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Pierre Bourdieu e a história - Topoi

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176 • TOPOI<br />

para <strong>Bourdieu</strong> o valor estético incluía em si mesmo esta reflexão imediata,<br />

prática, espontânea da obra sobre a própria sociedade e, talvez, suas próprias<br />

condições de produção. Ou seja, não era uma definição estética puramente<br />

formal, se se pode dizer assim, mas propõe que o valor puramente<br />

estético não pode destacar-se da posição que a obra ocupa em relação com<br />

as outras obras de seu tempo ou com o espaço social particular ou global<br />

na qual se situa. E daí, talvez, surja uma tensão que deve ser pensada, pois<br />

não quero dizer que <strong>Bourdieu</strong> disse tudo sobre este ponto. Mas uma idéia<br />

importante, em primeiro lugar, é a de que as normas estéticas num momento<br />

dado se distribuem segundo posições, trajetórias e interesses. E o<br />

segundo elemento importante, é que o que poderia definir a força específica<br />

de certas formas, é esta dupla dimensão: a sua capacidade a ser passível<br />

de uma pluralidade de reapropriações através dos tempos, dos lugares, das<br />

línguas, e também a relação aguda que tem com seu próprio tempo. Pensemos<br />

em Dom Quixote, que, como dizia, é um livro que tem suas raízes nas<br />

mudanças políticas, sociais e estéticas da Espanha do Século de Ouro. E,<br />

ao mesmo tempo, é talvez a obra mais aberta, lado a lado com a de Shakespeare,<br />

às reapropriações através dos tempos, dos lugares e das línguas —<br />

inclusive fora das línguas, dos figurinos, das festas, até mesmo imediatamente<br />

após as publicações. De toda maneira se vê que aqui há toda um<br />

modo de pensar a densidade estética das obras neste entrecruzamento entre<br />

a situação dentro de seu tempo e a capacidade de reapropriação, o que<br />

permite pensar que não há uma igualdade generalizada entre elas. Lembrome<br />

sempre de uma citação de Borges que dizia: “Não é porque o mistério<br />

estético não é decifrável que não devemos considerar todos os fatos que o<br />

fizeram possível”. Pelo menos para os sociólogos ou historiadores, uma<br />

primeira pesquisa deve se dedicar a esses fatos que o fizeram possível e que<br />

recordamos durante este seminário. Mas se quisermos ir dos fatos ao mistério,<br />

é claro que uma das chaves do mistério é o que chamo — e aqui não<br />

estou comentando <strong>Bourdieu</strong> — a densidade estética, que permite — quando<br />

não é suficiente, não o permite — esta dupla relação da obra com seu presente<br />

e da obra com o seu futuro, num certo sentido. E o exemplo de Rembrandt<br />

podia ser o melhor nesse sentido, porque foi um pintor que afirmou<br />

a irredutibilidade do valor pictórico, que não dependia mais do preço

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