Pierre Bourdieu e a história - Topoi
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142 • TOPOI<br />
imposição de uma legitimidade cultural. Talvez possamos acrescentar, seguindo<br />
<strong>Bourdieu</strong>, um terceiro elemento na definição de campos culturais.<br />
Primeiro elemento: um mundo econômico que substitui o interesse econômico<br />
pelo desinteresse estético (o que não significa que não haja interesses<br />
no campo cultural, mas sim que estes interesses não são vistos a partir<br />
de uma acumulação econômica). Segundo elemento: a relação mais forte<br />
no campo cultural que em outros campos — por exemplo, o econômico<br />
— do presente com um passado de longa duração. O terceiro elemento seria<br />
o fato de que os campos culturais não são juridicamente codificados. Para<br />
entrar no campo acadêmico, por exemplo, são necessários títulos, certificados.<br />
Há uma objetividade dos títulos que permite que alguém seja considerado<br />
ou não membro de um campo acadêmico identificado com o<br />
mundo universitário. Mas no caso dos campos culturais, estéticos ou intelectuais<br />
não existem tais codificações. E a partir deste momento, para<br />
<strong>Bourdieu</strong>, o que caracterizava as lutas, os conflitos dentro destes campos<br />
era justamente a possibilidade ou a definição, a classificação de quem é<br />
considerado ou se considera como participante de um campo de criação<br />
intelectual, cultural ou estética. Neste livro, As Regras da arte, <strong>Bourdieu</strong><br />
considera as lutas de representação, que levam ao estabelecimento de quem<br />
é digno da categoria de artista, ou de um título, como no caso do título<br />
acadêmico. Quem é artista? Quem é escritor? Quem é intelectual ou filósofo?<br />
Estes conflitos para definir esssas identidades remetem à luta pelo<br />
direito ou pelo monopólio do poder da consagração estética ou intelectual,<br />
isto é, diria <strong>Bourdieu</strong>, o monopólio do poder para dizer, como autoridade,<br />
quem está autorizado a chamar-se escritor, ou até mesmo para se designar<br />
quem é escritor e quem tem autoridade para dizer quem é escritor, artista<br />
ou filósofo. Aqui, a dimensão fundamental das tensões ou dos conflitos<br />
dentro deste espaço diz respeito aos limites destes espaços e ao direito de<br />
dizer quais são estes limites, e ao direito de dizer quem pertence a este espaço<br />
social particular. Evidentemente, segundo a posição de cada um, a definição<br />
muda. E a posição ocupada dentro do mundo social, ou dentro deste<br />
mundo particular, a definição de quem tem o direito de dizer quem é artista<br />
ou quem é filósofo se modifica, entre as definições mais acadêmicas e as<br />
definições mais espontâneas. Não se pode pensar que existe uma classifica-