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Texto Completo - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

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BR6004043<br />

C00/B/WV<br />

Luz Filho, F.<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, Rio de Janeiro, GB.<br />

(Brasil). Serviço de Economia Rural<br />

Cooperativas escolares & (&Origem: organização;<br />

Educação cooperativa: Função social&) &<br />

5. ed.<br />

Rio de Janeiro, GB ( Brazil )<br />

1960 405 p. (Pt)<br />

Educação; Educação agrícola: Cooperativa; Coo-<br />

perativa escolar<br />

$$<br />

408


FÁBIO LUZ FILHO<br />

COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

5.° edição aumenta<strong>da</strong> e atualiza<strong>da</strong><br />

Brasil<br />

Rio de Janeiro<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong><br />

Serviço <strong>da</strong> Economia Rural<br />

1960


INDICE<br />

Págs.<br />

Nota explicativa......................................................................................... 7<br />

Antelóquio <strong>da</strong> 3ª edição............................................................................. 9<br />

CAPITULO I<br />

O auxilio mútuo na natureza. — A soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de............................... 13<br />

CAPITULO II<br />

O cooperativismo — Suas origens, seus precursores, sua dou<br />

trina, sua prática.................................................................................... 23<br />

O pensamento de Carlos Gide................................................................. 25<br />

Definição de princípios............................................................................ 35<br />

Os princípios roch<strong>da</strong>lianos...................................................................... 36<br />

O principio <strong>da</strong> neutrali<strong>da</strong>de..................................................................... 37<br />

Ain<strong>da</strong> os princípios roch<strong>da</strong>lianos............................................................ 45<br />

O pensamento de Hans Mülltr e o de Fauquet....................................... 53<br />

O cooperativismo é poder....................................................................... 59<br />

Classificação de cooperativas — O direito cooperativo.................... 60<br />

O direito cooperativo............................................................................... 61<br />

O caráter civil <strong>da</strong>s cooperativas............................................................ 66<br />

Ain<strong>da</strong> o direito cooperativo..................................................................... 88<br />

CAPÍTULO III<br />

O valor pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong>s cooperativas escolares.................................... 70<br />

O cooperativismo escolar, a educação vocacional, a democracia...... 84<br />

Novos métodos de ensino....................................................................... 85<br />

Educação agropecuária........................................................................... 88<br />

Democracia........................................................................................... 88<br />

Educação industrial................................................................................. 87<br />

CAPITULO IV<br />

O cooperativismo nos currículos escolares......................................... 94<br />

Quadro <strong>da</strong>s cooperativas escolares brasileiras.................................... 95<br />

As cooperativas escolares no Brasil, Argentina e Chile..................... 99<br />

A escola organiza<strong>da</strong>................................................................................ 100<br />

Cooperativas escolares existentes no mundo em 1958......................... 103<br />

CAPITULO V<br />

A organização <strong>da</strong>s cooperativas escolares............................................ 104<br />

Lídimas cooperativas em miniatura...................................................... 111<br />

Educação nova — Pequenas repúblicas............................................. 114<br />

Federações.............................................................................................. 118<br />

Ain<strong>da</strong> as federações............................................................................... 119


4 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

CAPÍTULO VI<br />

Págs.<br />

Ain<strong>da</strong> a escola renova<strong>da</strong> e as cooperativas escolares......................... 124<br />

O Dr. Fábio Luz, um precursor............................................................. 125<br />

Disciplina basea<strong>da</strong> na. Liber<strong>da</strong>de.......................................................... 129<br />

Ain<strong>da</strong> a escola........................................................................................ 131<br />

O “slojd” escolar.................................................................................... 132<br />

O trabalho dos educadores.................................................................... 140<br />

As caixas escolares................................................................................ 140<br />

Regulamento <strong>da</strong> Caixa escolar do sétimo distrito (Rio).................... 142<br />

A educação na Suécia........................................................................... 147<br />

A cooperativa escolar, uma Imagem <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>...................................... 148<br />

O poema ‘ “Andorinhas” ·....................................................................<br />

A primeira lei municipal sobre cooperativismo escolar no Brasil<br />

149<br />

Ain<strong>da</strong> o valor moral e a função educativa.......................................... 153<br />

Função educativa, capaci<strong>da</strong>de técnica. Os clubes de estudo............. 156<br />

Círculos ou clubes de estudo................................................................ 160<br />

A Escola Cooperativa de Freidorf...................................................... 162<br />

CAPÍTULO VII<br />

Conceitos de Repetto — As cooperativas escolares como centro<br />

de Interêsse. Pestalozzi, Froêbel, Montessori — Ain<strong>da</strong> Profit..... 164<br />

Pestalozzi, Froëbel, Fallenberg.......................................................... 167<br />

Ain<strong>da</strong> a ação de Profit.......................................................................... 167<br />

A declaração dos direitos do homem e o cooperativismo escolar<br />

na Argentina, México e Cuba.......................................................... 169<br />

Argentina, México, Cuba, Costa Rica, etc.......................................... 170<br />

Democracia social e cooperativismo escolar...................................... 174<br />

CAPITULO VIII<br />

Ain<strong>da</strong> o cooperativismo escolar no Brasil e no mundo..................... 178<br />

As árvores no seu simbolismo e a terra brasileira.............................. 178<br />

O cooperativismo escolar em Pernambuco — Outros Estados........... 180<br />

A atuação do autor em São Paulo.......................................................... 181<br />

Na Escola Industrial de Araraquara....................................................... 184<br />

Noção de Pátria....................................................................................... 187<br />

Ruralismo................................................................................................... 188<br />

A paisagem brasileira no Sul................................................................. 190<br />

As árvores, seu simbolismo — A natureza brasileira — O sim-<br />

bolo do cooperativismo....................................................................... 193<br />

“Salino <strong>da</strong> vila e <strong>da</strong>s flores”, de Fábio Luz........................................ 194<br />

Visita à Bahia......................................................................................... 196<br />

“O diabo pelado”, de Fábio Luz........................................................... 198<br />

“Os céus do Brasil”............................................................................. 200<br />

“Chloé”, de Fábto Luz........................................................................... 200<br />

“Andorinhas”......................................................................................... 203<br />

Ain<strong>da</strong> Salvador...................................................................................... 204<br />

O Nordeste — Recife............................................................................ 205<br />

A paisagem no brejo e no agreste......................................................... 207<br />

Os man<strong>da</strong>carus....................................................................................... 207<br />

Campina Grande.................................................................................... 209


CAPITULO IX<br />

Págs.<br />

Ain<strong>da</strong> o cooperativismo escolar na França e outros países............... 210<br />

Cooperativas escolares agrícolas.......................................................... 212<br />

Na França............................................................................................... 214<br />

O cooperativismo escolar na Amérca do Norte................................. 218<br />

O panorama do cooperativismo na Nova Escócia e a educação<br />

Cooperativa........................................................................................ 221<br />

A filosofia do movimertto de Antigonish, a educação de adultos<br />

e os círculos de estudos................................................................. 222<br />

CAPITULO X<br />

Ain<strong>da</strong> as cooperativas escolares, sua área de ação, sua fôrça..........<br />

educativa. O ensino cooperativo..................................................... 227<br />

Cooperativas pós-escolares e cooperativas Juvenis........................... 230<br />

O cooperativismo, a democracia e as Escolas do Povo <strong>da</strong> Dina-<br />

marca. O ensino cooperativo em outros países................................. 232<br />

Ain<strong>da</strong> a educação em outros países....................................................... 236<br />

Na África................................................................................................. 239<br />

Programas e métodos............................................................................. 240<br />

CAPÍTULO XI<br />

As cooperativas pós-escolares e os grupos sociais de transição,.....<br />

a comuni<strong>da</strong>de rural, a ação do Estado, a educação........................... 243<br />

Os man<strong>da</strong>mentos do cooperador escolar............................................... 245<br />

O cooperativismo, a comuni<strong>da</strong>de rural, a educação e a ação<br />

do Estado.............................................................................................. 246<br />

O movimento cooperativo e o Estado................................................... 247<br />

Ain<strong>da</strong> a educação no plano cooperativo................................................ 251<br />

O panorama cooperativo europeu em função <strong>da</strong> educação.................. 254<br />

O homem rural brasileiro....................................................................... 255<br />

Homenagem sensibilizadora.................................................................. 259<br />

Projetos-pilotos para cooperativas rurais............................................. 289<br />

Lideres locais........................................................................................... 262<br />

Educação e função dos líderes............................................................... 263<br />

Organização do projeto-pilôto............................................................... 265<br />

Bases de uma politica oficial do fomento ao cooperativismo<br />

como parte do processo econômico nacional — Os servi-<br />

ços oficiais.......................................................................................... 266<br />

A ação governamental no campo cooperativo....................................... 270<br />

CAPITULO XII<br />

Excertos sôbre cooperativas escolares (Domingo Bórea).................... 273<br />

O papel do professor nas cooperativas escolares (Prof . J. Ven-<br />

tosa Roig, do México).......................................................................... 278<br />

Educação cooperativa (Fernando Chaves Nuñes, <strong>da</strong> União Pan-<br />

Americana)................................................................................................ 285<br />

Ain<strong>da</strong> a educação cooperativa (António Sérgio, de Portugal).............. 286<br />

Cooperativas escolares (Valdiki Moura)................................................ 288<br />

O cooperativismo escolar )Ruth Moura).................................................. 290<br />

Cooperativismo escolar (Profit).............................................................. 294


6 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Educação e formação cooperativas na França (Office Central<br />

de la Coopération à l’Ecole).................................................................. 298<br />

O exemplo <strong>da</strong> Formiga 301<br />

A cooperativa escolar (“Cooperativas” <strong>da</strong> União Pan-Ame-<br />

ricana) 303<br />

Definição, caráter e valor <strong>da</strong>s cooperativas escolares (H. Char-<br />

lot do Office Central de la Coopération à l’Ecole, França) 304<br />

Cooperativa escolar e formação moral (Calve, inspetor escolar<br />

francês em Nancy) 308<br />

A cooperativa escolar (Mercedes Amália Marchand, de Pôrto<br />

Rico) 311<br />

Plano para uma cooperativa escolar (Costa Rica) 314<br />

O cooperativismo escolar na Grécia (Potini Th. Tzortzaki) 316<br />

A conferência <strong>da</strong> União Cooperativa Bolivariana 319<br />

sexta Conferência dos Estados Americanos 321<br />

O cooperativismo e a mulher (Ai<strong>da</strong> Perez de Guevara, de Ve-<br />

nezuela) 323<br />

Vivências de valor e valências de valor (Luisa Maria Simões<br />

Raposo Ribeiro, Portugal) 324<br />

ANEXOS<br />

Como define a lei brasIleira as cooperativas escolares 325<br />

Estatutos de uma cooperativa escolar 325<br />

Cooperativas juvenis ou cooperativas extra-escolares e o coope-<br />

rativismo escolar no México 336<br />

Ata de constituição de uma cooperativa escolar 336<br />

Lista nominativa 339<br />

Normas para uma cooperativa escolar rural 340<br />

Setor produção 340<br />

Setor de economia 340<br />

Cooperativas estu<strong>da</strong>ntis ou universitárlas 340<br />

Requerimento para registro 341<br />

cooperativas escolares agrícolas 341<br />

Uma cooperativa escolar de trabalho em São Paulo 342<br />

Ain<strong>da</strong> as cooperativas pós-escolares 343<br />

Nomes de pessoas, professor-orientador, gerente 344<br />

Pedido de admissão 344<br />

Apêlo aos professores, pais, alunos e estu<strong>da</strong>ntes 345<br />

Campanha do barateamento de material escolar 348<br />

Projeto de lei para cooperativas escolares (Fábio Lua Filho).. 350<br />

O livro na opinião dos grandes homens 360<br />

Contabili<strong>da</strong>de nas cooperativas escolares (J. F. Gandra) 361<br />

Organização e sistema de operações <strong>da</strong>s cooperativas escolares<br />

(João do Prado Flores) 384<br />

Diploma do mérito cooperativo a cooperativistas brasileiros 394<br />

A Universi<strong>da</strong>de de Buenos Aires e o cooperativismo escolar 395<br />

Modelos para contabili<strong>da</strong>de usados em Pernambuco para co-<br />

operativas escolares 397<br />

A FAO e o autor 401<br />

“Crédito agricola e problema agrário” 402<br />

Obras do autor 403


NOTA EXPLICATIVA<br />

Êste livro, editado pela primeira vez em 1933, já represen-<br />

tava na época a conjugação de imensos esforços do seu autor,<br />

Dr. Fábio Luz, que desde 1931, vinha pregando os postulados<br />

cooperativistas através de propagan<strong>da</strong> orientadora nos esta-<br />

belecimentos educacionais, visando prècipuamente à organi-<br />

zação de cooperativas escolares.<br />

Tem, ain<strong>da</strong>, o seu autor, com esta quinta edição, que<br />

tenho o prazer de prefaciar, não só as honras de ser o pioneiro<br />

<strong>da</strong> idéia lança<strong>da</strong> em 1931, no país, como também o mérito <strong>da</strong><br />

sua firme coerência doutrinária, procurando sempre alicerçar<br />

os sãos princípios do cooperativismo na formação intelectual<br />

<strong>da</strong>s novas gerações.<br />

Está, pois, o presente trabalho, aumentado e atualizado,<br />

destinado a produzir os seus salutares objetivos em setor ain<strong>da</strong><br />

não suficientemente considerado pelo movimento cooperati-<br />

vista brasileiro. É um manual sobretudo para professores.<br />

Rio de Janeiro, 1960.<br />

JOSÉ SMITH BRAZ<br />

Diretor


ANTELÓQUIO DA 3ª EDIÇÃO<br />

“Con este título acaba de publicar el erudito<br />

cooperativista brasileño y gran amigo nuestro, Dr. Fábio<br />

Luz Filho, un interesante libro.<br />

Trata en él su autor, con la autori<strong>da</strong>d adquiri<strong>da</strong> en<br />

muchos años dedicados al estudio de este sistema<br />

económico, en forma brillantísima y de gran competencia,<br />

el tema que sierve de título a su selecto<br />

trabajo: “Cooperativas escolares”.<br />

Contiene también esta nueva producción um modelo<br />

de estatutos de dichas cooperativas y el texto de uma<br />

nueva ley que las regirá, recientemente dicta<strong>da</strong> por el<br />

Poder Ejecutivo del Brasil.<br />

Con este nuevo libro acredita una vez más el Dr. Luz<br />

Filho sus vastíssimos conocimíentos del cooperativismo,<br />

desarrollando con la mayor nitidez y fuerza de convicción,<br />

los distintos puntos de vista abor<strong>da</strong>dos, citando<br />

frecuentemente opiniones y conceptos de personali<strong>da</strong>des<br />

de nuestro movimiento, tales como Leiserson, Bórea,<br />

Amadeo, Justo, etc, demonstrando asi este gran estudioso<br />

el conocimiento que tiene de los hombres que aqui fueran<br />

maestros y precursores.<br />

Mucho y muy bueno lleva ya producido este laborioso<br />

cooperador, que tan gentilmente nos va obsequiando con<br />

ca<strong>da</strong> una de sus obras, siendo un ver<strong>da</strong>dero exponente,<br />

pero elevadísimo desde luego, de los propulsores de<br />

nuestros ideates, no solo de eu patria, sino de Sud<br />

América.<br />

Al felicitarle por su nuevo brillante trabajo,<br />

agradeccemos al gran amigo su obséquio y retribuimos su<br />

saludo.<br />

(De “La Coopèración”, órgão <strong>da</strong> “Federación de<br />

Cooperativas Argentinas ” 30-3-933 - Rosário).


10 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

“Outro novo colaborador, que temos o prazer de<br />

apresentar a nossos leitores. O Brasil inteiro conhece<br />

Fábio Luz Filho, herdeiro de nome brilhante, ao qual<br />

soube acrescentar grande lustre. E tido, justamente, como<br />

o maior divulgador no país dos princípios cooperativistas,<br />

autor, que é, de mais de uma dezena de livros e de algumas<br />

centenas de trabalhos sâbre o Cooperativismo. É,<br />

outrossim, o pioneiro do cooperativismo escolar.”<br />

(Luiz Amaral em “Economia” - de abril de 1940.)


“Senhoras de si mesmas, as crianças sê-lo-ão também<br />

<strong>da</strong> sua pequenina república. Eleitoras e eleitas, terão a<br />

consciência de seu papel.<br />

Eleitas, adquirem um sentido experimental <strong>da</strong><br />

responsabili<strong>da</strong>de social, que se lhes torna um forte<br />

estimulo moral.”<br />

Ferrière<br />

“A educação tem, em nosso tempo, um sentido<br />

profun<strong>da</strong>mente social. E a educação para a vi<strong>da</strong> social,<br />

como outra qualquer, exige processos ativos.”<br />

Lourenço Filho<br />

“A escola é a continuação do lar. Quando no lar não<br />

há” o confôrto espiritual e carinhoso e a iniciação primordial<br />

nos percalços <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e do mundo, que a ignorância agrava e<br />

torna insuperáveis, supre-os a escola, onde os mestres têm<br />

a tríplice e eleva<strong>da</strong> representação de pais, educadores e<br />

guias.”<br />

Fábio Luz<br />

“A juventude, que assim significa, na alma dos<br />

indivíduos e <strong>da</strong>s gerações, luz, amor e energia, significa,<br />

também, o processo evolutivo <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des.”<br />

José Enrique Rodó


CAPÍTULO I<br />

O AUXÍLIO MÚTUO NA NATUREZA<br />

SOLIDARIEDADE<br />

Manifestações do instinto de aju<strong>da</strong> mútua, temo-las, pro-<br />

fusas, até mesmo nos últimos degraus <strong>da</strong> escala vasta dos<br />

sêres, dizemos em “Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des coopera-<br />

tivas”.<br />

Subindo gra<strong>da</strong>tivamente essa escala até atingirmos os<br />

animais superiores, provas inconcussas dêsse instinto, dêsses<br />

hábitos de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e apoio recíproco vamos<br />

encontrando.<br />

São clássicos os exemplos <strong>da</strong> formiga precavi<strong>da</strong> e<br />

laboriosa e <strong>da</strong> abelha ativa, símbolo do espírito de associação,<br />

<strong>da</strong> tenaci<strong>da</strong>de, do trabalho incessante e <strong>da</strong> inteligência ao<br />

serviço de uma causa comum, e os <strong>da</strong>s térmitas.<br />

São conheci<strong>da</strong>s as suas admiráveis organizações de<br />

defesa comum e apoio mútuo, tanto na paz como na guerra.<br />

Entre os pássaros, são freqüentes, como frisam<br />

naturalistas, êsse espírito de coesão, de cooperação na luta <strong>da</strong><br />

subsistência. Unem-se os pássaros até para os folguedos.<br />

As próprias aves de rapina, antipáticas em seu Instinto<br />

cruento, têm pendores acentuados para a vi<strong>da</strong> em comum.<br />

São conhecidos os hábitos dessas aves, fazendo longos vôos<br />

para se reunirem a outras, em pontos distantes, sôbre<br />

árvores ramalhantes, afagosas e amigas.<br />

Entre os pinguins é tão profundo êsse sentimento de soli-<br />

<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, que tratam êles com efusivo desvêlo os seus<br />

doentes, vigiando-os e alimentando-os com carinho. São de<br />

uma índole tão comunicativa, que se aproximam, confiantes,<br />

do próprio homem.<br />

Os lôbos caçam em grupos. Os macacos (principalmente<br />

os cinocéfalos) defendem, em grupos ameaçantes e<br />

agressivos, as suas greis, e brincam mesmo em comum.


14 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Animais existem, (guanacos) que, em suas migrações, colocam<br />

os mais débeis no centro dos grupos, destacam sentinelas<br />

avança<strong>da</strong>s para a defesa dêsses grupos nas jorna<strong>da</strong>s longas, e<br />

iniciam a caminha<strong>da</strong> para regiões onde melhores se lhes<br />

apresentem as condições de vi<strong>da</strong>. Aves há que procedem de<br />

maneira Idêntica.<br />

Kropotkine, o grande escritor e filósofo russo, desfiou lon-go<br />

rosário de fatos comprobatórios <strong>da</strong> imanência dêsse nobre<br />

sentimento entre os irracionais e na espécie humana. Leclerc<br />

du Sablon, idênticamente.<br />

Diz Emerson, em “Society and Solitude”, que a ciência<br />

mostra os grandes ciclos nos quais a natureza trabalha, a<br />

maneira pela qual as plantas marinhas preenchem as neces-<br />

si<strong>da</strong>des dos animais marinhos, como as plantas terrestres for-<br />

necem o oxigênio que os animais consomem, e, os animais, o<br />

carbono que as plantas absorvem. Essas operações são inces-<br />

santes. A natureza trabalha segundo êste principio: “todos<br />

por um, um por todos”. A pressão exerci<strong>da</strong> sôbre um ponto<br />

repercute em ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s arca<strong>da</strong>s e em ca<strong>da</strong> um dos fun<strong>da</strong>-<br />

mentos do edifício. Há, nela, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de perfeita.<br />

Aquêle princípio, essa soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, dizemos nós, que<br />

existem na ordem <strong>da</strong> natureza, têm por instrumento especifico<br />

a cooperação na ordem social, na ordem econômica, no univer-<br />

so moral, na órbita <strong>da</strong> Inteligência, na esfera profissional.<br />

O cooperativismo cria valores morais, sociais e econômi-cos,<br />

já dissemos.<br />

Em “Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas” <strong>da</strong>mos<br />

ain<strong>da</strong> outros exemplos de atos ou organizações com traços<br />

cooperativos: a refeição em comum dos povos do Mediterrâneo<br />

(dórios); as associações do Egito antigo para a construção de<br />

sepulcros; os “compagnons” <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média, etc.<br />

Proudhon em “Solution du problème social” disse: “La<br />

reciprocité, <strong>da</strong>ns la création, est principe de l’existence. Dans<br />

l’ordre social, la reciprocité est le principe de la réalité sociale,<br />

la formule de la justice. Elle a pour base l’antagonisme éter-<br />

nel des idées, des opinions, des passions, des capacités, des<br />

tempéraments, des interêts. Elle est ia condition de l’amour<br />

méme. . . Or, le mal qui nous dévore, provenient de ce que la<br />

loi de reciprocité est méconnue, violée. Le remède est tout<br />

entjer <strong>da</strong>ns la promulgation de nos rapports mutuels ei réci-<br />

proques, voilá toute la science sociale”.


FÁBIO LUZ FILHO 15<br />

Maurício Bobenco, em “El niño primero. . . .”, recor<strong>da</strong>,<br />

que o Universo é modêlo de ordem, pontuali<strong>da</strong>de, ritmo, re-<br />

gulari<strong>da</strong>de e cooperação; que cooperam entre si o sol, a chuva e<br />

a terra para produzirem alimentos para os sêres vivos. Os<br />

córregos descem <strong>da</strong>s montanhas para regar os campos e vales,<br />

fertilizando-os, e se unem aos rios, que alimentam mares, de<br />

cujas águas se formam nuvens, as quais, pelos ventos, são<br />

conduzi<strong>da</strong>s e se desfazem sob a forma de chuva, que fecun<strong>da</strong>.<br />

Assim, desde o infinitamente pequeno até ao infinitamente<br />

grande, tudo é ordem, exatidão, harmonia e absoluta coopera-<br />

ção no Universo.<br />

E Amaral Fontoura frisa que, durante tô<strong>da</strong> a nossa exis-<br />

tência, precisamos dos outros. Com a divisão do trabalho, que<br />

é uma <strong>da</strong>s características <strong>da</strong> civilização, “ca<strong>da</strong> um de nós,<br />

neste mundo, faz uma coisa só, e, em troca dêsse único serviço<br />

que presta à comuni<strong>da</strong>de, usa o trabalho de milhões de indivi-<br />

duos. Basta atentar para os alimentos de que nos servimos,<br />

as roupas que usamos, a casa onde moramos, os veículos em<br />

que viajamos: quantos milhões de pessoas não trabalharam<br />

nêles, para nosso prazer e gôzo?”<br />

O nosso caboclo diz com muita acui<strong>da</strong>de: “Gado desma-<br />

nado é comi<strong>da</strong> de onça”...<br />

E Rodino frisa como surgiram as socie<strong>da</strong>des civis agríco-<br />

las para o cultivo em comum e para a comunhão dos lucros<br />

(socie<strong>da</strong>des universais), constituindo-se entre os servos <strong>da</strong> gle-<br />

ba, os colonos livres, ora tàcitamente, ora por convenção<br />

expressa, mais numerosas e conheci<strong>da</strong>s as socie<strong>da</strong>des tácitas.<br />

Tomaram enorme incremento no centro e no norte <strong>da</strong> França.<br />

Existia, potente, nas socie<strong>da</strong>des dos servos medievos, o<br />

vinculum fraternitatis, o sanctum e inviolabile socii nomen...<br />

Em “Crédito agrícola e problema agrário” assinalamos que<br />

já Jean Meun (1720) dizia que o primeiro sentimento do<br />

homem para com seus semelhantes era a fraterni<strong>da</strong>de. A<br />

socie<strong>da</strong>de humana primitiva representava um estado de<br />

harmonia natural. Os homens viviam em paz, praticando a<br />

comuni<strong>da</strong>de dos bens, livres e iguais. Mas, aos poucos foram<br />

repontando os vícios, a Inveja, o orgulho e a avareza, trazendo<br />

para os homens a pobreza e destruindo a ordem natural.<br />

Desapareceu então a organização comunitária <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Divi-<br />

diram-se as terras; levantaram-se diferenças, surgiram lutas,<br />

as quais fizeram nascer o Estado como elemento disciplina-


16 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

dor, Estado que, no transcurso dos tempos, se hipertrofiou,<br />

flamispirante, como nos é estadeado pela acutilante reali<strong>da</strong>de<br />

de nossos dias...<br />

OS INCAS<br />

Um fato histórico que cala fundo em nossas consciências,<br />

e que documenta a extensão e a profundeza dêsse fecundo es-<br />

pírito, é o que nos apresenta um ilustre escritor argentino.<br />

Diante do quadro que nos debuxa, ficamos a pensar nos cri-<br />

mes de lesa-civilização cometidos pelos civilizados europeus<br />

nas suas conquistas no Novo Mundo.<br />

Mormontel já mostrou o grau de pervesi<strong>da</strong>de a que che-<br />

gara o fome de ouro dos Espanhóis destruidores <strong>da</strong> civilização<br />

incásica.<br />

Del Castillo, citando a Lopez, diz que a conquista espa-<br />

nhola surpreendeu a civilização incásica, orginária do Peru,<br />

em uma missão essencialmente cultural. Difundia ela na<strong>da</strong><br />

menos que os sentimentos <strong>da</strong> cooperação. Sabedores os Incas<br />

de que, por detrás dos Andes, nesta parte do continente, exis-<br />

tiam bandos de tribos nóma<strong>da</strong>s de índios que viviam de uma<br />

maneira essencialmente primitiva, resolveram conduzi-los à<br />

sua adianta<strong>da</strong> cultura, relativa, certamente, compara<strong>da</strong> à civi-<br />

lização européia <strong>da</strong>quele tempo.<br />

“Com êsse objetivo, disse o Dr. Vicente Fidel Lopez, duas<br />

alas civilizadoras transpuseram os altos cumes de nossa cor-<br />

dilheira, a chama<strong>da</strong> do nascente e a do poente. Compunha-se<br />

êsse núcleo civilizador de pouquíssimos guerreiros incásicos,<br />

pois a missão dêles não era uma missão de conquista. Fácil foi<br />

conquistar as tribos nóma<strong>da</strong>s, às quais ministraram ensina-<br />

mentos práticos de agricultura e o manejo dos instrumentos<br />

de lavragem, radicando-as em pequenas colônias, mais tarde<br />

denomina<strong>da</strong>s colônias de índios. Estas tribos, algumas <strong>da</strong>s<br />

quais habitaram as regiões correspondentes às províncias de<br />

Salta e de Córdoba, reclamaram para si e reclamam ain<strong>da</strong><br />

direitos de posse sôbre as terras que ocupam. As comunas,<br />

ensina<strong>da</strong>s pelos Incas, praticavam a semeadura em comum e<br />

<strong>da</strong> mesma forma faziam a colheita. Repartiam logo,<br />

paulatinamente, a colheita e reservavam a semente que lhes<br />

parecia necessária para a nova semeadura”.<br />

Guar<strong>da</strong>vam os índios seus arados de forma e construção<br />

primitivas e, juntamente com os arados, outros instrumentos<br />

aratórlos que os Incas lhes ensinaram a construir, e êstes ins-


FÁBIO LUZ FILHO 17<br />

trumentos eram emprestados durante dias e semanas aos<br />

membros <strong>da</strong> comuna que os solicitavam. Era a cooperação, a<br />

aju<strong>da</strong>-mútua embrionária pratica<strong>da</strong> nas plagas virgens <strong>da</strong><br />

América imensa. “E não só os conquistadores fizeram pouco<br />

caso dela; mais tarde, governos nota<strong>da</strong>mente crioulos destruí-<br />

ram, sem procurar estudá-las, aquelas embrionárias civiliza-<br />

ções, que deveriam ter investigado”...<br />

O mundo caminha assim por ciclos, já o disse em “Rumo<br />

à Terra”.<br />

O. Cedrón, referindo-se ao comunalismo Incásico, diz que<br />

o Inca (in — luz e ka — ser luminoso) criou o império<br />

incásico e deu vi<strong>da</strong> ao “ayllus”, base <strong>da</strong> economia e <strong>da</strong> organi-<br />

zação militar do Império do Incas.<br />

O “ayllus” era uma espécie de “ejido” ou “callpulli” me-<br />

xicano, “instituição politico-social”, e dos “momos” egípcios,<br />

de base cooperativa.<br />

“Mana ccella” significava, entre os Incas, que ninguém<br />

devia ser preguiçoso: “Mana Ilulla”, que se não devia ser<br />

mentiroso; “Mana súa”, que se não devia roubar.<br />

Nos “ayllus”, a que também se refere A. Herr no “Year<br />

Book of <strong>Agricultura</strong>l cooperation” — 1939, o trabalho era em<br />

comum, uma espécie de cooperativa integral moderna, e seu<br />

precursor. Eram socie<strong>da</strong>des agrícolas nas quais se dividiam<br />

os produtos segundo o trabalho prestado e as necessi<strong>da</strong>des de<br />

ca<strong>da</strong> um. Expandindo-se pelo continente os Incas levavam ou<br />

estimulavam essa forma de trabalho cooperativo, dividindo o<br />

trabalho e fazendo a exploração de numerosas indústrias<br />

sôbre um plano cooperativo.<br />

O Estado apoiava sobretudo as cooperativas de produção.<br />

Era um sistema de govêrno cooperativo, embora com um<br />

cunho de economia dirigi<strong>da</strong>.<br />

Os “ayllus” representaram na civilização incásica papel<br />

relevante como elemento de equilíbrio de fôrças orgânicas no<br />

campo <strong>da</strong> produção.<br />

Os “ayllus” federavam-se em “Kuris”, semelhantes aos<br />

distritos atuais.<br />

Eram dirigidos por “Curakas”, que tinham um papel de<br />

coordenação, direção e racionalização agrária e industrial,<br />

além do papel politico. A estrutura econômica e administrati-<br />

va do “Kuris” baseava-se na cooperação social, como idéia<br />

-força.<br />

2 — 27 454


18 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Os “Kuris” reuniam-se para constituir o “Waman”, ou<br />

província, e a cooperação dos “Wamans” constituía ciclópicas<br />

regiões ou “Suyos”. As regiões constituíam o “Império do<br />

Tawantinsuyo”, possuidor de enormes tesouros sòli<strong>da</strong>mente<br />

organizados sob o signo <strong>da</strong> ordem, do trabalho e <strong>da</strong><br />

cooperação.<br />

“Os conquistadores representam a civilização do ferro e<br />

<strong>da</strong> pólvora; o Inca, a civilização do ouro e <strong>da</strong> pedra”,<br />

asseguradora <strong>da</strong> paz entre os homens. Foram conquistados<br />

justamente pela “superiori<strong>da</strong>de de sua civilização”.<br />

“O espírito que impera na obra incásica, nas gigantescas<br />

obras de metrópole “cuzqueña”, é o espírito <strong>da</strong> pedra.<br />

“A pedra é símbolo e testemunho do gênio <strong>da</strong> raça, de<br />

sua habili<strong>da</strong>de especializa<strong>da</strong> nas artes e de seu poder de<br />

organizacão cooperativo.<br />

“O Peru foi vencido e conquistado não porque fôsse um<br />

povo bárbaro, mas porque era raça civiliza<strong>da</strong> e próspera”.<br />

E eis uma notícia recente de Lima (1953) sôbre êsse espí-<br />

rito <strong>da</strong> pedra, essa admirável civilazação do ouro e <strong>da</strong> pedra:<br />

“A mais importante descoberta, sem dúvi<strong>da</strong>, foi a <strong>da</strong>s<br />

ruínas <strong>da</strong> antiqüíssima ci<strong>da</strong>de incáica de Lacta-Pato, a cêrca<br />

de 88 Km. de Cuzco. As ruínas explora<strong>da</strong>s contribuíram va-<br />

liosamente para esclarecer o desenvolvimento <strong>da</strong> antiga civili-<br />

zação aborígene. Sua arquitetura, sua organização comunal,<br />

as artes, as leis, os sistemas de aproveitamento do solo, a de-<br />

fensiva estratégica, o culto dos mortos e dos deuses se acham<br />

representados em formidáveis obras de engenharia, para exe-<br />

cução <strong>da</strong>s quais foram necessárias centenas de milhares de to-<br />

nela<strong>da</strong>s de pedra e o trabalho de milhões de homens.<br />

“Para abastecer a ci<strong>da</strong>de de água, por exemplo, os arqui-<br />

tetos dos Incas foram os primeiros a abrir grandes canais,<br />

cujas paredes eram recobertas de um material de fórmula<br />

desconheci<strong>da</strong>, que evitou as infiltrações, através dos séculos.<br />

“Como tô<strong>da</strong>s as ci<strong>da</strong>des antigas do Peru, Lacta-Pato tem<br />

uma necrópole e locais destinados aos holocaustos. Os túmulos<br />

encontrados medem 70 centímetros por 1,05 e têm forma de<br />

meia lua - Nas escavações preliminares, não foram encontra<strong>da</strong>s<br />

amostras valiosas de cerâmica ou tecidos.<br />

“Na opinião dos arqueólogos, trata-se do conjunto mais<br />

formidável de arte e arquitetura conheci<strong>da</strong> até agora na<br />

região de Cuzco”.<br />

Afonso Várzea, em “O Estado Socialista do Pacífico”, no<br />

qual, entre muitas coisas, descreve a “civilização do milho”,


FÁBIO LUZ FILHO 19<br />

cita a Ana Barwell e a Brehm. A primeira frisou que a civiliza-<br />

ção incásica se antecipou, séculos atrás, aos sonhos dos moder-<br />

nos reformadores. Havia o sentido socializante nessa grande<br />

civilização, na qual a indolência, a pobreza e os crimes graves<br />

eram desconhecidos, onde ca<strong>da</strong> um vivia para o bem geral e<br />

tudo era paz e felici<strong>da</strong>de...<br />

Brehm diz que planícies e vales eram como pomares bem<br />

cui<strong>da</strong>dos. E um telegrama publicado pelo“Correio <strong>da</strong> Manhã”<br />

em dezembro de 1954, acentua que o império incásico, em sua<br />

época de apogeu, se estendeu até ao sul do Chile. E que os<br />

incas guar<strong>da</strong>vam culto religioso às grandes elevações andinas,<br />

afirmou-o o dr. Richard Schaedel, conhecido arqueólogo nor-<br />

te-amerlcano e catedrático de Arqueologia em Universi<strong>da</strong>des<br />

dos Estados Unidos e do Chile.<br />

“Schaedel concedeu uma interessante entrevista à im-<br />

prensa sôbre a múmia de um jovem índio inca, que havia sido<br />

descoberta no cume de El Plomo, um pico quase inacessível<br />

que se ergue perto de Santiago.<br />

“Como resultado de seu exame, não só estabeleceu a<br />

cabal autentici<strong>da</strong>de do cadáver, conservado em estado de<br />

saponificação pelo gêlo, pertencente a um menino de alta<br />

linhagem social do antigo império incaico, senão que extraiu<br />

dêsse estudo valiosas conclusões científicas <strong>da</strong>quele povo.<br />

“Segundo Schaedel, o descobrimento evidencia que os<br />

incas rendiam culto e adoração às cumia<strong>da</strong>s andinas, às quais<br />

ascendiam para realizar cerimônias funerárias, ritos e sacrifí-<br />

cios de invocação ao sol.<br />

“Acrescentou o cientista que o achado é uma prova a<br />

mais de que a dominação dos incas, que chegou até o rio<br />

Maule, teve um de seus centros povoados no que é hoje a<br />

capital chilena, em um raio de vários quilômetros de extensão,<br />

pois junto à múmia se encontraram oferen<strong>da</strong>s evidentemente<br />

procedentes de Cuzco, como seja uma figurinha<br />

antropomórfica de prata e uma lâmina de ouro.<br />

“Acredita Schaedel que não há lugar nos Andes aonde<br />

não houvessem chegado os incas, porquanto até no<br />

Yuhuarcaco, a 6.400 metros de altura, foram encontrados<br />

vestígios de sua presença, assim como nas montanhas do Chile<br />

e Argentina, que estavam dentro <strong>da</strong> jurisdição dos incas.<br />

“Disse, finalmente, que no momento a múmia está sendo<br />

objeto de exames médicos, para estabelecer, mediante o estudo<br />

dos órgãos internos, o que nunca foi possível com outras


20 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

múmias, a espécie de alimentação dos antigos peruanos, ante-<br />

riores à conquista espanhola, e certas irregulari<strong>da</strong>des de suas<br />

impressões digitais”.<br />

Os trabalhadores dos “ayllus”, continuamos, após as fai-<br />

nas agrícolas, aproveitados todos segundo suas aptidões físicas<br />

e psíquicas, eram destinados a trabalhos de utili<strong>da</strong>de pública.<br />

Numerosos “ayllus” ain<strong>da</strong> perduram no Peru, apesar <strong>da</strong><br />

obra criminosa doa conquistadores espanhóis, que, na desco-<br />

medi<strong>da</strong> ambição do ouro, reduziram uma população vigorosa,<br />

pacífica, operosa, organiza<strong>da</strong>, rica e culta de 12 milhões de<br />

habitantes a um milhão e 300 mil habitantes insulados e po<br />

bres. Um crime de lesa-humani<strong>da</strong>de que ficou impune e bra<strong>da</strong><br />

aos céus!<br />

Faz-nos isso lembrar os conceitos ferinos de Anatole<br />

France ao se referir à obra devastadora dos brancos quando<br />

em contacto com as raças vermelha e negra...<br />

“Mana Pache” entre os Incas era “terra produtiva”. No<br />

“ayllus”, a Terra significava “mãe”. À mesma ofereciam os<br />

frutos produzidos nos “ejidos” e decoravam-nos com um<br />

vocabulário opulento.<br />

O “aine kesh ta”, atualmente “faena-pública” no Peru,<br />

fazia-se sôbre uma base de cooperação, e tem certa semelhan-<br />

ça com o “mutirão” de nosso caboclo, o que lembra o ajuri dos<br />

tupis. G. A. Comes viu em tudo isso uma “dictadura de los<br />

Incas”, mui semelhante, diz êle, à <strong>da</strong> Rússia atual.<br />

Reminiscências, acrescento eu, dessas organizações in-<br />

cásicas ain<strong>da</strong> temos na Argentina, entre o nativo ou “criolo”<br />

<strong>da</strong>s comarcas “norteñas” dessa república vizinha. Os povos<br />

que as habitam são originárias dos Diaguitas, cujos traços se<br />

encontram nas províncias de Jujuí, Salta, Tucumán, Santiago<br />

del Estero, La Rioja e Catamarca. Os Diaguitas possuíam o<br />

Kullpi, habitação patriarcal na qual o índio era o chefe supre-<br />

mo, repartindo, com os seus, o produto <strong>da</strong> terra. Não havia<br />

proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong>, que pertencia ao ayllus, ou comuni<strong>da</strong>de.<br />

Era o ayllus governado por um conselho de velhos, tirado do<br />

seio dos melhores agricultores e com critério bastante para<br />

distribuir a terra em consonância com as necessi<strong>da</strong>des de<br />

ca<strong>da</strong> família. Havia a mesma federação do ayllus em Kuris,<br />

govêrno central. Cultivavam o milho, o algodão, etc. Não<br />

conheciam a moe<strong>da</strong>. O produto do trabalho pertencia à<br />

comuni<strong>da</strong>de. Era o tipo <strong>da</strong> economia fecha<strong>da</strong>, de<br />

abastecimento.


FÁBIO LUZ FILHO 21<br />

“A religião, que tinha os ritos e mitos de tô<strong>da</strong>s as<br />

religiões do presente, servia, entanto, para realçar o<br />

trabalhho agrícola, de que se fazia um ver<strong>da</strong>deiro culto,<br />

e a tal ponto, que alguns templos se transformaram em<br />

grandes exposições de produtos agrícolas”.<br />

Entre os povos ameríndios, dí-lo Roy Nash citado<br />

por Luiz Amaral em seu brilhante “Evolução do direito<br />

social”, havia a proprie<strong>da</strong>de pessoal sôbre as armas,<br />

animais ou ornamentos e, às vêzes, sôbre as safras,<br />

permanecendo a terra, porém, como proprie<strong>da</strong>de<br />

coletiva.<br />

Como disse, a faena-púbilca lembra o mutirão de<br />

nosso caboclo, a que já me referi em “Rumo à Terra”<br />

(5.a edição), Costa Rego, com o brilho de sempre, assim<br />

o descreveu no “Correio <strong>da</strong> Manhã” de 18-1-941:<br />

“Mutirão — como dizem uns, e a mutirem, mutirum,<br />

muxirão e muxiro n, como pretendem outros,<br />

interpretando a derivação tupi <strong>da</strong> palavra — é o auxílio<br />

coletivo que muitos pequenos agricultores prestam,<br />

reunidos, a outro pequeno agricultor no tempo <strong>da</strong>s<br />

plantações e colheitas.<br />

“Essa pobre gente, sabe-se, lavra ela própria a<br />

terra; não tem auxiliares, nem empregados, nem<br />

recursos para contratá-los. O homem ganha de<br />

madruga<strong>da</strong> o campo e a mulher dedica-se aos arranjos<br />

domésticos, se também não é chama<strong>da</strong>, inclusive com os<br />

filhos, a colaborar no trabalho <strong>da</strong> foice ou <strong>da</strong> enxa<strong>da</strong>,<br />

na semeadura, na limpeza <strong>da</strong> vegetação <strong>da</strong>nosa, no<br />

combate às formigas e lagartas, no afugentamento dos<br />

roedo-res, na defesa contra as aves vorazes.<br />

“Tal espécie de agricultura familiar é muito comum<br />

nos pontos interiores do Brasil, onde o trabalhador<br />

proprietário, e não o proprietário trabalhador, cultiva a terra.<br />

Lavoura de poucos para poucos, vem ela<br />

santifica<strong>da</strong> pelo sacrifício; serve à subsistência do<br />

lavrador, com sua família, e deixa ain<strong>da</strong> sobras<br />

abençoa<strong>da</strong>s para algum negócio nas feiras, quando o<br />

homem <strong>da</strong> foice e <strong>da</strong> enxa<strong>da</strong> se transmu<strong>da</strong> em<br />

almocreve percorrendo caminhos difíceis em busca dos<br />

centros de consumo.<br />

“Acontece que em certas épocas a plantação ou a<br />

colheita exige esfôrço pronto, sob pena de perder-se nas<br />

intempéries. Não podendo realizá-lo, o pequeno<br />

agricultor convoca os amigos <strong>da</strong> redondeza, os quais,<br />

sendo pessoas <strong>da</strong> mesma condição, que fazem hoje o<br />

favor para amanhã recebê-lo, presto acodem e trazem<br />

ao amigo o adjutório dum dia de trabalho inteiramente<br />

gratuito. Salva-se dêsse modo a plantação ou a colheita.


22 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

“Recebendo na proprie<strong>da</strong>de os colegas, o pequeno agri-<br />

cultor beneficiário trata-os à maneira de convi<strong>da</strong>dos que fôs-<br />

sem a uma festa, e aquêle dia torna-se realmente festivo e de<br />

bródio.<br />

“É isto o mutirão, Para melhor compreendê-lo seria ne-<br />

cessário talvez que o descrevesse um Coelho Neto ou Afonso<br />

Arinos - e não direi que êstes não tenham aproveitado o<br />

assunto em sua extensa obra de motivos sertanistas”.<br />

E Clóvis Caldeira, em “Mutirão”, oferece-nos excelentes<br />

páginas.


CAPÍTULO II<br />

O COOPERATIVISMO - SUAS ORIGENS, SEUS PRE-<br />

CURSORES, SUA DOUTRINA, SUA PRÁTICA<br />

Fiz sentir em “Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperati-<br />

vas”, que o cooperativismo mergulha raízes na noite dos tem-<br />

pos. Em tô<strong>da</strong>s as épocas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de se<br />

encontram formas de economias coletivas que se aproximam<br />

mais ou me-nos <strong>da</strong> forma cooperativa. Sinais dêle tivemos no<br />

regime <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> família, na exploração do manoir<br />

medieval, nas comunas, nas corporações, nas guil<strong>da</strong>s, nas<br />

hansas. Expressões cooperativas encontram-se ain<strong>da</strong> no<br />

império dos faraós e no império babilônico.<br />

Juan Gascón Hernández, ilustre professor <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de de Madri, ao enviar-me, recentemente, o<br />

trabalho de seu ilustre pai, Antonio Gascón Miranón, que<br />

publicou vários livros sôbre cooperativismo, dentre êles “La<br />

cooperaclón y ias cooperativas”, ofertou-me gentilmente<br />

erudito trabalho seu — “Que es una cooperativa?”. Neste<br />

trabalho diz Juan Gascón que Santamaria de Paredes<br />

acentua que na raiz sânscrita de socie-<strong>da</strong>de entra o conceito<br />

do que é próximo e do amor, e acrescenta que Gierke se<br />

referia mais às cooperativas do que às simples associações<br />

quando falava <strong>da</strong>s Genossenschaften.<br />

Na Grécia de beleza imperecível, vemos êsse sentimento<br />

de mútuo auxílio agrupar a todos aquêles que, prêsas <strong>da</strong>s<br />

agruras <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, premidos pelas contingências <strong>da</strong> luta pela<br />

manutencão material <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, aspiravam a um melhor<br />

padrão de vi<strong>da</strong>, a uma parcela de bem-estar, a um lugar<br />

justo e condigno ao sol.<br />

Na Grécia antiga, quase tô<strong>da</strong>s as pessoas <strong>da</strong>s classes mé-<br />

dia e baixa faziam parte de associações, que apresentavam<br />

traços cooperativos. Das associações denomina<strong>da</strong>s orglonas e<br />

tiasas, que se formavam para garantir aos seus membros enter-<br />

ros e sepulturas decentes, nasceram as associações de fins profissionais<br />

e econômicos. Nelas figuravam ci<strong>da</strong>dãos livres, escravos<br />

e até estrangeiros. A parte executiva <strong>da</strong> administração<br />

cabia a um indivíduo denominado “arquinarista”. Constituí


24 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

ram o núcleo em tôrno do qual se formaram as comuni<strong>da</strong>des<br />

cristãs.<br />

Os “colégios” romanos eram associações de operários de um<br />

cunho cooperativo, na Roma antiga, atribuindo-se a<br />

NUMA POMPILIO a fun<strong>da</strong>ção de oito dessas organizações entre<br />

sapateiros carpinteiros serralheiros etc. Nos “colégios’<br />

ingressavam os estrangeiros, os escravos alforriados e até os<br />

não-alforriados, numa bela manifestação de aju<strong>da</strong> mútua, de<br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana, que não estabelece distinções nem tem<br />

preconceitos de qualquer espécie -<br />

Diz Bórea que o exemplo mais remoto conhecido de<br />

associações mútuas cooperativas é encontrado na Palestina.<br />

O tratado BAVA CAMA, parte do Talmud bibilônico, é a<br />

descrição <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do povo hebreu entre os anos 356 a 425 <strong>da</strong><br />

nossa era. Por êle se verifica a existência de associações de<br />

mutuali<strong>da</strong>de entre as caravanas de mercadores para o seguro de<br />

gado asinino.<br />

Mladenatz diz que, no domínio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> agrícola, a cooperação<br />

é uma forma que existiu e preponderou desde os tempos<br />

primitivos. Assim aconteceu entre os alemães (donde Otto<br />

Gierke dizer que a cooperação é pré-alemã) e os romanos<br />

(pastagens comunais, irrigação, etc.). Desde os primeiros tempos<br />

<strong>da</strong> I<strong>da</strong>de média existiram agrupamentos de camponeses para a<br />

transformação do leite (Alpes suíços, italianos e franceses e<br />

mesmo na Inglaterra). Na França temos as fruitières (de que<br />

trato em “Socie<strong>da</strong>des Cooperativas”); na Rússia, o artel, etc.<br />

Na Ásia, nos tempos antigos, como frisei em “Rumo à<br />

Terra” (5.ª edição), existiam as associações para irrigação de<br />

terrenos cultivados; na Alemanha, as “Deichgenossenschaftem”<br />

eram destina<strong>da</strong>s à feitura de barragens; na França, as<br />

“communautés” eram constituí<strong>da</strong>s de 29 a 100 chefes de<br />

famílias que agricultavam sob a direção de um chefe eleito. No<br />

México primitivo, associações firma<strong>da</strong>s no principio <strong>da</strong> soli-<br />

<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de surgiram.<br />

“Mas, antes de tudo, todos os economistas alemães acentuaram<br />

sempre, de pontos de vista práticos, que justamente a<br />

Selbshülfe (“aju<strong>da</strong> de si mesmo”) se liga de modo mais freqüente<br />

ao senso comum e ao sentimento <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de. Os primeiros<br />

que expuseram essa idéia mais<br />

exatamente foram Schutz e Knies” (F. Nicolai — “A Biologia <strong>da</strong><br />

Guerra”).<br />

Assim, como vêdes, as manifestações do auxilio mútuo são<br />

a expressão de uma lei geral, imperativa e eterna. Suas práti-


FÁBIO LUZ FILHO 25<br />

cas aí estão patentes, não só entre sêres humanos, possuidores<br />

de uma razão reflexiva, como entre animais e vegetais, como<br />

vimos, entre um reino e outro.<br />

Entre os vegetais apresenta o auxilio-mútuo um<br />

profundo interêsse. O simbiotismo é uma de suas mais altas<br />

expressões. E sabeis o papel de grande relêvo que preenchem<br />

as legumino-sas na fecundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s terras pelo azôto<br />

atmosférica que fixam pelo mecanismo de suas nodosi<strong>da</strong>des<br />

radicais, onde se localizam bactérias (simbiose bacteriana). A<br />

simbiose miceliana é a <strong>da</strong>s micorizas, que residem nas<br />

raízes <strong>da</strong>s árvores florestais.<br />

Para qualquer lado que o biologista moderno encaminhe<br />

as suas vistas de cientista que tem na experimentação uma<br />

arma de precisão, não pode êle deixar de reconhecer a<br />

existência dêsse desparzido espírito de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de.<br />

“Na natureza existem muitos exemplos de cooperação,<br />

diz um escritor, e com dificul<strong>da</strong>de haverá um bilólogo que<br />

negue, na atuali<strong>da</strong>de, a enorme importância que desempenha<br />

a simbiose na evolução dos vários modos de viver”.<br />

Segundo Merechkowsky, os gránulos dos núcleos <strong>da</strong>s<br />

células seriam bactérias simbióticas e o próprio núcleo na<strong>da</strong><br />

mais seria que uma colônia de bactérias.<br />

“Pourtant, au point de vue chimique qui est la base<br />

même de la vie, l’Homme ne peut se suffire à lui-même: i1<br />

périrait infailliblement s’il n’était Inséré <strong>da</strong>ns une vaste et<br />

unversel1e symbiose” (Friedel).<br />

Sábios como Hertwig, Kraepelin, Deegener, Kammer, etc.,<br />

demonstraram à sacie<strong>da</strong>de que o principio do auxílio mútuo<br />

está muito mais difundido na natureza do que se imagina.<br />

Boelsche diz que o mundo <strong>da</strong>s plantas e dos animais é<br />

um tecido de simbioses e que os homens dependem de<br />

simbioses entre animais e plantas.<br />

Simbiose é uma associação de organismos em que há<br />

reciproci<strong>da</strong>de de benefícios. (Ver a “Teoria e prática de<br />

socie<strong>da</strong>des cooperativas” e “Rumo à Terra”)<br />

O PENSAMENTO DE CARLOS GIDE<br />

Carlos Gide, em se referindo ao auxilio mútuo, acentuou,<br />

com aquela lucidez de inteligência e clareza de raciocínio que<br />

sempre o caracterizaram, que embora entre os romanos se<br />

falasse às vêzes <strong>da</strong> luta dos sexos, evidentemente esta diferen-


26 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

ça criou mais uma tendêncIa para a aproximação do que para a<br />

luta! Se é ver<strong>da</strong>de que a luta pela vi<strong>da</strong> pode ser<br />

erigi<strong>da</strong> em lei biológica que se impõe a todos os sêres vivos,<br />

há também um outro princípio que pode ser considerado<br />

como uma lei biológica: é a aju<strong>da</strong> mútua, a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de.<br />

E, referindo-se ao príncipe Kropotkine, diz que o mesmo<br />

fêz um belo livro intitulado Mutual Aid, traduzido em<br />

francês com o título de L’Entr’aide (Aju<strong>da</strong> Mútua), no qual<br />

demonstra, por numerosos exemplos tomados na zoologia,<br />

que esta aju<strong>da</strong> que se prestam os sêres vivos uns aos outros,<br />

mesmo no reino vegetal, foi uma causa de progresso<br />

decisiva e mesmo superior ao struggle for life, que é a luta<br />

pela vi<strong>da</strong>. Acrescenta que não nos devemos apressar em<br />

concluir, do fato <strong>da</strong> separação <strong>da</strong>s classes, pela necessi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> luta de classes, mòrmente não se tratando, de forma<br />

alguma, duma lei biológica que remonte às origens <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

sôbre a terra, mas que representa uma evolução econômica,<br />

que <strong>da</strong>ta de alguns séculos apenas, e ao acor<strong>da</strong>r de uma<br />

“consciência de classe”, que <strong>da</strong>ta de ontem.<br />

“Entretanto, ain<strong>da</strong> aqui, não queremos negar, mesmo<br />

na Escola de Nimes, que não haja um antagonismo de<br />

interêsses, uma luta, se desejardes, sob a forma mui geral<br />

de hostili<strong>da</strong>de entre ricos e pobres, e há três séculos, depois<br />

<strong>da</strong> criação do salariado, sob a forma mais precisa <strong>da</strong><br />

disputa entre operários e patrões. Mas esta hostili<strong>da</strong>de não<br />

se tem acentuado; é ela menos desumana que outrora.<br />

Aristóteles, com efeito, conta que, na ci<strong>da</strong>de de Milet, os<br />

ricos prestavam o seguinte juramento: “Juro que sempre<br />

serei inimigo do povo e lhe farei todo o mal que possa”.<br />

Para Gide a luta toma a forma, por assim dizer, de<br />

duelo entre o operário e o patrão, entre o arren<strong>da</strong>tário e o<br />

proprietário, entre o credor e o devedor, entre o vendedor e<br />

o comprador. Poderia ser expressa por essa fórmula<br />

eloqüente de Fourier. “A hierarquia social está construí<strong>da</strong><br />

sôbre uma escala dupla: escala ascendente de ódios, escala<br />

descendente de desprêzo”.<br />

E a luta entre o produtor e o consumidor, continua Gide,<br />

esquecê-la-emos, quando, na hora atual, se tornou ela tão agu<strong>da</strong><br />

em virtude <strong>da</strong> depreciação <strong>da</strong> moe<strong>da</strong> e <strong>da</strong> alta dos préços? Ora,<br />

precisamente aqui tocamos na ver<strong>da</strong>deira razão pela qual a<br />

Escola cooperativa não pode entrar na luta de classes, A luta de<br />

classes, tal como a definem os marxistas e os sócialistas,é a luta<br />

entre patrão e operário, já o disse, entre o capital


FÁBIO LUZ FILHO 27<br />

e o trabalho. Ora, não é sôbre êste plano que se coloca o<br />

cooperativismo de consumo; não é a esta luta que êle<br />

corresponde. Êle olha a exploração do consumidor pelo<br />

produtor, seja o comerciante, seja o fabricante. E o<br />

consumidor que êle quer libertar. E se se quiser falar em luta,<br />

a luta que o preocupa é a luta do consumidor contra o<br />

produtor.<br />

E como ao cooperativismo poderia associar-se a idéia de<br />

luta de classe, se a palavra consumidor exclui tô<strong>da</strong>s as<br />

características de classe, tô<strong>da</strong>s as diferenciações de i<strong>da</strong>de,<br />

sexo, profissão e fortuna?<br />

O desenvolvimento do cooperativismo no mundo atesta<br />

as excelências dêsses princípios de ação coletiva. Erigindo leis<br />

econômicas que levam à organização <strong>da</strong> produção e distribui-<br />

ção <strong>da</strong>s riquezas sôbre bases eqüitativas e racionais, o<br />

cooperativismo conduz a um conceito mais elevado <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o<br />

que é condição de uma nova ordem de coisas em que as<br />

relações sociais (econômicas, políticas, jurídicas, morais), de<br />

individuo para indivíduo, de grupo para grupo e de nação<br />

para nação, repousarão sôbre princípios de entendimento<br />

mútuo, afastado de seu âmbito o espírito de lucro e o<br />

egoísmo sem freio, e colima<strong>da</strong> apenas a satisfação de<br />

necessi<strong>da</strong>des humanas, tendo sempre em vista as exigências<br />

do consumo.<br />

A ação solidária nas organizações cooperativas de<br />

produtores e consumidores para a defesa de interêsses vitais,<br />

institui novos moldes para a produção, a distribuição, a<br />

circulação e o consumo <strong>da</strong>s riquezas, assumi<strong>da</strong>s funções de<br />

distribuição den- tro de novos métodos, organiza<strong>da</strong> a<br />

indústrIa ao influxo do mesmo espírito e dignifica<strong>da</strong>s as<br />

relações financeiras, ergui<strong>da</strong>s sôbre a mesma base de aju<strong>da</strong><br />

mútua, humani<strong>da</strong>de e justiça.<br />

Os povos cultos do mundo moderno de há muito que se<br />

organizaram cooperativamente, afirmando, assim, a<br />

existência de uma mentali<strong>da</strong>de aberta à exata compreensão<br />

<strong>da</strong>s grandes virtudes <strong>da</strong> união, que é fôrça.<br />

Libertando o produtor <strong>da</strong> entrosagem comercial que lhe<br />

absorve o melhor lucro que deveria auferir, concorre o cooperativismo<br />

para o aumento <strong>da</strong> produção, e a disciplina do consu-<br />

mo, pelos princípios de organização técnica que estabelece, e<br />

promove o aperfeiçoamento dos produtos, padronizando-os e<br />

assegurando-lhes mercados compensadores. Exerce, ademais, o<br />

cooperativismo, o contrôle dêsses mercados, impossível ao<br />

produtor insulado. Assume um papel semelhante ao dos<br />

agoránomos, na velha Atenas... Liga o produtor diretamente ao<br />

consumidor. Os lucros que distribui são simples restituições


28 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

do que foi cobrado a mais para as necessárias despesas <strong>da</strong> co-<br />

operativa. Chamam-se, com proprie<strong>da</strong>de, sobras. Têm o cará-<br />

ter de um retôrno, de reembôlso de uma economia feita. A cooperativa<br />

não distribui seus benefícios ao capital invertido na<br />

emprêsa, mas, sim, proporcionalmente ao esfôrço de ca<strong>da</strong> coperador<br />

em benefício <strong>da</strong> instituição que lhe presta os serviços<br />

de que necessita, valorizando-lhe a produção e barateando-lhe- o<br />

consumo. Facilita, racionaliza e amplia, o cooperativismo, as<br />

condições de produção e trabalho e as possibili<strong>da</strong>des de<br />

consumo. Dá ao consumidor a sua ver<strong>da</strong>deira posição na es fera<br />

do consumo, alvo último de tô<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong>de econômica. Um<br />

ilustre escritor, já o dissemos, para <strong>da</strong>r uma idéia do poder <strong>da</strong><br />

união, ilustrou suas palavras com um exemplo sugestivo.<br />

Qualquer pessoa conseguirá despe<strong>da</strong>çar, fàcilmente, um fio<br />

tênue de juta, insulado êste na sua fragili<strong>da</strong>de. Se multi-<br />

licarmos, porém, êsse fio de juta algumas vêzes, será menos<br />

fácil dilacerá-lo, até que será totalmente impossível fazê-lo<br />

quando os fios, multiplicados multas vêzes, constituírem<br />

umacor<strong>da</strong> grossa e forte. A fôrça <strong>da</strong> união fêz, de fios insulados<br />

e tênues, uma cor<strong>da</strong> potente contra a qual na<strong>da</strong> poderão musculos<br />

possantes que se atrevam a forçá-la. A união faz a fôrça.<br />

A fôrça pacífica e serena, inteligente e raciocina<strong>da</strong>, decidi<strong>da</strong> e<br />

enérgica é origem de respeito e torna mais fácil a defesa de<br />

interêsses morais e materiais comuns. Há, ain<strong>da</strong>, o clásico<br />

apólogo do feixe de varas.<br />

Sendo o cooperativismo uma democracia econômica, tem<br />

a fôrça de um admirável aparelho de defesa e conquista de<br />

direitos legítimos, impondo deveres, disciplinado, racionali-<br />

zando ativi<strong>da</strong>des úteis. E êle, pois, um meio eficiente de me-<br />

lhoramento <strong>da</strong>s condições econômicas e sociais de produtores<br />

e consumidores livremente associados. “Les organes de trans-<br />

mission, diz Charles Gide, doivent être réduits au minimum,<br />

car, par le frotternent, ils absorbent inutilement, la force vive.<br />

C’est un principe de mécanique; c’est également un principe<br />

d’économie politique”.<br />

A resenha do desenvolvimento do cooperativismo no mundo<br />

é disso um atestado concludente e empolgante.<br />

__________<br />

Nota — Os dois primeiros capítulos, constantes <strong>da</strong> presente edição,<br />

agora ampliados são reprodução <strong>da</strong> conferência que realizei, em l0 de<br />

setembro de l932, no “Circulo de Pais e Professores <strong>da</strong> Escola Professor<br />

Visitação”, no DistrIto Federal.


FÁBIO LUZ FILHO 29<br />

Disse Manuel F. López, ilustre ex-gerente <strong>da</strong> grande cooperativa<br />

argentina “El Hogar Obrero”, frisando a diferença entre a<br />

socie<strong>da</strong>de cooperativa e a capitalística:<br />

“O truste maneja valores de troca; a cooperativa, valores<br />

de uso.<br />

“A cooperativa educa ao fazer do consumidor seu próprio<br />

produtor e elimina o antagonismo que existe entre o vendedor e<br />

o comprador.<br />

“Moraliza, uma vez que não pode enganar.<br />

“Torna altruistas os seus componentes, pois que terão interêsse<br />

em aumentar o número dos cooperadores para que<br />

gozem dos mesmos benefícios.<br />

“Emancipa, ao fomentar a economia, devolvendo os lucros,<br />

ou o excedente do preço cobrado, e ao exigir de ca<strong>da</strong><br />

cooperador sua parte para a contribuição social, tornando-o dono<br />

dos produtos que lhe são necessários.<br />

“Capacita, ao <strong>da</strong>r intervenção no manejo <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de<br />

aos cooperadores e ao selecionar para a direção os melhores.<br />

“Democratiza, ao <strong>da</strong>r a todos os associados iguais direitos<br />

e deveres, e ao fazer compreender que o interêsse <strong>da</strong> cooperati-<br />

va é o mesmo que o dos consumidores e com êle se confunde,<br />

contràriamente às socie<strong>da</strong>des ou enti<strong>da</strong>des comerciais, cujos<br />

interêsses são opostos aos dos consumidores.<br />

“Estabelece a igual<strong>da</strong>de, ao <strong>da</strong>r um só voto ao associado e<br />

não em proporção ao seu capital.<br />

“Defende a saúde, ao zelar a quali<strong>da</strong>de e pureza dos<br />

produtos.<br />

“Defende o consumidor contra a especulação, a fraude, os<br />

preços, a sugestão dos vendedores, etc.<br />

“Defende o produtor, contra os baixos preços que a<br />

concorrência estabelece, contra o açambarcador, etc.<br />

“Faz <strong>da</strong> organização uma função social e econômica ao<br />

zelar os interêsses de todos e de ca<strong>da</strong> um dos produtores e consumidores,<br />

ao suprimir todos os intermediários e atravessado-<br />

res que o comércio utiliza com o seu sistema de corretores, comissários,<br />

representantes, órgãos de reclamo, etc., e ao regula-<br />

rizar a produção com relação ao consumo, evitando as crises<br />

periódicas por excesso ou escassez de produção, evitando as<br />

rivali<strong>da</strong>des comerciais, origem de tantas guerras, unificando e<br />

centralizando a administração, simplificando as compras,<br />

uniformizando tipos e quali<strong>da</strong>des, etc., etc.


30 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

“Finalmente, controla as industrias, impedindo o desen-<br />

volvimento <strong>da</strong>s que, dedica<strong>da</strong>s a produtos do vicio e <strong>da</strong><br />

fraude, malbaratam energias humanas e propagam o<br />

alcoolismo e outras misérias sociais”.<br />

Há obrigações, mas há, também, direitos. Vivante concede<br />

a ca<strong>da</strong> associado o caráter de órgãos extraordinários prepostos a<br />

preencher as deficiências que existirem nos órgãos administrativos<br />

e de fiscalização.<br />

Diz Leiserson, o brilhante causídico argentino, que a<br />

“relación juridico-cooperatista excluye el animus speculandi, el<br />

lucrum, y de conseguiente no es comercial...............sostenemos<br />

que la cooperativa es una socie<strong>da</strong>d“sui-generis”...<br />

Leiserson exaustivamente tratou dêsse assunto com uma<br />

formidável erudição, mostrando que é ain<strong>da</strong> êsse assunto con-<br />

trovertido no domínio jurídico, citando a opinião de<br />

escritores, entre os quais Rodino, que diz que as cooperativas<br />

não são nem civis nem comerciais, opinião perfeitamente<br />

consentânea com a natureza dessas instituições de bem<br />

público, as quais trarão uma época de justiça social e<br />

liber<strong>da</strong>de econômica, estabelecendo normas sãs de ética nas<br />

relações sociais, fazendo com que o intercâmbio <strong>da</strong>s riquezas<br />

seja presidido por princípios de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de em vez de ser<br />

regido pelo egoísmo grosseiro. Em “Teoria prática <strong>da</strong>s<br />

socie<strong>da</strong>des cooperativas” desenvolvo êsse tema.<br />

O ideal dos Roch<strong>da</strong>lianos já apresenta ao mundo os<br />

lineamentos de uma economia nova. E admirável sistema<br />

social-<br />

-econômico que estabelece novas formas de produção e distri-<br />

buição sôbre uma base de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de social, moral e eco-<br />

nômica.<br />

O princípio vital do cooperativismo é o esfôrço que se<br />

recompensa... Dai a distribuição dos benefícios na proporção<br />

do esfôrço, do trabalho. Daí o retôrno.<br />

Nas cooperativas de adultos, isto é, nas cooperativas<br />

econômicas, Marcel Brot julga necessário o retôrno:<br />

1.º — Porque marca, de maneira tangível, a diferença<br />

en- tre a cooperativa, que restitui o que cobrou a mais, e a<br />

emprêsa comercial, que destina os lucros ao capital.<br />

2.º — Porque, se o suprimirmos, o cooperador é<br />

colocado na mesma condição do cliente passageiro, e seria,<br />

então, Impossível justificar, honestamente, o apêlo, que se<br />

lhe faz, de fornecer capital.


FÁBIO LUZ FILHO 31<br />

3.º - Porque o retôrno é o meio de restabelecer o justo<br />

preço.<br />

4.° — Porque leva o cooperador a uma fideli<strong>da</strong>de que<br />

torna vãos e inoperantes os artifícios usados pelo comércio<br />

para combater a cooperativa: batalha de preços, publici<strong>da</strong>de<br />

e algumas calúnias.<br />

E isso se verifica nas próprias cooperativas de ven<strong>da</strong> e<br />

trabalho do tipo integral, <strong>da</strong> escola de Prampolini, na Itália,<br />

Bel- gica e Argentina.<br />

Assim sendo, não é concebível a “reven<strong>da</strong>” na doutrina<br />

cooperativista. “Reven<strong>da</strong>” dá impressão de mercantilismo.<br />

Dai não se aplicar a uma cooperativa a designação de<br />

mercantil.<br />

A cooperativa é um simples órgão de distribuição <strong>da</strong>s ri-<br />

quezas. Não vende, distribui. Vender tem, nela, a acepção de<br />

distribuir. A idéia central é que a riqueza não se deve<br />

produzir para a troca e, sim, para a satisfação de<br />

necessi<strong>da</strong>des.<br />

Já disse Ernest Poisson que distribuição e ven<strong>da</strong> são atos<br />

fun<strong>da</strong>mentalmente diferentes.<br />

Diz Ghino Valenti que no cooperativismo não há ven<strong>da</strong> e,<br />

sim, distribuição <strong>da</strong> riqueza produzi<strong>da</strong> para estabelecimento<br />

do equilíbrio distributivo.<br />

As cooperativas de consumo compram para distribuir.<br />

Na Inglaterra chamam-lhes “socie<strong>da</strong>des distributivas”.<br />

As de compras em comum não procedem de maneira di-<br />

versa.<br />

Não há, nas cooperativas, ren<strong>da</strong>, que é o ganho líquido do<br />

capital; há apenas, economias. Os benefícios impròpriamente<br />

denominados lucros são simples adiantamentos para fins de<br />

despesas gerais, etc., restituíveis pelos retornos anuais. O<br />

associado é reembolsado do que adiantou.<br />

A cooperativa opera por conta do associado. Não se arma<br />

em casa comercial. É um simples agente de distribuição, não<br />

visando ao lucro, que deseja, pelo contrário, abolir. Presta ela<br />

apenas serviços.<br />

Leiserson pergunta, com razão, se os Governos visam ao<br />

lucro quando estabelecem taxas para os serviços públicos que<br />

prestam. Vivante refere-se muito bem a essa questão.<br />

Suas vantagens ético-civis podem assim resumir-se: sujeicão<br />

de uns e outros por vínculos de interêsse material, os quais<br />

fortalecem os do dever, os do direito e os <strong>da</strong> fraterni<strong>da</strong>de,<br />

afirmando-se, no dizer de Toniolo, um meio de consistência<br />

social.<br />

Diz Justo, o grande cooperativista argentino já falecido, que<br />

as cooperativas se formam “para prover a seus associados


32 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

de artigos de consumo ou de uso,ou para serví-los em trabalhos<br />

técnicos concretos. Para êstes fins necessitam e têm instala-<br />

ções para depositar, classificar, elaborar, conservar e distribuir<br />

produtos (armazéns, elevadores, frigorificos, fábricas, etc.).<br />

Estas instalações técnicas substituem e tiram tô<strong>da</strong> razão de ser às<br />

pequenas instalações de produção individuais. A grande usina<br />

cooperativa de panificação paralisa a maior parte dos fornos<br />

disseminados pela ci<strong>da</strong>de. A leitaria cooperativa deixa sem<br />

emprego muitas desnatadeiras instala<strong>da</strong>s nos campos e livra os<br />

novos criadores <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de adquirir, ca<strong>da</strong> um, uma dessas<br />

máquinas”.<br />

“A cooperação econômica genuína propriamente dita implica,<br />

sempre, descentralização. Desde o campo de<br />

cultura até à distribuição para o consumo, em todos e em<br />

alguns momen-tos do largo processo, os esforços e emprêsas<br />

individuals são substituidos pela emprêsa cooperativa,<br />

manifestação e, ao mesmo tempo, fator de progresso<br />

técnico-econômico”.<br />

“Forma<strong>da</strong>s, principalmente, por trabalhadores assalariados<br />

ou por produtores autônomos que tomam conta<br />

de suas emprêsas e reunem suas fôrças em certos momentos<br />

<strong>da</strong> produção, as cooperativas nascem para lutar contra as<br />

formas técnico-econômicas rotineiras, e, às vézes, contra a<br />

centralização monopolizadora dos trusts”.<br />

“Nas ver<strong>da</strong>deiras cooperativas todos os associados<br />

operam com a socie<strong>da</strong>de nos mesmos sentidos, levam seus<br />

produtos, tomam dela suas provisões”.<br />

“Estas diferenças se sintetizam no traço fun<strong>da</strong>mental<br />

que distingue a cooperação do capitalismo: êste colima o<br />

lucro, o dinheiro, o valor de troca, A cooperação busca a<br />

coisa, o serviço técnico, o valor de uso”.<br />

“Na associação econômica sem fins de lucro que se<br />

propõe agrupar a produtores e consumidores para a comum<br />

satisfação de suas necessi<strong>da</strong>des, reside a única possibili<strong>da</strong>de<br />

de organizar a economia internacional, de orientar a<br />

produção e facilitar o consumo <strong>da</strong> riqueza, de maneira que<br />

esta não constitua um motivo de inquietação, senão de<br />

regozijo para os homens”.<br />

Leôncio Correia, o brilhante prosador e o inspirado vate<br />

paranaense cuja frescura de inspiração, como a de Fáblo Luz,<br />

os anos não tol<strong>da</strong>ram, ao comentar, com imensa bon<strong>da</strong>de, o<br />

presente livro — “Cooperativas escolares”, — disse com justeza,<br />

lapi<strong>da</strong>rmente, que a fórmula de cooperação recíproca, formando<br />

as “pequenas repúblicas” na esfera <strong>da</strong> ação de ca<strong>da</strong>


FÁBIO LUZ FILHO 33<br />

classe, é tão salutar e humana, que deveria ter já sido instituí-<br />

<strong>da</strong> por forma universal de administração pública, porque o<br />

regime cooperativista, eliminando o intermediário parasita,<br />

harmoniza admiràvelmente as conveniências recíprocas <strong>da</strong><br />

produção e do consumo, numa aju<strong>da</strong> mútua entre seus<br />

associados, reconhecendo que todo produtor é ao mesmo<br />

tempo consumidor.<br />

“Da troca de interêsses entre um e outro, surge o bem-es-<br />

tar coletivo, a melhoria <strong>da</strong>s condições econômicas com que<br />

as cooperativas permitem ao homem ampliar as suas<br />

possibili<strong>da</strong>des produtoras e criadoras, incentiva<strong>da</strong>s pelas<br />

facili<strong>da</strong>des de financiamento e barateza de custo <strong>da</strong>s<br />

utili<strong>da</strong>des, que elas proporcionam, facilitando, assim, o<br />

desdobramento <strong>da</strong> riqueza e o surto de todos os progressos, a<br />

que a inteligência e as ativi<strong>da</strong>des humanas fazem jus, mas<br />

as imperfeitas organizações sociais cerceiam,<br />

“Inventem-se quantos partidos políticos as ideologias<br />

sectaristas queiram inventar, sejam comunistas, socialistas,<br />

integralistas ou sejam quaisquer outras que se firmem nos<br />

princípios obsoletos <strong>da</strong>s velhas democracias mascara<strong>da</strong>s por<br />

qualquer forma, nenhum dêles se fará um Sansão capaz de<br />

derrotar as colunas mestras do cooperativismo, que, em sua<br />

simplici<strong>da</strong>de prática, gira em t8rno <strong>da</strong> energia econômica por<br />

uma forma coletiva construtora, enquanto os partidos se<br />

atêm a interêsses de facções.<br />

“Em sua latitude ampla, a fórmula cooperativa pode ser<br />

aplica<strong>da</strong> a qualquer esfera de ativi<strong>da</strong>de humana, porque en-<br />

carna o ideal <strong>da</strong> criatura que trabalha e luta”.<br />

Francisco Frola, com a autori<strong>da</strong>de de sua cultura e expe-<br />

riência, disse muito bem: “A cooperação não é tão sòmente a<br />

fórmula de uma economia nova, e sim, também, a base de uma<br />

nova civilização”. E as bases dessa nova civilização,<br />

estadeiamnas já as cooperativas dissemina<strong>da</strong>s aos milhares<br />

pelo mundo.<br />

“Uno de los fines más necesarios a cumplirse por los<br />

cooperadores, decia William King, es la creación de escuelas<br />

para sus hijos, con el propósito de prepararlos para las<br />

comuni<strong>da</strong>des (cooperativas) en una e<strong>da</strong>d temprana. La<br />

cooperación <strong>da</strong> a la educación un caráter nuevo...<br />

“Esta educación, que se propone despertar y arraigar los<br />

más nobles sentimientos humanos, ha sido uno de los fines<br />

perseguidos pos los precursores de la cooperación y por el<br />

movimiento pre-cooperativo”. (Leiserson).<br />

3 - 27 454


34 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

O “Código de Educação” elaborado em abril de 1933<br />

para São Paulo dizia, em seu artigo 238, referindo-Se ao<br />

ensino primário:<br />

“O ensino terá come base essencial a observação<br />

e a experiência pessoal do aluno, e <strong>da</strong>rá a êste largas<br />

oportuni<strong>da</strong>des para o trabalho em comum, a ativi<strong>da</strong>-<br />

de manual, os jogos educativos e as excursões<br />

escolares”.<br />

É o que fazem as cooperativas escolares, perfeitamente<br />

integra<strong>da</strong>s na orientação de Sanderson, o grande educador<br />

inglês do Colégio de Oundle, que foi um dos precursores <strong>da</strong><br />

escola nova. Dizia Sanderson que em Oundle todos estavam<br />

certos de que as escolas deviam tornar-se, ca<strong>da</strong> vez mais,<br />

microcosmos representativos do mundo novo. Microscosmos<br />

experimentais onde fôssem postos à prova os critérios, os<br />

imperativos, a lei e o julgamento, as organizações, as idéias<br />

e os fins de um novo mundo.<br />

“Porque em Oundle é nosso fim agir. . . É preciso, para<br />

nascer ver<strong>da</strong>deiramente para a vi<strong>da</strong>, um incessante labor<br />

espiritual, um fim elevado, um ardente desejo de conhecer as<br />

coi- sas novas que aparecem no horizonte de nosso mundo”...<br />

Os valores morais na humanização <strong>da</strong> moderna<br />

técnica...<br />

E, num país que tem suas fôrças vivas estrutura<strong>da</strong>s na<br />

agricultura, mentali<strong>da</strong>des práticas e produtivas evitarão “los<br />

efectos centrifugos de la existencia campesina”, no dizer de<br />

Wygodzinski.<br />

Já frisamos que Locke acentuou que a felici<strong>da</strong>de e a<br />

desgraça do homem são, em grande parte, sua própria obra...<br />

Reconhece que alguns homens têm uma constituição corporal<br />

e espiritual tão vigorosa e tão bem modela<strong>da</strong> pela natureza,<br />

que mal necessitam do auxilio dos demais... Mas, os exemplos<br />

dêsse gênero são mui poucos, e pensa que se pode afirmar<br />

que todos os homens com que tropeçamos, nove décimas<br />

partes, são bons ou maus, úteis ou inúteis, pela educação que<br />

receberam. “Esta é a causa <strong>da</strong> grande diferença entre os<br />

homens. As me-nores e mais insensíveis impressões que<br />

recebemos em nossa infância, têm conseqüências mui<br />

importantes e duradouras”. E Richter frisou que um homem que<br />

dê a volta ao mundo sofre menos a influência <strong>da</strong>s<br />

nações que visitou do que a de sua ama de leite... Dai o<br />

valor <strong>da</strong> educação.


FÁBIO LUZ FILHO 35<br />

DEFINIÇAO DE PRINCÍPIOS<br />

Recentemente o Conselho Superior do Cooperativismo do<br />

Canadá estabeleceu a distinção entre cooperação em seu senti-<br />

do lato e cooperativismo em seu sentido estrito.<br />

Tomando em seu sentido amplo a palavra — cooperação —<br />

significa colaboração, ou ato pelo qual várias pessoas unem<br />

seus esforços e seus recursos no sentido <strong>da</strong> mesma finali<strong>da</strong>de,<br />

disse êle. Entanto, quando esta palavra se emprega no mo-<br />

vimento cooperativo, encerra uma acepção mais exata e bem<br />

particular. Significa, então, uma forma democrática de cola-<br />

boração que colima diretamente fins econômicos e indireta-<br />

mente fins sociais.<br />

As quatro palavras maiúsculas expressando os caracteres<br />

essenciais do cooperativismo exigem algumas explicações:<br />

a) Colaboração, embora essencial, êste traço não lhe é es-<br />

pecífico. Encontra-se igualmente no sistema capitalista.<br />

b) Democrático — segundo o costume, no sentir <strong>da</strong> ra-<br />

zão, que se dá a tudo o que se chama democrático, quer signi-<br />

ficar aqui que a colaboração se realiza pelo povo e para o<br />

povo, mas acentuando a expressão pelo povo, porque temos<br />

visto o caráter que especifica o cooperativismo e o diferencia<br />

<strong>da</strong>s outras formas de organização econômica.<br />

— O contrôle democrático, como lhe chamam os coopera-<br />

dores, em palavras breves, pertence a todos. Na colaboração<br />

capitalista, ao contrário, o contrôle é reservado a uma oligar-<br />

quia ou a um pequeno grupo de acionistas.<br />

Por outro lado, a expressão — para o povo — deve, como<br />

tô<strong>da</strong> fórmula de ação econômica, servir ao povo.<br />

c) Objetivando diretamente fins econômicos: o coopera-<br />

tivismo é pròpriamente e, antes de tudo, negócio econômico.<br />

Seu fim imediato é a proprie<strong>da</strong>de do povo.<br />

d) Objetivando indiretamente fins sociais: com efeito,<br />

só pelo fato de trabalhar pela prosperi<strong>da</strong>de do povo em sua<br />

parte econômica, constitui uma contribuição social de maior<br />

importância.<br />

“O cooperativismo, ademais, faz nascer hábitos de com-<br />

preensão, de aju<strong>da</strong> mútua, de ação concerta<strong>da</strong>, proporcionan-<br />

do, assim, um remédio dos mais eficazes contra as enfermi<strong>da</strong>-<br />

des sociais chama<strong>da</strong>s: individualismo, descontentamento,<br />

egoísmo, etc. Enfim, os ver<strong>da</strong>deiros cooperadores, sabendo perfeitamente<br />

que a ordem econômica está simplesmente uni<strong>da</strong> à<br />

ordem social, não podem deixar de sentir obrigação de tra-


36 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

balhar pela ordem social, com obras de educação, de aju<strong>da</strong><br />

mútua, etc.<br />

“Em suma, no Cooperativismo é ao povo que se pede que<br />

colabore para assegurar, por si mesmo, sua independência<br />

econômica e social, ou se propõe um meio de organizar esta<br />

cooperação: a emprêsa cooperativa, fórmula institucional<br />

que necessita apenas de que se concretizem em obras os<br />

princípios fun<strong>da</strong>mentais expostos acima com tô<strong>da</strong> a clareza”.<br />

Concluindo esta definição de princípios o Conselho define<br />

o que seja cooperativa e suas normas doutrinárias fun<strong>da</strong>mentais:<br />

1.º — Uma associação livre não imposta por leis ou de-<br />

cretos ou por nenhuma forma de violência, como acontece<br />

nos regimes totalitários.<br />

2.º — Uma emprêsa — isto é, ca<strong>da</strong> cooperador se con-<br />

verte em co-proprietário <strong>da</strong> emprêsa e é neste titulo que se<br />

fun<strong>da</strong>m seus direitos como seus deveres de dirigir e controlar<br />

a emprêsa.<br />

PRINCÍPIOS ROCHDALIANOS<br />

1.º — Um homem, um voto.<br />

2.º — Liber<strong>da</strong>de de entra<strong>da</strong> e saí<strong>da</strong>, o que não quer dizer<br />

que se admitam pessoas nocivas aos interêsses <strong>da</strong><br />

cooperativa.<br />

3.º Neutrali<strong>da</strong>de religiosa, política e étnica.<br />

4.º — Educação dos cooperadores.<br />

Tornar os associados capazes de dirigir e controlar<br />

eficientemente a emprêsa, como para propagar o ideal<br />

cooperativo e<br />

recrutar membros conscientes <strong>da</strong> missão <strong>da</strong>s cooperativas.<br />

5.º — Distribuição a ca<strong>da</strong> associado dos excedentes ou<br />

sobras anuais — à prorrata <strong>da</strong>s operações realiza<strong>da</strong>s.<br />

6.º — Limitaçao <strong>da</strong>s taxas de juros sôbre o capital, pois a<br />

cooperativa deve servir aos homens e não aos capitais.<br />

MÉTODOS<br />

a) — Ven<strong>da</strong> ao preço corrente.<br />

a) — Compra e ven<strong>da</strong> a dinheiro à vista.<br />

e) — Não admitir voto por procuração.<br />

d) — Fundos para obras sociais.<br />

“É o cooperativismo, assim, um sistema baseado na idéia<br />

de cooperação e edificação com instituições cooperativas que


FÁBIO LUZ FILHO 37<br />

organizam a produção, a distribuição e o consumo segundo a<br />

fórmula cooperativa.<br />

Confirmam-se, assim, os conceitos de Fauquet:<br />

“Trabalhemos para que o Cooperativismo cresça; mas<br />

velemos por que não se altere.<br />

“Fato social, fato humano, seu futuro não está fatalmen-<br />

te determinado: o que o determinará é a fé dos cooperadores.<br />

“Vós outros mesmos, jovens!”<br />

Nascido o cooperativismo, como já foi acentuado, de imperativos<br />

históricos: o desequilíbrio entre o processo <strong>da</strong> produ-<br />

ção e as exigências do consumo, constitui êle, precisamente por<br />

isso, um dos capítulos mais vastos e empolgantes <strong>da</strong> economia<br />

social moderna, cujos postulados cimentam uma nova concepção<br />

<strong>da</strong> criação e distribuição <strong>da</strong>s riquezas, feitas para a<br />

satisfação de necessi<strong>da</strong>des e não para o lucro, princípio éticosocial<br />

de alcance enorme: a riqueza consumi<strong>da</strong> pelo seu justo<br />

preço; o lucro pertencendo ao que legitimamente o criou: o<br />

esfôrço criador como base fecun<strong>da</strong> <strong>da</strong> recompensa; o elemento<br />

pessoal como fator de dinamismo; o capital servindo ao<br />

trabalho; a humanização dos meios de produzir.<br />

O PRINCÍPIO DA NEUTRALIDADE<br />

Luzzatti sempre considerou o princípio <strong>da</strong> neutrali<strong>da</strong>de<br />

política e religiosa como uma <strong>da</strong>s bases graníticas do<br />

cooperativismo.<br />

Em 1914, Luzzatti, várias vêzes ministro, filósofo, sociólo-<br />

go, alto financista, parlamentar brilhante, homem simples e<br />

boníssimo, disse ao se referir à propagan<strong>da</strong> que iniciara em<br />

1864 em Milão, que então fixara alguns princípios, certos mé-<br />

todos para a propagan<strong>da</strong> cooperativa. Um princípio era fun-<br />

<strong>da</strong>mental, acentuou: a neutrali<strong>da</strong>de religiosa e política do<br />

cooperativismo. Êste, para êle, devia oferecer-se a por<br />

completo a todos os homens de boa vontade, aos tristes no<br />

silêncio e aos fortes na dor, que quisessem elevar-se pela<br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s previsões individuais, multiplicados pela<br />

fôrça <strong>da</strong> associação. “Qualquer que fôsse seu credo religioso e<br />

seu programa políti- co, qualquer que fôsse seu Deus ou sua<br />

filosofia, seu símbolo, monárquico ou republicano, a<br />

neutrali<strong>da</strong>de a todos reunia e abraçava no ideal puro<br />

comum”. A condição essencial para entrar na associação era<br />

a busca do bem individual na uni<strong>da</strong>de coletiva, o egoísmo<br />

temperado com o altruísmo.


38 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Ao Congresso de Bolonha de 1878 compareceram dois<br />

grandes fun<strong>da</strong>dores do cooperativismo inglês: Holyoake e<br />

Wansittart-Neale, sendo Holyoake (amigo de Mazzini) racio-<br />

nalista e republicano, e Wansittart-Neale, conservador e rígido<br />

anglicano o que não os impediu de trabalhar juntos no sentido<br />

de “aumentar o grandioso edifício do mutualismo inglês, à<br />

cuja sombra se amparam falanges inúmeras do proletariado<br />

inglês”.<br />

E. W P Watkins recentemente disse<br />

“De plus, les règles régissant l’adhésion, libre et volontaire,<br />

ainsi que la neutralité politique et religieuse, montrent l’adhé-<br />

sion des Pionniers au principe de liberté, qu’ils ne restreig-<br />

naient que <strong>da</strong>ns la mesure ou il était nécessaire pour réaliser<br />

l’objectif économique de leur société”.<br />

Donde segundo êle ser aconselhável definir o Cooperati-<br />

vismo como um sistema de organização social e econômica<br />

baseado no respeito de certos princípios, dentre os quais se<br />

devem pôr em relêvo êstes: a Uni<strong>da</strong>de, a Economia, a Demo-<br />

cracia e a Liber<strong>da</strong>de.<br />

“Toutes les formes coopératives pures et véritables,<br />

acceptent et appliquent universellement ces principes, selon,<br />

bien entendu, des degrés variables de perfection et succès et<br />

compte tenue des circunstances et des qualités (compréhen-<br />

sion, courage, fidelité), des coopérateurs eux-mêmes”.<br />

A Socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s Nações já acentuou que há uma espécie<br />

de afini<strong>da</strong>de natural entre as necessi<strong>da</strong>des que fazem nascer a<br />

ação cooperativa e a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação, ambas, aliás,<br />

associa<strong>da</strong>s à crença no progresso e no progresso pelo esfôrço.<br />

Não sòmente a decisão de criar uma organização coopera-<br />

tiva ou de à mesma aderir supõem conhecimentos e um certo<br />

nível de quali<strong>da</strong>des intelectuais e morais; direta ou indireta-<br />

mente, a ação cooperativa contribui de maneira eficaz para a<br />

educação econômica, para o desenvolvimento de quali<strong>da</strong>des<br />

pessoais. Nesse sentido disse eminente cooperador inglês, que é<br />

também um educador:<br />

Diz se com razão que o cooperativismo é um movimen-<br />

to econômico que serve à educação Entretanto, esta afirma-<br />

ção não deixa de ser ver<strong>da</strong>deira se a invertemos: o cooperati-<br />

vismo é um movimento educativo que se serve <strong>da</strong> ação eco-<br />

nômica .<br />

É o Dr. Laszlo Valko ilustre professor e chefe do Departa-<br />

mento de Economia Agrícola do State College de Washington..<br />

Os trechos que reproduzo abaixo, pertencem a um de seus mais


FABIO LUZ FILHO 39<br />

recentes trabalhos, que versa um tema de grande interêsse:<br />

“As idéias cooperativas do Este e do Oeste”, Nêle o autor<br />

define a atitude ortodoxa <strong>da</strong>s cooperativas dos países<br />

ocidentais, e certa alteração de princípios nos países sob a<br />

influência política dos comunistas. Grande estudioso de<br />

assuntos econômicos, e integrado nas idéias cooperativas,<br />

possui ain<strong>da</strong>, den- tre outros e editado o ano passado, um<br />

trabalho no mesmo sentido do já citado — “Tendências<br />

políticas na educação cooperativa” e outro, lançado em 1954 -<br />

“InternatIonal Handbook of Cooperative Legislation”, que<br />

contém comentários em tôrno dos atuais leis européias sôbre<br />

cooperativismo.<br />

Está êle elaborando outro trabalho sôbre a América do<br />

Sul, no mesmo sentido, tendo-lhe sido forneci<strong>da</strong> grande cópia<br />

de subsídios pelo Serviço de Economia Rural e pelo Centro<br />

Nacional de Estudos Cooperativos, e por mim pessoalmente,<br />

no que tange ao Brasil.<br />

Eis os trechos:<br />

“No conjunto dos princípios cooperativos essenciais, en-<br />

contram-se as mesmas diretivas expressas pelos princípios de<br />

Roch<strong>da</strong>le e que dão os elementos fun<strong>da</strong>mentais do cooperati-<br />

vismo ocidental.<br />

“Segundo esta teoria, o cooperativismo é uma associação<br />

voluntária de elementos individuais, os quais desejam fun<strong>da</strong>r<br />

uma emprêsa econômica comum aju<strong>da</strong>ndo-se uns aos outros.<br />

Um dos princípios essenciais é o <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de e o do caráter<br />

voluntário <strong>da</strong> associação, e, em segui<strong>da</strong>, a neutrali<strong>da</strong>de e o de-<br />

sejo de aju<strong>da</strong> mútua. São princípios dirigidos não sòmente<br />

para um fim econômico, mas também para certos fins sociais,<br />

o que enriquece a estrutura <strong>da</strong> organização cooperativa por<br />

elementos ideais. Visto dêste ângulo, o cooperativismo não é<br />

apenas um movimento de massas, mas um movimento para a<br />

massa dos indivíduos.<br />

“ Os representantes do movimento cooperativo,<br />

confiantes na evolução progressiva <strong>da</strong> ordem social e<br />

econômica sem que seja preciso destruir as instituições<br />

existentes <strong>da</strong> civilização, declaram que o cooperativismo não<br />

é uma forma de violência.<br />

“A tendência geral do movimento cooperativo ocidental<br />

continua fiel ao principio <strong>da</strong> neutrali<strong>da</strong>de política no sentido<br />

dos princípios de Roch<strong>da</strong>le. O cooperativismo não é, pois, um<br />

movimento político, nem serve a tendências políticas, venham<br />

elas <strong>da</strong> direita ou <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong>.<br />

“Salvo na Inglaterra, não existe “partido cooperativo”<br />

pròpriamente dito como representante do Movimento. Ao con-


40 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

trário, em numerosos países europeus, nos quais ain<strong>da</strong><br />

sobrevive o ideal sistema parlamentar, pode-se observar que<br />

os deputados de partidos politicos diferentes, simpatizantes<br />

do cooperativismo, não se encontram sòmente para discutir<br />

problemas do movimento cooperativo; mas, apesar de seus<br />

pontos de vista políticos divergentes, fazem declarações<br />

comuns sôbre quêstões cooperativas e, quando é o caso, se<br />

apóiam mùtuamente nos debates parlamentares para a<br />

defesa <strong>da</strong>s idéias cooperativas.<br />

“Se esta colaboração é possível na vi<strong>da</strong> política e na<br />

ativi<strong>da</strong>de parlamentar dos diversos países, deve ela permitir<br />

ain<strong>da</strong> mais aos simples cooperadores poderem viver juntos<br />

em paz sôbre uma base comum. Esta “neutrali<strong>da</strong>de”<br />

política não envolve uniformi<strong>da</strong>de negativa dos indivíduos.<br />

A ver<strong>da</strong>deira neutrali<strong>da</strong>de política não é a indiferença pelos<br />

negócios públicos, e é ocioso dizer que todo cooperador tem<br />

suas próprias idéias políticas conforme, em grandes linhas,<br />

as idéias cooperativas... Nesses casos os cooperadores são<br />

também elementos ativos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> política, mas suas<br />

ativi<strong>da</strong>des não interferem nas socie<strong>da</strong>des cooperativas, e<br />

estas não se tornam nunca simples instrumentos de fins<br />

políticos”.<br />

Já em livro fazemos sentir que Domingos Bórea<br />

acentuou que o cooperativismo deve ser livre, neutral, isto é,<br />

não-vinculado a credo político ou religioso algum. A lógica<br />

assim o impõe e a exclusão <strong>da</strong>s questões políticas e religiosas<br />

de todos os atos de uma socie<strong>da</strong>de cooperativa representa o<br />

desiderato a que devem aspirar os cooperativistas puros e<br />

o grau mais perfeito de que é suscetível o cooperativismo.<br />

“O cooperativismo “genuíno” é o que se não confunde<br />

com idéias políticas e com paixões e só afirma e consagra<br />

princípios simples, aceitos por todos os homens honestos<br />

pertencentes a qualquer nacionali<strong>da</strong>de, partido político e<br />

religiaso, e adota estritamente o “princípio de Howarth”.<br />

A lei Argentina n.° 11 .388 estabelece, que as<br />

cooperativas “não poderão ter por fim principal nem<br />

acessório a propagan<strong>da</strong> de idéias políticas, religiosas, de<br />

nacionali<strong>da</strong>des ou regiões determina<strong>da</strong>s, nem impõe como<br />

condição de admissão a vinculação dos associados a<br />

organizações religiosas, partidos políticos ou agrupações de<br />

nacionali<strong>da</strong>des ou regionais”.<br />

“Para a política estão os comitês; para a religião os tem-<br />

plos e para a cooperação as cooperativas”.


FÁBIO LUZ FILHO 41<br />

Não devem existir cooperativas burguesas, socialistas,<br />

etc., pois, a cooperação não tem programa “máximo” nem<br />

programa “mínimo”, mas um só: o programa “cooperativo”.<br />

“Que se adote êsse principio fun<strong>da</strong>mentalíssimo se se<br />

quiser o desenvolvimento intenso e livre <strong>da</strong> cooperação. O<br />

ideal cooperativo se opõe em absoluto a que em suas insti-<br />

tuições cooperativas e de mutuali<strong>da</strong>de intervenham a<br />

política, a religião, a nacionali<strong>da</strong>de dos sócios. Nelas os sócios<br />

se unem para fins exclusivamente econômicos e instrutivos.<br />

Que tem que ver com isto o credo religioso, politico ou a<br />

nacionali<strong>da</strong>de? Como explicar que em uma cooperativa se<br />

exija dos sócios que pertençam a um partido conservador,<br />

radical, socialista, ou a uma religião católica, ju<strong>da</strong>ica,<br />

protestante, maometana, ou a uma nacionali<strong>da</strong>de, argentina,<br />

hespanhola, italiana, russa?... Por que colimar um fim<br />

político, religioso ou nacionalista por meio <strong>da</strong>s<br />

cooperativas? Não sabemos nós acaso que as rivali<strong>da</strong>des de<br />

nacionali<strong>da</strong>des, de religião e de política mantêm divididos e<br />

em contínuas lutas não só às nações senão também a todos os<br />

habitantes de uma mesma nação?<br />

“O supremo ideal <strong>da</strong> cooperação e <strong>da</strong> mutuali<strong>da</strong>de é<br />

unir os homens para fins econômicos e instrutivos tendentes<br />

a beneficiar a produção e o consumo, a moralizar o comércio,<br />

o crédito e os seguros, a fomentar a previdência, isto é, a<br />

economia e o seguro”.<br />

“Fàcilmente contestaremos que a neutrali<strong>da</strong>de é de<br />

importância prática fun<strong>da</strong>mental, pois permite alcançar o<br />

ideal supremo <strong>da</strong> cooperação, isto é, o intercâmbio<br />

internacional de produtos entre as cooperativas; fazer dos<br />

produtores e consumidores uma só e grande família, o que se<br />

não alcançará se tivermos cooperativas socialistas,<br />

burguesas, sindicalistas, católicas, ju<strong>da</strong>icas, etc., uma vez que<br />

o ódio existe intenso entre as diversas coletivi<strong>da</strong>des políticas<br />

e religiosas.<br />

“As grande vitórias <strong>da</strong> cooperação inglesa, disse Hans<br />

Muller, realizaram-se sôbre o princípio básico <strong>da</strong> neutrali<strong>da</strong>de<br />

cooperativa”.<br />

Carlos Howarth, Juan Bent, Santiago Smithies e outros,<br />

afirmamos em “Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas”<br />

e em “Crédito Agrícola e problema agrário”, reuniram em<br />

Roch<strong>da</strong>le todos os tecelões de tendências políticas e religiosas<br />

diferentes. Nasceu, pois, a. cooperação com um absoluto ca-<br />

ráter de neutrali<strong>da</strong>de em questões políticas, religiosas e de<br />

nacionali<strong>da</strong>de.


42 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Rivas Moreno na Espanha diz que nas socie<strong>da</strong>des cooperativas<br />

não se pergunta, aos que nela ingressam, em que religião<br />

comungam nem em que partido militam.<br />

A lei argentina 11.388 é taxativa: “No puederán tener por<br />

fin principal ni accessorio la propagan<strong>da</strong> de ideas políticas,<br />

religiosas, de nacionali<strong>da</strong>des o regiones determina<strong>da</strong>s, ne<br />

imponer como condición de admisión la vinculaclón de los<br />

socios con organizaciones religiosas, partidos políticos o<br />

agrupaciones de nacionali<strong>da</strong>des o regionales.<br />

Já dissemos que São Francisco de Assis (tão diferente dos<br />

Jesuítas Brâmanes, que aos párias ofertavam a hóstia na ponta<br />

de uma bengala para evitar-lhes o contacto profano e humilde, e<br />

tão diferente <strong>da</strong>queles estigmatizados pelo próprio Pio II..,), S.<br />

Francisco de Assis que, com Joachim de Floro, era tolerado<br />

quase com asco pelos seus contemporâneos cardinalicios, S.<br />

Francisco de Assis era natural de Umbria, filho de mercador, e<br />

diz a len<strong>da</strong> que veio à luz em uma estrebaria, circunstância que<br />

ain<strong>da</strong> mais o aproxima de Cristo, seu excelso paradigma.<br />

Prezando como virtude cardeal a pobreza, surgiu em uma<br />

época em que a dissolução de costumes atingiria um grau de<br />

inconcebível intensi<strong>da</strong>de. Possuindo um entranhado amor <strong>da</strong>s<br />

coisas <strong>da</strong> natureza, pregava a volta ao seu seio úbere e<br />

purificador, e fazia <strong>da</strong> alegria de viver uma necessi<strong>da</strong>de<br />

orgânica. “Gaudentes in domino”...<br />

Emile Gebhart, em “Italie Mystique”, diz, reportando-se a<br />

S. Francisco de Assis:<br />

“Não pregava o ascetismo desesperado dos monges e<br />

eremitas, não ameaçava os homens com uma crise de<br />

consciência; viram nêle, desde os primeiros atos de sua<br />

vocação, um meridional, um italiano, um poeta, amigo do<br />

movimento e <strong>da</strong> luz, não conhecendo a tristeza, nunca<br />

inquietado por pensamentos amargos”.<br />

E Fabio Lua, comentando o trabalho de Gustavo<br />

Macedo sôbre S. Francisco de Assis, diz: “A volta à<br />

natureza, que despontava em Gioachinj, iluminado pelos<br />

raios solares, no momento em que doutrinava, e saindo<br />

para contemplar o campo, acompanhado dos fiéis entoando<br />

canticos, se acentua em S. Francisco, com suas prédicas<br />

ao ar livre, em pleno campo, assistido pelas andorinhas<br />

chilreantes, que obedeciam à sua intimativa e se<br />

conservavam silenciosas durante o resto <strong>da</strong> prédica, como<br />

as cobras se deixam hipnotizar pelos fluidos despedidos dos<br />

olhos magnetizadores dos lamas e dos faquirs”.


FÁBIO LUZ FILHO 43<br />

S. Francisco de Assis, combatendo o faquirismo<br />

dominante na época pela reclusão e espirito contemplativo<br />

dos monges, acossados pelas lutas arma<strong>da</strong>s de então,<br />

proclamava que o Senhor preferia as obras de cari<strong>da</strong>de à<br />

observancia exterior de preceitos religiosos. Ao fausto e à<br />

dissolução opunha a pobreza e a cari<strong>da</strong>de afora<strong>da</strong> em<br />

virtude teologal, a volta à vi<strong>da</strong> simples, ao contacto <strong>da</strong><br />

natureza munífica. Modelava as almas no sentido do<br />

Cristianismo primitivo, religião dos humildes...<br />

“Deus quer a misericórdia e não o sacrifício”...<br />

E Leão XIII, em sua encíclica Praeclara gratulationes,<br />

dizia: “Vera conjunctio inter christianos est, quam autor<br />

Ecclesiae Jesus Christus instituit voluitque, in fidei et regimi-<br />

nis unitate consistens”. Essa uni<strong>da</strong>de de fé e de regime, fé nas<br />

virtudes morais e sociais de ca<strong>da</strong> um e regime de igual<strong>da</strong>de,<br />

eis o grande escopo a colimar nas cooperativas.<br />

Assim sendo, é inadmissível que continuem a surgir no<br />

Brasil cooperativas que insistem em se fecharem em discrimi-<br />

nações confessionais em seus estatutos e em suas denomina-<br />

ções, ou estadeiam nomes de santos, etc. Ora são católicas,<br />

ora evangélicas, e ùltlmamente espíritas, só faltando que<br />

apareçam as ju<strong>da</strong>icas, muçulmanas, etc., numa melancólica e<br />

contraproducente atomização.<br />

Tudo isso temos combatido em livros e em artigos, e há<br />

a respeito lúci<strong>da</strong> jurisprudência firma<strong>da</strong> pelo ex-consultor<br />

do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, Dr. Luciano Pereira, aliás<br />

apoiando tese que levantamos face à legislação específica e<br />

o de-jure-constituendo. Tudo Isso subverte o clássico<br />

princípio doutrinário neutral. Em “Teoria e prática <strong>da</strong>s<br />

socie<strong>da</strong>des cooperativas” temos a respeito longo capitulo, e<br />

agora aduzi-mos novos argumentos em “Crédito agrícola e<br />

problema agrário”<br />

Ora, permitindo-se nomes de santos, etc., ou restrições<br />

estatutárias, ter-se-á de permitir tô<strong>da</strong> e qualquer pertinência<br />

a vultos, próceres ou princípios de quaisquer outras religiões,<br />

credos políticos, privanças raciais ou de nacionali<strong>da</strong>de. A<br />

própria alegação, ver<strong>da</strong>deira, de que a imensa maioria do<br />

povo brasileiro é católica, não deve colhêr, de vez que seria,<br />

constitucional e doutrinàriamente, condenável essa atitude.<br />

A imensa maioria de um dos povos mais avançados em<br />

matéria cooperatlva, o inglês, é protestante, e não admite dis-<br />

criminações religiosas nem mesmo nos títulos de suas cooperativas.<br />

Entrará um católico para uma cooperativa que estadeie


44 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

em sua denominação a flâmula luterana ou calvinista, para<br />

uma cooperativa espírita e vice-versa?...<br />

O próprio espiritismo não pertence mais, hoje, segundo<br />

seus adeptos e doutrinadores, ao campo <strong>da</strong> demonologia medieval,<br />

integrante <strong>da</strong> fenomenologia <strong>da</strong> magia negra ou puro<br />

fenomenismo de hipnomagnetologia, epifenomenalismo, fôrça<br />

ódica, etc., na terminologia específica. Allan Kardec (Hipólito<br />

Rivail) deu-lhe foros de religião; é êle considerado pelos seus<br />

epígonos e adeptos como um corpo de doutrinas já<br />

estratifica<strong>da</strong>s. Sua teoria neo-espiritualista se resume no cânon<br />

de que o plano de existência cósmica se situa em três etapas: a<br />

material, a astral e a psíquica. E considerado uma reminiscência<br />

<strong>da</strong>s velhas práticas religiosas <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong>de.<br />

Ilustre comentador afirma até que o espiritismo é a<br />

nova revelação do Sinai, é a primeira etapa dum sistema<br />

teogônico que se desdobrou através do cristianismo,<br />

fin<strong>da</strong>ndo na Integralização do espiritismo. “A essência <strong>da</strong>s<br />

afirmações de Allan Kardec, por mais que custe a espíritos<br />

modernos, reduz-se, basilarmente, a esta conseqüência<br />

concreta: O espiritismo é o sucedâneo do Cristianismo,<br />

como êste o foi do ju<strong>da</strong>ísmo”.<br />

Outros assinalam que Hipólito Rivail (Allan Kardec)<br />

teorizou uma nova religião. Esta religião Kardequista,<br />

segundo êles, repousa no Cristianismo, firma raízes nas<br />

religiões iniciáticas e no ritualismo <strong>da</strong>s filosofias antigas.<br />

O espiritismo hoje, segundo a abun<strong>da</strong>nte teorização do<br />

seu pontífice máximo e a de seus modernos exegetas,<br />

unívocos, apresenta visos de uma religião revela<strong>da</strong>. E<br />

considerado, por êles, no plano espiritualista, como um<br />

ramo do Cristianismo, bojante de noções existentes nas<br />

velhas filosofias.<br />

Assim, pois, como admitir também cooperativas<br />

espíritas? E um dos pioneiros e precursores brasileiros,<br />

Teixeira Duarte, disse muito bem que a política e a<br />

religião não devem entrar como pensamento inspirador na<br />

formação e funcionamento de nenhuma cooperativa. “A<br />

cooperação, mesmo em si, num sentido amplo e filosófico,<br />

é uma religião, mas isenta de sectarismos dispersivos,<br />

porque uma religião pelo dever, pelo amor, pelo trabalho<br />

comum e para todos”. Luzzatti mais de uma vez afirmou<br />

que o cooperativismo não deve nem pode ser o monopólio<br />

de nenhuma escola, de nenhuma seita, de nenhum partido<br />

político; mas, como a luz fecun<strong>da</strong>nte do sol,<br />

Na sua esplendecência, deve banhar a cabeça de todos os<br />

mortais.


FÁBIO LUZ FILHO 45<br />

AINDA OS PRINCÍPIOS ROCHDALIANOS<br />

Foi iniciado o movimento cooperativo, en suas<br />

caracterís-ticas vitais, em 1844, por 28 pobres tecelões<br />

inglêses de Roch<strong>da</strong>le (os Probos Pioneiros de Roch<strong>da</strong>le), no<br />

Lancashire, com a sua modesta cooperativa de consumo, sem<br />

outra preocupação que não fôsse a obtenção de um melhor<br />

padrão de vi<strong>da</strong>, premidos pelas contingências de uma vi<strong>da</strong> de<br />

asperezas e sacrifícios. E já destinavam 2,5% <strong>da</strong>s sobras<br />

anuais a fins de educação. Essa modesta cooperativa foi a<br />

célula-mater <strong>da</strong>s atuais organizações que arrancaram a Mac<br />

Donald expressões de admiração, considerando-as as únicas<br />

capazes de soerguer moral, social e econômicamente o<br />

mundo.<br />

Contam-se por milhões, hoje, as famílias que se abrigam<br />

sob a bandeira de emancipação que o cooperativismo<br />

desfral<strong>da</strong> sôbre o mundo em irisados panejamentos de<br />

fraterni<strong>da</strong>de e paz, lançando os fun<strong>da</strong>mentos de uma<br />

economia nova, afasta- do o espírito de lucro sem peias e<br />

colima<strong>da</strong> a satisfação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des humanas, procurando<br />

organizar a produção para o consumo.<br />

Repetto acentuou que os cooperadores de Roch<strong>da</strong>le não<br />

eram doutores, nem advogados, nem médicos, nem engenhei-<br />

ros, nem sequer procuradores, profissões que nos tempos que<br />

correm adquiriram uma importância bastante sensível; eram<br />

operários tecelões que, impulsionados pela necessi<strong>da</strong>de, tive-<br />

ram que estu<strong>da</strong>r o problema de como se podia conseguir,<br />

com a mesma quanti<strong>da</strong>de de dinheiro, que recebiam como<br />

salários, uma maior quanti<strong>da</strong>de de coisas, isto é, como<br />

poderiam aumentar o poder aquisitivo de seus salários. E<br />

êsses modestos tecelões, frisa êle, que não sabiam economia<br />

política, que não tinham estu<strong>da</strong>do, como nós outros, ciências<br />

sociais, mas que tinham, em contraposição, um sentido<br />

profundo <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, e que experimentavam, sobretudo,<br />

a imperiosa necessi<strong>da</strong>de de viver um pouco melhor com o<br />

mesmo salários, chegaram a esta conclusão: “que, para<br />

realizar êsse desejo, tinham que renunciar ao velho sistema<br />

de comprar ca<strong>da</strong> um isola<strong>da</strong>mente e fun<strong>da</strong>r uma socie<strong>da</strong>de<br />

que, agrupando o poder aquisitivo de ca<strong>da</strong> um dêles, lhes<br />

permitisse realizar as compras em conjunto, beneficiando-<br />

se dêsse modo com as bonificações correntes nos preços de<br />

ven<strong>da</strong> em grosso”.<br />

E Holyoake cita palavras de James Smithies, um dos<br />

gloriosos de Roch<strong>da</strong>le:


46 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

“L’amélioration du sort de nos membres est visible <strong>da</strong>ns<br />

leur continence, <strong>da</strong>ns leur liberté de parole. Vous vous imagineriez<br />

difficilement combien les change leur affilation à une<br />

société coopérative”.<br />

A cooperativa de consumo nasceu, pois, na Inglaterra.<br />

Sumariando o que dizemos em Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des<br />

cooperativas acentuamos que a cooperativa de consumo<br />

dá ao consumidor, têrmo dialético, na proporção de suas<br />

compras, princípio cooperativo fun<strong>da</strong>mental, os benefícios ou<br />

proventos que o intermediário iria receber, excedentes ou sobras<br />

estas distribuí<strong>da</strong>s no fim do exercício social. Visa ao justo<br />

preço. Ganha o consumidor na quali<strong>da</strong>de, na sani<strong>da</strong>de, no peso<br />

exato, nos fundos sociais, sendo os excedentes do preço do custo<br />

devolvidos no fim do ano, constituindo os retornos. Há quem<br />

pense seja preferível, em vez de repartir êsse excesso de<br />

percepção no fim do ano, que se ven<strong>da</strong> a mercadoria a preço<br />

baixo. Mas, há nisso inconvenientes, entre êles o do associado<br />

não ser levado à economia. Além disso, os inconvenientes <strong>da</strong><br />

ven<strong>da</strong> a preço baixo seriam grandes. A prática cooperativa<br />

demonstra que, com isso, se travaria luta com o comércio, o<br />

que se deve evitar no interêsse <strong>da</strong> consoli<strong>da</strong>ção do<br />

movimento. Podem-se também calcular mal as despesas<br />

gerais indispensáveis, fixar preços de ven<strong>da</strong> abaixo dos de<br />

custo; existe ain<strong>da</strong> o risco de ficar a socie<strong>da</strong>de sem fundos<br />

disponíveis, não permitindo compras em condições<br />

vantajosas, etc. O critério é o justo preço.<br />

A cooperativa de consumo é, em primeiro lugar, um<br />

órgão regulador de preços de um mercado. Assim, quando<br />

se estabelece uma cooperativa em qualquer região ou<br />

bairro, põe ela fim a todo lucro exagerado, a todos os abusos<br />

dos intermediários, que se vêem obrigados a minorar o<br />

preço.<br />

O justo preço é representado pelas despesas gerais, etc.,<br />

acrescidos ao preço de custo, numa medi<strong>da</strong> razoável e justa,<br />

dentro do qual sempre podem as cooperativas ter um<br />

benefício normal e legítimo. A cooperativa, assim, não só<br />

oferece vantagens a seus associados exclusivamente, mas a<br />

todos os habitantes <strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de onde exerce a sua<br />

influência, saneando os preços.<br />

Das cooperativas de consumo devem tomar parte tô<strong>da</strong>s<br />

as classes sem discriminações, pois são organizações abertas,<br />

são economias coletivas públicas.<br />

Assim, já se disse, as duas instituições, — a <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de e a <strong>da</strong><br />

associação — se integram na reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> — sendo


FÁBIO LUZ FILHO 47<br />

a associação o amparo <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>de emancipa<strong>da</strong>, dema-<br />

siado vacilante no seu próprio insulamento.<br />

As cooperativas de consumo, tendo tido por berço a<br />

Inglaterra, estão naturalmente indica<strong>da</strong>s como o instrumento<br />

coletivo melhor ajustado aos interêsses <strong>da</strong>s classes médias e<br />

pobres, para todos aquêles que vivem de salários, pequenos<br />

ordenados, poucas ren<strong>da</strong>s e têm família ou prole de que<br />

cui<strong>da</strong>r; aquêles cuja vi<strong>da</strong> terra-a-terra não pode consentir<br />

orçamentos folgados e cujo equilíbrio deve ser buscado<br />

justamente no justo preço que a cooperativa de consumo<br />

pode fornecer, oferecendo-lhe, ademais, artigos sãos e de pêso<br />

exato, e conduzindo a obras sociais.<br />

A atual legislação brasileira sôbre cooperativas define<br />

perfeitamente essas organizações de bem público.<br />

* * *<br />

Já temos acentuado que a cooperativa leva produtores e<br />

consumidores a uma situação de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de moral e econô-<br />

mica de benéficos resultados. O cooperativismo, reunindo sob<br />

sua bandeira, no mundo, a milhões de sêres, faz que se exerça,<br />

de uma maneira completa e eficiente, como já foi acentuado,<br />

a ação social e econômica <strong>da</strong>s classes que produzem e conso-<br />

mem, assegurando-lhes a interferência, consciente e racional,<br />

na produção e repartição <strong>da</strong>s riquezas.<br />

As cooperativas soli<strong>da</strong>rizam interêsses individuais no<br />

interêsse <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de; ligam diretamente produtores e<br />

consumidores, fechando o ciclo do processo econômico. Nelas,<br />

o lucro que deveria ir para o intermediário, é restituído a<br />

êsses produtores e consumidores livremente associados. O<br />

cooperativismo constitui um sistema econômico que<br />

estabelece novos moldes para a produção, o consumo, o<br />

crédito, o intercâmbio, modificando o atual regime do<br />

comércio intermediário ou especulativo e <strong>da</strong>ndo ao produtor<br />

o seu ver<strong>da</strong>deiro lugar no fenômeno <strong>da</strong> produção econômica,<br />

e aos consumidores a sua ver<strong>da</strong>deira posição na esfera do<br />

consumo, têrmo último do mecanismo econômico. Dá ao<br />

produtor uma maior capaci<strong>da</strong>de de produção e um maior<br />

poder de ven<strong>da</strong>. Não é necessário apenas saber produzir; é<br />

necessário e urgente saber vender, empregar novas diretrizes na<br />

comercialização <strong>da</strong> riqueza produzi<strong>da</strong> em moldes solidários.<br />

Os chamados “lucros” <strong>da</strong>s cooperativas são excedentes<br />

ou sobras, de vez que elas assumem a feição de man<strong>da</strong>tárias; res-<br />

tituem ao associado o que cobraram a mais para as suas des-


48 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

pesas imprescindíveis. Não há nelas o animus lucri, que constitui<br />

a essência <strong>da</strong> comerciali<strong>da</strong>de. As cooperativas são socie<strong>da</strong>des<br />

sui-generis, estabelecendo uma relação jurídica<br />

ob personam. Não visam ao lucro, e, sim, à satisfação de<br />

necessi<strong>da</strong>des, de vez que o fim econômico <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

humana é a satisfação dessas necessi<strong>da</strong>des. Antepõe a<br />

economia do serviço à economia do lucro, dinamizando<br />

valores humanos. Como socie<strong>da</strong>de de pessoas e não de<br />

capitais têm um sentido democrático: um homem, um voto.<br />

O seu princípio-chave é êste: as sobras anuais são repre-<br />

senta<strong>da</strong>s pela que sobrou <strong>da</strong>s taxas cobra<strong>da</strong>s para as<br />

despesas de administração ou pela diferença entre o preço<br />

do custo e o <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> nas de consumo, computados, claro,<br />

nisto, os elementos essenciais ao funcionamento normal de<br />

uma emprêsa econômica.<br />

As sobras, depois de pagos os juros, quando existirem, e<br />

tira<strong>da</strong>s as percentagens para os fundos sociais indivisíveis, é<br />

que são restituí<strong>da</strong>s aos associados na proporção do<br />

consumo, dos juros pagos, <strong>da</strong> produção entregue ou do<br />

trabalho fornecido, conforme a forma de cooperativa<br />

adota<strong>da</strong>. É o retôrno. Foi Carlos Howarth, ovenista, pobre<br />

operário de uma fábrica de algodão, o inspirador dêsse<br />

princípio-chave, que Gide classificou de “golpe de gênio”: a<br />

norma do retôrno, a distribuição <strong>da</strong>s sobras do exercício<br />

social na proporção <strong>da</strong>s operações realiza<strong>da</strong>s pelo associado<br />

que não do capital. Nelas vale o esfôrço, que se recompensa.<br />

Em Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas acentua-<br />

mos que o cooperativismo é uma fôrça de conquista, uma<br />

forma superior de evolução econômica e social. Nêle<br />

consumidores e produtores terão o instrumento específico<br />

do govêrno econômico, organizando, planificando a<br />

economia a economia, porquanto o velho postulado de<br />

acôrdo espontâneo dos egoísmos não tem mais, nesta época<br />

de idéias coletivas, razão de ser.<br />

Acentuamos também que o cooperativismo cria uma<br />

nova situação em que os consumidores e os produtores são<br />

colocados à frente dos seus próprios destinos, à testa <strong>da</strong><br />

administração <strong>da</strong>s coisas. Estabelece êle o justo equilíbrio<br />

entre o processo econômico e o processo social, regulando a<br />

produção na conformi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des previstas,<br />

evitando, tanto quanto possível, os desníveis clássicos entre a<br />

produção descontrola<strong>da</strong> e o consumo desorganizado,<br />

disciplinando a ambos. E êste objetivo será melhor<br />

alcançado quando as cooperativas, num movimento de<br />

integração vertical, formarem seus órgãos de segundo grau:<br />

as federações.


FÁBIO LUZ FILHO 49<br />

Colimando o valor de uso, a satisfação de necessi<strong>da</strong>des, o<br />

“justo preço”, que é a abolição do lucro, tira, pois, o<br />

cooperativismo ao principio <strong>da</strong> concorrência aquele<br />

irrevocável valor que lhe emprestavam os economistas<br />

clássicos. Sempre viram êles, nessa “concorrência de<br />

rendimento ou funcional”, a mola vital do livre câmbio, a<br />

segurança <strong>da</strong> expansão Indefini<strong>da</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> econômica.<br />

Sombart adverte contra as supostas virtudes dessa “livre<br />

rivali<strong>da</strong>de”, tal a fôrça imanente do capitalismo moderno, no<br />

seu poder econômico proteiforme, tão afastado <strong>da</strong>quele<br />

espírito <strong>da</strong> economia pré-capitalista, e do <strong>da</strong> economia do<br />

próprio capitalismo nascente, que ouvia, contrito, a adver-<br />

tência evangélica de Malperger: não desvies em teu beneficio<br />

a clientela do outro e não faças a outros o que não queres<br />

que te façam...<br />

Bernhard Jaeggi difiniu muito bem a substancial diferen-<br />

ça que existe entre uma Cooperativa e uma emprêsa capi-<br />

talista.<br />

Diz êle que as cooperativas não são emprêsas capitalistas.<br />

Entre uma organização cooperativa e uma emprêsa priva<strong>da</strong>,<br />

especialmente uma socie<strong>da</strong>de por ações, há uma grande dife-<br />

rença, porque:<br />

1.º - Na cooperativa é a pessoa humana que está em<br />

jôgo e que prepondera, enquanto na emprêsa capitalista é o<br />

capital;<br />

2.° - Quando uma cooperativa devolve aos associados as<br />

sobras excedentes do exercício, ou quando emprega êstes últi-<br />

mos em formar um capital, e quando combate a ven<strong>da</strong> a crê-<br />

dito, não se tem o direito de compará-la a uma socie<strong>da</strong>de que<br />

realiza grandes lucros capitalizando-os ou distribuindo-os<br />

como dividendos, os quais fazem subir o valor <strong>da</strong>s ações,<br />

criando, dessa maneira, ren<strong>da</strong> sem trabalho;<br />

3.º - As cooperativas não são emprêsas capitalistas, mas<br />

emprêsas do povo, administra<strong>da</strong>s pelo povo;<br />

4.º - Se se tivesse tido cui<strong>da</strong>do, nos tempos passados, de<br />

construir o mundo na base dos princípios cooperativos, a<br />

situa- ção atual seria mui diferente;<br />

5.º - Se as cooperativas não existissem, seria necessário<br />

criá-las, a fim de que elas possam exercer seu papel de regula-<br />

doras dos preços no interêsse dos consumidores.<br />

Hoje, mais do que nunca, já o disse, os postulados<br />

cooperativos devem ser como clarina<strong>da</strong>s de alerta num mundo<br />

conturbado, pululante de germes de dissídios, gerados, na sua<br />

grande parte, de profundos desajustamentos econômicos, ca<strong>da</strong><br />

vez mais comprimentes <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pessoa humana, a qual


50 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

a filosofia cooperativa coloca no primeiro plano de suas cogi-<br />

tações.<br />

Sendo, como bem o classificou Lavergne, um socialismo<br />

econômico que não subverte as liber<strong>da</strong>des públicas e<br />

priva<strong>da</strong>s, seus 106 anos de experiências pelo mundo<br />

reafirmam os conceitos de Fauquet, ao frisar que a coação<br />

estatal tem limites, e que, precisamente quando ela falha, o<br />

cooperativismo vence, trazendo consigo valores humanos,<br />

valores morais...<br />

São êstes valores que o cooperativismo simboliza, lábaro<br />

de arco-íris sôbre um panorama de desenfreios e descomedi-<br />

mentos, a que duas guerras voraginosas deram uma acui<strong>da</strong>de<br />

lacerante.<br />

Cultuar êsses valores na ordem econômica, eis a mira<br />

alpina do cooperativismo mundial, na sua brônzea estrutura<br />

doutrinária, no esplendor de seus inflexíveis princípios dire-<br />

tivos, os quais saíram sublimados do turbilhão dessas duas<br />

terríveis guerras e <strong>da</strong> compressão dos próprios regimes<br />

políti-cos de fôrça.<br />

Para magnificar a grandiloqüência de seus postulados é<br />

que os cooperativistas se reunem anualmente em tertúlias<br />

votivas.<br />

Há tempos, como presidente do “Centro Nacional de<br />

Estudos Cooperativos”, tive oportuni<strong>da</strong>de de lançar, a todos<br />

os que vêem no livre movimento cooperativo universal um<br />

instrumento de renovação humana, veemente apêlo no<br />

sentido de que, mais do que nunca, em face <strong>da</strong>s negras<br />

nuvens prenunciató- rias que, sombriamente, acogulam os<br />

céus, fixem na retentiva, para maior coesão do movimento<br />

cooperativo, as luminosas palavras de Rui Barbosa, ao<br />

referir-se ao sentimento pátrio, palavras aplicáveis ao<br />

sentimento cooperativo, naquela impertérrita mística <strong>da</strong><br />

liber<strong>da</strong>de que admiràvelmente o singularizou, <strong>da</strong>ndo-nos<br />

as maravilhas de uma eloqüência multíssona e as jóias<br />

ignescentes de um estilo rutilante ain<strong>da</strong> não supera- dos na<br />

língua portuguêsa, e cortados dos acentos proféticos que só<br />

os grandes iluminados possuem:<br />

“É uma harmonia instintiva de vontade, uma<br />

desajusta<strong>da</strong> permuta de obrigações, um tecido vivente de<br />

almas entrelaça<strong>da</strong>s”.<br />

“Multiplicai a célula, e tendes o organismo. Multiplicai a<br />

família, e tendes a pátria”.<br />

“Dilatai a fraterni<strong>da</strong>de cristã e chegareis <strong>da</strong>s afeições<br />

individuais às soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>des coletivas, <strong>da</strong> família à nação, <strong>da</strong><br />

nação à humani<strong>da</strong>de”.


FÁBIO LUZ FILHO 51<br />

Que a humani<strong>da</strong>de, entangui<strong>da</strong> de angústias, ouça as clarina<strong>da</strong>s<br />

de esperança em uma nova ordem econômica fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong><br />

nas normas éticas que a doutrina roch<strong>da</strong>liana encar-<br />

na e dinamiza!<br />

Antônio Sérgio, um dos mais brilhantes intelectuais portuguêses<br />

<strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de, é, em Portugal, o mais estrênuo paladino<br />

<strong>da</strong> idéia cooperativa, procurando difundí-la e realizá-la, não<br />

obstante os conhecidos tropeços.<br />

Todos conhecem a acui<strong>da</strong>de de sua pena humanista e a<br />

combativi<strong>da</strong>de de sua cultura multiforme, servi<strong>da</strong>s de uma<br />

linguagem tersa e de estilo cristalino, na boa tradição<br />

literária lusa, ao serviço <strong>da</strong> causa democrática.<br />

Para que se aquilate do valor <strong>da</strong> pregação doutrinária<br />

de Antônio Sérgio, numa nova facêta dêsse ilustre professor<br />

e conhecido escritor, reproduziremos trechos de um dos<br />

capítulos de primeira série de seu recente livro “Cartas do<br />

Terceiro Homem”, cujo título, como vemos, é bem<br />

indicativo <strong>da</strong> sóli<strong>da</strong> substância do livro em face dos atuais<br />

problemas sócio-econômicos <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, sendo um<br />

breviário <strong>da</strong> democracia cooperativa.<br />

Eis o trecho:<br />

“Meu caro Amigo: O cooperativismo, para mim,<br />

constitui elemento de um plano geral pe<strong>da</strong>gógico de<br />

educação autonomística do nosso povo. Como lhe disse em<br />

outra carta, o padre Didon definiu a educação como sendo<br />

a arte de emancipar os homens. Ora, a boa política, no meu<br />

modo de ver, é também uma arte de emancipar os homens;<br />

e estou na crença de que o grande político — como o<br />

grande pe<strong>da</strong>gogo — é aquêle que com a máxima<br />

simplici<strong>da</strong>de e humil<strong>da</strong>de trabalha constantemente por se<br />

tornar dispensável; que é o que treina o povo para se<br />

governar a si mesmo, com o mínimo de intervenção de<br />

quaisquer políticos.<br />

“As “pedras vivas” <strong>da</strong> população adulta, em<br />

cooperativismo integral (de que os povos escandinavos se<br />

têm aproxima- do não pouco, e também Israel) realizam a<br />

sua própria governação econômica, associativamente, — e<br />

também a sua própria educação moral, por isto que o<br />

cooperativismo é o regime econômico em que o bem de<br />

ca<strong>da</strong> homem coincide enfim com o dos outros, em que<br />

trabalhar para os demais é trabalhar para si mesmo,<br />

abolidos por completo todos os antagonismos de interêsses,<br />

tô<strong>da</strong>s as lutas de classes.<br />

“Ca<strong>da</strong> associado, na cooperativa de consumo, — é<br />

comprador a si próprio e vendedor a si próprio; na cooperativa<br />

de habitação,— o senhorio de si próprio é de si próprio inquilino;


52 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

na cooperativa de crédito, — prestamista de si próprio e a si<br />

próprio prestatário. O cooperativismo é o regime em que se<br />

não engana viv’alma, em que ninguém tem interêsse em<br />

burlar o próximo. É o que ver<strong>da</strong>deiramente corta o mal<br />

pela raiz, ou que o impede de nascer.<br />

“O cooperativismo de consumo, por êsse mesmo motivo,<br />

dispensa por completo as fiscalizações pelo Estado, pelo<br />

“país nominal”. Ali, ninguém lucraria com roubar no pêso; nin-<br />

guém ganharia com falsificar os gêneros, com elevar os<br />

preços. Ninguém, portanto, pratica êsses crimes, e não são<br />

necessárias fiscalizações contra êles.<br />

“Como ninguém, na cooperativa de consumo, recebe<br />

lucros de fonte alguma resulta que a prática de qualquer<br />

sorte de fraude é uma hipótese absur<strong>da</strong> em cooperativismo,<br />

já que se faz fraude no sistema lucrativista ùnicamente<br />

como causa de maiores lucros. Os excedentes que se cobram<br />

na cooperativa de consumo, no momento em que o sócio lá<br />

vai comprar, não são para os empregados ou<br />

administradores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, se- não que regressam no fim<br />

do ano ao próprio associado que os desembolsou. Nestas<br />

condições, o dolo é impossível. Ora, o total desaparecimento<br />

<strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de embuste não favorece sòmente o<br />

cooperador de consumo na sua quali<strong>da</strong>de de consumidor de<br />

bens, senão que além disso lhe traz poupança enquanto<br />

ci<strong>da</strong>dão que paga impostos. Como assim? E que faz<br />

desaparecer as fiscalizações, — tô<strong>da</strong> a vasta farragem, de le-<br />

gislação, de regulamentação, de “país nominal”, em suma,<br />

com que o Estado se propõe reprimir as fraudes e essa série<br />

de delitos a que se chama “crimes anti-econômicos”.<br />

“Ora, em todos os domínios em que o cooperativismo se<br />

instala, deixa de existir, de maneira completa, a necessi<strong>da</strong>de<br />

de fiscalizar e de reprimir. E melhor do que castigar é evitar<br />

o crime, ou torná-lo impossível.<br />

“Na Suíça, no dia em que a União <strong>da</strong>s Cooperativas de<br />

Consumo conseguiu triunfar sôbre o truste <strong>da</strong>s carnes, que<br />

dominava o mercado naquele país, logo se tornou absoluta-<br />

mente inútil, e foi aboli<strong>da</strong> por quem de direito, tô<strong>da</strong> a estrutu-<br />

ra policial e jurídica que tinha por objeto combater<br />

as carnes.<br />

“Pretende-se de fato suprimir tais crimes? Deseja-se acabar<br />

com as especulações nocivas, com a prática do açambarcamento<br />

para elevação dos preços, com a ven<strong>da</strong> de gêneros<br />

avariados ou falsos, com a fraude freqüentíssima que é a má<br />

pesagem? Só há um remédio radical para tudo: o de auxiliar, no<br />

maior grau possível, o desenvolvimento <strong>da</strong>s cooperativas de


FÁBIO LUZ FILHO 53<br />

consumo, pondo-as em ligação com os produtores <strong>da</strong>s coisas e<br />

fazendo-se elas produtoras também.<br />

“Porém, a autonomia econômica <strong>da</strong>s “pedras vivas” do povo<br />

deveria ser prepara<strong>da</strong> desde a instrução primária pela autonomia<br />

cívica dos escolares na escola. A meu ver, na<strong>da</strong> mais retrógrado,<br />

prejudicial e abafante do que o figurino para-militar para a<br />

educação dos moços, como na Juventude Hitleriana. O modelo<br />

<strong>da</strong> educação patriótica para os jovens não convirá buscá-lo nas<br />

tradições guerreiras, na disciplina militar, na heteronomia <strong>da</strong><br />

tropa, mas na vi<strong>da</strong> civil dos nossos concelhos antigos, dos<br />

nossos municípios modernos, e na organização democrática <strong>da</strong>s<br />

cooperativas de hoje. A disciplina dos alunos na sua vi<strong>da</strong><br />

escolar cumpriria confiá-la à sua iniciativa própria,<br />

elegendo êles mesmos os seus juizes-alunos, os seus chefes<br />

de equipe, os seus vigilantes e guar<strong>da</strong>s, e mantendo êles<br />

próprios a gerência efetiva <strong>da</strong> cooperativa escolar que os<br />

abastecesse. Percebamos que a liber<strong>da</strong>de é que é o sol <strong>da</strong>s<br />

almas”,<br />

O PENSAMENTO DE HANS MULLER<br />

E O DE FAUQUET<br />

E, tendo base moral, fica patente, segundo Hans Müller,<br />

êsse vínculo entre o cooperativismo e a moral quando se<br />

recor<strong>da</strong> que o cooperativismo na<strong>da</strong> mais é, em substância, que o<br />

princípio <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de encarnado, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de que parte <strong>da</strong><br />

idéia de que todos os homens são irmãos e têm interesses<br />

comuns. O cooperativismo é a imagem <strong>da</strong> grande ver<strong>da</strong>de que<br />

constitui a essência <strong>da</strong> doutrina moral do cristianismo, doutrina<br />

que objetiva, em uma só grande família, abolir ou conciliar as<br />

contradições dos interêsses de classe, de vocação e de povos,<br />

deixando a ca<strong>da</strong> indivíduo os seus direitos e impondo-lhe<br />

deveres, cuja execução recíproca permitirá ao homem o livre<br />

gôzo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> na paz e no bem-estar.<br />

“O cooperativismo é a paz”! — eis o famoso princípio<br />

proclamado pela organização <strong>da</strong>s cooperativas de consumo<br />

alemãs.<br />

“To<strong>da</strong>via, não se deve confundir a liber<strong>da</strong>de com o arbítrio,<br />

com o domínio ilimitado dos interêsses egoístas. Esta<br />

liber<strong>da</strong>de o cooperativismo não dá; ao contrário, ele disciplina<br />

os seus membros, impondo-lhes deveres, limitando-lhes uma<br />

linha determina<strong>da</strong> de conduta. São êsses obstáculos justamen-te,<br />

essas limitações à vontade individual que conduzem à ver-


54 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

<strong>da</strong>deira liber<strong>da</strong>de, de vez que esta consiste precisamente em<br />

ca<strong>da</strong> um submeter-se de bom grado à lei comum, aos imperativos<br />

do direito e <strong>da</strong> moral; conseqüentemente, não<br />

há liber<strong>da</strong>de onde reinar o arbítrio, a cupidez e as paixões<br />

<strong>da</strong> natureza humana”.<br />

Para Hans Müller a liber<strong>da</strong>de não consiste em se fazer<br />

tudo o que se quer, mas em saber o que se deve fazer e<br />

estar-se pronto a obedecer a êste dever sem nenhuma<br />

coerção externa.<br />

E Fauquet pensa <strong>da</strong> mesma forma. Eis, em resumo, seu<br />

pensamento social:<br />

1.º - As instituições cooperativas, filhas <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de e<br />

do espírito de associação <strong>da</strong>s classes populares, podem re-<br />

ceber, e têm efetivamente recebido, um impulso <strong>da</strong>s<br />

doutrinas que, nasci<strong>da</strong>s ao seu lado e construí<strong>da</strong>s sôbre<br />

elas, entusiasmaram os cooperadores com a visão de uma<br />

transformação social integra1 por meio <strong>da</strong> cooperação, o<br />

homem considerado como “capital biológico com valor de<br />

uso”. 2.º - Então, uma visão positiva <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de impõe a<br />

conclusão de que nem as cooperativas de consumo sòmente,<br />

nem o conjunto <strong>da</strong>s formas <strong>da</strong> cooperação, uni<strong>da</strong>s<br />

moralmente e econômicamente entre si, poderão dominar<br />

tô<strong>da</strong> a economia.<br />

3.º - Mas, o valor do setor cooperativo só depende, par-<br />

cialmente, de sua importância econômica; depende êle<br />

grande-mente dos elementos qualitativos que Introduz (ou<br />

reintroduz) na civilização.<br />

4.º - Não se tem memória histórica, e não se tem, nos<br />

dias de hoje, notícia de um só exemplo de socie<strong>da</strong>de que<br />

compreen<strong>da</strong> uma só <strong>da</strong>s formas que os economistas<br />

distinguem em abstrato.<br />

Atualmente, em ca<strong>da</strong> país do globo, inclusive a Rússia,<br />

vemos economias mistas, e a economia internacional, de<br />

que participa a própria Rússia, é, evidentemente, uma<br />

economia mista.<br />

5.º - Em tô<strong>da</strong>s as economias mistas que se podem<br />

obser-var presentemente, ou <strong>da</strong>s quais se pode ter uma<br />

visão prospetiva, através <strong>da</strong> transformação <strong>da</strong> técnica, <strong>da</strong><br />

evolução econômica e dos desenfreios políticos, persistem as<br />

pequenas uni<strong>da</strong>des e ativi<strong>da</strong>des econômicas, deixa<strong>da</strong>s à sua<br />

vontade autônoma: as proprie<strong>da</strong>des campesinas e as<br />

emprêsas artesenais.<br />

É sôbre a base destas pequenas uni<strong>da</strong>des e ativi<strong>da</strong>des<br />

econômicas, e para seu serviço, que se elevam as construções<br />

cooperativas, o cooperativismo é por isso, uma construção de<br />

baixo para cima, de caráter federalista.


FÁBIO LUZ FILHO 55<br />

6.° — As uni<strong>da</strong>des de base <strong>da</strong> construção cooperativa,<br />

são uni<strong>da</strong>des econômicas e, no sentido sociológico <strong>da</strong><br />

palavra, sociais. Têm um caráter pessoal ou familiar,<br />

identificam-se com o homem; seu agrupamento é, no sentido<br />

próprio <strong>da</strong> palavra, uma associação.<br />

Disso resulta que, às relações que ligam<br />

econômicamente as uni<strong>da</strong>des de base às emprêsas<br />

cooperativas, correspondem relações sociais e morais entre<br />

os associados.<br />

Ora, como a empresa cooperativa não absorve inteira-<br />

mente as próprias uni<strong>da</strong>des econômicas de base, mas põe à<br />

sua disposição os meios coletivos para reforçarem a sua<br />

independência, a associação cooperativa apela para os<br />

esforços pessoais ao mesmo tempo que para a união dos<br />

esforços, união que conjuga a individual e o social.<br />

7.º — O fato cooperativo, pois, não é um fato puramente<br />

econômico. Pelas fôrças morais que desenvolve, a associação<br />

cooperativa pertence inteiramente aos sociólogos, e, sòmente<br />

em abstrato e por algum de seus caracteres, aos economistas.<br />

A economia mercantil e o capitalismo a pouco e pouco<br />

separaram o econômico do social, <strong>da</strong>ndo, assim, origem às<br />

ári<strong>da</strong>s e duras reali<strong>da</strong>des que serviram de modêlo às<br />

abstrações dos economistas.<br />

Inversamente, as instituições cooperativas reintegram o<br />

econômico no social. É o esfôrço que lhes cabe na economia<br />

mista dos dias de hoje. Que elas cresçam e tomem um pôsto<br />

predominante na economia mista de amanhã; que elas cons-<br />

tituam o coração dela, para, então, têrmos uma escala de<br />

valores diversa <strong>da</strong>quela constituí<strong>da</strong> pelo predomínio <strong>da</strong>s<br />

formas capitalistas.<br />

Leva, pois, o cooperativismo a uma economia<br />

planifica<strong>da</strong>, de conteúdo social, afasta<strong>da</strong> a legião dos<br />

intermediários inúteis.<br />

Já em “Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas”<br />

fizemos sentir, desenvolvi<strong>da</strong>mente, que o cooperativismo,<br />

no seu largo conceito filosófico-econômico, visa ao amparo<br />

<strong>da</strong> pessoa humana nos torvelinhos <strong>da</strong> atual ordem<br />

econômica, oferecendo-lhe os instrumentos pacíficos para<br />

enfrentá-los, superá-los e independentizar-se, sem perecer<br />

sob o guante <strong>da</strong> exploração capitalista sem norte humano e<br />

sem freio nos seus arroubos de lucro.<br />

Nesse livro dizemos mais que, em cooperativismo, as sobras<br />

(que não implicam o ânimo de especular, exprimindo o<br />

que é pago a menos ao produtor e impôsto a mais ao consumidor<br />

pelo intermediário) são restituí<strong>da</strong>s aos produtores e con-


56 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

sumidores livremente associados sob a forma de retorno (trop<br />

perçus, ristourne, retôrno), fundos sociais, etc.<br />

Abolindo o lucro sem abolir o capital, que é formado pelo<br />

trabalho e acumulado pela economia, combate o cooperativismo<br />

os abusos do capitalismo, de viseira ergui<strong>da</strong>, com desassombro.<br />

Remunera o cooperativismo ao capital de uma maneira<br />

módica, capital, como dissemos, que êle obriga a voltar<br />

á sua ver<strong>da</strong>deira categoria de um dos fatôres <strong>da</strong> produção,<br />

subordinado ao trabalho, que fecun<strong>da</strong>.<br />

É o principio clássico de HOWARTH: a remuneração<br />

fixa ao capital; os lucros a quem contribuiu para formá-<br />

los”. É, como diz GIDE, aquêle princípio, isto é, aquela lei<br />

econômica que diz que o progresso de uma emprêsa reside<br />

menos no capital que na clientela, sendo justo que “os<br />

lucros pertençam a quem assegura a prosperi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

emprêsa”.<br />

Fica, assim, subordinado o capital aos interêsses<br />

legítimos <strong>da</strong>queles que constituem o mola vital <strong>da</strong>s<br />

associações cooperativas, tô<strong>da</strong>s elas repousando<br />

inteiramente na pessoa de seus associados, na sua fôrça de<br />

ação, na sua capaci<strong>da</strong>de de iniciativa, no seu esfôrço de<br />

produção, no seu poder de consumo.<br />

Deve evitar o espírito mercantil que é “essa disposição<br />

em ver no cooperativismo uma questão de armazém, de<br />

cêntimo a economizar ou ganhar”, sendo necessário, certo,<br />

não desdenhar os lados práticos do cooperativismo, mas<br />

não se deve esquecer tampouco que o cooperativismo tem<br />

justamente por fim superior abolir ou, pelos menos, reduzir<br />

a seu limite mínimo, em nossa organização econômica, o<br />

papel do egoísmo, do interêsse pessoal e a preocupação do<br />

lucro.<br />

O cooperativismo, racionalizando, assim, a produção, a<br />

circulação, a distribuição e o consumo <strong>da</strong>s riquezas, tem os<br />

seus postulados de pé, na voragem econômica em que o<br />

mundo se atasca e que o anemiza, Permanecem de pé, e são<br />

o caminho<br />

único para dias melhores.<br />

“Não queremos, na escola cooperativa, suprimir a concorrência<br />

nem o interêsse pessoal que dela emana: não temos essa<br />

pretensão ridícula; desejaríamos apenas despojar a concorrência<br />

de tudo o que nela existe de inútil, de caduco, de sua pele<br />

de serpente, para conservar o que há de salutar como emulação<br />

para o bem. Não acreditamos que a pressão <strong>da</strong> concorrência<br />

seja indispensável, como nos afirmam, para manter tensas as<br />

molas <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de humana. Achamos, como um dos mestres <strong>da</strong><br />

escola individualista e o inventor (antes mesmo de DARWIN) do<br />

struggle for life, HERBERT SPENCER, que


FÁBIO LUZ FILHO 57<br />

o regime econômico atual não passa de um regime transitório,<br />

de uma fase do “industrialismo belicoso”, que não durará<br />

muito tempo”. (GIDE).<br />

Como órgão de ação social, a organização cooperativa<br />

atende, pois, a tô<strong>da</strong>s as faces do problema social. Não resol-<br />

verá ela sòmente, nos campos, o problema de maior<br />

rendimento, o <strong>da</strong> comercialização, o de melhor distribuição,<br />

o <strong>da</strong> conquista dos mercados; mas, também, o <strong>da</strong><br />

higienização, o <strong>da</strong> alfabetização, o <strong>da</strong> assistência hospitalar,<br />

o <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de, e quejandos. Resolve e encaminha,<br />

se não a todos, pelos menos o maior número possível dos<br />

problemas <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de humana. Dela efluirá um elevado<br />

bem-estar coletivo, uma outra ordem de coisas, mais<br />

luminosa, mais alta, mais digna.<br />

Erigindo leis econômicas que levam à organização <strong>da</strong><br />

produção e distribuição <strong>da</strong>s riquezas sôbre bases<br />

eqüitativas e racionais, já dissemos, o cooperativismo<br />

conduz a um conceito mais elevado <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o que é<br />

condição de uma nova ordem de coisas em que as relações<br />

sociais (econômicas, políticas, jurídicas e morais) de<br />

individuo para indivíduo, de grupo para grupo e de nação<br />

para nação repousarão sôbre princípios de entendimento<br />

mútuo, afastado de seu âmbito o espírito de lucro e o<br />

egoísmo sem freio, e colima<strong>da</strong> apenas a satisfação de<br />

necessi<strong>da</strong>des humanas, tendo sempre em vista as exigências<br />

do consumo.<br />

A ação solidária nas organizações cooperativas de pro-<br />

dutores e consumidores para a defesa de Interêsses vitais, institui<br />

novos moldes para a produção e circulação <strong>da</strong>s riquezas,<br />

assumi<strong>da</strong>s funções de distribuição dentro de novos métodos,<br />

organiza<strong>da</strong> a indústria ao influxo do mesmo espírito e<br />

dignifica<strong>da</strong>s as relações financeiras, ergui<strong>da</strong>s sôbre a mesma<br />

base de aju<strong>da</strong>-mútua, humani<strong>da</strong>de e justiça.<br />

Os povos cultos do mundo moderno de há muito que se<br />

organizam cooperativamente, afirmando, assim, a<br />

existência de uma mentali<strong>da</strong>de aberta à exata compreensão<br />

<strong>da</strong>s grandes virtudes <strong>da</strong> união, que é fôrça.<br />

Libertando o produtor <strong>da</strong> entrosagem comercial que lhe<br />

absorve o melhor do lucro que deveria auferir, concorre o<br />

cooperativismo para o aumento <strong>da</strong> produção, pelos princípios<br />

de organização técnica que estabelece, e promove o aperfeiçoamento<br />

dos produtos, padronizando-os e assegurando-lhes<br />

mercados compensadores. Exerce, ademais, o cooperativismo o<br />

contrôle dêsses mercados, impossível ao produtor insulado.<br />

Assume um papel semelhante ao dos agoránomos na velha<br />

Atenas... Liga o produtor diretamente ao consumidor. Os


58 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

lucros que distribui são simples restituições do que foi cobrado<br />

a mais para as necessárias despesas <strong>da</strong> cooperativa. Chamamse,<br />

com proprie<strong>da</strong>de, “sobras”. Tem o caráter de um retôrno, de<br />

reembôlso de uma economia feita. A cooperativa não distribui<br />

seus benefícios ao capital investido na emprêsa, mas, sim,<br />

proporcionalmente ao esfôrço de ca<strong>da</strong> cooperador em beneficio<br />

<strong>da</strong> instituição que lhes presta os serviços de que necessita,<br />

valorizando-lhe a produção e barateando-lhe o consumo.<br />

Facilita, racionaliza e amplia, o cooperativismo, as condições de<br />

produção e trabalho e as possibili<strong>da</strong>des de consumo. Dá ao<br />

consumidor a sua ver<strong>da</strong>deira posição na esfera do consumo,<br />

alvo último de tô<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong>de econômica, <strong>da</strong> riqueza final.<br />

Isto tudo, dizemo-lo em “Teoria e prática”.<br />

Diz E. Poisson que as relações sociais são, certamente,<br />

econômicas, mas, igualmente, jurídicas, políticas, morais e<br />

éticas. Como tô<strong>da</strong>s as relações dos homens e <strong>da</strong>s coisas, é<br />

impossível imaginar-se que fiquem isola<strong>da</strong>s umas <strong>da</strong> outras, e<br />

que as diferentes categorias de relações sociais não se penetrem,<br />

influenciem, equilibrem ou subordinem. Grande êrro tem sido,<br />

por exemplo, tomar em si o homem econômico ou a Socie<strong>da</strong>de<br />

econômica e isolá-los <strong>da</strong>s outras manifestações <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de<br />

material e mental <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.<br />

“Temos, por conseguinte, como base essencial <strong>da</strong><br />

cooperativa, a distribuição proporcional às compras<br />

realiza<strong>da</strong>s (para as de consumo) e ao interêsse do consumidor,<br />

não sendo esta uma afirmação feita a priori nem um principio<br />

enunciado, mas o resultado <strong>da</strong> experiência. A segun<strong>da</strong> regra de<br />

existência do Cooperativismo é de ordem jurídica e nela se<br />

determina a forma de atuação e o direito dos associados.<br />

“O Cooperativismo é de essência democrática ou, mais<br />

exatamente, de self-self administração (administrar-se a si<br />

mesmo), como dizem os inglêses. Esta consiste na igual<strong>da</strong>de<br />

de direitos dos associados para a sua atuação. E uma regra<br />

de direito que se resume numa fórmula inglêsa,<br />

singelamente expressiva: one man, one vote (um homem, um<br />

voto).<br />

E acentua que o cooperativismo é um modêlo de<br />

administração própria, um exemplo de república, república<br />

concebi<strong>da</strong> como os bens de todos administrados por todos...<br />

A soberania <strong>da</strong> assembléia para a direção de uma emprêsa,<br />

constitui a fórmula de atuação de tô<strong>da</strong>s as organizações<br />

coletivas.<br />

Essa questão do regime de votação, é, pois, nas socie<strong>da</strong>des<br />

cooperativas, um ponto pacífico.<br />

E Georges Lasserre caracteriza a socie<strong>da</strong>de cooperativa de<br />

consumo como uma ver<strong>da</strong>deira emprêsa repousando sôbre o


FÁBIO LUZ FILHO 59<br />

interêsse pessoal de seus membros, os consumidores<br />

associados, que são plenamente responsáveis pelos seus<br />

reultados financeiros. Eles formam, a êste respeito, um corpo<br />

homogêneo, e o diretor tem atrás de si não delegados de<br />

interêsses opostos como nas emprêsas nacionaliza<strong>da</strong>s de<br />

gestão triparti<strong>da</strong>, mas uma equipe de administradores que<br />

representa o ponto-de-vis- ta dos consumidores.<br />

O cooperativismo socializa o lucro, devolvendo-o aos<br />

consumidores sob a forma de retôrno. Deste modo faz mais<br />

do que trocar a sua distribuição; ela modifica<br />

profun<strong>da</strong>mente a sua natureza. O lucro deixa de ser uma<br />

ren<strong>da</strong>, no senso econômico ou fiscal <strong>da</strong> palavra; o retôrno é<br />

um simples reembôlso de um adiantamento, uma economia<br />

sôbre o preço de compra. O capital não dá direito senão ao<br />

juro. Melhor que outra qualquer, a solução cooperativa assegu-<br />

ra a predominância do interêsse geral. As cooperativas são<br />

também pequenas repúblicas econômicas autônomas de<br />

consumidores.<br />

O COOPERATIVISMO E PODER<br />

“O Cooperativismo é poder, já o disse um escritor<br />

argenti-no. Poder construtivo cuja ação evolutiva cria,<br />

dentro <strong>da</strong>s relações normativas do Estado, uma ordem<br />

democrática de fôrça defensiva.<br />

“Sua livre função criadora está condiciona<strong>da</strong> ao clima<br />

libérrimo que outorga a liber<strong>da</strong>de integral, graças à qual o<br />

indivíduo, como ente jurídico-social, há-de conservar o<br />

domínio absoluto de sua personali<strong>da</strong>de psico-biológica.<br />

“A associação volitiva de livre acesso e adesão voluntária<br />

que configura, entre outros princípios diretivos, a origem do<br />

cooperativismo, resume, implicitamente, a autodeterminação<br />

pessoal-jurídica <strong>da</strong> massa humana e, por isto, a essência po-<br />

lítico-social do Estado. Mas, quando por aberrações de con-<br />

cepção, o poder estatal legisla sôbre a personali<strong>da</strong>de<br />

individual do ente societário e sôbre a massa “dirigi<strong>da</strong>”,<br />

exerce mero papel mecânico dentro <strong>da</strong> entrosagem estatal,<br />

o cooperativis- mo livre asfixia-se, como tô<strong>da</strong> a concepção<br />

espiritual do artista quando é acorrenta<strong>da</strong> a expressão<br />

criadora <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de.<br />

“Na ação fecun<strong>da</strong> do cooperativismo livre, o bem e a jus-<br />

tiça que emanam de seu profundo conteúdo social, são poder.<br />

Sumo poder defensivo. Poder dinâmico e coletivo, cujo exercício<br />

e apostolado favorece, estimula, e envolve a superacão moral<br />

e intelectual <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de humana. No plano econômico,


60 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

filosófico e moral, nenhum sistema econômico ensaiado até<br />

esta <strong>da</strong>ta tem, como o cooperativismo livre, maior alcance social<br />

nem nenhum se identifica mais harmônicamente com os<br />

princípios básicos <strong>da</strong> democracia integral”.<br />

CLASSIFICAÇAO DE COOPERATIVAS — O DIREITO<br />

COOPERATIVO<br />

Seria longo enumerar vários esquemas de classificação<br />

e quase impossível chegar-se a uma classificação natural<br />

<strong>da</strong>s cooperativas, como já foi acentuado,<br />

Há classificações de Lavergne, Cauwès, Smith Gordon<br />

y C. O’Brien, do Instituto Internacional de <strong>Agricultura</strong> de<br />

Roma (ver “Teoria e Prática <strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des<br />

Cooperativas”), de Gide, de Fay, de Hans Müller, Bórea,<br />

Kaufmann, Lewis Cecil Gray, de Valenti, Liefmann,<br />

Krüger, Wollemborg, Totomianz, e outras, como veremos<br />

adiante, sem falar nas definições que várias leis dão,<br />

inclusive a brasileira, 22.239, de dezembro de 1932.<br />

Poderemos resumí-las como se segue, frisando que<br />

Juan Gascón disse bem: “No ha de perderse de vista que<br />

to<strong>da</strong> definición estricta y muy detalla<strong>da</strong> tiene el riesgo de<br />

dejar fuera enti<strong>da</strong>des ver<strong>da</strong>deramente cooperativas; como,<br />

inversamente, las definiciones muy amplias y sintéticas<br />

tienen el grave mal de <strong>da</strong>r cabi<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong>des de muy<br />

distinto carácter”. Ao nosso ver, a lei brasileira 22,239,<br />

apesar de suas falhas e deficiências, guardou um justo meio<br />

na sua classificação e definiu-as mui bem como socie<strong>da</strong>des<br />

de pessoas naturais de caráter jurídico sui-generis. A<br />

prática brasileira também vem provando o acêrto do<br />

raciocínio do professor Gascón.<br />

Eis as formas fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong>s cooperativas<br />

econômicas:<br />

1.º— São cooperativas de consumidores as que têm por<br />

fim a distribuição de coisas ou a prestação de serviços para<br />

o<br />

consumo, o uso, pessoal ou doméstico, dos seus associados e<br />

suas famílias.<br />

2.º — São cooperativas de produtores em geral aquelas<br />

cujos membros, de profissões idênticas ou afins e de<br />

irterêsses homogêneos, se associam como o objetivo de<br />

trabalhar em comum na produção de serviços ao público.<br />

3.° As cooperativas de crédito (as de seguros poderiam<br />

enquadrar-se aqui), ou as seções desta espécie, têm por objetivo<br />

receber depósitos, fazer adiantamentos, empréstimos e<br />

descontos, cobranças e pagamentos por conta dos associados,


FÁBIO LUZ FILHO 61<br />

assim como prestar-lhes os serviços bancários de que neces-<br />

sitem, e realizar quaisquer operações que sejam complementares<br />

ou sirvam para sua melhor efetivação.<br />

Os empréstimos ou créditos se farão ùnicamente aos<br />

associados, tendo em consideração as suas necessi<strong>da</strong>des, sua<br />

capaci<strong>da</strong>de, garantias ofereci<strong>da</strong>s; nas de crédito agrícola, sempre<br />

para fins reprodutivos.<br />

4.º — As cooperativas de seguros operarão com seus<br />

associados em regime de mutuali<strong>da</strong>de. No caso de estabe-<br />

lecerem prêmios fixos, o retôrno será na proporção dos<br />

prêmios pagos.<br />

5.º — Cooperativas de serviços (de eletrici<strong>da</strong>de telefôni-<br />

cas, etc.).<br />

6.°— Não se exclui a possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criação de<br />

cooperativas de outras mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des não incluí<strong>da</strong>s na<br />

enumeração acima, as quais serão considera<strong>da</strong>s de<br />

categoria indetermina<strong>da</strong> e assemelha<strong>da</strong>s àquelas que<br />

oferecerem mais aproxima<strong>da</strong> analogia, entre elas as<br />

cooperativas de funções múltiplas, que serão classifica<strong>da</strong>s<br />

pela ativi<strong>da</strong>de central, quando esta tiver predominância;<br />

não o tendo serão classifica<strong>da</strong>s de mistas. (Ver “Teoria e<br />

prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas” e “Crédito agrícola e<br />

problema agrário”, do autor).<br />

O DIREITO COOPERATIVO<br />

As leis, segundo os juristas, já o dissemos, atravessam<br />

três fases sucessivas, três formas evolutivas: costumes,<br />

jurisprudência, legislação. São reflexos de costumes, que a<br />

jurisprudência sanciona, costumes que, por fôrça de uma<br />

prática diuturna, assumem afinal uma feição de<br />

obrigatorie<strong>da</strong>de que as leis, após a jurisprudência,<br />

consubstanciam. Mas é preciso notar, com Ihering, que<br />

nem sempre as leis espelham costumes, nem sempre são o<br />

reflexo objetivo de determinados sentimentos populares, de<br />

determinados sentimentos jurídicos, como outros<br />

sentimentos podem não ter sua objetivação em formas<br />

jurídicas. Ihering mostrou que haveria engano se fôssemos<br />

aquilatar <strong>da</strong>s relações reais que em Roma havia entre pai e<br />

filho pela sua expressão jurídica...<br />

Palante diz que Max Nor<strong>da</strong>u mostrou a distância<br />

muitas vêzes existente entre as nossas instituições e as<br />

nossas ver<strong>da</strong>deiras crenças, entre a nossa prática social e o<br />

nosso pensamento íntimo. A nossa vi<strong>da</strong> é, em parte,<br />

símbolo, simulacro, mentira...


62 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Paulhan, em “La morale de l’ironie”, frisa também êsse<br />

antagonismo perene entre a consciência social e a consciência<br />

do indivíduo, sempre desejoso de se despear de coerções de<br />

qualquer espécie, para <strong>da</strong>r ampla expansão ao seu direito na-<br />

tural de viver...<br />

Logo é evidente que as leis têm, muitas vez, um caráter<br />

fictício; são, muita vez, falhas e mancas, mòrmente_quando<br />

apriorísticas e emana<strong>da</strong>s <strong>da</strong> casuística bizantina . . .São<br />

muita vez formas coercitivas do Estado, quando sua<br />

interferência muito se estende por determinados domínios<br />

sociais, nota<strong>da</strong>-mente no campo <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de econômico-<br />

social. O Estado com ativi<strong>da</strong>des pioneiras ou supletivas,<br />

compreende-se, mòrmente em países subdesenvolvidos.<br />

Na esfera de certas manifestações sociais essa interferên-<br />

cia deve fazer-se, a nosso ver, dentro de uma medi<strong>da</strong> prudente<br />

e discreta.<br />

Já dissemos que nasceu o cooperativismo, como assina1a<br />

Gide, <strong>da</strong>s entranhas mesmas do povo. Não saiu êle dos flancos<br />

de um cenáculo de sapientes, como frisa Luzzatti, nem do ceio<br />

do capitalismo. Surgiu humildemente sôbre uma base de<br />

completa soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana, de integral reciproci<strong>da</strong>de de<br />

direi-tos e deveres. Promanou de uma fonte modesta e<br />

obscura.<br />

Em 1844, 28 pobres tecelões inglêses, premidos pelo<br />

guante de uma organização social geradora dessa hipertrofia<br />

capitalística centralizadora que encruece e aniquila,<br />

lançaram, co- mo vimos, em Toad Lane as bases de uma<br />

organização econômica genial, com um “admirável instinto<br />

<strong>da</strong> evolução histórica e incomparável gênio prático”.<br />

Alicerçaram essa obra de gigantes em princípios de bronze,<br />

os quais lhe constituem a essência imutável através dos<br />

tempos, princípios antes os quais os próprios corifeus <strong>da</strong><br />

economia clássica capitularam.<br />

E temos acentuado mais: com o cooperativismo, na<br />

pureza clássica roch<strong>da</strong>liana, se exerce de uma maneira<br />

completa, eficiente e empolgante, a ação social e econômica<br />

<strong>da</strong>s classes que produzem e consomem, as quais terão<br />

assegura<strong>da</strong> definitivamente a sua interferência, “consciente e<br />

intencional”, na produção e distribuição coletivas e<br />

racionaliza<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s riquezas não com fins de lucro, mas para<br />

que sejam essas riquezas con-sumi<strong>da</strong>s, satisfazendo<br />

necessi<strong>da</strong>des humanas, potencializados esses elementos de<br />

fôrça laboriosa, que se congregam, sôbre um plano<br />

associativo, na defesa de interêsses comuns.<br />

Como asinala Brentano, desenvolvem, as cooperativas,<br />

nota<strong>da</strong>mente as de produção, pela soma de fôrça moral e de inte-


FÁBIO LUZ FILHO 63<br />

ligência que exigem, as facul<strong>da</strong>des morais e intelectuais dos<br />

que se reunem sob o seu lábaro de emancipação.<br />

“Em um mundo de liber<strong>da</strong>de caótica, tenta criar uma nova<br />

ordem econômica, e utiliza o poder de uma idéia fazendo-a<br />

servir de base a novas relações econômicas”,<br />

Traça, assim, o cooperativismo os lineamentos de um<br />

mundo novo, que se caracterizará por uma fisionomia<br />

econômica nova, por uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de nova de vi<strong>da</strong><br />

econômica e social. E êle um elemento educacional de<br />

inestimável valor ideológico, um ponderoso fator de<br />

desenvolvimento do sentido <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana, <strong>da</strong><br />

consciência social e moral nas relações entre indivíduos e<br />

nações, modificando fun<strong>da</strong>mentalmente o embasamento<br />

econômico-social vigente, cujos quadros se tornam, dia a<br />

dia, mais angustiantes.<br />

Visando o cooperativismo a dispensar o intermediário,<br />

a abolição do lucro no sentido de ganho ilícito, sem abolir o<br />

capital na sua justa compreensão de capital-economia, produtores<br />

e consumidores livremente associados, por<br />

meio dêsse instituto eqüanime e dinâmico, na estrita<br />

observância de seus princípios morais, sociais e econômicos<br />

fun<strong>da</strong>mentais, já vão dispensando o intermediário em<br />

países de civilização secular e em países novos americanos.<br />

Afastado o intermediário desnecessário, individualista<br />

e oneroso, repetimos, cristalização, exponência de um<br />

regime econômico de embuste, sem peias na sua inconti<strong>da</strong>,<br />

inacogulável ambição, as fôrças que produzem e<br />

consomem, “desproletarizando-se”, terão uma “intervenção<br />

direta na produção e distribuição”, adquirindo, no cadinho<br />

do altruísmo, aptidões que as habilitam a “uma ação<br />

econômica bem superior à <strong>da</strong> economia capitalista”, cujo<br />

crepúsculo, prenhe de sombras, tudo indica estar<br />

começando com essa enervante atmosphera de apreensões<br />

que pesa sôbre o mundo, no presente momento, como uma<br />

tremen<strong>da</strong> cúpula de chumbo, levando, certo, à derroca<strong>da</strong><br />

inevitável, formas econômicas em declínio... É o estertor do<br />

velho direito quiritário, como já vaticinou Gide...<br />

É, assim, o cooperativismo “uma forma de ativi<strong>da</strong>de<br />

econômica conscientemente, livremente, delibera<strong>da</strong>mente<br />

empreendi<strong>da</strong> pelos homens”, em contraposição à<br />

“produção autoritária”, como diz Brouchère.<br />

Já vimos como o cooperativismo cria valores morais, sociais<br />

e econômicos, constituindo a fórmula de emancipação<br />

econômica, moral e social que lançará as bases <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> econômico-social<br />

do amanhã. Sob sua bandeira irisa<strong>da</strong> já se abri-<br />

gam milhões de pessoas, a prova mais alta de seu grande espi-


64 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

rito e a maior realização de concórdia entre os homens, imenso<br />

facho de luz colocado diante de um mundo convulso e<br />

expectante.<br />

Já frisamos que Bastiat dissera que a socie<strong>da</strong>de inteira<br />

não é mais do que um conjunto de interêsses que se cruzam. .<br />

. E Patten faz referência à economia <strong>da</strong> alegria e do prazer,<br />

saudáveis, fecundos, fraternizadores...<br />

Diz Sombart (“O apogeu do capitalismo”), que as coope-<br />

rativas econômicas representam, pelo seu “criterium” subs-<br />

tancial, construções auxiliares destina<strong>da</strong>s a manter e a re-<br />

forçar não só formas econômicas pré e extra-capitalistas,<br />

que são artesanato e a economia campesina, serão também<br />

a economia de consumo privado. Sob a forma de cooperati-<br />

vas de consumo trazem os germes de uma organização eco-<br />

nômica supracapitalista.<br />

É um movimento que faz do consumo a base do sistema<br />

de distribuição organizando a produção pelo consumo.<br />

Bernard Shaw já teve a antevisão dêsse fenômeno quan-<br />

do disse que aquêles que acreditam como fixo o atual sistema<br />

de distribuição se fossilizam...<br />

O cooperativismo coloca em seu devido plano a<br />

digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pessoa humana.<br />

O cooperativismo é, em substância, um movimento de<br />

idéias econômico-sociais que visa ao interêsse do consumidor<br />

pela fixação do justo preço para as riquezas de uso e as<br />

riquezas de consumo, afasta<strong>da</strong> a intermediação<br />

desnecessária e inútil e ajudenga<strong>da</strong>.<br />

De Cossa e Valenti a, modernamente, Cassel, etc., a con-<br />

ceituação de bens econômicos continua a mesma.<br />

As características essenciais dos bens econômicos são a<br />

exteriori<strong>da</strong>de, a acessibili<strong>da</strong>de e a transferência ou “transfe-<br />

ribili<strong>da</strong>de”. Há bens de consumo e bens duradouros.<br />

Os economistas frisam que os bens de consumo são os<br />

bens materiais que, pelo seu emprêgo, se consomem, isto é,<br />

cessam de existir como tais. O consumo final está na natu-<br />

reza do emprêgo dos alimentos.Coisas existem que<br />

participam dos dois caracteres dos bens de consumo e dos<br />

bens duradouros. No entanto, não se deve considerar como<br />

consumação sòmente o consumo ou a combustão; todo<br />

emprêgo mediante o qual o bem deixa de existir como bem<br />

<strong>da</strong> mesma espécie, é consumo. O ferro de uma locomotiva é<br />

consumido, deixando, assim, de ser bem duradouro para ser<br />

bem de consumo, que é a satisfação de uma necessi<strong>da</strong>de.


FÁBIO LUZ FILHO 65<br />

Há riqueza de uso (uma máquina, uma casa, uma carroça,<br />

um livro) e riqueza de consumo (os alimentos).<br />

No plano cooperativo há classificações que definem como<br />

cooperativas de consumidores as que fornecem aos seus<br />

associados os gêneros, produtos ou mercadorias necessárias às<br />

suas ativi<strong>da</strong>des de produção: sementes, adubos, insetici<strong>da</strong>s,<br />

máquinas agrícolas, etc., e matérias- primas para o artesanato,<br />

etc. Tratadistas há que consideram como cooperativas de consumo<br />

as que vendem ou alugam casas, fornecem eletrici<strong>da</strong>de,<br />

fôrça motriz, gás, água, transportes, crédito, assistência, ou se<br />

dedicam à conservação ou à ven<strong>da</strong> de produtos agrícolas ou<br />

para o artesanato, no sentido de atender a certas fases do<br />

trabalho.<br />

Há quem coloque o próprio crédito na esfera do consumo<br />

de serviços, como o são também o seguro, os serviços<br />

domésticos (casa), a eletrici<strong>da</strong>de, o telefone, a lavan<strong>da</strong>ria,<br />

assistência médica e farmacêutica, o entêrro, o ensino, o<br />

concurso e o registro para o gado, etc.<br />

Lavergne considera cooperativas de consumidores tô<strong>da</strong>s as<br />

socie<strong>da</strong>des de produção, de ven<strong>da</strong> e seguros constituí<strong>da</strong>s entre<br />

consumidores para satisfazer, ao mais baixo preço possível,<br />

suas necessi<strong>da</strong>des pessoais ou familiares.<br />

Valenti classifica as cooperativas de consumidores em: “per<br />

la sussistenza”, “d’assiscurazione”. As “rurais” “per l’acquisto<br />

di materie e strumenti, di credito, d’assicurazione”.<br />

A atual lei brasileira, considerando a cooperativa como<br />

revestindo uma forma jurídica sui-generis, define as coope-<br />

rativas de consumo com justeza, caracterizando-as como<br />

aquelas que têm por escopo aju<strong>da</strong>r a economia doméstica,<br />

adquirindo, o mais diretamente possível ao produtor, ou a<br />

outras cooperativas, os gêneros de alimentação, vestuários e<br />

outros artigos de uso e consumo pessoal e doméstico, <strong>da</strong><br />

família ou do lar, distribuindo-os nas melhores condições de<br />

quali<strong>da</strong>de e preço aos consumidores associados, no interesse<br />

dos quais pode ain<strong>da</strong> prover a outros serviços afins, e conver-<br />

tendo em economia, a favor dos mesmos consumidores, os<br />

eventuais resultados líquidos verificados pelo balanço.<br />

Nesse final está contido um dos princípios basilares, re-<br />

volucionários e estelares, do movimento cooperativo no mundo:<br />

o retôrno, um dos pilares de sua filosofia embasa<strong>da</strong> na justiça<br />

distributiva, humanando as relações entre as gentes.


66 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

O CARÁTER CIVIL<br />

Acentuamos em “Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des coope-<br />

rativas” que os tratadistas se reportam a dois critérios para a<br />

diferenciação entre socie<strong>da</strong>des comerciais e socie<strong>da</strong>des civis: o<br />

objeto e a forma. A forma, pela legislação brasileira, está<br />

fora de cogitação, de vez que a lei as considera como<br />

socie<strong>da</strong>des de pessoas e não de capitais, de forma jurídica<br />

sui-generis. Resta o objeto.<br />

As socie<strong>da</strong>des são civis ou comerciais segundo seu<br />

objeto. É a natureza <strong>da</strong>s operações que define a socie<strong>da</strong>de:<br />

atos civis ou atos comerciais, que muitos consideram um<br />

ato de circulação — a compra segui<strong>da</strong> <strong>da</strong> ven<strong>da</strong>.<br />

Frisam ain<strong>da</strong> os tratadistas que todos os atos<br />

realizados na circulação dos bens devem ser comerciais,<br />

excetuado o ato do produtor inicial que coloca o produto<br />

em circulação e o ato do consumidor final, que o absorve<br />

ou usa pessoalmente, retirando-a <strong>da</strong> circulação.<br />

A essa definição material outros juntam o elemento<br />

intelectual e o <strong>da</strong> finali<strong>da</strong>de, o animus lucri.<br />

Na órbita do direito cooperativo, o caráter civil <strong>da</strong>s<br />

cooperativas em geral tem o apoio de grandes nomes, de<br />

luminosos e consagrados nomes. Colocando o<br />

cooperativismo na base de sua estruturação o princípio<br />

democrático, o “respeito profundo pela pessoa humana”, e<br />

a norma do retôrno, isto é, a distribuição <strong>da</strong>s sobras na<br />

proporção do volume <strong>da</strong>s operações efetua<strong>da</strong>s com a<br />

cooperativa pelos associados, realiza êle uma fórmula feliz<br />

de harmonia entre os homens, estabelece uma nova<br />

distribuição <strong>da</strong> riqueza, eliminando a ren<strong>da</strong> sem trabalho e,<br />

conseqüentemente, o lucro no sentido de ganho ilícito; erige<br />

um principio econômico novo, principio plasma-dor<br />

<strong>da</strong>quela economia nova acima referi<strong>da</strong>, lei fisiológica do-<br />

minadora. Colocando os seus interêsses em comum,<br />

dirigidos pela ação solidária, uma admirável fôrça de<br />

defesa e propulsão, produtores e consumidores levantam os<br />

alicerces de uma nova ordem econômica de coisas, os<br />

fun<strong>da</strong>mentos de uma economia organiza<strong>da</strong>, planifica<strong>da</strong>.<br />

Não vendendo ao público as cooperativas de consumo são<br />

civis, isto é, conservam-se dentro <strong>da</strong> concepção econômica<br />

doutrinária e <strong>da</strong> definição jurídica. Vendendo ao público não<br />

estão mais no estágio final do processo distributivo; <strong>da</strong>í serem<br />

considera<strong>da</strong>s mercantis por algumas legislações, inclusive a<br />

brasileira.


FÁBIO LUZ FILHO 67<br />

Outros acentuam que o elemento intelectual existe nas<br />

cooperativas de consumo mesmo quando vendem ao público,<br />

de vez que nunca existe a “intenção do lucro”.<br />

Nas agrícolas de ven<strong>da</strong>, e mesmo nas de transformação,<br />

não existe o elemento de base <strong>da</strong> comerciali<strong>da</strong>de, como não<br />

existe nas de crédito, mesmo com operações acessórias, e o uso<br />

de simples instrumentos ou efeitos comerciais (utilizam também<br />

os Juros fixos, sem que isto lhe dê o animus lucri).<br />

Coutant frisa que os atos de ven<strong>da</strong> e os de compra do<br />

agricultor, e os de compra do consumidor, são atos civis,<br />

no que acompanha uma tese pacífica, de que Ramadier, na<br />

França, foi um dos paladinos, renovando conceitos que<br />

Rodino já emitira ao considerar que as cooperativas não<br />

são comerciais nem civis e, sim, sui-generis, o que é<br />

também o ponto de vista de Leiserson.<br />

O man<strong>da</strong>to corresponde a um ato que o associado faria por<br />

sua própria conta. A cooperativa representa o associado.<br />

Charles Gide, aludindo ao Sermão <strong>da</strong> Montanha, frisou<br />

que o cooperativismo traduz, em têrmos econômicos atuais,<br />

a beleza dos ditames morais célebres que constituem a<br />

essência do cristianismo. “Fazei aos homens tudo quanto<br />

quereis que êles vos façam”...<br />

Acha Hans Müller que o cooperativismo trabalha não<br />

para erguer uma tôrre de Babel, mas, sim, para lançar os<br />

fun<strong>da</strong>mentos de uma “civilização humaniza<strong>da</strong>”,<br />

“A cooperativa de consumo aju<strong>da</strong> a criar os fun<strong>da</strong>mentos<br />

econômicos de uma civilização social <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de isenta <strong>da</strong><br />

exploração indigna do homem pelo homem”.<br />

Como vemos, é alcandorado o ideal colimado, e<br />

constitui a base <strong>da</strong> Escola de Nimes.<br />

Mafeo Pantaleoni, o grande autor de “Princípios de Economia<br />

Pura”, ilustre professor, que foi, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Roma<br />

e que de maneira tão lúci<strong>da</strong> e incisiva expôs os teoremas<br />

hedônicos, disse que a idéia cooperativa é uma idéia viril; é<br />

idéia dos que não querem ficar nas condições de salário, dos<br />

que não querem sujeitar-se aos preços impostos pelos<br />

comerciantes: é uma idéia de emancipação e de rebelião,<br />

alicerça<strong>da</strong>, social e moralmente, no sentimento <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

humana, “num viril esfôrço de autodefesa dos mais fracos, que<br />

buscam a fôrça na união”, simboliza<strong>da</strong> no clássico feixe de<br />

varas, visando, como já o disse, a uma economia de serviço e<br />

não de lucro.


68 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

AINDA O DIREITO COOPERATIVO<br />

Acabo de receber do ilustre professor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de<br />

Madri, o dr. Juan Gascón Hernandez, seu último trabalho<br />

“Derecho Cooperativo”.<br />

Nêle assinala Juan Gascón que já existe, pode dizer-se<br />

um “Direito Cooperativo” o qual “no es uma rama del De-<br />

recho público, ni tampouco del Derecho privado, sino que<br />

se trata de un Derecho económico social... vestidura jurídica<br />

de un fenómeno económico social. El estudio de las defini-<br />

ciones analiza<strong>da</strong>s por Gascón y Miranión (autor <strong>da</strong> excelente<br />

lei espanhola de 1931, com Fabra Ribas e Ventosa Roig<br />

e ilustre publicista espanhol especializado, já falecido, pai do<br />

professor Juan Gascón) en 1932 puede ampliarse hoy con los<br />

trabajos notables de Leiserson, Fábio Luz Filho, Coutant<br />

Digby, Surridge, Salinas Puente, Fabra Ribas, Laszlo Valko e<br />

demais autores que se han ocupado del régimen jurídico de<br />

las cooperativas. . .”<br />

Vai-se corporificando, assim, no mundo, um Direito<br />

Cooperativo, dentro <strong>da</strong> concepção de Merkel, de que a norma<br />

jurídica corresponde a sentimentos e idéias dominantes em<br />

determinado período histórico, do que deflui a fôrça<br />

obrigatória do Direito, com os seus elementos subjetivos.<br />

Leiserson. acentua, com raciocínio preciso, que “la<br />

cooperación como un complejo de vinculaciones económicas<br />

pro- duto de la vi<strong>da</strong> social, <strong>da</strong> nacimiento también<br />

necesariamen- te, a relaciones jurídicas y a um derecho que<br />

le es propio”.<br />

Lucien Coutant, recentemente, disse, com acêrto, que no<br />

domínio cooperativo, “les échecs contribuèrent autant que les<br />

succès à modeler peu a peu cette coutume qui prit ensuite<br />

figure de droit pour pénéter enfin <strong>da</strong>ns la légisiation”.<br />

E Salinas Puente, o ilustrado causídico mexicano, em<br />

“Derecho Cooperativo” diz que o direito não tem, na<br />

concepção moderna, um caráter puramente repressivo ou<br />

estático; pelo contrário, tende a ser, ca<strong>da</strong> vez mais, um fator de<br />

progresso coletivo. Os interêsses isolados dos indivíduos e <strong>da</strong>s<br />

minorias privilegia<strong>da</strong>s se vão deslocando ante o imperativo dos<br />

setores majoritários <strong>da</strong> população; desta maneira, afirma-se a<br />

idéia do interesse social em cuja função se resolvem os grandes<br />

problemas contemporâneos. E o novo direito existe por si e para


FABIO LUZ FILHO 69<br />

si; não é uma enteléquia, senão um meio para obter o equilí-<br />

brio e o bem-estar <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des humanas.<br />

“Parte integrante dêste grande movimento criador, o Direito<br />

Cooperativo repousa sua estrutura sôbre alicerces novos de<br />

profundo conteúdo humano”.


CAPÍTULO III<br />

O VALOR PEDAGÓGICO DAS COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

AS COOPERATIVAS NA EDUCAÇÃO DE BASE<br />

O estágio do “pensamento conceitual” vai dos 7 aos 9<br />

anos; <strong>da</strong>í em diante é o do “pensamento relacional”, o “appel<br />

de l’ainé”, o “la règle oblige”.<br />

A i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> razão, segundo J. Hermeut, começa aos sete<br />

anos. São idéias de causa, de fim, de duração, do justo, do bem<br />

e <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de, isto é, as noções e os princípios chamados<br />

primários que não têm para a criança, até aos sete anos,<br />

precisão e nitidez, e são mais sentidos do que compreendidos.<br />

A posse dos primeiros princípios e <strong>da</strong>s ver<strong>da</strong>des primárias<br />

inicia a criança na vi<strong>da</strong> ativa do raciocínio. A criança entra no<br />

uso <strong>da</strong> razão por efeito de esforços constantes de uma educação<br />

bem conduzi<strong>da</strong> pela qual a inteligência e a razão hão-de atingir<br />

um alto grau de fôrça e de clareza.<br />

“A aprendizagem infantil, dí-lo Gonçalves Viana, deve<br />

começar a fazer-se na vi<strong>da</strong> e acabar pelo livro. A ordem inversa<br />

é antinatural e parece contra-indica<strong>da</strong>”.<br />

M. Colombain em “Les coopératives et l’éducation de<br />

base”, acentua que, reproduzindo em miniatura a forma de<br />

cooperativas de compras, ou de crédito, ou de ven<strong>da</strong>, ou de<br />

produção, ou de cultura, ou de criação, exercendo, muitas<br />

vêzes, várias dessas funções a um só tempo, as cooperativas<br />

escolares têm ativi<strong>da</strong>des que variam segundo os países, as<br />

necessi<strong>da</strong>des, e os recursos utilizáveis: compra em comum de<br />

artigos de papelaria e manuais escolares, algumas vezes objetos<br />

de enfeite e matérias-primas para trabalhos manuais,<br />

organização de restaurantes cooperativos; tipografias;<br />

incentivo à economia; empréstimos; fabricação de objetos<br />

diversos em madeira, metal, etc; trabalhos de agulha,<br />

tecelagem, etc; produção agrícola ou hortícola; criação de<br />

animais e ven<strong>da</strong> de produtos; florestamento e reflorestamento;<br />

constituição de blbl1otecas; organização de conferências e<br />

festas de juventude; corais e socie<strong>da</strong>des dramáticas; educação<br />

física e desportos; embelezamento <strong>da</strong> escola; criação de museus<br />

escolares e constituição


FÁBIO LUZ FILHO 71<br />

do material didático, etc. “Dans la plupart des cas une<br />

même société embrasse plusieurs de ces activités à la fois”.<br />

O objetivo econômico <strong>da</strong>s cooperativas escolares é, de um<br />

lado, o escolar, o aluno (procurando-lhe recursos ou<br />

aliviando-lhe os encargos financeiros do período <strong>da</strong><br />

escolari<strong>da</strong>de) e o outro, a própria escola.<br />

“D’autre part, de l’avis des éducateurs qui ont fait<br />

l’expérience, elle est elle-même, <strong>da</strong>ns son fonctionnement,<br />

un instrument, une méthode et un milieu de formation<br />

intellectuelle et morale”.<br />

Juan Gascón acentuou que não será possível separar a<br />

tarefa de fun<strong>da</strong>r cooperativas <strong>da</strong> de desenvolvimento e<br />

penetração do espírito cooperativo. Julga, por isso, que o<br />

impulso que se desejar <strong>da</strong>r às cooperativas escolares será<br />

totalmente inútil se não fôr realizado, concomitantemente,<br />

um programa de ensinamentos e difusão.<br />

“As cooperativas escolares têm de ser considera<strong>da</strong>s<br />

como um processo educacional e como uma forma de<br />

despertar o interêsse pelo cooperativismo”.<br />

A cooperativa escolar é, assim, o veículo adequado<br />

para essa meta ideal. Aplicam-se à mesma os mesmos<br />

princípios que norteiam qualquer cooperativa. Nas<br />

cooperativas escola-res, o objetivo educativo é, como se vê,<br />

o fim e o econômico é o meio, um instrumento de educação<br />

ativa. Visam a despertar e a manter vivo o sentimento de<br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de moral e social. São elas considera<strong>da</strong>s pelos<br />

educadores como instrumentos preciosos de educação<br />

geral, de educação econômica e de educação cívica. Cabem,<br />

pelas suas altas finali<strong>da</strong>des, dentro <strong>da</strong> concepção dessa<br />

escola nova e ativa.<br />

As cooperativas escolares têm um duplo caráter de<br />

utili<strong>da</strong>de e de educação, como processo econômico de<br />

aquisição e de distribuição de material didático nas<br />

melhores condições de quali<strong>da</strong>de e preço.<br />

São os alunos assessorados pelos professôres e têm liber<strong>da</strong>de<br />

de ação, naturalmente com as limitações naturais, de<br />

vez que a cooperativa funciona dentro <strong>da</strong> escola e é um órgão<br />

educativo. As práticas agrícolas entram também em sua órbita<br />

de ação, por conta própria ou em consonância com os clubes<br />

agrícolas, que podem integrar seus objetivos. Agindo, atuando,<br />

fazendo, a criança adquire quali<strong>da</strong>des de receptivi<strong>da</strong>de, de<br />

discernimento, de iniciativa e de disciplina. A cooperativa<br />

escolar modela futuros ci<strong>da</strong>dãos, conscientes e ativos,<br />

convictos de que a pessoa humana deve merecer acatamento e<br />

mover-se num clima democrático, de mútua compreensão, de


72 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

disciplina social livremente consenti<strong>da</strong>, de ação livre, mas li-<br />

mita<strong>da</strong> pelo direito dos outros. Aprende que as necessi<strong>da</strong>des<br />

devem ser satisfeitas de modo justo, com a distribuição <strong>da</strong>s<br />

utili<strong>da</strong>des e a prestação de serviços nas melhores condições<br />

de quali<strong>da</strong>de e preço. Trabalhando sem fito de lucro,<br />

formam uma mentali<strong>da</strong>de nova, que suavizará ou<br />

humanizará os contactos na vi<strong>da</strong> cotidiana. É, assim, o<br />

cooperativismo escolar aplicação dos métodos <strong>da</strong> escola<br />

vital. Complementa o âmbito <strong>da</strong> escola ativa, movimento<br />

de reação no sentido de colocar a criança, desde a escola,<br />

dentro <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, aproveitando a ativi<strong>da</strong>de espontânea,<br />

pessoal e produtiva dessa criança.<br />

O cooperativismo escolar contribui, como veremos, para:<br />

1.º — A educação vocacional, além de <strong>da</strong>r à criança a<br />

noção e a intimi<strong>da</strong>de dos temas sociais e morais;<br />

2º — Dar maior experiência e acui<strong>da</strong>de para a solução<br />

dos problemas concretos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> moderna, do ângulo econô-<br />

mico. Possibilita, ademais, aos professôres, o emprêgo de<br />

técnicas educativas novas, como sejam as reuniões em<br />

assembléias gerais e conselhos de administração, diretorias<br />

executivas, conselhos fiscais, comissões várias, dirigidos<br />

êsses órgãos pe-los próprios alunos, discretamente<br />

assessorados pelos professores; excursões, festas, trabalhos<br />

agrícolas, trabalhos manuais, etc.<br />

3.° — Criar ambiente para novos modos de ativi<strong>da</strong>de,<br />

novas motivações. No domínio rural, é fácil de apreender o<br />

alcance <strong>da</strong> aplicação de métodos técnicos nas hortas, nos po-<br />

mares, na agricultura de subsistência, isto é, agricultura<br />

para fornecer produtos essenciais à alimentação humana.<br />

Como vêem, está perfeitamente caracteriza<strong>da</strong> a<br />

cooperati-va escolar. É uma instituição educativa, parte<br />

integrante <strong>da</strong> escola renova<strong>da</strong>, instrumento pe<strong>da</strong>gógico de<br />

grande relevância, viga-mestra do moderno edifício<br />

educativo.<br />

Diz mui judiciosamente Alice Joueene, em se referindo à<br />

orientação cooperativa segui<strong>da</strong> na França sôbre a educação<br />

<strong>da</strong> criança em todos os sentidos (lá estão as belas colônias de<br />

férias cooperativas com o seu “aerium” de Montplaisir, os<br />

estabelecimentos de Boyardville, Coulommiers, etc).<br />

“Ne faisons point de ten<strong>da</strong>nces en éducation. Habituons<br />

l’enfant à raisonner juste, à avoir confiance en lui et c’est lui<br />

qui plus tard, s’orientera selon ce qui lui parait juste et vrai..<br />

São, assim, centros-de-interêsse, pequenos laboratórios de<br />

intensa vi<strong>da</strong> social, organismos que passam à imediata e discreta<br />

responsabili<strong>da</strong>de dos mestres, embora dirigidos pelas


FÁBIO LUZ FILHO 73<br />

crianças. A dependência dos mesmos em relação aos mestres<br />

é uma necessi<strong>da</strong>de de principio na educação do sentimento de<br />

responsabili<strong>da</strong>de.As crianças individualmente podem respon-<br />

der, por si mesmas, a uma organização de disciplina perante<br />

a coletivi<strong>da</strong>de infantil; mas, coletivamente, não respondem<br />

perante terceiros, por sua quali<strong>da</strong>de de menores. A escola é<br />

uma comuni<strong>da</strong>de. “Como scuola viva é constituita <strong>da</strong> alumni,<br />

le cui attività per la maggior parte sono attività di gruppo, o<br />

sociali. Quelle che educano più particolarmente alla socia1ità<br />

sono: la cooperativa, la società, il teatro, l’aiuto reciproco, la<br />

corrispondenza, i lavori utili e le attivitá. pratiche”.<br />

É o trinômio do Cardijn — “Voir, Juger, Agir”.<br />

Aplicam-se à escola os princípios normativos antes<br />

expostos.<br />

Maurice Colombain frisou, mais, com muita lucidez, em<br />

“Les coopératives et l’éducation de base”, que é um fato de<br />

observação que, entre as populações pouco evoluí<strong>da</strong>s, as<br />

cooperativas, por seu funcionamento mesmo, e independente-<br />

mente de seus resultados econômicos, contribuíram para a<br />

formação intelectual, moral e cívica de seus associados.<br />

“Trabalhar, comprar, vender, criar em comum, e pensar<br />

em comum, é formar conceitos comunicáveis, isto é,<br />

racionais”.<br />

“Observar escrupulosamente os estatutos que contribuí-<br />

ram para organizar, ou que, pelo menos, foram discutidos,<br />

aceitos e cumpridos, é criar-se uma nova morali<strong>da</strong>de, é, não<br />

somente iniciar-se nas virtudes <strong>da</strong> disciplina voluntária e<br />

viva, mas, também, descobrir em si os fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong><br />

responsabi-li<strong>da</strong>de, o ver<strong>da</strong>deiro senso <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de e <strong>da</strong><br />

digni<strong>da</strong>de”.<br />

A cooperativa não emancipa sòmente seus associados do<br />

usurário e do comerciante; ela os livra de si mesmos, de seus<br />

maus hábitos; ela lhes ensina as virtudes que não estão sempre<br />

em sua natureza, como a ordem, a previdência, a pontuali<strong>da</strong>de,<br />

o respeito estrito aos compromissos tomados. Enfim, <strong>da</strong>ndo-lhes<br />

ocasião de modelar, como agentes conscientes, sua vi<strong>da</strong><br />

econômica, criando um novo sistema de compromissos<br />

livremente elaborados e aceitos, que os livrem de sujeições<br />

sociais vazias de sentido ou odiosas, colocando-se, sem<br />

distinção de casta ou de sexo, dentro de um quadro simples de<br />

self-government, dentro do qual se iniciam nas práticas<br />

democráticas, a cooperativa os exercita nas funções de<br />

ci<strong>da</strong>dãos, e reconstitui um novo tecido social, prolongando ou<br />

substituindo as formas anteriores de vi<strong>da</strong> coletiva em<br />

decadência: e, sem na<strong>da</strong> destruir <strong>da</strong>quilo que havia de original<br />

e de fecundo em


74 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

sua cultura nacional, a cooperativa tende a estabelecer uma<br />

ligação, natural e livre, entre esta e o mundo moderno.<br />

“Assim, na confluência de sua ação com a de educação<br />

de base e <strong>da</strong> educação de adultos, o movimento cooperativo<br />

aparece com seu ver<strong>da</strong>deiro caráter, principalmente quando se<br />

considera seu funcionamento nos agrupamentos humanos<br />

pouco evoluídos, ou econômicamente e socialmente atrasados.<br />

Embora sua importância no domínio econômico seja de<br />

grande utili<strong>da</strong>de, merece ser considerado também, e, talvez,<br />

principalmente, como um movimento de educação”.<br />

Como o disse Fauquet, o fim do cooperativismo é fazer<br />

homens responsáveis e solidários, para que ca<strong>da</strong> um se eleve<br />

a uma vi<strong>da</strong> de completa personali<strong>da</strong>de e, todos juntos, a<br />

uma completa vi<strong>da</strong> social.<br />

“Sobretudo quando as ativi<strong>da</strong>des cooperativas e as<br />

ativi<strong>da</strong>des educacionais se desenvolvem em regiões ou meios<br />

de evolução retar<strong>da</strong><strong>da</strong>, as relações de parentesco que os<br />

unem por seus móveis, objetivos e métodos, são tão evidentes<br />

e tão estreitos, que reclamam entre si uma colaboração tão<br />

fácil quanto necessária”.<br />

Na Índia, a preocupação <strong>da</strong> educação tem raízes<br />

roch<strong>da</strong>lianas, tanto que os cooperadores indianos se<br />

comprometem a enviar seus filhos à escola ou a manter<br />

escolas, ou a contratar educadores. Na África, constróem<br />

escolas.<br />

“O movimento cooperativo pode ser encarado como um<br />

aliado forte na luta contra a ignorância e a inércia”.<br />

D. F. Strickland, apoiado em sua fecun<strong>da</strong> experiência,<br />

assinalou Colombain, <strong>da</strong> Índia, China, Oriente Médio e <strong>da</strong><br />

África, disse muito bem: “Co-operation is adult education in<br />

the business of life”.<br />

Henry Wolff disse que o cooperativismo deve ser o edu-<br />

cador do pobre; e Père Huss, na União Sul-Africana,<br />

caracterizava como “escolas populares” as cooperativas de<br />

crédito que aju<strong>da</strong>va a fun<strong>da</strong>r, de vez que seu principal<br />

objetivo não era fazer dinheiro, mas fazer homens.<br />

E o célebre Dr. M. Coady, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São<br />

Francisco Xavier, em Antigonish, no Canadá, chegou a<br />

dizer: “Recorremos ao cooperativismo no domínio<br />

econômico mais como instrumento <strong>da</strong> educação do que<br />

como instrumento econô-mico”.<br />

Os primeiros estatutos sôbre cooperativas escolares foram<br />

lançados oficialmente em 1931, por mim elaborados. Êstes<br />

estatutos já <strong>da</strong>vam às cooperativas escolares todo o seu<br />

inconfundível valor pe<strong>da</strong>gógico, e não o de meros armazéns de


FÁBIO LUZ FILHO 75<br />

compra e ven<strong>da</strong> de material didático, o que tem servido de pretexto,<br />

no Brasil, para a dissolução de cooperativas escolares.<br />

Alegam que os alunos são pobres, como se não existissem<br />

meios de o aluno produzir, uma <strong>da</strong>s marcantes características do<br />

cooperativismo escolar, nota<strong>da</strong>mente do francês, de índole mais<br />

alcandora<strong>da</strong>. E como se a assistência não coubesse no âmbito<br />

do cooperativismo escolar, sem aviltações ou humilhações,<br />

retribuindo o aluno com pequenos serviços ou produtos de seu<br />

esfôrço pessoal. Prevendo isso, os estatutos oficiais que elaborei<br />

permitem o pagamento <strong>da</strong>s quotas-partes em serviços, como<br />

veremos.<br />

E, além do mais, deve sempre ser considerado o aspecto<br />

de enti<strong>da</strong>de periescolar que possui, fun<strong>da</strong>mentalmente, a<br />

cooperativa, com seu sentido puramente educativo, na<br />

própria definição legal.<br />

E <strong>da</strong> letra e do espírito <strong>da</strong> lei brasileira que não seja “a<br />

finali<strong>da</strong>de econômica a exclusiva e predominante para <strong>da</strong>r<br />

valor à escola”.<br />

“Lo esencial es que la activi<strong>da</strong>d del niño lleve a un resul-<br />

tado efectivo y útil, para su propria formación y para la co-<br />

lectivi<strong>da</strong>d de que forma parte”.<br />

E Colombain, (de quem mereci a honra de uma<br />

referência a “Cooperativa escolares”) em seu “La valeur<br />

éducative des coopératives scolaires”, disse com justeza:<br />

“La coopération scolaire, c’est l’école nouvelle des<br />

pauvres:<br />

plus précisément, elle apporte l’école nouvelle aux pauvres,<br />

c’est-à-dirc aux classes pauvres, aux pays qui sent pas encore<br />

riches (no caso, o Brasil), à ceux qui ne le sont plus”, no ponto<br />

de vista de Victor Voguel: “. . . la réalisation populaire des<br />

écoles nouvelles. . .<br />

Na coexistência <strong>da</strong> mutuali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> cooperativa escolar,<br />

que aquela fique com o seu estático mealheiro, e esta com o<br />

socorro aos necessitados como um de seus serviços. Nos esta-<br />

tutos que elaborei estão em perfeita e discreta<br />

interpenetração e equilíbrio as virtudes de ambas.<br />

Já se disse que o agrupar as escolas em comuni<strong>da</strong>de é<br />

fazer <strong>da</strong> classe uma socie<strong>da</strong>de em miniatura e <strong>da</strong> escola uma<br />

federação de pequenas repúblicas mais ou menos autônomas,<br />

segundo a i<strong>da</strong>de dos alunos e o grau de responsabili<strong>da</strong>de que<br />

se lhes possa confiar.<br />

O primeiro livro surgido em língua portuguêsa foi o presente<br />

— “Cooperativas escolares” (cuja l.ª edição foi lança<strong>da</strong><br />

em janeiro de 1933, pela “Civilização Brasileira”, quando ain<strong>da</strong><br />

não existia um só departamento estadual de cooperativismo


76 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

no Brasil), filho, que sou, de médico, escritor e pe<strong>da</strong>gogo.<br />

Tais questões me são, pois, familiares desde a infância, tendo<br />

sido meu saudoso pai o introdutor (1895) <strong>da</strong>s caixas<br />

escolares no Distrito Federal, além de precursor do romance<br />

social no Brasil e <strong>da</strong> escola ativa, slojd escolar, isto é,<br />

trabalhos manuais, excursões, cinema educativo, método<br />

montessoriano, festa <strong>da</strong> primavera, etc., etc.), e escritor com<br />

livros que durante longos anos foram adotados pelas escolas<br />

primárias do Distrito Federal e de diversos Estados do<br />

Brasil. A Prefeitura do Distrito Federal, ain<strong>da</strong> vivo meu pai,<br />

deu o nome dêle a uma de suas ruas.<br />

A primeira cooperativa escolar fun<strong>da</strong><strong>da</strong> no Brasil, já<br />

dentro <strong>da</strong> orientação geral traça<strong>da</strong> nos estatutos oficiais de<br />

1931, embora modificados, foi, como veremos, a de Cruzeiro,<br />

em São Paulo, em julho de 1933, através <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> que<br />

no Norte do Estado fiz desde 1931, quando em viagens de<br />

propagan<strong>da</strong> de cooperativas de lacticínios, tendo realizado, a<br />

pedido do inspetor Eboli, várias palestras a professôras, no<br />

1.° Grupo Escolar do Cruzeiro, no Grupo de Itagaçaba e na<br />

Escola Normal de Guaratinguetá. A Cooperativa de<br />

Lacticínios de Cruzeiro, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> ao influxo dessa minha<br />

propagan<strong>da</strong> em 1931, foi o centro irradiador do<br />

cooperativismo escolar aí e em Itagaçaba e do movimento<br />

de lacticínios do chamado Norte do Estado.<br />

Quase tô<strong>da</strong>s as cooperativas escolares do Brasil seguem<br />

a orientação conti<strong>da</strong> nos estatutos do fim dêste livro,<br />

sobretudo<br />

Pernambuco, dinamiza<strong>da</strong>s neste Estado, inlcialmente, por<br />

M. Barbosa, e, depois, pela dedicação ímpar de Nair de<br />

Andrade.<br />

Procurei nêles ficar em consonância com o espírito <strong>da</strong><br />

moderna pe<strong>da</strong>gogia, que tem sua grande expressão nos<br />

cânones <strong>da</strong> escola ativa.<br />

Dentro, pois, dêsses princípios pe<strong>da</strong>gógicos, dos cânones<br />

<strong>da</strong> escola vital, ou do método biótico, se situa a cooperativa<br />

escolar, nela tendo o professor sua ação imprescindível e<br />

fecun<strong>da</strong> de assessor e orientador nato.<br />

Lorenzo Luzuriaga disse que os dois conceitos<br />

fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> educação do tempo presente são: “escola<br />

ativa” e “escola única”. Aquela se refere ao conteúdo, a vi<strong>da</strong><br />

interna <strong>da</strong>s instituições educativas. Esta diz respeito à<br />

forma, à organização exterior dessas instituições. A “escola<br />

ativa” é sobretudo uma concepção psico-pe<strong>da</strong>gógica; a<br />

“escola única” é fun<strong>da</strong>mentalmente uma aspiração<br />

pe<strong>da</strong>gógico-social.<br />

E Ferrière assim caracterizou a escola ativa:


FÁBIO LUZ FILHO 77<br />

“Trata-se então dum movimento de reação contra o seu<br />

formalismo, contra o seu hábito de se colocar fora do vi<strong>da</strong>,<br />

contra à sua incompreensão do que constitui o fundo e a<br />

natureza <strong>da</strong> criança. A Escola Ativa não é anti-intelectual,<br />

mas anti-intelectualista, querendo nós exprimir com isto<br />

que ela é contrária àquela propensão que leva a <strong>da</strong>r à<br />

inteligência um lugar preponderante, em prejuízo do<br />

sentimento, e <strong>da</strong> ativi- <strong>da</strong>de. É que êstes dois últimos<br />

elementos fazem parte integrante do que se chama caráter.<br />

Não basta apenas refletir; é preciso viver. Se a vi<strong>da</strong> sem a<br />

reflexão é pouca coisa, a reflexão sem a vi<strong>da</strong> não é na<strong>da</strong>.<br />

“A ativi<strong>da</strong>de espontânea, pessoal e produtiva, tal é o ideal<br />

<strong>da</strong> Escola Ativa. Este ideal não é novo. E o de Montaigne, de<br />

Locke e de J. J. Rousseau e Pestalozzi. E Fichte e Froebel fize-<br />

ram dêle o centro dos seus sistemas educativos. E, em suma, o<br />

ideal de todos os pe<strong>da</strong>gogos intuitivos e geniais do passado, —<br />

o dos grandes precursores. Mas, se a intuição foi a sua prin-<br />

cipal fôrça, ela foi também a sua maior fraqueza, se encarar-<br />

mos a difusão <strong>da</strong> sua obra e o progresso <strong>da</strong> ciência. Advinha-<br />

ram a infância, mas não a conheceram no sentido que o<br />

século atual dá a êste têrmo. Antes <strong>da</strong>s conclusões a que<br />

chegou a psicologia experimental, apenas se podia pressentir<br />

a infân- cia; hoje, ela é conheci<strong>da</strong>; amanhã será ela melhor<br />

conheci<strong>da</strong> ain<strong>da</strong>”.<br />

Dai entrar o cooperativismo escolar no domínio <strong>da</strong> pedo-<br />

tecnia.<br />

Payot, no seu dogmatismo pe<strong>da</strong>gógico, acha que o<br />

caráter não é um dom <strong>da</strong> natureza (como o frisa a escola de<br />

que Ribot foi o centro), podendo ser um produto secundário<br />

lentamente adquirido.<br />

Guyau concor<strong>da</strong> em que, no ordem moral, a educação é<br />

soberana. A morali<strong>da</strong>de como filha <strong>da</strong> inteligência, do pen-<br />

samento moral como dever.<br />

E eis Rousseau:<br />

“A ilha do gênero humano é a terra; o objetivo mais interessante<br />

para os nossos olhos é o sol. Tão depressa comecemos<br />

a fastar-nos de nós, as nossas observações deverão cair sôbre<br />

um e outro. Nenhum outro livro além do mundo, nenhuma outra<br />

instrução além dos fatos. A criança que lê não pensa; lê apenas;<br />

não se instrui, aprende palavras. Tornai o vosso discípulo atento<br />

aos fenômenos <strong>da</strong> natureza e bem depressa o vereis curioso, mas<br />

nunca vos apresseis em satisfazer essa curiosi<strong>da</strong>de. Colocai as<br />

questões ao seu alcance e deixai que


78 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

êles as resolva. Que êle não apren<strong>da</strong> a ciência, mas que a<br />

invente.<br />

“Se nunca substituirdes no seu espírito a autori<strong>da</strong>de pela<br />

razão, êle nunca raciocinará; será apenas o joguete <strong>da</strong><br />

opinião dos outros”.<br />

E Emile Durkheim acentua que a educação nas ci<strong>da</strong>des<br />

gregas e latinas, conduzia o individuo a subordinar-se cega-<br />

mente à coletivi<strong>da</strong>de, a tornar-se uma coisa <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

Hoje, esforça-se por fazer dêle personali<strong>da</strong>de autônoma e<br />

consciente.<br />

Dei ao diretor <strong>da</strong> escola, nos citados estatutos, a<br />

representação ativa e passiva, de vez que têm elas que se<br />

amol<strong>da</strong>r à lei no que lhes fôr aplicável e imprescindível.<br />

Influi para a inclusão <strong>da</strong>s cooperativas escolares na lei 22.239<br />

(1932), e fiz com que, na lei 581, se retificasse o lapso <strong>da</strong><br />

22.239, que <strong>da</strong>va personali<strong>da</strong>de jurídica às cooperativas<br />

escolares nos moldes <strong>da</strong>s dos adultos, num absurdo.<br />

Não é a cooperativa escolar uma pseudocooperativa,<br />

como pensa muita gente. Pseudo significa falso, e as<br />

cooperativas escolares (refiro-me às de crianças), não são<br />

falsas cooperativas, e, sim, ver<strong>da</strong>deiras cooperativas em<br />

miniatura, viva expressão <strong>da</strong> “firme vontade de viver<br />

solidâriamente”, que é a essência do fenômeno cooperativo<br />

em todo o mundo. O próprio Profit, em visível contradição<br />

com o cunho que deu ao cooperativismo escolar francês,<br />

definiu-as, inicialmente, como cooperativas econômicas,<br />

visando à minoração de preços, na estrutura <strong>da</strong>s de adultos,<br />

falseamento que êle próprio não cometeu na prática do<br />

cooperativismo escolar francês, visceralmente educativo.<br />

Nas cooperativas escolares são observa<strong>da</strong>s (não teriam<br />

função educativa se não o fizessem...) tô<strong>da</strong>s as normas dou-<br />

trinárias que caracterizam as cooperativas comuns, inclusive<br />

a finali<strong>da</strong>de coletiva <strong>da</strong>s sobras anuais, num escopo de aper-<br />

feiçoamento material <strong>da</strong> escola, e moral, espiritual e social do<br />

aluno.<br />

É a consubstanciação <strong>da</strong> pestalozziana pe<strong>da</strong>gogia<br />

realista, que Claperède assinalou como próprio de uma<br />

didática que deve transformar os fins futuros a que aspiram<br />

os programas escolares em interêsses presentes para o<br />

educando. Educação para a comuni<strong>da</strong>de, no postulado de<br />

Fichte. A criança tem na cooperativa escolar o meio capaz de<br />

capacitá-la para preencher as tarefas de sua vi<strong>da</strong> no sentido<br />

do dever do futuro “homem social”, a que se refere Rousseau,<br />

um ser atuante e pensante,


amante e emotivo. A livre expansão <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

criança como fim.<br />

Lourenço Filho assinala que Sanderson conseguiu levar<br />

a vi<strong>da</strong> para dentro <strong>da</strong> escola. “Não devemos estabelecer<br />

uma barreira entre a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> escola e a vi<strong>da</strong> cotidiana <strong>da</strong><br />

coletivi<strong>da</strong>de, O trabalho escolar carece de estar em relação<br />

com a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> criança no lar, como carece tornar-se parte<br />

integrante <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de”. E, isto, realiza-o<br />

cooperativa escolar. Anísio Teixeira reconhece-o em sua<br />

inconteste autori<strong>da</strong>de. E conduz ao que aponta Lourenço<br />

Filho para a escola nova: o desenvolvimento individual<br />

dentro do maior equilíbrio social, democracia, paz e<br />

trabalho, humani<strong>da</strong>de melhor. Cita ain<strong>da</strong> Tolstoi como<br />

precursor <strong>da</strong> renovação escolar atual. E acentua que nas<br />

“public-schools” inglêsas surgiram os primeiros sistemas<br />

empíricos <strong>da</strong> educação renova<strong>da</strong>.<br />

Democracia e escola nova, diz Lourenço Filho, visam,<br />

portanto, uma e mesma coisa. São idéias complementares.<br />

O Estado democrático carece de formar-se de homens de<br />

iniciativa e espírito esclarecido, capazes de se governarem<br />

a si mesmos. A escola nova deseja que a personali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

criança venha a formar-se pela prática efetiva dêsse<br />

espírito de iniciativa. A cooperativa escolar a isso conduz.<br />

Foi a França, pois, o berço <strong>da</strong>s cooperativas escolares.<br />

Possuía ela, em 58, umas 28.000 cooperativas escolares em<br />

7.500 escolas, com um total de 1.200.000 alunos-<br />

cooperadores. Em alguns departamentos, agrupa o<br />

cooperativismo francês escolar a 95% <strong>da</strong> população<br />

escolar.<br />

O Congresso Nacional do Departamento Central de<br />

Educação realizado em Tours em 1948, visando ao valor<br />

social <strong>da</strong> criança, e <strong>da</strong> mulher educadora e mãe, dá a<br />

seguinte definição ao cooperativismo escolar:<br />

“No ensino público, as Cooperativas escolares são<br />

socie<strong>da</strong>des de alunos, dirigi<strong>da</strong>s por êstes com o concurso dos<br />

professôres, tendo em vista ativi<strong>da</strong>des comuns. Inspira<strong>da</strong> por<br />

um ideal de progresso humano, tem por objetivo a<br />

educação moral, cívica e intelectual dos cooperadores, com<br />

a gestão <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e o trabalho de seus associados. Os<br />

frutos comuns do trabalho são destinados ao equipamento<br />

<strong>da</strong> escola e ao melhoramento <strong>da</strong>s condições de trabalho, à<br />

organização <strong>da</strong> cultura artística e ao divertimento dos<br />

associados, ao desenvolvimento <strong>da</strong>s obras escolares e pós-<br />

escolares de aju<strong>da</strong> mútua e de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de”.<br />

Está aí bem frisado o cunho educativo do cooperativismo<br />

escolar.


É o trabalho coletivo como base de educação, através <strong>da</strong><br />

aquisição de livros, cinemas educativos, discotecas,<br />

excursões, proteção aos pássaros, trabalhos hortícolas,<br />

combate a insetos <strong>da</strong>ninhos, festas, teatrinhos, bibliotecas,<br />

fabricação e ven<strong>da</strong> de objetos artísticos; feitura e aquisição<br />

de material de ensino; compra e distribuição de livros e<br />

instrumentos para trabalhos manuais; decoração e<br />

embelezamento <strong>da</strong> escola; colheita e ven<strong>da</strong> de plantas<br />

medicinais; pequenas farmácias e pelotões firmes de saúde;<br />

jogos esportivos; cultivo de jardins, de viveiros, hortas e<br />

pomares; organização de pequenos jornais escolares; criação<br />

de coelhos, bichos de sê<strong>da</strong>, animais de laboratórios:<br />

tômbolas; correspondência intercooperativa, etc.<br />

Desde 1931 foi esta a orientação que imprimi à<br />

propagan<strong>da</strong>, consubstancia<strong>da</strong> em folhetos, livros,<br />

comunicados e nos estatutos já referidos. E citemos a Delom.<br />

Já fêz sentir que Francisco Ravard acentuou como a<br />

reali<strong>da</strong>de histórica ultrapassa hoje os limites infinitos,<br />

criados especulativamente, pelo homem, e procura buscar, às<br />

vêzes torrencialmente, seu próprio curso. A escola não pode<br />

permanecer inerte ante o impulso avassalador dêsse<br />

movimento renovador. Não pode, tampouco, com suici<strong>da</strong><br />

teimosia, contribuir para a formação de mentali<strong>da</strong>des que<br />

entrem em choque agudo com a reali<strong>da</strong>de circunjacente e<br />

sejam como organismos de destruição ou de perturbação.<br />

Há-de ir ao encontro delas, criando mentali<strong>da</strong>des robustas e<br />

serenas, inclina<strong>da</strong>s a atuar retamente na hora que lhes<br />

correspon<strong>da</strong> dentro do processo histórico.<br />

“Na Cooperativa apresentam-se, aos olhos do aluno, em<br />

síntese harmônica, valores individuais. O princípio<br />

cooperati- vo baseia-se, com efeito, no reconhecimento <strong>da</strong><br />

personali<strong>da</strong>de, sem menosprêzo <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de, e do valor<br />

desta, sem menosprêzo <strong>da</strong>quela”.<br />

“Nem o individualismo absoluto, que supõe desprêzo dos<br />

interêsses gerais e coletivos, áspera luta pelo predomínio pes-<br />

soal e competição brutal frente às pretensões igualmente uni-<br />

laterais de outras personali<strong>da</strong>des, nem absoluto coletivismo,<br />

que significaria a anulação do individuo, o sacrifício de<br />

personali<strong>da</strong>de humana e, até certo ponto, a escravidão.<br />

Frisa Ravard ain<strong>da</strong> que eminentes educadores como<br />

Cousinel, Ferrière e Decroly se mostraram fervorosos partidá-<br />

rios do cooperativismo escolar como elemento pe<strong>da</strong>gógico de<br />

primeira ordem. Concor<strong>da</strong>m com Profit num dos maiores efeitos<br />

do cooperativismo escolar; o aperfeiçoamento moral dos<br />

alunos, como Charles Gide o assinala.


FÁBIO LUZ FILHO 81<br />

“Realiza admiràvelmente um postulado essencial <strong>da</strong> escola<br />

moderna; educação mediante a colaboração ativa do discipulo,<br />

de preferência à imposição coativa do mestre. Ação<br />

sobrepondo-se a normas abstratas. Hdbitos e sentimentos<br />

preferiveis a profun<strong>da</strong>s e incompreensíveis dissertações. Ao<br />

aprender a subordinar seus interêsses ao bem-estar geral,<br />

como requisito essencial para a marcha do organismo<br />

cooperativo, recebe o aluno uma lição social <strong>da</strong> maior<br />

transcendência que a mais bela exposição que pudesse<br />

ouvir dos lábios de seu professor.<br />

“Ao separar suas pequenas moe<strong>da</strong>s para a<br />

contribuição mensal, adquire o aluno belíssimo hábito de<br />

economia. E, quando no encerramento do exercício anual, a<br />

cooperativa lhe devolve sua parte nos benefícios obtidos, e a<br />

escola inaugura seus novos laboratórios, fruto do trabalho<br />

comum, será o aluno capaz de aquilatar devi<strong>da</strong>mente do<br />

valor do esfôrço de todos para consecução de um fim útil.<br />

“Estará disposto o aluno a ser, na situação que lhes<br />

corresponde na vi<strong>da</strong>, um membro útil do conglomerado social”<br />

A cooperativa escolar canalizará, ademais, vocações, <strong>da</strong>ndo<br />

sentido de responsabili<strong>da</strong>de às crianças.<br />

Abeberado do cooperativismo escolar francês, acentua<br />

o mesmo autor que os administradores e fiscais são os<br />

próprios alunos, desempenhando os professores um papel<br />

mais de conselheiros do que de gerentes ativos. São os<br />

próprios alunos que fazem os regulamentos, nomeiam<br />

comissões, criam seções, sugerem planos e facilitam os<br />

recursos financeiros. Verificam, além do mais, as compras,<br />

determinam a aplicação dos fundos, estabelecem sanções<br />

contra as possíveis transgressões <strong>da</strong>s normas estabeleci<strong>da</strong>s<br />

pela comuni<strong>da</strong>de. É um perfeito autogovêrno infantil, que<br />

não encerra nenhum perigo, de vez que robustece a<br />

confiança <strong>da</strong> criança em si mesma, faz que se sinta<br />

realmente responsável por um trabalho sério, pela<br />

aplicação diária dos princípios <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> justiça.<br />

A cooperativa escolar, em síntese, prepara o aluno para<br />

desempenhar no futuro altas funções, dignas e úteis.<br />

“Mas, a finali<strong>da</strong>de econômica não deve, tampouco, ser<br />

subestima<strong>da</strong>, sem se chegar ao exagêro materialista que su-<br />

bordina todo o processo social às reali<strong>da</strong>des econômicas;<br />

mas, reconhece sua influência poderosa sôbre tô<strong>da</strong>s as<br />

ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e, sobretudo, no campo específico <strong>da</strong><br />

organização interna <strong>da</strong> escola”.


82 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

É o cadinho de uma nova mentali<strong>da</strong>de, realista e não verbalista,<br />

preparadora de bases culturais e humanas que a vi<strong>da</strong> de<br />

hoje exige, com o primado do fenomenismo econômico.<br />

“As cooperativas escolares são instituições circum-escolares<br />

formados pelos alunos de um determinado centro docente<br />

que se propõem iniciar seus associados na prática, em pequena<br />

escala, de tô<strong>da</strong>s ou de algumas formas de cooperativas<br />

econômicas, com tendência a que as escolas se bastem a si<br />

mesmas, centralizando em tôrno <strong>da</strong>s cooperativas escolares tô<strong>da</strong><br />

as demais obras escolares anexas, e fazendo <strong>da</strong> escola uma<br />

ver<strong>da</strong>deira comuni<strong>da</strong>de de trabalho, uma organização viva de<br />

educa-cão social, eficiente e prática”.<br />

Ana Muzzio, a ilustre educadora, acentua que as cooperativas<br />

escolares são considera<strong>da</strong>s como instrumentos de<br />

formação intelectual e moral. Descobrem elas e desenvolvem<br />

nos alunos quali<strong>da</strong>des de caráter, a iniciativa, a decisão, a autoconfiança<br />

e o respeito a si próprios e aos demais. Contribuem<br />

para a formação <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de física, moral e intelectual <strong>da</strong><br />

juventude, criando o hábito <strong>da</strong> reflexão, e do julgamento.<br />

Também habituam ao uso <strong>da</strong> palavra para fazer valer os<br />

próprios argumentos e também ensinam a calar no momento<br />

oportuno.<br />

Estimulam as iniciativas priva<strong>da</strong>s, harmonizando-as com<br />

esfôrço comum; ensinam a ver<strong>da</strong>deira disciplina, que é o<br />

espeito à lei; permitem a expansão <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>de, mas<br />

nspirando-se, principalmente, no sentimento de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

de aju<strong>da</strong> mútua.<br />

Ensinam, finalmente, a viver a ver<strong>da</strong>deira liber<strong>da</strong>de, que é<br />

responsabili<strong>da</strong>de.<br />

Maurice Colombain, ex-chefe do Serviço de Cooperativis-<br />

mo, <strong>da</strong> Oficina Internacional do Trabalho, em seu livro “La<br />

valeur éducative des coopératives scolaires” já citado, define<br />

magistralmente essas “pequenas repúblicas” como<br />

combinando as vantagens dos dois modos de ensino: o<br />

ensino em comum e o ensino individualizado ao máximo.<br />

O ensino em comum em classes compostas de elementos<br />

heterogêneos é tido como fator de retar<strong>da</strong>mento dos espíritos<br />

mais vivos, sem permitir a eclosão dos mais lentos.<br />

Pela varie<strong>da</strong>de de tarefas que impõem aos seus alunos-associados,<br />

a cooperativa, ativi<strong>da</strong>de lúdica, oferece a ca<strong>da</strong> um<br />

possibili<strong>da</strong>des de se consagrar mais particularmente àquelas que<br />

correspondem a seus gostos ou aptidões, e, por isso, como o faz o<br />

ensino individualizado, lhes fornece oportuni<strong>da</strong>de para um<br />

desenvolvimento incontido de suas facul<strong>da</strong>des naturais.


FÁBIO LUZ FILHO 83<br />

O ensino individualizado é acoimado de fazer desaparecer<br />

o gôsto e o estimulante do emulação, de afastar fatôres de<br />

formação que envolvem as relações diretas entre semelhantes,<br />

de impedir o nascimento de sentimentos coletivos.<br />

“La coopérative scolaire comble cette lacune”.<br />

Ca<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de que nela se exerce depende <strong>da</strong>s outras na<br />

medi<strong>da</strong> em que delas se distingue, só adquire seu completo<br />

valor quando ocupa seu lugar na obra comum. “Resulta que,<br />

neste caso, a especialização <strong>da</strong>s tarefas, longe de criar o<br />

isolamento e a dissociação, é fator eficaz de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

orgânica”.<br />

“Certes, <strong>da</strong>ns les cas particulièrement difficiles, les<br />

jeunes coopérateurs demandent conseil à leurs maitres.<br />

Quelques fois, les status donnent à ceux-ci certains pouvoirs<br />

de contrôle, voire um veto qul suspend <strong>da</strong>ns leurs effets ou<br />

annule les décisions librement prises par les écoliers<br />

associés. En fait, ce droit de veto est, le plus souvent, le signe<br />

d’une grande autonomie de gestion, car c’en est le<br />

contrepois. C’est <strong>da</strong>ns la mesure où ils se sont tenus à<br />

l’écart de la gestion proprement dite que les adultes se<br />

sentent obligés et justifiés à s’assurer de sa sagesse”. Êste<br />

final justifica a intenção educativa que não<br />

intervencionista.<br />

Charles Henri Barbier assinala, como necessárias ao<br />

pleno desabrochar <strong>da</strong> criança, a educação para a<br />

autonomia e a harmonização de esforços individuais com os<br />

do grupo.<br />

Eis o duplo sentido essencial <strong>da</strong> ação cooperativa e o<br />

“self-help” e a aju<strong>da</strong> mútua: formar homens capazes de<br />

praticar plenamente o “self-help” e de o compreender, e, ao<br />

mesmo tempo, praticar o auxílio mútuo. É isto criar um<br />

tipo de ci<strong>da</strong>dãos educados não só para a autonomia, senão<br />

também para a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, para o individualismo e o<br />

altruísmo, para a vi<strong>da</strong> social. Será um tipo de homem que<br />

terá o gôsto <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de por si mesmo e pelos outros, a<br />

vontade de agir por contra própria, e uma vontade igual de<br />

harmonizar sua ação com a de seus semelhantes, a<br />

necessi<strong>da</strong>de de ser ver<strong>da</strong>deiramente êle próprio e a de<br />

compreender os outros.<br />

“É no coração <strong>da</strong>s crianças que se prepara essencialmente<br />

a guerra ou a paz de amanhã... Paralelamente à socie<strong>da</strong>de<br />

de seus pais, as crianças têm direito à sua própria socie<strong>da</strong>de,<br />

com os seus iguais, com a natureza, com os animais, com as artes<br />

e os livros.<br />

“Entretanto, o respeito devido à criança não pode ir até à<br />

abstenção pura e simples em matéria educativa. A criança


84 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

continua ca<strong>da</strong> dia a nascer de nós... Os métodos criadores<br />

<strong>da</strong> passivi<strong>da</strong>de na criança, atrofiam, para sempre, a vi<strong>da</strong> do<br />

espírito e dão, perigosamente, o gôsto <strong>da</strong>s soluções já<br />

elabora<strong>da</strong>s, recebi<strong>da</strong>s do exterior”.<br />

Assim, outros métodos educativos existem que<br />

adquiriram por tô<strong>da</strong> a parte uma importância que não é<br />

para desdenhar:<br />

o trabalho escolar de equipe, de autogovêrno, e as<br />

cooperativas escolares.<br />

“O problema educativo essencial situa-se, hoje, para os<br />

cooperadores, em têrmos novos. É êle, antes de mais na<strong>da</strong>,<br />

fazer homens”.<br />

O COOPERATIVISMO ESCOLAR, A EDUCAÇÃO<br />

VOCACIONAL, A DEMOCRACIA<br />

“Cooperativas”, órgão de publici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> União<br />

Panamericana, de Washington, em seu número de junho de<br />

1953, publicou longo e brilhante trabalho <strong>da</strong> autoria de<br />

ilustre técnico <strong>da</strong> Seção de Cooperativas <strong>da</strong> Divisão de<br />

Trabalho e Assuntos Sociais dessa mesma enti<strong>da</strong>de, Julio<br />

Mejia Scarneo. Neste trabalho o autor faz referência a<br />

autores especializados sul-americanos, entre êles os<br />

brasileiros Fáblo Luz Filho e J. Monserrat, e tem conceitos<br />

de muita justeza e oportuni<strong>da</strong>de sôbre o cooperativismo<br />

escolar, encarado sobretudo do ângulo do ensino e <strong>da</strong><br />

educação vocacional. Júlio Mejia encontra-se agora no<br />

Peru, depois de ter estado em Pátzcuaro, no México.<br />

HISTÓRICO<br />

Fazendo um histórico do cooperativismo escolar na<br />

Europa, diz êle que, na Europa, a partir <strong>da</strong> terceira déca<strong>da</strong>,<br />

se utiliza a organização cooperativa escolar para despertar<br />

habili<strong>da</strong>des natas para determina<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des técnicas, e<br />

também realizando trabalho dêste caráter, que não só tem<br />

beneficiado o aluno, senão também a escola e acomuni<strong>da</strong>de,<br />

indo desde a leitura do material escolar até ao<br />

reflorestamento <strong>da</strong> zona onde está situa<strong>da</strong> a escola; em<br />

outros casos, desde a conservação e melhoria <strong>da</strong>s condições<br />

<strong>da</strong> escola até ao cultivo de produtos alimentícios e criação de<br />

aves. Passa, assim, por tô<strong>da</strong>s as fases conheci<strong>da</strong>s como<br />

conhecimentos básicos <strong>da</strong> educação agropecuária e <strong>da</strong><br />

educação industrial.


FÁBIO LUZ FILHO 85<br />

NOVOS MÉTODOS DE ENSINO<br />

Esta forma de ensino, moderna e dinâmica, o distingue<br />

perfeitamente do método tradicional de ensino intelectual e<br />

teórico, que imperava antes <strong>da</strong> primeira guerra mundial.<br />

Esta mu<strong>da</strong>nça de métodos de ensino deve-se, em grande<br />

parte, a uma necessi<strong>da</strong>de, a de cooperação, frente à<br />

desordem material e moral que resultou dêsse conflito. Foi<br />

a França a iniciadora dêste movimento de cooperativismo<br />

escolar, no qual a criança, desde seus primeiros anos de<br />

estudos, aprende a interessar-se pela vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e<br />

a ser socialmente útil, e também um ci<strong>da</strong>dão consciente.<br />

Dado o êxito <strong>da</strong>s cooperativas escolares francesas,<br />

estendeu-se, ràpi<strong>da</strong>mente, pelos países anglo-saxões e<br />

atualmente se usa também a cooperativa escolar como um<br />

meio muito eficiente de educação nas colônias francesas <strong>da</strong><br />

África, onde existem problemas econômicos e sociais bas-<br />

tante sérios.<br />

Frisa mais o citado técnico que se deve definir e<br />

proclamar que a cooperativa escolar representa um método<br />

de ensino, <strong>da</strong><strong>da</strong>s a sua natureza e ativi<strong>da</strong>de, já que ensina a<br />

prática cooperativa, mediante o estímulo ao espírito de<br />

cooperação <strong>da</strong> criança, tornando menos agressivo o espírito<br />

egoísta que existe também nela e que, atualmente, pela<br />

falta de uma orientação adequa<strong>da</strong>, muitas vêzes a<br />

transforma num elemento anti-social e perigoso no futuro.<br />

“Apesar dêstes fatôres psicope<strong>da</strong>gógicos, tem também<br />

o método cooperativo um valor muito importante como<br />

complemento do interêsse do aluno em aprender e é neste<br />

ponto que descobrimos seu valor potencial para um<br />

eficiente ensino <strong>da</strong> educação vocacional em suas várias<br />

formas.<br />

“O método de ensino cooperativo é ideal para a<br />

aprendizagem por grupo de alunos, seja para as ativi<strong>da</strong>des<br />

agrícolas, industriais, comerciais, ou para a vi<strong>da</strong> comum.<br />

Isto se deve a que, ao aplicar-se êste método, através <strong>da</strong><br />

cooperativa escolar, se deve tomar em consideração que<br />

esta instituição compreende dois aspectos: o aspecto de<br />

associação de alunos e o de emprêsa de alunos. Quando se<br />

trabalha mediante a organização cooperativa escolar, os<br />

mestres dão com maior eficiência os cursos teóricos, que<br />

podem tornar-se práticos mediante a emprêsa dos alunos.<br />

Assim mesmo, cursos teóricos relacionados com a educação<br />

cívica, adquirem vitali<strong>da</strong>de, realismo na associação de<br />

alunos, que, como dizíamos antes, forma dois aspectos <strong>da</strong><br />

cooperativa escolar. Daqui também nasce sua


86 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

vantagem sôbre outras Instituições associa<strong>da</strong>s com a escola,<br />

que não reunem tô<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong>des duma enti<strong>da</strong>de que é,<br />

em si, uma escola do vi<strong>da</strong> e ativi<strong>da</strong>de, um pequeno mundo, e<br />

<strong>da</strong>rá bons resultados mais tarde, quando o aluno se converter<br />

em ci<strong>da</strong>dão, e comprove que não é indiferente ao mundo, mas<br />

que forma parte dêle, porque já viveu essa mesma vi<strong>da</strong> em<br />

criança, na sua escola, e foi educado por um método que<br />

servirá também para construir seu futuro”.<br />

EDUCAÇÃO AGROPECUARIA<br />

Adiante ressalta, com a mesma convicção e calor, que a<br />

cooperativa escolar, como método de ensino cooperativo na<br />

educação agropecuária, representa um valioso fator na moti-<br />

vação do ensino e, assim, crê que tem mais importância que<br />

as organizações de jovens conhecidos como clubes “4-H” e<br />

Futuros Agricultores <strong>da</strong> América, que são organizações<br />

estu<strong>da</strong>ntis típicas norte-americanas que colaboram no<br />

ensino técnico e que estão sob os auspícios de órgãos<br />

estaduais, fora do contrôle <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des educadoras.<br />

“Uma cooperativa escolar, que funcione numa escola<br />

agropecuária e que pode chamar-se granja cooperativa<br />

escolar, deve ficar sob a direção e a supervisão dos mestres<br />

<strong>da</strong> mesma escola. Deve esta granja cooperativa escolar, em<br />

seu aspecto de emprêsa, <strong>da</strong>r lugar a trabalhos de campo<br />

que permitam ao mestre explicar o processo <strong>da</strong> produção.<br />

Posteriormente, <strong>da</strong>rá lugar a que os estu<strong>da</strong>ntes realizem<br />

operações de ven<strong>da</strong> dos produtos <strong>da</strong> granja cooperativa, o<br />

que <strong>da</strong>ria oportuni<strong>da</strong>de para explicar o mecanismo dos<br />

preços e do mercado, além dos processos para a conservação<br />

e o acondicionamento dos produtos agrícolas. O processo<br />

administrativo <strong>da</strong> granja, levado à prática pelos próprios<br />

estu<strong>da</strong>ntes, dá lugar ao ensino aos processos<br />

administrativos no campo <strong>da</strong> agricultura, com noções<br />

fun<strong>da</strong>mentais sôbre o contrôle contábil e a matemática co-<br />

mercial, além <strong>da</strong> documentação mercantil”.<br />

DEMOCRACIA<br />

“O aspecto <strong>da</strong> associação cooperativa dos estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong>rá<br />

oportuni<strong>da</strong>de para fazer sentir ao aluno sua responsabili<strong>da</strong>de<br />

moral e social com respeito a seus colegas de estudos e a obra<br />

que se está realizando. As reuniões dos conselhos de adminis-


FÁBIO LUZ FILHO 87<br />

tração e <strong>da</strong>s assembléias gerais dos associados, contribuirão<br />

para arraigar, no educando, os princípios democráticos. Ade-<br />

mais, <strong>da</strong>rá oportuni<strong>da</strong>de para que o professor avalie, com<br />

mais objetivi<strong>da</strong>de, o interêsse e a aptidão do aluno,<br />

principalmente a fim de orientá-lo na sua ver<strong>da</strong>deira<br />

especiali<strong>da</strong>de dentro do campo <strong>da</strong> educação apropecuária”.<br />

EDUCAÇÃO INDUSTRIAL<br />

E adiante acentua como o estabelecimento <strong>da</strong><br />

cooperativa escolar pode denominar-se: oficina-cooperativa<br />

escolar. Nela se conseguirá que os alunos utilizem, com o<br />

máximo proveito, o material de trabalho. Ademais,<br />

considerando-se que o fator mais forte de motivação, na<br />

educação industrial, é o interêsse do aluno pelo trabalho do<br />

oficio, que tem seu complemento na vantagem econômica,<br />

por pequena que seja, a qual representa o fruto do trabalho<br />

pessoal, não pelo trabalho em si mesmo, mas pelas<br />

repercussões que dêle derivam por meio do método<br />

cooperativo. A finali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação industrial não é só<br />

produzir bons trabalhadores, senão pessoas com um senso de<br />

responsabili<strong>da</strong>de social adquirido na oficina-cooperativa es-<br />

colar.<br />

“A oficina-cooperativa escolar, em seu aspecto de<br />

emprêsa, <strong>da</strong>rá lugar a trabalhos de oficina que permitirão ao<br />

mestre explicar o processo <strong>da</strong> produção industrial, desde o valor<br />

<strong>da</strong> matéria-prima, a mão-de-obra, até à necessi<strong>da</strong>de de capital de<br />

trabalho e capital em maquinaria. Posteriormente <strong>da</strong>rá lugar a<br />

que os estu<strong>da</strong>ntes realizem prática de equipe mediante um<br />

trabalho coletivo sob a direção e supervisão do professor ou<br />

professôres, o que permitirá fazer cálculos básicos do custo <strong>da</strong><br />

produção industrial, considerando seus diversos fatôres, assim<br />

como o cálculo do desgaste <strong>da</strong> maquinaria, etc. Se realizarem<br />

trabalhos reprodutivos — do lucro produzido pela ven<strong>da</strong> destes<br />

artigos manufaturados, repartir-se-á uma parte entre os alunos<br />

— associados em proporção ao trabalho realizado. Explicar-se-á,<br />

com um exemplo prático, o processo administrativo de uma<br />

fábrica para uma industria pequena, tão indispensável nos paises<br />

<strong>da</strong> América Latina”.<br />

Já foi defini<strong>da</strong> a democracia como consentimento dos<br />

governados e participação dêstes no governo, basea<strong>da</strong> em uma<br />

compreensão comum obti<strong>da</strong> pela livre discussão, do que décor-<br />

re o senso de uma responsabili<strong>da</strong>de comum. E já se disse que só<br />

a educação em seu sentido lato poderá aprimorar êsse senso


88 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

de responsabili<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>r à democracia tô<strong>da</strong> a sua fôrça de<br />

renovação, com a participação de interêsses dentro dos gru-<br />

pos e entre êsses grupos, o que levará à direção social<br />

consentânea ARISTÓTELES frisou que principio<br />

fun<strong>da</strong>mental do govêrno democrático é a liber<strong>da</strong>de, com<br />

raízes em valores morais, só o dissemos.<br />

Lasserre frisa que a democracia cooperativa é<br />

responsável, no sentido de que na cooperativa não se pode<br />

nem se deve decidir sob influências de paixões, de fantasias e<br />

de mesquinhos interêsses, sem que isso tudo tenha imediatas<br />

conseqüências ruinosas sôbre a economia de todos os<br />

associados; solidária, pois na democracia cooperativa os<br />

interêsses de todos são práticamente os mesmos, são<br />

homogêneos; combatente, pois mantém uma batalha<br />

constante pela produção, a luta contra os preços abusivos,<br />

contra a concorrência agressiva, contra os inimigos do<br />

movimento cooperativo; militante, pois tem uma vontade de<br />

conquista, além de ser um movimento social com a<br />

grande ambição de transformar a ordem social vigente, am-<br />

bição de substituir a economia capitalista por uma economia<br />

cooperativa tão completa quanto possível.<br />

Repetimos que não é sem uma base educativa que se<br />

aprimoram os quadros cooperativos para que tão elevados<br />

objetivos sejam alcançados. E Pernambuco cedo isto<br />

compreendeu, quando deu ênfase ao cooperativismo escolar<br />

pela atuação ímpar de Nair de Andrade, pelo que merece<br />

louvores.<br />

Antônio Sérgio, o ilustrado professor e escritor luso, a<br />

que já nos referimos, enviou-nos recentemente seu último<br />

livro —“Cartas do terceiro homem”, bela profissão de fé<br />

cooperativis-ta, no qual tem conceitos justos sôbre o<br />

cooperativismo esco- lar, roborativos do que vimos dizendo<br />

há anos em livros, folhetos, comunicados e artigos. Frisa êle<br />

que os ver<strong>da</strong>deiros instrumentos de educação <strong>da</strong> juventude<br />

devem ser buscados na vi<strong>da</strong> civil dos nossos concelhos<br />

antigos, dos nossos municípios modernos, e na<br />

organização democrática <strong>da</strong>s cooperativas de hoje. E acena,<br />

em segui<strong>da</strong>, para o cooperativismo escolar pelas intrínsecas<br />

virtudes educativas que todos lhe reconhe- cem.<br />

“Percebamos que a liber<strong>da</strong>de é que é o sol <strong>da</strong>s almas”, diz<br />

êle, como só vimos.<br />

Já fizemos sentir em livro que o cooperativismo tem seus<br />

brônzeos alicerces fun<strong>da</strong>mentados na igual<strong>da</strong>de, na espontânea<br />

ação comum, no aperfeiçoamento dos laços de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, no<br />

mútuo consentimento, na fraternização do convívio freqüente,<br />

na soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de vicinal. Defende os atributos essenciais <strong>da</strong><br />

digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pessoa humana. É almo instru-


FÁBIO LUZ FILHO 89<br />

mento de educação econômica, moral e social. Fora disto, se-<br />

rão as cooperativas simples casas de consignação, corpo sem<br />

alma ou ideali<strong>da</strong>de, falhando na construtura <strong>da</strong> nova ordem<br />

sócio-econômico-moral para a qual caminha o mundo...<br />

Proudhon em “Solution du probleme social” disse que a<br />

reciproci<strong>da</strong>de, na criação, é o principio <strong>da</strong> existência. Na<br />

ordem social, a reciproci<strong>da</strong>de é o princípio <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />

social, a fórmula <strong>da</strong> justiça. Tem por base o antagonismo<br />

eterno <strong>da</strong>s idéias, <strong>da</strong>s opiniões, <strong>da</strong>s paixões, <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des,<br />

temperamentos, interêsses. “Elle est la condition de l’amour<br />

méme. .<br />

E Proudhon ferreteia: o mal que nos aniquila provém de<br />

que a lei <strong>da</strong> reciproci<strong>da</strong>de é desconheci<strong>da</strong>, viola<strong>da</strong> pelos<br />

egoísmos obdurados. “Le reméde est tout entier <strong>da</strong>ns la<br />

promulgation de nos rapports mutuels et réciproques, voilá<br />

toute Ia science sociale”...<br />

Já temos exaustivamente <strong>da</strong>do ênfase, em nossos livros,<br />

ao papel que representarão as cooperativas no quadro rural<br />

brasileiro, tecla que continuamos a percutir ca<strong>da</strong> vez mais<br />

incisivamente, por sermos um país com problema agudos<br />

cujas nascentes se situam na conjuntura <strong>da</strong> produção <strong>da</strong><br />

terra, com a massa <strong>da</strong> população rural precisando de<br />

alforria social e econômica, o que lhe trará sua integração<br />

permanente na vi<strong>da</strong> econômica, social e cultural <strong>da</strong> Nação.<br />

Continuemos, pois, a focar êsse assunto como numa<br />

enfadonha monódia, que sua magnitude o justifica e continua<br />

sendo posta em constante ressalto mesmo em países que já<br />

ultrapassaram o infortúnio do triste estádio de subdesenvol-<br />

vimento crônico.<br />

Não considerem, pois, os caros leitores, essa insistência<br />

como uma coisa torpente, uma melancólica zangurriana . . .<br />

É um imperativo <strong>da</strong>s circunstâncias, realmente cheio de acer-<br />

bi<strong>da</strong>des, árido, sem as suavi<strong>da</strong>des melódicas de um Sibélius<br />

ou um Schumann conduzindo-nos a repousantes<br />

intermúndios miríficos... Mas, as paisagens humanas nem<br />

sempre nos po-dem transportar a êsses deliciosos páramos...<br />

Dizemos em “Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des<br />

cooperativas” que o homem, como acentuou o PROF.<br />

ENDRES, faz repousar seus princípios morais sôbre ações<br />

práticas, partindo de uma profissão de fé teórica.<br />

O PROF. FRAUCHIGER acentuou que o principal<br />

objetivo <strong>da</strong> educação é tornar possível ao homem a vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong>de.


90 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

O PROF J. LORENZ frisou que se deveria tomar uma<br />

como atitude religiosa em favor <strong>da</strong> idéia cooperativa, em<br />

face <strong>da</strong> transcendência econômico-moral de seus postulados.<br />

O Dr. MIVILLE estudou a educação do ângulo<br />

cooperativo, achando que o Estado não deverá limitar-se, no<br />

futuro, à formação prática e especializa<strong>da</strong> dos Jovens; mas<br />

também, deverá prepará-los para que encarem com firmeza<br />

seus direitos e deveres de homens e de ci<strong>da</strong>dãos.<br />

O Dr. WARENWEILER afirmou ser a Suíça um país<br />

de homens lúcidos e operosos. A organização econômica<br />

cooperativa terá, a seu ver, papel de excepcional relêvo nesse<br />

particular.<br />

O Dr. HILFIKAR partiu do principio pestalozziano <strong>da</strong><br />

“chambre de famille”, salientando a necessi<strong>da</strong>de de se apri-<br />

morar o sentido <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de no seio <strong>da</strong> família.<br />

Comuni<strong>da</strong>de e cooperação são conceitos aproximados e<br />

quase equivalentes.<br />

MAURICE COLOMBAIN diz que há entre o esfôrço<br />

cooperativo e o de educação em geral uma relação<br />

constante, que se verifica em volta de nós, através do tempo<br />

e do mundo. Como pôr em dúvi<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

educação cooperativa para a ação cooperativa? Verificamos,<br />

ao contrário, continua êle, o vigor e a fecundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

cooperativas que a educação fêz nascer e crescer. Vemos<br />

mesmo que todos os governos que reconheceram os<br />

benefícios <strong>da</strong> ação cooperativa, também reconheceram a<br />

necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação cooperativa; que certas<br />

províncias do Canadá tomaram a seu cargo as despesas com<br />

essa educação; que grandes administrações dos E. Unidos<br />

publicam em abundância não sòmente trabalhos estatísticos,<br />

monografias sôbre o cooperativismo, mas também<br />

ver<strong>da</strong>deiros manuais que ensinam a arte de construir e<br />

utilizar o instrumento cooperativo; que o govêrno polonês e<br />

o tchecoslovaco, dentre outros, subvencionavam e que o<br />

govêrno finlandês subvenciona ain<strong>da</strong> a educação dos<br />

associados, dos dirigentes e dos empregados <strong>da</strong>s<br />

organizações cooperativas; que a lei grega de 1938 sôbre<br />

cooperativismo previa a criação duma escola coo-perativa<br />

cujo diploma seria obrigatório para o pessoal encarregado<br />

do controle <strong>da</strong>s cooperativas e também sabemos o que as<br />

instituições cooperativas dos países <strong>da</strong> África e <strong>da</strong> Ásia<br />

deviam aos “Regístrars of Cooperatives Societies”, que não<br />

eram sòmente controladores, senão também educadores,<br />

cuja obra foi sempre sóli<strong>da</strong> tô<strong>da</strong> vez que se apoiou mais<br />

fortemente na educação. Hoje, essa tarefa continua, mas<br />

com elementos indianos.


FÁBIO LUZ FILHO 91<br />

BÓREA aconselha a multiplicação <strong>da</strong>s assembléias gerais,<br />

como meio educativo.<br />

E WATKINS, dentro <strong>da</strong> concepção subjetiva do Estado,<br />

acha que êste, por natureza, se preocupa apenas com a esta-<br />

bili<strong>da</strong>de, a estática social, e que a livre associação está inte-<br />

ressa<strong>da</strong> no movimento, na dinâmica, no progresso, na evolu-<br />

ção social. Um ponto usual de parti<strong>da</strong> (para a educação<br />

cooperativa) é a idéia de que os princípios essenciais do<br />

Cooperativismo não são sòmente princípios de organização<br />

social, senão também princípios de conduta individual.<br />

Tomado o principio de eqüi<strong>da</strong>de, não podemos deixar de<br />

considerar que a justiça social é sempre possível de ser<br />

realiza<strong>da</strong> em uma socie<strong>da</strong>de cujos membros procuram<br />

praticar a justiça individualmente. O problema fun<strong>da</strong>mental<br />

<strong>da</strong> educação cooperativa, WATKINS o vê como visando a um<br />

correto conglomerado social, que deve estimular o pensamento<br />

original, a agu<strong>da</strong>, mas justa crítica, a boa camara<strong>da</strong>gem, o<br />

desejo de executar uma boa parte de tô<strong>da</strong>s as tarefas comuns e o<br />

orgulho de uma realização conjunta, o senso do bem comum e a<br />

capaci<strong>da</strong>de de alcançá-lo pela soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de econômica e social,<br />

bem compreendi<strong>da</strong> e melhor aplica<strong>da</strong>.<br />

No Congresso canadense dos cooperadores de língua<br />

fran- cesa que se realizou na Universi<strong>da</strong>de de Ottawa em<br />

agôsto de 1950, Robert Gauthier, diretor do ensino francês<br />

em Ontario, desenvolveu brilhantemente o tema “A fôrça <strong>da</strong><br />

coordenação”, frisando como a educação é fator importante<br />

de coordenação, e apelou para que as escolas primárias e<br />

secundárias do país dessem maior atenção ao<br />

cooperativismo em seus currículos, quando do ensino <strong>da</strong>s outras<br />

matérias.<br />

A educação cooperativa <strong>da</strong>rá, pois, ao movimento coope-<br />

rativo brasileiro substrato mais sólido, dias menos empacha-<br />

dos de vacilações e dissídios internos, e os lineamento<br />

definitivos de uma contagiante consciência cooperativa.<br />

Todos reconhecem que essa atitude envolve um<br />

indurado esfôrço para o nosso meio: mas, justamente por<br />

isso, devemos perservar nêle, como acicate para uma cruza<strong>da</strong><br />

sem repouso...<br />

Já tivemos oportuni<strong>da</strong>de de frisar que Rui Barbosa disse,<br />

em uma de suas lapi<strong>da</strong>res e lentejoulantes orações, que o mal é<br />

inexorável pela consciência de ser caduco; o bem, paciente e<br />

compassivo, pelo certeza de sua eterni<strong>da</strong>de.<br />

Aos quadros de nossos cooperadores no geral falece o<br />

necessário substrato de conhecimentos específicos. Os que di-<br />

rigem, os que não devem <strong>da</strong>r ao movimento distorções que o<br />

deslegitimem, os que labutam no campo <strong>da</strong> gestão técnica,


92 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

a massa dos cooperadores ain<strong>da</strong>, em muitos meios, amorfa e<br />

vacilante, devem, todos, em uníssono, conclamar militantes<br />

para uma ação comum de educação cooperativa, nas suas vá-<br />

rias formas, para que o caminho do bem cooperativo, que é<br />

eterno, se desatravanque dos empeços que o avergam e re-<br />

tar<strong>da</strong>m um an<strong>da</strong>mento mais rápido e um tono mais adequa-<br />

do para que alcance o seu ver<strong>da</strong>deiro sentido ético-<br />

econômico. E para que não esperem tudo do paternalismo<br />

estatal.<br />

Também já fiz sentir em livro que o cooperativismo tem<br />

seus brônzeos alicerces fun<strong>da</strong>mentados na igual<strong>da</strong>de, na es-<br />

pontânea ação comum, no aperfeiçoamento dos laços de soli-<br />

<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, no mútuo consentimento, na fraternização do<br />

convívio freqüente, na soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de vicinal. Defende os<br />

atributos essenciais <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pessoa humana. É almo<br />

instrumen-to <strong>da</strong> educação econômica, moral e social. Fora<br />

disto, serão as cooperativas simples casas de consignação,<br />

corpo sem alma ou ideali<strong>da</strong>de, falhando na construtura <strong>da</strong><br />

nova ordem sócio-econômico-moral para a qual caminha o<br />

mundo...<br />

Já foi defini<strong>da</strong> a democracia como o consentimento dos<br />

governados e participação dêstes no govêrno, basea<strong>da</strong> em<br />

uma compreensão comum obti<strong>da</strong> pela livre discussão, do que<br />

decorre o senso de uma responsabili<strong>da</strong>de comum.<br />

Renomados publicistas já frisaram que só a educação em<br />

sentido lato poderá aprimorar êsse senso <strong>da</strong><br />

responsabili<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>r à democracia tô<strong>da</strong> a sua fôrça de<br />

renovação, como a participação de interêsses dentro dos<br />

grupos e entre êsses grupos, o que levará à direção social<br />

consentânea, como vimos.<br />

A cooperativa é a democracia em ação.<br />

O movimento cooperativo apela para técnicas<br />

educativas novas, e considera a cooperativa em si mesma, em<br />

sua própria essência, como um pacífico processo<br />

democrático, balestreiro para defesa do interêsse econômico<br />

do povo, com um profun-do sentido reformador. Educa para<br />

o autogoverno, a auto-suficiência, para aquela noção de<br />

liber<strong>da</strong>de organiza<strong>da</strong> a que já me referi em livro.<br />

Diz Eugen Relgis que “el ver<strong>da</strong>dero egoísmo consiste en<br />

el libre, en el voluntario perfeccionamento de la<br />

personali<strong>da</strong>d en beneficio de la humani<strong>da</strong>d. El altrúismo<br />

significa: soli<strong>da</strong>ri<strong>da</strong>d consciente del individuo que,<br />

consagrándose a la humani<strong>da</strong>d, sabe que siempre recibe de<br />

ella mucho más de lo que él le <strong>da</strong>”. E refere-se, em segui<strong>da</strong>,<br />

ao egoaltruísmo, que resume as duas atitudes e se aproxima<br />

<strong>da</strong> conceituação cooperativa do “eu coletivo”.


FÁBIO LUZ FILHO 93<br />

Ao sau<strong>da</strong>r ilustre técnico argentino em visita ao Brasil,<br />

M. Babenco, tivemos oportuni<strong>da</strong>de de dizer que os homens,<br />

efetiva e desgraça<strong>da</strong>mente, se têm alheado dêsses sãos, evi-<br />

ternos princípios de aju<strong>da</strong> mútua e recíproca compreensão,<br />

que embasam o movimento cooperativo mundial. E o corolá-<br />

rio melancólico disso é êsse generalizado e contristante espe-<br />

táculo de “psicose de destruição”, que habita as mentes; êsse<br />

ódio que, como garruncho, peia as almas dos homens tresan-<br />

<strong>da</strong>dos; êsses conhecidos desajustamentos, cujas principais<br />

fontes se podem encontrar nas convulsões de duas guerras<br />

hedion<strong>da</strong>s.Daí a premente necessi<strong>da</strong>de de um roteiro de<br />

evan-gelização, de uma cruza<strong>da</strong> universal para amparo e<br />

salvação <strong>da</strong> criança, microscosmo de maravilhas, cadinho de<br />

virtuali<strong>da</strong>des enobrecedoras, dessa criança que é a principal<br />

vitima <strong>da</strong>s incompreensões que lavram entre os homens, dos<br />

rudes entrechoques de suas paixões, do fel de suas<br />

discriminações, do ácido de seus egoísmos obnubilantes, de<br />

tô<strong>da</strong>s as suas erronias desagregadoras, dos desníveis<br />

econômicos estabelecidos pelo atual sistema econômico.<br />

As cooperativas criarão (e muitos já o estão fazendo)<br />

uma nova mentali<strong>da</strong>de ou uma “neu Sachlichkeit” nos meios<br />

rurais tipicamente brasileiros, em que o cabloco ou matuto,<br />

como o disse Oliveira Viana nunca havia sentido com<br />

acui<strong>da</strong>de a necessi<strong>da</strong>de efetiva <strong>da</strong> “aldeia” ou <strong>da</strong> “tribo”, não<br />

“sentindo”, como o ci<strong>da</strong>dão <strong>da</strong> “ci<strong>da</strong>de” grega ou o burguês<br />

<strong>da</strong> “comuna” medieval, a sua pequena comuni<strong>da</strong>de local.<br />

Acentuemos que Mac Iver disse bem que assim como<br />

ca<strong>da</strong> um de nós faz a sua socie<strong>da</strong>de, esta, por sua vez, nos faz<br />

a ca<strong>da</strong> um de nós. Se nossa individuali<strong>da</strong>de é poderosa, forta-<br />

lece ela a nossa socie<strong>da</strong>de e vice-versa.<br />

Artur Rios frisou que a comuni<strong>da</strong>de é uma trama de<br />

relações e contactos íntimos.


CAPÍTULO IV<br />

O COOPERATIVISMO NOS CURRICULOS ESCOLARES<br />

Possuía o Brasil, em 1958, registra<strong>da</strong>s no Serviço de<br />

Economia Rural, do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, 883<br />

cooperativas escolares, achando-se em Curitiba, embora,<br />

infelizmente, estacionária, a maior federação dêsse tipo <strong>da</strong><br />

América do Sul, como vimos, filiando a 90 cooperativas<br />

escolares, ex-caixas escolares. No Estado <strong>da</strong> Paraíba<br />

encontrava-se a segun<strong>da</strong> federação do mesmo tipo do Brasil.<br />

Pernambuco, que visitamos mais uma vez em setembro<br />

de 1958 (quando participamos, como delegado do Brasil, do<br />

Centro Sul-Americano de Crédito Agrícola, seminário interna-<br />

cional, de 1 a 21 de setembro de 1958), tinha 121 cooperativas<br />

escolares em funcionamento, com cêrca de 42.000 alunos-as-<br />

sociados.<br />

Fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1954, a Cooperativa Escolar Fábio Luz (no-<br />

me de meu saudoso pai), do Grupo Escolar de Jaboatão, em<br />

Pernambuco, possuía 637 alunos-associados em 1958, com<br />

um capital realizado de 1.274 cruzeiros e um movimento de<br />

ven<strong>da</strong>s de mais de 21.000 cruzeiros. Seu Conselho de Admi-<br />

nistração era composto de nove meninas e três meninos, cha-<br />

mando-se Loide Amorim a presidenta. Um dos conselheiros<br />

chamava-se Severino Ramos <strong>da</strong> Luz.<br />

A Cooperativa funciona às terças e quintas-feiras, de 12<br />

e meia horas às treze e meia (2.° turno): e de 8 às 9 horas no<br />

1º turno, às quartas e sextas.<br />

As reuniões do Conselho de Administração se realizam<br />

às sextas-feiras às 9 horas.<br />

Os trabalhos são, como é natural, realizados pelas pró-<br />

prias crianças, com orientação <strong>da</strong> professôra responsável.<br />

Quando do Seminário acima aludido, fomos surpreendidos<br />

por uma comovedora visita de todo o Conselho de<br />

Administração dessa Cooperativa, que, acompanhado de sua<br />

dedica<strong>da</strong> professôra-orientadora, e dessa distinta educadora que é<br />

Nair de Andrade, se dignaram ofertar-me lindo ramo de flores, o


FÁBIO LUZ FILHO 95<br />

que, sensibilizando-me profun<strong>da</strong>mente, veio suavizar a<br />

aridez dos temas que vinhamos, exaustiva e<br />

ininterruptamente, debatendo de manhã à tarde, às vêzes até<br />

entrando pela noite. Gentis crianças e belos cooperadores<br />

futuros!<br />

Na preocupação constante de levar o movimento<br />

cooperativo às escolas, e elevá-lo, o Serviço especializado do<br />

DAC pernambucano, em colaboração com o Departamento<br />

Cultural e Informativo dos Estados Unidos, Instituto<br />

Nacional de Cinema Educativo e de acôrdo com a<br />

Secretaria de Educação e Cultura, realiza, com pleno êxito,<br />

como verificamos com prazer, projeções cinematográficas<br />

semanais nas diversas cooperativas escolares sedia<strong>da</strong>s em<br />

Recife.<br />

Eis o quadro do cooperativismo escolar brasileiro, em<br />

dezembro de 1958:<br />

ALAGOAS.................................................... 45<br />

AMAZONAS................................................. 6<br />

BAHIA.......................................................... 153<br />

CEARÁ.......................................................... 28<br />

D. FEDERAL............................................... 8<br />

ESP. SANTO................................................ 1<br />

GOIÁS............................................................ 4<br />

MARANHAO............................................... 7<br />

MINAS GERAIS........................................ 9<br />

PARÁ........................................................... 42<br />

PARAÍBA.................................................... 54<br />

PARANÁ....................................................... 98<br />

PERNAMBUCO......................................... 121<br />

PIAUÍ........................................................... 5<br />

RIO GRANDE DO NORTE..................... 10<br />

RIO GRANDE DO SUL........................... 38<br />

ESTADO DO RIO...................................... 35<br />

SANTA CATARINA................................. 50<br />

SÃO PAULO............................................... 165<br />

SERGIPE...................................................... 1<br />

TERRITÓRIO AMAPÁ............................. 2<br />

“ ACRE.................................... 1<br />

São 89. 336 crianças associa<strong>da</strong>s.<br />

TOTAL......................... 883<br />

Quando se fala em cooperativismo escolar em Pernambuco,<br />

fala-se em Nair de Andrade, culta, delica<strong>da</strong> e dinâmica.


96 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Foi com emoção que visitei em sua companhia a Cooperativa<br />

Escolar Pereira <strong>da</strong> Costa, em Caxangá, e outras. Vi como<br />

suas pequenas diretorias compenetra<strong>da</strong>s, sob a ação discreta<br />

de professôras integra<strong>da</strong>s na idéia, cônscias de seu valor<br />

educativo, se reuniam, o presidente abrindo a sessão, a<br />

secretariazinha lendo a ata, o exame e a prestação de contas,<br />

etc. Uma escola viva de autodeterminação e de mútuo<br />

entendimento, cadinho de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, futuros e capazes<br />

ci<strong>da</strong>dãos e cooperadores. Os filmes pe<strong>da</strong>gógicos são por<br />

Nair de Andrade utilizados com freqüência como preciosos<br />

instrumentos educativos audiovisuais. Os demais Estados<br />

deveriam enviar professôras a Recife, ao Departamento de<br />

Assistência às Cooperativas, onde atua essa ilustre<br />

educadora. Nelas é que está o caminho e a salvação.<br />

Parafrasearia a Jesus: “Nelas está o caminho, a ver<strong>da</strong>de, a<br />

vi<strong>da</strong> , . .“ Os americanos consideram-nas “núcleos de divul-<br />

gación doctrinaria”, e sóli<strong>da</strong> base para a formação de outros<br />

tipos de cooperativas,<br />

Por tô<strong>da</strong> a América do Sul se vai reconhecendo o<br />

alcance dessas organizações. Em setembro de 1943, realizou-<br />

se em Bogotá, República <strong>da</strong> Colômbia, o primeiro congresso<br />

<strong>da</strong>s cooperativas dêsse país. Dêle participaram figuras<br />

intelectuais de alto valor.<br />

Entre as numerosas e brilhantes conclusões<br />

apresenta<strong>da</strong>s, uma se destaca pela sua transcendência: é a<br />

referente à educação cooperativa.<br />

Ei-la:<br />

“Primeiro: O Congresso afirma: a) O principio, tão fre-<br />

qüentemente olvi<strong>da</strong>do, segundo o qual, antes de organizar<br />

uma cooperativa, é indispensável proceder à formação<br />

técnica e espiritual dos cooperadores: b) O corolário <strong>da</strong>quele<br />

princípio assim formulado: “a solidez e a fôrça de tô<strong>da</strong><br />

cooperativa está na razão direta, de uma parte, <strong>da</strong>s<br />

condições favoráveis que oferece o meio na qual funciona, e,<br />

de outra, <strong>da</strong> preparação cooperativista que tenham os<br />

associados que a companham”; c) Que o cooperativismo já<br />

fêz provas em tô<strong>da</strong>s as partes do globo e que as Américas em<br />

geral, e a Colômbia, em particular, reunem excelentes<br />

condições para que o cooperativismo possa nelas florescer e<br />

frutificar e d) Que, por conseguinte, o êxito ou fracasso <strong>da</strong>s<br />

emprêsas cooperativas dependerá, sempre, não do sistema<br />

cooperativo em si, mas do uso que se faça do mesmo.<br />

Segundo: Para o incremento do sistema cooperativo na<br />

Colômbia é indispensável organizar a educação cooperativa de<br />

forma tal, que compreen<strong>da</strong> tô<strong>da</strong> a estrutura docente nacional,


FÁBIO LUZ FILHO 97<br />

<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de à escola primária, sem que seja esquecido o<br />

ramo secundário, normalista, industrial e extra-escolar:<br />

1.° — A inclusão obrigatória, nos planos de estudos uni-<br />

versitários, de cursos especializados de cooperativismo;<br />

2.° — Ensino cooperativo obrigatório nas escolas normais<br />

para preparar os mestres que possam desenvolver a<br />

campanha cooperativa na escola primária;<br />

3.° Revisão dos programas de estudo do bacharelato<br />

para nêles incluir o ensino cooperativo, e o estabelecimento de<br />

cooperativas de estu<strong>da</strong>ntes;<br />

4° — Adoção, nos programas de ensino vocacional, agrí-<br />

cola e industrial, de cursos obrigatórios para o operário <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de e do campo para uma ação cooperativa eficaz.<br />

5.° Organização sistemática de educação cooperativa<br />

por meio do rádio, do cinema, <strong>da</strong> imprensa periódica e<br />

demais meios eficazes de propagan<strong>da</strong>;<br />

6° — Solicitar dos arcebispos e bispos do pais que esta-<br />

beleçam cursos de ensino cooperativo nos seminários.<br />

Terceiro: “Que se constitua: a) — um Conselho Nacional<br />

de Educação Cooperativa dependente <strong>da</strong> Federação Nacional<br />

de Cooperativas, o quaL terá um representante do <strong>Ministério</strong><br />

<strong>da</strong> Educação e outro <strong>da</strong>s cooperativas estu<strong>da</strong>ntis, para<br />

dirigir, orientar, desenvolver e planificar;<br />

b) — Que se destinem obrigatoriamente à educação<br />

cooperativa 2,5% <strong>da</strong>s sobras <strong>da</strong>s cooperativas (norma<br />

roch<strong>da</strong>liana) que funcionem no país, e solicitar do Estado<br />

uma contribuição não superior a essa percentagem;<br />

C) — Que se estabeleça, com a contribuição acima, o<br />

fun-do de educação cooperativa, que será manejado pelo<br />

Conselho Nacional de Educação Cooperativa e pelo Estado;<br />

d) — Que se criem os instrumentos legais necessários<br />

para tornar exeqüíveis as cooperativas de serviços escolares e<br />

estu<strong>da</strong>ntis, que dentro do atual estatuto jurídico colombiano<br />

são impraticáveis;<br />

e) — Apelar para as autori<strong>da</strong>des educacionais e o pessoal<br />

docente de todo o país, não só para desenvolver este programa,<br />

como para organizar o funcionamento <strong>da</strong>s cooperativas de<br />

professôres;<br />

f) — O serviço de restaurantes escolares em forma<br />

cooperativa entre os pais, o Estado e os amigos <strong>da</strong> escola;<br />

j) — Que se solicite às emprêsas industriais e agrícolas<br />

que uma percentagem de seus recursos para assistência social<br />

se destine à educação cooperativa;


98 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

h) — O intercâmbio dos estu<strong>da</strong>ntes de cooperativismo<br />

entre os diferentes centros de ensino não só do país, senão<br />

também do estrangeiro, e o envio de pessoas já forma<strong>da</strong>s<br />

(becados) àqueles pontos <strong>da</strong> Colômbia e de fora dela onde<br />

funcionem emprêsas cooperativas de técnica aperfeiçoa<strong>da</strong>.<br />

Além disso, que se solicite <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des competentes que<br />

facilitem que as férias se efetuem em tempo diferente nas<br />

capitais e no Interior;<br />

i) — Que regulamente o Estado o exercício de cargos re-<br />

munerados nas cooperativas de maneira que, antes de três<br />

anos, todos comprovem haver seguido cursos cooperativos<br />

em institutos oficialmente reconhecidos;<br />

j) — Que se não dêem auxílios ou subvenções nacio-<br />

nais, departamentais ou municipais a cooperativas que não<br />

cumpram o disposto nos pontos e e j.<br />

Quarto: Que o Congresso designe uma comissão perma-<br />

nente de três membros encarregados de desenvolver estas<br />

recomen<strong>da</strong>ções;<br />

Quinto: Que, em vista <strong>da</strong> situação atual do mundo, se<br />

façam todos os esforços possíveis para que a organização do<br />

ensino cooperativo termine e tenha seu pleno rendimento<br />

antes do fim <strong>da</strong> guerra;<br />

Sexto: Que o Conselho Nacional de Educação<br />

Cooperativa, de que se fala na letra a do ponto terceiro,<br />

elabore a cartilha cooperativista, reunindo, ordena<strong>da</strong> e<br />

sintèticamente, os princípios básicos do cooperativismo e os<br />

benefícios que traz ao cooperador, e as indicações essenciais<br />

para fun<strong>da</strong>r uma cooperativa; e recomen<strong>da</strong>r aos Secretários<br />

Departamentais de Educação que se disponham a fazer<br />

copiosas edições <strong>da</strong> tal cartilha a fim de que sejam<br />

difundidos êsses princípios e ensinamentos em tô<strong>da</strong>s as<br />

escolas primárias e rurais <strong>da</strong> República”.<br />

É também muito expressivo o exemplo <strong>da</strong> Polônia no<br />

setor cooperativo, pois o ensino teórico e prático <strong>da</strong> doutrina<br />

foi um dos fatôres decisivos para o rápido desenvolvimento<br />

<strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas naquele país.<br />

Segue o exemplo de outros países.<br />

Afora as cooperativas escolares, cujo número, em 1958,<br />

ascendia a 4.700, o movimento cooperativo no setor do<br />

ensino pode dividir-se em três categorias:<br />

a) — As escolas cooperativas fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s e controla<strong>da</strong>s<br />

pelo Estado, com estreita colaboração por parte <strong>da</strong> União<br />

Cooperativa Polonesa, que fornece programas, nomeia<br />

professôres, etc.<br />

Tais escolas se destinam principalmente aos empregados<br />

e associados <strong>da</strong>s cooperativas agrícolas. Durante o ano de


FÁBIO LUZ FILHO 99<br />

1946-47, existiam 67 delas, sendo freqüenta<strong>da</strong>s por mais de<br />

4.000 estu<strong>da</strong>ntes; 296 professôres residentes nas escolas e 182<br />

professôres externos. Ministram os ensinamentos teóricos, e<br />

práticos, do sistema.<br />

b) — Os cursos de treinamento rápido, organizados pela<br />

União Cooperativa, com duração de uma ou duas semanas,<br />

atingiram a cifra de 390, freqüentados por mais de 7.600<br />

alunos. Dedicam-se às questões gerais do cooperativismo.<br />

c) —Finalmente, os cursos por correspondência, cujo<br />

número de alunos inscritos subiu a 25.722, sendo que em<br />

1946, já haviam sido expedidos por êsses cursos diplomas em<br />

número de 235.864.<br />

A inscrição pode ser individual, ou por grupos, devendo,<br />

entanto, o aluno responder individualmente ao questionário<br />

que lhe é remetido, para que passe nos exames. A maioria <strong>da</strong>s<br />

inscrições por grupos compõe-se de alunos de cooperativas es-<br />

colares, que são auxiliados por professôres <strong>da</strong> própria escola.<br />

A Câmara dos Deputados <strong>da</strong> Província de Buenos Aires<br />

acaba de aprovar um projeto de lei tornando obrigatório o<br />

ensino do cooperativismo nas escolas de ambos os sexos,<br />

oficiais ou particulares dessa Província. Foi autor do projeto<br />

o deputado Dr. Alberto Vega.<br />

For essa lei a Dirección General de Escuelas, através<br />

de seus organismos técnicos, traçará o respectivo plano de es-<br />

tudos e terá podêres para a indicação e seleção do pessoal<br />

docente preposto ao ensino <strong>da</strong> matéria.<br />

O ensino será teórico-prático e compreenderá, além do<br />

estudo dos assuntos que sejam julgados de interêsse, a neces-<br />

sária explicação e interpretação <strong>da</strong> lei orgânica de cooperati-<br />

vismo <strong>da</strong> Argentina.<br />

NO BRASIL, AINDA NA ARGENTINA E NO CHILE<br />

Foi o Chile o primeiro país sul-americano a referir-se,<br />

em lei, às cooperativas escolares (1927).<br />

No Brasil vem de 1931 o início <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

cooperativas escolares pelo <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>. Livros<br />

e folhetos têm sido divulgados a respeito, oficial e<br />

particularmente.<br />

Existindo 883 cooperativas escolares regista<strong>da</strong>s no<br />

Serviço de Economia Rural até dezembro de 1958, nunca será<br />

dema- siado insistir nas virtudes edutivas que possuem.<br />

A Argentina possui também técnicos, como o Brasil, que se<br />

não cansam de pregar as excelências do sistema cooperativo.


100 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

aplicado à escola nova. Veja-se o Congresso de Córdoba<br />

em 1945.<br />

Assim é que o Sr. Carlos Pazzi, quando secretário<br />

interino de Divisão de Cooperativas <strong>da</strong> Seção de Indústria e<br />

Comércio <strong>da</strong> Argentina, acentuou, com grande justeza, que,<br />

na cooperativa escolar, a criança aprende que à margem de<br />

suas necessi<strong>da</strong>des estão as necessi<strong>da</strong>des dos demais; aprende<br />

a desprezar egoísmo e a ter a doçura infinita de <strong>da</strong>r, <strong>da</strong>r<br />

sempre, em afeição, em aju<strong>da</strong>, em trabalho, em esfôrço, em<br />

sacrifício; compreende que <strong>da</strong> colaboração de todos surgirá<br />

um imenso esfôrço, irredutível, íntegro e perdurável.<br />

Ca<strong>da</strong> criança, acentua, leva em si, por obra inegável <strong>da</strong><br />

herança e do ambiente, uma série de fatôres psíquicos, que<br />

constituem sua personali<strong>da</strong>de. Outra seria a vi<strong>da</strong>, na i<strong>da</strong>de<br />

em que a ductili<strong>da</strong>de tudo permite, se se ensinasse também à<br />

criança e ao adolescente a doutrina e a prática do cooperati-<br />

vismo, isto é, a teoria do esfôrço comum, do trabalho de ca<strong>da</strong><br />

um em bem de todos e do valor do êxito compartido.<br />

Inculcando às crianças, desde a escola, órbita natural, a<br />

prática e a doutrina profun<strong>da</strong>mente moral do<br />

cooperativismo, teremos amanhã homens aptos ao manejo de<br />

uma seção de economia, capazes de criar uma proprie<strong>da</strong>de<br />

coletiva, de despertar costumes sadios e sentimentos ativos<br />

de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de.<br />

Sob a égide dêsses princípios, devemos ensinar o<br />

cooperativismo na escola, para proporcionar-lhe a base<br />

firme <strong>da</strong> cultu-ra popular.<br />

Deve-se, pois, ao <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> a difusão do<br />

cooperativismo escolar no Brasil, Antes havia apenas a<br />

louvável tentativa de Fernando Azevedo (1928), no âmbito<br />

<strong>da</strong>s escolas municipais do Rio.<br />

A ex-Seção de Crédito Agrícola do Fomento Agrícola<br />

Federal, que eu dirigia em 1926, iniciou a sua propagan<strong>da</strong><br />

em 1931. intensificando-a em 1939, já com a denominação de<br />

Serviço de Economia Rural.<br />

A ESCOLA ORGANIZADA<br />

Além <strong>da</strong> plêiade de pe<strong>da</strong>gogos e escritores especializados,<br />

estrangeiros e brasileiros, que caracterizam amplamente o<br />

cooperativismo escolar e levantam o lábaro <strong>da</strong> proteção à<br />

criança, tais como Cide, Ravard, Profit, Buisson, Grumont,<br />

Brussière, Thomas, Caitier, Ruiz, Repetto, Baflasteros, Dewey,<br />

Paulsen .Jouenne, M. Babenco, B. Delom, Fabra Ribas, Fabio


FÁBIO LUZ FILHO 101<br />

Luz (pai), Fernando Azevedo, Valdiki Moura, Anísio Teixeira,<br />

Roberto de Menezes, Lula Amaral, M. Barbosa, Monserrat,<br />

Samuel Gonçalves, etc., para só citar os que têm publicações<br />

autônomas ou em revistas especializa<strong>da</strong>s; as publicações dos<br />

departamentos estaduais de cooperativismo <strong>da</strong> Bahia, de São<br />

Paulo, Rio Grande do Sul e outros; os artigos e comunicados<br />

oficiais; as leis espanhola, mexicana, venezuelana, chilena,<br />

colombiana, brasileira, os trabalhos de Basevi na Itália, etc.,<br />

reproduzamos a magnífica síntese que faz Tirado Benedi.<br />

Ei-la:<br />

“Imagine-se uma escola organiza<strong>da</strong> cooperativamente.<br />

Nela a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de escolar passa a ser o centro de<br />

tô<strong>da</strong>s as preocupações. O menino vive ali em contacto íntimo<br />

com a reali<strong>da</strong>de social mais completa e tem ocasião de ver e<br />

compreender (isto é essencial) que o homem multiplica e<br />

aumenta suas fôrças de uma maneira prodigiosa por efeito<br />

<strong>da</strong> ação coletiva e <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> mútua. Organizar em moldes<br />

coope rativos a escola é o meio e o instrumento mais eficaz<br />

para ini-ciar os educandos na prática <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social. Quando<br />

os meninos se reunem para celebrar suas assembléias,<br />

eleger dirigen- tes e assumir a responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> direção<br />

<strong>da</strong> obra comum; quando expõem suas iniciativas, quando<br />

procuram meios de realizar seus acordos, calculam faturas,<br />

fazem contas, escrevem cartas, formulam estatísticas,<br />

fazem cálculos de receitas e despesas, esboçam planos e<br />

redigem projetos; verificam compras; fazem coletas, traçam<br />

programas para saraus e festas escolares; passeios, viagens e<br />

excursões; trabalhos na horta, na granja, na oficina, no<br />

laboratório; organização do museu escolar; utilização <strong>da</strong><br />

biblioteca, do cinema escolar, do rádio, quantas lições<br />

práticas recebem, quantos conhecimentos vivos e hábitos<br />

úteis acumulam!” Dai o seu alcance educativo.<br />

Ballesteros classificou a cooperativa escolar como uma<br />

associação livre de alunos, regi<strong>da</strong> por uma administração de<br />

alunos nomeados por êle próprios, e que se propõe reunir,<br />

por meios diversos, os fundos precisos para ampliar os<br />

recursos educativos e o material didático, criar instituições<br />

protetoras de escola, etc., com o fim de tornar mais<br />

interessante, ativo e educativo o ensino.<br />

É um dos meios, quiçá o principal, de ampliar os fundos<br />

<strong>da</strong> Cooperativa, é o trabalho dos próprios alunos.<br />

Podem prestar grandes serviços como laboratórios de<br />

experimentação pe<strong>da</strong>gógica e de orientação profissional e<br />

como centros de Instrução pós-escolar.


102 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Só o fato de intervir na marcha <strong>da</strong> cooperativa, de<br />

administrá-la, além de despertar nas crianças um alto<br />

sentido de seu valor e de sua responsabili<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>r-lhes-á<br />

lições indeléveis para uma vi<strong>da</strong> sã, de ativi<strong>da</strong>de e cultura.<br />

Em uma cooperativa escolar bem compreendi<strong>da</strong>,<br />

acrescenta Ballesteros, os meninos aprenderão as idéias<br />

fun<strong>da</strong>mentais de justiça, pátria, religião, liber<strong>da</strong>de, etc., pela<br />

prática dessas virtudes sociais, e não por uma explicação<br />

verbal, que só poderá dirigir-se à sua inteligência, mas que<br />

jamais influenciará sua conduta.<br />

O Dr. Erico Emir Panzoni assim se referiu às<br />

cooperativas escolares:<br />

“Las cooperativas escolares tienen dos objetivos: un eco-<br />

nómico, otro educativo, siendo este último el ver<strong>da</strong>dero pro-<br />

pósito de estas organizaciones. En opinión de pe<strong>da</strong>gogos<br />

experimentados, la cooperativa es en si un instrumento, un<br />

método y un medio de formación mental y moral.<br />

“Reproducen generalmente en pequeña escala la<br />

organización adopta<strong>da</strong> por las cooperativas de consumo,<br />

produción, comercializoción, realizando una o varias de<br />

estas tareas”.<br />

E Ma<strong>da</strong>me Chenon-Thivet, educadora francesa, acentua<br />

que o cooperativismo escolar pode responder à tríplice preo-<br />

cupação de todo trabalho pe<strong>da</strong>gógico eficaz:<br />

1.°) Dar ao ensino um conteúdo valioso, isto é, no qua-<br />

dro <strong>da</strong>s disciplinas convencionais e dos programas oficiais,<br />

fornecer matéria rica, viva, a um tempo prática e cultural.<br />

2.°) Ministrar êsse ensino por um método ajustado à<br />

psicologia do escolar, em seus diversos níveis de i<strong>da</strong>de, ofere-<br />

cendo-lhe condições de ativi<strong>da</strong>de reais, necessárias, para<br />

conduzí-lo, do estado de dependência à autonomia, por meios<br />

ajustados às suas necessi<strong>da</strong>des e gestos;<br />

3.°) Proporcionar à escola um espírito novo, um sôpro<br />

animador, capaz de <strong>da</strong>r um sentido à vi<strong>da</strong> escolar,<br />

despertan- do no aluno a facul<strong>da</strong>de de desejar seu próprio<br />

desenvolvimento e provocar sua própria educação e<br />

instrução;<br />

A Cooperativa escolar, pois, como um fator de “motiva-,<br />

ção” para o trabalho escolar, ao mesmo tempo que uma<br />

fôrça de uni<strong>da</strong>de que se opõe à dispersão do esfôrço.<br />

É suscetível, assim, o Cooperativismo Escolar, ain<strong>da</strong> na<br />

opinião de Mme. Chenon, por seu espírito, suas práticas, seus<br />

resultados, de assenhorear-se de uma pe<strong>da</strong>gogia que permita<br />

à escola tradicional evolver para uma escola especificamente<br />

ativa, de estrutura e métodos favoráveis a uma educação<br />

moderna.


FÁBIO LUZ FILHO<br />

103<br />

“La Revista della Cooperazione” e “Movimento<br />

Cooperativo”, na Itália, tem em seu corpo de colaboradores<br />

técnicos especializados de renome.<br />

Cooperativas escolares existentes no mundo em 1958.<br />

Eis o quadro <strong>da</strong>s cooperativas escolares existentes em<br />

vários países em 1958:<br />

1.° — Rússia 150.000<br />

2.° — França 28.000 (com 1.200.000<br />

associados).<br />

3.° — México 17.197<br />

4.° — América do Norte 15.000<br />

5.° — Polônia 4.700<br />

6° — China Nacionalista 1.349<br />

7.° — Índia 1.270<br />

8.° — Finlândia 1.200<br />

9.º — Suécia 1 .103<br />

10.° — Tunísia 953<br />

11.° — Brasil 883<br />

12.° — Bélgica 750<br />

13.° — União Sul-Africana 600<br />

14.° — Dinamarca 548<br />

15.° — Argentina 450<br />

16.° — Iugoslávia 133<br />

17.° — Canadá 117<br />

18.° — Itália 100<br />

19.° — Marrocos 92<br />

20.° — Camerum 17<br />

21.° — Grécia 10<br />

Em várias escolas de Formosa foram em 1955 cria<strong>da</strong>s as<br />

acima cita<strong>da</strong>s cooperativas escolares de consumo, os quais<br />

também prestam serviços, concedem créditos, abrem contas<br />

de economia, etc. As 1.349 cooperativas escolares de<br />

consumo, agrupa<strong>da</strong>s em 13 federações, possuem 400.000<br />

associados-alunos. Fazem-se “semanas de cooperativismo”<br />

nas escolas.<br />

Em Trini<strong>da</strong>d há cooperativas escolares de crédito, e na<br />

Guiana ing1esa existem cooperativos escolares “de<br />

economia”.


CAPÍTULO V<br />

A ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

O sistema cooperativo, que vem apresentando ao mundo<br />

tão promissoras perspectivas de trabalho e concórdia, não<br />

poderia deixar de calar fundo no espírito <strong>da</strong>queles que têm a<br />

nobre e árdua missão de guiar êsses pequenos sêres, ci<strong>da</strong>dãos<br />

de amanhã, cujas almas, no esplendor de luminosa eclosão, se<br />

abrem para o grande e multifário espetáculo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Ao espírito novo <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia moderna, em que, como se<br />

viu, o self-government é o princípio em que se esteia tô<strong>da</strong> a<br />

renovação pe<strong>da</strong>gógica, como fator de formação moral, cons-<br />

tituindo a escola “o meio vital <strong>da</strong> criança”, ao espírito novo<br />

<strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia moderna não poderia fugir o alcance educativo<br />

dos princípios do cooperativismo puro aplicados à escola.<br />

Êsse espírito novo torna a escola um núcleo de dinamismo e<br />

de aperfeiçoamento de aptidões que se revelam no trato esco-<br />

lar quotidiano, aptidões físicas, morais e de inteligência. O<br />

ensino moderno, tendo por centro a criança autônoma e ao<br />

mesmo tempo solidária com os seus pares, tem por dever<br />

criar o ambiente propício à polarização, ao desenvolvimento<br />

e aperfeiçoamento <strong>da</strong>quelas aptidões. Ferri já o frisara e<br />

Fábio Luz, meu saudoso pai, isto acentuou sempre.<br />

As socie<strong>da</strong>des cooperativas escolares, apoia<strong>da</strong>s, até certo<br />

ponto, por mais dinâmicas, naquele mesmo espírito que<br />

presi-de às “Caixas Escolares” que o Dr. Fábio Luz, quando<br />

inspetor escolar, introduziu no Distrito Federal, como<br />

introduziu outras práticas que, mais tarde, reapareceram<br />

com outras designa-ções, as cooperativas levarão a êsse<br />

espírito de colaboração e de autonomia que colimam os<br />

pe<strong>da</strong>gogos de hoje. Pela sua estrutura democrática, nivela a<br />

todos, nela atuando, em um mesmo pé de igual<strong>da</strong>de, tanto o<br />

aluno que tem progenitores pecuniosos, como o aluno<br />

pobrezinho que integraliza suas quotas em trabalhos ou<br />

serviços. (O caráter de assistência tem-se acentuado nos<br />

meios rurais pobres, como acontece na Bahia.)


FÁBIO LUZ FILHO 105<br />

Diz Poisson que o cooperativismo é de essência<br />

democrática ou, mais exatamente, de self-self administração,<br />

como di-zem os ingleses. Esta consiste na igual<strong>da</strong>de dos<br />

associados e em idênticos direitos de atuação. É uma regra<br />

de direito. Esta se resume em uma fórmula Inglêsa,<br />

singelamente expressiva:<br />

um cooperador, um voto, como vimos.<br />

Na cooperativa vale a capaci<strong>da</strong>de de trabalho e<br />

inteligência, o esfôrço sincero, a dedicação incessante de ca<strong>da</strong><br />

um para o engrandecimento de uma obra coletiva feita do<br />

mais elevado altruísmo.<br />

O cooperativismo, reafirmo, é uma obra de<br />

congraçamento em um pensamento digno de melhoria<br />

econômica, social e moral. É um órgão de eleva<strong>da</strong> política<br />

social que assenta na associação de todos os necessitados de<br />

mútuo apoio, dignos e trabalhadores.<br />

A cooperativa é uma obra de natureza coletiva de<br />

alevanta<strong>da</strong>s miras que não pode confundir-se com<br />

associações mercantis de fins especulativos. É uma obra de<br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de benéfica, de apoio mútuo, erigi<strong>da</strong> sôbre uma<br />

ampla base unitária e igualitária, e só tem que ver com as<br />

quali<strong>da</strong>des de honradez, de trabalho produtivo, de<br />

proficiência, etc., de seus associados dignos, virtudes essas<br />

sôbre as quais repousará a vi<strong>da</strong> mesma <strong>da</strong> associação<br />

cooperativa. A socie<strong>da</strong>de cooperativa é uma socie<strong>da</strong>de de<br />

pessoas e não de capitais.<br />

Desenvolveu-se em França, como vimos, o<br />

cooperativismo escolar ao influxo <strong>da</strong> ação de M. Profit, no<br />

pós-guerra, contando-se hoje nesse país milhares de<br />

cooperativas escolares. Esse movimento se irradiou por<br />

outros países, contando-se hoje cooperativas escolares na<br />

Bélgica, Suíça, Polônia, Itália, Inglaterra, Alemanha,<br />

Hungria, Bulgária, Tchecoslováquia, Romênia, Dinamarca,<br />

Lituânia, Rússia, México, Argentina, etc. (Como veremos<br />

adiante, há quem fixe em 1906 e 1908 os<br />

movimentos na Polônia e <strong>da</strong> Romênia, mas com ou- tras<br />

origens, sem, a meu ver, aquêle cunho que às mesmas<br />

imprimiu a França). No Uruguai o ilustre educador César<br />

Marote é um paladino vibrante e culto <strong>da</strong> implantação <strong>da</strong>s<br />

cooperativas escolares.<br />

No Distrito Federal, procurou aplicar o decreto<br />

municipal, devido a Fernando Azevedo, a distinta inspetora<br />

escolar, D. Loreto Machado, que fundou uma cooperativa<br />

de consumo escolar no “Grupo Escolar Nilo Peçanha” em<br />

cujo “Círculo de Pais e Professôres” tive o prazer de fazer<br />

uma conferência. Este movimento não conseguiu até hoje<br />

infelizmente interes-sar devi<strong>da</strong>mente os demais distritos<br />

escolares, mui apega<strong>da</strong>s,


106 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

as professôras, às caixas escolares, ajouja<strong>da</strong>s em seus cur-<br />

rículos por várias disciplinas, etc.<br />

Um escritor francês frisa, mais uma vez, as vantagens de<br />

vária ordem que dimanam <strong>da</strong> cooperativa escolar: de ordem<br />

econômica, higiênica e artística; de natureza moral; de edu-<br />

cação social, de índole didática, como vimos.<br />

Econômicamente, a cooperativa agrupa indivíduos para<br />

a realização de fins econômicos imediatos e mediatos;<br />

infunde hábitos de economia e sentimentos claros de<br />

previdência, lições de boa vontade e tenaci<strong>da</strong>de, levando o<br />

aluno a comprar e distribuir com critério e espírito de justiça<br />

distributiva, (A ven<strong>da</strong> na cooperativa de consumo é um<br />

simples ato de distribuição, pois não visa ao lucro. É um dos<br />

traços fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> cooperativa e que a distingue<br />

frisantemente <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des de especulação).<br />

Obrigados, pelas contingências <strong>da</strong> administração (para<br />

produção de todos os seus efeitos a cooperativa escolar deve,<br />

tanto quanto possível, ser administra<strong>da</strong> pelos alunos dos anos<br />

superiores, orientados e controlados pelos professôres e dire-<br />

tores, membros natos <strong>da</strong> cooperativa escolar), a entrar em<br />

contacto com o comércio privado, a procurar, pela compra<br />

em grosso, preços compensadoras para a sua cooperativa<br />

(justo preço, quali<strong>da</strong>de boa e pêso exato), fixarão a diferença<br />

que há entre os processos de uma cooperativa e os métodos<br />

do comércio privado, que visa unicamente ao lucro<br />

individual.<br />

Profit acha que os administradores devem ter, no mínimo,<br />

10 anos de i<strong>da</strong>de e que só devem tomar parte nas eleições os<br />

de mais de 9 anos. Pensa também não haver inconveniente<br />

em que <strong>da</strong>s cooperativas escolares possam participar os<br />

alunos e antigos alunos de 6 a 20 anos, considera<strong>da</strong> a<br />

cooperativa como um maravilhoso laboratório de auto-<br />

educação que conduzirá até ao artesanato rural. Assim agiu<br />

ao fun<strong>da</strong>r, em 1923, a primeira cooperativa escolar em Saint-<br />

Jean d’Angély, denomina<strong>da</strong> “As abelhas”, que, como<br />

veremos, no fim do primeiro ano, já possuía 2.100 francos.<br />

Em 1926 existiam nessa circunscrição 20 círculos<br />

cooperativos, 237 museus 200 instalações sanitárias, 60<br />

aparelhos cinematográficos, oficinas para trabalhos manuais,<br />

bibliotecas, etc., etc.<br />

Ballesteros fêz sentir que o conceito usual <strong>da</strong> palavra<br />

cooperativa redú-la a uma reunião de pessoas para o<br />

preenchimento de fins econômicos, Acha que, tal como é<br />

concebi<strong>da</strong> dentro do movimento renovador <strong>da</strong> educação, êsse<br />

aspecto econômico não é, porém, o único nem o principal de<br />

seus fins, assinalando ser possível que na prática se possa<br />

indicar, mais


FÁBIO LUZ FILHO 107<br />

do que como propósito, como pretexto essencial <strong>da</strong><br />

cooperação escolar, a consecução de recursos para o trabalho<br />

<strong>da</strong> escola, “Na reali<strong>da</strong>de, no fundo do movimento cooperativo<br />

há um afã de lograr, mediante êsse recurso fecundo, que a<br />

escola possa alcançar seu ideal de autonomia, de<br />

colaboração, de ativi<strong>da</strong>de, de educação <strong>da</strong> família e pela<br />

família.... Com os processos de cooperação e de associação que<br />

se inspiram nas socie<strong>da</strong>des cooperativas comuns, a escola quer<br />

chegar à realização de seus mais altos ideais educativos”.<br />

Acentua êle ain<strong>da</strong> como a cooperação dos meninos<br />

permitirá a existência de comuni<strong>da</strong>des escolares em que<br />

adquirirão êles um sentido <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de e a prática<br />

<strong>da</strong>s virtudes <strong>da</strong> associação, chegando à formação de grupos<br />

de meninos para o cumprimento de tarefas concretas dentro <strong>da</strong><br />

ativi<strong>da</strong>de geral <strong>da</strong> cooperativa. Chegar-se-á, igualmente, a<br />

criar, na escola, um ambiente de autonomia e<br />

de colaboração, uma vez que serão os próprios meninos que<br />

irão regulamentar a existência <strong>da</strong> cooperativa e fixar o papel<br />

de ca<strong>da</strong> aluno dentro dela, fomentando-se a sã ativi<strong>da</strong>de de<br />

todos para trazer elementos de trabalho e recursos<br />

econômicos com que adquirir novos meios de tornar<br />

objetivo o ensino.<br />

“A cooperação dos pais interessará a êstes na obra <strong>da</strong><br />

escola, fazendo-os conviver com os mestres, conhecer os<br />

problemas <strong>da</strong> escola e sentir as suas necessi<strong>da</strong>des. Ao mesmo<br />

tempo, recebem a influência educadora dêsse ambiente,<br />

geralmente ignorado por êles, recebendo inspirações para o<br />

trato e a di- reção de seus filhos”.<br />

As cooperativas escolares não deixaram nem deixam de<br />

preocupar os educadores, argentinos. (Ver a mensagem de<br />

1959 do professorado buenairense.)<br />

Abrangiam, no geral, as cooperativas escolares argenti-<br />

nas, várias escolas de um mesmo “Consejo Escolar”, as quais<br />

limitavam 100 ou 200 o número de associados que poderiam<br />

continuar a mantê-la, no caso <strong>da</strong> maioria desejar dissolvê-la.<br />

Não se enquadravam nos moldes <strong>da</strong> nossa legislação, que dá<br />

ao aspecto econômico valor subsidiário apenas, no que andou<br />

acerta<strong>da</strong>, e não admite professôres nem tutôres.<br />

Diziam os estatutos <strong>da</strong> “Socie<strong>da</strong>de Cooperativa Escolar<br />

Florêncio Varela”, Consejo Escolar XV:<br />

“Pueden ser so<strong>da</strong>s los alumnos de las escuelas primarias<br />

dependientes del Consejo Escolar XV, los padres, tutores o<br />

encargados, personal directivo, docente y administrativo, las<br />

escuelas, el Consejo y las Socie<strong>da</strong>des cooperativas de las<br />

escuelas”.


108 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Os sócios poderão eleger “los delegados titulares y<br />

suplentes dei grado a que pertenecen. Solamente elegirán<br />

delegados de acuerdo al inciso anterior, los alumnos le 5.° y<br />

.° grados”. Os alumnos do 1.°, 2.°, 3.° e 4.° graus são<br />

representados pelos pais, tutores ou encarregados. O<br />

representante de ca<strong>da</strong> escola será o diretor e, o do Conselho<br />

Escolar, o seu presidente.<br />

“La Socie<strong>da</strong>d será dirigi<strong>da</strong> por un Directorio<br />

compuesto por lumnos, otros siete serán directores o<br />

maestros, presididos por el Presidente del Consejo<br />

Escolar”.<br />

Dizem os estatutos elaborados por César Marote:<br />

“Pueden ser socios los alumnos de las escuelas<br />

primarias y de adultos pertenecientes a la zona, los padres,<br />

tutores e encargados, y el personal docente y administrativo<br />

de las escuelas de la zona”;<br />

“Los socios tienen voz y voto en las Asambleas, a<br />

excepción de los alumnos de 1.°, 2.°, 3.° e 4.° años;<br />

“Los padres, tutores o encargados de los socios<br />

alumnos de dichas classes, tendrán voz y voto em<br />

representación de aquellos”;<br />

“Los alumnos socios de ca<strong>da</strong> escuela designarán de<br />

entre ellos un delegado ante el Directorio de la Cooperativa<br />

a que pertenecen. Será por lo menos de 5.° año y tendrá<br />

voz, pero no voto”.<br />

Eis os objetivos <strong>da</strong> “Socie<strong>da</strong>de Cooperativa Escolar<br />

Fiorêncio Varela”: — “Proveer de material escolar a sus<br />

asociados: textos, ilustraciones, útiles y todo aquellos<br />

articulas que fueran necesarios a la escuela.<br />

Contribuir a la difusión y realización del ahorro y el<br />

mutualismo, pudiendo establecer cajas especiales, o el<br />

ahorro postal, asi como también la previsión en suas<br />

diversas formas”.<br />

Em reunião, há tempos, o “Consejo Nacional de<br />

Educación” resolvera desenvolver ação intensa no sentido<br />

<strong>da</strong> difusão do cooperativismo escolar na Argentina, tendo-<br />

se processado movimento idêntico em Rosário.<br />

A organização dessas cooperativas, afastando<br />

pràticamente os alunos <strong>da</strong> gestão e <strong>da</strong> administração, e<br />

visando mais ao aspecto econômico (a cooperação econômica<br />

deve ser um meio, apenas), tem um caráter de certa<br />

complexi<strong>da</strong>de e é diferente <strong>da</strong> organização <strong>da</strong><strong>da</strong> às<br />

cooperativas européias, que são de um cunho mais simples<br />

e, no ver de escritores, de um alcance educativo muito<br />

maior, como é compreensível, restritas como estão a uma só<br />

escola e dirigi<strong>da</strong>s por alunos, orientados solícitamente,<br />

pelos seus diretores e professôres. O decreto municipal<br />

brasileiro n° 2.490, de 22 de novembro de 1928, em seu


FÁBIO LUZ FILHO 109<br />

Capítulo III, foi clarividente e lógico. Dispôs que aa<br />

cooperativas se organizassem em ca<strong>da</strong> escola, só<br />

admitissem alunos e fôssem administra<strong>da</strong>s por alunos do<br />

4.° ou 5.° anos escolhidos e orientados pelos professôres <strong>da</strong><br />

escola. Deveriam ser organiza<strong>da</strong>s por iniciativa do diretor e<br />

ficariam sob sua superintendência.<br />

Fernand Cattier, diretor <strong>da</strong> “École Normale<br />

d’Instituteurs du Vosges”, em se referindo à França, diz:<br />

“M. Boularron, directeur de l’école de Mirecourt (Vosges)<br />

m’a autorisé à citer les statuts que ses éléves ont rediges<br />

eux-mêmes. Cet éducateur laissait ses jeunes disciples se<br />

reunir en assemblées générales autant qu’ils désiraient et il<br />

se bornait à être, le cas échéant, leur avocat conseil.<br />

4.° — De prendre eux-mêmes soin de leur classe, de la<br />

rendre propre et agréable à habiter, de façon à l’aimer et à<br />

la faire aimer autour d’eux;<br />

5.° — De rechercher des distractions saines et de<br />

contracter des bonnes habitudes l’ordre et de propreté;<br />

6.° — De connaitre à fond leur petite patrie pour<br />

l’aimer mieux en apprenant à almer la grande.<br />

En consequence, ils ont formé avec approbation du<br />

maitre une societé denominée: “L’Abeille scolaire<br />

stéphanoise”, dont le but exclusif est l’éducatlon<br />

intellectuelle, morale et pratique de soi-même par soi-même:<br />

elle est un jeu”.<br />

Diz o artigo 3 <strong>da</strong> “Section de Gouvernement<br />

Autonome”:<br />

“Les éléves de la première classe se gouvernent eux-mêmes<br />

afin d’assurér l’ordre et la discipline, le travail et la bonne<br />

marche de Ia classe, de donner à chacun le sentiment de<br />

l’intérêt collectif et une certaine initiation à la vie civique.<br />

J’ai constaté par expérience que les coopératives<br />

scolaires ne vivent que se les enfants sont seuls appelès à les<br />

créer et à les faire prospérer. Si l’on s’occupe trop de leurs<br />

affaires, ils finissent par ne plus aimer autant à “jouer à la<br />

coopérative” et leur petite société meurt d’inanition, faute de<br />

soins”.<br />

Diz o artigo primeiro dessa interessante cooperativa:<br />

“Les élèves de la premiere classe de garçons de Saint-<br />

Etienne-les<br />

-Remiremont ont décidé:<br />

1.° — D’apprendre à se governer eux-mêmes, sous la di-<br />

rection et avec conseils de leur maître, afin de savoir faire<br />

usage de leur liberté et de devenir plus tard dez citoyens<br />

conscients et éclairés;<br />

2.° — De chercher à commencer leur éducation<br />

d’hommes en apprenant, dês l’école, à s’entraider et à<br />

s’aimer;


110 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

3. ° — De s’intruire eux-mêmes par l’observation directe<br />

des phénomènes qui leur sont famlliers ou des objets que la<br />

communauté aura pu se procurer;<br />

Art. 4.° — La section est administrée par un comité de 6<br />

membres: le chef de salle, nommé par le maitre; le sécrétaire,<br />

le trésorier, le bibliothécaire, l’officier sanitaire, le conser-<br />

vateur, élus par leurs camarades”.<br />

Eis como é organiza<strong>da</strong> a “Section Coopérative”.<br />

Article premier. — Font partie de la section coopérative:<br />

a) des membres actifs, ágés de 6 a 20 ans, élèves ou anciens<br />

éléves de l’école, qui versent une cotisation mensuelle de 0 fr.<br />

50; b) des membres d’honneur, qui par leur apport matériel<br />

ou moral, ont aidé l’école”.<br />

São eleitos todos os alunos maiores de 10 anos e elegíveis<br />

os alunos dos cursos superiores. Os man<strong>da</strong>tos duram um<br />

mês. “Les écoliers, étant égaux et n’ayant pour but que leur<br />

éducation, doivent s’aider mutuellement, ils sont les pro-<br />

tecteurs naturels des petits, ils doivent donner en tout le bon<br />

exemple, étre polis <strong>da</strong>ns la rue et à l’école”. São cooperativas<br />

por classe, o que a lei brasileira não admite.<br />

Cattier achava que ain<strong>da</strong> não estava determina<strong>da</strong> a fór-<br />

mula definitiva <strong>da</strong>s cooperativas escolares. As mais generali-<br />

za<strong>da</strong>s constituíam, como diz Oberdorfer, “formas<br />

primordiais de cooperação”. O que, porém, ressalta de tô<strong>da</strong>s,<br />

seja nas formas primitivas de cooperação, seja nas<br />

ver<strong>da</strong>deiras cooperativas escolares, enquadra<strong>da</strong>s na grande e<br />

fecun<strong>da</strong> modura típica <strong>da</strong>s cooperativas de adultos, o que<br />

ressalta de tô<strong>da</strong>s é o pe<strong>da</strong>gógico “princípio <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de”.<br />

A cooperativa acima cita<strong>da</strong>, como outras (de Charmes —<br />

sur-Moselle, etc.), não têm pròpriamente a organização típica<br />

<strong>da</strong>s cooperativas em geral, no que se refere, principalmente,<br />

à organização do capital: estipulam, como vimos, o<br />

pagamento de pequenas mensali<strong>da</strong>des ou anui<strong>da</strong>des fixas,<br />

não restituíveis, em vez de pequenas quotas-partes, de<br />

pequeno valor, e restituíveis, quando o associado se retira (é<br />

o princípio <strong>da</strong> porta aberta). Há nelas ausência de dividendo,<br />

o que é, aliás, acertado, e ausência do princípio básico do<br />

cooperativismo que Charles Gide classificou de “golpe de<br />

gênio” dos Pioneiros de Roch<strong>da</strong>le: o principio de Howarth,<br />

isto é, a distribuição dos lucros (excedentes ou sobras obti<strong>da</strong>s<br />

pelas diferenças que proporcionam as compras em grosso,<br />

tanto quanto possível diretamente ao produtor, e a dinheiro à<br />

vista, a quem contribuir para formá-los, o que pode ser<br />

também dispensado nas cooperativas escolares), basea<strong>da</strong> a<br />

ação cooperativa na pessoa de


111 FÁBIO LUZ FILHO<br />

ca<strong>da</strong> associado, no sou poder de consumo, nas suas<br />

facul<strong>da</strong>des de trabalho e produção, relegado o capital ao seu<br />

ver<strong>da</strong>deiro papel de auxiliar do trabalho, que o formou, e ao<br />

trabalho subordinado.<br />

LÍDIMAS COOPERATIVAS EM MINIATURA<br />

Existem, porém, cooperativas escolares européias<br />

amol<strong>da</strong><strong>da</strong>s à organização cooperativa corrente no mundo e<br />

que, por efeito de sua organização mesma, produzem os<br />

admiráveis efeitos econômicos, morais, sociais e educativos<br />

do ver<strong>da</strong>deiro e são cooperativismo.<br />

É um como processo eurístico de fecundos resultados.<br />

Mme. Alice Jouenne, membro <strong>da</strong> “Commission<br />

Nationale de l’Enseignement de la Coopération”, de França,<br />

criou em sua escola uma cooperativa nos moldes <strong>da</strong>s<br />

socie<strong>da</strong>des de adultos, pois “n’a paz eu peur de caricaturer<br />

une chose sérieuse pour la bonne raison que les méthodes de<br />

jeu et les leçons de choses sont encore les meilleurs moyens à<br />

employer pour se faire comprendre des enfants.<br />

“Chaque sociétaire, doit au moins posséder une action<br />

de 5 francs, Comme à la coopérative, l’enfant peut ne verser<br />

que le 1/10 de l’action, soit Ofr.50. Il fera preuve d’energie,<br />

de bonne volonté, de pérséverance pour payer le reste. Le<br />

trésorier reçoit les cotisations, tient la comptabilité; ainsi<br />

qu’à la coopérative scolaire ordinaire, chacun peut contrôler<br />

et veiller aux erreurs. Il y a un conseil d’administration<br />

nommé par l’assemblée génerale et une commission de<br />

contrôle.<br />

“Enfin, il existe des marchandises, du dentrifice, des<br />

savons, des objets de toilette, des jouets, des cartes postales et<br />

autres menues choses. Il y a un magasin et un élève-gérant<br />

qui doit rendre compte une fois par mois de sa gestion.<br />

Comme la société d’adultes, la petite coopérative a des<br />

réserves qu’elle destine au développement <strong>da</strong>s oeuvres<br />

sociales, c’est-à-dire aux excursions intéressantes, aux visites<br />

des musées, à l’enrichissement de la bibllothèque..., et aussi<br />

aux oeuvres charitables en tous points semblables à celles<br />

dont nous par- lons plus haut”.<br />

“La petite société a des membres honoraires, c’est-à-dire<br />

des gens qui généreusemente versent à la caisse de la<br />

coopérative, mais qui, par le fait qu’ils ne consomment pas,<br />

ne pren- nent part ni à la gestion, ni à l’administration. Il<br />

n’est pas difficile de montrer que, selon le principe roch<strong>da</strong>lien,<br />

on n’est


112 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

paz coopérateur en achetant de actions, mais en consommant<br />

à la coopérative”. (M. Jounne não preconiza os associados<br />

honorários em um de seus livros. Quando existem, não votam<br />

nem são votados. A nossa lei não os permite, no que andou<br />

bem).<br />

É, assim, uma cooperativa em tois moldes uma fecun<strong>da</strong> e<br />

admirável miniatura <strong>da</strong>s cooperativas de adultos (tirante a<br />

disposição sôbre sócios honorários, só admissível, assim<br />

mesmo com restrições, em cooperativas escolares, mas que a<br />

lei brasileira não permite, e com razão), que se espalham hoje<br />

pelo mundo lançando os lineamentos do mundo de amanhã.<br />

E um cadinho de altruísmo, um laboratório de experiências<br />

sãs onde apreenderá a criança aspectos relevantes <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

econômica e terá desenvolvi<strong>da</strong>s aptidões salutares e a prática<br />

de virtudes sociais para o combate que a aguar<strong>da</strong>rá cá fora,<br />

no grande mundo, no entrechoque de duras competições.<br />

Nela adquirirá a criança, para todo o curso de sua<br />

existência, uma grande capaci<strong>da</strong>de de ação social<br />

construtiva. Depois, como diz Egger, o ilustre professor <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de de Zurich “le principe de la coopération est un<br />

príncipe moral. L’histoire du mouvement coopératif fait<br />

partie de celle du développement de Ia pensée humaine”.<br />

Na Espanha, Antônio Baliesteros, um dos escritores que<br />

desenvolvi<strong>da</strong>mente têm tratado do assunto e autori<strong>da</strong>de em<br />

assuntos pe<strong>da</strong>gógicos, diz mais que a mutuali<strong>da</strong>de escolar<br />

“tiene esencialmente el propósito de despertar en los niños<br />

un espiritu de previsión, de economia y el lejano de<br />

asegurarles recursos económicos en época critica de su vi<strong>da</strong>.<br />

“La cooperativa, por el contrario, tiene en la escuela no<br />

sólo su medio unico de desenvolvimiento y de acción, sino su<br />

ultima finali<strong>da</strong>d, siendo unicamente los niños, guiados y acon-<br />

sejados por su maestro, los que ejercen la dirección y la admi-<br />

nistración de la socie<strong>da</strong>d infantil. Ademais, sus propósitos son<br />

todos inmediatos y directos, benefician a la totali<strong>da</strong>d de los<br />

niños y no permiten la intervención direta de personas ajenas<br />

a la escuela. Y, sobre todo, responde a los intereses más per-<br />

manentes y profundos de Ia infancia que son los gregarios de<br />

cualquier orden”.<br />

Num século essencialmente dinâmico, o espírito de ação<br />

pragmática na luta <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> não deixa de ser um elemento<br />

realístico de êxito, aliado aos nobres sentimentos de soli<strong>da</strong>rie-<br />

<strong>da</strong>de humana.<br />

Os norte-americanos, no sentido de despertar nas<br />

crianças o espírito de previdência e hábitos de economia,<br />

instituíram as


FÁBIO LUZ FILHO 113<br />

interessantes organizações denomina<strong>da</strong>s — “School Savings<br />

Bank” — (caixas econômicas escolares), nas quais os serviços<br />

de recebimentos, de retira<strong>da</strong>s de depósitos do pequena<br />

economia de meninos, etc. e os serviços de contabili<strong>da</strong>de<br />

correspondentes são feitos pelos alunos mais adiantados.<br />

Constituem a Saving Bank Division <strong>da</strong> American Bankers<br />

Association (. . . and to induct the pupils into some of<br />

the “mysteries” of banking, by arranging for o definite<br />

“savings bank” organization among pupils in higher grades<br />

or in connection with the work in high school commercial<br />

department, or otherwise”).<br />

Deu seu entusiástico testemunho do alcance dêsse<br />

sistema, entre outros, o Dr T. N. Carver, o ilustrado professor<br />

de Economia Política <strong>da</strong> “Universi<strong>da</strong>de de Harvard”; “We are<br />

engaged in persuading people to change their ways, to reform<br />

their habits, to live more wisely have lived before”.<br />

Smiles já dizia que o costume de ensinar às crianças<br />

hábitos de previdência foi adotado pelas escolas nacionais <strong>da</strong><br />

Bélgica, O Conselho Escolar de Gand convenceu-se<br />

completamente <strong>da</strong> influência favorável que o Economia<br />

exerce sôbre o bem-estar moral e material <strong>da</strong>s classes<br />

operárias. Capacitou-se de que o melhor meio de fazer<br />

penetrar o espírito de economia é o de ensiná-lo às crianças e<br />

fazer que elas o pratiquem.<br />

Visitando a Caixa Rural de Guaratinguetá, no E. de São<br />

Paulo, numa de minhas viagens de proppagan<strong>da</strong>, tive<br />

oportuni<strong>da</strong>de de verificar uma inteligente aplicação dêsses<br />

princípios norte-americancos. Então dirigi<strong>da</strong> pelo ilustrado<br />

Prof. Lamar-tine Delamare, a “Escola de Comércio” dessa<br />

locali<strong>da</strong>de interessava os seus alunos em todos os sentiços <strong>da</strong><br />

“Caixa Rural”, que funcionava numa <strong>da</strong>s dependências <strong>da</strong><br />

Escola, dirigidos os alunos por êsse professor e pelo gerente<br />

<strong>da</strong> Caixa. E os resultados obtidos eram ótimos. Alunos de1a<br />

saíam não só com o conhecimento prático <strong>da</strong> contabili<strong>da</strong>de<br />

de tais organizações, senão também com o conhecimento do<br />

mecanismo e do espírito <strong>da</strong>s caixas rurais Raiffeisen,<br />

instituições de auxílio mútuo para o crédito agrícola a<br />

pequenos lavradores.<br />

Nessa locali<strong>da</strong>de e em Apareci<strong>da</strong>, Itagaçaba e Cruzeiro<br />

deixei então (1931 a 1934) lança<strong>da</strong>s bases para as<br />

cooperativas escolares.<br />

As cooperativas escolares francesas levaram os alunos a<br />

uma noção níti<strong>da</strong> <strong>da</strong> honra, que se resume no “respeito às<br />

decisões toma<strong>da</strong>s em comum, à fideli<strong>da</strong>de aos compromissos<br />

de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e de aju<strong>da</strong> mútua, obediência voluntária ao<br />

regulamento livremente aceito. “Ter honra cooperativa é<br />

sentir<br />

8 – 27 454


114 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

tô<strong>da</strong>s as vantagens materiais e morais que oferece o grupo e<br />

tudo fazer para que não seja ela diminuí<strong>da</strong>, tudo tentar para<br />

dela ser digna”.<br />

É, assim, o poder de milagre <strong>da</strong> fórmula cooperativa —<br />

“um por todos, todos por um”, afervorando-se ca<strong>da</strong> um no<br />

culto <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana, diluci<strong>da</strong>dos os espíritos,<br />

arranca<strong>da</strong> a criança ao terra-a-terra ramerraneiro de uma<br />

educação que devia “abrir o espírito infantil à compreensão<br />

<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des, <strong>da</strong>s idéias e do espírito de seu tempo,<br />

condicionando-o para um viver harmônico no concêrto<br />

social”.<br />

Cooperativas escolares francesas existem em que o senso<br />

<strong>da</strong> justiça social é tão pronunciado, que constitui para os<br />

seus pequenos associados um padrão de orgulho. Crianças<br />

atira<strong>da</strong>s ao desamparo pelas insídias de uma organização<br />

social de tipo individualista, recebem o apoio <strong>da</strong> cooperativa,<br />

que as encaminha para as colônias de férias, que mantém.<br />

A educação social se faz pelos hábitos de mútuo entendi-<br />

mento, pela troca constante de idéias nas reuniões freqüentes<br />

para deliberar sôbre assuntos sociais nos conselhos de<br />

administração, nos conselhos fiscais ou nas assembléias<br />

gerai, reuniões que estreitam, mais e mais, vínculos de<br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e de mútua confiança, mostram a relevância<br />

dos fenômenos econômicos e evidenciam o luminoso alcance<br />

<strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana.<br />

Colaborador de seu mestre, o aluno habituar-se-á a<br />

“sortir de leur moi pour s’intéresser à une collectivité; ils<br />

mettent en pratique la morale de la soli<strong>da</strong>rité sociale”, no<br />

dizer de Paul Lapie.<br />

No fim de um ano, o cooperativismo escolar havia<br />

dotado o departamento de Sainjt-Jean d’Angély, na França,<br />

de 181 museus, em vez de 8; de um pôsto meteorológico e de<br />

7 instalações cinematográficas.<br />

EDUCAÇAO NOVA. PEQUENAS REPÚBLICAS<br />

Cesar Marote, o ilustre educador uruguaio, expressando-<br />

se sôbre as preclaras virtudes <strong>da</strong> associação cooperativa<br />

escolar, diz que está perfeitamente enquadrado nos limites<br />

pe<strong>da</strong>gógi- cos <strong>da</strong> escola primária o estabelecimento <strong>da</strong>s<br />

cooperativas, não sòmente por motivos de ordem<br />

econômica, senão também, e principalmente, por motivos<br />

de ordem moral; e muito mais enquadrado, to<strong>da</strong>via, que<br />

certos pontos dos programas vigen- tes, como trabalhos<br />

manuais, por exemplo, que terão, de certos


FABIO LUZ FILHO 115<br />

pontos-de-vista, algumas virtudes e valores educativos de<br />

relativa importância, como as que têm qualquer ação<br />

humana; mas, valores a que se há concedido tal digni<strong>da</strong>de e<br />

tanta transcendência, que, parece, quiseram convertê-los<br />

nas colunas sus-tentadoras <strong>da</strong> ciência educativa.<br />

Acha êle que é um ver<strong>da</strong>deiro exagêro pe<strong>da</strong>gógico o<br />

que com tal se comete, exagêro tanto mais condenável<br />

quanto é sabido que desvirtua o ver<strong>da</strong>deiro espírito <strong>da</strong><br />

ver<strong>da</strong>deira educação e pretende empalmar a chave, o<br />

segrêdo e a solução do problema <strong>da</strong> existência de ca<strong>da</strong><br />

individuali<strong>da</strong>de, pretendendo capacitar as crianças e<br />

habilitá-las em manuali<strong>da</strong>des, em artes e ofícios, quando é<br />

prematuro que então brilhem as primeiras luzes <strong>da</strong><br />

vocação...<br />

“E se é com isto que se pretende <strong>da</strong>r solução ao<br />

problema econômico <strong>da</strong> existência do aluno, as<br />

cooperativas escolares realizam esta obra de forma prática<br />

e de modo imediato, tendo, além do mais, virtudes<br />

pe<strong>da</strong>gógicas e educacionais de valor eminentemente social..<br />

Desperta ela a idéia e cultiva a convicção <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

economia e <strong>da</strong> previdência; não <strong>da</strong> economia individual e<br />

isola<strong>da</strong>, a qual cultiva, simultâneamente, o egoísmo e a<br />

avareza, sentimentos anti-sociais, mas, sim, a previdência<br />

sob a forma coletiva, despertando e cultivando os<br />

sentimentos de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, de apoio e confiança mútuos,<br />

de boa-fé nos semelhantes e o <strong>da</strong> própria responsabIli<strong>da</strong>de,<br />

sentimentos que tanta falta fazem e que deveriam arraigar-<br />

se profun<strong>da</strong>mente no coração <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de”.<br />

Torna-se, assim, a cooperativa, no dizer de outro<br />

educador, a forma mais fácil <strong>da</strong> aplicação dos princípios <strong>da</strong><br />

educação nova, sobretudo porque permite à criança<br />

descobrir e satisfa-zer seus lnterêsses juvenis comumente<br />

suplantados pelo que o homem impõe. Justamente por isso,<br />

não só consente como fomenta a necessi<strong>da</strong>de do movimento<br />

<strong>da</strong> criança, que faz de sua vi<strong>da</strong> um puro dinamismo, ao lhe<br />

<strong>da</strong>r meios de trabalho e de iniciativa constantes. “Esses<br />

benefícios se completam ao lhe oferecer ocasiões de resolver,<br />

por si mesma, problemas de índole social e moral como<br />

membro de um turno ou <strong>da</strong> assembléia geral de associados.”<br />

“A escola cooperativa é uma pequena república em que<br />

a criança faz a aprendizagem <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social e <strong>da</strong><br />

autonomia.”<br />

As assembléias gerais, as reuniões do conselho de<br />

administração, a parte material <strong>da</strong> direção, levam a criança<br />

a um agudo senso <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de, como vimos, é à<br />

consciência plena de seu valor como parte integrante e<br />

dinâmica de um todo que está em função de seu critério, de<br />

seu bom-senso, de


116 COOPRATIVAS ESCOLARES<br />

sua honra cooperativa, de suas capaci<strong>da</strong>des de trabalho e es-<br />

fôrço para levá-la ao cumprimento estrito de sua finali<strong>da</strong>de<br />

de educação moral, intelectual, social e econômica.<br />

Dará à criança, também, conhecimento do pensamento<br />

contido na fórmula de Theodore Roosevelt: “If you would be<br />

sure that you are beginning right, begin to save”...<br />

Colombain afirma que nos Estados Unidos <strong>da</strong> América<br />

do Norte, o “Club Work” responde perfeitamente às<br />

definições mais rígi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de cooperativa e do<br />

cooperativismo escolar em particular.<br />

Os Boys’ and Girls Club realizam o trabalho coletivo, o<br />

que os coloca em face dos problemas que realmente existem,<br />

instruindo os rapazes e as moças pela ação. Há a lição<br />

preciosa do esfôrço coletivo, <strong>da</strong> cooperação, levando ao<br />

desenvolvimento pleno dos instintos sociais.<br />

E que dizer <strong>da</strong>s instituições periescolares que<br />

promanarão <strong>da</strong> cooperativa escolar? Quem não pode<br />

aquilatar do alcance <strong>da</strong>s colônias de férias, campos de<br />

experiências agrícolas, teatrinhos, festas escolares, cruz<br />

vermelha, copos-de-leite, pratos-de-<br />

-sopa, etc.?<br />

E o reflexo dêsse espírito que domina a cooperativa<br />

escolar na órbita do lar? “Ainsi donc, diz Brouckére, pour se<br />

développer largement, pour atteindre son idéal et<br />

l’universaliser, il est indispensable que la coopération<br />

concentre ses efforts <strong>da</strong>ns une action sur le monde<br />

économique <strong>da</strong>ns lequel elle vit”.<br />

Profit na França dá a seguinte relação de algumas <strong>da</strong>s<br />

múltiplas ativi<strong>da</strong>des que as cooperativas poderão<br />

empreender, nos diferentes meses do curso:<br />

Outubro: limpeza e embelezamento do local.<br />

Novembro: mobiliário escolar e cozinha cooperativa.<br />

Dezembro: enriquecimento <strong>da</strong> biblioteca.<br />

Janeiro: limpeza corporal e cui<strong>da</strong>do <strong>da</strong> bôca.<br />

Fevereiro: trabalhos manuais e pequenas reparações de<br />

que necessite a escola.<br />

Março: instalação de pequeno jardim e plantação de<br />

árvores.<br />

Abril: proteção aos ninhos.<br />

Maio: destruição de insetos <strong>da</strong>ninhos.<br />

Junho: organização de uma liga de bon<strong>da</strong>de e uma<br />

secção <strong>da</strong> Cruz Vermelha <strong>da</strong> juventude.<br />

Ao lado <strong>da</strong> Cruz Vermelha, uma instituição que<br />

conviria adotar seria o “Clube <strong>da</strong> Juventude Agrária”, para<br />

incitamen- to aos trabalhos nos campos de experiências<br />

agrícolas, instru-


FABIO LUZ FILHO 117<br />

cão agrícola em geral, agrografia, espírito de organização sô-<br />

bre bases agrárias (a escola-granja de Elslander), etc.<br />

Os fins primordiais de uma cooperativa escolar nos<br />

moldes europeus poderão resumi<strong>da</strong>mente ser assim<br />

discriminados:<br />

prover a escola de material didático e de instituições circum-<br />

escolares que possibilitem o estudo <strong>da</strong> natureza, a<br />

objetivação <strong>da</strong> instrução, o desenvolvimento <strong>da</strong>s<br />

possibili<strong>da</strong>des de ação de ca<strong>da</strong> aluno, etc., despertando, do<br />

mesmo passo, nas crianças, sentimentos de auxilio mútuo<br />

pelas práticas do trabalho em comum e pela comuni<strong>da</strong>de de<br />

esforços. Procurará, a cooperativa, além disso, despertar nas<br />

crianças sentimentos de humani<strong>da</strong>de e altruísmo e de defesa<br />

<strong>da</strong> saúde, baseando a sua ação em princípios sociais de<br />

combate às tendências puramente individualistas, <strong>da</strong>ndo a<br />

idéia <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana, o gôsto <strong>da</strong> economia e <strong>da</strong><br />

previdência coletivas, a boa-fé e a confiança em seus<br />

companheiros e mestres, formando, enfim, o espírito coletivo<br />

e o sentido <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.<br />

Como vêdes, o objetivo montessoriano é atingido em<br />

cheio:<br />

“A criança constrói por si mesma o edifício de sua própria<br />

personali<strong>da</strong>de pensante e atuante”.<br />

É o admirável axioma <strong>da</strong> escola ativa.<br />

Ao pequeno presidente de uma cooperativa escolar se<br />

ajustam perfeitamente as palavras de Dugas, citado por<br />

Profit, quando diz que o presidente deve ser franco, leal, sem<br />

“parti pris”, consciente do valor moral de suas intenções e de<br />

seus atos, com o sentimento nítido do cargo, do valor objetivo<br />

de seu dizer e <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de sua intervenção, tendo a<br />

cooperativa como uma escola de coragem cívica e cônscio de<br />

que a disciplina não é incompatível com a liber<strong>da</strong>de.<br />

Mantendo a disciplina geral, o menino ou a menina, leva-<br />

dos aos cargos eltivos, tirarão de seu espírito de justiça e de<br />

seu valor moral a fôrça para se fazerem obedecer e<br />

adquirirão quali<strong>da</strong>des que os seguirão na vi<strong>da</strong>.<br />

Os demais associados sentirão que o regulamento vai<br />

além dos indivíduos que o fazem aplicar e é o melhor meio de<br />

os prepararmos para realizarem, lealmente, mais tarde, seu<br />

papel social.<br />

“Il n’est pas nécessaire que les hommes soient reduits,<br />

moralement et physiquement, à la condition de parties inertes<br />

d’un tout mécanique pour qu’ils collaborent utilement à une<br />

oeuvre commune”.<br />

E a escola “est un Temple aussi! Apportez donc des roses!”<br />

As sementes desabrocharão em esplendores, clarinando<br />

alvora<strong>da</strong>s, esparzindo aleluias.


118 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Numa cooperativa acentua-se a sensação <strong>da</strong> interdepen-<br />

dência na vi<strong>da</strong> social, o prazer <strong>da</strong> dedicação a uma idéia.<br />

FEDERAÇÕES<br />

Profit, referindo-se à federação de cooperativas por<br />

departamento, preconiza as seguintes questões como dignas<br />

de uma federação: propagan<strong>da</strong>, melhor organização <strong>da</strong>s<br />

festas esco-lares e exposições; efetivação de compras em<br />

maior escala e agrupamentos <strong>da</strong>s cooperativas por cinemas,<br />

biblioteca inter-distrital ou por várias circunscrições; visitas<br />

a fazen<strong>da</strong>s, usi-nas, feitura de quadros murais, círculos de<br />

estudos, etc., etc.; criação de uma cinemoteca e discoteca por<br />

departamento ou circunscrição; contribuições coletivas para<br />

salas de leitura, etc., criação de obras pós-escolares.<br />

“A cooperativa escolar é a escola organiza<strong>da</strong> socialmente”.<br />

Os diretores serão os delegados <strong>da</strong> cooperativa escolar junto<br />

à federação e o inspetor escolar é o presidente de direito, di-<br />

lo Profit.<br />

Profit entusiasmou-se com êste espetáculo que oferecerão<br />

as reuniões mensais numa federação: um auditório conscien-<br />

cioso, disciplinado, entusiasta para os professôres de facul<strong>da</strong>-<br />

des e administradores, estabelecendo-se ligação entre as di-<br />

versas ordens do ensino, numa forma particular de escola<br />

única.<br />

A contribuição poderá ser fixa<strong>da</strong> de acôrdo com o<br />

número de associados de ca<strong>da</strong> uma: tantas quotas-partes de<br />

10 a 20, tantas quotas para as que tiverem menos de 10<br />

associados; tantas para as que possuírem de 10 a 20; tantas<br />

para. as que tiverem de 20 a 30, ou tantas para ca<strong>da</strong><br />

associado.<br />

As normas gerais de administração pouco diferem <strong>da</strong>s<br />

que regem as cooperativas escolares individualmente<br />

considera<strong>da</strong>s, ou as de adultos.<br />

As federações de cooperativas escolares coordenarão as<br />

ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s cooperativas escolares filia<strong>da</strong>s e objetivarão<br />

prècipuamente:<br />

a) — a aquisição de material de consumo escolar;<br />

b) — a montagem de tipografias;<br />

c) — a publicação e distribuição de livros didáticos, re-<br />

vistas, impressos e aquisição do necessário material<br />

pe<strong>da</strong>gógico e científico;<br />

d) – a uniformi<strong>da</strong>de contábil;


FABIO LUZ FILHO 119<br />

f) a propagan<strong>da</strong> <strong>da</strong>s cooperativas escolares e pós-es-<br />

colares, nota<strong>da</strong>mente as de artesanato rural; granjas-<br />

modelos;<br />

g) — promover conferências, excursões, concertos,<br />

festas escolares, concursos, viagens, visitas a fábricas,<br />

cooperativas, proprie<strong>da</strong>des agrícolas, museus, etc.;<br />

h) — organizar bibliotecas, discotecas e cinemas educa-<br />

tivos;<br />

I) — fomentar as relações entre a escola e a família;<br />

j) — apoiar a ação dos diretores dos grupos ou escolas<br />

junto a enti<strong>da</strong>des e autori<strong>da</strong>des oficiais ou particulares no<br />

sentido do crescente aperfeiçoamento do ensino.<br />

Deverão recair, como disse, as delegações, para<br />

integração <strong>da</strong> assembléia geral <strong>da</strong>s federações de<br />

cooperativas escolares, nos diretores <strong>da</strong>s escolas ou em<br />

professôres, de vez que se trata de um órgão de segundo<br />

grau, de estrutura complexa. O máximo de tolerância, a<br />

meu ver, será a permissão, nas delegações, de alunos <strong>da</strong>s<br />

duas últimas séries ao lado dos diretores ou professôres, ou<br />

alunos dessas séries sistemàticamente assisti-dos pelos<br />

diretores ou professores Profit indica os diretores, como<br />

vimos. É assunto ain<strong>da</strong> controverso, face à nossa lei. Mas não<br />

vejo outro caminho.<br />

AINDA AS FEDERAÇÕES<br />

Antes de frisar, mais uma vez, o que são as federações<br />

de cooperativas escolares, quero esclarecer:<br />

1.°— A federação de cooperativas escolares do Paraná<br />

foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> com absoluto critério, mediante delegações de<br />

professôres, e começou sob os melhores auspícios, com o<br />

apoio entusiástico do então Secretário <strong>da</strong> Educação.<br />

Infelizmente, sobrevieram ciuma<strong>da</strong>s de ascendência ou de<br />

jurisdição, e estabeleceu-se uma situação de<br />

incompatibili<strong>da</strong>de. Fracassou <strong>da</strong><strong>da</strong>s essas ciuma<strong>da</strong>s e<br />

incompreensões (as mesmas que existiram e existem em<br />

outros Estados peando o livre surto do cooperativismo<br />

escolar) entre a Secretaria de Educação e a Secretaria de<br />

<strong>Agricultura</strong>, não obstante todos os meus esforços no sen-tido<br />

de contornar tão lamentável situação, que perdura há anos,<br />

sem nenhuma providência adequa<strong>da</strong>.<br />

Eram 90 cooperativas escolares, antigas caixas<br />

escolares, filia<strong>da</strong>s a uma federação com 400.000 cruzeiros de<br />

capital inicial.<br />

2.°— Existiu em João Pessoa uma federação de<br />

cooperativas escolares, integra<strong>da</strong> por professôres-delegados.


120 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

3.° — São os professôres admitidos por todos os<br />

tratadistas como conselheiros ou assessôres, de ação discreta,<br />

ver<strong>da</strong>deiros custódios, e, por outros, até como agentes ativos<br />

no seio <strong>da</strong>s cooperativas escolares (Hernández, Colombain,<br />

Ballesteros, etc.), por imperativos de ordem pe<strong>da</strong>gógica.<br />

E que dizer <strong>da</strong>s cooperativas escolares de<br />

reflorestamento, pastoris e de omares, existentes no<br />

departamento francês de Ain, como no-lo assinala<br />

Colombian?<br />

“En outre les jeunes coopérateurs ont rapidement<br />

réussi à grouper autour d’eux, pour l’effort commun, les<br />

habitants de leurs communes, les cotisations des uns<br />

permettent de financer des travaux importants<br />

(défoncemens, charrois, arrachage des arbres) que les<br />

prestations gratuites des autres ne peuvent accomplir”.<br />

Ca<strong>da</strong> cooperativa dessas é coloca<strong>da</strong> sob o contrôle de<br />

urn comité (aceno, como no México, adiante, para o Conselho<br />

de Assessôres, que contornará o caso <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de civil),<br />

composto do inspetor primário, do inspetor de águas e de<br />

florestas e do “maire” <strong>da</strong> comuna.<br />

A federação dessas cooperativas agrupava, há tempos,<br />

57 cooperativas escolares florestais, com 2.600 membros<br />

(incluin-do adultos). Esta federação dá assistência técnica,<br />

faz obra de proselitismo, faz adiantamentos, obtém<br />

subvenções, centraliza as ven<strong>da</strong>s e as compras, tem campos<br />

experimentais, etc.<br />

Em 1931 haviam elas conquistado 1.550 hectares para<br />

a plantação de milhões de essências resinosas, melhoraram<br />

85 hectares para pastoreio; plantaram macieiras, parreiras,<br />

árvo- res ornamentais; reconstituíram prados, combateram<br />

insetos nocivos, protegeram pássaros úteis, etc.<br />

Nos estatutos oficiais que organizei e que já aludi, o<br />

diretor é o representante legal <strong>da</strong> escola e, por conseguinte,<br />

seu delegado nato, e os professôres, seus orientadores natos.<br />

Po-derão representá-las também, como aconteceu com o<br />

Paraná e, depois, com a Paraíba, nos órgãos de segundo grau,<br />

assunto ain<strong>da</strong> controverso.<br />

A meu ver, na<strong>da</strong> impede que possam ser delegados em<br />

uma federação, ao lado de alunos <strong>da</strong>s séries mais eleva<strong>da</strong>s, se<br />

o quiserem, <strong>da</strong>do o caráter educativo e cultural básico que as<br />

federações devem ter, paralelo a objetivos econômicos de<br />

muita amplitude, como o fiz no projeto de lei apenso.<br />

Já disse que os estatutos-modelos oficiais consideram o<br />

professor como “delegado nato” <strong>da</strong> classe.<br />

Profit considera o professor como representante, de fato<br />

e de direito, <strong>da</strong> cooperativa, “porquanto esta não é mais do que


FABIO LUZ FILHO 121<br />

sua escola, na qual é êle, a um tempo, delegado do Estado e<br />

man<strong>da</strong>tário dos pais”.<br />

M. Colombain acha que, sendo a cooperativa,<br />

pe<strong>da</strong>gàgicamente, “centro-de-interêsses”, poderá haver, para<br />

certas deliberações, até o veto do professor quando estas não<br />

se ajusta-rem a determina<strong>da</strong>s exigências <strong>da</strong> lei, <strong>da</strong> disciplina<br />

escolar, do interêsse escolar ou <strong>da</strong> própria cooperativa (o que<br />

me parece excessivo). Nisto está com Santiago Hernández,<br />

Hedler e Dewey (a escola como ampliação <strong>da</strong> família).<br />

A lei brasileira caracteriza a cooperativa escolar no seu<br />

artigo 34, frisando que deverão organizar-se “entre os<br />

respectivos alunos, por si ou com o concurso de seus<br />

professôres etc.”, orientação que temos seguido no Brasil. O<br />

mesmo não acontece no México e Argentina, naquele contra<br />

o espírito <strong>da</strong> lei, aliás. Suas cooperativas tinham e têm<br />

participação dos professôres, que podem integrar os órgãos<br />

de administração e fiscalização, possibilitando, assim, a<br />

formação de federações, órgãos de segundo grau de grande<br />

amplitude econômica, como vimos, os quais não podem ser<br />

dirigidos por alunos sem capaci<strong>da</strong>de civil.<br />

Até agora só se admitiu a participação de professôres no<br />

Conselho Fiscal, como vimos, embora no Rio Grande do Sul<br />

delas participem professôres.<br />

Estamos, assim, diante <strong>da</strong> mesma questão levanta<strong>da</strong> no<br />

México e comenta<strong>da</strong> pela Secretaria de Educação desta<br />

Nação, como já o frisei.<br />

Afirmou ela que, com a participação exclusiva dos<br />

mestres nas cooperativas escolares mexicanas (cujo<br />

regulamento <strong>da</strong>ta de 1937), foi subvertido o artigo 36 <strong>da</strong> lei<br />

de cooperativas, a qual determina que os cargos eletivos<br />

sejam ocupados por alunos, tendo criado, ademais, o<br />

Conselho de Assessôres, com um presidente nato: o diretor<br />

<strong>da</strong> escola. Entanto, na prática, as cooperativas foram<br />

maneja<strong>da</strong>s, não pelos alunos, nem pelos Conselhos de<br />

Assessôres (do qual poderão sair os delegados, conciliando<br />

tudo), mas por uma só pessoa, a quem o Diretor<br />

comissionado <strong>da</strong>va plenos podêres; “Los alumnos no<br />

practicaron ni conocieron de los trabajos necesarios para <strong>da</strong>r<br />

un mejor servicio, para actuar honestamente en el mercado,<br />

etc.”.<br />

Entanto, eram os alunos, legalmente, os responsáveis<br />

pela administração, e os professôres comissionados, o<br />

Conselho de Assessôres, etc., podiam fugir à responsabili<strong>da</strong>de<br />

legal, de vez que, pela lei mexicana, suas funções se limitam a<br />

aconselhar, assessorar (tal como na lei brasileira em se<br />

tratando de cooperativas escolares de primeiro grau, de


122 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Os alunos, como menores de i<strong>da</strong>de, não tinham<br />

capaci<strong>da</strong>de civil e os professôres, etc., não tinham<br />

responsabili<strong>da</strong>de legal, que a lei lhes não outorgava. No<br />

silêncio <strong>da</strong> lei brasileira, contornei esta <strong>da</strong>ndo ao diretor essa<br />

responsabili<strong>da</strong>de.<br />

Foi esta a situação, em que o professor aparecia como um<br />

protegido e um centralizador, um tabu, com desastroso efeito<br />

educativo, nas cooperativas de primeiro grau, que envolveu<br />

de certo desprestígio o movimento cooperativo escolar<br />

mexicano, o que está sendo removido.<br />

No entanto, é preciso considerar o caso <strong>da</strong>s Federações,<br />

que não poderão deixar de ter a participação dos professôres,<br />

como já o frisei. Totomianz, aludindo a essa questão <strong>da</strong><br />

responsabili<strong>da</strong>de, acha que a escola mesma deve tomá-la, ou<br />

o comité de pais, com a condição de que nunca essa<br />

intervenção seja para coartação <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de dos jovens<br />

cooperadores, que devem ter seu autogovêrno.<br />

Embora “a cooperativa escolar não tenha por que delegar<br />

podêres, de vez que não é socie<strong>da</strong>de mercantil e “não contrata<br />

como enti<strong>da</strong>de”, nas federações mu<strong>da</strong> o caráter <strong>da</strong>s coisas, de<br />

vez que se acentua, como disse, seu alcance pe<strong>da</strong>gógico e sua<br />

finali<strong>da</strong>de econômica como órgão independente <strong>da</strong> escola, não<br />

sendo, pròpriamente, “uma ativi<strong>da</strong>de parcial <strong>da</strong> escola”, um<br />

órgão circum-escolar.<br />

Para <strong>da</strong>r às cooperativas escolares capaci<strong>da</strong>de jurídica,<br />

Cattier imaginou a criação de associações de adultos, coisa<br />

que procurei resolver <strong>da</strong>ndo ao diretor <strong>da</strong> escola a<br />

capaci<strong>da</strong>de legal de representante nato <strong>da</strong> cooperativa<br />

escolar, como vimos. O Conselho de Assesôres resolverá<br />

também o caso, já o assinalei.<br />

O Conselho de Assessôres está perfeitamente dentro do<br />

espírito <strong>da</strong> escola renova<strong>da</strong>, que é uma comuni<strong>da</strong>de composta<br />

de alunos, professôres e pais, “três elementos que devem<br />

estar em relação espiritual tão íntima quanto possível”.<br />

Lasuriaga compendiou as virtudes <strong>da</strong> escola renova<strong>da</strong>, tô-<br />

<strong>da</strong>s perfeitamente enquadráveis na moldura <strong>da</strong>s cooperativas<br />

escolares: reunião em grupos, e co-educação dos sexos;<br />

trabalhos manuais e trabalhos de oficina e de campo; o<br />

trabalho livre executado por grupos; excursões,<br />

acampamentos e colônias escolares; cultura geral dos alunos;<br />

observação e experimentação; trabalho pessoal como<br />

complemento do trabalho coletivo; educação social pelo<br />

espírito de comuni<strong>da</strong>de desen-volvido: os interêsses<br />

espontâneos e o trabalho coletivo; for-talecimento <strong>da</strong><br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> emulação; meio de beleza e de-<br />

senvolvimento <strong>da</strong> consciência moral; abolição <strong>da</strong> “pe<strong>da</strong>gogia


FABIO LUZ FILHO 123<br />

de classe” e conseqüente integração no sentimento cívico e<br />

no senso <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.<br />

Uma federação, estrutura<strong>da</strong> <strong>da</strong> maneira por que o está no<br />

fim dêste livro, constitui um dos meios idôneos, como órgão<br />

de cúpula, para se atingir meta tão bela, eleva<strong>da</strong> e necessária.<br />

O próprio Santiago Hernandez, que não possui muitas<br />

simpatias pelas federações, diz:<br />

“Si se constituyra federación, mas que la federación prò-<br />

priamente dicha como uni<strong>da</strong>de superior y que, sea cualquiera<br />

su forma, estimamos convenientísimo el contacto entre las<br />

cooperativas escolares, como lo estimamos entre los maestros<br />

para to<strong>da</strong> clase de fines educativos.<br />

“Que esse contacto se realizará mediante federación de<br />

cooperativas ou mediante congressos”, ou, como o assinala<br />

Roig, “mediante el acuerdo de varias cooperativas escolares”,<br />

para as compras em comum.<br />

Cattier define a federação escolar como um centro de in-<br />

formação, um laboratório de experiências, um lugar onde<br />

ca<strong>da</strong> cooperativa apanhará luzes e conselhos para melhor<br />

utilizar seus recursos e dirigir racionalmente seus esforços.<br />

Profit, o ver<strong>da</strong>deiro criador do cooperativismo escolar, co-<br />

mo vimos, tece entusiásticas considerações em tôrno <strong>da</strong><br />

federacão.<br />

Colombain diz que a cooperativa escolar se constituirá em<br />

meio educativo ótimo quando êsse meio corresponder à<br />

capaci<strong>da</strong>de de interêsse e de atenção <strong>da</strong> criança, perfilhando<br />

até a atomização <strong>da</strong>s cooperativas escolares por classes,<br />

impossível ou irrealizável em nossos meios escolares,<br />

nota<strong>da</strong>mente rurais, por enquanto. “C’est pourquoi la<br />

constituition de petits groupes par classe eat assez fréquent,<br />

la coopérative des coopératives de classe”,<br />

Profit disse bem: “De même que, <strong>da</strong>ns chaque école, le<br />

conseil des maitres régle les autres actes de la vie scolaire, de<br />

même ce Conseil, ou l’instituteur s’il est seul, constitue le co-<br />

mité ou l’agent directeur, et le délégué des cooperateurs”.<br />

É, pois, acrescenta, em derredor dos professôres <strong>da</strong> escola<br />

que deverão ser agrupa<strong>da</strong>s as cooperativas escolares.<br />

O “Office Central de la Coopération à l’Ecole”, <strong>da</strong> França,<br />

pela palavra de Paul Juif, frisa que a federação <strong>da</strong>s<br />

cooperativas escolares pode fazer conhecer, intuitivamente,<br />

que ca<strong>da</strong> grupo depende, econômica e moralmente, de todos<br />

os outros.<br />

Tirado Benedi, com sua autori<strong>da</strong>de de di<strong>da</strong>ta, preconiza a<br />

federação, porque o “que al alumno individual es para la<br />

coope


124 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

rativa escolar debe ser para ias escuelas la federaclón de<br />

cooperativas y para esta la confederación”.<br />

Dentro desta orientação elaborei o projeto de lei que<br />

consta do fim do presente livro, o que traduz o orientação<br />

oficial no assunto.<br />

Referindo-se a Profit, quando êste alude ao Conselho de<br />

professôres como delegados natos dos cooperadores para a<br />

organização de órgãos de segundo grau, Benedi aduz:<br />

“Sin embargo, nosotros opinamos que no hay inconve-<br />

niente que las Federaciones surjan del seno mismo de las<br />

cooperativas escolares y que sus juntas e comités de dirección<br />

estén formados de manera análoga a los de las proprias organi-<br />

zaciones basicas.. las Federaciones y las Confederaciones, una<br />

vez estableci<strong>da</strong>s las organizaciones que han de serviles de<br />

base, no sólo son convenientes, sino necesarias”. Acha ain<strong>da</strong><br />

que, com elas, ganham a extensão <strong>da</strong> obra, a eficácia do<br />

trabalho, a coordenação dos esforços, a unificação <strong>da</strong>s<br />

energias, enfim, o entendimento mútuo.<br />

É, digo eu, a transcendente finali<strong>da</strong>de conti<strong>da</strong> na gnoma<br />

socrática: só é útil o conhecimento que nos faz melhores . . .<br />

A obra educativa amplia-se, assim, consideràvelmente e os<br />

recursos técnicos e econômicos também se dilatam.<br />

E com enderêço a exegetas, êste trecho de ouro de<br />

Carlos Maximiliano;<br />

“O hermeneuta de hoje não procura, nem deduz, o que<br />

o legislador de anos anteriores quis estabelecer, e, sim, o que<br />

é de presumir que ordenaria, se vivesse no ambiente social<br />

hodierno.<br />

“Sem esbarrar de frente com os textos, ante a menor<br />

dúvi<strong>da</strong> possível o intérprete concilia os dizeres <strong>da</strong> norma com<br />

as exigências sociais;.., e assim exerce, em certa medi<strong>da</strong><br />

função creadora: comunica espírito novo à lei velha”.<br />

Mais - ou menos dentro <strong>da</strong>quela “new jurisprudence<br />

school”, tao em uso nos Estados Unidos <strong>da</strong> América do Norte,<br />

e a que se refere Oliveira Viana.<br />

A lei atual tem seu espírito novo, dentro dos cânones <strong>da</strong><br />

moderna psicope<strong>da</strong>gogia.


CAPITULO VI<br />

AINDA A ESCOLA RENOVADA E AS COOPERATIVAS<br />

ESCOLARES<br />

Já fiz sentir que as cooperativas escolares, que se<br />

organizaram até nas escolas profissionais femininas no<br />

México, admitiam quando necessário, para um Conselho de<br />

Administra-cão de seis membros, dois professôres.<br />

Mas, só admitir professôres, pais ou tutôres, é deformar,<br />

até certo ponto, uma organização altamente educativa, que<br />

procurei, pela primeira vez, caracterizar em livro no Brasil.<br />

Entretanto, como vimos, é preciso considerar o caso <strong>da</strong>s fe-<br />

derações.<br />

Sempre fui de parecer que as cooperativas escolares,<br />

sendo organizações exclusivamente de crianças, não<br />

deveriam estar sujeitas a nenhuma formali<strong>da</strong>de legal,<br />

maravilhosos instrumentos que são do aparelhamento<br />

educativo <strong>da</strong> escola moderna, dela fazendo parte integrante<br />

para o ver<strong>da</strong>deiro e alto conceito dessa escola renova<strong>da</strong>,<br />

plena de sentido objetivo.<br />

Criou-se aqui um absurdo, com a exigência de<br />

personali<strong>da</strong>de jurídica para as cooperativas escolares na lei<br />

22.239.<br />

No México, onde devem, entre outras coisas, visar ao<br />

“trabajo productivo y socialmente útil”, registam-se<br />

simplesmente na Secretaria de Educação. O mesmo que<br />

obrigar as atuais Caixas Escolares, no Distrito Federal,<br />

introduzi<strong>da</strong>s por Fábio Luz, ao caráter legal <strong>da</strong>s<br />

mutuali<strong>da</strong>des... No decreto-lei 581, de 1 de agôsto de 1938,<br />

procurei sanar êsses inconvenientes, livrando-as <strong>da</strong><br />

necessi<strong>da</strong>de de arquivar documentos na “Junta Comercial”,<br />

etc.<br />

Disse muito bem Fábio Luz, um dos precursores, no<br />

Brasil, como vimos, <strong>da</strong> escola renova<strong>da</strong> (que teve seus livros<br />

escolares adotados durante anos nas escolas primárias do<br />

Distrito Federal): “A escola é um pequeno mundo com sua<br />

humani<strong>da</strong>-de minúscula, tendo em germe todos os amores e<br />

ódios, tô<strong>da</strong>s as simpatias e inimizades, tô<strong>da</strong>s as grandes<br />

virtudes e os grandes vícios <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de adulta... E tô<strong>da</strong><br />

uma complica<strong>da</strong>


126 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

cosmogonia intelectual e moral, obscureci<strong>da</strong> por noites hiber-<br />

nais, às vêzes outras vêzes ilumina<strong>da</strong> de eternas primaveras.<br />

“A escola é a continuação do lar. Quando no lar não há<br />

o confôrto espiritual e carinhoso e a iniciação primordial nos<br />

percalços <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e do mundo, que a ignorância agrava e<br />

torna insuperáveis, supre-os a escola, onde os mestres têm a<br />

tríplice e eleva<strong>da</strong> representação de pais, educadores e guias”.<br />

O cooperativismo escolar irá atuar nesse pequeno<br />

mundo.<br />

O cooperativismo escolar é aquêle que já defini. Para<br />

amparar, se isso ain<strong>da</strong> for necessário, o que tenho afirmado,<br />

bastará citar a lei espanhola (1931), mais uma vez a J. Profit,<br />

e ao Dr. Fernando Azevedo, o Ilustre pe<strong>da</strong>gogo sob cuja admi-<br />

nistração em São Paulo vi aprovados os estatutos de<br />

“Cooperativas escolares”. Realiza a cooperativa escolar a<br />

instituição social, real e viva, a que se refere Dewey, quando<br />

diz que os hábitos escolares, para que sejam animados de um<br />

sôpro moral, deverão interessar a criança na prosperi<strong>da</strong>de de<br />

uma comuni<strong>da</strong>de, interêsse prático, intelectual e emocional,<br />

arcabouçando ela mesma até os pormenores de sua vi<strong>da</strong><br />

comum.<br />

E o brilhante educador que é Anísio Teixeira disse, com<br />

justeza, que é na escola que “a criança vai viver socialmente,<br />

aprendendo a participar <strong>da</strong> moderna organização democrática,<br />

assumindo as suas responsabili<strong>da</strong>des e extraindo dessa vi<strong>da</strong><br />

coletiva sentido e prazer”. E acrescenta que o educador deve<br />

“de ânimo deliberado formar o individuo que se dirige a si<br />

mesmo, que sabe esclarecer e in<strong>da</strong>gar dos motivos, <strong>da</strong>s causas.<br />

que não se choca nem se confunde com a vi<strong>da</strong> em contínua<br />

formação que o espera. .<br />

O mesmo diz o não menos brilhante pe<strong>da</strong>gogo Amaral<br />

Fontoura, dentre outros.<br />

DR. FABIO LUZ, UM PRECURSOR<br />

Sob a bandeira arco-irisa<strong>da</strong> o criança verá abrir-se,<br />

diante de suas almas sensíveis e ávi<strong>da</strong>s, o espetáculo multivio<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que a aguar<strong>da</strong> cá fora, estuante.<br />

Meu saudoso pai, Fábio Luz, médico, romancista, intro-<br />

dutor do romance social no Brasil, como vimos, novelista,<br />

contista, crítico literário, pe<strong>da</strong>gogo que fundou a primeira<br />

caixa escolar no Distrito Federal em 1895, meu saudoso pai<br />

(que deixou 23 obras publica<strong>da</strong>s, entre contos, novelas,<br />

romances, crítica literária, pe<strong>da</strong>gogia, além de vários livros<br />

de crítica inéditos), dizia:


FÁBIO LUZ FILHO 127<br />

“De acôrdo com os destinos <strong>da</strong> escola primária devem os<br />

programas <strong>da</strong>r ao ensino feição prática e orientação utilitária,<br />

sem abstrações, visando como ponto de convergência as ne-<br />

cessi<strong>da</strong>des humanas na vi<strong>da</strong> cotidiana. Tô<strong>da</strong>s as noções devem<br />

ser forneci<strong>da</strong>s como meios certos de aperfeiçoamento moral e<br />

intelectual, tido sempre em vista um proveito material ime-<br />

diato ou remoto e objetivo, sem preocupações subjetivas”.<br />

Fábio Luz, espírito de sóli<strong>da</strong> cultura, seguia, assim, os<br />

ensinamentos de vultos universais como Spencer, Horácio<br />

Mann e Bain, que já frisavam como o ideal <strong>da</strong> educação con-<br />

sistia em obter uma preparação completa do homem para a<br />

vi<strong>da</strong>, colocado o fator econômico no primeiro plano <strong>da</strong> luta <strong>da</strong><br />

existência, colimado o ensino integral e o método científico,<br />

erguidos sôbre uma sóli<strong>da</strong> base de humanismo.<br />

A educação moderna, no elevado conceito dêsses grandes<br />

homens, deveria levar o povo à emancipação intelectual e<br />

moral, possibilitando à. criança o desenvolvimento completo<br />

de suas facul<strong>da</strong>des.<br />

E a plêiade brilhante de nossos modernos pe<strong>da</strong>gogos<br />

assim também pensa.<br />

Como prova inconcussa do direito que tem Fábio Luz a<br />

ser considerado um dos grandes precursores <strong>da</strong> escola ativa no<br />

Brasil, reproduzo trechos <strong>da</strong> conferência que realizou em 29<br />

de agôsto de 1912 na “Escola Riachuelo”, do Distrito Federal.<br />

Ei-los:<br />

“A escola é um pequeno mundo com sua humani<strong>da</strong>de mi-<br />

núscula, tendo em germe todos os amôres, ódios, tô<strong>da</strong>s as sim-<br />

patias e inimizades, tô<strong>da</strong>s as grandes virtudes e os grandes<br />

vícios <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de adulta,<br />

“Ocuparei vossas benévolas atenções dizendo coisas a<br />

respeito <strong>da</strong> escola em globo, <strong>da</strong> parte material dêste<br />

mundozinho tão cheio de encantos, de contrarie<strong>da</strong>des e<br />

interessante, repleto de surprêsas agradáveis e de consôlo<br />

para os crentes na inata bon<strong>da</strong>de do homem e no futuro de<br />

regeneração, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, amor e felici<strong>da</strong>de na terra.<br />

“É um sistema planetário inteiro, a escola.<br />

“Nêle é preciso estu<strong>da</strong>r as leis <strong>da</strong> gravitação e <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong>-<br />

de, os centros de atração e as fôrças de repulsão; os eclipses,<br />

as parábolas descritas nas suas trajetórias pelos cometas<br />

errantes, as fases de periélio e de afélio dêsses planetazinhos<br />

que não têm ain<strong>da</strong> luz própria, mas ninguém sabe que mila-<br />

gre farão a natureza e a instrução para transformá-los em cen-<br />

tros de sistemas. Nêles será necessário estabelecer as zodíacos,<br />

com seus signos e sua influência nas estações <strong>da</strong> inteligência,


128 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

resumi<strong>da</strong>s as etapas do progresso humano no evolver e desa-<br />

brochar do espírito <strong>da</strong> criança.<br />

“É tô<strong>da</strong> uma complica<strong>da</strong> cosmogonia intelectual e moral,<br />

obscureci<strong>da</strong> por noites hibernais, às vêzes, outras vêzes ilumi-<br />

na<strong>da</strong> por eternas primaveras”.<br />

E prossegue aludindo à necessi<strong>da</strong>de de se comporem as<br />

classes primárias de trinta crianças para <strong>da</strong>rem freqüência<br />

de doze, de modo a ser o ensino ministrado quase individual-<br />

mente, aproveitando até ao aluno retar<strong>da</strong>do; a conveniência<br />

<strong>da</strong> iluminação unilateral nas salas de aulas pela abundância<br />

<strong>da</strong> luz natural, que dá de 40 a 50 lux, segundo H. Truc e<br />

P. Charvenac, os perigos <strong>da</strong> escoliose, etc., etc., etc.<br />

“As classes compor-se-ão no máximo de trinta crianças<br />

de matrícula, para conseguir-se que ca<strong>da</strong> uma tenha 5 metros<br />

cúbicos de bom ar respirável e puro.<br />

“Incidentemente direi que a classe de mais de trinta alu-<br />

nos, a cargo de um só professor, pouco poderá progredir.<br />

“Apenas o curso complementar poderá nessas condições<br />

ser dirigido com algum proveito por um único professor, por-<br />

que, sendo formado por alunos em i<strong>da</strong>de púbere, receberá<br />

com aproveitamento lições orais e coletivas.<br />

“Ain<strong>da</strong> assim o mestre ficará sobrecarregado de<br />

trabalhos escritos, cuja correção só será feita com justeza e<br />

critério fora <strong>da</strong> hora do expediente”.<br />

E mais tarde disse:<br />

“Quando exercia eu o cargo de inspetor Escolar (aposen-<br />

tou-se em fins de 1916) estabeleci no meu distrito escolar o<br />

hábito <strong>da</strong>s aulas-passeias pelos arredores campesinos, pelos<br />

morros e pelas serras de Jacarepaguá, dos Prêtos Forros. Êsses<br />

passeios ficavam sujeitos a lições práticas, em que o mestre não<br />

prelecionava catedràticamente, mas seguia a curiosi<strong>da</strong>de do<br />

aluno procurando explicar-lhe os fenômenos naturais —<br />

que<strong>da</strong>s d’água, desabrochar <strong>da</strong>s flores, classificação vegetal,<br />

vi<strong>da</strong> dos insetos, etc.<br />

“Tendo eu <strong>da</strong>do início ao ensino do “slojd” escolar nas<br />

escolas que me eram subordina<strong>da</strong>s, aproveitando o aptidão e o<br />

preparo de um distinto professor, ex-aluno <strong>da</strong> antiga Escola<br />

Normal, o saudoso professor Teófilo Moreira <strong>da</strong> Costa, êste<br />

profissional conseguiu <strong>da</strong>r novo interêsse ao estudo <strong>da</strong> Física,<br />

por meios “amusantes”, ensinando o próprio aluno a construir<br />

pequenos aparelhos de madeira para demonstração de fenôme-<br />

nos físicos elementares, tais como níveis, fio-a-prumo,<br />

equilíbrio dos líquidos, corpos mais leves ou mais pesados que<br />

a água, gêneros de alavancas, balanças, etc.


FABIO LUZ FILHO 129<br />

“Festas ao ar livre se vão realizando em alguns distritos,<br />

e a festa <strong>da</strong> Primavera parece tender a implantar-se nos<br />

nossos costumes escolares. Inicia<strong>da</strong> modestamente, no 9.°<br />

distrito, com o plantio <strong>da</strong> árvore distrital, na Escola Visitação<br />

(Engenho Novo), propagou-se e se vai firmando.<br />

“Nós não temos pròpriamente uma delimita<strong>da</strong> estação<br />

<strong>da</strong> primavera, pois que é uma eterna primavera a que canta<br />

nos nossos bosques, pelos campos, pelos céus, por nossos<br />

mares, perenalmente; mas serve para educar o sentimento,<br />

para ensinar o amor à terra, êsse período do ano em que é<br />

mais verde a côr <strong>da</strong>s nossas árvores, mais loução o esmalte<br />

dos campos, mais floridos os vergéis, mais leve a vi<strong>da</strong>, mais<br />

perfuma<strong>da</strong> a atmosfera. A terra nos dá a lição de energia, de<br />

capaci<strong>da</strong>de de trabalho contínuo e profícuo, sem repouso e<br />

sem desfalecimentos. Aproveitemos o pretexto educativo.<br />

E cita adiante a José Pedro Varela, ilustre técnico uru-<br />

guaio, o qual acentua que estamos perante a nova orientação<br />

impressa a nossos programas escolares no que se refere à<br />

cultura moral, porque, mesmo no campo <strong>da</strong> teoria, do<br />

abstração, do verbalismo didático, significa o passo avançado<br />

de nossa pe<strong>da</strong>gogia democrática, que aspira a que a educação<br />

deixe de ser o castelo clássico, senhorial, frio e fechado, para<br />

ofere-cer ao espírito <strong>da</strong> criança, inquieta de natural avidez, a<br />

vantagem e os miradouros de onde possa ela contemplar o rio<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que torcicola a seu pés, multiforme e sonoro.<br />

DISCIPLINA BASEADA NA LIBERDADE<br />

Em 1916, Fábio Luz, dissertando em conferência sôbre<br />

Maria Montessori, disse que não somos honestos por causa do<br />

Código Penal; não roubamos nem matamos porque amamos<br />

o trabalho e a paz. O delinqüente quando se lembra do<br />

Código, antes de praticar o crime, é com o fim de iludí-lo e de<br />

evitar a penali<strong>da</strong>de. O Código não evita o crime. Os honestos,<br />

que são a maioria, não conhecem os artigos do Código<br />

Criminal e Penal. O ver<strong>da</strong>deiro castigo para o homem<br />

normal é perder a consciência de sua própria fôrça e <strong>da</strong><br />

grandeza que forma sua humani<strong>da</strong>de interior.<br />

“O método de observação tem por base fun<strong>da</strong>mental a<br />

liber<strong>da</strong>de dos alunos em suas manifestações espontâneas:<br />

liber<strong>da</strong>de e ativi<strong>da</strong>de.<br />

“Como obter a disciplina em uma classe de crianças em<br />

liber<strong>da</strong>de? Se a disciplina é basea<strong>da</strong> na liber<strong>da</strong>de, esta deve<br />

ser<br />

9 – 27 454


130 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

ativa. Não se dirá que é disciplinado um indivíduo que se con-<br />

serva silencioso como se fôra mudo, e permanece imóvel<br />

como se fôra paralítico. Será um manietado, nunca um<br />

disciplinado. Disciplinado é o individuo senhor de si<br />

mesmo, dispondo de si, segundo uma regra de vi<strong>da</strong> que tenha<br />

adotado.<br />

“O conceito de disciplina ativa não é fácil de se compre-<br />

ender nem de se obter, mas é um alto princípio educativo. A<br />

idéia central do sistema é que nenhum ser humano pode rece-<br />

ber educação de um outro ser. Este autodi<strong>da</strong>tismo é que dá<br />

cunho especial à disciplina <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de, que se limita na con-<br />

veniência <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de.<br />

“O interêsse nos exercícios sistemàticamente adequados<br />

às necessi<strong>da</strong>des fisiológicas e psíquicas <strong>da</strong>s crianças,<br />

conserva-as concentra<strong>da</strong>s nos respectivos trabalhos, e o<br />

hábito de fixar a atenção em ocupações a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s aos seus<br />

gestos, e de resistir a tentações de mu<strong>da</strong>r para outras coisas,<br />

produz com o tempo o self-control. As energias estão<br />

ocupa<strong>da</strong>s no que instintiva-mente procuram, e, tendo plena<br />

liber<strong>da</strong>de para se expandirem, estão calmas; não há<br />

irritações nem rabugices; não há birras nem implicâncias”.<br />

(Luiza Sérgio),<br />

“Quando uma criança não se a<strong>da</strong>pta bem a êsse domínio<br />

de si mesma e se torna prejudicial à disciplina <strong>da</strong> classe, pela<br />

sua inquietação e turbulência, não há outro castigo para ela<br />

mais do que isolá-la do convívio <strong>da</strong>s outras e considerá-la<br />

como um ser doente, diferente dos outros, ao qual se fala<br />

como a um convalescente de quem todos têm pena. Êste<br />

modo de considerá-la inferior aos outros estimula-lhe o amor<br />

próprio e a faz em pouco tempo entrar no regime <strong>da</strong><br />

liber<strong>da</strong>de respeitadora <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de alheia. Conta a doutora<br />

Montessori que um dia recebeu uma aluna rebelde a todos os<br />

carinhos, infensa a todos os ensinamentos, não querendo nem<br />

penetrar na sala <strong>da</strong> clas- se, conservando-se na ante-sala.<br />

“Deixaram-na ficar envolta em sua capa e com o chapéu<br />

de que se não queria desfazer. Um dia, quando um outro<br />

discípulo, cansado do trabalho de arrumar cubos pelo tama-<br />

nhos, abandonou, no chão, o exercício e foi em busca de<br />

outro,<br />

a pequena, sùtilmente e como se fôsse cometer uma ação má,<br />

o substituiu, e em pouco tempo, desfazendo-se <strong>da</strong> capa e do<br />

chapéu estorvantes, se pôs à obra, a<strong>da</strong>ptando-se lentamente<br />

ao regime.<br />

“A liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criança deve ter como limite o interêsse<br />

coletivo; como forma, o que costumamos chamar educação<br />

<strong>da</strong>s maneiras e dos atos. Devemos impedir que o menino<br />

pratique tudo quanto possa prejudicar os outros, ou quanto<br />

redunde em


FABIO LUZ FILHO 131<br />

ato indecoroso ou censurável. Mas tudo o mais, tô<strong>da</strong>s as<br />

manifestações com fim útil, qualquer que seja, debaixo de<br />

qualquer forma, deve-lhe ser permitido, mas sob a<br />

observação constante <strong>da</strong> mestra: eis o ponto essencial”.<br />

(Montessori — pg. 61).<br />

“A habili<strong>da</strong>de especial do mestre está em intervir<br />

pacientemente, para, com absoluto rigor, impedir e pouco a<br />

pouco sufocar todos os maus atos e más tendências, de modo<br />

que o menino chegue ao claro conhecimento do que é bom e<br />

do que é mau. Este é ponto de parti<strong>da</strong> necessário à disciplina;<br />

é o trabalho mais fastidioso <strong>da</strong> mestra. A primeira noção que as<br />

crianças devem adquirir para serem ativamente disciplina<strong>da</strong>s é<br />

a do bem e do mal. O fim educativo a atingir está em impedir<br />

que o menino confun<strong>da</strong> o bem com a imobili<strong>da</strong>de e o mal com<br />

a ativi<strong>da</strong>de, como acontecia com a forma disciplinar anti- ga.<br />

Pois nosso fim é disciplinar a ativi<strong>da</strong>de, o trabalho, o bem, e<br />

não a imobili<strong>da</strong>de, a passivi<strong>da</strong>de, a obediência. Uma sala onde<br />

tô<strong>da</strong>s as crianças se movem ùtilmente, inteligentemente, vo-<br />

luntàriamente, sem embaraço algum, parece-me muito bem<br />

disciplina<strong>da</strong>.. .“<br />

AINDA A ESCOLA<br />

E, em 1904, já dizia Fábio Luz:<br />

“De programas organizados com orientação igual e uni-<br />

forme, com desenvolvimento equilibrado de disciplinas, pó-<br />

der-se-á chegar com ameni<strong>da</strong>de e com certa facili<strong>da</strong>de a com-<br />

pletar um curso de noções generaliza<strong>da</strong>s e bastantes para o<br />

comêço <strong>da</strong> luta pela existência.<br />

“Cubagem de ar insuficiente, material impróprio, ilumi-<br />

nação defeituosa <strong>da</strong>s salas de classe, tudo põe o aluno subur-<br />

bano em inferiori<strong>da</strong>de patente relativamente ao aluno urba-<br />

no, além <strong>da</strong> falta de adjuntos que possam dirigir as classes<br />

em que se acham dividi<strong>da</strong>s as escolas, encarregado um<br />

professor só de dirigir, às vêzes, três classes com suas turmas,<br />

e às vêzes a escola tô<strong>da</strong>.<br />

“Quanto à distribuição <strong>da</strong> luz nas salas de classe, muitas<br />

anomalias há a notar nos pequenos prédios aproveitados<br />

para tais serviços: ora abun<strong>da</strong>nte e perturbadora à entra<strong>da</strong><br />

franca <strong>da</strong> luz por todos os lados <strong>da</strong>s salas; ora os cômodos<br />

aproveitados têm insuficiente clari<strong>da</strong>de vela<strong>da</strong> através de<br />

uma janela mal disposta no aposento, impedindo a<br />

arrumação <strong>da</strong>s cartei-ras de modo a aproveitar a luz e dispô-<br />

la à esquer<strong>da</strong> do aluno.


132 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

“Entretanto, custam aluguéis elevados os prédios que a<br />

Municipali<strong>da</strong>de ocupa”.<br />

Numa de suas conferência, elabora<strong>da</strong> em 1918, e<br />

Intitula<strong>da</strong> “Case dei Bambini, Fábio Luz, estu<strong>da</strong>ndo a obra<br />

<strong>da</strong> Dra. Maria Montessori, diz mais:<br />

“O método de observação tem por base fun<strong>da</strong>mental a<br />

liber<strong>da</strong>de dos alunos em suas manifestações espontâneas. Li-<br />

ber<strong>da</strong>de e ativi<strong>da</strong>de.<br />

“Se a disciplina é basea<strong>da</strong> na liber<strong>da</strong>de, esta deve ser<br />

ativa. “A primeira noção que as crianças devem adquirir para<br />

serem ativamente disciplina<strong>da</strong>s é a do bem e do mal”.<br />

“Baseado no respeito à individuali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criança e no<br />

desenvolvimento dela, <strong>da</strong>ndo-lhe a maior independência pos-<br />

sível, firmado na concepção muito mais alta <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de do<br />

aluno do que os outros sistemas; radicado na educação dos<br />

sentidos, como coisa <strong>da</strong> maior importância, o sistema Montes-<br />

sori é a aplicação, científica e moderna, do pensar de J. J.<br />

Rousseau no “Emile”.<br />

“O desejo de vencer dificul<strong>da</strong>des educa o caráter e afirma,<br />

orientando, as energias naturais”.<br />

O SLOJD ESCOLAR E AS CLASSES ELEMENTARES<br />

Eis o programa de slojd escolar elaborado por Fábio<br />

Luz e pelo professor Teófilo Moreira, publicado em agôsto de<br />

1915, e fielmente executado na “Escola Cairu”, no Méier:<br />

— Slojd escolar.<br />

Esbôço de programa para alunos do curso<br />

complementar:<br />

1 — Estudo do instrumental e dos diversos modos de<br />

sua utilização: faca, serra, pontas de metal, verruma,<br />

esquadros, TT, lixa, etc.<br />

2 — Preceder todos os trabalhos do desenho do objeto<br />

que se quiser fabricar, toma<strong>da</strong>s as dimensões exatas, com o<br />

auxílio do desenho geométrico.<br />

3 — Estudo <strong>da</strong> resistência <strong>da</strong> madeira e do melhor<br />

modo de aproveitar sua conformação e a direção <strong>da</strong>s fibras<br />

vegetais.<br />

4 — Primeiros cortes. Posição <strong>da</strong> mão direita; a mão es-<br />

quer<strong>da</strong> sustentado a tábua; modo de pegar <strong>da</strong> faca, firmando<br />

o dedo polegar <strong>da</strong> mão esquer<strong>da</strong> no dorso dela, próximo à<br />

extermi<strong>da</strong>de, de modo a <strong>da</strong>r firmeza aos cortes de<br />

desbastamento em linha reta. Procurar a “veia” <strong>da</strong> madeira<br />

para evitá-la, sendo preferível seccionar fibras a seguir-lhes<br />

as sinuosi<strong>da</strong>des.


FABIO LUZ FILHO 133<br />

No caso de maior resistência <strong>da</strong> madeira, apoiar a tábua na<br />

extremi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mesa.<br />

5 — Nos cortes circulares <strong>da</strong>r movimento em curvas ao<br />

punho e à lâmina <strong>da</strong> faca, acompanhando o desenho e, lenta-<br />

mente, por cortes sucessivos, aproximar-se do traçado.<br />

6 — Fabricar (sempre precedendo o desenho do objeto)<br />

facas de cortar papel, tabuinhas para chaves, tabuinhas com<br />

entalhes para enrolar linha, cordão, lã, etc.<br />

7 — Descansos para canetas, recortados à serra e<br />

ajustados com pontas de metal ou colados.<br />

B — Caixinhas com diversas formas geométricas, de ca-<br />

paci<strong>da</strong>de prèviamente estabeleci<strong>da</strong>, com as faces ou superfí-<br />

cies ajusta<strong>da</strong>s por meio de cola ou pontas de metal,<br />

9 — Cadeirinhas sem encôsto (tamboretes), mesas, ca-<br />

bides.<br />

10 — Aparadores, consolos, com recortes nos espaldos,<br />

e gavetinhas.<br />

11 — Cadeiras de encôsto recortado.<br />

12 — Armário de portas e pés recortados e ornatos<br />

superiores, rendilhados à faca ou à serra. (Em tudo deve ser<br />

observado o desenho prèviamente traçado, bem como o plano<br />

anteriormente combinado).<br />

13 — Animais domésticos. Polichinelos, articula<strong>da</strong>s as<br />

diversas partes do corpo por meio de arames finos ou pontas<br />

de metal. Esses últimos trabalhos poderão ser depois colori-<br />

dos e pintados à vontade do aluno.<br />

14 — Carrinhos de mão, montados em madeira e sôbre<br />

dois descansos. Carretas de duas ro<strong>da</strong>s, sem raios, firma<strong>da</strong><br />

em um eixo pregado ao lastro dos carrinhos com pontas<br />

metálicas.<br />

15 — Cataventos ou moinhos de vento, de quatro pás —<br />

seis e oito.<br />

16 — Carros de quatro ro<strong>da</strong>s e guarnições.<br />

17 — Armações para diversas formas de papagaios —<br />

trapézios, paralelepípedos, aeroplanos, etc.<br />

Eis trechos de uma conferência realiza<strong>da</strong> em 1912, na<br />

“Escola Riachuelo”, por Fábio Luz:<br />

“As classes elementares deveriam compor-se de vinte<br />

crianças de matrícula, para <strong>da</strong>rem freqüência de doze, de<br />

modo a ser o ensino ministrado quase individualmente. Se<br />

assim fôsse, o aluno, ain<strong>da</strong> mesmo retar<strong>da</strong>do, lucraria tripli-<br />

ca<strong>da</strong>mente e faria o curso primário em menos <strong>da</strong> metade do<br />

tempo que consome atualmente em classe numerosa.


134 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

“As salas para que permitam boa arrumação serão<br />

retangulares; as carteiras alinhar-se-ão de sorte que o aluno<br />

receba o luz pela esquer<strong>da</strong>. A exigência higiênica <strong>da</strong><br />

iluminação pela esquer<strong>da</strong>, todos vós sabeis melhor do que eu,<br />

deve ser religiosamente respeita<strong>da</strong> por causa <strong>da</strong> escrita<br />

principalmente, pois que, vindo a luz do lado direito, a mão<br />

que escrever projetará sombra sôbre o papel, e até à leitura<br />

feita em livro repousado na tampa <strong>da</strong> carteira essa<br />

iluminação trará sérios inconvenientes, prejudicando o<br />

perfeito funcionamento dos órgãos visuais, ocasionando<br />

vícios de acomo<strong>da</strong>ção que persistirão por tô<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> do<br />

escolástico.<br />

“A iluminação unilateral esquer<strong>da</strong> nem sempre ou<br />

quase nunca é possível conseguir-se regularmente higiênica,<br />

em prédios construídos para outros fins, e nem a obtemos<br />

perfeita nos edificados com intuitos escolares pela Prefeitura.<br />

Pode-se corrigir êsse inconveniente de luz excessiva e<br />

esfuzilante, apro- veitando outras aberturas, janelas ou<br />

portas, para o arejamen- to <strong>da</strong>s salas, velando-as com estores<br />

ou cortinas de tecido bastante compacto, mas permitindo a<br />

transparência uniforme. O vidro despolido ou facetado é<br />

prejudicial, pois refrata a luz em muitas direções; seria<br />

preferível utilizar-se o vidro opaco até certa altura <strong>da</strong><br />

vidraça. As janelas do lado direito, se de menores dimensões,<br />

prestarão serviços, pois que em certas condições é<br />

indispensável aproveitar a luz <strong>da</strong> direita, como refôrço de<br />

iluminação, estabelecendo um arremêdo do que se conven-<br />

cionou chamar — luz bilateral equivalente. É difícil estabele-<br />

cer o mínimo e o máximo de iluminação escolar em velas<br />

decimais ou lux. Uma sala bem ilumina<strong>da</strong> por luz natural<br />

<strong>da</strong>rá de 40 o 50 lux, enquanto fartamente ilumina<strong>da</strong><br />

artificialmen- te à noite <strong>da</strong>rá de 12 a 30 lux (“Higiene<br />

ocular e inspeção <strong>da</strong>s escolas”. H. Truc e P. Chavernac.) Os<br />

fotômetros já deviam estar em uso nas nossas escolas. Esses<br />

aparelhos são de fácil manejo; têm por fim achar a medi<strong>da</strong> e<br />

o grau de iluminação dos diversos lugares <strong>da</strong> escola: quadros<br />

negros e lugares ocupados pelos alunos e professôres, mapas<br />

e estampas. O fotômetro de True compõe-se de textos cuja<br />

legibili<strong>da</strong>de para um mesmo indivíduo, colocado em distância<br />

fixa, varia com a iluminação. É êle formado por um quadro<br />

medindo 0m,23 de comprimento por 0m,17 de largura. O<br />

texto se repete cinco vêzes no quadro coberto por uma, duas,<br />

três, quatro e cincos lâminas de vidro ou gelatina, igualmente<br />

espêssa e <strong>da</strong> mesma côr. Conforme o numero de lâminas — a<br />

quanti<strong>da</strong>de de luz.


FÁBIO LUZ FILHO 135<br />

“Um cordel fixado na apófise orbitária externa ao<br />

observador e prêso ao aparelho regula a distância. Deve<br />

medir 0m,33.<br />

Ao texto coberto com uma só lâmina correspondem 2<br />

velas.<br />

Ao segundo — 2 lâminas — 3 velas.<br />

Ao terceiro — 3 lâmInas — 6 velas.<br />

Ao quarto — 4 lâminas — 12 velas.<br />

Ao quinto — 5 lâminas — 24 velas.<br />

“Quando não se conseguir arrumar a classe de modo<br />

que a iluminação se faça pela esquer<strong>da</strong> do aluno, arrumem-se<br />

as carteiras de frente para a parte de onde vier a luz mais<br />

inten- sa. Tem êsse modo de iluminação, especialmente no<br />

nosso clima, o inconveniente de deslumbradoramente ferir a<br />

retina do discípulo.<br />

“Há meios de atenuar a intensi<strong>da</strong>de luminosa: cortinas,<br />

estores, venezianas, etc. Tô<strong>da</strong>s essas coisas, já muito sediças,<br />

estais cansados de saber e não vos venho dá-las como<br />

novi<strong>da</strong>de; apenas as menciono para concatenação desta<br />

despretensiosa palestra.<br />

“A dificul<strong>da</strong>de maior nesta questão está na iluminação<br />

<strong>da</strong>s escolas noturnas.<br />

“A luz elétrica aproveita<strong>da</strong> e utiliza<strong>da</strong> nas escolas<br />

urbanas, é, sem dúvi<strong>da</strong>, a que mais se aproxima <strong>da</strong> luz<br />

natural; é, portanto, a mais higiênica.<br />

“Ain<strong>da</strong> assim tem o inconveniente de ser abun<strong>da</strong>nte em<br />

raios ultra-violetas que produzem queratites e irites.<br />

“Esses inconvenientes podem ser obviados pelo emprego<br />

de vidros amarelos, amarelecidos ou esverdinhados, nas<br />

lâmpa<strong>da</strong>s, embora diminuam a intensi<strong>da</strong>de luminosa.<br />

“O gás corrente de iluminação, onde não haja luz<br />

elétrica, prefere-se ao acetileno e ao álcool, que são mais ricos<br />

de raios ultravioletas; a êstes últimos também é preferível a<br />

luz de petróleo ou querosene, onde não haja canalização de<br />

gás corrente.<br />

“O gás comum tem contra si a grande produção de calor<br />

irradiante dos focos de combustão, calor que se atenua com<br />

os aparelhos incandescentes Auer.<br />

“O melhor meio de distribuir a luz artificial nas classes,<br />

será o que se basear na instalação de lâmpa<strong>da</strong>s nas cornijas,<br />

ou guarnições do teto, ou que, projetando-a diretamente<br />

sôbre as tábuas do fôrro, a reflita em tô<strong>da</strong> a sala, utilizados<br />

refleto- res de metal branco ou niquelado.


136 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

“O problema <strong>da</strong> iluminação <strong>da</strong> escola é de<br />

extraordinária importância.<br />

“Muita bem diz o professor Dr. Linneu Silva que a idéia<br />

de filiar à escola as perturbações visuais, dependentes <strong>da</strong><br />

miopia, remonta a uma época relativamente bem afasta<strong>da</strong><br />

para a ignorância e o descuido em que ain<strong>da</strong> é envolvido pro-<br />

blema de tão grande relevância social, de tão grande<br />

destaque econômico.<br />

“Depois de horas segui<strong>da</strong>s de exercícios em classe, em<br />

que a visão aproxima<strong>da</strong> dos objetos fatiga o órgão visual pelo<br />

esfôrço de acomo<strong>da</strong>ção convergente, tornam-se necessários a<br />

perspectiva ao longe, a vista de grande praças movimenta<strong>da</strong>s,<br />

vastos horizontes, verdes montanhas, que repousam admirà-<br />

velmente a retina e refrescam a imaginação. Por isso a escola<br />

localizar-se-á bem nas proximi<strong>da</strong>des dos pontos de maior<br />

con. densação <strong>da</strong> população, mas em tal situação que a<br />

mu<strong>da</strong>nça de cenário se faça para o aluno apenas saia <strong>da</strong><br />

classe, se aproxime de uma janela ou chegue ao pátio de<br />

recreio.<br />

“As salas de classe devem ser pinta<strong>da</strong>s a óleo para<br />

serem lava<strong>da</strong>s com panos ou esponjas sem prejuízo <strong>da</strong>s<br />

decorações.<br />

“Uniformemente pinta<strong>da</strong>s ficarão em melhores<br />

condições, sendo a côr acinzenta<strong>da</strong> a que melhormente<br />

satisfaz. No caso de serem as paredes forra<strong>da</strong>s de papel, que<br />

seja êle de desenhos poucos vivos e de tais matizes, que<br />

aproveite razoàvelmente ou atenue os excessos <strong>da</strong> luz solar.<br />

“O assoalho, calafetado, fácil de ser levado, bem uni<strong>da</strong>s<br />

as tábuas, não oferecerá fen<strong>da</strong>s onde se acumulem detritos e<br />

o pó <strong>da</strong>s ruas e <strong>da</strong>s estra<strong>da</strong>s, levados nos pés dos alunos, dos<br />

mestres e dos visitantes.<br />

“Tanto quanto fôr possível as arestas <strong>da</strong>s paredes e dos<br />

portais serão substituí<strong>da</strong>s por superfícies arredon<strong>da</strong><strong>da</strong>s, côn-<br />

covas e convexas. Esta medi<strong>da</strong> visa a impedir. nos casos fre-<br />

qüentes de que<strong>da</strong>s, que as crianças se contun<strong>da</strong>m muito ou se<br />

firam ou escoriem a pele.<br />

“As reserva<strong>da</strong>s, em número de três para centena de<br />

discípulos, ficarão nos pátios de recreio, serão de fácil acesso,<br />

bem areja<strong>da</strong>s e vigia<strong>da</strong>s, e em tal situação, que os ventos<br />

reinantes não atirem para dentro <strong>da</strong> escola emanações<br />

mefíticas, ou pe-los tubos de ventilação ou desprendendo-se<br />

<strong>da</strong>s bacias e mictórios. As paredes <strong>da</strong>s priva<strong>da</strong>s revestir-se-ão<br />

de substâncias impermeáveis — cimento, azulejo, etc., de<br />

fácil limpeza, com água abun<strong>da</strong>nte, pura ou mistura<strong>da</strong> com<br />

alguma substância desinfetante.


FABIO LUZ FILHO 137<br />

“Haverá o máximo cui<strong>da</strong>do em conservar desobstruídos os<br />

sifões e bem estanques as junturas <strong>da</strong>s canalizações dos raios<br />

de águas servi<strong>da</strong>s e pluviais, em comunicação com a rêde<br />

geral de esgôto, onde haja esgôto. Nas locali<strong>da</strong>des onde ain<strong>da</strong><br />

não houver chegado êsse melhoramento, maior deverá ser o<br />

cui<strong>da</strong>do prestado à limpeza <strong>da</strong>s valas e sarjetas de<br />

escoamento de águas servi<strong>da</strong>s, estabelecido serviço regular,<br />

real, efetivo, de desinfetação periódica <strong>da</strong>s fossas fixas.<br />

“A filtração <strong>da</strong> água potável seria melhor se fôsse feita nos<br />

depósitos de abastecimento ou nas caixas domiciliárias; mas<br />

onde a esterilização não se possa obter por êsse meio, pode-se<br />

recorrer ao processo <strong>da</strong> ebulição, principalmente nos<br />

distritos escolares longínquos, nos subúrbios distantes, nas<br />

ilhas sem abastecimento regular de água.<br />

“As portas de entra<strong>da</strong> e saí<strong>da</strong> <strong>da</strong>s escolas serão amplas pa-<br />

ra facilitarem retira<strong>da</strong>s rápi<strong>da</strong>s em casos de perigo incêndio,<br />

desabamento, raio ou qualquer outro acidente.<br />

“No vestíbulo ficarão os cabides de chapéus e o vestiário;<br />

nunca nas classes.<br />

“As esca<strong>da</strong>s terão largos degraus para evitar que<strong>da</strong>s;<br />

terão corrimão sólido e patamares espaçosos para descanso.<br />

“Nas proximi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s classes haverá lavatórios com água<br />

corrente em abundância, onde os alunos limpem as mãos fre-<br />

qüentemente, não só <strong>da</strong>s impurezas <strong>da</strong>s poeiras <strong>da</strong>s ruas,<br />

como <strong>da</strong>s máculas que a tinta de escrever, o giz e os outros<br />

utensílios <strong>da</strong> escola lhes tenham pôsto. Em tô<strong>da</strong>s as escolas<br />

exigir-se-á a instalação de bebedouros, onde as crianças se<br />

desalterem sem se utilizarem de canecas ou copos de uso<br />

comum.<br />

“Os recreios convém que sejam ajardinados ou cortados<br />

de tabuleiros de relva bem cui<strong>da</strong><strong>da</strong> onde possam rolar os<br />

meninos, sem risco de se machucarem. Que melhor seria<br />

também um trecho arborizado!<br />

“Um belo jardim elegantemente desenhado e florido, man-<br />

<strong>da</strong>ndo para o azul do céu oblatas de perfumes à Natureza fe-<br />

cun<strong>da</strong> e inspiradora de bons pensamenbs, é também educativo<br />

dos sentidos e do sentimento estético <strong>da</strong>s crianças.<br />

“Amar esta nossa terra, acarinhar-lhe os seios túmidos de<br />

vi<strong>da</strong>, de tudo aquilo de que se faz a felici<strong>da</strong>de e abençoar-lhe a<br />

fecundi<strong>da</strong>de e a liber<strong>da</strong>de com que nos nutre; amar nossa terra<br />

— delícia dos nossos olhos, celeiro inesgotável, túmulo dos<br />

nossos ancestrais, laboratório de nossa descendência; terra<br />

luminosa, flori<strong>da</strong> e perfuma<strong>da</strong> como outra não há no mundo;<br />

amá-la e ensinar a amá-la é também educar. E o homem vive


138 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

tão prêso à terra que não amá-la, não lhe ser agradecido, é um<br />

crime; não adorá-la, uma perversão moral.<br />

“Os bancos-carteiras para um aluno são os preferidos,<br />

quando as salas os comportam.<br />

“Dentre êles excelem os que têm assentos móveis, facili-<br />

tam os movimentos dos alunos e dão francas entra<strong>da</strong>s e<br />

saí<strong>da</strong>s. Pelas suas dimensões é indispensável que estejam em<br />

relação direta com as estaturas dos alunos. Nem é preciso<br />

muito insis-tir na gênese <strong>da</strong> escoliose escolar e <strong>da</strong>s<br />

deformações provenientes <strong>da</strong>s posições força<strong>da</strong>s em carteiras<br />

sem as medi<strong>da</strong>s e dimensões higiênicas exigi<strong>da</strong>s.<br />

“Os bancos-carteiras devem ser arrumados fronteiros à<br />

mesa do professor, distando dela dois metros e afastados cin-<br />

qüenta centímetros <strong>da</strong> parede, nas filas, quer laterais, quer<br />

extremas. Ficarão a dez centímetros <strong>da</strong>s <strong>da</strong> frente,<br />

excetua<strong>da</strong>s as de modêlo americano, cujos bancos estão nas<br />

carteiras posteriores e as mesas nas anteriores. Essas<br />

carteiras americanas, que foram fabrica<strong>da</strong>s no intuito de<br />

iludir a solução do proble-ma <strong>da</strong> distância positiva ou<br />

negativa entre o banco e a mesa, feitas com pés de ferro<br />

fundido e bastante pesa<strong>da</strong>s, deverão ser fixa<strong>da</strong>s ao solo a fim<br />

de que os alunos não afastem os ban- cos a seu talante ou os<br />

oproximem, fazendo variar a distância que deve ser sempre e<br />

medi<strong>da</strong>mente fixa.<br />

“O mobiliário mau e defeituoso e a iluminação<br />

insuficiente ou mal dirigi<strong>da</strong>, são causas eficientes <strong>da</strong> escoliose<br />

e <strong>da</strong> miopia escolares. As carteiras sem as dimensões<br />

correspondentes às estaturas <strong>da</strong>s crianças forçam-lhes as<br />

posições, contrafazem os gestos, dificultam e embaraçam os<br />

movimentos do tórax e <strong>da</strong> respiração, perturbam, portanto,<br />

as funções circulatórias.<br />

“As posições contrafeitas permanentes produzem<br />

desvios <strong>da</strong> coluna vertebral: isto constitui a escoliose. Além<br />

do <strong>da</strong>no causado ocasiona graves perturbações de saúde. Da<br />

carteira não correlativa ao tamanho do discípulo vêm<br />

também males de a<strong>da</strong>ptação ocular, pois os livros, os<br />

cadernos e os outros utensílios de trabalho escolar muito se<br />

aproximam ou muito se afastam dos olhos do discípulo.<br />

“O trabalho no quadro negro faz repousar o órgão<br />

visual, e convém que seja de aplicação freqüente em ardósia<br />

ou tela ardosia<strong>da</strong>, sempre lava<strong>da</strong> para conservar-se negra.<br />

“Os mapas de fundo branco ou amarelado ficarão em<br />

posição tal nas paredes, que possam ser vistos pela classe<br />

tô<strong>da</strong>; os caracteres dêles bem impressos devem ser legíveis<br />

para olhos normais a 10 metros de distância.


FÁBIO LUZ FILHO 139<br />

“Devem êles ser preferidos aos atlas, cujos dizeres são<br />

sempre minúsculos e fatigam a vista. Os livros em uso na<br />

classe deverão ser impressos em papel opaco, para que os<br />

caracteres tipográficos de uma página não sejam visíveis no<br />

verso, O pa- pel couchê e os papéis muito brancos e lustrosos<br />

ou acinzentados, repudiem-se.<br />

“A escola é a continuação do lar; quando no lar não há o<br />

confôrto espiritual e carinhoso e a iniciação primordial nos<br />

percalços <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e do mundo, que a ignorância agrava e torna<br />

insuperáveis, supre-os a escola, onde os mestres têm a tríplice e<br />

eleva<strong>da</strong> representação de pais, educadores e guias.<br />

“Na escola a criança aprenderá com a ginástica e os cân-<br />

ticos o ritmo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e a harmonia dos movimentos, a beleza<br />

<strong>da</strong>s formas no conjunto estético do corpo humano bem con-<br />

formado, ágil e vigoroso.<br />

“Com a história aprenderá a tirar dos fatos e <strong>da</strong>s crônicas<br />

do passado as ilações do futuro. Aprenderá na suavi<strong>da</strong>de de<br />

nosso idioma a amar solidàriamente todos aquêles que se ser-<br />

vem dêle para exprimir pensamentos e sentimentos.<br />

“Da geografia tirará ensinamentos para muito querer êste<br />

imenso e dourado pais de sol perene nas alturas, de sol eterno<br />

nas entranhas auríferas, com seus cau<strong>da</strong>is inexauríveis, sua<br />

produtivi<strong>da</strong>de exuberante, que dá mil por um sem que lhe<br />

amanhem sequer as entranhas fecun<strong>da</strong>s. Aprenderá rudimen-<br />

tos de ciências que lhe explicarão os mistérios do Universo e <strong>da</strong><br />

Natureza; ensinar-lhe-ão a ser homem.<br />

“Uma boa parte <strong>da</strong> instrução educativa que vos é cometi-<br />

<strong>da</strong> pelo Estado, tem sido um tanto descura<strong>da</strong> nos últimos<br />

tempos, em que tô<strong>da</strong>s as atenções se voltaram quase<br />

exclusivamente para a educação <strong>da</strong> inteligência, relegando-se<br />

para um plano inferior a educação do sentimento. Ambas,<br />

para se completarem, exigem desenvolvimentos<br />

correspondentes.<br />

“Nos que tenham tendências a degenerações e taras psico-<br />

páticas, melhor será apurar a educação do sentimento.<br />

“A escola municipal é a escola do proletário. O ensino in-<br />

tegral que lhe devemos deve ser fornecido no menor espaço<br />

de tempo possível, pois não temos o direito de retar<strong>da</strong>r-lhe a<br />

entra<strong>da</strong> na vi<strong>da</strong> de labuta, de caça ao pão nosso de ca<strong>da</strong> dia.<br />

“O problema geral <strong>da</strong> educação intelectual, disse A.<br />

Comte. consiste em fazer chegar, em poucos anos, um<br />

entendimento muitas vêzes medíocre ao mesmo ponto de<br />

desenvolvimento que atingiu, em longa série de séculos, um<br />

grande número de gênios superiores, aplicando durante uma<br />

vi<strong>da</strong> inteira, sucessivamente, tô<strong>da</strong>s as fôrças ao estudo do<br />

mesmo assunto”,


140 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

O TRABALHO DOS EDUCADORES<br />

Em 1936, aventando assuntos depagógicos, disse Fábio<br />

Luz que não seria sem propósito transcrever alguns trechos<br />

de Momela Nievenheus: “Deve-se <strong>da</strong>r ao menino o<br />

ensinamento quando êle o queira. Qualquer programa<br />

escolar igual para todos os meninos de um país é ridículo. O<br />

mestre deve ter a liber<strong>da</strong>de de dispor o ensino de acôrdo com<br />

seus desejos e com o desejo dos alunos. A mesma porção para<br />

todos os estômagos, a mesma quanti<strong>da</strong>de para todos os<br />

desenvolvimentos: para tô<strong>da</strong>s as capaci<strong>da</strong>des, as mesmas<br />

ocupações e os mesmos trabalhos... Não. Melhor será<br />

a<strong>da</strong>ptarmo-nos à natureza. Certamente serão cometidos<br />

erros menores. Elhen Key desejava que um dilúvio afogasse<br />

todos os pe<strong>da</strong>gogos, salvando-se apenas Montaigne, Rousseau<br />

e Spencer, para que se progredisse um pouco... Proteger,<br />

defender, incitar e impulsionar, é o trabalho dos<br />

educadores”.<br />

E acrescentou que não sabiam muitos que, ao tempo<br />

dêle, como inspetor escolar, guiado por Omer Buise, se fêz<br />

alguma coisa para <strong>da</strong>r à educação <strong>da</strong> infância certa<br />

orientação utilitária e não simplesmente livresca. “O nosso<br />

distrito, reunido em Associação de Professores, estabeleceu o<br />

ensino de slojd escolar, à mo<strong>da</strong> sueca, adquirindo o material<br />

necessário para os trabalhos manuais em madeira,<br />

precedidos do desenho dos objetos a fabricar. O professor<br />

Teófilo Moreira <strong>da</strong> Costa deixou um belo exemplo de escola<br />

primária (Escola Cairu), preparatória de escola profissional,<br />

facilitando o ensino técnico,”<br />

AS CAIXAS ESCOLARES<br />

A ação <strong>da</strong> caixa escolar em certo sentido precede a <strong>da</strong><br />

cooperativa escolar, não há dúvi<strong>da</strong>, de vez que vai buscar a<br />

criança fora <strong>da</strong> escola, enquanto a cooperativa já a apanha<br />

dentro dela, como aluno. Podem coexistir e podem<br />

interpenetrar-se, ou a própria cooperativa substituí-la,<br />

como se vem tentando na Bahia, não obstante a cooperativa<br />

escolar não deva trilhar tal caminho de beneficência, <strong>da</strong><strong>da</strong><br />

seu dinamismo orgânico; considerado seu cunho de um<br />

movimento educacional e viril, de auto-suficiência, de<br />

emancipação, de renovação de métodos. Mas, não se pode<br />

negar que as caixas escolares, tanto no Distrito Federal, como<br />

em São Paulo, Paraná, etc., vêm prestando serviços<br />

relevantes como elementos de combate ao analfabetismo, pela<br />

distribuição de sapatos, far<strong>da</strong>mentos, pratos-


FABIO LUZ FILHO 141<br />

-de-sopa, e de leite (inaugurados por Fábio Luz no Distrito<br />

Federal), etc., e até invadindo o domínio <strong>da</strong> higienização,<br />

pelos gabinetes dentários, etc. Mas, sua ação tem sido<br />

fecun<strong>da</strong>, mas limita<strong>da</strong>, sem o alcance educativo <strong>da</strong><br />

cooperativa escolar moderna, que dá ao aluno o aprazimento<br />

e as virtudes <strong>da</strong> autodi<strong>da</strong>xia.<br />

Eis a mensagem de Fábio Luz, em 1895, ao fun<strong>da</strong>r a pri-<br />

meira caixa escolar:<br />

“A incumbência estabeleci<strong>da</strong> por lei ao Inspetor Escolar<br />

refere-se, pois, especialmente, às crianças pobres.<br />

“Se é encargo do Inspetor Escolar estimular a<br />

freqüência às escolas, igual incumbência tem o professor pela<br />

necessi<strong>da</strong>de natural de um meio maior de ação.<br />

É tanto mais útil um foco luminoso quanto maior é seu<br />

poder iluminativo; quanto maior é a zona por êle ilumina<strong>da</strong>,<br />

quanto mais poderosa a sua irradiação.<br />

“Sendo o professor foco de luz intelectual, tanto mais<br />

útiI se tornará o seu esfôrço, tanto mais digno será de<br />

benemerência, de veneração e de gratidão pública, tanto mais<br />

credor dos aplausos, <strong>da</strong> consideração e do aprêço de uma<br />

população, quanto maior fôr o número de inteligências<br />

esclareci<strong>da</strong>s pela sua benéfica influência de educador.<br />

“Portanto a vós, tanto como ao Inspetor Escolar, ocorre<br />

o dever de criar a eficaz propagan<strong>da</strong> <strong>da</strong> disseminação do<br />

ensino pelo povo, pela infância pobre, onde reside o futuro<br />

brilhante <strong>da</strong>s instituições republicanas e <strong>da</strong> Pátria.<br />

“Nenhum meio é de efeitos mais prontos para<br />

chegarmos ao fim do que aquêle que tiver como resultado<br />

<strong>da</strong>r ao aluno pobre, ao filho do proletário o necessário para<br />

freqüentar a escola, fornecendo a veste decente, que o não<br />

envergonhe junto aos seus companheiros mais favorecidos <strong>da</strong><br />

fortuna, com o fim de facultar-lhe as luzes intelectuais<br />

capazes de torná-lo útil à Pátria, à Família e à Socie<strong>da</strong>de.<br />

“Creio, pois, senhores, que não é uma utopia tentar<br />

organizar neste distrito uma caixa escolar, <strong>da</strong>ndo execução<br />

ao disposto no art. 64 <strong>da</strong> lei, que diz:<br />

“Ficam constituí<strong>da</strong>s caixas escolares para obtenção de<br />

donativos, a fim de fornecer aos alunos reconheci<strong>da</strong>mente<br />

pobres o indispensável de que careçam para freqüentar a<br />

escola”.<br />

Este artigo de lei, lançado assim sem uma ampliação se-<br />

quer, indicando a quem incumbe a organização destas caixas,<br />

dá-nos o direito de organizá-la no nosso distrito como nos<br />

aprouver.


142 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

“Exposto, assim, o fim desta reunião, pergunto: Está o<br />

professorado do 7.° distrito disposto a cooperar com todo<br />

esfôrco nesta obra de filantropia ou de cari<strong>da</strong>de, trabalhando<br />

para fornecer aos pobres, aos necessitados os meios práticos<br />

de obter o pão intelectual sem os espetáculos, os rótulos <strong>da</strong>s<br />

socie<strong>da</strong>des beneficientes, mas com a dedicação de que tem<br />

<strong>da</strong>do sobejas provas no exercício de sua benemérito<br />

profissão? Sim.<br />

“Então tratemos de <strong>da</strong>r uma organização séria e útil à<br />

caixa escolar do 7° distrito, que fica cria<strong>da</strong> nesta <strong>da</strong>ta”.<br />

Nesa época, na<strong>da</strong> existia sôbre cooperativismo no Brasil<br />

e muito menos sôbre cooperativismo escolar.<br />

Eis o regulamento <strong>da</strong> primeira Caixa Escolar fun<strong>da</strong><strong>da</strong>,<br />

no Distrito Federal, em 1895, por Fábio Luz, como disse:<br />

REGULAMENTO DA CAIXA ESCOLAR<br />

DO SÉTIMO DISTRITO<br />

CAPÍTULO I<br />

Organização e fins <strong>da</strong> Caixa<br />

Art. 1.° — Fica nesta <strong>da</strong>ta instala<strong>da</strong> a Caixa Escolar do<br />

7.° distrito, de conformi<strong>da</strong>de com o art. 64 do decreto nº 38<br />

de 9 de maio de 1893.<br />

Art. 2.° — Serão considerados membros desta Caixa,<br />

não só todos os professôres catedráticos, adjuntos,<br />

subvencionados e subsidiados, pertencentes ao 7.° distrito<br />

escolar por ocasião <strong>da</strong> aprovação dêste Regulamento, como<br />

os que vierem à mesma pertencer posteriormente, de que<br />

declarem aceitar as condições do art. 3°<br />

Art. 3.° Para a manutenção <strong>da</strong> Caixa o inspetor esco-<br />

lar concorrerá mensalmente com a quantia de 5$, o professor<br />

catedrático com 2$, e o adjunto, subvencionado ou<br />

subsidiado, com 1$000.<br />

Art. 4.° — Esta Caixa não poderá contrair divi<strong>da</strong> algu-<br />

ma, nem fazer junção com outra de qualquer distrito e o seu<br />

patrimônio será formado:<br />

1.° Pela contribuição de que trata o art. 3,0,<br />

2.°Pelo produto dos meios estatuídos no art. 13.<br />

3° Pelo rendimento de qualquer quantia excedente ao<br />

orçamento <strong>da</strong>s despesas anuais, que deverão ser deposita<strong>da</strong>s<br />

pelo tesoureiro em conta-corrente em um Banco ou na Caixa<br />

Econômica.


FÁBIO LUZ FILHO 143<br />

Art, 5.° — Esta Caixa tem por fim fornecer aos alunos<br />

reconheci<strong>da</strong>mente pobres do 7.º distrito escolar o<br />

indispensável de que careçam para freqüentar a escola,<br />

segundo dispõe o art. 84 <strong>da</strong> Lei do Ensino Público<br />

Municipal.<br />

Parágrafo único — Os meios de que trata o artigo ante-<br />

cedente serão fornecidos não sòmente às crianças pobres de<br />

ambos os sexos, que por falta dêles não freqüentam escolas,<br />

como também às que, freqüentando qualquer escola pública,<br />

subvenciona<strong>da</strong> ou subsidia<strong>da</strong> do distrito, necessitem dos<br />

meios para poderem continuar.<br />

CAPITULO II<br />

Deveres e direitos dos membros <strong>da</strong> Caixa<br />

Art. 6.° — São deveres dos membros <strong>da</strong> Caixa, além do<br />

que estatui no art. 3.º dêste Regulamento.<br />

1.° Cumprir e fazer cumprir o presente Regulamento.<br />

2.° Ser pontual no pagamento de suas mensali<strong>da</strong>des.<br />

3.° Exercer, com todo zêlo e digni<strong>da</strong>de, as comissões e<br />

cargos de que se incumbirem, não podendo recusá-los sem<br />

motivos justos.<br />

4.° Concorrer com sua pessoa, influência e meios<br />

disponíveis para manutenção <strong>da</strong> Caixa.<br />

6.° Fornecer à Diretoria as informações que lhe forem<br />

pedi<strong>da</strong>s.<br />

Art. 7.° — Todo membro <strong>da</strong> Caixa terá o direito:<br />

1.º De votar e ser votado.<br />

2.° De dirigir-se por escrito à Diretoria no caso de qual-<br />

quer dúvi<strong>da</strong> na interpretação dêste Regulamento.<br />

CAPÍTULO III<br />

Da Diretoria, escolha de seus membros e atribuições<br />

de ca<strong>da</strong> um<br />

Art. 8.° — A Diretoria compor-se-á de um diretor, que<br />

será o inspetor escolar do distrito, de um vice-diretor, um te-<br />

soureiro e um almoxarife, eleitos anualmente dentre os pro-<br />

fessôres, por maioria de votos, sendo considerados suplentes<br />

os imediatos em votação, que os substituirão em seus impedi-<br />

mentos.<br />

§ 1.° Os membros <strong>da</strong> Diretoria podem ser reeleitos.


144 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

§ 2.° O almoxarife será sempre uma professôra catedrá-<br />

tica. Art. 9.º — Ao diretor incumbe:<br />

1.º Promover todos os meios de aumento <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

Caixa.<br />

2.º Convocar e presidir às Assembléias Gerais<br />

ordinárias e extraordinárias, expedindo convites a todos os<br />

professôres do distrito, determinando dia, hora e local.<br />

3.° Nomear dois professôres presentes para 1.º e 2.° se-<br />

cretários <strong>da</strong>s Assembléias Gerais.<br />

4.º Fiscalizar a distribuição dos benefícios.<br />

5.º Rubricar os livros <strong>da</strong>s operações <strong>da</strong> Caixa.<br />

8.° Visar os pedidos, autorizando as despesas.<br />

7.º Apresentar um balanço semestral à Diretoria e um<br />

relatório anual à Assembléia Geral, do movimento <strong>da</strong> Caixa,<br />

com todos os anexos fornecidos pela Tesouraria.<br />

8.° Suspender a sessão <strong>da</strong>s Assembléias Gerais, caso se<br />

torne tumultuosa, ou por qualquer outro motivo incon-<br />

veniente.<br />

Art. 10 — Ao vice-diretor compete substituir o diretor<br />

em seus impedimentos.<br />

Art. 11 — São encargos do tesoureiro:<br />

1.º Arreca<strong>da</strong>r as ren<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Caixa.<br />

2.º Ter em ordem a escrituração a seu cargo e em livros<br />

apropriados.<br />

3.° Encarregar-se <strong>da</strong> correspondência.<br />

4.° Fornecer ao almoxarife o necessário para as dês-<br />

pesas.<br />

5.º Apresentar à diretoria reuni<strong>da</strong> um boletim<br />

trimestral, demonstrativo <strong>da</strong> receita e despesa.<br />

6.° Expedir aos professôres os recibos de suas<br />

mensali<strong>da</strong>des.<br />

7.º Ter sob sua guar<strong>da</strong> a Caixa, pela qual é o único res-<br />

ponsável.<br />

Art, 12 — Ao almoxarife compete:<br />

1.º Fazer aquisição do necessário para satisfação dos pe-<br />

didos.<br />

2.° Receber e aviar os pedidos feitos e assinados pelos<br />

professôres e rubricados pelo diretor.<br />

3.º Passar recibo ao tesoureiro <strong>da</strong>s quantias recebi<strong>da</strong>s.<br />

4.º Prestar contas ao tesoureiro <strong>da</strong>s despesas feitas, jun-<br />

tando as faturas com os competentes recibos.<br />

5.º Exigir do professor recibo dos fornecimento feitos.


FABIO LUZ FILHO 145<br />

6.º Requisitar do tesoureiro a quantia suficiente para ter<br />

em depósito o material imprescindível para atender pronta-<br />

mente aos pedidos.<br />

CAPITULO IV<br />

Obtenção de donativos e modo de distribuição<br />

Art. 13 — A ren<strong>da</strong> <strong>da</strong> Caixa será aumenta<strong>da</strong> por meio<br />

de benefícios, quermesses, bandos precatórios, concertos,<br />

car- tões numerados, e legados ou donativos.<br />

§ 1.º Os cartões numerados, terão o valor de Cr$ 5,00 e<br />

serão fornecidos pela Diretoria aos professôres que os<br />

pedirem e quiserem responsabilizar-se por êles, confiá-los a<br />

pessoas de seu conhecimento.<br />

§ 2.° Os outros meios de que trata o art. 13 serão reali<br />

zados em lugar e tempo convenientes, a juízo <strong>da</strong> Diretoria.<br />

Art. 14 — Os fornecimentos aos alunos necessitados se-<br />

rão feitos mediante requisição do professor ao Diretor, na<br />

qual deverão ser mencionados os nomes dos alunos, com<br />

explicação tão detalha<strong>da</strong> quanto possível do que ca<strong>da</strong> um<br />

necessita.<br />

§ 1.° Êstes fornecimentos nunca serão em dinheiro, mas<br />

sim em objetos de vestuário.<br />

§ 3.° No auxílio prestado serão usa<strong>da</strong>s tô<strong>da</strong>s as precau-<br />

ções a fim de que se ignore entre os alunos qual o socorrido.<br />

§ 4.° O aluno não poderá ser beneficiado mais de duas<br />

vêzes por trimestre no verão e mais de uma no inverno.<br />

§ 5.° Para o aluno obter um novo auxílio, o professor<br />

verificará se o material recebido está imprestável, salvo no<br />

caso de inun<strong>da</strong>ção, incêndio, etc.<br />

§ 6.° Tendo de beneficiar o aluno que venha de outra<br />

escola do mesmo distrito, o professor sindicará <strong>da</strong> Diretoria o<br />

que houver a seu respeito.<br />

§ 7.º 0 aluno que fôr beneficiado e faltor trintas dias por<br />

qualquer motivo, não poderá ser provido novamente senão<br />

no trimestre seguinte.<br />

§ 8.° Durante as férias cessará completamente a distri-<br />

buição dos benefÍcios,<br />

§ 9.º No caso de não poder a Caixa atender de pronto a<br />

todos os pedidos de um mesmo professor, êste informará,<br />

caso possa reconhecer, quais os alunos mais necessitados,<br />

decidindo, no caso de igual<strong>da</strong>de de circunstâncias, em favor<br />

dos que melhor souberem cumprir seus deveres escolares.<br />

10 — 27 454


146 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

CAPÍTULO V<br />

Das Assembléias Gerais<br />

Art. 15 — As Assembléias Ordinárias reunir-se-ão duas<br />

vêzes anualmente: uma em princípios de junho e outra em 1<br />

de agôsto.<br />

Art. 16 — A primeira <strong>da</strong>s Assembléias Ordinárias terá<br />

por fim receber os <strong>da</strong>dos que lhe fornecer a Diretoria em<br />

relação à receita e despesa <strong>da</strong> Caixa e nomear uma comissão<br />

de toma<strong>da</strong> de contas e a segun<strong>da</strong> aprovar as contas que lhe<br />

apresentar a Diretoria e fazer a eleição <strong>da</strong> mesma.<br />

Art. 17 — Também serão considera<strong>da</strong>s legais as delibe-<br />

rações <strong>da</strong>s Assembléias Gerais extraordinárias convoca<strong>da</strong>s,<br />

com declaração do fim, pela maioria do professorado.<br />

Art. 18 — As reuniões <strong>da</strong>s Assembléias Gerais efetuar-<br />

-se-ão em dias feriados e em local designado no convite para<br />

êste fim, exceto a segun<strong>da</strong> Assembléia Geral Ordinária, que<br />

se reunirá em 30 de junho, segundo estabelece o art. 15 dêste<br />

Regulamento.<br />

.... ..............................................................................................<br />

.... ...........................................................................................<br />

Art. 26 — No caso de mu<strong>da</strong>nça na numeração do distri-<br />

to ou de anexação de outras freguezias, ficará êste Regula-<br />

mento sujeito às alterações reclama<strong>da</strong>s pelas circunstâncias.<br />

Art. 27 — Os desvios de dinheiro <strong>da</strong> Caixa serão puni-<br />

dos de acôrdo com as penas de lei.<br />

Art. 28 — O membro <strong>da</strong> Caixa, que tornar público o be-<br />

nefício feito, será passível de uma censura por parte <strong>da</strong> Dire-<br />

toria, e, no caso de reincidência prova<strong>da</strong>, de um voto de cen-<br />

sura na ata <strong>da</strong> primeira Assembléia Geral.<br />

Art. 29 — As consultas e dúvi<strong>da</strong>s sôbre a interpretação<br />

deste Regulamento serão resolvi<strong>da</strong>s pela Diretoria, desde que<br />

não lhe afetem os artigos básicos, caso êste em que serão<br />

sujeitas à Assembléia Geral.<br />

Capital Federal, 30 de junho de 1895.<br />

Dr. Fábio Lopes dos Santos Luz, inspetor escolar<br />

Maria do Nascimento Rei Santos<br />

Augusto de Miran<strong>da</strong><br />

Eugênio Manoel Nunes<br />

Aristides Drumond de Lemos<br />

Nicolau Figueira.


FÁBIO LUZ FILHO 147<br />

NOTA — Nos originais que possuo, Fábio Luz colocou a<br />

seguinte nota: — “Poderão ser sócios <strong>da</strong> Caixa,<br />

contribuintes, ou não, todos os que assim o entenderem, não<br />

sendo permitido a estranhos ao magistério a ingerência na<br />

administração <strong>da</strong> mesma”.<br />

Perdeu-se a parte dos estatutos que ia do artigo 18 ao<br />

26; mas, o que ficou linhas acima vale, eloqüentemente, por<br />

um documento histórico irrespondível.<br />

A Escola Afonso Pena, na 5.ª circunscrição do Distrito<br />

Federal, como vimos, deu à sua Caixa Escolar o nome de<br />

Fábio Luz, Era seu inspetor escolar o Dr. Batista Pereira, que,<br />

desta sorte, prestou uma justa homenagem ao criador <strong>da</strong>s<br />

Caixas Escolares no Distrito Federal.<br />

Outras aí estão também com seus ótimos gabinetes<br />

dentários, etc., etc.<br />

(Substituir os “mil réis” por cruzeiros, nos estatutos).<br />

A EDUCAÇÃO NA SUÉCIA<br />

E vejamos o que se se faz na Suécia, nesse domínio, ideal<br />

a que aspirava Fábio Luz.<br />

Emil Lustig, o ilustre representante <strong>da</strong> Förbundet,<br />

honrou-nos com sua visita em julho de 1949. Na conferência<br />

que realizou sob os auspícios do Centro Nacional de Estudos<br />

Cooperativos, de que sou presidente (conferência já edita<strong>da</strong><br />

em folheto pelo mesmo Centro, como também o foram as dez<br />

conferências que promoveu, enfeixa<strong>da</strong>s em livro intitulado<br />

Temas Cooperativos), reafirma tudo o que ficou acima dito.<br />

Nesta conferência, entre outras coisas, disse que na Suécia<br />

amplamente se faz a semeadura <strong>da</strong>s idéias cooperativas.<br />

Estas idéias propaga<strong>da</strong>s em todo o mundo, constituem uma<br />

sagra<strong>da</strong> teoria e prática de centenas de milhares de homens e<br />

mulheres, convencidos de que a herança dos imortais tecelões<br />

de Roch<strong>da</strong>le forma uma base para a economia socialmente<br />

Justa em fa-vor <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de.<br />

“E êsse regime na política exterior verifica-se, também,<br />

na política interna. Sob o regime <strong>da</strong> política democrática e<br />

social-mente justa, o desenvolvimento <strong>da</strong> economia sueca,<br />

interno e externo, mostra resultados dignos de consideração.<br />

“A escola pública, obrigatória para todos (não há<br />

analfabetismo) é inteiramente gratuita. Ca<strong>da</strong> aluno, sem<br />

distinção de que os pais sejam ricos ou pobres, recebe<br />

gratuitamente todo o necessário para a educação e tô<strong>da</strong>s as<br />

crianças também


148 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

recebem, gratuitamente, a meren<strong>da</strong> escolar constituí<strong>da</strong> de<br />

lei- te, fruta, pão, manteiga e várias salsichas. O regime<br />

escolar é democrático, com influência obrigatória <strong>da</strong>s juntas<br />

escolares, forma<strong>da</strong>s pelos pais de alunos. As crianças<br />

recebem assistên-cia médica gratuita, especialmente<br />

dentária. Os pais recebem 300 coroas suecas como auxílio<br />

infantil para ca<strong>da</strong> filho e também uma redução do imposto<br />

sôbre a ren<strong>da</strong>. Cui<strong>da</strong>-se muito <strong>da</strong> saúde pública. Por<br />

exemplo, tô<strong>da</strong> a população de Estocol-mo, de cêrca de<br />

750.000 habitantes, teve oportuni<strong>da</strong>de de freqüentar,<br />

gratuitamente, o instituto de combate à tuberculose, onde<br />

ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dão foi bem atendido, tirando radiografia dos<br />

pulmões para assim combater a enfermi<strong>da</strong>de, com o objetivo<br />

de destruir o vírus já em seu nascimento, man<strong>da</strong>ndo-se os<br />

enfermos aos hospitais especiais <strong>da</strong>s regiões florestais”.<br />

A COOPERATIVA ESCOLAR, UMA IMAGEM DA VIDA<br />

Alice Jouenne disse bem: “Une coopérative scolaire est<br />

pour les enfants une petite image de la vie”.<br />

É esta uma proposição feliz, e Fábio Luz como uma ima-<br />

gem <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> sempre considerou a escola, e sempre teve em<br />

alta conta a colaboração escolar.<br />

Wells, estu<strong>da</strong>ndo a vi<strong>da</strong> e a obra de precursor do grande<br />

educador inglês, que foi F. W. Sanderson, diretor do “Colégio<br />

de Oundle”, que teve a fôrça de um símbolo, reproduz os se-<br />

guintes e justos conceitos dêsse educador, espírito agudo que<br />

teve a antevisão e a priori<strong>da</strong>de de processos que a moderna<br />

pe<strong>da</strong>gogia tem como axiomáticos.<br />

“Em Oundle, diz Sanderson, cremos que as escolas<br />

devem tornar-se, ca<strong>da</strong> vez mais, um microcosmo que representa<br />

o mundo novo. Deve ser um microcosmo experimental no qual<br />

sejam postos à prova os critérios, os imperativos, as leis e os<br />

julgamentos, as organizações, as idéias e os fins de um mundo<br />

novo.<br />

“Porque, aqui em Oundle, nosso fim supremo não é<br />

adqui-rir únicamente conhecimentos, mas agir”. (H. G. Wells-<br />

Un grand éducateur moderne — Sanderson). Isso já acentuei.<br />

Assim, Sanderson, como ain<strong>da</strong> assinala Wells,<br />

considerava a escola como o centro de uma completa<br />

reorganização <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> civiliza<strong>da</strong> E não é outro o pensamento<br />

renovador do cooperativismo escolar, como ficou patente em<br />

capítulos anteriores.<br />

E Fábio Luz compreendeu muito bem êsse papel <strong>da</strong><br />

escola. Faltou-lhe, para continuação de sua obra, ambiente e<br />

estímu-


FÁBIO LUZ FILHO 149<br />

los. Desistiu mesmo de aventar, em face de um meio rigi<strong>da</strong>-<br />

mente preconceituoso, a própria questão <strong>da</strong> educação sexual<br />

nas escolas, como me afirmou várias vêzes, referindo-se, com<br />

laivos de tristeza, aos tropeços que o avanço de suas idéias e a<br />

independência de seu a<strong>da</strong>mantino caráter encontravam a<br />

ca<strong>da</strong> passo, e aos acúleos que feriam seu coração<br />

amantíssimo.<br />

Amado por seus discípulos, recebeu homenagens como<br />

esta:<br />

ANDORINHAS<br />

Poema extraído do conto Andorinhas, <strong>da</strong>s “Leituras de<br />

Ilka e Alba” (Edição Francisco Alves):<br />

Ao brilhante escritor Dr. Fábio Luz<br />

Oferece<br />

o humilde autor<br />

Moacir G. Almei<strong>da</strong><br />

Verão. Rutila o sol. Nos verdejantes mares<br />

Dos bosques, que se enrolam nas doura<strong>da</strong>s gazas<br />

Ao fecundo clarão <strong>da</strong>s radiações solares,<br />

Decantam as cigarras de setíneas asas...<br />

Cintilante manhã. Dos leques dos palmares<br />

Alçam vôos gentis, abrindo as leves asas<br />

As ágeis andorinhas, nômades dos ares,<br />

Em busca dos beirais dos templos e <strong>da</strong>s casas...<br />

E além, um par gentil vinha alegre cantando<br />

Por sôbre os verdes campos, sôbre os descalvados,<br />

Por sôbre a limpidez do céu azul plainando<br />

Ora além nos extensos, aromais valados,<br />

Ora o azúleo cristal do córrego cortando,<br />

Procurando sutil as beiras dos telhados...<br />

I


150 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Lá, no meio do vale, atufado em verdores,<br />

À beira do carreiro longo e tortuoso,<br />

Por entre os laranjais cobertos d’alvas flores,<br />

Erguia um templozinho o vulto gracioso...<br />

Tangendo um sinozinho agudo e sonoroso<br />

Cujos sons musicais perdiam-se em rumores,<br />

De quebra<strong>da</strong> em quebra<strong>da</strong>, em murmúrio queixoso,<br />

Gemendo na amplidão dos prados multicores.<br />

Na cornija <strong>da</strong> lin<strong>da</strong> e páli<strong>da</strong> capela,<br />

O namorado par trançou o pobre ninho<br />

De palinha em palinha, próximo à janela.<br />

Tudo era calma ali; sòmente o velho sino,<br />

De quebra<strong>da</strong> em quebra<strong>da</strong> e caminho em caminho,<br />

Soava, erguendo o som do cântico divino.<br />

III<br />

O altivo campanário. . . o piso sossegado<br />

Do velho sacristão . . . <strong>da</strong> lamparina o lume. . .<br />

O brando tilintar do lustre embalançado<br />

Pela brisa, soltando um trémulo queixume.<br />

Era um ninho d’amor, de paz, abençoado,<br />

O templo de Jesus que tô<strong>da</strong> luz resume,<br />

E à beira <strong>da</strong> cornija, o tálamo entrançado<br />

Era todo d’amor, de sonhos, de perfume.<br />

Mas, às vêzes, a igreja enchia-se de gente.<br />

Cantava lá na tôrre o sino impertinente<br />

Um murmúrio de preces . . . de rouquenhos cantos.<br />

E o padre em pé no altar, em voz pausa<strong>da</strong> e grave,<br />

Entre as nuvens de incenso, na pequena nave,<br />

Sereno repetia: — Sanctus... Sanctus.,. Sanctus...<br />

II


FÁBIO LUZ FILHO 151<br />

IV<br />

Certa vez, a manhã tingia em seus rubores<br />

O frontal <strong>da</strong> capela e o níveo campanário.<br />

E a luz, atravessando entre os vitrais de côres,<br />

Coloria os cristais do branco alampadário.<br />

Um grande movimento, envolto em mil rumores,<br />

Soou pela capela, brusco, extraordinário.<br />

Várias moças ornavam de festões de flores<br />

O lustre, a sacristia, o altar, o santuário...<br />

E quando ao meio dia os sons do sino ecoaram,<br />

Rumores, mil rumores, vozes, martela<strong>da</strong>s,<br />

Pela tôrre, no altar, no côro ressoaram.<br />

E no entanto, nascidos mais dois passarinhos,<br />

Implumes e gentis, nas palhas entrança<strong>da</strong>s,<br />

Do ninho, pipilando, erguiam os biquinhos.<br />

Noite clara e serena... O céu azul cortado<br />

Por fulgentes clarões... Girândolas de côres...<br />

Tudo em festa na Igreja... odor d’incenso e flores<br />

E o órgão a soltar um som entrecortado.<br />

Bandeiras de papel e panos de mil côres<br />

Dispostos em cordão, nos lados, na facha<strong>da</strong>.<br />

O padre a murmurar em voz desafina<strong>da</strong>...<br />

O altar resplandecente... profusão de flores.<br />

E as pobres andorinhas, rápi<strong>da</strong>s, cansa<strong>da</strong>s,<br />

Co’os biquinhos abertos, fracas, vacilantes,<br />

Iam... vinham, sutis, voando amedronta<strong>da</strong>s.<br />

E implorando alimento os filhos suplicantes<br />

Erguiam as cabeças meigas, depena<strong>da</strong>s<br />

Para as mães que chegavam leves, arquejantes.<br />

V<br />

VI<br />

Os foguetes, velozes, que em rubente traço<br />

Subiam pelos céus, as aves espantavam.


152 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

E elas cair deixavam no ruidoso espaço<br />

A gota de alimento que aos filhos levavam.<br />

As coita<strong>da</strong>s, às vêzes, na capela entravam;<br />

Mas o padre de pé, falando, erguendo o braço,<br />

Parecia as enxotar. E as aves pipilavam<br />

Fugindo para o ninho com o corpo lasso...<br />

Veio a noite. As lanternas de papel brilharam.<br />

A festa continuava. Os cânticos soaram.<br />

Ergueu o lampadário o vacilante lume<br />

E o inditoso casal — as vítimas insontes —<br />

Escondiam-se nas asas as pequenas frontes<br />

Pipilava faminta a débil prole implume.<br />

VII<br />

Nos píncaros altivos, nos azúleos cumes,<br />

Ergueu o sol deslumbrante a loura cabeleira,<br />

Num primoroso cortejo d’aves e perfumes,<br />

Ao fagueiro cantar <strong>da</strong> brisa alvissareira<br />

E lá na alva igrejinha, <strong>da</strong> cornija à beira,<br />

Não mais se ouviam aquêles límpidos queixumes.<br />

Apenas sôbre a fria cal, sôbre a madeira<br />

Jaziam os filhotes, álgidos, impulmes.<br />

Mal sorria a formosa, a deslumbrante aurora<br />

No cavo céu azul, aquêle par insonte,<br />

Erguera o brando vôo pelo azul em fora.<br />

E enquanto chilreavam outras pelo monte,<br />

Elas, cheias d’angústias e dor, foram-se embora<br />

Sumindo-se no azul do límpido horizonte...<br />

20 de outubro de 1916<br />

Moacir Gomes Almei<strong>da</strong><br />

NOTA — O grande poeta, tão cedo roubado à vi<strong>da</strong>, era<br />

em 1916, quando, compôs o poema acima, aluno de uma<br />

escola primária. Seu gênio poético desabrochava então,<br />

pujante.


FÁBlO LUZ FILHO 153<br />

A PRIMEIRA LEI MUNICIPAL SOBRE COOPERATIVISMO<br />

ESCOLAR NO BRASIL — AINDA O VALOR MORAL E A<br />

FUNÇAO EDUCATIVA<br />

Fernando Azevedo disse que a escola primária, que se<br />

converte em ver<strong>da</strong>deira comuni<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e de trabalho,<br />

permi-te o estudo e a aplicação de tô<strong>da</strong> uma série orgânica de<br />

experiências e processos sugeridos pela experiência direta <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>. “A associação cooperativa é um dêsses processos<br />

normais de formação na escola renova<strong>da</strong> segundo o método<br />

experimental e o espírito de finali<strong>da</strong>de social; e, de tô<strong>da</strong>s as<br />

instituições que podem contribuir para o desenvolvimento do<br />

espírito de cooperação é, por certo, uma <strong>da</strong>s mais eficazes<br />

pela sua própria natureza e pela possibili<strong>da</strong>de de interessar<br />

à. totali<strong>da</strong>de dos alunos. Só a experiência e o trabalho, sob as<br />

formas mais expressivas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cívica, econômica e social<br />

podem <strong>da</strong>r à educação um, fun<strong>da</strong>mento sólido, moderno e<br />

prático. Na escola nova, que é, por sua essência, um<br />

laboratório prático de pe<strong>da</strong>gogia, as cooperativas escolares,<br />

como aliás tô<strong>da</strong>s as instituições, com que se manifesta e<br />

afirma a vitali<strong>da</strong>de social <strong>da</strong> escola, assumem um papel<br />

preponderante”.<br />

“É por isso que a lei determina a organização, em ca<strong>da</strong><br />

escola primária (art. 585 do Reg. do Ensino), de uma associa-<br />

cão cooperativa de consumo de que fazem parte todos os alu-<br />

nos. As cooperativas escolares são instituí<strong>da</strong>s, principalmente,<br />

como meio educativo de cooperação e, acessòriamente, para<br />

auxiliar a aquisição de material didático. Ca<strong>da</strong> cooperativa,<br />

que terá um capital constituído, de acôrdo com a lei, de ações<br />

de ca<strong>da</strong> sócio, é administra<strong>da</strong> por uma diretoria, de que<br />

fazem parte os alunos.<br />

“A cooperativa manterá (art. 58’?), para ven<strong>da</strong> com<br />

abatimento aos alunos, um pequeno depósito de material<br />

didático, em que poderá empregar até metade do seu capital,<br />

destinado a outra parte à aquisição de jogos, brinquedos,<br />

material para trabalhos e alimentação. É, como se vê, uma<br />

instituição de caráter educativo, que deve funcionar com<br />

capital dos alunos em benefício dêles, e sob sua direção<br />

controla<strong>da</strong> pelas autori<strong>da</strong>des escolares. A organização <strong>da</strong>s<br />

cooperativas, quer nos detalhes, quer na linha e no espírito<br />

geral, integra-se, desta maneira, no plano <strong>da</strong> reforma, não<br />

como instituição suplemen- tar, mas como expressão viva<br />

<strong>da</strong>s suas idéias diretrizes”.<br />

Vê-se, pois, o cunho eminentemente educativo que <strong>da</strong>va<br />

à cooperativa escolar o ilustre pe<strong>da</strong>gogo.


154 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

VALOR MORAL. AÇÃO EDUCATIVA<br />

Por tudo que existe sôbre cooperativismo escolar na<br />

literatura mundial, pela prática universal se vê que são<br />

organizações fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s, dirigi<strong>da</strong>s e controla<strong>da</strong>s por crianças,<br />

sob as vistas dos mestres.<br />

Tivemos oportuni<strong>da</strong>de de dizer em livro que,<br />

materializan-do um ideal de harmonia, de igual<strong>da</strong>de nas<br />

relações concretas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, de justiça moral, reconhecendo no<br />

ser humano um mérito espiritual, o cooperativismo assenta<br />

em valores morais sua fórmula de ação, sua fôrça de<br />

conquista, seu caráter de renovação. É um propulsor de<br />

fôrças vivas,<br />

Nas escolas cariocas já existem exemplos flagrantes de<br />

cooperação na distribuição de pratos-de-sopa, nos copos-de-<br />

leite, etc., iniciados por meu saudoso pai, tudo fruto dos<br />

esforços conjugados de todos para conseguirem um fim<br />

elevado e nobre, que, sòzinhas, não poderiam as crianças<br />

atingir. Isso já acentuamos,<br />

Uma ilustre educadora já disse que o criança “tem<br />

possibili<strong>da</strong>de infinitas e que, à sua chega<strong>da</strong> ao mundo, é ela,<br />

para a socie<strong>da</strong>de, um capital em potência”.<br />

Por que, pois não fazer com que se desenvolva em seus<br />

corações êsse dignificante sentimento inato de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

para com todos os sêres que a circun<strong>da</strong>m e do mesmo passo<br />

incessantemente a deslumbram?...<br />

Por que não estabelecer desde já entre essas pequenas<br />

almas em formação e os demais sêres êsse vínculo fecundo de<br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de?<br />

Elslander mostra a afeição inato <strong>da</strong> criança pelos sêres e<br />

coisas primitivas. A criança gosta <strong>da</strong>s plantas e dos animais;<br />

as flores encantam-na com os seus perfumes e o variegado de<br />

suas côres. A terra, as pedras, a água, são os primeiros ele-<br />

mentos formais de seus folguedos,<br />

Aconselha êle, adepto <strong>da</strong> escola nova, a escola-granja,<br />

dissemos, Para completá-la aconselharíamos a cooperativa-<br />

gran-ja, isto é, uma cooperativa de trabalho escolar no<br />

campo, à semelhança do que se pratica em outros paises.<br />

Nos centros urbanos, como vimos, as cooperativas<br />

escolares, mais dinâmicas e viris, ampliariam o alcance <strong>da</strong>s<br />

atuais caixas escolares introduzi<strong>da</strong>s no Distrito Federal por<br />

iniciativa de Fábio Luz, meu saudoso pai, como vimos.<br />

Supérfluo será encarecer as vantagens <strong>da</strong>s cooperativas<br />

escolares rurais, mòrmente em face do urbanismo que se<br />

acentua em tô<strong>da</strong> o parte do mundo atual. Na América do<br />

Norte,


FÁBIO LUZ FILHO 155<br />

disse alguém, a escola rural chamou a si o estudo <strong>da</strong> natureza<br />

como etapa necessária para a formação de hábitos de obser-<br />

vação e o estabelecimento de laços de atração entre a criança<br />

e a natureza fulgente e farta.<br />

Elsiander diz que uma criança cria<strong>da</strong> no ar sadio dos<br />

campos é de uma constituição física, intelectual e moral mais<br />

harmoniosa e mais sóli<strong>da</strong> que uma criança <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, que só<br />

tem impressões falsas ou insuficientes em um mundo que não<br />

é o seu, onde tudo é contrário às suas necessi<strong>da</strong>des, a seus de-<br />

sejos, a seus instintos de ser primitivo.<br />

Como bem diz Julio Barcos, o vibrante escritor argentino,<br />

não é, pois, “ùnicamente em sua face técnica que há necessi-<br />

<strong>da</strong>de de transformar a educação, senão também em seu con-<br />

ceito filosófico e em sua finali<strong>da</strong>de humana. O problema não<br />

é acadêmico, mas sociológico. O primeiro têrmo do problema<br />

não é “como educar”, mas “para que fim queremos educar o<br />

homem”...<br />

E proclama a necessi<strong>da</strong>de de um organismo novo, plásti-<br />

co, dinâmico.<br />

Não será a cooperativa êsse organismo plástico e<br />

dinâmico?<br />

Luzzatti, um dos maiores financistas <strong>da</strong> Itália, criador dos<br />

bancos populares cooperativos que tomaram o seu nome e<br />

que podem ser considerados escolas elementares de<br />

previdência ou caixas econômicas aperfeiçoa<strong>da</strong>s, Luzzatti<br />

disse que a cooperação é uma escola de previdência que<br />

ensina a utili<strong>da</strong>de de bem trabalhar. A honesti<strong>da</strong>de é a sua<br />

melhor política e o seu me-lhor símbolo. Escolas superiores<br />

possuem cátedras de coopera-ção.<br />

Existiam, e, certo, ain<strong>da</strong> existem, na Europa, cooperativas<br />

de trabalho agrícola organiza<strong>da</strong>s por meninos e rapazes,<br />

cujas ativi<strong>da</strong>des eram até solicita<strong>da</strong>s pelos camponeses<br />

adultos. Formaram-se até cooperativas de crianças para<br />

proteção aos pássaros.<br />

No Uruguai já existe um acentuado movimento na direção<br />

<strong>da</strong> “pe<strong>da</strong>gogia democrática”, no dizer de Cesar Marote,<br />

ilustre educador uruguaio, “para abrir ao espírito <strong>da</strong><br />

criança, inquie- to de natural avidez, as janelas e os mirantes<br />

de onde possa contemplar, embora à distância, o rio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

que serpenteia a seus pés.<br />

“Praticar a cooperação ou cooperativismo em nossas esco-<br />

las será, continua Cesar Marote, ao mesmo tempo que<br />

completar uma enunciação teórica com sua realização<br />

eficiente, ampliar, vivificar, modernizar ain<strong>da</strong> mais nossa<br />

pe<strong>da</strong>gogia, não


156 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

por simples afã esnobista e simples desejo modernizador,<br />

mas pelas vantagens de tô<strong>da</strong> ordem que proporciona,<br />

fazendo com que a criança se incorpore à vi<strong>da</strong> mesma e<br />

comece a sentir-lhe as vibrações.<br />

“A educação, dêsse nosso ponto de vista, deve abrir o es-<br />

pírito infantil à compreensão <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des, <strong>da</strong>s idéias e<br />

do esprírito de seu tempo, condicionando-o a um viver<br />

harmônico no concêrto social, não como um elemento de<br />

monotonia tradicional e rotineira, mas, sim, como uma fôrça<br />

nova e de aperfeiçoamento”.<br />

Cesar Marote preconiza as cooperativas por escola, por<br />

bairros ou por zonas que compreen<strong>da</strong>m várias escolas, cujo<br />

conjunto poderá constituir a Federação <strong>da</strong>s Cooperativas.<br />

(Do ponto de vista educativo, são preferíveis as cooperativas<br />

por escolas ou grupos escolares, e a lei brasileira nisso é<br />

clara) Exemplifica êle a ação benéfica <strong>da</strong>s cooperativas de<br />

compra de material escolar suprindo enormemente as<br />

deficiências orçamentárias, coadjuvando os governos, desta<br />

sorte, na alfabetização infantil, constituindo núcleos<br />

irradiantes de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana.<br />

Isso tudo acima, já o dizíamos em 1926. E em 1930 já,<br />

em livro, havíamos tocado nesse assunto.<br />

A primeira edição do presente livro saiu em Janeiro de<br />

1933 do prelo <strong>da</strong> Civilização Brasileira.<br />

FUNÇÃO EDUCATIVA, CAPACIDADE TÉCNICA —<br />

OS CLUBES DE ESTUDO<br />

Como “centro-de-interêsse”, desenvolverá a cooperativa<br />

facul<strong>da</strong>des latentes nas almas infantis; corrigirá tendências;<br />

educará inclinações; coordenará vontades; cepilhará<br />

instintos inferiores, imprimindo à criança uma<br />

“personali<strong>da</strong>de equilibra<strong>da</strong>, harmoniosa e forte”.<br />

“O homem, diz Fábio Luz, animal social e sociável,<br />

sòmente se desenvolve à custa desta quali<strong>da</strong>de: só progride<br />

com o auxilio de seus semelhantes. Voltar aos seus começos<br />

de vi<strong>da</strong> é a imperfeição primeva, em que era lupus, não é<br />

tender à perfeição...<br />

“O fim, o destino do homem, é a busca <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de. A<br />

felici<strong>da</strong>de perfeita sem o amor, que é a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, não nos<br />

pode ser garanti<strong>da</strong> sòmente pela Justiça, como lei suprema.<br />

O amor é a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de absoluta; é a perfeição real e reali-<br />

za<strong>da</strong>; é a igual<strong>da</strong>de e o supremo bem; é a energia, a vi<strong>da</strong>, o


FÁBIO LUZ FILHO 157<br />

estímulo, a emulação, o incitamento, a arte, a lei formal <strong>da</strong><br />

existência e do progresso <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. É, portanto, a feli-<br />

ci<strong>da</strong>de”.<br />

O cooperativismo escolar é veículo, pois, de formação<br />

moral, instrumento de ação fecun<strong>da</strong>, levando também à.<br />

educação física e artística.<br />

“En Estados Unidos se reputa que la enseñanza moral<br />

no es lo bastante activa y positiva. Ciertamente la atmósfera<br />

de la escuela debe ser favorable a esa educación; pero los<br />

ejemplos de los educadores y de los grandes hombres no son<br />

suficientes; un bueno espiritu general y un elevado ideal no<br />

alcanzan tampoco. El niño, ser esencialmente activo, se<br />

desenvuelve por la acción y to<strong>da</strong> su activi<strong>da</strong>d debe ser dirigi<strong>da</strong><br />

de modo a obtener de él una persona moral, consciente,<br />

responsable. La tendencia actual de la educación europea<br />

continental nos conduce, creo yo, a concebir la educación<br />

moral de la misma manera (por ejemplo, en la escuela activa,<br />

en las “Schulgemeinschaften”, de Alemania y Austria, etc.).<br />

“Empleamos especialistas para enseñar a los niños to<strong>da</strong><br />

classe de cosas. Por que no dos emplearemos también. para<br />

enseñarlas a leer la escala de valores de la vi<strong>da</strong> humana?”<br />

Em “Aspectos agro-econômicos do Rio Grande do Sul” e<br />

em “Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas”, estu<strong>da</strong>ndo<br />

o intenso movimento cooperativista dêsse grande Estado, ao<br />

lado do grande desenvolvimento que se opera no domínio<br />

agropastoril <strong>da</strong>s terras gaúchas, ressalto a função altamente<br />

educativa <strong>da</strong> já famosa “Cooperativa dos Empregados <strong>da</strong><br />

Viação Férrea do Rio Grande do Sul”, em Santa Maria, que<br />

teve Manoel Ribas e Augusto Ribas como dinâmicos diretores,<br />

que deixaram uma escola de capaci<strong>da</strong>de realizadora.<br />

Em tô<strong>da</strong> a parte ao movimento cooperativo cabe essa<br />

função educativa, não como objetivo final, mas como<br />

imprescidível ação subsidiária. Gide, dentre outros mestres,<br />

frisou o alcance dêsse objetivo. Lavergne diz que na<br />

instituição cooperativa é a pessoa humana que está em jôgo,<br />

o homem social ligado ao homo oecomomicus, explicando-se,<br />

assim, a regra <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de dos associados, a devolução<br />

desinteressa<strong>da</strong>, a prática de consagrar uma parte dos<br />

excedentes anuais a obras de educação e de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

humana.<br />

As cooperativas escolares, por mim caracteriza<strong>da</strong>s em<br />

livro, como disse, desde começos de 1933 (e às quais já<br />

aludira largamente na segun<strong>da</strong> edição de “Cooperativismo e<br />

crédito agrícola”, em 1930, e na primeira edição de<br />

“Socie<strong>da</strong>des cooperativas” em 1928), são o instrumento<br />

específico para a forma-


158 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

ção de uma nova mentali<strong>da</strong>de, uma nova ótica para as ques-<br />

tões sociais e econômicas, embasamento <strong>da</strong> civilização futura<br />

que se está esboçando.<br />

Quero pôr em relêvo a ação educativa do cooperativismo<br />

livre como meio de expansão do movimento e alteamento do<br />

nível moral e mental dos cooperadores. Hutchinson acaba de<br />

se referir discussões em grupo como método de educação<br />

cooperativa. Vários países europeus possuem líderes<br />

cooperativis- tas preocupados com a organização de centros<br />

de estudos, preparo de associados para as funções diretivas, e<br />

de técnicos; cursos sôbre a doutrina e a prática do<br />

cooperativismo.<br />

São Paulo, com Octacílio Tomanik, está <strong>da</strong>ndo passos<br />

acertados e o Pará com Bruno de Menezes, além do<br />

Amazonas e do Paraná, com Waldemar L. Campos, e outros,<br />

através de seus departamentos especializados, como a<br />

Paraíba e Pernambuco, êste com Nair de Andrade; o Rio<br />

Grande do Sul com Paulo Onófrio, Rui Estêves e J.<br />

Monserrat, dentre outros; Minas, com Zózimo de Barros; o<br />

Serviço de Economia Rural com o curso intensivo para<br />

administradores que inaugurou em fins de 1954 e que, certo,<br />

prosseguirá, abrem caminhos novos.<br />

“El primero de esos objetivos es de permanente<br />

preocupación en to<strong>da</strong>s las cooperativas del mundo, a tal<br />

punto que en Alemania, país de alta densi<strong>da</strong>d cooperativa,<br />

ese aspecto de la acción moviliza a centenares de miles de<br />

personas, como lo indica el siguiente resumen del año 1930<br />

(movimento que continua em Munster, etc.):<br />

373 reuniones públicas de consumidores;<br />

942 reuniones cooperativas para sindicatos;<br />

5.254 reuniones de asociados cooperadores;<br />

945 reuniones femeninas;<br />

912 fiestas sociales;<br />

181 reuniones de conscripción de socios;<br />

2.472 proyecciones cinematográficas;<br />

123 desfiles de propagan<strong>da</strong>;<br />

2.472 visitas a establecimientos cooperativos;<br />

97 exposiciones.<br />

Cifros semejantes pue<strong>da</strong>n <strong>da</strong>rse para la mayoria de los<br />

paises europeus en los que autori<strong>da</strong>des comunales,<br />

provinciales y centrales se vinculan con su aporte material a<br />

la propagan<strong>da</strong> dei ideal cooperativo.<br />

“Asi es como se explica la potencia del movimiento y la<br />

fideli<strong>da</strong>d de los asociados a ca<strong>da</strong> institución. Ca<strong>da</strong> uno de<br />

ellos


FABIO LUZ FILHO 159<br />

es un ver<strong>da</strong>dero defensor del presente y del futuro de la<br />

cooperación, porque sabe valorar to<strong>da</strong> la importancia de la<br />

obra cooperativa en su papel de organizadora de la economia<br />

colectiva”.<br />

Adiante <strong>da</strong>rei novos elementos.<br />

Se no domínio capitalístico, com tô<strong>da</strong>s as suas possibili-<br />

<strong>da</strong>des a indústria ain<strong>da</strong> se ressente <strong>da</strong> falta de técnicos<br />

especializados, muitas vez mesmo de mão-de-obra<br />

qualifica<strong>da</strong>, não admira que os meios cooperativos envidem<br />

todos os seus esforços para sanar essas e outras falhas. O<br />

conselheiro de turno <strong>da</strong>s cooperativas italianas é uma<br />

inteligente medi<strong>da</strong> nesse sentido, como o rodízio na<br />

administracão geral e na gestão técnica.<br />

Cornellissen, o grande economista, diz que ain<strong>da</strong> hoje,<br />

mesmo em países como a Alemanha, Inglaterra, Estados Uni-<br />

dos, etc., em 100 engenheiros dificilmente se encontrarão 20<br />

com capaci<strong>da</strong>de para dirigir uma fábrica de 200 operários.<br />

De 30 engenheiros capazes de dirigir uma emprêsa de<br />

mediana envergadura, não haverá três capazes de dirigir<br />

uma emprêsa de 20.000 operários. E não haverá um só capaz<br />

de dirigir um “trust” moderno que tenha cem<br />

estabelecimentos. Não porque não tenham a necessária<br />

capaci<strong>da</strong>de técnica como engenheiros; mas porque a<br />

produção moderna é de grande complexi<strong>da</strong>de e as questões<br />

comerciais exigem largo, longo tirocínio.<br />

No mundo cooperativo isto já foi, de há muito, com-<br />

preendido com lucidez.<br />

Estamos no século <strong>da</strong> grande indústria e, parece-nos,<br />

assume caráter utópico a esperança de que se possa voltar às<br />

pequenas indústrias como sistema normal e generalizado (o<br />

que, entretanto, nenhum mal, a meu ver, traria à humani-<br />

<strong>da</strong>de). Poisson. e Russel pregam a concentração cooperativa<br />

como elemento substancial de êxito.<br />

Ademais, é preciso considerar que a ativi<strong>da</strong>de social e<br />

educativa é necessária a tô<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de cooperativa, não<br />

sòmente para a realização de seus fins sociais, senão,<br />

também, como condição de seu desenvolvimento econômico.<br />

Além <strong>da</strong> aplicação do fundo de reserva, para os fins<br />

reprodutivos a que se referem Durand e Noguer, dois<br />

conceituados mestres de fama universal, destinam várias<br />

legislações, para fins de educação, percentagens obrigatórias,<br />

estando, nesse caso, nos Estados Unidos <strong>da</strong> América do<br />

Norte, os Estados de New York, Minnesota, Alaska,<br />

Montana, South Carolina, South Dakota, Virgínia, Iowa,<br />

Wisconsin, North Carolina, Pensilvania.


160 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

CÍRCULOS OU CLUBES DE ESTUDOS<br />

Segundo Hutchinson e o testemunho do Sr. Naboth<br />

Hedin, em “A Nation at School”, os “círculos de estudo” na<br />

Suécia deram surpreendentes resultados na educação do<br />

povo. As cooperativas nesse país, livres como em tô<strong>da</strong> parte<br />

têm seus próprios cursos de conferências, cursos por<br />

correspondência, círculos de estudos e escolas primária<br />

superiores. Calcula-se que estejam em funcionamento un<br />

10.000 grupos de estudo, com uns 200.000 estu<strong>da</strong>ntes<br />

manuseando livros fornecidos na sua maioria pela União<br />

Cooperativa.<br />

“São testemunhos <strong>da</strong> importância de um bom sistema<br />

de educação cooperativa a rapidez com que progrediram a<br />

cooperativas e os magníficos resultados obtidos na educação<br />

do adulto por meio do método <strong>da</strong>s discussões em grupo”.<br />

Eis como Valdiki Moura descreveu os clubes de estudo<br />

que de perto conheceu nos Estados Unidos e na Suécia:<br />

“A Suécia mantém anualmente 10 mil clubes de estudo<br />

para educação de jovens e adultos. No Canadá, o Serviço d<br />

Extensão <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Francisco Xavier, realiza<br />

uma campanha ver<strong>da</strong>deiramente maravilhosa, de<br />

regeneração de adultos ociosos, pela educação econômica<br />

Foi assim que os homens paupérrimos <strong>da</strong>s Província<br />

Marítimas transforma- ram-se, sùbitamente, nos maiore<br />

exportadores de lagostas pa- ra Boston. Também nos Estado<br />

Unidos êstes clubes multiplicam-se por iniciativa dos podêre<br />

públicos, — <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des, <strong>da</strong>s ligas cooperativas, do<br />

conselhos cooperativos e <strong>da</strong>s próprias socie<strong>da</strong>des. Resultaria<br />

ineficiente todo esfôrço que tentasse prmover um movimento<br />

cooperativo em massa organizando, de improviso, socie<strong>da</strong>de<br />

sem base econômica e educativa. As estatísticas de povo<br />

mais evoluídos que o nosso, revelam conclusões que no<br />

animam a conduzir a campanha cooperativa, na Bahia, em<br />

base estritamente educacional. Temos visto o resultado d<br />

algumas socie<strong>da</strong>des que vivem en-tre nós. Faz-se um grand<br />

movimento impressionista externo para fins de atração e<br />

chamariz. Mas o capital é débil, as operações são ineficientes<br />

desconhece-se quase sempre a contabili<strong>da</strong>de. São êstes ponto<br />

que o clube de estudo se propõe esclarecer, educando os seu<br />

associados. Aqui <strong>da</strong>mos algumas proposições para serem<br />

debati<strong>da</strong>s nos clubes de estudo a fim de ilustrarmos<br />

claramente, êste assunto:<br />

1º — Que é cooperação? Explicai com as vossa<br />

próprias palavras


FABIO LUZ FILHO 161<br />

2.º — Por que devem os produtores reunir-se em uma<br />

cooperativa? Há vantagens para êles?<br />

3.º — Quais são os passos iniciais para a instalação de<br />

uma cooperativa?<br />

4.º — Quais são os princípios básicos <strong>da</strong> doutrina coope-<br />

rativa?<br />

5º — Vossa locali<strong>da</strong>de tem problemas econômicos ain<strong>da</strong><br />

sem solução? Seria possível solucioná-lo pela cooperação?<br />

6.° — Como funcionaria vossa cooperativa? Onde? Com<br />

quais recursos financeiros, materiais e pessoais?<br />

“Estas proposições, e outras, crea<strong>da</strong>s pelos próprios mem-<br />

bros de um clube de estudo, pelo período de alguns meses,<br />

estabeleceriam condições ideais de organização cooperativa.<br />

Do curso dos debates outras questões são ventila<strong>da</strong>s, e durante<br />

as discussões, vão sendo selecionados os futuros diretores <strong>da</strong><br />

cooperativa. Este ponto é de uma importância fun<strong>da</strong>mental<br />

porque é conhecido o fracasso de socie<strong>da</strong>des entregues a dire-<br />

tores deseducados que confundem as normas específicas do<br />

cooperativismo com as práticas vulgares do mercantilismo<br />

que especula.<br />

“A Seção de Assistência ao Cooperativismo (hoje é um<br />

departamento) <strong>da</strong> Secretaria <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, <strong>da</strong> Bahia, <strong>da</strong>rá<br />

início, dentro de breves dias, a essa campanha educativa,<br />

procurando disseminar o maior número de clubes de estudo,<br />

por várias zonas do Estado. A Seção oferecerá os temas de<br />

discussão e se interessará para que ca<strong>da</strong> Prefeitura Municipal<br />

ofereça ao clube local uma salinha, onde se possam reunir<br />

as pessoas interessa<strong>da</strong>s no debate <strong>da</strong>s suas questões<br />

econômicas. Ao Cooperativismo já tem sido atribuí<strong>da</strong> a<br />

função de utili<strong>da</strong>de pública e, por isso, certamente, as<br />

Prefeituras Municipais estarão de pleno acôrdo com nossa<br />

campanha educativa, que preparará o desenvolvimento <strong>da</strong>s<br />

fôrças econômicas locais ou regionais.<br />

“O clube de estudo é a célula que há de preparar a vitali-<br />

<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s cooperativas do futuro, melhor basea<strong>da</strong>s em conheci-<br />

mentos doutrinários indispensáveis ao seu desenvolvimento”.<br />

Sòmente em Ohio, nos Estados Unidos <strong>da</strong> América do<br />

Norte, existiam em 1947 mais de 1 .000 círculos de estudos.<br />

O Departamento de Assistência ao Cooperativismo, <strong>da</strong><br />

Bahia, editou Interessante trabalho a respeito dêsses clubes de<br />

estudo. Os interessados poderão vê-lo reproduzido nas “Ins-<br />

truções para organização de socie<strong>da</strong>des cooperativas”, já em<br />

quinta edição, por mim elabora<strong>da</strong>s para o Serviço de<br />

Economia Rural.


162 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

A ESCOLA COOPERATIVA DE FREIDORF<br />

A Escola Cooperativa de Freidorf, ou Seminário Coopera-<br />

tivo, na Suíça, pequeno pais de um elevado grau de<br />

civilização cooperativa, foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> por um grande teórico<br />

do movimento cooperativa suíço: Bernhard Jaeggi,<br />

estritamente dentro <strong>da</strong> orientação pe<strong>da</strong>gógica de Pestalozzi, o<br />

grande educador suíço.<br />

Visa a Escola <strong>da</strong>r à moci<strong>da</strong>de uma educação profissional<br />

completa e uma educação teórica e prática dentro do espírito<br />

cooperativo.<br />

Foi em 1933 reconheci<strong>da</strong> a Escola pelo governo suíço.<br />

Mantém ela cursos diversos. Há um curso de dois anos para<br />

formação de vendedores para cooperativas; cursos teóricos e<br />

práticos de três meses para o pessoal encarregado <strong>da</strong>s<br />

ven<strong>da</strong>s; cursos de aperfeiçoamento de 10 dias. Merece-lhe<br />

grande atenção também o curso de preparação, em caráter<br />

especial, para os círculos de estudos cooperativos, já tão<br />

divulgados nos Estados Unidos.<br />

Os cursos sôbre cooperativismo para associados de<br />

cooperativas, merecem também particular atenção. Entram<br />

no programa desses cursos a história e a doutrina<br />

cooperativa, a contabili<strong>da</strong>de, as ciências comerciais, o direito<br />

constitucional, a pe<strong>da</strong>gogia, as ciências sociais e políticas, a<br />

arte doméstica, a decoração de montras, etc. O francês e o<br />

alemão são as línguas obrigatórias, <strong>da</strong><strong>da</strong>s, como é sabido, as<br />

origens étnicas <strong>da</strong> população suíça. Terminado o curso de<br />

dois anos, são submetidos os candi<strong>da</strong>tos a um exame, para<br />

entrega de um certificado de vendedor de armazém, que é<br />

aceito em tô<strong>da</strong> a Suíça. O ensino é gratuito, como o<br />

alojamento e a alimentação. Além disso, os orientadores do<br />

movimento cooperativo suíço fazem conferências sôbre<br />

vários temas, desde os cooperativos até os filosóficos e<br />

artísticos.<br />

Exige-se certo grau de preparo e um concurso <strong>da</strong>queles<br />

que desejam freqüentar o curso de dois anos.<br />

O ensino prático é <strong>da</strong>do na Cooperativa de Consumo de<br />

de Freidorf, onde os alunos têm a seu cargo todo o serviço de<br />

ven<strong>da</strong>.<br />

B. Jaeggi fêz à Escola um donativo inicial de 50.000<br />

francos suíços; hoje êsse capital está acrescido de donativos<br />

partidos <strong>da</strong>s cooperativas suíças, tendo atingido em 1939 a<br />

993 .058,80 francos.<br />

De 1926 a 1939 haviam freqüentado os cursos na<strong>da</strong><br />

menos de 4.882 pessoas, sendo 3.527 mulheres, o que frisa<br />

como é


FÁBIO LUZ FILHO 163<br />

elevado a mentali<strong>da</strong>de cooperativa dêsse grande pais e o<br />

papel que a mu1her nêle exerce.<br />

Vê-se, pois, como os assuntos cooperativos já entraram a<br />

órbita <strong>da</strong>s cogitações de pe<strong>da</strong>gogos e educadores estrangeiros<br />

e como o govêrno suíço dá à educação uma importância e um<br />

relêvo que devem constituir exemplo e estímulo,<br />

A Escola <strong>da</strong> “Kooperativa Förbundet”, em Estocolmo, é<br />

conheci<strong>da</strong> em todo o mundo, como vimos e veremos adiante.


CAPÍTULO VII<br />

CONCEITOS DE REPETTO — AS COOPERATIVAS<br />

ESCOLARES COMO “CENTROS-DE-INTERESSE”<br />

—PESTALOZZI, FROËBEL, MONTESSORI. AINDA<br />

PROFIT<br />

Vimos, em capítulos anteriores, os ensinamentos e as<br />

observações de mestres ilustres e educadores de vulto e valor<br />

inconteste. Todos unânimes em considerar a cooperativa es-<br />

colar um admirável instrumento para a consecução dos<br />

elevados e nobres objetivos <strong>da</strong> escola renova<strong>da</strong>. Os estatutos<br />

de “Cooperativas escolares”, vimo-los, com desvanecimento,<br />

como disse, aprovados pela Diretoria Geral do Ensino do<br />

Estado de São Paulo, o grande Estado líder, o que vale por<br />

uma consagração infinitamente acima de nossos apoucados<br />

méritos, quando dirigia êsse departamento o Dr. Fernando<br />

Azevedo, o ilustrado pe<strong>da</strong>gogo a quem se deve a primeira<br />

lei municipal brasileira sôbre cooperativos escolares.<br />

Cooperativismo escolar é o que obedece às normas que<br />

procurei traçar, e o dinâmico e culto Estado (seguido, por<br />

outros Estados) aprovou. Fazer coisa diversa disso, é fazer<br />

amalgamento esdrúxulo, é desvirtuar, é falsear as caracterís-<br />

ticas inconfundíveis de uma instituição visceralmente educa-<br />

tiva, <strong>da</strong>ndo-lhe os contornos, a essência, a caranchona de<br />

uma socie<strong>da</strong>de de adultos travesti<strong>da</strong> de cooperativa escolar,<br />

capaz de embarricar sòmente aquêles que nenhuma noção<br />

tenham de cooperativismo escolar ou nenhuma intuição de<br />

assuntos pe<strong>da</strong>gógicos. É tirar à criança a grande<br />

oportuni<strong>da</strong>de de se ajustar a um maravilhoso aparelho de<br />

educação construtiva. Mas, como nem sempre a voz<br />

brasileira repercute, peço licença para aduzir, ao que<br />

exaustivamente já assinalei, convincentes palavras de mestres<br />

estrangeiros que vêm corroborar literalmente os pontos-de-<br />

vista em que me coloquei.<br />

Reproduzo palavras de Nicolás Repetto, uma <strong>da</strong>s<br />

grandes autori<strong>da</strong>des em matéria de ciências econômicas e<br />

sociais <strong>da</strong> Argentina, deputado de relêvo e um dos seus<br />

acatados cooperativistas. Amparado em Profit, o criador do<br />

cooperativismo


FÁBIO LUZ FILHO 165<br />

escolar, cujo livro “La Coopération à l’Ecole primaire”, traz<br />

na capa a sua consagração: “ouvrage couronné par<br />

l’Académie Française”, diz Repetto:<br />

“As cooperativas escolares são forma<strong>da</strong>s por alunos de<br />

uma mesma escola, primárias ou secundárias, e funcionam<br />

(rogo-lhes que atentem neste ponto, que há-de interessar es-<br />

pecialmente aos educadores) com absoluta autonomia: pode<br />

haver um contrôle mais ou menos discreto <strong>da</strong> parte dos pro-<br />

fessôres, mas as crianças devem ter a sensação de estar em<br />

uma cooperativa em miniatura, na mesma situação em que se<br />

encontram os adultos dentro de sua própria cooperativa.<br />

Estas cooperativas escolares se organizam para se proverem<br />

em comum de objetos escolares ou para prestarem certos<br />

serviços à escola ou a sim mesmas”.<br />

Alcançaram, em alguns países, antes <strong>da</strong> última guerra,<br />

como vimos, um desenvolvimento notável. Acentua Repetto<br />

que essas cooperativas escolares representam em miniatura<br />

tô<strong>da</strong>s as formas de cooperação que praticam os adultos: de<br />

economia, ven<strong>da</strong>, produção, cultura, criação, etc.; há ain<strong>da</strong><br />

as cooperativas para a compra em comum de objetos e livros<br />

escolares, às vêzes também artigos para limpeza ou de mate-<br />

rias-primas para trabalhos manuais: existem restaurantes,<br />

meren<strong>da</strong>s e copos-de-leite cooperativos; existem cooperativos<br />

escolares para economia e empréstimos; há cooperativas<br />

também para fabricação de objetos diversos em madeiras,<br />

cartão, metal, argila, bor<strong>da</strong>dos, tecidos, etc., e de produção<br />

agrícola ou hortícola. Há cooperativas escolares para<br />

replantio de árvores e criação de animais; há cooperativas<br />

também para formação de bibliotecas, organização de<br />

conferências, festas, passeios, excursões, etc . . .. Há<br />

cooperativas também de educação físi-ca, desportos,<br />

socie<strong>da</strong>des dramáticas e corais; de embelezamento <strong>da</strong> escola;<br />

criação de museus escolares e fornecimento de material<br />

didático.<br />

“O objetivo econômico destas cooperativas escolares<br />

pode ser de efeitos distintos: ou interessa diretamente aos<br />

alunos ou se refere aos interêsses do escola. Porque muitas<br />

dessas cooperativas escolares não têm sòmente por objetivo o<br />

custo <strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de fazendo com que os alunos possam<br />

comprar os objetivos de uso escolar a melhor preço, não<br />

têm sòmente isso por objetivo: muitas delas dotam as escolas<br />

do que necessitam em elementos de ensino. De sorte que a<br />

cooperativa escolar aju<strong>da</strong> o equipamento material e pe<strong>da</strong>gógico<br />

<strong>da</strong> escola.<br />

Frisa ain<strong>da</strong> Repetto que o que têm essas socie<strong>da</strong>des de<br />

comum entre si, o que as distingue <strong>da</strong>s outras socie<strong>da</strong>des de


166 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

crianças, e de onde deriva o seu interêsse pe<strong>da</strong>gógico próprio<br />

é sua constituição e seu funcionamento. São ver<strong>da</strong>deiras pe-<br />

quenas uni<strong>da</strong>des econômicas cuja gestão se encontra a cargo<br />

<strong>da</strong>s crianças agrupa<strong>da</strong>s de acôrdo com uma forma de organi-<br />

zação que seus próprios estatutos estabelecem. Em na<strong>da</strong> se<br />

parecem com as mutuali<strong>da</strong>des escolares, cujo presidente, vi-<br />

ce-presidente, etc., procedem do pessoal docente; nelas, o di-<br />

retor, o presidente, o secretário, saem dos próprios alunos, e<br />

êste governo surge <strong>da</strong> decisão espontânea e livre dêles, de-<br />

vendo o contrôle dos mestres e <strong>da</strong>s mestras exercer-se de ma-<br />

neira mui discreta.<br />

Além <strong>da</strong>s vantagens econômicas que representam para<br />

seus associados, e que também beneficiam a escola, as coope-<br />

rativas escolares colaboram também como preciosos<br />

auxiliares <strong>da</strong> escola.<br />

Repetto afirma que não emite uma opinião pessoal. Em<br />

tudo o que diz traduz a opinião pessoal de alguns pe<strong>da</strong>gogos<br />

que viram de perto o funcionamento dessas cooperativas es-<br />

colares e puderam extrair desta observação e contacto as se-<br />

guintes conclusões: são preciosos auxiliares <strong>da</strong> escola, consti-<br />

tuem a realização popular <strong>da</strong> escola nova. São um tratado de<br />

pedologia. De um lado contribuem para dotar a escola de<br />

meios materiais necessários à aplicação de métodos ativos e<br />

construtivos, e, de outro lado, segundo a opinião de<br />

numerosos educadores, a cooperação escolar seria um<br />

método e um meio de formação intelectual e moral. “Não<br />

sòmente, dizem, constitui um centro-de-interêsse em tôrno do<br />

qual vêm agrupar-se, desenvolver-se e tornar-se mais<br />

flexíveis os conhecimentos adquiridos em classe, oferecendo<br />

um meio direto, baseado em exercícios reais, de adquirir<br />

êstes conhecimentos e outros que não figuram geralmente nos<br />

programas do ensino primário”. “O cooperativismo apela<br />

para a personali<strong>da</strong>de total <strong>da</strong>s crianças, descobre e põe em<br />

ação facul<strong>da</strong>des que os exercícios escolares não são capazes de<br />

revelar nem criar, como o juízo, a reflexão concreta, a<br />

imaginação, o espírito de ordem, etc.; algumas facul<strong>da</strong>des, e<br />

certas quali<strong>da</strong>des de caráter, como a iniciativa, o domínio de si<br />

mesmo, a aprendizagem <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de e o despertar <strong>da</strong><br />

responsabili<strong>da</strong>de.<br />

Também ganham a facul<strong>da</strong>de de pensar, a disciplina e o<br />

respeito pelas regras morais”.<br />

Pensamos não ser possível uma síntese mais perfeita e<br />

luminosa do alcance <strong>da</strong>s cooperativas escolares.


FÁBIO LUZ FILHO 167<br />

PESTALOZZI, FROËBEL, FALLENBERG<br />

Pestalozzi, o grande educador de Nenhorf e Iverdon, im-<br />

buído de Rousseau, manteve estreitas relações com os<br />

maiores nomes do movimento cooperativo mundial de sua<br />

época —King, Roberto Owen, Mazzini, etc. E bem sabeis que<br />

os princípios pestalozzianos básicos repousam na confiança<br />

em si mesmo, na aju<strong>da</strong> mútua, nas relações com o vizinho, na<br />

organização familiar <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. Com Fallenberg, deu à<br />

pe<strong>da</strong>go-gia um caráter social, indicando para base de seu<br />

sistema educativo a família, considera<strong>da</strong> como a célula<br />

natural de tô<strong>da</strong> a evolução social.<br />

Segundo Mladenatz, todos os dirigentes do movimento<br />

cooperativo suíço sofreram a influência de Pestalozzi e<br />

Fallen-berg, a começar por Schär. A “Province<br />

Pé<strong>da</strong>gogique”, de Fallenberg (1799) teve por alunos<br />

cooperativistas de renome de outros países, e Huber, Craig,<br />

King, Owen e alguns discípulos de Fourier se corresponderam<br />

com Fallenberg, discípulo de Pestalozzi.<br />

Froëbel fazia <strong>da</strong> alegria a base <strong>da</strong> educação infantil e<br />

queria para a criança a ação e o trabalho atraentes.<br />

Aconselhava que ao lado <strong>da</strong> escola existisse um jardim, que é<br />

a ver<strong>da</strong>deira fonte de felici<strong>da</strong>de para a criança, constituindo,<br />

com o estudo <strong>da</strong> natureza, o melhor instrumento para a<br />

inteligência que desperta, na curiosi<strong>da</strong>de viva do que a cerca.<br />

A professôra Montessori trouxe aperfeiçoamentos ao método<br />

froebeliano, <strong>da</strong>ndo à criança o máximo de liber<strong>da</strong>de e de<br />

ação e ao material didático ver<strong>da</strong>deira fôrça auto-<br />

educativa.<br />

E lembremo-nos <strong>da</strong>s belas palavras de Maurício<br />

Babenco em “Los niños primero. . .”<br />

AINDA A AÇÃO DE PROFIT<br />

Foi M. Profit na França, como vimos, quem tomou a ini-<br />

ciativa de urna intensa propagan<strong>da</strong> no sentido <strong>da</strong>s cooperati-<br />

vas escolares, com o pensamento nas luminosas palavras de<br />

Michelet: “Oui, l’éducation de l’homme se fera par les fêtes<br />

encore”. “A sociabili<strong>da</strong>de tem um sentido eterno, que res-<br />

surgirá”.<br />

E M. Profit disse, com justeza, que antigamente se apren-<br />

dia pelos ouvidos e que hoje se aprende pelos olhos e pelas<br />

mãos


168 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

e, acrescentaremos, pelo coração, que deve aninhar nobres<br />

sentimentos de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de sem jaça.<br />

Profit descreve como nasceu o cooperativismo escolar na<br />

França, acentuando que o mesmo derivou de um alto pensa-<br />

mento de patriotismo.<br />

No período de angústias, ruínas e desalentos do pós-<br />

guerra, diante de pais reunidos para assistir à distribuição de<br />

prêmios na circunscrição de Saint-Jean-d’Angély, fêz-lhe<br />

sentir quais os deveres que a todos competiam depois<br />

<strong>da</strong>quela tormenta de ferro, fogo e sangue (1919). Era<br />

necessário refazer sua gloriosa pátria, desenvolvendo na<br />

escola o espírito científico, o gôsto dos trabalhos manuais, o<br />

resguardo <strong>da</strong> saúde física <strong>da</strong> criança. Havia necessi<strong>da</strong>de de<br />

apoiar essas nobres inten-ções em recursos materiais. Profit<br />

apelou para aquêles que, a seu ver, possuem êsse tesouro<br />

precioso que é um entusiasmo fácil de despertar e capaz de<br />

surtos admiráveis, no sentido <strong>da</strong> escola risonha, cívica e<br />

prática. Obtido isso, difundiu-se a idéia pelos Vosges, por<br />

Charente, pela França inteira e colônias. “La guerre a révélé<br />

la puissance financière de l’école”, disse Paul Lapie, diretor<br />

do ensino primário na França.<br />

O departamento de Côte d’Or, por exemplo, possuía<br />

690;<br />

o de Vosges, 619; Charente, 500; Charente-Inférieure, 430;<br />

Ardennes, 416, Alpes-Marítimos, 308. Os associados iam a<br />

250.000.<br />

Logo no primeiro ano, após sua fun<strong>da</strong>ção, a<br />

circunscrição de Saint-Jean-d’Angély dispôs de 100.000<br />

francos graças a 172 cooperativas escolares, na maioria<br />

rurais. Dêsse 100.000, foram 54.000 destinados a<br />

melhoramentos nas escolas e 46.000 encaixados para a<br />

realização do programa escolar do ano seguinte. E um<br />

dinheiro obtido e aplicado sem as complicações dos trámites<br />

burocráticos oficiais e aplicados logo com eficiência a fins<br />

reprodutivos de interêsse escolar.<br />

Assim Profit orientou o cooperativismo escolar francês<br />

no sentido de uma educação nova, manejando a cooperação<br />

econômica como simples meio.<br />

Não resta dúvi<strong>da</strong> de que preparam elas, as cooperativas<br />

escolares, os futuros associados <strong>da</strong>s cooperativas de consumo,<br />

fato êsse que não deve, porém, causar receio, tal o número in-<br />

findável de intermediários comerciais.<br />

Profit acentuou sempre que a cooperaçao escolar<br />

francesa visa sempre, antes de tudo, à formação, de almas, isto<br />

é, à educação.<br />

“Mais ni la recherche du juste prix pour chacun, ni<br />

même l’emploi des trop perçus en améliorations matérielles,<br />

ne sont


FÁBIO LUZ FILHO 169<br />

en matiére d’éducation suffisantes comme idéal ou comme<br />

méthode. Il y faut joindre autre chose”. Deve a escola levar à<br />

organização de um grupo social organizado e permanente,<br />

acentua Profit ain<strong>da</strong>, grupo que deve estar sempre presente<br />

ao espírito <strong>da</strong> criança, que será, em seu seio, esclareci<strong>da</strong> e<br />

disciplina<strong>da</strong>, “groupe de transition entre la famille et la société<br />

humaine”, no qual a criança alarga seus sentimentos de afei-<br />

ção no trabalho e nos jogos, desenvolvendo sua razão<br />

nascente, formando sua jovem liber<strong>da</strong>de nas ocasiões<br />

quotidianas de ação prática e fecun<strong>da</strong>.<br />

A DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E O<br />

COOPERATIVISMO ESCOLAR NA ARGENTINA,<br />

NO MEXICO E EM CUBA<br />

Jaime Tôrres, o ilustre diretor geral <strong>da</strong> U.N. E. S. C .0.,<br />

no Boletim desta enti<strong>da</strong>de de 10 de fevereiro de 1953,<br />

acentuou, com proprie<strong>da</strong>de, que, na escola primária, durante<br />

o primeiro período escolar, tô<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de deve ter por fim:<br />

1 — fazer com que a criança compreen<strong>da</strong>, progressiva-<br />

mente, que a escola é uma comuni<strong>da</strong>de, aju<strong>da</strong>ndo-<br />

a a integrar-se neste grupo social;<br />

2 — desenvolver na criança, fazendo com que torne<br />

parte ca<strong>da</strong> vez mais ativa na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> escola, estas<br />

virtudes cívicas fun<strong>da</strong>mentais: o respeito aos<br />

direitos alheios; o senso <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, <strong>da</strong><br />

disciplina e <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de; a tendência para<br />

sacrificar seus próprios interêsses ao bem comum,<br />

e o sentimento <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de humana;<br />

3 — levar a criança a fazer a aprendizagem <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em<br />

democracia.<br />

Aos doze anos, o espírito <strong>da</strong> criança ain<strong>da</strong> não está ama-<br />

durecido para o pensamento abstrato, e certas ativi<strong>da</strong>des são<br />

próprias para favorecer a formação de atitudes e hábitos<br />

ajustados aos princípios <strong>da</strong> Declaração dos Direitos do<br />

Homem.<br />

E Jaime Tôrres indica, para êsse primeiro período<br />

escolar, as seguintes ativi<strong>da</strong>des: ativi<strong>da</strong>des que revelem a<br />

personali-<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criança; serviços <strong>da</strong> criança à escola<br />

(manutenção <strong>da</strong> biblioteca, etc.), para despertar o sentido <strong>da</strong><br />

responsabili<strong>da</strong>de; serviços <strong>da</strong> criança fora <strong>da</strong> escola (aju<strong>da</strong><br />

aos velhos, aos enfermos, às escolas pobres, etc.); clubes de<br />

discussão e trabalhos de


170 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

equipe; estudo do meio, paulatinamente dilatado de maneira<br />

a fazer com que a criança tenha consciência <strong>da</strong> interdepen-<br />

dência <strong>da</strong>s nações e dos povos, e, finalmente, o cooperativismo<br />

escolar, dentro do qual cabe, dizemos, tudo o que foi<br />

anteriormente citado.<br />

“O ensino relativo aos princípios dos Direitos do<br />

Homem deve apoiar-se em uma organização democrática <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> escolar. Sem isto, não se poderão preparar crianças<br />

para porem em prática, na vi<strong>da</strong> cotidiana, as idéias de<br />

liber<strong>da</strong>de, de igual<strong>da</strong>de e de justiça, de fraterni<strong>da</strong>de e de<br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, ou os deveres para com a coletivi<strong>da</strong>de”.<br />

Tudo o que acima fica dito, como vimos frisando desde<br />

1931, cabe no âmbito do cooperativismo escolar.<br />

E Antônio Sérgio, o brilhante intelectual português,<br />

disse, como vimos, com muita acui<strong>da</strong>de e de maneira incisiva,<br />

estrênuo e sincero cooperativista que é, vexilário <strong>da</strong><br />

democracia cooperativa:<br />

“Porém, a autonomia econômica <strong>da</strong>s “pedras vivas” do<br />

povo deveria ser prepara<strong>da</strong> desde a instrução primária pela<br />

autonomia cívica dos escolares na escola”.<br />

“A meu ver, na<strong>da</strong> mais retrógado, prejudicial e abafante<br />

do que o figurino paramilitar para a educação dos moços,<br />

como no Juventude Hitleriana. O modelo <strong>da</strong> educação<br />

patriótica para os jovens não convirá buscá-lo nas tradições<br />

guerreiras, na disciplina militar, na heteronomia <strong>da</strong> tropa,<br />

mas na vi<strong>da</strong> civil dos nossos concelhos antigos, dos nossos<br />

municípios modernos, e na organização democrática <strong>da</strong>s<br />

cooperativas de hoje.<br />

“A disciplina dos alunos na sua vi<strong>da</strong> escolar cumpriria<br />

confiá-la à sua iniciativa própria, elegendo êles mesmos os<br />

seus juízes-alunos, os seus chefes de equipo, os seus vigilantes<br />

e guar<strong>da</strong>s, e mantendo êles próprios a gerência efetiva <strong>da</strong><br />

cooperativa escolar que os abastecesse. Percebamos que a li-<br />

ber<strong>da</strong>de é que é o sol <strong>da</strong>s almas”.<br />

ARGENTINA, MEXICO, CUBA, COSTA RICA, ETC.<br />

Pelo decreto 2.314, de outubro de 1950, foi cria<strong>da</strong> a “Dirección<br />

de Educación Cooperativista” no “<strong>Ministério</strong> de<br />

Educación” <strong>da</strong> Província de Buenos Aires, na Argentina.<br />

Tem ela por finali<strong>da</strong>de o ensino teórico e prático do<br />

Cooperativismo nas escolas primárias, facilitando aos<br />

professôres o material necessário para êste elevado objetivo.<br />

O programa teórico


FÁBIO LUZ FILHO 171<br />

abarca os ternas <strong>da</strong> economia, <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e do coopera-<br />

tivismo. As aulas serão semanais para essas disciplinas. A<br />

cita<strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de oficial enfeixou, em folhetos, leis, trabalhos,<br />

conferências, etc., assim como determinou que a parte prática<br />

se efetuasse através <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção de cooperativas escolares den-<br />

tro <strong>da</strong>s escolas, integra<strong>da</strong>s por professôres e alunos.<br />

O Dr. Erico Emir Panzoni, ao comentar o decreto acima,<br />

frisou, com justeza, que a cooperativa escolar deverá formar<br />

uma nova consciência social, na qual tudo girará em tôrno do<br />

homem, de suas necessi<strong>da</strong>des e <strong>da</strong> maneira de satisfazê-las<br />

mediante a aju<strong>da</strong> mútua. Os alunos adquirirão uma noção<br />

exata do funcionamento orgânico <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de cooperativa,<br />

tomando parte em tô<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des que vão, <strong>da</strong> constituição<br />

e tramitação para o registro respectivo, até às econômicas e<br />

sociais, como a aquisição de material escolar e os trabalhos em<br />

comum, e, conforme a localização <strong>da</strong> escola, os trabalhos agrí-<br />

colas, as práticas hortícolas, florestais, etc.<br />

As ativi<strong>da</strong>des sociais residem nas assembléias gerais, reu-<br />

niões de estudo, conferências, excursões recreativas, etc. Isto<br />

tudo desde 1931 que preconizamos no Brasil, em artigos, livros<br />

e folhetos. As 883 cooperativas escolares brasileiras, com algu-<br />

mas exceções, já tudo isso fazem há anos.<br />

Os estatutos-modelos que a cita<strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de argentina dis-<br />

tribui assim definem os objetivos de uma cooperativa escolar.<br />

a) Adquirir ou produzir, e distribuir, entre os alunos<br />

associados, o material necessário para seus estudos.<br />

b) Fomentar e estimular entre os alunos associados, o<br />

espírito de economia, de cooperação e de mutuali<strong>da</strong>de, e a<br />

formação de uma consciência cooperativista.<br />

O Segundo Plano Qüinqüenal argentino dispunha que a<br />

“depuração dos princípios do Cooperativismo e a constituição<br />

de cooperativas escolares e estu<strong>da</strong>ntis, terão o apoio do Esta-<br />

do, a fim de contribuir para a formação <strong>da</strong> consciência na-<br />

cional cooperativista e prestar serviços aos alunos”<br />

E agora o México:<br />

Juan Ventosa Roig, ao comentar a lei mexicana, disse, re-<br />

centemente, que o inciso b do artigo 30 do regulamento de<br />

“parcelas escolares” se refere ao “fomento de pequenas indús-<br />

trias agropecuárias, E frisa (o que é roborativo do que, desde<br />

1931, vimos predicando no Brasil), que não só na Europa<br />

(França, Rússia, Polônia, Tchecoslováquia) e na América do<br />

Norte, é uma prática, sumamente difundi<strong>da</strong> entre as coopera-<br />

tivas escolares, a exploração dessas industrias, mas também<br />

em países de nível cultural e econômico inferior, como o são as


172 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

colônias francesas <strong>da</strong> África Equatorial. Nestas, as cooperati-<br />

vos escolares ensinam aos indígenas o exercício de tais indús-<br />

trias e aperfeiçoam a produção nativa. Em algumas provín-<br />

cias <strong>da</strong> Índia, acrescenta, os funcionários inglêses chegavam<br />

a organizar o trabalho escolar de forma tal, que o tempo em-<br />

pregado na educação, ao invés de ser um pêso, representava<br />

uma fonte de ren<strong>da</strong> para as famílias.<br />

“Sejamos, entanto, mais modestos em nessas aspirações, e<br />

contentemo-nos com que o cooperativismo escolar em nosso<br />

país (México) seja um centro de difusão de pequenas indús-<br />

trias como a apicultura, a avicultura, a criação de coelhos, a<br />

fabricação doméstica de conservas de frutos naturais, a fa-<br />

bricação de cestos, etc. O que se faz entre os indígenas <strong>da</strong><br />

África equatorial e entre populações semi-selvagens <strong>da</strong> Índia e<br />

<strong>da</strong> Indonésia, com maior razão poderá fazer-se no México”.<br />

E, como já o fizemos sentir, um outro objetivo: a coleta de<br />

plantas medicinais e aromáticas (França), de frutos silvestres<br />

como goiabas, etc., que se podem transformar fàcilmente em<br />

doces. E mais: o aproveitamento dos cactos como forragem nas<br />

regiões ári<strong>da</strong>s mexicanas, a prática do plantio de árvores<br />

florestais, etc., etc. “Na França, as cooperativas escolares<br />

reflorestaram cêrca de dois mil hectares em terrenos áridos;<br />

e com a difusão do cultivo de fruteiras, contribuíram, pode-<br />

rosamente, para melhorar as condições econômicas de alguns<br />

departamentos. Uma maneira prática e simples de desen-<br />

volver o amor pela árvore, consiste em estabelecer o costume<br />

de celebrar, na cooperativa escolar, os acontecimentos <strong>da</strong> es-<br />

cola com o plantio de árvores”.<br />

(Fábio Luz, meu saudoso pai, como já o acentuamos, in-<br />

troduziu, ao tempo em que era inspetor escolar no Distrito<br />

Federal, a festa <strong>da</strong> primavera precedi<strong>da</strong> do plantio de uma<br />

árvore).<br />

E Roig conclui, corroborando, mais uma vez, o que vimos<br />

assinalando desde 1931:<br />

1.º — As cooperativas escolares se consideram, em todos os<br />

países do mundo, como elementos importantes de educação<br />

cívica e econômica;<br />

2.º — As cooperativas escolares podem contribuir para o<br />

fortalecimento <strong>da</strong> economia campesina, iniciando os escolares<br />

na cooperação e na prática de indústrias agropecuárias, como<br />

se dá em outros países;<br />

3.º — As cooperativas escolares constituem um meio, de<br />

máxima eficácia, para <strong>da</strong>r à infância, e, por irradiação, aos<br />

adultos, o amor <strong>da</strong> árvore;


FÁBIO LUZ FILHO 173<br />

4.° — Pela similitude de muitas de suas finali<strong>da</strong>des com a<br />

“parcela escolar” (no México), e conjugando muitas <strong>da</strong>s ativi-<br />

<strong>da</strong>des de ambas, poderão ser as cooperativas escolares elemen-<br />

tos importantes para a difusão de novas culturas, melhoria <strong>da</strong>s<br />

antigas, e para despertar entre “eji<strong>da</strong>tários” (camponeses me-<br />

xicanos) o interêsse pelas duas instituições;<br />

5.º — Para que possam ser reali<strong>da</strong>de as vantagens enu-<br />

mera<strong>da</strong>s nas conclusões anteriores, é absolutamente indispen-<br />

sável estabelecer o ensino sistemático do cooperativismo, a fim<br />

de formar quadros dirigentes com capaci<strong>da</strong>de moral, intelec-<br />

tual e técnica. Sem isto, sejam quais forem os esforços que se<br />

realizarem para fomentar às cooperativas, edificar-se-á sô-bre<br />

areia. Os Estados poderão contribuir para esta tarefa ca-pital<br />

estabelecendo o citado ensino em suas escolas e fun<strong>da</strong>n-do<br />

cooperativas-modelos nos lugares adequados (como também já<br />

assinalamos);<br />

6.° — Enquanto se organizar o ensino metódico do<br />

cooperativismo, é indispensável que a “Direção Geral de Ação<br />

Social” edite folhetos, tendo em consideração a reali<strong>da</strong>de mexi-<br />

cana, folhetos que, distribuídos em profusão pelas escolas, sir-<br />

vam de iniciação aos professôres e alunos”. É o de que precisa-<br />

mos também no Brasil.<br />

Roig, espanhol, está atualmente no México, integrando a<br />

plêiade de ilustres doutrinadores, a que também pertence êsse<br />

jovem e brilhante tratadista (que recentemente nos visitou,<br />

vindo do Chile e com passagem pela Argentina) que é Rosendo<br />

Rojas Corla. Roberto Lira Leyva é outro ilustre técnico, e ou-<br />

tros. Dinamizaram, com outros batalhadores, o cenário coope-<br />

rativista mexicano com o poder dos seus esforços construtivos,<br />

banhados de idealismo renovador e servidos de sóli<strong>da</strong> cultura.<br />

Segundo “El movimiento cooperativo escolar en Mexico”,<br />

publicação feita em 1944 pela Universi<strong>da</strong>d Autónoma de Me-<br />

xico, Instituto de Investigaciones Económicas junto à Escuela<br />

Nacional de Economia, cujo ilustre diretor era o Lic. Hugo<br />

Rangel Couto, a primeira cooperativa escolar foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> no<br />

México em 1926 pelo Prof. Isidro Becerril, na Escola Rafael<br />

Angel de la Peña. Êste professor acentuou, com muita justeza,<br />

que sua iniciativa foi uma manifestação <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> escola<br />

ativa, do trabalho ou <strong>da</strong> ação, em que a base do interêsse pró-<br />

prio <strong>da</strong>s crianças mexicanas, em relação com o interêsse social,<br />

também mexicano, se afastou <strong>da</strong> idéia de que a escola, por ser<br />

oficial, deveria obter tudo do Estado, ensinando-lhes que, antes<br />

de empreender qualquer trabalho, era preciso financiá-lo, <strong>da</strong>n-<br />

do-lhes uma idéia exata de sua responsabili<strong>da</strong>de pela partici-


114 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

pação na marcha <strong>da</strong> instituição e, também, a oportuni<strong>da</strong>de de,<br />

mediante a prática dos diversos trabalhos <strong>da</strong> cooperativa esco-<br />

lar, desenvolver ativi<strong>da</strong>des cívicas e de organização.<br />

E o Sr. Rangel Couto coloca-se, como também o faço desde<br />

a primeira edição de cooperativas escolares em 1933, dentro de<br />

um critério educativo:<br />

“El problema de la cooperativa escolar es de un carácter<br />

essencialmente pe<strong>da</strong>gógico, pero hemos de abor<strong>da</strong>rlo, dentro de<br />

este Instituto de Estudios Económicos, como ya se dijo, por<br />

estimarlo un antecedente importante para el éxito de las orga-<br />

nizaciones económicas del futuro. Puede también la cooperati-<br />

va escolar desempeñar un papel importante dentro de las acti-<br />

vi<strong>da</strong>des económicas; sin embargo de lo cual no dejaremos de<br />

reconecer que esta enti<strong>da</strong>d debe mantenerse dentro de su papel<br />

de instrumento educativo, el cual no debe ser dervirtuado a<br />

través de la persecución de un fin preponderantemente eco-<br />

nómico”.<br />

Essa salutar preocupação já vem de anos, tanto que já<br />

D. Manuel Mesa, diretor do Departamento de Ensino Agrícola<br />

insistia no sentido de serem <strong>da</strong><strong>da</strong>s bases estáveis e pe<strong>da</strong>gógicas<br />

às cooperativas de produção <strong>da</strong>s escolas mexicanas. Sua cir-<br />

cular de então, aos diretores <strong>da</strong>s escolas rurais, recomen<strong>da</strong>va<br />

unificação dos estatutos <strong>da</strong>s cooperativas escolares de produ-<br />

cão. Sua organização deveria subordinar-se aos programas de<br />

ensino agrícola, pecuário e industrial do artesanato rural.<br />

DEMOCRACIA SOCIAL E COOPERATIVISMO<br />

ESCOLAR<br />

O Sr. Salvador Marban Santos, do Centro de Orientación<br />

Cooperativa, de Cuba, teceu, recentemente, justos conceitos<br />

sôbre o cooperativismo escolar, os quais, por abonarem o que<br />

vimos, há anos, reiterando no Brasil, merecem divulgação, pelo<br />

seu brilho.<br />

Ei-los:<br />

O elemento pe<strong>da</strong>gógico<br />

Acentua êle que a cooperativa escolar é um manancial de<br />

valores formativos, tanto mais completos quanto maior fôr o<br />

tato do professor em guiar, em orientar os alunos, sem substi-<br />

tuí-los, não só em suas ativi<strong>da</strong>des sociais (elaboração de cri-<br />

térios e de normas diretivas na Assembléia), mas também em


FÁBIO LUZ FILHO 175<br />

suas ativi<strong>da</strong>des econômico-sociais (gestão social e econômica no<br />

Conselho de Administração e no Conselho Fiscal) e em suas<br />

ativi<strong>da</strong>des puramente econômicas ao comprar, vender,<br />

produzir e trabalhar individualmente ou em equipes.<br />

Associação e emprêsa<br />

“A Cooperativa Escolar é, como tô<strong>da</strong>s as cooperativas, uma<br />

instituição na qual coexistem dois elementos: a Associação, ou<br />

elemento humano, que é o dirigente e o responsável, e que<br />

aufere benefícios ou é prejudicado segundo sua capaci<strong>da</strong>de e<br />

comportamento, e a Empresa, ou elemento econômico compos-<br />

to de coisas, que as pessoas reunem para satisfazerem neces-<br />

si<strong>da</strong>des comumente senti<strong>da</strong>s. A Cooperativa Escolar têm por<br />

centro a Escola e é, dentro do estabelecimento escolar em que<br />

se situa, uma classe a mais, na qual poderão praticar-se lições<br />

de govêrno em relação às pessoas e lições de administração em<br />

relação às coisas materiais. Lições de govêrno para aprender a<br />

dirigir a Cooperativa segundo os desejos de seus associados,<br />

mediante critérios que a associação fixará por unanimi<strong>da</strong>de<br />

ou por maioria no quadro particular dos estatutos, êstes, por<br />

sua vez, enquadrados nas leis gerais do País. Lições de admi-<br />

nistração para aprenderem a precisar os elementos econômi-<br />

cos do funcionamento <strong>da</strong> instituição, e a reunir e utilizar êsses<br />

elementos para o melhor serviço dos associados e de todos os<br />

alunos e professôres que desejarem colaborar com a coopera-<br />

tiva. E também para se habituarem a cui<strong>da</strong>r dêsses elementos e<br />

conservá-los e incrementá-los com o fim de serem ca<strong>da</strong> vez<br />

melhor utilizados, melhor equipados, melhor dotados de re-<br />

cursos”.<br />

Ensino e Educação Rural<br />

A cooperativa escolar pode administrar os implementos de<br />

jogos; pode promover a distribuição de artigos escolares e de<br />

consumo e uso; pode instalar também pequenas explorações<br />

agrícolas, semeando, colhendo e distribuindo os produtos do<br />

trabalho <strong>da</strong> terra, os produtos obtidos <strong>da</strong> terra mercê do<br />

trabalho e dos meios de produção comumente conhecidos com<br />

o nome de Capital.<br />

Trabalho produtivo<br />

Também poderão reunir-se na cooperativa escolar, sobre-<br />

tudo na de tipo rural, as produções individuais dos associados,


176 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

com o fim de serem colocados no mercado nas melhores con-<br />

dições tanto para o produtor como para o consumidor, me-<br />

diante a eliminação de intermediários inúteis, de parasitas que<br />

entorpecem a circulação dos produtos e aumentam o custo dos<br />

mesmos.<br />

O plano industrial<br />

E com o fim de evitar que os pais, por egoísmo, capricho<br />

ou imprudência, inutilizem os esforços construtivos do aluno<br />

dirigido por seu professor, no plano industrial, do mesmo<br />

modo que no agrícola, a cooperativa escolar pode fabricar<br />

jogos e roupas e colocar o que ca<strong>da</strong> associado produzir por sua<br />

conta e risco.<br />

Obras sociais e embelezamento <strong>da</strong> escola<br />

“Deve destinar uns 30%, ou mais, a obras sociais de soli-<br />

<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, educacionais e de recreio. E é uma necessi<strong>da</strong>de indi-<br />

vidual, social, material e moral que os cooperadores escolares<br />

se preocupem com o embelezamento <strong>da</strong> sua Escola, que é o<br />

centro em que se precisam e depuram os valores formativos<br />

<strong>da</strong>s personali<strong>da</strong>des.<br />

Fator de democracia<br />

“A Cooperativa Escolar, quando alcança funcionamento<br />

normal, como associação e como emprêsa, é igual a tô<strong>da</strong>s as<br />

outras cooperativas, isto é, o organismo social mais apto para<br />

fazer com que a pessoa humana, habituando-se a utilizar inte-<br />

ligentemente as liber<strong>da</strong>des públicas, as possibili<strong>da</strong>des de ação,<br />

inerentes à democracia política, se encontre em condições de<br />

preparar hoje, para estabelecer sòli<strong>da</strong>mente amanhã, uma de-<br />

mocracia mais rica, mais poderosa, mais completa em profun-<br />

di<strong>da</strong>de, uma democracia social caracteriza<strong>da</strong> pelo fato de que,<br />

nela, as pessoas valem pelas suas capaci<strong>da</strong>des e recebam se-<br />

gundo suas necessi<strong>da</strong>des”.<br />

Costa Rica possui “centros de educação cooperativa” na<br />

Grécia, Naranjo e San Pedro de Poas, tendo recentemente sido<br />

fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em Alajuela uma cooperativa escolar com a participa-<br />

ção de professôres e alunos pertencentes aos “círculos” primei-<br />

ro, segundo e terceiro dessa província. Visam “desarrolar<br />

hábitos de buen comportamiento social, mediante el cultivo de<br />

las naturales cuali<strong>da</strong>des humanas de fraterni<strong>da</strong>d, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>d,


FÁBIO LUZ FILHO 177<br />

cari<strong>da</strong>d, etc. etc. Mantener la esencia y fortalecer los vinculos<br />

de la familia, como célula fun<strong>da</strong>mental de la comuni<strong>da</strong>d<br />

humana. Eliminar ei afán de lucro de las relaciones sociales,<br />

y sustituyéndo-lo por la idea altruista de prestación de servi-<br />

cios, etc., etc.”. A cooperativa escolar como “un compendio<br />

práctico de la doctrina cooperativa”.<br />

E disse bem Luisa Maria Simões Raposo Ribeiro que é<br />

necessário fazer surgirem vivências de valor, assim como va-<br />

lências ou quali<strong>da</strong>des de valor, na personali<strong>da</strong>de do educando<br />

ou na coletivi<strong>da</strong>de dos escolares.


CAPITULO VIII<br />

AINDA O COOPERATIVISMO ESCOLAR NO BRASIL E<br />

NO<br />

MUNDO — RURALISMO — AS ÁRVORES NO SEU<br />

SIMBOLISMO E A TERRA BRASILEIRA<br />

EM PERNAMBUCO<br />

Já me referi à atuação de José Arru<strong>da</strong> de Albuquerque e à<br />

de Nair de Andrade, esta dinâmica animadora, em Pernam-<br />

buco.<br />

Eis como Telha de Freitas, no “Diário <strong>da</strong> Noite” de Recife,<br />

se referiu ao cooperativismo escolar pernambucano:<br />

“Noventa e seis cooperativas escolares, com um total de<br />

28.395 associados — garotos de 7 a 14 anos de i<strong>da</strong>de — indi-<br />

cam a expansão do cooperativismo escolar em Pernambuco,<br />

mostrando que há clima, em nosso Estado, para desenvolvi-<br />

mento <strong>da</strong>s boas iniciativas.<br />

(Em 1958. Pernambuco possuía 121 cooperativas escolares,<br />

como vimos).<br />

O MOVIMENTO<br />

“O movimento teve início em 1938, quando então era in-<br />

terventor federal o professor Agamenon Magalhães, tendo a<br />

finali<strong>da</strong>de de extinguir o individualismo nocivo para trocá-lo<br />

pela mentali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cooperação e do bom entendimento. E as<br />

próprias crianças, que aprendem gramática e ciências natu-<br />

rais nas escolas públicas, participam do programa cooperati-<br />

vista, integrando-se no movimento. Presidentes, gerentes, te-<br />

soureiros, meninos de pouca i<strong>da</strong>de, livremente eleitos pelos<br />

seus companheiros, em Assembléias Gerais, dirigem a socie<strong>da</strong>-<br />

de, reunindo-se semanalmente para normalizar os seus servi-<br />

ços. Os resultados obtidos são os mais animadores, pôsto que<br />

os garotos se a<strong>da</strong>ptam a essa mentali<strong>da</strong>de de cooperação, ti-<br />

rando frutos comuns do cooperativismo sadio. Em ca<strong>da</strong> uma


FÁBIO LUZ FILHO 179<br />

<strong>da</strong>s cooperativas escolares, os mestres colaboram, orientando<br />

os meninos a resolver os problemas que se lhes apresentam<br />

mais difícies à sua mentali<strong>da</strong>de.<br />

ECONOMIA<br />

“Graças ao sistema <strong>da</strong>s cooperativas escolares, o material<br />

escolar, que custa os olhos <strong>da</strong> cara, geralmente, em qualquer<br />

casa comercial, é adquirido pelos garotos por menor preço, isto<br />

porque êles compram diretamente, no sul do pals, por,<br />

intermédio <strong>da</strong> Divisão de Cooperativismo Escolar, do DAC, de<br />

quo é chefe a Sra. Nair de Andrade, uma entusiasta do<br />

movimento. Para que os leitores tenham uma idéia <strong>da</strong><br />

vitali<strong>da</strong>de do cooperativismo escolar, assinale-se que, no ano<br />

passado (1954), segundo o relatório <strong>da</strong> repartição, o<br />

fornecimento dêsse material atingiu a Cr$ 367 .306,60. Neste<br />

ano, porém, já foi atingi<strong>da</strong>, até 30 de agôsto, a cifra de Cr$<br />

502 .703,90, representa<strong>da</strong> pela ven<strong>da</strong>, nos cooperativas, de<br />

material escolar e tecidos.<br />

Apesar de não ser aquêle o principal objetivo do coopera-<br />

tivismo escolar, mas um meio de mostrar a utili<strong>da</strong>de do em-<br />

preendimento, a ven<strong>da</strong>gem do material representa uma con-<br />

tribuição considerável aos pais de família, que muitas vêzes<br />

não podem dispor de quantias avulta<strong>da</strong>s para aquisição do<br />

material que, comprado isola<strong>da</strong>mente, nas casas comerciais,<br />

tem o seu preço muito elevado.<br />

(Em 1958, digo, o estoque no D.A.C. era de 2 milhões de<br />

cruzeiros).<br />

CINEMA<br />

“Dentro do programa de orientação adotado pelo Depar-<br />

tamento de Assistência às Cooperativas, consta a exibição diá-<br />

ria de um filme dedicado aos escolares, nota<strong>da</strong>mente sõbre<br />

cooperação, bem entendido. Ora em uma escola, ora em outra,<br />

de acôrdo com o plano pré-estabelecido, as projeções<br />

cinematográficas despertam interêsses na guriza<strong>da</strong>, isto por-<br />

que se faz incluir, entre os filmes, alguns desenhos animados,<br />

que divertem os meninos. O DAC não tem verbas para tal fim,<br />

de sorte que os complementos são fornecidos graças à colabo-<br />

ração de um industrial, o Sr. Manuel de Brito.


180 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

MECANISMO<br />

“Os livros <strong>da</strong>s cooperativas escolares, de associados, de<br />

conta-corrente, caixa, são escriturados pelos próprios dirigen-<br />

tes — os garotos. E apesar de se registrarem algumas incor-<br />

reções, o que é muito natural, é espantoso como aquelas crian-<br />

ças têm noção <strong>da</strong> sua responsabili<strong>da</strong>de. Registe-se, neste par-<br />

ticular, o devotamento à causa que empresta a Sra. Nair de<br />

Andrade o mesmo se dizendo <strong>da</strong> receptivi<strong>da</strong>de e ao movimento,<br />

sempre demonstra<strong>da</strong> pelos secretários de <strong>Agricultura</strong> e atual<br />

diretor do DAC, Sr. Petronilo Santa Cruz.<br />

“Os associados são admitidos às cooperativas escolares<br />

mediante o pagamento de, no mínimo, uma quota-parte, a qual<br />

subscreve e integraliza imediatamente. E uma quota-parte,<br />

geralmente, tem o valor de Cr$ 2,00.<br />

“Mais uma vez, de maneira positiva, o cooperativismo es-<br />

colar mostra, com os seus resultados, quão importante é a po-<br />

lítica do feixe de varas . . .“<br />

Existiam no Brasil, até dezembro de 1958, na<strong>da</strong> menos de<br />

883 cooperativas escolares. Dessas, cinco trazem o nome de meu<br />

saudoso pai: a Cooperativa Escolar Fábio Luz, do Grupo<br />

Escolar Silveira de Souza, de Florianópolis; a Cooperativa<br />

Escolar Fábio Luz, <strong>da</strong> Escola de São Bento <strong>da</strong>s Lages, no mu-<br />

nicípio de São Francisco do Conde, na Bahia; a Cooperativa<br />

Escolar Fábio Luz, em Parnaguá, Estado do Piauí, na Escola<br />

Particular de Amparo; a Escola <strong>da</strong> Cooperativa Agrícola de<br />

Tomé Açú, no Pará; a fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em março de 1955 no Recife;<br />

na Escola de Especialização Murilo Braga, e a Cooperativa<br />

Esco- lar do Grupo Escolar de Jaboatão, em Pernambuco, de<br />

1955. Na Escola n.° 29, de Nilópolis, no Estado do Rio, um<br />

Clube Agrícola tem o meu nome, homenagem que muito me<br />

sensibiliza.<br />

A Cooperativa Escolar Fábio Luz Filho localizava-se no<br />

Grupo Escolar Sete de Setembro, em Maceió, Estado de Ala-<br />

goas, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1943, homenagem que me conforta e estimu-<br />

la, não obstante me pareça excessiva, nota<strong>da</strong>mente quando se<br />

dirige a pessoa viva, tendo o Serviço de Economia Rural, em<br />

meados de 1949, provocado uma interpretação <strong>da</strong> lei nesse sen-<br />

tido, parecendo-lhe que as homenagens a pessoas mortas, dis-


FÁBIO LUZ FILHO 181<br />

so dignas, não padecem discussão; apenas, as feitas a pessoas<br />

ain<strong>da</strong> vivas, nem sempre poderão incidir em que as mereça...<br />

Depois de ter <strong>da</strong>do, ain<strong>da</strong> em vi<strong>da</strong>, o nome de lábio Luz a<br />

uma <strong>da</strong>s ruas do Distrito Federal, deu-lhe recentemente, a<br />

Prefeitura, o nome a uma escola de Bangu (escola 10-23, na sua<br />

Fábrica), grande centro populoso do mesmo Distrito, aten-<br />

dendo a uma sugestão parti<strong>da</strong> <strong>da</strong> Câmara dos Vereadores ca-<br />

riocas. Fêz-se justiça depois de 10 anos de sua morte...<br />

SAO PAULO<br />

Como funcionário do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, difun-<br />

dindo idéias cooperativas, vêzes sucessivas, de 1930 a 1934,<br />

percorremos o grande Estado de São Paulo, nota<strong>da</strong>mente<br />

Limeira, Campinas, Monte-Mor, Bauru, Tatuí, Mogi <strong>da</strong>s<br />

Cruzes, Cruzeiro, Itagaçaba, Guaratinguetá e Apareci<strong>da</strong>.<br />

Dêsse trabalho resultou a fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> primeira cooperativa<br />

escolar do Estado de São Paulo, e do Brasil, dentro dos<br />

ver<strong>da</strong>deiros moldes, com a coadjuvação <strong>da</strong> “Cooperativa de<br />

Lacticínios Cruzeirense”, na pessoa do professor Mário<br />

Bittencourt e do professor J. Eboli, operoso inspetor de ensino e<br />

representante <strong>da</strong> Diretoria Geral do Ensino, como vimos.<br />

A Cooperativa Escolar de Cruzeiro era administra<strong>da</strong> por<br />

alunos do quarto ano. O conselho fiscal era composto de pro-<br />

fessôres. Antes já tinha tido a honra de participar, justamen-<br />

te com o Dr. Adolfo Gredilha, do Congresso Algodoeiro de<br />

Tatuí (1931) e do estudo <strong>da</strong>s cooperativas regionais de café e<br />

respectiva federação e <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Cooperativa de<br />

Lacticínios Cruzeirense, “Cooperativa Avícola”, cooperativas<br />

de ven<strong>da</strong> de japonêses, em entendimento com o Consulado<br />

japonês, etc. Eis o ofício dirigido ao <strong>Ministério</strong> de <strong>Agricultura</strong><br />

pelo delegado do ensino em Guaratinguetá:<br />

CARTA DA DIRETORIA GERAL DO ENSINO<br />

“Diretoria Geral do Ensino — Delegacia Regional do<br />

Ensino de Guaratinguetá — Em 18 de outubro de 1933.<br />

Sr. diretor <strong>da</strong> Diretoria de Organização e Defesa <strong>da</strong> Pro-<br />

dução. — <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> — Rio de Janeiro.<br />

“Cumpro o gratíssimo dever de apresentar a V. Excia. e<br />

ao Exmo. Sr. Fábio Luz Filho, os meus sinceros agradeci-<br />

mentos pela valiosa colaboração que nos tem sido dispensa<strong>da</strong>


182 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

na constituição de cooperativas escolares nesta Região, as<br />

quais, além <strong>da</strong>s finali<strong>da</strong>des econômicas, visam também à for-<br />

mação <strong>da</strong> consciência cooperativista do nosso povo.<br />

“Já se acha funcionando com a máxima regulari<strong>da</strong>de a<br />

Cooperativa de Consumo do primeiro grupo Escolar de<br />

Cruzeiro e em organização a do 2.° grupo <strong>da</strong> mesma ci<strong>da</strong>de e a<br />

do distrito de Itagaçaba.<br />

“As palestras bem como os magníficos livros do Dr. Fábio<br />

Luz Filho têm-nos auxiliado eficientemente, pelo que felicito<br />

êsse <strong>Ministério</strong> por possuir um técnico tão ilustrado quanto<br />

dedicado à nobre campanha que apaixona<strong>da</strong>mente estamos<br />

desenvolvendo.<br />

“Aproveito o ensejo para apresentar a V. Excia. os meus<br />

elevados protestos de consideração e estima. — (a) Anísio<br />

Novais, delegado do Ensino”.<br />

A Cooperativa Escolar de Consumo de Itagaçaba enviou-<br />

me o seguinte oficio:<br />

“Exmo. Sr. Dr. Fábio Luz Filho, assistente-chefe <strong>da</strong> Dire-<br />

toria de Organização e Defesa <strong>da</strong> Produção — Rio de Janeiro.<br />

“Com vivo entusiasmo e inteira confiança na vitória do<br />

cooperativismo, levo ao conhecimento de V. Excia. que, hoje,<br />

grande dia <strong>da</strong> nossa bandeira, além de se comemorar festiva-<br />

mente a gloriosa <strong>da</strong>ta, teve lugar a posse <strong>da</strong> primeira diretoria<br />

<strong>da</strong> “Cooperativa Escolar de Produção e Consumo do Grupo<br />

Escolar de Itagaçaba”, de cuja socie<strong>da</strong>de fazem parte todos os<br />

alunos e professôres do referido Grupo, dirigido pelo professor<br />

Rui Monteiro.<br />

“Atenciosas sau<strong>da</strong>ções. — (a.) Luisa Ramalho Garcez,<br />

presidente <strong>da</strong> Cooperativa, aluna do 3.º ano”. — 19/11/33.<br />

(Ain<strong>da</strong> se não firmara jurisprudência sôbre professôres).<br />

Com a fun<strong>da</strong>ção de mais essa cooperativa, e com as que se<br />

seguiram, pela atuação eficiente do D . A. C., ficou vitorioso<br />

êsse movimento, seguindo, tô<strong>da</strong>s, a orientação consubstancia-<br />

<strong>da</strong> no presente livro. A tão gentil oficio assim respondemos:<br />

“Rio de Janeiro, 27 de novembro de 1933.<br />

“A gentil menina Luiza Ramalho Garcez, presidente <strong>da</strong><br />

Cooperativa Escolar de Produção e Consumo do Grupo Esco-<br />

lar de Itagaçaba.<br />

“Foi com imenso júbilo que recebi, como propagandista<br />

humilde que vê as idéias que propaga brilhantemente concre-<br />

tiza<strong>da</strong>s, a notícia, conti<strong>da</strong> em vosso delicado oficio, <strong>da</strong> posse <strong>da</strong><br />

diretoria <strong>da</strong> Cooperativa para que fôstes eleita presidente,<br />

pôsto de confiança que os vossos méritos saberão honrar.


FÁBlO LUZ FILHO 183<br />

“As vossas palavras, gentil presidente, puseram-me a alma<br />

em festa. O espírito de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de quando assim penetra o<br />

coração puríssimo e a fácil compreensão <strong>da</strong>s crianças, é um<br />

índice que conforta, é a garantia de um futuro de paz e feli-<br />

ci<strong>da</strong>de, a realização do ideal de redenção e concórdia que o<br />

Cooperativismo encarna, empunhando como emblema a ban-<br />

deira feita de tô<strong>da</strong>s as côres do arco-iris, símbolo de união, que<br />

é fôrça.<br />

“É esta mais uma prova de capaci<strong>da</strong>de de realização dêsse<br />

grande e heróico povo paulista, dínamo do Brasil e o seu maior<br />

orgulho. Apresento-vos os meus calorosos aplausos e peço os<br />

transmitais aos vossos coleguinhas, assim como ao digno pro-<br />

fessorado dêsse Grupo, tão bem dirigido pelo professor Rui<br />

Monteiro, o qual assim se colocou na vanguar<strong>da</strong> de um dos<br />

mais belos movimentos sociais de que São Paulo ain<strong>da</strong> há-de se<br />

orgulhar, como justamente se orgulha dêsse vibrante espírito<br />

de iniciativa que o caracteriza de modo tão brilhante.<br />

“As Cooperativas Escolares constituem os marcos de uma<br />

nova civilização, maravilhosos instrumentos que são <strong>da</strong> escola<br />

renova<strong>da</strong>.<br />

“E dois dêsses marcos já estão firmados nesse próspero Es-<br />

tado: a vossa Cooperativa e a do 1.° Grupo de Cruzeiro.<br />

“Assim, pois, deveis prestigiar, onde quer que estejais, a<br />

vossa Cooperativa, a bela colmeia, os vossos dignos mestres, o<br />

vosso inspetor de ensino, prof. J. Eboli, e a “Cooperativa de<br />

Lacticínios Cruzeirense”, cuja tenaci<strong>da</strong>de, personifica<strong>da</strong> no<br />

prof. Mario Bittencourt, vos serviu de exemplo e luzeiro. A<br />

obra de benemerência de que todos são paladinos é digna dos<br />

maiores encômios. — (a.) Fábio Luz Filho”.<br />

O “Departamento de Assistência ao Cooperativismo” pros-<br />

segue na sua esclareci<strong>da</strong> campanha no sentido <strong>da</strong>s cooperati-<br />

vas escolares.<br />

A “Cooperativa Escolar do Grupo de Vila Prudente”, re-<br />

cuado bairro paulista de gente pobre, é considera<strong>da</strong> a melhor<br />

cooperativa, no gênero, dêsse dinâmico Estado. Possuía 600<br />

associados.<br />

No pequeno prelo que adquiriu faz todos os seus impres-<br />

sos e dêle sai um jornaizinho intitulado “12 de Abril”. Para<br />

completá-lo, acaba de adquirir uma guilhotina (máquina de<br />

cortar papel muito usa<strong>da</strong> nas tipografias) por preço módico.<br />

Seus pequenos ex-associados têm conseguido, ao sair <strong>da</strong><br />

escola, obter colocação em tipografias particulares. Possui<br />

ain<strong>da</strong> essa interessante cooperativa serviço dentário a cargo de<br />

profissional idôneo.


184 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

O número de agôsto de 1954, de “Cooperativismo”, a pres-<br />

tigiosa publicação do Departamento de Assistência ao Coope-<br />

rativismo de São Paulo inseriu interessante artigo do profes-<br />

sor Ormar Sales Figueiredo, diretor efetivo <strong>da</strong> Escola<br />

Industrial de Casa Branca e substituto <strong>da</strong> Escola Industrial de<br />

Araraquara, também de São Paulo.<br />

É uma concludente experiência de “self-service”, digna do<br />

espírito bandeirante.<br />

Eis o artigo:<br />

“Chama a atenção imediata de todos os visitantes <strong>da</strong> Es-<br />

cola Industrial de Casa Branca, a existência de uma pratelei-<br />

ra cheia de artigos escolares, tendo em cima os seguintes dize-<br />

res: “Faça você mesmo sua compra e trôco”.<br />

“Como Diretor do Estabelecimento, desde o início de seu<br />

funcionamento em 1949, até à. formatura de sua primeira tur-<br />

ma em 1952, era-me extremamente grato explicar ao visitante<br />

como se havia orginado e como funcionava a “Cooperativa Es-<br />

colar <strong>da</strong> Escola Industrial de Casa Branca”.<br />

“Acompanhando o ritmo progressivo <strong>da</strong> instalação de<br />

cooperativas diversas, — de produção, consumo, distribuição,<br />

etc. — estimula<strong>da</strong>s pela D . A. C. (Departamento de Assistên-<br />

cia ao Cooperativismo) e visando atender aos reclamos impe-<br />

riosos do incremento <strong>da</strong> Educação Moral e Cívica nos Estabe-<br />

lecimentos de Ensino, resolvemos criar uma Cooperatica Es-<br />

colar.<br />

“Apelamos para o D . A. C. e de lá recebemos as instruções<br />

fun<strong>da</strong>mentais. Reunimos os funcionários e alunos, expondo<br />

o plano. Ca<strong>da</strong> aluno contribuiria com uma quota, variável de<br />

2 a 5 cruzeiros. Os funcionários entrariam com uma quota de<br />

10 cruzeiros, ou mais, se o desejassem, e todos seriam associa-<br />

dos <strong>da</strong> Cooperativa, gozando de tô<strong>da</strong>s as suas vantagens.<br />

“Com o capital levantado e contando com a boa vontade de<br />

firmas atacadistas, compramos, com facili<strong>da</strong>des e descontos, o<br />

material escolar necessário: livros, cadernos, lápis, borrachas,<br />

fitas métricas, agulhas, papel manilha, meias, tecidos para<br />

uniformes, aquarelas, etc., etc... Verificamos imediatamente<br />

que, acrescendo um lucro máximo de 10% aos preços de custo,<br />

poderíamos vender êstes artigos a preços tais, que a compra de<br />

um simples caderno de 100 fôlhas importaria num lucro ou<br />

economia de mais de 2 cruzeiros, para o associado, em relação<br />

aos preços vigentes na praça, o que viria compensar, na<br />

primeira compra, o pagamento <strong>da</strong> cota de admissão como<br />

associado.


FÁBIO LUZ FILHO 185<br />

“A Marcenaria, em horas extras dos mestres e alunos, con-<br />

feccionou a prateleira, onde foram colocados os artigos, todos<br />

com os preços marcados individualmente. Ao lado foi coloca<strong>da</strong><br />

uma caixinha, com algum dinheiro trocado. A secção de De-<br />

senho providenciou a feitura do cartaz: “Faça você mesmo sua<br />

compra e trôco”.<br />

“Estava lança<strong>da</strong> a experiência educativa, talvez única em<br />

todo o País. Os pessimistas auguravam prejuízos e fracasso<br />

completo. Os otimistas, entre os quais nos encontrávamos,<br />

juntamente com o prof. José Pelegrini, Orientador Educacio-<br />

nal do Estabelecimento, grande colaborador e concretizador<br />

<strong>da</strong> iniciativa, esperavamos confiantes.<br />

“Dois alunos foram encarregados de colocar a mercadoria<br />

nas prateleiras, com os respectivos preços, logo de manhã, e de<br />

fazer a conferição do material vendido e quantias arreca<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

no final do dia.<br />

“Num ambiente de intensa expectativa terminou o primeiro<br />

dia <strong>da</strong> experiência. Diretoria, funcionários e alunos agrupa-<br />

param-se ao redor dos dois encarregados, enquanto faziam a<br />

conferição. Resulta: — havia uma diferença de 50 centavos... a<br />

favor <strong>da</strong> Cooperativa. Por dificul<strong>da</strong>de de trôco, talvez, os alu-<br />

nos preferiam deixar a mais, do que a menos.<br />

“Os pessimistas não se deram por vencidos — “era apenas<br />

o primeiro dia. .<br />

“O 2.° e o 3.º dias correram dentro dos planos, com peque-<br />

nas diferenças... a favor <strong>da</strong> Cooperativa. Os pessimistas es-<br />

tavam derrotados. Nós exultávamos, com muita razão.<br />

“Mas... veio o quarto dia. A conferição acusou uma dife-<br />

rença de cinco cruzeiros.. desta vez CONTRA a Cooperativa.<br />

Sentimo-nos completamente derrotados. Os pessimistas <strong>da</strong>-<br />

vam largas à confirmação de suas opiniões.<br />

“No dia seguinte, logo de manhã, vendo ameaçado todo o<br />

plano, visitamos tô<strong>da</strong>s as classes, em companhia do Orienta-<br />

dor Educacional, explicando o acontecido e apelando para que<br />

compreendessem bem as vantagens econômicas <strong>da</strong> Cooperati-<br />

va e o espírito de responsabili<strong>da</strong>de e honesti<strong>da</strong>de que deveriam<br />

nortear a vi<strong>da</strong> dos estu<strong>da</strong>ntes. Qual não foi nosso surprêsa,<br />

no entanto, quando um dos alunos nos interrompeu para<br />

dizer:


186 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

— “Prof. Osmar, fui eu que tirei um caderno de que esta-<br />

va precisando. Como não tinha dinheiro ontem, pensei que<br />

pudesse trazer hoje. Já coloquei os cinco cruzeiros na Cai-<br />

xinha”<br />

“Com risa<strong>da</strong>s e sob um alivio geral, a Cooperativa passou<br />

a contar com um novo melhoramento: — foram confecciona-<br />

dos vales, dos quais constavam a Mercadoria, o seu Valor, a<br />

<strong>da</strong>ta e a assinatura do retirante. Assim, quanto precisassem de<br />

determinado artigo e não possuíssem o dinheiro, faziam a<br />

retira<strong>da</strong> e colocavam um Vale na Caixinha, que seria<br />

resgatado posteriormente, não importando quanto tempo<br />

decorresse.<br />

“Estava completamente vitoriosa uma experiência educa-<br />

tiva única talvez em todo o Brasil. A Cooperativa Escolar <strong>da</strong><br />

Escola Industrial de Casa Branca <strong>da</strong>va sua contribuição ativa<br />

para a educação moral de seus alunos.<br />

“A experiência (já agora rotina) continuou regularmen-<br />

te até o fim do ano, acusando, raríssimas vêzes pequena dife-<br />

rença contra, de que não podemos verificar a causa exata: êrro<br />

de cálculo, trôco errado, ou . . . o que não acreditamos jamais.<br />

“Em 1953 assumi a direção <strong>da</strong> Escola Industrial de<br />

Araraquara. Aí, novamente, aplicamos a experiência, já com<br />

os ensinamentos anteriores. Evitamos, no entanto, desta vez, a<br />

doutrinação dos alunos, para melhor observar os resultados.<br />

“Novamente a Cooperativa funcionou regularmente,<br />

acusando ao fim do ano um movimento bruto de mais de vinte<br />

e cinco mil cruzeiros (Cr$ 25.000,00), tendo havido apenas o<br />

prejuizo de 16 cruzeiros.<br />

“De Casa Branca, através de seu Orientador Educacional,<br />

recebemos notícias de que tudo continua regularmente, au-<br />

mentando-se progressivamente o capital inicial, bem como o<br />

estoque de mercadorias, o que possibilita, ca<strong>da</strong> vez mais, a<br />

ven<strong>da</strong> a melhores preços.<br />

“Em ambas as Escolas a Cooperativa é um patrimônio de<br />

que com justo orgulho se ufanam alunos e professôres, cuja<br />

colaboração foi inestimável no êxito desta realização.<br />

“Indiscutivelmente, o Cooperativa Escolar, além de seus<br />

objetivos específicos de oferecer a seus associados artigos es-<br />

colares bons e a preços acessíveis, pode e deve ser coloca<strong>da</strong> ao<br />

serviço <strong>da</strong> Educação Moral, num momento em que a<br />

subversão dos valores morais representa um dos maiores<br />

problemas <strong>da</strong> educação de nossa socie<strong>da</strong>de”.


FÁBIO LUZ FILHO 187<br />

NOÇÃO DA PÁTRIA - RURALISMO<br />

Já foi dito que a pátria não é sòmente a nossa planície,<br />

a majestade <strong>da</strong>s nossas montanhas, a tôrre <strong>da</strong>s nossas igrejas<br />

ou a fumaça que <strong>da</strong>s chaminés de nossas casas se eleva para os<br />

ares, ou a copa espêssa <strong>da</strong>s árvores, ou a canção monótona dos<br />

nossos pastores; a pátria é o nosso idioma; é tudo quanto faz<br />

bater os nossos corações; é a uni<strong>da</strong>de do nosso território; é a<br />

nossa independência; é a glória dos nossos antepassados; é a<br />

grandeza <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de. A pátria é o azul do nosso céu, é o doce<br />

sol que nos ilumina, a beleza dos rios que serpenteiam pelo<br />

nosso solo, a espessura <strong>da</strong>s florestas que nos dão sombra e a<br />

fertili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s terras que se estendem aos nossos pés; a pátria<br />

é o conjunto de nossos conci<strong>da</strong>dãos, grandes ou pequenos, ricos<br />

ou pobres...<br />

A pátria é, segundo Bordeau, “o país dos nossos pais, o<br />

laço <strong>da</strong>s gerações sôbre o solo natal. A pátria nasceu do<br />

instinto social, do sentimento, que tem o homem insulado, de<br />

sua fraqueza, <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de inelutável <strong>da</strong> união, do apoio<br />

mútuo na luta <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, para defesa e conquista <strong>da</strong> terra<br />

nutridora, <strong>da</strong> invencível necessi<strong>da</strong>de de se proteger e de<br />

aumentar inerente a todos os sêres.<br />

“A pátria é também o patrimônio moral, o conjunto <strong>da</strong>s<br />

tradições, costumes, leis, serviços comuns. Os túmulos e os<br />

altares constituíram os seus primeiros símbolos”.<br />

Já acentuamos que o patriotismo é o sentimento profundo<br />

e forte que faz que nos apeguemos ao torrão onde nascemos; é,<br />

no dizer de Fábio Luz, “êste sentimento de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de que se<br />

forma e robustece no canto tépido <strong>da</strong> lareira”, não-agressivo.<br />

Patriotismo é principalmente isto: dedicar tô<strong>da</strong>s as fôrças<br />

afetivas e intelectuais à formação de almas boas e inteligências<br />

equilibra<strong>da</strong>s e lúci<strong>da</strong>s. Estu<strong>da</strong>r o país onde se vive, em sua<br />

grandeza, nas suas montanhas, em seus rios, nas suas<br />

possibili<strong>da</strong>des, na sua educação; tornar-se, ca<strong>da</strong> um, fator de<br />

uma grande civilização luminosa e tranqüila à cuja sombra<br />

possamos viver como homens dignos e nela acolher todos os<br />

que dela se mostrarem merecedores, sem ódios, sem distinção<br />

de nacionali<strong>da</strong>des e castas.<br />

Patriotismo é trabalhar no sentido de, sôbre bases seguras<br />

e amplas, erguer um pátria maior, de horizontes vastos, ma-<br />

jestosa e eterna. Patriotismo é também aprimorar a educação<br />

<strong>da</strong> moci<strong>da</strong>de, cerebralizá-la, <strong>da</strong>r-lhe celsos sentimentos.


188 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

RURALISMO<br />

Patriotismo é, por meio de organizações cooperativas esco-<br />

lares e pós-escolares, ir criando uma mentali<strong>da</strong>de capaz de,<br />

transformando nossas condições de meio, tornar possível a<br />

atuação <strong>da</strong> moci<strong>da</strong>de no meio rural do país.<br />

Essa deve ser a palavra de ordem, para estruturação de<br />

uma mentali<strong>da</strong>de ruralista.<br />

A cooperativa escolar levará até ao artesanato rural, pa-<br />

ládio de renovação.<br />

Admira a potenciali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terra, criança! Como é dife-<br />

rente, aí, a vi<strong>da</strong>! Deves traçar-te, quando em férias, um pro-<br />

grama de vi<strong>da</strong> livre, de movimento saudável pelos campos e<br />

pelas matas, para que possas apreender todo o seu valor. Pe-<br />

la manhã, bem cedo, deves ir ver o capataz mugir as vacas<br />

pacíficas no retiro, na cumia<strong>da</strong> do morro, do qual se descorti-<br />

na um panorama belo e empolgante: campos ondulantes que se<br />

perdem nos longes <strong>da</strong> paisagem, barrado o horizonte lon-<br />

gínquo por montanhas azula<strong>da</strong>s, que se recortam no céu lím-<br />

pido, iluminados, campos verdejantes e montanhas azulinas,<br />

de um sol fecun<strong>da</strong>nte. As pastagens ricas pontilham-se de gado<br />

sadio. Em baixo, o serpejar manso de um rio...<br />

Em trechos cercados, plantações de milho; nas vargens<br />

cresce o arroz côr de ouro; nos declives dos morros, a mandio-<br />

ca; além, o pomar convi<strong>da</strong>-te a deliciar-te com laranjas ma-<br />

duras e saborosas, avergados os galhos ao pêso de sacarinos<br />

frutos vitaminosos e de delicioso pala<strong>da</strong>r. Mais adiante, a cria-<br />

ção no revêzo...<br />

Durante o dia, já tostado do sol fúlgido dêsse torrão mag-<br />

nífico, o ideal seria que todos nós pudéssemos acompanhar os<br />

trabalhos de lavragem <strong>da</strong>s terras por tô<strong>da</strong> a parte, vendo os<br />

arados puxarem enormes e amestrados bois, que arrancassem<br />

do solo colheitas abun<strong>da</strong>ntes; mas, verás a campeação do gado,<br />

ou contemplarás o trabalho hercúleo de nossa gente, no eito, a<br />

enxa<strong>da</strong> percutindo a terra, na ânsia do ganha-pão<br />

enobrecedor, na elação de sentimentos dignos. O fazendeiro na<br />

epopéia de seu esfôrço...<br />

À noite, seria para desejar que voltasses satisfeito e re-<br />

feito, metendo-te na cama muito cedo, para acor<strong>da</strong>res no dia<br />

seguinte pela madruga<strong>da</strong> referta de passaredo gárrulo, a beber<br />

leite forte e renovar observações, enchendo teus olhos de<br />

aquarelas lin<strong>da</strong>s, e teus pulmões de ar puro e teu coração de<br />

grande entusiasmo pelo teu país e de admiração pelo nosso


FÁBIO LUZ FILHO 189<br />

homem rural, gigante de tenaci<strong>da</strong>de em face dos tropeços que<br />

o salteiam, dos percalços que lhe dificultam o caminho a ca<strong>da</strong><br />

passo, nessa ambiência de fecundi<strong>da</strong>de e maravilha, humildoso<br />

em seu labor, abnegado em seu ingente e rude labutar<br />

diuturno, apesar de tudo,<br />

A “on<strong>da</strong> verde dos cafèzais” revela-te um dos maiores<br />

cometimentos agrícolas do mundo; os algodoais branquejan-<br />

tes, os canaviais sem fim, são outras tantas lídimas expressões<br />

<strong>da</strong> ação do brasileiro, dentre outras.<br />

Os pampas infindos e os gaúchos galhardos; o Nordeste, o<br />

Norte, a Amazônia, o Centro lidimamente brasileiros, são<br />

outras tantas manifestações sinérgicas.<br />

Já acentuamos em um dos nossos livros que Tolstoi, o<br />

Imortal autor de “Anna Karenine”, o insulado de Iásnaia-Po-<br />

liana, amava o silêncio <strong>da</strong> natureza-máter, a quietude empol-<br />

gante dos campos. Amava êsse silêncio em que, na frase de<br />

Maeterlinck, “les àmes se pesent comme l’or et l’argent se<br />

pesent <strong>da</strong>ns l’eau pure”... Silêncio inspirador e fecundo,<br />

“silêncio, no dizer de Fábio Luz, augusto e solene... guia e<br />

roteiro para a busca <strong>da</strong> fonte perene de ver<strong>da</strong>des que a razão e<br />

o raciocínio desven<strong>da</strong>m e que estão latentes na Natureza e em<br />

nós mesmos”. Amava tanto, Tolstoi, o recolhimento, que disse:<br />

“O ver<strong>da</strong>deiro pensador é planta que cresce entre as rochas<br />

selvagens. Nutre-se de si mesmo e é o produto <strong>da</strong> sua própria<br />

substância. Epicteto, Socrates e Platão não viajavam em<br />

caminho de ferro. Spinoza vivia no seu tugúrio; Descartes,<br />

junto do seu brazeiro; Kant era um solitário. O pensamento é a<br />

obra suprema do trabalho e o trabalho não é possível nem<br />

fecundo senão no silêncio ou no isolamento”.<br />

Amava êle profun<strong>da</strong>mente o contacto <strong>da</strong> terra nutridora, a<br />

sua fôrça de purificação e de vitali<strong>da</strong>de, como amava o<br />

comércio com a gente sofredora e rude vincula<strong>da</strong> à terra pelo<br />

labor nobre e fecundo. Entre essa gente humilde desenvolvia,<br />

com simplici<strong>da</strong>de e clareza, as suas idéias de redenção<br />

humana, místico idealista. Ao seio reconfortante <strong>da</strong> natureza<br />

entregava-se, o formidável romancista e o grande apóstolo do<br />

vi<strong>da</strong> em moldes simples e puros, a longas e profun<strong>da</strong>s<br />

meditações. Como parte do programa que se traçou, e como<br />

condição de saúde, e exemplo sugestivo às gerações<br />

porvindouras, figurava o labor <strong>da</strong> terra, os trabalhos no<br />

campo, fun<strong>da</strong>mento de prosperi<strong>da</strong>de.<br />

Tolstoi, tão grande como Hugo, empunhava com firmeza a<br />

rabiça, mantendo o arado fertilizante no sulco retilíneo.<br />

E assim laborava com carinho as suas terras, com o mesmo


190 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

fervor com que laborava as almas no sentido de seu transcen-<br />

dente ideal, no fundo o mesmo grande e luminoso ideal que<br />

descansa naqueles mesmos princípios, naquela mesma grande<br />

“lei eterna” que se vislumbra em todos os sistemas de filoso- fia<br />

moral.<br />

As gerações de hoje, encantoa<strong>da</strong>s nas capitais altimura-<br />

<strong>da</strong>s, nelas se esterilizam, perdendo-se na voragem ativi<strong>da</strong>des<br />

utilizáveis que, ao contacto <strong>da</strong> terra revigorante, se poderiam<br />

transformar em fatôres de relativa felici<strong>da</strong>de individual e<br />

coletiva.<br />

Julio Lemaitre exalta êsse poder transfigurador <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

simples quando diz: “Le peu que j’ai de sagesse, de douceur<br />

d’âme e de modération, je le dois à ceci, qu’avant d’être un<br />

homme de letre (hélas) que exerce son métier à Paris, je suis un<br />

paysan que a son clocher, sa maison et sa prairie”...<br />

Que formidável exemplo o de Tolstoi!...<br />

Acentuamos mais que a nossa moci<strong>da</strong>de deve cultivar a<br />

convicção <strong>da</strong> grandeza excelsa do labor <strong>da</strong> terra, dessa tarefa<br />

patriótica e humana, cujo caráter de intelectuali<strong>da</strong>de, pelos<br />

processos modernos de técnica agrícola, é incontestável, habi-<br />

tuando as suas mentali<strong>da</strong>des a essa noção.<br />

Diz Emerson que se deve olhar o agricultor com prazer e<br />

respeito quando se pensa nas fôrças e nos serviços que tão<br />

modestamente representa. Êle conhece todos os segredos do<br />

trabalho e mu<strong>da</strong> a fisionomia <strong>da</strong>s paisagens.<br />

“A fazen<strong>da</strong> é um capital de riquezas, e é do agricultor que,<br />

do ponto-de-vista moral e intelectual, dimanam a saúde e a força<br />

<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des”.<br />

A PAISAGEM SULINA<br />

Nas vilas e povoações de origem teuta do sul do Brasil, já<br />

o disse em Rumo a Terra (5.ª), a igrejinha é um obrigatório<br />

ponto branco de refereência quiescente no fundo verde <strong>da</strong><br />

mataria, a torrezinha agu<strong>da</strong> como querendo galgar os céus;<br />

os vitrais bíblicos; o cruzeiro em frente a estender seus lon-<br />

gos braços misericordiosos, nêle grava<strong>da</strong>s sentenças, em lín-<br />

gua alemã, a concitar os crentes à salvação de suas almas para<br />

a bemaventurança (“Rette deine Seele”). E na vi<strong>da</strong> insula<strong>da</strong> e<br />

rude, mas produtiva e saudável, que levam, como os seus<br />

irmãos de origem italiana, mergulhados naquela paz imensa e<br />

bendita dos campos e <strong>da</strong>s serras, tendo diante dos olhos e <strong>da</strong><br />

alma a vastidão de horizontes recuados na dis-


FÁBIO LUZ FILHO 191<br />

tância inalcançável, o sentimento religioso dêles deve acrisolar-<br />

se e a cruz, no seu admirável e evocador simbolismo, deve<br />

constituir um grande confôrto e uma grande esperança, um<br />

bálsamo para agruras e desilusões...<br />

São José e Boa Vista do Herval são lugares que convi-<br />

<strong>da</strong>m ao repouso do espírito e à meditação, no silêncio profundo<br />

cortado apenas do escachoar longínquo de águas vivas. A<br />

que<strong>da</strong> do Herval é majestosa.<br />

Neu Wuerttemberg é um recanto de fertili<strong>da</strong>de, de terras<br />

vermelhas numa apojadura de colheitas fartas, que encan-<br />

deiam a alma dos que têm o sentimento <strong>da</strong> terra. Há trabalho e<br />

há pitoresco, surgindo a vila risonha quase inopina<strong>da</strong>mente <strong>da</strong><br />

campanha un<strong>da</strong>nte e onímo<strong>da</strong>. É uma ci<strong>da</strong>dezinha tipicamente<br />

de cunho alemão no casario, na língua, nos costumes. É mais<br />

uma prova inconcussa do triunfo <strong>da</strong> pequena proprie<strong>da</strong>de.<br />

Casas e hotéis de madeira num estilo típico que muito se<br />

aproxima <strong>da</strong>quele do município de Blumenau. Mesa<br />

sadiamente característica, com o mel e o delicioso “schmüre”.<br />

Como em Santa Cruz, Montenegro, etc., as toalhas alvas pen-<br />

dem <strong>da</strong>s salas e dos quartos <strong>da</strong>s casas particulares e dos hotéis<br />

com dizeres em língua alemã contendo sentenças de pondera-<br />

ção. “Louva a Deus e vem comigo. Minha sorte traze contigo”,<br />

etc., são proposições que se encontram a ca<strong>da</strong> passo nas<br />

colônias de origem alemã do Sul.<br />

O Paraná é a bela terra dos pinheirais em taça aberta pa-<br />

ra o azul, como a beber tô<strong>da</strong> a poesia <strong>da</strong> paisagem rutilante em<br />

tôrno. Em Santa Catarina, intensas colmeias humanas<br />

poetizam-na e criam riquezas, quais pinturescas e pequenas<br />

Suíças, nos variegados e empolgantes panoramas montesinhos.<br />

Os colonos de origem Italiana povoam as serras gaúchas<br />

de vinhedos; os lídimos gaúchos enriquecem os pampas, num<br />

trabalho contínuo de aperfeiçoamento. Nos “tambos” do<br />

Guaíba o gado holandês põe um colorido pinturesco na paisa-<br />

gem, notas vivas e pacíficas nos potreiros verdes, e nas cam-<br />

panhas povoa<strong>da</strong>s de gado de estirpe, corta<strong>da</strong>s de sangas e<br />

pontilha<strong>da</strong>s de açudes, há também a nota alegre dos quero-<br />

queros e <strong>da</strong>s emas erradias.<br />

Aprende, pois, criança, que de homens com conhecimen-<br />

tos técnicos carece o Brasil para se tornar maior, como de<br />

homens integrados no amor à. nossa terra e ao nosso idioma, e<br />

que as populações rurais brasileiras muito esperam de ti para<br />

a solução dos problemas que a angustiam e que já co-


192 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

meçam a ser encarados em tô<strong>da</strong> a sua extensão e profundi<strong>da</strong>-<br />

de, felizmente.<br />

Há necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cooperativa escolar, criança, e disso<br />

deves convencer teus pais e teus juvenis colegas, como cadi-<br />

nho de civismo nivelador e humanismo confortante.<br />

Atenta, ademais, no exemplo <strong>da</strong> Dinamarca.<br />

Santiago Hernández Ruiz cita a Hertel, o historiador do<br />

cooperativismo dinamarquês:<br />

“Estas escolas despertam nos jovens de ambos os sexos<br />

ver<strong>da</strong>deiro anelo de saber e desejos de trabalhar; fortalecem<br />

o caráter dos alunos e ampliam as prespectivas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Pa-<br />

ra satisfazer êsse desejo de saber, estabelecem-se correntes<br />

entre as escolas de agricultura e as populares de adultos, e<br />

quando <strong>da</strong>s Folkenhöjskolen passam diretamente à vi<strong>da</strong>, já<br />

levam formado um forte sentimento de fraterni<strong>da</strong>de e um<br />

fervente desejo de trabalhar pelo progresso comum. A juven-<br />

tude nelas aquire algumas <strong>da</strong>s quali<strong>da</strong>des necessárias ao de-<br />

senvolvimento do movimento cooperativo”.<br />

Hernández acrescenta que o movimento cooperativo, que<br />

se desenvolveu tão intensamente entre os agricultores dina-<br />

marqueses, que se apresentam, assim, ao mundo em seu<br />

exato valor, foi dirigido principalmente pelos alunos <strong>da</strong>s<br />

escolas acima citados.<br />

Enfim, um exemplo digno de ser seguido.<br />

AS ARVORES E SEU SIMBOLISMO — A NATUREZA<br />

BRASILEIRA — O SÍMBOLO DO COOPERATIVISMO<br />

Permiti, à guisa de repouso, que abra colunas ao elogio<br />

<strong>da</strong> árvore e ao esplendor <strong>da</strong>s paisagens.<br />

É sabido que o símbolo do cooperativismo adotado nos<br />

Estados Unidos e em tô<strong>da</strong>s as Américas de língua<br />

espanhola, com tendência para se universalizar, é aquêle<br />

representado por dois pinheiros verdes geminados, dentro<br />

de um círculo verde sôbre fundo dourado. Os pinheiros<br />

simbolizam a pereni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, alcança<strong>da</strong> pela<br />

conjugação de esforços para a sobrevivência. O círculo, de<br />

sabor pitagórico, representa o mundo, na amplidão de seu<br />

âmbito, que abarca a plenitude <strong>da</strong>s coisas. O verde<br />

representa o princípio vital que rege os sêres; o fundo áureo<br />

traz à lembrança a luz solar com todo o seu poder<br />

fecun<strong>da</strong>nte, fonte precípua de energia para o mundo. Dêsse<br />

belo símbolo há uma efluência imperativa, a que não pode-


FÁBIO LUZ FILHO 193<br />

mos fugir. É êle uma espécie de signo-samão, sob cujos influxos<br />

desejamos que o Brasil continue.<br />

Na 5.ª edição de Rumo à Terra refiro-me, em longas pá-<br />

ginas, a tô<strong>da</strong> essa simbologia, sobretudo nas várias religiões.<br />

Meus tios-avós, Júlio Furtado, médico e dinâmico arbori-<br />

zador e embelezador do Rio de Janeiro, e Frei Santo Catarina<br />

Furtado (o émulo de Mont’Alverne que, de 1858 a 1896, foi um<br />

dos oradores sacros de maior brilho do Brasil, cuja parenética<br />

encheria cinco volumes), possuíam, como meu pai, Fábio Luz, o<br />

culto <strong>da</strong>s árvores. Esse culto <strong>da</strong> natureza e o amor dos animais<br />

e <strong>da</strong>s crianças, possuia-os Fábio Luz, baiano como meus avós,<br />

tios e tios-avós, precursor do romance social no Brasil e <strong>da</strong><br />

escola ativa, como vimos, médico, romancista, novelista, crítico<br />

literário, polígrafo, educador e sociólogo. Aos três, todos<br />

baianos, rendo aqui, mais uma vez, meu preito de sau<strong>da</strong>de e de<br />

admiração, como à minha queri<strong>da</strong> mãe, avós e tios, todos<br />

também baianos.<br />

Júlio Furtado e Fábio Luz e meu tio, o cônego Zacarias<br />

Luz, várias vêzes me fizeram sentir que viam nas árvores<br />

símbolos <strong>da</strong> cooperação, âmbulas perenalmente abertas para o<br />

azul, na glória multicor <strong>da</strong> floração bendita e no fecundo<br />

sazonamento dos polposos frutos, altas expressões de trans-<br />

cendentes funções de harmonia para consecução de elevado<br />

escopo de vi<strong>da</strong> perfeita.<br />

ÁRVORES...<br />

Eis um trecho de Fábio Luz, num de seus belos livros para<br />

crianças (Leituras de Ilka e Alba — Livraria Alves — Rio):<br />

“Das florestas verdes e gigantes, dos campos esmeraldi-<br />

nos, dos vales silenciosos, <strong>da</strong>s suaves alfombras de relva, dos<br />

declives ribeirinhos, <strong>da</strong>s águas cristalinas, <strong>da</strong>s campânulas<br />

multicores, <strong>da</strong>s corolas aromáticas, <strong>da</strong>s palmas agita<strong>da</strong>s, evo-<br />

lam-se perfumes, sobem para o azul do céu nuvens de arôma-<br />

tas, turbilhões de vi<strong>da</strong>s, nas asas dos insetos dourados, nas<br />

chamas <strong>da</strong>s auroras róseas, nas penas finas e colori<strong>da</strong>s do<br />

passaredo gárrulo. É a Primavera que chega com cortejo ino-<br />

minável de luminosi<strong>da</strong>des e crepúsculos transparentes, de in-<br />

finitas riquezas de matizes, de sonori<strong>da</strong>des olímpicas, que<br />

an<strong>da</strong>m alvorota<strong>da</strong>s pelo ar, no ziziar <strong>da</strong>s cigarras, no chilrear<br />

travêsso <strong>da</strong>s irrequietas andorinhas.<br />

“Tudo canta, tudo rejuvenesce, tudo revive, tudo ama, ao<br />

tépido encantamento <strong>da</strong> Primavera, sempre moça, sempre


194 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

vivaz, luminosa e fecun<strong>da</strong>. As árvores se cobrem de flores<br />

majestosas, engalanam-se de folhagem nova, prometendo far-<br />

ta frutificação; há hinos nupciais nas frondes, no ar, nos<br />

alcantis <strong>da</strong>s cordilheiras, no rosicler <strong>da</strong>s manhãs”.<br />

SALMO DA VIDA E DAS FLORES<br />

Eis outros trechos de Fábio Luz:<br />

I<br />

“As promessas de um arrebol de côres matiza<strong>da</strong>s, que se<br />

contêm nos botões, fanam-se, estiolam-se, caem ao sôpro frio<br />

<strong>da</strong> gea<strong>da</strong>.<br />

II<br />

“Brotam <strong>da</strong>s flexíveis hastes flores mimosas que esmaltam<br />

e perfumam os campos. O Sol as cresta.<br />

III<br />

“Cheias de viço, doura<strong>da</strong>s de fino pólen fecun<strong>da</strong>nte, ex-<br />

pandem-se em pleno desenvolvimento; abrem as multicores<br />

corolas; deixam evolar-se, para o azul sereno do céu, perfu-<br />

mes embriagadores; percorrem todo o ciclo <strong>da</strong> existência ou-<br />

tras flores, cujas pétalas o vento leva.<br />

Iv<br />

“As primeiras não chegam a viver.<br />

V<br />

“As segun<strong>da</strong>s viçam e desaparecem sem deixar traço.<br />

VI<br />

“Sòmente as terceiras vivem a vi<strong>da</strong> completa; perpe-<br />

tuam-se, levados os germes pelo espaço em fora, na tênue<br />

escumilha <strong>da</strong>s asas transparentes ou nos tumultuosos re-<br />

moinhos <strong>da</strong>s tempestades.<br />

VII<br />

“Vivem no turbilhão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que se renova e transmite.


VIII<br />

“Assim as almas humanas.<br />

IX<br />

FÁBIO LUZ FILHO 195<br />

“Umas não deixam sequer o casulo; não chegam a olhar<br />

a deslumbrante luz do saber.<br />

X<br />

“Outras aparecem para firmar-se inglòriamente, tendo<br />

brilhado um dia, sem ter sofrido.<br />

XI<br />

“As outras que receberam o banho sacrossanto <strong>da</strong> luz de<br />

um ideal, que passam no turbilhão do sonho, semeando cren-<br />

ças, agitando consciências, só elas se perpetuam, vivem a vi<strong>da</strong><br />

intensa, santifica<strong>da</strong>s pelo sofrimento, enobreci<strong>da</strong>s pelo sacri-<br />

fício, em bem <strong>da</strong> espécie.<br />

XII<br />

“Compara-se a socie<strong>da</strong>de humana com uma planta.<br />

XIII<br />

“As raízes buscam o alimento nas fun<strong>da</strong>s trevas <strong>da</strong>s en-<br />

tranhas <strong>da</strong> terra, na limpidez <strong>da</strong>s águas, nas oscilações do ar;<br />

são a base e o sustentáculo <strong>da</strong> árvore. Representam o vulgo, a<br />

turba ignara, a plebe trabalhadora, buscando nas minas, nos<br />

fundos dos mares, na eletrici<strong>da</strong>de ambiente a riqueza e o<br />

sustento.<br />

XIV<br />

“As flores viçosas, vistosas e ornamentais, respirando o ar<br />

puro e o oxigênio vivificador, aproveitando o carbono nutrien-<br />

te, e <strong>da</strong> luz solar fazendo reativos químicos, tomam formas<br />

múltiplas e elegantes, deixam-se acariciar pelas brisas, vestem<br />

as plantas e lhes dão os tons de garridice e elegância. Repre-<br />

sentam a classe média que faz sàbiamente a distribuição <strong>da</strong><br />

seiva e goza.


196 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

XV<br />

“As flores viçosas e os frutos saborosos, ornamentais, em<br />

busca <strong>da</strong> luz, em busca do azul, simbolizam o escol <strong>da</strong> inteli-<br />

gência, <strong>da</strong> beleza, <strong>da</strong> perfeição, <strong>da</strong> arte, <strong>da</strong> representação <strong>da</strong><br />

raça, <strong>da</strong> perpetui<strong>da</strong>de dos instintos refinados, dos estigmas<br />

<strong>da</strong> espécie elevados ao seu maior grau potencial”. (De Lei-turas<br />

de Ilka e Alba).<br />

Temos aí belos símiles para o cooperativismo: árvore de<br />

harmonia enguirlan<strong>da</strong>ndo fecun<strong>da</strong>s primaveras, por que<br />

anseia o mundo...<br />

VISITA À BAHIA<br />

Trabalhos absorventes nesta árdua campanha cooperati-<br />

vista de trinta e três anos, motivos de saúde e outras razões<br />

igualmente ponderosas, sempre constituíam obstáculo à minha<br />

i<strong>da</strong> à Bahia. Era um desejo longamente acariciado, um dever<br />

de sentimento e de patriotismo. Sou filho de baianos, neto de<br />

baianos e possuo tios e primos baianos, como o disse. Meu pai<br />

deixou 23 obras edita<strong>da</strong>s, entre contos, novelas, romances,<br />

crítica literária e livros didáticos. Como disse, Zacarias Luz,<br />

meu tio, foi orador sacro de renome na Bahia e Frei Sta.<br />

Catarina Furtado, tio de minha mãe, foi considerado um émulo<br />

de Monte Alverne ao tempo do império, tendo tido por palco<br />

de seus admiráveis sermões a ci<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro. Júlio<br />

Furtado foi o enérgico e dinâmico companheiro de Passos no<br />

Rio de Janeiro, pertencendo-lhes as galas de ter sido o<br />

arborizador desta ci<strong>da</strong>de, como disse. Assim sendo, foi com<br />

grande emoção que pisei terras baianas, no seu poder suges-<br />

tivo. Convém frisar que aquela “civilização de tipo estático”,<br />

tô<strong>da</strong> volta<strong>da</strong> para o passado (com seus pregões dolentes, seus<br />

gritantes coloridos, suas ladeiras, sua arquitetura colonial de<br />

grande beleza, principalmente no barroco de suas igrejas tra-<br />

dicionais e majestosas; os rituais negros, a beleza de suas ma-<br />

rinhas movediças e <strong>da</strong> baía ampla e bela, tudo de um azul ní.<br />

tido que corre parelhas com o do céu; as noites profun<strong>da</strong>s<br />

cheias do deslumbramento <strong>da</strong>s profusas cintilações estelares;<br />

seus lugares inspiradores), vai cedendo lugar aos poucos a uma<br />

fase de dinamismo construtivo, seja nos campos petrolíferos de<br />

Candeias, que visitei, seja em Cruz <strong>da</strong>s Almas, onde estive e<br />

visitei sua modelar Escola Superior de Agronomia, seja no


FÁBIO LUZ FILHO 197<br />

vale de São Francisco, etc. Já se constroem na Bahia<br />

arranha-céus com os mesmos requintes de luxo e a esmera<strong>da</strong><br />

técnica dos do Rio e São Paulo. Aliás, na ci<strong>da</strong>de baixa, já se<br />

erguem êles, imponentes, e outros vão surgindo na zona nova<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, nota<strong>da</strong>mente nos bairros mais ricos e modernos,<br />

Graça, Barra, Amaralina, etc., todos ligados ao centro, de um<br />

comércio moderno, por bom serviço de bondes e um razoável<br />

de ônibus.<br />

O edifício de proprie<strong>da</strong>de de um cacauicultor, tem 8 an-<br />

<strong>da</strong>res e está situado na histórica Praça 2 de julho. O último<br />

an<strong>da</strong>r, com deslumbrante vista para a baía, revela o bom gôsto<br />

do dono nas minúcias e no confôrto, com mármores vindos <strong>da</strong><br />

Europa. E a residência de um cacauicultor, moço fino e<br />

viajado, também advogado.<br />

A quadrissecular e majestosa ci<strong>da</strong>de do Salvador é reli-<br />

cário de um grande passado, e guar<strong>da</strong>, de um lado, como disse,<br />

a tradição nas igrejas, interiormente fabulosas, como a de<br />

S. Francisco, embora de aspecto externo vetusto, enegreci<strong>da</strong>s<br />

pela ação multívola do tempo, e no casario e nas ladeiras <strong>da</strong>s<br />

éras coloniais; e avança, de outro lado, mercê de uma urbani-<br />

zação com tô<strong>da</strong>s as características modernas. Salvador está<br />

com 410 mli habitantes e absorve parte dos sertanejos que fo-<br />

gem à inclemência do clima, e às acritudes <strong>da</strong>s terras calcina-<br />

<strong>da</strong>s pelo sol queimante, aumentando a miséria na ci<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong><br />

não industrializa<strong>da</strong>, vetusta e moderna ao mesmo tempo, en-<br />

volta em auras genetlíacas...<br />

Descem êles do interior do próprio Estado e dos Estados<br />

de Sergipe e Alagôas, principalmente.<br />

A rodovia Rio-Bahia está contribuindo, paradoxalmente,<br />

para êsse êxodo. No caminho <strong>da</strong> Feira de Sant’Ana vi cami-<br />

nhões pejados de retirantes, ca<strong>da</strong> um com levas de 60 pessoas,<br />

comprimidos como animais, homens, mulheres e crianças, a<br />

600 cruzeiros por cabeça, rumo ao Sul do Brasil, terra de pro-<br />

missão, o Eldorado para essa pobre gente!. . . Os “paus-<br />

de-arara”,,.<br />

Ao visitar o majestoso Forum Rui Barbo8a, cuja impo-<br />

nente cripta já recolheu o corpo do gênio excelso, meu espíri-<br />

to caiu em genuflexão, e penetrei nas razões de tô<strong>da</strong> a vibra-<br />

cão oratória dos baianos.<br />

Com deslumbramento percorri várias vêzes a ci<strong>da</strong>de<br />

constantemente bati<strong>da</strong> de ventos frescos. Itapoã é empolgante<br />

pe- la beleza <strong>da</strong> praia recurva, tapiza<strong>da</strong> de coqueiros álacres.<br />

O perfil dos coqueirais na distância! . . . As velhas fortalezas, o<br />

casario, as ladeiras, as igrejas, os conventos, são páginas sem-


198 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

pre vivas e escancara<strong>da</strong>mente abertas, nas quais se lêem os<br />

episódios viris de um povo que se afirmava, nos vaivens <strong>da</strong><br />

colonização.<br />

As muralhas de suetentação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de alcandora<strong>da</strong>,<br />

ergui<strong>da</strong>s pela vontade férrea do luso e do holandês com mãos<br />

de gigantes, estarrecem pela solidez quatro vêzes secular, cons-<br />

tituindo o sustentáculo de tô<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong>de alta, servi<strong>da</strong> pelo mo-<br />

derno e conhecidíssimo elevador Lacer<strong>da</strong> e planos inclinados.<br />

Se por acaso um dia ruírem estas muralhas ciclópicas, aquela<br />

ci<strong>da</strong>de será lança<strong>da</strong> ao mar...<br />

A Baixa do Sapateiro possui características inconfundí-<br />

veis na gente, nos costumes, no comércio popular intenso.<br />

Amaralina, debruça<strong>da</strong> sôbre o oceano azul, é um bairro mo.<br />

derníssimo, habitado por gente fina. Cabula, arredores bucó-<br />

licos, de onde, infelizmente, a laranja clássica e célebre vai<br />

desaparecendo.<br />

Empolgou-me grande emoção ao aproximar-me, na nave<br />

<strong>da</strong> grande Basílica, do púlpito de que Vieira lançou seus ful-<br />

míneos e tonitroantes sermões. A cela do jesuíta indômito é<br />

outra coisa que induz ao recolhimento e à evocação. Trouxe-<br />

me à lembrança também a figura serena de meu tio, Zacarias<br />

Luz, que nessa Basílica também desfiou seu brilhante ser-<br />

monário, como exímio latinista que era. Terra de meus pais,<br />

também perpassaram pe1a minha memória as descrições que<br />

faz meu saudoso pai, Fábio Luz, em seus livros, nota<strong>da</strong>mente<br />

em Manuscrito de Helena, recentemente lançado em segun<strong>da</strong><br />

edição, novela de doce fabulação cheia de reminiscências <strong>da</strong><br />

Bahia, ao qual acrescentei a conferência Bahia renova<strong>da</strong>, im-<br />

pressões <strong>da</strong> última visita que fêz à sua terra natal. Também<br />

dêle consta longo estudo sôbre um aspecto novo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de<br />

Castro Alves no que tange às suas relações com a Consuelo,<br />

aspecto inteiramente desconhecido de todos os seus biógrafos.<br />

Nessa novela póstuma (1952), assim descreve êle a len<strong>da</strong><br />

baiana do “diabo pelado”, em páginas de grande beleza des-<br />

critiva, dignas de antologias:<br />

O DIABO PELADO<br />

“Ain<strong>da</strong> conservo na retina aquêle maravilhoso espetáculo<br />

<strong>da</strong>s noites cáli<strong>da</strong>s de verão: a fosforescência <strong>da</strong>queles mares<br />

tropicais, nas costas <strong>da</strong> Ilha Tinharé, sôbre as brancas areias


FÁBIO LUZ FILHO 199<br />

<strong>da</strong>s praias, longas, intermináveis e macias, fôfas e avelu<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

como alfombras,<br />

“A abundância de infusórios luminosos, protozoários e<br />

noctículos, produz fantástica iluminação nas águas, conten-<br />

do, em ca<strong>da</strong> gôta, um mundo de sêres vivos brilhantes como<br />

os fogos-fátuos dos cemitérios. O santelmo não é menos<br />

divertido. Quando a on<strong>da</strong> se quebra, espumante, na praia,<br />

parece que se fragmentam montanhas de diamantes, e pelas<br />

areias se espalham estrêlas multicores, chuveiros, fogos de<br />

bengala. Os remos <strong>da</strong>s canoas e as próprias canoas aparecem<br />

bor<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela luz verde-azul <strong>da</strong>s vagas. As rêdes de pescar<br />

são ver<strong>da</strong>deiras filigranas de ouro, craveja<strong>da</strong>s de pedrarias<br />

raras. Ca<strong>da</strong> vaga, que rola, ca<strong>da</strong> agitação do mar, produzem<br />

a movimentacão de um mundo estelar. É, talvez, o fogo<br />

pantomórfico. Fogo que não queima, luz que não deslumbra,<br />

chamas impalpáveis e frias, que mu<strong>da</strong>m de forma e se agitam<br />

ao sabor do movimento incessante <strong>da</strong>s águas do mar. Belo<br />

espetáculo!!<br />

“Como me divertia a mergulhar as mãos na água do mar,<br />

deixando-as pender <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> <strong>da</strong> canoa, e trazendo-as cheias<br />

de gemas: esmeral<strong>da</strong>s, topázios, ametistas, brilhantes... que<br />

sei eu?<br />

“Os golfinhos ou botos, nas contínuas e inumeráveis evo-<br />

luções, nas cambalhotas e nas acrobacias, aos magotes, põem<br />

fora d’água os dorsos roliços e negros, bor<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> luz etérea<br />

tios infusórios. A crendice dos pescadores os fazia ver como<br />

diabos pelados, de cabeças enormes, aos bandos, aos<br />

cardumes, cumprindo fadários desconhecidos.<br />

“Como são deliciosas as narrativas ingênuas dos praieiros!<br />

O espetáculo, nunca assaz admirado, é empolgante, naquele<br />

mar de luz, infindável jorrar de riqueza, caindo de alguma<br />

cornucópia de fa<strong>da</strong>s, em incalculável jato de pedras<br />

preciosas, que, ao contacto com a areia fina e branca, se<br />

desfaz em pó, em sombra, volta ao na<strong>da</strong> donde saiu, para o<br />

esplendor <strong>da</strong> pirotécnica maravilhosa, como relâmpagos.<br />

“Os diabos pelados saltam, pulam, debatem-se, cabrio-<br />

lam, cobertos de algas por véus, donde gotejam as<br />

cambiantes guirlan<strong>da</strong>s de flores luminosas, coroando-lhes as<br />

cabeças calvas e as peles negras, roliças, bombea<strong>da</strong>s e lisas”.<br />

Também os céus <strong>da</strong> Bahia lembram esta página de Diora-<br />

mas, também de meu pai:


200 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

OS CÉUS DO BRASIL<br />

“Os céus do Brasil, esta incomparável abóba<strong>da</strong> azul, de<br />

límpido e transparente azul; os céus do Brasil, que até mes-<br />

mo nas noites crepusculares dos trópicos conservam a<br />

deliciosa côr azul-turqueza, embacia<strong>da</strong> de cinza e polvilha<strong>da</strong><br />

de estrelas; os céus do Brasil, que viram os bergantins dos<br />

descobridores, as velas gloriosas dos navegantes singrando<br />

“os verdes mares bravios”; os céus do Brasil, que, luminosos<br />

e claros, ouviram as primeiras litanias cristãs entoa<strong>da</strong>s<br />

durante a primeira missa celebra<strong>da</strong> por Frei Henrique de<br />

Coimbra; os céus do Brasil, que ensinaram a Santos Dumont<br />

o caminho <strong>da</strong> Glória, vão-se abrir carinhosamente para<br />

receber o grande poeta andino — a voz altissonante dos<br />

versos magníficos de Silva Lobato, que inspira<strong>da</strong>mente soube<br />

desenvolver o tema acima esboçado e nos faz acompanhar,<br />

deslumbrados, todo o movimento histórico-social que o céu<br />

do Brasil viu, apreciou, registrou e o poeta comentou em<br />

cânticos admiràvelmente harmoniosos, em tentativa<br />

grandemente louvável de arte nova, que não é essa chula<br />

baboseira de gaguices e solecismos, que an<strong>da</strong> por aí a<br />

proteger as tipografias e a azucrinar os tipógrafos.<br />

“Santos Chocano, o grande e pan-americano cantor, deve<br />

sentir-se honrado e lisonjeado, por mais afeito que esteja às<br />

grandes homenagens, como essa homenagem <strong>da</strong><br />

espirituali<strong>da</strong>de brasileira, que Silva Lobato, tão<br />

entusiàsticamente e com tão grande e surpreendente talento,<br />

soube condensar nesse punhado de versos ver<strong>da</strong>deira chuva<br />

de esmeral<strong>da</strong>s, reverberantes à luz irisa<strong>da</strong> dos céus<br />

brasileiros”.<br />

E estas, de grande fôrça pictórica (Virgem-Mãe e Elias<br />

Barrão, edições de Garnier, hoje Breguiet, e Livraria Alves,<br />

respectivamente):<br />

CHLOÉ<br />

“No fundo par<strong>da</strong>cento do céu os cabeços <strong>da</strong>s serras dis-<br />

tantes, recortados em tela negra, e a copa ondeante <strong>da</strong>s árvo-<br />

res mais altas <strong>da</strong> floresta se destacavam.<br />

“Da terra subia a tépi<strong>da</strong> emanação dos cálices <strong>da</strong>s flores e<br />

do humo fertilizador, como de inumeráveis caçoulas.<br />

“O perfume acre e entontecedor <strong>da</strong>s plantas atraía os in-<br />

setos; a paz serena e tônica <strong>da</strong> noite e dos campos convi<strong>da</strong>va<br />

ao amor.


FÁBIO LUZ FILHO 201<br />

“O silêncio fecundo <strong>da</strong> Natureza elaborando, paciente e<br />

rítmica, a vi<strong>da</strong> múltipla, era inspecionado pela tíbia luz trê-<br />

mula e discreta <strong>da</strong>s estrêlas; interrompiam-no o pipilo tênue<br />

<strong>da</strong>s avezinhas, o grito pertinaz do grilo e as carícias modula-<br />

<strong>da</strong>s <strong>da</strong> brisa, que o prolongavam, tornando-o mais profundo<br />

e impenetrável, mais imponente e augusto, mais palpável e<br />

misterioso.<br />

“O mistério <strong>da</strong>quela escuridão, a grandeza <strong>da</strong>s sombras<br />

projetando-se no vale, a ramagem igualmente negra e múr-<br />

mura do bosque sagrado, excitavam a fantasia febril do<br />

pastor e requeimavam-no no fogo lento de uma sau<strong>da</strong>de.<br />

“A madruga<strong>da</strong> rósea dourava os altos píncaros, abrindo<br />

escuros abismos no vale sombrio. A princípio um nimbo ape-<br />

nas, como uma faixa tênuemente luminosa, bor<strong>da</strong>va os re-<br />

cortes ásperos <strong>da</strong>s montanhas e <strong>da</strong>s serras, em reentrâncias e<br />

saliências agu<strong>da</strong>s; depois, riscando o horizonte em listas pa-<br />

ralelas, a luz tênue <strong>da</strong> aurora ia destacando as montanhas e<br />

os rochedos, os prados e os areiais, fazendo brilhar como aço<br />

as águas correntes, espelhando a superfície dos lagos.<br />

“Êsse primeiro despertar <strong>da</strong> Natureza, em ruídos e cânti-<br />

cos, em luz e sombras, em mugidos e gritos, encontrava já o<br />

zagal junto à porteira do curral, pronto a tocar sua grei para<br />

os bebedouros fartos e límpidos, e para as campinas férteis e<br />

macias, às quais a orvalha<strong>da</strong> gotejante atirara aljôfares às<br />

mãos cheias, como se sôbre avelu<strong>da</strong>dos e fofos tapêtes se<br />

tivessem desatado colares de pérolas em noite de orgia.<br />

“Quando o sol levantava no horizonte sua cabeça fulva de<br />

Deus Onipotente, a fral<strong>da</strong> do morro estava determina<strong>da</strong>, ou a<br />

riba recama<strong>da</strong> de fresca ervagem onde pasceria o gado.<br />

“O sino <strong>da</strong> igrejinha <strong>da</strong> aldeia soou longe o toque plan-<br />

gente do Angelus, repercutido e desdobrado pelo éco <strong>da</strong>s<br />

montanhas; a paz triste e sonolenta dos campos espreguiçou-<br />

se nas asas cinzentas do crepúsculo vespertino; algumas<br />

estrêlas despertaram no céu, e as novilhas foram com seu<br />

hálito quente varrer o pó em tôrno do pastor, cheirando-lhe<br />

as roupas. E êle dormia em lânguido torpor, em um meio-<br />

sono, meio-virgília, em que a ver<strong>da</strong>de e o sonho, a reali<strong>da</strong>de e<br />

a fantasia se casavam, <strong>da</strong>nçavam, formavam lin<strong>da</strong>s coroas de<br />

ninfas, nixes, coribantes, guia<strong>da</strong>s pelo Deus Pan, corego e<br />

agonóteta”.<br />

E em “Elias Barrão”.<br />

“A primavera tépi<strong>da</strong> plainava sôbre a vegetação e sôbre<br />

minh’alma. Espumas alvas flutuavam como nenúfares à luz<br />

do sol, abrindo-se em festões quando as águas eram corta<strong>da</strong>s<br />

e


202 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

enruga<strong>da</strong>s pela asa leve de algumas garça real ou pelo remo<br />

rápido impelindo alguma piroga.<br />

“Marginavam as estreitas sen<strong>da</strong>s do jardim renques in-<br />

findos de papoulas, e as violetas humildes enchiam o ar com<br />

seu perfume sutil.<br />

“Lá na sombra de jasmineiro em flor, sôbre a herma<br />

branca e solene, mantinha-se, sobranceiro, o busto de um Deus<br />

a que estavam talvez consagrados o rio e o jardim.<br />

“Festões de rosas e jasmins circun<strong>da</strong>ndo-lhe a cabeça<br />

caíam até à fina areia, arrastando-se pelos degraus de már-<br />

more.<br />

“No soco do monumento sentei-me a teu lado. Mansas e<br />

arrulhantes pombas vieram, confiantes, brincar com a púrpu-<br />

ra dos ca<strong>da</strong>rços que atavam tuas sandálias e beliscavam-te a<br />

pele branca com seus bicos côr de rosa. Mas, no jardim, mais<br />

viçoso que os acantos, mais luminoso do que os crisântemos,<br />

mais puro e mais inocente do que a setinosa alvura <strong>da</strong>s camé-<br />

lias, estava teu olhar plácido, úmido e carinhoso, absorvendo<br />

tudo, tudo iluminando”.<br />

“A mata virgem e emaranha<strong>da</strong> do Cubatão, onde as co-<br />

pas movediças e altaneiras aparecem entrelaça<strong>da</strong>s de flores<br />

multicores, é diferente <strong>da</strong> <strong>da</strong> Serra dos Órgãos, cuja vegeta-<br />

ção é menos pujante, deixando ver, a intervalos, a ossatura<br />

vulcânica <strong>da</strong> montanha, e aqui e ali, mostrando os blocos in-<br />

formes de granito, grés ou cantaria, patinados de negro pela<br />

oxi<strong>da</strong>ção do tempo. Na margem <strong>da</strong> linha as quebra<strong>da</strong>s som-<br />

brias <strong>da</strong> serra, os recantos silenciosos, atapetados de liquens;<br />

as frinchas dos rochedos rocia<strong>da</strong>s pela névoa e pelos jorros<br />

d’água, nas alvas espumas <strong>da</strong>s corrediças, enlevavam-lhe o<br />

olhar. Dos socalcos e suaves declives, donde se debruçavam<br />

cachos de vistosas orquídeas preciosas ou que eram bor<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong>s franjas verdes <strong>da</strong>s avencas ou do rendilhado dos ásperos<br />

fetos, subiam perfumes de lírios e narcisos. Por vêzes não sa-<br />

bia distinguir as sensações e as confundia numa só: o perfu-<br />

me suave ou acre <strong>da</strong>s resinas era ao mesmo tempo murmúrio<br />

cantante <strong>da</strong>s águas ou silêncio augusto <strong>da</strong>s selvas. Cansa<strong>da</strong> a<br />

visão e satura<strong>da</strong> a retina pelo verde esplendente <strong>da</strong>s fôlhas,<br />

pelo roxo <strong>da</strong>s flores <strong>da</strong> quaresma e o amarelo dos ipês, do lim-<br />

bo branco <strong>da</strong>s palmas <strong>da</strong>s imbaúbas.. . »<br />

Eis um dos trechos de “Leituras de Ilka e Alba” (Livraria<br />

Alves), objeto do belo poema de Moacir de Almei<strong>da</strong>:


FÁBIO LUZ FILHO 203<br />

ANDORINHAS<br />

“As cigarras cantavam nos troncos, e na limpidez do céu<br />

azul um par gentil plainando sôbre as ervas dos campos, su-<br />

bindo e girando em tôrno aos alcantis descalvados <strong>da</strong> serra,<br />

procurando a beira<strong>da</strong> de um casal ou a cornija de alguma<br />

igrejinha campestre para construir o ninho, ia e vinha em<br />

giros contínuos, numa alegria festiva e inocente.<br />

“Lá no vale, no meio do verde escuro <strong>da</strong> mata, junto ao<br />

carreiro arenoso e em curvas que, como fita amarela e<br />

desbota<strong>da</strong>, serpeando por entre laranjais em flor e cêrcas de<br />

espinheiros, se perdia nos socalcos <strong>da</strong> serra, grimpando para<br />

as altu- ras, surgia a flecha de um templo simples e branco,<br />

bimbaIhando um sinozinho agudo, cujos sons iam de quebra<strong>da</strong><br />

em quebra<strong>da</strong>, de grota em grota, abalar o silêncio tépido <strong>da</strong><br />

floresta.<br />

“O silêncio <strong>da</strong> nave, a vago perfume de incenso, a solidão<br />

branca e nua do recinto, com suas toalhas ren<strong>da</strong><strong>da</strong>s, as poei-<br />

rentas cornijas entalha<strong>da</strong>s em grandes rendilhados, o ador-<br />

mecedor tilintar dos pingentes de cristal do grande lustre que o<br />

vento agitava tênuemente, como se dedilhasse a mêdo e<br />

experimentasse ca<strong>da</strong> nota, e a luz do sol brilhante e mati-<br />

nal, refratando-se no mesmo lustre e fazendo arabescos mati-<br />

zados no ladrilho do pavimento, onde loucamente rodopiava,<br />

às vêzes, uma fôlha sêca, convi<strong>da</strong>vam a construir o ligeiro ni-<br />

nho, donde sairia gárrula e bulhenta para as festas <strong>da</strong> natu-<br />

reza a prole pipilante e álacre que no verão vindouro enche-<br />

ria também de gritinhos agudos o velho campanário <strong>da</strong> igre-<br />

jinha campestre”.<br />

Ao fazer a crítica de “Manuscrito de Helena”, o grande<br />

ensaísta baiano, Carlos Chiacchio, teve para com a personali-<br />

<strong>da</strong>de literária de Fábio Luz as seguintes palavras, que desta-<br />

camos de longo trabalho: “O conto, o romance, a história, a<br />

crítica, a polêmica, a poesia, enfim, tô<strong>da</strong> a gama <strong>da</strong> criação<br />

artística exercitou com brilho nunca desmentido. Foi, sem tirar<br />

nem pôr, o tipo brasileiro do polígrafo, vivendo intensamente o<br />

mundo <strong>da</strong>s idéias, <strong>da</strong>s imagens e dos sentimentos. Desde os<br />

verdes anos, em Valença, ci<strong>da</strong>de baiana, ensaiou a pena na<br />

imprensa local, adestrando-a, depois, em prélios memoráveis,<br />

no jornalismo <strong>da</strong> côrte, onde não houve gênero literário em<br />

que não demonstrasse, exuberantemente, os seus altos recursos<br />

de inteligência culta e forte”.


204 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Mas, voltemos à Bahia.<br />

AINDA SALVADOR<br />

A igreja do convento de São Bento trouxe-me recor<strong>da</strong>ções<br />

de minha infância no Rio, pois fiz meu curso ginasial de seis<br />

anos no Ginásio de São Bento com mestres como Fausto e<br />

Mário Barreto, Carlos de Laet e tantos outros. Gratuito era o<br />

ensino na época, <strong>da</strong>do pela equanimi<strong>da</strong>de dos frades benediti-<br />

nos, a cuja grei pertenceu o tio de minha queri<strong>da</strong> mãe, pelo<br />

lado materno, Frei de Santa Catarina Furtado, orador esca-<br />

choante, também baiano, que no Rio, ao tempo do império,<br />

deslumbrou pelo talento e pelo poder verbal, que o tornaram,<br />

no consenso unânime, um émulo de Mont-Alverne, como disse.<br />

O reverendo Vicar era, ao tempo em que visitei a Basílica<br />

com seu fino trato e minudente e evangélica paciência, o guia<br />

culto e o guardião zeloso de precioso, variado e riquíssimo mu-<br />

seu de avoengueiras relíquias veneráveis.<br />

Neste museu, todo êle devido à dedicação impar do reve-<br />

rendo Vicar, vi a imagem de Nossa Senhora <strong>da</strong>s Maravilhas,<br />

envolta em belo manto de prata. Diz-se que, diante dessa ima-<br />

gem, após fervoroso apêlo, o padre Vieira teve o legendário es-<br />

talo que o transformou em gênio <strong>da</strong> oratória, só superado por<br />

Rui Barbosa.<br />

E que admiráveis painéis exornam a várias vêzes secular,<br />

ampla e tranqüila sacristia conventual, servi<strong>da</strong> de vasto mo-<br />

biliário de jacarandá com embutiduras de marfim!<br />

Os copos, taças, etc., fabricados por Fratelli Vita com lí-<br />

dimo e magnífico cristal de rocha baiano, emparelham, na<br />

perfeição e na sonori<strong>da</strong>de, com os <strong>da</strong> Boêmia, coisa que pouca<br />

gente sabe no Brasil. Quantos dêles não an<strong>da</strong>rão por aí como<br />

cristais <strong>da</strong> Boêmia!...<br />

Boas estra<strong>da</strong>s de ro<strong>da</strong>gem tornam as longas viagens su-<br />

portáveis, não obstante o sol inclemente. As baianas com seus<br />

acarajés saborosos e típicos, mas arrasantes para os noviços...<br />

São feitos no geral com feijão fradinho, cozido com azeite de<br />

dendê.<br />

O espetáculo do pôr do sol a esbrasear a baía azulina e<br />

ampla! As mãos de fa<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s rendeiras, no milagre e na ma-<br />

ravilha <strong>da</strong>s delica<strong>da</strong>s tessituras!... O evocativo túmulo de<br />

Labatut em Pirajá...<br />

A igreja do Senhor do Bonfim, o Mercado, o Parque de<br />

Ondina...


FÁBlO LUZ FILHO 205<br />

E seria longo o desfilar do rosário <strong>da</strong>s impressões indelé-<br />

veis, o que com o tempo, logo que os quefazeres me permitam<br />

calmas horas evocativas de introversão, farei, com prazer;<br />

mas não sei quando isto me será permitido...<br />

O NORDESTE<br />

O RECIFE<br />

Demorei-me em Pernambuco em 1954 e em 1958.<br />

O Recife, na grandeza de suas mais caras tradições histó-<br />

ricas, sempre me seduziu. O mesmo eu diria de Olin<strong>da</strong>, onde<br />

me demorei na contemplação de seu passado heróico, berço<br />

dos estudos jurídicos, pindorama que nos traz à mente, vindos<br />

dos pródromos <strong>da</strong> nacionali<strong>da</strong>de, os vultos que ergueram as<br />

igrejas-relíquias: a de Nossa Senhora do Monte (1535) e a de<br />

Gua<strong>da</strong>lupe, como ergueram a mais antiga do Brasil: a de<br />

Iguaraçu. Por isso, tenho <strong>da</strong> terra pernambucana, e de sua<br />

gente, a mais viva <strong>da</strong>s impressões. Admirei o dinamismo do<br />

Recife com seu surto de prosperi<strong>da</strong>de, com a beleza de seus<br />

aspectos venezianos, na mansuetude do Capibaribe; suas lar-<br />

gas aveni<strong>da</strong>s de arranha-céus, bairros como o Dérbi e os Afli-<br />

tos, etc., que são ridentes bairros residenciais, de elite. Os ve-<br />

lhos e decantados sobrados senhoris, reminiscências coloniais,<br />

ain<strong>da</strong> existem esmaltando o casario antigo, resistindo aos im-<br />

pactos do tempo inexorável, como os de Olin<strong>da</strong>. Esta venera<br />

ain<strong>da</strong>, com justas razões, não só os seus sobrados, senão tam-<br />

bém os seus balcões fi<strong>da</strong>lgos, os seus admiráveis relicários.<br />

E como em tô<strong>da</strong>s as ci<strong>da</strong>des que avançam tentacular-<br />

mente, tem o Recife também seus lados sombrios, como o Rio<br />

de Janeiro, no qual, encravados até entre a majestade graní-<br />

tica <strong>da</strong>s edifícios de Copacabana, surgem as favelas deprimen-<br />

tes, couto de tô<strong>da</strong> a gente, inclusive dos míseros nordestinos<br />

trazidos pelos “paus-de-arara”. Procurei ver os mocambos do<br />

Recife, que perduram, não obstante o meritório esfôrço inicial<br />

de Agamenon Magalhães. (O burocratismo é um dos flagelos<br />

administrativos brasi1eiros, devorando verbas e tornando in-<br />

frutíferas as melhores intenções. . .). Não vi os piores, que não<br />

estão pròpriamente em Encruzilha<strong>da</strong>; mas, os que vi, sobretu-<br />

do os do tipo coletivo, vamos dizer, tipo cortiço, em seqüência,<br />

com lugar apenas para uma pessoa poder deitar-se num girau<br />

sórdido, à razão de 70 e 80 cruzeiros mensais, êstes bastaram<br />

para uma impressão de profundo pesar, quase de horror. Fin-


206 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

cados dentro <strong>da</strong> fetidez de pauis inundáveis com as marés<br />

montantes, que os invadem a quase um metro de altura, têm<br />

os ruas enlamea<strong>da</strong>s, os porcos fossando espurcícias em der-<br />

redor, que a incidência de sol forte torna nauseantes!... Con-<br />

dição de vi<strong>da</strong> infra-humana! Isto dentro de uma ci<strong>da</strong>de ine-<br />

gàvelmente bela, que se moderniza cèleremente, justamente<br />

cognomina<strong>da</strong> a “Veneza americana”, a “Ci<strong>da</strong>de Maurícia”.<br />

Dolorosos contraste, como no Rio... Caldos-de-cultura de re-<br />

voltas justas, compreensíveis. Problemas sociais que se avo-<br />

lumam... Acredito, fielmente, que Paulo Afonso seja, para<br />

êsse grande Estado, alentadora esperança. Talvez faça retor-<br />

nar aos campos (se a industrialização, que já se esboça, não<br />

acentuar o êxodo...) tô<strong>da</strong> essa pobre gente desajusta<strong>da</strong> e<br />

subnutri<strong>da</strong> que zaranza pelas ruas do Recife, ci<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong><br />

cara, esmolando para poder sobreviver, lançando mão de<br />

expedientes de tô<strong>da</strong> sorte, num como mercado-persa<br />

pinturesco e multicolorido, no qual se encontram as<br />

saborosas frutas nativas, preciosas coisas de cunho regional,<br />

ao lado de bugigangas e do que as indústrias do Sul para lá<br />

remetem a rôdo.<br />

As janga<strong>da</strong>s singram um mar de cambiantes soberbas,<br />

nas praias de Boa Viagem e de Pina, como em Tambau (esta,<br />

praia de deslumbramento, em João Pessoa), irisações magní-<br />

ficas que nos extasiam e lembram as praias que vão de Ita-<br />

curuçá a Angra dos Reis, no Estado do Rio, e as de Salvador,<br />

na Bahia, entre elas Itapoã. Os coqueirais colocam as notas<br />

farfalhantes de seus portes esguios e belos, nessas praias nor-<br />

destinas.<br />

Suas igrejas estão ungi<strong>da</strong>s de recor<strong>da</strong>ções priscas. Os la-<br />

vôres <strong>da</strong> Capela Doura<strong>da</strong>, em proporções menores, lembram<br />

os esplendores <strong>da</strong> Igreja de São Francisco em Salvador, na<br />

Bahia... Outras faces, de acentua<strong>da</strong> côr local: os seus ven-<br />

dedores de guaiamus e de cocos nas calça<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s ruas; os de-<br />

liciosos sorvetes de mangaba e de cajá, e os refrescos de ma-<br />

racujá... Os seus cantadores, como os que vi e ouvi em<br />

Campina Grande, glosando na rua os motes <strong>da</strong>dos no<br />

momento, traços marcantes dessa inteligência viva e verve<br />

ensolara<strong>da</strong> do nordestino bravo. Sua imprensa moderna e<br />

brilhante honra os foros de cultura do grande Estado.<br />

Com fervor patriótico atinge-se o tôpo <strong>da</strong> tôrre <strong>da</strong> igreja<br />

de Nossa Senhora dos Prazeres (ergui<strong>da</strong> em 1696), marco que<br />

assinala a batalha dos Guararapes, pois é no acume dêsse<br />

morro célebre que ela se ergue na vetustez de suas sóli<strong>da</strong>s<br />

paredes medievas, conserva<strong>da</strong>s tô<strong>da</strong>s as suas características<br />

originárias. E fato curioso: em tôrno ao morro, em cómoros,


FABIO LUZ FILHO 207<br />

o “capim santo” só floresce no dia <strong>da</strong> batalha dos Guararapes!<br />

Daí a romaria anual <strong>da</strong> multidão crente, nesse dia, o capim<br />

florente nas mãos, subindo, genuflexa, até a igreja histórica.<br />

Dois Irmãos é belo centro de pesquisas agronômicas.<br />

Com o mesmo ímpeto com que plantou os fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong><br />

nacionali<strong>da</strong>de, saberá Pernambuco contornar os problemas<br />

que surgem e surgirão.<br />

A PAISAGEM NO BREJO E NO AGRESTE<br />

Pernambuco possui boas rodovias. VI animação e entu-<br />

siasmo no brejo e no agreste <strong>da</strong> Paraíba e de Pernambuco, pe-<br />

lo inverno chovido. Sobretudo o brejo paraibano oferecia as-<br />

pectos de trabalho intenso e festivo.<br />

O brejo paraibano é uma zona fitogeográfica, de água<br />

aflorante, <strong>da</strong> Serra <strong>da</strong> Borborema, possuidora de solos pro-<br />

fundos, embora pobres em azôto e fósforo e deficientes em<br />

matéria orgânica. Seus vales, no entanto, são em geral fér-<br />

teis. A criação de gado se faz em escala ínfima, havendo po-<br />

breza de plantas forrageiras. O leite constitui aí artigo de luxo,<br />

quadro extensivo ao Estado de Pernambuco e, pràticamente, a<br />

todo o Nordeste, como é sabido, o que, somado à ausência ou<br />

escassez de verduras, caracteriza a dieta <strong>da</strong> “gens” rural<br />

dessas regiões. O arren<strong>da</strong>mento é pouco usado. Dois polos aí se<br />

defrontam, como no resto do Nordeste: abastados ou<br />

remediados, ou zânganos, e pauperismo (êste, ca<strong>da</strong> vez mais<br />

avassalante, ao acicate <strong>da</strong>s sêcas e conseqüente êxodo), e uma<br />

classe média pequena e que se está proletarizando aos poucos,<br />

ao ajoujo <strong>da</strong> atual conjuntura econômica, mas com<br />

perspectivas de superação, sendo a Hidrelétrica uma grande<br />

esperança.<br />

A quase 80% de arreca<strong>da</strong>ção do impôsto de consumo nos<br />

Estados do Sul, opõem, o Norte, o Nordeste e o Brasil Central,<br />

juntos, uma percentagem que não chega a 6%, o que eviden-<br />

cia a pouqui<strong>da</strong>de do índice econômico.<br />

OS MANDACARUS<br />

Nas distâncias perlonga<strong>da</strong>s, nas caatingas escalva<strong>da</strong>s e<br />

nos agrestes, os man<strong>da</strong>carus, sobrelevando-se às demais xeró-<br />

filas,embora já tocados dos dedos mágicos do inverno pluvioso<br />

(maio de 1954), lembram sentinelas de gestos agressivos, a


208 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

bracejar para o azul, em atitudes de súplica ou advertência,<br />

como símbolos, sobranceiros na adustão em tôrno, já ameni-<br />

za<strong>da</strong>, como disse, pelos primeiros fustigos <strong>da</strong> inverna<strong>da</strong>, na<br />

futuração de boas colheitas, sobretudo de cereais e algodão.<br />

O almo poder <strong>da</strong>s águas, no espetáculo <strong>da</strong> resurreição...<br />

Êles, os man<strong>da</strong>carus e os avelos, realmente tipificam a<br />

paisagem nordestina. Os avelos (ou “aveloz”, como na lingua-<br />

gem popular é denomina<strong>da</strong> a euforbiácea, que o gado te-<br />

me) quadriculam a paisagem, dividem as proprie<strong>da</strong>des, que se<br />

vão fragmentando, emoldurando plantações de palmas, aga-<br />

ves, macaxeiras, palmas em meio de algodoais. Na sua re-<br />

sistência à inclemência do clima, como o bode e o jerico, bem<br />

caracterizam, êles, os avelos e os man<strong>da</strong>carus, as regiões nor-<br />

destinas, de longes bravios. Os avelos atingem às vêzes a altura<br />

de ver<strong>da</strong>deiras árvores.<br />

Regiões vi onde, pràticamente, havia quatro anos não<br />

chovia. Pude avaliar, de visu, como as acerbi<strong>da</strong>des teluricas<br />

enrijaram a fibra do nordestino. Nesses cenários desertos e<br />

adustos, teima o sertanejo em viver, ou sobreviver, caldeando a<br />

alma forte aos embates <strong>da</strong>s adversi<strong>da</strong>des climáticas e outras,<br />

alma forte que rejubilava, então, às primeiras lufa<strong>da</strong>s do in-<br />

verno chovido. Os que não querem os “paus-de-arara”, tei-<br />

mam em continuar nos seus eitos, nas suas “casas de farinha”,<br />

apelando nas sêcas para o próprio fruto <strong>da</strong> palma com farinha<br />

e, de quando em vez, carne de bode. Continuam nas suas casas<br />

colma<strong>da</strong>s e revesti<strong>da</strong>s de fôlhas de catolé, quando não de<br />

argila, peça indissociável do fadário do homem rural<br />

brasileiro...<br />

Eis a situação de duas <strong>da</strong>s áreas ecológicas pernambuca-<br />

nas: a mata (que, pràticamente, envolve o litoral) tem uma<br />

densi<strong>da</strong>de demográfica de 140 pessoas por quilômetro quadra-<br />

do, enquanto o agreste e a caatinga apresentam uma densi-<br />

<strong>da</strong>de de 50 habitantes por quilômetro quadrado. No sertão mal<br />

chega a 8 por quilômetro quadrado...<br />

A contribuição de Pernambuco para a ren<strong>da</strong> nacional é<br />

de 3,57%, a <strong>da</strong> Paraíba, de 1,39%; a dos demais Estados do<br />

Nordeste reunidos não ultrapassa a percentagem de 3%. Tudo<br />

isto assinala um desnível econômico de estarrecer, em relação<br />

ao Sul do país.<br />

A flagelação <strong>da</strong>s sêcas, os “cariris” chocantes... Quando<br />

os açudes com fins de irrigação, os nucleamentos de base<br />

cooperativa, os fios de ressurreição de Paulo Afonso?...


FÁBIO LUZ FILHO 209<br />

CAMPINA GRANDE<br />

Campina Grande é uma bela e próspera ci<strong>da</strong>de paraibana<br />

para a qual afluem várias zonas fitogeográficas (brejo, agres-<br />

te, etc.). É considera<strong>da</strong>, com razão a maior ci<strong>da</strong>de interior de<br />

todo o Nordeste, como Caruaru é a capital do agreste per-<br />

nambucano. É ela sede de um município que arrecadou, em<br />

1953, mais de 26.000.000 de cruzeiros, situa<strong>da</strong> em plena Serra<br />

<strong>da</strong> Borborema, como uma média de pluviosi<strong>da</strong>de de 1.220 mm,<br />

e temperatura máxima de 28 graus e mínima de 14. Nela en-<br />

contrei em maio de 1954, no átrio <strong>da</strong> Prefeitura, uma família<br />

nordestina que ali dormira para ter oportuni<strong>da</strong>de de solicitar,<br />

do Prefeito, uma passagem de volta ao torrão dela, no sertão<br />

paraibano, pois o brejo, disse-me o chefe, sertanejo moço, alto<br />

e forte, quase em andrajos, de olhos úmidos, no brejo tô<strong>da</strong> a<br />

família, mulher e sete filhos, havia apanhado “sezões”...<br />

Preferia voltar para o seu pe<strong>da</strong>ço de terra e plantar algodão;<br />

mas, a miséria e a fome só lhe permitiam mendigar. A mulher,<br />

quase esquáli<strong>da</strong>, com os sete filhos deitados nos ladrilhos frios,<br />

era bem a imagem de sofrimento: olhos baixos, de profun<strong>da</strong><br />

resignação, amamentando lin<strong>da</strong> criança, clara e louro. Que<br />

formidável material humano ali estava! O drama sombrio do<br />

Nordeste estava naquele quadro estereotipado: esperanças<br />

nunca perdi<strong>da</strong>s, andejar contínuo em busca de novos<br />

horizontes de trabalho e fartura, regresso ao primeiro<br />

tamborilar cantante <strong>da</strong>s chuvas promissoras, à primeira<br />

clarina<strong>da</strong> de dias melhores, intenso apego à terra natal, aquêle<br />

inapagável anseio que Euclides <strong>da</strong> Cunha focou<br />

magistralmente, e José Américo de Almei<strong>da</strong> fixou em<br />

“Bagaceira”, imanizando o sertanejo heróico...<br />

Reafirmou, recentemente, o professor Moisés Poblete<br />

Troncoso, que a estrutura econômica de tô<strong>da</strong> a América Lati-<br />

na é fun<strong>da</strong>mentalmente agrária, constituindo o binômio terra-<br />

trabalho o ponto de parti<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua economia rural. Ain<strong>da</strong> tem<br />

configuração níti<strong>da</strong> aquela situação mui aproxima<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

célebres “encomien<strong>da</strong>s” e <strong>da</strong> do colonialismo sesmeiro...<br />

Mas, encerremos essas páginas de repouso, sau<strong>da</strong>des e<br />

retrospeção...


CAPÍTULO IX<br />

AINDA O COOPERATIVISMO ESCOLAR NA FRANÇA<br />

E OUTROS PAÍSES<br />

Totomianz, o grande propagandista russo exilado por<br />

questões políticas, acentuou que as cooperativas escolares euro<br />

péias incluíam em sua finali<strong>da</strong>des as mais varia<strong>da</strong>s operações:<br />

a ven<strong>da</strong> de livros escolares ou objetos para desportos, a preços<br />

reduzidos; a compra de livros para a biblioteca escolar; a<br />

organização de conferências sôbre temas referentes ao<br />

cooperativismo; a aquisição de artigos alimentícios, como o<br />

pão e o leite para os alunos, a produção em comum de objetos<br />

variados, como sejam encadernações, brinquedos, jogos,<br />

artigos de carpintaria; o estabelecimento de uma caixa de<br />

economia e de empréstimos, que poderá funcionar junto à<br />

cooperativa de consumo ou formar parte dela; investigações<br />

botânicas e o cultivo de árvores frutíferas, legumes, criação de<br />

abelhas, etc. Incluem-se nesses objetivos a visita a outras<br />

cooperativas escolares e a cooperativas de adultos. Acha<br />

Totomianz que a constituição e a gestão de uma cooperativa<br />

escolar defrontam alguns obstáculos de ordem jurídica, e<br />

que a melhor ma- neira de contorná-los é fazer que a<br />

responsabili<strong>da</strong>de de todos os compromissos <strong>da</strong> cooperativa<br />

escolar seja toma<strong>da</strong> pela pró- pria escola ou por um “comitê”<br />

de pais, com a condição, porém, de nunca, dessa intervenção,<br />

decorrer a coartação <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de dos jovens cooperadores<br />

escolares, que devem diri-gir suas pequenas cooperativas.<br />

Diz Totomianz que, antes de Profit, houve uma tentativa<br />

em 1881, na França, parti<strong>da</strong> de um Sr. Cauvet, que organizou<br />

em Paris uma associação escolar de auxílio mútuo (não é<br />

cooperativismo escolar).<br />

Acham outros que houve também em 1889 uma tentativa<br />

no sentido <strong>da</strong> associalização escolar, tendo-se então constituí-<br />

do uma associação escolar florestal no departamento de Jura,<br />

onde, três anos depois, já se contavam cinqüenta associações<br />

desse gênero.


FABIO LUZ FILHO 211<br />

Em 1909 surgiu a Federação <strong>da</strong>s Mútuas Escolares Flores-<br />

tais, em Ain, a qual em 1931 filiava 57 socie<strong>da</strong>des com 2.600<br />

associados. Em 1912, uma mútua escolar em Carcassone.<br />

Em 1929 existiam, no departamento francês de Gard,<br />

oitenta cooperativas escolares com 3.500 associados, havendo<br />

sido fun<strong>da</strong><strong>da</strong> a primeira em 1924. São cooperativas escolares<br />

de consumo e produção. Os alunos, para conseguir numerá-<br />

rio, colhem ervas medicinais, criam bichos de se<strong>da</strong>, cosem,<br />

tecem, organizam excursões. Os lucros ou benefícios são<br />

utilizados na aquisição de cinemas escolares, no enriqueci-<br />

mento <strong>da</strong>s bibliotecas escolares, etc.<br />

Cattier refere-se às cooperativas escolares na Tchecos-<br />

lováquia reerguendo ci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> miséria com a indústria de<br />

madeira e louças.<br />

Existiam na Polônia cooperativas escolares de crédito e<br />

consumo fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelas cooperativas de adultos (o movi-<br />

mento francês, como já assinalei, difere dêste, pois teve início<br />

nos meios escolares e por iniciativa de um inspetor de ensino).<br />

A União <strong>da</strong>s Cooperativas de Consumo polonesa chegou a<br />

instituir uma comissão especial para atender ao desenvol-<br />

vimento <strong>da</strong>s cooperativas escolares. Há quem dê o movimento<br />

polonês como iniciado em 1906.<br />

A obra social, empreendi<strong>da</strong>, manti<strong>da</strong> e desenvolvi<strong>da</strong> pelo<br />

cooperativismo escolar na Polônia, segundo afirmava To-<br />

tomianz em 1935, é de grande importância, compreendendo a<br />

aju<strong>da</strong> material aos seus pequenos associados, por intermé-<br />

dio dos armazéns cooperativos, e a aju<strong>da</strong> intelectual para a<br />

organização de cursos, oficinas para colocação dos alunos que<br />

se virem na dura contingência de procurar, por seus próprios<br />

esforços, seus meios de subsistência, assim como auxílios para<br />

a instalação condigna de museus escolares, etc.<br />

As cooperativas escolares romenas nasceram do hábito que<br />

possuíam os professôres romenos de se cotizarem para o<br />

fornecimento de livros aos seus alunos, no comêço de ca<strong>da</strong> ano<br />

letivo.<br />

O Diretor <strong>da</strong> Instrução Pública Sr. Spirit Haret, estimulou a<br />

fun<strong>da</strong>ção dessas organizações mediante um trabalho de per-<br />

suação ininterrupto. Parece ter o movimento começado em<br />

1908.<br />

A “Oficina Nacional Romena” e o “<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Instrucão<br />

Pública” fun<strong>da</strong>ram em 1935 a União <strong>da</strong>s Cooperativas Es-<br />

colares.


212 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

A lei mexicana sôbre cooperativas <strong>da</strong>ta de 11 de janeiro<br />

de 1938, e inclui em seus dispositivos as cooperativas escolares,<br />

subordina<strong>da</strong>s à Secretaria de Educação dessa república. Como<br />

disse, a Colômbia já elaborou seu projeto de lei, e o Dr.<br />

Alvarino Herr, ilustre advogado peruano e presidente do<br />

Instituto Cooperativo do Peru, acaba de me comunicar que irá<br />

utilizar meu livro “Cooperativas escolares” na grande<br />

campanha cooperativista que aquêle Instituto, integrado por<br />

um grupo de brilhantes técnicos e intelectuais, está<br />

desenvolvendo nesse país, de tão belas tradições.<br />

Victor Serwy, o ilustrado cooperativista belga, diz que, de-<br />

pois <strong>da</strong> guerra, os dirigentes do movimento cooperativo<br />

mundial foram levados a pensar mais particularmente nas<br />

mulheres e crianças, as eternas e maiores vítimas <strong>da</strong> insânia<br />

dos imperialismos e dos lamentáveis desentendimentos entre<br />

povos. Quiseram que orientassem seus lazeres de um modo<br />

proveitoso para a saúde do corpo e do espírito, insuflando<br />

alegria reconfortante e comunicativa aos seus generosos<br />

corações. E relata como já se disseminam pelos países<br />

europeus (Alemanha, Inglaterra, França, Austria, Bélgica,<br />

etc.) manti<strong>da</strong>s por grandes federações de cooperativas,<br />

sobretudo de consumo, as colônias cooperativas de férias, com<br />

seus sanatórios, etc. Constituem uma <strong>da</strong>s grandes e meritórias<br />

obras que o cooperativismo vem prestando ao mundo como<br />

iniciativa particular coberta pelos planejamentos <strong>da</strong> flâmula<br />

arco-irisa<strong>da</strong> do cooperativismo, símbolo de luz e harmonia<br />

entre os homens.<br />

Um outro exemplo, no mundo, frisante do poder educati-<br />

vo dos agrupamentos cooperativos de estudos, é o dos cursos<br />

de extensão <strong>da</strong> St. Francis Xavier University, na América do<br />

Norte.<br />

“The study club is the fulcrum used by the operators of<br />

this educational lever to raise the general status of the people”,<br />

são palavras do Rev. Malcom Mac. Lellan, ao se referir ao<br />

departamento de extensão <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de acima referi<strong>da</strong> no<br />

seu alto objetivo de preparar as gerações moças para a ação.<br />

E veremos a atuação do reverendo Coady.<br />

COOPERATIVAS ESCOLARES AGRÍCOLAS<br />

Cooperativas agrícolas de compra e ven<strong>da</strong> existem nas es-<br />

colas superiores de agricultura, dos Estados Unjdos <strong>da</strong> Ame-<br />

rica do Norte. Não têm elas, nesse país, a obrigação de se re-


FÁBIO LUZ FILHO 213<br />

gistrarem, mas seus estatutos contêm as disposições comuns às<br />

organizações de adultos, com um fim altamente educativo<br />

perfeitamente compreensível.<br />

São fins dessas associações:<br />

a) criar uma organização cooperativa de ven<strong>da</strong> e de<br />

compra graças à qual os alunos <strong>da</strong>s escolas superiores de agricultura<br />

poderão chegar a adquirir, pelo método direto, a experiência<br />

cooperativa, os princípios <strong>da</strong> cooperação e sua aplicação<br />

prática, as normas de organização e a direção a <strong>da</strong>r às<br />

operações sôbre uma base sã;<br />

b) incentivar, animar e empreender a produção, a exposição,<br />

a classificação, a expedição, o financiamento, a armazenagem,<br />

a publici<strong>da</strong>de, a ven<strong>da</strong> e tô<strong>da</strong>s as outras operações de<br />

manipulação dos produtos agrícolas, e proporcionar aos<br />

associados tô<strong>da</strong>s as facili<strong>da</strong>des e serviços graças aos quais possam<br />

êles exercer essas ativi<strong>da</strong>des ou outra qualquer sôbre uma<br />

base cooperativa;<br />

c) fazer a ven<strong>da</strong> dos artigos produzidos por seus membros;<br />

comprar e vender todos os artigos de conformi<strong>da</strong>de com<br />

os regulamentos estabelecidos pelo Conselho de Administração;<br />

d) colaborar com as socie<strong>da</strong>des cooperativas de adultos ou<br />

outras socie<strong>da</strong>des de jovens;<br />

e) operar conforme as leis sôbre as socie<strong>da</strong>des cooperativas<br />

em vigor no Estado onde se fun<strong>da</strong>rem.<br />

Assim, nos estatutos constantes do presente livro, com<br />

ligeiras modificações (um diretor-gerente com funções mais<br />

altas, um conselho fiscal, integrado por alunos exclusivamente<br />

e modificação dos objetivos, etc.), poderão enquadrar-se<br />

mais duas formas: crédito e ven<strong>da</strong>.<br />

Na Polônia, algumas escolas agrícolas tinham, antes <strong>da</strong><br />

guerra de 1939, tô<strong>da</strong> a sua organização interna (alojamentos e<br />

alimentação) sob a égide de uma cooperativa escolar.<br />

Que se realize, pois, no Brasil, o que Profit vaticinou para<br />

a França, apoiado em Izoulet:<br />

“La coopération scolaire française est en mesure de tournir<br />

à la société des “associés loyaux”, les citoyens et les<br />

hommes nouveaux dont le monde a besoin”.<br />

Estou, humildemente, com Profit, em face dos frutos que<br />

já vamos colhendo no Brasil, como educação econômica, moral,<br />

cívica e social dos homens e <strong>da</strong>s mulheres de amanhã.<br />

E A. Carneiro Leão tem a êsse respeito admiráveis conceitos<br />

em “Socie<strong>da</strong>de Rural — Seus problemas e sua educação”:


214 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

“Muito mais do que “alfabetização”, generalização de es-<br />

cola primária comum, impõe-se no interior do Brasil uma edu-<br />

cação capaz de prender o homem a seu ambiente físico e social,<br />

de torná-lo um fator consciente de bem-estar de sua comuni-<br />

<strong>da</strong>de, Muito mais do que escolas para ensinar a ler, escrever e<br />

contar pelos mesmos livros, pelos mesmos mestres <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>-<br />

des, a zona rural necessita de preparar seus filhos para resol-<br />

verem os problemas regionais, para integrarem-se em seu<br />

mundo, fazendo-o progredir”.<br />

Com todo o meu veemente apoio ao brilhante pe<strong>da</strong>gogo,<br />

acrescento que o cooperativismo é o veículo naturalmente in-<br />

dicado para essa integração, o que, aliás, reconheceu ao<br />

referir-se, bondosamente, naquele seu belo e profundo livro, à<br />

minha humilde atuação.<br />

FRANÇA<br />

Disse Valdiki Moura em seu livro “Dez faces do mundo”<br />

(1954):<br />

“A falta dos contactos premeditados, procurei estender-<br />

me com o “Office Central de Ia Coopération ã l’Ecole”,<br />

instalado no Museu Pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Paris, à<br />

Rua d’Ulm, 29.<br />

“Esta organização tem a configuração jurídica de associa-<br />

cão civil, defini<strong>da</strong> em lei de 1.º de julho de 1901, que dispõe<br />

sôbre o seu contrato e legalização.<br />

“Há em França vários agrupamentos de caráter coopera-<br />

tivo, constituídos no regime desta lei. Não dependem de auto-<br />

rização governamental e podem receber cotizações dos associa-<br />

dos, que não exce<strong>da</strong>m, individualmente, de 500 francos, e<br />

adquirir os imóveis estritamente necessários ao cumprimento<br />

dos seus objetivos. Podem, ain<strong>da</strong>, ser reconhecidos como de<br />

utili<strong>da</strong>de pública e praticar todos os atos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> civil, que não<br />

sejam proibidos em seu estatuto.<br />

“Antes havia sido fun<strong>da</strong>do (maio de 1928) com a<br />

designação de Office Central des Coopératives Scolaires,<br />

passando a usar o título atual em <strong>da</strong>ta de 22 de dezembro de<br />

1929, embora o registro se verificasse a 22 de fevereiro do ano<br />

seguinte.<br />

O OCCE compreende as Secções Departamentais ou pro-<br />

vinciais, administra<strong>da</strong>s por um conselho de administração, que<br />

propõe, ca<strong>da</strong> uma, um man<strong>da</strong>tário, ao qual o Conselho <strong>da</strong><br />

Administração Nacional envia os podêres legais para gerir a<br />

Secção; e as Secções Locais, que são as próprias cooperativas.


FÁBIO LUZ FILHO 215<br />

escolares. Neste caso, o man<strong>da</strong>tário departamental substa-<br />

belece os seus podêres a um man<strong>da</strong>tário local, designado pelo<br />

Conselho de Administração Departamental.<br />

“A cooperativa escolar, investi<strong>da</strong> de tais podêres, natu-<br />

ralmente age como uma associação independente, administra-<br />

<strong>da</strong> pelos alunos, sob a tutela do diretor ou do man<strong>da</strong>tário.<br />

“O Conselho de Administração do OCCE é constituído de<br />

24 membros, dentre os quais um é o presidente (o inspertor<br />

-geral de Instrução Pública, Sr. Prévot); dois são vice-presi-<br />

dentes (o diretor adjunto do Ensino de Primeiro Grau do Mi-<br />

nistério de Educação Nacional e o secretário <strong>da</strong> Secção De-<br />

partamental de Côte-d’Or); um secretário-geral e outro adjun-<br />

to, que são, respectivamente, um inspetor do Ensino Primária<br />

e um assistente do Ensino Técnico; o tesoureiro-geral e outro<br />

adjunto, ambos técnicos em educação, sendo um dêles o Sr<br />

Jean Gaumont, autor <strong>da</strong> famosa “Histoire Générale de lo<br />

Coopération en France”. Os demais membros são pessoas de<br />

tirocínio e projeção nos meios educacionais e cooperativos,<br />

pertencentes aos quadros <strong>da</strong> Liga do Ensino, <strong>da</strong> Federação<br />

Nacional <strong>da</strong>s Cooperativas de Consumo, do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Agricultura</strong>, <strong>da</strong> Confederação Geral <strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des<br />

Cooperativas de Produção, <strong>da</strong> Federação Nacional de<br />

Cooperação Agrícola, do Sindicato Nacional de Instrutores e<br />

de várias Secções Departamentais.<br />

“Isso não quer dizer que a composição tenha de ser sem-<br />

pre a mesma, e que a escolha deva invariàvelmente incidir em<br />

tais grupos. Refiro-me à composição do quadro atual, apenas<br />

para indicar a sua complexi<strong>da</strong>de e a participação ampla que<br />

têm os diversos setores nacionais na organização do coopera-<br />

tivismo escolar. Permito-me, também, particularizar o nome<br />

de Maurice Colombain, antigo chefe do serviço de Cooperação<br />

do Bureau Internacional do Trabalho, como um dos membros<br />

do Conselho do OCCE, pela projeção excepcional que tem,<br />

como publicista e realizador do sistema.<br />

“Além <strong>da</strong> publicação <strong>da</strong> Revue de la Coopération Scolaire<br />

e do Bulletin d’Information, e de textos contendo doutrinação<br />

de base, foram distribuídos, no último, ano, 75 mil exemplares<br />

de publicações orientadoras, inclusive sôbre a colheita,<br />

secagem e expedição de plantas medicinais, ativi<strong>da</strong>de a que se<br />

entregam muitas cooperativas do interior. Todo êste material<br />

foi encaminhado às secções departamentais, que o<br />

distribuíram aos cursos complementares, aos centros de<br />

formação profissional e aos liceus.


216 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

“Outra ativi<strong>da</strong>de a que se tem entregue, é a realização de<br />

conferências nas assembléias gerais dos departamentos e<br />

secções e nas escolas normais (especialmente para profes-<br />

soran<strong>da</strong>s) quase sempre complementa<strong>da</strong>s com visitas a coope-<br />

rativas de consumo.<br />

“Uma ativi<strong>da</strong>de recentemente estimula<strong>da</strong> é aquela do<br />

Serviço Filatélico do OCCE, tendo sobretudo em vista o seu<br />

caráter pe<strong>da</strong>gógico, como veículo de conhecimentos de história<br />

e geografia. O Serviço se encarrega <strong>da</strong> compra, ven<strong>da</strong> e per-<br />

muta de timbres postais, com a bonificação oficial de 50%,<br />

publicando ain<strong>da</strong>, na revista do Office, artigos especializados<br />

de orientação filatélica.<br />

“Realizou um concurso nacional de pintura, com distri-<br />

buição de prêmios do valor total de cem mil francos, visando<br />

estimular a aptidão artística dos alunos. Dessa montra, fo-<br />

ram retirados alguns quadros mais interessantes, que consti-<br />

tuem uma exposição ambulante posta à disposição <strong>da</strong>s secções<br />

departamentais, sem qualquer ônus. Visando, por outro lado, a<br />

estimular os animadores do Movimento, o OCCE instituiu<br />

os diplomas de honra <strong>da</strong> Cooperação Escolar, distribuídos até<br />

o máximo de oito por Secção Departamental, segundo a im-<br />

portância dos seus quadros. O julgamento é processado por<br />

uma comissão de que fazem parte os inspetores de liceus e os<br />

conselhos de administração <strong>da</strong>s secções departamentais.<br />

“Estava cogitando o Office do estabelecimento de um<br />

grande depósito para suprimento às cooperativas escolares,<br />

conforme constantes recomen<strong>da</strong>ções feitas pelos órgãos de-<br />

partamentais, embora uma corrente achasse que as possibili-<br />

<strong>da</strong>des atuais do mercado, quanto ao suprimento de mate-<br />

rias-primas e artigos escolares, eram de tal maneira favorá-<br />

veis, que as cooperativas poderiam abastecer-se diretamente,<br />

sem necessi<strong>da</strong>de de tal organismo central. Mas é possível que a<br />

idéia vá se desenvolvendo de futuro, não sòmente para criar,<br />

em beneficio <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de escolar, condições ain<strong>da</strong> mais<br />

favoráveis de compra, como também para prevenir abusos<br />

eventuais, conseqüentes <strong>da</strong> escassez de mercadorias ou de<br />

situações econômicas anormais.<br />

“Para ir suprindo a lacuna, as secções departamentais<br />

costumam combinar os pedidos <strong>da</strong>s cooperativas locais, com o<br />

fim de obterem condições mais satisfatórias dos fornecedo-<br />

res. Mas, no íntimo, o Office receia a denúncia do comércio<br />

privado, sob a alegação de concorrência desleal, o que poderia<br />

redun<strong>da</strong>r em complicações para o movimento.


FÁBIO LUZ FILHO 217<br />

“Pela mesma razão, recusou-se a organizar o mercado<br />

nacional distribuidor de plantas medicinais, produzi<strong>da</strong>s e<br />

acondiciona<strong>da</strong>s pelas Cooperativas escolares. Quer ser, apenas,<br />

um órgão de estímulo moral e cultural, fugindo a qualquer<br />

cará- ter mercantil, que a lei de 1.º de julho de 1901 ve<strong>da</strong> em<br />

parte. “Na época, o Office contava com 84 secções departamen-<br />

tais, tendo sob o seu contrôle 12.808 cooperativas, <strong>da</strong>s quais<br />

12. 564 do ensino de primeiro grau, com 383.509 associados,<br />

123 do segundo grau (escolas secundárias) com 12.621, en-<br />

quanto 121 eram constituí<strong>da</strong>s de alunos do ensino técnico,<br />

com 20.170 filiados, agrupando o total de 416.300.<br />

“Sendo inteiramente lastreado na livre adesão, o recru-<br />

tamento a todo preço jamais tem estado em suas cogitações<br />

E afirma, ain<strong>da</strong>, o relatório do Office: “Nós preferimos muitas<br />

cooperativas escolares ver<strong>da</strong>deiramente dignas dêste nome,<br />

a admitir classes aderentes que acreditem que tudo que te-<br />

nham a fazer, seja, sòmente, pagar as cotizações.<br />

“As Secções Departamentais tomaram a si a publicação<br />

de boletins informativos; a organização de conferências, ex-<br />

posições, concursos, viagens instrutivas, visitas às instalações<br />

de cooperativas e fichários de viagens; a estocagem e ven<strong>da</strong> de<br />

plantas medicinais; levaram a têrmo a organização dos cha-<br />

mados centros de acolhimento e recepção aos cooperadores, os<br />

serviços de compra e empréstimos e também a edição de<br />

alguns livretos didáticos, especialmente de cunho histórico.<br />

“Tem-se feito a observação de que as cotizações e as sub-<br />

venções concedi<strong>da</strong>s às cooperativas, estão diminuindo na mes-<br />

ma proporção em que a sua receita é dinamiza<strong>da</strong> pela orga-<br />

nização de festivais; manutenção de jornais periódicos; fa-<br />

brico manual e ven<strong>da</strong> de tecidos, jogos e artigos de madeira,<br />

couro e papelão; encadernações artísticas e distribuição de<br />

produtos hortícolas e de criação — tudo confeccionado ou<br />

produzido pelos próprios alunos, em áreas anexas às escolas.<br />

“No ano de 1950, sòmente 63 Secções Departamentais<br />

realizaram, por esta via, uma receita superior a 120 milhões de<br />

francos, que deixou o saldo líquido de 20 milhões.<br />

“Outra fonte de suprimento de capital é a contribuição<br />

anual per-capita, geralmente fixa<strong>da</strong> em cinco francos, dos quais<br />

2 frs. são reservados à Secção Departamental, destinando-se o<br />

restante ao Office Central. Há também a ren<strong>da</strong> subsidiária <strong>da</strong>s<br />

subvenções concedi<strong>da</strong>s pelos organismos oficiais de ensino,<br />

cooperativas de consumo e de produção agrícola e industrial, e<br />

também pelos sindicatos.


218 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

No exercido, a receita atingiu a 2.333.833 francos de co-<br />

tizações pagas por cêrca de 300 mil cooperadores escolares,<br />

enquanto todos os esforços estavam sendo feitos para que o<br />

número de contribuintes se elevasse, imediatamente, ao mí-<br />

nimo de 500 mil.<br />

“Outros objetivos imediatos que o OCCE está<br />

perseguindo podem ser resumidos nos seguintes pontos: 1)<br />

intensificar um intercâmbio permanente com as Secções<br />

Departamentais, através de conferências, exposições<br />

ambulantes e preparo de tô<strong>da</strong> documentação necessária à<br />

propagan<strong>da</strong>; 2) fazer com que tô<strong>da</strong>s as Escolas Normais<br />

recebam por ano, ao menos, uma visita de um dos<br />

conferencistas do OCCE, contato que será extensivo aos<br />

inspetores do ensino primário; 3) com o concurso <strong>da</strong>s<br />

organizações cooperativas de adultos, promover uma<br />

distribuição, em maior escala, de bôlsas de viagem e concursos<br />

entre os alunos dos liceus, escolas normais e estabelecimentos<br />

técnicos; 4) desenvolver maiores esforços junto às autori<strong>da</strong>des<br />

do ensino secundário, para que haja maior penetração <strong>da</strong><br />

doutrina cooperativa nos estabelecimentos técnicos; 4)<br />

desenvolver maiores esforços junto às autori<strong>da</strong>des do ensino<br />

secundário, para que haja maior penetração <strong>da</strong> doutrina<br />

cooperativa nos estabelecimentos desta categoria, e,<br />

conseqüentemente, o aumento <strong>da</strong> rêde de cooperativas; 5) rea-<br />

lização de novo Concurso Nacional, com o fim de ilustrar, de<br />

maneira precisa, a identi<strong>da</strong>de e intimi<strong>da</strong>de dos métodos coope-<br />

rativos com as ativi<strong>da</strong>des pròpriamentes escolares; 8) <strong>da</strong>r seu<br />

apoio a tô<strong>da</strong>s as manifestações organiza<strong>da</strong>s pelas grandes<br />

associações, em defesa dos interêsses <strong>da</strong> Escola Laica, visando<br />

à formação do senso social e cívico <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des intelectuais e<br />

manuais”.<br />

O COOPERATIVISMO ESCOLAR NA AMERICA<br />

DO NORTE<br />

o cooperativismo escolar, iniciado entre os estu<strong>da</strong>ntes dos<br />

Estados Unidos durante a crise de 1932 e 1933, permitiu a mi-<br />

lhares de jovens receberem uma instrução superior. Foram os<br />

estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> “Texas <strong>Agricultura</strong> Mechanical College” os<br />

primeiros a recorrer ao cooperativismo. Já se assinalou que,<br />

forçados pela crise a deixar o colégio, doze dentre êles resolve-<br />

ram criar um grupo cooperativo. Alugaram uma velha casa,<br />

cujo proprietário lhe forneceu o material necessário para os<br />

reparos. Mobiliaram a nova residência, arranjando móveis<br />

aqui


FÁBIO LUZ FILHO 219<br />

e ali. Tomaram uma emprega<strong>da</strong> para cozinhar e dirigir a casa,<br />

aceitando esta como remuneração a quantia de um dólar men-<br />

sal, por estu<strong>da</strong>nte, além de casa e comi<strong>da</strong>. Os estu<strong>da</strong>ntes en-<br />

carregaram-se de fazer as camas, limpar a casa, lavar a louça<br />

e preparar os alimentos para cozinhar. Os gastos eram repar-<br />

tidos igualmente, sendo que alguns sal<strong>da</strong>vam sua parte com<br />

carnes e legumes recebidos <strong>da</strong>s fazen<strong>da</strong>s de seus pais. Desde o<br />

início, êsse sistema trouxe completo sucesso, e, em 1934, perto<br />

de 250 estu<strong>da</strong>ntes viviam em 20 casas organiza<strong>da</strong>s dessa<br />

forma.<br />

Em 1936, contavam-se 700 estu<strong>da</strong>ntes organizados coope-<br />

rativamente. O colégio reuniu então uma soma de 100.000<br />

dólares para construir 14 casas modernas, ca<strong>da</strong> uma podendo<br />

agasalhar 32 estu<strong>da</strong>ntes e sendo dirigi<strong>da</strong> por um dêsses.<br />

Do Texas <strong>Agricultura</strong>l and Mechanical College o sistema<br />

passou à Universi<strong>da</strong>de do Texas, onde 300 jovens, dos dois<br />

sexos, chegaram a possuir 15 casas cooperativas, o que lhes<br />

permitiu economizar 25.000 dólares entre os gastos de mora-<br />

dia e de alimentação.<br />

“Na Universi<strong>da</strong>de de Washington, há seis anos, inúme-<br />

ros estu<strong>da</strong>ntes viviam em quartos paupérrimos e comiam nos<br />

restaurantes mais miseráveis. Na primavera de 1937, 37 Jo-<br />

vens que haviam ouvido falar <strong>da</strong>s casas cooperativas, incumbi-<br />

ram-se de reunir, ca<strong>da</strong> um, a soma de 10 dólares, e, no comêço<br />

do novo ano escolar, alugaram uma casa por módico preço.<br />

Com o capital de 370 dólares, compraram tintas, material de<br />

limpeza, cadeiras e mesas. Quando seus colegas verificaram<br />

que êsse grupo podia assegurar residência e alimentação con-<br />

fortável e ca<strong>da</strong> um de seus membros por, apenas, 16 dólares<br />

por mês, resolveram seguir o exemplo.<br />

“Em 1939, as cooperativas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Washing-<br />

ton possuíam 20.000 dólares em instalação e um número de<br />

negócios de mais de 100.000 dólares.<br />

“Uma organização Central foi cria<strong>da</strong>, confia<strong>da</strong> à gestão<br />

de diretores eleitos pelas diversas cooperativas. As cozinhas<br />

individuais foram substituí<strong>da</strong>s por uma cozinha central mo-<br />

derna, possuindo uma carreta para a distribuição dos alimen-<br />

tos quentes em diversos refeitórios. A instalação de uma co-<br />

zinha central permitiu a preparação de refeições melhores por<br />

menor preço, tomar um cozinheiro e fazer as compras o mais<br />

econômicamente possível. Em 1938, a Central foi dota<strong>da</strong> de<br />

uma instalação frigorífica, a qual permitia a compra de<br />

legumes, em grande proporção, diretamente dos produtores.<br />

“O rápido êxito dessas cooperativas criou naturalmente<br />

alguns problemas. Urgia, nota<strong>da</strong>mente, saber como ocupar o


220 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

descanso dos estu<strong>da</strong>ntes. Resolveram êsse problema como<br />

haviam resolvido as questões econômicas, sôbre bases coope-<br />

rativas.<br />

“Asseguraram os serviços de alguns professôres de <strong>da</strong>n-<br />

ça, de música, etc.<br />

“Os esportes em pleno ar foram organizados cooperativa-<br />

mente. Os estu<strong>da</strong>ntes alugaram cortes de tênis, o que permi-<br />

tiu reduzir ao mínimo o preço a pagar.<br />

“Na Universi<strong>da</strong>de de Oregon, alguns jovens que viviam<br />

em miseráveis quartos e se alimentavam de arroz cozido e de<br />

leite, criaram uma organização, a qual dirige, atualmente, 4<br />

casas.<br />

“Na Universi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Califórnia, existem 4 construções<br />

modernas e bem instala<strong>da</strong>s, que fornecem agasalho e alimen-<br />

tação a 510 estu<strong>da</strong>ntes, pelo preço médio de 18 dólares por<br />

mês. Essa organização é devi<strong>da</strong> à iniciativa de 14 estu<strong>da</strong>ntes<br />

reduzidos à miséria que, na primavera de 1933, puderam reu-<br />

nir, ca<strong>da</strong> um, 10 dólares e se dispuseram a trabalhar.<br />

“Encontra-se, agora, um grupo de pioneiros em quase to-<br />

dos os Estados <strong>da</strong> Califórnia ao Massachussets, onde a Uni-<br />

versi<strong>da</strong>de de Harvard organizou êste ano uma cozinha coope-<br />

rativa.<br />

“Aos alojamentos e cozinhas cooperativas, os estu<strong>da</strong>ntes<br />

juntam agora cooperativas de limpeza e lavan<strong>da</strong>rias. Tô<strong>da</strong>s<br />

aplicam uma taxa, devendo assegurar as despesas, e os even-<br />

tuais excedentes voltam aos cooperadores. Uma cooperativa do<br />

Minesota abriu um restaurante onde os próprios fregueses se<br />

servem.<br />

“As cooperativas dos estu<strong>da</strong>ntes grupam desde agora<br />

mais de 100.000 membros. O número de negócios anual se<br />

eleva a milhões de dólares, e o que importa particularmente<br />

revelar é o ensinamento, novo e vivo, que elas trazem a seus<br />

membros sôbre os problemas econômicos.<br />

“Pode-se dizer que, na hora atual, milhões de estu<strong>da</strong>ntes<br />

puderam abandonar os miseráveis quartos que eram forçados<br />

a alugar nos quarteirões mais pobres <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, onde se en-<br />

contravam seus colégios, e instalados em casas modernas,<br />

construí<strong>da</strong>s nos parques <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des, êles se beneficiam<br />

de uma alimentação sã, organizam suas horas de descanso, e<br />

fazem aproveitáveis experiências nos domínios intelectual,<br />

social e econômico”.<br />

Fazendo o registro dêsses <strong>da</strong>dos pretendo apresentar um<br />

exemplo digno de ser seguido pelos estu<strong>da</strong>ntes brasileiros.


FÁBIO LUZ FILHO 221<br />

PANORAMA DO COOPERATIVISMO NA NOVA<br />

ESCOLA DE EDUCAÇÃO COOPERATIVA<br />

“Informations Coopératives” há tempos assinalaram que<br />

parece que uma ver<strong>da</strong>deira revolução social se operou nas pro-<br />

víncias marítimas do Canadá, onde vilas de pescadores e de<br />

mineiros, que se achavam num estado desesperador de mi-<br />

séria, foram, ràpi<strong>da</strong>mente, transforma<strong>da</strong>s em comuni<strong>da</strong>des<br />

florescentes logo em segui<strong>da</strong> ao estabelecimento de coopera-<br />

tivas de crédito e do desenvolvimento gradual <strong>da</strong>s cooperati-<br />

vas de ven<strong>da</strong>, cooperativas de pescadores, fábricas cooperati-<br />

vas de conservas de lagostas e socie<strong>da</strong>des cooperativas de<br />

habitação.<br />

“O êxito do movimento nas províncias marítimas, que<br />

congrega, agora, 40.000 homens e mulheres de diversas raças<br />

e profissões, começou há uns 7 anos, sob o impulso do Serviço<br />

<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Francisco Xavier, encarregado <strong>da</strong> ati-<br />

vi<strong>da</strong>de exterior desse estabelecimento, esse êxito apresenta um<br />

interêsse particular. Com efeito, não se trata simplesmente do<br />

desenvolvimento de uma emprêsa cooperativa, embora notável<br />

seja a rapidez atual dêsse desenvolvimento. O que chama a<br />

atenção, sobretudo, é que as instituições cooperativas acharam<br />

base sóli<strong>da</strong> no fato de ter a população visão clara dos<br />

problemas econômicos e sociais que devem resolver a boa<br />

compreensão dos métodos aos quais é preciso recorrer.<br />

“Antes de empreenderem uma ação, quiseram educar a<br />

população, e nisso reside todo o segrêdo do sucesso dêsse mo-<br />

vimento, sucesso, aliás, tão marcante, que chamou a atenção<br />

de muitos países. Muitos especialistas, especialmente de di-<br />

versas regiões dos Estados Unidos, do Canadá e do Alaska, têm<br />

ido até àquela região para verificarem e estu<strong>da</strong>rem, in-loco, os<br />

resultados práticos do sistema, sem falar em milhares de turis-<br />

tas de tô<strong>da</strong>s as regiões do mundo.<br />

“A educação dos adultos, cumpre ressaltar, é que pro-<br />

duziu o êxito <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de cooperativa de Nova Escócia.<br />

“O serviço especial <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Francisco Xa-<br />

vier, em sua ação metódica de educação, fêz grande uso <strong>da</strong>s<br />

brochuras e dos livros e particularmente do sistema de peque-<br />

nos grupos de estudos <strong>da</strong>s “Universi<strong>da</strong>des dos Pobres”, como<br />

lhes chamavam muitas vêzes, onde ca<strong>da</strong> qual se pode apresen-<br />

tar uma vez por semana, discutir problemas de interêsse co-<br />

mum e procurar sua solução. Todos os meses, os<br />

representantes dos diversos grupos <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des se<br />

reunem em assembléia


222 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

a fim de examinar os problemas <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. Ca<strong>da</strong> 3<br />

meses, delegados são enviados a uma reunião distrital, e, uma<br />

vez por ano, examinam-se os problemas que se impõem à<br />

provín-cia inteira, durante uma “conferência industrial e<br />

rural”. Os professôres <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de se limitam a orientar<br />

os interessados, os quais se encarregam de tô<strong>da</strong> a ativi<strong>da</strong>de<br />

prática.<br />

“Contam-se atualmente, sòmente na província de Nova<br />

Escócia, uns 3.300 círculos de estudos e êsse sistema se espalha,<br />

rapi<strong>da</strong>mente, nas regiões vizinhas. Esses grupos se apro-<br />

fun<strong>da</strong>m em questões econômicas, de câmbio e moe<strong>da</strong>, estu<strong>da</strong>m<br />

os sistemas cooperativos de compra e ven<strong>da</strong>, examinam os<br />

métodos cooperativos de produção e distribuição.<br />

“São êles assistidos em suas averiguações pelo eclesiástico<br />

do distrito ou por outra pessoa que tenha algum conhecimento<br />

<strong>da</strong> causa a tratar. Os estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de participam<br />

desta obra de educação percorrendo os distritos durante os<br />

meses de verão”.<br />

A FILOSOFIA DO MOVIMENTO DE ANTIGONISH,<br />

A EDUCAÇÃO DE ADULTOS E OS CÍRCULOS<br />

DE ESTUDOS<br />

O padre Humberto Muñoz caracterizou, recentemente,<br />

essa filosofia. (Ver “Instruções para organização de socie<strong>da</strong>des<br />

cooperativas”, do Serviço de Economia Rural, do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Agricultura</strong> do Brasil, no qual há longo capítulo sôbre círculos<br />

de estudos)<br />

Diz êle que a filosofia do Movimento de Antigonish está<br />

conti<strong>da</strong> em duas obras do Pe. Coady: “Senhores de seu pró-<br />

prio destino” e “O significado social do movimento de coope-<br />

rativas”. E resume, de sua êxedra:<br />

1) “Princípios básicos — 1) PrimazIa <strong>da</strong> pessoa. Nem<br />

subordinação ao Estado, como o totalitarismo de qualquer<br />

espécie, nem subordinação ao dinheiro, como no capitalismo. A<br />

pessoa humana, cria<strong>da</strong> à imagem de Deus, emerge por cima de<br />

ambos. Esta primazia <strong>da</strong> pessoa humana é também a base <strong>da</strong><br />

democracia.<br />

2) A educação deve começar com a economia — Na<br />

educação deve-se levar mais em conta aquele que aprende do<br />

que o que o professor dá, e a diferença entre o que o aluno<br />

recebe e um saldo perdido. A aprendizagem tem uma relação<br />

direta com o interêsse do aluno, especialmente do adulto.<br />

Nestes tempos de agu<strong>da</strong> crise econômica não há nenhum outro<br />

tema


FÁBIO LUZ FILHO 223<br />

tão urgente como a solução do problema econômico. Numa<br />

escala absoluta de valores, pode ser que êste seja o menos im-<br />

portante; porém é o primeiro degrau por onde se há de co-<br />

meçar.<br />

3) Reforma social à base <strong>da</strong> educação — Em uma<br />

democracia, o progresso social deve proceder <strong>da</strong> ação livre dos<br />

ci<strong>da</strong>dãos. Todo o progresso supõe uma melhora na natureza<br />

dos indivíduos. Essa melhora só alcançamos pela educação.<br />

4) Educação de base de ação coletiva — A ação coletiva<br />

é algo natural, porque o homem é um ser social. Não só o<br />

homem se organiza comumente em grupos, como também seus<br />

problemas coincidem com os do grupo. E no mundo moderno<br />

não se pode ter êxito senão atuando através dos organizadores.<br />

Uma educação de adultos, que não prepara para esta ação<br />

coletiva, é absolutamente inadequa<strong>da</strong>.<br />

5) Uma efetiva reforma social inclui mu<strong>da</strong>nças fundo-<br />

mentais nas instituições sociais e econômicas. Não se trata<br />

apenas de aplicar paliativos, mas, sim, de mu<strong>da</strong>r a estrutura<br />

social.<br />

6) 0 último objetivo do movimento é uma vi<strong>da</strong> plena e<br />

abun<strong>da</strong>nte para todos. A cooperação econômica é o primeiro<br />

passo; mas, só o primeiro para a socie<strong>da</strong>de que permita a ca-<br />

<strong>da</strong> indivíduo desenvolver o máximo de sua capaci<strong>da</strong>de.<br />

Filosofia <strong>da</strong> educação de adultos — É um complemento<br />

dos princípios básicos e a preparação próxima para a ação.<br />

Começa por uma crítica <strong>da</strong> educação atual.<br />

E o padre Muñoz frisa mais que Coady não aceita que as<br />

escolas primárias e secundárias se orientem sòmente para a<br />

Universi<strong>da</strong>de, para as carreiras liberais. Querem que os títu-<br />

los universitários dêem acesso aos primeiros postos na sacie-<br />

<strong>da</strong>de, e a educação obrigue a escalar os postos privilegiados.<br />

A educação tem seu êxito mais completo quando consegue que<br />

o filho de um homem obscuro e analfabeto chegue a ser Chefe<br />

de Estado, “Não só os educadores como também os pais de fa-<br />

mília se regem por esta concepção e fazem esforços para edu-<br />

car seus filhos a fim de que êste cheguem mais alto que seus<br />

pais. Esta filosofia <strong>da</strong> educação tem vários inconvenientes. Os<br />

postos privilegiados são limitados, o que causa uma luta, nem<br />

sempre limpa, para alcançá-los. Muitos devem ficar abaixo e<br />

amargurados. Quantos profissionais ganham às vêzes menos<br />

que um operário! Mas, talvez, a pior conseqüência do sistema é<br />

privar as classes trabalhadoras e campesinas de seus melhores<br />

elementos man<strong>da</strong>ndo-os ocupar um pôsto em outra


224 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

classe mais alta, pondo muitas vêzes o seu trabalho profissional<br />

ao serviço <strong>da</strong>queles que exploram seus pais”,<br />

E, para Antigonish, uma nova filosofia <strong>da</strong> educação não<br />

deve tender à elevação de uns poucos enquanto os outros des-<br />

cem, mas, sim, deve olhar o melhoramento de todos. Ain<strong>da</strong> que<br />

do ponto-de-vista mais materialista, tem que aceitar esta nova<br />

orientação. É a era <strong>da</strong> educação em massa. E o correlativo<br />

desta, é o poder de consumo <strong>da</strong>s massas. O povo deve ter um<br />

alto stan<strong>da</strong>rd de vi<strong>da</strong> para que o industrialismo funcione com<br />

êxito. “As cooperativas são essa técnica, que permitirá ao adulto<br />

mu<strong>da</strong>r e melhorar a socie<strong>da</strong>de atual”.<br />

Prática do educação de adultos — Acentua o padre Muñoz<br />

que, quando os homens de Antigonish decidem levar seu<br />

programa a uma comuni<strong>da</strong>de, buscam nela os líderes naturais<br />

mais destacados e procuram conquistá-los para sua causa.<br />

Valendo-se dêles, reunem o povo numa grande assembléia<br />

(mass meeting.) Os oradores destas assembléias são sempre de<br />

primeira classe e se propõem um duplo objetivo: destruir os<br />

preconceitos do auditório e mostrar-lhe a ilusão de algumas<br />

possibili<strong>da</strong>des. Teremos que lhes despertar a inquetação e a<br />

ambição de fazer as coisas por si sós.<br />

“Segundo o Pe. Coady, essas reuniões devem ser como<br />

bombas de estalido intelectual. Quando o visitante pergunta<br />

em qualquer lugar como começaram as cooperativas, evoca<br />

imediatamente em seus ouvintes aqueles grandes dias em que o<br />

Pe. Coady percorria tô<strong>da</strong> a Nova Escócia, emocionando-a com<br />

o calor e o vigor de sua palavra. Com lógica inigualável<br />

criticava desde os abusos do capitalismo até os próprios cató-<br />

licos que orientavam o ensino para os ricos. Era impossível não<br />

acreditar na sinceri<strong>da</strong>de de sua palavra. Falou-lhes de suas<br />

faltas e de suas possibili<strong>da</strong>des, mostrou-lhes como o mundo<br />

poderia ser se êles quisessem fazê-lo assim. O Pe. Coady não<br />

era de maneira alguma um demagogo, e depois de ter do-<br />

minado o auditório dizia-lhe a ver<strong>da</strong>de. Para chegar a êsse<br />

mundo novo só havia um caminho: a educação. Deviam orga-<br />

nizar-se círculos de estudos e estu<strong>da</strong>r. Não era fácil conseguir<br />

isso de rudes camponeses e pescadores; mas o resultado<br />

prático de ca<strong>da</strong> uma dessas grandes assembléias, era organizar<br />

círculos de estudos. Centenas e milhares germinaram em tô<strong>da</strong><br />

a Nova Escócia. Ca<strong>da</strong> grupo se compunha de seis a doze<br />

pessoas. Reuniam-se em casa de algum vizinho, geralmente na<br />

cozinha, que é o salão dos pobres. Por isso eram chama<strong>da</strong>s<br />

reuniões de cozinha. To<strong>da</strong>via, estão em ativi<strong>da</strong>de nas longas


FÁBIO LUZ FILHO 225<br />

noites de inverno; passam-se como um na<strong>da</strong> duas horas em<br />

amável discussão, não faltando uma xícara de café acompa-<br />

nha<strong>da</strong> de música ou pastéis. E o que é que estu<strong>da</strong>m ali? —<br />

Que lhes interessa mais? Os homens de Antigonish não im-<br />

põem um programa rígido, mas sim em ca<strong>da</strong> lugar pergun-<br />

tam: “Que é que faz mais falta agora? No que é que podemos<br />

ajudá-los? Se não têm dinheiro, estudem então a organização<br />

de uma união de crédito. A vi<strong>da</strong> está mais cara? Estudem as<br />

cooperativas de consumo. As colheitas se vendem demasiado<br />

baratas? Estudem as cooperattivas de ven<strong>da</strong>s. Se o peixe se<br />

estraga muito depresa, devem pensar nos frigoríficos ou, me-<br />

lhor ain<strong>da</strong>, numa fábrica de conservas. Nossas casas são muito<br />

ruins? Pensem nas cooperativas para fazer outras novas.<br />

Qualquer um compreende que com êstes temas o interêsse se<br />

mantenha vivo.<br />

Entre êles elegem um que seja o cabeça e o estudo se faz<br />

de uma forma muito simples e familiar. O Departamento de<br />

Extensão distribui folhetos para ca<strong>da</strong> estudo em particular.<br />

Lê-se um parágrafo, que é comentado. Trata-se de discutir as<br />

perguntas que aparecem sempre no fim de ca<strong>da</strong> capítulo.<br />

Ninguém se se sente tolhido. Se ninguém acerta algum pro-<br />

blema, anota-se e deixa-se o mesmo para consulta. Outras<br />

vêzes ouvem as transmissões especiais do rádio e em segui<strong>da</strong><br />

fazem comentários na forma costuma<strong>da</strong>. Uma vez por mês<br />

reunem-se todos em grupos geralmente em casa paroquial.<br />

Consulta-se tudo o que antes não ficou entendido e procura-se<br />

unificar as opiniões. No fim de cinco ou seis meses de estudo, é<br />

chegado normalmente o momento de passar do estudo à prá..<br />

tica. Elege-se uma diretoria, nomeia-se um gerente e a coope-<br />

rativa começa a funcionar. Porém de maneira nenhuma sus-<br />

pendem-se os círculos de estudo. Sempre há novos proble- mas<br />

para resolver, novas necessidodes que atender. Assim se<br />

entende a educação de adultos no movimento de Antigonish”.<br />

O Prof. Lourenço Filho teve a moção seguinte afirma<strong>da</strong><br />

no 2.º Congresso NacionaJ de Educação de Adultos (1958):<br />

1. “A educação de adultos surge como um imperativo <strong>da</strong><br />

mu<strong>da</strong>nça social.<br />

2. A mu<strong>da</strong>nça se caracteriza por uma ruptura dos qua-<br />

dros tradicionais, políticos, religiosos, estéticos,<br />

econômicos e jurídicos, decorrente <strong>da</strong> aceleração do<br />

processo de mobili<strong>da</strong>de social, com crescente<br />

participacão de maiores grupos de pessoas e nas<br />

decisões <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> coletiva.


228 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

3. No caso particular do Brasil, há a considerar, no mo-<br />

mento, dois grandes e graves aspectos: a) o do des-<br />

preparo de pràticamente metade dos grupos <strong>da</strong> po-<br />

pulação adulta, os quais, nas i<strong>da</strong>des devi<strong>da</strong>s, não re-<br />

cebem a educação elementar, ou “educação de base”,<br />

no sentido que a esta expressão dá a UNESCO, isto é,<br />

a aquisição <strong>da</strong>queles elementos mínimos <strong>da</strong> cultura, de<br />

conhecimentos e de hábitos b) o de maior ou menor<br />

deficiência.<br />

4. Quanto ao primeiro aspecto, é principalmente ao Es-<br />

tado e a instituições priva<strong>da</strong>s de regime de colabora-<br />

ção com o Estado que deve caber mais intenso e ex-<br />

tenso trabalho para recuperação de grupos “margi-<br />

nais” no sentido <strong>da</strong> evolução econômica, política e<br />

cultural do País.<br />

5. A questão do educação de base deverá ser reexami-<br />

na<strong>da</strong>.<br />

6. Instituição de uma associação de caráter nacional,<br />

que, de modo permanente, vele pelo problema, difun-<br />

<strong>da</strong>s idéias, e procure congregar esforços.<br />

7. Já Rui Barbosa escrevia, há oitenta anos, que a mi-<br />

séria cria a ignorância, e que a Ignorância eterniza a<br />

miséria.<br />

8. Assim considerando os princípios gerais, no atual<br />

momento, o II Congresso reafirma os seus ideais ba-<br />

seados na educação extensa do povo para a produti-<br />

vi<strong>da</strong>de, sem, no entanto, o esquecimento dos valores<br />

morais e espirituais que a devem sempre inspirar.<br />

9. Os educadores que firmam êste documento têm a<br />

certeza de que a Nação brasileira saberá escolher”.


CAPITULO X<br />

AINDA AS COOPERATIVAS ESCOLARES, SUA ÁREA<br />

DE AÇÃO, SUA FORÇA EDUCATIVA. O ENSINO<br />

COOPERATIVO<br />

Sendo vasto o tema, na<strong>da</strong> se perde com as reiterações, as<br />

adunações, e as recapitulações.<br />

A lei atual é clara, acentuando que nos estabelecimentos de<br />

ensino é que poderão fun<strong>da</strong>r-se as cooperativas escolares, e<br />

refere-se ao “diretor do instituto de ensino”. Não há, pois,<br />

dúvi<strong>da</strong> quanto à área de ação <strong>da</strong>s cooperativas escolares,<br />

quando fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s nas escolas.<br />

Foram as cooperativas escolares introduzi<strong>da</strong>s na lei, que<br />

lhe dá um caráter econômico acessório, acentuando-lhe a face<br />

educativa, em conseqüência, digo-o sem falsa modéstia, e des-<br />

vanecimento, <strong>da</strong> propagan<strong>da</strong> que iniciei no Brasil com<br />

“Cooperativas escolares”, que foi o primeiro livro em língua<br />

portuguêsa sôbre o assunto, tendo merecido <strong>da</strong> imprensa es-<br />

pecializa<strong>da</strong> argentina, no Brasil, em Londres e Washington, os<br />

mais francos elogios.<br />

Os estatutos dêsse livro, o Dr. Fernando Azevedo, tm 1933,<br />

quando diretor do ensino em São Paulo, ia adotá-los nas<br />

escolas primárias paulistas, como já disse.<br />

Não há um só tratadista, como vimos, que não se refira a<br />

êsse cunho educativo, à cooperativa escolar como “centro-de-<br />

lnterêsse” dentro <strong>da</strong> escola, “a escola organiza<strong>da</strong> socialmente”,<br />

admirável instrumento <strong>da</strong> escola ativa.<br />

Já citei aos maiores tratadistas e pe<strong>da</strong>gogos do estrangei-<br />

ro e do Brasil sôbre o assunto: Profit, o criador do coopera-<br />

tivismo escolar; Cattier, Jouenne, Ballesteros, Cesar Marote,<br />

Nicolas Repetto, Fernando Azevedo, Fábio Luz, Lourenço Filho,<br />

etc., todos unânimes em lhes acentuar o caráter educa- tivo e<br />

em considerá-las como organizações integra<strong>da</strong>s na escola,<br />

formas sociais complementares <strong>da</strong> escola.<br />

M. Papie diz que o fim <strong>da</strong>s cooperativas escolares é, prè-<br />

cipuamente, o de “developper la pratique de l’association, c’est<br />

de grouper les individus et de coordener leurs efforts”. Cattier


228 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

refere-se freqüentemente às cooperativas escolares nas esco-<br />

las francesas.<br />

Profit dá como primeiro man<strong>da</strong>mento do cooperador es-<br />

colar: “Le coopérateur aime son Ecole qui est sa maison, la<br />

Maison des enfants: il la veut toujours mieux outillée, toujours<br />

plus propre, toujours plus belle”.<br />

Não deixando de ser o cooperativismo escolar uma mani-<br />

festação do pensamento pestalozziano e dos ensinamentos de<br />

Montessori, não pode deixar de ter essa significação.<br />

A lei geral mexicana sôbre cooperativas <strong>da</strong>ta de 11 de ja-<br />

neiro de 1938 (modificadora <strong>da</strong> de 1933) e assim dispunha<br />

sôbre as cooperativas escolares:<br />

“Las cooperativas escolares integra<strong>da</strong>s por maestros y<br />

alumnos, con fines exclusivamente docentes, se sujetarán al<br />

Reglamento que expi<strong>da</strong> la Secretaria de Educación Pública, asi<br />

como a la autorización y vigilancia de la misma, observando,<br />

en todo caso, los principios generales de la presente Ley”.<br />

O regulamento foi baixado a 2 de agôsto de 1938, pos-<br />

suindo 84 longos artigos. Seu artigo 1.° diz: “En to<strong>da</strong>s las<br />

escuelas que dependen de la Secretaria de Educación Pública y<br />

en las particulares incorpora<strong>da</strong>s, deberán establecerse coope-<br />

rativas escolares que compreenderán to<strong>da</strong>s las mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des<br />

necesarias dentro, del medio en que tengan que atuar”.<br />

Tirado Benedi disse, brilhantemente:<br />

“En el campo educativo, la cooperación aparece bajo los<br />

seguientes aspectos que vamos a definir y estudiar:<br />

a) — Como principio de escolanomia o de organización<br />

interna de la escuela. En este sentido se habla de la comuni<strong>da</strong>d<br />

de la clase escolar (Schulgemeinde), de la cooperativa escolar,<br />

como institución auxiliar de la activi<strong>da</strong>d y docente, de la<br />

escuela cooperativa, como mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>d del sistema escolar<br />

concebido como sínteisis de la aplicación de los principios de<br />

trabajo y de soli<strong>da</strong>ri<strong>da</strong>d: aspecto agonómico o de organización<br />

interna del processo educativo”. A êste se pode juntar o prin-<br />

cípio ergagógico ou de educação por e para o trabalho social,<br />

que é o princípio <strong>da</strong> escola ativa (Tatschule), <strong>da</strong> escola vital,<br />

etc. Os estatutos dêste meu livro forom adotados pelo S. E. R.,<br />

como modelos oficiais, e incorporados às quatro edições ante-<br />

riores, lança<strong>da</strong>s por emprêsas editôras do Rio de Janeiro, e<br />

logo esgota<strong>da</strong>s.


FÁBIO LUZ FILHO 229<br />

Totomianz diz que “as socie<strong>da</strong>des cooperativas escolares<br />

são associações integra<strong>da</strong>s nas escolas; assim, as próprias es-<br />

colas se convertem em cooperativas.<br />

“Sua existência se justifica nas escolas modernas”.<br />

Se uma área de ação vasta já é condenável em determi-<br />

na<strong>da</strong>s cooperativas de adultos, imagine-se o absurdo de uma<br />

cooperativa escolar com área de ação tentacular. Será com-<br />

pleto dervirtuamento e contrassenso pe<strong>da</strong>gógico!<br />

O próprio Hernandez Ruiz, com seu espírito crítico, que<br />

chega a condenar as federações de cooperativas escolares, diz:<br />

“Lo que interessa es ca<strong>da</strong> cooperativa en ca<strong>da</strong> escuela”.<br />

“Federa<strong>da</strong>s o no, las cooperativas escolares deban orga-<br />

nizarse conforme aconseje el médio, y el ámbito de la ación de<br />

ca<strong>da</strong> una será siempre la propria escuela”.<br />

Segue, desta sorte, o sensato e autorizado critério de<br />

Profit.<br />

No México e na Colômbia, visam a “fines docentes”, como<br />

vimos.<br />

Conseqüentemente, em face <strong>da</strong> doutrina dos maiores mes-<br />

tres universais e do que dispõem os decretos 22.239 e 581, a<br />

área de ação é a escola, o “instituto de ensino”, na expressão do<br />

decreto-lei 581, de cuja elaboração participei, procurando<br />

amparar as cooperativas escolares.<br />

A jurisprudência oficial admite, como máximo de tole-<br />

rância, que escolas do mesmo grau do lugar possam formar<br />

uma cooperativa escolar.<br />

M. Profit diz que a cooperativa escolar é uma obra de<br />

educação, é a escola socialmente organiza<strong>da</strong>. A cooperativa é a<br />

escola; não acarreta ao professor mais responsabili<strong>da</strong>des do<br />

que as que emanam do exercício de suas funções.<br />

O professor representa, de fato, e de direito, a cooperati-<br />

va, porquanto esta não é mais do que sua escola, na qual é êle,<br />

a um tempo, delegado do Estado e man<strong>da</strong>tário dos pais. Eis a<br />

grande responsabili<strong>da</strong>de do mestre.<br />

Como instrumento de educação, a cooperativa escolar<br />

serve, assim, aos altos desígnios <strong>da</strong> escola objetiva, <strong>da</strong> escola<br />

renova<strong>da</strong>, <strong>da</strong> própria instrução cívica, perfeitamente ajusta-<br />

<strong>da</strong> aos modernos conceitos educativos, que pregam a livre ati-<br />

vi<strong>da</strong>de criadora <strong>da</strong> criança.<br />

Em face dos imperativos econômicos do mundo atual, não<br />

há como desatender aos ditames de uma educação nova, que<br />

encaminhe a moci<strong>da</strong>de para a formação de uma têmpera e<br />

uma mentali<strong>da</strong>de compatíveis com as prementes contingên-


230 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

cias de um mundo que pisa o limiar de uma outra era, de for-<br />

mação de valores novos e afirmação e maior consoli<strong>da</strong>ção dos<br />

valores fun<strong>da</strong>mentais que nos legaram as gerações anteriores<br />

na fôrça de seu idealismo construtivo, vinculando-nos àquele<br />

passado esplendor a que se refere Bourgeois e de que vivere-<br />

mos durante séculos.<br />

Eduquemos, pois, as crianças na soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de desde os<br />

verdes anos; forjemos os fun<strong>da</strong>mentos de uma sóli<strong>da</strong> educa-<br />

ção moral, social e econômica dirigi<strong>da</strong> no sentido de formar<br />

homens sadios e de realístico espírito de emprêsa, valor su-<br />

premo, espirituali<strong>da</strong>des abertas aos esplendores e às virtudes<br />

morais de uma educação integral, plasmadora de indivíduos<br />

equilibrados, empreendedores, úteis e au<strong>da</strong>zes, capazes de con-<br />

duzir o Brasil, sem atitudes de contemplação, aos seus gran-<br />

des e luminosos destinos, mobilizando suas grandes rique-<br />

zas potenciais.<br />

Preparemos homens fortemente instruídos, ativos e enér-<br />

gicos, de educação humanística, aptos para buscar na terra e<br />

nas profissões práticas o caminho <strong>da</strong> prosperi<strong>da</strong>de individual e<br />

coletiva, a valorização econômica do homem brasileiro.<br />

COOPERATIVAS PÓS-ESCOLARES E COOPERATIVAS<br />

JUVENIS<br />

A lei brasileira, no entanto, não proíbe um tipo, que cha-<br />

marei de cooperativas juvenis, como, aliás, já o fazem os por-<br />

torriquenhos, e que poderiam funcionar fora <strong>da</strong> escola, a meu<br />

ver, como exceção.<br />

Profit assim definiu a cooperativa escolar:<br />

“Elle es.. donc une association d’enfants, qui sous l’égide<br />

de personnes amies travaillent eux-mêmes à ameliorer le milieu<br />

materiel et le milieu moral que conditionnent leur éducation”.<br />

E, assim, por diante, como vimos.<br />

Como veremos adiante, é também sabido que Profit pre-<br />

conizou, e elas existem na Europa, as cooperativas pós-escolares<br />

ou extra-escolares (a outra será intra-escolar), de vez que são<br />

as que permitem “aux élèves sortis de l’école de continuer à<br />

s’intéresser à l’oeuvre et même beneficier de qualques-uns de<br />

ses exercices, travaux manuels, excursions, etc”. Podem ser de<br />

artesanato rural ou de aprendizagem técnica, etc., visando à<br />

educação geral e prática dos seus associados, não lhes sendo<br />

indiferentes o trabalho agrícola e as ativi<strong>da</strong>des pastoris, ou<br />

trabalho de orientação profissional, Podem as-


FÁBIO LUZ FILHO 231<br />

sociar todos os jovens que terminaram o curso, assim como<br />

os operários que queiram completar seus conhecimentos. E<br />

os franceses admitem que possam dela participar adultos,<br />

como associados honorários, o que a nossa lei (no que fez bem)<br />

não permite, permitindo, entanto, o assessoramento dos pais e<br />

professôres.<br />

Será que poderá êsse tipo de cooperativa, por uma inter-<br />

pretação rígi<strong>da</strong>, ser proibido, tipo de tão elevado alcance eco-<br />

nômico-social, como o é a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de que surgiu e existe em<br />

outros países? Se não fôr rigorosamente escolar, poderá ser<br />

de escolares, se o quiserem, mas de finali<strong>da</strong>de igualmente edu-<br />

cativa e com enquadramento nas assemelha<strong>da</strong>s.<br />

Cesar Marote, ilustre educador uruguaio, um dos primei-<br />

ros na América do Sul a aventar o tema pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong>s insti-<br />

tuições circum-escolares, já em 1927 preconizou cooperativas<br />

escolares por zona, bairro ou locali<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> qual poderiam ser<br />

associados “los alumnos de las escuelas primarias y de adul-<br />

tos pertenecientes a la zona, los padres, tutores o encargados,<br />

y el personal docente y administrativo de las escuelas de la<br />

zona”.<br />

Na<strong>da</strong> vejo na lei brasileira, repito, face ao seu artigo 21<br />

(decreto 22.239), e ao que vimos nos capítulos anteriores, que<br />

impeça existam essas cooperativas fora <strong>da</strong> escola, desde que<br />

resolvi<strong>da</strong>, como assinalei, a questão <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de civil:<br />

um pai de aluno ou responsável, uma assistente social, um ex-<br />

aluno que tenha atingido a maiori<strong>da</strong>de, etc., finalmente, quem,<br />

em face <strong>da</strong> lei civil, tenha capaci<strong>da</strong>de para contratar, quando<br />

isto fôr preciso. Esta, outra fórmula, de vez que se trata de<br />

cooperativa que denominarei extra-escolar. As de dentro <strong>da</strong><br />

escola serão uma transição entre a macro-sociologia, vamos<br />

dizer, que representam as cooperativas de adultos, e a micro-<br />

sociologia, que são as escolares. Uma espécie de processo de<br />

integração intracooperativa.<br />

O ilustre consultor jurídico do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>,<br />

Dr. Tertuliano de Menezes Mitchell, foi contrário a essa minha<br />

tese, achando que atual legislação cooperativa é taxativa<br />

quanto às cooperativas escolares dentro <strong>da</strong> escola, embora re-<br />

conhecendo que a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de possa existir com outra lei.<br />

Uma cooperativa de fato, dêsse gênero, já existiu em Cas-<br />

catinha, município de Petrópolis, no Estado do Rio, assisti<strong>da</strong><br />

pela dedicação e inteligência <strong>da</strong> assistente social Maria Te-<br />

reza Teixeira Mendes, que já havia fun<strong>da</strong>do aí uma de costu-<br />

reiras e outra de crédito


232 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

O COOPERATIVISMO — A DEMOCRACIA E AS<br />

ESCOLAS DO POVO NA DINAMARCA — O ENSINO<br />

COOPERATIVO<br />

EM OUTROS PAÍSES<br />

Em substancioso trabalho intitulado “The Future of Edu-<br />

cation” (Cambridge University Press) Richard Livingstone<br />

traça o mecanismo <strong>da</strong>s Escolas do Povo dinamarquesas.<br />

Constituíram elas admiráveis instrumentos que transforma-<br />

ram a Dinamarca, de um país aniquilado pela miséria e amo-<br />

dernado na inércia (primeira metade do século XIX), em uma<br />

nação de economia organiza<strong>da</strong>, de uni<strong>da</strong>de espiritual, “talvez a<br />

única democracia educa<strong>da</strong> de todo o mundo”.<br />

Foram os criadores <strong>da</strong>s Escolas do Povo o clérigo<br />

Grundtvig, culto professor de literatura, e o sapateiro Kold,<br />

filho de sapateiro. Duas curiosas aproximações...<br />

A primeira Escola foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> para combater a propa-<br />

gan<strong>da</strong> alemã em Schleswig-Hosltein, em 1844.<br />

A derrota que sofreu a Dinamarca em 1864, na guerra<br />

com a Alemanha, os dinamarqueses responderam com a fun-<br />

<strong>da</strong>ção de mais escolas, transformando-se na “democracia mais<br />

próspera e progressista <strong>da</strong> Europa”, modêlo dos métodos agrí-<br />

colas.<br />

De acôrdo com o ponto-de-vista de Gundtvig, essas escolas<br />

populares, constituí<strong>da</strong>s por particulares, só aceitavam e<br />

aceitam alunos de mais de 18 anos. A vi<strong>da</strong> nelas é em comum,<br />

durante três ou quatro meses: uma espécie de escola de verão<br />

com maior período letivo. É uma escola residencial coloca<strong>da</strong><br />

fora <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, com a vantagem <strong>da</strong> sugestão do ambiente.<br />

Possui belos jardins, edifícios agradáveis, quadros murais,<br />

música, a vi<strong>da</strong> em comum; uma família, naquela acepção em<br />

que a emprega Munding: uma pequena célula social, a famí-<br />

lia, como fator educativo, a ver<strong>da</strong>deira e ideal cooperação de-<br />

vendo ser limita<strong>da</strong> nas dimensões; as organizações pouco<br />

extensas como os melhores climas para a união. A coesão e a<br />

ver<strong>da</strong>deira democracia dos pequenos grupos.<br />

A educação considera<strong>da</strong> “uma fôrça moral e espiritual<br />

que, mediante a visão de grandes ideais, eleva a mente e refor-<br />

ça a vontade”. Nasci<strong>da</strong> do desejo de fortificar o país, afir-<br />

ma-o Livingstone, contra a opressão alemã, através <strong>da</strong> insis-<br />

tência na cultura, história e ideais dinamarqueses, tornou-se o<br />

fator fecundo <strong>da</strong> transformação <strong>da</strong> Dinamarca, formando,<br />

através de um ideal, a visão e a personali<strong>da</strong>de do estu<strong>da</strong>nte.


FÁBIO LUZ FILHO 233<br />

A insistência numa filosofia espiritual a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> às ne-<br />

cessi<strong>da</strong>des e à capaci<strong>da</strong>de do homem comum, fêz o milagre que<br />

todos conhecem, estabelecendo o “reino <strong>da</strong> razão”, que é a<br />

Dinamarca.<br />

Têm os alunos nas Escolas do Povo urna outra visão <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, através <strong>da</strong> história, literatura, biologia e matemática.<br />

Kold teve essa intuição genial: provar que “o homem pode<br />

abrigar nobres sentimentos mesmo que ordenhe vacas e amontoe<br />

estrume”.<br />

Acha êle que existe uma diferença substancial entre a de-<br />

mocracia corrente, que busca a conquista <strong>da</strong> cultura em meras<br />

coisas materiais, e a democracia <strong>da</strong>s Escolas do Povo, que pro-<br />

curam criar costumes simples, a vi<strong>da</strong> frugal e uma genuína<br />

cultura do espírito e do coração.<br />

Homens e mulheres saem dessas Escolas com o desejo de<br />

aprender e de trabalhar: “Saem como homens novos, excita-<br />

dos mental e emocionalmente, práticos na arte de ouvir, ver,<br />

pensar e empregar suas aptidões. Saem como o caráter re-<br />

forçado e uma visão mais ampla <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>”. É comum passarem<br />

<strong>da</strong>s Escolas do Povo para as agrícolas, como já acentuei, vol-<br />

vendo à vi<strong>da</strong> com um forte sentimento de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, e o<br />

acrisolado desejo de cooperar para o bem <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de.<br />

“A moci<strong>da</strong>de aquire, assim, alguns dos requisitos neces-<br />

sários ao êxito do movimento cooperativo”.<br />

“A revolução individual, econômica e política foi, com<br />

isso, incomensurável. De um país pobre, a Dinamarca con-<br />

verteu-se no melhor pais agrícola <strong>da</strong> Europa. O campônio di-<br />

namarquês, em princípios do século XIX, era uma classe es-<br />

crava. Dependente de senhores de terra e de burocratas, pas-<br />

sava a vi<strong>da</strong> em mórbi<strong>da</strong> resignação. Em menos de um século<br />

converteu-se em uma classe média que, política e socialmente,<br />

é a que dirige hoje a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> nação. Em fins do século passado,<br />

esta classe já constituía o partido progressista <strong>da</strong> Dinamarca.<br />

“As Escolas do Povo Dinamarquesas, unindo o povo<br />

através de uma vi<strong>da</strong> cooperativa desenvolvi<strong>da</strong> no sentido <strong>da</strong><br />

igual<strong>da</strong>de social, administrando-lhe a inspiração e o sentimento<br />

de um alto ideal humano, tornaram possível que as<br />

transformações sociais se produzissem não como uma luta de<br />

classes econômicas do tipo materialista, mas como um<br />

movimento deliberação para uma vi<strong>da</strong> melhor para o homem”.<br />

Já acentuei que Hertel, o historiador do cooperativismo<br />

dinamarquês, já assinalava que essas Escolas do Povo desper-<br />

tam nos jovens de ambos os sexos ver<strong>da</strong>deiro anelo de saber e


234 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

desejos de trabalhar, fortalecem o caráter dos alunos e am-<br />

pliam as perspectivas de vi<strong>da</strong> sã e útil.<br />

Para satisfazer êsse desejo de saber, estabeleceu-se, como<br />

já ficou evidenciado, elos entre as Escolas do Povo e as<br />

escolas de agricultura. Hertel acentua que, quando <strong>da</strong>s<br />

Folkenhöjskolem os alunos passam diretamente à vi<strong>da</strong>, já<br />

levam formado um forte sentimento de fraterni<strong>da</strong>de e um<br />

fervente desejo de trabalhar pelo progresso comum. "A<br />

socie<strong>da</strong>de nelas adquire algumas <strong>da</strong>s quali<strong>da</strong>des necessárias<br />

ao desenvolvimento cooperativo".<br />

Em "Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas", friso<br />

as razões por que a Dinamarca se intitula, a justo título, o<br />

"reino <strong>da</strong> razão", na admirável lucidez de uma mentali<strong>da</strong>de<br />

vibrante e areja<strong>da</strong>, e numa alta, sincera e fecun<strong>da</strong> percepção<br />

democrática, milagre esplendoroso do sentimento pátrio e <strong>da</strong><br />

soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana.<br />

Em recente trabalho, Fabra Ribas, frisou a relevância do<br />

setor educativo. Demorou-se êle na caracterização, sob êsse<br />

ângulo, do movimento sueco, confirmando o que já disse.<br />

Dão tanta importância, os suecos, a êsse setor, que assim<br />

o estruturaram:<br />

1.º - Escolas por correspondência (Brevskolan), fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

em 1919, as quais em 1946 tiveram uma freqüência de 66.918<br />

alunos em seus grupos ou círculos de estudos, de repercussão<br />

mundial e copiados pelo Canadá e pela América do Norte<br />

com os mesmos resultados educativos, como já foi acentuado.<br />

Além dêsses alunos, 24.158 estu<strong>da</strong>ntes fizeram cursos<br />

especiais.<br />

2.º - Grupos ou círculos de estudos - Têm por objetivo o<br />

conhecimento <strong>da</strong> doutrina e <strong>da</strong> prática cooperativas, a<br />

organização <strong>da</strong> família (célula econômico-social básica na<br />

teoria cooperativa), os problemas relativos à moci<strong>da</strong>de, etc.<br />

Em 1946 funcionaram 3.390 círculos com uma freqüência de<br />

54.997 alunos.<br />

3.° - A Escola de Cooperação - denomina<strong>da</strong> "Var Gard"<br />

(Nosso Lar). Fica ela na península de Seltsjobaten, perto de<br />

Estocolmo. Seus cursos visam ao preparo de empregados e à<br />

educação cooperativa dos associados. São cursos intensivos<br />

de quatro a cinco semanas. Há também cursos de dois anos<br />

para alunos de maior nível de aproveitamento e de cultura<br />

geral.<br />

Teve essa Escola em 1946 para mais de 1.200 alunos, dos<br />

quais mais de 900 eram empregados de cooperativas.


FÁBIO LUZ FILHO 235<br />

Há, ain<strong>da</strong>, o “Var Tidning” (“Nosso periódico”), publi-<br />

cação mensal.<br />

4.º — Publici<strong>da</strong>de — É do domínio do órgão federativo<br />

supremo do movimento sueco, fun<strong>da</strong>do em 1889 — a<br />

Kooperativa Förbundet. Constitui o setor de publici<strong>da</strong>de<br />

mais importante <strong>da</strong> Suécia em assuntos econômicos. Possui<br />

também edições especiais de livros para crianças.<br />

Mantém uma grande revista denomina<strong>da</strong> “Vi" (que<br />

quer dizer “Nós outros”). É uma revista de assuntos<br />

familiares com uma tiragem de 600 .000 exemplares,<br />

superando todos os demais órgãos publicitários <strong>da</strong> Suécia.<br />

Há, ain<strong>da</strong>, o Kooperatoren, jornal oficial <strong>da</strong> cita<strong>da</strong><br />

federação, de saí<strong>da</strong> mensal.<br />

O ensino nas Escolas<br />

Baseia-se o ensino nas supracita<strong>da</strong>s Escolas em uma<br />

preparação técnica elementar ministra<strong>da</strong> através <strong>da</strong> escola<br />

por correspondência e dos famosos círculos ou clubes de<br />

estudos, tão bem descritos por Richardson e Warbasse. A<br />

experiência prática adquiri<strong>da</strong> pelos alunos é outro elemento<br />

de que lançam mão essas Escolas.<br />

Em 1938 os cursos por correspondência foram<br />

destacados e constituíram setor autônomo.<br />

Os cursos<br />

Os principais cursos são três:<br />

a) — Curso para empregados jovens de 25 anos, curso<br />

êste de uma semana;<br />

b) — Curso destinado a empregados de 25 a 27 anos,<br />

para certos gerentes, com duração de um mês;<br />

a) — Curso para empregados de 27 a 30 anos,<br />

destinados a cargos de gerentes e outros que impliquem<br />

maior responsabili<strong>da</strong>de.<br />

Condições exigi<strong>da</strong>s para os cursos<br />

Para admissão no primeiro curso é necessário ter<br />

freqüentado um curso por correspondência sôbre estatutos-<br />

modelos e sôbre trabalhos de armazém em cooperação.


236 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

A admissão ao Segundo curso está subordina<strong>da</strong> ao<br />

estudo por correspondência de contabili<strong>da</strong>de, cálculo,<br />

caligrafia, economia política e cooperativismo.<br />

O terceiro curso exige que o aluno tenha estu<strong>da</strong>do por<br />

correspondência direito comercial e tenha estudos mais<br />

complexos sôbre economia política, contabili<strong>da</strong>de, etc., além<br />

de ter seguido o segundo curso e possuir quali<strong>da</strong>des do<br />

chefia.<br />

Há, ain<strong>da</strong>, outros cursos especializados, tais como:<br />

1.º — Cursos especializados de uma semana, para os<br />

empregados de ca<strong>da</strong> um dos diferentes ramos: comestíveis,<br />

fiambres, calçados, etc;<br />

2.° — Cursos de quatro a cinco semanas, cursos<br />

complementares de igual duração, e cursos de revisão de<br />

duas semanas para gerentes;<br />

3.º — Cursos para empregados de oficina, de uma<br />

semana, para operários, e de uma semana para contratados;<br />

4.° — Uma semana de conferências com os verificadores<br />

do distrito <strong>da</strong> União Cooperativa Sueca;<br />

5.º — Cursos de uma semana para os comités de direção,<br />

para os comités de distrito, para os diretores de círculos de<br />

estudos cooperativos, para os círculos femininos, etc.;<br />

6.° — Permanência durante dois anos na Escola para um<br />

número limitado de estu<strong>da</strong>ntes, através de rigorosa seleção,<br />

estu<strong>da</strong>ntes que se destinam a cargos de importâncias, tais<br />

como: diretores de grandes socie<strong>da</strong>des, diretores de<br />

propagan<strong>da</strong>, etc. São êsses estu<strong>da</strong>ntes também preparados<br />

aos poucos para professôres adjuntos, visitam cooperativas<br />

de consumo, celebram reuniões com o pessoal, fazem<br />

palestras e conferências, etc.<br />

Geralmente êsses estu<strong>da</strong>ntes são gerentes de armazéns e<br />

precisam ter freqüentado os três cursos básicos já referidos<br />

acima, e devem provar que possuem quali<strong>da</strong>des práticas e de<br />

direção, com o respectivo senso de responsabili<strong>da</strong>de.<br />

Durante a permanência na Escola recebem, os alunos, os<br />

mesmo salários que recebiam anteriormente.<br />

Tô<strong>da</strong>s as despesas são pagas pela União Cooperativa<br />

Sueca, ou pela cooperativa de que seja empregado o<br />

estu<strong>da</strong>nte.<br />

AINDA A EDUCAÇÃO EM OUTROS PAÍSES<br />

O Departamento de Educação <strong>da</strong> “Socie<strong>da</strong>de<br />

Cooperativa de Londres”, que, com mais de 792.000<br />

associados, realiza cursos, conferências e exerce outras<br />

ativi<strong>da</strong>des culturais, defi-


FÁBIO LUZ FILHO 237<br />

niu o que se deve entender por educação cooperativa, frisando<br />

que o objetivo <strong>da</strong> educação cooperativa é, primeiramente, a<br />

formação de um caráter e uma opinião cooperativa por meio<br />

do ensino <strong>da</strong> história, teoria e pródromos do movimento, com<br />

a história econômica, industrial e constitucional no que se<br />

refere ao cooperativismo; em Segundo lugar, ain<strong>da</strong> que nem<br />

sempre de menor importância, o treinamento de homens e<br />

mulheres para tomarem parte nas reformas industriais e so-<br />

ciais e na vi<strong>da</strong> cívica em geral.<br />

Deve-se também observar que as ativi<strong>da</strong>des educativas<br />

do movimento cooperativo freqüentemente se encontram<br />

associa- <strong>da</strong>s ou suplementa<strong>da</strong>s com planos recreativos de<br />

diversas clãs-ses, projetados para promoverem relações de<br />

amizade e mútuo conhecimento.<br />

“A educação cooperativa de concebe, pois, num sentido<br />

amplo e profundo, isto é, além de sua função dentro ou além<br />

dos limites do terreno estritamente cooperativo, é uma educa-<br />

ção no sentido <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s relações humanas”.<br />

“Não podem existir socie<strong>da</strong>des ver<strong>da</strong>deiramente<br />

coopera-tivas enquanto os indivíduos que as compõem não só<br />

se te- nham educado nos princípios e métodos cooperativos,<br />

senão que tenham convertido o cooperativismo não só num<br />

meio, não ùnicamente de aju<strong>da</strong> para o associado<br />

indivìdualmente, mas também de aju<strong>da</strong> para a comuni<strong>da</strong>de".<br />

O mais importante não é a êxito cooperativo no campo<br />

econômico, mas a filosofia e a ética cooperativas, que encer-<br />

ram uma fé na perfectibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> conduta humana e uma<br />

nova concepção <strong>da</strong>s relações humanas.<br />

“Nenhuma emprêsa humana será merecedora de nosso<br />

esfôrço a não ser que o seu processo contribua de alguma for-<br />

ma para a contínua evolução do homem... Em nossa prática<br />

cooperativista a humani<strong>da</strong>de nos apresenta um processo de<br />

civilizar-se a si mesma”.<br />

E Maurice Colombain acentua, com muita justeza, que<br />

a primeira tarefa <strong>da</strong> educação cooperativa é <strong>da</strong>r aos homens<br />

livres fé e consciência, criar e fortalecer-lhes o sentimento <strong>da</strong><br />

liber<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de por meio do conhecimento viril de<br />

suas responsabili<strong>da</strong>des. Obra necessária, mas ain<strong>da</strong> insufi-<br />

ciente.<br />

Walter Scott conta que, um dia, utilizando-se êle dos ser-<br />

viços de um barqueiro, percebeu que num dos remos do barco<br />

estava inscrita a palavra “Fé” e, no outro, a palavra Traba-<br />

lho". Perguntando ao barqueiro o motivo <strong>da</strong>quilo, êste, em<br />

resposta, manobrou com vigor o remo a que chamava “Fé”,


238 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

e o barco começou a ro<strong>da</strong>r sôbre si mesmo, sem rumo. Mano-<br />

brando o remo “Trabalho”, disse a Walter Scott o barqueiro<br />

que o bote então caminhava direito porque empregava “Tra-<br />

balho" juntamente com “Fé”. Assim sucede com o barco<br />

cooperativo. Não há possibili<strong>da</strong>de de navegar se não for im-<br />

pulsionado pela fé e, tampouco, poderá navegar com seguran-<br />

ça e bem orientado se não fôr movido, também, e ao mesmo<br />

tempo, pelo trabalho, isto é, pela colaboração de todos os que<br />

lhe confiaram seus interêsses e suas esperanças. Necessita-<br />

mos, pois, de aprender a trabalhar juntos, a pensar e sentir<br />

juntos. Temos que aprender a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de. Devemos edu-<br />

car-nos.<br />

Já houve quem dissesse que o cooperativismo é um<br />

movimento de natureza econômica que se vale, com<br />

inteligência e proprie<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> educação ou um processo<br />

educativo que tem por instrumento a ação econômica, como já<br />

vimos.<br />

Tão necessária é essa educação que, na Suécia, Índia,<br />

Inglaterra, Canadá, Estados Unidos, etc., existem cátedras<br />

nas escolas superiores, inclusive de agricultura, para o ensino e<br />

a prática do sistema cooperativo, que em muitas constitui<br />

uma disciplina autônoma.<br />

Na Inglaterra, por exemplo, o “Cooperative College”,<br />

em Manchester, teve a seguinte freqüência em seus cursos em<br />

ple-na guerra: jovens, 1.200 cursos com 35.000 alunos; adultos:<br />

335 cursos, com 7.000 alunos; cursos pora dependentes e em-<br />

pregados de cooperativas: 1.338 com 23.871 alunos. Êsse<br />

estabelecimento de ensino terá brevemente a sua alta escola de<br />

cooperativismo, com trabalhos de laboratório e investigação.<br />

Os “comitês” de educação cooperativa são reconhecidos<br />

pelo govêrno inglês e têm representação no “National Educa-<br />

tion Council”.<br />

O govêrno provisório austríaco foi presidido pelo Dr.<br />

Kart Renner, o qual dirigia, ao mesmo tempo, a pasta <strong>da</strong>s<br />

Relações Exteriores. Conhecido nos meios cooperativistas<br />

mundiais, pertencia êle ao Comité Central <strong>da</strong> Aliança<br />

Cooperativa Internacional, órgão centralizador e coordenador<br />

do movimento cooperativo internacional com sede em Londres.<br />

Era ain<strong>da</strong> presidente <strong>da</strong> Uniào Central de Consumo <strong>da</strong>s<br />

Cooperativas de Consumo <strong>da</strong> Áustria.<br />

O Sr. Andreas Korp foi um dos diretores gerais <strong>da</strong><br />

Cooperativa Central de <strong>Abastecimento</strong>. O Sr. Duchinger, que<br />

foi ministro <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, era lider de destaque <strong>da</strong> União <strong>da</strong>s<br />

Cooperativas Agrícolas <strong>da</strong> Áustria.


FÁBIO LUZ FILHO 239<br />

Vários países <strong>da</strong> América do Sul (Argentina,<br />

Colômbia, Venezuela, Peru, etc.) possuem Centros e Institutos<br />

de Estu- dos Cooperativos. No Peru a “Escola de<br />

Cooperativismo” ti- nha pessoal idôneo e especializado, e o<br />

Congresso de Estu<strong>da</strong>n-tes aprovou uma moção sugerindo a<br />

criação de uma cátedra de cooperativismo na Facul<strong>da</strong>de de<br />

Direito e Ciências Políti- cas e Sociais. O Brasil fundou em<br />

1949 o “Centro Nacional de Estudos Cooperativos”, de que sou<br />

presidente, e Valdiki Moura, secretário-geral.<br />

A Universi<strong>da</strong>de Operária <strong>da</strong> Colômbia em Bogotá,<br />

incluiu em seu currículo um curso de cooperativismo. Acabo de<br />

acentuar em meu último livro — “Teoria e prática <strong>da</strong>s<br />

socie<strong>da</strong>des cooperativas” — como o Bureau International du<br />

Travail traçou o quadro do ensino cooperativo em vários<br />

países, entre êles a Índia, país agrícola e subdesenvolvido, onde<br />

pelo menos dez universi<strong>da</strong>des dão cursos de extensão sôbre a<br />

história e a teoria cooperativas. E já o mundo conhece os<br />

efeitos de seu plano qüinqüenal, e o lugar do relêvo que tem o<br />

cooperativis- mo agrícola na reforma agrária dêsse grande<br />

país.<br />

NA ÁFRICA<br />

Como bem o assinalou “Informactions Coopératives",<br />

antes <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> guerra mundial, as cooperativas, tais quais<br />

são encara<strong>da</strong>s hoje, eram pouco conheci<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s populações <strong>da</strong><br />

África Oriental, com exceção de um ou dois exemplos, que não<br />

podem ser considerados, <strong>da</strong><strong>da</strong> a sua estrutura especial, como<br />

a União Cooperativa indígena de Quilimandjaro.<br />

Apesar <strong>da</strong> grande evolução do movimento depois de<br />

1946, muito especialmente o <strong>da</strong>s cooperativas de compra e<br />

ven<strong>da</strong> — apesar do desenvolvimento muito rápido e poderoso<br />

do movimento cooperativo africano em ca<strong>da</strong> um dos três<br />

territórios <strong>da</strong> África Oriental (Quênia, Tanganica e Ougardo),<br />

o analfa-betismo, a ignorância dos princípios e <strong>da</strong>s técnicas <strong>da</strong><br />

coope-rativa, a falta de conhecimentos elementares dos<br />

negócios <strong>da</strong> cooperativa, mesmo entre os próprios associados,<br />

retar<strong>da</strong>ram qualquer progresso real.<br />

Foi a urgente necessi<strong>da</strong>de de difundir a educação e a<br />

formação cooperativas que levaram os departamentos<br />

especiali-zados dos três governos a instituir a escola de<br />

cooperativismo <strong>da</strong> África Oriental com a finali<strong>da</strong>de de<br />

formar, antes de tudo, inspetores africanos dos departamentos.<br />

Trabalhando em con-junto estão encarregados não sòmente de<br />

encorajar a consti-


240 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

tuição dos cooperativas, mas, ain<strong>da</strong>, de <strong>da</strong>r orientação, ensinar<br />

contabili<strong>da</strong>de, Os princípios e métodos cooperativos assim co-<br />

mo verificar as contas, realizando trabalho de inspeção.<br />

Êsses inspetores visitam diàriamente as ci<strong>da</strong>des, e<br />

perma-necem em contacto direto com associados e dirigentes<br />

<strong>da</strong>s cooperativas. É sobre êles que se deve apoiar o<br />

Departamento de Cooperativas, para difundir os únicos<br />

conhecimentos em matéria cooperativa de que dispõem até<br />

hoje. É por esta razão que se considera sua formação como<br />

medi<strong>da</strong> inicial e final-mente à qual está condicionado o<br />

progresso do movimento, aindo tão novo.<br />

A Escola de Cooperativas <strong>da</strong> África Oriental constitui um<br />

estabelecimento especial dentro do vasto quadro de um orga-<br />

nismo situado a quinze quilômetros de Nairobi, a “Jeannes<br />

School”.<br />

Esta última é centro de desenvolvimento <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>-<br />

des cuja função é formar os dirigentes africanos. Os cursos<br />

realizados na escola constituem a base e o estímulo necessá-<br />

rios à Escola de Cooperativismo, porquento é indiscutível que<br />

a base do desenvolvimento de uma comuni<strong>da</strong>de reside no seu<br />

progresso econômico. O centro e os distritos organizam, jun-<br />

tos, programas que visam ao desenvolvimento <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>-<br />

des, cursos para professóres, inspetores do Serviço de Saúde,<br />

delegados de "liber<strong>da</strong>de controla<strong>da</strong>", mulheres, ou outras ca-<br />

tegorias de alunos e cursos mais rápidos para chefes, conse-<br />

lheiros, fazendeiros e monitores, etc.<br />

Os três Departamentos de cooperativismo interessados,<br />

dividem os gastos <strong>da</strong> remuneração de pessoal, papelaria, almô-<br />

ço de estu<strong>da</strong>ntes, conducão, etc.; não se pede aos estu<strong>da</strong>ntes<br />

na<strong>da</strong> mais que comprar seus manuais.<br />

Abaixo vêm descritos a categoria de estu<strong>da</strong>ntes escolhi-<br />

dos, programa dos cursos, métodos de ensino e formação pra-<br />

tica que oferecem, trabalho que trará contribuição de real va-<br />

lor ao progresso e ao desenvolvimento <strong>da</strong>s cooperativas na<br />

África Oriental.<br />

PROGRAMAS E MÉTODOS DE ENSINO<br />

O ensino do cooperativismo se estende por 2 períodos<br />

dos cursos <strong>da</strong> “Jeannes School”, 20 semanas<br />

aproxima<strong>da</strong>mente.<br />

Os cursos compreendem as matérias seguintes, classifica<strong>da</strong>s<br />

na ordem <strong>da</strong> priori<strong>da</strong>de:<br />

Prática do cooperativismo e funções de inspeção<br />

Contabili<strong>da</strong>de cooperativa


FÁBIO LUZ FILHO 241<br />

Legislação cooperativa<br />

Economia cooperativa<br />

Estudo de cooperativismo no estrangeiro<br />

Métodos comerciais.<br />

Êstes assuntos foram especialmente escolhidos para<br />

satisfazerem necessi<strong>da</strong>des educativas.<br />

Seria interessante mencionar ain<strong>da</strong> os meios que a<br />

“Jeannes School” oferece no domínio <strong>da</strong> "instrução cívica”,<br />

que constitui uma parte fun<strong>da</strong>mental do programa de<br />

formação traçado pela Escola; sua finali<strong>da</strong>de é encorajar o<br />

estudo, e compreende noções de geografia econômica e<br />

humana, história <strong>da</strong> África Oriental, assim como elementos<br />

de economia política ilustrados com exemplos referentes à<br />

situação do país. De outra parte, os estu<strong>da</strong>ntes têm à sua<br />

disposição uma biblioteca especializa<strong>da</strong> em questões<br />

cooperativas.<br />

Fora do programa normal de estudos, introduziram-se<br />

diversos projetos que visam a reforçar as ativi<strong>da</strong>des escolares<br />

cooperativas, dos estu<strong>da</strong>ntes. Algumas delas são assim resu-<br />

mi<strong>da</strong>s:<br />

Conferências — O método de base escolhido foi o do<br />

ensino individual para adultos, seguido de discussão. Graças à<br />

importância que tem para ca<strong>da</strong> estu<strong>da</strong>nte em particular e pa-<br />

ra suas necessi<strong>da</strong>des próprias, êste método demonstrou gran-<br />

de eficiência, particularmente em trabalhos escritos. Per-<br />

mitia-se ao estu<strong>da</strong>nte escolher o assunto que quisesse e for-<br />

mulam-se a todos questões abarcando três temas por semana<br />

sem contar importantes trabalhos práticos.<br />

Debates — Foram recebidos com grande entusiasmo. O<br />

ambiente de camara<strong>da</strong>gem do grupo <strong>da</strong>va experiência e se-<br />

gurança de se expressarem. A escolha do tema era <strong>da</strong>do aos<br />

alunos, mas sempre versou sôbre assuntos ligados ao coopera-<br />

tivismo.<br />

Grupos de estudo — O funcionamento dêstes grupos re-<br />

pousa sôbre uma “caixa pe<strong>da</strong>gógica” para o cooperativismo<br />

agrícola, forneci<strong>da</strong> pelo Conselho Britânico. A caixa contém<br />

um guia para o monitor, folhetos sôbre trabalho em grupo,<br />

escolha de livros e diversos elementos pe<strong>da</strong>gógicos como<br />

gráficos, filmes, e o registro <strong>da</strong>s questões feitas por um<br />

estu<strong>da</strong>nte sôbre o cooperativismo agrícola.<br />

Êste material demonstrou sua utili<strong>da</strong>de para o ensino<br />

<strong>da</strong>s técnicas <strong>da</strong> discussão em grupo.<br />

“Brains Trust” — Constituiu-se um Centro de<br />

estu<strong>da</strong>ntes, os mais brilhantes, que respondiam às questões<br />

feitas pelos es-tu<strong>da</strong>ntes que freqüentavam os cursos.<br />

16—27 454


242 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Educação visual — Desempenha um papel importante<br />

no ensino na África. A escola dispõe de uma sala de educação<br />

visual equipa<strong>da</strong> de projetores de 16 mm. Organizou-se, to<strong>da</strong>s<br />

as semanas, um programa sôbre cooperativas, O mais possível<br />

ligado aos assuntos <strong>da</strong> semana.<br />

Visita de estudos — Foram realiza<strong>da</strong>s visitas de ordem<br />

cooperativa, agrícola, comercial e cívica e a lugares de interês-<br />

se particular, como: Escola Técnica Profissional de Kebete,<br />

Conselho Legislativo Municipal de Quênia, fazen<strong>da</strong> <strong>da</strong> “Jean-<br />

nes School” e Departamento Feminino de Artes Domésticas,<br />

assim como a fazen<strong>da</strong>s africanas ou européias, etc.<br />

Exames — No final do curso foram realizados exames.<br />

As cópias dêstes exames foram envia<strong>da</strong>s ao Departamento de<br />

Cooperativas.<br />

Categoria de estu<strong>da</strong>ntes admitidos ao curso — O nível<br />

mínimo de admissão aos cursos foi de 10 anos de estudos.<br />

"O cooperativismo, segundo opinião de alguns, não pode<br />

desenvolver-se em populações primitivas e analfabetas; mas a<br />

tentativa realiza<strong>da</strong> na África Oriental confirma os ensinamen-<br />

tos <strong>da</strong> experiência dinamarquesa: a organização e o ensino<br />

cooperativos podem progredir em qualquer meio. A<br />

experiência e os conhecimentos adquiridos pela gente simples,<br />

através <strong>da</strong> criação e do funcionamento de suas próprias<br />

cooperativas, constituem um método pe<strong>da</strong>gógico de<br />

importância vital, precioso não sòmente para os interessados e<br />

a socie<strong>da</strong>de ela mesma, mas ain<strong>da</strong> para a comuni<strong>da</strong>de no seu<br />

conjunto; êste método deve ser, entretanto, utilizado<br />

conscienciosamente, e contribuir, assim, substancialmente,<br />

para implantação <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de econômica,<br />

“A Escola de Cooperativismo na África Oriental<br />

constitui, portanto, enorme progresso neste sentido, e a glória<br />

retornará àqueles que tiveram a lucidez e a energia necessárias<br />

á sua realização.<br />

“A escola crê firmemente que a formação profissional e<br />

a educação dos inspetores africanos farão sentir sua influência<br />

e contribuirão para encorajar e fortalecer o movimento coope-<br />

rativo na África, quando o centro tiver maiores desenvolvi-<br />

mentos, e houver, assim, pessoal técnico suficiente. Espera-se<br />

fazer obra útil, preparando cursos por correspondência em<br />

língua indígena para empregados de cooperativa.


CAPÍTULO XI<br />

AS COOPERATIVAS PÓS-ESCOLARES E OS GRUPOS<br />

SOCIAIS DE TRANSIÇÃO, A COMUNIDADE RURAL,<br />

A AÇÃO DO ESTADO, A EDUCAÇÃO<br />

As Cooperativas pós-escolares, como o nome a indica, são<br />

cooperativas que se poderão formar depois de terminar o alu-<br />

no o curso escolar, como já o frisei.<br />

Têm por finali<strong>da</strong>de, essas cooperativas, <strong>da</strong>r aos ex-alunos<br />

e também a filhos de operários pobres, meios de continuar sua<br />

educação geral e proporcionar-lhes meios de adquirir ensino<br />

técnico, preparando-os para os ofícios manuais, o artesanato<br />

rural, a agricultura e a criação, desenvolvendo-lhes aptidões<br />

úteis para os vários misteres, num sentido objetivo. A coope-<br />

rativa também poderá adquirir material didático e instru-<br />

mentos de trabalho, distribuindo socorros e adquirindo, para<br />

uso de seus associados, as ferramentas necessárias e até mes-<br />

mo instrumental agrícola. Dar-lhes-á orientação profissiona<br />

auxiliando-os na procura de emprêgo, principalmente aos<br />

órfãos de famílias numerosas.<br />

Profit, acompanhando a Munding, insiste em que se deve<br />

tomar o princípio <strong>da</strong> família para exemplo e para guia, e, pela<br />

prática, iniciar as crianças na concepção do Estado, procuran-<br />

do realizar na escola um grupo social de transição. No grupo<br />

assim constituído, as alunos devem encontrar uma imagem<br />

do Estado, todo um microcosmo, ao mesmo tempo que uma<br />

família mais ampla, família essa que ensina o amor desinte-<br />

ressado, a abnegação, o devotamento, tô<strong>da</strong>s as virtudes que<br />

cimentam a grande socie<strong>da</strong>de dos homens, a afeição, na fa-<br />

mília, apoiando-se na comuni<strong>da</strong>de de origem, do trabalho e de<br />

destino, constituindo o tipo mesmo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de cooperativa.<br />

Payot, em “A moral na escola”, frisando como o trabalho<br />

criou o pão, como o próprio egoísmo coopera e como o traba<br />

lhador cria a felici<strong>da</strong>de, acentua que só a família com as seus<br />

deveres nos põe em face <strong>da</strong>s reali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, desenvolvendo<br />

em nós todos as energias <strong>da</strong> inteligência, do coração e <strong>da</strong><br />

vontade.


244 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Como na família, acentua ain<strong>da</strong> Profit, há na coperativa<br />

escolar um capital comum, uma caixa alimentala e geri<strong>da</strong> pelo<br />

esfôrço comum, aparelhos e instalações que estão à disposição<br />

de todos e sob a guar<strong>da</strong> de todos É fortaleci<strong>da</strong> a afeição pelas<br />

relações mais estreitas e freqüentes que se estabelecem e que<br />

fazem nascer um desejo coletivo de melhoria e o sentimento<br />

de colaborar para o progresso comum.<br />

“Para evitar os afãs lucrativos, diz ain<strong>da</strong> Hernandez<br />

Ruiz, o melhor, nas cooperativas escolares, é a fixação<br />

regulamentar de um limite máximo de fundos a possuir em<br />

dinheiro e a subseqüente obrigação de inverter em obras<br />

escolares ou de assistência social interescolar todo o excedente<br />

que se obtenha. Êsse excedente pode ser, para a maioria <strong>da</strong>s<br />

cooperativas escolares, de 500 a 1000 pesetas, dentro,<br />

assim, dos limites <strong>da</strong> modéstia e simplici<strong>da</strong>de que<br />

recomen<strong>da</strong>mos.<br />

“Na cooperativa escolar não há distribuição de excesso<br />

de percepção". (Outros não pensam assim).<br />

“El aprovechamiento individual dependerá de las necesi-<br />

<strong>da</strong>des respectivas de los cooperadores, que la colectivi<strong>da</strong>de de-<br />

terminará y valorará”.<br />

Refere-se, também, apoiado freqüentemente em Profit e<br />

Cattier, às associações de antigos alunos e as cooperativas pós-<br />

escolares (nota<strong>da</strong>mente as de artesanato rural, como assinala<br />

Profit).<br />

O projeto de lei do Colômbia sôbre cooperativas<br />

escolares tem 81 (oitenta e um) longos artigos nos quais se<br />

acentua que as cooperativas escolares são organizações<br />

essencialmente Educativas. O mesmo ressaltam as realizações e a<br />

doutrinação do Office Central de la Coopération à l’École,<br />

fun<strong>da</strong>do em Paris por Fernando Buisson, o grande<br />

pe<strong>da</strong>gogo francês, Charles Gide, o grande economista, e Albert<br />

Thomas, o conhecido cooperativista, e de que foi presidente G.<br />

Prache, <strong>da</strong> Fédération Nationale des Coopératives de<br />

Consommation. Aquela organização está sob o patrocínio do<br />

Ministro <strong>da</strong> Educação Nacional <strong>da</strong> França. Acabo de receber<br />

The Year Book of <strong>Agricultura</strong>l Cooperation — 1940 — de<br />

Londres, com a co-laboração que lhe enviava anualmente. Nêle<br />

encontrei referéncia à República do Peru: “The Peruvian<br />

Governement has embraced these ideals and established rural<br />

schools as a first step toward the spreading of the principles of<br />

co-operation”.


FÁBIO LUZ FILHO 245<br />

Francisco Alvarino Herr acentua a influência, no Peru<br />

primitivo, do ayllus, forma interessante de mutuali<strong>da</strong>de seme-<br />

lhante ao clã, na população indígena dêsse país, como já<br />

vimos.<br />

OS MANDAMENTOS DO COOPERADOR ESCOLAR<br />

I— O cooperador ama a sua escola, que é a sua casa, a<br />

casa dos meninos: deseja-a sempre melhor instala<strong>da</strong>, mas<br />

limpa, mais bela.<br />

II— Para chegar a ser um bom cooperador é preciso pri-<br />

meiramente ser assíduo e pontual, limpo e ordenado, enérgico<br />

e disciplinado.<br />

III— É necessário, sobretudo, saber sacrificar, em caso<br />

de necessi<strong>da</strong>de, uma parte do próprio direito para o bem de<br />

todos ou mesmo de um só, e esforçar-se por tornar-se ca<strong>da</strong> vez<br />

mais apto para o sacrifício, flor suprema <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

IV— O cooperador tem consciência de seus deveres em<br />

relação aos seus companheiros, mestres e pais.<br />

V— Olha os seus companheiros como irmãos. Só lhes<br />

<strong>da</strong>r bons exemplos é seu primeiro dever para com os mesmos.<br />

Ama, sobretudo, os infelizes, os fracos, os pequenos, os novos, e<br />

esforça-se por que a escola lhes seja agradável.<br />

VI— É sincero e leal, amável e cortês, complacente e<br />

serviçal. Não pensa que a camara<strong>da</strong>gem e a familiari<strong>da</strong>de pó-<br />

dem excluir a cortesia.<br />

VII— O cooperador compreende que a disciplina é uma<br />

necessi<strong>da</strong>de de interêsse geral. Sabe obedecer àqueles que seu<br />

grupo elegeu para dirigentes; se êle mesmo designado, não<br />

esquece que o melhor meio de ser obedecido é <strong>da</strong>r exemplo de<br />

fideli<strong>da</strong>de à lei comum. Saberá, mais tarde, traçar-se normas<br />

e seguí-las. Em tô<strong>da</strong>s as situações há a responsabili<strong>da</strong>de de<br />

seu atos.<br />

VIII— Antes de formar uma opinião e antes de decidir,<br />

o cooperador tratará de se informar o melhor possível. Esfor-<br />

çar-se-á por pensar honra<strong>da</strong>mente e falar corretamente, pois<br />

sua palavra é sagra<strong>da</strong>.<br />

IX— Depois de refletir e decidir, sabe atuar<br />

enèrgicamen-te, com coragem e bom humor.<br />

X— O cooperador será sempre um homem justo e bom,<br />

generoso e valente; um homem de iniciativa e progresso”. —<br />

Profit.


246 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

O COOPERATIVISMO, A COMUNIDADE RURAL,<br />

A EDUCAÇÃO E A AÇÃO DO ESTADO<br />

(Conferência realiza<strong>da</strong> por Fábio Luz Filho na II Reunião<br />

de Consulta as Cooperativas, realiza<strong>da</strong> em Recife em<br />

maio de 1954)<br />

Não há muito, ilustre técnico <strong>da</strong> ECAFE (Comissão Eco-<br />

nômica <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para a Ásia e o Extremo Oriente),<br />

Sunitro Djohadikusomo, comentou, com acui<strong>da</strong>de e justeza,<br />

a contribuição do economista para a política econômica ajus-<br />

tável às áreas econômicamente subdesenvolvi<strong>da</strong>s. Nas condi-<br />

ções sociais destas regiões, diz êle, merece tô<strong>da</strong> a atenção a<br />

falta de tecnologia e um espírito organizado e com capaci<strong>da</strong>de<br />

administrativa. Não obstante seja conseqüência <strong>da</strong> estrutura<br />

social, repercuti mal no setor econômico. O processo econô-<br />

mico, é ,atualmente, baseado no aproveitamento <strong>da</strong> inteli-<br />

gência em tô<strong>da</strong>s as suas formas, podendo mesmo a capaci<strong>da</strong>de<br />

de organização ou administrativa ser considera<strong>da</strong> como o<br />

quarto elemento <strong>da</strong> produção.<br />

Assim sendo, a conservação de instituições e de costumes<br />

obsoletos pode impedir a modernização, o desenvolvimento<br />

econômico e o progresso social. Os fatôres econômico-sociais<br />

são também as causas precípuas do estado de atraso em que se<br />

encontraram as populações rurais. Nas regiões em que há<br />

grande concentração <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de nas mãos de uma parte<br />

relativamente pequena <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, a insolvabili<strong>da</strong>de do ren-<br />

deiro em relação ao proprietário <strong>da</strong> terra tende a se perpetuar.<br />

Onde não há concentração <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de, a situaçäo <strong>da</strong><br />

população rural não é, na reali<strong>da</strong>de, mui diferente. Neste caso,<br />

os camponeses são pequenos proprietários e contraem dívi-<br />

<strong>da</strong>s com os comerciantes e os banqueiros que vivem nas ci<strong>da</strong>-<br />

des. A colheita ou a terra, e algumas vêzes ambas, são hipo-<br />

teca<strong>da</strong>s em garantia do pagamento de divi<strong>da</strong>s, pela ausência<br />

de organização econômica ao serviço dêles.<br />

“Como os credores controlam o preço <strong>da</strong> colheita, o<br />

deve-dor geralmente não pode resgatar a sua dívi<strong>da</strong>. A<br />

insolvabili<strong>da</strong>de prolonga<strong>da</strong> provoca a execução <strong>da</strong> hipoteca e<br />

o camponês se torna rendeiro na sua própria terra, cujo<br />

domínio êle ain<strong>da</strong> conserva nominalmente”. (Não tem sido<br />

outra, dizemos, a linguagem dos que, aqui e alhures, pugnam<br />

pelo advento de uma reforma agrária de base).


FÁBIO LUZ FILHO 247<br />

“As instituições e os costumes, continua, existentes na<br />

economia agrária <strong>da</strong>s regiões subdesenvolvi<strong>da</strong>s, representam,<br />

muitas vêzes, obstáculos ao desenvolvimento econômico e ao<br />

progresso social. Dificultam a mobili<strong>da</strong>de do capital e do<br />

trabalho e a formação de espíritos novos, fatôres indispensá-<br />

veis para encontrar a solução dos problemas <strong>da</strong> atual econo-<br />

mia mundial”. (Como que estamos vendo a imagem, neste<br />

campo, do Nordeste brasileiro).<br />

E conclui, o ilustre técnico:<br />

“Ja se focalizou a estreita correlação existente entre o<br />

desenvolvimento econômico e a social. Conseqüentemente, em-<br />

bora a educação tenha uma função social própria, seus princí-<br />

pios, sua natureza e seus fins devem ser condicionados pelas<br />

exigências do desenvolvimento econômico e do progresso so-<br />

cial. Os aspectos educacionais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de devem ser organi-<br />

zados a fim de contribuírem para diminuir as dificul<strong>da</strong>des<br />

cria<strong>da</strong>s pelas transformações sociais. O desenvolvimento eco-<br />

nômico e social e a educação são, pois, fatôres correlatos que<br />

convergem para a criação de condições que vão permitir a rea-<br />

lização do progresso dinâmico <strong>da</strong>s transformações sociais, ba-<br />

sea<strong>da</strong> na cooperação ativa e voluntária <strong>da</strong>s populações rurais”.<br />

Será a volta ao princípio filosófico do “gotongroyon” indoné-<br />

sico (aju<strong>da</strong> mútua).<br />

Temos, assim, nas linhas acima, sensatos conceitos que<br />

se aplicam perfeitamente às condições sócio-econômicas do<br />

Brasil, nos seus contrastes, donde sua escolha para a citação.<br />

O MOVIMENTO COOPERATIVO<br />

E O ESTADO<br />

Falta ao movimento cooperativo sul-americano, sobretu-<br />

do ao de natureza agrícola, aquela base educativa, por moti-<br />

vos óbvios, educação que deu estabili<strong>da</strong>de ao movimento euro-<br />

peu, como nô-lo descreve Valdiki Moura em seu brilhante “Dez<br />

faces do Mundo”. Deu-lhe ela a necessária fibra para receber,<br />

impertérrito, os ominosos embates de duas guerras hedion<strong>da</strong>s,<br />

que trouxeram a subversão de valores materiais e espirituais,<br />

<strong>da</strong>s quais, no entanto, se reergueu, dinâmico, altivo e fecundo,<br />

ca<strong>da</strong> vez mais animado de seus altos propósitos de renovação<br />

humana.<br />

Há tempos aludimos a um trabalho <strong>da</strong> Oficina Interna-<br />

cional do Trabalho, de Genebra, e às relações que essa Oficina<br />

manteve com os serviços oficiais de numerosos países, tendo


248 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

nós mesmos tido oportuni<strong>da</strong>de de responder, em língua fran-<br />

cesa, a longo questionário nesse sentido, no qual ressaltamos<br />

o que há anos se faz no Brasil e os óbices defrontados, pró-<br />

prios de países subdesenvolvidos.<br />

É êsse trabalho <strong>da</strong> lavra de Campbell e reporta-se a êsses<br />

países subdesenvolvidos, dos quais tem longa experiência,<br />

achando êle que a participação dos governos no fomento e de-<br />

senvolvimento cooperativos, nos países dêsse tipo, é necessária<br />

e indispensável. Frisa que, em uma coletivi<strong>da</strong>de evoluí<strong>da</strong>, o<br />

govêrno, na pessoa de seus técnicos, na<strong>da</strong> tem que fazer, o que<br />

se não dá com as comuni<strong>da</strong>des insuficientemente desen-<br />

volvi<strong>da</strong>s, nas quais os cooperadores são pouco instruídos, pó-<br />

bres, ignorantes por completo dos métodos e processos comer-<br />

ciais, o que os obriga a uma assistência maior.<br />

Assinala êle, como já o frisamos, que há, nessas comuni-<br />

<strong>da</strong>des, necessi<strong>da</strong>de de se encorajar, dirigir e controlar as ope-<br />

rações <strong>da</strong>s cooperativas, ate atingirem elas certo estágio <strong>da</strong><br />

maturi<strong>da</strong>de. Mas, ao seu ver (do que temos nós, no Brasil,<br />

experiência bastante), isto é tarefa que exige competência e<br />

conhecimento do que se tem feito em outros países de situa-<br />

ções análogas (claro que não vamos comparar os países<br />

sul-americanos à Suécia, Dinamarca, Suiça, Inglaterra, etc.), os<br />

métodos que nêles deram resultados e os que fracassaram.<br />

Tudo isto é aceitável, se guar<strong>da</strong>dos os devidos limites,<br />

pois a interferência do Estado deve ser dirigi<strong>da</strong> num sentido de<br />

orientação e assistência, como vimos fazendo no Brasil. De<br />

uma maneira extremamente hábil, o funcionário competente<br />

nunca deve perder de vista que o objetivo <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> não é o de<br />

fazer o trabalho dos associados, mas ensiná-los a agir por si<br />

mesmos. “A insuficiência <strong>da</strong> fiscalização pode levar as coope-<br />

rativas a serem muito pródigas, a se lançarem em emprêsas<br />

ambiciosas, além de suas capaci<strong>da</strong>des e não previstas pelos<br />

estatutos, ficando aberta a porta é desleal<strong>da</strong>de, à negligência<br />

nas contas e à retira<strong>da</strong> de fundos, devido à ignorância e à<br />

má fé”. E, contràriamente, um excesso de fiscalização e a in-<br />

gerência podem diluir-lhe o senso de responsabili<strong>da</strong>de, dimi-<br />

nuir-lhe a vitali<strong>da</strong>de e fazer crer aos associados (com isto é<br />

comum no Brasill) que o “Govêrno” irá gerí-las por êles, acen-<br />

tuando-lhes a idéia do Estado carismático, etc. “Une telle<br />

attitude est l' antithèse même de la cooperation”.<br />

No comêço, acentua ain<strong>da</strong>, é necessário que o Govêrno<br />

dê ás cooperativas certo apoio financeiro direto, visando a<br />

<strong>da</strong>r-lhes possibili<strong>da</strong>des de atingir um estágio no qual poderão organizar<br />

e controlar seus próprios serviços financeiros, em au-


FÁBIO LUZ FILHO 249<br />

to-suficiência. Não deve, em conseqüência, emprestar-lhes a<br />

Juros de favor, ou sem juros, ou a juros inferiores àqueles que<br />

exigem uma sã economia, mas a juros que suas próprias insti-<br />

tuições deverão exigir um dia. “Se êsses juros parecerem mui-<br />

to elevados, uma fração dêles poderá ser utiliza<strong>da</strong> para aju<strong>da</strong>r<br />

as socie<strong>da</strong>des em sua obra educativa, ou em seu trabalho de<br />

contrôle.<br />

No Brasil, a ação do Estado deverá fazer-se e vem sendo<br />

feita nos têrmos indicados, sem se tolher a liber<strong>da</strong>de de inicia-<br />

tiva, a liber<strong>da</strong>de de organização econômica por meios coerciti-<br />

vos. Orienta-se e aconselha-se; não se pode nem se deve impor.<br />

Não nos parece desejável vivamos em regime de paternalismo<br />

indefinido, já o dissemos. As cooperativas são organizações de<br />

natureza priva<strong>da</strong> com autonomia garanti<strong>da</strong> por lei, e defluindo<br />

de princípios doutrinários universais.<br />

Margaret Digby disse, em “The world movement”, que<br />

onde o movimento cooperativo é olhado como uma forma de<br />

serviço social, é amparado por privilégios legais e fiscais; o<br />

crédito nacional é pôsto à sua disposição; as relações entre o<br />

movimento e os departamentos oficiais especializados devem<br />

ser levados a elevado grau de eficiência e o princípio social<br />

deve ser mantido. “Co-operative law like the cooperative<br />

move- ment, is the product of growth, experience and the<br />

flexible mind”.<br />

Warbasse mesmo, defensor caloroso <strong>da</strong> auto-suficiência<br />

cooperativa, concor<strong>da</strong> em que à não-intervenção do Estado só<br />

existe única exceção: as emprêsas cooperativas fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s por<br />

pessoas excepcionalmente pobres, casos em que as governos<br />

têm tido interferência no sentido do financiamento e do asses-<br />

soramento iniciais. Isto sucedeu com as cooperativas de crê-<br />

dito cooperativo <strong>da</strong> Índia; com as “Federal Farm Belief””;<br />

com as “Cooperativas de aju<strong>da</strong> mútua" entre desocupados na<br />

América do Norte; com as cooperativas de habitações na Ale-<br />

manha, Dinamarca e Suécia; com as cooperativas de campo-<br />

neses de vários países e com a Liga Cooperativa <strong>da</strong> China;<br />

com as cooperativas de pescadores de Cuba e as agrícolas de-<br />

nomina<strong>da</strong>s Martí.<br />

Acha Warbasse, com razão, que essa ação governamental<br />

representa, no fundo, uma economia para o próprio govêrno,<br />

de vez que substitui o socorro aos necessitados, pois a filantro-<br />

pia não é mais do que um simples paliativo. O método coope-<br />

rativo põe os necessitados em condições de se aju<strong>da</strong>rem a si<br />

próprios, sem humilhações ou recalques. Os resultados se<br />

fazem sentir profun<strong>da</strong>mente quando as cooperativas, por


250 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

mais precárias que sejam seus começos, conseguem devolver<br />

ao govêrno os empréstimos que do mesmo receberam.<br />

“O grande movimento mundial foi criado, geralmente,<br />

por pessoas que se achavam pouco acima do mais baixo nível<br />

econômico”.<br />

“Dispondo de escassos recursos, souberam combinar a<br />

iniciativa e a fé no próprio esfôrco com a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> econo-<br />

mia. Fun<strong>da</strong>ram as cooperativas com o fim de aumentar sua<br />

capaci<strong>da</strong>de aquisitiva e, como conseqüência deriva<strong>da</strong> de tal<br />

propósito, criaram valores sociais de importância mui supe-<br />

rior ao fato concreto <strong>da</strong> economia".<br />

Daí serem sempre lembrados os bravos “Tecelões de<br />

Roch<strong>da</strong>le”, <strong>da</strong>í serem sempre evocados com emoção.<br />

0 ilustre Fabra Ribas, infelizmente falecido, em carta<br />

aberta com que em 1950 nos honrou disse, numa reafirmação<br />

de princípios:<br />

1 — Não convém que as Cooperativas atuem debaixo <strong>da</strong><br />

tutela do Estado e muito menos que se identifiquem com o<br />

Estado. Razões: porque o regime do Estado pode mu<strong>da</strong>r, em-<br />

quanto que o Cooperativismo necessita conseguir a maior es-<br />

tabili<strong>da</strong>de possível. Sua natureza, já se disse, é como a de<br />

certos cristais: se se mexe muito com o vaso em que se estão<br />

formando, tem-se que recomeçar a operação.<br />

2 — O ver<strong>da</strong>deiro progresso do Cooperativismo não de-<br />

pende do número de seus associados, nem do volume de suas<br />

operações, nem <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> que possa receber do exterior, mas<br />

principalmente do que forem capazes de fazer os membros<br />

<strong>da</strong>s Cooperativas;<br />

3 — A educação cooperativa é, por conseguinte, o que<br />

mais influi no êxito do Movimento.<br />

Para organizar boas cooperativas é necessário formar<br />

bons cooperadores. E a educação cooperativa deve estender-se<br />

aos simples associados, aos administradores <strong>da</strong>s cooperativas<br />

e aos representantes dos podêres públicos encarregados de co-<br />

laborar com os cooperadores.<br />

Os representantes dos podéres públicos que desconhece-<br />

rem o espírito e a prática do Cooperativismo, constituem um<br />

ver<strong>da</strong>deiro perigo social, porque tratarão fatalmente de su-<br />

prir sua falta de preparo com a aplicação de planos absurdos<br />

e de medi<strong>da</strong>s arbitrárias.<br />

4 — As Cooperativas são socie<strong>da</strong>des priva<strong>da</strong>s de utili<strong>da</strong>-<br />

de pública, cujo objetivo principal não é o lucro mas a pres-<br />

tação de serviços a seus associados particularmente e em geral<br />

à comuni<strong>da</strong>de inteira. Por isso devem tratar de atuar sob tô<strong>da</strong>


FÁBIO LUZ FILHO 251<br />

classe de regimes e acatar a legislação vigente. Seus processos<br />

excluem tô<strong>da</strong> classe de violência e até de intemperança. Seu<br />

principal instrumento de defesa, de propagan<strong>da</strong>, de ação (eco-<br />

nômica, social e moral) consiste sempre na retidão de condu-<br />

ta que observam e no constante melhoramento dos serviços<br />

que prestam.<br />

5 — As Cooperativas bem organiza<strong>da</strong>s constituem insu-<br />

perável instrumento regulador <strong>da</strong> economia nacional e um<br />

centro modêlo de educação ci<strong>da</strong>dã, de vez que se afastam<br />

cui<strong>da</strong>dosamente de mero terreno polêmico e crítico, para com-<br />

centrar suas ativi<strong>da</strong>des em obras construtivas, que interessam<br />

a todos e não prejudicam a ninguém. Daí a convêniencia de<br />

uma colaboração constante entre as cooperativas e os podêres<br />

públicos, colaboração que, em benefício mútuo, deve ressalvar<br />

a autonomia própria dos que dela participam. O melhor re-<br />

sultado que se pode obter dessa colaboração é a introdução do<br />

ensino cooperativo em todos os centros de educação e no esta-<br />

belecimento de escolas e colégios nos quais se possa aprender o<br />

cooperativismo teórico e prático, isto é, nos quais se aten<strong>da</strong><br />

à formação integral de cooperativistas e à preparação elemen-<br />

tar de propagandistas de cooperativismo e;<br />

6 — O Cooperativismo cultiva um alto ideal e trata de<br />

compreender o real. Por isso, dirige a todos os homens e<br />

mulheres de boa vontade, quaisquer que sejam sua raça, suas<br />

opiniões, e sua crença, a mensagem que expressam estas belas<br />

palavras do professor Edgard Milhaud:<br />

“Existe uma correspondência perfeita entre o Credo dos<br />

Pioneiros de Roch<strong>da</strong>le (fun<strong>da</strong>dores do moderno Movimento<br />

Cooperativo) e o Credo do Povo de hoje, já que os princípios<br />

de nossa cooperação são os mesmos do Sermão <strong>da</strong> Montanha,<br />

traduzindo a linguagem dos fatos econômicos <strong>da</strong> época em<br />

que vivemos”.<br />

AINDA A EDUCAÇÃO NO PLANO COOPERATIVO<br />

“Education before action” é a apotegma <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de de Antigonish, do Canadá, como vimos.<br />

Da conferência de Nuwara Eliza, patrocina<strong>da</strong> pela Ofici-<br />

na Internacional do Trabalho, em 1951, na Ásia, há conclusões<br />

que se aproximam dessa sentença e que devem merecer nossa<br />

atenção. Uma delas refere-se à ação governamental, que achou<br />

dever ser intensifica<strong>da</strong> não só com a formação adequa<strong>da</strong> de<br />

equipes de funcionários especializados nos serviços cooperati-


252 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

vos oficias, viagens de estudos, cooperativas-pilotos, etc., co-<br />

mo pelos auxílios ou empréstimos do Estado, ou garantias do<br />

Estado quanto a empréstimos para equipamento, a outorga<br />

de certos privilégios fiscais, e a concessão de certas priori<strong>da</strong>des<br />

para a compra e o fornecimento de produtos essenciais.<br />

Achou imprescindível a inversão de capitais no equipa-<br />

mento e desenvolvimento <strong>da</strong>s cooperativas. Outrossim, con-<br />

cluiu que os adiantamentos feitos a título de empréstimos de-<br />

verão ser concedidos sob condições favoráveis.<br />

Os delegados presentes a essa Conferência afirmaram,<br />

ain<strong>da</strong>, que os departamentos de cooperativismo governamen-<br />

tais, sendo normalmente os responsáveis, nos países subde-<br />

senvolvidos, pela criação e o desenvolvimento <strong>da</strong>s cooperati-<br />

vas, deveriam ser os primeiros a receber uma estrutura con-<br />

veniente, devendo ser reforçado o respectivo pessoal técnico,<br />

a fim de ser possível, de uma maneira eficiente, o contrôle, a<br />

inspeção e a verificação contábil <strong>da</strong>s cooperativas, socie<strong>da</strong>des<br />

de bem público. Também insistiram em que, na formação pro-<br />

fissional dos empregados <strong>da</strong>s cooperativas, há necessi<strong>da</strong>de de<br />

umo seleção judiciosa de pessoas, incluindo nisto o conheci-<br />

mento dos princípios cooperativos, tecla que vimos percutin-<br />

do há anos, no Brasil. Os administradores deverão receber<br />

uma formação profissional completa, escolhidos entre pes-<br />

soas qualifica<strong>da</strong>s, o que representa um ideal, a ser atingido<br />

por etapas, no Brasil.<br />

O domínio do educação cooperativa, nas conclusões <strong>da</strong>-<br />

queles delegados, é imprescindível para o esclarecimento <strong>da</strong>s<br />

massas, o que precisamos compreender no Brasil. Tudo isto<br />

temos predicado, num afã interativo, há anos.<br />

Compreendendo o alcance <strong>da</strong> educação, a Dinamarca,<br />

dentre outros, tratou, com sabedoria, de <strong>da</strong>r alicerce educati-<br />

vo ao seu movimento cooperativo. Como é sabido, é ela justa-<br />

mente considera<strong>da</strong> como uma “comuni<strong>da</strong>de cooperativa diri-<br />

gi<strong>da</strong> por agricultores”, o “reino <strong>da</strong> razão", no qual a govêrno<br />

tudo fêz no sentido de educar o povo para o cooperativismo.<br />

Dois terços dos habitantes freqüentam os cursos oficiais.<br />

É<br />

considera<strong>da</strong> a mais exemplar <strong>da</strong>s nações democráticas do no-<br />

roeste <strong>da</strong> Europa. Miss Rothery disse que, na Dinamarca, não<br />

sòmente o povo é alimentado e vestido, mas sorri... Não há<br />

habitações insalubres nem aglomerações em suas ci<strong>da</strong>des lim-<br />

pas; todos estão praticamente protegidos contra o desem-<br />

prêgo, a enfermi<strong>da</strong>de e a velhice. O sistema cooperativo ar-<br />

ranca explosões de entusiasmo e demonstra que não há tanto<br />

que modificar no regime democrático para fazer um povo


FÁBIO LUZ FILHO 253<br />

feliz. Com uma distribuição eqüitativa <strong>da</strong> ren<strong>da</strong>, assegura um<br />

mínimo, que é um alto mínimo, de padrão de vi<strong>da</strong>; mas isto<br />

não impede o espírito individual, capaz e empreendedor, de<br />

amealhar.<br />

Já foi dito, com muita justeza, que o capitalismo opõe o<br />

interêsse particular ao interêsse geral; o estadismo submete,<br />

pela fôrca, os interêsses particulares ao interêsse geral; o<br />

cooperativismo associa os interêsses particulares segundo for-<br />

mulas tão essencialmente justas, que a união cooperativa se<br />

indentifica com o interêsse geral. É por isto que é êle um pe-<br />

nhor de justiça social e também de paz internacional.<br />

Repetimos que não é sem uma base educativa que se<br />

apri-moram os quadros cooperativos para que tão elevados<br />

obje- tivos sejam alcançados. E Pernambuco cedo isto<br />

compreendeu, quando deu ênfase ao cooperativismo escolar,<br />

pelo que mere- ce louvores.<br />

Antonio Sérgio, o ilustrado professor e escritor luso, em-<br />

viou-nos recentemente seu último livro — “Cartas do terceiro<br />

homem", bela profissão fé cooperativista, no qual tem con-<br />

ceitos justos sôbre o cooperativismo escolar, roborativos do<br />

que vimos dizendo há anos em livros, folhetos comuni<strong>da</strong>des e<br />

ar-tigos. Frisa êle que os ver<strong>da</strong>deiros instrumentos de educação<br />

<strong>da</strong> juventude devem ser buscados na vi<strong>da</strong> civil dos nossos<br />

concelhos antigos, dos nossos municípios modernos, e na orga-<br />

nização democrática <strong>da</strong>s cooperativas de hoje. E acena, em<br />

segui<strong>da</strong>, para a cooperativismo escolar pelas intrínsecas virtu-<br />

des educativas que todos lhe reconhecem. (Conselho era a<br />

circunscrição administrativa, abaixo do distrito, dizemos).<br />

“Percebamos que a liber<strong>da</strong>de é que é o sol <strong>da</strong>s almas”,<br />

diz Antônio Sérgio.<br />

Ao nos referirmos, em um de nossos livros, ao cooperati-<br />

vismos escolar, frisamos que o cooperativismo é um movimen-<br />

to de natureza econômica que se vale <strong>da</strong> educação e um pro-<br />

cesso educativo que se vale <strong>da</strong> ação econômica. Daí ‘sua in-<br />

fluência no campo específico <strong>da</strong> organização interna <strong>da</strong><br />

escola”.<br />

Claparède alude à lei <strong>da</strong> autonomia funcional em educa-<br />

ção considerando a criança como uma "uni<strong>da</strong>de funcional”.<br />

A educação não é apenas uma preparação para a vi<strong>da</strong>, mas a<br />

própria vi<strong>da</strong>, diz êle. Daí a escola renova<strong>da</strong>, de que meu sal-<br />

doso pai, Fábio Luz, foi um precursor no Brasil, como foi do<br />

romance social, e, dentro dessa escola, a cooperativa escolar.


254 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

O PANORAMA COOPERATIVO EUROPEU EM<br />

FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO<br />

Já vimos a Dinamarca, e é conhecido o panorama coope-<br />

rativo sueco do ponto-de-vista do ensino cooperativo.<br />

Na Inglaterra, o movimento cooperativo tem, no<br />

domínio do ensino, seu ponto alto no Colégio Cooperativo, de<br />

Man-chester. Foram dispendi<strong>da</strong>s, em 1947, cêrca de 400.000<br />

libras, nesse setor.<br />

"The Co-operative College” foi fun<strong>da</strong>do em Manchester,<br />

no ano de 1919, e destinado a altos estudos (‘as the apex of<br />

educational provisions of the Co-operative Movement”), para<br />

homens e mulheres de mais de 18 anos, sem discriminações<br />

de espécie alguma, tanto que a freqüentam alunos de côr<br />

prêta. Comporta em seus internatos a 110 alunos, e possui<br />

biblioteca de 10.000 volumes, escalonados seus cursos pelo<br />

outono, pela primavera e pelo verão, havendo um curso espe-<br />

cial do cooperativismo para as colónias, de acôrdo com o Co-<br />

lonial Office”.<br />

Na França, Lavergne, a grande autor de “Révolution<br />

Coo-pérative”, foi substituído por Georges Lasserre na<br />

Facul<strong>da</strong>de de Direito de Paris, na qual atualmente ensina a<br />

doutrina co-operativa, continuando a brilhante tradição<br />

deixa<strong>da</strong> por Gide no Colégio de França.<br />

Na Alemanha Ocidental surgiu, depois do impacto <strong>da</strong><br />

última guerra, o “Instituto <strong>da</strong> Cooperação", na Universi<strong>da</strong>de<br />

de Munster. Na Suiça, o ensino cooperativo tem seu acume<br />

no mundialmente conhecido Seminário de Freidorf. A Rússia<br />

atual destinou, não há muito, uma dotação de cérca de 180 mi-<br />

lhões de rublos para o ensino em mais de 70 escolas de co-<br />

mércio.<br />

E a Índia, Colômbia (esta com seus centros de estudos<br />

cooperativos e seu instituto de Estudos Cooperativos, etc.),<br />

Argentina, etc., como já o temos frisado em livros e artigos,<br />

vão <strong>da</strong>ndo a devido relêvo ao ensino do cooperativismo em<br />

todos os seus aspectos. No Brasil, bem conheceis os esfôrços do<br />

Serviço de Economia Rural, do Centro Nacional de Estudos<br />

Cooperativos e dos Serviços e Departamentos estaduais de<br />

cooperativismo nesse sentido, e os <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Rural e<br />

<strong>da</strong> Escola de Agronomia do Paraná, etc.<br />

O Canadá, entanto, deve merecer uma referência espe-<br />

cial, pelo que se faz nas Universi<strong>da</strong>des de São Francisco Xá-


FÁBIO LUZ FILHO 255<br />

vier. Laval e Voncouver, duros que foram os ensinamentos<br />

oriundos de fracassos cujas raízes se situavam, na opinião de<br />

técnicos e doutrinadores, na ignorância.<br />

E êsse lastro educativo será, inegàvelmente, uma base<br />

granítica.<br />

O NOSSO HOMEM RURAL<br />

O nosso homem rural, como já o frisamos em mais de<br />

um livro, sobretudo em “Rumo à terra” e agora em “Crédito<br />

Agrícola e problema agrário", aí está no seu triste insulamen-<br />

to. A sêca aí está com seus ciclos inclementes, apocalípticos,<br />

trazendo-nos à retentiva aquelas mesmas hórri<strong>da</strong>s cenas e<br />

aquelas mesmas figuras de coragem, estoicismo e apêgo à<br />

terra que Rodolfo Teófilo já nos descrevia, magistralmente,<br />

em “A Fome”, ao descrever a sêca de 1877. E outros quadros<br />

aí estão no Nordeste com as mesmas cores de há anos, com<br />

os mesmos traços pictóricos.<br />

Continua o homem rural brasileiro, nota<strong>da</strong>mente o nor-<br />

destino, envolto em circunstâncias que revestem o caráter de<br />

elementos causativos dessa posição de desencanto, desespe-<br />

rança e introversão, mergulhado num fadário que parece não<br />

ter fim. Lapidemo-lo, educando-o na ação solidária, cepilhan-<br />

do-lhe aos poucos as acerbi<strong>da</strong>des, frutos que são de uma cons-<br />

telação de fatôres adversos, que o conduzem a um nível de<br />

vi<strong>da</strong> infra-humano. Levemo-lhes a arco-irisa<strong>da</strong> bandeira do<br />

cooperativismo renovador. Demos ao mesmo o ensino adequa-<br />

do; mas, como o assinalou Jorge del Rio, o ilustrado advoga-<br />

do, publicista e militante cooperativo argentino que nos desva-<br />

neco com sua amizade, não ensinar o cooperativismo de angu-<br />

los frios e objetivos, como num curso sôbre socie<strong>da</strong>des ano-<br />

nimas, como uma pura disciplina econômico-comercial. Te-<br />

mos que lhe <strong>da</strong>r alma, entusiasmo, mística, apostolado, e a<br />

fé acrisola<strong>da</strong> que remove montanhas. É preciso frisar o relevo<br />

ou o acento ético que põe nas relações econômicas, ante as<br />

deformações do capitalismo moderno. “La cooperación no se<br />

hace con una materia inérte, sino con hombres, entonces, co-<br />

mo to<strong>da</strong> educación, debe dirigirse al hombre" para que êste<br />

se torne o missionário de uma doutrina sócio-econômico-mo-<br />

ral que conduz à justiça, à paz, à harmonia e à elevação dos<br />

povos, pelo seu conteúdo de nobre sentido humano.<br />

O multívolo Estado moderno, nas suas proteiformes e<br />

multiformes incursões no domínio sócio-econômico, recebe até


256 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

as veneras de um inglês como Waltkins, o qual acha que o pó-<br />

der de legislação e de compulsão do Estado cria problemas no-<br />

vos e abre perspectivas que lhe permitem chegar a soluções<br />

mais rápi<strong>da</strong>s e mais radicais, naquele domínio citado, do que<br />

a iniciativa priva<strong>da</strong>. Mas, dizemos nós, é preciso que atente-<br />

mos na experiência sul-americana, nota<strong>da</strong>mente no Brasil,<br />

para o necessário justo meio, sem arrebatamentos estadistas,<br />

certos do mal <strong>da</strong>s generalizações, quando não há clima, re-<br />

ceptivi<strong>da</strong>de, mentali<strong>da</strong>de, etc., e quando há primarismos e<br />

vezos de ordem social, política e administrativa, e outros, que<br />

erradicar.<br />

Se o Estado se despe de sua pele de gen<strong>da</strong>rme no mundo<br />

de hoje o procura, sinceramente, dinamizar, com sua presença<br />

direta ou indireta, a economia geral de um país, deve o mo-<br />

vimento cooperativo aceitá-lo em têrmos de assistência e co-<br />

laboração leal e sadia, sem o colorido de estadismos ou inter-<br />

vencionismos que imponham avenças político-partidárias com<br />

visos absorventes ou interferências avessa<strong>da</strong>s ao regime de<br />

liber<strong>da</strong>de em que devem viver as cooperativas, embretando-as<br />

ou emor<strong>da</strong>çando-as. As cooperativas devem ficar com a sua<br />

autonomia, a sua auto-suficiência, a sua “self discipline”,<br />

sem quebrantamento ou diluição de seus brônzeos e eternos<br />

fun<strong>da</strong>mentos doutrinários.<br />

Essa tese, temo-la defendido sempre em livros e perante<br />

a Comissão de Indústria e Comércio <strong>da</strong> Câmara dos<br />

Deputados em 1948, a agora, novamente, perante a Comissão<br />

de Economia, gentilmente convocado pelo ilustre deputado<br />

Daniel araco para debater, mais uma vez, o projeto 159-47,<br />

que revoga a atual legislação (o qual, aliás, já comentamos<br />

pela impren- sa). E é esta a posição <strong>da</strong> Aliança Cooperativa<br />

Internacional.<br />

Em dezembro de 1951 realizou-se o Congresso de Cope-<br />

nhague. O relato do Comité Central <strong>da</strong> Aliança Cooperativa<br />

Internacional abrangeu os resultados de um inquérito sôbre as<br />

relações entre as cooperativas de consumo e as agrícolas, isto é,<br />

as tão necessárias ralações intercooperativas, como as rela-<br />

ções entre a Movimento Cooperativo e os podêres públicos.<br />

Eis as conclusões a que chegou:<br />

1.º — As cooperativas devem ser completamente livres e<br />

independentes. Por esta razão não é possível que vivam em<br />

países nos quais não exista a liber<strong>da</strong>de de associação.<br />

2.º — O movimento cooperativo deve gozar de tô<strong>da</strong>s as<br />

possibili<strong>da</strong>des para estender sua esfera de ação e intensificar a<br />

sua influência, não só do ponto-de-vista econômico, mas,


FÁBIO LUZ FILHO 257<br />

sobretudo, no sentido de influenciar a política econômica e<br />

social do Estado.<br />

3.º - O desenvolvimento econômico e social dos países<br />

de economia dita mista, é possível com a aplicação crescente<br />

dos princípios cooperativos, desprovidos que são do espírito de<br />

lucro, e com a participação ativa do Movimento Cooperativo<br />

na elaboração <strong>da</strong> política econômica e social do Estado.<br />

4.º — O movimento cooperativo está em condições de in-<br />

fluenciar a política econômica e social do Estado de diversas<br />

maneiras:<br />

a) colaborando nas Comissões que se ocupam de modo<br />

permanente dos problemas econômicos e sociais, assegurando,<br />

assim, um contacto contínuo, o qual é de uma importância e<br />

de um valor maiores que a apresentação de declarações escri-<br />

tas e a colaboração de Comissões especiais;<br />

b) procurando ser ouvido pelas autori<strong>da</strong>des públicas no<br />

que tange à elaboração e aplicação <strong>da</strong> legislação econômica e<br />

social. (O projeto 159 transita pela Câmara dos Deputados<br />

desde 1947. O movimento cooperativo brasileiro pròpriamen-<br />

te não foi ouvido nem por êle até hoje se interessou, revelan-<br />

do, com isto, lamentável falta de maturi<strong>da</strong>de).<br />

5.º — A ver<strong>da</strong>deira influência do Movimento<br />

Cooperativo sôbre providências econômicas e sociais não<br />

depende <strong>da</strong> forma que assume a sua colaboração, mas, acima<br />

de tudo, <strong>da</strong> sua economia nacional.<br />

6.º — Para o Estado democrático é do mais alto interes-<br />

se assegurar a liber<strong>da</strong>de de ação e de desenvolvimento do Mo-<br />

vimento Cooperativo, quaisquer que sejam as mu<strong>da</strong>nças <strong>da</strong><br />

fôrca real no país (sôbre o que devemos meditar).<br />

7.º — As cooperativas estão em condições de participar e<br />

devem participar <strong>da</strong> obra preciosa que as Nações Uni<strong>da</strong>s e os<br />

órgãos especiais, particularmente o B . I . T .. a F. A .O. e a<br />

U. N . E .S . C .O., obtiveram nos países subdesenvolvidos.<br />

Estas conclusões foram adota<strong>da</strong>s pelo 18.° Congresso <strong>da</strong><br />

A. C .I ., que as recomendou a tô<strong>da</strong>s as filia<strong>da</strong>s.<br />

E concluamos com a recente Resolução de Caracas (mar-<br />

ço de 1954). “Na época atual, o sistema cooperativo é ain<strong>da</strong><br />

uma <strong>da</strong>s formas de associação que melhor corresponde aos<br />

postulados <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana.<br />

“A fórmula cooperativa, especialmente nos países que se<br />

encontram em desenvolvimento, contribui para orientar e le-<br />

var à solução dos problemas locais de interêsse coletivo”. A<br />

mesma, os nossos aplausos. E que encontre ressonância nas<br />

17 — 27 454


258 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

esferas dirigentes responsáveis. São as cooperativas escolas<br />

profissionais práticas.<br />

“Através do homem econômico, é a personali<strong>da</strong>de<br />

inteira do homem, seu caráter, sua atitude em face de vi<strong>da</strong> e<br />

em relação à comuni<strong>da</strong>de que a ação cooperativa<br />

transforma”.<br />

Já se acentuou que as cooperativas em geral, e nota<strong>da</strong>-<br />

mente as agrícolas, não se apresentam apenas como fatôres<br />

de progresso técnico e de bem-estar, instrumenttos de organi-<br />

zação econômica, de formação e disciplina profissionais, senão<br />

também como centros de vi<strong>da</strong> moral e de educação geral,<br />

“células de um novo tecido social que reconstitui e prolonga a<br />

sóli<strong>da</strong> e viva coesão, os sistemas de proteção coletiva que os<br />

laços de família, as relações de vizinhança e as tradições do<br />

auxílio mútuo mantinham nas antigas comuni<strong>da</strong>des rurais”.<br />

A humani<strong>da</strong>de caminha por ciclos, já a acentuamos em<br />

“Rumo à Terra”.<br />

NOTA<br />

O Dr. Antônio de Arru<strong>da</strong> Câmara, então ilustre diretor<br />

do Serviço de Economia Rural, ao apresentar o orador à seleta<br />

e numerosa assistência presente ao Gabinete Português, de<br />

Recife, quando <strong>da</strong> conferência acima, pronunciou as seguintes<br />

palavras:<br />

“Fábio Luz Filho é conhecido e acatado nos meios<br />

cooperativistas. Nasceu a 18 de abril de 1894, no Distrito<br />

Federal, tendo feito, no antigo Ginásio de S. Bento, todo O<br />

curso secundário e, na Escola Agrícola de Pinhelro, o curso de<br />

agronomia, diplomando-se em 1914.<br />

“Dedicou-se ao magistério ensinando ciências naturais,<br />

português e francês. Trabalhou no comércio, na imprensa e na<br />

lavoura. Ingressou no <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> em 1926,<br />

<strong>da</strong>tando dêsse ano a sua ininterrupata, dedica<strong>da</strong> e profícua<br />

ativi<strong>da</strong>de cooperativista.<br />

“Membro de associações profissionais, técnicas e<br />

culturais, presidente do Centro Nacional de Estudos<br />

cooperativos desde sua fun<strong>da</strong>ção. É correspondente e membro<br />

honorário de socie<strong>da</strong>des estrangeiras.<br />

“É marcante a sua ativi<strong>da</strong>de como escritor especializado.<br />

Os seus livros Rumo à Terra e Teoria e Prática <strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des<br />

Cooperativas, entre os dezesseis que publicou, já estão em<br />

quinta e quarta edição, respectivamente. "Cooperativas<br />

escolares” está em terceira edição.


FÁBIO LUZ FILHO 259<br />

“Seu nome figura entre os incluídos nos índices interna-<br />

cionais de bibliografia sôbre cooperativismo e, ain<strong>da</strong> agora,<br />

especialmente convi<strong>da</strong>do, está colaborando na “Coletànea”, a<br />

ser publica<strong>da</strong>, sob a direção do Dr. Alberto Basevi, do Minis-<br />

tério do Trabalho italiano.<br />

“Traço marcante na vi<strong>da</strong> de Fábio Luz Filho é o devota-<br />

mento à memória de seu ilustre progenitor, o Dr. Fábio Luz —<br />

médico, sociólogo, pe<strong>da</strong>gogo, crítico literário dos mais acata-<br />

dos e que foi o precursor do romance social e <strong>da</strong> escola ativa<br />

no Brasil”.<br />

HOMENAGEM SENSIBILIZADORA<br />

Ficou para sempre grava<strong>da</strong> em meu coração a comovi<strong>da</strong><br />

impressão <strong>da</strong>s sensibilizadoras homenagens de que fui alvo<br />

durante a Reunião acima, parti<strong>da</strong>s do plenário e de oradores<br />

cheios de vibração e bon<strong>da</strong>de, e desta figura fi<strong>da</strong>lga que é<br />

Petrolino Santa Cruz, digno diretor do Departamento de Assis-<br />

tência às Cooperativas do Estado de Pernambuco. O rama-<br />

lhete, com belas flores, que me foi ofertado em plenário, na<br />

fôrça de seu simbolismo, pelas mãos gentis <strong>da</strong> digna espôsa do<br />

deputado Iris Meinberg, como homenagem <strong>da</strong>s delegações pré-<br />

sentes de sete Estados nordestinos, na pessoa de vinte e oito<br />

delegados, através <strong>da</strong> palavra brilhante de Samuel Gonçalves;<br />

o meu retrato, como o de Arru<strong>da</strong> Câmara, colocado no D . A .C.<br />

de Recife; as referências <strong>da</strong> imprensa, entre elas as do brilhan-<br />

te Costa Pôrto, ficaram indelèvelmente, na minha gratidão<br />

genuflexa, como os maiores galardões de minha existência de<br />

propagandista que já caminha para o resvaladouro outoniço,<br />

encanecido nas árduas porfias de cêrca de 33 anos...<br />

PROJETOS-PILOTOS PARA COOPERATIVAS RURAIS<br />

Tivemos oportuni<strong>da</strong>de, ao traçar, em “Teoria e Prática<br />

<strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des Cooperativas” (lançado em fevereiro de 1953),<br />

um plano de ordem geral para o movimento cooperativo bra-<br />

sileiro, de aludir à necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s cooperativas-pilotos, um-<br />

nicipais, intermunicipais ou regionais para culturas típicas,<br />

ou não, de funções múltiplas (mistas ou cíclicas), com assis-<br />

tência oficial, se necessária, incluindo, na sua órbita, até as<br />

regiões de menor índice cultural.<br />

Com prazer, acabo de receber <strong>da</strong> União Pan-Americana,<br />

editado em maio de 1953, magnífico trabalho alusivo a proje-


260 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

tos-pilotos para o desenvolvimento rural. Trata-se do “Do-<br />

cumento ESSE-3/53 aumentado e corrigido de acôrdo com a<br />

Resolução <strong>da</strong> Terceira Sessão Extraordinária do Conselho In-<br />

teramericano Econômico e Social (C I . E . S.), em fevereiro<br />

de 1953.<br />

Contém êle projeto-pilôto para cooperativas rurais, que<br />

reputo de grande alcance sócio-econômico para nosso meio,<br />

careceste, ain<strong>da</strong>, <strong>da</strong>do o caráter incipiente de nosso movimen-<br />

to, de ver<strong>da</strong>deiros centros vivos de treinamento cooperativo,<br />

um escol maior de ver<strong>da</strong>deiros líderes.<br />

Eis as linhas mestras dos projetos-pilotos:<br />

PARTE GERAL<br />

São vários os tipos de projetos-pilotos: uns com raio de<br />

ação multiforme, e, outros, de raio de ação específica.<br />

São objetivos dêsses projetos-pilotos:<br />

a) — Aplicar as técnicas demonstrativas <strong>da</strong> maneira de<br />

se organizarem, eficientemente, cooperativas agrícolas;<br />

b) — Provar como podem as cooperativas contribuir pa-<br />

ra o melhoramento econômico, social e cultural <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des<br />

rurais;<br />

c) — Demonstrar que as cooperativas agrícolas são insti-<br />

tuições dinâmicas através <strong>da</strong>s quais se podem levar a cabo não<br />

só programas de caráter econômico, senão também de caráter<br />

social e cultural;<br />

d) — Experimentar sistemas por meio dos quais se possa<br />

estimular na população rural o sentido <strong>da</strong> cooperação e <strong>da</strong><br />

aju<strong>da</strong> mútua;<br />

e) — Descobrir e preparar pessoal para a organização e<br />

a administração <strong>da</strong>s cooperativas agrícolas;<br />

f) — Servir de meio de irradiação para outras comuni-<br />

<strong>da</strong>des rurais semelhantes que desejarem estabelecer socie<strong>da</strong>-<br />

des cooperativas.<br />

PLANO DE AÇÃO<br />

O projeto sugere o estabelecimento, em ca<strong>da</strong> país-sede,<br />

de três cooperativas em três zonas diferentes, como, por<br />

exemplo:<br />

zonas agrícolas, zonas pastorís ou zonas pesqueiras. (No Bra-<br />

sil, deve ser mais flexível o critério).<br />

Devem, entanto, considerar-se, para êsse efeito, uns tan-<br />

tos fatôres. Ei-los:


FÁBIO LUZ FILHO 261<br />

A escolha <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de rural<br />

1.º — Deve constituir ponto fun<strong>da</strong>mental a escolha de<br />

comuni<strong>da</strong>de rural, escolha que deve, considerar a existência<br />

do espírito de progresso e do desejo de fazer uma obra de equi-<br />

pe, visando ao melhoramento <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> de seus<br />

habitantes.<br />

2.º Essa comuni<strong>da</strong>de será seleciona<strong>da</strong> na base <strong>da</strong> exis-<br />

tência de um problema particular de caráter econômico co-<br />

nhecido, cuja solução, mesmo parcial, pessoa ser veicula<strong>da</strong><br />

através do determinado tipo de coperativa.<br />

Área de ação<br />

Será determina<strong>da</strong> pela natureza <strong>da</strong> cooperativa projeta<strong>da</strong>.<br />

Tendo o projeto-pilôto <strong>da</strong>do muita elastici<strong>da</strong>de ao comceito<br />

de cooperativa agrícola, de vez que classifica como rural<br />

"qualquer classe de cooperativa localiza<strong>da</strong> ou que possa estabelecer-se<br />

em uma comuni<strong>da</strong>de rural”, nêle se enquadram as<br />

cooperativas de consumo, que deverão agrupar as pessoas de<br />

certo casario rural ou de vilas rurais. (Considerar aqui, também,<br />

as condições do Brasil).<br />

As cooperativas de natureza agrícola deverão ter seus<br />

associados com residência ou domicílio em um raio de ação<br />

mais amplo, porém acessível, como seja em distrito ou em<br />

município (nas condições brasileiras até zonas geo-econômicas,<br />

dizemos).<br />

Como guia melhor: a divisão territorial própria de ca<strong>da</strong><br />

país escolhido para sede do projeto-pilôto.<br />

INVESTIGAÇÕES PRÉVIAS DE CARÁTER<br />

ECONOMICO-SOCIAL<br />

a) — Sociais<br />

Tradições, hábitos, costumes, laços familiares, institui-<br />

ções características, formas de recreação, analfabetismo, ati-<br />

tude em relação às formas de trabalho em comum, etc.<br />

b)— Demográficas<br />

Composição familiar, número médio de pessoas por<br />

familia, i<strong>da</strong>de, sexo, população ativa, fatôres que determinam<br />

o


262 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

aumento ou a diminuição <strong>da</strong> população, origens <strong>da</strong>s correntes<br />

migratórias, etc.<br />

c) — Geográficas<br />

Descrição geográfica <strong>da</strong> região, com estudo acurado <strong>da</strong>s<br />

vias de comunicação existentes, produção, etc.<br />

d ) — Comerciais<br />

Volume anual de ven<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s emprêsas comerciais na<br />

zona estabeleci<strong>da</strong> e causas do descontentamento local em<br />

relação as mesmas, se as houver; território comercial que a<br />

cooperativa pretende abarcar; sistema predominante de<br />

ven<strong>da</strong>s e per centagens; dinheiro à vista e a crédito; fontes de<br />

abasteci- mento, possibili<strong>da</strong>des de aquisição no local, etc.<br />

e) — Econômicas<br />

Ren<strong>da</strong>s familiares e distribuição <strong>da</strong>s mesmas, ofícios e<br />

ativi<strong>da</strong>des a que se dedicam essas famílias; indicação <strong>da</strong>s em-<br />

prêsas públicas ou priva<strong>da</strong>s onde trabalhem algumas dessas<br />

famílias; número aproximado <strong>da</strong>s famílias que poderão entrar<br />

para a cooperativa; habili<strong>da</strong>des econômicas e técnicas dos em-<br />

presários locais.<br />

f) — Financeiras<br />

Capital mínimo <strong>da</strong> cooperativa, custo aproximado <strong>da</strong>s<br />

despesas em salários, aluguéis, impostos e outras obrigações<br />

administrativas; estimativa do volume anual de operações que<br />

deve realizar; capaci<strong>da</strong>de de pagamento dos associados; pro-<br />

cessos apropriados de financiamento e estudo do crédito pés-<br />

soal e coletivo.<br />

LÍDERES LOCAIS<br />

A escolha dos líderes locais, que deverão auxiliar os tra-<br />

balhos, antes e depois <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção de uma cooperativa, de-<br />

verá ser feita entre os que mereçam a simpatia e o respeito<br />

dos integrantes <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de rural escolhi<strong>da</strong>, devendo re-<br />

cair em pessoas que, realmente, queiram trabalhar desinte-<br />

ressa<strong>da</strong>mente em favor dessa comuni<strong>da</strong>de. Para êsse efeito,<br />

deverão adotar-se os seguintes meios: entrevistas individuais<br />

e grupos de discussão ou círculos ou clubes de estudos, com


FÁBIO LUZ FILHO 263<br />

plementados com sociogramas que objetivem avaliar o grau<br />

de uni<strong>da</strong>de ou antagonismo que possam existir entre os inte-<br />

grantes do grupo de líderes selecionados, <strong>da</strong>ndo oportuni<strong>da</strong>de<br />

aos membros que tenham as condições requeri<strong>da</strong>s.<br />

Entre os líderes selecionados deve reinar a maior harmo-<br />

nia, comuni<strong>da</strong>de de interêsses e sincero desejo de trabalhar<br />

em equipe.<br />

EDUCAÇÃO E FUNÇÃO DOS LÍDERES<br />

Em “Teoria e Prática <strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des Cooperativas”<br />

sugeri, no plano a que já me referi, à criação de "censores<br />

agropecuários" ou “instrutores itinerantes”, com peão na sede<br />

de regiões geo-econômicas brasileiras, preferencialmente, o<br />

que, em certo sentido, encontra símile nesse projeto-pilôto, e já<br />

vai sendo realizado por alguns departamentos de assistência<br />

ao cooperativismo no Brasil, naturalmente dentro <strong>da</strong>s defi-<br />

ciências a que me tenho reportado inúmeras vêzes.<br />

O projeto-pilôto, aludindo necessária campanha educa-<br />

tiva prévia, que deve ajustar-se ao nível cultural <strong>da</strong> comuni-<br />

<strong>da</strong>de rural escolhi<strong>da</strong>, acha que a mesma deverá ter por objeti-<br />

vos precípuos:<br />

a)— Levar os integrantes <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de rural ao espí-<br />

rito de cooperação, de aju<strong>da</strong> mútua;<br />

b)— Ensinar por meios simples e práticos os fun<strong>da</strong>men-<br />

tos <strong>da</strong> doutrina cooperativa;<br />

c)— Utilizar os líderes locais nesta campanha educati-<br />

va prévia, determinando e explicando suas funções, respon-<br />

sabiliddes, métodos de trabalho e sistema de coordenar seu<br />

trabalho;<br />

d)— Avaliar os conhecimentos adquiridos pelos mem-<br />

bros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de rural, especialmente <strong>da</strong>s pessoas que te-<br />

nham mostrado interêsse em formar uma cooperativa, acerca<br />

<strong>da</strong> natureza, objetivos e princípios que embasam a mesma;<br />

e)— Decidir claramente se a comuni<strong>da</strong>de aceita e apóia<br />

o estabelecimento <strong>da</strong> cooperativa.<br />

AS COOPERATIVAS FUNDADAS E SUAS ATIVIDADES<br />

a)— Educativas<br />

Devem versar sôbre cooperativismo, a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s por as-<br />

sociados, funcionários ou não-associados; sôbre problemas so-


264 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

ciais e econômicos de interêsse imediato para a respectiva<br />

comuni<strong>da</strong>de rural (erosão de solos, práticas modernas de<br />

agricultura, dieta, alcoolismo, etc.).<br />

b)— Econômicas<br />

Variando de acôrdo com a espécie ou tipo de<br />

cooperativa. A cooperativa mesma será um meio prático de<br />

demonstrar, objetivamente, vantagens econômicas, tais como:<br />

1) Eliminação do intermediário; 2) divisão <strong>da</strong>s sobras<br />

sociais na proporção <strong>da</strong>s operações que tenham realizado com<br />

a cooperativa; e 3) aumento <strong>da</strong>s receitas individuais por uma<br />

distribuição mais justa <strong>da</strong>s emprêsas cooperativas.<br />

c)— Técnica<br />

Consistirão em demonstração simples e objetiva sôbre a<br />

maneira de se manter a cooperativa em um nível administra-<br />

tivo eficiente, e as ativi<strong>da</strong>des técnicas que se poderão realizar<br />

por seu intermédio, tais como, para as cooperativas agrícolas:<br />

demonstrações práticas sôbre o melhoramento e a rotação <strong>da</strong>s<br />

culturas, aplicação de adubos, introdução de novas culturas,<br />

utilização de maquinaria agrícola, armazenamento,<br />

conservação de produtos, etc.<br />

d)— Sociais<br />

Estabelecimento paulatino de serviços sociais de vanta-<br />

gens diretas para a saúde dos membros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de rural,<br />

tais como: saneamento de zonas insalubres, meios preventivos<br />

contra moléstias (vacinação, etc.), melhoramento <strong>da</strong>s con-<br />

dições higiênicas <strong>da</strong>s habitações, etc., etc.<br />

AINDA OS LÍDERES LOCAIS<br />

Para êsse projeto-pilôto, considera-se de grande relevân-<br />

cia a formação de líderes locais e de pessoal para as socie<strong>da</strong>des<br />

cooperativas do país <strong>da</strong> sede, o que poderá fazer-se de duas<br />

maneiras: mediante a participação direta nas diferentes fases<br />

de organização e funcionamento <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas, e<br />

por meio de palestras, seminários, grupos de discussão ou<br />

clubes de estudo, etc.<br />

O plano, pois, acentuo, será executado seguindo-se o cri-<br />

tério aconselhável: a escolha dos campos de aplicação e de


FÁBIO LUZ FILHO 265<br />

interêsse, delimitados o domínio <strong>da</strong>s pesquisas ou os meios de<br />

ação adequados, a necessária estruturação de centros de for-<br />

mação. Dar-se-á, assim, no campo cooperativo, aplicação ana-<br />

lógica ao princípio e ao método norteadores de uma ação es-<br />

pecífica, dentre êles os meios de ação ou a técnica que se deve<br />

utilizar no plano educativo, observa<strong>da</strong>s tendências e reações,<br />

o que coman<strong>da</strong>rá a orientação futura.<br />

E reconhecem esta ver<strong>da</strong>de:<br />

“Esta formação se faz necessária devido a que o<br />

movimento cooperativo na América Latina sofre grande<br />

escassez de líderes e de pessoal especializado. Ademais, no que<br />

tange ao projeto-pilôto, esta formação <strong>da</strong>rá lugar a serviços<br />

mais efetivos e duradouros na comuni<strong>da</strong>de em que se<br />

encontra radicado, como também no país <strong>da</strong> sede’.<br />

DIFUSÃO<br />

Aconselha o projeto-pilôto que, para maior difusão de<br />

seus objetivos, não só na comuni<strong>da</strong>de em que se tenha esta-<br />

belecido, como em tô<strong>da</strong>s as regiões do país-sede, se faça uma<br />

sóli<strong>da</strong> campanha de difusão do mesmo pelo rádio, pelo cine-<br />

ma, pelos jornais, conferências, grupos de discussão, e outros<br />

meios modernos e efetivos de publici<strong>da</strong>de, o que, prazeirosa-<br />

mente, vejo estar em consonância com o que digo no plano<br />

que tracei no livro acima aludido.<br />

ORGANIZAÇÃO DO PROJETO-PILOTO<br />

“Deve estar a cargo de uma enti<strong>da</strong>de nacional autôno-<br />

ma, que possua experiência ou interêsse pelo cooperativismo,<br />

e cujos recursos financeiros possam levá-lo a bom têrmo”.<br />

Sugere, por exemplo, que poderão dêle encarregar-se as insti-<br />

tuições bancárias que atualmente dão assistência técnica e<br />

financeira as socie<strong>da</strong>des cooperativas, ou uma enti<strong>da</strong>de dedi-<br />

ca<strong>da</strong> à realização de programas de bem-estar econômico e so-<br />

cial, como são as corporações de fomento, os conselhos de pro-<br />

dução agrícola e outras organizações semelhantes.<br />

No Brasil, poderão ser indicados, dizermos nós, as<br />

enti<strong>da</strong>des oficiais prepostas a isto (sana<strong>da</strong>s suas conheci<strong>da</strong>s<br />

deficiências): o Serviço de Economia Rural e o Banco Nacional<br />

de Crédito Cooperativo; nos Estados: os departamentos de<br />

cooperativismo. A questão é tirá-los <strong>da</strong> precarie<strong>da</strong>de de ele


266 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

mentos de ação em que vivem, com verbas e material humano<br />

escassos.<br />

A ain<strong>da</strong> pequena coorte de vexilários do ideal<br />

cooperativo no Brazil tem ain<strong>da</strong> ingente labor que enfrentar,<br />

no gladiar do bom combate, longa cruza<strong>da</strong> incruenta contra a<br />

incompreensão, o indiferentismo, a mentali<strong>da</strong>de e as<br />

idiossincrasias de nossa gente...<br />

A própria ............ <strong>da</strong>s elites em autófaga omissão, eis uma<br />

meta... , ....... sunt oculi...<br />

BASES DE UMA POLÍTICA OFICIAL DE FOMENTO<br />

AO COOPERATIVISMO COMO PARTE DO PROCESSO<br />

ECONÔMICO NACIONAL — Os SERVIÇOS OFICIAIS<br />

Como se trata de assunto de grande interêsse para todo<br />

o movimento cooperativo sul-americano e sobretudo para o<br />

Brazil, reproduzimos longo trecho de um trabalho recentemen-<br />

to lançado à publici<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> União Pan-Americana, denomi-<br />

nado “Desenvolvimento, do movimento cooperativo na Amé-<br />

rica” — (“Desarrollo del movimiento cooperativo en Améri-<br />

ca”). Ei-lo:<br />

Bases <strong>da</strong> política oficial<br />

“Antes de entrar em cheio no estudo <strong>da</strong>s bases de uma<br />

política governamental em favor <strong>da</strong> constituição de socie<strong>da</strong>-<br />

des cooperativas, é conveniente delinear a posição do Estado<br />

frente ao movimento cooperativo neste Hemisferio e precisar<br />

seu campo de ação.<br />

O papel que se atribui ao Estado no desenvolvimento do<br />

movimento cooperativo, tem sofrido diversas interpretações,<br />

mas são notórias as tendências opostas: a primeira sustenta-<br />

<strong>da</strong> por estudiosos dirigentes cooperativistas, que vêem com<br />

desconfiança a intervenção estatal na vi<strong>da</strong> interna <strong>da</strong>s coope-<br />

rativas e que trazem consigo um marcado paternalismo e,<br />

por conseguinte, estão decididos a manter a independência<br />

absoluta em relação ao Estado, isto ocorrendo com os movi-<br />

mentos cooperativistas dos países anglo-saxões. O segundo<br />

grupo considera a intervenção estatal não só necessária, senão<br />

indispensável e, com êste motivo, a principal ativi<strong>da</strong>de dêstes<br />

dirigentes cooperativistas consiste em recomen<strong>da</strong>r, mediante<br />

uma legislação extremamente regulamenta<strong>da</strong>, a fomento e o<br />

contrôle <strong>da</strong>s cooperativas pelo Estado. Os líderes cooperativis-


FÁBIO LUZ FILHO 267<br />

tas latino-americanos, com algumas exceções, são partidários<br />

desta última posição.<br />

Se se fizer um exame do movimento cooperativo na<br />

America partindo dêste pontos-de-vista, observa-se que as<br />

resultados obtidos são diferentes. Nos Estados Unidos <strong>da</strong><br />

América, por exemplo, o movimento alcançou um notável<br />

desenvolvimento e é parte do processo econômico nacional. Na<br />

América Latina os líderes cooperativistas de ambas as<br />

tendências não lograram, ain<strong>da</strong>, impor seus pontos-de-vista.<br />

Os patrocinadores <strong>da</strong> intervenção estatal no movimento<br />

cooperativo, com exceção de alguns países, não lograram,<br />

ain<strong>da</strong>, interessar os funcionários do govêrno quanto à<br />

vantagem do sistema e técnica cooperativas. Os<br />

patrocinadores de um movimento popular espontâneo,<br />

entanto, realizam uma obra silenciosa de educação e<br />

aglutinação cooperativas de consumidores e produtores,<br />

logrando desenvolvimento muito lento.<br />

Os problemas que na América Latina encaram ambos os<br />

grupos, podem sintetizar-se no seguinte: os patrocinadores <strong>da</strong><br />

intervenção e ação estatal direta, defrontam o problema de<br />

escassez de funcionários tècnicamente preparados, não só em<br />

administração pública, mas também em assuntos específicos<br />

do cooperativismo, muitos dos quais se tem esboçado nos capí-<br />

tulos anteriores.<br />

Os patrocinadores <strong>da</strong> cooperação autônoma têm que<br />

lutar contra a tremendo problema que é a falta de cultura<br />

econômica do povo e em virtude de que sua ativi<strong>da</strong>de está<br />

reduzi<strong>da</strong> e constitui um movimento sem significação nem<br />

transcendência no processo cujas causas também foram<br />

esboça<strong>da</strong>s em capítulos anteriores.<br />

Em face dessas duas tendências consideraram mais acer-<br />

ta<strong>da</strong> a opinião dos especialistas que se batem por uma posição<br />

intermediária do Estado entre ambas as que não produzem<br />

nenhum benefício às economias dos respectivos países.<br />

Apoio de Economistas e Sociólogos<br />

Esta opinião tem o apoio de economistas, sociólogos e<br />

educadores, que vêem no movimento cooperativo na América,<br />

como em outros continentes, uma esperança de bem-estar so-<br />

cial, mediante uma coordenação <strong>da</strong> ação estatal e individual.<br />

Assim mesmo, muitos órgãos técnicos internacionais, coinci-<br />

dentes com esta idéia, recomen<strong>da</strong>m, como dissemos em pági-<br />

nas anteriores, para as países pouco desenvolvidos, uma in-<br />

tensa campanha cooperativista.


268 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

A opinião do Secretariado Técnico <strong>da</strong> Organização dos<br />

Estados Americanos e também partidário <strong>da</strong> última posição,<br />

e, assim, tomou a iniciativa para a formação de pessoal diri-<br />

gente especializado em cooperativas, dentro do Programa de<br />

Cooperação Técnica <strong>da</strong> Organização dos Estados Americanos.<br />

O Centro Interamericano de Treinamento para Dirigentes do<br />

Movimento Cooperativo foi o primeiro passo de coordenação<br />

cooperativista americana. A fase seguinte corresponderá aos<br />

governos, para estabelecimento de centros permanentes com<br />

o mesmo objetivo. Sôbre êste particular, chama-se a atenção<br />

do leitor que desejar informação mais detalha<strong>da</strong> dos resulta-<br />

dos dêste primeiro ensaio na América para o Projeto n.° 16<br />

do Programa de Cooperação Técnica, que forma parte <strong>da</strong><br />

Informação do Secretário Executivo do Comité Coordenador<br />

de Assistência Técnica à X Conferência interamericana.<br />

Bases gerais e ação oficial<br />

As bases gerais para uma sóli<strong>da</strong> e efetiva ação estatal<br />

podem ser reduzi<strong>da</strong>s a três: — 1) formação de uma lei geral<br />

de cooperativas; 2) a criação ou maior estímulo dos órgãos go-<br />

vernamentais de fomento cooperativo, mediante crédito e fi-<br />

nanciamento; 3) criação de órgãos governamentais adminis-<br />

trativos para serviços de registro, contrôle, etc., e aparelha--<br />

mento técnico a cooperativas.<br />

Sôbre o primeiro ponto podemos dizer que todos os<br />

países <strong>da</strong> America têm legislação vigente sôbre cooperativas,<br />

umas consigna<strong>da</strong>s em suas cartas magnas, outras vincula<strong>da</strong>s a<br />

leis sociais, de trabalho, etc., e muito poucos tem leis especiais.<br />

É recomendável um novo estudo <strong>da</strong> legislação cooperativa na<br />

América para torná-la mais praticável e eficiente. Sôbre êste<br />

particular, poderíamos recomen<strong>da</strong>r a promulgação de uma lei<br />

geral abrangendo todo o movimento, deixando a regulamen-<br />

tação e tô<strong>da</strong> a parte administrativa ao Executivo, de acôrdo<br />

com a reali<strong>da</strong>de interna de ca<strong>da</strong> país. Note-se que algumas leis<br />

incluem disposições regulamentares que dão rigidez excessiva<br />

a estas.<br />

Apoio do Estado<br />

Sôbre o segundo ponto podemos afirmar que é um dos<br />

elementos básicos <strong>da</strong> política estatal para o fomento <strong>da</strong>s coope-<br />

rativas. É necessário que a aju<strong>da</strong> financeira seja distribuí<strong>da</strong><br />

entre todos as tipos de organização cooperativa e não limitá-la<br />

sòmente às agrícolas, como acontece em alguns países. Uti


FÁBIO LUZ FILHO 269<br />

lizaríamos também o sistema de reembôlso do capital inicial-<br />

mente investido pelo Estado, pelas cooperativas que se benefi-<br />

ciam com êle, tal como sucede com os bancos de fomento geral.<br />

Sôbre o terceiro ponto recomen<strong>da</strong>ríamos a centralização<br />

administrativa. Muitos países <strong>da</strong> Ásia têm feito esta centra-<br />

lização até com a criação de um <strong>Ministério</strong> de Cooperativas para<br />

ocupar-se dos múltiplos aspectos técnicos, administrativos e<br />

sociais que a ativi<strong>da</strong>de cooperativa comporta ,em países de<br />

escasso desenvolvimento econômico, no sentido de superar uma<br />

forma de economia colonial por uma economia nacional, ao<br />

adquirirem, recentemente, a independência política.<br />

Centralização administrativa, tecnificação e bem-estar social<br />

A centralização administrativa, seja uma<br />

Superintendência ou outro tipo de órgão do govêrno, semi-<br />

autônomo, serviria para melhorar o rendimento estatal quanto<br />

à eficiência, orientação e resultados. Desejamos a preparação<br />

de bons funcionários oficiais na técnica cooperativa, para<br />

transformar a atitude passiva, que é a característica geral dos<br />

órgãos do governo encarrega<strong>da</strong>s do fomento e contrôle de<br />

cooperativas, numa atitude dinâmica, que é ver<strong>da</strong>deiramente o<br />

papel que devem desempenhar. A tecnificação do pessoal<br />

especializado dêsses órgãos do govêrno, terá um grande efeito<br />

nos projetos de bem-estar social que estão a cargo de outros<br />

órgãos oficiais.<br />

Revisão de métodos<br />

A coordenação dêsses três elementos produzirá resulta-<br />

dos satisfatórios em tô<strong>da</strong> política governamental de fomento<br />

às cooperativas. Tais resultados são de alcance imediato se<br />

os Estados fizerem uma revisão <strong>da</strong> assistência que são atual-<br />

mente às cooperativas, produzindo, assim, o clima apropriado<br />

para que estas se desenvolvam. Naqueles outros países onde<br />

não existe esta coordenação, é urgente que ela se estabeleça,<br />

para evitar a per<strong>da</strong> de esforços <strong>da</strong> iniciativa individual ou as<br />

inversões que o Estado possa ter realizado. Nos outros onde a<br />

indiferença estatal seja notória, podemos afirmar que a expe-<br />

riência americana pode servir-lhe de exemplo e recentemente<br />

são dignos de elogio os esforços <strong>da</strong> Bolívia e Haiti para o fo-<br />

mento de cooperativas.<br />

Êste último país enviou um grupo de dez pessoas por vá-<br />

rios países <strong>da</strong> América para que adquirissem a experiência e


270 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

o treinamento adequados no desempenho de suas futuras ati-<br />

vi<strong>da</strong>des como funcionários de cooperativas.<br />

Se os governos dos países membros <strong>da</strong> Organização<br />

dos Estados Americanos, que não o tenham feito, to<strong>da</strong>via,<br />

derem séria e favorável consideração à adoção <strong>da</strong>s três<br />

políticas básicas sugeri<strong>da</strong>s, cremos, firmemente, que o<br />

movimento cooperativo neste Hemisfério se robustecerá,<br />

continuará desenvolvendo-se sôbre sóli<strong>da</strong>s bases, que<br />

redun<strong>da</strong>rão num benefício positivo para os povos <strong>da</strong><br />

América".<br />

Aqui encerro o brilhante trecho do relato norte-ameri-<br />

cano.<br />

A AÇÃO GOVERNAMENTAL<br />

Um grupo de doze técnicos (“peritos” em cooperativis-<br />

mo) pertencentes a países <strong>da</strong> América Latina, Ásia, Europa<br />

e Próximo Oriente e Oriente-Médio, reuniu-se recentemente<br />

em Genebra sob os auspícios <strong>da</strong> Repartição Internacional do<br />

Trabalho. Discutiram os problemas relativos à legislação<br />

cooperativa, à organização e ao funcionamento dos serviços<br />

governamentais de assistência ao cooperativismo. As relações<br />

intercooperativas constituíram também um dos temas <strong>da</strong>s<br />

discussões.<br />

A atuação <strong>da</strong> R. I. T. no que tange ao movimento<br />

cooperativo universal foi também alvo de debates prolongados.<br />

Foram, dentre outras, feitas as seguintes<br />

recomen<strong>da</strong>ções:<br />

Assistência técnica<br />

1.º — A assistência técnica as cooperativas deve acentuar-se.<br />

2.º — Deve-se participar mais ativamente dêsse tipo de<br />

assistência, aconselhando os governos na feitura de programas.<br />

3.º — São necessi<strong>da</strong>des imperiosas: formação de dirigentes<br />

cooperativos, criação de cooperativas de diferentes tipos,<br />

conselhos sôbre problemas específicos de organização<br />

cooperativa.<br />

4.º — As associações cooperativas, inclusive aquelas de<br />

países subdesenvolvidos, devem estu<strong>da</strong>r a maneira de colocar<br />

à disposição <strong>da</strong> Repartição Internacional do Trabalho maior<br />

número de técnicos (“experts”) qualificados, para sua utilização<br />

dentro do programa de assistência técnica.


FÁBIO LUZ FILHO 271<br />

5.º — As campanhas de orientação do público devem ser<br />

ativa<strong>da</strong>s, a fim de mobilizar a opinião pública em favor do<br />

movimento cooperativo.<br />

Legislação específica<br />

1.º— O movimento cooperativo precisa de uma legisla-<br />

ção especial, independente <strong>da</strong>s disposições gerais de direito<br />

civil e comercial.<br />

2.º — Alguns peritos (técnicos) se pronunciaram a favor<br />

de uma lei geral relativa ao estatuto cooperativo, lei que esta-<br />

beleça regulamentação particular para ca<strong>da</strong> tipo de coopera-<br />

tiva (êste ponto deve merecer a atenção dos legisladores bra-<br />

sileiros).<br />

Outros propuseram o estabelecimento de um "código<br />

cooperativo”, que compreen<strong>da</strong> uma lei geral e seções separa-<br />

<strong>da</strong>s (mais uma vez chamamos a atenção dos legisladores bra-<br />

sileiros) correspondentes a ca<strong>da</strong> tipo de cooperativas.<br />

Finalmente, um terceiro setor de “experts” opinou por<br />

uma lei geral sem seções particulares.<br />

3.º — Recomendou-se (novamente chamamos a atenção<br />

dos legisladores brasileiros) uma certa supervisão ou super-<br />

vigilância do Estado nos casos em que as cooperativas não<br />

possuam experiência suficiente (o caso do Brasil, sobretudo<br />

no Centro, Norte e Nordeste).<br />

Serviços oficiais<br />

1.º — Os governos tem o dever de estimular a formação<br />

de administradores e membros de organizações cooperativas<br />

(mas uma vez chamamos a atenção de certos legisladores bra-<br />

sileiros que querem negar ao cooperativismo no Brasil a assis-<br />

tência técnica através de órgãos oficiais específicos).<br />

2.º — Devem aju<strong>da</strong>r as cooperativas para que assumam<br />

gradualmente diversas funções de contrôle, que na atuali<strong>da</strong>de<br />

são <strong>da</strong> alça<strong>da</strong> <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des.<br />

3.º — Em numerosos campos de ativi<strong>da</strong>de — a eletrifi-<br />

cação rural, por exemplo — a ação governamental poderia<br />

também abrir novos campos de ativi<strong>da</strong>de ao movimento coope-<br />

rativo.<br />

Relações intercooperativas<br />

São os seguintes os meios de ação direta para incremen-<br />

tá-las: estabelecimento de um guia internacional sôbre a ca-<br />

paci<strong>da</strong>de de produção <strong>da</strong>s cooperativas, suas necessi<strong>da</strong>des de


272 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

abastecimento, condições dos mercados nacionais, etc.; esta-<br />

belecimento de uma feira internacional, etc.<br />

Última recomen<strong>da</strong>ção<br />

Os técnicos, finalmente, recomen<strong>da</strong>ram que a B.I.T. realize<br />

um amplo estudo dos organismos nos quais a administração e<br />

o funcionamento se realizam conjuntamente por cooperativas<br />

de tipos diversos.<br />

O grupo de técnicos acima referido esteve sob a presidência<br />

do Sr. A. A. Drejer, <strong>da</strong> Dinamarca, e sob a vice-presidência do<br />

Sr. Carlos Valderrama Ordonez, <strong>da</strong> Colômbia.


CAPITULO XIII<br />

EXCERTOS SOBRE COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Eis excertos de Domingo Bórea em “Tratado de Coopera-<br />

ción" (1927):<br />

"O Primeiro Congresso Argentina de Cooperação", por<br />

unanimi<strong>da</strong>de, resolveu dirigir-se ao Presidente do Conselho<br />

Nacional de Educação, aos Diretores <strong>da</strong>s Escolas <strong>da</strong> Provín-<br />

cia e Bibliotecas Populares pedindo-lhes que tratem de pro-<br />

mover os meios para que em tô<strong>da</strong>s as escolas <strong>da</strong> República se<br />

instruam os alunos nos princípios básicos <strong>da</strong> mutuali<strong>da</strong>de e<br />

<strong>da</strong> cooperação.<br />

“Êsse Congresso sancionou outra resolução, recomen<strong>da</strong>ndo<br />

ao <strong>Ministério</strong> de Instrução Pública, Conselho Nacional de<br />

Educação e aos Diretores de Escolas de Províncias a criação, nos<br />

estabelecimentos educacionais de sua dependência, de cursos de<br />

cooperação e economia, postal, ao mesmo tempo que livrarias<br />

cooperativas constituí<strong>da</strong>s por pais, pessoal docente e alunos, a fim<br />

de <strong>da</strong>r um ensino prático do cooperativismo, contribuindo, ao<br />

mesmo tempo, para o barateamento do material de ensino,<br />

atualmente tão custoso em virtude do intermediário.<br />

“Mas quem deu notável impulso as cooperativas<br />

escolares foi a Conselho Nacional de Educação, que criou um<br />

serviço especial, dependente diretamente <strong>da</strong> Presidência do<br />

mesmo Conselho, chamado “Inspeção de cooperativas”,<br />

dirigido pelo Dr. Carlos J. Gatti. Folhetos e impressos vários<br />

são distribuí- dos gratuitamente por êste serviço, publicações<br />

que ensinam como se pode organizar e fazer funcionar uma<br />

cooperativa escolar, que colima dois objetivos: um imediato<br />

como a aquisição de material a preços eqüitativos, reduzindo,<br />

assim, os gástos nessa parte dos estudos; o outro se refere à<br />

face educativa, o conhecimento preciso de princípios que, no<br />

correr dos anos, hão-de operar uma modificação fun<strong>da</strong>mental<br />

na organização econômica do país".<br />

18 — 27 454


274 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

“A prática do cooperativismo não educará sòmente os<br />

alunos: a organização virá <strong>da</strong> aula até ao lar com seu método<br />

nas compras, adquirindo o necessário, evitando o supérfluo,<br />

criando uma consciência do gasto que efetuar, para que seja<br />

imita<strong>da</strong> a prática sã <strong>da</strong> economia, que se transformará em<br />

hábito".<br />

“Em todos os países se difundiu o ensino e a prática <strong>da</strong><br />

cooperação nas escolas primárias e secundárias.<br />

“Na Itália, por exemplo, a “Unione italiana<br />

dell’educazio-ne popolare”, com sede em Milão, publicou um<br />

ótimo opus- culo, intitulado “Manualleto per le cooperative<br />

scolastiche”, escrito pelo professor Aldo Oberdorfer.<br />

"O autor põe de manifesto, antes de tudo, que não se<br />

devem confundir as pseudocooperativas escolares, formas pri-<br />

mordiais de cooperação, com as ver<strong>da</strong>deiras cooperativas. Res-<br />

ponde logo pergunta: “Que é uma ver<strong>da</strong>deira cooperativa<br />

escolar”?, <strong>da</strong> seguinte forma: “Mas há uma forma segundo a<br />

qual se pode organizar uma pequena “comuni<strong>da</strong>de de consu-<br />

midores de material escolar”, a qual, ao mesmo tempo que<br />

concede os mesmos benefícios na compra de material tomado<br />

no armazém de compras, explica aos alunos o porquê <strong>da</strong>s eco-<br />

nomias consegui<strong>da</strong>s, ensinando-lhes a maneira de obter outras<br />

maiores. Impõe uma participação direta no movimento de<br />

compras e ven<strong>da</strong>s, isto é, na administração; aconselha a estu<strong>da</strong>r<br />

o melhor emprêgo que se pode <strong>da</strong>r aos lucros que uma em-prêsa,<br />

tão modesta como esta, pode também <strong>da</strong>r. Refiro-me às<br />

cooperativas escolares.<br />

Para os jovens leitores que até aqui me tem seguido, será<br />

fácil compreender o que é uma cooperativa escolar se lhes<br />

disser que se trata, nem mais nem menos, de uma “Coopera-<br />

tiva de consumo para aquisição de objetos de uso escolar”.<br />

“Quem a constitui? Naturalmente os interessados, isto é,<br />

os alunos.<br />

“Quem é chamado a gozar de suas vantagens? Natural-<br />

mente só os sócios, isto é, aquêles dentre os alunos que senti-<br />

ram o dever de se unir no ato de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de com seus com-<br />

panheiros.<br />

"O Estado, que não pode ajudá-la diretamente, recomen<strong>da</strong><br />

a instituição e aconselha os mestres a <strong>da</strong>r em classe noções sôbre a<br />

mutuali<strong>da</strong>de e a cooperação. A Municipali<strong>da</strong>de a favorece<br />

amiúde, concedendo-lhe um lugarzinho dentro do edifício escolar,<br />

e às vêzes armários onde se possa guar<strong>da</strong>r o material adquirido, ou<br />

por outros meios.


FÁBIO LUZ FILHO 273<br />

“Os mestres dedicam-lhe sua formosa ativi<strong>da</strong>de,<br />

ilumina<strong>da</strong> de fé na bon<strong>da</strong>de educadora <strong>da</strong> cooperação e <strong>da</strong><br />

consciência <strong>da</strong> utili<strong>da</strong>de prática que adquirem os alunos<br />

com o exercê-la. Em suma, há uma corrente favorável às<br />

cooperativas escolares; só resta soltar as velas e afrontar os<br />

riscos do mar alto.<br />

“Amigos, valor! Fundemos nossa cooperativa escolar!<br />

“Bem! Muito bem! Mas... como se faz?<br />

“Antes de tudo é preciso estabelecer-se se a cooperativa<br />

há-de servir à escola tô<strong>da</strong> ou sòmente a uma classe. No meu<br />

entender, embora as dificul<strong>da</strong>des sejam maiores, a pequena<br />

cooperativa deve servir sempre à escola inteira.<br />

“As cooperativas microscópicas de ca<strong>da</strong> classe em parti-<br />

cular, não só por sua pequenez, mas também por outros mo-<br />

tivos, falham função de ensinar aos jovens sócios os princí-<br />

pios elementares <strong>da</strong> administração de um pequeno organismo<br />

econômico e perdem, portanto, parte de seu valor educativo.<br />

Pelo excessivo fracionamento, nunca adquirem a capaci<strong>da</strong>de<br />

suficiente para realizar uma ação tal, que possa ser empre-<br />

ga<strong>da</strong> para fins superiores de assistência e previsão que devem,<br />

como veremos, estar no cume de uma bem medita<strong>da</strong> e ordena-<br />

<strong>da</strong> obra do cooperação escolar. As pequenas administrações<br />

abraçam, portanto, em sua ativi<strong>da</strong>de, a escola inteira.<br />

“Em segundo lugar, há necessi<strong>da</strong>de de determinar quem<br />

terá o direito de fazer compras na cooperativa escolar. Con-<br />

tràriamente ao que se costuma fazer nas pequenas adminis-<br />

trações dêste gênero já existentes, aconselho muito a estabe-<br />

lecimento desta norma: que a ven<strong>da</strong> se faça sòmente aos<br />

sócios. E sabes por quê? Porque quero que os alunos coopera-<br />

dores apren<strong>da</strong>m a considerar sua cooperativa não como um<br />

armazém qualquer, onde qualquer pessoa pode ir buscar os<br />

melhores artigos aos melhores preços sem se sentir a êle vin-<br />

culado de modo algum, mas como uma instituição na qual<br />

ca<strong>da</strong> um está ligado, individualmente, pelo pequeno sacrifício<br />

que fêz aderindo a ela, pelo pequeno esfôrço que realiza em<br />

ajudá-la no desenvolvimento de sua ativi<strong>da</strong>de, pelo prazer que<br />

lhe <strong>da</strong>rá a verificação de certo resultado obtido no fim do ano<br />

graças às fadigas comuns e, enfim, também pela real vanta-<br />

gem econômica que lhe trará.<br />

“Mas, perguntarão: que mal há em se permitir que se<br />

ven<strong>da</strong> também aos não-sócios? Não <strong>da</strong>rão êstes, comprando<br />

à socie<strong>da</strong>de, um lucro de que mais tarde gozarão os sócios?<br />

Talvez por que também as grandes cooperativas não vendem<br />

ao público?


276 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

“Certamente na Itália as grandes cooperativas de consu-<br />

mo, e também as pequenas, vendem aos não-sócios; mas pre-<br />

cisamente agora se começa a combater sèriamente este cos-<br />

tume, que tem uma única vantagem, entre tantos perigos e<br />

defeitos: aumentar as cifras de ven<strong>da</strong>s, aumentando, assim, o<br />

lucro <strong>da</strong> administração. Mas nós outros devemos recor<strong>da</strong>r<br />

sempre que a finali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s cooperativas escolares não pode<br />

ser sòmente o lucro, mas principalmente a de educar os alu-<br />

nos na soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e fazer com que efetuem alguma econo-<br />

mia nos gastos, e é evidente que a eficácia educativa será tan-<br />

to maior quanto melhor os alunos compreen<strong>da</strong>m que só por<br />

meio <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, inscrevendo-se como sócios e colabo-<br />

rando, começam a gozar <strong>da</strong>s vantagens materiais <strong>da</strong> economia<br />

nas despesas.<br />

“Aconselha sempre, para evitar qualquer intento de espe-<br />

culação por parte do aluno aderente à cooperativa, que se di-<br />

vi<strong>da</strong>m os lucros entre os consumidores. O princípio <strong>da</strong> divisão<br />

dos lucros, pôsto muito em vigência por tô<strong>da</strong>s as cooperativas<br />

de consumo, irrefutável do ponto de vista econômico, tem,<br />

não obstante, o inconveniente de exercer uma função negati-<br />

va na educação cooperativa do associado, porque, enquanto<br />

se faz tudo para ensinar-lhe que a cooperação significa, antes<br />

de tudo, renúncia ao direito de lucro individual por um lucro<br />

coletivo, — a pequena soma destina<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> um como quota<br />

de participação no lucro, — desperta o espírito individualista<br />

e não solidário. Melhor, portanto, conservar indivisíveis os<br />

lucros <strong>da</strong> administração e utilizá-los para fins de interêsse geral<br />

dos associados, de modo que sejam a urn mesmo tempo os frutos<br />

do trabalho realizado em comum e a oportuni<strong>da</strong>de de gozá-los<br />

ain<strong>da</strong> em comum.<br />

“Mas ain<strong>da</strong>:deve-se deixar aos meninos cooperadores a<br />

maior liber<strong>da</strong>de nas deliberações referentes a essa ação coope-<br />

rativa.<br />

“O mestre e o diretor deverão estar sempre, vigilantes, e<br />

isto compreensível, para que as deliberações sejam honestas,<br />

úteis e concordes com as boas normas <strong>da</strong> cooperação, para que<br />

o que se fizer seja fiel expressão do que se decidiu; mas essa<br />

vigilância será tanto mais eficaz quanto menos se fizer sentir. A<br />

cooperativa escolar, tem com efeito, além do fim mais<br />

diretamente utilitário <strong>da</strong> economia nas compras, também um<br />

fim prático mais remoto: acostumar os meninos a decidir e exe-<br />

cutar, não por obediência a outros, e por isso passivamente,<br />

mas pela consciência do dever e, conseguintemente, arcando,<br />

com tô<strong>da</strong> a responsabili<strong>da</strong>de do que estão decidindo e fazendo.


FÁBIO LUZ FILHO 277<br />

Estas pequenas administrações querem, pois, habilitar moral-<br />

mente os meninos a deliberarem por si mesmos, ponderosamente,<br />

e a executar as resoluções com adequa<strong>da</strong> preparação técnica.<br />

“Para isso, o maior número de meninos deve participar<br />

<strong>da</strong>s operações materiais <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s, e dos registos de contabi-<br />

li<strong>da</strong>de e números deve participar também o Conselho de Admi-<br />

nistração. Para vender e para controlar, devem suceder-se por<br />

turnos de quinze dias (pois menos tempo seria muito pouco<br />

para aprender alguma coisa), grupos de dez alunos, e no fun-<br />

cionamento do conselho de administração não haverá perigo<br />

de que seus membros sejam muitos, se o mestre, que preside<br />

à discussão e a regula, tiver habili<strong>da</strong>de para fazer falar e ca-<br />

lar sem que sua ação se faça mui notável, For outro lado, é<br />

muito útil que a maior quanti<strong>da</strong>de possível de cooperadores<br />

conheça as boas normas cooperativas, que o mestre exporá,<br />

indicando as questões a discutir ou julgando, de vez em quan-<br />

do, o que se fêz no período precedente de ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> coope-<br />

rativa.<br />

“Se fôr realmente afadigosa para mestres e alunos a tarefa<br />

do preparar à tarde o material para o dia seguinte, na<strong>da</strong> impedirá<br />

que se encarregue disso uma pessoa prática,<br />

assalaria<strong>da</strong>, talvez o próprio porteiro <strong>da</strong> escola. Em tal caso se<br />

resolverá outra dificul<strong>da</strong>de: a <strong>da</strong> ven<strong>da</strong> do material durante as<br />

horas de aula. Não se pode evitar, com efeito, que, eventual-<br />

mente, um aluno necessite de tal ou qual objeto, e não seria<br />

justo que o cooperador se visse obrigado, não podendo com-<br />

prar em sua cooperativa, a correr até à livraria <strong>da</strong> esquina.<br />

Por outro lado deve-se proibir de um modo absoluto que du-<br />

rante as horas de aula os alunos administradores aten<strong>da</strong>m a<br />

outra coisa que não sejam suas obrigações escolares, nem é<br />

aconselhável empregá-los nos dez minutos de recreios, porque,<br />

passando de um trabalho a outro durante quatro ou cinco<br />

horas consecutivas, sem um instante de repouso, se cansariam<br />

com prejuízo <strong>da</strong> atenção e <strong>da</strong> instrução.<br />

“Lembrem-se sempre de que a cooperativa deve ser um<br />

complemento <strong>da</strong> obra educadora <strong>da</strong> escola e não causa para<br />

obstar à eficácia dela ou diminuí-la".<br />

E, acrescento eu, Rivas Moreno diz que “el mejor<br />

auxiliar de gestionar la creación de una catedra en las<br />

normales para la enseñanza de la Cooperación.<br />

“Importa mucho educar la mujer en las práticas de la<br />

Cooperación... Interessa a la Cooperación ganar, para el<br />

desarrollo de las instituciones, al magistério femenino".


278 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Mazzini disse que a mulher é força, inspiração, potência<br />

multiplicadora <strong>da</strong>s facul<strong>da</strong>des morais e intelectuais.<br />

A cooperativa levará ao que Sombart caracterizou como<br />

Weltanschanung, melhor concepção <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, e Stimmung,<br />

sentido do fôro interior...<br />

Totomianz considera as cooperativas escolares como as-<br />

sociações integra<strong>da</strong>s nas escolas, sendo, assim, a própria es-<br />

cola converti<strong>da</strong> em cooperativa, o que reveste um profundo<br />

sentido para a doutrina cooperativa, que vê na mulher um de<br />

seus maiores esteios.<br />

PAPEL DO PROFESSOR NAS COOPERATIVAS<br />

ESCOLARES<br />

A COOPERATIVA ESCOLAR COMO CENTRO<br />

ATIVO DA ESCOLA<br />

Prof. J. VENTOSA ROIG (México)<br />

O Professor, D. Tirado Benedí, em seu excelente livro<br />

“Cooperativas, Oficinas, Hortas e Granjas Escolares”, faz dis-<br />

tinção entre Cooperativa Escolar e Escola Cooperativa. A pri-<br />

meira, como organismo complementar <strong>da</strong> escola, tanto pelo<br />

seu aspecto econômico como pelo educativo — evidentemente<br />

o mais importante — ain<strong>da</strong> que ambos sejam inseparáveis,<br />

pois é também defini<strong>da</strong> como "instrumento educativo, que<br />

realiza sua ação através de uma emprêsa econômica". A Es-<br />

cola Cooperativa, para o citado autor “representa a síntese,<br />

isto é, a organização total <strong>da</strong> escola na qual se articulam de<br />

maneira harmônica e perfeita as diversas instituições de ação e<br />

de irradiação do dito centro educativo”.<br />

Poderíamos dizer, pois, que a Cooperativa Escolar é o<br />

princípio, a iniciação <strong>da</strong> Escola Cooperativa, tal como a con-<br />

cebe Tirado Benedí, como síntese <strong>da</strong>s realizações mais efi-<br />

cientes <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong> técnica <strong>da</strong> educação.<br />

As Cooperativas Escolares não se propõem formar car-<br />

pinteiros, agricultores, eletricistas, etc., mas em suas ativi<strong>da</strong>-<br />

des produtivas iniciam os alunos, desde as Escolas Primárias<br />

as Superiores, nos rudimentos de muitas profissões, ao mesmo<br />

(Este trabalho foi especialmente escrito pelo émérito<br />

educador espanhol, radicado no México, para a Divisão de<br />

Assistência ao Cooperativismo do Estado do Rio. Traduzido<br />

por Ruth Moura).


FÁBIO LUZ FILHO 279<br />

tempo em que desenvolvem nos mesmos a base de tô<strong>da</strong> pro-<br />

fissão, além <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des mais elementares que praticamos<br />

todos as dias: a habili<strong>da</strong>de manual.<br />

É ver<strong>da</strong>de que se tem procurado desenvolver esta habili-<br />

<strong>da</strong>de em todos os sistemas pe<strong>da</strong>gógicos modernos, iniciando-se<br />

logo nos Jardins de Infância e ampliando-se mediante o tra-<br />

balho manual nos diferentes graus, mas na Coperativa Esco-<br />

lar procura-se e consegue-se tornar o trabalho manual inte-<br />

ressante para o aluno, de forma a não ser considera<strong>da</strong> como<br />

uma obrigação imposta, mas que a veja como uma fonte de<br />

utili<strong>da</strong>de, não apenas no sentido material ou pecuniário, mas<br />

em outro mais elevado e moral. Os trabalhos manuais para o<br />

cooperador escolar, desde os mais elementares, como o recor-<br />

tar bonecos de papel, adornos para decorar o salão de festas<br />

para uma quermesse, ou representação dramática, até a fabri-<br />

cação de objetos simples ou a colheita de frutas, hortaliças e<br />

legumes na Horta Escolar, representam a obtenção de fundos<br />

para a aquisição de um aparelhamento de projeções, de rádio,<br />

uma discoteca, livros interessantes para a Biblioteca Escolar;<br />

o meio de amparar um companheiro atacado por qualquer<br />

enfermi<strong>da</strong>de ou que sofreu um acidente e também a aspiração<br />

bem legítima de obter, com parte do produto de seu trabalho e<br />

de seu excesso de percepção, a importância suficiente para<br />

adquirir algum objeto de uso pessoal, luxo que muitas vêzes<br />

não pode permitir-se, sem a Cooperativa, o aluno filho de fa-<br />

mília muito modesta.<br />

Como já disse alhures, longe de considerar a<br />

distribuição de uma parte do excesso de percepção aos alunos<br />

associados como um estímulo ao egoísmo dos mesmos, estando<br />

o professor à altura de sua missão a renúncia voluntária de<br />

uma parte dêste excesso, em favor de um condiscípulo que<br />

dêle necessite, ou de algo que seja do interésse coletivo, serve<br />

para cul-tivar o sentimento de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e de aju<strong>da</strong> mútua.<br />

Na formação de hábitos sociais, dêstes sentimentos de so-<br />

li<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de entre as alunos e entre êstes e os mestres, consti-<br />

tuindo uma uni<strong>da</strong>de social, a Escola, nenhuma outra institui-<br />

ção nem disciplina escolar, pode comparar-se com a Coopera-<br />

tiva Escolar. Claro que estas não devem limitar as suas ativi-<br />

<strong>da</strong>des à simples distribuição de material escolar e de outros<br />

artigos que as crianças solicitam. O consumo ou distribuição,<br />

por muito interessante, não representa mais que o primeiro<br />

passo, mas ain<strong>da</strong> neste aspecto se impõe o trabalho em comum<br />

ou em equipe, na preparação do local de ven<strong>da</strong>s, na ordenação<br />

<strong>da</strong>s mercadorias, no contrôle dos artigos distribuídos.


280 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Nas reuniões dos Conselhos e Assembléias Gerais, sempre<br />

que uns e outras se realizem com a freqüência precisa, o aluno<br />

acostuma-se logo a sujeitar-se à vontade <strong>da</strong> maioria, a disci-<br />

plinar-se. E todos êstes resultados aumentam em intensi<strong>da</strong>de,<br />

quando se inicia a cooperação de produção em qualquer de<br />

suas formas.<br />

Mas a Cooperativa Escolar é muito mais que isto. Quan-<br />

do atinge a seu pleno desenvolvimento, a Cooperativa consti-<br />

tui a alma <strong>da</strong> Escola, e ao seu redor se realizam tô<strong>da</strong>s as ati-<br />

vi<strong>da</strong>des escolares. É a Cooperativa a instituição que organiza<br />

as festas, formando quadros dramáticos, fun<strong>da</strong>ndo um orfeão<br />

ou côro escolar; equipes esportivas; pequenas excursões du-<br />

rante as quais se colecionam insetos, plantas ou minerais pa-<br />

ra o Museu Escolar. A Cooperativa é a enti<strong>da</strong>de que cui<strong>da</strong> do<br />

embelezamento <strong>da</strong> Escola e <strong>da</strong> sua higiene e limpeza; a que<br />

atende à conservação <strong>da</strong>s árvores e flores do jardim público<br />

próximo; em uma palavra, a que desenvolve um sem-fim de<br />

ativi<strong>da</strong>des que variam em ca<strong>da</strong> escola, mas que têm de comum<br />

o habituar os alunos à vi<strong>da</strong> social, ao esfôrço coletivo, a desen-<br />

volver os entendimentos de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e de responsabili-<br />

<strong>da</strong>de.<br />

É certo que muitas destas coisas podem fazer-se, e em par-<br />

te se fazem sem a Cooperativa, mas a diferença essencial de<br />

seu valor educativo estriba em que através <strong>da</strong> Cooperativa<br />

tudo se faz por iniciativa dos alunos, a qual o professor pro-<br />

cura despertar e orientar, e tudo isto é considerado pelos esco-<br />

lares como coisa própria, desde a local <strong>da</strong> Escola, de que<br />

cui<strong>da</strong>m com carinho, até ao material escolar, para cuja aqui-<br />

sição contribuíram, bem como as festas esportivas e artísticas.<br />

"O segrêdo do êxito <strong>da</strong>s Cooperativas Escolares depende<br />

de que o mestre saiba orientar as ativi<strong>da</strong>des infantis, do bem<br />

ao belo".<br />

“A intervenção do professor no funcionamento <strong>da</strong>s Coope-<br />

rativas Escolares é decidi<strong>da</strong>mente o problema mais delicado<br />

que se apresenta no desenvolvimento dêstes admiráveis ins-<br />

trumentos de cultura geral e que são ao mesma tempo a me-<br />

lhor escola de cooperativismo. Se nas cooperativas de adultos,<br />

em suas distintas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des, já se chegou a uma perfeita<br />

identificação nos fun<strong>da</strong>mentos, e sendo os Princípios de Roch-<br />

<strong>da</strong>le — pode afirmar-se — universalmente aceitos, com a ex-<br />

ceção única de uns poucos países totalittários, nas escolares<br />

encontramos acentua<strong>da</strong>s divergências em pontos tão essen-<br />

ciais como o que vamos tratar, e estas diferenças se manis-<br />

festam tanto no terreno <strong>da</strong> prática, como no <strong>da</strong>s legislações.


FÁBIO LUZ FILHO 281<br />

Não obstante, como adiante veremos, uma considerável parte<br />

<strong>da</strong>s mesmas obedece mais a circunstâncias ambientes que a<br />

diferenças de caráter doutrinário e pe<strong>da</strong>gógico.<br />

Por isto, deixando de parte os argumentos que abonam<br />

a criação <strong>da</strong>s Cooperativas Escolares, os quais são perfeita-<br />

mente conhecidos pelos leitores de “Divulgação Cooperativis-<br />

ta”, não apenas pelos excelentes artigos publicados nestas pá-<br />

ginas, explanando a matéria, mas também por dispor a lite-<br />

ratura cooperativista brasileira de abun<strong>da</strong>ntes e bem orienta-<br />

dos livros, nascidos de penas tão autoriza<strong>da</strong>s como as do Dr.<br />

Fábio Luz Filho, Dr. Valdiki Moura, Prof. J. Monserrat e Dr.<br />

Luiz Amaral, dedicaremos umas linhas ao papel que o<br />

mestre desempenha nestas cooperativas.<br />

Em primeiro lugar, os autores de maior autori<strong>da</strong>de<br />

são acordes em que só excepcionalmente e nos meios de grande<br />

densi<strong>da</strong>de cooperativa a iniciativa parte dos alunos para a<br />

fun<strong>da</strong>ção de uma cooperativa escolar. Geralmente é o pro-<br />

fessor que toma essa iniciativa, pelo menos nas escolas prima-<br />

rias. E se queremos que a Cooperativa Escolar nasça robusta,<br />

não degenerando em simples rotina ou em mero cumprimen-<br />

to de um dispositivo legal — isto, onde por ventura sua cons-<br />

tituição for obrigatória — precisamos despertar, antes de tu-<br />

do, o interêsse dos alunos. Nem nestas, nem em nenhuma ou-<br />

tra classe de cooperativas, podemos esperar um desenvolvi-<br />

mento satisfatório, se não preencherem uma necessi<strong>da</strong>de real-<br />

mente senti<strong>da</strong> por seus associados. Que necessi<strong>da</strong>des podem<br />

sentir intensamente as crianças, em seus primeiros anos esco-<br />

lares? Naturalmente que as mesmas <strong>da</strong> demais crianças, <strong>da</strong>-<br />

quelas outras que não tiveram oportuni<strong>da</strong>de de freqüentar<br />

uma escola. For ver<strong>da</strong>deira necessi<strong>da</strong>de — ain<strong>da</strong> que às vêzes<br />

tenha a aparência de um simples capricho — a criança gosta<br />

de guloseimas. A constante ativi<strong>da</strong>de física de uma criança<br />

sadia exige alimentos de rápi<strong>da</strong> combustão orgânica, que lhe<br />

forneçam a energia calorífera suficiente e nenhum alimento<br />

melhor que o diverso açucares — a sacarose <strong>da</strong> cana ou be-<br />

terraba; a glucose e a frutose dos frutos, etc., preenchem esta<br />

imposição.<br />

Outra exigência de tô<strong>da</strong> criança normal e com saúde,<br />

são os brinquedos, perfeita válvula de escape, onde consomem<br />

suas exuberantes energias. Menos espontâneo, mais fácil de<br />

dês-pertar na criança, é o gôsto pelos passeios, não os passeios<br />

tranqüilo e sossegados próprios de adultos, mas as caminha-<br />

<strong>da</strong>s buliçosas, acidenta<strong>da</strong>s, que proprcionam um campo ili-<br />

mitado à fantasia infantil, capaz de transformar um pequeno


282 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

grupo de árvores em mata virgem; uma colina insignificante<br />

em enorme montanha; um riacho tranqüilo num Amazonas<br />

opulento; e, ante êsse mundo tão sem limites como a sua fan-<br />

tasia, se sente logo explorador de terras ignotas, caçador lu-<br />

tando contra selvagens e feras, ou herói nas lutas libertárias<br />

<strong>da</strong> pátria.<br />

Se o professor expõe a idéia <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de<br />

como um meio de ganhar dinheiro para a compra de gulosei-<br />

mas e de material esportivo, para a realização de excursões e<br />

passeios campestres, pode considerar ganha a parti<strong>da</strong>. A aqui-<br />

sição de livros e material escolar em bases mais econômicas,<br />

suaves, objetivo de grande interêsse para os país, importa<br />

pouco ou na<strong>da</strong> aos alunos dos primeiros anos escolares, inca-<br />

pazes que são ain<strong>da</strong> de compreender as apuros financeiros<br />

de um lar modesto; mas os adquirirão na cooperativa, se estão<br />

convencidos que com isto contribuem para a formação dos re-<br />

cursos indispensáveis à realização de excursões, compras de<br />

material esportivo, <strong>da</strong>s cobiça<strong>da</strong>s guloseimas ou o que é ain<strong>da</strong><br />

melhor: dos elementos necessários para fabricar, êles mesmos,<br />

sob a direção dos professôres e, especialmente, <strong>da</strong>s professôras,<br />

saborosos confeitos e dôces que serão divididos para o con -<br />

sumo — parte na escola mesmo e 0 restante em suas casas,<br />

onde exibirão orgulhosos a seus pais e irmãozinhos as boas<br />

coisas que fazem em sua Cooperativa. E estas modestas eco-<br />

nomias poderão ser reforça<strong>da</strong>s com o produto de representa-<br />

ções teatrais e de festas organiza<strong>da</strong>s pela Cooperativa.<br />

Acreditamos que esta é uma <strong>da</strong>s melhores formas de ini-<br />

ciar os trabalhos de uma Cooperativa Escolar, porque pode ser<br />

realiza<strong>da</strong> em qualquer escola, Nos meios rurais, onde é fácil<br />

dispor de uma pequena parcela de terreno, o cultivo de uma<br />

horta pelos alunos, distribuídos em grupos — ca<strong>da</strong> um com<br />

sua parte — a criação de umas galinhas ou coelhos ou duas<br />

colmeias, que só cui<strong>da</strong>rão acompanhados por uma pessoa prá-<br />

tica, completarão os meios de iniciação cooperativa.<br />

Durante êste período preparatório, que deve ser repetido<br />

anualmente para os novos alunos, o problema não oferece<br />

complicação alguma para o professor. Êle é a inspirador e o<br />

orientador <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des dos alunos, ain<strong>da</strong> que procure esti-<br />

mular a iniciativa dos mesmos, deixando-os resolver as peque-<br />

nas dificul<strong>da</strong>des que se lhes apresentam, intervindo apenas<br />

para auxiliar a solução dos mais sérios.<br />

Passa<strong>da</strong> essa fase de preparação, os escolares além de<br />

continuar desenvolvendo em maior escala as ativi<strong>da</strong>des iniciais,<br />

devem aprender, na prática, a manejar em forma cooperativa,


FÁBIO LUZ FILHO 283<br />

sua pequena república, exercendo os direitos e cumprindo os<br />

deveres que estas associações impõem aos seus componentes,<br />

com maior intensi<strong>da</strong>de, que qualquer outra organização co-<br />

letiva. É a hora <strong>da</strong>s assembléias gerais, dos conselhos de admi-<br />

nistração e fiscais; <strong>da</strong>s comissões eleitas para objetivos práti-<br />

cos, e através dêstes órgãos administrativos e de govêrnos, os<br />

pequenos ci<strong>da</strong>dãos <strong>da</strong> nossa pequena República Cooperativa<br />

adquirem o hábito <strong>da</strong> honradez e <strong>da</strong> escrupulosi<strong>da</strong>de no ma-<br />

nejo dos bens comuns, o sentido <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de pessoal<br />

na seleção dos dirigentes e no exercício dos cargos, o <strong>da</strong> sóli<strong>da</strong>-<br />

rie<strong>da</strong>de ou aju<strong>da</strong> mútua adquiri<strong>da</strong> mediante o trabalho em<br />

grupos ou equipes; a tolerância e o respeito para com as opi-<br />

niões alheias, ain<strong>da</strong> que lhes pareçam equivoca<strong>da</strong>s, a par <strong>da</strong><br />

coragem e decisão de expor as opiniões próprias, mesmo cho-<br />

cantes com as <strong>da</strong> maioria, mas sem jactância nem preten-<br />

sões de ridícula superiori<strong>da</strong>de; a confiança no esfôrço próprio<br />

conjugado com o alheio; enfim a soma de condições que hão de<br />

convertê-los em bons cooperadores e, portanto, em ci<strong>da</strong>-<br />

dãos conscientes.<br />

Na reali<strong>da</strong>de, a Cooperativa Escolar, além de suas fina-<br />

li<strong>da</strong>des econômicas, sempre secundárias, trata de fazer homens<br />

ou, de preferência, ci<strong>da</strong>dãos cônscios de seus direitos e de-<br />

veres — o que não se conseguirá empregando como único ins-<br />

trumento os discursos e as explanações, com os velhos proce-<br />

dimentos verbalísticos que pretendiam fazer crianças sábias,<br />

enchendo-lhes a cabeça com eloqüentes citações orais ou escri-<br />

tas, acompanha<strong>da</strong>s de algum cocorote de vez em quando.<br />

Como realização prática <strong>da</strong> Escola Nova ou Ativa, a Coopera-<br />

tiva Escolar ensina, não por palavras, mas pela ação, fazendo,<br />

o isto significa simplesmente que o professor, como em qual-<br />

quer outro processo de educação, deve ensinar corn os alunos<br />

mesmos trabalhando na matéria que procuram aprender.<br />

Não cumpre esta missão essencial o mestre que<br />

açambar-ca a direção e a administração <strong>da</strong> Cooperativa<br />

Escolar, con-vertendo os Conselhos, Comissões e Assembléias<br />

em pura ficção, em organismos que existem apenas<br />

aparentemente, limitando-se êsses indispenáveis organismos à<br />

simples função de executores <strong>da</strong> vontade onímo<strong>da</strong> do<br />

professor. A sua intervenção é preciosa, como nas demais<br />

ativi<strong>da</strong>des docentes <strong>da</strong> escola, mas deve limitar-se ao mínimo<br />

indispensável.<br />

Qual é êste mínimo? Não é possível precisar-se um limite<br />

geral. Na França, Bélgica e outros países onde existe ver<strong>da</strong>-<br />

deiro ambiente cooperativo, em que as crianças são família-<br />

riza<strong>da</strong>s com a Cooperação, presenciando manifestações e des-


284 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

files, contemplando os imponentes edifícios-sedes de próspe-<br />

ras socie<strong>da</strong>des, o mestre encontra já prepara<strong>da</strong> a metade <strong>da</strong><br />

sua tarefa e o pai do aluno, cooperador militante muitas<br />

vézes, completa sua missão ao satisfazer a curiosi<strong>da</strong>de do<br />

filho. Por esta razão em tais países a intervenção direta do<br />

professorado é muito pequena desde os primeiros momentos,<br />

mas copiar literalmente êstes métodos — excelentes em seu<br />

país de origem — em ambiente onde é raro encontrarem-<br />

se pessoas que saibam exatamente o que é uma cooperativa e<br />

como funciona, onde as crianças e uma grande parte dos<br />

adultos não conhecem siquer a sua existência, cremos<br />

sinceramente que é um êrro e um primeiro passo ao fracasso<br />

certo. Não importa para nosso escopo que existam algumas<br />

excelentes cooperativas no país: o principal é que haja a<br />

ambiente propício. Se na própria França, as vêzes, não é<br />

possível limitar a intervenção do professor aos estritos<br />

limites impostos pelo grande mestre<br />

B.Profit, fun<strong>da</strong>dor e apóstolo <strong>da</strong> Cooperação Escolar, como<br />

vai ser possível limitá-la onde falta êsse ambiente de maneira<br />

quase absoluta?<br />

Por isto na prática e às vêzes apesar <strong>da</strong>s leis e<br />

regula-mentos, a intervenção do professor é maior e até se<br />

admite, como no México e em Salvador, que ocupe êle cargos<br />

diretivos, princípio que condicionalmente pode ser aceito,<br />

desde que restrito a período inicial, mas que viciaria e<br />

desnaturalizaria o sistema se tivesse caráter permanente. No<br />

México, quando a Cooperativa Escolar maneja a interêsses<br />

importantes, usufruindo bens do Estado — oficinas ou<br />

explorações agrícolas — há o cargo de Gerente,<br />

desempenhado por um professor ou por um técnico<br />

responsável, o qual deve agir de acôrdo com o Conselho de<br />

Administação. Tal como recomen<strong>da</strong>mos em nos- so folheto<br />

“Utili<strong>da</strong>de e Missão <strong>da</strong>s Cooperativas Escolares”, que<br />

“Divulgação Cooperativista” e “Arco Iris” tiveram a ama-<br />

bili<strong>da</strong>de de traduzir e publicar em suas colunas, e que o Ser-<br />

viço de Economia Rural do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> me faz<br />

a honra do publicar, junto com um interessante trabalho do<br />

Dr. Fábio Luz Filho (*), quando um mestre ocupa êstes car-<br />

gos diretivos, deve fazer com que os alunos o substituam<br />

quantas vêzes seja possível, a fim de capacitá-los para o<br />

exercício em forma definitiva, de todos os cargos de direção<br />

e fiscais, limitando o professor sua atuação à vigilância,<br />

orientação e conselho dos alunos, procurando não apenas<br />

respeitar suas iniciativas, mas também despertá-las.<br />

A prática exige, pois, uma intervenção constante do<br />

professor; porém, a eficiência <strong>da</strong> Cooperativa Escolar, como ins-


FÁBIO LUZ FILHO 285<br />

trumento de educação e cultura, exige igualmente que esta<br />

intervenção se reduza ao estritamento indispensável, atenden-<br />

do-se às condições locais, bem como a i<strong>da</strong>de e à capaci<strong>da</strong>de dos<br />

alunos.<br />

EDUCAÇÃO COOPERATIVA<br />

Fernando Chaves Nuñez, o ilustre técnico <strong>da</strong> União Pan-<br />

Americana, disse bem:<br />

"O ensino e a correta interpretação dos princípios e pra-<br />

ticas do cooperativismo, constituem por si uma etapa no pro-<br />

cesso educativo integral que seus dirigentes devem cumprir.<br />

Em conseqüência, o cooperativismo, para sua correta e cabal<br />

compreensão, deve ser explicado como um movimento orgâni-<br />

co, sem restringir seu significado a uma <strong>da</strong>s muitas fases que<br />

possa apresentar. Esta árdua tarefa educativa é necessária<br />

para que se chegue certeza de que êste movimento, com seus<br />

objetivos altruístas, econômicos, sociais e culturais, busca uma<br />

nova socie<strong>da</strong>de cimenta<strong>da</strong> em sólidos fun<strong>da</strong>mentos democráti-<br />

cos, na qual o homem, não importa a que raça, religião ou crê-<br />

do político pertença, tenha a oportuni<strong>da</strong>de de participar do<br />

engrandecimento do seu país, e também <strong>da</strong> criação de uma<br />

fraterni<strong>da</strong>de de nações, isenta <strong>da</strong>s causas que determinam os<br />

destrutivos conflitos bélicos internacionais.<br />

“Na América Latina, devido a escassez de recursos financeiros<br />

e à falta de pessoal especializado, o movimento cooperativista<br />

não pôde desenvolver um plano integral de educação,<br />

embora se deva confessar que, para tais fins, se tem feito louváveis<br />

esfôrcos. Em geral, em vários países, criaram- se centros e<br />

institutos para preparar dirigentes e pessoal administrativo para as<br />

cooperativas, já que se tem êste como o principal problema a<br />

resolver. Estabeleceu-se também o ensino do cooperativismo em<br />

alguns colégios públicos e universi<strong>da</strong>des. Na Colômbia, a êsse<br />

respeito se fêz um magnífico trabalho, e especialmente, se deve<br />

citar o Instituto de Estudos Cooperati- vos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de<br />

Cauca, que é o único centro cooperativista na América, com<br />

caráter universitário. Em um plano internacional, a Liga<br />

Cooperativa Bolivariana, forma<strong>da</strong> pelos centros e institutos<br />

cooperativos <strong>da</strong> Colômbia, Venezuela, Equador, Peru, Panamá e<br />

Bolívia, nas três conferências celebra<strong>da</strong>s, discutiu o problema<br />

educativo do movimento cooperativista nesses países, como no<br />

resto <strong>da</strong> América Latina. Estas conferências foram precursoras <strong>da</strong><br />

primeira Conferência Inte-


286 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

ramericana de Cooperativas, que se efetuou em Bogotá, em<br />

junho de 1946. Discutiu-se, nessa oportuni<strong>da</strong>de, o financia-mento<br />

e possível estrutura administrativa <strong>da</strong> Escola Interamericana de<br />

Orientação Cooperativa; cujo objetivo é a preparação técnica<br />

dos cooperadores. Esta escola estabeleceu-se na Universi<strong>da</strong>de de<br />

Kansas City e seu primeiro curso experimental iniciou-se no<br />

verão de 1947, com um total de 19 alunos, em sua maioria<br />

colombianos.<br />

“No continente americano não existem <strong>da</strong>dos estatísticos<br />

para precisar que setores <strong>da</strong> população integram, o movimen-<br />

to cooperativista. Não obstante, supondo-se que seja constituído<br />

de operários, trabalhadores do campo e membros <strong>da</strong> classe<br />

média, convém perguntar que tipo de educação lhes foi oferecido.<br />

A resposta parece ser a de que esta ativi<strong>da</strong>de se reduziu a<br />

esporádicas conferências ou palestras, não, porém, a um método<br />

educativo sistematizado e acorde com o nível cultural <strong>da</strong>s classes<br />

populares. Pode-se aduzir ain<strong>da</strong>, em prol desta limita<strong>da</strong> ação,<br />

que não existem suficientes elementos capacitados. É certo. O<br />

cooperativismo na América, em geral, recruta seus dirigentes em<br />

um limitado grupo <strong>da</strong> classe intelectual. Deixou, ademais, de<br />

atrair um elemento muito valioso que existe dentro dessas classe:<br />

o mestre, o professor. Êste abnegado servidor, pelos<br />

conhecimentos pe<strong>da</strong>gógicos que possui, é o mais indicado para<br />

desenvolver uma campanha efetiva no sentido <strong>da</strong> educação<br />

cooperativista. A participação do professor não só lhe <strong>da</strong>ria a<br />

oportuni<strong>da</strong>de para apreciar o que significam as cooperativas<br />

para melhorar sua situação economica, senão também de<br />

divulgar entre os seus educandos os princípios altruísticos que<br />

elas contêm”.<br />

AINDA A EDUCAÇÃO<br />

Eis conceitos de Antônio Sérgio:<br />

“Como definiremos uma cooperativa? Como uma emprê-<br />

sa que e ao mesmo uma associação de pessoas (e não uma<br />

mera associação de capitais, ao modo <strong>da</strong>s emprêsas capitalistas),<br />

e, além disso um lar de convivência fraterna e um foco<br />

de aperfeiçoamento intelectual e moral, tendo por objetivo o<br />

criar um novo sistema de relações sociais e fazer terminar<br />

(em grau maior ou menor) as divergências de interêsses e os<br />

antagonismos. Por isso, o primeiro desvêlo dos cooperativistas é<br />

uma obra de educação; por isso, a primeira fase <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>-<br />

ção de uma cooperativa deve ser um trabalho de esclarecimen-


FÁBIO LUZ FILHO 287<br />

to e de ação moral; por isso, as comissões culturais devem ter<br />

nas cooperativas importância como os seus cargos administra-<br />

vos; por isso será êrro enorme o encarar qualquer cooperador<br />

a sua cooperativa como um simples armazém onde compra<br />

coisas (a “comprativa”, como dizem os mais rudes em Por-<br />

tugal) e não como um centro de convivência, como o seu clu-<br />

be preferido, como a forja onde se vão forjando os mais enér-<br />

gicos militantes <strong>da</strong> reformação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, o ver<strong>da</strong>deiro “sal <strong>da</strong><br />

Terra”. O cooperativismo é ao mesmo tempo um movimento<br />

de reforma econômica que se baseia essencialmente na educa-<br />

ção e um movimento de educação <strong>da</strong>s massas que se serve <strong>da</strong>s<br />

necessi<strong>da</strong>des econômicas dos indivíduos. Pretende criar uma<br />

Humani<strong>da</strong>de nova, outorgar uma nova civilização ao Mundo.<br />

Só através do cooperativismo será possível um dia uma civi-<br />

lização cristã, de acôrdo com as normas morais do Evangelho.<br />

Bem vistas as coisas, a movimento deverá ser essencialmente<br />

moral, ou, se assim preferirem, a movimento deverá ser<br />

essencialmente religioso (no sentido larguíssimo, humanístico,<br />

filosófico, na<strong>da</strong> ritualista, transcen<strong>da</strong>lista ou sectário, de tal<br />

palavra) de uma extremi<strong>da</strong>de a outra de seu percurso”.<br />

“Na<strong>da</strong> mais perigoso, pelo meu modo de ver, do que em-<br />

cararmos as socie<strong>da</strong>des cooperativas de consumo como meros<br />

armazéns de distribuição <strong>da</strong>s coisas, semelhança <strong>da</strong>s lojas dos<br />

retalhistas, e não como centros de convivência humana<br />

(a grifo é nosso), de amizade calorosa, de “fraterni<strong>da</strong>de ope-<br />

rária”, onde se efetue a distribuição dos gêneros, claríssimo<br />

está, mas sem prejuízo de sua função social e de sua ação<br />

moral. No princípio do cooperativismo deve estar o humanis-<br />

mo, deve estar a generosi<strong>da</strong>de, a boa vontade, o amor. Ou<br />

muito me engano, ou não há êrro de piores conseqüências do<br />

que a ilusão de esperar que instituições sociais, pelo seu pró-<br />

prio funcionamento de teor mecânico, produzam automàti-<br />

camente a justiça e o bem. A justiça, antes de existir nas<br />

instituições econômicas, há-de viver no espírito de ca<strong>da</strong> um<br />

dos indivíduos, no sentimento e na inteligência <strong>da</strong>s “pedras<br />

vivas”, como idéia atuante de união entre os homens. “Está<br />

no pensamento como idéia", para lhes aplicar um verso de<br />

nosso Luis Camões. Na<strong>da</strong> de bom se poderá conseguir se<br />

não fôr por efeito do amor racional, ao calor humano <strong>da</strong>s cons-<br />

ciências fraternas, <strong>da</strong> bon<strong>da</strong>de ativa.<br />

"O ver<strong>da</strong>deiro caminho (como tem sido a nossa pregação<br />

no Brasil, há decênios), por conseguinte, está na federação de<br />

uni<strong>da</strong>des pequenas, centros morais de convivências e de<br />

cultura... . . e não na criação de uni<strong>da</strong>des graú<strong>da</strong>s, onde se


288 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

perdem o espírito de amor ao próximo e o sentido de soli<strong>da</strong>rie-<br />

<strong>da</strong>de e de convívio".<br />

“Creio que o setor de economia cooperativa se deverá<br />

manter fortemente social, convivente e humaníssimo... Por isso<br />

as comissões culturais e as comissões femininas deveriam ser<br />

órgãos de importância máxima, tendo por função, aquelas<br />

primeiras, a de manter a caráter moral-social e o objetivo re-<br />

volucionário, e, estas segun<strong>da</strong>s, o de infundir às nossas coope-<br />

rativas de consumo essa feição de lares de todos os seus<br />

associados."<br />

(“Cartas do terceiro homem”.)<br />

COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Eis trecho de uma tese apresenta<strong>da</strong> por Valdiki Moura<br />

ao II Congresso Nacional de Educação de Adultos (em 1958,<br />

no Rio): “Devo também assinalar que, enquanto as cooperati-<br />

vas escolares constituem, na França, organismos subsidiários<br />

<strong>da</strong> Escola, sob a duplo aspecto pe<strong>da</strong>gógico e econômico, entre<br />

nós têm tido finali<strong>da</strong>de limita<strong>da</strong>, porquanto, pràticamente,<br />

se restringem a manter uma cantina para abastecimento de<br />

artigos escolares e meren<strong>da</strong>s. Na França, ao contrário, são<br />

instrumentos vivos de educação, autênticos organismos de<br />

trabalho, que se dedicam a serviços de reflorestamento, ao<br />

plantio, colheita, secagem e ven<strong>da</strong> de plantas medicinais, a<br />

ativi<strong>da</strong>de recreativas e culturais (excursões educativas, co-<br />

lônias de férias, clubes filatélicos, conjuntos teatrais, esta-<br />

ções de radiotelegrafia etc.), enfim a um conjunto de ativi-<br />

<strong>da</strong>des que estimulam a desenvolvimento <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de,<br />

preparando os alunos para as tarefas pós-escolares.<br />

“Essas cooperativas são subsidiárias <strong>da</strong> Escola, porque<br />

servem como microlaboratórios vocacionais para o desenvol-<br />

vimento <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de (atenção, iniciativa, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de,<br />

aplicação de conhecimentos, práticas de negócios, mecânica<br />

administrativa, senso econômico etc.) e também como fontes<br />

complementares de recursos para o seu aparelhamento. Assim<br />

é que tem contribuido com meios financeiros para obras de<br />

restauração de dependências <strong>da</strong> escola (recentemente se coti-<br />

zaram para reconstruir, inteiramente, uma escola pública<br />

bombardea<strong>da</strong> no norte do país) e para também aparelhá-la<br />

com museus e laboratórios destinados à prática do ensino.<br />

“Parece-me, porisso, surpreendente, que a professorado<br />

de formação, no Brasil, se tenha descurado de tão eficiente


FÁBIO LUZ FILHO 289<br />

instrumento educativo, preferindo fomentar a organização<br />

de caixas escolares. Não nego a utili<strong>da</strong>de destas, porém tam-<br />

bém reconheço que são enti<strong>da</strong>des de objetivos mais limitados<br />

de cunho paternalista, e que, em vez de desenvolver, nos alu-<br />

nos, as facul<strong>da</strong>des e aptidões apoia<strong>da</strong>s no jôgo espontâneo <strong>da</strong><br />

personali<strong>da</strong>de, cria-lhes o hábito <strong>da</strong> passivi<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> espera de<br />

proteção e arrimo, como se fôssem sêres incapacitados ou<br />

irrecuperáveis.<br />

“Enquanto as cooperativas escolares se afirmam como<br />

organismos vivos e atuantes, em cujo seio os associados exer-<br />

citam o uso de tais facul<strong>da</strong>des e aptidões, as caixas escolares<br />

são organismos de estruturação vertical, dirigi<strong>da</strong>s de cima<br />

para baixo, segundo uma hierarquia de funções que não os<br />

abrange nem contempla Na cooperativa escolar os associados<br />

são autênticos empresários potenciais, possuem e dirigem uma<br />

coisa comum a todos, são as senhores de uma proprie<strong>da</strong>de co-<br />

letiva que funciona para o bem-estar geral. Na caixa escolar,<br />

os participantes são meros usuários de uma ação beneficente<br />

que se processa em cama<strong>da</strong>s mais altas, constitui<strong>da</strong>s por pés-<br />

soas estranhas à escola.<br />

“Não tenho conhecimento <strong>da</strong> ação educadora <strong>da</strong>s caixas<br />

escolares, sendo sabido que a sua atuação é paternalista, sem<br />

a preocupação de preparar o futuro ci<strong>da</strong>dão para as lutas co-<br />

tidianas. Bem sei, também, que no Brasil, as cooperativas es-<br />

colares não estão tendo essa ação educadora em profundi<strong>da</strong>de<br />

quanto aos efeitos futuros. Os alunos que saem <strong>da</strong>s escolas<br />

servi<strong>da</strong>s por cooperativas, encaminham-se a outros misteres,<br />

vão li<strong>da</strong>r com ativi<strong>da</strong>des que não aproveitam a sua expe-<br />

riência. É isso, porém, uma contingência <strong>da</strong> falta de comple-<br />

xi<strong>da</strong>de do nosso Movimento. Êle ain<strong>da</strong> é novo, pouco desen-<br />

volvido, extremamente rarefeito em um país de tamanha<br />

extensão territorial. Entretanto, quando atingir a um grau<br />

ponderável do desenvolvimento, estou certo de que os alunos<br />

egressos <strong>da</strong>s cooperativas escolares encontrarão muitas opor-<br />

tuni<strong>da</strong>des nas cooperativas de adultos, qualquer que seja a<br />

sua especiali<strong>da</strong>de.<br />

Assim acontece na França, e na Dinamarca (embora não<br />

haja neste país tantas cooperativas escolares) é sabido que as<br />

escolas primárias e secundárias rurais (sistema Grundtvig)<br />

ensinam a doutrina cooperativa, fornecendo apreciáveis con-<br />

tingentes de gerentes e diretores para as cooperativas de adul-<br />

tos. Há países que adotam a doutrina cooperativista no<br />

curriculum escolar, bastando referir a sua generalização no<br />

sistema educativo norte-americano.”<br />

10 - 27 454


200 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

O COOPERATIVISMO ESCOLAR — SEU ALCANCE<br />

E SIGNIFICAÇÃO<br />

RUTH MOURA<br />

Estu<strong>da</strong>ndo os problemas que envolvem o movimento<br />

cooperativo em nossa terra, com socie<strong>da</strong>des perfeitamente<br />

organiza<strong>da</strong>s e com apreciável aproveitamento nos negócios,<br />

mas divorcia<strong>da</strong>s do espírito roch<strong>da</strong>leano, sempre às voltas com<br />

questiúnculas internas e com suas assembléias realiza<strong>da</strong>s em<br />

terceira convocação, apenas a uma conclusão podemos che-<br />

gar — falta de educação cooperativa.<br />

Desde que nos iniciamos nas lides cooperativas, temos<br />

na desvalia de nosso mérito, porém com o coração norteando<br />

nossas modestas ativi<strong>da</strong>des nesse setor, clamado pelo desen-<br />

volvimento dos trabalhos educacionais, pedindo uma fórmula<br />

que force as enti<strong>da</strong>des a incluir em suas cartas estatutárias a<br />

obrigação de uma porcentagem destina<strong>da</strong> ao fomento ao em-<br />

sino, isto em conformi<strong>da</strong>de mesmo com a geniali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>que-<br />

les intemeratos tecelões inglêses que deixaram um rastro de<br />

luz e de esperança, mostrando-nos o caminho limpo de sarças<br />

ou de embosca<strong>da</strong>s sangrentas para a conquista de uma vi<strong>da</strong><br />

melhor e mais justa.<br />

Mas a reali<strong>da</strong>de tem sido, infelizmente, outra. Vemos so-<br />

cie<strong>da</strong>des que se constituem, homens entusiasmados reuni-<br />

rem-se em grêmios cooperativos, observando minúcias esta-<br />

tutárias, sem que ao menos uma voz se levante para sugerir<br />

melhor preparação dos cooperados, com a prática dos métodos<br />

e técnicas <strong>da</strong> educação cooperativa, pouco se importando que<br />

a sua Cooperativa tenha a existência de um meteoro ou so-<br />

breviva, apesar <strong>da</strong>s incompreensões e do desconhecimento qua-<br />

se total dos princípios que devem sustentá-la.<br />

E porque temos de curvar-nos ante a reali<strong>da</strong>de dos fatos,<br />

é que nos voltamos para o Cooperativismo Escolar, como única<br />

esperança, talvez, de que o nosso movimento cooperativista<br />

alcance, no futuro, o estado ideal do entendimento e <strong>da</strong> ver-<br />

<strong>da</strong>deira aju<strong>da</strong> mútua, sem quizilias e os arroubos de lucros<br />

imediatos que observamos amiu<strong>da</strong><strong>da</strong>mente em nossas coopera-<br />

tivas.<br />

O ensino <strong>da</strong> cooperação representou sempre uma aspira-<br />

ção dos cooperativistas e dos educadores de todo o mundo e já<br />

o ilustre e saudoso mestre Carlos Gide disse que “trabalhar em


FÁBIO LUZ FILHO 291<br />

comum é uma arte que só se aprende por uma educação<br />

constante”.<br />

“Para êsse ensino nunca será cedo demais e é justamente<br />

por isso que as escolas, <strong>da</strong>ndo às crianças os conhecimentos e<br />

os sentimentos <strong>da</strong> cooperação, estarão realizando obra de ines-<br />

timável valor, por torná-las aptas ao associativismo, à vi<strong>da</strong><br />

em comum sob o pátio sagrado <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e do bem<br />

querer”.<br />

E não será tarefa difícil para o professorado, pelo<br />

contra-rio, uma Cooperativa é uma escola — razão por que só<br />

a compreendemos quando fiel cumpridora dos postulados luzentes<br />

que inspiram e norteiam o movimento.<br />

As crianças gostam de aprender fazendo . È as cooperati-<br />

vas escolares não lhes dão essa oportuni<strong>da</strong>de esplêndi<strong>da</strong> de<br />

fazer uso de sua iniciativa e de seu espírito criador? ! Através<br />

<strong>da</strong>s cooperativas escolares não alcança a escola moderna uma<br />

<strong>da</strong>s suas finali<strong>da</strong>des basilares — a educação mediante a par-<br />

ticipação direta e ativa dos alunos?! Não criam sadios hábi-<br />

tos de fraterni<strong>da</strong>de, espírito de responsabili<strong>da</strong>de e de aju<strong>da</strong><br />

recíproca, além de robustecer na criança a confiança em si<br />

mesma, em suas responsabili<strong>da</strong>des?!<br />

Procuremos, pois, dinamizar o movimento cooperativo<br />

nas escolas, contribuindo <strong>da</strong> melhor maneira para a<br />

purificação <strong>da</strong>s nossas futuras socie<strong>da</strong>des cooperativas e<br />

oferecendo às abnega<strong>da</strong>s e nunca demasia<strong>da</strong>mente elogia<strong>da</strong>s<br />

mestras, um método prático para a aquilatação <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de<br />

e <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça de atitudes <strong>da</strong> criança, desde que nessas<br />

agremiações o aluno depara sempre com problemas<br />

ver<strong>da</strong>deiros, reias. A maneira pela qual as resolve, representa<br />

um meio bem mais eficiente do que um exame sôbre<br />

determina<strong>da</strong> matéria.<br />

Também as ativi<strong>da</strong>des exerci<strong>da</strong>s pela criança na Coope-<br />

rativa colaboram no descobrimento de sua ver<strong>da</strong>deira<br />

vocação; e se fôsse esta a única vantagem ofereci<strong>da</strong> pelas<br />

cooperativas escolares, justifica<strong>da</strong> estaria a sua criação.<br />

Tô<strong>da</strong> professôra sabe que a motivação é um dos Proces-<br />

sos mais importantes na aprendizagem. Primeiro, tem-se que<br />

despertar o interêsse para, em segui<strong>da</strong>, ensinar. Na ativi<strong>da</strong>de<br />

cooperativa o interesse inicial é de tal importância que<br />

dele<br />

depende grande parte do êxito que se poderá alcançar.<br />

Motivo por que se deve começar pela realização de uma<br />

assembléia geral, presentes todos os alunos interessados na<br />

fun<strong>da</strong>ção de uma Cooperativa, e, nesta primeira reunião, se-<br />

ria mais eficiente e prático que fôsse convi<strong>da</strong><strong>da</strong> uma pessoa<br />

mais conhecedora e experimenta<strong>da</strong> no assunto para discorrer


292 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

sôbre as cooperativas em geral, <strong>da</strong>ndo uma idéia ampla e clara<br />

do que persegue e colima o sistema cooperativista. Nessa oca-<br />

sião seria muito interessante a distribuição de folhetos ou ma-<br />

terial escrito ou a apresentação de cartazes ou fotografias<br />

alusivas ao tema.<br />

Depois, o grupo deve seguir reunindo-se periòdicamente<br />

para a discussão dos problemas comuns, o que poderá obede-<br />

cer à técnica vitoriosa dos grupos pequenos ou grupos gran-<br />

des, ou em círculos de estudo, em mesa redon<strong>da</strong>, etc., sendo<br />

importante, entretanto, que dessas discussões participem to-<br />

dos os futuros associados, <strong>da</strong>ndo-se-lhes sempre o ensejo de<br />

assumir a liderança. Aproveitar-se-á, então, uma dessas réu-<br />

niões para a escolha do tipo de cooperativa a organizar-se.<br />

Conhecendo já o grupo de alunos os princípios fun<strong>da</strong>-<br />

mentais do cooperativismo, a filosofia do movimento e esco-<br />

lhi<strong>da</strong> também a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de preferi<strong>da</strong>, designa-se um comitê<br />

organizador, que se encarregará de tô<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des de<br />

orientação e de organização até à fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Cooperativa.<br />

Os componentes dêsse comitê deverão estar sempre muito bem<br />

informados e assistidos, para que possam levar a bom têrmo<br />

suas tarefas. Com a assistência cui<strong>da</strong>dosa <strong>da</strong> mestra — que<br />

deve ser apenas a assessôra, a conselheira, não realizando,<br />

nunca, a tarefa <strong>da</strong> competência dos cooperados — prepararão<br />

um programa educativo, isto, bem se vê, conforme às condi-<br />

ções ambientes, podendo, por exemplo, apresentar dramatiza-<br />

ções ou palestras sôbre assunto cooperativo, assim como lei-<br />

turas em conjunto de livros cooperativos, seguidos de explica-<br />

ções, concursos de composição e cartazes preparados nas aulas<br />

de português ou de trabalhos manuais e de outras maneiras<br />

que a imaginação fértil <strong>da</strong> criança e a agudeza profissional <strong>da</strong><br />

professôra saberão sugerir.<br />

Quando o grupo conhecer bem o assunto, já suficiente-<br />

mente interessado, poderão ser estabelecidos planos para a<br />

fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de. Durante êste período, o trabalho de<br />

educação dos associados e dos futuros associados, não será<br />

interrompido, pois êste deverá acompanhar sempre tô<strong>da</strong>s as<br />

ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Cooperativa. Não podemos esquecer que nas<br />

cooperativas a educação tem que ser constante, antes, durante<br />

e depois de fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s.<br />

Como a cooperativa necessitará de capital para suas<br />

operações, o associado admitido deverá pagar uma jóia de<br />

admissão a ser fixa<strong>da</strong> pela assembléia geral dos associados<br />

fun<strong>da</strong>do-res, sendo ideal a subscrição de quotas-partes na base<br />

de Cr$ 10,00 ca<strong>da</strong> uma. Estas quotas-partes poderão ser<br />

integra-


FÁBIO LUZ FILHO 293<br />

liza<strong>da</strong>s de uma só vez ou em prestações mensais nunca infe-<br />

riores a Cr$ 2,00. O aluno-cooperador poderá, no entanto,<br />

subscrever quantas quotas-partes desejar, desde que o seu va-<br />

lor não ultrapasse um terço do capital <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de, fixan-<br />

do-se o mínimo na subscrição de uma quota-parte.<br />

A medi<strong>da</strong> que forem integralizando suas quotas-partes,<br />

o tesoureiro irá anotando nos Títulos Nominativos dos associa-<br />

dos; integralização que poderá ser feita assim que se tenha<br />

decidido sôbre o tipo de cooperativa a ser fun<strong>da</strong><strong>da</strong>, podendo<br />

começar — se recomendável —, mesmo no período <strong>da</strong> orga-<br />

nização.<br />

Pode-se também como meio de levantamento dos<br />

recursos iniciais necessários, aceitar donativos, como, por<br />

exemplo, <strong>da</strong>s cooperativas de adultos ou de pessoas amigas ou<br />

interessa<strong>da</strong>s no movimento cooperativo, bem como<br />

promovendo festivi<strong>da</strong>des escolares, teatrinhos, etc., etc.<br />

Para despertar e conservar vivo o entusiasmo dos peque-<br />

nos seria conveniente a confecção de cartazes demonstrando<br />

o progresso <strong>da</strong> campanha, assinalando o aumento numérico<br />

dos associados ou a importância do capital por êles subscrito,<br />

bem como cartazes outros que evidenciassem o êxito de enti-<br />

<strong>da</strong>des congêneres — o que, sem dúvi<strong>da</strong>, despertaria o desejo<br />

de amistosa competição.<br />

As cooperativas escolares funcionam <strong>da</strong> mesma forma<br />

que as de adultos, obedecendo a leis e normas, registro nos<br />

órgãos competentes, fiscalização do Poder Público, etc. Para<br />

o registro terão — como as cooperativas em geral — de re-<br />

querer, fazendo o requerimento ou os requerimentos (porque<br />

a documentação será sempre em duas vias, em virtude de se-<br />

rem registra<strong>da</strong>s no Serviço de Economia Rural do <strong>Ministério</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> e na Divisão de Assistência ao Cooperativismo<br />

<strong>da</strong> Secretaria de <strong>Agricultura</strong>), acompanhados de cópias dos<br />

atos constitutivos, dos estatutos, <strong>da</strong>s listas nominativas ou re-<br />

lação dos associados, estas com declaração de i<strong>da</strong>de, nacio-<br />

nali<strong>da</strong>de e número de quotas-partes que ca<strong>da</strong> um subscreve;<br />

todos os documentos autenticados pela diretoria do estabeleci-<br />

mento de ensino.<br />

Têm as cooperativas escolares a sua diretoria, geralmen-<br />

te composta de cinco membros, eleitos de acôrdo com o que<br />

determinam os Estatutos <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de: presidente, secreta-<br />

rio, tesoureiro; primeiro e segundo gerentes, que deverão estar<br />

sempre sob a orientação <strong>da</strong> professôra designa<strong>da</strong> para esse<br />

fim. Possuem, também, o seu Conselho Fiscal com respecti-<br />

vos suplentes, todos eleitos pela Assembléia Geral dos associa-


294 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

dos, eleição que poderá ser realiza<strong>da</strong> por escrutínio secreto ou<br />

pelo sistema <strong>da</strong> aclamação.<br />

As cooperativas escolares, entretanto, não teem persona-<br />

li<strong>da</strong>de jurídica, desde que a seu objetivo primordial é a de in-<br />

culcar nos estu<strong>da</strong>ntes, na geração nova, a idéia do cooperati-<br />

vismo, educando-os e ministrando-lhes os conhecimentos pra-<br />

ticos <strong>da</strong> organização e do funcionamento de determina<strong>da</strong><br />

mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de cooperativa, agindo acessòriamente quanto às<br />

vanta-gens econômicas advin<strong>da</strong>s <strong>da</strong> associação.<br />

Professôras, concorrendo para que se organizem coope-<br />

rativas em suas uni<strong>da</strong>des escolares, vós tô<strong>da</strong>s que formais<br />

essa grande e nobre classe, que é o professorado fluminense,<br />

estareis colaborando, de maneira a mais eficiente e patriótica,<br />

para o progresso do movimento cooperativo do nosso Estado e<br />

<strong>da</strong> nossa Pátria.<br />

Estareis colaborando para que, no futuro, melhor sejam<br />

organiza<strong>da</strong>s nossas fôrças econômicas e para que os postula-<br />

dos de Roch<strong>da</strong>le não sejam postergados pelas improvisações<br />

de socie<strong>da</strong>des cooperativas, pois os vossos pequenos alunos de<br />

hoje serão amanhã, pelos ensinamentos recebidos, defenso-<br />

res <strong>da</strong> sua pureza e <strong>da</strong> sua intangibili<strong>da</strong>de.”<br />

COOPERATIVISMO ESCOLAR<br />

Eis mais alguns conceitos de Profit:<br />

“Não pode haver melhor base para a educação moral do<br />

que a educação intelectual, compreendi<strong>da</strong> desta maneira: a<br />

ação pessoal como treinamento para a reflexão. Uma coope-<br />

rativa escolar pode fazer melhor ain<strong>da</strong>, realizando a união,<br />

para a educação coletiva de seus aderentes. Entre alunos su-<br />

bordinados e um mestre que tudo dirige e sempre coman<strong>da</strong>,<br />

existe, muitas vêzes, sob uma ordem aparente, um profundo<br />

desacôrdo. Os melhores mestres conhecem as dificul<strong>da</strong>des<br />

que os jovens alunos, mantidos sob rédeas, durante muito<br />

tempo, encontram ao se emanciparem, ao saírem <strong>da</strong> escola. A<br />

preocupação de associar os meninos à disciplina, por vêzes<br />

aconselha a designar, dentre êles, um fiscal geral e a dividir<br />

os serviços por ordem de rodízio. Não é isso, ain<strong>da</strong>, que poderá<br />

melhorar a situação. A disciplina deve ser interior mais do que<br />

exterior. Com seus funcionários eleitos e pelo seu próprio es-<br />

pírito, a cooperativa escolar revelou-se, pelo seu uso, como a<br />

melhor organização. Na cooperativa nasce e cresce uma cons-<br />

ciência coletiva em que, melhor do que todos os discursos dos


FÁBIO LUZ FILHO 295<br />

mestres, melhor do que tô<strong>da</strong>s as injunções de seus delegados<br />

ou dos delegados designados por rodízio, a criança encontrará<br />

os esclarecimentos e os impulsos de que necessita, as recom-<br />

pensas e as punições que sua conduta tenha merecido. Aliás,<br />

esta consciência coletiva poderá formular sua lei; os coopera-<br />

dores podem estabelecer regulamentos, criar tradições. Êsses<br />

regulamentos e essas tradições terão muito mais possibili<strong>da</strong>-<br />

des de ser respeitados e seguidos do que se fôssem impostos,<br />

pois que são deliberados e aceitos, e, na sua execução, todos<br />

se sentem solidários e pessoalmente interessados pelo bem<br />

aspirado pelo grupo e responsáveis diante dos associados.<br />

........ ..................... ...................... ............... .............................<br />

........ ..................... ...................... ............... ............................<br />

"O presidente havia simplesmente transportado para a<br />

comuni<strong>da</strong>de os hábitos de ordem, de ativi<strong>da</strong>des, de devotamen-<br />

to, criados pela prática dos princípios cooperativistas.<br />

“Parece, então, que a cooperativa escolar, a princípio<br />

simples agrupamento criado para proporcionar recursos à<br />

escola, se tenha tornado, em segui<strong>da</strong>, uma organização seletiva<br />

para a educação soli<strong>da</strong>rista <strong>da</strong> criança. A Cooperativa pode<br />

transformar o ambiente <strong>da</strong> escola e renovar a concepção <strong>da</strong><br />

proprie<strong>da</strong>de, do trabalho, <strong>da</strong> disciplina; ali, onde só havia in-<br />

dividualismos isolados, barulhentos e hostis, a cooperativa<br />

criou um meio social onde as dificul<strong>da</strong>des se atenuam diante<br />

<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de, enfim compreendi<strong>da</strong>, de se aju<strong>da</strong>rem uns aos<br />

outros, um meio onde uma disciplina liberal e espontânea se<br />

instaure sôbre a base <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e do bem comum”.<br />

Eis alguns dispositivos de estatutos preconizados por<br />

Profit:<br />

“Art. 2—A Cooperativa escolar tem como fins<br />

principais:<br />

1.º — Difundir entre seus membros, e em volta dela, o<br />

gôsto <strong>da</strong> instrução prática, do trabalho inteligente, sadias dis-<br />

trações, a aju<strong>da</strong> e a concórdia social;<br />

2.º — Orientar seus associados no sentido de uma ins-<br />

trução que, pelo emprêgo de métodos de observação direta,<br />

vise menos à aquisição duma bagagem de conhecimentos do<br />

que à criação de bons hábitos espirituais, a descoberta do<br />

interêsse que proporcionam as coisas próximas ao despertar<br />

a iniciativa individual e a desenvolvimento duma ativi<strong>da</strong>de<br />

consciente e livre;<br />

3.º — Fazer conhecer e amar o meio onde se vive, a pe-<br />

quena pátria que é a comuna, pela observação e o estudo em


296 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

comum de seus diversos aspectos, de sua história, de seus<br />

recursos e de suas possibili<strong>da</strong>des;<br />

4.º — Desenvolver entre os associados os sentimentos de<br />

estima recíproca, a idéia de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e a prática <strong>da</strong><br />

cooperação, instituindo a vi<strong>da</strong> coletiva <strong>da</strong> Escola;<br />

5.º — Fazer conhecer e amar a Escola, instituir os seus<br />

patronos e os dos alunos, pelo concurso de todos aquêles, pa-<br />

rentes e amigos, que sejam capazes de se interessar pelo pro-<br />

gresso <strong>da</strong> instrução popular e pelo futuro <strong>da</strong>s crianças.<br />

“Para atingir a êsses fins, a cooperativa se proporá:<br />

“A) Colocar disposição <strong>da</strong> Escola importância regular<br />

para a aquisição e instalação de aparelhamento necessário<br />

ao ensino racional de noções elementares de ciência, e, em geral,<br />

ao ensino concreto de tô<strong>da</strong>s as matérias (Museu Escolar,<br />

material experimental, coleção de objetos, imagens, desenhos,<br />

documentos, lanternas de projeção fixa, cinema, utensílios,<br />

aparelhos e instalações diversas).<br />

“b) — Familiarizar as alunos com a prática <strong>da</strong> cooperação<br />

aplica<strong>da</strong> ao enriquecimento do material escolar, donativos,<br />

coletas, fabricação de aparelhos simples, o estabelecimento de<br />

trabalhos documentários (monografia comunal, lista perió-<br />

dica do preço <strong>da</strong>s coisas e dos produtos agrícolas, imagens<br />

aumenta<strong>da</strong>s, silhuetas e croquis explicativos em grande esca-<br />

la, apresentação coletiva <strong>da</strong>s coisas observa<strong>da</strong>s, etc.), organi-<br />

zação de passeios escolares (visitas as fazen<strong>da</strong>s, granjas, re- giões<br />

agrícolas e monumentos interessantes, etc.), exposições de<br />

trabalhos manuais e domésticos, cursos, palestras conferências,<br />

saraus recretativos, etc. Objetiva também a manutenção <strong>da</strong> boa<br />

ordem <strong>da</strong> escola, com consentimento do mestre e sob sua direção,<br />

através de certos serviços e cui<strong>da</strong>dos que interessam a todos os<br />

alunos (freqüência escolar, exatidão, ordem e asseio na classe,<br />

nos pátios, no interior, limpeza corporal, bom comportamento na<br />

rua, sala areja<strong>da</strong>, etc.) e pela re<strong>da</strong>ção dum regulamento geral<br />

e de regulamento especiais, se fôr o caso.<br />

“c) — Aplicar praticamente as noções adquiri<strong>da</strong>s, prin-<br />

cipalmente de higiene, no lar, na agricultura, no estudo pro-<br />

fissional e nos trabalhos manuais (instalação e manutenção<br />

de um pôsto de saúde, criação de um lugar próprio para vivei-<br />

ros, cui<strong>da</strong>r do jardim, arborização <strong>da</strong> escola, cultivo de horta-<br />

liças, legumes, flores, plantas medicinais, etc.) e fazê-los servir à<br />

prosperi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> comuna: proteção <strong>da</strong>s árvores, dos pássaros,<br />

dos animais úteis; destruição dos animais nocivos, besouros,<br />

(pragas); distribuição de sementes ou de mu<strong>da</strong>s de


FÁBIO LUZ FILHO 297<br />

plantas pouco conheci<strong>da</strong>s, embora úteis; divulgação de recei-<br />

tas agrícolas ou caseiras, distribuição de trabalhos sôbre higie-<br />

ne, anti-alcoolismo, etc.<br />

d) — Aju<strong>da</strong>r seus associados a continuarem a se instruir,<br />

ensinando-os a falar, a manter uma palestra eleva<strong>da</strong>, a sus-<br />

tentar uma discussão, a defender sua opinião ou, ao contrário,<br />

a se dobrar diante do fatos consumados, a ler um trabalho, um<br />

jornal agrícola, revistas domésticas, trabalhos de ciência apli-<br />

ca<strong>da</strong>, etc.).<br />

e) — Organizar em seu proveito, anualmente, sempre<br />

que possível, e <strong>da</strong> maneira que mais agra<strong>da</strong>r aos associados<br />

(concursos de tiro, quermesses esportivas, vesperais ou saraus<br />

teatrais, etc.) a festa <strong>da</strong> Infância e <strong>da</strong> Moci<strong>da</strong>de.<br />

Outros fins a seguir poderiam ser propostos à ativi<strong>da</strong>de<br />

dos associados.<br />

(Tradução de Maria Isabel Veloso Nóbrega de Siqueira).<br />

EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO COOPERATIVAS NA FRANÇA<br />

—<br />

AS COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

O desenvolvimento do cooperativismo escolar na França<br />

atingiu um nível particularmente elevado.<br />

Assim é que, em fins de 1955, existiam mais de 19. 192<br />

cooperativas escolares filia<strong>da</strong>s ao Escritório Central <strong>da</strong> Coope-<br />

ração na Escola. Essas cooperativas são integra<strong>da</strong>s por 722.948<br />

alunos, pertencentes ao ensino primário 23.195, no ensino se-<br />

cundário, e 26.051, ao ensino técnico. Considerando-se que<br />

nem tô<strong>da</strong>s as cooperativas escolares são associa<strong>da</strong>s do Escri-<br />

tório em questão, pode-se estimar em, aproxima<strong>da</strong>mente,<br />

900.000 o número total dos pequenos cooperadores. Esse<br />

número demonstra, pela quanti<strong>da</strong>de considerável dos escola-<br />

res inscritos nas cooperativas, a esperança que os mestres e os<br />

professôres depositam nesse método de ensino.<br />

(Em 1958, dizemos, o quadro já era outro, como vimos).<br />

HISTÓRICO<br />

As cooperativas escolares nasceram como um imperativo<br />

<strong>da</strong>s preocupações pecuniárias e <strong>da</strong>s preocupações educacio-<br />

nais, estas superando as primeiras. Podem ser encontra<strong>da</strong>s<br />

suas raízes nas socie<strong>da</strong>des mutualistas escolares. Para os alu-<br />

nos necessitados poderem pagar as cotas devi<strong>da</strong>s a essas so-


298 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

cie<strong>da</strong>des, os diretores tiveram a idéia do pagamento ser feito<br />

por meio de trabalhos em comum (criação de animais domes-<br />

ticos, reflorestamento, plantação, etc.), que êles executavam<br />

grupados em pequenas associações. Assim foram cria<strong>da</strong>s, so-<br />

bretudo no leste <strong>da</strong> França, pequenas cooperativas de produ-<br />

ção escolar.<br />

As ver<strong>da</strong>deiras cooperativas escolares, na sua forma<br />

atual, são de origem mais recente. Datam dos anos que se<br />

seguiram à primeira guerra mundial, no momento em que a<br />

reconstituição e a modernização do equipamento escolar se<br />

constituíram num grave problema a que as municipali<strong>da</strong>des<br />

estavam impôssibilita<strong>da</strong>s de resolver. Alguns professôres<br />

imaginaram, então, para obterem recursos necessários —<br />

utilizar o trabalho dos alunos grupados em pequenas<br />

socie<strong>da</strong>des, chama<strong>da</strong>s “cooperativas escolares” e dirigi<strong>da</strong>s por<br />

êles próprios.<br />

Logo, porém, a simples procura de proveitos materiais,<br />

por legitima que fôsse, em vista <strong>da</strong>s condições para os quais<br />

êsses proveitos eram realizados e utilizados, deixou de ser o<br />

objetivo essencial <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des. O interêsse educativo que<br />

apresentava o desenvolvimento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des e o espírito<br />

cooperativo nos meios <strong>da</strong>s crianças, passou para o primeiro<br />

plano e transformou a organização cooperativista escolar num<br />

método de educação moral, social e cívica dos alunos.”<br />

NATUREZA E ESTATUTO JURÍDICO<br />

(Escritório Central <strong>da</strong> Cooperação na Escola)<br />

“As cooperativas escolares são socie<strong>da</strong>des de alunos,<br />

dirigi<strong>da</strong>s por êles mesmos, com o concurso dos professôres,<br />

visando-se a ativi<strong>da</strong>des comuns”. Esta definição, estabeleci<strong>da</strong><br />

pelo Congresso Anual do Escritório Central <strong>da</strong> Cooperação na<br />

Escola, realiza<strong>da</strong> em Tours, no ano de 1948, separa de<br />

maneira clara os dois caracteres essenciais <strong>da</strong>s cooperativas<br />

escolares: o agrupamento dos alunos numa socie<strong>da</strong>de e o<br />

trabalho em comum.<br />

Do mesmo modo que o agrupamento de menores, consti-<br />

tuído sob a regimento <strong>da</strong> lei de 1.° de julho de 1901, as coope-<br />

rativas escolares não possuem personali<strong>da</strong>de jurídica. Elas se<br />

constituem sem autorização prévia. Ca<strong>da</strong> uma delas existe<br />

como secção local, filia<strong>da</strong> ao Escritório Central <strong>da</strong> Cooperação<br />

na Escola, que é uma associação que possui personali<strong>da</strong>de ju-<br />

rídica.


FÁBIO LUZ FILHO 299<br />

Essa instituição, cria<strong>da</strong> em 1928, reune membros dos<br />

cor-pos docente e discente <strong>da</strong>s escolas públicas. É uma organi-<br />

zação autônoma e priva<strong>da</strong>, mas desfruta do apoio do Minis-<br />

tério <strong>da</strong> Educação.<br />

Albert Thomas, o 1.° diretor <strong>da</strong> B.I.T., foi, com Charles<br />

Gide e Ferdinand Buisson, o fun<strong>da</strong>dor.<br />

O Escritório se subdivide em seções departamentais (em<br />

número de 80 mais ou menos) e em seções locais (cooperati-<br />

vas escolares) às quais o Escritório confere a capaci<strong>da</strong>de legal<br />

de que êle mesmo goza.<br />

FUNCIONAMENTO E ATIVIDADES<br />

As cooperativas escolares na<strong>da</strong> têm de comum com as<br />

numerosas associações escolares que funcionam, na França,<br />

com finali<strong>da</strong>des de aju<strong>da</strong> mútua e de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de. Nestas<br />

últimas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des, a criança participa ùnicamente pelo pa-<br />

gamento regular de suas cotas-partes, enquanto que, nas<br />

cooperativas escolares, ela toma parte ativa na administração.<br />

Os alunos decidem <strong>da</strong> constituição de sua cooperativa e<br />

elaboram o regulamento interno, inspirando-se nos estatutos<br />

modelos fornecidos pelo Escritório Central. Procedem à elei-<br />

ção <strong>da</strong> Diretoria <strong>da</strong> Cooperativa, que se compõe, em geral, de<br />

um presidente, um secretário e um tesoureiro. Os alunos se<br />

reunem periòdicamente (ca<strong>da</strong> semana, todos as meses ou 2<br />

vêzes por mês, conforme as necessi<strong>da</strong>des) para discutirem os<br />

relátórios <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des e a contabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e to-<br />

mar em comum as decisões que se fizerem necessárias. Êsses<br />

relatórios lhes são apresentados, regularmente, pelo presiden-<br />

te e pelo tesoureiro <strong>da</strong> cooperativa.<br />

A administração <strong>da</strong> cooperativa escolar recai, pois, essencialmente,<br />

nos alunos. Êles têm a responsabili<strong>da</strong>de e, conforme a<br />

sua i<strong>da</strong>de, sua formação e sua evolução, essa responsabili<strong>da</strong>de<br />

pode ser total. Os mestres, os professôres ou aos diretores dos<br />

estabelecimentos são, bem entendido, os conselheiros e os guias<br />

naturais dos jovens cooperadores.<br />

As cooperativas escolares exercem as mais diversas ati-<br />

vi<strong>da</strong>des. Algumas dentre elas têm a escola como objetivo dire-<br />

to: decorações dos muros, disposição <strong>da</strong>s flores e <strong>da</strong>s plantas<br />

trepadeiras; enriquecimento do museu escolar; construção de<br />

material didático simples; pesquisas, documentário, monogra-<br />

fias locais, etc.


300 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Outras ativi<strong>da</strong>des devem produzir as receitas: pequena<br />

criação (coelhos, abelhas), ven<strong>da</strong> de legumes ou de flores<br />

cultiva<strong>da</strong>s em comum, plantas medicinais, frutas silvestres,<br />

papel e ferro velho, trapos, objetos fabricados (brinquedinhos,<br />

jogos de madeira recorta<strong>da</strong>, trabalhos de emolduramento, ar-<br />

tigos em vime, rafia ou em lã, artigos para recem-nascidos,<br />

bor<strong>da</strong>dos) organização de festas pagas, etc.<br />

Enfim, uma ativi<strong>da</strong>de típica, que merece menção parti-<br />

cular, é a re<strong>da</strong>ção e impressão do jornal <strong>da</strong> cooperativa: esco-<br />

lha de artigos, postos a limpo; ilustração; composição e tira-<br />

gem produzi<strong>da</strong>s por equipes; distribuição e remessa com a<br />

participação de todos.<br />

No fim do ano escolar 1952-1953, as cooperativas escola-<br />

res francesas conseguiram uma receita no total de 254.493.000<br />

francos contra 133 milhões em 1951-1952.<br />

Eis alguns exemplos dessas receitas:<br />

Colheitas de plantas medicinais .......... 3,816.000 francos<br />

Jardinagem ................... .... ........ .... 2.895.000 “<br />

Edição do Jornal <strong>da</strong> Cooperativa ......... 3.929.000 “<br />

Ativi<strong>da</strong>des dramáticas ................... .... 19.000.000 “<br />

Essas receitas nunca são dividi<strong>da</strong>s entre os<br />

cooperadores.<br />

Segundo o objetivo estabelecido pelo Congresso de<br />

Tours, realizado em 1948 (de que já falamos) foi determinado<br />

às cooperativas escolares: “os frutos dos trabalhos em comum<br />

são empregados no embelezamento <strong>da</strong> escola, melhoramento<br />

<strong>da</strong>s condições de trabalho, organização <strong>da</strong> cultura artística e<br />

<strong>da</strong>s férias dos associados, ao desenvolvimento <strong>da</strong>s obras esco-<br />

lares e pós-escolares de aju<strong>da</strong>-mútua e de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de”.<br />

Não há, pois, jamais, proveitos individuais diretos, quer<br />

dizer, de retôrno, ou mesmo simplesmente um salário cor-<br />

respondente ao trabalho realizado.<br />

O total <strong>da</strong>s despesas para o referido ano elevou-se a 220<br />

milhões de francos, cujos 50,5 milhões foram consagrados à<br />

compra de aparelhos de projeção, de material de imprimir e<br />

material de ensino; 75 milhões para viagens e excursões edu-<br />

cativas, 23 milhões para obras de aju<strong>da</strong>-mútua e de sóli<strong>da</strong>-<br />

rie<strong>da</strong>de, seja três vêzes as somas dispendi<strong>da</strong>s nesse mesmo<br />

pôsto o ano passado.<br />

(De “Informations coopératives” — Tradução de<br />

Maria Isabel V. Nóbrega de Siqueira)


FÁBIO LUZ FILHO 301<br />

O EXEMPLO DA FORMIGA<br />

Já alguma vez reparaste em um grupo de formigas, car-<br />

regando um inseto muito grande? Estou certo de que sim,<br />

porque és um menino observador. E quantas vêzes perguntas-<br />

te a ti mesmo como insetos tão pequenos podem carregar<br />

carga tão pesa<strong>da</strong>? É que as formigas conhecem um segrêdo:<br />

o segrêdo <strong>da</strong> cooperação. E que é a cooperação? E trabalhar-<br />

mos em comum para realizarmos tarefa em proveito de todos.<br />

Terás ouvido dizer que a união faz a fôrça. Isto é uma grande<br />

ver<strong>da</strong>de. Tu e teus companheiros podem realizar grandes coi-<br />

sas pela conjugação dos esforços. Organizando uma coopera-<br />

tiva escolar, poderão resolver muitos problemas e aprender<br />

coisas úteis.<br />

Se as formigas, as abelhas e outros animais resolvem<br />

seus problemas cooperativamente, por que não segues tu o exem-<br />

plo?<br />

E que é uma cooperativa? É uma socie<strong>da</strong>de forma<strong>da</strong> por<br />

um grupo de pessoas — adultos ou crianças — com a finali<strong>da</strong>-<br />

de de facilitarem a si mesmos certos serviços necessários à<br />

vi<strong>da</strong>. Se a cooperativa é organiza<strong>da</strong> por crianças, chama-se<br />

uma cooperativa escolar.<br />

Quais são os grupos de crianças que podem organizar<br />

uma cooperativa escolar?<br />

As cooperativas podem ser estabeleci<strong>da</strong>s com êxito por<br />

escolares que tenham bastante interêsse nesta ativi<strong>da</strong>de.<br />

Que serviços presta uma cooperativa organiza<strong>da</strong> por<br />

crianças?<br />

— CONSUMO: loja para vender artigos escolares, refrescos,<br />

doces, presentes, artigos de armarinho. As próprias<br />

crianças devem selecionar os artigos para vender de acordo<br />

com suas necessi<strong>da</strong>des.<br />

B — RECREAÇÃO: com finali<strong>da</strong>de de planejar<br />

passeios, jogos de salão ao ar livre, excursões e outras<br />

ativi<strong>da</strong>des.<br />

C — PRODUÇÃO: Associação para a produção de arti-<br />

gos para a ven<strong>da</strong>. Todo o benefício de cooperativa será em-<br />

pregado na compra de qualquer coisa de interêsse geral: uma<br />

máquina de cinema, material de esporte, etc.<br />

Como se organiza uma cooperativa escolar?<br />

Três fatôres asseguram o êxito de uma cooperativa: edu-<br />

cação, educação e educação. Se o grupo está interessado e


302 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

bem orientado, a cooperativa terá êxito. Deve-se realizar uma<br />

reunião geral de tô<strong>da</strong>s as crianças interessa<strong>da</strong>s. Nessa reunião<br />

será exposto, de maneira acessível, o que é uma cooperativa,<br />

que vantagens oferece e como funciona; se possível, exibir-se-á<br />

um filme sôbre cooperativismo, mostrar-se-ão cartazes e dis-<br />

tribuir-se-ão folhetos de informação. É importantissimo que<br />

ca<strong>da</strong> menino tenha a oportuni<strong>da</strong>de de fazer perguntas e<br />

comentários e esclarecer assim suas dúvi<strong>da</strong>s.<br />

Estas reuniões devem ser periódicas, realizando desta<br />

forma uma preparação do meio.<br />

Nestas reuniões ficará decidido o tipo de cooperativa que<br />

desejam fun<strong>da</strong>r, e o valor <strong>da</strong>s quotas-partes. É eleita uma co-<br />

missão organizadora, que se encarregará de levar a bom ter-<br />

mo o trabalho de organização de estatutos, etc. Êstes do-<br />

cumentos devem ser submetidos à apreciação dos associados,<br />

para aprovação final.<br />

Como se levanta o capital necessário?<br />

Todo negócio necessita de capital para funcionar. Uma<br />

cooperativa é um negócio embora sem fins de lucros; logo ne-<br />

cessita de capital, que deve ser formado pelos próprios associa-<br />

dos. Ca<strong>da</strong> criança fará a entrega ao tesoureiro de pequenas<br />

quantias, de 1 cruzeiro para cima. Assim, economia sôbre<br />

economia, cruzeiros sôbre cruzeiros, a cooperativa terá capital<br />

suficiente para iniciar o negócio.<br />

Quem dirige a cooperativa escolar?<br />

A cooperativa é dos associados. São êles que decidem co-<br />

mo ela vai funcionar. Esta direção é feita através do voto —<br />

ca<strong>da</strong> associado tem direito a um voto, não importa o capital<br />

que tenha na cooperativa.<br />

Como nem todos os associados podem dirigir uma cooperativa,<br />

êles mesmo nomeiam um Conselho de<br />

Administração, que representa a enti<strong>da</strong>de e dirige os seus<br />

negócios. Ao fim de ca<strong>da</strong> ano, êste órgão prestará contas de<br />

seus atos.<br />

(A<strong>da</strong>ptação de um folheto do Serviço de Extensão Agrí-<br />

cola de Pôrto Rico, por Maria Tereza Teixeira Mendes Lan-<br />

glois).<br />

N.B. — Vejam-se também os trabalhos de Nair de Andrade,<br />

Isabel de Camargo Schützer, Cécilia Cunha, Nair<br />

Ortiz, Flor González Padrino (Venezuela), etc. (Ver nota final).


FÁBIO LUZ FILHO 303<br />

A COOPERATIVA ESCOLAR<br />

“A Cooperativa escolar passa a ser um centro ao redor<br />

do qual se ordenam, se desenvolvem e condensam os conhe-<br />

cimentos adquiridos em classe. É também uma aplicação e<br />

um recapitulação do já aprendido.<br />

A cooperativa observa todos os aspectos dos métodos ati-<br />

vos. Requer uma atenção permanente, graças à qual a criança<br />

chega a constituir — para o professor — um colaborador<br />

ativo.<br />

A Cooperativa não se apóia em fatos imaginários, mas<br />

vivos, e reais: relatórios, prestação de contas verbais, apre-<br />

sentação de balanços e balancetes, desenhos e trabalhos ma-<br />

nuais que têm uma finali<strong>da</strong>de prática, contabili<strong>da</strong>de, etc.<br />

A Cooperativa objetiva a personali<strong>da</strong>de integral do esco-<br />

lar e pode alcançar êxito ao pôr em evidência e em ação, na<br />

alma <strong>da</strong> criança, fôrças que sem ela permaneceriam ignora<strong>da</strong>s<br />

e ensimesma<strong>da</strong>s.<br />

Ain<strong>da</strong> pode revelar aos interessados, a seus companhei-<br />

ros, a seus professôres: entusiasmo, reservas, devoção e habi-<br />

li<strong>da</strong>des que as ativi<strong>da</strong>des puramente escolares não fariam<br />

nem despertar nem conhecer, as quais, uma vez expostas, pó-<br />

dem servir de ponto de apoio para o instrutor.<br />

A administração de seu pequeno grupo representa, para<br />

as crianças, a oportuni<strong>da</strong>de de se instituírem sôbre muitas ma-<br />

térias que não constam dos programas escolares. Freqüente-<br />

mente sôbre as relações epistolares com os fornecedores e os<br />

fregueses <strong>da</strong> cooperativa. Familiarizam-se com os efeitos co-<br />

merciais e aprendem pequenas operações de contabili<strong>da</strong>de<br />

elementar. Habituam-se a falar perante seus companheiros, e<br />

nas dicussões, a argumentar, fazendo valer suas opiniões, a<br />

saberem calar-se e escutar.<br />

A Cooperativa estabelece uma soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de manifesta<br />

entre os alunos e os ex-alunos, fazendo nascer entre os jovens<br />

— que colhem o que seu antecessores semearam — um sen-<br />

timento de gratidão e uma forma de espírito de emulação<br />

para deixar, por sua vez, sinais de sua passagem pela escola.<br />

Entre esta e as famílias, que são freqüentemente convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

para que tomem conhecimento <strong>da</strong> obra realiza<strong>da</strong> pela crian-<br />

ças. Por suas contínuas visitas e por sua participação nos atos<br />

<strong>da</strong> cooperativa, os pais se aproximam e se vinculam à grande<br />

família <strong>da</strong> escola laica, cujo círculo ampliam estreitamente<br />

sem laços entre si.<br />

— Por que se fun<strong>da</strong> uma Cooperativa Escolar?


304 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

— Por que se deseja que a escola seja mais bela, acolhe-<br />

dora e alegre, se enriqueça com um material de ensino mais<br />

abun<strong>da</strong>nte e sempre renovado; viva um ambiente feliz; che-<br />

gue a ser um modêlo de limpeza e conservação. Porque se de-<br />

seja desenvolver entre os alunos: seu espírito de observação;<br />

sua responsabili<strong>da</strong>de como dirigentes e organizadores; seu<br />

sem-tido <strong>da</strong> disciplina e do trabalho em equipe; as relações<br />

entre a escola e os habitantes <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de; as relações <strong>da</strong><br />

escola com as outras escolas.<br />

— Como se cria o interêsse pelo cooperativismo na<br />

escola?<br />

Cria-se no espírito <strong>da</strong>s famílias e <strong>da</strong> população, explican-<br />

do a todos o que se pretende fazer: as aulas mais agradáveis,<br />

o ensino mais eficiente. Cria-se no espírito <strong>da</strong>s crianças, es-<br />

forçando-se por despertar nestas o desejo e a necessi<strong>da</strong>de de<br />

uma cooperativa."<br />

(De “Cooperativas". , <strong>da</strong> União Pan-Americana).<br />

DEFINIÇÃO, CARÁTER E VALOR DAS COOPERATIVAS<br />

ESCOLARES<br />

Dentro <strong>da</strong>s diretrizes pe<strong>da</strong>gógicas do cooperativismo es-<br />

colar francês, H. Charlot, vice-presidente do Office Central de<br />

la Coopération à l'Ecole, de Paris, acentuou, em outubro<br />

de 1957, em (“Revue de la cooperátion scolaire”) que o Com-<br />

gresso de Tours, em 1948, assim definiu o cooperativismo es-<br />

colar:<br />

“No ensino público, as cooperativas escolares são socie-<br />

<strong>da</strong>des de alunos dirigi<strong>da</strong>s por êles mesmos com o concurso<br />

dos professôres, tendo em vista ativi<strong>da</strong>des comuns. (É a de-<br />

finição justa <strong>da</strong> lei brasileira).<br />

“Inspira<strong>da</strong>s por um ideal de progresso humano, tem elas<br />

por fim a educação moral, cívica, intelectual dos cooperado-<br />

res, pela gestão de socie<strong>da</strong>des e o trabalho de seus membros.<br />

“Os frutos do trabalho comum são destinados ao<br />

embelezamento <strong>da</strong> Escola, ao melhoramento <strong>da</strong>s condições de<br />

trabalho, à organização <strong>da</strong> cultura artística, a jogos dos<br />

associados, ao desenvolvimento de obras escolares, e pós-<br />

escolares de aju<strong>da</strong> mútua e de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de”.


FÁBIO LUZ FILHO 305<br />

Vê-se, acrescenta Charlot, que a Cooperativa Escolar é<br />

um agrupamento de iniciação à vi<strong>da</strong> prática e social, cujos<br />

benefícios são sempre utilizados para fins coletivos.<br />

É um agrupamento no qual os associados são,<br />

incessante-mente, chamados a pequenos sacrifícios em favor <strong>da</strong><br />

obra e em favor de seus co-associados.<br />

É um agrupamento no qual os associados são, incessan-<br />

temente, convi<strong>da</strong>dos a ação e ao trabalho.<br />

É um grupo de crianças que, sob a égide de seu<br />

professor, trabalham êles mesmos no sentido de melhorar o<br />

meio moral e o meio material que condicionou a sua ação.<br />

CARÁTER<br />

“E, a cooperativa escolar, um método de educação ativa<br />

capaz de:<br />

a) — formar a vontade <strong>da</strong> criança;<br />

b) — dirigir seus hábitos;<br />

c) — ensiná-la a usar sua liber<strong>da</strong>de;<br />

d) — criar a vontade coletiva.<br />

1.º — Valor material.<br />

VALOR<br />

Pela Cooperativa escolar a Escola se transforma<br />

progres-sivamente: não é mais a casa triste, sombria, poenta e,<br />

às vêzes, feia, na qual a criança entra apreensiva, com uma<br />

fi-sionomia carrancu<strong>da</strong> e aborreci<strong>da</strong>. Graças à Cooperativa<br />

Es- colar, ela se torna alegre, clara, limpa e bonita. Nela a<br />

criança entra espontâneamente, nela se encontra à vontade.<br />

Nela to- dos o acolhem sorridentes, nela tudo o atrai com<br />

insistência.<br />

2.º — Valor moral.<br />

Entre os cooperadores aparecem quali<strong>da</strong>des morais que,<br />

sem a Cooperative, nunca teriam sido solicita<strong>da</strong>s nem desen-<br />

volvi<strong>da</strong>s, pois:<br />

a) seu espírito de pesquisador, de observador e de cria-<br />

dor se aguça na ocasião <strong>da</strong> aplicação e do cui<strong>da</strong>do que põe na<br />

feitura de pequenos aparelhos destinados à ven<strong>da</strong>, à tômbo-<br />

las ou ao ensino concreto;<br />

20 — 27 454


306 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

b) seu pendor para o trabalho bem feito se manifesta<br />

mediante realizações bem sucedi<strong>da</strong>s e muitas vêzes, graciosas,<br />

dos quais conservará a impressão quando, mais tarde, fôr ope-<br />

rário ou artífice;<br />

c) seu sentido do trabalho em equipe se consegue auto-<br />

màticamente, porque a criança não trabalha só em seu canto.<br />

Fazendo parte dum grupo ativo, compreenderá ràpi<strong>da</strong>mente<br />

que a aju<strong>da</strong> mútua, na execução duma tarefa determina<strong>da</strong>,<br />

leva sempre à perfeição e à rapidez na realização dessa tarefa;<br />

d) sua responsabili<strong>da</strong>de de dirigente e de organizador é<br />

vivamente solicita<strong>da</strong> porque, tornado chefe de grupo, saberá<br />

assumir responsabili<strong>da</strong>des disso decorrentes, e saberá tomar<br />

decisões, que fará em segui<strong>da</strong> executar com autori<strong>da</strong>de o<br />

bom-humor;<br />

e) sua vontade se afirma, porque, para levar a bom ter-<br />

mo uma tarefa as vêzes penosa, e difícil, que lhe foi confia<strong>da</strong>,<br />

deve a criança apelar para tô<strong>da</strong> a sua energia, coragem e fir-<br />

meza de coração;<br />

f) seu amor <strong>da</strong>s belas coisas se acrisola, pois o quadro<br />

bem ordenado de uma classe bem posta e bem decora<strong>da</strong> terá,<br />

para seu futuro interior familiar, uma repercussão feliz: or-<br />

dem, limpeza, bom gôsto;<br />

g) seu sentimento de honra toma alento, porque o<br />

cooperador possui uma consciência integra e um amor-próprio<br />

extraordinário para bem preencher as funções que lhes são<br />

confia<strong>da</strong>s;<br />

h) sua compreensão do bem comum ganho no seio <strong>da</strong><br />

Cooperativa, torna-se nêle um hábito profundo, que dêle fará,<br />

mais tarde, em ci<strong>da</strong>dão probo, honesto e reto;<br />

i) seu amor ao próximo se manifesta largamente pela<br />

amplitude e diversi<strong>da</strong>de dos socorros que distribui generosa-<br />

mente àqueles que estão na necessi<strong>da</strong>de e sofrem.<br />

Valor pe<strong>da</strong>gógico<br />

a ) A Cooperativa Escolar torna-se um centro em torno<br />

do qual se agrupam, se desenvolvem e se suavizam os conhe-<br />

cimentos adquiridos em aula. É ela também uma aplicação<br />

e recapitulação práticas.<br />

b) A Cooperativa utiliza todos os aspectos dos métodos<br />

ativos, Exige uma atenção permanente graças à qual a crian-<br />

ça se torna, para a professor, um colaborador zeloso.


FÁBIO LUZ FILHO 307<br />

c) A Cooperativa se apóia, não em exercícios imagina-<br />

dos, mas exercícios bem reais e bem vivos: relatórios, atas,<br />

prestação de contas, desenhos, trabalhos manuais de uma dês-<br />

tinação prática, contabili<strong>da</strong>de, etc.<br />

Valor psicológico<br />

As Cooperativas solicitam a personali<strong>da</strong>de total do aluno,<br />

e pode conseguir, na sua alma de criança, revelar e pôr em<br />

ação fôrças que, sem ela, teriam ficado inaplica<strong>da</strong>s e retraí<strong>da</strong>s.<br />

A Cooperativa escolar pode revelar aos interessados, aos<br />

camara<strong>da</strong>s, aos professôres, facul<strong>da</strong>des de entusiasmo, reser-<br />

vas de devotamento e aptidões que os exercícios escolares não<br />

poderiam fazer surgir, nem tornar conhecidos, e que, uma vez<br />

revelados, podem servir de ponto de apoio à ação do professor.<br />

Valor prático<br />

A administração de seu pequeno grupo é, para as<br />

crianças, uma ocasião para se instruírem sôbre numerosas<br />

questões não previstas pelos pequenos escolares:<br />

a) relações postais com os fornecedores e os clientes<br />

<strong>da</strong> cooperativa; b) familiarizarem-se as crianças, com ordens<br />

de pagamento, cheques, operações de contabili<strong>da</strong>de elemen-<br />

tar; costume de falar perante seus camara<strong>da</strong>s e, nas discussões<br />

sérias, procurar argumentos, fazê-los prevalecer, calar-se<br />

quando conveniente, escutar.<br />

Valor social<br />

A Cooperativa estabelece uma soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de manifesta:<br />

a) entre os alunos presentes e os antigos alunos, fazendo,<br />

eclodir entre os jovens que colhem o que os seus antecessores<br />

semearam, um sentimento de reconhecimento e também uma<br />

espécie de emulação, para deixar, por sua vez, alguns benefí-<br />

cios de sua passagem pela escola;<br />

b) entre a escola e as famílias, porque estas são, muitas<br />

vêzes, chama<strong>da</strong>s obra empreendi<strong>da</strong> pela criança. Por suas<br />

visitas freqüentes à Escola, pela sua participação nas mani-<br />

festações <strong>da</strong> Cooperativa, os pais se apegam e ligam à grande<br />

família <strong>da</strong> Escola laica, <strong>da</strong> qual alargam o círculo apertan-<br />

do-lhe os laços.<br />

(Trad. de F. L. F.).


308 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

COOPERATIVA ESCOLAR E FORMAÇÃO MORAL<br />

por Calvée (Inspetor escolar francês em Nancy)<br />

........ ..................... ...................... ............... .............................<br />

........ ..................... ...................... ............... .............................<br />

Terceira parte<br />

Que é uma cooperativa escolar?<br />

Se tomarmos a definição de M. Colombain, a<br />

cooperativa escolar é uma associação. Falei muito até aqui <strong>da</strong><br />

coletivi<strong>da</strong>de escolar, do grupo de classe, dessa sociologia<br />

escolar, para que não pareça indispensável fazer uma<br />

transição.<br />

Do ponto-de-vista psicológico a cooperativa escolar é:<br />

um agrupamento de indivíduos, logo organização.<br />

É muito fácil inculcar, intelectualmente, aos alunos essa<br />

idéia de agrupamento organizado. Mas é sobretudo pela ação,<br />

na ação em comum que a criança compreenderá o que signifi-<br />

ca essa associação, que é:<br />

—negativamente, a ruptura do isolamento; positivamen-<br />

te, adição de fôrças individuais, de iniciativas pessoais, de von-<br />

tades singulares, de inteligências particulares, isto é, a soma<br />

<strong>da</strong>s liber<strong>da</strong>des individuais nascentes. Na<strong>da</strong> como essa associa-<br />

ção cooperativa para reduzir a egocentrismo infantil. Real-<br />

mente, a criança, no seio do grupo e na ação, verifica que:<br />

—Duma parte, como indivíduo: compreende que ela tem<br />

um voto nas eleições, nas decisões que se seguem às delibera-<br />

ções; que ela tem o direito de <strong>da</strong>r suas opiniões nas discussões;<br />

que ela tem um lugar para seus objetos pessoais, assim como<br />

tem um papel que desempenhar. Aprendizagem pragmática<br />

de igual<strong>da</strong>de e de justiça, que é a recíproca <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de.<br />

—Doutra parte, como associado: sente, compreende que<br />

não está só na organização; sua opiniões se chocam com as<br />

dos outros; melhor; aprende a ter opiniões e a formulá-las;<br />

o contacto com outros espíritos e com outras vontades facilita<br />

a eclosão de seu pensamento; o grupo, a êsse respeito, é exci-<br />

tador e estimulante; mas, em contraparti<strong>da</strong>, o grupo se reser-<br />

va o direito de submeter o seu pensamento ao contrôle e à cri-<br />

tica coletivos; suas iniciativas, submeti<strong>da</strong>s também à dis-<br />

cussão crítica, deverão ajustar-se a outras iniciativas, igual-<br />

mente respeitáveis, uns e outros finalmente fundidos em uma<br />

iniciativa coletiva.


FÁBIO LUZ FILHO 309<br />

É a melhor educação <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, duma soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>-<br />

de inteiramente nova, aliás, não mais basea<strong>da</strong>, como o é na<br />

família, na qual é forte, ou na classe, mas fun<strong>da</strong><strong>da</strong>, ao con-<br />

trário, sôbre razões de fato, de experiência, vivi<strong>da</strong>s e diária-<br />

mente pratica<strong>da</strong>s.<br />

E, <strong>da</strong> mesma forma, se elabora uma nova noção de san-<br />

ção, não mais basea<strong>da</strong> na idéia de expiação, mas apoia<strong>da</strong> na<br />

noção de reciproci<strong>da</strong>de, e que comporta, no fundo, o sentido<br />

<strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de pessoal, com êstes dois aspectos:<br />

a) responsabili<strong>da</strong>de em relação ao grupo inteiro;<br />

b) responsabili<strong>da</strong>de através <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de global<br />

do grupo.<br />

Sem insistir muito — e apenas do ponto-de-vista psico-<br />

lógico, é evidente que a cooperativa escolar constitui um meio<br />

particularmante favorável á formação moral <strong>da</strong>s crianças:<br />

<strong>da</strong> razão prática o aluno se eleva até ao conceito <strong>da</strong>s reali<strong>da</strong>-<br />

des morais mais eleva<strong>da</strong>s; adquire essa autonomia moral, que<br />

é geradora de atos livres, cuja prática é para êle cotidiana:<br />

a ) julgamento de fato ou de valor;<br />

b) raciocínio;<br />

c) decisão;<br />

d) execução.<br />

Associação voluntária.<br />

Não se cria sob a influência de uma necessi<strong>da</strong>de exterior,<br />

duma pressão estranha de programas ou de pais, quando mui-<br />

to uma sugestão do professor. Porque é seu caráter voluntá-<br />

rio, de se constituir por livre adesão, o penhor indispensável<br />

de sinceri<strong>da</strong>de, de eficácia.<br />

Aberta — Associa professôres, pais, amigos <strong>da</strong> escola,<br />

natigos alunos, ou autori<strong>da</strong>des locais. (Ver a exegesse <strong>da</strong> Assis-<br />

tência Jurídica do Serviço de Economia Rural, segundo a qual<br />

só as alunos podem participar de cooperativas escolares,<br />

caben- do aos professôres o papel de assessôres apenas, no<br />

que estão mais certos, como já vimos).<br />

Assim concebi<strong>da</strong>, a cooperativa escolar se torna<br />

indispensável etapa intermediária entre a escola, de um lado,<br />

e, do outro, a família, o grupo social elementar, e a socie<strong>da</strong>de<br />

local, infinitamente mais vasta; e, assim, tem ela o mérito de<br />

abrir largamente a escola à vi<strong>da</strong>.


310 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Democracia — É democrática pela eleição (períodica)<br />

dos dignitários <strong>da</strong> cooperativa escolar e pelo seu funciona-<br />

mento. A eleição, as deliberações, as decisões, não são um si-<br />

mulacro, não são um jôgo, são atos ver<strong>da</strong>deiros, que mobili-<br />

zam o julgamento, que forjam energias e o senso <strong>da</strong>s respon-<br />

sabili<strong>da</strong>des, e operam, as vêzes, na classe, uma reclassifica-<br />

ção mais em função do caráter que do mérito pròpriamente<br />

escolar. E do ponto-de-vista educativo, isso é extremamente<br />

importante: é tô<strong>da</strong> a filosofia do “Contrato social” que é pos-<br />

ta em ação duma parte, um duplo e prévio acôrdo coletivo,<br />

para que se realize a vontade <strong>da</strong> maioria, e para que à mesma<br />

se submeta a minoria; doutra parte, a aceitação voluntária<br />

do mecanismo democrático, que faz com que a criança seja, a<br />

um mesmo tempo, soberano (elege e vota), principe (função<br />

de dignitário) e súdito (deveres de societário). Dito doutra<br />

forma: a criança aprende a obedecer aos outros, a respeitar<br />

as decisões, regras e estatutos que ela mesma votou; habi-<br />

tua-se a controlar suas próprias ações e a de seus semelhantes.<br />

Pode-se-á exigir melhor atmosfera para a educação do<br />

senso cívico? Pode-se-á conceber melhor ordem para a eclosão<br />

dos líderes e a discriminação de elites?<br />

CONCLUSÃO<br />

Tais são as considerações que me pareceram formuláveis<br />

a propósito do problema que nos reuniu.<br />

Certamente, apresentei as coisas sob um ângulo ideal.<br />

Mas, faço-o porque estou convicto, com Charles Gide, de que<br />

“la coopération, c’est une étoile”, logo a um só tempo um<br />

guia seguro e um fim elevado. Mas junto êste corretivo:<br />

“Para que a criança se interêsse pelo cooperativismo es-<br />

colar, é preciso que ela se interêsse pela escola”, e por ela só se<br />

poderá interessar se a educação intelectual que receber<br />

fôr uma educação realmente ativa. Neste caso, a criança se<br />

sente firme quando passa <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de do conhecimento à <strong>da</strong><br />

cooperação; não se sente desloca<strong>da</strong>; conserva sua coerência<br />

mental neste microcosmo social e moral que é a classe, na<br />

qual aprende, pela ação e na ação, a estima de si mesma ao<br />

mesmo tempo que a dos outros, e na qual se faz aprendizagem<br />

pragmática dessa “virtude” tão necessária ao desenvolvimen-<br />

to do espírito democrático.<br />

O cooperativismo escolar, certamente, não é uma pana-<br />

céia universal; mas tô<strong>da</strong> vez em que falo do cooperativismo


FÁBIO LUZ FILHO 311<br />

escolar ou que nêle penso, mais convicto estou de que “ o futu-<br />

ro <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de é a Escola".<br />

“C'est dire qu'à tout moment de la croissance, les fins<br />

personnelles de l’enfant, au nombre desquelles ou compte<br />

heuresement le besoin naturel do socialité, devront toujours<br />

s’articuler harmonieusement avec fins collectives du groupe<br />

social <strong>da</strong>ns lequel il se développe”.<br />

(“Revue de la coopérations scolaire" — mai - juin —<br />

juillet 1958) — Paris — France — Trad. de F. L. F.).<br />

A COOPERATIVA ESCOLAR<br />

D. Mercedes Amália Marchand é supervisora geral do<br />

Departamento de Instrução do Pôrto Rico. Em trabalho pu-<br />

blicado em “Cooperativas” <strong>da</strong> União Pan-Americana, de ju-<br />

nho p. p., assinala, com proprie<strong>da</strong>de, dentro <strong>da</strong> mesma linha<br />

de orientação pe<strong>da</strong>gógica dos técnicos brasileiros, que as<br />

cooperativas escolares servirão de laboratórios práticos, que<br />

oferecem a oportuni<strong>da</strong>de de uma aprendizagem funcional,<br />

opinando que seis áreas de vi<strong>da</strong> são enriqueci<strong>da</strong>s com o ensi-<br />

no do cooperativismo, a saber:<br />

Área I: Elevação do nível de vi<strong>da</strong> do homem em têrmos de<br />

proficiência econômica (educação vocacional, matemáticas,<br />

estudos socias e outras matérias), com as seguintes con-<br />

sequências: os estu<strong>da</strong>ntes se familiazarão com o movimento<br />

sócio-econômico mais importante <strong>da</strong> época moderna, o coope-<br />

rativismo. Iniciando-se no estudo de temas de economia:<br />

oferta e deman<strong>da</strong>, mercados e preços, empréstimos e juros,<br />

etc... Aprendem a localizar, a usar, a aumentar e a conser-<br />

var os recursos de que dispõem, desenvolvendo o hábito <strong>da</strong><br />

economia, para a necessi<strong>da</strong>de e para a ação comum.<br />

Associando-se para oferecer serviços individuais: consu-<br />

mo, produção, crédito, ven<strong>da</strong>, recreação, etc..., aprendem<br />

também a selecionar produtos, apresentá-los de forma atraen-<br />

te e a calcular preços.<br />

Distribuem os alunos, na sua cooperativa escolar, as so-<br />

bras entre os associados na proporção de seu consumo, con-<br />

forme a regra clássica, aumentando, assim a ren<strong>da</strong> <strong>da</strong> fa-<br />

mília.<br />

Preparam orçamentos, horários de trabalho, e<br />

requisições, que envolvem economia de dinheiro, de tempo, de<br />

materiais.


312 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Estabelecem relações comerciais e desenvolvem capaci<strong>da</strong>de<br />

administrativa.<br />

Área 2 — Desenvolvimento de habili<strong>da</strong>des para a comu-<br />

nicação e para a solução de problemas.<br />

Dentro dessa área, aparecem ao educando temas sôbre<br />

os quais falar e escrever. Enriquecem seu vocabulário durante<br />

leituras, palestras, etc. Preparam regulamentos, cláusulas<br />

estatutárias; planos, programas, relatórios, informações, no-<br />

tas, telegramas, cartas, requerimentos, atas, minutas, editais<br />

de convocação, etc.<br />

Ademais, usam técnicas educativas recomen<strong>da</strong><strong>da</strong>s, tais<br />

como: palestras curtas ilustra<strong>da</strong>s, excursões, círculos de estu-<br />

dos, planos para discussões, sóciogramas, entrevistas, confe-<br />

rências, foros, demonstrações e outras. Apresentam proble-<br />

mas, discutem-nos e sugerem meios para resolvê-los. Aceitam<br />

e modificam idéias e aplicam-nas. Outra técnica educativa são<br />

as assembléias, concursos, votações, campanhas cívicas e<br />

outras ativi<strong>da</strong>des educativas.<br />

Aprendem a fazer contas em seus livros e no banco ou<br />

no correio, a pagar faturas, a fazer pedidos acompanhados de<br />

letras ou cheques, como a comprovar contas, a <strong>da</strong>r e a con-<br />

servar recibos, a fazer compras, a elaborar balancetes, a fazer<br />

inventários.<br />

Adquirem, enfim, os conhecimentos básicos que os ca-<br />

pacitam para serem ci<strong>da</strong>dãos socialmente úteis.<br />

Área 3: Compreensão de que na vi<strong>da</strong> criadora está o<br />

máximo prazer <strong>da</strong> pessoa humana.<br />

Uma vez agrupados, os alunos capacitam-se para<br />

produzir os recursos com que melhorar o meio em que vivem.<br />

Sentem o desejo de fazer coisas belas e úteis. Preparam locais<br />

para instalar suas ten<strong>da</strong>s e oficinais: arrumam-nos, pintam-<br />

nos e os dotam de armários e outras facili<strong>da</strong>des. Escrevem<br />

poemas, canções, acrósticos, décimas, dramas, composições e<br />

outros trabalhos originais.<br />

Preparam programas, repertórios e adornos para suas<br />

assembélias e festas. Oferecem presentes simbólicos.<br />

Área 4: Melhoramento do teor <strong>da</strong> convivência social.<br />

Os alunos iniciam-se na idéia dominante <strong>da</strong> história: a<br />

vi<strong>da</strong> do progresso do homem. Associam-se disciplina <strong>da</strong> es-<br />

cola, aju<strong>da</strong>ndo a mantê-la, convertendo-se em preciosos auxi-<br />

liares do professor. Adquirem o hábito e o gôsto <strong>da</strong> ação co-<br />

mum, gozam de liber<strong>da</strong>de de ação, conhecem e praticam os<br />

princípios democráticos.


FÁBIO LUZ FILHO 313<br />

Aprendem, além disso, a dirigir, a delegar e a <strong>da</strong>r exem-<br />

plo, investindo-se em funções de acôrdo com as habili<strong>da</strong>des,<br />

as aptidões e as condições dos associados.<br />

Interessando-se pela prosperi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> escola e <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de, realizam esforços individuais para o benefício do<br />

grupo.<br />

Aprendem a tratar com as pessoas. Respeitam as opi-<br />

niões individuais, as decisões do grupo e os regulamentos apro-<br />

vados. Adquirindo um sentido de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, mostram res-<br />

peito pelos trabalhadores. Aconselham e aju<strong>da</strong>m os compa-<br />

nheiros que se encontram em dificul<strong>da</strong>des. Exercem influên-<br />

cia saudável sôbre os pais. Aju<strong>da</strong>m as cooperativas nascentes.<br />

Separam parte de seus fundos para aju<strong>da</strong>r as campanhas cí-<br />

vicas, tais como Cruz Vermelha, Liga contra o câncer, a cam-<br />

panha para evitar a tuberculose e outras. Melhoram as rela-<br />

ções entre alunos, clientes e fornecedores. Eliminam <strong>da</strong>s re-<br />

lações sociais a idéia de lucro e a substituem pela idéia de ser-<br />

viço. Vivem mais livres de preconceitos.<br />

Área 5: Desenvolvimento e fomento de uma estimativa de<br />

valores.<br />

Os alunos, na cooperativa escolar, praticam, com entu-<br />

siasmo, a ordem, a economia <strong>da</strong>s coisas e o bom uso do tem-<br />

po, ocupam o tempo vago em uma obra útil. Avaliam seu<br />

progresso e seus fracassos. Adquirem confiança em suas for-<br />

ças e um desejo sincero de melhorar. Desfrutam com alegria<br />

dos serviços que se prestam em comum. Vêem recompensa<br />

no prazer de haver trabalhado juntos para um fim comum.<br />

Ademais, os alunos se sentem felizes em serem úteis ao movi-<br />

mento com sua modesta participação. Estabelecem tradições<br />

saudáveis de trabalho e concórdia.<br />

Dão sentido educativo às festas escolares. Consideram a<br />

exercício <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de como uma função e não como um<br />

privilégio. Compreendem o valor <strong>da</strong> experiência. Aprendem a<br />

amar o seu povo. Mostram-se fiéis à palavra <strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />

Área 6: Melhoramento <strong>da</strong> saúde física, mental e espi-<br />

ritual.<br />

Os alunos adquirem, ain<strong>da</strong>, o hábito <strong>da</strong> limpeza, <strong>da</strong> or-<br />

dem, <strong>da</strong> boa saúde e <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de. Enriquecem o ambiente<br />

escolar, tornando-o mais agradável e harmônico. Oferecem à<br />

ven<strong>da</strong> produtos sãos e nutritivos. Abstêm-se de comer muitas<br />

guloseimas e de consumí-las entre as refeições. Aprendem a<br />

tomar medi<strong>da</strong>s de segurança durante as ativi<strong>da</strong>des de que<br />

participam, viagens, excursões, experiências, trabalhos etc...


314 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Finalmente, conclui O. Mercedes Amália Marchand,<br />

investem parte de suas economias em roupa, calçado,<br />

alimentos, medicamentos, artigos de uso individual.<br />

Pelo exposto, como dissemos no início, os técnicos brasi-<br />

leiros, dentre os quais o Sr. Fábio Luz Filho, como a pregação<br />

do Serviço de Economia Rural, trilharam os atalhos pe<strong>da</strong>gó-<br />

gicos acertados, plenamente confirmados pela ilustre educa-<br />

dora portorriquenha, que mereci<strong>da</strong>mente teve seu trabalho<br />

pôsto em relêvo pela União-Pan-Americana, em<br />

“Cooperativas”.<br />

(Do S. E. R.).<br />

PLANO PARA UMA COOPERATIVA ESCOLAR<br />

Eis o plano de educação cooperativa adotado por uma<br />

escola de Costa Rica:<br />

Propósitos:<br />

1 — Preparar um ambiente propício ao nascimento e de-<br />

senvolvimento <strong>da</strong>s idéias cooperativas.<br />

2 — Aplicar à vi<strong>da</strong> escolar a filosofia que encerra o me-<br />

todo cooperativo (fraterni<strong>da</strong>de, prestação e intercâmbio de<br />

serviços, atenuação de tendências egoístas, fortalecimento de<br />

impulsos sociais, desenvolvimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de contri-<br />

buir para o bem comum).<br />

3 — Acostumar os membros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de a trabalhar<br />

juntos, a participar <strong>da</strong>s discussões, expressar, livre e franca-<br />

mente, suas idéias, a dizer com clareza o de que necessitam e<br />

o que querem, a reclamar seus direitos e a cumprir seus deve-<br />

res. Ao participar dos debates nas Assembléias e comités em-<br />

carregados de redigir os regulamentos, o programa cooperati-<br />

vo e suas normas, assim como ao calcular receitas e despesas<br />

e ao votar nas eleições, os alunos “aprendem praticando” os<br />

princípios fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> Democracia e, conseguintemente,<br />

se vão educando para serem ci<strong>da</strong>dãos úteis e conscientes.<br />

4 — Aplicar o princípio de “aprender fazendo coisas praticas”,<br />

isto é, aprender o cooperativismo praticando-o e in-<br />

culcar nos membros o orgulho de pertencer à Cooperativa e<br />

de serem membros úteis à sua comuni<strong>da</strong>de.<br />

5 — A<strong>da</strong>ptar o programa de matemáticas, dentro do possível,<br />

à vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> Cooperativa Escolar, sobretudo em pontos como:<br />

aplicação simples de faturas, orçamentos, inventários,


FÁBIO LUZ FILHO 315<br />

mecânica <strong>da</strong>s operações, percentagens, noções de contabili-<br />

<strong>da</strong>de, etc.<br />

6 — Dar oportuni<strong>da</strong>de aos alunos para a defesa e<br />

conser-vação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> nos aspectos fisiológico e econômico:<br />

ATIVIDADES:<br />

1 — Participação direta na organização e funcionamen-<br />

to <strong>da</strong> Cooperativa Escolar.<br />

2 — Dar conhecimento <strong>da</strong>s regras econômico-sociais do<br />

Cooperativismo.<br />

3 — Usar o método de projetos, e organizar grupos dis-<br />

tintos, que se responsabilizarão por ativi<strong>da</strong>des como: ven<strong>da</strong><br />

de utili<strong>da</strong>des, ven<strong>da</strong> de livros, serviços aos associados, cui<strong>da</strong>-<br />

dos com práticas agrícolas, trabalhos de costura e trabalhos<br />

manuais, preparação de festas, assembléias, excursões, expo-<br />

sições, etc.; embelezamento <strong>da</strong> escola, periódico mural.<br />

4 — Procurar a participação dos pais de família e vizi-<br />

nhos nas ativi<strong>da</strong>des acima menciona<strong>da</strong>s, assim como a de<br />

outros organismos ao serviço do povo.<br />

PROGRAMA DE CONHECIMENTOS A<br />

MINISTRAR:<br />

1 — O que é e como funciona uma Cooperativa Escolar<br />

Juvenil. Ativi<strong>da</strong>des que pode desenvolver. Experiências em<br />

Pôrto Rico e outros países.<br />

2 — Tô<strong>da</strong> Cooperativa tem seus estatutos e seu Regula-<br />

mento. Estudo e discussão dos Estatutos para essa Associa-<br />

ção juvenil.<br />

3 — História do Cooperativismo. Os pioneiros de Roch-<br />

<strong>da</strong>le. (Usar texto ilustrado. Material do Departamento de<br />

Cooperativas).<br />

4 — Os sete princípios cooperativos.<br />

5—A Cooperativa Vitoria na região, sua história, de-<br />

senvolvimento, ativi<strong>da</strong>des e efeitos de seu funcionamento.<br />

6 — Dar algumas noções de contabili<strong>da</strong>de nas coopera-<br />

tivas.<br />

A COOPERATIVA ESCOLAR NA GRECIA<br />

Em comunicado anterior o Serviço de Economia Rural<br />

divulgou justos conceitos do Sr. H. Charlot, vice-presidente<br />

do “Office Central de la Coopération a l’Ecole”, de Paris.<br />

Divulga agora um trabalho que está sendo distribuído pela


316 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Confederação <strong>da</strong>s Uniões <strong>da</strong>s Cooperativas Agrícolas <strong>da</strong> Grécia.<br />

É êle <strong>da</strong> autoria de Potini Th. Tzortzaki, e refere-se ao movi-<br />

mento cooperativo escolar na Grécia, a partir de 1954. É tra-<br />

balho editado pelo Serviço de Educação Cooperativa <strong>da</strong> cita<strong>da</strong><br />

Confederação.<br />

Diz Tzortzaki que, antes <strong>da</strong> última guerra, vários pro-<br />

fessôres tinham tido a iniciativa de organizar em suas esco-<br />

las a ativi<strong>da</strong>de e a vi<strong>da</strong> escolar sob forma de cooperativas<br />

mui simples. Essas cooperativas tinham sobretudo por fim<br />

fornecer aos alunos material escolar e medicamentos a preços<br />

baixos, Mas, ao mesmo tempo, se propunham auxiliar a escola<br />

mesma (enriquecimento a biblioteca escolar, fornecimento de<br />

material didático, etc.) e organizar uma vi<strong>da</strong> social ele-<br />

mentar (socorro aos escolares órfãos ou indigentes). Além<br />

disso, porfiavam em cultivar o espírito de colaboração e o sen-<br />

tido <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, iniciando os pequenos camponeses no<br />

ideal <strong>da</strong> cooperação, preparando-os para se tornarem<br />

membros ativos <strong>da</strong> cooperativa agrícola de sua comuni<strong>da</strong>de.<br />

Essas primeiras cooperativas escolares hauriam recursos<br />

de cotizações benévolas de seus membros, contribuições <strong>da</strong><br />

caixa econômica escolar fun<strong>da</strong><strong>da</strong> pela cooperativa, de produ-<br />

tos do jardim <strong>da</strong> escola e de benefícios realizados pelos arma-<br />

zéns de ven<strong>da</strong> escolares. Mas, a guerra tudo fêz desaparecer,<br />

tendo o movimento ressurgido em 1954, quando o Serviço de<br />

Educação Cooperativa <strong>da</strong> Confederação tornou a iniciativa de<br />

trabalhar assìduamente pelo desenvolvimento <strong>da</strong>s cooperati-<br />

vas escolares na Grécia.<br />

A Confederação contou com o apoio do Banco Agrícola,<br />

<strong>da</strong> Confederação dos Professôres, e dos <strong>Ministério</strong>s <strong>da</strong> Agri-<br />

cultura, <strong>da</strong> Coordenação e <strong>da</strong> Educação Nacional, tendo êste<br />

último recomen<strong>da</strong>do a aplicação do sistema a título de ensaio<br />

através de circulares dirigi<strong>da</strong>s aos inspetores do Ensino Pri-<br />

mário. (O mesmo fêz Lourenço Filho no Brasil, com relação<br />

a “Cooperativas escolares” de Fábio Luz Filho).<br />

O <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> e o Banco Agrícola, por sua<br />

vez, recomen<strong>da</strong>ram a seus respectivos serviços que se interes-<br />

sassem pelo progresso <strong>da</strong>s cooperativas escolares e prestassem<br />

assistência às escolas, nas quais tais cooperativas pudessem<br />

ser fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s.<br />

“On peut aujaurd’hui considerer avec optimisme le<br />

mou-vement des Cooperatives scolaires”.<br />

Os alunos-associados <strong>da</strong>s atuais cooperativas gregas têm<br />

cultivado o campo e o jardim, têm feito sementeiras de árvo-


FÁBIO LUZ FILHO 317<br />

res frutíferas e plantas ornamentais e vendido arbustos; têm<br />

criado animais domésticos e aves; colhido ervas medicinais<br />

(sobretudo a camomila); colhido frutos de árvores nos jardins<br />

<strong>da</strong> vila, sendo metade em proveito <strong>da</strong> cooperativa; têm orga-<br />

nizado exposições e ven<strong>da</strong>s de delicados bor<strong>da</strong>dos populares,<br />

assim como festas e coros; instalaram um salão de cabeleirei-<br />

ro para os escolares; prestaram diferentes serviços no sentido<br />

de aumentar os recursos pecuniários <strong>da</strong> sua escola.<br />

E Tzortzaki acrescenta que, ao lado dêsses trabalhos,<br />

que melhoram as finanças de sua cooperativa, os jovens<br />

associados aplicaram-se também em pôr em prática precei-<br />

tos fun<strong>da</strong>dos numa cultura sistemática do espírito social.<br />

Êles nota<strong>da</strong>mente:<br />

a) Zelaram pela limpeza e embelezamento de sua escola;<br />

b) Plantaram árvores e outras plantas de interêsse ge-<br />

ral; criaram jardins de flores com fins puramente decorativos;<br />

c) Enxertaram e po<strong>da</strong>ram as árvores do lugar;<br />

d) Vacinaram as aves dos camponeses e organizaram<br />

a proteção aos pássaros úteis;<br />

e) Cui<strong>da</strong>ram <strong>da</strong> saúde dos alunos, e em geral <strong>da</strong> popu-<br />

lação do lugar (limpeza <strong>da</strong>s ruas, <strong>da</strong> fonte pública e do<br />

aqueduto, dessecamento de pântanos, etc.).<br />

f) Ofereceram cotizações para fundos <strong>da</strong> cooperativa<br />

escolar a fim de enriquecer a escola em material didático;<br />

fun<strong>da</strong>ram um museu escolar;<br />

g) Instalaram uma farmácia e formaram equipes em-<br />

carrega<strong>da</strong>s de velar pela saúde dos alunos.<br />

“Les jeunes coopérateurs ont falt prouve d’un touchant<br />

esprit de soli<strong>da</strong>rité: ils ont prêté leur assistance aux membres<br />

indigents de leurs cooperatives en leur fournissant des livres<br />

et des articles de papeterie, et même aux pauvres du village<br />

en leur offrant des vivres aux grandes fêtes".<br />

E mais ain<strong>da</strong>: ofereceram-se para substituir no seu tra-<br />

balho as crianças pobres, a fim de lhes permitir que seguissem<br />

ao menos os cursos <strong>da</strong> noite para analfabetos. Ofereceram<br />

trabalho por equipe a famílias demasiado pobres. Distribuíram<br />

grãos e arbustos aos camponeses ou escolas vizinhas.<br />

Organizaram visitas com programas de recreação e de peque-<br />

nos presentes aos hospitais, orfanatos e postos avançados do<br />

Exército.


318 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Há ain<strong>da</strong>, na Grécia, alguns exemplos de cooperativas<br />

escolares cujos membros se dedicaram a pesquisas sôbre o<br />

meio e o gênero de vi<strong>da</strong> de sua comuni<strong>da</strong>de, coma uma ma-<br />

neira feliz de estreitar os laços que ligam a criança à terra<br />

e às tradições, de conservar os costumes e as festas locais,<br />

e às vêzes salvá-las do esquecimento.<br />

Algumas cooperativas, além <strong>da</strong> assistência do Serviço de<br />

Inspeção <strong>da</strong>s Cooperativas do Banco Agrícola, tiveram a dos<br />

Serviços de Aplicação Agrícola do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong><br />

e <strong>da</strong>s Cooperativas em geral.<br />

A Igreja, as autori<strong>da</strong>des comunais, os comités de admi-<br />

nistração <strong>da</strong>s escolas, os médicos <strong>da</strong>s comunas e os pais de<br />

alunos têm sido auxiliares prestimosos na aju<strong>da</strong> às coope-<br />

rativas escolares. Outros têm colaborado com organizações<br />

<strong>da</strong> juventude como a Cruz Vermelha, associações educacionais,<br />

uniões de jovens rurais, cooperativas similares de outras es-<br />

colas.<br />

A maioria <strong>da</strong>s cooperativas escolares foram fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

em pequenos lugares (vilas, ci<strong>da</strong>dezinhas), em escolas que pos-<br />

suíam pequenos núcleos de crianças com um ou dois pro-<br />

fessôres. Os alunos <strong>da</strong>s duas ou <strong>da</strong>s quatro classes superiores,<br />

agrupados em cooperativas, dividiam entre si os trabalhos e<br />

as responsabili<strong>da</strong>des, admitidos, às vêzes, os mais jovens <strong>da</strong>s<br />

classes inferiores para seguirem as trabalhos <strong>da</strong>s cooperativas,<br />

a título de aprendizes. Houve mesmo escolas que fun<strong>da</strong>ram<br />

duas cooperativas, uma para a classe atrasa<strong>da</strong> outra para a<br />

mais adianta<strong>da</strong>. Em cinco casos, uma mesma cooperativa<br />

agremiava os alunos de duas escolas, a um só tempo.<br />

A administração e a gestão <strong>da</strong>s cooperativas escolares<br />

são feitos pelos alunos-associados com a assistência dos profes-<br />

sôres.<br />

“L’espirit dominant <strong>da</strong>ns les coopératives scolaires est<br />

un espirit éducatif et social, comme en temoignent leur acti-<br />

vités et les occupations de leurs membres”.<br />

E, na Grécia, “as cooperativas escolares puderam, assim,<br />

organizar entre as alunos um gênero de vi<strong>da</strong> fun<strong>da</strong><strong>da</strong> sôbre<br />

sentimento do dever e sôbre a espírito de fraterni<strong>da</strong>de e aju<strong>da</strong><br />

mútua, graças às ativi<strong>da</strong>des varia<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s coperativas, que<br />

permitem aos jovens associados preencher, recìprocamente,<br />

suas lacunas e testemunhar, por atos, o interêsse que dedicam<br />

a seu próximo, à escola e à comuna”. (Do S. E. R.).


FÁBIO LUZ FILHO 319<br />

A conferência <strong>da</strong> União Cooperativa Bolivariana<br />

Realizou-se em Caracas, em dezembro de 1945 a<br />

Segun<strong>da</strong> Conferência <strong>da</strong> União Cooperativa Bolivariana. Eis<br />

uma de suas resoluções:<br />

I — Afirmar de maneira categórica:<br />

a) Que o bom funcionamento de tô<strong>da</strong> Cooperativa re-<br />

quer elementos devi<strong>da</strong>mente preparados para dirigí-la, para<br />

administrá-la e para fornecer aos associados e ao público em<br />

geral, as informações necessárias sôbre o caráter econômico,<br />

moral e social do movimento cooperativo;<br />

b) Que a solidez, a fôrça e o prestígio de tô<strong>da</strong> coopera-<br />

tiva estão sempre na razão direta: de um lado, <strong>da</strong>s condições<br />

favoráveis que ofereça o meio no qual atua a associação; de<br />

outro, do espírito cooperativo dos associados que a compo-<br />

nham, e, por último, <strong>da</strong> idonei<strong>da</strong>de de seus dirigentes e admi-<br />

nistradores para o desempenho <strong>da</strong>s suas funções;<br />

c) Que o êxito e o fracasso <strong>da</strong>s emprêsas cooperativas<br />

dependem sempre, não de sistema em si, mais do uso próprio<br />

ou impróprio que se faça do mesmo.<br />

II— Que, em vista <strong>da</strong> urgente necessi<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>r à<br />

educação cooperativa a amplitude necessária, não só para as-<br />

tisfazer as necessi<strong>da</strong>des dos dirigentes, administradores e as-<br />

sociados <strong>da</strong>s Cooperativas pròpriamente ditas, senão também<br />

para proporcionar ao público em geral, e às novas gerações<br />

em particular, os conhecimentos que requer a estrutura eco-<br />

nômica <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des modernas, conhecimentos que se estão<br />

divulgando entre as populações dos países adiantados, espe-<br />

cialmente nos Estados Unidos e Canadá, os membros <strong>da</strong> União<br />

Cooperativa Bolivariana deverão:<br />

a) Intensificar o trabalho que já está sendo realizado,<br />

que consiste: na publicação de periódicos, folhetos, boletins<br />

de informação, livros, etc.; na celebração de atos de propagan-<br />

<strong>da</strong>, quer por meio de reuniões públicas, quer por palestras,<br />

conferências, emissões radiofônicas, excursões, festas despor-<br />

tivas e familiares, etc.; no assessoramento <strong>da</strong>s cooperativas<br />

que o solicitem, tanto as existentes como as que se queiram<br />

constituir; na re<strong>da</strong>ção de informações de caráter científico,<br />

técnico e administrativo e, sobretudo, na comemoração do<br />

Dia Cooperativo Internacional (primeiro sábado de julho de<br />

ca<strong>da</strong> ano), do natalício e <strong>da</strong> morte de Simon Bolívar (24 de


320 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

julho e 17 de dezembro respectivamente) e <strong>da</strong> abertura do<br />

armazém dos cooperadores de Roch<strong>da</strong>le (21 de dezembro);<br />

b) Prestar a máxima atenção às ativi<strong>da</strong>des educativas<br />

que podem, as cooperativas, desenvolver por seus próprios<br />

meios, aperfeiçoando o ensino técnico e prático para as que já<br />

o tenham estabelecido, e procurando, as que ain<strong>da</strong> não o te-<br />

nham feito, dispor, quando menos, dos meios precisos que lhes<br />

permitam preencher esta função fun<strong>da</strong>mental: facilitar aos<br />

novos cooperadores as conhecimentos indispensáveis para que<br />

as emprêsas que constituam não sejam, em caso algum, tèc-<br />

nicamente inferiores às emprêsas priva<strong>da</strong>s de caráter análogo<br />

estabeleci<strong>da</strong>s no lugar ou região respectiva;<br />

c) Instar no sentido de que as cooperativas realizem,<br />

por si mesmas, alguma ativi<strong>da</strong>de educativa, seja convocando<br />

reuniões ad hoc, em colaboração com centros pe<strong>da</strong>gógicos que<br />

tenham estabelecido o ensino do Cooperativismo, seja pro-<br />

curando por si próprias cursos em que se ministre dito ensino;<br />

d) Atuar de um modo constante, enérgico e decidido<br />

para conseguir que as autori<strong>da</strong>des competentes introduzam,<br />

segundo o exemplo <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des e dos governos de vários<br />

países, especialmente dos Estados de Wisconsin, Minnesota e<br />

Norte Dakota (América do Norte), o estudo do cooperativismo:<br />

1 — Nas escolas primárias, por meio de cooperativas es-<br />

colares, como as que Profit fundou na França, e que tanto êxi-<br />

to alcançaram nos principais países do mundo, tendo todo o<br />

cui<strong>da</strong>do em que os professôres conheçam bem a espírito do<br />

Cooperativismo e tratem de inculcá-lo às crianças, não com<br />

lições teóricas, mas adestrando-as no manejo de uma associa-<br />

ção escolar constitui<strong>da</strong> sob a forma cooperativa;<br />

2 — Nas universi<strong>da</strong>des, ou escolas de <strong>Agricultura</strong>, de<br />

Comércio, de Engenharia e Arquitetura, como disciplina à par-<br />

te, sem prejuízo de que se o ensine também o Cooperativismo<br />

nos cursos de História, Geografia, Pe<strong>da</strong>gogia, Filosofia, Moral,<br />

Economia Política, Direito Administrativo, Filosofia do Direi-<br />

to,etc.,etc., .............. ...................... ............... ................ ..........<br />

........ ..................... ...................... ............... .............................<br />

........ ..................... ...................... ............... .............................<br />

e) Tratar de incorporar-se a algum centro de educação<br />

e, quando isto não seja possível, articular suas próprias ativi-<br />

<strong>da</strong>des com as <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des e escolas acima menciona<strong>da</strong>s,<br />

sobretudo com aquelas que disponham de laboratórios de Físi-<br />

ca, e de Química e, de Institutos de Estatística e Investigações<br />

Sociais e Econômicas, etc. Assim conseguirão, de um lado,


FÁBIO LUZ FILHO 321<br />

estarem sempre ao par dos últimos progressos técnicos e cientí-<br />

ficos, e por outro que os profissionais <strong>da</strong> ciência possam ter<br />

nas cooperativas excelentes campos de investigações, de expe-<br />

rimentação e de aplicação;<br />

f) Estu<strong>da</strong>r com o maior cui<strong>da</strong>do os procedimentos téc-<br />

nico-administrativos empregados pela U.N.R.R.A., (hoje<br />

despareci<strong>da</strong> e substitui<strong>da</strong> pela C. A . R . E., que presta serviços<br />

análogos) com o fim de que as cooperativas com as quais te-<br />

nham relações possam colaborar com a máxima eficácia valio-<br />

sa de auxílio e reabilitação que aquela organização realiza;<br />

g) Prestar a máxima atenção aos planos de pós-guerra<br />

(tratar de colaborar na sua execução), que estão elaborando<br />

os países latino-americanos com objetivo de desenvolver as<br />

riquezas naturais, elevar o nível de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s populações, esta-<br />

belecer novas indústrias e abor<strong>da</strong>r ou desenvolver, segundo<br />

os casos, a reforma agrária.<br />

Sexta Conferência dos Estados Americanos membros <strong>da</strong><br />

Organização Internacional do Trabalho<br />

A Conferência acima reuniu-se em Havana, em<br />

setembro de 1956.<br />

Eis algumas de suas conclusões:<br />

“Deveriam tomar-se tô<strong>da</strong>s as medi<strong>da</strong>s possíveis para de-<br />

senvolver programas de formação e instrução cooperativas, e<br />

ditos programas deveriam corresponder as necessi<strong>da</strong>des e in-<br />

terêsses:<br />

a) dos associados <strong>da</strong>s cooperativas;<br />

b) dos organizadores e <strong>da</strong>s pessoas que ocupam postos<br />

administrativos, de contrôle ou executivos nos organismos<br />

ou organizações diretamente interessa<strong>da</strong>s nas cooperativas;<br />

c) <strong>da</strong>s diferentes categorias de trabalhadores (por exem-<br />

plo: trabalhadores industriais, trabalhadores agrícolas, arte-<br />

sãos e outros pequenos produtores);<br />

d) grupos especiais <strong>da</strong> população (crianças, mulheres,<br />

populações indígenas, etc.), como também deveriam ser toma<br />

<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s para informar o público em geral sôbre os prin-<br />

cípios e práticas cooperativas.<br />

“Deverão ser estu<strong>da</strong>dos atentamente a escolha e a<br />

a<strong>da</strong>pta-ção, às necessi<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> país, de métodos e técnicas<br />

apropria<strong>da</strong>s. Noutros deveriam ser considerados: os cursos nor-<br />

21 — 27 454


322 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

mais de formação, os seminários e reuniões de estudo intensi-<br />

vo, os círculos de estudo, os cursos por correspondência, a<br />

formação no local de trabalho, as viagens de estudo dentro<br />

do próprio país e ao estrangeiro, assim como o intercâmbio<br />

bilateral de pessoas. Sempre que for conveniente, dever-se-ia<br />

intensificar o uso de métodos audiovisuais, tais como cinema,<br />

rádio, televisão, teatro, cartazes e folhetos.<br />

“A formação e a instrução deverão constituir uma parte<br />

importante <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des auspiciadoras e consultivas sôbre<br />

cooperativas realiza<strong>da</strong>s pelos governos. A êste respeito deve-<br />

ria estu<strong>da</strong>r-se a possibili<strong>da</strong>de de empregar assessôres am-<br />

bulantes (acrescentamos que, há anos, preconizamos, no Bra-<br />

sil, a necessi<strong>da</strong>de de inspetores ou técnicos itinerantes, o que<br />

no Brasil alguns departamentos estaduais de cooperativismo<br />

já vão tentando fazer, como o do Rio Grande do Sul, que<br />

possui inspetores regionais, alguns dêles tendo sob suas vistas<br />

70 e mais cooperativas) encarregados <strong>da</strong> formação e instrução<br />

cooperativa em escala suficientemente ampla, especialmente<br />

nas zonas rurais.<br />

“Deveriam ser estimula<strong>da</strong>s as cooperativas que prestam<br />

especial atenção à formação de seus diretores e empregados,<br />

à instrução de seus associados e à informação do público. Pa-<br />

ra êstes efeitos, e sempre que possível, deveriam estabelecer-se<br />

caixas especiais consagra<strong>da</strong>s ao fomento <strong>da</strong> instrução, e as<br />

organizações centrais, quando existirem, deveriam <strong>da</strong>r assis-<br />

tência às socie<strong>da</strong>des primárias.<br />

“Deveriam tomar-se tô<strong>da</strong>s as medi<strong>da</strong>s necessárias para<br />

estimular as instituições docentes e culturais, os sindicatos,<br />

as associações rurais e outras organizações sociais e de outro<br />

gênero para que intensifiquem ou ampliem suas ativi<strong>da</strong>des de<br />

instrução e formação cooperativa.<br />

“Dentro <strong>da</strong>s instituições públicas e priva<strong>da</strong>s:<br />

a) dever-se-á <strong>da</strong>r especial atenção à criação e desenvol-<br />

vimento de “cooperativas escolares", a fim de aumentar os<br />

conhecimento e o interêsse <strong>da</strong>s crianças e dos pais sôbre os<br />

princípios e a prática <strong>da</strong>s cooperativas;<br />

b) deveria examinar-se a conveniência de incluir o ensi-<br />

no sistemático <strong>da</strong> doutrina cooperativa nos programas <strong>da</strong>s<br />

escolas primárias, elementares e secundárias e nas escolas<br />

normais de professôres nas diversas instituições especiais de<br />

formação superior, assim como a criação de cátedras em insti-<br />

tutos permanentes de cooperativismo nas universi<strong>da</strong>des.


FÁBIO LUZ FILHO 323<br />

O COOPERATIVISMO E A MULHER<br />

Há tempos, Aí<strong>da</strong> Perez de Guevara, <strong>da</strong> Associação Vene-<br />

zuelana de mulheres frisou, com muita justeza, o papel <strong>da</strong><br />

mulher em face do movimento cooperativo. Acentuou ela<br />

que a mulher deve por êle interessar-se:<br />

1.º — porque é a mulher quem, geralmente, maneja o<br />

dinheiro <strong>da</strong> família e tem a seu cargo a compra dos alimentos<br />

e do vestuário <strong>da</strong> mesma.<br />

2.º — Porque o movimento cooperativo, substituindo,<br />

paulatinamente, o comércio ordinário, lhe assegura mercado-<br />

rias boas, baratas e alimentos sãos.<br />

3.º — Porque a certeza do que ficou acima dito evitará<br />

que seja ela obriga<strong>da</strong> a percorrer os armazéns comparando<br />

preços e quali<strong>da</strong>des, o que lhe economizará tempo e esforços.<br />

4.º — Porque a cooperativa, que não necessita gastar<br />

em anúncios e instalações luxuosas, poderá oferecer-lhe arti-<br />

gos melhores que os armazens e negócios em constante liqui-<br />

<strong>da</strong>ção.<br />

5.º — Porque a cooperativa exclui o fiado e o crédito<br />

excessivo; obriga a dona de casa a ter ordem nas despesas e a<br />

manter equilíbrio entre êstes e as receitas <strong>da</strong> família e faz a<br />

família viver num ambiente de maior veraci<strong>da</strong>de.<br />

E não é só. A mulher deve ir além:<br />

1.º — Conhecendo a organização <strong>da</strong> Cooperativa, seu<br />

desenvolvimento;<br />

2.º — Divulgando êsses conhecimentos entre suas ami-<br />

gas e fazendo-as associa<strong>da</strong>s;<br />

3.º — Tratando de melhorar os serviços <strong>da</strong> cooperativa,<br />

utilizando-os contìnuamente, fazendo conhecer os defeitos que<br />

tiverem ou nêles introduzindo as melhorias convenientes ao<br />

maior número.<br />

Desta forma, com a realização dêste trabalho, que é uma<br />

obra de alcance social — o trabalho doméstico e a direção<br />

<strong>da</strong> família, terá a mulher a satisfação de tomar parte em um<br />

movimento de imenso valor como o movimento cooperativo.<br />

1.º — Porque está êle destinado a substituir o atual sis-<br />

tema de comércio, pela supressão dos intermediários inúteis,<br />

por preparar o povo para que seja o diretor econômico de seu<br />

próprio esfôrço criador.<br />

2.° — Porque o movimento cooperativo é inspirado por<br />

uma profun<strong>da</strong> simpatia humana, a que o faz associar-se ás<br />

mais altas manifestações de concórdia e progresso.


324 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

3.º — Porque, nascido do esforço de um grupo de pobres<br />

tecelões sem emprêgo, e espalhado pelo mundo, é a clara de-<br />

monstração <strong>da</strong> energia imensa que possui a associação inteli-<br />

gente e consciente dos homens, encerrando, assim, a promessa<br />

de um mundo melhor.<br />

Há, assim, necessi<strong>da</strong>de de que não sòmente os homens,<br />

senão também as mulheres, administradoras do lar, célula<br />

<strong>da</strong> pátria, se interessem pelo movimento cooperativo, conclui<br />

Aí<strong>da</strong> Guevara.


ANEXOS<br />

COMO DEFINE A LEI AS COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

“As cooperativas escolares poderão constituir-se nos es-<br />

tabelecimentos públicos ou particulares de ensino primário,<br />

secundário, superior, técnico ou profissional, entre os respecti-<br />

vos alunos, por si ou com o concurso de seus professôres, pais,<br />

tutôres ou pessoas que os representem, com o objetivo pri-<br />

mordial de inculcar aos estu<strong>da</strong>ntes a idéia do cooperativismo e<br />

ministrar-lhes os conhecimentos práticos <strong>da</strong> organização e<br />

funcionamento de determina<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de cooperativa e<br />

acessòriamente proporcionar-lhes as vantagens econômicas<br />

peculiares à mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de preferi<strong>da</strong>”.<br />

ESTATUTOS DA COOPERATIVA ESCOLAR DE ............ ........<br />

CAPÍTULO PRIMEIRO<br />

Da sede, área de ação, duração e fins <strong>da</strong> cooperativa<br />

Art. 1.º — Sob a denominação de “Cooperativa Escolar<br />

do Grupo Escolar .................. ., ci<strong>da</strong>de de ................ ........ ....<br />

fica<br />

constituí<strong>da</strong> entre os alunos abaixo-assinados e os que<br />

futuramente forem admitidos, devi<strong>da</strong>mente assistidos por seus<br />

pais, tutôres ou responsáveis, uma socie<strong>da</strong>de cooperativa es-<br />

colar que, como órgão educativo, visa despertar entre os alu-<br />

nos só princípios de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de humana, o espírito associa-<br />

tivo e cooperador, soerguer as tendências para a economia e<br />

previdência coletivas, a noção do apoio mútuo, a confiança<br />

recíproca, o senso <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de, contribuindo para a<br />

formação de gerações educa<strong>da</strong>s no regime cooperativo, enti-<br />

<strong>da</strong>de que se regerá pela legislação em vigor.<br />

Parágrafo único — A área de ação e a sede <strong>da</strong><br />

cooperativa ficam limita<strong>da</strong>s ao edifício escolar.<br />

ART. 2.° — A duração <strong>da</strong> cooperativa é ilimita<strong>da</strong>.


322 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

ART. 3.º — No cumprimento do seu programa de ação,<br />

a cooperativa se propõe: prover seus associados de material<br />

didático indispensável ao uso escolar, material para trabalhos<br />

e o aparelhamento pe<strong>da</strong>gógico do Grupo Escolar ........................<br />

assim como de jogos instrutivos, brinquedos, etc.<br />

Parágrafo único — A cooperativa procurará ain<strong>da</strong>, na<br />

medi<strong>da</strong> do possível e por ordem de importância, preencher os<br />

seguintes e elevados fins:<br />

a) — contribuir para a difusão do espírito de economia,<br />

de previdência, e do cooperativismo escolar e pós-escolar;<br />

b) — promover a formação de uma biblioteca aberta a<br />

todos os associados, constituí<strong>da</strong> de obras literárias, artísticas,<br />

científicas, pe<strong>da</strong>gógicas, econômicas, agrícolas e sociológicas<br />

a juízo <strong>da</strong> Diretoria <strong>da</strong> Escola;<br />

c) — prover o Grupo Escolar ....... ..................... do<br />

neces-<br />

sário material científico e de instituições que possibilitem o<br />

estudo <strong>da</strong> Natureza, a objetivação <strong>da</strong> instrução, o desenvolvi-<br />

mento <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des mentais e orgânicas dos alunos e apli-<br />

cação de métodos intuitivos, concretos e ativos, tais como:<br />

1.º — promover a organização e manutenção de um um-<br />

seu escolar e de oficinas para trabalhos manuais;<br />

2.° — criar um campo de experiências agrícolas ou uma<br />

granja e os cursos correspondentes, interessando o aluno no<br />

reflorestamento;<br />

3.º — instalar postos ou pelotões de saúde, copos-de-lei-<br />

te, pratos-de-sopa e fornecimento de pão, roupa e calçado, se<br />

possível em colaboração com a Caixa Escolar;<br />

4.º — promover festas, certames e conferências, estas<br />

preferencialmente vasa<strong>da</strong>s na doutrina cooperativa;<br />

5.º — promover a fun<strong>da</strong>ção de outras instituições e to-<br />

mar iniciativas de cunho instrutivo, educacional e humanitá-<br />

rio, tais como passeios, lista periódica de preços de coisas e<br />

dos produtos agrícolas, palestras, concursos esportivos, casas<br />

de saúde para as alunos pobres, colônias de férias, assim como<br />

iniciativas sugeri<strong>da</strong>s pelo Diretor e professôres, capazes de<br />

aperfeiçoar a instrução e a educação, contribuindo para o de-<br />

senvolvimento normal do aluno e destina<strong>da</strong>s a tornar a esco-<br />

la mais atraente, bela e útil;<br />

6.º — estabelecer um serviço de ficha antropométrica es-<br />

colar, de modo a facilitar a observação do clínico, no tocante<br />

ao desenvolvimento dos educandos.<br />

7.° — Vender a produção oriun<strong>da</strong> do trabalho<br />

individual ou coletivo de seus associados.


FÁBIO LUZ FILHO 327<br />

CAPÍTULO SEGUNDO<br />

Do Capital Social<br />

ART. 4.º — O capital <strong>da</strong> cooperativa é ilimitado, quan-<br />

to ao máximo,—não podendo, porém, ser inferior a ......................<br />

..<br />

Art. 5.º — As quotas-partes para a constituição do capi-<br />

tal terão o valor de ............... ... ca<strong>da</strong> uma e serão pagas de uma<br />

só vez ou em prestações mensais de ........................ % dentro <strong>da</strong><br />

primeira quinzena de ca<strong>da</strong> mês, devendo ca<strong>da</strong> associado subs-<br />

crever no mínimo, uma, e no máximo, ......................... quotas-par-<br />

tes. (1)<br />

(Nota — O valor de ca<strong>da</strong> quota vai de 1 a 100 cruzeiros).<br />

ART. 6.° — As quotas-partes só serão transferi<strong>da</strong>s a<br />

outro associado depois de integra<strong>da</strong>s e mediante autorização<br />

<strong>da</strong> Assembléia Geral.<br />

ART. 7.º — Ca<strong>da</strong> associado pagará uma jóia de ................<br />

para as primeiras despesas de instalação, organização e pro-<br />

pagan<strong>da</strong>.<br />

Parágrafo único — Cobertas essas despesas, as joias irão<br />

para o fundo de reserva.<br />

ART. 8.° — No caso de qualquer associado deixar de<br />

pagar as suas quotas, sem motivos justificáveis, durante os<br />

três meses que decorrerem <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta do vencimento <strong>da</strong>s respec-<br />

tivas prestações, o Conselho de Administração reserva-se o<br />

direito de advertir o aluno, tomando as medi<strong>da</strong>s que possam<br />

conduzí-lo ao cumprimento do seu dever social.<br />

ART. 9.º — O aluno demissionário ou excluído recebe-<br />

rá a saldo ou o valor de sua quota de capital.<br />

ART. 10 — Se as condições <strong>da</strong> Cooperativa o permiti-<br />

rem, a reembôlso <strong>da</strong> quota do associado demissionário ou ex-<br />

cluído se fará dentro de trinta dias <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> sua saí<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

Cooperativa, ou a aluno esperará a balanço anual.<br />

ART. 11 — O capital realizado e demais recursos <strong>da</strong><br />

Cooperativa serão recolhidos a um estabelecimento bancário,<br />

a juizo <strong>da</strong> Diretoria do Grupo, de onde serão retirados na me-<br />

di<strong>da</strong> <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des.<br />

ART. 12 — Será permiti<strong>da</strong> aos alunos a integralização<br />

<strong>da</strong>s quotas-parte em natureza ou em serviços.<br />

(1) — Até 1/3 do capital. Poderá haver fixação de um mínimo que ca<strong>da</strong><br />

um deverá subscrever. Poderá haver ausência do capital e de sobras,<br />

cobrando-se a jóia apenas.


328 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

CAPÍTULO TERCEIRO<br />

Dos associados, seus direitos e deveres<br />

ART. 13 — Poderão fazer parte <strong>da</strong> Cooperativa todos os<br />

alunos do Grupo Escolar ..................... ...... devendo ca<strong>da</strong> um:<br />

a)—provar que se acha autorizado por seu pai, tutor ou res-<br />

ponsável a fazer parte <strong>da</strong> Cooperativa e ser proposto<br />

por dois outros que não sejam administradores, e as-<br />

sinar o livro de matrícula ou a ficha de inscrição; (2)<br />

b)—ter autorização especial, paterna ou de quem de direito,<br />

para assistir e tomar parte em tô<strong>da</strong>s as sessões e exer-<br />

cícios que se fizerem fora <strong>da</strong>s horas de aulas;<br />

c)—observar as disposições estabeleci<strong>da</strong>s nos estatutos e<br />

regulamentos sociais;<br />

d)—efetuar o pagamento de suas quotas-partes, de confor-<br />

mi<strong>da</strong>de com os presentes estatutos honrando os com-<br />

promissos assumidos perante a Cooperativa;<br />

e)—freqüentar as assembléias;<br />

f)—contribuir pelo seu exemplo e dedicação para que a<br />

Cooperativa cumpra estritamente os elevados objetivos<br />

para que foi cria<strong>da</strong>, prestigiando-a;<br />

g)—não fazer comércio com os artigos adquiridos na Coo-<br />

perativa.<br />

§ 1.º — Será excluído todo aluno que sair <strong>da</strong> escola, dei-<br />

xar de cumprir seus deveres de associado ou tiver proceder<br />

censurável, a juízo do Conselho de Administração, com re-<br />

curso para a Assembléia Geral.<br />

§ 2.º — Será facultado aos associados assistirem, sem voz<br />

deliberativa, às reuniões do conselho de administração.<br />

ART. 14 — Ao ser admitido, o associado receberá um<br />

título nominativo em forma de caderneta, em cuja conta-cor-<br />

rente serão anotados o valor de suas quotas-partes e respecti-<br />

vas prestações, e os retornos, se existirem, entrando no gozo<br />

pleno de todos os direitos e obrigações sociais.<br />

§ 1.º — Essa caderneta constituirá o título-nominativo<br />

do associado e terá um número de ordem, a designação<br />

do Grupo e do ano a que pertence o aluno, e as firmas do presi-<br />

dente, do secretário, do tesoureiro e do pai, tutor ou respon-<br />

(2) — O livro de matrícula poderá ser desdobrado ou substituído por fichas<br />

de inscrição.


FÁBIO LUZ FILHO 329<br />

sávi. Dela poderão constar também, o nome, a i<strong>da</strong>de, nacio-<br />

nali<strong>da</strong>de e residência do aluno.<br />

§ 2.º — Os associados não responderão subsidiàriamente<br />

pelas obrigações sociais.<br />

ART. 15 — O Diretor e Os professôres do Grupo ..............<br />

.<br />

e o inspetor escolar consideram-se como orientadores natos<br />

<strong>da</strong> Cooperativa e terão o direito de assistir a tô<strong>da</strong>s as reuniões.<br />

CAPÍTULO QUARTO<br />

As operações sociais<br />

ART. 16 — As mercadorias de que a Cooperativa ne-<br />

cessitar serão adquiri<strong>da</strong>s, de preferência, aos produtores, di-<br />

retamente, ou aos atacadistas, ou às cooperativas de produ-<br />

ção ou trabalho especializa<strong>da</strong>s, ou, ain<strong>da</strong>, às Escolas Domés-<br />

ticas e Profissionais.<br />

ART. 17 — As ven<strong>da</strong>s ou distribuições de mercadorias<br />

serão feitas exclusivamente aos associados, a dinheiro, to-<br />

mando-se por base o justo preço.<br />

ART. 18 — A seção de ven<strong>da</strong>s só funcionará durante as<br />

folgas ou pausas, devendo o associado, que desejar adquirir<br />

os artigos de que tiver necessi<strong>da</strong>de, fazer a encomen<strong>da</strong> à hora<br />

de entra<strong>da</strong> no Grupo e retirá-la na ocasião do recreio.<br />

ART. 19 — As entra<strong>da</strong>s de mercadorias serão exara-<br />

<strong>da</strong>s, pelos alunos disso encarregados, em livro próprio, guar-<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong>s as mercadorias em compartimentos ou armários segu-<br />

ros, dentro do próprio Grupo.<br />

§ 1.º — As compras deverão ser feitas, sempre que pos-<br />

sível, por concorrência priva<strong>da</strong>, salvo em casos de justifica<strong>da</strong><br />

urgência;<br />

§ 2.0 — Tô<strong>da</strong>s as compras serão feitas a dinheiro vis-<br />

ta. (1)<br />

CAPÍTULO QUINTO<br />

Das sobras e do fundo de reserva<br />

ART. 20 — As sobras líqui<strong>da</strong>s que resultarem do balan-<br />

ço anual serão assim distribuí<strong>da</strong>s:<br />

1.º - 10% para fundo de reserva (taxa obrigatória);<br />

(1) — O pagamento é feito no ato <strong>da</strong> compra. Não se devem<br />

permitir as compras a prazo ou crédito, a não ser em casos<br />

excepcionais.


330 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

2.º — 90% para constituir O fundo de desenvolvimento,<br />

destinado aos fins constantes do parágrafo único do art. 3.º e<br />

suas letras.<br />

Parágrafo único — Os proventos acaso obtidos com fes-<br />

tas, certames, conferências, trabalhos manuais, etc., serão a<br />

critério <strong>da</strong> assembléia, destinados a reforçar o fundo de desen-<br />

volvimento ou fundo de reserva, aos quais serão também<br />

incorporados os donativos acaso especialmente feitos a Coope-<br />

rativa.<br />

ART . 21 — O Fundo de Reserva será constituído:<br />

1.º pelas jóias de admissão de ca<strong>da</strong> associado, de con-<br />

formi<strong>da</strong>de com o que dispõe o artigo 7.º, pelos donativos ou<br />

proventos eventuais.<br />

2.º — pela percentagem a que se refere a primeira parte<br />

do art. 20.<br />

ART. 22 — O fundo de reserva destina-se às per<strong>da</strong>s<br />

eventuais <strong>da</strong> Cooperativa.<br />

Parágrafo único — Parte do fundo de reserva poderá ser<br />

aplica<strong>da</strong>, quando necessário ou urgente, a critério dos Conse-<br />

lhos de Administração e Fiscal, assistidos pelo professorado, a<br />

fins imediatamente reprodutivos, desde que atinja o dôbro do<br />

capital social.<br />

ART. 23 — O fundo de reserva, destinado a reparar as<br />

per<strong>da</strong>s eventuais <strong>da</strong> Cooperativa, é indivisível, mesmo no caso<br />

de dissolução <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e obedecerá as prescrições <strong>da</strong> lei,<br />

no que lhe fôr aplicável.<br />

(NOTA — É preciso considerar que a lei não pode ser aplica<strong>da</strong><br />

rìgi<strong>da</strong>mente a uma cooperativa escolar, e que os 10%<br />

do fundo de reserva são o mínimo).<br />

CAPÍTULO SEXTO<br />

Dos órgãos de administração e fiscalização<br />

ART 24 — A Cooperativa será administra<strong>da</strong> e fiscaliza-<br />

<strong>da</strong> pelos seguintes órgãos:<br />

a) — Assembléia geral;<br />

b) — Conselho de Administração; e<br />

C) — Conselho Fiscal.


a)— Da Assembléia Geral:<br />

FABIO LUZ FILHO 331<br />

ART. 25 — As assembléias gerais realizar-se-ão em ju-<br />

nho e dezembro de ca<strong>da</strong> ano. Nesta última, serão apresenta-<br />

<strong>da</strong>s as contas do ano e eleger-se-ão as Conselhos de<br />

Administração e Fiscal, e estabelecer-se-á o programa de ação<br />

do exercício seguinte. As de junho serão um motivo para troca<br />

de idéias sôbre assuntos escolares, sôbre economia interna <strong>da</strong><br />

Cooperativa e outros que interessem à vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> instituição.<br />

ART. 26 — As assembléias gerais se reunirão por con-<br />

vocação do Conselho de Administração do Conselho Fiscal ou<br />

de dois têrços de associados, neste último caso quando houver<br />

recusa ou desídia por parte dos Conselhos, feitas as convoca-<br />

ções com oito (8) dias de antecedência.<br />

ART. 27 — As assembléias gerais tratarão ùnicamente<br />

dos assuntos constantes <strong>da</strong> ordem do dia, nelas podendo-se<br />

sòmente discutir assuntos de interêsse geral, e suas convoca-<br />

ções serão motiva<strong>da</strong>s. O processo de votação será determinado<br />

pela assembléia,<br />

ART. 28 — Para “quorum” <strong>da</strong>s assembléias será neces-<br />

sária a presença de metade e mais um do número total dos<br />

associados, em primeira convocação um têrco, na segun<strong>da</strong>,<br />

e qualquer número na terceira, devendo as deliberações ser<br />

aprova<strong>da</strong>s por maioria de votos, tendo o presidente voto de<br />

desempate.<br />

ART. 29 — As assembléias extraordinárias realizar-se-<br />

ão tantas vêzes quantas forem necessárias.<br />

ART. 30 — Ca<strong>da</strong> associado terá um só voto, qualquer<br />

que seja o número de quotas-partes que possuir.<br />

ART. 31 — Tô<strong>da</strong>s as deliberações serão submeti<strong>da</strong>s à<br />

apreciação do Diretor do Grupo Escolar, como orientador ou<br />

assessor apenas.<br />

(N0TA — Poderá admitir-se uma segun<strong>da</strong> convocação<br />

uma hora depois).<br />

b) — Do Conselho de Administração<br />

ART 32 — O Conselho de Administração terá cinco<br />

membros e dois suplentes, escolhidos pela Assembléia Geral<br />

entre os alunos mais distintos do terceiro e quarto anos, de<br />

preferência, de ambos os sexos, podendo ser reeleitos.


332 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Parágrafo único — O Conselho de Administração no-<br />

meará, dentre os seus componentes, um presidente, um vi-<br />

ce-presidente, um secretário e um tesoureiro.<br />

ART. 33 — O Conselho de Administração terá o man-<br />

<strong>da</strong>ta de um ano, podendo ser reeleito.<br />

ART. 34 — O Conselho deliberará sempre por maioria<br />

de votos, desde que reuna pelo menos a metade e mais de seus<br />

membros. Reunir-se-á tantas vêzes quantas julgue necessárias<br />

para a boa marcha <strong>da</strong> Cooperativa.<br />

ART. 35 — Compete ao Conselho de Administração:<br />

a)— regulamentar os serviços gerais <strong>da</strong> Cooperativa;<br />

b)—reunir-se freqüentemente para a direção executiva <strong>da</strong><br />

Cooperativa;<br />

c)—distribuir as sobras anuais, quando fôr o caso, segundo<br />

o balanço aprovado pela Assembléia Geral;<br />

d)—apresentar relatórios anuais;<br />

e)—admitir e excluir as associados e <strong>da</strong>r-lhes a demissão;<br />

f)—praticar todos os atos necessários ao estrito preenchimen-<br />

to dos fins sociais.<br />

Parágrafo único — O Conselho de Administração indi-<br />

cará os alunos que, por grupos integrados par um número<br />

de ..................... ..alunos, em turnos sucessivos, devam<br />

participar assiduamente <strong>da</strong>s operações de compras, ven<strong>da</strong>s e<br />

contrôle sociais, semanal, quinzenal ou mensalmente,<br />

interessando-os, assim, nos aspectos concretos <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

Cooperativa.<br />

ART. 36 — O presidente <strong>da</strong> Cooperativa, sob a autori-<br />

<strong>da</strong>de e vigilância do diretor ou professôres do Grupo, aconse-<br />

lha e dirige, controlando as receitas, donativos e subvenções;<br />

verificando, mensalmente, as contas do tesoureiro; fiscali-<br />

zando os encargos do secretário e demais serviços <strong>da</strong> Coopera-<br />

tiva; preparando o instrumental necessário às aulas práticas<br />

e organizando exposições, ven<strong>da</strong>s, coletas, excursões, confe-<br />

rências, lições práticas, etc.; assinando, com o secretário e o<br />

tesoureiro, os títulos-nominativos, a livro de matrícula ou a<br />

ficha <strong>da</strong> inscrição; convocando as assembléias e os conselhos,<br />

quando necessário; regulando a ordem do dia <strong>da</strong>s sessões do<br />

Conselho e <strong>da</strong>s assembléias gerais, dirigindo as discussões;<br />

mantendo a boa ordem, a polidez, o decôro e o silêncio nas<br />

reuniões; verificando as atas <strong>da</strong>s reuniões dos Conselhos e <strong>da</strong>s<br />

assembléias gerais.<br />

ART. 37 — O vice-presidente acompanhará o presiden-<br />

te como seu auxiliar imediato, competindo-lhe substituí-lo em


FÁBIO LUZ FILHO 333<br />

seus impedimentos cui<strong>da</strong>rá <strong>da</strong> biblioteca, do museu, dos ar-<br />

quivos, depósito e coleções.<br />

ART. 38 — O Secretário terá a seu cargo lavrar e ler<br />

as atas <strong>da</strong> Assembléia Geral e do Conselho de Administração,<br />

fazer e assinar a correspondência e assinar, com o presidente<br />

e tesoureiro, as cadernetas ou títulos nominativos dos associa-<br />

dos e o livro de matrícula ou ficha de inscrição.<br />

Parágrafo único — O Conselho de Administração<br />

poderá designar dois alunos dos 3.º e 4.º anos, para exercerem fun-<br />

ções de bibliotecários-adjuntos.<br />

ART 39 — Ao tesoureiro compete escriturar os livros co-<br />

merciais, ter sob sua direção os alunos que exercerem as fun-<br />

ções de “caixas”, apresentar balancetes mensais ao Conse-<br />

lho Fiscal, ter sob sua guar<strong>da</strong> os valores <strong>da</strong> Cooperativa, efe-<br />

tuar pagamentos e recebimentos, e exercer as demais funções<br />

próprias de um tesoureiro.<br />

Parágrafo único — O tesoureiro assinará com o presidentete<br />

e o secretário os títulos nominativos e o livro de<br />

matri- cula ou a ficha de inscrição.<br />

ART. 40 — Os “caixas”, a que se refere o artigo ante-<br />

rior, serão em número de dois, um de ca<strong>da</strong> turno, e fiscali-<br />

zarão as entra<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s mercadorias, as ven<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s mesmas, re-<br />

cebendo e registrando as respectivas importâncias e substi-<br />

tuindo os vendedores, quando necessário.<br />

ART. 41 — As vagas definitivas que se derem no Con-<br />

selho de Administração serão preenchi<strong>da</strong>s pelos suplentes, por<br />

designação do próprio Conselho, até à primeira Assembléia<br />

Geral ou, na falta dêstes, por membros do C. Fiscal.<br />

Parágrafo único - O Diretor do Grupo Escolar, em tô<strong>da</strong>s<br />

as deliberações do Conselho de Administração, terá, como os<br />

professôres, voz consultiva apenas. (1)<br />

c) — Do Conselho Fiscal:<br />

ART. 42 — O Conselho Fiscal compor-se-á de três alu-<br />

nos eleitos pela Assembléia Geral, e terá por missão fiscalizar<br />

e acompanhar a marcha econômica e financeira <strong>da</strong> Coopera-<br />

tiva, verificando semanalmente as contas, estoques e nume-<br />

rário e mensalmente o balancete do tesoureiro. Dará a pare-<br />

cer sôbre as contas e o relatório do Conselho de Administra-<br />

ção. O Diretor do Grupo Escolar poderá presidir ao Conselho<br />

(1) — Poderá o Conselho de Administração, quando necessário, nomear, promo-<br />

ver e demitir empregados, distribuindo-lhes funções e vencimentos. As secções <strong>da</strong><br />

cooperativa poderão visar à proteção dos pássaros, a socorros imediatos, etc. Poderá<br />

também designar secretários de organização e propagan<strong>da</strong>, de ação social, etc.


334 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Fiscal, que durará um ano no man<strong>da</strong>to, não podendo se reelei-<br />

to para o ano seguinte, sendo sempre assistido por um ou<br />

mais professôres. O balanço anual deverá ser apresentado ao<br />

Conselho Fiscal com uma semana de antecipação pelos menos.<br />

Quando necessário ou urgente, convocará o Conselho de<br />

Administração ou a Assembléia Geral.<br />

§ 1.º) — A Assembléia também designará três suplen-<br />

tes, que substituirão os efetivos nos seus impedimentos.<br />

§ 2.º — O Conselho Fiscal e o de Administração se reuni-<br />

rão pelo menos uma vez por mês em sessão conjunta para tra-<br />

tar de assuntos conexos.<br />

ART. 43 — As vagas que se derem no Conselho Fiscal<br />

serão preenchi<strong>da</strong>s pelos suplentes, convocados pelo Conselho<br />

de Administração.<br />

(N. B.) — O Conselho Fiscal deverá ser escolhido de<br />

preferência entre os mais votados depois dos eleitos para o<br />

Conselho de Administração, e poderá ter secretários, e esta-<br />

belecer turnos individuais de fiscalização.<br />

CAPÍTULO SÉTIMO<br />

Das disposições gerais<br />

ART. 44 — Ca<strong>da</strong> professor será o delegado nato de sua<br />

classe e poderá indicar, para efeitos do sufrágio livre, os alu-<br />

nos mais aptos e distintos para ocupar os cargos sociais.<br />

ART. 45 — O Diretor do Grupo (ou o professor orienta-<br />

dor) terá os fundos sociais sob sua guar<strong>da</strong>, os quais estarão<br />

à disposição do Conselho de Administração, e será responsável<br />

pelas importâncias deposita<strong>da</strong>s em estabelecimentos banca-<br />

rios e pelas operações que se realizarem, sendo-lhe facultado:<br />

1.º — recolher as cadernetas dos associados que deseja-<br />

rem fazer compras na Cooperativa, o que ca<strong>da</strong> um deverá to-<br />

mar como obrigação moral;<br />

2.° — fornecer as cadernetas para anotações dos pedidos<br />

de compras;<br />

3.º — inventariar os bens na Cooperativa, com o auxílio<br />

<strong>da</strong> Administração <strong>da</strong> mesma;<br />

4.º — organizar os serviços <strong>da</strong> Cooperativa, de acôrdo<br />

com o que dispuser o Conselho de Administração.<br />

Parágrafo único — Ao Diretor do Grupo Escolar (ou ao<br />

professor orientador) cabe a representação ativa e passiva <strong>da</strong><br />

Cooperativa.


FÁBIO LUZ FILHO 335<br />

ART. 46 — Os professôres interrogarão diàriamente os<br />

alunos associados que desejarem fazer compras, recolhendo<br />

as respectivas cadernetas, que serão entregues ao Diretor do<br />

Grupo para as encaminhar ao presidente <strong>da</strong> Cooperativa.<br />

ART. 47 — Para modificação dos presentes estatutos ou<br />

dissolução <strong>da</strong> Cooperativa, exigir-se-á uma assembléia que<br />

reuna dois terços dos associados e delibere com dois terços <strong>da</strong><br />

totali<strong>da</strong>de dos associados presentes em primeira convocação,<br />

ou por metade e mais um, em segun<strong>da</strong>, ou com qualquer núme-<br />

ro, em terceira, sempre assistidos pelo Diretor do Grupo ou<br />

professôres (ou o professor orientador).<br />

§ 1.º — A cooperativa se dissolverá:<br />

a)— por fechamento ou fusão do Grupo ou Escola;<br />

b)—por mu<strong>da</strong>nça de organização ou plano de estudos que<br />

que impeça seu funcionamento;<br />

c)—quando o número de associados for inferior a sete por<br />

mais de três meses;<br />

d)— pelo consenso unânime dos associados.<br />

ART. 48 — No caso <strong>da</strong> dissolução prevalecer o acervo<br />

social líquido, depois de restituí<strong>da</strong>s as quotas-partes de ca<strong>da</strong><br />

associado, será destinado à Caixa Escolar ou a qualquer outra<br />

enti<strong>da</strong>de de fins de utili<strong>da</strong>de escolar, ou assistência social in-<br />

terescolar, a juízo <strong>da</strong> Assembléia Geral.<br />

NOTA — Os presentes estatutos, pelo autor elaborados<br />

e que Julio Mejia Scarneo adotou em seu livro — Manual de<br />

Cooperativas — Lima — 1956, são meramente exemplificati-<br />

vos, embora adotados oficialmente pelo Serviço de Economia<br />

Rural. Pode, pois, sofrer as necessárias modificações ou sim-<br />

plificações, de acôrdo com o meio, a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de escolhi<strong>da</strong>, etc.,<br />

inclusive a distribuição de retornos, gerência, etc.<br />

CONSELHO DE ASSESSORES<br />

Poderá a cooperativa escolar possuir um Conselho de<br />

Assessôres, sob a presidência do Diretor <strong>da</strong> escola, e composto<br />

de professôres que lecionem matérias afins com as ativi<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> cooperativa, e de pais de alunos, escolhidos pela Assembléia<br />

ou designados pelo Diretor


336 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Pessoas estranhas aos pais e professôres poderão inte-<br />

grá-lo, quando possuidores de conhecimentos técnicos úteis à<br />

escola. Terá por fim zelar pela boa marcha <strong>da</strong> cooperativa,<br />

com voz consultiva nas Assembléias; acompanhar a aplicação<br />

dos fundos, orientar e assistir. Durará um ano.<br />

COOPERATIVAS JUVENIS OU COOPERATIVAS<br />

EXTRA-ESCOLARES<br />

Como o fiz sentir em capítulo próprio, poderiam organi-<br />

zar-se cooperativas juvenis, ou de escolares (à semelhanca <strong>da</strong>s<br />

pós-escolares), cooperativas extra-escolares, vamos dizer, so-<br />

bretudo de artesanato, fora dos estabelecimentos de ensino.<br />

Tendo sido êsse assunto, por mim levantado, submetido ao<br />

ilustre Consultor Jurídico do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>,<br />

Dr. Tertuliano de Menezes Mitchell, como vimos, êste opinou<br />

contra a minha tese, alegando que, em face <strong>da</strong>s leis brasilei-<br />

ras específicas de cooperativas, a sede só pode ser o estabele-<br />

cimento de ensino. Mais um ponto que modificar na atual<br />

regislação, defini<strong>da</strong> a capaci<strong>da</strong>de civil dos assessôres, ou do<br />

aluno, como o fez a Guatemala, que realizou em maio de 1954<br />

o primeiro congresso de “cooperativas juvenis” <strong>da</strong> América<br />

Latina.<br />

NOTA FINAL:<br />

O COOPERATIVISMO ESCOLAR NO MÉXICO<br />

Existiam, até outubro de 1954, no México,1.428 coopera-<br />

tivas escolares. Dão retornos.<br />

ATA DE CONSTITUIÇÃO PARA COOPERATIVAS<br />

ESCOLARES:<br />

Aos ....... ... dias do mês de .................... ...do ano de mil<br />

novecentos e ........ .............. .., na ci<strong>da</strong>de de ............ ................<br />

do Estado de ........... ..................... ... às .......... ..horas, em uma<br />

<strong>da</strong>s salas do Grupo Escola ....................... ................ , reuniram-<br />

se de sua livre e espontânea vontade, em assembléia geral, para<br />

constituir e instalar uma Socie<strong>da</strong>de Cooperativa escolar no ter-


FÁBIO LUZ FILHO 337<br />

mos <strong>da</strong> legislação em vigor, os escolares (seguem-se os nomes<br />

por extenso, i<strong>da</strong>de, nacionali<strong>da</strong>de, residência, não podendo ser<br />

o número de associados inferior a sete) ........................................<br />

........ ..................... ...................... ............... .............................<br />

........ ..................... ...................... ............... ................... ........<br />

Foi aclamado para presidir à reunião o professor .....................<br />

......................... ..... (ou professôra) que convidou a mim ..........<br />

................... ...para secretariar a sessão, ficando assim<br />

constituí<strong>da</strong> a mesa. A seguir o Sr. Presidente declarou aberta a<br />

sessão, expondo os fins <strong>da</strong> reunião que eram constituir e insta-<br />

lar uma cooperativa escolar, nos têrmos <strong>da</strong> lei em vigor, deno-<br />

mina<strong>da</strong> “Cooperativa Escolar ........... ....... “ do Grupo ...............<br />

.<br />

......................... , com sede nesta ci<strong>da</strong>de de .................................<br />

do Estado de .................... ........ ......... ,deliberar sôbre seus<br />

esta-<br />

tutos, eleger sua primeira administração e proceder à sua ins-<br />

talação.<br />

Lidos e discutidos os estatutos que devem reger a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

Socie<strong>da</strong>de, foram os mesmos submetidos à votação e aprova-<br />

dos, como expressão <strong>da</strong> vontade de formar a cooperativa.<br />

(Poderão os estatutos ser aqui transcritos. Quando êstes não<br />

figurem no corpo <strong>da</strong> ata, ambos devem trazer a mesma <strong>da</strong>ta e<br />

as mesmas assinaturas).<br />

Em segui<strong>da</strong>, o Sr. Presidente declarou definitivamente<br />

constituí<strong>da</strong> a Cooperativa Escolar ................................ com sede<br />

no<br />

edifício escolar, com o objetivo educativo e econômico indicado<br />

pela lei, sendo seus fun<strong>da</strong>dores os alunos cujos nomes constam<br />

inicialmente por extenso do texto desta ata, todos residentes<br />

em .......................... ......<br />

O Sr. Presidente convidou os presentes a proceder à elei-<br />

ção dos membros dos Conselhos de Administração e Fiscal,<br />

bem como de seus suplentes. Procedi<strong>da</strong> à eleição verificou-se o<br />

seguinte resultado: para presidente, o Sr ............... .......... ...........<br />

Para .............. .............................. ... , etc.<br />

O Presidente, a seguir, proclamou-os eleitos, <strong>da</strong>ndo-os<br />

co-mo empossados nos respectivos cargos e, como na<strong>da</strong> mais<br />

houvesse a trata, declarou encerra<strong>da</strong> a sessão, man<strong>da</strong>n-<br />

do que eu ............................. ....... ..... , como secretário, la-<br />

vrasse a presente ata, a qual, li<strong>da</strong> e julga<strong>da</strong> confor-<br />

22 — 27 454


338 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

me , é por todos assina<strong>da</strong> (ou por uma comissão eleita)<br />

em ..................... ...de ......................... de ...... ................ ...<br />

(a) ........ ................ ...... Secretário. (Seguem-se as assinaturas).<br />

........ ..................... ...................... ............... ........................<br />

........ ..................... ...................... ............... ........................<br />

(Todos os documentos: ata, estatutos, lista nominativa,<br />

devem ser autenticados pelo Diretor, ou Diretora, do estabele-<br />

cimento e rubricados pelo Presidente eleito, aluno, que de-<br />

clarará estarem de acôrdo com os originais).<br />

NOTA<br />

A cooperativa escolar é órgão educativo, como se viu, A própria lei, cocren-<br />

temente, não lhe exige nem mesmo personali<strong>da</strong>de jurídica e dispensa-a de outras<br />

formali<strong>da</strong>des próprias <strong>da</strong>s cooperativas de adultos. Daí não se aplicarem à mesma<br />

com rigor certas disposições <strong>da</strong> lei. No espírito <strong>da</strong> lei, na intenção do legislador<br />

está claro que a lei deverá ser segui<strong>da</strong> no que fôr aplicável a êsse tipo de<br />

cooperativa, tão delicado e de tanto alcance. Uma <strong>da</strong>s muitas disposições ina-<br />

plicáveis é a <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de, pela ausência de capaci<strong>da</strong>de civil, nas coopera-<br />

tivas do crianças.<br />

Os estatutos acima, já constantes <strong>da</strong> 1.ª edição (<strong>da</strong><strong>da</strong> à<br />

publici<strong>da</strong>de em janeiro de 1933), foram ligeiramente por mum<br />

modificados e oficializados pelo “Serviço de Economia Rural”<br />

do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, como o tinham sido, em 1931,<br />

pelo ex-Fomento Agrícola Federal.<br />

As cooperativas escolares estão isentas de selos e de<br />

todos os impostos e deverão requerer seu registro no “Serviço<br />

de Economia Rural”, do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, através dos<br />

Departamentos estaduais de cooperativismo, juntando ape-<br />

nas: uma cópia do ato constitutivo (ata de constituição), um<br />

exemplar dos estatutos e uma relação dos associados, do-<br />

cumentos êsse com a assinatura de sete ou mais fun<strong>da</strong>dores<br />

a autenticados pelo diretor do instituto de ensino. Não pré-<br />

cisam arquivar os documentos em cartório, etc.<br />

Os presentes estatutos podem ser alterados na parte<br />

que se refere ao diretor do Grupo, podendo-se dizer diretor ou diretora.<br />

O mesmo para a parte que se reporta a professor ou<br />

professôra.<br />

Ain<strong>da</strong> na categoria <strong>da</strong> Escola, que poderá ser rural, nor-<br />

mal, profissional, ginásio, grupo escolar, etc.<br />

As cadernetas de compras na<strong>da</strong> têm que ver com as ca-<br />

dernetas-títulos nominativos, êstes simplificados tanto quan-<br />

to possível.


FÁBIO LUZ FILHO 339<br />

Lar-se-á à Cooperativa um nome delicado e sugestivo,<br />

uma bela divisa: “Para a escola! Pela Escola!". “Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>-<br />

de”, etc.<br />

As deliberações <strong>da</strong> Assembléia Geral, do Conselho de<br />

Administração, avisos úteis, etc., deverão ser afixados pelo<br />

tempo necessário em lugar a todos acessível, e recolhidos, de-<br />

pois, aos respectivos arquivos. É esta uma salutar prática<br />

que acentua o caráter democrático <strong>da</strong> cooperativa, que deverá<br />

ser como um templo de cristal, sem recessos ou refolhos que a<br />

subtraiam à vista dos associados. É ela uma pequena repúbli-<br />

ca, “uma pequena imagem <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>”, como acentuou Jouenne,<br />

uma miniatura do corpo social. É um exemplo de organização<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, levando admiràvelmente ao espírito de iniciativa<br />

e eqüi<strong>da</strong>de.<br />

Aos pais ou tutôres dos associados, poderá ser permitido<br />

assistir às reuniões <strong>da</strong> Cooperativa, com voz consultiva, a juízo<br />

do diretor <strong>da</strong> escola.<br />

Cooperativas européias há que admitem, como vimos,<br />

alunos e antigos alunos de 6, 18 e 20 anos de i<strong>da</strong>de, só<br />

admitindo nos Conselhos de Administração alunos maiores de<br />

10 anos.<br />

LISTA NOMINATIVA DOS ASSOCIADOS FUNDADORES<br />

DA COOPERATIVA ESCOLAR .............. ..... ...


340 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

NORMAS PARA UMA COOPERATIVA ESCOLAR<br />

RURAL (ADAPTÁVEL ÀS URBANAS)<br />

1.° — aquisição de livros e material escolar;<br />

2.º — produção e compra de artigos de primeira necessi<strong>da</strong>de;<br />

3.º — produção de material de ensino;<br />

4.º — desenvolver o espírito e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e o de economia,<br />

o senso <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de e o espírito de equipe;<br />

5.º — será um “centro-de-interêsse” para a escola;<br />

6.º — desenvolvimento do espírito de economia e noção <strong>da</strong><br />

distribuição eqüitativa do dinheiro; senso de direção e<br />

auto-suficiência;<br />

7.º — criação de cooperativas pós-escolares.<br />

SETOR PRODUÇÃO<br />

A Cooperativa Escolar distribuirá, pelo trabalho dos alu-<br />

nos, individual ou em equipe, objetos ou produtos diversos,<br />

seja entre os alunos associados, seja ao público, sempre con-<br />

siderados os aspectos educativos dessas ativi<strong>da</strong>des.<br />

Os alunos receberão, pelo seu trabalho, uma remuneração<br />

determina<strong>da</strong> pela assembléia.<br />

SECÇÃO DE ECONOMIA<br />

Na<strong>da</strong> impede que a Cooperativa escolar tenha uma peque-<br />

na secção dêste gênero, na qual os alunos depositarão suas<br />

economias, só podendo retirá-las em casos de moléstia dêles ou<br />

na família, ou quando se demitam ou forem excluídos.<br />

O Conselho Fiscal e o Conselho de Administração<br />

resolverão os casos excepcionais.<br />

COOPERATIVAS ESTUDANTÍS E UNIVERSITÁRIAS<br />

Das estu<strong>da</strong>ntis e universitárias, de caráter econômico,<br />

integra<strong>da</strong>s por maiores de 16 anos, poderão participar, como<br />

associados, os professôres e demais pessoas que sirvam nos<br />

estabelecimentos de ensino, e enquadrar-se-ão nos moldes <strong>da</strong>s<br />

demais cooperativas de adultos, com personali<strong>da</strong>de jurídi-<br />

ca, etc.


FÁBIO LUZ FILHO 341<br />

REQUERIMENTO<br />

Sr. Diretor do Serviço de Economia Rural<br />

A Cooperativa ................. ....................... .......... ...., por seu pré-<br />

sidente infra-assinado, vem, de acôrdo com a lei, requerer seu<br />

registo nesse Serviço, juntando os documentos exigidos por<br />

lei, que declara serem autênticos e verídicos.<br />

Nêstes têrmos<br />

P.deferimento.<br />

(Assinar o nome por extenso).<br />

Documentos anexos:<br />

a) — cópia <strong>da</strong> ata de constituição;<br />

b) — exemplar dos estatutos, se não se acharem inclusos<br />

no texto <strong>da</strong> ata;<br />

c) — lista dos associados com as indicações legais.<br />

(Todos êsses documentos serão enviados em uma via,<br />

com suas fôlhas rubrica<strong>da</strong>s pelo Presidente, e autenticados pelo<br />

diretor do estabelecimento do ensino. As cooperativas esco-<br />

lares estão isentas de selos e de impostos).<br />

N0TA — Uma outra via deverá ficar com os serviços ou<br />

departamentos de cooperativismo, em ca<strong>da</strong> Estado.<br />

COOPERATIVAS ESCOLARES AGRÍCOLAS<br />

São fins dessas associações:<br />

a) — criar uma organização cooperativa de ven<strong>da</strong> e de<br />

compra, graças à qual os alunos <strong>da</strong>s escolas poderão chegar a<br />

adquirir, pelo método direto, a experiência cooperativa, os<br />

princípios do cooperativismo e sua aplicação prática, as nor-<br />

mas de organização e a direção a <strong>da</strong>r às operações sôbre uma<br />

base sã;<br />

b) — incentivar, animar e empreender a produção, a<br />

exposição, a classificação, a expedição, o financiamento, a<br />

armazenagem, a publici<strong>da</strong>de, a ven<strong>da</strong> e tô<strong>da</strong>s as outras opera-<br />

ções de manipulação dos produtos agrícolas, e proporcionar<br />

aos associados tô<strong>da</strong>s as facili<strong>da</strong>des e serviços, graças aos quais


342 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

possam êles exercer essas ativi<strong>da</strong>des ou outra qualquer sôbre<br />

uma base cooperativa;<br />

c)— fazer a comercialização dos artigos produzidos por<br />

seus membros; comprar e vender todos os artigos de conformi-<br />

<strong>da</strong>de com os regulamentos estabelecidos pelo Conselho de<br />

Administração;<br />

d)— colaborar com as socie<strong>da</strong>des cooperativas de adul-<br />

tos ou outras socie<strong>da</strong>des de jovens.<br />

COOPERATIVA ESCOLAR DE TRABALHO EM SÃO PAULO<br />

DO OBJETO DA SOCIEDADE E SUAS OPERAÇÕES:<br />

ART. 12 — A socie<strong>da</strong>de tem por objeto, unindo os inter-<br />

nados do “Instituto Agrícola de Menores de Batatais”, edu-<br />

cá-los dentro dos princípios do sistema cooperativo, <strong>da</strong> soli-<br />

<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e do auxilio mútuo, <strong>da</strong>ndo-lhes ao mesmo tempo<br />

uma profissão e inculcando-lhes hábitos de economia e pré-<br />

visão.<br />

ART. 13 — No cumprimento de seu programa de ação<br />

a Cooperativa se propõe: — I - NA SEÇÃO DE TRABALHO.<br />

a)— Produzir, para vender, trabalhos manuais e pro-<br />

dutos de indústria artesanal e agropecuária.<br />

b)— Aceitar encomen<strong>da</strong>s e empreita<strong>da</strong>s de trabalhos a<br />

serem realiza<strong>da</strong>s dentro e fora do Estabelecimento, a juízo <strong>da</strong><br />

Diretoria do Instituto e do orientador <strong>da</strong> Cooperativa.<br />

C)— Organizar os serviços de modo e aproveitar a ca-<br />

paci<strong>da</strong>de dos associados, distribuindo-lhes os trabalhos de<br />

acôrdo com suas aptidões.<br />

d)— Fornecer aos associados material e quaisquer meios<br />

de que a socie<strong>da</strong>de disponha, destinados a facilitar e assegurar<br />

a boa execução dos trabalhos que lhes confiar, podendo insta-<br />

lar depósitos, oficinas e outras dependências necessárias.<br />

e)— Fazer aos associados, por conta dos trabalhos exe-<br />

cutados, adiantamentos mensais, a critério <strong>da</strong> Diretoria.<br />

f)— Procurar mercado para a colocação dos produtos<br />

manufaturados.<br />

PARÁGRAFO ÚNICO — Os associados que prestam<br />

serviços internos que as impeçam de produzir na seção de<br />

traba-lho, receberão uma mensali<strong>da</strong>de correspondente à média<br />

alcança<strong>da</strong> individualmente pelos associados que produzirem<br />

na referi<strong>da</strong> seção.


FÁBIO LUZ FILHO 343<br />

II— NA SEÇÃO DE CULTURA E DIVERSÕES:<br />

a) — Organizar uma biblioteca e assinar jornais e re-<br />

vistas educativas, especialmente os que tratem de assuntos<br />

relacionados com os trabalhos a serem executados pelos as-<br />

sociados e ao cooperativismo em geral, além de jornais espor-<br />

tivos.<br />

b) — Organizar uma discoteca.<br />

c) — Instalar nas dependências do Instiuto Agrícola<br />

de Menores de Batatais, aparelhos de projeção cinematográfi-<br />

ca, com a organização de programas educativos e recreativos.<br />

d) — Promover, mediante prévio entendimento com a<br />

Diretoria do Instituto e sob a apreciação <strong>da</strong> Diretoria do Ser-<br />

Social dos Menores, excursões de caráter instrutivo e recrea-<br />

tivo.<br />

e) — Aumentar o Parque Esportivo do Instituto.<br />

f) — Promover competições esportivas e culturais.<br />

g) — Adquirir prêmios de caráter coletivo, que consti-<br />

tuirão patrimônio <strong>da</strong> Cooperativa e servirão aos associados<br />

enquanto internados no Instituto Agrícola de Menores de<br />

Batatais.<br />

h) — Manter, de acôrdo com a Diretoria do Instituto,<br />

cursos julgados necessários à instrução e desenvolvimento pro-<br />

fissional dos associados.<br />

AS COOPERATIVAS PÓS-ESCOLARES<br />

As cooperativas pós-escolares, como o nome indica, são,<br />

como vimos, cooperativas que se poderão formar depois de ter-<br />

minar o aluno o curso escolar.<br />

Tem por finali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>r aos ex-alunos, e também a filhos<br />

de operários pobres, meios de continuar sua educação geral<br />

e proporcionar-lhes meios de adquirir ensino técnico, prepa-<br />

rando-os para os ofícios manuais, o artesanato rural, a agri-<br />

cultura e a criação, desenvolvendo-lhes aptidões úteis para os<br />

vários misteres, num sentido objetivo. A cooperativa também<br />

poderá adquirir material didático e instrumentos de trabalho,<br />

distribuindo socorros, e adquirindo para uso de seus associa-<br />

dos, as ferramentas necessárias e até mesmo instrumental


344 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

agrícola. Dar-lhes-á orientação profissional, auxiliando-os na<br />

procura de emprêgo, principalmente aos órfãos e filhos de fa-<br />

mílias numerosas.<br />

Na<strong>da</strong> vejo na lei brasileira que as proíba, não obstante a<br />

exegese rígi<strong>da</strong>.<br />

NOMES DE PESSOAS<br />

As cooperativas escolares não deverão em face <strong>da</strong> lei co-<br />

locar nome ou nomes de pessoas vivas em sua denominação, a<br />

não ser como indicação geográfica ou no caso do nome ou no-<br />

mes fazerem parte <strong>da</strong> denominação do estabelecimento do em-<br />

sino. Devem adotar, de preferência, nomes simbólicos e su-<br />

gestivos.<br />

PROFESSOR ORIENTADOR<br />

O diretor do estabelecimento de ensino poderá designar<br />

um professor ou uma professôra com funções de orientação,<br />

a qual, quando fôr o caso, poderá <strong>da</strong>r quitação ou levantar di-<br />

nheiro, como o diretor.<br />

GERENTE<br />

Poderá o tesoureiro ser substituído por um gerente, ou<br />

elegerem, além do tesoureiro, um gerente, ou o Conselho de<br />

Administração designar um aluno (mais simples) para geren-<br />

te (art. 35, § único dos estatutos).<br />

COOPERATIVA ESCOLAR<br />

(PEDIDO DE INSCRIÇÃO)<br />

.................. ................ ....... ....... ................. abaixo assinado<br />

aluno do .................... .......... ............. ...., filho de ....................<br />

......................... ............... ........... nascido em de ....................<br />

de 19 ................ ............... ....... , natural de.. ................ ..........<br />

Estado ................ ......... e domiciliado em ............ , devi<strong>da</strong>mente<br />

Autorizado ................................................ ............... ,pede a sua<br />

inscrição no quadro social desta Cooperativa Escolar, cujos<br />

Estatutos e Regulamento internos se compromete a respeitar,


FÁBIO LUZ FILHO 345<br />

subscrevendo ................. ............. (.....) quotas-parte no valor de<br />

Cr$ . . ......... ............... ............. ,cujo importe de Cr$ .................<br />

declara pagar em .......................... prestações ............ ................ .<br />

(Data)<br />

................... ..................... ...................... ..<br />

(Assinatura)<br />

......................... ............................................. ................ ..............<br />

......................... ............................................. ................ ..............<br />

......................... ............................................. ............<br />

Inscrito em: ............ ................................. ...<br />

Matrícula n.º .............. .............................. ...<br />

......................................... ................ .......<br />

(Presidente)<br />

COOPERATIVISMO ESCOLAR<br />

(Apêlo aos professôres, aos pais de alunos, aos estu<strong>da</strong>ntes em geral)<br />

"Os consumidores sofrem as conseqüências do encareci-<br />

mento progressivo <strong>da</strong>s utili<strong>da</strong>des em tô<strong>da</strong> a parte onde não<br />

estejam organizados para resistir e vencer.<br />

A tarefa de minorar as dificul<strong>da</strong>des coletivas, mòrmente<br />

no que diz respeito à subsistência em tô<strong>da</strong>s as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des, é,<br />

assim, um dever de tô<strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de consciente.<br />

Em poucas palavras e sintetizando conceitos, que exigi-<br />

riam longa dissertação, apresentaremos algumas idéias, que<br />

devem merecer a atenção do professorado, dos pais e dos estu-<br />

<strong>da</strong>ntes em geral.<br />

PORQUE OS PREÇOS SOBEM<br />

São complexas as causas <strong>da</strong> subi<strong>da</strong> dos preços: mas limi-<br />

tar-nos-emos a frisar, dentro <strong>da</strong> concisão que êste apêlo re-<br />

quer, que um dos fatôres do encarecimento <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é a exces-<br />

siva intermediação que existe entre as fontes produtoras e os<br />

consumidores.<br />

NOTA — O aluno deve provar haver sido autorizado pelo pai ou responsável.


346 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

O que verificamos diàriamente na aquisição dos gêneros<br />

de subsistência alimentar, vestuário, etc., também ocorre em<br />

outros setores, como o do consumo de material didático.<br />

No dia em que eliminarmos ou reduzirmos os intermédiarios<br />

que encarecem os artigos escolares, passando a abastecer-nos<br />

diretamente nas fontes produtoras, ou produzindo, nós mesmos,<br />

tudo aquilo de que venhamos a precisar para as tarefas do ensino,<br />

o problema estará em grande parte resolvido ou, pelo menos,<br />

encaminhado.<br />

A conseqüência imediata será a ampliação do nosso<br />

poder aquisitivo. E, então, não só passaremos a gastar menos<br />

na compra do material imprescindível, como também<br />

poderemos adquirir outros artigos, que, antes, não nos eram<br />

acessíveis, quer como pais de alunos, quer como professôres e<br />

estu<strong>da</strong>ntes.<br />

O SISTEMA COOPERATIVO<br />

O sistema cooperativo é hoje adotado em todos os países,<br />

qualquer que seja sua organização política e social.<br />

Com êle pode-se minorar o preço <strong>da</strong>s utili<strong>da</strong>des de vez<br />

que permite sejamos nós os donos dos nossos próprios nego-<br />

cios; nossos serão o capital, os estoques, as instalações, a admi-<br />

nistração, os lucros, o contrôle, enfim. Seremos simultânea-<br />

mente os nossos próprios patrões e clientes, porque todos par-<br />

ticiparemos, com igual responsabili<strong>da</strong>de, dos encargos sociais.<br />

A cooperativa é, ademais, um instrumento de educação,<br />

um meio de evolução social; porque não é só uma forma de<br />

emprêsa econômica. Não deve ser olha<strong>da</strong> apenas por êste la-<br />

do imediatista. É ela também uma associação de pessoas, um<br />

instrumento de educação <strong>da</strong> juventude, e mesmo dos adultos.<br />

Já se disse que a cooperativa de consumo ou de compras,<br />

em comum, além dos benefícios econômicos tangíveis, como são<br />

os produtos de boa quali<strong>da</strong>de, pêso exato e preços justos, leva a<br />

economizar não só pelo preço justo, como pela distribuição dos<br />

lucros ou sobras anuais aos próprios associados, na proporção de<br />

suas compras.<br />

Também já se acentuou que o movimento cooperativo<br />

mundial acelerou o progresso social, levando o povo para uma<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e orientação democrática, mediante a gestão pelo<br />

próprio povo de emprêsas coletivas. O movimento cooperativo<br />

pode trazer contribuição vital e original que ultrapassa as


FÁBIO LUZ FILHO 347<br />

possibili<strong>da</strong>des, muita vez, <strong>da</strong> própria ação oficial, sobretudo<br />

no campo prático do ensino <strong>da</strong> economia e <strong>da</strong> administração<br />

democrática de emprêsas econômicas. Sai do terreno pura-<br />

mente cultural e socialmente neutro e entra no campo <strong>da</strong> li-<br />

vre associação e <strong>da</strong> evolução social. É, assim, precioso auxi-<br />

liar do Estado no profundo e complexo problema <strong>da</strong> elevação<br />

do nível de vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> educação <strong>da</strong>s massas, nota<strong>da</strong>mente em<br />

países <strong>da</strong> natureza do Brasil.<br />

SURGE UMA IDÉIA<br />

Preocupado com as dificul<strong>da</strong>des que afligem sobretudo<br />

os pais pobres, o Sr. Ministro <strong>da</strong> Educação e Saúde, Dr. Simões<br />

Filho, deseja estimular a organização de grandes cooperati-<br />

vas com participação do professorado, dos pais e responsáveis<br />

em geral, bem como de estu<strong>da</strong>ntes maiores, com o objetivo<br />

de conseguir preços mais baixos e material mais abun<strong>da</strong>nte<br />

e melhor.<br />

O plano inicial consiste na instalação de uma cooperati-<br />

va nesta capital, em ponto tanto quanto possível central, com<br />

seções em vários estabelecimentos de ensino, provi<strong>da</strong> de sufi-<br />

ciente estoque de artigos, adquiridos diretamente dos fabri-<br />

cantes e editôres com sensível redução de prêço.<br />

Será uma Cooperativa Distribuidora de Material Escolar,<br />

controla<strong>da</strong> pelos próprios associados. O Govêrno, entretanto,<br />

está disposto a auxiliar financeira e moralmente êsse em-<br />

preendimento, esperando contar com a correspondência do<br />

interêsse coletivo.<br />

O plano prevê a instalação, quando possível, de oficinas<br />

próprias para a publicação de livros e revistas, a manutenção<br />

de bôlsas para os alunos de escassos recursos financeiros e de<br />

comprova<strong>da</strong> aplicação escolar, a organização de clubes lite-<br />

rários e recreativos, bibliotecas, discotecas e cinemas educa-<br />

tivos; o contrato de edições especiais de obras didáticas exigi-<br />

<strong>da</strong>s no cumprimento dos programas, etc.<br />

UM PRÓXIMO DEBATE<br />

Convocamos, assim, o professorado, os pais de alunos e<br />

estu<strong>da</strong>ntes em geral para um debate conjunto dessas idéias.


348 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Pedimos, por isso, que meditem sôbre estas considerações e<br />

anotem suas dúvi<strong>da</strong>s e sugestões para exame oportuno.<br />

Rio de Janeiro, setembro de 1951.<br />

A Comissão Organizadora: — Lúcia Magalhães, Fábio<br />

Luz Filho e Valdiki Moura.<br />

NOTA —Do apêlo acima nasceu a Cooperativa Cultural<br />

e Distribuidora de Material Escolar, em funcionamento no<br />

térreo do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação, e outras fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s na<br />

Bahia,<br />

Minas, São Paulo, Estado do Rio pelo Dr. Valdiki Moura,<br />

e outras que estão surgindo espontâneamente.<br />

CAMPANHA DE BARATEAMENTO DO MATERIAL<br />

ESCOLAR<br />

“Senhor Ministro:<br />

A Comissão, designa<strong>da</strong> por Vossa Excelência na portaria<br />

n.° 897, de 20 de outubro de 1954, apresenta, como conclusão<br />

de seus trabalhos, as seguintes sugestões:<br />

1 — O <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação e Cultura, com a colabo-<br />

ração do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> e dos órgãos estaduais<br />

competentes, propugnará pela criação de cooperativas cultu-<br />

rais e de distribuição de material escolar ou secção de livros e<br />

material escolar em cooperativas de consumo.<br />

§ 1.º — Nos grandes centros urbanos, as cooperativas<br />

acima referi<strong>da</strong>s poderão manter postos de ven<strong>da</strong><br />

nos estabelecimentos de ensino ou na proximi-<br />

<strong>da</strong>de, para distribuição de material escolar;<br />

§ 2.º — Nos estabelecimentos de ensino onde não existi-<br />

rem cooperativas escolares ou postos de ven<strong>da</strong>,<br />

promover-se-á a instalação, em caráter transi-<br />

tório, de postos distribuidores para atender de<br />

pronto à ven<strong>da</strong> de livros e material escolar;<br />

§ 3.º — Os postos referidos nos parágrafos anteriores<br />

constituirão uma etapa preparatória para a<br />

criação <strong>da</strong>s cooperativas escolares.<br />

2— Criar-se-ão cooperativas escolares nos<br />

estabelecimentos de ensino, logo que possível, seja diretamente<br />

organiza<strong>da</strong>s, seja pela transformação dos postos mencionados<br />

nas observações do item anterior.


FÁBIO LUZ FILHO 349<br />

§ 1.º — As cooperativas escolares trabalharão em cola-<br />

boração com as cooperativas referi<strong>da</strong>s no item<br />

anterior, podendo adquirir nesta o material de<br />

que precisam ou vender por seu intermédio os<br />

seus produtos, quando tiverem secção de pro-<br />

dução;<br />

§ 2.º — Para estimular a criação de cooperativas esco-<br />

lares, dever-se-á:<br />

1) Incluir uma uni<strong>da</strong>de de estu<strong>da</strong> sôbre cooperativismo<br />

escolar e geral nos programas <strong>da</strong> Cadeira de Admi-<br />

nistração Escolar, <strong>da</strong>s Facul<strong>da</strong>des de Filosofia, Ciên-<br />

cia e Letras;<br />

2) promover, com a colaboração de outros órgãos <strong>da</strong><br />

Administração Pública ou com o auxílio de institui-<br />

ções particulares, cursos de férias para professôres;<br />

3) solicitar aos Governos Estaduais que determinem a<br />

inclusão de uma uni<strong>da</strong>de de estudo sôbre o coopera-<br />

tivismo escolar em geral no programa <strong>da</strong> Cadeira<br />

de Educação <strong>da</strong>s escolas normais.<br />

3) para execução dêsse programa, o <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Edu-<br />

cação e Cultura procurará:<br />

a) conseguir financiamento no Banco Nacional de Crê-<br />

dito Cooperativo ou em outros estabelecimentos de<br />

Crédito para as cooperativas referi<strong>da</strong>s no item pri-<br />

meiro;<br />

b) obter dos editôres e dos produtores de material esco-<br />

lar em geral as melhores condições de ven<strong>da</strong> para as<br />

organizações referi<strong>da</strong>s nos itens ns. 1 e 2;<br />

c) promover a Campanha do Barateamento do Material<br />

Escolar.<br />

Queira Vossa Excelência aceitar, com os votos de congratulações<br />

pela feliz iniciativa e do êxito no seu<br />

desempenho, os protestos de alta consideração dos signatários<br />

dêste parecer.<br />

Rio de Janeiro, 25 de novembro, 1954.<br />

a) Celso Kelly, Fábio Luz Filho, Teodoro Henrique Mau-<br />

rer Junior, Rui Saraiva Barbosa, Isabel de Camargo Schützer.


350 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

PROJETO DE LEI PARA COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

(Elaborado par Fábio Luz Filho)<br />

CAPÍTULO I<br />

Da Introdução<br />

Art. 1.º — A cooperativa escolar é uma socie<strong>da</strong>de cooperativa<br />

sui-generis, distinguindo-se <strong>da</strong>s demais pelas disposições dêste<br />

decreto.<br />

CAPÍTULO II<br />

Das Finali<strong>da</strong>des e Características<br />

Art. 2.º — As características especiais <strong>da</strong> cooperativa<br />

escolar são as seguintes:<br />

1.º — É a escola socialmente organiza<strong>da</strong>, sendo consti-<br />

tuí<strong>da</strong>, nos estabelecimentos públicos ou particulares de ensi-<br />

no primário, pelos corpos discentes assessorados pelos respec-<br />

tivos diretores ou professôres.<br />

3.º — Poderão revestir, as cooperativas escolares, tô<strong>da</strong>s<br />

as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des necessárias dentro do meio em que tenham de<br />

atuar.<br />

4.º — Denominação precedi<strong>da</strong> <strong>da</strong> expressão “cooperati-<br />

va escolar” e termina<strong>da</strong>, de preferência, com o nome do esta-<br />

belecimento de ensino ou de um dos estabelecimentos de em-<br />

sino.<br />

Art. 3.º — A cooperativa escolar tem fins educativos e<br />

econômico-sociais, tais como:<br />

a)— desenvolver entre os associados o espírito de auxí-<br />

lio-mútuo, de iniciativa e de previdência ao serviço<br />

<strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de, assim como o gôsto do trabalho<br />

produtivo e socialmente útil e a idéa <strong>da</strong> coopera-<br />

ção, educando-os nas práticas <strong>da</strong> organização e do<br />

regime cooperativo;<br />

b)— fornecer aos associados material ou aparelhagem<br />

para o estudo e o ensino educativo, concreto, expe-<br />

rimental e prático, assim como artigos de consu-<br />

mo e uso pessoais.<br />

Art. 4.° — São proibi<strong>da</strong>s homenagens políticas, religio-<br />

sas, raciais e restrições <strong>da</strong> mesma espécie.


FÁBIO LUZ FILHO 351<br />

CAPÍTULO III<br />

Da Constituição, Registo e Representação<br />

Art. 5.º — Poderão pertencer as cooperativas escolares<br />

todos os alunos de ambos os sexos e, como assessôres, os pro-<br />

fessôres dos estabelecimentos de ensino primário, normais,<br />

secundários ou profissionais, oficiais ou particulares, desde que<br />

autorizados os alunos por seus pais, tutores ou responsáveis,<br />

quando for o caso.<br />

Parágrafo único — Poderão continuar a pertencer às<br />

cooperativas escolares os ex-associados na quali<strong>da</strong>de de<br />

orientadores e como exemplo, estímulo e aju<strong>da</strong>, não partici-<br />

pando, porém, de suas operações nem <strong>da</strong>s votações, mas po-<br />

dendo ser eleitos para assessôres.<br />

Art. 6.º — A constituição <strong>da</strong> cooperativa escolar far-se-á<br />

em ata lavra<strong>da</strong> em livro próprio, assina<strong>da</strong> pelo menos por doze<br />

fun<strong>da</strong>dores.<br />

§ 1.º — Quando lavra<strong>da</strong> em livro próprio, a ata trará<br />

essa declaração expressa, subscrita pelo presidente, ao pé <strong>da</strong><br />

cópia a ser envia<strong>da</strong> ao Serviço de Economia Rural (ou Minis-<br />

tério <strong>da</strong> Educação) para o competente registo.<br />

§ 2.º — Êsse documento poderá conter a íntegra dos es-<br />

tatutos, os quais, não constando do ato constitutivo, deverão<br />

ser <strong>da</strong>tados e assinados pelos mesmos associados que tiverem<br />

subscrito aquêle ato, num mínimo de doze (12).<br />

Art. 7.º — Da ata constarão:<br />

1.º—declaração <strong>da</strong> vontade de formar a cooperativa;<br />

2.º—sua denominação e sede;<br />

3.º—seu objetivo;<br />

4.º—nome, i<strong>da</strong>de, nacionali<strong>da</strong>de, residência e série a<br />

que pertence o associado, sendo facultado fazer<br />

constar de lista nominativa, à parte, êstes requi-<br />

sitos;<br />

5.º—a declaração <strong>da</strong> leitura e aprovação dos estatutos;<br />

6.º—o valor e o numero de quotas-partes subscritas,<br />

quando fôr o caso;<br />

7.º—a eleição do primeiro Conselho de Administração,<br />

com cinco membros no mínimo, com as atribui-<br />

ções que lhe forem aplicáveis, <strong>da</strong> lei em vigor;<br />

8.º—eleição do primeiro Conselho Fiscal de três mem-<br />

bros inelegíveis para o período imediato e com as<br />

atribuições que lhe são própria.


352 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

§ 1.º — O Conselho de Administração escolherá, de seu<br />

seio,<br />

uma diretoria executiva ou um gerente, e poderá designar<br />

associados ou ex-associados para integrarem órgãos de asses-<br />

soramento e consulta, quando necessários.<br />

§ 2.º — O Conselho de Administração terá man<strong>da</strong>to de<br />

um ano, podendo ser reeleito.<br />

Art. 8.° — Os Conselhos de Administração e Fiscal se<br />

reunirão pelo menos uma vez por mês, para tratar de assuntos<br />

conexos, cabendo ao Conselho Fiscal o direito de veto a de-<br />

terminações do Conselho de Administração, com recurso para<br />

a Assembléia Geral ou para o Conselho de Assessôres, quando<br />

existir, na hipótese de não chegarem a acôrdo ambos os Con-<br />

selhos após discussão do assunto.<br />

Art. 9.º — Todos os cargos sociais serão exercidos gra-<br />

tuitamente.<br />

Art. 10 — Terá o diretor ou um dos diretores ou profes-<br />

sôres dos estabelecimentos de ensino a representação ativa e<br />

passiva <strong>da</strong> cooperativa.<br />

Art. 11 — Para o fim de obter seu registo, a Cooperati-<br />

va Escolar remeterá ao Serviço do Economia Rural os seguin-<br />

tes documentos, todos rubricados em sua fôlhas pelo presi-<br />

dente e visados pelo Diretor do estabelecimento ou de um dos<br />

estabelecimentos de ensino cujos alunos fizerem parte <strong>da</strong> ins-<br />

tituição, ou pelo professor designado para seu orientador:<br />

1.º — cópia <strong>da</strong> ata de fun<strong>da</strong>ção;<br />

2.º — cópia dos estatutos, desde que não constem do<br />

corpo <strong>da</strong> ata;<br />

3.º — lista nominativa dos associados;<br />

4.º — requerimento do presidente eleito, no qual se de-<br />

clarará a autentici<strong>da</strong>de e a veraci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> do-<br />

cumentação.<br />

Parágrafo único — Nos Estados ou Territórios Federais,<br />

os documentos serão entregues, mediante recibo, às reparti-<br />

ções locais de Cooperativismo, ou, quando não as houver, às<br />

Agências do Serviço de Economia Rural ou, na falta, à Secreta-<br />

ria do Educação ou órgão correlato.<br />

Art. 12 — Concedido o registo, o Serviço do Economia<br />

Rural fornecerá à cooperativa o competente certificado, sen-<br />

do que no período compreendido entre a entrega ou remessa<br />

dos documentos e a concessão do registo a socie<strong>da</strong>de poderá<br />

iniciar seu funcionamento.


FÁBIO LUZ FILHO 353<br />

CAPÍTULO IV<br />

Das Federações e <strong>da</strong> Confederação<br />

Art. 13 — Poderão as cooperativas escolares, com apro-<br />

vação <strong>da</strong>s respectivas assembléias gerais, constituir federa-<br />

ções.<br />

Art. 14 — As federações, que serão estaduais ou interes-<br />

taduais, por sua vez poderão integrar a Confederação Nacio-<br />

nal <strong>da</strong>s Cooperativas Escolares.<br />

Art. 15 — A Assembléia Geral <strong>da</strong>s Federações será cons-<br />

tituí<strong>da</strong> pelos delegados de ca<strong>da</strong> cooperativa escolar, que se-<br />

rão os diretores ou professôres dos estabelecimentos de ensino,<br />

ou êstes e alunos de mais de 16 anos, ca<strong>da</strong> um com um só<br />

voto.<br />

Art. 16 — A Confederação será forma<strong>da</strong> pelos delegados<br />

de ca<strong>da</strong> federa<strong>da</strong>, com o mesmo regime de voto.<br />

Art. 17 — São funções <strong>da</strong>s Federações:<br />

a) — agrupar as cooperativas escolares e organizar em<br />

comum seus serviços, prestando-lhes assistência;<br />

b) — promover a utilização de serviços de uma coopera-<br />

tiva por associados de outra;<br />

c) — regular a transferência de associados entre as<br />

cooperativas, quando necessário ou conveniente;<br />

d) — a instalação de tipografias;<br />

e) — a publicação e distribuição de livros didáticos e<br />

científicos, revistas, impressos e do necessário ma-<br />

terial pe<strong>da</strong>gógico e científico;<br />

f) — a uniformização contábil nas cooperativas e a pro-<br />

pagan<strong>da</strong> <strong>da</strong>s cooperativas escolares e pós-escolares,<br />

nota<strong>da</strong>mente as agrícolas e as de artesanato;<br />

g) — promover conferências, excursões, concertos, festas<br />

escolares, concursos, viagens, visitas, etc.;<br />

h) — organizar em sua sede e nas cooperativas filia<strong>da</strong>s<br />

bibliotecas, museus, discotecas, cinemas, teatros<br />

educativos, campos de experiência agrícola;<br />

i) — fomentar as relações entre a escola e a família;<br />

j) — apoiar a ação dos diretores dos estabelecimentos<br />

de ensino primário, normal, secundário ou profis-<br />

sional, oficiais ou particulares, no sentido do cres-<br />

cente aperfeiçoamento do ensino;<br />

23 — 27 454


354 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

l) — representar as cooperativas, amparar e defender<br />

seus direitos perante os órgãos <strong>da</strong> administração<br />

pública.<br />

Art. 18 — Para fins de registo, obedecerão as Federações<br />

e a Confederação as normas e trâmites <strong>da</strong>s cooperativas es-<br />

colares, excluí<strong>da</strong>s as exigências do número 4 do art. 7.º no<br />

que as mesmas não se aplicar.<br />

CAPÍTULO V<br />

Dos Estatutos<br />

Art. 19 — Os estatutos <strong>da</strong>s cooperativas escolares, suas<br />

federações e confederação deverão conter:<br />

1.º — Sua denominação e objetivos;<br />

2.º — sede e área de ação, circunscrita esta, para as<br />

cooperativas escolares <strong>da</strong>s escolas primárias, ao<br />

edifício do estabelecimento de ensino e, excepcio-<br />

nalmente, a estabelecimentos de ensino de um dis-<br />

trito ou zona, atendendo sempre às possibili<strong>da</strong>des<br />

de reunião, contrôle e operações;<br />

3.º — não-limitação do número de associados, todos com<br />

singulari<strong>da</strong>de de voto nas deliberações e “quorum”<br />

pessoal;<br />

4.º — direitos e deveres dos associados;<br />

5.º — modo de admissão, demissão e exclusão dos associa-<br />

dos, sendo facultativa a demissão a qualquer<br />

tempo;<br />

6.° — atribuições <strong>da</strong>s assembléias gerais e extraordiná-<br />

rias e dos órgãos de administração, fiscalização e<br />

assessoramento;<br />

7.º — capital variável, quando estatuído, dividido em<br />

quotas-partes de pequeno valor, restituíveis essas<br />

quotas, quando realiza<strong>da</strong>s, ou suas prestações, ao<br />

associado que se retirar ou fôr excluído, desde que<br />

não possua débitos para com a cooperativa;<br />

8.º — fixação do mínimo e do máximo de quotas-partes<br />

que ca<strong>da</strong> associado poderá possuir, quando fôr o<br />

caso;<br />

9.º — capital social mínimo, quando fôr o caso, e modo<br />

de integralização do capital subscrito;


FÁBIO LUZ FILHO 355<br />

10 — determinação de uma jóia de entra<strong>da</strong>, que não po-<br />

derá ser superior ao valor <strong>da</strong> quota-parte, desti-<br />

na<strong>da</strong> as despesas de instalação e propagan<strong>da</strong> e ao<br />

fundo de reserva;<br />

11 — nas cooperativas sem capital, a jóia será obrigató-<br />

ria, com um valor compatível com a natureza <strong>da</strong><br />

cooperativa;<br />

12 — distribuição, ou não, como retôrno, <strong>da</strong>s sobras lí-<br />

qui<strong>da</strong>s;<br />

13 — <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> assembléia geral ordinária, que se reunirá,<br />

de preferência, trimestralmente e obrigatòriamen-<br />

te no fim do ano letivo;<br />

14 — modo de convocar as assembléias;<br />

15 — modo de Constituição dos Conselhos de Adminis-<br />

tração e Fiscal e demais órgãos acaso criados;<br />

16 — modo de dissolução, liqui<strong>da</strong>ção, fusão e incorpora-<br />

ção, decidi<strong>da</strong>s sempre em assembléia geral ex-<br />

traordinária, com quorum especial.<br />

§ 1.º — As cooperativas juvenis poderão ter sua sede<br />

fora dos estabelecimentos de ensino, desde que<br />

assessora<strong>da</strong>s por quem tenha capaci<strong>da</strong>de civil e<br />

fique responsável, agremiando escolares ou<br />

ex-escolares, sobretudo para fins de artesanato.<br />

§ 2.º — A dissolução processar-se-á:<br />

1.º — por fechamento ou fusão do estabelecimento de<br />

ensino;<br />

2.º — por mu<strong>da</strong>nça de organização ou plano de estudos<br />

que impeçam seu funcionamento;<br />

3.º — quando o número de associados fôr inferior a doze<br />

por mais de três meses;<br />

4.º — terminação do prazo de duração, quando determi-<br />

nado;<br />

5.º — pelo consenso unânime dos associados.<br />

Art. 20 — A cooperativa fornecerá ao associado:<br />

a) — cópia dos estatutos;<br />

b) — ficha de inscrição ou uma caderneta que o iden-<br />

tifique.


356 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

CAPÍTULO VI<br />

Da Capital e <strong>da</strong> Responsabili<strong>da</strong>de<br />

Art. 21 — O valor <strong>da</strong> quota-parte, será determinado pelas<br />

condições econômico-sociais do meio, subscrevendo ca<strong>da</strong> as-<br />

sociado o número de quotas-partes que quiser.<br />

§ 1.º — Serão as quotas-partes pagas de uma só vez ou<br />

em prestações periódicas e transferíveis depois de integraliza-<br />

<strong>da</strong>s, sòmente a associados, mediante autorização do Conselho<br />

de Administração, que poderá cobrar pequena taxa de trans-<br />

ferência.<br />

§ 2.º — Poderão as quotas-partes ser pagas em natureza<br />

ou serviços.<br />

Art. 22 — Poderão ser capitalizados os retornos para<br />

integralização <strong>da</strong>s quotas-partes.<br />

Art. 23 — Poderão formar-se cooperativas com capital<br />

e com distribuição de retornos; com capital e sem distribui-<br />

ção de retornos; sem capital e com distribuição de retornos e<br />

e sem distribuição de retornos.<br />

Art. 24 — Não terão os associados <strong>da</strong>s cooperativas es-<br />

colares ou a juvenis nenhuma forma de responsabili<strong>da</strong>de.<br />

Art. 25 — Terão os associados <strong>da</strong>s Federações e <strong>da</strong> Con-<br />

federação duas espécies de responsabili<strong>da</strong>de:<br />

1.º — Responsabili<strong>da</strong>de, limita<strong>da</strong> ao valor de sua quota<br />

no capital social;<br />

2.° — Responsabili<strong>da</strong>de limita<strong>da</strong> suplementar, pela qual<br />

os associados poderão constituir, além do valor<br />

quotas-partes subscritas, uma garantia suplemen-<br />

tar até um limite estatutário fixado.<br />

CAPÍTULO VII<br />

Dos Fundos Sociais<br />

Art. 26 — Poderão as cooperativas escolares ou as juvenis<br />

criar os fundos sociais que quiserem, retirados <strong>da</strong>s sobras lí-<br />

qui<strong>da</strong>s, sendo obrigatórios:<br />

1.º — O fundo de reserva, com 10% no mínimo <strong>da</strong>s so-<br />

bras líqui<strong>da</strong>s, podendo cessar sua dedução desde<br />

que atinja o montante estatutàriamente fixado,<br />

podendo parte ser mobiliza<strong>da</strong> e parte emprega<strong>da</strong>


FÁBIO LUZ FILHO 357<br />

de modo seguro e fàcilmente disponível. Atingido<br />

aquêle limite, os 10% irão refôrçar o fundo de de-<br />

senvolvimento, com 10% no mínimo <strong>da</strong>s sobras<br />

líqui<strong>da</strong>s, destinado ao fomento de tô<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>-<br />

des educativas e aparelhamento material <strong>da</strong> coope-<br />

rativa, a êle revertendo doações, donativos e pro-<br />

ventos eventuais.<br />

§ 1.º — O restante <strong>da</strong>s sobras líqui<strong>da</strong>s será, quando fôr<br />

o caso, distribuído aos associados, a títulos de retôrno, na pro-<br />

porção <strong>da</strong>s operações efetua<strong>da</strong>s com a cooperativa ou do tra-<br />

balho realizado.<br />

§ 3 — Até 40% dos retornos serão depositados em com-<br />

ta-corrente de ca<strong>da</strong> aluno, se assim o desejarem, até que ter-<br />

mine os cursos primários jornais, secundários ou profis-<br />

sionais ou se retirarem <strong>da</strong> escola ou <strong>da</strong> cooperativa.<br />

Art. 27 — Em caso de dissolução, os fundos sociais serão<br />

destinados a uma cooperativa escolar ou fins de interêsse<br />

escolar, depois de devolvidos aos associados o valor <strong>da</strong>s quo-<br />

tas-partes que tiverem realizado ou de suas prestações e os<br />

retornos a que fizerem jus, quando fôr o caso.<br />

CAPÍTULO VIII<br />

Das Isenções<br />

Art. 28 — Ficam as cooperativas escolares ou as juvenis<br />

isentas, para todos as seus atos e documentos, do pagamento<br />

de selos federais, municipais e estaduais, existentes ou por<br />

existir, assim como de todos e quaisquer impostos e taxas fe-<br />

derais, estaduais e municipais, criados ou a criar.<br />

CAPÍTULO IX<br />

Da Fiscalização<br />

Art. 29 — A fiscalização <strong>da</strong>s cooperativas escolares ca-<br />

berá ao Serviço de Economia Rural, que deverá entrar em<br />

entendimentos com o <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação e as Secreta-<br />

rias de Educação estaduais e do Distrito Federal no sentido de<br />

uma ação conjunta, diretamente ou por intermédio dos dele-<br />

gados do Serviço nos Estados.


358 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Parágrafo único — Poderá o Serviço de Economia Rural<br />

fazer acordos diretos com os órgãos federais, estaduais e do<br />

Distrito Federal acima enumerados.<br />

Art. 30 — As cooperativas escolares ou as juvenis serão<br />

obriga<strong>da</strong>s a enviar ao Serviço de Economia Rural, por inter-<br />

médio de seus delegados nos Estados e diretamente no Distrito<br />

Federal:<br />

a) — no primeiro semestre, cópia de balancete <strong>da</strong>s ope-<br />

rações;<br />

b) — anualmente, cópia <strong>da</strong> ata <strong>da</strong> aprovação de contas,<br />

balanço e relatório <strong>da</strong> administração e parecer do<br />

Conselho Fiscal.<br />

Art. 31 — O Serviço de Economia Rural, por si ou por<br />

seus delegados, e as Secretarias de Educação estaduais e do<br />

Distrito Federal e os órgãos competentes do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong><br />

Educação, <strong>da</strong>rão a necessária assistência técnica e financeira<br />

possível, às cooporativas escolares ou juvenís e assemelha<strong>da</strong>s.<br />

CAPÍTULO X<br />

Disposições Gerais<br />

Art. 32 — Nos casos omissos, terão aplicação analógica<br />

as disposições <strong>da</strong> lei em vigor, considera<strong>da</strong> sempre a natureza<br />

especialíssima <strong>da</strong> cooperativa escolar, suas federações e con-<br />

federações.<br />

Art. 33 — Os professôres designados como orientadores<br />

<strong>da</strong>s cooperativas escolares, poderão ser dispensados de seus<br />

encargos normais, considerando-se serviço relevante, para efei-<br />

tos de fôlha de serviços e promoção, suas ativi<strong>da</strong>des junto às<br />

cooperativas escolares.<br />

Art. 34 — Poderá possuir a cooperativa um Conselho de<br />

Proibi<strong>da</strong>de, ou de Justiça, para resolver sôbre os casos de ex-<br />

clusão estatutàriamente fixados, composto de associados ou<br />

ex-associados eleitos pela Assembléia, em número de cinco,<br />

com um ano do man<strong>da</strong>to podendo ser reeleito.<br />

Parágrafo único — Caberá recurso do associado excluído<br />

para a Assembléia Geral dentro do prazo de trinta dias <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta<br />

<strong>da</strong> notificação <strong>da</strong> exclusão, para que a ratifique ou retifique.<br />

Art. 35 — Poderá a cooperativa possuir uma Comissão<br />

de Assessôres presidi<strong>da</strong> pelo diretor ou um dos diretores do<br />

estabelecimento de ensino, dela participando, além dos direto-


FÁBIO LUZ FILHO 359<br />

res, professôres, pais ou responsáveis, ex-alunos e pessoas com<br />

conhecimentos técnicos afins com as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> cooperati-<br />

va, durando um ano em suas funções, podendo ser reeleitos.<br />

Parágrafo único — São funções <strong>da</strong> Comissão de Asses-<br />

sôres: orientar a marcha <strong>da</strong> cooperativa, podendo colhêr ele-<br />

mentos junto aos Conselhos de Administração e Fiscal, to-<br />

mar conhecimento do modo de aplicação dos fundos sociais e<br />

dirigir-se aos órgãos oficiais de fiscalização já enumerados.<br />

Art. 36 — Revogam-se as disposições em contrário.<br />

Rio — 1944.<br />

____<br />

NOTA — O projeto acima foi elaborado na vigência <strong>da</strong> lei 5.893, de 1943.<br />

Com a criação, que se impõe, do Departamento Nacional de Cooperativismo, para<br />

o mesmo passarão as atribuições do projeto acima, ou o <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> Educação<br />

e, Cultura ficará com a organização, registro e assistência <strong>da</strong>s cooperativas esco-<br />

lares. As cooperativas universitárias ou estu<strong>da</strong>ntís integra<strong>da</strong>s por maiores de 16 anos,<br />

caem no âmbito <strong>da</strong>s cooperativas econômicas, de adultos.<br />

NOTA FINAL — Acrescento aos nomes e enti<strong>da</strong>des já citados em capítulos ante-<br />

riores, brasileiros e estrangeiros, que trataram do cooperativismo escolar ou pelo<br />

mesmo se interessaram, os seguintes, dentre outros que não me acodem à memória<br />

no momento: M. Brot, Watkins, Juan Nigro, Ramón Viveros, Francisco Álvares,<br />

Ernesto Cilesia, J. Amaral, L. Labouriau, Nobrega de Siqueira, a UNESCO, a<br />

O.E.A., a F.A.O., a Federação Argentina <strong>da</strong>s Cooperativas de Consumo, Isabel de<br />

Camargo Schützer, Aley Vilela Bastos, Flor González Padrino (Venezuela) e outros.


O LIVRO NA OPINIÃO DOS GRANDES HOMENS<br />

Gosto tanto dos livros, que às vêzes os imagino sêres<br />

humanos, e a leitura dá-me a impressão real de uma conversa.<br />

Swift<br />

Um livro que não desperta em nós o desejo de lê-lo de<br />

novo, é um livro infeliz.<br />

D’Alembert<br />

•<br />

Quem mata um homem, mata um ser racional criado à<br />

semelhança de Deus; mas quem destrói um livro destrói a ra-<br />

zão mesma e a própria representação <strong>da</strong> divin<strong>da</strong>de<br />

•<br />

Milton<br />

Os livros são os ver<strong>da</strong>deiros niveladores. A todos que os<br />

usam fielmente, dão o convívio e a presença espiritual dos<br />

maiores e dos melhores <strong>da</strong> nossa espécie.<br />

Channing<br />

•<br />

Os livros são para a Humani<strong>da</strong>de o que a memória é para o<br />

indivíduo. Contém a história <strong>da</strong> raça, suas descobertas, a<br />

sabedoria e a experiência acumula<strong>da</strong>s secularmente; são o<br />

espelho <strong>da</strong>s maravilhas e <strong>da</strong>s belezas <strong>da</strong> Natureza; ampa-<br />

ram-nos na desgraça, consolam-nos na tristeza e nos sofri-<br />

mentos. Fazem de nossas horas de tédio horas de delícia;<br />

enchem nossos espíritos de idéias, de pensamentos sábios e<br />

benfazejos, fazem-nos sair de nós mesmo e <strong>da</strong>s nossas misérias.<br />

Lubbock


Contribuição <strong>da</strong> Seção de Registro e Fiscalização <strong>da</strong>s<br />

Socie<strong>da</strong>des Cooperativas, do Serviço de Economia Rural.<br />

CONTABILIDADE DAS COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

J. F. Gandra<br />

No intuito de tornar a contabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s coperativas es-<br />

colares ao alcance <strong>da</strong>s professôras e dos próprios alunos, ser-<br />

vindo também, a êstes, como nova disciplina de grande utili-<br />

<strong>da</strong>de na vi<strong>da</strong> prática, suprimiu-se a escrituração do livro<br />

“diário”, cuja exposição complica<strong>da</strong> de lançamentos por par-<br />

ti<strong>da</strong>s dobra<strong>da</strong>s seria impossível à criança assimilar.<br />

A ata <strong>da</strong> reunião semanal, entretanto, que regista tô<strong>da</strong>s<br />

as operações de lançamentos de “caixa” (entra<strong>da</strong> e saí<strong>da</strong> de<br />

dinheiro) e outras extra-caixa, foi a solução com felici<strong>da</strong>de<br />

encontra<strong>da</strong> para suprimir a lacuna que a inexistência do<br />

"diário" deixaria na contabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cooperativa escolar.<br />

Esta solução foi encontra<strong>da</strong>, ao que sabemos, pelos De-<br />

partamentos de Cooperativismo de Pernambuco e Rio Grande<br />

do Norte, e já adota<strong>da</strong> em outros Estados.<br />

Em se tratando de cooperativas de crianças, a forma em<br />

questão é de plena eficiência, principalmente se levarmos em<br />

consideração a existência do livro “caixa”, escriturado em<br />

dia, do "registo geral de contas”, que é o Razão <strong>da</strong> cooperativa<br />

escolar, escriturado em forma analítica, com base nos registos<br />

feitos no livro “caixa” e no “livro de atas”, e, finalmente, do<br />

“livro de estoque". Escriturado em dia, êste livro pode de-<br />

monstrar, com clareza, além <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> e saí<strong>da</strong> dos artigos,<br />

qualitativa e quantitativamente, o valor do custo dêsses arti-<br />

gos, o valor <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s e o do estoque, proporcionando sejam<br />

conheci<strong>da</strong>s as sobras brutas (lucros) verifica<strong>da</strong>s na ven<strong>da</strong> dos<br />

artigos.<br />

Escusado se torna falar do “livro de matricula”, por ter<br />

a forma usual do adotado nas cooperativas de adultos, com a<br />

única diferença de não contar a c/corrente de “Juros, Re-<br />

tornos e Per<strong>da</strong>s”.


362 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

NORMAS ADMINISTRATIVAS PARA O FUNCIONAMENTO<br />

DAS COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

1.º— A reunião semanal do Conselho de Administração<br />

tem por objetivo a regularização dos serviços <strong>da</strong><br />

semana.<br />

2.º — Nessa reunião o 1.º secretário apresenta as pro-<br />

postas dos candi<strong>da</strong>tos a associados, quando houver.<br />

3.º — Os tesoureiros apresentam os canhotos dos recibos<br />

extraídos na semana, para o conveniente lança-<br />

mento no “caixa” <strong>da</strong> importância recebi<strong>da</strong>.<br />

4.º — Os gerentes apresentam o quadro ou resumo <strong>da</strong><br />

distribuição (ven<strong>da</strong>s) de artigos escolares, efetua-<br />

<strong>da</strong> na semana, que será lançado no “caixa” pelo<br />

tesoureiro (ven<strong>da</strong>s a dinheiro) e, pelo gerente, no<br />

“livro de estoque".<br />

5.º — O 1.° secretário se encarregará <strong>da</strong> escrituração do<br />

“livro geral de contas”.<br />

6.º — Todo o ocorrido durante a semana, de interêsse <strong>da</strong><br />

cooperativa, será <strong>da</strong>do a conhecer ao Conselho de<br />

Administração pelo presidente. (Ver o modêlo que<br />

se segue).<br />

MODÊLO DE ATA DA REUNIÃO SEMANAL<br />

Ata <strong>da</strong> 1.ª sessão ordinária do Conselho de Administração<br />

<strong>da</strong> Cooperativa Escolar .................................. Lt<strong>da</strong>.<br />

(As atas deverão ser numera<strong>da</strong>s, por exercício)<br />

Aos ..................... dias do mês de .............................................<br />

do<br />

ano de mil novecentos e ........................... reuniu-se o Conselho de<br />

de Administração <strong>da</strong> Cooperativa Escolar do Grupo Escolar...<br />

...................... no salão .................................. em sessão ordinária,<br />

sob a presidência do associado ............................................. , com-<br />

parecendo os membros do Conselho de Administração e Con-<br />

selho Fiscal, e achando-se presente a professôra ..................<br />

................................ que acompanha os trabalhos. O presidente<br />

abriu a sessão e ordenou ao 2.º secretário a leitura <strong>da</strong> ata <strong>da</strong><br />

sessão anterior que, li<strong>da</strong> e submeti<strong>da</strong> a discussão, foi aprova<strong>da</strong>.<br />

Em segui<strong>da</strong> o presidente ordenou ao 1.º secretário a leitura<br />

do expediente, o que foi feito na ordem seguinte: COR-<br />

RESPONDÊNCIA — Foram recebidos: 2 ofícios <strong>da</strong> Divisão de


FÁBIO LUZ FILHO 363<br />

Cooperativismo, de ns .......................... , respectivamente <strong>da</strong>ta<strong>da</strong>s<br />

de ............................. ; ........................ PROPOSTA DE SÓCIOS:<br />

Foram presentes à mesa 10 propostas dos alunos ..............................<br />

............................................................................................................<br />

Postas em discussão, foram aprova<strong>da</strong>s, sendo admitidos os pro-<br />

postos, que subscreveram ............................. quotas-partes no total<br />

de Cr$ ..................................................<br />

OPPERAÇÕES DA SEMANA:<br />

Associados c/ Capital — Cr$ ............................... (DÉBITO):<br />

pelas quotas-partes subscritas dos novos associados hoje admi-<br />

tidos.<br />

Associados c/ Capital — Cr$ ............................. (CRÉDITO):<br />

O 1.º tesoureiro prestou contas <strong>da</strong> importância à margem, de<br />

acôrdo com o canhoto de recibos.<br />

Jóias de admissão: Cr$ .................... Pelo 2.º tesoureiro<br />

foi apresentado o canhoto de recibos de jóias, extraí<strong>da</strong>s na<br />

semana, do total acima.<br />

Compra de artigos escolares — Cr$ .......... Con-<br />

forme faturas (ou notas) nos ............................ <strong>da</strong> Casa ........<br />

........ , recebemos na semana, artigos escolares no valor<br />

marginado, que foi pago pelo 1.º tesoureiro.<br />

Distribuição de artigos escolares — Cr$ ............................... De<br />

acôrdo com o quadro semanal de ven<strong>da</strong>s, apresentado pelos<br />

gerentes, e escriturado no Registo de Entra<strong>da</strong>s e Saí<strong>da</strong>s e no<br />

“Caixa”, a distribuição do artigos aos associados (ven<strong>da</strong>s)<br />

soma a importância à margem.<br />

Pagamento à Casa .......................... — Cr$ ...........................<br />

:<br />

Para pagamento <strong>da</strong> fatura n.° .................................... (ou nota n°) foi<br />

emitido o cheque n.° ............................ contra a Caixa Econômica,<br />

<strong>da</strong> importância à margem.<br />

Regularização <strong>da</strong> escrita: O 1.º tesoureiro escriturou o<br />

“Caixa”, o 1.º secretário, o “Registo Geral de Contas”, e o<br />

1.º gerente, o “Registo de Entra<strong>da</strong>s e Saí<strong>da</strong>s".<br />

Na<strong>da</strong> mais havendo a tratar, foi encerra<strong>da</strong> a sessão, ten-<br />

do sido convoca<strong>da</strong> para sábado, ............... do corrente, às ................<br />

horas, a 2.ª sessão ordinária do Conselho de Administração.<br />

E, para constar, eu, .......................................................................<br />

,<br />

2.º secretário, lavrei a presente ata que assino.<br />

(Ass.) F ............................................... — 2.º Secretário.<br />

(NOTA: As atas serão assina<strong>da</strong>s pelos demais membros<br />

dos Conselhos na sessão posterior, após li<strong>da</strong>s, discuti<strong>da</strong>s, etc.).


364 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

ESCRITURAÇÃO DOS LIVROS<br />

Em geral, os contadores afeitos aos problemas cooperati-<br />

vistas, chegamos à conclusão de que muitas normas adota<strong>da</strong>s<br />

na contabili<strong>da</strong>de comercial devem ser modifica<strong>da</strong>s na coope-<br />

rativa, a fim de melhores serviços prestarem à administração<br />

desta, e principalmente à Fiscalização e Estatística oficiais.<br />

Essa modificação poderá parecer estranha a muitos con-<br />

tadores, afastados dêsses problemas, e <strong>da</strong>í a razão desta expli-<br />

cação.<br />

Por exemplo, a conta “Mercadorias” (nas Cooperativas de<br />

Consumo, equivalente à “Artigos Escolares” na cooperativa<br />

escolar), “Produtos” (nas cooperativas de ven<strong>da</strong>s em comum<br />

e de produção), etc., pela forma comercialmente usa<strong>da</strong>, são<br />

contas “bilaterais” (com movimento de débito e crédito).<br />

Nas cooperativas aconselhamos sejam considera<strong>da</strong>s tais con-<br />

tas “unilaterais" (com movimento só no débito, credita<strong>da</strong>s<br />

apenas por estornos de lançamentos).<br />

Na apuração de resultados, ao fim do exercício, contra-<br />

riando as praxes adota<strong>da</strong>s na contabili<strong>da</strong>de comercial, ao in-<br />

vés de levarmos a crédito de SOBRAS E PERDAS as sobras<br />

verifica<strong>da</strong>s nas ven<strong>da</strong>s, fazemos lançamentos que esclarecem:<br />

o total <strong>da</strong> conta Artigos Escolares (que é o caso) no exercício,<br />

o total <strong>da</strong> Distribuição de Artigos (ven<strong>da</strong>s) e o estoque exis-<br />

tente.<br />

Isto permite à administração e à fiscalização e estatísti-<br />

ca, <strong>da</strong>dos necessários para se conhecerem a taxa adiciona<strong>da</strong><br />

ao custo <strong>da</strong> mercadoria para distribuição aos associados, o<br />

montante dessa distribuição, etc., independentemente <strong>da</strong> re-<br />

messa de outro elemento que não sejam o balanço e demons-<br />

tração de Sobras e Per<strong>da</strong>s.<br />

LIVROS NECESSÁRIOS:<br />

Livro de Matrícula dos associados<br />

Livro Caixa<br />

Livro Registo Geral de Contas<br />

Livro de Estoque.<br />

Em geral, êstes livros e os de atas são rubricados pelo<br />

Diretor do Estabelecimento de Ensino a que pertence a coope-<br />

rativa, com a lavratura de têrmos de abertura e encerramento.


FÁBIO LUZ FILHO 365<br />

Têrmo de Abertura<br />

Contém êste livro ........ folhas, numera<strong>da</strong>s segui<strong>da</strong>-<br />

mente de 1 ª ...................... , e servirá de "Caixa" n.º 1 à “Coope-<br />

rativa Escolar ................... , com sede na Esco-<br />

la ....................................... desta ci<strong>da</strong>de, regista<strong>da</strong> no Serviço de<br />

Economia Rural sob número ................................ Tô<strong>da</strong>s as suas fo-<br />

lhas vão por mim rubrica<strong>da</strong>s.<br />

................. , ............ de ............................... de 19 ................<br />

(Assinatura)<br />

Têrmo de encerramento<br />

Contém êste livro folhas, numera<strong>da</strong>s segui-<br />

<strong>da</strong>mente de 1 a ........ e servirá à “Cooperativa Esco-<br />

lar ............................ ” para o fim declarado no têrmo de aber-<br />

tura.<br />

............................ de ............................................ 19 ...............<br />

(Assinatura)<br />

QUADRO DAS CONTAS


366 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

MONOGRAFIA<br />

Vamos concretizar os seguintes casos:<br />

1.º— Em 15-3-48, 1.000 associados regularmente admi-<br />

tidos, subscreveram 1.000 quotas-partes de capi-<br />

tal, de Cr$ 2,00 ca<strong>da</strong> uma, no total de Cr$ 2.000,00.<br />

2.º— Na mesma <strong>da</strong>ta, integralizaram Cr$ 500,00, isto é,<br />

ca<strong>da</strong> um integralizou Cr$ 0,50 de sua subscrição.<br />

3.º — Pagaram jóias de admissão de Cr$ 200,00.<br />

4.º— Em 20-3-48 — a cooperativa adquiriu Móveis e<br />

Utensílios no valor de Cr$ 300,00; recebeu do Go-<br />

vêrno, como auxílio, uma escrivaninha, no valor<br />

de Cr$ 200,00, e material de expediente, no valor<br />

de Cr$ 250,00.<br />

5.º— Em 30-3-48 — recebeu do Govêrno, como financia-<br />

mento, a importância de Cr$ 2.000,00, para res-<br />

gate em 1949.<br />

6.º— Adquiriu artigos escolares e os distribuiu aos alu-<br />

nos, nos valores e meses adiante mencionados:<br />

Meses Aquisição Distribuição<br />

Abril .......... Cr$ 1.800,00 Cr$ 2.070,00<br />

Maio ........... 2.000,00 2.070,00<br />

Junho .......... 2.100,00 2.300,00<br />

Agosto ....... 2.000,00 2.185,00<br />

Setembro ..... 2.400,00 2.530,00<br />

Outubro ....... 2.200,00 2.530,00<br />

Novembro .... 2.500,00 2.875,00<br />

Totais ....... 15.000,00 16.560,00<br />

7.º — Em 30-11-48 depositou na Caixa Econômica<br />

Cr$ 3.000,00.<br />

8.º — Em 30-11-48 o estoque de artigos escolares, pelo va-<br />

lor de custo, era de Cr$ 690,00.<br />

9.º — Na mesma <strong>da</strong>ta, foram pagos servente Cr$ 150,00,<br />

relativos limpeza <strong>da</strong> sede <strong>da</strong> cooperativa durante<br />

o exercício.<br />

10.º — Verificou-se haver sido gasto, no exercício, mate-<br />

rial de expediente no valor de Cr$ 100,00.


FÁBIO LUZ FILHO 367<br />

11.º — Os Estatutos <strong>da</strong> cooperativa dispõem:<br />

a) — que as jóias de admissão e donativos se re-<br />

vertem em favor do Fundo de Assistência<br />

aos colegiais;<br />

b) — que 10% <strong>da</strong>s sobras líqui<strong>da</strong>s, apura<strong>da</strong>s em<br />

balanço anual, se destinam ao Fundo de<br />

Reserva;<br />

c) — que 90% <strong>da</strong>s mesmas se destinam ao aludi- do Fundo<br />

de Assistência.<br />

ESCRITURAÇÃO DO LIVRO “ CAIXA<br />

Para facili<strong>da</strong>de do contrôle <strong>da</strong> escrituração e confronto<br />

do “Caixa” com o livro “Registo Geral de Contas”, as contas<br />

serão numera<strong>da</strong>s.<br />

Aquelas cujo saldo é sempre devedor tomarão números<br />

ÍMPARES.<br />

Aquelas cujo saldo é sempre credor tomarão números<br />

PARES.<br />

QUADRO DAS CONTAS CODIFICADAS<br />

A seguir, <strong>da</strong>mos um modêlo do livro “Caixa”, devi<strong>da</strong>mente<br />

escriturado, para ser adotado na Cooperativa.<br />

Os documentos relativos a pagamentos (saí<strong>da</strong>s de dinhei-<br />

ro) deverão ser numerados por exercício, isto é, numeração se-<br />

gui<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> reabertura <strong>da</strong> Cooperativa até o fim do exer-


Nº<br />

do<br />

doc.<br />

Nº<br />

do<br />

doc.<br />

2<br />

-<br />

368 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

cício, que coincide, nas escolares, com o início <strong>da</strong>s férias anuais<br />

em dezembro.<br />

Os documentos de receita têm o número no canhoto dos<br />

recibos, em se tratando de recebimentos de jóias ou de quo-<br />

tas-partes do capital, ou ain<strong>da</strong> o contrôle no livro de Estoque<br />

(entra<strong>da</strong>s e saí<strong>da</strong>s de artigos e valor <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s), não sendo,<br />

assim, necessária a sua renumeração.<br />

MOVIMENTO DO MÊS DE MARÇO DE 1948 (*)<br />

Nº<br />

<strong>da</strong><br />

conta<br />

Nº<br />

<strong>da</strong><br />

conta<br />

00<br />

12<br />

HISTÓRICO<br />

Rec. de divs. assoc. p/integr. de capital, conforme<br />

talões de ns. 1 a ...............................................<br />

Rec. de jóais de diversos, talões de ns. 1 a.......<br />

Pago À Casa...............n/compra de 1 armário.......<br />

Rec. do Depart. Cooperativismo, empréstimo do<br />

Govêrno Estadoal p/pag. em 30/6/49..........................<br />

SALDO QUE PASSA PARA ABRIL...<br />

Entra<strong>da</strong>s<br />

de<br />

dinheiro<br />

500,00<br />

200,00<br />

2.000,00<br />

MOVIMENTO DO MÊS DE ABRIL DE 1948<br />

Entra<strong>da</strong>s<br />

HISTÓRICO<br />

de<br />

dinheiro<br />

SALDO QUE PASSA DO MÊS DE<br />

MARÇO............................................................<br />

Pago à Casa...............s/fatura do art. escolares.......<br />

Rec. Ven<strong>da</strong> de artigos, conf. O livro de “Entra<strong>da</strong>s<br />

E Saí<strong>da</strong>s....................................................................<br />

SALDO QUE PASSA PARA MAIO...<br />

Saí<strong>da</strong>s<br />

de<br />

dinheiro<br />

300,00<br />

2.700,00 300,00<br />

2.400,00<br />

2.700,00<br />

2.400,00<br />

2.070,00<br />

Saí<strong>da</strong>s<br />

de<br />

dinheiro<br />

1.800,00<br />

4.470,00 1.800,00<br />

---- 2.670,00<br />

4.470,00 4.470,00<br />

(*) OBSERVAÇÕES:<br />

1 — O tamanho do livro “Caixa” pode ser de 33x22.<br />

2 — A escrituração poderá ser semanal ou mensal, alterando-se, no último<br />

caso, a ata de reunião semanal de que demos modêlo, de fórma a que<br />

sómente a última ata do mês faça referência à atualização do livro<br />

“Caixa” e à do "Registo Geral de Contas”.<br />

3 — No caso de o Departamento Estadual de Cooperativismo querer<br />

controlar a contabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Cooperativa, com mais eficiência, adote-<br />

se o livro “Caixa” com duas vias (uma picota<strong>da</strong> e outra fixa, mas<br />

ambas devi<strong>da</strong>mente pauta<strong>da</strong>s), escriturando-se o livro com lápis tinta<br />

e papel carbono e enviando-se as fôlhas destaca<strong>da</strong>s ao mesmo<br />

Departamento.<br />

4 — Damos, como exemplo, apenas os dois meses acima para a<br />

escrituração do “Caixa”.<br />

5 — A despeito <strong>da</strong> claraza que procuramos imprimir nestas instruções,<br />

sabemos que se torna imprescindível a conveniente orientação e<br />

assistência às senhoras professôras pelos srs. inspetores de<br />

cooperativas.


FÁBIO LUZ FILHO 369<br />

Livro "Registo Geral de Contas”<br />

Concretizemos, a seguir, todos os fatos <strong>da</strong>dos em hipótese<br />

no início desta monografia.<br />

Escrituremos o “Registo Geral de Contas”:<br />

01 — ASSOCIADOS CAPITAL<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Março .....<br />

15<br />

Valor de 1 000 quotas<br />

subscritas, conf. L. do<br />

Matrícula .............<br />

Intgralização de quotas,<br />

conforme o “Caixa”<br />

.......................................<br />

2.000,00<br />

500,00<br />

02 — CAPITAL A INTEGRALIZAR<br />

D<br />

D<br />

2.000,00<br />

1.500,00<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Março .....<br />

15<br />

Valor de 1 000 quotasde<br />

capital a integralizar<br />

................................<br />

Capital Integralizado,<br />

conforme transferência<br />

p/Cta. 04 ...............<br />

500,00<br />

03 — CAIXA<br />

2.000,00<br />

C<br />

C<br />

2.000,00<br />

1.500,00<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1048<br />

Março....... 15 Rec. p/integralização de quotas....... 500,00<br />

500,00<br />

Rec. p/joias de admissão .................... 200,00 D 700,00<br />

20 Pago p/compra do móveis................. 300,00 D 400,00<br />

30 Rec. empréstimo do Govêrno ........... 2.000,00 D 2.400,00<br />

Abril ......... 30 Pago p/artigos escolares .................... 1.800,00 D 600,00<br />

Rec. p/ven<strong>da</strong> de artigos ..................... 2.070,00 D 2.670,00<br />

Maio .......... 31 Pago p/artigos escolares..................... 2.000,00 D 670,00<br />

Rec. p/ven<strong>da</strong> de artigos ..................... 2.070,00 D 2.740,00<br />

Junho ........ 30 Pago p/ artigos escolares ................... 2.100,00 D 640,00<br />

Rec. p/artigos vendidos ..................... 2.300,00 D 2.940,00<br />

Agôsto ....... 31 Pago p/artigos escolares .................... 2.000,00 D 940,00<br />

Rec. p/ven<strong>da</strong>s do artigos ................... 2.185,00 D 3.255,00<br />

Set. ............ 30 Pago p/artigos escolares .................... 2.400,00 D 725,00<br />

Rec. p/ven<strong>da</strong>s de artigos .................... 2.530,00 D 3.255,00<br />

Out. ........... 31 Pago p/artigos escolares..................... 2.200,00 D 1.055,00<br />

Rec. p/ven<strong>da</strong>s de artigos .................... 2.530,00 D 3.585,00<br />

Nov............. 30 Pago p/artigos escolares .................... 2.500,00 D 1.085,00<br />

Rec. p/ven<strong>da</strong>s de artigos ................... 2.875,00 D 3.960,00<br />

Pago depósito na Caiza Econômica 3.000,00 D 960,00<br />

Pago limeza <strong>da</strong> sede ........................... 150,00 D 810,00<br />

24—27454<br />

D


370 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

04 — CAPITAL INTEGRALIZADO<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Março.....<br />

15<br />

Transferência <strong>da</strong> Cta. 02, pelo capi-tal<br />

intgralizado.................................<br />

05 — MÓVEIS E UTENSÍLIOS<br />

500,00<br />

C<br />

500,00<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Março.....<br />

20<br />

Móveis adquiridos.............................<br />

Móveis doados p/Govêrno ...............<br />

300,00<br />

200,00<br />

06 — JÓIAS DE ADMISSÃO<br />

D<br />

D<br />

300,00<br />

500,00<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Março.....<br />

15<br />

Jóias recebi<strong>da</strong>s de associados ...........<br />

200,00<br />

07 — MATERIAL DE EXPEDIENTE<br />

C<br />

200,00<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Março.....<br />

20<br />

Material doado p/Govêrno ...............<br />

08 — AUXÍLIO DO GOVÊRNO<br />

250,00<br />

D<br />

250,00<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Março.....<br />

20<br />

Doação de mat. exp. p/Govêrno .......<br />

Idem de móveis idem ........................<br />

09 — ARTIGOS ESCOLARES<br />

250,00<br />

200,00<br />

C<br />

C<br />

250,00<br />

450,00<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Abril ..........<br />

Maio ..........<br />

Junho ........<br />

Agôsto .......<br />

Set. ............<br />

Out. ...........<br />

Nov. ...........<br />

30<br />

31<br />

30<br />

31<br />

30<br />

31<br />

30<br />

Compra de artigos .............................<br />

Idem idem ................................<br />

Idem idem ................................<br />

Idem idem ................................<br />

Idem idem ................................<br />

Idem idem ................................<br />

Idem idem ................................<br />

1.800,00<br />

2.00,00<br />

2.100,00<br />

2.000,00<br />

2.400,00<br />

2.200,00<br />

2.500,00<br />

D<br />

D<br />

D<br />

D<br />

D<br />

D<br />

D<br />

1.800,00<br />

3.800,00<br />

5.900,00<br />

7.900,00<br />

10.300,00<br />

12.500,00<br />

15.00,00


FÁBIO LUZ FILHO 371<br />

10 — FINANCIAMENTO DO GOVÊRNO<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Março.....<br />

30<br />

Empréstimo do Gov. p/pag em 30/6 de<br />

1949 ...............................................<br />

11 — CAIXA ECONÔMICA<br />

2.000,00<br />

C 2.00,00<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Nov........<br />

30<br />

Depositado nesta <strong>da</strong>ta .....................<br />

3.000,00<br />

12 — DISTRIBUIÇÃO DE ARTIGOS<br />

D<br />

3.000,00<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Abril ..........<br />

Maio ..........<br />

Junho ........<br />

Agôsto .......<br />

Set. ............<br />

Out. ...........<br />

Nov. ...........<br />

30<br />

31<br />

30<br />

31<br />

30<br />

31<br />

30<br />

Ven<strong>da</strong>s de artigos escolares ................<br />

Idem idem ................................<br />

Idem idem ................................<br />

Idem idem ................................<br />

Idem idem ................................<br />

Idem idem ................................<br />

Idem idem ................................<br />

13 — DESPESAS GERAIS<br />

2.070,00<br />

2.070,00<br />

2.300,00<br />

2.185,00<br />

2.530,00<br />

2.530,00<br />

2.875,00<br />

C<br />

C<br />

C<br />

C<br />

C<br />

C<br />

C<br />

2.070,00<br />

4.140,00<br />

6.440,00<br />

8.625,00<br />

11.155,00<br />

13.085,00<br />

16.560,00<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Nov........<br />

30<br />

Limpeza <strong>da</strong> sede n/ecercício ...........<br />

150,00<br />

OBSERVAÇÕES:<br />

1 — Mensalmente será extraído um balancete do livro “REGISTO<br />

GERAL DE CONTAS" para remessa ao Departamento de<br />

Cooperativismo, nos Estados que têm acôrdo com O S. E. R., ou para<br />

remessa a êste onde não houver acôrdo<br />

2 — Damos adiante o modêlo do balancete, extraído com base em 30 de<br />

novembro de 1948, dos saldos devedores a credores apresentados pelo<br />

“Registo Geral de Contas”. Êste balancete servirá também de base<br />

para o levantamento do balanço, de vez que o início <strong>da</strong>s férias será a<br />

1.º de dezembro.<br />

C<br />

150,00


372 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

COOPERATIVA ESCOLAR DO GRUPO ESCOLAR .....................<br />

REGISTO NO S.E.R. N.° ...................<br />

subscrito Cr$ 2.000,00<br />

N.º de associados: 1.00 Capital realizado Cr$ 500,00<br />

a realizar Cr$ 1.500,00<br />

BALANCETE EM 30 DE NOVEMBRO DE 1948<br />

CONTAS Devedoras Credoras<br />

Associados c/Capital........................ 1.500,00<br />

Caixa ................................................ 810,00<br />

Móveis e Utensílios .......................... 500,00<br />

Material do Expediente .................. 250,00<br />

Artigos Escolares ............................ 15.000,00<br />

Caixa Econômica ............................ 3.000,00<br />

Despesas Gerais ............................... 150,00<br />

Capital a Integralizar ..................... 1.500,00<br />

Capital Integralizado ...................... 500,00<br />

Jóias de Admissão ........................... 200,00<br />

Auxílio do Govêrno ......................... 450,00<br />

Financiamento do Govêrno ............ 2.000,00<br />

Distribuição de Artigos ................... 16.560,00<br />

TOTAIS .................................... 21.210,00 21.210,00<br />

...................................... ............... de .............................. de 19 .....<br />

.............................................. ...........................................<br />

Presidente Gerente<br />

Visto.<br />

..........................................................................<br />

Professôra Encarrega<strong>da</strong><br />

OBSERVAÇÕES:<br />

Como se vê, do balancete acima só constam as contas que tiveram movimento<br />

na monografia que estamos desenvolvendo: mas deverão ser incluí<strong>da</strong>s<br />

quaisquer outras que constem do “Livro geral de Contas”.<br />

ENCERRAMENTO DO EXERCÍCIO<br />

Com os elementos constantes do balancete acima, e saben-<br />

do que o estoque de artigos escolares em 30-11-48 é de<br />

Cr$ 690,00, bem como de Cr$ 100,00 o consumo de material de<br />

expediente, podemos encerrar o balanço econômico (Sobras e<br />

Per<strong>da</strong>s) e o balanço geral do ativo e passivo <strong>da</strong> Cooperativa.<br />

Como os estatutos digam que as Jóias e Donativos serão<br />

levados ao Fundo de Assistência aos Colegiais, tais contas não<br />

são divisionárias de Sobras e Per<strong>da</strong>s; mas faremos com que<br />

as mesmas constem desta conta, sem afetá-la, para aparece-<br />

rem na demonstração a ser envia<strong>da</strong> ao S . E . R. sem necessi<strong>da</strong>-<br />

de de outras demonstrações.


FÁBIO LUZ FILHO 373<br />

Escrituremos a conta “SOBRAS E PERDAS” no “Registo<br />

Geral de Contas”:....................................................................<br />

11 — SOBRAS E PERDAS<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Nov........<br />

Datas<br />

1948<br />

Nov.....<br />

30<br />

Distribuição de artigos neste exercício<br />

.......................................................<br />

Artigos escolares (estoque) que passam<br />

para o exercício seguinte............<br />

Artigos escolares adquiridos neste<br />

exercício...............................................<br />

Material de expedieto consumido<br />

exercício ..............................................<br />

Despesas gerais no exercício .............<br />

Creditado a Fundo do de Depreciação,<br />

10% s/500,00, valor de Móveis e<br />

Utensílios ..........................<br />

Creditado a Fundo de Reserva, 10%<br />

a/as sobras líqui<strong>da</strong>s de Cr$................<br />

1.950,00 ...............................................<br />

Creditado a Fundo de Assistência,<br />

90% idem, idem .................................<br />

Joias de Admissão n/exercício...........<br />

Auxílio do Govêrno, idem..................<br />

Creditado a Fundo de Assistência,<br />

imp. <strong>da</strong>s joias e auxílio, conf. estatutos<br />

.................................................<br />

15.000,00<br />

100,00<br />

150,00<br />

50,00<br />

195,00<br />

1.755,00<br />

16.560,00<br />

600,00<br />

200,00<br />

450,00<br />

C<br />

C<br />

C<br />

C<br />

C<br />

C<br />

C<br />

C<br />

C<br />

C<br />

16.560,00<br />

17.250,00<br />

2.250,00<br />

2.150,00<br />

2.000,00<br />

1.950,00<br />

1.755,00<br />

—<br />

200,00<br />

650,00<br />

650,00<br />

—<br />

17.900,00 17.900,00<br />

OBSERVAÇÕES:<br />

1 — Duas Cópias desta conta serão envia<strong>da</strong>s, como demonstrações juntas<br />

ao balanço, ao Departamento Estadual de Cooperativismo,<br />

enviará uma via ao S.E.R.<br />

2 — Todo o serviço de escrituração <strong>da</strong>s cooperativas escolares deve ter<br />

que<br />

assídua assistência do Inspetor contabilista do Departamento, o qual<br />

fará os trabalhos de levantamento do balanço até que a professora<br />

encarrega<strong>da</strong> tenha podido assimilar o serviço.<br />

3 — como se trata de uma monografia para servir de base orientação <strong>da</strong>s<br />

cooperativas escolares por funcionário contador (ou guar<strong>da</strong>-livros),<br />

não desceremos ao detalhe do fechamento <strong>da</strong>s contas no "Registo<br />

Geral de Contas", pois estas se encerram como as do livro "Razão"<br />

na escrita comercial, eviatando-se apenas expressões contábeis<br />

de compreensão por leigos.<br />

4 — Daremos, entretanto, um exemplo, encerrando as contas Distribuição<br />

difíceis<br />

de Artigos" e “Artigos Escolares”, transportando para<br />

os créditos respectivos em 30/11/48, já assinalados linhas atrás.<br />

5 — Poderá também ser adotado, ao invés do Fundo de Assistência,<br />

o fechamento<br />

FUNDO DE DESENVOLVIMENTO, por ter uma aplicação mais<br />

ampla aos objetivos <strong>da</strong> cooperativa escolar, de conformi<strong>da</strong>de com o<br />

estatuto-modêlo constante dêste boletim.<br />

30<br />

X<br />

HISTÓRICO<br />

12 — DISTRIBUIÇÃO DE ARTIGOS<br />

..........................................................<br />

Creditado a “Sobras e Per<strong>da</strong>s” ....<br />

Débito Crédito D/C Saldos<br />

16.560,00<br />

16.560,00<br />

C<br />

16.560,00<br />


374 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

09 — ARTIGOS ESCOLARES<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Nov ..........<br />

j<br />

j<br />

1949<br />

Março ......<br />

30<br />

1<br />

............................................................<br />

Debitado a “Sobras e Per<strong>da</strong>s” ........<br />

Creditado a “Sobras e Per<strong>da</strong>s” ......<br />

Saldo a Balanço .......................<br />

Estoque do exercício anteriror .......<br />

OBSERVAÇÕES:<br />

15.000,00<br />

15.000,00<br />

690,00<br />

690,00<br />

15.690,00 15.690,00<br />

690,00<br />

Assim se encerrarão as demais contas, evitando-se sempre expressões<br />

contábeis difíceis de assimilar (a Artigos Escolares de Artigos Escolares<br />

a Balanço, de Balanços, etc.).<br />

D<br />

D<br />

D<br />

15.000,00<br />

—<br />

690,00<br />

—<br />

690,00<br />

............................................................................................................<br />

Escrituremos, agora, no “Registo Geral de Contas”, Os tí-<br />

tulos originários de “Sobras e Per<strong>da</strong>s” — Fundo de Reserva — Fundo de Assistência<br />

— Fundo de Depreciação.<br />

14 — FUNDO DE RESERVA<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Nov ........<br />

1949<br />

Março ...<br />

30<br />

1<br />

10% <strong>da</strong>s sobras líqui<strong>da</strong>s em 1948.<br />

Saldo a Balanço ...................<br />

Saldo que passa de 1948 .........<br />

195,00<br />

195,00<br />

195,00<br />

16 — FUNDO DE ASSISTÊNCIA<br />

C<br />

C<br />

195,00<br />

—<br />

195,00<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Nov ........<br />

1949<br />

Março ...<br />

30<br />

1<br />

00% <strong>da</strong>s sobras líqui<strong>da</strong>s em 1949.<br />

Joias de Admissão e Auxílio do<br />

Govêrno em 1948 ............................<br />

Saldo a Balanço .......................<br />

Saldo que passa de 1948 .........<br />

1.755,00<br />

650,00<br />

2.405,00<br />

2.405,00 2.405,00<br />

2.405,00<br />

C<br />

C<br />

C<br />

1755,00<br />

2.405,00<br />

—<br />

2.405,00


FÁBIO LUZ FILHO 375<br />

17 — FUNDO DE DEPRECIAÇÃO<br />

Datas HISTÓRICO Débito Crédito D/C Saldos<br />

1948<br />

Nov .......<br />

1949<br />

Março ...<br />

30<br />

1<br />

Depreciação de 10% s/Móveis e Utensílios<br />

.........................................<br />

Saldo a Balanço .......................<br />

Saldo que passa de 1948 .........<br />

50,00<br />

50,00<br />

50,00<br />

OBSERVAÇÕES:<br />

Quando o Fundo de Depreciação atingir o valor do ativo depreciável,<br />

compensando-o, não mais será debita<strong>da</strong> a conta “Sobras a Per<strong>da</strong>s" por<br />

depreciações.<br />

Estampamos, agora, a balanço do ativo e passivo baseado<br />

nos elementos <strong>da</strong> monografia, com o modêlo que deve ser<br />

adotado:<br />

..................................................................................................<br />

COOPERATIVA ESCOLAR DO GRUPO ESCOLAR ......................<br />

Registo no S.E.R. nº .....................<br />

C<br />

C<br />

50,00<br />

—<br />

50,00


TÍTULOS<br />

376 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

BALANÇO EM 30 DE NOVEMBRO DE 1940<br />

VALORES<br />

ATIVO IMBILIZADO<br />

Móveis e Utensílios .................................<br />

Material do Expediente .........................<br />

ATIVO REALIZAVEL<br />

Associados c/Capital ..............................<br />

Artigos Escolares ....................................<br />

ATIVO DISPONÍVEL<br />

Caixa ........................................................<br />

Caixa Econômica ....................................<br />

TOTAL DO ATIVO .......................<br />

PASSIVO INEXIGÍVEL<br />

Capital a Integralizar ............................<br />

Capital Integralizado .............................<br />

Fundo de Reserva ...................................<br />

Fundo de Assistência .............................<br />

Funco de Depreciação ............................<br />

PASSIVO EXIGÍVEL<br />

Financiamento do Govêrno....................<br />

TOTAL DO PASSIVO....................<br />

Parciais Totais<br />

500,00<br />

150,00<br />

1.500,00<br />

690,00<br />

810,00<br />

3.000,00<br />

1.500,00<br />

500,00<br />

165,00<br />

2.405,00<br />

50,00<br />

2.000,00<br />

650,00<br />

2.100,00<br />

3.810,00<br />

Cr$ 6.650,00<br />

4.650,00<br />

2.000,00<br />

Cr$ 6.650,00<br />

................... ......................................... de .......................... de 19....<br />

O presente balanço foi aprovado em assembléia de .......... / .. /19....<br />

..................................... ................................................<br />

(Presidente) (Gerente)<br />

Visto;<br />

....................................... .................................................<br />

(Secretário) (Professôra Encarrega<strong>da</strong>)<br />

OBSERVAÇÕES:<br />

Outras contas poderão ser adota<strong>da</strong>s de acôrdo com a necessi<strong>da</strong>de de registo<br />

dos fatos que ocorrerem se, por exemplo, a cooperativa adquirir a<br />

crédito (o que não é aconselhável), debitará “Artigos Escolares" e<br />

creditará "Fornecedoras" ou "C/Correntes". Se vender artigos a<br />

crédito aos associados (também não aconselhável), debitará<br />

“Associados c/ Fornecimentos" e creditará "Distribuição de Artigos".<br />

Havendo alguma despesa caracteriza<strong>da</strong> em assistência a colegiais no<br />

exercício, debitar-se-á o titulo "Assistência a Colegiais" a crédito de<br />

“Caixa”, e só no fim do exercício se fechará esta conta a débito do<br />

"Fundo de Assistência". Tais despesas, to<strong>da</strong>via, devem estar<br />

prèviamente autoriza<strong>da</strong>s pelo Conselho de Administração.<br />

CONCLUSÃO<br />

Para maior clareza, <strong>da</strong>mos a seguir uma súmula <strong>da</strong>s ope-<br />

rações <strong>da</strong> Cooperativa Escolar, apontando as operações nor-<br />

mais e os lançamentos de débito ou crédito que devem ser<br />

feitos no “Registro Geral de Contas”.


FÁBIO LUZ FILHO 377<br />

OPERAÇÔES LANÇAMENTOS A FAZER<br />

Subscrição de quotas-partes pelo sócio<br />

admitido<br />

..................................................................<br />

Recebimento do dinheiro p/conta <strong>da</strong>s quoatas-partes<br />

.......................................................................<br />

...................................................................................<br />

...................................................................................<br />

Recebimento do dinheiro em pagamento de jóias de<br />

admissão .............................................................<br />

Auxílio pelo Govêrno, em Artigos Escolares, Móveis<br />

e Utensilios e Material de Expediente ............<br />

...................................................................................<br />

...................................................................................<br />

Compra de Artigos Escolares a dinheiro ..............<br />

...................................................................................<br />

● Compra de Artigos Escolares a crédito .............<br />

...................................................................................<br />

Pagamento a Fornecedores pelos artigos vendidos a<br />

crédito ...................................................<br />

Ven<strong>da</strong> de Artigos Escolares aos associados alunos<br />

(a dinheiro) ..................................................<br />

●● Ven<strong>da</strong> de Artigos Escolares aos alunos (a crédito)<br />

..........................................................................<br />

...................................................................................<br />

Recebimento do dinheiro pelas ven<strong>da</strong>s a crédito a<br />

alunos ....................................................................<br />

Recebimento do empréstimo feito pelo Govêrno..<br />

...................................................................................<br />

Pagamento do empréstimo feito pelo Govêrno ....<br />

...................................................................................<br />

Depósito de dinheiro na Caixa Econômica ...........<br />

...................................................................................<br />

Retira<strong>da</strong> de dinheiro <strong>da</strong> Caixa Econômica ...........<br />

...................................................................................<br />

Juros Creditados na caderneta <strong>da</strong> Caixa Econô-mica<br />

..........................................................................<br />

Recebimento de donativos em dinheiro ................<br />

...................................................................................<br />

Pagamento de despesas gerais ...............................<br />

...................................................................................<br />

●●● Restituição <strong>da</strong> importância do Capital ao só<br />

cio que saiu ..............................................................<br />

baixa na importência do capital ain<strong>da</strong> não realizado,<br />

quando se demitiu o sócio ............................<br />

Associados c/Capital ................................ DÉBITO<br />

Capital a Integralizar .............................. Crédito<br />

Caixa ......................................................... DÉBITO<br />

Associa<strong>da</strong> c/Capital ................................. Crédito<br />

Capital a Integralizar .............................. DÉBITO<br />

Capita Integralizado ................................ Crédito<br />

Caixa .......................................................... DÉBITO<br />

Jóias de Admissão ..................................... Crédito<br />

Artigos Escolares ...................................... DÉBITO<br />

Móveis e Utensílios ................................... DÉBITO<br />

Material de Expediente ............................ DÉBITO<br />

AUXÍLIO DO GOVÊRNO ...................... Crédito<br />

Artigos Escolares ...................................... DÉBITO<br />

Caixa .......................................................... Crédito<br />

Artigos Escolares ...................................... DÉBITO<br />

Fornecedores ............................................. Crédito<br />

Fornecedores ............................................. DÈBITO<br />

Caixa .......................................................... Crédito<br />

Caixa .......................................................... DÉBITO<br />

Distribuição de Artigos ............................ Crédito<br />

Associados c/Fornecimento ...................... DÉBITO<br />

Distribuição de Artigos ............................ Crédito<br />

Distribuição de Artigos ............................ Crédito<br />

CAIXA ...................................................... DÉBITO<br />

Associados c/Fornecimento ..................... Crédito<br />

CAIXA ...................................................... DÉBITO<br />

Financiamento do Govêrno ..................... Crédito<br />

Financiamento do Govêrno ..................... DÉBITO<br />

Caixa .......................................................... Crédito<br />

Caixa Econômica ..................................... DÉBITO<br />

Caixa ......................................................... Crédito<br />

CAIXA ...................................................... DÉBITO<br />

Caixa Econômica ..................................... Crédito<br />

Caixa Econômica ..................................... DÉBITO<br />

Juros do Depósitos ................................... Crédito<br />

CAIXA ...................................................... DÉBITO<br />

Donativos .................................................. Crédito<br />

Despesas Gerais ........................................ DÉBITO<br />

Caixa .......................................................... Crédito<br />

Caixa Integralizado .................................. DÉBITO<br />

Caixa .......................................................... Crédito<br />

Capital a Integralizar .............................. DÉBITO<br />

Associados c/Capital ................................ Crédito<br />

OBSERVAÇÕES:<br />

• Como já dissemos, não é muito recomendável compra a crédito<br />

pelas<br />

Cooperativas Escolares<br />

•• Igualmente, a ven<strong>da</strong> a dinheiro aos alunos é a mais<br />

preferível, além de<br />

evitar fichas de c/correntes de associados, o que acarretaria<br />

grande ser-<br />

viço à Cooperativa.<br />

••• No caso de demissão do associado, fazer também o<br />

respoctivo<br />

lançamento no Livro de Matrícula, encerrando-se a conta e<br />

exigindo-se<br />

a assinatura do demissionário no lugar competente.


378 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

OPERAÇÕES LANÇAMENTOS A FAZER<br />

Verificação <strong>da</strong>s sobras (lucor) na ven<strong>da</strong> de Artigos<br />

Escolares<br />

Transferência para Sobras e Per<strong>da</strong>s dos juros de<br />

depósitos ..................................................................<br />

Transferência <strong>da</strong>s despesas gerais, consumo de<br />

material de expediente, bem como depreciação do<br />

Móveos e Utensílios para “Sobras e Per<strong>da</strong>s”<br />

...................................................................................<br />

Transferência dos 10% <strong>da</strong>s sobras líqui<strong>da</strong>s e dos<br />

90% <strong>da</strong>s mesmas, respectivamente, para Fun- do<br />

de Reserva e Fundo <strong>da</strong> Assistência ..................<br />

● Transferência do Donativo, Auxílio do Gover-no<br />

para o Fundo de Assistência (conforme os estatutos<br />

....................................................................<br />

...................................................................................<br />

...................................................................................<br />

(Pelo valor <strong>da</strong> conta “Artigos Escolares” no úl-timo<br />

balancete);<br />

SOBRAS E PERDAS ................................ DÉBITO<br />

Artigos Escolares ....................................... Crédito<br />

(Pelo valor <strong>da</strong> conta “Distribuição de Artigos” no<br />

último balancete);<br />

DISTRIBUIÇÃO DE ARTIGOS ............. DÉBITO<br />

Sobras e Per<strong>da</strong>s ......................................... Crédito<br />

(Pelo valor do estoque verificado na ocasião do<br />

fechamento do balanço);<br />

ARTIGOS ESCOLARES ......................... DÉBITO<br />

Sobras e Per<strong>da</strong>s ......................................... Crédito<br />

JUROS DE DEPÓSITOS ......................... DÉBITO<br />

Sobras e Per<strong>da</strong>s ......................................... Crédito<br />

SOBRAS E PERDAS ............................... DÉBITO<br />

Despesas Gerais ........................................ Crédito<br />

Material de expedimento ......................... Crédito<br />

Fundo de Depreciação ............................. Crédito<br />

SOBRAS E PERDAS ............................... DÉBITO<br />

Fundo de Reserva ..................................... Crédito<br />

Fundo de Assistência ................................ Crédito<br />

......................................................................................<br />

DONATIVOS ............................................ DÉBITO<br />

AUXÍLIO DO GOVÊRNO ...................... DÉBITO<br />

Sobras e Per<strong>da</strong>s ......................................... Crédito<br />

SOBRAS E PERDAS ................................ DÉBITO<br />

Fundo de Assistência ................................. Crédito<br />

OBSERVAÇÕES:<br />

Também podem ser debita<strong>da</strong>s as contas "Donativos" e “Auxilio do Govêrno"<br />

diretamente a crédito do FUNDO DE ASSISTÊNCIA, mas <strong>da</strong> forma<br />

exposta acima há maior clareza no emprego <strong>da</strong>s ditas contas.<br />

“LIVRO DE ESTOQUE”<br />

Damos, a seguir, um modêlo do livro de estoque.<br />

Ca<strong>da</strong> fôlha do livro deverá destinar-se a um artigo, de<br />

preço de custo idêntico. Há, por exemplo, cadernos de Cr$ 2,00,<br />

de Cr$ 2,40 etc. Neste caso, ca<strong>da</strong> um terá sua fôlha.<br />

Quanto à entra<strong>da</strong> do artigo no livro, deverá ser feita<br />

quando efetivamente realiza<strong>da</strong>, depois de conferido o material<br />

pela nota ou fatura de compra, e à vista desta.<br />

Quanto à escrituração de saí<strong>da</strong>, aconselhamos seja feita<br />

semanal, quinzenal ou mensalmente, à vista dos quadros ou


FÁBIO LUZ FILHO 379<br />

resumos extraídos <strong>da</strong>s NOTAS DE VENDAS que a Cooperati-<br />

va deverá adotar,<br />

Essas notas devem constar de um talão, com duas vias<br />

(uma destacável e outra fixa como canhoto), devi<strong>da</strong>mente<br />

numera<strong>da</strong>s. Serão escritura<strong>da</strong>s a lápis tinta com papel car-<br />

bono.<br />

Pelo canhoto se fará o quadro ou resumo de artigos ven-<br />

didos, que será apresentado à reunião semanal do Conselho<br />

antes de ser lançado no Livro de Estoque.<br />

O “Livro de Estoque”, como o Caixa e o Registo Geral de<br />

Contas, pode ter o tamanho almaço (33x22) e conter 100 fô-<br />

lhas, de vez que os artigos escolares não se elevam a mais de<br />

30 tipos.


ENTRADA DE ARTIGOS SAÍDA DE ARTIGOS ESTOQUE DE ARTIGOS<br />

Data FORNECEDORES Quanti<strong>da</strong>de<br />

1948<br />

Março ....<br />

Abril ......<br />

Junho .....<br />

Agosto ...<br />

Set.º .......<br />

Nov.º ......<br />

1949<br />

Março….<br />

1<br />

5<br />

10<br />

5<br />

1<br />

1<br />

2<br />

1<br />

Casa Matos Lt<strong>da</strong>.<br />

Casa Cruz Lt<strong>da</strong>.....<br />

Casa Crus Lt<strong>da</strong>.....<br />

Casa Escolar Lt<strong>da</strong>.<br />

Casa Crus Lt<strong>da</strong>.....<br />

Casa S. Lima.........<br />

SOMAS<br />

Estoque de 1948<br />

50<br />

50<br />

40<br />

30<br />

100<br />

50<br />

320<br />

45<br />

Preço<br />

Uni<strong>da</strong>de<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

100<br />

100<br />

80<br />

60<br />

200<br />

100<br />

640<br />

90<br />

Valor Data<br />

Quanti<strong>da</strong>de<br />

OBSERVAÇÕES:<br />

1 — ConfIra-se sempre o estoque existente deduzindo-se <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de ENTRADA a quanti<strong>da</strong>de de SAÍDA.<br />

2 — Para conhecer-se o valor de custo dos artigos vendidos, deduza-se do VALOR de ENTRADA o VALOR de ESTOQUE.<br />

Exemplo: Valor de custo no quadro acima — Cr$ 550,00.<br />

3 — Para conhecer-se a — sobra-bruta — (lucro) na distribuição de artigos, deduza-se do VALOR de SAÍDA o valor de<br />

custo dos artigos vendidos.<br />

Exemplo: Valor <strong>da</strong> SAÍDA no quadro acima ............................................................. Cr$ 632,50<br />

Valor de CUSTO (veja nº 2) .................................................................. 550,00<br />

Sobra bruta na distribuição constante do quadro acima ........................ 82,50<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

Março .....<br />

Abril .......<br />

Maio .......<br />

Junho ......<br />

Ag ...........<br />

Set. ..........<br />

Outubro ..<br />

Nov. ........<br />

30<br />

30<br />

31<br />

30<br />

31<br />

30<br />

31<br />

30<br />

10<br />

70<br />

10<br />

30<br />

50<br />

60<br />

15<br />

30<br />

275<br />

Preço<br />

Uni<strong>da</strong>de<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

30<br />

30<br />

30<br />

30<br />

30<br />

30<br />

30<br />

30<br />

Valor Quan-<br />

ti<strong>da</strong>de<br />

23<br />

161<br />

23<br />

69<br />

115<br />

138<br />

34<br />

69<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

50<br />

00<br />

40<br />

20<br />

10<br />

20<br />

40<br />

25<br />

45<br />

80<br />

40<br />

20<br />

40<br />

80<br />

50<br />

90<br />

Valor (Custo)<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

632 50 45 90 00


DIAS HISTÓRICO<br />

1<br />

2<br />

><br />

6<br />

7<br />

9<br />

10<br />

11<br />

13<br />

14<br />

Est. de 1947<br />

.......<br />

Adquirindo<br />

joje.<br />

Vendido<br />

hoje......<br />

> > .<br />

> > .<br />

> > .<br />

> > .<br />

> > .<br />

> > .<br />

> > .<br />

> > .<br />

CADERNO<br />

Custo Unit. 2,00<br />

CADERNO<br />

Custo Unit. 2,50<br />

LAPIS<br />

Custo Unit. 0,50<br />

LAPIS<br />

Custo Unit. 0,80<br />

Ent. Saí<strong>da</strong> Est. Ent. Saí<strong>da</strong> Est. Ent. Saí<strong>da</strong> Est. Ent. Saí<strong>da</strong> Est. Ent. Saí<strong>da</strong> Est. Ent. Saí<strong>da</strong> Est.<br />

20<br />

50<br />

10<br />

9<br />

5<br />

4<br />

2<br />

5<br />

1<br />

4<br />

2<br />

20<br />

70<br />

60<br />

51<br />

46<br />

42<br />

40<br />

35<br />

34<br />

30<br />

28<br />

15<br />

75<br />

5<br />

10<br />

25<br />

19<br />

1<br />

2<br />

2<br />

1<br />

5<br />

SOMAS .... 70 42 28 90 70 20 300 210 90 155 40 115<br />

15<br />

90<br />

85<br />

75<br />

50<br />

31<br />

30<br />

28<br />

26<br />

25<br />

20<br />

OBSERVAÇÕES:<br />

Sendo semanal, quinzenal ou mensal a escrituração do “Livro de Estoque", adotar-se-ão estas fichas diárias para contrôle<br />

<strong>da</strong>s quanti<strong>da</strong>des entra<strong>da</strong>s e saí<strong>da</strong>s e <strong>da</strong> existência estoque.<br />

Os registos serão efetuados pelo canhoto <strong>da</strong>s "Notas de Ven<strong>da</strong>".<br />

Estas fichas poderão ser feitas em papel comum para escrituração a lápis.<br />

100<br />

200<br />

20<br />

1<br />

30<br />

49<br />

50<br />

3<br />

7<br />

39<br />

11<br />

100<br />

300<br />

280<br />

279<br />

249<br />

200<br />

150<br />

147<br />

140<br />

101<br />

90<br />

55<br />

100<br />

15<br />

2<br />

7<br />

6<br />

2<br />

3<br />

1<br />

4<br />

0<br />

55<br />

155<br />

140<br />

138<br />

131<br />

125<br />

123<br />

120<br />

119<br />

115<br />

115


............................................................................................................................................................................................................................................<br />

NOME DO ASSOCIADO: Mauro José Gandra<br />

DATA DO NASCIMENTO: 16/04/1939<br />

Nacionali<strong>da</strong>de Brasileira<br />

FILIAÇÃO: José F. Gandra e Amandina M. Gandra<br />

ALUNO DA ESCOLA 7—9 — República do Peru — D.<br />

Federal<br />

RESIDÊNCIA: Rua Aristides Caire, 39, c. 10 Meier —<br />

Rio<br />

DATA DA ADMISSÃO: 15 deMarço de 1947.<br />

..............................................................<br />

(Assinatura do associado)<br />

..............................................................<br />

(Assinatura do Presidente)<br />

DEMITIDO OU ESCLUÍDO EM ............ DE<br />

..................... DE 19.......<br />

............................................................<br />

...........................................................<br />

(Assinatura do Presidente) (Ass. do associado demitido)<br />

AVERBAÇÕES<br />

MATRÍCULA Nº ..............<br />

.............................................................................................................................<br />

.......................................................................................................…...................<br />

..............................................................................................................................<br />

..............................................................................................................................<br />

...............................................................................................................................<br />

...............................................................................................................................<br />

................................................................................................................................<br />

................................................................................................................................<br />

.................................................................................................................................


DATAS HISTÓRICO<br />

1947<br />

Março ...........<br />

> ............<br />

Abril .............<br />

Maio .............<br />

Junho ...........<br />

Novembro ....<br />

1948<br />

Março ...........<br />

Maio .............<br />

15<br />

><br />

15<br />

16<br />

15<br />

30<br />

1<br />

5<br />

5 quotas subscritas ..........<br />

Rec. integralização ..........<br />

Idem idem ..............<br />

Idem idem ..............<br />

Idem idem ..............<br />

Balanço de Saldo .........<br />

Saldo credor ........................<br />

pago por se ter demitido ....<br />

CAPITAL A INTEGRALIZAR CAPITAL INTEGRALIZADO<br />

Débito Crédito Saldo dev. Débito Crédito<br />

10<br />

00<br />

10 00<br />

2<br />

2<br />

2<br />

2<br />

4<br />

10<br />

00<br />

10 00<br />

00<br />

8 00<br />

2 00<br />

00<br />

5 00<br />

2 00<br />

00<br />

4 00<br />

2 00<br />

00<br />

— —<br />

4 00<br />

10 30<br />

00 — — 10 30 10 00<br />

10<br />

00<br />

10<br />

00<br />

Saldo<br />

credor<br />

2<br />

4<br />

6<br />

10<br />

—<br />

—<br />

10<br />

—<br />

00<br />

00<br />

00<br />

00<br />

—<br />

—<br />

00<br />


ORGANIZAÇÃO E SISTEMA DE OPERAÇÕES DAS<br />

COOPERATIVAS ESCOLARES (EXCERTO)<br />

I — REGIME LEGAL<br />

João do Prado Flôres<br />

As cooperativas escolares são regula<strong>da</strong>s pela lei <strong>da</strong>s coope-<br />

rativas, Decreto-lei n.º 22.239, de 19 de dezembro de 1932.<br />

O artigo 34 diz que “as cooperativas escolares poder-se-ão<br />

constituir nos estabelecimentos, públicos ou particulares...<br />

com o objetivo primordial de inculcar aos estu<strong>da</strong>ntes a idéia<br />

do cooperativismo e ministrar-lhes os conhecimentos práti-<br />

cos de organização e funcionamento de determina<strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li-<br />

<strong>da</strong>de cooperativa e, acessòriamente, proporcionar-lhes as van-<br />

tagens econômicas peculiares à mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de preferi<strong>da</strong>”.<br />

Segundo o artigo 5.º, § único, do Decreto-lei n.º 581, de<br />

1.º de agôsto de 1938, as cooperativas escolares estão isentas<br />

do pagamento de impostos e de selos.<br />

II — DOCUMENTAÇÃO E REGISTRO<br />

As cooperativas escolares precisam, como as demais, fazer<br />

seu registro no Serviço de Economia Rural, do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Agricultura</strong>, e na Secção de Assistência ao Cooperativismo, <strong>da</strong><br />

Secretaria <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, Indústria e Comércio.<br />

0 pedido de registro, feito por intermédio <strong>da</strong> S. A. C.,<br />

precisa ser instruído com uma cópia do ato constitutivo, um<br />

exemplar dos estatutos e uma relação dos associados, do-<br />

cumentos êstes com a assinatura de sete ou mais fun<strong>da</strong>dores<br />

e autenticados pelo diretor <strong>da</strong> escola.<br />

1 — Estatutos<br />

Apresentamos anexo um modêlo de estatutos para as<br />

cooperativas escolares. Ca<strong>da</strong> cooperativa deverá resolver<br />

sôbre:<br />

a) — Valor <strong>da</strong> quota-parte, que poderá ser desde Um<br />

Cruzeiro até Cem;


FÁBIO LUZ FILHO 385<br />

b) — Capital mínimo. A subscrição de quotas deverá ser<br />

superior ao capital mínimo que constar nos esta-<br />

tutos;<br />

c) — Valor <strong>da</strong> Jóia de Admissão. Todos os associados são<br />

obrigados a entrar com essa jóia Base: de Cr$ 2,00<br />

a Cr$ 5,00;<br />

d) — Divisão <strong>da</strong>s sobras. As sobras são reparti<strong>da</strong>s con-<br />

forme o que resolverem os organizadores <strong>da</strong> coope-<br />

rativa, 10% para o Fundo de Reserva é a obrigato-<br />

rie<strong>da</strong>de perante a lei. Se os associados quiserem<br />

poderão estabelecer uma porcentagem para a Cai-<br />

xa Escolar. Tira<strong>da</strong>s essas porcentagens o restante<br />

constituirá o RETÔRNO que será repartido entre<br />

os sócios na proporção de suas compras.<br />

2 — Administração<br />

A Assembléia Geral dos associados é o órgão máximo <strong>da</strong><br />

Cooperativa e lhe compete eleger a Diretoria que será cons-<br />

tituí<strong>da</strong> de:<br />

Presidente, Diretor-Gerente,<br />

Vice-Presidente, Diretor-Tesoureiro,<br />

Diretor-Secretário, Dois suplentes.<br />

As funções dessa diretoria e do ca<strong>da</strong> um de seus membros<br />

se encontram delinea<strong>da</strong>s estatutos.<br />

3 — Ato Constitutivo e Lista Nominativa<br />

O ato constitutivo é representado pela ata dos trabalhos<br />

<strong>da</strong> assembléia de constituição <strong>da</strong> cooperativa.<br />

A Lista-Nominativa é a relação dos sócios fun<strong>da</strong>dores, con-<br />

tendo seus nomes, i<strong>da</strong>des, nacionali<strong>da</strong>des, residências e quo-<br />

tas subscritas.<br />

III — CONDIÇÕES NECESSÁRIAS<br />

Para constituir-se uma cooperativa escolar faz-se neces-<br />

sário haver condições favoráveis, como as seguintes:<br />

25—27 454<br />

1 — Interêsse <strong>da</strong> direção do Grupo;<br />

2 — Professôra-Orientadora para cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> coperativa;<br />

3 — Trabalho de preparação e propagan<strong>da</strong>:


386 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

a) — esclarecimentos às demais professôras,<br />

b) — propagan<strong>da</strong> em tô<strong>da</strong>s as aulas: cartazes, etc.;<br />

c) — estudo dos elementos que poderão exercer os<br />

cargos <strong>da</strong> diretoria e conselho fiscal;<br />

d) — distribuição de chapas para a votação.<br />

IV — ASSEMBLÉIA DE CONSTITUIÇÃO<br />

A assembléia de constituição será a soleni<strong>da</strong>de que <strong>da</strong>rá<br />

vi<strong>da</strong> legal à cooperativa. Além de ampla divulgação na Esco-<br />

la deverão ser convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s as autori<strong>da</strong>des, destacando-se:<br />

a) — Diretora e Professôras do grupo;<br />

b) — Serviço de Assistência ao Cooperativismo;<br />

c) — Centro de Pesquisas Educacionais.<br />

A ordem do dia para essa assembléia será a seguinte:<br />

a) — Instalação dos trabalhos, pela Professôra<br />

Conselheira.<br />

b) — Formação <strong>da</strong> Mesa, convi<strong>da</strong>ndo uma profes-<br />

sôra para secretária e a Diretora do Grupo<br />

e autori<strong>da</strong>des para fazerem parte <strong>da</strong> mesma.<br />

c) — Apresentação <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des. Direção dos<br />

trabalhos para a autori<strong>da</strong>de mais gradua<strong>da</strong>.<br />

d) — Estudo dos Estatutos, sob a direção de pessoa<br />

prèviamento convi<strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />

e) — Eleição. Voto secreto. De preferência duas<br />

chapas.<br />

f) — Posse dos eleitos.<br />

g) — Discursos.<br />

h) — Encerramento e assinatura <strong>da</strong> ata.<br />

V — LIVROS DE ESCRITURAÇÃO<br />

A cooperativa precisará ter os livros necessários a uma<br />

boa escrituração, os quais deverão ter têrmo de abertura e<br />

encerramento feitos pelo presidente. Os registros poderão ser<br />

feitos também em fichas, Teremos, então, o seguinte:<br />

1 — Livros<br />

a) — Caixa<br />

b) — Razão


FÁBIO LUZ FILHO 387<br />

c) — Livro de Atas <strong>da</strong>s assembléias<br />

d) — Livro de Matrícula dos Associados<br />

e) — Livro de atas <strong>da</strong>s reuniões <strong>da</strong> diretoria.<br />

2 — Fichas<br />

a) — Ficha de Matrícula dos associados<br />

b) — Título Nominativo do associado<br />

c) — Diário de Ven<strong>da</strong>s<br />

d) — Ficha de estoque<br />

e) — Ficha de registro <strong>da</strong>s compras dos associados<br />

(anexo n.° 7).<br />

f) — Notas para registrar as compras. Talão<br />

comum.<br />

VI — INSTALAÇÕES<br />

A direção <strong>da</strong> cooperativa procurará desde logo tomar as<br />

seguintes providências:<br />

1 — Aparelhar-se no que diz respeito às instalações <strong>da</strong><br />

melhor forma possível;<br />

2 — Conseguir, de preferência, uma sala para uso exclusi-<br />

vo de seus serviços;<br />

3 — Providenciar no sentido de que a Secretaria de Edu-<br />

cação, por seus serviços especializados, confeccione os armá-<br />

rios, prateleiras e balcões de que a cooperativa irá precisar;<br />

4 — Adquirir, quando possível, pequenos arquivos, de ma-<br />

deira ou de aço, para guar<strong>da</strong>r as diversas fichas necessárias<br />

a seu funcionamento.<br />

Para atender a essas despesas com mobilizações conviria que<br />

a cooperativa realizasse festinhas de cunho beneficiente para<br />

conseguir o numerário necessário.<br />

VII — TRANSAÇÕES<br />

A Professôra-Orientadora procurará entrar em entendi-<br />

mentos diretos com as companhias editôras afim de conseguir<br />

os melhores descontos possíveis.<br />

Tô<strong>da</strong>s as compras feitas deverão ser registra<strong>da</strong>s nas fichas<br />

de estoque. Uma ficha para ca<strong>da</strong> artigo.<br />

As notas ou faturas de compra serão registra<strong>da</strong> na Caixa pelo<br />

seu total, com os <strong>da</strong>dos que as identifiquem.


388 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

A cooperativa deverá, de preferência, adquirir todos os<br />

artigos a dinheiro.<br />

De um modo geral a cooperativa deverá trabalhar com<br />

um lucro de 10 a 15%. Nos livros adquiridos <strong>da</strong>s editôras a<br />

cooperativa poderá repartir com o associado o desconto com-<br />

seguido.<br />

As notas ou faturas deverão ser arquiva<strong>da</strong>s em pasta es-<br />

pecial.<br />

Quando se fizerem compras a crédito as notas e faturas<br />

serão arquiva<strong>da</strong>s em uma pasta em que se indique “Contas a<br />

Pagar”. Quando paga a conta a fatura será transferi<strong>da</strong><br />

para a pasta de contas pagas.<br />

De todos os recebimentos haverá sempre um documento<br />

comprovante, quer para as ven<strong>da</strong>s, quer para os recebimentos<br />

de quotas.<br />

As despesas de qualquer natureza serão também com-<br />

prova<strong>da</strong>s com as devi<strong>da</strong>s notas.<br />

A cooperativa adquirirá para fornecer a seus associados,<br />

à medi<strong>da</strong> do possível, os seguintes artigos:<br />

a) Livros para tô<strong>da</strong>s as classes;<br />

b) Cadernos, blocos, lápis, borrachas, etc.;<br />

c) Todos os demais artigos de uso obrigatório nas aulas;<br />

d) Sapatos para uso diário nas aulas e para a prática<br />

de esportes;<br />

e) Cretone para confeccionar guar<strong>da</strong>-pós dos alunos.<br />

VIII — REGISTROS NOS LIVROS E NAS FICHAS<br />

De um modo geral poderá ser adotado o seguinte siste-<br />

ma de trabalho:<br />

1 — A Professôra-Orientadora, que superintenderá tô-<br />

<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> cooperativa, se encarregará do registro<br />

dos seguintes livros:<br />

a) — Livro de atas <strong>da</strong>s assembléias. Depois de re-<br />

vistos os têrmos <strong>da</strong>s atas o Secretário poderá<br />

lavrá-las.<br />

b) — Livro de Matrícula Geral. Os registros dêsse<br />

livro combinarão com as fichas de matrículas,<br />

feitas pelos membros <strong>da</strong> diretoria.<br />

c) — Livro Caixa e Razão, ambos importantes na<br />

escrita.


FÁBIO LUZ FILHO 389<br />

2 — O Presidente supervisionará todos os serviços, cola-<br />

borando diretamente com a Orientadora.<br />

3 — O Diretor Gerente se encarregará <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s no<br />

balcão e dos assentamentos nas notas extraí<strong>da</strong>s e entregues<br />

aos associados.<br />

4 — O tesoureiro receberá o produto <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s, (soma<br />

de tô<strong>da</strong>s as notas) e o entregará à Prof. Conselheira para o<br />

devido registro no livro Caixa. Fará, outrossim, a grade que<br />

servirá de base para os lançamentos no Diário de Ven<strong>da</strong>s.<br />

5 — O Vice-presidente se encarregará dos registros na<br />

Ficha de estoque e no Diário de Ven<strong>da</strong>s.<br />

6 — Os suplentes terão os seguintes encargos:<br />

a) — Registro <strong>da</strong>s compras nas fichas individuais<br />

dos associados;<br />

b) — Registro nas Fichas de Matrícula e nos Títu-<br />

los Nominativos dos associados.<br />

IX — SISTEMA DE ESCRITURAÇÃO E PLANO DE CONTAS<br />

A cooperativa adotará um sistema de escrituração espe-<br />

cial, tendo coma base os livros Caixa e Razão. Não haverá,<br />

como nas escritas <strong>da</strong>s firmas comerciais, o livro Diário.<br />

1 — Caixa<br />

Usar-se-á um Caixa comum, do tipo em que há uma<br />

página para o débito e outra para o crédito. Lançar-se-ão no<br />

débito todos os recebimentos ou entra<strong>da</strong>s e no crédito todos os<br />

pagamentos ou saldos de dinheiro.<br />

Ca<strong>da</strong> recebimento ou pagamento correspoderá a um tí-<br />

tulo ou conta<br />

Para os recebimentos figurarão os seguintes títulos:<br />

Capital Integralizado<br />

recebimento <strong>da</strong>s quotas dos associados;<br />

Jóia de Admissão idem, de jóias;<br />

Ven<strong>da</strong>s<br />

pelo recebimento <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s de artigos escolares;<br />

Contas a Receber,<br />

recebimentos de dívi<strong>da</strong>s de associados.


390 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Para os pagamentos ou saí<strong>da</strong>s de Caixa vigorarão os se-<br />

guintes títulos;<br />

Artigos Escolares,<br />

Pelas compras de material escolar;<br />

Despesas Diversas,<br />

Pagamento de despesas feitas;<br />

Contas a Pagar,<br />

Pelo pagamento <strong>da</strong>s dívi<strong>da</strong>s;<br />

Móveis e Utensílios,<br />

Pela compra de móveis.<br />

2 — Razão<br />

É o mesmo livro usado na escrituração mercantil. Rece-<br />

berá o registro sintético <strong>da</strong>s operações anota<strong>da</strong>s no Caixa.<br />

Lançar-se-á primeiramente, quando fôr o caso, os <strong>da</strong>dos<br />

do balanço inicial <strong>da</strong> passagem de uma lojinha para coope-<br />

rativa, conforme veremos em outro capítulo. Depois, então, o<br />

movimento de ca<strong>da</strong> mês. Suponhamos tenham sido as seguin-<br />

tes entra<strong>da</strong>s num mês, conforme apurado pelo Caixa:<br />

Ven<strong>da</strong>s .......................................... Cr$ 4.500,00<br />

Cap. Integralizado ........................ 200,00<br />

Jóia de Admissão .......................... 60,00<br />

Contas a Receber .......................... 240,00<br />

Total ...................... 5.000,00<br />

Debitaremos o título Caixa do Razão pelo total <strong>da</strong> entra-<br />

<strong>da</strong>, Cr$ 5.000,00, e creditaremos as contas relaciona<strong>da</strong>s pelas<br />

respectivas importâncias parcela<strong>da</strong>s.<br />

Do mesmo modo se processará em relação aos pagamentos.<br />

Movimento de um mês, de pagamentos:<br />

Artigos Escolares ............................ Cr$ 3.000,00<br />

Móveis e Utensílios ......................... 500,00<br />

Despesas Diversas ........................... 50,00<br />

Contas a Pagar ................................. 450,00<br />

Total ......................... 4.000,00<br />

Creditaremos o título Caixa do Razão pelo total e debita-<br />

remos os títulos relacionados pelo que corresponde a ca<strong>da</strong> um.


FÁBIO LUZ FILHO 391<br />

X — LOJINHA E COOPERATIVA<br />

Ao organizar-se uma cooperativa em grupo escolar em que<br />

já existia uma “lojinha”, dever-se-á, antes de iniciar-se a ativi-<br />

<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cooperativa, fazer-se um levantamento do que existia<br />

na lojinha que passará para a cooperativa.<br />

Será um balanço <strong>da</strong> situação e exigirá as seguintes provi-<br />

dências:<br />

a) Inventário dos artigos existentes pelo preço de custo.<br />

Exemplo: 5 borrachas n.° 2, a Cr$ 1,20, total Cr$ 6,00. Assim<br />

se procederá com todos os demais artigos chegando-se ao valor<br />

total do estoque.<br />

b) Contagem do dinheiro existente. Será o saldo que<br />

passará para a cooperativa.<br />

c) Verificação <strong>da</strong>s dívi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> lojinha e o seu total.<br />

d) Verificação do que devem para a lojinha, o total des-<br />

se crédito<br />

Dêsse levantamento chega-se, suponhamos, ao seguinte<br />

resultado:<br />

Artigos Escolares<br />

Total inventariado ........ Cr$ 2.000,00<br />

Caixa<br />

Saldo que se transfere. 500,00<br />

Contas a Receber<br />

Total dos créditos ......... 500,00<br />

Contas a Pagar<br />

Total ............... 3.000,00<br />

Total <strong>da</strong>s dívi<strong>da</strong>s Cr$ 1.000,00<br />

Temos, então, que a cooperativa receberá em valores posi-<br />

tivos, representando direitos, a importância de Três Mil Cru-<br />

zeiros e obrigações ou valores negativos importando em Um<br />

Mil Cruzeiros. Apresenta-se um saldo positivo de Cr$ 2.000,00.<br />

Êsse saldo passará a constituir o Fundo de Reserva <strong>da</strong> coope-<br />

rativa, seu patrimônio inicial. A situação será, pois:


392 COOPERATIVA ESCOLARES<br />

Balanço inicial<br />

ATIVO (conjunto <strong>da</strong>s contas com saldo devedor)<br />

Artigos Escolares<br />

Estoque inicial ................ Cr$ 2.000,00<br />

Caixa, saldo ..................... 500,00<br />

Contas a Receber,<br />

diversos devedores ........... 500,00<br />

Total .................. 3.000,00<br />

PASSIVO (conjunto <strong>da</strong>s contas com saldo credor)<br />

Contas a Pagar<br />

Saldo de dívi<strong>da</strong>s .................... Cr$ 1.000,00<br />

Fundo de Reserva<br />

Fundo inicial ........................ 2.000,00<br />

Total ....................... 3 .000,00<br />

XI — SOBRAS E RETÔRNO<br />

As sobras líqui<strong>da</strong>s (lucro líquido) apura-se como em qual-<br />

quer socie<strong>da</strong>de comercial ou cooperativa.<br />

Vejamos o seguinte caso: Sobras líqui<strong>da</strong>s apura<strong>da</strong>s:<br />

Cr$ 5.000,00. Distribuição: 20% Fundo de Desenvolvimento;<br />

10% Fundo de Reserva. O restante, 70%, para retôrno aos<br />

associados. Total <strong>da</strong>s ven<strong>da</strong>s aos associados Cr$ 35.000,00.<br />

Teremos então:<br />

Fundo de Desenvolvimento, 20% Cr$ 1.000,00<br />

Fundo de Reserva , 10% 500,00<br />

Retôrno , 70% 3.500,00<br />

Total 5.000,00


FÁBIO LUZ FILHO 393<br />

O retôrno representará 10% sôbre as ven<strong>da</strong>s totais. Ve-<br />

rificar-se-á, por sua vez, as compras individuais de ca<strong>da</strong> as-<br />

sociado para o respectivo cálculo. Exemplos<br />

Compras Retôrno<br />

João de Oliveira Cr$ 200,00 20,00<br />

Pedro Fonseca 35,00 3,50<br />

Lauro Coimbra 15,00 1,50<br />

E assim, sucessivamente.<br />

XII — BALANÇOS E BALANCETES<br />

As cooperativas são obriga<strong>da</strong>s a remeter para a Secção de<br />

Assistência ao Cooperativismo, mensalmente, cópia do balan-<br />

cete e uma vez por ano duas cópias do Balanço Geral e do<br />

Demonstrativo <strong>da</strong> conta Sobras e Per<strong>da</strong>s.”<br />

NOTA<br />

Segundo o firmado pela Assistência Jurídica do Serviço<br />

de Economia Rural, digo eu, os professôres não podem partici-<br />

par <strong>da</strong>s cooperativas, face lei, a não ser como orientadores<br />

ou assessôres.<br />

Outrossim, não é imprescindível o registro dos livros para<br />

as cooperativas escolares, órgãos educativos por excelência, aos<br />

quais a própria lei dispensou do registro em cartório para efei-<br />

to de personali<strong>da</strong>de jurídica.<br />

As crianças devem participar ativamente de tô<strong>da</strong>s as ati-<br />

vi<strong>da</strong>des, inclusive de compras, distribuição, contábeis, no que<br />

for possível, etc.<br />

Nas cooperativas escolares pernambucanas, os alunos,<br />

sempre discretamente assessorados pela professôra-orientadora,<br />

fazem, êles próprios, as atas, lançam o caixa e o conta-cor-<br />

rente, passam recibos, etc. (diário, razão, etc., ficam a cargo do<br />

D.A.C.). Dirijam-se ao Dpto. de Assistência às Cooperativas,<br />

situado na rua Ulhoa Cintra, 122, segundo an<strong>da</strong>r, em Recife,<br />

que Nair de Andrade, com seu espírito apostolar, e dinamismo<br />

e sua larga . experiência, com imensa satisfação os receberá e<br />

orientará.<br />

26 — 27454


394 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Em matéria de contabili<strong>da</strong>de, ver também o livro de<br />

Hilário Cesarino, contabili<strong>da</strong>de cooperativista, distribuição do<br />

Serviço de Economia Rural.<br />

O Dpto. de Assistência ao Cooperativismo <strong>da</strong> Bahia tam-<br />

bém possui uma boa publicação sôbre o assunto como São<br />

Paulo.<br />

DIPLOMAS DO MÉRITO COOPERATIVO A<br />

COOPERATIVISTAS BRASILEIROS<br />

“Cooperación” a bem elabora<strong>da</strong> revista <strong>da</strong> Confederação<br />

Nacional Cooperativa <strong>da</strong> República Mexicana (que agremia<br />

a 1.191 cooperativas federa<strong>da</strong>s e a 1.494 cooperativas de pri-<br />

meiro grau) em seu número de setembro de 1957, publicou o<br />

seguinte artigo:<br />

"O Conselho Nacional de nossa Cofederação atendendo à<br />

resolução aprova<strong>da</strong> em 1954 no sentido de outorgar Diplomas ao<br />

Mérito aos doutores Valdiki Moura e Fábio Luz Filho, assim<br />

como à doutora Ruth Moura, pelos serviços que tem prestado<br />

ao movimento Cooperativo Internacional, à obra de aproxima-<br />

ção e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de do cooperativismo americano e a seu labor<br />

em prol do ideal cooperativo no Brasil, confirmou menciona<strong>da</strong><br />

resolução (a qual, infelizmente, não pôde ser leva<strong>da</strong> à prática<br />

por causas alheias e difícies de explicar), e será a delegação<br />

mexicana de cooperadores, que visitará o Rio de Janeiro pròxi-<br />

mamente, quem, em nome de nossa Central, fará entrega sole-<br />

ne dos ditos Diplomas em uma cerimônia especial.<br />

“Não será demasiado dizer que os doutores Valdiki Moura<br />

e Fábio Luz Filho tem contribuido, através de seus livros e<br />

seus artigos, para a formação <strong>da</strong> doutrina cooperativa e para<br />

a clarificacação de diversos conceitos sobre o que devemos<br />

entender por sistema cooperativo. Seus trabalhos, que são<br />

conhecidos em todo o Continente, têm sido vistos com profun<strong>da</strong><br />

simpatia não sòmente pelos cooperadores mexicanos, mas tam-<br />

bém por todos os cooperadores do Hemisfério Ocidental.<br />

“Quanto à doutora Ruth Moura devemos dizer que, em<br />

nosso conceito, é uma <strong>da</strong>s mulheres que mais se destacam hoje<br />

em dia, pelos seus trabalhos em favor do cooperativismo. A<br />

maior parte dos movimentos cooperativos na América, e espe-<br />

cialmente no México, conhecem a infatigável obra leva<strong>da</strong> a<br />

efeito por tão distinta cooperadora.<br />

“Através de nossa revista, estendemos nossas felicitações mais<br />

calorosas aos distintos cooperadores brasileiros, e, destas<br />

colunas, apelamos para que continuem , seu perseverante labor


FÁBIO LUZ FILHO 395<br />

em, prol do ideal cooperativo, o qual redun<strong>da</strong>rá, sem dúvi<strong>da</strong><br />

alguma, em benefício do grande país que é o Brasil e, em<br />

geral, do cooperativismo mundial e do americano em par-<br />

ticular”.<br />

Em 1950, os Srs. Fábio Luz Filho e Valdiki Moura recebe-<br />

ram identica manifestação de "Casa de Roch<strong>da</strong>le”, <strong>da</strong> Argenti-<br />

na, dentre numerosas outras manifestações do Brasil e do es-<br />

trangeiro. (Do “Diário de Noticias”, do Rio de Janeiro,<br />

de 2-2-58).<br />

Você sabia?<br />

"Que cooperativismo é um sistema social e econômico vi-<br />

sando a harmonia dos homens, na conjugação de esfôrços para<br />

satisfação do bem comum?<br />

“QUE o vulto de maior projeção no cooperativismo brasi-<br />

leiro é o Dr. Fábio Luz Filho, chefe <strong>da</strong> Seção de Propagan<strong>da</strong> e<br />

Organização <strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong>des Cooperativas do Serviço de Econo-<br />

mia Rural do <strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong> e Presidente do Centro<br />

Nacional de Estudos Cooperativos? Sabia também que êle é<br />

considerado o “pai do cooperativismo nacional" por ser o autor<br />

brasileiro que publicou até hoje o maior número de livros sô-<br />

bre a matéria, destacando-se sua volumosa obra; “Teoria e<br />

prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas”, cita<strong>da</strong> em todo a mun-<br />

do?”<br />

(Do “Correio do Ceará", de 4/12/58).<br />

UNIVERSIDADE DE BUENOS AIRES<br />

Buenos Aires, 11 de noviembro de 1958.<br />

Señor Director del Serviço de Economía Rural. Mlnistério<br />

<strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>. Rio de Janeiro — Brasil.<br />

Tengo el agrado de dirigir-me al señor Director para soli-<br />

sitarle la colaboración de esa Institución en la acción de edu-<br />

cación fun<strong>da</strong>mental y desarrollo de la comuni<strong>da</strong>d que ha<br />

emprendido el Departamento de Extensión Universitaria de la<br />

Universi<strong>da</strong>d de Buenos Aires.<br />

Este Departamento está realizando uma experiência-pilôto<br />

de educación fun<strong>da</strong>mental en una locali<strong>da</strong>d suburbana de<br />

Buenos Aires (Isla Maciel, Avellane<strong>da</strong>). La educación coopera-<br />

tiva constituye en esta tarea uno de los factores más impor-<br />

tantes.


396 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

Por esta razón nos permitimos solicitarles el libro "Coope-<br />

rativas escolares” de Fábio Luz Filho, editado por ese Minis-<br />

terio. Esta publicación y aquellas otras que dispusiera enviar-<br />

nos serán destina<strong>da</strong>s al Centro de Documentación que está<br />

organizando este Departamento.<br />

Hago propicia esta oportuni<strong>da</strong>d para salu<strong>da</strong>r al señor Di-<br />

rector con mi consideración más distingui<strong>da</strong>.<br />

(As.) Noemí Fiorito<br />

Directora<br />

(N. B. — Outros educadores argentinos tem solicitado o<br />

livro “Cooperativas escolares").


ALGUNS MODELOS USADOS PELAS COOPERATIVAS ESCOLARES DE<br />

PERNAMBUCO<br />

COOPERATIVA ESCOLAR<br />

Recibo de Quotas-Partes<br />

Recebemos do associado......<br />

................................................ a<br />

quantia de Cr$ .................., para<br />

crédito de sua conta de quotaspartes<br />

subscritas.<br />

Em...de..............de 195....<br />

...........................................<br />

1.º Tesoureiro<br />

COOPERATIVA ESCOLAR<br />

Recibo de Joia de Admissão<br />

Recebemos do associado.....<br />

................................................. a<br />

quantia de Cr$ .......... refe-rente à<br />

sua joia de dmissão:<br />

Em...de..............de 195....<br />

...........................................<br />

2.º Tesoureiro<br />

COOPERATIVA ESCOLAR<br />

RECIBO DE QUOTAS-PARTES<br />

Recebemos do associado....................<br />

......................... a quantia de .................<br />

................................................. Cr$.........., para<br />

crédito de sua conta de quotas-partes<br />

subscritas.<br />

Em....de..................... de 195.....<br />

Isento do sêlo de acôrdo ..........................<br />

com o Art. 40 do Doc. 1.º Tesoureuro<br />

n.º 22239, de 10/12/1932 R.7808<br />

COOPERATIVA ESCOLAR<br />

RECEBIMENTO<br />

DÉBITO de: .......................................................................<br />

RECIBO DE JOIA DE ADMISSÃO<br />

Recebemos do associado....................<br />

......................... a quantia de ................. Cr$......,<br />

referente à sua joia de admissão.<br />

Em....de..................... de 195.....<br />

Isento do sêlo de acôrdo ..........................<br />

com o Art. 40 do Doc. 2.º Tesoureuro<br />

n.º 22239, de 10/12/1932 R.7882<br />

CRÉDITO de Caixa<br />

CR$ .......................... ...........de......................de 19..........<br />

.......................................... .................................................<br />

Prof. Responsável Tesoureiro<br />

RECEBIMENTO<br />

DÉBITO de Caixa<br />

CRÉDITO de: ................................ ............ ....….. ....….<br />

CR$ .......................... ...........de......................de 19..........<br />

.......................................... .................................................<br />

Prof. Responsável Tesoureiro


Cooperativa Escolar...........................................................<br />

Associado .................................................................... N....................<br />

I<strong>da</strong>de...............Classe .................Nacianali<strong>da</strong>de..................................<br />

Admitido em................................... Demitido em ...............................<br />

Assinatura............................................................................................<br />

R. 15600<br />

D A T A HISTÓRICO<br />

Quotas<br />

Partes<br />

DÉBITO CRÉDITO OBSERVAÇÕES<br />

COOPERATIVA ESCOLAR<br />

— DE —<br />

.......................................................................................................................<br />

DATA ...........................................................................................................<br />

PREÇO<br />

QUANT. ESPÉCIE<br />

Unitário TOTAL<br />

TOTAL Cr$<br />

......................................................<br />

GERENTE


COOPERATIVA ESCOLAR ....................................... DE ...........<br />

RECEBIMENTOS Mês de........................ 19.....<br />

Saldo do mês de<br />

ASSOCIADOS C/ CAPITA, pela entra<strong>da</strong> de sócios<br />

JOIAS, pelas recebi<strong>da</strong>s de sócios<br />

ARTIGOS ESCOLARES, pelos vendidos êste mês<br />

DONATIVOS, pelos recebidos de<br />

DEPÓSITOS, recebidos pelo cheque n.º do(a)<br />

FUNDO DE RESERVA, pelo crédito que se leva a esta conta<br />

JUROS, pelos recibos do(a)<br />

SOMA<br />

Professor responsável ................................................................<br />

Tesoureiro ....................................................................................<br />

COOPERATIVA ESCOLAR ....................................... DE ...........<br />

PAGAMENTOS Mês de........................ 19.....<br />

D. A. C. pelos pagamentos <strong>da</strong>(s) n/ fatura(s) N.º(s)<br />

DEPOSITADO no(a)<br />

DESPESAS GERAIS, pelas verifica<strong>da</strong>s n/ mês<br />

ARTIGOS ESCOLARES, pelas despesas de frete, carrêto ou compra<br />

CAPITAL, pelo débito que se leva a esta conta<br />

IMPRESSOS E OBJ. DE ESCRITÓRIO, pagou a<br />

Saldo para o mês de<br />

SOMA<br />

NÚMEROS DE ASSOCIADOS ...............................................<br />

SALDO DE DEPÓSITOS NO(A) ............................................<br />

SALDO DE ARTIGOS ESCOLARES ....................................


COOPERATIVA ESCOLAR<br />

.................................................................................<br />

BALANÇO SEMANAL - MATERIAL ESCOLAR<br />

DATA ..................................<br />

ARTIGO TOTAL<br />

PREÇO<br />

SOMA<br />

CR$


FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION<br />

OF THE UNITED NATIONS<br />

Estimado amigo:<br />

Viale delle Terme di Caracalla<br />

ROME. Nov. 27-1958<br />

Acabo de recibir la publicación que su Ministerio preparó<br />

con motivo del Centro Su<strong>da</strong>mericano sabre Crédito Agrícola y<br />

en el cual está incluído su excelente y bien documentado tra-<br />

bajo sobre Crédito Agrícola Supervisado.<br />

Al agradecerle el envio de esta valiosa publicación, apro-<br />

vecho la oportuni<strong>da</strong>d para reiterarle mis sinceras fecilitacio-<br />

nes, tanto por su trabajo como por sus magníficas intervencio-<br />

nes en favor de las cooperativas durante las sesiones del Cen-<br />

tro en Recife.<br />

Espero tener el gran placer de verlo en ocasión de la Pri-<br />

mera Reunión Técnica sobre Cooperativas Agropecuarias, que<br />

como usted sabe, la FAO está preparando en conjunto con la<br />

OEA, para junio de 1959 en Buenos Aires. El Gobierno de Ar-<br />

gentina ya ofreció patrocinar la Reunión y de <strong>da</strong>r to<strong>da</strong>s las<br />

falici<strong>da</strong>des para que la Reunion sea un éxito. Me encantaría,<br />

personalmente, poder contar con su valiosa colaboración en<br />

Buenos Aires también. Asimismo, le agradeceríamos preparar<br />

un trabajo relacionado con uno de los temas incluídos en el<br />

temario tentativo que usted ya tiene en su poder.<br />

Dr. Fábio Luz Filho<br />

Servicio de Economía Rural<br />

<strong>Ministério</strong> de <strong>Agricultura</strong><br />

Rio de Janeiro<br />

Brasil<br />

Muy cordialmente,<br />

George St. Siegens<br />

Especialista en Cooperativas y<br />

Crédito Agrícola<br />

Departamento de Bienestar Rural<br />

Dirección de <strong>Agricultura</strong>


UM LIVRO SÔBRE CRÉDITO AGRÍCOLA E PROBLEMA<br />

AGRÁRIO, APRECIADO NO ESTRANGEIRO<br />

O livro sôbre o tema acima, do Sr. Fábio Luz Filho, técni-<br />

co brasileiro com várias obras especializa<strong>da</strong>s, já vai como outros<br />

de sua lavra, tendo repercussão no estrangeiro.<br />

A União Pan-Americana, por exemplo, na pessoa de dois<br />

de seus eminentes técnicos, F. Chaves Nuñes e Yuri Isquierdo,<br />

<strong>da</strong> Divisão de Trabalho e Assuntos Sociais, acaba de acentuar<br />

que o conteúdo do livro do técnico brasileiro é sumamente in-<br />

teressante e muito útil para os estudiosos na matéria, que nêle<br />

podem encontrar abun<strong>da</strong>nte material de consulta e orientação<br />

sôbre temas que não são tratados, nos tempos que correm, com<br />

a freqüência e a profundi<strong>da</strong>de necessária.<br />

Disse êle do último livro do técnico brasileiro:<br />

"... Agradezco mucho su fineza y lo felicito por su nueva<br />

obra que para la FAO será de particular utili<strong>da</strong>d, ya que en-<br />

foca el crédito agrícola desde el punto de vista dela coopera-<br />

ción en la agricultura a la cual, como usted sabe, nuestra<br />

Organización atribuye transcendental importância conside-<br />

rándola medio básico para desarrollar com éxito cualesquier<br />

programa de bienestar rural. Su libro se caracteriza por la<br />

abun<strong>da</strong>ncia de ideas y experiencias que es una prueba evi-<br />

dente de sus amplios conocimientos. La obra “Crédito Agrí-<br />

cola y Problema Agrário” ha enriquecido la literatura Latino-<br />

mericana en esta especiali<strong>da</strong>d”.


OBRAS DE FÁBIO LUZ FILHO:<br />

1 — Pronomes oblíquos. O emprêgo do infinito — 3.ª edição —<br />

Irmãos Pongetti — Rio.<br />

2 — Noções de alimentação vegetal — 1 volume — Edição<br />

Benedito de Sousa —. Rio de Janeiro,<br />

3 — O ver<strong>da</strong>deiro e o falso cooperativismo — 1 volume — Edição<br />

Benedito de Souza — Rio de Janeiro.<br />

4 — Cooperativas agrícolas (Publicação do M. <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>).<br />

5 — Socie<strong>da</strong>des cooperativas (3.ª edição ilustra<strong>da</strong> e aumenta<strong>da</strong>)<br />

Irmãos Pongetti — (Os princípios doutrinários do<br />

cooperativismo — Leis — Estatística mundial —<br />

Estatutos de tô<strong>da</strong>s as formas de cooperativas,<br />

nota<strong>da</strong>mente agrícolas — Livro de 420 págs., em grande<br />

formato) — Rio.<br />

6 — Cooperativas escolares (5.ª edição) — 1 volume — Rio de Ja-<br />

neiro.<br />

7 — Cooperativismo e crédito agrícola (3.ª edição refundi<strong>da</strong> e am-<br />

plia<strong>da</strong>) — 1 grosso volume de 600 páginas em grande<br />

formato (o crédito agrícola em suas ver<strong>da</strong>deiras<br />

características, os princípios doutrinários do<br />

cooperativismo livre, bancos populares, caixas rurais,<br />

numerosas formas de cooperativas, contabili<strong>da</strong>de, texto<br />

completo de leis, estrangeiras e brasileiras, etc.). Sarai-<br />

va & Cia., São Paulo.<br />

8 — Cooperativismo e sindicalismo agrários — 1 volume —<br />

Publicação do ex-Fomento Agrícola.<br />

9 — Rumo à terra (5.° edição refundi<strong>da</strong> e amplia<strong>da</strong>) — Livro que,<br />

com outros do autor, mereceu os mais francos elogios de<br />

escritores e instituições nacionais e estrangeiras, entre<br />

êles João Grave e a União Pan-Americana de<br />

Washington. — 1 grosso volume, com quadros, etc. —<br />

Aspectos do problema agrário. — 361 págs. — Editor<br />

S. Coelho Branco Filho — Rio.<br />

10 — O cooperativismo e a escola — Tese apresenta<strong>da</strong> ao “1.°<br />

Congresso de Proteção à Natureza”, realizado no Rio de<br />

Janeiro.<br />

11 — O crédito agrícola cooperativo — Tese apresenta<strong>da</strong> “2.ª<br />

Conferência Nacional de <strong>Pecuária</strong>” — Rio de Janeiro.<br />

12 — Cooperation in Brazil — Trabalho publicado no Year book<br />

of agricultural co-operation — 1938 — publicação de<br />

repercussão mundial de The Horace Plunkett<br />

Foun<strong>da</strong>tion, de Londres. (10 — Doughty Street —<br />

London — W. C. I.), de que o autor é um dos<br />

correspondentes no Brasil.<br />

13 — As cooperativas agrícolas no Rio Grande do Sul —<br />

Publicação <strong>da</strong> Pan American Union — Division of<br />

<strong>Agricultura</strong>l Cooperation — Washington, D. C. — U. S.<br />

A. — Divulga<strong>da</strong> em português, inglês e espanhol. A<br />

versão inglesa intitula-se “Agrícultural cooperatives in Rio<br />

Grande do Sul, Brazil”.


404 COOPERATIVAS ESCOLARES<br />

14 — Aspectos agro-econômicos do Rio Grande do Sul — 1<br />

grosso volume de 425 páginas com 80 fotografias tira<strong>da</strong>s in — loco<br />

— Saraiva & Cia. — São Paulo (Encerra o movimento cooperativo<br />

do grande Estado e focaliza seu grande desenvolvimento agropastoril).<br />

15 — Cooperativismo, corporativismo, colonização — 2.ª edição<br />

refundi<strong>da</strong> e amplia<strong>da</strong>) — Encara o autor êsses três problemas de um<br />

ponto de vista geral e do ponto de vista brasileiro, resumindo to<strong>da</strong>s<br />

as leis européia sobre pequena proprie<strong>da</strong>de e as leis brasileiras, e a<br />

situação do trabalhador brasileiro, etc., etc. — A. Coelho Branco<br />

Filho — Rio (Dedicado à memória de Fábio Luz).<br />

16 — As caixas Raiffeisen no Brasil — Tese apresenta<strong>da</strong> ao<br />

“Primeiro Congresso Internacional de Crédito Agrícola” realizado<br />

em Nápoles. Verti<strong>da</strong> para o Italiano, e reproduzi<strong>da</strong> no “Year Book<br />

<strong>Agricultura</strong> Co-operation”, de Londres, ano 1939, sob o título. “The<br />

Raiffeisen Banks in Brazil”.<br />

17 — O cooperativismo no Brasil e a sua evolução — História e texto<br />

completo e comentado de tô<strong>da</strong>s as leis sobre cooperativas e<br />

sindicatos no Brasil. Crítica, estatutos, formulários práticos.<br />

Doutrina e <strong>da</strong>dos estatísticos<br />

completos. O cooperativismo europeu. Livro de 300 páginas, em<br />

grande formato — Edição de A. Coelho Branco Filho — Livraria<br />

Editôra — Rio — Biblioteca Jurídica.<br />

18 — “Cooperativismo, crédito agrícola e pequena pro prie<strong>da</strong>de no<br />

Brasil" — Tese apresenta<strong>da</strong> ao Oitavo Congresso Científico<br />

Americano (Maio 1940) — sob os auspícios do Govêrno dos<br />

Estados Unidos — Departament of Agriculture — Washington,<br />

D.C.<br />

19 — Seguros agropecuários (2.ª edição) — Edição do Serviço de<br />

Economia Rural — 1 volume.<br />

20 — O critério <strong>da</strong>s delegações nas cooperativas (estudos publicados<br />

em revistas)<br />

21 — Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas — 4.ª edição,<br />

refundi<strong>da</strong> e atualiza<strong>da</strong>, de 800 páginas em grande<br />

formato, Considerado pela União Panamericana, de<br />

Washington, como o mais completo já editado na<br />

América latina — Irmãos Pongetti — Rio.<br />

22 — Evolução do Cooperativismo no Brasil (estudo enviado a pedido do<br />

Bureau International du Travail, para irradiação pela W.R.U.L.).<br />

23 — Regimentos internos para cooperativas (2.ª edição, do Serviço de<br />

Economia Rural) — 1 volume.<br />

24 — Teorias e escolas cooperativas (1 volume) —<br />

Departamento A. Cooperativismo — Bahia.<br />

25 — Considerações em tôrno do anteprojeto do Deputado Daniel Faraco<br />

(publicados na revista “Cooperativismo” <strong>da</strong> “‘Caixa de Crédito<br />

Cooperativo”, números de junho a outubro de 1948).<br />

26 — El movimiento cooperativo en el Brasil (estudo publicado pelo<br />

“Instituto de Estudos Cooperativos de la Universi<strong>da</strong>d del Cauca”, na<br />

Colômbia, pedido do Dr. Fabra Ribas, e distribuído por todos os<br />

países de língua espanhola e pelos Estados Unidos).


FÁBIO LUZ FILHO 405<br />

27 — Subsídios para regimentos internos de cooperativas<br />

agrícolas (número de novembro de 1947 <strong>da</strong> revista<br />

"Cooperativismo")<br />

28 — Considerações em tôrno <strong>da</strong> Escola de Nimes — conferência<br />

constante do livro “Temas cooperativos" — edição do<br />

Centro Nacional de Estudos Cooperativos, de que é o autor<br />

presidente.<br />

29 — Considerações em tôrno de um projeto de lei — (publica<strong>da</strong>s<br />

na revista “Cooperativismo" de abril a novembro de<br />

1950).<br />

30 — Cooperativismo, colonização, crédito agrícola — 1 volume<br />

ilustrado — Edição do Serviço de Economia Rural, do M.<br />

<strong>Agricultura</strong>.<br />

31 — Numerosos artigos e comunicados publicados em revistas<br />

especializa<strong>da</strong>s e jornais do Brasil e do estrangeiro, e nos<br />

“Boletins” do Serviço de Economia Rural, assim como os<br />

folhetos de propagan<strong>da</strong> do mesmo Serviço impressos<br />

nesses últimos anos, entre êles as “Instruções para<br />

organização de socie<strong>da</strong>des cooperativas”, já em 5.ª edição.<br />

— No volumoso trabalho intitulado “Bibliography on<br />

Cooperation in Agriculture” (Library List n.º 41) — edição<br />

do Departamento de <strong>Agricultura</strong> dos Estados Unidos <strong>da</strong><br />

America do Norte, tem o autor seis de seus livros citados e<br />

resumidos. É trabalho de junho de 1948. O mesmo em<br />

“Who’s who in Latin América", livro de Ronald Hilton, <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de de Stanford. Sua bibliografia figura na<br />

“Inter-American Bridge” — de 1951/52.<br />

32 — “Princípios cooperativos”, livro que foi considerado pelo<br />

“Curso para dirigentes do movimento cooperativo”, que se<br />

realizou em 1953 em Santiago do Chile, sob os auspícios <strong>da</strong><br />

União Panamericana, de Washington, como excelente<br />

manual, que foi distribuído entre os alunos de várias<br />

nacionali<strong>da</strong>des, do curso. Edição <strong>da</strong> Divisão de Assistência<br />

ao Cooperativismo — Secretaria <strong>Agricultura</strong> — E. do Rio.<br />

33 — A evolução do cooperativismo, constante de “Hacia un<br />

mundo mejor por la acción cooperativa”, <strong>da</strong> Federação<br />

Argentina <strong>da</strong>s Cooperativas de Consumo, publicação em<br />

castelhano de 1958, coletânea de líderes internacionais.<br />

34 — O crédito agrícola e seu conceito. O crédito agrícola<br />

cooperativo — Edição do Serviço de Economia Rural. Tese<br />

apresenta<strong>da</strong>, como delegado do Brasil representando o<br />

<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>, ao Centro Sul-Americano de<br />

Crédito Agrícola, realizado em Recife de 1 a 21 de setembro<br />

de 1958.<br />

35 — Crédito agrícola e problema agrário — 1958.. São Paulo —<br />

O crédito agrícola em todos os seus aspectos e o crédito<br />

agrícola cooperativo. A reforma agrária no Brasil e no<br />

mundo, com quadros estatísticos, diagramas de<br />

colonização, etc. Distribuidores no Rio de Janeiro: Irmãos<br />

Pongetti. — Rio de Janeiro.


A sair:<br />

“Teoria e prática <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des cooperativas”, em 5.ª edição<br />

refundi<strong>da</strong>, aumenta<strong>da</strong> e atualiza<strong>da</strong> — irmãos Pongetti. — Rua<br />

Sacadura Cabral — 240-A — Rio.<br />

"O crédito agrícola cooperativo e o Centro Sul-Americano de<br />

Crédito Agrícola”, — Edição do Serviço de Economia Rural.<br />

"O cooperativismo e o Estado”. Tese para a 1.ª Reunião<br />

Técnica de Cooperativas Agropecuárias, realiza<strong>da</strong> em Buenos<br />

Aires em setembro de 1959. — S. E. Rural.<br />

"Sinopse do movimento cooperativo brasileiro" — Edição do<br />

Serviço de Informação Agrícola-<strong>Ministério</strong> <strong>da</strong> <strong>Agricultura</strong>.


COMPOSTO E IMPRESSO<br />

NAS OFICINAS DO SERVIÇO<br />

GRÁFICO DO I.B.G.E., EM<br />

LUCAS, D.F. BRASIL

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