17.06.2013 Views

download do material - FICI - Festival Internacional de Cinema Infantil

download do material - FICI - Festival Internacional de Cinema Infantil

download do material - FICI - Festival Internacional de Cinema Infantil

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

8<br />

Poncelu<strong>do</strong>n da primeira armadilha que encontra ao apresentar<br />

com serieda<strong>de</strong> o seu projeto <strong>de</strong> saneamento: “Os<br />

assuntos sérios são <strong>de</strong>sagradáveis e <strong>de</strong>vem ser bani<strong>do</strong>s.<br />

Formule tiradas espirituosas, finas, rápidas e assim sua<br />

cida<strong>de</strong> será curada das <strong>do</strong>enças”, diz o Marquês. Ele respeita<br />

as leis <strong>de</strong> Versalhes por interesse: é o homem <strong>do</strong>s<br />

compromissos, contente em casar sua filha com um velho<br />

contanto que seja rico. No entanto, não é um homem <strong>do</strong><br />

comprometimento: seu entusiasmo, sua postura <strong>de</strong>monstram<br />

uma preocupação constante em não se <strong>de</strong>ixar rebaixar.<br />

Ele se caracteriza como um especta<strong>do</strong>r: prezan<strong>do</strong><br />

ou <strong>de</strong>sprezan<strong>do</strong> o espetáculo da Corte, sempre mantém<br />

a distância, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> Poncelu<strong>do</strong>n se expor à gloria ou à<br />

<strong>de</strong>sgraça. Além <strong>de</strong> especta<strong>do</strong>r em Cain<strong>do</strong> no ridículo,<br />

o marquês também é nosso guia, especta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> filme.<br />

Con<strong>de</strong>ssa <strong>de</strong> Blayac<br />

Ela entra no filme usan<strong>do</strong> seu vesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> luto como um<br />

traje <strong>de</strong> rainha: imagem soberba que logo <strong>de</strong>monstra seu<br />

po<strong>de</strong>r sedutor e obscuro e também sua imoralida<strong>de</strong>. Em<br />

seguida aparece em uma partida <strong>de</strong> <strong>do</strong>minó em um salão:<br />

a con<strong>de</strong>ssa é uma joga<strong>do</strong>ra. É também uma trapaceira,<br />

como ficamos saben<strong>do</strong> na cena <strong>do</strong> <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> rimas. Ela<br />

possui, em suma, to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>feitos necessários para conquistar<br />

seu lugar no universo impie<strong>do</strong>so <strong>de</strong> Versalhes e<br />

para mantê-lo. Observa<strong>do</strong> Poncelu<strong>do</strong>n cortejá-la, após ter<br />

obti<strong>do</strong> graças a ela seu título <strong>de</strong> nobreza, ela mostra a<br />

vantagem que possui em relação a ele neste tipo <strong>de</strong> jogo:<br />

“Talvez em outras circunstâncias eu ficasse lisonjeada com<br />

suas <strong>do</strong>ces palavras e esta não seria a primeira vez que o<br />

meu quarto leva aos salões <strong>do</strong> rei”. É preciso mais para<br />

que ela se emocione, como po<strong>de</strong>mos ver no jantar on<strong>de</strong><br />

ela mostra que não guar<strong>do</strong>u suas garras e serve a Poncelu<strong>do</strong>n<br />

um “cozi<strong>do</strong> ridículo”, fazen<strong>do</strong> com que ele aban<strong>do</strong>ne<br />

a mesa e Versalhes. Isso será repeti<strong>do</strong>, <strong>de</strong> outra forma,<br />

na última cena <strong>do</strong> filme, para se vingar <strong>do</strong>s sentimentos<br />

que o engenheiro reserva a Mathil<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bellegar<strong>de</strong>. Estas<br />

<strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> cruelda<strong>de</strong> também são confissões <strong>de</strong><br />

amor. Mas, formada e <strong>de</strong>formada pelas leis <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> à<br />

moda <strong>de</strong> Versalhes, a con<strong>de</strong>ssa só conta com essa linguagem<br />

para expressar mesmo os sentimentos mais sinceros,<br />

mais tenros. Este aspecto caracteriza a beleza trágica<br />

<strong>de</strong> sua personagem e <strong>do</strong> último plano em que ela aparece.<br />

Mathil<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bellegar<strong>de</strong><br />

Dedicada às experiências científicas na casa <strong>do</strong> seu pai,<br />

ela sempre parece estar à parte, em segun<strong>do</strong> plano, no<br />

entanto ocupa um papel <strong>de</strong>cisivo. O único personagem<br />

que não participa <strong>do</strong>s jogos da Corte (só aparece nela<br />

para mostrar sua in<strong>de</strong>pendência e romper o acor<strong>do</strong> com<br />

monsieur <strong>de</strong> Montalieri), Mathil<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bellegar<strong>de</strong> é a única<br />

a expressar seu ponto <strong>de</strong> vista extremamente crítico<br />

e a situar Poncelu<strong>do</strong>n: “Você está no caminho erra<strong>do</strong>. Os<br />

salões <strong>de</strong> Versalhes não po<strong>de</strong>m salvar crianças, pois uma<br />

árvore podre não po<strong>de</strong> dar bons frutos”. Oposta em tu<strong>do</strong><br />

à Con<strong>de</strong>ssa <strong>de</strong> Blayac, até se tornar sua rival sem parecer<br />

gostar <strong>de</strong>sta situação, elas têm em comum o fato <strong>de</strong> não<br />

po<strong>de</strong>r expressar seus sentimentos. Eles não se escon<strong>de</strong>m,<br />

em seu caso, com cinismo, mas com a racionalização<br />

científica: “É o fogo vital que percorre seus nervos que<br />

fazem com que você se sinta atraí<strong>do</strong> por mim”, analisa ao<br />

receber as carícias <strong>de</strong> Poncelu<strong>do</strong>n. Prova que esta jovem<br />

racional, criada na <strong>do</strong>utrina <strong>do</strong> Iluminismo, po<strong>de</strong>, assim<br />

como to<strong>do</strong>s os personagens, se expor ao ridículo.<br />

Aba<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vilecourt<br />

Poncelu<strong>do</strong>n teme ter como inimigo este “aba<strong>de</strong> perverso”.<br />

“É uma cobra, diz Bellegar<strong>de</strong>. Quan<strong>do</strong> se cala, hipnotiza.<br />

Quan<strong>do</strong> fala, já é tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais.” Vilecourt é a encarnação<br />

<strong>do</strong> mal em Versalhes: usa a língua como veneno. Não se<br />

abala por cometer sacrilégios, aposta nos da<strong>do</strong>s os segre<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> Clero e se joga no leito da Con<strong>de</strong>ssa <strong>de</strong> Blayac.<br />

Será afeta<strong>do</strong> pelo ridículo por meio da graça divina: ele<br />

revelará sua fragilida<strong>de</strong> diante <strong>de</strong>sta guilhotina viva que<br />

usa as palavras como lâmina.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!