4ª Edição da FGR em Revista - Fundação Guimarães Rosa
4ª Edição da FGR em Revista - Fundação Guimarães Rosa
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Empreendimentos sociais<br />
b<strong>em</strong>-sucedidos <strong>da</strong> <strong>FGR</strong><br />
A transcendência na<br />
linguag<strong>em</strong> de Nenhum,<br />
Nenhuma<br />
“Nenhum, Nenhuma” é uma <strong>da</strong>s estórias<br />
escritas por João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> <strong>em</strong> seu<br />
livro “Primeiras Estórias”.<br />
<strong>em</strong> revista<br />
Publicação <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> · Ano 3 · Nº 04 · agosto de 2009<br />
Ensaio sobre o sofrimento<br />
psicológico de policiais<br />
A questão do desgaste do policial <strong>em</strong><br />
decorrência de suas ativi<strong>da</strong>des profissionais.<br />
ISSN 1984-8846<br />
FUNDAÇÃO GUIMARÃES ROSA
capa<br />
Empreendimentos sociais<br />
b<strong>em</strong>-sucedidos <strong>da</strong> <strong>FGR</strong><br />
editorial<br />
Juliana Peixoto 4<br />
sustentabili<strong>da</strong>de<br />
Imag<strong>em</strong> e Comunicação na<br />
gestão do Terceiro Setor<br />
Leonardo Leopoldo Costa Coelho<br />
Voluntariado nas Organizações<br />
de Terceiro Setor<br />
Marisa Seoane Rio Resende<br />
educação e cultura<br />
A transcendência na linguag<strong>em</strong><br />
de Nenhum, Nenhuma<br />
7<br />
9<br />
11<br />
“Nenhum, Nenhuma” é uma <strong>da</strong>s estórias escritas por<br />
João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> <strong>em</strong> seu livro “Primeiras Estórias”.<br />
Maria Ma<strong>da</strong>lena Magnabosco<br />
Distúrbios de aprendizado<br />
relacionados à visão<br />
16<br />
Dra. Márcia Reis <strong>Guimarães</strong><br />
Esporte como fator de inclusão<br />
de jovens na socie<strong>da</strong>de<br />
Entrevista cedi<strong>da</strong> à “<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>” por Gustavo de<br />
Faria Dias Corrêa, Secretário de Estado de Esportes e<br />
<strong>da</strong> Juventude de Minas Gerais.<br />
20<br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
Um Programa <strong>da</strong> Paz 31<br />
Ilce Gonçalves Sousa de Jesus<br />
23<br />
preservação ecológica<br />
Todos juntos somos fortes<br />
segurança pública<br />
A Segurança de todos:<br />
Paz e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
Gestão integra<strong>da</strong> de eventos de<br />
Defesa Social de Alto Risco<br />
Ensaio sobre o sofrimento<br />
psicológico de policiais<br />
sumário<br />
Entrevista especial <strong>da</strong> “<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>” com José Carlos Carvalho,<br />
Secretário de Estado de Meio Ambiente de Minas Gerais.<br />
O uso sustentável <strong>da</strong>s águas<br />
Arley Gomes de Lagos Ferreira<br />
Gleisa Calixto Antunes<br />
Francis Albert Cotta<br />
Álvaro Antônio Nicolau<br />
37<br />
39<br />
45<br />
especial<br />
Ciência e Harmonia. 58<br />
João Bosco de Castro<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
3<br />
33<br />
35
editorial<br />
4 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
O intercâmbio entre<br />
a “<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>”<br />
e o público-leitor<br />
O grande destaque desta publicação é a interação<br />
direta com o leitor, pois apresentamos artigos de fácil<br />
aplicabili<strong>da</strong>de no cotidiano.<br />
Inovadora <strong>em</strong> sua proposta editorial, a<br />
“<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>” está <strong>em</strong> sua quarta edição,<br />
com novos conteúdos editoriais, cujos<br />
conceitos contribu<strong>em</strong> para melhor entendimento<br />
sobre a atuação do Governo, Empresas<br />
e Terceiro Setor no Espaço Público 1 .<br />
No cenário Educacional, ressaltamos a importância<br />
<strong>da</strong> Leitura <strong>em</strong> perspectiva diferencia<strong>da</strong>:<br />
como identificar os “Distúrbios de<br />
Aprendizado Relacionados à Visão?” Muito<br />
se ouve falar na importância <strong>da</strong> Leitura<br />
como agente preventivo, contudo, poucas<br />
são as informações de encaminhamento e<br />
tratamento quando o Aluno se desinteressa<br />
pelas aulas, ou seu rendimento e socialização<br />
escolar fog<strong>em</strong> <strong>da</strong> normali<strong>da</strong>de. Em matéria<br />
completa e inédita, convi<strong>da</strong>mos o leitor<br />
a conhecer mais sobre o processo de visão<br />
e a despertar os educadores para a reali<strong>da</strong>de<br />
desse diagnóstico: “Os melhores profissionais<br />
para suspeitar dificul<strong>da</strong>des na eficiência<br />
visual e processamento <strong>da</strong> informação<br />
são os professores e profissionais, como pe<strong>da</strong>gogos,<br />
psicólogos, psicope<strong>da</strong>gogos, fonoaudiólogos<br />
e terapeutas ocupacionais.”<br />
Na editoria de Sustentabili<strong>da</strong>de, buscamos<br />
enfoque crítico e não somente descritivo,<br />
pois, consciente do cenário político e econômico,<br />
a <strong>FGR</strong> convi<strong>da</strong> seus parceiros a tratar<br />
de duas questões essenciais para qualquer<br />
iniciativa Priva<strong>da</strong> ou Pública: Comunicação e<br />
Voluntariado como instrumentos de gestão.<br />
Algo importante a ser estu<strong>da</strong>do pelos grupos<br />
<strong>em</strong>presariais, principalmente pelos Comunicólogos,<br />
é a maneira pela qual se busca a<br />
transformação do burocrático <strong>em</strong> prático.<br />
Deve-se atentar para a administração imbuí<strong>da</strong><br />
<strong>em</strong> requerimentos burocráticos porque,<br />
de certa forma, ela contradiz e dificulta os incentivos<br />
às participações voluntárias.<br />
Alinha<strong>da</strong> aos Objetivos do Milênio 2 , a <strong>FGR</strong><br />
avança nas questões de preservação ecológica.<br />
Em 2009, promoveu o III S<strong>em</strong>inário<br />
de Responsabili<strong>da</strong>de Socioambiental,<br />
com público aproximado de 250 participantes.<br />
Ao todo, 800 profissionais e estu<strong>da</strong>ntes<br />
foram capacitados por esta iniciativa,<br />
desde 2007. Como incentivadora <strong>da</strong><br />
cultura de responsabili<strong>da</strong>de socioambiental,<br />
a <strong>FGR</strong> estimula o trabalho conjunto <strong>em</strong><br />
favor <strong>da</strong> melhoria do b<strong>em</strong>-estar <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des<br />
e, nesta edição, não poderia deixar<br />
de abor<strong>da</strong>r o t<strong>em</strong>a “O Uso Sustentável <strong>da</strong>s<br />
Águas”. Para compl<strong>em</strong>entar esta editoria<br />
de Preservação Ecológica, convi<strong>da</strong>mos o<br />
Secretário de Estado de Meio Ambiente de<br />
Minas Gerais, Sr. José Carlos Carvalho, para<br />
um bate-papo sobre as ações do Estado.<br />
Em publicação recente sobre o “Índice de<br />
Homicídios na Adolescência” 3 , observase<br />
que os <strong>da</strong>dos sobre homicídios são<br />
alarmantes: Belo Horizonte ocupa a<br />
sexta posição no ranking de capitais com<br />
mais homicídios na adolescência. Há<br />
sete anos, a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
investe <strong>em</strong> Programas e Projetos Sociais,<br />
principalmente aqueles voltados para
editorial<br />
crianças e adolescentes residentes <strong>em</strong><br />
áreas de risco. Uma <strong>da</strong>s ferramentas<br />
mais eficazes para retirar jovens dessa<br />
situação é, s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong>, o ESPORTE. Em<br />
outras instituições sociais, o esporte<br />
também é o recurso mais atrativo para<br />
as ativi<strong>da</strong>des coletivas, incentivadoras<br />
do desenvolvimento humano. Essas<br />
instituições pod<strong>em</strong> contar com o apoio<br />
<strong>da</strong> Secretaria de Estado de Esportes<br />
e <strong>da</strong> Juventude, conforme d<strong>em</strong>onstra<br />
a entrevista feita pela Equipe de<br />
Comunicação <strong>da</strong> <strong>FGR</strong> com o Secretário<br />
de Estado Gustavo Corrêa.<br />
Em matéria publica<strong>da</strong> pela Rede Globo<br />
4 , referente à mesma pesquisa, verifica-se<br />
a importância de investimentos<br />
sociais de comprometimento sério: “Até<br />
2012, cerca de 33 mil adolescentes não<br />
chegarão aos 19 anos de i<strong>da</strong>de porque<br />
terão sido assassinados. Nas comuni<strong>da</strong>des<br />
mais pobres, a esperança de impedir<br />
a precisão está <strong>em</strong> projetos sociais que<br />
oferec<strong>em</strong> instrumentos para os jovens se<br />
afastar<strong>em</strong> <strong>da</strong> violência.” Esses <strong>da</strong>dos reafirmam<br />
o importante papel do Terceiro<br />
Setor <strong>em</strong> atuar com políticas públicas assertivas<br />
e, para isso, a <strong>FGR</strong> constrói novo<br />
modelo de intervenção <strong>em</strong> seus Programas<br />
e Projetos, por meio <strong>da</strong> interação<br />
entre três importantes áreas: Serviço Social,<br />
Psicologia e Pe<strong>da</strong>gogia. O leitor vai<br />
conhecer o resultado desse modelo ao<br />
ISSN 1984-8846<br />
Rua Paraíba, 1441 | 8º an<strong>da</strong>r<br />
Funcionários | CEP 30130-141<br />
Belo Horizonte | MG<br />
Tel: (31) 3263 1600<br />
Fax: (31) 3263 1604<br />
<strong>em</strong> revista<br />
Endereço eletrônico<br />
www.fgr.org.br | comsocial@fgr.org.br<br />
Superintendente-Geral<br />
Álvaro Antônio Nicolau<br />
Superintendente de Empreendimentos e<br />
Pesquisa<br />
Pedro Seixas <strong>da</strong> Silva<br />
ler os artigos “Empreendimentos Sociais<br />
B<strong>em</strong>-Sucedidos <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>” e “Um Programa<br />
Pela Paz”.<br />
Presente nas ativi<strong>da</strong>des de prevenção à<br />
criminali<strong>da</strong>de desde sua criação, a Fun<strong>da</strong>ção<br />
participa de diversas iniciativas na<br />
área <strong>da</strong> Segurança Pública. Em meio a<br />
muitas, destaca-se o “Ciclo de Segurança<br />
Pública <strong>em</strong> Debate” (CISED), destinado<br />
a debater ideias e opiniões úteis ao<br />
desenvolvimento <strong>da</strong> Segurança. Em três<br />
anos de funcionamento, cerca de 1.200<br />
participantes do Sist<strong>em</strong>a Único de Segurança<br />
Pública (SUSP) contribuíram para<br />
este <strong>em</strong>preendimento <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>, por meio<br />
de questionamentos que propõ<strong>em</strong> melhor<br />
engajamento entre as Autori<strong>da</strong>des<br />
e os Profissionais do SUSP. Nesta publicação,<br />
três artigos abor<strong>da</strong>m o t<strong>em</strong>a Segurança<br />
Pública de maneira distinta e<br />
importante para as consoli<strong>da</strong>ções necessárias<br />
<strong>em</strong> favor <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de: “Gestão<br />
Integra<strong>da</strong> de Eventos de Defesa Social de<br />
Alto Risco”, “Ensaio Sobre o Sofrimento<br />
Psicológico de Policiais” e “A Segurança<br />
de Todos: Paz e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia”. Nesta editoria,<br />
quer<strong>em</strong>os despertar a comuni<strong>da</strong>de<br />
para um posicionamento crítico e participativo.<br />
Esta participação, corresponsável<br />
pelo b<strong>em</strong>-estar, não é sugeri<strong>da</strong> diariamente<br />
e, como consequência, não há<br />
uni<strong>da</strong>de nos esforços <strong>em</strong>preendidos contra<br />
a insegurança.<br />
Superintendente de Administração, Finanças,<br />
Tecnologia <strong>da</strong> Informação e Gestão<br />
Social<br />
José Antônio Gonçalves<br />
Jornalista Responsável e Chefe do Setor<br />
de Comunicação, Cultura e Lazer<br />
Juliana Leonel Peixoto | 14.019/MG<br />
Relações Públicas<br />
Fabiana Magalhães dos Santos | CONRERP-MG<br />
2160<br />
Publicitário<br />
Juliano Ziviani Pochman<br />
Bibliotecária<br />
Edna Silva Angelo - CRB-6/2560<br />
Estagiários<br />
Comunicação: Fabíola Mara Costa<br />
Tecnologias, Administração e Cultura: Jerry<br />
Fernandes Medeiros<br />
Compõe este número <strong>da</strong> revista sintética<br />
apreciação etnológica do Folclore, universalmente<br />
celebrado no mês de agosto,<br />
com base no livro “Folclore <strong>em</strong> Minas<br />
Gerais”, do Professor-Doutor Saul<br />
Alves Martins, o Príncipe dos Folclorólogos<br />
Brasileiros.<br />
Ao encerrar este Editorial, apresentamos<br />
o Patrono desta Casa, o Poeta e Ficcionista<br />
João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, sob o olhar<br />
<strong>da</strong> ciência fenomenológica. O Conto<br />
“Nenhum, Nenhuma” foi publicado no<br />
Livro “Primeiras Estórias” e, aqui, pela<br />
primeira vez, tecer<strong>em</strong>os um diálogo entre<br />
“Nenhum, Nenhuma” e alguns fun<strong>da</strong>mentos<br />
<strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> fenomenológico-existencial.<br />
Juliana Peixoto*<br />
1. De acordo com a Doutora Eloísa Cabral: “produto social do<br />
encontro entre Estado, Mercado e Comuni<strong>da</strong>de, usufruído indistintamente<br />
pela quali<strong>da</strong>de do ci<strong>da</strong>dão.”<br />
2. Ver mais informações <strong>em</strong> http://www.pnud.org.br/odm/<br />
3. Estudo realizado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos<br />
<strong>da</strong> Presidência <strong>da</strong> República – SPDCA/SEDH, Fundo <strong>da</strong>s<br />
Nações Uni<strong>da</strong>s Para a Infância – UNICEF, Observatório <strong>da</strong>s Favelas<br />
e Laboratório de Análise <strong>da</strong> Violência – LAV/UERJ. Disponível/<strong>em</strong>:.<br />
4. http://g1.globo.com/<br />
*Jornalista (14.019/MG), MBA <strong>em</strong> Gestão de Projetos<br />
Educacionais. Parceira Assessora <strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia<br />
de Letras “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”, <strong>da</strong> PMMG, e Assessora<br />
de Imprensa <strong>da</strong> <strong>FGR</strong> desde 2007.<br />
Projeto Gráfico, <strong>Edição</strong>, Diagramação e Revisão<br />
Jota Campelo Comunicação<br />
Tirag<strong>em</strong><br />
3.000 ex<strong>em</strong>plares<br />
Fotos<br />
Arquivo <strong>FGR</strong> | Secretaria de Estado de Esportes<br />
e <strong>da</strong> Juventude | Secretaria de Estado de Meio<br />
Ambiente | Vera Godoy<br />
Impressão<br />
Bigráfica Editora<br />
A Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> não se responsabiliza<br />
por conceitos <strong>em</strong>itidos <strong>em</strong> artigos<br />
assinados. É permiti<strong>da</strong> a divulgação <strong>da</strong>s informações,<br />
desde que cita<strong>da</strong> a fonte.<br />
Foto de Capa<br />
Assessoria de Comunicação <strong>FGR</strong><br />
Gabriel Antunes C. Barra, 6 anos - 1º ano<br />
Professora: Meire Bastos<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
5
sustentabili<strong>da</strong>de<br />
Imag<strong>em</strong> e Comunicação na<br />
gestão do Terceiro Setor<br />
No cenário cont<strong>em</strong>porâneo, dentre outras<br />
características, pod<strong>em</strong>os destacar<br />
o crescimento significativo <strong>da</strong>s Organizações<br />
Sociais (organizações nãogovernamentais<br />
priva<strong>da</strong>s de interesse<br />
público) e dos projetos sociais de investimento<br />
social privado, desenvolvidos<br />
por <strong>em</strong>presas. Ambos procuram cobrir<br />
áreas de atendimento classicamente<br />
atribuí<strong>da</strong>s ao Estado. Também observase<br />
as parcerias entre os três setores (o<br />
primeiro setor é formado pelo governo,<br />
o segundo setor pela iniciativa priva<strong>da</strong><br />
e o terceiro setor pelas organizações<br />
sociais não-governamentais de interesse<br />
público), gerando novos <strong>em</strong>pregos e<br />
mobilizando um contingente significativo<br />
de recursos, <strong>em</strong> nível global e local<br />
(MEREGE, 2006).<br />
Se cresce a atuação de <strong>em</strong>presas e do<br />
Terceiro Setor na chama<strong>da</strong> área social,<br />
cresce também a necessi<strong>da</strong>de de<br />
maior qualificação e entendimento <strong>da</strong><br />
Comunicação<br />
Organizacional<br />
(Administrativa,<br />
Interna, Institucional<br />
e Mercadológica)<br />
reali<strong>da</strong>de que estas organizações pretend<strong>em</strong><br />
transformar e interagir, ambiente<br />
de alta complexi<strong>da</strong>de e geralmente<br />
caracterizado por um elevado<br />
índice de vulnerabili<strong>da</strong>de social.<br />
Nesse cenário, as imagens <strong>da</strong>s organizações<br />
e projetos assum<strong>em</strong> importância<br />
crescente <strong>em</strong> um mundo onde a informação<br />
e a comunicação atingiram<br />
níveis nunca antes alcançados. Tais<br />
imagens são forma<strong>da</strong>s, <strong>em</strong> larga medi<strong>da</strong>,<br />
pelas percepções que os públicos<br />
de relacionamento <strong>da</strong>s organizações<br />
têm sobre os seus comportamentos,<br />
atitudes e comunicação organizacionais<br />
estabeleci<strong>da</strong>s com eles. Um dos<br />
pontos de atenção está, justamente,<br />
na multiplici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s imagens que<br />
se formam, já que distintas pessoas<br />
e grupos de relacionamento irão reter<br />
impressões varia<strong>da</strong>s sobre as atitudes<br />
e comportamento <strong>da</strong>s organizações<br />
(BOULDING, 1986).<br />
Comunicação estabeleci<strong>da</strong> com os públicos de relacionamento<br />
por mecanismos formais <strong>da</strong> organização<br />
feedback<br />
Identi<strong>da</strong>de e Cultura Organizacional<br />
Comunicação<br />
Interpessoal entre<br />
colaboradoes e<br />
públicos de<br />
relacionamento<br />
feedback<br />
Imag<strong>em</strong> forma<strong>da</strong><br />
pelos públicos de<br />
relacionamento<br />
Esqu<strong>em</strong>a 1: Relação entre Comunicação e formação <strong>da</strong> Imag<strong>em</strong> Organizacional<br />
Leonardo Leopoldo Costa Coelho*<br />
Nesse sentido, o Terceiro Setor enfrenta<br />
um grande desafio: qualificar sua<br />
gestão e profissionalizar-se de forma<br />
a potencializar os resultados sociais a<br />
que se propõe, onde os recursos são<br />
escassos e as formas de captação passam,<br />
necessariamente, pela forma de<br />
se comunicar e pelos mecanismos de<br />
troca e interação estabelecidos com os<br />
públicos de relacionamento, que irão<br />
favorecer ou não a formação e manutenção<br />
<strong>da</strong> imag<strong>em</strong> organizacional.<br />
A relação <strong>da</strong> comunicação com a formação<br />
<strong>da</strong> imag<strong>em</strong>, de forma simplifica<strong>da</strong>,<br />
pode ser vislumbra<strong>da</strong> no esqu<strong>em</strong>a<br />
1. No desenho, fica explícita<br />
a relação entre a comunicação organizacional<br />
e aquela estabeleci<strong>da</strong> pelos<br />
colaboradores com os públicos de<br />
relacionamento. A resultante, soma<strong>da</strong><br />
às percepções prévias dos públicos<br />
(crenças e valores, informações forneci<strong>da</strong>s<br />
por outros públicos, experiência<br />
Informações forneci<strong>da</strong>s<br />
por outros públicos/<br />
pessoas<br />
Experiências anteriores<br />
com a organização<br />
Crenças e valores<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
7
sustentabili<strong>da</strong>de<br />
anterior com a organização) irão fornecer<br />
os subsídios para a formação <strong>da</strong><br />
imag<strong>em</strong> pelos públicos de relacionamento<br />
prioritários <strong>da</strong> organização.<br />
Pod<strong>em</strong>os, a priori, apontar alguns grupos<br />
de grande importância para a organização<br />
social: seus colaboradores<br />
(voluntários e r<strong>em</strong>unerados), o público<br />
final <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de, os parceiros atuais<br />
e pretendidos e os doadores. Para<br />
ca<strong>da</strong> um deles, pode-se estabelecer<br />
uma comunicação dirigi<strong>da</strong> que busque<br />
aproximá-los <strong>da</strong> causa e envolvê-los<br />
nos processos <strong>da</strong> organização.<br />
Com os colaboradores,<br />
por ex<strong>em</strong>plo,<br />
é fun<strong>da</strong>mental que a<br />
comunicação traga à<br />
l<strong>em</strong>brança, por meio<br />
de seus instrumentos<br />
como o jornal mural,<br />
informativos, newsletter,<br />
intranet, etc.,<br />
os valores que permeiam<br />
a identi<strong>da</strong>de<br />
organizacional<br />
e os objetivos a ser<strong>em</strong><br />
alcançados. Refiro-me<br />
à identi<strong>da</strong>de<br />
(ver esqu<strong>em</strong>a 1) como<br />
tudo aquilo que distingue a<br />
organização <strong>da</strong>s d<strong>em</strong>ais, que a<br />
torna única e especial. Ressalto<br />
a importância de a comunicação<br />
traduzir os valores e sua unici<strong>da</strong>de<br />
<strong>em</strong> informações que auxili<strong>em</strong><br />
a execução dos projetos. Se uma<br />
organização não sabe responder<br />
o que a torna única e quais<br />
são os seus valores, deve voltarse<br />
imediatamente a esses pontos.<br />
Outro aspecto está no fato<br />
de que os valores dev<strong>em</strong> mediar<br />
as relações entre os colaboradores<br />
e, avivados pela comunicação<br />
<strong>em</strong> locais de fácil acesso e<br />
constante visitação, tornam-se<br />
mais usuais.<br />
A comunicação, como uma dimensão<br />
fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> gestão,<br />
8 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
pode contribuir para o direcionamento<br />
dos fluxos informacionais. Na prática,<br />
significa fazer chegar às pessoas<br />
certas as informações relevantes para<br />
que execut<strong>em</strong>, <strong>da</strong> melhor maneira, o<br />
seu trabalho e que tenham mecanismos<br />
variados de trocar impressões, informações<br />
e <strong>da</strong>r feedback do que v<strong>em</strong><br />
sendo realizado. Lideranças e d<strong>em</strong>ais<br />
colaboradores pod<strong>em</strong> se beneficiar<br />
desta comunicação se ela for dialógica<br />
e isso depende <strong>em</strong> parte dos próprios<br />
colaboradores, <strong>em</strong> parte dos tipos<br />
de mecanismos utilizados pela<br />
organização para que a circulação <strong>da</strong>s<br />
informações aconteça. Assim, os mecanismos<br />
de comunicação interpessoal<br />
(reuniões, encontros, s<strong>em</strong>inários,<br />
ro<strong>da</strong>s de conversa, reuniões de brainstorming,<br />
etc.) e os mediados pela tecnologia<br />
(e-mails, chats, intranets, site,<br />
blogs, etc.) serv<strong>em</strong> à diss<strong>em</strong>inação<br />
dos valores e à projeção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> organização, ou seja, aquilo<br />
que a torna única. S<strong>em</strong> contar as campanhas<br />
institucionais e publicitárias<br />
que, ao ser<strong>em</strong> planeja<strong>da</strong>s para mobilizar<br />
o maior (e melhor) contingente<br />
de pessoas e outras organizações<br />
para a causa, precisam estar atentas<br />
para não incorrer no erro de desvirtuar<br />
sua identi<strong>da</strong>de projeta<strong>da</strong> ao simplesmente<br />
usar as mesmas lógicas comunicacionais<br />
que <strong>em</strong>presas priva<strong>da</strong>s ou<br />
públicas utilizam, ou mesmo reforçar<br />
estereótipos de minorias. Chamo<br />
a atenção para o fato de que acredito<br />
que os instrumentos desenvolvidos<br />
<strong>em</strong> <strong>em</strong>presas priva<strong>da</strong>s e setor público<br />
para a gestão pod<strong>em</strong> e dev<strong>em</strong> ser<br />
apropriados, desde que se observ<strong>em</strong><br />
as especifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong> organização e a<br />
aplicação de tais instrumentos naquele<br />
contexto, onde sugiro um aprofun<strong>da</strong>mento<br />
prévio nas metodologias e<br />
instrumentos e sua devi<strong>da</strong> a<strong>da</strong>ptação.<br />
A comunicação e a consequente imag<strong>em</strong><br />
organizacional pod<strong>em</strong> contribuir<br />
muito para o alinhamento entre<br />
discurso e práticas organizacionais.<br />
Uma organização percebi<strong>da</strong> por seus<br />
m<strong>em</strong>bros e públicos de relacionamento<br />
como honesta, competente, responsável,<br />
íntegra e solidária, gera um<br />
“movimento mobilizador convocante”<br />
à participação de pessoas que se<br />
sintonizam com aqueles ideais e valores<br />
pregados e vivenciados. No ambiente<br />
interno, convi<strong>da</strong> os colaboradores<br />
a uma conduta <strong>em</strong> consonância<br />
com o discurso institucional, ou seja,<br />
se quer<strong>em</strong>os que a organização seja<br />
percebi<strong>da</strong> como responsável, competente<br />
e solidária, ter<strong>em</strong>os que começar<br />
pelas atitudes de ca<strong>da</strong> colaborador<br />
com os colegas, com os atendidos,<br />
com as pessoas que interag<strong>em</strong> com a<br />
organização, com os doadores e também<br />
com os críticos do trabalho.<br />
Enfim, a complexi<strong>da</strong>de na gestão <strong>da</strong>s<br />
organizações acompanha a complexi<strong>da</strong>de<br />
dos fenômenos sociais na atuali<strong>da</strong>de<br />
e a constante mu<strong>da</strong>nça nas formas<br />
de comunicação. Uma organização<br />
social não pode ficar alheia a to<strong>da</strong> revolução<br />
comunicacional (<strong>em</strong> especial<br />
as mídias sociais) e n<strong>em</strong> abrir mão de<br />
planejar suas ações e sua comunicação.<br />
O desafio será s<strong>em</strong>pre buscar a participação,<br />
a diversi<strong>da</strong>de e respeito <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s<br />
as mensagens envia<strong>da</strong>s e relações<br />
estabeleci<strong>da</strong>s para a construção de um<br />
mundo mais equânime e solidário.<br />
Referências Bibliográficas:<br />
BOULDING, K.E. The image. Ann Arbor: University of<br />
Michigan Press, 1986.<br />
MEREGE, Prefácio. In CABRAL, A.; COELHO, L.<br />
(orgs.). Mundo <strong>em</strong> Transformação - Caminhos para<br />
o desenvolvimento sustentável. 1. ed. Belo Horizonte:<br />
Autêntica: 2006. p 7-15.<br />
*Relações Públicas e Mestre <strong>em</strong> Administração<br />
(FDC/PUC Minas), é sócio do Instituto Ver - Pesquisa<br />
e Diagnóstico <strong>em</strong> Comunicação. Professor <strong>da</strong><br />
PUC Minas e BI International, Diretor de Comunicação<br />
<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>mig e Coordenador do Espaço Criança<br />
Esperança de Belo Horizonte. Autor do livro “Mundo<br />
<strong>em</strong> Transformação: caminhos para o desenvolvimento<br />
sustentável” - Editora Autêntica, 2006.
sustentabili<strong>da</strong>de<br />
Voluntariado nas Organizações<br />
de Terceiro Setor<br />
Voluntariado é a expressão <strong>da</strong> participação<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de na vi<strong>da</strong> pública<br />
mais significativa <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de.<br />
Os movimentos de participação social<br />
sofr<strong>em</strong> modificações de acordo com<br />
as condições impostas pela reali<strong>da</strong>de,<br />
mas muito além do t<strong>em</strong>po e do espaço,<br />
o voluntariado se manifesta no Brasil<br />
desde a sua orig<strong>em</strong> pelas ativi<strong>da</strong>des religiosas,<br />
especialmente de assistência,<br />
saúde e educação.<br />
A aju<strong>da</strong> mútua é uma forma de voluntariado<br />
que, ao longo do t<strong>em</strong>po,<br />
se manifesta <strong>em</strong> populações de imigrantes<br />
que se organizam para aju<strong>da</strong>r<br />
aqueles, que ao chegar a um território<br />
estranho, precisam impulsionar<br />
um novo modo de vi<strong>da</strong>, entre escravos<br />
que prestavam socorro aos seus,<br />
naqueles que acolh<strong>em</strong> desabrigados e<br />
peregrinos, nos que aju<strong>da</strong>m vizinhos,<br />
parentes e amigos a solucionar os<br />
probl<strong>em</strong>as do dia-a-dia.<br />
Mas como essa atitude chega às instituições<br />
do Terceiro Setor neste milênio?<br />
O voluntariado abre o novo milênio<br />
como uma expressão legítima <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia,<br />
<strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de pela vi<strong>da</strong> do<br />
outro, na preocupação com o desenvolvimento<br />
sustentável. Chega ao novo<br />
milênio com jeito de militância política<br />
alia<strong>da</strong> a uma grande articulação solidária.<br />
Envolve crianças, jovens, adultos e<br />
idosos. Ca<strong>da</strong> um ao seu modo, contribui.<br />
O voluntariado se diss<strong>em</strong>ina <strong>em</strong> organizações,<br />
<strong>em</strong>presas, escolas, repartições<br />
públicas e toma conta de um novo<br />
jeito de olhar o mundo. Um novo jeito<br />
de participar <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> pública.<br />
Em 1993, a socie<strong>da</strong>de brasileira é coloca<strong>da</strong><br />
diante de um desafio: acabar<br />
com a fome e a miséria. Nasc<strong>em</strong> campanhas,<br />
nasc<strong>em</strong> organizações, o t<strong>em</strong>a<br />
é colocado na pauta política. Enfim, a<br />
fome, aquela fome com que a socie<strong>da</strong>de<br />
já estava acostuma<strong>da</strong> a conviver,<br />
passa a ser a grande vilã que deve<br />
ser derruba<strong>da</strong>. Mu<strong>da</strong> o foco <strong>da</strong> aju<strong>da</strong>.<br />
A soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de t<strong>em</strong> um novo modo de<br />
existir: é aju<strong>da</strong> estrutura<strong>da</strong>, com meta<br />
de superar os probl<strong>em</strong>as.<br />
A Pastoral <strong>da</strong> Criança reúne uma grande<br />
rede de voluntários espalhados por<br />
todo o mundo com um desafio s<strong>em</strong>elhante:<br />
erradicar a mortali<strong>da</strong>de infantil.<br />
E os resultados são surpreendentes.<br />
Essa ampla rede de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />
já salvou milhões de vi<strong>da</strong>s e continua<br />
a salvar nos lugares mais longínquos e<br />
inacessíveis do Planeta.<br />
São voluntários que se organizam por<br />
uma causa, por um ideal.<br />
Segundo definição <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s,<br />
“o voluntário é o jov<strong>em</strong> ou o adulto<br />
que, devido a seu interesse pessoal e<br />
ao seu espírito cívico, dedica parte do<br />
seu t<strong>em</strong>po, s<strong>em</strong> r<strong>em</strong>uneração alguma,<br />
a diversas formas de ativi<strong>da</strong>des, organiza<strong>da</strong>s<br />
ou não, de b<strong>em</strong>-estar social, ou<br />
outros campos...” Mas, acima de tudo,<br />
ser voluntário é trazer no coração um<br />
imenso desejo de participar, de contribuir<br />
para digni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. É assim<br />
que a dinâmica do voluntariado no<br />
Brasil v<strong>em</strong> crescendo a ca<strong>da</strong> ano.<br />
Ser voluntário é coisa séria, acontece<br />
espontaneamente pelo compromisso<br />
Marisa Seoane Rio Resende*<br />
e responsabili<strong>da</strong>de individual e se concretiza<br />
nas instituições <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. É<br />
por isso que a legislação ampara voluntários<br />
e instituições, respal<strong>da</strong>ndo o<br />
desejo legítimo de participação e afastando<br />
interesses escusos que possam<br />
comprometer o avanço do movimento<br />
voluntário no Brasil, por meio <strong>da</strong> lei<br />
nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998.<br />
Nela, além <strong>da</strong> regulação como ativi<strong>da</strong>de<br />
reconheci<strong>da</strong> <strong>em</strong> lei, propõe-se a<br />
utilização de um instrumento chamado<br />
“Termo de Adesão”. O termo de adesão<br />
é assinado pelo voluntário que doa<br />
seu t<strong>em</strong>po, trabalho e talento e pelo<br />
responsável <strong>da</strong> instituição que lhe confere<br />
ativi<strong>da</strong>des e responsabili<strong>da</strong>des.<br />
Qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> uma causa, mas não sabe<br />
como fazer, a melhor alternativa é associar-se<br />
a uma organização estrutura<strong>da</strong><br />
que poderá indicar o caminho e aproveitar<br />
<strong>da</strong> melhor forma o seu talento<br />
e disponibili<strong>da</strong>de. As organizações ambientais,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, são constituí<strong>da</strong>s<br />
<strong>em</strong> grande parte por voluntários,<br />
que aprend<strong>em</strong> a proteger o ambiente<br />
<strong>em</strong> suas próprias comuni<strong>da</strong>des, sabendo<br />
como agir, denunciar, reverter situações<br />
e, com isso, os voluntários tornam-se<br />
parte de uma ver<strong>da</strong>deira rede<br />
de proteção ambiental.<br />
Tornar-se voluntário <strong>em</strong> uma escola ou<br />
creche é também uma forma estrutura<strong>da</strong><br />
de atuar. As instituições mais organiza<strong>da</strong>s<br />
possu<strong>em</strong> “bancos de talentos”<br />
e receb<strong>em</strong> voluntários para atuar diretamente<br />
nas d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>s <strong>da</strong> instituição,<br />
de forma a agregar valor ao trabalho<br />
dos profissionais contratados. Os voluntários<br />
pod<strong>em</strong> formar times que vão<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
9
sustentabili<strong>da</strong>de<br />
desde a captação de recursos até a realização<br />
de mutirões de serviços. Muitas<br />
instituições criam grupos de voluntários<br />
para alavancar novos projetos, que<br />
ao ser<strong>em</strong> aprovados na metodologia e<br />
conseguir<strong>em</strong> obter recursos passam a<br />
ser mantidos por profissionais e os voluntários<br />
dão início a novos projetos.<br />
A participação do voluntário é s<strong>em</strong>pre<br />
um fator de valor para a comuni<strong>da</strong>de,<br />
para as instituições, para qu<strong>em</strong> recebe<br />
e para qu<strong>em</strong> se doa. Uma socie<strong>da</strong>de<br />
que confia <strong>em</strong> seus vizinhos, <strong>em</strong> seus<br />
jovens, <strong>em</strong> seus talentos, é uma comuni<strong>da</strong>de<br />
forte e capaz de enfrentar grandes<br />
dificul<strong>da</strong>des s<strong>em</strong> destruir suas relações<br />
humanas.<br />
A d<strong>em</strong>ocracia se consoli<strong>da</strong> pela participação<br />
constante e decisiva dos ci<strong>da</strong>dãos.<br />
Nela, estão conceitua<strong>da</strong>s as<br />
várias formas de participação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
e uma <strong>da</strong>s principais é o voluntariado,<br />
que se estabelece nos conselhos<br />
de direitos, nas redes de proteção social,<br />
nas organizações sociais, nos movimentos<br />
sociais, nas campanhas de<br />
mobilização, entre outros.<br />
Nos conselhos de defesa de direitos,<br />
os indivíduos participam como representantes<br />
de comuni<strong>da</strong>des ou organizações<br />
e extrapolam os limites institucionais,<br />
com a oportuni<strong>da</strong>de de gerar<br />
grandes transformações frente aos<br />
graves probl<strong>em</strong>as que assolam a socie<strong>da</strong>de.<br />
Neles se estabelec<strong>em</strong> espaços de<br />
pesquisa, debate e ação, influenciam<br />
políticas públicas, indicam priori<strong>da</strong>des<br />
no destino de recursos públicos, estabelec<strong>em</strong><br />
redes de relações para superação<br />
e enfrentamento de complexos<br />
probl<strong>em</strong>as sociais. Essa participação<br />
voluntária exige grande nível de comprometimento<br />
dos participantes, muita<br />
criativi<strong>da</strong>de, capaci<strong>da</strong>de de articulação<br />
e conhecimento de causa.<br />
As redes de proteção social atuam<br />
muitas vezes de forma silenciosa,<br />
mas possu<strong>em</strong> grande capaci<strong>da</strong>de de<br />
10 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
transformação. Em torno de uma causa,<br />
os voluntários estabelec<strong>em</strong> relacionamentos<br />
de confiança com grande capaci<strong>da</strong>de<br />
de atuação. Os voluntários<br />
são acionados s<strong>em</strong>pre que um probl<strong>em</strong>a<br />
exige a atenção imediata, ação rápi<strong>da</strong><br />
e pronta solução. Nesse formato<br />
exist<strong>em</strong> grupos voluntários de combate<br />
a incêndio <strong>em</strong> locais específicos, geralmente<br />
onde não exist<strong>em</strong> esses serviços<br />
públicos. Grupos de paramédicos<br />
voluntários que se revezam <strong>em</strong> atender<br />
acidentes de trânsito <strong>em</strong> estra<strong>da</strong>s ou<br />
áreas urbanas. Redes de combate à violência<br />
doméstica, que se acionam para<br />
agir <strong>em</strong> conflitos familiares, <strong>da</strong>r socorro<br />
e proteção às vitimas, realizar campanhas<br />
educativas e apoiar organismos<br />
públicos de repressão à violência.<br />
Nas organizações sociais, os voluntários<br />
atuam na implantação e criação<br />
de novas instituições, como dirigentes,<br />
<strong>em</strong> mutirões, captação de recursos, organização<br />
de eventos e festas, associados,<br />
ativi<strong>da</strong>des pontuais e permanentes,<br />
enfim, adicionando valor às ações<br />
do dia-a-dia.<br />
Os movimentos sociais reún<strong>em</strong> pessoas<br />
<strong>da</strong>s mais diversas organizações, comuni<strong>da</strong>des<br />
ou mesmo indivíduos que compartilham<br />
de uma mesma causa e que<br />
decid<strong>em</strong> fazer um esforço de união para<br />
concretizar seus ideais. Todos ag<strong>em</strong> voluntariamente.<br />
Os movimentos sociais<br />
se constitu<strong>em</strong> <strong>em</strong> alianças <strong>em</strong> torno<br />
dos interesses defendidos. Constitu<strong>em</strong><br />
grandes forças na consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> d<strong>em</strong>ocracia<br />
e contribu<strong>em</strong> muito significativamente<br />
para fortalecer os direitos<br />
de grupos vulneráveis ou menos<br />
favorecidos.<br />
As campanhas são geralmente instrumentos<br />
educativos utilizados para diss<strong>em</strong>inar<br />
informações importantes para<br />
a superação de probl<strong>em</strong>as coletivos,<br />
que exig<strong>em</strong> mu<strong>da</strong>nça de atitude, alianças<br />
para enfrentamento, mobilização<br />
de pessoas, cooperação entre lideranças<br />
sociais. Os voluntários pod<strong>em</strong> atuar<br />
nas diversas etapas de uma campanha,<br />
desde elaboração, veiculação, diss<strong>em</strong>inação<br />
até a ação fim. As campanhas<br />
mobilizam grandes contingentes de<br />
voluntários e muitas vezes acabam inspirando<br />
a criação de projetos sociais<br />
permanentes.<br />
O trabalho voluntário é, portanto, parte<br />
<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> d<strong>em</strong>ocrática <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, é<br />
uma prática de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia que se concretiza<br />
pela disposição <strong>em</strong> fazer parte<br />
dos rumos <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de onde se<br />
vive. É necessário um olhar atento às<br />
necessi<strong>da</strong>des e d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>s existentes,<br />
utilizando todo o potencial de articulação,<br />
união de esforços, criativi<strong>da</strong>de e<br />
responsabili<strong>da</strong>de para garantir direitos<br />
e cumprir os deveres, alcançar assim<br />
uma socie<strong>da</strong>de que todos tenham orgulho<br />
de pertencer.<br />
A soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de é um<br />
combustível importante<br />
para a dinâmica <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de.<br />
Ser voluntário é o trabalho mais contagiante<br />
que existe, basta fazer uma vez<br />
e pronto... A marca fica para s<strong>em</strong>pre.<br />
O desafio é colocar essa atitude no<br />
dia-a-dia e transformar ações pontuais<br />
<strong>em</strong> permanentes e assim contribuir<br />
concretamente para que o mundo seja<br />
um lugar melhor para todos. A soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />
é um combustível importante<br />
para a dinâmica <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. É muito<br />
importante estar atento ao que acontece<br />
ao redor e agir prontamente para<br />
que os pequenos probl<strong>em</strong>as não se<br />
transform<strong>em</strong> <strong>em</strong> grandes transtornos<br />
para a socie<strong>da</strong>de.<br />
*Coordenadora do Núcleo de Responsabili<strong>da</strong>de Social<br />
Empresarial - Federação <strong>da</strong>s Indústrias do Estado<br />
de Minas Gerais - FIEMG. Presidente do Centro<br />
Mineiro de Alianças Intersetoriais - CEMAIS. M<strong>em</strong>bro<br />
<strong>da</strong> Ouvidoria do Sist<strong>em</strong>a FIEMG.
educação e cultura<br />
A transcendência na linguag<strong>em</strong><br />
de Nenhum, Nenhuma<br />
Diversos olhares pod<strong>em</strong> ser utilizados<br />
para cont<strong>em</strong>plar a obra deste “bruxo<br />
<strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>” 1 . Crítico <strong>em</strong>inente do<br />
contexto literário, gramatical-linguístico<br />
e sociopsicológico de uma época,<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> busca “desconstruir” 2<br />
os sentidos cristalizados <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong><br />
para devolvê-la <strong>em</strong> outras origens.<br />
Tais origens não direcionam-se para<br />
uma ontologia <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, mas<br />
antes, apontam para uma (re)criação de<br />
significados afetivos através do resgate<br />
do ser. Argumentando de modo diverso,<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> recria os sentidos a<br />
partir <strong>da</strong>quilo que afeta, que altera os<br />
sentidos e que, sob diversas circunstâncias,<br />
não cab<strong>em</strong> dentro do primado<br />
linguístico <strong>da</strong> razão ocidental, a qual se<br />
pauta pela objetivi<strong>da</strong>de e pela palavra<br />
ao pé <strong>da</strong> letra.<br />
Uma <strong>da</strong>s grandes críticas presentes <strong>em</strong><br />
sua obra é a de que a linguag<strong>em</strong> não<br />
esgota a reali<strong>da</strong>de do ser pela anunciação<br />
<strong>da</strong>s palavras de ordens de uma<br />
determina<strong>da</strong> época com sua Razão 3 .<br />
É o próprio <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, que <strong>em</strong><br />
correspondência a Edoardo Bizzarri 4 ,<br />
enuncia:<br />
Ora, Você já notou, decerto, que,<br />
como eu, os meus livros, <strong>em</strong> essência,<br />
são “anti-intelectuais”- defend<strong>em</strong><br />
o altíssimo primado <strong>da</strong> intuição, <strong>da</strong><br />
revelação, <strong>da</strong> inspiração, sobre o<br />
bruxolear presunçoso <strong>da</strong> inteligência<br />
reflexiva, <strong>da</strong> razão, a megera<br />
cartesiana. Quero ficar com o Tao,<br />
com os Ve<strong>da</strong>s e Upanixades, com os<br />
Evangelistas e São Paulo, com Platão,<br />
com Plotino, com Bergson, com Berdiaeff<br />
- com Cristo, principalmente.<br />
Por isto mesmo, como apreço de essência<br />
e acentuação, assim gostaria<br />
de considerá-los: a) cenário e reali<strong>da</strong>de<br />
sertaneja: 1 ponto; b) enredo: 2<br />
pontos; c) poesia: 3 pontos; d) valor<br />
metafísico-religioso: 4 pontos. ...<br />
Esta introdução, enuncia<strong>da</strong> pelo próprio<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, sobre os sentidos<br />
e valores de sua obra torna-se um<br />
convite à escolha de uma posição do<br />
olhar para o fruir literário e psicológico<br />
de sua obra. Assim, neste artigo o olhar<br />
escolhido para a fruição <strong>da</strong> tessitura<br />
linguístico-significativa <strong>da</strong> obra foi o<br />
metafísico 5 -religioso. Pela amplitude<br />
de sua obra será escolhido, como texto<br />
a ser cont<strong>em</strong>plado, o conto NENHUM,<br />
NENHUMA 6 .<br />
Este conto, enquanto um representante<br />
<strong>da</strong> obra rosiana e de seus valores, v<strong>em</strong><br />
revelar o significado <strong>da</strong> religiosi<strong>da</strong>de -<br />
proprie<strong>da</strong>de que fun<strong>da</strong>menta o Humano<br />
e seu ex-istir pelo resgate dos afetos<br />
através <strong>da</strong> metáfora <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória.<br />
Maria Ma<strong>da</strong>lena Magnabosco*<br />
“Nenhum, Nenhuma” é uma <strong>da</strong>s estórias escritas por João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> <strong>em</strong> seu livro<br />
“Primeiras Estórias”. Meu objetivo com esse artigo é tecer um diálogo entre a estória e<br />
alguns fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> fenomenológico-existencial.<br />
O sentido de religiosi<strong>da</strong>de utilizado<br />
nesse artigo v<strong>em</strong> de sua etimologia,<br />
“religar-se a” 7 ; b<strong>em</strong> como o sentido<br />
de m<strong>em</strong>ória, enquanto descendente<br />
de Mn<strong>em</strong>ósyne, a que devolve e recria<br />
os sentidos (ethos) pela mediação <strong>da</strong>s<br />
palavras do poeta. Ambos os sentidos<br />
atêm-se à mesma linhag<strong>em</strong> de fios<br />
que buscam compor tessituras que<br />
envolv<strong>em</strong>, acolh<strong>em</strong> e recriam um<br />
universo, muitas vezes esquecido,<br />
para não dizer reprimido, pelo resgate<br />
de uma nova linguag<strong>em</strong> <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória<br />
através do religar-se à imaginação<br />
infantil.<br />
A imaginação infantil é uma <strong>da</strong>s<br />
metáforas transcendentes sobre a<br />
autentici<strong>da</strong>de e religiosi<strong>da</strong>de do ser,<br />
utiliza<strong>da</strong>s por <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> para<br />
recriar uma linguag<strong>em</strong> que foi marginaliza<strong>da</strong>,<br />
adultera<strong>da</strong> e subestima<strong>da</strong><br />
pelos cânones linguísticos ocidentais.<br />
Neste, a linguag<strong>em</strong> infantil não é considera<strong>da</strong><br />
linguag<strong>em</strong>, mas um balbucio<br />
de alguém que “na<strong>da</strong> entende” e que<br />
não t<strong>em</strong> “razão”, um mutus. Diante<br />
desta consideração anterior, pode-se<br />
pensar com <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> a riqueza<br />
expressiva e afetiva do pronome<br />
Nenhum, Nenhuma.<br />
Este pronome v<strong>em</strong> a ser uma enunciação<br />
do valor metafísico-religioso rosiano.<br />
Este valor busca a transcendência<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
11
educação e cultura<br />
via a renovação <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> e do<br />
Ser. Em um trabalho sobre a obra de<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, a escritora Maria<br />
Heloisa Noronha Barros 8 busca criteriar<br />
a fun<strong>da</strong>mentali<strong>da</strong>de do Ser-Linguag<strong>em</strong><br />
através de uma releitura de Heidegger.<br />
Ela própria enuncia:<br />
O perigo <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> está na possibili<strong>da</strong>de<br />
de fazer esquecer o Ser pelos<br />
entes. A palavra deve revelar o ente<br />
como tal e guardá-lo. Por este meio<br />
a linguag<strong>em</strong> pode chegar ao mais<br />
puro e o mais oculto, assim como<br />
ao comum e inessencial. A palavra<br />
essencial esconde-se, muitas vezes,<br />
atrás <strong>da</strong> simplici<strong>da</strong>de aparente, é que<br />
falando do divino, deve ser entendi<strong>da</strong><br />
pelos mortais. A palavra pertence ao<br />
hom<strong>em</strong> que dela se serve para comunicar<br />
experiências, decisões, estados<br />
de ânimo; serve para entender. Mas<br />
não está aí a sua essência, ela não se<br />
esgota <strong>em</strong> ser um instrumento entre<br />
outros, mas é aquilo que faz o hom<strong>em</strong><br />
ser hom<strong>em</strong>. Só há mundo onde<br />
há linguag<strong>em</strong> e só há história onde<br />
há mundo - Somos um diálogo. A linguag<strong>em</strong><br />
é o Ser do hom<strong>em</strong> e esta é,<br />
antes de tudo, diálogo. A linguag<strong>em</strong><br />
só é um repertório de palavras e<br />
regras sintáticas num primeiro plano,<br />
num plano mais profundo é diálogo.<br />
Diálogo é o meio de chegarmos ao<br />
outro. Mas o diálogo não consiste<br />
principalmente num falar mas num<br />
ouvir. Ser um diálogo significa que<br />
pod<strong>em</strong>os nos ouvir mutuamente. A<br />
uni<strong>da</strong>de do diálogo consiste <strong>em</strong> que<br />
aquilo que manifesta na palavra essencial<br />
é o um e o mesmo pelo qual<br />
nos reunimos e pelo qual somos um e<br />
nós mesmos [...] Mas não basta que<br />
a linguag<strong>em</strong> exista para que haja<br />
diálogo.<br />
Palavras, definições, concepções de<br />
mundo e pessoas são os instrumentos<br />
<strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, “o utensílio como forma<br />
de uso, de serventia” 9 . Ao se fazer<br />
uso <strong>da</strong> palavra para designar algo ou<br />
alguém, revela-se sua disponibili<strong>da</strong>de.<br />
12 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
Esta disponibili<strong>da</strong>de faz parte de um<br />
centro de referências que vincula a<br />
pessoa e o objeto aos outros e ao<br />
mundo. Somente quando cessa a<br />
instrumentali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> palavra, pode-se<br />
perceber o nascimento do Ser. Sobre<br />
este nascimento, Benedito Nunes fala:<br />
[...] Quando a instrumentali<strong>da</strong>de<br />
cessa, o utensílio sai de uso, a serventia<br />
se perde, surge o ente-natural<br />
<strong>em</strong> seu ser-à-vista. Dá-se, então, a<br />
neutralização do trato envolvente<br />
e a relação de familiari<strong>da</strong>de com o<br />
mundo circun<strong>da</strong>nte é suspensa através<br />
<strong>da</strong> visão circunspectiva; só então<br />
a referência se torna expressa e o<br />
ser-coisa dos utensílios nos aparece<br />
<strong>em</strong> seu mistério. 10<br />
Esta neutralização, pode-se pensar,<br />
é a que encontra-se denomina<strong>da</strong> no<br />
pro-nome nenhum, nenhuma.<br />
Nenhum, pro-nome indefinido, diz<br />
melhor sobre o infinito potencial <strong>da</strong><br />
imaginação e <strong>da</strong> leveza necessária<br />
para romper-se com a opaci<strong>da</strong>de do<br />
mundo e <strong>da</strong>s palavras.<br />
Nenhum, pro-nome indefinido, possibilita<br />
a ausência, vazio imprescindível<br />
para revelar como a presença <strong>em</strong> d<strong>em</strong>asia<br />
pesa <strong>em</strong> obscuri<strong>da</strong>des os fatos<br />
e as pessoas.<br />
Nenhum que é de ninguém e que pode<br />
ser de qualquer um, de todo mundo: a<br />
potenciali<strong>da</strong>de e vitali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> imaginação,<br />
um resgate dos significados e<br />
afetos esquecidos no escuro <strong>da</strong> razão<br />
adult(er)a.<br />
Um menino, um quarto escuro, um<br />
hom<strong>em</strong> s<strong>em</strong> aparência, uma Moça, um<br />
Moço, uma Velha e as l<strong>em</strong>branças: m<strong>em</strong>órias<br />
que tec<strong>em</strong> as malhas discursivas<br />
do conto Nenhum, Nenhuma. Malhas<br />
essas que irão se fazer pelo avesso do<br />
verbo anunciado, ou seja, por sentidos<br />
e religações outras - que não os de uma<br />
razão iluminista do mundo objetivado -<br />
ou seja, se fará pelos cheiros, tato,<br />
pelo não saber, pelo brincar, o não se<br />
l<strong>em</strong>brar, o duvi<strong>da</strong>r e o questionar.<br />
Curiosamente, a razão que ilumina<br />
lampejos <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória e do saber adulto<br />
e culto é a mesma que obscurece pela<br />
interdição dos contrários, pela proibição<br />
do Nenhum, Nenhuma. A objetivação<br />
<strong>da</strong>s estruturas racionais que formam as<br />
categorias funcionais e de organização<br />
dos comportamentos, ações, sentimentos,<br />
posturas e escrituras imped<strong>em</strong><br />
o indefinido, o não nomeado, o avesso<br />
<strong>da</strong>s palavras. Indefinir - na razão iluminista<br />
- é o mesmo que não existir, e o<br />
que não t<strong>em</strong> existência visível só pode<br />
mesmo ser coisa de maluco, lunático,<br />
imaginação de criança.<br />
Esta mesma visibili<strong>da</strong>de exigi<strong>da</strong> como<br />
prova de veraci<strong>da</strong>de e de reali<strong>da</strong>de é a<br />
que, frequent<strong>em</strong>ente, habita a formação<br />
<strong>da</strong>s palavras. A palavra diz o que é e<br />
sua presença é li<strong>da</strong> como presença do<br />
significado. A simples anunciação <strong>da</strong><br />
palavra deseja, muitas vezes, saciar os<br />
vínculos dos significados que dotam<br />
de sentidos não a presença, mas a<br />
ausência (transcendência). A palavra<br />
diz não pelo que anuncia, mas pela afirmação<br />
do ausente. Esta negativi<strong>da</strong>de<br />
ou este reflexo negativo do que é outro<br />
<strong>em</strong> relação ao firmado pela linguag<strong>em</strong><br />
<strong>da</strong> razão - seja no gesto ou no verbo -<br />
frequent<strong>em</strong>ente é esquecido nas<br />
relações interpessoais, nas estruturas<br />
gramaticais e linguísticas, b<strong>em</strong> como<br />
na m<strong>em</strong>ória.<br />
Entre os homens e suas relações/revelações,<br />
este esquecimento termina<br />
por trazer consequências paralisantes e<br />
destrutivas para o viver e o com-viver,<br />
para o ser-aí. Tais consequências são<br />
notáveis nas formas expressivas <strong>da</strong><br />
linguag<strong>em</strong> utiliza<strong>da</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, pelo<br />
preconceito, pela discriminação, pelas<br />
e nas hierarquizações <strong>da</strong>s relações<br />
interpessoais, pelos achatamentos dos
educação e cultura<br />
significados <strong>em</strong> “chavões” e “jargões”<br />
de determinados grupos com seus<br />
interesses de dominação. O resultado<br />
destes usos <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> é o <strong>em</strong>pobrecimento<br />
do Hom<strong>em</strong> e suas alteri<strong>da</strong>des<br />
linguísticas.<br />
A pobreza relacional-linguística termina<br />
por impedir a re-velação, o diálogo,<br />
a criação, o fazer transformativo,<br />
e consequent<strong>em</strong>ente, o religar <strong>da</strong>s<br />
pessoas aos significados outros do<br />
mundo. Creio não ser d<strong>em</strong>asiado<br />
prepotente afirmar que este religar<br />
é o fun<strong>da</strong>mento metafísico <strong>da</strong> obra<br />
de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>. Em entrevista a<br />
Günter Lorenz 11 é o próprio <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> qu<strong>em</strong> enuncia:<br />
[...] o trabalho é importantíssimo.<br />
Mas ain<strong>da</strong> mais importante para<br />
mim é o outro aspecto, o aspecto<br />
metafísico <strong>da</strong> língua, que faz com<br />
que minha linguag<strong>em</strong> antes de tudo<br />
seja minha. Também aqui pode-se<br />
determinar meu ponto de parti<strong>da</strong>,<br />
que é muito simples. Meu l<strong>em</strong>a é: a<br />
linguag<strong>em</strong> e a vi<strong>da</strong> são uma coisa<br />
só. Qu<strong>em</strong> não fizer do idioma o<br />
espelho de sua personali<strong>da</strong>de não<br />
vive; e como a vi<strong>da</strong> é uma corrente<br />
contínua, a linguag<strong>em</strong> também<br />
deve evoluir constant<strong>em</strong>ente. Isto<br />
significa que, como escritor, devo<br />
me prestar conta de ca<strong>da</strong> palavra<br />
e considerar ca<strong>da</strong> palavra o t<strong>em</strong>po<br />
necessário até ela ser novamente<br />
vi<strong>da</strong>. O idioma é a única porta para o<br />
infinito, mas infelizmente está oculto<br />
sob montanhas de cinzas.<br />
Através <strong>da</strong> religação pela transcendência<br />
<strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória que recupera<br />
afetos, o conto Nenhum, Nenhuma<br />
v<strong>em</strong> nos l<strong>em</strong>brar do esquecimento<br />
<strong>da</strong> imaginação infantil <strong>em</strong> favor <strong>da</strong><br />
compreensão racional adulta. Tal<br />
compreensão, a qual orienta-se sob os<br />
critérios <strong>da</strong> clareza, <strong>da</strong> continui<strong>da</strong>de<br />
formal e <strong>da</strong> organização literal dos<br />
fatos e ânimos, suprime outras formas<br />
de simbolizar, seja pelos cheiros, pelos<br />
gestos, cores, ludici<strong>da</strong>des, intuições, e<br />
até mesmo, pelas indiferenciações.<br />
Digo indiferenciações, pois é a partir do<br />
que ain<strong>da</strong> não é definido, contornado<br />
e ordenado pela lógica formal do<br />
raciocínio dominante, que torna-se<br />
possível o <strong>em</strong>ergir de contradições, de<br />
ausências, de perplexi<strong>da</strong>des que juntam<br />
fragmentos diversos oferecendo outras<br />
tessituras do Ser-Linguag<strong>em</strong>.<br />
A indiferenciação é uma <strong>da</strong>s bases do<br />
processo criador e <strong>da</strong> imaginação que<br />
não t<strong>em</strong>e a destruição <strong>da</strong>s presenças<br />
para a realização <strong>da</strong>s metamorfoses<br />
dos sentidos e significados 12 . Imaginar<br />
é, assim, esvaziar a presença para possibilitar<br />
reflexos negativos, e a partir<br />
destes, ver o que ain<strong>da</strong> não se viu,<br />
sentir o que ain<strong>da</strong> não se sentiu, dizer<br />
sob outras posicionali<strong>da</strong>des, outros<br />
lugares de enunciações.<br />
Por estas reflexões, pode-se argumentar<br />
que, <strong>em</strong> Nenhum, Nenhuma, <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> ocupa a posicionali<strong>da</strong>de-ser<br />
do Menino para resgatar a m<strong>em</strong>ória, os<br />
afetos e outras identificações possibilita<strong>da</strong>s<br />
pelo estranhamento do mundo<br />
adulto. Mundo este que é representado<br />
na narrativa pelo hom<strong>em</strong> s<strong>em</strong> aspecto,<br />
o qual convive na mesma cena com a<br />
descoberta de uma outra simbolização<br />
do mundo pelo Menino:<br />
Mas um menino penetrara no quarto,<br />
no extr<strong>em</strong>o <strong>da</strong> varan<strong>da</strong>, onde se<br />
achava um hom<strong>em</strong> s<strong>em</strong> aparência,<br />
se b<strong>em</strong> que, por certo, como curiosamente<br />
se diz, já “entrado <strong>em</strong> anos”;<br />
... E naquele quarto seria o escritório...<br />
O menino não sabia ler, mas é<br />
como se a estivesse relendo, numa<br />
revista, no colorido de suas figuras;<br />
no cheiro delas, igualmente. Porque,<br />
o mais vivaz, persistente, e que fixa<br />
na evocação <strong>da</strong> gente o restante, é o<br />
<strong>da</strong> mesa, <strong>da</strong> escrivaninha, vermelha,<br />
<strong>da</strong> gaveta, sua madeira, matéria rica<br />
de quali<strong>da</strong>de: o cheiro, do qual nunca<br />
mais houve. O hom<strong>em</strong> s<strong>em</strong> aspecto<br />
tenta agora parecer-se outro - um<br />
desses velhos tios ou conhecidos<br />
nossos, deles o mais silencioso. Mas,<br />
segundo se apurou, não era. Alguém,<br />
apenas, chamara-o, na ocasião, de<br />
nome com aproxima<strong>da</strong> assonância;<br />
e os dois, o ignorado e o sabido, se<br />
perturbam. 13<br />
É no lampejo <strong>da</strong> perturbação que<br />
acontece a perplexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s imagens<br />
onde as r<strong>em</strong>iniscências pod<strong>em</strong> tornarse<br />
m<strong>em</strong>órias outras, palavras diversas,<br />
imaginação, ou pod<strong>em</strong> t<strong>em</strong>er as distâncias<br />
e cristalizar<strong>em</strong>-se na precisão de<br />
um fato ordenado <strong>em</strong> anteriori<strong>da</strong>des já<br />
<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela serventia.<br />
No conto, a perplexi<strong>da</strong>de - que mistura<br />
velhas m<strong>em</strong>órias para renascer outros<br />
significados - v<strong>em</strong> personifica<strong>da</strong> na<br />
imag<strong>em</strong> <strong>da</strong> Moça.<br />
A Moça, imag<strong>em</strong>. A Moça é então<br />
que reaparece, lin<strong>da</strong> e recôndita. A<br />
l<strong>em</strong>brança <strong>em</strong> torno dessa Moça raia<br />
uma tão extraordinária, maravilhosa<br />
luz, que, se algum dia eu encontrar,<br />
aqui, o que está por trás <strong>da</strong> palavra<br />
“paz”, ter-me-á sido <strong>da</strong>do também<br />
através dela. 14<br />
A Moça, como metáfora do que perturba<br />
e move as ordens estrutura<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />
significação dominante, devolve o Menino<br />
a outros t<strong>em</strong>pos, a outras <strong>da</strong>tas, a<br />
outras m<strong>em</strong>órias, à infância enquanto<br />
significando a existência de outras<br />
ver<strong>da</strong>des, do nenhum, nenhuma.<br />
Foi a Moça qu<strong>em</strong> enunciou, com a voz<br />
que assim nascia s<strong>em</strong> pretexto, que a<br />
<strong>da</strong>ta era a de 1914? E para s<strong>em</strong>pre a<br />
voz <strong>da</strong> Moça retificava-a .<br />
Tudo não d<strong>em</strong>orou calado, tão<br />
fun<strong>da</strong>mente, não existindo, enquanto<br />
viviam as pessoas capazes, qu<strong>em</strong> sabe,<br />
de esclarecer onde estava e por onde<br />
andou o Menino, naqueles r<strong>em</strong>otos,<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
13
educação e cultura<br />
já per<strong>em</strong>ptos anos? Só agora é que<br />
assoma, muito lento, o difícil clarão<br />
r<strong>em</strong>iniscente, ao termo talvez de<br />
longuíssima viag<strong>em</strong>, vindo ferir-lhe a<br />
consciência. Só não chegam até nós,<br />
de outro modo, as estrelas. 15<br />
A ver<strong>da</strong>de, como um revolver <strong>da</strong>s<br />
m<strong>em</strong>órias afetivas perdi<strong>da</strong>s nas<br />
justificativas racionais de um “dever<br />
parecer”, somente é possível quando os<br />
contrários não são tratados como excludentes,<br />
ou seja, quando vi<strong>da</strong>-morte,<br />
amor-separação, sim-não, pod<strong>em</strong> conviver<br />
como os reflexos negativos que<br />
possibilitam a escritura <strong>da</strong>s ausências,<br />
do renascer do Ser. Ausências implicam<br />
na afirmação de novas presenças (religações),<br />
novas formas de simbolizar,<br />
compreender e comunicar. Essa ver<strong>da</strong>de<br />
expressa através dos contraditórios<br />
<strong>em</strong> um só ser aparece no texto pela<br />
presença-ausência <strong>da</strong> Velha,<br />
[...] a velhinha não era a Morte, não.<br />
Antes, era a vi<strong>da</strong>. Ali, num só ser, a<br />
vi<strong>da</strong> vibrava <strong>em</strong> silêncio, dentro de<br />
si, intrínseca, só o coração, o espírito<br />
<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, que esperava. Aquela mulher<br />
ain<strong>da</strong> existir, parecia um desatino de<br />
que ela mesma n<strong>em</strong> tivesse culpa<br />
[...] A Nenha, extr<strong>em</strong>osamente, de<br />
delonga, pelo curso dos anos, pelos<br />
diferentes t<strong>em</strong>pos, ela também menina<br />
ancianíssima. 16<br />
Nos estranhamentos do viver humano<br />
conviv<strong>em</strong>, assim, diversas contradições<br />
que inquietam e permit<strong>em</strong> diferentes<br />
leituras e escrituras do texto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />
Conviv<strong>em</strong> o Hom<strong>em</strong> S<strong>em</strong> Aspecto, a<br />
Moça, a Velha, o Menino e também<br />
o Moço (metáfora do desejo de presença,<br />
<strong>da</strong> garantia do amor, <strong>da</strong> certeza<br />
do mundo).<br />
No conto de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, o Moço<br />
é qu<strong>em</strong> mais desperta a ira no Menino.<br />
Ira de rivali<strong>da</strong>des, por ser ele (Moço)<br />
qu<strong>em</strong> imprime a presença <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória<br />
que deve ser l<strong>em</strong>bra<strong>da</strong> e que, por dever,<br />
retira a perplexi<strong>da</strong>de dos contrários que<br />
14 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
traz<strong>em</strong> a dúvi<strong>da</strong> e consequentes outras<br />
reflexões e transcendências. O Moço<br />
quer, a todo custo, a garantia do amor<br />
<strong>da</strong> Moça, a fideli<strong>da</strong>de <strong>da</strong> palavra que<br />
confirma um ganho mas não constrói<br />
um vínculo afetivo. Na luta para resgatar<br />
outros significados pelo retorno<br />
a t<strong>em</strong>pos-afetos distantes, o Menino<br />
indigna-se com a insistência <strong>da</strong> presença<br />
do Moço, já que ela (presença)<br />
traz antigas cama<strong>da</strong>s cristaliza<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />
m<strong>em</strong>ória que o Menino luta para esquecer,<br />
e no esquecimento l<strong>em</strong>brar-se<br />
sob outras consciências. 17<br />
Reperdi<strong>da</strong> a r<strong>em</strong><strong>em</strong>brança, a representação<br />
de tudo se desordena: é<br />
uma ponte, uma ponte - mas que, a<br />
certa hora, se acabou, parece que.<br />
Luta-se com a m<strong>em</strong>ória. Atordoado,<br />
o Menino, tornado quase incônscio,<br />
como se não fosse ninguém, ou se<br />
todos uma pessoa só, uma só vi<strong>da</strong><br />
foss<strong>em</strong>: ele, a Moça, o Moço, o Hom<strong>em</strong><br />
velho e a Nenha, velhinha - <strong>em</strong><br />
qu<strong>em</strong> trouxe os olhos. 18<br />
Outras consciências somente são<br />
possíveis para qu<strong>em</strong> sabe-se habitante<br />
dos contraditórios, <strong>da</strong>s misturas entre<br />
razões e afetos, entre presenças e ausências,<br />
entre infância e mundo adulto,<br />
entre imaginação e formalização do<br />
conhecimento.<br />
Pelo conto Nenhum, Nenhuma, podese<br />
imaginar que <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> nos<br />
coloca a importância <strong>da</strong> ausência, <strong>da</strong><br />
imaginação infantil, a necessi<strong>da</strong>de de<br />
esquecermos para podermos l<strong>em</strong>brar<br />
de outros saberes. Esta seria sua orientação<br />
de valores metafísico-religiosos:<br />
a revelação do Ser.<br />
Somente pela busca desta revelação<br />
poder<strong>em</strong>os tecer outros sentidos,<br />
outros significados que tragam levezas<br />
para voarmos diferenças e alteri<strong>da</strong>des.<br />
Este vôo se <strong>da</strong>rá através do resgate<br />
<strong>da</strong>quilo que religa e vivifica o ethos<br />
humano: outras palavras que comuniqu<strong>em</strong><br />
diversi<strong>da</strong>des e possibilit<strong>em</strong><br />
compreensões <strong>da</strong> largueza do mundo<br />
<strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, enquanto Vi<strong>da</strong>-Ser!<br />
1. O termo “bruxo <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>” foi utilizado por ALBER-<br />
GARIA, Consuelo. O bruxo <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> no Grande Sertão.<br />
Rio de Janeiro: Ed. T<strong>em</strong>po Brasileiro, 1977.<br />
2. O conceito de desconstrução foi desenvolvido por Jacques<br />
Derri<strong>da</strong>, o qual o define como a busca <strong>da</strong>s contradições<br />
internas <strong>da</strong> obra onde procede-se o descentramento<br />
<strong>da</strong> estrutura textual ao pôr <strong>em</strong> evidência as limitações<br />
dos códigos presentes e ao re-situar o texto <strong>em</strong> uma nova<br />
noção de inter e contextuali<strong>da</strong>de.<br />
3. O conceito de Razão significa uma forma de exercício<br />
cognitivo que aproxima-se <strong>da</strong>s lógicas aristotélicas<br />
dedutivas, b<strong>em</strong> como de outras lógicas fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s <strong>em</strong><br />
raciocínios mat<strong>em</strong>áticos binários. Para maiores referências,<br />
pesquisar <strong>em</strong> MOLES, Abraham. A Criação Científica. São<br />
Paulo: Ed. Perspectiva, 1981.<br />
4. J. GUIMARÃES ROSA Correspondência com o tradutor<br />
italiano. São Paulo: Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro,<br />
Caderno N. 8, 1972.<br />
5. O termo metafísica r<strong>em</strong>ete a Aristóteles e significa filosofia<br />
primeira, “ciência que estu<strong>da</strong> o ser enquanto ser, e o<br />
que lhe pertence como próprio.(...) Esta ciência investiga<br />
“os primeiros princípios e as causas mais eleva<strong>da</strong>s”(...)<br />
Merece por isto ser chama<strong>da</strong> “filosofia primeira”.<br />
Para maiores referências, ver: MORA, Ferrater. Diccionario<br />
de Filosofia. Madrid: Alianza Editorial, 1983.<br />
6. ROSA, João <strong>Guimarães</strong>. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro:<br />
Ed. Nova Fronteira, 13. Ed., 1985, p.47-54.<br />
7. O conceito de religião enquanto “religação” é uma<br />
constante na obra de <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>. O religar, enquanto<br />
uma apropriação, uma apreensão <strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>mentali<strong>da</strong>des<br />
do viver humano aparece com ênfase <strong>em</strong> Grande Sertão:<br />
Vere<strong>da</strong>s, Primeiras Estórias, Corpo de Baile, e nas d<strong>em</strong>ais<br />
obras do autor. Esta apreensão v<strong>em</strong> enriqueci<strong>da</strong> por personagens<br />
e linguagens que buscam transcender o ordinário<br />
comum <strong>da</strong>s palavras (o significado que já não mais é<br />
questionado por ser “<strong>da</strong>do como natural e ver<strong>da</strong>deiro”).<br />
Assim é Riobaldo, Nininha, o Menino, etc., personagens<br />
que representam o constante questionamento sobre as<br />
estruturas já monta<strong>da</strong>s <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>, questionamentos<br />
esses metaforizados <strong>em</strong> imagens <strong>da</strong> infância, <strong>da</strong> pureza,<br />
<strong>da</strong> candura do coração, do não esquecimento do mundo<br />
lúdico e afetivo. Esses são alguns personagens que<br />
representam a m<strong>em</strong>ória afetiva a qual religa ao transcender<br />
o significado já estabelecido <strong>da</strong>s palavras. É como<br />
no conto O Espelho, onde é necessário não mais se ver<br />
para enxergar a essência. Isto é a transcendência própria<br />
<strong>da</strong> religação, não mais ver para poder se ver (rever).<br />
Para maiores referências sobre o conceito de Religação,<br />
pesquisar: GRACIA, Diego. Voluntad de Ver<strong>da</strong>d. Para leer a<br />
Zubiri. Barcelona: Editorial Labor, S.A, 1986, p. 212 a 218.<br />
8. BARROS, Maria Heloisa Noronha. Miguilim e Manuelzão:<br />
Viag<strong>em</strong> para o ser. Belo Horizonte: Gráfica Valci Editora<br />
Lt<strong>da</strong>, 1996, p. 111-112.<br />
9. NUNES, Benedito. Passag<strong>em</strong> para o poético (Filosofia e<br />
poesia <strong>em</strong> Heidegger). São Paulo: Ed. Ática, 1986.<br />
10. Ibid<strong>em</strong>. p. 91 - 93.<br />
11. <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> - Seleção de textos. Direção de COU-<br />
TINHO, Afrânio. Organização de COUTINHO, Eduardo. Rio<br />
de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 2. ed., 1991, p.83.<br />
12. Para maiores referências, pesquisar: MOLES, Abraham.<br />
A Criação Científica. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1981.<br />
13. ROSA, 1985, p.47.<br />
14. ROSA, 1985, p.47-48.<br />
15. ROSA, 1985, p.48.<br />
16. ROSA, 1985, p. 50-51.<br />
17. Consciência significa o desven<strong>da</strong>r <strong>da</strong>s familiari<strong>da</strong>des,<br />
dos automatismos de gestos e palavras para a revelação<br />
de outros sentidos que implicarão <strong>em</strong> uma mu<strong>da</strong>nça<br />
na Imag<strong>em</strong> de Si e do Mundo. A consciência somente é<br />
possível na relação com o outro. Para maiores referências,<br />
pesquisar: LANE, Silvia. “Estudos sobre a consciência” In:<br />
REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA<br />
SOCIAL - Psicologia e Socie<strong>da</strong>de -. São Paulo, Vol. 8, N. 2,<br />
julho/dez<strong>em</strong>bro de 1996, p.95.<br />
18. ROSA, 1985, p. 53.
Referências Bibliográficas:<br />
ALBERGARIA, Consuelo. Bruxo <strong>da</strong> Linguag<strong>em</strong><br />
no Grande Sertão. Rio de Janeiro: Ed. T<strong>em</strong>po<br />
Brasileiro, 1977.<br />
BARROS, Maria Heloisa Noronha. Miguilim e<br />
Manuelzão. Viag<strong>em</strong> para o Ser. Belo Horizonte:<br />
Gráfica Valci Editoras Lt<strong>da</strong>., 1996.<br />
COUTINHO, Afrânio [coord.] <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> -<br />
Seleção de Textos. 2.ed. Rio de Janeiro: Ed.<br />
Civilização Brasileira, 1991.<br />
GRACIA, Diego. Voluntad de Ver<strong>da</strong>d - Para leer a<br />
Zubiri. Barcelona: Editorial Labor, 1986.<br />
LANE, Silvia. Estudos sobre a consciência.<br />
Psicologia e Socie<strong>da</strong>de: <strong>Revista</strong> <strong>da</strong> Associação<br />
Brasileira de Psicologia, São Paulo, v.8, n.2, jul/<br />
dez. 1996.<br />
MOLES, Abraham. A criação científica. São Paulo:<br />
Ed. Perspectiva, 1981.<br />
MORA, Ferrater. Diccionario de Filosofia. Madrid:<br />
Alianza Editorial, 1983.<br />
ROSA, João <strong>Guimarães</strong> - Correspondência com<br />
o Tradutor Italiano. São Paulo: Instituto Cultural<br />
Ítalo-Brasileiro, cad. 8, 1972.<br />
ROSA, João <strong>Guimarães</strong>. Primeiras Estórias. 13.ed.,<br />
Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1985.<br />
*Psicóloga clínica e professora de cursos de graduação<br />
e pós-graduação na FEAD e PUC - Belo<br />
Horizonte. Forma<strong>da</strong> nos cursos de graduação e<br />
pós-graduação “lato sensu” e “strito sensu”<br />
pela Universi<strong>da</strong>de Federal de Minas Gerais e PhD<br />
<strong>em</strong> Estudos Culturais pela UFRJ - PACC
educação e cultura<br />
Distúrbios de aprendizado<br />
relacionados à visão<br />
O Hospital de Olhos Dr. Ricardo <strong>Guimarães</strong>,<br />
consciente do papel que as<br />
organizações dev<strong>em</strong> assumir frente à<br />
socie<strong>da</strong>de cont<strong>em</strong>porânea, ressalta<br />
sua postura de responsabili<strong>da</strong>de social<br />
com a Fun<strong>da</strong>ção Hospital de Olhos e<br />
oferece uma série de projetos de cunho<br />
social, integrados dentro do Programa<br />
de PROMOÇÃO DA SAÚDE OCULAR.<br />
Dentre várias iniciativas, destaca-se o<br />
Projeto “VimTeVer”, reconhecido <strong>em</strong><br />
1997 pela Curadoria Geral de Fun<strong>da</strong>ções<br />
de Minas Gerais, que conferiu à<br />
Fun<strong>da</strong>ção HOLHOS me<strong>da</strong>lha de prata<br />
<strong>em</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, <strong>em</strong> concorrência com<br />
outras grandes instituições. O projeto<br />
“VimTeVer” t<strong>em</strong> como objetivo principal<br />
a promoção <strong>da</strong> Saúde Ocular, por<br />
meio de palestras preventivas e testes<br />
de visão, b<strong>em</strong> como a educação <strong>da</strong>s<br />
comuni<strong>da</strong>des universitárias <strong>em</strong> ações<br />
educativas.<br />
16 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
Os quatro pilares <strong>da</strong> Visão<br />
Centramento<br />
Onde estou?<br />
Antigravi<strong>da</strong>de<br />
Que posição<br />
estou?<br />
Como nos envolv<strong>em</strong>os com este<br />
probl<strong>em</strong>a?<br />
Tudo começou com o comentário de<br />
uma professora sobre o aluno João 1 ,<br />
um menino ativo e interessado que<br />
havia se tornado meu “aju<strong>da</strong>nte”<br />
durante to<strong>da</strong> a manhã enquanto examinávamos<br />
centenas de crianças pelo<br />
Projeto “VimTeVer”, um programa de<br />
prevenção <strong>da</strong> saúde ocular na infância,<br />
realizado pela Fun<strong>da</strong>ção Hospital de<br />
Olhos <strong>em</strong> ci<strong>da</strong>des do interior de Minas.<br />
Um dos primeiros a ser examinado e<br />
liberado por ter “visão normal” ficou<br />
por perto se oferecendo para aju<strong>da</strong>r<br />
enquanto nos bombardeava com<br />
inúmeros porquês, quandos, comos e<br />
paraquês, durante nossas ativi<strong>da</strong>des.<br />
Diante <strong>da</strong> minha observação de que<br />
o menino João ain<strong>da</strong> seria um grande<br />
<strong>em</strong>presário ou o prefeito <strong>da</strong>quela<br />
Identificação<br />
O que sou?<br />
VISÃO<br />
Fala & Linguag<strong>em</strong><br />
O que posso lhe<br />
dizer sobre isto?<br />
Dra. Márcia Reis <strong>Guimarães</strong> *<br />
ci<strong>da</strong>de, a professora comentou que<br />
muitos haviam pensado o mesmo, mas<br />
que ele ain<strong>da</strong> não lia corretamente,<br />
estando ca<strong>da</strong> vez mais defasado <strong>em</strong><br />
relação aos colegas e que corria o risco<br />
de ser reprovado naquele mesmo ano!<br />
Ao final do dia, muitos outros “João”<br />
haviam sido identificados: crianças s<strong>em</strong><br />
alterações ao exame oftalmológico de<br />
rotina, espertas, inteligentes e promissoras<br />
e que não conseguiam aprender a<br />
ler - estávamos diante de um desafio: o<br />
que fazer para ajudá-las?<br />
Nosso interesse nos levou à aprendizag<strong>em</strong><br />
e seus processos...<br />
Aprender é um processo que<br />
envolve nossos cinco sentidos e<br />
este processo ocorre naturalmente<br />
no caso <strong>da</strong> audição, do tato e do<br />
olfato, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que somos<br />
introduzidos aos variados tipos de<br />
estímulos; vai-se aprendendo passivamente,<br />
intuitivamente desde a<br />
primeira infância.<br />
A VISÃO, por outro lado, é ativamente<br />
aprendi<strong>da</strong> na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que o bebê<br />
segue a mãe com os olhos, descobre<br />
a mão com seus dedinhos, segura um<br />
brinquedo, depois aprende a encaixálo<br />
e associar peças de um quebracabeça,<br />
a segurar um lápis de cera e a<br />
assistir a um filme, está adquirindo um<br />
controle sofisticado que lhe permitirá<br />
interagir com o mundo: o controle de<br />
seu olhar.<br />
Estima-se que 85% de tudo que<br />
aprend<strong>em</strong>os na vi<strong>da</strong> <strong>em</strong> relação ao
educação e cultura<br />
ambiente depend<strong>em</strong> <strong>da</strong> visão e <strong>da</strong><br />
interação que ocorre entre ela e os<br />
d<strong>em</strong>ais sentidos. Esta interação foi<br />
b<strong>em</strong> estu<strong>da</strong><strong>da</strong> por Sherington 2 , ain<strong>da</strong><br />
<strong>em</strong> meados do século XX e rendeu-lhe<br />
um Prêmio Nobel.<br />
Os quatro círculos de Sherington evidenciam<br />
as inter-relações que exist<strong>em</strong><br />
entre a visão e o posicionamento do<br />
indivíduo <strong>em</strong> relação ao mundo que o<br />
cerca no campo real e psicossocial, na<br />
própria aquisição <strong>da</strong> fala e linguag<strong>em</strong>,<br />
além <strong>da</strong> movimentação e coordenação<br />
motora no ambiente <strong>em</strong> que está.<br />
A coleta de informações sobre o mundo<br />
começa a partir do momento que a luz,<br />
esta energia que se apresenta como<br />
on<strong>da</strong>s eletromagnéticas às quais a retina<br />
é sensível, é transforma<strong>da</strong> <strong>em</strong> on<strong>da</strong>s<br />
elétricas através de uma reação química<br />
conheci<strong>da</strong> como fototransdução.<br />
Leva<strong>da</strong>s através <strong>da</strong>s vias ópticas, estes<br />
impulsos sob<strong>em</strong> <strong>em</strong> direção a estruturas<br />
cerebrais mais complexas como o<br />
Corpo Geniculado Lateral e depois ao<br />
Córtex Visual Primário, sendo organiza<strong>da</strong>s<br />
e processa<strong>da</strong>s <strong>em</strong> vias distintas<br />
que se interag<strong>em</strong> com cerca de 20<br />
outras regiões cerebrais especializa<strong>da</strong>s,<br />
<strong>em</strong> uma ativi<strong>da</strong>de intensa para a<br />
compreensão, reação e m<strong>em</strong>orização a<br />
ca<strong>da</strong> instante. Nesta interação receb<strong>em</strong><br />
informações e ajustes <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po real<br />
de nosso sist<strong>em</strong>a proprioceptivo.<br />
Assim, a visão é um processo complexo<br />
que envolve mais <strong>da</strong> metade do córtex<br />
cerebral: tudo começa com a coleta<br />
de <strong>da</strong>dos feita pelos nossos olhos! É o<br />
cérebro que controla a movimentação<br />
de nossos olhos levando-nos a fixar e<br />
seguir objetos, focalizá-los ao longe ou<br />
b<strong>em</strong> perto, e, para isso, utiliza seis dos<br />
12 pares de nervos cranianos existentes.<br />
Como t<strong>em</strong>os dois olhos, estes dev<strong>em</strong><br />
trabalhar <strong>em</strong> harmonia para que uma<br />
imag<strong>em</strong> tridimensional e única seja<br />
aprecia<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> milésimo de segundo -<br />
afinal é o cérebro que vê.<br />
Vários fatores são importantes nesta<br />
fase, depend<strong>em</strong>os de uma definição <strong>da</strong><br />
imag<strong>em</strong> (refração), de um bom controle<br />
de foco (acomo<strong>da</strong>ção), de coordenação<br />
oculomotora (convergência) e de movimentos<br />
de busca àquilo que nos interessa<br />
e, finalmente, de processamento<br />
e integração sensoriais apropriados e,<br />
se houver déficits <strong>em</strong> qualquer etapa<br />
do que chamamos de Processamento<br />
Visual, o aprendizado sofrerá impactos<br />
significativos.<br />
Em geral, quando falamos de visão<br />
nos referimos apenas à acui<strong>da</strong>de<br />
visual. Assim, a visão 20-20 significa<br />
visão normal e é considera<strong>da</strong><br />
como indicador de saúde visual,<br />
<strong>em</strong>bora a acui<strong>da</strong>de visual seja<br />
apenas um dos el<strong>em</strong>entos desse<br />
processamento, devendo-se ain<strong>da</strong><br />
considerar os campos visuais, a<br />
motili<strong>da</strong>de ocular, o funcionamento<br />
cerebral e a recepção <strong>da</strong><br />
luz e cor para citar apenas os mais<br />
importantes!<br />
E, para falar de aprendizado, precisamos<br />
considerar ain<strong>da</strong> os fatores de<br />
desenvolvimento individual, ligados à<br />
cognição, percepção, fatores <strong>em</strong>ocionais,<br />
etc. Naturalmente, à influência dos<br />
fatores ambientais como iluminação,<br />
contraste, cor, t<strong>em</strong>po e espaço.<br />
Afinal, quantas professoras já dev<strong>em</strong><br />
ter notado que, às vezes, ao mu<strong>da</strong>r<br />
um aluno desatento para longe de<br />
uma janela colocando-o <strong>em</strong> um canto<br />
onde to<strong>da</strong> a luz passa ser a fluorescente<br />
do teto – <strong>em</strong> vez de melhorar, o<br />
aluno cai de rendimento tornando-se<br />
mais agitado ain<strong>da</strong>? Muitas vezes, é o<br />
próprio reflexo do quadro de fórmica<br />
branca brilhante, adotado por muitas<br />
escolas, que atua como fator contraproducente<br />
no aprendizado: t<strong>em</strong>os reflexos<br />
e muito brilho, pouco contraste<br />
nas palavras escritas com canetas<br />
hidrocores descora<strong>da</strong>s, desmotivando<br />
a leitura e compreensão de to<strong>da</strong> a<br />
classe! E “ai” do aluno que tentar<br />
mover sua carteira tentando evitar<br />
o reflexo produzido pelas luzes fluorescentes<br />
no quadro branco ou tentar<br />
fazer uma aba com sua mão na testa<br />
minimizando o reflexo sobre o livro ou<br />
caderno onde lê! Eis aí bons ex<strong>em</strong>plos<br />
de fatores ambientais deletérios para<br />
o estudo e compreensão.<br />
No mundo de hoje, a Leitura é s<strong>em</strong><br />
dúvi<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des mais<br />
importantes no aprendizado. A aquisição<br />
desta capaci<strong>da</strong>de que, <strong>em</strong> última<br />
instância, será feita pelo cérebro de<br />
modo involuntário e automatizado,<br />
depende de três fatores: sermos<br />
capazes de fixar e manter movimentos<br />
oculares coordenados e dentro de<br />
uma perspectiva correta ao longo dos<br />
intervalos entre palavras e linhas de<br />
texto, de um processamento visual<br />
pelas duas vias preferenciais, o sist<strong>em</strong>a<br />
Magno e Parvocelular, onde a forma e<br />
movimento junto com detalhes de cor,<br />
contraste e bor<strong>da</strong>s serão analisados,<br />
e, finalmente, à associação entre a<br />
linguag<strong>em</strong> e significado.<br />
Os melhores profissionais para<br />
suspeitar de dificul<strong>da</strong>des na eficiência<br />
visual e processamento <strong>da</strong><br />
informação são os professores e<br />
profissionais como pe<strong>da</strong>gogos, psicólogos,<br />
psicope<strong>da</strong>gogos, fonoaudiólogos<br />
e terapeutas ocupacionais.<br />
Estes sim pod<strong>em</strong> avaliar as dificul<strong>da</strong>des<br />
<strong>em</strong> ler e escrever associa<strong>da</strong>s<br />
às reversões, transposições de letras e<br />
fon<strong>em</strong>as, omissões de palavras, per<strong>da</strong><br />
do local de leitura, fotossensibili<strong>da</strong>de,<br />
déficits de atenção e compreensão,<br />
fadiga e resistência à leitura <strong>em</strong> voz<br />
alta, muitas vezes confundi<strong>da</strong>s com<br />
baixa motivação e que, na ver<strong>da</strong>de,<br />
afetam a autoestima do aluno gerando<br />
comportamentos antissociais, apatia,<br />
depressão ou atitudes de conflito e<br />
confronto que desestabilizam a relação<br />
professor/coordenador/gestor/família e<br />
aluno com repercussões de gravi<strong>da</strong>de<br />
crescentes.<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
17
educação e cultura<br />
Vários fatores pod<strong>em</strong> estar envolvidos<br />
com déficits na aquisição <strong>da</strong> Leitura.<br />
Entre as causas gerais estão a baixa<br />
inteligência, as dificul<strong>da</strong>des na audição,<br />
falta de conhecimento <strong>da</strong> língua,<br />
de oportuni<strong>da</strong>des e escolari<strong>da</strong>de, e<br />
várias causas neurológicas devido a<br />
alterações durante a formação cerebral<br />
ou outras doenças neurológicas,<br />
criando dificul<strong>da</strong>des na habili<strong>da</strong>de <strong>em</strong><br />
reconhecer letras ou associar sons e<br />
palavras.<br />
Entre as causas específicas, há duas<br />
a considerar: a Dislexia e a Sindrome<br />
de Irlen.<br />
Como oftalmologista, é bom explicar<br />
que estas causas específicas não são<br />
capta<strong>da</strong>s pelo Teste de Acui<strong>da</strong>de Visual<br />
a 6 metros de distância feito habitualmente<br />
<strong>em</strong> sala de aula, <strong>em</strong>bora este<br />
teste possa detectar dificul<strong>da</strong>des para<br />
cópias do quadro negro. Este teste t<strong>em</strong><br />
limitações porque estamos avaliando<br />
se uma pessoa é capaz de ler letras separa<strong>da</strong>s,<br />
pretas <strong>em</strong> um fundo branco -<br />
e a leitura é dinâmica, envolvendo<br />
letras associa<strong>da</strong>s <strong>em</strong> palavras sequencialmente<br />
dispostas que precisam<br />
ser decodifica<strong>da</strong>s, m<strong>em</strong>oriza<strong>da</strong>s e<br />
interpreta<strong>da</strong>s rapi<strong>da</strong>mente.<br />
Os sinais precoces se evidenciam<br />
desde a pré-escola com atraso na<br />
aquisição <strong>da</strong> fala, aprendizado <strong>da</strong>s<br />
cores e do alfabeto. Na escola, há<br />
dificul<strong>da</strong>des com o som <strong>da</strong>s palavras,<br />
inversões, com rimas, caligrafia sofrível,<br />
confusões com a laterali<strong>da</strong>de direita e<br />
esquer<strong>da</strong>, compreensão do texto, etc.<br />
O comprometimento <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> vai<br />
se evidenciando ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong><br />
que há uma precoci<strong>da</strong>de na aquisição<br />
de habili<strong>da</strong>des motoras e estas crianças<br />
tend<strong>em</strong> a an<strong>da</strong>r, encaixar, construir<br />
modelos com mais facili<strong>da</strong>de do que as<br />
d<strong>em</strong>ais de mesma faixa etária.<br />
A Dislexia pode ser defini<strong>da</strong>, de modo<br />
simplificado, como uma dificul<strong>da</strong>de de<br />
aprendizado de causa neurológica que<br />
18 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
se manifesta a despeito de inteligência,<br />
motivação e educação apropria<strong>da</strong>s,<br />
sendo frequent<strong>em</strong>ente associa<strong>da</strong> a<br />
Déficits de Atenção e Hiperativi<strong>da</strong>de.<br />
Os disléxicos têm dificul<strong>da</strong>des <strong>em</strong><br />
controlar o direcionamento e a coordenação<br />
binocular durante a leitura<br />
e ain<strong>da</strong> na manutenção <strong>da</strong> atenção,<br />
com a integração auditiva e visual e<br />
sensorial. Estima-se que 8 a 12% <strong>da</strong><br />
população mundial seja disléxica.<br />
A Síndrome de Irlen é uma alteração<br />
visuoperceptual, também t<strong>em</strong> base<br />
neurológica e se manifesta com<br />
fotossensibili<strong>da</strong>de, desfocamento à<br />
leitura, restrição do campo periférico,<br />
dificul<strong>da</strong>des na a<strong>da</strong>ptação a contrastes<br />
como, por ex<strong>em</strong>plo, figura-fundo, dificul<strong>da</strong>de<br />
<strong>em</strong> manter a atenção visual e<br />
cefaléias frequentes. Ela está associa<strong>da</strong><br />
a alterações do córtex visual e déficits do<br />
sist<strong>em</strong>a magnocelular que, como vimos,<br />
é parte importante na aquisição de<br />
informações do sist<strong>em</strong>a visual sobre o<br />
movimento e fun<strong>da</strong>mental durante a leitura.<br />
Esta alteração t<strong>em</strong> um componente<br />
genético e famílias s<strong>em</strong>pre têm outros<br />
casos, afetando ambos os sexos com<br />
manifestações varia<strong>da</strong>s e intermitentes;<br />
algumas mais leves e outras mais graves<br />
onde to<strong>da</strong>s as manifestações estão<br />
presentes. Não raro, durante nossos<br />
atendimentos, os pais mencionam que<br />
também sofreram muito na escola, que<br />
nunca gostaram de ler ou que abandonaram<br />
os estudos e que, como adultos,<br />
ain<strong>da</strong> passam por dificul<strong>da</strong>des, pois a<br />
síndrome afeta to<strong>da</strong>s as faixas etárias<br />
inclusive 14% de seus portadores são<br />
bons leitores com inteligência superior<br />
à média. A incidência desta síndrome<br />
entre disléxicos, portadores de Déficits<br />
de Atenção e Hiperativi<strong>da</strong>de e pessoas<br />
que sofreram traumatismos cranianos<br />
é b<strong>em</strong> mais eleva<strong>da</strong>, oscilando entre<br />
33 a 55% dos casos. Nestes, ao cui<strong>da</strong>rmos<br />
<strong>da</strong>s manifestações associa<strong>da</strong>s<br />
à S. de Irlen, ocorre sensível melhora<br />
<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des de aprendizado pela<br />
facilitação do processamento visual -<br />
potencializando assim as ações <strong>da</strong>s<br />
psicope<strong>da</strong>gogas, fonoaudiólogas e professoras<br />
que li<strong>da</strong>m com estes pacientes.<br />
A Síndrome de Irlen é estu<strong>da</strong><strong>da</strong> no<br />
Brasil há 4 anos pelo Hospital de Olhos<br />
Dr. Ricardo <strong>Guimarães</strong>, onde centenas<br />
de casos já foram tratados. É b<strong>em</strong><br />
conheci<strong>da</strong> <strong>em</strong> mais de 40 países e v<strong>em</strong><br />
sendo trata<strong>da</strong> desde meados dos anos<br />
80. Os resultados vêm sendo monitorados<br />
através de protocolos científicos<br />
junto à UFMG e a satisfação dos pacientes<br />
é comprova<strong>da</strong> estatisticamente<br />
e através <strong>da</strong>s pesquisas de satisfação,<br />
onde 100 pacientes com follow-up<br />
superior a 6 meses foram entrevistados<br />
por psicólogos e psicope<strong>da</strong>gogos de<br />
nossa equipe.<br />
É importante assinalar que as manifestações<br />
são desencadea<strong>da</strong>s ou<br />
agrava<strong>da</strong>s por fatores ambientais<br />
estressantes como luminosi<strong>da</strong>de,<br />
contraste, cores, volume elevado de<br />
texto por página, pressão continua<strong>da</strong><br />
por des<strong>em</strong>penho, compreensão e<br />
tamanho de letras, texto, impressão,<br />
tipo e formato do texto.<br />
Diante do esforço visual as distorções<br />
visuais se instalam dificultando a leitura<br />
e pod<strong>em</strong>os observar este fato pela<br />
tendência a esfregar os olhos constant<strong>em</strong>ente,<br />
tampar ou fazer sombra<br />
sobre o papel durante a leitura, apertar<br />
e piscar os olhos, balançar e tombar a<br />
cabeça, cansaço após 10 a 15 minutos<br />
de leitura, preferência pela penumbra<br />
e lacrimejamento, prurido e ardência,<br />
história familiar de dificul<strong>da</strong>des escolares.<br />
As dores de cabeça e enxaquecas<br />
são uma constante na maioria dos<br />
pacientes (82%).<br />
As distorções visuais (desfocamento,<br />
linhas brancas <strong>em</strong> meio ao texto,<br />
palavras tr<strong>em</strong>endo ou sanfonando,<br />
ro<strong>da</strong>ndo) faz<strong>em</strong> parte do dia-a-dia e<br />
ocorr<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre que o estu<strong>da</strong>nte lê.<br />
O mais importante é que não se pode<br />
comparar com o colega ao lado - que<br />
evident<strong>em</strong>ente pode não estar tendo
os mesmos probl<strong>em</strong>as ao ler! E o<br />
indivíduo não relata suas distorções<br />
porque nunca leu de outra forma e<br />
assume que todos ve<strong>em</strong> como ele.<br />
Assim, entende-se melhor porque um<br />
aluno que sabia “tudo”, ao sair de<br />
casa recebe uma nota muito aquém de<br />
sua real capaci<strong>da</strong>de e ele mesmo não<br />
entende como isto ocorreu! O déficit<br />
não é de inteligência, mas sim na<br />
etapa visual do processamento - se<br />
houver dislexia associa<strong>da</strong> fica ain<strong>da</strong><br />
mais difícil porque outros déficits <strong>da</strong><br />
rota fonoaudiológica se justapõ<strong>em</strong>!<br />
Como diagnosticar os portadores<br />
<strong>da</strong> Síndrome de Irlen ou <strong>da</strong> Dislexia<br />
de Leitura, como chamamos popularmente?<br />
O treinamento, voltado para professores,<br />
pe<strong>da</strong>gogos, psicope<strong>da</strong>gogos,<br />
fonoaudiólogos dura três dias e<br />
capacita estes profissionais para<br />
diagnosticar e tratar, bloqueando as<br />
distorções. Há também cursos para<br />
Gestores Educacionais e mesmo<br />
Juízes. O site para informações é o<br />
www.dislexiadeleitura.com.br.<br />
Distorções Visuais: ex<strong>em</strong>plos de dificul<strong>da</strong>des na leitura.<br />
A leitura melhora de imediato e de<br />
maneira surpreendente até para os<br />
próprios alunos - que se ve<strong>em</strong> lendo<br />
com uma fluência, veloci<strong>da</strong>de e<br />
compreensão nunca antes observa<strong>da</strong>s!<br />
Muitos deles até então considerados<br />
alunos probl<strong>em</strong>a, disléxicos, hiperativos<br />
e desmotivados têm a autoestima e<br />
des<strong>em</strong>penho recuperados com reflexos<br />
na quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> deles e <strong>da</strong>s professoras<br />
que se perguntavam o que faltava<br />
na parte pe<strong>da</strong>gógica para aju<strong>da</strong>r aquele<br />
aluno evident<strong>em</strong>ente inteligente, mas<br />
s<strong>em</strong> progressos na sala de aula.<br />
As transparências usa<strong>da</strong>s <strong>em</strong> sala<br />
de aula, para ler <strong>em</strong> casa, na tela do<br />
computador custam menos que um<br />
livro didático e são usa<strong>da</strong>s com todos<br />
eles (os livros de português, geografia,<br />
história, etc.).<br />
É Projeto <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Hospital de<br />
Olhos Dr. Ricardo <strong>Guimarães</strong> disponibilizar<br />
este treinamento na rede<br />
pública e priva<strong>da</strong> de ensino, aju<strong>da</strong>ndo<br />
a ampliar o apoio a estes pacientes,<br />
evitando a evasão escolar e as consequências<br />
que dela advém para o<br />
indivíduo e a socie<strong>da</strong>de.<br />
Distorções Visuais<br />
educação e cultura<br />
Nos casos mais graves, quando não<br />
se consegue copiar do quadro, há<br />
restrições do campo visual, fotofobia<br />
intensa, dificul<strong>da</strong>des na condução de<br />
veículos, dificul<strong>da</strong>des para seguir objetos<br />
<strong>em</strong> movimento ou no trabalho, é<br />
necessário o uso de filtros de bloqueio<br />
individualmente selecionados que são<br />
incorporados aos óculos, que pod<strong>em</strong><br />
ter grau ou não.<br />
1. Nome Fictício.<br />
2. Charles Scott Sherington (1852-1952), fisiologista inglês que<br />
descreveu os efeitos <strong>da</strong> estimulação nervosa explicando os<br />
reflexos espinhais. Foi pr<strong>em</strong>iado com o Nobel de Fisiologia ou<br />
Medicina <strong>em</strong> 1932, por descobrir a função dos neurônios.<br />
*Médica oftalmologista do Hospital de Olhos de<br />
Minas Gerais com Doutorado <strong>em</strong> Quali<strong>da</strong>de de<br />
Visão e Visão de Cores pela UFMG. T<strong>em</strong> passagens<br />
por pós-graduação na França, Inglaterra e Estados<br />
Unidos. Participação <strong>em</strong> cursos de Pós-Graduação<br />
como Professora Assistente, Adjunta e Docente<br />
convi<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong> UFMG e UNIFESP. Dedica-se a clínica<br />
e pesquisa <strong>em</strong> oftalmologia clínica e distúrbios de<br />
aprendizado relacionados à Visão.<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
19
educação e cultura<br />
Esporte como fator de inclusão<br />
de jovens na socie<strong>da</strong>de<br />
Entrevista cedi<strong>da</strong> à “<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>” por Gustavo de Faria Dias Corrêa, Secretário de<br />
Estado de Esportes e <strong>da</strong> Juventude de Minas Gerais.<br />
<strong>FGR</strong>: A Secretaria de Estado de Esportes<br />
e <strong>da</strong> Juventude promove diversas ações<br />
<strong>em</strong> prol do reconhecimento e inclusão<br />
de jovens na socie<strong>da</strong>de. Do ponto de<br />
vista <strong>da</strong> Secretaria, como estes jovens<br />
pod<strong>em</strong> contribuir para a transformação<br />
do seu entorno?<br />
Gustavo: A Secretaria de Estado de<br />
Esportes e <strong>da</strong> Juventude gerencia uma<br />
dezena de projetos relacionados ao<br />
protagonismo juvenil e à inclusão social<br />
de jovens. Para se ter uma ideia,<br />
o Projeto “Vocação”, desenvolvido<br />
<strong>em</strong> parceria com Serviço Nacional de<br />
Aprendizag<strong>em</strong> Rural, já capacitou mais<br />
de 93 mil jovens de 14 a 24 anos de<br />
área rural <strong>em</strong> ativi<strong>da</strong>des que possibilitaram<br />
a inserção no mercado de trabalho<br />
regional e, <strong>em</strong> 2009, capacitará<br />
outros 15 mil jovens. Além deste, o<br />
Projeto “A Terceira Marg<strong>em</strong> do Rio”,<br />
recent<strong>em</strong>ente implantado, t<strong>em</strong> como<br />
meta inicial capacitar 500 jovens dos<br />
municípios <strong>da</strong> bacia do Alto Rio <strong>da</strong>s Velhas<br />
para a promoção <strong>da</strong> utilização racional<br />
dos recursos naturais e a construção<br />
de socie<strong>da</strong>des sustentáveis.<br />
através dos oito jeitos de mu<strong>da</strong>r o<br />
mundo, ou seja, os oito objetivos do<br />
milênio, <strong>da</strong> ONU; implantou o Projeto<br />
“Chefs do Amanhã”, que incentiva<br />
a participação do jov<strong>em</strong> <strong>em</strong> uma<br />
nova proposta de culinária básica e<br />
saudável; e lançará o Projeto “Mão na<br />
Massa”, que oferecerá 12 cursos gratuitos<br />
e profissionalizantes a jovens de<br />
áreas carentes de Belo Horizonte e de<br />
seu entorno. Estes são alguns ex<strong>em</strong>plos<br />
de ações de inclusão de jovens, que<br />
Na busca do protagonismo juvenil,<br />
a Secretaria de Estado de Esportes e<br />
<strong>da</strong> Juventude, por intermédio <strong>da</strong> Coordenadoria<br />
Especial <strong>da</strong> Juventude,<br />
desenvolve o Projeto “Diálogos <strong>da</strong><br />
Juventude”, que estimula a maior participação<br />
do jov<strong>em</strong> na melhoria <strong>da</strong><br />
quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> de sua comuni<strong>da</strong>de, Gustavo de Faria Dias Corrêa, Secretário de Estado de Esportes e <strong>da</strong> Juventude.<br />
20 <strong>FGR</strong> EM REVISTA
vêm se somar à continua<strong>da</strong> criação de<br />
Conselhos Municipais de Juventude.<br />
<strong>FGR</strong>: Qual a grande preocupação <strong>em</strong><br />
relação aos jovens e às drogas? Quais<br />
esforços são realizados para combater<br />
o aumento do número de usuários de<br />
drogas e como a SEEJ chega até eles?<br />
Gustavo: Minas Gerais foi o primeiro<br />
Estado brasileiro a reconhecer a necessi<strong>da</strong>de<br />
e urgência <strong>em</strong> adotar uma postura<br />
de enfrentamento e, ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po, de atenção às questões relaciona<strong>da</strong>s<br />
ao uso e abuso de álcool e<br />
outras drogas. Também foi o primeiro<br />
Estado a ter uma estrutura orgânica e<br />
uma política pública específica para o<br />
t<strong>em</strong>a do uso e abuso de álcool e outras<br />
drogas. Minas Gerais possui uma política<br />
pública sobre drogas, construí<strong>da</strong> de<br />
maneira realista, através de espaços de<br />
participação e controle social <strong>em</strong> todos<br />
os pontos tocantes ao uso indevido de<br />
álcool, tabaco e outras drogas. O sist<strong>em</strong>a<br />
estadual de políticas públicas<br />
sobre drogas, criado dentro <strong>da</strong> política<br />
estadual é ativo e, de forma itinerante,<br />
t<strong>em</strong> realizado seu trabalho envolvendo<br />
todos os atores no campo <strong>da</strong>s políticas<br />
públicas sobre drogas. Para bloquear o<br />
avanço do abuso de drogas, foi cria<strong>da</strong><br />
a Rede Integra<strong>da</strong> de Conselhos Municipais<br />
Antidrogas. Estabeleci<strong>da</strong> com a<br />
finali<strong>da</strong>de de fortalecer as estratégias<br />
de municipalização <strong>da</strong>s ações de prevenção,<br />
tratamento e reinserção social<br />
de usuários e dependentes de álcool e<br />
outras drogas, a rede foi cria<strong>da</strong> com o<br />
objetivo de compartilhar experiências e<br />
referenciais locais, estabelecer vínculo<br />
de atenção nos diversos níveis, capaz<br />
de intervir com antecedência. A rede<br />
busca minimizar os fatores de risco<br />
local na área de prevenção. Pela primeira<br />
vez, também, o Estado t<strong>em</strong> uma<br />
política efetiva de apoio a enti<strong>da</strong>des<br />
que atuam na recuperação de usuários,<br />
como as comuni<strong>da</strong>des terapêuticas.<br />
<strong>FGR</strong>: A ausência de espaços públicos<br />
para a prática de esportes dificulta a<br />
d<strong>em</strong>ocratização do esporte, principalmente<br />
para as populações menos favoreci<strong>da</strong>s.<br />
Também dificulta a inclusão<br />
social de crianças e jovens amparados,<br />
especialmente por enti<strong>da</strong>des do Terceiro<br />
Setor. Como a SEEJ procura suprir<br />
esse déficit de espaços públicos?<br />
Gustavo: A Secretaria de Estado de Esportes<br />
e <strong>da</strong> Juventude criou o programa<br />
“Minas Olímpica Saúde na Praça”, que,<br />
através <strong>da</strong> adequação de praças esportivas,<br />
desenvolve ações volta<strong>da</strong>s para<br />
a promoção <strong>da</strong> saúde e <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<br />
de vi<strong>da</strong>. Dota<strong>da</strong>s de equipamentos esportivos,<br />
as praças possibilitam a prática<br />
de ativi<strong>da</strong>de física orienta<strong>da</strong> por<br />
profissionais de educação física, fisioterapia<br />
e nutrição. As praças, construí<strong>da</strong>s<br />
ou revitaliza<strong>da</strong>s, também são<br />
utiliza<strong>da</strong>s <strong>em</strong> ações que visam à preservação<br />
do meio ambiente e que favoreçam<br />
a convivência solidária e prazerosa<br />
<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. Além disso, <strong>em</strong><br />
dois anos, a Secretaria de Estado de<br />
Esportes e <strong>da</strong> Juventude assinou convênios<br />
repassando cerca de R$ 10 milhões<br />
para mais de 150 municípios mineiros,<br />
para construção e melhoria de<br />
campos de futebol e quadras poliesportivas,<br />
a aquisição de equipamentos<br />
esportivos e a realização de eventos esportivos.<br />
Grande parte <strong>da</strong>s quadras poliesportivas<br />
foi construí<strong>da</strong> <strong>em</strong> distritos.<br />
Estes investimentos, somados aos programas<br />
que são oferecidos às administrações<br />
municipais, d<strong>em</strong>ocratizam a<br />
prática esportiva, além de criar as condições<br />
para o surgimento de atletas de<br />
alto rendimento e de equipes <strong>em</strong> todo<br />
o Estado de Minas Gerais.<br />
<strong>FGR</strong>: Há sete anos, a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> investe <strong>em</strong> Programas e Projetos<br />
Sociais voltados, principalmente,<br />
às crianças e adolescentes residentes<br />
<strong>em</strong> áreas de risco, sendo o Esporte<br />
uma <strong>da</strong>s ferramentas mais eficazes. O<br />
Programa “Minas Olímpica Nova Geração”<br />
utiliza as mesmas ferramentas<br />
para o mesmo público beneficiado <strong>da</strong><br />
<strong>FGR</strong>. Qual a importância de instituições<br />
educação e cultura<br />
de diferentes setores se unir<strong>em</strong> <strong>em</strong> parcerias<br />
efetivas por objetivos comuns?<br />
Gustavo: O “Minas Olímpica Nova Geração”<br />
é um programa de inserção social<br />
de crianças e adolescentes <strong>em</strong> situação<br />
de vulnerabili<strong>da</strong>de social através<br />
do esporte, que t<strong>em</strong> por finali<strong>da</strong>de reduzir<br />
exatamente essa vulnerabili<strong>da</strong>de,<br />
através <strong>da</strong> promoção de sua formação<br />
integral e de sua participação <strong>em</strong> vivências<br />
esportivas, pe<strong>da</strong>gógicas, lúdicas,<br />
de promoção <strong>da</strong> saúde e autocui<strong>da</strong>do<br />
e compl<strong>em</strong>entação nutricional. Neste<br />
sentido, o programa compl<strong>em</strong>enta e<br />
é compl<strong>em</strong>entado por outros projetos<br />
desenvolvidos por enti<strong>da</strong>des priva<strong>da</strong>s<br />
e instituições públicas do Estado de<br />
Minas Gerais. O estabelecimento de<br />
parcerias entre estas instituições e enti<strong>da</strong>des<br />
teria efeito benéfico de evitar a<br />
superposição de ações, racionalizando<br />
a utilização de esforços e recursos e,<br />
consequent<strong>em</strong>ente, ampliando o universo<br />
de beneficiários.<br />
<strong>FGR</strong>: Dentro do objetivo de promover a<br />
cultura <strong>da</strong> prática do esporte como instrumento<br />
para a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<br />
de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população de Minas Gerais,<br />
quais os Programas desenvolvidos para<br />
a terceira i<strong>da</strong>de?<br />
Gustavo: O Programa “Minas Olímpica<br />
Saúde na Praça” t<strong>em</strong>, entre seus<br />
objetivos, o atendimento à terceira<br />
i<strong>da</strong>de. As praças possibilitam a prática<br />
de ativi<strong>da</strong>de física orienta<strong>da</strong> por profissionais<br />
de educação física, fisioterapia<br />
e nutrição, qualificados para o atendimento<br />
ao ci<strong>da</strong>dão desta faixa etária.<br />
As praças também serv<strong>em</strong> de palco<br />
para a divulgação de ações volta<strong>da</strong>s à<br />
saúde e ao b<strong>em</strong>-estar <strong>da</strong>s pessoas <strong>da</strong><br />
terceira i<strong>da</strong>de e a implantação de programas<br />
elaborados pela Secretaria de<br />
Estado <strong>da</strong> Saúde para este segmento<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de mineira.<br />
<strong>FGR</strong>: A SEEJ está elaborando o “Plano<br />
Estadual do Esporte”, do qual a população<br />
poderá participar enviando<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
21
e-mail com sugestões. Fale-nos um<br />
pouco sobre os resultados esperados<br />
com a impl<strong>em</strong>entação desse plano.<br />
Gustavo: O “Plano Estadual do Esporte”,<br />
<strong>em</strong> processo de elaboração, representa<br />
a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s ações <strong>da</strong><br />
política estadual do esporte e t<strong>em</strong> por<br />
finali<strong>da</strong>de subsidiar as decisões dos<br />
agentes públicos sobre a adoção de<br />
medi<strong>da</strong>s e a elaboração de programas<br />
voltados para o setor. O que se espera<br />
com esta sist<strong>em</strong>atização é a otimização<br />
dos processos, com a racionalização na<br />
utilização de esforços e recursos, para<br />
que se evite a superposição de ações<br />
e se amplie o universo de municípios<br />
e ci<strong>da</strong>dãos atendidos por programas<br />
voltados para as práticas esportivas e<br />
de ativi<strong>da</strong>des físicas.<br />
<strong>FGR</strong>: Quais as maiores dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s<br />
na Gestão <strong>da</strong> Secretaria de<br />
Estado de Esportes e <strong>da</strong> Juventude?<br />
Gustavo: Ao contrário do que se poderia<br />
esperar, por ser uma Pasta recémcria<strong>da</strong>,<br />
o gerenciamento <strong>da</strong> Secretaria<br />
de Estado de Esportes e <strong>da</strong> Juventude<br />
não exigiu a superação de dificul<strong>da</strong>des.<br />
Impôs, isto sim, trabalho e determinação<br />
no cumprimento de metas. Exatamente<br />
por ter sido cria<strong>da</strong> no segundo man<strong>da</strong>to<br />
do Governador Aécio Neves, a Pasta<br />
nasceu sob uma orientação moderna,<br />
ampara<strong>da</strong> <strong>em</strong> metodologia e estratégia<br />
educação e cultura<br />
que possibilitaram uma gestão dinâmica<br />
e volta<strong>da</strong> para a apresentação de<br />
resultados. Resultados estes pactuados<br />
na forma de metas, entre o Governo do<br />
Estado e ca<strong>da</strong> um dos servidores <strong>da</strong> Secretaria<br />
de Estado de Esportes e <strong>da</strong> Juventude,<br />
e que já se apresentam aos<br />
ci<strong>da</strong>dãos mineiros. Apenas a título de<br />
ex<strong>em</strong>plo <strong>da</strong>s consequências deste trabalho<br />
e desta orientação pelos resultados,<br />
o “Minas Olímpica Jogos Escolares<br />
de Minas Gerais” - JEMG, uma <strong>da</strong>s<br />
mais tradicionais competições de Minas<br />
Gerais, <strong>em</strong> 2009 bateu o recorde de inscrições,<br />
com 605 municípios envolvidos<br />
no evento, o equivalente a quase 71%<br />
<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des mineiras.
Em sete anos de atuação, a Fun<strong>da</strong>ção<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> investe <strong>em</strong> Programas<br />
e Projetos Sociais por acreditar ser este<br />
o caminho para o desenvolvimento <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de. Dentre os programas desenvolvidos,<br />
os destinados à Educação<br />
se destacam. Por meio de ações inclusivas,<br />
a <strong>FGR</strong> contribui para a formação<br />
<strong>da</strong> criança, do adolescente e do idoso,<br />
com base na cultura e na educação,<br />
instrumentos ímpares para a transformação<br />
social almeja<strong>da</strong>, possibilitando<br />
formação digna e ci<strong>da</strong>dã aos participantes<br />
assistidos.<br />
Neste contexto de transformação social<br />
e, no sentido de promover o desenvolvimento<br />
humano e a <strong>em</strong>ancipação<br />
ci<strong>da</strong>dã, a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> realiza vinte e um Programas e<br />
Projetos Sociais <strong>em</strong> diversas ci<strong>da</strong>des<br />
de Minas Gerais. Dentre eles, destacamos:<br />
“Bom na Escola, Bom de Bola”,<br />
“Incentivo à Leitura: Redescobrindo<br />
o Prazer de Ler”, “Primeiros Passos:<br />
Educação Para o Empreendedorismo”<br />
e “Un<strong>da</strong>ra”. Estes projetos atuam de<br />
formas distintas, mas com um objetivo<br />
comum: aprimorar a educação<br />
de crianças e jovens, futuros ci<strong>da</strong>dãos.<br />
A <strong>FGR</strong> sabe <strong>da</strong> importância de investir<br />
na educação e cultura, como também<br />
na multiplicação <strong>da</strong> paz, tecnologia e<br />
b<strong>em</strong>-estar social.<br />
Para atender aos Projetos e Programas<br />
Sociais desenvolvidos pela <strong>FGR</strong>,<br />
exist<strong>em</strong> recursos imprescindíveis, e a<br />
atuação dos voluntários é um deles. Ao<br />
disponibilizar parte do seu t<strong>em</strong>po <strong>em</strong><br />
prol de causas sociais que atu<strong>em</strong> na<br />
melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, essas<br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
Empreendimentos sociais<br />
b<strong>em</strong>-sucedidos <strong>da</strong> <strong>FGR</strong><br />
pessoas faz<strong>em</strong> a diferença! Nesse contexto,<br />
a <strong>FGR</strong> desenvolve o Projeto “Voluntários<br />
<strong>em</strong> Favor de um Mundo Melhor”,<br />
o qual atua na propagação e<br />
incentivo do trabalho voluntário, entre<br />
os seus colaboradores.<br />
“Bom na Escola,<br />
Bom de Bola”<br />
O artigo 59 do Estatuto <strong>da</strong> Criança e do<br />
Adolescente (ECA) determina: “Os municípios,<br />
com apoio dos Estados e <strong>da</strong><br />
União, estimularão e facilitarão a destinação<br />
de recursos e espaços para programações<br />
culturais, esportivas e de<br />
lazer volta<strong>da</strong>s para a infância e a juventude.”<br />
Enquanto essa determinação<br />
ain<strong>da</strong> está longe de se tornar reali<strong>da</strong>de<br />
<strong>em</strong> muitos Estados do País, <strong>em</strong>presas<br />
públicas e priva<strong>da</strong>s, instituições do Terceiro<br />
Setor e a socie<strong>da</strong>de tomaram para<br />
si a responsabili<strong>da</strong>de de unir esporte e<br />
educação como ferramenta de inclusão<br />
social de crianças e adolescentes <strong>em</strong> situação<br />
de risco. Uma tarefa que a <strong>FGR</strong><br />
também se encarregou de pôr <strong>em</strong> prática<br />
quando foi convi<strong>da</strong><strong>da</strong> a participar<br />
do Programa “Bom na Escola, Bom de<br />
Bola”, criado <strong>em</strong> 1995 na ci<strong>da</strong>de mineira<br />
de Bom Despacho e oficializado,<br />
<strong>em</strong> 1997, no 22º Batalhão de Polícia<br />
Militar, <strong>em</strong> Belo Horizonte.<br />
Depois <strong>da</strong>s intervenções estratégicas<br />
<strong>da</strong> <strong>FGR</strong>, o “Bom na Escola, Bom de<br />
Bola” cresceu e hoje acolhe participantes<br />
com i<strong>da</strong>des entre 6 e 17 anos,<br />
<strong>em</strong> projetos que tenham como princípios<br />
o desenvolvimento físico e intelectual,<br />
a saúde e a educação nas<br />
comuni<strong>da</strong>des assisti<strong>da</strong>s, <strong>em</strong> Belo Horizonte<br />
e Sete Lagoas. As crianças e adolescentes<br />
participam de oficinas que<br />
aliam a prática de esportes à melhoria<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
23
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
do rendimento escolar, como futebol<br />
de areia, voleibol, ativi<strong>da</strong>des artísticas,<br />
culturais, recreativas e educacionais,<br />
além de cui<strong>da</strong>dos com a saúde. O Programa<br />
conta com importante apoio do<br />
Instituto Dona Lucinha e <strong>da</strong>s Associações<br />
Comunitárias <strong>da</strong> Barrag<strong>em</strong> Santa<br />
Lúcia, <strong>em</strong> Belo Horizonte.<br />
“Incentivo à Leitura:<br />
Redescobrindo o<br />
Prazer de Ler”<br />
“Um público comprometido com a<br />
leitura é crítico, rebelde, inquieto,<br />
pouco manipulável e não crê <strong>em</strong> l<strong>em</strong>as<br />
que alguns faz<strong>em</strong> passar por<br />
ideias.” (Mário Vargas LIosa)<br />
No contexto <strong>da</strong> globalização, no qual<br />
o acesso à informação é rápido e fácil,<br />
pelos diversos meios de comunicação,<br />
e, mormente pela internet, o hábito <strong>da</strong><br />
leitura t<strong>em</strong> sido ca<strong>da</strong> vez menos difundido<br />
entre crianças e adolescentes. De<br />
certa forma, a falta do hábito <strong>da</strong> leitura<br />
traz graves consequências para a formação<br />
dos jovens. A maioria t<strong>em</strong> dificul<strong>da</strong>des<br />
para escrever, interpretar<br />
textos, criticar e avaliar as diversas informações<br />
que receb<strong>em</strong> diariamente.<br />
Número de Participantes<br />
Participantes do Incentivo à Leitura<br />
600<br />
550<br />
500<br />
450<br />
400<br />
350<br />
300<br />
250<br />
200<br />
150<br />
100<br />
50<br />
0<br />
Escola<br />
E. E. Engenheiro Silvio Fonseca<br />
E. E. Henrique Diniz<br />
E. E. Martinho Fidélis<br />
24 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
O Brasil, infelizmente, possui alto índice<br />
de pessoas que não sab<strong>em</strong> ler: cerca de<br />
14 milhões , segundo o IBGE e, muitas<br />
<strong>da</strong>s que sab<strong>em</strong>, não têm interesse. A<br />
maior parte do conhecimento, <strong>da</strong>s descobertas<br />
e do legado deixado pelas<br />
mais r<strong>em</strong>otas civilizações, está nos livros,<br />
físicos ou digitais. É preciso ler<br />
para efetiva compreensão do mundo e<br />
suas transformações. Na França, ca<strong>da</strong><br />
pessoa lê, <strong>em</strong> média, 25 livros por ano.<br />
No Brasil, segundo a Pesquisa “Retratos<br />
<strong>da</strong> Leitura no Brasil”, divulga<strong>da</strong><br />
pelo Instituto Pró-Livro (2008) , a quanti<strong>da</strong>de<br />
de livros li<strong>da</strong> por habitante, por<br />
ano, não passa de cinco, incluindo-se<br />
os livros didáticos. O probl<strong>em</strong>a advém<br />
de questões culturais e históricas.<br />
A leitura é importante <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as<br />
fases do desenvolvimento intelectual<br />
de um indivíduo, contudo, é na infância<br />
que se t<strong>em</strong> a maior oportuni<strong>da</strong>de de<br />
formar um leitor.<br />
Quanto mais cedo se inicia o contato<br />
<strong>da</strong>s crianças com os livros, maiores são<br />
as possibili<strong>da</strong>des de trabalhar o vocabulário,<br />
a criativi<strong>da</strong>de, a imaginação e,<br />
sobretudo, a capaci<strong>da</strong>de de estruturar<br />
bons textos.<br />
É mais difícil para um adulto adquirir<br />
o hábito <strong>da</strong> leitura do que para<br />
uma criança, visto que elas se encantam<br />
com os livros, gostam <strong>da</strong>s<br />
histórias, <strong>da</strong>s figuras e, acima de tudo,<br />
são ávi<strong>da</strong>s pelas descobertas e pelo<br />
conhecimento. Elas estão <strong>em</strong> fase de<br />
formação, um momento único no qual<br />
adquir<strong>em</strong> hábitos que levarão por to<strong>da</strong><br />
a vi<strong>da</strong>. Principalmente nesta fase, a leitura<br />
estimula a formação de ci<strong>da</strong>dãos<br />
dotados de senso crítico, requisito amplamente<br />
exigido para a inserção posterior<br />
na socie<strong>da</strong>de.<br />
O prazer <strong>em</strong> ler é uma quali<strong>da</strong>de que<br />
se constrói no decorrer de anos, ele<br />
v<strong>em</strong> aos poucos e contribui para a<br />
formação de leitores capazes de reconhecer<br />
as particulari<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong><br />
texto, os sentidos, os significados, os<br />
valores e a abrangência de ca<strong>da</strong> texto<br />
lido. Desta forma, torna-se possível<br />
afastar erros e t<strong>em</strong>ores comuns, relativos<br />
ao hábito <strong>da</strong> leitura, geralmente<br />
presentes entre os alunos de nível Fun<strong>da</strong>mental<br />
e Médio.<br />
Nesse quadro, a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>, instituição que ostenta o nome<br />
de um dos maiores poetas e ficcionistas<br />
<strong>da</strong> história e grande incentivador<br />
<strong>da</strong> leitura no Brasil e cujos objetivos<br />
compreend<strong>em</strong> o desenvolvimento <strong>da</strong><br />
Educação e <strong>da</strong> Cultura neste país é fun<strong>da</strong>mental,<br />
criou o Projeto “Incentivo à<br />
Leitura: Redescobrindo o Prazer de<br />
Ler”. O objetivo principal do Projeto é<br />
estimular crianças e adolescentes a adquirir<strong>em</strong><br />
o hábito e o prazer <strong>da</strong> leitura.
Atualmente, o Projeto está presente <strong>em</strong><br />
três escolas parceiras: Escola Estadual<br />
Engenheiro Sílvio Fonseca, Escola Estadual<br />
Henrique Diniz, ambas <strong>em</strong> Belo<br />
Horizonte - MG, e Escola Estadual Martinho<br />
Fidélis, <strong>em</strong> Bom Despacho - MG.<br />
To<strong>da</strong>s elas estão envolvi<strong>da</strong>s <strong>em</strong> outro<br />
Programa ou Projeto <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>, e o “Incentivo<br />
à Leitura”, por meio <strong>da</strong> interação<br />
entre teoria e ações pe<strong>da</strong>gógicas<br />
diversifica<strong>da</strong>s, como jogos, oficinas,<br />
dramatizações e gincanas, permite, de<br />
forma efetiva, o preenchimento <strong>da</strong> lacuna<br />
cria<strong>da</strong> pela falta do hábito de leitura<br />
nestas escolas.<br />
As ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s visam estimular<br />
crianças e adolescentes a recorrer<strong>em</strong><br />
a diferentes tipos de leitura,<br />
sejam eles livros, revistas, jornais ou<br />
mesmo consultas ao dicionário.<br />
O livro deve estar presente ao alcance<br />
<strong>da</strong>s pequenas mãos. É necessário proximi<strong>da</strong>de<br />
para que se crie uma relação<br />
de afeto, de cui<strong>da</strong>do e, sobretudo, de<br />
respeito pelo que os livros têm a dizer,<br />
a ensinar. A forma mais eficaz de criar<br />
o hábito <strong>da</strong> leitura prazerosa consiste<br />
<strong>em</strong> integrar o livro ao cotidiano, à rotina,<br />
tanto na escola como <strong>em</strong> casa.<br />
Para tornar isso possível, a <strong>FGR</strong> adquiriu<br />
ex<strong>em</strong>plares de 22 obras <strong>da</strong> literatura brasileira,<br />
que são <strong>em</strong>presta<strong>da</strong>s aos participantes<br />
do Projeto. As obras atend<strong>em</strong> os<br />
interesses dos alunos e supr<strong>em</strong> exigências<br />
dos ensinos Fun<strong>da</strong>mental e Médio.<br />
Além <strong>da</strong> leitura propriamente dita, o<br />
Projeto proporciona experiências com<br />
histórias fala<strong>da</strong>s por contadores de<br />
histórias e “causos”, narrados com objetos<br />
e situações do cotidiano dos participantes,<br />
com vistas a proporcionar<br />
recreação, criativi<strong>da</strong>de, socialização,<br />
atenção e disciplina.<br />
Para que to<strong>da</strong>s as ações sejam efetivas<br />
e completamente aproveitáveis pelo<br />
público-alvo do Projeto, alguns objetivos<br />
serv<strong>em</strong> como alicerce para o desenvolvimento,<br />
dentre eles:<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
Ampliar o repertório de histórias,<br />
conta<strong>da</strong>s ou adquiri<strong>da</strong>s<br />
pela leitura.<br />
Fazer com que desenvolvam o<br />
hábito de ler.<br />
Aproximá-las, ao máximo, do<br />
universo <strong>da</strong> escrita.<br />
Fazer com que os participantes<br />
sintam prazer nas ativi<strong>da</strong>des<br />
que envolv<strong>em</strong> a leitura.<br />
Proporcionar situações de leitura<br />
compartilha<strong>da</strong>, para reflexão<br />
e troca de opiniões.<br />
Propiciar a escuta interessa<strong>da</strong> e<br />
atenta <strong>da</strong>s histórias conta<strong>da</strong>s.<br />
Proporcionar capaci<strong>da</strong>de de<br />
criar critérios próprios para<br />
decidir o que ler.<br />
É impossível fazer com que as pessoas<br />
gost<strong>em</strong> <strong>da</strong>quilo que não conhec<strong>em</strong>,<br />
neste sentido a <strong>FGR</strong> busca tornar conhecidos<br />
os prazeres e benefícios presentes<br />
<strong>em</strong> uma boa leitura.<br />
Como forma de ampliar os conceitos<br />
trabalhados pelo Projeto, a <strong>FGR</strong> investe<br />
<strong>em</strong> outras ações e, para que os participantes<br />
e a comuni<strong>da</strong>de tenham fácil<br />
acesso ao conhecimento, criou uma biblioteca<br />
com importantes obras <strong>da</strong>s diversas<br />
áreas do conhecimento, disponíveis<br />
<strong>em</strong> acervo físico e virtual. Para<br />
mais informações sobre a Biblioteca<br />
Fantásticas Vere<strong>da</strong>s acesse o sítio eletrônico<br />
<strong>da</strong> <strong>FGR</strong>: www.fgr.org.br.<br />
To<strong>da</strong>s as ativi<strong>da</strong>des culturais desenvolvi<strong>da</strong>s<br />
pela <strong>FGR</strong>, desde a criação do<br />
Projeto, mostram que a educação é coloca<strong>da</strong><br />
como priori<strong>da</strong>de por esta Instituição,<br />
garantindo aos atendidos pelos<br />
diversos Programas e Projetos Sociais<br />
que desenvolve vasto acesso a obras<br />
de quali<strong>da</strong>de, possibilitando, assim,<br />
qualificação, <strong>em</strong>ancipação ci<strong>da</strong>dã e inserção<br />
na socie<strong>da</strong>de.<br />
Obras adquiri<strong>da</strong>s pela <strong>FGR</strong><br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
A BAGACEIRA<br />
José Américo de Almei<strong>da</strong><br />
OS NúMEROS NA HISTóRIA DA<br />
CIVILIZAÇÃO - Luíz Márcio<br />
UM LEÃO EM FAMÍLIA<br />
Luiz Puntel<br />
OU ISTO OU AQUILO<br />
Cecília Meirelles<br />
HISTóRIA DE SINAIS<br />
Luiza Faraco<br />
ANA TERRA - Érico Veríssimo<br />
REI ARTHUR E OS CAVALEIROS<br />
DA TÁVOLA REDONDA<br />
Sir Thomas Malory, a<strong>da</strong>ptação<br />
de Laura Bacellar<br />
DE CONTO EM CONTO<br />
Machado de Assis<br />
NEGRINHA - Monteiro Lobato<br />
VIDAS SECAS - Graciliano Ramos<br />
O MÁGICO DE OZ - Frank Baum<br />
O BOM LADRÃO<br />
Fernando Sabino<br />
COCô DE PASSARINHO<br />
Eva Furnai<br />
BARQUINHO DE PAPEL<br />
Regina Seguimoto<br />
BOCA DO SAPO - Mary França<br />
O CARACOL - Mary França<br />
A ALMA ENCANTADORA DA RUA<br />
João do Rio<br />
CONTO DA MULHER BRASILEIRA<br />
Edla Van Steen<br />
MEUS POEMAS BRASILEIROS<br />
Manuel Bandeira<br />
AUTO DA COMPADECIDA<br />
Ariano Suassuna<br />
SÃO BERNARDO<br />
Graciliano Ramos<br />
NOITES DO SERTÃO<br />
João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
25
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
“Primeiros Passos:<br />
Educação para o<br />
Empreendedorismo”<br />
Atualmente, o ensino fun<strong>da</strong>mental<br />
não se limita apenas à formação básica<br />
do ci<strong>da</strong>dão: o estu<strong>da</strong>nte deve ser<br />
preparado para os diversos desafios do<br />
mercado de trabalho. Dentre muitas, o<br />
desenvolvimento de pessoas <strong>em</strong>preendedoras<br />
é característica fun<strong>da</strong>mental<br />
na presente socie<strong>da</strong>de.<br />
Contudo, o que é ser <strong>em</strong>preendedor?<br />
Este termo é usado frequent<strong>em</strong>ente,<br />
mas, na maioria <strong>da</strong>s vezes, essa expressão<br />
não é entendi<strong>da</strong> <strong>em</strong> sua totali<strong>da</strong>de.<br />
Para os estudiosos , o <strong>em</strong>preendedorismo<br />
não contém fórmula certa<br />
n<strong>em</strong> hora exata para iniciar-se. É, normalmente,<br />
uma capaci<strong>da</strong>de inata que<br />
alguns seres humanos têm de agir com<br />
criativi<strong>da</strong>de e liderança <strong>em</strong> determina<strong>da</strong>s<br />
situações.<br />
No entanto, é possível desenvolver habili<strong>da</strong>des,<br />
treinar comportamentos e incorporar<br />
conhecimentos de iniciativas<br />
<strong>em</strong>preendedoras desde o início <strong>da</strong> formação<br />
de ca<strong>da</strong> criança. Essa iniciativa<br />
primária é muito importante e, neste<br />
sentido, a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
(<strong>FGR</strong>) cumpre sua missão: despertar<br />
crianças para o real sentido de um trabalho<br />
<strong>em</strong>preendedor!<br />
A <strong>FGR</strong>, no desenvolvimento de seus<br />
diversos Programas e Projetos Sociais<br />
de conscientização e responsabili<strong>da</strong>de<br />
social, contribui para a formação de<br />
crianças e adolescentes, pois acredita<br />
ser este um dos caminhos para a igual<strong>da</strong>de<br />
e crescimento humano na socie<strong>da</strong>de.<br />
Atenta às exigências atuais, a<br />
<strong>FGR</strong> incentiva o aprimoramento dos<br />
alunos por meio <strong>da</strong> cultura e <strong>da</strong> educação,<br />
e ensina aos jovens <strong>em</strong> formação<br />
como agir para se tornar um futuro<br />
<strong>em</strong>preendedor.<br />
Este trabalho só é possível porque<br />
grandes alianças foram construí<strong>da</strong>s!<br />
Em parceria com Escolas Públicas de<br />
Minas Gerais, o Projeto alcança resultados<br />
evidentes. Em 2006, 30 professores<br />
de 15 Escolas Públicas Mineiras<br />
foram capacitados na <strong>FGR</strong> por profissionais<br />
do SEBRAE.<br />
Em pouco t<strong>em</strong>po, foi possível implantar<br />
a metodologia “Primeiros Passos” nas<br />
salas de aula, com o objetivo de estimular<br />
o jov<strong>em</strong> a criar seu próprio negócio<br />
e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, ingressar no<br />
mercado de trabalho.<br />
Em 2009<br />
Hoje, a Escola Estadual Engenheiro<br />
Sílvio Fonseca (Belo Horizonte - MG)<br />
é a parceira <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> neste Projeto. Neste ano, o Projeto<br />
teve início no dia 24 de abril e,<br />
uma vez por s<strong>em</strong>ana, alunos de 1ª a<br />
<strong>4ª</strong> série trabalham com as apostilas<br />
de ativi<strong>da</strong>des que são dividi<strong>da</strong>s <strong>em</strong> 12<br />
módulos e possu<strong>em</strong> t<strong>em</strong>as adequados<br />
para ca<strong>da</strong> série e faixa etária. Essas<br />
ativi<strong>da</strong>des geram interesse sobre o<br />
mundo dos negócios.<br />
Ci<strong>da</strong>des e Escolas Públicas beneficia<strong>da</strong>s pelo Projeto<br />
Belo Horizonte:<br />
Colégio Tiradentes Nossa Senhora <strong>da</strong>s Vitórias<br />
Colégio Tiradentes Minas Caixa<br />
Escola Estadual Elpídio Aristides de Freitas<br />
Escola Estadual Geraldo Teixeira <strong>da</strong> Costa<br />
Escola Estadual Professor Clóvis Salgado<br />
Escola Estadual Engenheiro Sílvio Fonseca<br />
Betim:<br />
Colégio Tiradentes Betim<br />
Contag<strong>em</strong>:<br />
Colégio Tiradentes Contag<strong>em</strong><br />
Escola Municipal Randolfo José <strong>da</strong> Rocha<br />
Bom Despacho:<br />
Escola Estadual Martinho Fidélis<br />
Vespasiano:<br />
Escola Municipal Aracy Fonseca Fernandes<br />
Colégio Tiradentes Vespasiano<br />
Jaboticatubas:<br />
Escola Municipal Geral<strong>da</strong> Isa Lima Rodrigues<br />
Escola Municipal Deolin<strong>da</strong> Dias Duarte<br />
Escola Municipal Cândi<strong>da</strong> de Lima Olynto Ferraz
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
Os estu<strong>da</strong>ntes do Ensino Fun<strong>da</strong>mental<br />
apresentam e vend<strong>em</strong> seus trabalhos<br />
na Feira de Cultura, promovi<strong>da</strong> na própria<br />
escola. To<strong>da</strong> ren<strong>da</strong> é reverti<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />
benefício dos próprios jovens <strong>em</strong>preendedores,<br />
<strong>em</strong> tarde recreativa com<br />
brincadeiras e lanche especial.<br />
Etapas do Projeto:<br />
1ª série: Doce Mundo <strong>da</strong>s Balas<br />
| Processo de Montag<strong>em</strong> de<br />
uma loja de balas.<br />
2ª série: Oficina de Divertimentos<br />
Mundo Faz de Conta |<br />
Montag<strong>em</strong> de uma oficina de<br />
divertimentos onde os brinquedos,<br />
elaborados com materiais<br />
recicláveis, são vendidos.<br />
3ª série: Empreendedorismo<br />
e seus Frutos | Montag<strong>em</strong> de<br />
uma feira de produtos naturais,<br />
frutas, legumes, hortaliças<br />
e sucos.<br />
<strong>4ª</strong> série: Locadora de Gibis |<br />
Montag<strong>em</strong> de uma Locadora<br />
de Gibis.<br />
5ª série: Qu<strong>em</strong> Sabe faz a Hora |<br />
Criação de Relógio de Mesa ou<br />
de Parede.<br />
6ª série: Estamparia <strong>em</strong> Tecido.<br />
7ª série: Reciclag<strong>em</strong>, um Grande<br />
Negócio.<br />
8ª série: Desenvolvimento do<br />
Empreendedor | Funcionamento<br />
de uma Empresa.<br />
Métodos de Orientação:<br />
1. Conhecer o Sist<strong>em</strong>a de Funcionamento<br />
do Projeto Empreendedorismo.<br />
2. Conhecer o perfil do <strong>em</strong>preendedor.<br />
3. Identificar a oportuni<strong>da</strong>de<br />
de negócio.<br />
4. Descrever o negócio<br />
<strong>da</strong> <strong>em</strong>presa.<br />
5. Definir a razão social<br />
<strong>da</strong> <strong>em</strong>presa e o<br />
nome fantasia.<br />
Projeto “UNDARA”<br />
“Educar é crescer. E crescer é viver.<br />
Educação é, assim, vi<strong>da</strong> no sentido<br />
mais autêntico <strong>da</strong> palavra”. (Anísio<br />
Teixeira)<br />
A <strong>FGR</strong>, alinha<strong>da</strong> à sua missão institucional,<br />
prioriza o investimento <strong>em</strong> Programas<br />
e Projetos sociais, os quais contribu<strong>em</strong><br />
para a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<br />
de vi<strong>da</strong> de crianças e adolescentes.<br />
O Projeto “UNDARA” é um ex<strong>em</strong>plo<br />
de atenção ao ser humano, inclusão<br />
social, desenvolvimento cultural e<br />
garantia de educação e construção<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia <strong>em</strong> crianças e adolescentes.<br />
Desenvolvido na Escola Estadual<br />
Martinho Fidélis, no município<br />
de Bom Despacho - MG, o nome “UN-<br />
DARA” de orig<strong>em</strong> afro significa Luz e<br />
expressa a filosofia do Projeto. Com<br />
o objetivo de proporcionar aos participantes<br />
o acesso, resgate e manutenção<br />
<strong>da</strong> cultura local, o Projeto possibilita<br />
o estímulo à criativi<strong>da</strong>de dos<br />
integrantes por meio de ativi<strong>da</strong>des lúdicas<br />
e prazerosas, as quais possibilitam<br />
trabalhar os aspectos cognitivos<br />
no público atendido.<br />
A ideia <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong><br />
de investir <strong>em</strong> um Projeto Social para<br />
os alunos <strong>da</strong> Escola Martinho Fidélis<br />
surgiu <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de encontra<strong>da</strong><br />
pelo corpo docente e conselheiros de<br />
classe <strong>em</strong> dinamizar o processo educacional<br />
de forma efetiva. Os obstáculos<br />
encontrados e a escassez de recursos<br />
humanos e materiais não impediram<br />
a Escola de avançar com o propósito<br />
de oferecer oficinas com trabalhos diversificados,<br />
<strong>em</strong> um espaço onde os<br />
alunos, principalmente os mais deficitários<br />
nos aspectos de aprendizag<strong>em</strong> e<br />
relacionamento interpessoal, tivess<strong>em</strong><br />
a oportuni<strong>da</strong>de de estabelecer vínculos<br />
positivos com o conhecimento, com o<br />
próximo e consigo.<br />
A Escola Estadual Martinho Fidélis<br />
atende os alunos de Ensino Fun<strong>da</strong>mental,<br />
Médio Regular, além <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de<br />
de Educação de Jovens e<br />
Adultos (EJA). Atualmente, possui 530<br />
alunos. O Projeto cont<strong>em</strong>pla alunos<br />
que apresentam dificul<strong>da</strong>des de relacionamento<br />
e/ou aprendizag<strong>em</strong> mediante<br />
prévio diagnóstico realizado<br />
por equipe psicope<strong>da</strong>gógica. Atualmente,<br />
participam do Projeto 65<br />
alunos.<br />
O projeto “UNDARA” hoje é coordenado<br />
pela pe<strong>da</strong>goga Flávia Campos<br />
Cançado Lacer<strong>da</strong> e supervisionado<br />
pelo Departamento Social <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>. O<br />
“UNDARA” realiza ativi<strong>da</strong>des com<br />
grupos de até 25 alunos e, atualmente,<br />
são ofereci<strong>da</strong>s as oficinas de Brinquedoteca,<br />
Handebol e Vôlei, Produção<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
27
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
de Textos, Leitura e Escrita e Xadrez. A<br />
equipe do Projeto conta com profissionais<br />
<strong>da</strong> área de pe<strong>da</strong>gogia e educação<br />
física.<br />
Conheça um pouco sobre o funcionamento<br />
do “UNDARA”:<br />
Brinquedoteca: a Oficina de Brinquedoteca<br />
enfatiza o aprendizado por<br />
meio de brincadeiras e ativi<strong>da</strong>des lúdicas<br />
e possibilita ao participante a vivência<br />
de conteúdos relacionados ao<br />
processo de alfabetização, além de ativi<strong>da</strong>des<br />
de raciocínio lógico-mat<strong>em</strong>ático.<br />
A oficina de brinquedoteca desenvolve<br />
habili<strong>da</strong>des psicomotoras,<br />
atenção, percepção e trabalha o relacionamento<br />
interpessoal.<br />
Handebol e Vôlei: as Oficinas de Handebol<br />
e Vôlei trabalham a educação<br />
corporal, o espírito saudável de competitivi<strong>da</strong>de,<br />
ensinam a convivência <strong>em</strong><br />
equipe, constro<strong>em</strong> nos participantes<br />
noções de responsabili<strong>da</strong>de, autoconfiança<br />
e respeito ao próximo.<br />
Produção de Textos, Leitura e Escrita:<br />
a Oficina de Produção de Textos,<br />
Leitura e Escrita propõe aos participantes,<br />
de forma diverti<strong>da</strong>, desenvolver<br />
a língua portuguesa por meio<br />
<strong>da</strong> leitura, compreensão e composição<br />
de textos. A utilização de estratégias<br />
lúdicas, alia<strong>da</strong> às situações do<br />
cotidiano, propicia às crianças e adolescentes<br />
estabelecer relações entre o<br />
lido e o vivenciado, aprimora o senso<br />
crítico e a vontade de ler, interpretar e<br />
produzir textos.<br />
Xadrez: A Oficina de Xadrez possibilita<br />
aos participantes o desenvolvimento<br />
de habili<strong>da</strong>des <strong>em</strong> diversas áreas. O<br />
contato <strong>da</strong> criança com as técnicas<br />
do jogo permite o desenvolvimento<br />
do raciocínio lógico, agili<strong>da</strong>de para<br />
li<strong>da</strong>r com diversas possibili<strong>da</strong>des, domínio,<br />
dentre outras habili<strong>da</strong>des e hábitos<br />
fun<strong>da</strong>mentais para a toma<strong>da</strong> de<br />
decisões. Além disso, por ser um jogo<br />
28 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
praticado individualmente, o participante<br />
aprende a ter autoconfiança.<br />
As ações propostas no projeto esperam:<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
Melhorar o processo de aprendizag<strong>em</strong><br />
dos alunos.<br />
Intensificar a participação <strong>da</strong><br />
família na vi<strong>da</strong> escolar dos<br />
filhos.<br />
Aperfeiçoar a leitura, escrita,<br />
interpretação e uso de linguagens<br />
varia<strong>da</strong>s.<br />
Estimular a criativi<strong>da</strong>de dos<br />
participantes.<br />
Desenvolver a capaci<strong>da</strong>de de<br />
expressão e a<strong>da</strong>ptação dos alunos<br />
por meio <strong>da</strong> formação de<br />
grupos de produção de textos.<br />
Desenvolver a habili<strong>da</strong>de nos<br />
alunos para a prática de esportes<br />
e o espírito desportivo.<br />
D<strong>em</strong>ocratizar os bens artísticoculturais.<br />
Reforçar material didáticope<strong>da</strong>gógico<br />
<strong>da</strong> escola e redes<br />
de ensino de Bom Despacho.<br />
Monitoramento<br />
O projeto fun<strong>da</strong>menta-se na observação<br />
direta de comportamentos e<br />
adota os seguintes critérios:<br />
Assidui<strong>da</strong>de e Pontuali<strong>da</strong>de: O<br />
aluno precisa estar presente e disponível<br />
para trabalhar, respeitando<br />
os horários determinados.<br />
Respeito pelo Espaço: O aluno<br />
precisa respeitar e preservar o<br />
mobiliário e o espaço <strong>da</strong> oficina.<br />
Ele assume a responsabili<strong>da</strong>de pela<br />
manutenção <strong>da</strong> limpeza dos locais<br />
onde são realiza<strong>da</strong>s as oficinas,<br />
após o final de ca<strong>da</strong> aula.<br />
Respeito pelo Espaço e Material<br />
Utilizado: O aluno deve utilizar o<br />
equipamento e, ao final <strong>da</strong> oficina,<br />
se responsabilizar pela limpeza, operacionalização<br />
e organização local.<br />
Realização dos Trabalhos: O<br />
aluno precisa realizar o trabalho<br />
no t<strong>em</strong>po indicado e acor<strong>da</strong>do pelos<br />
alunos e professor. O trabalho,<br />
quando escrito, é avaliado do ponto<br />
de vista estilístico e gramatical.<br />
Empenho e Concentração no<br />
Trabalho: O aluno deve ser obediente<br />
às regras e responsável<br />
pelos trabalhos propostos, os quais<br />
dev<strong>em</strong> ser realizados com concentração,<br />
calma, disciplina e foco.
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
“Voluntários <strong>em</strong> Favor<br />
de um Mundo Melhor”<br />
“O voluntário é o jov<strong>em</strong> ou o<br />
adulto que, devido a seu interesse<br />
pessoal e ao seu espírito cívico, dedica<br />
parte do seu t<strong>em</strong>po, s<strong>em</strong> r<strong>em</strong>uneração<br />
alguma, a diversas formas<br />
de ativi<strong>da</strong>des, organiza<strong>da</strong>s ou<br />
não, de b<strong>em</strong> estar social, ou outros<br />
campos...” (Nações Uni<strong>da</strong>s)<br />
Doar t<strong>em</strong>po, trabalho e talento <strong>em</strong><br />
favor dos outros não é algo novo, estas<br />
ativi<strong>da</strong>des são exerci<strong>da</strong>s desde os primórdios<br />
<strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. A questão do<br />
voluntariado esteve continuamente inseri<strong>da</strong><br />
na tradição brasileira, contudo,<br />
limita<strong>da</strong> ao espaço religioso, determina<strong>da</strong><br />
pelos valores <strong>da</strong> cari<strong>da</strong>de, compaixão<br />
e amor ao próximo. Novi<strong>da</strong>de,<br />
portanto, pelo menos no Brasil, é considerar<br />
os trabalhos voluntários como<br />
ação responsável, sóli<strong>da</strong> e solidária, que<br />
parte de ci<strong>da</strong>dãos comuns com o objetivo<br />
de combater a exclusão social e<br />
propor melhorias na quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>.<br />
Viv<strong>em</strong>os, portanto, <strong>em</strong> um novo contexto,<br />
no qual o voluntariado é, sobretudo,<br />
uma expressão <strong>da</strong> participação<br />
ci<strong>da</strong>dã, movido por uma ética de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />
que leva as pessoas a<br />
doar<strong>em</strong> horas do seu dia para razões<br />
sociais e comunitárias. Contudo, o voluntário<br />
não se restringe ao assistencialismo<br />
a grupos desfavorecidos <strong>da</strong><br />
população, inclui também diversas<br />
ações nas áreas de cultura, defesa dos<br />
direitos humanos, meio ambiente, esporte<br />
e lazer.<br />
O trabalho voluntário não se reduz<br />
apenas a favores e cari<strong>da</strong>des, ao<br />
mesmo t<strong>em</strong>po proporciona abertura<br />
para novas experiências, oportuni<strong>da</strong>de<br />
de aprendizado, prazer <strong>em</strong><br />
sentir-se útil, criação de novos vínculos<br />
e afirmação do sentido comunitário.<br />
No entanto, a ação voluntária<br />
não substitui o Estado n<strong>em</strong> concorre<br />
com o trabalho r<strong>em</strong>unerado, pois é<br />
uma forma de manifestação que a socie<strong>da</strong>de<br />
possui de assumir responsabili<strong>da</strong>des<br />
e agir por si própria.<br />
Ser voluntário é fácil, basta querer!<br />
1. Todos pod<strong>em</strong> ser voluntários, trabalho voluntário é uma<br />
experiência aberta a todos.<br />
2. Voluntariado é uma relação humana, rica e solidária.<br />
3. No voluntariado todos ganham: o voluntário, aquele com<br />
qu<strong>em</strong> o voluntário trabalha e a comuni<strong>da</strong>de.<br />
4. Voluntariado é uma ação duradoura e de quali<strong>da</strong>de.<br />
5. As formas de ação voluntária são tão varia<strong>da</strong>s quanto as<br />
necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e a criativi<strong>da</strong>de do voluntário.<br />
6. Ca<strong>da</strong> um é voluntário a seu modo.<br />
7. Voluntariado é escolha, portanto, ca<strong>da</strong> compromisso<br />
assumido precisa ser cumprido.<br />
8. Voluntariado é um fenômeno mundial.<br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
A estagiária de Serviço Social <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>,<br />
Camila <strong>da</strong> Silva Xavier, atua como voluntária<br />
no Programa “Bom na Escola, Bom de Bola”.<br />
A Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong> aposta na<br />
valorização dos<br />
trabalhos voluntários<br />
com intuito de<br />
contribuir para um<br />
mundo melhor.<br />
A Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> aposta<br />
na valorização dos trabalhos voluntários<br />
com intuito de contribuir para um<br />
mundo melhor. Nesse contexto, lançou,<br />
no ano de 2005, o Projeto “Voluntários<br />
<strong>em</strong> Favor de um Mundo Melhor”, que<br />
t<strong>em</strong> como objetivo valorizar o altruísmo<br />
e a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, incentivando o<br />
diálogo entre colaboradores, voluntários,<br />
socie<strong>da</strong>des e comuni<strong>da</strong>de.<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
29
O Projeto t<strong>em</strong> ain<strong>da</strong> como metas específicas<br />
desenvolver o conceito de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
entre os colaboradores, atender<br />
a d<strong>em</strong>an<strong>da</strong> reprimi<strong>da</strong> dos Programas e<br />
Projetos Sociais desenvolvidos pela própria<br />
<strong>FGR</strong> e construir vínculos entre a <strong>em</strong>presa,<br />
funcionários e comuni<strong>da</strong>de. O público<br />
atendido pelo Projeto é constituído<br />
por crianças, adolescentes e idosos ca<strong>da</strong>strados<br />
nos Programas e Projetos<br />
Sociais <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>, encaminhados por enti<strong>da</strong>des<br />
parceiras e colaboradores <strong>da</strong><br />
Fun<strong>da</strong>ção, conforme d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>.<br />
Segundo Fabiana Antunes, Assistente<br />
Social, Especialista <strong>em</strong> Projetos Sociais<br />
e corresponsável pelo projeto,<br />
a ideia inicial era conseguir captar<br />
no mínimo um funcionário de ca<strong>da</strong><br />
setor para doar duas horas s<strong>em</strong>anais<br />
<strong>em</strong> prol de algum trabalho voluntário.<br />
Acreditando na proposta do Projeto,<br />
a <strong>FGR</strong> disponibiliza o próprio horário<br />
de trabalho dos colaboradores para<br />
as ativi<strong>da</strong>des voluntárias, de forma<br />
que todos participantes tenham mais<br />
contato com os d<strong>em</strong>ais Programas e<br />
Projetos Sociais realizados pela Fun<strong>da</strong>ção,<br />
além de informações sobre as<br />
necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s pessoas atendi<strong>da</strong>s.<br />
O processo de envolvimento e conscientização<br />
dos funcionários a respeito<br />
<strong>da</strong> importância do trabalho voluntário<br />
é lento, d<strong>em</strong>an<strong>da</strong> t<strong>em</strong>po e<br />
planejamento. Contudo, os alicerces<br />
para o sucesso já foram erguidos e,<br />
por meio de pesquisa interna, percebeu-se<br />
uma considerável quantia<br />
de pessoas interessa<strong>da</strong>s <strong>em</strong> fazer<br />
algum trabalho voluntário.<br />
Participar do projeto é simples, basta<br />
ter interesse <strong>em</strong> aju<strong>da</strong>r, uma vez que as<br />
ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s perpassam<br />
diversas áreas como: educação, psicologia,<br />
esporte, que depend<strong>em</strong>, na<br />
maioria <strong>da</strong>s vezes, do interesse e disponibili<strong>da</strong>de<br />
do voluntário.<br />
Ao participar de um projeto como este,<br />
o colaborador é qu<strong>em</strong> ganha, pois além<br />
do crescimento pessoal proporcionado<br />
por qualquer trabalho voluntário, ocasiona<br />
também o desenvolvimento profissional.<br />
Uma vez que a <strong>FGR</strong> se responsabiliza<br />
<strong>em</strong> disponibilizar t<strong>em</strong>po<br />
para seus profissionais atuar<strong>em</strong> como<br />
voluntário na área que mais condiz<br />
com a formação de ca<strong>da</strong> um, experiências<br />
são soma<strong>da</strong>s e aprimora<strong>da</strong>s.<br />
O Departamento Social, responsável<br />
pela execução do Projeto, conta com o<br />
apoio de outros setores <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção,<br />
como o setor de Comunicação (apoio<br />
na divulgação interna) e o setor de<br />
Recursos Humanos (apoio na formalização<br />
<strong>da</strong>s informações relevantes).<br />
A <strong>FGR</strong> acredita que, ao praticar trabalhos<br />
voluntários, os colaboradores desenvolv<strong>em</strong><br />
a autoestima, aprimoram<br />
habili<strong>da</strong>des e vivenciam novas experiências<br />
como as de aju<strong>da</strong>r, colaborar,<br />
compartilhar alegrias, aliviar sofrimentos,<br />
melhorar a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong><br />
e, dessa forma, incorporar valores de<br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia que contribu<strong>em</strong> para o desenvolvimento<br />
pessoal e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
como um todo.<br />
1. Disponível <strong>em</strong> .<br />
2. Disponível <strong>em</strong> <br />
3. Fonte: < http://www.universia.com.br/><br />
4. O Projeto “Voluntários <strong>em</strong> Favor de um Mundo Melhor” é<br />
coordenado pelo Setor de Recursos Humanos <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>, pelo Gerente<br />
do Departamento Social, Zilton R. Patrocínio, e pelas Gestoras<br />
Flávia Mônico, Psicóloga, e Ilce Gonçalves, Pe<strong>da</strong>goga.<br />
Fabiano Viana O. <strong>da</strong> Cunha Médice, estu<strong>da</strong>nte de Mecatrônica <strong>da</strong> PUC/Minas e voluntário do Programa “BEBB”, ensina Mat<strong>em</strong>ática na<br />
Oficina do Aprender.<br />
30 <strong>FGR</strong> EM REVISTA
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
Falar <strong>em</strong> paz nos t<strong>em</strong>pos de hoje requer conhecimento,<br />
desprendimento e muita energia para conduzir e transformar<br />
o indivíduo que vive e sofre com a violência na vi<strong>da</strong><br />
cotidiana. Basta olharmos <strong>em</strong> volta e perceb<strong>em</strong>os que as<br />
pessoas estão com medo, mais agressivas e não sab<strong>em</strong> dialogar.<br />
Questões simples de ser<strong>em</strong> resolvi<strong>da</strong>s são discuti<strong>da</strong>s<br />
de maneira violenta, com agressões verbais e/ou físicas. As<br />
pessoas perderam o bom senso.<br />
Ter conhecimento do indivíduo, que na sua essência é ambíguo,<br />
nos conduzirá a combater a violência e permear a paz.<br />
Ele age com violência, mas almeja a paz e construí-la significa<br />
administrar esse conhecimento dizimando os conflitos<br />
com sabedoria, desprendimento de preconceito, raiva, inveja<br />
e rivali<strong>da</strong>de. Nesse sentido, é necessário colocar energia <strong>em</strong><br />
nossas ações, sermos firmes e ponderados.<br />
Só assim resgatar<strong>em</strong>os as nossas crianças que estão sendo<br />
educa<strong>da</strong>s vivenciando e sofrendo violência dentro dos<br />
próprios lares. Assist<strong>em</strong> a programas de TV que mostram<br />
que ser “esperto” é qu<strong>em</strong> ludibria o outro... Educar não é<br />
uma missão fácil, principalmente quando é volta<strong>da</strong> para os<br />
valores morais e éticos. É preciso amor, persistência e muita<br />
paciência de todos aqueles que li<strong>da</strong>m com crianças e jovens<br />
<strong>em</strong> formação, mostrando-lhes que o equilíbrio e o bom<br />
senso acompanhados de um diálogo é a melhor maneira<br />
para administrar os conflitos. Usando a inteligência que nos<br />
foi <strong>da</strong><strong>da</strong>, praticando boas ações e sendo mais cooperativos<br />
e solidários. É o pensar no outro como <strong>em</strong> nós mesmos,<br />
dividir e compartilhar.<br />
Os pais, preocupados com a vi<strong>da</strong> profissional e a manutenção<br />
financeira do lar, estão perdendo a oportuni<strong>da</strong>de de<br />
acompanhar o desenvolvimento de seus filhos. É a certeza de<br />
que é mais difícil reconstruir do que construir. São as babás,<br />
creches e escolas que des<strong>em</strong>penham o papel de educadores<br />
na sua integrali<strong>da</strong>de. Vale ressaltar que a escola deveria ser<br />
o espaço onde se <strong>da</strong>ria a continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação recebi<strong>da</strong><br />
<strong>em</strong> casa e, junto com a família, formar o ci<strong>da</strong>dão. Mas isso não<br />
acontece. Por isso v<strong>em</strong>os tantas crianças e adolescentes s<strong>em</strong><br />
referencial e s<strong>em</strong> limites, perdidos nos próprios conceitos e<br />
amadurecimento tardio. É na tenra i<strong>da</strong>de que são ensinados<br />
Um Programa <strong>da</strong> Paz<br />
Ilce Gonçalves Sousa de Jesus*<br />
os valores, conduta na socie<strong>da</strong>de e aquelas palavrinhas<br />
mágicas que faz<strong>em</strong> tão b<strong>em</strong> aos ouvidos alheios: Obrigado!,<br />
Por favor!, Bom dia!, Com licença! e Desculpe-me!<br />
Hoje, estamos preocupados <strong>em</strong> resgatar esses valores com<br />
as crianças e adolescentes. Programas Sociais e escolas têm<br />
desenvolvido ativi<strong>da</strong>des que proporcionam aos nossos jovens<br />
vivenciar<strong>em</strong> situações que exijam deles o cumprimento<br />
de normas, regras de convivência, respeito e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de.<br />
É um exercício constante. Esses jovens buscam por limites<br />
e cabe àqueles que trabalham com eles <strong>da</strong>r esse direcionamento.<br />
Só assim diminuir<strong>em</strong>os a violência que assola a<br />
socie<strong>da</strong>de: acreditar que pode existir um mundo melhor.<br />
Uma experiência gratificante foi com o Programa “Escola <strong>da</strong><br />
Paz”, desenvolvido pela Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> na Escola<br />
Estadual Henrique Diniz. Quando fui convi<strong>da</strong><strong>da</strong> para fazer<br />
parte deste programa, percebi o desafio a ser enfrentado. A<br />
escola passava por uma série de probl<strong>em</strong>as, como indisciplina<br />
e violência. Após análise <strong>da</strong> situação <strong>em</strong> 2007, realizamos<br />
várias ativi<strong>da</strong>des sobre conduta e comportamento junto aos<br />
alunos <strong>da</strong> turma de 6ª série. No ano de 2008, foi criado um<br />
projeto piloto para os alunos do Introdutório (6 anos) e de<br />
1ª a <strong>4ª</strong> séries do Ensino Fun<strong>da</strong>mental. Era necessário que<br />
fortalecêss<strong>em</strong>os a base para sanarmos probl<strong>em</strong>as futuros.<br />
Várias reuniões foram realiza<strong>da</strong>s com a equipe <strong>da</strong> escola e a<br />
<strong>FGR</strong>, chegando-se ao consenso de trabalharmos com cartilha<br />
de ativi<strong>da</strong>des. As cartilhas do Programa “Escola <strong>da</strong> Paz“<br />
foram escritas basea<strong>da</strong>s <strong>em</strong> valores éticos e morais. Vivenciei<br />
momentos mágicos, escrevendo e pesquisando ativi<strong>da</strong>des<br />
lúdicas sobre valores para estas crianças, imaginando o rosto<br />
e as sensações de surpresa que ca<strong>da</strong> uma sentiria. Sentia-me<br />
gratifica<strong>da</strong> com esta oportuni<strong>da</strong>de. Eu estava passando a<br />
elas conceitos e atitudes que as aju<strong>da</strong>riam a tornar<strong>em</strong>-se<br />
ci<strong>da</strong>dãs dignas. Em fevereiro de 2008, as cartilhas foram<br />
apresenta<strong>da</strong>s às professoras e equipe <strong>da</strong> direção <strong>da</strong> escola.<br />
Foi um momento de glória! Agradeci<strong>da</strong>s à <strong>FGR</strong>, abraçaram<br />
a causa e, uma vez por s<strong>em</strong>ana, as ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> cartilha<br />
eram trabalha<strong>da</strong>s e, durante esse período, to<strong>da</strong>s as questões<br />
foram s<strong>em</strong>pre l<strong>em</strong>bra<strong>da</strong>s e reforça<strong>da</strong>s pelas professoras e<br />
pelos alunos. Foi um trabalho revigorante, a escola mudou,<br />
cresceu e rejuvenesceu: novo ânimo surgiu. Muitos pais têm<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
31
Alunos <strong>da</strong> E.E. Henrique Diniz no Festival Escola <strong>da</strong> Paz.<br />
participado conosco deste processo. Alguns já perceberam<br />
a mu<strong>da</strong>nça de comportamento <strong>em</strong> casa. As crianças estão<br />
mais calmas, os conflitos, as brigas nas filas <strong>da</strong> cantina e na<br />
entra<strong>da</strong> do turno melhoraram muito. Os pequenos chamam<br />
a atenção dos maiores, é o Programa “Escola <strong>da</strong> Paz” e...<br />
Na “Escola <strong>da</strong> Paz” não pod<strong>em</strong>os fazer isso! É o melhor<br />
momento quando os ouvimos dizendo assim, é a certeza de<br />
que esses conceitos foram assimilados e serão levados pela<br />
vi<strong>da</strong>. É o nosso trabalho, o nosso amor por estas crianças, o<br />
acreditar que pod<strong>em</strong>os fazer a diferença. Que o ser humano<br />
é rico. Só precisa ser orientado, ouvido. Não pod<strong>em</strong>os desistir<br />
de uma pessoa.<br />
Neste projeto, os alunos eleg<strong>em</strong> os Heróis <strong>da</strong> Paz. Claro<br />
que, como crianças, eleg<strong>em</strong> personagens infantis. Estu<strong>da</strong>m<br />
a vi<strong>da</strong> desse personag<strong>em</strong>, qu<strong>em</strong> o criou, a i<strong>da</strong>de, gosto, o<br />
que faz... É a mascote <strong>da</strong> sala. Aquele que os incentivará a<br />
manter a ord<strong>em</strong> e o respeito pelo outro. Os representantes<br />
de turma também são eleitos pelos colegas. Eles passam<br />
por um treinamento de liderança, no qual são informados<br />
seus direitos e deveres como representantes. Que um bom<br />
líder é aquele que sabe ouvir. Ser imparcial. É o momento<br />
do amadurecimento do indivíduo. O início do processo <strong>da</strong><br />
responsabili<strong>da</strong>de.<br />
Os alunos sab<strong>em</strong> que a culminância do trabalho se <strong>da</strong>rá no<br />
Festival Escola <strong>da</strong> Paz. Eles apresentam números musicais,<br />
32 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
teatros, po<strong>em</strong>as, gravam vídeos <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s<br />
durante o ano, as salas ficam enfeita<strong>da</strong>s com as normas e<br />
regras de convivência. É o dia D!<br />
Em 2008, no dia do Festival, eles foram surpreendidos com a<br />
visita <strong>da</strong>s mascotes de ca<strong>da</strong> sala. A alegria foi geral. Inclusive<br />
para as professoras, que não sabiam sobre este presente. A<br />
<strong>FGR</strong> promoveu mais este momento!<br />
Em 2009, os trabalhos continuam com mais amadurecimento.<br />
Sab<strong>em</strong>os onde quer<strong>em</strong>os chegar: aos alunos do<br />
Ensino Fun<strong>da</strong>mental II e Ensino Médio. A caminha<strong>da</strong> ain<strong>da</strong><br />
é longa, mas chegar<strong>em</strong>os lá. A próxima etapa será com os<br />
alunos <strong>da</strong> 5ª série / 6º ano.<br />
A escola está passando por uma reforma geral e contamos<br />
que o Programa “Escola <strong>da</strong> Paz” e o <strong>em</strong>penho <strong>da</strong> equipe<br />
<strong>da</strong> escola ajud<strong>em</strong> efetivamente no desenvolvimento dos<br />
valores morais e éticos desses alunos, levando-os, inclusive,<br />
a conservar o patrimônio escolar, que também é deles. O<br />
processo <strong>da</strong> educação é como plantar uma s<strong>em</strong>ente. Espero<br />
que estas s<strong>em</strong>entes, planta<strong>da</strong>s e rega<strong>da</strong>s diariamente,<br />
torn<strong>em</strong>-se belos frutos na forma de ci<strong>da</strong>dãos de b<strong>em</strong>.<br />
Alunos <strong>da</strong> E.E. Henrique Diniz receberam as Cartilhas do Programa<br />
“Escola <strong>da</strong> Paz”.<br />
*Gradua<strong>da</strong> com licenciatura plena <strong>em</strong> Pe<strong>da</strong>gogia pela Universi<strong>da</strong>de FUMEC.<br />
Cursos de especialização: SUPERA – Sist<strong>em</strong>a para detecção de uso abusivo<br />
e dependência de Substâncias Psicoativas. Secretaria Nacional Antidrogas e<br />
Universi<strong>da</strong>de Federal de São Paulo - UNIFEST ; Curso de Diss<strong>em</strong>inadores <strong>da</strong><br />
Educação Fiscal ESAF. Curso de Gestão Escolar – Secretaria <strong>da</strong> Educação. Curso<br />
sobre Dificul<strong>da</strong>de de Aprendizag<strong>em</strong> na perspectiva <strong>da</strong> inclusão - Centro Universitário<br />
Newton Paiva. I Congresso Internacional Transtornos e Dificul<strong>da</strong>des<br />
de Aprendizag<strong>em</strong>. Pe<strong>da</strong>goga no Colégio Tiradentes <strong>da</strong> PMMG e Fun<strong>da</strong>ção<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, acompanhando os Projetos Sociais na área <strong>da</strong> Educação.
preservação ecológica<br />
Todos juntos somos fortes<br />
Entrevista especial <strong>da</strong> “<strong>FGR</strong> <strong>em</strong> <strong>Revista</strong>” com José Carlos Carvalho,<br />
Secretário de Estado de Meio Ambiente de Minas Gerais.<br />
<strong>FGR</strong>: Desde sua criação, a Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong> t<strong>em</strong><br />
como objetivo principal <strong>da</strong>r apoio à socie<strong>da</strong>de <strong>em</strong> importantes<br />
aspectos, como educação, saúde e segurança. Qual a<br />
importância de instituições de diferentes setores se unir<strong>em</strong><br />
<strong>em</strong> parcerias efetivas por objetivos comuns?<br />
José Carlos: Já diz a sabedoria popular: “todos juntos somos<br />
fortes”. Se for assim, na<strong>da</strong> melhor do que unir esforços e<br />
inteligências <strong>em</strong> favor de causas de interesse comunitário.<br />
ACHO QUE ISTO É UM EXEMPLO DE AÇÃO DEMOCRÁTICA<br />
E CIDADÃ A SER SEMPRE PERSEGUIDO.<br />
<strong>FGR</strong>: O “Manual de Obras Públicas Sustentáveis” é, hoje, um<br />
importante instrumento de pesquisa. Esse Manual pode ser<br />
utilizado por <strong>em</strong>presas priva<strong>da</strong>s, com ou s<strong>em</strong> fins lucrativos,<br />
ou apenas pelo Governo?<br />
José Carlos: O manual é um instrumento de ação <strong>em</strong> favor<br />
do meio ambiente, aberto a todo <strong>em</strong>preendedor consciente.<br />
É claro que suas normas e orientações pod<strong>em</strong> ser utiliza<strong>da</strong>s<br />
por todos.<br />
<strong>FGR</strong>: Nos últimos anos, quais foram as principais conquistas<br />
do Estado de Minas Gerais <strong>em</strong> relação à gestão ambiental?<br />
José Carlos: As grandes realizações do SISEMA - Sist<strong>em</strong>a<br />
Estadual de Meio Ambiente são:<br />
a) a descentralização do licenciamento ambiental, com a<br />
criação e operacionalização dos COPAMs regionais. Agora, o<br />
<strong>em</strong>preendedor entra com o seu pedido de licença ambiental<br />
na própria região de seu <strong>em</strong>preendimento, ali mesmo acompanha<br />
a tramitação do processo e a deliberação do COPAM,<br />
integrado por autori<strong>da</strong>des regionais <strong>da</strong> maior competência,<br />
com maior conhecimento de causa e mais sensíveis aos<br />
probl<strong>em</strong>as e potenciali<strong>da</strong>des locais;<br />
b) a informatização do Sist<strong>em</strong>a de Licenciamento Ambiental.<br />
Com isso, colocamos nossos serviços no século XXI<br />
e propiciamos aos <strong>em</strong>preendedores e a to<strong>da</strong> a comuni<strong>da</strong>de<br />
a possibili<strong>da</strong>de de contactar-nos de modo ágil e eficiente.<br />
<strong>FGR</strong>: As mu<strong>da</strong>nças climáticas e os impactos advindos delas é<br />
algo percebido pelo Mundo. Quais são as ações do Governo<br />
de Minas a respeito desse t<strong>em</strong>a? O que é feito <strong>em</strong> relação<br />
às mu<strong>da</strong>nças que dev<strong>em</strong> ser planeja<strong>da</strong>s para o b<strong>em</strong>-estar<br />
futuro?<br />
José Carlos: T<strong>em</strong>os um segmento específico a cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong>s<br />
mu<strong>da</strong>nças climáticas: e o Fórum Mineiro de Mu<strong>da</strong>nças Climáticas<br />
que, desde sua criação no Governo Aécio Neves, v<strong>em</strong><br />
participando ativamente de fóruns nacionais e internacionais<br />
sobre o t<strong>em</strong>a e interagindo com universi<strong>da</strong>des de Minas<br />
Gerais, como a Universi<strong>da</strong>de Federal de Viçosa e de Lavras,<br />
que estu<strong>da</strong>m os possíveis efeitos do aquecimento global<br />
sobre a economia - especialmente a agricultura - do Estado.<br />
As universi<strong>da</strong>des estão desenhando possíveis e prováveis<br />
cenários futuros - consequentes do fenômeno, para que o<br />
Governo possa ir se preparando para enfrentar as mu<strong>da</strong>nças<br />
com a maior competência possível, aproveitando os seus<br />
efeitos positivos e procurando neutralizar os negativos.<br />
<strong>FGR</strong>: Com a crise econômica e financeira, o meio ambiente<br />
passou a ter uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> de destaque <strong>em</strong> todos os Continentes.<br />
Quais os impactos e oportuni<strong>da</strong>des abertos pela<br />
crise no setor ambiental, sobretudo no Brasil e <strong>em</strong> Minas<br />
Gerais?<br />
José Carlos: A crise internacional ain<strong>da</strong> é muito recente para<br />
permitir uma avaliação de fôlego sobre as oportuni<strong>da</strong>des e<br />
impactos dela decorrentes. Entretanto, um <strong>da</strong>do positivo<br />
já se observa: o interesse <strong>da</strong>s organizações, <strong>em</strong> geral, pela<br />
economia de recursos e <strong>em</strong> evitar o desperdício. Isto resulta<br />
numa certa contenção do consumo desenfreado, o que é<br />
positivo <strong>em</strong> termos ambientais.<br />
<strong>FGR</strong>: É fato a necessi<strong>da</strong>de de investimentos <strong>em</strong> ações de<br />
educação ambiental. Quais as implicações desse tipo de<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
33
Secretário de Estado de Meio Ambiente, José Carlos Carvalho.<br />
investimento para a socie<strong>da</strong>de, principalmente quando ela<br />
participa? Como as Instituições, públicas ou priva<strong>da</strong>s, pod<strong>em</strong><br />
aju<strong>da</strong>r com projetos de educação ambiental?<br />
José Carlos: Executando o que preceitua a legislação<br />
setorial. Já seria uma enorme contribuição. Em Minas,<br />
t<strong>em</strong>os ótimos ex<strong>em</strong>plos de programas simples e eficientes<br />
de Educação Ambiental sendo executados por <strong>em</strong>presas de<br />
diferentes segmentos - com destaque para o setor minerosiderúrgico<br />
- <strong>em</strong> número significativo de escolas de primeiro<br />
e segundo graus com experiências muito interessantes<br />
nesta área. De nossa parte, t<strong>em</strong>os uma diretoria específica<br />
cui<strong>da</strong>ndo de <strong>da</strong>r suporte às iniciativas na área e desenvolv<strong>em</strong>os,<br />
internamente, <strong>em</strong> repartições públicas do Estado o<br />
Projeto “Ambientação”, voltado para a internalização do<br />
agir e pensar ambientalmente corretos pelo público de funcionários<br />
destas instituições. O efeito multiplicativo é fácil<br />
de calcular, se levarmos <strong>em</strong> conta que ca<strong>da</strong> família média<br />
brasileira t<strong>em</strong> cinco componentes. Trata-se de trabalho pioneiro<br />
e que v<strong>em</strong> recebendo prêmios importantes, graças a<br />
preservação ecológica<br />
seu ineditismo e eficiência <strong>em</strong> termos de economias internas<br />
(de papel, de energia, de água, etc.) e de conscientização<br />
dos funcionários que dele participam.<br />
<strong>FGR</strong>: O senhor acredita na eficácia dos “selos verdes” para<br />
garantir processos mais sustentáveis?<br />
José Carlos: Acho o selo verde muito interessante, desde<br />
que b<strong>em</strong> administrado, fiscalizado e gerenciado. Ou seja,<br />
tenho efetiva condição de ser um <strong>da</strong>do importante no<br />
esforço de sustentabili<strong>da</strong>de.<br />
<strong>FGR</strong>: A legislação, fiscalização e punição regente no Estado<br />
são suficientes para a inibição <strong>da</strong> poluição por parte <strong>da</strong>s<br />
grandes <strong>em</strong>presas, mormente as de transportes?<br />
José Carlos: Não. Comando e controle já d<strong>em</strong>onstraram ser<br />
incapazes de <strong>da</strong>r conta dos probl<strong>em</strong>as ambientais. O que<br />
precisamos é <strong>da</strong> criação de um ambiente social e politicamente<br />
capaz de constranger o ci<strong>da</strong>dão e os <strong>em</strong>preendedores<br />
ambientalmente incorretos: de um ambiente desfavorável à<br />
burla <strong>da</strong> lei, à agressão ao meio ambiente. Isto vai desde<br />
a inibição <strong>da</strong>s pessoas de “varrer” passeio com água cara<br />
e trata<strong>da</strong>, até o de inibir o dono de uma fábrica a poluir o<br />
ar como se isto fosse aceitável. Ou seja, precisamos ca<strong>da</strong><br />
vez mais de uma dose maior e mais forte de Educação<br />
Ambiental, <strong>em</strong> todos os níveis.<br />
Na área de transportes, é preciso que a socie<strong>da</strong>de pressione<br />
ca<strong>da</strong> vez mais no sentido <strong>da</strong> ampliação dos chamados<br />
“transportes limpos”. É inexplicável que um país como o<br />
nosso, de dimensões continentais, não disponha de uma<br />
malha ferroviária, elétrica, respeitável. Nenhum país desenvolvido<br />
conseguiu ir à frente s<strong>em</strong> a exploração econômica<br />
e eficiente de ferrovias. Paralelamente, t<strong>em</strong>os de lutar pelo<br />
uso maior de combustíveis menos poluentes.
preservação ecológica<br />
O uso sustentável <strong>da</strong>s águas<br />
O corpo humano é constituído de 75%<br />
de água e 25 % de sólidos. A água é responsável<br />
por processos vitais s<strong>em</strong> os<br />
quais ocorre a morte do corpo. Em razão<br />
de estar intimamente liga<strong>da</strong> às funções<br />
celulares, a água pode, também, atuar<br />
como veículo de patógenos que, ao<br />
adentrar<strong>em</strong> os organismos, provocarão<br />
doenças e alterações de metabolismo<br />
que redun<strong>da</strong>rão <strong>em</strong> arruinamento <strong>da</strong><br />
quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e probl<strong>em</strong>as de saúde<br />
pública.<br />
Contaminações de águas ocorr<strong>em</strong>, principalmente,<br />
pelo despejo de fezes (esgotos<br />
domésticos). Infecta<strong>da</strong>s, as águas<br />
se tornam veículo difusor de amebíase,<br />
ancilostomose, ascaridíase, cólera, disenteria<br />
bacilar, esquistossomose e outras<br />
afetações à saúde.<br />
A água é recurso finito, renovável e escasso.<br />
É el<strong>em</strong>ento do ciclo hidrológico<br />
encontrado nos estados líquido, vapor<br />
(gasoso), meteórico (chuvas) e sólido<br />
(geleiras). O hom<strong>em</strong> não produz água.<br />
Ela é a mesma no Planeta há milhões de<br />
anos, movimentando-se e mu<strong>da</strong>ndo de<br />
estado físico.<br />
Em todos os estados físicos <strong>em</strong> que é<br />
encontra<strong>da</strong>, a água exerce papel fun<strong>da</strong>mental<br />
para a manutenção <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,<br />
mas é no estado líquido que melhor<br />
serve às comuni<strong>da</strong>des humanas, haja<br />
vista o papel que des<strong>em</strong>penha nas<br />
funções celulares. É nesse estado que<br />
a água é mais afeta<strong>da</strong> pelas ativi<strong>da</strong>des<br />
humanas.<br />
Nos processos produtivos modernos<br />
busca-se implantar Mecanismos de<br />
Desenvolvimento Limpo - MDL, com<br />
vistas ao desenvolvimento sustentável,<br />
que consiste <strong>em</strong> utilizar recursos ambientais<br />
preservando-os para as gerações<br />
presentes e futuras, incluindo o<br />
uso racional e a equitativa distribuição<br />
<strong>da</strong> água às diversas comuni<strong>da</strong>des do<br />
Planeta. Outro ponto importante a ser<br />
analisado para a racional utilização dos<br />
recursos hídricos diz respeito à heterogênea<br />
distribuição <strong>da</strong>s águas no globo<br />
terrestre (Quadro 1).<br />
Os <strong>da</strong>dos apontam a necessi<strong>da</strong>de de<br />
reflexões quanto à quanti<strong>da</strong>de de água<br />
doce disponível para uso humano. Situações<br />
de escassez são registra<strong>da</strong>s <strong>em</strong><br />
variados pontos s<strong>em</strong> previsão de medi<strong>da</strong>s<br />
que, <strong>em</strong> curto prazo, solucion<strong>em</strong><br />
os conflitos.<br />
Os recursos ambientais, incluí<strong>da</strong>s as<br />
águas, são b<strong>em</strong> de uso comum, obrigando-se<br />
o Poder Público e as comuni<strong>da</strong>des<br />
a protegê-los para as gerações<br />
presentes e futuras, <strong>em</strong> atenção ao conceito<br />
de desenvolvimento sustentável.<br />
Por não estar distribuí<strong>da</strong> uniform<strong>em</strong>ente<br />
no Planeta, a água, dota<strong>da</strong> de valor econômico<br />
e social, deve ser gerencia<strong>da</strong> por<br />
políticas públicas e estruturas de gestão<br />
que contribuam para o seu racional uso,<br />
QUADRO 1 - DISTRIBUIÇÃO GEOLÓGICA DA ÁGUA NO PLANETA<br />
PERCENTUAL(%)<br />
97,0<br />
2,2<br />
0,8<br />
100<br />
TIPO<br />
Salga<strong>da</strong><br />
Doce<br />
Doce<br />
Arley Gomes de Lagos Ferreira*<br />
para evitar conflitos e probl<strong>em</strong>as de<br />
saúde pública, <strong>em</strong> modelo de gestão d<strong>em</strong>ocrática<br />
e participativa, com envolvimento<br />
dos diversos atores interessados<br />
no seu uso sustentável, o que já v<strong>em</strong><br />
ocorrendo <strong>em</strong> Minas Gerais, com o gerenciamento<br />
de uso <strong>da</strong>s águas por bacia<br />
hidrográfica.<br />
O balizador de condutas sustentáveis é<br />
a lei, mas, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre, ela é suficiente<br />
para produzir resultados. É necessário<br />
ir além do cumprimento <strong>da</strong> lei. A legislação<br />
ambiental brasileira t<strong>em</strong> como<br />
característica a moderni<strong>da</strong>de de seus<br />
textos, capazes de modificar culturas,<br />
cenários do desenvolvimento econômico<br />
sustentável e padrões de quali<strong>da</strong>de<br />
de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des. Ain<strong>da</strong><br />
assim, no tocante às águas, registram-se<br />
situações preocupantes como poluição,<br />
assoreamento, captações e outros usos<br />
que compromet<strong>em</strong> a sustentabili<strong>da</strong>de<br />
dos corpos hídricos.<br />
Urge adotar comportamentos individuais<br />
e coletivos que diminuam os impactos<br />
do despejo de efluentes s<strong>em</strong><br />
tratamento diretamente nas coleções<br />
d’água, para mitigar efeitos dos altos<br />
volumes de esgotos diariamente lançados.<br />
Já não é mais possível atribuir somente<br />
ao Poder Público a adoção de medi<strong>da</strong>s<br />
técnicas e culturais de proteção<br />
LOCALIZAÇÃO<br />
Mares/Oceanos<br />
Geleiras e aquíferos de difícil acesso<br />
Rios, lagos, acessível para consumo humano<br />
Fonte: www.uniagua.org.br<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
35
dos recursos hídricos. O ci<strong>da</strong>dão deve e<br />
pode atuar <strong>em</strong> sinergia com os esforços<br />
de gestão pública. Do ponto de vista<br />
legal, despejar efluentes prejudicando a<br />
quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s águas constitui crime capitulado<br />
na Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro<br />
de 1998. Contudo, continuam os<br />
despejos e agressões de to<strong>da</strong>s as naturezas<br />
nos corpos hídricos, <strong>em</strong> modelo de<br />
desenvolvimento criticável quanto à sustentabili<strong>da</strong>de.<br />
Paralelamente a esse quadro de agressão,<br />
o mercado oferece recursos tecnológicos<br />
mitigadores de impactos do lançamento<br />
de efluentes, principalmente esgotos domésticos,<br />
um dos responsáveis pela elevação<br />
<strong>da</strong>s concentrações de fósforo e<br />
nitrogênio, causando eutrofização e diminuição<br />
<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de dos ecossist<strong>em</strong>as<br />
aquáticos, com visíveis impactos adversos<br />
para as espécies. Essas tecnologias<br />
ain<strong>da</strong> não são utiliza<strong>da</strong>s como deveriam.<br />
As pessoas relutam <strong>em</strong> economizar<br />
nas construções para investir <strong>em</strong> conforto<br />
interno - não <strong>em</strong> meio ambiente.<br />
Diante de tal situação, in<strong>da</strong>ga-se: existindo<br />
norma incriminadora relativa à poluição,<br />
e tecnologias de engenharia de<br />
saneamento disponíveis, o que o ci<strong>da</strong>dão<br />
pode e deve fazer, individual e coletivamente,<br />
para diminuir impactos do despejo<br />
de efluentes domésticos nos corpos<br />
hídricos?<br />
O ci<strong>da</strong>dão t<strong>em</strong> como diminuir a carga<br />
orgânica nos corpos hídricos para<br />
não incorrer <strong>em</strong> crime, mediante a<br />
instalação, <strong>em</strong> prédios residenciais e<br />
36 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
comerciais, de sist<strong>em</strong>as<br />
de transformação<br />
físico-química de esgotos -<br />
sist<strong>em</strong>a de tratamento<br />
preliminar, <strong>em</strong> inquestionáveld<strong>em</strong>onstração<br />
de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />
Pelissari<br />
(1995) define ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia<br />
como<br />
(...) a quali<strong>da</strong>de<br />
a ser cultiva<strong>da</strong>, a<br />
fim de que a socie<strong>da</strong>de<br />
civil possa, organiza<strong>da</strong>mente,<br />
limitar e exigir ações do<br />
Estado, de tal forma que a d<strong>em</strong>ocracia e<br />
os direitos possam ser realizados.<br />
A atitude ci<strong>da</strong>dã envolve fun<strong>da</strong>mentos de<br />
ética ecológica que constitui conjunto de<br />
ideias fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>em</strong> sentimento de fraterni<strong>da</strong>de<br />
para com os s<strong>em</strong>elhantes, de convivência<br />
com as outras espécies e de conservação<br />
<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong>de. Na medi<strong>da</strong><br />
<strong>em</strong> que as pessoas prescind<strong>em</strong> do exercício<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, surg<strong>em</strong> os conflitos,<br />
principalmente quando o objeto <strong>da</strong>s controvérsias<br />
recai sobre direitos patrimoniais,<br />
distribuição de riqueza e outros conteúdos<br />
promotores de exclusão social.<br />
Nos microambientes (suas casas), as<br />
pessoas cumpr<strong>em</strong> e exig<strong>em</strong> rigi<strong>da</strong>mente<br />
a obediência a princípios de convívio coletivo<br />
para o b<strong>em</strong>-estar <strong>da</strong> família. Na<br />
casa existe lugar apropriado para ca<strong>da</strong><br />
uma <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des do dia-a-dia. Há<br />
lugar certo para dormir, alimentar, tomar<br />
banho, receber pessoas, defecar e urinar,<br />
depositar lixo, etc. Mesmo nas situações<br />
preservação ecológica<br />
de extr<strong>em</strong>a pobreza registra-se a vocação<br />
do ser humano <strong>em</strong> organizar seu<br />
microambiente <strong>em</strong> busca de conforto. Ao<br />
contrário, não se observam mesmos níveis<br />
de preocupação e respeito quando<br />
reportamo-nos ao macroambiente, ou<br />
seja, quando se sai <strong>da</strong> casa. Fora <strong>da</strong> casa<br />
são tolera<strong>da</strong>s conspurcações como a <strong>da</strong>s<br />
águas, dos ecossist<strong>em</strong>as, <strong>da</strong>s paisagens,<br />
do solo, do ar, etc.<br />
O excesso de tolerância pode induzir<br />
cataclismas de grande magnitude, com<br />
elevados custos para os governos e para<br />
a socie<strong>da</strong>de. É hora de <strong>da</strong>r um “basta”<br />
aos cheiros pútridos que <strong>em</strong>anam de<br />
inocentes corpos d’água, relutantes <strong>em</strong><br />
existir e servir à natureza e ao hom<strong>em</strong>.<br />
Sejamos limpos dentro e fora <strong>da</strong> casa!<br />
Referências Bibliográficas:<br />
ALTVATER, Elmar. O Preço <strong>da</strong> Riqueza. São<br />
Paulo: Universi<strong>da</strong>de Estadual Paulista, 1995.<br />
BRASIL. Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.<br />
Dispõe sobre as sanções penais e administrativas<br />
deriva<strong>da</strong>s de condutas e ativi<strong>da</strong>des lesivas ao meio<br />
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Disponível <strong>em</strong>: .<br />
Acesso <strong>em</strong>: 10 nov. 2006.<br />
DACACH, Nelson Gandur. Sist<strong>em</strong>as Urbanos de<br />
Esgoto. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Dois<br />
S.A., 1984.<br />
______. Saneamento Básico. 2 ed., Rio de Janeiro:<br />
Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1984.<br />
MACHADO, Paulo Afonso L<strong>em</strong>e. Recursos Hídricos -<br />
Direito Brasileiro e Internacional. São Paulo,<br />
Malheiros Editores, 2002.<br />
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional.<br />
9.ed., São Paulo, Editora Atlas S.A., 2001.<br />
PELISSARI, Mariá Apareci<strong>da</strong>. A Condição Ci<strong>da</strong>dã.<br />
Piracicaba: Editora Unimep, 1995.<br />
ROMANO FILHO, D<strong>em</strong>óstenes; et al. Gente Cui<strong>da</strong>ndo<br />
<strong>da</strong>s Águas. Belo Horizonte, Mazza Edições,<br />
2002.<br />
TAMAMES, Ramón. Críticas dos Limites do Crescimento<br />
- Ecologia e Desenvolvimento. Lisboa:<br />
Publicações Dom Quixote, 1983.<br />
UNIVERSIDADE DA ÁGUA. Disponível <strong>em</strong>: . Acesso <strong>em</strong> 2 nov. 2006.<br />
*Capitão PM do quadro de oficiais <strong>da</strong> reserva <strong>da</strong><br />
Polícia Militar de Minas Gerais. Atua hodiernamente<br />
como assessor no Instituto Estadual de<br />
Florestas - IEF. É especialista <strong>em</strong> segurança pública<br />
pela Fun<strong>da</strong>ção João Pinheiro e <strong>em</strong> gerenciamento<br />
municipal de recursos hídricos pelo Instituto de<br />
Ciências Biológicas - ICB <strong>da</strong> UFMG.
segurança pública<br />
A segurança pública avança <strong>em</strong> sua<br />
atuação com foco na cultura <strong>da</strong> paz<br />
e educação, interagindo significativamente<br />
com a socie<strong>da</strong>de.<br />
A Secretaria de Defesa Social <strong>em</strong>penhase<br />
<strong>em</strong> mu<strong>da</strong>nças que faz<strong>em</strong> com que a<br />
população sinta-se mais confortável a<br />
respeito <strong>da</strong> presença policial <strong>em</strong> sua<br />
comuni<strong>da</strong>de.<br />
Todos os investimentos na área <strong>da</strong><br />
Segurança Pública não surtirão efeito<br />
se não pensarmos a segurança no<br />
seu aspecto amplo como a segurança<br />
interior que só se faz com o exercício<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Quando a pessoa toma<br />
consciência de seus impulsos solidários<br />
e humanísticos, ela <strong>em</strong>podera-se<br />
dos seus direitos e deveres. Assim, o<br />
discurso transforma-se <strong>em</strong> prática,<br />
fortalece a digni<strong>da</strong>de humana que<br />
v<strong>em</strong> contribuir com o desenvolvimento<br />
pessoal, social, cultural e econômico <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de.<br />
A segurança interior é como uma corrente<br />
circular. A organização mental<br />
e <strong>em</strong>ocional, fortaleci<strong>da</strong> pela soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de,<br />
respeito e responsabili<strong>da</strong>de<br />
social, nos faz zelar pelo cumprimento<br />
<strong>da</strong>s leis, respeitar os direitos do outro,<br />
possibilitando-nos condições necessárias<br />
à sobrevivência e convivência<br />
foca<strong>da</strong>s na ord<strong>em</strong> e na paz.<br />
A integração entre as diversi<strong>da</strong>des<br />
socioculturais se faz necessária neste<br />
contexto de violência e degra<strong>da</strong>ção<br />
dos valores éticos. A segurança física,<br />
A Segurança de todos:<br />
Paz e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia Gleisa Calixto Antunes*<br />
<strong>em</strong>ocional e espiritual de nossa socie<strong>da</strong>de<br />
está <strong>em</strong> risco e a intranquili<strong>da</strong>de<br />
paira sobre todos nós.<br />
O Hom<strong>em</strong> necessita de uma profun<strong>da</strong><br />
reflexão sobre suas reais necessi<strong>da</strong>des<br />
para alcançar a felici<strong>da</strong>de, que, com<br />
certeza, não se encontra nos bens materiais<br />
e sim na segurança espiritual.<br />
Não falo de algo místico e impalpável,<br />
mas sim de vivência pauta<strong>da</strong> nos valores<br />
éticos e morais que são o alicerce<br />
<strong>da</strong> tão almeja<strong>da</strong> paz.<br />
O Hom<strong>em</strong> só terá o ver<strong>da</strong>deiro poder<br />
de se sentir <strong>em</strong> segurança e <strong>em</strong> paz,<br />
quando souber fazer o uso correto de<br />
seu conhecimento, aplicando-o <strong>em</strong><br />
prol do desenvolvimento <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de,<br />
do equilíbrio <strong>em</strong>ocional e do<br />
autoconhecimento.<br />
A segurança pública é dever do Estado,<br />
que prima pela preservação <strong>da</strong> ord<strong>em</strong><br />
pública e a tranquili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população.<br />
Suas ativi<strong>da</strong>des dev<strong>em</strong> ser pauta<strong>da</strong>s<br />
na ética e na legali<strong>da</strong>de, porém dev<strong>em</strong>os<br />
ter um novo olhar sobre o que é<br />
a segurança pública. Todos dev<strong>em</strong> se<br />
imbuir <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de pessoal e<br />
social para que se quebre essa corrente<br />
violenta que assombra o nosso País.<br />
Aprender a ser <strong>em</strong> uma socie<strong>da</strong>de<br />
que passa por intensa transformação,<br />
torna-se um desafio enorme para ca<strong>da</strong><br />
um de nós. Aprender a conviver para o<br />
b<strong>em</strong> viver é essencial nos dias atuais e<br />
cabe aos adultos ensinar às crianças o<br />
“aprender a ser e aprender a conviver”.<br />
Falando-se <strong>em</strong> segurança, aprendizag<strong>em</strong><br />
e conhecimento, reporto-me s<strong>em</strong>pre<br />
ao papel <strong>da</strong> Escola, que o locus do<br />
saber e <strong>da</strong> socialização. Assim sendo,<br />
ela busca ressignificar a sua função. A<br />
ressignificação <strong>da</strong>s áreas educacionais<br />
contribui para a realização de ativi<strong>da</strong>des<br />
contextualizadoras no âmbito<br />
escolar, estendendo-se às famílias e<br />
comuni<strong>da</strong>des de seus educandos. A<br />
formação de atitudes que levam à boa<br />
convivência depende muito <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong>s relações vivencia<strong>da</strong>s pela<br />
criança, na família e na escola. Esses<br />
valores são os pilares de uma civilização<br />
que são construídos através dos<br />
t<strong>em</strong>pos, por isso dev<strong>em</strong>os repensar sobre<br />
qual legado quer<strong>em</strong>os deixar para<br />
as futuras gerações do nosso País.<br />
Sabe-se que é na educação sist<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong><br />
que há maior probabili<strong>da</strong>de de<br />
se formar integralmente uma pessoa,<br />
portanto cabe à escola a conscientização<br />
de sua importância na formação<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia de nossas crianças e<br />
adolescentes.<br />
O direito de liber<strong>da</strong>de, tão desejado<br />
pelo hom<strong>em</strong>, só se concretiza por meio<br />
<strong>da</strong> instrução e <strong>da</strong> educação. Viver, amar<br />
e aprender são necessi<strong>da</strong>des inerentes<br />
ao ser humano, porém, o hom<strong>em</strong> não é<br />
como a aranha que já nasce sabendo<br />
como fazer a teia. A criança e o adolescente<br />
necessitam de amor, paciência<br />
e, principalmente, <strong>da</strong> confiança de<br />
seus pais e professores. O ambiente<br />
de suspeição e impaciência impede<br />
a construção de critérios de justiça e<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
37
segurança pública<br />
liber<strong>da</strong>de e os distancia do convívio<br />
social positivo. A sabedoria dos mais<br />
sábios e experientes muni o Ser <strong>em</strong><br />
formação de recursos que o conduz às<br />
aprendizagens que lhe serão úteis para<br />
a sua vi<strong>da</strong> <strong>em</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />
A escola enfrenta um grande desafio<br />
imposto pelo desenvolvimento tecnológico:<br />
acompanhar esse rápido desenvolvimento,<br />
que está ao alcance de qualquer<br />
faixa etária, para ser a mediadora<br />
entre as informações recebi<strong>da</strong>s e as<br />
desejáveis ao desenvolvimento integral<br />
do educando. As novas tecnologias nos<br />
prestam grandes benefícios, porém são<br />
competidores informacionais, desprovidos<br />
de sensibili<strong>da</strong>de e afeto, sentimentos<br />
esses imprescindíveis à construção<br />
<strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de, pauta<strong>da</strong> no caráter e<br />
valores que vêm construir e perpetuar<br />
uma socie<strong>da</strong>de digna.<br />
Hoje, a socie<strong>da</strong>de espera muito <strong>da</strong> escola.<br />
Mas será que ela está realmente<br />
<strong>em</strong>podera<strong>da</strong> de todo o conhecimento e<br />
recursos necessários para corresponder<br />
a tantas expectativas? Trabalhar foca<strong>da</strong><br />
na quali<strong>da</strong>de do ensino-aprendizag<strong>em</strong>,<br />
na autoestima do aluno e de seus<br />
professores, tornando-a d<strong>em</strong>ocrática<br />
e ci<strong>da</strong>dã. Isto é o que to<strong>da</strong> escola e<br />
socie<strong>da</strong>de desejam, mas não é tão fácil<br />
assim de se realizar. O educador escolar<br />
necessita aprender a suprimir as<br />
t<strong>em</strong>pestades <strong>em</strong>ocionais do cotidiano<br />
escolar e sobrepor-se ao profissional<br />
<strong>da</strong> educação, conhecendo a cultura organizacional<br />
e perguntando que escola<br />
é essa, qu<strong>em</strong> é esse estu<strong>da</strong>nte e o que<br />
ele precisa aprender para o exercício<br />
<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Assim, a escola contribui<br />
na formação ci<strong>da</strong>dã e a função docente<br />
volta-se para a formação de condutas<br />
transformadoras do saber, para o b<strong>em</strong><br />
<strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de. As virtudes e quali<strong>da</strong>des<br />
do educador, como a corag<strong>em</strong>,<br />
curiosi<strong>da</strong>de, humani<strong>da</strong>de e sabedoria,<br />
ao ser<strong>em</strong> coloca<strong>da</strong>s na condução <strong>da</strong><br />
paz, respeito e soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, levam<br />
crianças e adolescentes à aprendizag<strong>em</strong><br />
de atitudes positivas que tanto<br />
são almeja<strong>da</strong>s pela escola, família e<br />
socie<strong>da</strong>de.<br />
Sabe-se também que vários setores <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de civil vêm-se organizando de<br />
forma sist<strong>em</strong>ática para colaborar com<br />
o Poder Público, de forma incisiva, na<br />
melhoria <strong>da</strong>s relações interpessoais e<br />
na quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> educação nas escolas<br />
públicas. Têm-se visto belos programas<br />
e projetos, que estão conduzindo os jovens<br />
ao protagonismo de forma ci<strong>da</strong>dã.<br />
Todos esses fatores mencionados de<br />
na<strong>da</strong> valerão se os educadores de<br />
nosso País não tiver<strong>em</strong> o sentimento<br />
de desejo. Desejo de ensinar, de<br />
aprender e prazer <strong>em</strong> fazer, <strong>em</strong> todos<br />
Integrantes do Projeto “Portas Abertas” com o Educador Social César Damião Rocha, na Oficina do Aprender.<br />
38 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
os momentos de seu trabalho. To<strong>da</strong><br />
aprendizag<strong>em</strong> passa pela <strong>em</strong>oção e já<br />
é sabido que o prazer é momentâneo<br />
e o desejo é algo mais duradouro,<br />
portanto, o aprender depende de<br />
fazer sentido. T<strong>em</strong> que se despertar o<br />
prazer para que haja o desejo, e assim<br />
a aprendizag<strong>em</strong> converte-se <strong>em</strong> autoconhecimento,<br />
percepção <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />
e toma<strong>da</strong>s de decisões assertivas.<br />
Só formamos ci<strong>da</strong>dãos quando ensinamos<br />
as crianças a pensar<strong>em</strong> globalmente,<br />
visualizando as diferenças<br />
e respeitando todos os el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong><br />
natureza, pois se separarmos <strong>da</strong> natureza<br />
nos desumanizamos, diz Gadotti<br />
<strong>em</strong> seu livro Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Terraecope<strong>da</strong>gogia<br />
e educação sustentável.<br />
Ele nos mostra que não se pode mais<br />
negar a necessi<strong>da</strong>de de valorizar tudo<br />
o que existe na Terra, para tirar <strong>da</strong>í todo<br />
um aprendizado para a sustentação <strong>da</strong><br />
Humani<strong>da</strong>de.<br />
Sabe-se que a Paz é, e s<strong>em</strong>pre será, o<br />
maior desejo de to<strong>da</strong> a Humani<strong>da</strong>de,<br />
mas só será alcança<strong>da</strong> quando o Hom<strong>em</strong><br />
estiver <strong>em</strong>possado de sua segurança<br />
interior, externando-a para o real<br />
exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />
*Pe<strong>da</strong>goga, Pós-gradua<strong>da</strong> <strong>em</strong> Educação pelo<br />
(CEPEMG) Centro de Pesquisas Educacionais de<br />
Minas Gerais, colaboradora <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>.
segurança pública<br />
Gestão integra<strong>da</strong> de eventos de<br />
Defesa Social de Alto Risco Francis Albert Cotta*<br />
Nos finais <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970 a<br />
maioria <strong>da</strong>s polícias militares brasileiras<br />
especializou parte dos seus efetivos<br />
para o atendimento de situações que<br />
extrapolass<strong>em</strong> o poder de resposta do<br />
patrulhamento preventivo cotidiano.<br />
Assim, foram criados grupos especiais,<br />
geralmente inseridos nos batalhões de<br />
polícia de choque, para intervenções <strong>em</strong><br />
situações que envolvess<strong>em</strong> o “combate”<br />
a guerrilhas e atos terroristas. Esses<br />
grupos receberam treinamentos de<br />
táticas e técnicas oriun<strong>da</strong>s do modelo<br />
de “Comandos” <strong>da</strong>s Forças Arma<strong>da</strong>s.<br />
A formação era, fun<strong>da</strong>mentalmente,<br />
militar e o foco estava na proteção do<br />
Estado e na manutenção <strong>da</strong> Ord<strong>em</strong> Pública,<br />
tendo como suporte a “Doutrina<br />
ou Ideologia de Segurança Nacional”.<br />
Com o processo de red<strong>em</strong>ocratização<br />
do Brasil, a partir de meados <strong>da</strong><br />
déca<strong>da</strong> de 1980, tendo seu ápice com<br />
a Constituição Ci<strong>da</strong>dã de 1988, os<br />
grupos especializados passam a receber<br />
uma influência mais policial e menos<br />
militar. Os incidentes críticos com<br />
reféns, os sequestros e os atentados<br />
com artefatos explosivos perd<strong>em</strong> sua<br />
conotação político-ideológica. A ideia<br />
de Operações Especiais cede lugar ao<br />
conceito de Ações Táticas. Em alguns<br />
estados brasileiros as designações<br />
dos grupos especializados passam de<br />
Comandos de Operações Especiais para<br />
Grupos de Ações Táticas Especiais.<br />
No decorrer dos anos, os integrantes<br />
dos grupos policiais especializados<br />
adquiriram um know-how, isto é,<br />
um saber construído no “fazer-se”<br />
enquanto responsáveis pelas intervenções<br />
especiais. O conhecimento<br />
processual, advindo <strong>da</strong>s práticas<br />
cotidianas na resolução de probl<strong>em</strong>as,<br />
apontou tanto para as potenciali<strong>da</strong>des,<br />
quanto para as limitações logísticas e<br />
humanas. Buscou-se aprimorar os efetivos<br />
de tais grupos com treinamentos<br />
diferenciados e com suporte logístico<br />
que atendesse, minimamente, às suas<br />
necessi<strong>da</strong>des operacionais. Entretanto,<br />
faltava-lhes sist<strong>em</strong>atizar suas práticas<br />
de forma teórica. 1<br />
Nos finais dos anos 80 e início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong><br />
de 1990, sob influência <strong>da</strong> literatura<br />
norte-americana, nomea<strong>da</strong>mente<br />
<strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia Nacional do FBI e do Departamento<br />
de Polícia de Nova Iorque<br />
(NYPD, 1986; BOLZ JUNIOR, 1987;<br />
FUSELIER, NOESNER,1990), surg<strong>em</strong> as<br />
primeiras produções brasileiras sobre<br />
os procedimentos policiais a ser<strong>em</strong><br />
adotados <strong>em</strong> Incidentes Críticos que<br />
envolvess<strong>em</strong> reféns, tentativa de autoextermínio,<br />
rebeliões <strong>em</strong> presídios,<br />
localização e desativação de artefatos<br />
explosivos, entre outros (VENTURA,<br />
1987, VASCONCELOS, 1990; MON-<br />
TEIRO,1991). Algumas publicações<br />
foram de natureza institucional, como<br />
o Manual de Gerenciamento de Crises<br />
<strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia de Nacional de Polícia<br />
(BRASIL, 1995); outras, <strong>da</strong> lavra de<br />
policiais experimentados no cotidiano<br />
operacional (SOUZA, 1995, MAGA-<br />
LHÃES, SACRAMENTO, SOUZA, 1998).<br />
O termo Gerenciamento de Crises,<br />
amplamente utilizado por teóricos<br />
<strong>da</strong> Administração de Empresas,<br />
foi reapropriado e passou a ser<br />
utilizado pelas polícias brasileiras,<br />
consagrando-se nos últimos anos<br />
como disciplina <strong>da</strong> malha curricular<br />
de vários cursos de formação (Curso<br />
Técnico <strong>em</strong> Segurança Pública, Curso<br />
Superior <strong>em</strong> Gestão de Segurança<br />
Pública e Curso de Bacharelado <strong>em</strong><br />
Ciências Militares, com ênfase <strong>em</strong><br />
Defesa Social, isso para citar o caso<br />
de Minas Gerais).<br />
Em virtude <strong>da</strong>s d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>s operacionais,<br />
<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de se sist<strong>em</strong>atizar<br />
os procedimentos quando<br />
<strong>da</strong> gestão de um Incidente Crítico e,<br />
fun<strong>da</strong>mentalmente, por intermédio<br />
de estudos acadêmicos (VAZ, 2001;<br />
THOMÉ, SALIGNAC, 2001; LUCCA,<br />
2002; TEIXERA, 2002; COTTA, SOUZA,<br />
2003; SANTOS, 2003; STOCHIERO,<br />
2006; SARDINHA, 2008; SANTOS,<br />
2008; COTTA, STOCHIERO, 2007, STO-<br />
CHIERO, COTTA, 2008), percebeu-se<br />
que não era suficiente investir apenas<br />
na formação de negociadores policiais,<br />
todos os policiais deveriam saber<br />
como se desenvolv<strong>em</strong> as intervenções<br />
policiais especializa<strong>da</strong>s.<br />
No período de 2001 a 2002, a Secretaria<br />
Nacional de Segurança Pública<br />
(SENASP), atenta à importância <strong>da</strong><br />
t<strong>em</strong>ática, patrocinou, <strong>em</strong> parceria com<br />
as Nações Uni<strong>da</strong>s, dentro do Projeto<br />
de Treinamento para Profissionais <strong>da</strong><br />
Área de Segurança do Ci<strong>da</strong>dão e sob<br />
a coordenação <strong>da</strong> Briga<strong>da</strong> Militar<br />
do Rio Grande do Sul, sete cursos de<br />
Gerenciamento de Crises. Também<br />
outras polícias militares (São Paulo,<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
39
segurança pública<br />
Espírito Santo, Paraná, Minas Gerais),<br />
institucionalizaram cursos específicos<br />
de Gerenciamento de Crises.<br />
Valorizando o processo de educação<br />
continua<strong>da</strong> dos servidores <strong>da</strong> área de<br />
segurança dos ci<strong>da</strong>dãos, a SENASP, sob a<br />
batuta competente de dois oficiais <strong>da</strong> Polícia<br />
Militar do Espírito Santo, condensou<br />
os preceitos teóricos <strong>da</strong> produção acadêmica<br />
sobre o “Gerenciamento de Crises<br />
no Contexto Policial” e os disponibilizou<br />
sob a forma de um curso pela internet<br />
(DORIA JÚNIOR; FAHNING, 2008).<br />
Em Minas Gerais, além <strong>da</strong>s disciplinas<br />
inseri<strong>da</strong>s nos cursos de formação, atualização<br />
e especialização, existe um curso<br />
exclusivo para policiais que pertenc<strong>em</strong><br />
às uni<strong>da</strong>des policiais especializa<strong>da</strong>s. Nele<br />
foram inseridos assuntos pertinentes às<br />
especifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong> equipe que auxilia o<br />
gestor do Incidente Crítico, b<strong>em</strong> como os<br />
negociadores. O curso cont<strong>em</strong>pla tópicos<br />
tais como: Estruturação e Funcionamento<br />
do Time de Gerenciamento de Crises;<br />
Programação Neurolinguística; Técnicas<br />
e Táticas de Negociação; Criminologia,<br />
Sociologia e Antropologia; Mediação de<br />
Conflitos e Psicanálise; Técnicas de Instalação<br />
de Equipamentos; Monitoramento<br />
de Ambientes Confinados; Perimetrag<strong>em</strong>,<br />
Coleta e Análise de Dados (MINAS<br />
GERAIS, 2009).<br />
A partir do diálogo entre a prática cotidiana,<br />
<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des operacionais na<br />
Cena de Ação e os referenciais teóricos,<br />
do campo acadêmico, sentiu-se a necessi<strong>da</strong>de<br />
de sist<strong>em</strong>atizar procedimentos,<br />
<strong>da</strong>ndo-lhes coerência e cientifici<strong>da</strong>de. Em<br />
decorrência desse contexto cunhou-se a<br />
expressão: Gestão de Eventos de Defesa<br />
Social de Alto Risco. Os conhecimentos<br />
do que se convencionou chamar de<br />
Gerenciamento de Crises não são<br />
abandonados, apenas ocorre, com esse<br />
novo conceito, uma verticalização, um<br />
aprofun<strong>da</strong>mento do olhar e <strong>da</strong> reflexão<br />
sobre a Cena de Ação, <strong>da</strong>s intervenções<br />
policiais efetivas e do papel de ca<strong>da</strong><br />
profissional envolvido.<br />
40 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
As Especifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />
Gestão de Eventos de<br />
Defesa Social de<br />
Alto Risco<br />
Os Eventos de Defesa Social de Alto<br />
Risco são as intervenções qualifica<strong>da</strong>s<br />
<strong>em</strong> Incidentes Críticos que extrapolam o<br />
poder de resposta individual dos órgãos<br />
que compõe o Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social<br />
e, portanto, necessitam de intervenções<br />
integra<strong>da</strong>s especiais com a utilização<br />
de equipamentos, armamentos, tecnologias<br />
e treinamentos especializados<br />
para o restabelecimento <strong>da</strong> Paz Social.<br />
Nota-se que é colocado <strong>em</strong> relevo a<br />
visão sistêmica e integra<strong>da</strong> na gestão<br />
(COTTA, STOCHIERO, 2007; 2008).<br />
Nesse sentido, uma uni<strong>da</strong>de policial especializa<strong>da</strong><br />
não resolverá isola<strong>da</strong>mente<br />
o Incidente Crítico.<br />
Por sua vez, os Incidentes Críticos são<br />
os eventos que colocam <strong>em</strong> risco, de<br />
maneira mais contundente, as vi<strong>da</strong>s dos<br />
ci<strong>da</strong>dãos e dos servidores públicos, tais<br />
como: pessoas feitas reféns; pessoas<br />
manti<strong>da</strong>s por perpetradores por motivos<br />
passionais e/ou de vingança; infratores<br />
armados barricados; tentativas de autoextermínio;<br />
localização de artefatos<br />
explosivos; ci<strong>da</strong>dãos infratores armados<br />
e organizados.<br />
Já o sentido <strong>da</strong> gestão desse tipo de<br />
evento vai muito além do ato de condução<br />
<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des por um líder ou<br />
mesmo por uma equipe. Ela é entendi<strong>da</strong><br />
enquanto o conjunto de ações que englobam<br />
a concepção, elaboração, impl<strong>em</strong>entação,<br />
direção, execução e avaliação.<br />
As partes do processo são construí<strong>da</strong>s,<br />
executa<strong>da</strong>s e avalia<strong>da</strong>s por todos os<br />
envolvidos. Existe o <strong>em</strong>poderamento<br />
(<strong>em</strong>powerment) de ca<strong>da</strong> servidor público<br />
no sentido de permitir-lhe participação<br />
efetiva e consequent<strong>em</strong>ente dotando-o<br />
de responsabili<strong>da</strong>des específicas. Ele não<br />
é um simples cumpridor de ordens, é coparticipante<br />
de um processo mais amplo<br />
que será acompanhado e avaliado. Um<br />
aspecto importante na construção do<br />
conceito de Eventos de Defesa Social de<br />
Alto Risco é a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> integração<br />
dos envolvidos na resolução do Incidente<br />
Crítico.<br />
Nesse processo destaca-se a importância<br />
do briefing, momento <strong>em</strong> que é repassado<br />
o conjunto de informações a todos<br />
os envolvidos na resolução do Incidente<br />
Crítico. Nele serão explanados os probl<strong>em</strong>as,<br />
as linhas de ação operacional,<br />
as responsabili<strong>da</strong>des individuais, entre<br />
outros pontos. Ain<strong>da</strong>, na concepção de<br />
gestão, após a intervenção, o debrifieng<br />
será o momento de verificar se todos<br />
os pontos foram atingidos e se todos<br />
cumpriram o seu papel específico na<br />
Cena de Ação. 2<br />
No caso do presente estudo será analisa<strong>da</strong><br />
a ferramenta de gestão integra<strong>da</strong><br />
desenvolvi<strong>da</strong> pelo Grupamento de Ações<br />
Táticas Especiais (GATE), do Comando<br />
de Policiamento Especializado <strong>da</strong> Polícia<br />
Militar de Minas Gerais. O GATE de Minas<br />
Gerais possui uma estrutura interna<br />
composta por cinco equipes: Time de<br />
Gerenciamento de Crises, Esquadrão Antibombas,<br />
Sniper, Time Tático e Comando<br />
de Operações <strong>em</strong> Áreas de Mananciais e<br />
Florestas. Ca<strong>da</strong> equipe possui viaturas,<br />
efetivos e treinamentos específicos.<br />
O Time de Gerenciamento de Crises<br />
(TGC) é responsável pela negociação<br />
policial, pelo suporte técnico e apoio<br />
logístico na Cena de Ação. Em virtude<br />
de suas intervenções cotidianas, o TGC<br />
identificou a necessi<strong>da</strong>de de se criar uma<br />
ferramenta que possibilitasse a coordenação<br />
e o controle de to<strong>da</strong>s as equipes<br />
táticas, além de estabelecer parâmetros<br />
de atuação com os outros órgãos do<br />
Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social.<br />
Para solução desta questão elaborou-se<br />
o Protocolo de Intervenção Policial<br />
Especializa<strong>da</strong>. Além <strong>da</strong> aplicação <strong>da</strong><br />
visão sistêmica <strong>em</strong> casos concretos de<br />
defesa social de alto risco, possibilita<br />
o acompanhamento e a avaliação do
segurança pública<br />
des<strong>em</strong>penho de ca<strong>da</strong> servidor público na<br />
Cena de Ação. Também orienta a toma<strong>da</strong><br />
de decisão do gestor oferecendo-lhe<br />
uma série de alternativas que levam <strong>em</strong><br />
consideração o uso progressivo <strong>da</strong> força,<br />
a legali<strong>da</strong>de, a ética, o respeito aos Direitos<br />
Humanos e os princípios técnicos e<br />
táticos <strong>da</strong> gestão de Incidentes Críticos.<br />
No Protocolo são traçados e concatenados,<br />
numa ord<strong>em</strong> lógica, sist<strong>em</strong>ática<br />
e coerente, os passos <strong>em</strong> que o trabalho<br />
será desenvolvido. Evitam-se, assim,<br />
surpresas e inconsistências.<br />
O Protocolo de<br />
Intervenção Policial<br />
Especializa<strong>da</strong><br />
O Protocolo, impresso <strong>em</strong> três páginas,<br />
detalha os seguintes aspectos <strong>da</strong> gestão:<br />
1) Procedimentos Iniciais na Cena <strong>da</strong><br />
Ação; 2) Processo de Negociação; 3)<br />
Administração dos Talentos Humanos;<br />
4) Produção de Informações; 5) Gestão<br />
Logística; 6) Relacionamento com a<br />
Imprensa e com a Comuni<strong>da</strong>de Local; 7)<br />
Emprego <strong>da</strong> Força e Estratégia Operacional;<br />
8) Administração <strong>da</strong> Rendição; 9)<br />
Equipes Táticas Envolvi<strong>da</strong>s; 10) Resumo<br />
do Incidente Crítico; 11) Observações e<br />
Sugestões e 12) Fotos e Croquis.<br />
O gestor escolherá um policial para<br />
coordenar ca<strong>da</strong> um dos aspectos do<br />
protocolo. Eles serão responsáveis por<br />
checar todos os pontos de suas respectivas<br />
áreas. Assim, além dos coman<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong>s<br />
equipes táticas envolvi<strong>da</strong>s, é necessário,<br />
no mínimo, um staff composto por nove<br />
policiais: oito são responsáveis pelas<br />
áreas e um por receber e encaminhar ao<br />
gestor do evento to<strong>da</strong>s as informações<br />
para toma<strong>da</strong> de decisão (Assessor Técnico<br />
do Time de Gerenciamento de Crises).<br />
O Protocolo funciona como cheklist. Por<br />
intermédio dele o gestor e seu staff estruturam<br />
as intervenções iniciais na Cena<br />
de Ação. As ações são flexíveis e serão<br />
adota<strong>da</strong>s de acordo com o desenrolar do<br />
evento. O ato de determinar um servidor<br />
público para ca<strong>da</strong> área de atuação faz<br />
com que esse profissional se dedique a<br />
realizar to<strong>da</strong>s as minúcias com atenção<br />
e zelo. Ele t<strong>em</strong> a consciência de que<br />
os aspectos sob sua responsabili<strong>da</strong>de<br />
são decisivos para uma boa resolução<br />
do evento. Além disso, ele e seus<br />
colaboradores prestarão conta do seu<br />
des<strong>em</strong>penho após o encerramento <strong>da</strong><br />
intervenção.<br />
Inicialmente, o Protocolo possui um<br />
cabeçalho que pode ser utilizado para<br />
fins estatísticos, para estudos, análises<br />
e localização <strong>da</strong> intervenção junto ao<br />
Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social. São oito itens<br />
que descrev<strong>em</strong> a tipologia do incidente<br />
crítico, o número do Registro de Defesa<br />
Social (REDS), onde o Incidente Crítico<br />
ocorreu, o t<strong>em</strong>po destinado à sua resolução,<br />
as viaturas e efetivos envolvidos.<br />
Por fim, traz orientações para a mensuração<br />
<strong>da</strong>s ações desenvolvi<strong>da</strong>s na gestão<br />
do evento.<br />
Operacionalmente, as intervenções iniciam-se<br />
com os Procedimentos Iniciais<br />
na Cena <strong>da</strong> Ação. Eles se traduz<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />
sete grupos de procedimentos, que se<br />
subdivid<strong>em</strong> <strong>em</strong> 20 itens a ser<strong>em</strong> observados<br />
pelos responsáveis pela coordenação<br />
e controle. Destaque é <strong>da</strong>do ao<br />
Primeiro Interventor e ao Controlador<br />
do Incidente, pois quando <strong>da</strong> eclosão<br />
de um Incidente Crítico, geralmente<br />
o policial que autua <strong>em</strong> determinado<br />
setor ou o guar<strong>da</strong> municipal serão os<br />
primeiros a se deparar<strong>em</strong> com a situação.<br />
A eles cab<strong>em</strong> as primeiras ações.<br />
O Controlador do Incidente poderá<br />
pertencer à Polícia, à Guar<strong>da</strong>, ao Corpo<br />
de Bombeiros ou a outro órgão do<br />
Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social. Entretanto,<br />
ele deve possuir autorização para<br />
desenvolver ações de coordenação na<br />
estruturação dos perímetros e contatos<br />
diversos dentro de sua esfera de competência<br />
operacional.<br />
Quando <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> <strong>da</strong>s equipes<br />
especializa<strong>da</strong>s, as medi<strong>da</strong>s preliminares<br />
serão reavalia<strong>da</strong>s e tanto o Controlador<br />
do Incidente quanto o Primeiro Interventor<br />
serão convi<strong>da</strong>dos a participar do<br />
processo de gestão do Incidente Crítico.<br />
Nesse momento é montado o Posto de<br />
Comando. Em segui<strong>da</strong> são defini<strong>da</strong>s as<br />
autori<strong>da</strong>des de Linha (coman<strong>da</strong>nte local<br />
<strong>da</strong> polícia ou do corpo de bombeiros, <strong>em</strong><br />
termos de responsabili<strong>da</strong>de territorial)<br />
e Técnica (coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong>s equipes<br />
especializa<strong>da</strong>s). Ain<strong>da</strong>, nessa fase ocorre<br />
a identificação de todos os responsáveis<br />
pelas equipes do Sist<strong>em</strong>a de Defesa<br />
Social que estiver<strong>em</strong> presentes na Cena<br />
de Ação. Por fim, a elaboração do Plano<br />
Inicial de Ação, que será flexível e com<br />
várias alternativas.<br />
Outro aspecto vislumbrado pelo Protocolo<br />
é o Processo de Negociação. Conhecido<br />
como a primeira alternativa tática na resolução<br />
de um Incidente Crítico, ele é permeado<br />
por ações específicas, integra<strong>da</strong>s e<br />
pontuais. Os negociadores policiais atuam<br />
<strong>em</strong> perfeita sintonia com os d<strong>em</strong>ais<br />
integrantes do Time de Gerenciamento<br />
de Crises. As informações adquiri<strong>da</strong>s pelo<br />
TGC, por intermédio de equipamentos e<br />
técnicas específicas, oferec<strong>em</strong> subsídios<br />
para o desenvolvimento <strong>da</strong> argumentação<br />
e <strong>da</strong> elaboração do convencimento<br />
<strong>em</strong> situações que envolv<strong>em</strong> libertação de<br />
reféns e intervenções <strong>em</strong> situações com<br />
tentativa de autoextermínio.<br />
O terceiro ponto do Protocolo é a Administração<br />
dos Talentos Humanos. Aqui,<br />
ca<strong>da</strong> envolvido no processo de resolução<br />
do Incidente Crítico é cientificado <strong>da</strong>s<br />
peculiari<strong>da</strong>des do evento e <strong>da</strong>s funções<br />
que irá desenvolver. O responsável pela<br />
coordenação e controle desse aspecto<br />
fará a seleção dos especialistas de<br />
acordo com as potenciali<strong>da</strong>des técnicas<br />
de ca<strong>da</strong> um; providenciará os meios para<br />
a realização de simulações com vistas ao<br />
<strong>em</strong>prego tático dos talentos humanos e<br />
estará atento para questões de desgaste<br />
fisiológico.<br />
No processo de gestão não há uma ação<br />
superior a outra, entretanto, percebe-se<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
41
segurança pública<br />
que desde o contato do Primeiro Interventor<br />
até a rendição do perpetrador<br />
do Incidente Crítico as decisões são<br />
realiza<strong>da</strong>s após a análise criteriosa <strong>da</strong>s<br />
informações disponíveis. Dessa forma, o<br />
Protocolo destina um espaço para definir<br />
algumas ações no campo <strong>da</strong> Produção<br />
de Informações. To<strong>da</strong>s as informações<br />
são canaliza<strong>da</strong>s para um integrante do<br />
Time de Gerenciamento de Crises que as<br />
socializa não somente para os negociadores<br />
e líderes <strong>da</strong>s equipes táticas, mas<br />
também para o Gabinete de Gestão do<br />
Incidente Crítico.<br />
O provimento logístico eficaz, adequado<br />
e oportuno é alvo do quinto it<strong>em</strong> do Protocolo.<br />
A Gestão Logística é coloca<strong>da</strong> sob<br />
a responsabili<strong>da</strong>de de um profissional<br />
experiente que conhece os meandros<br />
<strong>da</strong> gestão de um Incidente Crítico. Sua<br />
atuação é abrangente e vai desde o<br />
“simples” fornecimento de água para<br />
os negociadores até a verificação <strong>da</strong><br />
disponibili<strong>da</strong>de de tecnologia não-letal<br />
e de outros equipamentos, armamentos<br />
e munições para as intervenções.<br />
O sexto it<strong>em</strong> do Protocolo destaca a<br />
necessi<strong>da</strong>de do Relacionamento com a<br />
Imprensa e com a Comuni<strong>da</strong>de Local<br />
de forma transparente. Ao ter acesso a<br />
42 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
Tenente Francis Albert Cotta é professor <strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia de Polícia Militar no Prado Mineiro.<br />
informações ver<strong>da</strong>deiras e ao constar que<br />
o gestor do Incidente Crítico está a atuar<br />
de forma técnica, ética e legal, haverá<br />
por parte <strong>da</strong>s pessoas o consentimento<br />
necessário para a realização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />
de restabelcimento <strong>da</strong> Paz Social.<br />
Respeito à digni<strong>da</strong>de dos envolvidos e a<br />
garantia dos direitos individuais dev<strong>em</strong><br />
estar na base <strong>da</strong> atuação e no trato com<br />
os profissionais <strong>da</strong> imprensa.<br />
O Emprego <strong>da</strong> Força de maneira<br />
progressiva, legal, ética e técnica é<br />
a base <strong>da</strong> elaboração <strong>da</strong> Estratégia<br />
Operacional. Em Incidentes Críticos<br />
que envolvam reféns as ações poderão<br />
iniciar com a verbalização, passando<br />
pelas táticas defensivas não-letais,<br />
chegando, <strong>em</strong> último caso, ao uso<br />
<strong>da</strong> força letal, conforme preceitua os<br />
preceitos internacionais, nacionais e<br />
institucionais de Direitos Humanos.<br />
Em to<strong>da</strong>s as situações o foco <strong>da</strong> ação<br />
será salvar vi<strong>da</strong>s e aplicar a lei. Não<br />
haverá margens para improvisações<br />
ou amadorismos. To<strong>da</strong>s as alternativas<br />
dev<strong>em</strong> ser plenamente conheci<strong>da</strong>s.<br />
O Incidente Crítico não termina quando<br />
o perpetrador resolve se entregar. Nesse<br />
sentido, o Protocolo destina um it<strong>em</strong> para<br />
a Administração <strong>da</strong> Rendição. Além <strong>da</strong><br />
definição dos profissionais que receberão<br />
a(s) vítima(s) e o(s) agente(s), no caso de<br />
Incidentes Críticos envolvendo Reféns<br />
ou o suici<strong>da</strong>, <strong>em</strong> situações de tentativas,<br />
deverá ser escolhido um local apropriado<br />
e elaborado um plano específico.<br />
O nono aspecto do Protocolo é o registro<br />
dos nomes de todos os integrantes <strong>da</strong>s
segurança pública<br />
Equipes Táticas envolvi<strong>da</strong>s. O décimo<br />
é o resumo do Incidente Crítico. Por<br />
fim, são registra<strong>da</strong>s as observações,<br />
sugestões, fotos e croquis.<br />
Após a resolução do Evento de Defesa<br />
Social de Alto Risco, o Protocolo de<br />
Intervenção Policial Especializa<strong>da</strong><br />
servirá para individualizar as ações de<br />
todos os envolvidos e para aprimorar<br />
táticas e estratégias operacionais. A<br />
socialização dos seus resultados com<br />
os órgãos do Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social<br />
proporciona o amadurecimento de<br />
todos e desperta para a necessi<strong>da</strong>de<br />
de efetivo planejamento, coordenação,<br />
controle e ações integra<strong>da</strong>s. Ele possibilita<br />
a realização de um debrifieng<br />
realístico que será compartilhado com<br />
todos os envolvidos na intervenção.<br />
Por fim, é possível mensurar as ações<br />
desenvolvi<strong>da</strong>s, proporcionando uma<br />
leitura privilegia<strong>da</strong> <strong>da</strong> relação entre<br />
escolhas, resultados e consequências<br />
<strong>da</strong>s ações. Ele proporciona o controle<br />
e a fixação de responsabili<strong>da</strong>des de<br />
todos os envolvidos.<br />
Considerações finais<br />
O Protocolo busca sensibilizar e destacar<br />
a importância <strong>da</strong> integração e do<br />
envolvimento de todos os profissionais<br />
dos órgãos do Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social<br />
na gestão de Incidentes Críticos. Essa<br />
é uma preocupação que acompanha<br />
os gestores de segurança pública há<br />
vários anos (SÃO PAULO, 1990; ESPÍ-<br />
RITO SANTO, 1998; MATO GROSSO,<br />
1999; CONSEFO, 2000; MINAS GERAIS,<br />
2005). Entretanto, vários entraves<br />
ain<strong>da</strong> permanec<strong>em</strong> <strong>em</strong> intervenções<br />
reais. É preciso avançar <strong>em</strong> direção à<br />
efetiva gestão integra<strong>da</strong> de Eventos<br />
de Defesa Social de Alto Risco. Nesse<br />
sentido, rever as normas, adequar<br />
terminologias e conceitos, além de<br />
redefinir funções é fun<strong>da</strong>mental.<br />
Por intermédio de <strong>da</strong>dos concretos e<br />
<strong>da</strong>s ações desenvolvi<strong>da</strong>s pelos atores<br />
envolvidos, o Protocolo busca mostrar<br />
que a resolução de Eventos de Defesa<br />
Social de Alto Risco não é um ato<br />
solitário de determina<strong>da</strong> organização<br />
ou de um grupo especializado, mas<br />
sim um esforço sinergético de diversos<br />
órgãos, <strong>em</strong> prol do restabelecimento<br />
<strong>da</strong> Paz Social. Os diversos profissionais<br />
envolvidos se ve<strong>em</strong> como corresponsáveis<br />
pela resolução do evento.<br />
Outra proposta inovadora do Protocolo<br />
é a noção de <strong>em</strong>poderamento<br />
de ca<strong>da</strong> líder e sua equipe <strong>em</strong> áreas<br />
predetermina<strong>da</strong>s de atuação. Mesmo<br />
num momento de intensa reativi<strong>da</strong>de,<br />
<strong>em</strong> virtude <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>r respostas<br />
positivas ao Incidente Crítico,<br />
o policial se mostra proativo. Isso não<br />
pressupõe quebra <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de de Comando,<br />
uma vez que to<strong>da</strong>s as decisões<br />
passam por um órgão colegiado montado<br />
exclusivamente para a gestão do<br />
Incidente Crítico.<br />
É impossível para o gestor de um<br />
evento de defesa social de alto risco,<br />
por mais experiente e capacitado<br />
que seja, acompanhar sozinho o<br />
processo de resolução do Incidente<br />
Crítico. Ele deve ser assessorado de<br />
forma realística e com base <strong>em</strong> <strong>da</strong>dos<br />
concretos oriundos <strong>da</strong> Cena de Ação<br />
por líderes de equipes táticas e pelos<br />
responsáveis pelas áreas estabeleci<strong>da</strong>s<br />
pelo Protocolo.<br />
A dinâmica de gestão proposta pelo<br />
Protocolo de Intervenção Policial Especializa<strong>da</strong><br />
e a estruturação do formulário<br />
impresso dev<strong>em</strong> ser de conhecimento<br />
de todos os envolvidos, pois, assim, o<br />
profissional terá a clara noção de que<br />
ele é peça fun<strong>da</strong>mental na resolução<br />
do evento. Ele e sua equipe não pod<strong>em</strong><br />
agir isola<strong>da</strong>mente, pois se encontram<br />
inseridos num contexto mais amplo<br />
cujo foco é a proteção dos direitos do<br />
ci<strong>da</strong>dão.<br />
Espera-se que <strong>em</strong> decorrência de uma<br />
gestão b<strong>em</strong> conduzi<strong>da</strong> do Evento de<br />
Defesa Social de Alto Risco restabeleça-se<br />
a Paz Social, preserv<strong>em</strong>-se<br />
vi<strong>da</strong>s, preserve-se a integri<strong>da</strong>de física,<br />
a digni<strong>da</strong>de dos envolvidos e seus<br />
patrimônios.<br />
1. A pioneira na sist<strong>em</strong>atização de procedimentos foi a Polícia Militar<br />
do Estado de São Paulo com a NI 3 EM PM -003/32/1977, segui<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> Diretriz PM – 001/1/1987 - RPP, <strong>da</strong> Diretriz de Operações PM3-<br />
004/2/89, que fixou as normas para <strong>em</strong>prego <strong>da</strong> Cia PM, constituí<strong>da</strong><br />
por Grupos de Ações Táticas Especiais (GATE), interagindo no<br />
Sist<strong>em</strong>a Operacional PM, especialmente no resgate de reféns<br />
localizados, visando à preservação <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> pública.<br />
2. Opta-se por designar o local onde se desenrola o Incidente Crítico<br />
pelo termo policial Cena de Ação e não mais pelo conceito militar<br />
Teatro de Operações.<br />
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2005. Dispõe sobre princípios norteadores,<br />
limites de competência operacional, forma de<br />
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envolvi<strong>da</strong>s e níveis de responsabili<strong>da</strong>de, forma<br />
de participação de uni<strong>da</strong>des especializa<strong>da</strong>s e dá<br />
outras providências, Belo Horizonte: Comando-<br />
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Especiais, interagindo no Sist<strong>em</strong>a Operacional<br />
PM, especialmente no resgate de reféns localizados,<br />
visando à preservação <strong>da</strong> ord<strong>em</strong> pública.<br />
1989.<br />
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______. Nota de Instrução Nº PM3-001/02/96.<br />
Fixa norma para atuação <strong>da</strong> Corporação <strong>em</strong><br />
ocorrências <strong>em</strong> que haja <strong>em</strong>prego conjugado<br />
de meios e/ou naquelas de grande vulto ou<br />
passíveis de repercussão, principalmente com<br />
reféns localizados.<br />
______. Ord<strong>em</strong> de Serviço nº PM3-025/02/01.<br />
Revigora os procedimentos operacionais e<br />
determina o <strong>em</strong>prego <strong>da</strong> equipe de negociação<br />
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na Toma<strong>da</strong> de Reféns. Belo Horizonte. 1990. Monografia<br />
(Especialização <strong>em</strong> Gestão Estratégica<br />
<strong>em</strong> Segurança Pública) - Centro de Pesquisa e<br />
Pós-graduação <strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia de Polícia Militar/<br />
Fun<strong>da</strong>ção João Pinheiro, Belo Horizonte. 1990.<br />
* Mediador de Conflitos (Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong><br />
<strong>Rosa</strong>), Doutor <strong>em</strong> História (Instituto de Ciências<br />
Sociais <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Lisboa/Universi<strong>da</strong>de<br />
Federal de Minas Gerais), pós-doutorando <strong>em</strong><br />
História Social <strong>da</strong> Cultura pela UFMG. M<strong>em</strong>bro<br />
<strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia de Letras João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />
Professor de Gestão de Operações Policiais e<br />
Teoria de Polícia na Acad<strong>em</strong>ia de Polícia Militar<br />
de Minas Gerais; de Lógica, Epist<strong>em</strong>ologia<br />
e Análise do Discurso na Pós-graduação <strong>em</strong><br />
Inteligência e Contra-Inteligência <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de<br />
Pitágoras e de Negociação e Mediação de<br />
Conflitos na Pós-graduação <strong>em</strong> Mediação de<br />
Conflitos <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de Batista de Minas Gerais.<br />
Oficial-adjunto do Time de Gerenciamento de<br />
Crises do GATE de Minas Gerais, onde atua<br />
desde 1995.
segurança pública<br />
Nesta abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong>, Sofrimento Psicológico<br />
t<strong>em</strong> o mesmo sentido de “Sofrimento<br />
Psíquico”, e seu significado<br />
segue a descrição cita<strong>da</strong> pela psicóloga<br />
Edinilsa Ramos de Souza, coordenadora<br />
de projetos no Rio de Janeiro: Sofrimento<br />
Psicológico “[...] é um conjunto<br />
de condições psicológicas que, apesar<br />
de não caracterizar uma doença, gera<br />
determinados sinais e sintomas que<br />
indicam sofrimento.” Pod<strong>em</strong>os afiançar<br />
que o sofrimento psicológico acontece<br />
nas adversi<strong>da</strong>des e, muitas vezes, foge<br />
ao domínio <strong>da</strong>s pessoas e Organizações.<br />
Alguns fatores que permeiam as condições<br />
de trabalho dev<strong>em</strong> ser considerados<br />
na identificação <strong>da</strong>s causali<strong>da</strong>des<br />
dos desarranjos psicológicos: condições<br />
de trabalho insatisfatórias, estresse e<br />
falta de preparo para a função, além<br />
de uma necessi<strong>da</strong>de “incondicional”<br />
de se parecer superior ao t<strong>em</strong>po e não<br />
d<strong>em</strong>onstrar fragili<strong>da</strong>de, dentre outros.<br />
Não falamos aqui de uma profissão<br />
específica, mas tais fatores estão presentes<br />
<strong>em</strong> todos os campos de atuação<br />
profissional.<br />
Nessas condições, a pessoa poderá ser<br />
leva<strong>da</strong> à somatização <strong>da</strong>s questões<br />
Ensaio sobre o sofrimento<br />
psicológico de policiais<br />
Álvaro Antônio Nicolau*<br />
Este trabalho reflete a questão do desgaste do policial <strong>em</strong> decorrência de suas ativi<strong>da</strong>des<br />
profissionais, uma vez que é aumenta<strong>da</strong> a possibili<strong>da</strong>de de uma adição <strong>em</strong> sua psique,<br />
sujeitando-o a desarranjos psicológicos. Tal circunstância nos coloca <strong>em</strong> posição de<br />
pesquisador frente à necessi<strong>da</strong>de de se buscar nesse contexto uma identificação <strong>da</strong>s variáveis<br />
do que pode ser uma constatação. Mapeia a necessi<strong>da</strong>de de sair de uma universalização<br />
<strong>da</strong>quilo que não caracteriza a pessoa na sua primazia de ser, enquanto pessoa.<br />
psicológicas <strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as de saúde,<br />
como: pressão alta, insônia e dores de<br />
cabeça, impotência sexual, dentre outras,<br />
pois o profissional não conseguirá,<br />
nessas circunstâncias, li<strong>da</strong>r, sozinho,<br />
com o que enfrenta.<br />
Por outro lado, deve-se considerar que<br />
a psicodinâmica interna <strong>da</strong> pessoa<br />
poderá levá-la a trabalhar <strong>em</strong> excesso<br />
e a divertir-se muito pouco; outras, pelo<br />
contrário, passam os dias a divertir-se.<br />
Nessa cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de, exist<strong>em</strong><br />
outras pessoas que ain<strong>da</strong> não consegu<strong>em</strong><br />
fazer n<strong>em</strong> uma coisa n<strong>em</strong> outra.<br />
Destarte, é de conhecimento que se<br />
pode, hoje, avaliar um funcionamento<br />
psíquico saudável <strong>em</strong> decorrência,<br />
tanto do trabalho, quanto <strong>da</strong> diversão<br />
<strong>em</strong> proporções satisfatórias.<br />
Tal situação é real entre os policiais,<br />
decorrente <strong>da</strong>s cobranças a que estão<br />
sujeitos. É uma reali<strong>da</strong>de presente<br />
principalmente dentre os oficiais que<br />
carregam consigo um conjunto de<br />
neuroses que os colocam <strong>em</strong> situação<br />
de alerta. Um ex<strong>em</strong>plo desse quadro<br />
pode ser encontrado quando a maioria<br />
deles entra de férias, pois absorve um<br />
sentimento de culpa por isso. É como<br />
se não pudess<strong>em</strong> tirar férias e ter<br />
como dever primordial estar s<strong>em</strong>pre<br />
disponíveis e prontos para o “combater<br />
um bom combate” o t<strong>em</strong>po todo. A<br />
profissão os faz<strong>em</strong> assim.<br />
“...a psicodinâmica<br />
interna <strong>da</strong> pessoa<br />
poderá levá-la a<br />
trabalhar <strong>em</strong> excesso<br />
e a divertir-se muito<br />
pouco; outras, pelo<br />
contrário, passam os<br />
dias a divertir-se...”<br />
Por isso, há necessi<strong>da</strong>de de se direcionar<br />
e canalizar adequa<strong>da</strong>mente a<br />
energia psíquica de acordo com sua<br />
própria natureza. Nessa circunstância<br />
é preciso fazer uma escolha a partir <strong>da</strong><br />
vontade <strong>em</strong> corrigir rumos coincidentes<br />
com o desejo e convicções próprias.<br />
Adequando isso, poderá o policial ter<br />
b<strong>em</strong> ajusta<strong>da</strong> sua ação a partir de sua<br />
própria energia.<br />
Em quaisquer situações é preciso deixar<br />
que as coisas sigam sua natureza, mas<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
45
segurança pública<br />
é importante perceber a existência<br />
dos surtos psicóticos, porque eles e<br />
a formação <strong>da</strong>s neuroses depend<strong>em</strong><br />
<strong>da</strong> estrutura <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de que a<br />
pessoa desenvolve desde o início <strong>da</strong> sua<br />
vi<strong>da</strong>, chegando a certa configuração<br />
relativamente estável, após o período<br />
de ebulição <strong>da</strong> adolescência, quando<br />
as condições sociais são relativamente<br />
favoráveis, antes mesmo de a pessoa<br />
entrar no processo produtivo.<br />
Por isso, o planejamento dos procedimentos<br />
de admissão e treinamento,<br />
conjugado com um programa de<br />
acompanhamento profissional, é<br />
muito importante para a formação do<br />
policial que desenvolve suas ativi<strong>da</strong>des<br />
no Sist<strong>em</strong>a de Defesa Social - caso de<br />
Minas Gerais.<br />
Dessa forma, é preciso considerar que,<br />
ao contrário do que se pensa, a Organização<br />
do Trabalho não cria doenças<br />
mentais específicas. Mas, dev<strong>em</strong>os<br />
ponderar que “o defeito crônico de<br />
uma vi<strong>da</strong> mental s<strong>em</strong> saí<strong>da</strong> mantido<br />
pela organização do trabalho, t<strong>em</strong><br />
provavelmente um efeito que favorece<br />
as descompensações psiconeuróticas”<br />
(DEJOURS, 1992, p. 122).<br />
Por decorrência, estudos diversos<br />
apontam o estresse - termo publicado<br />
pela primeira vez <strong>em</strong> 1936 pelo médico<br />
Hans Selye na revista científica Nature,<br />
identificando dois tipos de estresse: crônico<br />
e orgânico -, afora outros fatores,<br />
como o vilão que contribui para levar o<br />
profissional ao adoecimento. Pesquisas<br />
nesse sentido avançam ca<strong>da</strong> vez mais.<br />
O estresse é uma resposta do organismo<br />
frente a um perigo. Ele prepara o corpo<br />
para fugir ou lutar. Exist<strong>em</strong> muitas coisas<br />
que disparam os mecanismos<br />
do estresse, que pod<strong>em</strong><br />
ser externas ou<br />
internas,<br />
46 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
agu<strong>da</strong>s ou crônicas. As externas inclu<strong>em</strong><br />
condições físicas adversas (como<br />
dor, frio ou calor excessivos) e situações<br />
psicologicamente estressantes (más<br />
condições de trabalho, probl<strong>em</strong>as de<br />
relacionamentos, insegurança e outras).<br />
Entre as internas, estão também as<br />
condições físicas (doenças <strong>em</strong> geral) e<br />
psicológicas.<br />
“O estresse é uma<br />
resposta do<br />
organismo<br />
frente a um<br />
perigo. Ele<br />
prepara<br />
o corpo<br />
para fugir ou<br />
lutar. ”<br />
Estresse ou Stress pode ser definido<br />
como a soma de respostas físicas e<br />
mentais <strong>da</strong> incapaci<strong>da</strong>de de distinguir<br />
entre o real e as experiências e expectativas<br />
pessoais. Pela definição, inclui a<br />
resposta de componentes físicos e mentais.<br />
Pode ser causado pela ansie<strong>da</strong>de<br />
e pela depressão devido à mu<strong>da</strong>nça<br />
brusca no estilo de vi<strong>da</strong> e a exposição<br />
a um determinado ambiente, que leva<br />
a pessoa a sentir um determinado tipo<br />
de angústia.<br />
Quando os sintomas de estresse persist<strong>em</strong><br />
por um longo intervalo de t<strong>em</strong>po,<br />
pod<strong>em</strong> ocorrer sentimentos de evasão<br />
(ligados à ansie<strong>da</strong>de e depressão). Os<br />
nossos mecanismos de defesa passam<br />
a não responder de uma forma eficaz,<br />
aumentando assim a possibili<strong>da</strong>de de<br />
vir a ocorrer doenças, especialmente de<br />
cunho psicológico.<br />
To<strong>da</strong>s as pessoas estão sujeitas a<br />
ter estresse. T<strong>em</strong>os estresse de curto<br />
prazo, quando perd<strong>em</strong>os o<br />
horário do ônibus, por<br />
ex<strong>em</strong>plo.
segurança pública<br />
Até eventos normais do cotidiano<br />
pod<strong>em</strong> ser estressantes. Outras vezes,<br />
encaramos o estresse de longo prazo,<br />
como discriminação, doença incurável,<br />
separação ou divórcio. Esses eventos<br />
estressantes também afetam nossa<br />
saúde <strong>em</strong> muitos níveis. O estresse<br />
de longo prazo pode elevar o risco<br />
de alguns probl<strong>em</strong>as de saúde, como<br />
depressão.<br />
O estresse agudo é uma reação a<br />
uma ameaça imediata, que pode ser<br />
qualquer situação que é experimenta<strong>da</strong><br />
como um perigo. Algumas pessoas,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, têm ver<strong>da</strong>deiro pavor<br />
de viajar de avião, e quando o faz<strong>em</strong>,<br />
apresentam um estresse passageiro.<br />
Na maioria dessas circunstâncias de estresse<br />
agudo, uma vez eliminado o fator<br />
estressante, a resposta do organismo<br />
se inativa e os níveis dos hormônios<br />
voltam ao normal. Entretanto, a vi<strong>da</strong><br />
cont<strong>em</strong>porânea frequent<strong>em</strong>ente nos<br />
expõe a situações cronicamente estressantes,<br />
e a resposta do organismo ao<br />
estresse não é suprimi<strong>da</strong>.<br />
Dentre os fatores estressantes crônicos,<br />
estão a pressão no trabalho, probl<strong>em</strong>as<br />
de relacionamento, solidão, probl<strong>em</strong>as<br />
financeiros e a insegurança. Tudo muito<br />
próximo <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s<br />
pelos policiais.<br />
Na concepção de que o hom<strong>em</strong> é um<br />
ser biopsicossocial, identificamos vários<br />
fatores que interag<strong>em</strong> causando probl<strong>em</strong>as,<br />
segundo tal perspectiva. Nesse<br />
sentido, já se sabe que, por razão dos<br />
fatores biológicos, a reação ao estresse<br />
t<strong>em</strong> forte componente genético, além<br />
de depender <strong>da</strong> reativi<strong>da</strong>de do sist<strong>em</strong>a<br />
nervoso autonômico, e é influencia<strong>da</strong><br />
por aspectos biológicos de gênero.<br />
T<strong>em</strong>os, ain<strong>da</strong>, os fatores psicológicos<br />
que nos orientam quanto à interpretação<br />
dos eventos estressantes, e<br />
têm papel determinante <strong>em</strong> como se<br />
responde ao estresse. Assim, a pessoa<br />
é leva<strong>da</strong> a ver ou não o estressor como<br />
uma ameaça ou ain<strong>da</strong> a perceber os<br />
eventos estressores sociais como controle<br />
e protetores contra o estresse.<br />
Dev<strong>em</strong>os considerar também as<br />
respostas de estratégias de coping - esforços<br />
dispendidos para li<strong>da</strong>r com situações<br />
de <strong>da</strong>no, de ameaça ou de desafio<br />
quando não está disponível uma rotina<br />
ou uma resposta automática.<br />
Em situações indutoras de estresse, é<br />
pertinente ao indivíduo aprender a li<strong>da</strong>r<br />
com o probl<strong>em</strong>a e com as <strong>em</strong>oções <strong>da</strong>í<br />
resultantes. Então, para aprender a li<strong>da</strong>r<br />
com o probl<strong>em</strong>a, as pessoas pod<strong>em</strong><br />
ficar centra<strong>da</strong>s <strong>em</strong> suas <strong>em</strong>oções ou<br />
centra<strong>da</strong>s no probl<strong>em</strong>a, minimizando<br />
ou exarcebando o estresse.<br />
O estresse provoca sofrimento psicológico<br />
e afeta o sist<strong>em</strong>a nervoso autonômico,<br />
além do sist<strong>em</strong>a neuroendócrino.<br />
Mu<strong>da</strong>nças neuroendócrinas pod<strong>em</strong><br />
<strong>da</strong>nificar neurônios e prejudicar a<br />
habili<strong>da</strong>de do organismo <strong>em</strong> li<strong>da</strong>r com<br />
o estímulo estressante.<br />
“O estresse provoca<br />
sofrimento psicológico<br />
e afeta o sist<strong>em</strong>a<br />
nervoso autonômico,<br />
além do sist<strong>em</strong>a<br />
neuroendócrino.”<br />
Mas o estresse ruim gera um abatimento<br />
ou sensação de pânico, um<br />
quadro de exaustão ou fadiga se<br />
instala, causando pressão alta, alterações<br />
hormonais, de TPM, acúmulo de<br />
gordura no organismo.<br />
Aparece também a angústia como<br />
pano de fundo de muitos desarranjos<br />
psicológicos . Ela causa doenças como<br />
gastrite e, ao liberar as <strong>em</strong>oções ruins<br />
como a mágoa, há um melhoramento<br />
geral. Compreender os sentimentos<br />
e <strong>em</strong>oções leva a uma atitude que<br />
constrói uma rede que atua <strong>da</strong> região<br />
glandular, estendendo-se por todo o<br />
corpo.<br />
O policial, sujeito a todo tipo de pressão,<br />
pode ser conduzido a uma situação tão<br />
incomum que não encontra possibili<strong>da</strong>de<br />
de envolvimento <strong>em</strong>ocional com<br />
a profissão, mas também dev<strong>em</strong>os<br />
considerar aspectos ligados ao lado<br />
material.<br />
Dejours (1992) diz que a execução de<br />
uma tarefa s<strong>em</strong> envolvimento material<br />
ou afetivo exige esforço de vontade<br />
que é suportado pelo jogo <strong>da</strong> motivação<br />
e do desejo. No que diz respeito<br />
à relação do hom<strong>em</strong> com o conteúdo<br />
significativo do trabalho, esclarece ele<br />
que, quando se bloqueia o progresso<br />
e o avanço dessa relação por algum<br />
motivo ou circunstância, observa-se a<br />
incidência do sofrimento.<br />
Nessa consideração do hom<strong>em</strong> como<br />
um ser biopsicossocial, t<strong>em</strong>os ain<strong>da</strong> os<br />
fatores sociais. O estresse social pode<br />
levar a reações de coping mal a<strong>da</strong>ptativas.<br />
A condição socioeconômica e a<br />
disponibili<strong>da</strong>de de suporte social pod<strong>em</strong><br />
proteger contra o estresse; o estresse<br />
social aumenta o nível de hormônio<br />
cortisol, o que leva ao aumento <strong>da</strong><br />
secreção de insulina e níveis elevados<br />
destes dois hormônios aumentam, por<br />
sua vez, o risco de doenças do coração.<br />
Como se pode perceber, o tratamento<br />
pela psicologia é relevante ao recepcionar<br />
o estresse, b<strong>em</strong> como na profilaxia<br />
de doenças decorrentes <strong>da</strong> grande<br />
influência dos fatores psicológicos nos<br />
mecanismos biológicos do estresse e<br />
de sua forte interação com os fatores<br />
sociais.<br />
Isso nos leva a estu<strong>da</strong>r a presença<br />
do sofrimento psicológico dentre os<br />
policiais. Nesse sentido, faz<strong>em</strong>-se recair<br />
a avaliação <strong>em</strong> questões atinentes aos<br />
distúrbios psicóticos e não-psicóticos,<br />
como também sobre saúde, condições<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
47
segurança pública<br />
de trabalho e quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>. Enseja<br />
uma pesquisa estrutura<strong>da</strong> para tal fim<br />
que resulte <strong>em</strong> adequações possíveis<br />
e vinculativas ao desenvolvimento<br />
<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des policiais que se ligam a<br />
sintomas identificados, mesmo que de<br />
forma aleatória.<br />
A quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>, principalmente<br />
quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> no trabalho, t<strong>em</strong><br />
sua importância nesse propósito de se<br />
medir a saúde psicológica do policial<br />
<strong>em</strong> quaisquer circunstâncias <strong>em</strong> que<br />
ele se encontre, ou pelas situações que<br />
já passou. Não interessa, no caso, <strong>em</strong><br />
quais setores, se homens ou mulheres,<br />
mesmo porque não identificamos nas<br />
polícias programa específico para apoio<br />
<strong>em</strong>ocional e psicológico aos profissionais,<br />
<strong>em</strong>bora possuam, algumas delas,<br />
uma agen<strong>da</strong> positiva nesse contexto,<br />
<strong>em</strong> que na estrutura existe um segmento<br />
específico para cui<strong>da</strong>r disso.<br />
“A quali<strong>da</strong>de de<br />
vi<strong>da</strong>, principalmente<br />
quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong><br />
no trabalho, t<strong>em</strong> sua<br />
importância nesse<br />
propósito de se medir<br />
a saúde psicológica do<br />
policial <strong>em</strong> quaisquer<br />
circunstâncias...”<br />
Dejours (1992) nos ensina ser o sofrimento<br />
humano inerente ao processo<br />
laboral, levando-nos a compreender<br />
suas causas tendo <strong>em</strong> vista modificálo<br />
e reorganizar, se for o caso, seu<br />
processo. Ao fazer referência sobre a<br />
relação trabalho-saúde, ele defende<br />
que o trabalho não é neutro <strong>em</strong> relação<br />
à saúde, e pode contribuir para o adoecimento<br />
dos trabalhadores.<br />
Considerando o trabalho do policial, dev<strong>em</strong>os<br />
ter <strong>em</strong> mente que o ato de “ser<br />
polícia” se vincula a uma ativi<strong>da</strong>de que<br />
48 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
alia cobrança institucional, disciplina<br />
rígi<strong>da</strong> e um alto risco ocupacional, que<br />
é s<strong>em</strong>pre medido, pois as circunstâncias<br />
n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre são favoráveis.<br />
Noutras conjunturas, o policial trabalha<br />
com situações que pod<strong>em</strong> provocar<br />
inclusive a morte, até mesmo <strong>da</strong>no à<br />
integri<strong>da</strong>de dele próprio e de outr<strong>em</strong>.<br />
Também, o policial t<strong>em</strong> o “poder” de<br />
decidir, de acordo com as circunstâncias,<br />
sobre a vi<strong>da</strong> e sobre a morte de<br />
alguém. Tanto poder incrustado <strong>em</strong><br />
sua li<strong>da</strong> diária pode torná-lo incontrolável<br />
e subjacente a si mesmo no<br />
desenvolvimento de suas ativi<strong>da</strong>des,<br />
simplesmente por visão difusa do seu<br />
sentido de ser-no-mundo.<br />
Aliar-se a tal poder ou definir-se pela<br />
ética institucional no vir-a-ser é parte<br />
de um possível, e pode levar o policial a<br />
uma concepção doentia se fragiliza<strong>da</strong>s<br />
as lições acadêmicas, ou perdi<strong>da</strong>s na<br />
formação experiencia<strong>da</strong> ou vivencia<strong>da</strong><br />
no dia-a-dia <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de.<br />
Por isso mesmo, definir-se pelas escolhas<br />
<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des deve ser fun<strong>da</strong>mento na<br />
condução desse propósito, porquanto<br />
a especifici<strong>da</strong>de está exatamente <strong>em</strong><br />
adequar-se ao “projeto de vi<strong>da</strong>”, ao<br />
tornar-se policial. As ações, no contexto<br />
<strong>da</strong> atuação profissional, são preponderant<strong>em</strong>ente<br />
de orig<strong>em</strong> policial, e<br />
necessitam que a formação produza<br />
uma transformação na pessoa, que<br />
passe pelo sentido de desenvolvimento<br />
humano.<br />
Nesse caso, a far<strong>da</strong> do policial-militar<br />
não pode ser vista como simplesmente<br />
um componente, um instrumento facilitador<br />
do desvio de conduta, porquanto<br />
se perderia na pereni<strong>da</strong>de institucional.<br />
Essa situação permeia as ativi<strong>da</strong>des dos<br />
profissionais, cujas participações no <strong>em</strong>bate<br />
cotidiano nos diversos contextos<br />
sociais exig<strong>em</strong> controle <strong>em</strong>ocional,<br />
mesmo porque as decisões precisam<br />
ser rápi<strong>da</strong>s e obedientes às normas. Por<br />
isso mesmo, não passam despercebi<strong>da</strong>s<br />
as necessi<strong>da</strong>des do fortalecimento no<br />
desenvolvimento profissional do policial<br />
por meio <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des técnicas,<br />
humanas e conceituais.<br />
“...a far<strong>da</strong> do<br />
policial-militar não<br />
pode ser vista como<br />
simplesmente um<br />
componente, um<br />
instrumento facilitador<br />
do desvio de conduta...”<br />
Em sua li<strong>da</strong> e diante de um ver<strong>da</strong>deiro<br />
confronto com a criminali<strong>da</strong>de e violência,<br />
além <strong>da</strong> falta de reconhecimento<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, percebe-se que o policial<br />
passa por um estresse ocupacional<br />
muito grande. Isso desencadeia consequências<br />
<strong>da</strong>nosas à sua saúde física,<br />
mental e psicológica, além de afetar<br />
as suas relações familiares, sociais e<br />
profissionais.<br />
É por isso mesmo que a Saúde Psicológica<br />
do Policial, <strong>em</strong> que pese as mais<br />
diversas variáveis causais, precisa ser<br />
percebi<strong>da</strong> também do ponto de vista <strong>da</strong><br />
Quali<strong>da</strong>de de Vi<strong>da</strong> no Trabalho na interface<br />
com um sist<strong>em</strong>a de acolhimento<br />
reconhecido pela organização, <strong>em</strong> vista<br />
minimizar os estados depressivos e de<br />
estresse a que estão submetidos.<br />
Parece haver algo maior nessa contextualização<br />
que recebe o reflexo <strong>da</strong><br />
forma como as organizações policiais<br />
enfrentam tal situação de adoecimento<br />
psicológico de seus componentes.<br />
Outras interferências são importantes<br />
também e dev<strong>em</strong> ser considera<strong>da</strong>s<br />
como base na sist<strong>em</strong>ática a ser implanta<strong>da</strong><br />
pelos governantes, por decorrência<br />
de política pública.<br />
No Brasil, persiste um conflito que<br />
desvaloriza a autori<strong>da</strong>de. Por mais
“...o policial passa por um estresse<br />
ocupacional muito grande. Isso desencadeia<br />
consequências <strong>da</strong>nosas à sua saúde física,<br />
mental e psicológica, além de afetar as suas<br />
relações familiares, sociais e profissionais. “<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
49
segurança pública<br />
que os agentes políticos cometam<br />
“absurdos”, quando se fala de algo<br />
pertinente às Polícias, a socie<strong>da</strong>de, essa<br />
mesma socie<strong>da</strong>de de onde originaram<br />
os policiais, procura desvalorizá-los e<br />
denegrir sua imag<strong>em</strong>. Atua de maneira<br />
forte e episódica traduzindo-se <strong>em</strong><br />
contornos psicológicos contraditórios<br />
na pessoa do profissional. O adoecimento<br />
é consequência também disso.<br />
Ao avançar na projeção, preparação<br />
e planejamento de uma pesquisa<br />
mais profun<strong>da</strong> no Estado de Minas<br />
Gerais sobre o assunto <strong>em</strong> questão,<br />
<strong>em</strong> exame documental foi encontrado<br />
num trabalho promovido pelo<br />
Laboratório de Saúde do Trabalhador<br />
<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Brasília a<br />
constatação de que, no Brasil, mais<br />
de 83 mil trabalhadores são afastados<br />
de suas ativi<strong>da</strong>des, anualmente, por<br />
probl<strong>em</strong>as de saúde psíquica. Os<br />
estudos d<strong>em</strong>onstraram que, entre<br />
2000 e 2006, tais afastamentos<br />
aumentaram 260%.<br />
Aponta ain<strong>da</strong> tal estudo que os<br />
transtornos de humor (depressão)<br />
aparec<strong>em</strong> como a segun<strong>da</strong> maior<br />
causa de ausência ao trabalho no<br />
País e situam os probl<strong>em</strong>as mentais<br />
(ou psicológicos) numa categoria<br />
acima do grupo de doenças por<br />
lesões por esforço repetitivo (LER),<br />
como tendinites e tenossinovites. Tal<br />
quadro, a partir de 2007, precisa ser<br />
pesquisado.<br />
Organização Mundial de Saúde<br />
identifica a saúde do ser humano<br />
como o completo b<strong>em</strong>-estar biológico,<br />
psicológico e social, e não apenas<br />
a ausência de doença. A doença<br />
profissional é caracteriza<strong>da</strong> como<br />
aquela produzi<strong>da</strong> ou desencadea<strong>da</strong><br />
pelo exercício do trabalho peculiar<br />
a determina<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de e a doença<br />
do trabalho é caracteriza<strong>da</strong> como<br />
aquela adquiri<strong>da</strong> ou desencadea<strong>da</strong><br />
<strong>em</strong> função de condições especiais <strong>em</strong><br />
que o trabalho é realizado.<br />
50 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
Nesse diapasão, ressalto algumas<br />
doenças por se definir<strong>em</strong> por circunstâncias<br />
específicas e de interesses<br />
nesse estudo: a depressão, que é a<br />
maior causa de que<strong>da</strong> <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de<br />
profissional acarretando, como consequência,<br />
ansie<strong>da</strong>de, angústia e medo;<br />
o estresse, que pode ser causado pelo<br />
aumento <strong>da</strong> competição no trabalho,<br />
dificul<strong>da</strong>des no dia-a-dia, medo <strong>da</strong><br />
per<strong>da</strong> do <strong>em</strong>prego e também devido<br />
ao aumento tecnológico; a fadiga,<br />
que é provoca<strong>da</strong> pela inadequação do<br />
processo de trabalho; provoca uma diminuição<br />
<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de do organismo<br />
produzir e, por conseguinte, a que<strong>da</strong><br />
na quali<strong>da</strong>de de trabalho do individuo.<br />
É causado por um trabalho contínuo<br />
s<strong>em</strong> motivação para executá-lo. É um<br />
desgaste físico e mental.<br />
A Organização Mundial<br />
de Saúde identifica a<br />
saúde do ser humano<br />
como o completo<br />
b<strong>em</strong>-estar biológico,<br />
psicológico e social, e<br />
não apenas a ausência<br />
de doença.<br />
Certamente que numa circunstância<br />
conforme a menciona<strong>da</strong>, precisou<br />
identificar formas de prevenção do<br />
adoecimento no trabalho. Penso que<br />
se deve compreender um ambiente<br />
de trabalho num sentido mais amplo,<br />
e não apenas riscos isolados. Também<br />
se deve considerar nessa interface: a<br />
organização do trabalho, as relações<br />
de trabalho e diversos outros fatores,<br />
que se somados, contribu<strong>em</strong> de forma<br />
multicausal para o adoecimento psicológico<br />
do profissional.<br />
Não dá mais para falar <strong>em</strong> riscos isolados,<br />
pois não sustenta a explicação<br />
<strong>da</strong>s causas dos policiais adoecer<strong>em</strong>,<br />
mesmo porque os riscos, na reali<strong>da</strong>de,<br />
se potencializam.<br />
A prevenção significa abor<strong>da</strong>r as causas<br />
na sua fonte e analisar os ambientes de<br />
trabalho, para eliminar ou minimizar<br />
tais causas ou reduzir suas influências,<br />
b<strong>em</strong> como conscientizar os atores para<br />
sua efetiva participação nos programas,<br />
quando existentes.<br />
Considerando a situação do policial,<br />
ativi<strong>da</strong>de que experienciei e vivenciei<br />
por mais de trinta anos, me permito<br />
dizer que ele, de modo geral e decorrente<br />
<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des que executa pela<br />
orientação profissional, além <strong>da</strong> rigidez<br />
<strong>da</strong> legislação e d<strong>em</strong>ais pertinentes,<br />
de ord<strong>em</strong> interna e externa, pertence<br />
a uma <strong>da</strong>s profissões que mais sofre<br />
estresse, que mais se oprime, mas se<br />
expressa normalmente de maneira<br />
ordeira.<br />
Ca<strong>da</strong> vez mais, o grupo orig<strong>em</strong> do policial<br />
sente os efeitos devastadores desse<br />
incomodo do adoecimento psicológico.<br />
Muitas vezes a doença manifesta-se de<br />
forma intrínseca e oculta <strong>em</strong> relação<br />
à conduta do policial, mas abre uma<br />
feri<strong>da</strong> reconheci<strong>da</strong> pelos ci<strong>da</strong>dãos ou<br />
pela família do profissional, por meio<br />
de seus atos incompatíveis ou incompreensíveis,<br />
ele faz de seu desvio de<br />
conduta uma forma ofensiva aos que<br />
lhe são mais próximos.<br />
É evidente que, se tratando de um<br />
agente público, há necessi<strong>da</strong>de que a<br />
postura governamental seja parte do<br />
contexto. De outra sorte, o importante<br />
é que nos últimos dez anos tal postura<br />
governamental mudou e o sentido de<br />
ser <strong>da</strong>s pessoas frente ao desafio do<br />
combate à criminali<strong>da</strong>de, mormente <strong>em</strong><br />
Minas Gerais, ganhou contornos novos.<br />
Há um interesse público diferenciado<br />
na condução dessa questão.<br />
Do ponto de vista dessa nova forma<br />
de enxergar a Segurança Pública e a
segurança pública<br />
Corporação policial, <strong>em</strong> Minas Gerais,<br />
present<strong>em</strong>ente, é percebi<strong>da</strong> de forma<br />
diferente e, talvez, haja ambiente<br />
propício para que as autori<strong>da</strong>des<br />
repens<strong>em</strong> também a postura frente ao<br />
ci<strong>da</strong>dão far<strong>da</strong>do, que é um guardião <strong>da</strong><br />
ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />
Pod<strong>em</strong>os adiantar certo sucesso nesse<br />
enfrentamento. Sim, é um ver<strong>da</strong>deiro<br />
enfrentamento, mesmo porque não se<br />
valorizava adequa<strong>da</strong>mente o policial e,<br />
hoje, o governo valoriza um pouco.<br />
Nesse processo, leva-se <strong>em</strong> consideração<br />
o alto nível de exigência a que se<br />
submet<strong>em</strong> os profissionais de polícia,<br />
<strong>em</strong> face <strong>da</strong> criminali<strong>da</strong>de e violência,<br />
pelas metas a ser<strong>em</strong> alcança<strong>da</strong>s.<br />
Esse ato de tão-somente cumprir os<br />
compromissos exigidos pelos modelos<br />
que privilegiam a eficácia do sist<strong>em</strong>a<br />
de segurança por números, traz, nas<br />
entrelinhas, o rito de fatores estressores<br />
que pod<strong>em</strong> produzir adoecimento, pois<br />
são por d<strong>em</strong>ais cartesianos, além de<br />
universalizar as questões de segurança<br />
pública e suas consequências, e possibilitar<br />
também uma universalização dos<br />
desarranjos psicológicos dos policiais.<br />
Isso abre um novo debate na agen<strong>da</strong><br />
<strong>da</strong> Segurança Pública e propicia uma<br />
agen<strong>da</strong> nova sobre o avanço <strong>da</strong> percepção<br />
<strong>da</strong>s pessoas que compõ<strong>em</strong> as<br />
organizações policiais.<br />
Defini<strong>da</strong> a política publica, o sist<strong>em</strong>a<br />
de Defesa Social, <strong>em</strong> Minas Gerais,<br />
dá passos largos no sentido <strong>da</strong> efetivação<br />
de investimento majoritário na<br />
infraestrutura por meio de melhores<br />
instalações, além <strong>da</strong> aquisição de<br />
carros, rádios, armas, aumento de<br />
efetivo, salários, dentre outros. Tudo<br />
feito com a finali<strong>da</strong>de de reduzir<br />
a violência. To<strong>da</strong>via, tal iniciativa,<br />
<strong>em</strong>bora importante, por fortalecer a<br />
logística necessária para <strong>da</strong>r vazão<br />
ao combate ao crime e criminali<strong>da</strong>de,<br />
deve possibilitar e buscar pertinência<br />
para potencializar a figura do policial.<br />
Se permanecer o foco somente no<br />
logístico e relegar a um plano menor<br />
os policiais, supedâneos do controle<br />
criminal, os fatos cont<strong>em</strong>porâneos que<br />
decorrer<strong>em</strong> desse episódio poderão<br />
provocar uma crise s<strong>em</strong> precedentes,<br />
posta<strong>da</strong> no adoecimento psicológico<br />
dos profissionais.<br />
Em decorrência de to<strong>da</strong>s as questões<br />
relata<strong>da</strong>s, abre-se espaço para reafirmar<br />
a necessi<strong>da</strong>de de se reforçar a pessoa do<br />
policial, não num sentido materialista<br />
e universal, conforme já d<strong>em</strong>onstrado,<br />
mas num sentido primordial de voltar-se<br />
ao primário, ao principio do Ser. Enfim,<br />
considerá-lo pessoa do fazer.<br />
Sendo assim, ao dissimular<strong>em</strong> ações<br />
especificas de acolhimento ao policial<br />
enquanto pessoa, as autori<strong>da</strong>des deixam<br />
de perceber que são protagonistas de<br />
favorecimento do desvio psicológico.<br />
O propósito é que os policiais, como<br />
construtores de sua própria história e<br />
parte de uma cultura de profissionais<br />
com base humanizante, possam superarse<br />
nas contingências de horários desfocados<br />
<strong>da</strong> rotina familiar, salário indigno,<br />
jorna<strong>da</strong>s estressantes, <strong>em</strong>bates diários<br />
com a população, contato direto com as<br />
piores tragédias humanas, permanente<br />
risco de vi<strong>da</strong> e, ain<strong>da</strong>, o tratamento<br />
disciplinar com visão míope de alguns<br />
gestores de segurança, políticos intrometidos,<br />
dentre outros, e não agir<strong>em</strong> de<br />
má-fé. To<strong>da</strong>via, fica no ar um sentimento<br />
de certo abandono, de descaso pelo<br />
poder público.<br />
O policial precisa cui<strong>da</strong>r de sua existência<br />
e existir de fato nesta cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de.<br />
Existir é Ex-sistere, Ser-Para-Fora,<br />
<strong>em</strong>ergir, revelar, sobressair. Nesse sentido,<br />
precisamos passar pelos conceitos existenciais<br />
para uma melhor compreensão<br />
<strong>da</strong> extensão do que se propõe a fazer,<br />
ao final, por uma pesquisa qualitativa<br />
e quantitativa, sobre o adoecimento<br />
psicológico de policiais, que passe pela<br />
Psicologia Fenomenológico-Existencial.<br />
“O Policial precisa<br />
cui<strong>da</strong>r de sua existência<br />
e existir de fato nesta<br />
cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de.”<br />
Para Feijoo (2000, p. 74-86), a existência<br />
significa o ser do ente-do-hom<strong>em</strong>, ou<br />
pre-sença significa o ente cuja essência<br />
é o existir que estabelece uma relação<br />
consigo mesmo. Num modo impróprio,<br />
essa relação do ser com o ente se dá<br />
pela convenção do prazer, do interesse,<br />
<strong>da</strong> profissão. O eu não se dá s<strong>em</strong> o<br />
mundo, s<strong>em</strong> o outro. É um ser-<strong>em</strong> que<br />
é um ser-com os outros. É um mundo<br />
compartilhado, um mundo <strong>da</strong> presença.<br />
Esse ser-com, ser-no-mundo, se fun<strong>da</strong><br />
no fenômeno do cui<strong>da</strong>do: <strong>da</strong> preocupação<br />
e ocupação.<br />
O estar-no-mundo ou ser-no-mundo,<br />
que é determinação de presença, t<strong>em</strong><br />
três aspectos: o mundo, que facilita<br />
a transformação; o ser do existente,<br />
que diz respeito às possibili<strong>da</strong>des; e<br />
o ser-<strong>em</strong> que implica objetivar-se no<br />
mundo, de acordo com o caráter de<br />
intencionali<strong>da</strong>de.<br />
O existencialismo nos proporciona<br />
esse contexto, pois é uma doutrina<br />
filosófica, a partir <strong>da</strong> qual a Psicologia<br />
Existencial se constitui, considerando o<br />
hom<strong>em</strong> lançado no mundo, e entregue<br />
a si mesmo, onde o Ser constrói-se a<br />
ca<strong>da</strong> ação. A existência se constitui <strong>em</strong><br />
lançar, <strong>em</strong> arriscar e não há nenhuma<br />
garantia. Se não há garantia, se não se<br />
pode prever ou antecipar o futuro, parece<br />
impossível uma ação preventiva.<br />
Não há uma receita pronta para o<br />
existir de acordo com pensamento<br />
existencialista, e os principais t<strong>em</strong>as<br />
existencialistas são: angústia, solidão,<br />
crises existenciais, liber<strong>da</strong>de, morte,<br />
sentido, escolha, risco, compromisso,<br />
encontro, responsabili<strong>da</strong>de, autentici<strong>da</strong>de,<br />
diferenças individuais e projetos<br />
de vi<strong>da</strong>. O policial cont<strong>em</strong>porâneo, na<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
51
segurança pública<br />
busca de Ser - ser-humano, sendo consciente<br />
e responsável pela sua existência,<br />
li<strong>da</strong> com to<strong>da</strong>s essas condições.<br />
“Não há uma receita<br />
pronta para o existir de<br />
acordo com pensamento<br />
existencialista...”<br />
Acontece que as circunstâncias poderão<br />
levar a um conflito existencial<br />
caracterizado até mesmo pelo modelo<br />
de gestão. Tal circunstância <strong>da</strong> gestão,<br />
pelo fato <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de de se fazer o<br />
reconhecimento do Ser, pode propiciar<br />
resultados generosos de altos índices<br />
de absenteísmo, além dos hospitais<br />
abarrotados de policiais com hipertensão,<br />
doenças coronárias e do trato<br />
digestivo, alcoolismo, drogadição e até<br />
mesmo a ocorrência de suicídio. Não há<br />
humani<strong>da</strong>de nisto.<br />
O Coronel <strong>da</strong> PM de São Paulo, José<br />
Vicente <strong>da</strong> Silva, <strong>em</strong> 2000, escreveu no<br />
Jornal <strong>da</strong> Tarde <strong>da</strong>quele Estado sobre<br />
estresse policial. Assim se expressou:<br />
Nenhum Estado brasileiro t<strong>em</strong> programa<br />
de valorização dos recursos<br />
humanos policiais, que cuide concretamente<br />
<strong>da</strong> autoestima e de outras<br />
necessi<strong>da</strong>des críticas: salários, atendimento<br />
médico-hospitalar, oportuni<strong>da</strong>des<br />
de carreira, condições ambientais<br />
adequa<strong>da</strong>s, programas de<br />
moradia, transporte e alimentação,<br />
prevenção dos riscos profissionais.<br />
S<strong>em</strong> esse investimento o potencial<br />
de crise funcional na polícia continuará<br />
ardendo e erupções ocorrerão,<br />
queiram ou não as autori<strong>da</strong>des, permitam<br />
ou não as leis (SILVA, 2000).<br />
Passados quase dez anos, alguma coisa<br />
mudou, to<strong>da</strong>via prevalece a situação<br />
enigmática de prevalência <strong>da</strong>s possessões<br />
materialistas e, com muito vagar, a<br />
questão <strong>da</strong> saúde psicológica é trata<strong>da</strong>.<br />
Então, não mudou muito.<br />
52 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
Mas há um alento. Mu<strong>da</strong>nças significativas<br />
na área <strong>da</strong> Segurança estão<br />
ocorrendo na socie<strong>da</strong>de nas últimas<br />
déca<strong>da</strong>s, mesmo porque a crescente<br />
escala<strong>da</strong> <strong>da</strong> violência, conjuga<strong>da</strong> com<br />
a banalização <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas e<br />
organizações, além do descaso com<br />
o próximo, os homicídios, sequestros,<br />
assaltos e d<strong>em</strong>ais delitos, levam a uma<br />
situação angustiante.<br />
“Mu<strong>da</strong>nças<br />
significativas na área<br />
<strong>da</strong> Segurança estão<br />
ocorrendo na socie<strong>da</strong>de<br />
nas últimas déca<strong>da</strong>s.”<br />
Tal circunstância coloca na socie<strong>da</strong>de<br />
um grande sentimento de insegurança<br />
e o policial, dentre os diversos atores<br />
envolvidos nesse cenário, sofre o<br />
impacto desta situação de forma massacrante.<br />
Sua rotina estressante, por<br />
figurar no cerne desta questão, como<br />
também seus constantes <strong>em</strong>bates com<br />
criminosos, além <strong>da</strong> própria rotina de<br />
sua vi<strong>da</strong>, afora a desvalorização <strong>da</strong> sua<br />
ativi<strong>da</strong>de, também a baixa autoestima<br />
como consequência desse estado de<br />
coisas, são muitas vezes fontes de<br />
desvio de conduta.<br />
Esse quadro reforça a visão psicológica<br />
e social do policial que é, na maioria<br />
<strong>da</strong>s vezes, negativa, pois a socie<strong>da</strong>de<br />
o compreende como um ser perfeito<br />
e não admite seus erros. Surge, assim,<br />
um círculo vicioso perverso, mas<br />
também um distanciamento ca<strong>da</strong><br />
vez maior entre polícia e socie<strong>da</strong>de,<br />
<strong>em</strong>bora os conceitos “comunitários”<br />
estejam aí, com vistas à criação de<br />
novo paradigma.<br />
As notícias divulga<strong>da</strong>s pela mídia<br />
brasileira s<strong>em</strong>pre tratam dos acontecimentos<br />
que envolv<strong>em</strong> a polícia como<br />
parte de uma “agen<strong>da</strong> obrigatória”.<br />
Ganham realce quando se refer<strong>em</strong> a<br />
acontecimentos nas principais capitais<br />
do País, especialmente no Rio de Janeiro,<br />
São Paulo, Belo Horizonte e outras.<br />
Mas, quando acontece no Rio de Janeiro,<br />
torna-se palco dos mais evidentes<br />
acontecimentos que chocam a opinião<br />
pública. Nesse Estado, a criminali<strong>da</strong>de e<br />
a violência é algo inusitado e, na maioria<br />
<strong>da</strong>s vezes, tais manchetes ganham o<br />
mundo <strong>em</strong> face do poderio tecnológico<br />
disponível à comunicação. A própria<br />
cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de cui<strong>da</strong> dessa diss<strong>em</strong>inação<br />
de notícia e a marca dessa<br />
época é o fenômeno <strong>da</strong> globalização,<br />
que pode ser definido como uma rede<br />
de informação à distancia e de fluxo<br />
contínuo.<br />
Por isso mesmo, é necessário compreender<br />
o trabalho policial como uma<br />
via de mão dupla, onde ele deve ser<br />
respeitado pela socie<strong>da</strong>de, e a respeita.<br />
Onde os sentimentos sejam recíprocos,<br />
e isso só é possível com o hom<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />
bom estado <strong>em</strong>ocional. To<strong>da</strong>via, no<br />
aqui e agora, isso não existe, os valores<br />
foram invertidos e ain<strong>da</strong> não foram<br />
encontrados.<br />
“...é necessário<br />
compreender o trabalho<br />
policial como uma via<br />
de mão dupla, onde<br />
ele deve ser respeitado<br />
pela socie<strong>da</strong>de, e a<br />
respeita.”<br />
No Rio de Janeiro isso é muito evidente,<br />
pois as comunicações ultrapassam as<br />
barreiras nacionais, dos estados, e pela<br />
alta tecnologia, estabelece um rápido e<br />
contínuo fluxo de <strong>da</strong>dos fazendo com<br />
que sons, imagens e textos cruz<strong>em</strong> o<br />
Planeta de forma aberta, s<strong>em</strong> controle<br />
e s<strong>em</strong> limites. Talvez aí esteja uma <strong>da</strong>s<br />
razões pelas quais essa ci<strong>da</strong>de é uma<br />
<strong>da</strong>s mais violentas na visão dos povos.
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
53
segurança pública<br />
A “Ci<strong>da</strong>de Maravilhosa” encanta o<br />
mundo com suas belas praias e com<br />
suas lin<strong>da</strong>s mulheres. O que mais se<br />
evidencia nos meios de comunicações<br />
não se vincula tão-somente às mulheres<br />
mais lin<strong>da</strong>s desta nação, mas<br />
também, e muito fort<strong>em</strong>ente, é trata<strong>da</strong><br />
a atuação do tráfico de drogas,<br />
quadrilhas organiza<strong>da</strong>s e outras ações<br />
do gênero. Uma luta arma<strong>da</strong>, diz<strong>em</strong><br />
uns. Guerra urbana, diz<strong>em</strong> outros. É o<br />
Comando Vermelho. É o PCC... Enfim,<br />
a violência ganha o imaginário dos<br />
brasileiros.<br />
E as forças policiais? Como é o enfrentamento<br />
dessa ver<strong>da</strong>deira crise social?<br />
O policial, por ser a primeira referência<br />
no combate a todo o tipo de mazela,<br />
e, por ser a representação do Estado<br />
nos mais diversos locais, recebe todo<br />
tipo de impacto, principalmente o<br />
psicológico.<br />
A pesquisa feita por Edinilsa Ramos<br />
de Souza, Maria Celina de Souza<br />
Minayo e Patrícia Constantino, do<br />
Centro Latino-Americano de Estudos<br />
<strong>da</strong> Violência e Saúde (Claves), <strong>da</strong><br />
Fun<strong>da</strong>ção Oswaldo Cruz, revelou que<br />
13,9% dos Oficiais <strong>da</strong> PM do Rio de<br />
Janeiro usam tranquilizantes. Entre os<br />
medicamentos mais utilizados estão<br />
ansiolíticos (que diminu<strong>em</strong> ansie<strong>da</strong>de<br />
e tensão), barbitúricos (calmantes),<br />
se<strong>da</strong>tivos e anfetaminas (r<strong>em</strong>édios<br />
para <strong>em</strong>agrecer). Esse percentual está<br />
acima do padrão nacional <strong>da</strong> população,<br />
que gira <strong>em</strong> torno de 5,8%,<br />
entre os jovens, segundo a pesquisadora<br />
Edinilsa Ramos de Souza.<br />
Tal pesquisa identificou ain<strong>da</strong> que<br />
para suportar a pressão e o estresse<br />
<strong>da</strong> rotina do trabalho e <strong>da</strong> violência<br />
na ci<strong>da</strong>de, que é vivencia<strong>da</strong> <strong>em</strong> ca<strong>da</strong><br />
escala de serviços dos policiais cariocas,<br />
13,9% dos oficiais, subtenentes<br />
e sargentos, além de 8,5% dos cabos<br />
e sol<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Polícia Militar do Rio<br />
de Janeiro, faz<strong>em</strong> uso constante de<br />
tranquilizantes.<br />
54 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
Uma conclusão <strong>da</strong> pesquisa foi<br />
que, para extravasar os momentos<br />
de estresse, tensão, risco e falta de<br />
condições satisfatórias de trabalho,<br />
48% dos oficiais, subtenentes e<br />
sargentos e 44,3% dos cabos e<br />
sol<strong>da</strong>dos consom<strong>em</strong> bebi<strong>da</strong> alcoólica<br />
s<strong>em</strong>analmente.<br />
Pelos <strong>da</strong>dos apresentados, pod<strong>em</strong>os<br />
inferir que os Policiais Cariocas viv<strong>em</strong><br />
numa pilha de nervos. Por outro<br />
lado, esse quadro especial vivido<br />
pela Polícia Militar do Rio de Janeiro,<br />
caracterizado pela forte tensão, é um<br />
quadro passível de estar presente <strong>em</strong><br />
to<strong>da</strong>s as forças policiais dos estados<br />
brasileiros que, de modo geral, viv<strong>em</strong><br />
no desconforto, na descrença, na<br />
desvalorização, no menosprezo e<br />
relega<strong>da</strong>s à própria sorte.<br />
A apatia do poder público, <strong>em</strong> grande<br />
parte, somado aos reveses constantes<br />
de políticos que teimam <strong>em</strong> intervir nos<br />
casos de polícia com o jargão “você<br />
sabe com qu<strong>em</strong> está falando?”, gera o<br />
caos e grande prejuízo ao b<strong>em</strong>-comum.<br />
Este estudo <strong>da</strong> Fiocruz mostra, dentre<br />
outras coisas, que 48% dos oficiais<br />
beb<strong>em</strong> s<strong>em</strong>analmente; também que<br />
“o consumo de bebi<strong>da</strong> está dentro do<br />
padrão <strong>da</strong> população, <strong>da</strong>quelas pessoas<br />
que tomam um chopinho no fim<br />
de s<strong>em</strong>ana, mas o percentual dos que<br />
usam tranquilizantes é preocupante.<br />
Chama a atenção para a quanti<strong>da</strong>de<br />
de policiais que precisa recorrer a<br />
medicamentos para dormir e relaxar.”<br />
Esse quadro <strong>em</strong> que “os policiais não<br />
consegu<strong>em</strong> relaxar e dormir”; <strong>em</strong> que<br />
isso não significa estar dependentes ou<br />
viciados, mostra que “é necessário criar<br />
uma instância dentro <strong>da</strong> corporação<br />
para tratar <strong>da</strong> saúde mental desses<br />
policiais”, esclarece Edinilza.<br />
Esse quadro traz para discussão outro<br />
lado <strong>da</strong> Segurança Pública: a Saúde<br />
Psicológica dos Policiais <strong>da</strong>s Polícias<br />
Militares. Não só <strong>da</strong>s Polícias Militares,<br />
mas de to<strong>da</strong>s as Forças Policiais, por<br />
decorrência de tensão e violência na<br />
ci<strong>da</strong>de - onde os índices de criminali<strong>da</strong>de<br />
são altos - gera angústia, medo<br />
e estresse.<br />
Tais situações vivencia<strong>da</strong>s pelos<br />
policiais reabr<strong>em</strong> também a discussão<br />
sobre o sentido que a pessoa do<br />
profissional dá ao seu desenvolvimento<br />
enquanto policial. Como ele<br />
se sente no mundo, e como reage às<br />
adversi<strong>da</strong>des no diálogo social com as<br />
pessoas que deve proteger. Nessa circunstância,<br />
a participação <strong>da</strong> pessoa,<br />
enquanto profissional de Segurança<br />
Pública, passa pela visão de mundo<br />
que estabelece com seu entorno e nas<br />
rotinas especificas <strong>da</strong> ação no dia-adia<br />
de suas ativi<strong>da</strong>des.<br />
Essas situações e outras imprevistas,<br />
alia<strong>da</strong>s às condições muitas vezes<br />
precárias de trabalho, como também à<br />
falta de equipamentos adequados e ao<br />
constante risco de morte, transformam<br />
as pessoas numa pilha de nervos.<br />
Durante a pesquisa, muitos policiais<br />
confidenciaram que “não faz<strong>em</strong> o tratamento<br />
por se sentir<strong>em</strong> discriminados,<br />
não só no trabalho, mas também pela<br />
família e pela socie<strong>da</strong>de.”<br />
Constatou-se que todos os policiais<br />
estão trabalhando normalmente <strong>em</strong><br />
suas funções dentro dos batalhões.<br />
Os oficiais revelam mais probl<strong>em</strong>as<br />
que os PMs que admitiram consumir<br />
bebi<strong>da</strong>s alcoólicas ou tranquilizantes,<br />
cerca de 90% são oficiais, suboficiais<br />
ou sargentos. Devido ao estresse, são<br />
eles os que mais se arriscam <strong>em</strong> fazer<br />
sexo s<strong>em</strong> proteção (21,9% contra<br />
18,6% de cabos e sol<strong>da</strong>dos), mais<br />
têm probl<strong>em</strong>as com a família (15,9%<br />
contra 13,2%) e mais têm crises<br />
nervosas (13,1% contra 9%). Os<br />
cabos e sol<strong>da</strong>dos só superam os seus<br />
superiores <strong>em</strong> acidentes de trânsito<br />
(6,3% contra 5,1%).
segurança pública<br />
O quadro não é na<strong>da</strong> salutar e abre,<br />
nesse caso, a possibili<strong>da</strong>de de reação<br />
<strong>da</strong>s lideranças na busca de sintonia <strong>em</strong><br />
face <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de investimento<br />
no policial enquanto gente, com sua<br />
“alma profissional” promissora,<br />
que se enquadre como a “alma do<br />
Ser”. Essa possibili<strong>da</strong>de certamente<br />
reaproximará o policial <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de,<br />
mas e especificamente possibilitará o<br />
encontro com ele mesmo.<br />
Entend<strong>em</strong>os que o assunto não se<br />
esgota de pronto, ao contrário, t<strong>em</strong><br />
o propósito de despertar os pesquisadores<br />
para um assunto muito<br />
delicado que precisa ser pesquisado<br />
e aprofun<strong>da</strong>do. Proponho-me a isso<br />
através do Centro de Estudos e Pesquisa<br />
<strong>em</strong> Segurança Pública - CEPESP,<br />
<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>.<br />
Parto do pressuposto de que uma<br />
pesquisa do gênero poderá objetivar<br />
o restabelecimento <strong>da</strong> confiança no<br />
trabalho <strong>da</strong> polícia ao fomentar na<br />
socie<strong>da</strong>de o ver<strong>da</strong>deiro contexto de<br />
atuação dos policiais, cuja abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />
por grande parte dos “especialistas<br />
<strong>em</strong> Segurança Pública” ain<strong>da</strong> é um<br />
tanto quanto acadêmica e ressoa no<br />
meio o necessário velamento pelos<br />
profissionais que já vivenciaram a<br />
profissão.<br />
Tal contribuição por aqueles que já<br />
experienciaram o “ser policial” poderá<br />
trazer algo novo, mesmo porque<br />
ain<strong>da</strong> estão tímidos na contribuição,<br />
e fornecer um novo conceito, ou um<br />
conceito novo, para a função dos<br />
profissionais de polícia é um dos fun<strong>da</strong>mentos<br />
nessa cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de.<br />
Por outro lado, permito-me discor<strong>da</strong>r<br />
<strong>em</strong> breve comentário <strong>da</strong> grande<br />
pesquisadora Edinilsa a partir do<br />
ponto de vista de que os oficiais não<br />
faz<strong>em</strong> a linha de frente. Ao contrário,<br />
os próprios noticiários dão conta que<br />
nas incursões <strong>em</strong> favelas e nas mais<br />
diversas operações, lá estão eles na<br />
coordenação, no enfrentamento e<br />
junto de sua tropa choram as suas<br />
vitórias e suas derrotas. Choram<br />
sua vi<strong>da</strong> e sua morte, isto no Rio de<br />
Janeiro, e noutros Estados brasileiros,<br />
lá estão eles: na linha de frente dos<br />
confrontos.<br />
Em Minas Gerais, <strong>em</strong>bora a criminali<strong>da</strong>de<br />
e a violência estejam <strong>em</strong><br />
processo de “controle estatístico”,<br />
ain<strong>da</strong> assustam as pessoas. Os policiais,<br />
independente do posto ou <strong>da</strong><br />
graduação, estão na “linha de frente<br />
do combate”, mesmo porque existe<br />
uma meta para ser cumpri<strong>da</strong> no que<br />
tange ao controle <strong>da</strong> violência. Todos<br />
indistintamente precisam “combater<br />
um bom combate”, mesmo porque<br />
isto significa um “adjutório” como<br />
um bônus pelo alcance <strong>da</strong> meta.<br />
Exige-se de todos compromisso,<br />
responsabili<strong>da</strong>de, leal<strong>da</strong>de à causa,<br />
técnica, disciplina e profissionalismo<br />
conjugado com o desenvolvimento<br />
<strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des técnicas, humanas e<br />
conceituais dos profissionais de Defesa<br />
Social. Por isso, precisamos pensar<br />
num novo modelo de investimento na<br />
pessoa, que ultrapasse o logístico.<br />
“Os policiais,<br />
independente do posto<br />
ou <strong>da</strong> graduação, estão<br />
na “linha de frente<br />
do combate”, mesmo<br />
porque existe uma<br />
meta para ser cumpri<strong>da</strong><br />
no que tange ao<br />
controle <strong>da</strong> violência.”<br />
Uma forma de investir ou reinvestir<br />
como um necessário nessa nova época<br />
poderá ocorrer pela utilização <strong>da</strong> psicologia<br />
como instrumento de atuação<br />
e inovação; mas também investir na<br />
formação periódica dos policiais, cui<strong>da</strong>ndo<br />
dos aspectos biopsicossociais<br />
como forma de prevenção de futuros<br />
probl<strong>em</strong>as comportamentais arrostados<br />
nas estruturas institucionais,<br />
quando o policial precisa ser afastado<br />
do trabalho, causando déficit de<br />
pessoal e gastos <strong>em</strong> sua recuperação,<br />
t<strong>em</strong> sua importância.<br />
Nesse contexto, o policial está<br />
colocado no ambiente de trabalho e<br />
fora dele. Enquanto no ambiente de<br />
trabalho deve-se ser oportuno e não<br />
ocasional. Etimologicamente a palavra<br />
trabalho v<strong>em</strong> do latim tripalium, que<br />
está associado à tortura. Por outro<br />
lado, trabalhar não deve ser sacrifício<br />
ao sofrimento. A compreensão é de<br />
que trabalhar é aceitar responsabili<strong>da</strong>de<br />
e, também, deixar espaço para<br />
autocrítica por fracassos. O prazer<br />
v<strong>em</strong> de sentimentos de sucesso, de<br />
valorização moral, de cumprimento<br />
<strong>da</strong>s responsabili<strong>da</strong>des.<br />
O policial passa por algo s<strong>em</strong>elhante.<br />
Há um massacre social sobre suas<br />
ações e eles ficam com corpos e almas<br />
moídos e se torturam pelas incertezas.<br />
Isso é sofrer, e alguns sofr<strong>em</strong> d<strong>em</strong>asia<strong>da</strong>mente.<br />
Há um novo modelo de<br />
existência na cont<strong>em</strong>poranei<strong>da</strong>de,<br />
que t<strong>em</strong> uma “marca” diferencia<strong>da</strong> e<br />
muito específica.<br />
Rojas (1996) nomeia este novo modelo<br />
de existência como uma “vi<strong>da</strong><br />
light”, “onde tudo está s<strong>em</strong> calorias,<br />
s<strong>em</strong> gosto ou interesse, a essência <strong>da</strong>s<br />
coisas não importa, só o que é quente<br />
e superficial.”<br />
A cultura cont<strong>em</strong>porânea produz uma<br />
neurose caracteriza<strong>da</strong> não pela falta<br />
de conhecimento interno, mas por<br />
uma carência de propósito e de um<br />
significado para a vi<strong>da</strong>. O indivíduo<br />
cont<strong>em</strong>porâneo é levado a colocar a<br />
significação de sua vi<strong>da</strong> nos objetos<br />
(Parecer-Ter).<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
55
segurança pública<br />
Diante <strong>da</strong> per<strong>da</strong> do objeto no qual<br />
colocou o sentido de sua vi<strong>da</strong>, no caso<br />
o “ser policial”, o profissional passa<br />
a julgar-se incompetente, incapaz,<br />
exposto ao medo e à impotência - características<br />
observáveis nos traumas<br />
patológicos - pode-se até entrar num<br />
processo depressivo. A depressão,<br />
além de outras tantas doenças, pode<br />
ser utiliza<strong>da</strong> pelo indivíduo como<br />
refúgio, numa tentativa de justificar<br />
o medo de enfrentar desafios e os<br />
riscos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Muitas vezes, a angústia<br />
e a tristeza são nomea<strong>da</strong>s de<br />
“depressão”, sendo trata<strong>da</strong>s como<br />
doenças, dignas de ser<strong>em</strong> cura<strong>da</strong>s.<br />
Sentindo-se diferente dos outros,<br />
o doente geralmente é excluído e<br />
se exclui <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des que os<br />
d<strong>em</strong>ais gozam. Como consequência,<br />
permanece isolado, e, ilusoriamente,<br />
protegido.<br />
Em nosso país encontramos alguns<br />
<strong>da</strong>dos que sãos relevantes por d<strong>em</strong>onstrar<br />
como são altos os índices<br />
de probl<strong>em</strong>as psicológicos porque<br />
passam os policiais, decorrentes de<br />
uma visão cont<strong>em</strong>porânea do probl<strong>em</strong>a.<br />
A pressão e o estresse sofridos<br />
estão dentre as principais causas de<br />
afastamento do trabalho dentro <strong>da</strong>s<br />
corporações.<br />
Evident<strong>em</strong>ente que, comparando o<br />
policial com outras profissões, e tendo<br />
consciência de que ele, vivendo uma<br />
<strong>da</strong>s profissões <strong>da</strong>s mais estressantes,<br />
aliado ao grande risco de vi<strong>da</strong>, pod<strong>em</strong>os<br />
caminhar para o sentido de que<br />
ele está mais sujeito a ter probl<strong>em</strong>as<br />
psicológicos do que diversas outras<br />
profissões.<br />
Tal situação acaba influenciando no<br />
rendimento do trabalho e prejudicando<br />
os serviços prestados. Por isso,<br />
pretende-se, por meio <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção<br />
<strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>, desenvolver uma<br />
pesquisa <strong>em</strong> Minas Gerais, e oferecer<br />
às autori<strong>da</strong>des propostas para implantar<br />
um Programa de Prevenção<br />
56 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
e Gerenciamento de Depressão e<br />
Estresse do Policial (PPGDEP).<br />
O objeto passa pelo diagnóstico dos<br />
fatores causadores de depressão e de<br />
estresse, associado à ideia de propor<br />
e fortalecer intervenções no ambiente<br />
de trabalho. Também, oferecer apoio<br />
aos policiais no trato com as questões<br />
que envolv<strong>em</strong> depressão e estresse,<br />
melhorando, assim, as condições<br />
<strong>em</strong>ocionais para o enfrentamento<br />
<strong>da</strong>s situações de trabalho. Um projeto<br />
assim requer, no mínimo, um ano para<br />
ser concebido, e sua abrangência<br />
chegará, com certeza, a beneficiar<br />
mais de 40.000 profissionais.<br />
O projeto parte do pressuposto <strong>da</strong><br />
necessi<strong>da</strong>de de ações que ajust<strong>em</strong><br />
um serviço de caráter preventivo e<br />
<strong>em</strong>ergencial de apoio aos policiais<br />
que necessitar<strong>em</strong> de um espaço para<br />
a escuta de suas queixas <strong>em</strong>ocionais<br />
e físicas, sabendo-se, desde já, que o<br />
serviço poderá ser insuficiente para<br />
atender à d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>, e precisa-se ir<br />
além.<br />
Ir além implica pensar na psicoterapia<br />
como fun<strong>da</strong>mento para que a pessoa<br />
retorne ao seu equilíbrio pessoal e<br />
que encontre um b<strong>em</strong>-estar que o<br />
conduza à harmonia consigo e com<br />
o ambiente no seu entorno. Há um<br />
desejo de alcançá-lo imediatamente<br />
para manter-se num estado <strong>em</strong><br />
que sinta-se protegido e a salvo de<br />
qualquer risco que a “vi<strong>da</strong>” possa<br />
lhe proporcionar. A Clínica Psicológica<br />
t<strong>em</strong> esse fun<strong>da</strong>mento de proporcionar<br />
b<strong>em</strong>-estar, mesmo porque seu estado<br />
é de fragili<strong>da</strong>de, e não consegue se<br />
sustentar ao entrar <strong>em</strong> contato com<br />
a própria angústia e esta lhe favorece<br />
uma relação com o sofrimento que<br />
quer evitar.<br />
Tal propósito ganha sua notorie<strong>da</strong>de<br />
a partir <strong>da</strong> constatação de que, para<br />
o exercício <strong>da</strong> função policial, não<br />
basta tão somente preparo físico,<br />
mas também apoio psicológico. Nesse<br />
sentido, penso que dev<strong>em</strong>os ain<strong>da</strong><br />
refletir sobre a importância do uso <strong>da</strong><br />
psicologia na capacitação periódica<br />
dos policiais, como forma de resgatar<br />
valores perdidos e verificar, através<br />
de experiências diversas, se o investimento<br />
<strong>em</strong> capacitação, preparação e<br />
seu desenvolvimento, estão perenes<br />
e institucionalizados. Isso está no<br />
cotidiano.<br />
Por isso mesmo, pensamos na psicoterapia<br />
como um dos meios para<br />
o desenvolvimento pessoal e profissional,<br />
aliando-se às características<br />
de uma melhor quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> no<br />
trabalho.<br />
A psicoterapia, como forma de<br />
trabalho preventivo, poderá resgatar<br />
a autoestima do policial aju<strong>da</strong>ndo-o<br />
nesse contexto, pois ele será aju<strong>da</strong>do<br />
a <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong>s circunstâncias do<br />
vivido e <strong>da</strong>s questões cotidianas,<br />
compactuando com a socie<strong>da</strong>de maior<br />
confiança na conexão profissional,<br />
com ele mesmo e com o meio, além<br />
de propiciar um enquadre no sentido<br />
de ser.<br />
“A psicoterapia, como<br />
forma de trabalho<br />
preventivo, poderá<br />
resgatar a autoestima<br />
do policial aju<strong>da</strong>ndo-o<br />
nesse contexto.”<br />
A Psicoterapia Existencial, que se<br />
caracteriza como uma investigação<br />
com o indivíduo, na busca de lhe fazer<br />
sobressair ou revelar, livr<strong>em</strong>ente, o<br />
que nele há de individual, particular,<br />
único e concreto, poderá ser uma <strong>da</strong>s<br />
referências no processo.<br />
Nesse ambiente, o policial fará a<br />
busca de sua autoexpressão mais<br />
autêntica e do compromisso sincero
segurança pública<br />
com as próprias escolhas existenciais,<br />
sabendo-se que a forma mais comum<br />
na qual o hom<strong>em</strong> se encontra no<br />
mundo é exatamente essa busca por<br />
segurança, ao que Heidegger denominou<br />
de um “modo impessoal”.<br />
Embora possa existir certa “tranquili<strong>da</strong>de”<br />
desse ser “impróprio”,<br />
não há possibili<strong>da</strong>de de inativi<strong>da</strong>de<br />
e, sim movimentação, mobilização.<br />
Heidegger (1988, p.239) afirma que<br />
já não há mais repouso, entretanto,<br />
é essa tranquili<strong>da</strong>de tentadora que<br />
aumenta a decadência.<br />
Por outro lado, a inquietação de tudo<br />
saber traz uma ilusão de uma compreensão<br />
ampla do próprio Dasein,<br />
porque o que se deve compreender é<br />
que s<strong>em</strong>pre há um<br />
poder-ser que só pode ser liberado<br />
no Dasein mais próprio. Nessa<br />
comparação de si mesmo com tudo,<br />
tranquilo, e que tudo “compreende”,<br />
o Dasein conduz-se a uma alienação<br />
na qual se lhe encobre o seu poderser<br />
mais próprio. O ser-no-mundo <strong>da</strong><br />
decadência, tentador e tranquilizante<br />
é também alienante (HEIDEGGER,<br />
1989, p.239).<br />
Essa singularização, para Heidegger, é<br />
uma dinâmica cujo âmbito possibilita<br />
o ser-aí onde o seu poder-ser singulariza-se.<br />
O fenômeno <strong>da</strong> angústia<br />
dissolve o sentido público, mediano<br />
e impessoal dos entes intramun<strong>da</strong>nos<br />
lançando o “Dasein diante de uma<br />
liber<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de de<br />
singularizar-se na escolha de suas<br />
possibili<strong>da</strong>des próprias”.<br />
Compreende-se com Heidegger que<br />
a angústia descerra o ser-aí como ser<br />
possível, e, <strong>em</strong> ver<strong>da</strong>de, como aquele<br />
que, unicamente a partir de si mesmo,<br />
pode ser como ser-aí singularizado<br />
no interior de uma dinâmica de<br />
singularização.<br />
Nesse sentido, o hom<strong>em</strong> como<br />
ser-possível <strong>da</strong> singularização, s<strong>em</strong><br />
acolher a própria angústia, desviase<br />
do que lhe é mais incomodo na<br />
busca do estável, do imediatismo <strong>da</strong><br />
fuga. Esse lugar, no entanto, só lhe<br />
oferece o ensejo de um sofrimento<br />
mais contínuo, por restringir sua visão<br />
acerca de outras resoluções possíveis<br />
para seus conflitos. Isto só é possível<br />
pela abertura que se dá do Dasein aos<br />
entes que lhe v<strong>em</strong> ao encontro, fazse<br />
s<strong>em</strong>pre de um modo restrito não<br />
abrangendo a totali<strong>da</strong>de do seu ser.<br />
O objetivo <strong>da</strong> psicoterapia existencial,<br />
portanto, é ampliar o campo perceptível,<br />
elevar a sensibili<strong>da</strong>de para as<br />
experiências <strong>em</strong> suas possibili<strong>da</strong>des<br />
e <strong>em</strong> sua totali<strong>da</strong>de. Através do<br />
conhecimento de seu “ser”, do modo<br />
como se coloca junto-com as pessoas<br />
e como experimenta as experiências<br />
que o cercam. Em outras palavras,<br />
o ser assume o seu estado de ser<br />
humano <strong>em</strong> processo, um ser-sendo.<br />
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<strong>em</strong> psicoterapia Vivencial. Rio de Janeiro:<br />
Editora Livro Pleno, 2004.<br />
FEIJOO, Ana Maria Lopescalvo. A escuta e a fala<br />
<strong>em</strong> psicoterapia: uma proposta fenomenológicoexistencial.<br />
São Paulo: Vetor, 2000.<br />
FUNDACENTRO. Estatísticas sobre acidentes e<br />
doenças do trabalho. Brasília, 2007. Disponível<br />
<strong>em</strong>: <br />
Acesso <strong>em</strong>: 12 maio 2008.<br />
HEIDEGGER, M. Ser e t<strong>em</strong>po. Petrópolis: Vozes,<br />
1989. Pate I e II. p. 262 e 325.<br />
ROJAS, Enrique. El hombre light: uma vi<strong>da</strong> sin<br />
valores. Madrid: T<strong>em</strong>as de Hoy, 1996.<br />
SELYE, Hans. A Syndrome produced by diverse<br />
nocuous agents. Nature, v. 138, p. 32, jul. 1936.<br />
O objetivo <strong>da</strong><br />
psicoterapia<br />
existencial, portanto,<br />
é ampliar o campo<br />
perceptível, elevar a<br />
sensibili<strong>da</strong>de para as<br />
experiências <strong>em</strong> suas<br />
possibili<strong>da</strong>des e <strong>em</strong><br />
sua totali<strong>da</strong>de.<br />
SILVA, Cel. José Vicente <strong>da</strong>. Stress policial. Jornal<br />
<strong>da</strong> Tarde, São Paulo, 09 nov. 2000. Disponível<br />
<strong>em</strong>: . Acesso <strong>em</strong>: 20 jul. 2009.<br />
SOUZA, Edinilsa Ramos de; MINAYO, Maria<br />
Celina de Souza e CONSTANTINO, Patrícia<br />
[coords.]. Missão Prevenir e Proteger: condições<br />
de vi<strong>da</strong>, trabalho e saúde dos policiais militares<br />
do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008.<br />
328 p.<br />
* Graduado <strong>em</strong> Psicologia - Centro Universitário<br />
Newton Paiva; Especialização <strong>em</strong> Psicologia<br />
Clínica - iniciado <strong>em</strong> 2008 - Instituto de Psicologia<br />
Fenomenológico-Existencial - do Rio de Janeiro;<br />
Pós-Graduação <strong>em</strong> Criminologia – Acadepol; Curso<br />
de Atualização <strong>em</strong> Psicologia, Psiquiatria e Criminologia<br />
Forense - UFMG; Curso de Parapsicologia -<br />
Instituto Brasileiro de Psicologia; Curso de Psicopatologia<br />
<strong>da</strong> Infância e Adolescência (60 horas) -<br />
Portal Educação; Curso de Educação Inclusiva (80<br />
horas) - Portal Educação; Curso de Psicodiagnóstico<br />
(100 horas) - Portal Educação; Curso de Educação<br />
Especial (80 horas)-Portal Educação; Pós-Graduado<br />
<strong>em</strong> Administração de Micro e Pequenas Empresas -<br />
Universi<strong>da</strong>de Federal de Lavras; Especialista <strong>em</strong><br />
Segurança Pública - Policia Militar de Minas Gerais;<br />
Graduado <strong>em</strong> Direito - FADOM; Curso de Prevenção<br />
de Sinistros Contra Bases e Transporte de Valores -<br />
Rodobam; Curso de Segurança e Proteção de<br />
Autori<strong>da</strong>des e Dignitários <strong>em</strong> Brasília - ESG;<br />
Coronel <strong>da</strong> Policia Militar do Estado de Minas<br />
Gerais - Coman<strong>da</strong>nte-Geral 2001-2003.<br />
<strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
57
especial<br />
Ciência e Harmonia.<br />
O Folclore, como objeto <strong>da</strong> Folclorologia<br />
— área de conhecimento<br />
<strong>da</strong> sabedoria popular tradicional<br />
—, pertence ao Universo, e não a<br />
apenas determina<strong>da</strong> região, estado,<br />
país ou continente. Por isso, a notável<br />
coerência de Saul Alves Martins<br />
substitui a restritivista preposição de<br />
pela a ela oposta e panoramicista<br />
<strong>em</strong>, na segun<strong>da</strong> edição de seu<br />
denso e valioso Livro dedicado ao<br />
esquadrinhamento estético-didático<br />
<strong>da</strong> Ciência do Popular: FOLCLORE<br />
EM (e não DE) MINAS GERAIS, primosamente<br />
lançado, <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro<br />
de 1991, pela respeitável Editora <strong>da</strong><br />
Universi<strong>da</strong>de Federal de Minas Gerais.<br />
Tal Livro é substancial a qu<strong>em</strong><br />
preten<strong>da</strong> conhecer, com rigor metodológico<br />
e vigor científico, os meios<br />
tradicionais e os modos espontâneos<br />
de sentir, fazer, pensar e agir <strong>da</strong> Gente<br />
nasci<strong>da</strong> ou assenta<strong>da</strong> <strong>em</strong> Minas<br />
Gerais, e a maneira como se exprime<br />
essa mesma Gente, dona de gostosas<br />
particulari<strong>da</strong>des <strong>em</strong>buti<strong>da</strong>s na amplidão<br />
cósmica e espirituosa <strong>em</strong> cujos<br />
domínios viceja a Teoria <strong>da</strong>s Coisas<br />
Realiza<strong>da</strong>s pelo “Grande Número”!<br />
Folclore na Escola, Danças Folclóricas,<br />
Literatura Oral, Linguag<strong>em</strong> Popular,<br />
Cultos Populares, Culinária, Folguedos<br />
Folclóricos, Folclore e Turismo,<br />
Outras Manifestações Folclóricas e Calendário<br />
de Festas Tradicionais faz<strong>em</strong> o<br />
miolo principal dessa Obra magnífica!<br />
Para facilitação <strong>da</strong> vontade<br />
dos apreciadores e <strong>da</strong>s tarefas dos<br />
consulentes e pesquisadores dos<br />
saberes <strong>da</strong> Sabedoria Popular, FOL-<br />
CLORE EM MINAS GERAIS regala-se,<br />
nas respectivas páginas finais, com<br />
58 <strong>FGR</strong> EM REVISTA<br />
deliciosas partituras de melodias <strong>da</strong>s<br />
cantigas do Povo e inteligente e prestimoso<br />
índice analítico e r<strong>em</strong>issivo.<br />
Poeta admirável e zeloso conhecedor<br />
<strong>da</strong> norma culta e estilística <strong>da</strong><br />
Língua Portuguesa, o Ensaísta Saul<br />
Alves Martins amansa a casmurrice<br />
<strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> dissertativa <strong>da</strong> Etnologia<br />
e, com seu texto eufônico<br />
e elegante, conciso e agradável,<br />
escorreito e luminoso, transforma a<br />
rispidez unissignificativa e doutoral<br />
<strong>da</strong>s Ciências Sociais <strong>em</strong> beleza informativa<br />
e, mercê de sua prodigiosa<br />
plástica vocabular, <strong>em</strong> fonte de<br />
erudição, entretenimento e alegria a<br />
leitores e ledores graúdos ou singelos.<br />
Trata-se de engenho concomitant<strong>em</strong>ente<br />
científico e harmonioso,<br />
como o são todos os ensaios<br />
construídos por Saul Alves Martins!<br />
Gosto de FOLCLORE EM MINAS<br />
GERAIS, porque nele sinto a energia<br />
<strong>da</strong> Linguag<strong>em</strong> formosa, aprecio<br />
João Bosco de Castro*.<br />
a consistência do Texto superior,<br />
aprendo a substância <strong>da</strong>s Coisas<br />
feitas pelo “Grande Número” e<br />
encontro o hálito lúdico reinante na<br />
Oficina dos Folguedos e Expressões<br />
Populares saborosamente aberta<br />
às Animações e Festas Populares<br />
e à Literatura Oral e Linguag<strong>em</strong><br />
Popular, tão consentâneas com a<br />
índole e os padrões <strong>da</strong> Gente Mineira.<br />
Esta apreciação etnológica valoriza<br />
o Folclore — <strong>em</strong> agosto, mês de sua<br />
celebração universal — e homenageia<br />
o Professor-Doutor Coronel Saul Alves<br />
Martins, o Príncipe dos Folclorólogos<br />
Brasileiros.<br />
* Da Acad<strong>em</strong>ia de Letras “João <strong>Guimarães</strong> <strong>Rosa</strong>”,<br />
<strong>da</strong> Polícia Militar de Minas Gerais, e Acad<strong>em</strong>ia<br />
Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias (Rio<br />
de Janeiro – RJ). Professor Titular — ao nível<br />
de Mestre, Doutor e Livre-Docente — de Crítica<br />
Textual aplica<strong>da</strong> às Ciências Militares na Acad<strong>em</strong>ia<br />
de Polícia Militar do Prado Mineiro.<br />
Folclorólogo Saul Alves Martins e o Gerente do Departamento Social <strong>da</strong> <strong>FGR</strong>, Zilton Ribeiro<br />
do Patrocínio.
FUNDAÇÃO GUIMARÃES ROSA