Como captar e gravar percussão? - Backstage
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REPORTAGEM<br />
Captação<br />
e gravação de <strong>percussão</strong><br />
Sem grandes diferenças entre a captação para gravação de bateria e a<br />
<strong>percussão</strong> (por pertencerem à mesma ‘família’), a forma de tirar sons por<br />
meio de técnicas é o que faz a diferença para os percussionistas.<br />
Para que o técnico, no estúdio ou no show, consiga uma<br />
boa captação do instrumento de <strong>percussão</strong> é importante<br />
que o percussionista tenha técnica e “pegada”. Pelo menos<br />
é o que afirma Roppolho, percussionista há 32 anos, que<br />
garante que a técnica de mão é importante para conduzir com<br />
melodia, assim como a “pegada” valoriza a sonoridade pela da<br />
captação da batida.<br />
Essas técnicas, como as de mão, influenciam a sonoridade do<br />
instrumento e são responsáveis pela qualidade do som. A “pegada”<br />
faz diferença, porque os instrumentos de <strong>percussão</strong> se caracterizam<br />
por não terem altura sonora definida. Dependendo<br />
da “pegada”, o percussionista pode ter um som onde a emissão é<br />
56 www.backstage.com.br<br />
Karyne Lins<br />
karyne@backstage.com.br<br />
Apresentação de grupo de ritmos folclóricos mostra captação de instrumentos de <strong>percussão</strong> ao vivo<br />
mais limpa (mais definida) ou mais cheia de harmônicos. Ao ser<br />
tocado, o instrumento de pele, por exemplo, emite uma faixa de<br />
freqüência sonora e, em seguida, um decaimento onde surgem<br />
os harmônicos. Se o som da “pegada” não sobressair ao som do<br />
decaimento, haverá um som mais rico em freqüências, porém,<br />
sem muita definição.<br />
Evolução no Brasil<br />
O kit básico de <strong>percussão</strong> era pandeiro, chocalho, agogô,<br />
tamborim, a cuíca direcionada para o samba e a tumbadora<br />
(bongô) para sons do Caribe. Depois que a bossa nova conquistou<br />
o público de fora do Brasil, esse conjunto começou a aumen-<br />
Foto: Ramar Costa / Divulgação
tar. “O Airto Moreira revolucionou a <strong>percussão</strong><br />
nesse sentido. Mostrou isso quando<br />
tocou com Miles Davis e, claro, não<br />
posso me esquecer da importância de<br />
Hermeto Pascoal para a evolução da <strong>percussão</strong><br />
brasileira. No Brasil, as coisas mudaram<br />
com a geração dos anos 80 e depois<br />
dos movimentos de Carlinhos Brown”,<br />
disse Robertinho Silva, um dos mais<br />
significantes artistas das últimas décadas<br />
no Brasil.<br />
Coordenação<br />
dentro do estúdio<br />
Teoricamente, é o técnico que co-<br />
ordena a captação em estúdio, pois é o<br />
profissional que deve ter pleno domínio<br />
da aparelhagem do estúdio. Porém,<br />
os percussionistas dizem que, na<br />
prática, é comum haver uma troca de<br />
informações por parte de ambos para<br />
se chegar ao resultado proposto pelo<br />
tipo de trabalho. O músico colabora<br />
com suas informações devido a sua experiência,<br />
e o técnico, por sua vez, é<br />
quem conhece os tipos de microfonação<br />
ideal para os diferentes timbres<br />
e alturas dos sons.<br />
O técnico e o produtor musical também<br />
devem estar atentos ao timbre e à<br />
afinação do instrumento. Quando há<br />
um arranjador, ele determina quais instrumentos<br />
serão tocados. O músico executa<br />
e o técnico procura <strong>captar</strong> seu som<br />
da melhor maneira possível. A captação<br />
exige mais conhecimento do técnico<br />
quando o percussionista chega com um<br />
instrumento desconhecido por esse técnico.<br />
“Ainda existe técnico que sente dificuldade<br />
em tirar um bom som da<br />
moringa (wood), que tem uma freqüência<br />
grave tirada da boca e o som agudo<br />
tirado com as pontas dos dedos no corpo<br />
do instrumento”, disse Reppolho, que já<br />
tocou com Jonny Alf, Gilberto Gil, Nana<br />
Caymmi, Tim Maia, Pepeu Gomes e<br />
Moraes Moreira.<br />
Eder trabalha com sonoridades típicas do nordeste<br />
e tocou com grandes nomes da música brasileira<br />
Conceito de<br />
captação e sala<br />
Mesmo que muitos acreditem que exis-<br />
ta um conceito único de gravação e captação<br />
para cada estilo, como <strong>percussão</strong> afrocubana,<br />
clássica, popular, segundo os<br />
percussionistas, há técnicos e produtores<br />
que dizem ter seu estilo próprio de gravação<br />
e captação. Eder “O” Rocha (Orquestra<br />
Popular do Recife, Mestre Ambrósio, Orquestra<br />
Sinfônica do Rio Grande do Norte,<br />
Orquestra Sinfônica Jovem de Olinda e Big<br />
Band de Marviel Celestino) acredita que<br />
mesmo que existam os padrões industriais,<br />
se não estiver dentro deles, o que vale é a<br />
experiência. “Música clássica se grava em<br />
clima de ao vivo com todos os músicos tocando<br />
juntos. A <strong>percussão</strong> afro-cubana gra-<br />
Foto: Divulgação<br />
REPORTAGEM<br />
vada por mais de um músico também pode<br />
ocorrer de ser gravada diretamente sem<br />
playback aproveitando o vazamento. No<br />
geral, a <strong>percussão</strong> sempre é gravada por último<br />
em cima da base já pronta, através de<br />
playbacks”, explicou Reppolho.<br />
A microfonação em estúdio é feita<br />
por instrumento. Há, no entanto, outros<br />
tipos de instrumentos cujo som é captado<br />
com microfones over (de ambiente),<br />
como os timbales e seus acessórios. Uma<br />
coisa é certa: todos os instrumentos merecem<br />
uma captação direta e exclusiva,<br />
pois precisam de ambiente com um ou<br />
dois microfones de sala. Em relação às<br />
salas, Laércio da Costa, que já gravou<br />
com Alexandre Pires, Pedro Camargo<br />
Mariano, Zezé Di Camargo & Luciano e<br />
Rita Lee, gosta de salas amplas. “Não<br />
vejo problema em <strong>gravar</strong> em salas pequenas,<br />
porque hoje temos plug-ins que melhoram<br />
a qualidade do som, a não ser o<br />
surdo de couro em uma sala pequena<br />
sem reverberação, fica muito ruim”, disse<br />
Laércio da Costa.<br />
Edson Ghilardi, que já trabalhou no<br />
segmento de música instrumental com<br />
Jeff Gardner, Mozart Mello e Sizão Machado,<br />
comentou que deveriam existir<br />
salas mais adequadas para gravação de<br />
<strong>percussão</strong>. “A maioria dos trabalhos é realizada<br />
em pequenos estúdios que sequer<br />
têm salas específicas para gravação de<br />
<strong>percussão</strong>. O que se percebe ao <strong>gravar</strong> é a<br />
ambiência da sala. Se a sala é muito morta,<br />
dificulta na execução do instrumento,<br />
se é muito viva, dificulta na captação”,<br />
opinou Edson. Para Reppolho, o<br />
Teoricamente, o técnico coordena a captação em<br />
estúdio, pois é o profissional que deve ter pleno<br />
domínio da aparelhagem do estúdio. Porém, os<br />
percussionistas dizem que é comum haver uma<br />
troca de informações por parte de ambos<br />
www.backstage.com.br 57
REPORTAGEM<br />
ideal é uma sala que tenha piso e parede<br />
de madeira com pedras em alguma área.<br />
Em se tratando de mixagem, para que<br />
não fique muita coisa a ser refeita nesta<br />
etapa, o percussionista Guilherme Castilho,<br />
que tocou com o Grupo Idioma Popular<br />
e na bateria das escolas de samba<br />
Acadêmicos do Tucuruvi e Leandro de<br />
Itaquera, sugere que antes de <strong>gravar</strong>, a<br />
afinação esteja impecável. “Na minha<br />
opinião, quanto menos se alterar o timbre<br />
do instrumento gravado na mixagem,<br />
melhor. Usa-se a mixagem mais para<br />
equalização do som como um todo”.<br />
Microfones<br />
Escolher os microfones vai depender<br />
de vários fatores, como ambiência da<br />
sala, concepção de gravação e condições<br />
técnicas do estúdio. “Os melhores microfones<br />
para captação são aqueles disponibilizados<br />
pelo estúdio, até com SM58 é<br />
possível tirar um som maravilhoso do instrumento<br />
de <strong>percussão</strong>, só depende do<br />
fator humano. Isso eu aprendi gravando<br />
com o técnico Buguinha Dub”, disse<br />
Eder, que hoje toca com as bandas<br />
Mutrib, Maracatu Nação Estrela Brilhante<br />
de Recife e Estuário.<br />
Laércio diz que existe um kit Superlux<br />
DRK-F5H3 para <strong>percussão</strong> que, segundo<br />
ele, é ideal para todos os acessórios. Particularmente,<br />
ele gosta de usar em congas, surdo<br />
e tan-tan o microfone MD 421 Sennheiser.<br />
Para pandeiro e efeitos o modelo é o ME64,<br />
também Sennheiser. Reppolho possui um<br />
set básico com os seguintes microfones:<br />
conga hi (SM 57), conga mid (SM 57),<br />
conga low (SM 58), bongô, timbau e<br />
timbales (SM 58), pandeiro (SM 57), surdo<br />
(112), alfaia (SM58) e djembê (SM57).<br />
“Procuro me informar com o técnico de som<br />
o que é melhor para cada tipo de gravação.<br />
Acredito que o caminho é conhecer a classificação<br />
do som do instrumento. Para um<br />
surdo, por exemplo, o ideal é um microfone<br />
que capte melhor as freqüências graves do<br />
58 www.backstage.com.br<br />
Robertinho Silva grava <strong>percussão</strong> desde o fim dos<br />
anos 60 e já fez gravações em estúdios de 8 canais<br />
som, enquanto que para um chimbal, o ideal<br />
é um em que se capte melhor as freqüências<br />
mais agudas”, disse Guilherme.<br />
Robertinho Silva, que iniciou sua carreira<br />
no final da década de 60 destacando-se<br />
com o grupo Som Imaginário, diz<br />
que na década de 70 não existia canal<br />
para a <strong>percussão</strong> e os técnicos faziam<br />
uma “redução de canal” para entrar a<br />
“Procuro me informar<br />
com o técnico de som o<br />
que é melhor para cada<br />
tipo de gravação.<br />
Acredito que o caminho<br />
é conhecer a<br />
classificação do som do<br />
instrumento”<br />
<strong>percussão</strong>. Também não se usavam microfones<br />
direcionais e todos os instrumentos<br />
da <strong>percussão</strong> eram gravados juntos. Hoje,<br />
Robertinho gosta que nas gravações sejam<br />
utilizados quatro microfones e um para<br />
captação de som ambiente.<br />
Recursos de captação<br />
em shows<br />
Em uma gravação externa e ao vivo,<br />
geralmente vai ocorrer o problema da<br />
inadequação da sala. A captação deve<br />
ser dirigida para o público local e outra para<br />
Guilherme é especialista em <strong>percussão</strong> afro, popular<br />
e em bateria para escolas de samba<br />
a gravação. É necessário um estúdio móvel<br />
onde a captação é feita como se estivesse<br />
em uma sala de estúdio. Para evitar vazamentos,<br />
utilizam-se divisórias acrílicas,<br />
além de captação por meio de microfones<br />
especiais para determinados instrumentos,<br />
como o pandeiro, onde geralmente é usado<br />
um de lapela. Ha ainda os acessórios e efeitos,<br />
captados por meio de microfones over.<br />
A microfonação dos instrumentos para CD<br />
é via canal e se usa um microfone por instrumento.<br />
No final, acabam ocorrendo<br />
uma série de manobras para se obter um<br />
resultado satisfatório. Esses recursos utilizados<br />
para captação em show são os mesmos<br />
utilizados em estúdio.<br />
Tecnologia<br />
“Um bom percussionista jamais será<br />
substituído por qualquer software”, confirma<br />
Eder. Reppolho utiliza a tecnologia<br />
disponível para a gravação de <strong>percussão</strong>,<br />
ou seja, um bom compressor para os instrumentos<br />
de freqüências graves, no caso os<br />
tambores. Ele enfatiza que apesar de tantos<br />
softwares no mercado, a tecnologia<br />
nunca vai substituir o percussionista.<br />
Edson também concorda. “Eu acredito<br />
que esses recursos sejam mais aproveitados<br />
em trabalhos de jingles e trilhas. Para<br />
mim, fazer música ainda é uma interação<br />
interpessoal para se obter um bom resultado.<br />
Fazer música com dinâmica, mudanças<br />
rítmicas, enfim, com recursos musicais,<br />
exige execução ao vivo e ao mesmo<br />
tempo, sem essa de fazer cobertura de-<br />
Fotos: Divulgação
pois”, opinou Edson, que já trabalhou com<br />
Zizi Possi, Fábio Junior, Renato Teixeira,<br />
entre outros.<br />
Laércio usa o sampler como metrônomo,<br />
não importando o timbre, e concorda<br />
que um programa de <strong>percussão</strong><br />
emite um som muito mecânico e o trabalho<br />
perde vida. “Sou a favor de unir o eletrônico<br />
com a <strong>percussão</strong> acústica, desde<br />
que não comprometa o resultado final”.<br />
Guilherme deixa uma dica para uma boa<br />
captação. “Procure sempre afinar seus<br />
instrumentos antes de gravá-los. Uma<br />
boa dica também é concentrar-se na passagem<br />
de som e quando atingido o volume,<br />
corpo e altura ideais, procure passar<br />
algo junto com a bateria e o baixo”.<br />
Conhecimento<br />
e pesquisa musical<br />
Laércio da Costa diz que é funda-<br />
mental para o percussionista conhecer e<br />
se aprofundar em todos os estilos percussivos<br />
como MPB, samba, pop, bolero, salsa,<br />
axé, pop rock, sertanejo, <strong>percussão</strong><br />
africana, cubana, indiana, etc. “Cada<br />
convite para gravação exigia de mim um<br />
conhecimento diferenciado, isso possibilitou<br />
que eu me tornasse um músico<br />
eclético e que desse valor à <strong>percussão</strong><br />
brasileira, misturando diversos gêneros<br />
musicais”, disse.<br />
Eder se formou como técnico em <strong>percussão</strong><br />
erudita em 1993 pelo Centro<br />
Profissionalizante de Criatividade Musical<br />
de Recife. Por se identificar mais com<br />
a <strong>percussão</strong> popular (tradicional) e nos<br />
tambores graves, sentiu necessidade de<br />
compreender mais essa linguagem do<br />
Nordeste conhecida como Os Zabumbas<br />
e hoje sua musicalidade está sempre voltada<br />
para o Nordeste do Brasil.<br />
Guilherme Castilho se especializou no<br />
estudo da <strong>percussão</strong> popular, em especial<br />
REPORTAGEM<br />
a afro-brasileira e a afro-cubana, conhece<br />
samba, baião, xote, maxixe, maracatu,<br />
frevo, boi, cacuriá, jongo, gexá, entre outros<br />
tantos ritmos. Ele procura focar sua<br />
pesquisa em dois pontos: o primeiro diz<br />
respeito ao estilo a ser gravado. A partir<br />
dele, já se tem uma idéia de quais instrumentos<br />
(e suas respectivas linguagens) podem<br />
ser utilizados na gravação. O segundo<br />
ponto refere-se à preocupação de timbre<br />
da instrumentação. “Experimento vários<br />
instrumentos e em diferentes afinações<br />
(regulagem, pele, baqueta) para achar o<br />
melhor som grave, médio ou agudo, para<br />
que o resultado na hora da captação seja o<br />
melhor possível”, disse Guilherme.<br />
Ouvir de tudo ainda é a melhor forma<br />
de pesquisa musical. “Meu estilo é universal.<br />
Sou um percussionista que me<br />
adapto em qualquer estilo musical. Minha<br />
formação vem do popular, nascido<br />
em Recife (PE) ouvindo os toques dos
REPORTAGEM<br />
Laércio da Costa gosta de utilizar salas amplas para<br />
a gravação, mas não dispensa as pequenas<br />
ilús (tambores) e convivendo com uma<br />
cultura rítmica regional bastante variada.<br />
Sempre busco conhecer outros estilos<br />
de ritmos e <strong>percussão</strong> através de pesquisas<br />
sonoras”, explicou Reppolho.<br />
Existe o preconceito?<br />
Robertinho Silva acha que a <strong>percussão</strong><br />
ainda é um instrumento visto como acessório<br />
e pano de fundo em uma gravação, salvos<br />
os trabalhos individuais dos músicos. “A<br />
<strong>percussão</strong> faz parte da alma e do ritmo brasileiro.<br />
Além do preconceito, existe a falta<br />
de conhecimento. A <strong>percussão</strong> era a última<br />
coisa a ser gravada porque era tratada<br />
como se fosse um ‘quebra-galho’ e até hoje<br />
isso acontece. Em um trabalho de acompanhamento,<br />
não ouço a clareza da <strong>percussão</strong><br />
como em um disco cubano, por exemplo.<br />
O produtor e o arranjador estão à frente<br />
da maioria dos trabalhos e não têm formação<br />
nem conhecem os elementos dos<br />
ritmos e os fundamentos da <strong>percussão</strong>.<br />
Quando vou ouvir um disco com uma gravação<br />
minha, vejo que toda a <strong>percussão</strong><br />
desapareceu. O americano não faz isso. Os<br />
técnicos novos não sabem as funções dos<br />
instrumentos de <strong>percussão</strong> e editam errado.<br />
Aliás, nunca vi um técnico desses em<br />
um workshop de bateria e <strong>percussão</strong>”, lamentou<br />
Robertinho, que trabalhou ao lado<br />
de Milton Nascimento por 26 anos.<br />
Se para alguns houve uma dedicação<br />
maior ao estudo de captação para outros instrumentos,<br />
Laércio não concorda. “Acredito<br />
que a tecnologia a cada dia está mais avan-<br />
60 www.backstage.com.br<br />
Foto: Divulgação<br />
Reppolho tocou com Gal Costa, Pepeu Gomes,<br />
entre outros, e se dedica à pesquisa de ritmos<br />
çada de modo geral, valorizando todos os<br />
instrumentos. A questão da <strong>percussão</strong>, em<br />
particular, ganhou mais qualidade, uma vez<br />
que hoje o mercado oferece microfones específicos<br />
para cada instrumento, o que não<br />
existia no passado. No entanto, técnicos profissionais<br />
da época tiravam um belo som<br />
percussivo”, opinou Laércio.<br />
“O produtor e o<br />
arranjador estão à<br />
frente da maioria dos<br />
trabalhos e não têm<br />
formação nem conhecem<br />
os elementos dos<br />
ritmos e os fundamentos<br />
da <strong>percussão</strong>”<br />
Reppolho, que tem experiência de gravação<br />
em vários estúdios no Brasil e já por<br />
duas vezes em Nova York nos discos da<br />
cantora Deborah Blando, disse que com o<br />
crescimento da tecnologia, os estúdios no<br />
Brasil têm oferecido um bom resultado de<br />
gravação, dependendo do técnico e do<br />
periférico do estúdio. “Creio que nunca<br />
existiu uma deficiência de <strong>percussão</strong> no<br />
Brasil em relação a outros países. Talvez a<br />
visão acadêmica arcaica brasileira que ainda<br />
se espelha nos Estados Unidos e na Europa<br />
e suas indústrias tecnológicas feitas<br />
com visão local não sejam a melhor opção.<br />
Foto: Ierê Ferreira / Divulgação<br />
A indústria fonográfica cubana e porto<br />
riquenha que nos chega é proveniente da<br />
América do Norte, portanto, a referência<br />
Cuba e Porto Rico é apenas uma parte da<br />
cultura, e não industrial”, opinou Eder.<br />
Edson acredita que continua sendo<br />
determinado o que interessa como retorno<br />
financeiro. “Provavelmente, tem<br />
muito mais gente estudando baixo e guitarra<br />
do que <strong>percussão</strong>, além da própria<br />
hierarquia musical que determina quem<br />
é mais importante. A música convencional<br />
ainda mantém uma ordem em que a<br />
<strong>percussão</strong> é assessório”, diz Edson Ghilardi,<br />
que completou sua formação estudando<br />
<strong>percussão</strong> erudita e é autoditada<br />
na <strong>percussão</strong> popular.<br />
Brasil, país atrasado?<br />
Na opinião de Laércio, existe um con-<br />
siderável atraso do Brasil em relação a<br />
países como Cuba e Porto Rico, mas ele<br />
nota que a cada dia esta diferença vem<br />
diminuindo. “É bom lembrar que muitos<br />
percussionistas brasileiros ainda preferem<br />
estudar outros estilos de ritmos e não o<br />
próprio estilo de seu país e ainda digo que<br />
nós conseguimos tocar um ritmo de salsa,<br />
por exemplo, com técnica adequada,<br />
mas os de fora não conseguem tocar o<br />
nosso ritmo de samba, forró, maracatu ou<br />
axé com a mesma facilidade”.<br />
Para Reppolho, no entanto, esse atraso<br />
não existe. “O Brasil, na minha opinião,<br />
nunca esteve atrasado em relação a<br />
esses países. Mas em se tratando da música<br />
latina, a valorização dos instrumentos<br />
de <strong>percussão</strong>, em termos de volume e<br />
equalização, durante a gravação é bem<br />
maior”. Eder tem uma visão mais ponderada<br />
e diz que a <strong>percussão</strong> é um grupo de<br />
instrumentos em principio acústicos, e<br />
que para a <strong>percussão</strong> acústica a indústria<br />
desenvolveu vários equipamentos de<br />
muita qualidade desde os anos 30. Quanto<br />
à <strong>percussão</strong> eletrônica, segundo ele,<br />
tudo é novidade a cada dia.