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122 2002 - Fundação Biblioteca Nacional

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bito político. Entretanto, a lógica determinante dos ritos como aqueles não está<br />

baseada apenas no conhecimento técnico puro, produzido segundo uma pretensa<br />

neutralidade do sistema burocrático, tal qual a legislação do depósito legal su -<br />

ge riria. Assim como falta de pessoal especializado e devidamente preparado não<br />

é uma ocorrência subjetiva, pois se constitui num problema real quando se trata<br />

de identificar um texto em latim ou grego, que exige pessoal especializado<br />

naquelas línguas, ou por ocasião da realização de um plano de recuperar livros<br />

atacados por insetos, que necessita de funcionários que dominem as técnicas de<br />

restauração.<br />

Da mesma forma, a idéia de que textos, em diferentes suportes são conhecimentos<br />

a serem preservados e mantidos disponíveis para quem os queira acessar<br />

é decisão política. A influência de razões desta ordem é constante nas decisões<br />

tomadas numa biblioteca, embora nem sempre consciente, na medida em que<br />

elas estão integradas no sistema das lutas e disputas dos diferentes grupos pela<br />

hegemonia no campo político. <strong>Biblioteca</strong>s nacionais e suas coleções são institui -<br />

ções e conceitos afetos aos interesses e crenças que uma sociedade estabelece no<br />

que diz respeito à estruturação do Estado e da res publica, conforme a história<br />

das bibliotecas indica. “<strong>Biblioteca</strong>s são corpos que se movimentam no campo das<br />

lutas culturais e sua existência se dá numa fina vinculação com elas”, sintetiza<br />

Baêta Neves, na apresentação do catálogo, por ele coordenado, sobre as obras do<br />

Pe. Antônio Vieira. 39<br />

A ocorrência de ações individuais, como aquela da chefia comentada acima,<br />

funcionaria no mesmo diapasão. Episódio exemplar da presença de razões morais<br />

interferindo nos procedimentos para o acesso a obras, ele seria menos individual<br />

do que pareceria à primeira vista: atitude pessoal, ao ser avalizada pela institui -<br />

ção e acolhida pelos subordinados e pares, independentemente da forma como<br />

se justifique esta aceitação, o ato passa a corresponder a uma ação institucional,<br />

integrado às lutas simbólicas em torno do livro, das bibliotecas e da cultura de<br />

modo geral. 40<br />

Neste sentido, identificar e descrever o conteúdo de uma obra é uma decisão<br />

política, mesmo que não aparente. Esconder e distorcer títulos, locais de impres -<br />

são e assuntos de livros não é sequer uma ação nova. Darnton descobriu que, no<br />

Antigo Regime francês, os próprios livreiros e editores classificavam como filosóficas<br />

obras que seriam atentatórias e ameaçadoras à moral, à religião e ao Estado:<br />

evidentemente uma estratégia para as esconder da polícia e da justiça. 41 Uma consulta<br />

à lista de obras anotadas neste projeto da <strong>Biblioteca</strong> Invisível mostra que<br />

algumas publicações de textos obscenos têm seus autores, editores e locais de impressão<br />

distorcidos pelos próprios editores.<br />

An. Bibl. Nac., Rio de Janeiro, <strong>122</strong>

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