Conversando com Piaget - Portal do Professor - Ministério da ...
Conversando com Piaget - Portal do Professor - Ministério da ...
Conversando com Piaget - Portal do Professor - Ministério da ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Direcional Educa<strong>do</strong>r, Março 11<br />
20<br />
INDISCIPLINA EDUCAÇÃo PArA A INFÂNCIA<br />
É importante ponderarmos as questões escolares e discipli-<br />
nares nas diferentes perspectivas e segmentos: <strong>do</strong> aluno, <strong>da</strong> fa-<br />
mília, de to<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>centes diretamente liga<strong>do</strong>s, <strong>da</strong> escola <strong>com</strong>o<br />
instituição e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, para podermos, assim, atuar de forma<br />
pondera<strong>da</strong> e ajusta<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> caso em particular. Limites, regras, a<br />
vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong>de, saber dizer não, estabelecer e impor limites, <strong>da</strong>r<br />
exemplos e ajustá-los às crianças, ressalvar as diferenças, devem ser<br />
atitudes fun<strong>da</strong>mentais a serem segui<strong>da</strong>s por to<strong>do</strong>s que <strong>com</strong>põem e<br />
atuam no espaço escolar.<br />
CONCLUSÃO<br />
Não existe fórmula mágica e receita pronta e acaba<strong>da</strong> para “termos<br />
disciplina e evitarmos a indisciplina” em salas de aulas e nos<br />
espaços educativos. No entanto, a nossa postura <strong>com</strong>o educa<strong>do</strong>res e<br />
forma<strong>do</strong>res diante de tais problemas terá resulta<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> possibilitarmos<br />
mu<strong>da</strong>nças <strong>com</strong>portamentais, relações nortea<strong>da</strong>s pelo respeito,<br />
o aluno ser visto <strong>com</strong>o ser histórico-social, o <strong>do</strong>cente assumir<br />
postura coerente (diálogo-prática), modela<strong>do</strong> ao aluno, ter responsabili<strong>da</strong>de,<br />
<strong>com</strong>prometimento, controle <strong>da</strong>s situações, conhecimento<br />
e prazer e gosto pelo que faz, não utilizar linguagem ou atitude que<br />
cause desconforto e constrangimento, evitar perder a calma, utilizar<br />
recursos eficazes, agir <strong>com</strong> humil<strong>da</strong>de, autonomia e autori<strong>da</strong>de,<br />
<strong>com</strong>preender a plurali<strong>da</strong>de de pessoas em sala de aula e fora dela<br />
quanto ao mo<strong>do</strong> de ser e culturas diferentes, agir de maneira habili<strong>do</strong>sa<br />
e inteligente, orientar para motivar, desenvolver capaci<strong>da</strong>des e<br />
criar um bom ambiente, demonstrar afetivi<strong>da</strong>de, diálogo ver<strong>da</strong>deiro,<br />
”saber ouvir”, utilizar-se de justiça e imparciali<strong>da</strong>de, oferecer direito e<br />
cobrar deveres, prevenir e evitar o surgimento ou agravamento <strong>da</strong> situação,<br />
evitar excluir, discriminar ou subestimar, “perder o controle”,<br />
admitir quan<strong>do</strong> está erra<strong>do</strong>, não sentir-se culpa<strong>do</strong>, incapaz ou frustra<strong>do</strong>,<br />
in<strong>com</strong>petente, saber pedir aju<strong>da</strong>, trabalhar constantemente a<br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e valores, repensar meto<strong>do</strong>logias, práticas, projetos, rotinas<br />
e ativi<strong>da</strong>des, procurar auxílio <strong>com</strong> profissionais adequa<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong><br />
necessário, manter uma parceria saudável <strong>com</strong> a família e conhecer<br />
o aluno, sua família, amigos, <strong>com</strong>uni<strong>da</strong>de, hábitos e problemas.<br />
Considerar a indisciplina e suas diferentes manifestações no<br />
espaço escolar <strong>com</strong>o an<strong>da</strong>r, correr, gritar, conversar demais, desrespeito,<br />
baixo rendimento escolar, agressivi<strong>da</strong>de, violência, timidez<br />
exagera<strong>da</strong>, desinteresse, desatenção, dispersão, liderança negativa,<br />
discriminação em sala de aula e outros espaços, aluno que não estu<strong>da</strong><br />
e não faz tarefas, entre outros, refletin<strong>do</strong> sobre essas situações<br />
problemáticas <strong>do</strong> cotidiano escolar; discutin<strong>do</strong> e levantan<strong>do</strong> possíveis<br />
soluções para esses problemas, e principalmente consideran<strong>do</strong><br />
os “problemas” <strong>com</strong>o possibili<strong>da</strong>des para mu<strong>da</strong>nças pe<strong>da</strong>gógicas<br />
e crescimento <strong>do</strong>s indivíduos envolvi<strong>do</strong>s no processo, é o caminho<br />
para a superação <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des presentes na rotina desafia<strong>do</strong>ra <strong>da</strong><br />
sala de aula e <strong>do</strong> âmbito escolar <strong>com</strong>o um to<strong>do</strong>.<br />
Para finalizar, segue o texto titula<strong>do</strong> “A trajetória <strong>do</strong> Campeão”,<br />
de Regina Bratfisch Simionato, que transcrevo a seguir:<br />
“Para o homem de grande visão, recolher o lixo <strong>da</strong>s ruas não<br />
in<strong>com</strong>o<strong>da</strong>, pois ele sabe que isso faz parte <strong>da</strong> tarefa de tornar o<br />
planeta mais belo.<br />
Enquanto para o homem de pouca visão, tornar o planeta<br />
mais belo não fascina, pois ele sabe que esse desejo traz consigo o<br />
trabalho de recolher lixo <strong>do</strong>s caminhos.<br />
Para criar um mun<strong>do</strong> onde as realizações sejam obras <strong>do</strong> coração,<br />
existe um caminho de desafios.<br />
A única maneira de ele ser supera<strong>do</strong> <strong>com</strong> tranquili<strong>da</strong>de é<br />
olharmos para o objetivo, e não para os obstáculos”.<br />
Referências bibliográficas<br />
AQUINO, Júlio Groppa (Org.) Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas.<br />
São Paulo: Summus, 1996.<br />
___________________ Indisciplina – o contraponto <strong>da</strong>s escolas democráticas.<br />
São Paulo: Moderna, 2003.<br />
ABREU, Maria C. & Masetto, M. T. O professor universitário em aula. São Paulo:<br />
MG Editores Associa<strong>do</strong>s, 1990.<br />
DUBET, François. Quan<strong>do</strong> o sociólogo quer saber o que é ser professor. Revista<br />
Brasileira de Educação. São Paulo: ANPED, 1997.<br />
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holan<strong>da</strong>. Novo dicionário Aurélio <strong>da</strong> Língua Portuguesa.<br />
Curitiba: Positivo livros, 2009.<br />
FREIRE, Paulo. Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> autonomia - saberes necessários a prática educativa.<br />
São Paulo: Paz e terra, 1996.<br />
GADOTTI, Moacir. Convite à leitura de Paulo Freire. São Paulo: Scipione, 1999.<br />
LUNA, S.; DAVIS, C. A questão <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de na educação. In: Caderno de Pesquisa.<br />
São Paulo: Fun<strong>da</strong>ção Carlos Chagas, 1991.<br />
PARRAT-DAYAN, Silvia. Como enfrentar a indisciplina na escola. São Paulo:<br />
Contexto, 2008.<br />
TIBA, Içami. Disciplina – Limite na medi<strong>da</strong> certa. 8. ed. São Paulo: Editora Gente,<br />
1996.<br />
VASCONCELLOS, Celso <strong>do</strong>s Santos. (In) Disciplina: construção <strong>da</strong> disciplina consciente<br />
e interativa em sala de aula e na escola. São Paulo: Libertad Editora, 2004.<br />
Alex Sandro Pereira de Oliveira é<br />
Pós-gradua<strong>do</strong> <strong>com</strong> Especialização<br />
em Gestão Escolar (administração<br />
escolar, supervisão escolar,<br />
orientação escolar, inspeção<br />
educacional e planejamento<br />
educacional); Pe<strong>da</strong>gogo; assistente<br />
de direção <strong>da</strong> Rede Municipal<br />
de Ensino de São Paulo – Prefeitura de São Paulo/<br />
SME; Assessor Pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> Interativa Assessoria<br />
Pe<strong>da</strong>gógica e Formação Continua<strong>da</strong> e atua <strong>com</strong>o<br />
palestrante, ministran<strong>do</strong> periodicamente cursos,<br />
oficinas e seminários volta<strong>do</strong>s para o trabalho<br />
pe<strong>da</strong>gógico ativo. E-mail: alexsandrolele@uol.<strong>com</strong>.br<br />
Qual o senti<strong>do</strong> <strong>da</strong>s interações?<br />
Por Emilia Cipriano e Claudio Castro Sanches “O indivíduo é um ser geneticamente social,<br />
ou seja, ele não sobrevive sem o outro.”<br />
Wallon<br />
u<strong>do</strong> se constrói na interação.<br />
Não acreditamos em aprendizagem que não passa pela<br />
interação. Não apenas de ideias, mas <strong>do</strong> corpo, <strong>da</strong> percepção,<br />
<strong>da</strong> experiência, <strong>da</strong>s relações. Eu só consigo perceber a minha própria<br />
identi<strong>da</strong>de a partir <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> outro. O outro na minha vi<strong>da</strong><br />
é constituição de mim também. Por isso, “a vi<strong>da</strong> não pode ficar fora <strong>da</strong><br />
escola”, dizia Freinet.<br />
As crianças têm de perceber que as coisas não estão separa<strong>da</strong>s e<br />
quan<strong>do</strong> “eu conheço” é, inclusive, para poder viver mais. Wallon mostra<br />
que é preciso valorizar não apenas o intelecto <strong>da</strong>s crianças, mas também<br />
o meio social e a afetivi<strong>da</strong>de (emoção): “Só podemos entender as atitudes<br />
<strong>da</strong> criança se entendermos a trama <strong>do</strong> ambiente no qual está inseri<strong>da</strong>”.<br />
O valor que atribuímos a tu<strong>do</strong> na vi<strong>da</strong> é constituí<strong>do</strong> na relação.<br />
“Ahhh, as crianças destruíram tu<strong>do</strong>”. Tal in<strong>da</strong>gação mostra que não foi<br />
realiza<strong>da</strong> uma reflexão <strong>com</strong> os pequenos sobre o significa<strong>do</strong> que possuía<br />
o que estava em volta deles. Caso contrário, teriam cria<strong>do</strong> vínculos, teriam<br />
uma história de pertencimento.<br />
Por que hoje temos tantos espaços públicos <strong>com</strong>pletamente sujos e<br />
desorganiza<strong>do</strong>s? As pessoas não se sentem pertencentes a esse universo.<br />
“O que é público não me pertence”. Será? A rua, a ci<strong>da</strong>de, o bairro, tu<strong>do</strong><br />
é nosso.<br />
Essa postura precisa estar muito presente na escola. Quan<strong>do</strong> trabalhamos<br />
<strong>com</strong> um grupo e decidimos, por exemplo, trocar objetos de lugar<br />
sem pedir anuência ao próprio grupo, estamos contribuin<strong>do</strong> para que as<br />
pessoas não se sintam pertencentes ao mesmo, uma vez que não foram<br />
respeita<strong>da</strong>s na ocupação <strong>do</strong> seu espaço.<br />
Um <strong>do</strong>s momentos significativos em relação à interação é o ato de<br />
cui<strong>da</strong>r. Quan<strong>do</strong> cui<strong>do</strong> de alguém, cui<strong>do</strong> também de mim. É quan<strong>do</strong> percebo<br />
a importância que tem o outro na minha vi<strong>da</strong> e eu na vi<strong>da</strong> dele.<br />
Quem cui<strong>da</strong> <strong>do</strong> outro também cui<strong>da</strong> <strong>do</strong> planeta. É uma dimensão muito<br />
maior de formação humana e de pertencimento.<br />
Para Leonar<strong>do</strong> Boff, ca<strong>da</strong> ser humano <strong>com</strong>põe a totali<strong>da</strong>de que é o<br />
planeta. Assim, não é apenas atentar-se ao cui<strong>da</strong><strong>do</strong> específico de uma<br />
área, é ao ser humano. O ato educativo é um <strong>do</strong>s mais bonitos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />
Pois, na relação <strong>com</strong> outras pessoas, faz-se um círculo de interações, de<br />
teia e conectivi<strong>da</strong>de, promoven<strong>do</strong> a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>.<br />
Portanto, quais são as suas ver<strong>da</strong>des?<br />
No processo de construção de significa<strong>do</strong>s não há <strong>com</strong>o não enfrentar<br />
contradições e conflitos. Quem trabalha <strong>com</strong> a educação <strong>da</strong><br />
infância enfrenta conflitos porque não existem fórmulas prontas. Retomamos,<br />
reconstituímos e ressignificamos, continuamente, descobertas,<br />
costumes e ações.<br />
Daí a importância de formar grupos de discussão intra e extramuros<br />
escolares. Para que possamos nos retroalimentar. Nós mesmos a<strong>do</strong>távamos<br />
práticas <strong>com</strong>o educa<strong>do</strong>res <strong>da</strong> infância as quais percebemos que,<br />
além de descontextualiza<strong>da</strong>s hoje, tinham valor e significa<strong>do</strong> <strong>com</strong> “aquele<br />
grupo e aquelas crianças”. Redimensionamos nossa ação, permitin<strong>do</strong>-<br />
nos fazer essas descobertas. Só que isso gera contradição, conflito e muitas<br />
ambigui<strong>da</strong>des.<br />
Não possuímos to<strong>da</strong>s as ver<strong>da</strong>des. Não temos as respostas definitivas.<br />
Entretanto, quan<strong>do</strong> o educa<strong>do</strong>r assume suas ver<strong>da</strong>des, <strong>com</strong> a consciência<br />
de que não são absolutas, seu fazer assume outro senti<strong>do</strong>. Olhe<br />
para suas crenças. Em que, de ver<strong>da</strong>de, você acredita? Quan<strong>do</strong> não existe<br />
essa internalização, estamos apenas discursan<strong>do</strong>. Se é tão importante a<br />
história de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> criança, a <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r também tem de ser.<br />
O educa<strong>do</strong>r <strong>da</strong> infância é uma referência fortíssima para as crianças.<br />
O tempo to<strong>do</strong> as crianças estão len<strong>do</strong> o seu jeito, seu tom de voz, expressão,<br />
afetivi<strong>da</strong>de...<br />
Uma marca que chama muito a atenção na Educação Infantil é<br />
que os educa<strong>do</strong>res são seres humanos que trazem consigo uma alegria<br />
muito grande. Tememos que um dia a percamos. Quem trabalha <strong>com</strong><br />
infância só envelhece mentalmente se desejar. O educa<strong>do</strong>r, no contato<br />
<strong>com</strong> as crianças, pode ser eternamente jovem e alegre.<br />
Não defendemos aqui simplesmente alguns princípios educacionais.<br />
Defendemos um mo<strong>do</strong> de constituir uma vi<strong>da</strong> que é minha identi<strong>da</strong>de,<br />
minha crença.<br />
As crianças nunca ficam desinteressa<strong>da</strong>s. Muitas vezes, nós é que<br />
não sabemos despertar seu interesse.<br />
Ampliamos o acesso à informação, mas, nem sempre conseguimos<br />
fazer a leitura de certas situações. Ler a subjetivi<strong>da</strong>de, <strong>com</strong> profundi<strong>da</strong>de,<br />
é relacionar to<strong>do</strong>s os momentos à reali<strong>da</strong>de vivi<strong>da</strong>.<br />
Nossa visão de educação é humaniza<strong>do</strong>ra. Não acreditamos em<br />
educação que não humaniza. É um princípio. Podemos ser extremamente<br />
<strong>com</strong>petentes, mas se nosso projeto não considerar a dimensão de<br />
humanização, excluímos a possibili<strong>da</strong>de de transformação que estamos<br />
vivencian<strong>do</strong>, nós e as crianças.<br />
Temos nos permiti<strong>do</strong>s interagir e identificar nossas ver<strong>da</strong>des na relação<br />
<strong>com</strong> as crianças?<br />
Emilia Cipriano é Doutora em<br />
Educação, Mestre em Psicologia<br />
<strong>da</strong> Educação e Pesquisa<strong>do</strong>ra <strong>da</strong><br />
Infância.<br />
Claudio Castro Sanches é Mestre em<br />
Educação, Especialista em Gestão<br />
Educacional e Pesquisa<strong>do</strong>r <strong>da</strong><br />
Infância.<br />
www.aprenderaser.<strong>com</strong>.br<br />
Direcional Educa<strong>do</strong>r, Março 11<br />
21