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SÉCULO XIX - UFSM

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DOMESTICAÇÃO, TÉCNICA E PAISAGEM AGRÁRIA NA PECUÁRIA TRADICIONAL DA CAMPANHA RIO-GRANDENSE (<strong>SÉCULO</strong> <strong>XIX</strong>) 70<br />

quais vinha tradicionalmente sendo descrita. Uma pequena elite de grandes estancieiros ocupava, sim, as posições cimeiras<br />

da hierarquia sócio-econômica. Porém, ao lado deles, havia uma miríade de médios e pequenos criadores de gado e, em<br />

menor escala, também lavradores. Eles produziam a partir de variadas formas de acesso à terra (posse, propriedade,<br />

arrendamento, produção “a favor” nos campos onde estavam agregados) e, muitas vezes, era das famílias desses pequenos<br />

produtores que saíam os peões para o trabalho nas estâncias. Esses peões, porém, não estavam sozinhos. Ao lado deles, os<br />

escravos tinham grande importância no costeio do gado, principalmente nas grandes estâncias, além de trabalharem em<br />

diversas outras atividades (BELL, 1998; ZARTH, 2002; GARCIA, 2005; FARINATTI, 2010; LEIPNITZ, 2010).<br />

No que se refere às unidades produtivas de maior envergadura econômica, a produção estava francamente orientada<br />

para a criação de novilhos para serem encaminhados, em pé, às charqueadas, especialmente as do leste da província do Rio<br />

Grande do Sul. A história da instalação das grandes estâncias, na primeira metade do século <strong>XIX</strong>, é a história da instituição<br />

de uma ordem assentada na propriedade privada da terra e do gado sobre um espaço onde antes havia a propriedade<br />

comunal missioneira ou das tribos nômades charruas e minuanos, e também a atividade difusa das arreadas e retirada do<br />

couro por bandos de changadores. Não houve nada de automático e mecânico nesse processo. A reivindicação de soberania<br />

do Império sobre aqueles territórios e a vigência de uma ordem legal assente na propriedade privada não tinham como<br />

garantir, de per se, sua própria aplicação. Outras lógicas de acesso a recursos que não a puramente mercantil, como a<br />

recompensa e redistribuição por atividades guerreiras, e também o acesso costumeiro e comunal seguiam presentes, ainda<br />

que, provavelmente, estivessem enfraquecendo ao longo do século. Além disso, aquele estava longe de ser um Estado<br />

pelnamente burocratizado e a garantia dos direitos formais e costumeiros passavam pelo estabelecimento de vínculos<br />

pessoais com vizinhos e membros mais poderosos da hierarquia social. Este é, porém, todo um tema de pesquisa que recém<br />

começa a ser levantado pelos historiadores.

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