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Design, moda e vestuário no século XIX (1801-1850).

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<strong>Design</strong>, <strong>moda</strong> e <strong>vestuário</strong> <strong>no</strong> <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> (<strong>1801</strong>-<strong>1850</strong>).<br />

<strong>Design</strong>, fashion and clothing in the nineteenth century (<strong>1801</strong>-<strong>1850</strong>).<br />

Oliveira, Vanessa Melo; Universidade Anhembi Morumbi.<br />

nessa_mo@hotmail.com<br />

Faria, José Neto de; Ms.; Universidade Anhembi Morumbi.<br />

josenetodesigner@yahoo.com.br<br />

Navalon, Eloize; Ms.; Universidade Anhembi Morumbi.<br />

navalon@uol.com.br<br />

Resumo<br />

A primeira metade do <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> vivenciou a proliferação de importantes movimentos<br />

estéticos, como o Neoclassicismo e o Romantismo, que, assim como a <strong>moda</strong> dessa época,<br />

buscaram referências na Antiguidade Clássica. O presente artigo aborda esses movimentos,<br />

descreve a <strong>moda</strong> da época e tenta traçar um paralelo, mostrando as referências que podem ser<br />

encontradas em comum.<br />

Palavras Chave: design; <strong>moda</strong>; romantismo e neoclassicismo.<br />

Abstract<br />

The first half of the nineteenth century experienced a proliferation of important aesthetic<br />

movements such as Neoclassicism and Romanticism, which sought references in The<br />

Classical Antiquity as well as the fashion of that time. This article discusses these movements,<br />

describes the fashion of the time and makes a parallel, showing the references that can be<br />

found in common.<br />

Keywords: design; fashion; romanticism and neoclassicism.


<strong>Design</strong>, <strong>moda</strong> e <strong>vestuário</strong> <strong>no</strong> <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> (<strong>1801</strong>-<strong>1850</strong>).<br />

Introdução.<br />

O <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> foi marcado pelo espírito da re<strong>no</strong>vação. A Revolução Francesa e o<br />

período napoleônico, que finaliza em 1815 com sua derrota em Waterloo, trouxeram<br />

transformações para toda a Europa. A França passa a ser governada por uma Assembleia<br />

representativa, a qual instaura um <strong>no</strong>vo conjunto de leis. Ocorrem muitas mudanças também<br />

devido ao desenvolvimento da ciência e da tec<strong>no</strong>logia, contribuindo para a construção das<br />

grandes fábricas, impulsionadas por potentes máquinas a vapor e mão de obra barata. A<br />

invenção do telefone, em 1876, e a pavimentação das ruas são alguns exemplos desse<br />

desenvolvimento. Os avanços tec<strong>no</strong>lógicos também impulsionaram muito o mercado da<br />

<strong>moda</strong>, com o início da produção em massa.<br />

Durante a mesma época surge o Romantismo que influenciou a arte e a <strong>moda</strong>. Os<br />

românticos pregavam o sentimento e a emoção como contraponto ao espírito que estava se<br />

estendendo, de independência capitalista. O Historicismo foi outro movimento artístico<br />

presente na <strong>moda</strong> do <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> que estudou as diferentes formas que a <strong>moda</strong> reviveu,<br />

reinterpretando estilos de <strong>século</strong>s anteriores. Os delicados vestidos de musseline, leves e<br />

soltos, refletem modelos neoclássicos, inspirados nas estátuas gregas e romanas. Outra<br />

influência adotada foi o gosto pelo design escocês, devido ao grande interesse que o vestido<br />

antigo da Escócia despertava.<br />

O presente artigo abordará também, a <strong>moda</strong> da primeira metade do <strong>século</strong> <strong>XIX</strong>,<br />

mostrando as várias mudanças ocorridas, principalmente na silhueta feminina e na grande<br />

introdução de ornamentos. Será possível observar também que a <strong>moda</strong> aderiu a muitas<br />

influências dos movimentos estéticos artísticos, e se tornará bastante relevante a compreensão<br />

da relação entre essas duas áreas estéticas, e o aprofundamento <strong>no</strong> entendimento de como<br />

ocorreram as várias mudanças <strong>no</strong> <strong>vestuário</strong> desse período.<br />

Metodologia.<br />

Este trabalho é o resultado de uma pesquisa teórica, qualitativa, dedutiva e indutiva<br />

que buscava compreender as características dos movimentos artísticos, Romantismo e<br />

Neoclassicismo e a história da <strong>moda</strong> da primeira metade do <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> e destacar as<br />

influências que esses movimentos despertaram na <strong>moda</strong>. A pesquisa foi dividida, para poder<br />

ser desenvolvida, em cinco momentos: pesquisa do referencial teórico; pesquisa e coleta de<br />

dados relevantes; organização, classificação e análise dos dados; análise dos resultados da<br />

pesquisa; e reflexão e descrição dos resultados da pesquisa.<br />

Romantismo/Neoclassicismo (1750 – <strong>1850</strong>).<br />

O termo Romantismo deriva da palavra romance, utilizado para dar <strong>no</strong>me a um tipo<br />

de histórias de aventuras medievais, característicos do final do <strong>século</strong> XVIII. Contudo, o<br />

Romantismo não se refere a um estilo específico, mas a uma atitude de espírito em um<br />

conceito mais amplo.<br />

O propósito do romantismo era acabar com os artifícios que barravam o regresso à<br />

natureza. Para os participantes desse movimento, a natureza era desmedida, selvagem,<br />

sublime e pitoresca. Foi com base nela que os românticos adotaram o poder, a liberdade e<br />

tudo o que lhes inspirava a exaltação e o entusiasmo. No entanto, precisava de um estilo para<br />

se basear, mas não um de seu tempo, por isso recua a um passado ao qual se sente ligado por<br />

uma certa afinidade, favorecendo a revitalização de mais de um estilo.<br />

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<strong>Design</strong>, <strong>moda</strong> e <strong>vestuário</strong> <strong>no</strong> <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> (<strong>1801</strong>-<strong>1850</strong>).<br />

O movimento apareceu com o fim do ciclo clássico, que está ligado revisitação da<br />

arte do mundo antigo, greco-roma<strong>no</strong>, <strong>no</strong> qual enxerga a relação dos homens com a natureza<br />

como sendo clara e positiva. Destaca-se nesse período a transformação das tec<strong>no</strong>logias e da<br />

organização da produção econômica, com consequências que surgem na ordem social e<br />

política. Sem dúvida, o nascimento da tec<strong>no</strong>logia industrial coloca em crise o artesanato e<br />

suas técnicas refinadas e individuais, transformando as estruturas da arte, que constituem o<br />

modelo de produção artesanal. Uma das principais causas da crise da arte foi a passagem da<br />

tec<strong>no</strong>logia do artesanato para a tec<strong>no</strong>logia industrial fabril, que se baseia na ciência e age<br />

sobre a natureza de forma mais incisiva, transformando o ambiente.<br />

O período que vai da metade do <strong>século</strong> XVIII até a metade do <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> pode ser<br />

dividido da seguinte maneira: fase pré-romântica, com a paralela poética alemã do Sturm und<br />

Drang 1 ; fase neoclássica, coincidindo com a Revolução Francesa e o império napoleônico; e a<br />

reação romântica, paralela aos movimentos de independência nacional, com as primeiras<br />

reivindicações operárias entre 1820 e <strong>1850</strong>. O Neoclassicismo faz parte do processo de<br />

formação do Romantismo, segundo o qual a arte não é derivada da natureza e sim da própria<br />

arte.<br />

Uma característica importante do Neoclassicismo é o revival das artes da<br />

Antiguidade clássica, conforme mostra a figura 01. Essa releitura pôde ser observada também<br />

em outras áreas, como na <strong>moda</strong>. As duas principais referências do retor<strong>no</strong> à arte clássica são<br />

Roma e Paris. A primeira sendo o principal foco <strong>no</strong> estudo do neoclassicismo.<br />

Figura 01 - 'Igreja da Madeleine' de Barthelémy Vig<strong>no</strong>n em Paris, de 1806, com referências clássicas<br />

(MIRABENT, 1991, p.16); e cadeira de Samuel Cragg, de 1808 (TORRENTY; MARÍN, 2005, p.46).<br />

Para os neoclássicos a arte era uma atividade mental, diferente da racional, mais<br />

autêntica.<br />

O Neoclassicismo não é uma estilística, mas uma poética; prescreve uma<br />

determinada postura, também moral, em relação à arte e, mesmo estabelecendo<br />

1 Movimento de poetas jovens alemães do final do <strong>século</strong> XVIII.<br />

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<strong>Design</strong>, <strong>moda</strong> e <strong>vestuário</strong> <strong>no</strong> <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> (<strong>1801</strong>-<strong>1850</strong>).<br />

certas categorias ou tipologias, permite aos artistas certa liberdade de interpretação e<br />

caracterização (ARGAN, 2006, p.23).<br />

Desde que a ciência e técnica vêm se impondo, a burguesia industrial iniciou sua<br />

rápida ascensão. Os artistas começaram a perceber que as técnicas industriais, proporcionam<br />

uma grande força criativa.<br />

O interesse pelo mundo clássico vem desde o final do <strong>século</strong> XVII. Quando<br />

Shaftesbury (1671-1713) defendia que era possível achar soluções adequadas para problemas<br />

estéticos de seu período. Winckelmann (1716-1768) juntamente com A. R. Mengs (1728-<br />

1779) tomaram como base as ideias de Shaftesbury e direcionaram-se a um conhecimento<br />

mais amplo da Antiguidade. Winckelmann deu início a um <strong>no</strong>vo ideal de beleza, baseado nas<br />

obras gregas, pois acreditava serem caracterizadas por simplicidade e grandeza. Mengs por<br />

sua vez foi influenciado por Winckelmann, expôs suas teorias artísticas em escritos sobre a<br />

pintura, não se opondo à cópia de grandes mestres da Antiguidade.<br />

Nessa época conviveram várias correntes. Mas como em todo movimento, é<br />

importante destacar o me<strong>no</strong>sprezo aos movimentos anteriores, barrocos e rococós, e a<br />

imitação de um passado mais distante dos elementos grego-lati<strong>no</strong>s.<br />

O termo Neoclássico foi de<strong>no</strong>minado por teóricos e historiadores com intuito de<br />

destacar a pluralidade e variedade de correntes artísticas. Esses estudiosos demonstraram que<br />

essa arte, do final do <strong>século</strong> XVIII e início do <strong>século</strong> <strong>XIX</strong>, foi mais do que uma simples<br />

imitação da arte clássica, e que muitos projetos realizados nessa época abriram a possibilidade<br />

de <strong>no</strong>vas soluções.<br />

Figura 02: Arco do Triunfo de Paris de Raymond e Chalgrin, de 1837 (MIRABENT, 1991, p.21); e desenho de<br />

cadeira de Charles Percier e Léonard Fontaine, de 1812 (TORRENTY; MARÍN, 2005, p.51).<br />

Entre os diferentes tipos de arte, a que mais se apoiou na tendência clássica foi a<br />

arquitetura, seguida pela escultura e pela pintura, conforme a figura 02. A criação na<br />

arquitetura neoclássica deveria atender também a uma função, eles começaram a se preocupar<br />

se aquela forma também iria suprir as necessidades da sociedade.<br />

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<strong>Design</strong>, <strong>moda</strong> e <strong>vestuário</strong> <strong>no</strong> <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> (<strong>1801</strong>-<strong>1850</strong>).<br />

A arquitetura neoclássica tem um caráter fortemente tipológico, em que as formas<br />

atendem a uma função e uma espacialidade racionalmente calculadas. O modelo<br />

clássico permanece como ponto de referência para uma metodologia de projetos que<br />

se colocam problemas concretos e atuais (...) (ARGAN, 2006, p.22).<br />

O projeto foi considerado fundamental para toda a arte neoclássica. Ele é<br />

importantíssimo para o desenvolvimento de uma ideia, o pilar que determina que aquela obra<br />

foi pensada e que passou por diversas fases antes de se materializar.<br />

Os arquitetos e engenheiros devem ter conhecimento das necessidades e desejos da<br />

sociedade, para criarem a partir desses fatos, visto que as obras serão destinadas para essa<br />

população.<br />

O Romantismo está muito ligado à arte cristã da Idade Média e, mais precisamente,<br />

ao romântico e ao gótico. Podemos definir como romântico o mundo nórdico, <strong>no</strong> qual a<br />

natureza é uma força misteriosa, frequentemente hostil. Foi teorizado pelos defensores do<br />

Renascimento, do Gótico e pelos pensadores alemães Schlegel (1767-1845), Wackenroder<br />

(1773-1798), Tieck (1773-1853), os quais defendem que a arte é a revelação do sagrado e tem<br />

necessariamente uma essência religiosa.<br />

No inicio do <strong>século</strong> <strong>XIX</strong>, Schinkel (1781-1841) admirava a sabedoria construtiva dos<br />

arquitetos góticos e admitia que a arquitetura classicista era baseada na expressão do sentido<br />

do Estado e que a arquitetura gótica, por sua vez, exprimia a tradição religiosa da<br />

comunidade.<br />

Podemos citar Viollet-Le-Duc (1814-1879), escritor, restaurador e engenheiro, como<br />

sendo o maior pioneiro do revival do gótico na França. Aprofundou-se <strong>no</strong> estudo filosófico<br />

dos monumentos góticos, investigou os sistemas construtivos e a aplicação dos materiais, se<br />

preocupou em aplicar princípios para sua conservação e restauração. Ele afirmava que o<br />

gótico era mais uma linguagem do que um “estilo”. Foi um dos primeiros a perceber as<br />

possibilidades que oferecem os <strong>no</strong>vos materiais, como por exemplo, o ferro.<br />

Figura 03 - 'A vendedora de cupidos' de Joseph Marie Vien, obra que expressa bem o sentimento e a relação com<br />

a natureza (MIRABENT, 1991, p.49); e cadeira de Karl Friedrich Schinkel, de 1820-1825 (TORRENTY;<br />

MARÍN, 2005, p.50).<br />

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<strong>Design</strong>, <strong>moda</strong> e <strong>vestuário</strong> <strong>no</strong> <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> (<strong>1801</strong>-<strong>1850</strong>).<br />

Os românticos tinham o desejo de uma arte que não fosse apenas religiosa, mas que<br />

expressasse o pensamento religioso do povo, e que introduzisse um fundamento ético ao<br />

trabalho huma<strong>no</strong>, revalorizando a arquitetura gótica. Podemos dizer que essa arquitetura é<br />

primeiramente cristã, é burguesa por nascer nas cidades com o refinado artesanato dos <strong>século</strong>s<br />

XVIII e <strong>XIX</strong>, exprimindo o sentimento popular, a história das sociedades, visto que cada<br />

catedral, por exemplo, é um elemento de várias gerações, demonstrando com a complexidade<br />

de suas formas e estruturas, e também com a riqueza e variedade de suas decorações, o alto<br />

nível de experiência técnica dos artesãos locais.<br />

A pintura romântica deseja expressar os sentimentos, que é um estado de espírito<br />

frente à realidade individual, a única ligação possível entre o indivíduo, a natureza, o<br />

particular e o universal, conforme figura 03. Para Coret, paisagista francês do <strong>século</strong> <strong>XIX</strong>, o<br />

sentimento é o que há de mais natural <strong>no</strong> homem. Sua pintura é considerada muito me<strong>no</strong>s<br />

sentimental e mais realista.<br />

Vestuário e <strong>moda</strong>.<br />

No início do <strong>século</strong> <strong>XIX</strong>, o traje femini<strong>no</strong> foi muito reduzido em termos de<br />

quantidade de roupas. Consequência do abando<strong>no</strong> de anquinhas e espartilhos do final do<br />

<strong>século</strong> XVIII. As mulheres começaram a usar um robe en chemise (vestido de cintura alta, até<br />

os pés, de musseline, cambraia ou morim), que veio a ser conhecido posteriormente como<br />

vestido Império, conforme a figura 04. Esse foi o estilo usado ao longo de toda a República.<br />

Talvez em nenhuma outra época entre os tempos primitivos e a década de 1920, as<br />

mulheres tenham usado tão pouca roupa como <strong>no</strong> início do <strong>século</strong> <strong>XIX</strong>. Todos os<br />

trajes pareciam ter sido criados para climas tropicais (...) (LAVER, 2008, p.155).<br />

Figura 04: 'A imperatriz Josefine' de Prod'hon, de 1805 (MIRABENT, 1991, p.56); e 'Vestido Império' em<br />

'Madame Récamier' de François Gérard, de 1802 (LAVER, 2008, p.154).<br />

Esse efeito “clássico”, com ênfase na linha vertical, que pôde ser observado <strong>no</strong><br />

<strong>vestuário</strong>, durou somente de 1800 a 1803. Nos três a<strong>no</strong>s seguintes, houve uma influência<br />

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<strong>Design</strong>, <strong>moda</strong> e <strong>vestuário</strong> <strong>no</strong> <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> (<strong>1801</strong>-<strong>1850</strong>).<br />

egípcia. Depois da Guerra de Sucessão espanhola, os ador<strong>no</strong>s espanhóis foram impostos,<br />

devido ao grande interesse por tudo que acontecia ou vinha da Espanha.<br />

A natureza, além de influenciar movimentos artísticos como o Neoclassicismo,<br />

influenciou também o <strong>vestuário</strong> da época. O uso de peles e plumas ficou cada vez mais<br />

comum e havia um grande fascínio pelas plantas, conforme a figura 05. Os bordados com<br />

desenhos de flores e folhas eram um dos ornamentos mais comuns <strong>no</strong>s trajes dos homens e<br />

das mulheres ao longo de todo o <strong>século</strong>. Inspirados em fontes variadas, estudos de botânica,<br />

as próprias plantas dos jardins, estufas e árvores, chegando a produzir vestidos que imitavam<br />

árvores. Nos tecidos dos vestidos, por exemplo, eram feitas representações realistas de frutas.<br />

Outra referência nítida eram as imagens de insetos, abelhas, joaninhas e mariposas, que eram<br />

bordadas <strong>no</strong>s vestidos dos a<strong>no</strong>s 60 e 70.<br />

Figura 05 - Publicação da revista 'Ladies' de Paris, de <strong>1801</strong> (V&A, 2010); Vestido mostrando o uso de<br />

pele de animal, de 1807 (LAVER, 2008, p.156); trajes para Le Beau Monde com decote mais baixo e o ajuste<br />

abaixo do busto, de 1808, (LAVER, 2008, p.159); e Thomas Bewick veste Fraque a Cartola do traje campestre<br />

Inglês, em 1810 (LAVER, 2008, p.158);<br />

Algumas modificações foram surgindo, como o decote, que se tor<strong>no</strong>u cada vez mais<br />

baixo, e a cintura que se aproximou mais do busto, conforme a figura 05. As mangas eram<br />

curtas ou muitas vezes nem existiam, e a cauda ficou cada vez mais comprida. Esse vestido<br />

foi mudando de aspecto quando se acrescentou um corpete chamado de le corsage.<br />

Com a reintrodução do corpete separado, o vestido logo passou a ter me<strong>no</strong>s pregas.<br />

Estas ficavam nas costas, o que dava ao traje todo um aspecto inteiramente diferente.<br />

A <strong>moda</strong> logo instituiu um vestido sem pregas, e por volta de 1807 os vestidos eram<br />

tão justos que mal se conseguia andar com eles (KOHLER, 2005, p.486).<br />

Este tipo de modelagem permaneceu <strong>no</strong> domínio até depois de 1820, mas vale<br />

ressaltar que a partir de 1812 o decote foi ficando cada vez mais alto. As mangas curtas<br />

deixaram de ser essenciais mais ou me<strong>no</strong>s na mesma época em que os decotes baixos, as<br />

favoritas eram abertas, presas com botões ou pregueadas.<br />

Por volta de 1808, foram introduzidas golas que ameaçaram a popularidade do<br />

decote baixo, mas o Império Napoleônico não deixou que este último se propagasse,<br />

mostrando assim a grande influência que ele exercia, inclusive na <strong>moda</strong>.<br />

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<strong>Design</strong>, <strong>moda</strong> e <strong>vestuário</strong> <strong>no</strong> <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> (<strong>1801</strong>-<strong>1850</strong>).<br />

No início do <strong>século</strong> <strong>XIX</strong>, por volta de 1810, começaram a surgir os ador<strong>no</strong>s nas<br />

roupas. Retomou-se o emprego de rendas, babados, e o próprio tecido passou a ser usado para<br />

a criação de ornamentos em forma de babados e listras diagonais.<br />

Havia nessa época uma verdadeira paixão pelos xales e mantas. Eram peças que não<br />

podiam faltar <strong>no</strong> guarda-roupa femini<strong>no</strong>, e saber usá-los com graça era a marca da mulher<br />

elegante. Eram usados para aquecer o corpo também, mas predominava o uso pela ostentação.<br />

Ficaram em <strong>moda</strong> também os grandes xales retangulares, feitos de tafetá, musseline ou crepe,<br />

semelhantes às clâmides gregas, conforme a figura 06.<br />

Figura 06: Vestidos de passeio com muitos babados, de 1817 (LAVER, 2008, p.157); Xale comprido <strong>no</strong><br />

<strong>vestuário</strong> femini<strong>no</strong>, de 1810 (LAVER, 2008, p.157); e 'Capitão Barclay' apresenta o traje típico do pedestre com<br />

calças que substituíram os calções usados até os joelhos, de 1820 (LAVER, 2008, p.158).<br />

Em 1814, muitas mulheres inglesas foram a Paris, após a primeira abdicação de<br />

Napoleão, e descobriram que a <strong>moda</strong> francesa estava muito diferente da inglesa. As francesas<br />

ainda usavam o vestido de cintura alta, mas a saia, em vez de cair reta até o tor<strong>no</strong>zelo, abriase<br />

um pouco na barra. O <strong>vestuário</strong> inglês, em contraponto, estava adquirindo um ar romântico,<br />

com elementos elisabeta<strong>no</strong>s, como por exemplo, mangas fofas. Como consequência disso, as<br />

mulheres inglesas abandonaram sua <strong>moda</strong> e adotaram a francesa. Aconteceu o oposto com os<br />

trajes masculi<strong>no</strong>s. A influência inglesa <strong>no</strong> <strong>vestuário</strong> masculi<strong>no</strong> já era muito significativa desde<br />

o final do <strong>século</strong> XVIII, e nesse momento os franceses aceitavam o traje inglês plenamente.<br />

O dândi, <strong>no</strong>me dado aos homens aristocráticos do período vitoria<strong>no</strong>, que se<br />

preocupavam muito com a ornamentação e detalhes das roupas, foi muito reconhecido nessa<br />

época, tanto pelo corte de suas roupas, acabamentos impecáveis, como pelos calções<br />

apertados, conforme a figura 07. Além do grande detalhe em seu pescoço, formado pelo<br />

colarinho da camisa, que era virado para cima, com as duas pontas projetadas sobre o rosto,<br />

adornadas por um lenço em forma de plastrom ou stock (faixa dura, em nó, já pronta,<br />

abotoada atrás).<br />

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<strong>Design</strong>, <strong>moda</strong> e <strong>vestuário</strong> <strong>no</strong> <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> (<strong>1801</strong>-<strong>1850</strong>).<br />

Figura 07: Trajes exagerados dos dândis, em 1822 (LAVER, 2008, p.161); e vestido com mangas bufantes e<br />

cintura marcada 'Fashion Plate', de 1829 (LAVER, 2008, p.164).<br />

No estilo romântico, observam-se vestidos primorosos, que transmitem exuberância<br />

com um sentimento de fantasia, feitos de tecidos leves, manifestando o aspecto delicado, de<br />

sonho, tão característico dos trajes de <strong>no</strong>ite da década de 20 desse <strong>século</strong>. O a<strong>no</strong> de 1822 pode<br />

ser identificado pela mudança nas roupas femininas.<br />

A cintura, que fora alta durante um quarto de <strong>século</strong>, voltou à posição <strong>no</strong>rmal e,<br />

quando isso acontece, ela inevitavelmente vai ficando mais fina. Em consequência, o<br />

espartilho voltou a ser parte essencial do guarda-roupa femini<strong>no</strong>, mesmo para as<br />

meninas (LAVER, 2008, p.162).<br />

Esse efeito da cintura fina fez com que as saias ficassem mais amplas, e as mangas<br />

também foram se modificando, primeiramente com um peque<strong>no</strong> enchimento <strong>no</strong>s ombros, que<br />

foi tido como um retor<strong>no</strong> dos trajes do Renascimento. Os corpetes estavam agora mais<br />

compridos, as saias muito largas e folgadas, usava-se uma anágua levemente acolchoada ou<br />

bastante engomada. A saia quase nunca chegava ao tor<strong>no</strong>zelo, conforme a figura 07.<br />

O <strong>vestuário</strong> composto de mangas e<strong>no</strong>rmes, a famosa manga “presunto”, cintura<br />

muito marcada e aplicações de laços são algumas das características do começo da década de<br />

1830.<br />

(...) mangas ‘presunto’ eram longas e extremamente largas <strong>no</strong> alto, mais estreitas do<br />

cotovelo para baixo e justas <strong>no</strong>s punhos. Essas mangas, bem como as mangas amplas<br />

e curtas dos vestidos de baile, conservavam sua largura total graças a armações de<br />

vime ou almofadas de penas (KOHLER, 2005, p.521).<br />

Em meados de 1835, alterou-se a manga “presunto”, invertendo-a, ou seja, ficou<br />

justa em cima e mais larga embaixo. Depois de 1830, a saia ficou um pouco mais curta e bem<br />

mais ampla do que antes, e as mangas ficaram muito grandes.<br />

A amplidão das saias dessa época proporcionava uma oportunidade para a colocação<br />

cada vez maior de ornamentos. Um terço do comprimento do vestido era enfeitado com tiras<br />

de tecido e pufes, depois se <strong>no</strong>tou vestidos com diversos babados, medindo de 25 a 30<br />

centímetros de altura, sobrepondo cada babado ao de baixo.<br />

Voltou a ser muito elegante o uso do rufo (espécie de gola muito volumosa com<br />

várias camadas, intitulada pela rainha Elizabeth <strong>no</strong> <strong>século</strong> XVII), uma imitação do que foi a<br />

<strong>moda</strong> elisabetana. Mais comum ainda foi o uso da pelerine.<br />

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<strong>Design</strong>, <strong>moda</strong> e <strong>vestuário</strong> <strong>no</strong> <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> (<strong>1801</strong>-<strong>1850</strong>).<br />

Uma gola larga e lisa chamada pelerine cobria os ombros. Quando as extremidades<br />

eram caídas, chamava-se pelerine-fichu. Ao ar livre, durante o dia, as mulheres<br />

usavam uma peça com mangas e<strong>no</strong>rmes e muitas capas (LAVER, 2008, p.166).<br />

A <strong>moda</strong> romântica do início da década começou a sofrer mudanças a partir de 1837.<br />

As mangas já não eram tão amplas, e o volume começou a descer pelos braços. As<br />

saias voltaram a ser mais compridas e não deixavam os tor<strong>no</strong>zelos a mostra quando as<br />

mulheres andavam (LAVER, 2008, p.168).<br />

Houve também nessa época o desaparecimento da extravagância e da cor nas roupas<br />

masculinas. A mudança mais marcante nessa época foi na cabeça, com o surgimento do<br />

chapéu tipo boneca, que era baixo, amarrado firmemente sob o queixo, com o formato de um<br />

balde de carvão e passava a ideia de extremo recato.<br />

A mulher tinha a obrigação de não fazer nada, e quanto mais extravagantes e<br />

exuberantes eram seus trajes, mais passavam essa ideia de ociosidade e de que o marido era<br />

suficientemente rico para sustentá-la, conforme a figura 08.<br />

O próspero homem de negócios, que começava a deixar a cidade e a instalar sua<br />

família em confortáveis casas recém-construídas <strong>no</strong>s subúrbios elegantes, esperava<br />

duas coisas da esposa: primeiro, que fosse um modelo de virtudes domésticas e,<br />

segundo, que não fizesse nada. Sua ociosidade total era a marca do status social do<br />

marido. (LAVER, 2008, p.177).<br />

Figura 08 - Trajes de montar masculi<strong>no</strong> e femini<strong>no</strong>, de 1831 (LAVER, 2008, p.164); Vestido peliça, brocado de<br />

seda, de 1831-33 (LAVER, 2008, p.165); e Trajes masculi<strong>no</strong>s para o dia, de 1834 (LAVER, 2008, p.165).<br />

Esse fato pode parecer um pouco estranho ao se considerar que aconteceram na<br />

década de 1840 extraordinárias i<strong>no</strong>vações técnicas e convulsões sociais. Surgiram nessa época<br />

ferrovias e vários levantes sociais, dando origem, em 1848, à “primavera dos povos”. De certa<br />

forma, as roupas confirmavam a intenção dos homens de que as mulheres não tivessem voz<br />

ativa, não participando das discussões políticas públicas.<br />

O <strong>vestuário</strong> femini<strong>no</strong> da década de 1840 foi marcado pela escassez e pode ser<br />

caracterizado pela cintura baixa, com o corpete destacando esse efeito. As saias eram<br />

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<strong>Design</strong>, <strong>moda</strong> e <strong>vestuário</strong> <strong>no</strong> <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> (<strong>1801</strong>-<strong>1850</strong>).<br />

compridas e rodadas, conforme a figura 09. Havia também o gilet-cuirasse, peça parecida<br />

com um colete masculi<strong>no</strong>. Cri<strong>no</strong>lina foi a palavra utilizada para de<strong>no</strong>minar uma pequena<br />

anquinha feita de crina de cavalo, diferente daquela que ainda viria.<br />

Figura 09 - 'Convalescença' de Eugène Lami, de 1845 (LAVER, 2008, p.171); e vestidos para o dia em Le<br />

Follet, de 1848 (LAVER, 2008, p.171).<br />

Os vestidos usados à <strong>no</strong>ite eram decotados, mostrando os ombros. Este decote era<br />

reto com uma pequena profundidade <strong>no</strong> meio, chamada de en coeur. O corpete terminava em<br />

ponta na frente, era armado com barbatanas e havia pregas horizontais na parte de cima do<br />

mesmo, típicas desse período.<br />

As mulheres, em referência à rainha Vitória, que era de estatura baixa, tinham que<br />

parecer muito pequenas. Os sapatos, portanto, eram feitos em sua maioria sem saltos. O tipo<br />

mais comum era a sapatilha, feitas de cetim ou crepe, em cores que combinassem com o<br />

vestido.<br />

Influências dos movimentos estéticos na <strong>moda</strong>.<br />

É fato que a <strong>moda</strong> sempre foi criada e caracterizada a partir de referências obtidas de<br />

diferentes áreas, ou seja, da história, da política, da eco<strong>no</strong>mia, da tec<strong>no</strong>logia, das artes, entre<br />

outras. O Neoclassicismo e o Romantismo foram os movimentos de maior predominância na<br />

primeira metade do <strong>século</strong> <strong>XIX</strong>, e exerceram profunda influência sobre a <strong>moda</strong> da época,<br />

conforme a figura 10.<br />

Por ser formada por vestidos soltos, de tecidos leves e com ajuste apenas abaixo do<br />

busto, pode-se <strong>no</strong>tar grande referência na <strong>moda</strong> do <strong>vestuário</strong> do período clássico, grego e<br />

roma<strong>no</strong>. Os movimentos artísticos têm como principal característica justamente o revival<br />

dessa Antiguidade.<br />

A <strong>no</strong>va mulher republicana usava longas chemises, que pareciam camisolas<br />

flutuantes, inspiradas na Antiguidade Clássica, como o fazia a mulher grega<br />

(XIMENES, 2009, p.50).<br />

No Romantismo sempre ficou clara a importância da existência de estilos de épocas<br />

passadas <strong>no</strong>s quais pudessem se basear. A <strong>moda</strong> foi seguindo o mesmo princípio das artes.<br />

Sempre buscando <strong>no</strong>vas referências, sendo estas as mesmas adotadas por esses movimentos.<br />

Nota-se com isso, que a <strong>moda</strong> foi muitas vezes, e ainda é, escrava do passado. Desde essa<br />

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<strong>Design</strong>, <strong>moda</strong> e <strong>vestuário</strong> <strong>no</strong> <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> (<strong>1801</strong>-<strong>1850</strong>).<br />

época, as pessoas envolvidas <strong>no</strong> desenvolvimento e na produção do <strong>vestuário</strong> já estudavam o<br />

passado para abordá-lo em suas criações, da mesma forma como atualmente os designers de<br />

<strong>moda</strong> pesquisam sobre a história e a adotam em suas coleções. Pode-se perceber que a prática<br />

não é <strong>no</strong>va, é uma constante que liga as pessoas à história das roupas.<br />

Figura 10 - Museu de Berlim de Karl Friedrich Schinckel com referências clássicas, de 1822-26 (MIRABENT,<br />

1991, p.16); 'Retrato de Josefina Bonaparte' de Antoine Jean Gros, 1808 (COSGRAVE, 2005, p.203); e vestido<br />

inglês de 1832 (V&A, 2010).<br />

O Romantismo, por ter sua origem ligada a valores do período medieval, extraídos<br />

de livros de romances e de aventuras, buscava tanto nas artes como na <strong>moda</strong> a fantasia,<br />

defendia o mundo complexo dos sentimentos e das emoções, das viagens dentro de si mesmo<br />

e queria acima de tudo mexer <strong>no</strong> imaginário das pessoas e provocá-lo. Instigava e provocava a<br />

exposição pública, aos espectadores atentos às projeções dos imaginários, de pensamentos<br />

íntimos, valores sociais e crenças. Neste sentido, de certa forma, o <strong>vestuário</strong> expõe a imagem<br />

que os românticos gostariam de transmitir, algo extremamente transposto para o sistema da<br />

<strong>moda</strong>.<br />

A mentalidade do Romantismo vislumbrava uma fuga a realidade humanística, em<br />

que prevalecia a imaginação ao espírito crítico. Era a época dos contos de fadas, da<br />

música lírica de Schumman, Schubert, Liszt e Chopin (XIMENES, 2009, p.54).<br />

Os românticos consideravam a arte da Idade Média uma referência que deveria ser<br />

seguida por representar os verdadeiros valores das sociedades cristãs. Estes valores estéticos<br />

religiosos não eram muito adequados, nem aplicados à <strong>moda</strong>, visto que, a partir da segunda<br />

década do <strong>século</strong> <strong>XIX</strong>, o despojamento dava lugar ao excesso de exageros formais e de<br />

ornamentos, contrariando a lógica da simplicidade e a ausência de vaidade, característicos dos<br />

ensinamentos religiosos.<br />

A relação do homem com a natureza, <strong>no</strong> período que deu origem às referências, ou<br />

seja, na Antiguidade, era muito clara e marcante. Fato que origi<strong>no</strong>u muitas das crenças<br />

religiosas do período, como a adoção de elementos da natureza como forças supremas ou<br />

como representações de deuses. Assim, nada mais justo que essa relação tenha se tornado<br />

outra grande influência para a <strong>moda</strong>. Os vestidos refletiram exatamente esse fato, projeções<br />

de significados adornados em bordados com flores e estampas de frutas.<br />

Outra relação que podemos fazer da <strong>moda</strong> desse período com a natureza são as<br />

silhuetas e formas que o corpo adquire e que podem ser comparadas com formas da natureza:<br />

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<strong>Design</strong>, <strong>moda</strong> e <strong>vestuário</strong> <strong>no</strong> <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> (<strong>1801</strong>-<strong>1850</strong>).<br />

A forma do corpo vestido, como objeto <strong>no</strong> espaço e em movimento, é obtida por meio<br />

de sua estática tridimensional: relevos, depressões, concavidades e convexidades que,<br />

entre curvas virtuais, se movimentaram em várias partes do corpo da mulher,<br />

produzindo ora quadris imensos, ora traseiros protuberantes, contor<strong>no</strong>s sinuosos e<br />

cinturas estranguladas (XIMENES, 2009, p.22, 23).<br />

Nesse período, a tec<strong>no</strong>logia industrial estava assumindo cada vez mais espaço, esse<br />

fato pode ter ameaçado a arte e o artesanato, mas para a <strong>moda</strong> as mudanças foram de grande<br />

importância e fundamentais. É o caso, por exemplo, da utilização da máquina de costura, com<br />

variedades de funções, como por exemplo, pregar botões. O avanço da tec<strong>no</strong>logia também<br />

trouxe mudanças para a <strong>moda</strong> com a introdução cada vez maior de lojas de rua, com vitrines<br />

que mexiam com o inconsciente do consumidor, e com a publicidade adquirindo cada vez<br />

mais espaço, proporcionando uma divulgação mais rápida dos produtos de <strong>moda</strong>.<br />

O advento desta era industrial irá explorar a forma cilíndrica abstrata, muito vista na<br />

arquitetura, como, por exemplo, nas chaminés das fábricas, túneis e reservatórios de gás. No<br />

período, tal tendência imprimiu-se fortemente <strong>no</strong> <strong>vestuário</strong> masculi<strong>no</strong>, em calças, cartolas e<br />

sobrecasacas.<br />

O Renascimento foi considerado outra fonte de referências, a partir do momento em<br />

que a <strong>moda</strong>, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 1822, passou por grandes transformações, deixando toda aquela<br />

estética clássica para trás. A excessividade tor<strong>no</strong>u-se uma das principais características do<br />

<strong>no</strong>vo <strong>vestuário</strong>. A cintura voltou a seu lugar de fato, retornando o uso do espartilho. As saias<br />

foram ficando automaticamente bem mais amplas, sendo usadas com várias anáguas e muito<br />

adornadas, sendo estes ador<strong>no</strong>s nitidamente trazidos como referência da natureza.<br />

A partir desse momento, a <strong>moda</strong> passou a referenciar os períodos Barroco e Rococó,<br />

por estar tão composta por ador<strong>no</strong>s e ornamentos, provocando um <strong>no</strong>tável exagero. É<br />

importante <strong>no</strong>tar que neste caso há uma oposição aos movimentos estéticos vistos nesse<br />

artigo, pelo fato de os mesmos negarem e serem totalmente contra a arte barroca. Nota-se<br />

neste momento uma divergência de ideias. A <strong>moda</strong> do final da primeira metade desse <strong>século</strong><br />

já estava mais voltada às referências que vinham dos movimentos: Historicismo, Ecletismo e<br />

Art Nouveau, predominantes na segunda metade do <strong>século</strong> <strong>XIX</strong>. Estes por sua vez, buscavam<br />

outros tipos de referências para suas criações.<br />

Considerações finais.<br />

Com o desenvolvimento do presente artigo foi importante <strong>no</strong>tar que os movimentos<br />

estéticos artísticos desenvolveram-se e receberam a influência de diversas correntes teóricas e<br />

filosóficas e referencias históricas. Consequentemente influenciaram e foram influenciados<br />

pela <strong>moda</strong>, fazendo parte do processo de formação do período da primeira metade do <strong>século</strong><br />

<strong>XIX</strong>.<br />

A <strong>moda</strong> passou por diversas transformações, tanto com relação às formas e às<br />

silhuetas, como com o aumento da utilização exagerada de ornamentos. A natureza foi muito<br />

valorizada nesse período, influenciando várias áreas estéticas, mostrando que as referências<br />

podem ser extraídas de um mesmo assunto, mas abordadas de diferentes formas, conforme o<br />

período a que se destinam.<br />

Pode-se considerar que as áreas permeadas pela estética estão todas intimamente<br />

ligadas. Por sua vez, a <strong>moda</strong> sempre propôs i<strong>no</strong>vações para a sociedade e determi<strong>no</strong>u o seu<br />

comportamento, da mesma forma, que sofre a influência de áreas como a política, a religião, a<br />

eco<strong>no</strong>mia, a arte e a tec<strong>no</strong>logia, não servindo somente para a diferenciação entre as classes<br />

sociais. Foi importante observar que desde essa época a <strong>moda</strong> busca referências na história e<br />

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<strong>Design</strong>, <strong>moda</strong> e <strong>vestuário</strong> <strong>no</strong> <strong>século</strong> <strong>XIX</strong> (<strong>1801</strong>-<strong>1850</strong>).<br />

que tal processo é exercido até os dias de hoje. Contudo, chega-se à conclusão óbvia, <strong>no</strong><br />

campo da <strong>moda</strong>, de que todas as criações e i<strong>no</strong>vações possuem uma base ou origem, na<br />

história, <strong>no</strong>s temas e nas referências que fomentam seu desenvolvimento. O que merece ser<br />

mais profundamente estudado é o fato de que a <strong>moda</strong> pode provocar algumas influências mais<br />

relevantes <strong>no</strong>s movimentos, podendo haver uma transação de elementos entre as áreas ainda<br />

não devidamente explorada.<br />

Referências.<br />

ARGAN, Giulio. Arte moderna. São Paulo: Companhia das letras, 2006.<br />

CHRIST, Yvan. A arte <strong>no</strong> <strong>século</strong> <strong>XIX</strong>. São Paulo: Martins Fontes, 1981.<br />

COSGRAVE, Bronwyn. Historia de la <strong>moda</strong>: desde Egipto hasta nuestros dias. Barcelona:<br />

GG <strong>moda</strong>, 2005.<br />

JANSON, Horst. História geral da arte: o mundo moder<strong>no</strong>. São Paulo: Martins Fontes,<br />

2001.<br />

KOHLER, Carl. História do <strong>vestuário</strong>. São Paulo: Martins Fontes, 2005.<br />

LAVER, James. A roupa e a <strong>moda</strong>: uma história concisa. São Paulo: Companhia das letras,<br />

2008.<br />

PISCHEL, Gina. História universal da arte 3. São Paulo: Mirador Internacional, 1966.<br />

MIRABENT, Isabel. Saber ver a arte neoclássica. São Paulo: Martins Fontes, 1991.<br />

V&A. Victoria & Albert Museum. Londres, 2010. Disponível em: < http://www.vam.ac.uk<br />

/index.html >. Acesso em: 15 mar. 2010.<br />

XIMENES, Maria Alice. Moda e arte na reinvenção do corpo femini<strong>no</strong> do <strong>século</strong> <strong>XIX</strong>.<br />

São Paulo: Estação das letras e cores, 2009.<br />

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