05.08.2013 Views

Artigo Completo

Artigo Completo

Artigo Completo

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Esquemas gráficos para informar: a Linguagem Gráfica<br />

Esquemática na produção e utilização de livros<br />

didáticos infantis na cidade do Recife<br />

Graphical schemes to inform: Schematic Graphic Language on the production and<br />

use of textbooks for children in Recife<br />

Silva, José Fábio Luna; Mestre; Universidade Federal de Pernambuco<br />

fabiolunaarte@yahoo.com.br<br />

Coutinho, Solange Galvão; PhD; Universidade Federal de Pernambuco<br />

solangecoutinho@globo.com<br />

Resumo<br />

Esquemas gráficos do cotidiano representam uma poderosa ferramenta que pode ser<br />

incorporada à cultura visual da escola por meio dos artefatos educacionais. Este artigo<br />

apresenta um estudo sobre o uso da Linguagem Gráfica Esquemática (LGE) em livros<br />

didáticos infantis, apresentando três pesquisas subsequentes, que objetivam: 1) identificar<br />

esquemas, disciplinas e ano de escolaridade mais representativos; 2) analisar<br />

comparativamente esquemas mais e menos eficazes; e 3) verificar o grau de familiaridade dos<br />

profissionais originadores e consumidores desses artefatos com a LGE. Os resultados<br />

apontam timidez no uso de esquemas nesses artefatos e necessidade de maior integração entre<br />

professor, autor e designer.<br />

Palavras Chave: design; linguagem gráfica; livro didático.<br />

Abstract<br />

Schemes of the daily charts are a powerful tool that can be incorporated into the visual<br />

culture of the school by means of educational artifacts. This article presents a study on the<br />

use of Schematic Graphic Language (SGL) in books for children, with three subsequent<br />

research, which aim to: 1) identify schemes, disciplines and years of schooling more<br />

representative, 2) comparative analysis schemes more effective and less and 3) determine the<br />

degree of familiarity of professional originators and consumers of these artifacts with SGL.<br />

The results show timidity in the use of schemes such artifacts and the need for greater<br />

integration between teacher, author and designer.<br />

Keywords: design; graphic language; textbook.


Esquemas gráficos para informar: a Linguagem Gráfica Esquemática na produção e utilização de livros<br />

didáticos infantis na cidade do Recife<br />

Introdução<br />

A convivência diária com a linguagem gráfica é sentida através do bombardeio dos<br />

meios de comunicação impresso e digital, suporte das mudanças tecnológicas. Para uma<br />

maior capacidade receptiva, o indivíduo precisa estar apto a decodificar, interagir e<br />

reprocessar tais informações, ou seja, adquirir conhecimentos acerca da linguagem gráfica<br />

para uma produção imagética dinâmica e eficiente dentro de um sistema informacional.<br />

Horn (1998) argumenta que a linguagem visual, como em outras formas de linguagem,<br />

deve ter caráter comunitário para possibilitar a interpretação dos mesmos sinais da mesma<br />

forma pelos usuários. Essa afirmativa só vem acrescentar a necessidade em se interagir as<br />

áreas do design e da educação, já que o ambiente escolar encontrar-se imerso em informações<br />

visuais que, por diversas vezes, não são planejadas graficamente e, conseqüentemente, mal<br />

decodificadas pelos alunos.<br />

Neste sentido, a otimização da cultura visual na escola, por meio de investigações que<br />

abordem estudos no campo do design da informação, também pode ser encarada como<br />

compromisso social com a educação brasileira, beneficiando de forma significativa à<br />

qualidade do ensino no país através da identificação dos problemas e da busca de soluções<br />

nos sistemas informacionais dos artefatos educacionais.<br />

Sendo assim, este trabalho tem como objetivo geral fazer um estudo sobre o uso da<br />

Linguagem Gráfica Esquemática em livros didáticos do Ensino Fundamental com foco na<br />

configuração visual do conteúdo informacional e nos profissionais envolvidos na sua<br />

produção e utilização em sala de aula.<br />

Comunicação e Linguagem Visual<br />

A comunicação entre indivíduos só é efetiva quando estes estão inseridos num sistema<br />

de significados comuns, denominado de veículo ou linguagem. Este veículo pode promover a<br />

comunicação a partir de elementos escritos, visuais, sonoros e gestuais, estabelecendo<br />

vínculos de tempo e espaço.<br />

Como em outros processos de comunicação, na linguagem visual o seu esquema básico é<br />

composto por um remetente e um destinatário que, para transmitir uma mensagem, muitas<br />

vezes distorcida por ruídos, se utilizam de um canal. Este tem uma relação imediata com a<br />

eficácia na compreensão da informação, já que a captação da mensagem pelo destinatário está<br />

diretamente relacionada com a intersecção entre os repertórios do emissor e do destinatário<br />

(Coelho, 1985).<br />

Desse ponto é possível afirmar que, para o homem contemporâneo, o sentido da visão<br />

está sendo cada vez mais requisitado em virtude do avanço tecnológico e da velocidade da<br />

informação. Tal qual a linguagem verbal, é preciso tornar a visual um dos meios de<br />

comunicação que constitua um conjunto de normas, códigos e preceitos para se alcançar o<br />

‘alfabetismo visual’ defendido por Dondis (1999).<br />

Modos de simbolização da Linguagem Gráfica (LG)<br />

O modelo proposto por Twyman (1979) divide a linguagem em dois canais: auditivo e<br />

visual. A estrutura da linguagem visual é representada no diagrama da Figura 1, onde se<br />

observa a sua decomposição em gráfica e não-gráfica. A Linguagem Visual Gráfica é dividida<br />

em Verbal, Pictórica e Esquemática.<br />

9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design


Esquemas gráficos para informar: a Linguagem Gráfica Esquemática na produção e utilização de livros<br />

didáticos infantis na cidade do Recife<br />

Figura 1: Esquema de classificação da linguagem (TWYMAN, 1979).<br />

A Linguagem Gráfica Verbal (LGV) é aquela que utiliza palavras (alfabética) e números<br />

(algorítmica) como meios de simbolização, podendo ser ainda dividida em feito à mão<br />

(escrita) ou feito à máquina (impresso, videotexto). Existem várias formas de configurar ou<br />

combinar este tipo de linguagem, através de seus elementos intrínsecos (tipografia, corpo, uso<br />

de Caixa Alta, etc.) e extrínsecos (espaçamento entre linhas, recuo, alinhamento da coluna,<br />

etc.).<br />

No âmbito da Linguagem Visual Pictórica (LGP) encontramos várias formas de imagens<br />

por meio de suas técnicas de representação: fotografia, desenho, pintura, gravura, colagem,<br />

manipulação de softwares gráficos, entre outras. Twyman (1985) conceitua a imagem como<br />

representação figurativa de alguma coisa, a qual carrega propriedades icônicas do que é<br />

representado, sendo produzidas manual ou mecanicamente e associadas à aparência de coisas<br />

reais ou imaginárias.<br />

Entendendo a Linguagem Gráfica Esquemática (LGE)<br />

A linguagem gráfica é considerada esquemática quando utiliza elementos visuais nãoverbais<br />

ou não-pictóricos como meio de simbolização e, de acordo com Coutinho (2002), para<br />

comunicar uma mensagem, geralmente é empregada simultaneamente com a LGV ou LGP,<br />

por meio de exemplos como: mapas, tabelas, diagramas, infográficos, quadrinhos, entre<br />

outros.<br />

No caminho para o desenvolvimento da LGE está a Semiologia Gráfica, campo que<br />

estuda os sistemas não-verbais com a finalidade de suplementar a comunicação verbal e/ou<br />

exercê-la de modo independente. O conceito semiológico fundamental é o signo, que<br />

geralmente representa um objeto material de investimento semântico, o significado. Enquanto<br />

que na imagem figurativa tentamos identificar coisas, num esquema gráfico essas coisas já<br />

são indiscutivelmente definidas e admitidas como tais, ou seja, o signo na linguagem<br />

esquemática é monossêmico 1 . Segundo Bertin (1988), para que essas relações apareçam é<br />

preciso que a transcrição gráfica conserve as propriedades atribuídas a essas coisas. Se, por<br />

exemplo, considera-se o tempo como ordenado, uma transcrição desordenada torna-se inútil.<br />

Portanto, a transcrição gráfica não é livre já que não pode transgredir as propriedades naturais<br />

das variáveis visuais.<br />

Categorias da LGE para livros didáticos infantis<br />

Categorizar a LGE não é tarefa fácil, pois, para alguns pesquisadores, existe muita<br />

ambigüidade em classificar uma mensagem gráfica no modo esquemático, pictórico ou<br />

verbal/numérico. Isso porque em muitos documentos gráficos, são utilizadas,<br />

simultaneamente, essas três maneiras de simbolização combinadas entre si.<br />

Não temos a pretensão de, no presente trabalho, propor tais categorias, mas acreditamos<br />

que elas podem ser convencionadas ou adotadas a partir do objeto de análise e de suas<br />

características gráficas mais representativas. Com este olhar, adotaremos a classificação da<br />

9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design


Esquemas gráficos para informar: a Linguagem Gráfica Esquemática na produção e utilização de livros<br />

didáticos infantis na cidade do Recife<br />

LGE trabalhada por Coutinho & Silva 2 (2007) para análise gráfica de livros didáticos infantis.<br />

Tal classificação apresenta as seguintes categorias:<br />

Diagrama<br />

O diagrama geralmente é considerado como uma representação gráfica de um<br />

determinado fenômeno, sistema ou organização, utilizando elementos e formas básicas para<br />

configurar a mensagem. Horn (1998) divide os diagramas em: a) De conjunto: utilizado para<br />

nomear objetos ou partes destes, descrever funções, indicar localização, etc; b) De estrutura/<br />

organização: representa esquematicamente a divisão de elementos em subcategorias<br />

(diagrama-árvore); c) De atividades/eventos/passos: representação esquemática de seqüência<br />

de passos de uma tarefa; d) De fluxo de sistema: representação esquemática dos componentes<br />

de um sistema e seu fluxo (Figura 2).<br />

Figura 2: Diagrama de fluxo de sistema. Gestão documental de arquivos.<br />

Tabela<br />

Twyman (apud Lima, 1994:7) defende que a tabela é caracterizada pela organização das<br />

informações em linhas e colunas, formando células e fazendo com que a leitura seja realizada<br />

no acompanhamento dos eixos vertical e horizontal, ao contrário do texto. Geralmente,<br />

combinam palavras e números, podendo apresentar mais textos ou mais números, e, em<br />

alguns casos, ilustrações nos cabeçalhos das linhas ou colunas.<br />

Figura 3: Tabela com elementos pictóricos relacionado aos dados verbais e numéricos.<br />

Mapa<br />

Francischett & Marchesan (2003:2) afirmam que o mapa oferece possibilidades de<br />

compreensão das dimensões significativas do espaço geográfico representado, favorecendo o<br />

9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design


Esquemas gráficos para informar: a Linguagem Gráfica Esquemática na produção e utilização de livros<br />

didáticos infantis na cidade do Recife<br />

desenvolvimento cognitivo do aluno através do reconhecimento dos símbolos e configurações<br />

características desse tipo de representação. Os autores defendem que:<br />

[...] o mapa é uma representação cartográfica do espaço, um recurso didático<br />

mediático entre a realidade e o leitor da realidade espacial, neste caso, o aluno. O<br />

mapa reproduz um sistema de signos que expressam valores sociais, culturais e<br />

históricos. (Francischett & Marchesan, 2003, p. 2)<br />

Figura 4: Mapa de atividade econômica do Brasil.<br />

Infográfico<br />

Muitas vezes utilizado como infografia, o termo infográfico segue diferentes vertentes e<br />

possui diversas definições. Para Peltzer (1992:130), os infográficos se qualificam como<br />

“expressões gráficas, mais ou menos complexas, de informações cujos conteúdos são fatos ou<br />

acontecimentos, de explicação de como algo funciona ou, ainda, de como é uma coisa”.<br />

Os infográficos tem a característica de permitir a entrada de informações detalhadas que<br />

não cabem ou não são convenientes no texto. Eles estão dentro de um sistema híbrido de<br />

comunicação, pois misturam palavras, números e imagens, com a utilização simultânea da<br />

linguagem verbal e visual (RAJAMANICKAN, 2005). Além de auxiliar na compreensão de<br />

um conteúdo baseado em texto, essa combinação de linguagens também permite apresentar<br />

informações sem ambigüidades (MORAES, 1998).<br />

Englobando esses conceitos, entendemos o infográfico como um recurso de narrativa<br />

visual, que consiste na utilização ou combinação de elementos pictóricos e verbais,<br />

potencializando e facilitando a compreensão de conteúdo baseado em texto, seja ele<br />

descritivo, procedimental, quantitativo ou factual.<br />

Para efeito de nossa pesquisa, adotaremos as classificações de Moraes (1998) e<br />

Rajamanickan (2008), que categorizam os infográficos a partir do tipo de informação<br />

utilizada.<br />

Classificação de Moraes (1998): a) Descritivos: descreve fatos a partir de desenhos ou<br />

imagens detalhadas; b) Explicativos: explicam a relação causa-efeito em determinado<br />

acontecimento, funcionamento de um equipamento ou objeto; c) Investigativos (Figura 5):<br />

representam um trabalho de investigação e tem a finalidade de levantar e relacionar os passos<br />

de uma ação; d) De apresentação: representam eventos de grande repercussão programados<br />

com antecedência; e) De informações quantitativas: transformam a informação numérica em<br />

visual; f) De reconstituição: representam uma ação passada, descrevendo-a; g) De fatos:<br />

elaborados a partir do material fornecido por repórteres ou por pesquisa própria.<br />

9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design


Esquemas gráficos para informar: a Linguagem Gráfica Esquemática na produção e utilização de livros<br />

didáticos infantis na cidade do Recife<br />

Figura 5: Infográfico Investigativo. Crise na embaixada brasileira.<br />

Classificação de Rajamanickam (2008): a) Espacial: descreve posições relativas e<br />

relacionamentos espaciais num local físico ou conceitual; b) Cronológico (Figura 6):<br />

apresenta posições seqüenciais e relacionamentos de causa numa linha de tempo; e c)<br />

Quantitativo: expõe dados de escala, proporção, mudança e organização das quantidades no<br />

espaço, tempo, ou em ambos.<br />

Figura 6: Infográfico do tipo linha do tempo.<br />

Metodologia e análise dos dados<br />

Esta pesquisa busca trabalhar a problemática da cultura visual no artefato educacional —<br />

especificamente a LGE no livro didático — por meio de uma abordagem qualitativa e<br />

descritiva, que pretendeu explorar, indicar e analisar as informações de um pequeno grupo de<br />

elementos envolvidos e disponíveis. Silvio Luiz de Oliveira (2004) afirma que o ponto<br />

determinante para seguir uma metodologia de conotação quantitativa ou qualitativa é a<br />

maneira ou o enfoque com que se pretende analisar um determinado problema ou fenômeno.<br />

(Oliveira, 2004, p. 116)<br />

O número reduzido de livros didáticos e de profissionais envolvidos nos permitiu uma<br />

atenção mais profunda das particularidades dessas coleções editoriais, do ponto de vista do<br />

design, bem como das opiniões e repostas geradas dos autores e professores que utilizam em<br />

sala de aula esses artefatos.<br />

Para atender as expectativas do objetivo geral, esta pesquisa abrangeu três etapas<br />

distintas, seqüenciais e complementares entre si: 1) Pesquisa exploratória; 2) Pesquisa<br />

analítica; e 3) Pesquisa experimental.<br />

9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design


Esquemas gráficos para informar: a Linguagem Gráfica Esquemática na produção e utilização de livros<br />

didáticos infantis na cidade do Recife<br />

Etapa 1: Pesquisa exploratória<br />

A pesquisa exploratória foi realizada no período de 03 a 15 de maio de 2008, com visitas<br />

em escolas e editoras, objetivando reunir material para análise. O critério adotado foi trabalhar<br />

com livros de uma mesma coleção entre o 2º e o 5º ano do Ensino Fundamental.<br />

O modelo de análise desta etapa (Figura 7) foi baseado no esquema proposto por<br />

Twyman (1979) com o objetivo de: a) verificar o nível de ocorrência da LGE em relação aos<br />

modos verbal e pictórico nesses livros; b) identificar as duas disciplinas nas quais os<br />

esquemas são mais utilizados; c) Identificar o ano de escolaridade de maior incidência da<br />

LGE.<br />

Figura 7: Instrumento de coleta de dados da Pesquisa Exploratória (baseado em Twyman, 1979).<br />

Também baseado na pesquisa de Coutinho & Silva (2007), o instrumento de coleta de<br />

dados apresenta subdivisões, para os três principais modos de simbolização da Linguagem<br />

Gráfica, indicados por Twyman (1979): a) VERBAL: palavras e números; b) PICTÓRICO:<br />

fotografia, desenho, pintura, gravura, recorte, outro (figuras geométricas); e c)<br />

ESQUEMÁTICO: diagrama, tabela, mapa, infográfico, quadrinho, outro (cruzadinhas, caçapalavras).<br />

Para o cruzamento das informações, nas células do eixo vertical estão as disciplinas<br />

do Ensino Fundamental: Língua portuguesa, Matemática, História, Geografia e Ciências.<br />

Foram apreciadas um total de 3.664 páginas para a verificação das ocorrências.<br />

Discussão dos resultados<br />

Para a obtenção dos dados, foram quantificadas todas as incidências das categorias dos<br />

três modos de simbolização (Ver Tabela 1) das páginas analisadas.<br />

Tabela 1<br />

ANO DISCIPLINA<br />

Modos de simbolização (páginas)<br />

VERBAL PICTÓRICO ESQUEMÁTICO<br />

Língua Portuguesa 220 223 46<br />

2º<br />

Matemática<br />

História<br />

646<br />

141<br />

362<br />

59<br />

102<br />

24<br />

Geografia 129 23 38<br />

Ciências 189 144 8<br />

SUB TOTAL 1 1325 1021 218<br />

3º Língua Portuguesa 244 140 59<br />

Matemática 402 126 52<br />

9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design


Esquemas gráficos para informar: a Linguagem Gráfica Esquemática na produção e utilização de livros<br />

didáticos infantis na cidade do Recife<br />

4º<br />

5º<br />

História 96 86 33<br />

Geografia 103 78 37<br />

Ciências 209 152 54<br />

SUBTOTAL 2 1054 582 235<br />

Língua Portuguesa 277 111 62<br />

Matemática 436 238 159<br />

História 143 62 19<br />

Geografia 125 60 22<br />

Ciências 328 177 54<br />

SUBTOTAL 3 1309 648 316<br />

Língua Portuguesa 257 217 58<br />

Matemática 440 199 128<br />

História 173 192 35<br />

Geografia 154 111 52<br />

Ciências 154 141 29<br />

SUBTOTAL 4 1178 823 302<br />

TOTAL GERAL 4866 3074 1071<br />

Visualizando os dados resultantes, percebe-se que o nível de incidência da LGE foi bem<br />

menor se comparado com a Verbal ou a Pictórica. Ficou evidente que o ano de escolaridade<br />

que mais apresentou esquematizações foi o 4º (antiga 3ª série), com 316 modos de<br />

simbolização esquemáticos.<br />

Nº de incidência de infográficos por ano<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

2º ANO<br />

PORTUGUÊS<br />

MATEMÁTICA<br />

9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design<br />

18<br />

1<br />

0<br />

5<br />

15<br />

2<br />

22<br />

11<br />

5<br />

2<br />

0 0<br />

HISTÓRIA<br />

4 6<br />

3<br />

1<br />

GEOGRAFIA<br />

0<br />

12<br />

34<br />

5<br />

CIÊNCIAS<br />

3º ANO 4º ANO 5º ANO<br />

Figura 8: Resultado da incidência dos infográficos nos livros das disciplinas do 2º ao 5º ano.<br />

Em relação à incidência de infográficos nos livros analisados, os resultados revelam que<br />

o total alcançado no somatório dos livros de Matemática e Ciências do 4º ano é maior que em<br />

todos os outros anos e nas demais disciplinas. Foram contabilizados 22 infográficos na<br />

disciplina de Matemática e 34 infográficos na disciplina de Ciências (Figura 8).<br />

Etapa 2: Pesquisa analítica<br />

Tomando como base os dados da Pesquisa exploratória, foi iniciada uma nova pesquisa<br />

de campo para coleta dos livros adotados em três escolas do Recife no ano letivo de 2008.<br />

Foram analisados todos os infográficos presentes nos livros de Matemática e Ciências do 4º<br />

ano, num total de 42 para Matemática e 45 para Ciências.


Esquemas gráficos para informar: a Linguagem Gráfica Esquemática na produção e utilização de livros<br />

didáticos infantis na cidade do Recife<br />

O instrumento de análise utilizado para a segunda fase (Figura 9) foi o modelo das<br />

Variáveis de Apresentação Gráfica de Paul Mijksenaar (1997). As Variáveis analisadas foram<br />

as seguintes: a) Diferenciadoras: diferem ou classificam-se de acordo com o tipo ou categoria<br />

gráfica (cor, ilustração, coluna, fonte tipográfica); b) Hierárquicas: classificam-se de acordo<br />

com a importância (posição seqüencial, posição na página, tamanho e peso do tipo etc.); c) De<br />

suporte: são aquelas que imprimem ênfase em um documento (cor, sombreamento, linhas e<br />

boxes, símbolos, logos, vinhetas e atributos do texto).<br />

Figura 9: Modelo das Variáveis de Apresentação Gráfica de Documentos proposta por Mijksenaar (1997).<br />

O modelo de Mijksenaar (1997) faz uma análise geral do documento gráfico,<br />

identificando possíveis problemas na sua estrutura. Na análise dos infográficos retirados dos<br />

livros didáticos das três escolas, procuramos identificar essas relações gráficas, eficientes ou<br />

não, fazendo, assim, uma análise comparativa dos infográficos mais ou menos eficazes a<br />

partir dos pontos positivos e negativos. O objetivo foi colher material para utilização na<br />

pesquisa experimental, enfatizando a análise dos esquemas gráficos pelo método comparativo.<br />

Discussão dos resultados<br />

Todas as incidências dos três grupos de variáveis gráficas foram contabilizadas e<br />

dispostas de maneira que podemos obter as seguintes informações:<br />

a) Nos livros de Matemática, o posicionamento dos esquemas é privilegiado<br />

hierarquicamente e, muitas vezes, ocupa mais da metade da página. Já nos livros de Ciências,<br />

essa disposição na página acontece de modo mais discreto ou secundário (Figura 10).<br />

Figura 10: Posição do esquema na página. Matemática (esquerdo) e Ciências (direito).<br />

9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design


Esquemas gráficos para informar: a Linguagem Gráfica Esquemática na produção e utilização de livros<br />

didáticos infantis na cidade do Recife<br />

b) Grande parte dos esquemas encontrados não utilizava separação em colunas,<br />

principalmente nos infográficos de Ciências, com 82,2% do total (37 unidades). A pesquisa<br />

exploratória mostrou que os infográficos desta disciplina são sequenciais (Figura 11). Neste<br />

sentido, Spinillo (2002) recomenda o uso “elementos visuais para separar as ilustrações de<br />

forma consistente, evitando ambigüidades e falta de uniformidade visual”. (Spinillo, 2002, p.<br />

43).<br />

c) A disciplina que mais apresentou diferenciação pela cor em seus esquemas gráficos<br />

foi Matemática (Figura 12), pois 41 dos 42 infográficos analisados foram impressos em<br />

policromia, demonstrando a importância da variedade de cores nos esquemas quantitativos<br />

(barra, pizza, linha).<br />

Os dados obtidos nessa análise forneceram subsídios materiais imprescindíveis à<br />

próxima etapa. Por intermédio do modelo de análise adotado, foi possível identificar os<br />

elementos e as características gráficas utilizadas na composição dos infográficos das<br />

disciplinas de Matemática e Ciências e, como conseqüência, os mais ou menos eficazes.<br />

Figura 11: esquemas com (topo) e sem (acima) elementos de separação visual.<br />

VARIÁVEIS DIFERENCIADORAS | 4º ANO | MATEMÁTICA<br />

Cor<br />

Ilustração<br />

Coluna<br />

Tipo<br />

( )<br />

typeface<br />

1<br />

5 10 15 20 25 30 35 40<br />

PRESENTE AUSENTE<br />

9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design<br />

14<br />

17<br />

Figura 12: Resultado da incidência de variáveis diferenciadoras nos infográficos dos livros de Matemática.<br />

Etapa 3: Pesquisa experimental<br />

Esta etapa da pesquisa utilizou a técnica do Grupo Focal, que, como nas duas fases<br />

anteriores, busca coletar os dados através de uma abordagem qualitativa. Essa técnica vem<br />

22<br />

20<br />

25<br />

28<br />

41


Esquemas gráficos para informar: a Linguagem Gráfica Esquemática na produção e utilização de livros<br />

didáticos infantis na cidade do Recife<br />

sendo utilizada desde os anos 50 em pesquisas mercadológicas da área do marketing e, a<br />

partir dos anos 80, passa a ser utilizada por outras áreas do conhecimento, como a sociologia e<br />

a antropologia.<br />

O encontro do Grupo Focal foi realizado no dia 02 de dezembro de 2009, das 19h25’ e<br />

21h22’, nas dependências da Escola Municipal da Iputinga (Recife, PE) e contou com os<br />

participantes discriminados na Tabela 2.<br />

Tabela 2<br />

CONVENÇÃO FUNÇÃO INTEGRANTE<br />

P Moderador Pesquisador<br />

PA Participante A Autor de livro didático nº 1<br />

PB Participante B Autor de livro didático nº 2<br />

PC Participante C Professor usuário de livro didático nº 1<br />

PD Participante D Professor usuário de livro didático nº 2<br />

PE Participante E Designer de livro didático nº 1<br />

PF Participante F Designer de livro didático nº 2<br />

Para dinamizar a discussão em torno do nosso objeto de estudo foram elaboradas três<br />

tarefas, que possibilitaram a aquisição das informações almejadas, que puderam ser<br />

alcançadas pelo discurso dos participantes ou produção dos esquemas gráficos feitos por eles.<br />

As tarefas 1 e 2 consistiram na construção de dois esquemas gráficos e foram elaboradas<br />

a partir de dois parágrafos de texto verbal, que envolveu apenas palavras e números. Cada<br />

parágrafo correspondia a um determinado conteúdo das disciplinas de Matemática e Ciências<br />

com o objetivo de obter um esquema quantitativo (Tarefa 1) e um explicativo (Tarefa 2).<br />

Figura 13: Esquemas elaborados pelos participantes D, A e F para a Tarefa 1.<br />

O esquema elaborado pela Participante D (professora) para representar o texto da Tarefa<br />

1 indicou dificuldade em identificar o tipo de gráfico adequado às informações apresentadas.<br />

A semelhança entre os esquemas das participantes A (autora 1) e F (designer 2), incluindo a<br />

apresentação de título, legenda, fonte e uso da cor em função dos valores (Figura 13), é<br />

refletida também pelo nível de proximidade com a LGE apresentado por designer e autor de<br />

livro didático infantil.<br />

Na Tarefa 2, a dificuldade de representar conceitos abstratos foi um ponto levantado<br />

pelos designers. Em seus discursos, foi evidenciada a importância do texto como suporte para<br />

solucionar esse problema, refletindo uma proximidade maior com conceitos e teorias<br />

relacionadas à LGE. As esquematizações produzidas revelaram uma variedade maior nos<br />

elementos mais ou menos esquemáticos. Isso pode ser comprovado pela representação dos<br />

participantes A (autora 1), C (professora 1) e E (designer 1), que utilizaram mais elementos<br />

verbais, pictóricos e esquemáticos, respectivamente (Figura 14).<br />

9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design


Esquemas gráficos para informar: a Linguagem Gráfica Esquemática na produção e utilização de livros<br />

didáticos infantis na cidade do Recife<br />

Figura 14: Esquemas elaborados pelos participantes A, C e E para a Tarefa 2.<br />

A Tarefa 3 consistiu na análise comparativa de infográficos encontrados na pesquisa<br />

analítica. Estes foram selecionados de acordo com a semelhança quanto à tipologia (Figura<br />

15). Aspectos contemplados na discussão: o uso de elementos pictóricos nas legendas de<br />

infográficos quantitativos; características do gráfico de barras; utilização de cor como<br />

elemento de atração e separação de etapas em infográficos explicativos.<br />

Figura 15: Infográficos selecionados para a Tarefa 3.<br />

Os infográficos escolhidos pelos participantes foram os de número 2 (cinco votos), 4<br />

(cinco votos) e 5 (cinco votos). Os autores e professores defenderam um maior uso de<br />

esquematizações auxiliadas por ilustrações, já que os elementos pictóricos presentes no<br />

infográfico de número 2 apresentam objetos do cotidiano da criança, além de remeter a outras<br />

abordagens temáticas e proporcionar uma maior independência em relação ao texto.<br />

Mesmo reconhecendo uma maior aproximação com o universo lúdico da criança no<br />

esquema 3, os professores e autores justificam a escolha pelo infográfico 4 ao apontar um dos<br />

erros do primeiro, referente à relação conteúdo-forma: “Com o gráfico de barras você trabalha<br />

a questão da comparação...” e neste caso “perdeu o sentido... não tem muita necessidade de<br />

comparação” (PA_248). Outro ponto negativo no infográfico 4 seria a irregularidade<br />

numérica, pois de acordo com os educadores, dificulta o raciocínio matemático. O trabalho<br />

com metros seria um erro “porque ele ainda não tem essa idéia de metros” (PC_233).<br />

O infográfico 5 foi escolhido pela maioria por apresentar uma sequência mais clara (“é<br />

bem mais simples” PC_261) e uma maior proximidade com o dia a dia da criança, já que ela<br />

“pode pegar recursos concretos, o copo, água... Vai ser muito mais atrativo para ela”<br />

(PC_261).<br />

Visualizando os resultados do experimento, consideramos que os argumentos dos<br />

professores e autores de livros didáticos foram mais consistentes que os dos designers,<br />

relacionando as respostas com as experiências em sala de aula e com as especificidades de<br />

conteúdos das disciplinas envolvidas.<br />

9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design


Esquemas gráficos para informar: a Linguagem Gráfica Esquemática na produção e utilização de livros<br />

didáticos infantis na cidade do Recife<br />

Considerações finais<br />

A presente pesquisa tornou possível comprovar que o livro didático, enquanto artefato<br />

educacional inserido no contexto histórico e social brasileiro, precisa apresentar elementos da<br />

cultura visual que trabalhem diretamente com a Linguagem Gráfica Esquemática (LGE),<br />

como é o caso de diagramas, tabelas, mapas e infográficos. Porém, dentre os livros coletados<br />

para análise, o maior percentual de esquemas gráficos, presentes nos livros de Matemática e<br />

Ciências do 4º ano, ainda é muito baixo (13,9%) se comparado com a Linguagem Gráfica<br />

Verbal (57,58%) e Pictórica (28,50%).<br />

Tanto a análise gráfica dos infográficos, presentes em livros de escolas do Recife, como<br />

o experimento com os profissionais de educação e design apresentaram dados que apontam a<br />

relevância do uso de esquemas gráficos que utilizem cores e elementos visuais pertinentes ao<br />

universo da criança. Isso facilitaria a leitura e eficácia da informação nesses artefatos.<br />

Diante dos resultados alcançados, incluindo o conhecimento construído com os sujeitos<br />

do experimento, consideramos que o livro didático funciona como um documento de design<br />

que revela muito da cultura visual absorvida pela criança. Desse modo, a combinação<br />

texto/imagem/esquema proporciona maior participação do aluno na aprendizagem, por meio<br />

da análise dessa relação. O reconhecimento, pelo grupo, do valor didático dos esquemas<br />

gráficos como ferramenta para a prática docente, também remete à necessidade de uma maior<br />

integração entre os profissionais envolvidos na produção e uso do livro didático.<br />

Notas<br />

1 Palavras ou expressões que remetem a um mesmo sentido. O signo monossêmico é fechado,<br />

impede uma leitura plural. Cada significado corresponde a um único significante.<br />

2 Ver detalhadamente a análise em Coutinho & Silva (2007, p.255-265).<br />

Referências<br />

BERTIN, J. (1988). Ver ou Ler. Seleção de Textos. São Paulo, n. 18, p. 45-62, maio.<br />

COELHO, T. (1985). O que é indústria cultural. São Paulo: Editora Brasiliense, 109 p.<br />

COUTINHO, S.G. (2002). Variáveis da linguagem gráfica. Trabalho não publicado. Recife:<br />

UFPE.<br />

___________. & SILVA, J. F. L. (2007). Linguagem visual em livros didáticos infantis. In:<br />

Cleomar Rocha (Org.), Arte: limites e Contaminações - Anais do 15º Encontro Nacional<br />

da ANPAP (2006). Salvador: ANPAP/UNIFACS, vol. II, pp. 255-265.<br />

DONDIS, D. A. (1999). Sintaxe da linguagem visual. Tradução de Jefferson Luiz Camargo,<br />

2.ed. São Paulo: Martins Fontes.<br />

FRANCISCHETT, M. N. & MARCHESAN, M. P. (2003). Leitura e mediação do mapa no<br />

livro didático de geografia. UNIOESTE – FBE. Disponível em: . Acesso em: 08/05/2009.<br />

HORN, B. (1998). Visual Language: global communication for the 21st century. Bainbridge<br />

Island: MacroVU Press, 270 p.<br />

9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design


Esquemas gráficos para informar: a Linguagem Gráfica Esquemática na produção e utilização de livros<br />

didáticos infantis na cidade do Recife<br />

LIMA, E. L. (1994). Entendendo o esquema para o estudo da Linguagem Gráfica de<br />

Michael Twyman. Recife: Laboratório de Programação Visual da UFPE. 10 p. [mimeo]<br />

MIJKSENAAR, P. (1997). Visual function. An introduction to informational design. New<br />

York: Princeton Architectural Press.<br />

MORAES, A. (1998). Infografia: o design da notícia. Dissertação de Mestrado em Design.<br />

PUC/Rj. Rio de Janeiro.<br />

OLIVEIRA, S. L. (2004). Tratado de metodologia cientifica: projetos de pesquisa TGI,<br />

TCC, monografias, dissertações e teses; revisão Maria Aparecida Bessana; São Paulo:<br />

Pioneira Thomson Learning.<br />

PELTZER, G. (1991). Periodismo Iconográfico. Madrid: Ediciones Rialp.<br />

RAJAMANICKAN, V. (2008). Infographics Classification. In: Infographics: primer for<br />

learning content designer. Disponível em: . Acesso em:<br />

14/12/2008.<br />

______________. (2005). Infographics seminar handout. Disponível em:<br />

. Acesso em:<br />

02/04/2009.<br />

SPINILLO, C. G. (2002). Instruções visuais: algumas considerações e diretrizes para o<br />

design de seqüências pictóricas de procedimentos. Estudos em design, v.9, n. 3, p. 31-50.<br />

TWYMAN, M. L. (1979). A schema for the study of graphic language. In: Processing of<br />

visible language. Paul A. Kolers, Merald E. Wrolstad & Herman Bouma (Org.). Nova York<br />

& Londres: Plenum Press, vol.1, pp.117-150.<br />

__________. (1985). “Using pictorial language: a discussion of the dimensions” in Designing<br />

usable text, editado por Thomas M. Dufty & Robert Waller. Orlando, Florida: Academic<br />

Press, pp.245-312.<br />

9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!