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Processos projetuais para a criação em Design de Moda: pesquisas ...

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<strong>Processos</strong> <strong>projetuais</strong> <strong>para</strong> a <strong>criação</strong> <strong>em</strong> <strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>Moda</strong>: <strong>pesquisas</strong> teóricas e referenciais<br />

<strong>Processos</strong> <strong>projetuais</strong> <strong>para</strong> a <strong>criação</strong> <strong>em</strong> <strong>Design</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Moda</strong>: <strong>pesquisas</strong> teóricas e referenciais<br />

Processes for creating in fashion <strong>de</strong>sign: theoretical research and benchmarks<br />

Merlo, Márcia; Dra; Universida<strong>de</strong> Anh<strong>em</strong>bi Morumbi<br />

mmerlo@anh<strong>em</strong>bi.br<br />

Navalon, Eloize; Ms; Universida<strong>de</strong> Anh<strong>em</strong>bi Morumbi<br />

navalon@anh<strong>em</strong>b.br<br />

Resumo<br />

O artigo aborda questões <strong>em</strong> torno do universo teórico-referencial contido na elaboração<br />

<strong>de</strong> uma coleção <strong>de</strong> moda voltada <strong>para</strong> o vestuário, perpassando a pesquisa <strong>de</strong><br />

tendências. Neste sentido, abrange observação acerca das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>pesquisas</strong><br />

necessárias <strong>para</strong> o <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> moda e <strong>de</strong> suas conexões com o projeto <strong>de</strong> uma coleção.<br />

Tal reflexão sustenta-se na experiência profissional e <strong>de</strong> pesquisa das autoras, assim<br />

como na análise <strong>de</strong> processos e resultados dos trabalhos orientados nos projetos<br />

interdisciplinares da graduação <strong>em</strong> <strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>Moda</strong> da Escola <strong>de</strong> Artes, Arquitetura,<br />

<strong>Design</strong> e <strong>Moda</strong> da Universida<strong>de</strong> Anh<strong>em</strong>bi Morumbi.<br />

Palavras Chave: <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> moda; métodos; interconexões.<br />

Abstract<br />

This article <strong>de</strong>als with matters of theoretical-referential universe contained in the<br />

pre<strong>para</strong>tion of a collection of fashion-oriented apparel, through search trends. It also<br />

covers the r<strong>em</strong>ark about the research activities nee<strong>de</strong>d to fashion <strong>de</strong>sign and its<br />

connections with the creation and <strong>de</strong>velopment of a collection. Such reflection is<br />

sustained by the experience and research of the authors, as well as in process analysis<br />

and results-oriented work in interdisciplinary projects of un<strong>de</strong>rgraduate Fashion<br />

<strong>Design</strong> College of Arts, Architecture, <strong>Design</strong> and Fashion at the University Anh<strong>em</strong>bi<br />

Morumbi.<br />

Keywords: fashion <strong>de</strong>sign; methods; interconnections.<br />

9º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Pesquisa e Desenvolvimento <strong>em</strong> <strong>Design</strong>


<strong>Processos</strong> <strong>projetuais</strong> <strong>para</strong> a <strong>criação</strong> <strong>em</strong> <strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>Moda</strong>: <strong>pesquisas</strong> teóricas e referenciais<br />

<strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>Moda</strong><br />

Qual é o caminho que vai do início <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> <strong>criação</strong> <strong>de</strong> uma coleção <strong>de</strong><br />

moda até o momento <strong>em</strong> que uma das peças criadas será vestida por um indivíduo? Para<br />

qu<strong>em</strong> compra uma calça, bolsa, sapato ou uma blusa, torna-se claro o processo <strong>de</strong> sua<br />

<strong>criação</strong>, assim como <strong>para</strong> qu<strong>em</strong> pensa, projeta e executa a peça, fica completamente<br />

evi<strong>de</strong>nte o percurso (uso e significados) que esta terá após o consumo?<br />

O projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> moda pressupõe a aplicação <strong>de</strong> áreas do conhecimento humano<br />

antes e <strong>para</strong> além <strong>de</strong> sua materialida<strong>de</strong>. Pesquisas, processos <strong>de</strong> <strong>criação</strong>, linguagens<br />

formais, assim como o conhecimento <strong>de</strong> processos produtivos, que interfer<strong>em</strong> nos<br />

processos criativos, e as informações mercadológicas são algumas áreas que participam<br />

<strong>de</strong>ste fazer. O modo <strong>de</strong> criar, <strong>de</strong>senvolver e produzir roupas relacionadas ao sist<strong>em</strong>a da<br />

moda pressupõe uma construção, uma trajetória <strong>para</strong> se elaborar um método que po<strong>de</strong><br />

não ser o mesmo <strong>para</strong> todo <strong>de</strong>signer <strong>de</strong> moda.<br />

O <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> moda <strong>para</strong> o vestuário se estabelece pela interconexão <strong>de</strong> conhecimentos,<br />

<strong>de</strong> informações e <strong>de</strong> processos. Adotamos o termo interconexão <strong>para</strong> ilustrar,<br />

textualmente, a interdisciplinarida<strong>de</strong> existente no <strong>de</strong>sign, por conseguinte, no <strong>de</strong>sign <strong>de</strong><br />

moda. Observamos, na construção <strong>de</strong> projetos interdisciplinares, que os conteúdos das<br />

disciplinas envolvidas mais do que se somar<strong>em</strong>, se contaminam e se transformam,<br />

gerando produtos e imagens. Estes conteúdos mais do que ligados – conectados –<br />

linearmente e <strong>em</strong> uma única seqüência possível, estão interligados <strong>em</strong> re<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> o<br />

movimento inicial po<strong>de</strong> partir <strong>de</strong> qualquer um dos pontos (disciplinas) <strong>de</strong>sta, e que a<br />

contaminação e a transformação <strong>de</strong>stes conteúdos <strong>em</strong> objetos – materiais ou virtuais –<br />

estabelec<strong>em</strong> sua natureza e a natureza do <strong>de</strong>sign.<br />

Portanto, diante da <strong>criação</strong> e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma coleção <strong>de</strong> moda voltada ao<br />

vestuário, o <strong>de</strong>signer necessita <strong>de</strong> um arsenal <strong>de</strong> referências que abord<strong>em</strong> a questão da<br />

roupa, do corpo, da imag<strong>em</strong>, da cultura, dos processos produtivos, dos processos <strong>de</strong><br />

comunicação e comercialização, do mercado produtor e consumidor, <strong>para</strong> que esta<br />

atinja os objetivos <strong>de</strong> sua existência: o uso.<br />

Coletar informações, realizar <strong>pesquisas</strong>, organizar referências, eleger cores, tecidos,<br />

<strong>de</strong>senhar croquis, estampas, planejar a coor<strong>de</strong>nação entre as peças, pertenc<strong>em</strong> ao<br />

universo dos processos criativos <strong>em</strong> <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> moda. A construção <strong>de</strong>stes se dá por<br />

meio da elaboração <strong>de</strong> fichas técnicas, estudos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagens, confecção <strong>de</strong> peçaspiloto<br />

e <strong>de</strong>finição final <strong>de</strong> tecidos, e aviamentos, que, por sua vez, orientam a produção<br />

das peças.<br />

Estas ativida<strong>de</strong>s se inter-relacionam e inter<strong>de</strong>pend<strong>em</strong>, e é justamente pelas<br />

interconexões, <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> metodologias, que t<strong>em</strong>os a configuração do conceito<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> moda <strong>para</strong> a construção <strong>de</strong> uma coleção.<br />

Aqui nos interessa, <strong>em</strong> particular, discutir como uma pesquisa teórica/referencial<br />

conduz a um conceito que po<strong>de</strong> ser “criativo e inovador” na elaboração <strong>de</strong> uma coleção<br />

<strong>de</strong> <strong>Moda</strong>. Procura-se, também, abordar fundamentações sobre <strong>pesquisas</strong> <strong>de</strong> tendências<br />

9º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Pesquisa e Desenvolvimento <strong>em</strong> <strong>Design</strong>


<strong>Processos</strong> <strong>projetuais</strong> <strong>para</strong> a <strong>criação</strong> <strong>em</strong> <strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>Moda</strong>: <strong>pesquisas</strong> teóricas e referenciais<br />

no <strong>de</strong>senvolvimento projetual, on<strong>de</strong> o briefing do que será projetado é dado pelo<br />

<strong>de</strong>signer, diferente <strong>de</strong> algumas áreas on<strong>de</strong> é dado pelo cliente.<br />

As <strong>pesquisas</strong> referenciais, sobre o mercado, tendências e as que envolv<strong>em</strong> o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um conceito e <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>a <strong>para</strong> uma coleção, são o ponto <strong>de</strong><br />

partida. As interconexões começam nelas, pois <strong>para</strong> que uma idéia se forme e se<br />

configure, múltiplas ligações se realizam, estabelecendo, <strong>de</strong>ssa forma, um caminho <strong>de</strong><br />

mão dupla, que une todas as informações <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>las.<br />

O Universo Referencial:<br />

Mercado<br />

A questão da <strong>de</strong>finição do mercado consumidor e do mercado produtor (mais<br />

comumente chamado <strong>de</strong> segmento), como o primeiro passo a ser dado pelo <strong>de</strong>signer, é<br />

unânime, tanto na literatura, quanto na opinião dos <strong>de</strong>signers. Mas também é possível,<br />

<strong>em</strong> alguns projetos, que este não seja o primeiro passo a ser realizado.<br />

O processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> moda, segundo CARR e POMEROY (1992), começa com a<br />

pesquisa <strong>de</strong> mercado, consumidor e produtor, e continua criando novas formas e estilos,<br />

<strong>de</strong>senvolvendo amostras, refinando os objetivos <strong>de</strong> negócios e estabelecendo relações<br />

comerciais. Encontra-se na afirmação dos autores a forma como que, industrialmente, o<br />

<strong>de</strong>sign <strong>de</strong> moda se estabelece:<br />

A essência da criativida<strong>de</strong> não é uma noção romântica <strong>de</strong> que a imaginação<br />

está no ar e, somente um talento genial po<strong>de</strong> pegá-la, mas sim, encontram-se<br />

na seleção <strong>de</strong> informações, ações e <strong>de</strong>finições que permeiam uma proposta<br />

<strong>de</strong>finida (CARR e POMEROY, 1992, p. 18).<br />

Na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> <strong>para</strong> qu<strong>em</strong> criar e produzir, assim como o que produzir, o <strong>de</strong>signer<br />

estabelece o núcleo central que formará a base <strong>de</strong> toda a sua coleção.<br />

<strong>Moda</strong> é um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> renovação, ligado ao universo da significação e, portanto, da<br />

cultura. Ela não se restringe ao vestuário, mas sim a tudo o que se relaciona ao caráter<br />

das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas e individualistas. Ela, segundo SANT’ANNA (2007, p. 88)<br />

“articula as relações entre os sujeitos sociais a partir da aparência e instaura o novo<br />

como categoria <strong>de</strong> hierarquização dos significados”. Já o vestuário é algo que está<br />

ligado ao corpo e que, s<strong>em</strong> este, per<strong>de</strong> seu significado e função. Cada peça <strong>de</strong> roupa é<br />

única e possui “limitação natural vinculada à anatomia humana” (SANT’ANNA, p. 74).<br />

O conjunto das roupas, num armário, por ex<strong>em</strong>plo, é composto tanto <strong>de</strong> sentidos<br />

objetivos, como cobrir o corpo; como <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>s com <strong>em</strong>belezamento e<br />

i<strong>de</strong>ntificação.<br />

As roupas compõ<strong>em</strong> uma arquitetura têxtil on<strong>de</strong> cada linha t<strong>em</strong> um sentido:<br />

aquele <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> objetos fabricados servindo <strong>de</strong> um lado <strong>para</strong> cobrir<br />

o corpo humano, <strong>para</strong> proteger e, <strong>de</strong> outro, <strong>para</strong> <strong>em</strong>belezá-lo, ornamentá-lo<br />

ou dar-lhe uma característica <strong>de</strong>terminada com o propósito <strong>de</strong> marcar seu<br />

papel na cena (IBIDEM, 2007, p74).<br />

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<strong>Processos</strong> <strong>projetuais</strong> <strong>para</strong> a <strong>criação</strong> <strong>em</strong> <strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>Moda</strong>: <strong>pesquisas</strong> teóricas e referenciais<br />

Portanto, a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> qual corpo humano – gênero masculino ou f<strong>em</strong>inino – usará<br />

o que será projetado, e <strong>em</strong> qual cultura ele está inserido, será a norteadora <strong>de</strong> toda<br />

<strong>criação</strong> e materialização <strong>de</strong>ste projeto <strong>em</strong> moda.<br />

Em entrevista ao site Santa <strong>Moda</strong> i , Ronaldo Fraga, <strong>de</strong>signer <strong>de</strong> moda mineiro, que se<br />

auto<strong>de</strong>nomina “costureiro” afirma:<br />

Meu consumidor t<strong>em</strong> que ter um mínimo <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>.<br />

Liberda<strong>de</strong> no sentido <strong>de</strong> se livrar dos padrões, se distanciar dos padrões, se<br />

distanciar das amarras, se distanciar das imposições do mercado e t<strong>em</strong> que ter<br />

um mínimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> voar, <strong>de</strong> brincar e ver que além da escolha da roupa,<br />

da escolha da máscara, po<strong>de</strong> ser algo muito mais divertido <strong>de</strong> como as<br />

pessoas costumam fazer. Eu não consigo pensar no meu consumidor por<br />

faixa etária (as pessoas são cada vez mais jovens), po<strong>de</strong>r aquisitivo (...). Não<br />

dá mais <strong>para</strong> falar <strong>em</strong> consumidor com <strong>de</strong>terminado po<strong>de</strong>r aquisitivo e faixa<br />

etária. É muito mais o espírito <strong>de</strong>sse consumidor. (FRAGA, 2006).<br />

Observar e compreen<strong>de</strong>r o “espírito” do usuário, conforme <strong>de</strong>scrito por FRAGA é,<br />

portanto, consi<strong>de</strong>rar os aspectos psicológicos, econômicos, culturais, morais e sociais<br />

que norteiam os seus valores e também suas <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong> uso e consumo. Não que<br />

chegar a esta compreensão seja fácil, pois <strong>de</strong> uma ou outra forma há processos <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>alização do sujeito <strong>em</strong> questão. Mas, coloca-se uma <strong>de</strong>vida atenção à probl<strong>em</strong>ática<br />

do público-alvo, pois um total <strong>de</strong>sconhecimento ou distanciamento daquele que seria o<br />

usuário do produto <strong>de</strong> um <strong>de</strong>signer <strong>de</strong> moda gera conflitos na ord<strong>em</strong> mercadológica e <strong>de</strong><br />

natureza projetual.<br />

Em conjunto com a i<strong>de</strong>ntificação do usuário, o <strong>de</strong>signer <strong>de</strong>ve também <strong>de</strong>finir <strong>em</strong> qual<br />

segmento <strong>de</strong> mercado produtor ele atuará. Por segmentos <strong>de</strong> mercado produtor <strong>em</strong><br />

moda, utilizam-se os termos: beachwear, casualwear, jeanswear, un<strong>de</strong>rwear,<br />

sportswear, etc., i<strong>de</strong>ntificando e dividindo, <strong>de</strong>ssa forma, o mercado produtor e<br />

consumidor no que diz respeito a ocasiões e formas <strong>de</strong> uso e também <strong>em</strong> gênero:<br />

masculino e f<strong>em</strong>inino.<br />

As <strong>pesquisas</strong> <strong>de</strong>stinadas à i<strong>de</strong>ntificação do comportamento humano, como as <strong>de</strong><br />

consumo, originam-se <strong>em</strong> um projeto, estabelec<strong>em</strong> uma metodologia e criam processos<br />

a fim <strong>de</strong> organizar dados e informações coletadas que são utilizadas pelo <strong>de</strong>signer.<br />

Empresas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte possu<strong>em</strong> seus próprios <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> <strong>pesquisas</strong> <strong>de</strong><br />

comportamento <strong>de</strong> consumo e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> usuários. As informações geradas por<br />

essas <strong>pesquisas</strong> são <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor criativo, pois são <strong>em</strong> sua maioria b<strong>em</strong> específicas e<br />

aprofundadas. Porém não são acessíveis a todos. Mário Queiroz, <strong>de</strong>signer carioca<br />

radicado <strong>em</strong> São Paulo, que trabalha com moda masculina aponta que “somente as<br />

<strong>em</strong>presas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte têm condição <strong>de</strong> elaborar <strong>pesquisas</strong> aprofundadas e<br />

confiáveis, pois estas têm um custo muito elevado” ii .<br />

Para os <strong>de</strong>signers que trabalham <strong>em</strong> pequenas e médias <strong>em</strong>presas, assim como aqueles<br />

que <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> seus projetos <strong>para</strong> suas próprias marcas, realizar <strong>pesquisas</strong> sobre<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> perfis <strong>de</strong> usuários, acaba sendo um trabalho cotidiano, consultando<br />

todas as fontes <strong>de</strong> <strong>pesquisas</strong> possíveis – jornais, revistas, internet, literatura, etc. – <strong>para</strong><br />

se obter as informações necessárias sobre eles. O mesmo acontece com as <strong>pesquisas</strong><br />

sobre o mercado produtor:<br />

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<strong>Processos</strong> <strong>projetuais</strong> <strong>para</strong> a <strong>criação</strong> <strong>em</strong> <strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>Moda</strong>: <strong>pesquisas</strong> teóricas e referenciais<br />

Hoje eu chego num fornecedor não apenas com as minhas idéias, mas<br />

também <strong>para</strong> saber o que a <strong>em</strong>presa está <strong>de</strong>senvolvendo. Foi-se o t<strong>em</strong>po <strong>em</strong><br />

que o estilista simplesmente mandava fazer. A <strong>em</strong>presa é que está envolvida<br />

muito mais com o processo daquele <strong>de</strong>terminado produto. Ela t<strong>em</strong> a<br />

informação e a tecnologia relativa ao seu produto. E já estão surgindo<br />

<strong>em</strong>presas aqui no Brasil que estão se <strong>de</strong>stacando e <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado aquele<br />

básico. Já se encontra muito diferencial no produto aqui <strong>de</strong>ntro (QUEIROZ,<br />

2007).<br />

Para João Lima Neto iii , <strong>de</strong>signer paulista, responsável durante cinco anos pelo<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produtos das marcas VR e Calvin Klein Jeans no Brasil, e hoje<br />

atuando na marca Lacoste, diz que seu trabalho <strong>de</strong> <strong>criação</strong> só fica completo e <strong>de</strong>finido<br />

quando realizado <strong>em</strong> conjunto com seus fornecedores <strong>de</strong> tecidos, <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong><br />

beneficiamento e acabamento. A proximida<strong>de</strong> com os conhecimentos técnicos do<br />

segmento a que se <strong>de</strong>stina um projeto <strong>de</strong> moda é fundamental <strong>para</strong> que a <strong>criação</strong> seja<br />

plenamente executada.<br />

Por ex<strong>em</strong>plo, os fios e suas características técnicas, como espessura, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>,<br />

tamanho e toque, darão aos tecidos características particulares como peso<br />

(influenciando o caimento), movimento, estrutura, elasticida<strong>de</strong>, acabamentos, entre<br />

outros que são <strong>de</strong>terminantes no processo <strong>de</strong> <strong>criação</strong> e confecção <strong>de</strong> uma peça <strong>de</strong><br />

vestuário. A montag<strong>em</strong> das roupas, b<strong>em</strong> como o maquinário necessário <strong>para</strong> a produção<br />

das mesmas, também são conhecimentos fundamentais <strong>para</strong> que o <strong>de</strong>signer possa dirigir<br />

sua <strong>criação</strong> e <strong>de</strong>senvolvimentos <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada, obtendo <strong>de</strong>ssa forma,<br />

os resultados esperados a partir da sua idéia original. E mais: visto que um dos valores<br />

do <strong>de</strong>sign centra-se <strong>em</strong> ações inovadoras (BONSIEPE, 1997), o conhecimento dos<br />

processos produtivos b<strong>em</strong> como sua organização industrial é <strong>de</strong> relevante importância<br />

<strong>para</strong> a obtenção <strong>de</strong>stas.<br />

Atualmente o projeto <strong>de</strong> produto <strong>de</strong> moda mais interessante e <strong>de</strong>safiador é<br />

aquele que exige inovações <strong>de</strong> fato, isso significa criar diferenças entre esse<br />

produto e aquele dos concorrentes, promover diferenciações, já que a<br />

competição baseada somente nos preços torna-se cada vez mais difícil.<br />

(RECH, 2002, p. 98).<br />

Hoje há <strong>em</strong>presas especializadas <strong>em</strong> <strong>pesquisas</strong> <strong>de</strong> tendências <strong>de</strong> comportamento, que<br />

contratam <strong>de</strong>signers <strong>para</strong> compor a equipe <strong>de</strong> pesquisadores juntamente com sociólogos,<br />

antropólogos, psicólogos e pesquisadores <strong>de</strong> marketing, a fim <strong>de</strong> torná-las mais precisas<br />

e confiáveis, como a WGSN (Worth Global Style Network), com se<strong>de</strong> <strong>em</strong> Londres, e as<br />

<strong>em</strong>presas brasileiras OBSERVATÓRIO DE SINAIS E USEFASHION, <strong>de</strong>ntre outras,<br />

que mesmo possuindo abordagens distintas, fornec<strong>em</strong> a todos os participantes da ca<strong>de</strong>ia<br />

produtiva informações relevantes sobre comportamento <strong>de</strong> consumo.<br />

Tendências<br />

Compreen<strong>de</strong>r o que é tendência, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> que maneira esta terminologia foi<br />

adotada pelo universo da moda e da cultura cont<strong>em</strong>porânea, ajuda a esclarecer os<br />

procedimentos, mecanismos e metodologias <strong>para</strong> a realização <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong> moda<br />

nos dias atuais. Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, tendência é aquilo<br />

que leva alguém a seguir um <strong>de</strong>terminado caminho ou agir <strong>de</strong> certa forma. Significa<br />

ainda: predisposição, propensão; evolução <strong>de</strong> algo num <strong>de</strong>terminado sentido; direção,<br />

orientação (2001, p. 2693).<br />

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<strong>Processos</strong> <strong>projetuais</strong> <strong>para</strong> a <strong>criação</strong> <strong>em</strong> <strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>Moda</strong>: <strong>pesquisas</strong> teóricas e referenciais<br />

Segundo CALDAS (2004), a orig<strong>em</strong> da palavra do latim ten<strong>de</strong>ntia migrou <strong>para</strong> o<br />

francês e <strong>de</strong>le <strong>para</strong> o português. Já no século XIII esse vocábulo era registrado com o<br />

sentido <strong>de</strong> inclinação, porém <strong>em</strong>pregado num contexto <strong>de</strong> inclinação amorosa por<br />

alguém, b<strong>em</strong> diferente do que conhec<strong>em</strong>os. A etimologia também relata que essa<br />

palavra permaneceu com uso raro até o século XVIII, quando foi retomada pela<br />

linguag<strong>em</strong> científica – a mesma do Século das Luzes e da Revolução Francesa,<br />

significando força e dirigindo-se <strong>para</strong> um sentido <strong>de</strong>terminado, ten<strong>de</strong>ndo <strong>para</strong> um fim.<br />

T<strong>em</strong>os então um conceito e uma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> tendência que permanece até hoje: a idéia<br />

<strong>de</strong> movimento, <strong>de</strong> fim, <strong>de</strong> esgotamento <strong>em</strong> si mesmo. Mesmo assim, a palavra continua<br />

a ser raramente utilizada até o século XIX, quando adquire o sentido <strong>de</strong> “aquilo que leva<br />

a agir <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada maneira, uma predisposição, propensão” (CALDAS, p. 24 e<br />

25).<br />

O autor aponta, também, que foi o <strong>de</strong>senvolvimento da psicologia como área do<br />

conhecimento que vinculou à palavra tendência, o significado particular <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo, <strong>de</strong> orientação das necessida<strong>de</strong>s pessoais <strong>em</strong> direção a um ou vários objetos<br />

que possam satisfazê-las.<br />

O enfoque trouxe outra característica ao termo: uma tendência po<strong>de</strong> apontar uma<br />

direção, mas essa po<strong>de</strong> não ser atingida. A idéia <strong>de</strong> incerteza quanto ao resultado a ser<br />

alcançado, ajuda-nos a compreen<strong>de</strong>r o uso cont<strong>em</strong>porâneo do termo tendência.<br />

O século XIX acrescentou o significado <strong>de</strong> “evolução necessária” <strong>para</strong> essa mesma idéia<br />

que está presente até os dias <strong>de</strong> hoje e, que foi essencial <strong>para</strong> resolver o caráter <strong>de</strong><br />

imprevisibilida<strong>de</strong> que uma tendência s<strong>em</strong>pre carrega consigo. A somatória <strong>de</strong>sses<br />

significados vai contribuir <strong>para</strong> a construção <strong>de</strong> um conceito muito <strong>em</strong> voga atualmente:<br />

a <strong>de</strong> que é possível prever o futuro por meio do estudo <strong>de</strong> tendências.<br />

Para CALDAS (2004, p. 35):<br />

A tendência – <strong>em</strong> qualquer campo, fala-se da indústria da moda ou dos gurus<br />

<strong>de</strong> marketing, <strong>de</strong> um salão profissional <strong>de</strong> móveis ou das formas mutantes do<br />

comportamento humano – passa a ser representada como o <strong>de</strong>sdobramento<br />

“natural” do presente (...) É um tipo <strong>de</strong> discurso que <strong>de</strong>creta coisas, que não<br />

<strong>de</strong>ixa nenhuma pista aparente sobre seu modo <strong>de</strong> produção : “O mundo é<br />

assim por que é”, “Eu sou você amanhã”, “O verão será <strong>em</strong> preto e branco”.<br />

Guillaume Erner (2008, p. 217) apresenta <strong>de</strong> forma bastante objetiva a armadilha <strong>de</strong> se<br />

pensar que os “<strong>de</strong>terminismos sociais <strong>de</strong> algumas tendências são óbvios”.<br />

O uso mais generalizado do conceito <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> tendência está ligado à idéia <strong>de</strong><br />

futuro e <strong>de</strong> como prevê-lo. Dessa forma, o conceito <strong>de</strong> tendências passa a ser usado por<br />

futurologistas e por estudos prospectivos, <strong>para</strong> tentar dar conta <strong>de</strong> todo tipo <strong>de</strong> assunto,<br />

daí as expressões fort<strong>em</strong>ente adotadas atualmente como Macro-Tendências.<br />

Mas, como prever quais as formas ou as cores que serão utilizadas pelos <strong>de</strong>signers e<br />

adotadas – e transformadas <strong>em</strong> moda - pelos consumidores comuns? A impossibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> previsão da moda v<strong>em</strong> do fato <strong>de</strong> que <strong>para</strong> “<strong>para</strong> prever um fenômeno, é necessário<br />

um corpo teórico, uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> casualida<strong>de</strong>s e uma bateria <strong>de</strong> indicadores qualitativos<br />

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<strong>Processos</strong> <strong>projetuais</strong> <strong>para</strong> a <strong>criação</strong> <strong>em</strong> <strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>Moda</strong>: <strong>pesquisas</strong> teóricas e referenciais<br />

e quantitativos, cujos movimentos reais, substituídos na ca<strong>de</strong>ia casual, permitam<br />

observações e previsões” (CALDAS, p. 49).<br />

Para se proteger <strong>de</strong>ssa impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> previsão, a indústria da moda adotou a idéia<br />

<strong>de</strong> tendências como ditames auto-realizáveis a fim <strong>de</strong> diminuir os riscos <strong>de</strong><br />

investimentos ao longo da ca<strong>de</strong>ia produtiva têxtil.<br />

É claro que aqui se encontra o trabalho <strong>de</strong> levar o sujeito a sentir necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obter<br />

aquele objeto/produto e <strong>para</strong> que isto aconteça há uma soma <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s profissionais<br />

confluindo <strong>para</strong> este fim. Uma <strong>de</strong>las é conhecer melhor aquele se quer atingir e perceber<br />

não só o que ele <strong>de</strong>seja, mas o que po<strong>de</strong> vir a <strong>de</strong>sejar. Mais do que acreditar que basta<br />

uma campanha massiva <strong>de</strong> marketing <strong>para</strong> convencer o indivíduo cont<strong>em</strong>porâneo a<br />

adquirir os produtos por questões estéticas, sensoriais e funcionais; hoje, torna-se cada<br />

vez mais evi<strong>de</strong>nte que <strong>para</strong> além da imposição <strong>de</strong> gostos e mo<strong>de</strong>los, estamos diante <strong>de</strong><br />

uma maior varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ofertas e, portanto, um leque mais diversificado <strong>de</strong> escolhas.<br />

Não dá mais <strong>para</strong> pensar que estamos diante <strong>de</strong> um consumidor passivo ou<br />

simplesmente alienado, o que leva a uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer as subjetivida<strong>de</strong>s <strong>em</strong><br />

questão. Por isto, os estudos <strong>de</strong> comportamento <strong>de</strong> consumo inclu<strong>em</strong> profissionais das<br />

áreas sociais e humanas, que ao investigar<strong>em</strong> modos e modas, i<strong>de</strong>ntificam e analisam<br />

tendências comportamentais diversas.<br />

É preciso levar, mais do que nunca, tais análises <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração, pois a moda e o<br />

consumidor <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser pensados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> concepções mais abrangentes. Erner (2009,<br />

p. 219) expõe<br />

Espera-se <strong>de</strong>sses profissionais da moda que, por meio <strong>de</strong> suas escolhas,<br />

prevejam as roupas que a maioria <strong>de</strong>sejará usar alguns meses <strong>de</strong>pois.<br />

Contudo, essas sondagens estão longe <strong>de</strong> ser satisfatórias... As modas não<br />

obe<strong>de</strong>c<strong>em</strong> (ou não mais obe<strong>de</strong>c<strong>em</strong>) ao esqu<strong>em</strong>a simplista da difusão vertical<br />

dos gostos.<br />

A expressão tendência <strong>de</strong> moda vai surgir <strong>em</strong> 1949 juntamente com o termo prêt-àporter,<br />

oriundo <strong>de</strong> ready to wear, que v<strong>em</strong> da indústria <strong>de</strong> confecção americana. Esta<br />

por possuir uma imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> baixa qualida<strong>de</strong> <strong>em</strong> seus produtos e nenhuma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

marca, procurou referências <strong>de</strong> moda na Alta-Costura. O objetivo era o <strong>de</strong> continuar a<br />

produzir industrialmente roupas acessíveis a todos, <strong>em</strong> termos financeiros, mas com<br />

características <strong>de</strong> renovação e lançamento <strong>de</strong> coleções como apresentado nos <strong>de</strong>sfiles <strong>de</strong><br />

Paris (BRAGA, 2004). O conceito <strong>de</strong> prêt-à-porter quer colocar o estilo, a <strong>criação</strong> dos<br />

gran<strong>de</strong>s nomes da moda daquele momento, nas ruas <strong>para</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />

compradores. Essa indústria vai perceber a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> associar-se a profissionais<br />

especialistas: os estilistas industriais (assim <strong>de</strong>nominados naquela época) a fim <strong>de</strong><br />

oferecer um vestuário com qualida<strong>de</strong>, adicionando os conceitos <strong>de</strong> moda e novida<strong>de</strong> <strong>em</strong><br />

seus produtos. Ao contrário dos gran<strong>de</strong>s criadores <strong>de</strong> moda, esse profissional não assina<br />

suas criações, mas adapta o que foi proposto na Alta-Costura ao estilo da <strong>em</strong>presa <strong>para</strong> a<br />

qual trabalha.<br />

Até o final dos anos <strong>de</strong> 1950 o prêt-à-porter, seguiu, <strong>em</strong> termos formais, a lógica da alta<br />

costura. No início dos anos 1960, surgiram os primeiros escritórios <strong>de</strong> estilo, os birôs:<br />

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<strong>Processos</strong> <strong>projetuais</strong> <strong>para</strong> a <strong>criação</strong> <strong>em</strong> <strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>Moda</strong>: <strong>pesquisas</strong> teóricas e referenciais<br />

Foi criado <strong>em</strong> 1955, na França, o Comitê <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação das Indústrias <strong>de</strong><br />

<strong>Moda</strong> (CIM), cuja principal missão era fornecer aos diversos elos da ca<strong>de</strong>ia<br />

têxtil, das fiações à imprensa, indicações precisas e coerentes sobre as<br />

tendências. O CIM serviu <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>para</strong> os birôs <strong>de</strong> estilo, que durante as<br />

décadas <strong>de</strong> 1960 e 1970 exerceram um papel fundamental por meio dos<br />

“ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> tendências”, verda<strong>de</strong>iros guias contendo todas as informações<br />

<strong>para</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma coleção (CALDAS, 2004, p. 57).<br />

Surge então, nesse momento, com a organização dos birôs, o método <strong>de</strong> <strong>criação</strong> <strong>em</strong><br />

moda obe<strong>de</strong>cendo a critérios <strong>de</strong> industrialização <strong>de</strong> matérias primas. Este método t<strong>em</strong> a<br />

intenção <strong>de</strong> integrar o <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> moda <strong>de</strong> vestuário a toda a ca<strong>de</strong>ia produtiva: <strong>pesquisas</strong>,<br />

prazos, <strong>de</strong>finições e <strong>de</strong>cisões <strong>de</strong>v<strong>em</strong> seguir a ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma racionalização e<br />

produtivida<strong>de</strong> industrial a fim <strong>de</strong> se produzir, roupas <strong>em</strong> série padronizadamente. Um<br />

sist<strong>em</strong>a que <strong>em</strong> muito se parece com o <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> objetos: “a fabricação do vestuário<br />

<strong>de</strong> massa vai seguir <strong>em</strong> parte o mesmo caminho aberto, a partir dos anos 1930, pelo<br />

<strong>de</strong>senho industrial” (LIPOVETSKY, 1989, p. 110).<br />

A partir dos anos <strong>de</strong> 1980, as tendências não partiam mais <strong>de</strong> um único lugar, tampouco<br />

funcionavam igualmente <strong>para</strong> todo o mercado. No momento <strong>em</strong> que se começa a falar e<br />

estudar a pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, as fontes <strong>de</strong> informações tornaram-se diversas e múltiplas.<br />

CALDAS (2004, p. 59) <strong>de</strong>nomina essas fontes como vetores e organiza claramente um<br />

esqu<strong>em</strong>a <strong>para</strong> a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>stes. Nos anos 1980 a principal fonte era a chamada<br />

moda institucional, formada pelo pret-à-porter, seus criadores e as marcas. A Alta-<br />

Costura passou a ser vista como um laboratório experimental, s<strong>em</strong> compromisso com<br />

vendas. A indústria <strong>de</strong> corantes, fibras, fios e tecidos mais as chamadas capitais da<br />

moda (Paris como referência ao luxo, Milão ao chique e Londres da moda jov<strong>em</strong> e<br />

criativa, entrando <strong>para</strong> esse grupo as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Nova York e Tóquio), os salões<br />

profissionais e a mídia especializada <strong>em</strong> conjunto com o varejo, formam outras fontes<br />

vetoriais.<br />

Os movimentos jovens e <strong>de</strong> rua, uma nova elite social associadas a artistas e novosricos,<br />

i<strong>de</strong>ntificados como celebrida<strong>de</strong>s, e o próprio indivíduo - que se transformou numa<br />

fonte <strong>de</strong> observação à medida que passou a ter maior liberda<strong>de</strong> <strong>para</strong> apropriar-se da<br />

moda e personalizá-la – são outras fontes. Todas as informações e percepções<br />

originadas nessas fontes formam um conjunto <strong>de</strong> sinais que apontam tendências <strong>de</strong><br />

comportamento, <strong>de</strong> valores e <strong>de</strong> consumo.<br />

Atualmente acentua-se a importância do indivíduo como vetor <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />

tendências, curiosamente como no período anterior ao surgimento da Alta-Costura. O<br />

consumidor in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos ditames do mercado torna-se uma referência <strong>em</strong> si, à<br />

medida que cada um, <strong>em</strong> maior ou menor número, é estimulado a <strong>de</strong>senvolver <strong>em</strong> si um<br />

estilo pessoal, seja pela quantida<strong>de</strong> incontável <strong>de</strong> ofertas, pela influência da mídia e ou<br />

pela varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> propostas <strong>de</strong> estilos que coexist<strong>em</strong> s<strong>em</strong> conflito.<br />

Por outro lado, vale l<strong>em</strong>brar que cada indivíduo carrega <strong>em</strong> si tantos outros: o meio<br />

social, a cultura, o momento <strong>em</strong> que vive, incluindo sua constituição étnica, pois não dá<br />

<strong>para</strong> pensar tal sujeito isoladamente s<strong>em</strong> voltar <strong>para</strong> a questão <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> é e <strong>de</strong> on<strong>de</strong> veio,<br />

mesmo levando <strong>em</strong> conta o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se sentir único, e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, pertencer e<br />

ser reconhecido <strong>em</strong> um círculo social. Quando falamos <strong>em</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural <strong>de</strong> um<br />

sujeito ou grupo <strong>de</strong> indivíduos também apresentamos uma forma <strong>de</strong> pensar el<strong>em</strong>entos<br />

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<strong>Processos</strong> <strong>projetuais</strong> <strong>para</strong> a <strong>criação</strong> <strong>em</strong> <strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>Moda</strong>: <strong>pesquisas</strong> teóricas e referenciais<br />

constitutivos <strong>de</strong> nossa formação, que orienta <strong>para</strong> uma visão <strong>de</strong> mundo, percepção <strong>de</strong> si,<br />

das coisas e <strong>de</strong> outros; sugerindo motivos que levam a <strong>de</strong>terminadas escolhas, como<br />

processos íntimos, subjetivos que se objetivam <strong>em</strong> ações distintas. “Vazões” que pod<strong>em</strong><br />

orientar <strong>para</strong> uma ampliação <strong>de</strong> percepção do pesquisador <strong>para</strong> a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong><br />

tendências e do próprio sujeito na constituição <strong>de</strong> diferenciação <strong>de</strong>sejada. Tendência,<br />

neste caso, ao ser associada à vazão <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos i<strong>de</strong>ntitários constituintes do<br />

indivíduo, revela-se como processos complexos <strong>em</strong> um movimento <strong>de</strong> interiorização e<br />

externação constante, carregado <strong>de</strong> simbolização e pronto a ser <strong>de</strong>codificado. Contexto<br />

tão b<strong>em</strong> apropriado pela <strong>Moda</strong> e analisado por seus estudiosos.<br />

A língua inglesa t<strong>em</strong> uma expressão <strong>para</strong> essa força do indivíduo: trendsetter (o que<br />

aponta tendências) ou o que costumamos chamar <strong>de</strong> formadores <strong>de</strong> opinião. O que<br />

mudou atualmente <strong>em</strong> relação à influência individual, é que agora, sob a ótica do<br />

mercado, o hom<strong>em</strong> comum po<strong>de</strong> ter o mesmo peso das figuras pertencentes às elites do<br />

passado. A i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>sses trendsetters acontece num nível codificado, dificilmente<br />

compreensível <strong>para</strong> qu<strong>em</strong> não compartilhe do código utilizado. CALDAS (2004, p. 60)<br />

sustenta que só um trendsetter po<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar outro trendsetter.<br />

Porém a questão instigante é que: não seria tarefa fundamental do <strong>de</strong>signer observar e<br />

pesquisar essas fontes e ou vetores, <strong>para</strong> que sua <strong>criação</strong> <strong>de</strong> fato contenha a inovação<br />

esperada pelo processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign?<br />

SORGER E UDALE (2006) afirmam que o <strong>de</strong>signer <strong>de</strong> moda <strong>para</strong> o vestuário precisa<br />

conhecer seu assunto também, isto é, qu<strong>em</strong> faz e o que faz na moda atualmente. Mesmo<br />

sob o protesto <strong>de</strong> alguns, argumentando que não quer<strong>em</strong> que seu trabalho seja<br />

influenciado por nenhum outro <strong>de</strong>signer <strong>de</strong> moda, a orientação é clara: justamente <strong>para</strong><br />

que não se repita o que já foi feito, é necessário o conhecimento <strong>de</strong> tudo o que está<br />

sendo criado e produzido; qu<strong>em</strong> faz e o que faz. E apontam o mesmo que CALDAS<br />

(2004) quando o assunto é a moda: todas as fontes <strong>de</strong> informações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />

consultadas, constant<strong>em</strong>ente. Os conhecimentos necessários <strong>para</strong> uma correta leitura,<br />

i<strong>de</strong>ntificação e aplicação <strong>de</strong> tendências, passam por cruzamentos e interconexões <strong>de</strong><br />

informações, dados e imagens. A re<strong>de</strong> que se forma é crucial <strong>para</strong> que não se repitam<br />

fórmulas e proposições; <strong>para</strong> que se busque a inovação. E <strong>para</strong> tanto se precisa garantir<br />

a coleta <strong>de</strong> informações a partir <strong>de</strong> uma pesquisa séria e garantir análise <strong>para</strong> igualmente<br />

não se cair na superficialida<strong>de</strong> das questões levantadas.<br />

As tendências do mercado produtor<br />

O calendário sazonal da moda organiza os processos produtivos e, justamente<br />

por conta <strong>de</strong>les é que são estabelecidos. Cada setor produtivo possui seus próprios<br />

t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> produção dos produtos na confecção <strong>de</strong> uma peça, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> uma coleção<br />

inteira. Somam-se aos conhecimentos dos vetores <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> tendências, as<br />

outras provenientes do setor produtivo, e ambas se entrecruzam. Ao lançar novas fibras<br />

no mercado, a indústria <strong>de</strong>ste setor, também aponta tendências sejam elas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento tecnológico (tecidos “inteligentes”, por ex<strong>em</strong>plo) ou econômicocomportamentais<br />

(com a valorização das fibras naturais, que está no cerne das<br />

discussões sobre <strong>de</strong>senvolvimento sustentável).<br />

Não há como realizar essas <strong>pesquisas</strong> se não for adotada uma metodologia e um<br />

cronograma, e, conseqüent<strong>em</strong>ente, um projeto <strong>para</strong> sua realização. Porém, estas não são<br />

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<strong>Processos</strong> <strong>projetuais</strong> <strong>para</strong> a <strong>criação</strong> <strong>em</strong> <strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>Moda</strong>: <strong>pesquisas</strong> teóricas e referenciais<br />

padronizadas e únicas. Cada <strong>de</strong>signer, mediante sua realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>criação</strong> (<strong>de</strong>signer<br />

autoral ou <strong>de</strong>signer <strong>de</strong> marca) po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve estabelecer seu próprio método e projeto <strong>de</strong><br />

pesquisa que po<strong>de</strong> ser modificado a cada coleção.<br />

Conceitos<br />

As <strong>pesquisas</strong> <strong>para</strong> a <strong>de</strong>finição dos conceitos e ou t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> uma coleção,<br />

contribu<strong>em</strong> <strong>para</strong> que a <strong>criação</strong> não seja tratada como resultado <strong>de</strong> inspiração, mas como<br />

conseqüência do uso das ferramentas <strong>de</strong> investigação (SORGER E UDALE, 2006). A<br />

pesquisa autoral ou pesquisa conceitual são compostas por dois grupos <strong>de</strong> informações.<br />

Um <strong>de</strong>les, o das matérias-primas e suas opções <strong>de</strong> construção e <strong>de</strong> acabamento,<br />

conforme exposto anteriormente. O outro grupo é composto pelas <strong>pesquisas</strong> acerca <strong>de</strong><br />

um t<strong>em</strong>a ou conceito ou vários, agrupados e trabalhados <strong>em</strong> uma única coleção - a<br />

ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>finidos pelo próprio <strong>de</strong>signer. As fontes e os enfoques da pesquisa pod<strong>em</strong> ser<br />

os mais diversos, como a história, a geografia, a biologia, a produção cultural, as artes, a<br />

tecnologia, a literatura e etc.<br />

O <strong>de</strong>signer <strong>de</strong> moda Ronaldo Fraga, pesquisador confesso da produção artística e<br />

cultural brasileira, d<strong>em</strong>onstra como a construção <strong>de</strong>ssa pesquisa po<strong>de</strong> acontecer:<br />

(...) <strong>de</strong>scobri poesias e crônicas que eu não conhecia. E nessas poesias ele<br />

<strong>de</strong>ixava muito claro o registro da moda daquele momento. Pensei então que<br />

ninguém já havia feito uma seleção <strong>de</strong> Drummond pelo viés da moda. Há o<br />

Drummond amoroso, político, dono da palavra, que s<strong>em</strong>pre brincou e<br />

construiu como ninguém. Mas nunca se pensou <strong>em</strong> associar Drummond,<br />

olhar Drummond pelo olhar que ele s<strong>em</strong>pre teve sobre essa questão da moda.<br />

E houve também esse <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ilustrar Drummond, como po<strong>de</strong>ria ter sido<br />

Manual Ban<strong>de</strong>ira ou João Cabral <strong>de</strong> Mello Neto. São autores da nossa<br />

literatura que nos traz<strong>em</strong> um universo todo pronto. Um universo que já t<strong>em</strong><br />

forma, t<strong>em</strong> cheiro, t<strong>em</strong> textura, t<strong>em</strong> gosto (...) Eu acho que a moda é um<br />

documento ou um instrumento eficiente no que se refere a um difusor<br />

cultural. E é um lugar que eu gosto muito <strong>de</strong>la (FRAGA, 2006)<br />

Alguns <strong>de</strong>signers prefer<strong>em</strong> trabalhar com um t<strong>em</strong>a mais abstrato e subjetivo como o<br />

“isolamento”, por ex<strong>em</strong>plo. Outros buscam por t<strong>em</strong>as on<strong>de</strong> possam ser encontradas<br />

referências visuais (imagens) a fim <strong>de</strong> explorar as mesmas na <strong>criação</strong> da coleção.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da forma <strong>de</strong> abordar e pesquisar um t<strong>em</strong>a, a idéia romantizada <strong>para</strong><br />

inspiração (on<strong>de</strong> uma luz sobrenatural ou fenomenal gera conceitos), <strong>de</strong>ve ser repensada<br />

e até mesmo <strong>de</strong>scartada, pois esta só acontece a partir das <strong>pesquisas</strong>. São as <strong>pesquisas</strong>, e<br />

o que se obtém por meio <strong>de</strong>las, que darão sustentação referencial à inspiração.<br />

Dito <strong>de</strong> outra forma, o <strong>de</strong>signer <strong>de</strong> moda, ou qualquer outro criador, encontra diante <strong>de</strong><br />

si uma varieda<strong>de</strong> t<strong>em</strong>ática imensa e, por vezes, mundos pouco conhecidos, o que leva a<br />

uma busca por conhecimento, necessariamente. A<strong>de</strong>ntrar no universo da pesquisa é<br />

saltar <strong>para</strong> muitas possibilida<strong>de</strong>s com o objetivo <strong>de</strong> se fixar <strong>em</strong> uma só, mas com cautela<br />

e profundida<strong>de</strong> suficientes <strong>para</strong> encantar-se e re-encantar àqueles a qu<strong>em</strong> possa<br />

interessar o assunto e, mais especificamente, o produto <strong>de</strong> moda. Aliados à pesquisa<br />

t<strong>em</strong>ática, ao interesse do <strong>de</strong>signer e às ferramentas <strong>para</strong> dar materialida<strong>de</strong> ao projeto <strong>de</strong><br />

coleção, encontram-se os universos que se quer a<strong>de</strong>ntrar – o fornecedor, o criador, o<br />

produtor e o consumidor. Todos <strong>de</strong>pend<strong>em</strong> <strong>de</strong> um eixo comum – a pesquisa.<br />

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<strong>Processos</strong> <strong>projetuais</strong> <strong>para</strong> a <strong>criação</strong> <strong>em</strong> <strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>Moda</strong>: <strong>pesquisas</strong> teóricas e referenciais<br />

Cabe, portanto, ao <strong>de</strong>signer i<strong>de</strong>ntificar, levantar e <strong>de</strong>finir as fontes <strong>de</strong> <strong>pesquisas</strong> <strong>para</strong> a<br />

seleção do t<strong>em</strong>a da coleção. Para tanto, uma pesquisa preliminar com observação<br />

minuciosa do momento histórico, do material <strong>de</strong> pesquisa disponível <strong>para</strong> a ampliação<br />

do conhecimento sobre o assunto, as variáveis possíveis <strong>para</strong> tornar o t<strong>em</strong>a atraente,<br />

sólido <strong>em</strong> informação <strong>para</strong> transformá-lo <strong>em</strong> um conceito possível <strong>de</strong> lançar vôo <strong>para</strong><br />

um projeto, <strong>de</strong> fato, livre, criativo e inovador, é o que substancia qualquer projeto <strong>de</strong><br />

coleção <strong>de</strong> moda, neste sentido.<br />

Por se tratar <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> projetual, a <strong>criação</strong> e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma coleção<br />

<strong>de</strong> moda incorporam todas as múltiplas <strong>de</strong>finições dadas ao <strong>de</strong>sign e as assum<strong>em</strong><br />

integralmente. Conforme apresentado por MOURA (2003, p. 133):<br />

(...) o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign é plural, está relacionado ao ser e viver humanos, e<br />

assim à cultura, ao universo dos conhecimentos e <strong>de</strong> <strong>pesquisas</strong>, ao universo<br />

tecnológico e produtivo, a exploração e a instituição <strong>de</strong> uma linguag<strong>em</strong><br />

através dos el<strong>em</strong>entos e características existentes <strong>em</strong> um projeto conforme o<br />

campo a que este se <strong>de</strong>stina.<br />

A <strong>criação</strong> <strong>de</strong> uma coleção <strong>de</strong> moda <strong>de</strong>stinada ao vestuário é estabelecida através <strong>de</strong><br />

processos. Cada uma <strong>de</strong> suas etapas pressupõe metodologias <strong>projetuais</strong> específicas.<br />

Por meio da construção <strong>de</strong> um universo referencial que se alimenta das <strong>pesquisas</strong> <strong>de</strong><br />

mercado consumidor e produtor, <strong>de</strong> tendências e <strong>de</strong> investigações pessoais, o <strong>de</strong>signer<br />

reúne el<strong>em</strong>entos <strong>para</strong> criar idéias <strong>de</strong> roupas inseridas no sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> renovação que a<br />

moda propõe. Estas idéias são geradas pelos cruzamentos <strong>de</strong> todas as informações<br />

somadas às suas impressões pessoais, apresentando seus primeiros el<strong>em</strong>entos formais, e<br />

estes darão continuida<strong>de</strong> a todo o processo <strong>de</strong> <strong>criação</strong> e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produtos<br />

pertinentes ao <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> moda.<br />

E mais: visto que um dos valores do <strong>de</strong>sign centra-se <strong>em</strong> ações inovadoras (BONSIEPE,<br />

1997), o conhecimento dos processos produtivos b<strong>em</strong> como sua organização industrial é<br />

<strong>de</strong> relevante importância <strong>para</strong> a obtenção <strong>de</strong>stas.<br />

Atualmente o projeto <strong>de</strong> produto <strong>de</strong> moda mais interessante e <strong>de</strong>safiador é<br />

aquele que exige inovações <strong>de</strong> fato, isso significa criar diferenças entre esse<br />

produto e aquele dos concorrentes, promover diferenciações, já que a<br />

competição baseada somente nos preços torna-se cada vez mais difícil.<br />

(RECH, 2002, p. 98).<br />

De qualquer modo, vale ressaltar que <strong>de</strong> todos os aspectos levantados <strong>para</strong> a pesquisa<br />

que po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>s<strong>em</strong>bocar <strong>em</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>criação</strong> <strong>de</strong> moda realmente inovador e<br />

criativo, pressupõe conhecimento da matéria que substancia qualquer projeto <strong>em</strong> <strong>de</strong>sign<br />

– o humano, <strong>em</strong> suas variações e entrecruzamentos múltiplos.<br />

Notas<br />

i www.santamoda.com.br<br />

ii Entrevista realizada <strong>em</strong> outubro <strong>de</strong> 2007 <strong>para</strong> a compl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> material<br />

pedagógico utilizado no curso <strong>de</strong> Bacharelado <strong>em</strong> <strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>Moda</strong>, da Universida<strong>de</strong><br />

Anh<strong>em</strong>bi Morumbi.<br />

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<strong>Processos</strong> <strong>projetuais</strong> <strong>para</strong> a <strong>criação</strong> <strong>em</strong> <strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>Moda</strong>: <strong>pesquisas</strong> teóricas e referenciais<br />

iii Entrevista realizada <strong>em</strong> outubro <strong>de</strong> 2007 <strong>para</strong> a compl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> material<br />

pedagógico utilizado no curso <strong>de</strong> Bacharelado <strong>em</strong> <strong>Design</strong> <strong>de</strong> <strong>Moda</strong>, da Universida<strong>de</strong><br />

Anh<strong>em</strong>bi Morumbi.<br />

Referências<br />

BONSIEPE, GUI. <strong>Design</strong> do material ao digital. Florianópolis: FIESC/IEL, 1997.<br />

BRAGA, João Neto. História da moda: uma narrativa. São Paulo: Anh<strong>em</strong>bi Morumbi,<br />

2004.<br />

CALDAS, Dario. Observatório <strong>de</strong> Sinais. São Paulo: SENAC, 2004.<br />

CARR, Harold e PORMEROY, John. Fashion <strong>de</strong>sign and product <strong>de</strong>velopment.<br />

Londres- Blackwell Scientific Publications, 1992.<br />

ERNER, Guillaume. “Vida e morte das tendências” In Cultura e consumo: estilos <strong>de</strong><br />

vida na cont<strong>em</strong>poraneida<strong>de</strong>. BUENO, Maria Lucia, CAMARGO, Luiz Octávio <strong>de</strong> Lima<br />

(organizadores). São Paulo: SENAC, 2008.<br />

FRAGA, Ronaldo. Entrevista concedida <strong>para</strong> o site Santa <strong>Moda</strong>. Santa Catarina, 2006.<br />

Disponível <strong>em</strong> www.santamoda.com.br. Acesso <strong>em</strong> 13 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2007.<br />

HOUAISS, Antonio e VILLAR, Mauro <strong>de</strong> Salles. Dicionário Houaiss da Língua<br />

Portuguesa. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Objetiva, 2001.<br />

LIPOVETSKY, Giles. O Império do efêmero: a moda e seu <strong>de</strong>stino nas socieda<strong>de</strong>s<br />

mo<strong>de</strong>rnas. São Paulo: Cia. Das Letras, 1989.<br />

MOURA, Mônica. O <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> hipermídia. Tese (Doutorado <strong>em</strong> Comunicação e<br />

S<strong>em</strong>iótica) – Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo, 2003.<br />

QUEIROZ, Mario. MARINHO, Cláudia, PRECIOSA Rosane (Org). Entrevista gravada<br />

<strong>em</strong> ví<strong>de</strong>o. São Paulo, Universida<strong>de</strong> Anh<strong>em</strong>bi Morumbi, no prelo.<br />

RECH, Sandra. <strong>Moda</strong>: por um fio <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>. Florianópolis: Editora da UDESC,<br />

2002.<br />

SANT’ANNA, Mara Rúbia. Teoria da moda: socieda<strong>de</strong>, imag<strong>em</strong> e consumo. São<br />

Paulo, Estação das Letras, 2007.<br />

SORGER, Richard, UDALE Udale. The fundamentals of fashion <strong>de</strong>sign. Lausane,<br />

AVA Publishing SA, 2006.<br />

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