Texto Completo - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
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BR6004043<br />
C00/B/WV<br />
Luz Filho, F.<br />
<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, Rio de Janeiro, GB.<br />
(Brasil). Serviço de Economia Rural<br />
Cooperativas escolares & (&Origem: organização;<br />
Educação cooperativa: Função social&) &<br />
5. ed.<br />
Rio de Janeiro, GB ( Brazil )<br />
1960 405 p. (Pt)<br />
Educação; Educação agrícola: Cooperativa; Coo-<br />
perativa escolar<br />
$$<br />
408
FÁBIO LUZ FILHO<br />
COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
5.° edição aumenta<strong>da</strong> e atualiza<strong>da</strong><br />
Brasil<br />
Rio de Janeiro<br />
<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong><br />
Serviço <strong>da</strong> Economia Rural<br />
1960
INDICE<br />
Págs.<br />
Nota explicativa......................................................................................... 7<br />
Antelóquio <strong>da</strong> 3ª edição............................................................................. 9<br />
CAPITULO I<br />
O auxilio mútuo na natureza. — A soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de............................... 13<br />
CAPITULO II<br />
O cooperativismo — Suas origens, seus precursores, sua dou<br />
trina, sua prática.................................................................................... 23<br />
O pensamento de Carlos Gide................................................................. 25<br />
Definição de princípios............................................................................ 35<br />
Os princípios roch<strong>da</strong>lianos...................................................................... 36<br />
O principio <strong>da</strong> neutrali<strong>da</strong>de..................................................................... 37<br />
Ain<strong>da</strong> os princípios roch<strong>da</strong>lianos............................................................ 45<br />
O pensamento de Hans Mülltr e o de Fauquet....................................... 53<br />
O cooperativismo é poder....................................................................... 59<br />
Classificação de cooperativas — O direito cooperativo.................... 60<br />
O direito cooperativo............................................................................... 61<br />
O caráter civil <strong>da</strong>s cooperativas............................................................ 66<br />
Ain<strong>da</strong> o direito cooperativo..................................................................... 88<br />
CAPÍTULO III<br />
O valor pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong>s cooperativas escolares.................................... 70<br />
O cooperativismo escolar, a educação vocacional, a democracia...... 84<br />
Novos métodos de ensino....................................................................... 85<br />
Educação agropecuária........................................................................... 88<br />
Democracia........................................................................................... 88<br />
Educação industrial................................................................................. 87<br />
CAPITULO IV<br />
O cooperativismo nos currículos escolares......................................... 94<br />
Quadro <strong>da</strong>s cooperativas escolares brasileiras.................................... 95<br />
As cooperativas escolares no Brasil, Argentina e Chile..................... 99<br />
A escola organiza<strong>da</strong>................................................................................ 100<br />
Cooperativas escolares existentes no mundo em 1958......................... 103<br />
CAPITULO V<br />
A organização <strong>da</strong>s cooperativas escolares............................................ 104<br />
Lídimas cooperativas em miniatura...................................................... 111<br />
Educação nova — Pequenas repúblicas............................................. 114<br />
Federações.............................................................................................. 118<br />
Ain<strong>da</strong> as federações............................................................................... 119
4 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
CAPÍTULO VI<br />
Págs.<br />
Ain<strong>da</strong> a escola renova<strong>da</strong> e as cooperativas escolares......................... 124<br />
O Dr. Fábio Luz, um precursor............................................................. 125<br />
Disciplina basea<strong>da</strong> na. Liber<strong>da</strong>de.......................................................... 129<br />
Ain<strong>da</strong> a escola........................................................................................ 131<br />
O “slojd” escolar.................................................................................... 132<br />
O trabalho dos educadores.................................................................... 140<br />
As caixas escolares................................................................................ 140<br />
Regulamento <strong>da</strong> Caixa escolar do sétimo distrito (Rio).................... 142<br />
A educação na Suécia........................................................................... 147<br />
A cooperativa escolar, uma Imagem <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>...................................... 148<br />
O poema ‘ “Andorinhas” ·....................................................................<br />
A primeira lei municipal sobre cooperativismo escolar no Brasil<br />
149<br />
Ain<strong>da</strong> o valor moral e a função educativa.......................................... 153<br />
Função educativa, capaci<strong>da</strong>de técnica. Os clubes de estudo............. 156<br />
Círculos ou clubes de estudo................................................................ 160<br />
A Escola Cooperativa de Freidorf...................................................... 162<br />
CAPÍTULO VII<br />
Conceitos de Repetto — As cooperativas escolares como centro<br />
de Interêsse. Pestalozzi, Froêbel, Montessori — Ain<strong>da</strong> Profit..... 164<br />
Pestalozzi, Froëbel, Fallenberg.......................................................... 167<br />
Ain<strong>da</strong> a ação de Profit.......................................................................... 167<br />
A declaração dos direitos do homem e o cooperativismo escolar<br />
na Argentina, México e Cuba.......................................................... 169<br />
Argentina, México, Cuba, Costa Rica, etc.......................................... 170<br />
Democracia social e cooperativismo escolar...................................... 174<br />
CAPITULO VIII<br />
Ain<strong>da</strong> o cooperativismo escolar no Brasil e no mundo..................... 178<br />
As árvores no seu simbolismo e a terra brasileira.............................. 178<br />
O cooperativismo escolar em Pernambuco — Outros Estados........... 180<br />
A atuação do autor em São Paulo.......................................................... 181<br />
Na Escola Industrial de Araraquara....................................................... 184<br />
Noção de Pátria....................................................................................... 187<br />
Ruralismo................................................................................................... 188<br />
A paisagem brasileira no Sul................................................................. 190<br />
As árvores, seu simbolismo — A natureza brasileira — O sim-<br />
bolo do cooperativismo....................................................................... 193<br />
“Salino <strong>da</strong> vila e <strong>da</strong>s flores”, de Fábio Luz........................................ 194<br />
Visita à Bahia......................................................................................... 196<br />
“O diabo pelado”, de Fábio Luz........................................................... 198<br />
“Os céus do Brasil”............................................................................. 200<br />
“Chloé”, de Fábto Luz........................................................................... 200<br />
“Andorinhas”......................................................................................... 203<br />
Ain<strong>da</strong> Salvador...................................................................................... 204<br />
O Nordeste — Recife............................................................................ 205<br />
A paisagem no brejo e no agreste......................................................... 207<br />
Os man<strong>da</strong>carus....................................................................................... 207<br />
Campina Grande.................................................................................... 209
CAPITULO IX<br />
Págs.<br />
Ain<strong>da</strong> o cooperativismo escolar na França e outros países............... 210<br />
Cooperativas escolares agrícolas.......................................................... 212<br />
Na França............................................................................................... 214<br />
O cooperativismo escolar na Amérca do Norte................................. 218<br />
O panorama do cooperativismo na Nova Escócia e a educação<br />
Cooperativa........................................................................................ 221<br />
A filosofia do movimertto de Antigonish, a educação de adultos<br />
e os círculos de estudos................................................................. 222<br />
CAPITULO X<br />
Ain<strong>da</strong> as cooperativas escolares, sua área de ação, sua fôrça..........<br />
educativa. O ensino cooperativo..................................................... 227<br />
Cooperativas pós-escolares e cooperativas Juvenis........................... 230<br />
O cooperativismo, a democracia e as Escolas do Povo <strong>da</strong> Dina-<br />
marca. O ensino cooperativo em outros países................................. 232<br />
Ain<strong>da</strong> a educação em outros países....................................................... 236<br />
Na África................................................................................................. 239<br />
Programas e métodos............................................................................. 240<br />
CAPÍTULO XI<br />
As cooperativas pós-escolares e os grupos sociais de transição,.....<br />
a comuni<strong>da</strong>de rural, a ação do Estado, a educação........................... 243<br />
Os man<strong>da</strong>mentos do cooperador escolar............................................... 245<br />
O cooperativismo, a comuni<strong>da</strong>de rural, a educação e a ação<br />
do Estado.............................................................................................. 246<br />
O movimento cooperativo e o Estado................................................... 247<br />
Ain<strong>da</strong> a educação no plano cooperativo................................................ 251<br />
O panorama cooperativo europeu em função <strong>da</strong> educação.................. 254<br />
O homem rural brasileiro....................................................................... 255<br />
Homenagem sensibilizadora.................................................................. 259<br />
Projetos-pilotos para cooperativas rurais............................................. 289<br />
Lideres locais........................................................................................... 262<br />
Educação e função dos líderes............................................................... 263<br />
Organização do projeto-pilôto............................................................... 265<br />
Bases de uma politica oficial do fomento ao cooperativismo<br />
como parte do processo econômico nacional — Os servi-<br />
ços oficiais.......................................................................................... 266<br />
A ação governamental no campo cooperativo....................................... 270<br />
CAPITULO XII<br />
Excertos sôbre cooperativas escolares (Domingo Bórea).................... 273<br />
O papel do professor nas cooperativas escolares (Prof . J. Ven-<br />
tosa Roig, do México).......................................................................... 278<br />
Educação cooperativa (Fernando Chaves Nuñes, <strong>da</strong> União Pan-<br />
Americana)................................................................................................ 285<br />
Ain<strong>da</strong> a educação cooperativa (António Sérgio, de Portugal).............. 286<br />
Cooperativas escolares (Valdiki Moura)................................................ 288<br />
O cooperativismo escolar )Ruth Moura).................................................. 290<br />
Cooperativismo escolar (Profit).............................................................. 294
6 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Educação e formação cooperativas na França (Office Central<br />
de la Coopération à l’Ecole).................................................................. 298<br />
O exemplo <strong>da</strong> Formiga 301<br />
A cooperativa escolar (“Cooperativas” <strong>da</strong> União Pan-Ame-<br />
ricana) 303<br />
Definição, caráter e valor <strong>da</strong>s cooperativas escolares (H. Char-<br />
lot do Office Central de la Coopération à l’Ecole, França) 304<br />
Cooperativa escolar e formação moral (Calve, inspetor escolar<br />
francês em Nancy) 308<br />
A cooperativa escolar (Mercedes Amália Marchand, de Pôrto<br />
Rico) 311<br />
Plano para uma cooperativa escolar (Costa Rica) 314<br />
O cooperativismo escolar na Grécia (Potini Th. Tzortzaki) 316<br />
A conferência <strong>da</strong> União Cooperativa Bolivariana 319<br />
sexta Conferência dos Estados Americanos 321<br />
O cooperativismo e a mulher (Ai<strong>da</strong> Perez de Guevara, de Ve-<br />
nezuela) 323<br />
Vivências de valor e valências de valor (Luisa Maria Simões<br />
Raposo Ribeiro, Portugal) 324<br />
ANEXOS<br />
Como define a lei brasIleira as cooperativas escolares 325<br />
Estatutos de uma cooperativa escolar 325<br />
Cooperativas juvenis ou cooperativas extra-escolares e o coope-<br />
rativismo escolar no México 336<br />
Ata de constituição de uma cooperativa escolar 336<br />
Lista nominativa 339<br />
Normas para uma cooperativa escolar rural 340<br />
Setor produção 340<br />
Setor de economia 340<br />
Cooperativas estu<strong>da</strong>ntis ou universitárlas 340<br />
Requerimento para registro 341<br />
cooperativas escolares agrícolas 341<br />
Uma cooperativa escolar de trabalho em São Paulo 342<br />
Ain<strong>da</strong> as cooperativas pós-escolares 343<br />
Nomes de pessoas, professor-orientador, gerente 344<br />
Pedido de admissão 344<br />
Apêlo aos professores, pais, alunos e estu<strong>da</strong>ntes 345<br />
Campanha do barateamento de material escolar 348<br />
Projeto de lei para cooperativas escolares (Fábio Lua Filho).. 350<br />
O livro na opinião dos grandes homens 360<br />
Contabili<strong>da</strong>de nas cooperativas escolares (J. F. Gandra) 361<br />
Organização e sistema de operações <strong>da</strong>s cooperativas escolares<br />
(João do Prado Flores) 384<br />
Diploma do mérito cooperativo a cooperativistas brasileiros 394<br />
A Universi<strong>da</strong>de de Buenos Aires e o cooperativismo escolar 395<br />
Modelos para contabili<strong>da</strong>de usados em Pernambuco para co-<br />
operativas escolares 397<br />
A FAO e o autor 401<br />
“Crédito agricola e problema agrário” 402<br />
Obras do autor 403
NOTA EXPLICATIVA<br />
Êste livro, editado pela primeira vez em 1933, já represen-<br />
tava na época a conjugação de imensos esforços do seu autor,<br />
Dr. Fábio Luz, que desde 1931, vinha pregando os postulados<br />
cooperativistas através de propagan<strong>da</strong> orientadora nos esta-<br />
belecimentos educacionais, visando prècipuamente à organi-<br />
zação de cooperativas escolares.<br />
Tem, ain<strong>da</strong>, o seu autor, com esta quinta edição, que<br />
tenho o prazer de prefaciar, não só as honras de ser o pioneiro<br />
<strong>da</strong> idéia lança<strong>da</strong> em 1931, no país, como também o mérito <strong>da</strong><br />
sua firme coerência doutrinária, procurando sempre alicerçar<br />
os sãos princípios do cooperativismo na formação intelectual<br />
<strong>da</strong>s novas gerações.<br />
Está, pois, o presente trabalho, aumentado e atualizado,<br />
destinado a produzir os seus salutares objetivos em setor ain<strong>da</strong><br />
não suficientemente considerado pelo movimento cooperati-<br />
vista brasileiro. É um manual sobretudo para professores.<br />
Rio de Janeiro, 1960.<br />
JOSÉ SMITH BRAZ<br />
Diretor
ANTELÓQUIO DA 3ª EDIÇÃO<br />
“Con este título acaba de publicar el erudito<br />
cooperativista brasileño y gran amigo nuestro, Dr. Fábio<br />
Luz Filho, un interesante libro.<br />
Trata en él su autor, con la autori<strong>da</strong>d adquiri<strong>da</strong> en<br />
muchos años dedicados al estudio de este sistema<br />
económico, en forma brillantísima y de gran competencia,<br />
el tema que sierve de título a su selecto<br />
trabajo: “Cooperativas escolares”.<br />
Contiene también esta nueva producción um modelo<br />
de estatutos de dichas cooperativas y el texto de uma<br />
nueva ley que las regirá, recientemente dicta<strong>da</strong> por el<br />
Poder Ejecutivo del Brasil.<br />
Con este nuevo libro acredita una vez más el Dr. Luz<br />
Filho sus vastíssimos conocimíentos del cooperativismo,<br />
desarrollando con la mayor nitidez y fuerza de convicción,<br />
los distintos puntos de vista abor<strong>da</strong>dos, citando<br />
frecuentemente opiniones y conceptos de personali<strong>da</strong>des<br />
de nuestro movimiento, tales como Leiserson, Bórea,<br />
Amadeo, Justo, etc, demonstrando asi este gran estudioso<br />
el conocimiento que tiene de los hombres que aqui fueran<br />
maestros y precursores.<br />
Mucho y muy bueno lleva ya producido este laborioso<br />
cooperador, que tan gentilmente nos va obsequiando con<br />
ca<strong>da</strong> una de sus obras, siendo un ver<strong>da</strong>dero exponente,<br />
pero elevadísimo desde luego, de los propulsores de<br />
nuestros ideates, no solo de eu patria, sino de Sud<br />
América.<br />
Al felicitarle por su nuevo brillante trabajo,<br />
agradeccemos al gran amigo su obséquio y retribuimos su<br />
saludo.<br />
(De “La Coopèración”, órgão <strong>da</strong> “Federación de<br />
Cooperativas Argentinas ” 30-3-933 - Rosário).
10 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
“Outro novo colaborador, que temos o prazer de<br />
apresentar a nossos leitores. O Brasil inteiro conhece<br />
Fábio Luz Filho, herdeiro de nome brilhante, ao qual<br />
soube acrescentar grande lustre. E tido, justamente, como<br />
o maior divulgador no país dos princípios cooperativistas,<br />
autor, que é, de mais de uma dezena de livros e de algumas<br />
centenas de trabalhos sâbre o Cooperativismo. É,<br />
outrossim, o pioneiro do cooperativismo escolar.”<br />
(Luiz Amaral em “Economia” - de abril de 1940.)
“Senhoras de si mesmas, as crianças sê-lo-ão também<br />
<strong>da</strong> sua pequenina república. Eleitoras e eleitas, terão a<br />
consciência de seu papel.<br />
Eleitas, adquirem um sentido experimental <strong>da</strong><br />
responsabili<strong>da</strong>de social, que se lhes torna um forte<br />
estimulo moral.”<br />
Ferrière<br />
“A educação tem, em nosso tempo, um sentido<br />
profun<strong>da</strong>mente social. E a educação para a vi<strong>da</strong> social,<br />
como outra qualquer, exige processos ativos.”<br />
Lourenço Filho<br />
“A escola é a continuação do lar. Quando no lar não<br />
há” o confôrto espiritual e carinhoso e a iniciação primordial<br />
nos percalços <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e do mundo, que a ignorância agrava e<br />
torna insuperáveis, supre-os a escola, onde os mestres têm<br />
a tríplice e eleva<strong>da</strong> representação de pais, educadores e<br />
guias.”<br />
Fábio Luz<br />
“A juventude, que assim significa, na alma dos<br />
indivíduos e <strong>da</strong>s gerações, luz, amor e energia, significa,<br />
também, o processo evolutivo <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des.”<br />
José Enrique Rodó
CAPÍTULO I<br />
O AUXÍLIO MÚTUO NA NATUREZA<br />
SOLIDARIEDADE<br />
Manifestações do instinto de aju<strong>da</strong> mútua, temo-las, pro-<br />
fusas, até mesmo nos últimos degraus <strong>da</strong> escala vasta dos<br />
sêres, dizemos em “Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des coopera-<br />
tivas”.<br />
Subindo gra<strong>da</strong>tivamente essa escala até atingirmos os<br />
animais superiores, provas inconcussas dêsse instinto, dêsses<br />
hábitos de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e apoio recíproco vamos<br />
encontrando.<br />
São clássicos os exemplos <strong>da</strong> formiga precavi<strong>da</strong> e<br />
laboriosa e <strong>da</strong> abelha ativa, símbolo do espírito de associação,<br />
<strong>da</strong> tenaci<strong>da</strong>de, do trabalho incessante e <strong>da</strong> inteligência ao<br />
serviço de uma causa comum, e os <strong>da</strong>s térmitas.<br />
São conheci<strong>da</strong>s as suas admiráveis organizações de<br />
defesa comum e apoio mútuo, tanto na paz como na guerra.<br />
Entre os pássaros, são freqüentes, como frisam<br />
naturalistas, êsse espírito de coesão, de cooperação na luta <strong>da</strong><br />
subsistência. Unem-se os pássaros até para os folguedos.<br />
As próprias aves de rapina, antipáticas em seu Instinto<br />
cruento, têm pendores acentuados para a vi<strong>da</strong> em comum.<br />
São conhecidos os hábitos dessas aves, fazendo longos vôos<br />
para se reunirem a outras, em pontos distantes, sôbre<br />
árvores ramalhantes, afagosas e amigas.<br />
Entre os pinguins é tão profundo êsse sentimento de soli-<br />
<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, que tratam êles com efusivo desvêlo os seus<br />
doentes, vigiando-os e alimentando-os com carinho. São de<br />
uma índole tão comunicativa, que se aproximam, confiantes,<br />
do próprio homem.<br />
Os lôbos caçam em grupos. Os macacos (principalmente<br />
os cinocéfalos) defendem, em grupos ameaçantes e<br />
agressivos, as suas greis, e brincam mesmo em comum.
14 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Animais existem, (guanacos) que, em suas migrações, colocam<br />
os mais débeis no centro dos grupos, destacam sentinelas<br />
avança<strong>da</strong>s para a defesa dêsses grupos nas jorna<strong>da</strong>s longas, e<br />
iniciam a caminha<strong>da</strong> para regiões onde melhores se lhes<br />
apresentem as condições de vi<strong>da</strong>. Aves há que procedem de<br />
maneira Idêntica.<br />
Kropotkine, o grande escritor e filósofo russo, desfiou lon-go<br />
rosário de fatos comprobatórios <strong>da</strong> imanência dêsse nobre<br />
sentimento entre os irracionais e na espécie humana. Leclerc<br />
du Sablon, idênticamente.<br />
Diz Emerson, em “Society and Solitude”, que a ciência<br />
mostra os grandes ciclos nos quais a natureza trabalha, a<br />
maneira pela qual as plantas marinhas preenchem as neces-<br />
si<strong>da</strong>des dos animais marinhos, como as plantas terrestres for-<br />
necem o oxigênio que os animais consomem, e, os animais, o<br />
carbono que as plantas absorvem. Essas operações são inces-<br />
santes. A natureza trabalha segundo êste principio: “todos<br />
por um, um por todos”. A pressão exerci<strong>da</strong> sôbre um ponto<br />
repercute em ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s arca<strong>da</strong>s e em ca<strong>da</strong> um dos fun<strong>da</strong>-<br />
mentos do edifício. Há, nela, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de perfeita.<br />
Aquêle princípio, essa soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, dizemos nós, que<br />
existem na ordem <strong>da</strong> natureza, têm por instrumento especifico<br />
a cooperação na ordem social, na ordem econômica, no univer-<br />
so moral, na órbita <strong>da</strong> Inteligência, na esfera profissional.<br />
O cooperativismo cria valores morais, sociais e econômi-cos,<br />
já dissemos.<br />
Em “Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas” <strong>da</strong>mos<br />
ain<strong>da</strong> outros exemplos de atos ou organizações com traços<br />
cooperativos: a refeição em comum dos povos do Mediterrâneo<br />
(dórios); as associações do Egito antigo para a construção de<br />
sepulcros; os “compagnons” <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média, etc.<br />
Proudhon em “Solution du problème social” disse: “La<br />
reciprocité, <strong>da</strong>ns la création, est principe de l’existence. Dans<br />
l’ordre social, la reciprocité est le principe de la réalité sociale,<br />
la formule de la justice. Elle a pour base l’antagonisme éter-<br />
nel des idées, des opinions, des passions, des capacités, des<br />
tempéraments, des interêts. Elle est ia condition de l’amour<br />
méme. . . Or, le mal qui nous dévore, provenient de ce que la<br />
loi de reciprocité est méconnue, violée. Le remède est tout<br />
entjer <strong>da</strong>ns la promulgation de nos rapports mutuels ei réci-<br />
proques, voilá toute la science sociale”.
FÁBIO LUZ FILHO 15<br />
Maurício Bobenco, em “El niño primero. . . .”, recor<strong>da</strong>,<br />
que o Universo é modêlo de ordem, pontuali<strong>da</strong>de, ritmo, re-<br />
gulari<strong>da</strong>de e cooperação; que cooperam entre si o sol, a chuva e<br />
a terra para produzirem alimentos para os sêres vivos. Os<br />
córregos descem <strong>da</strong>s montanhas para regar os campos e vales,<br />
fertilizando-os, e se unem aos rios, que alimentam mares, de<br />
cujas águas se formam nuvens, as quais, pelos ventos, são<br />
conduzi<strong>da</strong>s e se desfazem sob a forma de chuva, que fecun<strong>da</strong>.<br />
Assim, desde o infinitamente pequeno até ao infinitamente<br />
grande, tudo é ordem, exatidão, harmonia e absoluta coopera-<br />
ção no Universo.<br />
E Amaral Fontoura frisa que, durante tô<strong>da</strong> a nossa exis-<br />
tência, precisamos dos outros. Com a divisão do trabalho, que<br />
é uma <strong>da</strong>s características <strong>da</strong> civilização, “ca<strong>da</strong> um de nós,<br />
neste mundo, faz uma coisa só, e, em troca dêsse único serviço<br />
que presta à comuni<strong>da</strong>de, usa o trabalho de milhões de indivi-<br />
duos. Basta atentar para os alimentos de que nos servimos,<br />
as roupas que usamos, a casa onde moramos, os veículos em<br />
que viajamos: quantos milhões de pessoas não trabalharam<br />
nêles, para nosso prazer e gôzo?”<br />
O nosso caboclo diz com muita acui<strong>da</strong>de: “Gado desma-<br />
nado é comi<strong>da</strong> de onça”...<br />
E Rodino frisa como surgiram as socie<strong>da</strong>des civis agríco-<br />
las para o cultivo em comum e para a comunhão dos lucros<br />
(socie<strong>da</strong>des universais), constituindo-se entre os servos <strong>da</strong> gle-<br />
ba, os colonos livres, ora tàcitamente, ora por convenção<br />
expressa, mais numerosas e conheci<strong>da</strong>s as socie<strong>da</strong>des tácitas.<br />
Tomaram enorme incremento no centro e no norte <strong>da</strong> França.<br />
Existia, potente, nas socie<strong>da</strong>des dos servos medievos, o<br />
vinculum fraternitatis, o sanctum e inviolabile socii nomen...<br />
Em “Crédito agrícola e problema agrário” assinalamos que<br />
já Jean Meun (1720) dizia que o primeiro sentimento do<br />
homem para com seus semelhantes era a fraterni<strong>da</strong>de. A<br />
socie<strong>da</strong>de humana primitiva representava um estado de<br />
harmonia natural. Os homens viviam em paz, praticando a<br />
comuni<strong>da</strong>de dos bens, livres e iguais. Mas, aos poucos foram<br />
repontando os vícios, a Inveja, o orgulho e a avareza, trazendo<br />
para os homens a pobreza e destruindo a ordem natural.<br />
Desapareceu então a organização comunitária <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Divi-<br />
diram-se as terras; levantaram-se diferenças, surgiram lutas,<br />
as quais fizeram nascer o Estado como elemento disciplina-
16 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
dor, Estado que, no transcurso dos tempos, se hipertrofiou,<br />
flamispirante, como nos é estadeado pela acutilante reali<strong>da</strong>de<br />
de nossos dias...<br />
OS INCAS<br />
Um fato histórico que cala fundo em nossas consciências,<br />
e que documenta a extensão e a profundeza dêsse fecundo es-<br />
pírito, é o que nos apresenta um ilustre escritor argentino.<br />
Diante do quadro que nos debuxa, ficamos a pensar nos cri-<br />
mes de lesa-civilização cometidos pelos civilizados europeus<br />
nas suas conquistas no Novo Mundo.<br />
Mormontel já mostrou o grau de pervesi<strong>da</strong>de a que che-<br />
gara o fome de ouro dos Espanhóis destruidores <strong>da</strong> civilização<br />
incásica.<br />
Del Castillo, citando a Lopez, diz que a conquista espa-<br />
nhola surpreendeu a civilização incásica, orginária do Peru,<br />
em uma missão essencialmente cultural. Difundia ela na<strong>da</strong><br />
menos que os sentimentos <strong>da</strong> cooperação. Sabedores os Incas<br />
de que, por detrás dos Andes, nesta parte do continente, exis-<br />
tiam bandos de tribos nóma<strong>da</strong>s de índios que viviam de uma<br />
maneira essencialmente primitiva, resolveram conduzi-los à<br />
sua adianta<strong>da</strong> cultura, relativa, certamente, compara<strong>da</strong> à civi-<br />
lização européia <strong>da</strong>quele tempo.<br />
“Com êsse objetivo, disse o Dr. Vicente Fidel Lopez, duas<br />
alas civilizadoras transpuseram os altos cumes de nossa cor-<br />
dilheira, a chama<strong>da</strong> do nascente e a do poente. Compunha-se<br />
êsse núcleo civilizador de pouquíssimos guerreiros incásicos,<br />
pois a missão dêles não era uma missão de conquista. Fácil foi<br />
conquistar as tribos nóma<strong>da</strong>s, às quais ministraram ensina-<br />
mentos práticos de agricultura e o manejo dos instrumentos<br />
de lavragem, radicando-as em pequenas colônias, mais tarde<br />
denomina<strong>da</strong>s colônias de índios. Estas tribos, algumas <strong>da</strong>s<br />
quais habitaram as regiões correspondentes às províncias de<br />
Salta e de Córdoba, reclamaram para si e reclamam ain<strong>da</strong><br />
direitos de posse sôbre as terras que ocupam. As comunas,<br />
ensina<strong>da</strong>s pelos Incas, praticavam a semeadura em comum e<br />
<strong>da</strong> mesma forma faziam a colheita. Repartiam logo,<br />
paulatinamente, a colheita e reservavam a semente que lhes<br />
parecia necessária para a nova semeadura”.<br />
Guar<strong>da</strong>vam os índios seus arados de forma e construção<br />
primitivas e, juntamente com os arados, outros instrumentos<br />
aratórlos que os Incas lhes ensinaram a construir, e êstes ins-
FÁBIO LUZ FILHO 17<br />
trumentos eram emprestados durante dias e semanas aos<br />
membros <strong>da</strong> comuna que os solicitavam. Era a cooperação, a<br />
aju<strong>da</strong>-mútua embrionária pratica<strong>da</strong> nas plagas virgens <strong>da</strong><br />
América imensa. “E não só os conquistadores fizeram pouco<br />
caso dela; mais tarde, governos nota<strong>da</strong>mente crioulos destruí-<br />
ram, sem procurar estudá-las, aquelas embrionárias civiliza-<br />
ções, que deveriam ter investigado”...<br />
O mundo caminha assim por ciclos, já o disse em “Rumo<br />
à Terra”.<br />
O. Cedrón, referindo-se ao comunalismo Incásico, diz que<br />
o Inca (in — luz e ka — ser luminoso) criou o império<br />
incásico e deu vi<strong>da</strong> ao “ayllus”, base <strong>da</strong> economia e <strong>da</strong> organi-<br />
zação militar do Império do Incas.<br />
O “ayllus” era uma espécie de “ejido” ou “callpulli” me-<br />
xicano, “instituição politico-social”, e dos “momos” egípcios,<br />
de base cooperativa.<br />
“Mana ccella” significava, entre os Incas, que ninguém<br />
devia ser preguiçoso: “Mana Ilulla”, que se não devia ser<br />
mentiroso; “Mana súa”, que se não devia roubar.<br />
Nos “ayllus”, a que também se refere A. Herr no “Year<br />
Book of <strong>Agricultura</strong>l cooperation” — 1939, o trabalho era em<br />
comum, uma espécie de cooperativa integral moderna, e seu<br />
precursor. Eram socie<strong>da</strong>des agrícolas nas quais se dividiam<br />
os produtos segundo o trabalho prestado e as necessi<strong>da</strong>des de<br />
ca<strong>da</strong> um. Expandindo-se pelo continente os Incas levavam ou<br />
estimulavam essa forma de trabalho cooperativo, dividindo o<br />
trabalho e fazendo a exploração de numerosas indústrias<br />
sôbre um plano cooperativo.<br />
O Estado apoiava sobretudo as cooperativas de produção.<br />
Era um sistema de govêrno cooperativo, embora com um<br />
cunho de economia dirigi<strong>da</strong>.<br />
Os “ayllus” representaram na civilização incásica papel<br />
relevante como elemento de equilíbrio de fôrças orgânicas no<br />
campo <strong>da</strong> produção.<br />
Os “ayllus” federavam-se em “Kuris”, semelhantes aos<br />
distritos atuais.<br />
Eram dirigidos por “Curakas”, que tinham um papel de<br />
coordenação, direção e racionalização agrária e industrial,<br />
além do papel politico. A estrutura econômica e administrati-<br />
va do “Kuris” baseava-se na cooperação social, como idéia<br />
-força.<br />
2 — 27 454
18 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Os “Kuris” reuniam-se para constituir o “Waman”, ou<br />
província, e a cooperação dos “Wamans” constituía ciclópicas<br />
regiões ou “Suyos”. As regiões constituíam o “Império do<br />
Tawantinsuyo”, possuidor de enormes tesouros sòli<strong>da</strong>mente<br />
organizados sob o signo <strong>da</strong> ordem, do trabalho e <strong>da</strong><br />
cooperação.<br />
“Os conquistadores representam a civilização do ferro e<br />
<strong>da</strong> pólvora; o Inca, a civilização do ouro e <strong>da</strong> pedra”,<br />
asseguradora <strong>da</strong> paz entre os homens. Foram conquistados<br />
justamente pela “superiori<strong>da</strong>de de sua civilização”.<br />
“O espírito que impera na obra incásica, nas gigantescas<br />
obras de metrópole “cuzqueña”, é o espírito <strong>da</strong> pedra.<br />
“A pedra é símbolo e testemunho do gênio <strong>da</strong> raça, de<br />
sua habili<strong>da</strong>de especializa<strong>da</strong> nas artes e de seu poder de<br />
organizacão cooperativo.<br />
“O Peru foi vencido e conquistado não porque fôsse um<br />
povo bárbaro, mas porque era raça civiliza<strong>da</strong> e próspera”.<br />
E eis uma notícia recente de Lima (1953) sôbre êsse espí-<br />
rito <strong>da</strong> pedra, essa admirável civilazação do ouro e <strong>da</strong> pedra:<br />
“A mais importante descoberta, sem dúvi<strong>da</strong>, foi a <strong>da</strong>s<br />
ruínas <strong>da</strong> antiqüíssima ci<strong>da</strong>de incáica de Lacta-Pato, a cêrca<br />
de 88 Km. de Cuzco. As ruínas explora<strong>da</strong>s contribuíram va-<br />
liosamente para esclarecer o desenvolvimento <strong>da</strong> antiga civili-<br />
zação aborígene. Sua arquitetura, sua organização comunal,<br />
as artes, as leis, os sistemas de aproveitamento do solo, a de-<br />
fensiva estratégica, o culto dos mortos e dos deuses se acham<br />
representados em formidáveis obras de engenharia, para exe-<br />
cução <strong>da</strong>s quais foram necessárias centenas de milhares de to-<br />
nela<strong>da</strong>s de pedra e o trabalho de milhões de homens.<br />
“Para abastecer a ci<strong>da</strong>de de água, por exemplo, os arqui-<br />
tetos dos Incas foram os primeiros a abrir grandes canais,<br />
cujas paredes eram recobertas de um material de fórmula<br />
desconheci<strong>da</strong>, que evitou as infiltrações, através dos séculos.<br />
“Como tô<strong>da</strong>s as ci<strong>da</strong>des antigas do Peru, Lacta-Pato tem<br />
uma necrópole e locais destinados aos holocaustos. Os túmulos<br />
encontrados medem 70 centímetros por 1,05 e têm forma de<br />
meia lua - Nas escavações preliminares, não foram encontra<strong>da</strong>s<br />
amostras valiosas de cerâmica ou tecidos.<br />
“Na opinião dos arqueólogos, trata-se do conjunto mais<br />
formidável de arte e arquitetura conheci<strong>da</strong> até agora na<br />
região de Cuzco”.<br />
Afonso Várzea, em “O Estado Socialista do Pacífico”, no<br />
qual, entre muitas coisas, descreve a “civilização do milho”,
FÁBIO LUZ FILHO 19<br />
cita a Ana Barwell e a Brehm. A primeira frisou que a civiliza-<br />
ção incásica se antecipou, séculos atrás, aos sonhos dos moder-<br />
nos reformadores. Havia o sentido socializante nessa grande<br />
civilização, na qual a indolência, a pobreza e os crimes graves<br />
eram desconhecidos, onde ca<strong>da</strong> um vivia para o bem geral e<br />
tudo era paz e felici<strong>da</strong>de...<br />
Brehm diz que planícies e vales eram como pomares bem<br />
cui<strong>da</strong>dos. E um telegrama publicado pelo“Correio <strong>da</strong> Manhã”<br />
em dezembro de 1954, acentua que o império incásico, em sua<br />
época de apogeu, se estendeu até ao sul do Chile. E que os<br />
incas guar<strong>da</strong>vam culto religioso às grandes elevações andinas,<br />
afirmou-o o dr. Richard Schaedel, conhecido arqueólogo nor-<br />
te-amerlcano e catedrático de Arqueologia em Universi<strong>da</strong>des<br />
dos Estados Unidos e do Chile.<br />
“Schaedel concedeu uma interessante entrevista à im-<br />
prensa sôbre a múmia de um jovem índio inca, que havia sido<br />
descoberta no cume de El Plomo, um pico quase inacessível<br />
que se ergue perto de Santiago.<br />
“Como resultado de seu exame, não só estabeleceu a<br />
cabal autentici<strong>da</strong>de do cadáver, conservado em estado de<br />
saponificação pelo gêlo, pertencente a um menino de alta<br />
linhagem social do antigo império incaico, senão que extraiu<br />
dêsse estudo valiosas conclusões científicas <strong>da</strong>quele povo.<br />
“Segundo Schaedel, o descobrimento evidencia que os<br />
incas rendiam culto e adoração às cumia<strong>da</strong>s andinas, às quais<br />
ascendiam para realizar cerimônias funerárias, ritos e sacrifí-<br />
cios de invocação ao sol.<br />
“Acrescentou o cientista que o achado é uma prova a<br />
mais de que a dominação dos incas, que chegou até o rio<br />
Maule, teve um de seus centros povoados no que é hoje a<br />
capital chilena, em um raio de vários quilômetros de extensão,<br />
pois junto à múmia se encontraram oferen<strong>da</strong>s evidentemente<br />
procedentes de Cuzco, como seja uma figurinha<br />
antropomórfica de prata e uma lâmina de ouro.<br />
“Acredita Schaedel que não há lugar nos Andes aonde<br />
não houvessem chegado os incas, porquanto até no<br />
Yuhuarcaco, a 6.400 metros de altura, foram encontrados<br />
vestígios de sua presença, assim como nas montanhas do Chile<br />
e Argentina, que estavam dentro <strong>da</strong> jurisdição dos incas.<br />
“Disse, finalmente, que no momento a múmia está sendo<br />
objeto de exames médicos, para estabelecer, mediante o estudo<br />
dos órgãos internos, o que nunca foi possível com outras
20 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
múmias, a espécie de alimentação dos antigos peruanos, ante-<br />
riores à conquista espanhola, e certas irregulari<strong>da</strong>des de suas<br />
impressões digitais”.<br />
Os trabalhadores dos “ayllus”, continuamos, após as fai-<br />
nas agrícolas, aproveitados todos segundo suas aptidões físicas<br />
e psíquicas, eram destinados a trabalhos de utili<strong>da</strong>de pública.<br />
Numerosos “ayllus” ain<strong>da</strong> perduram no Peru, apesar <strong>da</strong><br />
obra criminosa doa conquistadores espanhóis, que, na desco-<br />
medi<strong>da</strong> ambição do ouro, reduziram uma população vigorosa,<br />
pacífica, operosa, organiza<strong>da</strong>, rica e culta de 12 milhões de<br />
habitantes a um milhão e 300 mil habitantes insulados e po<br />
bres. Um crime de lesa-humani<strong>da</strong>de que ficou impune e bra<strong>da</strong><br />
aos céus!<br />
Faz-nos isso lembrar os conceitos ferinos de Anatole<br />
France ao se referir à obra devastadora dos brancos quando<br />
em contacto com as raças vermelha e negra...<br />
“Mana Pache” entre os Incas era “terra produtiva”. No<br />
“ayllus”, a Terra significava “mãe”. À mesma ofereciam os<br />
frutos produzidos nos “ejidos” e decoravam-nos com um<br />
vocabulário opulento.<br />
O “aine kesh ta”, atualmente “faena-pública” no Peru,<br />
fazia-se sôbre uma base de cooperação, e tem certa semelhan-<br />
ça com o “mutirão” de nosso caboclo, o que lembra o ajuri dos<br />
tupis. G. A. Comes viu em tudo isso uma “dictadura de los<br />
Incas”, mui semelhante, diz êle, à <strong>da</strong> Rússia atual.<br />
Reminiscências, acrescento eu, dessas organizações in-<br />
cásicas ain<strong>da</strong> temos na Argentina, entre o nativo ou “criolo”<br />
<strong>da</strong>s comarcas “norteñas” dessa república vizinha. Os povos<br />
que as habitam são originárias dos Diaguitas, cujos traços se<br />
encontram nas províncias de Jujuí, Salta, Tucumán, Santiago<br />
del Estero, La Rioja e Catamarca. Os Diaguitas possuíam o<br />
Kullpi, habitação patriarcal na qual o índio era o chefe supre-<br />
mo, repartindo, com os seus, o produto <strong>da</strong> terra. Não havia<br />
proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>, que pertencia ao ayllus, ou comuni<strong>da</strong>de.<br />
Era o ayllus governado por um conselho de velhos, tirado do<br />
seio dos melhores agricultores e com critério bastante para<br />
distribuir a terra em consonância com as necessi<strong>da</strong>des de<br />
ca<strong>da</strong> família. Havia a mesma federação do ayllus em Kuris,<br />
govêrno central. Cultivavam o milho, o algodão, etc. Não<br />
conheciam a moe<strong>da</strong>. O produto do trabalho pertencia à<br />
comuni<strong>da</strong>de. Era o tipo <strong>da</strong> economia fecha<strong>da</strong>, de<br />
abastecimento.
FÁBIO LUZ FILHO 21<br />
“A religião, que tinha os ritos e mitos de tô<strong>da</strong>s as<br />
religiões do presente, servia, entanto, para realçar o<br />
trabalhho agrícola, de que se fazia um ver<strong>da</strong>deiro culto,<br />
e a tal ponto, que alguns templos se transformaram em<br />
grandes exposições de produtos agrícolas”.<br />
Entre os povos ameríndios, dí-lo Roy Nash citado<br />
por Luiz Amaral em seu brilhante “Evolução do direito<br />
social”, havia a proprie<strong>da</strong>de pessoal sôbre as armas,<br />
animais ou ornamentos e, às vêzes, sôbre as safras,<br />
permanecendo a terra, porém, como proprie<strong>da</strong>de<br />
coletiva.<br />
Como disse, a faena-púbilca lembra o mutirão de<br />
nosso caboclo, a que já me referi em “Rumo à Terra”<br />
(5.a edição), Costa Rego, com o brilho de sempre, assim<br />
o descreveu no “Correio <strong>da</strong> Manhã” de 18-1-941:<br />
“Mutirão — como dizem uns, e a mutirem, mutirum,<br />
muxirão e muxiro n, como pretendem outros,<br />
interpretando a derivação tupi <strong>da</strong> palavra — é o auxílio<br />
coletivo que muitos pequenos agricultores prestam,<br />
reunidos, a outro pequeno agricultor no tempo <strong>da</strong>s<br />
plantações e colheitas.<br />
“Essa pobre gente, sabe-se, lavra ela própria a<br />
terra; não tem auxiliares, nem empregados, nem<br />
recursos para contratá-los. O homem ganha de<br />
madruga<strong>da</strong> o campo e a mulher dedica-se aos arranjos<br />
domésticos, se também não é chama<strong>da</strong>, inclusive com os<br />
filhos, a colaborar no trabalho <strong>da</strong> foice ou <strong>da</strong> enxa<strong>da</strong>,<br />
na semeadura, na limpeza <strong>da</strong> vegetação <strong>da</strong>nosa, no<br />
combate às formigas e lagartas, no afugentamento dos<br />
roedo-res, na defesa contra as aves vorazes.<br />
“Tal espécie de agricultura familiar é muito comum<br />
nos pontos interiores do Brasil, onde o trabalhador<br />
proprietário, e não o proprietário trabalhador, cultiva a terra.<br />
Lavoura de poucos para poucos, vem ela<br />
santifica<strong>da</strong> pelo sacrifício; serve à subsistência do<br />
lavrador, com sua família, e deixa ain<strong>da</strong> sobras<br />
abençoa<strong>da</strong>s para algum negócio nas feiras, quando o<br />
homem <strong>da</strong> foice e <strong>da</strong> enxa<strong>da</strong> se transmu<strong>da</strong> em<br />
almocreve percorrendo caminhos difíceis em busca dos<br />
centros de consumo.<br />
“Acontece que em certas épocas a plantação ou a<br />
colheita exige esfôrço pronto, sob pena de perder-se nas<br />
intempéries. Não podendo realizá-lo, o pequeno<br />
agricultor convoca os amigos <strong>da</strong> redondeza, os quais,<br />
sendo pessoas <strong>da</strong> mesma condição, que fazem hoje o<br />
favor para amanhã recebê-lo, presto acodem e trazem<br />
ao amigo o adjutório dum dia de trabalho inteiramente<br />
gratuito. Salva-se dêsse modo a plantação ou a colheita.
22 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
“Recebendo na proprie<strong>da</strong>de os colegas, o pequeno agri-<br />
cultor beneficiário trata-os à maneira de convi<strong>da</strong>dos que fôs-<br />
sem a uma festa, e aquêle dia torna-se realmente festivo e de<br />
bródio.<br />
“É isto o mutirão, Para melhor compreendê-lo seria ne-<br />
cessário talvez que o descrevesse um Coelho Neto ou Afonso<br />
Arinos - e não direi que êstes não tenham aproveitado o<br />
assunto em sua extensa obra de motivos sertanistas”.<br />
E Clóvis Caldeira, em “Mutirão”, oferece-nos excelentes<br />
páginas.
CAPÍTULO II<br />
O COOPERATIVISMO - SUAS ORIGENS, SEUS PRE-<br />
CURSORES, SUA DOUTRINA, SUA PRÁTICA<br />
Fiz sentir em “Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperati-<br />
vas”, que o cooperativismo mergulha raízes na noite dos tem-<br />
pos. Em tô<strong>da</strong>s as épocas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de se<br />
encontram formas de economias coletivas que se aproximam<br />
mais ou me-nos <strong>da</strong> forma cooperativa. Sinais dêle tivemos no<br />
regime <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> família, na exploração do manoir<br />
medieval, nas comunas, nas corporações, nas guil<strong>da</strong>s, nas<br />
hansas. Expressões cooperativas encontram-se ain<strong>da</strong> no<br />
império dos faraós e no império babilônico.<br />
Juan Gascón Hernández, ilustre professor <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de de Madri, ao enviar-me, recentemente, o<br />
trabalho de seu ilustre pai, Antonio Gascón Miranón, que<br />
publicou vários livros sôbre cooperativismo, dentre êles “La<br />
cooperaclón y ias cooperativas”, ofertou-me gentilmente<br />
erudito trabalho seu — “Que es una cooperativa?”. Neste<br />
trabalho diz Juan Gascón que Santamaria de Paredes<br />
acentua que na raiz sânscrita de socie-<strong>da</strong>de entra o conceito<br />
do que é próximo e do amor, e acrescenta que Gierke se<br />
referia mais às cooperativas do que às simples associações<br />
quando falava <strong>da</strong>s Genossenschaften.<br />
Na Grécia de beleza imperecível, vemos êsse sentimento<br />
de mútuo auxílio agrupar a todos aquêles que, prêsas <strong>da</strong>s<br />
agruras <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, premidos pelas contingências <strong>da</strong> luta pela<br />
manutencão material <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, aspiravam a um melhor<br />
padrão de vi<strong>da</strong>, a uma parcela de bem-estar, a um lugar<br />
justo e condigno ao sol.<br />
Na Grécia antiga, quase tô<strong>da</strong>s as pessoas <strong>da</strong>s classes mé-<br />
dia e baixa faziam parte de associações, que apresentavam<br />
traços cooperativos. Das associações denomina<strong>da</strong>s orglonas e<br />
tiasas, que se formavam para garantir aos seus membros enter-<br />
ros e sepulturas decentes, nasceram as associações de fins profissionais<br />
e econômicos. Nelas figuravam ci<strong>da</strong>dãos livres, escravos<br />
e até estrangeiros. A parte executiva <strong>da</strong> administração<br />
cabia a um indivíduo denominado “arquinarista”. Constituí
24 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
ram o núcleo em tôrno do qual se formaram as comuni<strong>da</strong>des<br />
cristãs.<br />
Os “colégios” romanos eram associações de operários de um<br />
cunho cooperativo, na Roma antiga, atribuindo-se a<br />
NUMA POMPILIO a fun<strong>da</strong>ção de oito dessas organizações entre<br />
sapateiros carpinteiros serralheiros etc. Nos “colégios’<br />
ingressavam os estrangeiros, os escravos alforriados e até os<br />
não-alforriados, numa bela manifestação de aju<strong>da</strong> mútua, de<br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana, que não estabelece distinções nem tem<br />
preconceitos de qualquer espécie -<br />
Diz Bórea que o exemplo mais remoto conhecido de<br />
associações mútuas cooperativas é encontrado na Palestina.<br />
O tratado BAVA CAMA, parte do Talmud bibilônico, é a<br />
descrição <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do povo hebreu entre os anos 356 a 425 <strong>da</strong><br />
nossa era. Por êle se verifica a existência de associações de<br />
mutuali<strong>da</strong>de entre as caravanas de mercadores para o seguro de<br />
gado asinino.<br />
Mladenatz diz que, no domínio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> agrícola, a cooperação<br />
é uma forma que existiu e preponderou desde os tempos<br />
primitivos. Assim aconteceu entre os alemães (donde Otto<br />
Gierke dizer que a cooperação é pré-alemã) e os romanos<br />
(pastagens comunais, irrigação, etc.). Desde os primeiros tempos<br />
<strong>da</strong> I<strong>da</strong>de média existiram agrupamentos de camponeses para a<br />
transformação do leite (Alpes suíços, italianos e franceses e<br />
mesmo na Inglaterra). Na França temos as fruitières (de que<br />
trato em “Socie<strong>da</strong>des Cooperativas”); na Rússia, o artel, etc.<br />
Na Ásia, nos tempos antigos, como frisei em “Rumo à<br />
Terra” (5.ª edição), existiam as associações para irrigação de<br />
terrenos cultivados; na Alemanha, as “Deichgenossenschaftem”<br />
eram destina<strong>da</strong>s à feitura de barragens; na França, as<br />
“communautés” eram constituí<strong>da</strong>s de 29 a 100 chefes de<br />
famílias que agricultavam sob a direção de um chefe eleito. No<br />
México primitivo, associações firma<strong>da</strong>s no principio <strong>da</strong> soli-<br />
<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de surgiram.<br />
“Mas, antes de tudo, todos os economistas alemães acentuaram<br />
sempre, de pontos de vista práticos, que justamente a<br />
Selbshülfe (“aju<strong>da</strong> de si mesmo”) se liga de modo mais freqüente<br />
ao senso comum e ao sentimento <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de. Os primeiros<br />
que expuseram essa idéia mais<br />
exatamente foram Schutz e Knies” (F. Nicolai — “A Biologia <strong>da</strong><br />
Guerra”).<br />
Assim, como vêdes, as manifestações do auxilio mútuo são<br />
a expressão de uma lei geral, imperativa e eterna. Suas práti-
FÁBIO LUZ FILHO 25<br />
cas aí estão patentes, não só entre sêres humanos, possuidores<br />
de uma razão reflexiva, como entre animais e vegetais, como<br />
vimos, entre um reino e outro.<br />
Entre os vegetais apresenta o auxilio-mútuo um<br />
profundo interêsse. O simbiotismo é uma de suas mais altas<br />
expressões. E sabeis o papel de grande relêvo que preenchem<br />
as legumino-sas na fecundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s terras pelo azôto<br />
atmosférica que fixam pelo mecanismo de suas nodosi<strong>da</strong>des<br />
radicais, onde se localizam bactérias (simbiose bacteriana). A<br />
simbiose miceliana é a <strong>da</strong>s micorizas, que residem nas<br />
raízes <strong>da</strong>s árvores florestais.<br />
Para qualquer lado que o biologista moderno encaminhe<br />
as suas vistas de cientista que tem na experimentação uma<br />
arma de precisão, não pode êle deixar de reconhecer a<br />
existência dêsse desparzido espírito de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de.<br />
“Na natureza existem muitos exemplos de cooperação,<br />
diz um escritor, e com dificul<strong>da</strong>de haverá um bilólogo que<br />
negue, na atuali<strong>da</strong>de, a enorme importância que desempenha<br />
a simbiose na evolução dos vários modos de viver”.<br />
Segundo Merechkowsky, os gránulos dos núcleos <strong>da</strong>s<br />
células seriam bactérias simbióticas e o próprio núcleo na<strong>da</strong><br />
mais seria que uma colônia de bactérias.<br />
“Pourtant, au point de vue chimique qui est la base<br />
même de la vie, l’Homme ne peut se suffire à lui-même: i1<br />
périrait infailliblement s’il n’était Inséré <strong>da</strong>ns une vaste et<br />
unversel1e symbiose” (Friedel).<br />
Sábios como Hertwig, Kraepelin, Deegener, Kammer, etc.,<br />
demonstraram à sacie<strong>da</strong>de que o principio do auxílio mútuo<br />
está muito mais difundido na natureza do que se imagina.<br />
Boelsche diz que o mundo <strong>da</strong>s plantas e dos animais é<br />
um tecido de simbioses e que os homens dependem de<br />
simbioses entre animais e plantas.<br />
Simbiose é uma associação de organismos em que há<br />
reciproci<strong>da</strong>de de benefícios. (Ver a “Teoria e prática de<br />
socie<strong>da</strong>des cooperativas” e “Rumo à Terra”)<br />
O PENSAMENTO DE CARLOS GIDE<br />
Carlos Gide, em se referindo ao auxilio mútuo, acentuou,<br />
com aquela lucidez de inteligência e clareza de raciocínio que<br />
sempre o caracterizaram, que embora entre os romanos se<br />
falasse às vêzes <strong>da</strong> luta dos sexos, evidentemente esta diferen-
26 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
ça criou mais uma tendêncIa para a aproximação do que para a<br />
luta! Se é ver<strong>da</strong>de que a luta pela vi<strong>da</strong> pode ser<br />
erigi<strong>da</strong> em lei biológica que se impõe a todos os sêres vivos,<br />
há também um outro princípio que pode ser considerado<br />
como uma lei biológica: é a aju<strong>da</strong> mútua, a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de.<br />
E, referindo-se ao príncipe Kropotkine, diz que o mesmo<br />
fêz um belo livro intitulado Mutual Aid, traduzido em<br />
francês com o título de L’Entr’aide (Aju<strong>da</strong> Mútua), no qual<br />
demonstra, por numerosos exemplos tomados na zoologia,<br />
que esta aju<strong>da</strong> que se prestam os sêres vivos uns aos outros,<br />
mesmo no reino vegetal, foi uma causa de progresso<br />
decisiva e mesmo superior ao struggle for life, que é a luta<br />
pela vi<strong>da</strong>. Acrescenta que não nos devemos apressar em<br />
concluir, do fato <strong>da</strong> separação <strong>da</strong>s classes, pela necessi<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> luta de classes, mòrmente não se tratando, de forma<br />
alguma, duma lei biológica que remonte às origens <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
sôbre a terra, mas que representa uma evolução econômica,<br />
que <strong>da</strong>ta de alguns séculos apenas, e ao acor<strong>da</strong>r de uma<br />
“consciência de classe”, que <strong>da</strong>ta de ontem.<br />
“Entretanto, ain<strong>da</strong> aqui, não queremos negar, mesmo<br />
na Escola de Nimes, que não haja um antagonismo de<br />
interêsses, uma luta, se desejardes, sob a forma mui geral<br />
de hostili<strong>da</strong>de entre ricos e pobres, e há três séculos, depois<br />
<strong>da</strong> criação do salariado, sob a forma mais precisa <strong>da</strong><br />
disputa entre operários e patrões. Mas esta hostili<strong>da</strong>de não<br />
se tem acentuado; é ela menos desumana que outrora.<br />
Aristóteles, com efeito, conta que, na ci<strong>da</strong>de de Milet, os<br />
ricos prestavam o seguinte juramento: “Juro que sempre<br />
serei inimigo do povo e lhe farei todo o mal que possa”.<br />
Para Gide a luta toma a forma, por assim dizer, de<br />
duelo entre o operário e o patrão, entre o arren<strong>da</strong>tário e o<br />
proprietário, entre o credor e o devedor, entre o vendedor e<br />
o comprador. Poderia ser expressa por essa fórmula<br />
eloqüente de Fourier. “A hierarquia social está construí<strong>da</strong><br />
sôbre uma escala dupla: escala ascendente de ódios, escala<br />
descendente de desprêzo”.<br />
E a luta entre o produtor e o consumidor, continua Gide,<br />
esquecê-la-emos, quando, na hora atual, se tornou ela tão agu<strong>da</strong><br />
em virtude <strong>da</strong> depreciação <strong>da</strong> moe<strong>da</strong> e <strong>da</strong> alta dos préços? Ora,<br />
precisamente aqui tocamos na ver<strong>da</strong>deira razão pela qual a<br />
Escola cooperativa não pode entrar na luta de classes, A luta de<br />
classes, tal como a definem os marxistas e os sócialistas,é a luta<br />
entre patrão e operário, já o disse, entre o capital
FÁBIO LUZ FILHO 27<br />
e o trabalho. Ora, não é sôbre êste plano que se coloca o<br />
cooperativismo de consumo; não é a esta luta que êle<br />
corresponde. Êle olha a exploração do consumidor pelo<br />
produtor, seja o comerciante, seja o fabricante. E o<br />
consumidor que êle quer libertar. E se se quiser falar em luta,<br />
a luta que o preocupa é a luta do consumidor contra o<br />
produtor.<br />
E como ao cooperativismo poderia associar-se a idéia de<br />
luta de classe, se a palavra consumidor exclui tô<strong>da</strong>s as<br />
características de classe, tô<strong>da</strong>s as diferenciações de i<strong>da</strong>de,<br />
sexo, profissão e fortuna?<br />
O desenvolvimento do cooperativismo no mundo atesta<br />
as excelências dêsses princípios de ação coletiva. Erigindo leis<br />
econômicas que levam à organização <strong>da</strong> produção e distribui-<br />
ção <strong>da</strong>s riquezas sôbre bases eqüitativas e racionais, o<br />
cooperativismo conduz a um conceito mais elevado <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o<br />
que é condição de uma nova ordem de coisas em que as<br />
relações sociais (econômicas, políticas, jurídicas, morais), de<br />
individuo para indivíduo, de grupo para grupo e de nação<br />
para nação, repousarão sôbre princípios de entendimento<br />
mútuo, afastado de seu âmbito o espírito de lucro e o<br />
egoísmo sem freio, e colima<strong>da</strong> apenas a satisfação de<br />
necessi<strong>da</strong>des humanas, tendo sempre em vista as exigências<br />
do consumo.<br />
A ação solidária nas organizações cooperativas de<br />
produtores e consumidores para a defesa de interêsses vitais,<br />
institui novos moldes para a produção, a distribuição, a<br />
circulação e o consumo <strong>da</strong>s riquezas, assumi<strong>da</strong>s funções de<br />
distribuição den- tro de novos métodos, organiza<strong>da</strong> a<br />
indústrIa ao influxo do mesmo espírito e dignifica<strong>da</strong>s as<br />
relações financeiras, ergui<strong>da</strong>s sôbre a mesma base de aju<strong>da</strong><br />
mútua, humani<strong>da</strong>de e justiça.<br />
Os povos cultos do mundo moderno de há muito que se<br />
organizaram cooperativamente, afirmando, assim, a<br />
existência de uma mentali<strong>da</strong>de aberta à exata compreensão<br />
<strong>da</strong>s grandes virtudes <strong>da</strong> união, que é fôrça.<br />
Libertando o produtor <strong>da</strong> entrosagem comercial que lhe<br />
absorve o melhor lucro que deveria auferir, concorre o cooperativismo<br />
para o aumento <strong>da</strong> produção, e a disciplina do consu-<br />
mo, pelos princípios de organização técnica que estabelece, e<br />
promove o aperfeiçoamento dos produtos, padronizando-os e<br />
assegurando-lhes mercados compensadores. Exerce, ademais, o<br />
cooperativismo, o contrôle dêsses mercados, impossível ao<br />
produtor insulado. Assume um papel semelhante ao dos<br />
agoránomos, na velha Atenas... Liga o produtor diretamente ao<br />
consumidor. Os lucros que distribui são simples restituições
28 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
do que foi cobrado a mais para as necessárias despesas <strong>da</strong> co-<br />
operativa. Chamam-se, com proprie<strong>da</strong>de, sobras. Têm o cará-<br />
ter de um retôrno, de reembôlso de uma economia feita. A cooperativa<br />
não distribui seus benefícios ao capital invertido na<br />
emprêsa, mas, sim, proporcionalmente ao esfôrço de ca<strong>da</strong> coperador<br />
em benefício <strong>da</strong> instituição que lhe presta os serviços<br />
de que necessita, valorizando-lhe a produção e barateando-lhe- o<br />
consumo. Facilita, racionaliza e amplia, o cooperativismo, as<br />
condições de produção e trabalho e as possibili<strong>da</strong>des de<br />
consumo. Dá ao consumidor a sua ver<strong>da</strong>deira posição na es fera<br />
do consumo, alvo último de tô<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong>de econômica. Um<br />
ilustre escritor, já o dissemos, para <strong>da</strong>r uma idéia do poder <strong>da</strong><br />
união, ilustrou suas palavras com um exemplo sugestivo.<br />
Qualquer pessoa conseguirá despe<strong>da</strong>çar, fàcilmente, um fio<br />
tênue de juta, insulado êste na sua fragili<strong>da</strong>de. Se multi-<br />
licarmos, porém, êsse fio de juta algumas vêzes, será menos<br />
fácil dilacerá-lo, até que será totalmente impossível fazê-lo<br />
quando os fios, multiplicados multas vêzes, constituírem<br />
umacor<strong>da</strong> grossa e forte. A fôrça <strong>da</strong> união fêz, de fios insulados<br />
e tênues, uma cor<strong>da</strong> potente contra a qual na<strong>da</strong> poderão musculos<br />
possantes que se atrevam a forçá-la. A união faz a fôrça.<br />
A fôrça pacífica e serena, inteligente e raciocina<strong>da</strong>, decidi<strong>da</strong> e<br />
enérgica é origem de respeito e torna mais fácil a defesa de<br />
interêsses morais e materiais comuns. Há, ain<strong>da</strong>, o clásico<br />
apólogo do feixe de varas.<br />
Sendo o cooperativismo uma democracia econômica, tem<br />
a fôrça de um admirável aparelho de defesa e conquista de<br />
direitos legítimos, impondo deveres, disciplinado, racionali-<br />
zando ativi<strong>da</strong>des úteis. E êle, pois, um meio eficiente de me-<br />
lhoramento <strong>da</strong>s condições econômicas e sociais de produtores<br />
e consumidores livremente associados. “Les organes de trans-<br />
mission, diz Charles Gide, doivent être réduits au minimum,<br />
car, par le frotternent, ils absorbent inutilement, la force vive.<br />
C’est un principe de mécanique; c’est également un principe<br />
d’économie politique”.<br />
A resenha do desenvolvimento do cooperativismo no mundo<br />
é disso um atestado concludente e empolgante.<br />
__________<br />
Nota — Os dois primeiros capítulos, constantes <strong>da</strong> presente edição,<br />
agora ampliados são reprodução <strong>da</strong> conferência que realizei, em l0 de<br />
setembro de l932, no “Circulo de Pais e Professores <strong>da</strong> Escola Professor<br />
Visitação”, no DistrIto Federal.
FÁBIO LUZ FILHO 29<br />
Disse Manuel F. López, ilustre ex-gerente <strong>da</strong> grande cooperativa<br />
argentina “El Hogar Obrero”, frisando a diferença entre a<br />
socie<strong>da</strong>de cooperativa e a capitalística:<br />
“O truste maneja valores de troca; a cooperativa, valores<br />
de uso.<br />
“A cooperativa educa ao fazer do consumidor seu próprio<br />
produtor e elimina o antagonismo que existe entre o vendedor e<br />
o comprador.<br />
“Moraliza, uma vez que não pode enganar.<br />
“Torna altruistas os seus componentes, pois que terão interêsse<br />
em aumentar o número dos cooperadores para que<br />
gozem dos mesmos benefícios.<br />
“Emancipa, ao fomentar a economia, devolvendo os lucros,<br />
ou o excedente do preço cobrado, e ao exigir de ca<strong>da</strong><br />
cooperador sua parte para a contribuição social, tornando-o dono<br />
dos produtos que lhe são necessários.<br />
“Capacita, ao <strong>da</strong>r intervenção no manejo <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de<br />
aos cooperadores e ao selecionar para a direção os melhores.<br />
“Democratiza, ao <strong>da</strong>r a todos os associados iguais direitos<br />
e deveres, e ao fazer compreender que o interêsse <strong>da</strong> cooperati-<br />
va é o mesmo que o dos consumidores e com êle se confunde,<br />
contràriamente às socie<strong>da</strong>des ou enti<strong>da</strong>des comerciais, cujos<br />
interêsses são opostos aos dos consumidores.<br />
“Estabelece a igual<strong>da</strong>de, ao <strong>da</strong>r um só voto ao associado e<br />
não em proporção ao seu capital.<br />
“Defende a saúde, ao zelar a quali<strong>da</strong>de e pureza dos<br />
produtos.<br />
“Defende o consumidor contra a especulação, a fraude, os<br />
preços, a sugestão dos vendedores, etc.<br />
“Defende o produtor, contra os baixos preços que a<br />
concorrência estabelece, contra o açambarcador, etc.<br />
“Faz <strong>da</strong> organização uma função social e econômica ao<br />
zelar os interêsses de todos e de ca<strong>da</strong> um dos produtores e consumidores,<br />
ao suprimir todos os intermediários e atravessado-<br />
res que o comércio utiliza com o seu sistema de corretores, comissários,<br />
representantes, órgãos de reclamo, etc., e ao regula-<br />
rizar a produção com relação ao consumo, evitando as crises<br />
periódicas por excesso ou escassez de produção, evitando as<br />
rivali<strong>da</strong>des comerciais, origem de tantas guerras, unificando e<br />
centralizando a administração, simplificando as compras,<br />
uniformizando tipos e quali<strong>da</strong>des, etc., etc.
30 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
“Finalmente, controla as industrias, impedindo o desen-<br />
volvimento <strong>da</strong>s que, dedica<strong>da</strong>s a produtos do vicio e <strong>da</strong><br />
fraude, malbaratam energias humanas e propagam o<br />
alcoolismo e outras misérias sociais”.<br />
Há obrigações, mas há, também, direitos. Vivante concede<br />
a ca<strong>da</strong> associado o caráter de órgãos extraordinários prepostos a<br />
preencher as deficiências que existirem nos órgãos administrativos<br />
e de fiscalização.<br />
Diz Leiserson, o brilhante causídico argentino, que a<br />
“relación juridico-cooperatista excluye el animus speculandi, el<br />
lucrum, y de conseguiente no es comercial...............sostenemos<br />
que la cooperativa es una socie<strong>da</strong>d“sui-generis”...<br />
Leiserson exaustivamente tratou dêsse assunto com uma<br />
formidável erudição, mostrando que é ain<strong>da</strong> êsse assunto con-<br />
trovertido no domínio jurídico, citando a opinião de<br />
escritores, entre os quais Rodino, que diz que as cooperativas<br />
não são nem civis nem comerciais, opinião perfeitamente<br />
consentânea com a natureza dessas instituições de bem<br />
público, as quais trarão uma época de justiça social e<br />
liber<strong>da</strong>de econômica, estabelecendo normas sãs de ética nas<br />
relações sociais, fazendo com que o intercâmbio <strong>da</strong>s riquezas<br />
seja presidido por princípios de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de em vez de ser<br />
regido pelo egoísmo grosseiro. Em “Teoria prática <strong>da</strong>s<br />
socie<strong>da</strong>des cooperativas” desenvolvo êsse tema.<br />
O ideal dos Roch<strong>da</strong>lianos já apresenta ao mundo os<br />
lineamentos de uma economia nova. E admirável sistema<br />
social-<br />
-econômico que estabelece novas formas de produção e distri-<br />
buição sôbre uma base de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de social, moral e eco-<br />
nômica.<br />
O princípio vital do cooperativismo é o esfôrço que se<br />
recompensa... Dai a distribuição dos benefícios na proporção<br />
do esfôrço, do trabalho. Daí o retôrno.<br />
Nas cooperativas de adultos, isto é, nas cooperativas<br />
econômicas, Marcel Brot julga necessário o retôrno:<br />
1.º — Porque marca, de maneira tangível, a diferença<br />
en- tre a cooperativa, que restitui o que cobrou a mais, e a<br />
emprêsa comercial, que destina os lucros ao capital.<br />
2.º — Porque, se o suprimirmos, o cooperador é<br />
colocado na mesma condição do cliente passageiro, e seria,<br />
então, Impossível justificar, honestamente, o apêlo, que se<br />
lhe faz, de fornecer capital.
FÁBIO LUZ FILHO 31<br />
3.º - Porque o retôrno é o meio de restabelecer o justo<br />
preço.<br />
4.° — Porque leva o cooperador a uma fideli<strong>da</strong>de que<br />
torna vãos e inoperantes os artifícios usados pelo comércio<br />
para combater a cooperativa: batalha de preços, publici<strong>da</strong>de<br />
e algumas calúnias.<br />
E isso se verifica nas próprias cooperativas de ven<strong>da</strong> e<br />
trabalho do tipo integral, <strong>da</strong> escola de Prampolini, na Itália,<br />
Bel- gica e Argentina.<br />
Assim sendo, não é concebível a “reven<strong>da</strong>” na doutrina<br />
cooperativista. “Reven<strong>da</strong>” dá impressão de mercantilismo.<br />
Dai não se aplicar a uma cooperativa a designação de<br />
mercantil.<br />
A cooperativa é um simples órgão de distribuição <strong>da</strong>s ri-<br />
quezas. Não vende, distribui. Vender tem, nela, a acepção de<br />
distribuir. A idéia central é que a riqueza não se deve<br />
produzir para a troca e, sim, para a satisfação de<br />
necessi<strong>da</strong>des.<br />
Já disse Ernest Poisson que distribuição e ven<strong>da</strong> são atos<br />
fun<strong>da</strong>mentalmente diferentes.<br />
Diz Ghino Valenti que no cooperativismo não há ven<strong>da</strong> e,<br />
sim, distribuição <strong>da</strong> riqueza produzi<strong>da</strong> para estabelecimento<br />
do equilíbrio distributivo.<br />
As cooperativas de consumo compram para distribuir.<br />
Na Inglaterra chamam-lhes “socie<strong>da</strong>des distributivas”.<br />
As de compras em comum não procedem de maneira di-<br />
versa.<br />
Não há, nas cooperativas, ren<strong>da</strong>, que é o ganho líquido do<br />
capital; há apenas, economias. Os benefícios impròpriamente<br />
denominados lucros são simples adiantamentos para fins de<br />
despesas gerais, etc., restituíveis pelos retornos anuais. O<br />
associado é reembolsado do que adiantou.<br />
A cooperativa opera por conta do associado. Não se arma<br />
em casa comercial. É um simples agente de distribuição, não<br />
visando ao lucro, que deseja, pelo contrário, abolir. Presta ela<br />
apenas serviços.<br />
Leiserson pergunta, com razão, se os Governos visam ao<br />
lucro quando estabelecem taxas para os serviços públicos que<br />
prestam. Vivante refere-se muito bem a essa questão.<br />
Suas vantagens ético-civis podem assim resumir-se: sujeicão<br />
de uns e outros por vínculos de interêsse material, os quais<br />
fortalecem os do dever, os do direito e os <strong>da</strong> fraterni<strong>da</strong>de,<br />
afirmando-se, no dizer de Toniolo, um meio de consistência<br />
social.<br />
Diz Justo, o grande cooperativista argentino já falecido, que<br />
as cooperativas se formam “para prover a seus associados
32 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
de artigos de consumo ou de uso,ou para serví-los em trabalhos<br />
técnicos concretos. Para êstes fins necessitam e têm instala-<br />
ções para depositar, classificar, elaborar, conservar e distribuir<br />
produtos (armazéns, elevadores, frigorificos, fábricas, etc.).<br />
Estas instalações técnicas substituem e tiram tô<strong>da</strong> razão de ser às<br />
pequenas instalações de produção individuais. A grande usina<br />
cooperativa de panificação paralisa a maior parte dos fornos<br />
disseminados pela ci<strong>da</strong>de. A leitaria cooperativa deixa sem<br />
emprego muitas desnatadeiras instala<strong>da</strong>s nos campos e livra os<br />
novos criadores <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de adquirir, ca<strong>da</strong> um, uma dessas<br />
máquinas”.<br />
“A cooperação econômica genuína propriamente dita implica,<br />
sempre, descentralização. Desde o campo de<br />
cultura até à distribuição para o consumo, em todos e em<br />
alguns momen-tos do largo processo, os esforços e emprêsas<br />
individuals são substituidos pela emprêsa cooperativa,<br />
manifestação e, ao mesmo tempo, fator de progresso<br />
técnico-econômico”.<br />
“Forma<strong>da</strong>s, principalmente, por trabalhadores assalariados<br />
ou por produtores autônomos que tomam conta<br />
de suas emprêsas e reunem suas fôrças em certos momentos<br />
<strong>da</strong> produção, as cooperativas nascem para lutar contra as<br />
formas técnico-econômicas rotineiras, e, às vézes, contra a<br />
centralização monopolizadora dos trusts”.<br />
“Nas ver<strong>da</strong>deiras cooperativas todos os associados<br />
operam com a socie<strong>da</strong>de nos mesmos sentidos, levam seus<br />
produtos, tomam dela suas provisões”.<br />
“Estas diferenças se sintetizam no traço fun<strong>da</strong>mental<br />
que distingue a cooperação do capitalismo: êste colima o<br />
lucro, o dinheiro, o valor de troca, A cooperação busca a<br />
coisa, o serviço técnico, o valor de uso”.<br />
“Na associação econômica sem fins de lucro que se<br />
propõe agrupar a produtores e consumidores para a comum<br />
satisfação de suas necessi<strong>da</strong>des, reside a única possibili<strong>da</strong>de<br />
de organizar a economia internacional, de orientar a<br />
produção e facilitar o consumo <strong>da</strong> riqueza, de maneira que<br />
esta não constitua um motivo de inquietação, senão de<br />
regozijo para os homens”.<br />
Leôncio Correia, o brilhante prosador e o inspirado vate<br />
paranaense cuja frescura de inspiração, como a de Fáblo Luz,<br />
os anos não tol<strong>da</strong>ram, ao comentar, com imensa bon<strong>da</strong>de, o<br />
presente livro — “Cooperativas escolares”, — disse com justeza,<br />
lapi<strong>da</strong>rmente, que a fórmula de cooperação recíproca, formando<br />
as “pequenas repúblicas” na esfera <strong>da</strong> ação de ca<strong>da</strong>
FÁBIO LUZ FILHO 33<br />
classe, é tão salutar e humana, que deveria ter já sido instituí-<br />
<strong>da</strong> por forma universal de administração pública, porque o<br />
regime cooperativista, eliminando o intermediário parasita,<br />
harmoniza admiràvelmente as conveniências recíprocas <strong>da</strong><br />
produção e do consumo, numa aju<strong>da</strong> mútua entre seus<br />
associados, reconhecendo que todo produtor é ao mesmo<br />
tempo consumidor.<br />
“Da troca de interêsses entre um e outro, surge o bem-es-<br />
tar coletivo, a melhoria <strong>da</strong>s condições econômicas com que<br />
as cooperativas permitem ao homem ampliar as suas<br />
possibili<strong>da</strong>des produtoras e criadoras, incentiva<strong>da</strong>s pelas<br />
facili<strong>da</strong>des de financiamento e barateza de custo <strong>da</strong>s<br />
utili<strong>da</strong>des, que elas proporcionam, facilitando, assim, o<br />
desdobramento <strong>da</strong> riqueza e o surto de todos os progressos, a<br />
que a inteligência e as ativi<strong>da</strong>des humanas fazem jus, mas<br />
as imperfeitas organizações sociais cerceiam,<br />
“Inventem-se quantos partidos políticos as ideologias<br />
sectaristas queiram inventar, sejam comunistas, socialistas,<br />
integralistas ou sejam quaisquer outras que se firmem nos<br />
princípios obsoletos <strong>da</strong>s velhas democracias mascara<strong>da</strong>s por<br />
qualquer forma, nenhum dêles se fará um Sansão capaz de<br />
derrotar as colunas mestras do cooperativismo, que, em sua<br />
simplici<strong>da</strong>de prática, gira em t8rno <strong>da</strong> energia econômica por<br />
uma forma coletiva construtora, enquanto os partidos se<br />
atêm a interêsses de facções.<br />
“Em sua latitude ampla, a fórmula cooperativa pode ser<br />
aplica<strong>da</strong> a qualquer esfera de ativi<strong>da</strong>de humana, porque en-<br />
carna o ideal <strong>da</strong> criatura que trabalha e luta”.<br />
Francisco Frola, com a autori<strong>da</strong>de de sua cultura e expe-<br />
riência, disse muito bem: “A cooperação não é tão sòmente a<br />
fórmula de uma economia nova, e sim, também, a base de uma<br />
nova civilização”. E as bases dessa nova civilização,<br />
estadeiamnas já as cooperativas dissemina<strong>da</strong>s aos milhares<br />
pelo mundo.<br />
“Uno de los fines más necesarios a cumplirse por los<br />
cooperadores, decia William King, es la creación de escuelas<br />
para sus hijos, con el propósito de prepararlos para las<br />
comuni<strong>da</strong>des (cooperativas) en una e<strong>da</strong>d temprana. La<br />
cooperación <strong>da</strong> a la educación un caráter nuevo...<br />
“Esta educación, que se propone despertar y arraigar los<br />
más nobles sentimientos humanos, ha sido uno de los fines<br />
perseguidos pos los precursores de la cooperación y por el<br />
movimiento pre-cooperativo”. (Leiserson).<br />
3 - 27 454
34 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
O “Código de Educação” elaborado em abril de 1933<br />
para São Paulo dizia, em seu artigo 238, referindo-Se ao<br />
ensino primário:<br />
“O ensino terá come base essencial a observação<br />
e a experiência pessoal do aluno, e <strong>da</strong>rá a êste largas<br />
oportuni<strong>da</strong>des para o trabalho em comum, a ativi<strong>da</strong>-<br />
de manual, os jogos educativos e as excursões<br />
escolares”.<br />
É o que fazem as cooperativas escolares, perfeitamente<br />
integra<strong>da</strong>s na orientação de Sanderson, o grande educador<br />
inglês do Colégio de Oundle, que foi um dos precursores <strong>da</strong><br />
escola nova. Dizia Sanderson que em Oundle todos estavam<br />
certos de que as escolas deviam tornar-se, ca<strong>da</strong> vez mais,<br />
microcosmos representativos do mundo novo. Microscosmos<br />
experimentais onde fôssem postos à prova os critérios, os<br />
imperativos, a lei e o julgamento, as organizações, as idéias<br />
e os fins de um novo mundo.<br />
“Porque em Oundle é nosso fim agir. . . É preciso, para<br />
nascer ver<strong>da</strong>deiramente para a vi<strong>da</strong>, um incessante labor<br />
espiritual, um fim elevado, um ardente desejo de conhecer as<br />
coi- sas novas que aparecem no horizonte de nosso mundo”...<br />
Os valores morais na humanização <strong>da</strong> moderna<br />
técnica...<br />
E, num país que tem suas fôrças vivas estrutura<strong>da</strong>s na<br />
agricultura, mentali<strong>da</strong>des práticas e produtivas evitarão “los<br />
efectos centrifugos de la existencia campesina”, no dizer de<br />
Wygodzinski.<br />
Já frisamos que Locke acentuou que a felici<strong>da</strong>de e a<br />
desgraça do homem são, em grande parte, sua própria obra...<br />
Reconhece que alguns homens têm uma constituição corporal<br />
e espiritual tão vigorosa e tão bem modela<strong>da</strong> pela natureza,<br />
que mal necessitam do auxilio dos demais... Mas, os exemplos<br />
dêsse gênero são mui poucos, e pensa que se pode afirmar<br />
que todos os homens com que tropeçamos, nove décimas<br />
partes, são bons ou maus, úteis ou inúteis, pela educação que<br />
receberam. “Esta é a causa <strong>da</strong> grande diferença entre os<br />
homens. As me-nores e mais insensíveis impressões que<br />
recebemos em nossa infância, têm conseqüências mui<br />
importantes e duradouras”. E Richter frisou que um homem que<br />
dê a volta ao mundo sofre menos a influência <strong>da</strong>s<br />
nações que visitou do que a de sua ama de leite... Dai o<br />
valor <strong>da</strong> educação.
FÁBIO LUZ FILHO 35<br />
DEFINIÇAO DE PRINCÍPIOS<br />
Recentemente o Conselho Superior do Cooperativismo do<br />
Canadá estabeleceu a distinção entre cooperação em seu senti-<br />
do lato e cooperativismo em seu sentido estrito.<br />
Tomando em seu sentido amplo a palavra — cooperação —<br />
significa colaboração, ou ato pelo qual várias pessoas unem<br />
seus esforços e seus recursos no sentido <strong>da</strong> mesma finali<strong>da</strong>de,<br />
disse êle. Entanto, quando esta palavra se emprega no mo-<br />
vimento cooperativo, encerra uma acepção mais exata e bem<br />
particular. Significa, então, uma forma democrática de cola-<br />
boração que colima diretamente fins econômicos e indireta-<br />
mente fins sociais.<br />
As quatro palavras maiúsculas expressando os caracteres<br />
essenciais do cooperativismo exigem algumas explicações:<br />
a) Colaboração, embora essencial, êste traço não lhe é es-<br />
pecífico. Encontra-se igualmente no sistema capitalista.<br />
b) Democrático — segundo o costume, no sentir <strong>da</strong> ra-<br />
zão, que se dá a tudo o que se chama democrático, quer signi-<br />
ficar aqui que a colaboração se realiza pelo povo e para o<br />
povo, mas acentuando a expressão pelo povo, porque temos<br />
visto o caráter que especifica o cooperativismo e o diferencia<br />
<strong>da</strong>s outras formas de organização econômica.<br />
— O contrôle democrático, como lhe chamam os coopera-<br />
dores, em palavras breves, pertence a todos. Na colaboração<br />
capitalista, ao contrário, o contrôle é reservado a uma oligar-<br />
quia ou a um pequeno grupo de acionistas.<br />
Por outro lado, a expressão — para o povo — deve, como<br />
tô<strong>da</strong> fórmula de ação econômica, servir ao povo.<br />
c) Objetivando diretamente fins econômicos: o coopera-<br />
tivismo é pròpriamente e, antes de tudo, negócio econômico.<br />
Seu fim imediato é a proprie<strong>da</strong>de do povo.<br />
d) Objetivando indiretamente fins sociais: com efeito,<br />
só pelo fato de trabalhar pela prosperi<strong>da</strong>de do povo em sua<br />
parte econômica, constitui uma contribuição social de maior<br />
importância.<br />
“O cooperativismo, ademais, faz nascer hábitos de com-<br />
preensão, de aju<strong>da</strong> mútua, de ação concerta<strong>da</strong>, proporcionan-<br />
do, assim, um remédio dos mais eficazes contra as enfermi<strong>da</strong>-<br />
des sociais chama<strong>da</strong>s: individualismo, descontentamento,<br />
egoísmo, etc. Enfim, os ver<strong>da</strong>deiros cooperadores, sabendo perfeitamente<br />
que a ordem econômica está simplesmente uni<strong>da</strong> à<br />
ordem social, não podem deixar de sentir obrigação de tra-
36 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
balhar pela ordem social, com obras de educação, de aju<strong>da</strong><br />
mútua, etc.<br />
“Em suma, no Cooperativismo é ao povo que se pede que<br />
colabore para assegurar, por si mesmo, sua independência<br />
econômica e social, ou se propõe um meio de organizar esta<br />
cooperação: a emprêsa cooperativa, fórmula institucional<br />
que necessita apenas de que se concretizem em obras os<br />
princípios fun<strong>da</strong>mentais expostos acima com tô<strong>da</strong> a clareza”.<br />
Concluindo esta definição de princípios o Conselho define<br />
o que seja cooperativa e suas normas doutrinárias fun<strong>da</strong>mentais:<br />
1.º — Uma associação livre não imposta por leis ou de-<br />
cretos ou por nenhuma forma de violência, como acontece<br />
nos regimes totalitários.<br />
2.º — Uma emprêsa — isto é, ca<strong>da</strong> cooperador se con-<br />
verte em co-proprietário <strong>da</strong> emprêsa e é neste titulo que se<br />
fun<strong>da</strong>m seus direitos como seus deveres de dirigir e controlar<br />
a emprêsa.<br />
PRINCÍPIOS ROCHDALIANOS<br />
1.º — Um homem, um voto.<br />
2.º — Liber<strong>da</strong>de de entra<strong>da</strong> e saí<strong>da</strong>, o que não quer dizer<br />
que se admitam pessoas nocivas aos interêsses <strong>da</strong><br />
cooperativa.<br />
3.º Neutrali<strong>da</strong>de religiosa, política e étnica.<br />
4.º — Educação dos cooperadores.<br />
Tornar os associados capazes de dirigir e controlar<br />
eficientemente a emprêsa, como para propagar o ideal<br />
cooperativo e<br />
recrutar membros conscientes <strong>da</strong> missão <strong>da</strong>s cooperativas.<br />
5.º — Distribuição a ca<strong>da</strong> associado dos excedentes ou<br />
sobras anuais — à prorrata <strong>da</strong>s operações realiza<strong>da</strong>s.<br />
6.º — Limitaçao <strong>da</strong>s taxas de juros sôbre o capital, pois a<br />
cooperativa deve servir aos homens e não aos capitais.<br />
MÉTODOS<br />
a) — Ven<strong>da</strong> ao preço corrente.<br />
a) — Compra e ven<strong>da</strong> a dinheiro à vista.<br />
e) — Não admitir voto por procuração.<br />
d) — Fundos para obras sociais.<br />
“É o cooperativismo, assim, um sistema baseado na idéia<br />
de cooperação e edificação com instituições cooperativas que
FÁBIO LUZ FILHO 37<br />
organizam a produção, a distribuição e o consumo segundo a<br />
fórmula cooperativa.<br />
Confirmam-se, assim, os conceitos de Fauquet:<br />
“Trabalhemos para que o Cooperativismo cresça; mas<br />
velemos por que não se altere.<br />
“Fato social, fato humano, seu futuro não está fatalmen-<br />
te determinado: o que o determinará é a fé dos cooperadores.<br />
“Vós outros mesmos, jovens!”<br />
Nascido o cooperativismo, como já foi acentuado, de imperativos<br />
históricos: o desequilíbrio entre o processo <strong>da</strong> produ-<br />
ção e as exigências do consumo, constitui êle, precisamente por<br />
isso, um dos capítulos mais vastos e empolgantes <strong>da</strong> economia<br />
social moderna, cujos postulados cimentam uma nova concepção<br />
<strong>da</strong> criação e distribuição <strong>da</strong>s riquezas, feitas para a<br />
satisfação de necessi<strong>da</strong>des e não para o lucro, princípio éticosocial<br />
de alcance enorme: a riqueza consumi<strong>da</strong> pelo seu justo<br />
preço; o lucro pertencendo ao que legitimamente o criou: o<br />
esfôrço criador como base fecun<strong>da</strong> <strong>da</strong> recompensa; o elemento<br />
pessoal como fator de dinamismo; o capital servindo ao<br />
trabalho; a humanização dos meios de produzir.<br />
O PRINCÍPIO DA NEUTRALIDADE<br />
Luzzatti sempre considerou o princípio <strong>da</strong> neutrali<strong>da</strong>de<br />
política e religiosa como uma <strong>da</strong>s bases graníticas do<br />
cooperativismo.<br />
Em 1914, Luzzatti, várias vêzes ministro, filósofo, sociólo-<br />
go, alto financista, parlamentar brilhante, homem simples e<br />
boníssimo, disse ao se referir à propagan<strong>da</strong> que iniciara em<br />
1864 em Milão, que então fixara alguns princípios, certos mé-<br />
todos para a propagan<strong>da</strong> cooperativa. Um princípio era fun-<br />
<strong>da</strong>mental, acentuou: a neutrali<strong>da</strong>de religiosa e política do<br />
cooperativismo. Êste, para êle, devia oferecer-se a por<br />
completo a todos os homens de boa vontade, aos tristes no<br />
silêncio e aos fortes na dor, que quisessem elevar-se pela<br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s previsões individuais, multiplicados pela<br />
fôrça <strong>da</strong> associação. “Qualquer que fôsse seu credo religioso e<br />
seu programa políti- co, qualquer que fôsse seu Deus ou sua<br />
filosofia, seu símbolo, monárquico ou republicano, a<br />
neutrali<strong>da</strong>de a todos reunia e abraçava no ideal puro<br />
comum”. A condição essencial para entrar na associação era<br />
a busca do bem individual na uni<strong>da</strong>de coletiva, o egoísmo<br />
temperado com o altruísmo.
38 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Ao Congresso de Bolonha de 1878 compareceram dois<br />
grandes fun<strong>da</strong>dores do cooperativismo inglês: Holyoake e<br />
Wansittart-Neale, sendo Holyoake (amigo de Mazzini) racio-<br />
nalista e republicano, e Wansittart-Neale, conservador e rígido<br />
anglicano o que não os impediu de trabalhar juntos no sentido<br />
de “aumentar o grandioso edifício do mutualismo inglês, à<br />
cuja sombra se amparam falanges inúmeras do proletariado<br />
inglês”.<br />
E. W P Watkins recentemente disse<br />
“De plus, les règles régissant l’adhésion, libre et volontaire,<br />
ainsi que la neutralité politique et religieuse, montrent l’adhé-<br />
sion des Pionniers au principe de liberté, qu’ils ne restreig-<br />
naient que <strong>da</strong>ns la mesure ou il était nécessaire pour réaliser<br />
l’objectif économique de leur société”.<br />
Donde segundo êle ser aconselhável definir o Cooperati-<br />
vismo como um sistema de organização social e econômica<br />
baseado no respeito de certos princípios, dentre os quais se<br />
devem pôr em relêvo êstes: a Uni<strong>da</strong>de, a Economia, a Demo-<br />
cracia e a Liber<strong>da</strong>de.<br />
“Toutes les formes coopératives pures et véritables,<br />
acceptent et appliquent universellement ces principes, selon,<br />
bien entendu, des degrés variables de perfection et succès et<br />
compte tenue des circunstances et des qualités (compréhen-<br />
sion, courage, fidelité), des coopérateurs eux-mêmes”.<br />
A Socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s Nações já acentuou que há uma espécie<br />
de afini<strong>da</strong>de natural entre as necessi<strong>da</strong>des que fazem nascer a<br />
ação cooperativa e a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação, ambas, aliás,<br />
associa<strong>da</strong>s à crença no progresso e no progresso pelo esfôrço.<br />
Não sòmente a decisão de criar uma organização coopera-<br />
tiva ou de à mesma aderir supõem conhecimentos e um certo<br />
nível de quali<strong>da</strong>des intelectuais e morais; direta ou indireta-<br />
mente, a ação cooperativa contribui de maneira eficaz para a<br />
educação econômica, para o desenvolvimento de quali<strong>da</strong>des<br />
pessoais. Nesse sentido disse eminente cooperador inglês, que é<br />
também um educador:<br />
Diz se com razão que o cooperativismo é um movimen-<br />
to econômico que serve à educação Entretanto, esta afirma-<br />
ção não deixa de ser ver<strong>da</strong>deira se a invertemos: o cooperati-<br />
vismo é um movimento educativo que se serve <strong>da</strong> ação eco-<br />
nômica .<br />
É o Dr. Laszlo Valko ilustre professor e chefe do Departa-<br />
mento de Economia Agrícola do State College de Washington..<br />
Os trechos que reproduzo abaixo, pertencem a um de seus mais
FABIO LUZ FILHO 39<br />
recentes trabalhos, que versa um tema de grande interêsse:<br />
“As idéias cooperativas do Este e do Oeste”, Nêle o autor<br />
define a atitude ortodoxa <strong>da</strong>s cooperativas dos países<br />
ocidentais, e certa alteração de princípios nos países sob a<br />
influência política dos comunistas. Grande estudioso de<br />
assuntos econômicos, e integrado nas idéias cooperativas,<br />
possui ain<strong>da</strong>, den- tre outros e editado o ano passado, um<br />
trabalho no mesmo sentido do já citado — “Tendências<br />
políticas na educação cooperativa” e outro, lançado em 1954 -<br />
“InternatIonal Handbook of Cooperative Legislation”, que<br />
contém comentários em tôrno dos atuais leis européias sôbre<br />
cooperativismo.<br />
Está êle elaborando outro trabalho sôbre a América do<br />
Sul, no mesmo sentido, tendo-lhe sido forneci<strong>da</strong> grande cópia<br />
de subsídios pelo Serviço de Economia Rural e pelo Centro<br />
Nacional de Estudos Cooperativos, e por mim pessoalmente,<br />
no que tange ao Brasil.<br />
Eis os trechos:<br />
“No conjunto dos princípios cooperativos essenciais, en-<br />
contram-se as mesmas diretivas expressas pelos princípios de<br />
Roch<strong>da</strong>le e que dão os elementos fun<strong>da</strong>mentais do cooperati-<br />
vismo ocidental.<br />
“Segundo esta teoria, o cooperativismo é uma associação<br />
voluntária de elementos individuais, os quais desejam fun<strong>da</strong>r<br />
uma emprêsa econômica comum aju<strong>da</strong>ndo-se uns aos outros.<br />
Um dos princípios essenciais é o <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de e o do caráter<br />
voluntário <strong>da</strong> associação, e, em segui<strong>da</strong>, a neutrali<strong>da</strong>de e o de-<br />
sejo de aju<strong>da</strong> mútua. São princípios dirigidos não sòmente<br />
para um fim econômico, mas também para certos fins sociais,<br />
o que enriquece a estrutura <strong>da</strong> organização cooperativa por<br />
elementos ideais. Visto dêste ângulo, o cooperativismo não é<br />
apenas um movimento de massas, mas um movimento para a<br />
massa dos indivíduos.<br />
“ Os representantes do movimento cooperativo,<br />
confiantes na evolução progressiva <strong>da</strong> ordem social e<br />
econômica sem que seja preciso destruir as instituições<br />
existentes <strong>da</strong> civilização, declaram que o cooperativismo não<br />
é uma forma de violência.<br />
“A tendência geral do movimento cooperativo ocidental<br />
continua fiel ao principio <strong>da</strong> neutrali<strong>da</strong>de política no sentido<br />
dos princípios de Roch<strong>da</strong>le. O cooperativismo não é, pois, um<br />
movimento político, nem serve a tendências políticas, venham<br />
elas <strong>da</strong> direita ou <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong>.<br />
“Salvo na Inglaterra, não existe “partido cooperativo”<br />
pròpriamente dito como representante do Movimento. Ao con-
40 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
trário, em numerosos países europeus, nos quais ain<strong>da</strong><br />
sobrevive o ideal sistema parlamentar, pode-se observar que<br />
os deputados de partidos politicos diferentes, simpatizantes<br />
do cooperativismo, não se encontram sòmente para discutir<br />
problemas do movimento cooperativo; mas, apesar de seus<br />
pontos de vista políticos divergentes, fazem declarações<br />
comuns sôbre quêstões cooperativas e, quando é o caso, se<br />
apóiam mùtuamente nos debates parlamentares para a<br />
defesa <strong>da</strong>s idéias cooperativas.<br />
“Se esta colaboração é possível na vi<strong>da</strong> política e na<br />
ativi<strong>da</strong>de parlamentar dos diversos países, deve ela permitir<br />
ain<strong>da</strong> mais aos simples cooperadores poderem viver juntos<br />
em paz sôbre uma base comum. Esta “neutrali<strong>da</strong>de”<br />
política não envolve uniformi<strong>da</strong>de negativa dos indivíduos.<br />
A ver<strong>da</strong>deira neutrali<strong>da</strong>de política não é a indiferença pelos<br />
negócios públicos, e é ocioso dizer que todo cooperador tem<br />
suas próprias idéias políticas conforme, em grandes linhas,<br />
as idéias cooperativas... Nesses casos os cooperadores são<br />
também elementos ativos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> política, mas suas<br />
ativi<strong>da</strong>des não interferem nas socie<strong>da</strong>des cooperativas, e<br />
estas não se tornam nunca simples instrumentos de fins<br />
políticos”.<br />
Já em livro fazemos sentir que Domingos Bórea<br />
acentuou que o cooperativismo deve ser livre, neutral, isto é,<br />
não-vinculado a credo político ou religioso algum. A lógica<br />
assim o impõe e a exclusão <strong>da</strong>s questões políticas e religiosas<br />
de todos os atos de uma socie<strong>da</strong>de cooperativa representa o<br />
desiderato a que devem aspirar os cooperativistas puros e<br />
o grau mais perfeito de que é suscetível o cooperativismo.<br />
“O cooperativismo “genuíno” é o que se não confunde<br />
com idéias políticas e com paixões e só afirma e consagra<br />
princípios simples, aceitos por todos os homens honestos<br />
pertencentes a qualquer nacionali<strong>da</strong>de, partido político e<br />
religiaso, e adota estritamente o “princípio de Howarth”.<br />
A lei Argentina n.° 11 .388 estabelece, que as<br />
cooperativas “não poderão ter por fim principal nem<br />
acessório a propagan<strong>da</strong> de idéias políticas, religiosas, de<br />
nacionali<strong>da</strong>des ou regiões determina<strong>da</strong>s, nem impõe como<br />
condição de admissão a vinculação dos associados a<br />
organizações religiosas, partidos políticos ou agrupações de<br />
nacionali<strong>da</strong>des ou regionais”.<br />
“Para a política estão os comitês; para a religião os tem-<br />
plos e para a cooperação as cooperativas”.
FÁBIO LUZ FILHO 41<br />
Não devem existir cooperativas burguesas, socialistas,<br />
etc., pois, a cooperação não tem programa “máximo” nem<br />
programa “mínimo”, mas um só: o programa “cooperativo”.<br />
“Que se adote êsse principio fun<strong>da</strong>mentalíssimo se se<br />
quiser o desenvolvimento intenso e livre <strong>da</strong> cooperação. O<br />
ideal cooperativo se opõe em absoluto a que em suas insti-<br />
tuições cooperativas e de mutuali<strong>da</strong>de intervenham a<br />
política, a religião, a nacionali<strong>da</strong>de dos sócios. Nelas os sócios<br />
se unem para fins exclusivamente econômicos e instrutivos.<br />
Que tem que ver com isto o credo religioso, politico ou a<br />
nacionali<strong>da</strong>de? Como explicar que em uma cooperativa se<br />
exija dos sócios que pertençam a um partido conservador,<br />
radical, socialista, ou a uma religião católica, ju<strong>da</strong>ica,<br />
protestante, maometana, ou a uma nacionali<strong>da</strong>de, argentina,<br />
hespanhola, italiana, russa?... Por que colimar um fim<br />
político, religioso ou nacionalista por meio <strong>da</strong>s<br />
cooperativas? Não sabemos nós acaso que as rivali<strong>da</strong>des de<br />
nacionali<strong>da</strong>des, de religião e de política mantêm divididos e<br />
em contínuas lutas não só às nações senão também a todos os<br />
habitantes de uma mesma nação?<br />
“O supremo ideal <strong>da</strong> cooperação e <strong>da</strong> mutuali<strong>da</strong>de é<br />
unir os homens para fins econômicos e instrutivos tendentes<br />
a beneficiar a produção e o consumo, a moralizar o comércio,<br />
o crédito e os seguros, a fomentar a previdência, isto é, a<br />
economia e o seguro”.<br />
“Fàcilmente contestaremos que a neutrali<strong>da</strong>de é de<br />
importância prática fun<strong>da</strong>mental, pois permite alcançar o<br />
ideal supremo <strong>da</strong> cooperação, isto é, o intercâmbio<br />
internacional de produtos entre as cooperativas; fazer dos<br />
produtores e consumidores uma só e grande família, o que se<br />
não alcançará se tivermos cooperativas socialistas,<br />
burguesas, sindicalistas, católicas, ju<strong>da</strong>icas, etc., uma vez que<br />
o ódio existe intenso entre as diversas coletivi<strong>da</strong>des políticas<br />
e religiosas.<br />
“As grande vitórias <strong>da</strong> cooperação inglesa, disse Hans<br />
Muller, realizaram-se sôbre o princípio básico <strong>da</strong> neutrali<strong>da</strong>de<br />
cooperativa”.<br />
Carlos Howarth, Juan Bent, Santiago Smithies e outros,<br />
afirmamos em “Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas”<br />
e em “Crédito Agrícola e problema agrário”, reuniram em<br />
Roch<strong>da</strong>le todos os tecelões de tendências políticas e religiosas<br />
diferentes. Nasceu, pois, a. cooperação com um absoluto ca-<br />
ráter de neutrali<strong>da</strong>de em questões políticas, religiosas e de<br />
nacionali<strong>da</strong>de.
42 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Rivas Moreno na Espanha diz que nas socie<strong>da</strong>des cooperativas<br />
não se pergunta, aos que nela ingressam, em que religião<br />
comungam nem em que partido militam.<br />
A lei argentina 11.388 é taxativa: “No puederán tener por<br />
fin principal ni accessorio la propagan<strong>da</strong> de ideas políticas,<br />
religiosas, de nacionali<strong>da</strong>des o regiones determina<strong>da</strong>s, ne<br />
imponer como condición de admisión la vinculaclón de los<br />
socios con organizaciones religiosas, partidos políticos o<br />
agrupaciones de nacionali<strong>da</strong>des o regionales.<br />
Já dissemos que São Francisco de Assis (tão diferente dos<br />
Jesuítas Brâmanes, que aos párias ofertavam a hóstia na ponta<br />
de uma bengala para evitar-lhes o contacto profano e humilde, e<br />
tão diferente <strong>da</strong>queles estigmatizados pelo próprio Pio II..,), S.<br />
Francisco de Assis que, com Joachim de Floro, era tolerado<br />
quase com asco pelos seus contemporâneos cardinalicios, S.<br />
Francisco de Assis era natural de Umbria, filho de mercador, e<br />
diz a len<strong>da</strong> que veio à luz em uma estrebaria, circunstância que<br />
ain<strong>da</strong> mais o aproxima de Cristo, seu excelso paradigma.<br />
Prezando como virtude cardeal a pobreza, surgiu em uma<br />
época em que a dissolução de costumes atingiria um grau de<br />
inconcebível intensi<strong>da</strong>de. Possuindo um entranhado amor <strong>da</strong>s<br />
coisas <strong>da</strong> natureza, pregava a volta ao seu seio úbere e<br />
purificador, e fazia <strong>da</strong> alegria de viver uma necessi<strong>da</strong>de<br />
orgânica. “Gaudentes in domino”...<br />
Emile Gebhart, em “Italie Mystique”, diz, reportando-se a<br />
S. Francisco de Assis:<br />
“Não pregava o ascetismo desesperado dos monges e<br />
eremitas, não ameaçava os homens com uma crise de<br />
consciência; viram nêle, desde os primeiros atos de sua<br />
vocação, um meridional, um italiano, um poeta, amigo do<br />
movimento e <strong>da</strong> luz, não conhecendo a tristeza, nunca<br />
inquietado por pensamentos amargos”.<br />
E Fabio Lua, comentando o trabalho de Gustavo<br />
Macedo sôbre S. Francisco de Assis, diz: “A volta à<br />
natureza, que despontava em Gioachinj, iluminado pelos<br />
raios solares, no momento em que doutrinava, e saindo<br />
para contemplar o campo, acompanhado dos fiéis entoando<br />
canticos, se acentua em S. Francisco, com suas prédicas<br />
ao ar livre, em pleno campo, assistido pelas andorinhas<br />
chilreantes, que obedeciam à sua intimativa e se<br />
conservavam silenciosas durante o resto <strong>da</strong> prédica, como<br />
as cobras se deixam hipnotizar pelos fluidos despedidos dos<br />
olhos magnetizadores dos lamas e dos faquirs”.
FÁBIO LUZ FILHO 43<br />
S. Francisco de Assis, combatendo o faquirismo<br />
dominante na época pela reclusão e espirito contemplativo<br />
dos monges, acossados pelas lutas arma<strong>da</strong>s de então,<br />
proclamava que o Senhor preferia as obras de cari<strong>da</strong>de à<br />
observancia exterior de preceitos religiosos. Ao fausto e à<br />
dissolução opunha a pobreza e a cari<strong>da</strong>de afora<strong>da</strong> em<br />
virtude teologal, a volta à vi<strong>da</strong> simples, ao contacto <strong>da</strong><br />
natureza munífica. Modelava as almas no sentido do<br />
Cristianismo primitivo, religião dos humildes...<br />
“Deus quer a misericórdia e não o sacrifício”...<br />
E Leão XIII, em sua encíclica Praeclara gratulationes,<br />
dizia: “Vera conjunctio inter christianos est, quam autor<br />
Ecclesiae Jesus Christus instituit voluitque, in fidei et regimi-<br />
nis unitate consistens”. Essa uni<strong>da</strong>de de fé e de regime, fé nas<br />
virtudes morais e sociais de ca<strong>da</strong> um e regime de igual<strong>da</strong>de,<br />
eis o grande escopo a colimar nas cooperativas.<br />
Assim sendo, é inadmissível que continuem a surgir no<br />
Brasil cooperativas que insistem em se fecharem em discrimi-<br />
nações confessionais em seus estatutos e em suas denomina-<br />
ções, ou estadeiam nomes de santos, etc. Ora são católicas,<br />
ora evangélicas, e ùltlmamente espíritas, só faltando que<br />
apareçam as ju<strong>da</strong>icas, muçulmanas, etc., numa melancólica e<br />
contraproducente atomização.<br />
Tudo isso temos combatido em livros e em artigos, e há<br />
a respeito lúci<strong>da</strong> jurisprudência firma<strong>da</strong> pelo ex-consultor<br />
do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, Dr. Luciano Pereira, aliás<br />
apoiando tese que levantamos face à legislação específica e<br />
o de-jure-constituendo. Tudo Isso subverte o clássico<br />
princípio doutrinário neutral. Em “Teoria e prática <strong>da</strong>s<br />
socie<strong>da</strong>des cooperativas” temos a respeito longo capitulo, e<br />
agora aduzi-mos novos argumentos em “Crédito agrícola e<br />
problema agrário”<br />
Ora, permitindo-se nomes de santos, etc., ou restrições<br />
estatutárias, ter-se-á de permitir tô<strong>da</strong> e qualquer pertinência<br />
a vultos, próceres ou princípios de quaisquer outras religiões,<br />
credos políticos, privanças raciais ou de nacionali<strong>da</strong>de. A<br />
própria alegação, ver<strong>da</strong>deira, de que a imensa maioria do<br />
povo brasileiro é católica, não deve colhêr, de vez que seria,<br />
constitucional e doutrinàriamente, condenável essa atitude.<br />
A imensa maioria de um dos povos mais avançados em<br />
matéria cooperatlva, o inglês, é protestante, e não admite dis-<br />
criminações religiosas nem mesmo nos títulos de suas cooperativas.<br />
Entrará um católico para uma cooperativa que estadeie
44 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
em sua denominação a flâmula luterana ou calvinista, para<br />
uma cooperativa espírita e vice-versa?...<br />
O próprio espiritismo não pertence mais, hoje, segundo<br />
seus adeptos e doutrinadores, ao campo <strong>da</strong> demonologia medieval,<br />
integrante <strong>da</strong> fenomenologia <strong>da</strong> magia negra ou puro<br />
fenomenismo de hipnomagnetologia, epifenomenalismo, fôrça<br />
ódica, etc., na terminologia específica. Allan Kardec (Hipólito<br />
Rivail) deu-lhe foros de religião; é êle considerado pelos seus<br />
epígonos e adeptos como um corpo de doutrinas já<br />
estratifica<strong>da</strong>s. Sua teoria neo-espiritualista se resume no cânon<br />
de que o plano de existência cósmica se situa em três etapas: a<br />
material, a astral e a psíquica. E considerado uma reminiscência<br />
<strong>da</strong>s velhas práticas religiosas <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de.<br />
Ilustre comentador afirma até que o espiritismo é a<br />
nova revelação do Sinai, é a primeira etapa dum sistema<br />
teogônico que se desdobrou através do cristianismo,<br />
fin<strong>da</strong>ndo na Integralização do espiritismo. “A essência <strong>da</strong>s<br />
afirmações de Allan Kardec, por mais que custe a espíritos<br />
modernos, reduz-se, basilarmente, a esta conseqüência<br />
concreta: O espiritismo é o sucedâneo do Cristianismo,<br />
como êste o foi do ju<strong>da</strong>ísmo”.<br />
Outros assinalam que Hipólito Rivail (Allan Kardec)<br />
teorizou uma nova religião. Esta religião Kardequista,<br />
segundo êles, repousa no Cristianismo, firma raízes nas<br />
religiões iniciáticas e no ritualismo <strong>da</strong>s filosofias antigas.<br />
O espiritismo hoje, segundo a abun<strong>da</strong>nte teorização do<br />
seu pontífice máximo e a de seus modernos exegetas,<br />
unívocos, apresenta visos de uma religião revela<strong>da</strong>. E<br />
considerado, por êles, no plano espiritualista, como um<br />
ramo do Cristianismo, bojante de noções existentes nas<br />
velhas filosofias.<br />
Assim, pois, como admitir também cooperativas<br />
espíritas? E um dos pioneiros e precursores brasileiros,<br />
Teixeira Duarte, disse muito bem que a política e a<br />
religião não devem entrar como pensamento inspirador na<br />
formação e funcionamento de nenhuma cooperativa. “A<br />
cooperação, mesmo em si, num sentido amplo e filosófico,<br />
é uma religião, mas isenta de sectarismos dispersivos,<br />
porque uma religião pelo dever, pelo amor, pelo trabalho<br />
comum e para todos”. Luzzatti mais de uma vez afirmou<br />
que o cooperativismo não deve nem pode ser o monopólio<br />
de nenhuma escola, de nenhuma seita, de nenhum partido<br />
político; mas, como a luz fecun<strong>da</strong>nte do sol,<br />
Na sua esplendecência, deve banhar a cabeça de todos os<br />
mortais.
FÁBIO LUZ FILHO 45<br />
AINDA OS PRINCÍPIOS ROCHDALIANOS<br />
Foi iniciado o movimento cooperativo, en suas<br />
caracterís-ticas vitais, em 1844, por 28 pobres tecelões<br />
inglêses de Roch<strong>da</strong>le (os Probos Pioneiros de Roch<strong>da</strong>le), no<br />
Lancashire, com a sua modesta cooperativa de consumo, sem<br />
outra preocupação que não fôsse a obtenção de um melhor<br />
padrão de vi<strong>da</strong>, premidos pelas contingências de uma vi<strong>da</strong> de<br />
asperezas e sacrifícios. E já destinavam 2,5% <strong>da</strong>s sobras<br />
anuais a fins de educação. Essa modesta cooperativa foi a<br />
célula-mater <strong>da</strong>s atuais organizações que arrancaram a Mac<br />
Donald expressões de admiração, considerando-as as únicas<br />
capazes de soerguer moral, social e econômicamente o<br />
mundo.<br />
Contam-se por milhões, hoje, as famílias que se abrigam<br />
sob a bandeira de emancipação que o cooperativismo<br />
desfral<strong>da</strong> sôbre o mundo em irisados panejamentos de<br />
fraterni<strong>da</strong>de e paz, lançando os fun<strong>da</strong>mentos de uma<br />
economia nova, afasta- do o espírito de lucro sem peias e<br />
colima<strong>da</strong> a satisfação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des humanas, procurando<br />
organizar a produção para o consumo.<br />
Repetto acentuou que os cooperadores de Roch<strong>da</strong>le não<br />
eram doutores, nem advogados, nem médicos, nem engenhei-<br />
ros, nem sequer procuradores, profissões que nos tempos que<br />
correm adquiriram uma importância bastante sensível; eram<br />
operários tecelões que, impulsionados pela necessi<strong>da</strong>de, tive-<br />
ram que estu<strong>da</strong>r o problema de como se podia conseguir,<br />
com a mesma quanti<strong>da</strong>de de dinheiro, que recebiam como<br />
salários, uma maior quanti<strong>da</strong>de de coisas, isto é, como<br />
poderiam aumentar o poder aquisitivo de seus salários. E<br />
êsses modestos tecelões, frisa êle, que não sabiam economia<br />
política, que não tinham estu<strong>da</strong>do, como nós outros, ciências<br />
sociais, mas que tinham, em contraposição, um sentido<br />
profundo <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, e que experimentavam, sobretudo,<br />
a imperiosa necessi<strong>da</strong>de de viver um pouco melhor com o<br />
mesmo salários, chegaram a esta conclusão: “que, para<br />
realizar êsse desejo, tinham que renunciar ao velho sistema<br />
de comprar ca<strong>da</strong> um isola<strong>da</strong>mente e fun<strong>da</strong>r uma socie<strong>da</strong>de<br />
que, agrupando o poder aquisitivo de ca<strong>da</strong> um dêles, lhes<br />
permitisse realizar as compras em conjunto, beneficiando-<br />
se dêsse modo com as bonificações correntes nos preços de<br />
ven<strong>da</strong> em grosso”.<br />
E Holyoake cita palavras de James Smithies, um dos<br />
gloriosos de Roch<strong>da</strong>le:
46 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
“L’amélioration du sort de nos membres est visible <strong>da</strong>ns<br />
leur continence, <strong>da</strong>ns leur liberté de parole. Vous vous imagineriez<br />
difficilement combien les change leur affilation à une<br />
société coopérative”.<br />
A cooperativa de consumo nasceu, pois, na Inglaterra.<br />
Sumariando o que dizemos em Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des<br />
cooperativas acentuamos que a cooperativa de consumo<br />
dá ao consumidor, têrmo dialético, na proporção de suas<br />
compras, princípio cooperativo fun<strong>da</strong>mental, os benefícios ou<br />
proventos que o intermediário iria receber, excedentes ou sobras<br />
estas distribuí<strong>da</strong>s no fim do exercício social. Visa ao justo<br />
preço. Ganha o consumidor na quali<strong>da</strong>de, na sani<strong>da</strong>de, no peso<br />
exato, nos fundos sociais, sendo os excedentes do preço do custo<br />
devolvidos no fim do ano, constituindo os retornos. Há quem<br />
pense seja preferível, em vez de repartir êsse excesso de<br />
percepção no fim do ano, que se ven<strong>da</strong> a mercadoria a preço<br />
baixo. Mas, há nisso inconvenientes, entre êles o do associado<br />
não ser levado à economia. Além disso, os inconvenientes <strong>da</strong><br />
ven<strong>da</strong> a preço baixo seriam grandes. A prática cooperativa<br />
demonstra que, com isso, se travaria luta com o comércio, o<br />
que se deve evitar no interêsse <strong>da</strong> consoli<strong>da</strong>ção do<br />
movimento. Podem-se também calcular mal as despesas<br />
gerais indispensáveis, fixar preços de ven<strong>da</strong> abaixo dos de<br />
custo; existe ain<strong>da</strong> o risco de ficar a socie<strong>da</strong>de sem fundos<br />
disponíveis, não permitindo compras em condições<br />
vantajosas, etc. O critério é o justo preço.<br />
A cooperativa de consumo é, em primeiro lugar, um<br />
órgão regulador de preços de um mercado. Assim, quando<br />
se estabelece uma cooperativa em qualquer região ou<br />
bairro, põe ela fim a todo lucro exagerado, a todos os abusos<br />
dos intermediários, que se vêem obrigados a minorar o<br />
preço.<br />
O justo preço é representado pelas despesas gerais, etc.,<br />
acrescidos ao preço de custo, numa medi<strong>da</strong> razoável e justa,<br />
dentro do qual sempre podem as cooperativas ter um<br />
benefício normal e legítimo. A cooperativa, assim, não só<br />
oferece vantagens a seus associados exclusivamente, mas a<br />
todos os habitantes <strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de onde exerce a sua<br />
influência, saneando os preços.<br />
Das cooperativas de consumo devem tomar parte tô<strong>da</strong>s<br />
as classes sem discriminações, pois são organizações abertas,<br />
são economias coletivas públicas.<br />
Assim, já se disse, as duas instituições, — a <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de e a <strong>da</strong><br />
associação — se integram na reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> — sendo
FÁBIO LUZ FILHO 47<br />
a associação o amparo <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>de emancipa<strong>da</strong>, dema-<br />
siado vacilante no seu próprio insulamento.<br />
As cooperativas de consumo, tendo tido por berço a<br />
Inglaterra, estão naturalmente indica<strong>da</strong>s como o instrumento<br />
coletivo melhor ajustado aos interêsses <strong>da</strong>s classes médias e<br />
pobres, para todos aquêles que vivem de salários, pequenos<br />
ordenados, poucas ren<strong>da</strong>s e têm família ou prole de que<br />
cui<strong>da</strong>r; aquêles cuja vi<strong>da</strong> terra-a-terra não pode consentir<br />
orçamentos folgados e cujo equilíbrio deve ser buscado<br />
justamente no justo preço que a cooperativa de consumo<br />
pode fornecer, oferecendo-lhe, ademais, artigos sãos e de pêso<br />
exato, e conduzindo a obras sociais.<br />
A atual legislação brasileira sôbre cooperativas define<br />
perfeitamente essas organizações de bem público.<br />
* * *<br />
Já temos acentuado que a cooperativa leva produtores e<br />
consumidores a uma situação de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de moral e econô-<br />
mica de benéficos resultados. O cooperativismo, reunindo sob<br />
sua bandeira, no mundo, a milhões de sêres, faz que se exerça,<br />
de uma maneira completa e eficiente, como já foi acentuado,<br />
a ação social e econômica <strong>da</strong>s classes que produzem e conso-<br />
mem, assegurando-lhes a interferência, consciente e racional,<br />
na produção e repartição <strong>da</strong>s riquezas.<br />
As cooperativas soli<strong>da</strong>rizam interêsses individuais no<br />
interêsse <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de; ligam diretamente produtores e<br />
consumidores, fechando o ciclo do processo econômico. Nelas,<br />
o lucro que deveria ir para o intermediário, é restituído a<br />
êsses produtores e consumidores livremente associados. O<br />
cooperativismo constitui um sistema econômico que<br />
estabelece novos moldes para a produção, o consumo, o<br />
crédito, o intercâmbio, modificando o atual regime do<br />
comércio intermediário ou especulativo e <strong>da</strong>ndo ao produtor<br />
o seu ver<strong>da</strong>deiro lugar no fenômeno <strong>da</strong> produção econômica,<br />
e aos consumidores a sua ver<strong>da</strong>deira posição na esfera do<br />
consumo, têrmo último do mecanismo econômico. Dá ao<br />
produtor uma maior capaci<strong>da</strong>de de produção e um maior<br />
poder de ven<strong>da</strong>. Não é necessário apenas saber produzir; é<br />
necessário e urgente saber vender, empregar novas diretrizes na<br />
comercialização <strong>da</strong> riqueza produzi<strong>da</strong> em moldes solidários.<br />
Os chamados “lucros” <strong>da</strong>s cooperativas são excedentes<br />
ou sobras, de vez que elas assumem a feição de man<strong>da</strong>tárias; res-<br />
tituem ao associado o que cobraram a mais para as suas des-
48 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
pesas imprescindíveis. Não há nelas o animus lucri, que constitui<br />
a essência <strong>da</strong> comerciali<strong>da</strong>de. As cooperativas são socie<strong>da</strong>des<br />
sui-generis, estabelecendo uma relação jurídica<br />
ob personam. Não visam ao lucro, e, sim, à satisfação de<br />
necessi<strong>da</strong>des, de vez que o fim econômico <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
humana é a satisfação dessas necessi<strong>da</strong>des. Antepõe a<br />
economia do serviço à economia do lucro, dinamizando<br />
valores humanos. Como socie<strong>da</strong>de de pessoas e não de<br />
capitais têm um sentido democrático: um homem, um voto.<br />
O seu princípio-chave é êste: as sobras anuais são repre-<br />
senta<strong>da</strong>s pela que sobrou <strong>da</strong>s taxas cobra<strong>da</strong>s para as<br />
despesas de administração ou pela diferença entre o preço<br />
do custo e o <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> nas de consumo, computados, claro,<br />
nisto, os elementos essenciais ao funcionamento normal de<br />
uma emprêsa econômica.<br />
As sobras, depois de pagos os juros, quando existirem, e<br />
tira<strong>da</strong>s as percentagens para os fundos sociais indivisíveis, é<br />
que são restituí<strong>da</strong>s aos associados na proporção do<br />
consumo, dos juros pagos, <strong>da</strong> produção entregue ou do<br />
trabalho fornecido, conforme a forma de cooperativa<br />
adota<strong>da</strong>. É o retôrno. Foi Carlos Howarth, ovenista, pobre<br />
operário de uma fábrica de algodão, o inspirador dêsse<br />
princípio-chave, que Gide classificou de “golpe de gênio”: a<br />
norma do retôrno, a distribuição <strong>da</strong>s sobras do exercício<br />
social na proporção <strong>da</strong>s operações realiza<strong>da</strong>s pelo associado<br />
que não do capital. Nelas vale o esfôrço, que se recompensa.<br />
Em Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas acentua-<br />
mos que o cooperativismo é uma fôrça de conquista, uma<br />
forma superior de evolução econômica e social. Nêle<br />
consumidores e produtores terão o instrumento específico<br />
do govêrno econômico, organizando, planificando a<br />
economia a economia, porquanto o velho postulado de<br />
acôrdo espontâneo dos egoísmos não tem mais, nesta época<br />
de idéias coletivas, razão de ser.<br />
Acentuamos também que o cooperativismo cria uma<br />
nova situação em que os consumidores e os produtores são<br />
colocados à frente dos seus próprios destinos, à testa <strong>da</strong><br />
administração <strong>da</strong>s coisas. Estabelece êle o justo equilíbrio<br />
entre o processo econômico e o processo social, regulando a<br />
produção na conformi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des previstas,<br />
evitando, tanto quanto possível, os desníveis clássicos entre a<br />
produção descontrola<strong>da</strong> e o consumo desorganizado,<br />
disciplinando a ambos. E êste objetivo será melhor<br />
alcançado quando as cooperativas, num movimento de<br />
integração vertical, formarem seus órgãos de segundo grau:<br />
as federações.
FÁBIO LUZ FILHO 49<br />
Colimando o valor de uso, a satisfação de necessi<strong>da</strong>des, o<br />
“justo preço”, que é a abolição do lucro, tira, pois, o<br />
cooperativismo ao principio <strong>da</strong> concorrência aquele<br />
irrevocável valor que lhe emprestavam os economistas<br />
clássicos. Sempre viram êles, nessa “concorrência de<br />
rendimento ou funcional”, a mola vital do livre câmbio, a<br />
segurança <strong>da</strong> expansão Indefini<strong>da</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> econômica.<br />
Sombart adverte contra as supostas virtudes dessa “livre<br />
rivali<strong>da</strong>de”, tal a fôrça imanente do capitalismo moderno, no<br />
seu poder econômico proteiforme, tão afastado <strong>da</strong>quele<br />
espírito <strong>da</strong> economia pré-capitalista, e do <strong>da</strong> economia do<br />
próprio capitalismo nascente, que ouvia, contrito, a adver-<br />
tência evangélica de Malperger: não desvies em teu beneficio<br />
a clientela do outro e não faças a outros o que não queres<br />
que te façam...<br />
Bernhard Jaeggi difiniu muito bem a substancial diferen-<br />
ça que existe entre uma Cooperativa e uma emprêsa capi-<br />
talista.<br />
Diz êle que as cooperativas não são emprêsas capitalistas.<br />
Entre uma organização cooperativa e uma emprêsa priva<strong>da</strong>,<br />
especialmente uma socie<strong>da</strong>de por ações, há uma grande dife-<br />
rença, porque:<br />
1.º - Na cooperativa é a pessoa humana que está em<br />
jôgo e que prepondera, enquanto na emprêsa capitalista é o<br />
capital;<br />
2.° - Quando uma cooperativa devolve aos associados as<br />
sobras excedentes do exercício, ou quando emprega êstes últi-<br />
mos em formar um capital, e quando combate a ven<strong>da</strong> a crê-<br />
dito, não se tem o direito de compará-la a uma socie<strong>da</strong>de que<br />
realiza grandes lucros capitalizando-os ou distribuindo-os<br />
como dividendos, os quais fazem subir o valor <strong>da</strong>s ações,<br />
criando, dessa maneira, ren<strong>da</strong> sem trabalho;<br />
3.º - As cooperativas não são emprêsas capitalistas, mas<br />
emprêsas do povo, administra<strong>da</strong>s pelo povo;<br />
4.º - Se se tivesse tido cui<strong>da</strong>do, nos tempos passados, de<br />
construir o mundo na base dos princípios cooperativos, a<br />
situa- ção atual seria mui diferente;<br />
5.º - Se as cooperativas não existissem, seria necessário<br />
criá-las, a fim de que elas possam exercer seu papel de regula-<br />
doras dos preços no interêsse dos consumidores.<br />
Hoje, mais do que nunca, já o disse, os postulados<br />
cooperativos devem ser como clarina<strong>da</strong>s de alerta num mundo<br />
conturbado, pululante de germes de dissídios, gerados, na sua<br />
grande parte, de profundos desajustamentos econômicos, ca<strong>da</strong><br />
vez mais comprimentes <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pessoa humana, a qual
50 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
a filosofia cooperativa coloca no primeiro plano de suas cogi-<br />
tações.<br />
Sendo, como bem o classificou Lavergne, um socialismo<br />
econômico que não subverte as liber<strong>da</strong>des públicas e<br />
priva<strong>da</strong>s, seus 106 anos de experiências pelo mundo<br />
reafirmam os conceitos de Fauquet, ao frisar que a coação<br />
estatal tem limites, e que, precisamente quando ela falha, o<br />
cooperativismo vence, trazendo consigo valores humanos,<br />
valores morais...<br />
São êstes valores que o cooperativismo simboliza, lábaro<br />
de arco-íris sôbre um panorama de desenfreios e descomedi-<br />
mentos, a que duas guerras voraginosas deram uma acui<strong>da</strong>de<br />
lacerante.<br />
Cultuar êsses valores na ordem econômica, eis a mira<br />
alpina do cooperativismo mundial, na sua brônzea estrutura<br />
doutrinária, no esplendor de seus inflexíveis princípios dire-<br />
tivos, os quais saíram sublimados do turbilhão dessas duas<br />
terríveis guerras e <strong>da</strong> compressão dos próprios regimes<br />
políti-cos de fôrça.<br />
Para magnificar a grandiloqüência de seus postulados é<br />
que os cooperativistas se reunem anualmente em tertúlias<br />
votivas.<br />
Há tempos, como presidente do “Centro Nacional de<br />
Estudos Cooperativos”, tive oportuni<strong>da</strong>de de lançar, a todos<br />
os que vêem no livre movimento cooperativo universal um<br />
instrumento de renovação humana, veemente apêlo no<br />
sentido de que, mais do que nunca, em face <strong>da</strong>s negras<br />
nuvens prenunciató- rias que, sombriamente, acogulam os<br />
céus, fixem na retentiva, para maior coesão do movimento<br />
cooperativo, as luminosas palavras de Rui Barbosa, ao<br />
referir-se ao sentimento pátrio, palavras aplicáveis ao<br />
sentimento cooperativo, naquela impertérrita mística <strong>da</strong><br />
liber<strong>da</strong>de que admiràvelmente o singularizou, <strong>da</strong>ndo-nos<br />
as maravilhas de uma eloqüência multíssona e as jóias<br />
ignescentes de um estilo rutilante ain<strong>da</strong> não supera- dos na<br />
língua portuguêsa, e cortados dos acentos proféticos que só<br />
os grandes iluminados possuem:<br />
“É uma harmonia instintiva de vontade, uma<br />
desajusta<strong>da</strong> permuta de obrigações, um tecido vivente de<br />
almas entrelaça<strong>da</strong>s”.<br />
“Multiplicai a célula, e tendes o organismo. Multiplicai a<br />
família, e tendes a pátria”.<br />
“Dilatai a fraterni<strong>da</strong>de cristã e chegareis <strong>da</strong>s afeições<br />
individuais às soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>des coletivas, <strong>da</strong> família à nação, <strong>da</strong><br />
nação à humani<strong>da</strong>de”.
FÁBIO LUZ FILHO 51<br />
Que a humani<strong>da</strong>de, entangui<strong>da</strong> de angústias, ouça as clarina<strong>da</strong>s<br />
de esperança em uma nova ordem econômica fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong><br />
nas normas éticas que a doutrina roch<strong>da</strong>liana encar-<br />
na e dinamiza!<br />
Antônio Sérgio, um dos mais brilhantes intelectuais portuguêses<br />
<strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de, é, em Portugal, o mais estrênuo paladino<br />
<strong>da</strong> idéia cooperativa, procurando difundí-la e realizá-la, não<br />
obstante os conhecidos tropeços.<br />
Todos conhecem a acui<strong>da</strong>de de sua pena humanista e a<br />
combativi<strong>da</strong>de de sua cultura multiforme, servi<strong>da</strong>s de uma<br />
linguagem tersa e de estilo cristalino, na boa tradição<br />
literária lusa, ao serviço <strong>da</strong> causa democrática.<br />
Para que se aquilate do valor <strong>da</strong> pregação doutrinária<br />
de Antônio Sérgio, numa nova facêta dêsse ilustre professor<br />
e conhecido escritor, reproduziremos trechos de um dos<br />
capítulos de primeira série de seu recente livro “Cartas do<br />
Terceiro Homem”, cujo título, como vemos, é bem<br />
indicativo <strong>da</strong> sóli<strong>da</strong> substância do livro em face dos atuais<br />
problemas sócio-econômicos <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, sendo um<br />
breviário <strong>da</strong> democracia cooperativa.<br />
Eis o trecho:<br />
“Meu caro Amigo: O cooperativismo, para mim,<br />
constitui elemento de um plano geral pe<strong>da</strong>gógico de<br />
educação autonomística do nosso povo. Como lhe disse em<br />
outra carta, o padre Didon definiu a educação como sendo<br />
a arte de emancipar os homens. Ora, a boa política, no meu<br />
modo de ver, é também uma arte de emancipar os homens;<br />
e estou na crença de que o grande político — como o<br />
grande pe<strong>da</strong>gogo — é aquêle que com a máxima<br />
simplici<strong>da</strong>de e humil<strong>da</strong>de trabalha constantemente por se<br />
tornar dispensável; que é o que treina o povo para se<br />
governar a si mesmo, com o mínimo de intervenção de<br />
quaisquer políticos.<br />
“As “pedras vivas” <strong>da</strong> população adulta, em<br />
cooperativismo integral (de que os povos escandinavos se<br />
têm aproxima- do não pouco, e também Israel) realizam a<br />
sua própria governação econômica, associativamente, — e<br />
também a sua própria educação moral, por isto que o<br />
cooperativismo é o regime econômico em que o bem de<br />
ca<strong>da</strong> homem coincide enfim com o dos outros, em que<br />
trabalhar para os demais é trabalhar para si mesmo,<br />
abolidos por completo todos os antagonismos de interêsses,<br />
tô<strong>da</strong>s as lutas de classes.<br />
“Ca<strong>da</strong> associado, na cooperativa de consumo, — é<br />
comprador a si próprio e vendedor a si próprio; na cooperativa<br />
de habitação,— o senhorio de si próprio é de si próprio inquilino;
52 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
na cooperativa de crédito, — prestamista de si próprio e a si<br />
próprio prestatário. O cooperativismo é o regime em que se<br />
não engana viv’alma, em que ninguém tem interêsse em<br />
burlar o próximo. É o que ver<strong>da</strong>deiramente corta o mal<br />
pela raiz, ou que o impede de nascer.<br />
“O cooperativismo de consumo, por êsse mesmo motivo,<br />
dispensa por completo as fiscalizações pelo Estado, pelo<br />
“país nominal”. Ali, ninguém lucraria com roubar no pêso; nin-<br />
guém ganharia com falsificar os gêneros, com elevar os<br />
preços. Ninguém, portanto, pratica êsses crimes, e não são<br />
necessárias fiscalizações contra êles.<br />
“Como ninguém, na cooperativa de consumo, recebe<br />
lucros de fonte alguma resulta que a prática de qualquer<br />
sorte de fraude é uma hipótese absur<strong>da</strong> em cooperativismo,<br />
já que se faz fraude no sistema lucrativista ùnicamente<br />
como causa de maiores lucros. Os excedentes que se cobram<br />
na cooperativa de consumo, no momento em que o sócio lá<br />
vai comprar, não são para os empregados ou<br />
administradores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, se- não que regressam no fim<br />
do ano ao próprio associado que os desembolsou. Nestas<br />
condições, o dolo é impossível. Ora, o total desaparecimento<br />
<strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de embuste não favorece sòmente o<br />
cooperador de consumo na sua quali<strong>da</strong>de de consumidor de<br />
bens, senão que além disso lhe traz poupança enquanto<br />
ci<strong>da</strong>dão que paga impostos. Como assim? E que faz<br />
desaparecer as fiscalizações, — tô<strong>da</strong> a vasta farragem, de le-<br />
gislação, de regulamentação, de “país nominal”, em suma,<br />
com que o Estado se propõe reprimir as fraudes e essa série<br />
de delitos a que se chama “crimes anti-econômicos”.<br />
“Ora, em todos os domínios em que o cooperativismo se<br />
instala, deixa de existir, de maneira completa, a necessi<strong>da</strong>de<br />
de fiscalizar e de reprimir. E melhor do que castigar é evitar<br />
o crime, ou torná-lo impossível.<br />
“Na Suíça, no dia em que a União <strong>da</strong>s Cooperativas de<br />
Consumo conseguiu triunfar sôbre o truste <strong>da</strong>s carnes, que<br />
dominava o mercado naquele país, logo se tornou absoluta-<br />
mente inútil, e foi aboli<strong>da</strong> por quem de direito, tô<strong>da</strong> a estrutu-<br />
ra policial e jurídica que tinha por objeto combater<br />
as carnes.<br />
“Pretende-se de fato suprimir tais crimes? Deseja-se acabar<br />
com as especulações nocivas, com a prática do açambarcamento<br />
para elevação dos preços, com a ven<strong>da</strong> de gêneros<br />
avariados ou falsos, com a fraude freqüentíssima que é a má<br />
pesagem? Só há um remédio radical para tudo: o de auxiliar, no<br />
maior grau possível, o desenvolvimento <strong>da</strong>s cooperativas de
FÁBIO LUZ FILHO 53<br />
consumo, pondo-as em ligação com os produtores <strong>da</strong>s coisas e<br />
fazendo-se elas produtoras também.<br />
“Porém, a autonomia econômica <strong>da</strong>s “pedras vivas” do povo<br />
deveria ser prepara<strong>da</strong> desde a instrução primária pela autonomia<br />
cívica dos escolares na escola. A meu ver, na<strong>da</strong> mais retrógrado,<br />
prejudicial e abafante do que o figurino para-militar para a<br />
educação dos moços, como na Juventude Hitleriana. O modelo<br />
<strong>da</strong> educação patriótica para os jovens não convirá buscá-lo nas<br />
tradições guerreiras, na disciplina militar, na heteronomia <strong>da</strong><br />
tropa, mas na vi<strong>da</strong> civil dos nossos concelhos antigos, dos<br />
nossos municípios modernos, e na organização democrática <strong>da</strong>s<br />
cooperativas de hoje. A disciplina dos alunos na sua vi<strong>da</strong><br />
escolar cumpriria confiá-la à sua iniciativa própria,<br />
elegendo êles mesmos os seus juizes-alunos, os seus chefes<br />
de equipe, os seus vigilantes e guar<strong>da</strong>s, e mantendo êles<br />
próprios a gerência efetiva <strong>da</strong> cooperativa escolar que os<br />
abastecesse. Percebamos que a liber<strong>da</strong>de é que é o sol <strong>da</strong>s<br />
almas”,<br />
O PENSAMENTO DE HANS MULLER<br />
E O DE FAUQUET<br />
E, tendo base moral, fica patente, segundo Hans Müller,<br />
êsse vínculo entre o cooperativismo e a moral quando se<br />
recor<strong>da</strong> que o cooperativismo na<strong>da</strong> mais é, em substância, que o<br />
princípio <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de encarnado, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de que parte <strong>da</strong><br />
idéia de que todos os homens são irmãos e têm interesses<br />
comuns. O cooperativismo é a imagem <strong>da</strong> grande ver<strong>da</strong>de que<br />
constitui a essência <strong>da</strong> doutrina moral do cristianismo, doutrina<br />
que objetiva, em uma só grande família, abolir ou conciliar as<br />
contradições dos interêsses de classe, de vocação e de povos,<br />
deixando a ca<strong>da</strong> indivíduo os seus direitos e impondo-lhe<br />
deveres, cuja execução recíproca permitirá ao homem o livre<br />
gôzo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> na paz e no bem-estar.<br />
“O cooperativismo é a paz”! — eis o famoso princípio<br />
proclamado pela organização <strong>da</strong>s cooperativas de consumo<br />
alemãs.<br />
“To<strong>da</strong>via, não se deve confundir a liber<strong>da</strong>de com o arbítrio,<br />
com o domínio ilimitado dos interêsses egoístas. Esta<br />
liber<strong>da</strong>de o cooperativismo não dá; ao contrário, ele disciplina<br />
os seus membros, impondo-lhes deveres, limitando-lhes uma<br />
linha determina<strong>da</strong> de conduta. São êsses obstáculos justamen-te,<br />
essas limitações à vontade individual que conduzem à ver-
54 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
<strong>da</strong>deira liber<strong>da</strong>de, de vez que esta consiste precisamente em<br />
ca<strong>da</strong> um submeter-se de bom grado à lei comum, aos imperativos<br />
do direito e <strong>da</strong> moral; conseqüentemente, não<br />
há liber<strong>da</strong>de onde reinar o arbítrio, a cupidez e as paixões<br />
<strong>da</strong> natureza humana”.<br />
Para Hans Müller a liber<strong>da</strong>de não consiste em se fazer<br />
tudo o que se quer, mas em saber o que se deve fazer e<br />
estar-se pronto a obedecer a êste dever sem nenhuma<br />
coerção externa.<br />
E Fauquet pensa <strong>da</strong> mesma forma. Eis, em resumo, seu<br />
pensamento social:<br />
1.º - As instituições cooperativas, filhas <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de e<br />
do espírito de associação <strong>da</strong>s classes populares, podem re-<br />
ceber, e têm efetivamente recebido, um impulso <strong>da</strong>s<br />
doutrinas que, nasci<strong>da</strong>s ao seu lado e construí<strong>da</strong>s sôbre<br />
elas, entusiasmaram os cooperadores com a visão de uma<br />
transformação social integra1 por meio <strong>da</strong> cooperação, o<br />
homem considerado como “capital biológico com valor de<br />
uso”. 2.º - Então, uma visão positiva <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de impõe a<br />
conclusão de que nem as cooperativas de consumo sòmente,<br />
nem o conjunto <strong>da</strong>s formas <strong>da</strong> cooperação, uni<strong>da</strong>s<br />
moralmente e econômicamente entre si, poderão dominar<br />
tô<strong>da</strong> a economia.<br />
3.º - Mas, o valor do setor cooperativo só depende, par-<br />
cialmente, de sua importância econômica; depende êle<br />
grande-mente dos elementos qualitativos que Introduz (ou<br />
reintroduz) na civilização.<br />
4.º - Não se tem memória histórica, e não se tem, nos<br />
dias de hoje, notícia de um só exemplo de socie<strong>da</strong>de que<br />
compreen<strong>da</strong> uma só <strong>da</strong>s formas que os economistas<br />
distinguem em abstrato.<br />
Atualmente, em ca<strong>da</strong> país do globo, inclusive a Rússia,<br />
vemos economias mistas, e a economia internacional, de<br />
que participa a própria Rússia, é, evidentemente, uma<br />
economia mista.<br />
5.º - Em tô<strong>da</strong>s as economias mistas que se podem<br />
obser-var presentemente, ou <strong>da</strong>s quais se pode ter uma<br />
visão prospetiva, através <strong>da</strong> transformação <strong>da</strong> técnica, <strong>da</strong><br />
evolução econômica e dos desenfreios políticos, persistem as<br />
pequenas uni<strong>da</strong>des e ativi<strong>da</strong>des econômicas, deixa<strong>da</strong>s à sua<br />
vontade autônoma: as proprie<strong>da</strong>des campesinas e as<br />
emprêsas artesenais.<br />
É sôbre a base destas pequenas uni<strong>da</strong>des e ativi<strong>da</strong>des<br />
econômicas, e para seu serviço, que se elevam as construções<br />
cooperativas, o cooperativismo é por isso, uma construção de<br />
baixo para cima, de caráter federalista.
FÁBIO LUZ FILHO 55<br />
6.° — As uni<strong>da</strong>des de base <strong>da</strong> construção cooperativa,<br />
são uni<strong>da</strong>des econômicas e, no sentido sociológico <strong>da</strong><br />
palavra, sociais. Têm um caráter pessoal ou familiar,<br />
identificam-se com o homem; seu agrupamento é, no sentido<br />
próprio <strong>da</strong> palavra, uma associação.<br />
Disso resulta que, às relações que ligam<br />
econômicamente as uni<strong>da</strong>des de base às emprêsas<br />
cooperativas, correspondem relações sociais e morais entre<br />
os associados.<br />
Ora, como a empresa cooperativa não absorve inteira-<br />
mente as próprias uni<strong>da</strong>des econômicas de base, mas põe à<br />
sua disposição os meios coletivos para reforçarem a sua<br />
independência, a associação cooperativa apela para os<br />
esforços pessoais ao mesmo tempo que para a união dos<br />
esforços, união que conjuga a individual e o social.<br />
7.º — O fato cooperativo, pois, não é um fato puramente<br />
econômico. Pelas fôrças morais que desenvolve, a associação<br />
cooperativa pertence inteiramente aos sociólogos, e, sòmente<br />
em abstrato e por algum de seus caracteres, aos economistas.<br />
A economia mercantil e o capitalismo a pouco e pouco<br />
separaram o econômico do social, <strong>da</strong>ndo, assim, origem às<br />
ári<strong>da</strong>s e duras reali<strong>da</strong>des que serviram de modêlo às<br />
abstrações dos economistas.<br />
Inversamente, as instituições cooperativas reintegram o<br />
econômico no social. É o esfôrço que lhes cabe na economia<br />
mista dos dias de hoje. Que elas cresçam e tomem um pôsto<br />
predominante na economia mista de amanhã; que elas cons-<br />
tituam o coração dela, para, então, têrmos uma escala de<br />
valores diversa <strong>da</strong>quela constituí<strong>da</strong> pelo predomínio <strong>da</strong>s<br />
formas capitalistas.<br />
Leva, pois, o cooperativismo a uma economia<br />
planifica<strong>da</strong>, de conteúdo social, afasta<strong>da</strong> a legião dos<br />
intermediários inúteis.<br />
Já em “Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas”<br />
fizemos sentir, desenvolvi<strong>da</strong>mente, que o cooperativismo,<br />
no seu largo conceito filosófico-econômico, visa ao amparo<br />
<strong>da</strong> pessoa humana nos torvelinhos <strong>da</strong> atual ordem<br />
econômica, oferecendo-lhe os instrumentos pacíficos para<br />
enfrentá-los, superá-los e independentizar-se, sem perecer<br />
sob o guante <strong>da</strong> exploração capitalista sem norte humano e<br />
sem freio nos seus arroubos de lucro.<br />
Nesse livro dizemos mais que, em cooperativismo, as sobras<br />
(que não implicam o ânimo de especular, exprimindo o<br />
que é pago a menos ao produtor e impôsto a mais ao consumidor<br />
pelo intermediário) são restituí<strong>da</strong>s aos produtores e con-
56 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
sumidores livremente associados sob a forma de retorno (trop<br />
perçus, ristourne, retôrno), fundos sociais, etc.<br />
Abolindo o lucro sem abolir o capital, que é formado pelo<br />
trabalho e acumulado pela economia, combate o cooperativismo<br />
os abusos do capitalismo, de viseira ergui<strong>da</strong>, com desassombro.<br />
Remunera o cooperativismo ao capital de uma maneira<br />
módica, capital, como dissemos, que êle obriga a voltar<br />
á sua ver<strong>da</strong>deira categoria de um dos fatôres <strong>da</strong> produção,<br />
subordinado ao trabalho, que fecun<strong>da</strong>.<br />
É o principio clássico de HOWARTH: a remuneração<br />
fixa ao capital; os lucros a quem contribuiu para formá-<br />
los”. É, como diz GIDE, aquêle princípio, isto é, aquela lei<br />
econômica que diz que o progresso de uma emprêsa reside<br />
menos no capital que na clientela, sendo justo que “os<br />
lucros pertençam a quem assegura a prosperi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
emprêsa”.<br />
Fica, assim, subordinado o capital aos interêsses<br />
legítimos <strong>da</strong>queles que constituem o mola vital <strong>da</strong>s<br />
associações cooperativas, tô<strong>da</strong>s elas repousando<br />
inteiramente na pessoa de seus associados, na sua fôrça de<br />
ação, na sua capaci<strong>da</strong>de de iniciativa, no seu esfôrço de<br />
produção, no seu poder de consumo.<br />
Deve evitar o espírito mercantil que é “essa disposição<br />
em ver no cooperativismo uma questão de armazém, de<br />
cêntimo a economizar ou ganhar”, sendo necessário, certo,<br />
não desdenhar os lados práticos do cooperativismo, mas<br />
não se deve esquecer tampouco que o cooperativismo tem<br />
justamente por fim superior abolir ou, pelos menos, reduzir<br />
a seu limite mínimo, em nossa organização econômica, o<br />
papel do egoísmo, do interêsse pessoal e a preocupação do<br />
lucro.<br />
O cooperativismo, racionalizando, assim, a produção, a<br />
circulação, a distribuição e o consumo <strong>da</strong>s riquezas, tem os<br />
seus postulados de pé, na voragem econômica em que o<br />
mundo se atasca e que o anemiza, Permanecem de pé, e são<br />
o caminho<br />
único para dias melhores.<br />
“Não queremos, na escola cooperativa, suprimir a concorrência<br />
nem o interêsse pessoal que dela emana: não temos essa<br />
pretensão ridícula; desejaríamos apenas despojar a concorrência<br />
de tudo o que nela existe de inútil, de caduco, de sua pele<br />
de serpente, para conservar o que há de salutar como emulação<br />
para o bem. Não acreditamos que a pressão <strong>da</strong> concorrência<br />
seja indispensável, como nos afirmam, para manter tensas as<br />
molas <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de humana. Achamos, como um dos mestres <strong>da</strong><br />
escola individualista e o inventor (antes mesmo de DARWIN) do<br />
struggle for life, HERBERT SPENCER, que
FÁBIO LUZ FILHO 57<br />
o regime econômico atual não passa de um regime transitório,<br />
de uma fase do “industrialismo belicoso”, que não durará<br />
muito tempo”. (GIDE).<br />
Como órgão de ação social, a organização cooperativa<br />
atende, pois, a tô<strong>da</strong>s as faces do problema social. Não resol-<br />
verá ela sòmente, nos campos, o problema de maior<br />
rendimento, o <strong>da</strong> comercialização, o de melhor distribuição,<br />
o <strong>da</strong> conquista dos mercados; mas, também, o <strong>da</strong><br />
higienização, o <strong>da</strong> alfabetização, o <strong>da</strong> assistência hospitalar,<br />
o <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de, e quejandos. Resolve e encaminha,<br />
se não a todos, pelos menos o maior número possível dos<br />
problemas <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de humana. Dela efluirá um elevado<br />
bem-estar coletivo, uma outra ordem de coisas, mais<br />
luminosa, mais alta, mais digna.<br />
Erigindo leis econômicas que levam à organização <strong>da</strong><br />
produção e distribuição <strong>da</strong>s riquezas sôbre bases<br />
eqüitativas e racionais, já dissemos, o cooperativismo<br />
conduz a um conceito mais elevado <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o que é<br />
condição de uma nova ordem de coisas em que as relações<br />
sociais (econômicas, políticas, jurídicas e morais) de<br />
individuo para indivíduo, de grupo para grupo e de nação<br />
para nação repousarão sôbre princípios de entendimento<br />
mútuo, afastado de seu âmbito o espírito de lucro e o<br />
egoísmo sem freio, e colima<strong>da</strong> apenas a satisfação de<br />
necessi<strong>da</strong>des humanas, tendo sempre em vista as exigências<br />
do consumo.<br />
A ação solidária nas organizações cooperativas de pro-<br />
dutores e consumidores para a defesa de Interêsses vitais, institui<br />
novos moldes para a produção e circulação <strong>da</strong>s riquezas,<br />
assumi<strong>da</strong>s funções de distribuição dentro de novos métodos,<br />
organiza<strong>da</strong> a indústria ao influxo do mesmo espírito e<br />
dignifica<strong>da</strong>s as relações financeiras, ergui<strong>da</strong>s sôbre a mesma<br />
base de aju<strong>da</strong>-mútua, humani<strong>da</strong>de e justiça.<br />
Os povos cultos do mundo moderno de há muito que se<br />
organizam cooperativamente, afirmando, assim, a<br />
existência de uma mentali<strong>da</strong>de aberta à exata compreensão<br />
<strong>da</strong>s grandes virtudes <strong>da</strong> união, que é fôrça.<br />
Libertando o produtor <strong>da</strong> entrosagem comercial que lhe<br />
absorve o melhor do lucro que deveria auferir, concorre o<br />
cooperativismo para o aumento <strong>da</strong> produção, pelos princípios<br />
de organização técnica que estabelece, e promove o aperfeiçoamento<br />
dos produtos, padronizando-os e assegurando-lhes<br />
mercados compensadores. Exerce, ademais, o cooperativismo o<br />
contrôle dêsses mercados, impossível ao produtor insulado.<br />
Assume um papel semelhante ao dos agoránomos na velha<br />
Atenas... Liga o produtor diretamente ao consumidor. Os
58 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
lucros que distribui são simples restituições do que foi cobrado<br />
a mais para as necessárias despesas <strong>da</strong> cooperativa. Chamamse,<br />
com proprie<strong>da</strong>de, “sobras”. Tem o caráter de um retôrno, de<br />
reembôlso de uma economia feita. A cooperativa não distribui<br />
seus benefícios ao capital investido na emprêsa, mas, sim,<br />
proporcionalmente ao esfôrço de ca<strong>da</strong> cooperador em beneficio<br />
<strong>da</strong> instituição que lhes presta os serviços de que necessita,<br />
valorizando-lhe a produção e barateando-lhe o consumo.<br />
Facilita, racionaliza e amplia, o cooperativismo, as condições de<br />
produção e trabalho e as possibili<strong>da</strong>des de consumo. Dá ao<br />
consumidor a sua ver<strong>da</strong>deira posição na esfera do consumo,<br />
alvo último de tô<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong>de econômica, <strong>da</strong> riqueza final.<br />
Isto tudo, dizemo-lo em “Teoria e prática”.<br />
Diz E. Poisson que as relações sociais são, certamente,<br />
econômicas, mas, igualmente, jurídicas, políticas, morais e<br />
éticas. Como tô<strong>da</strong>s as relações dos homens e <strong>da</strong>s coisas, é<br />
impossível imaginar-se que fiquem isola<strong>da</strong>s umas <strong>da</strong> outras, e<br />
que as diferentes categorias de relações sociais não se penetrem,<br />
influenciem, equilibrem ou subordinem. Grande êrro tem sido,<br />
por exemplo, tomar em si o homem econômico ou a Socie<strong>da</strong>de<br />
econômica e isolá-los <strong>da</strong>s outras manifestações <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de<br />
material e mental <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.<br />
“Temos, por conseguinte, como base essencial <strong>da</strong><br />
cooperativa, a distribuição proporcional às compras<br />
realiza<strong>da</strong>s (para as de consumo) e ao interêsse do consumidor,<br />
não sendo esta uma afirmação feita a priori nem um principio<br />
enunciado, mas o resultado <strong>da</strong> experiência. A segun<strong>da</strong> regra de<br />
existência do Cooperativismo é de ordem jurídica e nela se<br />
determina a forma de atuação e o direito dos associados.<br />
“O Cooperativismo é de essência democrática ou, mais<br />
exatamente, de self-self administração (administrar-se a si<br />
mesmo), como dizem os inglêses. Esta consiste na igual<strong>da</strong>de<br />
de direitos dos associados para a sua atuação. E uma regra<br />
de direito que se resume numa fórmula inglêsa,<br />
singelamente expressiva: one man, one vote (um homem, um<br />
voto).<br />
E acentua que o cooperativismo é um modêlo de<br />
administração própria, um exemplo de república, república<br />
concebi<strong>da</strong> como os bens de todos administrados por todos...<br />
A soberania <strong>da</strong> assembléia para a direção de uma emprêsa,<br />
constitui a fórmula de atuação de tô<strong>da</strong>s as organizações<br />
coletivas.<br />
Essa questão do regime de votação, é, pois, nas socie<strong>da</strong>des<br />
cooperativas, um ponto pacífico.<br />
E Georges Lasserre caracteriza a socie<strong>da</strong>de cooperativa de<br />
consumo como uma ver<strong>da</strong>deira emprêsa repousando sôbre o
FÁBIO LUZ FILHO 59<br />
interêsse pessoal de seus membros, os consumidores<br />
associados, que são plenamente responsáveis pelos seus<br />
reultados financeiros. Eles formam, a êste respeito, um corpo<br />
homogêneo, e o diretor tem atrás de si não delegados de<br />
interêsses opostos como nas emprêsas nacionaliza<strong>da</strong>s de<br />
gestão triparti<strong>da</strong>, mas uma equipe de administradores que<br />
representa o ponto-de-vis- ta dos consumidores.<br />
O cooperativismo socializa o lucro, devolvendo-o aos<br />
consumidores sob a forma de retôrno. Deste modo faz mais<br />
do que trocar a sua distribuição; ela modifica<br />
profun<strong>da</strong>mente a sua natureza. O lucro deixa de ser uma<br />
ren<strong>da</strong>, no senso econômico ou fiscal <strong>da</strong> palavra; o retôrno é<br />
um simples reembôlso de um adiantamento, uma economia<br />
sôbre o preço de compra. O capital não dá direito senão ao<br />
juro. Melhor que outra qualquer, a solução cooperativa assegu-<br />
ra a predominância do interêsse geral. As cooperativas são<br />
também pequenas repúblicas econômicas autônomas de<br />
consumidores.<br />
O COOPERATIVISMO E PODER<br />
“O Cooperativismo é poder, já o disse um escritor<br />
argenti-no. Poder construtivo cuja ação evolutiva cria,<br />
dentro <strong>da</strong>s relações normativas do Estado, uma ordem<br />
democrática de fôrça defensiva.<br />
“Sua livre função criadora está condiciona<strong>da</strong> ao clima<br />
libérrimo que outorga a liber<strong>da</strong>de integral, graças à qual o<br />
indivíduo, como ente jurídico-social, há-de conservar o<br />
domínio absoluto de sua personali<strong>da</strong>de psico-biológica.<br />
“A associação volitiva de livre acesso e adesão voluntária<br />
que configura, entre outros princípios diretivos, a origem do<br />
cooperativismo, resume, implicitamente, a autodeterminação<br />
pessoal-jurídica <strong>da</strong> massa humana e, por isto, a essência po-<br />
lítico-social do Estado. Mas, quando por aberrações de con-<br />
cepção, o poder estatal legisla sôbre a personali<strong>da</strong>de<br />
individual do ente societário e sôbre a massa “dirigi<strong>da</strong>”,<br />
exerce mero papel mecânico dentro <strong>da</strong> entrosagem estatal,<br />
o cooperativis- mo livre asfixia-se, como tô<strong>da</strong> a concepção<br />
espiritual do artista quando é acorrenta<strong>da</strong> a expressão<br />
criadora <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de.<br />
“Na ação fecun<strong>da</strong> do cooperativismo livre, o bem e a jus-<br />
tiça que emanam de seu profundo conteúdo social, são poder.<br />
Sumo poder defensivo. Poder dinâmico e coletivo, cujo exercício<br />
e apostolado favorece, estimula, e envolve a superacão moral<br />
e intelectual <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de humana. No plano econômico,
60 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
filosófico e moral, nenhum sistema econômico ensaiado até<br />
esta <strong>da</strong>ta tem, como o cooperativismo livre, maior alcance social<br />
nem nenhum se identifica mais harmônicamente com os<br />
princípios básicos <strong>da</strong> democracia integral”.<br />
CLASSIFICAÇAO DE COOPERATIVAS — O DIREITO<br />
COOPERATIVO<br />
Seria longo enumerar vários esquemas de classificação<br />
e quase impossível chegar-se a uma classificação natural<br />
<strong>da</strong>s cooperativas, como já foi acentuado,<br />
Há classificações de Lavergne, Cauwès, Smith Gordon<br />
y C. O’Brien, do Instituto Internacional de <strong>Agricultura</strong> de<br />
Roma (ver “Teoria e Prática <strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des<br />
Cooperativas”), de Gide, de Fay, de Hans Müller, Bórea,<br />
Kaufmann, Lewis Cecil Gray, de Valenti, Liefmann,<br />
Krüger, Wollemborg, Totomianz, e outras, como veremos<br />
adiante, sem falar nas definições que várias leis dão,<br />
inclusive a brasileira, 22.239, de dezembro de 1932.<br />
Poderemos resumí-las como se segue, frisando que<br />
Juan Gascón disse bem: “No ha de perderse de vista que<br />
to<strong>da</strong> definición estricta y muy detalla<strong>da</strong> tiene el riesgo de<br />
dejar fuera enti<strong>da</strong>des ver<strong>da</strong>deramente cooperativas; como,<br />
inversamente, las definiciones muy amplias y sintéticas<br />
tienen el grave mal de <strong>da</strong>r cabi<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong>des de muy<br />
distinto carácter”. Ao nosso ver, a lei brasileira 22,239,<br />
apesar de suas falhas e deficiências, guardou um justo meio<br />
na sua classificação e definiu-as mui bem como socie<strong>da</strong>des<br />
de pessoas naturais de caráter jurídico sui-generis. A<br />
prática brasileira também vem provando o acêrto do<br />
raciocínio do professor Gascón.<br />
Eis as formas fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong>s cooperativas<br />
econômicas:<br />
1.º— São cooperativas de consumidores as que têm por<br />
fim a distribuição de coisas ou a prestação de serviços para<br />
o<br />
consumo, o uso, pessoal ou doméstico, dos seus associados e<br />
suas famílias.<br />
2.º — São cooperativas de produtores em geral aquelas<br />
cujos membros, de profissões idênticas ou afins e de<br />
irterêsses homogêneos, se associam como o objetivo de<br />
trabalhar em comum na produção de serviços ao público.<br />
3.° As cooperativas de crédito (as de seguros poderiam<br />
enquadrar-se aqui), ou as seções desta espécie, têm por objetivo<br />
receber depósitos, fazer adiantamentos, empréstimos e<br />
descontos, cobranças e pagamentos por conta dos associados,
FÁBIO LUZ FILHO 61<br />
assim como prestar-lhes os serviços bancários de que neces-<br />
sitem, e realizar quaisquer operações que sejam complementares<br />
ou sirvam para sua melhor efetivação.<br />
Os empréstimos ou créditos se farão ùnicamente aos<br />
associados, tendo em consideração as suas necessi<strong>da</strong>des, sua<br />
capaci<strong>da</strong>de, garantias ofereci<strong>da</strong>s; nas de crédito agrícola, sempre<br />
para fins reprodutivos.<br />
4.º — As cooperativas de seguros operarão com seus<br />
associados em regime de mutuali<strong>da</strong>de. No caso de estabe-<br />
lecerem prêmios fixos, o retôrno será na proporção dos<br />
prêmios pagos.<br />
5.º — Cooperativas de serviços (de eletrici<strong>da</strong>de telefôni-<br />
cas, etc.).<br />
6.°— Não se exclui a possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criação de<br />
cooperativas de outras mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des não incluí<strong>da</strong>s na<br />
enumeração acima, as quais serão considera<strong>da</strong>s de<br />
categoria indetermina<strong>da</strong> e assemelha<strong>da</strong>s àquelas que<br />
oferecerem mais aproxima<strong>da</strong> analogia, entre elas as<br />
cooperativas de funções múltiplas, que serão classifica<strong>da</strong>s<br />
pela ativi<strong>da</strong>de central, quando esta tiver predominância;<br />
não o tendo serão classifica<strong>da</strong>s de mistas. (Ver “Teoria e<br />
prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas” e “Crédito agrícola e<br />
problema agrário”, do autor).<br />
O DIREITO COOPERATIVO<br />
As leis, segundo os juristas, já o dissemos, atravessam<br />
três fases sucessivas, três formas evolutivas: costumes,<br />
jurisprudência, legislação. São reflexos de costumes, que a<br />
jurisprudência sanciona, costumes que, por fôrça de uma<br />
prática diuturna, assumem afinal uma feição de<br />
obrigatorie<strong>da</strong>de que as leis, após a jurisprudência,<br />
consubstanciam. Mas é preciso notar, com Ihering, que<br />
nem sempre as leis espelham costumes, nem sempre são o<br />
reflexo objetivo de determinados sentimentos populares, de<br />
determinados sentimentos jurídicos, como outros<br />
sentimentos podem não ter sua objetivação em formas<br />
jurídicas. Ihering mostrou que haveria engano se fôssemos<br />
aquilatar <strong>da</strong>s relações reais que em Roma havia entre pai e<br />
filho pela sua expressão jurídica...<br />
Palante diz que Max Nor<strong>da</strong>u mostrou a distância<br />
muitas vêzes existente entre as nossas instituições e as<br />
nossas ver<strong>da</strong>deiras crenças, entre a nossa prática social e o<br />
nosso pensamento íntimo. A nossa vi<strong>da</strong> é, em parte,<br />
símbolo, simulacro, mentira...
62 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Paulhan, em “La morale de l’ironie”, frisa também êsse<br />
antagonismo perene entre a consciência social e a consciência<br />
do indivíduo, sempre desejoso de se despear de coerções de<br />
qualquer espécie, para <strong>da</strong>r ampla expansão ao seu direito na-<br />
tural de viver...<br />
Logo é evidente que as leis têm, muitas vez, um caráter<br />
fictício; são, muita vez, falhas e mancas, mòrmente_quando<br />
apriorísticas e emana<strong>da</strong>s <strong>da</strong> casuística bizantina . . .São<br />
muita vez formas coercitivas do Estado, quando sua<br />
interferência muito se estende por determinados domínios<br />
sociais, nota<strong>da</strong>-mente no campo <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de econômico-<br />
social. O Estado com ativi<strong>da</strong>des pioneiras ou supletivas,<br />
compreende-se, mòrmente em países subdesenvolvidos.<br />
Na esfera de certas manifestações sociais essa interferên-<br />
cia deve fazer-se, a nosso ver, dentro de uma medi<strong>da</strong> prudente<br />
e discreta.<br />
Já dissemos que nasceu o cooperativismo, como assina1a<br />
Gide, <strong>da</strong>s entranhas mesmas do povo. Não saiu êle dos flancos<br />
de um cenáculo de sapientes, como frisa Luzzatti, nem do ceio<br />
do capitalismo. Surgiu humildemente sôbre uma base de<br />
completa soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana, de integral reciproci<strong>da</strong>de de<br />
direi-tos e deveres. Promanou de uma fonte modesta e<br />
obscura.<br />
Em 1844, 28 pobres tecelões inglêses, premidos pelo<br />
guante de uma organização social geradora dessa hipertrofia<br />
capitalística centralizadora que encruece e aniquila,<br />
lançaram, co- mo vimos, em Toad Lane as bases de uma<br />
organização econômica genial, com um “admirável instinto<br />
<strong>da</strong> evolução histórica e incomparável gênio prático”.<br />
Alicerçaram essa obra de gigantes em princípios de bronze,<br />
os quais lhe constituem a essência imutável através dos<br />
tempos, princípios antes os quais os próprios corifeus <strong>da</strong><br />
economia clássica capitularam.<br />
E temos acentuado mais: com o cooperativismo, na<br />
pureza clássica roch<strong>da</strong>liana, se exerce de uma maneira<br />
completa, eficiente e empolgante, a ação social e econômica<br />
<strong>da</strong>s classes que produzem e consomem, as quais terão<br />
assegura<strong>da</strong> definitivamente a sua interferência, “consciente e<br />
intencional”, na produção e distribuição coletivas e<br />
racionaliza<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s riquezas não com fins de lucro, mas para<br />
que sejam essas riquezas con-sumi<strong>da</strong>s, satisfazendo<br />
necessi<strong>da</strong>des humanas, potencializados esses elementos de<br />
fôrça laboriosa, que se congregam, sôbre um plano<br />
associativo, na defesa de interêsses comuns.<br />
Como asinala Brentano, desenvolvem, as cooperativas,<br />
nota<strong>da</strong>mente as de produção, pela soma de fôrça moral e de inte-
FÁBIO LUZ FILHO 63<br />
ligência que exigem, as facul<strong>da</strong>des morais e intelectuais dos<br />
que se reunem sob o seu lábaro de emancipação.<br />
“Em um mundo de liber<strong>da</strong>de caótica, tenta criar uma nova<br />
ordem econômica, e utiliza o poder de uma idéia fazendo-a<br />
servir de base a novas relações econômicas”,<br />
Traça, assim, o cooperativismo os lineamentos de um<br />
mundo novo, que se caracterizará por uma fisionomia<br />
econômica nova, por uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de nova de vi<strong>da</strong><br />
econômica e social. E êle um elemento educacional de<br />
inestimável valor ideológico, um ponderoso fator de<br />
desenvolvimento do sentido <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana, <strong>da</strong><br />
consciência social e moral nas relações entre indivíduos e<br />
nações, modificando fun<strong>da</strong>mentalmente o embasamento<br />
econômico-social vigente, cujos quadros se tornam, dia a<br />
dia, mais angustiantes.<br />
Visando o cooperativismo a dispensar o intermediário,<br />
a abolição do lucro no sentido de ganho ilícito, sem abolir o<br />
capital na sua justa compreensão de capital-economia, produtores<br />
e consumidores livremente associados, por<br />
meio dêsse instituto eqüanime e dinâmico, na estrita<br />
observância de seus princípios morais, sociais e econômicos<br />
fun<strong>da</strong>mentais, já vão dispensando o intermediário em<br />
países de civilização secular e em países novos americanos.<br />
Afastado o intermediário desnecessário, individualista<br />
e oneroso, repetimos, cristalização, exponência de um<br />
regime econômico de embuste, sem peias na sua inconti<strong>da</strong>,<br />
inacogulável ambição, as fôrças que produzem e<br />
consomem, “desproletarizando-se”, terão uma “intervenção<br />
direta na produção e distribuição”, adquirindo, no cadinho<br />
do altruísmo, aptidões que as habilitam a “uma ação<br />
econômica bem superior à <strong>da</strong> economia capitalista”, cujo<br />
crepúsculo, prenhe de sombras, tudo indica estar<br />
começando com essa enervante atmosphera de apreensões<br />
que pesa sôbre o mundo, no presente momento, como uma<br />
tremen<strong>da</strong> cúpula de chumbo, levando, certo, à derroca<strong>da</strong><br />
inevitável, formas econômicas em declínio... É o estertor do<br />
velho direito quiritário, como já vaticinou Gide...<br />
É, assim, o cooperativismo “uma forma de ativi<strong>da</strong>de<br />
econômica conscientemente, livremente, delibera<strong>da</strong>mente<br />
empreendi<strong>da</strong> pelos homens”, em contraposição à<br />
“produção autoritária”, como diz Brouchère.<br />
Já vimos como o cooperativismo cria valores morais, sociais<br />
e econômicos, constituindo a fórmula de emancipação<br />
econômica, moral e social que lançará as bases <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> econômico-social<br />
do amanhã. Sob sua bandeira irisa<strong>da</strong> já se abri-<br />
gam milhões de pessoas, a prova mais alta de seu grande espi-
64 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
rito e a maior realização de concórdia entre os homens, imenso<br />
facho de luz colocado diante de um mundo convulso e<br />
expectante.<br />
Já frisamos que Bastiat dissera que a socie<strong>da</strong>de inteira<br />
não é mais do que um conjunto de interêsses que se cruzam. .<br />
. E Patten faz referência à economia <strong>da</strong> alegria e do prazer,<br />
saudáveis, fecundos, fraternizadores...<br />
Diz Sombart (“O apogeu do capitalismo”), que as coope-<br />
rativas econômicas representam, pelo seu “criterium” subs-<br />
tancial, construções auxiliares destina<strong>da</strong>s a manter e a re-<br />
forçar não só formas econômicas pré e extra-capitalistas,<br />
que são artesanato e a economia campesina, serão também<br />
a economia de consumo privado. Sob a forma de cooperati-<br />
vas de consumo trazem os germes de uma organização eco-<br />
nômica supracapitalista.<br />
É um movimento que faz do consumo a base do sistema<br />
de distribuição organizando a produção pelo consumo.<br />
Bernard Shaw já teve a antevisão dêsse fenômeno quan-<br />
do disse que aquêles que acreditam como fixo o atual sistema<br />
de distribuição se fossilizam...<br />
O cooperativismo coloca em seu devido plano a<br />
digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pessoa humana.<br />
O cooperativismo é, em substância, um movimento de<br />
idéias econômico-sociais que visa ao interêsse do consumidor<br />
pela fixação do justo preço para as riquezas de uso e as<br />
riquezas de consumo, afasta<strong>da</strong> a intermediação<br />
desnecessária e inútil e ajudenga<strong>da</strong>.<br />
De Cossa e Valenti a, modernamente, Cassel, etc., a con-<br />
ceituação de bens econômicos continua a mesma.<br />
As características essenciais dos bens econômicos são a<br />
exteriori<strong>da</strong>de, a acessibili<strong>da</strong>de e a transferência ou “transfe-<br />
ribili<strong>da</strong>de”. Há bens de consumo e bens duradouros.<br />
Os economistas frisam que os bens de consumo são os<br />
bens materiais que, pelo seu emprêgo, se consomem, isto é,<br />
cessam de existir como tais. O consumo final está na natu-<br />
reza do emprêgo dos alimentos.Coisas existem que<br />
participam dos dois caracteres dos bens de consumo e dos<br />
bens duradouros. No entanto, não se deve considerar como<br />
consumação sòmente o consumo ou a combustão; todo<br />
emprêgo mediante o qual o bem deixa de existir como bem<br />
<strong>da</strong> mesma espécie, é consumo. O ferro de uma locomotiva é<br />
consumido, deixando, assim, de ser bem duradouro para ser<br />
bem de consumo, que é a satisfação de uma necessi<strong>da</strong>de.
FÁBIO LUZ FILHO 65<br />
Há riqueza de uso (uma máquina, uma casa, uma carroça,<br />
um livro) e riqueza de consumo (os alimentos).<br />
No plano cooperativo há classificações que definem como<br />
cooperativas de consumidores as que fornecem aos seus<br />
associados os gêneros, produtos ou mercadorias necessárias às<br />
suas ativi<strong>da</strong>des de produção: sementes, adubos, insetici<strong>da</strong>s,<br />
máquinas agrícolas, etc., e matérias- primas para o artesanato,<br />
etc. Tratadistas há que consideram como cooperativas de consumo<br />
as que vendem ou alugam casas, fornecem eletrici<strong>da</strong>de,<br />
fôrça motriz, gás, água, transportes, crédito, assistência, ou se<br />
dedicam à conservação ou à ven<strong>da</strong> de produtos agrícolas ou<br />
para o artesanato, no sentido de atender a certas fases do<br />
trabalho.<br />
Há quem coloque o próprio crédito na esfera do consumo<br />
de serviços, como o são também o seguro, os serviços<br />
domésticos (casa), a eletrici<strong>da</strong>de, o telefone, a lavan<strong>da</strong>ria,<br />
assistência médica e farmacêutica, o entêrro, o ensino, o<br />
concurso e o registro para o gado, etc.<br />
Lavergne considera cooperativas de consumidores tô<strong>da</strong>s as<br />
socie<strong>da</strong>des de produção, de ven<strong>da</strong> e seguros constituí<strong>da</strong>s entre<br />
consumidores para satisfazer, ao mais baixo preço possível,<br />
suas necessi<strong>da</strong>des pessoais ou familiares.<br />
Valenti classifica as cooperativas de consumidores em: “per<br />
la sussistenza”, “d’assiscurazione”. As “rurais” “per l’acquisto<br />
di materie e strumenti, di credito, d’assicurazione”.<br />
A atual lei brasileira, considerando a cooperativa como<br />
revestindo uma forma jurídica sui-generis, define as coope-<br />
rativas de consumo com justeza, caracterizando-as como<br />
aquelas que têm por escopo aju<strong>da</strong>r a economia doméstica,<br />
adquirindo, o mais diretamente possível ao produtor, ou a<br />
outras cooperativas, os gêneros de alimentação, vestuários e<br />
outros artigos de uso e consumo pessoal e doméstico, <strong>da</strong><br />
família ou do lar, distribuindo-os nas melhores condições de<br />
quali<strong>da</strong>de e preço aos consumidores associados, no interesse<br />
dos quais pode ain<strong>da</strong> prover a outros serviços afins, e conver-<br />
tendo em economia, a favor dos mesmos consumidores, os<br />
eventuais resultados líquidos verificados pelo balanço.<br />
Nesse final está contido um dos princípios basilares, re-<br />
volucionários e estelares, do movimento cooperativo no mundo:<br />
o retôrno, um dos pilares de sua filosofia embasa<strong>da</strong> na justiça<br />
distributiva, humanando as relações entre as gentes.
66 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
O CARÁTER CIVIL<br />
Acentuamos em “Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des coope-<br />
rativas” que os tratadistas se reportam a dois critérios para a<br />
diferenciação entre socie<strong>da</strong>des comerciais e socie<strong>da</strong>des civis: o<br />
objeto e a forma. A forma, pela legislação brasileira, está<br />
fora de cogitação, de vez que a lei as considera como<br />
socie<strong>da</strong>des de pessoas e não de capitais, de forma jurídica<br />
sui-generis. Resta o objeto.<br />
As socie<strong>da</strong>des são civis ou comerciais segundo seu<br />
objeto. É a natureza <strong>da</strong>s operações que define a socie<strong>da</strong>de:<br />
atos civis ou atos comerciais, que muitos consideram um<br />
ato de circulação — a compra segui<strong>da</strong> <strong>da</strong> ven<strong>da</strong>.<br />
Frisam ain<strong>da</strong> os tratadistas que todos os atos<br />
realizados na circulação dos bens devem ser comerciais,<br />
excetuado o ato do produtor inicial que coloca o produto<br />
em circulação e o ato do consumidor final, que o absorve<br />
ou usa pessoalmente, retirando-a <strong>da</strong> circulação.<br />
A essa definição material outros juntam o elemento<br />
intelectual e o <strong>da</strong> finali<strong>da</strong>de, o animus lucri.<br />
Na órbita do direito cooperativo, o caráter civil <strong>da</strong>s<br />
cooperativas em geral tem o apoio de grandes nomes, de<br />
luminosos e consagrados nomes. Colocando o<br />
cooperativismo na base de sua estruturação o princípio<br />
democrático, o “respeito profundo pela pessoa humana”, e<br />
a norma do retôrno, isto é, a distribuição <strong>da</strong>s sobras na<br />
proporção do volume <strong>da</strong>s operações efetua<strong>da</strong>s com a<br />
cooperativa pelos associados, realiza êle uma fórmula feliz<br />
de harmonia entre os homens, estabelece uma nova<br />
distribuição <strong>da</strong> riqueza, eliminando a ren<strong>da</strong> sem trabalho e,<br />
conseqüentemente, o lucro no sentido de ganho ilícito; erige<br />
um principio econômico novo, principio plasma-dor<br />
<strong>da</strong>quela economia nova acima referi<strong>da</strong>, lei fisiológica do-<br />
minadora. Colocando os seus interêsses em comum,<br />
dirigidos pela ação solidária, uma admirável fôrça de<br />
defesa e propulsão, produtores e consumidores levantam os<br />
alicerces de uma nova ordem econômica de coisas, os<br />
fun<strong>da</strong>mentos de uma economia organiza<strong>da</strong>, planifica<strong>da</strong>.<br />
Não vendendo ao público as cooperativas de consumo são<br />
civis, isto é, conservam-se dentro <strong>da</strong> concepção econômica<br />
doutrinária e <strong>da</strong> definição jurídica. Vendendo ao público não<br />
estão mais no estágio final do processo distributivo; <strong>da</strong>í serem<br />
considera<strong>da</strong>s mercantis por algumas legislações, inclusive a<br />
brasileira.
FÁBIO LUZ FILHO 67<br />
Outros acentuam que o elemento intelectual existe nas<br />
cooperativas de consumo mesmo quando vendem ao público,<br />
de vez que nunca existe a “intenção do lucro”.<br />
Nas agrícolas de ven<strong>da</strong>, e mesmo nas de transformação,<br />
não existe o elemento de base <strong>da</strong> comerciali<strong>da</strong>de, como não<br />
existe nas de crédito, mesmo com operações acessórias, e o uso<br />
de simples instrumentos ou efeitos comerciais (utilizam também<br />
os Juros fixos, sem que isto lhe dê o animus lucri).<br />
Coutant frisa que os atos de ven<strong>da</strong> e os de compra do<br />
agricultor, e os de compra do consumidor, são atos civis,<br />
no que acompanha uma tese pacífica, de que Ramadier, na<br />
França, foi um dos paladinos, renovando conceitos que<br />
Rodino já emitira ao considerar que as cooperativas não<br />
são comerciais nem civis e, sim, sui-generis, o que é<br />
também o ponto de vista de Leiserson.<br />
O man<strong>da</strong>to corresponde a um ato que o associado faria por<br />
sua própria conta. A cooperativa representa o associado.<br />
Charles Gide, aludindo ao Sermão <strong>da</strong> Montanha, frisou<br />
que o cooperativismo traduz, em têrmos econômicos atuais,<br />
a beleza dos ditames morais célebres que constituem a<br />
essência do cristianismo. “Fazei aos homens tudo quanto<br />
quereis que êles vos façam”...<br />
Acha Hans Müller que o cooperativismo trabalha não<br />
para erguer uma tôrre de Babel, mas, sim, para lançar os<br />
fun<strong>da</strong>mentos de uma “civilização humaniza<strong>da</strong>”,<br />
“A cooperativa de consumo aju<strong>da</strong> a criar os fun<strong>da</strong>mentos<br />
econômicos de uma civilização social <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de isenta <strong>da</strong><br />
exploração indigna do homem pelo homem”.<br />
Como vemos, é alcandorado o ideal colimado, e<br />
constitui a base <strong>da</strong> Escola de Nimes.<br />
Mafeo Pantaleoni, o grande autor de “Princípios de Economia<br />
Pura”, ilustre professor, que foi, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Roma<br />
e que de maneira tão lúci<strong>da</strong> e incisiva expôs os teoremas<br />
hedônicos, disse que a idéia cooperativa é uma idéia viril; é<br />
idéia dos que não querem ficar nas condições de salário, dos<br />
que não querem sujeitar-se aos preços impostos pelos<br />
comerciantes: é uma idéia de emancipação e de rebelião,<br />
alicerça<strong>da</strong>, social e moralmente, no sentimento <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />
humana, “num viril esfôrço de autodefesa dos mais fracos, que<br />
buscam a fôrça na união”, simboliza<strong>da</strong> no clássico feixe de<br />
varas, visando, como já o disse, a uma economia de serviço e<br />
não de lucro.
68 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
AINDA O DIREITO COOPERATIVO<br />
Acabo de receber do ilustre professor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de<br />
Madri, o dr. Juan Gascón Hernandez, seu último trabalho<br />
“Derecho Cooperativo”.<br />
Nêle assinala Juan Gascón que já existe, pode dizer-se<br />
um “Direito Cooperativo” o qual “no es uma rama del De-<br />
recho público, ni tampouco del Derecho privado, sino que<br />
se trata de un Derecho económico social... vestidura jurídica<br />
de un fenómeno económico social. El estudio de las defini-<br />
ciones analiza<strong>da</strong>s por Gascón y Miranión (autor <strong>da</strong> excelente<br />
lei espanhola de 1931, com Fabra Ribas e Ventosa Roig<br />
e ilustre publicista espanhol especializado, já falecido, pai do<br />
professor Juan Gascón) en 1932 puede ampliarse hoy con los<br />
trabajos notables de Leiserson, Fábio Luz Filho, Coutant<br />
Digby, Surridge, Salinas Puente, Fabra Ribas, Laszlo Valko e<br />
demais autores que se han ocupado del régimen jurídico de<br />
las cooperativas. . .”<br />
Vai-se corporificando, assim, no mundo, um Direito<br />
Cooperativo, dentro <strong>da</strong> concepção de Merkel, de que a norma<br />
jurídica corresponde a sentimentos e idéias dominantes em<br />
determinado período histórico, do que deflui a fôrça<br />
obrigatória do Direito, com os seus elementos subjetivos.<br />
Leiserson. acentua, com raciocínio preciso, que “la<br />
cooperación como un complejo de vinculaciones económicas<br />
pro- duto de la vi<strong>da</strong> social, <strong>da</strong> nacimiento también<br />
necesariamen- te, a relaciones jurídicas y a um derecho que<br />
le es propio”.<br />
Lucien Coutant, recentemente, disse, com acêrto, que no<br />
domínio cooperativo, “les échecs contribuèrent autant que les<br />
succès à modeler peu a peu cette coutume qui prit ensuite<br />
figure de droit pour pénéter enfin <strong>da</strong>ns la légisiation”.<br />
E Salinas Puente, o ilustrado causídico mexicano, em<br />
“Derecho Cooperativo” diz que o direito não tem, na<br />
concepção moderna, um caráter puramente repressivo ou<br />
estático; pelo contrário, tende a ser, ca<strong>da</strong> vez mais, um fator de<br />
progresso coletivo. Os interêsses isolados dos indivíduos e <strong>da</strong>s<br />
minorias privilegia<strong>da</strong>s se vão deslocando ante o imperativo dos<br />
setores majoritários <strong>da</strong> população; desta maneira, afirma-se a<br />
idéia do interesse social em cuja função se resolvem os grandes<br />
problemas contemporâneos. E o novo direito existe por si e para
FABIO LUZ FILHO 69<br />
si; não é uma enteléquia, senão um meio para obter o equilí-<br />
brio e o bem-estar <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des humanas.<br />
“Parte integrante dêste grande movimento criador, o Direito<br />
Cooperativo repousa sua estrutura sôbre alicerces novos de<br />
profundo conteúdo humano”.
CAPÍTULO III<br />
O VALOR PEDAGÓGICO DAS COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
AS COOPERATIVAS NA EDUCAÇÃO DE BASE<br />
O estágio do “pensamento conceitual” vai dos 7 aos 9<br />
anos; <strong>da</strong>í em diante é o do “pensamento relacional”, o “appel<br />
de l’ainé”, o “la règle oblige”.<br />
A i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> razão, segundo J. Hermeut, começa aos sete<br />
anos. São idéias de causa, de fim, de duração, do justo, do bem<br />
e <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de, isto é, as noções e os princípios chamados<br />
primários que não têm para a criança, até aos sete anos,<br />
precisão e nitidez, e são mais sentidos do que compreendidos.<br />
A posse dos primeiros princípios e <strong>da</strong>s ver<strong>da</strong>des primárias<br />
inicia a criança na vi<strong>da</strong> ativa do raciocínio. A criança entra no<br />
uso <strong>da</strong> razão por efeito de esforços constantes de uma educação<br />
bem conduzi<strong>da</strong> pela qual a inteligência e a razão hão-de atingir<br />
um alto grau de fôrça e de clareza.<br />
“A aprendizagem infantil, dí-lo Gonçalves Viana, deve<br />
começar a fazer-se na vi<strong>da</strong> e acabar pelo livro. A ordem inversa<br />
é antinatural e parece contra-indica<strong>da</strong>”.<br />
M. Colombain em “Les coopératives et l’éducation de<br />
base”, acentua que, reproduzindo em miniatura a forma de<br />
cooperativas de compras, ou de crédito, ou de ven<strong>da</strong>, ou de<br />
produção, ou de cultura, ou de criação, exercendo, muitas<br />
vêzes, várias dessas funções a um só tempo, as cooperativas<br />
escolares têm ativi<strong>da</strong>des que variam segundo os países, as<br />
necessi<strong>da</strong>des, e os recursos utilizáveis: compra em comum de<br />
artigos de papelaria e manuais escolares, algumas vezes objetos<br />
de enfeite e matérias-primas para trabalhos manuais,<br />
organização de restaurantes cooperativos; tipografias;<br />
incentivo à economia; empréstimos; fabricação de objetos<br />
diversos em madeira, metal, etc; trabalhos de agulha,<br />
tecelagem, etc; produção agrícola ou hortícola; criação de<br />
animais e ven<strong>da</strong> de produtos; florestamento e reflorestamento;<br />
constituição de blbl1otecas; organização de conferências e<br />
festas de juventude; corais e socie<strong>da</strong>des dramáticas; educação<br />
física e desportos; embelezamento <strong>da</strong> escola; criação de museus<br />
escolares e constituição
FÁBIO LUZ FILHO 71<br />
do material didático, etc. “Dans la plupart des cas une<br />
même société embrasse plusieurs de ces activités à la fois”.<br />
O objetivo econômico <strong>da</strong>s cooperativas escolares é, de um<br />
lado, o escolar, o aluno (procurando-lhe recursos ou<br />
aliviando-lhe os encargos financeiros do período <strong>da</strong><br />
escolari<strong>da</strong>de) e o outro, a própria escola.<br />
“D’autre part, de l’avis des éducateurs qui ont fait<br />
l’expérience, elle est elle-même, <strong>da</strong>ns son fonctionnement,<br />
un instrument, une méthode et un milieu de formation<br />
intellectuelle et morale”.<br />
Juan Gascón acentuou que não será possível separar a<br />
tarefa de fun<strong>da</strong>r cooperativas <strong>da</strong> de desenvolvimento e<br />
penetração do espírito cooperativo. Julga, por isso, que o<br />
impulso que se desejar <strong>da</strong>r às cooperativas escolares será<br />
totalmente inútil se não fôr realizado, concomitantemente,<br />
um programa de ensinamentos e difusão.<br />
“As cooperativas escolares têm de ser considera<strong>da</strong>s<br />
como um processo educacional e como uma forma de<br />
despertar o interêsse pelo cooperativismo”.<br />
A cooperativa escolar é, assim, o veículo adequado<br />
para essa meta ideal. Aplicam-se à mesma os mesmos<br />
princípios que norteiam qualquer cooperativa. Nas<br />
cooperativas escola-res, o objetivo educativo é, como se vê,<br />
o fim e o econômico é o meio, um instrumento de educação<br />
ativa. Visam a despertar e a manter vivo o sentimento de<br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de moral e social. São elas considera<strong>da</strong>s pelos<br />
educadores como instrumentos preciosos de educação<br />
geral, de educação econômica e de educação cívica. Cabem,<br />
pelas suas altas finali<strong>da</strong>des, dentro <strong>da</strong> concepção dessa<br />
escola nova e ativa.<br />
As cooperativas escolares têm um duplo caráter de<br />
utili<strong>da</strong>de e de educação, como processo econômico de<br />
aquisição e de distribuição de material didático nas<br />
melhores condições de quali<strong>da</strong>de e preço.<br />
São os alunos assessorados pelos professôres e têm liber<strong>da</strong>de<br />
de ação, naturalmente com as limitações naturais, de<br />
vez que a cooperativa funciona dentro <strong>da</strong> escola e é um órgão<br />
educativo. As práticas agrícolas entram também em sua órbita<br />
de ação, por conta própria ou em consonância com os clubes<br />
agrícolas, que podem integrar seus objetivos. Agindo, atuando,<br />
fazendo, a criança adquire quali<strong>da</strong>des de receptivi<strong>da</strong>de, de<br />
discernimento, de iniciativa e de disciplina. A cooperativa<br />
escolar modela futuros ci<strong>da</strong>dãos, conscientes e ativos,<br />
convictos de que a pessoa humana deve merecer acatamento e<br />
mover-se num clima democrático, de mútua compreensão, de
72 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
disciplina social livremente consenti<strong>da</strong>, de ação livre, mas li-<br />
mita<strong>da</strong> pelo direito dos outros. Aprende que as necessi<strong>da</strong>des<br />
devem ser satisfeitas de modo justo, com a distribuição <strong>da</strong>s<br />
utili<strong>da</strong>des e a prestação de serviços nas melhores condições<br />
de quali<strong>da</strong>de e preço. Trabalhando sem fito de lucro,<br />
formam uma mentali<strong>da</strong>de nova, que suavizará ou<br />
humanizará os contactos na vi<strong>da</strong> cotidiana. É, assim, o<br />
cooperativismo escolar aplicação dos métodos <strong>da</strong> escola<br />
vital. Complementa o âmbito <strong>da</strong> escola ativa, movimento<br />
de reação no sentido de colocar a criança, desde a escola,<br />
dentro <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, aproveitando a ativi<strong>da</strong>de espontânea,<br />
pessoal e produtiva dessa criança.<br />
O cooperativismo escolar contribui, como veremos, para:<br />
1.º — A educação vocacional, além de <strong>da</strong>r à criança a<br />
noção e a intimi<strong>da</strong>de dos temas sociais e morais;<br />
2º — Dar maior experiência e acui<strong>da</strong>de para a solução<br />
dos problemas concretos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> moderna, do ângulo econô-<br />
mico. Possibilita, ademais, aos professôres, o emprêgo de<br />
técnicas educativas novas, como sejam as reuniões em<br />
assembléias gerais e conselhos de administração, diretorias<br />
executivas, conselhos fiscais, comissões várias, dirigidos<br />
êsses órgãos pe-los próprios alunos, discretamente<br />
assessorados pelos professores; excursões, festas, trabalhos<br />
agrícolas, trabalhos manuais, etc.<br />
3.° — Criar ambiente para novos modos de ativi<strong>da</strong>de,<br />
novas motivações. No domínio rural, é fácil de apreender o<br />
alcance <strong>da</strong> aplicação de métodos técnicos nas hortas, nos po-<br />
mares, na agricultura de subsistência, isto é, agricultura<br />
para fornecer produtos essenciais à alimentação humana.<br />
Como vêem, está perfeitamente caracteriza<strong>da</strong> a<br />
cooperati-va escolar. É uma instituição educativa, parte<br />
integrante <strong>da</strong> escola renova<strong>da</strong>, instrumento pe<strong>da</strong>gógico de<br />
grande relevância, viga-mestra do moderno edifício<br />
educativo.<br />
Diz mui judiciosamente Alice Joueene, em se referindo à<br />
orientação cooperativa segui<strong>da</strong> na França sôbre a educação<br />
<strong>da</strong> criança em todos os sentidos (lá estão as belas colônias de<br />
férias cooperativas com o seu “aerium” de Montplaisir, os<br />
estabelecimentos de Boyardville, Coulommiers, etc).<br />
“Ne faisons point de ten<strong>da</strong>nces en éducation. Habituons<br />
l’enfant à raisonner juste, à avoir confiance en lui et c’est lui<br />
qui plus tard, s’orientera selon ce qui lui parait juste et vrai..<br />
São, assim, centros-de-interêsse, pequenos laboratórios de<br />
intensa vi<strong>da</strong> social, organismos que passam à imediata e discreta<br />
responsabili<strong>da</strong>de dos mestres, embora dirigidos pelas
FÁBIO LUZ FILHO 73<br />
crianças. A dependência dos mesmos em relação aos mestres<br />
é uma necessi<strong>da</strong>de de principio na educação do sentimento de<br />
responsabili<strong>da</strong>de.As crianças individualmente podem respon-<br />
der, por si mesmas, a uma organização de disciplina perante<br />
a coletivi<strong>da</strong>de infantil; mas, coletivamente, não respondem<br />
perante terceiros, por sua quali<strong>da</strong>de de menores. A escola é<br />
uma comuni<strong>da</strong>de. “Como scuola viva é constituita <strong>da</strong> alumni,<br />
le cui attività per la maggior parte sono attività di gruppo, o<br />
sociali. Quelle che educano più particolarmente alla socia1ità<br />
sono: la cooperativa, la società, il teatro, l’aiuto reciproco, la<br />
corrispondenza, i lavori utili e le attivitá. pratiche”.<br />
É o trinômio do Cardijn — “Voir, Juger, Agir”.<br />
Aplicam-se à escola os princípios normativos antes<br />
expostos.<br />
Maurice Colombain frisou, mais, com muita lucidez, em<br />
“Les coopératives et l’éducation de base”, que é um fato de<br />
observação que, entre as populações pouco evoluí<strong>da</strong>s, as<br />
cooperativas, por seu funcionamento mesmo, e independente-<br />
mente de seus resultados econômicos, contribuíram para a<br />
formação intelectual, moral e cívica de seus associados.<br />
“Trabalhar, comprar, vender, criar em comum, e pensar<br />
em comum, é formar conceitos comunicáveis, isto é,<br />
racionais”.<br />
“Observar escrupulosamente os estatutos que contribuí-<br />
ram para organizar, ou que, pelo menos, foram discutidos,<br />
aceitos e cumpridos, é criar-se uma nova morali<strong>da</strong>de, é, não<br />
somente iniciar-se nas virtudes <strong>da</strong> disciplina voluntária e<br />
viva, mas, também, descobrir em si os fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong><br />
responsabi-li<strong>da</strong>de, o ver<strong>da</strong>deiro senso <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de e <strong>da</strong><br />
digni<strong>da</strong>de”.<br />
A cooperativa não emancipa sòmente seus associados do<br />
usurário e do comerciante; ela os livra de si mesmos, de seus<br />
maus hábitos; ela lhes ensina as virtudes que não estão sempre<br />
em sua natureza, como a ordem, a previdência, a pontuali<strong>da</strong>de,<br />
o respeito estrito aos compromissos tomados. Enfim, <strong>da</strong>ndo-lhes<br />
ocasião de modelar, como agentes conscientes, sua vi<strong>da</strong><br />
econômica, criando um novo sistema de compromissos<br />
livremente elaborados e aceitos, que os livrem de sujeições<br />
sociais vazias de sentido ou odiosas, colocando-se, sem<br />
distinção de casta ou de sexo, dentro de um quadro simples de<br />
self-government, dentro do qual se iniciam nas práticas<br />
democráticas, a cooperativa os exercita nas funções de<br />
ci<strong>da</strong>dãos, e reconstitui um novo tecido social, prolongando ou<br />
substituindo as formas anteriores de vi<strong>da</strong> coletiva em<br />
decadência: e, sem na<strong>da</strong> destruir <strong>da</strong>quilo que havia de original<br />
e de fecundo em
74 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
sua cultura nacional, a cooperativa tende a estabelecer uma<br />
ligação, natural e livre, entre esta e o mundo moderno.<br />
“Assim, na confluência de sua ação com a de educação<br />
de base e <strong>da</strong> educação de adultos, o movimento cooperativo<br />
aparece com seu ver<strong>da</strong>deiro caráter, principalmente quando se<br />
considera seu funcionamento nos agrupamentos humanos<br />
pouco evoluídos, ou econômicamente e socialmente atrasados.<br />
Embora sua importância no domínio econômico seja de<br />
grande utili<strong>da</strong>de, merece ser considerado também, e, talvez,<br />
principalmente, como um movimento de educação”.<br />
Como o disse Fauquet, o fim do cooperativismo é fazer<br />
homens responsáveis e solidários, para que ca<strong>da</strong> um se eleve<br />
a uma vi<strong>da</strong> de completa personali<strong>da</strong>de e, todos juntos, a<br />
uma completa vi<strong>da</strong> social.<br />
“Sobretudo quando as ativi<strong>da</strong>des cooperativas e as<br />
ativi<strong>da</strong>des educacionais se desenvolvem em regiões ou meios<br />
de evolução retar<strong>da</strong><strong>da</strong>, as relações de parentesco que os<br />
unem por seus móveis, objetivos e métodos, são tão evidentes<br />
e tão estreitos, que reclamam entre si uma colaboração tão<br />
fácil quanto necessária”.<br />
Na Índia, a preocupação <strong>da</strong> educação tem raízes<br />
roch<strong>da</strong>lianas, tanto que os cooperadores indianos se<br />
comprometem a enviar seus filhos à escola ou a manter<br />
escolas, ou a contratar educadores. Na África, constróem<br />
escolas.<br />
“O movimento cooperativo pode ser encarado como um<br />
aliado forte na luta contra a ignorância e a inércia”.<br />
D. F. Strickland, apoiado em sua fecun<strong>da</strong> experiência,<br />
assinalou Colombain, <strong>da</strong> Índia, China, Oriente Médio e <strong>da</strong><br />
África, disse muito bem: “Co-operation is adult education in<br />
the business of life”.<br />
Henry Wolff disse que o cooperativismo deve ser o edu-<br />
cador do pobre; e Père Huss, na União Sul-Africana,<br />
caracterizava como “escolas populares” as cooperativas de<br />
crédito que aju<strong>da</strong>va a fun<strong>da</strong>r, de vez que seu principal<br />
objetivo não era fazer dinheiro, mas fazer homens.<br />
E o célebre Dr. M. Coady, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São<br />
Francisco Xavier, em Antigonish, no Canadá, chegou a<br />
dizer: “Recorremos ao cooperativismo no domínio<br />
econômico mais como instrumento <strong>da</strong> educação do que<br />
como instrumento econô-mico”.<br />
Os primeiros estatutos sôbre cooperativas escolares foram<br />
lançados oficialmente em 1931, por mim elaborados. Êstes<br />
estatutos já <strong>da</strong>vam às cooperativas escolares todo o seu<br />
inconfundível valor pe<strong>da</strong>gógico, e não o de meros armazéns de
FÁBIO LUZ FILHO 75<br />
compra e ven<strong>da</strong> de material didático, o que tem servido de pretexto,<br />
no Brasil, para a dissolução de cooperativas escolares.<br />
Alegam que os alunos são pobres, como se não existissem<br />
meios de o aluno produzir, uma <strong>da</strong>s marcantes características do<br />
cooperativismo escolar, nota<strong>da</strong>mente do francês, de índole mais<br />
alcandora<strong>da</strong>. E como se a assistência não coubesse no âmbito<br />
do cooperativismo escolar, sem aviltações ou humilhações,<br />
retribuindo o aluno com pequenos serviços ou produtos de seu<br />
esfôrço pessoal. Prevendo isso, os estatutos oficiais que elaborei<br />
permitem o pagamento <strong>da</strong>s quotas-partes em serviços, como<br />
veremos.<br />
E, além do mais, deve sempre ser considerado o aspecto<br />
de enti<strong>da</strong>de periescolar que possui, fun<strong>da</strong>mentalmente, a<br />
cooperativa, com seu sentido puramente educativo, na<br />
própria definição legal.<br />
E <strong>da</strong> letra e do espírito <strong>da</strong> lei brasileira que não seja “a<br />
finali<strong>da</strong>de econômica a exclusiva e predominante para <strong>da</strong>r<br />
valor à escola”.<br />
“Lo esencial es que la activi<strong>da</strong>d del niño lleve a un resul-<br />
tado efectivo y útil, para su propria formación y para la co-<br />
lectivi<strong>da</strong>d de que forma parte”.<br />
E Colombain, (de quem mereci a honra de uma<br />
referência a “Cooperativa escolares”) em seu “La valeur<br />
éducative des coopératives scolaires”, disse com justeza:<br />
“La coopération scolaire, c’est l’école nouvelle des<br />
pauvres:<br />
plus précisément, elle apporte l’école nouvelle aux pauvres,<br />
c’est-à-dirc aux classes pauvres, aux pays qui sent pas encore<br />
riches (no caso, o Brasil), à ceux qui ne le sont plus”, no ponto<br />
de vista de Victor Voguel: “. . . la réalisation populaire des<br />
écoles nouvelles. . .<br />
Na coexistência <strong>da</strong> mutuali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> cooperativa escolar,<br />
que aquela fique com o seu estático mealheiro, e esta com o<br />
socorro aos necessitados como um de seus serviços. Nos esta-<br />
tutos que elaborei estão em perfeita e discreta<br />
interpenetração e equilíbrio as virtudes de ambas.<br />
Já se disse que o agrupar as escolas em comuni<strong>da</strong>de é<br />
fazer <strong>da</strong> classe uma socie<strong>da</strong>de em miniatura e <strong>da</strong> escola uma<br />
federação de pequenas repúblicas mais ou menos autônomas,<br />
segundo a i<strong>da</strong>de dos alunos e o grau de responsabili<strong>da</strong>de que<br />
se lhes possa confiar.<br />
O primeiro livro surgido em língua portuguêsa foi o presente<br />
— “Cooperativas escolares” (cuja l.ª edição foi lança<strong>da</strong><br />
em janeiro de 1933, pela “Civilização Brasileira”, quando ain<strong>da</strong><br />
não existia um só departamento estadual de cooperativismo
76 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
no Brasil), filho, que sou, de médico, escritor e pe<strong>da</strong>gogo.<br />
Tais questões me são, pois, familiares desde a infância, tendo<br />
sido meu saudoso pai o introdutor (1895) <strong>da</strong>s caixas<br />
escolares no Distrito Federal, além de precursor do romance<br />
social no Brasil e <strong>da</strong> escola ativa, slojd escolar, isto é,<br />
trabalhos manuais, excursões, cinema educativo, método<br />
montessoriano, festa <strong>da</strong> primavera, etc., etc.), e escritor com<br />
livros que durante longos anos foram adotados pelas escolas<br />
primárias do Distrito Federal e de diversos Estados do<br />
Brasil. A Prefeitura do Distrito Federal, ain<strong>da</strong> vivo meu pai,<br />
deu o nome dêle a uma de suas ruas.<br />
A primeira cooperativa escolar fun<strong>da</strong><strong>da</strong> no Brasil, já<br />
dentro <strong>da</strong> orientação geral traça<strong>da</strong> nos estatutos oficiais de<br />
1931, embora modificados, foi, como veremos, a de Cruzeiro,<br />
em São Paulo, em julho de 1933, através <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> que<br />
no Norte do Estado fiz desde 1931, quando em viagens de<br />
propagan<strong>da</strong> de cooperativas de lacticínios, tendo realizado, a<br />
pedido do inspetor Eboli, várias palestras a professôras, no<br />
1.° Grupo Escolar do Cruzeiro, no Grupo de Itagaçaba e na<br />
Escola Normal de Guaratinguetá. A Cooperativa de<br />
Lacticínios de Cruzeiro, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> ao influxo dessa minha<br />
propagan<strong>da</strong> em 1931, foi o centro irradiador do<br />
cooperativismo escolar aí e em Itagaçaba e do movimento<br />
de lacticínios do chamado Norte do Estado.<br />
Quase tô<strong>da</strong>s as cooperativas escolares do Brasil seguem<br />
a orientação conti<strong>da</strong> nos estatutos do fim dêste livro,<br />
sobretudo<br />
Pernambuco, dinamiza<strong>da</strong>s neste Estado, inlcialmente, por<br />
M. Barbosa, e, depois, pela dedicação ímpar de Nair de<br />
Andrade.<br />
Procurei nêles ficar em consonância com o espírito <strong>da</strong><br />
moderna pe<strong>da</strong>gogia, que tem sua grande expressão nos<br />
cânones <strong>da</strong> escola ativa.<br />
Dentro, pois, dêsses princípios pe<strong>da</strong>gógicos, dos cânones<br />
<strong>da</strong> escola vital, ou do método biótico, se situa a cooperativa<br />
escolar, nela tendo o professor sua ação imprescindível e<br />
fecun<strong>da</strong> de assessor e orientador nato.<br />
Lorenzo Luzuriaga disse que os dois conceitos<br />
fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> educação do tempo presente são: “escola<br />
ativa” e “escola única”. Aquela se refere ao conteúdo, a vi<strong>da</strong><br />
interna <strong>da</strong>s instituições educativas. Esta diz respeito à<br />
forma, à organização exterior dessas instituições. A “escola<br />
ativa” é sobretudo uma concepção psico-pe<strong>da</strong>gógica; a<br />
“escola única” é fun<strong>da</strong>mentalmente uma aspiração<br />
pe<strong>da</strong>gógico-social.<br />
E Ferrière assim caracterizou a escola ativa:
FÁBIO LUZ FILHO 77<br />
“Trata-se então dum movimento de reação contra o seu<br />
formalismo, contra o seu hábito de se colocar fora do vi<strong>da</strong>,<br />
contra à sua incompreensão do que constitui o fundo e a<br />
natureza <strong>da</strong> criança. A Escola Ativa não é anti-intelectual,<br />
mas anti-intelectualista, querendo nós exprimir com isto<br />
que ela é contrária àquela propensão que leva a <strong>da</strong>r à<br />
inteligência um lugar preponderante, em prejuízo do<br />
sentimento, e <strong>da</strong> ativi- <strong>da</strong>de. É que êstes dois últimos<br />
elementos fazem parte integrante do que se chama caráter.<br />
Não basta apenas refletir; é preciso viver. Se a vi<strong>da</strong> sem a<br />
reflexão é pouca coisa, a reflexão sem a vi<strong>da</strong> não é na<strong>da</strong>.<br />
“A ativi<strong>da</strong>de espontânea, pessoal e produtiva, tal é o ideal<br />
<strong>da</strong> Escola Ativa. Este ideal não é novo. E o de Montaigne, de<br />
Locke e de J. J. Rousseau e Pestalozzi. E Fichte e Froebel fize-<br />
ram dêle o centro dos seus sistemas educativos. E, em suma, o<br />
ideal de todos os pe<strong>da</strong>gogos intuitivos e geniais do passado, —<br />
o dos grandes precursores. Mas, se a intuição foi a sua prin-<br />
cipal fôrça, ela foi também a sua maior fraqueza, se encarar-<br />
mos a difusão <strong>da</strong> sua obra e o progresso <strong>da</strong> ciência. Advinha-<br />
ram a infância, mas não a conheceram no sentido que o<br />
século atual dá a êste têrmo. Antes <strong>da</strong>s conclusões a que<br />
chegou a psicologia experimental, apenas se podia pressentir<br />
a infân- cia; hoje, ela é conheci<strong>da</strong>; amanhã será ela melhor<br />
conheci<strong>da</strong> ain<strong>da</strong>”.<br />
Dai entrar o cooperativismo escolar no domínio <strong>da</strong> pedo-<br />
tecnia.<br />
Payot, no seu dogmatismo pe<strong>da</strong>gógico, acha que o<br />
caráter não é um dom <strong>da</strong> natureza (como o frisa a escola de<br />
que Ribot foi o centro), podendo ser um produto secundário<br />
lentamente adquirido.<br />
Guyau concor<strong>da</strong> em que, no ordem moral, a educação é<br />
soberana. A morali<strong>da</strong>de como filha <strong>da</strong> inteligência, do pen-<br />
samento moral como dever.<br />
E eis Rousseau:<br />
“A ilha do gênero humano é a terra; o objetivo mais interessante<br />
para os nossos olhos é o sol. Tão depressa comecemos<br />
a fastar-nos de nós, as nossas observações deverão cair sôbre<br />
um e outro. Nenhum outro livro além do mundo, nenhuma outra<br />
instrução além dos fatos. A criança que lê não pensa; lê apenas;<br />
não se instrui, aprende palavras. Tornai o vosso discípulo atento<br />
aos fenômenos <strong>da</strong> natureza e bem depressa o vereis curioso, mas<br />
nunca vos apresseis em satisfazer essa curiosi<strong>da</strong>de. Colocai as<br />
questões ao seu alcance e deixai que
78 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
êles as resolva. Que êle não apren<strong>da</strong> a ciência, mas que a<br />
invente.<br />
“Se nunca substituirdes no seu espírito a autori<strong>da</strong>de pela<br />
razão, êle nunca raciocinará; será apenas o joguete <strong>da</strong><br />
opinião dos outros”.<br />
E Emile Durkheim acentua que a educação nas ci<strong>da</strong>des<br />
gregas e latinas, conduzia o individuo a subordinar-se cega-<br />
mente à coletivi<strong>da</strong>de, a tornar-se uma coisa <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />
Hoje, esforça-se por fazer dêle personali<strong>da</strong>de autônoma e<br />
consciente.<br />
Dei ao diretor <strong>da</strong> escola, nos citados estatutos, a<br />
representação ativa e passiva, de vez que têm elas que se<br />
amol<strong>da</strong>r à lei no que lhes fôr aplicável e imprescindível.<br />
Influi para a inclusão <strong>da</strong>s cooperativas escolares na lei 22.239<br />
(1932), e fiz com que, na lei 581, se retificasse o lapso <strong>da</strong><br />
22.239, que <strong>da</strong>va personali<strong>da</strong>de jurídica às cooperativas<br />
escolares nos moldes <strong>da</strong>s dos adultos, num absurdo.<br />
Não é a cooperativa escolar uma pseudocooperativa,<br />
como pensa muita gente. Pseudo significa falso, e as<br />
cooperativas escolares (refiro-me às de crianças), não são<br />
falsas cooperativas, e, sim, ver<strong>da</strong>deiras cooperativas em<br />
miniatura, viva expressão <strong>da</strong> “firme vontade de viver<br />
solidâriamente”, que é a essência do fenômeno cooperativo<br />
em todo o mundo. O próprio Profit, em visível contradição<br />
com o cunho que deu ao cooperativismo escolar francês,<br />
definiu-as, inicialmente, como cooperativas econômicas,<br />
visando à minoração de preços, na estrutura <strong>da</strong>s de adultos,<br />
falseamento que êle próprio não cometeu na prática do<br />
cooperativismo escolar francês, visceralmente educativo.<br />
Nas cooperativas escolares são observa<strong>da</strong>s (não teriam<br />
função educativa se não o fizessem...) tô<strong>da</strong>s as normas dou-<br />
trinárias que caracterizam as cooperativas comuns, inclusive<br />
a finali<strong>da</strong>de coletiva <strong>da</strong>s sobras anuais, num escopo de aper-<br />
feiçoamento material <strong>da</strong> escola, e moral, espiritual e social do<br />
aluno.<br />
É a consubstanciação <strong>da</strong> pestalozziana pe<strong>da</strong>gogia<br />
realista, que Claperède assinalou como próprio de uma<br />
didática que deve transformar os fins futuros a que aspiram<br />
os programas escolares em interêsses presentes para o<br />
educando. Educação para a comuni<strong>da</strong>de, no postulado de<br />
Fichte. A criança tem na cooperativa escolar o meio capaz de<br />
capacitá-la para preencher as tarefas de sua vi<strong>da</strong> no sentido<br />
do dever do futuro “homem social”, a que se refere Rousseau,<br />
um ser atuante e pensante,
amante e emotivo. A livre expansão <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
criança como fim.<br />
Lourenço Filho assinala que Sanderson conseguiu levar<br />
a vi<strong>da</strong> para dentro <strong>da</strong> escola. “Não devemos estabelecer<br />
uma barreira entre a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> escola e a vi<strong>da</strong> cotidiana <strong>da</strong><br />
coletivi<strong>da</strong>de, O trabalho escolar carece de estar em relação<br />
com a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> criança no lar, como carece tornar-se parte<br />
integrante <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de”. E, isto, realiza-o<br />
cooperativa escolar. Anísio Teixeira reconhece-o em sua<br />
inconteste autori<strong>da</strong>de. E conduz ao que aponta Lourenço<br />
Filho para a escola nova: o desenvolvimento individual<br />
dentro do maior equilíbrio social, democracia, paz e<br />
trabalho, humani<strong>da</strong>de melhor. Cita ain<strong>da</strong> Tolstoi como<br />
precursor <strong>da</strong> renovação escolar atual. E acentua que nas<br />
“public-schools” inglêsas surgiram os primeiros sistemas<br />
empíricos <strong>da</strong> educação renova<strong>da</strong>.<br />
Democracia e escola nova, diz Lourenço Filho, visam,<br />
portanto, uma e mesma coisa. São idéias complementares.<br />
O Estado democrático carece de formar-se de homens de<br />
iniciativa e espírito esclarecido, capazes de se governarem<br />
a si mesmos. A escola nova deseja que a personali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
criança venha a formar-se pela prática efetiva dêsse<br />
espírito de iniciativa. A cooperativa escolar a isso conduz.<br />
Foi a França, pois, o berço <strong>da</strong>s cooperativas escolares.<br />
Possuía ela, em 58, umas 28.000 cooperativas escolares em<br />
7.500 escolas, com um total de 1.200.000 alunos-<br />
cooperadores. Em alguns departamentos, agrupa o<br />
cooperativismo francês escolar a 95% <strong>da</strong> população<br />
escolar.<br />
O Congresso Nacional do Departamento Central de<br />
Educação realizado em Tours em 1948, visando ao valor<br />
social <strong>da</strong> criança, e <strong>da</strong> mulher educadora e mãe, dá a<br />
seguinte definição ao cooperativismo escolar:<br />
“No ensino público, as Cooperativas escolares são<br />
socie<strong>da</strong>des de alunos, dirigi<strong>da</strong>s por êstes com o concurso dos<br />
professôres, tendo em vista ativi<strong>da</strong>des comuns. Inspira<strong>da</strong> por<br />
um ideal de progresso humano, tem por objetivo a<br />
educação moral, cívica e intelectual dos cooperadores, com<br />
a gestão <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e o trabalho de seus associados. Os<br />
frutos comuns do trabalho são destinados ao equipamento<br />
<strong>da</strong> escola e ao melhoramento <strong>da</strong>s condições de trabalho, à<br />
organização <strong>da</strong> cultura artística e ao divertimento dos<br />
associados, ao desenvolvimento <strong>da</strong>s obras escolares e pós-<br />
escolares de aju<strong>da</strong> mútua e de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de”.<br />
Está aí bem frisado o cunho educativo do cooperativismo<br />
escolar.
É o trabalho coletivo como base de educação, através <strong>da</strong><br />
aquisição de livros, cinemas educativos, discotecas,<br />
excursões, proteção aos pássaros, trabalhos hortícolas,<br />
combate a insetos <strong>da</strong>ninhos, festas, teatrinhos, bibliotecas,<br />
fabricação e ven<strong>da</strong> de objetos artísticos; feitura e aquisição<br />
de material de ensino; compra e distribuição de livros e<br />
instrumentos para trabalhos manuais; decoração e<br />
embelezamento <strong>da</strong> escola; colheita e ven<strong>da</strong> de plantas<br />
medicinais; pequenas farmácias e pelotões firmes de saúde;<br />
jogos esportivos; cultivo de jardins, de viveiros, hortas e<br />
pomares; organização de pequenos jornais escolares; criação<br />
de coelhos, bichos de sê<strong>da</strong>, animais de laboratórios:<br />
tômbolas; correspondência intercooperativa, etc.<br />
Desde 1931 foi esta a orientação que imprimi à<br />
propagan<strong>da</strong>, consubstancia<strong>da</strong> em folhetos, livros,<br />
comunicados e nos estatutos já referidos. E citemos a Delom.<br />
Já fêz sentir que Francisco Ravard acentuou como a<br />
reali<strong>da</strong>de histórica ultrapassa hoje os limites infinitos,<br />
criados especulativamente, pelo homem, e procura buscar, às<br />
vêzes torrencialmente, seu próprio curso. A escola não pode<br />
permanecer inerte ante o impulso avassalador dêsse<br />
movimento renovador. Não pode, tampouco, com suici<strong>da</strong><br />
teimosia, contribuir para a formação de mentali<strong>da</strong>des que<br />
entrem em choque agudo com a reali<strong>da</strong>de circunjacente e<br />
sejam como organismos de destruição ou de perturbação.<br />
Há-de ir ao encontro delas, criando mentali<strong>da</strong>des robustas e<br />
serenas, inclina<strong>da</strong>s a atuar retamente na hora que lhes<br />
correspon<strong>da</strong> dentro do processo histórico.<br />
“Na Cooperativa apresentam-se, aos olhos do aluno, em<br />
síntese harmônica, valores individuais. O princípio<br />
cooperati- vo baseia-se, com efeito, no reconhecimento <strong>da</strong><br />
personali<strong>da</strong>de, sem menosprêzo <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de, e do valor<br />
desta, sem menosprêzo <strong>da</strong>quela”.<br />
“Nem o individualismo absoluto, que supõe desprêzo dos<br />
interêsses gerais e coletivos, áspera luta pelo predomínio pes-<br />
soal e competição brutal frente às pretensões igualmente uni-<br />
laterais de outras personali<strong>da</strong>des, nem absoluto coletivismo,<br />
que significaria a anulação do individuo, o sacrifício de<br />
personali<strong>da</strong>de humana e, até certo ponto, a escravidão.<br />
Frisa Ravard ain<strong>da</strong> que eminentes educadores como<br />
Cousinel, Ferrière e Decroly se mostraram fervorosos partidá-<br />
rios do cooperativismo escolar como elemento pe<strong>da</strong>gógico de<br />
primeira ordem. Concor<strong>da</strong>m com Profit num dos maiores efeitos<br />
do cooperativismo escolar; o aperfeiçoamento moral dos<br />
alunos, como Charles Gide o assinala.
FÁBIO LUZ FILHO 81<br />
“Realiza admiràvelmente um postulado essencial <strong>da</strong> escola<br />
moderna; educação mediante a colaboração ativa do discipulo,<br />
de preferência à imposição coativa do mestre. Ação<br />
sobrepondo-se a normas abstratas. Hdbitos e sentimentos<br />
preferiveis a profun<strong>da</strong>s e incompreensíveis dissertações. Ao<br />
aprender a subordinar seus interêsses ao bem-estar geral,<br />
como requisito essencial para a marcha do organismo<br />
cooperativo, recebe o aluno uma lição social <strong>da</strong> maior<br />
transcendência que a mais bela exposição que pudesse<br />
ouvir dos lábios de seu professor.<br />
“Ao separar suas pequenas moe<strong>da</strong>s para a<br />
contribuição mensal, adquire o aluno belíssimo hábito de<br />
economia. E, quando no encerramento do exercício anual, a<br />
cooperativa lhe devolve sua parte nos benefícios obtidos, e a<br />
escola inaugura seus novos laboratórios, fruto do trabalho<br />
comum, será o aluno capaz de aquilatar devi<strong>da</strong>mente do<br />
valor do esfôrço de todos para consecução de um fim útil.<br />
“Estará disposto o aluno a ser, na situação que lhes<br />
corresponde na vi<strong>da</strong>, um membro útil do conglomerado social”<br />
A cooperativa escolar canalizará, ademais, vocações, <strong>da</strong>ndo<br />
sentido de responsabili<strong>da</strong>de às crianças.<br />
Abeberado do cooperativismo escolar francês, acentua<br />
o mesmo autor que os administradores e fiscais são os<br />
próprios alunos, desempenhando os professores um papel<br />
mais de conselheiros do que de gerentes ativos. São os<br />
próprios alunos que fazem os regulamentos, nomeiam<br />
comissões, criam seções, sugerem planos e facilitam os<br />
recursos financeiros. Verificam, além do mais, as compras,<br />
determinam a aplicação dos fundos, estabelecem sanções<br />
contra as possíveis transgressões <strong>da</strong>s normas estabeleci<strong>da</strong>s<br />
pela comuni<strong>da</strong>de. É um perfeito autogovêrno infantil, que<br />
não encerra nenhum perigo, de vez que robustece a<br />
confiança <strong>da</strong> criança em si mesma, faz que se sinta<br />
realmente responsável por um trabalho sério, pela<br />
aplicação diária dos princípios <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> justiça.<br />
A cooperativa escolar, em síntese, prepara o aluno para<br />
desempenhar no futuro altas funções, dignas e úteis.<br />
“Mas, a finali<strong>da</strong>de econômica não deve, tampouco, ser<br />
subestima<strong>da</strong>, sem se chegar ao exagêro materialista que su-<br />
bordina todo o processo social às reali<strong>da</strong>des econômicas;<br />
mas, reconhece sua influência poderosa sôbre tô<strong>da</strong>s as<br />
ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e, sobretudo, no campo específico <strong>da</strong><br />
organização interna <strong>da</strong> escola”.
82 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
É o cadinho de uma nova mentali<strong>da</strong>de, realista e não verbalista,<br />
preparadora de bases culturais e humanas que a vi<strong>da</strong> de<br />
hoje exige, com o primado do fenomenismo econômico.<br />
“As cooperativas escolares são instituições circum-escolares<br />
formados pelos alunos de um determinado centro docente<br />
que se propõem iniciar seus associados na prática, em pequena<br />
escala, de tô<strong>da</strong>s ou de algumas formas de cooperativas<br />
econômicas, com tendência a que as escolas se bastem a si<br />
mesmas, centralizando em tôrno <strong>da</strong>s cooperativas escolares tô<strong>da</strong><br />
as demais obras escolares anexas, e fazendo <strong>da</strong> escola uma<br />
ver<strong>da</strong>deira comuni<strong>da</strong>de de trabalho, uma organização viva de<br />
educa-cão social, eficiente e prática”.<br />
Ana Muzzio, a ilustre educadora, acentua que as cooperativas<br />
escolares são considera<strong>da</strong>s como instrumentos de<br />
formação intelectual e moral. Descobrem elas e desenvolvem<br />
nos alunos quali<strong>da</strong>des de caráter, a iniciativa, a decisão, a autoconfiança<br />
e o respeito a si próprios e aos demais. Contribuem<br />
para a formação <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de física, moral e intelectual <strong>da</strong><br />
juventude, criando o hábito <strong>da</strong> reflexão, e do julgamento.<br />
Também habituam ao uso <strong>da</strong> palavra para fazer valer os<br />
próprios argumentos e também ensinam a calar no momento<br />
oportuno.<br />
Estimulam as iniciativas priva<strong>da</strong>s, harmonizando-as com<br />
esfôrço comum; ensinam a ver<strong>da</strong>deira disciplina, que é o<br />
espeito à lei; permitem a expansão <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>de, mas<br />
nspirando-se, principalmente, no sentimento de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />
de aju<strong>da</strong> mútua.<br />
Ensinam, finalmente, a viver a ver<strong>da</strong>deira liber<strong>da</strong>de, que é<br />
responsabili<strong>da</strong>de.<br />
Maurice Colombain, ex-chefe do Serviço de Cooperativis-<br />
mo, <strong>da</strong> Oficina Internacional do Trabalho, em seu livro “La<br />
valeur éducative des coopératives scolaires” já citado, define<br />
magistralmente essas “pequenas repúblicas” como<br />
combinando as vantagens dos dois modos de ensino: o<br />
ensino em comum e o ensino individualizado ao máximo.<br />
O ensino em comum em classes compostas de elementos<br />
heterogêneos é tido como fator de retar<strong>da</strong>mento dos espíritos<br />
mais vivos, sem permitir a eclosão dos mais lentos.<br />
Pela varie<strong>da</strong>de de tarefas que impõem aos seus alunos-associados,<br />
a cooperativa, ativi<strong>da</strong>de lúdica, oferece a ca<strong>da</strong> um<br />
possibili<strong>da</strong>des de se consagrar mais particularmente àquelas que<br />
correspondem a seus gostos ou aptidões, e, por isso, como o faz o<br />
ensino individualizado, lhes fornece oportuni<strong>da</strong>de para um<br />
desenvolvimento incontido de suas facul<strong>da</strong>des naturais.
FÁBIO LUZ FILHO 83<br />
O ensino individualizado é acoimado de fazer desaparecer<br />
o gôsto e o estimulante do emulação, de afastar fatôres de<br />
formação que envolvem as relações diretas entre semelhantes,<br />
de impedir o nascimento de sentimentos coletivos.<br />
“La coopérative scolaire comble cette lacune”.<br />
Ca<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de que nela se exerce depende <strong>da</strong>s outras na<br />
medi<strong>da</strong> em que delas se distingue, só adquire seu completo<br />
valor quando ocupa seu lugar na obra comum. “Resulta que,<br />
neste caso, a especialização <strong>da</strong>s tarefas, longe de criar o<br />
isolamento e a dissociação, é fator eficaz de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />
orgânica”.<br />
“Certes, <strong>da</strong>ns les cas particulièrement difficiles, les<br />
jeunes coopérateurs demandent conseil à leurs maitres.<br />
Quelques fois, les status donnent à ceux-ci certains pouvoirs<br />
de contrôle, voire um veto qul suspend <strong>da</strong>ns leurs effets ou<br />
annule les décisions librement prises par les écoliers<br />
associés. En fait, ce droit de veto est, le plus souvent, le signe<br />
d’une grande autonomie de gestion, car c’en est le<br />
contrepois. C’est <strong>da</strong>ns la mesure où ils se sont tenus à<br />
l’écart de la gestion proprement dite que les adultes se<br />
sentent obligés et justifiés à s’assurer de sa sagesse”. Êste<br />
final justifica a intenção educativa que não<br />
intervencionista.<br />
Charles Henri Barbier assinala, como necessárias ao<br />
pleno desabrochar <strong>da</strong> criança, a educação para a<br />
autonomia e a harmonização de esforços individuais com os<br />
do grupo.<br />
Eis o duplo sentido essencial <strong>da</strong> ação cooperativa e o<br />
“self-help” e a aju<strong>da</strong> mútua: formar homens capazes de<br />
praticar plenamente o “self-help” e de o compreender, e, ao<br />
mesmo tempo, praticar o auxílio mútuo. É isto criar um<br />
tipo de ci<strong>da</strong>dãos educados não só para a autonomia, senão<br />
também para a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, para o individualismo e o<br />
altruísmo, para a vi<strong>da</strong> social. Será um tipo de homem que<br />
terá o gôsto <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de por si mesmo e pelos outros, a<br />
vontade de agir por contra própria, e uma vontade igual de<br />
harmonizar sua ação com a de seus semelhantes, a<br />
necessi<strong>da</strong>de de ser ver<strong>da</strong>deiramente êle próprio e a de<br />
compreender os outros.<br />
“É no coração <strong>da</strong>s crianças que se prepara essencialmente<br />
a guerra ou a paz de amanhã... Paralelamente à socie<strong>da</strong>de<br />
de seus pais, as crianças têm direito à sua própria socie<strong>da</strong>de,<br />
com os seus iguais, com a natureza, com os animais, com as artes<br />
e os livros.<br />
“Entretanto, o respeito devido à criança não pode ir até à<br />
abstenção pura e simples em matéria educativa. A criança
84 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
continua ca<strong>da</strong> dia a nascer de nós... Os métodos criadores<br />
<strong>da</strong> passivi<strong>da</strong>de na criança, atrofiam, para sempre, a vi<strong>da</strong> do<br />
espírito e dão, perigosamente, o gôsto <strong>da</strong>s soluções já<br />
elabora<strong>da</strong>s, recebi<strong>da</strong>s do exterior”.<br />
Assim, outros métodos educativos existem que<br />
adquiriram por tô<strong>da</strong> a parte uma importância que não é<br />
para desdenhar:<br />
o trabalho escolar de equipe, de autogovêrno, e as<br />
cooperativas escolares.<br />
“O problema educativo essencial situa-se, hoje, para os<br />
cooperadores, em têrmos novos. É êle, antes de mais na<strong>da</strong>,<br />
fazer homens”.<br />
O COOPERATIVISMO ESCOLAR, A EDUCAÇÃO<br />
VOCACIONAL, A DEMOCRACIA<br />
“Cooperativas”, órgão de publici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> União<br />
Panamericana, de Washington, em seu número de junho de<br />
1953, publicou longo e brilhante trabalho <strong>da</strong> autoria de<br />
ilustre técnico <strong>da</strong> Seção de Cooperativas <strong>da</strong> Divisão de<br />
Trabalho e Assuntos Sociais dessa mesma enti<strong>da</strong>de, Julio<br />
Mejia Scarneo. Neste trabalho o autor faz referência a<br />
autores especializados sul-americanos, entre êles os<br />
brasileiros Fáblo Luz Filho e J. Monserrat, e tem conceitos<br />
de muita justeza e oportuni<strong>da</strong>de sôbre o cooperativismo<br />
escolar, encarado sobretudo do ângulo do ensino e <strong>da</strong><br />
educação vocacional. Júlio Mejia encontra-se agora no<br />
Peru, depois de ter estado em Pátzcuaro, no México.<br />
HISTÓRICO<br />
Fazendo um histórico do cooperativismo escolar na<br />
Europa, diz êle que, na Europa, a partir <strong>da</strong> terceira déca<strong>da</strong>,<br />
se utiliza a organização cooperativa escolar para despertar<br />
habili<strong>da</strong>des natas para determina<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des técnicas, e<br />
também realizando trabalho dêste caráter, que não só tem<br />
beneficiado o aluno, senão também a escola e acomuni<strong>da</strong>de,<br />
indo desde a leitura do material escolar até ao<br />
reflorestamento <strong>da</strong> zona onde está situa<strong>da</strong> a escola; em<br />
outros casos, desde a conservação e melhoria <strong>da</strong>s condições<br />
<strong>da</strong> escola até ao cultivo de produtos alimentícios e criação de<br />
aves. Passa, assim, por tô<strong>da</strong>s as fases conheci<strong>da</strong>s como<br />
conhecimentos básicos <strong>da</strong> educação agropecuária e <strong>da</strong><br />
educação industrial.
FÁBIO LUZ FILHO 85<br />
NOVOS MÉTODOS DE ENSINO<br />
Esta forma de ensino, moderna e dinâmica, o distingue<br />
perfeitamente do método tradicional de ensino intelectual e<br />
teórico, que imperava antes <strong>da</strong> primeira guerra mundial.<br />
Esta mu<strong>da</strong>nça de métodos de ensino deve-se, em grande<br />
parte, a uma necessi<strong>da</strong>de, a de cooperação, frente à<br />
desordem material e moral que resultou dêsse conflito. Foi<br />
a França a iniciadora dêste movimento de cooperativismo<br />
escolar, no qual a criança, desde seus primeiros anos de<br />
estudos, aprende a interessar-se pela vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e<br />
a ser socialmente útil, e também um ci<strong>da</strong>dão consciente.<br />
Dado o êxito <strong>da</strong>s cooperativas escolares francesas,<br />
estendeu-se, ràpi<strong>da</strong>mente, pelos países anglo-saxões e<br />
atualmente se usa também a cooperativa escolar como um<br />
meio muito eficiente de educação nas colônias francesas <strong>da</strong><br />
África, onde existem problemas econômicos e sociais bas-<br />
tante sérios.<br />
Frisa mais o citado técnico que se deve definir e<br />
proclamar que a cooperativa escolar representa um método<br />
de ensino, <strong>da</strong><strong>da</strong>s a sua natureza e ativi<strong>da</strong>de, já que ensina a<br />
prática cooperativa, mediante o estímulo ao espírito de<br />
cooperação <strong>da</strong> criança, tornando menos agressivo o espírito<br />
egoísta que existe também nela e que, atualmente, pela<br />
falta de uma orientação adequa<strong>da</strong>, muitas vêzes a<br />
transforma num elemento anti-social e perigoso no futuro.<br />
“Apesar dêstes fatôres psicope<strong>da</strong>gógicos, tem também<br />
o método cooperativo um valor muito importante como<br />
complemento do interêsse do aluno em aprender e é neste<br />
ponto que descobrimos seu valor potencial para um<br />
eficiente ensino <strong>da</strong> educação vocacional em suas várias<br />
formas.<br />
“O método de ensino cooperativo é ideal para a<br />
aprendizagem por grupo de alunos, seja para as ativi<strong>da</strong>des<br />
agrícolas, industriais, comerciais, ou para a vi<strong>da</strong> comum.<br />
Isto se deve a que, ao aplicar-se êste método, através <strong>da</strong><br />
cooperativa escolar, se deve tomar em consideração que<br />
esta instituição compreende dois aspectos: o aspecto de<br />
associação de alunos e o de emprêsa de alunos. Quando se<br />
trabalha mediante a organização cooperativa escolar, os<br />
mestres dão com maior eficiência os cursos teóricos, que<br />
podem tornar-se práticos mediante a emprêsa dos alunos.<br />
Assim mesmo, cursos teóricos relacionados com a educação<br />
cívica, adquirem vitali<strong>da</strong>de, realismo na associação de<br />
alunos, que, como dizíamos antes, forma dois aspectos <strong>da</strong><br />
cooperativa escolar. Daqui também nasce sua
86 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
vantagem sôbre outras Instituições associa<strong>da</strong>s com a escola,<br />
que não reunem tô<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong>des duma enti<strong>da</strong>de que é,<br />
em si, uma escola do vi<strong>da</strong> e ativi<strong>da</strong>de, um pequeno mundo, e<br />
<strong>da</strong>rá bons resultados mais tarde, quando o aluno se converter<br />
em ci<strong>da</strong>dão, e comprove que não é indiferente ao mundo, mas<br />
que forma parte dêle, porque já viveu essa mesma vi<strong>da</strong> em<br />
criança, na sua escola, e foi educado por um método que<br />
servirá também para construir seu futuro”.<br />
EDUCAÇÃO AGROPECUARIA<br />
Adiante ressalta, com a mesma convicção e calor, que a<br />
cooperativa escolar, como método de ensino cooperativo na<br />
educação agropecuária, representa um valioso fator na moti-<br />
vação do ensino e, assim, crê que tem mais importância que<br />
as organizações de jovens conhecidos como clubes “4-H” e<br />
Futuros Agricultores <strong>da</strong> América, que são organizações<br />
estu<strong>da</strong>ntis típicas norte-americanas que colaboram no<br />
ensino técnico e que estão sob os auspícios de órgãos<br />
estaduais, fora do contrôle <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des educadoras.<br />
“Uma cooperativa escolar, que funcione numa escola<br />
agropecuária e que pode chamar-se granja cooperativa<br />
escolar, deve ficar sob a direção e a supervisão dos mestres<br />
<strong>da</strong> mesma escola. Deve esta granja cooperativa escolar, em<br />
seu aspecto de emprêsa, <strong>da</strong>r lugar a trabalhos de campo<br />
que permitam ao mestre explicar o processo <strong>da</strong> produção.<br />
Posteriormente, <strong>da</strong>rá lugar a que os estu<strong>da</strong>ntes realizem<br />
operações de ven<strong>da</strong> dos produtos <strong>da</strong> granja cooperativa, o<br />
que <strong>da</strong>ria oportuni<strong>da</strong>de para explicar o mecanismo dos<br />
preços e do mercado, além dos processos para a conservação<br />
e o acondicionamento dos produtos agrícolas. O processo<br />
administrativo <strong>da</strong> granja, levado à prática pelos próprios<br />
estu<strong>da</strong>ntes, dá lugar ao ensino aos processos<br />
administrativos no campo <strong>da</strong> agricultura, com noções<br />
fun<strong>da</strong>mentais sôbre o contrôle contábil e a matemática co-<br />
mercial, além <strong>da</strong> documentação mercantil”.<br />
DEMOCRACIA<br />
“O aspecto <strong>da</strong> associação cooperativa dos estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong>rá<br />
oportuni<strong>da</strong>de para fazer sentir ao aluno sua responsabili<strong>da</strong>de<br />
moral e social com respeito a seus colegas de estudos e a obra<br />
que se está realizando. As reuniões dos conselhos de adminis-
FÁBIO LUZ FILHO 87<br />
tração e <strong>da</strong>s assembléias gerais dos associados, contribuirão<br />
para arraigar, no educando, os princípios democráticos. Ade-<br />
mais, <strong>da</strong>rá oportuni<strong>da</strong>de para que o professor avalie, com<br />
mais objetivi<strong>da</strong>de, o interêsse e a aptidão do aluno,<br />
principalmente a fim de orientá-lo na sua ver<strong>da</strong>deira<br />
especiali<strong>da</strong>de dentro do campo <strong>da</strong> educação apropecuária”.<br />
EDUCAÇÃO INDUSTRIAL<br />
E adiante acentua como o estabelecimento <strong>da</strong><br />
cooperativa escolar pode denominar-se: oficina-cooperativa<br />
escolar. Nela se conseguirá que os alunos utilizem, com o<br />
máximo proveito, o material de trabalho. Ademais,<br />
considerando-se que o fator mais forte de motivação, na<br />
educação industrial, é o interêsse do aluno pelo trabalho do<br />
oficio, que tem seu complemento na vantagem econômica,<br />
por pequena que seja, a qual representa o fruto do trabalho<br />
pessoal, não pelo trabalho em si mesmo, mas pelas<br />
repercussões que dêle derivam por meio do método<br />
cooperativo. A finali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação industrial não é só<br />
produzir bons trabalhadores, senão pessoas com um senso de<br />
responsabili<strong>da</strong>de social adquirido na oficina-cooperativa es-<br />
colar.<br />
“A oficina-cooperativa escolar, em seu aspecto de<br />
emprêsa, <strong>da</strong>rá lugar a trabalhos de oficina que permitirão ao<br />
mestre explicar o processo <strong>da</strong> produção industrial, desde o valor<br />
<strong>da</strong> matéria-prima, a mão-de-obra, até à necessi<strong>da</strong>de de capital de<br />
trabalho e capital em maquinaria. Posteriormente <strong>da</strong>rá lugar a<br />
que os estu<strong>da</strong>ntes realizem prática de equipe mediante um<br />
trabalho coletivo sob a direção e supervisão do professor ou<br />
professôres, o que permitirá fazer cálculos básicos do custo <strong>da</strong><br />
produção industrial, considerando seus diversos fatôres, assim<br />
como o cálculo do desgaste <strong>da</strong> maquinaria, etc. Se realizarem<br />
trabalhos reprodutivos — do lucro produzido pela ven<strong>da</strong> destes<br />
artigos manufaturados, repartir-se-á uma parte entre os alunos<br />
— associados em proporção ao trabalho realizado. Explicar-se-á,<br />
com um exemplo prático, o processo administrativo de uma<br />
fábrica para uma industria pequena, tão indispensável nos paises<br />
<strong>da</strong> América Latina”.<br />
Já foi defini<strong>da</strong> a democracia como consentimento dos<br />
governados e participação dêstes no governo, basea<strong>da</strong> em uma<br />
compreensão comum obti<strong>da</strong> pela livre discussão, do que décor-<br />
re o senso de uma responsabili<strong>da</strong>de comum. E já se disse que só<br />
a educação em seu sentido lato poderá aprimorar êsse senso
88 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
de responsabili<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>r à democracia tô<strong>da</strong> a sua fôrça de<br />
renovação, com a participação de interêsses dentro dos gru-<br />
pos e entre êsses grupos, o que levará à direção social<br />
consentânea ARISTÓTELES frisou que principio<br />
fun<strong>da</strong>mental do govêrno democrático é a liber<strong>da</strong>de, com<br />
raízes em valores morais, só o dissemos.<br />
Lasserre frisa que a democracia cooperativa é<br />
responsável, no sentido de que na cooperativa não se pode<br />
nem se deve decidir sob influências de paixões, de fantasias e<br />
de mesquinhos interêsses, sem que isso tudo tenha imediatas<br />
conseqüências ruinosas sôbre a economia de todos os<br />
associados; solidária, pois na democracia cooperativa os<br />
interêsses de todos são práticamente os mesmos, são<br />
homogêneos; combatente, pois mantém uma batalha<br />
constante pela produção, a luta contra os preços abusivos,<br />
contra a concorrência agressiva, contra os inimigos do<br />
movimento cooperativo; militante, pois tem uma vontade de<br />
conquista, além de ser um movimento social com a<br />
grande ambição de transformar a ordem social vigente, am-<br />
bição de substituir a economia capitalista por uma economia<br />
cooperativa tão completa quanto possível.<br />
Repetimos que não é sem uma base educativa que se<br />
aprimoram os quadros cooperativos para que tão elevados<br />
objetivos sejam alcançados. E Pernambuco cedo isto<br />
compreendeu, quando deu ênfase ao cooperativismo escolar<br />
pela atuação ímpar de Nair de Andrade, pelo que merece<br />
louvores.<br />
Antônio Sérgio, o ilustrado professor e escritor luso, a<br />
que já nos referimos, enviou-nos recentemente seu último<br />
livro —“Cartas do terceiro homem”, bela profissão de fé<br />
cooperativis-ta, no qual tem conceitos justos sôbre o<br />
cooperativismo esco- lar, roborativos do que vimos dizendo<br />
há anos em livros, folhetos, comunicados e artigos. Frisa êle<br />
que os ver<strong>da</strong>deiros instrumentos de educação <strong>da</strong> juventude<br />
devem ser buscados na vi<strong>da</strong> civil dos nossos concelhos<br />
antigos, dos nossos municípios modernos, e na<br />
organização democrática <strong>da</strong>s cooperativas de hoje. E acena,<br />
em segui<strong>da</strong>, para o cooperativismo escolar pelas intrínsecas<br />
virtudes educativas que todos lhe reconhe- cem.<br />
“Percebamos que a liber<strong>da</strong>de é que é o sol <strong>da</strong>s almas”, diz<br />
êle, como só vimos.<br />
Já fizemos sentir em livro que o cooperativismo tem seus<br />
brônzeos alicerces fun<strong>da</strong>mentados na igual<strong>da</strong>de, na espontânea<br />
ação comum, no aperfeiçoamento dos laços de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, no<br />
mútuo consentimento, na fraternização do convívio freqüente,<br />
na soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de vicinal. Defende os atributos essenciais <strong>da</strong><br />
digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pessoa humana. É almo instru-
FÁBIO LUZ FILHO 89<br />
mento de educação econômica, moral e social. Fora disto, se-<br />
rão as cooperativas simples casas de consignação, corpo sem<br />
alma ou ideali<strong>da</strong>de, falhando na construtura <strong>da</strong> nova ordem<br />
sócio-econômico-moral para a qual caminha o mundo...<br />
Proudhon em “Solution du probleme social” disse que a<br />
reciproci<strong>da</strong>de, na criação, é o principio <strong>da</strong> existência. Na<br />
ordem social, a reciproci<strong>da</strong>de é o princípio <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />
social, a fórmula <strong>da</strong> justiça. Tem por base o antagonismo<br />
eterno <strong>da</strong>s idéias, <strong>da</strong>s opiniões, <strong>da</strong>s paixões, <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des,<br />
temperamentos, interêsses. “Elle est la condition de l’amour<br />
méme. .<br />
E Proudhon ferreteia: o mal que nos aniquila provém de<br />
que a lei <strong>da</strong> reciproci<strong>da</strong>de é desconheci<strong>da</strong>, viola<strong>da</strong> pelos<br />
egoísmos obdurados. “Le reméde est tout entier <strong>da</strong>ns la<br />
promulgation de nos rapports mutuels et réciproques, voilá<br />
toute Ia science sociale”...<br />
Já temos exaustivamente <strong>da</strong>do ênfase, em nossos livros,<br />
ao papel que representarão as cooperativas no quadro rural<br />
brasileiro, tecla que continuamos a percutir ca<strong>da</strong> vez mais<br />
incisivamente, por sermos um país com problema agudos<br />
cujas nascentes se situam na conjuntura <strong>da</strong> produção <strong>da</strong><br />
terra, com a massa <strong>da</strong> população rural precisando de<br />
alforria social e econômica, o que lhe trará sua integração<br />
permanente na vi<strong>da</strong> econômica, social e cultural <strong>da</strong> Nação.<br />
Continuemos, pois, a focar êsse assunto como numa<br />
enfadonha monódia, que sua magnitude o justifica e continua<br />
sendo posta em constante ressalto mesmo em países que já<br />
ultrapassaram o infortúnio do triste estádio de subdesenvol-<br />
vimento crônico.<br />
Não considerem, pois, os caros leitores, essa insistência<br />
como uma coisa torpente, uma melancólica zangurriana . . .<br />
É um imperativo <strong>da</strong>s circunstâncias, realmente cheio de acer-<br />
bi<strong>da</strong>des, árido, sem as suavi<strong>da</strong>des melódicas de um Sibélius<br />
ou um Schumann conduzindo-nos a repousantes<br />
intermúndios miríficos... Mas, as paisagens humanas nem<br />
sempre nos po-dem transportar a êsses deliciosos páramos...<br />
Dizemos em “Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des<br />
cooperativas” que o homem, como acentuou o PROF.<br />
ENDRES, faz repousar seus princípios morais sôbre ações<br />
práticas, partindo de uma profissão de fé teórica.<br />
O PROF. FRAUCHIGER acentuou que o principal<br />
objetivo <strong>da</strong> educação é tornar possível ao homem a vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong>de.
90 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
O PROF J. LORENZ frisou que se deveria tomar uma<br />
como atitude religiosa em favor <strong>da</strong> idéia cooperativa, em<br />
face <strong>da</strong> transcendência econômico-moral de seus postulados.<br />
O Dr. MIVILLE estudou a educação do ângulo<br />
cooperativo, achando que o Estado não deverá limitar-se, no<br />
futuro, à formação prática e especializa<strong>da</strong> dos Jovens; mas<br />
também, deverá prepará-los para que encarem com firmeza<br />
seus direitos e deveres de homens e de ci<strong>da</strong>dãos.<br />
O Dr. WARENWEILER afirmou ser a Suíça um país<br />
de homens lúcidos e operosos. A organização econômica<br />
cooperativa terá, a seu ver, papel de excepcional relêvo nesse<br />
particular.<br />
O Dr. HILFIKAR partiu do principio pestalozziano <strong>da</strong><br />
“chambre de famille”, salientando a necessi<strong>da</strong>de de se apri-<br />
morar o sentido <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de no seio <strong>da</strong> família.<br />
Comuni<strong>da</strong>de e cooperação são conceitos aproximados e<br />
quase equivalentes.<br />
MAURICE COLOMBAIN diz que há entre o esfôrço<br />
cooperativo e o de educação em geral uma relação<br />
constante, que se verifica em volta de nós, através do tempo<br />
e do mundo. Como pôr em dúvi<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
educação cooperativa para a ação cooperativa? Verificamos,<br />
ao contrário, continua êle, o vigor e a fecundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />
cooperativas que a educação fêz nascer e crescer. Vemos<br />
mesmo que todos os governos que reconheceram os<br />
benefícios <strong>da</strong> ação cooperativa, também reconheceram a<br />
necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação cooperativa; que certas<br />
províncias do Canadá tomaram a seu cargo as despesas com<br />
essa educação; que grandes administrações dos E. Unidos<br />
publicam em abundância não sòmente trabalhos estatísticos,<br />
monografias sôbre o cooperativismo, mas também<br />
ver<strong>da</strong>deiros manuais que ensinam a arte de construir e<br />
utilizar o instrumento cooperativo; que o govêrno polonês e<br />
o tchecoslovaco, dentre outros, subvencionavam e que o<br />
govêrno finlandês subvenciona ain<strong>da</strong> a educação dos<br />
associados, dos dirigentes e dos empregados <strong>da</strong>s<br />
organizações cooperativas; que a lei grega de 1938 sôbre<br />
cooperativismo previa a criação duma escola coo-perativa<br />
cujo diploma seria obrigatório para o pessoal encarregado<br />
do controle <strong>da</strong>s cooperativas e também sabemos o que as<br />
instituições cooperativas dos países <strong>da</strong> África e <strong>da</strong> Ásia<br />
deviam aos “Regístrars of Cooperatives Societies”, que não<br />
eram sòmente controladores, senão também educadores,<br />
cuja obra foi sempre sóli<strong>da</strong> tô<strong>da</strong> vez que se apoiou mais<br />
fortemente na educação. Hoje, essa tarefa continua, mas<br />
com elementos indianos.
FÁBIO LUZ FILHO 91<br />
BÓREA aconselha a multiplicação <strong>da</strong>s assembléias gerais,<br />
como meio educativo.<br />
E WATKINS, dentro <strong>da</strong> concepção subjetiva do Estado,<br />
acha que êste, por natureza, se preocupa apenas com a esta-<br />
bili<strong>da</strong>de, a estática social, e que a livre associação está inte-<br />
ressa<strong>da</strong> no movimento, na dinâmica, no progresso, na evolu-<br />
ção social. Um ponto usual de parti<strong>da</strong> (para a educação<br />
cooperativa) é a idéia de que os princípios essenciais do<br />
Cooperativismo não são sòmente princípios de organização<br />
social, senão também princípios de conduta individual.<br />
Tomado o principio de eqüi<strong>da</strong>de, não podemos deixar de<br />
considerar que a justiça social é sempre possível de ser<br />
realiza<strong>da</strong> em uma socie<strong>da</strong>de cujos membros procuram<br />
praticar a justiça individualmente. O problema fun<strong>da</strong>mental<br />
<strong>da</strong> educação cooperativa, WATKINS o vê como visando a um<br />
correto conglomerado social, que deve estimular o pensamento<br />
original, a agu<strong>da</strong>, mas justa crítica, a boa camara<strong>da</strong>gem, o<br />
desejo de executar uma boa parte de tô<strong>da</strong>s as tarefas comuns e o<br />
orgulho de uma realização conjunta, o senso do bem comum e a<br />
capaci<strong>da</strong>de de alcançá-lo pela soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de econômica e social,<br />
bem compreendi<strong>da</strong> e melhor aplica<strong>da</strong>.<br />
No Congresso canadense dos cooperadores de língua<br />
fran- cesa que se realizou na Universi<strong>da</strong>de de Ottawa em<br />
agôsto de 1950, Robert Gauthier, diretor do ensino francês<br />
em Ontario, desenvolveu brilhantemente o tema “A fôrça <strong>da</strong><br />
coordenação”, frisando como a educação é fator importante<br />
de coordenação, e apelou para que as escolas primárias e<br />
secundárias do país dessem maior atenção ao<br />
cooperativismo em seus currículos, quando do ensino <strong>da</strong>s outras<br />
matérias.<br />
A educação cooperativa <strong>da</strong>rá, pois, ao movimento coope-<br />
rativo brasileiro substrato mais sólido, dias menos empacha-<br />
dos de vacilações e dissídios internos, e os lineamento<br />
definitivos de uma contagiante consciência cooperativa.<br />
Todos reconhecem que essa atitude envolve um<br />
indurado esfôrço para o nosso meio: mas, justamente por<br />
isso, devemos perservar nêle, como acicate para uma cruza<strong>da</strong><br />
sem repouso...<br />
Já tivemos oportuni<strong>da</strong>de de frisar que Rui Barbosa disse,<br />
em uma de suas lapi<strong>da</strong>res e lentejoulantes orações, que o mal é<br />
inexorável pela consciência de ser caduco; o bem, paciente e<br />
compassivo, pelo certeza de sua eterni<strong>da</strong>de.<br />
Aos quadros de nossos cooperadores no geral falece o<br />
necessário substrato de conhecimentos específicos. Os que di-<br />
rigem, os que não devem <strong>da</strong>r ao movimento distorções que o<br />
deslegitimem, os que labutam no campo <strong>da</strong> gestão técnica,
92 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
a massa dos cooperadores ain<strong>da</strong>, em muitos meios, amorfa e<br />
vacilante, devem, todos, em uníssono, conclamar militantes<br />
para uma ação comum de educação cooperativa, nas suas vá-<br />
rias formas, para que o caminho do bem cooperativo, que é<br />
eterno, se desatravanque dos empeços que o avergam e re-<br />
tar<strong>da</strong>m um an<strong>da</strong>mento mais rápido e um tono mais adequa-<br />
do para que alcance o seu ver<strong>da</strong>deiro sentido ético-<br />
econômico. E para que não esperem tudo do paternalismo<br />
estatal.<br />
Também já fiz sentir em livro que o cooperativismo tem<br />
seus brônzeos alicerces fun<strong>da</strong>mentados na igual<strong>da</strong>de, na es-<br />
pontânea ação comum, no aperfeiçoamento dos laços de soli-<br />
<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, no mútuo consentimento, na fraternização do<br />
convívio freqüente, na soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de vicinal. Defende os<br />
atributos essenciais <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pessoa humana. É almo<br />
instrumen-to <strong>da</strong> educação econômica, moral e social. Fora<br />
disto, serão as cooperativas simples casas de consignação,<br />
corpo sem alma ou ideali<strong>da</strong>de, falhando na construtura <strong>da</strong><br />
nova ordem sócio-econômico-moral para a qual caminha o<br />
mundo...<br />
Já foi defini<strong>da</strong> a democracia como o consentimento dos<br />
governados e participação dêstes no govêrno, basea<strong>da</strong> em<br />
uma compreensão comum obti<strong>da</strong> pela livre discussão, do que<br />
decorre o senso de uma responsabili<strong>da</strong>de comum.<br />
Renomados publicistas já frisaram que só a educação em<br />
sentido lato poderá aprimorar êsse senso <strong>da</strong><br />
responsabili<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>r à democracia tô<strong>da</strong> a sua fôrça de<br />
renovação, como a participação de interêsses dentro dos<br />
grupos e entre êsses grupos, o que levará à direção social<br />
consentânea, como vimos.<br />
A cooperativa é a democracia em ação.<br />
O movimento cooperativo apela para técnicas<br />
educativas novas, e considera a cooperativa em si mesma, em<br />
sua própria essência, como um pacífico processo<br />
democrático, balestreiro para defesa do interêsse econômico<br />
do povo, com um profun-do sentido reformador. Educa para<br />
o autogoverno, a auto-suficiência, para aquela noção de<br />
liber<strong>da</strong>de organiza<strong>da</strong> a que já me referi em livro.<br />
Diz Eugen Relgis que “el ver<strong>da</strong>dero egoísmo consiste en<br />
el libre, en el voluntario perfeccionamento de la<br />
personali<strong>da</strong>d en beneficio de la humani<strong>da</strong>d. El altrúismo<br />
significa: soli<strong>da</strong>ri<strong>da</strong>d consciente del individuo que,<br />
consagrándose a la humani<strong>da</strong>d, sabe que siempre recibe de<br />
ella mucho más de lo que él le <strong>da</strong>”. E refere-se, em segui<strong>da</strong>,<br />
ao egoaltruísmo, que resume as duas atitudes e se aproxima<br />
<strong>da</strong> conceituação cooperativa do “eu coletivo”.
FÁBIO LUZ FILHO 93<br />
Ao sau<strong>da</strong>r ilustre técnico argentino em visita ao Brasil,<br />
M. Babenco, tivemos oportuni<strong>da</strong>de de dizer que os homens,<br />
efetiva e desgraça<strong>da</strong>mente, se têm alheado dêsses sãos, evi-<br />
ternos princípios de aju<strong>da</strong> mútua e recíproca compreensão,<br />
que embasam o movimento cooperativo mundial. E o corolá-<br />
rio melancólico disso é êsse generalizado e contristante espe-<br />
táculo de “psicose de destruição”, que habita as mentes; êsse<br />
ódio que, como garruncho, peia as almas dos homens tresan-<br />
<strong>da</strong>dos; êsses conhecidos desajustamentos, cujas principais<br />
fontes se podem encontrar nas convulsões de duas guerras<br />
hedion<strong>da</strong>s.Daí a premente necessi<strong>da</strong>de de um roteiro de<br />
evan-gelização, de uma cruza<strong>da</strong> universal para amparo e<br />
salvação <strong>da</strong> criança, microscosmo de maravilhas, cadinho de<br />
virtuali<strong>da</strong>des enobrecedoras, dessa criança que é a principal<br />
vitima <strong>da</strong>s incompreensões que lavram entre os homens, dos<br />
rudes entrechoques de suas paixões, do fel de suas<br />
discriminações, do ácido de seus egoísmos obnubilantes, de<br />
tô<strong>da</strong>s as suas erronias desagregadoras, dos desníveis<br />
econômicos estabelecidos pelo atual sistema econômico.<br />
As cooperativas criarão (e muitos já o estão fazendo)<br />
uma nova mentali<strong>da</strong>de ou uma “neu Sachlichkeit” nos meios<br />
rurais tipicamente brasileiros, em que o cabloco ou matuto,<br />
como o disse Oliveira Viana nunca havia sentido com<br />
acui<strong>da</strong>de a necessi<strong>da</strong>de efetiva <strong>da</strong> “aldeia” ou <strong>da</strong> “tribo”, não<br />
“sentindo”, como o ci<strong>da</strong>dão <strong>da</strong> “ci<strong>da</strong>de” grega ou o burguês<br />
<strong>da</strong> “comuna” medieval, a sua pequena comuni<strong>da</strong>de local.<br />
Acentuemos que Mac Iver disse bem que assim como<br />
ca<strong>da</strong> um de nós faz a sua socie<strong>da</strong>de, esta, por sua vez, nos faz<br />
a ca<strong>da</strong> um de nós. Se nossa individuali<strong>da</strong>de é poderosa, forta-<br />
lece ela a nossa socie<strong>da</strong>de e vice-versa.<br />
Artur Rios frisou que a comuni<strong>da</strong>de é uma trama de<br />
relações e contactos íntimos.
CAPÍTULO IV<br />
O COOPERATIVISMO NOS CURRICULOS ESCOLARES<br />
Possuía o Brasil, em 1958, registra<strong>da</strong>s no Serviço de<br />
Economia Rural, do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, 883<br />
cooperativas escolares, achando-se em Curitiba, embora,<br />
infelizmente, estacionária, a maior federação dêsse tipo <strong>da</strong><br />
América do Sul, como vimos, filiando a 90 cooperativas<br />
escolares, ex-caixas escolares. No Estado <strong>da</strong> Paraíba<br />
encontrava-se a segun<strong>da</strong> federação do mesmo tipo do Brasil.<br />
Pernambuco, que visitamos mais uma vez em setembro<br />
de 1958 (quando participamos, como delegado do Brasil, do<br />
Centro Sul-Americano de Crédito Agrícola, seminário interna-<br />
cional, de 1 a 21 de setembro de 1958), tinha 121 cooperativas<br />
escolares em funcionamento, com cêrca de 42.000 alunos-as-<br />
sociados.<br />
Fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1954, a Cooperativa Escolar Fábio Luz (no-<br />
me de meu saudoso pai), do Grupo Escolar de Jaboatão, em<br />
Pernambuco, possuía 637 alunos-associados em 1958, com<br />
um capital realizado de 1.274 cruzeiros e um movimento de<br />
ven<strong>da</strong>s de mais de 21.000 cruzeiros. Seu Conselho de Admi-<br />
nistração era composto de nove meninas e três meninos, cha-<br />
mando-se Loide Amorim a presidenta. Um dos conselheiros<br />
chamava-se Severino Ramos <strong>da</strong> Luz.<br />
A Cooperativa funciona às terças e quintas-feiras, de 12<br />
e meia horas às treze e meia (2.° turno): e de 8 às 9 horas no<br />
1º turno, às quartas e sextas.<br />
As reuniões do Conselho de Administração se realizam<br />
às sextas-feiras às 9 horas.<br />
Os trabalhos são, como é natural, realizados pelas pró-<br />
prias crianças, com orientação <strong>da</strong> professôra responsável.<br />
Quando do Seminário acima aludido, fomos surpreendidos<br />
por uma comovedora visita de todo o Conselho de<br />
Administração dessa Cooperativa, que, acompanhado de sua<br />
dedica<strong>da</strong> professôra-orientadora, e dessa distinta educadora que é<br />
Nair de Andrade, se dignaram ofertar-me lindo ramo de flores, o
FÁBIO LUZ FILHO 95<br />
que, sensibilizando-me profun<strong>da</strong>mente, veio suavizar a<br />
aridez dos temas que vinhamos, exaustiva e<br />
ininterruptamente, debatendo de manhã à tarde, às vêzes até<br />
entrando pela noite. Gentis crianças e belos cooperadores<br />
futuros!<br />
Na preocupação constante de levar o movimento<br />
cooperativo às escolas, e elevá-lo, o Serviço especializado do<br />
DAC pernambucano, em colaboração com o Departamento<br />
Cultural e Informativo dos Estados Unidos, Instituto<br />
Nacional de Cinema Educativo e de acôrdo com a<br />
Secretaria de Educação e Cultura, realiza, com pleno êxito,<br />
como verificamos com prazer, projeções cinematográficas<br />
semanais nas diversas cooperativas escolares sedia<strong>da</strong>s em<br />
Recife.<br />
Eis o quadro do cooperativismo escolar brasileiro, em<br />
dezembro de 1958:<br />
ALAGOAS.................................................... 45<br />
AMAZONAS................................................. 6<br />
BAHIA.......................................................... 153<br />
CEARÁ.......................................................... 28<br />
D. FEDERAL............................................... 8<br />
ESP. SANTO................................................ 1<br />
GOIÁS............................................................ 4<br />
MARANHAO............................................... 7<br />
MINAS GERAIS........................................ 9<br />
PARÁ........................................................... 42<br />
PARAÍBA.................................................... 54<br />
PARANÁ....................................................... 98<br />
PERNAMBUCO......................................... 121<br />
PIAUÍ........................................................... 5<br />
RIO GRANDE DO NORTE..................... 10<br />
RIO GRANDE DO SUL........................... 38<br />
ESTADO DO RIO...................................... 35<br />
SANTA CATARINA................................. 50<br />
SÃO PAULO............................................... 165<br />
SERGIPE...................................................... 1<br />
TERRITÓRIO AMAPÁ............................. 2<br />
“ ACRE.................................... 1<br />
São 89. 336 crianças associa<strong>da</strong>s.<br />
TOTAL......................... 883<br />
Quando se fala em cooperativismo escolar em Pernambuco,<br />
fala-se em Nair de Andrade, culta, delica<strong>da</strong> e dinâmica.
96 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Foi com emoção que visitei em sua companhia a Cooperativa<br />
Escolar Pereira <strong>da</strong> Costa, em Caxangá, e outras. Vi como<br />
suas pequenas diretorias compenetra<strong>da</strong>s, sob a ação discreta<br />
de professôras integra<strong>da</strong>s na idéia, cônscias de seu valor<br />
educativo, se reuniam, o presidente abrindo a sessão, a<br />
secretariazinha lendo a ata, o exame e a prestação de contas,<br />
etc. Uma escola viva de autodeterminação e de mútuo<br />
entendimento, cadinho de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, futuros e capazes<br />
ci<strong>da</strong>dãos e cooperadores. Os filmes pe<strong>da</strong>gógicos são por<br />
Nair de Andrade utilizados com freqüência como preciosos<br />
instrumentos educativos audiovisuais. Os demais Estados<br />
deveriam enviar professôras a Recife, ao Departamento de<br />
Assistência às Cooperativas, onde atua essa ilustre<br />
educadora. Nelas é que está o caminho e a salvação.<br />
Parafrasearia a Jesus: “Nelas está o caminho, a ver<strong>da</strong>de, a<br />
vi<strong>da</strong> , . .“ Os americanos consideram-nas “núcleos de divul-<br />
gación doctrinaria”, e sóli<strong>da</strong> base para a formação de outros<br />
tipos de cooperativas,<br />
Por tô<strong>da</strong> a América do Sul se vai reconhecendo o<br />
alcance dessas organizações. Em setembro de 1943, realizou-<br />
se em Bogotá, República <strong>da</strong> Colômbia, o primeiro congresso<br />
<strong>da</strong>s cooperativas dêsse país. Dêle participaram figuras<br />
intelectuais de alto valor.<br />
Entre as numerosas e brilhantes conclusões<br />
apresenta<strong>da</strong>s, uma se destaca pela sua transcendência: é a<br />
referente à educação cooperativa.<br />
Ei-la:<br />
“Primeiro: O Congresso afirma: a) O principio, tão fre-<br />
qüentemente olvi<strong>da</strong>do, segundo o qual, antes de organizar<br />
uma cooperativa, é indispensável proceder à formação<br />
técnica e espiritual dos cooperadores: b) O corolário <strong>da</strong>quele<br />
princípio assim formulado: “a solidez e a fôrça de tô<strong>da</strong><br />
cooperativa está na razão direta, de uma parte, <strong>da</strong>s<br />
condições favoráveis que oferece o meio na qual funciona, e,<br />
de outra, <strong>da</strong> preparação cooperativista que tenham os<br />
associados que a companham”; c) Que o cooperativismo já<br />
fêz provas em tô<strong>da</strong>s as partes do globo e que as Américas em<br />
geral, e a Colômbia, em particular, reunem excelentes<br />
condições para que o cooperativismo possa nelas florescer e<br />
frutificar e d) Que, por conseguinte, o êxito ou fracasso <strong>da</strong>s<br />
emprêsas cooperativas dependerá, sempre, não do sistema<br />
cooperativo em si, mas do uso que se faça do mesmo.<br />
Segundo: Para o incremento do sistema cooperativo na<br />
Colômbia é indispensável organizar a educação cooperativa de<br />
forma tal, que compreen<strong>da</strong> tô<strong>da</strong> a estrutura docente nacional,
FÁBIO LUZ FILHO 97<br />
<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de à escola primária, sem que seja esquecido o<br />
ramo secundário, normalista, industrial e extra-escolar:<br />
1.° — A inclusão obrigatória, nos planos de estudos uni-<br />
versitários, de cursos especializados de cooperativismo;<br />
2.° — Ensino cooperativo obrigatório nas escolas normais<br />
para preparar os mestres que possam desenvolver a<br />
campanha cooperativa na escola primária;<br />
3.° Revisão dos programas de estudo do bacharelato<br />
para nêles incluir o ensino cooperativo, e o estabelecimento de<br />
cooperativas de estu<strong>da</strong>ntes;<br />
4° — Adoção, nos programas de ensino vocacional, agrí-<br />
cola e industrial, de cursos obrigatórios para o operário <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong>de e do campo para uma ação cooperativa eficaz.<br />
5.° Organização sistemática de educação cooperativa<br />
por meio do rádio, do cinema, <strong>da</strong> imprensa periódica e<br />
demais meios eficazes de propagan<strong>da</strong>;<br />
6° — Solicitar dos arcebispos e bispos do pais que esta-<br />
beleçam cursos de ensino cooperativo nos seminários.<br />
Terceiro: “Que se constitua: a) — um Conselho Nacional<br />
de Educação Cooperativa dependente <strong>da</strong> Federação Nacional<br />
de Cooperativas, o quaL terá um representante do <strong>Ministério</strong><br />
<strong>da</strong> Educação e outro <strong>da</strong>s cooperativas estu<strong>da</strong>ntis, para<br />
dirigir, orientar, desenvolver e planificar;<br />
b) — Que se destinem obrigatoriamente à educação<br />
cooperativa 2,5% <strong>da</strong>s sobras <strong>da</strong>s cooperativas (norma<br />
roch<strong>da</strong>liana) que funcionem no país, e solicitar do Estado<br />
uma contribuição não superior a essa percentagem;<br />
C) — Que se estabeleça, com a contribuição acima, o<br />
fun-do de educação cooperativa, que será manejado pelo<br />
Conselho Nacional de Educação Cooperativa e pelo Estado;<br />
d) — Que se criem os instrumentos legais necessários<br />
para tornar exeqüíveis as cooperativas de serviços escolares e<br />
estu<strong>da</strong>ntis, que dentro do atual estatuto jurídico colombiano<br />
são impraticáveis;<br />
e) — Apelar para as autori<strong>da</strong>des educacionais e o pessoal<br />
docente de todo o país, não só para desenvolver este programa,<br />
como para organizar o funcionamento <strong>da</strong>s cooperativas de<br />
professôres;<br />
f) — O serviço de restaurantes escolares em forma<br />
cooperativa entre os pais, o Estado e os amigos <strong>da</strong> escola;<br />
j) — Que se solicite às emprêsas industriais e agrícolas<br />
que uma percentagem de seus recursos para assistência social<br />
se destine à educação cooperativa;
98 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
h) — O intercâmbio dos estu<strong>da</strong>ntes de cooperativismo<br />
entre os diferentes centros de ensino não só do país, senão<br />
também do estrangeiro, e o envio de pessoas já forma<strong>da</strong>s<br />
(becados) àqueles pontos <strong>da</strong> Colômbia e de fora dela onde<br />
funcionem emprêsas cooperativas de técnica aperfeiçoa<strong>da</strong>.<br />
Além disso, que se solicite <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des competentes que<br />
facilitem que as férias se efetuem em tempo diferente nas<br />
capitais e no Interior;<br />
i) — Que regulamente o Estado o exercício de cargos re-<br />
munerados nas cooperativas de maneira que, antes de três<br />
anos, todos comprovem haver seguido cursos cooperativos<br />
em institutos oficialmente reconhecidos;<br />
j) — Que se não dêem auxílios ou subvenções nacio-<br />
nais, departamentais ou municipais a cooperativas que não<br />
cumpram o disposto nos pontos e e j.<br />
Quarto: Que o Congresso designe uma comissão perma-<br />
nente de três membros encarregados de desenvolver estas<br />
recomen<strong>da</strong>ções;<br />
Quinto: Que, em vista <strong>da</strong> situação atual do mundo, se<br />
façam todos os esforços possíveis para que a organização do<br />
ensino cooperativo termine e tenha seu pleno rendimento<br />
antes do fim <strong>da</strong> guerra;<br />
Sexto: Que o Conselho Nacional de Educação<br />
Cooperativa, de que se fala na letra a do ponto terceiro,<br />
elabore a cartilha cooperativista, reunindo, ordena<strong>da</strong> e<br />
sintèticamente, os princípios básicos do cooperativismo e os<br />
benefícios que traz ao cooperador, e as indicações essenciais<br />
para fun<strong>da</strong>r uma cooperativa; e recomen<strong>da</strong>r aos Secretários<br />
Departamentais de Educação que se disponham a fazer<br />
copiosas edições <strong>da</strong> tal cartilha a fim de que sejam<br />
difundidos êsses princípios e ensinamentos em tô<strong>da</strong>s as<br />
escolas primárias e rurais <strong>da</strong> República”.<br />
É também muito expressivo o exemplo <strong>da</strong> Polônia no<br />
setor cooperativo, pois o ensino teórico e prático <strong>da</strong> doutrina<br />
foi um dos fatôres decisivos para o rápido desenvolvimento<br />
<strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas naquele país.<br />
Segue o exemplo de outros países.<br />
Afora as cooperativas escolares, cujo número, em 1958,<br />
ascendia a 4.700, o movimento cooperativo no setor do<br />
ensino pode dividir-se em três categorias:<br />
a) — As escolas cooperativas fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s e controla<strong>da</strong>s<br />
pelo Estado, com estreita colaboração por parte <strong>da</strong> União<br />
Cooperativa Polonesa, que fornece programas, nomeia<br />
professôres, etc.<br />
Tais escolas se destinam principalmente aos empregados<br />
e associados <strong>da</strong>s cooperativas agrícolas. Durante o ano de
FÁBIO LUZ FILHO 99<br />
1946-47, existiam 67 delas, sendo freqüenta<strong>da</strong>s por mais de<br />
4.000 estu<strong>da</strong>ntes; 296 professôres residentes nas escolas e 182<br />
professôres externos. Ministram os ensinamentos teóricos, e<br />
práticos, do sistema.<br />
b) — Os cursos de treinamento rápido, organizados pela<br />
União Cooperativa, com duração de uma ou duas semanas,<br />
atingiram a cifra de 390, freqüentados por mais de 7.600<br />
alunos. Dedicam-se às questões gerais do cooperativismo.<br />
c) —Finalmente, os cursos por correspondência, cujo<br />
número de alunos inscritos subiu a 25.722, sendo que em<br />
1946, já haviam sido expedidos por êsses cursos diplomas em<br />
número de 235.864.<br />
A inscrição pode ser individual, ou por grupos, devendo,<br />
entanto, o aluno responder individualmente ao questionário<br />
que lhe é remetido, para que passe nos exames. A maioria <strong>da</strong>s<br />
inscrições por grupos compõe-se de alunos de cooperativas es-<br />
colares, que são auxiliados por professôres <strong>da</strong> própria escola.<br />
A Câmara dos Deputados <strong>da</strong> Província de Buenos Aires<br />
acaba de aprovar um projeto de lei tornando obrigatório o<br />
ensino do cooperativismo nas escolas de ambos os sexos,<br />
oficiais ou particulares dessa Província. Foi autor do projeto<br />
o deputado Dr. Alberto Vega.<br />
For essa lei a Dirección General de Escuelas, através<br />
de seus organismos técnicos, traçará o respectivo plano de es-<br />
tudos e terá podêres para a indicação e seleção do pessoal<br />
docente preposto ao ensino <strong>da</strong> matéria.<br />
O ensino será teórico-prático e compreenderá, além do<br />
estudo dos assuntos que sejam julgados de interêsse, a neces-<br />
sária explicação e interpretação <strong>da</strong> lei orgânica de cooperati-<br />
vismo <strong>da</strong> Argentina.<br />
NO BRASIL, AINDA NA ARGENTINA E NO CHILE<br />
Foi o Chile o primeiro país sul-americano a referir-se,<br />
em lei, às cooperativas escolares (1927).<br />
No Brasil vem de 1931 o início <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />
cooperativas escolares pelo <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>. Livros<br />
e folhetos têm sido divulgados a respeito, oficial e<br />
particularmente.<br />
Existindo 883 cooperativas escolares regista<strong>da</strong>s no<br />
Serviço de Economia Rural até dezembro de 1958, nunca será<br />
dema- siado insistir nas virtudes edutivas que possuem.<br />
A Argentina possui também técnicos, como o Brasil, que se<br />
não cansam de pregar as excelências do sistema cooperativo.
100 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
aplicado à escola nova. Veja-se o Congresso de Córdoba<br />
em 1945.<br />
Assim é que o Sr. Carlos Pazzi, quando secretário<br />
interino de Divisão de Cooperativas <strong>da</strong> Seção de Indústria e<br />
Comércio <strong>da</strong> Argentina, acentuou, com grande justeza, que,<br />
na cooperativa escolar, a criança aprende que à margem de<br />
suas necessi<strong>da</strong>des estão as necessi<strong>da</strong>des dos demais; aprende<br />
a desprezar egoísmo e a ter a doçura infinita de <strong>da</strong>r, <strong>da</strong>r<br />
sempre, em afeição, em aju<strong>da</strong>, em trabalho, em esfôrço, em<br />
sacrifício; compreende que <strong>da</strong> colaboração de todos surgirá<br />
um imenso esfôrço, irredutível, íntegro e perdurável.<br />
Ca<strong>da</strong> criança, acentua, leva em si, por obra inegável <strong>da</strong><br />
herança e do ambiente, uma série de fatôres psíquicos, que<br />
constituem sua personali<strong>da</strong>de. Outra seria a vi<strong>da</strong>, na i<strong>da</strong>de<br />
em que a ductili<strong>da</strong>de tudo permite, se se ensinasse também à<br />
criança e ao adolescente a doutrina e a prática do cooperati-<br />
vismo, isto é, a teoria do esfôrço comum, do trabalho de ca<strong>da</strong><br />
um em bem de todos e do valor do êxito compartido.<br />
Inculcando às crianças, desde a escola, órbita natural, a<br />
prática e a doutrina profun<strong>da</strong>mente moral do<br />
cooperativismo, teremos amanhã homens aptos ao manejo de<br />
uma seção de economia, capazes de criar uma proprie<strong>da</strong>de<br />
coletiva, de despertar costumes sadios e sentimentos ativos<br />
de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de.<br />
Sob a égide dêsses princípios, devemos ensinar o<br />
cooperativismo na escola, para proporcionar-lhe a base<br />
firme <strong>da</strong> cultu-ra popular.<br />
Deve-se, pois, ao <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> a difusão do<br />
cooperativismo escolar no Brasil, Antes havia apenas a<br />
louvável tentativa de Fernando Azevedo (1928), no âmbito<br />
<strong>da</strong>s escolas municipais do Rio.<br />
A ex-Seção de Crédito Agrícola do Fomento Agrícola<br />
Federal, que eu dirigia em 1926, iniciou a sua propagan<strong>da</strong><br />
em 1931. intensificando-a em 1939, já com a denominação de<br />
Serviço de Economia Rural.<br />
A ESCOLA ORGANIZADA<br />
Além <strong>da</strong> plêiade de pe<strong>da</strong>gogos e escritores especializados,<br />
estrangeiros e brasileiros, que caracterizam amplamente o<br />
cooperativismo escolar e levantam o lábaro <strong>da</strong> proteção à<br />
criança, tais como Cide, Ravard, Profit, Buisson, Grumont,<br />
Brussière, Thomas, Caitier, Ruiz, Repetto, Baflasteros, Dewey,<br />
Paulsen .Jouenne, M. Babenco, B. Delom, Fabra Ribas, Fabio
FÁBIO LUZ FILHO 101<br />
Luz (pai), Fernando Azevedo, Valdiki Moura, Anísio Teixeira,<br />
Roberto de Menezes, Lula Amaral, M. Barbosa, Monserrat,<br />
Samuel Gonçalves, etc., para só citar os que têm publicações<br />
autônomas ou em revistas especializa<strong>da</strong>s; as publicações dos<br />
departamentos estaduais de cooperativismo <strong>da</strong> Bahia, de São<br />
Paulo, Rio Grande do Sul e outros; os artigos e comunicados<br />
oficiais; as leis espanhola, mexicana, venezuelana, chilena,<br />
colombiana, brasileira, os trabalhos de Basevi na Itália, etc.,<br />
reproduzamos a magnífica síntese que faz Tirado Benedi.<br />
Ei-la:<br />
“Imagine-se uma escola organiza<strong>da</strong> cooperativamente.<br />
Nela a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de escolar passa a ser o centro de<br />
tô<strong>da</strong>s as preocupações. O menino vive ali em contacto íntimo<br />
com a reali<strong>da</strong>de social mais completa e tem ocasião de ver e<br />
compreender (isto é essencial) que o homem multiplica e<br />
aumenta suas fôrças de uma maneira prodigiosa por efeito<br />
<strong>da</strong> ação coletiva e <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> mútua. Organizar em moldes<br />
coope rativos a escola é o meio e o instrumento mais eficaz<br />
para ini-ciar os educandos na prática <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social. Quando<br />
os meninos se reunem para celebrar suas assembléias,<br />
eleger dirigen- tes e assumir a responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> direção<br />
<strong>da</strong> obra comum; quando expõem suas iniciativas, quando<br />
procuram meios de realizar seus acordos, calculam faturas,<br />
fazem contas, escrevem cartas, formulam estatísticas,<br />
fazem cálculos de receitas e despesas, esboçam planos e<br />
redigem projetos; verificam compras; fazem coletas, traçam<br />
programas para saraus e festas escolares; passeios, viagens e<br />
excursões; trabalhos na horta, na granja, na oficina, no<br />
laboratório; organização do museu escolar; utilização <strong>da</strong><br />
biblioteca, do cinema escolar, do rádio, quantas lições<br />
práticas recebem, quantos conhecimentos vivos e hábitos<br />
úteis acumulam!” Dai o seu alcance educativo.<br />
Ballesteros classificou a cooperativa escolar como uma<br />
associação livre de alunos, regi<strong>da</strong> por uma administração de<br />
alunos nomeados por êle próprios, e que se propõe reunir,<br />
por meios diversos, os fundos precisos para ampliar os<br />
recursos educativos e o material didático, criar instituições<br />
protetoras de escola, etc., com o fim de tornar mais<br />
interessante, ativo e educativo o ensino.<br />
É um dos meios, quiçá o principal, de ampliar os fundos<br />
<strong>da</strong> Cooperativa, é o trabalho dos próprios alunos.<br />
Podem prestar grandes serviços como laboratórios de<br />
experimentação pe<strong>da</strong>gógica e de orientação profissional e<br />
como centros de Instrução pós-escolar.
102 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Só o fato de intervir na marcha <strong>da</strong> cooperativa, de<br />
administrá-la, além de despertar nas crianças um alto<br />
sentido de seu valor e de sua responsabili<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>r-lhes-á<br />
lições indeléveis para uma vi<strong>da</strong> sã, de ativi<strong>da</strong>de e cultura.<br />
Em uma cooperativa escolar bem compreendi<strong>da</strong>,<br />
acrescenta Ballesteros, os meninos aprenderão as idéias<br />
fun<strong>da</strong>mentais de justiça, pátria, religião, liber<strong>da</strong>de, etc., pela<br />
prática dessas virtudes sociais, e não por uma explicação<br />
verbal, que só poderá dirigir-se à sua inteligência, mas que<br />
jamais influenciará sua conduta.<br />
O Dr. Erico Emir Panzoni assim se referiu às<br />
cooperativas escolares:<br />
“Las cooperativas escolares tienen dos objetivos: un eco-<br />
nómico, otro educativo, siendo este último el ver<strong>da</strong>dero pro-<br />
pósito de estas organizaciones. En opinión de pe<strong>da</strong>gogos<br />
experimentados, la cooperativa es en si un instrumento, un<br />
método y un medio de formación mental y moral.<br />
“Reproducen generalmente en pequeña escala la<br />
organización adopta<strong>da</strong> por las cooperativas de consumo,<br />
produción, comercializoción, realizando una o varias de<br />
estas tareas”.<br />
E Ma<strong>da</strong>me Chenon-Thivet, educadora francesa, acentua<br />
que o cooperativismo escolar pode responder à tríplice preo-<br />
cupação de todo trabalho pe<strong>da</strong>gógico eficaz:<br />
1.°) Dar ao ensino um conteúdo valioso, isto é, no qua-<br />
dro <strong>da</strong>s disciplinas convencionais e dos programas oficiais,<br />
fornecer matéria rica, viva, a um tempo prática e cultural.<br />
2.°) Ministrar êsse ensino por um método ajustado à<br />
psicologia do escolar, em seus diversos níveis de i<strong>da</strong>de, ofere-<br />
cendo-lhe condições de ativi<strong>da</strong>de reais, necessárias, para<br />
conduzí-lo, do estado de dependência à autonomia, por meios<br />
ajustados às suas necessi<strong>da</strong>des e gestos;<br />
3.°) Proporcionar à escola um espírito novo, um sôpro<br />
animador, capaz de <strong>da</strong>r um sentido à vi<strong>da</strong> escolar,<br />
despertan- do no aluno a facul<strong>da</strong>de de desejar seu próprio<br />
desenvolvimento e provocar sua própria educação e<br />
instrução;<br />
A Cooperativa escolar, pois, como um fator de “motiva-,<br />
ção” para o trabalho escolar, ao mesmo tempo que uma<br />
fôrça de uni<strong>da</strong>de que se opõe à dispersão do esfôrço.<br />
É suscetível, assim, o Cooperativismo Escolar, ain<strong>da</strong> na<br />
opinião de Mme. Chenon, por seu espírito, suas práticas, seus<br />
resultados, de assenhorear-se de uma pe<strong>da</strong>gogia que permita<br />
à escola tradicional evolver para uma escola especificamente<br />
ativa, de estrutura e métodos favoráveis a uma educação<br />
moderna.
FÁBIO LUZ FILHO<br />
103<br />
“La Revista della Cooperazione” e “Movimento<br />
Cooperativo”, na Itália, tem em seu corpo de colaboradores<br />
técnicos especializados de renome.<br />
Cooperativas escolares existentes no mundo em 1958.<br />
Eis o quadro <strong>da</strong>s cooperativas escolares existentes em<br />
vários países em 1958:<br />
1.° — Rússia 150.000<br />
2.° — França 28.000 (com 1.200.000<br />
associados).<br />
3.° — México 17.197<br />
4.° — América do Norte 15.000<br />
5.° — Polônia 4.700<br />
6° — China Nacionalista 1.349<br />
7.° — Índia 1.270<br />
8.° — Finlândia 1.200<br />
9.º — Suécia 1 .103<br />
10.° — Tunísia 953<br />
11.° — Brasil 883<br />
12.° — Bélgica 750<br />
13.° — União Sul-Africana 600<br />
14.° — Dinamarca 548<br />
15.° — Argentina 450<br />
16.° — Iugoslávia 133<br />
17.° — Canadá 117<br />
18.° — Itália 100<br />
19.° — Marrocos 92<br />
20.° — Camerum 17<br />
21.° — Grécia 10<br />
Em várias escolas de Formosa foram em 1955 cria<strong>da</strong>s as<br />
acima cita<strong>da</strong>s cooperativas escolares de consumo, os quais<br />
também prestam serviços, concedem créditos, abrem contas<br />
de economia, etc. As 1.349 cooperativas escolares de<br />
consumo, agrupa<strong>da</strong>s em 13 federações, possuem 400.000<br />
associados-alunos. Fazem-se “semanas de cooperativismo”<br />
nas escolas.<br />
Em Trini<strong>da</strong>d há cooperativas escolares de crédito, e na<br />
Guiana ing1esa existem cooperativos escolares “de<br />
economia”.
CAPÍTULO V<br />
A ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
O sistema cooperativo, que vem apresentando ao mundo<br />
tão promissoras perspectivas de trabalho e concórdia, não<br />
poderia deixar de calar fundo no espírito <strong>da</strong>queles que têm a<br />
nobre e árdua missão de guiar êsses pequenos sêres, ci<strong>da</strong>dãos<br />
de amanhã, cujas almas, no esplendor de luminosa eclosão, se<br />
abrem para o grande e multifário espetáculo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />
Ao espírito novo <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia moderna, em que, como se<br />
viu, o self-government é o princípio em que se esteia tô<strong>da</strong> a<br />
renovação pe<strong>da</strong>gógica, como fator de formação moral, cons-<br />
tituindo a escola “o meio vital <strong>da</strong> criança”, ao espírito novo<br />
<strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia moderna não poderia fugir o alcance educativo<br />
dos princípios do cooperativismo puro aplicados à escola.<br />
Êsse espírito novo torna a escola um núcleo de dinamismo e<br />
de aperfeiçoamento de aptidões que se revelam no trato esco-<br />
lar quotidiano, aptidões físicas, morais e de inteligência. O<br />
ensino moderno, tendo por centro a criança autônoma e ao<br />
mesmo tempo solidária com os seus pares, tem por dever<br />
criar o ambiente propício à polarização, ao desenvolvimento<br />
e aperfeiçoamento <strong>da</strong>quelas aptidões. Ferri já o frisara e<br />
Fábio Luz, meu saudoso pai, isto acentuou sempre.<br />
As socie<strong>da</strong>des cooperativas escolares, apoia<strong>da</strong>s, até certo<br />
ponto, por mais dinâmicas, naquele mesmo espírito que<br />
presi-de às “Caixas Escolares” que o Dr. Fábio Luz, quando<br />
inspetor escolar, introduziu no Distrito Federal, como<br />
introduziu outras práticas que, mais tarde, reapareceram<br />
com outras designa-ções, as cooperativas levarão a êsse<br />
espírito de colaboração e de autonomia que colimam os<br />
pe<strong>da</strong>gogos de hoje. Pela sua estrutura democrática, nivela a<br />
todos, nela atuando, em um mesmo pé de igual<strong>da</strong>de, tanto o<br />
aluno que tem progenitores pecuniosos, como o aluno<br />
pobrezinho que integraliza suas quotas em trabalhos ou<br />
serviços. (O caráter de assistência tem-se acentuado nos<br />
meios rurais pobres, como acontece na Bahia.)
FÁBIO LUZ FILHO 105<br />
Diz Poisson que o cooperativismo é de essência<br />
democrática ou, mais exatamente, de self-self administração,<br />
como di-zem os ingleses. Esta consiste na igual<strong>da</strong>de dos<br />
associados e em idênticos direitos de atuação. É uma regra<br />
de direito. Esta se resume em uma fórmula Inglêsa,<br />
singelamente expressiva:<br />
um cooperador, um voto, como vimos.<br />
Na cooperativa vale a capaci<strong>da</strong>de de trabalho e<br />
inteligência, o esfôrço sincero, a dedicação incessante de ca<strong>da</strong><br />
um para o engrandecimento de uma obra coletiva feita do<br />
mais elevado altruísmo.<br />
O cooperativismo, reafirmo, é uma obra de<br />
congraçamento em um pensamento digno de melhoria<br />
econômica, social e moral. É um órgão de eleva<strong>da</strong> política<br />
social que assenta na associação de todos os necessitados de<br />
mútuo apoio, dignos e trabalhadores.<br />
A cooperativa é uma obra de natureza coletiva de<br />
alevanta<strong>da</strong>s miras que não pode confundir-se com<br />
associações mercantis de fins especulativos. É uma obra de<br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de benéfica, de apoio mútuo, erigi<strong>da</strong> sôbre uma<br />
ampla base unitária e igualitária, e só tem que ver com as<br />
quali<strong>da</strong>des de honradez, de trabalho produtivo, de<br />
proficiência, etc., de seus associados dignos, virtudes essas<br />
sôbre as quais repousará a vi<strong>da</strong> mesma <strong>da</strong> associação<br />
cooperativa. A socie<strong>da</strong>de cooperativa é uma socie<strong>da</strong>de de<br />
pessoas e não de capitais.<br />
Desenvolveu-se em França, como vimos, o<br />
cooperativismo escolar ao influxo <strong>da</strong> ação de M. Profit, no<br />
pós-guerra, contando-se hoje nesse país milhares de<br />
cooperativas escolares. Esse movimento se irradiou por<br />
outros países, contando-se hoje cooperativas escolares na<br />
Bélgica, Suíça, Polônia, Itália, Inglaterra, Alemanha,<br />
Hungria, Bulgária, Tchecoslováquia, Romênia, Dinamarca,<br />
Lituânia, Rússia, México, Argentina, etc. (Como veremos<br />
adiante, há quem fixe em 1906 e 1908 os<br />
movimentos na Polônia e <strong>da</strong> Romênia, mas com ou- tras<br />
origens, sem, a meu ver, aquêle cunho que às mesmas<br />
imprimiu a França). No Uruguai o ilustre educador César<br />
Marote é um paladino vibrante e culto <strong>da</strong> implantação <strong>da</strong>s<br />
cooperativas escolares.<br />
No Distrito Federal, procurou aplicar o decreto<br />
municipal, devido a Fernando Azevedo, a distinta inspetora<br />
escolar, D. Loreto Machado, que fundou uma cooperativa<br />
de consumo escolar no “Grupo Escolar Nilo Peçanha” em<br />
cujo “Círculo de Pais e Professôres” tive o prazer de fazer<br />
uma conferência. Este movimento não conseguiu até hoje<br />
infelizmente interes-sar devi<strong>da</strong>mente os demais distritos<br />
escolares, mui apega<strong>da</strong>s,
106 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
as professôras, às caixas escolares, ajouja<strong>da</strong>s em seus cur-<br />
rículos por várias disciplinas, etc.<br />
Um escritor francês frisa, mais uma vez, as vantagens de<br />
vária ordem que dimanam <strong>da</strong> cooperativa escolar: de ordem<br />
econômica, higiênica e artística; de natureza moral; de edu-<br />
cação social, de índole didática, como vimos.<br />
Econômicamente, a cooperativa agrupa indivíduos para<br />
a realização de fins econômicos imediatos e mediatos;<br />
infunde hábitos de economia e sentimentos claros de<br />
previdência, lições de boa vontade e tenaci<strong>da</strong>de, levando o<br />
aluno a comprar e distribuir com critério e espírito de justiça<br />
distributiva, (A ven<strong>da</strong> na cooperativa de consumo é um<br />
simples ato de distribuição, pois não visa ao lucro. É um dos<br />
traços fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> cooperativa e que a distingue<br />
frisantemente <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des de especulação).<br />
Obrigados, pelas contingências <strong>da</strong> administração (para<br />
produção de todos os seus efeitos a cooperativa escolar deve,<br />
tanto quanto possível, ser administra<strong>da</strong> pelos alunos dos anos<br />
superiores, orientados e controlados pelos professôres e dire-<br />
tores, membros natos <strong>da</strong> cooperativa escolar), a entrar em<br />
contacto com o comércio privado, a procurar, pela compra<br />
em grosso, preços compensadoras para a sua cooperativa<br />
(justo preço, quali<strong>da</strong>de boa e pêso exato), fixarão a diferença<br />
que há entre os processos de uma cooperativa e os métodos<br />
do comércio privado, que visa unicamente ao lucro<br />
individual.<br />
Profit acha que os administradores devem ter, no mínimo,<br />
10 anos de i<strong>da</strong>de e que só devem tomar parte nas eleições os<br />
de mais de 9 anos. Pensa também não haver inconveniente<br />
em que <strong>da</strong>s cooperativas escolares possam participar os<br />
alunos e antigos alunos de 6 a 20 anos, considera<strong>da</strong> a<br />
cooperativa como um maravilhoso laboratório de auto-<br />
educação que conduzirá até ao artesanato rural. Assim agiu<br />
ao fun<strong>da</strong>r, em 1923, a primeira cooperativa escolar em Saint-<br />
Jean d’Angély, denomina<strong>da</strong> “As abelhas”, que, como<br />
veremos, no fim do primeiro ano, já possuía 2.100 francos.<br />
Em 1926 existiam nessa circunscrição 20 círculos<br />
cooperativos, 237 museus 200 instalações sanitárias, 60<br />
aparelhos cinematográficos, oficinas para trabalhos manuais,<br />
bibliotecas, etc., etc.<br />
Ballesteros fêz sentir que o conceito usual <strong>da</strong> palavra<br />
cooperativa redú-la a uma reunião de pessoas para o<br />
preenchimento de fins econômicos, Acha que, tal como é<br />
concebi<strong>da</strong> dentro do movimento renovador <strong>da</strong> educação, êsse<br />
aspecto econômico não é, porém, o único nem o principal de<br />
seus fins, assinalando ser possível que na prática se possa<br />
indicar, mais
FÁBIO LUZ FILHO 107<br />
do que como propósito, como pretexto essencial <strong>da</strong><br />
cooperação escolar, a consecução de recursos para o trabalho<br />
<strong>da</strong> escola, “Na reali<strong>da</strong>de, no fundo do movimento cooperativo<br />
há um afã de lograr, mediante êsse recurso fecundo, que a<br />
escola possa alcançar seu ideal de autonomia, de<br />
colaboração, de ativi<strong>da</strong>de, de educação <strong>da</strong> família e pela<br />
família.... Com os processos de cooperação e de associação que<br />
se inspiram nas socie<strong>da</strong>des cooperativas comuns, a escola quer<br />
chegar à realização de seus mais altos ideais educativos”.<br />
Acentua êle ain<strong>da</strong> como a cooperação dos meninos<br />
permitirá a existência de comuni<strong>da</strong>des escolares em que<br />
adquirirão êles um sentido <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de e a prática<br />
<strong>da</strong>s virtudes <strong>da</strong> associação, chegando à formação de grupos<br />
de meninos para o cumprimento de tarefas concretas dentro <strong>da</strong><br />
ativi<strong>da</strong>de geral <strong>da</strong> cooperativa. Chegar-se-á, igualmente, a<br />
criar, na escola, um ambiente de autonomia e<br />
de colaboração, uma vez que serão os próprios meninos que<br />
irão regulamentar a existência <strong>da</strong> cooperativa e fixar o papel<br />
de ca<strong>da</strong> aluno dentro dela, fomentando-se a sã ativi<strong>da</strong>de de<br />
todos para trazer elementos de trabalho e recursos<br />
econômicos com que adquirir novos meios de tornar<br />
objetivo o ensino.<br />
“A cooperação dos pais interessará a êstes na obra <strong>da</strong><br />
escola, fazendo-os conviver com os mestres, conhecer os<br />
problemas <strong>da</strong> escola e sentir as suas necessi<strong>da</strong>des. Ao mesmo<br />
tempo, recebem a influência educadora dêsse ambiente,<br />
geralmente ignorado por êles, recebendo inspirações para o<br />
trato e a di- reção de seus filhos”.<br />
As cooperativas escolares não deixaram nem deixam de<br />
preocupar os educadores, argentinos. (Ver a mensagem de<br />
1959 do professorado buenairense.)<br />
Abrangiam, no geral, as cooperativas escolares argenti-<br />
nas, várias escolas de um mesmo “Consejo Escolar”, as quais<br />
limitavam 100 ou 200 o número de associados que poderiam<br />
continuar a mantê-la, no caso <strong>da</strong> maioria desejar dissolvê-la.<br />
Não se enquadravam nos moldes <strong>da</strong> nossa legislação, que dá<br />
ao aspecto econômico valor subsidiário apenas, no que andou<br />
acerta<strong>da</strong>, e não admite professôres nem tutôres.<br />
Diziam os estatutos <strong>da</strong> “Socie<strong>da</strong>de Cooperativa Escolar<br />
Florêncio Varela”, Consejo Escolar XV:<br />
“Pueden ser so<strong>da</strong>s los alumnos de las escuelas primarias<br />
dependientes del Consejo Escolar XV, los padres, tutores o<br />
encargados, personal directivo, docente y administrativo, las<br />
escuelas, el Consejo y las Socie<strong>da</strong>des cooperativas de las<br />
escuelas”.
108 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Os sócios poderão eleger “los delegados titulares y<br />
suplentes dei grado a que pertenecen. Solamente elegirán<br />
delegados de acuerdo al inciso anterior, los alumnos le 5.° y<br />
.° grados”. Os alumnos do 1.°, 2.°, 3.° e 4.° graus são<br />
representados pelos pais, tutores ou encarregados. O<br />
representante de ca<strong>da</strong> escola será o diretor e, o do Conselho<br />
Escolar, o seu presidente.<br />
“La Socie<strong>da</strong>d será dirigi<strong>da</strong> por un Directorio<br />
compuesto por lumnos, otros siete serán directores o<br />
maestros, presididos por el Presidente del Consejo<br />
Escolar”.<br />
Dizem os estatutos elaborados por César Marote:<br />
“Pueden ser socios los alumnos de las escuelas<br />
primarias y de adultos pertenecientes a la zona, los padres,<br />
tutores e encargados, y el personal docente y administrativo<br />
de las escuelas de la zona”;<br />
“Los socios tienen voz y voto en las Asambleas, a<br />
excepción de los alumnos de 1.°, 2.°, 3.° e 4.° años;<br />
“Los padres, tutores o encargados de los socios<br />
alumnos de dichas classes, tendrán voz y voto em<br />
representación de aquellos”;<br />
“Los alumnos socios de ca<strong>da</strong> escuela designarán de<br />
entre ellos un delegado ante el Directorio de la Cooperativa<br />
a que pertenecen. Será por lo menos de 5.° año y tendrá<br />
voz, pero no voto”.<br />
Eis os objetivos <strong>da</strong> “Socie<strong>da</strong>de Cooperativa Escolar<br />
Fiorêncio Varela”: — “Proveer de material escolar a sus<br />
asociados: textos, ilustraciones, útiles y todo aquellos<br />
articulas que fueran necesarios a la escuela.<br />
Contribuir a la difusión y realización del ahorro y el<br />
mutualismo, pudiendo establecer cajas especiales, o el<br />
ahorro postal, asi como también la previsión en suas<br />
diversas formas”.<br />
Em reunião, há tempos, o “Consejo Nacional de<br />
Educación” resolvera desenvolver ação intensa no sentido<br />
<strong>da</strong> difusão do cooperativismo escolar na Argentina, tendo-<br />
se processado movimento idêntico em Rosário.<br />
A organização dessas cooperativas, afastando<br />
pràticamente os alunos <strong>da</strong> gestão e <strong>da</strong> administração, e<br />
visando mais ao aspecto econômico (a cooperação econômica<br />
deve ser um meio, apenas), tem um caráter de certa<br />
complexi<strong>da</strong>de e é diferente <strong>da</strong> organização <strong>da</strong><strong>da</strong> às<br />
cooperativas européias, que são de um cunho mais simples<br />
e, no ver de escritores, de um alcance educativo muito<br />
maior, como é compreensível, restritas como estão a uma só<br />
escola e dirigi<strong>da</strong>s por alunos, orientados solícitamente,<br />
pelos seus diretores e professôres. O decreto municipal<br />
brasileiro n° 2.490, de 22 de novembro de 1928, em seu
FÁBIO LUZ FILHO 109<br />
Capítulo III, foi clarividente e lógico. Dispôs que aa<br />
cooperativas se organizassem em ca<strong>da</strong> escola, só<br />
admitissem alunos e fôssem administra<strong>da</strong>s por alunos do<br />
4.° ou 5.° anos escolhidos e orientados pelos professôres <strong>da</strong><br />
escola. Deveriam ser organiza<strong>da</strong>s por iniciativa do diretor e<br />
ficariam sob sua superintendência.<br />
Fernand Cattier, diretor <strong>da</strong> “École Normale<br />
d’Instituteurs du Vosges”, em se referindo à França, diz:<br />
“M. Boularron, directeur de l’école de Mirecourt (Vosges)<br />
m’a autorisé à citer les statuts que ses éléves ont rediges<br />
eux-mêmes. Cet éducateur laissait ses jeunes disciples se<br />
reunir en assemblées générales autant qu’ils désiraient et il<br />
se bornait à être, le cas échéant, leur avocat conseil.<br />
4.° — De prendre eux-mêmes soin de leur classe, de la<br />
rendre propre et agréable à habiter, de façon à l’aimer et à<br />
la faire aimer autour d’eux;<br />
5.° — De rechercher des distractions saines et de<br />
contracter des bonnes habitudes l’ordre et de propreté;<br />
6.° — De connaitre à fond leur petite patrie pour<br />
l’aimer mieux en apprenant à almer la grande.<br />
En consequence, ils ont formé avec approbation du<br />
maitre une societé denominée: “L’Abeille scolaire<br />
stéphanoise”, dont le but exclusif est l’éducatlon<br />
intellectuelle, morale et pratique de soi-même par soi-même:<br />
elle est un jeu”.<br />
Diz o artigo 3 <strong>da</strong> “Section de Gouvernement<br />
Autonome”:<br />
“Les éléves de la première classe se gouvernent eux-mêmes<br />
afin d’assurér l’ordre et la discipline, le travail et la bonne<br />
marche de Ia classe, de donner à chacun le sentiment de<br />
l’intérêt collectif et une certaine initiation à la vie civique.<br />
J’ai constaté par expérience que les coopératives<br />
scolaires ne vivent que se les enfants sont seuls appelès à les<br />
créer et à les faire prospérer. Si l’on s’occupe trop de leurs<br />
affaires, ils finissent par ne plus aimer autant à “jouer à la<br />
coopérative” et leur petite société meurt d’inanition, faute de<br />
soins”.<br />
Diz o artigo primeiro dessa interessante cooperativa:<br />
“Les élèves de la premiere classe de garçons de Saint-<br />
Etienne-les<br />
-Remiremont ont décidé:<br />
1.° — D’apprendre à se governer eux-mêmes, sous la di-<br />
rection et avec conseils de leur maître, afin de savoir faire<br />
usage de leur liberté et de devenir plus tard dez citoyens<br />
conscients et éclairés;<br />
2.° — De chercher à commencer leur éducation<br />
d’hommes en apprenant, dês l’école, à s’entraider et à<br />
s’aimer;
110 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
3. ° — De s’intruire eux-mêmes par l’observation directe<br />
des phénomènes qui leur sont famlliers ou des objets que la<br />
communauté aura pu se procurer;<br />
Art. 4.° — La section est administrée par un comité de 6<br />
membres: le chef de salle, nommé par le maitre; le sécrétaire,<br />
le trésorier, le bibliothécaire, l’officier sanitaire, le conser-<br />
vateur, élus par leurs camarades”.<br />
Eis como é organiza<strong>da</strong> a “Section Coopérative”.<br />
Article premier. — Font partie de la section coopérative:<br />
a) des membres actifs, ágés de 6 a 20 ans, élèves ou anciens<br />
éléves de l’école, qui versent une cotisation mensuelle de 0 fr.<br />
50; b) des membres d’honneur, qui par leur apport matériel<br />
ou moral, ont aidé l’école”.<br />
São eleitos todos os alunos maiores de 10 anos e elegíveis<br />
os alunos dos cursos superiores. Os man<strong>da</strong>tos duram um<br />
mês. “Les écoliers, étant égaux et n’ayant pour but que leur<br />
éducation, doivent s’aider mutuellement, ils sont les pro-<br />
tecteurs naturels des petits, ils doivent donner en tout le bon<br />
exemple, étre polis <strong>da</strong>ns la rue et à l’école”. São cooperativas<br />
por classe, o que a lei brasileira não admite.<br />
Cattier achava que ain<strong>da</strong> não estava determina<strong>da</strong> a fór-<br />
mula definitiva <strong>da</strong>s cooperativas escolares. As mais generali-<br />
za<strong>da</strong>s constituíam, como diz Oberdorfer, “formas<br />
primordiais de cooperação”. O que, porém, ressalta de tô<strong>da</strong>s,<br />
seja nas formas primitivas de cooperação, seja nas<br />
ver<strong>da</strong>deiras cooperativas escolares, enquadra<strong>da</strong>s na grande e<br />
fecun<strong>da</strong> modura típica <strong>da</strong>s cooperativas de adultos, o que<br />
ressalta de tô<strong>da</strong>s é o pe<strong>da</strong>gógico “princípio <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de”.<br />
A cooperativa acima cita<strong>da</strong>, como outras (de Charmes —<br />
sur-Moselle, etc.), não têm pròpriamente a organização típica<br />
<strong>da</strong>s cooperativas em geral, no que se refere, principalmente,<br />
à organização do capital: estipulam, como vimos, o<br />
pagamento de pequenas mensali<strong>da</strong>des ou anui<strong>da</strong>des fixas,<br />
não restituíveis, em vez de pequenas quotas-partes, de<br />
pequeno valor, e restituíveis, quando o associado se retira (é<br />
o princípio <strong>da</strong> porta aberta). Há nelas ausência de dividendo,<br />
o que é, aliás, acertado, e ausência do princípio básico do<br />
cooperativismo que Charles Gide classificou de “golpe de<br />
gênio” dos Pioneiros de Roch<strong>da</strong>le: o principio de Howarth,<br />
isto é, a distribuição dos lucros (excedentes ou sobras obti<strong>da</strong>s<br />
pelas diferenças que proporcionam as compras em grosso,<br />
tanto quanto possível diretamente ao produtor, e a dinheiro à<br />
vista, a quem contribuir para formá-los, o que pode ser<br />
também dispensado nas cooperativas escolares), basea<strong>da</strong> a<br />
ação cooperativa na pessoa de
111 FÁBIO LUZ FILHO<br />
ca<strong>da</strong> associado, no sou poder de consumo, nas suas<br />
facul<strong>da</strong>des de trabalho e produção, relegado o capital ao seu<br />
ver<strong>da</strong>deiro papel de auxiliar do trabalho, que o formou, e ao<br />
trabalho subordinado.<br />
LÍDIMAS COOPERATIVAS EM MINIATURA<br />
Existem, porém, cooperativas escolares européias<br />
amol<strong>da</strong><strong>da</strong>s à organização cooperativa corrente no mundo e<br />
que, por efeito de sua organização mesma, produzem os<br />
admiráveis efeitos econômicos, morais, sociais e educativos<br />
do ver<strong>da</strong>deiro e são cooperativismo.<br />
É um como processo eurístico de fecundos resultados.<br />
Mme. Alice Jouenne, membro <strong>da</strong> “Commission<br />
Nationale de l’Enseignement de la Coopération”, de França,<br />
criou em sua escola uma cooperativa nos moldes <strong>da</strong>s<br />
socie<strong>da</strong>des de adultos, pois “n’a paz eu peur de caricaturer<br />
une chose sérieuse pour la bonne raison que les méthodes de<br />
jeu et les leçons de choses sont encore les meilleurs moyens à<br />
employer pour se faire comprendre des enfants.<br />
“Chaque sociétaire, doit au moins posséder une action<br />
de 5 francs, Comme à la coopérative, l’enfant peut ne verser<br />
que le 1/10 de l’action, soit Ofr.50. Il fera preuve d’energie,<br />
de bonne volonté, de pérséverance pour payer le reste. Le<br />
trésorier reçoit les cotisations, tient la comptabilité; ainsi<br />
qu’à la coopérative scolaire ordinaire, chacun peut contrôler<br />
et veiller aux erreurs. Il y a un conseil d’administration<br />
nommé par l’assemblée génerale et une commission de<br />
contrôle.<br />
“Enfin, il existe des marchandises, du dentrifice, des<br />
savons, des objets de toilette, des jouets, des cartes postales et<br />
autres menues choses. Il y a un magasin et un élève-gérant<br />
qui doit rendre compte une fois par mois de sa gestion.<br />
Comme la société d’adultes, la petite coopérative a des<br />
réserves qu’elle destine au développement <strong>da</strong>s oeuvres<br />
sociales, c’est-à-dire aux excursions intéressantes, aux visites<br />
des musées, à l’enrichissement de la bibllothèque..., et aussi<br />
aux oeuvres charitables en tous points semblables à celles<br />
dont nous par- lons plus haut”.<br />
“La petite société a des membres honoraires, c’est-à-dire<br />
des gens qui généreusemente versent à la caisse de la<br />
coopérative, mais qui, par le fait qu’ils ne consomment pas,<br />
ne pren- nent part ni à la gestion, ni à l’administration. Il<br />
n’est pas difficile de montrer que, selon le principe roch<strong>da</strong>lien,<br />
on n’est
112 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
paz coopérateur en achetant de actions, mais en consommant<br />
à la coopérative”. (M. Jounne não preconiza os associados<br />
honorários em um de seus livros. Quando existem, não votam<br />
nem são votados. A nossa lei não os permite, no que andou<br />
bem).<br />
É, assim, uma cooperativa em tois moldes uma fecun<strong>da</strong> e<br />
admirável miniatura <strong>da</strong>s cooperativas de adultos (tirante a<br />
disposição sôbre sócios honorários, só admissível, assim<br />
mesmo com restrições, em cooperativas escolares, mas que a<br />
lei brasileira não permite, e com razão), que se espalham hoje<br />
pelo mundo lançando os lineamentos do mundo de amanhã.<br />
E um cadinho de altruísmo, um laboratório de experiências<br />
sãs onde apreenderá a criança aspectos relevantes <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
econômica e terá desenvolvi<strong>da</strong>s aptidões salutares e a prática<br />
de virtudes sociais para o combate que a aguar<strong>da</strong>rá cá fora,<br />
no grande mundo, no entrechoque de duras competições.<br />
Nela adquirirá a criança, para todo o curso de sua<br />
existência, uma grande capaci<strong>da</strong>de de ação social<br />
construtiva. Depois, como diz Egger, o ilustre professor <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de de Zurich “le principe de la coopération est un<br />
príncipe moral. L’histoire du mouvement coopératif fait<br />
partie de celle du développement de Ia pensée humaine”.<br />
Na Espanha, Antônio Baliesteros, um dos escritores que<br />
desenvolvi<strong>da</strong>mente têm tratado do assunto e autori<strong>da</strong>de em<br />
assuntos pe<strong>da</strong>gógicos, diz mais que a mutuali<strong>da</strong>de escolar<br />
“tiene esencialmente el propósito de despertar en los niños<br />
un espiritu de previsión, de economia y el lejano de<br />
asegurarles recursos económicos en época critica de su vi<strong>da</strong>.<br />
“La cooperativa, por el contrario, tiene en la escuela no<br />
sólo su medio unico de desenvolvimiento y de acción, sino su<br />
ultima finali<strong>da</strong>d, siendo unicamente los niños, guiados y acon-<br />
sejados por su maestro, los que ejercen la dirección y la admi-<br />
nistración de la socie<strong>da</strong>d infantil. Ademais, sus propósitos son<br />
todos inmediatos y directos, benefician a la totali<strong>da</strong>d de los<br />
niños y no permiten la intervención direta de personas ajenas<br />
a la escuela. Y, sobre todo, responde a los intereses más per-<br />
manentes y profundos de Ia infancia que son los gregarios de<br />
cualquier orden”.<br />
Num século essencialmente dinâmico, o espírito de ação<br />
pragmática na luta <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> não deixa de ser um elemento<br />
realístico de êxito, aliado aos nobres sentimentos de soli<strong>da</strong>rie-<br />
<strong>da</strong>de humana.<br />
Os norte-americanos, no sentido de despertar nas<br />
crianças o espírito de previdência e hábitos de economia,<br />
instituíram as
FÁBIO LUZ FILHO 113<br />
interessantes organizações denomina<strong>da</strong>s — “School Savings<br />
Bank” — (caixas econômicas escolares), nas quais os serviços<br />
de recebimentos, de retira<strong>da</strong>s de depósitos do pequena<br />
economia de meninos, etc. e os serviços de contabili<strong>da</strong>de<br />
correspondentes são feitos pelos alunos mais adiantados.<br />
Constituem a Saving Bank Division <strong>da</strong> American Bankers<br />
Association (. . . and to induct the pupils into some of<br />
the “mysteries” of banking, by arranging for o definite<br />
“savings bank” organization among pupils in higher grades<br />
or in connection with the work in high school commercial<br />
department, or otherwise”).<br />
Deu seu entusiástico testemunho do alcance dêsse<br />
sistema, entre outros, o Dr T. N. Carver, o ilustrado professor<br />
de Economia Política <strong>da</strong> “Universi<strong>da</strong>de de Harvard”; “We are<br />
engaged in persuading people to change their ways, to reform<br />
their habits, to live more wisely have lived before”.<br />
Smiles já dizia que o costume de ensinar às crianças<br />
hábitos de previdência foi adotado pelas escolas nacionais <strong>da</strong><br />
Bélgica, O Conselho Escolar de Gand convenceu-se<br />
completamente <strong>da</strong> influência favorável que o Economia<br />
exerce sôbre o bem-estar moral e material <strong>da</strong>s classes<br />
operárias. Capacitou-se de que o melhor meio de fazer<br />
penetrar o espírito de economia é o de ensiná-lo às crianças e<br />
fazer que elas o pratiquem.<br />
Visitando a Caixa Rural de Guaratinguetá, no E. de São<br />
Paulo, numa de minhas viagens de proppagan<strong>da</strong>, tive<br />
oportuni<strong>da</strong>de de verificar uma inteligente aplicação dêsses<br />
princípios norte-americancos. Então dirigi<strong>da</strong> pelo ilustrado<br />
Prof. Lamar-tine Delamare, a “Escola de Comércio” dessa<br />
locali<strong>da</strong>de interessava os seus alunos em todos os sentiços <strong>da</strong><br />
“Caixa Rural”, que funcionava numa <strong>da</strong>s dependências <strong>da</strong><br />
Escola, dirigidos os alunos por êsse professor e pelo gerente<br />
<strong>da</strong> Caixa. E os resultados obtidos eram ótimos. Alunos de1a<br />
saíam não só com o conhecimento prático <strong>da</strong> contabili<strong>da</strong>de<br />
de tais organizações, senão também com o conhecimento do<br />
mecanismo e do espírito <strong>da</strong>s caixas rurais Raiffeisen,<br />
instituições de auxílio mútuo para o crédito agrícola a<br />
pequenos lavradores.<br />
Nessa locali<strong>da</strong>de e em Apareci<strong>da</strong>, Itagaçaba e Cruzeiro<br />
deixei então (1931 a 1934) lança<strong>da</strong>s bases para as<br />
cooperativas escolares.<br />
As cooperativas escolares francesas levaram os alunos a<br />
uma noção níti<strong>da</strong> <strong>da</strong> honra, que se resume no “respeito às<br />
decisões toma<strong>da</strong>s em comum, à fideli<strong>da</strong>de aos compromissos<br />
de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e de aju<strong>da</strong> mútua, obediência voluntária ao<br />
regulamento livremente aceito. “Ter honra cooperativa é<br />
sentir<br />
8 – 27 454
114 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
tô<strong>da</strong>s as vantagens materiais e morais que oferece o grupo e<br />
tudo fazer para que não seja ela diminuí<strong>da</strong>, tudo tentar para<br />
dela ser digna”.<br />
É, assim, o poder de milagre <strong>da</strong> fórmula cooperativa —<br />
“um por todos, todos por um”, afervorando-se ca<strong>da</strong> um no<br />
culto <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana, diluci<strong>da</strong>dos os espíritos,<br />
arranca<strong>da</strong> a criança ao terra-a-terra ramerraneiro de uma<br />
educação que devia “abrir o espírito infantil à compreensão<br />
<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des, <strong>da</strong>s idéias e do espírito de seu tempo,<br />
condicionando-o para um viver harmônico no concêrto<br />
social”.<br />
Cooperativas escolares francesas existem em que o senso<br />
<strong>da</strong> justiça social é tão pronunciado, que constitui para os<br />
seus pequenos associados um padrão de orgulho. Crianças<br />
atira<strong>da</strong>s ao desamparo pelas insídias de uma organização<br />
social de tipo individualista, recebem o apoio <strong>da</strong> cooperativa,<br />
que as encaminha para as colônias de férias, que mantém.<br />
A educação social se faz pelos hábitos de mútuo entendi-<br />
mento, pela troca constante de idéias nas reuniões freqüentes<br />
para deliberar sôbre assuntos sociais nos conselhos de<br />
administração, nos conselhos fiscais ou nas assembléias<br />
gerai, reuniões que estreitam, mais e mais, vínculos de<br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e de mútua confiança, mostram a relevância<br />
dos fenômenos econômicos e evidenciam o luminoso alcance<br />
<strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana.<br />
Colaborador de seu mestre, o aluno habituar-se-á a<br />
“sortir de leur moi pour s’intéresser à une collectivité; ils<br />
mettent en pratique la morale de la soli<strong>da</strong>rité sociale”, no<br />
dizer de Paul Lapie.<br />
No fim de um ano, o cooperativismo escolar havia<br />
dotado o departamento de Sainjt-Jean d’Angély, na França,<br />
de 181 museus, em vez de 8; de um pôsto meteorológico e de<br />
7 instalações cinematográficas.<br />
EDUCAÇAO NOVA. PEQUENAS REPÚBLICAS<br />
Cesar Marote, o ilustre educador uruguaio, expressando-<br />
se sôbre as preclaras virtudes <strong>da</strong> associação cooperativa<br />
escolar, diz que está perfeitamente enquadrado nos limites<br />
pe<strong>da</strong>gógi- cos <strong>da</strong> escola primária o estabelecimento <strong>da</strong>s<br />
cooperativas, não sòmente por motivos de ordem<br />
econômica, senão também, e principalmente, por motivos<br />
de ordem moral; e muito mais enquadrado, to<strong>da</strong>via, que<br />
certos pontos dos programas vigen- tes, como trabalhos<br />
manuais, por exemplo, que terão, de certos
FABIO LUZ FILHO 115<br />
pontos-de-vista, algumas virtudes e valores educativos de<br />
relativa importância, como as que têm qualquer ação<br />
humana; mas, valores a que se há concedido tal digni<strong>da</strong>de e<br />
tanta transcendência, que, parece, quiseram convertê-los<br />
nas colunas sus-tentadoras <strong>da</strong> ciência educativa.<br />
Acha êle que é um ver<strong>da</strong>deiro exagêro pe<strong>da</strong>gógico o<br />
que com tal se comete, exagêro tanto mais condenável<br />
quanto é sabido que desvirtua o ver<strong>da</strong>deiro espírito <strong>da</strong><br />
ver<strong>da</strong>deira educação e pretende empalmar a chave, o<br />
segrêdo e a solução do problema <strong>da</strong> existência de ca<strong>da</strong><br />
individuali<strong>da</strong>de, pretendendo capacitar as crianças e<br />
habilitá-las em manuali<strong>da</strong>des, em artes e ofícios, quando é<br />
prematuro que então brilhem as primeiras luzes <strong>da</strong><br />
vocação...<br />
“E se é com isto que se pretende <strong>da</strong>r solução ao<br />
problema econômico <strong>da</strong> existência do aluno, as<br />
cooperativas escolares realizam esta obra de forma prática<br />
e de modo imediato, tendo, além do mais, virtudes<br />
pe<strong>da</strong>gógicas e educacionais de valor eminentemente social..<br />
Desperta ela a idéia e cultiva a convicção <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
economia e <strong>da</strong> previdência; não <strong>da</strong> economia individual e<br />
isola<strong>da</strong>, a qual cultiva, simultâneamente, o egoísmo e a<br />
avareza, sentimentos anti-sociais, mas, sim, a previdência<br />
sob a forma coletiva, despertando e cultivando os<br />
sentimentos de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, de apoio e confiança mútuos,<br />
de boa-fé nos semelhantes e o <strong>da</strong> própria responsabIli<strong>da</strong>de,<br />
sentimentos que tanta falta fazem e que deveriam arraigar-<br />
se profun<strong>da</strong>mente no coração <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de”.<br />
Torna-se, assim, a cooperativa, no dizer de outro<br />
educador, a forma mais fácil <strong>da</strong> aplicação dos princípios <strong>da</strong><br />
educação nova, sobretudo porque permite à criança<br />
descobrir e satisfa-zer seus lnterêsses juvenis comumente<br />
suplantados pelo que o homem impõe. Justamente por isso,<br />
não só consente como fomenta a necessi<strong>da</strong>de do movimento<br />
<strong>da</strong> criança, que faz de sua vi<strong>da</strong> um puro dinamismo, ao lhe<br />
<strong>da</strong>r meios de trabalho e de iniciativa constantes. “Esses<br />
benefícios se completam ao lhe oferecer ocasiões de resolver,<br />
por si mesma, problemas de índole social e moral como<br />
membro de um turno ou <strong>da</strong> assembléia geral de associados.”<br />
“A escola cooperativa é uma pequena república em que<br />
a criança faz a aprendizagem <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social e <strong>da</strong><br />
autonomia.”<br />
As assembléias gerais, as reuniões do conselho de<br />
administração, a parte material <strong>da</strong> direção, levam a criança<br />
a um agudo senso <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de, como vimos, é à<br />
consciência plena de seu valor como parte integrante e<br />
dinâmica de um todo que está em função de seu critério, de<br />
seu bom-senso, de
116 COOPRATIVAS ESCOLARES<br />
sua honra cooperativa, de suas capaci<strong>da</strong>des de trabalho e es-<br />
fôrço para levá-la ao cumprimento estrito de sua finali<strong>da</strong>de<br />
de educação moral, intelectual, social e econômica.<br />
Dará à criança, também, conhecimento do pensamento<br />
contido na fórmula de Theodore Roosevelt: “If you would be<br />
sure that you are beginning right, begin to save”...<br />
Colombain afirma que nos Estados Unidos <strong>da</strong> América<br />
do Norte, o “Club Work” responde perfeitamente às<br />
definições mais rígi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de cooperativa e do<br />
cooperativismo escolar em particular.<br />
Os Boys’ and Girls Club realizam o trabalho coletivo, o<br />
que os coloca em face dos problemas que realmente existem,<br />
instruindo os rapazes e as moças pela ação. Há a lição<br />
preciosa do esfôrço coletivo, <strong>da</strong> cooperação, levando ao<br />
desenvolvimento pleno dos instintos sociais.<br />
E que dizer <strong>da</strong>s instituições periescolares que<br />
promanarão <strong>da</strong> cooperativa escolar? Quem não pode<br />
aquilatar do alcance <strong>da</strong>s colônias de férias, campos de<br />
experiências agrícolas, teatrinhos, festas escolares, cruz<br />
vermelha, copos-de-leite, pratos-de-<br />
-sopa, etc.?<br />
E o reflexo dêsse espírito que domina a cooperativa<br />
escolar na órbita do lar? “Ainsi donc, diz Brouckére, pour se<br />
développer largement, pour atteindre son idéal et<br />
l’universaliser, il est indispensable que la coopération<br />
concentre ses efforts <strong>da</strong>ns une action sur le monde<br />
économique <strong>da</strong>ns lequel elle vit”.<br />
Profit na França dá a seguinte relação de algumas <strong>da</strong>s<br />
múltiplas ativi<strong>da</strong>des que as cooperativas poderão<br />
empreender, nos diferentes meses do curso:<br />
Outubro: limpeza e embelezamento do local.<br />
Novembro: mobiliário escolar e cozinha cooperativa.<br />
Dezembro: enriquecimento <strong>da</strong> biblioteca.<br />
Janeiro: limpeza corporal e cui<strong>da</strong>do <strong>da</strong> bôca.<br />
Fevereiro: trabalhos manuais e pequenas reparações de<br />
que necessite a escola.<br />
Março: instalação de pequeno jardim e plantação de<br />
árvores.<br />
Abril: proteção aos ninhos.<br />
Maio: destruição de insetos <strong>da</strong>ninhos.<br />
Junho: organização de uma liga de bon<strong>da</strong>de e uma<br />
secção <strong>da</strong> Cruz Vermelha <strong>da</strong> juventude.<br />
Ao lado <strong>da</strong> Cruz Vermelha, uma instituição que<br />
conviria adotar seria o “Clube <strong>da</strong> Juventude Agrária”, para<br />
incitamen- to aos trabalhos nos campos de experiências<br />
agrícolas, instru-
FABIO LUZ FILHO 117<br />
cão agrícola em geral, agrografia, espírito de organização sô-<br />
bre bases agrárias (a escola-granja de Elslander), etc.<br />
Os fins primordiais de uma cooperativa escolar nos<br />
moldes europeus poderão resumi<strong>da</strong>mente ser assim<br />
discriminados:<br />
prover a escola de material didático e de instituições circum-<br />
escolares que possibilitem o estudo <strong>da</strong> natureza, a<br />
objetivação <strong>da</strong> instrução, o desenvolvimento <strong>da</strong>s<br />
possibili<strong>da</strong>des de ação de ca<strong>da</strong> aluno, etc., despertando, do<br />
mesmo passo, nas crianças, sentimentos de auxilio mútuo<br />
pelas práticas do trabalho em comum e pela comuni<strong>da</strong>de de<br />
esforços. Procurará, a cooperativa, além disso, despertar nas<br />
crianças sentimentos de humani<strong>da</strong>de e altruísmo e de defesa<br />
<strong>da</strong> saúde, baseando a sua ação em princípios sociais de<br />
combate às tendências puramente individualistas, <strong>da</strong>ndo a<br />
idéia <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana, o gôsto <strong>da</strong> economia e <strong>da</strong><br />
previdência coletivas, a boa-fé e a confiança em seus<br />
companheiros e mestres, formando, enfim, o espírito coletivo<br />
e o sentido <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.<br />
Como vêdes, o objetivo montessoriano é atingido em<br />
cheio:<br />
“A criança constrói por si mesma o edifício de sua própria<br />
personali<strong>da</strong>de pensante e atuante”.<br />
É o admirável axioma <strong>da</strong> escola ativa.<br />
Ao pequeno presidente de uma cooperativa escolar se<br />
ajustam perfeitamente as palavras de Dugas, citado por<br />
Profit, quando diz que o presidente deve ser franco, leal, sem<br />
“parti pris”, consciente do valor moral de suas intenções e de<br />
seus atos, com o sentimento nítido do cargo, do valor objetivo<br />
de seu dizer e <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de sua intervenção, tendo a<br />
cooperativa como uma escola de coragem cívica e cônscio de<br />
que a disciplina não é incompatível com a liber<strong>da</strong>de.<br />
Mantendo a disciplina geral, o menino ou a menina, leva-<br />
dos aos cargos eltivos, tirarão de seu espírito de justiça e de<br />
seu valor moral a fôrça para se fazerem obedecer e<br />
adquirirão quali<strong>da</strong>des que os seguirão na vi<strong>da</strong>.<br />
Os demais associados sentirão que o regulamento vai<br />
além dos indivíduos que o fazem aplicar e é o melhor meio de<br />
os prepararmos para realizarem, lealmente, mais tarde, seu<br />
papel social.<br />
“Il n’est pas nécessaire que les hommes soient reduits,<br />
moralement et physiquement, à la condition de parties inertes<br />
d’un tout mécanique pour qu’ils collaborent utilement à une<br />
oeuvre commune”.<br />
E a escola “est un Temple aussi! Apportez donc des roses!”<br />
As sementes desabrocharão em esplendores, clarinando<br />
alvora<strong>da</strong>s, esparzindo aleluias.
118 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Numa cooperativa acentua-se a sensação <strong>da</strong> interdepen-<br />
dência na vi<strong>da</strong> social, o prazer <strong>da</strong> dedicação a uma idéia.<br />
FEDERAÇÕES<br />
Profit, referindo-se à federação de cooperativas por<br />
departamento, preconiza as seguintes questões como dignas<br />
de uma federação: propagan<strong>da</strong>, melhor organização <strong>da</strong>s<br />
festas esco-lares e exposições; efetivação de compras em<br />
maior escala e agrupamentos <strong>da</strong>s cooperativas por cinemas,<br />
biblioteca inter-distrital ou por várias circunscrições; visitas<br />
a fazen<strong>da</strong>s, usi-nas, feitura de quadros murais, círculos de<br />
estudos, etc., etc.; criação de uma cinemoteca e discoteca por<br />
departamento ou circunscrição; contribuições coletivas para<br />
salas de leitura, etc., criação de obras pós-escolares.<br />
“A cooperativa escolar é a escola organiza<strong>da</strong> socialmente”.<br />
Os diretores serão os delegados <strong>da</strong> cooperativa escolar junto<br />
à federação e o inspetor escolar é o presidente de direito, di-<br />
lo Profit.<br />
Profit entusiasmou-se com êste espetáculo que oferecerão<br />
as reuniões mensais numa federação: um auditório conscien-<br />
cioso, disciplinado, entusiasta para os professôres de facul<strong>da</strong>-<br />
des e administradores, estabelecendo-se ligação entre as di-<br />
versas ordens do ensino, numa forma particular de escola<br />
única.<br />
A contribuição poderá ser fixa<strong>da</strong> de acôrdo com o<br />
número de associados de ca<strong>da</strong> uma: tantas quotas-partes de<br />
10 a 20, tantas quotas para as que tiverem menos de 10<br />
associados; tantas para as que possuírem de 10 a 20; tantas<br />
para. as que tiverem de 20 a 30, ou tantas para ca<strong>da</strong><br />
associado.<br />
As normas gerais de administração pouco diferem <strong>da</strong>s<br />
que regem as cooperativas escolares individualmente<br />
considera<strong>da</strong>s, ou as de adultos.<br />
As federações de cooperativas escolares coordenarão as<br />
ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s cooperativas escolares filia<strong>da</strong>s e objetivarão<br />
prècipuamente:<br />
a) — a aquisição de material de consumo escolar;<br />
b) — a montagem de tipografias;<br />
c) — a publicação e distribuição de livros didáticos, re-<br />
vistas, impressos e aquisição do necessário material<br />
pe<strong>da</strong>gógico e científico;<br />
d) – a uniformi<strong>da</strong>de contábil;
FABIO LUZ FILHO 119<br />
f) a propagan<strong>da</strong> <strong>da</strong>s cooperativas escolares e pós-es-<br />
colares, nota<strong>da</strong>mente as de artesanato rural; granjas-<br />
modelos;<br />
g) — promover conferências, excursões, concertos,<br />
festas escolares, concursos, viagens, visitas a fábricas,<br />
cooperativas, proprie<strong>da</strong>des agrícolas, museus, etc.;<br />
h) — organizar bibliotecas, discotecas e cinemas educa-<br />
tivos;<br />
I) — fomentar as relações entre a escola e a família;<br />
j) — apoiar a ação dos diretores dos grupos ou escolas<br />
junto a enti<strong>da</strong>des e autori<strong>da</strong>des oficiais ou particulares no<br />
sentido do crescente aperfeiçoamento do ensino.<br />
Deverão recair, como disse, as delegações, para<br />
integração <strong>da</strong> assembléia geral <strong>da</strong>s federações de<br />
cooperativas escolares, nos diretores <strong>da</strong>s escolas ou em<br />
professôres, de vez que se trata de um órgão de segundo<br />
grau, de estrutura complexa. O máximo de tolerância, a<br />
meu ver, será a permissão, nas delegações, de alunos <strong>da</strong>s<br />
duas últimas séries ao lado dos diretores ou professôres, ou<br />
alunos dessas séries sistemàticamente assisti-dos pelos<br />
diretores ou professores Profit indica os diretores, como<br />
vimos. É assunto ain<strong>da</strong> controverso, face à nossa lei. Mas não<br />
vejo outro caminho.<br />
AINDA AS FEDERAÇÕES<br />
Antes de frisar, mais uma vez, o que são as federações<br />
de cooperativas escolares, quero esclarecer:<br />
1.°— A federação de cooperativas escolares do Paraná<br />
foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> com absoluto critério, mediante delegações de<br />
professôres, e começou sob os melhores auspícios, com o<br />
apoio entusiástico do então Secretário <strong>da</strong> Educação.<br />
Infelizmente, sobrevieram ciuma<strong>da</strong>s de ascendência ou de<br />
jurisdição, e estabeleceu-se uma situação de<br />
incompatibili<strong>da</strong>de. Fracassou <strong>da</strong><strong>da</strong>s essas ciuma<strong>da</strong>s e<br />
incompreensões (as mesmas que existiram e existem em<br />
outros Estados peando o livre surto do cooperativismo<br />
escolar) entre a Secretaria de Educação e a Secretaria de<br />
<strong>Agricultura</strong>, não obstante todos os meus esforços no sen-tido<br />
de contornar tão lamentável situação, que perdura há anos,<br />
sem nenhuma providência adequa<strong>da</strong>.<br />
Eram 90 cooperativas escolares, antigas caixas<br />
escolares, filia<strong>da</strong>s a uma federação com 400.000 cruzeiros de<br />
capital inicial.<br />
2.°— Existiu em João Pessoa uma federação de<br />
cooperativas escolares, integra<strong>da</strong> por professôres-delegados.
120 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
3.° — São os professôres admitidos por todos os<br />
tratadistas como conselheiros ou assessôres, de ação discreta,<br />
ver<strong>da</strong>deiros custódios, e, por outros, até como agentes ativos<br />
no seio <strong>da</strong>s cooperativas escolares (Hernández, Colombain,<br />
Ballesteros, etc.), por imperativos de ordem pe<strong>da</strong>gógica.<br />
E que dizer <strong>da</strong>s cooperativas escolares de<br />
reflorestamento, pastoris e de omares, existentes no<br />
departamento francês de Ain, como no-lo assinala<br />
Colombian?<br />
“En outre les jeunes coopérateurs ont rapidement<br />
réussi à grouper autour d’eux, pour l’effort commun, les<br />
habitants de leurs communes, les cotisations des uns<br />
permettent de financer des travaux importants<br />
(défoncemens, charrois, arrachage des arbres) que les<br />
prestations gratuites des autres ne peuvent accomplir”.<br />
Ca<strong>da</strong> cooperativa dessas é coloca<strong>da</strong> sob o contrôle de<br />
urn comité (aceno, como no México, adiante, para o Conselho<br />
de Assessôres, que contornará o caso <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de civil),<br />
composto do inspetor primário, do inspetor de águas e de<br />
florestas e do “maire” <strong>da</strong> comuna.<br />
A federação dessas cooperativas agrupava, há tempos,<br />
57 cooperativas escolares florestais, com 2.600 membros<br />
(incluin-do adultos). Esta federação dá assistência técnica,<br />
faz obra de proselitismo, faz adiantamentos, obtém<br />
subvenções, centraliza as ven<strong>da</strong>s e as compras, tem campos<br />
experimentais, etc.<br />
Em 1931 haviam elas conquistado 1.550 hectares para<br />
a plantação de milhões de essências resinosas, melhoraram<br />
85 hectares para pastoreio; plantaram macieiras, parreiras,<br />
árvo- res ornamentais; reconstituíram prados, combateram<br />
insetos nocivos, protegeram pássaros úteis, etc.<br />
Nos estatutos oficiais que organizei e que já aludi, o<br />
diretor é o representante legal <strong>da</strong> escola e, por conseguinte,<br />
seu delegado nato, e os professôres, seus orientadores natos.<br />
Po-derão representá-las também, como aconteceu com o<br />
Paraná e, depois, com a Paraíba, nos órgãos de segundo grau,<br />
assunto ain<strong>da</strong> controverso.<br />
A meu ver, na<strong>da</strong> impede que possam ser delegados em<br />
uma federação, ao lado de alunos <strong>da</strong>s séries mais eleva<strong>da</strong>s, se<br />
o quiserem, <strong>da</strong>do o caráter educativo e cultural básico que as<br />
federações devem ter, paralelo a objetivos econômicos de<br />
muita amplitude, como o fiz no projeto de lei apenso.<br />
Já disse que os estatutos-modelos oficiais consideram o<br />
professor como “delegado nato” <strong>da</strong> classe.<br />
Profit considera o professor como representante, de fato<br />
e de direito, <strong>da</strong> cooperativa, “porquanto esta não é mais do que
FABIO LUZ FILHO 121<br />
sua escola, na qual é êle, a um tempo, delegado do Estado e<br />
man<strong>da</strong>tário dos pais”.<br />
M. Colombain acha que, sendo a cooperativa,<br />
pe<strong>da</strong>gàgicamente, “centro-de-interêsses”, poderá haver, para<br />
certas deliberações, até o veto do professor quando estas não<br />
se ajusta-rem a determina<strong>da</strong>s exigências <strong>da</strong> lei, <strong>da</strong> disciplina<br />
escolar, do interêsse escolar ou <strong>da</strong> própria cooperativa (o que<br />
me parece excessivo). Nisto está com Santiago Hernández,<br />
Hedler e Dewey (a escola como ampliação <strong>da</strong> família).<br />
A lei brasileira caracteriza a cooperativa escolar no seu<br />
artigo 34, frisando que deverão organizar-se “entre os<br />
respectivos alunos, por si ou com o concurso de seus<br />
professôres etc.”, orientação que temos seguido no Brasil. O<br />
mesmo não acontece no México e Argentina, naquele contra<br />
o espírito <strong>da</strong> lei, aliás. Suas cooperativas tinham e têm<br />
participação dos professôres, que podem integrar os órgãos<br />
de administração e fiscalização, possibilitando, assim, a<br />
formação de federações, órgãos de segundo grau de grande<br />
amplitude econômica, como vimos, os quais não podem ser<br />
dirigidos por alunos sem capaci<strong>da</strong>de civil.<br />
Até agora só se admitiu a participação de professôres no<br />
Conselho Fiscal, como vimos, embora no Rio Grande do Sul<br />
delas participem professôres.<br />
Estamos, assim, diante <strong>da</strong> mesma questão levanta<strong>da</strong> no<br />
México e comenta<strong>da</strong> pela Secretaria de Educação desta<br />
Nação, como já o frisei.<br />
Afirmou ela que, com a participação exclusiva dos<br />
mestres nas cooperativas escolares mexicanas (cujo<br />
regulamento <strong>da</strong>ta de 1937), foi subvertido o artigo 36 <strong>da</strong> lei<br />
de cooperativas, a qual determina que os cargos eletivos<br />
sejam ocupados por alunos, tendo criado, ademais, o<br />
Conselho de Assessôres, com um presidente nato: o diretor<br />
<strong>da</strong> escola. Entanto, na prática, as cooperativas foram<br />
maneja<strong>da</strong>s, não pelos alunos, nem pelos Conselhos de<br />
Assessôres (do qual poderão sair os delegados, conciliando<br />
tudo), mas por uma só pessoa, a quem o Diretor<br />
comissionado <strong>da</strong>va plenos podêres; “Los alumnos no<br />
practicaron ni conocieron de los trabajos necesarios para <strong>da</strong>r<br />
un mejor servicio, para actuar honestamente en el mercado,<br />
etc.”.<br />
Entanto, eram os alunos, legalmente, os responsáveis<br />
pela administração, e os professôres comissionados, o<br />
Conselho de Assessôres, etc., podiam fugir à responsabili<strong>da</strong>de<br />
legal, de vez que, pela lei mexicana, suas funções se limitam a<br />
aconselhar, assessorar (tal como na lei brasileira em se<br />
tratando de cooperativas escolares de primeiro grau, de
122 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Os alunos, como menores de i<strong>da</strong>de, não tinham<br />
capaci<strong>da</strong>de civil e os professôres, etc., não tinham<br />
responsabili<strong>da</strong>de legal, que a lei lhes não outorgava. No<br />
silêncio <strong>da</strong> lei brasileira, contornei esta <strong>da</strong>ndo ao diretor essa<br />
responsabili<strong>da</strong>de.<br />
Foi esta a situação, em que o professor aparecia como um<br />
protegido e um centralizador, um tabu, com desastroso efeito<br />
educativo, nas cooperativas de primeiro grau, que envolveu<br />
de certo desprestígio o movimento cooperativo escolar<br />
mexicano, o que está sendo removido.<br />
No entanto, é preciso considerar o caso <strong>da</strong>s Federações,<br />
que não poderão deixar de ter a participação dos professôres,<br />
como já o frisei. Totomianz, aludindo a essa questão <strong>da</strong><br />
responsabili<strong>da</strong>de, acha que a escola mesma deve tomá-la, ou<br />
o comité de pais, com a condição de que nunca essa<br />
intervenção seja para coartação <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de dos jovens<br />
cooperadores, que devem ter seu autogovêrno.<br />
Embora “a cooperativa escolar não tenha por que delegar<br />
podêres, de vez que não é socie<strong>da</strong>de mercantil e “não contrata<br />
como enti<strong>da</strong>de”, nas federações mu<strong>da</strong> o caráter <strong>da</strong>s coisas, de<br />
vez que se acentua, como disse, seu alcance pe<strong>da</strong>gógico e sua<br />
finali<strong>da</strong>de econômica como órgão independente <strong>da</strong> escola, não<br />
sendo, pròpriamente, “uma ativi<strong>da</strong>de parcial <strong>da</strong> escola”, um<br />
órgão circum-escolar.<br />
Para <strong>da</strong>r às cooperativas escolares capaci<strong>da</strong>de jurídica,<br />
Cattier imaginou a criação de associações de adultos, coisa<br />
que procurei resolver <strong>da</strong>ndo ao diretor <strong>da</strong> escola a<br />
capaci<strong>da</strong>de legal de representante nato <strong>da</strong> cooperativa<br />
escolar, como vimos. O Conselho de Assesôres resolverá<br />
também o caso, já o assinalei.<br />
O Conselho de Assessôres está perfeitamente dentro do<br />
espírito <strong>da</strong> escola renova<strong>da</strong>, que é uma comuni<strong>da</strong>de composta<br />
de alunos, professôres e pais, “três elementos que devem<br />
estar em relação espiritual tão íntima quanto possível”.<br />
Lasuriaga compendiou as virtudes <strong>da</strong> escola renova<strong>da</strong>, tô-<br />
<strong>da</strong>s perfeitamente enquadráveis na moldura <strong>da</strong>s cooperativas<br />
escolares: reunião em grupos, e co-educação dos sexos;<br />
trabalhos manuais e trabalhos de oficina e de campo; o<br />
trabalho livre executado por grupos; excursões,<br />
acampamentos e colônias escolares; cultura geral dos alunos;<br />
observação e experimentação; trabalho pessoal como<br />
complemento do trabalho coletivo; educação social pelo<br />
espírito de comuni<strong>da</strong>de desen-volvido: os interêsses<br />
espontâneos e o trabalho coletivo; for-talecimento <strong>da</strong><br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> emulação; meio de beleza e de-<br />
senvolvimento <strong>da</strong> consciência moral; abolição <strong>da</strong> “pe<strong>da</strong>gogia
FABIO LUZ FILHO 123<br />
de classe” e conseqüente integração no sentimento cívico e<br />
no senso <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.<br />
Uma federação, estrutura<strong>da</strong> <strong>da</strong> maneira por que o está no<br />
fim dêste livro, constitui um dos meios idôneos, como órgão<br />
de cúpula, para se atingir meta tão bela, eleva<strong>da</strong> e necessária.<br />
O próprio Santiago Hernandez, que não possui muitas<br />
simpatias pelas federações, diz:<br />
“Si se constituyra federación, mas que la federación prò-<br />
priamente dicha como uni<strong>da</strong>de superior y que, sea cualquiera<br />
su forma, estimamos convenientísimo el contacto entre las<br />
cooperativas escolares, como lo estimamos entre los maestros<br />
para to<strong>da</strong> clase de fines educativos.<br />
“Que esse contacto se realizará mediante federación de<br />
cooperativas ou mediante congressos”, ou, como o assinala<br />
Roig, “mediante el acuerdo de varias cooperativas escolares”,<br />
para as compras em comum.<br />
Cattier define a federação escolar como um centro de in-<br />
formação, um laboratório de experiências, um lugar onde<br />
ca<strong>da</strong> cooperativa apanhará luzes e conselhos para melhor<br />
utilizar seus recursos e dirigir racionalmente seus esforços.<br />
Profit, o ver<strong>da</strong>deiro criador do cooperativismo escolar, co-<br />
mo vimos, tece entusiásticas considerações em tôrno <strong>da</strong><br />
federacão.<br />
Colombain diz que a cooperativa escolar se constituirá em<br />
meio educativo ótimo quando êsse meio corresponder à<br />
capaci<strong>da</strong>de de interêsse e de atenção <strong>da</strong> criança, perfilhando<br />
até a atomização <strong>da</strong>s cooperativas escolares por classes,<br />
impossível ou irrealizável em nossos meios escolares,<br />
nota<strong>da</strong>mente rurais, por enquanto. “C’est pourquoi la<br />
constituition de petits groupes par classe eat assez fréquent,<br />
la coopérative des coopératives de classe”,<br />
Profit disse bem: “De même que, <strong>da</strong>ns chaque école, le<br />
conseil des maitres régle les autres actes de la vie scolaire, de<br />
même ce Conseil, ou l’instituteur s’il est seul, constitue le co-<br />
mité ou l’agent directeur, et le délégué des cooperateurs”.<br />
É, pois, acrescenta, em derredor dos professôres <strong>da</strong> escola<br />
que deverão ser agrupa<strong>da</strong>s as cooperativas escolares.<br />
O “Office Central de la Coopération à l’Ecole”, <strong>da</strong> França,<br />
pela palavra de Paul Juif, frisa que a federação <strong>da</strong>s<br />
cooperativas escolares pode fazer conhecer, intuitivamente,<br />
que ca<strong>da</strong> grupo depende, econômica e moralmente, de todos<br />
os outros.<br />
Tirado Benedi, com sua autori<strong>da</strong>de de di<strong>da</strong>ta, preconiza a<br />
federação, porque o “que al alumno individual es para la<br />
coope
124 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
rativa escolar debe ser para ias escuelas la federaclón de<br />
cooperativas y para esta la confederación”.<br />
Dentro desta orientação elaborei o projeto de lei que<br />
consta do fim do presente livro, o que traduz o orientação<br />
oficial no assunto.<br />
Referindo-se a Profit, quando êste alude ao Conselho de<br />
professôres como delegados natos dos cooperadores para a<br />
organização de órgãos de segundo grau, Benedi aduz:<br />
“Sin embargo, nosotros opinamos que no hay inconve-<br />
niente que las Federaciones surjan del seno mismo de las<br />
cooperativas escolares y que sus juntas e comités de dirección<br />
estén formados de manera análoga a los de las proprias organi-<br />
zaciones basicas.. las Federaciones y las Confederaciones, una<br />
vez estableci<strong>da</strong>s las organizaciones que han de serviles de<br />
base, no sólo son convenientes, sino necesarias”. Acha ain<strong>da</strong><br />
que, com elas, ganham a extensão <strong>da</strong> obra, a eficácia do<br />
trabalho, a coordenação dos esforços, a unificação <strong>da</strong>s<br />
energias, enfim, o entendimento mútuo.<br />
É, digo eu, a transcendente finali<strong>da</strong>de conti<strong>da</strong> na gnoma<br />
socrática: só é útil o conhecimento que nos faz melhores . . .<br />
A obra educativa amplia-se, assim, consideràvelmente e os<br />
recursos técnicos e econômicos também se dilatam.<br />
E com enderêço a exegetas, êste trecho de ouro de<br />
Carlos Maximiliano;<br />
“O hermeneuta de hoje não procura, nem deduz, o que<br />
o legislador de anos anteriores quis estabelecer, e, sim, o que<br />
é de presumir que ordenaria, se vivesse no ambiente social<br />
hodierno.<br />
“Sem esbarrar de frente com os textos, ante a menor<br />
dúvi<strong>da</strong> possível o intérprete concilia os dizeres <strong>da</strong> norma com<br />
as exigências sociais;.., e assim exerce, em certa medi<strong>da</strong><br />
função creadora: comunica espírito novo à lei velha”.<br />
Mais - ou menos dentro <strong>da</strong>quela “new jurisprudence<br />
school”, tao em uso nos Estados Unidos <strong>da</strong> América do Norte,<br />
e a que se refere Oliveira Viana.<br />
A lei atual tem seu espírito novo, dentro dos cânones <strong>da</strong><br />
moderna psicope<strong>da</strong>gogia.
CAPITULO VI<br />
AINDA A ESCOLA RENOVADA E AS COOPERATIVAS<br />
ESCOLARES<br />
Já fiz sentir que as cooperativas escolares, que se<br />
organizaram até nas escolas profissionais femininas no<br />
México, admitiam quando necessário, para um Conselho de<br />
Administra-cão de seis membros, dois professôres.<br />
Mas, só admitir professôres, pais ou tutôres, é deformar,<br />
até certo ponto, uma organização altamente educativa, que<br />
procurei, pela primeira vez, caracterizar em livro no Brasil.<br />
Entretanto, como vimos, é preciso considerar o caso <strong>da</strong>s fe-<br />
derações.<br />
Sempre fui de parecer que as cooperativas escolares,<br />
sendo organizações exclusivamente de crianças, não<br />
deveriam estar sujeitas a nenhuma formali<strong>da</strong>de legal,<br />
maravilhosos instrumentos que são do aparelhamento<br />
educativo <strong>da</strong> escola moderna, dela fazendo parte integrante<br />
para o ver<strong>da</strong>deiro e alto conceito dessa escola renova<strong>da</strong>,<br />
plena de sentido objetivo.<br />
Criou-se aqui um absurdo, com a exigência de<br />
personali<strong>da</strong>de jurídica para as cooperativas escolares na lei<br />
22.239.<br />
No México, onde devem, entre outras coisas, visar ao<br />
“trabajo productivo y socialmente útil”, registam-se<br />
simplesmente na Secretaria de Educação. O mesmo que<br />
obrigar as atuais Caixas Escolares, no Distrito Federal,<br />
introduzi<strong>da</strong>s por Fábio Luz, ao caráter legal <strong>da</strong>s<br />
mutuali<strong>da</strong>des... No decreto-lei 581, de 1 de agôsto de 1938,<br />
procurei sanar êsses inconvenientes, livrando-as <strong>da</strong><br />
necessi<strong>da</strong>de de arquivar documentos na “Junta Comercial”,<br />
etc.<br />
Disse muito bem Fábio Luz, um dos precursores, no<br />
Brasil, como vimos, <strong>da</strong> escola renova<strong>da</strong> (que teve seus livros<br />
escolares adotados durante anos nas escolas primárias do<br />
Distrito Federal): “A escola é um pequeno mundo com sua<br />
humani<strong>da</strong>-de minúscula, tendo em germe todos os amores e<br />
ódios, tô<strong>da</strong>s as simpatias e inimizades, tô<strong>da</strong>s as grandes<br />
virtudes e os grandes vícios <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de adulta... E tô<strong>da</strong><br />
uma complica<strong>da</strong>
126 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
cosmogonia intelectual e moral, obscureci<strong>da</strong> por noites hiber-<br />
nais, às vêzes outras vêzes ilumina<strong>da</strong> de eternas primaveras.<br />
“A escola é a continuação do lar. Quando no lar não há<br />
o confôrto espiritual e carinhoso e a iniciação primordial nos<br />
percalços <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e do mundo, que a ignorância agrava e<br />
torna insuperáveis, supre-os a escola, onde os mestres têm a<br />
tríplice e eleva<strong>da</strong> representação de pais, educadores e guias”.<br />
O cooperativismo escolar irá atuar nesse pequeno<br />
mundo.<br />
O cooperativismo escolar é aquêle que já defini. Para<br />
amparar, se isso ain<strong>da</strong> for necessário, o que tenho afirmado,<br />
bastará citar a lei espanhola (1931), mais uma vez a J. Profit,<br />
e ao Dr. Fernando Azevedo, o Ilustre pe<strong>da</strong>gogo sob cuja admi-<br />
nistração em São Paulo vi aprovados os estatutos de<br />
“Cooperativas escolares”. Realiza a cooperativa escolar a<br />
instituição social, real e viva, a que se refere Dewey, quando<br />
diz que os hábitos escolares, para que sejam animados de um<br />
sôpro moral, deverão interessar a criança na prosperi<strong>da</strong>de de<br />
uma comuni<strong>da</strong>de, interêsse prático, intelectual e emocional,<br />
arcabouçando ela mesma até os pormenores de sua vi<strong>da</strong><br />
comum.<br />
E o brilhante educador que é Anísio Teixeira disse, com<br />
justeza, que é na escola que “a criança vai viver socialmente,<br />
aprendendo a participar <strong>da</strong> moderna organização democrática,<br />
assumindo as suas responsabili<strong>da</strong>des e extraindo dessa vi<strong>da</strong><br />
coletiva sentido e prazer”. E acrescenta que o educador deve<br />
“de ânimo deliberado formar o individuo que se dirige a si<br />
mesmo, que sabe esclarecer e in<strong>da</strong>gar dos motivos, <strong>da</strong>s causas.<br />
que não se choca nem se confunde com a vi<strong>da</strong> em contínua<br />
formação que o espera. .<br />
O mesmo diz o não menos brilhante pe<strong>da</strong>gogo Amaral<br />
Fontoura, dentre outros.<br />
DR. FABIO LUZ, UM PRECURSOR<br />
Sob a bandeira arco-irisa<strong>da</strong> o criança verá abrir-se,<br />
diante de suas almas sensíveis e ávi<strong>da</strong>s, o espetáculo multivio<br />
<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que a aguar<strong>da</strong> cá fora, estuante.<br />
Meu saudoso pai, Fábio Luz, médico, romancista, intro-<br />
dutor do romance social no Brasil, como vimos, novelista,<br />
contista, crítico literário, pe<strong>da</strong>gogo que fundou a primeira<br />
caixa escolar no Distrito Federal em 1895, meu saudoso pai<br />
(que deixou 23 obras publica<strong>da</strong>s, entre contos, novelas,<br />
romances, crítica literária, pe<strong>da</strong>gogia, além de vários livros<br />
de crítica inéditos), dizia:
FÁBIO LUZ FILHO 127<br />
“De acôrdo com os destinos <strong>da</strong> escola primária devem os<br />
programas <strong>da</strong>r ao ensino feição prática e orientação utilitária,<br />
sem abstrações, visando como ponto de convergência as ne-<br />
cessi<strong>da</strong>des humanas na vi<strong>da</strong> cotidiana. Tô<strong>da</strong>s as noções devem<br />
ser forneci<strong>da</strong>s como meios certos de aperfeiçoamento moral e<br />
intelectual, tido sempre em vista um proveito material ime-<br />
diato ou remoto e objetivo, sem preocupações subjetivas”.<br />
Fábio Luz, espírito de sóli<strong>da</strong> cultura, seguia, assim, os<br />
ensinamentos de vultos universais como Spencer, Horácio<br />
Mann e Bain, que já frisavam como o ideal <strong>da</strong> educação con-<br />
sistia em obter uma preparação completa do homem para a<br />
vi<strong>da</strong>, colocado o fator econômico no primeiro plano <strong>da</strong> luta <strong>da</strong><br />
existência, colimado o ensino integral e o método científico,<br />
erguidos sôbre uma sóli<strong>da</strong> base de humanismo.<br />
A educação moderna, no elevado conceito dêsses grandes<br />
homens, deveria levar o povo à emancipação intelectual e<br />
moral, possibilitando à. criança o desenvolvimento completo<br />
de suas facul<strong>da</strong>des.<br />
E a plêiade brilhante de nossos modernos pe<strong>da</strong>gogos<br />
assim também pensa.<br />
Como prova inconcussa do direito que tem Fábio Luz a<br />
ser considerado um dos grandes precursores <strong>da</strong> escola ativa no<br />
Brasil, reproduzo trechos <strong>da</strong> conferência que realizou em 29<br />
de agôsto de 1912 na “Escola Riachuelo”, do Distrito Federal.<br />
Ei-los:<br />
“A escola é um pequeno mundo com sua humani<strong>da</strong>de mi-<br />
núscula, tendo em germe todos os amôres, ódios, tô<strong>da</strong>s as sim-<br />
patias e inimizades, tô<strong>da</strong>s as grandes virtudes e os grandes<br />
vícios <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de adulta,<br />
“Ocuparei vossas benévolas atenções dizendo coisas a<br />
respeito <strong>da</strong> escola em globo, <strong>da</strong> parte material dêste<br />
mundozinho tão cheio de encantos, de contrarie<strong>da</strong>des e<br />
interessante, repleto de surprêsas agradáveis e de consôlo<br />
para os crentes na inata bon<strong>da</strong>de do homem e no futuro de<br />
regeneração, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, amor e felici<strong>da</strong>de na terra.<br />
“É um sistema planetário inteiro, a escola.<br />
“Nêle é preciso estu<strong>da</strong>r as leis <strong>da</strong> gravitação e <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong>-<br />
de, os centros de atração e as fôrças de repulsão; os eclipses,<br />
as parábolas descritas nas suas trajetórias pelos cometas<br />
errantes, as fases de periélio e de afélio dêsses planetazinhos<br />
que não têm ain<strong>da</strong> luz própria, mas ninguém sabe que mila-<br />
gre farão a natureza e a instrução para transformá-los em cen-<br />
tros de sistemas. Nêles será necessário estabelecer as zodíacos,<br />
com seus signos e sua influência nas estações <strong>da</strong> inteligência,
128 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
resumi<strong>da</strong>s as etapas do progresso humano no evolver e desa-<br />
brochar do espírito <strong>da</strong> criança.<br />
“É tô<strong>da</strong> uma complica<strong>da</strong> cosmogonia intelectual e moral,<br />
obscureci<strong>da</strong> por noites hibernais, às vêzes, outras vêzes ilumi-<br />
na<strong>da</strong> por eternas primaveras”.<br />
E prossegue aludindo à necessi<strong>da</strong>de de se comporem as<br />
classes primárias de trinta crianças para <strong>da</strong>rem freqüência<br />
de doze, de modo a ser o ensino ministrado quase individual-<br />
mente, aproveitando até ao aluno retar<strong>da</strong>do; a conveniência<br />
<strong>da</strong> iluminação unilateral nas salas de aulas pela abundância<br />
<strong>da</strong> luz natural, que dá de 40 a 50 lux, segundo H. Truc e<br />
P. Charvenac, os perigos <strong>da</strong> escoliose, etc., etc., etc.<br />
“As classes compor-se-ão no máximo de trinta crianças<br />
de matrícula, para conseguir-se que ca<strong>da</strong> uma tenha 5 metros<br />
cúbicos de bom ar respirável e puro.<br />
“Incidentemente direi que a classe de mais de trinta alu-<br />
nos, a cargo de um só professor, pouco poderá progredir.<br />
“Apenas o curso complementar poderá nessas condições<br />
ser dirigido com algum proveito por um único professor, por-<br />
que, sendo formado por alunos em i<strong>da</strong>de púbere, receberá<br />
com aproveitamento lições orais e coletivas.<br />
“Ain<strong>da</strong> assim o mestre ficará sobrecarregado de<br />
trabalhos escritos, cuja correção só será feita com justeza e<br />
critério fora <strong>da</strong> hora do expediente”.<br />
E mais tarde disse:<br />
“Quando exercia eu o cargo de inspetor Escolar (aposen-<br />
tou-se em fins de 1916) estabeleci no meu distrito escolar o<br />
hábito <strong>da</strong>s aulas-passeias pelos arredores campesinos, pelos<br />
morros e pelas serras de Jacarepaguá, dos Prêtos Forros. Êsses<br />
passeios ficavam sujeitos a lições práticas, em que o mestre não<br />
prelecionava catedràticamente, mas seguia a curiosi<strong>da</strong>de do<br />
aluno procurando explicar-lhe os fenômenos naturais —<br />
que<strong>da</strong>s d’água, desabrochar <strong>da</strong>s flores, classificação vegetal,<br />
vi<strong>da</strong> dos insetos, etc.<br />
“Tendo eu <strong>da</strong>do início ao ensino do “slojd” escolar nas<br />
escolas que me eram subordina<strong>da</strong>s, aproveitando o aptidão e o<br />
preparo de um distinto professor, ex-aluno <strong>da</strong> antiga Escola<br />
Normal, o saudoso professor Teófilo Moreira <strong>da</strong> Costa, êste<br />
profissional conseguiu <strong>da</strong>r novo interêsse ao estudo <strong>da</strong> Física,<br />
por meios “amusantes”, ensinando o próprio aluno a construir<br />
pequenos aparelhos de madeira para demonstração de fenôme-<br />
nos físicos elementares, tais como níveis, fio-a-prumo,<br />
equilíbrio dos líquidos, corpos mais leves ou mais pesados que<br />
a água, gêneros de alavancas, balanças, etc.
FABIO LUZ FILHO 129<br />
“Festas ao ar livre se vão realizando em alguns distritos,<br />
e a festa <strong>da</strong> Primavera parece tender a implantar-se nos<br />
nossos costumes escolares. Inicia<strong>da</strong> modestamente, no 9.°<br />
distrito, com o plantio <strong>da</strong> árvore distrital, na Escola Visitação<br />
(Engenho Novo), propagou-se e se vai firmando.<br />
“Nós não temos pròpriamente uma delimita<strong>da</strong> estação<br />
<strong>da</strong> primavera, pois que é uma eterna primavera a que canta<br />
nos nossos bosques, pelos campos, pelos céus, por nossos<br />
mares, perenalmente; mas serve para educar o sentimento,<br />
para ensinar o amor à terra, êsse período do ano em que é<br />
mais verde a côr <strong>da</strong>s nossas árvores, mais loução o esmalte<br />
dos campos, mais floridos os vergéis, mais leve a vi<strong>da</strong>, mais<br />
perfuma<strong>da</strong> a atmosfera. A terra nos dá a lição de energia, de<br />
capaci<strong>da</strong>de de trabalho contínuo e profícuo, sem repouso e<br />
sem desfalecimentos. Aproveitemos o pretexto educativo.<br />
E cita adiante a José Pedro Varela, ilustre técnico uru-<br />
guaio, o qual acentua que estamos perante a nova orientação<br />
impressa a nossos programas escolares no que se refere à<br />
cultura moral, porque, mesmo no campo <strong>da</strong> teoria, do<br />
abstração, do verbalismo didático, significa o passo avançado<br />
de nossa pe<strong>da</strong>gogia democrática, que aspira a que a educação<br />
deixe de ser o castelo clássico, senhorial, frio e fechado, para<br />
ofere-cer ao espírito <strong>da</strong> criança, inquieta de natural avidez, a<br />
vantagem e os miradouros de onde possa ela contemplar o rio<br />
<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que torcicola a seu pés, multiforme e sonoro.<br />
DISCIPLINA BASEADA NA LIBERDADE<br />
Em 1916, Fábio Luz, dissertando em conferência sôbre<br />
Maria Montessori, disse que não somos honestos por causa do<br />
Código Penal; não roubamos nem matamos porque amamos<br />
o trabalho e a paz. O delinqüente quando se lembra do<br />
Código, antes de praticar o crime, é com o fim de iludí-lo e de<br />
evitar a penali<strong>da</strong>de. O Código não evita o crime. Os honestos,<br />
que são a maioria, não conhecem os artigos do Código<br />
Criminal e Penal. O ver<strong>da</strong>deiro castigo para o homem<br />
normal é perder a consciência de sua própria fôrça e <strong>da</strong><br />
grandeza que forma sua humani<strong>da</strong>de interior.<br />
“O método de observação tem por base fun<strong>da</strong>mental a<br />
liber<strong>da</strong>de dos alunos em suas manifestações espontâneas:<br />
liber<strong>da</strong>de e ativi<strong>da</strong>de.<br />
“Como obter a disciplina em uma classe de crianças em<br />
liber<strong>da</strong>de? Se a disciplina é basea<strong>da</strong> na liber<strong>da</strong>de, esta deve<br />
ser<br />
9 – 27 454
130 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
ativa. Não se dirá que é disciplinado um indivíduo que se con-<br />
serva silencioso como se fôra mudo, e permanece imóvel<br />
como se fôra paralítico. Será um manietado, nunca um<br />
disciplinado. Disciplinado é o individuo senhor de si<br />
mesmo, dispondo de si, segundo uma regra de vi<strong>da</strong> que tenha<br />
adotado.<br />
“O conceito de disciplina ativa não é fácil de se compre-<br />
ender nem de se obter, mas é um alto princípio educativo. A<br />
idéia central do sistema é que nenhum ser humano pode rece-<br />
ber educação de um outro ser. Este autodi<strong>da</strong>tismo é que dá<br />
cunho especial à disciplina <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de, que se limita na con-<br />
veniência <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de.<br />
“O interêsse nos exercícios sistemàticamente adequados<br />
às necessi<strong>da</strong>des fisiológicas e psíquicas <strong>da</strong>s crianças,<br />
conserva-as concentra<strong>da</strong>s nos respectivos trabalhos, e o<br />
hábito de fixar a atenção em ocupações a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s aos seus<br />
gestos, e de resistir a tentações de mu<strong>da</strong>r para outras coisas,<br />
produz com o tempo o self-control. As energias estão<br />
ocupa<strong>da</strong>s no que instintiva-mente procuram, e, tendo plena<br />
liber<strong>da</strong>de para se expandirem, estão calmas; não há<br />
irritações nem rabugices; não há birras nem implicâncias”.<br />
(Luiza Sérgio),<br />
“Quando uma criança não se a<strong>da</strong>pta bem a êsse domínio<br />
de si mesma e se torna prejudicial à disciplina <strong>da</strong> classe, pela<br />
sua inquietação e turbulência, não há outro castigo para ela<br />
mais do que isolá-la do convívio <strong>da</strong>s outras e considerá-la<br />
como um ser doente, diferente dos outros, ao qual se fala<br />
como a um convalescente de quem todos têm pena. Êste<br />
modo de considerá-la inferior aos outros estimula-lhe o amor<br />
próprio e a faz em pouco tempo entrar no regime <strong>da</strong><br />
liber<strong>da</strong>de respeitadora <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de alheia. Conta a doutora<br />
Montessori que um dia recebeu uma aluna rebelde a todos os<br />
carinhos, infensa a todos os ensinamentos, não querendo nem<br />
penetrar na sala <strong>da</strong> clas- se, conservando-se na ante-sala.<br />
“Deixaram-na ficar envolta em sua capa e com o chapéu<br />
de que se não queria desfazer. Um dia, quando um outro<br />
discípulo, cansado do trabalho de arrumar cubos pelo tama-<br />
nhos, abandonou, no chão, o exercício e foi em busca de<br />
outro,<br />
a pequena, sùtilmente e como se fôsse cometer uma ação má,<br />
o substituiu, e em pouco tempo, desfazendo-se <strong>da</strong> capa e do<br />
chapéu estorvantes, se pôs à obra, a<strong>da</strong>ptando-se lentamente<br />
ao regime.<br />
“A liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criança deve ter como limite o interêsse<br />
coletivo; como forma, o que costumamos chamar educação<br />
<strong>da</strong>s maneiras e dos atos. Devemos impedir que o menino<br />
pratique tudo quanto possa prejudicar os outros, ou quanto<br />
redunde em
FABIO LUZ FILHO 131<br />
ato indecoroso ou censurável. Mas tudo o mais, tô<strong>da</strong>s as<br />
manifestações com fim útil, qualquer que seja, debaixo de<br />
qualquer forma, deve-lhe ser permitido, mas sob a<br />
observação constante <strong>da</strong> mestra: eis o ponto essencial”.<br />
(Montessori — pg. 61).<br />
“A habili<strong>da</strong>de especial do mestre está em intervir<br />
pacientemente, para, com absoluto rigor, impedir e pouco a<br />
pouco sufocar todos os maus atos e más tendências, de modo<br />
que o menino chegue ao claro conhecimento do que é bom e<br />
do que é mau. Este é ponto de parti<strong>da</strong> necessário à disciplina;<br />
é o trabalho mais fastidioso <strong>da</strong> mestra. A primeira noção que as<br />
crianças devem adquirir para serem ativamente disciplina<strong>da</strong>s é<br />
a do bem e do mal. O fim educativo a atingir está em impedir<br />
que o menino confun<strong>da</strong> o bem com a imobili<strong>da</strong>de e o mal com<br />
a ativi<strong>da</strong>de, como acontecia com a forma disciplinar anti- ga.<br />
Pois nosso fim é disciplinar a ativi<strong>da</strong>de, o trabalho, o bem, e<br />
não a imobili<strong>da</strong>de, a passivi<strong>da</strong>de, a obediência. Uma sala onde<br />
tô<strong>da</strong>s as crianças se movem ùtilmente, inteligentemente, vo-<br />
luntàriamente, sem embaraço algum, parece-me muito bem<br />
disciplina<strong>da</strong>.. .“<br />
AINDA A ESCOLA<br />
E, em 1904, já dizia Fábio Luz:<br />
“De programas organizados com orientação igual e uni-<br />
forme, com desenvolvimento equilibrado de disciplinas, pó-<br />
der-se-á chegar com ameni<strong>da</strong>de e com certa facili<strong>da</strong>de a com-<br />
pletar um curso de noções generaliza<strong>da</strong>s e bastantes para o<br />
comêço <strong>da</strong> luta pela existência.<br />
“Cubagem de ar insuficiente, material impróprio, ilumi-<br />
nação defeituosa <strong>da</strong>s salas de classe, tudo põe o aluno subur-<br />
bano em inferiori<strong>da</strong>de patente relativamente ao aluno urba-<br />
no, além <strong>da</strong> falta de adjuntos que possam dirigir as classes<br />
em que se acham dividi<strong>da</strong>s as escolas, encarregado um<br />
professor só de dirigir, às vêzes, três classes com suas turmas,<br />
e às vêzes a escola tô<strong>da</strong>.<br />
“Quanto à distribuição <strong>da</strong> luz nas salas de classe, muitas<br />
anomalias há a notar nos pequenos prédios aproveitados<br />
para tais serviços: ora abun<strong>da</strong>nte e perturbadora à entra<strong>da</strong><br />
franca <strong>da</strong> luz por todos os lados <strong>da</strong>s salas; ora os cômodos<br />
aproveitados têm insuficiente clari<strong>da</strong>de vela<strong>da</strong> através de<br />
uma janela mal disposta no aposento, impedindo a<br />
arrumação <strong>da</strong>s cartei-ras de modo a aproveitar a luz e dispô-<br />
la à esquer<strong>da</strong> do aluno.
132 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
“Entretanto, custam aluguéis elevados os prédios que a<br />
Municipali<strong>da</strong>de ocupa”.<br />
Numa de suas conferência, elabora<strong>da</strong> em 1918, e<br />
Intitula<strong>da</strong> “Case dei Bambini, Fábio Luz, estu<strong>da</strong>ndo a obra<br />
<strong>da</strong> Dra. Maria Montessori, diz mais:<br />
“O método de observação tem por base fun<strong>da</strong>mental a<br />
liber<strong>da</strong>de dos alunos em suas manifestações espontâneas. Li-<br />
ber<strong>da</strong>de e ativi<strong>da</strong>de.<br />
“Se a disciplina é basea<strong>da</strong> na liber<strong>da</strong>de, esta deve ser<br />
ativa. “A primeira noção que as crianças devem adquirir para<br />
serem ativamente disciplina<strong>da</strong>s é a do bem e do mal”.<br />
“Baseado no respeito à individuali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criança e no<br />
desenvolvimento dela, <strong>da</strong>ndo-lhe a maior independência pos-<br />
sível, firmado na concepção muito mais alta <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de do<br />
aluno do que os outros sistemas; radicado na educação dos<br />
sentidos, como coisa <strong>da</strong> maior importância, o sistema Montes-<br />
sori é a aplicação, científica e moderna, do pensar de J. J.<br />
Rousseau no “Emile”.<br />
“O desejo de vencer dificul<strong>da</strong>des educa o caráter e afirma,<br />
orientando, as energias naturais”.<br />
O SLOJD ESCOLAR E AS CLASSES ELEMENTARES<br />
Eis o programa de slojd escolar elaborado por Fábio<br />
Luz e pelo professor Teófilo Moreira, publicado em agôsto de<br />
1915, e fielmente executado na “Escola Cairu”, no Méier:<br />
— Slojd escolar.<br />
Esbôço de programa para alunos do curso<br />
complementar:<br />
1 — Estudo do instrumental e dos diversos modos de<br />
sua utilização: faca, serra, pontas de metal, verruma,<br />
esquadros, TT, lixa, etc.<br />
2 — Preceder todos os trabalhos do desenho do objeto<br />
que se quiser fabricar, toma<strong>da</strong>s as dimensões exatas, com o<br />
auxílio do desenho geométrico.<br />
3 — Estudo <strong>da</strong> resistência <strong>da</strong> madeira e do melhor<br />
modo de aproveitar sua conformação e a direção <strong>da</strong>s fibras<br />
vegetais.<br />
4 — Primeiros cortes. Posição <strong>da</strong> mão direita; a mão es-<br />
quer<strong>da</strong> sustentado a tábua; modo de pegar <strong>da</strong> faca, firmando<br />
o dedo polegar <strong>da</strong> mão esquer<strong>da</strong> no dorso dela, próximo à<br />
extermi<strong>da</strong>de, de modo a <strong>da</strong>r firmeza aos cortes de<br />
desbastamento em linha reta. Procurar a “veia” <strong>da</strong> madeira<br />
para evitá-la, sendo preferível seccionar fibras a seguir-lhes<br />
as sinuosi<strong>da</strong>des.
FABIO LUZ FILHO 133<br />
No caso de maior resistência <strong>da</strong> madeira, apoiar a tábua na<br />
extremi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mesa.<br />
5 — Nos cortes circulares <strong>da</strong>r movimento em curvas ao<br />
punho e à lâmina <strong>da</strong> faca, acompanhando o desenho e, lenta-<br />
mente, por cortes sucessivos, aproximar-se do traçado.<br />
6 — Fabricar (sempre precedendo o desenho do objeto)<br />
facas de cortar papel, tabuinhas para chaves, tabuinhas com<br />
entalhes para enrolar linha, cordão, lã, etc.<br />
7 — Descansos para canetas, recortados à serra e<br />
ajustados com pontas de metal ou colados.<br />
B — Caixinhas com diversas formas geométricas, de ca-<br />
paci<strong>da</strong>de prèviamente estabeleci<strong>da</strong>, com as faces ou superfí-<br />
cies ajusta<strong>da</strong>s por meio de cola ou pontas de metal,<br />
9 — Cadeirinhas sem encôsto (tamboretes), mesas, ca-<br />
bides.<br />
10 — Aparadores, consolos, com recortes nos espaldos,<br />
e gavetinhas.<br />
11 — Cadeiras de encôsto recortado.<br />
12 — Armário de portas e pés recortados e ornatos<br />
superiores, rendilhados à faca ou à serra. (Em tudo deve ser<br />
observado o desenho prèviamente traçado, bem como o plano<br />
anteriormente combinado).<br />
13 — Animais domésticos. Polichinelos, articula<strong>da</strong>s as<br />
diversas partes do corpo por meio de arames finos ou pontas<br />
de metal. Esses últimos trabalhos poderão ser depois colori-<br />
dos e pintados à vontade do aluno.<br />
14 — Carrinhos de mão, montados em madeira e sôbre<br />
dois descansos. Carretas de duas ro<strong>da</strong>s, sem raios, firma<strong>da</strong><br />
em um eixo pregado ao lastro dos carrinhos com pontas<br />
metálicas.<br />
15 — Cataventos ou moinhos de vento, de quatro pás —<br />
seis e oito.<br />
16 — Carros de quatro ro<strong>da</strong>s e guarnições.<br />
17 — Armações para diversas formas de papagaios —<br />
trapézios, paralelepípedos, aeroplanos, etc.<br />
Eis trechos de uma conferência realiza<strong>da</strong> em 1912, na<br />
“Escola Riachuelo”, por Fábio Luz:<br />
“As classes elementares deveriam compor-se de vinte<br />
crianças de matrícula, para <strong>da</strong>rem freqüência de doze, de<br />
modo a ser o ensino ministrado quase individualmente. Se<br />
assim fôsse, o aluno, ain<strong>da</strong> mesmo retar<strong>da</strong>do, lucraria tripli-<br />
ca<strong>da</strong>mente e faria o curso primário em menos <strong>da</strong> metade do<br />
tempo que consome atualmente em classe numerosa.
134 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
“As salas para que permitam boa arrumação serão<br />
retangulares; as carteiras alinhar-se-ão de sorte que o aluno<br />
receba o luz pela esquer<strong>da</strong>. A exigência higiênica <strong>da</strong><br />
iluminação pela esquer<strong>da</strong>, todos vós sabeis melhor do que eu,<br />
deve ser religiosamente respeita<strong>da</strong> por causa <strong>da</strong> escrita<br />
principalmente, pois que, vindo a luz do lado direito, a mão<br />
que escrever projetará sombra sôbre o papel, e até à leitura<br />
feita em livro repousado na tampa <strong>da</strong> carteira essa<br />
iluminação trará sérios inconvenientes, prejudicando o<br />
perfeito funcionamento dos órgãos visuais, ocasionando<br />
vícios de acomo<strong>da</strong>ção que persistirão por tô<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> do<br />
escolástico.<br />
“A iluminação unilateral esquer<strong>da</strong> nem sempre ou<br />
quase nunca é possível conseguir-se regularmente higiênica,<br />
em prédios construídos para outros fins, e nem a obtemos<br />
perfeita nos edificados com intuitos escolares pela Prefeitura.<br />
Pode-se corrigir êsse inconveniente de luz excessiva e<br />
esfuzilante, apro- veitando outras aberturas, janelas ou<br />
portas, para o arejamen- to <strong>da</strong>s salas, velando-as com estores<br />
ou cortinas de tecido bastante compacto, mas permitindo a<br />
transparência uniforme. O vidro despolido ou facetado é<br />
prejudicial, pois refrata a luz em muitas direções; seria<br />
preferível utilizar-se o vidro opaco até certa altura <strong>da</strong><br />
vidraça. As janelas do lado direito, se de menores dimensões,<br />
prestarão serviços, pois que em certas condições é<br />
indispensável aproveitar a luz <strong>da</strong> direita, como refôrço de<br />
iluminação, estabelecendo um arremêdo do que se conven-<br />
cionou chamar — luz bilateral equivalente. É difícil estabele-<br />
cer o mínimo e o máximo de iluminação escolar em velas<br />
decimais ou lux. Uma sala bem ilumina<strong>da</strong> por luz natural<br />
<strong>da</strong>rá de 40 o 50 lux, enquanto fartamente ilumina<strong>da</strong><br />
artificialmen- te à noite <strong>da</strong>rá de 12 a 30 lux (“Higiene<br />
ocular e inspeção <strong>da</strong>s escolas”. H. Truc e P. Chavernac.) Os<br />
fotômetros já deviam estar em uso nas nossas escolas. Esses<br />
aparelhos são de fácil manejo; têm por fim achar a medi<strong>da</strong> e<br />
o grau de iluminação dos diversos lugares <strong>da</strong> escola: quadros<br />
negros e lugares ocupados pelos alunos e professôres, mapas<br />
e estampas. O fotômetro de True compõe-se de textos cuja<br />
legibili<strong>da</strong>de para um mesmo indivíduo, colocado em distância<br />
fixa, varia com a iluminação. É êle formado por um quadro<br />
medindo 0m,23 de comprimento por 0m,17 de largura. O<br />
texto se repete cinco vêzes no quadro coberto por uma, duas,<br />
três, quatro e cincos lâminas de vidro ou gelatina, igualmente<br />
espêssa e <strong>da</strong> mesma côr. Conforme o numero de lâminas — a<br />
quanti<strong>da</strong>de de luz.
FÁBIO LUZ FILHO 135<br />
“Um cordel fixado na apófise orbitária externa ao<br />
observador e prêso ao aparelho regula a distância. Deve<br />
medir 0m,33.<br />
Ao texto coberto com uma só lâmina correspondem 2<br />
velas.<br />
Ao segundo — 2 lâminas — 3 velas.<br />
Ao terceiro — 3 lâmInas — 6 velas.<br />
Ao quarto — 4 lâminas — 12 velas.<br />
Ao quinto — 5 lâminas — 24 velas.<br />
“Quando não se conseguir arrumar a classe de modo<br />
que a iluminação se faça pela esquer<strong>da</strong> do aluno, arrumem-se<br />
as carteiras de frente para a parte de onde vier a luz mais<br />
inten- sa. Tem êsse modo de iluminação, especialmente no<br />
nosso clima, o inconveniente de deslumbradoramente ferir a<br />
retina do discípulo.<br />
“Há meios de atenuar a intensi<strong>da</strong>de luminosa: cortinas,<br />
estores, venezianas, etc. Tô<strong>da</strong>s essas coisas, já muito sediças,<br />
estais cansados de saber e não vos venho dá-las como<br />
novi<strong>da</strong>de; apenas as menciono para concatenação desta<br />
despretensiosa palestra.<br />
“A dificul<strong>da</strong>de maior nesta questão está na iluminação<br />
<strong>da</strong>s escolas noturnas.<br />
“A luz elétrica aproveita<strong>da</strong> e utiliza<strong>da</strong> nas escolas<br />
urbanas, é, sem dúvi<strong>da</strong>, a que mais se aproxima <strong>da</strong> luz<br />
natural; é, portanto, a mais higiênica.<br />
“Ain<strong>da</strong> assim tem o inconveniente de ser abun<strong>da</strong>nte em<br />
raios ultra-violetas que produzem queratites e irites.<br />
“Esses inconvenientes podem ser obviados pelo emprego<br />
de vidros amarelos, amarelecidos ou esverdinhados, nas<br />
lâmpa<strong>da</strong>s, embora diminuam a intensi<strong>da</strong>de luminosa.<br />
“O gás corrente de iluminação, onde não haja luz<br />
elétrica, prefere-se ao acetileno e ao álcool, que são mais ricos<br />
de raios ultravioletas; a êstes últimos também é preferível a<br />
luz de petróleo ou querosene, onde não haja canalização de<br />
gás corrente.<br />
“O gás comum tem contra si a grande produção de calor<br />
irradiante dos focos de combustão, calor que se atenua com<br />
os aparelhos incandescentes Auer.<br />
“O melhor meio de distribuir a luz artificial nas classes,<br />
será o que se basear na instalação de lâmpa<strong>da</strong>s nas cornijas,<br />
ou guarnições do teto, ou que, projetando-a diretamente<br />
sôbre as tábuas do fôrro, a reflita em tô<strong>da</strong> a sala, utilizados<br />
refleto- res de metal branco ou niquelado.
136 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
“O problema <strong>da</strong> iluminação <strong>da</strong> escola é de<br />
extraordinária importância.<br />
“Muita bem diz o professor Dr. Linneu Silva que a idéia<br />
de filiar à escola as perturbações visuais, dependentes <strong>da</strong><br />
miopia, remonta a uma época relativamente bem afasta<strong>da</strong><br />
para a ignorância e o descuido em que ain<strong>da</strong> é envolvido pro-<br />
blema de tão grande relevância social, de tão grande<br />
destaque econômico.<br />
“Depois de horas segui<strong>da</strong>s de exercícios em classe, em<br />
que a visão aproxima<strong>da</strong> dos objetos fatiga o órgão visual pelo<br />
esfôrço de acomo<strong>da</strong>ção convergente, tornam-se necessários a<br />
perspectiva ao longe, a vista de grande praças movimenta<strong>da</strong>s,<br />
vastos horizontes, verdes montanhas, que repousam admirà-<br />
velmente a retina e refrescam a imaginação. Por isso a escola<br />
localizar-se-á bem nas proximi<strong>da</strong>des dos pontos de maior<br />
con. densação <strong>da</strong> população, mas em tal situação que a<br />
mu<strong>da</strong>nça de cenário se faça para o aluno apenas saia <strong>da</strong><br />
classe, se aproxime de uma janela ou chegue ao pátio de<br />
recreio.<br />
“As salas de classe devem ser pinta<strong>da</strong>s a óleo para<br />
serem lava<strong>da</strong>s com panos ou esponjas sem prejuízo <strong>da</strong>s<br />
decorações.<br />
“Uniformemente pinta<strong>da</strong>s ficarão em melhores<br />
condições, sendo a côr acinzenta<strong>da</strong> a que melhormente<br />
satisfaz. No caso de serem as paredes forra<strong>da</strong>s de papel, que<br />
seja êle de desenhos poucos vivos e de tais matizes, que<br />
aproveite razoàvelmente ou atenue os excessos <strong>da</strong> luz solar.<br />
“O assoalho, calafetado, fácil de ser levado, bem uni<strong>da</strong>s<br />
as tábuas, não oferecerá fen<strong>da</strong>s onde se acumulem detritos e<br />
o pó <strong>da</strong>s ruas e <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s, levados nos pés dos alunos, dos<br />
mestres e dos visitantes.<br />
“Tanto quanto fôr possível as arestas <strong>da</strong>s paredes e dos<br />
portais serão substituí<strong>da</strong>s por superfícies arredon<strong>da</strong><strong>da</strong>s, côn-<br />
covas e convexas. Esta medi<strong>da</strong> visa a impedir. nos casos fre-<br />
qüentes de que<strong>da</strong>s, que as crianças se contun<strong>da</strong>m muito ou se<br />
firam ou escoriem a pele.<br />
“As reserva<strong>da</strong>s, em número de três para centena de<br />
discípulos, ficarão nos pátios de recreio, serão de fácil acesso,<br />
bem areja<strong>da</strong>s e vigia<strong>da</strong>s, e em tal situação, que os ventos<br />
reinantes não atirem para dentro <strong>da</strong> escola emanações<br />
mefíticas, ou pe-los tubos de ventilação ou desprendendo-se<br />
<strong>da</strong>s bacias e mictórios. As paredes <strong>da</strong>s priva<strong>da</strong>s revestir-se-ão<br />
de substâncias impermeáveis — cimento, azulejo, etc., de<br />
fácil limpeza, com água abun<strong>da</strong>nte, pura ou mistura<strong>da</strong> com<br />
alguma substância desinfetante.
FABIO LUZ FILHO 137<br />
“Haverá o máximo cui<strong>da</strong>do em conservar desobstruídos os<br />
sifões e bem estanques as junturas <strong>da</strong>s canalizações dos raios<br />
de águas servi<strong>da</strong>s e pluviais, em comunicação com a rêde<br />
geral de esgôto, onde haja esgôto. Nas locali<strong>da</strong>des onde ain<strong>da</strong><br />
não houver chegado êsse melhoramento, maior deverá ser o<br />
cui<strong>da</strong>do prestado à limpeza <strong>da</strong>s valas e sarjetas de<br />
escoamento de águas servi<strong>da</strong>s, estabelecido serviço regular,<br />
real, efetivo, de desinfetação periódica <strong>da</strong>s fossas fixas.<br />
“A filtração <strong>da</strong> água potável seria melhor se fôsse feita nos<br />
depósitos de abastecimento ou nas caixas domiciliárias; mas<br />
onde a esterilização não se possa obter por êsse meio, pode-se<br />
recorrer ao processo <strong>da</strong> ebulição, principalmente nos<br />
distritos escolares longínquos, nos subúrbios distantes, nas<br />
ilhas sem abastecimento regular de água.<br />
“As portas de entra<strong>da</strong> e saí<strong>da</strong> <strong>da</strong>s escolas serão amplas pa-<br />
ra facilitarem retira<strong>da</strong>s rápi<strong>da</strong>s em casos de perigo incêndio,<br />
desabamento, raio ou qualquer outro acidente.<br />
“No vestíbulo ficarão os cabides de chapéus e o vestiário;<br />
nunca nas classes.<br />
“As esca<strong>da</strong>s terão largos degraus para evitar que<strong>da</strong>s;<br />
terão corrimão sólido e patamares espaçosos para descanso.<br />
“Nas proximi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s classes haverá lavatórios com água<br />
corrente em abundância, onde os alunos limpem as mãos fre-<br />
qüentemente, não só <strong>da</strong>s impurezas <strong>da</strong>s poeiras <strong>da</strong>s ruas,<br />
como <strong>da</strong>s máculas que a tinta de escrever, o giz e os outros<br />
utensílios <strong>da</strong> escola lhes tenham pôsto. Em tô<strong>da</strong>s as escolas<br />
exigir-se-á a instalação de bebedouros, onde as crianças se<br />
desalterem sem se utilizarem de canecas ou copos de uso<br />
comum.<br />
“Os recreios convém que sejam ajardinados ou cortados<br />
de tabuleiros de relva bem cui<strong>da</strong><strong>da</strong> onde possam rolar os<br />
meninos, sem risco de se machucarem. Que melhor seria<br />
também um trecho arborizado!<br />
“Um belo jardim elegantemente desenhado e florido, man-<br />
<strong>da</strong>ndo para o azul do céu oblatas de perfumes à Natureza fe-<br />
cun<strong>da</strong> e inspiradora de bons pensamenbs, é também educativo<br />
dos sentidos e do sentimento estético <strong>da</strong>s crianças.<br />
“Amar esta nossa terra, acarinhar-lhe os seios túmidos de<br />
vi<strong>da</strong>, de tudo aquilo de que se faz a felici<strong>da</strong>de e abençoar-lhe a<br />
fecundi<strong>da</strong>de e a liber<strong>da</strong>de com que nos nutre; amar nossa terra<br />
— delícia dos nossos olhos, celeiro inesgotável, túmulo dos<br />
nossos ancestrais, laboratório de nossa descendência; terra<br />
luminosa, flori<strong>da</strong> e perfuma<strong>da</strong> como outra não há no mundo;<br />
amá-la e ensinar a amá-la é também educar. E o homem vive
138 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
tão prêso à terra que não amá-la, não lhe ser agradecido, é um<br />
crime; não adorá-la, uma perversão moral.<br />
“Os bancos-carteiras para um aluno são os preferidos,<br />
quando as salas os comportam.<br />
“Dentre êles excelem os que têm assentos móveis, facili-<br />
tam os movimentos dos alunos e dão francas entra<strong>da</strong>s e<br />
saí<strong>da</strong>s. Pelas suas dimensões é indispensável que estejam em<br />
relação direta com as estaturas dos alunos. Nem é preciso<br />
muito insis-tir na gênese <strong>da</strong> escoliose escolar e <strong>da</strong>s<br />
deformações provenientes <strong>da</strong>s posições força<strong>da</strong>s em carteiras<br />
sem as medi<strong>da</strong>s e dimensões higiênicas exigi<strong>da</strong>s.<br />
“Os bancos-carteiras devem ser arrumados fronteiros à<br />
mesa do professor, distando dela dois metros e afastados cin-<br />
qüenta centímetros <strong>da</strong> parede, nas filas, quer laterais, quer<br />
extremas. Ficarão a dez centímetros <strong>da</strong>s <strong>da</strong> frente,<br />
excetua<strong>da</strong>s as de modêlo americano, cujos bancos estão nas<br />
carteiras posteriores e as mesas nas anteriores. Essas<br />
carteiras americanas, que foram fabrica<strong>da</strong>s no intuito de<br />
iludir a solução do proble-ma <strong>da</strong> distância positiva ou<br />
negativa entre o banco e a mesa, feitas com pés de ferro<br />
fundido e bastante pesa<strong>da</strong>s, deverão ser fixa<strong>da</strong>s ao solo a fim<br />
de que os alunos não afastem os ban- cos a seu talante ou os<br />
oproximem, fazendo variar a distância que deve ser sempre e<br />
medi<strong>da</strong>mente fixa.<br />
“O mobiliário mau e defeituoso e a iluminação<br />
insuficiente ou mal dirigi<strong>da</strong>, são causas eficientes <strong>da</strong> escoliose<br />
e <strong>da</strong> miopia escolares. As carteiras sem as dimensões<br />
correspondentes às estaturas <strong>da</strong>s crianças forçam-lhes as<br />
posições, contrafazem os gestos, dificultam e embaraçam os<br />
movimentos do tórax e <strong>da</strong> respiração, perturbam, portanto,<br />
as funções circulatórias.<br />
“As posições contrafeitas permanentes produzem<br />
desvios <strong>da</strong> coluna vertebral: isto constitui a escoliose. Além<br />
do <strong>da</strong>no causado ocasiona graves perturbações de saúde. Da<br />
carteira não correlativa ao tamanho do discípulo vêm<br />
também males de a<strong>da</strong>ptação ocular, pois os livros, os<br />
cadernos e os outros utensílios de trabalho escolar muito se<br />
aproximam ou muito se afastam dos olhos do discípulo.<br />
“O trabalho no quadro negro faz repousar o órgão<br />
visual, e convém que seja de aplicação freqüente em ardósia<br />
ou tela ardosia<strong>da</strong>, sempre lava<strong>da</strong> para conservar-se negra.<br />
“Os mapas de fundo branco ou amarelado ficarão em<br />
posição tal nas paredes, que possam ser vistos pela classe<br />
tô<strong>da</strong>; os caracteres dêles bem impressos devem ser legíveis<br />
para olhos normais a 10 metros de distância.
FÁBIO LUZ FILHO 139<br />
“Devem êles ser preferidos aos atlas, cujos dizeres são<br />
sempre minúsculos e fatigam a vista. Os livros em uso na<br />
classe deverão ser impressos em papel opaco, para que os<br />
caracteres tipográficos de uma página não sejam visíveis no<br />
verso, O pa- pel couchê e os papéis muito brancos e lustrosos<br />
ou acinzentados, repudiem-se.<br />
“A escola é a continuação do lar; quando no lar não há o<br />
confôrto espiritual e carinhoso e a iniciação primordial nos<br />
percalços <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e do mundo, que a ignorância agrava e torna<br />
insuperáveis, supre-os a escola, onde os mestres têm a tríplice e<br />
eleva<strong>da</strong> representação de pais, educadores e guias.<br />
“Na escola a criança aprenderá com a ginástica e os cân-<br />
ticos o ritmo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e a harmonia dos movimentos, a beleza<br />
<strong>da</strong>s formas no conjunto estético do corpo humano bem con-<br />
formado, ágil e vigoroso.<br />
“Com a história aprenderá a tirar dos fatos e <strong>da</strong>s crônicas<br />
do passado as ilações do futuro. Aprenderá na suavi<strong>da</strong>de de<br />
nosso idioma a amar solidàriamente todos aquêles que se ser-<br />
vem dêle para exprimir pensamentos e sentimentos.<br />
“Da geografia tirará ensinamentos para muito querer êste<br />
imenso e dourado pais de sol perene nas alturas, de sol eterno<br />
nas entranhas auríferas, com seus cau<strong>da</strong>is inexauríveis, sua<br />
produtivi<strong>da</strong>de exuberante, que dá mil por um sem que lhe<br />
amanhem sequer as entranhas fecun<strong>da</strong>s. Aprenderá rudimen-<br />
tos de ciências que lhe explicarão os mistérios do Universo e <strong>da</strong><br />
Natureza; ensinar-lhe-ão a ser homem.<br />
“Uma boa parte <strong>da</strong> instrução educativa que vos é cometi-<br />
<strong>da</strong> pelo Estado, tem sido um tanto descura<strong>da</strong> nos últimos<br />
tempos, em que tô<strong>da</strong>s as atenções se voltaram quase<br />
exclusivamente para a educação <strong>da</strong> inteligência, relegando-se<br />
para um plano inferior a educação do sentimento. Ambas,<br />
para se completarem, exigem desenvolvimentos<br />
correspondentes.<br />
“Nos que tenham tendências a degenerações e taras psico-<br />
páticas, melhor será apurar a educação do sentimento.<br />
“A escola municipal é a escola do proletário. O ensino in-<br />
tegral que lhe devemos deve ser fornecido no menor espaço<br />
de tempo possível, pois não temos o direito de retar<strong>da</strong>r-lhe a<br />
entra<strong>da</strong> na vi<strong>da</strong> de labuta, de caça ao pão nosso de ca<strong>da</strong> dia.<br />
“O problema geral <strong>da</strong> educação intelectual, disse A.<br />
Comte. consiste em fazer chegar, em poucos anos, um<br />
entendimento muitas vêzes medíocre ao mesmo ponto de<br />
desenvolvimento que atingiu, em longa série de séculos, um<br />
grande número de gênios superiores, aplicando durante uma<br />
vi<strong>da</strong> inteira, sucessivamente, tô<strong>da</strong>s as fôrças ao estudo do<br />
mesmo assunto”,
140 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
O TRABALHO DOS EDUCADORES<br />
Em 1936, aventando assuntos depagógicos, disse Fábio<br />
Luz que não seria sem propósito transcrever alguns trechos<br />
de Momela Nievenheus: “Deve-se <strong>da</strong>r ao menino o<br />
ensinamento quando êle o queira. Qualquer programa<br />
escolar igual para todos os meninos de um país é ridículo. O<br />
mestre deve ter a liber<strong>da</strong>de de dispor o ensino de acôrdo com<br />
seus desejos e com o desejo dos alunos. A mesma porção para<br />
todos os estômagos, a mesma quanti<strong>da</strong>de para todos os<br />
desenvolvimentos: para tô<strong>da</strong>s as capaci<strong>da</strong>des, as mesmas<br />
ocupações e os mesmos trabalhos... Não. Melhor será<br />
a<strong>da</strong>ptarmo-nos à natureza. Certamente serão cometidos<br />
erros menores. Elhen Key desejava que um dilúvio afogasse<br />
todos os pe<strong>da</strong>gogos, salvando-se apenas Montaigne, Rousseau<br />
e Spencer, para que se progredisse um pouco... Proteger,<br />
defender, incitar e impulsionar, é o trabalho dos<br />
educadores”.<br />
E acrescentou que não sabiam muitos que, ao tempo<br />
dêle, como inspetor escolar, guiado por Omer Buise, se fêz<br />
alguma coisa para <strong>da</strong>r à educação <strong>da</strong> infância certa<br />
orientação utilitária e não simplesmente livresca. “O nosso<br />
distrito, reunido em Associação de Professores, estabeleceu o<br />
ensino de slojd escolar, à mo<strong>da</strong> sueca, adquirindo o material<br />
necessário para os trabalhos manuais em madeira,<br />
precedidos do desenho dos objetos a fabricar. O professor<br />
Teófilo Moreira <strong>da</strong> Costa deixou um belo exemplo de escola<br />
primária (Escola Cairu), preparatória de escola profissional,<br />
facilitando o ensino técnico,”<br />
AS CAIXAS ESCOLARES<br />
A ação <strong>da</strong> caixa escolar em certo sentido precede a <strong>da</strong><br />
cooperativa escolar, não há dúvi<strong>da</strong>, de vez que vai buscar a<br />
criança fora <strong>da</strong> escola, enquanto a cooperativa já a apanha<br />
dentro dela, como aluno. Podem coexistir e podem<br />
interpenetrar-se, ou a própria cooperativa substituí-la,<br />
como se vem tentando na Bahia, não obstante a cooperativa<br />
escolar não deva trilhar tal caminho de beneficência, <strong>da</strong><strong>da</strong><br />
seu dinamismo orgânico; considerado seu cunho de um<br />
movimento educacional e viril, de auto-suficiência, de<br />
emancipação, de renovação de métodos. Mas, não se pode<br />
negar que as caixas escolares, tanto no Distrito Federal, como<br />
em São Paulo, Paraná, etc., vêm prestando serviços<br />
relevantes como elementos de combate ao analfabetismo, pela<br />
distribuição de sapatos, far<strong>da</strong>mentos, pratos-
FABIO LUZ FILHO 141<br />
-de-sopa, e de leite (inaugurados por Fábio Luz no Distrito<br />
Federal), etc., e até invadindo o domínio <strong>da</strong> higienização,<br />
pelos gabinetes dentários, etc. Mas, sua ação tem sido<br />
fecun<strong>da</strong>, mas limita<strong>da</strong>, sem o alcance educativo <strong>da</strong><br />
cooperativa escolar moderna, que dá ao aluno o aprazimento<br />
e as virtudes <strong>da</strong> autodi<strong>da</strong>xia.<br />
Eis a mensagem de Fábio Luz, em 1895, ao fun<strong>da</strong>r a pri-<br />
meira caixa escolar:<br />
“A incumbência estabeleci<strong>da</strong> por lei ao Inspetor Escolar<br />
refere-se, pois, especialmente, às crianças pobres.<br />
“Se é encargo do Inspetor Escolar estimular a<br />
freqüência às escolas, igual incumbência tem o professor pela<br />
necessi<strong>da</strong>de natural de um meio maior de ação.<br />
É tanto mais útil um foco luminoso quanto maior é seu<br />
poder iluminativo; quanto maior é a zona por êle ilumina<strong>da</strong>,<br />
quanto mais poderosa a sua irradiação.<br />
“Sendo o professor foco de luz intelectual, tanto mais<br />
útiI se tornará o seu esfôrço, tanto mais digno será de<br />
benemerência, de veneração e de gratidão pública, tanto mais<br />
credor dos aplausos, <strong>da</strong> consideração e do aprêço de uma<br />
população, quanto maior fôr o número de inteligências<br />
esclareci<strong>da</strong>s pela sua benéfica influência de educador.<br />
“Portanto a vós, tanto como ao Inspetor Escolar, ocorre<br />
o dever de criar a eficaz propagan<strong>da</strong> <strong>da</strong> disseminação do<br />
ensino pelo povo, pela infância pobre, onde reside o futuro<br />
brilhante <strong>da</strong>s instituições republicanas e <strong>da</strong> Pátria.<br />
“Nenhum meio é de efeitos mais prontos para<br />
chegarmos ao fim do que aquêle que tiver como resultado<br />
<strong>da</strong>r ao aluno pobre, ao filho do proletário o necessário para<br />
freqüentar a escola, fornecendo a veste decente, que o não<br />
envergonhe junto aos seus companheiros mais favorecidos <strong>da</strong><br />
fortuna, com o fim de facultar-lhe as luzes intelectuais<br />
capazes de torná-lo útil à Pátria, à Família e à Socie<strong>da</strong>de.<br />
“Creio, pois, senhores, que não é uma utopia tentar<br />
organizar neste distrito uma caixa escolar, <strong>da</strong>ndo execução<br />
ao disposto no art. 64 <strong>da</strong> lei, que diz:<br />
“Ficam constituí<strong>da</strong>s caixas escolares para obtenção de<br />
donativos, a fim de fornecer aos alunos reconheci<strong>da</strong>mente<br />
pobres o indispensável de que careçam para freqüentar a<br />
escola”.<br />
Este artigo de lei, lançado assim sem uma ampliação se-<br />
quer, indicando a quem incumbe a organização destas caixas,<br />
dá-nos o direito de organizá-la no nosso distrito como nos<br />
aprouver.
142 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
“Exposto, assim, o fim desta reunião, pergunto: Está o<br />
professorado do 7.° distrito disposto a cooperar com todo<br />
esfôrco nesta obra de filantropia ou de cari<strong>da</strong>de, trabalhando<br />
para fornecer aos pobres, aos necessitados os meios práticos<br />
de obter o pão intelectual sem os espetáculos, os rótulos <strong>da</strong>s<br />
socie<strong>da</strong>des beneficientes, mas com a dedicação de que tem<br />
<strong>da</strong>do sobejas provas no exercício de sua benemérito<br />
profissão? Sim.<br />
“Então tratemos de <strong>da</strong>r uma organização séria e útil à<br />
caixa escolar do 7° distrito, que fica cria<strong>da</strong> nesta <strong>da</strong>ta”.<br />
Nesa época, na<strong>da</strong> existia sôbre cooperativismo no Brasil<br />
e muito menos sôbre cooperativismo escolar.<br />
Eis o regulamento <strong>da</strong> primeira Caixa Escolar fun<strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />
no Distrito Federal, em 1895, por Fábio Luz, como disse:<br />
REGULAMENTO DA CAIXA ESCOLAR<br />
DO SÉTIMO DISTRITO<br />
CAPÍTULO I<br />
Organização e fins <strong>da</strong> Caixa<br />
Art. 1.° — Fica nesta <strong>da</strong>ta instala<strong>da</strong> a Caixa Escolar do<br />
7.° distrito, de conformi<strong>da</strong>de com o art. 64 do decreto nº 38<br />
de 9 de maio de 1893.<br />
Art. 2.° — Serão considerados membros desta Caixa,<br />
não só todos os professôres catedráticos, adjuntos,<br />
subvencionados e subsidiados, pertencentes ao 7.° distrito<br />
escolar por ocasião <strong>da</strong> aprovação dêste Regulamento, como<br />
os que vierem à mesma pertencer posteriormente, de que<br />
declarem aceitar as condições do art. 3°<br />
Art. 3.° Para a manutenção <strong>da</strong> Caixa o inspetor esco-<br />
lar concorrerá mensalmente com a quantia de 5$, o professor<br />
catedrático com 2$, e o adjunto, subvencionado ou<br />
subsidiado, com 1$000.<br />
Art. 4.° — Esta Caixa não poderá contrair divi<strong>da</strong> algu-<br />
ma, nem fazer junção com outra de qualquer distrito e o seu<br />
patrimônio será formado:<br />
1.° Pela contribuição de que trata o art. 3,0,<br />
2.°Pelo produto dos meios estatuídos no art. 13.<br />
3° Pelo rendimento de qualquer quantia excedente ao<br />
orçamento <strong>da</strong>s despesas anuais, que deverão ser deposita<strong>da</strong>s<br />
pelo tesoureiro em conta-corrente em um Banco ou na Caixa<br />
Econômica.
FÁBIO LUZ FILHO 143<br />
Art, 5.° — Esta Caixa tem por fim fornecer aos alunos<br />
reconheci<strong>da</strong>mente pobres do 7.º distrito escolar o<br />
indispensável de que careçam para freqüentar a escola,<br />
segundo dispõe o art. 84 <strong>da</strong> Lei do Ensino Público<br />
Municipal.<br />
Parágrafo único — Os meios de que trata o artigo ante-<br />
cedente serão fornecidos não sòmente às crianças pobres de<br />
ambos os sexos, que por falta dêles não freqüentam escolas,<br />
como também às que, freqüentando qualquer escola pública,<br />
subvenciona<strong>da</strong> ou subsidia<strong>da</strong> do distrito, necessitem dos<br />
meios para poderem continuar.<br />
CAPITULO II<br />
Deveres e direitos dos membros <strong>da</strong> Caixa<br />
Art. 6.° — São deveres dos membros <strong>da</strong> Caixa, além do<br />
que estatui no art. 3.º dêste Regulamento.<br />
1.° Cumprir e fazer cumprir o presente Regulamento.<br />
2.° Ser pontual no pagamento de suas mensali<strong>da</strong>des.<br />
3.° Exercer, com todo zêlo e digni<strong>da</strong>de, as comissões e<br />
cargos de que se incumbirem, não podendo recusá-los sem<br />
motivos justos.<br />
4.° Concorrer com sua pessoa, influência e meios<br />
disponíveis para manutenção <strong>da</strong> Caixa.<br />
6.° Fornecer à Diretoria as informações que lhe forem<br />
pedi<strong>da</strong>s.<br />
Art. 7.° — Todo membro <strong>da</strong> Caixa terá o direito:<br />
1.º De votar e ser votado.<br />
2.° De dirigir-se por escrito à Diretoria no caso de qual-<br />
quer dúvi<strong>da</strong> na interpretação dêste Regulamento.<br />
CAPÍTULO III<br />
Da Diretoria, escolha de seus membros e atribuições<br />
de ca<strong>da</strong> um<br />
Art. 8.° — A Diretoria compor-se-á de um diretor, que<br />
será o inspetor escolar do distrito, de um vice-diretor, um te-<br />
soureiro e um almoxarife, eleitos anualmente dentre os pro-<br />
fessôres, por maioria de votos, sendo considerados suplentes<br />
os imediatos em votação, que os substituirão em seus impedi-<br />
mentos.<br />
§ 1.° Os membros <strong>da</strong> Diretoria podem ser reeleitos.
144 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
§ 2.° O almoxarife será sempre uma professôra catedrá-<br />
tica. Art. 9.º — Ao diretor incumbe:<br />
1.º Promover todos os meios de aumento <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
Caixa.<br />
2.º Convocar e presidir às Assembléias Gerais<br />
ordinárias e extraordinárias, expedindo convites a todos os<br />
professôres do distrito, determinando dia, hora e local.<br />
3.° Nomear dois professôres presentes para 1.º e 2.° se-<br />
cretários <strong>da</strong>s Assembléias Gerais.<br />
4.º Fiscalizar a distribuição dos benefícios.<br />
5.º Rubricar os livros <strong>da</strong>s operações <strong>da</strong> Caixa.<br />
8.° Visar os pedidos, autorizando as despesas.<br />
7.º Apresentar um balanço semestral à Diretoria e um<br />
relatório anual à Assembléia Geral, do movimento <strong>da</strong> Caixa,<br />
com todos os anexos fornecidos pela Tesouraria.<br />
8.° Suspender a sessão <strong>da</strong>s Assembléias Gerais, caso se<br />
torne tumultuosa, ou por qualquer outro motivo incon-<br />
veniente.<br />
Art. 10 — Ao vice-diretor compete substituir o diretor<br />
em seus impedimentos.<br />
Art. 11 — São encargos do tesoureiro:<br />
1.º Arreca<strong>da</strong>r as ren<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Caixa.<br />
2.º Ter em ordem a escrituração a seu cargo e em livros<br />
apropriados.<br />
3.° Encarregar-se <strong>da</strong> correspondência.<br />
4.° Fornecer ao almoxarife o necessário para as dês-<br />
pesas.<br />
5.º Apresentar à diretoria reuni<strong>da</strong> um boletim<br />
trimestral, demonstrativo <strong>da</strong> receita e despesa.<br />
6.° Expedir aos professôres os recibos de suas<br />
mensali<strong>da</strong>des.<br />
7.º Ter sob sua guar<strong>da</strong> a Caixa, pela qual é o único res-<br />
ponsável.<br />
Art, 12 — Ao almoxarife compete:<br />
1.º Fazer aquisição do necessário para satisfação dos pe-<br />
didos.<br />
2.° Receber e aviar os pedidos feitos e assinados pelos<br />
professôres e rubricados pelo diretor.<br />
3.º Passar recibo ao tesoureiro <strong>da</strong>s quantias recebi<strong>da</strong>s.<br />
4.º Prestar contas ao tesoureiro <strong>da</strong>s despesas feitas, jun-<br />
tando as faturas com os competentes recibos.<br />
5.º Exigir do professor recibo dos fornecimento feitos.
FABIO LUZ FILHO 145<br />
6.º Requisitar do tesoureiro a quantia suficiente para ter<br />
em depósito o material imprescindível para atender pronta-<br />
mente aos pedidos.<br />
CAPITULO IV<br />
Obtenção de donativos e modo de distribuição<br />
Art. 13 — A ren<strong>da</strong> <strong>da</strong> Caixa será aumenta<strong>da</strong> por meio<br />
de benefícios, quermesses, bandos precatórios, concertos,<br />
car- tões numerados, e legados ou donativos.<br />
§ 1.º Os cartões numerados, terão o valor de Cr$ 5,00 e<br />
serão fornecidos pela Diretoria aos professôres que os<br />
pedirem e quiserem responsabilizar-se por êles, confiá-los a<br />
pessoas de seu conhecimento.<br />
§ 2.° Os outros meios de que trata o art. 13 serão reali<br />
zados em lugar e tempo convenientes, a juízo <strong>da</strong> Diretoria.<br />
Art. 14 — Os fornecimentos aos alunos necessitados se-<br />
rão feitos mediante requisição do professor ao Diretor, na<br />
qual deverão ser mencionados os nomes dos alunos, com<br />
explicação tão detalha<strong>da</strong> quanto possível do que ca<strong>da</strong> um<br />
necessita.<br />
§ 1.° Êstes fornecimentos nunca serão em dinheiro, mas<br />
sim em objetos de vestuário.<br />
§ 3.° No auxílio prestado serão usa<strong>da</strong>s tô<strong>da</strong>s as precau-<br />
ções a fim de que se ignore entre os alunos qual o socorrido.<br />
§ 4.° O aluno não poderá ser beneficiado mais de duas<br />
vêzes por trimestre no verão e mais de uma no inverno.<br />
§ 5.° Para o aluno obter um novo auxílio, o professor<br />
verificará se o material recebido está imprestável, salvo no<br />
caso de inun<strong>da</strong>ção, incêndio, etc.<br />
§ 6.° Tendo de beneficiar o aluno que venha de outra<br />
escola do mesmo distrito, o professor sindicará <strong>da</strong> Diretoria o<br />
que houver a seu respeito.<br />
§ 7.º 0 aluno que fôr beneficiado e faltor trintas dias por<br />
qualquer motivo, não poderá ser provido novamente senão<br />
no trimestre seguinte.<br />
§ 8.° Durante as férias cessará completamente a distri-<br />
buição dos benefÍcios,<br />
§ 9.º No caso de não poder a Caixa atender de pronto a<br />
todos os pedidos de um mesmo professor, êste informará,<br />
caso possa reconhecer, quais os alunos mais necessitados,<br />
decidindo, no caso de igual<strong>da</strong>de de circunstâncias, em favor<br />
dos que melhor souberem cumprir seus deveres escolares.<br />
10 — 27 454
146 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
CAPÍTULO V<br />
Das Assembléias Gerais<br />
Art. 15 — As Assembléias Ordinárias reunir-se-ão duas<br />
vêzes anualmente: uma em princípios de junho e outra em 1<br />
de agôsto.<br />
Art. 16 — A primeira <strong>da</strong>s Assembléias Ordinárias terá<br />
por fim receber os <strong>da</strong>dos que lhe fornecer a Diretoria em<br />
relação à receita e despesa <strong>da</strong> Caixa e nomear uma comissão<br />
de toma<strong>da</strong> de contas e a segun<strong>da</strong> aprovar as contas que lhe<br />
apresentar a Diretoria e fazer a eleição <strong>da</strong> mesma.<br />
Art. 17 — Também serão considera<strong>da</strong>s legais as delibe-<br />
rações <strong>da</strong>s Assembléias Gerais extraordinárias convoca<strong>da</strong>s,<br />
com declaração do fim, pela maioria do professorado.<br />
Art. 18 — As reuniões <strong>da</strong>s Assembléias Gerais efetuar-<br />
-se-ão em dias feriados e em local designado no convite para<br />
êste fim, exceto a segun<strong>da</strong> Assembléia Geral Ordinária, que<br />
se reunirá em 30 de junho, segundo estabelece o art. 15 dêste<br />
Regulamento.<br />
.... ..............................................................................................<br />
.... ...........................................................................................<br />
Art. 26 — No caso de mu<strong>da</strong>nça na numeração do distri-<br />
to ou de anexação de outras freguezias, ficará êste Regula-<br />
mento sujeito às alterações reclama<strong>da</strong>s pelas circunstâncias.<br />
Art. 27 — Os desvios de dinheiro <strong>da</strong> Caixa serão puni-<br />
dos de acôrdo com as penas de lei.<br />
Art. 28 — O membro <strong>da</strong> Caixa, que tornar público o be-<br />
nefício feito, será passível de uma censura por parte <strong>da</strong> Dire-<br />
toria, e, no caso de reincidência prova<strong>da</strong>, de um voto de cen-<br />
sura na ata <strong>da</strong> primeira Assembléia Geral.<br />
Art. 29 — As consultas e dúvi<strong>da</strong>s sôbre a interpretação<br />
deste Regulamento serão resolvi<strong>da</strong>s pela Diretoria, desde que<br />
não lhe afetem os artigos básicos, caso êste em que serão<br />
sujeitas à Assembléia Geral.<br />
Capital Federal, 30 de junho de 1895.<br />
Dr. Fábio Lopes dos Santos Luz, inspetor escolar<br />
Maria do Nascimento Rei Santos<br />
Augusto de Miran<strong>da</strong><br />
Eugênio Manoel Nunes<br />
Aristides Drumond de Lemos<br />
Nicolau Figueira.
FÁBIO LUZ FILHO 147<br />
NOTA — Nos originais que possuo, Fábio Luz colocou a<br />
seguinte nota: — “Poderão ser sócios <strong>da</strong> Caixa,<br />
contribuintes, ou não, todos os que assim o entenderem, não<br />
sendo permitido a estranhos ao magistério a ingerência na<br />
administração <strong>da</strong> mesma”.<br />
Perdeu-se a parte dos estatutos que ia do artigo 18 ao<br />
26; mas, o que ficou linhas acima vale, eloqüentemente, por<br />
um documento histórico irrespondível.<br />
A Escola Afonso Pena, na 5.ª circunscrição do Distrito<br />
Federal, como vimos, deu à sua Caixa Escolar o nome de<br />
Fábio Luz, Era seu inspetor escolar o Dr. Batista Pereira, que,<br />
desta sorte, prestou uma justa homenagem ao criador <strong>da</strong>s<br />
Caixas Escolares no Distrito Federal.<br />
Outras aí estão também com seus ótimos gabinetes<br />
dentários, etc., etc.<br />
(Substituir os “mil réis” por cruzeiros, nos estatutos).<br />
A EDUCAÇÃO NA SUÉCIA<br />
E vejamos o que se se faz na Suécia, nesse domínio, ideal<br />
a que aspirava Fábio Luz.<br />
Emil Lustig, o ilustre representante <strong>da</strong> Förbundet,<br />
honrou-nos com sua visita em julho de 1949. Na conferência<br />
que realizou sob os auspícios do Centro Nacional de Estudos<br />
Cooperativos, de que sou presidente (conferência já edita<strong>da</strong><br />
em folheto pelo mesmo Centro, como também o foram as dez<br />
conferências que promoveu, enfeixa<strong>da</strong>s em livro intitulado<br />
Temas Cooperativos), reafirma tudo o que ficou acima dito.<br />
Nesta conferência, entre outras coisas, disse que na Suécia<br />
amplamente se faz a semeadura <strong>da</strong>s idéias cooperativas.<br />
Estas idéias propaga<strong>da</strong>s em todo o mundo, constituem uma<br />
sagra<strong>da</strong> teoria e prática de centenas de milhares de homens e<br />
mulheres, convencidos de que a herança dos imortais tecelões<br />
de Roch<strong>da</strong>le forma uma base para a economia socialmente<br />
Justa em fa-vor <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.<br />
“E êsse regime na política exterior verifica-se, também,<br />
na política interna. Sob o regime <strong>da</strong> política democrática e<br />
social-mente justa, o desenvolvimento <strong>da</strong> economia sueca,<br />
interno e externo, mostra resultados dignos de consideração.<br />
“A escola pública, obrigatória para todos (não há<br />
analfabetismo) é inteiramente gratuita. Ca<strong>da</strong> aluno, sem<br />
distinção de que os pais sejam ricos ou pobres, recebe<br />
gratuitamente todo o necessário para a educação e tô<strong>da</strong>s as<br />
crianças também
148 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
recebem, gratuitamente, a meren<strong>da</strong> escolar constituí<strong>da</strong> de<br />
lei- te, fruta, pão, manteiga e várias salsichas. O regime<br />
escolar é democrático, com influência obrigatória <strong>da</strong>s juntas<br />
escolares, forma<strong>da</strong>s pelos pais de alunos. As crianças<br />
recebem assistên-cia médica gratuita, especialmente<br />
dentária. Os pais recebem 300 coroas suecas como auxílio<br />
infantil para ca<strong>da</strong> filho e também uma redução do imposto<br />
sôbre a ren<strong>da</strong>. Cui<strong>da</strong>-se muito <strong>da</strong> saúde pública. Por<br />
exemplo, tô<strong>da</strong> a população de Estocol-mo, de cêrca de<br />
750.000 habitantes, teve oportuni<strong>da</strong>de de freqüentar,<br />
gratuitamente, o instituto de combate à tuberculose, onde<br />
ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dão foi bem atendido, tirando radiografia dos<br />
pulmões para assim combater a enfermi<strong>da</strong>de, com o objetivo<br />
de destruir o vírus já em seu nascimento, man<strong>da</strong>ndo-se os<br />
enfermos aos hospitais especiais <strong>da</strong>s regiões florestais”.<br />
A COOPERATIVA ESCOLAR, UMA IMAGEM DA VIDA<br />
Alice Jouenne disse bem: “Une coopérative scolaire est<br />
pour les enfants une petite image de la vie”.<br />
É esta uma proposição feliz, e Fábio Luz como uma ima-<br />
gem <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> sempre considerou a escola, e sempre teve em<br />
alta conta a colaboração escolar.<br />
Wells, estu<strong>da</strong>ndo a vi<strong>da</strong> e a obra de precursor do grande<br />
educador inglês, que foi F. W. Sanderson, diretor do “Colégio<br />
de Oundle”, que teve a fôrça de um símbolo, reproduz os se-<br />
guintes e justos conceitos dêsse educador, espírito agudo que<br />
teve a antevisão e a priori<strong>da</strong>de de processos que a moderna<br />
pe<strong>da</strong>gogia tem como axiomáticos.<br />
“Em Oundle, diz Sanderson, cremos que as escolas<br />
devem tornar-se, ca<strong>da</strong> vez mais, um microcosmo que representa<br />
o mundo novo. Deve ser um microcosmo experimental no qual<br />
sejam postos à prova os critérios, os imperativos, as leis e os<br />
julgamentos, as organizações, as idéias e os fins de um mundo<br />
novo.<br />
“Porque, aqui em Oundle, nosso fim supremo não é<br />
adqui-rir únicamente conhecimentos, mas agir”. (H. G. Wells-<br />
Un grand éducateur moderne — Sanderson). Isso já acentuei.<br />
Assim, Sanderson, como ain<strong>da</strong> assinala Wells,<br />
considerava a escola como o centro de uma completa<br />
reorganização <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> civiliza<strong>da</strong> E não é outro o pensamento<br />
renovador do cooperativismo escolar, como ficou patente em<br />
capítulos anteriores.<br />
E Fábio Luz compreendeu muito bem êsse papel <strong>da</strong><br />
escola. Faltou-lhe, para continuação de sua obra, ambiente e<br />
estímu-
FÁBIO LUZ FILHO 149<br />
los. Desistiu mesmo de aventar, em face de um meio rigi<strong>da</strong>-<br />
mente preconceituoso, a própria questão <strong>da</strong> educação sexual<br />
nas escolas, como me afirmou várias vêzes, referindo-se, com<br />
laivos de tristeza, aos tropeços que o avanço de suas idéias e a<br />
independência de seu a<strong>da</strong>mantino caráter encontravam a<br />
ca<strong>da</strong> passo, e aos acúleos que feriam seu coração<br />
amantíssimo.<br />
Amado por seus discípulos, recebeu homenagens como<br />
esta:<br />
ANDORINHAS<br />
Poema extraído do conto Andorinhas, <strong>da</strong>s “Leituras de<br />
Ilka e Alba” (Edição Francisco Alves):<br />
Ao brilhante escritor Dr. Fábio Luz<br />
Oferece<br />
o humilde autor<br />
Moacir G. Almei<strong>da</strong><br />
Verão. Rutila o sol. Nos verdejantes mares<br />
Dos bosques, que se enrolam nas doura<strong>da</strong>s gazas<br />
Ao fecundo clarão <strong>da</strong>s radiações solares,<br />
Decantam as cigarras de setíneas asas...<br />
Cintilante manhã. Dos leques dos palmares<br />
Alçam vôos gentis, abrindo as leves asas<br />
As ágeis andorinhas, nômades dos ares,<br />
Em busca dos beirais dos templos e <strong>da</strong>s casas...<br />
E além, um par gentil vinha alegre cantando<br />
Por sôbre os verdes campos, sôbre os descalvados,<br />
Por sôbre a limpidez do céu azul plainando<br />
Ora além nos extensos, aromais valados,<br />
Ora o azúleo cristal do córrego cortando,<br />
Procurando sutil as beiras dos telhados...<br />
I
150 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Lá, no meio do vale, atufado em verdores,<br />
À beira do carreiro longo e tortuoso,<br />
Por entre os laranjais cobertos d’alvas flores,<br />
Erguia um templozinho o vulto gracioso...<br />
Tangendo um sinozinho agudo e sonoroso<br />
Cujos sons musicais perdiam-se em rumores,<br />
De quebra<strong>da</strong> em quebra<strong>da</strong>, em murmúrio queixoso,<br />
Gemendo na amplidão dos prados multicores.<br />
Na cornija <strong>da</strong> lin<strong>da</strong> e páli<strong>da</strong> capela,<br />
O namorado par trançou o pobre ninho<br />
De palinha em palinha, próximo à janela.<br />
Tudo era calma ali; sòmente o velho sino,<br />
De quebra<strong>da</strong> em quebra<strong>da</strong> e caminho em caminho,<br />
Soava, erguendo o som do cântico divino.<br />
III<br />
O altivo campanário. . . o piso sossegado<br />
Do velho sacristão . . . <strong>da</strong> lamparina o lume. . .<br />
O brando tilintar do lustre embalançado<br />
Pela brisa, soltando um trémulo queixume.<br />
Era um ninho d’amor, de paz, abençoado,<br />
O templo de Jesus que tô<strong>da</strong> luz resume,<br />
E à beira <strong>da</strong> cornija, o tálamo entrançado<br />
Era todo d’amor, de sonhos, de perfume.<br />
Mas, às vêzes, a igreja enchia-se de gente.<br />
Cantava lá na tôrre o sino impertinente<br />
Um murmúrio de preces . . . de rouquenhos cantos.<br />
E o padre em pé no altar, em voz pausa<strong>da</strong> e grave,<br />
Entre as nuvens de incenso, na pequena nave,<br />
Sereno repetia: — Sanctus... Sanctus.,. Sanctus...<br />
II
FÁBIO LUZ FILHO 151<br />
IV<br />
Certa vez, a manhã tingia em seus rubores<br />
O frontal <strong>da</strong> capela e o níveo campanário.<br />
E a luz, atravessando entre os vitrais de côres,<br />
Coloria os cristais do branco alampadário.<br />
Um grande movimento, envolto em mil rumores,<br />
Soou pela capela, brusco, extraordinário.<br />
Várias moças ornavam de festões de flores<br />
O lustre, a sacristia, o altar, o santuário...<br />
E quando ao meio dia os sons do sino ecoaram,<br />
Rumores, mil rumores, vozes, martela<strong>da</strong>s,<br />
Pela tôrre, no altar, no côro ressoaram.<br />
E no entanto, nascidos mais dois passarinhos,<br />
Implumes e gentis, nas palhas entrança<strong>da</strong>s,<br />
Do ninho, pipilando, erguiam os biquinhos.<br />
Noite clara e serena... O céu azul cortado<br />
Por fulgentes clarões... Girândolas de côres...<br />
Tudo em festa na Igreja... odor d’incenso e flores<br />
E o órgão a soltar um som entrecortado.<br />
Bandeiras de papel e panos de mil côres<br />
Dispostos em cordão, nos lados, na facha<strong>da</strong>.<br />
O padre a murmurar em voz desafina<strong>da</strong>...<br />
O altar resplandecente... profusão de flores.<br />
E as pobres andorinhas, rápi<strong>da</strong>s, cansa<strong>da</strong>s,<br />
Co’os biquinhos abertos, fracas, vacilantes,<br />
Iam... vinham, sutis, voando amedronta<strong>da</strong>s.<br />
E implorando alimento os filhos suplicantes<br />
Erguiam as cabeças meigas, depena<strong>da</strong>s<br />
Para as mães que chegavam leves, arquejantes.<br />
V<br />
VI<br />
Os foguetes, velozes, que em rubente traço<br />
Subiam pelos céus, as aves espantavam.
152 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
E elas cair deixavam no ruidoso espaço<br />
A gota de alimento que aos filhos levavam.<br />
As coita<strong>da</strong>s, às vêzes, na capela entravam;<br />
Mas o padre de pé, falando, erguendo o braço,<br />
Parecia as enxotar. E as aves pipilavam<br />
Fugindo para o ninho com o corpo lasso...<br />
Veio a noite. As lanternas de papel brilharam.<br />
A festa continuava. Os cânticos soaram.<br />
Ergueu o lampadário o vacilante lume<br />
E o inditoso casal — as vítimas insontes —<br />
Escondiam-se nas asas as pequenas frontes<br />
Pipilava faminta a débil prole implume.<br />
VII<br />
Nos píncaros altivos, nos azúleos cumes,<br />
Ergueu o sol deslumbrante a loura cabeleira,<br />
Num primoroso cortejo d’aves e perfumes,<br />
Ao fagueiro cantar <strong>da</strong> brisa alvissareira<br />
E lá na alva igrejinha, <strong>da</strong> cornija à beira,<br />
Não mais se ouviam aquêles límpidos queixumes.<br />
Apenas sôbre a fria cal, sôbre a madeira<br />
Jaziam os filhotes, álgidos, impulmes.<br />
Mal sorria a formosa, a deslumbrante aurora<br />
No cavo céu azul, aquêle par insonte,<br />
Erguera o brando vôo pelo azul em fora.<br />
E enquanto chilreavam outras pelo monte,<br />
Elas, cheias d’angústias e dor, foram-se embora<br />
Sumindo-se no azul do límpido horizonte...<br />
20 de outubro de 1916<br />
Moacir Gomes Almei<strong>da</strong><br />
NOTA — O grande poeta, tão cedo roubado à vi<strong>da</strong>, era<br />
em 1916, quando, compôs o poema acima, aluno de uma<br />
escola primária. Seu gênio poético desabrochava então,<br />
pujante.
FÁBlO LUZ FILHO 153<br />
A PRIMEIRA LEI MUNICIPAL SOBRE COOPERATIVISMO<br />
ESCOLAR NO BRASIL — AINDA O VALOR MORAL E A<br />
FUNÇAO EDUCATIVA<br />
Fernando Azevedo disse que a escola primária, que se<br />
converte em ver<strong>da</strong>deira comuni<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e de trabalho,<br />
permi-te o estudo e a aplicação de tô<strong>da</strong> uma série orgânica de<br />
experiências e processos sugeridos pela experiência direta <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong>. “A associação cooperativa é um dêsses processos<br />
normais de formação na escola renova<strong>da</strong> segundo o método<br />
experimental e o espírito de finali<strong>da</strong>de social; e, de tô<strong>da</strong>s as<br />
instituições que podem contribuir para o desenvolvimento do<br />
espírito de cooperação é, por certo, uma <strong>da</strong>s mais eficazes<br />
pela sua própria natureza e pela possibili<strong>da</strong>de de interessar<br />
à. totali<strong>da</strong>de dos alunos. Só a experiência e o trabalho, sob as<br />
formas mais expressivas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cívica, econômica e social<br />
podem <strong>da</strong>r à educação um, fun<strong>da</strong>mento sólido, moderno e<br />
prático. Na escola nova, que é, por sua essência, um<br />
laboratório prático de pe<strong>da</strong>gogia, as cooperativas escolares,<br />
como aliás tô<strong>da</strong>s as instituições, com que se manifesta e<br />
afirma a vitali<strong>da</strong>de social <strong>da</strong> escola, assumem um papel<br />
preponderante”.<br />
“É por isso que a lei determina a organização, em ca<strong>da</strong><br />
escola primária (art. 585 do Reg. do Ensino), de uma associa-<br />
cão cooperativa de consumo de que fazem parte todos os alu-<br />
nos. As cooperativas escolares são instituí<strong>da</strong>s, principalmente,<br />
como meio educativo de cooperação e, acessòriamente, para<br />
auxiliar a aquisição de material didático. Ca<strong>da</strong> cooperativa,<br />
que terá um capital constituído, de acôrdo com a lei, de ações<br />
de ca<strong>da</strong> sócio, é administra<strong>da</strong> por uma diretoria, de que<br />
fazem parte os alunos.<br />
“A cooperativa manterá (art. 58’?), para ven<strong>da</strong> com<br />
abatimento aos alunos, um pequeno depósito de material<br />
didático, em que poderá empregar até metade do seu capital,<br />
destinado a outra parte à aquisição de jogos, brinquedos,<br />
material para trabalhos e alimentação. É, como se vê, uma<br />
instituição de caráter educativo, que deve funcionar com<br />
capital dos alunos em benefício dêles, e sob sua direção<br />
controla<strong>da</strong> pelas autori<strong>da</strong>des escolares. A organização <strong>da</strong>s<br />
cooperativas, quer nos detalhes, quer na linha e no espírito<br />
geral, integra-se, desta maneira, no plano <strong>da</strong> reforma, não<br />
como instituição suplemen- tar, mas como expressão viva<br />
<strong>da</strong>s suas idéias diretrizes”.<br />
Vê-se, pois, o cunho eminentemente educativo que <strong>da</strong>va<br />
à cooperativa escolar o ilustre pe<strong>da</strong>gogo.
154 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
VALOR MORAL. AÇÃO EDUCATIVA<br />
Por tudo que existe sôbre cooperativismo escolar na<br />
literatura mundial, pela prática universal se vê que são<br />
organizações fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s, dirigi<strong>da</strong>s e controla<strong>da</strong>s por crianças,<br />
sob as vistas dos mestres.<br />
Tivemos oportuni<strong>da</strong>de de dizer em livro que,<br />
materializan-do um ideal de harmonia, de igual<strong>da</strong>de nas<br />
relações concretas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, de justiça moral, reconhecendo no<br />
ser humano um mérito espiritual, o cooperativismo assenta<br />
em valores morais sua fórmula de ação, sua fôrça de<br />
conquista, seu caráter de renovação. É um propulsor de<br />
fôrças vivas,<br />
Nas escolas cariocas já existem exemplos flagrantes de<br />
cooperação na distribuição de pratos-de-sopa, nos copos-de-<br />
leite, etc., iniciados por meu saudoso pai, tudo fruto dos<br />
esforços conjugados de todos para conseguirem um fim<br />
elevado e nobre, que, sòzinhas, não poderiam as crianças<br />
atingir. Isso já acentuamos,<br />
Uma ilustre educadora já disse que o criança “tem<br />
possibili<strong>da</strong>de infinitas e que, à sua chega<strong>da</strong> ao mundo, é ela,<br />
para a socie<strong>da</strong>de, um capital em potência”.<br />
Por que, pois não fazer com que se desenvolva em seus<br />
corações êsse dignificante sentimento inato de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />
para com todos os sêres que a circun<strong>da</strong>m e do mesmo passo<br />
incessantemente a deslumbram?...<br />
Por que não estabelecer desde já entre essas pequenas<br />
almas em formação e os demais sêres êsse vínculo fecundo de<br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de?<br />
Elslander mostra a afeição inato <strong>da</strong> criança pelos sêres e<br />
coisas primitivas. A criança gosta <strong>da</strong>s plantas e dos animais;<br />
as flores encantam-na com os seus perfumes e o variegado de<br />
suas côres. A terra, as pedras, a água, são os primeiros ele-<br />
mentos formais de seus folguedos,<br />
Aconselha êle, adepto <strong>da</strong> escola nova, a escola-granja,<br />
dissemos, Para completá-la aconselharíamos a cooperativa-<br />
gran-ja, isto é, uma cooperativa de trabalho escolar no<br />
campo, à semelhança do que se pratica em outros paises.<br />
Nos centros urbanos, como vimos, as cooperativas<br />
escolares, mais dinâmicas e viris, ampliariam o alcance <strong>da</strong>s<br />
atuais caixas escolares introduzi<strong>da</strong>s no Distrito Federal por<br />
iniciativa de Fábio Luz, meu saudoso pai, como vimos.<br />
Supérfluo será encarecer as vantagens <strong>da</strong>s cooperativas<br />
escolares rurais, mòrmente em face do urbanismo que se<br />
acentua em tô<strong>da</strong> o parte do mundo atual. Na América do<br />
Norte,
FÁBIO LUZ FILHO 155<br />
disse alguém, a escola rural chamou a si o estudo <strong>da</strong> natureza<br />
como etapa necessária para a formação de hábitos de obser-<br />
vação e o estabelecimento de laços de atração entre a criança<br />
e a natureza fulgente e farta.<br />
Elsiander diz que uma criança cria<strong>da</strong> no ar sadio dos<br />
campos é de uma constituição física, intelectual e moral mais<br />
harmoniosa e mais sóli<strong>da</strong> que uma criança <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, que só<br />
tem impressões falsas ou insuficientes em um mundo que não<br />
é o seu, onde tudo é contrário às suas necessi<strong>da</strong>des, a seus de-<br />
sejos, a seus instintos de ser primitivo.<br />
Como bem diz Julio Barcos, o vibrante escritor argentino,<br />
não é, pois, “ùnicamente em sua face técnica que há necessi-<br />
<strong>da</strong>de de transformar a educação, senão também em seu con-<br />
ceito filosófico e em sua finali<strong>da</strong>de humana. O problema não<br />
é acadêmico, mas sociológico. O primeiro têrmo do problema<br />
não é “como educar”, mas “para que fim queremos educar o<br />
homem”...<br />
E proclama a necessi<strong>da</strong>de de um organismo novo, plásti-<br />
co, dinâmico.<br />
Não será a cooperativa êsse organismo plástico e<br />
dinâmico?<br />
Luzzatti, um dos maiores financistas <strong>da</strong> Itália, criador dos<br />
bancos populares cooperativos que tomaram o seu nome e<br />
que podem ser considerados escolas elementares de<br />
previdência ou caixas econômicas aperfeiçoa<strong>da</strong>s, Luzzatti<br />
disse que a cooperação é uma escola de previdência que<br />
ensina a utili<strong>da</strong>de de bem trabalhar. A honesti<strong>da</strong>de é a sua<br />
melhor política e o seu me-lhor símbolo. Escolas superiores<br />
possuem cátedras de coopera-ção.<br />
Existiam, e, certo, ain<strong>da</strong> existem, na Europa, cooperativas<br />
de trabalho agrícola organiza<strong>da</strong>s por meninos e rapazes,<br />
cujas ativi<strong>da</strong>des eram até solicita<strong>da</strong>s pelos camponeses<br />
adultos. Formaram-se até cooperativas de crianças para<br />
proteção aos pássaros.<br />
No Uruguai já existe um acentuado movimento na direção<br />
<strong>da</strong> “pe<strong>da</strong>gogia democrática”, no dizer de Cesar Marote,<br />
ilustre educador uruguaio, “para abrir ao espírito <strong>da</strong><br />
criança, inquie- to de natural avidez, as janelas e os mirantes<br />
de onde possa contemplar, embora à distância, o rio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
que serpenteia a seus pés.<br />
“Praticar a cooperação ou cooperativismo em nossas esco-<br />
las será, continua Cesar Marote, ao mesmo tempo que<br />
completar uma enunciação teórica com sua realização<br />
eficiente, ampliar, vivificar, modernizar ain<strong>da</strong> mais nossa<br />
pe<strong>da</strong>gogia, não
156 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
por simples afã esnobista e simples desejo modernizador,<br />
mas pelas vantagens de tô<strong>da</strong> ordem que proporciona,<br />
fazendo com que a criança se incorpore à vi<strong>da</strong> mesma e<br />
comece a sentir-lhe as vibrações.<br />
“A educação, dêsse nosso ponto de vista, deve abrir o es-<br />
pírito infantil à compreensão <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des, <strong>da</strong>s idéias e<br />
do esprírito de seu tempo, condicionando-o a um viver<br />
harmônico no concêrto social, não como um elemento de<br />
monotonia tradicional e rotineira, mas, sim, como uma fôrça<br />
nova e de aperfeiçoamento”.<br />
Cesar Marote preconiza as cooperativas por escola, por<br />
bairros ou por zonas que compreen<strong>da</strong>m várias escolas, cujo<br />
conjunto poderá constituir a Federação <strong>da</strong>s Cooperativas.<br />
(Do ponto de vista educativo, são preferíveis as cooperativas<br />
por escolas ou grupos escolares, e a lei brasileira nisso é<br />
clara) Exemplifica êle a ação benéfica <strong>da</strong>s cooperativas de<br />
compra de material escolar suprindo enormemente as<br />
deficiências orçamentárias, coadjuvando os governos, desta<br />
sorte, na alfabetização infantil, constituindo núcleos<br />
irradiantes de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana.<br />
Isso tudo acima, já o dizíamos em 1926. E em 1930 já,<br />
em livro, havíamos tocado nesse assunto.<br />
A primeira edição do presente livro saiu em Janeiro de<br />
1933 do prelo <strong>da</strong> Civilização Brasileira.<br />
FUNÇÃO EDUCATIVA, CAPACIDADE TÉCNICA —<br />
OS CLUBES DE ESTUDO<br />
Como “centro-de-interêsse”, desenvolverá a cooperativa<br />
facul<strong>da</strong>des latentes nas almas infantis; corrigirá tendências;<br />
educará inclinações; coordenará vontades; cepilhará<br />
instintos inferiores, imprimindo à criança uma<br />
“personali<strong>da</strong>de equilibra<strong>da</strong>, harmoniosa e forte”.<br />
“O homem, diz Fábio Luz, animal social e sociável,<br />
sòmente se desenvolve à custa desta quali<strong>da</strong>de: só progride<br />
com o auxilio de seus semelhantes. Voltar aos seus começos<br />
de vi<strong>da</strong> é a imperfeição primeva, em que era lupus, não é<br />
tender à perfeição...<br />
“O fim, o destino do homem, é a busca <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de. A<br />
felici<strong>da</strong>de perfeita sem o amor, que é a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, não nos<br />
pode ser garanti<strong>da</strong> sòmente pela Justiça, como lei suprema.<br />
O amor é a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de absoluta; é a perfeição real e reali-<br />
za<strong>da</strong>; é a igual<strong>da</strong>de e o supremo bem; é a energia, a vi<strong>da</strong>, o
FÁBIO LUZ FILHO 157<br />
estímulo, a emulação, o incitamento, a arte, a lei formal <strong>da</strong><br />
existência e do progresso <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. É, portanto, a feli-<br />
ci<strong>da</strong>de”.<br />
O cooperativismo escolar é veículo, pois, de formação<br />
moral, instrumento de ação fecun<strong>da</strong>, levando também à.<br />
educação física e artística.<br />
“En Estados Unidos se reputa que la enseñanza moral<br />
no es lo bastante activa y positiva. Ciertamente la atmósfera<br />
de la escuela debe ser favorable a esa educación; pero los<br />
ejemplos de los educadores y de los grandes hombres no son<br />
suficientes; un bueno espiritu general y un elevado ideal no<br />
alcanzan tampoco. El niño, ser esencialmente activo, se<br />
desenvuelve por la acción y to<strong>da</strong> su activi<strong>da</strong>d debe ser dirigi<strong>da</strong><br />
de modo a obtener de él una persona moral, consciente,<br />
responsable. La tendencia actual de la educación europea<br />
continental nos conduce, creo yo, a concebir la educación<br />
moral de la misma manera (por ejemplo, en la escuela activa,<br />
en las “Schulgemeinschaften”, de Alemania y Austria, etc.).<br />
“Empleamos especialistas para enseñar a los niños to<strong>da</strong><br />
classe de cosas. Por que no dos emplearemos también. para<br />
enseñarlas a leer la escala de valores de la vi<strong>da</strong> humana?”<br />
Em “Aspectos agro-econômicos do Rio Grande do Sul” e<br />
em “Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas”, estu<strong>da</strong>ndo<br />
o intenso movimento cooperativista dêsse grande Estado, ao<br />
lado do grande desenvolvimento que se opera no domínio<br />
agropastoril <strong>da</strong>s terras gaúchas, ressalto a função altamente<br />
educativa <strong>da</strong> já famosa “Cooperativa dos Empregados <strong>da</strong><br />
Viação Férrea do Rio Grande do Sul”, em Santa Maria, que<br />
teve Manoel Ribas e Augusto Ribas como dinâmicos diretores,<br />
que deixaram uma escola de capaci<strong>da</strong>de realizadora.<br />
Em tô<strong>da</strong> a parte ao movimento cooperativo cabe essa<br />
função educativa, não como objetivo final, mas como<br />
imprescidível ação subsidiária. Gide, dentre outros mestres,<br />
frisou o alcance dêsse objetivo. Lavergne diz que na<br />
instituição cooperativa é a pessoa humana que está em jôgo,<br />
o homem social ligado ao homo oecomomicus, explicando-se,<br />
assim, a regra <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de dos associados, a devolução<br />
desinteressa<strong>da</strong>, a prática de consagrar uma parte dos<br />
excedentes anuais a obras de educação e de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />
humana.<br />
As cooperativas escolares, por mim caracteriza<strong>da</strong>s em<br />
livro, como disse, desde começos de 1933 (e às quais já<br />
aludira largamente na segun<strong>da</strong> edição de “Cooperativismo e<br />
crédito agrícola”, em 1930, e na primeira edição de<br />
“Socie<strong>da</strong>des cooperativas” em 1928), são o instrumento<br />
específico para a forma-
158 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
ção de uma nova mentali<strong>da</strong>de, uma nova ótica para as ques-<br />
tões sociais e econômicas, embasamento <strong>da</strong> civilização futura<br />
que se está esboçando.<br />
Quero pôr em relêvo a ação educativa do cooperativismo<br />
livre como meio de expansão do movimento e alteamento do<br />
nível moral e mental dos cooperadores. Hutchinson acaba de<br />
se referir discussões em grupo como método de educação<br />
cooperativa. Vários países europeus possuem líderes<br />
cooperativis- tas preocupados com a organização de centros<br />
de estudos, preparo de associados para as funções diretivas, e<br />
de técnicos; cursos sôbre a doutrina e a prática do<br />
cooperativismo.<br />
São Paulo, com Octacílio Tomanik, está <strong>da</strong>ndo passos<br />
acertados e o Pará com Bruno de Menezes, além do<br />
Amazonas e do Paraná, com Waldemar L. Campos, e outros,<br />
através de seus departamentos especializados, como a<br />
Paraíba e Pernambuco, êste com Nair de Andrade; o Rio<br />
Grande do Sul com Paulo Onófrio, Rui Estêves e J.<br />
Monserrat, dentre outros; Minas, com Zózimo de Barros; o<br />
Serviço de Economia Rural com o curso intensivo para<br />
administradores que inaugurou em fins de 1954 e que, certo,<br />
prosseguirá, abrem caminhos novos.<br />
“El primero de esos objetivos es de permanente<br />
preocupación en to<strong>da</strong>s las cooperativas del mundo, a tal<br />
punto que en Alemania, país de alta densi<strong>da</strong>d cooperativa,<br />
ese aspecto de la acción moviliza a centenares de miles de<br />
personas, como lo indica el siguiente resumen del año 1930<br />
(movimento que continua em Munster, etc.):<br />
373 reuniones públicas de consumidores;<br />
942 reuniones cooperativas para sindicatos;<br />
5.254 reuniones de asociados cooperadores;<br />
945 reuniones femeninas;<br />
912 fiestas sociales;<br />
181 reuniones de conscripción de socios;<br />
2.472 proyecciones cinematográficas;<br />
123 desfiles de propagan<strong>da</strong>;<br />
2.472 visitas a establecimientos cooperativos;<br />
97 exposiciones.<br />
Cifros semejantes pue<strong>da</strong>n <strong>da</strong>rse para la mayoria de los<br />
paises europeus en los que autori<strong>da</strong>des comunales,<br />
provinciales y centrales se vinculan con su aporte material a<br />
la propagan<strong>da</strong> dei ideal cooperativo.<br />
“Asi es como se explica la potencia del movimiento y la<br />
fideli<strong>da</strong>d de los asociados a ca<strong>da</strong> institución. Ca<strong>da</strong> uno de<br />
ellos
FABIO LUZ FILHO 159<br />
es un ver<strong>da</strong>dero defensor del presente y del futuro de la<br />
cooperación, porque sabe valorar to<strong>da</strong> la importancia de la<br />
obra cooperativa en su papel de organizadora de la economia<br />
colectiva”.<br />
Adiante <strong>da</strong>rei novos elementos.<br />
Se no domínio capitalístico, com tô<strong>da</strong>s as suas possibili-<br />
<strong>da</strong>des a indústria ain<strong>da</strong> se ressente <strong>da</strong> falta de técnicos<br />
especializados, muitas vez mesmo de mão-de-obra<br />
qualifica<strong>da</strong>, não admira que os meios cooperativos envidem<br />
todos os seus esforços para sanar essas e outras falhas. O<br />
conselheiro de turno <strong>da</strong>s cooperativas italianas é uma<br />
inteligente medi<strong>da</strong> nesse sentido, como o rodízio na<br />
administracão geral e na gestão técnica.<br />
Cornellissen, o grande economista, diz que ain<strong>da</strong> hoje,<br />
mesmo em países como a Alemanha, Inglaterra, Estados Uni-<br />
dos, etc., em 100 engenheiros dificilmente se encontrarão 20<br />
com capaci<strong>da</strong>de para dirigir uma fábrica de 200 operários.<br />
De 30 engenheiros capazes de dirigir uma emprêsa de<br />
mediana envergadura, não haverá três capazes de dirigir<br />
uma emprêsa de 20.000 operários. E não haverá um só capaz<br />
de dirigir um “trust” moderno que tenha cem<br />
estabelecimentos. Não porque não tenham a necessária<br />
capaci<strong>da</strong>de técnica como engenheiros; mas porque a<br />
produção moderna é de grande complexi<strong>da</strong>de e as questões<br />
comerciais exigem largo, longo tirocínio.<br />
No mundo cooperativo isto já foi, de há muito, com-<br />
preendido com lucidez.<br />
Estamos no século <strong>da</strong> grande indústria e, parece-nos,<br />
assume caráter utópico a esperança de que se possa voltar às<br />
pequenas indústrias como sistema normal e generalizado (o<br />
que, entretanto, nenhum mal, a meu ver, traria à humani-<br />
<strong>da</strong>de). Poisson. e Russel pregam a concentração cooperativa<br />
como elemento substancial de êxito.<br />
Ademais, é preciso considerar que a ativi<strong>da</strong>de social e<br />
educativa é necessária a tô<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de cooperativa, não<br />
sòmente para a realização de seus fins sociais, senão,<br />
também, como condição de seu desenvolvimento econômico.<br />
Além <strong>da</strong> aplicação do fundo de reserva, para os fins<br />
reprodutivos a que se referem Durand e Noguer, dois<br />
conceituados mestres de fama universal, destinam várias<br />
legislações, para fins de educação, percentagens obrigatórias,<br />
estando, nesse caso, nos Estados Unidos <strong>da</strong> América do<br />
Norte, os Estados de New York, Minnesota, Alaska,<br />
Montana, South Carolina, South Dakota, Virgínia, Iowa,<br />
Wisconsin, North Carolina, Pensilvania.
160 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
CÍRCULOS OU CLUBES DE ESTUDOS<br />
Segundo Hutchinson e o testemunho do Sr. Naboth<br />
Hedin, em “A Nation at School”, os “círculos de estudo” na<br />
Suécia deram surpreendentes resultados na educação do<br />
povo. As cooperativas nesse país, livres como em tô<strong>da</strong> parte<br />
têm seus próprios cursos de conferências, cursos por<br />
correspondência, círculos de estudos e escolas primária<br />
superiores. Calcula-se que estejam em funcionamento un<br />
10.000 grupos de estudo, com uns 200.000 estu<strong>da</strong>ntes<br />
manuseando livros fornecidos na sua maioria pela União<br />
Cooperativa.<br />
“São testemunhos <strong>da</strong> importância de um bom sistema<br />
de educação cooperativa a rapidez com que progrediram a<br />
cooperativas e os magníficos resultados obtidos na educação<br />
do adulto por meio do método <strong>da</strong>s discussões em grupo”.<br />
Eis como Valdiki Moura descreveu os clubes de estudo<br />
que de perto conheceu nos Estados Unidos e na Suécia:<br />
“A Suécia mantém anualmente 10 mil clubes de estudo<br />
para educação de jovens e adultos. No Canadá, o Serviço d<br />
Extensão <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Francisco Xavier, realiza<br />
uma campanha ver<strong>da</strong>deiramente maravilhosa, de<br />
regeneração de adultos ociosos, pela educação econômica<br />
Foi assim que os homens paupérrimos <strong>da</strong>s Província<br />
Marítimas transforma- ram-se, sùbitamente, nos maiore<br />
exportadores de lagostas pa- ra Boston. Também nos Estado<br />
Unidos êstes clubes multiplicam-se por iniciativa dos podêre<br />
públicos, — <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des, <strong>da</strong>s ligas cooperativas, do<br />
conselhos cooperativos e <strong>da</strong>s próprias socie<strong>da</strong>des. Resultaria<br />
ineficiente todo esfôrço que tentasse prmover um movimento<br />
cooperativo em massa organizando, de improviso, socie<strong>da</strong>de<br />
sem base econômica e educativa. As estatísticas de povo<br />
mais evoluídos que o nosso, revelam conclusões que no<br />
animam a conduzir a campanha cooperativa, na Bahia, em<br />
base estritamente educacional. Temos visto o resultado d<br />
algumas socie<strong>da</strong>des que vivem en-tre nós. Faz-se um grand<br />
movimento impressionista externo para fins de atração e<br />
chamariz. Mas o capital é débil, as operações são ineficientes<br />
desconhece-se quase sempre a contabili<strong>da</strong>de. São êstes ponto<br />
que o clube de estudo se propõe esclarecer, educando os seu<br />
associados. Aqui <strong>da</strong>mos algumas proposições para serem<br />
debati<strong>da</strong>s nos clubes de estudo a fim de ilustrarmos<br />
claramente, êste assunto:<br />
1º — Que é cooperação? Explicai com as vossa<br />
próprias palavras
FABIO LUZ FILHO 161<br />
2.º — Por que devem os produtores reunir-se em uma<br />
cooperativa? Há vantagens para êles?<br />
3.º — Quais são os passos iniciais para a instalação de<br />
uma cooperativa?<br />
4.º — Quais são os princípios básicos <strong>da</strong> doutrina coope-<br />
rativa?<br />
5º — Vossa locali<strong>da</strong>de tem problemas econômicos ain<strong>da</strong><br />
sem solução? Seria possível solucioná-lo pela cooperação?<br />
6.° — Como funcionaria vossa cooperativa? Onde? Com<br />
quais recursos financeiros, materiais e pessoais?<br />
“Estas proposições, e outras, crea<strong>da</strong>s pelos próprios mem-<br />
bros de um clube de estudo, pelo período de alguns meses,<br />
estabeleceriam condições ideais de organização cooperativa.<br />
Do curso dos debates outras questões são ventila<strong>da</strong>s, e durante<br />
as discussões, vão sendo selecionados os futuros diretores <strong>da</strong><br />
cooperativa. Este ponto é de uma importância fun<strong>da</strong>mental<br />
porque é conhecido o fracasso de socie<strong>da</strong>des entregues a dire-<br />
tores deseducados que confundem as normas específicas do<br />
cooperativismo com as práticas vulgares do mercantilismo<br />
que especula.<br />
“A Seção de Assistência ao Cooperativismo (hoje é um<br />
departamento) <strong>da</strong> Secretaria <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, <strong>da</strong> Bahia, <strong>da</strong>rá<br />
início, dentro de breves dias, a essa campanha educativa,<br />
procurando disseminar o maior número de clubes de estudo,<br />
por várias zonas do Estado. A Seção oferecerá os temas de<br />
discussão e se interessará para que ca<strong>da</strong> Prefeitura Municipal<br />
ofereça ao clube local uma salinha, onde se possam reunir<br />
as pessoas interessa<strong>da</strong>s no debate <strong>da</strong>s suas questões<br />
econômicas. Ao Cooperativismo já tem sido atribuí<strong>da</strong> a<br />
função de utili<strong>da</strong>de pública e, por isso, certamente, as<br />
Prefeituras Municipais estarão de pleno acôrdo com nossa<br />
campanha educativa, que preparará o desenvolvimento <strong>da</strong>s<br />
fôrças econômicas locais ou regionais.<br />
“O clube de estudo é a célula que há de preparar a vitali-<br />
<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s cooperativas do futuro, melhor basea<strong>da</strong>s em conheci-<br />
mentos doutrinários indispensáveis ao seu desenvolvimento”.<br />
Sòmente em Ohio, nos Estados Unidos <strong>da</strong> América do<br />
Norte, existiam em 1947 mais de 1 .000 círculos de estudos.<br />
O Departamento de Assistência ao Cooperativismo, <strong>da</strong><br />
Bahia, editou Interessante trabalho a respeito dêsses clubes de<br />
estudo. Os interessados poderão vê-lo reproduzido nas “Ins-<br />
truções para organização de socie<strong>da</strong>des cooperativas”, já em<br />
quinta edição, por mim elabora<strong>da</strong>s para o Serviço de<br />
Economia Rural.
162 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
A ESCOLA COOPERATIVA DE FREIDORF<br />
A Escola Cooperativa de Freidorf, ou Seminário Coopera-<br />
tivo, na Suíça, pequeno pais de um elevado grau de<br />
civilização cooperativa, foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> por um grande teórico<br />
do movimento cooperativa suíço: Bernhard Jaeggi,<br />
estritamente dentro <strong>da</strong> orientação pe<strong>da</strong>gógica de Pestalozzi, o<br />
grande educador suíço.<br />
Visa a Escola <strong>da</strong>r à moci<strong>da</strong>de uma educação profissional<br />
completa e uma educação teórica e prática dentro do espírito<br />
cooperativo.<br />
Foi em 1933 reconheci<strong>da</strong> a Escola pelo governo suíço.<br />
Mantém ela cursos diversos. Há um curso de dois anos para<br />
formação de vendedores para cooperativas; cursos teóricos e<br />
práticos de três meses para o pessoal encarregado <strong>da</strong>s<br />
ven<strong>da</strong>s; cursos de aperfeiçoamento de 10 dias. Merece-lhe<br />
grande atenção também o curso de preparação, em caráter<br />
especial, para os círculos de estudos cooperativos, já tão<br />
divulgados nos Estados Unidos.<br />
Os cursos sôbre cooperativismo para associados de<br />
cooperativas, merecem também particular atenção. Entram<br />
no programa desses cursos a história e a doutrina<br />
cooperativa, a contabili<strong>da</strong>de, as ciências comerciais, o direito<br />
constitucional, a pe<strong>da</strong>gogia, as ciências sociais e políticas, a<br />
arte doméstica, a decoração de montras, etc. O francês e o<br />
alemão são as línguas obrigatórias, <strong>da</strong><strong>da</strong>s, como é sabido, as<br />
origens étnicas <strong>da</strong> população suíça. Terminado o curso de<br />
dois anos, são submetidos os candi<strong>da</strong>tos a um exame, para<br />
entrega de um certificado de vendedor de armazém, que é<br />
aceito em tô<strong>da</strong> a Suíça. O ensino é gratuito, como o<br />
alojamento e a alimentação. Além disso, os orientadores do<br />
movimento cooperativo suíço fazem conferências sôbre<br />
vários temas, desde os cooperativos até os filosóficos e<br />
artísticos.<br />
Exige-se certo grau de preparo e um concurso <strong>da</strong>queles<br />
que desejam freqüentar o curso de dois anos.<br />
O ensino prático é <strong>da</strong>do na Cooperativa de Consumo de<br />
de Freidorf, onde os alunos têm a seu cargo todo o serviço de<br />
ven<strong>da</strong>.<br />
B. Jaeggi fêz à Escola um donativo inicial de 50.000<br />
francos suíços; hoje êsse capital está acrescido de donativos<br />
partidos <strong>da</strong>s cooperativas suíças, tendo atingido em 1939 a<br />
993 .058,80 francos.<br />
De 1926 a 1939 haviam freqüentado os cursos na<strong>da</strong><br />
menos de 4.882 pessoas, sendo 3.527 mulheres, o que frisa<br />
como é
FÁBIO LUZ FILHO 163<br />
elevado a mentali<strong>da</strong>de cooperativa dêsse grande pais e o<br />
papel que a mu1her nêle exerce.<br />
Vê-se, pois, como os assuntos cooperativos já entraram a<br />
órbita <strong>da</strong>s cogitações de pe<strong>da</strong>gogos e educadores estrangeiros<br />
e como o govêrno suíço dá à educação uma importância e um<br />
relêvo que devem constituir exemplo e estímulo,<br />
A Escola <strong>da</strong> “Kooperativa Förbundet”, em Estocolmo, é<br />
conheci<strong>da</strong> em todo o mundo, como vimos e veremos adiante.
CAPÍTULO VII<br />
CONCEITOS DE REPETTO — AS COOPERATIVAS<br />
ESCOLARES COMO “CENTROS-DE-INTERESSE”<br />
—PESTALOZZI, FROËBEL, MONTESSORI. AINDA<br />
PROFIT<br />
Vimos, em capítulos anteriores, os ensinamentos e as<br />
observações de mestres ilustres e educadores de vulto e valor<br />
inconteste. Todos unânimes em considerar a cooperativa es-<br />
colar um admirável instrumento para a consecução dos<br />
elevados e nobres objetivos <strong>da</strong> escola renova<strong>da</strong>. Os estatutos<br />
de “Cooperativas escolares”, vimo-los, com desvanecimento,<br />
como disse, aprovados pela Diretoria Geral do Ensino do<br />
Estado de São Paulo, o grande Estado líder, o que vale por<br />
uma consagração infinitamente acima de nossos apoucados<br />
méritos, quando dirigia êsse departamento o Dr. Fernando<br />
Azevedo, o ilustrado pe<strong>da</strong>gogo a quem se deve a primeira<br />
lei municipal brasileira sôbre cooperativos escolares.<br />
Cooperativismo escolar é o que obedece às normas que<br />
procurei traçar, e o dinâmico e culto Estado (seguido, por<br />
outros Estados) aprovou. Fazer coisa diversa disso, é fazer<br />
amalgamento esdrúxulo, é desvirtuar, é falsear as caracterís-<br />
ticas inconfundíveis de uma instituição visceralmente educa-<br />
tiva, <strong>da</strong>ndo-lhe os contornos, a essência, a caranchona de<br />
uma socie<strong>da</strong>de de adultos travesti<strong>da</strong> de cooperativa escolar,<br />
capaz de embarricar sòmente aquêles que nenhuma noção<br />
tenham de cooperativismo escolar ou nenhuma intuição de<br />
assuntos pe<strong>da</strong>gógicos. É tirar à criança a grande<br />
oportuni<strong>da</strong>de de se ajustar a um maravilhoso aparelho de<br />
educação construtiva. Mas, como nem sempre a voz<br />
brasileira repercute, peço licença para aduzir, ao que<br />
exaustivamente já assinalei, convincentes palavras de mestres<br />
estrangeiros que vêm corroborar literalmente os pontos-de-<br />
vista em que me coloquei.<br />
Reproduzo palavras de Nicolás Repetto, uma <strong>da</strong>s<br />
grandes autori<strong>da</strong>des em matéria de ciências econômicas e<br />
sociais <strong>da</strong> Argentina, deputado de relêvo e um dos seus<br />
acatados cooperativistas. Amparado em Profit, o criador do<br />
cooperativismo
FÁBIO LUZ FILHO 165<br />
escolar, cujo livro “La Coopération à l’Ecole primaire”, traz<br />
na capa a sua consagração: “ouvrage couronné par<br />
l’Académie Française”, diz Repetto:<br />
“As cooperativas escolares são forma<strong>da</strong>s por alunos de<br />
uma mesma escola, primárias ou secundárias, e funcionam<br />
(rogo-lhes que atentem neste ponto, que há-de interessar es-<br />
pecialmente aos educadores) com absoluta autonomia: pode<br />
haver um contrôle mais ou menos discreto <strong>da</strong> parte dos pro-<br />
fessôres, mas as crianças devem ter a sensação de estar em<br />
uma cooperativa em miniatura, na mesma situação em que se<br />
encontram os adultos dentro de sua própria cooperativa.<br />
Estas cooperativas escolares se organizam para se proverem<br />
em comum de objetos escolares ou para prestarem certos<br />
serviços à escola ou a sim mesmas”.<br />
Alcançaram, em alguns países, antes <strong>da</strong> última guerra,<br />
como vimos, um desenvolvimento notável. Acentua Repetto<br />
que essas cooperativas escolares representam em miniatura<br />
tô<strong>da</strong>s as formas de cooperação que praticam os adultos: de<br />
economia, ven<strong>da</strong>, produção, cultura, criação, etc.; há ain<strong>da</strong><br />
as cooperativas para a compra em comum de objetos e livros<br />
escolares, às vêzes também artigos para limpeza ou de mate-<br />
rias-primas para trabalhos manuais: existem restaurantes,<br />
meren<strong>da</strong>s e copos-de-leite cooperativos; existem cooperativos<br />
escolares para economia e empréstimos; há cooperativas<br />
também para fabricação de objetos diversos em madeiras,<br />
cartão, metal, argila, bor<strong>da</strong>dos, tecidos, etc., e de produção<br />
agrícola ou hortícola. Há cooperativas escolares para<br />
replantio de árvores e criação de animais; há cooperativas<br />
também para formação de bibliotecas, organização de<br />
conferências, festas, passeios, excursões, etc . . .. Há<br />
cooperativas também de educação físi-ca, desportos,<br />
socie<strong>da</strong>des dramáticas e corais; de embelezamento <strong>da</strong> escola;<br />
criação de museus escolares e fornecimento de material<br />
didático.<br />
“O objetivo econômico destas cooperativas escolares<br />
pode ser de efeitos distintos: ou interessa diretamente aos<br />
alunos ou se refere aos interêsses do escola. Porque muitas<br />
dessas cooperativas escolares não têm sòmente por objetivo o<br />
custo <strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de fazendo com que os alunos possam<br />
comprar os objetivos de uso escolar a melhor preço, não<br />
têm sòmente isso por objetivo: muitas delas dotam as escolas<br />
do que necessitam em elementos de ensino. De sorte que a<br />
cooperativa escolar aju<strong>da</strong> o equipamento material e pe<strong>da</strong>gógico<br />
<strong>da</strong> escola.<br />
Frisa ain<strong>da</strong> Repetto que o que têm essas socie<strong>da</strong>des de<br />
comum entre si, o que as distingue <strong>da</strong>s outras socie<strong>da</strong>des de
166 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
crianças, e de onde deriva o seu interêsse pe<strong>da</strong>gógico próprio<br />
é sua constituição e seu funcionamento. São ver<strong>da</strong>deiras pe-<br />
quenas uni<strong>da</strong>des econômicas cuja gestão se encontra a cargo<br />
<strong>da</strong>s crianças agrupa<strong>da</strong>s de acôrdo com uma forma de organi-<br />
zação que seus próprios estatutos estabelecem. Em na<strong>da</strong> se<br />
parecem com as mutuali<strong>da</strong>des escolares, cujo presidente, vi-<br />
ce-presidente, etc., procedem do pessoal docente; nelas, o di-<br />
retor, o presidente, o secretário, saem dos próprios alunos, e<br />
êste governo surge <strong>da</strong> decisão espontânea e livre dêles, de-<br />
vendo o contrôle dos mestres e <strong>da</strong>s mestras exercer-se de ma-<br />
neira mui discreta.<br />
Além <strong>da</strong>s vantagens econômicas que representam para<br />
seus associados, e que também beneficiam a escola, as coope-<br />
rativas escolares colaboram também como preciosos<br />
auxiliares <strong>da</strong> escola.<br />
Repetto afirma que não emite uma opinião pessoal. Em<br />
tudo o que diz traduz a opinião pessoal de alguns pe<strong>da</strong>gogos<br />
que viram de perto o funcionamento dessas cooperativas es-<br />
colares e puderam extrair desta observação e contacto as se-<br />
guintes conclusões: são preciosos auxiliares <strong>da</strong> escola, consti-<br />
tuem a realização popular <strong>da</strong> escola nova. São um tratado de<br />
pedologia. De um lado contribuem para dotar a escola de<br />
meios materiais necessários à aplicação de métodos ativos e<br />
construtivos, e, de outro lado, segundo a opinião de<br />
numerosos educadores, a cooperação escolar seria um<br />
método e um meio de formação intelectual e moral. “Não<br />
sòmente, dizem, constitui um centro-de-interêsse em tôrno do<br />
qual vêm agrupar-se, desenvolver-se e tornar-se mais<br />
flexíveis os conhecimentos adquiridos em classe, oferecendo<br />
um meio direto, baseado em exercícios reais, de adquirir<br />
êstes conhecimentos e outros que não figuram geralmente nos<br />
programas do ensino primário”. “O cooperativismo apela<br />
para a personali<strong>da</strong>de total <strong>da</strong>s crianças, descobre e põe em<br />
ação facul<strong>da</strong>des que os exercícios escolares não são capazes de<br />
revelar nem criar, como o juízo, a reflexão concreta, a<br />
imaginação, o espírito de ordem, etc.; algumas facul<strong>da</strong>des, e<br />
certas quali<strong>da</strong>des de caráter, como a iniciativa, o domínio de si<br />
mesmo, a aprendizagem <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de e o despertar <strong>da</strong><br />
responsabili<strong>da</strong>de.<br />
Também ganham a facul<strong>da</strong>de de pensar, a disciplina e o<br />
respeito pelas regras morais”.<br />
Pensamos não ser possível uma síntese mais perfeita e<br />
luminosa do alcance <strong>da</strong>s cooperativas escolares.
FÁBIO LUZ FILHO 167<br />
PESTALOZZI, FROËBEL, FALLENBERG<br />
Pestalozzi, o grande educador de Nenhorf e Iverdon, im-<br />
buído de Rousseau, manteve estreitas relações com os<br />
maiores nomes do movimento cooperativo mundial de sua<br />
época —King, Roberto Owen, Mazzini, etc. E bem sabeis que<br />
os princípios pestalozzianos básicos repousam na confiança<br />
em si mesmo, na aju<strong>da</strong> mútua, nas relações com o vizinho, na<br />
organização familiar <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. Com Fallenberg, deu à<br />
pe<strong>da</strong>go-gia um caráter social, indicando para base de seu<br />
sistema educativo a família, considera<strong>da</strong> como a célula<br />
natural de tô<strong>da</strong> a evolução social.<br />
Segundo Mladenatz, todos os dirigentes do movimento<br />
cooperativo suíço sofreram a influência de Pestalozzi e<br />
Fallen-berg, a começar por Schär. A “Province<br />
Pé<strong>da</strong>gogique”, de Fallenberg (1799) teve por alunos<br />
cooperativistas de renome de outros países, e Huber, Craig,<br />
King, Owen e alguns discípulos de Fourier se corresponderam<br />
com Fallenberg, discípulo de Pestalozzi.<br />
Froëbel fazia <strong>da</strong> alegria a base <strong>da</strong> educação infantil e<br />
queria para a criança a ação e o trabalho atraentes.<br />
Aconselhava que ao lado <strong>da</strong> escola existisse um jardim, que é<br />
a ver<strong>da</strong>deira fonte de felici<strong>da</strong>de para a criança, constituindo,<br />
com o estudo <strong>da</strong> natureza, o melhor instrumento para a<br />
inteligência que desperta, na curiosi<strong>da</strong>de viva do que a cerca.<br />
A professôra Montessori trouxe aperfeiçoamentos ao método<br />
froebeliano, <strong>da</strong>ndo à criança o máximo de liber<strong>da</strong>de e de<br />
ação e ao material didático ver<strong>da</strong>deira fôrça auto-<br />
educativa.<br />
E lembremo-nos <strong>da</strong>s belas palavras de Maurício<br />
Babenco em “Los niños primero. . .”<br />
AINDA A AÇÃO DE PROFIT<br />
Foi M. Profit na França, como vimos, quem tomou a ini-<br />
ciativa de urna intensa propagan<strong>da</strong> no sentido <strong>da</strong>s cooperati-<br />
vas escolares, com o pensamento nas luminosas palavras de<br />
Michelet: “Oui, l’éducation de l’homme se fera par les fêtes<br />
encore”. “A sociabili<strong>da</strong>de tem um sentido eterno, que res-<br />
surgirá”.<br />
E M. Profit disse, com justeza, que antigamente se apren-<br />
dia pelos ouvidos e que hoje se aprende pelos olhos e pelas<br />
mãos
168 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
e, acrescentaremos, pelo coração, que deve aninhar nobres<br />
sentimentos de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de sem jaça.<br />
Profit descreve como nasceu o cooperativismo escolar na<br />
França, acentuando que o mesmo derivou de um alto pensa-<br />
mento de patriotismo.<br />
No período de angústias, ruínas e desalentos do pós-<br />
guerra, diante de pais reunidos para assistir à distribuição de<br />
prêmios na circunscrição de Saint-Jean-d’Angély, fêz-lhe<br />
sentir quais os deveres que a todos competiam depois<br />
<strong>da</strong>quela tormenta de ferro, fogo e sangue (1919). Era<br />
necessário refazer sua gloriosa pátria, desenvolvendo na<br />
escola o espírito científico, o gôsto dos trabalhos manuais, o<br />
resguardo <strong>da</strong> saúde física <strong>da</strong> criança. Havia necessi<strong>da</strong>de de<br />
apoiar essas nobres inten-ções em recursos materiais. Profit<br />
apelou para aquêles que, a seu ver, possuem êsse tesouro<br />
precioso que é um entusiasmo fácil de despertar e capaz de<br />
surtos admiráveis, no sentido <strong>da</strong> escola risonha, cívica e<br />
prática. Obtido isso, difundiu-se a idéia pelos Vosges, por<br />
Charente, pela França inteira e colônias. “La guerre a révélé<br />
la puissance financière de l’école”, disse Paul Lapie, diretor<br />
do ensino primário na França.<br />
O departamento de Côte d’Or, por exemplo, possuía<br />
690;<br />
o de Vosges, 619; Charente, 500; Charente-Inférieure, 430;<br />
Ardennes, 416, Alpes-Marítimos, 308. Os associados iam a<br />
250.000.<br />
Logo no primeiro ano, após sua fun<strong>da</strong>ção, a<br />
circunscrição de Saint-Jean-d’Angély dispôs de 100.000<br />
francos graças a 172 cooperativas escolares, na maioria<br />
rurais. Dêsse 100.000, foram 54.000 destinados a<br />
melhoramentos nas escolas e 46.000 encaixados para a<br />
realização do programa escolar do ano seguinte. E um<br />
dinheiro obtido e aplicado sem as complicações dos trámites<br />
burocráticos oficiais e aplicados logo com eficiência a fins<br />
reprodutivos de interêsse escolar.<br />
Assim Profit orientou o cooperativismo escolar francês<br />
no sentido de uma educação nova, manejando a cooperação<br />
econômica como simples meio.<br />
Não resta dúvi<strong>da</strong> de que preparam elas, as cooperativas<br />
escolares, os futuros associados <strong>da</strong>s cooperativas de consumo,<br />
fato êsse que não deve, porém, causar receio, tal o número in-<br />
findável de intermediários comerciais.<br />
Profit acentuou sempre que a cooperaçao escolar<br />
francesa visa sempre, antes de tudo, à formação, de almas, isto<br />
é, à educação.<br />
“Mais ni la recherche du juste prix pour chacun, ni<br />
même l’emploi des trop perçus en améliorations matérielles,<br />
ne sont
FÁBIO LUZ FILHO 169<br />
en matiére d’éducation suffisantes comme idéal ou comme<br />
méthode. Il y faut joindre autre chose”. Deve a escola levar à<br />
organização de um grupo social organizado e permanente,<br />
acentua Profit ain<strong>da</strong>, grupo que deve estar sempre presente<br />
ao espírito <strong>da</strong> criança, que será, em seu seio, esclareci<strong>da</strong> e<br />
disciplina<strong>da</strong>, “groupe de transition entre la famille et la société<br />
humaine”, no qual a criança alarga seus sentimentos de afei-<br />
ção no trabalho e nos jogos, desenvolvendo sua razão<br />
nascente, formando sua jovem liber<strong>da</strong>de nas ocasiões<br />
quotidianas de ação prática e fecun<strong>da</strong>.<br />
A DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E O<br />
COOPERATIVISMO ESCOLAR NA ARGENTINA,<br />
NO MEXICO E EM CUBA<br />
Jaime Tôrres, o ilustre diretor geral <strong>da</strong> U.N. E. S. C .0.,<br />
no Boletim desta enti<strong>da</strong>de de 10 de fevereiro de 1953,<br />
acentuou, com proprie<strong>da</strong>de, que, na escola primária, durante<br />
o primeiro período escolar, tô<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de deve ter por fim:<br />
1 — fazer com que a criança compreen<strong>da</strong>, progressiva-<br />
mente, que a escola é uma comuni<strong>da</strong>de, aju<strong>da</strong>ndo-<br />
a a integrar-se neste grupo social;<br />
2 — desenvolver na criança, fazendo com que torne<br />
parte ca<strong>da</strong> vez mais ativa na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> escola, estas<br />
virtudes cívicas fun<strong>da</strong>mentais: o respeito aos<br />
direitos alheios; o senso <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, <strong>da</strong><br />
disciplina e <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de; a tendência para<br />
sacrificar seus próprios interêsses ao bem comum,<br />
e o sentimento <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de humana;<br />
3 — levar a criança a fazer a aprendizagem <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em<br />
democracia.<br />
Aos doze anos, o espírito <strong>da</strong> criança ain<strong>da</strong> não está ama-<br />
durecido para o pensamento abstrato, e certas ativi<strong>da</strong>des são<br />
próprias para favorecer a formação de atitudes e hábitos<br />
ajustados aos princípios <strong>da</strong> Declaração dos Direitos do<br />
Homem.<br />
E Jaime Tôrres indica, para êsse primeiro período<br />
escolar, as seguintes ativi<strong>da</strong>des: ativi<strong>da</strong>des que revelem a<br />
personali-<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criança; serviços <strong>da</strong> criança à escola<br />
(manutenção <strong>da</strong> biblioteca, etc.), para despertar o sentido <strong>da</strong><br />
responsabili<strong>da</strong>de; serviços <strong>da</strong> criança fora <strong>da</strong> escola (aju<strong>da</strong><br />
aos velhos, aos enfermos, às escolas pobres, etc.); clubes de<br />
discussão e trabalhos de
170 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
equipe; estudo do meio, paulatinamente dilatado de maneira<br />
a fazer com que a criança tenha consciência <strong>da</strong> interdepen-<br />
dência <strong>da</strong>s nações e dos povos, e, finalmente, o cooperativismo<br />
escolar, dentro do qual cabe, dizemos, tudo o que foi<br />
anteriormente citado.<br />
“O ensino relativo aos princípios dos Direitos do<br />
Homem deve apoiar-se em uma organização democrática <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong> escolar. Sem isto, não se poderão preparar crianças<br />
para porem em prática, na vi<strong>da</strong> cotidiana, as idéias de<br />
liber<strong>da</strong>de, de igual<strong>da</strong>de e de justiça, de fraterni<strong>da</strong>de e de<br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, ou os deveres para com a coletivi<strong>da</strong>de”.<br />
Tudo o que acima fica dito, como vimos frisando desde<br />
1931, cabe no âmbito do cooperativismo escolar.<br />
E Antônio Sérgio, o brilhante intelectual português,<br />
disse, como vimos, com muita acui<strong>da</strong>de e de maneira incisiva,<br />
estrênuo e sincero cooperativista que é, vexilário <strong>da</strong><br />
democracia cooperativa:<br />
“Porém, a autonomia econômica <strong>da</strong>s “pedras vivas” do<br />
povo deveria ser prepara<strong>da</strong> desde a instrução primária pela<br />
autonomia cívica dos escolares na escola”.<br />
“A meu ver, na<strong>da</strong> mais retrógado, prejudicial e abafante<br />
do que o figurino paramilitar para a educação dos moços,<br />
como no Juventude Hitleriana. O modelo <strong>da</strong> educação<br />
patriótica para os jovens não convirá buscá-lo nas tradições<br />
guerreiras, na disciplina militar, na heteronomia <strong>da</strong> tropa,<br />
mas na vi<strong>da</strong> civil dos nossos concelhos antigos, dos nossos<br />
municípios modernos, e na organização democrática <strong>da</strong>s<br />
cooperativas de hoje.<br />
“A disciplina dos alunos na sua vi<strong>da</strong> escolar cumpriria<br />
confiá-la à sua iniciativa própria, elegendo êles mesmos os<br />
seus juízes-alunos, os seus chefes de equipo, os seus vigilantes<br />
e guar<strong>da</strong>s, e mantendo êles próprios a gerência efetiva <strong>da</strong><br />
cooperativa escolar que os abastecesse. Percebamos que a li-<br />
ber<strong>da</strong>de é que é o sol <strong>da</strong>s almas”.<br />
ARGENTINA, MEXICO, CUBA, COSTA RICA, ETC.<br />
Pelo decreto 2.314, de outubro de 1950, foi cria<strong>da</strong> a “Dirección<br />
de Educación Cooperativista” no “<strong>Ministério</strong> de<br />
Educación” <strong>da</strong> Província de Buenos Aires, na Argentina.<br />
Tem ela por finali<strong>da</strong>de o ensino teórico e prático do<br />
Cooperativismo nas escolas primárias, facilitando aos<br />
professôres o material necessário para êste elevado objetivo.<br />
O programa teórico
FÁBIO LUZ FILHO 171<br />
abarca os ternas <strong>da</strong> economia, <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e do coopera-<br />
tivismo. As aulas serão semanais para essas disciplinas. A<br />
cita<strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de oficial enfeixou, em folhetos, leis, trabalhos,<br />
conferências, etc., assim como determinou que a parte prática<br />
se efetuasse através <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção de cooperativas escolares den-<br />
tro <strong>da</strong>s escolas, integra<strong>da</strong>s por professôres e alunos.<br />
O Dr. Erico Emir Panzoni, ao comentar o decreto acima,<br />
frisou, com justeza, que a cooperativa escolar deverá formar<br />
uma nova consciência social, na qual tudo girará em tôrno do<br />
homem, de suas necessi<strong>da</strong>des e <strong>da</strong> maneira de satisfazê-las<br />
mediante a aju<strong>da</strong> mútua. Os alunos adquirirão uma noção<br />
exata do funcionamento orgânico <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de cooperativa,<br />
tomando parte em tô<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des que vão, <strong>da</strong> constituição<br />
e tramitação para o registro respectivo, até às econômicas e<br />
sociais, como a aquisição de material escolar e os trabalhos em<br />
comum, e, conforme a localização <strong>da</strong> escola, os trabalhos agrí-<br />
colas, as práticas hortícolas, florestais, etc.<br />
As ativi<strong>da</strong>des sociais residem nas assembléias gerais, reu-<br />
niões de estudo, conferências, excursões recreativas, etc. Isto<br />
tudo desde 1931 que preconizamos no Brasil, em artigos, livros<br />
e folhetos. As 883 cooperativas escolares brasileiras, com algu-<br />
mas exceções, já tudo isso fazem há anos.<br />
Os estatutos-modelos que a cita<strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de argentina dis-<br />
tribui assim definem os objetivos de uma cooperativa escolar.<br />
a) Adquirir ou produzir, e distribuir, entre os alunos<br />
associados, o material necessário para seus estudos.<br />
b) Fomentar e estimular entre os alunos associados, o<br />
espírito de economia, de cooperação e de mutuali<strong>da</strong>de, e a<br />
formação de uma consciência cooperativista.<br />
O Segundo Plano Qüinqüenal argentino dispunha que a<br />
“depuração dos princípios do Cooperativismo e a constituição<br />
de cooperativas escolares e estu<strong>da</strong>ntis, terão o apoio do Esta-<br />
do, a fim de contribuir para a formação <strong>da</strong> consciência na-<br />
cional cooperativista e prestar serviços aos alunos”<br />
E agora o México:<br />
Juan Ventosa Roig, ao comentar a lei mexicana, disse, re-<br />
centemente, que o inciso b do artigo 30 do regulamento de<br />
“parcelas escolares” se refere ao “fomento de pequenas indús-<br />
trias agropecuárias, E frisa (o que é roborativo do que, desde<br />
1931, vimos predicando no Brasil), que não só na Europa<br />
(França, Rússia, Polônia, Tchecoslováquia) e na América do<br />
Norte, é uma prática, sumamente difundi<strong>da</strong> entre as coopera-<br />
tivas escolares, a exploração dessas industrias, mas também<br />
em países de nível cultural e econômico inferior, como o são as
172 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
colônias francesas <strong>da</strong> África Equatorial. Nestas, as cooperati-<br />
vos escolares ensinam aos indígenas o exercício de tais indús-<br />
trias e aperfeiçoam a produção nativa. Em algumas provín-<br />
cias <strong>da</strong> Índia, acrescenta, os funcionários inglêses chegavam<br />
a organizar o trabalho escolar de forma tal, que o tempo em-<br />
pregado na educação, ao invés de ser um pêso, representava<br />
uma fonte de ren<strong>da</strong> para as famílias.<br />
“Sejamos, entanto, mais modestos em nessas aspirações, e<br />
contentemo-nos com que o cooperativismo escolar em nosso<br />
país (México) seja um centro de difusão de pequenas indús-<br />
trias como a apicultura, a avicultura, a criação de coelhos, a<br />
fabricação doméstica de conservas de frutos naturais, a fa-<br />
bricação de cestos, etc. O que se faz entre os indígenas <strong>da</strong><br />
África equatorial e entre populações semi-selvagens <strong>da</strong> Índia e<br />
<strong>da</strong> Indonésia, com maior razão poderá fazer-se no México”.<br />
E, como já o fizemos sentir, um outro objetivo: a coleta de<br />
plantas medicinais e aromáticas (França), de frutos silvestres<br />
como goiabas, etc., que se podem transformar fàcilmente em<br />
doces. E mais: o aproveitamento dos cactos como forragem nas<br />
regiões ári<strong>da</strong>s mexicanas, a prática do plantio de árvores<br />
florestais, etc., etc. “Na França, as cooperativas escolares<br />
reflorestaram cêrca de dois mil hectares em terrenos áridos;<br />
e com a difusão do cultivo de fruteiras, contribuíram, pode-<br />
rosamente, para melhorar as condições econômicas de alguns<br />
departamentos. Uma maneira prática e simples de desen-<br />
volver o amor pela árvore, consiste em estabelecer o costume<br />
de celebrar, na cooperativa escolar, os acontecimentos <strong>da</strong> es-<br />
cola com o plantio de árvores”.<br />
(Fábio Luz, meu saudoso pai, como já o acentuamos, in-<br />
troduziu, ao tempo em que era inspetor escolar no Distrito<br />
Federal, a festa <strong>da</strong> primavera precedi<strong>da</strong> do plantio de uma<br />
árvore).<br />
E Roig conclui, corroborando, mais uma vez, o que vimos<br />
assinalando desde 1931:<br />
1.º — As cooperativas escolares se consideram, em todos os<br />
países do mundo, como elementos importantes de educação<br />
cívica e econômica;<br />
2.º — As cooperativas escolares podem contribuir para o<br />
fortalecimento <strong>da</strong> economia campesina, iniciando os escolares<br />
na cooperação e na prática de indústrias agropecuárias, como<br />
se dá em outros países;<br />
3.º — As cooperativas escolares constituem um meio, de<br />
máxima eficácia, para <strong>da</strong>r à infância, e, por irradiação, aos<br />
adultos, o amor <strong>da</strong> árvore;
FÁBIO LUZ FILHO 173<br />
4.° — Pela similitude de muitas de suas finali<strong>da</strong>des com a<br />
“parcela escolar” (no México), e conjugando muitas <strong>da</strong>s ativi-<br />
<strong>da</strong>des de ambas, poderão ser as cooperativas escolares elemen-<br />
tos importantes para a difusão de novas culturas, melhoria <strong>da</strong>s<br />
antigas, e para despertar entre “eji<strong>da</strong>tários” (camponeses me-<br />
xicanos) o interêsse pelas duas instituições;<br />
5.º — Para que possam ser reali<strong>da</strong>de as vantagens enu-<br />
mera<strong>da</strong>s nas conclusões anteriores, é absolutamente indispen-<br />
sável estabelecer o ensino sistemático do cooperativismo, a fim<br />
de formar quadros dirigentes com capaci<strong>da</strong>de moral, intelec-<br />
tual e técnica. Sem isto, sejam quais forem os esforços que se<br />
realizarem para fomentar às cooperativas, edificar-se-á sô-bre<br />
areia. Os Estados poderão contribuir para esta tarefa ca-pital<br />
estabelecendo o citado ensino em suas escolas e fun<strong>da</strong>n-do<br />
cooperativas-modelos nos lugares adequados (como também já<br />
assinalamos);<br />
6.° — Enquanto se organizar o ensino metódico do<br />
cooperativismo, é indispensável que a “Direção Geral de Ação<br />
Social” edite folhetos, tendo em consideração a reali<strong>da</strong>de mexi-<br />
cana, folhetos que, distribuídos em profusão pelas escolas, sir-<br />
vam de iniciação aos professôres e alunos”. É o de que precisa-<br />
mos também no Brasil.<br />
Roig, espanhol, está atualmente no México, integrando a<br />
plêiade de ilustres doutrinadores, a que também pertence êsse<br />
jovem e brilhante tratadista (que recentemente nos visitou,<br />
vindo do Chile e com passagem pela Argentina) que é Rosendo<br />
Rojas Corla. Roberto Lira Leyva é outro ilustre técnico, e ou-<br />
tros. Dinamizaram, com outros batalhadores, o cenário coope-<br />
rativista mexicano com o poder dos seus esforços construtivos,<br />
banhados de idealismo renovador e servidos de sóli<strong>da</strong> cultura.<br />
Segundo “El movimiento cooperativo escolar en Mexico”,<br />
publicação feita em 1944 pela Universi<strong>da</strong>d Autónoma de Me-<br />
xico, Instituto de Investigaciones Económicas junto à Escuela<br />
Nacional de Economia, cujo ilustre diretor era o Lic. Hugo<br />
Rangel Couto, a primeira cooperativa escolar foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> no<br />
México em 1926 pelo Prof. Isidro Becerril, na Escola Rafael<br />
Angel de la Peña. Êste professor acentuou, com muita justeza,<br />
que sua iniciativa foi uma manifestação <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> escola<br />
ativa, do trabalho ou <strong>da</strong> ação, em que a base do interêsse pró-<br />
prio <strong>da</strong>s crianças mexicanas, em relação com o interêsse social,<br />
também mexicano, se afastou <strong>da</strong> idéia de que a escola, por ser<br />
oficial, deveria obter tudo do Estado, ensinando-lhes que, antes<br />
de empreender qualquer trabalho, era preciso financiá-lo, <strong>da</strong>n-<br />
do-lhes uma idéia exata de sua responsabili<strong>da</strong>de pela partici-
114 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
pação na marcha <strong>da</strong> instituição e, também, a oportuni<strong>da</strong>de de,<br />
mediante a prática dos diversos trabalhos <strong>da</strong> cooperativa esco-<br />
lar, desenvolver ativi<strong>da</strong>des cívicas e de organização.<br />
E o Sr. Rangel Couto coloca-se, como também o faço desde<br />
a primeira edição de cooperativas escolares em 1933, dentro de<br />
um critério educativo:<br />
“El problema de la cooperativa escolar es de un carácter<br />
essencialmente pe<strong>da</strong>gógico, pero hemos de abor<strong>da</strong>rlo, dentro de<br />
este Instituto de Estudios Económicos, como ya se dijo, por<br />
estimarlo un antecedente importante para el éxito de las orga-<br />
nizaciones económicas del futuro. Puede también la cooperati-<br />
va escolar desempeñar un papel importante dentro de las acti-<br />
vi<strong>da</strong>des económicas; sin embargo de lo cual no dejaremos de<br />
reconecer que esta enti<strong>da</strong>d debe mantenerse dentro de su papel<br />
de instrumento educativo, el cual no debe ser dervirtuado a<br />
través de la persecución de un fin preponderantemente eco-<br />
nómico”.<br />
Essa salutar preocupação já vem de anos, tanto que já<br />
D. Manuel Mesa, diretor do Departamento de Ensino Agrícola<br />
insistia no sentido de serem <strong>da</strong><strong>da</strong>s bases estáveis e pe<strong>da</strong>gógicas<br />
às cooperativas de produção <strong>da</strong>s escolas mexicanas. Sua cir-<br />
cular de então, aos diretores <strong>da</strong>s escolas rurais, recomen<strong>da</strong>va<br />
unificação dos estatutos <strong>da</strong>s cooperativas escolares de produ-<br />
cão. Sua organização deveria subordinar-se aos programas de<br />
ensino agrícola, pecuário e industrial do artesanato rural.<br />
DEMOCRACIA SOCIAL E COOPERATIVISMO<br />
ESCOLAR<br />
O Sr. Salvador Marban Santos, do Centro de Orientación<br />
Cooperativa, de Cuba, teceu, recentemente, justos conceitos<br />
sôbre o cooperativismo escolar, os quais, por abonarem o que<br />
vimos, há anos, reiterando no Brasil, merecem divulgação, pelo<br />
seu brilho.<br />
Ei-los:<br />
O elemento pe<strong>da</strong>gógico<br />
Acentua êle que a cooperativa escolar é um manancial de<br />
valores formativos, tanto mais completos quanto maior fôr o<br />
tato do professor em guiar, em orientar os alunos, sem substi-<br />
tuí-los, não só em suas ativi<strong>da</strong>des sociais (elaboração de cri-<br />
térios e de normas diretivas na Assembléia), mas também em
FÁBIO LUZ FILHO 175<br />
suas ativi<strong>da</strong>des econômico-sociais (gestão social e econômica no<br />
Conselho de Administração e no Conselho Fiscal) e em suas<br />
ativi<strong>da</strong>des puramente econômicas ao comprar, vender,<br />
produzir e trabalhar individualmente ou em equipes.<br />
Associação e emprêsa<br />
“A Cooperativa Escolar é, como tô<strong>da</strong>s as cooperativas, uma<br />
instituição na qual coexistem dois elementos: a Associação, ou<br />
elemento humano, que é o dirigente e o responsável, e que<br />
aufere benefícios ou é prejudicado segundo sua capaci<strong>da</strong>de e<br />
comportamento, e a Empresa, ou elemento econômico compos-<br />
to de coisas, que as pessoas reunem para satisfazerem neces-<br />
si<strong>da</strong>des comumente senti<strong>da</strong>s. A Cooperativa Escolar têm por<br />
centro a Escola e é, dentro do estabelecimento escolar em que<br />
se situa, uma classe a mais, na qual poderão praticar-se lições<br />
de govêrno em relação às pessoas e lições de administração em<br />
relação às coisas materiais. Lições de govêrno para aprender a<br />
dirigir a Cooperativa segundo os desejos de seus associados,<br />
mediante critérios que a associação fixará por unanimi<strong>da</strong>de<br />
ou por maioria no quadro particular dos estatutos, êstes, por<br />
sua vez, enquadrados nas leis gerais do País. Lições de admi-<br />
nistração para aprenderem a precisar os elementos econômi-<br />
cos do funcionamento <strong>da</strong> instituição, e a reunir e utilizar êsses<br />
elementos para o melhor serviço dos associados e de todos os<br />
alunos e professôres que desejarem colaborar com a coopera-<br />
tiva. E também para se habituarem a cui<strong>da</strong>r dêsses elementos e<br />
conservá-los e incrementá-los com o fim de serem ca<strong>da</strong> vez<br />
melhor utilizados, melhor equipados, melhor dotados de re-<br />
cursos”.<br />
Ensino e Educação Rural<br />
A cooperativa escolar pode administrar os implementos de<br />
jogos; pode promover a distribuição de artigos escolares e de<br />
consumo e uso; pode instalar também pequenas explorações<br />
agrícolas, semeando, colhendo e distribuindo os produtos do<br />
trabalho <strong>da</strong> terra, os produtos obtidos <strong>da</strong> terra mercê do<br />
trabalho e dos meios de produção comumente conhecidos com<br />
o nome de Capital.<br />
Trabalho produtivo<br />
Também poderão reunir-se na cooperativa escolar, sobre-<br />
tudo na de tipo rural, as produções individuais dos associados,
176 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
com o fim de serem colocados no mercado nas melhores con-<br />
dições tanto para o produtor como para o consumidor, me-<br />
diante a eliminação de intermediários inúteis, de parasitas que<br />
entorpecem a circulação dos produtos e aumentam o custo dos<br />
mesmos.<br />
O plano industrial<br />
E com o fim de evitar que os pais, por egoísmo, capricho<br />
ou imprudência, inutilizem os esforços construtivos do aluno<br />
dirigido por seu professor, no plano industrial, do mesmo<br />
modo que no agrícola, a cooperativa escolar pode fabricar<br />
jogos e roupas e colocar o que ca<strong>da</strong> associado produzir por sua<br />
conta e risco.<br />
Obras sociais e embelezamento <strong>da</strong> escola<br />
“Deve destinar uns 30%, ou mais, a obras sociais de soli-<br />
<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, educacionais e de recreio. E é uma necessi<strong>da</strong>de indi-<br />
vidual, social, material e moral que os cooperadores escolares<br />
se preocupem com o embelezamento <strong>da</strong> sua Escola, que é o<br />
centro em que se precisam e depuram os valores formativos<br />
<strong>da</strong>s personali<strong>da</strong>des.<br />
Fator de democracia<br />
“A Cooperativa Escolar, quando alcança funcionamento<br />
normal, como associação e como emprêsa, é igual a tô<strong>da</strong>s as<br />
outras cooperativas, isto é, o organismo social mais apto para<br />
fazer com que a pessoa humana, habituando-se a utilizar inte-<br />
ligentemente as liber<strong>da</strong>des públicas, as possibili<strong>da</strong>des de ação,<br />
inerentes à democracia política, se encontre em condições de<br />
preparar hoje, para estabelecer sòli<strong>da</strong>mente amanhã, uma de-<br />
mocracia mais rica, mais poderosa, mais completa em profun-<br />
di<strong>da</strong>de, uma democracia social caracteriza<strong>da</strong> pelo fato de que,<br />
nela, as pessoas valem pelas suas capaci<strong>da</strong>des e recebam se-<br />
gundo suas necessi<strong>da</strong>des”.<br />
Costa Rica possui “centros de educação cooperativa” na<br />
Grécia, Naranjo e San Pedro de Poas, tendo recentemente sido<br />
fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em Alajuela uma cooperativa escolar com a participa-<br />
ção de professôres e alunos pertencentes aos “círculos” primei-<br />
ro, segundo e terceiro dessa província. Visam “desarrolar<br />
hábitos de buen comportamiento social, mediante el cultivo de<br />
las naturales cuali<strong>da</strong>des humanas de fraterni<strong>da</strong>d, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>d,
FÁBIO LUZ FILHO 177<br />
cari<strong>da</strong>d, etc. etc. Mantener la esencia y fortalecer los vinculos<br />
de la familia, como célula fun<strong>da</strong>mental de la comuni<strong>da</strong>d<br />
humana. Eliminar ei afán de lucro de las relaciones sociales,<br />
y sustituyéndo-lo por la idea altruista de prestación de servi-<br />
cios, etc., etc.”. A cooperativa escolar como “un compendio<br />
práctico de la doctrina cooperativa”.<br />
E disse bem Luisa Maria Simões Raposo Ribeiro que é<br />
necessário fazer surgirem vivências de valor, assim como va-<br />
lências ou quali<strong>da</strong>des de valor, na personali<strong>da</strong>de do educando<br />
ou na coletivi<strong>da</strong>de dos escolares.
CAPITULO VIII<br />
AINDA O COOPERATIVISMO ESCOLAR NO BRASIL E<br />
NO<br />
MUNDO — RURALISMO — AS ÁRVORES NO SEU<br />
SIMBOLISMO E A TERRA BRASILEIRA<br />
EM PERNAMBUCO<br />
Já me referi à atuação de José Arru<strong>da</strong> de Albuquerque e à<br />
de Nair de Andrade, esta dinâmica animadora, em Pernam-<br />
buco.<br />
Eis como Telha de Freitas, no “Diário <strong>da</strong> Noite” de Recife,<br />
se referiu ao cooperativismo escolar pernambucano:<br />
“Noventa e seis cooperativas escolares, com um total de<br />
28.395 associados — garotos de 7 a 14 anos de i<strong>da</strong>de — indi-<br />
cam a expansão do cooperativismo escolar em Pernambuco,<br />
mostrando que há clima, em nosso Estado, para desenvolvi-<br />
mento <strong>da</strong>s boas iniciativas.<br />
(Em 1958. Pernambuco possuía 121 cooperativas escolares,<br />
como vimos).<br />
O MOVIMENTO<br />
“O movimento teve início em 1938, quando então era in-<br />
terventor federal o professor Agamenon Magalhães, tendo a<br />
finali<strong>da</strong>de de extinguir o individualismo nocivo para trocá-lo<br />
pela mentali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cooperação e do bom entendimento. E as<br />
próprias crianças, que aprendem gramática e ciências natu-<br />
rais nas escolas públicas, participam do programa cooperati-<br />
vista, integrando-se no movimento. Presidentes, gerentes, te-<br />
soureiros, meninos de pouca i<strong>da</strong>de, livremente eleitos pelos<br />
seus companheiros, em Assembléias Gerais, dirigem a socie<strong>da</strong>-<br />
de, reunindo-se semanalmente para normalizar os seus servi-<br />
ços. Os resultados obtidos são os mais animadores, pôsto que<br />
os garotos se a<strong>da</strong>ptam a essa mentali<strong>da</strong>de de cooperação, ti-<br />
rando frutos comuns do cooperativismo sadio. Em ca<strong>da</strong> uma
FÁBIO LUZ FILHO 179<br />
<strong>da</strong>s cooperativas escolares, os mestres colaboram, orientando<br />
os meninos a resolver os problemas que se lhes apresentam<br />
mais difícies à sua mentali<strong>da</strong>de.<br />
ECONOMIA<br />
“Graças ao sistema <strong>da</strong>s cooperativas escolares, o material<br />
escolar, que custa os olhos <strong>da</strong> cara, geralmente, em qualquer<br />
casa comercial, é adquirido pelos garotos por menor preço, isto<br />
porque êles compram diretamente, no sul do pals, por,<br />
intermédio <strong>da</strong> Divisão de Cooperativismo Escolar, do DAC, de<br />
quo é chefe a Sra. Nair de Andrade, uma entusiasta do<br />
movimento. Para que os leitores tenham uma idéia <strong>da</strong><br />
vitali<strong>da</strong>de do cooperativismo escolar, assinale-se que, no ano<br />
passado (1954), segundo o relatório <strong>da</strong> repartição, o<br />
fornecimento dêsse material atingiu a Cr$ 367 .306,60. Neste<br />
ano, porém, já foi atingi<strong>da</strong>, até 30 de agôsto, a cifra de Cr$<br />
502 .703,90, representa<strong>da</strong> pela ven<strong>da</strong>, nos cooperativas, de<br />
material escolar e tecidos.<br />
Apesar de não ser aquêle o principal objetivo do coopera-<br />
tivismo escolar, mas um meio de mostrar a utili<strong>da</strong>de do em-<br />
preendimento, a ven<strong>da</strong>gem do material representa uma con-<br />
tribuição considerável aos pais de família, que muitas vêzes<br />
não podem dispor de quantias avulta<strong>da</strong>s para aquisição do<br />
material que, comprado isola<strong>da</strong>mente, nas casas comerciais,<br />
tem o seu preço muito elevado.<br />
(Em 1958, digo, o estoque no D.A.C. era de 2 milhões de<br />
cruzeiros).<br />
CINEMA<br />
“Dentro do programa de orientação adotado pelo Depar-<br />
tamento de Assistência às Cooperativas, consta a exibição diá-<br />
ria de um filme dedicado aos escolares, nota<strong>da</strong>mente sõbre<br />
cooperação, bem entendido. Ora em uma escola, ora em outra,<br />
de acôrdo com o plano pré-estabelecido, as projeções<br />
cinematográficas despertam interêsses na guriza<strong>da</strong>, isto por-<br />
que se faz incluir, entre os filmes, alguns desenhos animados,<br />
que divertem os meninos. O DAC não tem verbas para tal fim,<br />
de sorte que os complementos são fornecidos graças à colabo-<br />
ração de um industrial, o Sr. Manuel de Brito.
180 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
MECANISMO<br />
“Os livros <strong>da</strong>s cooperativas escolares, de associados, de<br />
conta-corrente, caixa, são escriturados pelos próprios dirigen-<br />
tes — os garotos. E apesar de se registrarem algumas incor-<br />
reções, o que é muito natural, é espantoso como aquelas crian-<br />
ças têm noção <strong>da</strong> sua responsabili<strong>da</strong>de. Registe-se, neste par-<br />
ticular, o devotamento à causa que empresta a Sra. Nair de<br />
Andrade o mesmo se dizendo <strong>da</strong> receptivi<strong>da</strong>de e ao movimento,<br />
sempre demonstra<strong>da</strong> pelos secretários de <strong>Agricultura</strong> e atual<br />
diretor do DAC, Sr. Petronilo Santa Cruz.<br />
“Os associados são admitidos às cooperativas escolares<br />
mediante o pagamento de, no mínimo, uma quota-parte, a qual<br />
subscreve e integraliza imediatamente. E uma quota-parte,<br />
geralmente, tem o valor de Cr$ 2,00.<br />
“Mais uma vez, de maneira positiva, o cooperativismo es-<br />
colar mostra, com os seus resultados, quão importante é a po-<br />
lítica do feixe de varas . . .“<br />
Existiam no Brasil, até dezembro de 1958, na<strong>da</strong> menos de<br />
883 cooperativas escolares. Dessas, cinco trazem o nome de meu<br />
saudoso pai: a Cooperativa Escolar Fábio Luz, do Grupo<br />
Escolar Silveira de Souza, de Florianópolis; a Cooperativa<br />
Escolar Fábio Luz, <strong>da</strong> Escola de São Bento <strong>da</strong>s Lages, no mu-<br />
nicípio de São Francisco do Conde, na Bahia; a Cooperativa<br />
Escolar Fábio Luz, em Parnaguá, Estado do Piauí, na Escola<br />
Particular de Amparo; a Escola <strong>da</strong> Cooperativa Agrícola de<br />
Tomé Açú, no Pará; a fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em março de 1955 no Recife;<br />
na Escola de Especialização Murilo Braga, e a Cooperativa<br />
Esco- lar do Grupo Escolar de Jaboatão, em Pernambuco, de<br />
1955. Na Escola n.° 29, de Nilópolis, no Estado do Rio, um<br />
Clube Agrícola tem o meu nome, homenagem que muito me<br />
sensibiliza.<br />
A Cooperativa Escolar Fábio Luz Filho localizava-se no<br />
Grupo Escolar Sete de Setembro, em Maceió, Estado de Ala-<br />
goas, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1943, homenagem que me conforta e estimu-<br />
la, não obstante me pareça excessiva, nota<strong>da</strong>mente quando se<br />
dirige a pessoa viva, tendo o Serviço de Economia Rural, em<br />
meados de 1949, provocado uma interpretação <strong>da</strong> lei nesse sen-<br />
tido, parecendo-lhe que as homenagens a pessoas mortas, dis-
FÁBIO LUZ FILHO 181<br />
so dignas, não padecem discussão; apenas, as feitas a pessoas<br />
ain<strong>da</strong> vivas, nem sempre poderão incidir em que as mereça...<br />
Depois de ter <strong>da</strong>do, ain<strong>da</strong> em vi<strong>da</strong>, o nome de lábio Luz a<br />
uma <strong>da</strong>s ruas do Distrito Federal, deu-lhe recentemente, a<br />
Prefeitura, o nome a uma escola de Bangu (escola 10-23, na sua<br />
Fábrica), grande centro populoso do mesmo Distrito, aten-<br />
dendo a uma sugestão parti<strong>da</strong> <strong>da</strong> Câmara dos Vereadores ca-<br />
riocas. Fêz-se justiça depois de 10 anos de sua morte...<br />
SAO PAULO<br />
Como funcionário do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, difun-<br />
dindo idéias cooperativas, vêzes sucessivas, de 1930 a 1934,<br />
percorremos o grande Estado de São Paulo, nota<strong>da</strong>mente<br />
Limeira, Campinas, Monte-Mor, Bauru, Tatuí, Mogi <strong>da</strong>s<br />
Cruzes, Cruzeiro, Itagaçaba, Guaratinguetá e Apareci<strong>da</strong>.<br />
Dêsse trabalho resultou a fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> primeira cooperativa<br />
escolar do Estado de São Paulo, e do Brasil, dentro dos<br />
ver<strong>da</strong>deiros moldes, com a coadjuvação <strong>da</strong> “Cooperativa de<br />
Lacticínios Cruzeirense”, na pessoa do professor Mário<br />
Bittencourt e do professor J. Eboli, operoso inspetor de ensino e<br />
representante <strong>da</strong> Diretoria Geral do Ensino, como vimos.<br />
A Cooperativa Escolar de Cruzeiro era administra<strong>da</strong> por<br />
alunos do quarto ano. O conselho fiscal era composto de pro-<br />
fessôres. Antes já tinha tido a honra de participar, justamen-<br />
te com o Dr. Adolfo Gredilha, do Congresso Algodoeiro de<br />
Tatuí (1931) e do estudo <strong>da</strong>s cooperativas regionais de café e<br />
respectiva federação e <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Cooperativa de<br />
Lacticínios Cruzeirense, “Cooperativa Avícola”, cooperativas<br />
de ven<strong>da</strong> de japonêses, em entendimento com o Consulado<br />
japonês, etc. Eis o ofício dirigido ao <strong>Ministério</strong> de <strong>Agricultura</strong><br />
pelo delegado do ensino em Guaratinguetá:<br />
CARTA DA DIRETORIA GERAL DO ENSINO<br />
“Diretoria Geral do Ensino — Delegacia Regional do<br />
Ensino de Guaratinguetá — Em 18 de outubro de 1933.<br />
Sr. diretor <strong>da</strong> Diretoria de Organização e Defesa <strong>da</strong> Pro-<br />
dução. — <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> — Rio de Janeiro.<br />
“Cumpro o gratíssimo dever de apresentar a V. Excia. e<br />
ao Exmo. Sr. Fábio Luz Filho, os meus sinceros agradeci-<br />
mentos pela valiosa colaboração que nos tem sido dispensa<strong>da</strong>
182 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
na constituição de cooperativas escolares nesta Região, as<br />
quais, além <strong>da</strong>s finali<strong>da</strong>des econômicas, visam também à for-<br />
mação <strong>da</strong> consciência cooperativista do nosso povo.<br />
“Já se acha funcionando com a máxima regulari<strong>da</strong>de a<br />
Cooperativa de Consumo do primeiro grupo Escolar de<br />
Cruzeiro e em organização a do 2.° grupo <strong>da</strong> mesma ci<strong>da</strong>de e a<br />
do distrito de Itagaçaba.<br />
“As palestras bem como os magníficos livros do Dr. Fábio<br />
Luz Filho têm-nos auxiliado eficientemente, pelo que felicito<br />
êsse <strong>Ministério</strong> por possuir um técnico tão ilustrado quanto<br />
dedicado à nobre campanha que apaixona<strong>da</strong>mente estamos<br />
desenvolvendo.<br />
“Aproveito o ensejo para apresentar a V. Excia. os meus<br />
elevados protestos de consideração e estima. — (a) Anísio<br />
Novais, delegado do Ensino”.<br />
A Cooperativa Escolar de Consumo de Itagaçaba enviou-<br />
me o seguinte oficio:<br />
“Exmo. Sr. Dr. Fábio Luz Filho, assistente-chefe <strong>da</strong> Dire-<br />
toria de Organização e Defesa <strong>da</strong> Produção — Rio de Janeiro.<br />
“Com vivo entusiasmo e inteira confiança na vitória do<br />
cooperativismo, levo ao conhecimento de V. Excia. que, hoje,<br />
grande dia <strong>da</strong> nossa bandeira, além de se comemorar festiva-<br />
mente a gloriosa <strong>da</strong>ta, teve lugar a posse <strong>da</strong> primeira diretoria<br />
<strong>da</strong> “Cooperativa Escolar de Produção e Consumo do Grupo<br />
Escolar de Itagaçaba”, de cuja socie<strong>da</strong>de fazem parte todos os<br />
alunos e professôres do referido Grupo, dirigido pelo professor<br />
Rui Monteiro.<br />
“Atenciosas sau<strong>da</strong>ções. — (a.) Luisa Ramalho Garcez,<br />
presidente <strong>da</strong> Cooperativa, aluna do 3.º ano”. — 19/11/33.<br />
(Ain<strong>da</strong> se não firmara jurisprudência sôbre professôres).<br />
Com a fun<strong>da</strong>ção de mais essa cooperativa, e com as que se<br />
seguiram, pela atuação eficiente do D . A. C., ficou vitorioso<br />
êsse movimento, seguindo, tô<strong>da</strong>s, a orientação consubstancia-<br />
<strong>da</strong> no presente livro. A tão gentil oficio assim respondemos:<br />
“Rio de Janeiro, 27 de novembro de 1933.<br />
“A gentil menina Luiza Ramalho Garcez, presidente <strong>da</strong><br />
Cooperativa Escolar de Produção e Consumo do Grupo Esco-<br />
lar de Itagaçaba.<br />
“Foi com imenso júbilo que recebi, como propagandista<br />
humilde que vê as idéias que propaga brilhantemente concre-<br />
tiza<strong>da</strong>s, a notícia, conti<strong>da</strong> em vosso delicado oficio, <strong>da</strong> posse <strong>da</strong><br />
diretoria <strong>da</strong> Cooperativa para que fôstes eleita presidente,<br />
pôsto de confiança que os vossos méritos saberão honrar.
FÁBlO LUZ FILHO 183<br />
“As vossas palavras, gentil presidente, puseram-me a alma<br />
em festa. O espírito de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de quando assim penetra o<br />
coração puríssimo e a fácil compreensão <strong>da</strong>s crianças, é um<br />
índice que conforta, é a garantia de um futuro de paz e feli-<br />
ci<strong>da</strong>de, a realização do ideal de redenção e concórdia que o<br />
Cooperativismo encarna, empunhando como emblema a ban-<br />
deira feita de tô<strong>da</strong>s as côres do arco-iris, símbolo de união, que<br />
é fôrça.<br />
“É esta mais uma prova de capaci<strong>da</strong>de de realização dêsse<br />
grande e heróico povo paulista, dínamo do Brasil e o seu maior<br />
orgulho. Apresento-vos os meus calorosos aplausos e peço os<br />
transmitais aos vossos coleguinhas, assim como ao digno pro-<br />
fessorado dêsse Grupo, tão bem dirigido pelo professor Rui<br />
Monteiro, o qual assim se colocou na vanguar<strong>da</strong> de um dos<br />
mais belos movimentos sociais de que São Paulo ain<strong>da</strong> há-de se<br />
orgulhar, como justamente se orgulha dêsse vibrante espírito<br />
de iniciativa que o caracteriza de modo tão brilhante.<br />
“As Cooperativas Escolares constituem os marcos de uma<br />
nova civilização, maravilhosos instrumentos que são <strong>da</strong> escola<br />
renova<strong>da</strong>.<br />
“E dois dêsses marcos já estão firmados nesse próspero Es-<br />
tado: a vossa Cooperativa e a do 1.° Grupo de Cruzeiro.<br />
“Assim, pois, deveis prestigiar, onde quer que estejais, a<br />
vossa Cooperativa, a bela colmeia, os vossos dignos mestres, o<br />
vosso inspetor de ensino, prof. J. Eboli, e a “Cooperativa de<br />
Lacticínios Cruzeirense”, cuja tenaci<strong>da</strong>de, personifica<strong>da</strong> no<br />
prof. Mario Bittencourt, vos serviu de exemplo e luzeiro. A<br />
obra de benemerência de que todos são paladinos é digna dos<br />
maiores encômios. — (a.) Fábio Luz Filho”.<br />
O “Departamento de Assistência ao Cooperativismo” pros-<br />
segue na sua esclareci<strong>da</strong> campanha no sentido <strong>da</strong>s cooperati-<br />
vas escolares.<br />
A “Cooperativa Escolar do Grupo de Vila Prudente”, re-<br />
cuado bairro paulista de gente pobre, é considera<strong>da</strong> a melhor<br />
cooperativa, no gênero, dêsse dinâmico Estado. Possuía 600<br />
associados.<br />
No pequeno prelo que adquiriu faz todos os seus impres-<br />
sos e dêle sai um jornaizinho intitulado “12 de Abril”. Para<br />
completá-lo, acaba de adquirir uma guilhotina (máquina de<br />
cortar papel muito usa<strong>da</strong> nas tipografias) por preço módico.<br />
Seus pequenos ex-associados têm conseguido, ao sair <strong>da</strong><br />
escola, obter colocação em tipografias particulares. Possui<br />
ain<strong>da</strong> essa interessante cooperativa serviço dentário a cargo de<br />
profissional idôneo.
184 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
O número de agôsto de 1954, de “Cooperativismo”, a pres-<br />
tigiosa publicação do Departamento de Assistência ao Coope-<br />
rativismo de São Paulo inseriu interessante artigo do profes-<br />
sor Ormar Sales Figueiredo, diretor efetivo <strong>da</strong> Escola<br />
Industrial de Casa Branca e substituto <strong>da</strong> Escola Industrial de<br />
Araraquara, também de São Paulo.<br />
É uma concludente experiência de “self-service”, digna do<br />
espírito bandeirante.<br />
Eis o artigo:<br />
“Chama a atenção imediata de todos os visitantes <strong>da</strong> Es-<br />
cola Industrial de Casa Branca, a existência de uma pratelei-<br />
ra cheia de artigos escolares, tendo em cima os seguintes dize-<br />
res: “Faça você mesmo sua compra e trôco”.<br />
“Como Diretor do Estabelecimento, desde o início de seu<br />
funcionamento em 1949, até à. formatura de sua primeira tur-<br />
ma em 1952, era-me extremamente grato explicar ao visitante<br />
como se havia orginado e como funcionava a “Cooperativa Es-<br />
colar <strong>da</strong> Escola Industrial de Casa Branca”.<br />
“Acompanhando o ritmo progressivo <strong>da</strong> instalação de<br />
cooperativas diversas, — de produção, consumo, distribuição,<br />
etc. — estimula<strong>da</strong>s pela D . A. C. (Departamento de Assistên-<br />
cia ao Cooperativismo) e visando atender aos reclamos impe-<br />
riosos do incremento <strong>da</strong> Educação Moral e Cívica nos Estabe-<br />
lecimentos de Ensino, resolvemos criar uma Cooperatica Es-<br />
colar.<br />
“Apelamos para o D . A. C. e de lá recebemos as instruções<br />
fun<strong>da</strong>mentais. Reunimos os funcionários e alunos, expondo<br />
o plano. Ca<strong>da</strong> aluno contribuiria com uma quota, variável de<br />
2 a 5 cruzeiros. Os funcionários entrariam com uma quota de<br />
10 cruzeiros, ou mais, se o desejassem, e todos seriam associa-<br />
dos <strong>da</strong> Cooperativa, gozando de tô<strong>da</strong>s as suas vantagens.<br />
“Com o capital levantado e contando com a boa vontade de<br />
firmas atacadistas, compramos, com facili<strong>da</strong>des e descontos, o<br />
material escolar necessário: livros, cadernos, lápis, borrachas,<br />
fitas métricas, agulhas, papel manilha, meias, tecidos para<br />
uniformes, aquarelas, etc., etc... Verificamos imediatamente<br />
que, acrescendo um lucro máximo de 10% aos preços de custo,<br />
poderíamos vender êstes artigos a preços tais, que a compra de<br />
um simples caderno de 100 fôlhas importaria num lucro ou<br />
economia de mais de 2 cruzeiros, para o associado, em relação<br />
aos preços vigentes na praça, o que viria compensar, na<br />
primeira compra, o pagamento <strong>da</strong> cota de admissão como<br />
associado.
FÁBIO LUZ FILHO 185<br />
“A Marcenaria, em horas extras dos mestres e alunos, con-<br />
feccionou a prateleira, onde foram colocados os artigos, todos<br />
com os preços marcados individualmente. Ao lado foi coloca<strong>da</strong><br />
uma caixinha, com algum dinheiro trocado. A secção de De-<br />
senho providenciou a feitura do cartaz: “Faça você mesmo sua<br />
compra e trôco”.<br />
“Estava lança<strong>da</strong> a experiência educativa, talvez única em<br />
todo o País. Os pessimistas auguravam prejuízos e fracasso<br />
completo. Os otimistas, entre os quais nos encontrávamos,<br />
juntamente com o prof. José Pelegrini, Orientador Educacio-<br />
nal do Estabelecimento, grande colaborador e concretizador<br />
<strong>da</strong> iniciativa, esperavamos confiantes.<br />
“Dois alunos foram encarregados de colocar a mercadoria<br />
nas prateleiras, com os respectivos preços, logo de manhã, e de<br />
fazer a conferição do material vendido e quantias arreca<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
no final do dia.<br />
“Num ambiente de intensa expectativa terminou o primeiro<br />
dia <strong>da</strong> experiência. Diretoria, funcionários e alunos agrupa-<br />
param-se ao redor dos dois encarregados, enquanto faziam a<br />
conferição. Resulta: — havia uma diferença de 50 centavos... a<br />
favor <strong>da</strong> Cooperativa. Por dificul<strong>da</strong>de de trôco, talvez, os alu-<br />
nos preferiam deixar a mais, do que a menos.<br />
“Os pessimistas não se deram por vencidos — “era apenas<br />
o primeiro dia. .<br />
“O 2.° e o 3.º dias correram dentro dos planos, com peque-<br />
nas diferenças... a favor <strong>da</strong> Cooperativa. Os pessimistas es-<br />
tavam derrotados. Nós exultávamos, com muita razão.<br />
“Mas... veio o quarto dia. A conferição acusou uma dife-<br />
rença de cinco cruzeiros.. desta vez CONTRA a Cooperativa.<br />
Sentimo-nos completamente derrotados. Os pessimistas <strong>da</strong>-<br />
vam largas à confirmação de suas opiniões.<br />
“No dia seguinte, logo de manhã, vendo ameaçado todo o<br />
plano, visitamos tô<strong>da</strong>s as classes, em companhia do Orienta-<br />
dor Educacional, explicando o acontecido e apelando para que<br />
compreendessem bem as vantagens econômicas <strong>da</strong> Cooperati-<br />
va e o espírito de responsabili<strong>da</strong>de e honesti<strong>da</strong>de que deveriam<br />
nortear a vi<strong>da</strong> dos estu<strong>da</strong>ntes. Qual não foi nosso surprêsa,<br />
no entanto, quando um dos alunos nos interrompeu para<br />
dizer:
186 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
— “Prof. Osmar, fui eu que tirei um caderno de que esta-<br />
va precisando. Como não tinha dinheiro ontem, pensei que<br />
pudesse trazer hoje. Já coloquei os cinco cruzeiros na Cai-<br />
xinha”<br />
“Com risa<strong>da</strong>s e sob um alivio geral, a Cooperativa passou<br />
a contar com um novo melhoramento: — foram confecciona-<br />
dos vales, dos quais constavam a Mercadoria, o seu Valor, a<br />
<strong>da</strong>ta e a assinatura do retirante. Assim, quanto precisassem de<br />
determinado artigo e não possuíssem o dinheiro, faziam a<br />
retira<strong>da</strong> e colocavam um Vale na Caixinha, que seria<br />
resgatado posteriormente, não importando quanto tempo<br />
decorresse.<br />
“Estava completamente vitoriosa uma experiência educa-<br />
tiva única talvez em todo o Brasil. A Cooperativa Escolar <strong>da</strong><br />
Escola Industrial de Casa Branca <strong>da</strong>va sua contribuição ativa<br />
para a educação moral de seus alunos.<br />
“A experiência (já agora rotina) continuou regularmen-<br />
te até o fim do ano, acusando, raríssimas vêzes pequena dife-<br />
rença contra, de que não podemos verificar a causa exata: êrro<br />
de cálculo, trôco errado, ou . . . o que não acreditamos jamais.<br />
“Em 1953 assumi a direção <strong>da</strong> Escola Industrial de<br />
Araraquara. Aí, novamente, aplicamos a experiência, já com<br />
os ensinamentos anteriores. Evitamos, no entanto, desta vez, a<br />
doutrinação dos alunos, para melhor observar os resultados.<br />
“Novamente a Cooperativa funcionou regularmente,<br />
acusando ao fim do ano um movimento bruto de mais de vinte<br />
e cinco mil cruzeiros (Cr$ 25.000,00), tendo havido apenas o<br />
prejuizo de 16 cruzeiros.<br />
“De Casa Branca, através de seu Orientador Educacional,<br />
recebemos notícias de que tudo continua regularmente, au-<br />
mentando-se progressivamente o capital inicial, bem como o<br />
estoque de mercadorias, o que possibilita, ca<strong>da</strong> vez mais, a<br />
ven<strong>da</strong> a melhores preços.<br />
“Em ambas as Escolas a Cooperativa é um patrimônio de<br />
que com justo orgulho se ufanam alunos e professôres, cuja<br />
colaboração foi inestimável no êxito desta realização.<br />
“Indiscutivelmente, o Cooperativa Escolar, além de seus<br />
objetivos específicos de oferecer a seus associados artigos es-<br />
colares bons e a preços acessíveis, pode e deve ser coloca<strong>da</strong> ao<br />
serviço <strong>da</strong> Educação Moral, num momento em que a<br />
subversão dos valores morais representa um dos maiores<br />
problemas <strong>da</strong> educação de nossa socie<strong>da</strong>de”.
FÁBIO LUZ FILHO 187<br />
NOÇÃO DA PÁTRIA - RURALISMO<br />
Já foi dito que a pátria não é sòmente a nossa planície,<br />
a majestade <strong>da</strong>s nossas montanhas, a tôrre <strong>da</strong>s nossas igrejas<br />
ou a fumaça que <strong>da</strong>s chaminés de nossas casas se eleva para os<br />
ares, ou a copa espêssa <strong>da</strong>s árvores, ou a canção monótona dos<br />
nossos pastores; a pátria é o nosso idioma; é tudo quanto faz<br />
bater os nossos corações; é a uni<strong>da</strong>de do nosso território; é a<br />
nossa independência; é a glória dos nossos antepassados; é a<br />
grandeza <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de. A pátria é o azul do nosso céu, é o doce<br />
sol que nos ilumina, a beleza dos rios que serpenteiam pelo<br />
nosso solo, a espessura <strong>da</strong>s florestas que nos dão sombra e a<br />
fertili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s terras que se estendem aos nossos pés; a pátria<br />
é o conjunto de nossos conci<strong>da</strong>dãos, grandes ou pequenos, ricos<br />
ou pobres...<br />
A pátria é, segundo Bordeau, “o país dos nossos pais, o<br />
laço <strong>da</strong>s gerações sôbre o solo natal. A pátria nasceu do<br />
instinto social, do sentimento, que tem o homem insulado, de<br />
sua fraqueza, <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de inelutável <strong>da</strong> união, do apoio<br />
mútuo na luta <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, para defesa e conquista <strong>da</strong> terra<br />
nutridora, <strong>da</strong> invencível necessi<strong>da</strong>de de se proteger e de<br />
aumentar inerente a todos os sêres.<br />
“A pátria é também o patrimônio moral, o conjunto <strong>da</strong>s<br />
tradições, costumes, leis, serviços comuns. Os túmulos e os<br />
altares constituíram os seus primeiros símbolos”.<br />
Já acentuamos que o patriotismo é o sentimento profundo<br />
e forte que faz que nos apeguemos ao torrão onde nascemos; é,<br />
no dizer de Fábio Luz, “êste sentimento de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de que se<br />
forma e robustece no canto tépido <strong>da</strong> lareira”, não-agressivo.<br />
Patriotismo é principalmente isto: dedicar tô<strong>da</strong>s as fôrças<br />
afetivas e intelectuais à formação de almas boas e inteligências<br />
equilibra<strong>da</strong>s e lúci<strong>da</strong>s. Estu<strong>da</strong>r o país onde se vive, em sua<br />
grandeza, nas suas montanhas, em seus rios, nas suas<br />
possibili<strong>da</strong>des, na sua educação; tornar-se, ca<strong>da</strong> um, fator de<br />
uma grande civilização luminosa e tranqüila à cuja sombra<br />
possamos viver como homens dignos e nela acolher todos os<br />
que dela se mostrarem merecedores, sem ódios, sem distinção<br />
de nacionali<strong>da</strong>des e castas.<br />
Patriotismo é trabalhar no sentido de, sôbre bases seguras<br />
e amplas, erguer um pátria maior, de horizontes vastos, ma-<br />
jestosa e eterna. Patriotismo é também aprimorar a educação<br />
<strong>da</strong> moci<strong>da</strong>de, cerebralizá-la, <strong>da</strong>r-lhe celsos sentimentos.
188 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
RURALISMO<br />
Patriotismo é, por meio de organizações cooperativas esco-<br />
lares e pós-escolares, ir criando uma mentali<strong>da</strong>de capaz de,<br />
transformando nossas condições de meio, tornar possível a<br />
atuação <strong>da</strong> moci<strong>da</strong>de no meio rural do país.<br />
Essa deve ser a palavra de ordem, para estruturação de<br />
uma mentali<strong>da</strong>de ruralista.<br />
A cooperativa escolar levará até ao artesanato rural, pa-<br />
ládio de renovação.<br />
Admira a potenciali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terra, criança! Como é dife-<br />
rente, aí, a vi<strong>da</strong>! Deves traçar-te, quando em férias, um pro-<br />
grama de vi<strong>da</strong> livre, de movimento saudável pelos campos e<br />
pelas matas, para que possas apreender todo o seu valor. Pe-<br />
la manhã, bem cedo, deves ir ver o capataz mugir as vacas<br />
pacíficas no retiro, na cumia<strong>da</strong> do morro, do qual se descorti-<br />
na um panorama belo e empolgante: campos ondulantes que se<br />
perdem nos longes <strong>da</strong> paisagem, barrado o horizonte lon-<br />
gínquo por montanhas azula<strong>da</strong>s, que se recortam no céu lím-<br />
pido, iluminados, campos verdejantes e montanhas azulinas,<br />
de um sol fecun<strong>da</strong>nte. As pastagens ricas pontilham-se de gado<br />
sadio. Em baixo, o serpejar manso de um rio...<br />
Em trechos cercados, plantações de milho; nas vargens<br />
cresce o arroz côr de ouro; nos declives dos morros, a mandio-<br />
ca; além, o pomar convi<strong>da</strong>-te a deliciar-te com laranjas ma-<br />
duras e saborosas, avergados os galhos ao pêso de sacarinos<br />
frutos vitaminosos e de delicioso pala<strong>da</strong>r. Mais adiante, a cria-<br />
ção no revêzo...<br />
Durante o dia, já tostado do sol fúlgido dêsse torrão mag-<br />
nífico, o ideal seria que todos nós pudéssemos acompanhar os<br />
trabalhos de lavragem <strong>da</strong>s terras por tô<strong>da</strong> a parte, vendo os<br />
arados puxarem enormes e amestrados bois, que arrancassem<br />
do solo colheitas abun<strong>da</strong>ntes; mas, verás a campeação do gado,<br />
ou contemplarás o trabalho hercúleo de nossa gente, no eito, a<br />
enxa<strong>da</strong> percutindo a terra, na ânsia do ganha-pão<br />
enobrecedor, na elação de sentimentos dignos. O fazendeiro na<br />
epopéia de seu esfôrço...<br />
À noite, seria para desejar que voltasses satisfeito e re-<br />
feito, metendo-te na cama muito cedo, para acor<strong>da</strong>res no dia<br />
seguinte pela madruga<strong>da</strong> referta de passaredo gárrulo, a beber<br />
leite forte e renovar observações, enchendo teus olhos de<br />
aquarelas lin<strong>da</strong>s, e teus pulmões de ar puro e teu coração de<br />
grande entusiasmo pelo teu país e de admiração pelo nosso
FÁBIO LUZ FILHO 189<br />
homem rural, gigante de tenaci<strong>da</strong>de em face dos tropeços que<br />
o salteiam, dos percalços que lhe dificultam o caminho a ca<strong>da</strong><br />
passo, nessa ambiência de fecundi<strong>da</strong>de e maravilha, humildoso<br />
em seu labor, abnegado em seu ingente e rude labutar<br />
diuturno, apesar de tudo,<br />
A “on<strong>da</strong> verde dos cafèzais” revela-te um dos maiores<br />
cometimentos agrícolas do mundo; os algodoais branquejan-<br />
tes, os canaviais sem fim, são outras tantas lídimas expressões<br />
<strong>da</strong> ação do brasileiro, dentre outras.<br />
Os pampas infindos e os gaúchos galhardos; o Nordeste, o<br />
Norte, a Amazônia, o Centro lidimamente brasileiros, são<br />
outras tantas manifestações sinérgicas.<br />
Já acentuamos em um dos nossos livros que Tolstoi, o<br />
Imortal autor de “Anna Karenine”, o insulado de Iásnaia-Po-<br />
liana, amava o silêncio <strong>da</strong> natureza-máter, a quietude empol-<br />
gante dos campos. Amava êsse silêncio em que, na frase de<br />
Maeterlinck, “les àmes se pesent comme l’or et l’argent se<br />
pesent <strong>da</strong>ns l’eau pure”... Silêncio inspirador e fecundo,<br />
“silêncio, no dizer de Fábio Luz, augusto e solene... guia e<br />
roteiro para a busca <strong>da</strong> fonte perene de ver<strong>da</strong>des que a razão e<br />
o raciocínio desven<strong>da</strong>m e que estão latentes na Natureza e em<br />
nós mesmos”. Amava tanto, Tolstoi, o recolhimento, que disse:<br />
“O ver<strong>da</strong>deiro pensador é planta que cresce entre as rochas<br />
selvagens. Nutre-se de si mesmo e é o produto <strong>da</strong> sua própria<br />
substância. Epicteto, Socrates e Platão não viajavam em<br />
caminho de ferro. Spinoza vivia no seu tugúrio; Descartes,<br />
junto do seu brazeiro; Kant era um solitário. O pensamento é a<br />
obra suprema do trabalho e o trabalho não é possível nem<br />
fecundo senão no silêncio ou no isolamento”.<br />
Amava êle profun<strong>da</strong>mente o contacto <strong>da</strong> terra nutridora, a<br />
sua fôrça de purificação e de vitali<strong>da</strong>de, como amava o<br />
comércio com a gente sofredora e rude vincula<strong>da</strong> à terra pelo<br />
labor nobre e fecundo. Entre essa gente humilde desenvolvia,<br />
com simplici<strong>da</strong>de e clareza, as suas idéias de redenção<br />
humana, místico idealista. Ao seio reconfortante <strong>da</strong> natureza<br />
entregava-se, o formidável romancista e o grande apóstolo do<br />
vi<strong>da</strong> em moldes simples e puros, a longas e profun<strong>da</strong>s<br />
meditações. Como parte do programa que se traçou, e como<br />
condição de saúde, e exemplo sugestivo às gerações<br />
porvindouras, figurava o labor <strong>da</strong> terra, os trabalhos no<br />
campo, fun<strong>da</strong>mento de prosperi<strong>da</strong>de.<br />
Tolstoi, tão grande como Hugo, empunhava com firmeza a<br />
rabiça, mantendo o arado fertilizante no sulco retilíneo.<br />
E assim laborava com carinho as suas terras, com o mesmo
190 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
fervor com que laborava as almas no sentido de seu transcen-<br />
dente ideal, no fundo o mesmo grande e luminoso ideal que<br />
descansa naqueles mesmos princípios, naquela mesma grande<br />
“lei eterna” que se vislumbra em todos os sistemas de filoso- fia<br />
moral.<br />
As gerações de hoje, encantoa<strong>da</strong>s nas capitais altimura-<br />
<strong>da</strong>s, nelas se esterilizam, perdendo-se na voragem ativi<strong>da</strong>des<br />
utilizáveis que, ao contacto <strong>da</strong> terra revigorante, se poderiam<br />
transformar em fatôres de relativa felici<strong>da</strong>de individual e<br />
coletiva.<br />
Julio Lemaitre exalta êsse poder transfigurador <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
simples quando diz: “Le peu que j’ai de sagesse, de douceur<br />
d’âme e de modération, je le dois à ceci, qu’avant d’être un<br />
homme de letre (hélas) que exerce son métier à Paris, je suis un<br />
paysan que a son clocher, sa maison et sa prairie”...<br />
Que formidável exemplo o de Tolstoi!...<br />
Acentuamos mais que a nossa moci<strong>da</strong>de deve cultivar a<br />
convicção <strong>da</strong> grandeza excelsa do labor <strong>da</strong> terra, dessa tarefa<br />
patriótica e humana, cujo caráter de intelectuali<strong>da</strong>de, pelos<br />
processos modernos de técnica agrícola, é incontestável, habi-<br />
tuando as suas mentali<strong>da</strong>des a essa noção.<br />
Diz Emerson que se deve olhar o agricultor com prazer e<br />
respeito quando se pensa nas fôrças e nos serviços que tão<br />
modestamente representa. Êle conhece todos os segredos do<br />
trabalho e mu<strong>da</strong> a fisionomia <strong>da</strong>s paisagens.<br />
“A fazen<strong>da</strong> é um capital de riquezas, e é do agricultor que,<br />
do ponto-de-vista moral e intelectual, dimanam a saúde e a força<br />
<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des”.<br />
A PAISAGEM SULINA<br />
Nas vilas e povoações de origem teuta do sul do Brasil, já<br />
o disse em Rumo a Terra (5.ª), a igrejinha é um obrigatório<br />
ponto branco de refereência quiescente no fundo verde <strong>da</strong><br />
mataria, a torrezinha agu<strong>da</strong> como querendo galgar os céus;<br />
os vitrais bíblicos; o cruzeiro em frente a estender seus lon-<br />
gos braços misericordiosos, nêle grava<strong>da</strong>s sentenças, em lín-<br />
gua alemã, a concitar os crentes à salvação de suas almas para<br />
a bemaventurança (“Rette deine Seele”). E na vi<strong>da</strong> insula<strong>da</strong> e<br />
rude, mas produtiva e saudável, que levam, como os seus<br />
irmãos de origem italiana, mergulhados naquela paz imensa e<br />
bendita dos campos e <strong>da</strong>s serras, tendo diante dos olhos e <strong>da</strong><br />
alma a vastidão de horizontes recuados na dis-
FÁBIO LUZ FILHO 191<br />
tância inalcançável, o sentimento religioso dêles deve acrisolar-<br />
se e a cruz, no seu admirável e evocador simbolismo, deve<br />
constituir um grande confôrto e uma grande esperança, um<br />
bálsamo para agruras e desilusões...<br />
São José e Boa Vista do Herval são lugares que convi-<br />
<strong>da</strong>m ao repouso do espírito e à meditação, no silêncio profundo<br />
cortado apenas do escachoar longínquo de águas vivas. A<br />
que<strong>da</strong> do Herval é majestosa.<br />
Neu Wuerttemberg é um recanto de fertili<strong>da</strong>de, de terras<br />
vermelhas numa apojadura de colheitas fartas, que encan-<br />
deiam a alma dos que têm o sentimento <strong>da</strong> terra. Há trabalho e<br />
há pitoresco, surgindo a vila risonha quase inopina<strong>da</strong>mente <strong>da</strong><br />
campanha un<strong>da</strong>nte e onímo<strong>da</strong>. É uma ci<strong>da</strong>dezinha tipicamente<br />
de cunho alemão no casario, na língua, nos costumes. É mais<br />
uma prova inconcussa do triunfo <strong>da</strong> pequena proprie<strong>da</strong>de.<br />
Casas e hotéis de madeira num estilo típico que muito se<br />
aproxima <strong>da</strong>quele do município de Blumenau. Mesa<br />
sadiamente característica, com o mel e o delicioso “schmüre”.<br />
Como em Santa Cruz, Montenegro, etc., as toalhas alvas pen-<br />
dem <strong>da</strong>s salas e dos quartos <strong>da</strong>s casas particulares e dos hotéis<br />
com dizeres em língua alemã contendo sentenças de pondera-<br />
ção. “Louva a Deus e vem comigo. Minha sorte traze contigo”,<br />
etc., são proposições que se encontram a ca<strong>da</strong> passo nas<br />
colônias de origem alemã do Sul.<br />
O Paraná é a bela terra dos pinheirais em taça aberta pa-<br />
ra o azul, como a beber tô<strong>da</strong> a poesia <strong>da</strong> paisagem rutilante em<br />
tôrno. Em Santa Catarina, intensas colmeias humanas<br />
poetizam-na e criam riquezas, quais pinturescas e pequenas<br />
Suíças, nos variegados e empolgantes panoramas montesinhos.<br />
Os colonos de origem Italiana povoam as serras gaúchas<br />
de vinhedos; os lídimos gaúchos enriquecem os pampas, num<br />
trabalho contínuo de aperfeiçoamento. Nos “tambos” do<br />
Guaíba o gado holandês põe um colorido pinturesco na paisa-<br />
gem, notas vivas e pacíficas nos potreiros verdes, e nas cam-<br />
panhas povoa<strong>da</strong>s de gado de estirpe, corta<strong>da</strong>s de sangas e<br />
pontilha<strong>da</strong>s de açudes, há também a nota alegre dos quero-<br />
queros e <strong>da</strong>s emas erradias.<br />
Aprende, pois, criança, que de homens com conhecimen-<br />
tos técnicos carece o Brasil para se tornar maior, como de<br />
homens integrados no amor à. nossa terra e ao nosso idioma, e<br />
que as populações rurais brasileiras muito esperam de ti para<br />
a solução dos problemas que a angustiam e que já co-
192 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
meçam a ser encarados em tô<strong>da</strong> a sua extensão e profundi<strong>da</strong>-<br />
de, felizmente.<br />
Há necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cooperativa escolar, criança, e disso<br />
deves convencer teus pais e teus juvenis colegas, como cadi-<br />
nho de civismo nivelador e humanismo confortante.<br />
Atenta, ademais, no exemplo <strong>da</strong> Dinamarca.<br />
Santiago Hernández Ruiz cita a Hertel, o historiador do<br />
cooperativismo dinamarquês:<br />
“Estas escolas despertam nos jovens de ambos os sexos<br />
ver<strong>da</strong>deiro anelo de saber e desejos de trabalhar; fortalecem<br />
o caráter dos alunos e ampliam as prespectivas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Pa-<br />
ra satisfazer êsse desejo de saber, estabelecem-se correntes<br />
entre as escolas de agricultura e as populares de adultos, e<br />
quando <strong>da</strong>s Folkenhöjskolen passam diretamente à vi<strong>da</strong>, já<br />
levam formado um forte sentimento de fraterni<strong>da</strong>de e um<br />
fervente desejo de trabalhar pelo progresso comum. A juven-<br />
tude nelas aquire algumas <strong>da</strong>s quali<strong>da</strong>des necessárias ao de-<br />
senvolvimento do movimento cooperativo”.<br />
Hernández acrescenta que o movimento cooperativo, que<br />
se desenvolveu tão intensamente entre os agricultores dina-<br />
marqueses, que se apresentam, assim, ao mundo em seu<br />
exato valor, foi dirigido principalmente pelos alunos <strong>da</strong>s<br />
escolas acima citados.<br />
Enfim, um exemplo digno de ser seguido.<br />
AS ARVORES E SEU SIMBOLISMO — A NATUREZA<br />
BRASILEIRA — O SÍMBOLO DO COOPERATIVISMO<br />
Permiti, à guisa de repouso, que abra colunas ao elogio<br />
<strong>da</strong> árvore e ao esplendor <strong>da</strong>s paisagens.<br />
É sabido que o símbolo do cooperativismo adotado nos<br />
Estados Unidos e em tô<strong>da</strong>s as Américas de língua<br />
espanhola, com tendência para se universalizar, é aquêle<br />
representado por dois pinheiros verdes geminados, dentro<br />
de um círculo verde sôbre fundo dourado. Os pinheiros<br />
simbolizam a pereni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, alcança<strong>da</strong> pela<br />
conjugação de esforços para a sobrevivência. O círculo, de<br />
sabor pitagórico, representa o mundo, na amplidão de seu<br />
âmbito, que abarca a plenitude <strong>da</strong>s coisas. O verde<br />
representa o princípio vital que rege os sêres; o fundo áureo<br />
traz à lembrança a luz solar com todo o seu poder<br />
fecun<strong>da</strong>nte, fonte precípua de energia para o mundo. Dêsse<br />
belo símbolo há uma efluência imperativa, a que não pode-
FÁBIO LUZ FILHO 193<br />
mos fugir. É êle uma espécie de signo-samão, sob cujos influxos<br />
desejamos que o Brasil continue.<br />
Na 5.ª edição de Rumo à Terra refiro-me, em longas pá-<br />
ginas, a tô<strong>da</strong> essa simbologia, sobretudo nas várias religiões.<br />
Meus tios-avós, Júlio Furtado, médico e dinâmico arbori-<br />
zador e embelezador do Rio de Janeiro, e Frei Santo Catarina<br />
Furtado (o émulo de Mont’Alverne que, de 1858 a 1896, foi um<br />
dos oradores sacros de maior brilho do Brasil, cuja parenética<br />
encheria cinco volumes), possuíam, como meu pai, Fábio Luz, o<br />
culto <strong>da</strong>s árvores. Esse culto <strong>da</strong> natureza e o amor dos animais<br />
e <strong>da</strong>s crianças, possuia-os Fábio Luz, baiano como meus avós,<br />
tios e tios-avós, precursor do romance social no Brasil e <strong>da</strong><br />
escola ativa, como vimos, médico, romancista, novelista, crítico<br />
literário, polígrafo, educador e sociólogo. Aos três, todos<br />
baianos, rendo aqui, mais uma vez, meu preito de sau<strong>da</strong>de e de<br />
admiração, como à minha queri<strong>da</strong> mãe, avós e tios, todos<br />
também baianos.<br />
Júlio Furtado e Fábio Luz e meu tio, o cônego Zacarias<br />
Luz, várias vêzes me fizeram sentir que viam nas árvores<br />
símbolos <strong>da</strong> cooperação, âmbulas perenalmente abertas para o<br />
azul, na glória multicor <strong>da</strong> floração bendita e no fecundo<br />
sazonamento dos polposos frutos, altas expressões de trans-<br />
cendentes funções de harmonia para consecução de elevado<br />
escopo de vi<strong>da</strong> perfeita.<br />
ÁRVORES...<br />
Eis um trecho de Fábio Luz, num de seus belos livros para<br />
crianças (Leituras de Ilka e Alba — Livraria Alves — Rio):<br />
“Das florestas verdes e gigantes, dos campos esmeraldi-<br />
nos, dos vales silenciosos, <strong>da</strong>s suaves alfombras de relva, dos<br />
declives ribeirinhos, <strong>da</strong>s águas cristalinas, <strong>da</strong>s campânulas<br />
multicores, <strong>da</strong>s corolas aromáticas, <strong>da</strong>s palmas agita<strong>da</strong>s, evo-<br />
lam-se perfumes, sobem para o azul do céu nuvens de arôma-<br />
tas, turbilhões de vi<strong>da</strong>s, nas asas dos insetos dourados, nas<br />
chamas <strong>da</strong>s auroras róseas, nas penas finas e colori<strong>da</strong>s do<br />
passaredo gárrulo. É a Primavera que chega com cortejo ino-<br />
minável de luminosi<strong>da</strong>des e crepúsculos transparentes, de in-<br />
finitas riquezas de matizes, de sonori<strong>da</strong>des olímpicas, que<br />
an<strong>da</strong>m alvorota<strong>da</strong>s pelo ar, no ziziar <strong>da</strong>s cigarras, no chilrear<br />
travêsso <strong>da</strong>s irrequietas andorinhas.<br />
“Tudo canta, tudo rejuvenesce, tudo revive, tudo ama, ao<br />
tépido encantamento <strong>da</strong> Primavera, sempre moça, sempre
194 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
vivaz, luminosa e fecun<strong>da</strong>. As árvores se cobrem de flores<br />
majestosas, engalanam-se de folhagem nova, prometendo far-<br />
ta frutificação; há hinos nupciais nas frondes, no ar, nos<br />
alcantis <strong>da</strong>s cordilheiras, no rosicler <strong>da</strong>s manhãs”.<br />
SALMO DA VIDA E DAS FLORES<br />
Eis outros trechos de Fábio Luz:<br />
I<br />
“As promessas de um arrebol de côres matiza<strong>da</strong>s, que se<br />
contêm nos botões, fanam-se, estiolam-se, caem ao sôpro frio<br />
<strong>da</strong> gea<strong>da</strong>.<br />
II<br />
“Brotam <strong>da</strong>s flexíveis hastes flores mimosas que esmaltam<br />
e perfumam os campos. O Sol as cresta.<br />
III<br />
“Cheias de viço, doura<strong>da</strong>s de fino pólen fecun<strong>da</strong>nte, ex-<br />
pandem-se em pleno desenvolvimento; abrem as multicores<br />
corolas; deixam evolar-se, para o azul sereno do céu, perfu-<br />
mes embriagadores; percorrem todo o ciclo <strong>da</strong> existência ou-<br />
tras flores, cujas pétalas o vento leva.<br />
Iv<br />
“As primeiras não chegam a viver.<br />
V<br />
“As segun<strong>da</strong>s viçam e desaparecem sem deixar traço.<br />
VI<br />
“Sòmente as terceiras vivem a vi<strong>da</strong> completa; perpe-<br />
tuam-se, levados os germes pelo espaço em fora, na tênue<br />
escumilha <strong>da</strong>s asas transparentes ou nos tumultuosos re-<br />
moinhos <strong>da</strong>s tempestades.<br />
VII<br />
“Vivem no turbilhão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que se renova e transmite.
VIII<br />
“Assim as almas humanas.<br />
IX<br />
FÁBIO LUZ FILHO 195<br />
“Umas não deixam sequer o casulo; não chegam a olhar<br />
a deslumbrante luz do saber.<br />
X<br />
“Outras aparecem para firmar-se inglòriamente, tendo<br />
brilhado um dia, sem ter sofrido.<br />
XI<br />
“As outras que receberam o banho sacrossanto <strong>da</strong> luz de<br />
um ideal, que passam no turbilhão do sonho, semeando cren-<br />
ças, agitando consciências, só elas se perpetuam, vivem a vi<strong>da</strong><br />
intensa, santifica<strong>da</strong>s pelo sofrimento, enobreci<strong>da</strong>s pelo sacri-<br />
fício, em bem <strong>da</strong> espécie.<br />
XII<br />
“Compara-se a socie<strong>da</strong>de humana com uma planta.<br />
XIII<br />
“As raízes buscam o alimento nas fun<strong>da</strong>s trevas <strong>da</strong>s en-<br />
tranhas <strong>da</strong> terra, na limpidez <strong>da</strong>s águas, nas oscilações do ar;<br />
são a base e o sustentáculo <strong>da</strong> árvore. Representam o vulgo, a<br />
turba ignara, a plebe trabalhadora, buscando nas minas, nos<br />
fundos dos mares, na eletrici<strong>da</strong>de ambiente a riqueza e o<br />
sustento.<br />
XIV<br />
“As flores viçosas, vistosas e ornamentais, respirando o ar<br />
puro e o oxigênio vivificador, aproveitando o carbono nutrien-<br />
te, e <strong>da</strong> luz solar fazendo reativos químicos, tomam formas<br />
múltiplas e elegantes, deixam-se acariciar pelas brisas, vestem<br />
as plantas e lhes dão os tons de garridice e elegância. Repre-<br />
sentam a classe média que faz sàbiamente a distribuição <strong>da</strong><br />
seiva e goza.
196 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
XV<br />
“As flores viçosas e os frutos saborosos, ornamentais, em<br />
busca <strong>da</strong> luz, em busca do azul, simbolizam o escol <strong>da</strong> inteli-<br />
gência, <strong>da</strong> beleza, <strong>da</strong> perfeição, <strong>da</strong> arte, <strong>da</strong> representação <strong>da</strong><br />
raça, <strong>da</strong> perpetui<strong>da</strong>de dos instintos refinados, dos estigmas<br />
<strong>da</strong> espécie elevados ao seu maior grau potencial”. (De Lei-turas<br />
de Ilka e Alba).<br />
Temos aí belos símiles para o cooperativismo: árvore de<br />
harmonia enguirlan<strong>da</strong>ndo fecun<strong>da</strong>s primaveras, por que<br />
anseia o mundo...<br />
VISITA À BAHIA<br />
Trabalhos absorventes nesta árdua campanha cooperati-<br />
vista de trinta e três anos, motivos de saúde e outras razões<br />
igualmente ponderosas, sempre constituíam obstáculo à minha<br />
i<strong>da</strong> à Bahia. Era um desejo longamente acariciado, um dever<br />
de sentimento e de patriotismo. Sou filho de baianos, neto de<br />
baianos e possuo tios e primos baianos, como o disse. Meu pai<br />
deixou 23 obras edita<strong>da</strong>s, entre contos, novelas, romances,<br />
crítica literária e livros didáticos. Como disse, Zacarias Luz,<br />
meu tio, foi orador sacro de renome na Bahia e Frei Sta.<br />
Catarina Furtado, tio de minha mãe, foi considerado um émulo<br />
de Monte Alverne ao tempo do império, tendo tido por palco<br />
de seus admiráveis sermões a ci<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro. Júlio<br />
Furtado foi o enérgico e dinâmico companheiro de Passos no<br />
Rio de Janeiro, pertencendo-lhes as galas de ter sido o<br />
arborizador desta ci<strong>da</strong>de, como disse. Assim sendo, foi com<br />
grande emoção que pisei terras baianas, no seu poder suges-<br />
tivo. Convém frisar que aquela “civilização de tipo estático”,<br />
tô<strong>da</strong> volta<strong>da</strong> para o passado (com seus pregões dolentes, seus<br />
gritantes coloridos, suas ladeiras, sua arquitetura colonial de<br />
grande beleza, principalmente no barroco de suas igrejas tra-<br />
dicionais e majestosas; os rituais negros, a beleza de suas ma-<br />
rinhas movediças e <strong>da</strong> baía ampla e bela, tudo de um azul ní.<br />
tido que corre parelhas com o do céu; as noites profun<strong>da</strong>s<br />
cheias do deslumbramento <strong>da</strong>s profusas cintilações estelares;<br />
seus lugares inspiradores), vai cedendo lugar aos poucos a uma<br />
fase de dinamismo construtivo, seja nos campos petrolíferos de<br />
Candeias, que visitei, seja em Cruz <strong>da</strong>s Almas, onde estive e<br />
visitei sua modelar Escola Superior de Agronomia, seja no
FÁBIO LUZ FILHO 197<br />
vale de São Francisco, etc. Já se constroem na Bahia<br />
arranha-céus com os mesmos requintes de luxo e a esmera<strong>da</strong><br />
técnica dos do Rio e São Paulo. Aliás, na ci<strong>da</strong>de baixa, já se<br />
erguem êles, imponentes, e outros vão surgindo na zona nova<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, nota<strong>da</strong>mente nos bairros mais ricos e modernos,<br />
Graça, Barra, Amaralina, etc., todos ligados ao centro, de um<br />
comércio moderno, por bom serviço de bondes e um razoável<br />
de ônibus.<br />
O edifício de proprie<strong>da</strong>de de um cacauicultor, tem 8 an-<br />
<strong>da</strong>res e está situado na histórica Praça 2 de julho. O último<br />
an<strong>da</strong>r, com deslumbrante vista para a baía, revela o bom gôsto<br />
do dono nas minúcias e no confôrto, com mármores vindos <strong>da</strong><br />
Europa. E a residência de um cacauicultor, moço fino e<br />
viajado, também advogado.<br />
A quadrissecular e majestosa ci<strong>da</strong>de do Salvador é reli-<br />
cário de um grande passado, e guar<strong>da</strong>, de um lado, como disse,<br />
a tradição nas igrejas, interiormente fabulosas, como a de<br />
S. Francisco, embora de aspecto externo vetusto, enegreci<strong>da</strong>s<br />
pela ação multívola do tempo, e no casario e nas ladeiras <strong>da</strong>s<br />
éras coloniais; e avança, de outro lado, mercê de uma urbani-<br />
zação com tô<strong>da</strong>s as características modernas. Salvador está<br />
com 410 mli habitantes e absorve parte dos sertanejos que fo-<br />
gem à inclemência do clima, e às acritudes <strong>da</strong>s terras calcina-<br />
<strong>da</strong>s pelo sol queimante, aumentando a miséria na ci<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong><br />
não industrializa<strong>da</strong>, vetusta e moderna ao mesmo tempo, en-<br />
volta em auras genetlíacas...<br />
Descem êles do interior do próprio Estado e dos Estados<br />
de Sergipe e Alagôas, principalmente.<br />
A rodovia Rio-Bahia está contribuindo, paradoxalmente,<br />
para êsse êxodo. No caminho <strong>da</strong> Feira de Sant’Ana vi cami-<br />
nhões pejados de retirantes, ca<strong>da</strong> um com levas de 60 pessoas,<br />
comprimidos como animais, homens, mulheres e crianças, a<br />
600 cruzeiros por cabeça, rumo ao Sul do Brasil, terra de pro-<br />
missão, o Eldorado para essa pobre gente!. . . Os “paus-<br />
de-arara”,,.<br />
Ao visitar o majestoso Forum Rui Barbo8a, cuja impo-<br />
nente cripta já recolheu o corpo do gênio excelso, meu espíri-<br />
to caiu em genuflexão, e penetrei nas razões de tô<strong>da</strong> a vibra-<br />
cão oratória dos baianos.<br />
Com deslumbramento percorri várias vêzes a ci<strong>da</strong>de<br />
constantemente bati<strong>da</strong> de ventos frescos. Itapoã é empolgante<br />
pe- la beleza <strong>da</strong> praia recurva, tapiza<strong>da</strong> de coqueiros álacres.<br />
O perfil dos coqueirais na distância! . . . As velhas fortalezas, o<br />
casario, as ladeiras, as igrejas, os conventos, são páginas sem-
198 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
pre vivas e escancara<strong>da</strong>mente abertas, nas quais se lêem os<br />
episódios viris de um povo que se afirmava, nos vaivens <strong>da</strong><br />
colonização.<br />
As muralhas de suetentação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de alcandora<strong>da</strong>,<br />
ergui<strong>da</strong>s pela vontade férrea do luso e do holandês com mãos<br />
de gigantes, estarrecem pela solidez quatro vêzes secular, cons-<br />
tituindo o sustentáculo de tô<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong>de alta, servi<strong>da</strong> pelo mo-<br />
derno e conhecidíssimo elevador Lacer<strong>da</strong> e planos inclinados.<br />
Se por acaso um dia ruírem estas muralhas ciclópicas, aquela<br />
ci<strong>da</strong>de será lança<strong>da</strong> ao mar...<br />
A Baixa do Sapateiro possui características inconfundí-<br />
veis na gente, nos costumes, no comércio popular intenso.<br />
Amaralina, debruça<strong>da</strong> sôbre o oceano azul, é um bairro mo.<br />
derníssimo, habitado por gente fina. Cabula, arredores bucó-<br />
licos, de onde, infelizmente, a laranja clássica e célebre vai<br />
desaparecendo.<br />
Empolgou-me grande emoção ao aproximar-me, na nave<br />
<strong>da</strong> grande Basílica, do púlpito de que Vieira lançou seus ful-<br />
míneos e tonitroantes sermões. A cela do jesuíta indômito é<br />
outra coisa que induz ao recolhimento e à evocação. Trouxe-<br />
me à lembrança também a figura serena de meu tio, Zacarias<br />
Luz, que nessa Basílica também desfiou seu brilhante ser-<br />
monário, como exímio latinista que era. Terra de meus pais,<br />
também perpassaram pe1a minha memória as descrições que<br />
faz meu saudoso pai, Fábio Luz, em seus livros, nota<strong>da</strong>mente<br />
em Manuscrito de Helena, recentemente lançado em segun<strong>da</strong><br />
edição, novela de doce fabulação cheia de reminiscências <strong>da</strong><br />
Bahia, ao qual acrescentei a conferência Bahia renova<strong>da</strong>, im-<br />
pressões <strong>da</strong> última visita que fêz à sua terra natal. Também<br />
dêle consta longo estudo sôbre um aspecto novo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de<br />
Castro Alves no que tange às suas relações com a Consuelo,<br />
aspecto inteiramente desconhecido de todos os seus biógrafos.<br />
Nessa novela póstuma (1952), assim descreve êle a len<strong>da</strong><br />
baiana do “diabo pelado”, em páginas de grande beleza des-<br />
critiva, dignas de antologias:<br />
O DIABO PELADO<br />
“Ain<strong>da</strong> conservo na retina aquêle maravilhoso espetáculo<br />
<strong>da</strong>s noites cáli<strong>da</strong>s de verão: a fosforescência <strong>da</strong>queles mares<br />
tropicais, nas costas <strong>da</strong> Ilha Tinharé, sôbre as brancas areias
FÁBIO LUZ FILHO 199<br />
<strong>da</strong>s praias, longas, intermináveis e macias, fôfas e avelu<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
como alfombras,<br />
“A abundância de infusórios luminosos, protozoários e<br />
noctículos, produz fantástica iluminação nas águas, conten-<br />
do, em ca<strong>da</strong> gôta, um mundo de sêres vivos brilhantes como<br />
os fogos-fátuos dos cemitérios. O santelmo não é menos<br />
divertido. Quando a on<strong>da</strong> se quebra, espumante, na praia,<br />
parece que se fragmentam montanhas de diamantes, e pelas<br />
areias se espalham estrêlas multicores, chuveiros, fogos de<br />
bengala. Os remos <strong>da</strong>s canoas e as próprias canoas aparecem<br />
bor<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela luz verde-azul <strong>da</strong>s vagas. As rêdes de pescar<br />
são ver<strong>da</strong>deiras filigranas de ouro, craveja<strong>da</strong>s de pedrarias<br />
raras. Ca<strong>da</strong> vaga, que rola, ca<strong>da</strong> agitação do mar, produzem<br />
a movimentacão de um mundo estelar. É, talvez, o fogo<br />
pantomórfico. Fogo que não queima, luz que não deslumbra,<br />
chamas impalpáveis e frias, que mu<strong>da</strong>m de forma e se agitam<br />
ao sabor do movimento incessante <strong>da</strong>s águas do mar. Belo<br />
espetáculo!!<br />
“Como me divertia a mergulhar as mãos na água do mar,<br />
deixando-as pender <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> canoa, e trazendo-as cheias<br />
de gemas: esmeral<strong>da</strong>s, topázios, ametistas, brilhantes... que<br />
sei eu?<br />
“Os golfinhos ou botos, nas contínuas e inumeráveis evo-<br />
luções, nas cambalhotas e nas acrobacias, aos magotes, põem<br />
fora d’água os dorsos roliços e negros, bor<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> luz etérea<br />
tios infusórios. A crendice dos pescadores os fazia ver como<br />
diabos pelados, de cabeças enormes, aos bandos, aos<br />
cardumes, cumprindo fadários desconhecidos.<br />
“Como são deliciosas as narrativas ingênuas dos praieiros!<br />
O espetáculo, nunca assaz admirado, é empolgante, naquele<br />
mar de luz, infindável jorrar de riqueza, caindo de alguma<br />
cornucópia de fa<strong>da</strong>s, em incalculável jato de pedras<br />
preciosas, que, ao contacto com a areia fina e branca, se<br />
desfaz em pó, em sombra, volta ao na<strong>da</strong> donde saiu, para o<br />
esplendor <strong>da</strong> pirotécnica maravilhosa, como relâmpagos.<br />
“Os diabos pelados saltam, pulam, debatem-se, cabrio-<br />
lam, cobertos de algas por véus, donde gotejam as<br />
cambiantes guirlan<strong>da</strong>s de flores luminosas, coroando-lhes as<br />
cabeças calvas e as peles negras, roliças, bombea<strong>da</strong>s e lisas”.<br />
Também os céus <strong>da</strong> Bahia lembram esta página de Diora-<br />
mas, também de meu pai:
200 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
OS CÉUS DO BRASIL<br />
“Os céus do Brasil, esta incomparável abóba<strong>da</strong> azul, de<br />
límpido e transparente azul; os céus do Brasil, que até mes-<br />
mo nas noites crepusculares dos trópicos conservam a<br />
deliciosa côr azul-turqueza, embacia<strong>da</strong> de cinza e polvilha<strong>da</strong><br />
de estrelas; os céus do Brasil, que viram os bergantins dos<br />
descobridores, as velas gloriosas dos navegantes singrando<br />
“os verdes mares bravios”; os céus do Brasil, que, luminosos<br />
e claros, ouviram as primeiras litanias cristãs entoa<strong>da</strong>s<br />
durante a primeira missa celebra<strong>da</strong> por Frei Henrique de<br />
Coimbra; os céus do Brasil, que ensinaram a Santos Dumont<br />
o caminho <strong>da</strong> Glória, vão-se abrir carinhosamente para<br />
receber o grande poeta andino — a voz altissonante dos<br />
versos magníficos de Silva Lobato, que inspira<strong>da</strong>mente soube<br />
desenvolver o tema acima esboçado e nos faz acompanhar,<br />
deslumbrados, todo o movimento histórico-social que o céu<br />
do Brasil viu, apreciou, registrou e o poeta comentou em<br />
cânticos admiràvelmente harmoniosos, em tentativa<br />
grandemente louvável de arte nova, que não é essa chula<br />
baboseira de gaguices e solecismos, que an<strong>da</strong> por aí a<br />
proteger as tipografias e a azucrinar os tipógrafos.<br />
“Santos Chocano, o grande e pan-americano cantor, deve<br />
sentir-se honrado e lisonjeado, por mais afeito que esteja às<br />
grandes homenagens, como essa homenagem <strong>da</strong><br />
espirituali<strong>da</strong>de brasileira, que Silva Lobato, tão<br />
entusiàsticamente e com tão grande e surpreendente talento,<br />
soube condensar nesse punhado de versos ver<strong>da</strong>deira chuva<br />
de esmeral<strong>da</strong>s, reverberantes à luz irisa<strong>da</strong> dos céus<br />
brasileiros”.<br />
E estas, de grande fôrça pictórica (Virgem-Mãe e Elias<br />
Barrão, edições de Garnier, hoje Breguiet, e Livraria Alves,<br />
respectivamente):<br />
CHLOÉ<br />
“No fundo par<strong>da</strong>cento do céu os cabeços <strong>da</strong>s serras dis-<br />
tantes, recortados em tela negra, e a copa ondeante <strong>da</strong>s árvo-<br />
res mais altas <strong>da</strong> floresta se destacavam.<br />
“Da terra subia a tépi<strong>da</strong> emanação dos cálices <strong>da</strong>s flores e<br />
do humo fertilizador, como de inumeráveis caçoulas.<br />
“O perfume acre e entontecedor <strong>da</strong>s plantas atraía os in-<br />
setos; a paz serena e tônica <strong>da</strong> noite e dos campos convi<strong>da</strong>va<br />
ao amor.
FÁBIO LUZ FILHO 201<br />
“O silêncio fecundo <strong>da</strong> Natureza elaborando, paciente e<br />
rítmica, a vi<strong>da</strong> múltipla, era inspecionado pela tíbia luz trê-<br />
mula e discreta <strong>da</strong>s estrêlas; interrompiam-no o pipilo tênue<br />
<strong>da</strong>s avezinhas, o grito pertinaz do grilo e as carícias modula-<br />
<strong>da</strong>s <strong>da</strong> brisa, que o prolongavam, tornando-o mais profundo<br />
e impenetrável, mais imponente e augusto, mais palpável e<br />
misterioso.<br />
“O mistério <strong>da</strong>quela escuridão, a grandeza <strong>da</strong>s sombras<br />
projetando-se no vale, a ramagem igualmente negra e múr-<br />
mura do bosque sagrado, excitavam a fantasia febril do<br />
pastor e requeimavam-no no fogo lento de uma sau<strong>da</strong>de.<br />
“A madruga<strong>da</strong> rósea dourava os altos píncaros, abrindo<br />
escuros abismos no vale sombrio. A princípio um nimbo ape-<br />
nas, como uma faixa tênuemente luminosa, bor<strong>da</strong>va os re-<br />
cortes ásperos <strong>da</strong>s montanhas e <strong>da</strong>s serras, em reentrâncias e<br />
saliências agu<strong>da</strong>s; depois, riscando o horizonte em listas pa-<br />
ralelas, a luz tênue <strong>da</strong> aurora ia destacando as montanhas e<br />
os rochedos, os prados e os areiais, fazendo brilhar como aço<br />
as águas correntes, espelhando a superfície dos lagos.<br />
“Êsse primeiro despertar <strong>da</strong> Natureza, em ruídos e cânti-<br />
cos, em luz e sombras, em mugidos e gritos, encontrava já o<br />
zagal junto à porteira do curral, pronto a tocar sua grei para<br />
os bebedouros fartos e límpidos, e para as campinas férteis e<br />
macias, às quais a orvalha<strong>da</strong> gotejante atirara aljôfares às<br />
mãos cheias, como se sôbre avelu<strong>da</strong>dos e fofos tapêtes se<br />
tivessem desatado colares de pérolas em noite de orgia.<br />
“Quando o sol levantava no horizonte sua cabeça fulva de<br />
Deus Onipotente, a fral<strong>da</strong> do morro estava determina<strong>da</strong>, ou a<br />
riba recama<strong>da</strong> de fresca ervagem onde pasceria o gado.<br />
“O sino <strong>da</strong> igrejinha <strong>da</strong> aldeia soou longe o toque plan-<br />
gente do Angelus, repercutido e desdobrado pelo éco <strong>da</strong>s<br />
montanhas; a paz triste e sonolenta dos campos espreguiçou-<br />
se nas asas cinzentas do crepúsculo vespertino; algumas<br />
estrêlas despertaram no céu, e as novilhas foram com seu<br />
hálito quente varrer o pó em tôrno do pastor, cheirando-lhe<br />
as roupas. E êle dormia em lânguido torpor, em um meio-<br />
sono, meio-virgília, em que a ver<strong>da</strong>de e o sonho, a reali<strong>da</strong>de e<br />
a fantasia se casavam, <strong>da</strong>nçavam, formavam lin<strong>da</strong>s coroas de<br />
ninfas, nixes, coribantes, guia<strong>da</strong>s pelo Deus Pan, corego e<br />
agonóteta”.<br />
E em “Elias Barrão”.<br />
“A primavera tépi<strong>da</strong> plainava sôbre a vegetação e sôbre<br />
minh’alma. Espumas alvas flutuavam como nenúfares à luz<br />
do sol, abrindo-se em festões quando as águas eram corta<strong>da</strong>s<br />
e
202 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
enruga<strong>da</strong>s pela asa leve de algumas garça real ou pelo remo<br />
rápido impelindo alguma piroga.<br />
“Marginavam as estreitas sen<strong>da</strong>s do jardim renques in-<br />
findos de papoulas, e as violetas humildes enchiam o ar com<br />
seu perfume sutil.<br />
“Lá na sombra de jasmineiro em flor, sôbre a herma<br />
branca e solene, mantinha-se, sobranceiro, o busto de um Deus<br />
a que estavam talvez consagrados o rio e o jardim.<br />
“Festões de rosas e jasmins circun<strong>da</strong>ndo-lhe a cabeça<br />
caíam até à fina areia, arrastando-se pelos degraus de már-<br />
more.<br />
“No soco do monumento sentei-me a teu lado. Mansas e<br />
arrulhantes pombas vieram, confiantes, brincar com a púrpu-<br />
ra dos ca<strong>da</strong>rços que atavam tuas sandálias e beliscavam-te a<br />
pele branca com seus bicos côr de rosa. Mas, no jardim, mais<br />
viçoso que os acantos, mais luminoso do que os crisântemos,<br />
mais puro e mais inocente do que a setinosa alvura <strong>da</strong>s camé-<br />
lias, estava teu olhar plácido, úmido e carinhoso, absorvendo<br />
tudo, tudo iluminando”.<br />
“A mata virgem e emaranha<strong>da</strong> do Cubatão, onde as co-<br />
pas movediças e altaneiras aparecem entrelaça<strong>da</strong>s de flores<br />
multicores, é diferente <strong>da</strong> <strong>da</strong> Serra dos Órgãos, cuja vegeta-<br />
ção é menos pujante, deixando ver, a intervalos, a ossatura<br />
vulcânica <strong>da</strong> montanha, e aqui e ali, mostrando os blocos in-<br />
formes de granito, grés ou cantaria, patinados de negro pela<br />
oxi<strong>da</strong>ção do tempo. Na margem <strong>da</strong> linha as quebra<strong>da</strong>s som-<br />
brias <strong>da</strong> serra, os recantos silenciosos, atapetados de liquens;<br />
as frinchas dos rochedos rocia<strong>da</strong>s pela névoa e pelos jorros<br />
d’água, nas alvas espumas <strong>da</strong>s corrediças, enlevavam-lhe o<br />
olhar. Dos socalcos e suaves declives, donde se debruçavam<br />
cachos de vistosas orquídeas preciosas ou que eram bor<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
<strong>da</strong>s franjas verdes <strong>da</strong>s avencas ou do rendilhado dos ásperos<br />
fetos, subiam perfumes de lírios e narcisos. Por vêzes não sa-<br />
bia distinguir as sensações e as confundia numa só: o perfu-<br />
me suave ou acre <strong>da</strong>s resinas era ao mesmo tempo murmúrio<br />
cantante <strong>da</strong>s águas ou silêncio augusto <strong>da</strong>s selvas. Cansa<strong>da</strong> a<br />
visão e satura<strong>da</strong> a retina pelo verde esplendente <strong>da</strong>s fôlhas,<br />
pelo roxo <strong>da</strong>s flores <strong>da</strong> quaresma e o amarelo dos ipês, do lim-<br />
bo branco <strong>da</strong>s palmas <strong>da</strong>s imbaúbas.. . »<br />
Eis um dos trechos de “Leituras de Ilka e Alba” (Livraria<br />
Alves), objeto do belo poema de Moacir de Almei<strong>da</strong>:
FÁBIO LUZ FILHO 203<br />
ANDORINHAS<br />
“As cigarras cantavam nos troncos, e na limpidez do céu<br />
azul um par gentil plainando sôbre as ervas dos campos, su-<br />
bindo e girando em tôrno aos alcantis descalvados <strong>da</strong> serra,<br />
procurando a beira<strong>da</strong> de um casal ou a cornija de alguma<br />
igrejinha campestre para construir o ninho, ia e vinha em<br />
giros contínuos, numa alegria festiva e inocente.<br />
“Lá no vale, no meio do verde escuro <strong>da</strong> mata, junto ao<br />
carreiro arenoso e em curvas que, como fita amarela e<br />
desbota<strong>da</strong>, serpeando por entre laranjais em flor e cêrcas de<br />
espinheiros, se perdia nos socalcos <strong>da</strong> serra, grimpando para<br />
as altu- ras, surgia a flecha de um templo simples e branco,<br />
bimbaIhando um sinozinho agudo, cujos sons iam de quebra<strong>da</strong><br />
em quebra<strong>da</strong>, de grota em grota, abalar o silêncio tépido <strong>da</strong><br />
floresta.<br />
“O silêncio <strong>da</strong> nave, a vago perfume de incenso, a solidão<br />
branca e nua do recinto, com suas toalhas ren<strong>da</strong><strong>da</strong>s, as poei-<br />
rentas cornijas entalha<strong>da</strong>s em grandes rendilhados, o ador-<br />
mecedor tilintar dos pingentes de cristal do grande lustre que o<br />
vento agitava tênuemente, como se dedilhasse a mêdo e<br />
experimentasse ca<strong>da</strong> nota, e a luz do sol brilhante e mati-<br />
nal, refratando-se no mesmo lustre e fazendo arabescos mati-<br />
zados no ladrilho do pavimento, onde loucamente rodopiava,<br />
às vêzes, uma fôlha sêca, convi<strong>da</strong>vam a construir o ligeiro ni-<br />
nho, donde sairia gárrula e bulhenta para as festas <strong>da</strong> natu-<br />
reza a prole pipilante e álacre que no verão vindouro enche-<br />
ria também de gritinhos agudos o velho campanário <strong>da</strong> igre-<br />
jinha campestre”.<br />
Ao fazer a crítica de “Manuscrito de Helena”, o grande<br />
ensaísta baiano, Carlos Chiacchio, teve para com a personali-<br />
<strong>da</strong>de literária de Fábio Luz as seguintes palavras, que desta-<br />
camos de longo trabalho: “O conto, o romance, a história, a<br />
crítica, a polêmica, a poesia, enfim, tô<strong>da</strong> a gama <strong>da</strong> criação<br />
artística exercitou com brilho nunca desmentido. Foi, sem tirar<br />
nem pôr, o tipo brasileiro do polígrafo, vivendo intensamente o<br />
mundo <strong>da</strong>s idéias, <strong>da</strong>s imagens e dos sentimentos. Desde os<br />
verdes anos, em Valença, ci<strong>da</strong>de baiana, ensaiou a pena na<br />
imprensa local, adestrando-a, depois, em prélios memoráveis,<br />
no jornalismo <strong>da</strong> côrte, onde não houve gênero literário em<br />
que não demonstrasse, exuberantemente, os seus altos recursos<br />
de inteligência culta e forte”.
204 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Mas, voltemos à Bahia.<br />
AINDA SALVADOR<br />
A igreja do convento de São Bento trouxe-me recor<strong>da</strong>ções<br />
de minha infância no Rio, pois fiz meu curso ginasial de seis<br />
anos no Ginásio de São Bento com mestres como Fausto e<br />
Mário Barreto, Carlos de Laet e tantos outros. Gratuito era o<br />
ensino na época, <strong>da</strong>do pela equanimi<strong>da</strong>de dos frades benediti-<br />
nos, a cuja grei pertenceu o tio de minha queri<strong>da</strong> mãe, pelo<br />
lado materno, Frei de Santa Catarina Furtado, orador esca-<br />
choante, também baiano, que no Rio, ao tempo do império,<br />
deslumbrou pelo talento e pelo poder verbal, que o tornaram,<br />
no consenso unânime, um émulo de Mont-Alverne, como disse.<br />
O reverendo Vicar era, ao tempo em que visitei a Basílica<br />
com seu fino trato e minudente e evangélica paciência, o guia<br />
culto e o guardião zeloso de precioso, variado e riquíssimo mu-<br />
seu de avoengueiras relíquias veneráveis.<br />
Neste museu, todo êle devido à dedicação impar do reve-<br />
rendo Vicar, vi a imagem de Nossa Senhora <strong>da</strong>s Maravilhas,<br />
envolta em belo manto de prata. Diz-se que, diante dessa ima-<br />
gem, após fervoroso apêlo, o padre Vieira teve o legendário es-<br />
talo que o transformou em gênio <strong>da</strong> oratória, só superado por<br />
Rui Barbosa.<br />
E que admiráveis painéis exornam a várias vêzes secular,<br />
ampla e tranqüila sacristia conventual, servi<strong>da</strong> de vasto mo-<br />
biliário de jacarandá com embutiduras de marfim!<br />
Os copos, taças, etc., fabricados por Fratelli Vita com lí-<br />
dimo e magnífico cristal de rocha baiano, emparelham, na<br />
perfeição e na sonori<strong>da</strong>de, com os <strong>da</strong> Boêmia, coisa que pouca<br />
gente sabe no Brasil. Quantos dêles não an<strong>da</strong>rão por aí como<br />
cristais <strong>da</strong> Boêmia!...<br />
Boas estra<strong>da</strong>s de ro<strong>da</strong>gem tornam as longas viagens su-<br />
portáveis, não obstante o sol inclemente. As baianas com seus<br />
acarajés saborosos e típicos, mas arrasantes para os noviços...<br />
São feitos no geral com feijão fradinho, cozido com azeite de<br />
dendê.<br />
O espetáculo do pôr do sol a esbrasear a baía azulina e<br />
ampla! As mãos de fa<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s rendeiras, no milagre e na ma-<br />
ravilha <strong>da</strong>s delica<strong>da</strong>s tessituras!... O evocativo túmulo de<br />
Labatut em Pirajá...<br />
A igreja do Senhor do Bonfim, o Mercado, o Parque de<br />
Ondina...
FÁBlO LUZ FILHO 205<br />
E seria longo o desfilar do rosário <strong>da</strong>s impressões indelé-<br />
veis, o que com o tempo, logo que os quefazeres me permitam<br />
calmas horas evocativas de introversão, farei, com prazer;<br />
mas não sei quando isto me será permitido...<br />
O NORDESTE<br />
O RECIFE<br />
Demorei-me em Pernambuco em 1954 e em 1958.<br />
O Recife, na grandeza de suas mais caras tradições histó-<br />
ricas, sempre me seduziu. O mesmo eu diria de Olin<strong>da</strong>, onde<br />
me demorei na contemplação de seu passado heróico, berço<br />
dos estudos jurídicos, pindorama que nos traz à mente, vindos<br />
dos pródromos <strong>da</strong> nacionali<strong>da</strong>de, os vultos que ergueram as<br />
igrejas-relíquias: a de Nossa Senhora do Monte (1535) e a de<br />
Gua<strong>da</strong>lupe, como ergueram a mais antiga do Brasil: a de<br />
Iguaraçu. Por isso, tenho <strong>da</strong> terra pernambucana, e de sua<br />
gente, a mais viva <strong>da</strong>s impressões. Admirei o dinamismo do<br />
Recife com seu surto de prosperi<strong>da</strong>de, com a beleza de seus<br />
aspectos venezianos, na mansuetude do Capibaribe; suas lar-<br />
gas aveni<strong>da</strong>s de arranha-céus, bairros como o Dérbi e os Afli-<br />
tos, etc., que são ridentes bairros residenciais, de elite. Os ve-<br />
lhos e decantados sobrados senhoris, reminiscências coloniais,<br />
ain<strong>da</strong> existem esmaltando o casario antigo, resistindo aos im-<br />
pactos do tempo inexorável, como os de Olin<strong>da</strong>. Esta venera<br />
ain<strong>da</strong>, com justas razões, não só os seus sobrados, senão tam-<br />
bém os seus balcões fi<strong>da</strong>lgos, os seus admiráveis relicários.<br />
E como em tô<strong>da</strong>s as ci<strong>da</strong>des que avançam tentacular-<br />
mente, tem o Recife também seus lados sombrios, como o Rio<br />
de Janeiro, no qual, encravados até entre a majestade graní-<br />
tica <strong>da</strong>s edifícios de Copacabana, surgem as favelas deprimen-<br />
tes, couto de tô<strong>da</strong> a gente, inclusive dos míseros nordestinos<br />
trazidos pelos “paus-de-arara”. Procurei ver os mocambos do<br />
Recife, que perduram, não obstante o meritório esfôrço inicial<br />
de Agamenon Magalhães. (O burocratismo é um dos flagelos<br />
administrativos brasi1eiros, devorando verbas e tornando in-<br />
frutíferas as melhores intenções. . .). Não vi os piores, que não<br />
estão pròpriamente em Encruzilha<strong>da</strong>; mas, os que vi, sobretu-<br />
do os do tipo coletivo, vamos dizer, tipo cortiço, em seqüência,<br />
com lugar apenas para uma pessoa poder deitar-se num girau<br />
sórdido, à razão de 70 e 80 cruzeiros mensais, êstes bastaram<br />
para uma impressão de profundo pesar, quase de horror. Fin-
206 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
cados dentro <strong>da</strong> fetidez de pauis inundáveis com as marés<br />
montantes, que os invadem a quase um metro de altura, têm<br />
os ruas enlamea<strong>da</strong>s, os porcos fossando espurcícias em der-<br />
redor, que a incidência de sol forte torna nauseantes!... Con-<br />
dição de vi<strong>da</strong> infra-humana! Isto dentro de uma ci<strong>da</strong>de ine-<br />
gàvelmente bela, que se moderniza cèleremente, justamente<br />
cognomina<strong>da</strong> a “Veneza americana”, a “Ci<strong>da</strong>de Maurícia”.<br />
Dolorosos contraste, como no Rio... Caldos-de-cultura de re-<br />
voltas justas, compreensíveis. Problemas sociais que se avo-<br />
lumam... Acredito, fielmente, que Paulo Afonso seja, para<br />
êsse grande Estado, alentadora esperança. Talvez faça retor-<br />
nar aos campos (se a industrialização, que já se esboça, não<br />
acentuar o êxodo...) tô<strong>da</strong> essa pobre gente desajusta<strong>da</strong> e<br />
subnutri<strong>da</strong> que zaranza pelas ruas do Recife, ci<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong><br />
cara, esmolando para poder sobreviver, lançando mão de<br />
expedientes de tô<strong>da</strong> sorte, num como mercado-persa<br />
pinturesco e multicolorido, no qual se encontram as<br />
saborosas frutas nativas, preciosas coisas de cunho regional,<br />
ao lado de bugigangas e do que as indústrias do Sul para lá<br />
remetem a rôdo.<br />
As janga<strong>da</strong>s singram um mar de cambiantes soberbas,<br />
nas praias de Boa Viagem e de Pina, como em Tambau (esta,<br />
praia de deslumbramento, em João Pessoa), irisações magní-<br />
ficas que nos extasiam e lembram as praias que vão de Ita-<br />
curuçá a Angra dos Reis, no Estado do Rio, e as de Salvador,<br />
na Bahia, entre elas Itapoã. Os coqueirais colocam as notas<br />
farfalhantes de seus portes esguios e belos, nessas praias nor-<br />
destinas.<br />
Suas igrejas estão ungi<strong>da</strong>s de recor<strong>da</strong>ções priscas. Os la-<br />
vôres <strong>da</strong> Capela Doura<strong>da</strong>, em proporções menores, lembram<br />
os esplendores <strong>da</strong> Igreja de São Francisco em Salvador, na<br />
Bahia... Outras faces, de acentua<strong>da</strong> côr local: os seus ven-<br />
dedores de guaiamus e de cocos nas calça<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s ruas; os de-<br />
liciosos sorvetes de mangaba e de cajá, e os refrescos de ma-<br />
racujá... Os seus cantadores, como os que vi e ouvi em<br />
Campina Grande, glosando na rua os motes <strong>da</strong>dos no<br />
momento, traços marcantes dessa inteligência viva e verve<br />
ensolara<strong>da</strong> do nordestino bravo. Sua imprensa moderna e<br />
brilhante honra os foros de cultura do grande Estado.<br />
Com fervor patriótico atinge-se o tôpo <strong>da</strong> tôrre <strong>da</strong> igreja<br />
de Nossa Senhora dos Prazeres (ergui<strong>da</strong> em 1696), marco que<br />
assinala a batalha dos Guararapes, pois é no acume dêsse<br />
morro célebre que ela se ergue na vetustez de suas sóli<strong>da</strong>s<br />
paredes medievas, conserva<strong>da</strong>s tô<strong>da</strong>s as suas características<br />
originárias. E fato curioso: em tôrno ao morro, em cómoros,
FABIO LUZ FILHO 207<br />
o “capim santo” só floresce no dia <strong>da</strong> batalha dos Guararapes!<br />
Daí a romaria anual <strong>da</strong> multidão crente, nesse dia, o capim<br />
florente nas mãos, subindo, genuflexa, até a igreja histórica.<br />
Dois Irmãos é belo centro de pesquisas agronômicas.<br />
Com o mesmo ímpeto com que plantou os fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong><br />
nacionali<strong>da</strong>de, saberá Pernambuco contornar os problemas<br />
que surgem e surgirão.<br />
A PAISAGEM NO BREJO E NO AGRESTE<br />
Pernambuco possui boas rodovias. VI animação e entu-<br />
siasmo no brejo e no agreste <strong>da</strong> Paraíba e de Pernambuco, pe-<br />
lo inverno chovido. Sobretudo o brejo paraibano oferecia as-<br />
pectos de trabalho intenso e festivo.<br />
O brejo paraibano é uma zona fitogeográfica, de água<br />
aflorante, <strong>da</strong> Serra <strong>da</strong> Borborema, possuidora de solos pro-<br />
fundos, embora pobres em azôto e fósforo e deficientes em<br />
matéria orgânica. Seus vales, no entanto, são em geral fér-<br />
teis. A criação de gado se faz em escala ínfima, havendo po-<br />
breza de plantas forrageiras. O leite constitui aí artigo de luxo,<br />
quadro extensivo ao Estado de Pernambuco e, pràticamente, a<br />
todo o Nordeste, como é sabido, o que, somado à ausência ou<br />
escassez de verduras, caracteriza a dieta <strong>da</strong> “gens” rural<br />
dessas regiões. O arren<strong>da</strong>mento é pouco usado. Dois polos aí se<br />
defrontam, como no resto do Nordeste: abastados ou<br />
remediados, ou zânganos, e pauperismo (êste, ca<strong>da</strong> vez mais<br />
avassalante, ao acicate <strong>da</strong>s sêcas e conseqüente êxodo), e uma<br />
classe média pequena e que se está proletarizando aos poucos,<br />
ao ajoujo <strong>da</strong> atual conjuntura econômica, mas com<br />
perspectivas de superação, sendo a Hidrelétrica uma grande<br />
esperança.<br />
A quase 80% de arreca<strong>da</strong>ção do impôsto de consumo nos<br />
Estados do Sul, opõem, o Norte, o Nordeste e o Brasil Central,<br />
juntos, uma percentagem que não chega a 6%, o que eviden-<br />
cia a pouqui<strong>da</strong>de do índice econômico.<br />
OS MANDACARUS<br />
Nas distâncias perlonga<strong>da</strong>s, nas caatingas escalva<strong>da</strong>s e<br />
nos agrestes, os man<strong>da</strong>carus, sobrelevando-se às demais xeró-<br />
filas,embora já tocados dos dedos mágicos do inverno pluvioso<br />
(maio de 1954), lembram sentinelas de gestos agressivos, a
208 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
bracejar para o azul, em atitudes de súplica ou advertência,<br />
como símbolos, sobranceiros na adustão em tôrno, já ameni-<br />
za<strong>da</strong>, como disse, pelos primeiros fustigos <strong>da</strong> inverna<strong>da</strong>, na<br />
futuração de boas colheitas, sobretudo de cereais e algodão.<br />
O almo poder <strong>da</strong>s águas, no espetáculo <strong>da</strong> resurreição...<br />
Êles, os man<strong>da</strong>carus e os avelos, realmente tipificam a<br />
paisagem nordestina. Os avelos (ou “aveloz”, como na lingua-<br />
gem popular é denomina<strong>da</strong> a euforbiácea, que o gado te-<br />
me) quadriculam a paisagem, dividem as proprie<strong>da</strong>des, que se<br />
vão fragmentando, emoldurando plantações de palmas, aga-<br />
ves, macaxeiras, palmas em meio de algodoais. Na sua re-<br />
sistência à inclemência do clima, como o bode e o jerico, bem<br />
caracterizam, êles, os avelos e os man<strong>da</strong>carus, as regiões nor-<br />
destinas, de longes bravios. Os avelos atingem às vêzes a altura<br />
de ver<strong>da</strong>deiras árvores.<br />
Regiões vi onde, pràticamente, havia quatro anos não<br />
chovia. Pude avaliar, de visu, como as acerbi<strong>da</strong>des teluricas<br />
enrijaram a fibra do nordestino. Nesses cenários desertos e<br />
adustos, teima o sertanejo em viver, ou sobreviver, caldeando a<br />
alma forte aos embates <strong>da</strong>s adversi<strong>da</strong>des climáticas e outras,<br />
alma forte que rejubilava, então, às primeiras lufa<strong>da</strong>s do in-<br />
verno chovido. Os que não querem os “paus-de-arara”, tei-<br />
mam em continuar nos seus eitos, nas suas “casas de farinha”,<br />
apelando nas sêcas para o próprio fruto <strong>da</strong> palma com farinha<br />
e, de quando em vez, carne de bode. Continuam nas suas casas<br />
colma<strong>da</strong>s e revesti<strong>da</strong>s de fôlhas de catolé, quando não de<br />
argila, peça indissociável do fadário do homem rural<br />
brasileiro...<br />
Eis a situação de duas <strong>da</strong>s áreas ecológicas pernambuca-<br />
nas: a mata (que, pràticamente, envolve o litoral) tem uma<br />
densi<strong>da</strong>de demográfica de 140 pessoas por quilômetro quadra-<br />
do, enquanto o agreste e a caatinga apresentam uma densi-<br />
<strong>da</strong>de de 50 habitantes por quilômetro quadrado. No sertão mal<br />
chega a 8 por quilômetro quadrado...<br />
A contribuição de Pernambuco para a ren<strong>da</strong> nacional é<br />
de 3,57%, a <strong>da</strong> Paraíba, de 1,39%; a dos demais Estados do<br />
Nordeste reunidos não ultrapassa a percentagem de 3%. Tudo<br />
isto assinala um desnível econômico de estarrecer, em relação<br />
ao Sul do país.<br />
A flagelação <strong>da</strong>s sêcas, os “cariris” chocantes... Quando<br />
os açudes com fins de irrigação, os nucleamentos de base<br />
cooperativa, os fios de ressurreição de Paulo Afonso?...
FÁBIO LUZ FILHO 209<br />
CAMPINA GRANDE<br />
Campina Grande é uma bela e próspera ci<strong>da</strong>de paraibana<br />
para a qual afluem várias zonas fitogeográficas (brejo, agres-<br />
te, etc.). É considera<strong>da</strong>, com razão a maior ci<strong>da</strong>de interior de<br />
todo o Nordeste, como Caruaru é a capital do agreste per-<br />
nambucano. É ela sede de um município que arrecadou, em<br />
1953, mais de 26.000.000 de cruzeiros, situa<strong>da</strong> em plena Serra<br />
<strong>da</strong> Borborema, como uma média de pluviosi<strong>da</strong>de de 1.220 mm,<br />
e temperatura máxima de 28 graus e mínima de 14. Nela en-<br />
contrei em maio de 1954, no átrio <strong>da</strong> Prefeitura, uma família<br />
nordestina que ali dormira para ter oportuni<strong>da</strong>de de solicitar,<br />
do Prefeito, uma passagem de volta ao torrão dela, no sertão<br />
paraibano, pois o brejo, disse-me o chefe, sertanejo moço, alto<br />
e forte, quase em andrajos, de olhos úmidos, no brejo tô<strong>da</strong> a<br />
família, mulher e sete filhos, havia apanhado “sezões”...<br />
Preferia voltar para o seu pe<strong>da</strong>ço de terra e plantar algodão;<br />
mas, a miséria e a fome só lhe permitiam mendigar. A mulher,<br />
quase esquáli<strong>da</strong>, com os sete filhos deitados nos ladrilhos frios,<br />
era bem a imagem de sofrimento: olhos baixos, de profun<strong>da</strong><br />
resignação, amamentando lin<strong>da</strong> criança, clara e louro. Que<br />
formidável material humano ali estava! O drama sombrio do<br />
Nordeste estava naquele quadro estereotipado: esperanças<br />
nunca perdi<strong>da</strong>s, andejar contínuo em busca de novos<br />
horizontes de trabalho e fartura, regresso ao primeiro<br />
tamborilar cantante <strong>da</strong>s chuvas promissoras, à primeira<br />
clarina<strong>da</strong> de dias melhores, intenso apego à terra natal, aquêle<br />
inapagável anseio que Euclides <strong>da</strong> Cunha focou<br />
magistralmente, e José Américo de Almei<strong>da</strong> fixou em<br />
“Bagaceira”, imanizando o sertanejo heróico...<br />
Reafirmou, recentemente, o professor Moisés Poblete<br />
Troncoso, que a estrutura econômica de tô<strong>da</strong> a América Lati-<br />
na é fun<strong>da</strong>mentalmente agrária, constituindo o binômio terra-<br />
trabalho o ponto de parti<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua economia rural. Ain<strong>da</strong> tem<br />
configuração níti<strong>da</strong> aquela situação mui aproxima<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />
célebres “encomien<strong>da</strong>s” e <strong>da</strong> do colonialismo sesmeiro...<br />
Mas, encerremos essas páginas de repouso, sau<strong>da</strong>des e<br />
retrospeção...
CAPÍTULO IX<br />
AINDA O COOPERATIVISMO ESCOLAR NA FRANÇA<br />
E OUTROS PAÍSES<br />
Totomianz, o grande propagandista russo exilado por<br />
questões políticas, acentuou que as cooperativas escolares euro<br />
péias incluíam em sua finali<strong>da</strong>des as mais varia<strong>da</strong>s operações:<br />
a ven<strong>da</strong> de livros escolares ou objetos para desportos, a preços<br />
reduzidos; a compra de livros para a biblioteca escolar; a<br />
organização de conferências sôbre temas referentes ao<br />
cooperativismo; a aquisição de artigos alimentícios, como o<br />
pão e o leite para os alunos, a produção em comum de objetos<br />
variados, como sejam encadernações, brinquedos, jogos,<br />
artigos de carpintaria; o estabelecimento de uma caixa de<br />
economia e de empréstimos, que poderá funcionar junto à<br />
cooperativa de consumo ou formar parte dela; investigações<br />
botânicas e o cultivo de árvores frutíferas, legumes, criação de<br />
abelhas, etc. Incluem-se nesses objetivos a visita a outras<br />
cooperativas escolares e a cooperativas de adultos. Acha<br />
Totomianz que a constituição e a gestão de uma cooperativa<br />
escolar defrontam alguns obstáculos de ordem jurídica, e<br />
que a melhor ma- neira de contorná-los é fazer que a<br />
responsabili<strong>da</strong>de de todos os compromissos <strong>da</strong> cooperativa<br />
escolar seja toma<strong>da</strong> pela pró- pria escola ou por um “comitê”<br />
de pais, com a condição, porém, de nunca, dessa intervenção,<br />
decorrer a coartação <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de dos jovens cooperadores<br />
escolares, que devem diri-gir suas pequenas cooperativas.<br />
Diz Totomianz que, antes de Profit, houve uma tentativa<br />
em 1881, na França, parti<strong>da</strong> de um Sr. Cauvet, que organizou<br />
em Paris uma associação escolar de auxílio mútuo (não é<br />
cooperativismo escolar).<br />
Acham outros que houve também em 1889 uma tentativa<br />
no sentido <strong>da</strong> associalização escolar, tendo-se então constituí-<br />
do uma associação escolar florestal no departamento de Jura,<br />
onde, três anos depois, já se contavam cinqüenta associações<br />
desse gênero.
FABIO LUZ FILHO 211<br />
Em 1909 surgiu a Federação <strong>da</strong>s Mútuas Escolares Flores-<br />
tais, em Ain, a qual em 1931 filiava 57 socie<strong>da</strong>des com 2.600<br />
associados. Em 1912, uma mútua escolar em Carcassone.<br />
Em 1929 existiam, no departamento francês de Gard,<br />
oitenta cooperativas escolares com 3.500 associados, havendo<br />
sido fun<strong>da</strong><strong>da</strong> a primeira em 1924. São cooperativas escolares<br />
de consumo e produção. Os alunos, para conseguir numerá-<br />
rio, colhem ervas medicinais, criam bichos de se<strong>da</strong>, cosem,<br />
tecem, organizam excursões. Os lucros ou benefícios são<br />
utilizados na aquisição de cinemas escolares, no enriqueci-<br />
mento <strong>da</strong>s bibliotecas escolares, etc.<br />
Cattier refere-se às cooperativas escolares na Tchecos-<br />
lováquia reerguendo ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> miséria com a indústria de<br />
madeira e louças.<br />
Existiam na Polônia cooperativas escolares de crédito e<br />
consumo fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelas cooperativas de adultos (o movi-<br />
mento francês, como já assinalei, difere dêste, pois teve início<br />
nos meios escolares e por iniciativa de um inspetor de ensino).<br />
A União <strong>da</strong>s Cooperativas de Consumo polonesa chegou a<br />
instituir uma comissão especial para atender ao desenvol-<br />
vimento <strong>da</strong>s cooperativas escolares. Há quem dê o movimento<br />
polonês como iniciado em 1906.<br />
A obra social, empreendi<strong>da</strong>, manti<strong>da</strong> e desenvolvi<strong>da</strong> pelo<br />
cooperativismo escolar na Polônia, segundo afirmava To-<br />
tomianz em 1935, é de grande importância, compreendendo a<br />
aju<strong>da</strong> material aos seus pequenos associados, por intermé-<br />
dio dos armazéns cooperativos, e a aju<strong>da</strong> intelectual para a<br />
organização de cursos, oficinas para colocação dos alunos que<br />
se virem na dura contingência de procurar, por seus próprios<br />
esforços, seus meios de subsistência, assim como auxílios para<br />
a instalação condigna de museus escolares, etc.<br />
As cooperativas escolares romenas nasceram do hábito que<br />
possuíam os professôres romenos de se cotizarem para o<br />
fornecimento de livros aos seus alunos, no comêço de ca<strong>da</strong> ano<br />
letivo.<br />
O Diretor <strong>da</strong> Instrução Pública Sr. Spirit Haret, estimulou a<br />
fun<strong>da</strong>ção dessas organizações mediante um trabalho de per-<br />
suação ininterrupto. Parece ter o movimento começado em<br />
1908.<br />
A “Oficina Nacional Romena” e o “<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Instrucão<br />
Pública” fun<strong>da</strong>ram em 1935 a União <strong>da</strong>s Cooperativas Es-<br />
colares.
212 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
A lei mexicana sôbre cooperativas <strong>da</strong>ta de 11 de janeiro<br />
de 1938, e inclui em seus dispositivos as cooperativas escolares,<br />
subordina<strong>da</strong>s à Secretaria de Educação dessa república. Como<br />
disse, a Colômbia já elaborou seu projeto de lei, e o Dr.<br />
Alvarino Herr, ilustre advogado peruano e presidente do<br />
Instituto Cooperativo do Peru, acaba de me comunicar que irá<br />
utilizar meu livro “Cooperativas escolares” na grande<br />
campanha cooperativista que aquêle Instituto, integrado por<br />
um grupo de brilhantes técnicos e intelectuais, está<br />
desenvolvendo nesse país, de tão belas tradições.<br />
Victor Serwy, o ilustrado cooperativista belga, diz que, de-<br />
pois <strong>da</strong> guerra, os dirigentes do movimento cooperativo<br />
mundial foram levados a pensar mais particularmente nas<br />
mulheres e crianças, as eternas e maiores vítimas <strong>da</strong> insânia<br />
dos imperialismos e dos lamentáveis desentendimentos entre<br />
povos. Quiseram que orientassem seus lazeres de um modo<br />
proveitoso para a saúde do corpo e do espírito, insuflando<br />
alegria reconfortante e comunicativa aos seus generosos<br />
corações. E relata como já se disseminam pelos países<br />
europeus (Alemanha, Inglaterra, França, Austria, Bélgica,<br />
etc.) manti<strong>da</strong>s por grandes federações de cooperativas,<br />
sobretudo de consumo, as colônias cooperativas de férias, com<br />
seus sanatórios, etc. Constituem uma <strong>da</strong>s grandes e meritórias<br />
obras que o cooperativismo vem prestando ao mundo como<br />
iniciativa particular coberta pelos planejamentos <strong>da</strong> flâmula<br />
arco-irisa<strong>da</strong> do cooperativismo, símbolo de luz e harmonia<br />
entre os homens.<br />
Um outro exemplo, no mundo, frisante do poder educati-<br />
vo dos agrupamentos cooperativos de estudos, é o dos cursos<br />
de extensão <strong>da</strong> St. Francis Xavier University, na América do<br />
Norte.<br />
“The study club is the fulcrum used by the operators of<br />
this educational lever to raise the general status of the people”,<br />
são palavras do Rev. Malcom Mac. Lellan, ao se referir ao<br />
departamento de extensão <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de acima referi<strong>da</strong> no<br />
seu alto objetivo de preparar as gerações moças para a ação.<br />
E veremos a atuação do reverendo Coady.<br />
COOPERATIVAS ESCOLARES AGRÍCOLAS<br />
Cooperativas agrícolas de compra e ven<strong>da</strong> existem nas es-<br />
colas superiores de agricultura, dos Estados Unjdos <strong>da</strong> Ame-<br />
rica do Norte. Não têm elas, nesse país, a obrigação de se re-
FÁBIO LUZ FILHO 213<br />
gistrarem, mas seus estatutos contêm as disposições comuns às<br />
organizações de adultos, com um fim altamente educativo<br />
perfeitamente compreensível.<br />
São fins dessas associações:<br />
a) criar uma organização cooperativa de ven<strong>da</strong> e de<br />
compra graças à qual os alunos <strong>da</strong>s escolas superiores de agricultura<br />
poderão chegar a adquirir, pelo método direto, a experiência<br />
cooperativa, os princípios <strong>da</strong> cooperação e sua aplicação<br />
prática, as normas de organização e a direção a <strong>da</strong>r às<br />
operações sôbre uma base sã;<br />
b) incentivar, animar e empreender a produção, a exposição,<br />
a classificação, a expedição, o financiamento, a armazenagem,<br />
a publici<strong>da</strong>de, a ven<strong>da</strong> e tô<strong>da</strong>s as outras operações de<br />
manipulação dos produtos agrícolas, e proporcionar aos<br />
associados tô<strong>da</strong>s as facili<strong>da</strong>des e serviços graças aos quais possam<br />
êles exercer essas ativi<strong>da</strong>des ou outra qualquer sôbre uma<br />
base cooperativa;<br />
c) fazer a ven<strong>da</strong> dos artigos produzidos por seus membros;<br />
comprar e vender todos os artigos de conformi<strong>da</strong>de com<br />
os regulamentos estabelecidos pelo Conselho de Administração;<br />
d) colaborar com as socie<strong>da</strong>des cooperativas de adultos ou<br />
outras socie<strong>da</strong>des de jovens;<br />
e) operar conforme as leis sôbre as socie<strong>da</strong>des cooperativas<br />
em vigor no Estado onde se fun<strong>da</strong>rem.<br />
Assim, nos estatutos constantes do presente livro, com<br />
ligeiras modificações (um diretor-gerente com funções mais<br />
altas, um conselho fiscal, integrado por alunos exclusivamente<br />
e modificação dos objetivos, etc.), poderão enquadrar-se<br />
mais duas formas: crédito e ven<strong>da</strong>.<br />
Na Polônia, algumas escolas agrícolas tinham, antes <strong>da</strong><br />
guerra de 1939, tô<strong>da</strong> a sua organização interna (alojamentos e<br />
alimentação) sob a égide de uma cooperativa escolar.<br />
Que se realize, pois, no Brasil, o que Profit vaticinou para<br />
a França, apoiado em Izoulet:<br />
“La coopération scolaire française est en mesure de tournir<br />
à la société des “associés loyaux”, les citoyens et les<br />
hommes nouveaux dont le monde a besoin”.<br />
Estou, humildemente, com Profit, em face dos frutos que<br />
já vamos colhendo no Brasil, como educação econômica, moral,<br />
cívica e social dos homens e <strong>da</strong>s mulheres de amanhã.<br />
E A. Carneiro Leão tem a êsse respeito admiráveis conceitos<br />
em “Socie<strong>da</strong>de Rural — Seus problemas e sua educação”:
214 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
“Muito mais do que “alfabetização”, generalização de es-<br />
cola primária comum, impõe-se no interior do Brasil uma edu-<br />
cação capaz de prender o homem a seu ambiente físico e social,<br />
de torná-lo um fator consciente de bem-estar de sua comuni-<br />
<strong>da</strong>de, Muito mais do que escolas para ensinar a ler, escrever e<br />
contar pelos mesmos livros, pelos mesmos mestres <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>-<br />
des, a zona rural necessita de preparar seus filhos para resol-<br />
verem os problemas regionais, para integrarem-se em seu<br />
mundo, fazendo-o progredir”.<br />
Com todo o meu veemente apoio ao brilhante pe<strong>da</strong>gogo,<br />
acrescento que o cooperativismo é o veículo naturalmente in-<br />
dicado para essa integração, o que, aliás, reconheceu ao<br />
referir-se, bondosamente, naquele seu belo e profundo livro, à<br />
minha humilde atuação.<br />
FRANÇA<br />
Disse Valdiki Moura em seu livro “Dez faces do mundo”<br />
(1954):<br />
“A falta dos contactos premeditados, procurei estender-<br />
me com o “Office Central de Ia Coopération ã l’Ecole”,<br />
instalado no Museu Pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Paris, à<br />
Rua d’Ulm, 29.<br />
“Esta organização tem a configuração jurídica de associa-<br />
cão civil, defini<strong>da</strong> em lei de 1.º de julho de 1901, que dispõe<br />
sôbre o seu contrato e legalização.<br />
“Há em França vários agrupamentos de caráter coopera-<br />
tivo, constituídos no regime desta lei. Não dependem de auto-<br />
rização governamental e podem receber cotizações dos associa-<br />
dos, que não exce<strong>da</strong>m, individualmente, de 500 francos, e<br />
adquirir os imóveis estritamente necessários ao cumprimento<br />
dos seus objetivos. Podem, ain<strong>da</strong>, ser reconhecidos como de<br />
utili<strong>da</strong>de pública e praticar todos os atos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> civil, que não<br />
sejam proibidos em seu estatuto.<br />
“Antes havia sido fun<strong>da</strong>do (maio de 1928) com a<br />
designação de Office Central des Coopératives Scolaires,<br />
passando a usar o título atual em <strong>da</strong>ta de 22 de dezembro de<br />
1929, embora o registro se verificasse a 22 de fevereiro do ano<br />
seguinte.<br />
O OCCE compreende as Secções Departamentais ou pro-<br />
vinciais, administra<strong>da</strong>s por um conselho de administração, que<br />
propõe, ca<strong>da</strong> uma, um man<strong>da</strong>tário, ao qual o Conselho <strong>da</strong><br />
Administração Nacional envia os podêres legais para gerir a<br />
Secção; e as Secções Locais, que são as próprias cooperativas.
FÁBIO LUZ FILHO 215<br />
escolares. Neste caso, o man<strong>da</strong>tário departamental substa-<br />
belece os seus podêres a um man<strong>da</strong>tário local, designado pelo<br />
Conselho de Administração Departamental.<br />
“A cooperativa escolar, investi<strong>da</strong> de tais podêres, natu-<br />
ralmente age como uma associação independente, administra-<br />
<strong>da</strong> pelos alunos, sob a tutela do diretor ou do man<strong>da</strong>tário.<br />
“O Conselho de Administração do OCCE é constituído de<br />
24 membros, dentre os quais um é o presidente (o inspertor<br />
-geral de Instrução Pública, Sr. Prévot); dois são vice-presi-<br />
dentes (o diretor adjunto do Ensino de Primeiro Grau do Mi-<br />
nistério de Educação Nacional e o secretário <strong>da</strong> Secção De-<br />
partamental de Côte-d’Or); um secretário-geral e outro adjun-<br />
to, que são, respectivamente, um inspetor do Ensino Primária<br />
e um assistente do Ensino Técnico; o tesoureiro-geral e outro<br />
adjunto, ambos técnicos em educação, sendo um dêles o Sr<br />
Jean Gaumont, autor <strong>da</strong> famosa “Histoire Générale de lo<br />
Coopération en France”. Os demais membros são pessoas de<br />
tirocínio e projeção nos meios educacionais e cooperativos,<br />
pertencentes aos quadros <strong>da</strong> Liga do Ensino, <strong>da</strong> Federação<br />
Nacional <strong>da</strong>s Cooperativas de Consumo, do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Agricultura</strong>, <strong>da</strong> Confederação Geral <strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des<br />
Cooperativas de Produção, <strong>da</strong> Federação Nacional de<br />
Cooperação Agrícola, do Sindicato Nacional de Instrutores e<br />
de várias Secções Departamentais.<br />
“Isso não quer dizer que a composição tenha de ser sem-<br />
pre a mesma, e que a escolha deva invariàvelmente incidir em<br />
tais grupos. Refiro-me à composição do quadro atual, apenas<br />
para indicar a sua complexi<strong>da</strong>de e a participação ampla que<br />
têm os diversos setores nacionais na organização do coopera-<br />
tivismo escolar. Permito-me, também, particularizar o nome<br />
de Maurice Colombain, antigo chefe do serviço de Cooperação<br />
do Bureau Internacional do Trabalho, como um dos membros<br />
do Conselho do OCCE, pela projeção excepcional que tem,<br />
como publicista e realizador do sistema.<br />
“Além <strong>da</strong> publicação <strong>da</strong> Revue de la Coopération Scolaire<br />
e do Bulletin d’Information, e de textos contendo doutrinação<br />
de base, foram distribuídos, no último, ano, 75 mil exemplares<br />
de publicações orientadoras, inclusive sôbre a colheita,<br />
secagem e expedição de plantas medicinais, ativi<strong>da</strong>de a que se<br />
entregam muitas cooperativas do interior. Todo êste material<br />
foi encaminhado às secções departamentais, que o<br />
distribuíram aos cursos complementares, aos centros de<br />
formação profissional e aos liceus.
216 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
“Outra ativi<strong>da</strong>de a que se tem entregue, é a realização de<br />
conferências nas assembléias gerais dos departamentos e<br />
secções e nas escolas normais (especialmente para profes-<br />
soran<strong>da</strong>s) quase sempre complementa<strong>da</strong>s com visitas a coope-<br />
rativas de consumo.<br />
“Uma ativi<strong>da</strong>de recentemente estimula<strong>da</strong> é aquela do<br />
Serviço Filatélico do OCCE, tendo sobretudo em vista o seu<br />
caráter pe<strong>da</strong>gógico, como veículo de conhecimentos de história<br />
e geografia. O Serviço se encarrega <strong>da</strong> compra, ven<strong>da</strong> e per-<br />
muta de timbres postais, com a bonificação oficial de 50%,<br />
publicando ain<strong>da</strong>, na revista do Office, artigos especializados<br />
de orientação filatélica.<br />
“Realizou um concurso nacional de pintura, com distri-<br />
buição de prêmios do valor total de cem mil francos, visando<br />
estimular a aptidão artística dos alunos. Dessa montra, fo-<br />
ram retirados alguns quadros mais interessantes, que consti-<br />
tuem uma exposição ambulante posta à disposição <strong>da</strong>s secções<br />
departamentais, sem qualquer ônus. Visando, por outro lado, a<br />
estimular os animadores do Movimento, o OCCE instituiu<br />
os diplomas de honra <strong>da</strong> Cooperação Escolar, distribuídos até<br />
o máximo de oito por Secção Departamental, segundo a im-<br />
portância dos seus quadros. O julgamento é processado por<br />
uma comissão de que fazem parte os inspetores de liceus e os<br />
conselhos de administração <strong>da</strong>s secções departamentais.<br />
“Estava cogitando o Office do estabelecimento de um<br />
grande depósito para suprimento às cooperativas escolares,<br />
conforme constantes recomen<strong>da</strong>ções feitas pelos órgãos de-<br />
partamentais, embora uma corrente achasse que as possibili-<br />
<strong>da</strong>des atuais do mercado, quanto ao suprimento de mate-<br />
rias-primas e artigos escolares, eram de tal maneira favorá-<br />
veis, que as cooperativas poderiam abastecer-se diretamente,<br />
sem necessi<strong>da</strong>de de tal organismo central. Mas é possível que a<br />
idéia vá se desenvolvendo de futuro, não sòmente para criar,<br />
em beneficio <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de escolar, condições ain<strong>da</strong> mais<br />
favoráveis de compra, como também para prevenir abusos<br />
eventuais, conseqüentes <strong>da</strong> escassez de mercadorias ou de<br />
situações econômicas anormais.<br />
“Para ir suprindo a lacuna, as secções departamentais<br />
costumam combinar os pedidos <strong>da</strong>s cooperativas locais, com o<br />
fim de obterem condições mais satisfatórias dos fornecedo-<br />
res. Mas, no íntimo, o Office receia a denúncia do comércio<br />
privado, sob a alegação de concorrência desleal, o que poderia<br />
redun<strong>da</strong>r em complicações para o movimento.
FÁBIO LUZ FILHO 217<br />
“Pela mesma razão, recusou-se a organizar o mercado<br />
nacional distribuidor de plantas medicinais, produzi<strong>da</strong>s e<br />
acondiciona<strong>da</strong>s pelas Cooperativas escolares. Quer ser, apenas,<br />
um órgão de estímulo moral e cultural, fugindo a qualquer<br />
cará- ter mercantil, que a lei de 1.º de julho de 1901 ve<strong>da</strong> em<br />
parte. “Na época, o Office contava com 84 secções departamen-<br />
tais, tendo sob o seu contrôle 12.808 cooperativas, <strong>da</strong>s quais<br />
12. 564 do ensino de primeiro grau, com 383.509 associados,<br />
123 do segundo grau (escolas secundárias) com 12.621, en-<br />
quanto 121 eram constituí<strong>da</strong>s de alunos do ensino técnico,<br />
com 20.170 filiados, agrupando o total de 416.300.<br />
“Sendo inteiramente lastreado na livre adesão, o recru-<br />
tamento a todo preço jamais tem estado em suas cogitações<br />
E afirma, ain<strong>da</strong>, o relatório do Office: “Nós preferimos muitas<br />
cooperativas escolares ver<strong>da</strong>deiramente dignas dêste nome,<br />
a admitir classes aderentes que acreditem que tudo que te-<br />
nham a fazer, seja, sòmente, pagar as cotizações.<br />
“As Secções Departamentais tomaram a si a publicação<br />
de boletins informativos; a organização de conferências, ex-<br />
posições, concursos, viagens instrutivas, visitas às instalações<br />
de cooperativas e fichários de viagens; a estocagem e ven<strong>da</strong> de<br />
plantas medicinais; levaram a têrmo a organização dos cha-<br />
mados centros de acolhimento e recepção aos cooperadores, os<br />
serviços de compra e empréstimos e também a edição de<br />
alguns livretos didáticos, especialmente de cunho histórico.<br />
“Tem-se feito a observação de que as cotizações e as sub-<br />
venções concedi<strong>da</strong>s às cooperativas, estão diminuindo na mes-<br />
ma proporção em que a sua receita é dinamiza<strong>da</strong> pela orga-<br />
nização de festivais; manutenção de jornais periódicos; fa-<br />
brico manual e ven<strong>da</strong> de tecidos, jogos e artigos de madeira,<br />
couro e papelão; encadernações artísticas e distribuição de<br />
produtos hortícolas e de criação — tudo confeccionado ou<br />
produzido pelos próprios alunos, em áreas anexas às escolas.<br />
“No ano de 1950, sòmente 63 Secções Departamentais<br />
realizaram, por esta via, uma receita superior a 120 milhões de<br />
francos, que deixou o saldo líquido de 20 milhões.<br />
“Outra fonte de suprimento de capital é a contribuição<br />
anual per-capita, geralmente fixa<strong>da</strong> em cinco francos, dos quais<br />
2 frs. são reservados à Secção Departamental, destinando-se o<br />
restante ao Office Central. Há também a ren<strong>da</strong> subsidiária <strong>da</strong>s<br />
subvenções concedi<strong>da</strong>s pelos organismos oficiais de ensino,<br />
cooperativas de consumo e de produção agrícola e industrial, e<br />
também pelos sindicatos.
218 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
No exercido, a receita atingiu a 2.333.833 francos de co-<br />
tizações pagas por cêrca de 300 mil cooperadores escolares,<br />
enquanto todos os esforços estavam sendo feitos para que o<br />
número de contribuintes se elevasse, imediatamente, ao mí-<br />
nimo de 500 mil.<br />
“Outros objetivos imediatos que o OCCE está<br />
perseguindo podem ser resumidos nos seguintes pontos: 1)<br />
intensificar um intercâmbio permanente com as Secções<br />
Departamentais, através de conferências, exposições<br />
ambulantes e preparo de tô<strong>da</strong> documentação necessária à<br />
propagan<strong>da</strong>; 2) fazer com que tô<strong>da</strong>s as Escolas Normais<br />
recebam por ano, ao menos, uma visita de um dos<br />
conferencistas do OCCE, contato que será extensivo aos<br />
inspetores do ensino primário; 3) com o concurso <strong>da</strong>s<br />
organizações cooperativas de adultos, promover uma<br />
distribuição, em maior escala, de bôlsas de viagem e concursos<br />
entre os alunos dos liceus, escolas normais e estabelecimentos<br />
técnicos; 4) desenvolver maiores esforços junto às autori<strong>da</strong>des<br />
do ensino secundário, para que haja maior penetração <strong>da</strong><br />
doutrina cooperativa nos estabelecimentos técnicos; 4)<br />
desenvolver maiores esforços junto às autori<strong>da</strong>des do ensino<br />
secundário, para que haja maior penetração <strong>da</strong> doutrina<br />
cooperativa nos estabelecimentos desta categoria, e,<br />
conseqüentemente, o aumento <strong>da</strong> rêde de cooperativas; 5) rea-<br />
lização de novo Concurso Nacional, com o fim de ilustrar, de<br />
maneira precisa, a identi<strong>da</strong>de e intimi<strong>da</strong>de dos métodos coope-<br />
rativos com as ativi<strong>da</strong>des pròpriamentes escolares; 8) <strong>da</strong>r seu<br />
apoio a tô<strong>da</strong>s as manifestações organiza<strong>da</strong>s pelas grandes<br />
associações, em defesa dos interêsses <strong>da</strong> Escola Laica, visando<br />
à formação do senso social e cívico <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des intelectuais e<br />
manuais”.<br />
O COOPERATIVISMO ESCOLAR NA AMERICA<br />
DO NORTE<br />
o cooperativismo escolar, iniciado entre os estu<strong>da</strong>ntes dos<br />
Estados Unidos durante a crise de 1932 e 1933, permitiu a mi-<br />
lhares de jovens receberem uma instrução superior. Foram os<br />
estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> “Texas <strong>Agricultura</strong> Mechanical College” os<br />
primeiros a recorrer ao cooperativismo. Já se assinalou que,<br />
forçados pela crise a deixar o colégio, doze dentre êles resolve-<br />
ram criar um grupo cooperativo. Alugaram uma velha casa,<br />
cujo proprietário lhe forneceu o material necessário para os<br />
reparos. Mobiliaram a nova residência, arranjando móveis<br />
aqui
FÁBIO LUZ FILHO 219<br />
e ali. Tomaram uma emprega<strong>da</strong> para cozinhar e dirigir a casa,<br />
aceitando esta como remuneração a quantia de um dólar men-<br />
sal, por estu<strong>da</strong>nte, além de casa e comi<strong>da</strong>. Os estu<strong>da</strong>ntes en-<br />
carregaram-se de fazer as camas, limpar a casa, lavar a louça<br />
e preparar os alimentos para cozinhar. Os gastos eram repar-<br />
tidos igualmente, sendo que alguns sal<strong>da</strong>vam sua parte com<br />
carnes e legumes recebidos <strong>da</strong>s fazen<strong>da</strong>s de seus pais. Desde o<br />
início, êsse sistema trouxe completo sucesso, e, em 1934, perto<br />
de 250 estu<strong>da</strong>ntes viviam em 20 casas organiza<strong>da</strong>s dessa<br />
forma.<br />
Em 1936, contavam-se 700 estu<strong>da</strong>ntes organizados coope-<br />
rativamente. O colégio reuniu então uma soma de 100.000<br />
dólares para construir 14 casas modernas, ca<strong>da</strong> uma podendo<br />
agasalhar 32 estu<strong>da</strong>ntes e sendo dirigi<strong>da</strong> por um dêsses.<br />
Do Texas <strong>Agricultura</strong>l and Mechanical College o sistema<br />
passou à Universi<strong>da</strong>de do Texas, onde 300 jovens, dos dois<br />
sexos, chegaram a possuir 15 casas cooperativas, o que lhes<br />
permitiu economizar 25.000 dólares entre os gastos de mora-<br />
dia e de alimentação.<br />
“Na Universi<strong>da</strong>de de Washington, há seis anos, inúme-<br />
ros estu<strong>da</strong>ntes viviam em quartos paupérrimos e comiam nos<br />
restaurantes mais miseráveis. Na primavera de 1937, 37 Jo-<br />
vens que haviam ouvido falar <strong>da</strong>s casas cooperativas, incumbi-<br />
ram-se de reunir, ca<strong>da</strong> um, a soma de 10 dólares, e, no comêço<br />
do novo ano escolar, alugaram uma casa por módico preço.<br />
Com o capital de 370 dólares, compraram tintas, material de<br />
limpeza, cadeiras e mesas. Quando seus colegas verificaram<br />
que êsse grupo podia assegurar residência e alimentação con-<br />
fortável e ca<strong>da</strong> um de seus membros por, apenas, 16 dólares<br />
por mês, resolveram seguir o exemplo.<br />
“Em 1939, as cooperativas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Washing-<br />
ton possuíam 20.000 dólares em instalação e um número de<br />
negócios de mais de 100.000 dólares.<br />
“Uma organização Central foi cria<strong>da</strong>, confia<strong>da</strong> à gestão<br />
de diretores eleitos pelas diversas cooperativas. As cozinhas<br />
individuais foram substituí<strong>da</strong>s por uma cozinha central mo-<br />
derna, possuindo uma carreta para a distribuição dos alimen-<br />
tos quentes em diversos refeitórios. A instalação de uma co-<br />
zinha central permitiu a preparação de refeições melhores por<br />
menor preço, tomar um cozinheiro e fazer as compras o mais<br />
econômicamente possível. Em 1938, a Central foi dota<strong>da</strong> de<br />
uma instalação frigorífica, a qual permitia a compra de<br />
legumes, em grande proporção, diretamente dos produtores.<br />
“O rápido êxito dessas cooperativas criou naturalmente<br />
alguns problemas. Urgia, nota<strong>da</strong>mente, saber como ocupar o
220 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
descanso dos estu<strong>da</strong>ntes. Resolveram êsse problema como<br />
haviam resolvido as questões econômicas, sôbre bases coope-<br />
rativas.<br />
“Asseguraram os serviços de alguns professôres de <strong>da</strong>n-<br />
ça, de música, etc.<br />
“Os esportes em pleno ar foram organizados cooperativa-<br />
mente. Os estu<strong>da</strong>ntes alugaram cortes de tênis, o que permi-<br />
tiu reduzir ao mínimo o preço a pagar.<br />
“Na Universi<strong>da</strong>de de Oregon, alguns jovens que viviam<br />
em miseráveis quartos e se alimentavam de arroz cozido e de<br />
leite, criaram uma organização, a qual dirige, atualmente, 4<br />
casas.<br />
“Na Universi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Califórnia, existem 4 construções<br />
modernas e bem instala<strong>da</strong>s, que fornecem agasalho e alimen-<br />
tação a 510 estu<strong>da</strong>ntes, pelo preço médio de 18 dólares por<br />
mês. Essa organização é devi<strong>da</strong> à iniciativa de 14 estu<strong>da</strong>ntes<br />
reduzidos à miséria que, na primavera de 1933, puderam reu-<br />
nir, ca<strong>da</strong> um, 10 dólares e se dispuseram a trabalhar.<br />
“Encontra-se, agora, um grupo de pioneiros em quase to-<br />
dos os Estados <strong>da</strong> Califórnia ao Massachussets, onde a Uni-<br />
versi<strong>da</strong>de de Harvard organizou êste ano uma cozinha coope-<br />
rativa.<br />
“Aos alojamentos e cozinhas cooperativas, os estu<strong>da</strong>ntes<br />
juntam agora cooperativas de limpeza e lavan<strong>da</strong>rias. Tô<strong>da</strong>s<br />
aplicam uma taxa, devendo assegurar as despesas, e os even-<br />
tuais excedentes voltam aos cooperadores. Uma cooperativa do<br />
Minesota abriu um restaurante onde os próprios fregueses se<br />
servem.<br />
“As cooperativas dos estu<strong>da</strong>ntes grupam desde agora<br />
mais de 100.000 membros. O número de negócios anual se<br />
eleva a milhões de dólares, e o que importa particularmente<br />
revelar é o ensinamento, novo e vivo, que elas trazem a seus<br />
membros sôbre os problemas econômicos.<br />
“Pode-se dizer que, na hora atual, milhões de estu<strong>da</strong>ntes<br />
puderam abandonar os miseráveis quartos que eram forçados<br />
a alugar nos quarteirões mais pobres <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, onde se en-<br />
contravam seus colégios, e instalados em casas modernas,<br />
construí<strong>da</strong>s nos parques <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des, êles se beneficiam<br />
de uma alimentação sã, organizam suas horas de descanso, e<br />
fazem aproveitáveis experiências nos domínios intelectual,<br />
social e econômico”.<br />
Fazendo o registro dêsses <strong>da</strong>dos pretendo apresentar um<br />
exemplo digno de ser seguido pelos estu<strong>da</strong>ntes brasileiros.
FÁBIO LUZ FILHO 221<br />
PANORAMA DO COOPERATIVISMO NA NOVA<br />
ESCOLA DE EDUCAÇÃO COOPERATIVA<br />
“Informations Coopératives” há tempos assinalaram que<br />
parece que uma ver<strong>da</strong>deira revolução social se operou nas pro-<br />
víncias marítimas do Canadá, onde vilas de pescadores e de<br />
mineiros, que se achavam num estado desesperador de mi-<br />
séria, foram, ràpi<strong>da</strong>mente, transforma<strong>da</strong>s em comuni<strong>da</strong>des<br />
florescentes logo em segui<strong>da</strong> ao estabelecimento de coopera-<br />
tivas de crédito e do desenvolvimento gradual <strong>da</strong>s cooperati-<br />
vas de ven<strong>da</strong>, cooperativas de pescadores, fábricas cooperati-<br />
vas de conservas de lagostas e socie<strong>da</strong>des cooperativas de<br />
habitação.<br />
“O êxito do movimento nas províncias marítimas, que<br />
congrega, agora, 40.000 homens e mulheres de diversas raças<br />
e profissões, começou há uns 7 anos, sob o impulso do Serviço<br />
<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Francisco Xavier, encarregado <strong>da</strong> ati-<br />
vi<strong>da</strong>de exterior desse estabelecimento, esse êxito apresenta um<br />
interêsse particular. Com efeito, não se trata simplesmente do<br />
desenvolvimento de uma emprêsa cooperativa, embora notável<br />
seja a rapidez atual dêsse desenvolvimento. O que chama a<br />
atenção, sobretudo, é que as instituições cooperativas acharam<br />
base sóli<strong>da</strong> no fato de ter a população visão clara dos<br />
problemas econômicos e sociais que devem resolver a boa<br />
compreensão dos métodos aos quais é preciso recorrer.<br />
“Antes de empreenderem uma ação, quiseram educar a<br />
população, e nisso reside todo o segrêdo do sucesso dêsse mo-<br />
vimento, sucesso, aliás, tão marcante, que chamou a atenção<br />
de muitos países. Muitos especialistas, especialmente de di-<br />
versas regiões dos Estados Unidos, do Canadá e do Alaska, têm<br />
ido até àquela região para verificarem e estu<strong>da</strong>rem, in-loco, os<br />
resultados práticos do sistema, sem falar em milhares de turis-<br />
tas de tô<strong>da</strong>s as regiões do mundo.<br />
“A educação dos adultos, cumpre ressaltar, é que pro-<br />
duziu o êxito <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de cooperativa de Nova Escócia.<br />
“O serviço especial <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Francisco Xa-<br />
vier, em sua ação metódica de educação, fêz grande uso <strong>da</strong>s<br />
brochuras e dos livros e particularmente do sistema de peque-<br />
nos grupos de estudos <strong>da</strong>s “Universi<strong>da</strong>des dos Pobres”, como<br />
lhes chamavam muitas vêzes, onde ca<strong>da</strong> qual se pode apresen-<br />
tar uma vez por semana, discutir problemas de interêsse co-<br />
mum e procurar sua solução. Todos os meses, os<br />
representantes dos diversos grupos <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des se<br />
reunem em assembléia
222 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
a fim de examinar os problemas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. Ca<strong>da</strong> 3<br />
meses, delegados são enviados a uma reunião distrital, e, uma<br />
vez por ano, examinam-se os problemas que se impõem à<br />
provín-cia inteira, durante uma “conferência industrial e<br />
rural”. Os professôres <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de se limitam a orientar<br />
os interessados, os quais se encarregam de tô<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong>de<br />
prática.<br />
“Contam-se atualmente, sòmente na província de Nova<br />
Escócia, uns 3.300 círculos de estudos e êsse sistema se espalha,<br />
rapi<strong>da</strong>mente, nas regiões vizinhas. Esses grupos se apro-<br />
fun<strong>da</strong>m em questões econômicas, de câmbio e moe<strong>da</strong>, estu<strong>da</strong>m<br />
os sistemas cooperativos de compra e ven<strong>da</strong>, examinam os<br />
métodos cooperativos de produção e distribuição.<br />
“São êles assistidos em suas averiguações pelo eclesiástico<br />
do distrito ou por outra pessoa que tenha algum conhecimento<br />
<strong>da</strong> causa a tratar. Os estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de participam<br />
desta obra de educação percorrendo os distritos durante os<br />
meses de verão”.<br />
A FILOSOFIA DO MOVIMENTO DE ANTIGONISH,<br />
A EDUCAÇÃO DE ADULTOS E OS CÍRCULOS<br />
DE ESTUDOS<br />
O padre Humberto Muñoz caracterizou, recentemente,<br />
essa filosofia. (Ver “Instruções para organização de socie<strong>da</strong>des<br />
cooperativas”, do Serviço de Economia Rural, do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Agricultura</strong> do Brasil, no qual há longo capítulo sôbre círculos<br />
de estudos)<br />
Diz êle que a filosofia do Movimento de Antigonish está<br />
conti<strong>da</strong> em duas obras do Pe. Coady: “Senhores de seu pró-<br />
prio destino” e “O significado social do movimento de coope-<br />
rativas”. E resume, de sua êxedra:<br />
1) “Princípios básicos — 1) PrimazIa <strong>da</strong> pessoa. Nem<br />
subordinação ao Estado, como o totalitarismo de qualquer<br />
espécie, nem subordinação ao dinheiro, como no capitalismo. A<br />
pessoa humana, cria<strong>da</strong> à imagem de Deus, emerge por cima de<br />
ambos. Esta primazia <strong>da</strong> pessoa humana é também a base <strong>da</strong><br />
democracia.<br />
2) A educação deve começar com a economia — Na<br />
educação deve-se levar mais em conta aquele que aprende do<br />
que o que o professor dá, e a diferença entre o que o aluno<br />
recebe e um saldo perdido. A aprendizagem tem uma relação<br />
direta com o interêsse do aluno, especialmente do adulto.<br />
Nestes tempos de agu<strong>da</strong> crise econômica não há nenhum outro<br />
tema
FÁBIO LUZ FILHO 223<br />
tão urgente como a solução do problema econômico. Numa<br />
escala absoluta de valores, pode ser que êste seja o menos im-<br />
portante; porém é o primeiro degrau por onde se há de co-<br />
meçar.<br />
3) Reforma social à base <strong>da</strong> educação — Em uma<br />
democracia, o progresso social deve proceder <strong>da</strong> ação livre dos<br />
ci<strong>da</strong>dãos. Todo o progresso supõe uma melhora na natureza<br />
dos indivíduos. Essa melhora só alcançamos pela educação.<br />
4) Educação de base de ação coletiva — A ação coletiva<br />
é algo natural, porque o homem é um ser social. Não só o<br />
homem se organiza comumente em grupos, como também seus<br />
problemas coincidem com os do grupo. E no mundo moderno<br />
não se pode ter êxito senão atuando através dos organizadores.<br />
Uma educação de adultos, que não prepara para esta ação<br />
coletiva, é absolutamente inadequa<strong>da</strong>.<br />
5) Uma efetiva reforma social inclui mu<strong>da</strong>nças fundo-<br />
mentais nas instituições sociais e econômicas. Não se trata<br />
apenas de aplicar paliativos, mas, sim, de mu<strong>da</strong>r a estrutura<br />
social.<br />
6) 0 último objetivo do movimento é uma vi<strong>da</strong> plena e<br />
abun<strong>da</strong>nte para todos. A cooperação econômica é o primeiro<br />
passo; mas, só o primeiro para a socie<strong>da</strong>de que permita a ca-<br />
<strong>da</strong> indivíduo desenvolver o máximo de sua capaci<strong>da</strong>de.<br />
Filosofia <strong>da</strong> educação de adultos — É um complemento<br />
dos princípios básicos e a preparação próxima para a ação.<br />
Começa por uma crítica <strong>da</strong> educação atual.<br />
E o padre Muñoz frisa mais que Coady não aceita que as<br />
escolas primárias e secundárias se orientem sòmente para a<br />
Universi<strong>da</strong>de, para as carreiras liberais. Querem que os títu-<br />
los universitários dêem acesso aos primeiros postos na sacie-<br />
<strong>da</strong>de, e a educação obrigue a escalar os postos privilegiados.<br />
A educação tem seu êxito mais completo quando consegue que<br />
o filho de um homem obscuro e analfabeto chegue a ser Chefe<br />
de Estado, “Não só os educadores como também os pais de fa-<br />
mília se regem por esta concepção e fazem esforços para edu-<br />
car seus filhos a fim de que êste cheguem mais alto que seus<br />
pais. Esta filosofia <strong>da</strong> educação tem vários inconvenientes. Os<br />
postos privilegiados são limitados, o que causa uma luta, nem<br />
sempre limpa, para alcançá-los. Muitos devem ficar abaixo e<br />
amargurados. Quantos profissionais ganham às vêzes menos<br />
que um operário! Mas, talvez, a pior conseqüência do sistema é<br />
privar as classes trabalhadoras e campesinas de seus melhores<br />
elementos man<strong>da</strong>ndo-os ocupar um pôsto em outra
224 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
classe mais alta, pondo muitas vêzes o seu trabalho profissional<br />
ao serviço <strong>da</strong>queles que exploram seus pais”,<br />
E, para Antigonish, uma nova filosofia <strong>da</strong> educação não<br />
deve tender à elevação de uns poucos enquanto os outros des-<br />
cem, mas, sim, deve olhar o melhoramento de todos. Ain<strong>da</strong> que<br />
do ponto-de-vista mais materialista, tem que aceitar esta nova<br />
orientação. É a era <strong>da</strong> educação em massa. E o correlativo<br />
desta, é o poder de consumo <strong>da</strong>s massas. O povo deve ter um<br />
alto stan<strong>da</strong>rd de vi<strong>da</strong> para que o industrialismo funcione com<br />
êxito. “As cooperativas são essa técnica, que permitirá ao adulto<br />
mu<strong>da</strong>r e melhorar a socie<strong>da</strong>de atual”.<br />
Prática do educação de adultos — Acentua o padre Muñoz<br />
que, quando os homens de Antigonish decidem levar seu<br />
programa a uma comuni<strong>da</strong>de, buscam nela os líderes naturais<br />
mais destacados e procuram conquistá-los para sua causa.<br />
Valendo-se dêles, reunem o povo numa grande assembléia<br />
(mass meeting.) Os oradores destas assembléias são sempre de<br />
primeira classe e se propõem um duplo objetivo: destruir os<br />
preconceitos do auditório e mostrar-lhe a ilusão de algumas<br />
possibili<strong>da</strong>des. Teremos que lhes despertar a inquetação e a<br />
ambição de fazer as coisas por si sós.<br />
“Segundo o Pe. Coady, essas reuniões devem ser como<br />
bombas de estalido intelectual. Quando o visitante pergunta<br />
em qualquer lugar como começaram as cooperativas, evoca<br />
imediatamente em seus ouvintes aqueles grandes dias em que o<br />
Pe. Coady percorria tô<strong>da</strong> a Nova Escócia, emocionando-a com<br />
o calor e o vigor de sua palavra. Com lógica inigualável<br />
criticava desde os abusos do capitalismo até os próprios cató-<br />
licos que orientavam o ensino para os ricos. Era impossível não<br />
acreditar na sinceri<strong>da</strong>de de sua palavra. Falou-lhes de suas<br />
faltas e de suas possibili<strong>da</strong>des, mostrou-lhes como o mundo<br />
poderia ser se êles quisessem fazê-lo assim. O Pe. Coady não<br />
era de maneira alguma um demagogo, e depois de ter do-<br />
minado o auditório dizia-lhe a ver<strong>da</strong>de. Para chegar a êsse<br />
mundo novo só havia um caminho: a educação. Deviam orga-<br />
nizar-se círculos de estudos e estu<strong>da</strong>r. Não era fácil conseguir<br />
isso de rudes camponeses e pescadores; mas o resultado<br />
prático de ca<strong>da</strong> uma dessas grandes assembléias, era organizar<br />
círculos de estudos. Centenas e milhares germinaram em tô<strong>da</strong><br />
a Nova Escócia. Ca<strong>da</strong> grupo se compunha de seis a doze<br />
pessoas. Reuniam-se em casa de algum vizinho, geralmente na<br />
cozinha, que é o salão dos pobres. Por isso eram chama<strong>da</strong>s<br />
reuniões de cozinha. To<strong>da</strong>via, estão em ativi<strong>da</strong>de nas longas
FÁBIO LUZ FILHO 225<br />
noites de inverno; passam-se como um na<strong>da</strong> duas horas em<br />
amável discussão, não faltando uma xícara de café acompa-<br />
nha<strong>da</strong> de música ou pastéis. E o que é que estu<strong>da</strong>m ali? —<br />
Que lhes interessa mais? Os homens de Antigonish não im-<br />
põem um programa rígido, mas sim em ca<strong>da</strong> lugar pergun-<br />
tam: “Que é que faz mais falta agora? No que é que podemos<br />
ajudá-los? Se não têm dinheiro, estudem então a organização<br />
de uma união de crédito. A vi<strong>da</strong> está mais cara? Estudem as<br />
cooperativas de consumo. As colheitas se vendem demasiado<br />
baratas? Estudem as cooperattivas de ven<strong>da</strong>s. Se o peixe se<br />
estraga muito depresa, devem pensar nos frigoríficos ou, me-<br />
lhor ain<strong>da</strong>, numa fábrica de conservas. Nossas casas são muito<br />
ruins? Pensem nas cooperativas para fazer outras novas.<br />
Qualquer um compreende que com êstes temas o interêsse se<br />
mantenha vivo.<br />
Entre êles elegem um que seja o cabeça e o estudo se faz<br />
de uma forma muito simples e familiar. O Departamento de<br />
Extensão distribui folhetos para ca<strong>da</strong> estudo em particular.<br />
Lê-se um parágrafo, que é comentado. Trata-se de discutir as<br />
perguntas que aparecem sempre no fim de ca<strong>da</strong> capítulo.<br />
Ninguém se se sente tolhido. Se ninguém acerta algum pro-<br />
blema, anota-se e deixa-se o mesmo para consulta. Outras<br />
vêzes ouvem as transmissões especiais do rádio e em segui<strong>da</strong><br />
fazem comentários na forma costuma<strong>da</strong>. Uma vez por mês<br />
reunem-se todos em grupos geralmente em casa paroquial.<br />
Consulta-se tudo o que antes não ficou entendido e procura-se<br />
unificar as opiniões. No fim de cinco ou seis meses de estudo, é<br />
chegado normalmente o momento de passar do estudo à prá..<br />
tica. Elege-se uma diretoria, nomeia-se um gerente e a coope-<br />
rativa começa a funcionar. Porém de maneira nenhuma sus-<br />
pendem-se os círculos de estudo. Sempre há novos proble- mas<br />
para resolver, novas necessidodes que atender. Assim se<br />
entende a educação de adultos no movimento de Antigonish”.<br />
O Prof. Lourenço Filho teve a moção seguinte afirma<strong>da</strong><br />
no 2.º Congresso NacionaJ de Educação de Adultos (1958):<br />
1. “A educação de adultos surge como um imperativo <strong>da</strong><br />
mu<strong>da</strong>nça social.<br />
2. A mu<strong>da</strong>nça se caracteriza por uma ruptura dos qua-<br />
dros tradicionais, políticos, religiosos, estéticos,<br />
econômicos e jurídicos, decorrente <strong>da</strong> aceleração do<br />
processo de mobili<strong>da</strong>de social, com crescente<br />
participacão de maiores grupos de pessoas e nas<br />
decisões <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> coletiva.
228 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
3. No caso particular do Brasil, há a considerar, no mo-<br />
mento, dois grandes e graves aspectos: a) o do des-<br />
preparo de pràticamente metade dos grupos <strong>da</strong> po-<br />
pulação adulta, os quais, nas i<strong>da</strong>des devi<strong>da</strong>s, não re-<br />
cebem a educação elementar, ou “educação de base”,<br />
no sentido que a esta expressão dá a UNESCO, isto é,<br />
a aquisição <strong>da</strong>queles elementos mínimos <strong>da</strong> cultura, de<br />
conhecimentos e de hábitos b) o de maior ou menor<br />
deficiência.<br />
4. Quanto ao primeiro aspecto, é principalmente ao Es-<br />
tado e a instituições priva<strong>da</strong>s de regime de colabora-<br />
ção com o Estado que deve caber mais intenso e ex-<br />
tenso trabalho para recuperação de grupos “margi-<br />
nais” no sentido <strong>da</strong> evolução econômica, política e<br />
cultural do País.<br />
5. A questão do educação de base deverá ser reexami-<br />
na<strong>da</strong>.<br />
6. Instituição de uma associação de caráter nacional,<br />
que, de modo permanente, vele pelo problema, difun-<br />
<strong>da</strong>s idéias, e procure congregar esforços.<br />
7. Já Rui Barbosa escrevia, há oitenta anos, que a mi-<br />
séria cria a ignorância, e que a Ignorância eterniza a<br />
miséria.<br />
8. Assim considerando os princípios gerais, no atual<br />
momento, o II Congresso reafirma os seus ideais ba-<br />
seados na educação extensa do povo para a produti-<br />
vi<strong>da</strong>de, sem, no entanto, o esquecimento dos valores<br />
morais e espirituais que a devem sempre inspirar.<br />
9. Os educadores que firmam êste documento têm a<br />
certeza de que a Nação brasileira saberá escolher”.
CAPITULO X<br />
AINDA AS COOPERATIVAS ESCOLARES, SUA ÁREA<br />
DE AÇÃO, SUA FORÇA EDUCATIVA. O ENSINO<br />
COOPERATIVO<br />
Sendo vasto o tema, na<strong>da</strong> se perde com as reiterações, as<br />
adunações, e as recapitulações.<br />
A lei atual é clara, acentuando que nos estabelecimentos de<br />
ensino é que poderão fun<strong>da</strong>r-se as cooperativas escolares, e<br />
refere-se ao “diretor do instituto de ensino”. Não há, pois,<br />
dúvi<strong>da</strong> quanto à área de ação <strong>da</strong>s cooperativas escolares,<br />
quando fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s nas escolas.<br />
Foram as cooperativas escolares introduzi<strong>da</strong>s na lei, que<br />
lhe dá um caráter econômico acessório, acentuando-lhe a face<br />
educativa, em conseqüência, digo-o sem falsa modéstia, e des-<br />
vanecimento, <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> que iniciei no Brasil com<br />
“Cooperativas escolares”, que foi o primeiro livro em língua<br />
portuguêsa sôbre o assunto, tendo merecido <strong>da</strong> imprensa es-<br />
pecializa<strong>da</strong> argentina, no Brasil, em Londres e Washington, os<br />
mais francos elogios.<br />
Os estatutos dêsse livro, o Dr. Fernando Azevedo, tm 1933,<br />
quando diretor do ensino em São Paulo, ia adotá-los nas<br />
escolas primárias paulistas, como já disse.<br />
Não há um só tratadista, como vimos, que não se refira a<br />
êsse cunho educativo, à cooperativa escolar como “centro-de-<br />
lnterêsse” dentro <strong>da</strong> escola, “a escola organiza<strong>da</strong> socialmente”,<br />
admirável instrumento <strong>da</strong> escola ativa.<br />
Já citei aos maiores tratadistas e pe<strong>da</strong>gogos do estrangei-<br />
ro e do Brasil sôbre o assunto: Profit, o criador do coopera-<br />
tivismo escolar; Cattier, Jouenne, Ballesteros, Cesar Marote,<br />
Nicolas Repetto, Fernando Azevedo, Fábio Luz, Lourenço Filho,<br />
etc., todos unânimes em lhes acentuar o caráter educa- tivo e<br />
em considerá-las como organizações integra<strong>da</strong>s na escola,<br />
formas sociais complementares <strong>da</strong> escola.<br />
M. Papie diz que o fim <strong>da</strong>s cooperativas escolares é, prè-<br />
cipuamente, o de “developper la pratique de l’association, c’est<br />
de grouper les individus et de coordener leurs efforts”. Cattier
228 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
refere-se freqüentemente às cooperativas escolares nas esco-<br />
las francesas.<br />
Profit dá como primeiro man<strong>da</strong>mento do cooperador es-<br />
colar: “Le coopérateur aime son Ecole qui est sa maison, la<br />
Maison des enfants: il la veut toujours mieux outillée, toujours<br />
plus propre, toujours plus belle”.<br />
Não deixando de ser o cooperativismo escolar uma mani-<br />
festação do pensamento pestalozziano e dos ensinamentos de<br />
Montessori, não pode deixar de ter essa significação.<br />
A lei geral mexicana sôbre cooperativas <strong>da</strong>ta de 11 de ja-<br />
neiro de 1938 (modificadora <strong>da</strong> de 1933) e assim dispunha<br />
sôbre as cooperativas escolares:<br />
“Las cooperativas escolares integra<strong>da</strong>s por maestros y<br />
alumnos, con fines exclusivamente docentes, se sujetarán al<br />
Reglamento que expi<strong>da</strong> la Secretaria de Educación Pública, asi<br />
como a la autorización y vigilancia de la misma, observando,<br />
en todo caso, los principios generales de la presente Ley”.<br />
O regulamento foi baixado a 2 de agôsto de 1938, pos-<br />
suindo 84 longos artigos. Seu artigo 1.° diz: “En to<strong>da</strong>s las<br />
escuelas que dependen de la Secretaria de Educación Pública y<br />
en las particulares incorpora<strong>da</strong>s, deberán establecerse coope-<br />
rativas escolares que compreenderán to<strong>da</strong>s las mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des<br />
necesarias dentro, del medio en que tengan que atuar”.<br />
Tirado Benedi disse, brilhantemente:<br />
“En el campo educativo, la cooperación aparece bajo los<br />
seguientes aspectos que vamos a definir y estudiar:<br />
a) — Como principio de escolanomia o de organización<br />
interna de la escuela. En este sentido se habla de la comuni<strong>da</strong>d<br />
de la clase escolar (Schulgemeinde), de la cooperativa escolar,<br />
como institución auxiliar de la activi<strong>da</strong>d y docente, de la<br />
escuela cooperativa, como mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>d del sistema escolar<br />
concebido como sínteisis de la aplicación de los principios de<br />
trabajo y de soli<strong>da</strong>ri<strong>da</strong>d: aspecto agonómico o de organización<br />
interna del processo educativo”. A êste se pode juntar o prin-<br />
cípio ergagógico ou de educação por e para o trabalho social,<br />
que é o princípio <strong>da</strong> escola ativa (Tatschule), <strong>da</strong> escola vital,<br />
etc. Os estatutos dêste meu livro forom adotados pelo S. E. R.,<br />
como modelos oficiais, e incorporados às quatro edições ante-<br />
riores, lança<strong>da</strong>s por emprêsas editôras do Rio de Janeiro, e<br />
logo esgota<strong>da</strong>s.
FÁBIO LUZ FILHO 229<br />
Totomianz diz que “as socie<strong>da</strong>des cooperativas escolares<br />
são associações integra<strong>da</strong>s nas escolas; assim, as próprias es-<br />
colas se convertem em cooperativas.<br />
“Sua existência se justifica nas escolas modernas”.<br />
Se uma área de ação vasta já é condenável em determi-<br />
na<strong>da</strong>s cooperativas de adultos, imagine-se o absurdo de uma<br />
cooperativa escolar com área de ação tentacular. Será com-<br />
pleto dervirtuamento e contrassenso pe<strong>da</strong>gógico!<br />
O próprio Hernandez Ruiz, com seu espírito crítico, que<br />
chega a condenar as federações de cooperativas escolares, diz:<br />
“Lo que interessa es ca<strong>da</strong> cooperativa en ca<strong>da</strong> escuela”.<br />
“Federa<strong>da</strong>s o no, las cooperativas escolares deban orga-<br />
nizarse conforme aconseje el médio, y el ámbito de la ación de<br />
ca<strong>da</strong> una será siempre la propria escuela”.<br />
Segue, desta sorte, o sensato e autorizado critério de<br />
Profit.<br />
No México e na Colômbia, visam a “fines docentes”, como<br />
vimos.<br />
Conseqüentemente, em face <strong>da</strong> doutrina dos maiores mes-<br />
tres universais e do que dispõem os decretos 22.239 e 581, a<br />
área de ação é a escola, o “instituto de ensino”, na expressão do<br />
decreto-lei 581, de cuja elaboração participei, procurando<br />
amparar as cooperativas escolares.<br />
A jurisprudência oficial admite, como máximo de tole-<br />
rância, que escolas do mesmo grau do lugar possam formar<br />
uma cooperativa escolar.<br />
M. Profit diz que a cooperativa escolar é uma obra de<br />
educação, é a escola socialmente organiza<strong>da</strong>. A cooperativa é a<br />
escola; não acarreta ao professor mais responsabili<strong>da</strong>des do<br />
que as que emanam do exercício de suas funções.<br />
O professor representa, de fato, e de direito, a cooperati-<br />
va, porquanto esta não é mais do que sua escola, na qual é êle,<br />
a um tempo, delegado do Estado e man<strong>da</strong>tário dos pais. Eis a<br />
grande responsabili<strong>da</strong>de do mestre.<br />
Como instrumento de educação, a cooperativa escolar<br />
serve, assim, aos altos desígnios <strong>da</strong> escola objetiva, <strong>da</strong> escola<br />
renova<strong>da</strong>, <strong>da</strong> própria instrução cívica, perfeitamente ajusta-<br />
<strong>da</strong> aos modernos conceitos educativos, que pregam a livre ati-<br />
vi<strong>da</strong>de criadora <strong>da</strong> criança.<br />
Em face dos imperativos econômicos do mundo atual, não<br />
há como desatender aos ditames de uma educação nova, que<br />
encaminhe a moci<strong>da</strong>de para a formação de uma têmpera e<br />
uma mentali<strong>da</strong>de compatíveis com as prementes contingên-
230 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
cias de um mundo que pisa o limiar de uma outra era, de for-<br />
mação de valores novos e afirmação e maior consoli<strong>da</strong>ção dos<br />
valores fun<strong>da</strong>mentais que nos legaram as gerações anteriores<br />
na fôrça de seu idealismo construtivo, vinculando-nos àquele<br />
passado esplendor a que se refere Bourgeois e de que vivere-<br />
mos durante séculos.<br />
Eduquemos, pois, as crianças na soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de desde os<br />
verdes anos; forjemos os fun<strong>da</strong>mentos de uma sóli<strong>da</strong> educa-<br />
ção moral, social e econômica dirigi<strong>da</strong> no sentido de formar<br />
homens sadios e de realístico espírito de emprêsa, valor su-<br />
premo, espirituali<strong>da</strong>des abertas aos esplendores e às virtudes<br />
morais de uma educação integral, plasmadora de indivíduos<br />
equilibrados, empreendedores, úteis e au<strong>da</strong>zes, capazes de con-<br />
duzir o Brasil, sem atitudes de contemplação, aos seus gran-<br />
des e luminosos destinos, mobilizando suas grandes rique-<br />
zas potenciais.<br />
Preparemos homens fortemente instruídos, ativos e enér-<br />
gicos, de educação humanística, aptos para buscar na terra e<br />
nas profissões práticas o caminho <strong>da</strong> prosperi<strong>da</strong>de individual e<br />
coletiva, a valorização econômica do homem brasileiro.<br />
COOPERATIVAS PÓS-ESCOLARES E COOPERATIVAS<br />
JUVENIS<br />
A lei brasileira, no entanto, não proíbe um tipo, que cha-<br />
marei de cooperativas juvenis, como, aliás, já o fazem os por-<br />
torriquenhos, e que poderiam funcionar fora <strong>da</strong> escola, a meu<br />
ver, como exceção.<br />
Profit assim definiu a cooperativa escolar:<br />
“Elle es.. donc une association d’enfants, qui sous l’égide<br />
de personnes amies travaillent eux-mêmes à ameliorer le milieu<br />
materiel et le milieu moral que conditionnent leur éducation”.<br />
E, assim, por diante, como vimos.<br />
Como veremos adiante, é também sabido que Profit pre-<br />
conizou, e elas existem na Europa, as cooperativas pós-escolares<br />
ou extra-escolares (a outra será intra-escolar), de vez que são<br />
as que permitem “aux élèves sortis de l’école de continuer à<br />
s’intéresser à l’oeuvre et même beneficier de qualques-uns de<br />
ses exercices, travaux manuels, excursions, etc”. Podem ser de<br />
artesanato rural ou de aprendizagem técnica, etc., visando à<br />
educação geral e prática dos seus associados, não lhes sendo<br />
indiferentes o trabalho agrícola e as ativi<strong>da</strong>des pastoris, ou<br />
trabalho de orientação profissional, Podem as-
FÁBIO LUZ FILHO 231<br />
sociar todos os jovens que terminaram o curso, assim como<br />
os operários que queiram completar seus conhecimentos. E<br />
os franceses admitem que possam dela participar adultos,<br />
como associados honorários, o que a nossa lei (no que fez bem)<br />
não permite, permitindo, entanto, o assessoramento dos pais e<br />
professôres.<br />
Será que poderá êsse tipo de cooperativa, por uma inter-<br />
pretação rígi<strong>da</strong>, ser proibido, tipo de tão elevado alcance eco-<br />
nômico-social, como o é a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de que surgiu e existe em<br />
outros países? Se não fôr rigorosamente escolar, poderá ser<br />
de escolares, se o quiserem, mas de finali<strong>da</strong>de igualmente edu-<br />
cativa e com enquadramento nas assemelha<strong>da</strong>s.<br />
Cesar Marote, ilustre educador uruguaio, um dos primei-<br />
ros na América do Sul a aventar o tema pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong>s insti-<br />
tuições circum-escolares, já em 1927 preconizou cooperativas<br />
escolares por zona, bairro ou locali<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> qual poderiam ser<br />
associados “los alumnos de las escuelas primarias y de adul-<br />
tos pertenecientes a la zona, los padres, tutores o encargados,<br />
y el personal docente y administrativo de las escuelas de la<br />
zona”.<br />
Na<strong>da</strong> vejo na lei brasileira, repito, face ao seu artigo 21<br />
(decreto 22.239), e ao que vimos nos capítulos anteriores, que<br />
impeça existam essas cooperativas fora <strong>da</strong> escola, desde que<br />
resolvi<strong>da</strong>, como assinalei, a questão <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de civil:<br />
um pai de aluno ou responsável, uma assistente social, um ex-<br />
aluno que tenha atingido a maiori<strong>da</strong>de, etc., finalmente, quem,<br />
em face <strong>da</strong> lei civil, tenha capaci<strong>da</strong>de para contratar, quando<br />
isto fôr preciso. Esta, outra fórmula, de vez que se trata de<br />
cooperativa que denominarei extra-escolar. As de dentro <strong>da</strong><br />
escola serão uma transição entre a macro-sociologia, vamos<br />
dizer, que representam as cooperativas de adultos, e a micro-<br />
sociologia, que são as escolares. Uma espécie de processo de<br />
integração intracooperativa.<br />
O ilustre consultor jurídico do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>,<br />
Dr. Tertuliano de Menezes Mitchell, foi contrário a essa minha<br />
tese, achando que atual legislação cooperativa é taxativa<br />
quanto às cooperativas escolares dentro <strong>da</strong> escola, embora re-<br />
conhecendo que a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de possa existir com outra lei.<br />
Uma cooperativa de fato, dêsse gênero, já existiu em Cas-<br />
catinha, município de Petrópolis, no Estado do Rio, assisti<strong>da</strong><br />
pela dedicação e inteligência <strong>da</strong> assistente social Maria Te-<br />
reza Teixeira Mendes, que já havia fun<strong>da</strong>do aí uma de costu-<br />
reiras e outra de crédito
232 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
O COOPERATIVISMO — A DEMOCRACIA E AS<br />
ESCOLAS DO POVO NA DINAMARCA — O ENSINO<br />
COOPERATIVO<br />
EM OUTROS PAÍSES<br />
Em substancioso trabalho intitulado “The Future of Edu-<br />
cation” (Cambridge University Press) Richard Livingstone<br />
traça o mecanismo <strong>da</strong>s Escolas do Povo dinamarquesas.<br />
Constituíram elas admiráveis instrumentos que transforma-<br />
ram a Dinamarca, de um país aniquilado pela miséria e amo-<br />
dernado na inércia (primeira metade do século XIX), em uma<br />
nação de economia organiza<strong>da</strong>, de uni<strong>da</strong>de espiritual, “talvez a<br />
única democracia educa<strong>da</strong> de todo o mundo”.<br />
Foram os criadores <strong>da</strong>s Escolas do Povo o clérigo<br />
Grundtvig, culto professor de literatura, e o sapateiro Kold,<br />
filho de sapateiro. Duas curiosas aproximações...<br />
A primeira Escola foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> para combater a propa-<br />
gan<strong>da</strong> alemã em Schleswig-Hosltein, em 1844.<br />
A derrota que sofreu a Dinamarca em 1864, na guerra<br />
com a Alemanha, os dinamarqueses responderam com a fun-<br />
<strong>da</strong>ção de mais escolas, transformando-se na “democracia mais<br />
próspera e progressista <strong>da</strong> Europa”, modêlo dos métodos agrí-<br />
colas.<br />
De acôrdo com o ponto-de-vista de Gundtvig, essas escolas<br />
populares, constituí<strong>da</strong>s por particulares, só aceitavam e<br />
aceitam alunos de mais de 18 anos. A vi<strong>da</strong> nelas é em comum,<br />
durante três ou quatro meses: uma espécie de escola de verão<br />
com maior período letivo. É uma escola residencial coloca<strong>da</strong><br />
fora <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, com a vantagem <strong>da</strong> sugestão do ambiente.<br />
Possui belos jardins, edifícios agradáveis, quadros murais,<br />
música, a vi<strong>da</strong> em comum; uma família, naquela acepção em<br />
que a emprega Munding: uma pequena célula social, a famí-<br />
lia, como fator educativo, a ver<strong>da</strong>deira e ideal cooperação de-<br />
vendo ser limita<strong>da</strong> nas dimensões; as organizações pouco<br />
extensas como os melhores climas para a união. A coesão e a<br />
ver<strong>da</strong>deira democracia dos pequenos grupos.<br />
A educação considera<strong>da</strong> “uma fôrça moral e espiritual<br />
que, mediante a visão de grandes ideais, eleva a mente e refor-<br />
ça a vontade”. Nasci<strong>da</strong> do desejo de fortificar o país, afir-<br />
ma-o Livingstone, contra a opressão alemã, através <strong>da</strong> insis-<br />
tência na cultura, história e ideais dinamarqueses, tornou-se o<br />
fator fecundo <strong>da</strong> transformação <strong>da</strong> Dinamarca, formando,<br />
através de um ideal, a visão e a personali<strong>da</strong>de do estu<strong>da</strong>nte.
FÁBIO LUZ FILHO 233<br />
A insistência numa filosofia espiritual a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> às ne-<br />
cessi<strong>da</strong>des e à capaci<strong>da</strong>de do homem comum, fêz o milagre que<br />
todos conhecem, estabelecendo o “reino <strong>da</strong> razão”, que é a<br />
Dinamarca.<br />
Têm os alunos nas Escolas do Povo urna outra visão <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong>, através <strong>da</strong> história, literatura, biologia e matemática.<br />
Kold teve essa intuição genial: provar que “o homem pode<br />
abrigar nobres sentimentos mesmo que ordenhe vacas e amontoe<br />
estrume”.<br />
Acha êle que existe uma diferença substancial entre a de-<br />
mocracia corrente, que busca a conquista <strong>da</strong> cultura em meras<br />
coisas materiais, e a democracia <strong>da</strong>s Escolas do Povo, que pro-<br />
curam criar costumes simples, a vi<strong>da</strong> frugal e uma genuína<br />
cultura do espírito e do coração.<br />
Homens e mulheres saem dessas Escolas com o desejo de<br />
aprender e de trabalhar: “Saem como homens novos, excita-<br />
dos mental e emocionalmente, práticos na arte de ouvir, ver,<br />
pensar e empregar suas aptidões. Saem como o caráter re-<br />
forçado e uma visão mais ampla <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>”. É comum passarem<br />
<strong>da</strong>s Escolas do Povo para as agrícolas, como já acentuei, vol-<br />
vendo à vi<strong>da</strong> com um forte sentimento de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, e o<br />
acrisolado desejo de cooperar para o bem <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de.<br />
“A moci<strong>da</strong>de aquire, assim, alguns dos requisitos neces-<br />
sários ao êxito do movimento cooperativo”.<br />
“A revolução individual, econômica e política foi, com<br />
isso, incomensurável. De um país pobre, a Dinamarca con-<br />
verteu-se no melhor pais agrícola <strong>da</strong> Europa. O campônio di-<br />
namarquês, em princípios do século XIX, era uma classe es-<br />
crava. Dependente de senhores de terra e de burocratas, pas-<br />
sava a vi<strong>da</strong> em mórbi<strong>da</strong> resignação. Em menos de um século<br />
converteu-se em uma classe média que, política e socialmente,<br />
é a que dirige hoje a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> nação. Em fins do século passado,<br />
esta classe já constituía o partido progressista <strong>da</strong> Dinamarca.<br />
“As Escolas do Povo Dinamarquesas, unindo o povo<br />
através de uma vi<strong>da</strong> cooperativa desenvolvi<strong>da</strong> no sentido <strong>da</strong><br />
igual<strong>da</strong>de social, administrando-lhe a inspiração e o sentimento<br />
de um alto ideal humano, tornaram possível que as<br />
transformações sociais se produzissem não como uma luta de<br />
classes econômicas do tipo materialista, mas como um<br />
movimento deliberação para uma vi<strong>da</strong> melhor para o homem”.<br />
Já acentuei que Hertel, o historiador do cooperativismo<br />
dinamarquês, já assinalava que essas Escolas do Povo desper-<br />
tam nos jovens de ambos os sexos ver<strong>da</strong>deiro anelo de saber e
234 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
desejos de trabalhar, fortalecem o caráter dos alunos e am-<br />
pliam as perspectivas de vi<strong>da</strong> sã e útil.<br />
Para satisfazer êsse desejo de saber, estabeleceu-se, como<br />
já ficou evidenciado, elos entre as Escolas do Povo e as<br />
escolas de agricultura. Hertel acentua que, quando <strong>da</strong>s<br />
Folkenhöjskolem os alunos passam diretamente à vi<strong>da</strong>, já<br />
levam formado um forte sentimento de fraterni<strong>da</strong>de e um<br />
fervente desejo de trabalhar pelo progresso comum. "A<br />
socie<strong>da</strong>de nelas adquire algumas <strong>da</strong>s quali<strong>da</strong>des necessárias<br />
ao desenvolvimento cooperativo".<br />
Em "Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas", friso<br />
as razões por que a Dinamarca se intitula, a justo título, o<br />
"reino <strong>da</strong> razão", na admirável lucidez de uma mentali<strong>da</strong>de<br />
vibrante e areja<strong>da</strong>, e numa alta, sincera e fecun<strong>da</strong> percepção<br />
democrática, milagre esplendoroso do sentimento pátrio e <strong>da</strong><br />
soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana.<br />
Em recente trabalho, Fabra Ribas, frisou a relevância do<br />
setor educativo. Demorou-se êle na caracterização, sob êsse<br />
ângulo, do movimento sueco, confirmando o que já disse.<br />
Dão tanta importância, os suecos, a êsse setor, que assim<br />
o estruturaram:<br />
1.º - Escolas por correspondência (Brevskolan), fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
em 1919, as quais em 1946 tiveram uma freqüência de 66.918<br />
alunos em seus grupos ou círculos de estudos, de repercussão<br />
mundial e copiados pelo Canadá e pela América do Norte<br />
com os mesmos resultados educativos, como já foi acentuado.<br />
Além dêsses alunos, 24.158 estu<strong>da</strong>ntes fizeram cursos<br />
especiais.<br />
2.º - Grupos ou círculos de estudos - Têm por objetivo o<br />
conhecimento <strong>da</strong> doutrina e <strong>da</strong> prática cooperativas, a<br />
organização <strong>da</strong> família (célula econômico-social básica na<br />
teoria cooperativa), os problemas relativos à moci<strong>da</strong>de, etc.<br />
Em 1946 funcionaram 3.390 círculos com uma freqüência de<br />
54.997 alunos.<br />
3.° - A Escola de Cooperação - denomina<strong>da</strong> "Var Gard"<br />
(Nosso Lar). Fica ela na península de Seltsjobaten, perto de<br />
Estocolmo. Seus cursos visam ao preparo de empregados e à<br />
educação cooperativa dos associados. São cursos intensivos<br />
de quatro a cinco semanas. Há também cursos de dois anos<br />
para alunos de maior nível de aproveitamento e de cultura<br />
geral.<br />
Teve essa Escola em 1946 para mais de 1.200 alunos, dos<br />
quais mais de 900 eram empregados de cooperativas.
FÁBIO LUZ FILHO 235<br />
Há, ain<strong>da</strong>, o “Var Tidning” (“Nosso periódico”), publi-<br />
cação mensal.<br />
4.º — Publici<strong>da</strong>de — É do domínio do órgão federativo<br />
supremo do movimento sueco, fun<strong>da</strong>do em 1889 — a<br />
Kooperativa Förbundet. Constitui o setor de publici<strong>da</strong>de<br />
mais importante <strong>da</strong> Suécia em assuntos econômicos. Possui<br />
também edições especiais de livros para crianças.<br />
Mantém uma grande revista denomina<strong>da</strong> “Vi" (que<br />
quer dizer “Nós outros”). É uma revista de assuntos<br />
familiares com uma tiragem de 600 .000 exemplares,<br />
superando todos os demais órgãos publicitários <strong>da</strong> Suécia.<br />
Há, ain<strong>da</strong>, o Kooperatoren, jornal oficial <strong>da</strong> cita<strong>da</strong><br />
federação, de saí<strong>da</strong> mensal.<br />
O ensino nas Escolas<br />
Baseia-se o ensino nas supracita<strong>da</strong>s Escolas em uma<br />
preparação técnica elementar ministra<strong>da</strong> através <strong>da</strong> escola<br />
por correspondência e dos famosos círculos ou clubes de<br />
estudos, tão bem descritos por Richardson e Warbasse. A<br />
experiência prática adquiri<strong>da</strong> pelos alunos é outro elemento<br />
de que lançam mão essas Escolas.<br />
Em 1938 os cursos por correspondência foram<br />
destacados e constituíram setor autônomo.<br />
Os cursos<br />
Os principais cursos são três:<br />
a) — Curso para empregados jovens de 25 anos, curso<br />
êste de uma semana;<br />
b) — Curso destinado a empregados de 25 a 27 anos,<br />
para certos gerentes, com duração de um mês;<br />
a) — Curso para empregados de 27 a 30 anos,<br />
destinados a cargos de gerentes e outros que impliquem<br />
maior responsabili<strong>da</strong>de.<br />
Condições exigi<strong>da</strong>s para os cursos<br />
Para admissão no primeiro curso é necessário ter<br />
freqüentado um curso por correspondência sôbre estatutos-<br />
modelos e sôbre trabalhos de armazém em cooperação.
236 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
A admissão ao Segundo curso está subordina<strong>da</strong> ao<br />
estudo por correspondência de contabili<strong>da</strong>de, cálculo,<br />
caligrafia, economia política e cooperativismo.<br />
O terceiro curso exige que o aluno tenha estu<strong>da</strong>do por<br />
correspondência direito comercial e tenha estudos mais<br />
complexos sôbre economia política, contabili<strong>da</strong>de, etc., além<br />
de ter seguido o segundo curso e possuir quali<strong>da</strong>des do<br />
chefia.<br />
Há, ain<strong>da</strong>, outros cursos especializados, tais como:<br />
1.º — Cursos especializados de uma semana, para os<br />
empregados de ca<strong>da</strong> um dos diferentes ramos: comestíveis,<br />
fiambres, calçados, etc;<br />
2.° — Cursos de quatro a cinco semanas, cursos<br />
complementares de igual duração, e cursos de revisão de<br />
duas semanas para gerentes;<br />
3.º — Cursos para empregados de oficina, de uma<br />
semana, para operários, e de uma semana para contratados;<br />
4.° — Uma semana de conferências com os verificadores<br />
do distrito <strong>da</strong> União Cooperativa Sueca;<br />
5.º — Cursos de uma semana para os comités de direção,<br />
para os comités de distrito, para os diretores de círculos de<br />
estudos cooperativos, para os círculos femininos, etc.;<br />
6.° — Permanência durante dois anos na Escola para um<br />
número limitado de estu<strong>da</strong>ntes, através de rigorosa seleção,<br />
estu<strong>da</strong>ntes que se destinam a cargos de importâncias, tais<br />
como: diretores de grandes socie<strong>da</strong>des, diretores de<br />
propagan<strong>da</strong>, etc. São êsses estu<strong>da</strong>ntes também preparados<br />
aos poucos para professôres adjuntos, visitam cooperativas<br />
de consumo, celebram reuniões com o pessoal, fazem<br />
palestras e conferências, etc.<br />
Geralmente êsses estu<strong>da</strong>ntes são gerentes de armazéns e<br />
precisam ter freqüentado os três cursos básicos já referidos<br />
acima, e devem provar que possuem quali<strong>da</strong>des práticas e de<br />
direção, com o respectivo senso de responsabili<strong>da</strong>de.<br />
Durante a permanência na Escola recebem, os alunos, os<br />
mesmo salários que recebiam anteriormente.<br />
Tô<strong>da</strong>s as despesas são pagas pela União Cooperativa<br />
Sueca, ou pela cooperativa de que seja empregado o<br />
estu<strong>da</strong>nte.<br />
AINDA A EDUCAÇÃO EM OUTROS PAÍSES<br />
O Departamento de Educação <strong>da</strong> “Socie<strong>da</strong>de<br />
Cooperativa de Londres”, que, com mais de 792.000<br />
associados, realiza cursos, conferências e exerce outras<br />
ativi<strong>da</strong>des culturais, defi-
FÁBIO LUZ FILHO 237<br />
niu o que se deve entender por educação cooperativa, frisando<br />
que o objetivo <strong>da</strong> educação cooperativa é, primeiramente, a<br />
formação de um caráter e uma opinião cooperativa por meio<br />
do ensino <strong>da</strong> história, teoria e pródromos do movimento, com<br />
a história econômica, industrial e constitucional no que se<br />
refere ao cooperativismo; em Segundo lugar, ain<strong>da</strong> que nem<br />
sempre de menor importância, o treinamento de homens e<br />
mulheres para tomarem parte nas reformas industriais e so-<br />
ciais e na vi<strong>da</strong> cívica em geral.<br />
Deve-se também observar que as ativi<strong>da</strong>des educativas<br />
do movimento cooperativo freqüentemente se encontram<br />
associa- <strong>da</strong>s ou suplementa<strong>da</strong>s com planos recreativos de<br />
diversas clãs-ses, projetados para promoverem relações de<br />
amizade e mútuo conhecimento.<br />
“A educação cooperativa de concebe, pois, num sentido<br />
amplo e profundo, isto é, além de sua função dentro ou além<br />
dos limites do terreno estritamente cooperativo, é uma educa-<br />
ção no sentido <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s relações humanas”.<br />
“Não podem existir socie<strong>da</strong>des ver<strong>da</strong>deiramente<br />
coopera-tivas enquanto os indivíduos que as compõem não só<br />
se te- nham educado nos princípios e métodos cooperativos,<br />
senão que tenham convertido o cooperativismo não só num<br />
meio, não ùnicamente de aju<strong>da</strong> para o associado<br />
indivìdualmente, mas também de aju<strong>da</strong> para a comuni<strong>da</strong>de".<br />
O mais importante não é a êxito cooperativo no campo<br />
econômico, mas a filosofia e a ética cooperativas, que encer-<br />
ram uma fé na perfectibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> conduta humana e uma<br />
nova concepção <strong>da</strong>s relações humanas.<br />
“Nenhuma emprêsa humana será merecedora de nosso<br />
esfôrço a não ser que o seu processo contribua de alguma for-<br />
ma para a contínua evolução do homem... Em nossa prática<br />
cooperativista a humani<strong>da</strong>de nos apresenta um processo de<br />
civilizar-se a si mesma”.<br />
E Maurice Colombain acentua, com muita justeza, que<br />
a primeira tarefa <strong>da</strong> educação cooperativa é <strong>da</strong>r aos homens<br />
livres fé e consciência, criar e fortalecer-lhes o sentimento <strong>da</strong><br />
liber<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de por meio do conhecimento viril de<br />
suas responsabili<strong>da</strong>des. Obra necessária, mas ain<strong>da</strong> insufi-<br />
ciente.<br />
Walter Scott conta que, um dia, utilizando-se êle dos ser-<br />
viços de um barqueiro, percebeu que num dos remos do barco<br />
estava inscrita a palavra “Fé” e, no outro, a palavra Traba-<br />
lho". Perguntando ao barqueiro o motivo <strong>da</strong>quilo, êste, em<br />
resposta, manobrou com vigor o remo a que chamava “Fé”,
238 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
e o barco começou a ro<strong>da</strong>r sôbre si mesmo, sem rumo. Mano-<br />
brando o remo “Trabalho”, disse a Walter Scott o barqueiro<br />
que o bote então caminhava direito porque empregava “Tra-<br />
balho" juntamente com “Fé”. Assim sucede com o barco<br />
cooperativo. Não há possibili<strong>da</strong>de de navegar se não for im-<br />
pulsionado pela fé e, tampouco, poderá navegar com seguran-<br />
ça e bem orientado se não fôr movido, também, e ao mesmo<br />
tempo, pelo trabalho, isto é, pela colaboração de todos os que<br />
lhe confiaram seus interêsses e suas esperanças. Necessita-<br />
mos, pois, de aprender a trabalhar juntos, a pensar e sentir<br />
juntos. Temos que aprender a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de. Devemos edu-<br />
car-nos.<br />
Já houve quem dissesse que o cooperativismo é um<br />
movimento de natureza econômica que se vale, com<br />
inteligência e proprie<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> educação ou um processo<br />
educativo que tem por instrumento a ação econômica, como já<br />
vimos.<br />
Tão necessária é essa educação que, na Suécia, Índia,<br />
Inglaterra, Canadá, Estados Unidos, etc., existem cátedras<br />
nas escolas superiores, inclusive de agricultura, para o ensino e<br />
a prática do sistema cooperativo, que em muitas constitui<br />
uma disciplina autônoma.<br />
Na Inglaterra, por exemplo, o “Cooperative College”,<br />
em Manchester, teve a seguinte freqüência em seus cursos em<br />
ple-na guerra: jovens, 1.200 cursos com 35.000 alunos; adultos:<br />
335 cursos, com 7.000 alunos; cursos pora dependentes e em-<br />
pregados de cooperativas: 1.338 com 23.871 alunos. Êsse<br />
estabelecimento de ensino terá brevemente a sua alta escola de<br />
cooperativismo, com trabalhos de laboratório e investigação.<br />
Os “comitês” de educação cooperativa são reconhecidos<br />
pelo govêrno inglês e têm representação no “National Educa-<br />
tion Council”.<br />
O govêrno provisório austríaco foi presidido pelo Dr.<br />
Kart Renner, o qual dirigia, ao mesmo tempo, a pasta <strong>da</strong>s<br />
Relações Exteriores. Conhecido nos meios cooperativistas<br />
mundiais, pertencia êle ao Comité Central <strong>da</strong> Aliança<br />
Cooperativa Internacional, órgão centralizador e coordenador<br />
do movimento cooperativo internacional com sede em Londres.<br />
Era ain<strong>da</strong> presidente <strong>da</strong> Uniào Central de Consumo <strong>da</strong>s<br />
Cooperativas de Consumo <strong>da</strong> Áustria.<br />
O Sr. Andreas Korp foi um dos diretores gerais <strong>da</strong><br />
Cooperativa Central de <strong>Abastecimento</strong>. O Sr. Duchinger, que<br />
foi ministro <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, era lider de destaque <strong>da</strong> União <strong>da</strong>s<br />
Cooperativas Agrícolas <strong>da</strong> Áustria.
FÁBIO LUZ FILHO 239<br />
Vários países <strong>da</strong> América do Sul (Argentina,<br />
Colômbia, Venezuela, Peru, etc.) possuem Centros e Institutos<br />
de Estu- dos Cooperativos. No Peru a “Escola de<br />
Cooperativismo” ti- nha pessoal idôneo e especializado, e o<br />
Congresso de Estu<strong>da</strong>n-tes aprovou uma moção sugerindo a<br />
criação de uma cátedra de cooperativismo na Facul<strong>da</strong>de de<br />
Direito e Ciências Políti- cas e Sociais. O Brasil fundou em<br />
1949 o “Centro Nacional de Estudos Cooperativos”, de que sou<br />
presidente, e Valdiki Moura, secretário-geral.<br />
A Universi<strong>da</strong>de Operária <strong>da</strong> Colômbia em Bogotá,<br />
incluiu em seu currículo um curso de cooperativismo. Acabo de<br />
acentuar em meu último livro — “Teoria e prática <strong>da</strong>s<br />
socie<strong>da</strong>des cooperativas” — como o Bureau International du<br />
Travail traçou o quadro do ensino cooperativo em vários<br />
países, entre êles a Índia, país agrícola e subdesenvolvido, onde<br />
pelo menos dez universi<strong>da</strong>des dão cursos de extensão sôbre a<br />
história e a teoria cooperativas. E já o mundo conhece os<br />
efeitos de seu plano qüinqüenal, e o lugar do relêvo que tem o<br />
cooperativis- mo agrícola na reforma agrária dêsse grande<br />
país.<br />
NA ÁFRICA<br />
Como bem o assinalou “Informactions Coopératives",<br />
antes <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> guerra mundial, as cooperativas, tais quais<br />
são encara<strong>da</strong>s hoje, eram pouco conheci<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s populações <strong>da</strong><br />
África Oriental, com exceção de um ou dois exemplos, que não<br />
podem ser considerados, <strong>da</strong><strong>da</strong> a sua estrutura especial, como<br />
a União Cooperativa indígena de Quilimandjaro.<br />
Apesar <strong>da</strong> grande evolução do movimento depois de<br />
1946, muito especialmente o <strong>da</strong>s cooperativas de compra e<br />
ven<strong>da</strong> — apesar do desenvolvimento muito rápido e poderoso<br />
do movimento cooperativo africano em ca<strong>da</strong> um dos três<br />
territórios <strong>da</strong> África Oriental (Quênia, Tanganica e Ougardo),<br />
o analfa-betismo, a ignorância dos princípios e <strong>da</strong>s técnicas <strong>da</strong><br />
coope-rativa, a falta de conhecimentos elementares dos<br />
negócios <strong>da</strong> cooperativa, mesmo entre os próprios associados,<br />
retar<strong>da</strong>ram qualquer progresso real.<br />
Foi a urgente necessi<strong>da</strong>de de difundir a educação e a<br />
formação cooperativas que levaram os departamentos<br />
especiali-zados dos três governos a instituir a escola de<br />
cooperativismo <strong>da</strong> África Oriental com a finali<strong>da</strong>de de<br />
formar, antes de tudo, inspetores africanos dos departamentos.<br />
Trabalhando em con-junto estão encarregados não sòmente de<br />
encorajar a consti-
240 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
tuição dos cooperativas, mas, ain<strong>da</strong>, de <strong>da</strong>r orientação, ensinar<br />
contabili<strong>da</strong>de, Os princípios e métodos cooperativos assim co-<br />
mo verificar as contas, realizando trabalho de inspeção.<br />
Êsses inspetores visitam diàriamente as ci<strong>da</strong>des, e<br />
perma-necem em contacto direto com associados e dirigentes<br />
<strong>da</strong>s cooperativas. É sobre êles que se deve apoiar o<br />
Departamento de Cooperativas, para difundir os únicos<br />
conhecimentos em matéria cooperativa de que dispõem até<br />
hoje. É por esta razão que se considera sua formação como<br />
medi<strong>da</strong> inicial e final-mente à qual está condicionado o<br />
progresso do movimento, aindo tão novo.<br />
A Escola de Cooperativas <strong>da</strong> África Oriental constitui um<br />
estabelecimento especial dentro do vasto quadro de um orga-<br />
nismo situado a quinze quilômetros de Nairobi, a “Jeannes<br />
School”.<br />
Esta última é centro de desenvolvimento <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>-<br />
des cuja função é formar os dirigentes africanos. Os cursos<br />
realizados na escola constituem a base e o estímulo necessá-<br />
rios à Escola de Cooperativismo, porquento é indiscutível que<br />
a base do desenvolvimento de uma comuni<strong>da</strong>de reside no seu<br />
progresso econômico. O centro e os distritos organizam, jun-<br />
tos, programas que visam ao desenvolvimento <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>-<br />
des, cursos para professóres, inspetores do Serviço de Saúde,<br />
delegados de "liber<strong>da</strong>de controla<strong>da</strong>", mulheres, ou outras ca-<br />
tegorias de alunos e cursos mais rápidos para chefes, conse-<br />
lheiros, fazendeiros e monitores, etc.<br />
Os três Departamentos de cooperativismo interessados,<br />
dividem os gastos <strong>da</strong> remuneração de pessoal, papelaria, almô-<br />
ço de estu<strong>da</strong>ntes, conducão, etc.; não se pede aos estu<strong>da</strong>ntes<br />
na<strong>da</strong> mais que comprar seus manuais.<br />
Abaixo vêm descritos a categoria de estu<strong>da</strong>ntes escolhi-<br />
dos, programa dos cursos, métodos de ensino e formação pra-<br />
tica que oferecem, trabalho que trará contribuição de real va-<br />
lor ao progresso e ao desenvolvimento <strong>da</strong>s cooperativas na<br />
África Oriental.<br />
PROGRAMAS E MÉTODOS DE ENSINO<br />
O ensino do cooperativismo se estende por 2 períodos<br />
dos cursos <strong>da</strong> “Jeannes School”, 20 semanas<br />
aproxima<strong>da</strong>mente.<br />
Os cursos compreendem as matérias seguintes, classifica<strong>da</strong>s<br />
na ordem <strong>da</strong> priori<strong>da</strong>de:<br />
Prática do cooperativismo e funções de inspeção<br />
Contabili<strong>da</strong>de cooperativa
FÁBIO LUZ FILHO 241<br />
Legislação cooperativa<br />
Economia cooperativa<br />
Estudo de cooperativismo no estrangeiro<br />
Métodos comerciais.<br />
Êstes assuntos foram especialmente escolhidos para<br />
satisfazerem necessi<strong>da</strong>des educativas.<br />
Seria interessante mencionar ain<strong>da</strong> os meios que a<br />
“Jeannes School” oferece no domínio <strong>da</strong> "instrução cívica”,<br />
que constitui uma parte fun<strong>da</strong>mental do programa de<br />
formação traçado pela Escola; sua finali<strong>da</strong>de é encorajar o<br />
estudo, e compreende noções de geografia econômica e<br />
humana, história <strong>da</strong> África Oriental, assim como elementos<br />
de economia política ilustrados com exemplos referentes à<br />
situação do país. De outra parte, os estu<strong>da</strong>ntes têm à sua<br />
disposição uma biblioteca especializa<strong>da</strong> em questões<br />
cooperativas.<br />
Fora do programa normal de estudos, introduziram-se<br />
diversos projetos que visam a reforçar as ativi<strong>da</strong>des escolares<br />
cooperativas, dos estu<strong>da</strong>ntes. Algumas delas são assim resu-<br />
mi<strong>da</strong>s:<br />
Conferências — O método de base escolhido foi o do<br />
ensino individual para adultos, seguido de discussão. Graças à<br />
importância que tem para ca<strong>da</strong> estu<strong>da</strong>nte em particular e pa-<br />
ra suas necessi<strong>da</strong>des próprias, êste método demonstrou gran-<br />
de eficiência, particularmente em trabalhos escritos. Per-<br />
mitia-se ao estu<strong>da</strong>nte escolher o assunto que quisesse e for-<br />
mulam-se a todos questões abarcando três temas por semana<br />
sem contar importantes trabalhos práticos.<br />
Debates — Foram recebidos com grande entusiasmo. O<br />
ambiente de camara<strong>da</strong>gem do grupo <strong>da</strong>va experiência e se-<br />
gurança de se expressarem. A escolha do tema era <strong>da</strong>do aos<br />
alunos, mas sempre versou sôbre assuntos ligados ao coopera-<br />
tivismo.<br />
Grupos de estudo — O funcionamento dêstes grupos re-<br />
pousa sôbre uma “caixa pe<strong>da</strong>gógica” para o cooperativismo<br />
agrícola, forneci<strong>da</strong> pelo Conselho Britânico. A caixa contém<br />
um guia para o monitor, folhetos sôbre trabalho em grupo,<br />
escolha de livros e diversos elementos pe<strong>da</strong>gógicos como<br />
gráficos, filmes, e o registro <strong>da</strong>s questões feitas por um<br />
estu<strong>da</strong>nte sôbre o cooperativismo agrícola.<br />
Êste material demonstrou sua utili<strong>da</strong>de para o ensino<br />
<strong>da</strong>s técnicas <strong>da</strong> discussão em grupo.<br />
“Brains Trust” — Constituiu-se um Centro de<br />
estu<strong>da</strong>ntes, os mais brilhantes, que respondiam às questões<br />
feitas pelos es-tu<strong>da</strong>ntes que freqüentavam os cursos.<br />
16—27 454
242 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Educação visual — Desempenha um papel importante<br />
no ensino na África. A escola dispõe de uma sala de educação<br />
visual equipa<strong>da</strong> de projetores de 16 mm. Organizou-se, to<strong>da</strong>s<br />
as semanas, um programa sôbre cooperativas, O mais possível<br />
ligado aos assuntos <strong>da</strong> semana.<br />
Visita de estudos — Foram realiza<strong>da</strong>s visitas de ordem<br />
cooperativa, agrícola, comercial e cívica e a lugares de interês-<br />
se particular, como: Escola Técnica Profissional de Kebete,<br />
Conselho Legislativo Municipal de Quênia, fazen<strong>da</strong> <strong>da</strong> “Jean-<br />
nes School” e Departamento Feminino de Artes Domésticas,<br />
assim como a fazen<strong>da</strong>s africanas ou européias, etc.<br />
Exames — No final do curso foram realizados exames.<br />
As cópias dêstes exames foram envia<strong>da</strong>s ao Departamento de<br />
Cooperativas.<br />
Categoria de estu<strong>da</strong>ntes admitidos ao curso — O nível<br />
mínimo de admissão aos cursos foi de 10 anos de estudos.<br />
"O cooperativismo, segundo opinião de alguns, não pode<br />
desenvolver-se em populações primitivas e analfabetas; mas a<br />
tentativa realiza<strong>da</strong> na África Oriental confirma os ensinamen-<br />
tos <strong>da</strong> experiência dinamarquesa: a organização e o ensino<br />
cooperativos podem progredir em qualquer meio. A<br />
experiência e os conhecimentos adquiridos pela gente simples,<br />
através <strong>da</strong> criação e do funcionamento de suas próprias<br />
cooperativas, constituem um método pe<strong>da</strong>gógico de<br />
importância vital, precioso não sòmente para os interessados e<br />
a socie<strong>da</strong>de ela mesma, mas ain<strong>da</strong> para a comuni<strong>da</strong>de no seu<br />
conjunto; êste método deve ser, entretanto, utilizado<br />
conscienciosamente, e contribuir, assim, substancialmente,<br />
para implantação <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de econômica,<br />
“A Escola de Cooperativismo na África Oriental<br />
constitui, portanto, enorme progresso neste sentido, e a glória<br />
retornará àqueles que tiveram a lucidez e a energia necessárias<br />
á sua realização.<br />
“A escola crê firmemente que a formação profissional e<br />
a educação dos inspetores africanos farão sentir sua influência<br />
e contribuirão para encorajar e fortalecer o movimento coope-<br />
rativo na África, quando o centro tiver maiores desenvolvi-<br />
mentos, e houver, assim, pessoal técnico suficiente. Espera-se<br />
fazer obra útil, preparando cursos por correspondência em<br />
língua indígena para empregados de cooperativa.
CAPÍTULO XI<br />
AS COOPERATIVAS PÓS-ESCOLARES E OS GRUPOS<br />
SOCIAIS DE TRANSIÇÃO, A COMUNIDADE RURAL,<br />
A AÇÃO DO ESTADO, A EDUCAÇÃO<br />
As Cooperativas pós-escolares, como o nome a indica, são<br />
cooperativas que se poderão formar depois de terminar o alu-<br />
no o curso escolar, como já o frisei.<br />
Têm por finali<strong>da</strong>de, essas cooperativas, <strong>da</strong>r aos ex-alunos<br />
e também a filhos de operários pobres, meios de continuar sua<br />
educação geral e proporcionar-lhes meios de adquirir ensino<br />
técnico, preparando-os para os ofícios manuais, o artesanato<br />
rural, a agricultura e a criação, desenvolvendo-lhes aptidões<br />
úteis para os vários misteres, num sentido objetivo. A coope-<br />
rativa também poderá adquirir material didático e instru-<br />
mentos de trabalho, distribuindo socorros e adquirindo, para<br />
uso de seus associados, as ferramentas necessárias e até mes-<br />
mo instrumental agrícola. Dar-lhes-á orientação profissiona<br />
auxiliando-os na procura de emprêgo, principalmente aos<br />
órfãos de famílias numerosas.<br />
Profit, acompanhando a Munding, insiste em que se deve<br />
tomar o princípio <strong>da</strong> família para exemplo e para guia, e, pela<br />
prática, iniciar as crianças na concepção do Estado, procuran-<br />
do realizar na escola um grupo social de transição. No grupo<br />
assim constituído, as alunos devem encontrar uma imagem<br />
do Estado, todo um microcosmo, ao mesmo tempo que uma<br />
família mais ampla, família essa que ensina o amor desinte-<br />
ressado, a abnegação, o devotamento, tô<strong>da</strong>s as virtudes que<br />
cimentam a grande socie<strong>da</strong>de dos homens, a afeição, na fa-<br />
mília, apoiando-se na comuni<strong>da</strong>de de origem, do trabalho e de<br />
destino, constituindo o tipo mesmo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de cooperativa.<br />
Payot, em “A moral na escola”, frisando como o trabalho<br />
criou o pão, como o próprio egoísmo coopera e como o traba<br />
lhador cria a felici<strong>da</strong>de, acentua que só a família com as seus<br />
deveres nos põe em face <strong>da</strong>s reali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, desenvolvendo<br />
em nós todos as energias <strong>da</strong> inteligência, do coração e <strong>da</strong><br />
vontade.
244 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Como na família, acentua ain<strong>da</strong> Profit, há na coperativa<br />
escolar um capital comum, uma caixa alimentala e geri<strong>da</strong> pelo<br />
esfôrço comum, aparelhos e instalações que estão à disposição<br />
de todos e sob a guar<strong>da</strong> de todos É fortaleci<strong>da</strong> a afeição pelas<br />
relações mais estreitas e freqüentes que se estabelecem e que<br />
fazem nascer um desejo coletivo de melhoria e o sentimento<br />
de colaborar para o progresso comum.<br />
“Para evitar os afãs lucrativos, diz ain<strong>da</strong> Hernandez<br />
Ruiz, o melhor, nas cooperativas escolares, é a fixação<br />
regulamentar de um limite máximo de fundos a possuir em<br />
dinheiro e a subseqüente obrigação de inverter em obras<br />
escolares ou de assistência social interescolar todo o excedente<br />
que se obtenha. Êsse excedente pode ser, para a maioria <strong>da</strong>s<br />
cooperativas escolares, de 500 a 1000 pesetas, dentro,<br />
assim, dos limites <strong>da</strong> modéstia e simplici<strong>da</strong>de que<br />
recomen<strong>da</strong>mos.<br />
“Na cooperativa escolar não há distribuição de excesso<br />
de percepção". (Outros não pensam assim).<br />
“El aprovechamiento individual dependerá de las necesi-<br />
<strong>da</strong>des respectivas de los cooperadores, que la colectivi<strong>da</strong>de de-<br />
terminará y valorará”.<br />
Refere-se, também, apoiado freqüentemente em Profit e<br />
Cattier, às associações de antigos alunos e as cooperativas pós-<br />
escolares (nota<strong>da</strong>mente as de artesanato rural, como assinala<br />
Profit).<br />
O projeto de lei do Colômbia sôbre cooperativas<br />
escolares tem 81 (oitenta e um) longos artigos nos quais se<br />
acentua que as cooperativas escolares são organizações<br />
essencialmente Educativas. O mesmo ressaltam as realizações e a<br />
doutrinação do Office Central de la Coopération à l’École,<br />
fun<strong>da</strong>do em Paris por Fernando Buisson, o grande<br />
pe<strong>da</strong>gogo francês, Charles Gide, o grande economista, e Albert<br />
Thomas, o conhecido cooperativista, e de que foi presidente G.<br />
Prache, <strong>da</strong> Fédération Nationale des Coopératives de<br />
Consommation. Aquela organização está sob o patrocínio do<br />
Ministro <strong>da</strong> Educação Nacional <strong>da</strong> França. Acabo de receber<br />
The Year Book of <strong>Agricultura</strong>l Cooperation — 1940 — de<br />
Londres, com a co-laboração que lhe enviava anualmente. Nêle<br />
encontrei referéncia à República do Peru: “The Peruvian<br />
Governement has embraced these ideals and established rural<br />
schools as a first step toward the spreading of the principles of<br />
co-operation”.
FÁBIO LUZ FILHO 245<br />
Francisco Alvarino Herr acentua a influência, no Peru<br />
primitivo, do ayllus, forma interessante de mutuali<strong>da</strong>de seme-<br />
lhante ao clã, na população indígena dêsse país, como já<br />
vimos.<br />
OS MANDAMENTOS DO COOPERADOR ESCOLAR<br />
I— O cooperador ama a sua escola, que é a sua casa, a<br />
casa dos meninos: deseja-a sempre melhor instala<strong>da</strong>, mas<br />
limpa, mais bela.<br />
II— Para chegar a ser um bom cooperador é preciso pri-<br />
meiramente ser assíduo e pontual, limpo e ordenado, enérgico<br />
e disciplinado.<br />
III— É necessário, sobretudo, saber sacrificar, em caso<br />
de necessi<strong>da</strong>de, uma parte do próprio direito para o bem de<br />
todos ou mesmo de um só, e esforçar-se por tornar-se ca<strong>da</strong> vez<br />
mais apto para o sacrifício, flor suprema <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />
IV— O cooperador tem consciência de seus deveres em<br />
relação aos seus companheiros, mestres e pais.<br />
V— Olha os seus companheiros como irmãos. Só lhes<br />
<strong>da</strong>r bons exemplos é seu primeiro dever para com os mesmos.<br />
Ama, sobretudo, os infelizes, os fracos, os pequenos, os novos, e<br />
esforça-se por que a escola lhes seja agradável.<br />
VI— É sincero e leal, amável e cortês, complacente e<br />
serviçal. Não pensa que a camara<strong>da</strong>gem e a familiari<strong>da</strong>de pó-<br />
dem excluir a cortesia.<br />
VII— O cooperador compreende que a disciplina é uma<br />
necessi<strong>da</strong>de de interêsse geral. Sabe obedecer àqueles que seu<br />
grupo elegeu para dirigentes; se êle mesmo designado, não<br />
esquece que o melhor meio de ser obedecido é <strong>da</strong>r exemplo de<br />
fideli<strong>da</strong>de à lei comum. Saberá, mais tarde, traçar-se normas<br />
e seguí-las. Em tô<strong>da</strong>s as situações há a responsabili<strong>da</strong>de de<br />
seu atos.<br />
VIII— Antes de formar uma opinião e antes de decidir,<br />
o cooperador tratará de se informar o melhor possível. Esfor-<br />
çar-se-á por pensar honra<strong>da</strong>mente e falar corretamente, pois<br />
sua palavra é sagra<strong>da</strong>.<br />
IX— Depois de refletir e decidir, sabe atuar<br />
enèrgicamen-te, com coragem e bom humor.<br />
X— O cooperador será sempre um homem justo e bom,<br />
generoso e valente; um homem de iniciativa e progresso”. —<br />
Profit.
246 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
O COOPERATIVISMO, A COMUNIDADE RURAL,<br />
A EDUCAÇÃO E A AÇÃO DO ESTADO<br />
(Conferência realiza<strong>da</strong> por Fábio Luz Filho na II Reunião<br />
de Consulta as Cooperativas, realiza<strong>da</strong> em Recife em<br />
maio de 1954)<br />
Não há muito, ilustre técnico <strong>da</strong> ECAFE (Comissão Eco-<br />
nômica <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para a Ásia e o Extremo Oriente),<br />
Sunitro Djohadikusomo, comentou, com acui<strong>da</strong>de e justeza,<br />
a contribuição do economista para a política econômica ajus-<br />
tável às áreas econômicamente subdesenvolvi<strong>da</strong>s. Nas condi-<br />
ções sociais destas regiões, diz êle, merece tô<strong>da</strong> a atenção a<br />
falta de tecnologia e um espírito organizado e com capaci<strong>da</strong>de<br />
administrativa. Não obstante seja conseqüência <strong>da</strong> estrutura<br />
social, repercuti mal no setor econômico. O processo econô-<br />
mico, é ,atualmente, baseado no aproveitamento <strong>da</strong> inteli-<br />
gência em tô<strong>da</strong>s as suas formas, podendo mesmo a capaci<strong>da</strong>de<br />
de organização ou administrativa ser considera<strong>da</strong> como o<br />
quarto elemento <strong>da</strong> produção.<br />
Assim sendo, a conservação de instituições e de costumes<br />
obsoletos pode impedir a modernização, o desenvolvimento<br />
econômico e o progresso social. Os fatôres econômico-sociais<br />
são também as causas precípuas do estado de atraso em que se<br />
encontraram as populações rurais. Nas regiões em que há<br />
grande concentração <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de nas mãos de uma parte<br />
relativamente pequena <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, a insolvabili<strong>da</strong>de do ren-<br />
deiro em relação ao proprietário <strong>da</strong> terra tende a se perpetuar.<br />
Onde não há concentração <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de, a situaçäo <strong>da</strong><br />
população rural não é, na reali<strong>da</strong>de, mui diferente. Neste caso,<br />
os camponeses são pequenos proprietários e contraem dívi-<br />
<strong>da</strong>s com os comerciantes e os banqueiros que vivem nas ci<strong>da</strong>-<br />
des. A colheita ou a terra, e algumas vêzes ambas, são hipo-<br />
teca<strong>da</strong>s em garantia do pagamento de divi<strong>da</strong>s, pela ausência<br />
de organização econômica ao serviço dêles.<br />
“Como os credores controlam o preço <strong>da</strong> colheita, o<br />
deve-dor geralmente não pode resgatar a sua dívi<strong>da</strong>. A<br />
insolvabili<strong>da</strong>de prolonga<strong>da</strong> provoca a execução <strong>da</strong> hipoteca e<br />
o camponês se torna rendeiro na sua própria terra, cujo<br />
domínio êle ain<strong>da</strong> conserva nominalmente”. (Não tem sido<br />
outra, dizemos, a linguagem dos que, aqui e alhures, pugnam<br />
pelo advento de uma reforma agrária de base).
FÁBIO LUZ FILHO 247<br />
“As instituições e os costumes, continua, existentes na<br />
economia agrária <strong>da</strong>s regiões subdesenvolvi<strong>da</strong>s, representam,<br />
muitas vêzes, obstáculos ao desenvolvimento econômico e ao<br />
progresso social. Dificultam a mobili<strong>da</strong>de do capital e do<br />
trabalho e a formação de espíritos novos, fatôres indispensá-<br />
veis para encontrar a solução dos problemas <strong>da</strong> atual econo-<br />
mia mundial”. (Como que estamos vendo a imagem, neste<br />
campo, do Nordeste brasileiro).<br />
E conclui, o ilustre técnico:<br />
“Ja se focalizou a estreita correlação existente entre o<br />
desenvolvimento econômico e a social. Conseqüentemente, em-<br />
bora a educação tenha uma função social própria, seus princí-<br />
pios, sua natureza e seus fins devem ser condicionados pelas<br />
exigências do desenvolvimento econômico e do progresso so-<br />
cial. Os aspectos educacionais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de devem ser organi-<br />
zados a fim de contribuírem para diminuir as dificul<strong>da</strong>des<br />
cria<strong>da</strong>s pelas transformações sociais. O desenvolvimento eco-<br />
nômico e social e a educação são, pois, fatôres correlatos que<br />
convergem para a criação de condições que vão permitir a rea-<br />
lização do progresso dinâmico <strong>da</strong>s transformações sociais, ba-<br />
sea<strong>da</strong> na cooperação ativa e voluntária <strong>da</strong>s populações rurais”.<br />
Será a volta ao princípio filosófico do “gotongroyon” indoné-<br />
sico (aju<strong>da</strong> mútua).<br />
Temos, assim, nas linhas acima, sensatos conceitos que<br />
se aplicam perfeitamente às condições sócio-econômicas do<br />
Brasil, nos seus contrastes, donde sua escolha para a citação.<br />
O MOVIMENTO COOPERATIVO<br />
E O ESTADO<br />
Falta ao movimento cooperativo sul-americano, sobretu-<br />
do ao de natureza agrícola, aquela base educativa, por moti-<br />
vos óbvios, educação que deu estabili<strong>da</strong>de ao movimento euro-<br />
peu, como nô-lo descreve Valdiki Moura em seu brilhante “Dez<br />
faces do Mundo”. Deu-lhe ela a necessária fibra para receber,<br />
impertérrito, os ominosos embates de duas guerras hedion<strong>da</strong>s,<br />
que trouxeram a subversão de valores materiais e espirituais,<br />
<strong>da</strong>s quais, no entanto, se reergueu, dinâmico, altivo e fecundo,<br />
ca<strong>da</strong> vez mais animado de seus altos propósitos de renovação<br />
humana.<br />
Há tempos aludimos a um trabalho <strong>da</strong> Oficina Interna-<br />
cional do Trabalho, de Genebra, e às relações que essa Oficina<br />
manteve com os serviços oficiais de numerosos países, tendo
248 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
nós mesmos tido oportuni<strong>da</strong>de de responder, em língua fran-<br />
cesa, a longo questionário nesse sentido, no qual ressaltamos<br />
o que há anos se faz no Brasil e os óbices defrontados, pró-<br />
prios de países subdesenvolvidos.<br />
É êsse trabalho <strong>da</strong> lavra de Campbell e reporta-se a êsses<br />
países subdesenvolvidos, dos quais tem longa experiência,<br />
achando êle que a participação dos governos no fomento e de-<br />
senvolvimento cooperativos, nos países dêsse tipo, é necessária<br />
e indispensável. Frisa que, em uma coletivi<strong>da</strong>de evoluí<strong>da</strong>, o<br />
govêrno, na pessoa de seus técnicos, na<strong>da</strong> tem que fazer, o que<br />
se não dá com as comuni<strong>da</strong>des insuficientemente desen-<br />
volvi<strong>da</strong>s, nas quais os cooperadores são pouco instruídos, pó-<br />
bres, ignorantes por completo dos métodos e processos comer-<br />
ciais, o que os obriga a uma assistência maior.<br />
Assinala êle, como já o frisamos, que há, nessas comuni-<br />
<strong>da</strong>des, necessi<strong>da</strong>de de se encorajar, dirigir e controlar as ope-<br />
rações <strong>da</strong>s cooperativas, ate atingirem elas certo estágio <strong>da</strong><br />
maturi<strong>da</strong>de. Mas, ao seu ver (do que temos nós, no Brasil,<br />
experiência bastante), isto é tarefa que exige competência e<br />
conhecimento do que se tem feito em outros países de situa-<br />
ções análogas (claro que não vamos comparar os países<br />
sul-americanos à Suécia, Dinamarca, Suiça, Inglaterra, etc.), os<br />
métodos que nêles deram resultados e os que fracassaram.<br />
Tudo isto é aceitável, se guar<strong>da</strong>dos os devidos limites,<br />
pois a interferência do Estado deve ser dirigi<strong>da</strong> num sentido de<br />
orientação e assistência, como vimos fazendo no Brasil. De<br />
uma maneira extremamente hábil, o funcionário competente<br />
nunca deve perder de vista que o objetivo <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> não é o de<br />
fazer o trabalho dos associados, mas ensiná-los a agir por si<br />
mesmos. “A insuficiência <strong>da</strong> fiscalização pode levar as coope-<br />
rativas a serem muito pródigas, a se lançarem em emprêsas<br />
ambiciosas, além de suas capaci<strong>da</strong>des e não previstas pelos<br />
estatutos, ficando aberta a porta é desleal<strong>da</strong>de, à negligência<br />
nas contas e à retira<strong>da</strong> de fundos, devido à ignorância e à<br />
má fé”. E, contràriamente, um excesso de fiscalização e a in-<br />
gerência podem diluir-lhe o senso de responsabili<strong>da</strong>de, dimi-<br />
nuir-lhe a vitali<strong>da</strong>de e fazer crer aos associados (com isto é<br />
comum no Brasill) que o “Govêrno” irá gerí-las por êles, acen-<br />
tuando-lhes a idéia do Estado carismático, etc. “Une telle<br />
attitude est l' antithèse même de la cooperation”.<br />
No comêço, acentua ain<strong>da</strong>, é necessário que o Govêrno<br />
dê ás cooperativas certo apoio financeiro direto, visando a<br />
<strong>da</strong>r-lhes possibili<strong>da</strong>des de atingir um estágio no qual poderão organizar<br />
e controlar seus próprios serviços financeiros, em au-
FÁBIO LUZ FILHO 249<br />
to-suficiência. Não deve, em conseqüência, emprestar-lhes a<br />
Juros de favor, ou sem juros, ou a juros inferiores àqueles que<br />
exigem uma sã economia, mas a juros que suas próprias insti-<br />
tuições deverão exigir um dia. “Se êsses juros parecerem mui-<br />
to elevados, uma fração dêles poderá ser utiliza<strong>da</strong> para aju<strong>da</strong>r<br />
as socie<strong>da</strong>des em sua obra educativa, ou em seu trabalho de<br />
contrôle.<br />
No Brasil, a ação do Estado deverá fazer-se e vem sendo<br />
feita nos têrmos indicados, sem se tolher a liber<strong>da</strong>de de inicia-<br />
tiva, a liber<strong>da</strong>de de organização econômica por meios coerciti-<br />
vos. Orienta-se e aconselha-se; não se pode nem se deve impor.<br />
Não nos parece desejável vivamos em regime de paternalismo<br />
indefinido, já o dissemos. As cooperativas são organizações de<br />
natureza priva<strong>da</strong> com autonomia garanti<strong>da</strong> por lei, e defluindo<br />
de princípios doutrinários universais.<br />
Margaret Digby disse, em “The world movement”, que<br />
onde o movimento cooperativo é olhado como uma forma de<br />
serviço social, é amparado por privilégios legais e fiscais; o<br />
crédito nacional é pôsto à sua disposição; as relações entre o<br />
movimento e os departamentos oficiais especializados devem<br />
ser levados a elevado grau de eficiência e o princípio social<br />
deve ser mantido. “Co-operative law like the cooperative<br />
move- ment, is the product of growth, experience and the<br />
flexible mind”.<br />
Warbasse mesmo, defensor caloroso <strong>da</strong> auto-suficiência<br />
cooperativa, concor<strong>da</strong> em que à não-intervenção do Estado só<br />
existe única exceção: as emprêsas cooperativas fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s por<br />
pessoas excepcionalmente pobres, casos em que as governos<br />
têm tido interferência no sentido do financiamento e do asses-<br />
soramento iniciais. Isto sucedeu com as cooperativas de crê-<br />
dito cooperativo <strong>da</strong> Índia; com as “Federal Farm Belief””;<br />
com as “Cooperativas de aju<strong>da</strong> mútua" entre desocupados na<br />
América do Norte; com as cooperativas de habitações na Ale-<br />
manha, Dinamarca e Suécia; com as cooperativas de campo-<br />
neses de vários países e com a Liga Cooperativa <strong>da</strong> China;<br />
com as cooperativas de pescadores de Cuba e as agrícolas de-<br />
nomina<strong>da</strong>s Martí.<br />
Acha Warbasse, com razão, que essa ação governamental<br />
representa, no fundo, uma economia para o próprio govêrno,<br />
de vez que substitui o socorro aos necessitados, pois a filantro-<br />
pia não é mais do que um simples paliativo. O método coope-<br />
rativo põe os necessitados em condições de se aju<strong>da</strong>rem a si<br />
próprios, sem humilhações ou recalques. Os resultados se<br />
fazem sentir profun<strong>da</strong>mente quando as cooperativas, por
250 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
mais precárias que sejam seus começos, conseguem devolver<br />
ao govêrno os empréstimos que do mesmo receberam.<br />
“O grande movimento mundial foi criado, geralmente,<br />
por pessoas que se achavam pouco acima do mais baixo nível<br />
econômico”.<br />
“Dispondo de escassos recursos, souberam combinar a<br />
iniciativa e a fé no próprio esfôrco com a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> econo-<br />
mia. Fun<strong>da</strong>ram as cooperativas com o fim de aumentar sua<br />
capaci<strong>da</strong>de aquisitiva e, como conseqüência deriva<strong>da</strong> de tal<br />
propósito, criaram valores sociais de importância mui supe-<br />
rior ao fato concreto <strong>da</strong> economia".<br />
Daí serem sempre lembrados os bravos “Tecelões de<br />
Roch<strong>da</strong>le”, <strong>da</strong>í serem sempre evocados com emoção.<br />
0 ilustre Fabra Ribas, infelizmente falecido, em carta<br />
aberta com que em 1950 nos honrou disse, numa reafirmação<br />
de princípios:<br />
1 — Não convém que as Cooperativas atuem debaixo <strong>da</strong><br />
tutela do Estado e muito menos que se identifiquem com o<br />
Estado. Razões: porque o regime do Estado pode mu<strong>da</strong>r, em-<br />
quanto que o Cooperativismo necessita conseguir a maior es-<br />
tabili<strong>da</strong>de possível. Sua natureza, já se disse, é como a de<br />
certos cristais: se se mexe muito com o vaso em que se estão<br />
formando, tem-se que recomeçar a operação.<br />
2 — O ver<strong>da</strong>deiro progresso do Cooperativismo não de-<br />
pende do número de seus associados, nem do volume de suas<br />
operações, nem <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> que possa receber do exterior, mas<br />
principalmente do que forem capazes de fazer os membros<br />
<strong>da</strong>s Cooperativas;<br />
3 — A educação cooperativa é, por conseguinte, o que<br />
mais influi no êxito do Movimento.<br />
Para organizar boas cooperativas é necessário formar<br />
bons cooperadores. E a educação cooperativa deve estender-se<br />
aos simples associados, aos administradores <strong>da</strong>s cooperativas<br />
e aos representantes dos podêres públicos encarregados de co-<br />
laborar com os cooperadores.<br />
Os representantes dos podéres públicos que desconhece-<br />
rem o espírito e a prática do Cooperativismo, constituem um<br />
ver<strong>da</strong>deiro perigo social, porque tratarão fatalmente de su-<br />
prir sua falta de preparo com a aplicação de planos absurdos<br />
e de medi<strong>da</strong>s arbitrárias.<br />
4 — As Cooperativas são socie<strong>da</strong>des priva<strong>da</strong>s de utili<strong>da</strong>-<br />
de pública, cujo objetivo principal não é o lucro mas a pres-<br />
tação de serviços a seus associados particularmente e em geral<br />
à comuni<strong>da</strong>de inteira. Por isso devem tratar de atuar sob tô<strong>da</strong>
FÁBIO LUZ FILHO 251<br />
classe de regimes e acatar a legislação vigente. Seus processos<br />
excluem tô<strong>da</strong> classe de violência e até de intemperança. Seu<br />
principal instrumento de defesa, de propagan<strong>da</strong>, de ação (eco-<br />
nômica, social e moral) consiste sempre na retidão de condu-<br />
ta que observam e no constante melhoramento dos serviços<br />
que prestam.<br />
5 — As Cooperativas bem organiza<strong>da</strong>s constituem insu-<br />
perável instrumento regulador <strong>da</strong> economia nacional e um<br />
centro modêlo de educação ci<strong>da</strong>dã, de vez que se afastam<br />
cui<strong>da</strong>dosamente de mero terreno polêmico e crítico, para com-<br />
centrar suas ativi<strong>da</strong>des em obras construtivas, que interessam<br />
a todos e não prejudicam a ninguém. Daí a convêniencia de<br />
uma colaboração constante entre as cooperativas e os podêres<br />
públicos, colaboração que, em benefício mútuo, deve ressalvar<br />
a autonomia própria dos que dela participam. O melhor re-<br />
sultado que se pode obter dessa colaboração é a introdução do<br />
ensino cooperativo em todos os centros de educação e no esta-<br />
belecimento de escolas e colégios nos quais se possa aprender o<br />
cooperativismo teórico e prático, isto é, nos quais se aten<strong>da</strong><br />
à formação integral de cooperativistas e à preparação elemen-<br />
tar de propagandistas de cooperativismo e;<br />
6 — O Cooperativismo cultiva um alto ideal e trata de<br />
compreender o real. Por isso, dirige a todos os homens e<br />
mulheres de boa vontade, quaisquer que sejam sua raça, suas<br />
opiniões, e sua crença, a mensagem que expressam estas belas<br />
palavras do professor Edgard Milhaud:<br />
“Existe uma correspondência perfeita entre o Credo dos<br />
Pioneiros de Roch<strong>da</strong>le (fun<strong>da</strong>dores do moderno Movimento<br />
Cooperativo) e o Credo do Povo de hoje, já que os princípios<br />
de nossa cooperação são os mesmos do Sermão <strong>da</strong> Montanha,<br />
traduzindo a linguagem dos fatos econômicos <strong>da</strong> época em<br />
que vivemos”.<br />
AINDA A EDUCAÇÃO NO PLANO COOPERATIVO<br />
“Education before action” é a apotegma <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de de Antigonish, do Canadá, como vimos.<br />
Da conferência de Nuwara Eliza, patrocina<strong>da</strong> pela Ofici-<br />
na Internacional do Trabalho, em 1951, na Ásia, há conclusões<br />
que se aproximam dessa sentença e que devem merecer nossa<br />
atenção. Uma delas refere-se à ação governamental, que achou<br />
dever ser intensifica<strong>da</strong> não só com a formação adequa<strong>da</strong> de<br />
equipes de funcionários especializados nos serviços cooperati-
252 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
vos oficias, viagens de estudos, cooperativas-pilotos, etc., co-<br />
mo pelos auxílios ou empréstimos do Estado, ou garantias do<br />
Estado quanto a empréstimos para equipamento, a outorga<br />
de certos privilégios fiscais, e a concessão de certas priori<strong>da</strong>des<br />
para a compra e o fornecimento de produtos essenciais.<br />
Achou imprescindível a inversão de capitais no equipa-<br />
mento e desenvolvimento <strong>da</strong>s cooperativas. Outrossim, con-<br />
cluiu que os adiantamentos feitos a título de empréstimos de-<br />
verão ser concedidos sob condições favoráveis.<br />
Os delegados presentes a essa Conferência afirmaram,<br />
ain<strong>da</strong>, que os departamentos de cooperativismo governamen-<br />
tais, sendo normalmente os responsáveis, nos países subde-<br />
senvolvidos, pela criação e o desenvolvimento <strong>da</strong>s cooperati-<br />
vas, deveriam ser os primeiros a receber uma estrutura con-<br />
veniente, devendo ser reforçado o respectivo pessoal técnico,<br />
a fim de ser possível, de uma maneira eficiente, o contrôle, a<br />
inspeção e a verificação contábil <strong>da</strong>s cooperativas, socie<strong>da</strong>des<br />
de bem público. Também insistiram em que, na formação pro-<br />
fissional dos empregados <strong>da</strong>s cooperativas, há necessi<strong>da</strong>de de<br />
umo seleção judiciosa de pessoas, incluindo nisto o conheci-<br />
mento dos princípios cooperativos, tecla que vimos percutin-<br />
do há anos, no Brasil. Os administradores deverão receber<br />
uma formação profissional completa, escolhidos entre pes-<br />
soas qualifica<strong>da</strong>s, o que representa um ideal, a ser atingido<br />
por etapas, no Brasil.<br />
O domínio do educação cooperativa, nas conclusões <strong>da</strong>-<br />
queles delegados, é imprescindível para o esclarecimento <strong>da</strong>s<br />
massas, o que precisamos compreender no Brasil. Tudo isto<br />
temos predicado, num afã interativo, há anos.<br />
Compreendendo o alcance <strong>da</strong> educação, a Dinamarca,<br />
dentre outros, tratou, com sabedoria, de <strong>da</strong>r alicerce educati-<br />
vo ao seu movimento cooperativo. Como é sabido, é ela justa-<br />
mente considera<strong>da</strong> como uma “comuni<strong>da</strong>de cooperativa diri-<br />
gi<strong>da</strong> por agricultores”, o “reino <strong>da</strong> razão", no qual a govêrno<br />
tudo fêz no sentido de educar o povo para o cooperativismo.<br />
Dois terços dos habitantes freqüentam os cursos oficiais.<br />
É<br />
considera<strong>da</strong> a mais exemplar <strong>da</strong>s nações democráticas do no-<br />
roeste <strong>da</strong> Europa. Miss Rothery disse que, na Dinamarca, não<br />
sòmente o povo é alimentado e vestido, mas sorri... Não há<br />
habitações insalubres nem aglomerações em suas ci<strong>da</strong>des lim-<br />
pas; todos estão praticamente protegidos contra o desem-<br />
prêgo, a enfermi<strong>da</strong>de e a velhice. O sistema cooperativo ar-<br />
ranca explosões de entusiasmo e demonstra que não há tanto<br />
que modificar no regime democrático para fazer um povo
FÁBIO LUZ FILHO 253<br />
feliz. Com uma distribuição eqüitativa <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>, assegura um<br />
mínimo, que é um alto mínimo, de padrão de vi<strong>da</strong>; mas isto<br />
não impede o espírito individual, capaz e empreendedor, de<br />
amealhar.<br />
Já foi dito, com muita justeza, que o capitalismo opõe o<br />
interêsse particular ao interêsse geral; o estadismo submete,<br />
pela fôrca, os interêsses particulares ao interêsse geral; o<br />
cooperativismo associa os interêsses particulares segundo for-<br />
mulas tão essencialmente justas, que a união cooperativa se<br />
indentifica com o interêsse geral. É por isto que é êle um pe-<br />
nhor de justiça social e também de paz internacional.<br />
Repetimos que não é sem uma base educativa que se<br />
apri-moram os quadros cooperativos para que tão elevados<br />
obje- tivos sejam alcançados. E Pernambuco cedo isto<br />
compreendeu, quando deu ênfase ao cooperativismo escolar,<br />
pelo que mere- ce louvores.<br />
Antonio Sérgio, o ilustrado professor e escritor luso, em-<br />
viou-nos recentemente seu último livro — “Cartas do terceiro<br />
homem", bela profissão fé cooperativista, no qual tem con-<br />
ceitos justos sôbre o cooperativismo escolar, roborativos do<br />
que vimos dizendo há anos em livros, folhetos comuni<strong>da</strong>des e<br />
ar-tigos. Frisa êle que os ver<strong>da</strong>deiros instrumentos de educação<br />
<strong>da</strong> juventude devem ser buscados na vi<strong>da</strong> civil dos nossos<br />
concelhos antigos, dos nossos municípios modernos, e na orga-<br />
nização democrática <strong>da</strong>s cooperativas de hoje. E acena, em<br />
segui<strong>da</strong>, para a cooperativismo escolar pelas intrínsecas virtu-<br />
des educativas que todos lhe reconhecem. (Conselho era a<br />
circunscrição administrativa, abaixo do distrito, dizemos).<br />
“Percebamos que a liber<strong>da</strong>de é que é o sol <strong>da</strong>s almas”,<br />
diz Antônio Sérgio.<br />
Ao nos referirmos, em um de nossos livros, ao cooperati-<br />
vismos escolar, frisamos que o cooperativismo é um movimen-<br />
to de natureza econômica que se vale <strong>da</strong> educação e um pro-<br />
cesso educativo que se vale <strong>da</strong> ação econômica. Daí ‘sua in-<br />
fluência no campo específico <strong>da</strong> organização interna <strong>da</strong><br />
escola”.<br />
Claparède alude à lei <strong>da</strong> autonomia funcional em educa-<br />
ção considerando a criança como uma "uni<strong>da</strong>de funcional”.<br />
A educação não é apenas uma preparação para a vi<strong>da</strong>, mas a<br />
própria vi<strong>da</strong>, diz êle. Daí a escola renova<strong>da</strong>, de que meu sal-<br />
doso pai, Fábio Luz, foi um precursor no Brasil, como foi do<br />
romance social, e, dentro dessa escola, a cooperativa escolar.
254 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
O PANORAMA COOPERATIVO EUROPEU EM<br />
FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO<br />
Já vimos a Dinamarca, e é conhecido o panorama coope-<br />
rativo sueco do ponto-de-vista do ensino cooperativo.<br />
Na Inglaterra, o movimento cooperativo tem, no<br />
domínio do ensino, seu ponto alto no Colégio Cooperativo, de<br />
Man-chester. Foram dispendi<strong>da</strong>s, em 1947, cêrca de 400.000<br />
libras, nesse setor.<br />
"The Co-operative College” foi fun<strong>da</strong>do em Manchester,<br />
no ano de 1919, e destinado a altos estudos (‘as the apex of<br />
educational provisions of the Co-operative Movement”), para<br />
homens e mulheres de mais de 18 anos, sem discriminações<br />
de espécie alguma, tanto que a freqüentam alunos de côr<br />
prêta. Comporta em seus internatos a 110 alunos, e possui<br />
biblioteca de 10.000 volumes, escalonados seus cursos pelo<br />
outono, pela primavera e pelo verão, havendo um curso espe-<br />
cial do cooperativismo para as colónias, de acôrdo com o Co-<br />
lonial Office”.<br />
Na França, Lavergne, a grande autor de “Révolution<br />
Coo-pérative”, foi substituído por Georges Lasserre na<br />
Facul<strong>da</strong>de de Direito de Paris, na qual atualmente ensina a<br />
doutrina co-operativa, continuando a brilhante tradição<br />
deixa<strong>da</strong> por Gide no Colégio de França.<br />
Na Alemanha Ocidental surgiu, depois do impacto <strong>da</strong><br />
última guerra, o “Instituto <strong>da</strong> Cooperação", na Universi<strong>da</strong>de<br />
de Munster. Na Suiça, o ensino cooperativo tem seu acume<br />
no mundialmente conhecido Seminário de Freidorf. A Rússia<br />
atual destinou, não há muito, uma dotação de cérca de 180 mi-<br />
lhões de rublos para o ensino em mais de 70 escolas de co-<br />
mércio.<br />
E a Índia, Colômbia (esta com seus centros de estudos<br />
cooperativos e seu instituto de Estudos Cooperativos, etc.),<br />
Argentina, etc., como já o temos frisado em livros e artigos,<br />
vão <strong>da</strong>ndo a devido relêvo ao ensino do cooperativismo em<br />
todos os seus aspectos. No Brasil, bem conheceis os esfôrços do<br />
Serviço de Economia Rural, do Centro Nacional de Estudos<br />
Cooperativos e dos Serviços e Departamentos estaduais de<br />
cooperativismo nesse sentido, e os <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Rural e<br />
<strong>da</strong> Escola de Agronomia do Paraná, etc.<br />
O Canadá, entanto, deve merecer uma referência espe-<br />
cial, pelo que se faz nas Universi<strong>da</strong>des de São Francisco Xá-
FÁBIO LUZ FILHO 255<br />
vier. Laval e Voncouver, duros que foram os ensinamentos<br />
oriundos de fracassos cujas raízes se situavam, na opinião de<br />
técnicos e doutrinadores, na ignorância.<br />
E êsse lastro educativo será, inegàvelmente, uma base<br />
granítica.<br />
O NOSSO HOMEM RURAL<br />
O nosso homem rural, como já o frisamos em mais de<br />
um livro, sobretudo em “Rumo à terra” e agora em “Crédito<br />
Agrícola e problema agrário", aí está no seu triste insulamen-<br />
to. A sêca aí está com seus ciclos inclementes, apocalípticos,<br />
trazendo-nos à retentiva aquelas mesmas hórri<strong>da</strong>s cenas e<br />
aquelas mesmas figuras de coragem, estoicismo e apêgo à<br />
terra que Rodolfo Teófilo já nos descrevia, magistralmente,<br />
em “A Fome”, ao descrever a sêca de 1877. E outros quadros<br />
aí estão no Nordeste com as mesmas cores de há anos, com<br />
os mesmos traços pictóricos.<br />
Continua o homem rural brasileiro, nota<strong>da</strong>mente o nor-<br />
destino, envolto em circunstâncias que revestem o caráter de<br />
elementos causativos dessa posição de desencanto, desespe-<br />
rança e introversão, mergulhado num fadário que parece não<br />
ter fim. Lapidemo-lo, educando-o na ação solidária, cepilhan-<br />
do-lhe aos poucos as acerbi<strong>da</strong>des, frutos que são de uma cons-<br />
telação de fatôres adversos, que o conduzem a um nível de<br />
vi<strong>da</strong> infra-humano. Levemo-lhes a arco-irisa<strong>da</strong> bandeira do<br />
cooperativismo renovador. Demos ao mesmo o ensino adequa-<br />
do; mas, como o assinalou Jorge del Rio, o ilustrado advoga-<br />
do, publicista e militante cooperativo argentino que nos desva-<br />
neco com sua amizade, não ensinar o cooperativismo de angu-<br />
los frios e objetivos, como num curso sôbre socie<strong>da</strong>des ano-<br />
nimas, como uma pura disciplina econômico-comercial. Te-<br />
mos que lhe <strong>da</strong>r alma, entusiasmo, mística, apostolado, e a<br />
fé acrisola<strong>da</strong> que remove montanhas. É preciso frisar o relevo<br />
ou o acento ético que põe nas relações econômicas, ante as<br />
deformações do capitalismo moderno. “La cooperación no se<br />
hace con una materia inérte, sino con hombres, entonces, co-<br />
mo to<strong>da</strong> educación, debe dirigirse al hombre" para que êste<br />
se torne o missionário de uma doutrina sócio-econômico-mo-<br />
ral que conduz à justiça, à paz, à harmonia e à elevação dos<br />
povos, pelo seu conteúdo de nobre sentido humano.<br />
O multívolo Estado moderno, nas suas proteiformes e<br />
multiformes incursões no domínio sócio-econômico, recebe até
256 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
as veneras de um inglês como Waltkins, o qual acha que o pó-<br />
der de legislação e de compulsão do Estado cria problemas no-<br />
vos e abre perspectivas que lhe permitem chegar a soluções<br />
mais rápi<strong>da</strong>s e mais radicais, naquele domínio citado, do que<br />
a iniciativa priva<strong>da</strong>. Mas, dizemos nós, é preciso que atente-<br />
mos na experiência sul-americana, nota<strong>da</strong>mente no Brasil,<br />
para o necessário justo meio, sem arrebatamentos estadistas,<br />
certos do mal <strong>da</strong>s generalizações, quando não há clima, re-<br />
ceptivi<strong>da</strong>de, mentali<strong>da</strong>de, etc., e quando há primarismos e<br />
vezos de ordem social, política e administrativa, e outros, que<br />
erradicar.<br />
Se o Estado se despe de sua pele de gen<strong>da</strong>rme no mundo<br />
de hoje o procura, sinceramente, dinamizar, com sua presença<br />
direta ou indireta, a economia geral de um país, deve o mo-<br />
vimento cooperativo aceitá-lo em têrmos de assistência e co-<br />
laboração leal e sadia, sem o colorido de estadismos ou inter-<br />
vencionismos que imponham avenças político-partidárias com<br />
visos absorventes ou interferências avessa<strong>da</strong>s ao regime de<br />
liber<strong>da</strong>de em que devem viver as cooperativas, embretando-as<br />
ou emor<strong>da</strong>çando-as. As cooperativas devem ficar com a sua<br />
autonomia, a sua auto-suficiência, a sua “self discipline”,<br />
sem quebrantamento ou diluição de seus brônzeos e eternos<br />
fun<strong>da</strong>mentos doutrinários.<br />
Essa tese, temo-la defendido sempre em livros e perante<br />
a Comissão de Indústria e Comércio <strong>da</strong> Câmara dos<br />
Deputados em 1948, a agora, novamente, perante a Comissão<br />
de Economia, gentilmente convocado pelo ilustre deputado<br />
Daniel araco para debater, mais uma vez, o projeto 159-47,<br />
que revoga a atual legislação (o qual, aliás, já comentamos<br />
pela impren- sa). E é esta a posição <strong>da</strong> Aliança Cooperativa<br />
Internacional.<br />
Em dezembro de 1951 realizou-se o Congresso de Cope-<br />
nhague. O relato do Comité Central <strong>da</strong> Aliança Cooperativa<br />
Internacional abrangeu os resultados de um inquérito sôbre as<br />
relações entre as cooperativas de consumo e as agrícolas, isto é,<br />
as tão necessárias ralações intercooperativas, como as rela-<br />
ções entre a Movimento Cooperativo e os podêres públicos.<br />
Eis as conclusões a que chegou:<br />
1.º — As cooperativas devem ser completamente livres e<br />
independentes. Por esta razão não é possível que vivam em<br />
países nos quais não exista a liber<strong>da</strong>de de associação.<br />
2.º — O movimento cooperativo deve gozar de tô<strong>da</strong>s as<br />
possibili<strong>da</strong>des para estender sua esfera de ação e intensificar a<br />
sua influência, não só do ponto-de-vista econômico, mas,
FÁBIO LUZ FILHO 257<br />
sobretudo, no sentido de influenciar a política econômica e<br />
social do Estado.<br />
3.º - O desenvolvimento econômico e social dos países<br />
de economia dita mista, é possível com a aplicação crescente<br />
dos princípios cooperativos, desprovidos que são do espírito de<br />
lucro, e com a participação ativa do Movimento Cooperativo<br />
na elaboração <strong>da</strong> política econômica e social do Estado.<br />
4.º — O movimento cooperativo está em condições de in-<br />
fluenciar a política econômica e social do Estado de diversas<br />
maneiras:<br />
a) colaborando nas Comissões que se ocupam de modo<br />
permanente dos problemas econômicos e sociais, assegurando,<br />
assim, um contacto contínuo, o qual é de uma importância e<br />
de um valor maiores que a apresentação de declarações escri-<br />
tas e a colaboração de Comissões especiais;<br />
b) procurando ser ouvido pelas autori<strong>da</strong>des públicas no<br />
que tange à elaboração e aplicação <strong>da</strong> legislação econômica e<br />
social. (O projeto 159 transita pela Câmara dos Deputados<br />
desde 1947. O movimento cooperativo brasileiro pròpriamen-<br />
te não foi ouvido nem por êle até hoje se interessou, revelan-<br />
do, com isto, lamentável falta de maturi<strong>da</strong>de).<br />
5.º — A ver<strong>da</strong>deira influência do Movimento<br />
Cooperativo sôbre providências econômicas e sociais não<br />
depende <strong>da</strong> forma que assume a sua colaboração, mas, acima<br />
de tudo, <strong>da</strong> sua economia nacional.<br />
6.º — Para o Estado democrático é do mais alto interes-<br />
se assegurar a liber<strong>da</strong>de de ação e de desenvolvimento do Mo-<br />
vimento Cooperativo, quaisquer que sejam as mu<strong>da</strong>nças <strong>da</strong><br />
fôrca real no país (sôbre o que devemos meditar).<br />
7.º — As cooperativas estão em condições de participar e<br />
devem participar <strong>da</strong> obra preciosa que as Nações Uni<strong>da</strong>s e os<br />
órgãos especiais, particularmente o B . I . T .. a F. A .O. e a<br />
U. N . E .S . C .O., obtiveram nos países subdesenvolvidos.<br />
Estas conclusões foram adota<strong>da</strong>s pelo 18.° Congresso <strong>da</strong><br />
A. C .I ., que as recomendou a tô<strong>da</strong>s as filia<strong>da</strong>s.<br />
E concluamos com a recente Resolução de Caracas (mar-<br />
ço de 1954). “Na época atual, o sistema cooperativo é ain<strong>da</strong><br />
uma <strong>da</strong>s formas de associação que melhor corresponde aos<br />
postulados <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana.<br />
“A fórmula cooperativa, especialmente nos países que se<br />
encontram em desenvolvimento, contribui para orientar e le-<br />
var à solução dos problemas locais de interêsse coletivo”. A<br />
mesma, os nossos aplausos. E que encontre ressonância nas<br />
17 — 27 454
258 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
esferas dirigentes responsáveis. São as cooperativas escolas<br />
profissionais práticas.<br />
“Através do homem econômico, é a personali<strong>da</strong>de<br />
inteira do homem, seu caráter, sua atitude em face de vi<strong>da</strong> e<br />
em relação à comuni<strong>da</strong>de que a ação cooperativa<br />
transforma”.<br />
Já se acentuou que as cooperativas em geral, e nota<strong>da</strong>-<br />
mente as agrícolas, não se apresentam apenas como fatôres<br />
de progresso técnico e de bem-estar, instrumenttos de organi-<br />
zação econômica, de formação e disciplina profissionais, senão<br />
também como centros de vi<strong>da</strong> moral e de educação geral,<br />
“células de um novo tecido social que reconstitui e prolonga a<br />
sóli<strong>da</strong> e viva coesão, os sistemas de proteção coletiva que os<br />
laços de família, as relações de vizinhança e as tradições do<br />
auxílio mútuo mantinham nas antigas comuni<strong>da</strong>des rurais”.<br />
A humani<strong>da</strong>de caminha por ciclos, já a acentuamos em<br />
“Rumo à Terra”.<br />
NOTA<br />
O Dr. Antônio de Arru<strong>da</strong> Câmara, então ilustre diretor<br />
do Serviço de Economia Rural, ao apresentar o orador à seleta<br />
e numerosa assistência presente ao Gabinete Português, de<br />
Recife, quando <strong>da</strong> conferência acima, pronunciou as seguintes<br />
palavras:<br />
“Fábio Luz Filho é conhecido e acatado nos meios<br />
cooperativistas. Nasceu a 18 de abril de 1894, no Distrito<br />
Federal, tendo feito, no antigo Ginásio de S. Bento, todo O<br />
curso secundário e, na Escola Agrícola de Pinhelro, o curso de<br />
agronomia, diplomando-se em 1914.<br />
“Dedicou-se ao magistério ensinando ciências naturais,<br />
português e francês. Trabalhou no comércio, na imprensa e na<br />
lavoura. Ingressou no <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> em 1926,<br />
<strong>da</strong>tando dêsse ano a sua ininterrupata, dedica<strong>da</strong> e profícua<br />
ativi<strong>da</strong>de cooperativista.<br />
“Membro de associações profissionais, técnicas e<br />
culturais, presidente do Centro Nacional de Estudos<br />
cooperativos desde sua fun<strong>da</strong>ção. É correspondente e membro<br />
honorário de socie<strong>da</strong>des estrangeiras.<br />
“É marcante a sua ativi<strong>da</strong>de como escritor especializado.<br />
Os seus livros Rumo à Terra e Teoria e Prática <strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des<br />
Cooperativas, entre os dezesseis que publicou, já estão em<br />
quinta e quarta edição, respectivamente. "Cooperativas<br />
escolares” está em terceira edição.
FÁBIO LUZ FILHO 259<br />
“Seu nome figura entre os incluídos nos índices interna-<br />
cionais de bibliografia sôbre cooperativismo e, ain<strong>da</strong> agora,<br />
especialmente convi<strong>da</strong>do, está colaborando na “Coletànea”, a<br />
ser publica<strong>da</strong>, sob a direção do Dr. Alberto Basevi, do Minis-<br />
tério do Trabalho italiano.<br />
“Traço marcante na vi<strong>da</strong> de Fábio Luz Filho é o devota-<br />
mento à memória de seu ilustre progenitor, o Dr. Fábio Luz —<br />
médico, sociólogo, pe<strong>da</strong>gogo, crítico literário dos mais acata-<br />
dos e que foi o precursor do romance social e <strong>da</strong> escola ativa<br />
no Brasil”.<br />
HOMENAGEM SENSIBILIZADORA<br />
Ficou para sempre grava<strong>da</strong> em meu coração a comovi<strong>da</strong><br />
impressão <strong>da</strong>s sensibilizadoras homenagens de que fui alvo<br />
durante a Reunião acima, parti<strong>da</strong>s do plenário e de oradores<br />
cheios de vibração e bon<strong>da</strong>de, e desta figura fi<strong>da</strong>lga que é<br />
Petrolino Santa Cruz, digno diretor do Departamento de Assis-<br />
tência às Cooperativas do Estado de Pernambuco. O rama-<br />
lhete, com belas flores, que me foi ofertado em plenário, na<br />
fôrça de seu simbolismo, pelas mãos gentis <strong>da</strong> digna espôsa do<br />
deputado Iris Meinberg, como homenagem <strong>da</strong>s delegações pré-<br />
sentes de sete Estados nordestinos, na pessoa de vinte e oito<br />
delegados, através <strong>da</strong> palavra brilhante de Samuel Gonçalves;<br />
o meu retrato, como o de Arru<strong>da</strong> Câmara, colocado no D . A .C.<br />
de Recife; as referências <strong>da</strong> imprensa, entre elas as do brilhan-<br />
te Costa Pôrto, ficaram indelèvelmente, na minha gratidão<br />
genuflexa, como os maiores galardões de minha existência de<br />
propagandista que já caminha para o resvaladouro outoniço,<br />
encanecido nas árduas porfias de cêrca de 33 anos...<br />
PROJETOS-PILOTOS PARA COOPERATIVAS RURAIS<br />
Tivemos oportuni<strong>da</strong>de, ao traçar, em “Teoria e Prática<br />
<strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des Cooperativas” (lançado em fevereiro de 1953),<br />
um plano de ordem geral para o movimento cooperativo bra-<br />
sileiro, de aludir à necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s cooperativas-pilotos, um-<br />
nicipais, intermunicipais ou regionais para culturas típicas,<br />
ou não, de funções múltiplas (mistas ou cíclicas), com assis-<br />
tência oficial, se necessária, incluindo, na sua órbita, até as<br />
regiões de menor índice cultural.<br />
Com prazer, acabo de receber <strong>da</strong> União Pan-Americana,<br />
editado em maio de 1953, magnífico trabalho alusivo a proje-
260 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
tos-pilotos para o desenvolvimento rural. Trata-se do “Do-<br />
cumento ESSE-3/53 aumentado e corrigido de acôrdo com a<br />
Resolução <strong>da</strong> Terceira Sessão Extraordinária do Conselho In-<br />
teramericano Econômico e Social (C I . E . S.), em fevereiro<br />
de 1953.<br />
Contém êle projeto-pilôto para cooperativas rurais, que<br />
reputo de grande alcance sócio-econômico para nosso meio,<br />
careceste, ain<strong>da</strong>, <strong>da</strong>do o caráter incipiente de nosso movimen-<br />
to, de ver<strong>da</strong>deiros centros vivos de treinamento cooperativo,<br />
um escol maior de ver<strong>da</strong>deiros líderes.<br />
Eis as linhas mestras dos projetos-pilotos:<br />
PARTE GERAL<br />
São vários os tipos de projetos-pilotos: uns com raio de<br />
ação multiforme, e, outros, de raio de ação específica.<br />
São objetivos dêsses projetos-pilotos:<br />
a) — Aplicar as técnicas demonstrativas <strong>da</strong> maneira de<br />
se organizarem, eficientemente, cooperativas agrícolas;<br />
b) — Provar como podem as cooperativas contribuir pa-<br />
ra o melhoramento econômico, social e cultural <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des<br />
rurais;<br />
c) — Demonstrar que as cooperativas agrícolas são insti-<br />
tuições dinâmicas através <strong>da</strong>s quais se podem levar a cabo não<br />
só programas de caráter econômico, senão também de caráter<br />
social e cultural;<br />
d) — Experimentar sistemas por meio dos quais se possa<br />
estimular na população rural o sentido <strong>da</strong> cooperação e <strong>da</strong><br />
aju<strong>da</strong> mútua;<br />
e) — Descobrir e preparar pessoal para a organização e<br />
a administração <strong>da</strong>s cooperativas agrícolas;<br />
f) — Servir de meio de irradiação para outras comuni-<br />
<strong>da</strong>des rurais semelhantes que desejarem estabelecer socie<strong>da</strong>-<br />
des cooperativas.<br />
PLANO DE AÇÃO<br />
O projeto sugere o estabelecimento, em ca<strong>da</strong> país-sede,<br />
de três cooperativas em três zonas diferentes, como, por<br />
exemplo:<br />
zonas agrícolas, zonas pastorís ou zonas pesqueiras. (No Bra-<br />
sil, deve ser mais flexível o critério).<br />
Devem, entanto, considerar-se, para êsse efeito, uns tan-<br />
tos fatôres. Ei-los:
FÁBIO LUZ FILHO 261<br />
A escolha <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de rural<br />
1.º — Deve constituir ponto fun<strong>da</strong>mental a escolha de<br />
comuni<strong>da</strong>de rural, escolha que deve, considerar a existência<br />
do espírito de progresso e do desejo de fazer uma obra de equi-<br />
pe, visando ao melhoramento <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> de seus<br />
habitantes.<br />
2.º Essa comuni<strong>da</strong>de será seleciona<strong>da</strong> na base <strong>da</strong> exis-<br />
tência de um problema particular de caráter econômico co-<br />
nhecido, cuja solução, mesmo parcial, pessoa ser veicula<strong>da</strong><br />
através do determinado tipo de coperativa.<br />
Área de ação<br />
Será determina<strong>da</strong> pela natureza <strong>da</strong> cooperativa projeta<strong>da</strong>.<br />
Tendo o projeto-pilôto <strong>da</strong>do muita elastici<strong>da</strong>de ao comceito<br />
de cooperativa agrícola, de vez que classifica como rural<br />
"qualquer classe de cooperativa localiza<strong>da</strong> ou que possa estabelecer-se<br />
em uma comuni<strong>da</strong>de rural”, nêle se enquadram as<br />
cooperativas de consumo, que deverão agrupar as pessoas de<br />
certo casario rural ou de vilas rurais. (Considerar aqui, também,<br />
as condições do Brasil).<br />
As cooperativas de natureza agrícola deverão ter seus<br />
associados com residência ou domicílio em um raio de ação<br />
mais amplo, porém acessível, como seja em distrito ou em<br />
município (nas condições brasileiras até zonas geo-econômicas,<br />
dizemos).<br />
Como guia melhor: a divisão territorial própria de ca<strong>da</strong><br />
país escolhido para sede do projeto-pilôto.<br />
INVESTIGAÇÕES PRÉVIAS DE CARÁTER<br />
ECONOMICO-SOCIAL<br />
a) — Sociais<br />
Tradições, hábitos, costumes, laços familiares, institui-<br />
ções características, formas de recreação, analfabetismo, ati-<br />
tude em relação às formas de trabalho em comum, etc.<br />
b)— Demográficas<br />
Composição familiar, número médio de pessoas por<br />
familia, i<strong>da</strong>de, sexo, população ativa, fatôres que determinam<br />
o
262 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
aumento ou a diminuição <strong>da</strong> população, origens <strong>da</strong>s correntes<br />
migratórias, etc.<br />
c) — Geográficas<br />
Descrição geográfica <strong>da</strong> região, com estudo acurado <strong>da</strong>s<br />
vias de comunicação existentes, produção, etc.<br />
d ) — Comerciais<br />
Volume anual de ven<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s emprêsas comerciais na<br />
zona estabeleci<strong>da</strong> e causas do descontentamento local em<br />
relação as mesmas, se as houver; território comercial que a<br />
cooperativa pretende abarcar; sistema predominante de<br />
ven<strong>da</strong>s e per centagens; dinheiro à vista e a crédito; fontes de<br />
abasteci- mento, possibili<strong>da</strong>des de aquisição no local, etc.<br />
e) — Econômicas<br />
Ren<strong>da</strong>s familiares e distribuição <strong>da</strong>s mesmas, ofícios e<br />
ativi<strong>da</strong>des a que se dedicam essas famílias; indicação <strong>da</strong>s em-<br />
prêsas públicas ou priva<strong>da</strong>s onde trabalhem algumas dessas<br />
famílias; número aproximado <strong>da</strong>s famílias que poderão entrar<br />
para a cooperativa; habili<strong>da</strong>des econômicas e técnicas dos em-<br />
presários locais.<br />
f) — Financeiras<br />
Capital mínimo <strong>da</strong> cooperativa, custo aproximado <strong>da</strong>s<br />
despesas em salários, aluguéis, impostos e outras obrigações<br />
administrativas; estimativa do volume anual de operações que<br />
deve realizar; capaci<strong>da</strong>de de pagamento dos associados; pro-<br />
cessos apropriados de financiamento e estudo do crédito pés-<br />
soal e coletivo.<br />
LÍDERES LOCAIS<br />
A escolha dos líderes locais, que deverão auxiliar os tra-<br />
balhos, antes e depois <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção de uma cooperativa, de-<br />
verá ser feita entre os que mereçam a simpatia e o respeito<br />
dos integrantes <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de rural escolhi<strong>da</strong>, devendo re-<br />
cair em pessoas que, realmente, queiram trabalhar desinte-<br />
ressa<strong>da</strong>mente em favor dessa comuni<strong>da</strong>de. Para êsse efeito,<br />
deverão adotar-se os seguintes meios: entrevistas individuais<br />
e grupos de discussão ou círculos ou clubes de estudos, com
FÁBIO LUZ FILHO 263<br />
plementados com sociogramas que objetivem avaliar o grau<br />
de uni<strong>da</strong>de ou antagonismo que possam existir entre os inte-<br />
grantes do grupo de líderes selecionados, <strong>da</strong>ndo oportuni<strong>da</strong>de<br />
aos membros que tenham as condições requeri<strong>da</strong>s.<br />
Entre os líderes selecionados deve reinar a maior harmo-<br />
nia, comuni<strong>da</strong>de de interêsses e sincero desejo de trabalhar<br />
em equipe.<br />
EDUCAÇÃO E FUNÇÃO DOS LÍDERES<br />
Em “Teoria e Prática <strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des Cooperativas”<br />
sugeri, no plano a que já me referi, à criação de "censores<br />
agropecuários" ou “instrutores itinerantes”, com peão na sede<br />
de regiões geo-econômicas brasileiras, preferencialmente, o<br />
que, em certo sentido, encontra símile nesse projeto-pilôto, e já<br />
vai sendo realizado por alguns departamentos de assistência<br />
ao cooperativismo no Brasil, naturalmente dentro <strong>da</strong>s defi-<br />
ciências a que me tenho reportado inúmeras vêzes.<br />
O projeto-pilôto, aludindo necessária campanha educa-<br />
tiva prévia, que deve ajustar-se ao nível cultural <strong>da</strong> comuni-<br />
<strong>da</strong>de rural escolhi<strong>da</strong>, acha que a mesma deverá ter por objeti-<br />
vos precípuos:<br />
a)— Levar os integrantes <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de rural ao espí-<br />
rito de cooperação, de aju<strong>da</strong> mútua;<br />
b)— Ensinar por meios simples e práticos os fun<strong>da</strong>men-<br />
tos <strong>da</strong> doutrina cooperativa;<br />
c)— Utilizar os líderes locais nesta campanha educati-<br />
va prévia, determinando e explicando suas funções, respon-<br />
sabiliddes, métodos de trabalho e sistema de coordenar seu<br />
trabalho;<br />
d)— Avaliar os conhecimentos adquiridos pelos mem-<br />
bros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de rural, especialmente <strong>da</strong>s pessoas que te-<br />
nham mostrado interêsse em formar uma cooperativa, acerca<br />
<strong>da</strong> natureza, objetivos e princípios que embasam a mesma;<br />
e)— Decidir claramente se a comuni<strong>da</strong>de aceita e apóia<br />
o estabelecimento <strong>da</strong> cooperativa.<br />
AS COOPERATIVAS FUNDADAS E SUAS ATIVIDADES<br />
a)— Educativas<br />
Devem versar sôbre cooperativismo, a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s por as-<br />
sociados, funcionários ou não-associados; sôbre problemas so-
264 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
ciais e econômicos de interêsse imediato para a respectiva<br />
comuni<strong>da</strong>de rural (erosão de solos, práticas modernas de<br />
agricultura, dieta, alcoolismo, etc.).<br />
b)— Econômicas<br />
Variando de acôrdo com a espécie ou tipo de<br />
cooperativa. A cooperativa mesma será um meio prático de<br />
demonstrar, objetivamente, vantagens econômicas, tais como:<br />
1) Eliminação do intermediário; 2) divisão <strong>da</strong>s sobras<br />
sociais na proporção <strong>da</strong>s operações que tenham realizado com<br />
a cooperativa; e 3) aumento <strong>da</strong>s receitas individuais por uma<br />
distribuição mais justa <strong>da</strong>s emprêsas cooperativas.<br />
c)— Técnica<br />
Consistirão em demonstração simples e objetiva sôbre a<br />
maneira de se manter a cooperativa em um nível administra-<br />
tivo eficiente, e as ativi<strong>da</strong>des técnicas que se poderão realizar<br />
por seu intermédio, tais como, para as cooperativas agrícolas:<br />
demonstrações práticas sôbre o melhoramento e a rotação <strong>da</strong>s<br />
culturas, aplicação de adubos, introdução de novas culturas,<br />
utilização de maquinaria agrícola, armazenamento,<br />
conservação de produtos, etc.<br />
d)— Sociais<br />
Estabelecimento paulatino de serviços sociais de vanta-<br />
gens diretas para a saúde dos membros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de rural,<br />
tais como: saneamento de zonas insalubres, meios preventivos<br />
contra moléstias (vacinação, etc.), melhoramento <strong>da</strong>s con-<br />
dições higiênicas <strong>da</strong>s habitações, etc., etc.<br />
AINDA OS LÍDERES LOCAIS<br />
Para êsse projeto-pilôto, considera-se de grande relevân-<br />
cia a formação de líderes locais e de pessoal para as socie<strong>da</strong>des<br />
cooperativas do país <strong>da</strong> sede, o que poderá fazer-se de duas<br />
maneiras: mediante a participação direta nas diferentes fases<br />
de organização e funcionamento <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas, e<br />
por meio de palestras, seminários, grupos de discussão ou<br />
clubes de estudo, etc.<br />
O plano, pois, acentuo, será executado seguindo-se o cri-<br />
tério aconselhável: a escolha dos campos de aplicação e de
FÁBIO LUZ FILHO 265<br />
interêsse, delimitados o domínio <strong>da</strong>s pesquisas ou os meios de<br />
ação adequados, a necessária estruturação de centros de for-<br />
mação. Dar-se-á, assim, no campo cooperativo, aplicação ana-<br />
lógica ao princípio e ao método norteadores de uma ação es-<br />
pecífica, dentre êles os meios de ação ou a técnica que se deve<br />
utilizar no plano educativo, observa<strong>da</strong>s tendências e reações,<br />
o que coman<strong>da</strong>rá a orientação futura.<br />
E reconhecem esta ver<strong>da</strong>de:<br />
“Esta formação se faz necessária devido a que o<br />
movimento cooperativo na América Latina sofre grande<br />
escassez de líderes e de pessoal especializado. Ademais, no que<br />
tange ao projeto-pilôto, esta formação <strong>da</strong>rá lugar a serviços<br />
mais efetivos e duradouros na comuni<strong>da</strong>de em que se<br />
encontra radicado, como também no país <strong>da</strong> sede’.<br />
DIFUSÃO<br />
Aconselha o projeto-pilôto que, para maior difusão de<br />
seus objetivos, não só na comuni<strong>da</strong>de em que se tenha esta-<br />
belecido, como em tô<strong>da</strong>s as regiões do país-sede, se faça uma<br />
sóli<strong>da</strong> campanha de difusão do mesmo pelo rádio, pelo cine-<br />
ma, pelos jornais, conferências, grupos de discussão, e outros<br />
meios modernos e efetivos de publici<strong>da</strong>de, o que, prazeirosa-<br />
mente, vejo estar em consonância com o que digo no plano<br />
que tracei no livro acima aludido.<br />
ORGANIZAÇÃO DO PROJETO-PILOTO<br />
“Deve estar a cargo de uma enti<strong>da</strong>de nacional autôno-<br />
ma, que possua experiência ou interêsse pelo cooperativismo,<br />
e cujos recursos financeiros possam levá-lo a bom têrmo”.<br />
Sugere, por exemplo, que poderão dêle encarregar-se as insti-<br />
tuições bancárias que atualmente dão assistência técnica e<br />
financeira as socie<strong>da</strong>des cooperativas, ou uma enti<strong>da</strong>de dedi-<br />
ca<strong>da</strong> à realização de programas de bem-estar econômico e so-<br />
cial, como são as corporações de fomento, os conselhos de pro-<br />
dução agrícola e outras organizações semelhantes.<br />
No Brasil, poderão ser indicados, dizermos nós, as<br />
enti<strong>da</strong>des oficiais prepostas a isto (sana<strong>da</strong>s suas conheci<strong>da</strong>s<br />
deficiências): o Serviço de Economia Rural e o Banco Nacional<br />
de Crédito Cooperativo; nos Estados: os departamentos de<br />
cooperativismo. A questão é tirá-los <strong>da</strong> precarie<strong>da</strong>de de ele
266 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
mentos de ação em que vivem, com verbas e material humano<br />
escassos.<br />
A ain<strong>da</strong> pequena coorte de vexilários do ideal<br />
cooperativo no Brazil tem ain<strong>da</strong> ingente labor que enfrentar,<br />
no gladiar do bom combate, longa cruza<strong>da</strong> incruenta contra a<br />
incompreensão, o indiferentismo, a mentali<strong>da</strong>de e as<br />
idiossincrasias de nossa gente...<br />
A própria ............ <strong>da</strong>s elites em autófaga omissão, eis uma<br />
meta... , ....... sunt oculi...<br />
BASES DE UMA POLÍTICA OFICIAL DE FOMENTO<br />
AO COOPERATIVISMO COMO PARTE DO PROCESSO<br />
ECONÔMICO NACIONAL — Os SERVIÇOS OFICIAIS<br />
Como se trata de assunto de grande interêsse para todo<br />
o movimento cooperativo sul-americano e sobretudo para o<br />
Brazil, reproduzimos longo trecho de um trabalho recentemen-<br />
to lançado à publici<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> União Pan-Americana, denomi-<br />
nado “Desenvolvimento, do movimento cooperativo na Amé-<br />
rica” — (“Desarrollo del movimiento cooperativo en Améri-<br />
ca”). Ei-lo:<br />
Bases <strong>da</strong> política oficial<br />
“Antes de entrar em cheio no estudo <strong>da</strong>s bases de uma<br />
política governamental em favor <strong>da</strong> constituição de socie<strong>da</strong>-<br />
des cooperativas, é conveniente delinear a posição do Estado<br />
frente ao movimento cooperativo neste Hemisferio e precisar<br />
seu campo de ação.<br />
O papel que se atribui ao Estado no desenvolvimento do<br />
movimento cooperativo, tem sofrido diversas interpretações,<br />
mas são notórias as tendências opostas: a primeira sustenta-<br />
<strong>da</strong> por estudiosos dirigentes cooperativistas, que vêem com<br />
desconfiança a intervenção estatal na vi<strong>da</strong> interna <strong>da</strong>s coope-<br />
rativas e que trazem consigo um marcado paternalismo e,<br />
por conseguinte, estão decididos a manter a independência<br />
absoluta em relação ao Estado, isto ocorrendo com os movi-<br />
mentos cooperativistas dos países anglo-saxões. O segundo<br />
grupo considera a intervenção estatal não só necessária, senão<br />
indispensável e, com êste motivo, a principal ativi<strong>da</strong>de dêstes<br />
dirigentes cooperativistas consiste em recomen<strong>da</strong>r, mediante<br />
uma legislação extremamente regulamenta<strong>da</strong>, a fomento e o<br />
contrôle <strong>da</strong>s cooperativas pelo Estado. Os líderes cooperativis-
FÁBIO LUZ FILHO 267<br />
tas latino-americanos, com algumas exceções, são partidários<br />
desta última posição.<br />
Se se fizer um exame do movimento cooperativo na<br />
America partindo dêste pontos-de-vista, observa-se que as<br />
resultados obtidos são diferentes. Nos Estados Unidos <strong>da</strong><br />
América, por exemplo, o movimento alcançou um notável<br />
desenvolvimento e é parte do processo econômico nacional. Na<br />
América Latina os líderes cooperativistas de ambas as<br />
tendências não lograram, ain<strong>da</strong>, impor seus pontos-de-vista.<br />
Os patrocinadores <strong>da</strong> intervenção estatal no movimento<br />
cooperativo, com exceção de alguns países, não lograram,<br />
ain<strong>da</strong>, interessar os funcionários do govêrno quanto à<br />
vantagem do sistema e técnica cooperativas. Os<br />
patrocinadores de um movimento popular espontâneo,<br />
entanto, realizam uma obra silenciosa de educação e<br />
aglutinação cooperativas de consumidores e produtores,<br />
logrando desenvolvimento muito lento.<br />
Os problemas que na América Latina encaram ambos os<br />
grupos, podem sintetizar-se no seguinte: os patrocinadores <strong>da</strong><br />
intervenção e ação estatal direta, defrontam o problema de<br />
escassez de funcionários tècnicamente preparados, não só em<br />
administração pública, mas também em assuntos específicos<br />
do cooperativismo, muitos dos quais se tem esboçado nos capí-<br />
tulos anteriores.<br />
Os patrocinadores <strong>da</strong> cooperação autônoma têm que<br />
lutar contra a tremendo problema que é a falta de cultura<br />
econômica do povo e em virtude de que sua ativi<strong>da</strong>de está<br />
reduzi<strong>da</strong> e constitui um movimento sem significação nem<br />
transcendência no processo cujas causas também foram<br />
esboça<strong>da</strong>s em capítulos anteriores.<br />
Em face dessas duas tendências consideraram mais acer-<br />
ta<strong>da</strong> a opinião dos especialistas que se batem por uma posição<br />
intermediária do Estado entre ambas as que não produzem<br />
nenhum benefício às economias dos respectivos países.<br />
Apoio de Economistas e Sociólogos<br />
Esta opinião tem o apoio de economistas, sociólogos e<br />
educadores, que vêem no movimento cooperativo na América,<br />
como em outros continentes, uma esperança de bem-estar so-<br />
cial, mediante uma coordenação <strong>da</strong> ação estatal e individual.<br />
Assim mesmo, muitos órgãos técnicos internacionais, coinci-<br />
dentes com esta idéia, recomen<strong>da</strong>m, como dissemos em pági-<br />
nas anteriores, para as países pouco desenvolvidos, uma in-<br />
tensa campanha cooperativista.
268 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
A opinião do Secretariado Técnico <strong>da</strong> Organização dos<br />
Estados Americanos e também partidário <strong>da</strong> última posição,<br />
e, assim, tomou a iniciativa para a formação de pessoal diri-<br />
gente especializado em cooperativas, dentro do Programa de<br />
Cooperação Técnica <strong>da</strong> Organização dos Estados Americanos.<br />
O Centro Interamericano de Treinamento para Dirigentes do<br />
Movimento Cooperativo foi o primeiro passo de coordenação<br />
cooperativista americana. A fase seguinte corresponderá aos<br />
governos, para estabelecimento de centros permanentes com<br />
o mesmo objetivo. Sôbre êste particular, chama-se a atenção<br />
do leitor que desejar informação mais detalha<strong>da</strong> dos resulta-<br />
dos dêste primeiro ensaio na América para o Projeto n.° 16<br />
do Programa de Cooperação Técnica, que forma parte <strong>da</strong><br />
Informação do Secretário Executivo do Comité Coordenador<br />
de Assistência Técnica à X Conferência interamericana.<br />
Bases gerais e ação oficial<br />
As bases gerais para uma sóli<strong>da</strong> e efetiva ação estatal<br />
podem ser reduzi<strong>da</strong>s a três: — 1) formação de uma lei geral<br />
de cooperativas; 2) a criação ou maior estímulo dos órgãos go-<br />
vernamentais de fomento cooperativo, mediante crédito e fi-<br />
nanciamento; 3) criação de órgãos governamentais adminis-<br />
trativos para serviços de registro, contrôle, etc., e aparelha--<br />
mento técnico a cooperativas.<br />
Sôbre o primeiro ponto podemos dizer que todos os<br />
países <strong>da</strong> America têm legislação vigente sôbre cooperativas,<br />
umas consigna<strong>da</strong>s em suas cartas magnas, outras vincula<strong>da</strong>s a<br />
leis sociais, de trabalho, etc., e muito poucos tem leis especiais.<br />
É recomendável um novo estudo <strong>da</strong> legislação cooperativa na<br />
América para torná-la mais praticável e eficiente. Sôbre êste<br />
particular, poderíamos recomen<strong>da</strong>r a promulgação de uma lei<br />
geral abrangendo todo o movimento, deixando a regulamen-<br />
tação e tô<strong>da</strong> a parte administrativa ao Executivo, de acôrdo<br />
com a reali<strong>da</strong>de interna de ca<strong>da</strong> país. Note-se que algumas leis<br />
incluem disposições regulamentares que dão rigidez excessiva<br />
a estas.<br />
Apoio do Estado<br />
Sôbre o segundo ponto podemos afirmar que é um dos<br />
elementos básicos <strong>da</strong> política estatal para o fomento <strong>da</strong>s coope-<br />
rativas. É necessário que a aju<strong>da</strong> financeira seja distribuí<strong>da</strong><br />
entre todos as tipos de organização cooperativa e não limitá-la<br />
sòmente às agrícolas, como acontece em alguns países. Uti
FÁBIO LUZ FILHO 269<br />
lizaríamos também o sistema de reembôlso do capital inicial-<br />
mente investido pelo Estado, pelas cooperativas que se benefi-<br />
ciam com êle, tal como sucede com os bancos de fomento geral.<br />
Sôbre o terceiro ponto recomen<strong>da</strong>ríamos a centralização<br />
administrativa. Muitos países <strong>da</strong> Ásia têm feito esta centra-<br />
lização até com a criação de um <strong>Ministério</strong> de Cooperativas para<br />
ocupar-se dos múltiplos aspectos técnicos, administrativos e<br />
sociais que a ativi<strong>da</strong>de cooperativa comporta ,em países de<br />
escasso desenvolvimento econômico, no sentido de superar uma<br />
forma de economia colonial por uma economia nacional, ao<br />
adquirirem, recentemente, a independência política.<br />
Centralização administrativa, tecnificação e bem-estar social<br />
A centralização administrativa, seja uma<br />
Superintendência ou outro tipo de órgão do govêrno, semi-<br />
autônomo, serviria para melhorar o rendimento estatal quanto<br />
à eficiência, orientação e resultados. Desejamos a preparação<br />
de bons funcionários oficiais na técnica cooperativa, para<br />
transformar a atitude passiva, que é a característica geral dos<br />
órgãos do governo encarrega<strong>da</strong>s do fomento e contrôle de<br />
cooperativas, numa atitude dinâmica, que é ver<strong>da</strong>deiramente o<br />
papel que devem desempenhar. A tecnificação do pessoal<br />
especializado dêsses órgãos do govêrno, terá um grande efeito<br />
nos projetos de bem-estar social que estão a cargo de outros<br />
órgãos oficiais.<br />
Revisão de métodos<br />
A coordenação dêsses três elementos produzirá resulta-<br />
dos satisfatórios em tô<strong>da</strong> política governamental de fomento<br />
às cooperativas. Tais resultados são de alcance imediato se<br />
os Estados fizerem uma revisão <strong>da</strong> assistência que são atual-<br />
mente às cooperativas, produzindo, assim, o clima apropriado<br />
para que estas se desenvolvam. Naqueles outros países onde<br />
não existe esta coordenação, é urgente que ela se estabeleça,<br />
para evitar a per<strong>da</strong> de esforços <strong>da</strong> iniciativa individual ou as<br />
inversões que o Estado possa ter realizado. Nos outros onde a<br />
indiferença estatal seja notória, podemos afirmar que a expe-<br />
riência americana pode servir-lhe de exemplo e recentemente<br />
são dignos de elogio os esforços <strong>da</strong> Bolívia e Haiti para o fo-<br />
mento de cooperativas.<br />
Êste último país enviou um grupo de dez pessoas por vá-<br />
rios países <strong>da</strong> América para que adquirissem a experiência e
270 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
o treinamento adequados no desempenho de suas futuras ati-<br />
vi<strong>da</strong>des como funcionários de cooperativas.<br />
Se os governos dos países membros <strong>da</strong> Organização<br />
dos Estados Americanos, que não o tenham feito, to<strong>da</strong>via,<br />
derem séria e favorável consideração à adoção <strong>da</strong>s três<br />
políticas básicas sugeri<strong>da</strong>s, cremos, firmemente, que o<br />
movimento cooperativo neste Hemisfério se robustecerá,<br />
continuará desenvolvendo-se sôbre sóli<strong>da</strong>s bases, que<br />
redun<strong>da</strong>rão num benefício positivo para os povos <strong>da</strong><br />
América".<br />
Aqui encerro o brilhante trecho do relato norte-ameri-<br />
cano.<br />
A AÇÃO GOVERNAMENTAL<br />
Um grupo de doze técnicos (“peritos” em cooperativis-<br />
mo) pertencentes a países <strong>da</strong> América Latina, Ásia, Europa<br />
e Próximo Oriente e Oriente-Médio, reuniu-se recentemente<br />
em Genebra sob os auspícios <strong>da</strong> Repartição Internacional do<br />
Trabalho. Discutiram os problemas relativos à legislação<br />
cooperativa, à organização e ao funcionamento dos serviços<br />
governamentais de assistência ao cooperativismo. As relações<br />
intercooperativas constituíram também um dos temas <strong>da</strong>s<br />
discussões.<br />
A atuação <strong>da</strong> R. I. T. no que tange ao movimento<br />
cooperativo universal foi também alvo de debates prolongados.<br />
Foram, dentre outras, feitas as seguintes<br />
recomen<strong>da</strong>ções:<br />
Assistência técnica<br />
1.º — A assistência técnica as cooperativas deve acentuar-se.<br />
2.º — Deve-se participar mais ativamente dêsse tipo de<br />
assistência, aconselhando os governos na feitura de programas.<br />
3.º — São necessi<strong>da</strong>des imperiosas: formação de dirigentes<br />
cooperativos, criação de cooperativas de diferentes tipos,<br />
conselhos sôbre problemas específicos de organização<br />
cooperativa.<br />
4.º — As associações cooperativas, inclusive aquelas de<br />
países subdesenvolvidos, devem estu<strong>da</strong>r a maneira de colocar<br />
à disposição <strong>da</strong> Repartição Internacional do Trabalho maior<br />
número de técnicos (“experts”) qualificados, para sua utilização<br />
dentro do programa de assistência técnica.
FÁBIO LUZ FILHO 271<br />
5.º — As campanhas de orientação do público devem ser<br />
ativa<strong>da</strong>s, a fim de mobilizar a opinião pública em favor do<br />
movimento cooperativo.<br />
Legislação específica<br />
1.º— O movimento cooperativo precisa de uma legisla-<br />
ção especial, independente <strong>da</strong>s disposições gerais de direito<br />
civil e comercial.<br />
2.º — Alguns peritos (técnicos) se pronunciaram a favor<br />
de uma lei geral relativa ao estatuto cooperativo, lei que esta-<br />
beleça regulamentação particular para ca<strong>da</strong> tipo de coopera-<br />
tiva (êste ponto deve merecer a atenção dos legisladores bra-<br />
sileiros).<br />
Outros propuseram o estabelecimento de um "código<br />
cooperativo”, que compreen<strong>da</strong> uma lei geral e seções separa-<br />
<strong>da</strong>s (mais uma vez chamamos a atenção dos legisladores bra-<br />
sileiros) correspondentes a ca<strong>da</strong> tipo de cooperativas.<br />
Finalmente, um terceiro setor de “experts” opinou por<br />
uma lei geral sem seções particulares.<br />
3.º — Recomendou-se (novamente chamamos a atenção<br />
dos legisladores brasileiros) uma certa supervisão ou super-<br />
vigilância do Estado nos casos em que as cooperativas não<br />
possuam experiência suficiente (o caso do Brasil, sobretudo<br />
no Centro, Norte e Nordeste).<br />
Serviços oficiais<br />
1.º — Os governos tem o dever de estimular a formação<br />
de administradores e membros de organizações cooperativas<br />
(mas uma vez chamamos a atenção de certos legisladores bra-<br />
sileiros que querem negar ao cooperativismo no Brasil a assis-<br />
tência técnica através de órgãos oficiais específicos).<br />
2.º — Devem aju<strong>da</strong>r as cooperativas para que assumam<br />
gradualmente diversas funções de contrôle, que na atuali<strong>da</strong>de<br />
são <strong>da</strong> alça<strong>da</strong> <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des.<br />
3.º — Em numerosos campos de ativi<strong>da</strong>de — a eletrifi-<br />
cação rural, por exemplo — a ação governamental poderia<br />
também abrir novos campos de ativi<strong>da</strong>de ao movimento coope-<br />
rativo.<br />
Relações intercooperativas<br />
São os seguintes os meios de ação direta para incremen-<br />
tá-las: estabelecimento de um guia internacional sôbre a ca-<br />
paci<strong>da</strong>de de produção <strong>da</strong>s cooperativas, suas necessi<strong>da</strong>des de
272 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
abastecimento, condições dos mercados nacionais, etc.; esta-<br />
belecimento de uma feira internacional, etc.<br />
Última recomen<strong>da</strong>ção<br />
Os técnicos, finalmente, recomen<strong>da</strong>ram que a B.I.T. realize<br />
um amplo estudo dos organismos nos quais a administração e<br />
o funcionamento se realizam conjuntamente por cooperativas<br />
de tipos diversos.<br />
O grupo de técnicos acima referido esteve sob a presidência<br />
do Sr. A. A. Drejer, <strong>da</strong> Dinamarca, e sob a vice-presidência do<br />
Sr. Carlos Valderrama Ordonez, <strong>da</strong> Colômbia.
CAPITULO XIII<br />
EXCERTOS SOBRE COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Eis excertos de Domingo Bórea em “Tratado de Coopera-<br />
ción" (1927):<br />
"O Primeiro Congresso Argentina de Cooperação", por<br />
unanimi<strong>da</strong>de, resolveu dirigir-se ao Presidente do Conselho<br />
Nacional de Educação, aos Diretores <strong>da</strong>s Escolas <strong>da</strong> Provín-<br />
cia e Bibliotecas Populares pedindo-lhes que tratem de pro-<br />
mover os meios para que em tô<strong>da</strong>s as escolas <strong>da</strong> República se<br />
instruam os alunos nos princípios básicos <strong>da</strong> mutuali<strong>da</strong>de e<br />
<strong>da</strong> cooperação.<br />
“Êsse Congresso sancionou outra resolução, recomen<strong>da</strong>ndo<br />
ao <strong>Ministério</strong> de Instrução Pública, Conselho Nacional de<br />
Educação e aos Diretores de Escolas de Províncias a criação, nos<br />
estabelecimentos educacionais de sua dependência, de cursos de<br />
cooperação e economia, postal, ao mesmo tempo que livrarias<br />
cooperativas constituí<strong>da</strong>s por pais, pessoal docente e alunos, a fim<br />
de <strong>da</strong>r um ensino prático do cooperativismo, contribuindo, ao<br />
mesmo tempo, para o barateamento do material de ensino,<br />
atualmente tão custoso em virtude do intermediário.<br />
“Mas quem deu notável impulso as cooperativas<br />
escolares foi a Conselho Nacional de Educação, que criou um<br />
serviço especial, dependente diretamente <strong>da</strong> Presidência do<br />
mesmo Conselho, chamado “Inspeção de cooperativas”,<br />
dirigido pelo Dr. Carlos J. Gatti. Folhetos e impressos vários<br />
são distribuí- dos gratuitamente por êste serviço, publicações<br />
que ensinam como se pode organizar e fazer funcionar uma<br />
cooperativa escolar, que colima dois objetivos: um imediato<br />
como a aquisição de material a preços eqüitativos, reduzindo,<br />
assim, os gástos nessa parte dos estudos; o outro se refere à<br />
face educativa, o conhecimento preciso de princípios que, no<br />
correr dos anos, hão-de operar uma modificação fun<strong>da</strong>mental<br />
na organização econômica do país".<br />
18 — 27 454
274 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
“A prática do cooperativismo não educará sòmente os<br />
alunos: a organização virá <strong>da</strong> aula até ao lar com seu método<br />
nas compras, adquirindo o necessário, evitando o supérfluo,<br />
criando uma consciência do gasto que efetuar, para que seja<br />
imita<strong>da</strong> a prática sã <strong>da</strong> economia, que se transformará em<br />
hábito".<br />
“Em todos os países se difundiu o ensino e a prática <strong>da</strong><br />
cooperação nas escolas primárias e secundárias.<br />
“Na Itália, por exemplo, a “Unione italiana<br />
dell’educazio-ne popolare”, com sede em Milão, publicou um<br />
ótimo opus- culo, intitulado “Manualleto per le cooperative<br />
scolastiche”, escrito pelo professor Aldo Oberdorfer.<br />
"O autor põe de manifesto, antes de tudo, que não se<br />
devem confundir as pseudocooperativas escolares, formas pri-<br />
mordiais de cooperação, com as ver<strong>da</strong>deiras cooperativas. Res-<br />
ponde logo pergunta: “Que é uma ver<strong>da</strong>deira cooperativa<br />
escolar”?, <strong>da</strong> seguinte forma: “Mas há uma forma segundo a<br />
qual se pode organizar uma pequena “comuni<strong>da</strong>de de consu-<br />
midores de material escolar”, a qual, ao mesmo tempo que<br />
concede os mesmos benefícios na compra de material tomado<br />
no armazém de compras, explica aos alunos o porquê <strong>da</strong>s eco-<br />
nomias consegui<strong>da</strong>s, ensinando-lhes a maneira de obter outras<br />
maiores. Impõe uma participação direta no movimento de<br />
compras e ven<strong>da</strong>s, isto é, na administração; aconselha a estu<strong>da</strong>r<br />
o melhor emprêgo que se pode <strong>da</strong>r aos lucros que uma em-prêsa,<br />
tão modesta como esta, pode também <strong>da</strong>r. Refiro-me às<br />
cooperativas escolares.<br />
Para os jovens leitores que até aqui me tem seguido, será<br />
fácil compreender o que é uma cooperativa escolar se lhes<br />
disser que se trata, nem mais nem menos, de uma “Coopera-<br />
tiva de consumo para aquisição de objetos de uso escolar”.<br />
“Quem a constitui? Naturalmente os interessados, isto é,<br />
os alunos.<br />
“Quem é chamado a gozar de suas vantagens? Natural-<br />
mente só os sócios, isto é, aquêles dentre os alunos que senti-<br />
ram o dever de se unir no ato de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de com seus com-<br />
panheiros.<br />
"O Estado, que não pode ajudá-la diretamente, recomen<strong>da</strong><br />
a instituição e aconselha os mestres a <strong>da</strong>r em classe noções sôbre a<br />
mutuali<strong>da</strong>de e a cooperação. A Municipali<strong>da</strong>de a favorece<br />
amiúde, concedendo-lhe um lugarzinho dentro do edifício escolar,<br />
e às vêzes armários onde se possa guar<strong>da</strong>r o material adquirido, ou<br />
por outros meios.
FÁBIO LUZ FILHO 273<br />
“Os mestres dedicam-lhe sua formosa ativi<strong>da</strong>de,<br />
ilumina<strong>da</strong> de fé na bon<strong>da</strong>de educadora <strong>da</strong> cooperação e <strong>da</strong><br />
consciência <strong>da</strong> utili<strong>da</strong>de prática que adquirem os alunos<br />
com o exercê-la. Em suma, há uma corrente favorável às<br />
cooperativas escolares; só resta soltar as velas e afrontar os<br />
riscos do mar alto.<br />
“Amigos, valor! Fundemos nossa cooperativa escolar!<br />
“Bem! Muito bem! Mas... como se faz?<br />
“Antes de tudo é preciso estabelecer-se se a cooperativa<br />
há-de servir à escola tô<strong>da</strong> ou sòmente a uma classe. No meu<br />
entender, embora as dificul<strong>da</strong>des sejam maiores, a pequena<br />
cooperativa deve servir sempre à escola inteira.<br />
“As cooperativas microscópicas de ca<strong>da</strong> classe em parti-<br />
cular, não só por sua pequenez, mas também por outros mo-<br />
tivos, falham função de ensinar aos jovens sócios os princí-<br />
pios elementares <strong>da</strong> administração de um pequeno organismo<br />
econômico e perdem, portanto, parte de seu valor educativo.<br />
Pelo excessivo fracionamento, nunca adquirem a capaci<strong>da</strong>de<br />
suficiente para realizar uma ação tal, que possa ser empre-<br />
ga<strong>da</strong> para fins superiores de assistência e previsão que devem,<br />
como veremos, estar no cume de uma bem medita<strong>da</strong> e ordena-<br />
<strong>da</strong> obra do cooperação escolar. As pequenas administrações<br />
abraçam, portanto, em sua ativi<strong>da</strong>de, a escola inteira.<br />
“Em segundo lugar, há necessi<strong>da</strong>de de determinar quem<br />
terá o direito de fazer compras na cooperativa escolar. Con-<br />
tràriamente ao que se costuma fazer nas pequenas adminis-<br />
trações dêste gênero já existentes, aconselho muito a estabe-<br />
lecimento desta norma: que a ven<strong>da</strong> se faça sòmente aos<br />
sócios. E sabes por quê? Porque quero que os alunos coopera-<br />
dores apren<strong>da</strong>m a considerar sua cooperativa não como um<br />
armazém qualquer, onde qualquer pessoa pode ir buscar os<br />
melhores artigos aos melhores preços sem se sentir a êle vin-<br />
culado de modo algum, mas como uma instituição na qual<br />
ca<strong>da</strong> um está ligado, individualmente, pelo pequeno sacrifício<br />
que fêz aderindo a ela, pelo pequeno esfôrço que realiza em<br />
ajudá-la no desenvolvimento de sua ativi<strong>da</strong>de, pelo prazer que<br />
lhe <strong>da</strong>rá a verificação de certo resultado obtido no fim do ano<br />
graças às fadigas comuns e, enfim, também pela real vanta-<br />
gem econômica que lhe trará.<br />
“Mas, perguntarão: que mal há em se permitir que se<br />
ven<strong>da</strong> também aos não-sócios? Não <strong>da</strong>rão êstes, comprando<br />
à socie<strong>da</strong>de, um lucro de que mais tarde gozarão os sócios?<br />
Talvez por que também as grandes cooperativas não vendem<br />
ao público?
276 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
“Certamente na Itália as grandes cooperativas de consu-<br />
mo, e também as pequenas, vendem aos não-sócios; mas pre-<br />
cisamente agora se começa a combater sèriamente este cos-<br />
tume, que tem uma única vantagem, entre tantos perigos e<br />
defeitos: aumentar as cifras de ven<strong>da</strong>s, aumentando, assim, o<br />
lucro <strong>da</strong> administração. Mas nós outros devemos recor<strong>da</strong>r<br />
sempre que a finali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s cooperativas escolares não pode<br />
ser sòmente o lucro, mas principalmente a de educar os alu-<br />
nos na soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e fazer com que efetuem alguma econo-<br />
mia nos gastos, e é evidente que a eficácia educativa será tan-<br />
to maior quanto melhor os alunos compreen<strong>da</strong>m que só por<br />
meio <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, inscrevendo-se como sócios e colabo-<br />
rando, começam a gozar <strong>da</strong>s vantagens materiais <strong>da</strong> economia<br />
nas despesas.<br />
“Aconselha sempre, para evitar qualquer intento de espe-<br />
culação por parte do aluno aderente à cooperativa, que se di-<br />
vi<strong>da</strong>m os lucros entre os consumidores. O princípio <strong>da</strong> divisão<br />
dos lucros, pôsto muito em vigência por tô<strong>da</strong>s as cooperativas<br />
de consumo, irrefutável do ponto de vista econômico, tem,<br />
não obstante, o inconveniente de exercer uma função negati-<br />
va na educação cooperativa do associado, porque, enquanto<br />
se faz tudo para ensinar-lhe que a cooperação significa, antes<br />
de tudo, renúncia ao direito de lucro individual por um lucro<br />
coletivo, — a pequena soma destina<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> um como quota<br />
de participação no lucro, — desperta o espírito individualista<br />
e não solidário. Melhor, portanto, conservar indivisíveis os<br />
lucros <strong>da</strong> administração e utilizá-los para fins de interêsse geral<br />
dos associados, de modo que sejam a urn mesmo tempo os frutos<br />
do trabalho realizado em comum e a oportuni<strong>da</strong>de de gozá-los<br />
ain<strong>da</strong> em comum.<br />
“Mas ain<strong>da</strong>:deve-se deixar aos meninos cooperadores a<br />
maior liber<strong>da</strong>de nas deliberações referentes a essa ação coope-<br />
rativa.<br />
“O mestre e o diretor deverão estar sempre, vigilantes, e<br />
isto compreensível, para que as deliberações sejam honestas,<br />
úteis e concordes com as boas normas <strong>da</strong> cooperação, para que<br />
o que se fizer seja fiel expressão do que se decidiu; mas essa<br />
vigilância será tanto mais eficaz quanto menos se fizer sentir. A<br />
cooperativa escolar, tem com efeito, além do fim mais<br />
diretamente utilitário <strong>da</strong> economia nas compras, também um<br />
fim prático mais remoto: acostumar os meninos a decidir e exe-<br />
cutar, não por obediência a outros, e por isso passivamente,<br />
mas pela consciência do dever e, conseguintemente, arcando,<br />
com tô<strong>da</strong> a responsabili<strong>da</strong>de do que estão decidindo e fazendo.
FÁBIO LUZ FILHO 277<br />
Estas pequenas administrações querem, pois, habilitar moral-<br />
mente os meninos a deliberarem por si mesmos, ponderosamente,<br />
e a executar as resoluções com adequa<strong>da</strong> preparação técnica.<br />
“Para isso, o maior número de meninos deve participar<br />
<strong>da</strong>s operações materiais <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s, e dos registos de contabi-<br />
li<strong>da</strong>de e números deve participar também o Conselho de Admi-<br />
nistração. Para vender e para controlar, devem suceder-se por<br />
turnos de quinze dias (pois menos tempo seria muito pouco<br />
para aprender alguma coisa), grupos de dez alunos, e no fun-<br />
cionamento do conselho de administração não haverá perigo<br />
de que seus membros sejam muitos, se o mestre, que preside<br />
à discussão e a regula, tiver habili<strong>da</strong>de para fazer falar e ca-<br />
lar sem que sua ação se faça mui notável, For outro lado, é<br />
muito útil que a maior quanti<strong>da</strong>de possível de cooperadores<br />
conheça as boas normas cooperativas, que o mestre exporá,<br />
indicando as questões a discutir ou julgando, de vez em quan-<br />
do, o que se fêz no período precedente de ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> coope-<br />
rativa.<br />
“Se fôr realmente afadigosa para mestres e alunos a tarefa<br />
do preparar à tarde o material para o dia seguinte, na<strong>da</strong> impedirá<br />
que se encarregue disso uma pessoa prática,<br />
assalaria<strong>da</strong>, talvez o próprio porteiro <strong>da</strong> escola. Em tal caso se<br />
resolverá outra dificul<strong>da</strong>de: a <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> do material durante as<br />
horas de aula. Não se pode evitar, com efeito, que, eventual-<br />
mente, um aluno necessite de tal ou qual objeto, e não seria<br />
justo que o cooperador se visse obrigado, não podendo com-<br />
prar em sua cooperativa, a correr até à livraria <strong>da</strong> esquina.<br />
Por outro lado deve-se proibir de um modo absoluto que du-<br />
rante as horas de aula os alunos administradores aten<strong>da</strong>m a<br />
outra coisa que não sejam suas obrigações escolares, nem é<br />
aconselhável empregá-los nos dez minutos de recreios, porque,<br />
passando de um trabalho a outro durante quatro ou cinco<br />
horas consecutivas, sem um instante de repouso, se cansariam<br />
com prejuízo <strong>da</strong> atenção e <strong>da</strong> instrução.<br />
“Lembrem-se sempre de que a cooperativa deve ser um<br />
complemento <strong>da</strong> obra educadora <strong>da</strong> escola e não causa para<br />
obstar à eficácia dela ou diminuí-la".<br />
E, acrescento eu, Rivas Moreno diz que “el mejor<br />
auxiliar de gestionar la creación de una catedra en las<br />
normales para la enseñanza de la Cooperación.<br />
“Importa mucho educar la mujer en las práticas de la<br />
Cooperación... Interessa a la Cooperación ganar, para el<br />
desarrollo de las instituciones, al magistério femenino".
278 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Mazzini disse que a mulher é força, inspiração, potência<br />
multiplicadora <strong>da</strong>s facul<strong>da</strong>des morais e intelectuais.<br />
A cooperativa levará ao que Sombart caracterizou como<br />
Weltanschanung, melhor concepção <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, e Stimmung,<br />
sentido do fôro interior...<br />
Totomianz considera as cooperativas escolares como as-<br />
sociações integra<strong>da</strong>s nas escolas, sendo, assim, a própria es-<br />
cola converti<strong>da</strong> em cooperativa, o que reveste um profundo<br />
sentido para a doutrina cooperativa, que vê na mulher um de<br />
seus maiores esteios.<br />
PAPEL DO PROFESSOR NAS COOPERATIVAS<br />
ESCOLARES<br />
A COOPERATIVA ESCOLAR COMO CENTRO<br />
ATIVO DA ESCOLA<br />
Prof. J. VENTOSA ROIG (México)<br />
O Professor, D. Tirado Benedí, em seu excelente livro<br />
“Cooperativas, Oficinas, Hortas e Granjas Escolares”, faz dis-<br />
tinção entre Cooperativa Escolar e Escola Cooperativa. A pri-<br />
meira, como organismo complementar <strong>da</strong> escola, tanto pelo<br />
seu aspecto econômico como pelo educativo — evidentemente<br />
o mais importante — ain<strong>da</strong> que ambos sejam inseparáveis,<br />
pois é também defini<strong>da</strong> como "instrumento educativo, que<br />
realiza sua ação através de uma emprêsa econômica". A Es-<br />
cola Cooperativa, para o citado autor “representa a síntese,<br />
isto é, a organização total <strong>da</strong> escola na qual se articulam de<br />
maneira harmônica e perfeita as diversas instituições de ação e<br />
de irradiação do dito centro educativo”.<br />
Poderíamos dizer, pois, que a Cooperativa Escolar é o<br />
princípio, a iniciação <strong>da</strong> Escola Cooperativa, tal como a con-<br />
cebe Tirado Benedí, como síntese <strong>da</strong>s realizações mais efi-<br />
cientes <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong> técnica <strong>da</strong> educação.<br />
As Cooperativas Escolares não se propõem formar car-<br />
pinteiros, agricultores, eletricistas, etc., mas em suas ativi<strong>da</strong>-<br />
des produtivas iniciam os alunos, desde as Escolas Primárias<br />
as Superiores, nos rudimentos de muitas profissões, ao mesmo<br />
(Este trabalho foi especialmente escrito pelo émérito<br />
educador espanhol, radicado no México, para a Divisão de<br />
Assistência ao Cooperativismo do Estado do Rio. Traduzido<br />
por Ruth Moura).
FÁBIO LUZ FILHO 279<br />
tempo em que desenvolvem nos mesmos a base de tô<strong>da</strong> pro-<br />
fissão, além <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des mais elementares que praticamos<br />
todos as dias: a habili<strong>da</strong>de manual.<br />
É ver<strong>da</strong>de que se tem procurado desenvolver esta habili-<br />
<strong>da</strong>de em todos os sistemas pe<strong>da</strong>gógicos modernos, iniciando-se<br />
logo nos Jardins de Infância e ampliando-se mediante o tra-<br />
balho manual nos diferentes graus, mas na Coperativa Esco-<br />
lar procura-se e consegue-se tornar o trabalho manual inte-<br />
ressante para o aluno, de forma a não ser considera<strong>da</strong> como<br />
uma obrigação imposta, mas que a veja como uma fonte de<br />
utili<strong>da</strong>de, não apenas no sentido material ou pecuniário, mas<br />
em outro mais elevado e moral. Os trabalhos manuais para o<br />
cooperador escolar, desde os mais elementares, como o recor-<br />
tar bonecos de papel, adornos para decorar o salão de festas<br />
para uma quermesse, ou representação dramática, até a fabri-<br />
cação de objetos simples ou a colheita de frutas, hortaliças e<br />
legumes na Horta Escolar, representam a obtenção de fundos<br />
para a aquisição de um aparelhamento de projeções, de rádio,<br />
uma discoteca, livros interessantes para a Biblioteca Escolar;<br />
o meio de amparar um companheiro atacado por qualquer<br />
enfermi<strong>da</strong>de ou que sofreu um acidente e também a aspiração<br />
bem legítima de obter, com parte do produto de seu trabalho e<br />
de seu excesso de percepção, a importância suficiente para<br />
adquirir algum objeto de uso pessoal, luxo que muitas vêzes<br />
não pode permitir-se, sem a Cooperativa, o aluno filho de fa-<br />
mília muito modesta.<br />
Como já disse alhures, longe de considerar a<br />
distribuição de uma parte do excesso de percepção aos alunos<br />
associados como um estímulo ao egoísmo dos mesmos, estando<br />
o professor à altura de sua missão a renúncia voluntária de<br />
uma parte dêste excesso, em favor de um condiscípulo que<br />
dêle necessite, ou de algo que seja do interésse coletivo, serve<br />
para cul-tivar o sentimento de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e de aju<strong>da</strong> mútua.<br />
Na formação de hábitos sociais, dêstes sentimentos de so-<br />
li<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de entre as alunos e entre êstes e os mestres, consti-<br />
tuindo uma uni<strong>da</strong>de social, a Escola, nenhuma outra institui-<br />
ção nem disciplina escolar, pode comparar-se com a Coopera-<br />
tiva Escolar. Claro que estas não devem limitar as suas ativi-<br />
<strong>da</strong>des à simples distribuição de material escolar e de outros<br />
artigos que as crianças solicitam. O consumo ou distribuição,<br />
por muito interessante, não representa mais que o primeiro<br />
passo, mas ain<strong>da</strong> neste aspecto se impõe o trabalho em comum<br />
ou em equipe, na preparação do local de ven<strong>da</strong>s, na ordenação<br />
<strong>da</strong>s mercadorias, no contrôle dos artigos distribuídos.
280 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Nas reuniões dos Conselhos e Assembléias Gerais, sempre<br />
que uns e outras se realizem com a freqüência precisa, o aluno<br />
acostuma-se logo a sujeitar-se à vontade <strong>da</strong> maioria, a disci-<br />
plinar-se. E todos êstes resultados aumentam em intensi<strong>da</strong>de,<br />
quando se inicia a cooperação de produção em qualquer de<br />
suas formas.<br />
Mas a Cooperativa Escolar é muito mais que isto. Quan-<br />
do atinge a seu pleno desenvolvimento, a Cooperativa consti-<br />
tui a alma <strong>da</strong> Escola, e ao seu redor se realizam tô<strong>da</strong>s as ati-<br />
vi<strong>da</strong>des escolares. É a Cooperativa a instituição que organiza<br />
as festas, formando quadros dramáticos, fun<strong>da</strong>ndo um orfeão<br />
ou côro escolar; equipes esportivas; pequenas excursões du-<br />
rante as quais se colecionam insetos, plantas ou minerais pa-<br />
ra o Museu Escolar. A Cooperativa é a enti<strong>da</strong>de que cui<strong>da</strong> do<br />
embelezamento <strong>da</strong> Escola e <strong>da</strong> sua higiene e limpeza; a que<br />
atende à conservação <strong>da</strong>s árvores e flores do jardim público<br />
próximo; em uma palavra, a que desenvolve um sem-fim de<br />
ativi<strong>da</strong>des que variam em ca<strong>da</strong> escola, mas que têm de comum<br />
o habituar os alunos à vi<strong>da</strong> social, ao esfôrço coletivo, a desen-<br />
volver os entendimentos de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e de responsabili-<br />
<strong>da</strong>de.<br />
É certo que muitas destas coisas podem fazer-se, e em par-<br />
te se fazem sem a Cooperativa, mas a diferença essencial de<br />
seu valor educativo estriba em que através <strong>da</strong> Cooperativa<br />
tudo se faz por iniciativa dos alunos, a qual o professor pro-<br />
cura despertar e orientar, e tudo isto é considerado pelos esco-<br />
lares como coisa própria, desde a local <strong>da</strong> Escola, de que<br />
cui<strong>da</strong>m com carinho, até ao material escolar, para cuja aqui-<br />
sição contribuíram, bem como as festas esportivas e artísticas.<br />
"O segrêdo do êxito <strong>da</strong>s Cooperativas Escolares depende<br />
de que o mestre saiba orientar as ativi<strong>da</strong>des infantis, do bem<br />
ao belo".<br />
“A intervenção do professor no funcionamento <strong>da</strong>s Coope-<br />
rativas Escolares é decidi<strong>da</strong>mente o problema mais delicado<br />
que se apresenta no desenvolvimento dêstes admiráveis ins-<br />
trumentos de cultura geral e que são ao mesma tempo a me-<br />
lhor escola de cooperativismo. Se nas cooperativas de adultos,<br />
em suas distintas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des, já se chegou a uma perfeita<br />
identificação nos fun<strong>da</strong>mentos, e sendo os Princípios de Roch-<br />
<strong>da</strong>le — pode afirmar-se — universalmente aceitos, com a ex-<br />
ceção única de uns poucos países totalittários, nas escolares<br />
encontramos acentua<strong>da</strong>s divergências em pontos tão essen-<br />
ciais como o que vamos tratar, e estas diferenças se manis-<br />
festam tanto no terreno <strong>da</strong> prática, como no <strong>da</strong>s legislações.
FÁBIO LUZ FILHO 281<br />
Não obstante, como adiante veremos, uma considerável parte<br />
<strong>da</strong>s mesmas obedece mais a circunstâncias ambientes que a<br />
diferenças de caráter doutrinário e pe<strong>da</strong>gógico.<br />
Por isto, deixando de parte os argumentos que abonam<br />
a criação <strong>da</strong>s Cooperativas Escolares, os quais são perfeita-<br />
mente conhecidos pelos leitores de “Divulgação Cooperativis-<br />
ta”, não apenas pelos excelentes artigos publicados nestas pá-<br />
ginas, explanando a matéria, mas também por dispor a lite-<br />
ratura cooperativista brasileira de abun<strong>da</strong>ntes e bem orienta-<br />
dos livros, nascidos de penas tão autoriza<strong>da</strong>s como as do Dr.<br />
Fábio Luz Filho, Dr. Valdiki Moura, Prof. J. Monserrat e Dr.<br />
Luiz Amaral, dedicaremos umas linhas ao papel que o<br />
mestre desempenha nestas cooperativas.<br />
Em primeiro lugar, os autores de maior autori<strong>da</strong>de<br />
são acordes em que só excepcionalmente e nos meios de grande<br />
densi<strong>da</strong>de cooperativa a iniciativa parte dos alunos para a<br />
fun<strong>da</strong>ção de uma cooperativa escolar. Geralmente é o pro-<br />
fessor que toma essa iniciativa, pelo menos nas escolas prima-<br />
rias. E se queremos que a Cooperativa Escolar nasça robusta,<br />
não degenerando em simples rotina ou em mero cumprimen-<br />
to de um dispositivo legal — isto, onde por ventura sua cons-<br />
tituição for obrigatória — precisamos despertar, antes de tu-<br />
do, o interêsse dos alunos. Nem nestas, nem em nenhuma ou-<br />
tra classe de cooperativas, podemos esperar um desenvolvi-<br />
mento satisfatório, se não preencherem uma necessi<strong>da</strong>de real-<br />
mente senti<strong>da</strong> por seus associados. Que necessi<strong>da</strong>des podem<br />
sentir intensamente as crianças, em seus primeiros anos esco-<br />
lares? Naturalmente que as mesmas <strong>da</strong> demais crianças, <strong>da</strong>-<br />
quelas outras que não tiveram oportuni<strong>da</strong>de de freqüentar<br />
uma escola. For ver<strong>da</strong>deira necessi<strong>da</strong>de — ain<strong>da</strong> que às vêzes<br />
tenha a aparência de um simples capricho — a criança gosta<br />
de guloseimas. A constante ativi<strong>da</strong>de física de uma criança<br />
sadia exige alimentos de rápi<strong>da</strong> combustão orgânica, que lhe<br />
forneçam a energia calorífera suficiente e nenhum alimento<br />
melhor que o diverso açucares — a sacarose <strong>da</strong> cana ou be-<br />
terraba; a glucose e a frutose dos frutos, etc., preenchem esta<br />
imposição.<br />
Outra exigência de tô<strong>da</strong> criança normal e com saúde,<br />
são os brinquedos, perfeita válvula de escape, onde consomem<br />
suas exuberantes energias. Menos espontâneo, mais fácil de<br />
dês-pertar na criança, é o gôsto pelos passeios, não os passeios<br />
tranqüilo e sossegados próprios de adultos, mas as caminha-<br />
<strong>da</strong>s buliçosas, acidenta<strong>da</strong>s, que proprcionam um campo ili-<br />
mitado à fantasia infantil, capaz de transformar um pequeno
282 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
grupo de árvores em mata virgem; uma colina insignificante<br />
em enorme montanha; um riacho tranqüilo num Amazonas<br />
opulento; e, ante êsse mundo tão sem limites como a sua fan-<br />
tasia, se sente logo explorador de terras ignotas, caçador lu-<br />
tando contra selvagens e feras, ou herói nas lutas libertárias<br />
<strong>da</strong> pátria.<br />
Se o professor expõe a idéia <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de<br />
como um meio de ganhar dinheiro para a compra de gulosei-<br />
mas e de material esportivo, para a realização de excursões e<br />
passeios campestres, pode considerar ganha a parti<strong>da</strong>. A aqui-<br />
sição de livros e material escolar em bases mais econômicas,<br />
suaves, objetivo de grande interêsse para os país, importa<br />
pouco ou na<strong>da</strong> aos alunos dos primeiros anos escolares, inca-<br />
pazes que são ain<strong>da</strong> de compreender as apuros financeiros<br />
de um lar modesto; mas os adquirirão na cooperativa, se estão<br />
convencidos que com isto contribuem para a formação dos re-<br />
cursos indispensáveis à realização de excursões, compras de<br />
material esportivo, <strong>da</strong>s cobiça<strong>da</strong>s guloseimas ou o que é ain<strong>da</strong><br />
melhor: dos elementos necessários para fabricar, êles mesmos,<br />
sob a direção dos professôres e, especialmente, <strong>da</strong>s professôras,<br />
saborosos confeitos e dôces que serão divididos para o con -<br />
sumo — parte na escola mesmo e 0 restante em suas casas,<br />
onde exibirão orgulhosos a seus pais e irmãozinhos as boas<br />
coisas que fazem em sua Cooperativa. E estas modestas eco-<br />
nomias poderão ser reforça<strong>da</strong>s com o produto de representa-<br />
ções teatrais e de festas organiza<strong>da</strong>s pela Cooperativa.<br />
Acreditamos que esta é uma <strong>da</strong>s melhores formas de ini-<br />
ciar os trabalhos de uma Cooperativa Escolar, porque pode ser<br />
realiza<strong>da</strong> em qualquer escola, Nos meios rurais, onde é fácil<br />
dispor de uma pequena parcela de terreno, o cultivo de uma<br />
horta pelos alunos, distribuídos em grupos — ca<strong>da</strong> um com<br />
sua parte — a criação de umas galinhas ou coelhos ou duas<br />
colmeias, que só cui<strong>da</strong>rão acompanhados por uma pessoa prá-<br />
tica, completarão os meios de iniciação cooperativa.<br />
Durante êste período preparatório, que deve ser repetido<br />
anualmente para os novos alunos, o problema não oferece<br />
complicação alguma para o professor. Êle é a inspirador e o<br />
orientador <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des dos alunos, ain<strong>da</strong> que procure esti-<br />
mular a iniciativa dos mesmos, deixando-os resolver as peque-<br />
nas dificul<strong>da</strong>des que se lhes apresentam, intervindo apenas<br />
para auxiliar a solução dos mais sérios.<br />
Passa<strong>da</strong> essa fase de preparação, os escolares além de<br />
continuar desenvolvendo em maior escala as ativi<strong>da</strong>des iniciais,<br />
devem aprender, na prática, a manejar em forma cooperativa,
FÁBIO LUZ FILHO 283<br />
sua pequena república, exercendo os direitos e cumprindo os<br />
deveres que estas associações impõem aos seus componentes,<br />
com maior intensi<strong>da</strong>de, que qualquer outra organização co-<br />
letiva. É a hora <strong>da</strong>s assembléias gerais, dos conselhos de admi-<br />
nistração e fiscais; <strong>da</strong>s comissões eleitas para objetivos práti-<br />
cos, e através dêstes órgãos administrativos e de govêrnos, os<br />
pequenos ci<strong>da</strong>dãos <strong>da</strong> nossa pequena República Cooperativa<br />
adquirem o hábito <strong>da</strong> honradez e <strong>da</strong> escrupulosi<strong>da</strong>de no ma-<br />
nejo dos bens comuns, o sentido <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de pessoal<br />
na seleção dos dirigentes e no exercício dos cargos, o <strong>da</strong> sóli<strong>da</strong>-<br />
rie<strong>da</strong>de ou aju<strong>da</strong> mútua adquiri<strong>da</strong> mediante o trabalho em<br />
grupos ou equipes; a tolerância e o respeito para com as opi-<br />
niões alheias, ain<strong>da</strong> que lhes pareçam equivoca<strong>da</strong>s, a par <strong>da</strong><br />
coragem e decisão de expor as opiniões próprias, mesmo cho-<br />
cantes com as <strong>da</strong> maioria, mas sem jactância nem preten-<br />
sões de ridícula superiori<strong>da</strong>de; a confiança no esfôrço próprio<br />
conjugado com o alheio; enfim a soma de condições que hão de<br />
convertê-los em bons cooperadores e, portanto, em ci<strong>da</strong>-<br />
dãos conscientes.<br />
Na reali<strong>da</strong>de, a Cooperativa Escolar, além de suas fina-<br />
li<strong>da</strong>des econômicas, sempre secundárias, trata de fazer homens<br />
ou, de preferência, ci<strong>da</strong>dãos cônscios de seus direitos e de-<br />
veres — o que não se conseguirá empregando como único ins-<br />
trumento os discursos e as explanações, com os velhos proce-<br />
dimentos verbalísticos que pretendiam fazer crianças sábias,<br />
enchendo-lhes a cabeça com eloqüentes citações orais ou escri-<br />
tas, acompanha<strong>da</strong>s de algum cocorote de vez em quando.<br />
Como realização prática <strong>da</strong> Escola Nova ou Ativa, a Coopera-<br />
tiva Escolar ensina, não por palavras, mas pela ação, fazendo,<br />
o isto significa simplesmente que o professor, como em qual-<br />
quer outro processo de educação, deve ensinar corn os alunos<br />
mesmos trabalhando na matéria que procuram aprender.<br />
Não cumpre esta missão essencial o mestre que<br />
açambar-ca a direção e a administração <strong>da</strong> Cooperativa<br />
Escolar, con-vertendo os Conselhos, Comissões e Assembléias<br />
em pura ficção, em organismos que existem apenas<br />
aparentemente, limitando-se êsses indispenáveis organismos à<br />
simples função de executores <strong>da</strong> vontade onímo<strong>da</strong> do<br />
professor. A sua intervenção é preciosa, como nas demais<br />
ativi<strong>da</strong>des docentes <strong>da</strong> escola, mas deve limitar-se ao mínimo<br />
indispensável.<br />
Qual é êste mínimo? Não é possível precisar-se um limite<br />
geral. Na França, Bélgica e outros países onde existe ver<strong>da</strong>-<br />
deiro ambiente cooperativo, em que as crianças são família-<br />
riza<strong>da</strong>s com a Cooperação, presenciando manifestações e des-
284 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
files, contemplando os imponentes edifícios-sedes de próspe-<br />
ras socie<strong>da</strong>des, o mestre encontra já prepara<strong>da</strong> a metade <strong>da</strong><br />
sua tarefa e o pai do aluno, cooperador militante muitas<br />
vézes, completa sua missão ao satisfazer a curiosi<strong>da</strong>de do<br />
filho. Por esta razão em tais países a intervenção direta do<br />
professorado é muito pequena desde os primeiros momentos,<br />
mas copiar literalmente êstes métodos — excelentes em seu<br />
país de origem — em ambiente onde é raro encontrarem-<br />
se pessoas que saibam exatamente o que é uma cooperativa e<br />
como funciona, onde as crianças e uma grande parte dos<br />
adultos não conhecem siquer a sua existência, cremos<br />
sinceramente que é um êrro e um primeiro passo ao fracasso<br />
certo. Não importa para nosso escopo que existam algumas<br />
excelentes cooperativas no país: o principal é que haja a<br />
ambiente propício. Se na própria França, as vêzes, não é<br />
possível limitar a intervenção do professor aos estritos<br />
limites impostos pelo grande mestre<br />
B.Profit, fun<strong>da</strong>dor e apóstolo <strong>da</strong> Cooperação Escolar, como<br />
vai ser possível limitá-la onde falta êsse ambiente de maneira<br />
quase absoluta?<br />
Por isto na prática e às vêzes apesar <strong>da</strong>s leis e<br />
regula-mentos, a intervenção do professor é maior e até se<br />
admite, como no México e em Salvador, que ocupe êle cargos<br />
diretivos, princípio que condicionalmente pode ser aceito,<br />
desde que restrito a período inicial, mas que viciaria e<br />
desnaturalizaria o sistema se tivesse caráter permanente. No<br />
México, quando a Cooperativa Escolar maneja a interêsses<br />
importantes, usufruindo bens do Estado — oficinas ou<br />
explorações agrícolas — há o cargo de Gerente,<br />
desempenhado por um professor ou por um técnico<br />
responsável, o qual deve agir de acôrdo com o Conselho de<br />
Administação. Tal como recomen<strong>da</strong>mos em nos- so folheto<br />
“Utili<strong>da</strong>de e Missão <strong>da</strong>s Cooperativas Escolares”, que<br />
“Divulgação Cooperativista” e “Arco Iris” tiveram a ama-<br />
bili<strong>da</strong>de de traduzir e publicar em suas colunas, e que o Ser-<br />
viço de Economia Rural do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> me faz<br />
a honra do publicar, junto com um interessante trabalho do<br />
Dr. Fábio Luz Filho (*), quando um mestre ocupa êstes car-<br />
gos diretivos, deve fazer com que os alunos o substituam<br />
quantas vêzes seja possível, a fim de capacitá-los para o<br />
exercício em forma definitiva, de todos os cargos de direção<br />
e fiscais, limitando o professor sua atuação à vigilância,<br />
orientação e conselho dos alunos, procurando não apenas<br />
respeitar suas iniciativas, mas também despertá-las.<br />
A prática exige, pois, uma intervenção constante do<br />
professor; porém, a eficiência <strong>da</strong> Cooperativa Escolar, como ins-
FÁBIO LUZ FILHO 285<br />
trumento de educação e cultura, exige igualmente que esta<br />
intervenção se reduza ao estritamento indispensável, atenden-<br />
do-se às condições locais, bem como a i<strong>da</strong>de e à capaci<strong>da</strong>de dos<br />
alunos.<br />
EDUCAÇÃO COOPERATIVA<br />
Fernando Chaves Nuñez, o ilustre técnico <strong>da</strong> União Pan-<br />
Americana, disse bem:<br />
"O ensino e a correta interpretação dos princípios e pra-<br />
ticas do cooperativismo, constituem por si uma etapa no pro-<br />
cesso educativo integral que seus dirigentes devem cumprir.<br />
Em conseqüência, o cooperativismo, para sua correta e cabal<br />
compreensão, deve ser explicado como um movimento orgâni-<br />
co, sem restringir seu significado a uma <strong>da</strong>s muitas fases que<br />
possa apresentar. Esta árdua tarefa educativa é necessária<br />
para que se chegue certeza de que êste movimento, com seus<br />
objetivos altruístas, econômicos, sociais e culturais, busca uma<br />
nova socie<strong>da</strong>de cimenta<strong>da</strong> em sólidos fun<strong>da</strong>mentos democráti-<br />
cos, na qual o homem, não importa a que raça, religião ou crê-<br />
do político pertença, tenha a oportuni<strong>da</strong>de de participar do<br />
engrandecimento do seu país, e também <strong>da</strong> criação de uma<br />
fraterni<strong>da</strong>de de nações, isenta <strong>da</strong>s causas que determinam os<br />
destrutivos conflitos bélicos internacionais.<br />
“Na América Latina, devido a escassez de recursos financeiros<br />
e à falta de pessoal especializado, o movimento cooperativista<br />
não pôde desenvolver um plano integral de educação,<br />
embora se deva confessar que, para tais fins, se tem feito louváveis<br />
esfôrcos. Em geral, em vários países, criaram- se centros e<br />
institutos para preparar dirigentes e pessoal administrativo para as<br />
cooperativas, já que se tem êste como o principal problema a<br />
resolver. Estabeleceu-se também o ensino do cooperativismo em<br />
alguns colégios públicos e universi<strong>da</strong>des. Na Colômbia, a êsse<br />
respeito se fêz um magnífico trabalho, e especialmente, se deve<br />
citar o Instituto de Estudos Cooperati- vos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de<br />
Cauca, que é o único centro cooperativista na América, com<br />
caráter universitário. Em um plano internacional, a Liga<br />
Cooperativa Bolivariana, forma<strong>da</strong> pelos centros e institutos<br />
cooperativos <strong>da</strong> Colômbia, Venezuela, Equador, Peru, Panamá e<br />
Bolívia, nas três conferências celebra<strong>da</strong>s, discutiu o problema<br />
educativo do movimento cooperativista nesses países, como no<br />
resto <strong>da</strong> América Latina. Estas conferências foram precursoras <strong>da</strong><br />
primeira Conferência Inte-
286 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
ramericana de Cooperativas, que se efetuou em Bogotá, em<br />
junho de 1946. Discutiu-se, nessa oportuni<strong>da</strong>de, o financia-mento<br />
e possível estrutura administrativa <strong>da</strong> Escola Interamericana de<br />
Orientação Cooperativa; cujo objetivo é a preparação técnica<br />
dos cooperadores. Esta escola estabeleceu-se na Universi<strong>da</strong>de de<br />
Kansas City e seu primeiro curso experimental iniciou-se no<br />
verão de 1947, com um total de 19 alunos, em sua maioria<br />
colombianos.<br />
“No continente americano não existem <strong>da</strong>dos estatísticos<br />
para precisar que setores <strong>da</strong> população integram, o movimen-<br />
to cooperativista. Não obstante, supondo-se que seja constituído<br />
de operários, trabalhadores do campo e membros <strong>da</strong> classe<br />
média, convém perguntar que tipo de educação lhes foi oferecido.<br />
A resposta parece ser a de que esta ativi<strong>da</strong>de se reduziu a<br />
esporádicas conferências ou palestras, não, porém, a um método<br />
educativo sistematizado e acorde com o nível cultural <strong>da</strong>s classes<br />
populares. Pode-se aduzir ain<strong>da</strong>, em prol desta limita<strong>da</strong> ação,<br />
que não existem suficientes elementos capacitados. É certo. O<br />
cooperativismo na América, em geral, recruta seus dirigentes em<br />
um limitado grupo <strong>da</strong> classe intelectual. Deixou, ademais, de<br />
atrair um elemento muito valioso que existe dentro dessas classe:<br />
o mestre, o professor. Êste abnegado servidor, pelos<br />
conhecimentos pe<strong>da</strong>gógicos que possui, é o mais indicado para<br />
desenvolver uma campanha efetiva no sentido <strong>da</strong> educação<br />
cooperativista. A participação do professor não só lhe <strong>da</strong>ria a<br />
oportuni<strong>da</strong>de para apreciar o que significam as cooperativas<br />
para melhorar sua situação economica, senão também de<br />
divulgar entre os seus educandos os princípios altruísticos que<br />
elas contêm”.<br />
AINDA A EDUCAÇÃO<br />
Eis conceitos de Antônio Sérgio:<br />
“Como definiremos uma cooperativa? Como uma emprê-<br />
sa que e ao mesmo uma associação de pessoas (e não uma<br />
mera associação de capitais, ao modo <strong>da</strong>s emprêsas capitalistas),<br />
e, além disso um lar de convivência fraterna e um foco<br />
de aperfeiçoamento intelectual e moral, tendo por objetivo o<br />
criar um novo sistema de relações sociais e fazer terminar<br />
(em grau maior ou menor) as divergências de interêsses e os<br />
antagonismos. Por isso, o primeiro desvêlo dos cooperativistas é<br />
uma obra de educação; por isso, a primeira fase <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>-<br />
ção de uma cooperativa deve ser um trabalho de esclarecimen-
FÁBIO LUZ FILHO 287<br />
to e de ação moral; por isso, as comissões culturais devem ter<br />
nas cooperativas importância como os seus cargos administra-<br />
vos; por isso será êrro enorme o encarar qualquer cooperador<br />
a sua cooperativa como um simples armazém onde compra<br />
coisas (a “comprativa”, como dizem os mais rudes em Por-<br />
tugal) e não como um centro de convivência, como o seu clu-<br />
be preferido, como a forja onde se vão forjando os mais enér-<br />
gicos militantes <strong>da</strong> reformação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o ver<strong>da</strong>deiro “sal <strong>da</strong><br />
Terra”. O cooperativismo é ao mesmo tempo um movimento<br />
de reforma econômica que se baseia essencialmente na educa-<br />
ção e um movimento de educação <strong>da</strong>s massas que se serve <strong>da</strong>s<br />
necessi<strong>da</strong>des econômicas dos indivíduos. Pretende criar uma<br />
Humani<strong>da</strong>de nova, outorgar uma nova civilização ao Mundo.<br />
Só através do cooperativismo será possível um dia uma civi-<br />
lização cristã, de acôrdo com as normas morais do Evangelho.<br />
Bem vistas as coisas, a movimento deverá ser essencialmente<br />
moral, ou, se assim preferirem, a movimento deverá ser<br />
essencialmente religioso (no sentido larguíssimo, humanístico,<br />
filosófico, na<strong>da</strong> ritualista, transcen<strong>da</strong>lista ou sectário, de tal<br />
palavra) de uma extremi<strong>da</strong>de a outra de seu percurso”.<br />
“Na<strong>da</strong> mais perigoso, pelo meu modo de ver, do que em-<br />
cararmos as socie<strong>da</strong>des cooperativas de consumo como meros<br />
armazéns de distribuição <strong>da</strong>s coisas, semelhança <strong>da</strong>s lojas dos<br />
retalhistas, e não como centros de convivência humana<br />
(a grifo é nosso), de amizade calorosa, de “fraterni<strong>da</strong>de ope-<br />
rária”, onde se efetue a distribuição dos gêneros, claríssimo<br />
está, mas sem prejuízo de sua função social e de sua ação<br />
moral. No princípio do cooperativismo deve estar o humanis-<br />
mo, deve estar a generosi<strong>da</strong>de, a boa vontade, o amor. Ou<br />
muito me engano, ou não há êrro de piores conseqüências do<br />
que a ilusão de esperar que instituições sociais, pelo seu pró-<br />
prio funcionamento de teor mecânico, produzam automàti-<br />
camente a justiça e o bem. A justiça, antes de existir nas<br />
instituições econômicas, há-de viver no espírito de ca<strong>da</strong> um<br />
dos indivíduos, no sentimento e na inteligência <strong>da</strong>s “pedras<br />
vivas”, como idéia atuante de união entre os homens. “Está<br />
no pensamento como idéia", para lhes aplicar um verso de<br />
nosso Luis Camões. Na<strong>da</strong> de bom se poderá conseguir se<br />
não fôr por efeito do amor racional, ao calor humano <strong>da</strong>s cons-<br />
ciências fraternas, <strong>da</strong> bon<strong>da</strong>de ativa.<br />
"O ver<strong>da</strong>deiro caminho (como tem sido a nossa pregação<br />
no Brasil, há decênios), por conseguinte, está na federação de<br />
uni<strong>da</strong>des pequenas, centros morais de convivências e de<br />
cultura... . . e não na criação de uni<strong>da</strong>des graú<strong>da</strong>s, onde se
288 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
perdem o espírito de amor ao próximo e o sentido de soli<strong>da</strong>rie-<br />
<strong>da</strong>de e de convívio".<br />
“Creio que o setor de economia cooperativa se deverá<br />
manter fortemente social, convivente e humaníssimo... Por isso<br />
as comissões culturais e as comissões femininas deveriam ser<br />
órgãos de importância máxima, tendo por função, aquelas<br />
primeiras, a de manter a caráter moral-social e o objetivo re-<br />
volucionário, e, estas segun<strong>da</strong>s, o de infundir às nossas coope-<br />
rativas de consumo essa feição de lares de todos os seus<br />
associados."<br />
(“Cartas do terceiro homem”.)<br />
COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Eis trecho de uma tese apresenta<strong>da</strong> por Valdiki Moura<br />
ao II Congresso Nacional de Educação de Adultos (em 1958,<br />
no Rio): “Devo também assinalar que, enquanto as cooperati-<br />
vas escolares constituem, na França, organismos subsidiários<br />
<strong>da</strong> Escola, sob a duplo aspecto pe<strong>da</strong>gógico e econômico, entre<br />
nós têm tido finali<strong>da</strong>de limita<strong>da</strong>, porquanto, pràticamente,<br />
se restringem a manter uma cantina para abastecimento de<br />
artigos escolares e meren<strong>da</strong>s. Na França, ao contrário, são<br />
instrumentos vivos de educação, autênticos organismos de<br />
trabalho, que se dedicam a serviços de reflorestamento, ao<br />
plantio, colheita, secagem e ven<strong>da</strong> de plantas medicinais, a<br />
ativi<strong>da</strong>de recreativas e culturais (excursões educativas, co-<br />
lônias de férias, clubes filatélicos, conjuntos teatrais, esta-<br />
ções de radiotelegrafia etc.), enfim a um conjunto de ativi-<br />
<strong>da</strong>des que estimulam a desenvolvimento <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de,<br />
preparando os alunos para as tarefas pós-escolares.<br />
“Essas cooperativas são subsidiárias <strong>da</strong> Escola, porque<br />
servem como microlaboratórios vocacionais para o desenvol-<br />
vimento <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de (atenção, iniciativa, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de,<br />
aplicação de conhecimentos, práticas de negócios, mecânica<br />
administrativa, senso econômico etc.) e também como fontes<br />
complementares de recursos para o seu aparelhamento. Assim<br />
é que tem contribuido com meios financeiros para obras de<br />
restauração de dependências <strong>da</strong> escola (recentemente se coti-<br />
zaram para reconstruir, inteiramente, uma escola pública<br />
bombardea<strong>da</strong> no norte do país) e para também aparelhá-la<br />
com museus e laboratórios destinados à prática do ensino.<br />
“Parece-me, porisso, surpreendente, que a professorado<br />
de formação, no Brasil, se tenha descurado de tão eficiente
FÁBIO LUZ FILHO 289<br />
instrumento educativo, preferindo fomentar a organização<br />
de caixas escolares. Não nego a utili<strong>da</strong>de destas, porém tam-<br />
bém reconheço que são enti<strong>da</strong>des de objetivos mais limitados<br />
de cunho paternalista, e que, em vez de desenvolver, nos alu-<br />
nos, as facul<strong>da</strong>des e aptidões apoia<strong>da</strong>s no jôgo espontâneo <strong>da</strong><br />
personali<strong>da</strong>de, cria-lhes o hábito <strong>da</strong> passivi<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> espera de<br />
proteção e arrimo, como se fôssem sêres incapacitados ou<br />
irrecuperáveis.<br />
“Enquanto as cooperativas escolares se afirmam como<br />
organismos vivos e atuantes, em cujo seio os associados exer-<br />
citam o uso de tais facul<strong>da</strong>des e aptidões, as caixas escolares<br />
são organismos de estruturação vertical, dirigi<strong>da</strong>s de cima<br />
para baixo, segundo uma hierarquia de funções que não os<br />
abrange nem contempla Na cooperativa escolar os associados<br />
são autênticos empresários potenciais, possuem e dirigem uma<br />
coisa comum a todos, são as senhores de uma proprie<strong>da</strong>de co-<br />
letiva que funciona para o bem-estar geral. Na caixa escolar,<br />
os participantes são meros usuários de uma ação beneficente<br />
que se processa em cama<strong>da</strong>s mais altas, constitui<strong>da</strong>s por pés-<br />
soas estranhas à escola.<br />
“Não tenho conhecimento <strong>da</strong> ação educadora <strong>da</strong>s caixas<br />
escolares, sendo sabido que a sua atuação é paternalista, sem<br />
a preocupação de preparar o futuro ci<strong>da</strong>dão para as lutas co-<br />
tidianas. Bem sei, também, que no Brasil, as cooperativas es-<br />
colares não estão tendo essa ação educadora em profundi<strong>da</strong>de<br />
quanto aos efeitos futuros. Os alunos que saem <strong>da</strong>s escolas<br />
servi<strong>da</strong>s por cooperativas, encaminham-se a outros misteres,<br />
vão li<strong>da</strong>r com ativi<strong>da</strong>des que não aproveitam a sua expe-<br />
riência. É isso, porém, uma contingência <strong>da</strong> falta de comple-<br />
xi<strong>da</strong>de do nosso Movimento. Êle ain<strong>da</strong> é novo, pouco desen-<br />
volvido, extremamente rarefeito em um país de tamanha<br />
extensão territorial. Entretanto, quando atingir a um grau<br />
ponderável do desenvolvimento, estou certo de que os alunos<br />
egressos <strong>da</strong>s cooperativas escolares encontrarão muitas opor-<br />
tuni<strong>da</strong>des nas cooperativas de adultos, qualquer que seja a<br />
sua especiali<strong>da</strong>de.<br />
Assim acontece na França, e na Dinamarca (embora não<br />
haja neste país tantas cooperativas escolares) é sabido que as<br />
escolas primárias e secundárias rurais (sistema Grundtvig)<br />
ensinam a doutrina cooperativa, fornecendo apreciáveis con-<br />
tingentes de gerentes e diretores para as cooperativas de adul-<br />
tos. Há países que adotam a doutrina cooperativista no<br />
curriculum escolar, bastando referir a sua generalização no<br />
sistema educativo norte-americano.”<br />
10 - 27 454
200 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
O COOPERATIVISMO ESCOLAR — SEU ALCANCE<br />
E SIGNIFICAÇÃO<br />
RUTH MOURA<br />
Estu<strong>da</strong>ndo os problemas que envolvem o movimento<br />
cooperativo em nossa terra, com socie<strong>da</strong>des perfeitamente<br />
organiza<strong>da</strong>s e com apreciável aproveitamento nos negócios,<br />
mas divorcia<strong>da</strong>s do espírito roch<strong>da</strong>leano, sempre às voltas com<br />
questiúnculas internas e com suas assembléias realiza<strong>da</strong>s em<br />
terceira convocação, apenas a uma conclusão podemos che-<br />
gar — falta de educação cooperativa.<br />
Desde que nos iniciamos nas lides cooperativas, temos<br />
na desvalia de nosso mérito, porém com o coração norteando<br />
nossas modestas ativi<strong>da</strong>des nesse setor, clamado pelo desen-<br />
volvimento dos trabalhos educacionais, pedindo uma fórmula<br />
que force as enti<strong>da</strong>des a incluir em suas cartas estatutárias a<br />
obrigação de uma porcentagem destina<strong>da</strong> ao fomento ao em-<br />
sino, isto em conformi<strong>da</strong>de mesmo com a geniali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>que-<br />
les intemeratos tecelões inglêses que deixaram um rastro de<br />
luz e de esperança, mostrando-nos o caminho limpo de sarças<br />
ou de embosca<strong>da</strong>s sangrentas para a conquista de uma vi<strong>da</strong><br />
melhor e mais justa.<br />
Mas a reali<strong>da</strong>de tem sido, infelizmente, outra. Vemos so-<br />
cie<strong>da</strong>des que se constituem, homens entusiasmados reuni-<br />
rem-se em grêmios cooperativos, observando minúcias esta-<br />
tutárias, sem que ao menos uma voz se levante para sugerir<br />
melhor preparação dos cooperados, com a prática dos métodos<br />
e técnicas <strong>da</strong> educação cooperativa, pouco se importando que<br />
a sua Cooperativa tenha a existência de um meteoro ou so-<br />
breviva, apesar <strong>da</strong>s incompreensões e do desconhecimento qua-<br />
se total dos princípios que devem sustentá-la.<br />
E porque temos de curvar-nos ante a reali<strong>da</strong>de dos fatos,<br />
é que nos voltamos para o Cooperativismo Escolar, como única<br />
esperança, talvez, de que o nosso movimento cooperativista<br />
alcance, no futuro, o estado ideal do entendimento e <strong>da</strong> ver-<br />
<strong>da</strong>deira aju<strong>da</strong> mútua, sem quizilias e os arroubos de lucros<br />
imediatos que observamos amiu<strong>da</strong><strong>da</strong>mente em nossas coopera-<br />
tivas.<br />
O ensino <strong>da</strong> cooperação representou sempre uma aspira-<br />
ção dos cooperativistas e dos educadores de todo o mundo e já<br />
o ilustre e saudoso mestre Carlos Gide disse que “trabalhar em
FÁBIO LUZ FILHO 291<br />
comum é uma arte que só se aprende por uma educação<br />
constante”.<br />
“Para êsse ensino nunca será cedo demais e é justamente<br />
por isso que as escolas, <strong>da</strong>ndo às crianças os conhecimentos e<br />
os sentimentos <strong>da</strong> cooperação, estarão realizando obra de ines-<br />
timável valor, por torná-las aptas ao associativismo, à vi<strong>da</strong><br />
em comum sob o pátio sagrado <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e do bem<br />
querer”.<br />
E não será tarefa difícil para o professorado, pelo<br />
contra-rio, uma Cooperativa é uma escola — razão por que só<br />
a compreendemos quando fiel cumpridora dos postulados luzentes<br />
que inspiram e norteiam o movimento.<br />
As crianças gostam de aprender fazendo . È as cooperati-<br />
vas escolares não lhes dão essa oportuni<strong>da</strong>de esplêndi<strong>da</strong> de<br />
fazer uso de sua iniciativa e de seu espírito criador? ! Através<br />
<strong>da</strong>s cooperativas escolares não alcança a escola moderna uma<br />
<strong>da</strong>s suas finali<strong>da</strong>des basilares — a educação mediante a par-<br />
ticipação direta e ativa dos alunos?! Não criam sadios hábi-<br />
tos de fraterni<strong>da</strong>de, espírito de responsabili<strong>da</strong>de e de aju<strong>da</strong><br />
recíproca, além de robustecer na criança a confiança em si<br />
mesma, em suas responsabili<strong>da</strong>des?!<br />
Procuremos, pois, dinamizar o movimento cooperativo<br />
nas escolas, contribuindo <strong>da</strong> melhor maneira para a<br />
purificação <strong>da</strong>s nossas futuras socie<strong>da</strong>des cooperativas e<br />
oferecendo às abnega<strong>da</strong>s e nunca demasia<strong>da</strong>mente elogia<strong>da</strong>s<br />
mestras, um método prático para a aquilatação <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de<br />
e <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça de atitudes <strong>da</strong> criança, desde que nessas<br />
agremiações o aluno depara sempre com problemas<br />
ver<strong>da</strong>deiros, reias. A maneira pela qual as resolve, representa<br />
um meio bem mais eficiente do que um exame sôbre<br />
determina<strong>da</strong> matéria.<br />
Também as ativi<strong>da</strong>des exerci<strong>da</strong>s pela criança na Coope-<br />
rativa colaboram no descobrimento de sua ver<strong>da</strong>deira<br />
vocação; e se fôsse esta a única vantagem ofereci<strong>da</strong> pelas<br />
cooperativas escolares, justifica<strong>da</strong> estaria a sua criação.<br />
Tô<strong>da</strong> professôra sabe que a motivação é um dos Proces-<br />
sos mais importantes na aprendizagem. Primeiro, tem-se que<br />
despertar o interêsse para, em segui<strong>da</strong>, ensinar. Na ativi<strong>da</strong>de<br />
cooperativa o interesse inicial é de tal importância que<br />
dele<br />
depende grande parte do êxito que se poderá alcançar.<br />
Motivo por que se deve começar pela realização de uma<br />
assembléia geral, presentes todos os alunos interessados na<br />
fun<strong>da</strong>ção de uma Cooperativa, e, nesta primeira reunião, se-<br />
ria mais eficiente e prático que fôsse convi<strong>da</strong><strong>da</strong> uma pessoa<br />
mais conhecedora e experimenta<strong>da</strong> no assunto para discorrer
292 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
sôbre as cooperativas em geral, <strong>da</strong>ndo uma idéia ampla e clara<br />
do que persegue e colima o sistema cooperativista. Nessa oca-<br />
sião seria muito interessante a distribuição de folhetos ou ma-<br />
terial escrito ou a apresentação de cartazes ou fotografias<br />
alusivas ao tema.<br />
Depois, o grupo deve seguir reunindo-se periòdicamente<br />
para a discussão dos problemas comuns, o que poderá obede-<br />
cer à técnica vitoriosa dos grupos pequenos ou grupos gran-<br />
des, ou em círculos de estudo, em mesa redon<strong>da</strong>, etc., sendo<br />
importante, entretanto, que dessas discussões participem to-<br />
dos os futuros associados, <strong>da</strong>ndo-se-lhes sempre o ensejo de<br />
assumir a liderança. Aproveitar-se-á, então, uma dessas réu-<br />
niões para a escolha do tipo de cooperativa a organizar-se.<br />
Conhecendo já o grupo de alunos os princípios fun<strong>da</strong>-<br />
mentais do cooperativismo, a filosofia do movimento e esco-<br />
lhi<strong>da</strong> também a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de preferi<strong>da</strong>, designa-se um comitê<br />
organizador, que se encarregará de tô<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des de<br />
orientação e de organização até à fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Cooperativa.<br />
Os componentes dêsse comitê deverão estar sempre muito bem<br />
informados e assistidos, para que possam levar a bom têrmo<br />
suas tarefas. Com a assistência cui<strong>da</strong>dosa <strong>da</strong> mestra — que<br />
deve ser apenas a assessôra, a conselheira, não realizando,<br />
nunca, a tarefa <strong>da</strong> competência dos cooperados — prepararão<br />
um programa educativo, isto, bem se vê, conforme às condi-<br />
ções ambientes, podendo, por exemplo, apresentar dramatiza-<br />
ções ou palestras sôbre assunto cooperativo, assim como lei-<br />
turas em conjunto de livros cooperativos, seguidos de explica-<br />
ções, concursos de composição e cartazes preparados nas aulas<br />
de português ou de trabalhos manuais e de outras maneiras<br />
que a imaginação fértil <strong>da</strong> criança e a agudeza profissional <strong>da</strong><br />
professôra saberão sugerir.<br />
Quando o grupo conhecer bem o assunto, já suficiente-<br />
mente interessado, poderão ser estabelecidos planos para a<br />
fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de. Durante êste período, o trabalho de<br />
educação dos associados e dos futuros associados, não será<br />
interrompido, pois êste deverá acompanhar sempre tô<strong>da</strong>s as<br />
ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Cooperativa. Não podemos esquecer que nas<br />
cooperativas a educação tem que ser constante, antes, durante<br />
e depois de fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s.<br />
Como a cooperativa necessitará de capital para suas<br />
operações, o associado admitido deverá pagar uma jóia de<br />
admissão a ser fixa<strong>da</strong> pela assembléia geral dos associados<br />
fun<strong>da</strong>do-res, sendo ideal a subscrição de quotas-partes na base<br />
de Cr$ 10,00 ca<strong>da</strong> uma. Estas quotas-partes poderão ser<br />
integra-
FÁBIO LUZ FILHO 293<br />
liza<strong>da</strong>s de uma só vez ou em prestações mensais nunca infe-<br />
riores a Cr$ 2,00. O aluno-cooperador poderá, no entanto,<br />
subscrever quantas quotas-partes desejar, desde que o seu va-<br />
lor não ultrapasse um terço do capital <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de, fixan-<br />
do-se o mínimo na subscrição de uma quota-parte.<br />
A medi<strong>da</strong> que forem integralizando suas quotas-partes,<br />
o tesoureiro irá anotando nos Títulos Nominativos dos associa-<br />
dos; integralização que poderá ser feita assim que se tenha<br />
decidido sôbre o tipo de cooperativa a ser fun<strong>da</strong><strong>da</strong>, podendo<br />
começar — se recomendável —, mesmo no período <strong>da</strong> orga-<br />
nização.<br />
Pode-se também como meio de levantamento dos<br />
recursos iniciais necessários, aceitar donativos, como, por<br />
exemplo, <strong>da</strong>s cooperativas de adultos ou de pessoas amigas ou<br />
interessa<strong>da</strong>s no movimento cooperativo, bem como<br />
promovendo festivi<strong>da</strong>des escolares, teatrinhos, etc., etc.<br />
Para despertar e conservar vivo o entusiasmo dos peque-<br />
nos seria conveniente a confecção de cartazes demonstrando<br />
o progresso <strong>da</strong> campanha, assinalando o aumento numérico<br />
dos associados ou a importância do capital por êles subscrito,<br />
bem como cartazes outros que evidenciassem o êxito de enti-<br />
<strong>da</strong>des congêneres — o que, sem dúvi<strong>da</strong>, despertaria o desejo<br />
de amistosa competição.<br />
As cooperativas escolares funcionam <strong>da</strong> mesma forma<br />
que as de adultos, obedecendo a leis e normas, registro nos<br />
órgãos competentes, fiscalização do Poder Público, etc. Para<br />
o registro terão — como as cooperativas em geral — de re-<br />
querer, fazendo o requerimento ou os requerimentos (porque<br />
a documentação será sempre em duas vias, em virtude de se-<br />
rem registra<strong>da</strong>s no Serviço de Economia Rural do <strong>Ministério</strong><br />
<strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> e na Divisão de Assistência ao Cooperativismo<br />
<strong>da</strong> Secretaria de <strong>Agricultura</strong>), acompanhados de cópias dos<br />
atos constitutivos, dos estatutos, <strong>da</strong>s listas nominativas ou re-<br />
lação dos associados, estas com declaração de i<strong>da</strong>de, nacio-<br />
nali<strong>da</strong>de e número de quotas-partes que ca<strong>da</strong> um subscreve;<br />
todos os documentos autenticados pela diretoria do estabeleci-<br />
mento de ensino.<br />
Têm as cooperativas escolares a sua diretoria, geralmen-<br />
te composta de cinco membros, eleitos de acôrdo com o que<br />
determinam os Estatutos <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de: presidente, secreta-<br />
rio, tesoureiro; primeiro e segundo gerentes, que deverão estar<br />
sempre sob a orientação <strong>da</strong> professôra designa<strong>da</strong> para esse<br />
fim. Possuem, também, o seu Conselho Fiscal com respecti-<br />
vos suplentes, todos eleitos pela Assembléia Geral dos associa-
294 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
dos, eleição que poderá ser realiza<strong>da</strong> por escrutínio secreto ou<br />
pelo sistema <strong>da</strong> aclamação.<br />
As cooperativas escolares, entretanto, não teem persona-<br />
li<strong>da</strong>de jurídica, desde que a seu objetivo primordial é a de in-<br />
culcar nos estu<strong>da</strong>ntes, na geração nova, a idéia do cooperati-<br />
vismo, educando-os e ministrando-lhes os conhecimentos pra-<br />
ticos <strong>da</strong> organização e do funcionamento de determina<strong>da</strong><br />
mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de cooperativa, agindo acessòriamente quanto às<br />
vanta-gens econômicas advin<strong>da</strong>s <strong>da</strong> associação.<br />
Professôras, concorrendo para que se organizem coope-<br />
rativas em suas uni<strong>da</strong>des escolares, vós tô<strong>da</strong>s que formais<br />
essa grande e nobre classe, que é o professorado fluminense,<br />
estareis colaborando, de maneira a mais eficiente e patriótica,<br />
para o progresso do movimento cooperativo do nosso Estado e<br />
<strong>da</strong> nossa Pátria.<br />
Estareis colaborando para que, no futuro, melhor sejam<br />
organiza<strong>da</strong>s nossas fôrças econômicas e para que os postula-<br />
dos de Roch<strong>da</strong>le não sejam postergados pelas improvisações<br />
de socie<strong>da</strong>des cooperativas, pois os vossos pequenos alunos de<br />
hoje serão amanhã, pelos ensinamentos recebidos, defenso-<br />
res <strong>da</strong> sua pureza e <strong>da</strong> sua intangibili<strong>da</strong>de.”<br />
COOPERATIVISMO ESCOLAR<br />
Eis mais alguns conceitos de Profit:<br />
“Não pode haver melhor base para a educação moral do<br />
que a educação intelectual, compreendi<strong>da</strong> desta maneira: a<br />
ação pessoal como treinamento para a reflexão. Uma coope-<br />
rativa escolar pode fazer melhor ain<strong>da</strong>, realizando a união,<br />
para a educação coletiva de seus aderentes. Entre alunos su-<br />
bordinados e um mestre que tudo dirige e sempre coman<strong>da</strong>,<br />
existe, muitas vêzes, sob uma ordem aparente, um profundo<br />
desacôrdo. Os melhores mestres conhecem as dificul<strong>da</strong>des<br />
que os jovens alunos, mantidos sob rédeas, durante muito<br />
tempo, encontram ao se emanciparem, ao saírem <strong>da</strong> escola. A<br />
preocupação de associar os meninos à disciplina, por vêzes<br />
aconselha a designar, dentre êles, um fiscal geral e a dividir<br />
os serviços por ordem de rodízio. Não é isso, ain<strong>da</strong>, que poderá<br />
melhorar a situação. A disciplina deve ser interior mais do que<br />
exterior. Com seus funcionários eleitos e pelo seu próprio es-<br />
pírito, a cooperativa escolar revelou-se, pelo seu uso, como a<br />
melhor organização. Na cooperativa nasce e cresce uma cons-<br />
ciência coletiva em que, melhor do que todos os discursos dos
FÁBIO LUZ FILHO 295<br />
mestres, melhor do que tô<strong>da</strong>s as injunções de seus delegados<br />
ou dos delegados designados por rodízio, a criança encontrará<br />
os esclarecimentos e os impulsos de que necessita, as recom-<br />
pensas e as punições que sua conduta tenha merecido. Aliás,<br />
esta consciência coletiva poderá formular sua lei; os coopera-<br />
dores podem estabelecer regulamentos, criar tradições. Êsses<br />
regulamentos e essas tradições terão muito mais possibili<strong>da</strong>-<br />
des de ser respeitados e seguidos do que se fôssem impostos,<br />
pois que são deliberados e aceitos, e, na sua execução, todos<br />
se sentem solidários e pessoalmente interessados pelo bem<br />
aspirado pelo grupo e responsáveis diante dos associados.<br />
........ ..................... ...................... ............... .............................<br />
........ ..................... ...................... ............... ............................<br />
"O presidente havia simplesmente transportado para a<br />
comuni<strong>da</strong>de os hábitos de ordem, de ativi<strong>da</strong>des, de devotamen-<br />
to, criados pela prática dos princípios cooperativistas.<br />
“Parece, então, que a cooperativa escolar, a princípio<br />
simples agrupamento criado para proporcionar recursos à<br />
escola, se tenha tornado, em segui<strong>da</strong>, uma organização seletiva<br />
para a educação soli<strong>da</strong>rista <strong>da</strong> criança. A Cooperativa pode<br />
transformar o ambiente <strong>da</strong> escola e renovar a concepção <strong>da</strong><br />
proprie<strong>da</strong>de, do trabalho, <strong>da</strong> disciplina; ali, onde só havia in-<br />
dividualismos isolados, barulhentos e hostis, a cooperativa<br />
criou um meio social onde as dificul<strong>da</strong>des se atenuam diante<br />
<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de, enfim compreendi<strong>da</strong>, de se aju<strong>da</strong>rem uns aos<br />
outros, um meio onde uma disciplina liberal e espontânea se<br />
instaure sôbre a base <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e do bem comum”.<br />
Eis alguns dispositivos de estatutos preconizados por<br />
Profit:<br />
“Art. 2—A Cooperativa escolar tem como fins<br />
principais:<br />
1.º — Difundir entre seus membros, e em volta dela, o<br />
gôsto <strong>da</strong> instrução prática, do trabalho inteligente, sadias dis-<br />
trações, a aju<strong>da</strong> e a concórdia social;<br />
2.º — Orientar seus associados no sentido de uma ins-<br />
trução que, pelo emprêgo de métodos de observação direta,<br />
vise menos à aquisição duma bagagem de conhecimentos do<br />
que à criação de bons hábitos espirituais, a descoberta do<br />
interêsse que proporcionam as coisas próximas ao despertar<br />
a iniciativa individual e a desenvolvimento duma ativi<strong>da</strong>de<br />
consciente e livre;<br />
3.º — Fazer conhecer e amar o meio onde se vive, a pe-<br />
quena pátria que é a comuna, pela observação e o estudo em
296 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
comum de seus diversos aspectos, de sua história, de seus<br />
recursos e de suas possibili<strong>da</strong>des;<br />
4.º — Desenvolver entre os associados os sentimentos de<br />
estima recíproca, a idéia de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e a prática <strong>da</strong><br />
cooperação, instituindo a vi<strong>da</strong> coletiva <strong>da</strong> Escola;<br />
5.º — Fazer conhecer e amar a Escola, instituir os seus<br />
patronos e os dos alunos, pelo concurso de todos aquêles, pa-<br />
rentes e amigos, que sejam capazes de se interessar pelo pro-<br />
gresso <strong>da</strong> instrução popular e pelo futuro <strong>da</strong>s crianças.<br />
“Para atingir a êsses fins, a cooperativa se proporá:<br />
“A) Colocar disposição <strong>da</strong> Escola importância regular<br />
para a aquisição e instalação de aparelhamento necessário<br />
ao ensino racional de noções elementares de ciência, e, em geral,<br />
ao ensino concreto de tô<strong>da</strong>s as matérias (Museu Escolar,<br />
material experimental, coleção de objetos, imagens, desenhos,<br />
documentos, lanternas de projeção fixa, cinema, utensílios,<br />
aparelhos e instalações diversas).<br />
“b) — Familiarizar as alunos com a prática <strong>da</strong> cooperação<br />
aplica<strong>da</strong> ao enriquecimento do material escolar, donativos,<br />
coletas, fabricação de aparelhos simples, o estabelecimento de<br />
trabalhos documentários (monografia comunal, lista perió-<br />
dica do preço <strong>da</strong>s coisas e dos produtos agrícolas, imagens<br />
aumenta<strong>da</strong>s, silhuetas e croquis explicativos em grande esca-<br />
la, apresentação coletiva <strong>da</strong>s coisas observa<strong>da</strong>s, etc.), organi-<br />
zação de passeios escolares (visitas as fazen<strong>da</strong>s, granjas, re- giões<br />
agrícolas e monumentos interessantes, etc.), exposições de<br />
trabalhos manuais e domésticos, cursos, palestras conferências,<br />
saraus recretativos, etc. Objetiva também a manutenção <strong>da</strong> boa<br />
ordem <strong>da</strong> escola, com consentimento do mestre e sob sua direção,<br />
através de certos serviços e cui<strong>da</strong>dos que interessam a todos os<br />
alunos (freqüência escolar, exatidão, ordem e asseio na classe,<br />
nos pátios, no interior, limpeza corporal, bom comportamento na<br />
rua, sala areja<strong>da</strong>, etc.) e pela re<strong>da</strong>ção dum regulamento geral<br />
e de regulamento especiais, se fôr o caso.<br />
“c) — Aplicar praticamente as noções adquiri<strong>da</strong>s, prin-<br />
cipalmente de higiene, no lar, na agricultura, no estudo pro-<br />
fissional e nos trabalhos manuais (instalação e manutenção<br />
de um pôsto de saúde, criação de um lugar próprio para vivei-<br />
ros, cui<strong>da</strong>r do jardim, arborização <strong>da</strong> escola, cultivo de horta-<br />
liças, legumes, flores, plantas medicinais, etc.) e fazê-los servir à<br />
prosperi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> comuna: proteção <strong>da</strong>s árvores, dos pássaros,<br />
dos animais úteis; destruição dos animais nocivos, besouros,<br />
(pragas); distribuição de sementes ou de mu<strong>da</strong>s de
FÁBIO LUZ FILHO 297<br />
plantas pouco conheci<strong>da</strong>s, embora úteis; divulgação de recei-<br />
tas agrícolas ou caseiras, distribuição de trabalhos sôbre higie-<br />
ne, anti-alcoolismo, etc.<br />
d) — Aju<strong>da</strong>r seus associados a continuarem a se instruir,<br />
ensinando-os a falar, a manter uma palestra eleva<strong>da</strong>, a sus-<br />
tentar uma discussão, a defender sua opinião ou, ao contrário,<br />
a se dobrar diante do fatos consumados, a ler um trabalho, um<br />
jornal agrícola, revistas domésticas, trabalhos de ciência apli-<br />
ca<strong>da</strong>, etc.).<br />
e) — Organizar em seu proveito, anualmente, sempre<br />
que possível, e <strong>da</strong> maneira que mais agra<strong>da</strong>r aos associados<br />
(concursos de tiro, quermesses esportivas, vesperais ou saraus<br />
teatrais, etc.) a festa <strong>da</strong> Infância e <strong>da</strong> Moci<strong>da</strong>de.<br />
Outros fins a seguir poderiam ser propostos à ativi<strong>da</strong>de<br />
dos associados.<br />
(Tradução de Maria Isabel Veloso Nóbrega de Siqueira).<br />
EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO COOPERATIVAS NA FRANÇA<br />
—<br />
AS COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
O desenvolvimento do cooperativismo escolar na França<br />
atingiu um nível particularmente elevado.<br />
Assim é que, em fins de 1955, existiam mais de 19. 192<br />
cooperativas escolares filia<strong>da</strong>s ao Escritório Central <strong>da</strong> Coope-<br />
ração na Escola. Essas cooperativas são integra<strong>da</strong>s por 722.948<br />
alunos, pertencentes ao ensino primário 23.195, no ensino se-<br />
cundário, e 26.051, ao ensino técnico. Considerando-se que<br />
nem tô<strong>da</strong>s as cooperativas escolares são associa<strong>da</strong>s do Escri-<br />
tório em questão, pode-se estimar em, aproxima<strong>da</strong>mente,<br />
900.000 o número total dos pequenos cooperadores. Esse<br />
número demonstra, pela quanti<strong>da</strong>de considerável dos escola-<br />
res inscritos nas cooperativas, a esperança que os mestres e os<br />
professôres depositam nesse método de ensino.<br />
(Em 1958, dizemos, o quadro já era outro, como vimos).<br />
HISTÓRICO<br />
As cooperativas escolares nasceram como um imperativo<br />
<strong>da</strong>s preocupações pecuniárias e <strong>da</strong>s preocupações educacio-<br />
nais, estas superando as primeiras. Podem ser encontra<strong>da</strong>s<br />
suas raízes nas socie<strong>da</strong>des mutualistas escolares. Para os alu-<br />
nos necessitados poderem pagar as cotas devi<strong>da</strong>s a essas so-
298 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
cie<strong>da</strong>des, os diretores tiveram a idéia do pagamento ser feito<br />
por meio de trabalhos em comum (criação de animais domes-<br />
ticos, reflorestamento, plantação, etc.), que êles executavam<br />
grupados em pequenas associações. Assim foram cria<strong>da</strong>s, so-<br />
bretudo no leste <strong>da</strong> França, pequenas cooperativas de produ-<br />
ção escolar.<br />
As ver<strong>da</strong>deiras cooperativas escolares, na sua forma<br />
atual, são de origem mais recente. Datam dos anos que se<br />
seguiram à primeira guerra mundial, no momento em que a<br />
reconstituição e a modernização do equipamento escolar se<br />
constituíram num grave problema a que as municipali<strong>da</strong>des<br />
estavam impôssibilita<strong>da</strong>s de resolver. Alguns professôres<br />
imaginaram, então, para obterem recursos necessários —<br />
utilizar o trabalho dos alunos grupados em pequenas<br />
socie<strong>da</strong>des, chama<strong>da</strong>s “cooperativas escolares” e dirigi<strong>da</strong>s por<br />
êles próprios.<br />
Logo, porém, a simples procura de proveitos materiais,<br />
por legitima que fôsse, em vista <strong>da</strong>s condições para os quais<br />
êsses proveitos eram realizados e utilizados, deixou de ser o<br />
objetivo essencial <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des. O interêsse educativo que<br />
apresentava o desenvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des e o espírito<br />
cooperativo nos meios <strong>da</strong>s crianças, passou para o primeiro<br />
plano e transformou a organização cooperativista escolar num<br />
método de educação moral, social e cívica dos alunos.”<br />
NATUREZA E ESTATUTO JURÍDICO<br />
(Escritório Central <strong>da</strong> Cooperação na Escola)<br />
“As cooperativas escolares são socie<strong>da</strong>des de alunos,<br />
dirigi<strong>da</strong>s por êles mesmos, com o concurso dos professôres,<br />
visando-se a ativi<strong>da</strong>des comuns”. Esta definição, estabeleci<strong>da</strong><br />
pelo Congresso Anual do Escritório Central <strong>da</strong> Cooperação na<br />
Escola, realiza<strong>da</strong> em Tours, no ano de 1948, separa de<br />
maneira clara os dois caracteres essenciais <strong>da</strong>s cooperativas<br />
escolares: o agrupamento dos alunos numa socie<strong>da</strong>de e o<br />
trabalho em comum.<br />
Do mesmo modo que o agrupamento de menores, consti-<br />
tuído sob a regimento <strong>da</strong> lei de 1.° de julho de 1901, as coope-<br />
rativas escolares não possuem personali<strong>da</strong>de jurídica. Elas se<br />
constituem sem autorização prévia. Ca<strong>da</strong> uma delas existe<br />
como secção local, filia<strong>da</strong> ao Escritório Central <strong>da</strong> Cooperação<br />
na Escola, que é uma associação que possui personali<strong>da</strong>de ju-<br />
rídica.
FÁBIO LUZ FILHO 299<br />
Essa instituição, cria<strong>da</strong> em 1928, reune membros dos<br />
cor-pos docente e discente <strong>da</strong>s escolas públicas. É uma organi-<br />
zação autônoma e priva<strong>da</strong>, mas desfruta do apoio do Minis-<br />
tério <strong>da</strong> Educação.<br />
Albert Thomas, o 1.° diretor <strong>da</strong> B.I.T., foi, com Charles<br />
Gide e Ferdinand Buisson, o fun<strong>da</strong>dor.<br />
O Escritório se subdivide em seções departamentais (em<br />
número de 80 mais ou menos) e em seções locais (cooperati-<br />
vas escolares) às quais o Escritório confere a capaci<strong>da</strong>de legal<br />
de que êle mesmo goza.<br />
FUNCIONAMENTO E ATIVIDADES<br />
As cooperativas escolares na<strong>da</strong> têm de comum com as<br />
numerosas associações escolares que funcionam, na França,<br />
com finali<strong>da</strong>des de aju<strong>da</strong> mútua e de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de. Nestas<br />
últimas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des, a criança participa ùnicamente pelo pa-<br />
gamento regular de suas cotas-partes, enquanto que, nas<br />
cooperativas escolares, ela toma parte ativa na administração.<br />
Os alunos decidem <strong>da</strong> constituição de sua cooperativa e<br />
elaboram o regulamento interno, inspirando-se nos estatutos<br />
modelos fornecidos pelo Escritório Central. Procedem à elei-<br />
ção <strong>da</strong> Diretoria <strong>da</strong> Cooperativa, que se compõe, em geral, de<br />
um presidente, um secretário e um tesoureiro. Os alunos se<br />
reunem periòdicamente (ca<strong>da</strong> semana, todos as meses ou 2<br />
vêzes por mês, conforme as necessi<strong>da</strong>des) para discutirem os<br />
relátórios <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des e a contabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e to-<br />
mar em comum as decisões que se fizerem necessárias. Êsses<br />
relatórios lhes são apresentados, regularmente, pelo presiden-<br />
te e pelo tesoureiro <strong>da</strong> cooperativa.<br />
A administração <strong>da</strong> cooperativa escolar recai, pois, essencialmente,<br />
nos alunos. Êles têm a responsabili<strong>da</strong>de e, conforme a<br />
sua i<strong>da</strong>de, sua formação e sua evolução, essa responsabili<strong>da</strong>de<br />
pode ser total. Os mestres, os professôres ou aos diretores dos<br />
estabelecimentos são, bem entendido, os conselheiros e os guias<br />
naturais dos jovens cooperadores.<br />
As cooperativas escolares exercem as mais diversas ati-<br />
vi<strong>da</strong>des. Algumas dentre elas têm a escola como objetivo dire-<br />
to: decorações dos muros, disposição <strong>da</strong>s flores e <strong>da</strong>s plantas<br />
trepadeiras; enriquecimento do museu escolar; construção de<br />
material didático simples; pesquisas, documentário, monogra-<br />
fias locais, etc.
300 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Outras ativi<strong>da</strong>des devem produzir as receitas: pequena<br />
criação (coelhos, abelhas), ven<strong>da</strong> de legumes ou de flores<br />
cultiva<strong>da</strong>s em comum, plantas medicinais, frutas silvestres,<br />
papel e ferro velho, trapos, objetos fabricados (brinquedinhos,<br />
jogos de madeira recorta<strong>da</strong>, trabalhos de emolduramento, ar-<br />
tigos em vime, rafia ou em lã, artigos para recem-nascidos,<br />
bor<strong>da</strong>dos) organização de festas pagas, etc.<br />
Enfim, uma ativi<strong>da</strong>de típica, que merece menção parti-<br />
cular, é a re<strong>da</strong>ção e impressão do jornal <strong>da</strong> cooperativa: esco-<br />
lha de artigos, postos a limpo; ilustração; composição e tira-<br />
gem produzi<strong>da</strong>s por equipes; distribuição e remessa com a<br />
participação de todos.<br />
No fim do ano escolar 1952-1953, as cooperativas escola-<br />
res francesas conseguiram uma receita no total de 254.493.000<br />
francos contra 133 milhões em 1951-1952.<br />
Eis alguns exemplos dessas receitas:<br />
Colheitas de plantas medicinais .......... 3,816.000 francos<br />
Jardinagem ................... .... ........ .... 2.895.000 “<br />
Edição do Jornal <strong>da</strong> Cooperativa ......... 3.929.000 “<br />
Ativi<strong>da</strong>des dramáticas ................... .... 19.000.000 “<br />
Essas receitas nunca são dividi<strong>da</strong>s entre os<br />
cooperadores.<br />
Segundo o objetivo estabelecido pelo Congresso de<br />
Tours, realizado em 1948 (de que já falamos) foi determinado<br />
às cooperativas escolares: “os frutos dos trabalhos em comum<br />
são empregados no embelezamento <strong>da</strong> escola, melhoramento<br />
<strong>da</strong>s condições de trabalho, organização <strong>da</strong> cultura artística e<br />
<strong>da</strong>s férias dos associados, ao desenvolvimento <strong>da</strong>s obras esco-<br />
lares e pós-escolares de aju<strong>da</strong>-mútua e de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de”.<br />
Não há, pois, jamais, proveitos individuais diretos, quer<br />
dizer, de retôrno, ou mesmo simplesmente um salário cor-<br />
respondente ao trabalho realizado.<br />
O total <strong>da</strong>s despesas para o referido ano elevou-se a 220<br />
milhões de francos, cujos 50,5 milhões foram consagrados à<br />
compra de aparelhos de projeção, de material de imprimir e<br />
material de ensino; 75 milhões para viagens e excursões edu-<br />
cativas, 23 milhões para obras de aju<strong>da</strong>-mútua e de sóli<strong>da</strong>-<br />
rie<strong>da</strong>de, seja três vêzes as somas dispendi<strong>da</strong>s nesse mesmo<br />
pôsto o ano passado.<br />
(De “Informations coopératives” — Tradução de<br />
Maria Isabel V. Nóbrega de Siqueira)
FÁBIO LUZ FILHO 301<br />
O EXEMPLO DA FORMIGA<br />
Já alguma vez reparaste em um grupo de formigas, car-<br />
regando um inseto muito grande? Estou certo de que sim,<br />
porque és um menino observador. E quantas vêzes perguntas-<br />
te a ti mesmo como insetos tão pequenos podem carregar<br />
carga tão pesa<strong>da</strong>? É que as formigas conhecem um segrêdo:<br />
o segrêdo <strong>da</strong> cooperação. E que é a cooperação? E trabalhar-<br />
mos em comum para realizarmos tarefa em proveito de todos.<br />
Terás ouvido dizer que a união faz a fôrça. Isto é uma grande<br />
ver<strong>da</strong>de. Tu e teus companheiros podem realizar grandes coi-<br />
sas pela conjugação dos esforços. Organizando uma coopera-<br />
tiva escolar, poderão resolver muitos problemas e aprender<br />
coisas úteis.<br />
Se as formigas, as abelhas e outros animais resolvem<br />
seus problemas cooperativamente, por que não segues tu o exem-<br />
plo?<br />
E que é uma cooperativa? É uma socie<strong>da</strong>de forma<strong>da</strong> por<br />
um grupo de pessoas — adultos ou crianças — com a finali<strong>da</strong>-<br />
de de facilitarem a si mesmos certos serviços necessários à<br />
vi<strong>da</strong>. Se a cooperativa é organiza<strong>da</strong> por crianças, chama-se<br />
uma cooperativa escolar.<br />
Quais são os grupos de crianças que podem organizar<br />
uma cooperativa escolar?<br />
As cooperativas podem ser estabeleci<strong>da</strong>s com êxito por<br />
escolares que tenham bastante interêsse nesta ativi<strong>da</strong>de.<br />
Que serviços presta uma cooperativa organiza<strong>da</strong> por<br />
crianças?<br />
— CONSUMO: loja para vender artigos escolares, refrescos,<br />
doces, presentes, artigos de armarinho. As próprias<br />
crianças devem selecionar os artigos para vender de acordo<br />
com suas necessi<strong>da</strong>des.<br />
B — RECREAÇÃO: com finali<strong>da</strong>de de planejar<br />
passeios, jogos de salão ao ar livre, excursões e outras<br />
ativi<strong>da</strong>des.<br />
C — PRODUÇÃO: Associação para a produção de arti-<br />
gos para a ven<strong>da</strong>. Todo o benefício de cooperativa será em-<br />
pregado na compra de qualquer coisa de interêsse geral: uma<br />
máquina de cinema, material de esporte, etc.<br />
Como se organiza uma cooperativa escolar?<br />
Três fatôres asseguram o êxito de uma cooperativa: edu-<br />
cação, educação e educação. Se o grupo está interessado e
302 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
bem orientado, a cooperativa terá êxito. Deve-se realizar uma<br />
reunião geral de tô<strong>da</strong>s as crianças interessa<strong>da</strong>s. Nessa reunião<br />
será exposto, de maneira acessível, o que é uma cooperativa,<br />
que vantagens oferece e como funciona; se possível, exibir-se-á<br />
um filme sôbre cooperativismo, mostrar-se-ão cartazes e dis-<br />
tribuir-se-ão folhetos de informação. É importantissimo que<br />
ca<strong>da</strong> menino tenha a oportuni<strong>da</strong>de de fazer perguntas e<br />
comentários e esclarecer assim suas dúvi<strong>da</strong>s.<br />
Estas reuniões devem ser periódicas, realizando desta<br />
forma uma preparação do meio.<br />
Nestas reuniões ficará decidido o tipo de cooperativa que<br />
desejam fun<strong>da</strong>r, e o valor <strong>da</strong>s quotas-partes. É eleita uma co-<br />
missão organizadora, que se encarregará de levar a bom ter-<br />
mo o trabalho de organização de estatutos, etc. Êstes do-<br />
cumentos devem ser submetidos à apreciação dos associados,<br />
para aprovação final.<br />
Como se levanta o capital necessário?<br />
Todo negócio necessita de capital para funcionar. Uma<br />
cooperativa é um negócio embora sem fins de lucros; logo ne-<br />
cessita de capital, que deve ser formado pelos próprios associa-<br />
dos. Ca<strong>da</strong> criança fará a entrega ao tesoureiro de pequenas<br />
quantias, de 1 cruzeiro para cima. Assim, economia sôbre<br />
economia, cruzeiros sôbre cruzeiros, a cooperativa terá capital<br />
suficiente para iniciar o negócio.<br />
Quem dirige a cooperativa escolar?<br />
A cooperativa é dos associados. São êles que decidem co-<br />
mo ela vai funcionar. Esta direção é feita através do voto —<br />
ca<strong>da</strong> associado tem direito a um voto, não importa o capital<br />
que tenha na cooperativa.<br />
Como nem todos os associados podem dirigir uma cooperativa,<br />
êles mesmo nomeiam um Conselho de<br />
Administração, que representa a enti<strong>da</strong>de e dirige os seus<br />
negócios. Ao fim de ca<strong>da</strong> ano, êste órgão prestará contas de<br />
seus atos.<br />
(A<strong>da</strong>ptação de um folheto do Serviço de Extensão Agrí-<br />
cola de Pôrto Rico, por Maria Tereza Teixeira Mendes Lan-<br />
glois).<br />
N.B. — Vejam-se também os trabalhos de Nair de Andrade,<br />
Isabel de Camargo Schützer, Cécilia Cunha, Nair<br />
Ortiz, Flor González Padrino (Venezuela), etc. (Ver nota final).
FÁBIO LUZ FILHO 303<br />
A COOPERATIVA ESCOLAR<br />
“A Cooperativa escolar passa a ser um centro ao redor<br />
do qual se ordenam, se desenvolvem e condensam os conhe-<br />
cimentos adquiridos em classe. É também uma aplicação e<br />
um recapitulação do já aprendido.<br />
A cooperativa observa todos os aspectos dos métodos ati-<br />
vos. Requer uma atenção permanente, graças à qual a criança<br />
chega a constituir — para o professor — um colaborador<br />
ativo.<br />
A Cooperativa não se apóia em fatos imaginários, mas<br />
vivos, e reais: relatórios, prestação de contas verbais, apre-<br />
sentação de balanços e balancetes, desenhos e trabalhos ma-<br />
nuais que têm uma finali<strong>da</strong>de prática, contabili<strong>da</strong>de, etc.<br />
A Cooperativa objetiva a personali<strong>da</strong>de integral do esco-<br />
lar e pode alcançar êxito ao pôr em evidência e em ação, na<br />
alma <strong>da</strong> criança, fôrças que sem ela permaneceriam ignora<strong>da</strong>s<br />
e ensimesma<strong>da</strong>s.<br />
Ain<strong>da</strong> pode revelar aos interessados, a seus companhei-<br />
ros, a seus professôres: entusiasmo, reservas, devoção e habi-<br />
li<strong>da</strong>des que as ativi<strong>da</strong>des puramente escolares não fariam<br />
nem despertar nem conhecer, as quais, uma vez expostas, pó-<br />
dem servir de ponto de apoio para o instrutor.<br />
A administração de seu pequeno grupo representa, para<br />
as crianças, a oportuni<strong>da</strong>de de se instituírem sôbre muitas ma-<br />
térias que não constam dos programas escolares. Freqüente-<br />
mente sôbre as relações epistolares com os fornecedores e os<br />
fregueses <strong>da</strong> cooperativa. Familiarizam-se com os efeitos co-<br />
merciais e aprendem pequenas operações de contabili<strong>da</strong>de<br />
elementar. Habituam-se a falar perante seus companheiros, e<br />
nas dicussões, a argumentar, fazendo valer suas opiniões, a<br />
saberem calar-se e escutar.<br />
A Cooperativa estabelece uma soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de manifesta<br />
entre os alunos e os ex-alunos, fazendo nascer entre os jovens<br />
— que colhem o que seu antecessores semearam — um sen-<br />
timento de gratidão e uma forma de espírito de emulação<br />
para deixar, por sua vez, sinais de sua passagem pela escola.<br />
Entre esta e as famílias, que são freqüentemente convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
para que tomem conhecimento <strong>da</strong> obra realiza<strong>da</strong> pela crian-<br />
ças. Por suas contínuas visitas e por sua participação nos atos<br />
<strong>da</strong> cooperativa, os pais se aproximam e se vinculam à grande<br />
família <strong>da</strong> escola laica, cujo círculo ampliam estreitamente<br />
sem laços entre si.<br />
— Por que se fun<strong>da</strong> uma Cooperativa Escolar?
304 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
— Por que se deseja que a escola seja mais bela, acolhe-<br />
dora e alegre, se enriqueça com um material de ensino mais<br />
abun<strong>da</strong>nte e sempre renovado; viva um ambiente feliz; che-<br />
gue a ser um modêlo de limpeza e conservação. Porque se de-<br />
seja desenvolver entre os alunos: seu espírito de observação;<br />
sua responsabili<strong>da</strong>de como dirigentes e organizadores; seu<br />
sem-tido <strong>da</strong> disciplina e do trabalho em equipe; as relações<br />
entre a escola e os habitantes <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de; as relações <strong>da</strong><br />
escola com as outras escolas.<br />
— Como se cria o interêsse pelo cooperativismo na<br />
escola?<br />
Cria-se no espírito <strong>da</strong>s famílias e <strong>da</strong> população, explican-<br />
do a todos o que se pretende fazer: as aulas mais agradáveis,<br />
o ensino mais eficiente. Cria-se no espírito <strong>da</strong>s crianças, es-<br />
forçando-se por despertar nestas o desejo e a necessi<strong>da</strong>de de<br />
uma cooperativa."<br />
(De “Cooperativas". , <strong>da</strong> União Pan-Americana).<br />
DEFINIÇÃO, CARÁTER E VALOR DAS COOPERATIVAS<br />
ESCOLARES<br />
Dentro <strong>da</strong>s diretrizes pe<strong>da</strong>gógicas do cooperativismo es-<br />
colar francês, H. Charlot, vice-presidente do Office Central de<br />
la Coopération à l'Ecole, de Paris, acentuou, em outubro<br />
de 1957, em (“Revue de la cooperátion scolaire”) que o Com-<br />
gresso de Tours, em 1948, assim definiu o cooperativismo es-<br />
colar:<br />
“No ensino público, as cooperativas escolares são socie-<br />
<strong>da</strong>des de alunos dirigi<strong>da</strong>s por êles mesmos com o concurso<br />
dos professôres, tendo em vista ativi<strong>da</strong>des comuns. (É a de-<br />
finição justa <strong>da</strong> lei brasileira).<br />
“Inspira<strong>da</strong>s por um ideal de progresso humano, tem elas<br />
por fim a educação moral, cívica, intelectual dos cooperado-<br />
res, pela gestão de socie<strong>da</strong>des e o trabalho de seus membros.<br />
“Os frutos do trabalho comum são destinados ao<br />
embelezamento <strong>da</strong> Escola, ao melhoramento <strong>da</strong>s condições de<br />
trabalho, à organização <strong>da</strong> cultura artística, a jogos dos<br />
associados, ao desenvolvimento de obras escolares, e pós-<br />
escolares de aju<strong>da</strong> mútua e de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de”.
FÁBIO LUZ FILHO 305<br />
Vê-se, acrescenta Charlot, que a Cooperativa Escolar é<br />
um agrupamento de iniciação à vi<strong>da</strong> prática e social, cujos<br />
benefícios são sempre utilizados para fins coletivos.<br />
É um agrupamento no qual os associados são,<br />
incessante-mente, chamados a pequenos sacrifícios em favor <strong>da</strong><br />
obra e em favor de seus co-associados.<br />
É um agrupamento no qual os associados são, incessan-<br />
temente, convi<strong>da</strong>dos a ação e ao trabalho.<br />
É um grupo de crianças que, sob a égide de seu<br />
professor, trabalham êles mesmos no sentido de melhorar o<br />
meio moral e o meio material que condicionou a sua ação.<br />
CARÁTER<br />
“E, a cooperativa escolar, um método de educação ativa<br />
capaz de:<br />
a) — formar a vontade <strong>da</strong> criança;<br />
b) — dirigir seus hábitos;<br />
c) — ensiná-la a usar sua liber<strong>da</strong>de;<br />
d) — criar a vontade coletiva.<br />
1.º — Valor material.<br />
VALOR<br />
Pela Cooperativa escolar a Escola se transforma<br />
progres-sivamente: não é mais a casa triste, sombria, poenta e,<br />
às vêzes, feia, na qual a criança entra apreensiva, com uma<br />
fi-sionomia carrancu<strong>da</strong> e aborreci<strong>da</strong>. Graças à Cooperativa<br />
Es- colar, ela se torna alegre, clara, limpa e bonita. Nela a<br />
criança entra espontâneamente, nela se encontra à vontade.<br />
Nela to- dos o acolhem sorridentes, nela tudo o atrai com<br />
insistência.<br />
2.º — Valor moral.<br />
Entre os cooperadores aparecem quali<strong>da</strong>des morais que,<br />
sem a Cooperative, nunca teriam sido solicita<strong>da</strong>s nem desen-<br />
volvi<strong>da</strong>s, pois:<br />
a) seu espírito de pesquisador, de observador e de cria-<br />
dor se aguça na ocasião <strong>da</strong> aplicação e do cui<strong>da</strong>do que põe na<br />
feitura de pequenos aparelhos destinados à ven<strong>da</strong>, à tômbo-<br />
las ou ao ensino concreto;<br />
20 — 27 454
306 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
b) seu pendor para o trabalho bem feito se manifesta<br />
mediante realizações bem sucedi<strong>da</strong>s e muitas vêzes, graciosas,<br />
dos quais conservará a impressão quando, mais tarde, fôr ope-<br />
rário ou artífice;<br />
c) seu sentido do trabalho em equipe se consegue auto-<br />
màticamente, porque a criança não trabalha só em seu canto.<br />
Fazendo parte dum grupo ativo, compreenderá ràpi<strong>da</strong>mente<br />
que a aju<strong>da</strong> mútua, na execução duma tarefa determina<strong>da</strong>,<br />
leva sempre à perfeição e à rapidez na realização dessa tarefa;<br />
d) sua responsabili<strong>da</strong>de de dirigente e de organizador é<br />
vivamente solicita<strong>da</strong> porque, tornado chefe de grupo, saberá<br />
assumir responsabili<strong>da</strong>des disso decorrentes, e saberá tomar<br />
decisões, que fará em segui<strong>da</strong> executar com autori<strong>da</strong>de o<br />
bom-humor;<br />
e) sua vontade se afirma, porque, para levar a bom ter-<br />
mo uma tarefa as vêzes penosa, e difícil, que lhe foi confia<strong>da</strong>,<br />
deve a criança apelar para tô<strong>da</strong> a sua energia, coragem e fir-<br />
meza de coração;<br />
f) seu amor <strong>da</strong>s belas coisas se acrisola, pois o quadro<br />
bem ordenado de uma classe bem posta e bem decora<strong>da</strong> terá,<br />
para seu futuro interior familiar, uma repercussão feliz: or-<br />
dem, limpeza, bom gôsto;<br />
g) seu sentimento de honra toma alento, porque o<br />
cooperador possui uma consciência integra e um amor-próprio<br />
extraordinário para bem preencher as funções que lhes são<br />
confia<strong>da</strong>s;<br />
h) sua compreensão do bem comum ganho no seio <strong>da</strong><br />
Cooperativa, torna-se nêle um hábito profundo, que dêle fará,<br />
mais tarde, em ci<strong>da</strong>dão probo, honesto e reto;<br />
i) seu amor ao próximo se manifesta largamente pela<br />
amplitude e diversi<strong>da</strong>de dos socorros que distribui generosa-<br />
mente àqueles que estão na necessi<strong>da</strong>de e sofrem.<br />
Valor pe<strong>da</strong>gógico<br />
a ) A Cooperativa Escolar torna-se um centro em torno<br />
do qual se agrupam, se desenvolvem e se suavizam os conhe-<br />
cimentos adquiridos em aula. É ela também uma aplicação<br />
e recapitulação práticas.<br />
b) A Cooperativa utiliza todos os aspectos dos métodos<br />
ativos, Exige uma atenção permanente graças à qual a crian-<br />
ça se torna, para a professor, um colaborador zeloso.
FÁBIO LUZ FILHO 307<br />
c) A Cooperativa se apóia, não em exercícios imagina-<br />
dos, mas exercícios bem reais e bem vivos: relatórios, atas,<br />
prestação de contas, desenhos, trabalhos manuais de uma dês-<br />
tinação prática, contabili<strong>da</strong>de, etc.<br />
Valor psicológico<br />
As Cooperativas solicitam a personali<strong>da</strong>de total do aluno,<br />
e pode conseguir, na sua alma de criança, revelar e pôr em<br />
ação fôrças que, sem ela, teriam ficado inaplica<strong>da</strong>s e retraí<strong>da</strong>s.<br />
A Cooperativa escolar pode revelar aos interessados, aos<br />
camara<strong>da</strong>s, aos professôres, facul<strong>da</strong>des de entusiasmo, reser-<br />
vas de devotamento e aptidões que os exercícios escolares não<br />
poderiam fazer surgir, nem tornar conhecidos, e que, uma vez<br />
revelados, podem servir de ponto de apoio à ação do professor.<br />
Valor prático<br />
A administração de seu pequeno grupo é, para as<br />
crianças, uma ocasião para se instruírem sôbre numerosas<br />
questões não previstas pelos pequenos escolares:<br />
a) relações postais com os fornecedores e os clientes<br />
<strong>da</strong> cooperativa; b) familiarizarem-se as crianças, com ordens<br />
de pagamento, cheques, operações de contabili<strong>da</strong>de elemen-<br />
tar; costume de falar perante seus camara<strong>da</strong>s e, nas discussões<br />
sérias, procurar argumentos, fazê-los prevalecer, calar-se<br />
quando conveniente, escutar.<br />
Valor social<br />
A Cooperativa estabelece uma soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de manifesta:<br />
a) entre os alunos presentes e os antigos alunos, fazendo,<br />
eclodir entre os jovens que colhem o que os seus antecessores<br />
semearam, um sentimento de reconhecimento e também uma<br />
espécie de emulação, para deixar, por sua vez, alguns benefí-<br />
cios de sua passagem pela escola;<br />
b) entre a escola e as famílias, porque estas são, muitas<br />
vêzes, chama<strong>da</strong>s obra empreendi<strong>da</strong> pela criança. Por suas<br />
visitas freqüentes à Escola, pela sua participação nas mani-<br />
festações <strong>da</strong> Cooperativa, os pais se apegam e ligam à grande<br />
família <strong>da</strong> Escola laica, <strong>da</strong> qual alargam o círculo apertan-<br />
do-lhe os laços.<br />
(Trad. de F. L. F.).
308 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
COOPERATIVA ESCOLAR E FORMAÇÃO MORAL<br />
por Calvée (Inspetor escolar francês em Nancy)<br />
........ ..................... ...................... ............... .............................<br />
........ ..................... ...................... ............... .............................<br />
Terceira parte<br />
Que é uma cooperativa escolar?<br />
Se tomarmos a definição de M. Colombain, a<br />
cooperativa escolar é uma associação. Falei muito até aqui <strong>da</strong><br />
coletivi<strong>da</strong>de escolar, do grupo de classe, dessa sociologia<br />
escolar, para que não pareça indispensável fazer uma<br />
transição.<br />
Do ponto-de-vista psicológico a cooperativa escolar é:<br />
um agrupamento de indivíduos, logo organização.<br />
É muito fácil inculcar, intelectualmente, aos alunos essa<br />
idéia de agrupamento organizado. Mas é sobretudo pela ação,<br />
na ação em comum que a criança compreenderá o que signifi-<br />
ca essa associação, que é:<br />
—negativamente, a ruptura do isolamento; positivamen-<br />
te, adição de fôrças individuais, de iniciativas pessoais, de von-<br />
tades singulares, de inteligências particulares, isto é, a soma<br />
<strong>da</strong>s liber<strong>da</strong>des individuais nascentes. Na<strong>da</strong> como essa associa-<br />
ção cooperativa para reduzir a egocentrismo infantil. Real-<br />
mente, a criança, no seio do grupo e na ação, verifica que:<br />
—Duma parte, como indivíduo: compreende que ela tem<br />
um voto nas eleições, nas decisões que se seguem às delibera-<br />
ções; que ela tem o direito de <strong>da</strong>r suas opiniões nas discussões;<br />
que ela tem um lugar para seus objetos pessoais, assim como<br />
tem um papel que desempenhar. Aprendizagem pragmática<br />
de igual<strong>da</strong>de e de justiça, que é a recíproca <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de.<br />
—Doutra parte, como associado: sente, compreende que<br />
não está só na organização; sua opiniões se chocam com as<br />
dos outros; melhor; aprende a ter opiniões e a formulá-las;<br />
o contacto com outros espíritos e com outras vontades facilita<br />
a eclosão de seu pensamento; o grupo, a êsse respeito, é exci-<br />
tador e estimulante; mas, em contraparti<strong>da</strong>, o grupo se reser-<br />
va o direito de submeter o seu pensamento ao contrôle e à cri-<br />
tica coletivos; suas iniciativas, submeti<strong>da</strong>s também à dis-<br />
cussão crítica, deverão ajustar-se a outras iniciativas, igual-<br />
mente respeitáveis, uns e outros finalmente fundidos em uma<br />
iniciativa coletiva.
FÁBIO LUZ FILHO 309<br />
É a melhor educação <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, duma soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>-<br />
de inteiramente nova, aliás, não mais basea<strong>da</strong>, como o é na<br />
família, na qual é forte, ou na classe, mas fun<strong>da</strong><strong>da</strong>, ao con-<br />
trário, sôbre razões de fato, de experiência, vivi<strong>da</strong>s e diária-<br />
mente pratica<strong>da</strong>s.<br />
E, <strong>da</strong> mesma forma, se elabora uma nova noção de san-<br />
ção, não mais basea<strong>da</strong> na idéia de expiação, mas apoia<strong>da</strong> na<br />
noção de reciproci<strong>da</strong>de, e que comporta, no fundo, o sentido<br />
<strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de pessoal, com êstes dois aspectos:<br />
a) responsabili<strong>da</strong>de em relação ao grupo inteiro;<br />
b) responsabili<strong>da</strong>de através <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de global<br />
do grupo.<br />
Sem insistir muito — e apenas do ponto-de-vista psico-<br />
lógico, é evidente que a cooperativa escolar constitui um meio<br />
particularmante favorável á formação moral <strong>da</strong>s crianças:<br />
<strong>da</strong> razão prática o aluno se eleva até ao conceito <strong>da</strong>s reali<strong>da</strong>-<br />
des morais mais eleva<strong>da</strong>s; adquire essa autonomia moral, que<br />
é geradora de atos livres, cuja prática é para êle cotidiana:<br />
a ) julgamento de fato ou de valor;<br />
b) raciocínio;<br />
c) decisão;<br />
d) execução.<br />
Associação voluntária.<br />
Não se cria sob a influência de uma necessi<strong>da</strong>de exterior,<br />
duma pressão estranha de programas ou de pais, quando mui-<br />
to uma sugestão do professor. Porque é seu caráter voluntá-<br />
rio, de se constituir por livre adesão, o penhor indispensável<br />
de sinceri<strong>da</strong>de, de eficácia.<br />
Aberta — Associa professôres, pais, amigos <strong>da</strong> escola,<br />
natigos alunos, ou autori<strong>da</strong>des locais. (Ver a exegesse <strong>da</strong> Assis-<br />
tência Jurídica do Serviço de Economia Rural, segundo a qual<br />
só as alunos podem participar de cooperativas escolares,<br />
caben- do aos professôres o papel de assessôres apenas, no<br />
que estão mais certos, como já vimos).<br />
Assim concebi<strong>da</strong>, a cooperativa escolar se torna<br />
indispensável etapa intermediária entre a escola, de um lado,<br />
e, do outro, a família, o grupo social elementar, e a socie<strong>da</strong>de<br />
local, infinitamente mais vasta; e, assim, tem ela o mérito de<br />
abrir largamente a escola à vi<strong>da</strong>.
310 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Democracia — É democrática pela eleição (períodica)<br />
dos dignitários <strong>da</strong> cooperativa escolar e pelo seu funciona-<br />
mento. A eleição, as deliberações, as decisões, não são um si-<br />
mulacro, não são um jôgo, são atos ver<strong>da</strong>deiros, que mobili-<br />
zam o julgamento, que forjam energias e o senso <strong>da</strong>s respon-<br />
sabili<strong>da</strong>des, e operam, as vêzes, na classe, uma reclassifica-<br />
ção mais em função do caráter que do mérito pròpriamente<br />
escolar. E do ponto-de-vista educativo, isso é extremamente<br />
importante: é tô<strong>da</strong> a filosofia do “Contrato social” que é pos-<br />
ta em ação duma parte, um duplo e prévio acôrdo coletivo,<br />
para que se realize a vontade <strong>da</strong> maioria, e para que à mesma<br />
se submeta a minoria; doutra parte, a aceitação voluntária<br />
do mecanismo democrático, que faz com que a criança seja, a<br />
um mesmo tempo, soberano (elege e vota), principe (função<br />
de dignitário) e súdito (deveres de societário). Dito doutra<br />
forma: a criança aprende a obedecer aos outros, a respeitar<br />
as decisões, regras e estatutos que ela mesma votou; habi-<br />
tua-se a controlar suas próprias ações e a de seus semelhantes.<br />
Pode-se-á exigir melhor atmosfera para a educação do<br />
senso cívico? Pode-se-á conceber melhor ordem para a eclosão<br />
dos líderes e a discriminação de elites?<br />
CONCLUSÃO<br />
Tais são as considerações que me pareceram formuláveis<br />
a propósito do problema que nos reuniu.<br />
Certamente, apresentei as coisas sob um ângulo ideal.<br />
Mas, faço-o porque estou convicto, com Charles Gide, de que<br />
“la coopération, c’est une étoile”, logo a um só tempo um<br />
guia seguro e um fim elevado. Mas junto êste corretivo:<br />
“Para que a criança se interêsse pelo cooperativismo es-<br />
colar, é preciso que ela se interêsse pela escola”, e por ela só se<br />
poderá interessar se a educação intelectual que receber<br />
fôr uma educação realmente ativa. Neste caso, a criança se<br />
sente firme quando passa <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de do conhecimento à <strong>da</strong><br />
cooperação; não se sente desloca<strong>da</strong>; conserva sua coerência<br />
mental neste microcosmo social e moral que é a classe, na<br />
qual aprende, pela ação e na ação, a estima de si mesma ao<br />
mesmo tempo que a dos outros, e na qual se faz aprendizagem<br />
pragmática dessa “virtude” tão necessária ao desenvolvimen-<br />
to do espírito democrático.<br />
O cooperativismo escolar, certamente, não é uma pana-<br />
céia universal; mas tô<strong>da</strong> vez em que falo do cooperativismo
FÁBIO LUZ FILHO 311<br />
escolar ou que nêle penso, mais convicto estou de que “ o futu-<br />
ro <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de é a Escola".<br />
“C'est dire qu'à tout moment de la croissance, les fins<br />
personnelles de l’enfant, au nombre desquelles ou compte<br />
heuresement le besoin naturel do socialité, devront toujours<br />
s’articuler harmonieusement avec fins collectives du groupe<br />
social <strong>da</strong>ns lequel il se développe”.<br />
(“Revue de la coopérations scolaire" — mai - juin —<br />
juillet 1958) — Paris — France — Trad. de F. L. F.).<br />
A COOPERATIVA ESCOLAR<br />
D. Mercedes Amália Marchand é supervisora geral do<br />
Departamento de Instrução do Pôrto Rico. Em trabalho pu-<br />
blicado em “Cooperativas” <strong>da</strong> União Pan-Americana, de ju-<br />
nho p. p., assinala, com proprie<strong>da</strong>de, dentro <strong>da</strong> mesma linha<br />
de orientação pe<strong>da</strong>gógica dos técnicos brasileiros, que as<br />
cooperativas escolares servirão de laboratórios práticos, que<br />
oferecem a oportuni<strong>da</strong>de de uma aprendizagem funcional,<br />
opinando que seis áreas de vi<strong>da</strong> são enriqueci<strong>da</strong>s com o ensi-<br />
no do cooperativismo, a saber:<br />
Área I: Elevação do nível de vi<strong>da</strong> do homem em têrmos de<br />
proficiência econômica (educação vocacional, matemáticas,<br />
estudos socias e outras matérias), com as seguintes con-<br />
sequências: os estu<strong>da</strong>ntes se familiazarão com o movimento<br />
sócio-econômico mais importante <strong>da</strong> época moderna, o coope-<br />
rativismo. Iniciando-se no estudo de temas de economia:<br />
oferta e deman<strong>da</strong>, mercados e preços, empréstimos e juros,<br />
etc... Aprendem a localizar, a usar, a aumentar e a conser-<br />
var os recursos de que dispõem, desenvolvendo o hábito <strong>da</strong><br />
economia, para a necessi<strong>da</strong>de e para a ação comum.<br />
Associando-se para oferecer serviços individuais: consu-<br />
mo, produção, crédito, ven<strong>da</strong>, recreação, etc..., aprendem<br />
também a selecionar produtos, apresentá-los de forma atraen-<br />
te e a calcular preços.<br />
Distribuem os alunos, na sua cooperativa escolar, as so-<br />
bras entre os associados na proporção de seu consumo, con-<br />
forme a regra clássica, aumentando, assim a ren<strong>da</strong> <strong>da</strong> fa-<br />
mília.<br />
Preparam orçamentos, horários de trabalho, e<br />
requisições, que envolvem economia de dinheiro, de tempo, de<br />
materiais.
312 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Estabelecem relações comerciais e desenvolvem capaci<strong>da</strong>de<br />
administrativa.<br />
Área 2 — Desenvolvimento de habili<strong>da</strong>des para a comu-<br />
nicação e para a solução de problemas.<br />
Dentro dessa área, aparecem ao educando temas sôbre<br />
os quais falar e escrever. Enriquecem seu vocabulário durante<br />
leituras, palestras, etc. Preparam regulamentos, cláusulas<br />
estatutárias; planos, programas, relatórios, informações, no-<br />
tas, telegramas, cartas, requerimentos, atas, minutas, editais<br />
de convocação, etc.<br />
Ademais, usam técnicas educativas recomen<strong>da</strong><strong>da</strong>s, tais<br />
como: palestras curtas ilustra<strong>da</strong>s, excursões, círculos de estu-<br />
dos, planos para discussões, sóciogramas, entrevistas, confe-<br />
rências, foros, demonstrações e outras. Apresentam proble-<br />
mas, discutem-nos e sugerem meios para resolvê-los. Aceitam<br />
e modificam idéias e aplicam-nas. Outra técnica educativa são<br />
as assembléias, concursos, votações, campanhas cívicas e<br />
outras ativi<strong>da</strong>des educativas.<br />
Aprendem a fazer contas em seus livros e no banco ou<br />
no correio, a pagar faturas, a fazer pedidos acompanhados de<br />
letras ou cheques, como a comprovar contas, a <strong>da</strong>r e a con-<br />
servar recibos, a fazer compras, a elaborar balancetes, a fazer<br />
inventários.<br />
Adquirem, enfim, os conhecimentos básicos que os ca-<br />
pacitam para serem ci<strong>da</strong>dãos socialmente úteis.<br />
Área 3: Compreensão de que na vi<strong>da</strong> criadora está o<br />
máximo prazer <strong>da</strong> pessoa humana.<br />
Uma vez agrupados, os alunos capacitam-se para<br />
produzir os recursos com que melhorar o meio em que vivem.<br />
Sentem o desejo de fazer coisas belas e úteis. Preparam locais<br />
para instalar suas ten<strong>da</strong>s e oficinais: arrumam-nos, pintam-<br />
nos e os dotam de armários e outras facili<strong>da</strong>des. Escrevem<br />
poemas, canções, acrósticos, décimas, dramas, composições e<br />
outros trabalhos originais.<br />
Preparam programas, repertórios e adornos para suas<br />
assembélias e festas. Oferecem presentes simbólicos.<br />
Área 4: Melhoramento do teor <strong>da</strong> convivência social.<br />
Os alunos iniciam-se na idéia dominante <strong>da</strong> história: a<br />
vi<strong>da</strong> do progresso do homem. Associam-se disciplina <strong>da</strong> es-<br />
cola, aju<strong>da</strong>ndo a mantê-la, convertendo-se em preciosos auxi-<br />
liares do professor. Adquirem o hábito e o gôsto <strong>da</strong> ação co-<br />
mum, gozam de liber<strong>da</strong>de de ação, conhecem e praticam os<br />
princípios democráticos.
FÁBIO LUZ FILHO 313<br />
Aprendem, além disso, a dirigir, a delegar e a <strong>da</strong>r exem-<br />
plo, investindo-se em funções de acôrdo com as habili<strong>da</strong>des,<br />
as aptidões e as condições dos associados.<br />
Interessando-se pela prosperi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> escola e <strong>da</strong><br />
comuni<strong>da</strong>de, realizam esforços individuais para o benefício do<br />
grupo.<br />
Aprendem a tratar com as pessoas. Respeitam as opi-<br />
niões individuais, as decisões do grupo e os regulamentos apro-<br />
vados. Adquirindo um sentido de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, mostram res-<br />
peito pelos trabalhadores. Aconselham e aju<strong>da</strong>m os compa-<br />
nheiros que se encontram em dificul<strong>da</strong>des. Exercem influên-<br />
cia saudável sôbre os pais. Aju<strong>da</strong>m as cooperativas nascentes.<br />
Separam parte de seus fundos para aju<strong>da</strong>r as campanhas cí-<br />
vicas, tais como Cruz Vermelha, Liga contra o câncer, a cam-<br />
panha para evitar a tuberculose e outras. Melhoram as rela-<br />
ções entre alunos, clientes e fornecedores. Eliminam <strong>da</strong>s re-<br />
lações sociais a idéia de lucro e a substituem pela idéia de ser-<br />
viço. Vivem mais livres de preconceitos.<br />
Área 5: Desenvolvimento e fomento de uma estimativa de<br />
valores.<br />
Os alunos, na cooperativa escolar, praticam, com entu-<br />
siasmo, a ordem, a economia <strong>da</strong>s coisas e o bom uso do tem-<br />
po, ocupam o tempo vago em uma obra útil. Avaliam seu<br />
progresso e seus fracassos. Adquirem confiança em suas for-<br />
ças e um desejo sincero de melhorar. Desfrutam com alegria<br />
dos serviços que se prestam em comum. Vêem recompensa<br />
no prazer de haver trabalhado juntos para um fim comum.<br />
Ademais, os alunos se sentem felizes em serem úteis ao movi-<br />
mento com sua modesta participação. Estabelecem tradições<br />
saudáveis de trabalho e concórdia.<br />
Dão sentido educativo às festas escolares. Consideram a<br />
exercício <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de como uma função e não como um<br />
privilégio. Compreendem o valor <strong>da</strong> experiência. Aprendem a<br />
amar o seu povo. Mostram-se fiéis à palavra <strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />
Área 6: Melhoramento <strong>da</strong> saúde física, mental e espi-<br />
ritual.<br />
Os alunos adquirem, ain<strong>da</strong>, o hábito <strong>da</strong> limpeza, <strong>da</strong> or-<br />
dem, <strong>da</strong> boa saúde e <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de. Enriquecem o ambiente<br />
escolar, tornando-o mais agradável e harmônico. Oferecem à<br />
ven<strong>da</strong> produtos sãos e nutritivos. Abstêm-se de comer muitas<br />
guloseimas e de consumí-las entre as refeições. Aprendem a<br />
tomar medi<strong>da</strong>s de segurança durante as ativi<strong>da</strong>des de que<br />
participam, viagens, excursões, experiências, trabalhos etc...
314 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Finalmente, conclui O. Mercedes Amália Marchand,<br />
investem parte de suas economias em roupa, calçado,<br />
alimentos, medicamentos, artigos de uso individual.<br />
Pelo exposto, como dissemos no início, os técnicos brasi-<br />
leiros, dentre os quais o Sr. Fábio Luz Filho, como a pregação<br />
do Serviço de Economia Rural, trilharam os atalhos pe<strong>da</strong>gó-<br />
gicos acertados, plenamente confirmados pela ilustre educa-<br />
dora portorriquenha, que mereci<strong>da</strong>mente teve seu trabalho<br />
pôsto em relêvo pela União-Pan-Americana, em<br />
“Cooperativas”.<br />
(Do S. E. R.).<br />
PLANO PARA UMA COOPERATIVA ESCOLAR<br />
Eis o plano de educação cooperativa adotado por uma<br />
escola de Costa Rica:<br />
Propósitos:<br />
1 — Preparar um ambiente propício ao nascimento e de-<br />
senvolvimento <strong>da</strong>s idéias cooperativas.<br />
2 — Aplicar à vi<strong>da</strong> escolar a filosofia que encerra o me-<br />
todo cooperativo (fraterni<strong>da</strong>de, prestação e intercâmbio de<br />
serviços, atenuação de tendências egoístas, fortalecimento de<br />
impulsos sociais, desenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de contri-<br />
buir para o bem comum).<br />
3 — Acostumar os membros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de a trabalhar<br />
juntos, a participar <strong>da</strong>s discussões, expressar, livre e franca-<br />
mente, suas idéias, a dizer com clareza o de que necessitam e<br />
o que querem, a reclamar seus direitos e a cumprir seus deve-<br />
res. Ao participar dos debates nas Assembléias e comités em-<br />
carregados de redigir os regulamentos, o programa cooperati-<br />
vo e suas normas, assim como ao calcular receitas e despesas<br />
e ao votar nas eleições, os alunos “aprendem praticando” os<br />
princípios fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> Democracia e, conseguintemente,<br />
se vão educando para serem ci<strong>da</strong>dãos úteis e conscientes.<br />
4 — Aplicar o princípio de “aprender fazendo coisas praticas”,<br />
isto é, aprender o cooperativismo praticando-o e in-<br />
culcar nos membros o orgulho de pertencer à Cooperativa e<br />
de serem membros úteis à sua comuni<strong>da</strong>de.<br />
5 — A<strong>da</strong>ptar o programa de matemáticas, dentro do possível,<br />
à vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> Cooperativa Escolar, sobretudo em pontos como:<br />
aplicação simples de faturas, orçamentos, inventários,
FÁBIO LUZ FILHO 315<br />
mecânica <strong>da</strong>s operações, percentagens, noções de contabili-<br />
<strong>da</strong>de, etc.<br />
6 — Dar oportuni<strong>da</strong>de aos alunos para a defesa e<br />
conser-vação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> nos aspectos fisiológico e econômico:<br />
ATIVIDADES:<br />
1 — Participação direta na organização e funcionamen-<br />
to <strong>da</strong> Cooperativa Escolar.<br />
2 — Dar conhecimento <strong>da</strong>s regras econômico-sociais do<br />
Cooperativismo.<br />
3 — Usar o método de projetos, e organizar grupos dis-<br />
tintos, que se responsabilizarão por ativi<strong>da</strong>des como: ven<strong>da</strong><br />
de utili<strong>da</strong>des, ven<strong>da</strong> de livros, serviços aos associados, cui<strong>da</strong>-<br />
dos com práticas agrícolas, trabalhos de costura e trabalhos<br />
manuais, preparação de festas, assembléias, excursões, expo-<br />
sições, etc.; embelezamento <strong>da</strong> escola, periódico mural.<br />
4 — Procurar a participação dos pais de família e vizi-<br />
nhos nas ativi<strong>da</strong>des acima menciona<strong>da</strong>s, assim como a de<br />
outros organismos ao serviço do povo.<br />
PROGRAMA DE CONHECIMENTOS A<br />
MINISTRAR:<br />
1 — O que é e como funciona uma Cooperativa Escolar<br />
Juvenil. Ativi<strong>da</strong>des que pode desenvolver. Experiências em<br />
Pôrto Rico e outros países.<br />
2 — Tô<strong>da</strong> Cooperativa tem seus estatutos e seu Regula-<br />
mento. Estudo e discussão dos Estatutos para essa Associa-<br />
ção juvenil.<br />
3 — História do Cooperativismo. Os pioneiros de Roch-<br />
<strong>da</strong>le. (Usar texto ilustrado. Material do Departamento de<br />
Cooperativas).<br />
4 — Os sete princípios cooperativos.<br />
5—A Cooperativa Vitoria na região, sua história, de-<br />
senvolvimento, ativi<strong>da</strong>des e efeitos de seu funcionamento.<br />
6 — Dar algumas noções de contabili<strong>da</strong>de nas coopera-<br />
tivas.<br />
A COOPERATIVA ESCOLAR NA GRECIA<br />
Em comunicado anterior o Serviço de Economia Rural<br />
divulgou justos conceitos do Sr. H. Charlot, vice-presidente<br />
do “Office Central de la Coopération a l’Ecole”, de Paris.<br />
Divulga agora um trabalho que está sendo distribuído pela
316 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Confederação <strong>da</strong>s Uniões <strong>da</strong>s Cooperativas Agrícolas <strong>da</strong> Grécia.<br />
É êle <strong>da</strong> autoria de Potini Th. Tzortzaki, e refere-se ao movi-<br />
mento cooperativo escolar na Grécia, a partir de 1954. É tra-<br />
balho editado pelo Serviço de Educação Cooperativa <strong>da</strong> cita<strong>da</strong><br />
Confederação.<br />
Diz Tzortzaki que, antes <strong>da</strong> última guerra, vários pro-<br />
fessôres tinham tido a iniciativa de organizar em suas esco-<br />
las a ativi<strong>da</strong>de e a vi<strong>da</strong> escolar sob forma de cooperativas<br />
mui simples. Essas cooperativas tinham sobretudo por fim<br />
fornecer aos alunos material escolar e medicamentos a preços<br />
baixos, Mas, ao mesmo tempo, se propunham auxiliar a escola<br />
mesma (enriquecimento a biblioteca escolar, fornecimento de<br />
material didático, etc.) e organizar uma vi<strong>da</strong> social ele-<br />
mentar (socorro aos escolares órfãos ou indigentes). Além<br />
disso, porfiavam em cultivar o espírito de colaboração e o sen-<br />
tido <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, iniciando os pequenos camponeses no<br />
ideal <strong>da</strong> cooperação, preparando-os para se tornarem<br />
membros ativos <strong>da</strong> cooperativa agrícola de sua comuni<strong>da</strong>de.<br />
Essas primeiras cooperativas escolares hauriam recursos<br />
de cotizações benévolas de seus membros, contribuições <strong>da</strong><br />
caixa econômica escolar fun<strong>da</strong><strong>da</strong> pela cooperativa, de produ-<br />
tos do jardim <strong>da</strong> escola e de benefícios realizados pelos arma-<br />
zéns de ven<strong>da</strong> escolares. Mas, a guerra tudo fêz desaparecer,<br />
tendo o movimento ressurgido em 1954, quando o Serviço de<br />
Educação Cooperativa <strong>da</strong> Confederação tornou a iniciativa de<br />
trabalhar assìduamente pelo desenvolvimento <strong>da</strong>s cooperati-<br />
vas escolares na Grécia.<br />
A Confederação contou com o apoio do Banco Agrícola,<br />
<strong>da</strong> Confederação dos Professôres, e dos <strong>Ministério</strong>s <strong>da</strong> Agri-<br />
cultura, <strong>da</strong> Coordenação e <strong>da</strong> Educação Nacional, tendo êste<br />
último recomen<strong>da</strong>do a aplicação do sistema a título de ensaio<br />
através de circulares dirigi<strong>da</strong>s aos inspetores do Ensino Pri-<br />
mário. (O mesmo fêz Lourenço Filho no Brasil, com relação<br />
a “Cooperativas escolares” de Fábio Luz Filho).<br />
O <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> e o Banco Agrícola, por sua<br />
vez, recomen<strong>da</strong>ram a seus respectivos serviços que se interes-<br />
sassem pelo progresso <strong>da</strong>s cooperativas escolares e prestassem<br />
assistência às escolas, nas quais tais cooperativas pudessem<br />
ser fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s.<br />
“On peut aujaurd’hui considerer avec optimisme le<br />
mou-vement des Cooperatives scolaires”.<br />
Os alunos-associados <strong>da</strong>s atuais cooperativas gregas têm<br />
cultivado o campo e o jardim, têm feito sementeiras de árvo-
FÁBIO LUZ FILHO 317<br />
res frutíferas e plantas ornamentais e vendido arbustos; têm<br />
criado animais domésticos e aves; colhido ervas medicinais<br />
(sobretudo a camomila); colhido frutos de árvores nos jardins<br />
<strong>da</strong> vila, sendo metade em proveito <strong>da</strong> cooperativa; têm orga-<br />
nizado exposições e ven<strong>da</strong>s de delicados bor<strong>da</strong>dos populares,<br />
assim como festas e coros; instalaram um salão de cabeleirei-<br />
ro para os escolares; prestaram diferentes serviços no sentido<br />
de aumentar os recursos pecuniários <strong>da</strong> sua escola.<br />
E Tzortzaki acrescenta que, ao lado dêsses trabalhos,<br />
que melhoram as finanças de sua cooperativa, os jovens<br />
associados aplicaram-se também em pôr em prática precei-<br />
tos fun<strong>da</strong>dos numa cultura sistemática do espírito social.<br />
Êles nota<strong>da</strong>mente:<br />
a) Zelaram pela limpeza e embelezamento de sua escola;<br />
b) Plantaram árvores e outras plantas de interêsse ge-<br />
ral; criaram jardins de flores com fins puramente decorativos;<br />
c) Enxertaram e po<strong>da</strong>ram as árvores do lugar;<br />
d) Vacinaram as aves dos camponeses e organizaram<br />
a proteção aos pássaros úteis;<br />
e) Cui<strong>da</strong>ram <strong>da</strong> saúde dos alunos, e em geral <strong>da</strong> popu-<br />
lação do lugar (limpeza <strong>da</strong>s ruas, <strong>da</strong> fonte pública e do<br />
aqueduto, dessecamento de pântanos, etc.).<br />
f) Ofereceram cotizações para fundos <strong>da</strong> cooperativa<br />
escolar a fim de enriquecer a escola em material didático;<br />
fun<strong>da</strong>ram um museu escolar;<br />
g) Instalaram uma farmácia e formaram equipes em-<br />
carrega<strong>da</strong>s de velar pela saúde dos alunos.<br />
“Les jeunes coopérateurs ont falt prouve d’un touchant<br />
esprit de soli<strong>da</strong>rité: ils ont prêté leur assistance aux membres<br />
indigents de leurs cooperatives en leur fournissant des livres<br />
et des articles de papeterie, et même aux pauvres du village<br />
en leur offrant des vivres aux grandes fêtes".<br />
E mais ain<strong>da</strong>: ofereceram-se para substituir no seu tra-<br />
balho as crianças pobres, a fim de lhes permitir que seguissem<br />
ao menos os cursos <strong>da</strong> noite para analfabetos. Ofereceram<br />
trabalho por equipe a famílias demasiado pobres. Distribuíram<br />
grãos e arbustos aos camponeses ou escolas vizinhas.<br />
Organizaram visitas com programas de recreação e de peque-<br />
nos presentes aos hospitais, orfanatos e postos avançados do<br />
Exército.
318 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Há ain<strong>da</strong>, na Grécia, alguns exemplos de cooperativas<br />
escolares cujos membros se dedicaram a pesquisas sôbre o<br />
meio e o gênero de vi<strong>da</strong> de sua comuni<strong>da</strong>de, coma uma ma-<br />
neira feliz de estreitar os laços que ligam a criança à terra<br />
e às tradições, de conservar os costumes e as festas locais,<br />
e às vêzes salvá-las do esquecimento.<br />
Algumas cooperativas, além <strong>da</strong> assistência do Serviço de<br />
Inspeção <strong>da</strong>s Cooperativas do Banco Agrícola, tiveram a dos<br />
Serviços de Aplicação Agrícola do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong><br />
e <strong>da</strong>s Cooperativas em geral.<br />
A Igreja, as autori<strong>da</strong>des comunais, os comités de admi-<br />
nistração <strong>da</strong>s escolas, os médicos <strong>da</strong>s comunas e os pais de<br />
alunos têm sido auxiliares prestimosos na aju<strong>da</strong> às coope-<br />
rativas escolares. Outros têm colaborado com organizações<br />
<strong>da</strong> juventude como a Cruz Vermelha, associações educacionais,<br />
uniões de jovens rurais, cooperativas similares de outras es-<br />
colas.<br />
A maioria <strong>da</strong>s cooperativas escolares foram fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />
em pequenos lugares (vilas, ci<strong>da</strong>dezinhas), em escolas que pos-<br />
suíam pequenos núcleos de crianças com um ou dois pro-<br />
fessôres. Os alunos <strong>da</strong>s duas ou <strong>da</strong>s quatro classes superiores,<br />
agrupados em cooperativas, dividiam entre si os trabalhos e<br />
as responsabili<strong>da</strong>des, admitidos, às vêzes, os mais jovens <strong>da</strong>s<br />
classes inferiores para seguirem as trabalhos <strong>da</strong>s cooperativas,<br />
a título de aprendizes. Houve mesmo escolas que fun<strong>da</strong>ram<br />
duas cooperativas, uma para a classe atrasa<strong>da</strong> outra para a<br />
mais adianta<strong>da</strong>. Em cinco casos, uma mesma cooperativa<br />
agremiava os alunos de duas escolas, a um só tempo.<br />
A administração e a gestão <strong>da</strong>s cooperativas escolares<br />
são feitos pelos alunos-associados com a assistência dos profes-<br />
sôres.<br />
“L’espirit dominant <strong>da</strong>ns les coopératives scolaires est<br />
un espirit éducatif et social, comme en temoignent leur acti-<br />
vités et les occupations de leurs membres”.<br />
E, na Grécia, “as cooperativas escolares puderam, assim,<br />
organizar entre as alunos um gênero de vi<strong>da</strong> fun<strong>da</strong><strong>da</strong> sôbre<br />
sentimento do dever e sôbre a espírito de fraterni<strong>da</strong>de e aju<strong>da</strong><br />
mútua, graças às ativi<strong>da</strong>des varia<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s coperativas, que<br />
permitem aos jovens associados preencher, recìprocamente,<br />
suas lacunas e testemunhar, por atos, o interêsse que dedicam<br />
a seu próximo, à escola e à comuna”. (Do S. E. R.).
FÁBIO LUZ FILHO 319<br />
A conferência <strong>da</strong> União Cooperativa Bolivariana<br />
Realizou-se em Caracas, em dezembro de 1945 a<br />
Segun<strong>da</strong> Conferência <strong>da</strong> União Cooperativa Bolivariana. Eis<br />
uma de suas resoluções:<br />
I — Afirmar de maneira categórica:<br />
a) Que o bom funcionamento de tô<strong>da</strong> Cooperativa re-<br />
quer elementos devi<strong>da</strong>mente preparados para dirigí-la, para<br />
administrá-la e para fornecer aos associados e ao público em<br />
geral, as informações necessárias sôbre o caráter econômico,<br />
moral e social do movimento cooperativo;<br />
b) Que a solidez, a fôrça e o prestígio de tô<strong>da</strong> coopera-<br />
tiva estão sempre na razão direta: de um lado, <strong>da</strong>s condições<br />
favoráveis que ofereça o meio no qual atua a associação; de<br />
outro, do espírito cooperativo dos associados que a compo-<br />
nham, e, por último, <strong>da</strong> idonei<strong>da</strong>de de seus dirigentes e admi-<br />
nistradores para o desempenho <strong>da</strong>s suas funções;<br />
c) Que o êxito e o fracasso <strong>da</strong>s emprêsas cooperativas<br />
dependem sempre, não de sistema em si, mais do uso próprio<br />
ou impróprio que se faça do mesmo.<br />
II— Que, em vista <strong>da</strong> urgente necessi<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>r à<br />
educação cooperativa a amplitude necessária, não só para as-<br />
tisfazer as necessi<strong>da</strong>des dos dirigentes, administradores e as-<br />
sociados <strong>da</strong>s Cooperativas pròpriamente ditas, senão também<br />
para proporcionar ao público em geral, e às novas gerações<br />
em particular, os conhecimentos que requer a estrutura eco-<br />
nômica <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des modernas, conhecimentos que se estão<br />
divulgando entre as populações dos países adiantados, espe-<br />
cialmente nos Estados Unidos e Canadá, os membros <strong>da</strong> União<br />
Cooperativa Bolivariana deverão:<br />
a) Intensificar o trabalho que já está sendo realizado,<br />
que consiste: na publicação de periódicos, folhetos, boletins<br />
de informação, livros, etc.; na celebração de atos de propagan-<br />
<strong>da</strong>, quer por meio de reuniões públicas, quer por palestras,<br />
conferências, emissões radiofônicas, excursões, festas despor-<br />
tivas e familiares, etc.; no assessoramento <strong>da</strong>s cooperativas<br />
que o solicitem, tanto as existentes como as que se queiram<br />
constituir; na re<strong>da</strong>ção de informações de caráter científico,<br />
técnico e administrativo e, sobretudo, na comemoração do<br />
Dia Cooperativo Internacional (primeiro sábado de julho de<br />
ca<strong>da</strong> ano), do natalício e <strong>da</strong> morte de Simon Bolívar (24 de
320 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
julho e 17 de dezembro respectivamente) e <strong>da</strong> abertura do<br />
armazém dos cooperadores de Roch<strong>da</strong>le (21 de dezembro);<br />
b) Prestar a máxima atenção às ativi<strong>da</strong>des educativas<br />
que podem, as cooperativas, desenvolver por seus próprios<br />
meios, aperfeiçoando o ensino técnico e prático para as que já<br />
o tenham estabelecido, e procurando, as que ain<strong>da</strong> não o te-<br />
nham feito, dispor, quando menos, dos meios precisos que lhes<br />
permitam preencher esta função fun<strong>da</strong>mental: facilitar aos<br />
novos cooperadores as conhecimentos indispensáveis para que<br />
as emprêsas que constituam não sejam, em caso algum, tèc-<br />
nicamente inferiores às emprêsas priva<strong>da</strong>s de caráter análogo<br />
estabeleci<strong>da</strong>s no lugar ou região respectiva;<br />
c) Instar no sentido de que as cooperativas realizem,<br />
por si mesmas, alguma ativi<strong>da</strong>de educativa, seja convocando<br />
reuniões ad hoc, em colaboração com centros pe<strong>da</strong>gógicos que<br />
tenham estabelecido o ensino do Cooperativismo, seja pro-<br />
curando por si próprias cursos em que se ministre dito ensino;<br />
d) Atuar de um modo constante, enérgico e decidido<br />
para conseguir que as autori<strong>da</strong>des competentes introduzam,<br />
segundo o exemplo <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des e dos governos de vários<br />
países, especialmente dos Estados de Wisconsin, Minnesota e<br />
Norte Dakota (América do Norte), o estudo do cooperativismo:<br />
1 — Nas escolas primárias, por meio de cooperativas es-<br />
colares, como as que Profit fundou na França, e que tanto êxi-<br />
to alcançaram nos principais países do mundo, tendo todo o<br />
cui<strong>da</strong>do em que os professôres conheçam bem a espírito do<br />
Cooperativismo e tratem de inculcá-lo às crianças, não com<br />
lições teóricas, mas adestrando-as no manejo de uma associa-<br />
ção escolar constitui<strong>da</strong> sob a forma cooperativa;<br />
2 — Nas universi<strong>da</strong>des, ou escolas de <strong>Agricultura</strong>, de<br />
Comércio, de Engenharia e Arquitetura, como disciplina à par-<br />
te, sem prejuízo de que se o ensine também o Cooperativismo<br />
nos cursos de História, Geografia, Pe<strong>da</strong>gogia, Filosofia, Moral,<br />
Economia Política, Direito Administrativo, Filosofia do Direi-<br />
to,etc.,etc., .............. ...................... ............... ................ ..........<br />
........ ..................... ...................... ............... .............................<br />
........ ..................... ...................... ............... .............................<br />
e) Tratar de incorporar-se a algum centro de educação<br />
e, quando isto não seja possível, articular suas próprias ativi-<br />
<strong>da</strong>des com as <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des e escolas acima menciona<strong>da</strong>s,<br />
sobretudo com aquelas que disponham de laboratórios de Físi-<br />
ca, e de Química e, de Institutos de Estatística e Investigações<br />
Sociais e Econômicas, etc. Assim conseguirão, de um lado,
FÁBIO LUZ FILHO 321<br />
estarem sempre ao par dos últimos progressos técnicos e cientí-<br />
ficos, e por outro que os profissionais <strong>da</strong> ciência possam ter<br />
nas cooperativas excelentes campos de investigações, de expe-<br />
rimentação e de aplicação;<br />
f) Estu<strong>da</strong>r com o maior cui<strong>da</strong>do os procedimentos téc-<br />
nico-administrativos empregados pela U.N.R.R.A., (hoje<br />
despareci<strong>da</strong> e substitui<strong>da</strong> pela C. A . R . E., que presta serviços<br />
análogos) com o fim de que as cooperativas com as quais te-<br />
nham relações possam colaborar com a máxima eficácia valio-<br />
sa de auxílio e reabilitação que aquela organização realiza;<br />
g) Prestar a máxima atenção aos planos de pós-guerra<br />
(tratar de colaborar na sua execução), que estão elaborando<br />
os países latino-americanos com objetivo de desenvolver as<br />
riquezas naturais, elevar o nível de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s populações, esta-<br />
belecer novas indústrias e abor<strong>da</strong>r ou desenvolver, segundo<br />
os casos, a reforma agrária.<br />
Sexta Conferência dos Estados Americanos membros <strong>da</strong><br />
Organização Internacional do Trabalho<br />
A Conferência acima reuniu-se em Havana, em<br />
setembro de 1956.<br />
Eis algumas de suas conclusões:<br />
“Deveriam tomar-se tô<strong>da</strong>s as medi<strong>da</strong>s possíveis para de-<br />
senvolver programas de formação e instrução cooperativas, e<br />
ditos programas deveriam corresponder as necessi<strong>da</strong>des e in-<br />
terêsses:<br />
a) dos associados <strong>da</strong>s cooperativas;<br />
b) dos organizadores e <strong>da</strong>s pessoas que ocupam postos<br />
administrativos, de contrôle ou executivos nos organismos<br />
ou organizações diretamente interessa<strong>da</strong>s nas cooperativas;<br />
c) <strong>da</strong>s diferentes categorias de trabalhadores (por exem-<br />
plo: trabalhadores industriais, trabalhadores agrícolas, arte-<br />
sãos e outros pequenos produtores);<br />
d) grupos especiais <strong>da</strong> população (crianças, mulheres,<br />
populações indígenas, etc.), como também deveriam ser toma<br />
<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s para informar o público em geral sôbre os prin-<br />
cípios e práticas cooperativas.<br />
“Deverão ser estu<strong>da</strong>dos atentamente a escolha e a<br />
a<strong>da</strong>pta-ção, às necessi<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> país, de métodos e técnicas<br />
apropria<strong>da</strong>s. Noutros deveriam ser considerados: os cursos nor-<br />
21 — 27 454
322 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
mais de formação, os seminários e reuniões de estudo intensi-<br />
vo, os círculos de estudo, os cursos por correspondência, a<br />
formação no local de trabalho, as viagens de estudo dentro<br />
do próprio país e ao estrangeiro, assim como o intercâmbio<br />
bilateral de pessoas. Sempre que for conveniente, dever-se-ia<br />
intensificar o uso de métodos audiovisuais, tais como cinema,<br />
rádio, televisão, teatro, cartazes e folhetos.<br />
“A formação e a instrução deverão constituir uma parte<br />
importante <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des auspiciadoras e consultivas sôbre<br />
cooperativas realiza<strong>da</strong>s pelos governos. A êste respeito deve-<br />
ria estu<strong>da</strong>r-se a possibili<strong>da</strong>de de empregar assessôres am-<br />
bulantes (acrescentamos que, há anos, preconizamos, no Bra-<br />
sil, a necessi<strong>da</strong>de de inspetores ou técnicos itinerantes, o que<br />
no Brasil alguns departamentos estaduais de cooperativismo<br />
já vão tentando fazer, como o do Rio Grande do Sul, que<br />
possui inspetores regionais, alguns dêles tendo sob suas vistas<br />
70 e mais cooperativas) encarregados <strong>da</strong> formação e instrução<br />
cooperativa em escala suficientemente ampla, especialmente<br />
nas zonas rurais.<br />
“Deveriam ser estimula<strong>da</strong>s as cooperativas que prestam<br />
especial atenção à formação de seus diretores e empregados,<br />
à instrução de seus associados e à informação do público. Pa-<br />
ra êstes efeitos, e sempre que possível, deveriam estabelecer-se<br />
caixas especiais consagra<strong>da</strong>s ao fomento <strong>da</strong> instrução, e as<br />
organizações centrais, quando existirem, deveriam <strong>da</strong>r assis-<br />
tência às socie<strong>da</strong>des primárias.<br />
“Deveriam tomar-se tô<strong>da</strong>s as medi<strong>da</strong>s necessárias para<br />
estimular as instituições docentes e culturais, os sindicatos,<br />
as associações rurais e outras organizações sociais e de outro<br />
gênero para que intensifiquem ou ampliem suas ativi<strong>da</strong>des de<br />
instrução e formação cooperativa.<br />
“Dentro <strong>da</strong>s instituições públicas e priva<strong>da</strong>s:<br />
a) dever-se-á <strong>da</strong>r especial atenção à criação e desenvol-<br />
vimento de “cooperativas escolares", a fim de aumentar os<br />
conhecimento e o interêsse <strong>da</strong>s crianças e dos pais sôbre os<br />
princípios e a prática <strong>da</strong>s cooperativas;<br />
b) deveria examinar-se a conveniência de incluir o ensi-<br />
no sistemático <strong>da</strong> doutrina cooperativa nos programas <strong>da</strong>s<br />
escolas primárias, elementares e secundárias e nas escolas<br />
normais de professôres nas diversas instituições especiais de<br />
formação superior, assim como a criação de cátedras em insti-<br />
tutos permanentes de cooperativismo nas universi<strong>da</strong>des.
FÁBIO LUZ FILHO 323<br />
O COOPERATIVISMO E A MULHER<br />
Há tempos, Aí<strong>da</strong> Perez de Guevara, <strong>da</strong> Associação Vene-<br />
zuelana de mulheres frisou, com muita justeza, o papel <strong>da</strong><br />
mulher em face do movimento cooperativo. Acentuou ela<br />
que a mulher deve por êle interessar-se:<br />
1.º — porque é a mulher quem, geralmente, maneja o<br />
dinheiro <strong>da</strong> família e tem a seu cargo a compra dos alimentos<br />
e do vestuário <strong>da</strong> mesma.<br />
2.º — Porque o movimento cooperativo, substituindo,<br />
paulatinamente, o comércio ordinário, lhe assegura mercado-<br />
rias boas, baratas e alimentos sãos.<br />
3.º — Porque a certeza do que ficou acima dito evitará<br />
que seja ela obriga<strong>da</strong> a percorrer os armazéns comparando<br />
preços e quali<strong>da</strong>des, o que lhe economizará tempo e esforços.<br />
4.º — Porque a cooperativa, que não necessita gastar<br />
em anúncios e instalações luxuosas, poderá oferecer-lhe arti-<br />
gos melhores que os armazens e negócios em constante liqui-<br />
<strong>da</strong>ção.<br />
5.º — Porque a cooperativa exclui o fiado e o crédito<br />
excessivo; obriga a dona de casa a ter ordem nas despesas e a<br />
manter equilíbrio entre êstes e as receitas <strong>da</strong> família e faz a<br />
família viver num ambiente de maior veraci<strong>da</strong>de.<br />
E não é só. A mulher deve ir além:<br />
1.º — Conhecendo a organização <strong>da</strong> Cooperativa, seu<br />
desenvolvimento;<br />
2.º — Divulgando êsses conhecimentos entre suas ami-<br />
gas e fazendo-as associa<strong>da</strong>s;<br />
3.º — Tratando de melhorar os serviços <strong>da</strong> cooperativa,<br />
utilizando-os contìnuamente, fazendo conhecer os defeitos que<br />
tiverem ou nêles introduzindo as melhorias convenientes ao<br />
maior número.<br />
Desta forma, com a realização dêste trabalho, que é uma<br />
obra de alcance social — o trabalho doméstico e a direção<br />
<strong>da</strong> família, terá a mulher a satisfação de tomar parte em um<br />
movimento de imenso valor como o movimento cooperativo.<br />
1.º — Porque está êle destinado a substituir o atual sis-<br />
tema de comércio, pela supressão dos intermediários inúteis,<br />
por preparar o povo para que seja o diretor econômico de seu<br />
próprio esfôrço criador.<br />
2.° — Porque o movimento cooperativo é inspirado por<br />
uma profun<strong>da</strong> simpatia humana, a que o faz associar-se ás<br />
mais altas manifestações de concórdia e progresso.
324 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
3.º — Porque, nascido do esforço de um grupo de pobres<br />
tecelões sem emprêgo, e espalhado pelo mundo, é a clara de-<br />
monstração <strong>da</strong> energia imensa que possui a associação inteli-<br />
gente e consciente dos homens, encerrando, assim, a promessa<br />
de um mundo melhor.<br />
Há, assim, necessi<strong>da</strong>de de que não sòmente os homens,<br />
senão também as mulheres, administradoras do lar, célula<br />
<strong>da</strong> pátria, se interessem pelo movimento cooperativo, conclui<br />
Aí<strong>da</strong> Guevara.
ANEXOS<br />
COMO DEFINE A LEI AS COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
“As cooperativas escolares poderão constituir-se nos es-<br />
tabelecimentos públicos ou particulares de ensino primário,<br />
secundário, superior, técnico ou profissional, entre os respecti-<br />
vos alunos, por si ou com o concurso de seus professôres, pais,<br />
tutôres ou pessoas que os representem, com o objetivo pri-<br />
mordial de inculcar aos estu<strong>da</strong>ntes a idéia do cooperativismo e<br />
ministrar-lhes os conhecimentos práticos <strong>da</strong> organização e<br />
funcionamento de determina<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de cooperativa e<br />
acessòriamente proporcionar-lhes as vantagens econômicas<br />
peculiares à mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de preferi<strong>da</strong>”.<br />
ESTATUTOS DA COOPERATIVA ESCOLAR DE ............ ........<br />
CAPÍTULO PRIMEIRO<br />
Da sede, área de ação, duração e fins <strong>da</strong> cooperativa<br />
Art. 1.º — Sob a denominação de “Cooperativa Escolar<br />
do Grupo Escolar .................. ., ci<strong>da</strong>de de ................ ........ ....<br />
fica<br />
constituí<strong>da</strong> entre os alunos abaixo-assinados e os que<br />
futuramente forem admitidos, devi<strong>da</strong>mente assistidos por seus<br />
pais, tutôres ou responsáveis, uma socie<strong>da</strong>de cooperativa es-<br />
colar que, como órgão educativo, visa despertar entre os alu-<br />
nos só princípios de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana, o espírito associa-<br />
tivo e cooperador, soerguer as tendências para a economia e<br />
previdência coletivas, a noção do apoio mútuo, a confiança<br />
recíproca, o senso <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de, contribuindo para a<br />
formação de gerações educa<strong>da</strong>s no regime cooperativo, enti-<br />
<strong>da</strong>de que se regerá pela legislação em vigor.<br />
Parágrafo único — A área de ação e a sede <strong>da</strong><br />
cooperativa ficam limita<strong>da</strong>s ao edifício escolar.<br />
ART. 2.° — A duração <strong>da</strong> cooperativa é ilimita<strong>da</strong>.
322 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
ART. 3.º — No cumprimento do seu programa de ação,<br />
a cooperativa se propõe: prover seus associados de material<br />
didático indispensável ao uso escolar, material para trabalhos<br />
e o aparelhamento pe<strong>da</strong>gógico do Grupo Escolar ........................<br />
assim como de jogos instrutivos, brinquedos, etc.<br />
Parágrafo único — A cooperativa procurará ain<strong>da</strong>, na<br />
medi<strong>da</strong> do possível e por ordem de importância, preencher os<br />
seguintes e elevados fins:<br />
a) — contribuir para a difusão do espírito de economia,<br />
de previdência, e do cooperativismo escolar e pós-escolar;<br />
b) — promover a formação de uma biblioteca aberta a<br />
todos os associados, constituí<strong>da</strong> de obras literárias, artísticas,<br />
científicas, pe<strong>da</strong>gógicas, econômicas, agrícolas e sociológicas<br />
a juízo <strong>da</strong> Diretoria <strong>da</strong> Escola;<br />
c) — prover o Grupo Escolar ....... ..................... do<br />
neces-<br />
sário material científico e de instituições que possibilitem o<br />
estudo <strong>da</strong> Natureza, a objetivação <strong>da</strong> instrução, o desenvolvi-<br />
mento <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des mentais e orgânicas dos alunos e apli-<br />
cação de métodos intuitivos, concretos e ativos, tais como:<br />
1.º — promover a organização e manutenção de um um-<br />
seu escolar e de oficinas para trabalhos manuais;<br />
2.° — criar um campo de experiências agrícolas ou uma<br />
granja e os cursos correspondentes, interessando o aluno no<br />
reflorestamento;<br />
3.º — instalar postos ou pelotões de saúde, copos-de-lei-<br />
te, pratos-de-sopa e fornecimento de pão, roupa e calçado, se<br />
possível em colaboração com a Caixa Escolar;<br />
4.º — promover festas, certames e conferências, estas<br />
preferencialmente vasa<strong>da</strong>s na doutrina cooperativa;<br />
5.º — promover a fun<strong>da</strong>ção de outras instituições e to-<br />
mar iniciativas de cunho instrutivo, educacional e humanitá-<br />
rio, tais como passeios, lista periódica de preços de coisas e<br />
dos produtos agrícolas, palestras, concursos esportivos, casas<br />
de saúde para as alunos pobres, colônias de férias, assim como<br />
iniciativas sugeri<strong>da</strong>s pelo Diretor e professôres, capazes de<br />
aperfeiçoar a instrução e a educação, contribuindo para o de-<br />
senvolvimento normal do aluno e destina<strong>da</strong>s a tornar a esco-<br />
la mais atraente, bela e útil;<br />
6.º — estabelecer um serviço de ficha antropométrica es-<br />
colar, de modo a facilitar a observação do clínico, no tocante<br />
ao desenvolvimento dos educandos.<br />
7.° — Vender a produção oriun<strong>da</strong> do trabalho<br />
individual ou coletivo de seus associados.
FÁBIO LUZ FILHO 327<br />
CAPÍTULO SEGUNDO<br />
Do Capital Social<br />
ART. 4.º — O capital <strong>da</strong> cooperativa é ilimitado, quan-<br />
to ao máximo,—não podendo, porém, ser inferior a ......................<br />
..<br />
Art. 5.º — As quotas-partes para a constituição do capi-<br />
tal terão o valor de ............... ... ca<strong>da</strong> uma e serão pagas de uma<br />
só vez ou em prestações mensais de ........................ % dentro <strong>da</strong><br />
primeira quinzena de ca<strong>da</strong> mês, devendo ca<strong>da</strong> associado subs-<br />
crever no mínimo, uma, e no máximo, ......................... quotas-par-<br />
tes. (1)<br />
(Nota — O valor de ca<strong>da</strong> quota vai de 1 a 100 cruzeiros).<br />
ART. 6.° — As quotas-partes só serão transferi<strong>da</strong>s a<br />
outro associado depois de integra<strong>da</strong>s e mediante autorização<br />
<strong>da</strong> Assembléia Geral.<br />
ART. 7.º — Ca<strong>da</strong> associado pagará uma jóia de ................<br />
para as primeiras despesas de instalação, organização e pro-<br />
pagan<strong>da</strong>.<br />
Parágrafo único — Cobertas essas despesas, as joias irão<br />
para o fundo de reserva.<br />
ART. 8.° — No caso de qualquer associado deixar de<br />
pagar as suas quotas, sem motivos justificáveis, durante os<br />
três meses que decorrerem <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta do vencimento <strong>da</strong>s respec-<br />
tivas prestações, o Conselho de Administração reserva-se o<br />
direito de advertir o aluno, tomando as medi<strong>da</strong>s que possam<br />
conduzí-lo ao cumprimento do seu dever social.<br />
ART. 9.º — O aluno demissionário ou excluído recebe-<br />
rá a saldo ou o valor de sua quota de capital.<br />
ART. 10 — Se as condições <strong>da</strong> Cooperativa o permiti-<br />
rem, a reembôlso <strong>da</strong> quota do associado demissionário ou ex-<br />
cluído se fará dentro de trinta dias <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> sua saí<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
Cooperativa, ou a aluno esperará a balanço anual.<br />
ART. 11 — O capital realizado e demais recursos <strong>da</strong><br />
Cooperativa serão recolhidos a um estabelecimento bancário,<br />
a juizo <strong>da</strong> Diretoria do Grupo, de onde serão retirados na me-<br />
di<strong>da</strong> <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des.<br />
ART. 12 — Será permiti<strong>da</strong> aos alunos a integralização<br />
<strong>da</strong>s quotas-parte em natureza ou em serviços.<br />
(1) — Até 1/3 do capital. Poderá haver fixação de um mínimo que ca<strong>da</strong><br />
um deverá subscrever. Poderá haver ausência do capital e de sobras,<br />
cobrando-se a jóia apenas.
328 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
CAPÍTULO TERCEIRO<br />
Dos associados, seus direitos e deveres<br />
ART. 13 — Poderão fazer parte <strong>da</strong> Cooperativa todos os<br />
alunos do Grupo Escolar ..................... ...... devendo ca<strong>da</strong> um:<br />
a)—provar que se acha autorizado por seu pai, tutor ou res-<br />
ponsável a fazer parte <strong>da</strong> Cooperativa e ser proposto<br />
por dois outros que não sejam administradores, e as-<br />
sinar o livro de matrícula ou a ficha de inscrição; (2)<br />
b)—ter autorização especial, paterna ou de quem de direito,<br />
para assistir e tomar parte em tô<strong>da</strong>s as sessões e exer-<br />
cícios que se fizerem fora <strong>da</strong>s horas de aulas;<br />
c)—observar as disposições estabeleci<strong>da</strong>s nos estatutos e<br />
regulamentos sociais;<br />
d)—efetuar o pagamento de suas quotas-partes, de confor-<br />
mi<strong>da</strong>de com os presentes estatutos honrando os com-<br />
promissos assumidos perante a Cooperativa;<br />
e)—freqüentar as assembléias;<br />
f)—contribuir pelo seu exemplo e dedicação para que a<br />
Cooperativa cumpra estritamente os elevados objetivos<br />
para que foi cria<strong>da</strong>, prestigiando-a;<br />
g)—não fazer comércio com os artigos adquiridos na Coo-<br />
perativa.<br />
§ 1.º — Será excluído todo aluno que sair <strong>da</strong> escola, dei-<br />
xar de cumprir seus deveres de associado ou tiver proceder<br />
censurável, a juízo do Conselho de Administração, com re-<br />
curso para a Assembléia Geral.<br />
§ 2.º — Será facultado aos associados assistirem, sem voz<br />
deliberativa, às reuniões do conselho de administração.<br />
ART. 14 — Ao ser admitido, o associado receberá um<br />
título nominativo em forma de caderneta, em cuja conta-cor-<br />
rente serão anotados o valor de suas quotas-partes e respecti-<br />
vas prestações, e os retornos, se existirem, entrando no gozo<br />
pleno de todos os direitos e obrigações sociais.<br />
§ 1.º — Essa caderneta constituirá o título-nominativo<br />
do associado e terá um número de ordem, a designação<br />
do Grupo e do ano a que pertence o aluno, e as firmas do presi-<br />
dente, do secretário, do tesoureiro e do pai, tutor ou respon-<br />
(2) — O livro de matrícula poderá ser desdobrado ou substituído por fichas<br />
de inscrição.
FÁBIO LUZ FILHO 329<br />
sávi. Dela poderão constar também, o nome, a i<strong>da</strong>de, nacio-<br />
nali<strong>da</strong>de e residência do aluno.<br />
§ 2.º — Os associados não responderão subsidiàriamente<br />
pelas obrigações sociais.<br />
ART. 15 — O Diretor e Os professôres do Grupo ..............<br />
.<br />
e o inspetor escolar consideram-se como orientadores natos<br />
<strong>da</strong> Cooperativa e terão o direito de assistir a tô<strong>da</strong>s as reuniões.<br />
CAPÍTULO QUARTO<br />
As operações sociais<br />
ART. 16 — As mercadorias de que a Cooperativa ne-<br />
cessitar serão adquiri<strong>da</strong>s, de preferência, aos produtores, di-<br />
retamente, ou aos atacadistas, ou às cooperativas de produ-<br />
ção ou trabalho especializa<strong>da</strong>s, ou, ain<strong>da</strong>, às Escolas Domés-<br />
ticas e Profissionais.<br />
ART. 17 — As ven<strong>da</strong>s ou distribuições de mercadorias<br />
serão feitas exclusivamente aos associados, a dinheiro, to-<br />
mando-se por base o justo preço.<br />
ART. 18 — A seção de ven<strong>da</strong>s só funcionará durante as<br />
folgas ou pausas, devendo o associado, que desejar adquirir<br />
os artigos de que tiver necessi<strong>da</strong>de, fazer a encomen<strong>da</strong> à hora<br />
de entra<strong>da</strong> no Grupo e retirá-la na ocasião do recreio.<br />
ART. 19 — As entra<strong>da</strong>s de mercadorias serão exara-<br />
<strong>da</strong>s, pelos alunos disso encarregados, em livro próprio, guar-<br />
<strong>da</strong><strong>da</strong>s as mercadorias em compartimentos ou armários segu-<br />
ros, dentro do próprio Grupo.<br />
§ 1.º — As compras deverão ser feitas, sempre que pos-<br />
sível, por concorrência priva<strong>da</strong>, salvo em casos de justifica<strong>da</strong><br />
urgência;<br />
§ 2.0 — Tô<strong>da</strong>s as compras serão feitas a dinheiro vis-<br />
ta. (1)<br />
CAPÍTULO QUINTO<br />
Das sobras e do fundo de reserva<br />
ART. 20 — As sobras líqui<strong>da</strong>s que resultarem do balan-<br />
ço anual serão assim distribuí<strong>da</strong>s:<br />
1.º - 10% para fundo de reserva (taxa obrigatória);<br />
(1) — O pagamento é feito no ato <strong>da</strong> compra. Não se devem<br />
permitir as compras a prazo ou crédito, a não ser em casos<br />
excepcionais.
330 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
2.º — 90% para constituir O fundo de desenvolvimento,<br />
destinado aos fins constantes do parágrafo único do art. 3.º e<br />
suas letras.<br />
Parágrafo único — Os proventos acaso obtidos com fes-<br />
tas, certames, conferências, trabalhos manuais, etc., serão a<br />
critério <strong>da</strong> assembléia, destinados a reforçar o fundo de desen-<br />
volvimento ou fundo de reserva, aos quais serão também<br />
incorporados os donativos acaso especialmente feitos a Coope-<br />
rativa.<br />
ART . 21 — O Fundo de Reserva será constituído:<br />
1.º pelas jóias de admissão de ca<strong>da</strong> associado, de con-<br />
formi<strong>da</strong>de com o que dispõe o artigo 7.º, pelos donativos ou<br />
proventos eventuais.<br />
2.º — pela percentagem a que se refere a primeira parte<br />
do art. 20.<br />
ART. 22 — O fundo de reserva destina-se às per<strong>da</strong>s<br />
eventuais <strong>da</strong> Cooperativa.<br />
Parágrafo único — Parte do fundo de reserva poderá ser<br />
aplica<strong>da</strong>, quando necessário ou urgente, a critério dos Conse-<br />
lhos de Administração e Fiscal, assistidos pelo professorado, a<br />
fins imediatamente reprodutivos, desde que atinja o dôbro do<br />
capital social.<br />
ART. 23 — O fundo de reserva, destinado a reparar as<br />
per<strong>da</strong>s eventuais <strong>da</strong> Cooperativa, é indivisível, mesmo no caso<br />
de dissolução <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e obedecerá as prescrições <strong>da</strong> lei,<br />
no que lhe fôr aplicável.<br />
(NOTA — É preciso considerar que a lei não pode ser aplica<strong>da</strong><br />
rìgi<strong>da</strong>mente a uma cooperativa escolar, e que os 10%<br />
do fundo de reserva são o mínimo).<br />
CAPÍTULO SEXTO<br />
Dos órgãos de administração e fiscalização<br />
ART 24 — A Cooperativa será administra<strong>da</strong> e fiscaliza-<br />
<strong>da</strong> pelos seguintes órgãos:<br />
a) — Assembléia geral;<br />
b) — Conselho de Administração; e<br />
C) — Conselho Fiscal.
a)— Da Assembléia Geral:<br />
FABIO LUZ FILHO 331<br />
ART. 25 — As assembléias gerais realizar-se-ão em ju-<br />
nho e dezembro de ca<strong>da</strong> ano. Nesta última, serão apresenta-<br />
<strong>da</strong>s as contas do ano e eleger-se-ão as Conselhos de<br />
Administração e Fiscal, e estabelecer-se-á o programa de ação<br />
do exercício seguinte. As de junho serão um motivo para troca<br />
de idéias sôbre assuntos escolares, sôbre economia interna <strong>da</strong><br />
Cooperativa e outros que interessem à vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> instituição.<br />
ART. 26 — As assembléias gerais se reunirão por con-<br />
vocação do Conselho de Administração do Conselho Fiscal ou<br />
de dois têrços de associados, neste último caso quando houver<br />
recusa ou desídia por parte dos Conselhos, feitas as convoca-<br />
ções com oito (8) dias de antecedência.<br />
ART. 27 — As assembléias gerais tratarão ùnicamente<br />
dos assuntos constantes <strong>da</strong> ordem do dia, nelas podendo-se<br />
sòmente discutir assuntos de interêsse geral, e suas convoca-<br />
ções serão motiva<strong>da</strong>s. O processo de votação será determinado<br />
pela assembléia,<br />
ART. 28 — Para “quorum” <strong>da</strong>s assembléias será neces-<br />
sária a presença de metade e mais um do número total dos<br />
associados, em primeira convocação um têrco, na segun<strong>da</strong>,<br />
e qualquer número na terceira, devendo as deliberações ser<br />
aprova<strong>da</strong>s por maioria de votos, tendo o presidente voto de<br />
desempate.<br />
ART. 29 — As assembléias extraordinárias realizar-se-<br />
ão tantas vêzes quantas forem necessárias.<br />
ART. 30 — Ca<strong>da</strong> associado terá um só voto, qualquer<br />
que seja o número de quotas-partes que possuir.<br />
ART. 31 — Tô<strong>da</strong>s as deliberações serão submeti<strong>da</strong>s à<br />
apreciação do Diretor do Grupo Escolar, como orientador ou<br />
assessor apenas.<br />
(N0TA — Poderá admitir-se uma segun<strong>da</strong> convocação<br />
uma hora depois).<br />
b) — Do Conselho de Administração<br />
ART 32 — O Conselho de Administração terá cinco<br />
membros e dois suplentes, escolhidos pela Assembléia Geral<br />
entre os alunos mais distintos do terceiro e quarto anos, de<br />
preferência, de ambos os sexos, podendo ser reeleitos.
332 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Parágrafo único — O Conselho de Administração no-<br />
meará, dentre os seus componentes, um presidente, um vi-<br />
ce-presidente, um secretário e um tesoureiro.<br />
ART. 33 — O Conselho de Administração terá o man-<br />
<strong>da</strong>ta de um ano, podendo ser reeleito.<br />
ART. 34 — O Conselho deliberará sempre por maioria<br />
de votos, desde que reuna pelo menos a metade e mais de seus<br />
membros. Reunir-se-á tantas vêzes quantas julgue necessárias<br />
para a boa marcha <strong>da</strong> Cooperativa.<br />
ART. 35 — Compete ao Conselho de Administração:<br />
a)— regulamentar os serviços gerais <strong>da</strong> Cooperativa;<br />
b)—reunir-se freqüentemente para a direção executiva <strong>da</strong><br />
Cooperativa;<br />
c)—distribuir as sobras anuais, quando fôr o caso, segundo<br />
o balanço aprovado pela Assembléia Geral;<br />
d)—apresentar relatórios anuais;<br />
e)—admitir e excluir as associados e <strong>da</strong>r-lhes a demissão;<br />
f)—praticar todos os atos necessários ao estrito preenchimen-<br />
to dos fins sociais.<br />
Parágrafo único — O Conselho de Administração indi-<br />
cará os alunos que, por grupos integrados par um número<br />
de ..................... ..alunos, em turnos sucessivos, devam<br />
participar assiduamente <strong>da</strong>s operações de compras, ven<strong>da</strong>s e<br />
contrôle sociais, semanal, quinzenal ou mensalmente,<br />
interessando-os, assim, nos aspectos concretos <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
Cooperativa.<br />
ART. 36 — O presidente <strong>da</strong> Cooperativa, sob a autori-<br />
<strong>da</strong>de e vigilância do diretor ou professôres do Grupo, aconse-<br />
lha e dirige, controlando as receitas, donativos e subvenções;<br />
verificando, mensalmente, as contas do tesoureiro; fiscali-<br />
zando os encargos do secretário e demais serviços <strong>da</strong> Coopera-<br />
tiva; preparando o instrumental necessário às aulas práticas<br />
e organizando exposições, ven<strong>da</strong>s, coletas, excursões, confe-<br />
rências, lições práticas, etc.; assinando, com o secretário e o<br />
tesoureiro, os títulos-nominativos, a livro de matrícula ou a<br />
ficha <strong>da</strong> inscrição; convocando as assembléias e os conselhos,<br />
quando necessário; regulando a ordem do dia <strong>da</strong>s sessões do<br />
Conselho e <strong>da</strong>s assembléias gerais, dirigindo as discussões;<br />
mantendo a boa ordem, a polidez, o decôro e o silêncio nas<br />
reuniões; verificando as atas <strong>da</strong>s reuniões dos Conselhos e <strong>da</strong>s<br />
assembléias gerais.<br />
ART. 37 — O vice-presidente acompanhará o presiden-<br />
te como seu auxiliar imediato, competindo-lhe substituí-lo em
FÁBIO LUZ FILHO 333<br />
seus impedimentos cui<strong>da</strong>rá <strong>da</strong> biblioteca, do museu, dos ar-<br />
quivos, depósito e coleções.<br />
ART. 38 — O Secretário terá a seu cargo lavrar e ler<br />
as atas <strong>da</strong> Assembléia Geral e do Conselho de Administração,<br />
fazer e assinar a correspondência e assinar, com o presidente<br />
e tesoureiro, as cadernetas ou títulos nominativos dos associa-<br />
dos e o livro de matrícula ou ficha de inscrição.<br />
Parágrafo único — O Conselho de Administração<br />
poderá designar dois alunos dos 3.º e 4.º anos, para exercerem fun-<br />
ções de bibliotecários-adjuntos.<br />
ART 39 — Ao tesoureiro compete escriturar os livros co-<br />
merciais, ter sob sua direção os alunos que exercerem as fun-<br />
ções de “caixas”, apresentar balancetes mensais ao Conse-<br />
lho Fiscal, ter sob sua guar<strong>da</strong> os valores <strong>da</strong> Cooperativa, efe-<br />
tuar pagamentos e recebimentos, e exercer as demais funções<br />
próprias de um tesoureiro.<br />
Parágrafo único — O tesoureiro assinará com o presidentete<br />
e o secretário os títulos nominativos e o livro de<br />
matri- cula ou a ficha de inscrição.<br />
ART. 40 — Os “caixas”, a que se refere o artigo ante-<br />
rior, serão em número de dois, um de ca<strong>da</strong> turno, e fiscali-<br />
zarão as entra<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s mercadorias, as ven<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s mesmas, re-<br />
cebendo e registrando as respectivas importâncias e substi-<br />
tuindo os vendedores, quando necessário.<br />
ART. 41 — As vagas definitivas que se derem no Con-<br />
selho de Administração serão preenchi<strong>da</strong>s pelos suplentes, por<br />
designação do próprio Conselho, até à primeira Assembléia<br />
Geral ou, na falta dêstes, por membros do C. Fiscal.<br />
Parágrafo único - O Diretor do Grupo Escolar, em tô<strong>da</strong>s<br />
as deliberações do Conselho de Administração, terá, como os<br />
professôres, voz consultiva apenas. (1)<br />
c) — Do Conselho Fiscal:<br />
ART. 42 — O Conselho Fiscal compor-se-á de três alu-<br />
nos eleitos pela Assembléia Geral, e terá por missão fiscalizar<br />
e acompanhar a marcha econômica e financeira <strong>da</strong> Coopera-<br />
tiva, verificando semanalmente as contas, estoques e nume-<br />
rário e mensalmente o balancete do tesoureiro. Dará a pare-<br />
cer sôbre as contas e o relatório do Conselho de Administra-<br />
ção. O Diretor do Grupo Escolar poderá presidir ao Conselho<br />
(1) — Poderá o Conselho de Administração, quando necessário, nomear, promo-<br />
ver e demitir empregados, distribuindo-lhes funções e vencimentos. As secções <strong>da</strong><br />
cooperativa poderão visar à proteção dos pássaros, a socorros imediatos, etc. Poderá<br />
também designar secretários de organização e propagan<strong>da</strong>, de ação social, etc.
334 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Fiscal, que durará um ano no man<strong>da</strong>to, não podendo se reelei-<br />
to para o ano seguinte, sendo sempre assistido por um ou<br />
mais professôres. O balanço anual deverá ser apresentado ao<br />
Conselho Fiscal com uma semana de antecipação pelos menos.<br />
Quando necessário ou urgente, convocará o Conselho de<br />
Administração ou a Assembléia Geral.<br />
§ 1.º) — A Assembléia também designará três suplen-<br />
tes, que substituirão os efetivos nos seus impedimentos.<br />
§ 2.º — O Conselho Fiscal e o de Administração se reuni-<br />
rão pelo menos uma vez por mês em sessão conjunta para tra-<br />
tar de assuntos conexos.<br />
ART. 43 — As vagas que se derem no Conselho Fiscal<br />
serão preenchi<strong>da</strong>s pelos suplentes, convocados pelo Conselho<br />
de Administração.<br />
(N. B.) — O Conselho Fiscal deverá ser escolhido de<br />
preferência entre os mais votados depois dos eleitos para o<br />
Conselho de Administração, e poderá ter secretários, e esta-<br />
belecer turnos individuais de fiscalização.<br />
CAPÍTULO SÉTIMO<br />
Das disposições gerais<br />
ART. 44 — Ca<strong>da</strong> professor será o delegado nato de sua<br />
classe e poderá indicar, para efeitos do sufrágio livre, os alu-<br />
nos mais aptos e distintos para ocupar os cargos sociais.<br />
ART. 45 — O Diretor do Grupo (ou o professor orienta-<br />
dor) terá os fundos sociais sob sua guar<strong>da</strong>, os quais estarão<br />
à disposição do Conselho de Administração, e será responsável<br />
pelas importâncias deposita<strong>da</strong>s em estabelecimentos banca-<br />
rios e pelas operações que se realizarem, sendo-lhe facultado:<br />
1.º — recolher as cadernetas dos associados que deseja-<br />
rem fazer compras na Cooperativa, o que ca<strong>da</strong> um deverá to-<br />
mar como obrigação moral;<br />
2.° — fornecer as cadernetas para anotações dos pedidos<br />
de compras;<br />
3.º — inventariar os bens na Cooperativa, com o auxílio<br />
<strong>da</strong> Administração <strong>da</strong> mesma;<br />
4.º — organizar os serviços <strong>da</strong> Cooperativa, de acôrdo<br />
com o que dispuser o Conselho de Administração.<br />
Parágrafo único — Ao Diretor do Grupo Escolar (ou ao<br />
professor orientador) cabe a representação ativa e passiva <strong>da</strong><br />
Cooperativa.
FÁBIO LUZ FILHO 335<br />
ART. 46 — Os professôres interrogarão diàriamente os<br />
alunos associados que desejarem fazer compras, recolhendo<br />
as respectivas cadernetas, que serão entregues ao Diretor do<br />
Grupo para as encaminhar ao presidente <strong>da</strong> Cooperativa.<br />
ART. 47 — Para modificação dos presentes estatutos ou<br />
dissolução <strong>da</strong> Cooperativa, exigir-se-á uma assembléia que<br />
reuna dois terços dos associados e delibere com dois terços <strong>da</strong><br />
totali<strong>da</strong>de dos associados presentes em primeira convocação,<br />
ou por metade e mais um, em segun<strong>da</strong>, ou com qualquer núme-<br />
ro, em terceira, sempre assistidos pelo Diretor do Grupo ou<br />
professôres (ou o professor orientador).<br />
§ 1.º — A cooperativa se dissolverá:<br />
a)— por fechamento ou fusão do Grupo ou Escola;<br />
b)—por mu<strong>da</strong>nça de organização ou plano de estudos que<br />
que impeça seu funcionamento;<br />
c)—quando o número de associados for inferior a sete por<br />
mais de três meses;<br />
d)— pelo consenso unânime dos associados.<br />
ART. 48 — No caso <strong>da</strong> dissolução prevalecer o acervo<br />
social líquido, depois de restituí<strong>da</strong>s as quotas-partes de ca<strong>da</strong><br />
associado, será destinado à Caixa Escolar ou a qualquer outra<br />
enti<strong>da</strong>de de fins de utili<strong>da</strong>de escolar, ou assistência social in-<br />
terescolar, a juízo <strong>da</strong> Assembléia Geral.<br />
NOTA — Os presentes estatutos, pelo autor elaborados<br />
e que Julio Mejia Scarneo adotou em seu livro — Manual de<br />
Cooperativas — Lima — 1956, são meramente exemplificati-<br />
vos, embora adotados oficialmente pelo Serviço de Economia<br />
Rural. Pode, pois, sofrer as necessárias modificações ou sim-<br />
plificações, de acôrdo com o meio, a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de escolhi<strong>da</strong>, etc.,<br />
inclusive a distribuição de retornos, gerência, etc.<br />
CONSELHO DE ASSESSORES<br />
Poderá a cooperativa escolar possuir um Conselho de<br />
Assessôres, sob a presidência do Diretor <strong>da</strong> escola, e composto<br />
de professôres que lecionem matérias afins com as ativi<strong>da</strong>des<br />
<strong>da</strong> cooperativa, e de pais de alunos, escolhidos pela Assembléia<br />
ou designados pelo Diretor
336 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Pessoas estranhas aos pais e professôres poderão inte-<br />
grá-lo, quando possuidores de conhecimentos técnicos úteis à<br />
escola. Terá por fim zelar pela boa marcha <strong>da</strong> cooperativa,<br />
com voz consultiva nas Assembléias; acompanhar a aplicação<br />
dos fundos, orientar e assistir. Durará um ano.<br />
COOPERATIVAS JUVENIS OU COOPERATIVAS<br />
EXTRA-ESCOLARES<br />
Como o fiz sentir em capítulo próprio, poderiam organi-<br />
zar-se cooperativas juvenis, ou de escolares (à semelhanca <strong>da</strong>s<br />
pós-escolares), cooperativas extra-escolares, vamos dizer, so-<br />
bretudo de artesanato, fora dos estabelecimentos de ensino.<br />
Tendo sido êsse assunto, por mim levantado, submetido ao<br />
ilustre Consultor Jurídico do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>,<br />
Dr. Tertuliano de Menezes Mitchell, como vimos, êste opinou<br />
contra a minha tese, alegando que, em face <strong>da</strong>s leis brasilei-<br />
ras específicas de cooperativas, a sede só pode ser o estabele-<br />
cimento de ensino. Mais um ponto que modificar na atual<br />
regislação, defini<strong>da</strong> a capaci<strong>da</strong>de civil dos assessôres, ou do<br />
aluno, como o fez a Guatemala, que realizou em maio de 1954<br />
o primeiro congresso de “cooperativas juvenis” <strong>da</strong> América<br />
Latina.<br />
NOTA FINAL:<br />
O COOPERATIVISMO ESCOLAR NO MÉXICO<br />
Existiam, até outubro de 1954, no México,1.428 coopera-<br />
tivas escolares. Dão retornos.<br />
ATA DE CONSTITUIÇÃO PARA COOPERATIVAS<br />
ESCOLARES:<br />
Aos ....... ... dias do mês de .................... ...do ano de mil<br />
novecentos e ........ .............. .., na ci<strong>da</strong>de de ............ ................<br />
do Estado de ........... ..................... ... às .......... ..horas, em uma<br />
<strong>da</strong>s salas do Grupo Escola ....................... ................ , reuniram-<br />
se de sua livre e espontânea vontade, em assembléia geral, para<br />
constituir e instalar uma Socie<strong>da</strong>de Cooperativa escolar no ter-
FÁBIO LUZ FILHO 337<br />
mos <strong>da</strong> legislação em vigor, os escolares (seguem-se os nomes<br />
por extenso, i<strong>da</strong>de, nacionali<strong>da</strong>de, residência, não podendo ser<br />
o número de associados inferior a sete) ........................................<br />
........ ..................... ...................... ............... .............................<br />
........ ..................... ...................... ............... ................... ........<br />
Foi aclamado para presidir à reunião o professor .....................<br />
......................... ..... (ou professôra) que convidou a mim ..........<br />
................... ...para secretariar a sessão, ficando assim<br />
constituí<strong>da</strong> a mesa. A seguir o Sr. Presidente declarou aberta a<br />
sessão, expondo os fins <strong>da</strong> reunião que eram constituir e insta-<br />
lar uma cooperativa escolar, nos têrmos <strong>da</strong> lei em vigor, deno-<br />
mina<strong>da</strong> “Cooperativa Escolar ........... ....... “ do Grupo ...............<br />
.<br />
......................... , com sede nesta ci<strong>da</strong>de de .................................<br />
do Estado de .................... ........ ......... ,deliberar sôbre seus<br />
esta-<br />
tutos, eleger sua primeira administração e proceder à sua ins-<br />
talação.<br />
Lidos e discutidos os estatutos que devem reger a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
Socie<strong>da</strong>de, foram os mesmos submetidos à votação e aprova-<br />
dos, como expressão <strong>da</strong> vontade de formar a cooperativa.<br />
(Poderão os estatutos ser aqui transcritos. Quando êstes não<br />
figurem no corpo <strong>da</strong> ata, ambos devem trazer a mesma <strong>da</strong>ta e<br />
as mesmas assinaturas).<br />
Em segui<strong>da</strong>, o Sr. Presidente declarou definitivamente<br />
constituí<strong>da</strong> a Cooperativa Escolar ................................ com sede<br />
no<br />
edifício escolar, com o objetivo educativo e econômico indicado<br />
pela lei, sendo seus fun<strong>da</strong>dores os alunos cujos nomes constam<br />
inicialmente por extenso do texto desta ata, todos residentes<br />
em .......................... ......<br />
O Sr. Presidente convidou os presentes a proceder à elei-<br />
ção dos membros dos Conselhos de Administração e Fiscal,<br />
bem como de seus suplentes. Procedi<strong>da</strong> à eleição verificou-se o<br />
seguinte resultado: para presidente, o Sr ............... .......... ...........<br />
Para .............. .............................. ... , etc.<br />
O Presidente, a seguir, proclamou-os eleitos, <strong>da</strong>ndo-os<br />
co-mo empossados nos respectivos cargos e, como na<strong>da</strong> mais<br />
houvesse a trata, declarou encerra<strong>da</strong> a sessão, man<strong>da</strong>n-<br />
do que eu ............................. ....... ..... , como secretário, la-<br />
vrasse a presente ata, a qual, li<strong>da</strong> e julga<strong>da</strong> confor-<br />
22 — 27 454
338 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
me , é por todos assina<strong>da</strong> (ou por uma comissão eleita)<br />
em ..................... ...de ......................... de ...... ................ ...<br />
(a) ........ ................ ...... Secretário. (Seguem-se as assinaturas).<br />
........ ..................... ...................... ............... ........................<br />
........ ..................... ...................... ............... ........................<br />
(Todos os documentos: ata, estatutos, lista nominativa,<br />
devem ser autenticados pelo Diretor, ou Diretora, do estabele-<br />
cimento e rubricados pelo Presidente eleito, aluno, que de-<br />
clarará estarem de acôrdo com os originais).<br />
NOTA<br />
A cooperativa escolar é órgão educativo, como se viu, A própria lei, cocren-<br />
temente, não lhe exige nem mesmo personali<strong>da</strong>de jurídica e dispensa-a de outras<br />
formali<strong>da</strong>des próprias <strong>da</strong>s cooperativas de adultos. Daí não se aplicarem à mesma<br />
com rigor certas disposições <strong>da</strong> lei. No espírito <strong>da</strong> lei, na intenção do legislador<br />
está claro que a lei deverá ser segui<strong>da</strong> no que fôr aplicável a êsse tipo de<br />
cooperativa, tão delicado e de tanto alcance. Uma <strong>da</strong>s muitas disposições ina-<br />
plicáveis é a <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de, pela ausência de capaci<strong>da</strong>de civil, nas coopera-<br />
tivas do crianças.<br />
Os estatutos acima, já constantes <strong>da</strong> 1.ª edição (<strong>da</strong><strong>da</strong> à<br />
publici<strong>da</strong>de em janeiro de 1933), foram ligeiramente por mum<br />
modificados e oficializados pelo “Serviço de Economia Rural”<br />
do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, como o tinham sido, em 1931,<br />
pelo ex-Fomento Agrícola Federal.<br />
As cooperativas escolares estão isentas de selos e de<br />
todos os impostos e deverão requerer seu registro no “Serviço<br />
de Economia Rural”, do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, através dos<br />
Departamentos estaduais de cooperativismo, juntando ape-<br />
nas: uma cópia do ato constitutivo (ata de constituição), um<br />
exemplar dos estatutos e uma relação dos associados, do-<br />
cumentos êsse com a assinatura de sete ou mais fun<strong>da</strong>dores<br />
a autenticados pelo diretor do instituto de ensino. Não pré-<br />
cisam arquivar os documentos em cartório, etc.<br />
Os presentes estatutos podem ser alterados na parte<br />
que se refere ao diretor do Grupo, podendo-se dizer diretor ou diretora.<br />
O mesmo para a parte que se reporta a professor ou<br />
professôra.<br />
Ain<strong>da</strong> na categoria <strong>da</strong> Escola, que poderá ser rural, nor-<br />
mal, profissional, ginásio, grupo escolar, etc.<br />
As cadernetas de compras na<strong>da</strong> têm que ver com as ca-<br />
dernetas-títulos nominativos, êstes simplificados tanto quan-<br />
to possível.
FÁBIO LUZ FILHO 339<br />
Lar-se-á à Cooperativa um nome delicado e sugestivo,<br />
uma bela divisa: “Para a escola! Pela Escola!". “Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>-<br />
de”, etc.<br />
As deliberações <strong>da</strong> Assembléia Geral, do Conselho de<br />
Administração, avisos úteis, etc., deverão ser afixados pelo<br />
tempo necessário em lugar a todos acessível, e recolhidos, de-<br />
pois, aos respectivos arquivos. É esta uma salutar prática<br />
que acentua o caráter democrático <strong>da</strong> cooperativa, que deverá<br />
ser como um templo de cristal, sem recessos ou refolhos que a<br />
subtraiam à vista dos associados. É ela uma pequena repúbli-<br />
ca, “uma pequena imagem <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>”, como acentuou Jouenne,<br />
uma miniatura do corpo social. É um exemplo de organização<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, levando admiràvelmente ao espírito de iniciativa<br />
e eqüi<strong>da</strong>de.<br />
Aos pais ou tutôres dos associados, poderá ser permitido<br />
assistir às reuniões <strong>da</strong> Cooperativa, com voz consultiva, a juízo<br />
do diretor <strong>da</strong> escola.<br />
Cooperativas européias há que admitem, como vimos,<br />
alunos e antigos alunos de 6, 18 e 20 anos de i<strong>da</strong>de, só<br />
admitindo nos Conselhos de Administração alunos maiores de<br />
10 anos.<br />
LISTA NOMINATIVA DOS ASSOCIADOS FUNDADORES<br />
DA COOPERATIVA ESCOLAR .............. ..... ...
340 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
NORMAS PARA UMA COOPERATIVA ESCOLAR<br />
RURAL (ADAPTÁVEL ÀS URBANAS)<br />
1.° — aquisição de livros e material escolar;<br />
2.º — produção e compra de artigos de primeira necessi<strong>da</strong>de;<br />
3.º — produção de material de ensino;<br />
4.º — desenvolver o espírito e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e o de economia,<br />
o senso <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de e o espírito de equipe;<br />
5.º — será um “centro-de-interêsse” para a escola;<br />
6.º — desenvolvimento do espírito de economia e noção <strong>da</strong><br />
distribuição eqüitativa do dinheiro; senso de direção e<br />
auto-suficiência;<br />
7.º — criação de cooperativas pós-escolares.<br />
SETOR PRODUÇÃO<br />
A Cooperativa Escolar distribuirá, pelo trabalho dos alu-<br />
nos, individual ou em equipe, objetos ou produtos diversos,<br />
seja entre os alunos associados, seja ao público, sempre con-<br />
siderados os aspectos educativos dessas ativi<strong>da</strong>des.<br />
Os alunos receberão, pelo seu trabalho, uma remuneração<br />
determina<strong>da</strong> pela assembléia.<br />
SECÇÃO DE ECONOMIA<br />
Na<strong>da</strong> impede que a Cooperativa escolar tenha uma peque-<br />
na secção dêste gênero, na qual os alunos depositarão suas<br />
economias, só podendo retirá-las em casos de moléstia dêles ou<br />
na família, ou quando se demitam ou forem excluídos.<br />
O Conselho Fiscal e o Conselho de Administração<br />
resolverão os casos excepcionais.<br />
COOPERATIVAS ESTUDANTÍS E UNIVERSITÁRIAS<br />
Das estu<strong>da</strong>ntis e universitárias, de caráter econômico,<br />
integra<strong>da</strong>s por maiores de 16 anos, poderão participar, como<br />
associados, os professôres e demais pessoas que sirvam nos<br />
estabelecimentos de ensino, e enquadrar-se-ão nos moldes <strong>da</strong>s<br />
demais cooperativas de adultos, com personali<strong>da</strong>de jurídi-<br />
ca, etc.
FÁBIO LUZ FILHO 341<br />
REQUERIMENTO<br />
Sr. Diretor do Serviço de Economia Rural<br />
A Cooperativa ................. ....................... .......... ...., por seu pré-<br />
sidente infra-assinado, vem, de acôrdo com a lei, requerer seu<br />
registo nesse Serviço, juntando os documentos exigidos por<br />
lei, que declara serem autênticos e verídicos.<br />
Nêstes têrmos<br />
P.deferimento.<br />
(Assinar o nome por extenso).<br />
Documentos anexos:<br />
a) — cópia <strong>da</strong> ata de constituição;<br />
b) — exemplar dos estatutos, se não se acharem inclusos<br />
no texto <strong>da</strong> ata;<br />
c) — lista dos associados com as indicações legais.<br />
(Todos êsses documentos serão enviados em uma via,<br />
com suas fôlhas rubrica<strong>da</strong>s pelo Presidente, e autenticados pelo<br />
diretor do estabelecimento do ensino. As cooperativas esco-<br />
lares estão isentas de selos e de impostos).<br />
N0TA — Uma outra via deverá ficar com os serviços ou<br />
departamentos de cooperativismo, em ca<strong>da</strong> Estado.<br />
COOPERATIVAS ESCOLARES AGRÍCOLAS<br />
São fins dessas associações:<br />
a) — criar uma organização cooperativa de ven<strong>da</strong> e de<br />
compra, graças à qual os alunos <strong>da</strong>s escolas poderão chegar a<br />
adquirir, pelo método direto, a experiência cooperativa, os<br />
princípios do cooperativismo e sua aplicação prática, as nor-<br />
mas de organização e a direção a <strong>da</strong>r às operações sôbre uma<br />
base sã;<br />
b) — incentivar, animar e empreender a produção, a<br />
exposição, a classificação, a expedição, o financiamento, a<br />
armazenagem, a publici<strong>da</strong>de, a ven<strong>da</strong> e tô<strong>da</strong>s as outras opera-<br />
ções de manipulação dos produtos agrícolas, e proporcionar<br />
aos associados tô<strong>da</strong>s as facili<strong>da</strong>des e serviços, graças aos quais
342 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
possam êles exercer essas ativi<strong>da</strong>des ou outra qualquer sôbre<br />
uma base cooperativa;<br />
c)— fazer a comercialização dos artigos produzidos por<br />
seus membros; comprar e vender todos os artigos de conformi-<br />
<strong>da</strong>de com os regulamentos estabelecidos pelo Conselho de<br />
Administração;<br />
d)— colaborar com as socie<strong>da</strong>des cooperativas de adul-<br />
tos ou outras socie<strong>da</strong>des de jovens.<br />
COOPERATIVA ESCOLAR DE TRABALHO EM SÃO PAULO<br />
DO OBJETO DA SOCIEDADE E SUAS OPERAÇÕES:<br />
ART. 12 — A socie<strong>da</strong>de tem por objeto, unindo os inter-<br />
nados do “Instituto Agrícola de Menores de Batatais”, edu-<br />
cá-los dentro dos princípios do sistema cooperativo, <strong>da</strong> soli-<br />
<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e do auxilio mútuo, <strong>da</strong>ndo-lhes ao mesmo tempo<br />
uma profissão e inculcando-lhes hábitos de economia e pré-<br />
visão.<br />
ART. 13 — No cumprimento de seu programa de ação<br />
a Cooperativa se propõe: — I - NA SEÇÃO DE TRABALHO.<br />
a)— Produzir, para vender, trabalhos manuais e pro-<br />
dutos de indústria artesanal e agropecuária.<br />
b)— Aceitar encomen<strong>da</strong>s e empreita<strong>da</strong>s de trabalhos a<br />
serem realiza<strong>da</strong>s dentro e fora do Estabelecimento, a juízo <strong>da</strong><br />
Diretoria do Instituto e do orientador <strong>da</strong> Cooperativa.<br />
C)— Organizar os serviços de modo e aproveitar a ca-<br />
paci<strong>da</strong>de dos associados, distribuindo-lhes os trabalhos de<br />
acôrdo com suas aptidões.<br />
d)— Fornecer aos associados material e quaisquer meios<br />
de que a socie<strong>da</strong>de disponha, destinados a facilitar e assegurar<br />
a boa execução dos trabalhos que lhes confiar, podendo insta-<br />
lar depósitos, oficinas e outras dependências necessárias.<br />
e)— Fazer aos associados, por conta dos trabalhos exe-<br />
cutados, adiantamentos mensais, a critério <strong>da</strong> Diretoria.<br />
f)— Procurar mercado para a colocação dos produtos<br />
manufaturados.<br />
PARÁGRAFO ÚNICO — Os associados que prestam<br />
serviços internos que as impeçam de produzir na seção de<br />
traba-lho, receberão uma mensali<strong>da</strong>de correspondente à média<br />
alcança<strong>da</strong> individualmente pelos associados que produzirem<br />
na referi<strong>da</strong> seção.
FÁBIO LUZ FILHO 343<br />
II— NA SEÇÃO DE CULTURA E DIVERSÕES:<br />
a) — Organizar uma biblioteca e assinar jornais e re-<br />
vistas educativas, especialmente os que tratem de assuntos<br />
relacionados com os trabalhos a serem executados pelos as-<br />
sociados e ao cooperativismo em geral, além de jornais espor-<br />
tivos.<br />
b) — Organizar uma discoteca.<br />
c) — Instalar nas dependências do Instiuto Agrícola<br />
de Menores de Batatais, aparelhos de projeção cinematográfi-<br />
ca, com a organização de programas educativos e recreativos.<br />
d) — Promover, mediante prévio entendimento com a<br />
Diretoria do Instituto e sob a apreciação <strong>da</strong> Diretoria do Ser-<br />
Social dos Menores, excursões de caráter instrutivo e recrea-<br />
tivo.<br />
e) — Aumentar o Parque Esportivo do Instituto.<br />
f) — Promover competições esportivas e culturais.<br />
g) — Adquirir prêmios de caráter coletivo, que consti-<br />
tuirão patrimônio <strong>da</strong> Cooperativa e servirão aos associados<br />
enquanto internados no Instituto Agrícola de Menores de<br />
Batatais.<br />
h) — Manter, de acôrdo com a Diretoria do Instituto,<br />
cursos julgados necessários à instrução e desenvolvimento pro-<br />
fissional dos associados.<br />
AS COOPERATIVAS PÓS-ESCOLARES<br />
As cooperativas pós-escolares, como o nome indica, são,<br />
como vimos, cooperativas que se poderão formar depois de ter-<br />
minar o aluno o curso escolar.<br />
Tem por finali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>r aos ex-alunos, e também a filhos<br />
de operários pobres, meios de continuar sua educação geral<br />
e proporcionar-lhes meios de adquirir ensino técnico, prepa-<br />
rando-os para os ofícios manuais, o artesanato rural, a agri-<br />
cultura e a criação, desenvolvendo-lhes aptidões úteis para os<br />
vários misteres, num sentido objetivo. A cooperativa também<br />
poderá adquirir material didático e instrumentos de trabalho,<br />
distribuindo socorros, e adquirindo para uso de seus associa-<br />
dos, as ferramentas necessárias e até mesmo instrumental
344 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
agrícola. Dar-lhes-á orientação profissional, auxiliando-os na<br />
procura de emprêgo, principalmente aos órfãos e filhos de fa-<br />
mílias numerosas.<br />
Na<strong>da</strong> vejo na lei brasileira que as proíba, não obstante a<br />
exegese rígi<strong>da</strong>.<br />
NOMES DE PESSOAS<br />
As cooperativas escolares não deverão em face <strong>da</strong> lei co-<br />
locar nome ou nomes de pessoas vivas em sua denominação, a<br />
não ser como indicação geográfica ou no caso do nome ou no-<br />
mes fazerem parte <strong>da</strong> denominação do estabelecimento do em-<br />
sino. Devem adotar, de preferência, nomes simbólicos e su-<br />
gestivos.<br />
PROFESSOR ORIENTADOR<br />
O diretor do estabelecimento de ensino poderá designar<br />
um professor ou uma professôra com funções de orientação,<br />
a qual, quando fôr o caso, poderá <strong>da</strong>r quitação ou levantar di-<br />
nheiro, como o diretor.<br />
GERENTE<br />
Poderá o tesoureiro ser substituído por um gerente, ou<br />
elegerem, além do tesoureiro, um gerente, ou o Conselho de<br />
Administração designar um aluno (mais simples) para geren-<br />
te (art. 35, § único dos estatutos).<br />
COOPERATIVA ESCOLAR<br />
(PEDIDO DE INSCRIÇÃO)<br />
.................. ................ ....... ....... ................. abaixo assinado<br />
aluno do .................... .......... ............. ...., filho de ....................<br />
......................... ............... ........... nascido em de ....................<br />
de 19 ................ ............... ....... , natural de.. ................ ..........<br />
Estado ................ ......... e domiciliado em ............ , devi<strong>da</strong>mente<br />
Autorizado ................................................ ............... ,pede a sua<br />
inscrição no quadro social desta Cooperativa Escolar, cujos<br />
Estatutos e Regulamento internos se compromete a respeitar,
FÁBIO LUZ FILHO 345<br />
subscrevendo ................. ............. (.....) quotas-parte no valor de<br />
Cr$ . . ......... ............... ............. ,cujo importe de Cr$ .................<br />
declara pagar em .......................... prestações ............ ................ .<br />
(Data)<br />
................... ..................... ...................... ..<br />
(Assinatura)<br />
......................... ............................................. ................ ..............<br />
......................... ............................................. ................ ..............<br />
......................... ............................................. ............<br />
Inscrito em: ............ ................................. ...<br />
Matrícula n.º .............. .............................. ...<br />
......................................... ................ .......<br />
(Presidente)<br />
COOPERATIVISMO ESCOLAR<br />
(Apêlo aos professôres, aos pais de alunos, aos estu<strong>da</strong>ntes em geral)<br />
"Os consumidores sofrem as conseqüências do encareci-<br />
mento progressivo <strong>da</strong>s utili<strong>da</strong>des em tô<strong>da</strong> a parte onde não<br />
estejam organizados para resistir e vencer.<br />
A tarefa de minorar as dificul<strong>da</strong>des coletivas, mòrmente<br />
no que diz respeito à subsistência em tô<strong>da</strong>s as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des, é,<br />
assim, um dever de tô<strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de consciente.<br />
Em poucas palavras e sintetizando conceitos, que exigi-<br />
riam longa dissertação, apresentaremos algumas idéias, que<br />
devem merecer a atenção do professorado, dos pais e dos estu-<br />
<strong>da</strong>ntes em geral.<br />
PORQUE OS PREÇOS SOBEM<br />
São complexas as causas <strong>da</strong> subi<strong>da</strong> dos preços: mas limi-<br />
tar-nos-emos a frisar, dentro <strong>da</strong> concisão que êste apêlo re-<br />
quer, que um dos fatôres do encarecimento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é a exces-<br />
siva intermediação que existe entre as fontes produtoras e os<br />
consumidores.<br />
NOTA — O aluno deve provar haver sido autorizado pelo pai ou responsável.
346 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
O que verificamos diàriamente na aquisição dos gêneros<br />
de subsistência alimentar, vestuário, etc., também ocorre em<br />
outros setores, como o do consumo de material didático.<br />
No dia em que eliminarmos ou reduzirmos os intermédiarios<br />
que encarecem os artigos escolares, passando a abastecer-nos<br />
diretamente nas fontes produtoras, ou produzindo, nós mesmos,<br />
tudo aquilo de que venhamos a precisar para as tarefas do ensino,<br />
o problema estará em grande parte resolvido ou, pelo menos,<br />
encaminhado.<br />
A conseqüência imediata será a ampliação do nosso<br />
poder aquisitivo. E, então, não só passaremos a gastar menos<br />
na compra do material imprescindível, como também<br />
poderemos adquirir outros artigos, que, antes, não nos eram<br />
acessíveis, quer como pais de alunos, quer como professôres e<br />
estu<strong>da</strong>ntes.<br />
O SISTEMA COOPERATIVO<br />
O sistema cooperativo é hoje adotado em todos os países,<br />
qualquer que seja sua organização política e social.<br />
Com êle pode-se minorar o preço <strong>da</strong>s utili<strong>da</strong>des de vez<br />
que permite sejamos nós os donos dos nossos próprios nego-<br />
cios; nossos serão o capital, os estoques, as instalações, a admi-<br />
nistração, os lucros, o contrôle, enfim. Seremos simultânea-<br />
mente os nossos próprios patrões e clientes, porque todos par-<br />
ticiparemos, com igual responsabili<strong>da</strong>de, dos encargos sociais.<br />
A cooperativa é, ademais, um instrumento de educação,<br />
um meio de evolução social; porque não é só uma forma de<br />
emprêsa econômica. Não deve ser olha<strong>da</strong> apenas por êste la-<br />
do imediatista. É ela também uma associação de pessoas, um<br />
instrumento de educação <strong>da</strong> juventude, e mesmo dos adultos.<br />
Já se disse que a cooperativa de consumo ou de compras,<br />
em comum, além dos benefícios econômicos tangíveis, como são<br />
os produtos de boa quali<strong>da</strong>de, pêso exato e preços justos, leva a<br />
economizar não só pelo preço justo, como pela distribuição dos<br />
lucros ou sobras anuais aos próprios associados, na proporção de<br />
suas compras.<br />
Também já se acentuou que o movimento cooperativo<br />
mundial acelerou o progresso social, levando o povo para uma<br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e orientação democrática, mediante a gestão pelo<br />
próprio povo de emprêsas coletivas. O movimento cooperativo<br />
pode trazer contribuição vital e original que ultrapassa as
FÁBIO LUZ FILHO 347<br />
possibili<strong>da</strong>des, muita vez, <strong>da</strong> própria ação oficial, sobretudo<br />
no campo prático do ensino <strong>da</strong> economia e <strong>da</strong> administração<br />
democrática de emprêsas econômicas. Sai do terreno pura-<br />
mente cultural e socialmente neutro e entra no campo <strong>da</strong> li-<br />
vre associação e <strong>da</strong> evolução social. É, assim, precioso auxi-<br />
liar do Estado no profundo e complexo problema <strong>da</strong> elevação<br />
do nível de vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> educação <strong>da</strong>s massas, nota<strong>da</strong>mente em<br />
países <strong>da</strong> natureza do Brasil.<br />
SURGE UMA IDÉIA<br />
Preocupado com as dificul<strong>da</strong>des que afligem sobretudo<br />
os pais pobres, o Sr. Ministro <strong>da</strong> Educação e Saúde, Dr. Simões<br />
Filho, deseja estimular a organização de grandes cooperati-<br />
vas com participação do professorado, dos pais e responsáveis<br />
em geral, bem como de estu<strong>da</strong>ntes maiores, com o objetivo<br />
de conseguir preços mais baixos e material mais abun<strong>da</strong>nte<br />
e melhor.<br />
O plano inicial consiste na instalação de uma cooperati-<br />
va nesta capital, em ponto tanto quanto possível central, com<br />
seções em vários estabelecimentos de ensino, provi<strong>da</strong> de sufi-<br />
ciente estoque de artigos, adquiridos diretamente dos fabri-<br />
cantes e editôres com sensível redução de prêço.<br />
Será uma Cooperativa Distribuidora de Material Escolar,<br />
controla<strong>da</strong> pelos próprios associados. O Govêrno, entretanto,<br />
está disposto a auxiliar financeira e moralmente êsse em-<br />
preendimento, esperando contar com a correspondência do<br />
interêsse coletivo.<br />
O plano prevê a instalação, quando possível, de oficinas<br />
próprias para a publicação de livros e revistas, a manutenção<br />
de bôlsas para os alunos de escassos recursos financeiros e de<br />
comprova<strong>da</strong> aplicação escolar, a organização de clubes lite-<br />
rários e recreativos, bibliotecas, discotecas e cinemas educa-<br />
tivos; o contrato de edições especiais de obras didáticas exigi-<br />
<strong>da</strong>s no cumprimento dos programas, etc.<br />
UM PRÓXIMO DEBATE<br />
Convocamos, assim, o professorado, os pais de alunos e<br />
estu<strong>da</strong>ntes em geral para um debate conjunto dessas idéias.
348 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Pedimos, por isso, que meditem sôbre estas considerações e<br />
anotem suas dúvi<strong>da</strong>s e sugestões para exame oportuno.<br />
Rio de Janeiro, setembro de 1951.<br />
A Comissão Organizadora: — Lúcia Magalhães, Fábio<br />
Luz Filho e Valdiki Moura.<br />
NOTA —Do apêlo acima nasceu a Cooperativa Cultural<br />
e Distribuidora de Material Escolar, em funcionamento no<br />
térreo do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação, e outras fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s na<br />
Bahia,<br />
Minas, São Paulo, Estado do Rio pelo Dr. Valdiki Moura,<br />
e outras que estão surgindo espontâneamente.<br />
CAMPANHA DE BARATEAMENTO DO MATERIAL<br />
ESCOLAR<br />
“Senhor Ministro:<br />
A Comissão, designa<strong>da</strong> por Vossa Excelência na portaria<br />
n.° 897, de 20 de outubro de 1954, apresenta, como conclusão<br />
de seus trabalhos, as seguintes sugestões:<br />
1 — O <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação e Cultura, com a colabo-<br />
ração do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> e dos órgãos estaduais<br />
competentes, propugnará pela criação de cooperativas cultu-<br />
rais e de distribuição de material escolar ou secção de livros e<br />
material escolar em cooperativas de consumo.<br />
§ 1.º — Nos grandes centros urbanos, as cooperativas<br />
acima referi<strong>da</strong>s poderão manter postos de ven<strong>da</strong><br />
nos estabelecimentos de ensino ou na proximi-<br />
<strong>da</strong>de, para distribuição de material escolar;<br />
§ 2.º — Nos estabelecimentos de ensino onde não existi-<br />
rem cooperativas escolares ou postos de ven<strong>da</strong>,<br />
promover-se-á a instalação, em caráter transi-<br />
tório, de postos distribuidores para atender de<br />
pronto à ven<strong>da</strong> de livros e material escolar;<br />
§ 3.º — Os postos referidos nos parágrafos anteriores<br />
constituirão uma etapa preparatória para a<br />
criação <strong>da</strong>s cooperativas escolares.<br />
2— Criar-se-ão cooperativas escolares nos<br />
estabelecimentos de ensino, logo que possível, seja diretamente<br />
organiza<strong>da</strong>s, seja pela transformação dos postos mencionados<br />
nas observações do item anterior.
FÁBIO LUZ FILHO 349<br />
§ 1.º — As cooperativas escolares trabalharão em cola-<br />
boração com as cooperativas referi<strong>da</strong>s no item<br />
anterior, podendo adquirir nesta o material de<br />
que precisam ou vender por seu intermédio os<br />
seus produtos, quando tiverem secção de pro-<br />
dução;<br />
§ 2.º — Para estimular a criação de cooperativas esco-<br />
lares, dever-se-á:<br />
1) Incluir uma uni<strong>da</strong>de de estu<strong>da</strong> sôbre cooperativismo<br />
escolar e geral nos programas <strong>da</strong> Cadeira de Admi-<br />
nistração Escolar, <strong>da</strong>s Facul<strong>da</strong>des de Filosofia, Ciên-<br />
cia e Letras;<br />
2) promover, com a colaboração de outros órgãos <strong>da</strong><br />
Administração Pública ou com o auxílio de institui-<br />
ções particulares, cursos de férias para professôres;<br />
3) solicitar aos Governos Estaduais que determinem a<br />
inclusão de uma uni<strong>da</strong>de de estudo sôbre o coopera-<br />
tivismo escolar em geral no programa <strong>da</strong> Cadeira<br />
de Educação <strong>da</strong>s escolas normais.<br />
3) para execução dêsse programa, o <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Edu-<br />
cação e Cultura procurará:<br />
a) conseguir financiamento no Banco Nacional de Crê-<br />
dito Cooperativo ou em outros estabelecimentos de<br />
Crédito para as cooperativas referi<strong>da</strong>s no item pri-<br />
meiro;<br />
b) obter dos editôres e dos produtores de material esco-<br />
lar em geral as melhores condições de ven<strong>da</strong> para as<br />
organizações referi<strong>da</strong>s nos itens ns. 1 e 2;<br />
c) promover a Campanha do Barateamento do Material<br />
Escolar.<br />
Queira Vossa Excelência aceitar, com os votos de congratulações<br />
pela feliz iniciativa e do êxito no seu<br />
desempenho, os protestos de alta consideração dos signatários<br />
dêste parecer.<br />
Rio de Janeiro, 25 de novembro, 1954.<br />
a) Celso Kelly, Fábio Luz Filho, Teodoro Henrique Mau-<br />
rer Junior, Rui Saraiva Barbosa, Isabel de Camargo Schützer.
350 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
PROJETO DE LEI PARA COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
(Elaborado par Fábio Luz Filho)<br />
CAPÍTULO I<br />
Da Introdução<br />
Art. 1.º — A cooperativa escolar é uma socie<strong>da</strong>de cooperativa<br />
sui-generis, distinguindo-se <strong>da</strong>s demais pelas disposições dêste<br />
decreto.<br />
CAPÍTULO II<br />
Das Finali<strong>da</strong>des e Características<br />
Art. 2.º — As características especiais <strong>da</strong> cooperativa<br />
escolar são as seguintes:<br />
1.º — É a escola socialmente organiza<strong>da</strong>, sendo consti-<br />
tuí<strong>da</strong>, nos estabelecimentos públicos ou particulares de ensi-<br />
no primário, pelos corpos discentes assessorados pelos respec-<br />
tivos diretores ou professôres.<br />
3.º — Poderão revestir, as cooperativas escolares, tô<strong>da</strong>s<br />
as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des necessárias dentro do meio em que tenham de<br />
atuar.<br />
4.º — Denominação precedi<strong>da</strong> <strong>da</strong> expressão “cooperati-<br />
va escolar” e termina<strong>da</strong>, de preferência, com o nome do esta-<br />
belecimento de ensino ou de um dos estabelecimentos de em-<br />
sino.<br />
Art. 3.º — A cooperativa escolar tem fins educativos e<br />
econômico-sociais, tais como:<br />
a)— desenvolver entre os associados o espírito de auxí-<br />
lio-mútuo, de iniciativa e de previdência ao serviço<br />
<strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de, assim como o gôsto do trabalho<br />
produtivo e socialmente útil e a idéa <strong>da</strong> coopera-<br />
ção, educando-os nas práticas <strong>da</strong> organização e do<br />
regime cooperativo;<br />
b)— fornecer aos associados material ou aparelhagem<br />
para o estudo e o ensino educativo, concreto, expe-<br />
rimental e prático, assim como artigos de consu-<br />
mo e uso pessoais.<br />
Art. 4.° — São proibi<strong>da</strong>s homenagens políticas, religio-<br />
sas, raciais e restrições <strong>da</strong> mesma espécie.
FÁBIO LUZ FILHO 351<br />
CAPÍTULO III<br />
Da Constituição, Registo e Representação<br />
Art. 5.º — Poderão pertencer as cooperativas escolares<br />
todos os alunos de ambos os sexos e, como assessôres, os pro-<br />
fessôres dos estabelecimentos de ensino primário, normais,<br />
secundários ou profissionais, oficiais ou particulares, desde que<br />
autorizados os alunos por seus pais, tutores ou responsáveis,<br />
quando for o caso.<br />
Parágrafo único — Poderão continuar a pertencer às<br />
cooperativas escolares os ex-associados na quali<strong>da</strong>de de<br />
orientadores e como exemplo, estímulo e aju<strong>da</strong>, não partici-<br />
pando, porém, de suas operações nem <strong>da</strong>s votações, mas po-<br />
dendo ser eleitos para assessôres.<br />
Art. 6.º — A constituição <strong>da</strong> cooperativa escolar far-se-á<br />
em ata lavra<strong>da</strong> em livro próprio, assina<strong>da</strong> pelo menos por doze<br />
fun<strong>da</strong>dores.<br />
§ 1.º — Quando lavra<strong>da</strong> em livro próprio, a ata trará<br />
essa declaração expressa, subscrita pelo presidente, ao pé <strong>da</strong><br />
cópia a ser envia<strong>da</strong> ao Serviço de Economia Rural (ou Minis-<br />
tério <strong>da</strong> Educação) para o competente registo.<br />
§ 2.º — Êsse documento poderá conter a íntegra dos es-<br />
tatutos, os quais, não constando do ato constitutivo, deverão<br />
ser <strong>da</strong>tados e assinados pelos mesmos associados que tiverem<br />
subscrito aquêle ato, num mínimo de doze (12).<br />
Art. 7.º — Da ata constarão:<br />
1.º—declaração <strong>da</strong> vontade de formar a cooperativa;<br />
2.º—sua denominação e sede;<br />
3.º—seu objetivo;<br />
4.º—nome, i<strong>da</strong>de, nacionali<strong>da</strong>de, residência e série a<br />
que pertence o associado, sendo facultado fazer<br />
constar de lista nominativa, à parte, êstes requi-<br />
sitos;<br />
5.º—a declaração <strong>da</strong> leitura e aprovação dos estatutos;<br />
6.º—o valor e o numero de quotas-partes subscritas,<br />
quando fôr o caso;<br />
7.º—a eleição do primeiro Conselho de Administração,<br />
com cinco membros no mínimo, com as atribui-<br />
ções que lhe forem aplicáveis, <strong>da</strong> lei em vigor;<br />
8.º—eleição do primeiro Conselho Fiscal de três mem-<br />
bros inelegíveis para o período imediato e com as<br />
atribuições que lhe são própria.
352 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
§ 1.º — O Conselho de Administração escolherá, de seu<br />
seio,<br />
uma diretoria executiva ou um gerente, e poderá designar<br />
associados ou ex-associados para integrarem órgãos de asses-<br />
soramento e consulta, quando necessários.<br />
§ 2.º — O Conselho de Administração terá man<strong>da</strong>to de<br />
um ano, podendo ser reeleito.<br />
Art. 8.° — Os Conselhos de Administração e Fiscal se<br />
reunirão pelo menos uma vez por mês, para tratar de assuntos<br />
conexos, cabendo ao Conselho Fiscal o direito de veto a de-<br />
terminações do Conselho de Administração, com recurso para<br />
a Assembléia Geral ou para o Conselho de Assessôres, quando<br />
existir, na hipótese de não chegarem a acôrdo ambos os Con-<br />
selhos após discussão do assunto.<br />
Art. 9.º — Todos os cargos sociais serão exercidos gra-<br />
tuitamente.<br />
Art. 10 — Terá o diretor ou um dos diretores ou profes-<br />
sôres dos estabelecimentos de ensino a representação ativa e<br />
passiva <strong>da</strong> cooperativa.<br />
Art. 11 — Para o fim de obter seu registo, a Cooperati-<br />
va Escolar remeterá ao Serviço do Economia Rural os seguin-<br />
tes documentos, todos rubricados em sua fôlhas pelo presi-<br />
dente e visados pelo Diretor do estabelecimento ou de um dos<br />
estabelecimentos de ensino cujos alunos fizerem parte <strong>da</strong> ins-<br />
tituição, ou pelo professor designado para seu orientador:<br />
1.º — cópia <strong>da</strong> ata de fun<strong>da</strong>ção;<br />
2.º — cópia dos estatutos, desde que não constem do<br />
corpo <strong>da</strong> ata;<br />
3.º — lista nominativa dos associados;<br />
4.º — requerimento do presidente eleito, no qual se de-<br />
clarará a autentici<strong>da</strong>de e a veraci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> do-<br />
cumentação.<br />
Parágrafo único — Nos Estados ou Territórios Federais,<br />
os documentos serão entregues, mediante recibo, às reparti-<br />
ções locais de Cooperativismo, ou, quando não as houver, às<br />
Agências do Serviço de Economia Rural ou, na falta, à Secreta-<br />
ria do Educação ou órgão correlato.<br />
Art. 12 — Concedido o registo, o Serviço do Economia<br />
Rural fornecerá à cooperativa o competente certificado, sen-<br />
do que no período compreendido entre a entrega ou remessa<br />
dos documentos e a concessão do registo a socie<strong>da</strong>de poderá<br />
iniciar seu funcionamento.
FÁBIO LUZ FILHO 353<br />
CAPÍTULO IV<br />
Das Federações e <strong>da</strong> Confederação<br />
Art. 13 — Poderão as cooperativas escolares, com apro-<br />
vação <strong>da</strong>s respectivas assembléias gerais, constituir federa-<br />
ções.<br />
Art. 14 — As federações, que serão estaduais ou interes-<br />
taduais, por sua vez poderão integrar a Confederação Nacio-<br />
nal <strong>da</strong>s Cooperativas Escolares.<br />
Art. 15 — A Assembléia Geral <strong>da</strong>s Federações será cons-<br />
tituí<strong>da</strong> pelos delegados de ca<strong>da</strong> cooperativa escolar, que se-<br />
rão os diretores ou professôres dos estabelecimentos de ensino,<br />
ou êstes e alunos de mais de 16 anos, ca<strong>da</strong> um com um só<br />
voto.<br />
Art. 16 — A Confederação será forma<strong>da</strong> pelos delegados<br />
de ca<strong>da</strong> federa<strong>da</strong>, com o mesmo regime de voto.<br />
Art. 17 — São funções <strong>da</strong>s Federações:<br />
a) — agrupar as cooperativas escolares e organizar em<br />
comum seus serviços, prestando-lhes assistência;<br />
b) — promover a utilização de serviços de uma coopera-<br />
tiva por associados de outra;<br />
c) — regular a transferência de associados entre as<br />
cooperativas, quando necessário ou conveniente;<br />
d) — a instalação de tipografias;<br />
e) — a publicação e distribuição de livros didáticos e<br />
científicos, revistas, impressos e do necessário ma-<br />
terial pe<strong>da</strong>gógico e científico;<br />
f) — a uniformização contábil nas cooperativas e a pro-<br />
pagan<strong>da</strong> <strong>da</strong>s cooperativas escolares e pós-escolares,<br />
nota<strong>da</strong>mente as agrícolas e as de artesanato;<br />
g) — promover conferências, excursões, concertos, festas<br />
escolares, concursos, viagens, visitas, etc.;<br />
h) — organizar em sua sede e nas cooperativas filia<strong>da</strong>s<br />
bibliotecas, museus, discotecas, cinemas, teatros<br />
educativos, campos de experiência agrícola;<br />
i) — fomentar as relações entre a escola e a família;<br />
j) — apoiar a ação dos diretores dos estabelecimentos<br />
de ensino primário, normal, secundário ou profis-<br />
sional, oficiais ou particulares, no sentido do cres-<br />
cente aperfeiçoamento do ensino;<br />
23 — 27 454
354 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
l) — representar as cooperativas, amparar e defender<br />
seus direitos perante os órgãos <strong>da</strong> administração<br />
pública.<br />
Art. 18 — Para fins de registo, obedecerão as Federações<br />
e a Confederação as normas e trâmites <strong>da</strong>s cooperativas es-<br />
colares, excluí<strong>da</strong>s as exigências do número 4 do art. 7.º no<br />
que as mesmas não se aplicar.<br />
CAPÍTULO V<br />
Dos Estatutos<br />
Art. 19 — Os estatutos <strong>da</strong>s cooperativas escolares, suas<br />
federações e confederação deverão conter:<br />
1.º — Sua denominação e objetivos;<br />
2.º — sede e área de ação, circunscrita esta, para as<br />
cooperativas escolares <strong>da</strong>s escolas primárias, ao<br />
edifício do estabelecimento de ensino e, excepcio-<br />
nalmente, a estabelecimentos de ensino de um dis-<br />
trito ou zona, atendendo sempre às possibili<strong>da</strong>des<br />
de reunião, contrôle e operações;<br />
3.º — não-limitação do número de associados, todos com<br />
singulari<strong>da</strong>de de voto nas deliberações e “quorum”<br />
pessoal;<br />
4.º — direitos e deveres dos associados;<br />
5.º — modo de admissão, demissão e exclusão dos associa-<br />
dos, sendo facultativa a demissão a qualquer<br />
tempo;<br />
6.° — atribuições <strong>da</strong>s assembléias gerais e extraordiná-<br />
rias e dos órgãos de administração, fiscalização e<br />
assessoramento;<br />
7.º — capital variável, quando estatuído, dividido em<br />
quotas-partes de pequeno valor, restituíveis essas<br />
quotas, quando realiza<strong>da</strong>s, ou suas prestações, ao<br />
associado que se retirar ou fôr excluído, desde que<br />
não possua débitos para com a cooperativa;<br />
8.º — fixação do mínimo e do máximo de quotas-partes<br />
que ca<strong>da</strong> associado poderá possuir, quando fôr o<br />
caso;<br />
9.º — capital social mínimo, quando fôr o caso, e modo<br />
de integralização do capital subscrito;
FÁBIO LUZ FILHO 355<br />
10 — determinação de uma jóia de entra<strong>da</strong>, que não po-<br />
derá ser superior ao valor <strong>da</strong> quota-parte, desti-<br />
na<strong>da</strong> as despesas de instalação e propagan<strong>da</strong> e ao<br />
fundo de reserva;<br />
11 — nas cooperativas sem capital, a jóia será obrigató-<br />
ria, com um valor compatível com a natureza <strong>da</strong><br />
cooperativa;<br />
12 — distribuição, ou não, como retôrno, <strong>da</strong>s sobras lí-<br />
qui<strong>da</strong>s;<br />
13 — <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> assembléia geral ordinária, que se reunirá,<br />
de preferência, trimestralmente e obrigatòriamen-<br />
te no fim do ano letivo;<br />
14 — modo de convocar as assembléias;<br />
15 — modo de Constituição dos Conselhos de Adminis-<br />
tração e Fiscal e demais órgãos acaso criados;<br />
16 — modo de dissolução, liqui<strong>da</strong>ção, fusão e incorpora-<br />
ção, decidi<strong>da</strong>s sempre em assembléia geral ex-<br />
traordinária, com quorum especial.<br />
§ 1.º — As cooperativas juvenis poderão ter sua sede<br />
fora dos estabelecimentos de ensino, desde que<br />
assessora<strong>da</strong>s por quem tenha capaci<strong>da</strong>de civil e<br />
fique responsável, agremiando escolares ou<br />
ex-escolares, sobretudo para fins de artesanato.<br />
§ 2.º — A dissolução processar-se-á:<br />
1.º — por fechamento ou fusão do estabelecimento de<br />
ensino;<br />
2.º — por mu<strong>da</strong>nça de organização ou plano de estudos<br />
que impeçam seu funcionamento;<br />
3.º — quando o número de associados fôr inferior a doze<br />
por mais de três meses;<br />
4.º — terminação do prazo de duração, quando determi-<br />
nado;<br />
5.º — pelo consenso unânime dos associados.<br />
Art. 20 — A cooperativa fornecerá ao associado:<br />
a) — cópia dos estatutos;<br />
b) — ficha de inscrição ou uma caderneta que o iden-<br />
tifique.
356 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
CAPÍTULO VI<br />
Da Capital e <strong>da</strong> Responsabili<strong>da</strong>de<br />
Art. 21 — O valor <strong>da</strong> quota-parte, será determinado pelas<br />
condições econômico-sociais do meio, subscrevendo ca<strong>da</strong> as-<br />
sociado o número de quotas-partes que quiser.<br />
§ 1.º — Serão as quotas-partes pagas de uma só vez ou<br />
em prestações periódicas e transferíveis depois de integraliza-<br />
<strong>da</strong>s, sòmente a associados, mediante autorização do Conselho<br />
de Administração, que poderá cobrar pequena taxa de trans-<br />
ferência.<br />
§ 2.º — Poderão as quotas-partes ser pagas em natureza<br />
ou serviços.<br />
Art. 22 — Poderão ser capitalizados os retornos para<br />
integralização <strong>da</strong>s quotas-partes.<br />
Art. 23 — Poderão formar-se cooperativas com capital<br />
e com distribuição de retornos; com capital e sem distribui-<br />
ção de retornos; sem capital e com distribuição de retornos e<br />
e sem distribuição de retornos.<br />
Art. 24 — Não terão os associados <strong>da</strong>s cooperativas es-<br />
colares ou a juvenis nenhuma forma de responsabili<strong>da</strong>de.<br />
Art. 25 — Terão os associados <strong>da</strong>s Federações e <strong>da</strong> Con-<br />
federação duas espécies de responsabili<strong>da</strong>de:<br />
1.º — Responsabili<strong>da</strong>de, limita<strong>da</strong> ao valor de sua quota<br />
no capital social;<br />
2.° — Responsabili<strong>da</strong>de limita<strong>da</strong> suplementar, pela qual<br />
os associados poderão constituir, além do valor<br />
quotas-partes subscritas, uma garantia suplemen-<br />
tar até um limite estatutário fixado.<br />
CAPÍTULO VII<br />
Dos Fundos Sociais<br />
Art. 26 — Poderão as cooperativas escolares ou as juvenis<br />
criar os fundos sociais que quiserem, retirados <strong>da</strong>s sobras lí-<br />
qui<strong>da</strong>s, sendo obrigatórios:<br />
1.º — O fundo de reserva, com 10% no mínimo <strong>da</strong>s so-<br />
bras líqui<strong>da</strong>s, podendo cessar sua dedução desde<br />
que atinja o montante estatutàriamente fixado,<br />
podendo parte ser mobiliza<strong>da</strong> e parte emprega<strong>da</strong>
FÁBIO LUZ FILHO 357<br />
de modo seguro e fàcilmente disponível. Atingido<br />
aquêle limite, os 10% irão refôrçar o fundo de de-<br />
senvolvimento, com 10% no mínimo <strong>da</strong>s sobras<br />
líqui<strong>da</strong>s, destinado ao fomento de tô<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>-<br />
des educativas e aparelhamento material <strong>da</strong> coope-<br />
rativa, a êle revertendo doações, donativos e pro-<br />
ventos eventuais.<br />
§ 1.º — O restante <strong>da</strong>s sobras líqui<strong>da</strong>s será, quando fôr<br />
o caso, distribuído aos associados, a títulos de retôrno, na pro-<br />
porção <strong>da</strong>s operações efetua<strong>da</strong>s com a cooperativa ou do tra-<br />
balho realizado.<br />
§ 3 — Até 40% dos retornos serão depositados em com-<br />
ta-corrente de ca<strong>da</strong> aluno, se assim o desejarem, até que ter-<br />
mine os cursos primários jornais, secundários ou profis-<br />
sionais ou se retirarem <strong>da</strong> escola ou <strong>da</strong> cooperativa.<br />
Art. 27 — Em caso de dissolução, os fundos sociais serão<br />
destinados a uma cooperativa escolar ou fins de interêsse<br />
escolar, depois de devolvidos aos associados o valor <strong>da</strong>s quo-<br />
tas-partes que tiverem realizado ou de suas prestações e os<br />
retornos a que fizerem jus, quando fôr o caso.<br />
CAPÍTULO VIII<br />
Das Isenções<br />
Art. 28 — Ficam as cooperativas escolares ou as juvenis<br />
isentas, para todos as seus atos e documentos, do pagamento<br />
de selos federais, municipais e estaduais, existentes ou por<br />
existir, assim como de todos e quaisquer impostos e taxas fe-<br />
derais, estaduais e municipais, criados ou a criar.<br />
CAPÍTULO IX<br />
Da Fiscalização<br />
Art. 29 — A fiscalização <strong>da</strong>s cooperativas escolares ca-<br />
berá ao Serviço de Economia Rural, que deverá entrar em<br />
entendimentos com o <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação e as Secreta-<br />
rias de Educação estaduais e do Distrito Federal no sentido de<br />
uma ação conjunta, diretamente ou por intermédio dos dele-<br />
gados do Serviço nos Estados.
358 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Parágrafo único — Poderá o Serviço de Economia Rural<br />
fazer acordos diretos com os órgãos federais, estaduais e do<br />
Distrito Federal acima enumerados.<br />
Art. 30 — As cooperativas escolares ou as juvenis serão<br />
obriga<strong>da</strong>s a enviar ao Serviço de Economia Rural, por inter-<br />
médio de seus delegados nos Estados e diretamente no Distrito<br />
Federal:<br />
a) — no primeiro semestre, cópia de balancete <strong>da</strong>s ope-<br />
rações;<br />
b) — anualmente, cópia <strong>da</strong> ata <strong>da</strong> aprovação de contas,<br />
balanço e relatório <strong>da</strong> administração e parecer do<br />
Conselho Fiscal.<br />
Art. 31 — O Serviço de Economia Rural, por si ou por<br />
seus delegados, e as Secretarias de Educação estaduais e do<br />
Distrito Federal e os órgãos competentes do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong><br />
Educação, <strong>da</strong>rão a necessária assistência técnica e financeira<br />
possível, às cooporativas escolares ou juvenís e assemelha<strong>da</strong>s.<br />
CAPÍTULO X<br />
Disposições Gerais<br />
Art. 32 — Nos casos omissos, terão aplicação analógica<br />
as disposições <strong>da</strong> lei em vigor, considera<strong>da</strong> sempre a natureza<br />
especialíssima <strong>da</strong> cooperativa escolar, suas federações e con-<br />
federações.<br />
Art. 33 — Os professôres designados como orientadores<br />
<strong>da</strong>s cooperativas escolares, poderão ser dispensados de seus<br />
encargos normais, considerando-se serviço relevante, para efei-<br />
tos de fôlha de serviços e promoção, suas ativi<strong>da</strong>des junto às<br />
cooperativas escolares.<br />
Art. 34 — Poderá possuir a cooperativa um Conselho de<br />
Proibi<strong>da</strong>de, ou de Justiça, para resolver sôbre os casos de ex-<br />
clusão estatutàriamente fixados, composto de associados ou<br />
ex-associados eleitos pela Assembléia, em número de cinco,<br />
com um ano do man<strong>da</strong>to podendo ser reeleito.<br />
Parágrafo único — Caberá recurso do associado excluído<br />
para a Assembléia Geral dentro do prazo de trinta dias <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta<br />
<strong>da</strong> notificação <strong>da</strong> exclusão, para que a ratifique ou retifique.<br />
Art. 35 — Poderá a cooperativa possuir uma Comissão<br />
de Assessôres presidi<strong>da</strong> pelo diretor ou um dos diretores do<br />
estabelecimento de ensino, dela participando, além dos direto-
FÁBIO LUZ FILHO 359<br />
res, professôres, pais ou responsáveis, ex-alunos e pessoas com<br />
conhecimentos técnicos afins com as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> cooperati-<br />
va, durando um ano em suas funções, podendo ser reeleitos.<br />
Parágrafo único — São funções <strong>da</strong> Comissão de Asses-<br />
sôres: orientar a marcha <strong>da</strong> cooperativa, podendo colhêr ele-<br />
mentos junto aos Conselhos de Administração e Fiscal, to-<br />
mar conhecimento do modo de aplicação dos fundos sociais e<br />
dirigir-se aos órgãos oficiais de fiscalização já enumerados.<br />
Art. 36 — Revogam-se as disposições em contrário.<br />
Rio — 1944.<br />
____<br />
NOTA — O projeto acima foi elaborado na vigência <strong>da</strong> lei 5.893, de 1943.<br />
Com a criação, que se impõe, do Departamento Nacional de Cooperativismo, para<br />
o mesmo passarão as atribuições do projeto acima, ou o <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação<br />
e, Cultura ficará com a organização, registro e assistência <strong>da</strong>s cooperativas esco-<br />
lares. As cooperativas universitárias ou estu<strong>da</strong>ntís integra<strong>da</strong>s por maiores de 16 anos,<br />
caem no âmbito <strong>da</strong>s cooperativas econômicas, de adultos.<br />
NOTA FINAL — Acrescento aos nomes e enti<strong>da</strong>des já citados em capítulos ante-<br />
riores, brasileiros e estrangeiros, que trataram do cooperativismo escolar ou pelo<br />
mesmo se interessaram, os seguintes, dentre outros que não me acodem à memória<br />
no momento: M. Brot, Watkins, Juan Nigro, Ramón Viveros, Francisco Álvares,<br />
Ernesto Cilesia, J. Amaral, L. Labouriau, Nobrega de Siqueira, a UNESCO, a<br />
O.E.A., a F.A.O., a Federação Argentina <strong>da</strong>s Cooperativas de Consumo, Isabel de<br />
Camargo Schützer, Aley Vilela Bastos, Flor González Padrino (Venezuela) e outros.
O LIVRO NA OPINIÃO DOS GRANDES HOMENS<br />
Gosto tanto dos livros, que às vêzes os imagino sêres<br />
humanos, e a leitura dá-me a impressão real de uma conversa.<br />
Swift<br />
Um livro que não desperta em nós o desejo de lê-lo de<br />
novo, é um livro infeliz.<br />
D’Alembert<br />
•<br />
Quem mata um homem, mata um ser racional criado à<br />
semelhança de Deus; mas quem destrói um livro destrói a ra-<br />
zão mesma e a própria representação <strong>da</strong> divin<strong>da</strong>de<br />
•<br />
Milton<br />
Os livros são os ver<strong>da</strong>deiros niveladores. A todos que os<br />
usam fielmente, dão o convívio e a presença espiritual dos<br />
maiores e dos melhores <strong>da</strong> nossa espécie.<br />
Channing<br />
•<br />
Os livros são para a Humani<strong>da</strong>de o que a memória é para o<br />
indivíduo. Contém a história <strong>da</strong> raça, suas descobertas, a<br />
sabedoria e a experiência acumula<strong>da</strong>s secularmente; são o<br />
espelho <strong>da</strong>s maravilhas e <strong>da</strong>s belezas <strong>da</strong> Natureza; ampa-<br />
ram-nos na desgraça, consolam-nos na tristeza e nos sofri-<br />
mentos. Fazem de nossas horas de tédio horas de delícia;<br />
enchem nossos espíritos de idéias, de pensamentos sábios e<br />
benfazejos, fazem-nos sair de nós mesmo e <strong>da</strong>s nossas misérias.<br />
Lubbock
Contribuição <strong>da</strong> Seção de Registro e Fiscalização <strong>da</strong>s<br />
Socie<strong>da</strong>des Cooperativas, do Serviço de Economia Rural.<br />
CONTABILIDADE DAS COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
J. F. Gandra<br />
No intuito de tornar a contabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s coperativas es-<br />
colares ao alcance <strong>da</strong>s professôras e dos próprios alunos, ser-<br />
vindo também, a êstes, como nova disciplina de grande utili-<br />
<strong>da</strong>de na vi<strong>da</strong> prática, suprimiu-se a escrituração do livro<br />
“diário”, cuja exposição complica<strong>da</strong> de lançamentos por par-<br />
ti<strong>da</strong>s dobra<strong>da</strong>s seria impossível à criança assimilar.<br />
A ata <strong>da</strong> reunião semanal, entretanto, que regista tô<strong>da</strong>s<br />
as operações de lançamentos de “caixa” (entra<strong>da</strong> e saí<strong>da</strong> de<br />
dinheiro) e outras extra-caixa, foi a solução com felici<strong>da</strong>de<br />
encontra<strong>da</strong> para suprimir a lacuna que a inexistência do<br />
"diário" deixaria na contabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cooperativa escolar.<br />
Esta solução foi encontra<strong>da</strong>, ao que sabemos, pelos De-<br />
partamentos de Cooperativismo de Pernambuco e Rio Grande<br />
do Norte, e já adota<strong>da</strong> em outros Estados.<br />
Em se tratando de cooperativas de crianças, a forma em<br />
questão é de plena eficiência, principalmente se levarmos em<br />
consideração a existência do livro “caixa”, escriturado em<br />
dia, do "registo geral de contas”, que é o Razão <strong>da</strong> cooperativa<br />
escolar, escriturado em forma analítica, com base nos registos<br />
feitos no livro “caixa” e no “livro de atas”, e, finalmente, do<br />
“livro de estoque". Escriturado em dia, êste livro pode de-<br />
monstrar, com clareza, além <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> e saí<strong>da</strong> dos artigos,<br />
qualitativa e quantitativamente, o valor do custo dêsses arti-<br />
gos, o valor <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s e o do estoque, proporcionando sejam<br />
conheci<strong>da</strong>s as sobras brutas (lucros) verifica<strong>da</strong>s na ven<strong>da</strong> dos<br />
artigos.<br />
Escusado se torna falar do “livro de matricula”, por ter<br />
a forma usual do adotado nas cooperativas de adultos, com a<br />
única diferença de não contar a c/corrente de “Juros, Re-<br />
tornos e Per<strong>da</strong>s”.
362 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
NORMAS ADMINISTRATIVAS PARA O FUNCIONAMENTO<br />
DAS COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
1.º— A reunião semanal do Conselho de Administração<br />
tem por objetivo a regularização dos serviços <strong>da</strong><br />
semana.<br />
2.º — Nessa reunião o 1.º secretário apresenta as pro-<br />
postas dos candi<strong>da</strong>tos a associados, quando houver.<br />
3.º — Os tesoureiros apresentam os canhotos dos recibos<br />
extraídos na semana, para o conveniente lança-<br />
mento no “caixa” <strong>da</strong> importância recebi<strong>da</strong>.<br />
4.º — Os gerentes apresentam o quadro ou resumo <strong>da</strong><br />
distribuição (ven<strong>da</strong>s) de artigos escolares, efetua-<br />
<strong>da</strong> na semana, que será lançado no “caixa” pelo<br />
tesoureiro (ven<strong>da</strong>s a dinheiro) e, pelo gerente, no<br />
“livro de estoque".<br />
5.º — O 1.° secretário se encarregará <strong>da</strong> escrituração do<br />
“livro geral de contas”.<br />
6.º — Todo o ocorrido durante a semana, de interêsse <strong>da</strong><br />
cooperativa, será <strong>da</strong>do a conhecer ao Conselho de<br />
Administração pelo presidente. (Ver o modêlo que<br />
se segue).<br />
MODÊLO DE ATA DA REUNIÃO SEMANAL<br />
Ata <strong>da</strong> 1.ª sessão ordinária do Conselho de Administração<br />
<strong>da</strong> Cooperativa Escolar .................................. Lt<strong>da</strong>.<br />
(As atas deverão ser numera<strong>da</strong>s, por exercício)<br />
Aos ..................... dias do mês de .............................................<br />
do<br />
ano de mil novecentos e ........................... reuniu-se o Conselho de<br />
de Administração <strong>da</strong> Cooperativa Escolar do Grupo Escolar...<br />
...................... no salão .................................. em sessão ordinária,<br />
sob a presidência do associado ............................................. , com-<br />
parecendo os membros do Conselho de Administração e Con-<br />
selho Fiscal, e achando-se presente a professôra ..................<br />
................................ que acompanha os trabalhos. O presidente<br />
abriu a sessão e ordenou ao 2.º secretário a leitura <strong>da</strong> ata <strong>da</strong><br />
sessão anterior que, li<strong>da</strong> e submeti<strong>da</strong> a discussão, foi aprova<strong>da</strong>.<br />
Em segui<strong>da</strong> o presidente ordenou ao 1.º secretário a leitura<br />
do expediente, o que foi feito na ordem seguinte: COR-<br />
RESPONDÊNCIA — Foram recebidos: 2 ofícios <strong>da</strong> Divisão de
FÁBIO LUZ FILHO 363<br />
Cooperativismo, de ns .......................... , respectivamente <strong>da</strong>ta<strong>da</strong>s<br />
de ............................. ; ........................ PROPOSTA DE SÓCIOS:<br />
Foram presentes à mesa 10 propostas dos alunos ..............................<br />
............................................................................................................<br />
Postas em discussão, foram aprova<strong>da</strong>s, sendo admitidos os pro-<br />
postos, que subscreveram ............................. quotas-partes no total<br />
de Cr$ ..................................................<br />
OPPERAÇÕES DA SEMANA:<br />
Associados c/ Capital — Cr$ ............................... (DÉBITO):<br />
pelas quotas-partes subscritas dos novos associados hoje admi-<br />
tidos.<br />
Associados c/ Capital — Cr$ ............................. (CRÉDITO):<br />
O 1.º tesoureiro prestou contas <strong>da</strong> importância à margem, de<br />
acôrdo com o canhoto de recibos.<br />
Jóias de admissão: Cr$ .................... Pelo 2.º tesoureiro<br />
foi apresentado o canhoto de recibos de jóias, extraí<strong>da</strong>s na<br />
semana, do total acima.<br />
Compra de artigos escolares — Cr$ .......... Con-<br />
forme faturas (ou notas) nos ............................ <strong>da</strong> Casa ........<br />
........ , recebemos na semana, artigos escolares no valor<br />
marginado, que foi pago pelo 1.º tesoureiro.<br />
Distribuição de artigos escolares — Cr$ ............................... De<br />
acôrdo com o quadro semanal de ven<strong>da</strong>s, apresentado pelos<br />
gerentes, e escriturado no Registo de Entra<strong>da</strong>s e Saí<strong>da</strong>s e no<br />
“Caixa”, a distribuição do artigos aos associados (ven<strong>da</strong>s)<br />
soma a importância à margem.<br />
Pagamento à Casa .......................... — Cr$ ...........................<br />
:<br />
Para pagamento <strong>da</strong> fatura n.° .................................... (ou nota n°) foi<br />
emitido o cheque n.° ............................ contra a Caixa Econômica,<br />
<strong>da</strong> importância à margem.<br />
Regularização <strong>da</strong> escrita: O 1.º tesoureiro escriturou o<br />
“Caixa”, o 1.º secretário, o “Registo Geral de Contas”, e o<br />
1.º gerente, o “Registo de Entra<strong>da</strong>s e Saí<strong>da</strong>s".<br />
Na<strong>da</strong> mais havendo a tratar, foi encerra<strong>da</strong> a sessão, ten-<br />
do sido convoca<strong>da</strong> para sábado, ............... do corrente, às ................<br />
horas, a 2.ª sessão ordinária do Conselho de Administração.<br />
E, para constar, eu, .......................................................................<br />
,<br />
2.º secretário, lavrei a presente ata que assino.<br />
(Ass.) F ............................................... — 2.º Secretário.<br />
(NOTA: As atas serão assina<strong>da</strong>s pelos demais membros<br />
dos Conselhos na sessão posterior, após li<strong>da</strong>s, discuti<strong>da</strong>s, etc.).
364 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
ESCRITURAÇÃO DOS LIVROS<br />
Em geral, os contadores afeitos aos problemas cooperati-<br />
vistas, chegamos à conclusão de que muitas normas adota<strong>da</strong>s<br />
na contabili<strong>da</strong>de comercial devem ser modifica<strong>da</strong>s na coope-<br />
rativa, a fim de melhores serviços prestarem à administração<br />
desta, e principalmente à Fiscalização e Estatística oficiais.<br />
Essa modificação poderá parecer estranha a muitos con-<br />
tadores, afastados dêsses problemas, e <strong>da</strong>í a razão desta expli-<br />
cação.<br />
Por exemplo, a conta “Mercadorias” (nas Cooperativas de<br />
Consumo, equivalente à “Artigos Escolares” na cooperativa<br />
escolar), “Produtos” (nas cooperativas de ven<strong>da</strong>s em comum<br />
e de produção), etc., pela forma comercialmente usa<strong>da</strong>, são<br />
contas “bilaterais” (com movimento de débito e crédito).<br />
Nas cooperativas aconselhamos sejam considera<strong>da</strong>s tais con-<br />
tas “unilaterais" (com movimento só no débito, credita<strong>da</strong>s<br />
apenas por estornos de lançamentos).<br />
Na apuração de resultados, ao fim do exercício, contra-<br />
riando as praxes adota<strong>da</strong>s na contabili<strong>da</strong>de comercial, ao in-<br />
vés de levarmos a crédito de SOBRAS E PERDAS as sobras<br />
verifica<strong>da</strong>s nas ven<strong>da</strong>s, fazemos lançamentos que esclarecem:<br />
o total <strong>da</strong> conta Artigos Escolares (que é o caso) no exercício,<br />
o total <strong>da</strong> Distribuição de Artigos (ven<strong>da</strong>s) e o estoque exis-<br />
tente.<br />
Isto permite à administração e à fiscalização e estatísti-<br />
ca, <strong>da</strong>dos necessários para se conhecerem a taxa adiciona<strong>da</strong><br />
ao custo <strong>da</strong> mercadoria para distribuição aos associados, o<br />
montante dessa distribuição, etc., independentemente <strong>da</strong> re-<br />
messa de outro elemento que não sejam o balanço e demons-<br />
tração de Sobras e Per<strong>da</strong>s.<br />
LIVROS NECESSÁRIOS:<br />
Livro de Matrícula dos associados<br />
Livro Caixa<br />
Livro Registo Geral de Contas<br />
Livro de Estoque.<br />
Em geral, êstes livros e os de atas são rubricados pelo<br />
Diretor do Estabelecimento de Ensino a que pertence a coope-<br />
rativa, com a lavratura de têrmos de abertura e encerramento.
FÁBIO LUZ FILHO 365<br />
Têrmo de Abertura<br />
Contém êste livro ........ folhas, numera<strong>da</strong>s segui<strong>da</strong>-<br />
mente de 1 ª ...................... , e servirá de "Caixa" n.º 1 à “Coope-<br />
rativa Escolar ................... , com sede na Esco-<br />
la ....................................... desta ci<strong>da</strong>de, regista<strong>da</strong> no Serviço de<br />
Economia Rural sob número ................................ Tô<strong>da</strong>s as suas fo-<br />
lhas vão por mim rubrica<strong>da</strong>s.<br />
................. , ............ de ............................... de 19 ................<br />
(Assinatura)<br />
Têrmo de encerramento<br />
Contém êste livro folhas, numera<strong>da</strong>s segui-<br />
<strong>da</strong>mente de 1 a ........ e servirá à “Cooperativa Esco-<br />
lar ............................ ” para o fim declarado no têrmo de aber-<br />
tura.<br />
............................ de ............................................ 19 ...............<br />
(Assinatura)<br />
QUADRO DAS CONTAS
366 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
MONOGRAFIA<br />
Vamos concretizar os seguintes casos:<br />
1.º— Em 15-3-48, 1.000 associados regularmente admi-<br />
tidos, subscreveram 1.000 quotas-partes de capi-<br />
tal, de Cr$ 2,00 ca<strong>da</strong> uma, no total de Cr$ 2.000,00.<br />
2.º— Na mesma <strong>da</strong>ta, integralizaram Cr$ 500,00, isto é,<br />
ca<strong>da</strong> um integralizou Cr$ 0,50 de sua subscrição.<br />
3.º — Pagaram jóias de admissão de Cr$ 200,00.<br />
4.º— Em 20-3-48 — a cooperativa adquiriu Móveis e<br />
Utensílios no valor de Cr$ 300,00; recebeu do Go-<br />
vêrno, como auxílio, uma escrivaninha, no valor<br />
de Cr$ 200,00, e material de expediente, no valor<br />
de Cr$ 250,00.<br />
5.º— Em 30-3-48 — recebeu do Govêrno, como financia-<br />
mento, a importância de Cr$ 2.000,00, para res-<br />
gate em 1949.<br />
6.º— Adquiriu artigos escolares e os distribuiu aos alu-<br />
nos, nos valores e meses adiante mencionados:<br />
Meses Aquisição Distribuição<br />
Abril .......... Cr$ 1.800,00 Cr$ 2.070,00<br />
Maio ........... 2.000,00 2.070,00<br />
Junho .......... 2.100,00 2.300,00<br />
Agosto ....... 2.000,00 2.185,00<br />
Setembro ..... 2.400,00 2.530,00<br />
Outubro ....... 2.200,00 2.530,00<br />
Novembro .... 2.500,00 2.875,00<br />
Totais ....... 15.000,00 16.560,00<br />
7.º — Em 30-11-48 depositou na Caixa Econômica<br />
Cr$ 3.000,00.<br />
8.º — Em 30-11-48 o estoque de artigos escolares, pelo va-<br />
lor de custo, era de Cr$ 690,00.<br />
9.º — Na mesma <strong>da</strong>ta, foram pagos servente Cr$ 150,00,<br />
relativos limpeza <strong>da</strong> sede <strong>da</strong> cooperativa durante<br />
o exercício.<br />
10.º — Verificou-se haver sido gasto, no exercício, mate-<br />
rial de expediente no valor de Cr$ 100,00.
FÁBIO LUZ FILHO 367<br />
11.º — Os Estatutos <strong>da</strong> cooperativa dispõem:<br />
a) — que as jóias de admissão e donativos se re-<br />
vertem em favor do Fundo de Assistência<br />
aos colegiais;<br />
b) — que 10% <strong>da</strong>s sobras líqui<strong>da</strong>s, apura<strong>da</strong>s em<br />
balanço anual, se destinam ao Fundo de<br />
Reserva;<br />
c) — que 90% <strong>da</strong>s mesmas se destinam ao aludi- do Fundo<br />
de Assistência.<br />
ESCRITURAÇÃO DO LIVRO “ CAIXA<br />
Para facili<strong>da</strong>de do contrôle <strong>da</strong> escrituração e confronto<br />
do “Caixa” com o livro “Registo Geral de Contas”, as contas<br />
serão numera<strong>da</strong>s.<br />
Aquelas cujo saldo é sempre devedor tomarão números<br />
ÍMPARES.<br />
Aquelas cujo saldo é sempre credor tomarão números<br />
PARES.<br />
QUADRO DAS CONTAS CODIFICADAS<br />
A seguir, <strong>da</strong>mos um modêlo do livro “Caixa”, devi<strong>da</strong>mente<br />
escriturado, para ser adotado na Cooperativa.<br />
Os documentos relativos a pagamentos (saí<strong>da</strong>s de dinhei-<br />
ro) deverão ser numerados por exercício, isto é, numeração se-<br />
gui<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> reabertura <strong>da</strong> Cooperativa até o fim do exer-
Nº<br />
do<br />
doc.<br />
Nº<br />
do<br />
doc.<br />
2<br />
-<br />
368 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
cício, que coincide, nas escolares, com o início <strong>da</strong>s férias anuais<br />
em dezembro.<br />
Os documentos de receita têm o número no canhoto dos<br />
recibos, em se tratando de recebimentos de jóias ou de quo-<br />
tas-partes do capital, ou ain<strong>da</strong> o contrôle no livro de Estoque<br />
(entra<strong>da</strong>s e saí<strong>da</strong>s de artigos e valor <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s), não sendo,<br />
assim, necessária a sua renumeração.<br />
MOVIMENTO DO MÊS DE MARÇO DE 1948 (*)<br />
Nº<br />
<strong>da</strong><br />
conta<br />
Nº<br />
<strong>da</strong><br />
conta<br />
00<br />
12<br />
HISTÓRICO<br />
Rec. de divs. assoc. p/integr. de capital, conforme<br />
talões de ns. 1 a ...............................................<br />
Rec. de jóais de diversos, talões de ns. 1 a.......<br />
Pago À Casa...............n/compra de 1 armário.......<br />
Rec. do Depart. Cooperativismo, empréstimo do<br />
Govêrno Estadoal p/pag. em 30/6/49..........................<br />
SALDO QUE PASSA PARA ABRIL...<br />
Entra<strong>da</strong>s<br />
de<br />
dinheiro<br />
500,00<br />
200,00<br />
2.000,00<br />
MOVIMENTO DO MÊS DE ABRIL DE 1948<br />
Entra<strong>da</strong>s<br />
HISTÓRICO<br />
de<br />
dinheiro<br />
SALDO QUE PASSA DO MÊS DE<br />
MARÇO............................................................<br />
Pago à Casa...............s/fatura do art. escolares.......<br />
Rec. Ven<strong>da</strong> de artigos, conf. O livro de “Entra<strong>da</strong>s<br />
E Saí<strong>da</strong>s....................................................................<br />
SALDO QUE PASSA PARA MAIO...<br />
Saí<strong>da</strong>s<br />
de<br />
dinheiro<br />
300,00<br />
2.700,00 300,00<br />
2.400,00<br />
2.700,00<br />
2.400,00<br />
2.070,00<br />
Saí<strong>da</strong>s<br />
de<br />
dinheiro<br />
1.800,00<br />
4.470,00 1.800,00<br />
---- 2.670,00<br />
4.470,00 4.470,00<br />
(*) OBSERVAÇÕES:<br />
1 — O tamanho do livro “Caixa” pode ser de 33x22.<br />
2 — A escrituração poderá ser semanal ou mensal, alterando-se, no último<br />
caso, a ata de reunião semanal de que demos modêlo, de fórma a que<br />
sómente a última ata do mês faça referência à atualização do livro<br />
“Caixa” e à do "Registo Geral de Contas”.<br />
3 — No caso de o Departamento Estadual de Cooperativismo querer<br />
controlar a contabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Cooperativa, com mais eficiência, adote-<br />
se o livro “Caixa” com duas vias (uma picota<strong>da</strong> e outra fixa, mas<br />
ambas devi<strong>da</strong>mente pauta<strong>da</strong>s), escriturando-se o livro com lápis tinta<br />
e papel carbono e enviando-se as fôlhas destaca<strong>da</strong>s ao mesmo<br />
Departamento.<br />
4 — Damos, como exemplo, apenas os dois meses acima para a<br />
escrituração do “Caixa”.<br />
5 — A despeito <strong>da</strong> claraza que procuramos imprimir nestas instruções,<br />
sabemos que se torna imprescindível a conveniente orientação e<br />
assistência às senhoras professôras pelos srs. inspetores de<br />
cooperativas.
FÁBIO LUZ FILHO 369<br />
Livro "Registo Geral de Contas”<br />
Concretizemos, a seguir, todos os fatos <strong>da</strong>dos em hipótese<br />
no início desta monografia.<br />
Escrituremos o “Registo Geral de Contas”:<br />
01 — ASSOCIADOS CAPITAL<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Março .....<br />
15<br />
Valor de 1 000 quotas<br />
subscritas, conf. L. do<br />
Matrícula .............<br />
Intgralização de quotas,<br />
conforme o “Caixa”<br />
.......................................<br />
2.000,00<br />
500,00<br />
02 — CAPITAL A INTEGRALIZAR<br />
D<br />
D<br />
2.000,00<br />
1.500,00<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Março .....<br />
15<br />
Valor de 1 000 quotasde<br />
capital a integralizar<br />
................................<br />
Capital Integralizado,<br />
conforme transferência<br />
p/Cta. 04 ...............<br />
500,00<br />
03 — CAIXA<br />
2.000,00<br />
C<br />
C<br />
2.000,00<br />
1.500,00<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1048<br />
Março....... 15 Rec. p/integralização de quotas....... 500,00<br />
500,00<br />
Rec. p/joias de admissão .................... 200,00 D 700,00<br />
20 Pago p/compra do móveis................. 300,00 D 400,00<br />
30 Rec. empréstimo do Govêrno ........... 2.000,00 D 2.400,00<br />
Abril ......... 30 Pago p/artigos escolares .................... 1.800,00 D 600,00<br />
Rec. p/ven<strong>da</strong> de artigos ..................... 2.070,00 D 2.670,00<br />
Maio .......... 31 Pago p/artigos escolares..................... 2.000,00 D 670,00<br />
Rec. p/ven<strong>da</strong> de artigos ..................... 2.070,00 D 2.740,00<br />
Junho ........ 30 Pago p/ artigos escolares ................... 2.100,00 D 640,00<br />
Rec. p/artigos vendidos ..................... 2.300,00 D 2.940,00<br />
Agôsto ....... 31 Pago p/artigos escolares .................... 2.000,00 D 940,00<br />
Rec. p/ven<strong>da</strong>s do artigos ................... 2.185,00 D 3.255,00<br />
Set. ............ 30 Pago p/artigos escolares .................... 2.400,00 D 725,00<br />
Rec. p/ven<strong>da</strong>s de artigos .................... 2.530,00 D 3.255,00<br />
Out. ........... 31 Pago p/artigos escolares..................... 2.200,00 D 1.055,00<br />
Rec. p/ven<strong>da</strong>s de artigos .................... 2.530,00 D 3.585,00<br />
Nov............. 30 Pago p/artigos escolares .................... 2.500,00 D 1.085,00<br />
Rec. p/ven<strong>da</strong>s de artigos ................... 2.875,00 D 3.960,00<br />
Pago depósito na Caiza Econômica 3.000,00 D 960,00<br />
Pago limeza <strong>da</strong> sede ........................... 150,00 D 810,00<br />
24—27454<br />
D
370 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
04 — CAPITAL INTEGRALIZADO<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Março.....<br />
15<br />
Transferência <strong>da</strong> Cta. 02, pelo capi-tal<br />
intgralizado.................................<br />
05 — MÓVEIS E UTENSÍLIOS<br />
500,00<br />
C<br />
500,00<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Março.....<br />
20<br />
Móveis adquiridos.............................<br />
Móveis doados p/Govêrno ...............<br />
300,00<br />
200,00<br />
06 — JÓIAS DE ADMISSÃO<br />
D<br />
D<br />
300,00<br />
500,00<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Março.....<br />
15<br />
Jóias recebi<strong>da</strong>s de associados ...........<br />
200,00<br />
07 — MATERIAL DE EXPEDIENTE<br />
C<br />
200,00<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Março.....<br />
20<br />
Material doado p/Govêrno ...............<br />
08 — AUXÍLIO DO GOVÊRNO<br />
250,00<br />
D<br />
250,00<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Março.....<br />
20<br />
Doação de mat. exp. p/Govêrno .......<br />
Idem de móveis idem ........................<br />
09 — ARTIGOS ESCOLARES<br />
250,00<br />
200,00<br />
C<br />
C<br />
250,00<br />
450,00<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Abril ..........<br />
Maio ..........<br />
Junho ........<br />
Agôsto .......<br />
Set. ............<br />
Out. ...........<br />
Nov. ...........<br />
30<br />
31<br />
30<br />
31<br />
30<br />
31<br />
30<br />
Compra de artigos .............................<br />
Idem idem ................................<br />
Idem idem ................................<br />
Idem idem ................................<br />
Idem idem ................................<br />
Idem idem ................................<br />
Idem idem ................................<br />
1.800,00<br />
2.00,00<br />
2.100,00<br />
2.000,00<br />
2.400,00<br />
2.200,00<br />
2.500,00<br />
D<br />
D<br />
D<br />
D<br />
D<br />
D<br />
D<br />
1.800,00<br />
3.800,00<br />
5.900,00<br />
7.900,00<br />
10.300,00<br />
12.500,00<br />
15.00,00
FÁBIO LUZ FILHO 371<br />
10 — FINANCIAMENTO DO GOVÊRNO<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Março.....<br />
30<br />
Empréstimo do Gov. p/pag em 30/6 de<br />
1949 ...............................................<br />
11 — CAIXA ECONÔMICA<br />
2.000,00<br />
C 2.00,00<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Nov........<br />
30<br />
Depositado nesta <strong>da</strong>ta .....................<br />
3.000,00<br />
12 — DISTRIBUIÇÃO DE ARTIGOS<br />
D<br />
3.000,00<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Abril ..........<br />
Maio ..........<br />
Junho ........<br />
Agôsto .......<br />
Set. ............<br />
Out. ...........<br />
Nov. ...........<br />
30<br />
31<br />
30<br />
31<br />
30<br />
31<br />
30<br />
Ven<strong>da</strong>s de artigos escolares ................<br />
Idem idem ................................<br />
Idem idem ................................<br />
Idem idem ................................<br />
Idem idem ................................<br />
Idem idem ................................<br />
Idem idem ................................<br />
13 — DESPESAS GERAIS<br />
2.070,00<br />
2.070,00<br />
2.300,00<br />
2.185,00<br />
2.530,00<br />
2.530,00<br />
2.875,00<br />
C<br />
C<br />
C<br />
C<br />
C<br />
C<br />
C<br />
2.070,00<br />
4.140,00<br />
6.440,00<br />
8.625,00<br />
11.155,00<br />
13.085,00<br />
16.560,00<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Nov........<br />
30<br />
Limpeza <strong>da</strong> sede n/ecercício ...........<br />
150,00<br />
OBSERVAÇÕES:<br />
1 — Mensalmente será extraído um balancete do livro “REGISTO<br />
GERAL DE CONTAS" para remessa ao Departamento de<br />
Cooperativismo, nos Estados que têm acôrdo com O S. E. R., ou para<br />
remessa a êste onde não houver acôrdo<br />
2 — Damos adiante o modêlo do balancete, extraído com base em 30 de<br />
novembro de 1948, dos saldos devedores a credores apresentados pelo<br />
“Registo Geral de Contas”. Êste balancete servirá também de base<br />
para o levantamento do balanço, de vez que o início <strong>da</strong>s férias será a<br />
1.º de dezembro.<br />
C<br />
150,00
372 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
COOPERATIVA ESCOLAR DO GRUPO ESCOLAR .....................<br />
REGISTO NO S.E.R. N.° ...................<br />
subscrito Cr$ 2.000,00<br />
N.º de associados: 1.00 Capital realizado Cr$ 500,00<br />
a realizar Cr$ 1.500,00<br />
BALANCETE EM 30 DE NOVEMBRO DE 1948<br />
CONTAS Devedoras Credoras<br />
Associados c/Capital........................ 1.500,00<br />
Caixa ................................................ 810,00<br />
Móveis e Utensílios .......................... 500,00<br />
Material do Expediente .................. 250,00<br />
Artigos Escolares ............................ 15.000,00<br />
Caixa Econômica ............................ 3.000,00<br />
Despesas Gerais ............................... 150,00<br />
Capital a Integralizar ..................... 1.500,00<br />
Capital Integralizado ...................... 500,00<br />
Jóias de Admissão ........................... 200,00<br />
Auxílio do Govêrno ......................... 450,00<br />
Financiamento do Govêrno ............ 2.000,00<br />
Distribuição de Artigos ................... 16.560,00<br />
TOTAIS .................................... 21.210,00 21.210,00<br />
...................................... ............... de .............................. de 19 .....<br />
.............................................. ...........................................<br />
Presidente Gerente<br />
Visto.<br />
..........................................................................<br />
Professôra Encarrega<strong>da</strong><br />
OBSERVAÇÕES:<br />
Como se vê, do balancete acima só constam as contas que tiveram movimento<br />
na monografia que estamos desenvolvendo: mas deverão ser incluí<strong>da</strong>s<br />
quaisquer outras que constem do “Livro geral de Contas”.<br />
ENCERRAMENTO DO EXERCÍCIO<br />
Com os elementos constantes do balancete acima, e saben-<br />
do que o estoque de artigos escolares em 30-11-48 é de<br />
Cr$ 690,00, bem como de Cr$ 100,00 o consumo de material de<br />
expediente, podemos encerrar o balanço econômico (Sobras e<br />
Per<strong>da</strong>s) e o balanço geral do ativo e passivo <strong>da</strong> Cooperativa.<br />
Como os estatutos digam que as Jóias e Donativos serão<br />
levados ao Fundo de Assistência aos Colegiais, tais contas não<br />
são divisionárias de Sobras e Per<strong>da</strong>s; mas faremos com que<br />
as mesmas constem desta conta, sem afetá-la, para aparece-<br />
rem na demonstração a ser envia<strong>da</strong> ao S . E . R. sem necessi<strong>da</strong>-<br />
de de outras demonstrações.
FÁBIO LUZ FILHO 373<br />
Escrituremos a conta “SOBRAS E PERDAS” no “Registo<br />
Geral de Contas”:....................................................................<br />
11 — SOBRAS E PERDAS<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Nov........<br />
Datas<br />
1948<br />
Nov.....<br />
30<br />
Distribuição de artigos neste exercício<br />
.......................................................<br />
Artigos escolares (estoque) que passam<br />
para o exercício seguinte............<br />
Artigos escolares adquiridos neste<br />
exercício...............................................<br />
Material de expedieto consumido<br />
exercício ..............................................<br />
Despesas gerais no exercício .............<br />
Creditado a Fundo do de Depreciação,<br />
10% s/500,00, valor de Móveis e<br />
Utensílios ..........................<br />
Creditado a Fundo de Reserva, 10%<br />
a/as sobras líqui<strong>da</strong>s de Cr$................<br />
1.950,00 ...............................................<br />
Creditado a Fundo de Assistência,<br />
90% idem, idem .................................<br />
Joias de Admissão n/exercício...........<br />
Auxílio do Govêrno, idem..................<br />
Creditado a Fundo de Assistência,<br />
imp. <strong>da</strong>s joias e auxílio, conf. estatutos<br />
.................................................<br />
15.000,00<br />
100,00<br />
150,00<br />
50,00<br />
195,00<br />
1.755,00<br />
16.560,00<br />
600,00<br />
200,00<br />
450,00<br />
C<br />
C<br />
C<br />
C<br />
C<br />
C<br />
C<br />
C<br />
C<br />
C<br />
16.560,00<br />
17.250,00<br />
2.250,00<br />
2.150,00<br />
2.000,00<br />
1.950,00<br />
1.755,00<br />
—<br />
200,00<br />
650,00<br />
650,00<br />
—<br />
17.900,00 17.900,00<br />
OBSERVAÇÕES:<br />
1 — Duas Cópias desta conta serão envia<strong>da</strong>s, como demonstrações juntas<br />
ao balanço, ao Departamento Estadual de Cooperativismo,<br />
enviará uma via ao S.E.R.<br />
2 — Todo o serviço de escrituração <strong>da</strong>s cooperativas escolares deve ter<br />
que<br />
assídua assistência do Inspetor contabilista do Departamento, o qual<br />
fará os trabalhos de levantamento do balanço até que a professora<br />
encarrega<strong>da</strong> tenha podido assimilar o serviço.<br />
3 — como se trata de uma monografia para servir de base orientação <strong>da</strong>s<br />
cooperativas escolares por funcionário contador (ou guar<strong>da</strong>-livros),<br />
não desceremos ao detalhe do fechamento <strong>da</strong>s contas no "Registo<br />
Geral de Contas", pois estas se encerram como as do livro "Razão"<br />
na escrita comercial, eviatando-se apenas expressões contábeis<br />
de compreensão por leigos.<br />
4 — Daremos, entretanto, um exemplo, encerrando as contas Distribuição<br />
difíceis<br />
de Artigos" e “Artigos Escolares”, transportando para<br />
os créditos respectivos em 30/11/48, já assinalados linhas atrás.<br />
5 — Poderá também ser adotado, ao invés do Fundo de Assistência,<br />
o fechamento<br />
FUNDO DE DESENVOLVIMENTO, por ter uma aplicação mais<br />
ampla aos objetivos <strong>da</strong> cooperativa escolar, de conformi<strong>da</strong>de com o<br />
estatuto-modêlo constante dêste boletim.<br />
30<br />
X<br />
HISTÓRICO<br />
12 — DISTRIBUIÇÃO DE ARTIGOS<br />
..........................................................<br />
Creditado a “Sobras e Per<strong>da</strong>s” ....<br />
Débito Crédito D/C Saldos<br />
16.560,00<br />
16.560,00<br />
C<br />
16.560,00<br />
—
374 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
09 — ARTIGOS ESCOLARES<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Nov ..........<br />
j<br />
j<br />
1949<br />
Março ......<br />
30<br />
1<br />
............................................................<br />
Debitado a “Sobras e Per<strong>da</strong>s” ........<br />
Creditado a “Sobras e Per<strong>da</strong>s” ......<br />
Saldo a Balanço .......................<br />
Estoque do exercício anteriror .......<br />
OBSERVAÇÕES:<br />
15.000,00<br />
15.000,00<br />
690,00<br />
690,00<br />
15.690,00 15.690,00<br />
690,00<br />
Assim se encerrarão as demais contas, evitando-se sempre expressões<br />
contábeis difíceis de assimilar (a Artigos Escolares de Artigos Escolares<br />
a Balanço, de Balanços, etc.).<br />
D<br />
D<br />
D<br />
15.000,00<br />
—<br />
690,00<br />
—<br />
690,00<br />
............................................................................................................<br />
Escrituremos, agora, no “Registo Geral de Contas”, Os tí-<br />
tulos originários de “Sobras e Per<strong>da</strong>s” — Fundo de Reserva — Fundo de Assistência<br />
— Fundo de Depreciação.<br />
14 — FUNDO DE RESERVA<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Nov ........<br />
1949<br />
Março ...<br />
30<br />
1<br />
10% <strong>da</strong>s sobras líqui<strong>da</strong>s em 1948.<br />
Saldo a Balanço ...................<br />
Saldo que passa de 1948 .........<br />
195,00<br />
195,00<br />
195,00<br />
16 — FUNDO DE ASSISTÊNCIA<br />
C<br />
C<br />
195,00<br />
—<br />
195,00<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Nov ........<br />
1949<br />
Março ...<br />
30<br />
1<br />
00% <strong>da</strong>s sobras líqui<strong>da</strong>s em 1949.<br />
Joias de Admissão e Auxílio do<br />
Govêrno em 1948 ............................<br />
Saldo a Balanço .......................<br />
Saldo que passa de 1948 .........<br />
1.755,00<br />
650,00<br />
2.405,00<br />
2.405,00 2.405,00<br />
2.405,00<br />
C<br />
C<br />
C<br />
1755,00<br />
2.405,00<br />
—<br />
2.405,00
FÁBIO LUZ FILHO 375<br />
17 — FUNDO DE DEPRECIAÇÃO<br />
Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />
1948<br />
Nov .......<br />
1949<br />
Março ...<br />
30<br />
1<br />
Depreciação de 10% s/Móveis e Utensílios<br />
.........................................<br />
Saldo a Balanço .......................<br />
Saldo que passa de 1948 .........<br />
50,00<br />
50,00<br />
50,00<br />
OBSERVAÇÕES:<br />
Quando o Fundo de Depreciação atingir o valor do ativo depreciável,<br />
compensando-o, não mais será debita<strong>da</strong> a conta “Sobras a Per<strong>da</strong>s" por<br />
depreciações.<br />
Estampamos, agora, a balanço do ativo e passivo baseado<br />
nos elementos <strong>da</strong> monografia, com o modêlo que deve ser<br />
adotado:<br />
..................................................................................................<br />
COOPERATIVA ESCOLAR DO GRUPO ESCOLAR ......................<br />
Registo no S.E.R. nº .....................<br />
C<br />
C<br />
50,00<br />
—<br />
50,00
TÍTULOS<br />
376 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
BALANÇO EM 30 DE NOVEMBRO DE 1940<br />
VALORES<br />
ATIVO IMBILIZADO<br />
Móveis e Utensílios .................................<br />
Material do Expediente .........................<br />
ATIVO REALIZAVEL<br />
Associados c/Capital ..............................<br />
Artigos Escolares ....................................<br />
ATIVO DISPONÍVEL<br />
Caixa ........................................................<br />
Caixa Econômica ....................................<br />
TOTAL DO ATIVO .......................<br />
PASSIVO INEXIGÍVEL<br />
Capital a Integralizar ............................<br />
Capital Integralizado .............................<br />
Fundo de Reserva ...................................<br />
Fundo de Assistência .............................<br />
Funco de Depreciação ............................<br />
PASSIVO EXIGÍVEL<br />
Financiamento do Govêrno....................<br />
TOTAL DO PASSIVO....................<br />
Parciais Totais<br />
500,00<br />
150,00<br />
1.500,00<br />
690,00<br />
810,00<br />
3.000,00<br />
1.500,00<br />
500,00<br />
165,00<br />
2.405,00<br />
50,00<br />
2.000,00<br />
650,00<br />
2.100,00<br />
3.810,00<br />
Cr$ 6.650,00<br />
4.650,00<br />
2.000,00<br />
Cr$ 6.650,00<br />
................... ......................................... de .......................... de 19....<br />
O presente balanço foi aprovado em assembléia de .......... / .. /19....<br />
..................................... ................................................<br />
(Presidente) (Gerente)<br />
Visto;<br />
....................................... .................................................<br />
(Secretário) (Professôra Encarrega<strong>da</strong>)<br />
OBSERVAÇÕES:<br />
Outras contas poderão ser adota<strong>da</strong>s de acôrdo com a necessi<strong>da</strong>de de registo<br />
dos fatos que ocorrerem se, por exemplo, a cooperativa adquirir a<br />
crédito (o que não é aconselhável), debitará “Artigos Escolares" e<br />
creditará "Fornecedoras" ou "C/Correntes". Se vender artigos a<br />
crédito aos associados (também não aconselhável), debitará<br />
“Associados c/ Fornecimentos" e creditará "Distribuição de Artigos".<br />
Havendo alguma despesa caracteriza<strong>da</strong> em assistência a colegiais no<br />
exercício, debitar-se-á o titulo "Assistência a Colegiais" a crédito de<br />
“Caixa”, e só no fim do exercício se fechará esta conta a débito do<br />
"Fundo de Assistência". Tais despesas, to<strong>da</strong>via, devem estar<br />
prèviamente autoriza<strong>da</strong>s pelo Conselho de Administração.<br />
CONCLUSÃO<br />
Para maior clareza, <strong>da</strong>mos a seguir uma súmula <strong>da</strong>s ope-<br />
rações <strong>da</strong> Cooperativa Escolar, apontando as operações nor-<br />
mais e os lançamentos de débito ou crédito que devem ser<br />
feitos no “Registro Geral de Contas”.
FÁBIO LUZ FILHO 377<br />
OPERAÇÔES LANÇAMENTOS A FAZER<br />
Subscrição de quotas-partes pelo sócio<br />
admitido<br />
..................................................................<br />
Recebimento do dinheiro p/conta <strong>da</strong>s quoatas-partes<br />
.......................................................................<br />
...................................................................................<br />
...................................................................................<br />
Recebimento do dinheiro em pagamento de jóias de<br />
admissão .............................................................<br />
Auxílio pelo Govêrno, em Artigos Escolares, Móveis<br />
e Utensilios e Material de Expediente ............<br />
...................................................................................<br />
...................................................................................<br />
Compra de Artigos Escolares a dinheiro ..............<br />
...................................................................................<br />
● Compra de Artigos Escolares a crédito .............<br />
...................................................................................<br />
Pagamento a Fornecedores pelos artigos vendidos a<br />
crédito ...................................................<br />
Ven<strong>da</strong> de Artigos Escolares aos associados alunos<br />
(a dinheiro) ..................................................<br />
●● Ven<strong>da</strong> de Artigos Escolares aos alunos (a crédito)<br />
..........................................................................<br />
...................................................................................<br />
Recebimento do dinheiro pelas ven<strong>da</strong>s a crédito a<br />
alunos ....................................................................<br />
Recebimento do empréstimo feito pelo Govêrno..<br />
...................................................................................<br />
Pagamento do empréstimo feito pelo Govêrno ....<br />
...................................................................................<br />
Depósito de dinheiro na Caixa Econômica ...........<br />
...................................................................................<br />
Retira<strong>da</strong> de dinheiro <strong>da</strong> Caixa Econômica ...........<br />
...................................................................................<br />
Juros Creditados na caderneta <strong>da</strong> Caixa Econô-mica<br />
..........................................................................<br />
Recebimento de donativos em dinheiro ................<br />
...................................................................................<br />
Pagamento de despesas gerais ...............................<br />
...................................................................................<br />
●●● Restituição <strong>da</strong> importância do Capital ao só<br />
cio que saiu ..............................................................<br />
baixa na importência do capital ain<strong>da</strong> não realizado,<br />
quando se demitiu o sócio ............................<br />
Associados c/Capital ................................ DÉBITO<br />
Capital a Integralizar .............................. Crédito<br />
Caixa ......................................................... DÉBITO<br />
Associa<strong>da</strong> c/Capital ................................. Crédito<br />
Capital a Integralizar .............................. DÉBITO<br />
Capita Integralizado ................................ Crédito<br />
Caixa .......................................................... DÉBITO<br />
Jóias de Admissão ..................................... Crédito<br />
Artigos Escolares ...................................... DÉBITO<br />
Móveis e Utensílios ................................... DÉBITO<br />
Material de Expediente ............................ DÉBITO<br />
AUXÍLIO DO GOVÊRNO ...................... Crédito<br />
Artigos Escolares ...................................... DÉBITO<br />
Caixa .......................................................... Crédito<br />
Artigos Escolares ...................................... DÉBITO<br />
Fornecedores ............................................. Crédito<br />
Fornecedores ............................................. DÈBITO<br />
Caixa .......................................................... Crédito<br />
Caixa .......................................................... DÉBITO<br />
Distribuição de Artigos ............................ Crédito<br />
Associados c/Fornecimento ...................... DÉBITO<br />
Distribuição de Artigos ............................ Crédito<br />
Distribuição de Artigos ............................ Crédito<br />
CAIXA ...................................................... DÉBITO<br />
Associados c/Fornecimento ..................... Crédito<br />
CAIXA ...................................................... DÉBITO<br />
Financiamento do Govêrno ..................... Crédito<br />
Financiamento do Govêrno ..................... DÉBITO<br />
Caixa .......................................................... Crédito<br />
Caixa Econômica ..................................... DÉBITO<br />
Caixa ......................................................... Crédito<br />
CAIXA ...................................................... DÉBITO<br />
Caixa Econômica ..................................... Crédito<br />
Caixa Econômica ..................................... DÉBITO<br />
Juros do Depósitos ................................... Crédito<br />
CAIXA ...................................................... DÉBITO<br />
Donativos .................................................. Crédito<br />
Despesas Gerais ........................................ DÉBITO<br />
Caixa .......................................................... Crédito<br />
Caixa Integralizado .................................. DÉBITO<br />
Caixa .......................................................... Crédito<br />
Capital a Integralizar .............................. DÉBITO<br />
Associados c/Capital ................................ Crédito<br />
OBSERVAÇÕES:<br />
• Como já dissemos, não é muito recomendável compra a crédito<br />
pelas<br />
Cooperativas Escolares<br />
•• Igualmente, a ven<strong>da</strong> a dinheiro aos alunos é a mais<br />
preferível, além de<br />
evitar fichas de c/correntes de associados, o que acarretaria<br />
grande ser-<br />
viço à Cooperativa.<br />
••• No caso de demissão do associado, fazer também o<br />
respoctivo<br />
lançamento no Livro de Matrícula, encerrando-se a conta e<br />
exigindo-se<br />
a assinatura do demissionário no lugar competente.
378 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
OPERAÇÕES LANÇAMENTOS A FAZER<br />
Verificação <strong>da</strong>s sobras (lucor) na ven<strong>da</strong> de Artigos<br />
Escolares<br />
Transferência para Sobras e Per<strong>da</strong>s dos juros de<br />
depósitos ..................................................................<br />
Transferência <strong>da</strong>s despesas gerais, consumo de<br />
material de expediente, bem como depreciação do<br />
Móveos e Utensílios para “Sobras e Per<strong>da</strong>s”<br />
...................................................................................<br />
Transferência dos 10% <strong>da</strong>s sobras líqui<strong>da</strong>s e dos<br />
90% <strong>da</strong>s mesmas, respectivamente, para Fun- do<br />
de Reserva e Fundo <strong>da</strong> Assistência ..................<br />
● Transferência do Donativo, Auxílio do Gover-no<br />
para o Fundo de Assistência (conforme os estatutos<br />
....................................................................<br />
...................................................................................<br />
...................................................................................<br />
(Pelo valor <strong>da</strong> conta “Artigos Escolares” no úl-timo<br />
balancete);<br />
SOBRAS E PERDAS ................................ DÉBITO<br />
Artigos Escolares ....................................... Crédito<br />
(Pelo valor <strong>da</strong> conta “Distribuição de Artigos” no<br />
último balancete);<br />
DISTRIBUIÇÃO DE ARTIGOS ............. DÉBITO<br />
Sobras e Per<strong>da</strong>s ......................................... Crédito<br />
(Pelo valor do estoque verificado na ocasião do<br />
fechamento do balanço);<br />
ARTIGOS ESCOLARES ......................... DÉBITO<br />
Sobras e Per<strong>da</strong>s ......................................... Crédito<br />
JUROS DE DEPÓSITOS ......................... DÉBITO<br />
Sobras e Per<strong>da</strong>s ......................................... Crédito<br />
SOBRAS E PERDAS ............................... DÉBITO<br />
Despesas Gerais ........................................ Crédito<br />
Material de expedimento ......................... Crédito<br />
Fundo de Depreciação ............................. Crédito<br />
SOBRAS E PERDAS ............................... DÉBITO<br />
Fundo de Reserva ..................................... Crédito<br />
Fundo de Assistência ................................ Crédito<br />
......................................................................................<br />
DONATIVOS ............................................ DÉBITO<br />
AUXÍLIO DO GOVÊRNO ...................... DÉBITO<br />
Sobras e Per<strong>da</strong>s ......................................... Crédito<br />
SOBRAS E PERDAS ................................ DÉBITO<br />
Fundo de Assistência ................................. Crédito<br />
OBSERVAÇÕES:<br />
Também podem ser debita<strong>da</strong>s as contas "Donativos" e “Auxilio do Govêrno"<br />
diretamente a crédito do FUNDO DE ASSISTÊNCIA, mas <strong>da</strong> forma<br />
exposta acima há maior clareza no emprego <strong>da</strong>s ditas contas.<br />
“LIVRO DE ESTOQUE”<br />
Damos, a seguir, um modêlo do livro de estoque.<br />
Ca<strong>da</strong> fôlha do livro deverá destinar-se a um artigo, de<br />
preço de custo idêntico. Há, por exemplo, cadernos de Cr$ 2,00,<br />
de Cr$ 2,40 etc. Neste caso, ca<strong>da</strong> um terá sua fôlha.<br />
Quanto à entra<strong>da</strong> do artigo no livro, deverá ser feita<br />
quando efetivamente realiza<strong>da</strong>, depois de conferido o material<br />
pela nota ou fatura de compra, e à vista desta.<br />
Quanto à escrituração de saí<strong>da</strong>, aconselhamos seja feita<br />
semanal, quinzenal ou mensalmente, à vista dos quadros ou
FÁBIO LUZ FILHO 379<br />
resumos extraídos <strong>da</strong>s NOTAS DE VENDAS que a Cooperati-<br />
va deverá adotar,<br />
Essas notas devem constar de um talão, com duas vias<br />
(uma destacável e outra fixa como canhoto), devi<strong>da</strong>mente<br />
numera<strong>da</strong>s. Serão escritura<strong>da</strong>s a lápis tinta com papel car-<br />
bono.<br />
Pelo canhoto se fará o quadro ou resumo de artigos ven-<br />
didos, que será apresentado à reunião semanal do Conselho<br />
antes de ser lançado no Livro de Estoque.<br />
O “Livro de Estoque”, como o Caixa e o Registo Geral de<br />
Contas, pode ter o tamanho almaço (33x22) e conter 100 fô-<br />
lhas, de vez que os artigos escolares não se elevam a mais de<br />
30 tipos.
ENTRADA DE ARTIGOS SAÍDA DE ARTIGOS ESTOQUE DE ARTIGOS<br />
Data FORNECEDORES Quanti<strong>da</strong>de<br />
1948<br />
Março ....<br />
Abril ......<br />
Junho .....<br />
Agosto ...<br />
Set.º .......<br />
Nov.º ......<br />
1949<br />
Março….<br />
1<br />
5<br />
10<br />
5<br />
1<br />
1<br />
2<br />
1<br />
Casa Matos Lt<strong>da</strong>.<br />
Casa Cruz Lt<strong>da</strong>.....<br />
Casa Crus Lt<strong>da</strong>.....<br />
Casa Escolar Lt<strong>da</strong>.<br />
Casa Crus Lt<strong>da</strong>.....<br />
Casa S. Lima.........<br />
SOMAS<br />
Estoque de 1948<br />
50<br />
50<br />
40<br />
30<br />
100<br />
50<br />
320<br />
45<br />
Preço<br />
Uni<strong>da</strong>de<br />
2<br />
2<br />
2<br />
2<br />
2<br />
2<br />
2<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
100<br />
100<br />
80<br />
60<br />
200<br />
100<br />
640<br />
90<br />
Valor Data<br />
Quanti<strong>da</strong>de<br />
OBSERVAÇÕES:<br />
1 — ConfIra-se sempre o estoque existente deduzindo-se <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de ENTRADA a quanti<strong>da</strong>de de SAÍDA.<br />
2 — Para conhecer-se o valor de custo dos artigos vendidos, deduza-se do VALOR de ENTRADA o VALOR de ESTOQUE.<br />
Exemplo: Valor de custo no quadro acima — Cr$ 550,00.<br />
3 — Para conhecer-se a — sobra-bruta — (lucro) na distribuição de artigos, deduza-se do VALOR de SAÍDA o valor de<br />
custo dos artigos vendidos.<br />
Exemplo: Valor <strong>da</strong> SAÍDA no quadro acima ............................................................. Cr$ 632,50<br />
Valor de CUSTO (veja nº 2) .................................................................. 550,00<br />
Sobra bruta na distribuição constante do quadro acima ........................ 82,50<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
Março .....<br />
Abril .......<br />
Maio .......<br />
Junho ......<br />
Ag ...........<br />
Set. ..........<br />
Outubro ..<br />
Nov. ........<br />
30<br />
30<br />
31<br />
30<br />
31<br />
30<br />
31<br />
30<br />
10<br />
70<br />
10<br />
30<br />
50<br />
60<br />
15<br />
30<br />
275<br />
Preço<br />
Uni<strong>da</strong>de<br />
2<br />
2<br />
2<br />
2<br />
2<br />
2<br />
2<br />
2<br />
30<br />
30<br />
30<br />
30<br />
30<br />
30<br />
30<br />
30<br />
Valor Quan-<br />
ti<strong>da</strong>de<br />
23<br />
161<br />
23<br />
69<br />
115<br />
138<br />
34<br />
69<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
50<br />
00<br />
40<br />
20<br />
10<br />
20<br />
40<br />
25<br />
45<br />
80<br />
40<br />
20<br />
40<br />
80<br />
50<br />
90<br />
Valor (Custo)<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
632 50 45 90 00
DIAS HISTÓRICO<br />
1<br />
2<br />
><br />
6<br />
7<br />
9<br />
10<br />
11<br />
13<br />
14<br />
Est. de 1947<br />
.......<br />
Adquirindo<br />
joje.<br />
Vendido<br />
hoje......<br />
> > .<br />
> > .<br />
> > .<br />
> > .<br />
> > .<br />
> > .<br />
> > .<br />
> > .<br />
CADERNO<br />
Custo Unit. 2,00<br />
CADERNO<br />
Custo Unit. 2,50<br />
LAPIS<br />
Custo Unit. 0,50<br />
LAPIS<br />
Custo Unit. 0,80<br />
Ent. Saí<strong>da</strong> Est. Ent. Saí<strong>da</strong> Est. Ent. Saí<strong>da</strong> Est. Ent. Saí<strong>da</strong> Est. Ent. Saí<strong>da</strong> Est. Ent. Saí<strong>da</strong> Est.<br />
20<br />
50<br />
10<br />
9<br />
5<br />
4<br />
2<br />
5<br />
1<br />
4<br />
2<br />
20<br />
70<br />
60<br />
51<br />
46<br />
42<br />
40<br />
35<br />
34<br />
30<br />
28<br />
15<br />
75<br />
5<br />
10<br />
25<br />
19<br />
1<br />
2<br />
2<br />
1<br />
5<br />
SOMAS .... 70 42 28 90 70 20 300 210 90 155 40 115<br />
15<br />
90<br />
85<br />
75<br />
50<br />
31<br />
30<br />
28<br />
26<br />
25<br />
20<br />
OBSERVAÇÕES:<br />
Sendo semanal, quinzenal ou mensal a escrituração do “Livro de Estoque", adotar-se-ão estas fichas diárias para contrôle<br />
<strong>da</strong>s quanti<strong>da</strong>des entra<strong>da</strong>s e saí<strong>da</strong>s e <strong>da</strong> existência estoque.<br />
Os registos serão efetuados pelo canhoto <strong>da</strong>s "Notas de Ven<strong>da</strong>".<br />
Estas fichas poderão ser feitas em papel comum para escrituração a lápis.<br />
100<br />
200<br />
20<br />
1<br />
30<br />
49<br />
50<br />
3<br />
7<br />
39<br />
11<br />
100<br />
300<br />
280<br />
279<br />
249<br />
200<br />
150<br />
147<br />
140<br />
101<br />
90<br />
55<br />
100<br />
15<br />
2<br />
7<br />
6<br />
2<br />
3<br />
1<br />
4<br />
0<br />
55<br />
155<br />
140<br />
138<br />
131<br />
125<br />
123<br />
120<br />
119<br />
115<br />
115
............................................................................................................................................................................................................................................<br />
NOME DO ASSOCIADO: Mauro José Gandra<br />
DATA DO NASCIMENTO: 16/04/1939<br />
Nacionali<strong>da</strong>de Brasileira<br />
FILIAÇÃO: José F. Gandra e Amandina M. Gandra<br />
ALUNO DA ESCOLA 7—9 — República do Peru — D.<br />
Federal<br />
RESIDÊNCIA: Rua Aristides Caire, 39, c. 10 Meier —<br />
Rio<br />
DATA DA ADMISSÃO: 15 deMarço de 1947.<br />
..............................................................<br />
(Assinatura do associado)<br />
..............................................................<br />
(Assinatura do Presidente)<br />
DEMITIDO OU ESCLUÍDO EM ............ DE<br />
..................... DE 19.......<br />
............................................................<br />
...........................................................<br />
(Assinatura do Presidente) (Ass. do associado demitido)<br />
AVERBAÇÕES<br />
MATRÍCULA Nº ..............<br />
.............................................................................................................................<br />
.......................................................................................................…...................<br />
..............................................................................................................................<br />
..............................................................................................................................<br />
...............................................................................................................................<br />
...............................................................................................................................<br />
................................................................................................................................<br />
................................................................................................................................<br />
.................................................................................................................................
DATAS HISTÓRICO<br />
1947<br />
Março ...........<br />
> ............<br />
Abril .............<br />
Maio .............<br />
Junho ...........<br />
Novembro ....<br />
1948<br />
Março ...........<br />
Maio .............<br />
15<br />
><br />
15<br />
16<br />
15<br />
30<br />
1<br />
5<br />
5 quotas subscritas ..........<br />
Rec. integralização ..........<br />
Idem idem ..............<br />
Idem idem ..............<br />
Idem idem ..............<br />
Balanço de Saldo .........<br />
Saldo credor ........................<br />
pago por se ter demitido ....<br />
CAPITAL A INTEGRALIZAR CAPITAL INTEGRALIZADO<br />
Débito Crédito Saldo dev. Débito Crédito<br />
10<br />
00<br />
10 00<br />
2<br />
2<br />
2<br />
2<br />
4<br />
10<br />
00<br />
10 00<br />
00<br />
8 00<br />
2 00<br />
00<br />
5 00<br />
2 00<br />
00<br />
4 00<br />
2 00<br />
00<br />
— —<br />
4 00<br />
10 30<br />
00 — — 10 30 10 00<br />
10<br />
00<br />
10<br />
00<br />
Saldo<br />
credor<br />
2<br />
4<br />
6<br />
10<br />
—<br />
—<br />
10<br />
—<br />
00<br />
00<br />
00<br />
00<br />
—<br />
—<br />
00<br />
—
ORGANIZAÇÃO E SISTEMA DE OPERAÇÕES DAS<br />
COOPERATIVAS ESCOLARES (EXCERTO)<br />
I — REGIME LEGAL<br />
João do Prado Flôres<br />
As cooperativas escolares são regula<strong>da</strong>s pela lei <strong>da</strong>s coope-<br />
rativas, Decreto-lei n.º 22.239, de 19 de dezembro de 1932.<br />
O artigo 34 diz que “as cooperativas escolares poder-se-ão<br />
constituir nos estabelecimentos, públicos ou particulares...<br />
com o objetivo primordial de inculcar aos estu<strong>da</strong>ntes a idéia<br />
do cooperativismo e ministrar-lhes os conhecimentos práti-<br />
cos de organização e funcionamento de determina<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li-<br />
<strong>da</strong>de cooperativa e, acessòriamente, proporcionar-lhes as van-<br />
tagens econômicas peculiares à mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de preferi<strong>da</strong>”.<br />
Segundo o artigo 5.º, § único, do Decreto-lei n.º 581, de<br />
1.º de agôsto de 1938, as cooperativas escolares estão isentas<br />
do pagamento de impostos e de selos.<br />
II — DOCUMENTAÇÃO E REGISTRO<br />
As cooperativas escolares precisam, como as demais, fazer<br />
seu registro no Serviço de Economia Rural, do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Agricultura</strong>, e na Secção de Assistência ao Cooperativismo, <strong>da</strong><br />
Secretaria <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, Indústria e Comércio.<br />
0 pedido de registro, feito por intermédio <strong>da</strong> S. A. C.,<br />
precisa ser instruído com uma cópia do ato constitutivo, um<br />
exemplar dos estatutos e uma relação dos associados, do-<br />
cumentos êstes com a assinatura de sete ou mais fun<strong>da</strong>dores<br />
e autenticados pelo diretor <strong>da</strong> escola.<br />
1 — Estatutos<br />
Apresentamos anexo um modêlo de estatutos para as<br />
cooperativas escolares. Ca<strong>da</strong> cooperativa deverá resolver<br />
sôbre:<br />
a) — Valor <strong>da</strong> quota-parte, que poderá ser desde Um<br />
Cruzeiro até Cem;
FÁBIO LUZ FILHO 385<br />
b) — Capital mínimo. A subscrição de quotas deverá ser<br />
superior ao capital mínimo que constar nos esta-<br />
tutos;<br />
c) — Valor <strong>da</strong> Jóia de Admissão. Todos os associados são<br />
obrigados a entrar com essa jóia Base: de Cr$ 2,00<br />
a Cr$ 5,00;<br />
d) — Divisão <strong>da</strong>s sobras. As sobras são reparti<strong>da</strong>s con-<br />
forme o que resolverem os organizadores <strong>da</strong> coope-<br />
rativa, 10% para o Fundo de Reserva é a obrigato-<br />
rie<strong>da</strong>de perante a lei. Se os associados quiserem<br />
poderão estabelecer uma porcentagem para a Cai-<br />
xa Escolar. Tira<strong>da</strong>s essas porcentagens o restante<br />
constituirá o RETÔRNO que será repartido entre<br />
os sócios na proporção de suas compras.<br />
2 — Administração<br />
A Assembléia Geral dos associados é o órgão máximo <strong>da</strong><br />
Cooperativa e lhe compete eleger a Diretoria que será cons-<br />
tituí<strong>da</strong> de:<br />
Presidente, Diretor-Gerente,<br />
Vice-Presidente, Diretor-Tesoureiro,<br />
Diretor-Secretário, Dois suplentes.<br />
As funções dessa diretoria e do ca<strong>da</strong> um de seus membros<br />
se encontram delinea<strong>da</strong>s estatutos.<br />
3 — Ato Constitutivo e Lista Nominativa<br />
O ato constitutivo é representado pela ata dos trabalhos<br />
<strong>da</strong> assembléia de constituição <strong>da</strong> cooperativa.<br />
A Lista-Nominativa é a relação dos sócios fun<strong>da</strong>dores, con-<br />
tendo seus nomes, i<strong>da</strong>des, nacionali<strong>da</strong>des, residências e quo-<br />
tas subscritas.<br />
III — CONDIÇÕES NECESSÁRIAS<br />
Para constituir-se uma cooperativa escolar faz-se neces-<br />
sário haver condições favoráveis, como as seguintes:<br />
25—27 454<br />
1 — Interêsse <strong>da</strong> direção do Grupo;<br />
2 — Professôra-Orientadora para cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> coperativa;<br />
3 — Trabalho de preparação e propagan<strong>da</strong>:
386 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
a) — esclarecimentos às demais professôras,<br />
b) — propagan<strong>da</strong> em tô<strong>da</strong>s as aulas: cartazes, etc.;<br />
c) — estudo dos elementos que poderão exercer os<br />
cargos <strong>da</strong> diretoria e conselho fiscal;<br />
d) — distribuição de chapas para a votação.<br />
IV — ASSEMBLÉIA DE CONSTITUIÇÃO<br />
A assembléia de constituição será a soleni<strong>da</strong>de que <strong>da</strong>rá<br />
vi<strong>da</strong> legal à cooperativa. Além de ampla divulgação na Esco-<br />
la deverão ser convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s as autori<strong>da</strong>des, destacando-se:<br />
a) — Diretora e Professôras do grupo;<br />
b) — Serviço de Assistência ao Cooperativismo;<br />
c) — Centro de Pesquisas Educacionais.<br />
A ordem do dia para essa assembléia será a seguinte:<br />
a) — Instalação dos trabalhos, pela Professôra<br />
Conselheira.<br />
b) — Formação <strong>da</strong> Mesa, convi<strong>da</strong>ndo uma profes-<br />
sôra para secretária e a Diretora do Grupo<br />
e autori<strong>da</strong>des para fazerem parte <strong>da</strong> mesma.<br />
c) — Apresentação <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des. Direção dos<br />
trabalhos para a autori<strong>da</strong>de mais gradua<strong>da</strong>.<br />
d) — Estudo dos Estatutos, sob a direção de pessoa<br />
prèviamento convi<strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />
e) — Eleição. Voto secreto. De preferência duas<br />
chapas.<br />
f) — Posse dos eleitos.<br />
g) — Discursos.<br />
h) — Encerramento e assinatura <strong>da</strong> ata.<br />
V — LIVROS DE ESCRITURAÇÃO<br />
A cooperativa precisará ter os livros necessários a uma<br />
boa escrituração, os quais deverão ter têrmo de abertura e<br />
encerramento feitos pelo presidente. Os registros poderão ser<br />
feitos também em fichas, Teremos, então, o seguinte:<br />
1 — Livros<br />
a) — Caixa<br />
b) — Razão
FÁBIO LUZ FILHO 387<br />
c) — Livro de Atas <strong>da</strong>s assembléias<br />
d) — Livro de Matrícula dos Associados<br />
e) — Livro de atas <strong>da</strong>s reuniões <strong>da</strong> diretoria.<br />
2 — Fichas<br />
a) — Ficha de Matrícula dos associados<br />
b) — Título Nominativo do associado<br />
c) — Diário de Ven<strong>da</strong>s<br />
d) — Ficha de estoque<br />
e) — Ficha de registro <strong>da</strong>s compras dos associados<br />
(anexo n.° 7).<br />
f) — Notas para registrar as compras. Talão<br />
comum.<br />
VI — INSTALAÇÕES<br />
A direção <strong>da</strong> cooperativa procurará desde logo tomar as<br />
seguintes providências:<br />
1 — Aparelhar-se no que diz respeito às instalações <strong>da</strong><br />
melhor forma possível;<br />
2 — Conseguir, de preferência, uma sala para uso exclusi-<br />
vo de seus serviços;<br />
3 — Providenciar no sentido de que a Secretaria de Edu-<br />
cação, por seus serviços especializados, confeccione os armá-<br />
rios, prateleiras e balcões de que a cooperativa irá precisar;<br />
4 — Adquirir, quando possível, pequenos arquivos, de ma-<br />
deira ou de aço, para guar<strong>da</strong>r as diversas fichas necessárias<br />
a seu funcionamento.<br />
Para atender a essas despesas com mobilizações conviria que<br />
a cooperativa realizasse festinhas de cunho beneficiente para<br />
conseguir o numerário necessário.<br />
VII — TRANSAÇÕES<br />
A Professôra-Orientadora procurará entrar em entendi-<br />
mentos diretos com as companhias editôras afim de conseguir<br />
os melhores descontos possíveis.<br />
Tô<strong>da</strong>s as compras feitas deverão ser registra<strong>da</strong>s nas fichas<br />
de estoque. Uma ficha para ca<strong>da</strong> artigo.<br />
As notas ou faturas de compra serão registra<strong>da</strong> na Caixa pelo<br />
seu total, com os <strong>da</strong>dos que as identifiquem.
388 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
A cooperativa deverá, de preferência, adquirir todos os<br />
artigos a dinheiro.<br />
De um modo geral a cooperativa deverá trabalhar com<br />
um lucro de 10 a 15%. Nos livros adquiridos <strong>da</strong>s editôras a<br />
cooperativa poderá repartir com o associado o desconto com-<br />
seguido.<br />
As notas ou faturas deverão ser arquiva<strong>da</strong>s em pasta es-<br />
pecial.<br />
Quando se fizerem compras a crédito as notas e faturas<br />
serão arquiva<strong>da</strong>s em uma pasta em que se indique “Contas a<br />
Pagar”. Quando paga a conta a fatura será transferi<strong>da</strong><br />
para a pasta de contas pagas.<br />
De todos os recebimentos haverá sempre um documento<br />
comprovante, quer para as ven<strong>da</strong>s, quer para os recebimentos<br />
de quotas.<br />
As despesas de qualquer natureza serão também com-<br />
prova<strong>da</strong>s com as devi<strong>da</strong>s notas.<br />
A cooperativa adquirirá para fornecer a seus associados,<br />
à medi<strong>da</strong> do possível, os seguintes artigos:<br />
a) Livros para tô<strong>da</strong>s as classes;<br />
b) Cadernos, blocos, lápis, borrachas, etc.;<br />
c) Todos os demais artigos de uso obrigatório nas aulas;<br />
d) Sapatos para uso diário nas aulas e para a prática<br />
de esportes;<br />
e) Cretone para confeccionar guar<strong>da</strong>-pós dos alunos.<br />
VIII — REGISTROS NOS LIVROS E NAS FICHAS<br />
De um modo geral poderá ser adotado o seguinte siste-<br />
ma de trabalho:<br />
1 — A Professôra-Orientadora, que superintenderá tô-<br />
<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> cooperativa, se encarregará do registro<br />
dos seguintes livros:<br />
a) — Livro de atas <strong>da</strong>s assembléias. Depois de re-<br />
vistos os têrmos <strong>da</strong>s atas o Secretário poderá<br />
lavrá-las.<br />
b) — Livro de Matrícula Geral. Os registros dêsse<br />
livro combinarão com as fichas de matrículas,<br />
feitas pelos membros <strong>da</strong> diretoria.<br />
c) — Livro Caixa e Razão, ambos importantes na<br />
escrita.
FÁBIO LUZ FILHO 389<br />
2 — O Presidente supervisionará todos os serviços, cola-<br />
borando diretamente com a Orientadora.<br />
3 — O Diretor Gerente se encarregará <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s no<br />
balcão e dos assentamentos nas notas extraí<strong>da</strong>s e entregues<br />
aos associados.<br />
4 — O tesoureiro receberá o produto <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s, (soma<br />
de tô<strong>da</strong>s as notas) e o entregará à Prof. Conselheira para o<br />
devido registro no livro Caixa. Fará, outrossim, a grade que<br />
servirá de base para os lançamentos no Diário de Ven<strong>da</strong>s.<br />
5 — O Vice-presidente se encarregará dos registros na<br />
Ficha de estoque e no Diário de Ven<strong>da</strong>s.<br />
6 — Os suplentes terão os seguintes encargos:<br />
a) — Registro <strong>da</strong>s compras nas fichas individuais<br />
dos associados;<br />
b) — Registro nas Fichas de Matrícula e nos Títu-<br />
los Nominativos dos associados.<br />
IX — SISTEMA DE ESCRITURAÇÃO E PLANO DE CONTAS<br />
A cooperativa adotará um sistema de escrituração espe-<br />
cial, tendo coma base os livros Caixa e Razão. Não haverá,<br />
como nas escritas <strong>da</strong>s firmas comerciais, o livro Diário.<br />
1 — Caixa<br />
Usar-se-á um Caixa comum, do tipo em que há uma<br />
página para o débito e outra para o crédito. Lançar-se-ão no<br />
débito todos os recebimentos ou entra<strong>da</strong>s e no crédito todos os<br />
pagamentos ou saldos de dinheiro.<br />
Ca<strong>da</strong> recebimento ou pagamento correspoderá a um tí-<br />
tulo ou conta<br />
Para os recebimentos figurarão os seguintes títulos:<br />
Capital Integralizado<br />
recebimento <strong>da</strong>s quotas dos associados;<br />
Jóia de Admissão idem, de jóias;<br />
Ven<strong>da</strong>s<br />
pelo recebimento <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s de artigos escolares;<br />
Contas a Receber,<br />
recebimentos de dívi<strong>da</strong>s de associados.
390 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Para os pagamentos ou saí<strong>da</strong>s de Caixa vigorarão os se-<br />
guintes títulos;<br />
Artigos Escolares,<br />
Pelas compras de material escolar;<br />
Despesas Diversas,<br />
Pagamento de despesas feitas;<br />
Contas a Pagar,<br />
Pelo pagamento <strong>da</strong>s dívi<strong>da</strong>s;<br />
Móveis e Utensílios,<br />
Pela compra de móveis.<br />
2 — Razão<br />
É o mesmo livro usado na escrituração mercantil. Rece-<br />
berá o registro sintético <strong>da</strong>s operações anota<strong>da</strong>s no Caixa.<br />
Lançar-se-á primeiramente, quando fôr o caso, os <strong>da</strong>dos<br />
do balanço inicial <strong>da</strong> passagem de uma lojinha para coope-<br />
rativa, conforme veremos em outro capítulo. Depois, então, o<br />
movimento de ca<strong>da</strong> mês. Suponhamos tenham sido as seguin-<br />
tes entra<strong>da</strong>s num mês, conforme apurado pelo Caixa:<br />
Ven<strong>da</strong>s .......................................... Cr$ 4.500,00<br />
Cap. Integralizado ........................ 200,00<br />
Jóia de Admissão .......................... 60,00<br />
Contas a Receber .......................... 240,00<br />
Total ...................... 5.000,00<br />
Debitaremos o título Caixa do Razão pelo total <strong>da</strong> entra-<br />
<strong>da</strong>, Cr$ 5.000,00, e creditaremos as contas relaciona<strong>da</strong>s pelas<br />
respectivas importâncias parcela<strong>da</strong>s.<br />
Do mesmo modo se processará em relação aos pagamentos.<br />
Movimento de um mês, de pagamentos:<br />
Artigos Escolares ............................ Cr$ 3.000,00<br />
Móveis e Utensílios ......................... 500,00<br />
Despesas Diversas ........................... 50,00<br />
Contas a Pagar ................................. 450,00<br />
Total ......................... 4.000,00<br />
Creditaremos o título Caixa do Razão pelo total e debita-<br />
remos os títulos relacionados pelo que corresponde a ca<strong>da</strong> um.
FÁBIO LUZ FILHO 391<br />
X — LOJINHA E COOPERATIVA<br />
Ao organizar-se uma cooperativa em grupo escolar em que<br />
já existia uma “lojinha”, dever-se-á, antes de iniciar-se a ativi-<br />
<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cooperativa, fazer-se um levantamento do que existia<br />
na lojinha que passará para a cooperativa.<br />
Será um balanço <strong>da</strong> situação e exigirá as seguintes provi-<br />
dências:<br />
a) Inventário dos artigos existentes pelo preço de custo.<br />
Exemplo: 5 borrachas n.° 2, a Cr$ 1,20, total Cr$ 6,00. Assim<br />
se procederá com todos os demais artigos chegando-se ao valor<br />
total do estoque.<br />
b) Contagem do dinheiro existente. Será o saldo que<br />
passará para a cooperativa.<br />
c) Verificação <strong>da</strong>s dívi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> lojinha e o seu total.<br />
d) Verificação do que devem para a lojinha, o total des-<br />
se crédito<br />
Dêsse levantamento chega-se, suponhamos, ao seguinte<br />
resultado:<br />
Artigos Escolares<br />
Total inventariado ........ Cr$ 2.000,00<br />
Caixa<br />
Saldo que se transfere. 500,00<br />
Contas a Receber<br />
Total dos créditos ......... 500,00<br />
Contas a Pagar<br />
Total ............... 3.000,00<br />
Total <strong>da</strong>s dívi<strong>da</strong>s Cr$ 1.000,00<br />
Temos, então, que a cooperativa receberá em valores posi-<br />
tivos, representando direitos, a importância de Três Mil Cru-<br />
zeiros e obrigações ou valores negativos importando em Um<br />
Mil Cruzeiros. Apresenta-se um saldo positivo de Cr$ 2.000,00.<br />
Êsse saldo passará a constituir o Fundo de Reserva <strong>da</strong> coope-<br />
rativa, seu patrimônio inicial. A situação será, pois:
392 COOPERATIVA ESCOLARES<br />
Balanço inicial<br />
ATIVO (conjunto <strong>da</strong>s contas com saldo devedor)<br />
Artigos Escolares<br />
Estoque inicial ................ Cr$ 2.000,00<br />
Caixa, saldo ..................... 500,00<br />
Contas a Receber,<br />
diversos devedores ........... 500,00<br />
Total .................. 3.000,00<br />
PASSIVO (conjunto <strong>da</strong>s contas com saldo credor)<br />
Contas a Pagar<br />
Saldo de dívi<strong>da</strong>s .................... Cr$ 1.000,00<br />
Fundo de Reserva<br />
Fundo inicial ........................ 2.000,00<br />
Total ....................... 3 .000,00<br />
XI — SOBRAS E RETÔRNO<br />
As sobras líqui<strong>da</strong>s (lucro líquido) apura-se como em qual-<br />
quer socie<strong>da</strong>de comercial ou cooperativa.<br />
Vejamos o seguinte caso: Sobras líqui<strong>da</strong>s apura<strong>da</strong>s:<br />
Cr$ 5.000,00. Distribuição: 20% Fundo de Desenvolvimento;<br />
10% Fundo de Reserva. O restante, 70%, para retôrno aos<br />
associados. Total <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s aos associados Cr$ 35.000,00.<br />
Teremos então:<br />
Fundo de Desenvolvimento, 20% Cr$ 1.000,00<br />
Fundo de Reserva , 10% 500,00<br />
Retôrno , 70% 3.500,00<br />
Total 5.000,00
FÁBIO LUZ FILHO 393<br />
O retôrno representará 10% sôbre as ven<strong>da</strong>s totais. Ve-<br />
rificar-se-á, por sua vez, as compras individuais de ca<strong>da</strong> as-<br />
sociado para o respectivo cálculo. Exemplos<br />
Compras Retôrno<br />
João de Oliveira Cr$ 200,00 20,00<br />
Pedro Fonseca 35,00 3,50<br />
Lauro Coimbra 15,00 1,50<br />
E assim, sucessivamente.<br />
XII — BALANÇOS E BALANCETES<br />
As cooperativas são obriga<strong>da</strong>s a remeter para a Secção de<br />
Assistência ao Cooperativismo, mensalmente, cópia do balan-<br />
cete e uma vez por ano duas cópias do Balanço Geral e do<br />
Demonstrativo <strong>da</strong> conta Sobras e Per<strong>da</strong>s.”<br />
NOTA<br />
Segundo o firmado pela Assistência Jurídica do Serviço<br />
de Economia Rural, digo eu, os professôres não podem partici-<br />
par <strong>da</strong>s cooperativas, face lei, a não ser como orientadores<br />
ou assessôres.<br />
Outrossim, não é imprescindível o registro dos livros para<br />
as cooperativas escolares, órgãos educativos por excelência, aos<br />
quais a própria lei dispensou do registro em cartório para efei-<br />
to de personali<strong>da</strong>de jurídica.<br />
As crianças devem participar ativamente de tô<strong>da</strong>s as ati-<br />
vi<strong>da</strong>des, inclusive de compras, distribuição, contábeis, no que<br />
for possível, etc.<br />
Nas cooperativas escolares pernambucanas, os alunos,<br />
sempre discretamente assessorados pela professôra-orientadora,<br />
fazem, êles próprios, as atas, lançam o caixa e o conta-cor-<br />
rente, passam recibos, etc. (diário, razão, etc., ficam a cargo do<br />
D.A.C.). Dirijam-se ao Dpto. de Assistência às Cooperativas,<br />
situado na rua Ulhoa Cintra, 122, segundo an<strong>da</strong>r, em Recife,<br />
que Nair de Andrade, com seu espírito apostolar, e dinamismo<br />
e sua larga . experiência, com imensa satisfação os receberá e<br />
orientará.<br />
26 — 27454
394 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Em matéria de contabili<strong>da</strong>de, ver também o livro de<br />
Hilário Cesarino, contabili<strong>da</strong>de cooperativista, distribuição do<br />
Serviço de Economia Rural.<br />
O Dpto. de Assistência ao Cooperativismo <strong>da</strong> Bahia tam-<br />
bém possui uma boa publicação sôbre o assunto como São<br />
Paulo.<br />
DIPLOMAS DO MÉRITO COOPERATIVO A<br />
COOPERATIVISTAS BRASILEIROS<br />
“Cooperación” a bem elabora<strong>da</strong> revista <strong>da</strong> Confederação<br />
Nacional Cooperativa <strong>da</strong> República Mexicana (que agremia<br />
a 1.191 cooperativas federa<strong>da</strong>s e a 1.494 cooperativas de pri-<br />
meiro grau) em seu número de setembro de 1957, publicou o<br />
seguinte artigo:<br />
"O Conselho Nacional de nossa Cofederação atendendo à<br />
resolução aprova<strong>da</strong> em 1954 no sentido de outorgar Diplomas ao<br />
Mérito aos doutores Valdiki Moura e Fábio Luz Filho, assim<br />
como à doutora Ruth Moura, pelos serviços que tem prestado<br />
ao movimento Cooperativo Internacional, à obra de aproxima-<br />
ção e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de do cooperativismo americano e a seu labor<br />
em prol do ideal cooperativo no Brasil, confirmou menciona<strong>da</strong><br />
resolução (a qual, infelizmente, não pôde ser leva<strong>da</strong> à prática<br />
por causas alheias e difícies de explicar), e será a delegação<br />
mexicana de cooperadores, que visitará o Rio de Janeiro pròxi-<br />
mamente, quem, em nome de nossa Central, fará entrega sole-<br />
ne dos ditos Diplomas em uma cerimônia especial.<br />
“Não será demasiado dizer que os doutores Valdiki Moura<br />
e Fábio Luz Filho tem contribuido, através de seus livros e<br />
seus artigos, para a formação <strong>da</strong> doutrina cooperativa e para<br />
a clarificacação de diversos conceitos sobre o que devemos<br />
entender por sistema cooperativo. Seus trabalhos, que são<br />
conhecidos em todo o Continente, têm sido vistos com profun<strong>da</strong><br />
simpatia não sòmente pelos cooperadores mexicanos, mas tam-<br />
bém por todos os cooperadores do Hemisfério Ocidental.<br />
“Quanto à doutora Ruth Moura devemos dizer que, em<br />
nosso conceito, é uma <strong>da</strong>s mulheres que mais se destacam hoje<br />
em dia, pelos seus trabalhos em favor do cooperativismo. A<br />
maior parte dos movimentos cooperativos na América, e espe-<br />
cialmente no México, conhecem a infatigável obra leva<strong>da</strong> a<br />
efeito por tão distinta cooperadora.<br />
“Através de nossa revista, estendemos nossas felicitações mais<br />
calorosas aos distintos cooperadores brasileiros, e, destas<br />
colunas, apelamos para que continuem , seu perseverante labor
FÁBIO LUZ FILHO 395<br />
em, prol do ideal cooperativo, o qual redun<strong>da</strong>rá, sem dúvi<strong>da</strong><br />
alguma, em benefício do grande país que é o Brasil e, em<br />
geral, do cooperativismo mundial e do americano em par-<br />
ticular”.<br />
Em 1950, os Srs. Fábio Luz Filho e Valdiki Moura recebe-<br />
ram identica manifestação de "Casa de Roch<strong>da</strong>le”, <strong>da</strong> Argenti-<br />
na, dentre numerosas outras manifestações do Brasil e do es-<br />
trangeiro. (Do “Diário de Noticias”, do Rio de Janeiro,<br />
de 2-2-58).<br />
Você sabia?<br />
"Que cooperativismo é um sistema social e econômico vi-<br />
sando a harmonia dos homens, na conjugação de esfôrços para<br />
satisfação do bem comum?<br />
“QUE o vulto de maior projeção no cooperativismo brasi-<br />
leiro é o Dr. Fábio Luz Filho, chefe <strong>da</strong> Seção de Propagan<strong>da</strong> e<br />
Organização <strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des Cooperativas do Serviço de Econo-<br />
mia Rural do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> e Presidente do Centro<br />
Nacional de Estudos Cooperativos? Sabia também que êle é<br />
considerado o “pai do cooperativismo nacional" por ser o autor<br />
brasileiro que publicou até hoje o maior número de livros sô-<br />
bre a matéria, destacando-se sua volumosa obra; “Teoria e<br />
prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas”, cita<strong>da</strong> em todo a mun-<br />
do?”<br />
(Do “Correio do Ceará", de 4/12/58).<br />
UNIVERSIDADE DE BUENOS AIRES<br />
Buenos Aires, 11 de noviembro de 1958.<br />
Señor Director del Serviço de Economía Rural. Mlnistério<br />
<strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>. Rio de Janeiro — Brasil.<br />
Tengo el agrado de dirigir-me al señor Director para soli-<br />
sitarle la colaboración de esa Institución en la acción de edu-<br />
cación fun<strong>da</strong>mental y desarrollo de la comuni<strong>da</strong>d que ha<br />
emprendido el Departamento de Extensión Universitaria de la<br />
Universi<strong>da</strong>d de Buenos Aires.<br />
Este Departamento está realizando uma experiência-pilôto<br />
de educación fun<strong>da</strong>mental en una locali<strong>da</strong>d suburbana de<br />
Buenos Aires (Isla Maciel, Avellane<strong>da</strong>). La educación coopera-<br />
tiva constituye en esta tarea uno de los factores más impor-<br />
tantes.
396 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
Por esta razón nos permitimos solicitarles el libro "Coope-<br />
rativas escolares” de Fábio Luz Filho, editado por ese Minis-<br />
terio. Esta publicación y aquellas otras que dispusiera enviar-<br />
nos serán destina<strong>da</strong>s al Centro de Documentación que está<br />
organizando este Departamento.<br />
Hago propicia esta oportuni<strong>da</strong>d para salu<strong>da</strong>r al señor Di-<br />
rector con mi consideración más distingui<strong>da</strong>.<br />
(As.) Noemí Fiorito<br />
Directora<br />
(N. B. — Outros educadores argentinos tem solicitado o<br />
livro “Cooperativas escolares").
ALGUNS MODELOS USADOS PELAS COOPERATIVAS ESCOLARES DE<br />
PERNAMBUCO<br />
COOPERATIVA ESCOLAR<br />
Recibo de Quotas-Partes<br />
Recebemos do associado......<br />
................................................ a<br />
quantia de Cr$ .................., para<br />
crédito de sua conta de quotaspartes<br />
subscritas.<br />
Em...de..............de 195....<br />
...........................................<br />
1.º Tesoureiro<br />
COOPERATIVA ESCOLAR<br />
Recibo de Joia de Admissão<br />
Recebemos do associado.....<br />
................................................. a<br />
quantia de Cr$ .......... refe-rente à<br />
sua joia de dmissão:<br />
Em...de..............de 195....<br />
...........................................<br />
2.º Tesoureiro<br />
COOPERATIVA ESCOLAR<br />
RECIBO DE QUOTAS-PARTES<br />
Recebemos do associado....................<br />
......................... a quantia de .................<br />
................................................. Cr$.........., para<br />
crédito de sua conta de quotas-partes<br />
subscritas.<br />
Em....de..................... de 195.....<br />
Isento do sêlo de acôrdo ..........................<br />
com o Art. 40 do Doc. 1.º Tesoureuro<br />
n.º 22239, de 10/12/1932 R.7808<br />
COOPERATIVA ESCOLAR<br />
RECEBIMENTO<br />
DÉBITO de: .......................................................................<br />
RECIBO DE JOIA DE ADMISSÃO<br />
Recebemos do associado....................<br />
......................... a quantia de ................. Cr$......,<br />
referente à sua joia de admissão.<br />
Em....de..................... de 195.....<br />
Isento do sêlo de acôrdo ..........................<br />
com o Art. 40 do Doc. 2.º Tesoureuro<br />
n.º 22239, de 10/12/1932 R.7882<br />
CRÉDITO de Caixa<br />
CR$ .......................... ...........de......................de 19..........<br />
.......................................... .................................................<br />
Prof. Responsável Tesoureiro<br />
RECEBIMENTO<br />
DÉBITO de Caixa<br />
CRÉDITO de: ................................ ............ ....….. ....….<br />
CR$ .......................... ...........de......................de 19..........<br />
.......................................... .................................................<br />
Prof. Responsável Tesoureiro
Cooperativa Escolar...........................................................<br />
Associado .................................................................... N....................<br />
I<strong>da</strong>de...............Classe .................Nacianali<strong>da</strong>de..................................<br />
Admitido em................................... Demitido em ...............................<br />
Assinatura............................................................................................<br />
R. 15600<br />
D A T A HISTÓRICO<br />
Quotas<br />
Partes<br />
DÉBITO CRÉDITO OBSERVAÇÕES<br />
COOPERATIVA ESCOLAR<br />
— DE —<br />
.......................................................................................................................<br />
DATA ...........................................................................................................<br />
PREÇO<br />
QUANT. ESPÉCIE<br />
Unitário TOTAL<br />
TOTAL Cr$<br />
......................................................<br />
GERENTE
COOPERATIVA ESCOLAR ....................................... DE ...........<br />
RECEBIMENTOS Mês de........................ 19.....<br />
Saldo do mês de<br />
ASSOCIADOS C/ CAPITA, pela entra<strong>da</strong> de sócios<br />
JOIAS, pelas recebi<strong>da</strong>s de sócios<br />
ARTIGOS ESCOLARES, pelos vendidos êste mês<br />
DONATIVOS, pelos recebidos de<br />
DEPÓSITOS, recebidos pelo cheque n.º do(a)<br />
FUNDO DE RESERVA, pelo crédito que se leva a esta conta<br />
JUROS, pelos recibos do(a)<br />
SOMA<br />
Professor responsável ................................................................<br />
Tesoureiro ....................................................................................<br />
COOPERATIVA ESCOLAR ....................................... DE ...........<br />
PAGAMENTOS Mês de........................ 19.....<br />
D. A. C. pelos pagamentos <strong>da</strong>(s) n/ fatura(s) N.º(s)<br />
DEPOSITADO no(a)<br />
DESPESAS GERAIS, pelas verifica<strong>da</strong>s n/ mês<br />
ARTIGOS ESCOLARES, pelas despesas de frete, carrêto ou compra<br />
CAPITAL, pelo débito que se leva a esta conta<br />
IMPRESSOS E OBJ. DE ESCRITÓRIO, pagou a<br />
Saldo para o mês de<br />
SOMA<br />
NÚMEROS DE ASSOCIADOS ...............................................<br />
SALDO DE DEPÓSITOS NO(A) ............................................<br />
SALDO DE ARTIGOS ESCOLARES ....................................
COOPERATIVA ESCOLAR<br />
.................................................................................<br />
BALANÇO SEMANAL - MATERIAL ESCOLAR<br />
DATA ..................................<br />
ARTIGO TOTAL<br />
PREÇO<br />
SOMA<br />
CR$
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION<br />
OF THE UNITED NATIONS<br />
Estimado amigo:<br />
Viale delle Terme di Caracalla<br />
ROME. Nov. 27-1958<br />
Acabo de recibir la publicación que su Ministerio preparó<br />
con motivo del Centro Su<strong>da</strong>mericano sabre Crédito Agrícola y<br />
en el cual está incluído su excelente y bien documentado tra-<br />
bajo sobre Crédito Agrícola Supervisado.<br />
Al agradecerle el envio de esta valiosa publicación, apro-<br />
vecho la oportuni<strong>da</strong>d para reiterarle mis sinceras fecilitacio-<br />
nes, tanto por su trabajo como por sus magníficas intervencio-<br />
nes en favor de las cooperativas durante las sesiones del Cen-<br />
tro en Recife.<br />
Espero tener el gran placer de verlo en ocasión de la Pri-<br />
mera Reunión Técnica sobre Cooperativas Agropecuarias, que<br />
como usted sabe, la FAO está preparando en conjunto con la<br />
OEA, para junio de 1959 en Buenos Aires. El Gobierno de Ar-<br />
gentina ya ofreció patrocinar la Reunión y de <strong>da</strong>r to<strong>da</strong>s las<br />
falici<strong>da</strong>des para que la Reunion sea un éxito. Me encantaría,<br />
personalmente, poder contar con su valiosa colaboración en<br />
Buenos Aires también. Asimismo, le agradeceríamos preparar<br />
un trabajo relacionado con uno de los temas incluídos en el<br />
temario tentativo que usted ya tiene en su poder.<br />
Dr. Fábio Luz Filho<br />
Servicio de Economía Rural<br />
<strong>Ministério</strong> de <strong>Agricultura</strong><br />
Rio de Janeiro<br />
Brasil<br />
Muy cordialmente,<br />
George St. Siegens<br />
Especialista en Cooperativas y<br />
Crédito Agrícola<br />
Departamento de Bienestar Rural<br />
Dirección de <strong>Agricultura</strong>
UM LIVRO SÔBRE CRÉDITO AGRÍCOLA E PROBLEMA<br />
AGRÁRIO, APRECIADO NO ESTRANGEIRO<br />
O livro sôbre o tema acima, do Sr. Fábio Luz Filho, técni-<br />
co brasileiro com várias obras especializa<strong>da</strong>s, já vai como outros<br />
de sua lavra, tendo repercussão no estrangeiro.<br />
A União Pan-Americana, por exemplo, na pessoa de dois<br />
de seus eminentes técnicos, F. Chaves Nuñes e Yuri Isquierdo,<br />
<strong>da</strong> Divisão de Trabalho e Assuntos Sociais, acaba de acentuar<br />
que o conteúdo do livro do técnico brasileiro é sumamente in-<br />
teressante e muito útil para os estudiosos na matéria, que nêle<br />
podem encontrar abun<strong>da</strong>nte material de consulta e orientação<br />
sôbre temas que não são tratados, nos tempos que correm, com<br />
a freqüência e a profundi<strong>da</strong>de necessária.<br />
Disse êle do último livro do técnico brasileiro:<br />
"... Agradezco mucho su fineza y lo felicito por su nueva<br />
obra que para la FAO será de particular utili<strong>da</strong>d, ya que en-<br />
foca el crédito agrícola desde el punto de vista dela coopera-<br />
ción en la agricultura a la cual, como usted sabe, nuestra<br />
Organización atribuye transcendental importância conside-<br />
rándola medio básico para desarrollar com éxito cualesquier<br />
programa de bienestar rural. Su libro se caracteriza por la<br />
abun<strong>da</strong>ncia de ideas y experiencias que es una prueba evi-<br />
dente de sus amplios conocimientos. La obra “Crédito Agrí-<br />
cola y Problema Agrário” ha enriquecido la literatura Latino-<br />
mericana en esta especiali<strong>da</strong>d”.
OBRAS DE FÁBIO LUZ FILHO:<br />
1 — Pronomes oblíquos. O emprêgo do infinito — 3.ª edição —<br />
Irmãos Pongetti — Rio.<br />
2 — Noções de alimentação vegetal — 1 volume — Edição<br />
Benedito de Sousa —. Rio de Janeiro,<br />
3 — O ver<strong>da</strong>deiro e o falso cooperativismo — 1 volume — Edição<br />
Benedito de Souza — Rio de Janeiro.<br />
4 — Cooperativas agrícolas (Publicação do M. <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>).<br />
5 — Socie<strong>da</strong>des cooperativas (3.ª edição ilustra<strong>da</strong> e aumenta<strong>da</strong>)<br />
Irmãos Pongetti — (Os princípios doutrinários do<br />
cooperativismo — Leis — Estatística mundial —<br />
Estatutos de tô<strong>da</strong>s as formas de cooperativas,<br />
nota<strong>da</strong>mente agrícolas — Livro de 420 págs., em grande<br />
formato) — Rio.<br />
6 — Cooperativas escolares (5.ª edição) — 1 volume — Rio de Ja-<br />
neiro.<br />
7 — Cooperativismo e crédito agrícola (3.ª edição refundi<strong>da</strong> e am-<br />
plia<strong>da</strong>) — 1 grosso volume de 600 páginas em grande<br />
formato (o crédito agrícola em suas ver<strong>da</strong>deiras<br />
características, os princípios doutrinários do<br />
cooperativismo livre, bancos populares, caixas rurais,<br />
numerosas formas de cooperativas, contabili<strong>da</strong>de, texto<br />
completo de leis, estrangeiras e brasileiras, etc.). Sarai-<br />
va & Cia., São Paulo.<br />
8 — Cooperativismo e sindicalismo agrários — 1 volume —<br />
Publicação do ex-Fomento Agrícola.<br />
9 — Rumo à terra (5.° edição refundi<strong>da</strong> e amplia<strong>da</strong>) — Livro que,<br />
com outros do autor, mereceu os mais francos elogios de<br />
escritores e instituições nacionais e estrangeiras, entre<br />
êles João Grave e a União Pan-Americana de<br />
Washington. — 1 grosso volume, com quadros, etc. —<br />
Aspectos do problema agrário. — 361 págs. — Editor<br />
S. Coelho Branco Filho — Rio.<br />
10 — O cooperativismo e a escola — Tese apresenta<strong>da</strong> ao “1.°<br />
Congresso de Proteção à Natureza”, realizado no Rio de<br />
Janeiro.<br />
11 — O crédito agrícola cooperativo — Tese apresenta<strong>da</strong> “2.ª<br />
Conferência Nacional de <strong>Pecuária</strong>” — Rio de Janeiro.<br />
12 — Cooperation in Brazil — Trabalho publicado no Year book<br />
of agricultural co-operation — 1938 — publicação de<br />
repercussão mundial de The Horace Plunkett<br />
Foun<strong>da</strong>tion, de Londres. (10 — Doughty Street —<br />
London — W. C. I.), de que o autor é um dos<br />
correspondentes no Brasil.<br />
13 — As cooperativas agrícolas no Rio Grande do Sul —<br />
Publicação <strong>da</strong> Pan American Union — Division of<br />
<strong>Agricultura</strong>l Cooperation — Washington, D. C. — U. S.<br />
A. — Divulga<strong>da</strong> em português, inglês e espanhol. A<br />
versão inglesa intitula-se “Agrícultural cooperatives in Rio<br />
Grande do Sul, Brazil”.
404 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />
14 — Aspectos agro-econômicos do Rio Grande do Sul — 1<br />
grosso volume de 425 páginas com 80 fotografias tira<strong>da</strong>s in — loco<br />
— Saraiva & Cia. — São Paulo (Encerra o movimento cooperativo<br />
do grande Estado e focaliza seu grande desenvolvimento agropastoril).<br />
15 — Cooperativismo, corporativismo, colonização — 2.ª edição<br />
refundi<strong>da</strong> e amplia<strong>da</strong>) — Encara o autor êsses três problemas de um<br />
ponto de vista geral e do ponto de vista brasileiro, resumindo to<strong>da</strong>s<br />
as leis européia sobre pequena proprie<strong>da</strong>de e as leis brasileiras, e a<br />
situação do trabalhador brasileiro, etc., etc. — A. Coelho Branco<br />
Filho — Rio (Dedicado à memória de Fábio Luz).<br />
16 — As caixas Raiffeisen no Brasil — Tese apresenta<strong>da</strong> ao<br />
“Primeiro Congresso Internacional de Crédito Agrícola” realizado<br />
em Nápoles. Verti<strong>da</strong> para o Italiano, e reproduzi<strong>da</strong> no “Year Book<br />
<strong>Agricultura</strong> Co-operation”, de Londres, ano 1939, sob o título. “The<br />
Raiffeisen Banks in Brazil”.<br />
17 — O cooperativismo no Brasil e a sua evolução — História e texto<br />
completo e comentado de tô<strong>da</strong>s as leis sobre cooperativas e<br />
sindicatos no Brasil. Crítica, estatutos, formulários práticos.<br />
Doutrina e <strong>da</strong>dos estatísticos<br />
completos. O cooperativismo europeu. Livro de 300 páginas, em<br />
grande formato — Edição de A. Coelho Branco Filho — Livraria<br />
Editôra — Rio — Biblioteca Jurídica.<br />
18 — “Cooperativismo, crédito agrícola e pequena pro prie<strong>da</strong>de no<br />
Brasil" — Tese apresenta<strong>da</strong> ao Oitavo Congresso Científico<br />
Americano (Maio 1940) — sob os auspícios do Govêrno dos<br />
Estados Unidos — Departament of Agriculture — Washington,<br />
D.C.<br />
19 — Seguros agropecuários (2.ª edição) — Edição do Serviço de<br />
Economia Rural — 1 volume.<br />
20 — O critério <strong>da</strong>s delegações nas cooperativas (estudos publicados<br />
em revistas)<br />
21 — Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas — 4.ª edição,<br />
refundi<strong>da</strong> e atualiza<strong>da</strong>, de 800 páginas em grande<br />
formato, Considerado pela União Panamericana, de<br />
Washington, como o mais completo já editado na<br />
América latina — Irmãos Pongetti — Rio.<br />
22 — Evolução do Cooperativismo no Brasil (estudo enviado a pedido do<br />
Bureau International du Travail, para irradiação pela W.R.U.L.).<br />
23 — Regimentos internos para cooperativas (2.ª edição, do Serviço de<br />
Economia Rural) — 1 volume.<br />
24 — Teorias e escolas cooperativas (1 volume) —<br />
Departamento A. Cooperativismo — Bahia.<br />
25 — Considerações em tôrno do anteprojeto do Deputado Daniel Faraco<br />
(publicados na revista “Cooperativismo” <strong>da</strong> “‘Caixa de Crédito<br />
Cooperativo”, números de junho a outubro de 1948).<br />
26 — El movimiento cooperativo en el Brasil (estudo publicado pelo<br />
“Instituto de Estudos Cooperativos de la Universi<strong>da</strong>d del Cauca”, na<br />
Colômbia, pedido do Dr. Fabra Ribas, e distribuído por todos os<br />
países de língua espanhola e pelos Estados Unidos).
FÁBIO LUZ FILHO 405<br />
27 — Subsídios para regimentos internos de cooperativas<br />
agrícolas (número de novembro de 1947 <strong>da</strong> revista<br />
"Cooperativismo")<br />
28 — Considerações em tôrno <strong>da</strong> Escola de Nimes — conferência<br />
constante do livro “Temas cooperativos" — edição do<br />
Centro Nacional de Estudos Cooperativos, de que é o autor<br />
presidente.<br />
29 — Considerações em tôrno de um projeto de lei — (publica<strong>da</strong>s<br />
na revista “Cooperativismo" de abril a novembro de<br />
1950).<br />
30 — Cooperativismo, colonização, crédito agrícola — 1 volume<br />
ilustrado — Edição do Serviço de Economia Rural, do M.<br />
<strong>Agricultura</strong>.<br />
31 — Numerosos artigos e comunicados publicados em revistas<br />
especializa<strong>da</strong>s e jornais do Brasil e do estrangeiro, e nos<br />
“Boletins” do Serviço de Economia Rural, assim como os<br />
folhetos de propagan<strong>da</strong> do mesmo Serviço impressos<br />
nesses últimos anos, entre êles as “Instruções para<br />
organização de socie<strong>da</strong>des cooperativas”, já em 5.ª edição.<br />
— No volumoso trabalho intitulado “Bibliography on<br />
Cooperation in Agriculture” (Library List n.º 41) — edição<br />
do Departamento de <strong>Agricultura</strong> dos Estados Unidos <strong>da</strong><br />
America do Norte, tem o autor seis de seus livros citados e<br />
resumidos. É trabalho de junho de 1948. O mesmo em<br />
“Who’s who in Latin América", livro de Ronald Hilton, <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de de Stanford. Sua bibliografia figura na<br />
“Inter-American Bridge” — de 1951/52.<br />
32 — “Princípios cooperativos”, livro que foi considerado pelo<br />
“Curso para dirigentes do movimento cooperativo”, que se<br />
realizou em 1953 em Santiago do Chile, sob os auspícios <strong>da</strong><br />
União Panamericana, de Washington, como excelente<br />
manual, que foi distribuído entre os alunos de várias<br />
nacionali<strong>da</strong>des, do curso. Edição <strong>da</strong> Divisão de Assistência<br />
ao Cooperativismo — Secretaria <strong>Agricultura</strong> — E. do Rio.<br />
33 — A evolução do cooperativismo, constante de “Hacia un<br />
mundo mejor por la acción cooperativa”, <strong>da</strong> Federação<br />
Argentina <strong>da</strong>s Cooperativas de Consumo, publicação em<br />
castelhano de 1958, coletânea de líderes internacionais.<br />
34 — O crédito agrícola e seu conceito. O crédito agrícola<br />
cooperativo — Edição do Serviço de Economia Rural. Tese<br />
apresenta<strong>da</strong>, como delegado do Brasil representando o<br />
<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, ao Centro Sul-Americano de<br />
Crédito Agrícola, realizado em Recife de 1 a 21 de setembro<br />
de 1958.<br />
35 — Crédito agrícola e problema agrário — 1958.. São Paulo —<br />
O crédito agrícola em todos os seus aspectos e o crédito<br />
agrícola cooperativo. A reforma agrária no Brasil e no<br />
mundo, com quadros estatísticos, diagramas de<br />
colonização, etc. Distribuidores no Rio de Janeiro: Irmãos<br />
Pongetti. — Rio de Janeiro.
A sair:<br />
“Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas”, em 5.ª edição<br />
refundi<strong>da</strong>, aumenta<strong>da</strong> e atualiza<strong>da</strong> — irmãos Pongetti. — Rua<br />
Sacadura Cabral — 240-A — Rio.<br />
"O crédito agrícola cooperativo e o Centro Sul-Americano de<br />
Crédito Agrícola”, — Edição do Serviço de Economia Rural.<br />
"O cooperativismo e o Estado”. Tese para a 1.ª Reunião<br />
Técnica de Cooperativas Agropecuárias, realiza<strong>da</strong> em Buenos<br />
Aires em setembro de 1959. — S. E. Rural.<br />
"Sinopse do movimento cooperativo brasileiro" — Edição do<br />
Serviço de Informação Agrícola-<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>.
COMPOSTO E IMPRESSO<br />
NAS OFICINAS DO SERVIÇO<br />
GRÁFICO DO I.B.G.E., EM<br />
LUCAS, D.F. BRASIL