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EFEITO DA TEMPERATURA DE ARMAZENAMENTO E ... - HortiBrasil

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<strong>EFEITO</strong> <strong>DA</strong> <strong>TEMPERATURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>ARMAZENAMENTO</strong> E DO<br />

ESTÁDIO <strong>DE</strong> MATURAÇÃO SOBRE A COMPOSIÇÃO QUÍMICA<br />

DO ABACAXI CV. Smooth Cayenne L.<br />

RESUMO - O objetivo proposto neste trabalho foi o de<br />

verificar o efeito do armazenamento refrigerado e do<br />

estádio de maturação sobre a composição química do<br />

abacaxi (Ananas comosus L.) cv. Smooth cayenne. Os<br />

frutos, provenientes do município de Canápolis-MG,<br />

colhidos no mês de julho de 1998, foram armazenados<br />

em câmara fria à temperatura de 8°C ± 2 e umidade<br />

relativa de 89%± 3 por um período de 20 dias, e a<br />

temperatura ambiente (20°C ± 2 com umidade relativa<br />

de 80% ± 10). As características químicas avaliadas<br />

PATRÍCIA MARIA PONTES THÉ 1<br />

VÂNIA DÉA <strong>DE</strong> CARVALHO 2<br />

CELESTE MARIA PATTO <strong>DE</strong> ABREU 3<br />

RAIMUNDO <strong>DE</strong> PONTES NUNES 4<br />

NÍSIA ANDRA<strong>DE</strong> VILLELA D. PINTO 5<br />

foram: acidez titulável total, pH, sólidos solúveis totais,<br />

açúcares redutores, não redutores e totais, compostos<br />

fenólicos, substâncias pécticas e umidade. Concluiuse<br />

que o efeito da temperatura de armazenamento<br />

sobre a composição química do abacaxi está<br />

relacionado ao estádio de maturação dos frutos. Com<br />

exceção dos teores de sólidos solúveis totais e<br />

umidade da polpa, todas as variáveis estudadas foram<br />

influenciadas pelas interações entre o estádio de<br />

maturação e tipo de armazenamento.<br />

TERMOS PARA IN<strong>DE</strong>XAÇÃO: Ananas comosus, composição química, refrigeração, maturação.<br />

EFFECT OF STORAGE TEMPERATURE AND STAGE OF<br />

MATURATION ON THE CHEMICAL COMPOSITION OF PINEAPPLE<br />

CV. Smooth Cayenne L.<br />

ABSTRACT - This study was carried out to verify the<br />

effect of refrigeration and stage of maturation on the<br />

chemical composition of pineapple (Ananas comosus<br />

L.) fruits cv. Smooth cayenne. The fruits, cultivated in<br />

Canápolis-MG-Brazil, were harvested on July of 1998,<br />

and stored in a cold room at 8 ± 2°C temperature and<br />

relative humidity of 89 ± 3% for a period of 20 days,<br />

and at room temperature (20 ± 2°C temperature and<br />

80 ± 10% of relative humidity). The chemical<br />

characteristics determined were: tituable acidity, pH,<br />

IN<strong>DE</strong>X TERMS: Ananas comosus, chemical composition, refrigeration, maturation.<br />

total soluble solids, reducing, no reducing and total<br />

sugars, phenolics, pectin and total solids. It was<br />

concluded that the effects of refrigeration on the<br />

chemical composition of pineapple fruits are<br />

influenciated by the stage of maturation of the fruit.<br />

All of the chemical characteristics analysed,<br />

exception for the total soluble solids and total solids,<br />

were affected by the interaction between the stage of<br />

maturation and type of storage (refrigeration and no<br />

refrigeration).<br />

1. Aluna de Doutorado em Ciência dos Alimentos da UNIVERSI<strong>DA</strong><strong>DE</strong> FE<strong>DE</strong>RAL <strong>DE</strong> LAVRAS (UFLA), Caixa<br />

Postal 37, 37200-000, Lavras-MG.<br />

2. DS, Professor Adjunto do Departamento de Ciência dos Alimentos/UFLA.<br />

3. DS, Professor Adjunto do Departamento de Química/UFLA.<br />

4. PhD, Professor Adjunto do Departamento de Fitotecnia/UFC.<br />

5. Aluna de Doutorado em Ciência dos Alimentos/ UFLA.


INTRODUÇÃO<br />

O abacaxi (Ananas comosus L.) é um autêntico<br />

fruto das regiões tropicais e subtropicais, consumido em<br />

todo o mundo, tanto ao natural quanto na forma de<br />

produtos industrializados. As excelentes características<br />

qualitativas dos frutos refletem na sua importância<br />

socioeconômica (Carvalho e Botrel, 1996).<br />

O abacaxi é sensível a altas temperaturas que<br />

aceleram a taxa de amadurecimento e favorecem o<br />

desenvolvimento de fungos reduzindo, portanto, a vida<br />

útil do produto. Ao mesmo tempo, é susceptível a danos<br />

pela ação do frio, sendo desaconselhável a estocagem<br />

abaixo de 7°C. Entre os danos causados pelo frio,<br />

podem-se citar os distúrbios fisiológicos que acarretam<br />

no escurecimento interno (endogenous brown spot ou<br />

brunissemente interne), no aumento da acidez, no<br />

amolecimento da casca e na perda de brilho (Garcia et<br />

al.,1996).<br />

O armazenamento de frutos sob baixas<br />

temperaturas diminui a respiração e o metabolismo,<br />

mantendo suas qualidades organolépticas por mais<br />

tempo. A baixa temperatura, entretanto, não retarda<br />

todas as reações do metabolismo, nem afeta todos os<br />

sistemas físicos da célula na mesma proporção. Esse<br />

desequilíbrio pode resultar em alterações físicas e<br />

metabólicas causando injúria nos frutos (Awad, 1993).<br />

A velocidade de ocorrência dos sintomas é<br />

variável e depende de fatores que influenciam na<br />

injúria, tais como: temperatura, tempo de exposição e<br />

estado metabólico dos tecidos dos frutos (Carvalho e<br />

Botrel, 1996).<br />

De acordo com Garcia et al. (1996), o<br />

armazenamento e transporte do abacaxi deve ser<br />

realizado em condições de umidade relativa de 85 a<br />

90% e temperatura entre 7 e 13°C. Assim tratado, a<br />

vida útil do fruto é de 2 a 4 semanas, dependendo do<br />

grau de maturação em que se encontrava por ocasião da<br />

colheita.<br />

A coloração da casca está estreitamente<br />

relacionada à maturação dos frutos e às condições<br />

climáticas durante o período de cultivo. A maturação<br />

dos frutos, baseada na coloração da casca, é designada<br />

maturação aparente. Giacomelli (1982), avalia a<br />

maturação aparente do abacaxi por meio de notas (0 a<br />

3),conforme o esquema a seguir:<br />

0: região basal do fruto começando a passar de<br />

verde escuro para verde claro;<br />

1: região basal do fruto amarela, sem atingir<br />

mais de duas fileiras de olhos;<br />

357<br />

2: cor amarela, envolvendo mais de 2 fileiras de<br />

olhos sem ultrapassar a metade da superfície total da casca;<br />

3: cor amarela, envolvendo mais da metade da<br />

superfície.<br />

O fruto totalmente maduro não é recomendado<br />

para transporte a mercados distantes, devendo-se<br />

selecionar um nível menos maduro (Dull,1971). Por<br />

outro lado, frutos imaturos não são adequados uma vez<br />

que não atingem boa qualidade organoléptica e são<br />

mais propícios à injúria pelo frio. Devido a esses<br />

fatores, o ponto de colheita recomendado para o<br />

abacaxi destinado à exportação situa-se entre os<br />

critérios 1 e 2 de acordo com a descrição de Giacomelli<br />

(1982).<br />

A qualidade interna dos frutos e suas<br />

características físicas são conferidas por um conjunto<br />

de constituintes físico-químicos e químicos da polpa,<br />

responsáveis pelo sabor e aroma característicos e que<br />

são importantes na sua aceitação final. Sabe-se que<br />

condições climáticas, estádios de maturação, diferenças<br />

varietais e nutrição mineral das plantas exercem<br />

influência acentuada na composição química do<br />

abacaxi.<br />

O objetivo proposto neste trabalho foi o de<br />

avaliar o efeito da refrigeração e do estádio de<br />

maturação sobre a qualidade do abacaxi cv. Smooth<br />

Cayenne, comparando-se a composição química de<br />

frutos em estágios de maturação 2 e 3, descritos por<br />

Giacomelli (1982), armazenados sob refrigeração à<br />

temperatura de 8°C ± 2 e umidade relativa de 89% ± 3<br />

por um período de 20 dias, e sem refrigeração à<br />

temperatura ambiente (20°C± 2 e umidade relativa de<br />

80%± 10).<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

Foram utilizados abacaxis cv. Smooth Cayenne,<br />

provenientes do município de Canápolis-MG, colhidos<br />

no mês de julho de 1998. Logo após a colheita, os<br />

frutos foram transportados para o Laboratório de<br />

Produtos Vegetais da Universidade Federal de Lavras<br />

para a montagem e execução do experimento.<br />

Os frutos apresentaram tamanhos uniformes,<br />

com peso médio de 1957,92g e foram colhidos no<br />

estádio de maturação 2 descrito por Giacomelli (1982).<br />

Para compor os tratamentos foram selecionados<br />

120 frutos. Os frutos doentes, injuriados e mal<br />

formados foram eliminados.<br />

O experimento seguiu o delineamento<br />

inteiramente casualizado, em esquema fatorial 2x2 ou<br />

seja, dois fatores em dois níveis cada: estádio de<br />

maturação (2 e 3) e tipo de armazenamento (com e sem<br />

Ciênc. agrotec., Lavras, v.25, n.2, p.356-363, mar./abr., 2001


358<br />

refrigeração), com 5 repetições. Do referido esquema<br />

resultam quatro tratamentos:<br />

Estágio 2/Sem refrigeração: fruto analisado logo<br />

após a colheita;<br />

Estádio3/Sem refrigeração: fruto analisado após<br />

período de armazenamento à temperatura ambiente<br />

20°C ± 2 e umidade relativa de 80% ± 10) até atingir o<br />

estádio de maturação 3;<br />

Estádio 2/Com refrigeração: logo após a<br />

colheita, o fruto foi armazenado em câmara fria por um<br />

período de 20 dias, à temperatura de 8°C± 2 e umidade<br />

relativa de 89%± 3, e analisado em seguida;<br />

Estádio 3/Com refrigeração: fruto armazenado<br />

em câmara fria por um período de 20 dias, à<br />

temperatura de 8°C± 2 e umidade relativa de 89%± 3, e<br />

analisado após período de armazenamento à<br />

temperatura ambiente (20°C ± 2 e umidade relativa de<br />

80% ± 10) até atingir o estádio de maturação 3;<br />

Cada parcela experimental foi composta por 6<br />

frutos, totalizando 120 frutos. As análises da variância<br />

obedeceram ao modelo estatístico Xij=µ + Ai + Bj + ABij<br />

+ Eij onde µ é a média geral, Ai o efeito do fator A<br />

(maturação), Bj, o efeito do fator B (refrigeração), ABij a<br />

interação entre os fatores, e Eij é o erro associado a cada<br />

observação.<br />

As comparações entre as médias dos tratamentos<br />

foram realizadas utilizando-se o teste de Tukey ao nível<br />

de 5% de probabilidade.<br />

Foram avaliadas as seguintes características<br />

químicas e físico-químicas:<br />

Acidez titulável total (% de ácido cítrico) -<br />

ATT: determinada por titulação com NaOH 0,1N, de<br />

acordo com a técnica preconizada pela AOAC<br />

(1992) e expressa em porcentagem de ácido cítrico<br />

por 100ml de suco;<br />

pH: determinado por potenciometria em<br />

eletrodo de vidro, segundo técnica da AOAC (1992);<br />

Sólidos solúveis totais (%) - SST: determinado<br />

por refratometria, conforme as normas da AOAC<br />

(1992), utilizando-se o refratômetro digital, com<br />

compensação de temperatura automática;<br />

Açúcares totais, redutores e não redutores (%):<br />

foram extraídos pelo método de Lane-Enyon, citado<br />

pela AOAC (1992) e determinados pela técnica de<br />

Somogy, adaptada por Nelson (1944);<br />

Compostos fenólicos (mg/100g): foram<br />

extraídos e doseados segundo a técnica de Goldstein<br />

e Swain (1963) com algumas modificações. Foram<br />

feitas três extrações sucessivas com metanol a 80%.<br />

A determinação foi feita pelo método de Folin-<br />

Ciênc. agrotec., Lavras, v.25, n.2, p.356-363, mar./abr., 2001<br />

Denis, conforme recomendação da AOAC (1992), e<br />

os resultados expressos em mg de ácido tânico/100g<br />

de produto fresco.<br />

Substâncias pécticas (mg/100g): as pectinas<br />

totais e solúveis foram extraídas segundo a técnica<br />

padronizada por McCready e McComb (1952). No<br />

dosea-<br />

mento foi utilizada a técnica de Bitter e Muir (1962), e<br />

os resultados expressos em mg de ácido<br />

galacturônico/100g de produto fresco. A porcentagem<br />

de solubilidade foi obtida pela porcentagem de pectina<br />

solúvel em relação à pectina total;<br />

Umidade (%): foi determinada pela técnica<br />

gravimétrica com o emprego de calor, baseando-se na<br />

perda de peso da polpa submetida ao aquecimento, a<br />

uma temperatura de 60°C, em estufa ventilada, até peso<br />

constante.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Foram observadas variações nas características<br />

químicas e físico-químicas de frutos do abacaxizeiro,<br />

durante o processo de maturação, em função dos<br />

tratamentos pós-colheita a que foram submetidos neste<br />

trabalho (Tabelas 1 e 2).<br />

Observa-se que os valores de pH variaram de<br />

3,40 a 4,05, ocorrendo diferenças estatísticas<br />

relacionadas ao uso ou não da refrigeração, não<br />

sendo observadas diferenças significativas quanto<br />

aos diferentes estádios de maturação dos frutos. A<br />

interação entre os estádios de maturação e os tipos<br />

de armazenamento foi altamente significativa<br />

(Tabela 1). Os frutos em estádio de maturação 2,<br />

armazenados sob refrigeração apresentaram<br />

decréscimos significativos nos valores do pH,<br />

comparados aos frutos no mesmo estádio de<br />

maturação, armazenados sem refrigeração. O oposto<br />

foi observado nos frutos em estádio de maturação 3,<br />

uma vez que os frutos refrigerados apresentaram<br />

valores de pH superiores aos não refrigerados. Esse<br />

fato explica o valor altamente significativo da<br />

interação (AB). Abreu (1995), observou que<br />

abacaxis cv. Smooth Cayenne submetidos à<br />

refrigeração, apresentaram menor pH logo após<br />

serem retirados da câmara fria, quando comparados<br />

com frutos em estágio de maturação 2, não<br />

submetidos à refrigeração.<br />

Os sólidos solúveis totais (S.S.T.), que são<br />

influenciados pela época de colheita, variaram de<br />

11,50 a 12,10 (° Brix) e não apresentaram diferenças


significativas entre os tratamentos, indicando que o<br />

tipo de armazenamento e os estádios de maturação<br />

não modificaram esta característica (Tabelas 1 e 2),<br />

não havendo, também, interação significativa. Botrel<br />

359<br />

(1991), encontrou maiores valores de SST em<br />

abacaxis não submetidos à refrigeração quando<br />

comparados aos refrigerados.<br />

Ciênc. agrotec., Lavras, v.25, n.2, p.356-363, mar./abr., 2001


360<br />

TABELA 1 – Resumo da análise de variância para as características químicas e fisico-químicas de frutos do<br />

abacaxizeiro cv. Smooth Cayenne.<br />

Ciênc. agrotec., Lavras, v.25, n.2, p.356-363, mar./abr., 2001<br />

Quadrados Médios (1)<br />

GL<br />

Causa da<br />

Umidade<br />

Fenólicos<br />

totais<br />

%<br />

solubilidade<br />

Pectina<br />

solúvel<br />

Pectina<br />

total<br />

Açucares não<br />

redutores<br />

Açúcares<br />

redutores.<br />

Açúcares<br />

totais<br />

pH SST ATT SST/<br />

ATT<br />

variação<br />

0,00 ns 0,028 ns 0,027*** 2,367*** 8,026***12,372 *** 0,295 ns 2280,393*** 704,366*** 149,50*** 1621,26*** 0,99 ns<br />

1<br />

Estádio de<br />

maturação (A)<br />

0,221*** 0,378 ns 0,046*** 1,729*** 0,114 ns 20,544*** 22,41*** 6339,65*** 496,91*** 10,03*** 67,53*** 0,091 ns<br />

Refrigeração (B) 1<br />

0,942*** 0,528 ns 0,095*** 4,59*** 0,465**10,469*** 14,74*** 2815,09*** 17,917 * 18,51*** 33,10*** 0,105 ns<br />

Interação AB 1<br />

(1) n.s. – não significativo (*) , (**) e (***) significativos aos níveis de probabilidade de 0,05 0,01 e 0,001 ou menos, respect ivamente.


TABELA 2 - Valores médios referentes às características físico-químicas e químicas de abacaxis armazenados com<br />

e sem refrigeração em dois estádios de maturação dos frutos.<br />

Estádio 2/ Estádio 3/ Estádio 2/ Estádio 3/ C.V.<br />

(%)<br />

Sem refrigeração Sem refrigeração Com refrigeração Com refrigeração<br />

pH 3,84 b 3,40 d 3,62 c 4,05 a<br />

0,51<br />

S.S.T. 11,50 a 11.90 a 12,10 a 11,85 a<br />

3,44<br />

(°Brix)<br />

A.T.T. 1,04 c 1,11 b 1.28 a 1,06 bc<br />

2,24<br />

(% ác. cítrico)<br />

S.S.T. / A.T.T. 11,01 a 10,74 a 9,46 b 11,11 a<br />

4,10<br />

Açúcares totais 8,85 c 10,42 a 9,01 c 9,97 b<br />

2,57<br />

(% de glicose)<br />

Açucares red. 3,23 c 3,35 c 3,81 b 6,83 a<br />

4,36<br />

(% glicose)<br />

Açúcares não red. 5,34 b 6,81 a 4,94 b 2,98 c 5,90<br />

(% sacarose)<br />

Pectina total 327,54 a 282,44 b 268,20 b 270,57 b 3,65<br />

(mg de ác galacturônico/100g)<br />

Pectina solúvel 52,69 b 66,45 a 44,62 c 54,59 3,58<br />

(mg de ác. galacturônico/100g)<br />

% de solubilização 16,12 c 23,52 a 16,63 c 20,18 b 3,75<br />

das pectinas<br />

Fenólicos totais 58,80 a 38,22 c 52,55 b 37,11 c 2,67<br />

(mg de ác. tânico/100g)<br />

361<br />

Ciênc. agrotec., Lavras, v.25, n.2, p.356-363, mar./abr., 2001


362<br />

Umidade 87,37 a 86,78 a 87,36 a 87,06 a 0,60<br />

(%)<br />

Nas linhas, as médias com a mesma letra não diferem estatisticamente entre si a 5% de probabilidade pelo<br />

teste de Tukey.<br />

Segundo relatos de Carvalho e Botrel (1996), a<br />

acidez do abacaxi pode variar de 0,6 a 1,62% de ácido<br />

cítrico. No presente trabalho os valores da acidez<br />

titulável total (A.T.T.) variaram de 1,04 a 1,28% de<br />

ácido cítrico e foram influenciados pelos diferentes<br />

estádios de maturação e pelo tipo de armazenamento.<br />

Também foi significativa a interação entre os estádios<br />

de maturação e tipos de armazenamento. Verificou-se<br />

que a refrigeração causou um aumento na acidez dos<br />

frutos no estágio de maturação 2 e um decréscimo nos<br />

frutos em estágio de maturação 3, explicando-se, desta<br />

forma, a interação altamente significativa mostrada na<br />

Tabela 1. Essas observações estão de acordo com as<br />

modificações verificadas nos valores do pH, que<br />

também sofreram influência do tipo de armazenamento<br />

utilizado, interferindo na A.T.T. dos frutos. Silva<br />

(1980), Abreu (1991) e Botrel (1991), estudando a<br />

cultivar Smooth Cayenne, observaram que em<br />

condições naturais, a acidez titulável aumenta com a<br />

maturação.<br />

O sabor dos frutos é devido, em grande parte, ao<br />

balanço de ácidos e açúcares, o qual é avaliado pela<br />

relação sólidos solúveis /acidez titulável<br />

(S.S.T./A.T.T.). Para o mercado interno de frutos uma<br />

relação sólidos solúveis /acidez elevada é desejável.<br />

Neste trabalho essa relação foi influenciada pelos<br />

diferentes estádios de maturação, pelo tipo de<br />

armazenamento e pela interação entre os estádios de<br />

maturação e tipos de armazenamento. A relação<br />

S.S.T./A.T.T. decresceu para 9,46 nos frutos em estádio<br />

de maturação 2, armazenados sob refrigeração, sendo<br />

diferente dos demais tratamentos. Entre os últimos,<br />

cujas médias variaram de 10,74 a 11,11, não foram<br />

observadas diferenças significativas, muito embora o<br />

teste F indique diferenças significativas entre os níveis<br />

de maturação e refrigeração. Isso se explica por ser o<br />

teste de Tukey altamente exigente. Abreu (1995),<br />

observou que abacaxis não submetidos à refrigeração<br />

apresentaram uma relação S.S.T./A.T.T. bem mais<br />

elevada que os refrigerados.<br />

Os açúcares do abacaxi representam uma fração<br />

muito importante da parte comestível do fruto, sendo<br />

Ciênc. agrotec., Lavras, v.25, n.2, p.356-363, mar./abr., 2001<br />

responsáveis pela doçura e pelo “flavor”. A sacarose<br />

contribui com 66% dos açúcares presentes no abacaxi e<br />

os 34% restantes são representados pelos açúcares<br />

redutores, glicose e frutose (Bleinroth, 1987).<br />

Os teores de açúcares totais (% de glicose) foram<br />

influenciados pelo estádio de maturação, atingindo<br />

valores superiores nos frutos em estádio de maturação 3<br />

(10,42 e 9,97%). Também foi significativa a interação<br />

estádios de maturação e tipos de armazenamento.<br />

Isoladamente, o tipo de armazenamento (com e sem<br />

refrigeração) não teve influência sobre os açúcares<br />

totais (Tabelas 1 e 2). No presente estudo, o maior teor<br />

de açúcares totais foi observado nos frutos em estádio<br />

de maturação 3, armazenados sem refrigeração<br />

(10,42% de glicose), seguindo-se dos frutos<br />

armazenados sob refrigeração (9,97%). Todavia, a<br />

maior porcentagem de açúcares totais observada nos<br />

frutos não refrigerados comparados aos refrigerados,<br />

em estágio de maturação 3, sugere que a conversão de<br />

açúcares pode ser afetada pelo amadurecimento mais<br />

rápido nas condições de temperatura ambiente. Não<br />

foram observadas diferenças significativas nos teores de<br />

açúcares totais dos frutos em estádio de maturação 2,<br />

armazenados sob refrigeração, em relação aos frutos<br />

analisados logo após a colheita (9,01 e 8,85%,<br />

respectivamente).<br />

Os teores de açúcares redutores (% de glicose)<br />

foram influenciados pelos diferentes estádios de<br />

maturação, assim como pelo tipo de armazenamento a<br />

que foram submetidos. Também foi observada<br />

significância para a interação estádios de maturação e<br />

tipos de armazenamento. Não foram observadas<br />

diferenças significativas nos teores de açúcares<br />

redutores dos frutos armazenados sem refrigeração, nos<br />

estádios de maturação 2 e 3. Contudo, verificou-se que<br />

nos frutos refrigerados estes açúcares aumentaram<br />

significativamente, destacando-se o aumento<br />

apresentado pelos frutos em estádio de maturação 3<br />

(6,83% de glicose) (Tabela 2). Abreu (1991) e Botrel<br />

(1991), também encontraram aumentos nos açúcares<br />

redutores de frutos refrigerados quando comparados aos<br />

não refrigerados.


Os açúcares não redutores (% de sacarose) não<br />

foram influenciados pelos estádios de maturação dos<br />

frutos, mas foram afetados pelo tipo de armazenamento<br />

a que foram submetidos (com e sem refrigeração).<br />

Também foi observada significância para a interação<br />

estádios de maturação e tipos de armazenamento<br />

(Tabelas 1 e 2). Os aumentos nas porcentagens de<br />

açúcares redutores e conseqüentes diminuição nos<br />

teores de açúcares não redutores dos frutos refrigerados,<br />

indicam que a refrigeração intensificou o processo de<br />

hidrólise dos açúcares não redutores. Isso pode ser<br />

comprovado verificando-se que os maiores teores de<br />

açúcares não redutores foram observados nos frutos<br />

armazenados sem refrigeração, ao passo que os frutos<br />

armazenados sob refrigeração apresentaram os menores<br />

teores destes açúcares. Abreu (1995), observou que<br />

abacaxis submetidos à refrigeração apresentaram, no<br />

final da maturação maiores teores de açúcares totais,<br />

redutores e não redutores, comparados aos frutos não<br />

refrigerados.<br />

É importante salientar que uma maior<br />

porcentagem de açúcares redutores em relação aos<br />

açúcares totais, confere aos frutos um sabor doce mais<br />

acentuado, característica desejável tanto para o<br />

consumo natural como para a industrialização<br />

(Desroisier, 1959, citado por Souza, 1984).<br />

Nos frutos refrigerados a diferença entre os<br />

teores de açúcares totais e açúcares redutores foi menor<br />

em relação aos frutos que não sofreram refrigeração,<br />

sugerindo um sabor mais doce para estes frutos.<br />

Trabalhos futuros devem ser realizados visando a<br />

determinar o efeito do frio na ativação da invertase com<br />

conseqüente aumento nos açúcares redutores.<br />

As pectinas de vários frutos e hortaliças variam<br />

em quantidade e qualidade, dependendo da espécie<br />

vegetal e do estádio de maturação. Mudanças texturais<br />

provenientes do amadurecimento normal de frutos estão<br />

intimamente relacionadas à degradação das pectinas<br />

(Lyons, 1973).<br />

As porcentagens de pectina total e solúvel, assim<br />

como as porcentagens de solubilização das pectinas<br />

sofreram influência dos estádios de maturação e tipos<br />

de armazenamento. As interações entre os estádios de<br />

maturação e tipos de armazenamento também foram<br />

significativas para estas variáveis (Tabela 1).<br />

Observa-se que os teores de pectina total foram<br />

estatisticamente mais elevados nos frutos em estádio de<br />

maturação 2, analisados logo após a colheita (327,54 mg<br />

de ácido galacturônico/100g), não se observando diferenças<br />

363<br />

significativas entre os demais grupos (Tabela 2). Segundo<br />

Paiva (1978), os valores de pectina total diminuem<br />

continuamente no decorrer da maturação do abacaxi.<br />

Nos frutos em estádio de maturação 3,<br />

armazenados sem refrigeração os teores de pectina<br />

solúvel foram mais elevados (66,45 mg de ácido<br />

galacturônico/ 100g). Os frutos em estágio de<br />

maturação 2, armazenados sob refrigeração<br />

apresentaram teores inferiores aos demais grupos<br />

(44,62 mg de ácido galacturônico /100g), indicando<br />

que a refrigeração ocasionou uma diminuição neste<br />

constituinte.<br />

Os frutos no estádio de maturação 2,<br />

independente do tipo de armazenamento a que foram<br />

submetidos, apresentaram baixa porcentagem de<br />

solubilização das pectinas, não sendo observadas<br />

diferenças significativas entre esses tratamentos<br />

(16,63% e 16,12%). Nos frutos em estádio de<br />

maturação 3, o grau de solubilização foi mais elevado,<br />

ocorrendo diferenças significativas entre os frutos<br />

refrigerados (20,18%) e os não refrigerados (23,52%).<br />

Observa-se, portanto, que a refrigeração conferiu aos<br />

frutos, em estádio de maturação 3, uma menor<br />

porcentagem de solubilização das pectinas o que poderá<br />

resultar em frutos mais firmes, qualidade desejável<br />

tanto para consumo ao natural quanto para a indústria<br />

de compotas. Abreu (1995), também constatou<br />

diminuição na porcentagem de solubilização das<br />

pectinas de frutos refrigerados, comparados aos não<br />

refrigerados.<br />

Os frutos possuem vários tipos de compostos<br />

fenólicos, e algumas dessas substâncias são<br />

responsáveis pela adstringência, relacionando-se,<br />

portanto, ao sabor. No presente estudo, os teores de<br />

fenólicos totais foram influenciados tanto pelos estádios<br />

de maturação dos frutos, como pelos tipos de<br />

armazenamento a que foram submetidos. A interação<br />

entre os tipos de armazenamento e estádios de<br />

maturação foi significativa (Tabela 1). Os maiores<br />

teores de fenólicos totais foram encontrados nos frutos<br />

em estádio de maturação 2. Nos frutos analisados logo<br />

após a colheita, esses teores foram de 58,80 mg de<br />

ácido tânico /100g, valor estatisticamente superior aos<br />

armazenados sob refrigeração (52,55mg de ácido<br />

tânico/100g). Nos frutos em estádio de maturação 3,<br />

refrigerados e não refrigerados, não foram observadas<br />

diferenças significativas, relacionadas aos teores de<br />

fenólicos totais (37,11 e 38,22mg de ácido tânico/100g,<br />

respectivamente). Observa-se, portanto, a redução nos<br />

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364<br />

teores de fenólicos totais com o avanço do estádio de<br />

maturação, fator que interfere positivamente nas<br />

características organolépticas dos frutos, explicando-se,<br />

assim, a interação altamente significativa indicada pelo<br />

valor de F na Tabela 1. O decréscimo de fenólicos totais<br />

com aumento da maturação de abacaxis, também foi<br />

observado por Abreu (1991).<br />

As porcentagens de umidade da polpa dos frutos<br />

não foram influenciadas pelo tipo de armazenamento,<br />

nem pelo estádio de maturação dos frutos, não sendo<br />

observadas diferenças estatisticamente significativas<br />

entre os diferentes tratamentos.<br />

CONCLUSÕES<br />

Sob as condições experimentais estudadas, o<br />

presente estudo permitiu concluir que:<br />

O efeito da refrigeração sobre a composição<br />

química do abacaxi está relacionado ao estádio de<br />

maturação dos frutos. Com exceção dos teores de SST e<br />

umidade da polpa, todas as demais características<br />

estudadas foram influenciadas pelas interações estádio<br />

de maturação e tipo de armazenamento.<br />

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