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Pierre Bourdieu e a história - Topoi

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B OURDIEU E A HISTÓRIA • 141<br />

ções estéticas não possuem raízes, mas há ao mesmo tempo, uma repulsa<br />

de uma maneira simples de pensar o determinismo social, como se houvesse<br />

uma adequação imediata entre a escolha de uma estética ou um enunciado<br />

ideológico e a posição social do artista, do escritor, do pensador ou do<br />

indivíduo. E o conceito de campo é justamente o conceito que se introduz<br />

entre as determinações sócio-econômicas na definição mais tradicional da<br />

sociologia, da <strong>história</strong> social e a produção simbólica de idéias ou de obras.<br />

Porque, como demonstra <strong>Bourdieu</strong>, há em cada campo princípios de organização<br />

que são próprios deste campo. E neste livro, refletindo sobre o que<br />

é específico nos campos culturais — estético, literário, filosófico, intelectual<br />

—, sublinhava duas características. A primeira é que os campos culturais<br />

devem ser considerados como um mundo econômico invertido. Existe<br />

uma economia da produção simbólica, mas uma economia que funciona<br />

com parâmetros opostos ao funcionamento do campo econômico. Ou seja,<br />

há uma inversão dos valores ou dos interesses que regem o campo econômico<br />

dentro dos campos culturais; por exemplo, há o desinteresse estético<br />

ou intelectual contra a busca de benefício, de lucro econômico; a gratuidade<br />

do gesto contra a utilidade da produção; a arte pela arte contra a circulação<br />

e a acumulação do dinheiro. Em segundo lugar, estes campos culturais se<br />

fundamentam numa capacidade de reflexão, de auto-reflexão, de consciência<br />

de si. Os campos culturais — por exemplo, o campo literário ou o campo<br />

filosófico — caraterizam-se pela incorporação, em cada momento histórico<br />

destes campos, de sua própria <strong>história</strong>, a partir dos diversos tipos de relação<br />

que os criadores, os produtores estéticos ou intelectuais, num dado<br />

momento do tempo, têm com o passado do campo, disciplina ou prática.<br />

Pode ser uma relação de repulsa e ruptura, como as revoluções estéticas;<br />

pode ser uma relação de paródia, como é o caso, por exemplo, de Dom<br />

Quixote; pode ser uma relação de recuperação e de integração do passado<br />

dentro do presente, um pouco como numa estética kitsch, em que há uma<br />

pluralidade de relações do presente com o passado, no campo intelectual<br />

ou no campo cultural, o que constitui um elemento chave para se compreender<br />

as diferenças entre as obras: umas jogando com a paródia, outras<br />

com a herança, outras com a repulsa e a negação etc. E é um recurso fundamental<br />

esta relação com o passado negado ou incorporado para definir a

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