16.09.2013 Views

Pierre Bourdieu e a história - Topoi

Pierre Bourdieu e a história - Topoi

Pierre Bourdieu e a história - Topoi

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

B OURDIEU E A HISTÓRIA • 169<br />

rentes a Marx, que conhecia muito bem, para além da estatística das referências<br />

ou das citações. E não sei se, no caso, havia um outro elemento específico<br />

do espaço intelectual francês. É que, a partir do momento destacado<br />

por José Sérgio, da passagem de <strong>Bourdieu</strong> da etnologia a uma forma<br />

de compreensão sociológica, havia na França o pensamento — senão dominante,<br />

muito importante — de Althusser. E uma parte da obra de<br />

<strong>Bourdieu</strong> foi escrita contra Althusser, contra os aparelhos ideológicos do<br />

Estado.<br />

Quanto ao conceito de ideologia, lembremos o diálogo de <strong>Bourdieu</strong><br />

com Georges Duby, em torno de seu livro Les trois ordres ou l’imaginaire du<br />

féodalisme [As três ordens ou o imaginário de feudalismo]. Nele, Duby lançava<br />

mão da categoria de ideologia, o que para <strong>Bourdieu</strong> devia ser pensado a<br />

partir da categoria de sistemas de representações coletivas, à maneira de<br />

Durkheim, ou de formas de imposição de classificações. Essas noções correspondiam<br />

mais ou menos ao sentido que Duby dava a ideologia, ou<br />

melhor, à pluralidade das ideologias de percepção e construção do mundo<br />

social, em seu trabalho sobre as três ordens. Seria necessário, para responder<br />

completamente a sua pergunta, aprofundar a análise para ver onde existem<br />

diferenças teóricas entre essas categorias, mas não pensar que, pelo fato<br />

dos termos serem diferentes, haja necessariamente muita diferença nas<br />

concepções. Desta maneira, seria uma análise da relação entre a maneira<br />

de expressar e o conteúdo teórico do enunciado.<br />

ANDREA DAHER: Mas ao lançar mão de conceitos como o conceito de habitus<br />

— que <strong>Bourdieu</strong> diz escolher diretamente de Panofsky por ser o sentido<br />

mais aristotélico, propriamente, do conceito — é uma renúncia, ou pelo<br />

menos uma denúncia da insuficiência de outros conceitos mais coletivizantes<br />

como ideologia, mentalidades, como outros conceitos em voga exatamente<br />

nesse momento. Quer dizer, ao mesmo tempo há um distanciamento de<br />

um determinado conceito de ideologia.<br />

ROGER CHARTIER: Sim, porque <strong>Bourdieu</strong> queria pensar nesta dimensão da<br />

incorporação, e os outros conceitos podiam parecer intelectualizados demais.<br />

Tenho aqui uma definição de habitus — há muitas, na obra de<br />

<strong>Bourdieu</strong> — que aponta para um sistema de esquemas de percepção, de<br />

juízo, de apreciação e de ação inscritos no corpo pelas experiências passa-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!