23.10.2013 Views

A fase da onda eletromagnética

A fase da onda eletromagnética

A fase da onda eletromagnética

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong> 67<br />

A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> 4<br />

<strong>eletromagnética</strong><br />

4.1 Veloci<strong>da</strong>des de <strong>fase</strong> e de grupo. Dispersão<br />

Como vimos no capítulo anterior, a on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong> é<br />

caracteriza<strong>da</strong> por uma <strong>fase</strong> que possui dependência nas coordena<strong>da</strong>s<br />

espaciais e temporal, φ = φ( r ,t). Esta grandeza é a característica mais<br />

importante <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong> já que define a direção de<br />

propagação, através do gradiente <strong>da</strong> função eikonal (vide Cap. 2), a<br />

frequência e também sua veloci<strong>da</strong>de de propagação. No presente capítulo,<br />

vamos concentrar nossa atenção aos aspectos ligados à frequência e<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> on<strong>da</strong>, e como proceder para transmitir informações através<br />

dela.<br />

De acordo com o exposto no Cap. 3, as coordena<strong>da</strong>s espaciais e<br />

temporal <strong>da</strong>s <strong>fase</strong>s <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s analisa<strong>da</strong>s estão separa<strong>da</strong>s em dois termos,<br />

<strong>da</strong> forma k. r r<br />

-ωt. Entretanto, pode acontecer o caso em que estas<br />

coordena<strong>da</strong>s estão mistura<strong>da</strong>s, e um exemplo disto é quando o índice de<br />

refração depende do tempo. Como k é proporcional a n, a <strong>fase</strong> passa a ser<br />

r r<br />

φ(r,t)= k(<br />

t).<br />

r −ωt, que é conheci<strong>da</strong> como <strong>fase</strong> generaliza<strong>da</strong>. A frequência<br />

<strong>da</strong> on<strong>da</strong> estará então associa<strong>da</strong> à variação temporal <strong>da</strong> <strong>fase</strong> generaliza<strong>da</strong>,<br />

tópico que veremos com mais detalhes quando tratarmos <strong>da</strong> modulação<br />

eletro-óptica e varredura de frequência. Por enquanto, vamos concentrar<br />

nossa atenção na veloci<strong>da</strong>de de propagação <strong>da</strong> on<strong>da</strong>. Começaremos por<br />

dizer que quando se deseja transmitir sinais, é impossível fazê-lo através<br />

de uma on<strong>da</strong> de frequência única (monocromática), porque os detetores<br />

existentes medem a intensi<strong>da</strong>de do sinal e não a <strong>fase</strong>. Para tal fim,<br />

devemos modular a on<strong>da</strong>, como explicado a seguir.<br />

S. C. Zilio Óptica Moderna – Fun<strong>da</strong>mentos e Aplicações


68<br />

A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong><br />

Vamos considerar duas on<strong>da</strong>s planas monocromáticas, de<br />

frequências ω + Δω e ω − Δω, propagando-se ao longo <strong>da</strong> direção z, com<br />

os correspondentes vetores de on<strong>da</strong> k + Δk e k − Δk. Aplicando o princípio<br />

<strong>da</strong> superposição introduzido por Young, temos:<br />

E = E 0exp<br />

E exp<br />

0<br />

{ i ( k + Δk)<br />

z − i ( ω + Δω)<br />

t}<br />

{ i ( k − Δk)<br />

z − i ( ω − Δω)<br />

t}<br />

+<br />

(4.1)<br />

Através de uma manipulação matemática simples desta equação<br />

chegamos a:<br />

E = E 0exp<br />

⇒ E<br />

{ i(<br />

kz − ωt)<br />

} [ exp{<br />

i(<br />

Δkz<br />

− Δωt)<br />

} + exp{<br />

−i<br />

( Δkz<br />

− Δωt)<br />

}]<br />

= 2E<br />

exp{<br />

i(<br />

kz −ωt<br />

) } cos(<br />

Δkz<br />

− Δωt)<br />

0<br />

(4.2)<br />

Como usualmente feito nos livros de eletromagnetismo, tomamos<br />

apenas a parte real desta expressão, o que nos leva a:<br />

( kz − ωt)<br />

cos(<br />

Δkz<br />

− Δ t)<br />

E = 2E<br />

0cos ω<br />

(4.3)<br />

Isto nos dá uma on<strong>da</strong> de frequência ω modula<strong>da</strong> por outra, de frequência<br />

Δω, como mostra a Fig. 4.1.<br />

A<br />

Fig. 4.1 - Modulação <strong>da</strong> amplitude <strong>da</strong> on<strong>da</strong>.<br />

De acordo com a equação anterior, vemos que a on<strong>da</strong> portadora,<br />

de frequência maior, tem a forma cos(kz-ωt) e a modulação é <strong>da</strong><strong>da</strong> por<br />

cos(Δkz − Δωt). Vamos concentrar nossa atenção nos pontos A e B, que<br />

são respectivamente máximos <strong>da</strong> modulação e <strong>da</strong> on<strong>da</strong> portadora, e<br />

determinar as veloci<strong>da</strong>des com que estes pontos se propagam. Estes<br />

máximos satisfazem as condições:<br />

Ponto A: Δkz - Δωt = 2πm (4.4a)<br />

S. C. Zilio Óptica Moderna – Fun<strong>da</strong>mentos e Aplicações<br />

B


A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong> 69<br />

Ponto B: kz - ωt = 2πn (4.4b)<br />

onde m e n são inteiros. Diferenciando z com relação a t nas expressões<br />

acima obtemos:<br />

⎛ dz ⎞ Δω<br />

Ponto A: ⎜ ⎟ = vg<br />

=<br />

(4.5a)<br />

⎝ dt ⎠ Δk<br />

Ponto B:<br />

g<br />

⎛ dz ⎞<br />

⎜ ⎟<br />

⎝ dt ⎠<br />

f<br />

= v<br />

f<br />

ω<br />

=<br />

k<br />

(4.5b)<br />

que são respectivamente as veloci<strong>da</strong>des <strong>da</strong> modulação e <strong>da</strong> on<strong>da</strong><br />

portadora. A veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> on<strong>da</strong> portadora leva o nome de veloci<strong>da</strong>de de<br />

<strong>fase</strong> e a <strong>da</strong> modulação o de veloci<strong>da</strong>de de grupo. Neste caso em que temos<br />

duas on<strong>da</strong>s monocromáticas, o espectro de frequências é composto por<br />

duas “funções delta”. Para o caso de um “pacote” ou grupo de on<strong>da</strong>s cujo<br />

espectro de frequências é uma função caixa, como mostra a Fig. 4.2,<br />

teremos que somar (integrar) to<strong>da</strong>s as componentes de frequências para<br />

encontrar a expressão do campo elétrico como fizemos para as duas on<strong>da</strong>s<br />

monocromáticas na eq. (4.1). Assim,<br />

Δω<br />

ω0<br />

+<br />

2<br />

{ i(<br />

kz − ωt)<br />

} dω<br />

E ( z,<br />

t)<br />

= ∫ E 0 exp<br />

(4.6)<br />

E0<br />

E(ω)<br />

Δω<br />

ω0<br />

−<br />

2<br />

Fig.<br />

4.2 - Espectro de freqüências tipo caixa.<br />

Para efetuar esta integração devemos levar em conta<br />

que pode<br />

haver dispersão do pacote, isto é, k pode ser uma função de ordem<br />

S. C. Zilio Óptica Moderna – Fun<strong>da</strong>mentos e Aplicações<br />

ω0<br />

Δω<br />

ω


70<br />

A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong><br />

superior a ω, como veremos quando tratarmos a interação entre a luz e a<br />

matéria no Cap. 9. Vamos expandir k em torno de ω0, de acordo com:<br />

2 [ ( ω − ) ]<br />

dk<br />

k( ω ) = k 0 + ( ω − ω0<br />

) + ϕ ω<br />

( 4.7)<br />

0<br />

dω<br />

0<br />

O termo quadrático pode ocorrer no caso em que houver<br />

dispersão<br />

no índice de refração, isto é, quando n = n(ω). Desprezando termos de<br />

ordens superiores à linear em ω (caso sem dispersão) temos:<br />

ω<br />

Δω<br />

+<br />

0<br />

2<br />

⎪⎧ ⎡⎛<br />

dk ⎞ ⎤⎪⎫<br />

E ( z,<br />

t)<br />

= ∫ E ⎨ ⎢⎜<br />

+ ω − ω ⎟<br />

0exp<br />

i ⎜k<br />

0 ( 0)<br />

⎟ z−<br />

iωt⎥⎬<br />

dω<br />

(4.8)<br />

Δω<br />

⎪⎩ ⎣⎝<br />

dω<br />

0 ⎠ ⎦⎪⎭<br />

ω0<br />

−<br />

2<br />

Fazendo a substituição Ω = ω − ω0 obtemos:<br />

E(z, t)<br />

Δω<br />

+<br />

2<br />

⎧ ⎡ dk<br />

E 0 exp{<br />

i(<br />

k 0z<br />

ω0t<br />

) } . ∫ exp iΩ z t dΩ<br />

Δω dω 0 ⎭ ⎬⎫<br />

⎤<br />

= −<br />

⎨ ⎢ − ⎥ (4.9)<br />

⎩ ⎣ ⎦<br />

−<br />

2<br />

O primeiro termo desta expressão representa a on<strong>da</strong> portadora e o<br />

segundo é a função forma ou modulação que passaremos a chamar g(z,t).<br />

Assim,<br />

Δω<br />

+<br />

2<br />

g 0<br />

( z,<br />

t)<br />

= E 0<br />

x ∫<br />

Δω<br />

−<br />

2<br />

⎧ ⎡ dk<br />

exp⎨<br />

iΩ<br />

⎢<br />

⎩ ⎣dω<br />

0<br />

⎤⎫<br />

z − t⎥⎬<br />

dΩ<br />

= 2E<br />

⎦⎭<br />

sen φ ⎛ Δω<br />

⎞<br />

⎜ ⎟<br />

φ ⎝ 2 ⎠<br />

(4.10)<br />

onde ⎛ Δω<br />

⎞⎡<br />

dk ⎤<br />

φ = ⎜ ⎟⎢<br />

z − t . A Fig. 4.3 mostra o pacote de on<strong>da</strong>s obtido<br />

⎥<br />

⎝ 2 ⎠⎣dω<br />

0 ⎦<br />

através <strong>da</strong>s equações (4.9) e (4.10). Seu valor máximo ocorre quando φ =<br />

0, ou seja, quando dk z = t. A veloci<strong>da</strong>de com que o pacote se propaga,<br />

dω 0<br />

que é a já conheci<strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de de grupo, é:<br />

dz<br />

v g = =<br />

dt<br />

dω<br />

dk<br />

0<br />

(4.11)<br />

S. C. Zilio Óptica Moderna – Fun<strong>da</strong>mentos e Aplicações


A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong><br />

F ig. 4.3 - Pacote de on<strong>da</strong>s correspondente ao espectro de frequências<br />

tipo caixa.<br />

Se houvéssemos tomado o termo de ordem quadrática na<br />

expansão de k, obteríamos a dispersão do pacote, isto é, ele mu<strong>da</strong>ria de<br />

forma ao se propagar. Isto ocorre porque a veloci<strong>da</strong>de de grupo passaria a<br />

ter um termo dependente <strong>da</strong> freqüência e assim, diferentes componentes<br />

espectrais se propagariam com veloci<strong>da</strong>des diferentes. Desta forma,<br />

haveria uma separação cromática ao longo do pacote, efeito este que leva<br />

o nome de varredura em freqüência. O conhecimento de como um pacote<br />

se dispersa é de muita importância nas telecomunicações, em particular,<br />

quando se pretende transmitir uma seqüência de pulsos curtos numa fibra<br />

óptica. Se a taxa de repetição for alta, os pulsos estarão muito próximos e<br />

poderão se superpor, produzindo confusão na informação que está sendo<br />

transmiti<strong>da</strong>. Deixaremos a análise <strong>da</strong> dispersão de um pulso como<br />

exercício, mas vamos mencionar aqui que esta dispersão <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de de<br />

grupo pode ser cancela<strong>da</strong> por um efeito não linear de terceira ordem<br />

chamado de auto-modulação de <strong>fase</strong>. Isto dá origem ao sóliton temporal<br />

que veremos na seção 4.6.<br />

Além <strong>da</strong> dispersão devi<strong>da</strong> à variação do índice de refração com a<br />

frequência, que acabamos de ver, existe um outro tipo de dispersão nas<br />

fibras ópticas, chama<strong>da</strong> de<br />

dispersão mo<strong>da</strong>l. Ca<strong>da</strong> um dos modos<br />

transversais<br />

mostrados na Fig. 3.9 possui uma veloci<strong>da</strong>de de propagação<br />

diferente. Se o pulso de luz constituir-se de uma soma destes modos, ca<strong>da</strong><br />

um deles caminhará com veloci<strong>da</strong>de diferente, acarretando no<br />

alargamento do pulso. Para evitar esta complicação, costuma-se usar para<br />

as comunicações ópticas fibras mono-modos que permitem a propagação<br />

apenas do modo TEM00.<br />

S. C. Zilio Óptica Moderna – Fun<strong>da</strong>mentos e Aplicações<br />

71


72<br />

A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong><br />

4.2 Efeito Doppler. Aplicações astronômicas<br />

Na seção anterior aprendemos a calcular a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> on<strong>da</strong><br />

<strong>eletromagnética</strong>.<br />

Vamos agora dedicar o restante do capítulo à analise de<br />

fatores que determinam sua frequência, começando pelo famoso efeito<br />

Doppler.<br />

Consideremos uma fonte S emitindo radiação <strong>eletromagnética</strong> de<br />

frequência f, num meio com índice de refração unitário, e um observador<br />

O. Temos quatro casos a tratar:<br />

a) O observador se aproxima <strong>da</strong> fonte com veloci<strong>da</strong>de v0. Neste<br />

caso, o número de on<strong>da</strong>s que ele encontra num tempo τ é:<br />

v 0τ<br />

v 0<br />

f 'τ<br />

= fτ<br />

+ ⇒ f '=<br />

f +<br />

(4.12)<br />

λ<br />

λ<br />

onde v0τ é a distância que ele percorre num tempo τ. Como c = λf, temos<br />

f’ = f (1+v0/c). Desta forma, o observador nota que a frequência <strong>da</strong> luz<br />

aumenta por um fator (1+v0/c) devido ao fato dele estar se aproximando<br />

<strong>da</strong> fonte.<br />

b) O observador se afasta <strong>da</strong> fonte com veloci<strong>da</strong>de v 0. Este caso é<br />

similar ao anterior, apenas deve-se inverter o sinal de v 0:<br />

f’ = f (1- v /c) (4.13)<br />

c) A fonte se aproxima do observador com veloci<strong>da</strong>de vs. Olhando<br />

para a Fig. 4.4 vemos que durante um certo tempo τ, a frente de on<strong>da</strong><br />

percorre uma distância O′ A = cτ, enquanto que a fonte an<strong>da</strong> O 'S<br />

= vsτ. A<br />

distância S A é <strong>da</strong><strong>da</strong> por S A = cτ - vsτ = (c-vs)τ. Assim, o comprimento de<br />

on<strong>da</strong> na região S A é <strong>da</strong>do por: λ = S A /número de on<strong>da</strong>s = S A /fτ e<br />

portanto,<br />

0<br />

λ = (c-vs)/f (4.14)<br />

A freqüência f’ observa<strong>da</strong> por O será<br />

então <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />

c ⎛ c<br />

= = f ⎜<br />

⎝ − λ s v c<br />

f '<br />

⎞<br />

⎟<br />

⎠<br />

(4.15)<br />

S. C. Zilio Óptica Moderna – Fun<strong>da</strong>mentos e Aplicações


A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong> 73<br />

O’<br />

S A<br />

Fig.<br />

4.4 - Demonstração ração do efeito Doppler no caso em que a fonte se aproxima<br />

do observador.<br />

d) A fonte se afasta do observador com veloci<strong>da</strong>de vs, de forma<br />

q ue basta inverter o sinal no denominador:<br />

c ⎛ c ⎞<br />

f '=<br />

= f ⎜<br />

⎟<br />

(4.16)<br />

⎝ ⎠ + λ s v c<br />

Estes quatro casos podem ser resumidos em apenas uma<br />

expressão matemática:<br />

⎛ c + v<br />

f'=<br />

f ⎜<br />

⎝ c + v<br />

0<br />

s<br />

⎞ ⎛1<br />

+ v c ⎞ 0/<br />

⎟ = f<br />

⎜<br />

⎟<br />

⎠ ⎝ 1+<br />

vs/c<br />

⎠<br />

O<br />

(4.17)<br />

onde o sinal <strong>da</strong>s veloci<strong>da</strong>des será positivo se elas estiverem no sentido do<br />

observador para a fonte.<br />

No caso de estarmos tratando com luz visível, o<br />

efeito chama-se Doppler-Fizeau. Exemplo disto são as aplicações<br />

astronômicas:<br />

(i) Estrelas duplas: são duas estrelas bastante próximas girando<br />

em torno do centro de massa do sistema, não separáveis através de<br />

telescópio. Porém, ao analisar-se o espectro de luz emiti<strong>da</strong>, o efeito<br />

Doppler permite distinguir que são estrelas duplas. Esta situação está<br />

esboça<strong>da</strong> na Fig. 4.5.<br />

(ii) Expansão do universo: as estrelas têm uma veloci<strong>da</strong>de de fuga<br />

de 10-30 km/s e os quasares de aproxima<strong>da</strong>mente 0.8 c. Isto faz com que<br />

os espectros de luz emitidos por elementos químicos conhecidos tenham<br />

um deslocamento na direção do vermelho.<br />

S. C. Zilio Óptica Moderna – Fun<strong>da</strong>mentos e Aplicações


74<br />

2<br />

2<br />

1 2<br />

1<br />

1<br />

A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong><br />

Fig. 4.5 - Efeito Doppler-Fizeau no caso <strong>da</strong>s estrelas duplas.<br />

4.3 Alargamento de linhas espectrais<br />

O funcionamento de lâmpa<strong>da</strong>s de descarga e lasers a gás baseia-se<br />

no fato de que os átomos<br />

são excitados pela descarga elétrica e ao<br />

voltarem para o estado fun<strong>da</strong>mental emitem luz de frequência ν0<br />

= E/h,<br />

onde E é a diferença de energia entre os estados fun<strong>da</strong>mental e excitado, e<br />

h é a constante<br />

de Planck. Note que aqui estamos denominando a<br />

frequência de ν, enquanto que na seção anterior a mesma era f. Devido ao<br />

f1<br />

f1=f2<br />

fato <strong>da</strong>s moléculas do gás possuírem movimento browniano, a linha ν0<br />

adquire uma largura Δν que queremos calcular.<br />

Vamos considerar um gás com N moléculas/cm 3 , mantido à<br />

temperatura T num tubo de Geisler. Após a descarga elétrica observa-se a<br />

luz emiti<strong>da</strong> na direção do eixo x com um espectrômetro, <strong>da</strong>ndo-se<br />

particular atenção à raia de frequência em torno de ν0. O número de<br />

moléculas/cm 3 com componente x de veloci<strong>da</strong>de compreendi<strong>da</strong> entre vx e<br />

vx + dv é <strong>da</strong><strong>da</strong> por:<br />

x<br />

f2<br />

f1<br />

f2<br />

2 ( mvx<br />

/ 2kT)<br />

dvx<br />

m<br />

dN = N exp −<br />

(4.18)<br />

2πkT<br />

Admitamos que a intensi<strong>da</strong>de total Idν emiti<strong>da</strong> com frequência<br />

compreendi<strong>da</strong> no intervalo ν e ν + dν é proporcional a dN. Assim temos:<br />

2 ( x /2kT mv exp<br />

m<br />

= AdN = AN<br />

) x<br />

Idν −<br />

2πkT<br />

dv (4.19)<br />

S. C. Zilio Óptica Moderna – Fun<strong>da</strong>mentos e Aplicações


A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong> 75<br />

Entretanto, vx e dvx podem ser tira<strong>da</strong>s <strong>da</strong> fórmula do efeito Doppler na<br />

qual a fonte está em movimento e o observador em repouso, eq. (4.15).<br />

Expandindo o denominador para vx/c


76<br />

A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong><br />

(i) Postulados:<br />

a) As leis físicas são invariantes em forma para diferentes referenciais<br />

inerciais (referenciais não acelerados).<br />

b) A veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz é a mesma para todos os observadores inerciais.<br />

(ii) Transformações de Lorentz:<br />

Considere dois<br />

sistemas de coordena<strong>da</strong>s cartesianas O e O’, sendo<br />

r<br />

que O’ se move com veloci<strong>da</strong>de v = vˆ<br />

i , como mostra a Fig. 4.7. No<br />

instante t = 0 as duas origens coincidem. As transformações de Lorentz<br />

relacionam (x,y,z,t) do referencial O com (x’,y’,z’,t’) do referencial O’, de<br />

acordo com:<br />

o nde<br />

2 2<br />

γ = 1/ 1−<br />

v / c .<br />

x = γ(x’+vt’) x’ = γ(x-vt)<br />

y = y’ y’ = y<br />

z = z’ z’ = z<br />

t = γ(t’+vx’/c 2 ) t’ = γ(t-vx/c 2 )<br />

y<br />

r<br />

v = vî<br />

x x’<br />

O O’<br />

z<br />

z’<br />

Fig. 4.7 - Referenciais com movimento relativo.<br />

(4.23)<br />

(iii) Quadrivetores:<br />

Como vimos em (ii), as coordena<strong>da</strong>s espaciais e temporal estão<br />

intimamente<br />

liga<strong>da</strong>s, por isso é conveniente se trabalhar com vetores de<br />

quatro<br />

componentes (quadrivetor). Exemplos de quadrivetores são os de<br />

posição,<br />

vetor de on<strong>da</strong> e momentum, mostrados respectivamente a seguir:<br />

S. C. Zilio Óptica Moderna – Fun<strong>da</strong>mentos e Aplicações<br />

y’


A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong> 77<br />

⎛ x ⎞<br />

⎜ ⎟<br />

⎜ y ⎟<br />

⎜ ⎟,<br />

z<br />

⎜ ⎟<br />

⎜ ⎟<br />

⎝ict<br />

⎠<br />

⎛ k x ⎞<br />

⎜ ⎟<br />

⎜ k y ⎟<br />

⎜ ⎟,<br />

k z ⎜ ⎟<br />

⎜ ⎟<br />

⎝iω/<br />

c⎠<br />

⎛ p x ⎞<br />

⎜ ⎟<br />

⎜ p y ⎟<br />

⎜ p ⎟<br />

z ⎜ ⎟<br />

⎜ ⎟<br />

⎝iE<br />

0/<br />

c⎠<br />

O produto escalar de dois quadrivetores é feito como normalmente<br />

se multiplicam matrizes. Como exemplo, tomemos o produto dos dois<br />

primeiros quadrivetores mostrados acima:<br />

r v<br />

φ = kxx + kyy + kzz - ωt = k. r − ωt<br />

(4.24)<br />

que é a <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> plana. Como o produto escalar de quadrivetores é<br />

invariante quando se mu<strong>da</strong> de um referencial inercial para outro, a <strong>fase</strong> <strong>da</strong><br />

on<strong>da</strong> plana é a mesma quando vista por observadores<br />

em O e O’.<br />

(iv) Efeito Doppler longitudinal:<br />

Considere uma on<strong>da</strong> plana propagan do-se na direção do eixo x<br />

r<br />

( k = kî<br />

). A <strong>fase</strong> vista pelo observador em O será φ = kx - ωt e em O’<br />

r v<br />

será φ’ = k'. r'−ω'<br />

t'<br />

= kx’x’+ ky’y’+ kz’z’- ω’t’, isto é, estamos supondo<br />

que em O’ a on<strong>da</strong> se propaga numa direção arbitrária. Como φ = φ’ temos:<br />

kx - ωt = kx’x’+ ky’y’+ kz’z’- ω’t’ (4.25)<br />

Usando as transformações <strong>da</strong><strong>da</strong>s pela eq. (4.23), obtemos:<br />

⎛ vx'<br />

⎞<br />

γ ( x'+<br />

vt')<br />

− ωγ⎜<br />

t'+<br />

= k'<br />

x x'+<br />

k'<br />

y y'+<br />

k'<br />

z'−ω'<br />

t'<br />

2 ⎟<br />

(4.26)<br />

⎝ c ⎠<br />

k z<br />

Igualando os coeficientes de<br />

ca<strong>da</strong> coordena<strong>da</strong> temos as seguintes relações:<br />

Mas como k = ω/c então,<br />

k ’ = k ’ = 0<br />

y z (4.27a)<br />

k x’ = γ (k-<br />

ω v<br />

) 2<br />

c<br />

(4.27b)<br />

ω’ = γ (ω-kv) (4.27c)<br />

1−<br />

v/<br />

c<br />

ω '=<br />

ω<br />

e consequentemente,<br />

2 2<br />

1−<br />

v / c<br />

S. C. Zilio Óptica Moderna – Fun<strong>da</strong>mentos e Aplicações


78<br />

A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong><br />

1−<br />

v/<br />

c<br />

ν '=<br />

ν<br />

(4.28)<br />

1+<br />

v/<br />

c<br />

que é a fórmula do efeito Doppler<br />

longitudinal obti<strong>da</strong> pela relativi<strong>da</strong>de<br />

restrita. Para recuperarmos a fórm ula clássica devemos expandir<br />

este<br />

resultado para v


A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong> 79<br />

k′<br />

ωγv<br />

γv<br />

v/<br />

c<br />

tgα<br />

= = = =<br />

(4.32)<br />

k<br />

x<br />

′ y<br />

2<br />

ωc<br />

/ c c<br />

2 2<br />

1−<br />

v / c<br />

Este fenômeno<br />

de mu<strong>da</strong>nça de direção é conhecido como aberração <strong>da</strong><br />

luz <strong>da</strong>s estrelas. Devido ao fato de que um observador na Terra tem uma<br />

veloci<strong>da</strong>de finita ele verá a posição <strong>da</strong> estrela diferente <strong>da</strong> posição real que<br />

ela ocupa, devido ao problema de aberração citado acima. A Fig. 4.8<br />

ilustra este efeito.<br />

posição real<br />

z’<br />

k r<br />

y’<br />

α<br />

k' r<br />

O’ x’<br />

posição aparente<br />

veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Terra<br />

Fig. 4.8 - Aberração <strong>da</strong> luz proveniente <strong>da</strong>s estrelas.<br />

4.5 Modulação eletro-óptica de frequência<br />

Na análise que fizemos<br />

até agora dos fenômenos envolvendo a<br />

<strong>fase</strong>, as partes espacial e temporal<br />

eram in dependentes, isto é,<br />

φ(z,t) = kz -<br />

ω t. Assim, a identificação <strong>da</strong> frequência <strong>da</strong> on<strong>da</strong>, associa<strong>da</strong> à evolução<br />

temporal<br />

<strong>da</strong> <strong>fase</strong>, era imediata. Entretanto, podem ocorrer situações<br />

onde o<br />

índice<br />

de refração, e consequentemente o vetor de propagação, depende<br />

do tempo.<br />

Desta forma, a <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> torna-se φ(z,t) = k(t)z - ωt, e as<br />

partes espacial<br />

e temporal ficam mistura<strong>da</strong>s pelo primeiro termo. Como a<br />

frequência<br />

encontra-se associa<strong>da</strong> à evolução temporal <strong>da</strong> <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong><br />

<strong>eletromagnética</strong>, podemos definir:<br />

∂φ<br />

ω = −<br />

(4.33)<br />

∂t<br />

como sendo a frequência generaliza<strong>da</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong>. Com este conceito<br />

podemos analisar alguns efeitos responsáveis pelo surgimento de novas<br />

S. C. Zilio Óptica Moderna – Fun<strong>da</strong>mentos e Aplicações


80<br />

A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong><br />

componentes de frequência. Começaremos com o efeito eletro-óptico que<br />

pode modificar a frequência <strong>da</strong> on<strong>da</strong>, ou introduzir novas componentes de<br />

frequência, como veremos a seguir.<br />

Existem cristais anisotrópicos não lineares (KDP, LiNbO3,<br />

LiTaO , etc.) cujos índices de refração se modificam com a aplicação de<br />

3<br />

um campo elétrico externo. Estes cristais são denominados eletro-ópticos.<br />

Consideremos uma on<strong>da</strong> propagando-se pelo cristal ao longo do eixo<br />

óptico z, com polarização na direção do eixo x, conforme mostra a Fig.<br />

4.9. Um campo elétrico variável no tempo é aplicado, também na direção<br />

do eixo x. O índice de refração é <strong>da</strong>do por: n(t) = n0 + αV(t), onde V(t) é a<br />

voltagem aplica<strong>da</strong>, α é a resposta do cristal ao campo externo e n0 é o<br />

índice de refração na ausência de campo. Esta variação do índice de<br />

refração produz uma alteração na <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong>, que passa a ser:<br />

E r<br />

y<br />

φ(t) = k0n0L - ω0t + k0αLV(t)<br />

(4.34)<br />

k r<br />

x<br />

L<br />

Fig.<br />

4.9 - Propagação de uma on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong> ao longo de um cristal<br />

eletro-óptico.<br />

onde<br />

L é o comprimento do cristal, ω0 é a frequência <strong>da</strong> luz incidente e k0<br />

é o vetor de on<strong>da</strong> no vácuo. Vamos em segui<strong>da</strong> considerar dois tipos de<br />

voltagens<br />

aplica<strong>da</strong>s sobre o cristal, que são os casos de maior interesse<br />

prático.<br />

a) Voltagem do tipo rampa - Nesta situação, V(t) = βt, e a <strong>fase</strong> de on<strong>da</strong><br />

fica:<br />

φ(t) = k0n0L - ω0t + k0αLβt (4.35)<br />

de forma que obtemos a frequência generaliza<strong>da</strong> como:<br />

V(t)<br />

S. C. Zilio Óptica Moderna – Fun<strong>da</strong>mentos e Aplicações<br />

z


A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong><br />

∂φ<br />

ω = − = ω0<br />

− k 0αβL<br />

(4.36)<br />

∂t<br />

isto é, o cristal eletro-óptico<br />

faz variar um pouco a frequência <strong>da</strong> luz,<br />

como mostrado na Fig. 4.10.<br />

k0αβL ω ω0 ω<br />

Fig.<br />

4.10 - Alteração <strong>da</strong> frequência <strong>da</strong> luz ao passar por um cristal<br />

eletro-óptico<br />

com voltagem do tipo rampa.<br />

b)<br />

Voltagem senoi<strong>da</strong>l - Neste caso, vamos tomar V(t) = -AsenΩt, onde Ω<br />

é uma frequência gera<strong>da</strong> por uma fonte de rádio-frequência (em geral <strong>da</strong><br />

ordem de 100 MHz), de forma que:<br />

φ(t) = k0n0L - ω0t<br />

- k0αLAsenΩt (4.37)<br />

que dá origem à uma frequência:<br />

φ<br />

ω ω0<br />

k αLAΩcosΩt<br />

t<br />

+ =<br />

∂<br />

= −<br />

(4.38)<br />

0<br />

∂<br />

que é modula<strong>da</strong> pelo<br />

termo cosΩt. Para entendermos como esta<br />

modulação altera o espectro de frequência<br />

<strong>da</strong> luz, vamos analisar o que<br />

acontece com a on<strong>da</strong> plana neste caso.<br />

E = E0 exp{i (k0n0L - ω0t - k0αLAsenΩt)}<br />

(4.39)<br />

O termo exp{-i MsenΩt}, com M = k0αLA, pode ser expandido numa<br />

série de funções de Bessel de acordo com:<br />

∑ +∞<br />

n<br />

n=<br />

−∞<br />

exp{-i MsenΩt}<br />

= J (M)exp{ − inΩt}<br />

(4.40)<br />

de forma que o campo elétrico é <strong>da</strong>do por:<br />

S. C. Zilio Óptica Moderna – Fun<strong>da</strong>mentos e Aplicações<br />

81


82<br />

E = E 0 exp<br />

J ( M)<br />

exp<br />

1<br />

A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong><br />

{ ik 0n<br />

0L}[<br />

J 0 ( M)<br />

exp{<br />

− iω<br />

0t}<br />

+<br />

{ − i(<br />

ω + Ω)<br />

t}<br />

+ J ( M)<br />

exp{<br />

− i(<br />

ω − Ω)<br />

t}<br />

+ .... ]<br />

0<br />

−1<br />

erais à frequência fun<strong>da</strong>mental<br />

ω0. Lembrando-se que J-n (M) = (-1) n de onde vemos a criação de vários picos lat<br />

Jn(M), temos um novo espectro de<br />

frequência <strong>da</strong> luz, que é mostrado na Fig. 4.11. Este tipo de modulação<br />

tem suas principais aplicações na geração de novas frequências para<br />

espectroscopia com laser e no “mode-locking” de lasers.<br />

J-2(M)<br />

ω0−2Ω<br />

ω0−Ω<br />

J-1(M)<br />

J (M)<br />

0<br />

J (M)<br />

1<br />

ω0 ω0+Ω ω0+2Ω ω<br />

Fig.<br />

4.11 - Geração de picos laterais (sidebands) através de modulação eletroóptica.<br />

0<br />

J (M)<br />

(4.41)<br />

4.6 Auto-modulação de <strong>fase</strong><br />

O efeito eletro-óptico é conseqüência de um processo não linear de<br />

segun<strong>da</strong> ordem que<br />

pode ocorrer em cristais que não possuem simetria de<br />

inversão. A geração de segundo harmônico é um efeito que também tem<br />

origem na não lineari<strong>da</strong>de de segun<strong>da</strong><br />

ordem. Entretanto, em cristais que<br />

possuem<br />

simetria de inversão estes efeitos não se manifestam e a não<br />

lineari<strong>da</strong>de de ordem mais baixa que pode ocorrer é a de terceira ordem.<br />

Meios do tipo Kerr se enquadram nesta classe de materiais; neles o índice<br />

de refração depende do quadrado do campo elétrico <strong>da</strong> luz (de sua<br />

intensi<strong>da</strong>de), ao contrário do efeito eletro-óptico, que varia linearmente<br />

com o campo elétrico externo aplicado. A não lineari<strong>da</strong>de Kerr pode ser<br />

expressa como:<br />

n(I) = n0 +n2I (4.42)<br />

onde n0 é o índice de refração na ausência de luz e n2 é denominado de<br />

índice de refração não linear. No caso em que a luz se constitui de pulsos<br />

S. C. Zilio Óptica Moderna – Fun<strong>da</strong>mentos e Aplicações<br />

2


A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong> 83<br />

curtos, o índice de refração dependerá do tempo devido à variação de I<br />

com t na eq. (4.42). Isto fará com que a frequência <strong>da</strong> luz se modifique de<br />

acordo com:<br />

ω = ω 0 – k0n2LdI/dt<br />

(4.43)<br />

Se o pulso for do tipo gaussiano, sua deriva<strong>da</strong> terá uma forma dispersiva e<br />

as frequências<br />

gera<strong>da</strong>s variarão no tempo, como mostra a Fig. 4.12. Por<br />

outro lado, um pulso curto<br />

tem associado a si um espectro de frequências<br />

com certa largura, como veremos posteriormente. Na região de dispersão<br />

anômala do índice de refração do meio (dn/dλ>0), as freqüências<br />

correspondentes ao azul caminharão mais rapi<strong>da</strong>mente e tentarão ficar na<br />

parte frontal do pulso (t < 0 na Fig. 4.12).<br />

ω0<br />

Δω = ω −<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

-150 -100 -50 0 50 100 150<br />

tempo<br />

Fig. 4.12 – Variação <strong>da</strong> frequência devido ao efeito Kerr ao longo de um pulso<br />

de luz. O tempo t = 0 corresponde ao centro do pulso.<br />

Entretanto, devido à auto-modulação de <strong>fase</strong>, componentes<br />

vermelhas são gera<strong>da</strong>s na frente do pulso, que na<strong>da</strong> mais é que uma re-<br />

distribuição de energia. Como conseqüência, a dispersão quer<br />

jogar as<br />

frequências<br />

maiores (azul) para a parte frontal do pulso, enquanto que o<br />

efeito Kerr que jogar as frequências menores (vermelho). Na parte final do<br />

pulso ocorre o inverso: a dispersão joga as frequências menores<br />

(vermelho) para a parte final do pulso, enquanto que o efeito Kerr joga as<br />

frequências maiores. Para uma intensi<strong>da</strong>de convenientemente escolhi<strong>da</strong>,<br />

um efeito cancela o outro e o pulso acaba se propagando sem dispersão.<br />

Este pulso que se propaga sem modificações recebe o nome de sóliton.<br />

S. C. Zilio Óptica Moderna – Fun<strong>da</strong>mentos e Aplicações


84<br />

A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong><br />

Bibliografia<br />

4.1. J. R. Reitz, F. J. Milford and R. W. Christy, Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Teoria<br />

Eletromagnética, Editora Campus, RJ (1982)<br />

4.2. G. R. Fowles, Introduction to Modern Optics, Holt,<br />

Rinehart and<br />

Winston, NY (1968).<br />

4.3. Efeito Doppler - veja vol. II <strong>da</strong> coleção Sears<br />

- Zemansky.<br />

Problemas<br />

4.1.<br />

Demonstre a relação: 1 1 λ 0 dn<br />

= −<br />

v g v f c dλ<br />

0<br />

4.2. Mostre que a veloci<strong>da</strong>de de grupo pode ser escrita como:<br />

v<br />

c<br />

g =<br />

n + ω<br />

dn<br />

dω<br />

4.3. A veloci<strong>da</strong>de de grupo <strong>da</strong> luz numa certa substância varia<br />

inversamente proporcional ao comprimento de on<strong>da</strong>. Como varia o<br />

índice de refração com o comprimento de on<strong>da</strong>?<br />

4.4. O poder de dispersão do vidro é definido pela razão nD/(nF-nC), onde<br />

C, D e F referem-se aos comprimentos de on<strong>da</strong> Fraunhoffer: λC =<br />

6563 Å, λD = 5890 Å e λF = 4861 Å. Encontre<br />

a veloci<strong>da</strong>de de<br />

grupo no vidro, cujo poder de dispersão é 30 e nD = 1,5.<br />

4.5. A constante dielétrica de um gás varia com a frequência angular de<br />

4.6.<br />

acordo com: ε =1+A(ω 2<br />

0 -ω 2 ), onde A e ω0 são constantes. Compute<br />

as veloci<strong>da</strong>des de <strong>fase</strong> e de grupo para a propagação de<br />

supondo que o segundo termo de ε é


A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong> 85<br />

⎡<br />

4.8. Prove a correção Doppler relativística geral 1−<br />

( v/<br />

c)<br />

cosθ<br />

⎤<br />

' ⎢<br />

⎥ , onde<br />

ν = ν<br />

⎢⎣<br />

1−<br />

v /<br />

θ é o ângulo que o vetor de on<strong>da</strong> k faz com o eixo x.<br />

2 2<br />

c<br />

4.9. No problema anterior encontre θ’, o ângulo que o vetor de on<strong>da</strong> k’ faz<br />

com o eixo x’ (fórmula geral para a aberração).<br />

4.10. Prove que a veloci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> luz num meio em movimento é<br />

aproxima<strong>da</strong>mente<br />

c −2<br />

+ v ( 1−<br />

n ) , onde v é a veloc<br />

m<br />

m i<strong>da</strong>de do meio<br />

n<br />

com relação ao observador e n é o índice de refração do meio. O<br />

resultado mostra que a luz parece ser arrasta<strong>da</strong> pelo meio.<br />

A<br />

−2<br />

quanti<strong>da</strong>de ( 1−<br />

n ) é chama<strong>da</strong> coeficiente de arrastamento de<br />

Fresnel. Sugestão: us e dx dx'/<br />

dt'+<br />

v<br />

= 2 2<br />

dt 1+<br />

( v / c ) dx'/<br />

dt'<br />

4.11. a)<br />

A <strong>fase</strong> de uma on<strong>da</strong> é φ = k [0.5 x + 0.5 y + β z] - ωt. Encontre o<br />

ângulo que ela faz com o eixo z. b) A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> componente espectral<br />

ω de uma on<strong>da</strong> é φ = ( ω/c) n(ω) z - ωt. Encontre a veloci<strong>da</strong>de de<br />

grupo em torno <strong>da</strong> freqüência ω0. c) A <strong>fase</strong> de uma on<strong>da</strong> é φ = kz -<br />

2<br />

ωt – βt /2. Encontre a freqüência instantânea <strong>da</strong> on<strong>da</strong>.<br />

4.12. Considere duas on<strong>da</strong>s planas monocromáticas de mesma amplitude<br />

E0, com freqüências ω 0 + δω e ω 0 − δω , (δω


86<br />

A <strong>fase</strong> <strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>eletromagnética</strong><br />

S. C. Zilio Óptica Moderna – Fun<strong>da</strong>mentos e Aplicações

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!