“a menina de lá” de guimarães rosa - Departamento de Letras e ...
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Gláuks<br />
<strong>de</strong>l discurso, <strong>de</strong> tal modo que las formas <strong>de</strong> la periferia<br />
equivalen a las formas <strong>de</strong> la narratividad. (...) (RAMA,<br />
1982:23)<br />
Conclui-se daí que a polifonia 6 é o princípio sobre o qual<br />
se fundamentam essas narrativas. O que caracteriza a prática dos<br />
escritores transculturadores, para Rama, é a permissão que eles<br />
dão aos contadores e personagens da cultura iletrada, não apenas<br />
<strong>de</strong> serem repertoriados, como no caso da técnica dos discursos<br />
direto e indireto, mas <strong>de</strong> entrarem na cultura e serem alçados à<br />
categoria <strong>de</strong> narradores, como é o caso <strong>de</strong> Riobaldo, em Gran<strong>de</strong><br />
Sertão: Veredas, a cujo estudo se <strong>de</strong>dicou o teórico. Conquanto<br />
não seja a narradora <strong>de</strong> sua própria experiência – um <strong>de</strong>us não<br />
narra jamais sua própria história, não nos esqueçamos –,<br />
Nhinhinha goza, por parte <strong>de</strong>ste narrador, <strong>de</strong> um prestígio que<br />
vai da mais atenta escuta às concessões que faz a ela em seu<br />
próprio estilo. E por que não dizer, com Rama, muito mais que a<br />
fala <strong>de</strong>la tente equivaler ao registro do narrador em legitimida<strong>de</strong><br />
literária, mas que este se sinta <strong>de</strong> tal modo arrebatado que,<br />
<strong>de</strong>sejante, dê passos na direção da fala do outro, a tome para si,<br />
a faça sua: artimanhas e técnicas do discurso indireto livre. Esse<br />
compósito <strong>de</strong> vozes atonais e <strong>de</strong>stoantes aponta, inegavelmente,<br />
para a hibri<strong>de</strong>z cultural e uma diglossia às avessas, princípios<br />
formais e temáticos do conto.<br />
Entre o dito e o mito<br />
Haveria, para o leitor <strong>de</strong> “A <strong>menina</strong> <strong>de</strong> Lá”, a<br />
possibilida<strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> arrebatamento que não fosse<br />
ocasionado simplesmente pela estética do texto, mas igualmente<br />
6 A teoria <strong>de</strong> Rama estabelece uma intertextualida<strong>de</strong> com a noção bakhitiniana <strong>de</strong><br />
polifonia, pois o escritor transculturador é uma espécie <strong>de</strong> agenciador do discurso<br />
literário e das falas poéticas periféricas em relação aos códigos cosmopolitas e<br />
cultos, o que resulta em um discurso marcado por hibri<strong>de</strong>z, princípio polifônico por<br />
excelência.