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sinonímia e paráfrase - Programa de Pós-Graduação em Ciências ...

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CONSIDERAÇÕES SINONÍMIA E PARÁFRASE: A PARTIR DE ALGUMAS<br />

DO ATLAS LINGÜÍSTICO-ETNOGRÁFICO DADOS<br />

DA REGIÃO SUL - ALERS Felício Wessling Margotti *<br />

<strong>paráfrase</strong>,<br />

Resumo: Apresentamos,<br />

a partir <strong>de</strong> um ponto<br />

neste<br />

<strong>de</strong><br />

texto,<br />

vista<br />

algumas<br />

onomasiológico.<br />

contribuições<br />

Se, <strong>de</strong><br />

para<br />

um lado,<br />

o estudo<br />

renunciamos<br />

da <strong>sinonímia</strong><br />

à idéia<br />

e da<br />

caracterizar a <strong>paráfrase</strong> como relação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> s<strong>em</strong>ântica (<strong>sinonímia</strong> absoluta), por outro <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>píricos lado, reconhec<strong>em</strong>os fornecidos a possibilida<strong>de</strong> pelo Atlas Lingüístico-Etnográfico<br />

<strong>de</strong> apreensão da equivalência<br />

da Região<br />

s<strong>em</strong>ântica.<br />

Sul do<br />

Com<br />

Brasil<br />

base <strong>em</strong><br />

– ALERS,<br />

dados<br />

<strong>de</strong>monstramos<br />

<strong>em</strong>pregadas, que<br />

que<br />

a <strong>sinonímia</strong><br />

não é possível<br />

é gradual<br />

pensar<br />

e que<br />

a <strong>sinonímia</strong><br />

a escolha<br />

fora<br />

<strong>de</strong> uma<br />

do<br />

ou<br />

contexto<br />

<strong>de</strong> outra<br />

<strong>em</strong><br />

estrutura<br />

que as palavras<br />

parafrástica<br />

são<br />

nunca<br />

PALAVRAS-CHAVE:<br />

é aleatória.<br />

Sinonímia, <strong>paráfrase</strong>, significação, s<strong>em</strong>ântica.<br />

*Professor <strong>de</strong> Língua Portuguesa e <strong>de</strong> Lingüística <strong>de</strong> Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina, m<strong>em</strong>bro da equipes<br />

<strong>de</strong> pesquisadores do ALERS (Atlas Lingüístico-Etnográfico da Região Sul) e doutorando do <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> <strong>Pós</strong>-<br />

<strong>Graduação</strong> <strong>em</strong> Letras da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. E-mail: wfelicio@cce.ufsc.br.<br />

Linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003<br />

27


1 INTRODUÇÃO<br />

estudo da O objetivo <strong>sinonímia</strong> <strong>de</strong>sta e da exposição <strong>paráfrase</strong>, é com apresentar consi<strong>de</strong>rações algumas pinçadas contribuições a partir para <strong>de</strong> umo<br />

exploratório ponto <strong>de</strong> vista e reflexivo onomasiológico.1<br />

com dados <strong>em</strong>píricos Essas consi<strong>de</strong>rações fornecidos pelas visam Atlas a Lingüístico- um estudo<br />

Etnográfico da Região Sul – ALERS (2002).<br />

correspondências A compreensão entre <strong>de</strong> enunciados uma língua <strong>de</strong>ssa implica mesma que língua, seja possível os quais, estabelecer<br />

serão consi<strong>de</strong>rados como sinônimos, como s<strong>em</strong>anticamente equivalentes no (pelo caso,<br />

menos significados <strong>em</strong> certas veiculados perspectivas). pelos enunciados Em outras po<strong>de</strong>m palavras, ser isto parafraseados, quer dizer que isto os<br />

traduzidos por outros enunciados da mesma língua. Nesse sentido, a <strong>de</strong>scrição é,<br />

<strong>de</strong> parafrástico uma língua que comporta permite, a partir essencialmente <strong>de</strong> um enunciado, a construção o conjunto <strong>de</strong> um das algoritmo <strong>paráfrase</strong>s<br />

possíveis.2<br />

equivalência Em princípio, s<strong>em</strong>ântica reservar<strong>em</strong>os entre pares <strong>de</strong> palavras o termo (e.g. sinônimo barrag<strong>em</strong> para = represa; caracterizar várzeaa<br />

s<strong>em</strong>ântica = varg<strong>em</strong> = entre alagadiço, frases (e.g. canhada Meu vizinho = baixada construiu etc.) e <strong>paráfrase</strong> uma taipa para <strong>de</strong> a pedra equivalência<br />

taipa <strong>de</strong> pedra foi construída por meu vizinho; Um furacão <strong>de</strong>struiu = várias Uma<br />

Jesus casas = <strong>em</strong> Diversas Bom Jesus casas = foram Um vendaval <strong>de</strong>struídas <strong>de</strong>struiu <strong>em</strong> Bom várias Jesus residências por um vendaval; <strong>em</strong> Bom<br />

brisa Diferenciar e o minuano uma brisa é fácil <strong>de</strong> etc.). um minuano é fácil = A diferenciação entre a<br />

equivalência Todavia, s<strong>em</strong>ântica <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os constitui consi<strong>de</strong>rar uma que contradição a caracterização uma vez que da <strong>paráfrase</strong> n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre como<br />

consenso entre os interlocutores sobre o que é “mesmo” sentido e “outro” sentido, há<br />

<strong>em</strong> função do contexto e da situação. “Certas seqüências que são percebidas ou<br />

1<br />

do De conceito acordo com e busca Dubois signos etalii lingüísticos (1978, p. que 441), lhe “a correspon<strong>de</strong>m”. onomasiologia é Diz-se o estudo do “estudo sist<strong>em</strong>ático das das expressões <strong>de</strong>signações; <strong>de</strong> que ela dispõe parte<br />

(FERREIRA, uma língua para 1975, traduzir p. 999). <strong>de</strong>terminada noção, e que parte, pois, do significado para estudar o significante”<br />

2<br />

posterior Para Chomsky à construção (1978 do [1965], componente p. 61), sintático, o estudo que da <strong>paráfrase</strong> engendra <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> as frases.<br />

do componente s<strong>em</strong>ântico, ou seja, é<br />

28 Linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003


produzidas produzidas como como tendo tendo sentidos o mesmo diferentes sentido para para certos outros sujeitos sujeitos” serão (FUCHS, percebidas 1982, p. e<br />

não. 50). Em A sentença muitos casos, Ela t<strong>em</strong> não boas é claro pernas se a palavra, po<strong>de</strong> significar sintagma que ou sentença ela t<strong>em</strong> pernas é ambígua sadias ou<br />

(s<strong>em</strong> bonitas varizes, ou que ossos t<strong>em</strong> partidos pernas que ou mal funcionam encanados, muito mutiladas b<strong>em</strong> para etc.), <strong>de</strong>terminados que t<strong>em</strong> pernas<br />

(como a <strong>de</strong> um atleta, <strong>de</strong> uma bailarina) ou, ainda, se estamos nos referindo a uma fins<br />

égua, cujas pernas funcionam para corridas.<br />

ambíguo3: Enquanto “ela t<strong>em</strong> fenômeno um fundamento lingüístico, real a na <strong>paráfrase</strong> s<strong>em</strong>elhança t<strong>em</strong> <strong>de</strong> um significação caráter essencialmente<br />

ou <strong>de</strong> construções gramaticais, mas essas s<strong>em</strong>elhanças nunca são completas; das palavras<br />

contrário, revelam-se precárias a uma análise mais acurada, como aquela que ao<br />

s<strong>em</strong>anticista t<strong>em</strong> a obrigação <strong>de</strong> fazer” (ILARI e GERALDI, 1985, p. 50). o<br />

que se Por inscreve outro no lado, próprio a abordag<strong>em</strong> sist<strong>em</strong>a da da língua <strong>paráfrase</strong> apresenta como restrições i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> lingüísticas s<strong>em</strong>ântica<br />

uma Fuchs vez (1982), que muitos Ilari e estudiosos, Geraldi (1985), entre os Lopes quais, (1995), Ducrot consi<strong>de</strong>ram (1977), Lyons impossível (1979),<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> absoluta <strong>de</strong> sentido, preferindo abandonar a idéia <strong>de</strong> <strong>paráfrase</strong> comoa<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> s<strong>em</strong>ântica. s<strong>em</strong>ântica Essa é a para linha adotar <strong>de</strong> pensamento uma <strong>de</strong>finição que <strong>em</strong> seguir<strong>em</strong>os termos <strong>de</strong> equivalência<br />

onomasiológica <strong>de</strong> alguns itens lexicais <strong>em</strong>píricos colhidos pelos pesquisadores na análise<br />

do variação ALERS lexical através no do espaço, Questionário uma das S<strong>em</strong>ântico-Lexical. características Nossa das varieda<strong>de</strong>s expectativa dialetais, é que a<br />

também <strong>de</strong>monstrar represente com profundida<strong>de</strong>, uma variação uma <strong>de</strong> vez significado, que os contextos mesmo que e as isso situações seja difícil <strong>de</strong> uso <strong>de</strong><br />

não formulada estão claramente pelos inquiridores, <strong>de</strong>finidos. como, Na verda<strong>de</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, o contexto “Quando está restrito o rio sobe à pergunta<br />

algumas partes <strong>de</strong> terra ficam cobertas com água. Como chamam aqui muito,<br />

lugares à marg<strong>em</strong> <strong>de</strong> um rio ou arroio cobertos <strong>de</strong> águas por algum t<strong>em</strong>po”, estes<br />

ensejou mais <strong>de</strong> quarenta respostas diferentes, entre as quais, várzea (varg<strong>em</strong>, que<br />

alagadiço, vargeado, alaguado, vargedo, varjaredo, alagadio, alagamento, vagido, varge alargado), alagada), banhado alagado (banhadal), (alague,<br />

pântano, terra encharcada, tr<strong>em</strong>edal etc.<br />

3 Maiores <strong>de</strong>talhamentos sobre ambigüida<strong>de</strong> e vagueza po<strong>de</strong>m ser encontrados <strong>em</strong> K<strong>em</strong>pson (1980 [1977]) e<br />

Rossa (2001).<br />

Linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003<br />

29


2 PERSPECTIVAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS<br />

2.1 Caracterização Geral<br />

fornecidos Os principais por Fuchs pressupostos (1982), Scheinowitz teóricos (1998), nos quais Ilari este e Geraldi estudo (1985), se apóia Lyons são<br />

(1979) <strong>paráfrase</strong> e é Ilari um (2001). fenômeno Como que já se diss<strong>em</strong>os fundamenta acima, na s<strong>em</strong>elhança do ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong> vista significação lingüístico, das a<br />

As palavras diferenças ou das apagadas construções ou irrelevantes sintáticas, mas num essas contexto s<strong>em</strong>elhanças <strong>em</strong> que nunca se instaura são completas.<br />

<strong>de</strong> <strong>paráfrase</strong> po<strong>de</strong>m, <strong>de</strong> certo modo, ser realçadas <strong>em</strong> outros contextos. a Levando relação<br />

quando isso <strong>em</strong> <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> conta, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong> maneiras dizer que equivalentes “duas sentenças um mesmo são <strong>paráfrase</strong>s acontecimento uma da ou outra<br />

mesmo estado <strong>de</strong> coisas” (ILARI, 2001, p. 140). A construção <strong>de</strong> <strong>paráfrase</strong>s um<br />

sentenças realiza-se através <strong>de</strong> dois recursos: a) aplicação <strong>de</strong> transformações <strong>de</strong><br />

caráter sintático (das quais a mais conhecida é a formação da voz passiva (e.g. <strong>de</strong><br />

aterro represa a água = A água é represada pelo aterro) e <strong>de</strong> substituição lexical O<br />

vale com = base Entre na equivalência um serro e outro, <strong>de</strong> significado há uma (e.g. canhada). Entre uma morro e outro, há um<br />

De acordo com Ilari (2001), as <strong>paráfrase</strong>s baseadas no léxico são construídas:<br />

seu Homero a) Recorrendo-se = Seu Homero ao é “predicado avô <strong>de</strong>sta menina converso”, (com e. substantivo); g., Esta menina Os é livros neta <strong>de</strong><br />

José <strong>de</strong> Alencar são melhores do que os livros <strong>de</strong> Paulo Coelho = Os livros <strong>de</strong><br />

Paulo Coelho são piores do que os livros <strong>de</strong> José <strong>de</strong> Alencar (com adjetivos, <strong>de</strong><br />

incluindo <strong>em</strong>prestou comparação o apartamento <strong>de</strong> = superiorida<strong>de</strong> Eu tomei <strong>em</strong>prestado e <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong>); o apartamento Meu do meu sogro sogro me<br />

laboratório (com verbos, = fica inclusive antes da na sala voz <strong>de</strong> passiva); reuniões A (preposições) sala <strong>de</strong> reuniões fica <strong>de</strong>pois do<br />

b) Recorrendo-se a “predicados simétricos”, e.g., Maria é mãe <strong>de</strong> Simoni<br />

= Simoni é<br />

quanto os teus filha = <strong>de</strong> Os Maria teus filhos (com são substantivos); tão inteligentes Os quanto meus filhos os meus são (com tão inteligentes adjetivos,<br />

com incluindo José (com comparação verbos, <strong>de</strong> incluindo igualda<strong>de</strong>); voz passiva); José conversa Minha com casa João fica = perto João da conversa casa <strong>de</strong><br />

minha irmã = A casa <strong>de</strong> minha irmã fica perto da minha casa (com preposições<br />

e locuções prepositivas).<br />

30 Linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003


Toninho c) t<strong>em</strong> Trocando barba = expressões Toninho é baseadas barbudo; <strong>em</strong> Minha diferentes avó t<strong>em</strong> verbos ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avançada suporte:<br />

Minha avó é velhinha (algumas vezes, as equivalências falham, pois Tu tens orelhas =<br />

não que é Jacó exatamente é um livreiro). Tu és orelhudo, assim como Jacó t<strong>em</strong> muitos livros não significa<br />

classes d) sintáticas Expressando diferentes: as mesmas Antes do relações jogo, houve através um <strong>de</strong> tumulto palavras na que arquibancada pertenc<strong>em</strong> = a<br />

O Por jogo causa foi precedido da chuva, por o jogo um atrasou tumulto = na A arquibancada chuva provocou (preposição o atraso x do verbo);<br />

(conjunção x verbo).<br />

jogo<br />

nobarranco e) Recorrendo = O carro a caiu termos no sinônimos: buraco = O carro carro caiu caiu na na covanca. grota = O carro caiu<br />

construir Da frases mesma sinônimas, forma, há isto muitas é, frases operações que “preservam sintáticas o sentido” que se prestam (<strong>paráfrase</strong>s). para<br />

Entre esses recursos, citam-se:<br />

a) formação da voz passiva: Ela abriu a porta = A porta foi aberta por ela;<br />

b) <strong>de</strong>terminouque nominalização: O os patrão entulhos <strong>de</strong>terminou foss<strong>em</strong> a retirados; retirada dos entulhos = O patrão<br />

c) substituição Pediram- me <strong>de</strong> para uma falar forma baixo verbal = finita Pediram-se por uma para forma que verbal falasse não baixo; finita:<br />

d) alçamento saia <strong>de</strong> casa <strong>de</strong> cedo certos = verbos: Para chegar Para a chegar t<strong>em</strong>po, a t<strong>em</strong>po, você precisa é preciso sair cedo; que você<br />

e) substituição aparent<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r verbos x possivelmente, por advérbios costumar e vice-versa x geralmente (parecer etc.): x<br />

Parece que tu está certo = Aparent<strong>em</strong>ente tu estás certo.<br />

sentido que Como advém fenômeno do uso. situacional, Deste modo, a as <strong>paráfrase</strong> frases Que fundamenta-se belo dia! e O na sol s<strong>em</strong>elhança está brilhando <strong>de</strong><br />

são ou porque <strong>paráfrase</strong>s as construções não porque as sintáticas palavras são significam s<strong>em</strong>elhantes a mesma (<strong>sinonímia</strong> coisa (<strong>sinonímia</strong> estrutural), lexical)<br />

porque, <strong>em</strong> certas circunstâncias, traduz<strong>em</strong> a mesma intenção e visam a obter mas<br />

mesmo resultado, por ex<strong>em</strong>plo, “as condições estão favoráveis para ir à praia”, “vai o<br />

dar para começar a colheita”, “o t<strong>em</strong>po está bom para concretar a laje” etc.<br />

Linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003<br />

31


têm i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> De outra <strong>de</strong> parte, significação diz-se que relativamente ocorre <strong>sinonímia</strong> ao contexto lexical <strong>em</strong> quando que atuam. duas palavras Trata-se<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> um conjunção “processo entre associativo os s<strong>em</strong>as” que ocorre (OLIVEIRA, no paradigma 1999, p. e estabelece 85), possibilitando uma relação<br />

equivalência <strong>de</strong> sentido. Assim, para que sejam sinônimas, não basta que duas a<br />

palavras tenham a mesma extensão, ou seja, <strong>de</strong>not<strong>em</strong>, por alusão a uma mesma<br />

proprieda<strong>de</strong>. Por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> As aves dorm<strong>em</strong> no solais do morro e Plantou<br />

uma roça <strong>de</strong> cana na recosta do morro, as palavras solais e recosta têm a<br />

Entre mesma outras extensão, possibilida<strong>de</strong>s, isto é, a referência solais r<strong>em</strong>ete é idêntica, à idéia mas <strong>de</strong> parte os sentidos mais alta são do diferentes. morro, a<br />

primeira<br />

a um dos<br />

e<br />

lados<br />

a última<br />

do<br />

banhada<br />

morro,<br />

pelo<br />

s<strong>em</strong><br />

sol,<br />

trazer<br />

enquanto<br />

à tona recosta o significado refere-se relativo mais precisamente a “banhado<br />

pelo todos sol”. os <strong>em</strong>pregos, Para que a duas mesma palavras contribuição sejam ao sinônimas, sentido da é frase. preciso Assim, que a tenham, substituição <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> uma palavra pela outra não provoca alterações <strong>de</strong> sentido <strong>em</strong><br />

foi construída <strong>em</strong> 1940 e A “represa” provoca danos ao meio A “barrag<strong>em</strong>”<br />

Como se vê, as duas palavras po<strong>de</strong>m ser intercambiadas nesses contextos ambiente.<br />

que o sentido seja afetado, pelo menos <strong>de</strong> acordo com certa varieda<strong>de</strong> dialetal. s<strong>em</strong><br />

Mas a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentido é afetada <strong>em</strong> outros contextos, como <strong>em</strong><br />

“represa” não se compara com um “barrag<strong>em</strong>”, pois, para mim, “barrag<strong>em</strong>” Uma<br />

é uma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água muito maior do que uma simples “represa”.<br />

contexto4.<br />

Fica claro então que a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> significação ou <strong>sinonímia</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do<br />

contextos, ou Todavia, que “a consi<strong>de</strong>rando significação da que palavra as palavras é o conjunto nunca ocorr<strong>em</strong> <strong>de</strong> contextos nos mesmos<br />

po<strong>de</strong> ocorrer” (ILARI e GERALDI, 1985, p. 46), não há sinônimos. É que sinônimos <strong>em</strong> que<br />

s<strong>em</strong>pre sofr<strong>em</strong> algum tipo <strong>de</strong> especialização, seja <strong>de</strong> sentido, seja <strong>de</strong> uso.<br />

entre frases Fala-se (<strong>paráfrase</strong>). <strong>de</strong> “<strong>sinonímia</strong> Todavia, estrutural” os probl<strong>em</strong>as quando se <strong>de</strong> alega “<strong>sinonímia</strong> a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> estrutural” <strong>de</strong> significação são os<br />

4<br />

ser. Para Para Ducrot ele, a (1977, <strong>de</strong>scrição p. 116), s<strong>em</strong>ântica não existe <strong>de</strong> uma enunciado língua L é que o conjunto ocorra fora <strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong> um contexto, que por permite mais reduzido prever, tendo que possa<br />

pronunciado um enunciado A da língua L <strong>de</strong>ntro das circunstâncias X, o sentido que a ocorrência <strong>de</strong> A tomou sido<br />

nesse lingüística contexto. aos enunciados Assim sendo, <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ra-se: uma língua L, a) previamente o componente a qualquer lingüístico, significação que atribui extra uma que significação lhe possa exclusivamente<br />

pelo contexto (que engloba a situação); b) o componente retórico, ou seja, as circunstâncias da enunciação,<br />

ser acrescida<br />

dão um sentido ao enunciado.<br />

que<br />

32 Linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003


mesmos gramatical da varia, “<strong>sinonímia</strong> assim lexical”, como a pois escolha o uso que <strong>de</strong> uma os locutores ou <strong>de</strong> outra faz<strong>em</strong>. palavra ou construção<br />

2.2 A impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação s<strong>em</strong>ântica<br />

e a corrente Há duas léxico-s<strong>em</strong>ântica. principais abordagens A primeira, lingüísticas representada da <strong>paráfrase</strong>: essencialmente a corrente sintática<br />

transformacionistas5, consi<strong>de</strong>ra a <strong>paráfrase</strong> como uma relação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pelos<br />

sentido intuitivamente apreendido: “Uma seqüência é uma <strong>paráfrase</strong> <strong>de</strong> uma outra <strong>de</strong><br />

A seqüência noção <strong>de</strong>sta se elas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> significam <strong>de</strong> a sentido mesma será coisa” mais (SMABY, ou menos apud restrita. FUCHS, Para 1982, alguns, p. 50).<br />

“sentido” comum das <strong>paráfrase</strong>s será s<strong>em</strong>elhante à “informação objetiva”, isto o<br />

como porque conteúdo as transformações informacional. conservam Para outros, inalterado será aquilo equivalente que po<strong>de</strong> à referência. ser interpretado<br />

(ou quase Nessa o mesmo perspectiva, sentido), as <strong>paráfrase</strong>s assim como seriam os sinônimos frases que lexicais têm “o seriam mesmo as sentido”<br />

que têm (<strong>de</strong> modo s<strong>em</strong>elhante) “o mesmo sentido”. Essa noção intuitiva palavras<br />

recusada pelos s<strong>em</strong>anticistas gerativistas que se <strong>em</strong>penham <strong>em</strong> analisar foi<br />

diferenças que separam frases <strong>de</strong>rivadas a partir da estrutura profunda, como as<br />

o caso das ativas e passivas, para as quais é possível mostrar diferenças t<strong>em</strong>áticas é<br />

e <strong>de</strong> pressuposição.<br />

comprou Ao um analisarmos, carro vendido por ex<strong>em</strong>plo, por João, João verificamos ven<strong>de</strong>u um que carropara a primeira Maria é uma e frase Maria<br />

respeito da venda <strong>de</strong> um carro feita por João a Maria, e a segunda é uma frase a<br />

respeito “conteúdo da cognitivo”6, compra realizada as duas frases por Maria. veiculam Apesar argumentos <strong>de</strong> veicular<strong>em</strong> distintos. o O mesmo mesmo<br />

5<br />

particular, A gramática na crítica gerativa ao está mo<strong>de</strong>lo fundamentada sintagmático: essencialmente uma gramática sobre estrutural a noção é incapaz <strong>de</strong> <strong>paráfrase</strong>; <strong>de</strong> indicar essa a noção relação lhe <strong>de</strong> serve, <strong>paráfrase</strong> <strong>em</strong><br />

explicar que existe as entre relações Pedro <strong>de</strong> <strong>paráfrase</strong> ama Maria é um eMaria dos principais é amada objetivos por Pedro, da gramática e <strong>de</strong> excluir gerativa. <strong>de</strong>sta Ao relação mesmo Maria t<strong>em</strong>po, ama a gramática Pedro;<br />

<strong>de</strong>sviado gerativa se pela coloca polícia a tarefa e sua <strong>de</strong> estrutura <strong>de</strong>finir os profunda diferentes (frase tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong> base: relações A polícia <strong>de</strong> <strong>paráfrase</strong> <strong>de</strong>sviou que o trânsito) exist<strong>em</strong> entre e entre O trânsito O trânsito foi<br />

<strong>de</strong> foi terra) <strong>de</strong>sviado e <strong>de</strong>monstrar para uma estrada <strong>em</strong> que <strong>de</strong> difer<strong>em</strong> terra e esses sua estrutura sist<strong>em</strong>as profunda <strong>de</strong> <strong>paráfrase</strong>s (<strong>de</strong>sviou-se (cf. CHOMSKY, o trânsito 1978 para [1965]; uma estrada<br />

FODOR, 1963; LOPES, 1995; JACKENDOFF, 1972).<br />

KATZ e<br />

6<br />

entre De acordo a ativa com e a passiva.<br />

Fuchs (1982, p. 51), a expressão foi usada por Chomsky para se referir à equivalência <strong>de</strong> sentido<br />

Linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003<br />

33


ocorre esperto <strong>em</strong> do frases que meu do tipo: filho. Meu A primeira filho é mais frase esperto orienta do o que discurso eu e Eu no sou sentido menos da<br />

“esperteza do meu filho” enquanto a segunda frase orienta o discurso no sentido<br />

da “minha falta <strong>de</strong> esperteza”.<br />

Esses ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>monstram a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer, na língua,<br />

<strong>em</strong> uma conta, total relação duas posições <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> são possíveis: s<strong>em</strong>ântica ou (<strong>de</strong> se abandona <strong>sinonímia</strong> absoluta). <strong>em</strong> <strong>de</strong>finitivo Levando a relação isso<br />

idéia parafrástica <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> na língua <strong>de</strong> <strong>de</strong>vido sentido a diferenças e passar a s<strong>em</strong>ânticas, analisar a ou <strong>paráfrase</strong> é preciso <strong>em</strong> abandonar termos <strong>de</strong> a<br />

sintático-s<strong>em</strong>ântica. aproximação <strong>de</strong> sentido, Como <strong>de</strong> isso, equivalência juntamos s<strong>em</strong>ântica, nossa voz à ou voz melhor, daqueles <strong>de</strong> que equivalência repel<strong>em</strong><br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer a noção <strong>de</strong> “<strong>sinonímia</strong> lexical perfeita”7.<br />

2.3 A equivalência s<strong>em</strong>ântica<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> Ao renunciar s<strong>em</strong>ântica à total idéia (<strong>sinonímia</strong> <strong>de</strong> caracterizar absoluta), a <strong>paráfrase</strong> nós passamos como uma a reconhecer relação <strong>de</strong><br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r uma relação <strong>de</strong> equivalência s<strong>em</strong>ântica. Entre duas a<br />

frases <strong>de</strong>claradas parafrásticas, todo o trabalho do lingüista consiste <strong>em</strong> estabelecer<br />

a estabelecer natureza dos o grau s<strong>em</strong>ant<strong>em</strong>as <strong>de</strong> equivalência comuns <strong>de</strong> e significado dos s<strong>em</strong>ant<strong>em</strong>as entre as diferenciais, frases. e, assim,<br />

contextos Da são mesma mais forma, ou menos a <strong>sinonímia</strong> exigentes é quanto um fenômeno ao princípio gradual, <strong>de</strong> “que uma duas vez palavras que os<br />

são sinônimas s<strong>em</strong>pre que po<strong>de</strong>m ser substituídas no contexto <strong>de</strong> qualquer frase<br />

1985, s<strong>em</strong> que p. 44). a frase Esse passe princípio <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>riva do a entendimento falsa, ou vice-versa” <strong>de</strong> que se (ILARI duas frases e GERALDI,<br />

mesmo sentido, quando referidas ao mesmo conjunto <strong>de</strong> fatos, têm <strong>de</strong> ser ambas têm o<br />

verda<strong>de</strong>iras, ou ambas falsas. Assim, perceb<strong>em</strong>os intuitivamente que<br />

frescoe<br />

brisa, vento<br />

outras frases vento que fraco, se po<strong>de</strong>riam por ex<strong>em</strong>plo, relacionar, alternam-se s<strong>em</strong> que nas frases o sentido a seguir, verda<strong>de</strong>iro e <strong>em</strong> inúmeras ou falso<br />

se previsão alterne: <strong>de</strong> Gostoso t<strong>em</strong>po, mesmo no final é sentir da tar<strong>de</strong> o(a).... <strong>de</strong> hoje, que v<strong>em</strong> soprará do mar;De um(a)...;<br />

acordo com a<br />

um(a)... ao vento minuano.<br />

Eu prefiro<br />

7 Se, como sugeriram vários autores, a significação <strong>de</strong> uma palavra é o conjunto <strong>de</strong> contextos<br />

lingüísticos <strong>em</strong> que uma palavra po<strong>de</strong> ocorrer, então é impossível encontrar “dois sinônimos<br />

perfeitos” (cf. ILARI e GERALDI, 1985, p. 46).<br />

34 Linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003


critérios No <strong>de</strong> entanto, verda<strong>de</strong> o ou princípio <strong>de</strong> falsida<strong>de</strong> da substituição das frases falha para s<strong>em</strong>pre testar a que, <strong>sinonímia</strong> por ex<strong>em</strong>plo, através <strong>de</strong> se<br />

fizer alusão à forma das palavras, ou se atribuír<strong>em</strong> crenças e conhecimentos a<br />

alguém, 1985, p. ou 45), se como r<strong>em</strong>eter <strong>em</strong>: direta Aqui e não indiretamente conhec<strong>em</strong>os ao discurso brisa, só (cf. vento ILARI fraco;Brisa e GERALDI, é<br />

uma palavra <strong>de</strong>rivada do francês;Nesta manhã sopra um vento fraco, mas<br />

fresco). gelado (supondo, neste caso, que o locutor consi<strong>de</strong>re vento fraco = vento<br />

As observações acima mostram que não é possível pensar a <strong>sinonímia</strong><br />

fora entre do <strong>paráfrase</strong>s, contexto. é Para comum caracterizar recorrer-se as diferenças à substituição s<strong>em</strong>ânticas uma vez que que, po<strong>de</strong>m <strong>em</strong> certos existir<br />

manterá contextos o mais mesmo exigentes, sentido. a substituição será impossível, ou a expressão não<br />

na língua A concepção baseia-se <strong>de</strong> na <strong>paráfrase</strong> existência como <strong>de</strong> uma uma relação noção comum, <strong>de</strong> equivalência uma espécie s<strong>em</strong>ântica<br />

“significado <strong>de</strong> base”, e as diferenças entre as frases parafrásticas apóiam-se <strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

“significados <strong>paráfrase</strong>. Consi<strong>de</strong>rando secundários”, as frases não pertinentes (1) ao estabelecimento da relação <strong>de</strong><br />

contra a corrupção;<br />

Todos diz<strong>em</strong> que os procuradores lutam<br />

corrupção; (3) Todos (2) conhec<strong>em</strong> Todos sab<strong>em</strong> a luta dos que procuradores os procuradores contra lutam a corrupção; contra a<br />

(4) É conhecida <strong>de</strong> todos a luta dos procuradores contra a corrupção; (5) E<br />

sabido sab<strong>em</strong> que por todos continua que a os luta procuradores dos procuradores lutam contra contra a a corrupção; corrupção; (6) (7) Todos<br />

há qu<strong>em</strong> diga que os procuradores não lutam contra a corrupção,<br />

Não<br />

se que as frases <strong>de</strong> (1) a (7) têm a mesma “estrutura léxico-s<strong>em</strong>ântica”, observa- as frases<br />

<strong>de</strong> mesma (1) a “caracterização (6) têm a mesma léxico-gramatical”. “estrutura léxico-sintática” Elas diferenciam-se e as frases (1) e nos (2) níveis têm a<br />

morfológicos, fonéticos ou gráficos (cf. FUCHS, 1982, p. 55).<br />

(núcleo A comum idéia <strong>de</strong> + caracterizar diferenças a secundárias) <strong>paráfrase</strong> <strong>em</strong> também termos é <strong>de</strong> válida equivalência para a s<strong>em</strong>ântica<br />

lexical: as palavras sinônimas têm um “sentido geral” (idéia principal) <strong>sinonímia</strong><br />

diferenciam-se <strong>em</strong> nível dos “sentidos acessórios” (idéias secundárias). Oe<br />

sobre fenômeno a mesma da <strong>sinonímia</strong> realida<strong>de</strong>.<br />

correspon<strong>de</strong> à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vista diferentes<br />

Linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003<br />

35


3 ANÁLISE DOS DADOS<br />

S<strong>em</strong>ântico-Lexical A seguir analisar<strong>em</strong>os do Atlas Lingüístico-Etnográfico as respostas a cinco da Região perguntas Sul – do ALERS Questionário<br />

buscando evi<strong>de</strong>nciar as causas da variação lexical. Como ponto <strong>de</strong> partida, (2002),<br />

diferentes respostas à mesma pergunta <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser tomadas como sinônimos, as<br />

pelo consi<strong>de</strong>rando menos <strong>de</strong> que acordo a escolha com o princípio <strong>de</strong> uma ou da equivalência <strong>de</strong> outra forma s<strong>em</strong>ântica. “que têm No entanto,<br />

equivalente” não é totalmente indiferente, far<strong>em</strong>os um estudo contrastivo, sentido<br />

a <strong>de</strong>tectar possíveis diferenças <strong>de</strong> sentido, seja no espaço dialetal recoberto visando<br />

ALERS, seja no contexto da própria pergunta. Limitar<strong>em</strong>os nossa análise pelo<br />

itens lexicais mais recorrentes.<br />

aos<br />

3.1 Encosta<br />

Pergunta n. 06 – Como se chama aqui o lado <strong>de</strong> um morro?<br />

morro/serro) Respostas: – 16, la<strong>de</strong>ira/la<strong>de</strong>irão costa (do morro/serro) – 45;8 encosta – 13, (do costeira/costado(a)/costão morro) – 18, recosta (do<br />

04; subida (do morro/serro) – 15, subida e <strong>de</strong>scida – 04, <strong>de</strong>scida – 02; lado –<br />

(do morro/serro) – 15; solais (do morro) – 12; prancha/pranchão –10; fase –<br />

07; paredão beirada – 03; (alta)/beira lomba – 03; – 05; fralda lateral (da serra/do (do monte) serro) – – 04; 03; caída pé <strong>de</strong> – morro 03; pare<strong>de</strong>/<br />

canhada – 02; baixada – 02. Com 01 resposta: chão caído, serra, perambeira, – 02;<br />

parado, rincão, volta <strong>em</strong> roda do morro, levante do sol, perau, lançante, frente<br />

do morro, <strong>de</strong>spraiado, chapada, barranca. Respostas prejudicadas: 108.<br />

Os itens lexicais la<strong>de</strong>ira e a variante la<strong>de</strong>irão, com 45 ocorrências,<br />

juntamente com encosta e as variantes recosta, costa, costeira, costado, costão,<br />

com <strong>de</strong> um 51 morro. ocorrências, A palavra foram la<strong>de</strong>ira, predominantes <strong>de</strong>rivada no <strong>de</strong> sul lado+eira, do Brasil significa para <strong>de</strong>signar “inclinação o lado<br />

mais íngr<strong>em</strong>e”. ou menos Já a palavra acentuada encosta <strong>de</strong> está terreno”, dicionarizada mas também por Ferreira “rua mais (1975, ou p. menos 521)<br />

8 À direita <strong>de</strong> cada resposta, está indicado o número <strong>de</strong> ocorrências <strong>de</strong>ssa resposta num universo <strong>de</strong> 275<br />

informantes do ALERS, sendo 95 no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, 80 <strong>em</strong> Santa Catarina e 100 no Paraná.<br />

36 Linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003


pluviais”). como variante No mesmo <strong>de</strong> vertente dicionário (“<strong>de</strong>clive (p. <strong>de</strong> 1199), montanha há uma por indicação on<strong>de</strong> escorr<strong>em</strong> <strong>de</strong> que recosta as águas é<br />

um “s. f. usado no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul”.<br />

Ora, apesar <strong>de</strong> essas palavras, juntamente com todas as outras, registradas<br />

como respostas à mesma pergunta, referir<strong>em</strong> a uma “unida<strong>de</strong> arquétipa” <strong>de</strong><br />

fosse significado, outro, isso os informantes não significa produziriam que, se a pergunta as mesma fosse outra, respostas. ou seja, Há se um o conceito contexto<br />

básico, metafóricos mas “cada e metonímicos, palavra-entrada” até aqueles t<strong>em</strong> sua própria caracterizados acepção, pela “<strong>de</strong>s<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência os <strong>em</strong>pregos<br />

s<strong>em</strong>ântica, conjugada a passando uma modificação pelos casos na categoria <strong>de</strong> permanência gramatical” da (SCHEINOWITZ, substância s<strong>em</strong>ântica 1988,<br />

p. poliss<strong>em</strong>ia 99). Os probl<strong>em</strong>as e homonímia. <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição, Deste modo, nesta parece etapa, claro são os que relativos la<strong>de</strong>ira à monoss<strong>em</strong>ia,<br />

equival<strong>em</strong> s<strong>em</strong>anticamente, mas cada uma <strong>de</strong>ssas palavras t<strong>em</strong> usos e específicos, recosta se<br />

não só lingüísticos, mas também pragmáticos e dialetais.<br />

“a parte Chama da pedra a atenção que, no a alto ocorrência do morro <strong>de</strong> ou solais, da serra, que Aurélio principia registra a inclinar-se como sendo<br />

o <strong>de</strong>clive”. Nada mais é explicitado. Admite-se como plausível a hipótese <strong>de</strong> para que<br />

sol), solais ou <strong>de</strong>rive seja, <strong>de</strong> solares solares (adjetivo) > solaes > > solais solais. (substantivo). Assim sendo, o adjetivo solares (<strong>de</strong><br />

3.2 Vale<br />

Pergunta n. 08 – O que fica entre dois morros?<br />

baixo (terra Respostas: baixa) a) – canhada(o) 02, baixadão – – 55 01; e canhadão(ona) várzea/varg<strong>em</strong> – 18, 06; varjão/vargezinha b) baixada – 43,<br />

– terra 02; <strong>de</strong> grota valo – – 20; 01; vale bacia – – 14; 08; valo(a) entr<strong>em</strong>eio – 08, (os valetão morros) – 02, – 02, valão meio – 01; do valada morro – 01, 01,<br />

entre covoado/covanca morros – 01, – sentado 03; ilha entre – 02; dois sanga morros (seca) – 01; – 02; córrego buraco – – 04; 02; planície quebrada – 04; –<br />

corredor, 02; chato – fundo, 02. Além cocheira, <strong>de</strong>ssas, gamela, registrou-se intervalo, 01 ocorrência parelho, canalização para: terra (da <strong>em</strong>buracada,<br />

chapada, barroca, garganta, furna, lançante, banhado, lagoão, boqueirão, coxilha),<br />

caída. Ficam prejudicadas por diferentes motivos, apesar da aparente clareza vão,<br />

pergunta, 49 respostas.<br />

da<br />

Linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003<br />

37


que ocorreu O it<strong>em</strong> mais lexical vezes, canhada é <strong>de</strong>rivado e suas variantes do espanhol canhado, cañada. canhadão, De acordo canhadona,<br />

Dicionário Aurélio, significa “Baixada entre colinas ou coxilhas; vala profunda com<br />

aberta não tenha por disponibilizado chuvas fortes <strong>em</strong> o mapa la<strong>de</strong>iras referente muito ao íngr<strong>em</strong>es”. it<strong>em</strong> lexical Embora vale e o suas ALERS variantes, ainda<br />

fica noção claro s<strong>em</strong>ântica que, pelo proposta menos no pela sul do pergunta Brasil, predomina “O que fica canhada entre para dois <strong>de</strong>signar morros”, a<br />

principalmente como traço regional. ao longo das fronteiras com os países vizinhos, caracterizando<br />

baixada, Em que segundo o dicionário lugar, quanto Aurélio ao (1975) número usou <strong>de</strong> ocorrências para <strong>de</strong>finir registrou-se canhada. Todavia, a forma<br />

essa sêmicos, equivalência apresenta s<strong>em</strong>ântica, diferenças dialetais que se sustenta e lingüísticas. numa É noção certo, comum por ex<strong>em</strong>plo, <strong>de</strong> traços<br />

na faixa litorânea o termo canhada é pouco conhecido e, conseqüent<strong>em</strong>ente, que<br />

pouco <strong>de</strong>pressões. <strong>em</strong>pregado, Quanto mesmo ao significado porque a lingüístico topografia, propriamente nessas regiões, dito, é escassa baixada <strong>de</strong>ssas<br />

necessariamente um vale profundo. Po<strong>de</strong> ser um terreno, mais ou menos extenso, não é<br />

<strong>de</strong> Veja-se, terras por planas ex<strong>em</strong>plo, que, que relativamente canhada está a outros mais para terrenos, grota (com fique 20 <strong>em</strong> ocorrências) nível inferior.<br />

baixada está mais para várzea (varg<strong>em</strong>, varjão, vargezinha) (também com 20e<br />

ocorrências). <strong>de</strong> canhada, ou Neste seja, sentido, entre uma po<strong>de</strong>ríamos palavras e dizer outra, que há baixada uma relação inclui <strong>de</strong> o hiponímia, significado<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> traços acordo y com uma a vez seguinte que todos fórmula: os traços o feixe <strong>de</strong> y <strong>de</strong> são traços encontrados x inclui <strong>em</strong> logicamente x. Mesmo o assim, feixe<br />

como e. g. canhada vimos alhures, <strong>de</strong>riva haverá do espanhol certos cañada. <strong>em</strong>pregos <strong>em</strong> que essa fórmula não se aplica,<br />

qu<strong>em</strong> elaborou Outro fato o questionário, relevante é que ocorreu a palavra somente “arquétipa” 27 vezes vale, (incluindo pelo menos variantes para<br />

valo, parte vala, do uso valetão, dos falantes valão, rurais valada, 9, terra na região. <strong>de</strong> valo), evi<strong>de</strong>nciando que ela não faz<br />

3.3 Alagadiço<br />

cobertas Pergunta com água. n. 09 Como – Quando chamam o rio aqui sobe estes muito, lugares algumas à marg<strong>em</strong> partes <strong>de</strong> <strong>de</strong> terra um rio ficam<br />

arroio cobertos <strong>de</strong> águas por algum t<strong>em</strong>po? ou<br />

9 Os informantes do ALERS são pessoas do meio rural.<br />

38 Linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003


varjaredo Respostas: – 08, vagido várzea/varg<strong>em</strong> – 01, varge (do alagada rio/arroio) (com água) – 55, – vargeado/vargedo/<br />

alagado – 15; alaga/alague – 03, alagadiço – 03, alaguado – 01; 01, (terreno/lugar)<br />

alagamento – 01, alargado – 01; (terra <strong>de</strong>) banhado – 18, banhadal alagadio – 01; – ilha 01,<br />

– inundada 07; terra – 03. baixa Com – 05, 02 respostas: baixada/baixo pântano, – 02; terra brejo encharcada, – 06; lagoa enchente, – 06; (terra)<br />

poço/água <strong>em</strong>poçada, lama, sanga, tapado <strong>de</strong> água/com água. Com 01 resposta: praia,<br />

terra pantanosa, úmida, terra enxurradão, prejudicada represo, pela água, aguada, bacia, terra charco, lavada, terra beira <strong>de</strong> <strong>de</strong>smonte, rio, costa beirada,<br />

terra que enche, tr<strong>em</strong>edal. Respostas prejudicadas: 104. <strong>de</strong> rio,<br />

varjaredo), Neste com caso, 66 a registros: forma predominante “Planície fértil foi e várzea cultivada, (varg<strong>em</strong>, <strong>em</strong> um vargeado, vale; veiga. vargedo,<br />

chã.” (FERREIRA, 1975, p. 1443). Como se observa, o sentido <strong>de</strong>scrito Terra<br />

r<strong>em</strong>ete a áreas que, eventualmente, são cobertas pelas águas <strong>de</strong> rios, riachos não<br />

arroios que transbordam, nas enchentes. Em segundo lugar, verificou-se terreno/ e<br />

lugar sinônimos alagado se apóiam (terra/parte <strong>em</strong> uma alagada), interpretação com lexicológica 43 ocorrências. tradicional, Os dicionários apresentando <strong>de</strong><br />

seja, uma levam lista <strong>de</strong> a palavras efeito a idéia que <strong>de</strong> substituiriam que sinônimos umas são às permutáveis outras, <strong>em</strong> certos e que, contextos, portanto, têm ou<br />

a <strong>de</strong> mesma várzea, leitura. e este No não entanto, é necessariamente terreno alagado um não terreno é necessariamente alagadiço (ou um alagado), terreno<br />

<strong>de</strong>finida como, aliás, n<strong>em</strong> <strong>de</strong>fine como Ferreira uma relação (1975, lógica p. 59). <strong>de</strong> Neste inclusão, caso, a n<strong>em</strong> <strong>sinonímia</strong> como não uma po<strong>de</strong> relação ser<br />

lógica <strong>de</strong> implicação.10<br />

Consi<strong>de</strong>rando que há diferenças topográficas bastante acentuadas <strong>de</strong><br />

uma aparados região da para serra, a outra no norte (e.g. do a RS região e serra da campanha, geral <strong>em</strong> SC; no gran<strong>de</strong>s sul e su<strong>de</strong>ste planícies, do RS come<br />

pequenas<br />

região tenham<br />

ondulações<br />

uma visão<br />

no leste<br />

peculiar<br />

do PR<br />

dos<br />

etc.),<br />

aci<strong>de</strong>ntes<br />

é natural<br />

topográficos.<br />

que os moradores<br />

Neste sentido,<br />

<strong>de</strong> cada<br />

é <strong>de</strong> estranhar, por ex<strong>em</strong>plo, que um gaúcho <strong>de</strong> Uruguaiana se refira a “serra” não<br />

para uma pequena elevação que, <strong>em</strong> outros lugares, não passa <strong>de</strong> uma “colina”.<br />

10<br />

proposição A implicação implica postula logicamente que a asserção outras, x se implica da verda<strong>de</strong> a asserção da mesma y, se po<strong>de</strong>mos a verda<strong>de</strong> inferir <strong>de</strong> x a garante verda<strong>de</strong> a <strong>de</strong>ssa verda<strong>de</strong> última, <strong>de</strong> y. e Uma<br />

é autorizado <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> da estrutura lógica <strong>de</strong>ssas duas proposições: Todo genebrino é calvinista implica<br />

isso<br />

logicamenteTodo genebrino é calvinista e não católico (cf. ILARI e GERALDI, 1985, p. 75-77).<br />

Linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003<br />

39


iacho) O mesmo margeado se po<strong>de</strong> por dizer terras a respeito baixas <strong>de</strong> e planas, terreno não alagadiço. se po<strong>de</strong> esperar Se não há que rio o morador (arroio,<br />

<strong>de</strong>sse lugar tenha essa noção, conforme o contexto que foi oferecido. Talvez por<br />

isso tenha havido número tão gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> respostas prejudicadas.<br />

3.4 Barrag<strong>em</strong> (muro)<br />

água? Pergunta n. 22 – Como se chama o muro que se constrói para segurar a<br />

(d’água) Respostas: – 24; muro taipa (<strong>de</strong> (<strong>de</strong> barrag<strong>em</strong> pedra) – – 18, 64; muro barrag<strong>em</strong> <strong>de</strong> arrimo – 50; – aterro 03, muro – 31; <strong>de</strong> cimento represa<br />

– barreirão 01; paredão/pare<strong>de</strong> – 05; barranco – 17; – 02. açu<strong>de</strong> Com – uma 11; tapume resposta: – 05, travesseiro, tapum – cerca, 03; barreira/<br />

murundum, piso, ag<strong>em</strong>, parapeito, proteção, terraço <strong>de</strong> terra, ponte, muralhão, ladrão,<br />

ataque. Respostas prejudicadas: 28.<br />

quatro palavras: Ao respon<strong>de</strong>r taipa, a barrag<strong>em</strong>, pergunta aterro, 22, os represa. informantes Mais usaram uma vez, predominant<strong>em</strong>ente<br />

que, se <strong>em</strong> certos contextos essas palavras substitu<strong>em</strong> umas às é outras, possível isso observar não é<br />

possível é <strong>de</strong>scrita <strong>em</strong> por todos Ferreira os contextos. (1975, p. A 1348) forma taipa, como que “Pare<strong>de</strong> foi registrada feita <strong>de</strong> barro <strong>em</strong> 64 ou respostas,<br />

areia com enxaimés e fasquias <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira; tabique, estuque, taipal, pau-a-pique”. <strong>de</strong> cal e<br />

Como se observa, não se menciona barrag<strong>em</strong>, aterro ou represa. Assim sendo,<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>-se taipa dizer constitui que um <strong>de</strong>signar fenômeno o “muro polissêmico, que represa pois um ao rio, termo um taipa arroio, foi um adicionada riacho”<br />

nova línguas acepção naturais, <strong>de</strong> existe sentido. <strong>em</strong> A virtu<strong>de</strong> poliss<strong>em</strong>ia, da existência que é uma <strong>de</strong> das um características núcleo sêmico <strong>de</strong> comum todas às as<br />

unida<strong>de</strong>s uso. Na concepção polissêmicas, polissêmica, ou seja, <strong>de</strong> a entrada uma invariante é o verbete que <strong>de</strong>finido se atualiza por nos um valores conjunto <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Isto <strong>paráfrase</strong>s, significa que cujos as traços palavras, comuns salvo se explicam raras exceções, diacronicamente são ambíguas e logicamente.<br />

<strong>em</strong>pregadas fora <strong>de</strong> um contexto (lingüístico, pragmático e quando situacional).11<br />

11<br />

versus<br />

“The<br />

what<br />

central<br />

other<br />

question<br />

aspects<br />

is<br />

are<br />

what<br />

in<strong>de</strong>terminate<br />

aspects of word<br />

and<br />

meaning<br />

only realized<br />

are pre<strong>de</strong>fined<br />

in context”<br />

and<br />

[A principal<br />

invariant<br />

questão<br />

across multiple<br />

é que aspectos<br />

constexts<br />

significado da palavra são pré-<strong>de</strong>finidos e invariáveis <strong>em</strong> múltiplos contextos e que outros aspectos são do<br />

in<strong>de</strong>terminados e somente realizados no contexto] (RAVIN e LEACOCK, 2000, p. 5).<br />

40 Linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003


3.5 Brisa<br />

tar<strong>de</strong>? Pergunta n. 44 – Como se chama o vento brando e fresco que sopra à<br />

05, vento Respostas: frio – 05, ventinho vento calmo fresco – – 07, 12, vento vento leve fresco (manso/mo<strong>de</strong>rado – 11, vento fresquinho / suave) –<br />

– 06, 02, vento vento fraco agradável – 04, ventinho (bom/gostoso) fraco – 05, – 06; ventinho ar fresco (leve) (fresquinho/bom/puro/ – 04, ventinho calmo<br />

pacífico/da mansa/da noite) tar<strong>de</strong>/livre) – 21; nor<strong>de</strong>ste/nor<strong>de</strong>stinho – 16, arzinho (fresco/agradável/ – 04; vento fraco) (leste/sul/norte/sueste) – 05; brisa (fria/<br />

(boa) – 10; – vento 05; refrescou (lento) do (o mar clima) – – 11; 04; arage viração (fresca) – 04; mudou – 08, (o aragezinha/araginha<br />

– 02; mudança (<strong>de</strong> clima/<strong>de</strong> vento) – 02; minuano – 03; nascente ar/a – t<strong>em</strong>peratura)<br />

resposta: amarelinho, área, vento parado, calmaria, araizinho, vento 02. <strong>de</strong> Com verão, 01<br />

t<strong>em</strong>po prejudicadas: bom, vento 101. saudável, vento da costa, vento da lagoa. Respostas<br />

sendo também A forma a forma esperada mais era freqüente. brisa, mas Mais ela freqüente só foi registrada não significa <strong>em</strong> muito 21 localida<strong>de</strong>s,<br />

pois apenas 7,5% dos informantes usaram esse it<strong>em</strong> lexical. Abaixo <strong>de</strong> freqüente,<br />

<strong>de</strong>signações mais freqüentes, apresentam um qualificativo agregado ao substantivo. brisa, as<br />

Assim, puro/pacífico). vento/ventinho Ou seja, (fresco/do na falta <strong>de</strong> mar/fraco/calmo). uma forma simples, Também <strong>de</strong> uma ar(fresco/fresquinho/<br />

respon<strong>de</strong>r ao que estava sendo perguntado, o informante buscou, forma isolada, através para<br />

adjetivo ou locução adjetiva, cobrir o campo s<strong>em</strong>ântico perguntado. do<br />

é motivado De certo pelo modo, caráter o uso <strong>de</strong> <strong>de</strong> diferentes palavras, especialmente <strong>de</strong> perífrases,<br />

“fraco”, ou seja, o contexto permitia<br />

vagueza12<br />

a apresentado aplicação <strong>de</strong> pelos interpretações adjetivos que “brando” não sãoe<br />

exatamente as mesmas.<br />

Mas o que mais chama a atenção nesta com relação a essa pergunta é o<br />

alto “vento índice brando <strong>de</strong> e informantes fresco que sopra que não à tar<strong>de</strong>”. conhec<strong>em</strong> Essa informação, a forma lexical acrescida <strong>de</strong>signativa da gran<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perífrases nominais, é relevante para os objetivos do presente<br />

12 “A vagueza é um dos tipos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>terminação s<strong>em</strong>ântica, e ocorre quando não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar (<strong>em</strong> função<br />

do proposições próprio conteúdo in<strong>de</strong>finidas s<strong>em</strong>ântico) quanto ao se valor uma <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada verda<strong>de</strong>. Por palavra ex<strong>em</strong>plo, se aplica ‘Bill ou Clinton não a é <strong>de</strong>terminados gordo’ po<strong>de</strong> ser objetos, verda<strong>de</strong>ira gerando<br />

falsa, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> ‘gordo’” (MOURA, 1999, p. 58).<br />

ou<br />

Linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003<br />

41


estudo, brisa (fr. pois brise) permite não é levantar <strong>de</strong> domínio a hipótese do falante <strong>de</strong> que, comum, no sul ressalvadas do Brasil, as o exceções, galicismo<br />

como b<strong>em</strong> <strong>de</strong>monstra o quadro <strong>de</strong> respostas.<br />

A perífrase vento do mar, por ex<strong>em</strong>plo, ocorre só no litoral e regiões<br />

adjacentes, como era <strong>de</strong> se esperar.<br />

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

termos Neste <strong>de</strong> equivalência estudo, adotamos s<strong>em</strong>ântica. a abordag<strong>em</strong> Com base nesse da sinoníma conceito, e propus<strong>em</strong>o-nos da <strong>paráfrase</strong> <strong>em</strong><br />

analisar, <strong>de</strong> acordo com a perspectiva onomasiológica, alguns itens lexicais a<br />

<strong>em</strong>píricos S<strong>em</strong>ântico-Lexical. colhidos Também pelos pesquisadores consi<strong>de</strong>ramos o do pressuposto ALERS através <strong>de</strong> que do <strong>paráfrase</strong> Questionário<br />

equivalência s<strong>em</strong>ântica constitui uma contradição uma vez que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre como<br />

consenso entre os interlocutores sobre o que é “mesmo” sentido e “outro” há<br />

sentido, pelas respostas <strong>em</strong> função dadas do pelos contexto informantes e da situação. do ALERS Isso <strong>em</strong> foi relação amplamente às cinco <strong>de</strong>monstrado<br />

escolhidas para análise. Todavia, consi<strong>de</strong>rando que o contexto estava limitado perguntas<br />

pergunta, é possível levantar a hipótese <strong>de</strong> que algumas respostas correspondamà<br />

ao palavras uso regional, canhada, isto grota, é, ao covanca contexto lançante, diatópico. taipa, Essa murundum, hipótese, que parelho, se <strong>de</strong>lineia solais, na<br />

recosta, com a conclusão prancha, das perau, cartas entre lingüísticas outros itens do ALERS, lexicais, cujos po<strong>de</strong>rá dois ser primeiros melhor volumes atestada<br />

foram está no publicados prelo. Mesmo <strong>em</strong> 2002 assim, e o terceiro os ex<strong>em</strong>plos volume, <strong>de</strong>monstram sobre “cartas a s<strong>em</strong>ântico-lexicais”,<br />

estabelecer, na língua, uma total relação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> s<strong>em</strong>ântica impossibilida<strong>de</strong> (<strong>de</strong> <strong>sinonímia</strong> <strong>de</strong><br />

absoluta), mesmo(s) uma contexto(s) vez que o revela-se caráter permutável um critério (reciprocamente insuficiente, não substituível) dando conta no(s)<br />

escolhas que faz<strong>em</strong>os, seja por razões lingüísticas, seja for razões dialetais, das<br />

pragmáticas e situacionais.<br />

a breves Como comentários previmos <strong>de</strong> no base início onomasiológica, do trabalho, a análise visando que sobretudo fiz<strong>em</strong>os a restringiu-se<br />

que não é possível pensar a <strong>sinonímia</strong> fora do contexto <strong>em</strong> que as palavras <strong>de</strong>monstrar são<br />

42 Linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 27-46, jan./jun. 2003


<strong>de</strong> <strong>em</strong>pregadas, outra estrutura que a <strong>sinonímia</strong> parafrástica é um nunca fenômeno é aleatória. gradual Por e que outro a escolha lado, realçamos <strong>de</strong> uma ou<br />

caráter ambíguo da <strong>paráfrase</strong>, visto que ela po<strong>de</strong>rá ora representar umo<br />

esclarecimento exato e pontual do sentido, ora ser encarada como uma distorção.<br />

REFERÊNCIAS<br />

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Recebido <strong>em</strong> 10/03/03. Aprovado <strong>em</strong> 25/04/03<br />

TITLE: Synonymy and paraphrase: some consi<strong>de</strong>rations<br />

AUTHOR: Felício Wessling Margotti<br />

ABSTRACT:<br />

onomasiologic This text is a point contribution of view. to If, the on study the one of synonymy hand, the and i<strong>de</strong>a paraphrase, of characterizing from an<br />

paraphrase the other, the as possibility a relation of of the s<strong>em</strong>antic perception i<strong>de</strong>ntity of (absolute s<strong>em</strong>antic equivalence synonymy) is is rejected, recognized. on<br />

Based Sul (ALERS)” on <strong>em</strong>pirical (Linguistic-Ethnographic data obtained from the Atlas “Atlas of Lingüístico-Etnográfico the South Brazil Region), da Região<br />

<strong>de</strong>monstrated that it is not possible to consi<strong>de</strong>r synonymy outsi<strong>de</strong> the context it in<br />

is<br />

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which the words are used, that synonymy is gradual and that the choice of one or<br />

another paraphrastic structure is never random.<br />

KEYWORDS: Synonymy, paraphrase, meaning, s<strong>em</strong>antics.<br />

<strong>de</strong> l’ TITRE: Atlas Linguistique Synonymie et et Paraphrase: Ethnographique quelques <strong>de</strong> la considérations Région Sud – issues ALERS<strong>de</strong>s<br />

données<br />

AUTEUR: Felício Wessling Margotti<br />

RÉSUMÉ:<br />

aux Dans étu<strong>de</strong>s ce texte, en synonymie nous procédons et en à paraphrase, la présentation à <strong>de</strong> partir quelques d’un apports point <strong>de</strong>stinés<br />

onomasiologique. Si, d’une part, nous n’avons pas voulu caractériser la paraphrase <strong>de</strong> vue<br />

en avons tant envisagé que rapport la possibilité d’i<strong>de</strong>ntité d’appréhension sémantique (synonymie <strong>de</strong> l’équivalence absolue), sémantique. d’autre part Ayant nous<br />

comme Etnográfico support da Região <strong>de</strong>s données Sul (ALERS)” <strong>em</strong>piriques [Atlas Linguistique fournies par et l’ Éthnographique “Atlas Lingüístico-<br />

Région Sud du Brésil], nous avons démontré, pr<strong>em</strong>ièr<strong>em</strong>ent, que ce n’est <strong>de</strong> pas la<br />

sont possible <strong>em</strong>ployées, <strong>de</strong> réfléchir et ensuite, sur la nous synonymie avons aussi hors établi du contexte que la synonymie dans lequel est les graduelle paroles<br />

et que MOTS-CLÉS: le choix entre Synonymie, <strong>de</strong>ux structures paraphrase, paraphrastiques signification, n’est sémantique. pas aléatoire.<br />

TÍTULO: Sinonimia y paráfrasis: algunas consi<strong>de</strong>raciones<br />

AUTOR: Felício Wessling Margotti<br />

RESUMEN:<br />

sinonimia Presentamos, y <strong>de</strong> la paráfrasis, en este texto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> algunas un punto contribuciones <strong>de</strong> vista onomasiológico. para el estudio Si, por <strong>de</strong> un la<br />

lado, i<strong>de</strong>ntidad renunciamos s<strong>em</strong>ántica a (sinonimia la i<strong>de</strong>a <strong>de</strong> absoluta), caracterizar por la el outro, paráfrasis reconoc<strong>em</strong>os como una la relación posibilidad <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Atlas compresión Lingüístico-Etnográfico <strong>de</strong> la equivalencia <strong>de</strong> la Región s<strong>em</strong>ántica. Sur Con do Brasil base en (ALERS), datos <strong>em</strong>píricos <strong>de</strong>mostramos<br />

<strong>de</strong>l<br />

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que <strong>em</strong>pleadas, es posible que la pensar sinonimia la sinonimia es gradual fuera y que <strong>de</strong>l la elección contexto <strong>de</strong> en una que o <strong>de</strong> las otra palabras estructura son<br />

parafrásica nunca es al acaso.<br />

PALABRAS-CLAVE:Sinonimia, paráfrasis, significación, s<strong>em</strong>ántica.<br />

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