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4ª Edição da FGR em Revista - Fundação Guimarães Rosa

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Empreendimentos sociais<br />

b<strong>em</strong>-sucedidos <strong>da</strong> <strong>FGR</strong><br />

A transcendência na<br />

linguag<strong>em</strong> de Nenhum,<br />

Nenhuma<br />

“Nenhum, Nenhuma” é uma <strong>da</strong>s estórias<br />

escritas por João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> <strong>em</strong> seu<br />

livro “Primeiras Estórias”.<br />

<strong>em</strong> revista<br />

Publicação <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> · Ano 3 · Nº 04 · agosto de 2009<br />

Ensaio sobre o sofrimento<br />

psicológico de policiais<br />

A questão do desgaste do policial <strong>em</strong><br />

decorrência de suas ativi<strong>da</strong>des profissionais.<br />

ISSN 1984-8846<br />

FUNDAÇÃO GUIMARÃES ROSA


capa<br />

Empreendimentos sociais<br />

b<strong>em</strong>-sucedidos <strong>da</strong> <strong>FGR</strong><br />

editorial<br />

Juliana Peixoto 4<br />

sustentabili<strong>da</strong>de<br />

Imag<strong>em</strong> e Comunicação na<br />

gestão do Terceiro Setor<br />

Leonardo Leopoldo Costa Coelho<br />

Voluntariado nas Organizações<br />

de Terceiro Setor<br />

Marisa Seoane Rio Resende<br />

educação e cultura<br />

A transcendência na linguag<strong>em</strong><br />

de Nenhum, Nenhuma<br />

7<br />

9<br />

11<br />

“Nenhum, Nenhuma” é uma <strong>da</strong>s estórias escritas por<br />

João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> <strong>em</strong> seu livro “Primeiras Estórias”.<br />

Maria Ma<strong>da</strong>lena Magnabosco<br />

Distúrbios de aprendizado<br />

relacionados à visão<br />

16<br />

Dra. Márcia Reis <strong>Guimarães</strong><br />

Esporte como fator de inclusão<br />

de jovens na socie<strong>da</strong>de<br />

Entrevista cedi<strong>da</strong> à “<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>” por Gustavo de<br />

Faria Dias Corrêa, Secretário de Estado de Esportes e<br />

<strong>da</strong> Juventude de Minas Gerais.<br />

20<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

Um Programa <strong>da</strong> Paz 31<br />

Ilce Gonçalves Sousa de Jesus<br />

23<br />

preservação ecológica<br />

Todos juntos somos fortes<br />

segurança pública<br />

A Segurança de todos:<br />

Paz e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

Gestão integra<strong>da</strong> de eventos de<br />

Defesa Social de Alto Risco<br />

Ensaio sobre o sofrimento<br />

psicológico de policiais<br />

sumário<br />

Entrevista especial <strong>da</strong> “<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>” com José Carlos Carvalho,<br />

Secretário de Estado de Meio Ambiente de Minas Gerais.<br />

O uso sustentável <strong>da</strong>s águas<br />

Arley Gomes de Lagos Ferreira<br />

Gleisa Calixto Antunes<br />

Francis Albert Cotta<br />

Álvaro Antônio Nicolau<br />

37<br />

39<br />

45<br />

especial<br />

Ciência e Harmonia. 58<br />

João Bosco de Castro<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

3<br />

33<br />

35


editorial<br />

4 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

O intercâmbio entre<br />

a “<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>”<br />

e o público-leitor<br />

O grande destaque desta publicação é a interação<br />

direta com o leitor, pois apresentamos artigos de fácil<br />

aplicabili<strong>da</strong>de no cotidiano.<br />

Inovadora <strong>em</strong> sua proposta editorial, a<br />

“<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>” está <strong>em</strong> sua quarta edição,<br />

com novos conteúdos editoriais, cujos<br />

conceitos contribu<strong>em</strong> para melhor entendimento<br />

sobre a atuação do Governo, Empresas<br />

e Terceiro Setor no Espaço Público 1 .<br />

No cenário Educacional, ressaltamos a importância<br />

<strong>da</strong> Leitura <strong>em</strong> perspectiva diferencia<strong>da</strong>:<br />

como identificar os “Distúrbios de<br />

Aprendizado Relacionados à Visão?” Muito<br />

se ouve falar na importância <strong>da</strong> Leitura<br />

como agente preventivo, contudo, poucas<br />

são as informações de encaminhamento e<br />

tratamento quando o Aluno se desinteressa<br />

pelas aulas, ou seu rendimento e socialização<br />

escolar fog<strong>em</strong> <strong>da</strong> normali<strong>da</strong>de. Em matéria<br />

completa e inédita, convi<strong>da</strong>mos o leitor<br />

a conhecer mais sobre o processo de visão<br />

e a despertar os educadores para a reali<strong>da</strong>de<br />

desse diagnóstico: “Os melhores profissionais<br />

para suspeitar dificul<strong>da</strong>des na eficiência<br />

visual e processamento <strong>da</strong> informação<br />

são os professores e profissionais, como pe<strong>da</strong>gogos,<br />

psicólogos, psicope<strong>da</strong>gogos, fonoaudiólogos<br />

e terapeutas ocupacionais.”<br />

Na editoria de Sustentabili<strong>da</strong>de, buscamos<br />

enfoque crítico e não somente descritivo,<br />

pois, consciente do cenário político e econômico,<br />

a <strong>FGR</strong> convi<strong>da</strong> seus parceiros a tratar<br />

de duas questões essenciais para qualquer<br />

iniciativa Priva<strong>da</strong> ou Pública: Comunicação e<br />

Voluntariado como instrumentos de gestão.<br />

Algo importante a ser estu<strong>da</strong>do pelos grupos<br />

<strong>em</strong>presariais, principalmente pelos Comunicólogos,<br />

é a maneira pela qual se busca a<br />

transformação do burocrático <strong>em</strong> prático.<br />

Deve-se atentar para a administração imbuí<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> requerimentos burocráticos porque,<br />

de certa forma, ela contradiz e dificulta os incentivos<br />

às participações voluntárias.<br />

Alinha<strong>da</strong> aos Objetivos do Milênio 2 , a <strong>FGR</strong><br />

avança nas questões de preservação ecológica.<br />

Em 2009, promoveu o III S<strong>em</strong>inário<br />

de Responsabili<strong>da</strong>de Socioambiental,<br />

com público aproximado de 250 participantes.<br />

Ao todo, 800 profissionais e estu<strong>da</strong>ntes<br />

foram capacitados por esta iniciativa,<br />

desde 2007. Como incentivadora <strong>da</strong><br />

cultura de responsabili<strong>da</strong>de socioambiental,<br />

a <strong>FGR</strong> estimula o trabalho conjunto <strong>em</strong><br />

favor <strong>da</strong> melhoria do b<strong>em</strong>-estar <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des<br />

e, nesta edição, não poderia deixar<br />

de abor<strong>da</strong>r o t<strong>em</strong>a “O Uso Sustentável <strong>da</strong>s<br />

Águas”. Para compl<strong>em</strong>entar esta editoria<br />

de Preservação Ecológica, convi<strong>da</strong>mos o<br />

Secretário de Estado de Meio Ambiente de<br />

Minas Gerais, Sr. José Carlos Carvalho, para<br />

um bate-papo sobre as ações do Estado.<br />

Em publicação recente sobre o “Índice de<br />

Homicídios na Adolescência” 3 , observase<br />

que os <strong>da</strong>dos sobre homicídios são<br />

alarmantes: Belo Horizonte ocupa a<br />

sexta posição no ranking de capitais com<br />

mais homicídios na adolescência. Há<br />

sete anos, a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

investe <strong>em</strong> Programas e Projetos Sociais,<br />

principalmente aqueles voltados para


editorial<br />

crianças e adolescentes residentes <strong>em</strong><br />

áreas de risco. Uma <strong>da</strong>s ferramentas<br />

mais eficazes para retirar jovens dessa<br />

situação é, s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong>, o ESPORTE. Em<br />

outras instituições sociais, o esporte<br />

também é o recurso mais atrativo para<br />

as ativi<strong>da</strong>des coletivas, incentivadoras<br />

do desenvolvimento humano. Essas<br />

instituições pod<strong>em</strong> contar com o apoio<br />

<strong>da</strong> Secretaria de Estado de Esportes<br />

e <strong>da</strong> Juventude, conforme d<strong>em</strong>onstra<br />

a entrevista feita pela Equipe de<br />

Comunicação <strong>da</strong> <strong>FGR</strong> com o Secretário<br />

de Estado Gustavo Corrêa.<br />

Em matéria publica<strong>da</strong> pela Rede Globo<br />

4 , referente à mesma pesquisa, verifica-se<br />

a importância de investimentos<br />

sociais de comprometimento sério: “Até<br />

2012, cerca de 33 mil adolescentes não<br />

chegarão aos 19 anos de i<strong>da</strong>de porque<br />

terão sido assassinados. Nas comuni<strong>da</strong>des<br />

mais pobres, a esperança de impedir<br />

a precisão está <strong>em</strong> projetos sociais que<br />

oferec<strong>em</strong> instrumentos para os jovens se<br />

afastar<strong>em</strong> <strong>da</strong> violência.” Esses <strong>da</strong>dos reafirmam<br />

o importante papel do Terceiro<br />

Setor <strong>em</strong> atuar com políticas públicas assertivas<br />

e, para isso, a <strong>FGR</strong> constrói novo<br />

modelo de intervenção <strong>em</strong> seus Programas<br />

e Projetos, por meio <strong>da</strong> interação<br />

entre três importantes áreas: Serviço Social,<br />

Psicologia e Pe<strong>da</strong>gogia. O leitor vai<br />

conhecer o resultado desse modelo ao<br />

ISSN 1984-8846<br />

Rua Paraíba, 1441 | 8º an<strong>da</strong>r<br />

Funcionários | CEP 30130-141<br />

Belo Horizonte | MG<br />

Tel: (31) 3263 1600<br />

Fax: (31) 3263 1604<br />

<strong>em</strong> revista<br />

Endereço eletrônico<br />

www.fgr.org.br | comsocial@fgr.org.br<br />

Superintendente-Geral<br />

Álvaro Antônio Nicolau<br />

Superintendente de Empreendimentos e<br />

Pesquisa<br />

Pedro Seixas <strong>da</strong> Silva<br />

ler os artigos “Empreendimentos Sociais<br />

B<strong>em</strong>-Sucedidos <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>” e “Um Programa<br />

Pela Paz”.<br />

Presente nas ativi<strong>da</strong>des de prevenção à<br />

criminali<strong>da</strong>de desde sua criação, a Fun<strong>da</strong>ção<br />

participa de diversas iniciativas na<br />

área <strong>da</strong> Segurança Pública. Em meio a<br />

muitas, destaca-se o “Ciclo de Segurança<br />

Pública <strong>em</strong> Debate” (CISED), destinado<br />

a debater ideias e opiniões úteis ao<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> Segurança. Em três<br />

anos de funcionamento, cerca de 1.200<br />

participantes do Sist<strong>em</strong>a Único de Segurança<br />

Pública (SUSP) contribuíram para<br />

este <strong>em</strong>preendimento <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>, por meio<br />

de questionamentos que propõ<strong>em</strong> melhor<br />

engajamento entre as Autori<strong>da</strong>des<br />

e os Profissionais do SUSP. Nesta publicação,<br />

três artigos abor<strong>da</strong>m o t<strong>em</strong>a Segurança<br />

Pública de maneira distinta e<br />

importante para as consoli<strong>da</strong>ções necessárias<br />

<strong>em</strong> favor <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de: “Gestão<br />

Integra<strong>da</strong> de Eventos de Defesa Social de<br />

Alto Risco”, “Ensaio Sobre o Sofrimento<br />

Psicológico de Policiais” e “A Segurança<br />

de Todos: Paz e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia”. Nesta editoria,<br />

quer<strong>em</strong>os despertar a comuni<strong>da</strong>de<br />

para um posicionamento crítico e participativo.<br />

Esta participação, corresponsável<br />

pelo b<strong>em</strong>-estar, não é sugeri<strong>da</strong> diariamente<br />

e, como consequência, não há<br />

uni<strong>da</strong>de nos esforços <strong>em</strong>preendidos contra<br />

a insegurança.<br />

Superintendente de Administração, Finanças,<br />

Tecnologia <strong>da</strong> Informação e Gestão<br />

Social<br />

José Antônio Gonçalves<br />

Jornalista Responsável e Chefe do Setor<br />

de Comunicação, Cultura e Lazer<br />

Juliana Leonel Peixoto | 14.019/MG<br />

Relações Públicas<br />

Fabiana Magalhães dos Santos | CONRERP-MG<br />

2160<br />

Publicitário<br />

Juliano Ziviani Pochman<br />

Bibliotecária<br />

Edna Silva Angelo - CRB-6/2560<br />

Estagiários<br />

Comunicação: Fabíola Mara Costa<br />

Tecnologias, Administração e Cultura: Jerry<br />

Fernandes Medeiros<br />

Compõe este número <strong>da</strong> revista sintética<br />

apreciação etnológica do Folclore, universalmente<br />

celebrado no mês de agosto,<br />

com base no livro “Folclore <strong>em</strong> Minas<br />

Gerais”, do Professor-Doutor Saul<br />

Alves Martins, o Príncipe dos Folclorólogos<br />

Brasileiros.<br />

Ao encerrar este Editorial, apresentamos<br />

o Patrono desta Casa, o Poeta e Ficcionista<br />

João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, sob o olhar<br />

<strong>da</strong> ciência fenomenológica. O Conto<br />

“Nenhum, Nenhuma” foi publicado no<br />

Livro “Primeiras Estórias” e, aqui, pela<br />

primeira vez, tecer<strong>em</strong>os um diálogo entre<br />

“Nenhum, Nenhuma” e alguns fun<strong>da</strong>mentos<br />

<strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> fenomenológico-existencial.<br />

Juliana Peixoto*<br />

1. De acordo com a Doutora Eloísa Cabral: “produto social do<br />

encontro entre Estado, Mercado e Comuni<strong>da</strong>de, usufruído indistintamente<br />

pela quali<strong>da</strong>de do ci<strong>da</strong>dão.”<br />

2. Ver mais informações <strong>em</strong> http://www.pnud.org.br/odm/<br />

3. Estudo realizado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos<br />

<strong>da</strong> Presidência <strong>da</strong> República – SPDCA/SEDH, Fundo <strong>da</strong>s<br />

Nações Uni<strong>da</strong>s Para a Infância – UNICEF, Observatório <strong>da</strong>s Favelas<br />

e Laboratório de Análise <strong>da</strong> Violência – LAV/UERJ. Disponível/<strong>em</strong>:.<br />

4. http://g1.globo.com/<br />

*Jornalista (14.019/MG), MBA <strong>em</strong> Gestão de Projetos<br />

Educacionais. Parceira Assessora <strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia<br />

de Letras “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”, <strong>da</strong> PMMG, e Assessora<br />

de Imprensa <strong>da</strong> <strong>FGR</strong> desde 2007.<br />

Projeto Gráfico, <strong>Edição</strong>, Diagramação e Revisão<br />

Jota Campelo Comunicação<br />

Tirag<strong>em</strong><br />

3.000 ex<strong>em</strong>plares<br />

Fotos<br />

Arquivo <strong>FGR</strong> | Secretaria de Estado de Esportes<br />

e <strong>da</strong> Juventude | Secretaria de Estado de Meio<br />

Ambiente | Vera Godoy<br />

Impressão<br />

Bigráfica Editora<br />

A Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> não se responsabiliza<br />

por conceitos <strong>em</strong>itidos <strong>em</strong> artigos<br />

assinados. É permiti<strong>da</strong> a divulgação <strong>da</strong>s informações,<br />

desde que cita<strong>da</strong> a fonte.<br />

Foto de Capa<br />

Assessoria de Comunicação <strong>FGR</strong><br />

Gabriel Antunes C. Barra, 6 anos - 1º ano<br />

Professora: Meire Bastos<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

5


sustentabili<strong>da</strong>de<br />

Imag<strong>em</strong> e Comunicação na<br />

gestão do Terceiro Setor<br />

No cenário cont<strong>em</strong>porâneo, dentre outras<br />

características, pod<strong>em</strong>os destacar<br />

o crescimento significativo <strong>da</strong>s Organizações<br />

Sociais (organizações nãogovernamentais<br />

priva<strong>da</strong>s de interesse<br />

público) e dos projetos sociais de investimento<br />

social privado, desenvolvidos<br />

por <strong>em</strong>presas. Ambos procuram cobrir<br />

áreas de atendimento classicamente<br />

atribuí<strong>da</strong>s ao Estado. Também observase<br />

as parcerias entre os três setores (o<br />

primeiro setor é formado pelo governo,<br />

o segundo setor pela iniciativa priva<strong>da</strong><br />

e o terceiro setor pelas organizações<br />

sociais não-governamentais de interesse<br />

público), gerando novos <strong>em</strong>pregos e<br />

mobilizando um contingente significativo<br />

de recursos, <strong>em</strong> nível global e local<br />

(MEREGE, 2006).<br />

Se cresce a atuação de <strong>em</strong>presas e do<br />

Terceiro Setor na chama<strong>da</strong> área social,<br />

cresce também a necessi<strong>da</strong>de de<br />

maior qualificação e entendimento <strong>da</strong><br />

Comunicação<br />

Organizacional<br />

(Administrativa,<br />

Interna, Institucional<br />

e Mercadológica)<br />

reali<strong>da</strong>de que estas organizações pretend<strong>em</strong><br />

transformar e interagir, ambiente<br />

de alta complexi<strong>da</strong>de e geralmente<br />

caracterizado por um elevado<br />

índice de vulnerabili<strong>da</strong>de social.<br />

Nesse cenário, as imagens <strong>da</strong>s organizações<br />

e projetos assum<strong>em</strong> importância<br />

crescente <strong>em</strong> um mundo onde a informação<br />

e a comunicação atingiram<br />

níveis nunca antes alcançados. Tais<br />

imagens são forma<strong>da</strong>s, <strong>em</strong> larga medi<strong>da</strong>,<br />

pelas percepções que os públicos<br />

de relacionamento <strong>da</strong>s organizações<br />

têm sobre os seus comportamentos,<br />

atitudes e comunicação organizacionais<br />

estabeleci<strong>da</strong>s com eles. Um dos<br />

pontos de atenção está, justamente,<br />

na multiplici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s imagens que<br />

se formam, já que distintas pessoas<br />

e grupos de relacionamento irão reter<br />

impressões varia<strong>da</strong>s sobre as atitudes<br />

e comportamento <strong>da</strong>s organizações<br />

(BOULDING, 1986).<br />

Comunicação estabeleci<strong>da</strong> com os públicos de relacionamento<br />

por mecanismos formais <strong>da</strong> organização<br />

feedback<br />

Identi<strong>da</strong>de e Cultura Organizacional<br />

Comunicação<br />

Interpessoal entre<br />

colaboradoes e<br />

públicos de<br />

relacionamento<br />

feedback<br />

Imag<strong>em</strong> forma<strong>da</strong><br />

pelos públicos de<br />

relacionamento<br />

Esqu<strong>em</strong>a 1: Relação entre Comunicação e formação <strong>da</strong> Imag<strong>em</strong> Organizacional<br />

Leonardo Leopoldo Costa Coelho*<br />

Nesse sentido, o Terceiro Setor enfrenta<br />

um grande desafio: qualificar sua<br />

gestão e profissionalizar-se de forma<br />

a potencializar os resultados sociais a<br />

que se propõe, onde os recursos são<br />

escassos e as formas de captação passam,<br />

necessariamente, pela forma de<br />

se comunicar e pelos mecanismos de<br />

troca e interação estabelecidos com os<br />

públicos de relacionamento, que irão<br />

favorecer ou não a formação e manutenção<br />

<strong>da</strong> imag<strong>em</strong> organizacional.<br />

A relação <strong>da</strong> comunicação com a formação<br />

<strong>da</strong> imag<strong>em</strong>, de forma simplifica<strong>da</strong>,<br />

pode ser vislumbra<strong>da</strong> no esqu<strong>em</strong>a<br />

1. No desenho, fica explícita<br />

a relação entre a comunicação organizacional<br />

e aquela estabeleci<strong>da</strong> pelos<br />

colaboradores com os públicos de<br />

relacionamento. A resultante, soma<strong>da</strong><br />

às percepções prévias dos públicos<br />

(crenças e valores, informações forneci<strong>da</strong>s<br />

por outros públicos, experiência<br />

Informações forneci<strong>da</strong>s<br />

por outros públicos/<br />

pessoas<br />

Experiências anteriores<br />

com a organização<br />

Crenças e valores<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

7


sustentabili<strong>da</strong>de<br />

anterior com a organização) irão fornecer<br />

os subsídios para a formação <strong>da</strong><br />

imag<strong>em</strong> pelos públicos de relacionamento<br />

prioritários <strong>da</strong> organização.<br />

Pod<strong>em</strong>os, a priori, apontar alguns grupos<br />

de grande importância para a organização<br />

social: seus colaboradores<br />

(voluntários e r<strong>em</strong>unerados), o público<br />

final <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, os parceiros atuais<br />

e pretendidos e os doadores. Para<br />

ca<strong>da</strong> um deles, pode-se estabelecer<br />

uma comunicação dirigi<strong>da</strong> que busque<br />

aproximá-los <strong>da</strong> causa e envolvê-los<br />

nos processos <strong>da</strong> organização.<br />

Com os colaboradores,<br />

por ex<strong>em</strong>plo,<br />

é fun<strong>da</strong>mental que a<br />

comunicação traga à<br />

l<strong>em</strong>brança, por meio<br />

de seus instrumentos<br />

como o jornal mural,<br />

informativos, newsletter,<br />

intranet, etc.,<br />

os valores que permeiam<br />

a identi<strong>da</strong>de<br />

organizacional<br />

e os objetivos a ser<strong>em</strong><br />

alcançados. Refiro-me<br />

à identi<strong>da</strong>de<br />

(ver esqu<strong>em</strong>a 1) como<br />

tudo aquilo que distingue a<br />

organização <strong>da</strong>s d<strong>em</strong>ais, que a<br />

torna única e especial. Ressalto<br />

a importância de a comunicação<br />

traduzir os valores e sua unici<strong>da</strong>de<br />

<strong>em</strong> informações que auxili<strong>em</strong><br />

a execução dos projetos. Se uma<br />

organização não sabe responder<br />

o que a torna única e quais<br />

são os seus valores, deve voltarse<br />

imediatamente a esses pontos.<br />

Outro aspecto está no fato<br />

de que os valores dev<strong>em</strong> mediar<br />

as relações entre os colaboradores<br />

e, avivados pela comunicação<br />

<strong>em</strong> locais de fácil acesso e<br />

constante visitação, tornam-se<br />

mais usuais.<br />

A comunicação, como uma dimensão<br />

fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> gestão,<br />

8 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

pode contribuir para o direcionamento<br />

dos fluxos informacionais. Na prática,<br />

significa fazer chegar às pessoas<br />

certas as informações relevantes para<br />

que execut<strong>em</strong>, <strong>da</strong> melhor maneira, o<br />

seu trabalho e que tenham mecanismos<br />

variados de trocar impressões, informações<br />

e <strong>da</strong>r feedback do que v<strong>em</strong><br />

sendo realizado. Lideranças e d<strong>em</strong>ais<br />

colaboradores pod<strong>em</strong> se beneficiar<br />

desta comunicação se ela for dialógica<br />

e isso depende <strong>em</strong> parte dos próprios<br />

colaboradores, <strong>em</strong> parte dos tipos<br />

de mecanismos utilizados pela<br />

organização para que a circulação <strong>da</strong>s<br />

informações aconteça. Assim, os mecanismos<br />

de comunicação interpessoal<br />

(reuniões, encontros, s<strong>em</strong>inários,<br />

ro<strong>da</strong>s de conversa, reuniões de brainstorming,<br />

etc.) e os mediados pela tecnologia<br />

(e-mails, chats, intranets, site,<br />

blogs, etc.) serv<strong>em</strong> à diss<strong>em</strong>inação<br />

dos valores e à projeção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> organização, ou seja, aquilo<br />

que a torna única. S<strong>em</strong> contar as campanhas<br />

institucionais e publicitárias<br />

que, ao ser<strong>em</strong> planeja<strong>da</strong>s para mobilizar<br />

o maior (e melhor) contingente<br />

de pessoas e outras organizações<br />

para a causa, precisam estar atentas<br />

para não incorrer no erro de desvirtuar<br />

sua identi<strong>da</strong>de projeta<strong>da</strong> ao simplesmente<br />

usar as mesmas lógicas comunicacionais<br />

que <strong>em</strong>presas priva<strong>da</strong>s ou<br />

públicas utilizam, ou mesmo reforçar<br />

estereótipos de minorias. Chamo<br />

a atenção para o fato de que acredito<br />

que os instrumentos desenvolvidos<br />

<strong>em</strong> <strong>em</strong>presas priva<strong>da</strong>s e setor público<br />

para a gestão pod<strong>em</strong> e dev<strong>em</strong> ser<br />

apropriados, desde que se observ<strong>em</strong><br />

as especifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong> organização e a<br />

aplicação de tais instrumentos naquele<br />

contexto, onde sugiro um aprofun<strong>da</strong>mento<br />

prévio nas metodologias e<br />

instrumentos e sua devi<strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptação.<br />

A comunicação e a consequente imag<strong>em</strong><br />

organizacional pod<strong>em</strong> contribuir<br />

muito para o alinhamento entre<br />

discurso e práticas organizacionais.<br />

Uma organização percebi<strong>da</strong> por seus<br />

m<strong>em</strong>bros e públicos de relacionamento<br />

como honesta, competente, responsável,<br />

íntegra e solidária, gera um<br />

“movimento mobilizador convocante”<br />

à participação de pessoas que se<br />

sintonizam com aqueles ideais e valores<br />

pregados e vivenciados. No ambiente<br />

interno, convi<strong>da</strong> os colaboradores<br />

a uma conduta <strong>em</strong> consonância<br />

com o discurso institucional, ou seja,<br />

se quer<strong>em</strong>os que a organização seja<br />

percebi<strong>da</strong> como responsável, competente<br />

e solidária, ter<strong>em</strong>os que começar<br />

pelas atitudes de ca<strong>da</strong> colaborador<br />

com os colegas, com os atendidos,<br />

com as pessoas que interag<strong>em</strong> com a<br />

organização, com os doadores e também<br />

com os críticos do trabalho.<br />

Enfim, a complexi<strong>da</strong>de na gestão <strong>da</strong>s<br />

organizações acompanha a complexi<strong>da</strong>de<br />

dos fenômenos sociais na atuali<strong>da</strong>de<br />

e a constante mu<strong>da</strong>nça nas formas<br />

de comunicação. Uma organização<br />

social não pode ficar alheia a to<strong>da</strong> revolução<br />

comunicacional (<strong>em</strong> especial<br />

as mídias sociais) e n<strong>em</strong> abrir mão de<br />

planejar suas ações e sua comunicação.<br />

O desafio será s<strong>em</strong>pre buscar a participação,<br />

a diversi<strong>da</strong>de e respeito <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s<br />

as mensagens envia<strong>da</strong>s e relações<br />

estabeleci<strong>da</strong>s para a construção de um<br />

mundo mais equânime e solidário.<br />

Referências Bibliográficas:<br />

BOULDING, K.E. The image. Ann Arbor: University of<br />

Michigan Press, 1986.<br />

MEREGE, Prefácio. In CABRAL, A.; COELHO, L.<br />

(orgs.). Mundo <strong>em</strong> Transformação - Caminhos para<br />

o desenvolvimento sustentável. 1. ed. Belo Horizonte:<br />

Autêntica: 2006. p 7-15.<br />

*Relações Públicas e Mestre <strong>em</strong> Administração<br />

(FDC/PUC Minas), é sócio do Instituto Ver - Pesquisa<br />

e Diagnóstico <strong>em</strong> Comunicação. Professor <strong>da</strong><br />

PUC Minas e BI International, Diretor de Comunicação<br />

<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>mig e Coordenador do Espaço Criança<br />

Esperança de Belo Horizonte. Autor do livro “Mundo<br />

<strong>em</strong> Transformação: caminhos para o desenvolvimento<br />

sustentável” - Editora Autêntica, 2006.


sustentabili<strong>da</strong>de<br />

Voluntariado nas Organizações<br />

de Terceiro Setor<br />

Voluntariado é a expressão <strong>da</strong> participação<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de na vi<strong>da</strong> pública<br />

mais significativa <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de.<br />

Os movimentos de participação social<br />

sofr<strong>em</strong> modificações de acordo com<br />

as condições impostas pela reali<strong>da</strong>de,<br />

mas muito além do t<strong>em</strong>po e do espaço,<br />

o voluntariado se manifesta no Brasil<br />

desde a sua orig<strong>em</strong> pelas ativi<strong>da</strong>des religiosas,<br />

especialmente de assistência,<br />

saúde e educação.<br />

A aju<strong>da</strong> mútua é uma forma de voluntariado<br />

que, ao longo do t<strong>em</strong>po,<br />

se manifesta <strong>em</strong> populações de imigrantes<br />

que se organizam para aju<strong>da</strong>r<br />

aqueles, que ao chegar a um território<br />

estranho, precisam impulsionar<br />

um novo modo de vi<strong>da</strong>, entre escravos<br />

que prestavam socorro aos seus,<br />

naqueles que acolh<strong>em</strong> desabrigados e<br />

peregrinos, nos que aju<strong>da</strong>m vizinhos,<br />

parentes e amigos a solucionar os<br />

probl<strong>em</strong>as do dia-a-dia.<br />

Mas como essa atitude chega às instituições<br />

do Terceiro Setor neste milênio?<br />

O voluntariado abre o novo milênio<br />

como uma expressão legítima <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia,<br />

<strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de pela vi<strong>da</strong> do<br />

outro, na preocupação com o desenvolvimento<br />

sustentável. Chega ao novo<br />

milênio com jeito de militância política<br />

alia<strong>da</strong> a uma grande articulação solidária.<br />

Envolve crianças, jovens, adultos e<br />

idosos. Ca<strong>da</strong> um ao seu modo, contribui.<br />

O voluntariado se diss<strong>em</strong>ina <strong>em</strong> organizações,<br />

<strong>em</strong>presas, escolas, repartições<br />

públicas e toma conta de um novo<br />

jeito de olhar o mundo. Um novo jeito<br />

de participar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pública.<br />

Em 1993, a socie<strong>da</strong>de brasileira é coloca<strong>da</strong><br />

diante de um desafio: acabar<br />

com a fome e a miséria. Nasc<strong>em</strong> campanhas,<br />

nasc<strong>em</strong> organizações, o t<strong>em</strong>a<br />

é colocado na pauta política. Enfim, a<br />

fome, aquela fome com que a socie<strong>da</strong>de<br />

já estava acostuma<strong>da</strong> a conviver,<br />

passa a ser a grande vilã que deve<br />

ser derruba<strong>da</strong>. Mu<strong>da</strong> o foco <strong>da</strong> aju<strong>da</strong>.<br />

A soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de t<strong>em</strong> um novo modo de<br />

existir: é aju<strong>da</strong> estrutura<strong>da</strong>, com meta<br />

de superar os probl<strong>em</strong>as.<br />

A Pastoral <strong>da</strong> Criança reúne uma grande<br />

rede de voluntários espalhados por<br />

todo o mundo com um desafio s<strong>em</strong>elhante:<br />

erradicar a mortali<strong>da</strong>de infantil.<br />

E os resultados são surpreendentes.<br />

Essa ampla rede de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

já salvou milhões de vi<strong>da</strong>s e continua<br />

a salvar nos lugares mais longínquos e<br />

inacessíveis do Planeta.<br />

São voluntários que se organizam por<br />

uma causa, por um ideal.<br />

Segundo definição <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s,<br />

“o voluntário é o jov<strong>em</strong> ou o adulto<br />

que, devido a seu interesse pessoal e<br />

ao seu espírito cívico, dedica parte do<br />

seu t<strong>em</strong>po, s<strong>em</strong> r<strong>em</strong>uneração alguma,<br />

a diversas formas de ativi<strong>da</strong>des, organiza<strong>da</strong>s<br />

ou não, de b<strong>em</strong>-estar social, ou<br />

outros campos...” Mas, acima de tudo,<br />

ser voluntário é trazer no coração um<br />

imenso desejo de participar, de contribuir<br />

para digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. É assim<br />

que a dinâmica do voluntariado no<br />

Brasil v<strong>em</strong> crescendo a ca<strong>da</strong> ano.<br />

Ser voluntário é coisa séria, acontece<br />

espontaneamente pelo compromisso<br />

Marisa Seoane Rio Resende*<br />

e responsabili<strong>da</strong>de individual e se concretiza<br />

nas instituições <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. É<br />

por isso que a legislação ampara voluntários<br />

e instituições, respal<strong>da</strong>ndo o<br />

desejo legítimo de participação e afastando<br />

interesses escusos que possam<br />

comprometer o avanço do movimento<br />

voluntário no Brasil, por meio <strong>da</strong> lei<br />

nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998.<br />

Nela, além <strong>da</strong> regulação como ativi<strong>da</strong>de<br />

reconheci<strong>da</strong> <strong>em</strong> lei, propõe-se a<br />

utilização de um instrumento chamado<br />

“Termo de Adesão”. O termo de adesão<br />

é assinado pelo voluntário que doa<br />

seu t<strong>em</strong>po, trabalho e talento e pelo<br />

responsável <strong>da</strong> instituição que lhe confere<br />

ativi<strong>da</strong>des e responsabili<strong>da</strong>des.<br />

Qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> uma causa, mas não sabe<br />

como fazer, a melhor alternativa é associar-se<br />

a uma organização estrutura<strong>da</strong><br />

que poderá indicar o caminho e aproveitar<br />

<strong>da</strong> melhor forma o seu talento<br />

e disponibili<strong>da</strong>de. As organizações ambientais,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, são constituí<strong>da</strong>s<br />

<strong>em</strong> grande parte por voluntários,<br />

que aprend<strong>em</strong> a proteger o ambiente<br />

<strong>em</strong> suas próprias comuni<strong>da</strong>des, sabendo<br />

como agir, denunciar, reverter situações<br />

e, com isso, os voluntários tornam-se<br />

parte de uma ver<strong>da</strong>deira rede<br />

de proteção ambiental.<br />

Tornar-se voluntário <strong>em</strong> uma escola ou<br />

creche é também uma forma estrutura<strong>da</strong><br />

de atuar. As instituições mais organiza<strong>da</strong>s<br />

possu<strong>em</strong> “bancos de talentos”<br />

e receb<strong>em</strong> voluntários para atuar diretamente<br />

nas d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>s <strong>da</strong> instituição,<br />

de forma a agregar valor ao trabalho<br />

dos profissionais contratados. Os voluntários<br />

pod<strong>em</strong> formar times que vão<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

9


sustentabili<strong>da</strong>de<br />

desde a captação de recursos até a realização<br />

de mutirões de serviços. Muitas<br />

instituições criam grupos de voluntários<br />

para alavancar novos projetos, que<br />

ao ser<strong>em</strong> aprovados na metodologia e<br />

conseguir<strong>em</strong> obter recursos passam a<br />

ser mantidos por profissionais e os voluntários<br />

dão início a novos projetos.<br />

A participação do voluntário é s<strong>em</strong>pre<br />

um fator de valor para a comuni<strong>da</strong>de,<br />

para as instituições, para qu<strong>em</strong> recebe<br />

e para qu<strong>em</strong> se doa. Uma socie<strong>da</strong>de<br />

que confia <strong>em</strong> seus vizinhos, <strong>em</strong> seus<br />

jovens, <strong>em</strong> seus talentos, é uma comuni<strong>da</strong>de<br />

forte e capaz de enfrentar grandes<br />

dificul<strong>da</strong>des s<strong>em</strong> destruir suas relações<br />

humanas.<br />

A d<strong>em</strong>ocracia se consoli<strong>da</strong> pela participação<br />

constante e decisiva dos ci<strong>da</strong>dãos.<br />

Nela, estão conceitua<strong>da</strong>s as<br />

várias formas de participação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

e uma <strong>da</strong>s principais é o voluntariado,<br />

que se estabelece nos conselhos<br />

de direitos, nas redes de proteção social,<br />

nas organizações sociais, nos movimentos<br />

sociais, nas campanhas de<br />

mobilização, entre outros.<br />

Nos conselhos de defesa de direitos,<br />

os indivíduos participam como representantes<br />

de comuni<strong>da</strong>des ou organizações<br />

e extrapolam os limites institucionais,<br />

com a oportuni<strong>da</strong>de de gerar<br />

grandes transformações frente aos<br />

graves probl<strong>em</strong>as que assolam a socie<strong>da</strong>de.<br />

Neles se estabelec<strong>em</strong> espaços de<br />

pesquisa, debate e ação, influenciam<br />

políticas públicas, indicam priori<strong>da</strong>des<br />

no destino de recursos públicos, estabelec<strong>em</strong><br />

redes de relações para superação<br />

e enfrentamento de complexos<br />

probl<strong>em</strong>as sociais. Essa participação<br />

voluntária exige grande nível de comprometimento<br />

dos participantes, muita<br />

criativi<strong>da</strong>de, capaci<strong>da</strong>de de articulação<br />

e conhecimento de causa.<br />

As redes de proteção social atuam<br />

muitas vezes de forma silenciosa,<br />

mas possu<strong>em</strong> grande capaci<strong>da</strong>de de<br />

10 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

transformação. Em torno de uma causa,<br />

os voluntários estabelec<strong>em</strong> relacionamentos<br />

de confiança com grande capaci<strong>da</strong>de<br />

de atuação. Os voluntários<br />

são acionados s<strong>em</strong>pre que um probl<strong>em</strong>a<br />

exige a atenção imediata, ação rápi<strong>da</strong><br />

e pronta solução. Nesse formato<br />

exist<strong>em</strong> grupos voluntários de combate<br />

a incêndio <strong>em</strong> locais específicos, geralmente<br />

onde não exist<strong>em</strong> esses serviços<br />

públicos. Grupos de paramédicos<br />

voluntários que se revezam <strong>em</strong> atender<br />

acidentes de trânsito <strong>em</strong> estra<strong>da</strong>s ou<br />

áreas urbanas. Redes de combate à violência<br />

doméstica, que se acionam para<br />

agir <strong>em</strong> conflitos familiares, <strong>da</strong>r socorro<br />

e proteção às vitimas, realizar campanhas<br />

educativas e apoiar organismos<br />

públicos de repressão à violência.<br />

Nas organizações sociais, os voluntários<br />

atuam na implantação e criação<br />

de novas instituições, como dirigentes,<br />

<strong>em</strong> mutirões, captação de recursos, organização<br />

de eventos e festas, associados,<br />

ativi<strong>da</strong>des pontuais e permanentes,<br />

enfim, adicionando valor às ações<br />

do dia-a-dia.<br />

Os movimentos sociais reún<strong>em</strong> pessoas<br />

<strong>da</strong>s mais diversas organizações, comuni<strong>da</strong>des<br />

ou mesmo indivíduos que compartilham<br />

de uma mesma causa e que<br />

decid<strong>em</strong> fazer um esforço de união para<br />

concretizar seus ideais. Todos ag<strong>em</strong> voluntariamente.<br />

Os movimentos sociais<br />

se constitu<strong>em</strong> <strong>em</strong> alianças <strong>em</strong> torno<br />

dos interesses defendidos. Constitu<strong>em</strong><br />

grandes forças na consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> d<strong>em</strong>ocracia<br />

e contribu<strong>em</strong> muito significativamente<br />

para fortalecer os direitos<br />

de grupos vulneráveis ou menos<br />

favorecidos.<br />

As campanhas são geralmente instrumentos<br />

educativos utilizados para diss<strong>em</strong>inar<br />

informações importantes para<br />

a superação de probl<strong>em</strong>as coletivos,<br />

que exig<strong>em</strong> mu<strong>da</strong>nça de atitude, alianças<br />

para enfrentamento, mobilização<br />

de pessoas, cooperação entre lideranças<br />

sociais. Os voluntários pod<strong>em</strong> atuar<br />

nas diversas etapas de uma campanha,<br />

desde elaboração, veiculação, diss<strong>em</strong>inação<br />

até a ação fim. As campanhas<br />

mobilizam grandes contingentes de<br />

voluntários e muitas vezes acabam inspirando<br />

a criação de projetos sociais<br />

permanentes.<br />

O trabalho voluntário é, portanto, parte<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> d<strong>em</strong>ocrática <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, é<br />

uma prática de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia que se concretiza<br />

pela disposição <strong>em</strong> fazer parte<br />

dos rumos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de onde se<br />

vive. É necessário um olhar atento às<br />

necessi<strong>da</strong>des e d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>s existentes,<br />

utilizando todo o potencial de articulação,<br />

união de esforços, criativi<strong>da</strong>de e<br />

responsabili<strong>da</strong>de para garantir direitos<br />

e cumprir os deveres, alcançar assim<br />

uma socie<strong>da</strong>de que todos tenham orgulho<br />

de pertencer.<br />

A soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de é um<br />

combustível importante<br />

para a dinâmica <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de.<br />

Ser voluntário é o trabalho mais contagiante<br />

que existe, basta fazer uma vez<br />

e pronto... A marca fica para s<strong>em</strong>pre.<br />

O desafio é colocar essa atitude no<br />

dia-a-dia e transformar ações pontuais<br />

<strong>em</strong> permanentes e assim contribuir<br />

concretamente para que o mundo seja<br />

um lugar melhor para todos. A soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

é um combustível importante<br />

para a dinâmica <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. É muito<br />

importante estar atento ao que acontece<br />

ao redor e agir prontamente para<br />

que os pequenos probl<strong>em</strong>as não se<br />

transform<strong>em</strong> <strong>em</strong> grandes transtornos<br />

para a socie<strong>da</strong>de.<br />

*Coordenadora do Núcleo de Responsabili<strong>da</strong>de Social<br />

Empresarial - Federação <strong>da</strong>s Indústrias do Estado<br />

de Minas Gerais - FIEMG. Presidente do Centro<br />

Mineiro de Alianças Intersetoriais - CEMAIS. M<strong>em</strong>bro<br />

<strong>da</strong> Ouvidoria do Sist<strong>em</strong>a FIEMG.


educação e cultura<br />

A transcendência na linguag<strong>em</strong><br />

de Nenhum, Nenhuma<br />

Diversos olhares pod<strong>em</strong> ser utilizados<br />

para cont<strong>em</strong>plar a obra deste “bruxo<br />

<strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>” 1 . Crítico <strong>em</strong>inente do<br />

contexto literário, gramatical-linguístico<br />

e sociopsicológico de uma época,<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> busca “desconstruir” 2<br />

os sentidos cristalizados <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong><br />

para devolvê-la <strong>em</strong> outras origens.<br />

Tais origens não direcionam-se para<br />

uma ontologia <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, mas<br />

antes, apontam para uma (re)criação de<br />

significados afetivos através do resgate<br />

do ser. Argumentando de modo diverso,<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> recria os sentidos a<br />

partir <strong>da</strong>quilo que afeta, que altera os<br />

sentidos e que, sob diversas circunstâncias,<br />

não cab<strong>em</strong> dentro do primado<br />

linguístico <strong>da</strong> razão ocidental, a qual se<br />

pauta pela objetivi<strong>da</strong>de e pela palavra<br />

ao pé <strong>da</strong> letra.<br />

Uma <strong>da</strong>s grandes críticas presentes <strong>em</strong><br />

sua obra é a de que a linguag<strong>em</strong> não<br />

esgota a reali<strong>da</strong>de do ser pela anunciação<br />

<strong>da</strong>s palavras de ordens de uma<br />

determina<strong>da</strong> época com sua Razão 3 .<br />

É o próprio <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, que <strong>em</strong><br />

correspondência a Edoardo Bizzarri 4 ,<br />

enuncia:<br />

Ora, Você já notou, decerto, que,<br />

como eu, os meus livros, <strong>em</strong> essência,<br />

são “anti-intelectuais”- defend<strong>em</strong><br />

o altíssimo primado <strong>da</strong> intuição, <strong>da</strong><br />

revelação, <strong>da</strong> inspiração, sobre o<br />

bruxolear presunçoso <strong>da</strong> inteligência<br />

reflexiva, <strong>da</strong> razão, a megera<br />

cartesiana. Quero ficar com o Tao,<br />

com os Ve<strong>da</strong>s e Upanixades, com os<br />

Evangelistas e São Paulo, com Platão,<br />

com Plotino, com Bergson, com Berdiaeff<br />

- com Cristo, principalmente.<br />

Por isto mesmo, como apreço de essência<br />

e acentuação, assim gostaria<br />

de considerá-los: a) cenário e reali<strong>da</strong>de<br />

sertaneja: 1 ponto; b) enredo: 2<br />

pontos; c) poesia: 3 pontos; d) valor<br />

metafísico-religioso: 4 pontos. ...<br />

Esta introdução, enuncia<strong>da</strong> pelo próprio<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, sobre os sentidos<br />

e valores de sua obra torna-se um<br />

convite à escolha de uma posição do<br />

olhar para o fruir literário e psicológico<br />

de sua obra. Assim, neste artigo o olhar<br />

escolhido para a fruição <strong>da</strong> tessitura<br />

linguístico-significativa <strong>da</strong> obra foi o<br />

metafísico 5 -religioso. Pela amplitude<br />

de sua obra será escolhido, como texto<br />

a ser cont<strong>em</strong>plado, o conto NENHUM,<br />

NENHUMA 6 .<br />

Este conto, enquanto um representante<br />

<strong>da</strong> obra rosiana e de seus valores, v<strong>em</strong><br />

revelar o significado <strong>da</strong> religiosi<strong>da</strong>de -<br />

proprie<strong>da</strong>de que fun<strong>da</strong>menta o Humano<br />

e seu ex-istir pelo resgate dos afetos<br />

através <strong>da</strong> metáfora <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória.<br />

Maria Ma<strong>da</strong>lena Magnabosco*<br />

“Nenhum, Nenhuma” é uma <strong>da</strong>s estórias escritas por João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> <strong>em</strong> seu livro<br />

“Primeiras Estórias”. Meu objetivo com esse artigo é tecer um diálogo entre a estória e<br />

alguns fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> fenomenológico-existencial.<br />

O sentido de religiosi<strong>da</strong>de utilizado<br />

nesse artigo v<strong>em</strong> de sua etimologia,<br />

“religar-se a” 7 ; b<strong>em</strong> como o sentido<br />

de m<strong>em</strong>ória, enquanto descendente<br />

de Mn<strong>em</strong>ósyne, a que devolve e recria<br />

os sentidos (ethos) pela mediação <strong>da</strong>s<br />

palavras do poeta. Ambos os sentidos<br />

atêm-se à mesma linhag<strong>em</strong> de fios<br />

que buscam compor tessituras que<br />

envolv<strong>em</strong>, acolh<strong>em</strong> e recriam um<br />

universo, muitas vezes esquecido,<br />

para não dizer reprimido, pelo resgate<br />

de uma nova linguag<strong>em</strong> <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória<br />

através do religar-se à imaginação<br />

infantil.<br />

A imaginação infantil é uma <strong>da</strong>s<br />

metáforas transcendentes sobre a<br />

autentici<strong>da</strong>de e religiosi<strong>da</strong>de do ser,<br />

utiliza<strong>da</strong>s por <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> para<br />

recriar uma linguag<strong>em</strong> que foi marginaliza<strong>da</strong>,<br />

adultera<strong>da</strong> e subestima<strong>da</strong><br />

pelos cânones linguísticos ocidentais.<br />

Neste, a linguag<strong>em</strong> infantil não é considera<strong>da</strong><br />

linguag<strong>em</strong>, mas um balbucio<br />

de alguém que “na<strong>da</strong> entende” e que<br />

não t<strong>em</strong> “razão”, um mutus. Diante<br />

desta consideração anterior, pode-se<br />

pensar com <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> a riqueza<br />

expressiva e afetiva do pronome<br />

Nenhum, Nenhuma.<br />

Este pronome v<strong>em</strong> a ser uma enunciação<br />

do valor metafísico-religioso rosiano.<br />

Este valor busca a transcendência<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

11


educação e cultura<br />

via a renovação <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> e do<br />

Ser. Em um trabalho sobre a obra de<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, a escritora Maria<br />

Heloisa Noronha Barros 8 busca criteriar<br />

a fun<strong>da</strong>mentali<strong>da</strong>de do Ser-Linguag<strong>em</strong><br />

através de uma releitura de Heidegger.<br />

Ela própria enuncia:<br />

O perigo <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> está na possibili<strong>da</strong>de<br />

de fazer esquecer o Ser pelos<br />

entes. A palavra deve revelar o ente<br />

como tal e guardá-lo. Por este meio<br />

a linguag<strong>em</strong> pode chegar ao mais<br />

puro e o mais oculto, assim como<br />

ao comum e inessencial. A palavra<br />

essencial esconde-se, muitas vezes,<br />

atrás <strong>da</strong> simplici<strong>da</strong>de aparente, é que<br />

falando do divino, deve ser entendi<strong>da</strong><br />

pelos mortais. A palavra pertence ao<br />

hom<strong>em</strong> que dela se serve para comunicar<br />

experiências, decisões, estados<br />

de ânimo; serve para entender. Mas<br />

não está aí a sua essência, ela não se<br />

esgota <strong>em</strong> ser um instrumento entre<br />

outros, mas é aquilo que faz o hom<strong>em</strong><br />

ser hom<strong>em</strong>. Só há mundo onde<br />

há linguag<strong>em</strong> e só há história onde<br />

há mundo - Somos um diálogo. A linguag<strong>em</strong><br />

é o Ser do hom<strong>em</strong> e esta é,<br />

antes de tudo, diálogo. A linguag<strong>em</strong><br />

só é um repertório de palavras e<br />

regras sintáticas num primeiro plano,<br />

num plano mais profundo é diálogo.<br />

Diálogo é o meio de chegarmos ao<br />

outro. Mas o diálogo não consiste<br />

principalmente num falar mas num<br />

ouvir. Ser um diálogo significa que<br />

pod<strong>em</strong>os nos ouvir mutuamente. A<br />

uni<strong>da</strong>de do diálogo consiste <strong>em</strong> que<br />

aquilo que manifesta na palavra essencial<br />

é o um e o mesmo pelo qual<br />

nos reunimos e pelo qual somos um e<br />

nós mesmos [...] Mas não basta que<br />

a linguag<strong>em</strong> exista para que haja<br />

diálogo.<br />

Palavras, definições, concepções de<br />

mundo e pessoas são os instrumentos<br />

<strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, “o utensílio como forma<br />

de uso, de serventia” 9 . Ao se fazer<br />

uso <strong>da</strong> palavra para designar algo ou<br />

alguém, revela-se sua disponibili<strong>da</strong>de.<br />

12 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

Esta disponibili<strong>da</strong>de faz parte de um<br />

centro de referências que vincula a<br />

pessoa e o objeto aos outros e ao<br />

mundo. Somente quando cessa a<br />

instrumentali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> palavra, pode-se<br />

perceber o nascimento do Ser. Sobre<br />

este nascimento, Benedito Nunes fala:<br />

[...] Quando a instrumentali<strong>da</strong>de<br />

cessa, o utensílio sai de uso, a serventia<br />

se perde, surge o ente-natural<br />

<strong>em</strong> seu ser-à-vista. Dá-se, então, a<br />

neutralização do trato envolvente<br />

e a relação de familiari<strong>da</strong>de com o<br />

mundo circun<strong>da</strong>nte é suspensa através<br />

<strong>da</strong> visão circunspectiva; só então<br />

a referência se torna expressa e o<br />

ser-coisa dos utensílios nos aparece<br />

<strong>em</strong> seu mistério. 10<br />

Esta neutralização, pode-se pensar,<br />

é a que encontra-se denomina<strong>da</strong> no<br />

pro-nome nenhum, nenhuma.<br />

Nenhum, pro-nome indefinido, diz<br />

melhor sobre o infinito potencial <strong>da</strong><br />

imaginação e <strong>da</strong> leveza necessária<br />

para romper-se com a opaci<strong>da</strong>de do<br />

mundo e <strong>da</strong>s palavras.<br />

Nenhum, pro-nome indefinido, possibilita<br />

a ausência, vazio imprescindível<br />

para revelar como a presença <strong>em</strong> d<strong>em</strong>asia<br />

pesa <strong>em</strong> obscuri<strong>da</strong>des os fatos<br />

e as pessoas.<br />

Nenhum que é de ninguém e que pode<br />

ser de qualquer um, de todo mundo: a<br />

potenciali<strong>da</strong>de e vitali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> imaginação,<br />

um resgate dos significados e<br />

afetos esquecidos no escuro <strong>da</strong> razão<br />

adult(er)a.<br />

Um menino, um quarto escuro, um<br />

hom<strong>em</strong> s<strong>em</strong> aparência, uma Moça, um<br />

Moço, uma Velha e as l<strong>em</strong>branças: m<strong>em</strong>órias<br />

que tec<strong>em</strong> as malhas discursivas<br />

do conto Nenhum, Nenhuma. Malhas<br />

essas que irão se fazer pelo avesso do<br />

verbo anunciado, ou seja, por sentidos<br />

e religações outras - que não os de uma<br />

razão iluminista do mundo objetivado -<br />

ou seja, se fará pelos cheiros, tato,<br />

pelo não saber, pelo brincar, o não se<br />

l<strong>em</strong>brar, o duvi<strong>da</strong>r e o questionar.<br />

Curiosamente, a razão que ilumina<br />

lampejos <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória e do saber adulto<br />

e culto é a mesma que obscurece pela<br />

interdição dos contrários, pela proibição<br />

do Nenhum, Nenhuma. A objetivação<br />

<strong>da</strong>s estruturas racionais que formam as<br />

categorias funcionais e de organização<br />

dos comportamentos, ações, sentimentos,<br />

posturas e escrituras imped<strong>em</strong><br />

o indefinido, o não nomeado, o avesso<br />

<strong>da</strong>s palavras. Indefinir - na razão iluminista<br />

- é o mesmo que não existir, e o<br />

que não t<strong>em</strong> existência visível só pode<br />

mesmo ser coisa de maluco, lunático,<br />

imaginação de criança.<br />

Esta mesma visibili<strong>da</strong>de exigi<strong>da</strong> como<br />

prova de veraci<strong>da</strong>de e de reali<strong>da</strong>de é a<br />

que, frequent<strong>em</strong>ente, habita a formação<br />

<strong>da</strong>s palavras. A palavra diz o que é e<br />

sua presença é li<strong>da</strong> como presença do<br />

significado. A simples anunciação <strong>da</strong><br />

palavra deseja, muitas vezes, saciar os<br />

vínculos dos significados que dotam<br />

de sentidos não a presença, mas a<br />

ausência (transcendência). A palavra<br />

diz não pelo que anuncia, mas pela afirmação<br />

do ausente. Esta negativi<strong>da</strong>de<br />

ou este reflexo negativo do que é outro<br />

<strong>em</strong> relação ao firmado pela linguag<strong>em</strong><br />

<strong>da</strong> razão - seja no gesto ou no verbo -<br />

frequent<strong>em</strong>ente é esquecido nas<br />

relações interpessoais, nas estruturas<br />

gramaticais e linguísticas, b<strong>em</strong> como<br />

na m<strong>em</strong>ória.<br />

Entre os homens e suas relações/revelações,<br />

este esquecimento termina<br />

por trazer consequências paralisantes e<br />

destrutivas para o viver e o com-viver,<br />

para o ser-aí. Tais consequências são<br />

notáveis nas formas expressivas <strong>da</strong><br />

linguag<strong>em</strong> utiliza<strong>da</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, pelo<br />

preconceito, pela discriminação, pelas<br />

e nas hierarquizações <strong>da</strong>s relações<br />

interpessoais, pelos achatamentos dos


educação e cultura<br />

significados <strong>em</strong> “chavões” e “jargões”<br />

de determinados grupos com seus<br />

interesses de dominação. O resultado<br />

destes usos <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> é o <strong>em</strong>pobrecimento<br />

do Hom<strong>em</strong> e suas alteri<strong>da</strong>des<br />

linguísticas.<br />

A pobreza relacional-linguística termina<br />

por impedir a re-velação, o diálogo,<br />

a criação, o fazer transformativo,<br />

e consequent<strong>em</strong>ente, o religar <strong>da</strong>s<br />

pessoas aos significados outros do<br />

mundo. Creio não ser d<strong>em</strong>asiado<br />

prepotente afirmar que este religar<br />

é o fun<strong>da</strong>mento metafísico <strong>da</strong> obra<br />

de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>. Em entrevista a<br />

Günter Lorenz 11 é o próprio <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> qu<strong>em</strong> enuncia:<br />

[...] o trabalho é importantíssimo.<br />

Mas ain<strong>da</strong> mais importante para<br />

mim é o outro aspecto, o aspecto<br />

metafísico <strong>da</strong> língua, que faz com<br />

que minha linguag<strong>em</strong> antes de tudo<br />

seja minha. Também aqui pode-se<br />

determinar meu ponto de parti<strong>da</strong>,<br />

que é muito simples. Meu l<strong>em</strong>a é: a<br />

linguag<strong>em</strong> e a vi<strong>da</strong> são uma coisa<br />

só. Qu<strong>em</strong> não fizer do idioma o<br />

espelho de sua personali<strong>da</strong>de não<br />

vive; e como a vi<strong>da</strong> é uma corrente<br />

contínua, a linguag<strong>em</strong> também<br />

deve evoluir constant<strong>em</strong>ente. Isto<br />

significa que, como escritor, devo<br />

me prestar conta de ca<strong>da</strong> palavra<br />

e considerar ca<strong>da</strong> palavra o t<strong>em</strong>po<br />

necessário até ela ser novamente<br />

vi<strong>da</strong>. O idioma é a única porta para o<br />

infinito, mas infelizmente está oculto<br />

sob montanhas de cinzas.<br />

Através <strong>da</strong> religação pela transcendência<br />

<strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória que recupera<br />

afetos, o conto Nenhum, Nenhuma<br />

v<strong>em</strong> nos l<strong>em</strong>brar do esquecimento<br />

<strong>da</strong> imaginação infantil <strong>em</strong> favor <strong>da</strong><br />

compreensão racional adulta. Tal<br />

compreensão, a qual orienta-se sob os<br />

critérios <strong>da</strong> clareza, <strong>da</strong> continui<strong>da</strong>de<br />

formal e <strong>da</strong> organização literal dos<br />

fatos e ânimos, suprime outras formas<br />

de simbolizar, seja pelos cheiros, pelos<br />

gestos, cores, ludici<strong>da</strong>des, intuições, e<br />

até mesmo, pelas indiferenciações.<br />

Digo indiferenciações, pois é a partir do<br />

que ain<strong>da</strong> não é definido, contornado<br />

e ordenado pela lógica formal do<br />

raciocínio dominante, que torna-se<br />

possível o <strong>em</strong>ergir de contradições, de<br />

ausências, de perplexi<strong>da</strong>des que juntam<br />

fragmentos diversos oferecendo outras<br />

tessituras do Ser-Linguag<strong>em</strong>.<br />

A indiferenciação é uma <strong>da</strong>s bases do<br />

processo criador e <strong>da</strong> imaginação que<br />

não t<strong>em</strong>e a destruição <strong>da</strong>s presenças<br />

para a realização <strong>da</strong>s metamorfoses<br />

dos sentidos e significados 12 . Imaginar<br />

é, assim, esvaziar a presença para possibilitar<br />

reflexos negativos, e a partir<br />

destes, ver o que ain<strong>da</strong> não se viu,<br />

sentir o que ain<strong>da</strong> não se sentiu, dizer<br />

sob outras posicionali<strong>da</strong>des, outros<br />

lugares de enunciações.<br />

Por estas reflexões, pode-se argumentar<br />

que, <strong>em</strong> Nenhum, Nenhuma, <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> ocupa a posicionali<strong>da</strong>de-ser<br />

do Menino para resgatar a m<strong>em</strong>ória, os<br />

afetos e outras identificações possibilita<strong>da</strong>s<br />

pelo estranhamento do mundo<br />

adulto. Mundo este que é representado<br />

na narrativa pelo hom<strong>em</strong> s<strong>em</strong> aspecto,<br />

o qual convive na mesma cena com a<br />

descoberta de uma outra simbolização<br />

do mundo pelo Menino:<br />

Mas um menino penetrara no quarto,<br />

no extr<strong>em</strong>o <strong>da</strong> varan<strong>da</strong>, onde se<br />

achava um hom<strong>em</strong> s<strong>em</strong> aparência,<br />

se b<strong>em</strong> que, por certo, como curiosamente<br />

se diz, já “entrado <strong>em</strong> anos”;<br />

... E naquele quarto seria o escritório...<br />

O menino não sabia ler, mas é<br />

como se a estivesse relendo, numa<br />

revista, no colorido de suas figuras;<br />

no cheiro delas, igualmente. Porque,<br />

o mais vivaz, persistente, e que fixa<br />

na evocação <strong>da</strong> gente o restante, é o<br />

<strong>da</strong> mesa, <strong>da</strong> escrivaninha, vermelha,<br />

<strong>da</strong> gaveta, sua madeira, matéria rica<br />

de quali<strong>da</strong>de: o cheiro, do qual nunca<br />

mais houve. O hom<strong>em</strong> s<strong>em</strong> aspecto<br />

tenta agora parecer-se outro - um<br />

desses velhos tios ou conhecidos<br />

nossos, deles o mais silencioso. Mas,<br />

segundo se apurou, não era. Alguém,<br />

apenas, chamara-o, na ocasião, de<br />

nome com aproxima<strong>da</strong> assonância;<br />

e os dois, o ignorado e o sabido, se<br />

perturbam. 13<br />

É no lampejo <strong>da</strong> perturbação que<br />

acontece a perplexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s imagens<br />

onde as r<strong>em</strong>iniscências pod<strong>em</strong> tornarse<br />

m<strong>em</strong>órias outras, palavras diversas,<br />

imaginação, ou pod<strong>em</strong> t<strong>em</strong>er as distâncias<br />

e cristalizar<strong>em</strong>-se na precisão de<br />

um fato ordenado <strong>em</strong> anteriori<strong>da</strong>des já<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela serventia.<br />

No conto, a perplexi<strong>da</strong>de - que mistura<br />

velhas m<strong>em</strong>órias para renascer outros<br />

significados - v<strong>em</strong> personifica<strong>da</strong> na<br />

imag<strong>em</strong> <strong>da</strong> Moça.<br />

A Moça, imag<strong>em</strong>. A Moça é então<br />

que reaparece, lin<strong>da</strong> e recôndita. A<br />

l<strong>em</strong>brança <strong>em</strong> torno dessa Moça raia<br />

uma tão extraordinária, maravilhosa<br />

luz, que, se algum dia eu encontrar,<br />

aqui, o que está por trás <strong>da</strong> palavra<br />

“paz”, ter-me-á sido <strong>da</strong>do também<br />

através dela. 14<br />

A Moça, como metáfora do que perturba<br />

e move as ordens estrutura<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

significação dominante, devolve o Menino<br />

a outros t<strong>em</strong>pos, a outras <strong>da</strong>tas, a<br />

outras m<strong>em</strong>órias, à infância enquanto<br />

significando a existência de outras<br />

ver<strong>da</strong>des, do nenhum, nenhuma.<br />

Foi a Moça qu<strong>em</strong> enunciou, com a voz<br />

que assim nascia s<strong>em</strong> pretexto, que a<br />

<strong>da</strong>ta era a de 1914? E para s<strong>em</strong>pre a<br />

voz <strong>da</strong> Moça retificava-a .<br />

Tudo não d<strong>em</strong>orou calado, tão<br />

fun<strong>da</strong>mente, não existindo, enquanto<br />

viviam as pessoas capazes, qu<strong>em</strong> sabe,<br />

de esclarecer onde estava e por onde<br />

andou o Menino, naqueles r<strong>em</strong>otos,<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

13


educação e cultura<br />

já per<strong>em</strong>ptos anos? Só agora é que<br />

assoma, muito lento, o difícil clarão<br />

r<strong>em</strong>iniscente, ao termo talvez de<br />

longuíssima viag<strong>em</strong>, vindo ferir-lhe a<br />

consciência. Só não chegam até nós,<br />

de outro modo, as estrelas. 15<br />

A ver<strong>da</strong>de, como um revolver <strong>da</strong>s<br />

m<strong>em</strong>órias afetivas perdi<strong>da</strong>s nas<br />

justificativas racionais de um “dever<br />

parecer”, somente é possível quando os<br />

contrários não são tratados como excludentes,<br />

ou seja, quando vi<strong>da</strong>-morte,<br />

amor-separação, sim-não, pod<strong>em</strong> conviver<br />

como os reflexos negativos que<br />

possibilitam a escritura <strong>da</strong>s ausências,<br />

do renascer do Ser. Ausências implicam<br />

na afirmação de novas presenças (religações),<br />

novas formas de simbolizar,<br />

compreender e comunicar. Essa ver<strong>da</strong>de<br />

expressa através dos contraditórios<br />

<strong>em</strong> um só ser aparece no texto pela<br />

presença-ausência <strong>da</strong> Velha,<br />

[...] a velhinha não era a Morte, não.<br />

Antes, era a vi<strong>da</strong>. Ali, num só ser, a<br />

vi<strong>da</strong> vibrava <strong>em</strong> silêncio, dentro de<br />

si, intrínseca, só o coração, o espírito<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, que esperava. Aquela mulher<br />

ain<strong>da</strong> existir, parecia um desatino de<br />

que ela mesma n<strong>em</strong> tivesse culpa<br />

[...] A Nenha, extr<strong>em</strong>osamente, de<br />

delonga, pelo curso dos anos, pelos<br />

diferentes t<strong>em</strong>pos, ela também menina<br />

ancianíssima. 16<br />

Nos estranhamentos do viver humano<br />

conviv<strong>em</strong>, assim, diversas contradições<br />

que inquietam e permit<strong>em</strong> diferentes<br />

leituras e escrituras do texto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Conviv<strong>em</strong> o Hom<strong>em</strong> S<strong>em</strong> Aspecto, a<br />

Moça, a Velha, o Menino e também<br />

o Moço (metáfora do desejo de presença,<br />

<strong>da</strong> garantia do amor, <strong>da</strong> certeza<br />

do mundo).<br />

No conto de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, o Moço<br />

é qu<strong>em</strong> mais desperta a ira no Menino.<br />

Ira de rivali<strong>da</strong>des, por ser ele (Moço)<br />

qu<strong>em</strong> imprime a presença <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória<br />

que deve ser l<strong>em</strong>bra<strong>da</strong> e que, por dever,<br />

retira a perplexi<strong>da</strong>de dos contrários que<br />

14 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

traz<strong>em</strong> a dúvi<strong>da</strong> e consequentes outras<br />

reflexões e transcendências. O Moço<br />

quer, a todo custo, a garantia do amor<br />

<strong>da</strong> Moça, a fideli<strong>da</strong>de <strong>da</strong> palavra que<br />

confirma um ganho mas não constrói<br />

um vínculo afetivo. Na luta para resgatar<br />

outros significados pelo retorno<br />

a t<strong>em</strong>pos-afetos distantes, o Menino<br />

indigna-se com a insistência <strong>da</strong> presença<br />

do Moço, já que ela (presença)<br />

traz antigas cama<strong>da</strong>s cristaliza<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

m<strong>em</strong>ória que o Menino luta para esquecer,<br />

e no esquecimento l<strong>em</strong>brar-se<br />

sob outras consciências. 17<br />

Reperdi<strong>da</strong> a r<strong>em</strong><strong>em</strong>brança, a representação<br />

de tudo se desordena: é<br />

uma ponte, uma ponte - mas que, a<br />

certa hora, se acabou, parece que.<br />

Luta-se com a m<strong>em</strong>ória. Atordoado,<br />

o Menino, tornado quase incônscio,<br />

como se não fosse ninguém, ou se<br />

todos uma pessoa só, uma só vi<strong>da</strong><br />

foss<strong>em</strong>: ele, a Moça, o Moço, o Hom<strong>em</strong><br />

velho e a Nenha, velhinha - <strong>em</strong><br />

qu<strong>em</strong> trouxe os olhos. 18<br />

Outras consciências somente são<br />

possíveis para qu<strong>em</strong> sabe-se habitante<br />

dos contraditórios, <strong>da</strong>s misturas entre<br />

razões e afetos, entre presenças e ausências,<br />

entre infância e mundo adulto,<br />

entre imaginação e formalização do<br />

conhecimento.<br />

Pelo conto Nenhum, Nenhuma, podese<br />

imaginar que <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> nos<br />

coloca a importância <strong>da</strong> ausência, <strong>da</strong><br />

imaginação infantil, a necessi<strong>da</strong>de de<br />

esquecermos para podermos l<strong>em</strong>brar<br />

de outros saberes. Esta seria sua orientação<br />

de valores metafísico-religiosos:<br />

a revelação do Ser.<br />

Somente pela busca desta revelação<br />

poder<strong>em</strong>os tecer outros sentidos,<br />

outros significados que tragam levezas<br />

para voarmos diferenças e alteri<strong>da</strong>des.<br />

Este vôo se <strong>da</strong>rá através do resgate<br />

<strong>da</strong>quilo que religa e vivifica o ethos<br />

humano: outras palavras que comuniqu<strong>em</strong><br />

diversi<strong>da</strong>des e possibilit<strong>em</strong><br />

compreensões <strong>da</strong> largueza do mundo<br />

<strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, enquanto Vi<strong>da</strong>-Ser!<br />

1. O termo “bruxo <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>” foi utilizado por ALBER-<br />

GARIA, Consuelo. O bruxo <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> no Grande Sertão.<br />

Rio de Janeiro: Ed. T<strong>em</strong>po Brasileiro, 1977.<br />

2. O conceito de desconstrução foi desenvolvido por Jacques<br />

Derri<strong>da</strong>, o qual o define como a busca <strong>da</strong>s contradições<br />

internas <strong>da</strong> obra onde procede-se o descentramento<br />

<strong>da</strong> estrutura textual ao pôr <strong>em</strong> evidência as limitações<br />

dos códigos presentes e ao re-situar o texto <strong>em</strong> uma nova<br />

noção de inter e contextuali<strong>da</strong>de.<br />

3. O conceito de Razão significa uma forma de exercício<br />

cognitivo que aproxima-se <strong>da</strong>s lógicas aristotélicas<br />

dedutivas, b<strong>em</strong> como de outras lógicas fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s <strong>em</strong><br />

raciocínios mat<strong>em</strong>áticos binários. Para maiores referências,<br />

pesquisar <strong>em</strong> MOLES, Abraham. A Criação Científica. São<br />

Paulo: Ed. Perspectiva, 1981.<br />

4. J. GUIMARÃES ROSA Correspondência com o tradutor<br />

italiano. São Paulo: Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro,<br />

Caderno N. 8, 1972.<br />

5. O termo metafísica r<strong>em</strong>ete a Aristóteles e significa filosofia<br />

primeira, “ciência que estu<strong>da</strong> o ser enquanto ser, e o<br />

que lhe pertence como próprio.(...) Esta ciência investiga<br />

“os primeiros princípios e as causas mais eleva<strong>da</strong>s”(...)<br />

Merece por isto ser chama<strong>da</strong> “filosofia primeira”.<br />

Para maiores referências, ver: MORA, Ferrater. Diccionario<br />

de Filosofia. Madrid: Alianza Editorial, 1983.<br />

6. ROSA, João <strong>Guimarães</strong>. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro:<br />

Ed. Nova Fronteira, 13. Ed., 1985, p.47-54.<br />

7. O conceito de religião enquanto “religação” é uma<br />

constante na obra de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>. O religar, enquanto<br />

uma apropriação, uma apreensão <strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>mentali<strong>da</strong>des<br />

do viver humano aparece com ênfase <strong>em</strong> Grande Sertão:<br />

Vere<strong>da</strong>s, Primeiras Estórias, Corpo de Baile, e nas d<strong>em</strong>ais<br />

obras do autor. Esta apreensão v<strong>em</strong> enriqueci<strong>da</strong> por personagens<br />

e linguagens que buscam transcender o ordinário<br />

comum <strong>da</strong>s palavras (o significado que já não mais é<br />

questionado por ser “<strong>da</strong>do como natural e ver<strong>da</strong>deiro”).<br />

Assim é Riobaldo, Nininha, o Menino, etc., personagens<br />

que representam o constante questionamento sobre as<br />

estruturas já monta<strong>da</strong>s <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, questionamentos<br />

esses metaforizados <strong>em</strong> imagens <strong>da</strong> infância, <strong>da</strong> pureza,<br />

<strong>da</strong> candura do coração, do não esquecimento do mundo<br />

lúdico e afetivo. Esses são alguns personagens que<br />

representam a m<strong>em</strong>ória afetiva a qual religa ao transcender<br />

o significado já estabelecido <strong>da</strong>s palavras. É como<br />

no conto O Espelho, onde é necessário não mais se ver<br />

para enxergar a essência. Isto é a transcendência própria<br />

<strong>da</strong> religação, não mais ver para poder se ver (rever).<br />

Para maiores referências sobre o conceito de Religação,<br />

pesquisar: GRACIA, Diego. Voluntad de Ver<strong>da</strong>d. Para leer a<br />

Zubiri. Barcelona: Editorial Labor, S.A, 1986, p. 212 a 218.<br />

8. BARROS, Maria Heloisa Noronha. Miguilim e Manuelzão:<br />

Viag<strong>em</strong> para o ser. Belo Horizonte: Gráfica Valci Editora<br />

Lt<strong>da</strong>, 1996, p. 111-112.<br />

9. NUNES, Benedito. Passag<strong>em</strong> para o poético (Filosofia e<br />

poesia <strong>em</strong> Heidegger). São Paulo: Ed. Ática, 1986.<br />

10. Ibid<strong>em</strong>. p. 91 - 93.<br />

11. <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> - Seleção de textos. Direção de COU-<br />

TINHO, Afrânio. Organização de COUTINHO, Eduardo. Rio<br />

de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2. ed., 1991, p.83.<br />

12. Para maiores referências, pesquisar: MOLES, Abraham.<br />

A Criação Científica. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1981.<br />

13. ROSA, 1985, p.47.<br />

14. ROSA, 1985, p.47-48.<br />

15. ROSA, 1985, p.48.<br />

16. ROSA, 1985, p. 50-51.<br />

17. Consciência significa o desven<strong>da</strong>r <strong>da</strong>s familiari<strong>da</strong>des,<br />

dos automatismos de gestos e palavras para a revelação<br />

de outros sentidos que implicarão <strong>em</strong> uma mu<strong>da</strong>nça<br />

na Imag<strong>em</strong> de Si e do Mundo. A consciência somente é<br />

possível na relação com o outro. Para maiores referências,<br />

pesquisar: LANE, Silvia. “Estudos sobre a consciência” In:<br />

REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA<br />

SOCIAL - Psicologia e Socie<strong>da</strong>de -. São Paulo, Vol. 8, N. 2,<br />

julho/dez<strong>em</strong>bro de 1996, p.95.<br />

18. ROSA, 1985, p. 53.


Referências Bibliográficas:<br />

ALBERGARIA, Consuelo. Bruxo <strong>da</strong> Linguag<strong>em</strong><br />

no Grande Sertão. Rio de Janeiro: Ed. T<strong>em</strong>po<br />

Brasileiro, 1977.<br />

BARROS, Maria Heloisa Noronha. Miguilim e<br />

Manuelzão. Viag<strong>em</strong> para o Ser. Belo Horizonte:<br />

Gráfica Valci Editoras Lt<strong>da</strong>., 1996.<br />

COUTINHO, Afrânio [coord.] <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> -<br />

Seleção de Textos. 2.ed. Rio de Janeiro: Ed.<br />

Civilização Brasileira, 1991.<br />

GRACIA, Diego. Voluntad de Ver<strong>da</strong>d - Para leer a<br />

Zubiri. Barcelona: Editorial Labor, 1986.<br />

LANE, Silvia. Estudos sobre a consciência.<br />

Psicologia e Socie<strong>da</strong>de: <strong>Revista</strong> <strong>da</strong> Associação<br />

Brasileira de Psicologia, São Paulo, v.8, n.2, jul/<br />

dez. 1996.<br />

MOLES, Abraham. A criação científica. São Paulo:<br />

Ed. Perspectiva, 1981.<br />

MORA, Ferrater. Diccionario de Filosofia. Madrid:<br />

Alianza Editorial, 1983.<br />

ROSA, João <strong>Guimarães</strong> - Correspondência com<br />

o Tradutor Italiano. São Paulo: Instituto Cultural<br />

Ítalo-Brasileiro, cad. 8, 1972.<br />

ROSA, João <strong>Guimarães</strong>. Primeiras Estórias. 13.ed.,<br />

Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1985.<br />

*Psicóloga clínica e professora de cursos de graduação<br />

e pós-graduação na FEAD e PUC - Belo<br />

Horizonte. Forma<strong>da</strong> nos cursos de graduação e<br />

pós-graduação “lato sensu” e “strito sensu”<br />

pela Universi<strong>da</strong>de Federal de Minas Gerais e PhD<br />

<strong>em</strong> Estudos Culturais pela UFRJ - PACC


educação e cultura<br />

Distúrbios de aprendizado<br />

relacionados à visão<br />

O Hospital de Olhos Dr. Ricardo <strong>Guimarães</strong>,<br />

consciente do papel que as<br />

organizações dev<strong>em</strong> assumir frente à<br />

socie<strong>da</strong>de cont<strong>em</strong>porânea, ressalta<br />

sua postura de responsabili<strong>da</strong>de social<br />

com a Fun<strong>da</strong>ção Hospital de Olhos e<br />

oferece uma série de projetos de cunho<br />

social, integrados dentro do Programa<br />

de PROMOÇÃO DA SAÚDE OCULAR.<br />

Dentre várias iniciativas, destaca-se o<br />

Projeto “VimTeVer”, reconhecido <strong>em</strong><br />

1997 pela Curadoria Geral de Fun<strong>da</strong>ções<br />

de Minas Gerais, que conferiu à<br />

Fun<strong>da</strong>ção HOLHOS me<strong>da</strong>lha de prata<br />

<strong>em</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, <strong>em</strong> concorrência com<br />

outras grandes instituições. O projeto<br />

“VimTeVer” t<strong>em</strong> como objetivo principal<br />

a promoção <strong>da</strong> Saúde Ocular, por<br />

meio de palestras preventivas e testes<br />

de visão, b<strong>em</strong> como a educação <strong>da</strong>s<br />

comuni<strong>da</strong>des universitárias <strong>em</strong> ações<br />

educativas.<br />

16 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

Os quatro pilares <strong>da</strong> Visão<br />

Centramento<br />

Onde estou?<br />

Antigravi<strong>da</strong>de<br />

Que posição<br />

estou?<br />

Como nos envolv<strong>em</strong>os com este<br />

probl<strong>em</strong>a?<br />

Tudo começou com o comentário de<br />

uma professora sobre o aluno João 1 ,<br />

um menino ativo e interessado que<br />

havia se tornado meu “aju<strong>da</strong>nte”<br />

durante to<strong>da</strong> a manhã enquanto examinávamos<br />

centenas de crianças pelo<br />

Projeto “VimTeVer”, um programa de<br />

prevenção <strong>da</strong> saúde ocular na infância,<br />

realizado pela Fun<strong>da</strong>ção Hospital de<br />

Olhos <strong>em</strong> ci<strong>da</strong>des do interior de Minas.<br />

Um dos primeiros a ser examinado e<br />

liberado por ter “visão normal” ficou<br />

por perto se oferecendo para aju<strong>da</strong>r<br />

enquanto nos bombardeava com<br />

inúmeros porquês, quandos, comos e<br />

paraquês, durante nossas ativi<strong>da</strong>des.<br />

Diante <strong>da</strong> minha observação de que<br />

o menino João ain<strong>da</strong> seria um grande<br />

<strong>em</strong>presário ou o prefeito <strong>da</strong>quela<br />

Identificação<br />

O que sou?<br />

VISÃO<br />

Fala & Linguag<strong>em</strong><br />

O que posso lhe<br />

dizer sobre isto?<br />

Dra. Márcia Reis <strong>Guimarães</strong> *<br />

ci<strong>da</strong>de, a professora comentou que<br />

muitos haviam pensado o mesmo, mas<br />

que ele ain<strong>da</strong> não lia corretamente,<br />

estando ca<strong>da</strong> vez mais defasado <strong>em</strong><br />

relação aos colegas e que corria o risco<br />

de ser reprovado naquele mesmo ano!<br />

Ao final do dia, muitos outros “João”<br />

haviam sido identificados: crianças s<strong>em</strong><br />

alterações ao exame oftalmológico de<br />

rotina, espertas, inteligentes e promissoras<br />

e que não conseguiam aprender a<br />

ler - estávamos diante de um desafio: o<br />

que fazer para ajudá-las?<br />

Nosso interesse nos levou à aprendizag<strong>em</strong><br />

e seus processos...<br />

Aprender é um processo que<br />

envolve nossos cinco sentidos e<br />

este processo ocorre naturalmente<br />

no caso <strong>da</strong> audição, do tato e do<br />

olfato, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que somos<br />

introduzidos aos variados tipos de<br />

estímulos; vai-se aprendendo passivamente,<br />

intuitivamente desde a<br />

primeira infância.<br />

A VISÃO, por outro lado, é ativamente<br />

aprendi<strong>da</strong> na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que o bebê<br />

segue a mãe com os olhos, descobre<br />

a mão com seus dedinhos, segura um<br />

brinquedo, depois aprende a encaixálo<br />

e associar peças de um quebracabeça,<br />

a segurar um lápis de cera e a<br />

assistir a um filme, está adquirindo um<br />

controle sofisticado que lhe permitirá<br />

interagir com o mundo: o controle de<br />

seu olhar.<br />

Estima-se que 85% de tudo que<br />

aprend<strong>em</strong>os na vi<strong>da</strong> <strong>em</strong> relação ao


educação e cultura<br />

ambiente depend<strong>em</strong> <strong>da</strong> visão e <strong>da</strong><br />

interação que ocorre entre ela e os<br />

d<strong>em</strong>ais sentidos. Esta interação foi<br />

b<strong>em</strong> estu<strong>da</strong><strong>da</strong> por Sherington 2 , ain<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> meados do século XX e rendeu-lhe<br />

um Prêmio Nobel.<br />

Os quatro círculos de Sherington evidenciam<br />

as inter-relações que exist<strong>em</strong><br />

entre a visão e o posicionamento do<br />

indivíduo <strong>em</strong> relação ao mundo que o<br />

cerca no campo real e psicossocial, na<br />

própria aquisição <strong>da</strong> fala e linguag<strong>em</strong>,<br />

além <strong>da</strong> movimentação e coordenação<br />

motora no ambiente <strong>em</strong> que está.<br />

A coleta de informações sobre o mundo<br />

começa a partir do momento que a luz,<br />

esta energia que se apresenta como<br />

on<strong>da</strong>s eletromagnéticas às quais a retina<br />

é sensível, é transforma<strong>da</strong> <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s<br />

elétricas através de uma reação química<br />

conheci<strong>da</strong> como fototransdução.<br />

Leva<strong>da</strong>s através <strong>da</strong>s vias ópticas, estes<br />

impulsos sob<strong>em</strong> <strong>em</strong> direção a estruturas<br />

cerebrais mais complexas como o<br />

Corpo Geniculado Lateral e depois ao<br />

Córtex Visual Primário, sendo organiza<strong>da</strong>s<br />

e processa<strong>da</strong>s <strong>em</strong> vias distintas<br />

que se interag<strong>em</strong> com cerca de 20<br />

outras regiões cerebrais especializa<strong>da</strong>s,<br />

<strong>em</strong> uma ativi<strong>da</strong>de intensa para a<br />

compreensão, reação e m<strong>em</strong>orização a<br />

ca<strong>da</strong> instante. Nesta interação receb<strong>em</strong><br />

informações e ajustes <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po real<br />

de nosso sist<strong>em</strong>a proprioceptivo.<br />

Assim, a visão é um processo complexo<br />

que envolve mais <strong>da</strong> metade do córtex<br />

cerebral: tudo começa com a coleta<br />

de <strong>da</strong>dos feita pelos nossos olhos! É o<br />

cérebro que controla a movimentação<br />

de nossos olhos levando-nos a fixar e<br />

seguir objetos, focalizá-los ao longe ou<br />

b<strong>em</strong> perto, e, para isso, utiliza seis dos<br />

12 pares de nervos cranianos existentes.<br />

Como t<strong>em</strong>os dois olhos, estes dev<strong>em</strong><br />

trabalhar <strong>em</strong> harmonia para que uma<br />

imag<strong>em</strong> tridimensional e única seja<br />

aprecia<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> milésimo de segundo -<br />

afinal é o cérebro que vê.<br />

Vários fatores são importantes nesta<br />

fase, depend<strong>em</strong>os de uma definição <strong>da</strong><br />

imag<strong>em</strong> (refração), de um bom controle<br />

de foco (acomo<strong>da</strong>ção), de coordenação<br />

oculomotora (convergência) e de movimentos<br />

de busca àquilo que nos interessa<br />

e, finalmente, de processamento<br />

e integração sensoriais apropriados e,<br />

se houver déficits <strong>em</strong> qualquer etapa<br />

do que chamamos de Processamento<br />

Visual, o aprendizado sofrerá impactos<br />

significativos.<br />

Em geral, quando falamos de visão<br />

nos referimos apenas à acui<strong>da</strong>de<br />

visual. Assim, a visão 20-20 significa<br />

visão normal e é considera<strong>da</strong><br />

como indicador de saúde visual,<br />

<strong>em</strong>bora a acui<strong>da</strong>de visual seja<br />

apenas um dos el<strong>em</strong>entos desse<br />

processamento, devendo-se ain<strong>da</strong><br />

considerar os campos visuais, a<br />

motili<strong>da</strong>de ocular, o funcionamento<br />

cerebral e a recepção <strong>da</strong><br />

luz e cor para citar apenas os mais<br />

importantes!<br />

E, para falar de aprendizado, precisamos<br />

considerar ain<strong>da</strong> os fatores de<br />

desenvolvimento individual, ligados à<br />

cognição, percepção, fatores <strong>em</strong>ocionais,<br />

etc. Naturalmente, à influência dos<br />

fatores ambientais como iluminação,<br />

contraste, cor, t<strong>em</strong>po e espaço.<br />

Afinal, quantas professoras já dev<strong>em</strong><br />

ter notado que, às vezes, ao mu<strong>da</strong>r<br />

um aluno desatento para longe de<br />

uma janela colocando-o <strong>em</strong> um canto<br />

onde to<strong>da</strong> a luz passa ser a fluorescente<br />

do teto – <strong>em</strong> vez de melhorar, o<br />

aluno cai de rendimento tornando-se<br />

mais agitado ain<strong>da</strong>? Muitas vezes, é o<br />

próprio reflexo do quadro de fórmica<br />

branca brilhante, adotado por muitas<br />

escolas, que atua como fator contraproducente<br />

no aprendizado: t<strong>em</strong>os reflexos<br />

e muito brilho, pouco contraste<br />

nas palavras escritas com canetas<br />

hidrocores descora<strong>da</strong>s, desmotivando<br />

a leitura e compreensão de to<strong>da</strong> a<br />

classe! E “ai” do aluno que tentar<br />

mover sua carteira tentando evitar<br />

o reflexo produzido pelas luzes fluorescentes<br />

no quadro branco ou tentar<br />

fazer uma aba com sua mão na testa<br />

minimizando o reflexo sobre o livro ou<br />

caderno onde lê! Eis aí bons ex<strong>em</strong>plos<br />

de fatores ambientais deletérios para<br />

o estudo e compreensão.<br />

No mundo de hoje, a Leitura é s<strong>em</strong><br />

dúvi<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des mais<br />

importantes no aprendizado. A aquisição<br />

desta capaci<strong>da</strong>de que, <strong>em</strong> última<br />

instância, será feita pelo cérebro de<br />

modo involuntário e automatizado,<br />

depende de três fatores: sermos<br />

capazes de fixar e manter movimentos<br />

oculares coordenados e dentro de<br />

uma perspectiva correta ao longo dos<br />

intervalos entre palavras e linhas de<br />

texto, de um processamento visual<br />

pelas duas vias preferenciais, o sist<strong>em</strong>a<br />

Magno e Parvocelular, onde a forma e<br />

movimento junto com detalhes de cor,<br />

contraste e bor<strong>da</strong>s serão analisados,<br />

e, finalmente, à associação entre a<br />

linguag<strong>em</strong> e significado.<br />

Os melhores profissionais para<br />

suspeitar de dificul<strong>da</strong>des na eficiência<br />

visual e processamento <strong>da</strong><br />

informação são os professores e<br />

profissionais como pe<strong>da</strong>gogos, psicólogos,<br />

psicope<strong>da</strong>gogos, fonoaudiólogos<br />

e terapeutas ocupacionais.<br />

Estes sim pod<strong>em</strong> avaliar as dificul<strong>da</strong>des<br />

<strong>em</strong> ler e escrever associa<strong>da</strong>s<br />

às reversões, transposições de letras e<br />

fon<strong>em</strong>as, omissões de palavras, per<strong>da</strong><br />

do local de leitura, fotossensibili<strong>da</strong>de,<br />

déficits de atenção e compreensão,<br />

fadiga e resistência à leitura <strong>em</strong> voz<br />

alta, muitas vezes confundi<strong>da</strong>s com<br />

baixa motivação e que, na ver<strong>da</strong>de,<br />

afetam a autoestima do aluno gerando<br />

comportamentos antissociais, apatia,<br />

depressão ou atitudes de conflito e<br />

confronto que desestabilizam a relação<br />

professor/coordenador/gestor/família e<br />

aluno com repercussões de gravi<strong>da</strong>de<br />

crescentes.<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

17


educação e cultura<br />

Vários fatores pod<strong>em</strong> estar envolvidos<br />

com déficits na aquisição <strong>da</strong> Leitura.<br />

Entre as causas gerais estão a baixa<br />

inteligência, as dificul<strong>da</strong>des na audição,<br />

falta de conhecimento <strong>da</strong> língua,<br />

de oportuni<strong>da</strong>des e escolari<strong>da</strong>de, e<br />

várias causas neurológicas devido a<br />

alterações durante a formação cerebral<br />

ou outras doenças neurológicas,<br />

criando dificul<strong>da</strong>des na habili<strong>da</strong>de <strong>em</strong><br />

reconhecer letras ou associar sons e<br />

palavras.<br />

Entre as causas específicas, há duas<br />

a considerar: a Dislexia e a Sindrome<br />

de Irlen.<br />

Como oftalmologista, é bom explicar<br />

que estas causas específicas não são<br />

capta<strong>da</strong>s pelo Teste de Acui<strong>da</strong>de Visual<br />

a 6 metros de distância feito habitualmente<br />

<strong>em</strong> sala de aula, <strong>em</strong>bora este<br />

teste possa detectar dificul<strong>da</strong>des para<br />

cópias do quadro negro. Este teste t<strong>em</strong><br />

limitações porque estamos avaliando<br />

se uma pessoa é capaz de ler letras separa<strong>da</strong>s,<br />

pretas <strong>em</strong> um fundo branco -<br />

e a leitura é dinâmica, envolvendo<br />

letras associa<strong>da</strong>s <strong>em</strong> palavras sequencialmente<br />

dispostas que precisam<br />

ser decodifica<strong>da</strong>s, m<strong>em</strong>oriza<strong>da</strong>s e<br />

interpreta<strong>da</strong>s rapi<strong>da</strong>mente.<br />

Os sinais precoces se evidenciam<br />

desde a pré-escola com atraso na<br />

aquisição <strong>da</strong> fala, aprendizado <strong>da</strong>s<br />

cores e do alfabeto. Na escola, há<br />

dificul<strong>da</strong>des com o som <strong>da</strong>s palavras,<br />

inversões, com rimas, caligrafia sofrível,<br />

confusões com a laterali<strong>da</strong>de direita e<br />

esquer<strong>da</strong>, compreensão do texto, etc.<br />

O comprometimento <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> vai<br />

se evidenciando ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong><br />

que há uma precoci<strong>da</strong>de na aquisição<br />

de habili<strong>da</strong>des motoras e estas crianças<br />

tend<strong>em</strong> a an<strong>da</strong>r, encaixar, construir<br />

modelos com mais facili<strong>da</strong>de do que as<br />

d<strong>em</strong>ais de mesma faixa etária.<br />

A Dislexia pode ser defini<strong>da</strong>, de modo<br />

simplificado, como uma dificul<strong>da</strong>de de<br />

aprendizado de causa neurológica que<br />

18 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

se manifesta a despeito de inteligência,<br />

motivação e educação apropria<strong>da</strong>s,<br />

sendo frequent<strong>em</strong>ente associa<strong>da</strong> a<br />

Déficits de Atenção e Hiperativi<strong>da</strong>de.<br />

Os disléxicos têm dificul<strong>da</strong>des <strong>em</strong><br />

controlar o direcionamento e a coordenação<br />

binocular durante a leitura<br />

e ain<strong>da</strong> na manutenção <strong>da</strong> atenção,<br />

com a integração auditiva e visual e<br />

sensorial. Estima-se que 8 a 12% <strong>da</strong><br />

população mundial seja disléxica.<br />

A Síndrome de Irlen é uma alteração<br />

visuoperceptual, também t<strong>em</strong> base<br />

neurológica e se manifesta com<br />

fotossensibili<strong>da</strong>de, desfocamento à<br />

leitura, restrição do campo periférico,<br />

dificul<strong>da</strong>des na a<strong>da</strong>ptação a contrastes<br />

como, por ex<strong>em</strong>plo, figura-fundo, dificul<strong>da</strong>de<br />

<strong>em</strong> manter a atenção visual e<br />

cefaléias frequentes. Ela está associa<strong>da</strong><br />

a alterações do córtex visual e déficits do<br />

sist<strong>em</strong>a magnocelular que, como vimos,<br />

é parte importante na aquisição de<br />

informações do sist<strong>em</strong>a visual sobre o<br />

movimento e fun<strong>da</strong>mental durante a leitura.<br />

Esta alteração t<strong>em</strong> um componente<br />

genético e famílias s<strong>em</strong>pre têm outros<br />

casos, afetando ambos os sexos com<br />

manifestações varia<strong>da</strong>s e intermitentes;<br />

algumas mais leves e outras mais graves<br />

onde to<strong>da</strong>s as manifestações estão<br />

presentes. Não raro, durante nossos<br />

atendimentos, os pais mencionam que<br />

também sofreram muito na escola, que<br />

nunca gostaram de ler ou que abandonaram<br />

os estudos e que, como adultos,<br />

ain<strong>da</strong> passam por dificul<strong>da</strong>des, pois a<br />

síndrome afeta to<strong>da</strong>s as faixas etárias<br />

inclusive 14% de seus portadores são<br />

bons leitores com inteligência superior<br />

à média. A incidência desta síndrome<br />

entre disléxicos, portadores de Déficits<br />

de Atenção e Hiperativi<strong>da</strong>de e pessoas<br />

que sofreram traumatismos cranianos<br />

é b<strong>em</strong> mais eleva<strong>da</strong>, oscilando entre<br />

33 a 55% dos casos. Nestes, ao cui<strong>da</strong>rmos<br />

<strong>da</strong>s manifestações associa<strong>da</strong>s<br />

à S. de Irlen, ocorre sensível melhora<br />

<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des de aprendizado pela<br />

facilitação do processamento visual -<br />

potencializando assim as ações <strong>da</strong>s<br />

psicope<strong>da</strong>gogas, fonoaudiólogas e professoras<br />

que li<strong>da</strong>m com estes pacientes.<br />

A Síndrome de Irlen é estu<strong>da</strong><strong>da</strong> no<br />

Brasil há 4 anos pelo Hospital de Olhos<br />

Dr. Ricardo <strong>Guimarães</strong>, onde centenas<br />

de casos já foram tratados. É b<strong>em</strong><br />

conheci<strong>da</strong> <strong>em</strong> mais de 40 países e v<strong>em</strong><br />

sendo trata<strong>da</strong> desde meados dos anos<br />

80. Os resultados vêm sendo monitorados<br />

através de protocolos científicos<br />

junto à UFMG e a satisfação dos pacientes<br />

é comprova<strong>da</strong> estatisticamente<br />

e através <strong>da</strong>s pesquisas de satisfação,<br />

onde 100 pacientes com follow-up<br />

superior a 6 meses foram entrevistados<br />

por psicólogos e psicope<strong>da</strong>gogos de<br />

nossa equipe.<br />

É importante assinalar que as manifestações<br />

são desencadea<strong>da</strong>s ou<br />

agrava<strong>da</strong>s por fatores ambientais<br />

estressantes como luminosi<strong>da</strong>de,<br />

contraste, cores, volume elevado de<br />

texto por página, pressão continua<strong>da</strong><br />

por des<strong>em</strong>penho, compreensão e<br />

tamanho de letras, texto, impressão,<br />

tipo e formato do texto.<br />

Diante do esforço visual as distorções<br />

visuais se instalam dificultando a leitura<br />

e pod<strong>em</strong>os observar este fato pela<br />

tendência a esfregar os olhos constant<strong>em</strong>ente,<br />

tampar ou fazer sombra<br />

sobre o papel durante a leitura, apertar<br />

e piscar os olhos, balançar e tombar a<br />

cabeça, cansaço após 10 a 15 minutos<br />

de leitura, preferência pela penumbra<br />

e lacrimejamento, prurido e ardência,<br />

história familiar de dificul<strong>da</strong>des escolares.<br />

As dores de cabeça e enxaquecas<br />

são uma constante na maioria dos<br />

pacientes (82%).<br />

As distorções visuais (desfocamento,<br />

linhas brancas <strong>em</strong> meio ao texto,<br />

palavras tr<strong>em</strong>endo ou sanfonando,<br />

ro<strong>da</strong>ndo) faz<strong>em</strong> parte do dia-a-dia e<br />

ocorr<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre que o estu<strong>da</strong>nte lê.<br />

O mais importante é que não se pode<br />

comparar com o colega ao lado - que<br />

evident<strong>em</strong>ente pode não estar tendo


os mesmos probl<strong>em</strong>as ao ler! E o<br />

indivíduo não relata suas distorções<br />

porque nunca leu de outra forma e<br />

assume que todos ve<strong>em</strong> como ele.<br />

Assim, entende-se melhor porque um<br />

aluno que sabia “tudo”, ao sair de<br />

casa recebe uma nota muito aquém de<br />

sua real capaci<strong>da</strong>de e ele mesmo não<br />

entende como isto ocorreu! O déficit<br />

não é de inteligência, mas sim na<br />

etapa visual do processamento - se<br />

houver dislexia associa<strong>da</strong> fica ain<strong>da</strong><br />

mais difícil porque outros déficits <strong>da</strong><br />

rota fonoaudiológica se justapõ<strong>em</strong>!<br />

Como diagnosticar os portadores<br />

<strong>da</strong> Síndrome de Irlen ou <strong>da</strong> Dislexia<br />

de Leitura, como chamamos popularmente?<br />

O treinamento, voltado para professores,<br />

pe<strong>da</strong>gogos, psicope<strong>da</strong>gogos,<br />

fonoaudiólogos dura três dias e<br />

capacita estes profissionais para<br />

diagnosticar e tratar, bloqueando as<br />

distorções. Há também cursos para<br />

Gestores Educacionais e mesmo<br />

Juízes. O site para informações é o<br />

www.dislexiadeleitura.com.br.<br />

Distorções Visuais: ex<strong>em</strong>plos de dificul<strong>da</strong>des na leitura.<br />

A leitura melhora de imediato e de<br />

maneira surpreendente até para os<br />

próprios alunos - que se ve<strong>em</strong> lendo<br />

com uma fluência, veloci<strong>da</strong>de e<br />

compreensão nunca antes observa<strong>da</strong>s!<br />

Muitos deles até então considerados<br />

alunos probl<strong>em</strong>a, disléxicos, hiperativos<br />

e desmotivados têm a autoestima e<br />

des<strong>em</strong>penho recuperados com reflexos<br />

na quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> deles e <strong>da</strong>s professoras<br />

que se perguntavam o que faltava<br />

na parte pe<strong>da</strong>gógica para aju<strong>da</strong>r aquele<br />

aluno evident<strong>em</strong>ente inteligente, mas<br />

s<strong>em</strong> progressos na sala de aula.<br />

As transparências usa<strong>da</strong>s <strong>em</strong> sala<br />

de aula, para ler <strong>em</strong> casa, na tela do<br />

computador custam menos que um<br />

livro didático e são usa<strong>da</strong>s com todos<br />

eles (os livros de português, geografia,<br />

história, etc.).<br />

É Projeto <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Hospital de<br />

Olhos Dr. Ricardo <strong>Guimarães</strong> disponibilizar<br />

este treinamento na rede<br />

pública e priva<strong>da</strong> de ensino, aju<strong>da</strong>ndo<br />

a ampliar o apoio a estes pacientes,<br />

evitando a evasão escolar e as consequências<br />

que dela advém para o<br />

indivíduo e a socie<strong>da</strong>de.<br />

Distorções Visuais<br />

educação e cultura<br />

Nos casos mais graves, quando não<br />

se consegue copiar do quadro, há<br />

restrições do campo visual, fotofobia<br />

intensa, dificul<strong>da</strong>des na condução de<br />

veículos, dificul<strong>da</strong>des para seguir objetos<br />

<strong>em</strong> movimento ou no trabalho, é<br />

necessário o uso de filtros de bloqueio<br />

individualmente selecionados que são<br />

incorporados aos óculos, que pod<strong>em</strong><br />

ter grau ou não.<br />

1. Nome Fictício.<br />

2. Charles Scott Sherington (1852-1952), fisiologista inglês que<br />

descreveu os efeitos <strong>da</strong> estimulação nervosa explicando os<br />

reflexos espinhais. Foi pr<strong>em</strong>iado com o Nobel de Fisiologia ou<br />

Medicina <strong>em</strong> 1932, por descobrir a função dos neurônios.<br />

*Médica oftalmologista do Hospital de Olhos de<br />

Minas Gerais com Doutorado <strong>em</strong> Quali<strong>da</strong>de de<br />

Visão e Visão de Cores pela UFMG. T<strong>em</strong> passagens<br />

por pós-graduação na França, Inglaterra e Estados<br />

Unidos. Participação <strong>em</strong> cursos de Pós-Graduação<br />

como Professora Assistente, Adjunta e Docente<br />

convi<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong> UFMG e UNIFESP. Dedica-se a clínica<br />

e pesquisa <strong>em</strong> oftalmologia clínica e distúrbios de<br />

aprendizado relacionados à Visão.<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

19


educação e cultura<br />

Esporte como fator de inclusão<br />

de jovens na socie<strong>da</strong>de<br />

Entrevista cedi<strong>da</strong> à “<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>” por Gustavo de Faria Dias Corrêa, Secretário de<br />

Estado de Esportes e <strong>da</strong> Juventude de Minas Gerais.<br />

<strong>FGR</strong>: A Secretaria de Estado de Esportes<br />

e <strong>da</strong> Juventude promove diversas ações<br />

<strong>em</strong> prol do reconhecimento e inclusão<br />

de jovens na socie<strong>da</strong>de. Do ponto de<br />

vista <strong>da</strong> Secretaria, como estes jovens<br />

pod<strong>em</strong> contribuir para a transformação<br />

do seu entorno?<br />

Gustavo: A Secretaria de Estado de<br />

Esportes e <strong>da</strong> Juventude gerencia uma<br />

dezena de projetos relacionados ao<br />

protagonismo juvenil e à inclusão social<br />

de jovens. Para se ter uma ideia,<br />

o Projeto “Vocação”, desenvolvido<br />

<strong>em</strong> parceria com Serviço Nacional de<br />

Aprendizag<strong>em</strong> Rural, já capacitou mais<br />

de 93 mil jovens de 14 a 24 anos de<br />

área rural <strong>em</strong> ativi<strong>da</strong>des que possibilitaram<br />

a inserção no mercado de trabalho<br />

regional e, <strong>em</strong> 2009, capacitará<br />

outros 15 mil jovens. Além deste, o<br />

Projeto “A Terceira Marg<strong>em</strong> do Rio”,<br />

recent<strong>em</strong>ente implantado, t<strong>em</strong> como<br />

meta inicial capacitar 500 jovens dos<br />

municípios <strong>da</strong> bacia do Alto Rio <strong>da</strong>s Velhas<br />

para a promoção <strong>da</strong> utilização racional<br />

dos recursos naturais e a construção<br />

de socie<strong>da</strong>des sustentáveis.<br />

através dos oito jeitos de mu<strong>da</strong>r o<br />

mundo, ou seja, os oito objetivos do<br />

milênio, <strong>da</strong> ONU; implantou o Projeto<br />

“Chefs do Amanhã”, que incentiva<br />

a participação do jov<strong>em</strong> <strong>em</strong> uma<br />

nova proposta de culinária básica e<br />

saudável; e lançará o Projeto “Mão na<br />

Massa”, que oferecerá 12 cursos gratuitos<br />

e profissionalizantes a jovens de<br />

áreas carentes de Belo Horizonte e de<br />

seu entorno. Estes são alguns ex<strong>em</strong>plos<br />

de ações de inclusão de jovens, que<br />

Na busca do protagonismo juvenil,<br />

a Secretaria de Estado de Esportes e<br />

<strong>da</strong> Juventude, por intermédio <strong>da</strong> Coordenadoria<br />

Especial <strong>da</strong> Juventude,<br />

desenvolve o Projeto “Diálogos <strong>da</strong><br />

Juventude”, que estimula a maior participação<br />

do jov<strong>em</strong> na melhoria <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> de sua comuni<strong>da</strong>de, Gustavo de Faria Dias Corrêa, Secretário de Estado de Esportes e <strong>da</strong> Juventude.<br />

20 <strong>FGR</strong> EM REVISTA


vêm se somar à continua<strong>da</strong> criação de<br />

Conselhos Municipais de Juventude.<br />

<strong>FGR</strong>: Qual a grande preocupação <strong>em</strong><br />

relação aos jovens e às drogas? Quais<br />

esforços são realizados para combater<br />

o aumento do número de usuários de<br />

drogas e como a SEEJ chega até eles?<br />

Gustavo: Minas Gerais foi o primeiro<br />

Estado brasileiro a reconhecer a necessi<strong>da</strong>de<br />

e urgência <strong>em</strong> adotar uma postura<br />

de enfrentamento e, ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po, de atenção às questões relaciona<strong>da</strong>s<br />

ao uso e abuso de álcool e<br />

outras drogas. Também foi o primeiro<br />

Estado a ter uma estrutura orgânica e<br />

uma política pública específica para o<br />

t<strong>em</strong>a do uso e abuso de álcool e outras<br />

drogas. Minas Gerais possui uma política<br />

pública sobre drogas, construí<strong>da</strong> de<br />

maneira realista, através de espaços de<br />

participação e controle social <strong>em</strong> todos<br />

os pontos tocantes ao uso indevido de<br />

álcool, tabaco e outras drogas. O sist<strong>em</strong>a<br />

estadual de políticas públicas<br />

sobre drogas, criado dentro <strong>da</strong> política<br />

estadual é ativo e, de forma itinerante,<br />

t<strong>em</strong> realizado seu trabalho envolvendo<br />

todos os atores no campo <strong>da</strong>s políticas<br />

públicas sobre drogas. Para bloquear o<br />

avanço do abuso de drogas, foi cria<strong>da</strong><br />

a Rede Integra<strong>da</strong> de Conselhos Municipais<br />

Antidrogas. Estabeleci<strong>da</strong> com a<br />

finali<strong>da</strong>de de fortalecer as estratégias<br />

de municipalização <strong>da</strong>s ações de prevenção,<br />

tratamento e reinserção social<br />

de usuários e dependentes de álcool e<br />

outras drogas, a rede foi cria<strong>da</strong> com o<br />

objetivo de compartilhar experiências e<br />

referenciais locais, estabelecer vínculo<br />

de atenção nos diversos níveis, capaz<br />

de intervir com antecedência. A rede<br />

busca minimizar os fatores de risco<br />

local na área de prevenção. Pela primeira<br />

vez, também, o Estado t<strong>em</strong> uma<br />

política efetiva de apoio a enti<strong>da</strong>des<br />

que atuam na recuperação de usuários,<br />

como as comuni<strong>da</strong>des terapêuticas.<br />

<strong>FGR</strong>: A ausência de espaços públicos<br />

para a prática de esportes dificulta a<br />

d<strong>em</strong>ocratização do esporte, principalmente<br />

para as populações menos favoreci<strong>da</strong>s.<br />

Também dificulta a inclusão<br />

social de crianças e jovens amparados,<br />

especialmente por enti<strong>da</strong>des do Terceiro<br />

Setor. Como a SEEJ procura suprir<br />

esse déficit de espaços públicos?<br />

Gustavo: A Secretaria de Estado de Esportes<br />

e <strong>da</strong> Juventude criou o programa<br />

“Minas Olímpica Saúde na Praça”, que,<br />

através <strong>da</strong> adequação de praças esportivas,<br />

desenvolve ações volta<strong>da</strong>s para<br />

a promoção <strong>da</strong> saúde e <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<br />

de vi<strong>da</strong>. Dota<strong>da</strong>s de equipamentos esportivos,<br />

as praças possibilitam a prática<br />

de ativi<strong>da</strong>de física orienta<strong>da</strong> por<br />

profissionais de educação física, fisioterapia<br />

e nutrição. As praças, construí<strong>da</strong>s<br />

ou revitaliza<strong>da</strong>s, também são<br />

utiliza<strong>da</strong>s <strong>em</strong> ações que visam à preservação<br />

do meio ambiente e que favoreçam<br />

a convivência solidária e prazerosa<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. Além disso, <strong>em</strong><br />

dois anos, a Secretaria de Estado de<br />

Esportes e <strong>da</strong> Juventude assinou convênios<br />

repassando cerca de R$ 10 milhões<br />

para mais de 150 municípios mineiros,<br />

para construção e melhoria de<br />

campos de futebol e quadras poliesportivas,<br />

a aquisição de equipamentos<br />

esportivos e a realização de eventos esportivos.<br />

Grande parte <strong>da</strong>s quadras poliesportivas<br />

foi construí<strong>da</strong> <strong>em</strong> distritos.<br />

Estes investimentos, somados aos programas<br />

que são oferecidos às administrações<br />

municipais, d<strong>em</strong>ocratizam a<br />

prática esportiva, além de criar as condições<br />

para o surgimento de atletas de<br />

alto rendimento e de equipes <strong>em</strong> todo<br />

o Estado de Minas Gerais.<br />

<strong>FGR</strong>: Há sete anos, a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> investe <strong>em</strong> Programas e Projetos<br />

Sociais voltados, principalmente,<br />

às crianças e adolescentes residentes<br />

<strong>em</strong> áreas de risco, sendo o Esporte<br />

uma <strong>da</strong>s ferramentas mais eficazes. O<br />

Programa “Minas Olímpica Nova Geração”<br />

utiliza as mesmas ferramentas<br />

para o mesmo público beneficiado <strong>da</strong><br />

<strong>FGR</strong>. Qual a importância de instituições<br />

educação e cultura<br />

de diferentes setores se unir<strong>em</strong> <strong>em</strong> parcerias<br />

efetivas por objetivos comuns?<br />

Gustavo: O “Minas Olímpica Nova Geração”<br />

é um programa de inserção social<br />

de crianças e adolescentes <strong>em</strong> situação<br />

de vulnerabili<strong>da</strong>de social através<br />

do esporte, que t<strong>em</strong> por finali<strong>da</strong>de reduzir<br />

exatamente essa vulnerabili<strong>da</strong>de,<br />

através <strong>da</strong> promoção de sua formação<br />

integral e de sua participação <strong>em</strong> vivências<br />

esportivas, pe<strong>da</strong>gógicas, lúdicas,<br />

de promoção <strong>da</strong> saúde e autocui<strong>da</strong>do<br />

e compl<strong>em</strong>entação nutricional. Neste<br />

sentido, o programa compl<strong>em</strong>enta e<br />

é compl<strong>em</strong>entado por outros projetos<br />

desenvolvidos por enti<strong>da</strong>des priva<strong>da</strong>s<br />

e instituições públicas do Estado de<br />

Minas Gerais. O estabelecimento de<br />

parcerias entre estas instituições e enti<strong>da</strong>des<br />

teria efeito benéfico de evitar a<br />

superposição de ações, racionalizando<br />

a utilização de esforços e recursos e,<br />

consequent<strong>em</strong>ente, ampliando o universo<br />

de beneficiários.<br />

<strong>FGR</strong>: Dentro do objetivo de promover a<br />

cultura <strong>da</strong> prática do esporte como instrumento<br />

para a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<br />

de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população de Minas Gerais,<br />

quais os Programas desenvolvidos para<br />

a terceira i<strong>da</strong>de?<br />

Gustavo: O Programa “Minas Olímpica<br />

Saúde na Praça” t<strong>em</strong>, entre seus<br />

objetivos, o atendimento à terceira<br />

i<strong>da</strong>de. As praças possibilitam a prática<br />

de ativi<strong>da</strong>de física orienta<strong>da</strong> por profissionais<br />

de educação física, fisioterapia<br />

e nutrição, qualificados para o atendimento<br />

ao ci<strong>da</strong>dão desta faixa etária.<br />

As praças também serv<strong>em</strong> de palco<br />

para a divulgação de ações volta<strong>da</strong>s à<br />

saúde e ao b<strong>em</strong>-estar <strong>da</strong>s pessoas <strong>da</strong><br />

terceira i<strong>da</strong>de e a implantação de programas<br />

elaborados pela Secretaria de<br />

Estado <strong>da</strong> Saúde para este segmento<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de mineira.<br />

<strong>FGR</strong>: A SEEJ está elaborando o “Plano<br />

Estadual do Esporte”, do qual a população<br />

poderá participar enviando<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

21


e-mail com sugestões. Fale-nos um<br />

pouco sobre os resultados esperados<br />

com a impl<strong>em</strong>entação desse plano.<br />

Gustavo: O “Plano Estadual do Esporte”,<br />

<strong>em</strong> processo de elaboração, representa<br />

a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s ações <strong>da</strong><br />

política estadual do esporte e t<strong>em</strong> por<br />

finali<strong>da</strong>de subsidiar as decisões dos<br />

agentes públicos sobre a adoção de<br />

medi<strong>da</strong>s e a elaboração de programas<br />

voltados para o setor. O que se espera<br />

com esta sist<strong>em</strong>atização é a otimização<br />

dos processos, com a racionalização na<br />

utilização de esforços e recursos, para<br />

que se evite a superposição de ações<br />

e se amplie o universo de municípios<br />

e ci<strong>da</strong>dãos atendidos por programas<br />

voltados para as práticas esportivas e<br />

de ativi<strong>da</strong>des físicas.<br />

<strong>FGR</strong>: Quais as maiores dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s<br />

na Gestão <strong>da</strong> Secretaria de<br />

Estado de Esportes e <strong>da</strong> Juventude?<br />

Gustavo: Ao contrário do que se poderia<br />

esperar, por ser uma Pasta recémcria<strong>da</strong>,<br />

o gerenciamento <strong>da</strong> Secretaria<br />

de Estado de Esportes e <strong>da</strong> Juventude<br />

não exigiu a superação de dificul<strong>da</strong>des.<br />

Impôs, isto sim, trabalho e determinação<br />

no cumprimento de metas. Exatamente<br />

por ter sido cria<strong>da</strong> no segundo man<strong>da</strong>to<br />

do Governador Aécio Neves, a Pasta<br />

nasceu sob uma orientação moderna,<br />

ampara<strong>da</strong> <strong>em</strong> metodologia e estratégia<br />

educação e cultura<br />

que possibilitaram uma gestão dinâmica<br />

e volta<strong>da</strong> para a apresentação de<br />

resultados. Resultados estes pactuados<br />

na forma de metas, entre o Governo do<br />

Estado e ca<strong>da</strong> um dos servidores <strong>da</strong> Secretaria<br />

de Estado de Esportes e <strong>da</strong> Juventude,<br />

e que já se apresentam aos<br />

ci<strong>da</strong>dãos mineiros. Apenas a título de<br />

ex<strong>em</strong>plo <strong>da</strong>s consequências deste trabalho<br />

e desta orientação pelos resultados,<br />

o “Minas Olímpica Jogos Escolares<br />

de Minas Gerais” - JEMG, uma <strong>da</strong>s<br />

mais tradicionais competições de Minas<br />

Gerais, <strong>em</strong> 2009 bateu o recorde de inscrições,<br />

com 605 municípios envolvidos<br />

no evento, o equivalente a quase 71%<br />

<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des mineiras.


Em sete anos de atuação, a Fun<strong>da</strong>ção<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> investe <strong>em</strong> Programas<br />

e Projetos Sociais por acreditar ser este<br />

o caminho para o desenvolvimento <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de. Dentre os programas desenvolvidos,<br />

os destinados à Educação<br />

se destacam. Por meio de ações inclusivas,<br />

a <strong>FGR</strong> contribui para a formação<br />

<strong>da</strong> criança, do adolescente e do idoso,<br />

com base na cultura e na educação,<br />

instrumentos ímpares para a transformação<br />

social almeja<strong>da</strong>, possibilitando<br />

formação digna e ci<strong>da</strong>dã aos participantes<br />

assistidos.<br />

Neste contexto de transformação social<br />

e, no sentido de promover o desenvolvimento<br />

humano e a <strong>em</strong>ancipação<br />

ci<strong>da</strong>dã, a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> realiza vinte e um Programas e<br />

Projetos Sociais <strong>em</strong> diversas ci<strong>da</strong>des<br />

de Minas Gerais. Dentre eles, destacamos:<br />

“Bom na Escola, Bom de Bola”,<br />

“Incentivo à Leitura: Redescobrindo<br />

o Prazer de Ler”, “Primeiros Passos:<br />

Educação Para o Empreendedorismo”<br />

e “Un<strong>da</strong>ra”. Estes projetos atuam de<br />

formas distintas, mas com um objetivo<br />

comum: aprimorar a educação<br />

de crianças e jovens, futuros ci<strong>da</strong>dãos.<br />

A <strong>FGR</strong> sabe <strong>da</strong> importância de investir<br />

na educação e cultura, como também<br />

na multiplicação <strong>da</strong> paz, tecnologia e<br />

b<strong>em</strong>-estar social.<br />

Para atender aos Projetos e Programas<br />

Sociais desenvolvidos pela <strong>FGR</strong>,<br />

exist<strong>em</strong> recursos imprescindíveis, e a<br />

atuação dos voluntários é um deles. Ao<br />

disponibilizar parte do seu t<strong>em</strong>po <strong>em</strong><br />

prol de causas sociais que atu<strong>em</strong> na<br />

melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, essas<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

Empreendimentos sociais<br />

b<strong>em</strong>-sucedidos <strong>da</strong> <strong>FGR</strong><br />

pessoas faz<strong>em</strong> a diferença! Nesse contexto,<br />

a <strong>FGR</strong> desenvolve o Projeto “Voluntários<br />

<strong>em</strong> Favor de um Mundo Melhor”,<br />

o qual atua na propagação e<br />

incentivo do trabalho voluntário, entre<br />

os seus colaboradores.<br />

“Bom na Escola,<br />

Bom de Bola”<br />

O artigo 59 do Estatuto <strong>da</strong> Criança e do<br />

Adolescente (ECA) determina: “Os municípios,<br />

com apoio dos Estados e <strong>da</strong><br />

União, estimularão e facilitarão a destinação<br />

de recursos e espaços para programações<br />

culturais, esportivas e de<br />

lazer volta<strong>da</strong>s para a infância e a juventude.”<br />

Enquanto essa determinação<br />

ain<strong>da</strong> está longe de se tornar reali<strong>da</strong>de<br />

<strong>em</strong> muitos Estados do País, <strong>em</strong>presas<br />

públicas e priva<strong>da</strong>s, instituições do Terceiro<br />

Setor e a socie<strong>da</strong>de tomaram para<br />

si a responsabili<strong>da</strong>de de unir esporte e<br />

educação como ferramenta de inclusão<br />

social de crianças e adolescentes <strong>em</strong> situação<br />

de risco. Uma tarefa que a <strong>FGR</strong><br />

também se encarregou de pôr <strong>em</strong> prática<br />

quando foi convi<strong>da</strong><strong>da</strong> a participar<br />

do Programa “Bom na Escola, Bom de<br />

Bola”, criado <strong>em</strong> 1995 na ci<strong>da</strong>de mineira<br />

de Bom Despacho e oficializado,<br />

<strong>em</strong> 1997, no 22º Batalhão de Polícia<br />

Militar, <strong>em</strong> Belo Horizonte.<br />

Depois <strong>da</strong>s intervenções estratégicas<br />

<strong>da</strong> <strong>FGR</strong>, o “Bom na Escola, Bom de<br />

Bola” cresceu e hoje acolhe participantes<br />

com i<strong>da</strong>des entre 6 e 17 anos,<br />

<strong>em</strong> projetos que tenham como princípios<br />

o desenvolvimento físico e intelectual,<br />

a saúde e a educação nas<br />

comuni<strong>da</strong>des assisti<strong>da</strong>s, <strong>em</strong> Belo Horizonte<br />

e Sete Lagoas. As crianças e adolescentes<br />

participam de oficinas que<br />

aliam a prática de esportes à melhoria<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

23


ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

do rendimento escolar, como futebol<br />

de areia, voleibol, ativi<strong>da</strong>des artísticas,<br />

culturais, recreativas e educacionais,<br />

além de cui<strong>da</strong>dos com a saúde. O Programa<br />

conta com importante apoio do<br />

Instituto Dona Lucinha e <strong>da</strong>s Associações<br />

Comunitárias <strong>da</strong> Barrag<strong>em</strong> Santa<br />

Lúcia, <strong>em</strong> Belo Horizonte.<br />

“Incentivo à Leitura:<br />

Redescobrindo o<br />

Prazer de Ler”<br />

“Um público comprometido com a<br />

leitura é crítico, rebelde, inquieto,<br />

pouco manipulável e não crê <strong>em</strong> l<strong>em</strong>as<br />

que alguns faz<strong>em</strong> passar por<br />

ideias.” (Mário Vargas LIosa)<br />

No contexto <strong>da</strong> globalização, no qual<br />

o acesso à informação é rápido e fácil,<br />

pelos diversos meios de comunicação,<br />

e, mormente pela internet, o hábito <strong>da</strong><br />

leitura t<strong>em</strong> sido ca<strong>da</strong> vez menos difundido<br />

entre crianças e adolescentes. De<br />

certa forma, a falta do hábito <strong>da</strong> leitura<br />

traz graves consequências para a formação<br />

dos jovens. A maioria t<strong>em</strong> dificul<strong>da</strong>des<br />

para escrever, interpretar<br />

textos, criticar e avaliar as diversas informações<br />

que receb<strong>em</strong> diariamente.<br />

Número de Participantes<br />

Participantes do Incentivo à Leitura<br />

600<br />

550<br />

500<br />

450<br />

400<br />

350<br />

300<br />

250<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

Escola<br />

E. E. Engenheiro Silvio Fonseca<br />

E. E. Henrique Diniz<br />

E. E. Martinho Fidélis<br />

24 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

O Brasil, infelizmente, possui alto índice<br />

de pessoas que não sab<strong>em</strong> ler: cerca de<br />

14 milhões , segundo o IBGE e, muitas<br />

<strong>da</strong>s que sab<strong>em</strong>, não têm interesse. A<br />

maior parte do conhecimento, <strong>da</strong>s descobertas<br />

e do legado deixado pelas<br />

mais r<strong>em</strong>otas civilizações, está nos livros,<br />

físicos ou digitais. É preciso ler<br />

para efetiva compreensão do mundo e<br />

suas transformações. Na França, ca<strong>da</strong><br />

pessoa lê, <strong>em</strong> média, 25 livros por ano.<br />

No Brasil, segundo a Pesquisa “Retratos<br />

<strong>da</strong> Leitura no Brasil”, divulga<strong>da</strong><br />

pelo Instituto Pró-Livro (2008) , a quanti<strong>da</strong>de<br />

de livros li<strong>da</strong> por habitante, por<br />

ano, não passa de cinco, incluindo-se<br />

os livros didáticos. O probl<strong>em</strong>a advém<br />

de questões culturais e históricas.<br />

A leitura é importante <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as<br />

fases do desenvolvimento intelectual<br />

de um indivíduo, contudo, é na infância<br />

que se t<strong>em</strong> a maior oportuni<strong>da</strong>de de<br />

formar um leitor.<br />

Quanto mais cedo se inicia o contato<br />

<strong>da</strong>s crianças com os livros, maiores são<br />

as possibili<strong>da</strong>des de trabalhar o vocabulário,<br />

a criativi<strong>da</strong>de, a imaginação e,<br />

sobretudo, a capaci<strong>da</strong>de de estruturar<br />

bons textos.<br />

É mais difícil para um adulto adquirir<br />

o hábito <strong>da</strong> leitura do que para<br />

uma criança, visto que elas se encantam<br />

com os livros, gostam <strong>da</strong>s<br />

histórias, <strong>da</strong>s figuras e, acima de tudo,<br />

são ávi<strong>da</strong>s pelas descobertas e pelo<br />

conhecimento. Elas estão <strong>em</strong> fase de<br />

formação, um momento único no qual<br />

adquir<strong>em</strong> hábitos que levarão por to<strong>da</strong><br />

a vi<strong>da</strong>. Principalmente nesta fase, a leitura<br />

estimula a formação de ci<strong>da</strong>dãos<br />

dotados de senso crítico, requisito amplamente<br />

exigido para a inserção posterior<br />

na socie<strong>da</strong>de.<br />

O prazer <strong>em</strong> ler é uma quali<strong>da</strong>de que<br />

se constrói no decorrer de anos, ele<br />

v<strong>em</strong> aos poucos e contribui para a<br />

formação de leitores capazes de reconhecer<br />

as particulari<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong><br />

texto, os sentidos, os significados, os<br />

valores e a abrangência de ca<strong>da</strong> texto<br />

lido. Desta forma, torna-se possível<br />

afastar erros e t<strong>em</strong>ores comuns, relativos<br />

ao hábito <strong>da</strong> leitura, geralmente<br />

presentes entre os alunos de nível Fun<strong>da</strong>mental<br />

e Médio.<br />

Nesse quadro, a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>, instituição que ostenta o nome<br />

de um dos maiores poetas e ficcionistas<br />

<strong>da</strong> história e grande incentivador<br />

<strong>da</strong> leitura no Brasil e cujos objetivos<br />

compreend<strong>em</strong> o desenvolvimento <strong>da</strong><br />

Educação e <strong>da</strong> Cultura neste país é fun<strong>da</strong>mental,<br />

criou o Projeto “Incentivo à<br />

Leitura: Redescobrindo o Prazer de<br />

Ler”. O objetivo principal do Projeto é<br />

estimular crianças e adolescentes a adquirir<strong>em</strong><br />

o hábito e o prazer <strong>da</strong> leitura.


Atualmente, o Projeto está presente <strong>em</strong><br />

três escolas parceiras: Escola Estadual<br />

Engenheiro Sílvio Fonseca, Escola Estadual<br />

Henrique Diniz, ambas <strong>em</strong> Belo<br />

Horizonte - MG, e Escola Estadual Martinho<br />

Fidélis, <strong>em</strong> Bom Despacho - MG.<br />

To<strong>da</strong>s elas estão envolvi<strong>da</strong>s <strong>em</strong> outro<br />

Programa ou Projeto <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>, e o “Incentivo<br />

à Leitura”, por meio <strong>da</strong> interação<br />

entre teoria e ações pe<strong>da</strong>gógicas<br />

diversifica<strong>da</strong>s, como jogos, oficinas,<br />

dramatizações e gincanas, permite, de<br />

forma efetiva, o preenchimento <strong>da</strong> lacuna<br />

cria<strong>da</strong> pela falta do hábito de leitura<br />

nestas escolas.<br />

As ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s visam estimular<br />

crianças e adolescentes a recorrer<strong>em</strong><br />

a diferentes tipos de leitura,<br />

sejam eles livros, revistas, jornais ou<br />

mesmo consultas ao dicionário.<br />

O livro deve estar presente ao alcance<br />

<strong>da</strong>s pequenas mãos. É necessário proximi<strong>da</strong>de<br />

para que se crie uma relação<br />

de afeto, de cui<strong>da</strong>do e, sobretudo, de<br />

respeito pelo que os livros têm a dizer,<br />

a ensinar. A forma mais eficaz de criar<br />

o hábito <strong>da</strong> leitura prazerosa consiste<br />

<strong>em</strong> integrar o livro ao cotidiano, à rotina,<br />

tanto na escola como <strong>em</strong> casa.<br />

Para tornar isso possível, a <strong>FGR</strong> adquiriu<br />

ex<strong>em</strong>plares de 22 obras <strong>da</strong> literatura brasileira,<br />

que são <strong>em</strong>presta<strong>da</strong>s aos participantes<br />

do Projeto. As obras atend<strong>em</strong> os<br />

interesses dos alunos e supr<strong>em</strong> exigências<br />

dos ensinos Fun<strong>da</strong>mental e Médio.<br />

Além <strong>da</strong> leitura propriamente dita, o<br />

Projeto proporciona experiências com<br />

histórias fala<strong>da</strong>s por contadores de<br />

histórias e “causos”, narrados com objetos<br />

e situações do cotidiano dos participantes,<br />

com vistas a proporcionar<br />

recreação, criativi<strong>da</strong>de, socialização,<br />

atenção e disciplina.<br />

Para que to<strong>da</strong>s as ações sejam efetivas<br />

e completamente aproveitáveis pelo<br />

público-alvo do Projeto, alguns objetivos<br />

serv<strong>em</strong> como alicerce para o desenvolvimento,<br />

dentre eles:<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Ampliar o repertório de histórias,<br />

conta<strong>da</strong>s ou adquiri<strong>da</strong>s<br />

pela leitura.<br />

Fazer com que desenvolvam o<br />

hábito de ler.<br />

Aproximá-las, ao máximo, do<br />

universo <strong>da</strong> escrita.<br />

Fazer com que os participantes<br />

sintam prazer nas ativi<strong>da</strong>des<br />

que envolv<strong>em</strong> a leitura.<br />

Proporcionar situações de leitura<br />

compartilha<strong>da</strong>, para reflexão<br />

e troca de opiniões.<br />

Propiciar a escuta interessa<strong>da</strong> e<br />

atenta <strong>da</strong>s histórias conta<strong>da</strong>s.<br />

Proporcionar capaci<strong>da</strong>de de<br />

criar critérios próprios para<br />

decidir o que ler.<br />

É impossível fazer com que as pessoas<br />

gost<strong>em</strong> <strong>da</strong>quilo que não conhec<strong>em</strong>,<br />

neste sentido a <strong>FGR</strong> busca tornar conhecidos<br />

os prazeres e benefícios presentes<br />

<strong>em</strong> uma boa leitura.<br />

Como forma de ampliar os conceitos<br />

trabalhados pelo Projeto, a <strong>FGR</strong> investe<br />

<strong>em</strong> outras ações e, para que os participantes<br />

e a comuni<strong>da</strong>de tenham fácil<br />

acesso ao conhecimento, criou uma biblioteca<br />

com importantes obras <strong>da</strong>s diversas<br />

áreas do conhecimento, disponíveis<br />

<strong>em</strong> acervo físico e virtual. Para<br />

mais informações sobre a Biblioteca<br />

Fantásticas Vere<strong>da</strong>s acesse o sítio eletrônico<br />

<strong>da</strong> <strong>FGR</strong>: www.fgr.org.br.<br />

To<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des culturais desenvolvi<strong>da</strong>s<br />

pela <strong>FGR</strong>, desde a criação do<br />

Projeto, mostram que a educação é coloca<strong>da</strong><br />

como priori<strong>da</strong>de por esta Instituição,<br />

garantindo aos atendidos pelos<br />

diversos Programas e Projetos Sociais<br />

que desenvolve vasto acesso a obras<br />

de quali<strong>da</strong>de, possibilitando, assim,<br />

qualificação, <strong>em</strong>ancipação ci<strong>da</strong>dã e inserção<br />

na socie<strong>da</strong>de.<br />

Obras adquiri<strong>da</strong>s pela <strong>FGR</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

A BAGACEIRA<br />

José Américo de Almei<strong>da</strong><br />

OS NúMEROS NA HISTóRIA DA<br />

CIVILIZAÇÃO - Luíz Márcio<br />

UM LEÃO EM FAMÍLIA<br />

Luiz Puntel<br />

OU ISTO OU AQUILO<br />

Cecília Meirelles<br />

HISTóRIA DE SINAIS<br />

Luiza Faraco<br />

ANA TERRA - Érico Veríssimo<br />

REI ARTHUR E OS CAVALEIROS<br />

DA TÁVOLA REDONDA<br />

Sir Thomas Malory, a<strong>da</strong>ptação<br />

de Laura Bacellar<br />

DE CONTO EM CONTO<br />

Machado de Assis<br />

NEGRINHA - Monteiro Lobato<br />

VIDAS SECAS - Graciliano Ramos<br />

O MÁGICO DE OZ - Frank Baum<br />

O BOM LADRÃO<br />

Fernando Sabino<br />

COCô DE PASSARINHO<br />

Eva Furnai<br />

BARQUINHO DE PAPEL<br />

Regina Seguimoto<br />

BOCA DO SAPO - Mary França<br />

O CARACOL - Mary França<br />

A ALMA ENCANTADORA DA RUA<br />

João do Rio<br />

CONTO DA MULHER BRASILEIRA<br />

Edla Van Steen<br />

MEUS POEMAS BRASILEIROS<br />

Manuel Bandeira<br />

AUTO DA COMPADECIDA<br />

Ariano Suassuna<br />

SÃO BERNARDO<br />

Graciliano Ramos<br />

NOITES DO SERTÃO<br />

João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

25


ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

“Primeiros Passos:<br />

Educação para o<br />

Empreendedorismo”<br />

Atualmente, o ensino fun<strong>da</strong>mental<br />

não se limita apenas à formação básica<br />

do ci<strong>da</strong>dão: o estu<strong>da</strong>nte deve ser<br />

preparado para os diversos desafios do<br />

mercado de trabalho. Dentre muitas, o<br />

desenvolvimento de pessoas <strong>em</strong>preendedoras<br />

é característica fun<strong>da</strong>mental<br />

na presente socie<strong>da</strong>de.<br />

Contudo, o que é ser <strong>em</strong>preendedor?<br />

Este termo é usado frequent<strong>em</strong>ente,<br />

mas, na maioria <strong>da</strong>s vezes, essa expressão<br />

não é entendi<strong>da</strong> <strong>em</strong> sua totali<strong>da</strong>de.<br />

Para os estudiosos , o <strong>em</strong>preendedorismo<br />

não contém fórmula certa<br />

n<strong>em</strong> hora exata para iniciar-se. É, normalmente,<br />

uma capaci<strong>da</strong>de inata que<br />

alguns seres humanos têm de agir com<br />

criativi<strong>da</strong>de e liderança <strong>em</strong> determina<strong>da</strong>s<br />

situações.<br />

No entanto, é possível desenvolver habili<strong>da</strong>des,<br />

treinar comportamentos e incorporar<br />

conhecimentos de iniciativas<br />

<strong>em</strong>preendedoras desde o início <strong>da</strong> formação<br />

de ca<strong>da</strong> criança. Essa iniciativa<br />

primária é muito importante e, neste<br />

sentido, a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

(<strong>FGR</strong>) cumpre sua missão: despertar<br />

crianças para o real sentido de um trabalho<br />

<strong>em</strong>preendedor!<br />

A <strong>FGR</strong>, no desenvolvimento de seus<br />

diversos Programas e Projetos Sociais<br />

de conscientização e responsabili<strong>da</strong>de<br />

social, contribui para a formação de<br />

crianças e adolescentes, pois acredita<br />

ser este um dos caminhos para a igual<strong>da</strong>de<br />

e crescimento humano na socie<strong>da</strong>de.<br />

Atenta às exigências atuais, a<br />

<strong>FGR</strong> incentiva o aprimoramento dos<br />

alunos por meio <strong>da</strong> cultura e <strong>da</strong> educação,<br />

e ensina aos jovens <strong>em</strong> formação<br />

como agir para se tornar um futuro<br />

<strong>em</strong>preendedor.<br />

Este trabalho só é possível porque<br />

grandes alianças foram construí<strong>da</strong>s!<br />

Em parceria com Escolas Públicas de<br />

Minas Gerais, o Projeto alcança resultados<br />

evidentes. Em 2006, 30 professores<br />

de 15 Escolas Públicas Mineiras<br />

foram capacitados na <strong>FGR</strong> por profissionais<br />

do SEBRAE.<br />

Em pouco t<strong>em</strong>po, foi possível implantar<br />

a metodologia “Primeiros Passos” nas<br />

salas de aula, com o objetivo de estimular<br />

o jov<strong>em</strong> a criar seu próprio negócio<br />

e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, ingressar no<br />

mercado de trabalho.<br />

Em 2009<br />

Hoje, a Escola Estadual Engenheiro<br />

Sílvio Fonseca (Belo Horizonte - MG)<br />

é a parceira <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> neste Projeto. Neste ano, o Projeto<br />

teve início no dia 24 de abril e,<br />

uma vez por s<strong>em</strong>ana, alunos de 1ª a<br />

<strong>4ª</strong> série trabalham com as apostilas<br />

de ativi<strong>da</strong>des que são dividi<strong>da</strong>s <strong>em</strong> 12<br />

módulos e possu<strong>em</strong> t<strong>em</strong>as adequados<br />

para ca<strong>da</strong> série e faixa etária. Essas<br />

ativi<strong>da</strong>des geram interesse sobre o<br />

mundo dos negócios.<br />

Ci<strong>da</strong>des e Escolas Públicas beneficia<strong>da</strong>s pelo Projeto<br />

Belo Horizonte:<br />

Colégio Tiradentes Nossa Senhora <strong>da</strong>s Vitórias<br />

Colégio Tiradentes Minas Caixa<br />

Escola Estadual Elpídio Aristides de Freitas<br />

Escola Estadual Geraldo Teixeira <strong>da</strong> Costa<br />

Escola Estadual Professor Clóvis Salgado<br />

Escola Estadual Engenheiro Sílvio Fonseca<br />

Betim:<br />

Colégio Tiradentes Betim<br />

Contag<strong>em</strong>:<br />

Colégio Tiradentes Contag<strong>em</strong><br />

Escola Municipal Randolfo José <strong>da</strong> Rocha<br />

Bom Despacho:<br />

Escola Estadual Martinho Fidélis<br />

Vespasiano:<br />

Escola Municipal Aracy Fonseca Fernandes<br />

Colégio Tiradentes Vespasiano<br />

Jaboticatubas:<br />

Escola Municipal Geral<strong>da</strong> Isa Lima Rodrigues<br />

Escola Municipal Deolin<strong>da</strong> Dias Duarte<br />

Escola Municipal Cândi<strong>da</strong> de Lima Olynto Ferraz


ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

Os estu<strong>da</strong>ntes do Ensino Fun<strong>da</strong>mental<br />

apresentam e vend<strong>em</strong> seus trabalhos<br />

na Feira de Cultura, promovi<strong>da</strong> na própria<br />

escola. To<strong>da</strong> ren<strong>da</strong> é reverti<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />

benefício dos próprios jovens <strong>em</strong>preendedores,<br />

<strong>em</strong> tarde recreativa com<br />

brincadeiras e lanche especial.<br />

Etapas do Projeto:<br />

1ª série: Doce Mundo <strong>da</strong>s Balas<br />

| Processo de Montag<strong>em</strong> de<br />

uma loja de balas.<br />

2ª série: Oficina de Divertimentos<br />

Mundo Faz de Conta |<br />

Montag<strong>em</strong> de uma oficina de<br />

divertimentos onde os brinquedos,<br />

elaborados com materiais<br />

recicláveis, são vendidos.<br />

3ª série: Empreendedorismo<br />

e seus Frutos | Montag<strong>em</strong> de<br />

uma feira de produtos naturais,<br />

frutas, legumes, hortaliças<br />

e sucos.<br />

<strong>4ª</strong> série: Locadora de Gibis |<br />

Montag<strong>em</strong> de uma Locadora<br />

de Gibis.<br />

5ª série: Qu<strong>em</strong> Sabe faz a Hora |<br />

Criação de Relógio de Mesa ou<br />

de Parede.<br />

6ª série: Estamparia <strong>em</strong> Tecido.<br />

7ª série: Reciclag<strong>em</strong>, um Grande<br />

Negócio.<br />

8ª série: Desenvolvimento do<br />

Empreendedor | Funcionamento<br />

de uma Empresa.<br />

Métodos de Orientação:<br />

1. Conhecer o Sist<strong>em</strong>a de Funcionamento<br />

do Projeto Empreendedorismo.<br />

2. Conhecer o perfil do <strong>em</strong>preendedor.<br />

3. Identificar a oportuni<strong>da</strong>de<br />

de negócio.<br />

4. Descrever o negócio<br />

<strong>da</strong> <strong>em</strong>presa.<br />

5. Definir a razão social<br />

<strong>da</strong> <strong>em</strong>presa e o<br />

nome fantasia.<br />

Projeto “UNDARA”<br />

“Educar é crescer. E crescer é viver.<br />

Educação é, assim, vi<strong>da</strong> no sentido<br />

mais autêntico <strong>da</strong> palavra”. (Anísio<br />

Teixeira)<br />

A <strong>FGR</strong>, alinha<strong>da</strong> à sua missão institucional,<br />

prioriza o investimento <strong>em</strong> Programas<br />

e Projetos sociais, os quais contribu<strong>em</strong><br />

para a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<br />

de vi<strong>da</strong> de crianças e adolescentes.<br />

O Projeto “UNDARA” é um ex<strong>em</strong>plo<br />

de atenção ao ser humano, inclusão<br />

social, desenvolvimento cultural e<br />

garantia de educação e construção<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia <strong>em</strong> crianças e adolescentes.<br />

Desenvolvido na Escola Estadual<br />

Martinho Fidélis, no município<br />

de Bom Despacho - MG, o nome “UN-<br />

DARA” de orig<strong>em</strong> afro significa Luz e<br />

expressa a filosofia do Projeto. Com<br />

o objetivo de proporcionar aos participantes<br />

o acesso, resgate e manutenção<br />

<strong>da</strong> cultura local, o Projeto possibilita<br />

o estímulo à criativi<strong>da</strong>de dos<br />

integrantes por meio de ativi<strong>da</strong>des lúdicas<br />

e prazerosas, as quais possibilitam<br />

trabalhar os aspectos cognitivos<br />

no público atendido.<br />

A ideia <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />

de investir <strong>em</strong> um Projeto Social para<br />

os alunos <strong>da</strong> Escola Martinho Fidélis<br />

surgiu <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de encontra<strong>da</strong><br />

pelo corpo docente e conselheiros de<br />

classe <strong>em</strong> dinamizar o processo educacional<br />

de forma efetiva. Os obstáculos<br />

encontrados e a escassez de recursos<br />

humanos e materiais não impediram<br />

a Escola de avançar com o propósito<br />

de oferecer oficinas com trabalhos diversificados,<br />

<strong>em</strong> um espaço onde os<br />

alunos, principalmente os mais deficitários<br />

nos aspectos de aprendizag<strong>em</strong> e<br />

relacionamento interpessoal, tivess<strong>em</strong><br />

a oportuni<strong>da</strong>de de estabelecer vínculos<br />

positivos com o conhecimento, com o<br />

próximo e consigo.<br />

A Escola Estadual Martinho Fidélis<br />

atende os alunos de Ensino Fun<strong>da</strong>mental,<br />

Médio Regular, além <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de<br />

de Educação de Jovens e<br />

Adultos (EJA). Atualmente, possui 530<br />

alunos. O Projeto cont<strong>em</strong>pla alunos<br />

que apresentam dificul<strong>da</strong>des de relacionamento<br />

e/ou aprendizag<strong>em</strong> mediante<br />

prévio diagnóstico realizado<br />

por equipe psicope<strong>da</strong>gógica. Atualmente,<br />

participam do Projeto 65<br />

alunos.<br />

O projeto “UNDARA” hoje é coordenado<br />

pela pe<strong>da</strong>goga Flávia Campos<br />

Cançado Lacer<strong>da</strong> e supervisionado<br />

pelo Departamento Social <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>. O<br />

“UNDARA” realiza ativi<strong>da</strong>des com<br />

grupos de até 25 alunos e, atualmente,<br />

são ofereci<strong>da</strong>s as oficinas de Brinquedoteca,<br />

Handebol e Vôlei, Produção<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

27


ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

de Textos, Leitura e Escrita e Xadrez. A<br />

equipe do Projeto conta com profissionais<br />

<strong>da</strong> área de pe<strong>da</strong>gogia e educação<br />

física.<br />

Conheça um pouco sobre o funcionamento<br />

do “UNDARA”:<br />

Brinquedoteca: a Oficina de Brinquedoteca<br />

enfatiza o aprendizado por<br />

meio de brincadeiras e ativi<strong>da</strong>des lúdicas<br />

e possibilita ao participante a vivência<br />

de conteúdos relacionados ao<br />

processo de alfabetização, além de ativi<strong>da</strong>des<br />

de raciocínio lógico-mat<strong>em</strong>ático.<br />

A oficina de brinquedoteca desenvolve<br />

habili<strong>da</strong>des psicomotoras,<br />

atenção, percepção e trabalha o relacionamento<br />

interpessoal.<br />

Handebol e Vôlei: as Oficinas de Handebol<br />

e Vôlei trabalham a educação<br />

corporal, o espírito saudável de competitivi<strong>da</strong>de,<br />

ensinam a convivência <strong>em</strong><br />

equipe, constro<strong>em</strong> nos participantes<br />

noções de responsabili<strong>da</strong>de, autoconfiança<br />

e respeito ao próximo.<br />

Produção de Textos, Leitura e Escrita:<br />

a Oficina de Produção de Textos,<br />

Leitura e Escrita propõe aos participantes,<br />

de forma diverti<strong>da</strong>, desenvolver<br />

a língua portuguesa por meio<br />

<strong>da</strong> leitura, compreensão e composição<br />

de textos. A utilização de estratégias<br />

lúdicas, alia<strong>da</strong> às situações do<br />

cotidiano, propicia às crianças e adolescentes<br />

estabelecer relações entre o<br />

lido e o vivenciado, aprimora o senso<br />

crítico e a vontade de ler, interpretar e<br />

produzir textos.<br />

Xadrez: A Oficina de Xadrez possibilita<br />

aos participantes o desenvolvimento<br />

de habili<strong>da</strong>des <strong>em</strong> diversas áreas. O<br />

contato <strong>da</strong> criança com as técnicas<br />

do jogo permite o desenvolvimento<br />

do raciocínio lógico, agili<strong>da</strong>de para<br />

li<strong>da</strong>r com diversas possibili<strong>da</strong>des, domínio,<br />

dentre outras habili<strong>da</strong>des e hábitos<br />

fun<strong>da</strong>mentais para a toma<strong>da</strong> de<br />

decisões. Além disso, por ser um jogo<br />

28 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

praticado individualmente, o participante<br />

aprende a ter autoconfiança.<br />

As ações propostas no projeto esperam:<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

Melhorar o processo de aprendizag<strong>em</strong><br />

dos alunos.<br />

Intensificar a participação <strong>da</strong><br />

família na vi<strong>da</strong> escolar dos<br />

filhos.<br />

Aperfeiçoar a leitura, escrita,<br />

interpretação e uso de linguagens<br />

varia<strong>da</strong>s.<br />

Estimular a criativi<strong>da</strong>de dos<br />

participantes.<br />

Desenvolver a capaci<strong>da</strong>de de<br />

expressão e a<strong>da</strong>ptação dos alunos<br />

por meio <strong>da</strong> formação de<br />

grupos de produção de textos.<br />

Desenvolver a habili<strong>da</strong>de nos<br />

alunos para a prática de esportes<br />

e o espírito desportivo.<br />

D<strong>em</strong>ocratizar os bens artísticoculturais.<br />

Reforçar material didáticope<strong>da</strong>gógico<br />

<strong>da</strong> escola e redes<br />

de ensino de Bom Despacho.<br />

Monitoramento<br />

O projeto fun<strong>da</strong>menta-se na observação<br />

direta de comportamentos e<br />

adota os seguintes critérios:<br />

Assidui<strong>da</strong>de e Pontuali<strong>da</strong>de: O<br />

aluno precisa estar presente e disponível<br />

para trabalhar, respeitando<br />

os horários determinados.<br />

Respeito pelo Espaço: O aluno<br />

precisa respeitar e preservar o<br />

mobiliário e o espaço <strong>da</strong> oficina.<br />

Ele assume a responsabili<strong>da</strong>de pela<br />

manutenção <strong>da</strong> limpeza dos locais<br />

onde são realiza<strong>da</strong>s as oficinas,<br />

após o final de ca<strong>da</strong> aula.<br />

Respeito pelo Espaço e Material<br />

Utilizado: O aluno deve utilizar o<br />

equipamento e, ao final <strong>da</strong> oficina,<br />

se responsabilizar pela limpeza, operacionalização<br />

e organização local.<br />

Realização dos Trabalhos: O<br />

aluno precisa realizar o trabalho<br />

no t<strong>em</strong>po indicado e acor<strong>da</strong>do pelos<br />

alunos e professor. O trabalho,<br />

quando escrito, é avaliado do ponto<br />

de vista estilístico e gramatical.<br />

Empenho e Concentração no<br />

Trabalho: O aluno deve ser obediente<br />

às regras e responsável<br />

pelos trabalhos propostos, os quais<br />

dev<strong>em</strong> ser realizados com concentração,<br />

calma, disciplina e foco.


ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

“Voluntários <strong>em</strong> Favor<br />

de um Mundo Melhor”<br />

“O voluntário é o jov<strong>em</strong> ou o<br />

adulto que, devido a seu interesse<br />

pessoal e ao seu espírito cívico, dedica<br />

parte do seu t<strong>em</strong>po, s<strong>em</strong> r<strong>em</strong>uneração<br />

alguma, a diversas formas<br />

de ativi<strong>da</strong>des, organiza<strong>da</strong>s ou<br />

não, de b<strong>em</strong> estar social, ou outros<br />

campos...” (Nações Uni<strong>da</strong>s)<br />

Doar t<strong>em</strong>po, trabalho e talento <strong>em</strong><br />

favor dos outros não é algo novo, estas<br />

ativi<strong>da</strong>des são exerci<strong>da</strong>s desde os primórdios<br />

<strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. A questão do<br />

voluntariado esteve continuamente inseri<strong>da</strong><br />

na tradição brasileira, contudo,<br />

limita<strong>da</strong> ao espaço religioso, determina<strong>da</strong><br />

pelos valores <strong>da</strong> cari<strong>da</strong>de, compaixão<br />

e amor ao próximo. Novi<strong>da</strong>de,<br />

portanto, pelo menos no Brasil, é considerar<br />

os trabalhos voluntários como<br />

ação responsável, sóli<strong>da</strong> e solidária, que<br />

parte de ci<strong>da</strong>dãos comuns com o objetivo<br />

de combater a exclusão social e<br />

propor melhorias na quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>.<br />

Viv<strong>em</strong>os, portanto, <strong>em</strong> um novo contexto,<br />

no qual o voluntariado é, sobretudo,<br />

uma expressão <strong>da</strong> participação<br />

ci<strong>da</strong>dã, movido por uma ética de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

que leva as pessoas a<br />

doar<strong>em</strong> horas do seu dia para razões<br />

sociais e comunitárias. Contudo, o voluntário<br />

não se restringe ao assistencialismo<br />

a grupos desfavorecidos <strong>da</strong><br />

população, inclui também diversas<br />

ações nas áreas de cultura, defesa dos<br />

direitos humanos, meio ambiente, esporte<br />

e lazer.<br />

O trabalho voluntário não se reduz<br />

apenas a favores e cari<strong>da</strong>des, ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po proporciona abertura<br />

para novas experiências, oportuni<strong>da</strong>de<br />

de aprendizado, prazer <strong>em</strong><br />

sentir-se útil, criação de novos vínculos<br />

e afirmação do sentido comunitário.<br />

No entanto, a ação voluntária<br />

não substitui o Estado n<strong>em</strong> concorre<br />

com o trabalho r<strong>em</strong>unerado, pois é<br />

uma forma de manifestação que a socie<strong>da</strong>de<br />

possui de assumir responsabili<strong>da</strong>des<br />

e agir por si própria.<br />

Ser voluntário é fácil, basta querer!<br />

1. Todos pod<strong>em</strong> ser voluntários, trabalho voluntário é uma<br />

experiência aberta a todos.<br />

2. Voluntariado é uma relação humana, rica e solidária.<br />

3. No voluntariado todos ganham: o voluntário, aquele com<br />

qu<strong>em</strong> o voluntário trabalha e a comuni<strong>da</strong>de.<br />

4. Voluntariado é uma ação duradoura e de quali<strong>da</strong>de.<br />

5. As formas de ação voluntária são tão varia<strong>da</strong>s quanto as<br />

necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e a criativi<strong>da</strong>de do voluntário.<br />

6. Ca<strong>da</strong> um é voluntário a seu modo.<br />

7. Voluntariado é escolha, portanto, ca<strong>da</strong> compromisso<br />

assumido precisa ser cumprido.<br />

8. Voluntariado é um fenômeno mundial.<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

A estagiária de Serviço Social <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>,<br />

Camila <strong>da</strong> Silva Xavier, atua como voluntária<br />

no Programa “Bom na Escola, Bom de Bola”.<br />

A Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong> aposta na<br />

valorização dos<br />

trabalhos voluntários<br />

com intuito de<br />

contribuir para um<br />

mundo melhor.<br />

A Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> aposta<br />

na valorização dos trabalhos voluntários<br />

com intuito de contribuir para um<br />

mundo melhor. Nesse contexto, lançou,<br />

no ano de 2005, o Projeto “Voluntários<br />

<strong>em</strong> Favor de um Mundo Melhor”, que<br />

t<strong>em</strong> como objetivo valorizar o altruísmo<br />

e a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, incentivando o<br />

diálogo entre colaboradores, voluntários,<br />

socie<strong>da</strong>des e comuni<strong>da</strong>de.<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

29


O Projeto t<strong>em</strong> ain<strong>da</strong> como metas específicas<br />

desenvolver o conceito de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

entre os colaboradores, atender<br />

a d<strong>em</strong>an<strong>da</strong> reprimi<strong>da</strong> dos Programas e<br />

Projetos Sociais desenvolvidos pela própria<br />

<strong>FGR</strong> e construir vínculos entre a <strong>em</strong>presa,<br />

funcionários e comuni<strong>da</strong>de. O público<br />

atendido pelo Projeto é constituído<br />

por crianças, adolescentes e idosos ca<strong>da</strong>strados<br />

nos Programas e Projetos<br />

Sociais <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>, encaminhados por enti<strong>da</strong>des<br />

parceiras e colaboradores <strong>da</strong><br />

Fun<strong>da</strong>ção, conforme d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>.<br />

Segundo Fabiana Antunes, Assistente<br />

Social, Especialista <strong>em</strong> Projetos Sociais<br />

e corresponsável pelo projeto,<br />

a ideia inicial era conseguir captar<br />

no mínimo um funcionário de ca<strong>da</strong><br />

setor para doar duas horas s<strong>em</strong>anais<br />

<strong>em</strong> prol de algum trabalho voluntário.<br />

Acreditando na proposta do Projeto,<br />

a <strong>FGR</strong> disponibiliza o próprio horário<br />

de trabalho dos colaboradores para<br />

as ativi<strong>da</strong>des voluntárias, de forma<br />

que todos participantes tenham mais<br />

contato com os d<strong>em</strong>ais Programas e<br />

Projetos Sociais realizados pela Fun<strong>da</strong>ção,<br />

além de informações sobre as<br />

necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s pessoas atendi<strong>da</strong>s.<br />

O processo de envolvimento e conscientização<br />

dos funcionários a respeito<br />

<strong>da</strong> importância do trabalho voluntário<br />

é lento, d<strong>em</strong>an<strong>da</strong> t<strong>em</strong>po e<br />

planejamento. Contudo, os alicerces<br />

para o sucesso já foram erguidos e,<br />

por meio de pesquisa interna, percebeu-se<br />

uma considerável quantia<br />

de pessoas interessa<strong>da</strong>s <strong>em</strong> fazer<br />

algum trabalho voluntário.<br />

Participar do projeto é simples, basta<br />

ter interesse <strong>em</strong> aju<strong>da</strong>r, uma vez que as<br />

ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s perpassam<br />

diversas áreas como: educação, psicologia,<br />

esporte, que depend<strong>em</strong>, na<br />

maioria <strong>da</strong>s vezes, do interesse e disponibili<strong>da</strong>de<br />

do voluntário.<br />

Ao participar de um projeto como este,<br />

o colaborador é qu<strong>em</strong> ganha, pois além<br />

do crescimento pessoal proporcionado<br />

por qualquer trabalho voluntário, ocasiona<br />

também o desenvolvimento profissional.<br />

Uma vez que a <strong>FGR</strong> se responsabiliza<br />

<strong>em</strong> disponibilizar t<strong>em</strong>po<br />

para seus profissionais atuar<strong>em</strong> como<br />

voluntário na área que mais condiz<br />

com a formação de ca<strong>da</strong> um, experiências<br />

são soma<strong>da</strong>s e aprimora<strong>da</strong>s.<br />

O Departamento Social, responsável<br />

pela execução do Projeto, conta com o<br />

apoio de outros setores <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção,<br />

como o setor de Comunicação (apoio<br />

na divulgação interna) e o setor de<br />

Recursos Humanos (apoio na formalização<br />

<strong>da</strong>s informações relevantes).<br />

A <strong>FGR</strong> acredita que, ao praticar trabalhos<br />

voluntários, os colaboradores desenvolv<strong>em</strong><br />

a autoestima, aprimoram<br />

habili<strong>da</strong>des e vivenciam novas experiências<br />

como as de aju<strong>da</strong>r, colaborar,<br />

compartilhar alegrias, aliviar sofrimentos,<br />

melhorar a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong><br />

e, dessa forma, incorporar valores de<br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia que contribu<strong>em</strong> para o desenvolvimento<br />

pessoal e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

como um todo.<br />

1. Disponível <strong>em</strong> .<br />

2. Disponível <strong>em</strong> <br />

3. Fonte: < http://www.universia.com.br/><br />

4. O Projeto “Voluntários <strong>em</strong> Favor de um Mundo Melhor” é<br />

coordenado pelo Setor de Recursos Humanos <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>, pelo Gerente<br />

do Departamento Social, Zilton R. Patrocínio, e pelas Gestoras<br />

Flávia Mônico, Psicóloga, e Ilce Gonçalves, Pe<strong>da</strong>goga.<br />

Fabiano Viana O. <strong>da</strong> Cunha Médice, estu<strong>da</strong>nte de Mecatrônica <strong>da</strong> PUC/Minas e voluntário do Programa “BEBB”, ensina Mat<strong>em</strong>ática na<br />

Oficina do Aprender.<br />

30 <strong>FGR</strong> EM REVISTA


ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

Falar <strong>em</strong> paz nos t<strong>em</strong>pos de hoje requer conhecimento,<br />

desprendimento e muita energia para conduzir e transformar<br />

o indivíduo que vive e sofre com a violência na vi<strong>da</strong><br />

cotidiana. Basta olharmos <strong>em</strong> volta e perceb<strong>em</strong>os que as<br />

pessoas estão com medo, mais agressivas e não sab<strong>em</strong> dialogar.<br />

Questões simples de ser<strong>em</strong> resolvi<strong>da</strong>s são discuti<strong>da</strong>s<br />

de maneira violenta, com agressões verbais e/ou físicas. As<br />

pessoas perderam o bom senso.<br />

Ter conhecimento do indivíduo, que na sua essência é ambíguo,<br />

nos conduzirá a combater a violência e permear a paz.<br />

Ele age com violência, mas almeja a paz e construí-la significa<br />

administrar esse conhecimento dizimando os conflitos<br />

com sabedoria, desprendimento de preconceito, raiva, inveja<br />

e rivali<strong>da</strong>de. Nesse sentido, é necessário colocar energia <strong>em</strong><br />

nossas ações, sermos firmes e ponderados.<br />

Só assim resgatar<strong>em</strong>os as nossas crianças que estão sendo<br />

educa<strong>da</strong>s vivenciando e sofrendo violência dentro dos<br />

próprios lares. Assist<strong>em</strong> a programas de TV que mostram<br />

que ser “esperto” é qu<strong>em</strong> ludibria o outro... Educar não é<br />

uma missão fácil, principalmente quando é volta<strong>da</strong> para os<br />

valores morais e éticos. É preciso amor, persistência e muita<br />

paciência de todos aqueles que li<strong>da</strong>m com crianças e jovens<br />

<strong>em</strong> formação, mostrando-lhes que o equilíbrio e o bom<br />

senso acompanhados de um diálogo é a melhor maneira<br />

para administrar os conflitos. Usando a inteligência que nos<br />

foi <strong>da</strong><strong>da</strong>, praticando boas ações e sendo mais cooperativos<br />

e solidários. É o pensar no outro como <strong>em</strong> nós mesmos,<br />

dividir e compartilhar.<br />

Os pais, preocupados com a vi<strong>da</strong> profissional e a manutenção<br />

financeira do lar, estão perdendo a oportuni<strong>da</strong>de de<br />

acompanhar o desenvolvimento de seus filhos. É a certeza de<br />

que é mais difícil reconstruir do que construir. São as babás,<br />

creches e escolas que des<strong>em</strong>penham o papel de educadores<br />

na sua integrali<strong>da</strong>de. Vale ressaltar que a escola deveria ser<br />

o espaço onde se <strong>da</strong>ria a continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação recebi<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> casa e, junto com a família, formar o ci<strong>da</strong>dão. Mas isso não<br />

acontece. Por isso v<strong>em</strong>os tantas crianças e adolescentes s<strong>em</strong><br />

referencial e s<strong>em</strong> limites, perdidos nos próprios conceitos e<br />

amadurecimento tardio. É na tenra i<strong>da</strong>de que são ensinados<br />

Um Programa <strong>da</strong> Paz<br />

Ilce Gonçalves Sousa de Jesus*<br />

os valores, conduta na socie<strong>da</strong>de e aquelas palavrinhas<br />

mágicas que faz<strong>em</strong> tão b<strong>em</strong> aos ouvidos alheios: Obrigado!,<br />

Por favor!, Bom dia!, Com licença! e Desculpe-me!<br />

Hoje, estamos preocupados <strong>em</strong> resgatar esses valores com<br />

as crianças e adolescentes. Programas Sociais e escolas têm<br />

desenvolvido ativi<strong>da</strong>des que proporcionam aos nossos jovens<br />

vivenciar<strong>em</strong> situações que exijam deles o cumprimento<br />

de normas, regras de convivência, respeito e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de.<br />

É um exercício constante. Esses jovens buscam por limites<br />

e cabe àqueles que trabalham com eles <strong>da</strong>r esse direcionamento.<br />

Só assim diminuir<strong>em</strong>os a violência que assola a<br />

socie<strong>da</strong>de: acreditar que pode existir um mundo melhor.<br />

Uma experiência gratificante foi com o Programa “Escola <strong>da</strong><br />

Paz”, desenvolvido pela Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> na Escola<br />

Estadual Henrique Diniz. Quando fui convi<strong>da</strong><strong>da</strong> para fazer<br />

parte deste programa, percebi o desafio a ser enfrentado. A<br />

escola passava por uma série de probl<strong>em</strong>as, como indisciplina<br />

e violência. Após análise <strong>da</strong> situação <strong>em</strong> 2007, realizamos<br />

várias ativi<strong>da</strong>des sobre conduta e comportamento junto aos<br />

alunos <strong>da</strong> turma de 6ª série. No ano de 2008, foi criado um<br />

projeto piloto para os alunos do Introdutório (6 anos) e de<br />

1ª a <strong>4ª</strong> séries do Ensino Fun<strong>da</strong>mental. Era necessário que<br />

fortalecêss<strong>em</strong>os a base para sanarmos probl<strong>em</strong>as futuros.<br />

Várias reuniões foram realiza<strong>da</strong>s com a equipe <strong>da</strong> escola e a<br />

<strong>FGR</strong>, chegando-se ao consenso de trabalharmos com cartilha<br />

de ativi<strong>da</strong>des. As cartilhas do Programa “Escola <strong>da</strong> Paz“<br />

foram escritas basea<strong>da</strong>s <strong>em</strong> valores éticos e morais. Vivenciei<br />

momentos mágicos, escrevendo e pesquisando ativi<strong>da</strong>des<br />

lúdicas sobre valores para estas crianças, imaginando o rosto<br />

e as sensações de surpresa que ca<strong>da</strong> uma sentiria. Sentia-me<br />

gratifica<strong>da</strong> com esta oportuni<strong>da</strong>de. Eu estava passando a<br />

elas conceitos e atitudes que as aju<strong>da</strong>riam a tornar<strong>em</strong>-se<br />

ci<strong>da</strong>dãs dignas. Em fevereiro de 2008, as cartilhas foram<br />

apresenta<strong>da</strong>s às professoras e equipe <strong>da</strong> direção <strong>da</strong> escola.<br />

Foi um momento de glória! Agradeci<strong>da</strong>s à <strong>FGR</strong>, abraçaram<br />

a causa e, uma vez por s<strong>em</strong>ana, as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> cartilha<br />

eram trabalha<strong>da</strong>s e, durante esse período, to<strong>da</strong>s as questões<br />

foram s<strong>em</strong>pre l<strong>em</strong>bra<strong>da</strong>s e reforça<strong>da</strong>s pelas professoras e<br />

pelos alunos. Foi um trabalho revigorante, a escola mudou,<br />

cresceu e rejuvenesceu: novo ânimo surgiu. Muitos pais têm<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

31


Alunos <strong>da</strong> E.E. Henrique Diniz no Festival Escola <strong>da</strong> Paz.<br />

participado conosco deste processo. Alguns já perceberam<br />

a mu<strong>da</strong>nça de comportamento <strong>em</strong> casa. As crianças estão<br />

mais calmas, os conflitos, as brigas nas filas <strong>da</strong> cantina e na<br />

entra<strong>da</strong> do turno melhoraram muito. Os pequenos chamam<br />

a atenção dos maiores, é o Programa “Escola <strong>da</strong> Paz” e...<br />

Na “Escola <strong>da</strong> Paz” não pod<strong>em</strong>os fazer isso! É o melhor<br />

momento quando os ouvimos dizendo assim, é a certeza de<br />

que esses conceitos foram assimilados e serão levados pela<br />

vi<strong>da</strong>. É o nosso trabalho, o nosso amor por estas crianças, o<br />

acreditar que pod<strong>em</strong>os fazer a diferença. Que o ser humano<br />

é rico. Só precisa ser orientado, ouvido. Não pod<strong>em</strong>os desistir<br />

de uma pessoa.<br />

Neste projeto, os alunos eleg<strong>em</strong> os Heróis <strong>da</strong> Paz. Claro<br />

que, como crianças, eleg<strong>em</strong> personagens infantis. Estu<strong>da</strong>m<br />

a vi<strong>da</strong> desse personag<strong>em</strong>, qu<strong>em</strong> o criou, a i<strong>da</strong>de, gosto, o<br />

que faz... É a mascote <strong>da</strong> sala. Aquele que os incentivará a<br />

manter a ord<strong>em</strong> e o respeito pelo outro. Os representantes<br />

de turma também são eleitos pelos colegas. Eles passam<br />

por um treinamento de liderança, no qual são informados<br />

seus direitos e deveres como representantes. Que um bom<br />

líder é aquele que sabe ouvir. Ser imparcial. É o momento<br />

do amadurecimento do indivíduo. O início do processo <strong>da</strong><br />

responsabili<strong>da</strong>de.<br />

Os alunos sab<strong>em</strong> que a culminância do trabalho se <strong>da</strong>rá no<br />

Festival Escola <strong>da</strong> Paz. Eles apresentam números musicais,<br />

32 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

teatros, po<strong>em</strong>as, gravam vídeos <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s<br />

durante o ano, as salas ficam enfeita<strong>da</strong>s com as normas e<br />

regras de convivência. É o dia D!<br />

Em 2008, no dia do Festival, eles foram surpreendidos com a<br />

visita <strong>da</strong>s mascotes de ca<strong>da</strong> sala. A alegria foi geral. Inclusive<br />

para as professoras, que não sabiam sobre este presente. A<br />

<strong>FGR</strong> promoveu mais este momento!<br />

Em 2009, os trabalhos continuam com mais amadurecimento.<br />

Sab<strong>em</strong>os onde quer<strong>em</strong>os chegar: aos alunos do<br />

Ensino Fun<strong>da</strong>mental II e Ensino Médio. A caminha<strong>da</strong> ain<strong>da</strong><br />

é longa, mas chegar<strong>em</strong>os lá. A próxima etapa será com os<br />

alunos <strong>da</strong> 5ª série / 6º ano.<br />

A escola está passando por uma reforma geral e contamos<br />

que o Programa “Escola <strong>da</strong> Paz” e o <strong>em</strong>penho <strong>da</strong> equipe<br />

<strong>da</strong> escola ajud<strong>em</strong> efetivamente no desenvolvimento dos<br />

valores morais e éticos desses alunos, levando-os, inclusive,<br />

a conservar o patrimônio escolar, que também é deles. O<br />

processo <strong>da</strong> educação é como plantar uma s<strong>em</strong>ente. Espero<br />

que estas s<strong>em</strong>entes, planta<strong>da</strong>s e rega<strong>da</strong>s diariamente,<br />

torn<strong>em</strong>-se belos frutos na forma de ci<strong>da</strong>dãos de b<strong>em</strong>.<br />

Alunos <strong>da</strong> E.E. Henrique Diniz receberam as Cartilhas do Programa<br />

“Escola <strong>da</strong> Paz”.<br />

*Gradua<strong>da</strong> com licenciatura plena <strong>em</strong> Pe<strong>da</strong>gogia pela Universi<strong>da</strong>de FUMEC.<br />

Cursos de especialização: SUPERA – Sist<strong>em</strong>a para detecção de uso abusivo<br />

e dependência de Substâncias Psicoativas. Secretaria Nacional Antidrogas e<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de São Paulo - UNIFEST ; Curso de Diss<strong>em</strong>inadores <strong>da</strong><br />

Educação Fiscal ESAF. Curso de Gestão Escolar – Secretaria <strong>da</strong> Educação. Curso<br />

sobre Dificul<strong>da</strong>de de Aprendizag<strong>em</strong> na perspectiva <strong>da</strong> inclusão - Centro Universitário<br />

Newton Paiva. I Congresso Internacional Transtornos e Dificul<strong>da</strong>des<br />

de Aprendizag<strong>em</strong>. Pe<strong>da</strong>goga no Colégio Tiradentes <strong>da</strong> PMMG e Fun<strong>da</strong>ção<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, acompanhando os Projetos Sociais na área <strong>da</strong> Educação.


preservação ecológica<br />

Todos juntos somos fortes<br />

Entrevista especial <strong>da</strong> “<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>” com José Carlos Carvalho,<br />

Secretário de Estado de Meio Ambiente de Minas Gerais.<br />

<strong>FGR</strong>: Desde sua criação, a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> t<strong>em</strong><br />

como objetivo principal <strong>da</strong>r apoio à socie<strong>da</strong>de <strong>em</strong> importantes<br />

aspectos, como educação, saúde e segurança. Qual a<br />

importância de instituições de diferentes setores se unir<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> parcerias efetivas por objetivos comuns?<br />

José Carlos: Já diz a sabedoria popular: “todos juntos somos<br />

fortes”. Se for assim, na<strong>da</strong> melhor do que unir esforços e<br />

inteligências <strong>em</strong> favor de causas de interesse comunitário.<br />

ACHO QUE ISTO É UM EXEMPLO DE AÇÃO DEMOCRÁTICA<br />

E CIDADÃ A SER SEMPRE PERSEGUIDO.<br />

<strong>FGR</strong>: O “Manual de Obras Públicas Sustentáveis” é, hoje, um<br />

importante instrumento de pesquisa. Esse Manual pode ser<br />

utilizado por <strong>em</strong>presas priva<strong>da</strong>s, com ou s<strong>em</strong> fins lucrativos,<br />

ou apenas pelo Governo?<br />

José Carlos: O manual é um instrumento de ação <strong>em</strong> favor<br />

do meio ambiente, aberto a todo <strong>em</strong>preendedor consciente.<br />

É claro que suas normas e orientações pod<strong>em</strong> ser utiliza<strong>da</strong>s<br />

por todos.<br />

<strong>FGR</strong>: Nos últimos anos, quais foram as principais conquistas<br />

do Estado de Minas Gerais <strong>em</strong> relação à gestão ambiental?<br />

José Carlos: As grandes realizações do SISEMA - Sist<strong>em</strong>a<br />

Estadual de Meio Ambiente são:<br />

a) a descentralização do licenciamento ambiental, com a<br />

criação e operacionalização dos COPAMs regionais. Agora, o<br />

<strong>em</strong>preendedor entra com o seu pedido de licença ambiental<br />

na própria região de seu <strong>em</strong>preendimento, ali mesmo acompanha<br />

a tramitação do processo e a deliberação do COPAM,<br />

integrado por autori<strong>da</strong>des regionais <strong>da</strong> maior competência,<br />

com maior conhecimento de causa e mais sensíveis aos<br />

probl<strong>em</strong>as e potenciali<strong>da</strong>des locais;<br />

b) a informatização do Sist<strong>em</strong>a de Licenciamento Ambiental.<br />

Com isso, colocamos nossos serviços no século XXI<br />

e propiciamos aos <strong>em</strong>preendedores e a to<strong>da</strong> a comuni<strong>da</strong>de<br />

a possibili<strong>da</strong>de de contactar-nos de modo ágil e eficiente.<br />

<strong>FGR</strong>: As mu<strong>da</strong>nças climáticas e os impactos advindos delas é<br />

algo percebido pelo Mundo. Quais são as ações do Governo<br />

de Minas a respeito desse t<strong>em</strong>a? O que é feito <strong>em</strong> relação<br />

às mu<strong>da</strong>nças que dev<strong>em</strong> ser planeja<strong>da</strong>s para o b<strong>em</strong>-estar<br />

futuro?<br />

José Carlos: T<strong>em</strong>os um segmento específico a cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong>s<br />

mu<strong>da</strong>nças climáticas: e o Fórum Mineiro de Mu<strong>da</strong>nças Climáticas<br />

que, desde sua criação no Governo Aécio Neves, v<strong>em</strong><br />

participando ativamente de fóruns nacionais e internacionais<br />

sobre o t<strong>em</strong>a e interagindo com universi<strong>da</strong>des de Minas<br />

Gerais, como a Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa e de Lavras,<br />

que estu<strong>da</strong>m os possíveis efeitos do aquecimento global<br />

sobre a economia - especialmente a agricultura - do Estado.<br />

As universi<strong>da</strong>des estão desenhando possíveis e prováveis<br />

cenários futuros - consequentes do fenômeno, para que o<br />

Governo possa ir se preparando para enfrentar as mu<strong>da</strong>nças<br />

com a maior competência possível, aproveitando os seus<br />

efeitos positivos e procurando neutralizar os negativos.<br />

<strong>FGR</strong>: Com a crise econômica e financeira, o meio ambiente<br />

passou a ter uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> de destaque <strong>em</strong> todos os Continentes.<br />

Quais os impactos e oportuni<strong>da</strong>des abertos pela<br />

crise no setor ambiental, sobretudo no Brasil e <strong>em</strong> Minas<br />

Gerais?<br />

José Carlos: A crise internacional ain<strong>da</strong> é muito recente para<br />

permitir uma avaliação de fôlego sobre as oportuni<strong>da</strong>des e<br />

impactos dela decorrentes. Entretanto, um <strong>da</strong>do positivo<br />

já se observa: o interesse <strong>da</strong>s organizações, <strong>em</strong> geral, pela<br />

economia de recursos e <strong>em</strong> evitar o desperdício. Isto resulta<br />

numa certa contenção do consumo desenfreado, o que é<br />

positivo <strong>em</strong> termos ambientais.<br />

<strong>FGR</strong>: É fato a necessi<strong>da</strong>de de investimentos <strong>em</strong> ações de<br />

educação ambiental. Quais as implicações desse tipo de<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

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Secretário de Estado de Meio Ambiente, José Carlos Carvalho.<br />

investimento para a socie<strong>da</strong>de, principalmente quando ela<br />

participa? Como as Instituições, públicas ou priva<strong>da</strong>s, pod<strong>em</strong><br />

aju<strong>da</strong>r com projetos de educação ambiental?<br />

José Carlos: Executando o que preceitua a legislação<br />

setorial. Já seria uma enorme contribuição. Em Minas,<br />

t<strong>em</strong>os ótimos ex<strong>em</strong>plos de programas simples e eficientes<br />

de Educação Ambiental sendo executados por <strong>em</strong>presas de<br />

diferentes segmentos - com destaque para o setor minerosiderúrgico<br />

- <strong>em</strong> número significativo de escolas de primeiro<br />

e segundo graus com experiências muito interessantes<br />

nesta área. De nossa parte, t<strong>em</strong>os uma diretoria específica<br />

cui<strong>da</strong>ndo de <strong>da</strong>r suporte às iniciativas na área e desenvolv<strong>em</strong>os,<br />

internamente, <strong>em</strong> repartições públicas do Estado o<br />

Projeto “Ambientação”, voltado para a internalização do<br />

agir e pensar ambientalmente corretos pelo público de funcionários<br />

destas instituições. O efeito multiplicativo é fácil<br />

de calcular, se levarmos <strong>em</strong> conta que ca<strong>da</strong> família média<br />

brasileira t<strong>em</strong> cinco componentes. Trata-se de trabalho pioneiro<br />

e que v<strong>em</strong> recebendo prêmios importantes, graças a<br />

preservação ecológica<br />

seu ineditismo e eficiência <strong>em</strong> termos de economias internas<br />

(de papel, de energia, de água, etc.) e de conscientização<br />

dos funcionários que dele participam.<br />

<strong>FGR</strong>: O senhor acredita na eficácia dos “selos verdes” para<br />

garantir processos mais sustentáveis?<br />

José Carlos: Acho o selo verde muito interessante, desde<br />

que b<strong>em</strong> administrado, fiscalizado e gerenciado. Ou seja,<br />

tenho efetiva condição de ser um <strong>da</strong>do importante no<br />

esforço de sustentabili<strong>da</strong>de.<br />

<strong>FGR</strong>: A legislação, fiscalização e punição regente no Estado<br />

são suficientes para a inibição <strong>da</strong> poluição por parte <strong>da</strong>s<br />

grandes <strong>em</strong>presas, mormente as de transportes?<br />

José Carlos: Não. Comando e controle já d<strong>em</strong>onstraram ser<br />

incapazes de <strong>da</strong>r conta dos probl<strong>em</strong>as ambientais. O que<br />

precisamos é <strong>da</strong> criação de um ambiente social e politicamente<br />

capaz de constranger o ci<strong>da</strong>dão e os <strong>em</strong>preendedores<br />

ambientalmente incorretos: de um ambiente desfavorável à<br />

burla <strong>da</strong> lei, à agressão ao meio ambiente. Isto vai desde<br />

a inibição <strong>da</strong>s pessoas de “varrer” passeio com água cara<br />

e trata<strong>da</strong>, até o de inibir o dono de uma fábrica a poluir o<br />

ar como se isto fosse aceitável. Ou seja, precisamos ca<strong>da</strong><br />

vez mais de uma dose maior e mais forte de Educação<br />

Ambiental, <strong>em</strong> todos os níveis.<br />

Na área de transportes, é preciso que a socie<strong>da</strong>de pressione<br />

ca<strong>da</strong> vez mais no sentido <strong>da</strong> ampliação dos chamados<br />

“transportes limpos”. É inexplicável que um país como o<br />

nosso, de dimensões continentais, não disponha de uma<br />

malha ferroviária, elétrica, respeitável. Nenhum país desenvolvido<br />

conseguiu ir à frente s<strong>em</strong> a exploração econômica<br />

e eficiente de ferrovias. Paralelamente, t<strong>em</strong>os de lutar pelo<br />

uso maior de combustíveis menos poluentes.


preservação ecológica<br />

O uso sustentável <strong>da</strong>s águas<br />

O corpo humano é constituído de 75%<br />

de água e 25 % de sólidos. A água é responsável<br />

por processos vitais s<strong>em</strong> os<br />

quais ocorre a morte do corpo. Em razão<br />

de estar intimamente liga<strong>da</strong> às funções<br />

celulares, a água pode, também, atuar<br />

como veículo de patógenos que, ao<br />

adentrar<strong>em</strong> os organismos, provocarão<br />

doenças e alterações de metabolismo<br />

que redun<strong>da</strong>rão <strong>em</strong> arruinamento <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e probl<strong>em</strong>as de saúde<br />

pública.<br />

Contaminações de águas ocorr<strong>em</strong>, principalmente,<br />

pelo despejo de fezes (esgotos<br />

domésticos). Infecta<strong>da</strong>s, as águas<br />

se tornam veículo difusor de amebíase,<br />

ancilostomose, ascaridíase, cólera, disenteria<br />

bacilar, esquistossomose e outras<br />

afetações à saúde.<br />

A água é recurso finito, renovável e escasso.<br />

É el<strong>em</strong>ento do ciclo hidrológico<br />

encontrado nos estados líquido, vapor<br />

(gasoso), meteórico (chuvas) e sólido<br />

(geleiras). O hom<strong>em</strong> não produz água.<br />

Ela é a mesma no Planeta há milhões de<br />

anos, movimentando-se e mu<strong>da</strong>ndo de<br />

estado físico.<br />

Em todos os estados físicos <strong>em</strong> que é<br />

encontra<strong>da</strong>, a água exerce papel fun<strong>da</strong>mental<br />

para a manutenção <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,<br />

mas é no estado líquido que melhor<br />

serve às comuni<strong>da</strong>des humanas, haja<br />

vista o papel que des<strong>em</strong>penha nas<br />

funções celulares. É nesse estado que<br />

a água é mais afeta<strong>da</strong> pelas ativi<strong>da</strong>des<br />

humanas.<br />

Nos processos produtivos modernos<br />

busca-se implantar Mecanismos de<br />

Desenvolvimento Limpo - MDL, com<br />

vistas ao desenvolvimento sustentável,<br />

que consiste <strong>em</strong> utilizar recursos ambientais<br />

preservando-os para as gerações<br />

presentes e futuras, incluindo o<br />

uso racional e a equitativa distribuição<br />

<strong>da</strong> água às diversas comuni<strong>da</strong>des do<br />

Planeta. Outro ponto importante a ser<br />

analisado para a racional utilização dos<br />

recursos hídricos diz respeito à heterogênea<br />

distribuição <strong>da</strong>s águas no globo<br />

terrestre (Quadro 1).<br />

Os <strong>da</strong>dos apontam a necessi<strong>da</strong>de de<br />

reflexões quanto à quanti<strong>da</strong>de de água<br />

doce disponível para uso humano. Situações<br />

de escassez são registra<strong>da</strong>s <strong>em</strong><br />

variados pontos s<strong>em</strong> previsão de medi<strong>da</strong>s<br />

que, <strong>em</strong> curto prazo, solucion<strong>em</strong><br />

os conflitos.<br />

Os recursos ambientais, incluí<strong>da</strong>s as<br />

águas, são b<strong>em</strong> de uso comum, obrigando-se<br />

o Poder Público e as comuni<strong>da</strong>des<br />

a protegê-los para as gerações<br />

presentes e futuras, <strong>em</strong> atenção ao conceito<br />

de desenvolvimento sustentável.<br />

Por não estar distribuí<strong>da</strong> uniform<strong>em</strong>ente<br />

no Planeta, a água, dota<strong>da</strong> de valor econômico<br />

e social, deve ser gerencia<strong>da</strong> por<br />

políticas públicas e estruturas de gestão<br />

que contribuam para o seu racional uso,<br />

QUADRO 1 - DISTRIBUIÇÃO GEOLÓGICA DA ÁGUA NO PLANETA<br />

PERCENTUAL(%)<br />

97,0<br />

2,2<br />

0,8<br />

100<br />

TIPO<br />

Salga<strong>da</strong><br />

Doce<br />

Doce<br />

Arley Gomes de Lagos Ferreira*<br />

para evitar conflitos e probl<strong>em</strong>as de<br />

saúde pública, <strong>em</strong> modelo de gestão d<strong>em</strong>ocrática<br />

e participativa, com envolvimento<br />

dos diversos atores interessados<br />

no seu uso sustentável, o que já v<strong>em</strong><br />

ocorrendo <strong>em</strong> Minas Gerais, com o gerenciamento<br />

de uso <strong>da</strong>s águas por bacia<br />

hidrográfica.<br />

O balizador de condutas sustentáveis é<br />

a lei, mas, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre, ela é suficiente<br />

para produzir resultados. É necessário<br />

ir além do cumprimento <strong>da</strong> lei. A legislação<br />

ambiental brasileira t<strong>em</strong> como<br />

característica a moderni<strong>da</strong>de de seus<br />

textos, capazes de modificar culturas,<br />

cenários do desenvolvimento econômico<br />

sustentável e padrões de quali<strong>da</strong>de<br />

de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des. Ain<strong>da</strong><br />

assim, no tocante às águas, registram-se<br />

situações preocupantes como poluição,<br />

assoreamento, captações e outros usos<br />

que compromet<strong>em</strong> a sustentabili<strong>da</strong>de<br />

dos corpos hídricos.<br />

Urge adotar comportamentos individuais<br />

e coletivos que diminuam os impactos<br />

do despejo de efluentes s<strong>em</strong><br />

tratamento diretamente nas coleções<br />

d’água, para mitigar efeitos dos altos<br />

volumes de esgotos diariamente lançados.<br />

Já não é mais possível atribuir somente<br />

ao Poder Público a adoção de medi<strong>da</strong>s<br />

técnicas e culturais de proteção<br />

LOCALIZAÇÃO<br />

Mares/Oceanos<br />

Geleiras e aquíferos de difícil acesso<br />

Rios, lagos, acessível para consumo humano<br />

Fonte: www.uniagua.org.br<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

35


dos recursos hídricos. O ci<strong>da</strong>dão deve e<br />

pode atuar <strong>em</strong> sinergia com os esforços<br />

de gestão pública. Do ponto de vista<br />

legal, despejar efluentes prejudicando a<br />

quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s águas constitui crime capitulado<br />

na Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro<br />

de 1998. Contudo, continuam os<br />

despejos e agressões de to<strong>da</strong>s as naturezas<br />

nos corpos hídricos, <strong>em</strong> modelo de<br />

desenvolvimento criticável quanto à sustentabili<strong>da</strong>de.<br />

Paralelamente a esse quadro de agressão,<br />

o mercado oferece recursos tecnológicos<br />

mitigadores de impactos do lançamento<br />

de efluentes, principalmente esgotos domésticos,<br />

um dos responsáveis pela elevação<br />

<strong>da</strong>s concentrações de fósforo e<br />

nitrogênio, causando eutrofização e diminuição<br />

<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de dos ecossist<strong>em</strong>as<br />

aquáticos, com visíveis impactos adversos<br />

para as espécies. Essas tecnologias<br />

ain<strong>da</strong> não são utiliza<strong>da</strong>s como deveriam.<br />

As pessoas relutam <strong>em</strong> economizar<br />

nas construções para investir <strong>em</strong> conforto<br />

interno - não <strong>em</strong> meio ambiente.<br />

Diante de tal situação, in<strong>da</strong>ga-se: existindo<br />

norma incriminadora relativa à poluição,<br />

e tecnologias de engenharia de<br />

saneamento disponíveis, o que o ci<strong>da</strong>dão<br />

pode e deve fazer, individual e coletivamente,<br />

para diminuir impactos do despejo<br />

de efluentes domésticos nos corpos<br />

hídricos?<br />

O ci<strong>da</strong>dão t<strong>em</strong> como diminuir a carga<br />

orgânica nos corpos hídricos para<br />

não incorrer <strong>em</strong> crime, mediante a<br />

instalação, <strong>em</strong> prédios residenciais e<br />

36 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

comerciais, de sist<strong>em</strong>as<br />

de transformação<br />

físico-química de esgotos -<br />

sist<strong>em</strong>a de tratamento<br />

preliminar, <strong>em</strong> inquestionáveld<strong>em</strong>onstração<br />

de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

Pelissari<br />

(1995) define ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />

como<br />

(...) a quali<strong>da</strong>de<br />

a ser cultiva<strong>da</strong>, a<br />

fim de que a socie<strong>da</strong>de<br />

civil possa, organiza<strong>da</strong>mente,<br />

limitar e exigir ações do<br />

Estado, de tal forma que a d<strong>em</strong>ocracia e<br />

os direitos possam ser realizados.<br />

A atitude ci<strong>da</strong>dã envolve fun<strong>da</strong>mentos de<br />

ética ecológica que constitui conjunto de<br />

ideias fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>em</strong> sentimento de fraterni<strong>da</strong>de<br />

para com os s<strong>em</strong>elhantes, de convivência<br />

com as outras espécies e de conservação<br />

<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de. Na medi<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> que as pessoas prescind<strong>em</strong> do exercício<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, surg<strong>em</strong> os conflitos,<br />

principalmente quando o objeto <strong>da</strong>s controvérsias<br />

recai sobre direitos patrimoniais,<br />

distribuição de riqueza e outros conteúdos<br />

promotores de exclusão social.<br />

Nos microambientes (suas casas), as<br />

pessoas cumpr<strong>em</strong> e exig<strong>em</strong> rigi<strong>da</strong>mente<br />

a obediência a princípios de convívio coletivo<br />

para o b<strong>em</strong>-estar <strong>da</strong> família. Na<br />

casa existe lugar apropriado para ca<strong>da</strong><br />

uma <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des do dia-a-dia. Há<br />

lugar certo para dormir, alimentar, tomar<br />

banho, receber pessoas, defecar e urinar,<br />

depositar lixo, etc. Mesmo nas situações<br />

preservação ecológica<br />

de extr<strong>em</strong>a pobreza registra-se a vocação<br />

do ser humano <strong>em</strong> organizar seu<br />

microambiente <strong>em</strong> busca de conforto. Ao<br />

contrário, não se observam mesmos níveis<br />

de preocupação e respeito quando<br />

reportamo-nos ao macroambiente, ou<br />

seja, quando se sai <strong>da</strong> casa. Fora <strong>da</strong> casa<br />

são tolera<strong>da</strong>s conspurcações como a <strong>da</strong>s<br />

águas, dos ecossist<strong>em</strong>as, <strong>da</strong>s paisagens,<br />

do solo, do ar, etc.<br />

O excesso de tolerância pode induzir<br />

cataclismas de grande magnitude, com<br />

elevados custos para os governos e para<br />

a socie<strong>da</strong>de. É hora de <strong>da</strong>r um “basta”<br />

aos cheiros pútridos que <strong>em</strong>anam de<br />

inocentes corpos d’água, relutantes <strong>em</strong><br />

existir e servir à natureza e ao hom<strong>em</strong>.<br />

Sejamos limpos dentro e fora <strong>da</strong> casa!<br />

Referências Bibliográficas:<br />

ALTVATER, Elmar. O Preço <strong>da</strong> Riqueza. São<br />

Paulo: Universi<strong>da</strong>de Estadual Paulista, 1995.<br />

BRASIL. Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.<br />

Dispõe sobre as sanções penais e administrativas<br />

deriva<strong>da</strong>s de condutas e ativi<strong>da</strong>des lesivas ao meio<br />

ambiente, e dá outras providências. Brasília, 1998.<br />

Disponível <strong>em</strong>: .<br />

Acesso <strong>em</strong>: 10 nov. 2006.<br />

DACACH, Nelson Gandur. Sist<strong>em</strong>as Urbanos de<br />

Esgoto. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Dois<br />

S.A., 1984.<br />

______. Saneamento Básico. 2 ed., Rio de Janeiro:<br />

Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1984.<br />

MACHADO, Paulo Afonso L<strong>em</strong>e. Recursos Hídricos -<br />

Direito Brasileiro e Internacional. São Paulo,<br />

Malheiros Editores, 2002.<br />

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional.<br />

9.ed., São Paulo, Editora Atlas S.A., 2001.<br />

PELISSARI, Mariá Apareci<strong>da</strong>. A Condição Ci<strong>da</strong>dã.<br />

Piracicaba: Editora Unimep, 1995.<br />

ROMANO FILHO, D<strong>em</strong>óstenes; et al. Gente Cui<strong>da</strong>ndo<br />

<strong>da</strong>s Águas. Belo Horizonte, Mazza Edições,<br />

2002.<br />

TAMAMES, Ramón. Críticas dos Limites do Crescimento<br />

- Ecologia e Desenvolvimento. Lisboa:<br />

Publicações Dom Quixote, 1983.<br />

UNIVERSIDADE DA ÁGUA. Disponível <strong>em</strong>: . Acesso <strong>em</strong> 2 nov. 2006.<br />

*Capitão PM do quadro de oficiais <strong>da</strong> reserva <strong>da</strong><br />

Polícia Militar de Minas Gerais. Atua hodiernamente<br />

como assessor no Instituto Estadual de<br />

Florestas - IEF. É especialista <strong>em</strong> segurança pública<br />

pela Fun<strong>da</strong>ção João Pinheiro e <strong>em</strong> gerenciamento<br />

municipal de recursos hídricos pelo Instituto de<br />

Ciências Biológicas - ICB <strong>da</strong> UFMG.


segurança pública<br />

A segurança pública avança <strong>em</strong> sua<br />

atuação com foco na cultura <strong>da</strong> paz<br />

e educação, interagindo significativamente<br />

com a socie<strong>da</strong>de.<br />

A Secretaria de Defesa Social <strong>em</strong>penhase<br />

<strong>em</strong> mu<strong>da</strong>nças que faz<strong>em</strong> com que a<br />

população sinta-se mais confortável a<br />

respeito <strong>da</strong> presença policial <strong>em</strong> sua<br />

comuni<strong>da</strong>de.<br />

Todos os investimentos na área <strong>da</strong><br />

Segurança Pública não surtirão efeito<br />

se não pensarmos a segurança no<br />

seu aspecto amplo como a segurança<br />

interior que só se faz com o exercício<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Quando a pessoa toma<br />

consciência de seus impulsos solidários<br />

e humanísticos, ela <strong>em</strong>podera-se<br />

dos seus direitos e deveres. Assim, o<br />

discurso transforma-se <strong>em</strong> prática,<br />

fortalece a digni<strong>da</strong>de humana que<br />

v<strong>em</strong> contribuir com o desenvolvimento<br />

pessoal, social, cultural e econômico <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de.<br />

A segurança interior é como uma corrente<br />

circular. A organização mental<br />

e <strong>em</strong>ocional, fortaleci<strong>da</strong> pela soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de,<br />

respeito e responsabili<strong>da</strong>de<br />

social, nos faz zelar pelo cumprimento<br />

<strong>da</strong>s leis, respeitar os direitos do outro,<br />

possibilitando-nos condições necessárias<br />

à sobrevivência e convivência<br />

foca<strong>da</strong>s na ord<strong>em</strong> e na paz.<br />

A integração entre as diversi<strong>da</strong>des<br />

socioculturais se faz necessária neste<br />

contexto de violência e degra<strong>da</strong>ção<br />

dos valores éticos. A segurança física,<br />

A Segurança de todos:<br />

Paz e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia Gleisa Calixto Antunes*<br />

<strong>em</strong>ocional e espiritual de nossa socie<strong>da</strong>de<br />

está <strong>em</strong> risco e a intranquili<strong>da</strong>de<br />

paira sobre todos nós.<br />

O Hom<strong>em</strong> necessita de uma profun<strong>da</strong><br />

reflexão sobre suas reais necessi<strong>da</strong>des<br />

para alcançar a felici<strong>da</strong>de, que, com<br />

certeza, não se encontra nos bens materiais<br />

e sim na segurança espiritual.<br />

Não falo de algo místico e impalpável,<br />

mas sim de vivência pauta<strong>da</strong> nos valores<br />

éticos e morais que são o alicerce<br />

<strong>da</strong> tão almeja<strong>da</strong> paz.<br />

O Hom<strong>em</strong> só terá o ver<strong>da</strong>deiro poder<br />

de se sentir <strong>em</strong> segurança e <strong>em</strong> paz,<br />

quando souber fazer o uso correto de<br />

seu conhecimento, aplicando-o <strong>em</strong><br />

prol do desenvolvimento <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de,<br />

do equilíbrio <strong>em</strong>ocional e do<br />

autoconhecimento.<br />

A segurança pública é dever do Estado,<br />

que prima pela preservação <strong>da</strong> ord<strong>em</strong><br />

pública e a tranquili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população.<br />

Suas ativi<strong>da</strong>des dev<strong>em</strong> ser pauta<strong>da</strong>s<br />

na ética e na legali<strong>da</strong>de, porém dev<strong>em</strong>os<br />

ter um novo olhar sobre o que é<br />

a segurança pública. Todos dev<strong>em</strong> se<br />

imbuir <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de pessoal e<br />

social para que se quebre essa corrente<br />

violenta que assombra o nosso País.<br />

Aprender a ser <strong>em</strong> uma socie<strong>da</strong>de<br />

que passa por intensa transformação,<br />

torna-se um desafio enorme para ca<strong>da</strong><br />

um de nós. Aprender a conviver para o<br />

b<strong>em</strong> viver é essencial nos dias atuais e<br />

cabe aos adultos ensinar às crianças o<br />

“aprender a ser e aprender a conviver”.<br />

Falando-se <strong>em</strong> segurança, aprendizag<strong>em</strong><br />

e conhecimento, reporto-me s<strong>em</strong>pre<br />

ao papel <strong>da</strong> Escola, que o locus do<br />

saber e <strong>da</strong> socialização. Assim sendo,<br />

ela busca ressignificar a sua função. A<br />

ressignificação <strong>da</strong>s áreas educacionais<br />

contribui para a realização de ativi<strong>da</strong>des<br />

contextualizadoras no âmbito<br />

escolar, estendendo-se às famílias e<br />

comuni<strong>da</strong>des de seus educandos. A<br />

formação de atitudes que levam à boa<br />

convivência depende muito <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s relações vivencia<strong>da</strong>s pela<br />

criança, na família e na escola. Esses<br />

valores são os pilares de uma civilização<br />

que são construídos através dos<br />

t<strong>em</strong>pos, por isso dev<strong>em</strong>os repensar sobre<br />

qual legado quer<strong>em</strong>os deixar para<br />

as futuras gerações do nosso País.<br />

Sabe-se que é na educação sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong><br />

que há maior probabili<strong>da</strong>de de<br />

se formar integralmente uma pessoa,<br />

portanto cabe à escola a conscientização<br />

de sua importância na formação<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia de nossas crianças e<br />

adolescentes.<br />

O direito de liber<strong>da</strong>de, tão desejado<br />

pelo hom<strong>em</strong>, só se concretiza por meio<br />

<strong>da</strong> instrução e <strong>da</strong> educação. Viver, amar<br />

e aprender são necessi<strong>da</strong>des inerentes<br />

ao ser humano, porém, o hom<strong>em</strong> não é<br />

como a aranha que já nasce sabendo<br />

como fazer a teia. A criança e o adolescente<br />

necessitam de amor, paciência<br />

e, principalmente, <strong>da</strong> confiança de<br />

seus pais e professores. O ambiente<br />

de suspeição e impaciência impede<br />

a construção de critérios de justiça e<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

37


segurança pública<br />

liber<strong>da</strong>de e os distancia do convívio<br />

social positivo. A sabedoria dos mais<br />

sábios e experientes muni o Ser <strong>em</strong><br />

formação de recursos que o conduz às<br />

aprendizagens que lhe serão úteis para<br />

a sua vi<strong>da</strong> <strong>em</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />

A escola enfrenta um grande desafio<br />

imposto pelo desenvolvimento tecnológico:<br />

acompanhar esse rápido desenvolvimento,<br />

que está ao alcance de qualquer<br />

faixa etária, para ser a mediadora<br />

entre as informações recebi<strong>da</strong>s e as<br />

desejáveis ao desenvolvimento integral<br />

do educando. As novas tecnologias nos<br />

prestam grandes benefícios, porém são<br />

competidores informacionais, desprovidos<br />

de sensibili<strong>da</strong>de e afeto, sentimentos<br />

esses imprescindíveis à construção<br />

<strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de, pauta<strong>da</strong> no caráter e<br />

valores que vêm construir e perpetuar<br />

uma socie<strong>da</strong>de digna.<br />

Hoje, a socie<strong>da</strong>de espera muito <strong>da</strong> escola.<br />

Mas será que ela está realmente<br />

<strong>em</strong>podera<strong>da</strong> de todo o conhecimento e<br />

recursos necessários para corresponder<br />

a tantas expectativas? Trabalhar foca<strong>da</strong><br />

na quali<strong>da</strong>de do ensino-aprendizag<strong>em</strong>,<br />

na autoestima do aluno e de seus<br />

professores, tornando-a d<strong>em</strong>ocrática<br />

e ci<strong>da</strong>dã. Isto é o que to<strong>da</strong> escola e<br />

socie<strong>da</strong>de desejam, mas não é tão fácil<br />

assim de se realizar. O educador escolar<br />

necessita aprender a suprimir as<br />

t<strong>em</strong>pestades <strong>em</strong>ocionais do cotidiano<br />

escolar e sobrepor-se ao profissional<br />

<strong>da</strong> educação, conhecendo a cultura organizacional<br />

e perguntando que escola<br />

é essa, qu<strong>em</strong> é esse estu<strong>da</strong>nte e o que<br />

ele precisa aprender para o exercício<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Assim, a escola contribui<br />

na formação ci<strong>da</strong>dã e a função docente<br />

volta-se para a formação de condutas<br />

transformadoras do saber, para o b<strong>em</strong><br />

<strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de. As virtudes e quali<strong>da</strong>des<br />

do educador, como a corag<strong>em</strong>,<br />

curiosi<strong>da</strong>de, humani<strong>da</strong>de e sabedoria,<br />

ao ser<strong>em</strong> coloca<strong>da</strong>s na condução <strong>da</strong><br />

paz, respeito e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, levam<br />

crianças e adolescentes à aprendizag<strong>em</strong><br />

de atitudes positivas que tanto<br />

são almeja<strong>da</strong>s pela escola, família e<br />

socie<strong>da</strong>de.<br />

Sabe-se também que vários setores <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de civil vêm-se organizando de<br />

forma sist<strong>em</strong>ática para colaborar com<br />

o Poder Público, de forma incisiva, na<br />

melhoria <strong>da</strong>s relações interpessoais e<br />

na quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação nas escolas<br />

públicas. Têm-se visto belos programas<br />

e projetos, que estão conduzindo os jovens<br />

ao protagonismo de forma ci<strong>da</strong>dã.<br />

Todos esses fatores mencionados de<br />

na<strong>da</strong> valerão se os educadores de<br />

nosso País não tiver<strong>em</strong> o sentimento<br />

de desejo. Desejo de ensinar, de<br />

aprender e prazer <strong>em</strong> fazer, <strong>em</strong> todos<br />

Integrantes do Projeto “Portas Abertas” com o Educador Social César Damião Rocha, na Oficina do Aprender.<br />

38 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

os momentos de seu trabalho. To<strong>da</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> passa pela <strong>em</strong>oção e já<br />

é sabido que o prazer é momentâneo<br />

e o desejo é algo mais duradouro,<br />

portanto, o aprender depende de<br />

fazer sentido. T<strong>em</strong> que se despertar o<br />

prazer para que haja o desejo, e assim<br />

a aprendizag<strong>em</strong> converte-se <strong>em</strong> autoconhecimento,<br />

percepção <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />

e toma<strong>da</strong>s de decisões assertivas.<br />

Só formamos ci<strong>da</strong>dãos quando ensinamos<br />

as crianças a pensar<strong>em</strong> globalmente,<br />

visualizando as diferenças<br />

e respeitando todos os el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong><br />

natureza, pois se separarmos <strong>da</strong> natureza<br />

nos desumanizamos, diz Gadotti<br />

<strong>em</strong> seu livro Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Terraecope<strong>da</strong>gogia<br />

e educação sustentável.<br />

Ele nos mostra que não se pode mais<br />

negar a necessi<strong>da</strong>de de valorizar tudo<br />

o que existe na Terra, para tirar <strong>da</strong>í todo<br />

um aprendizado para a sustentação <strong>da</strong><br />

Humani<strong>da</strong>de.<br />

Sabe-se que a Paz é, e s<strong>em</strong>pre será, o<br />

maior desejo de to<strong>da</strong> a Humani<strong>da</strong>de,<br />

mas só será alcança<strong>da</strong> quando o Hom<strong>em</strong><br />

estiver <strong>em</strong>possado de sua segurança<br />

interior, externando-a para o real<br />

exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

*Pe<strong>da</strong>goga, Pós-gradua<strong>da</strong> <strong>em</strong> Educação pelo<br />

(CEPEMG) Centro de Pesquisas Educacionais de<br />

Minas Gerais, colaboradora <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>.


segurança pública<br />

Gestão integra<strong>da</strong> de eventos de<br />

Defesa Social de Alto Risco Francis Albert Cotta*<br />

Nos finais <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970 a<br />

maioria <strong>da</strong>s polícias militares brasileiras<br />

especializou parte dos seus efetivos<br />

para o atendimento de situações que<br />

extrapolass<strong>em</strong> o poder de resposta do<br />

patrulhamento preventivo cotidiano.<br />

Assim, foram criados grupos especiais,<br />

geralmente inseridos nos batalhões de<br />

polícia de choque, para intervenções <strong>em</strong><br />

situações que envolvess<strong>em</strong> o “combate”<br />

a guerrilhas e atos terroristas. Esses<br />

grupos receberam treinamentos de<br />

táticas e técnicas oriun<strong>da</strong>s do modelo<br />

de “Comandos” <strong>da</strong>s Forças Arma<strong>da</strong>s.<br />

A formação era, fun<strong>da</strong>mentalmente,<br />

militar e o foco estava na proteção do<br />

Estado e na manutenção <strong>da</strong> Ord<strong>em</strong> Pública,<br />

tendo como suporte a “Doutrina<br />

ou Ideologia de Segurança Nacional”.<br />

Com o processo de red<strong>em</strong>ocratização<br />

do Brasil, a partir de meados <strong>da</strong><br />

déca<strong>da</strong> de 1980, tendo seu ápice com<br />

a Constituição Ci<strong>da</strong>dã de 1988, os<br />

grupos especializados passam a receber<br />

uma influência mais policial e menos<br />

militar. Os incidentes críticos com<br />

reféns, os sequestros e os atentados<br />

com artefatos explosivos perd<strong>em</strong> sua<br />

conotação político-ideológica. A ideia<br />

de Operações Especiais cede lugar ao<br />

conceito de Ações Táticas. Em alguns<br />

estados brasileiros as designações<br />

dos grupos especializados passam de<br />

Comandos de Operações Especiais para<br />

Grupos de Ações Táticas Especiais.<br />

No decorrer dos anos, os integrantes<br />

dos grupos policiais especializados<br />

adquiriram um know-how, isto é,<br />

um saber construído no “fazer-se”<br />

enquanto responsáveis pelas intervenções<br />

especiais. O conhecimento<br />

processual, advindo <strong>da</strong>s práticas<br />

cotidianas na resolução de probl<strong>em</strong>as,<br />

apontou tanto para as potenciali<strong>da</strong>des,<br />

quanto para as limitações logísticas e<br />

humanas. Buscou-se aprimorar os efetivos<br />

de tais grupos com treinamentos<br />

diferenciados e com suporte logístico<br />

que atendesse, minimamente, às suas<br />

necessi<strong>da</strong>des operacionais. Entretanto,<br />

faltava-lhes sist<strong>em</strong>atizar suas práticas<br />

de forma teórica. 1<br />

Nos finais dos anos 80 e início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong><br />

de 1990, sob influência <strong>da</strong> literatura<br />

norte-americana, nomea<strong>da</strong>mente<br />

<strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia Nacional do FBI e do Departamento<br />

de Polícia de Nova Iorque<br />

(NYPD, 1986; BOLZ JUNIOR, 1987;<br />

FUSELIER, NOESNER,1990), surg<strong>em</strong> as<br />

primeiras produções brasileiras sobre<br />

os procedimentos policiais a ser<strong>em</strong><br />

adotados <strong>em</strong> Incidentes Críticos que<br />

envolvess<strong>em</strong> reféns, tentativa de autoextermínio,<br />

rebeliões <strong>em</strong> presídios,<br />

localização e desativação de artefatos<br />

explosivos, entre outros (VENTURA,<br />

1987, VASCONCELOS, 1990; MON-<br />

TEIRO,1991). Algumas publicações<br />

foram de natureza institucional, como<br />

o Manual de Gerenciamento de Crises<br />

<strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia de Nacional de Polícia<br />

(BRASIL, 1995); outras, <strong>da</strong> lavra de<br />

policiais experimentados no cotidiano<br />

operacional (SOUZA, 1995, MAGA-<br />

LHÃES, SACRAMENTO, SOUZA, 1998).<br />

O termo Gerenciamento de Crises,<br />

amplamente utilizado por teóricos<br />

<strong>da</strong> Administração de Empresas,<br />

foi reapropriado e passou a ser<br />

utilizado pelas polícias brasileiras,<br />

consagrando-se nos últimos anos<br />

como disciplina <strong>da</strong> malha curricular<br />

de vários cursos de formação (Curso<br />

Técnico <strong>em</strong> Segurança Pública, Curso<br />

Superior <strong>em</strong> Gestão de Segurança<br />

Pública e Curso de Bacharelado <strong>em</strong><br />

Ciências Militares, com ênfase <strong>em</strong><br />

Defesa Social, isso para citar o caso<br />

de Minas Gerais).<br />

Em virtude <strong>da</strong>s d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>s operacionais,<br />

<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de se sist<strong>em</strong>atizar<br />

os procedimentos quando<br />

<strong>da</strong> gestão de um Incidente Crítico e,<br />

fun<strong>da</strong>mentalmente, por intermédio<br />

de estudos acadêmicos (VAZ, 2001;<br />

THOMÉ, SALIGNAC, 2001; LUCCA,<br />

2002; TEIXERA, 2002; COTTA, SOUZA,<br />

2003; SANTOS, 2003; STOCHIERO,<br />

2006; SARDINHA, 2008; SANTOS,<br />

2008; COTTA, STOCHIERO, 2007, STO-<br />

CHIERO, COTTA, 2008), percebeu-se<br />

que não era suficiente investir apenas<br />

na formação de negociadores policiais,<br />

todos os policiais deveriam saber<br />

como se desenvolv<strong>em</strong> as intervenções<br />

policiais especializa<strong>da</strong>s.<br />

No período de 2001 a 2002, a Secretaria<br />

Nacional de Segurança Pública<br />

(SENASP), atenta à importância <strong>da</strong><br />

t<strong>em</strong>ática, patrocinou, <strong>em</strong> parceria com<br />

as Nações Uni<strong>da</strong>s, dentro do Projeto<br />

de Treinamento para Profissionais <strong>da</strong><br />

Área de Segurança do Ci<strong>da</strong>dão e sob<br />

a coordenação <strong>da</strong> Briga<strong>da</strong> Militar<br />

do Rio Grande do Sul, sete cursos de<br />

Gerenciamento de Crises. Também<br />

outras polícias militares (São Paulo,<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

39


segurança pública<br />

Espírito Santo, Paraná, Minas Gerais),<br />

institucionalizaram cursos específicos<br />

de Gerenciamento de Crises.<br />

Valorizando o processo de educação<br />

continua<strong>da</strong> dos servidores <strong>da</strong> área de<br />

segurança dos ci<strong>da</strong>dãos, a SENASP, sob a<br />

batuta competente de dois oficiais <strong>da</strong> Polícia<br />

Militar do Espírito Santo, condensou<br />

os preceitos teóricos <strong>da</strong> produção acadêmica<br />

sobre o “Gerenciamento de Crises<br />

no Contexto Policial” e os disponibilizou<br />

sob a forma de um curso pela internet<br />

(DORIA JÚNIOR; FAHNING, 2008).<br />

Em Minas Gerais, além <strong>da</strong>s disciplinas<br />

inseri<strong>da</strong>s nos cursos de formação, atualização<br />

e especialização, existe um curso<br />

exclusivo para policiais que pertenc<strong>em</strong><br />

às uni<strong>da</strong>des policiais especializa<strong>da</strong>s. Nele<br />

foram inseridos assuntos pertinentes às<br />

especifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong> equipe que auxilia o<br />

gestor do Incidente Crítico, b<strong>em</strong> como os<br />

negociadores. O curso cont<strong>em</strong>pla tópicos<br />

tais como: Estruturação e Funcionamento<br />

do Time de Gerenciamento de Crises;<br />

Programação Neurolinguística; Técnicas<br />

e Táticas de Negociação; Criminologia,<br />

Sociologia e Antropologia; Mediação de<br />

Conflitos e Psicanálise; Técnicas de Instalação<br />

de Equipamentos; Monitoramento<br />

de Ambientes Confinados; Perimetrag<strong>em</strong>,<br />

Coleta e Análise de Dados (MINAS<br />

GERAIS, 2009).<br />

A partir do diálogo entre a prática cotidiana,<br />

<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des operacionais na<br />

Cena de Ação e os referenciais teóricos,<br />

do campo acadêmico, sentiu-se a necessi<strong>da</strong>de<br />

de sist<strong>em</strong>atizar procedimentos,<br />

<strong>da</strong>ndo-lhes coerência e cientifici<strong>da</strong>de. Em<br />

decorrência desse contexto cunhou-se a<br />

expressão: Gestão de Eventos de Defesa<br />

Social de Alto Risco. Os conhecimentos<br />

do que se convencionou chamar de<br />

Gerenciamento de Crises não são<br />

abandonados, apenas ocorre, com esse<br />

novo conceito, uma verticalização, um<br />

aprofun<strong>da</strong>mento do olhar e <strong>da</strong> reflexão<br />

sobre a Cena de Ação, <strong>da</strong>s intervenções<br />

policiais efetivas e do papel de ca<strong>da</strong><br />

profissional envolvido.<br />

40 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

As Especifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />

Gestão de Eventos de<br />

Defesa Social de<br />

Alto Risco<br />

Os Eventos de Defesa Social de Alto<br />

Risco são as intervenções qualifica<strong>da</strong>s<br />

<strong>em</strong> Incidentes Críticos que extrapolam o<br />

poder de resposta individual dos órgãos<br />

que compõe o Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social<br />

e, portanto, necessitam de intervenções<br />

integra<strong>da</strong>s especiais com a utilização<br />

de equipamentos, armamentos, tecnologias<br />

e treinamentos especializados<br />

para o restabelecimento <strong>da</strong> Paz Social.<br />

Nota-se que é colocado <strong>em</strong> relevo a<br />

visão sistêmica e integra<strong>da</strong> na gestão<br />

(COTTA, STOCHIERO, 2007; 2008).<br />

Nesse sentido, uma uni<strong>da</strong>de policial especializa<strong>da</strong><br />

não resolverá isola<strong>da</strong>mente<br />

o Incidente Crítico.<br />

Por sua vez, os Incidentes Críticos são<br />

os eventos que colocam <strong>em</strong> risco, de<br />

maneira mais contundente, as vi<strong>da</strong>s dos<br />

ci<strong>da</strong>dãos e dos servidores públicos, tais<br />

como: pessoas feitas reféns; pessoas<br />

manti<strong>da</strong>s por perpetradores por motivos<br />

passionais e/ou de vingança; infratores<br />

armados barricados; tentativas de autoextermínio;<br />

localização de artefatos<br />

explosivos; ci<strong>da</strong>dãos infratores armados<br />

e organizados.<br />

Já o sentido <strong>da</strong> gestão desse tipo de<br />

evento vai muito além do ato de condução<br />

<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des por um líder ou<br />

mesmo por uma equipe. Ela é entendi<strong>da</strong><br />

enquanto o conjunto de ações que englobam<br />

a concepção, elaboração, impl<strong>em</strong>entação,<br />

direção, execução e avaliação.<br />

As partes do processo são construí<strong>da</strong>s,<br />

executa<strong>da</strong>s e avalia<strong>da</strong>s por todos os<br />

envolvidos. Existe o <strong>em</strong>poderamento<br />

(<strong>em</strong>powerment) de ca<strong>da</strong> servidor público<br />

no sentido de permitir-lhe participação<br />

efetiva e consequent<strong>em</strong>ente dotando-o<br />

de responsabili<strong>da</strong>des específicas. Ele não<br />

é um simples cumpridor de ordens, é coparticipante<br />

de um processo mais amplo<br />

que será acompanhado e avaliado. Um<br />

aspecto importante na construção do<br />

conceito de Eventos de Defesa Social de<br />

Alto Risco é a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> integração<br />

dos envolvidos na resolução do Incidente<br />

Crítico.<br />

Nesse processo destaca-se a importância<br />

do briefing, momento <strong>em</strong> que é repassado<br />

o conjunto de informações a todos<br />

os envolvidos na resolução do Incidente<br />

Crítico. Nele serão explanados os probl<strong>em</strong>as,<br />

as linhas de ação operacional,<br />

as responsabili<strong>da</strong>des individuais, entre<br />

outros pontos. Ain<strong>da</strong>, na concepção de<br />

gestão, após a intervenção, o debrifieng<br />

será o momento de verificar se todos<br />

os pontos foram atingidos e se todos<br />

cumpriram o seu papel específico na<br />

Cena de Ação. 2<br />

No caso do presente estudo será analisa<strong>da</strong><br />

a ferramenta de gestão integra<strong>da</strong><br />

desenvolvi<strong>da</strong> pelo Grupamento de Ações<br />

Táticas Especiais (GATE), do Comando<br />

de Policiamento Especializado <strong>da</strong> Polícia<br />

Militar de Minas Gerais. O GATE de Minas<br />

Gerais possui uma estrutura interna<br />

composta por cinco equipes: Time de<br />

Gerenciamento de Crises, Esquadrão Antibombas,<br />

Sniper, Time Tático e Comando<br />

de Operações <strong>em</strong> Áreas de Mananciais e<br />

Florestas. Ca<strong>da</strong> equipe possui viaturas,<br />

efetivos e treinamentos específicos.<br />

O Time de Gerenciamento de Crises<br />

(TGC) é responsável pela negociação<br />

policial, pelo suporte técnico e apoio<br />

logístico na Cena de Ação. Em virtude<br />

de suas intervenções cotidianas, o TGC<br />

identificou a necessi<strong>da</strong>de de se criar uma<br />

ferramenta que possibilitasse a coordenação<br />

e o controle de to<strong>da</strong>s as equipes<br />

táticas, além de estabelecer parâmetros<br />

de atuação com os outros órgãos do<br />

Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social.<br />

Para solução desta questão elaborou-se<br />

o Protocolo de Intervenção Policial<br />

Especializa<strong>da</strong>. Além <strong>da</strong> aplicação <strong>da</strong><br />

visão sistêmica <strong>em</strong> casos concretos de<br />

defesa social de alto risco, possibilita<br />

o acompanhamento e a avaliação do


segurança pública<br />

des<strong>em</strong>penho de ca<strong>da</strong> servidor público na<br />

Cena de Ação. Também orienta a toma<strong>da</strong><br />

de decisão do gestor oferecendo-lhe<br />

uma série de alternativas que levam <strong>em</strong><br />

consideração o uso progressivo <strong>da</strong> força,<br />

a legali<strong>da</strong>de, a ética, o respeito aos Direitos<br />

Humanos e os princípios técnicos e<br />

táticos <strong>da</strong> gestão de Incidentes Críticos.<br />

No Protocolo são traçados e concatenados,<br />

numa ord<strong>em</strong> lógica, sist<strong>em</strong>ática<br />

e coerente, os passos <strong>em</strong> que o trabalho<br />

será desenvolvido. Evitam-se, assim,<br />

surpresas e inconsistências.<br />

O Protocolo de<br />

Intervenção Policial<br />

Especializa<strong>da</strong><br />

O Protocolo, impresso <strong>em</strong> três páginas,<br />

detalha os seguintes aspectos <strong>da</strong> gestão:<br />

1) Procedimentos Iniciais na Cena <strong>da</strong><br />

Ação; 2) Processo de Negociação; 3)<br />

Administração dos Talentos Humanos;<br />

4) Produção de Informações; 5) Gestão<br />

Logística; 6) Relacionamento com a<br />

Imprensa e com a Comuni<strong>da</strong>de Local; 7)<br />

Emprego <strong>da</strong> Força e Estratégia Operacional;<br />

8) Administração <strong>da</strong> Rendição; 9)<br />

Equipes Táticas Envolvi<strong>da</strong>s; 10) Resumo<br />

do Incidente Crítico; 11) Observações e<br />

Sugestões e 12) Fotos e Croquis.<br />

O gestor escolherá um policial para<br />

coordenar ca<strong>da</strong> um dos aspectos do<br />

protocolo. Eles serão responsáveis por<br />

checar todos os pontos de suas respectivas<br />

áreas. Assim, além dos coman<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong>s<br />

equipes táticas envolvi<strong>da</strong>s, é necessário,<br />

no mínimo, um staff composto por nove<br />

policiais: oito são responsáveis pelas<br />

áreas e um por receber e encaminhar ao<br />

gestor do evento to<strong>da</strong>s as informações<br />

para toma<strong>da</strong> de decisão (Assessor Técnico<br />

do Time de Gerenciamento de Crises).<br />

O Protocolo funciona como cheklist. Por<br />

intermédio dele o gestor e seu staff estruturam<br />

as intervenções iniciais na Cena<br />

de Ação. As ações são flexíveis e serão<br />

adota<strong>da</strong>s de acordo com o desenrolar do<br />

evento. O ato de determinar um servidor<br />

público para ca<strong>da</strong> área de atuação faz<br />

com que esse profissional se dedique a<br />

realizar to<strong>da</strong>s as minúcias com atenção<br />

e zelo. Ele t<strong>em</strong> a consciência de que<br />

os aspectos sob sua responsabili<strong>da</strong>de<br />

são decisivos para uma boa resolução<br />

do evento. Além disso, ele e seus<br />

colaboradores prestarão conta do seu<br />

des<strong>em</strong>penho após o encerramento <strong>da</strong><br />

intervenção.<br />

Inicialmente, o Protocolo possui um<br />

cabeçalho que pode ser utilizado para<br />

fins estatísticos, para estudos, análises<br />

e localização <strong>da</strong> intervenção junto ao<br />

Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social. São oito itens<br />

que descrev<strong>em</strong> a tipologia do incidente<br />

crítico, o número do Registro de Defesa<br />

Social (REDS), onde o Incidente Crítico<br />

ocorreu, o t<strong>em</strong>po destinado à sua resolução,<br />

as viaturas e efetivos envolvidos.<br />

Por fim, traz orientações para a mensuração<br />

<strong>da</strong>s ações desenvolvi<strong>da</strong>s na gestão<br />

do evento.<br />

Operacionalmente, as intervenções iniciam-se<br />

com os Procedimentos Iniciais<br />

na Cena <strong>da</strong> Ação. Eles se traduz<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

sete grupos de procedimentos, que se<br />

subdivid<strong>em</strong> <strong>em</strong> 20 itens a ser<strong>em</strong> observados<br />

pelos responsáveis pela coordenação<br />

e controle. Destaque é <strong>da</strong>do ao<br />

Primeiro Interventor e ao Controlador<br />

do Incidente, pois quando <strong>da</strong> eclosão<br />

de um Incidente Crítico, geralmente<br />

o policial que autua <strong>em</strong> determinado<br />

setor ou o guar<strong>da</strong> municipal serão os<br />

primeiros a se deparar<strong>em</strong> com a situação.<br />

A eles cab<strong>em</strong> as primeiras ações.<br />

O Controlador do Incidente poderá<br />

pertencer à Polícia, à Guar<strong>da</strong>, ao Corpo<br />

de Bombeiros ou a outro órgão do<br />

Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social. Entretanto,<br />

ele deve possuir autorização para<br />

desenvolver ações de coordenação na<br />

estruturação dos perímetros e contatos<br />

diversos dentro de sua esfera de competência<br />

operacional.<br />

Quando <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> <strong>da</strong>s equipes<br />

especializa<strong>da</strong>s, as medi<strong>da</strong>s preliminares<br />

serão reavalia<strong>da</strong>s e tanto o Controlador<br />

do Incidente quanto o Primeiro Interventor<br />

serão convi<strong>da</strong>dos a participar do<br />

processo de gestão do Incidente Crítico.<br />

Nesse momento é montado o Posto de<br />

Comando. Em segui<strong>da</strong> são defini<strong>da</strong>s as<br />

autori<strong>da</strong>des de Linha (coman<strong>da</strong>nte local<br />

<strong>da</strong> polícia ou do corpo de bombeiros, <strong>em</strong><br />

termos de responsabili<strong>da</strong>de territorial)<br />

e Técnica (coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong>s equipes<br />

especializa<strong>da</strong>s). Ain<strong>da</strong>, nessa fase ocorre<br />

a identificação de todos os responsáveis<br />

pelas equipes do Sist<strong>em</strong>a de Defesa<br />

Social que estiver<strong>em</strong> presentes na Cena<br />

de Ação. Por fim, a elaboração do Plano<br />

Inicial de Ação, que será flexível e com<br />

várias alternativas.<br />

Outro aspecto vislumbrado pelo Protocolo<br />

é o Processo de Negociação. Conhecido<br />

como a primeira alternativa tática na resolução<br />

de um Incidente Crítico, ele é permeado<br />

por ações específicas, integra<strong>da</strong>s e<br />

pontuais. Os negociadores policiais atuam<br />

<strong>em</strong> perfeita sintonia com os d<strong>em</strong>ais<br />

integrantes do Time de Gerenciamento<br />

de Crises. As informações adquiri<strong>da</strong>s pelo<br />

TGC, por intermédio de equipamentos e<br />

técnicas específicas, oferec<strong>em</strong> subsídios<br />

para o desenvolvimento <strong>da</strong> argumentação<br />

e <strong>da</strong> elaboração do convencimento<br />

<strong>em</strong> situações que envolv<strong>em</strong> libertação de<br />

reféns e intervenções <strong>em</strong> situações com<br />

tentativa de autoextermínio.<br />

O terceiro ponto do Protocolo é a Administração<br />

dos Talentos Humanos. Aqui,<br />

ca<strong>da</strong> envolvido no processo de resolução<br />

do Incidente Crítico é cientificado <strong>da</strong>s<br />

peculiari<strong>da</strong>des do evento e <strong>da</strong>s funções<br />

que irá desenvolver. O responsável pela<br />

coordenação e controle desse aspecto<br />

fará a seleção dos especialistas de<br />

acordo com as potenciali<strong>da</strong>des técnicas<br />

de ca<strong>da</strong> um; providenciará os meios para<br />

a realização de simulações com vistas ao<br />

<strong>em</strong>prego tático dos talentos humanos e<br />

estará atento para questões de desgaste<br />

fisiológico.<br />

No processo de gestão não há uma ação<br />

superior a outra, entretanto, percebe-se<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

41


segurança pública<br />

que desde o contato do Primeiro Interventor<br />

até a rendição do perpetrador<br />

do Incidente Crítico as decisões são<br />

realiza<strong>da</strong>s após a análise criteriosa <strong>da</strong>s<br />

informações disponíveis. Dessa forma, o<br />

Protocolo destina um espaço para definir<br />

algumas ações no campo <strong>da</strong> Produção<br />

de Informações. To<strong>da</strong>s as informações<br />

são canaliza<strong>da</strong>s para um integrante do<br />

Time de Gerenciamento de Crises que as<br />

socializa não somente para os negociadores<br />

e líderes <strong>da</strong>s equipes táticas, mas<br />

também para o Gabinete de Gestão do<br />

Incidente Crítico.<br />

O provimento logístico eficaz, adequado<br />

e oportuno é alvo do quinto it<strong>em</strong> do Protocolo.<br />

A Gestão Logística é coloca<strong>da</strong> sob<br />

a responsabili<strong>da</strong>de de um profissional<br />

experiente que conhece os meandros<br />

<strong>da</strong> gestão de um Incidente Crítico. Sua<br />

atuação é abrangente e vai desde o<br />

“simples” fornecimento de água para<br />

os negociadores até a verificação <strong>da</strong><br />

disponibili<strong>da</strong>de de tecnologia não-letal<br />

e de outros equipamentos, armamentos<br />

e munições para as intervenções.<br />

O sexto it<strong>em</strong> do Protocolo destaca a<br />

necessi<strong>da</strong>de do Relacionamento com a<br />

Imprensa e com a Comuni<strong>da</strong>de Local<br />

de forma transparente. Ao ter acesso a<br />

42 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

Tenente Francis Albert Cotta é professor <strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia de Polícia Militar no Prado Mineiro.<br />

informações ver<strong>da</strong>deiras e ao constar que<br />

o gestor do Incidente Crítico está a atuar<br />

de forma técnica, ética e legal, haverá<br />

por parte <strong>da</strong>s pessoas o consentimento<br />

necessário para a realização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />

de restabelcimento <strong>da</strong> Paz Social.<br />

Respeito à digni<strong>da</strong>de dos envolvidos e a<br />

garantia dos direitos individuais dev<strong>em</strong><br />

estar na base <strong>da</strong> atuação e no trato com<br />

os profissionais <strong>da</strong> imprensa.<br />

O Emprego <strong>da</strong> Força de maneira<br />

progressiva, legal, ética e técnica é<br />

a base <strong>da</strong> elaboração <strong>da</strong> Estratégia<br />

Operacional. Em Incidentes Críticos<br />

que envolvam reféns as ações poderão<br />

iniciar com a verbalização, passando<br />

pelas táticas defensivas não-letais,<br />

chegando, <strong>em</strong> último caso, ao uso<br />

<strong>da</strong> força letal, conforme preceitua os<br />

preceitos internacionais, nacionais e<br />

institucionais de Direitos Humanos.<br />

Em to<strong>da</strong>s as situações o foco <strong>da</strong> ação<br />

será salvar vi<strong>da</strong>s e aplicar a lei. Não<br />

haverá margens para improvisações<br />

ou amadorismos. To<strong>da</strong>s as alternativas<br />

dev<strong>em</strong> ser plenamente conheci<strong>da</strong>s.<br />

O Incidente Crítico não termina quando<br />

o perpetrador resolve se entregar. Nesse<br />

sentido, o Protocolo destina um it<strong>em</strong> para<br />

a Administração <strong>da</strong> Rendição. Além <strong>da</strong><br />

definição dos profissionais que receberão<br />

a(s) vítima(s) e o(s) agente(s), no caso de<br />

Incidentes Críticos envolvendo Reféns<br />

ou o suici<strong>da</strong>, <strong>em</strong> situações de tentativas,<br />

deverá ser escolhido um local apropriado<br />

e elaborado um plano específico.<br />

O nono aspecto do Protocolo é o registro<br />

dos nomes de todos os integrantes <strong>da</strong>s


segurança pública<br />

Equipes Táticas envolvi<strong>da</strong>s. O décimo<br />

é o resumo do Incidente Crítico. Por<br />

fim, são registra<strong>da</strong>s as observações,<br />

sugestões, fotos e croquis.<br />

Após a resolução do Evento de Defesa<br />

Social de Alto Risco, o Protocolo de<br />

Intervenção Policial Especializa<strong>da</strong><br />

servirá para individualizar as ações de<br />

todos os envolvidos e para aprimorar<br />

táticas e estratégias operacionais. A<br />

socialização dos seus resultados com<br />

os órgãos do Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social<br />

proporciona o amadurecimento de<br />

todos e desperta para a necessi<strong>da</strong>de<br />

de efetivo planejamento, coordenação,<br />

controle e ações integra<strong>da</strong>s. Ele possibilita<br />

a realização de um debrifieng<br />

realístico que será compartilhado com<br />

todos os envolvidos na intervenção.<br />

Por fim, é possível mensurar as ações<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s, proporcionando uma<br />

leitura privilegia<strong>da</strong> <strong>da</strong> relação entre<br />

escolhas, resultados e consequências<br />

<strong>da</strong>s ações. Ele proporciona o controle<br />

e a fixação de responsabili<strong>da</strong>des de<br />

todos os envolvidos.<br />

Considerações finais<br />

O Protocolo busca sensibilizar e destacar<br />

a importância <strong>da</strong> integração e do<br />

envolvimento de todos os profissionais<br />

dos órgãos do Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social<br />

na gestão de Incidentes Críticos. Essa<br />

é uma preocupação que acompanha<br />

os gestores de segurança pública há<br />

vários anos (SÃO PAULO, 1990; ESPÍ-<br />

RITO SANTO, 1998; MATO GROSSO,<br />

1999; CONSEFO, 2000; MINAS GERAIS,<br />

2005). Entretanto, vários entraves<br />

ain<strong>da</strong> permanec<strong>em</strong> <strong>em</strong> intervenções<br />

reais. É preciso avançar <strong>em</strong> direção à<br />

efetiva gestão integra<strong>da</strong> de Eventos<br />

de Defesa Social de Alto Risco. Nesse<br />

sentido, rever as normas, adequar<br />

terminologias e conceitos, além de<br />

redefinir funções é fun<strong>da</strong>mental.<br />

Por intermédio de <strong>da</strong>dos concretos e<br />

<strong>da</strong>s ações desenvolvi<strong>da</strong>s pelos atores<br />

envolvidos, o Protocolo busca mostrar<br />

que a resolução de Eventos de Defesa<br />

Social de Alto Risco não é um ato<br />

solitário de determina<strong>da</strong> organização<br />

ou de um grupo especializado, mas<br />

sim um esforço sinergético de diversos<br />

órgãos, <strong>em</strong> prol do restabelecimento<br />

<strong>da</strong> Paz Social. Os diversos profissionais<br />

envolvidos se ve<strong>em</strong> como corresponsáveis<br />

pela resolução do evento.<br />

Outra proposta inovadora do Protocolo<br />

é a noção de <strong>em</strong>poderamento<br />

de ca<strong>da</strong> líder e sua equipe <strong>em</strong> áreas<br />

predetermina<strong>da</strong>s de atuação. Mesmo<br />

num momento de intensa reativi<strong>da</strong>de,<br />

<strong>em</strong> virtude <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>r respostas<br />

positivas ao Incidente Crítico,<br />

o policial se mostra proativo. Isso não<br />

pressupõe quebra <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de de Comando,<br />

uma vez que to<strong>da</strong>s as decisões<br />

passam por um órgão colegiado montado<br />

exclusivamente para a gestão do<br />

Incidente Crítico.<br />

É impossível para o gestor de um<br />

evento de defesa social de alto risco,<br />

por mais experiente e capacitado<br />

que seja, acompanhar sozinho o<br />

processo de resolução do Incidente<br />

Crítico. Ele deve ser assessorado de<br />

forma realística e com base <strong>em</strong> <strong>da</strong>dos<br />

concretos oriundos <strong>da</strong> Cena de Ação<br />

por líderes de equipes táticas e pelos<br />

responsáveis pelas áreas estabeleci<strong>da</strong>s<br />

pelo Protocolo.<br />

A dinâmica de gestão proposta pelo<br />

Protocolo de Intervenção Policial Especializa<strong>da</strong><br />

e a estruturação do formulário<br />

impresso dev<strong>em</strong> ser de conhecimento<br />

de todos os envolvidos, pois, assim, o<br />

profissional terá a clara noção de que<br />

ele é peça fun<strong>da</strong>mental na resolução<br />

do evento. Ele e sua equipe não pod<strong>em</strong><br />

agir isola<strong>da</strong>mente, pois se encontram<br />

inseridos num contexto mais amplo<br />

cujo foco é a proteção dos direitos do<br />

ci<strong>da</strong>dão.<br />

Espera-se que <strong>em</strong> decorrência de uma<br />

gestão b<strong>em</strong> conduzi<strong>da</strong> do Evento de<br />

Defesa Social de Alto Risco restabeleça-se<br />

a Paz Social, preserv<strong>em</strong>-se<br />

vi<strong>da</strong>s, preserve-se a integri<strong>da</strong>de física,<br />

a digni<strong>da</strong>de dos envolvidos e seus<br />

patrimônios.<br />

1. A pioneira na sist<strong>em</strong>atização de procedimentos foi a Polícia Militar<br />

do Estado de São Paulo com a NI 3 EM PM -003/32/1977, segui<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> Diretriz PM – 001/1/1987 - RPP, <strong>da</strong> Diretriz de Operações PM3-<br />

004/2/89, que fixou as normas para <strong>em</strong>prego <strong>da</strong> Cia PM, constituí<strong>da</strong><br />

por Grupos de Ações Táticas Especiais (GATE), interagindo no<br />

Sist<strong>em</strong>a Operacional PM, especialmente no resgate de reféns<br />

localizados, visando à preservação <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> pública.<br />

2. Opta-se por designar o local onde se desenrola o Incidente Crítico<br />

pelo termo policial Cena de Ação e não mais pelo conceito militar<br />

Teatro de Operações.<br />

Referências Bibliográficas<br />

BOLZ JUNIOR, Frank. How to be a hostage and<br />

live. New York: Faber and Faber, 1987.<br />

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de Aperfeiçoamento de Oficiais) - Centro de<br />

Aperfeiçoamento e Estudos Superiores, Polícia<br />

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2000.<br />

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OESTE (CONSEFO). Guia de procedimentos para<br />

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Soares de. Ocorrências envolvendo artefatos<br />

explosivos: a partir de retrospectiva histórica,<br />

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2008.<br />

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2008.<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

43


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LUCCA, Diógenes Viegas Dalle. Alternativas<br />

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reféns localizados. 2002. Monografia (Curso de<br />

Aperfeiçoamento de Oficiais) - Centro de Aperfeiçoamento<br />

e Estudos Superiores, Polícia Militar<br />

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Aperfeiçoamento de Oficiais) - Centro de Pesquisa<br />

e Pós-graduação <strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia de Polícia<br />

Militar de Minas Gerais/Fun<strong>da</strong>ção João Pinheiro,<br />

Belo Horizonte, 1998.<br />

MATO GROSSO DO SUL. Decreto nº 9.686, de<br />

28 de outubro de 1999. Cria o Conselho de Intermediação<br />

de Conflitos Sociais e Situações de<br />

Risco e disciplina as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Polícia Civil e<br />

<strong>da</strong> Polícia Militar no atendimento de ocorrências<br />

com reféns, rebeliões <strong>em</strong> presídios e ocasiões de<br />

especial importância e dá outras providências.<br />

DOE, Mato Grosso do Sul, 29 out. 1999.<br />

MINAS GERAIS. Polícia Militar. Comando-Geral.<br />

Diretriz para produção de serviços de segurança<br />

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Regula o <strong>em</strong>prego <strong>da</strong> Polícia Militar de Belo<br />

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_________. Resolução nº 009, de 24 de jun.<br />

2005. Dispõe sobre princípios norteadores,<br />

limites de competência operacional, forma de<br />

interação <strong>em</strong> apoio mútuo, autori<strong>da</strong>des policiais<br />

envolvi<strong>da</strong>s e níveis de responsabili<strong>da</strong>de, forma<br />

de participação de uni<strong>da</strong>des especializa<strong>da</strong>s e dá<br />

outras providências, Belo Horizonte: Comando-<br />

Geral. 2005.<br />

_________. Resolução nº 4.023, de 30 de abril<br />

de 2009. Dispõe sobre as Diretrizes <strong>da</strong> Educação<br />

de Polícia Militar de Minas Gerais, Belo Horizonte:<br />

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Pública) - Centro de Pesquisa e Pós-graduação<br />

<strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia de Polícia Militar de Minas Gerais/<br />

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complexi<strong>da</strong>de. Ed Probabilis Assessoria, Belo<br />

Horizonte, 2008.<br />

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Nº PM3-004/2/89. Fixa normas para <strong>em</strong>prego <strong>da</strong><br />

Cia. PM, constituí<strong>da</strong> por Grupos de Ações Táticas<br />

Especiais, interagindo no Sist<strong>em</strong>a Operacional<br />

PM, especialmente no resgate de reféns localizados,<br />

visando à preservação <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> pública.<br />

1989.<br />

______. Resolução SSP-22, de 11 de abril<br />

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Especial de Resgate <strong>da</strong> Polícia Civil e do Grupo<br />

de Ações Táticas Especiais <strong>da</strong> Polícia Militar, no<br />

atendimento de ocorrências com reféns. DOE de<br />

12 de abril de 1990.<br />

______. Nota de Instrução Nº PM3-001/02/96.<br />

Fixa norma para atuação <strong>da</strong> Corporação <strong>em</strong><br />

ocorrências <strong>em</strong> que haja <strong>em</strong>prego conjugado<br />

de meios e/ou naquelas de grande vulto ou<br />

passíveis de repercussão, principalmente com<br />

reféns localizados.<br />

______. Ord<strong>em</strong> de Serviço nº PM3-025/02/01.<br />

Revigora os procedimentos operacionais e<br />

determina o <strong>em</strong>prego <strong>da</strong> equipe de negociação<br />

<strong>em</strong> crises com reféns.<br />

SOUZA, Wanderley Mascarenhas de. Gerenciamento<br />

de Crises: Negociação e atuação<br />

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Orientador: Francis Albert Cotta. 2008. Monografia<br />

(Bacharelado <strong>em</strong> Ciências Militares, com<br />

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de Graduação, Acad<strong>em</strong>ia de Polícia Militar de<br />

Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.<br />

SOUZA, Wanderley Mascarenhas de. Gerenciamento<br />

de Crises: Negociação e atuação<br />

de Grupos Especiais de Polícia na solução de<br />

eventos críticos. 1995. Monografia (Curso de<br />

Aperfeiçoamento de Oficiais) - Centro de Aperfeiçoamento<br />

e Estudos Superiores, Polícia Militar<br />

do Estado de São Paulo, São Paulo, 1995.<br />

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2006. Monografia (Especialização <strong>em</strong> Segurança<br />

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deve agir. 1987. Monografia (Curso Superior de<br />

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Superiores, Polícia Militar do Estado de São<br />

Paulo, São Paulo, 1987.<br />

VASCONCELOS, Pedro Ivo de. Atuação <strong>da</strong> PMMG<br />

na Toma<strong>da</strong> de Reféns. Belo Horizonte. 1990. Monografia<br />

(Especialização <strong>em</strong> Gestão Estratégica<br />

<strong>em</strong> Segurança Pública) - Centro de Pesquisa e<br />

Pós-graduação <strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia de Polícia Militar/<br />

Fun<strong>da</strong>ção João Pinheiro, Belo Horizonte. 1990.<br />

* Mediador de Conflitos (Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />

<strong>Rosa</strong>), Doutor <strong>em</strong> História (Instituto de Ciências<br />

Sociais <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Lisboa/Universi<strong>da</strong>de<br />

Federal de Minas Gerais), pós-doutorando <strong>em</strong><br />

História Social <strong>da</strong> Cultura pela UFMG. M<strong>em</strong>bro<br />

<strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia de Letras João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />

Professor de Gestão de Operações Policiais e<br />

Teoria de Polícia na Acad<strong>em</strong>ia de Polícia Militar<br />

de Minas Gerais; de Lógica, Epist<strong>em</strong>ologia<br />

e Análise do Discurso na Pós-graduação <strong>em</strong><br />

Inteligência e Contra-Inteligência <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de<br />

Pitágoras e de Negociação e Mediação de<br />

Conflitos na Pós-graduação <strong>em</strong> Mediação de<br />

Conflitos <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de Batista de Minas Gerais.<br />

Oficial-adjunto do Time de Gerenciamento de<br />

Crises do GATE de Minas Gerais, onde atua<br />

desde 1995.


segurança pública<br />

Nesta abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong>, Sofrimento Psicológico<br />

t<strong>em</strong> o mesmo sentido de “Sofrimento<br />

Psíquico”, e seu significado<br />

segue a descrição cita<strong>da</strong> pela psicóloga<br />

Edinilsa Ramos de Souza, coordenadora<br />

de projetos no Rio de Janeiro: Sofrimento<br />

Psicológico “[...] é um conjunto<br />

de condições psicológicas que, apesar<br />

de não caracterizar uma doença, gera<br />

determinados sinais e sintomas que<br />

indicam sofrimento.” Pod<strong>em</strong>os afiançar<br />

que o sofrimento psicológico acontece<br />

nas adversi<strong>da</strong>des e, muitas vezes, foge<br />

ao domínio <strong>da</strong>s pessoas e Organizações.<br />

Alguns fatores que permeiam as condições<br />

de trabalho dev<strong>em</strong> ser considerados<br />

na identificação <strong>da</strong>s causali<strong>da</strong>des<br />

dos desarranjos psicológicos: condições<br />

de trabalho insatisfatórias, estresse e<br />

falta de preparo para a função, além<br />

de uma necessi<strong>da</strong>de “incondicional”<br />

de se parecer superior ao t<strong>em</strong>po e não<br />

d<strong>em</strong>onstrar fragili<strong>da</strong>de, dentre outros.<br />

Não falamos aqui de uma profissão<br />

específica, mas tais fatores estão presentes<br />

<strong>em</strong> todos os campos de atuação<br />

profissional.<br />

Nessas condições, a pessoa poderá ser<br />

leva<strong>da</strong> à somatização <strong>da</strong>s questões<br />

Ensaio sobre o sofrimento<br />

psicológico de policiais<br />

Álvaro Antônio Nicolau*<br />

Este trabalho reflete a questão do desgaste do policial <strong>em</strong> decorrência de suas ativi<strong>da</strong>des<br />

profissionais, uma vez que é aumenta<strong>da</strong> a possibili<strong>da</strong>de de uma adição <strong>em</strong> sua psique,<br />

sujeitando-o a desarranjos psicológicos. Tal circunstância nos coloca <strong>em</strong> posição de<br />

pesquisador frente à necessi<strong>da</strong>de de se buscar nesse contexto uma identificação <strong>da</strong>s variáveis<br />

do que pode ser uma constatação. Mapeia a necessi<strong>da</strong>de de sair de uma universalização<br />

<strong>da</strong>quilo que não caracteriza a pessoa na sua primazia de ser, enquanto pessoa.<br />

psicológicas <strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as de saúde,<br />

como: pressão alta, insônia e dores de<br />

cabeça, impotência sexual, dentre outras,<br />

pois o profissional não conseguirá,<br />

nessas circunstâncias, li<strong>da</strong>r, sozinho,<br />

com o que enfrenta.<br />

Por outro lado, deve-se considerar que<br />

a psicodinâmica interna <strong>da</strong> pessoa<br />

poderá levá-la a trabalhar <strong>em</strong> excesso<br />

e a divertir-se muito pouco; outras, pelo<br />

contrário, passam os dias a divertir-se.<br />

Nessa cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de, exist<strong>em</strong><br />

outras pessoas que ain<strong>da</strong> não consegu<strong>em</strong><br />

fazer n<strong>em</strong> uma coisa n<strong>em</strong> outra.<br />

Destarte, é de conhecimento que se<br />

pode, hoje, avaliar um funcionamento<br />

psíquico saudável <strong>em</strong> decorrência,<br />

tanto do trabalho, quanto <strong>da</strong> diversão<br />

<strong>em</strong> proporções satisfatórias.<br />

Tal situação é real entre os policiais,<br />

decorrente <strong>da</strong>s cobranças a que estão<br />

sujeitos. É uma reali<strong>da</strong>de presente<br />

principalmente dentre os oficiais que<br />

carregam consigo um conjunto de<br />

neuroses que os colocam <strong>em</strong> situação<br />

de alerta. Um ex<strong>em</strong>plo desse quadro<br />

pode ser encontrado quando a maioria<br />

deles entra de férias, pois absorve um<br />

sentimento de culpa por isso. É como<br />

se não pudess<strong>em</strong> tirar férias e ter<br />

como dever primordial estar s<strong>em</strong>pre<br />

disponíveis e prontos para o “combater<br />

um bom combate” o t<strong>em</strong>po todo. A<br />

profissão os faz<strong>em</strong> assim.<br />

“...a psicodinâmica<br />

interna <strong>da</strong> pessoa<br />

poderá levá-la a<br />

trabalhar <strong>em</strong> excesso<br />

e a divertir-se muito<br />

pouco; outras, pelo<br />

contrário, passam os<br />

dias a divertir-se...”<br />

Por isso, há necessi<strong>da</strong>de de se direcionar<br />

e canalizar adequa<strong>da</strong>mente a<br />

energia psíquica de acordo com sua<br />

própria natureza. Nessa circunstância<br />

é preciso fazer uma escolha a partir <strong>da</strong><br />

vontade <strong>em</strong> corrigir rumos coincidentes<br />

com o desejo e convicções próprias.<br />

Adequando isso, poderá o policial ter<br />

b<strong>em</strong> ajusta<strong>da</strong> sua ação a partir de sua<br />

própria energia.<br />

Em quaisquer situações é preciso deixar<br />

que as coisas sigam sua natureza, mas<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

45


segurança pública<br />

é importante perceber a existência<br />

dos surtos psicóticos, porque eles e<br />

a formação <strong>da</strong>s neuroses depend<strong>em</strong><br />

<strong>da</strong> estrutura <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de que a<br />

pessoa desenvolve desde o início <strong>da</strong> sua<br />

vi<strong>da</strong>, chegando a certa configuração<br />

relativamente estável, após o período<br />

de ebulição <strong>da</strong> adolescência, quando<br />

as condições sociais são relativamente<br />

favoráveis, antes mesmo de a pessoa<br />

entrar no processo produtivo.<br />

Por isso, o planejamento dos procedimentos<br />

de admissão e treinamento,<br />

conjugado com um programa de<br />

acompanhamento profissional, é<br />

muito importante para a formação do<br />

policial que desenvolve suas ativi<strong>da</strong>des<br />

no Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social - caso de<br />

Minas Gerais.<br />

Dessa forma, é preciso considerar que,<br />

ao contrário do que se pensa, a Organização<br />

do Trabalho não cria doenças<br />

mentais específicas. Mas, dev<strong>em</strong>os<br />

ponderar que “o defeito crônico de<br />

uma vi<strong>da</strong> mental s<strong>em</strong> saí<strong>da</strong> mantido<br />

pela organização do trabalho, t<strong>em</strong><br />

provavelmente um efeito que favorece<br />

as descompensações psiconeuróticas”<br />

(DEJOURS, 1992, p. 122).<br />

Por decorrência, estudos diversos<br />

apontam o estresse - termo publicado<br />

pela primeira vez <strong>em</strong> 1936 pelo médico<br />

Hans Selye na revista científica Nature,<br />

identificando dois tipos de estresse: crônico<br />

e orgânico -, afora outros fatores,<br />

como o vilão que contribui para levar o<br />

profissional ao adoecimento. Pesquisas<br />

nesse sentido avançam ca<strong>da</strong> vez mais.<br />

O estresse é uma resposta do organismo<br />

frente a um perigo. Ele prepara o corpo<br />

para fugir ou lutar. Exist<strong>em</strong> muitas coisas<br />

que disparam os mecanismos<br />

do estresse, que pod<strong>em</strong><br />

ser externas ou<br />

internas,<br />

46 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

agu<strong>da</strong>s ou crônicas. As externas inclu<strong>em</strong><br />

condições físicas adversas (como<br />

dor, frio ou calor excessivos) e situações<br />

psicologicamente estressantes (más<br />

condições de trabalho, probl<strong>em</strong>as de<br />

relacionamentos, insegurança e outras).<br />

Entre as internas, estão também as<br />

condições físicas (doenças <strong>em</strong> geral) e<br />

psicológicas.<br />

“O estresse é uma<br />

resposta do<br />

organismo<br />

frente a um<br />

perigo. Ele<br />

prepara<br />

o corpo<br />

para fugir ou<br />

lutar. ”<br />

Estresse ou Stress pode ser definido<br />

como a soma de respostas físicas e<br />

mentais <strong>da</strong> incapaci<strong>da</strong>de de distinguir<br />

entre o real e as experiências e expectativas<br />

pessoais. Pela definição, inclui a<br />

resposta de componentes físicos e mentais.<br />

Pode ser causado pela ansie<strong>da</strong>de<br />

e pela depressão devido à mu<strong>da</strong>nça<br />

brusca no estilo de vi<strong>da</strong> e a exposição<br />

a um determinado ambiente, que leva<br />

a pessoa a sentir um determinado tipo<br />

de angústia.<br />

Quando os sintomas de estresse persist<strong>em</strong><br />

por um longo intervalo de t<strong>em</strong>po,<br />

pod<strong>em</strong> ocorrer sentimentos de evasão<br />

(ligados à ansie<strong>da</strong>de e depressão). Os<br />

nossos mecanismos de defesa passam<br />

a não responder de uma forma eficaz,<br />

aumentando assim a possibili<strong>da</strong>de de<br />

vir a ocorrer doenças, especialmente de<br />

cunho psicológico.<br />

To<strong>da</strong>s as pessoas estão sujeitas a<br />

ter estresse. T<strong>em</strong>os estresse de curto<br />

prazo, quando perd<strong>em</strong>os o<br />

horário do ônibus, por<br />

ex<strong>em</strong>plo.


segurança pública<br />

Até eventos normais do cotidiano<br />

pod<strong>em</strong> ser estressantes. Outras vezes,<br />

encaramos o estresse de longo prazo,<br />

como discriminação, doença incurável,<br />

separação ou divórcio. Esses eventos<br />

estressantes também afetam nossa<br />

saúde <strong>em</strong> muitos níveis. O estresse<br />

de longo prazo pode elevar o risco<br />

de alguns probl<strong>em</strong>as de saúde, como<br />

depressão.<br />

O estresse agudo é uma reação a<br />

uma ameaça imediata, que pode ser<br />

qualquer situação que é experimenta<strong>da</strong><br />

como um perigo. Algumas pessoas,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, têm ver<strong>da</strong>deiro pavor<br />

de viajar de avião, e quando o faz<strong>em</strong>,<br />

apresentam um estresse passageiro.<br />

Na maioria dessas circunstâncias de estresse<br />

agudo, uma vez eliminado o fator<br />

estressante, a resposta do organismo<br />

se inativa e os níveis dos hormônios<br />

voltam ao normal. Entretanto, a vi<strong>da</strong><br />

cont<strong>em</strong>porânea frequent<strong>em</strong>ente nos<br />

expõe a situações cronicamente estressantes,<br />

e a resposta do organismo ao<br />

estresse não é suprimi<strong>da</strong>.<br />

Dentre os fatores estressantes crônicos,<br />

estão a pressão no trabalho, probl<strong>em</strong>as<br />

de relacionamento, solidão, probl<strong>em</strong>as<br />

financeiros e a insegurança. Tudo muito<br />

próximo <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s<br />

pelos policiais.<br />

Na concepção de que o hom<strong>em</strong> é um<br />

ser biopsicossocial, identificamos vários<br />

fatores que interag<strong>em</strong> causando probl<strong>em</strong>as,<br />

segundo tal perspectiva. Nesse<br />

sentido, já se sabe que, por razão dos<br />

fatores biológicos, a reação ao estresse<br />

t<strong>em</strong> forte componente genético, além<br />

de depender <strong>da</strong> reativi<strong>da</strong>de do sist<strong>em</strong>a<br />

nervoso autonômico, e é influencia<strong>da</strong><br />

por aspectos biológicos de gênero.<br />

T<strong>em</strong>os, ain<strong>da</strong>, os fatores psicológicos<br />

que nos orientam quanto à interpretação<br />

dos eventos estressantes, e<br />

têm papel determinante <strong>em</strong> como se<br />

responde ao estresse. Assim, a pessoa<br />

é leva<strong>da</strong> a ver ou não o estressor como<br />

uma ameaça ou ain<strong>da</strong> a perceber os<br />

eventos estressores sociais como controle<br />

e protetores contra o estresse.<br />

Dev<strong>em</strong>os considerar também as<br />

respostas de estratégias de coping - esforços<br />

dispendidos para li<strong>da</strong>r com situações<br />

de <strong>da</strong>no, de ameaça ou de desafio<br />

quando não está disponível uma rotina<br />

ou uma resposta automática.<br />

Em situações indutoras de estresse, é<br />

pertinente ao indivíduo aprender a li<strong>da</strong>r<br />

com o probl<strong>em</strong>a e com as <strong>em</strong>oções <strong>da</strong>í<br />

resultantes. Então, para aprender a li<strong>da</strong>r<br />

com o probl<strong>em</strong>a, as pessoas pod<strong>em</strong><br />

ficar centra<strong>da</strong>s <strong>em</strong> suas <strong>em</strong>oções ou<br />

centra<strong>da</strong>s no probl<strong>em</strong>a, minimizando<br />

ou exarcebando o estresse.<br />

O estresse provoca sofrimento psicológico<br />

e afeta o sist<strong>em</strong>a nervoso autonômico,<br />

além do sist<strong>em</strong>a neuroendócrino.<br />

Mu<strong>da</strong>nças neuroendócrinas pod<strong>em</strong><br />

<strong>da</strong>nificar neurônios e prejudicar a<br />

habili<strong>da</strong>de do organismo <strong>em</strong> li<strong>da</strong>r com<br />

o estímulo estressante.<br />

“O estresse provoca<br />

sofrimento psicológico<br />

e afeta o sist<strong>em</strong>a<br />

nervoso autonômico,<br />

além do sist<strong>em</strong>a<br />

neuroendócrino.”<br />

Mas o estresse ruim gera um abatimento<br />

ou sensação de pânico, um<br />

quadro de exaustão ou fadiga se<br />

instala, causando pressão alta, alterações<br />

hormonais, de TPM, acúmulo de<br />

gordura no organismo.<br />

Aparece também a angústia como<br />

pano de fundo de muitos desarranjos<br />

psicológicos . Ela causa doenças como<br />

gastrite e, ao liberar as <strong>em</strong>oções ruins<br />

como a mágoa, há um melhoramento<br />

geral. Compreender os sentimentos<br />

e <strong>em</strong>oções leva a uma atitude que<br />

constrói uma rede que atua <strong>da</strong> região<br />

glandular, estendendo-se por todo o<br />

corpo.<br />

O policial, sujeito a todo tipo de pressão,<br />

pode ser conduzido a uma situação tão<br />

incomum que não encontra possibili<strong>da</strong>de<br />

de envolvimento <strong>em</strong>ocional com<br />

a profissão, mas também dev<strong>em</strong>os<br />

considerar aspectos ligados ao lado<br />

material.<br />

Dejours (1992) diz que a execução de<br />

uma tarefa s<strong>em</strong> envolvimento material<br />

ou afetivo exige esforço de vontade<br />

que é suportado pelo jogo <strong>da</strong> motivação<br />

e do desejo. No que diz respeito<br />

à relação do hom<strong>em</strong> com o conteúdo<br />

significativo do trabalho, esclarece ele<br />

que, quando se bloqueia o progresso<br />

e o avanço dessa relação por algum<br />

motivo ou circunstância, observa-se a<br />

incidência do sofrimento.<br />

Nessa consideração do hom<strong>em</strong> como<br />

um ser biopsicossocial, t<strong>em</strong>os ain<strong>da</strong> os<br />

fatores sociais. O estresse social pode<br />

levar a reações de coping mal a<strong>da</strong>ptativas.<br />

A condição socioeconômica e a<br />

disponibili<strong>da</strong>de de suporte social pod<strong>em</strong><br />

proteger contra o estresse; o estresse<br />

social aumenta o nível de hormônio<br />

cortisol, o que leva ao aumento <strong>da</strong><br />

secreção de insulina e níveis elevados<br />

destes dois hormônios aumentam, por<br />

sua vez, o risco de doenças do coração.<br />

Como se pode perceber, o tratamento<br />

pela psicologia é relevante ao recepcionar<br />

o estresse, b<strong>em</strong> como na profilaxia<br />

de doenças decorrentes <strong>da</strong> grande<br />

influência dos fatores psicológicos nos<br />

mecanismos biológicos do estresse e<br />

de sua forte interação com os fatores<br />

sociais.<br />

Isso nos leva a estu<strong>da</strong>r a presença<br />

do sofrimento psicológico dentre os<br />

policiais. Nesse sentido, faz<strong>em</strong>-se recair<br />

a avaliação <strong>em</strong> questões atinentes aos<br />

distúrbios psicóticos e não-psicóticos,<br />

como também sobre saúde, condições<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

47


segurança pública<br />

de trabalho e quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>. Enseja<br />

uma pesquisa estrutura<strong>da</strong> para tal fim<br />

que resulte <strong>em</strong> adequações possíveis<br />

e vinculativas ao desenvolvimento<br />

<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des policiais que se ligam a<br />

sintomas identificados, mesmo que de<br />

forma aleatória.<br />

A quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, principalmente<br />

quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> no trabalho, t<strong>em</strong><br />

sua importância nesse propósito de se<br />

medir a saúde psicológica do policial<br />

<strong>em</strong> quaisquer circunstâncias <strong>em</strong> que<br />

ele se encontre, ou pelas situações que<br />

já passou. Não interessa, no caso, <strong>em</strong><br />

quais setores, se homens ou mulheres,<br />

mesmo porque não identificamos nas<br />

polícias programa específico para apoio<br />

<strong>em</strong>ocional e psicológico aos profissionais,<br />

<strong>em</strong>bora possuam, algumas delas,<br />

uma agen<strong>da</strong> positiva nesse contexto,<br />

<strong>em</strong> que na estrutura existe um segmento<br />

específico para cui<strong>da</strong>r disso.<br />

“A quali<strong>da</strong>de de<br />

vi<strong>da</strong>, principalmente<br />

quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong><br />

no trabalho, t<strong>em</strong> sua<br />

importância nesse<br />

propósito de se medir<br />

a saúde psicológica do<br />

policial <strong>em</strong> quaisquer<br />

circunstâncias...”<br />

Dejours (1992) nos ensina ser o sofrimento<br />

humano inerente ao processo<br />

laboral, levando-nos a compreender<br />

suas causas tendo <strong>em</strong> vista modificálo<br />

e reorganizar, se for o caso, seu<br />

processo. Ao fazer referência sobre a<br />

relação trabalho-saúde, ele defende<br />

que o trabalho não é neutro <strong>em</strong> relação<br />

à saúde, e pode contribuir para o adoecimento<br />

dos trabalhadores.<br />

Considerando o trabalho do policial, dev<strong>em</strong>os<br />

ter <strong>em</strong> mente que o ato de “ser<br />

polícia” se vincula a uma ativi<strong>da</strong>de que<br />

48 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

alia cobrança institucional, disciplina<br />

rígi<strong>da</strong> e um alto risco ocupacional, que<br />

é s<strong>em</strong>pre medido, pois as circunstâncias<br />

n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre são favoráveis.<br />

Noutras conjunturas, o policial trabalha<br />

com situações que pod<strong>em</strong> provocar<br />

inclusive a morte, até mesmo <strong>da</strong>no à<br />

integri<strong>da</strong>de dele próprio e de outr<strong>em</strong>.<br />

Também, o policial t<strong>em</strong> o “poder” de<br />

decidir, de acordo com as circunstâncias,<br />

sobre a vi<strong>da</strong> e sobre a morte de<br />

alguém. Tanto poder incrustado <strong>em</strong><br />

sua li<strong>da</strong> diária pode torná-lo incontrolável<br />

e subjacente a si mesmo no<br />

desenvolvimento de suas ativi<strong>da</strong>des,<br />

simplesmente por visão difusa do seu<br />

sentido de ser-no-mundo.<br />

Aliar-se a tal poder ou definir-se pela<br />

ética institucional no vir-a-ser é parte<br />

de um possível, e pode levar o policial a<br />

uma concepção doentia se fragiliza<strong>da</strong>s<br />

as lições acadêmicas, ou perdi<strong>da</strong>s na<br />

formação experiencia<strong>da</strong> ou vivencia<strong>da</strong><br />

no dia-a-dia <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de.<br />

Por isso mesmo, definir-se pelas escolhas<br />

<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des deve ser fun<strong>da</strong>mento na<br />

condução desse propósito, porquanto<br />

a especifici<strong>da</strong>de está exatamente <strong>em</strong><br />

adequar-se ao “projeto de vi<strong>da</strong>”, ao<br />

tornar-se policial. As ações, no contexto<br />

<strong>da</strong> atuação profissional, são preponderant<strong>em</strong>ente<br />

de orig<strong>em</strong> policial, e<br />

necessitam que a formação produza<br />

uma transformação na pessoa, que<br />

passe pelo sentido de desenvolvimento<br />

humano.<br />

Nesse caso, a far<strong>da</strong> do policial-militar<br />

não pode ser vista como simplesmente<br />

um componente, um instrumento facilitador<br />

do desvio de conduta, porquanto<br />

se perderia na pereni<strong>da</strong>de institucional.<br />

Essa situação permeia as ativi<strong>da</strong>des dos<br />

profissionais, cujas participações no <strong>em</strong>bate<br />

cotidiano nos diversos contextos<br />

sociais exig<strong>em</strong> controle <strong>em</strong>ocional,<br />

mesmo porque as decisões precisam<br />

ser rápi<strong>da</strong>s e obedientes às normas. Por<br />

isso mesmo, não passam despercebi<strong>da</strong>s<br />

as necessi<strong>da</strong>des do fortalecimento no<br />

desenvolvimento profissional do policial<br />

por meio <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des técnicas,<br />

humanas e conceituais.<br />

“...a far<strong>da</strong> do<br />

policial-militar não<br />

pode ser vista como<br />

simplesmente um<br />

componente, um<br />

instrumento facilitador<br />

do desvio de conduta...”<br />

Em sua li<strong>da</strong> e diante de um ver<strong>da</strong>deiro<br />

confronto com a criminali<strong>da</strong>de e violência,<br />

além <strong>da</strong> falta de reconhecimento<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, percebe-se que o policial<br />

passa por um estresse ocupacional<br />

muito grande. Isso desencadeia consequências<br />

<strong>da</strong>nosas à sua saúde física,<br />

mental e psicológica, além de afetar<br />

as suas relações familiares, sociais e<br />

profissionais.<br />

É por isso mesmo que a Saúde Psicológica<br />

do Policial, <strong>em</strong> que pese as mais<br />

diversas variáveis causais, precisa ser<br />

percebi<strong>da</strong> também do ponto de vista <strong>da</strong><br />

Quali<strong>da</strong>de de Vi<strong>da</strong> no Trabalho na interface<br />

com um sist<strong>em</strong>a de acolhimento<br />

reconhecido pela organização, <strong>em</strong> vista<br />

minimizar os estados depressivos e de<br />

estresse a que estão submetidos.<br />

Parece haver algo maior nessa contextualização<br />

que recebe o reflexo <strong>da</strong><br />

forma como as organizações policiais<br />

enfrentam tal situação de adoecimento<br />

psicológico de seus componentes.<br />

Outras interferências são importantes<br />

também e dev<strong>em</strong> ser considera<strong>da</strong>s<br />

como base na sist<strong>em</strong>ática a ser implanta<strong>da</strong><br />

pelos governantes, por decorrência<br />

de política pública.<br />

No Brasil, persiste um conflito que<br />

desvaloriza a autori<strong>da</strong>de. Por mais


“...o policial passa por um estresse<br />

ocupacional muito grande. Isso desencadeia<br />

consequências <strong>da</strong>nosas à sua saúde física,<br />

mental e psicológica, além de afetar as suas<br />

relações familiares, sociais e profissionais. “<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

49


segurança pública<br />

que os agentes políticos cometam<br />

“absurdos”, quando se fala de algo<br />

pertinente às Polícias, a socie<strong>da</strong>de, essa<br />

mesma socie<strong>da</strong>de de onde originaram<br />

os policiais, procura desvalorizá-los e<br />

denegrir sua imag<strong>em</strong>. Atua de maneira<br />

forte e episódica traduzindo-se <strong>em</strong><br />

contornos psicológicos contraditórios<br />

na pessoa do profissional. O adoecimento<br />

é consequência também disso.<br />

Ao avançar na projeção, preparação<br />

e planejamento de uma pesquisa<br />

mais profun<strong>da</strong> no Estado de Minas<br />

Gerais sobre o assunto <strong>em</strong> questão,<br />

<strong>em</strong> exame documental foi encontrado<br />

num trabalho promovido pelo<br />

Laboratório de Saúde do Trabalhador<br />

<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Brasília a<br />

constatação de que, no Brasil, mais<br />

de 83 mil trabalhadores são afastados<br />

de suas ativi<strong>da</strong>des, anualmente, por<br />

probl<strong>em</strong>as de saúde psíquica. Os<br />

estudos d<strong>em</strong>onstraram que, entre<br />

2000 e 2006, tais afastamentos<br />

aumentaram 260%.<br />

Aponta ain<strong>da</strong> tal estudo que os<br />

transtornos de humor (depressão)<br />

aparec<strong>em</strong> como a segun<strong>da</strong> maior<br />

causa de ausência ao trabalho no<br />

País e situam os probl<strong>em</strong>as mentais<br />

(ou psicológicos) numa categoria<br />

acima do grupo de doenças por<br />

lesões por esforço repetitivo (LER),<br />

como tendinites e tenossinovites. Tal<br />

quadro, a partir de 2007, precisa ser<br />

pesquisado.<br />

Organização Mundial de Saúde<br />

identifica a saúde do ser humano<br />

como o completo b<strong>em</strong>-estar biológico,<br />

psicológico e social, e não apenas<br />

a ausência de doença. A doença<br />

profissional é caracteriza<strong>da</strong> como<br />

aquela produzi<strong>da</strong> ou desencadea<strong>da</strong><br />

pelo exercício do trabalho peculiar<br />

a determina<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de e a doença<br />

do trabalho é caracteriza<strong>da</strong> como<br />

aquela adquiri<strong>da</strong> ou desencadea<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> função de condições especiais <strong>em</strong><br />

que o trabalho é realizado.<br />

50 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

Nesse diapasão, ressalto algumas<br />

doenças por se definir<strong>em</strong> por circunstâncias<br />

específicas e de interesses<br />

nesse estudo: a depressão, que é a<br />

maior causa de que<strong>da</strong> <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de<br />

profissional acarretando, como consequência,<br />

ansie<strong>da</strong>de, angústia e medo;<br />

o estresse, que pode ser causado pelo<br />

aumento <strong>da</strong> competição no trabalho,<br />

dificul<strong>da</strong>des no dia-a-dia, medo <strong>da</strong><br />

per<strong>da</strong> do <strong>em</strong>prego e também devido<br />

ao aumento tecnológico; a fadiga,<br />

que é provoca<strong>da</strong> pela inadequação do<br />

processo de trabalho; provoca uma diminuição<br />

<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de do organismo<br />

produzir e, por conseguinte, a que<strong>da</strong><br />

na quali<strong>da</strong>de de trabalho do individuo.<br />

É causado por um trabalho contínuo<br />

s<strong>em</strong> motivação para executá-lo. É um<br />

desgaste físico e mental.<br />

A Organização Mundial<br />

de Saúde identifica a<br />

saúde do ser humano<br />

como o completo<br />

b<strong>em</strong>-estar biológico,<br />

psicológico e social, e<br />

não apenas a ausência<br />

de doença.<br />

Certamente que numa circunstância<br />

conforme a menciona<strong>da</strong>, precisou<br />

identificar formas de prevenção do<br />

adoecimento no trabalho. Penso que<br />

se deve compreender um ambiente<br />

de trabalho num sentido mais amplo,<br />

e não apenas riscos isolados. Também<br />

se deve considerar nessa interface: a<br />

organização do trabalho, as relações<br />

de trabalho e diversos outros fatores,<br />

que se somados, contribu<strong>em</strong> de forma<br />

multicausal para o adoecimento psicológico<br />

do profissional.<br />

Não dá mais para falar <strong>em</strong> riscos isolados,<br />

pois não sustenta a explicação<br />

<strong>da</strong>s causas dos policiais adoecer<strong>em</strong>,<br />

mesmo porque os riscos, na reali<strong>da</strong>de,<br />

se potencializam.<br />

A prevenção significa abor<strong>da</strong>r as causas<br />

na sua fonte e analisar os ambientes de<br />

trabalho, para eliminar ou minimizar<br />

tais causas ou reduzir suas influências,<br />

b<strong>em</strong> como conscientizar os atores para<br />

sua efetiva participação nos programas,<br />

quando existentes.<br />

Considerando a situação do policial,<br />

ativi<strong>da</strong>de que experienciei e vivenciei<br />

por mais de trinta anos, me permito<br />

dizer que ele, de modo geral e decorrente<br />

<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des que executa pela<br />

orientação profissional, além <strong>da</strong> rigidez<br />

<strong>da</strong> legislação e d<strong>em</strong>ais pertinentes,<br />

de ord<strong>em</strong> interna e externa, pertence<br />

a uma <strong>da</strong>s profissões que mais sofre<br />

estresse, que mais se oprime, mas se<br />

expressa normalmente de maneira<br />

ordeira.<br />

Ca<strong>da</strong> vez mais, o grupo orig<strong>em</strong> do policial<br />

sente os efeitos devastadores desse<br />

incomodo do adoecimento psicológico.<br />

Muitas vezes a doença manifesta-se de<br />

forma intrínseca e oculta <strong>em</strong> relação<br />

à conduta do policial, mas abre uma<br />

feri<strong>da</strong> reconheci<strong>da</strong> pelos ci<strong>da</strong>dãos ou<br />

pela família do profissional, por meio<br />

de seus atos incompatíveis ou incompreensíveis,<br />

ele faz de seu desvio de<br />

conduta uma forma ofensiva aos que<br />

lhe são mais próximos.<br />

É evidente que, se tratando de um<br />

agente público, há necessi<strong>da</strong>de que a<br />

postura governamental seja parte do<br />

contexto. De outra sorte, o importante<br />

é que nos últimos dez anos tal postura<br />

governamental mudou e o sentido de<br />

ser <strong>da</strong>s pessoas frente ao desafio do<br />

combate à criminali<strong>da</strong>de, mormente <strong>em</strong><br />

Minas Gerais, ganhou contornos novos.<br />

Há um interesse público diferenciado<br />

na condução dessa questão.<br />

Do ponto de vista dessa nova forma<br />

de enxergar a Segurança Pública e a


segurança pública<br />

Corporação policial, <strong>em</strong> Minas Gerais,<br />

present<strong>em</strong>ente, é percebi<strong>da</strong> de forma<br />

diferente e, talvez, haja ambiente<br />

propício para que as autori<strong>da</strong>des<br />

repens<strong>em</strong> também a postura frente ao<br />

ci<strong>da</strong>dão far<strong>da</strong>do, que é um guardião <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />

Pod<strong>em</strong>os adiantar certo sucesso nesse<br />

enfrentamento. Sim, é um ver<strong>da</strong>deiro<br />

enfrentamento, mesmo porque não se<br />

valorizava adequa<strong>da</strong>mente o policial e,<br />

hoje, o governo valoriza um pouco.<br />

Nesse processo, leva-se <strong>em</strong> consideração<br />

o alto nível de exigência a que se<br />

submet<strong>em</strong> os profissionais de polícia,<br />

<strong>em</strong> face <strong>da</strong> criminali<strong>da</strong>de e violência,<br />

pelas metas a ser<strong>em</strong> alcança<strong>da</strong>s.<br />

Esse ato de tão-somente cumprir os<br />

compromissos exigidos pelos modelos<br />

que privilegiam a eficácia do sist<strong>em</strong>a<br />

de segurança por números, traz, nas<br />

entrelinhas, o rito de fatores estressores<br />

que pod<strong>em</strong> produzir adoecimento, pois<br />

são por d<strong>em</strong>ais cartesianos, além de<br />

universalizar as questões de segurança<br />

pública e suas consequências, e possibilitar<br />

também uma universalização dos<br />

desarranjos psicológicos dos policiais.<br />

Isso abre um novo debate na agen<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> Segurança Pública e propicia uma<br />

agen<strong>da</strong> nova sobre o avanço <strong>da</strong> percepção<br />

<strong>da</strong>s pessoas que compõ<strong>em</strong> as<br />

organizações policiais.<br />

Defini<strong>da</strong> a política publica, o sist<strong>em</strong>a<br />

de Defesa Social, <strong>em</strong> Minas Gerais,<br />

dá passos largos no sentido <strong>da</strong> efetivação<br />

de investimento majoritário na<br />

infraestrutura por meio de melhores<br />

instalações, além <strong>da</strong> aquisição de<br />

carros, rádios, armas, aumento de<br />

efetivo, salários, dentre outros. Tudo<br />

feito com a finali<strong>da</strong>de de reduzir<br />

a violência. To<strong>da</strong>via, tal iniciativa,<br />

<strong>em</strong>bora importante, por fortalecer a<br />

logística necessária para <strong>da</strong>r vazão<br />

ao combate ao crime e criminali<strong>da</strong>de,<br />

deve possibilitar e buscar pertinência<br />

para potencializar a figura do policial.<br />

Se permanecer o foco somente no<br />

logístico e relegar a um plano menor<br />

os policiais, supedâneos do controle<br />

criminal, os fatos cont<strong>em</strong>porâneos que<br />

decorrer<strong>em</strong> desse episódio poderão<br />

provocar uma crise s<strong>em</strong> precedentes,<br />

posta<strong>da</strong> no adoecimento psicológico<br />

dos profissionais.<br />

Em decorrência de to<strong>da</strong>s as questões<br />

relata<strong>da</strong>s, abre-se espaço para reafirmar<br />

a necessi<strong>da</strong>de de se reforçar a pessoa do<br />

policial, não num sentido materialista<br />

e universal, conforme já d<strong>em</strong>onstrado,<br />

mas num sentido primordial de voltar-se<br />

ao primário, ao principio do Ser. Enfim,<br />

considerá-lo pessoa do fazer.<br />

Sendo assim, ao dissimular<strong>em</strong> ações<br />

especificas de acolhimento ao policial<br />

enquanto pessoa, as autori<strong>da</strong>des deixam<br />

de perceber que são protagonistas de<br />

favorecimento do desvio psicológico.<br />

O propósito é que os policiais, como<br />

construtores de sua própria história e<br />

parte de uma cultura de profissionais<br />

com base humanizante, possam superarse<br />

nas contingências de horários desfocados<br />

<strong>da</strong> rotina familiar, salário indigno,<br />

jorna<strong>da</strong>s estressantes, <strong>em</strong>bates diários<br />

com a população, contato direto com as<br />

piores tragédias humanas, permanente<br />

risco de vi<strong>da</strong> e, ain<strong>da</strong>, o tratamento<br />

disciplinar com visão míope de alguns<br />

gestores de segurança, políticos intrometidos,<br />

dentre outros, e não agir<strong>em</strong> de<br />

má-fé. To<strong>da</strong>via, fica no ar um sentimento<br />

de certo abandono, de descaso pelo<br />

poder público.<br />

O policial precisa cui<strong>da</strong>r de sua existência<br />

e existir de fato nesta cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de.<br />

Existir é Ex-sistere, Ser-Para-Fora,<br />

<strong>em</strong>ergir, revelar, sobressair. Nesse sentido,<br />

precisamos passar pelos conceitos existenciais<br />

para uma melhor compreensão<br />

<strong>da</strong> extensão do que se propõe a fazer,<br />

ao final, por uma pesquisa qualitativa<br />

e quantitativa, sobre o adoecimento<br />

psicológico de policiais, que passe pela<br />

Psicologia Fenomenológico-Existencial.<br />

“O Policial precisa<br />

cui<strong>da</strong>r de sua existência<br />

e existir de fato nesta<br />

cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de.”<br />

Para Feijoo (2000, p. 74-86), a existência<br />

significa o ser do ente-do-hom<strong>em</strong>, ou<br />

pre-sença significa o ente cuja essência<br />

é o existir que estabelece uma relação<br />

consigo mesmo. Num modo impróprio,<br />

essa relação do ser com o ente se dá<br />

pela convenção do prazer, do interesse,<br />

<strong>da</strong> profissão. O eu não se dá s<strong>em</strong> o<br />

mundo, s<strong>em</strong> o outro. É um ser-<strong>em</strong> que<br />

é um ser-com os outros. É um mundo<br />

compartilhado, um mundo <strong>da</strong> presença.<br />

Esse ser-com, ser-no-mundo, se fun<strong>da</strong><br />

no fenômeno do cui<strong>da</strong>do: <strong>da</strong> preocupação<br />

e ocupação.<br />

O estar-no-mundo ou ser-no-mundo,<br />

que é determinação de presença, t<strong>em</strong><br />

três aspectos: o mundo, que facilita<br />

a transformação; o ser do existente,<br />

que diz respeito às possibili<strong>da</strong>des; e<br />

o ser-<strong>em</strong> que implica objetivar-se no<br />

mundo, de acordo com o caráter de<br />

intencionali<strong>da</strong>de.<br />

O existencialismo nos proporciona<br />

esse contexto, pois é uma doutrina<br />

filosófica, a partir <strong>da</strong> qual a Psicologia<br />

Existencial se constitui, considerando o<br />

hom<strong>em</strong> lançado no mundo, e entregue<br />

a si mesmo, onde o Ser constrói-se a<br />

ca<strong>da</strong> ação. A existência se constitui <strong>em</strong><br />

lançar, <strong>em</strong> arriscar e não há nenhuma<br />

garantia. Se não há garantia, se não se<br />

pode prever ou antecipar o futuro, parece<br />

impossível uma ação preventiva.<br />

Não há uma receita pronta para o<br />

existir de acordo com pensamento<br />

existencialista, e os principais t<strong>em</strong>as<br />

existencialistas são: angústia, solidão,<br />

crises existenciais, liber<strong>da</strong>de, morte,<br />

sentido, escolha, risco, compromisso,<br />

encontro, responsabili<strong>da</strong>de, autentici<strong>da</strong>de,<br />

diferenças individuais e projetos<br />

de vi<strong>da</strong>. O policial cont<strong>em</strong>porâneo, na<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

51


segurança pública<br />

busca de Ser - ser-humano, sendo consciente<br />

e responsável pela sua existência,<br />

li<strong>da</strong> com to<strong>da</strong>s essas condições.<br />

“Não há uma receita<br />

pronta para o existir de<br />

acordo com pensamento<br />

existencialista...”<br />

Acontece que as circunstâncias poderão<br />

levar a um conflito existencial<br />

caracterizado até mesmo pelo modelo<br />

de gestão. Tal circunstância <strong>da</strong> gestão,<br />

pelo fato <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de de se fazer o<br />

reconhecimento do Ser, pode propiciar<br />

resultados generosos de altos índices<br />

de absenteísmo, além dos hospitais<br />

abarrotados de policiais com hipertensão,<br />

doenças coronárias e do trato<br />

digestivo, alcoolismo, drogadição e até<br />

mesmo a ocorrência de suicídio. Não há<br />

humani<strong>da</strong>de nisto.<br />

O Coronel <strong>da</strong> PM de São Paulo, José<br />

Vicente <strong>da</strong> Silva, <strong>em</strong> 2000, escreveu no<br />

Jornal <strong>da</strong> Tarde <strong>da</strong>quele Estado sobre<br />

estresse policial. Assim se expressou:<br />

Nenhum Estado brasileiro t<strong>em</strong> programa<br />

de valorização dos recursos<br />

humanos policiais, que cuide concretamente<br />

<strong>da</strong> autoestima e de outras<br />

necessi<strong>da</strong>des críticas: salários, atendimento<br />

médico-hospitalar, oportuni<strong>da</strong>des<br />

de carreira, condições ambientais<br />

adequa<strong>da</strong>s, programas de<br />

moradia, transporte e alimentação,<br />

prevenção dos riscos profissionais.<br />

S<strong>em</strong> esse investimento o potencial<br />

de crise funcional na polícia continuará<br />

ardendo e erupções ocorrerão,<br />

queiram ou não as autori<strong>da</strong>des, permitam<br />

ou não as leis (SILVA, 2000).<br />

Passados quase dez anos, alguma coisa<br />

mudou, to<strong>da</strong>via prevalece a situação<br />

enigmática de prevalência <strong>da</strong>s possessões<br />

materialistas e, com muito vagar, a<br />

questão <strong>da</strong> saúde psicológica é trata<strong>da</strong>.<br />

Então, não mudou muito.<br />

52 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

Mas há um alento. Mu<strong>da</strong>nças significativas<br />

na área <strong>da</strong> Segurança estão<br />

ocorrendo na socie<strong>da</strong>de nas últimas<br />

déca<strong>da</strong>s, mesmo porque a crescente<br />

escala<strong>da</strong> <strong>da</strong> violência, conjuga<strong>da</strong> com<br />

a banalização <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas e<br />

organizações, além do descaso com<br />

o próximo, os homicídios, sequestros,<br />

assaltos e d<strong>em</strong>ais delitos, levam a uma<br />

situação angustiante.<br />

“Mu<strong>da</strong>nças<br />

significativas na área<br />

<strong>da</strong> Segurança estão<br />

ocorrendo na socie<strong>da</strong>de<br />

nas últimas déca<strong>da</strong>s.”<br />

Tal circunstância coloca na socie<strong>da</strong>de<br />

um grande sentimento de insegurança<br />

e o policial, dentre os diversos atores<br />

envolvidos nesse cenário, sofre o<br />

impacto desta situação de forma massacrante.<br />

Sua rotina estressante, por<br />

figurar no cerne desta questão, como<br />

também seus constantes <strong>em</strong>bates com<br />

criminosos, além <strong>da</strong> própria rotina de<br />

sua vi<strong>da</strong>, afora a desvalorização <strong>da</strong> sua<br />

ativi<strong>da</strong>de, também a baixa autoestima<br />

como consequência desse estado de<br />

coisas, são muitas vezes fontes de<br />

desvio de conduta.<br />

Esse quadro reforça a visão psicológica<br />

e social do policial que é, na maioria<br />

<strong>da</strong>s vezes, negativa, pois a socie<strong>da</strong>de<br />

o compreende como um ser perfeito<br />

e não admite seus erros. Surge, assim,<br />

um círculo vicioso perverso, mas<br />

também um distanciamento ca<strong>da</strong><br />

vez maior entre polícia e socie<strong>da</strong>de,<br />

<strong>em</strong>bora os conceitos “comunitários”<br />

estejam aí, com vistas à criação de<br />

novo paradigma.<br />

As notícias divulga<strong>da</strong>s pela mídia<br />

brasileira s<strong>em</strong>pre tratam dos acontecimentos<br />

que envolv<strong>em</strong> a polícia como<br />

parte de uma “agen<strong>da</strong> obrigatória”.<br />

Ganham realce quando se refer<strong>em</strong> a<br />

acontecimentos nas principais capitais<br />

do País, especialmente no Rio de Janeiro,<br />

São Paulo, Belo Horizonte e outras.<br />

Mas, quando acontece no Rio de Janeiro,<br />

torna-se palco dos mais evidentes<br />

acontecimentos que chocam a opinião<br />

pública. Nesse Estado, a criminali<strong>da</strong>de e<br />

a violência é algo inusitado e, na maioria<br />

<strong>da</strong>s vezes, tais manchetes ganham o<br />

mundo <strong>em</strong> face do poderio tecnológico<br />

disponível à comunicação. A própria<br />

cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de cui<strong>da</strong> dessa diss<strong>em</strong>inação<br />

de notícia e a marca dessa<br />

época é o fenômeno <strong>da</strong> globalização,<br />

que pode ser definido como uma rede<br />

de informação à distancia e de fluxo<br />

contínuo.<br />

Por isso mesmo, é necessário compreender<br />

o trabalho policial como uma<br />

via de mão dupla, onde ele deve ser<br />

respeitado pela socie<strong>da</strong>de, e a respeita.<br />

Onde os sentimentos sejam recíprocos,<br />

e isso só é possível com o hom<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

bom estado <strong>em</strong>ocional. To<strong>da</strong>via, no<br />

aqui e agora, isso não existe, os valores<br />

foram invertidos e ain<strong>da</strong> não foram<br />

encontrados.<br />

“...é necessário<br />

compreender o trabalho<br />

policial como uma via<br />

de mão dupla, onde<br />

ele deve ser respeitado<br />

pela socie<strong>da</strong>de, e a<br />

respeita.”<br />

No Rio de Janeiro isso é muito evidente,<br />

pois as comunicações ultrapassam as<br />

barreiras nacionais, dos estados, e pela<br />

alta tecnologia, estabelece um rápido e<br />

contínuo fluxo de <strong>da</strong>dos fazendo com<br />

que sons, imagens e textos cruz<strong>em</strong> o<br />

Planeta de forma aberta, s<strong>em</strong> controle<br />

e s<strong>em</strong> limites. Talvez aí esteja uma <strong>da</strong>s<br />

razões pelas quais essa ci<strong>da</strong>de é uma<br />

<strong>da</strong>s mais violentas na visão dos povos.


<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

53


segurança pública<br />

A “Ci<strong>da</strong>de Maravilhosa” encanta o<br />

mundo com suas belas praias e com<br />

suas lin<strong>da</strong>s mulheres. O que mais se<br />

evidencia nos meios de comunicações<br />

não se vincula tão-somente às mulheres<br />

mais lin<strong>da</strong>s desta nação, mas<br />

também, e muito fort<strong>em</strong>ente, é trata<strong>da</strong><br />

a atuação do tráfico de drogas,<br />

quadrilhas organiza<strong>da</strong>s e outras ações<br />

do gênero. Uma luta arma<strong>da</strong>, diz<strong>em</strong><br />

uns. Guerra urbana, diz<strong>em</strong> outros. É o<br />

Comando Vermelho. É o PCC... Enfim,<br />

a violência ganha o imaginário dos<br />

brasileiros.<br />

E as forças policiais? Como é o enfrentamento<br />

dessa ver<strong>da</strong>deira crise social?<br />

O policial, por ser a primeira referência<br />

no combate a todo o tipo de mazela,<br />

e, por ser a representação do Estado<br />

nos mais diversos locais, recebe todo<br />

tipo de impacto, principalmente o<br />

psicológico.<br />

A pesquisa feita por Edinilsa Ramos<br />

de Souza, Maria Celina de Souza<br />

Minayo e Patrícia Constantino, do<br />

Centro Latino-Americano de Estudos<br />

<strong>da</strong> Violência e Saúde (Claves), <strong>da</strong><br />

Fun<strong>da</strong>ção Oswaldo Cruz, revelou que<br />

13,9% dos Oficiais <strong>da</strong> PM do Rio de<br />

Janeiro usam tranquilizantes. Entre os<br />

medicamentos mais utilizados estão<br />

ansiolíticos (que diminu<strong>em</strong> ansie<strong>da</strong>de<br />

e tensão), barbitúricos (calmantes),<br />

se<strong>da</strong>tivos e anfetaminas (r<strong>em</strong>édios<br />

para <strong>em</strong>agrecer). Esse percentual está<br />

acima do padrão nacional <strong>da</strong> população,<br />

que gira <strong>em</strong> torno de 5,8%,<br />

entre os jovens, segundo a pesquisadora<br />

Edinilsa Ramos de Souza.<br />

Tal pesquisa identificou ain<strong>da</strong> que<br />

para suportar a pressão e o estresse<br />

<strong>da</strong> rotina do trabalho e <strong>da</strong> violência<br />

na ci<strong>da</strong>de, que é vivencia<strong>da</strong> <strong>em</strong> ca<strong>da</strong><br />

escala de serviços dos policiais cariocas,<br />

13,9% dos oficiais, subtenentes<br />

e sargentos, além de 8,5% dos cabos<br />

e sol<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Polícia Militar do Rio<br />

de Janeiro, faz<strong>em</strong> uso constante de<br />

tranquilizantes.<br />

54 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

Uma conclusão <strong>da</strong> pesquisa foi<br />

que, para extravasar os momentos<br />

de estresse, tensão, risco e falta de<br />

condições satisfatórias de trabalho,<br />

48% dos oficiais, subtenentes e<br />

sargentos e 44,3% dos cabos e<br />

sol<strong>da</strong>dos consom<strong>em</strong> bebi<strong>da</strong> alcoólica<br />

s<strong>em</strong>analmente.<br />

Pelos <strong>da</strong>dos apresentados, pod<strong>em</strong>os<br />

inferir que os Policiais Cariocas viv<strong>em</strong><br />

numa pilha de nervos. Por outro<br />

lado, esse quadro especial vivido<br />

pela Polícia Militar do Rio de Janeiro,<br />

caracterizado pela forte tensão, é um<br />

quadro passível de estar presente <strong>em</strong><br />

to<strong>da</strong>s as forças policiais dos estados<br />

brasileiros que, de modo geral, viv<strong>em</strong><br />

no desconforto, na descrença, na<br />

desvalorização, no menosprezo e<br />

relega<strong>da</strong>s à própria sorte.<br />

A apatia do poder público, <strong>em</strong> grande<br />

parte, somado aos reveses constantes<br />

de políticos que teimam <strong>em</strong> intervir nos<br />

casos de polícia com o jargão “você<br />

sabe com qu<strong>em</strong> está falando?”, gera o<br />

caos e grande prejuízo ao b<strong>em</strong>-comum.<br />

Este estudo <strong>da</strong> Fiocruz mostra, dentre<br />

outras coisas, que 48% dos oficiais<br />

beb<strong>em</strong> s<strong>em</strong>analmente; também que<br />

“o consumo de bebi<strong>da</strong> está dentro do<br />

padrão <strong>da</strong> população, <strong>da</strong>quelas pessoas<br />

que tomam um chopinho no fim<br />

de s<strong>em</strong>ana, mas o percentual dos que<br />

usam tranquilizantes é preocupante.<br />

Chama a atenção para a quanti<strong>da</strong>de<br />

de policiais que precisa recorrer a<br />

medicamentos para dormir e relaxar.”<br />

Esse quadro <strong>em</strong> que “os policiais não<br />

consegu<strong>em</strong> relaxar e dormir”; <strong>em</strong> que<br />

isso não significa estar dependentes ou<br />

viciados, mostra que “é necessário criar<br />

uma instância dentro <strong>da</strong> corporação<br />

para tratar <strong>da</strong> saúde mental desses<br />

policiais”, esclarece Edinilza.<br />

Esse quadro traz para discussão outro<br />

lado <strong>da</strong> Segurança Pública: a Saúde<br />

Psicológica dos Policiais <strong>da</strong>s Polícias<br />

Militares. Não só <strong>da</strong>s Polícias Militares,<br />

mas de to<strong>da</strong>s as Forças Policiais, por<br />

decorrência de tensão e violência na<br />

ci<strong>da</strong>de - onde os índices de criminali<strong>da</strong>de<br />

são altos - gera angústia, medo<br />

e estresse.<br />

Tais situações vivencia<strong>da</strong>s pelos<br />

policiais reabr<strong>em</strong> também a discussão<br />

sobre o sentido que a pessoa do<br />

profissional dá ao seu desenvolvimento<br />

enquanto policial. Como ele<br />

se sente no mundo, e como reage às<br />

adversi<strong>da</strong>des no diálogo social com as<br />

pessoas que deve proteger. Nessa circunstância,<br />

a participação <strong>da</strong> pessoa,<br />

enquanto profissional de Segurança<br />

Pública, passa pela visão de mundo<br />

que estabelece com seu entorno e nas<br />

rotinas especificas <strong>da</strong> ação no dia-adia<br />

de suas ativi<strong>da</strong>des.<br />

Essas situações e outras imprevistas,<br />

alia<strong>da</strong>s às condições muitas vezes<br />

precárias de trabalho, como também à<br />

falta de equipamentos adequados e ao<br />

constante risco de morte, transformam<br />

as pessoas numa pilha de nervos.<br />

Durante a pesquisa, muitos policiais<br />

confidenciaram que “não faz<strong>em</strong> o tratamento<br />

por se sentir<strong>em</strong> discriminados,<br />

não só no trabalho, mas também pela<br />

família e pela socie<strong>da</strong>de.”<br />

Constatou-se que todos os policiais<br />

estão trabalhando normalmente <strong>em</strong><br />

suas funções dentro dos batalhões.<br />

Os oficiais revelam mais probl<strong>em</strong>as<br />

que os PMs que admitiram consumir<br />

bebi<strong>da</strong>s alcoólicas ou tranquilizantes,<br />

cerca de 90% são oficiais, suboficiais<br />

ou sargentos. Devido ao estresse, são<br />

eles os que mais se arriscam <strong>em</strong> fazer<br />

sexo s<strong>em</strong> proteção (21,9% contra<br />

18,6% de cabos e sol<strong>da</strong>dos), mais<br />

têm probl<strong>em</strong>as com a família (15,9%<br />

contra 13,2%) e mais têm crises<br />

nervosas (13,1% contra 9%). Os<br />

cabos e sol<strong>da</strong>dos só superam os seus<br />

superiores <strong>em</strong> acidentes de trânsito<br />

(6,3% contra 5,1%).


segurança pública<br />

O quadro não é na<strong>da</strong> salutar e abre,<br />

nesse caso, a possibili<strong>da</strong>de de reação<br />

<strong>da</strong>s lideranças na busca de sintonia <strong>em</strong><br />

face <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de investimento<br />

no policial enquanto gente, com sua<br />

“alma profissional” promissora,<br />

que se enquadre como a “alma do<br />

Ser”. Essa possibili<strong>da</strong>de certamente<br />

reaproximará o policial <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de,<br />

mas e especificamente possibilitará o<br />

encontro com ele mesmo.<br />

Entend<strong>em</strong>os que o assunto não se<br />

esgota de pronto, ao contrário, t<strong>em</strong><br />

o propósito de despertar os pesquisadores<br />

para um assunto muito<br />

delicado que precisa ser pesquisado<br />

e aprofun<strong>da</strong>do. Proponho-me a isso<br />

através do Centro de Estudos e Pesquisa<br />

<strong>em</strong> Segurança Pública - CEPESP,<br />

<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />

Parto do pressuposto de que uma<br />

pesquisa do gênero poderá objetivar<br />

o restabelecimento <strong>da</strong> confiança no<br />

trabalho <strong>da</strong> polícia ao fomentar na<br />

socie<strong>da</strong>de o ver<strong>da</strong>deiro contexto de<br />

atuação dos policiais, cuja abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

por grande parte dos “especialistas<br />

<strong>em</strong> Segurança Pública” ain<strong>da</strong> é um<br />

tanto quanto acadêmica e ressoa no<br />

meio o necessário velamento pelos<br />

profissionais que já vivenciaram a<br />

profissão.<br />

Tal contribuição por aqueles que já<br />

experienciaram o “ser policial” poderá<br />

trazer algo novo, mesmo porque<br />

ain<strong>da</strong> estão tímidos na contribuição,<br />

e fornecer um novo conceito, ou um<br />

conceito novo, para a função dos<br />

profissionais de polícia é um dos fun<strong>da</strong>mentos<br />

nessa cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de.<br />

Por outro lado, permito-me discor<strong>da</strong>r<br />

<strong>em</strong> breve comentário <strong>da</strong> grande<br />

pesquisadora Edinilsa a partir do<br />

ponto de vista de que os oficiais não<br />

faz<strong>em</strong> a linha de frente. Ao contrário,<br />

os próprios noticiários dão conta que<br />

nas incursões <strong>em</strong> favelas e nas mais<br />

diversas operações, lá estão eles na<br />

coordenação, no enfrentamento e<br />

junto de sua tropa choram as suas<br />

vitórias e suas derrotas. Choram<br />

sua vi<strong>da</strong> e sua morte, isto no Rio de<br />

Janeiro, e noutros Estados brasileiros,<br />

lá estão eles: na linha de frente dos<br />

confrontos.<br />

Em Minas Gerais, <strong>em</strong>bora a criminali<strong>da</strong>de<br />

e a violência estejam <strong>em</strong><br />

processo de “controle estatístico”,<br />

ain<strong>da</strong> assustam as pessoas. Os policiais,<br />

independente do posto ou <strong>da</strong><br />

graduação, estão na “linha de frente<br />

do combate”, mesmo porque existe<br />

uma meta para ser cumpri<strong>da</strong> no que<br />

tange ao controle <strong>da</strong> violência. Todos<br />

indistintamente precisam “combater<br />

um bom combate”, mesmo porque<br />

isto significa um “adjutório” como<br />

um bônus pelo alcance <strong>da</strong> meta.<br />

Exige-se de todos compromisso,<br />

responsabili<strong>da</strong>de, leal<strong>da</strong>de à causa,<br />

técnica, disciplina e profissionalismo<br />

conjugado com o desenvolvimento<br />

<strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des técnicas, humanas e<br />

conceituais dos profissionais de Defesa<br />

Social. Por isso, precisamos pensar<br />

num novo modelo de investimento na<br />

pessoa, que ultrapasse o logístico.<br />

“Os policiais,<br />

independente do posto<br />

ou <strong>da</strong> graduação, estão<br />

na “linha de frente<br />

do combate”, mesmo<br />

porque existe uma<br />

meta para ser cumpri<strong>da</strong><br />

no que tange ao<br />

controle <strong>da</strong> violência.”<br />

Uma forma de investir ou reinvestir<br />

como um necessário nessa nova época<br />

poderá ocorrer pela utilização <strong>da</strong> psicologia<br />

como instrumento de atuação<br />

e inovação; mas também investir na<br />

formação periódica dos policiais, cui<strong>da</strong>ndo<br />

dos aspectos biopsicossociais<br />

como forma de prevenção de futuros<br />

probl<strong>em</strong>as comportamentais arrostados<br />

nas estruturas institucionais,<br />

quando o policial precisa ser afastado<br />

do trabalho, causando déficit de<br />

pessoal e gastos <strong>em</strong> sua recuperação,<br />

t<strong>em</strong> sua importância.<br />

Nesse contexto, o policial está<br />

colocado no ambiente de trabalho e<br />

fora dele. Enquanto no ambiente de<br />

trabalho deve-se ser oportuno e não<br />

ocasional. Etimologicamente a palavra<br />

trabalho v<strong>em</strong> do latim tripalium, que<br />

está associado à tortura. Por outro<br />

lado, trabalhar não deve ser sacrifício<br />

ao sofrimento. A compreensão é de<br />

que trabalhar é aceitar responsabili<strong>da</strong>de<br />

e, também, deixar espaço para<br />

autocrítica por fracassos. O prazer<br />

v<strong>em</strong> de sentimentos de sucesso, de<br />

valorização moral, de cumprimento<br />

<strong>da</strong>s responsabili<strong>da</strong>des.<br />

O policial passa por algo s<strong>em</strong>elhante.<br />

Há um massacre social sobre suas<br />

ações e eles ficam com corpos e almas<br />

moídos e se torturam pelas incertezas.<br />

Isso é sofrer, e alguns sofr<strong>em</strong> d<strong>em</strong>asia<strong>da</strong>mente.<br />

Há um novo modelo de<br />

existência na cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de,<br />

que t<strong>em</strong> uma “marca” diferencia<strong>da</strong> e<br />

muito específica.<br />

Rojas (1996) nomeia este novo modelo<br />

de existência como uma “vi<strong>da</strong><br />

light”, “onde tudo está s<strong>em</strong> calorias,<br />

s<strong>em</strong> gosto ou interesse, a essência <strong>da</strong>s<br />

coisas não importa, só o que é quente<br />

e superficial.”<br />

A cultura cont<strong>em</strong>porânea produz uma<br />

neurose caracteriza<strong>da</strong> não pela falta<br />

de conhecimento interno, mas por<br />

uma carência de propósito e de um<br />

significado para a vi<strong>da</strong>. O indivíduo<br />

cont<strong>em</strong>porâneo é levado a colocar a<br />

significação de sua vi<strong>da</strong> nos objetos<br />

(Parecer-Ter).<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

55


segurança pública<br />

Diante <strong>da</strong> per<strong>da</strong> do objeto no qual<br />

colocou o sentido de sua vi<strong>da</strong>, no caso<br />

o “ser policial”, o profissional passa<br />

a julgar-se incompetente, incapaz,<br />

exposto ao medo e à impotência - características<br />

observáveis nos traumas<br />

patológicos - pode-se até entrar num<br />

processo depressivo. A depressão,<br />

além de outras tantas doenças, pode<br />

ser utiliza<strong>da</strong> pelo indivíduo como<br />

refúgio, numa tentativa de justificar<br />

o medo de enfrentar desafios e os<br />

riscos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Muitas vezes, a angústia<br />

e a tristeza são nomea<strong>da</strong>s de<br />

“depressão”, sendo trata<strong>da</strong>s como<br />

doenças, dignas de ser<strong>em</strong> cura<strong>da</strong>s.<br />

Sentindo-se diferente dos outros,<br />

o doente geralmente é excluído e<br />

se exclui <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des que os<br />

d<strong>em</strong>ais gozam. Como consequência,<br />

permanece isolado, e, ilusoriamente,<br />

protegido.<br />

Em nosso país encontramos alguns<br />

<strong>da</strong>dos que sãos relevantes por d<strong>em</strong>onstrar<br />

como são altos os índices<br />

de probl<strong>em</strong>as psicológicos porque<br />

passam os policiais, decorrentes de<br />

uma visão cont<strong>em</strong>porânea do probl<strong>em</strong>a.<br />

A pressão e o estresse sofridos<br />

estão dentre as principais causas de<br />

afastamento do trabalho dentro <strong>da</strong>s<br />

corporações.<br />

Evident<strong>em</strong>ente que, comparando o<br />

policial com outras profissões, e tendo<br />

consciência de que ele, vivendo uma<br />

<strong>da</strong>s profissões <strong>da</strong>s mais estressantes,<br />

aliado ao grande risco de vi<strong>da</strong>, pod<strong>em</strong>os<br />

caminhar para o sentido de que<br />

ele está mais sujeito a ter probl<strong>em</strong>as<br />

psicológicos do que diversas outras<br />

profissões.<br />

Tal situação acaba influenciando no<br />

rendimento do trabalho e prejudicando<br />

os serviços prestados. Por isso,<br />

pretende-se, por meio <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção<br />

<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, desenvolver uma<br />

pesquisa <strong>em</strong> Minas Gerais, e oferecer<br />

às autori<strong>da</strong>des propostas para implantar<br />

um Programa de Prevenção<br />

56 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

e Gerenciamento de Depressão e<br />

Estresse do Policial (PPGDEP).<br />

O objeto passa pelo diagnóstico dos<br />

fatores causadores de depressão e de<br />

estresse, associado à ideia de propor<br />

e fortalecer intervenções no ambiente<br />

de trabalho. Também, oferecer apoio<br />

aos policiais no trato com as questões<br />

que envolv<strong>em</strong> depressão e estresse,<br />

melhorando, assim, as condições<br />

<strong>em</strong>ocionais para o enfrentamento<br />

<strong>da</strong>s situações de trabalho. Um projeto<br />

assim requer, no mínimo, um ano para<br />

ser concebido, e sua abrangência<br />

chegará, com certeza, a beneficiar<br />

mais de 40.000 profissionais.<br />

O projeto parte do pressuposto <strong>da</strong><br />

necessi<strong>da</strong>de de ações que ajust<strong>em</strong><br />

um serviço de caráter preventivo e<br />

<strong>em</strong>ergencial de apoio aos policiais<br />

que necessitar<strong>em</strong> de um espaço para<br />

a escuta de suas queixas <strong>em</strong>ocionais<br />

e físicas, sabendo-se, desde já, que o<br />

serviço poderá ser insuficiente para<br />

atender à d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>, e precisa-se ir<br />

além.<br />

Ir além implica pensar na psicoterapia<br />

como fun<strong>da</strong>mento para que a pessoa<br />

retorne ao seu equilíbrio pessoal e<br />

que encontre um b<strong>em</strong>-estar que o<br />

conduza à harmonia consigo e com<br />

o ambiente no seu entorno. Há um<br />

desejo de alcançá-lo imediatamente<br />

para manter-se num estado <strong>em</strong><br />

que sinta-se protegido e a salvo de<br />

qualquer risco que a “vi<strong>da</strong>” possa<br />

lhe proporcionar. A Clínica Psicológica<br />

t<strong>em</strong> esse fun<strong>da</strong>mento de proporcionar<br />

b<strong>em</strong>-estar, mesmo porque seu estado<br />

é de fragili<strong>da</strong>de, e não consegue se<br />

sustentar ao entrar <strong>em</strong> contato com<br />

a própria angústia e esta lhe favorece<br />

uma relação com o sofrimento que<br />

quer evitar.<br />

Tal propósito ganha sua notorie<strong>da</strong>de<br />

a partir <strong>da</strong> constatação de que, para<br />

o exercício <strong>da</strong> função policial, não<br />

basta tão somente preparo físico,<br />

mas também apoio psicológico. Nesse<br />

sentido, penso que dev<strong>em</strong>os ain<strong>da</strong><br />

refletir sobre a importância do uso <strong>da</strong><br />

psicologia na capacitação periódica<br />

dos policiais, como forma de resgatar<br />

valores perdidos e verificar, através<br />

de experiências diversas, se o investimento<br />

<strong>em</strong> capacitação, preparação e<br />

seu desenvolvimento, estão perenes<br />

e institucionalizados. Isso está no<br />

cotidiano.<br />

Por isso mesmo, pensamos na psicoterapia<br />

como um dos meios para<br />

o desenvolvimento pessoal e profissional,<br />

aliando-se às características<br />

de uma melhor quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> no<br />

trabalho.<br />

A psicoterapia, como forma de<br />

trabalho preventivo, poderá resgatar<br />

a autoestima do policial aju<strong>da</strong>ndo-o<br />

nesse contexto, pois ele será aju<strong>da</strong>do<br />

a <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong>s circunstâncias do<br />

vivido e <strong>da</strong>s questões cotidianas,<br />

compactuando com a socie<strong>da</strong>de maior<br />

confiança na conexão profissional,<br />

com ele mesmo e com o meio, além<br />

de propiciar um enquadre no sentido<br />

de ser.<br />

“A psicoterapia, como<br />

forma de trabalho<br />

preventivo, poderá<br />

resgatar a autoestima<br />

do policial aju<strong>da</strong>ndo-o<br />

nesse contexto.”<br />

A Psicoterapia Existencial, que se<br />

caracteriza como uma investigação<br />

com o indivíduo, na busca de lhe fazer<br />

sobressair ou revelar, livr<strong>em</strong>ente, o<br />

que nele há de individual, particular,<br />

único e concreto, poderá ser uma <strong>da</strong>s<br />

referências no processo.<br />

Nesse ambiente, o policial fará a<br />

busca de sua autoexpressão mais<br />

autêntica e do compromisso sincero


segurança pública<br />

com as próprias escolhas existenciais,<br />

sabendo-se que a forma mais comum<br />

na qual o hom<strong>em</strong> se encontra no<br />

mundo é exatamente essa busca por<br />

segurança, ao que Heidegger denominou<br />

de um “modo impessoal”.<br />

Embora possa existir certa “tranquili<strong>da</strong>de”<br />

desse ser “impróprio”,<br />

não há possibili<strong>da</strong>de de inativi<strong>da</strong>de<br />

e, sim movimentação, mobilização.<br />

Heidegger (1988, p.239) afirma que<br />

já não há mais repouso, entretanto,<br />

é essa tranquili<strong>da</strong>de tentadora que<br />

aumenta a decadência.<br />

Por outro lado, a inquietação de tudo<br />

saber traz uma ilusão de uma compreensão<br />

ampla do próprio Dasein,<br />

porque o que se deve compreender é<br />

que s<strong>em</strong>pre há um<br />

poder-ser que só pode ser liberado<br />

no Dasein mais próprio. Nessa<br />

comparação de si mesmo com tudo,<br />

tranquilo, e que tudo “compreende”,<br />

o Dasein conduz-se a uma alienação<br />

na qual se lhe encobre o seu poderser<br />

mais próprio. O ser-no-mundo <strong>da</strong><br />

decadência, tentador e tranquilizante<br />

é também alienante (HEIDEGGER,<br />

1989, p.239).<br />

Essa singularização, para Heidegger, é<br />

uma dinâmica cujo âmbito possibilita<br />

o ser-aí onde o seu poder-ser singulariza-se.<br />

O fenômeno <strong>da</strong> angústia<br />

dissolve o sentido público, mediano<br />

e impessoal dos entes intramun<strong>da</strong>nos<br />

lançando o “Dasein diante de uma<br />

liber<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de de<br />

singularizar-se na escolha de suas<br />

possibili<strong>da</strong>des próprias”.<br />

Compreende-se com Heidegger que<br />

a angústia descerra o ser-aí como ser<br />

possível, e, <strong>em</strong> ver<strong>da</strong>de, como aquele<br />

que, unicamente a partir de si mesmo,<br />

pode ser como ser-aí singularizado<br />

no interior de uma dinâmica de<br />

singularização.<br />

Nesse sentido, o hom<strong>em</strong> como<br />

ser-possível <strong>da</strong> singularização, s<strong>em</strong><br />

acolher a própria angústia, desviase<br />

do que lhe é mais incomodo na<br />

busca do estável, do imediatismo <strong>da</strong><br />

fuga. Esse lugar, no entanto, só lhe<br />

oferece o ensejo de um sofrimento<br />

mais contínuo, por restringir sua visão<br />

acerca de outras resoluções possíveis<br />

para seus conflitos. Isto só é possível<br />

pela abertura que se dá do Dasein aos<br />

entes que lhe v<strong>em</strong> ao encontro, fazse<br />

s<strong>em</strong>pre de um modo restrito não<br />

abrangendo a totali<strong>da</strong>de do seu ser.<br />

O objetivo <strong>da</strong> psicoterapia existencial,<br />

portanto, é ampliar o campo perceptível,<br />

elevar a sensibili<strong>da</strong>de para as<br />

experiências <strong>em</strong> suas possibili<strong>da</strong>des<br />

e <strong>em</strong> sua totali<strong>da</strong>de. Através do<br />

conhecimento de seu “ser”, do modo<br />

como se coloca junto-com as pessoas<br />

e como experimenta as experiências<br />

que o cercam. Em outras palavras,<br />

o ser assume o seu estado de ser<br />

humano <strong>em</strong> processo, um ser-sendo.<br />

Referências Bibliográficas<br />

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Cortez, 1992.<br />

______. Psicodinâmica do trabalho. São Paulo:<br />

Atlas, 1994.<br />

ERTHAL, Tereza Cristina Sal<strong>da</strong>nha. Treinamento<br />

<strong>em</strong> psicoterapia Vivencial. Rio de Janeiro:<br />

Editora Livro Pleno, 2004.<br />

FEIJOO, Ana Maria Lopescalvo. A escuta e a fala<br />

<strong>em</strong> psicoterapia: uma proposta fenomenológicoexistencial.<br />

São Paulo: Vetor, 2000.<br />

FUNDACENTRO. Estatísticas sobre acidentes e<br />

doenças do trabalho. Brasília, 2007. Disponível<br />

<strong>em</strong>: <br />

Acesso <strong>em</strong>: 12 maio 2008.<br />

HEIDEGGER, M. Ser e t<strong>em</strong>po. Petrópolis: Vozes,<br />

1989. Pate I e II. p. 262 e 325.<br />

ROJAS, Enrique. El hombre light: uma vi<strong>da</strong> sin<br />

valores. Madrid: T<strong>em</strong>as de Hoy, 1996.<br />

SELYE, Hans. A Syndrome produced by diverse<br />

nocuous agents. Nature, v. 138, p. 32, jul. 1936.<br />

O objetivo <strong>da</strong><br />

psicoterapia<br />

existencial, portanto,<br />

é ampliar o campo<br />

perceptível, elevar a<br />

sensibili<strong>da</strong>de para as<br />

experiências <strong>em</strong> suas<br />

possibili<strong>da</strong>des e <strong>em</strong><br />

sua totali<strong>da</strong>de.<br />

SILVA, Cel. José Vicente <strong>da</strong>. Stress policial. Jornal<br />

<strong>da</strong> Tarde, São Paulo, 09 nov. 2000. Disponível<br />

<strong>em</strong>: . Acesso <strong>em</strong>: 20 jul. 2009.<br />

SOUZA, Edinilsa Ramos de; MINAYO, Maria<br />

Celina de Souza e CONSTANTINO, Patrícia<br />

[coords.]. Missão Prevenir e Proteger: condições<br />

de vi<strong>da</strong>, trabalho e saúde dos policiais militares<br />

do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008.<br />

328 p.<br />

* Graduado <strong>em</strong> Psicologia - Centro Universitário<br />

Newton Paiva; Especialização <strong>em</strong> Psicologia<br />

Clínica - iniciado <strong>em</strong> 2008 - Instituto de Psicologia<br />

Fenomenológico-Existencial - do Rio de Janeiro;<br />

Pós-Graduação <strong>em</strong> Criminologia – Acadepol; Curso<br />

de Atualização <strong>em</strong> Psicologia, Psiquiatria e Criminologia<br />

Forense - UFMG; Curso de Parapsicologia -<br />

Instituto Brasileiro de Psicologia; Curso de Psicopatologia<br />

<strong>da</strong> Infância e Adolescência (60 horas) -<br />

Portal Educação; Curso de Educação Inclusiva (80<br />

horas) - Portal Educação; Curso de Psicodiagnóstico<br />

(100 horas) - Portal Educação; Curso de Educação<br />

Especial (80 horas)-Portal Educação; Pós-Graduado<br />

<strong>em</strong> Administração de Micro e Pequenas Empresas -<br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Lavras; Especialista <strong>em</strong><br />

Segurança Pública - Policia Militar de Minas Gerais;<br />

Graduado <strong>em</strong> Direito - FADOM; Curso de Prevenção<br />

de Sinistros Contra Bases e Transporte de Valores -<br />

Rodobam; Curso de Segurança e Proteção de<br />

Autori<strong>da</strong>des e Dignitários <strong>em</strong> Brasília - ESG;<br />

Coronel <strong>da</strong> Policia Militar do Estado de Minas<br />

Gerais - Coman<strong>da</strong>nte-Geral 2001-2003.<br />

<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

57


especial<br />

Ciência e Harmonia.<br />

O Folclore, como objeto <strong>da</strong> Folclorologia<br />

— área de conhecimento<br />

<strong>da</strong> sabedoria popular tradicional<br />

—, pertence ao Universo, e não a<br />

apenas determina<strong>da</strong> região, estado,<br />

país ou continente. Por isso, a notável<br />

coerência de Saul Alves Martins<br />

substitui a restritivista preposição de<br />

pela a ela oposta e panoramicista<br />

<strong>em</strong>, na segun<strong>da</strong> edição de seu<br />

denso e valioso Livro dedicado ao<br />

esquadrinhamento estético-didático<br />

<strong>da</strong> Ciência do Popular: FOLCLORE<br />

EM (e não DE) MINAS GERAIS, primosamente<br />

lançado, <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro<br />

de 1991, pela respeitável Editora <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de Federal de Minas Gerais.<br />

Tal Livro é substancial a qu<strong>em</strong><br />

preten<strong>da</strong> conhecer, com rigor metodológico<br />

e vigor científico, os meios<br />

tradicionais e os modos espontâneos<br />

de sentir, fazer, pensar e agir <strong>da</strong> Gente<br />

nasci<strong>da</strong> ou assenta<strong>da</strong> <strong>em</strong> Minas<br />

Gerais, e a maneira como se exprime<br />

essa mesma Gente, dona de gostosas<br />

particulari<strong>da</strong>des <strong>em</strong>buti<strong>da</strong>s na amplidão<br />

cósmica e espirituosa <strong>em</strong> cujos<br />

domínios viceja a Teoria <strong>da</strong>s Coisas<br />

Realiza<strong>da</strong>s pelo “Grande Número”!<br />

Folclore na Escola, Danças Folclóricas,<br />

Literatura Oral, Linguag<strong>em</strong> Popular,<br />

Cultos Populares, Culinária, Folguedos<br />

Folclóricos, Folclore e Turismo,<br />

Outras Manifestações Folclóricas e Calendário<br />

de Festas Tradicionais faz<strong>em</strong> o<br />

miolo principal dessa Obra magnífica!<br />

Para facilitação <strong>da</strong> vontade<br />

dos apreciadores e <strong>da</strong>s tarefas dos<br />

consulentes e pesquisadores dos<br />

saberes <strong>da</strong> Sabedoria Popular, FOL-<br />

CLORE EM MINAS GERAIS regala-se,<br />

nas respectivas páginas finais, com<br />

58 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />

deliciosas partituras de melodias <strong>da</strong>s<br />

cantigas do Povo e inteligente e prestimoso<br />

índice analítico e r<strong>em</strong>issivo.<br />

Poeta admirável e zeloso conhecedor<br />

<strong>da</strong> norma culta e estilística <strong>da</strong><br />

Língua Portuguesa, o Ensaísta Saul<br />

Alves Martins amansa a casmurrice<br />

<strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> dissertativa <strong>da</strong> Etnologia<br />

e, com seu texto eufônico<br />

e elegante, conciso e agradável,<br />

escorreito e luminoso, transforma a<br />

rispidez unissignificativa e doutoral<br />

<strong>da</strong>s Ciências Sociais <strong>em</strong> beleza informativa<br />

e, mercê de sua prodigiosa<br />

plástica vocabular, <strong>em</strong> fonte de<br />

erudição, entretenimento e alegria a<br />

leitores e ledores graúdos ou singelos.<br />

Trata-se de engenho concomitant<strong>em</strong>ente<br />

científico e harmonioso,<br />

como o são todos os ensaios<br />

construídos por Saul Alves Martins!<br />

Gosto de FOLCLORE EM MINAS<br />

GERAIS, porque nele sinto a energia<br />

<strong>da</strong> Linguag<strong>em</strong> formosa, aprecio<br />

João Bosco de Castro*.<br />

a consistência do Texto superior,<br />

aprendo a substância <strong>da</strong>s Coisas<br />

feitas pelo “Grande Número” e<br />

encontro o hálito lúdico reinante na<br />

Oficina dos Folguedos e Expressões<br />

Populares saborosamente aberta<br />

às Animações e Festas Populares<br />

e à Literatura Oral e Linguag<strong>em</strong><br />

Popular, tão consentâneas com a<br />

índole e os padrões <strong>da</strong> Gente Mineira.<br />

Esta apreciação etnológica valoriza<br />

o Folclore — <strong>em</strong> agosto, mês de sua<br />

celebração universal — e homenageia<br />

o Professor-Doutor Coronel Saul Alves<br />

Martins, o Príncipe dos Folclorólogos<br />

Brasileiros.<br />

* Da Acad<strong>em</strong>ia de Letras “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”,<br />

<strong>da</strong> Polícia Militar de Minas Gerais, e Acad<strong>em</strong>ia<br />

Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias (Rio<br />

de Janeiro – RJ). Professor Titular — ao nível<br />

de Mestre, Doutor e Livre-Docente — de Crítica<br />

Textual aplica<strong>da</strong> às Ciências Militares na Acad<strong>em</strong>ia<br />

de Polícia Militar do Prado Mineiro.<br />

Folclorólogo Saul Alves Martins e o Gerente do Departamento Social <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>, Zilton Ribeiro<br />

do Patrocínio.


FUNDAÇÃO GUIMARÃES ROSA

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