou <strong>de</strong>sdobramento da idéia<br />

anterior. Exemplo: “Muitos jornais fazem alar<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua<br />

neutralida<strong>de</strong> em relação aos fatos, isto é, <strong>de</strong> seu não<br />

<strong>com</strong>prometimento <strong>com</strong> nenhuma as forças em ação no<br />

interior a socieda<strong>de</strong>”.<br />

Alguns conectivos adversativos (mas, todavia,<br />

porém, contudo, entretanto) marcam oposição entre<br />

dois enunciados ou dois segmentos do texto. Não é<br />

possível ligar, por meio <strong>de</strong>sses conectivos, segmentos<br />

que não se oponham.<br />

Certos elementos <strong>de</strong> coesão servem para<br />

estabelecer gradação entre os <strong>com</strong>ponentes <strong>de</strong> uma<br />

escala. Alguns (mesmo, até, até mesmo) situam a<br />

idéia no topo da escala; outros (ao menos, pelo<br />

menos, no mínimo) situam-na no plano mais baixo.<br />

Exemplos:<br />

“O homem é ambicioso, quer ser dono <strong>de</strong> bens<br />

materiais, da ciência, o próprio semelhante; até mesmo<br />

o futuro e da morte”.<br />

“É preciso garantir ao homem seu bem-estar: o<br />

lazer, a cultura, a liberda<strong>de</strong>, ou, no mínimo, a moradia,<br />

o alimento e a saú<strong>de</strong>”.<br />

Os conectivos que estabelecem ao mesmo tempo<br />

uma relação <strong>de</strong> contradição e <strong>de</strong> concessão (embora,<br />

ainda que, mesmo que) servem para admitir um dado<br />

contrário e <strong>de</strong>pois negar seu valor e argumento. É<br />

preciso ficar atento ao seu uso, pois se essa relação não<br />

for apropriada, <strong>de</strong>ixará o enunciado <strong>de</strong>scabido. Veja:<br />

“Embora o Brasil possua um solo fértil e imensas<br />

áreas <strong>de</strong> terras plantáveis, vamos resolver o problema da<br />

fome”.<br />

PRONOMES RELATIVOS – pronomes que<br />

retomam um termo já citado numa oração, substituindoo<br />

no início da oração seguinte. Veja:<br />

Eu trouxe os lápis. Você precisará <strong>de</strong>sses lápis.<br />

Eu trouxe os lápis <strong>de</strong> que você precisará.<br />

Os pronomes relativos po<strong>de</strong>m ser:<br />

Variáveis: o/a qual, os/as quais; cujo(s), cuja(s);<br />

quantos(s), quantas(s).<br />

Invariáveis: que, quem, on<strong>de</strong>, <strong>com</strong>o, quando.<br />

Principais características dos pronomes relativos:<br />

1°) Os relativos sempre iniciam uma nova oração.<br />

Visitaremos a cida<strong>de</strong> / on<strong>de</strong> eu nasci.<br />

Oração A Oração B<br />

2°) A maioria das bancas examinadoras do país gosta <strong>de</strong><br />

cobrar os pronomes relativos atrelados à regência<br />

(nominal ou verbal). Exemplos:<br />

Ele é o rapaz a cujas i<strong>de</strong>ias me refiro.<br />

Ele é o rapaz <strong>de</strong> cujas i<strong>de</strong>ias discordo.<br />

Ele é o rapaz <strong>com</strong> cujas i<strong>de</strong>ias concordo.<br />

Ele é o rapaz <strong>de</strong> cujas i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>sconfio.<br />

3°) O relativo que:<br />

a) Po<strong>de</strong> retornar palavras que nomeiam pessoas<br />

ou coisas.<br />

Ex: O rapaz que chegou é meu vizinho. (o qual)<br />

b) Po<strong>de</strong> se referir aos <strong>de</strong>monstrativos o, a, os, as.<br />

Ex: Sei o que você faz neste lugar! (o = aquilo)<br />

4°) O relativo quem só é usado para retomar palavras<br />

que <strong>de</strong>signam pessoas.<br />

Ex: Ela é a pessoa <strong>com</strong> quem você conversava.<br />

5°) Os relativos cujo(a), cujos (as) são usados entre<br />

dois substantivos, estabelecendo entre eles uma idéia <strong>de</strong><br />

posse.<br />

Discutiremos um assunto cujas causas são <strong>com</strong>plexas.<br />

(cujas causas = as causas do assunto)<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 20<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

6°) Os relativos on<strong>de</strong>, aon<strong>de</strong>: essas duas formas<br />

sempre indicam lugar e têm empregos diferentes.<br />

On<strong>de</strong> – indica “lugar em que”. Exemplo:<br />

Fui à cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> você nasceu. (quem nasce, nasce em).<br />

Aon<strong>de</strong> – indica “lugar a que”. Exemplo:<br />

Conheço a cida<strong>de</strong> aon<strong>de</strong> você vai. (quem vai, vai a ).<br />

7°) Os relativos quanto(s) e quanta(s) são precedidos<br />

<strong>de</strong> tudo, todo, tanto (e variações). Exemplos:<br />

Esqueceu-se <strong>de</strong> tudo quanto prometera.<br />

Todos quantos assistiram ao filme ficaram<br />

<strong>de</strong>cepcionados.<br />

Você quer provas <strong>de</strong> concurso? Pois pegue tantas<br />

quantas quiser.<br />

8°) O relativo <strong>com</strong>o tem sempre as palavras “modo”,<br />

“maneira” ou “forma” <strong>com</strong>o antece<strong>de</strong>ntes e equivale<br />

semanticamente a pelo qual (e variações). Exemplos:<br />

Contaram-se a maneira <strong>com</strong>o você se <strong>com</strong>portou.<br />

(pela qual)<br />

Vamos acertar o modo <strong>com</strong>o irei trabalhar.<br />

(pelo qual)<br />

9°) O relativo quando sempre terá um antece<strong>de</strong>nte que<br />

dê i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> tempo. Nesse caso, ele equivale<br />

semanticamente a em que. Veja os exemplos:<br />

Era chegado o dia quando teríamos que resolver o caso.<br />

(em que)<br />

Bendita a hora quando você apareceu aqui!<br />

(em que)<br />

PRONOMES DEMONSTRATIVOS – pronomes<br />

que situam elementos <strong>de</strong>ntro do texto, ou seres – no<br />

tempo e no espaço – em relação a cada uma das três<br />

pessoas gramaticais. São eles:<br />

MECANISMOS DE ARTICULAÇÃO TEXTUAL<br />

(Têm função anafórica e catafórica) – servem para<br />

situar elementos no contexto linguístico.<br />

Esse, essa, isso, nesse, nessa, nisso, <strong>de</strong>sse,<br />

<strong>de</strong>ssa e disso são termos anafóricos (retomam o que<br />

foi mencionado).<br />

Este, esta, isto, neste, nesta, nisto, <strong>de</strong>ste,<br />

<strong>de</strong>sta e isto são termos catafóricos (referem-se ao que<br />

será mencionado).<br />

Aquele(s), aquela(s), aquilo são usados –<br />

conjuntamente <strong>com</strong> os pronomes este(s), esta(s) –<br />

para fazer referência a elementos já citados. Sendo<br />

assim:<br />

Aquele (e variações) – refere-se ao elemento<br />

citado primeiro;<br />

Este (e variações) – refere-se ao elemento<br />

citado por último.<br />

Exemplo: Brasil e Uruguai são dois países sulamericanos.<br />

Aquele foi colonizado pelos portugueses;<br />

este, pelos espanhóis.<br />

Aquele – Brasil (citado primeiro);<br />

Este – Uruguai (citado por último).<br />

MECANISMOS DE REFERÊNCIA NO ESPAÇO<br />

(Têm função dêitica) – localizam seres ou coisas<br />

no espaço.<br />

Usa-se este, esta, isto, <strong>de</strong>ste, <strong>de</strong>sta, disto,<br />

neste, nesta e nisto para o que está próximo da<br />

pessoa que fala.<br />

Usa-se esse, essa <strong>de</strong>sse, <strong>de</strong>ssa, nesse e nessa<br />

para o que está próximo da pessoa <strong>com</strong> quem se fala.<br />

Aquele, aquela, aquilo, naquele, naquela,<br />

naquilo, daquele, daquela e daquilo indicam o que<br />

está longe <strong>de</strong> quem fala e também longe <strong>de</strong> quem ouve.<br />

Exemplo:<br />

“O que é aquilo que está lá no fim da rua?”<br />

MECANISMOS DE REFERÊNCIA NO TEMPO<br />

(Têm função dêitica) – localizam seres ou coisas<br />

no tempo.<br />

Este, esta, isto, neste, nesta, nisto, <strong>de</strong>ste,<br />

<strong>de</strong>sta e disto indicam um tempo presente atual.<br />

Exemplo: “Este ano tem sido muito bom para quem quer<br />

passar em um concurso público”. (ano <strong>de</strong> 2009).<br />

Usa-se esse, essa, isso, nesse, nessa, nisso,<br />

<strong>de</strong>sse, <strong>de</strong>ssa e isso indicam um tempo passado ou<br />

futuro, mas não muito distante.<br />

Exemplos: “A seleção brasileira jogará no Chile<br />

nesse fim <strong>de</strong> semana.”<br />

Aquele, aquela, aquilo, naquele, naquela,<br />

naquilo, daquele, daquela e daquilo indicam um<br />

tempo distante.<br />

Exemplos: “Mu<strong>de</strong>i para Brasília há vinte anos.<br />

Naquela época aqui não havia tantos mendigos nas<br />

ruas”.<br />

Atenção!<br />

Os pronomes adjetivos (último, penúltimo,<br />

antepenúltimo, anterior, posterior) e os numerais<br />

ordinais (primeiro, segundo, etc.) também po<strong>de</strong>m ser<br />

usados para se fazer referências em geral.<br />

FATORES LINGUÍSTICOS DE COESÃO TEXTUAL:<br />

PARALELISMOS E DÊIXIS<br />

1.1 Paralelismo sintático é a <strong>com</strong>binação <strong>de</strong><br />

palavras em estruturas sintáticas que se repetem ao<br />

longo o texto. Nesse caso, não se repetem as palavras,<br />

mas a mesma construção sintática (o mesmo tipo <strong>de</strong><br />

sujeito, seguido do mesmo tipo <strong>de</strong> verbo <strong>com</strong> o mesmo<br />

tipo <strong>de</strong> <strong>com</strong>plemento, etc.). O paralelismo sintático serve<br />

para mostrar que os sentidos transmitidos pelas<br />

construções paralelas mantêm entre si algum tipo <strong>de</strong><br />

simetria ou <strong>de</strong> assimetria. Exemplos:<br />

Nas ondas da praia quero ser feliz / Nas ondas do<br />

mar quero me afogar.<br />

Os amores (estão) na mente / As flores (estão) no<br />

chão / A certeza (está) na frente / A história (está) na<br />

mão.<br />

1.2 Paralelismo semântico é a relação <strong>de</strong><br />

semelhança (correspondência <strong>de</strong> sentidos) quanto ao<br />

sentido das orações. Observe os exemplos:<br />

1) Nas ondas da praia quero ser feliz<br />

Nas ondas do mar quero me afogar (Manuel Ban<strong>de</strong>ira)<br />

(Nesse caso, o paralelismo ocorre pela correspondência<br />

do <strong>de</strong>sejo, da atração pelo mar e pela morte).<br />

2) A semente que tu semeias, outro colhe;<br />

A riqueza que tu achas, outro guarda;<br />

As roupas que tu teces, outro veste;<br />

As armas que tu forjas, outro empunha. (Shelley)<br />

(Nesse caso, o paralelismo põe em relevo o mesmo<br />

tema: quem faz alguma coisa não a faz para si; ou<br />

ainda, ninguém usufrui dos bens que produz).<br />

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<strong>Interpretação</strong> <strong>de</strong> <strong>textos</strong> 21<br />

<strong>Prof</strong>. <strong>Dalvani</strong><br />

Quebra (intencional) do paralelismo<br />

Anúncio <strong>de</strong> uma exposição das obras <strong>de</strong> Salvador<br />

Dali, no MASP:<br />

“Quem viu, viu. Quem não viu, ainda po<strong>de</strong> ver”.<br />

Nesse caso, houve uma quebra intencional do<br />

paralelismo, que seria algo <strong>com</strong>o “Quem não viu, não viu<br />

ou “quem não viu, não vai ver mais”. Por meio <strong>de</strong>ssa<br />

quebra, o anunciante procura atrair a atenção do leitor e<br />

persuadi-lo a ver a exposição enquanto há tempo.<br />

2. DÊIXIS<br />

Os elementos dêiticos têm a função <strong>de</strong> localizar<br />

entida<strong>de</strong>s no contexto espaço-temporal, social ou<br />

discursivo, já que eles apontam para elementos<br />

exteriores ao texto e mudam <strong>de</strong> sentido conforme o<br />

contexto, isto é, não possuem valor semântico em si<br />

mesmos, po<strong>de</strong>ndo variar a cada nova enunciação.<br />

Observe o exemplo da manchete <strong>de</strong> um jornal:<br />

ONTEM, AQUI, CAIU UM TEMPORAL<br />

(A <strong>com</strong>preensão que se terá da idéia expressa<br />

pelos advérbios “ontem” e “aqui somente será possível<br />

pela situação do texto, ou seja, necessito saber em que<br />

cida<strong>de</strong> e em que data tal texto foi publicado).<br />

2.1 Dêixis pessoal indica as pessoas do discurso,<br />

permitindo selecionar os participantes na interação<br />

<strong>com</strong>unicativa. Integram este grupo: pronomes pessoais<br />

(tu, me, nós etc.); <strong>de</strong>terminantes e pronomes<br />

possessivos (meu, vosso, seu, teu, etc.); sufixos<br />

flexionais <strong>de</strong> número e pessoa (falas, falei, falamos, etc.)<br />

bem <strong>com</strong>o vocativos.<br />

2.2 Dêixis temporal localiza os fatos no tempo,<br />

tomando <strong>com</strong>o ponto <strong>de</strong> referencia o momento da<br />

enunciação. Os elementos que <strong>de</strong>sempenham esta<br />

função são advérbios, locuções adverbiais ou expressões<br />

<strong>de</strong>notativas <strong>de</strong> tempo, <strong>com</strong>o por exemplo: amanhã,<br />

ontem, na semana passada, <strong>de</strong> noite, na semana<br />

seguinte, à tar<strong>de</strong>, etc.<br />

2.3 Dêixis espacial assinala os elementos<br />

espaciais, tendo <strong>com</strong>o referência o lugar em que foi feita<br />

a enunciação, evi<strong>de</strong>nciando a relação <strong>de</strong> maior ou menor<br />

proximida<strong>de</strong> em relação aos lugares ocupados por locutor<br />

e interlocutor. Os elementos que cumprem esta função<br />

são advérbios e locuções adverbiais <strong>de</strong> lugar (aqui, lá, lá<br />

<strong>de</strong> cima, perto <strong>de</strong>), <strong>de</strong>terminantes e pronomes<br />

<strong>de</strong>monstrativos (esse, aquela, a outra), bem <strong>com</strong>o<br />

alguns verbos que indicam movimento (chegar, entrar,<br />

subir).<br />

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