Quanto às duas outras espécies, não há informações sobre sua estrutura social disponíveis na literatura. Fig.VI.15. Uma colônia (harém) de Desmodus rotundus abrigan<strong>do</strong>-se numa concavidade <strong>do</strong> teto de uma caverna da região Centro-Oeste <strong>do</strong> Brasil. (Foto: W. Uieda) 85
VI.4. Importância Social e Econômica. VI.4.1. Importância Social Os relatos sobre as agressões humanas por morcegos h<strong>em</strong>atófagos (Desmodus rotundus) estão concentra<strong>do</strong>s nas regiões mais pobres <strong>do</strong> Novo Mun<strong>do</strong>. Há relatos de agressões <strong>em</strong>, praticamente, to<strong>do</strong>s os países da América Latina, inclusive no Brasil. Nessas regiões mais pobres, encontramos povoa<strong>do</strong>s distantes e isola<strong>do</strong>s e <strong>áreas</strong> de exploração mineral (garimpag<strong>em</strong>) onde, freqüent<strong>em</strong>ente, ocorr<strong>em</strong> as agressões. Logicamente, as pessoas mais diretamente atingidas pelos ataques são aquelas de baixa renda, viven<strong>do</strong> <strong>em</strong> condições muito precárias. A maior freqüência de ataques ocorre nos animais <strong>do</strong>mésticos (cabras, porcos, cães, galinhas e, às vezes, algumas vacas e cavalos) existentes ao re<strong>do</strong>r das casas, que são, geralmente, abertas e permit<strong>em</strong> fácil acesso aos morcegos h<strong>em</strong>atófagos. A convivência com esses animais é quase diária e parece haver um certo equilíbrio entre as pessoas, seus animais <strong>do</strong>mésticos e os morcegos. Nessa interação, o hom<strong>em</strong> parece ser apenas uma fonte secundária de alimento e o equilíbrio mantém-se por muitos anos. Quan<strong>do</strong> os relatos de agressões humanas por morcegos h<strong>em</strong>atófagos chegam aos órgãos oficiais de saúde, é porque houve um desequilíbrio nesse "tripé" interativo, provoca<strong>do</strong> por uma mudança <strong>do</strong> processo produtivo ou por ocorrência de raiva transmitida por morcegos h<strong>em</strong>atófagos. O aumento das agressões humanas por esses morcegos <strong>em</strong> três povoa<strong>do</strong>s de Belize (país da América Central) ocorreu por causa da eliminação repentina de to<strong>do</strong>s os suínos (fonte primária de alimento desses morcegos), devi<strong>do</strong> à peste suína. A introdução posterior de bovinos nos povoa<strong>do</strong>s provocou uma diminuição dessas agressões. Em uma área de garimpo de Apiacás (norte de Mato Grosso), sete pessoas morreram, aparent<strong>em</strong>ente, de raiva transmitida por morcegos h<strong>em</strong>atófagos. Durante a investigação epid<strong>em</strong>iológica e a soro-vacinação pós-exposição, centenas de garimpeiros e seus parentes mencionaram que já haviam si<strong>do</strong> sangra<strong>do</strong>s pelos morcegos. Possivelmente, as agressões deveriam estar acontecen<strong>do</strong> <strong>em</strong> todas as <strong>áreas</strong> de garimpo da região. o custo social das agressões por morcegos é eleva<strong>do</strong> e deve estar ocorren<strong>do</strong> de forma mais freqüente nas regiões norte e nordeste <strong>do</strong> Brasil. Acredita-se que a região amazônica representa um "grande palco" dessa interação, envolven<strong>do</strong>, também, nossos grupos indígenas (há relatos de agressões aos índios Caiapós no <strong>Pará</strong> e Yanomamis <strong>em</strong> Roraima). Além da espoliação h<strong>em</strong>atofágica, há diversos casos de raiva humana transmitida por esses animais. De 1992 a mea<strong>do</strong>s de 1993, foram registra<strong>do</strong>s no Brasil 18 casos de raiva humana transmitida por morcegos, perfazen<strong>do</strong> 20,7% <strong>do</strong> total de casos desse perío<strong>do</strong>. A maioria envolve agressões pelos morcegos h<strong>em</strong>atófagos; mas dev<strong>em</strong> existir, também, agressões por morcegos insetívoros e frugívoros. Os morcegos representam, atualmente, o segun<strong>do</strong> maior transmissor da raiva aos seres humanos no Brasil, sen<strong>do</strong> supera<strong>do</strong>s apenas pelos cães. Esta grave situação está ocorren<strong>do</strong>, também, <strong>em</strong> outros países da América Latina, e t<strong>em</strong> preocupa<strong>do</strong> a Organização Pan-americana de Saúde, que reuniu representantes de diversos países para analisar a situação. A Fundação Nacional de Saúde está trabalhan<strong>do</strong> intensivamente para encontrar soluções para a grave situação da raiva transmitida por morcegos, e a elaboração <strong>do</strong> presente Manual é um <strong>do</strong>s frutos desse trabalho. 86