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ICNB<br />
INSTITUTO DA CONSERVAÇÃO DA NATUREZA<br />
E DA BIODIVERSIDADE<br />
PLANO DE ORDENAMENTO E GESTÃO<br />
PARA A RESERVA NATURAL DO ESTUÁRIO<br />
DO TEJO<br />
ESTUDOS DE BASE<br />
<strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO<br />
Volume II / III<br />
Nº DO CONTRATO: ABM2961<br />
Nº DO DOCUMENTO: 01.RP-S.002(1)<br />
FICHEIRO: 290101RPS0021.DOC<br />
DATA: 2007-04-30<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 1
REGISTO DAS ALTERAÇÕES<br />
Nº Ordem Data Designação<br />
O COORDENADOR TÉCNICO:<br />
2<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Índice do documento<br />
1 CARACTERIZAÇÃO BIOLÓGICA......................................................................................5<br />
1.1 Enquadramento da área de estudo ...........................................................................5<br />
1.2 Flora e Vegetação .....................................................................................................6<br />
1.2.1 Comunidades Estuarinas ..............................................................................6<br />
1.2.2 Comunidades Terrestres .............................................................................10<br />
1.3 Fauna.......................................................................................................................34<br />
1.3.1 Comunidades estuarinas.............................................................................34<br />
1.3.2 Avifauna.......................................................................................................44<br />
1.3.3 Mamíferos..................................................................................................253<br />
1.3.4 Herpetofauna.............................................................................................264<br />
BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................277<br />
ANEXOS:<br />
QUADRO: Levantamento do elenco florístico da área de estudo.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 3
1 Caracterização biológica<br />
1.1 Enquadramento da área de estudo<br />
Em termos morfológicos o estuário pode ser dividido em quatro zonas distintas: o<br />
sector fluvial ou rio com maré que se estende entre Muge e Vila Franca de Xira; o<br />
delta interior que se estende de Vila Franca de Xira e a secção que vai desde o rio<br />
Trancão a Alcochete, esta zona é considerada a mais rica a nível biológico; o Mar-da-<br />
Palha que se estende da secção Trancão / Alcochete até à secção Terreiro do Paço /<br />
Cacilhas; e a zona terminal do estuário chamada de corredor do Tejo que vai desde a<br />
secção jusante do Mar-da-Palha até à foz delimitada pela secção S. Julião da Barra /<br />
Farol do Bugio / Cova do Vapor. A área de estudo situa-se na secção de montante, a<br />
mais importante como zona de nursery e para a avifauna (Dias e Marques, op.cit.).<br />
O estuário é constituído por vários biótopos: uma zona subtidal ou permanentemente<br />
submersa, que serve de habitat essencialmente a espécies marinhas, como é o caso<br />
dos peixes e crustáceos (zooplâncton); a zona entre-marés (intertidal), constituídas por<br />
vasa, bancos de casca de ostra, areias vasosas, sapais, salinas e areias; e por fim a<br />
zona de Caniçal, formada por manchas de caniço (Phragmites australis) (Dias e<br />
Marques, 1999). A dimensão do estuário confere-lhe uma notável importância em<br />
termos ecológicos, tanto a nível das comunidades subaquáticas como das<br />
comunidades da faixa entre-marés e das comunidades de vertebrados terrestres, em<br />
especial da avifauna. Em termos ecológicos o estuário pode dividir-se em zonas<br />
consoante a influência das águas:<br />
• Zona entre-marés (intertidal) – o estuário apresenta uma das mais vastas<br />
zonas entre-marés da Europa (cerca de 13 600 ha, ou seja aproximadamente<br />
40% do estuário), onde se podem identificar vários habitats com elevada<br />
relevância ecológica como fundos de vasa ou vasa arenosa (i.e. lodos), bancos<br />
de casca de ostra, fundos de areia ou de areia vasosa, sapais, caniçais e<br />
salinas, este último um habitat artificial mas de grande importância para as<br />
aves e invertebrados bentónicos.<br />
• Zona permanentemente submersa (subtidal) – compreende os restantes 60 %<br />
da área do estuário; esta zona destaca-se pela sua importância para a<br />
comunidade íctica, além da fauna bentónica (crustáceos) e comunidade fito e<br />
zooplanctónica;<br />
Em relação aos recursos naturais do estuário existem várias actividades das quais se<br />
podem mencionar a pesca, pouco importante, a salinicultura, que quase não tem<br />
expressão económica hoje em dia, e ainda a apanha de bivalves e anelídeos, nos<br />
fundos intertidais do estuário. A pesca tem vindo a decrescer, o que é revelado pela<br />
redução no número de embarcações e artes de pesca licenciadas para o efeito.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 5
Segundo Dias e Marques (1999) a grande quantidade de arrastos de vara, uma arte<br />
de pesca especialmente lesiva para as formas juvenis, é efectuada numa zona do<br />
estuário que detém uma das mais significativas áreas de nursery do estuário. A<br />
salinicultura é uma actividade ambientalmente benéfica, pois cria vários habitats<br />
específicos, o que é favorável à diversidade de invertebrados, nomeadamente<br />
crustáceos decápodes (camarões). Estas zonas proporcionam alimento e abrigo para<br />
várias espécies de aves limícolas. Esta actividade encontra-se, contudo, em declínio<br />
acentuado. A piscicultura e principalmente a apanha da camarinha, nas antigas<br />
salinas, substituem a actividade salineira, que hoje em dia não apresenta rentabilidade<br />
económica.<br />
A apanha de invertebrados bentónicos nos fundos intertidais ainda hoje se faz,<br />
nomeadamente da lambujinha (Scrobicularia plana). No entanto, desde o<br />
desaparecimento dos bancos de ostras nos anos 70, devido à contaminação ambiental<br />
com substâncias como o tributil de estanho (tinta tóxica utilizada nos cascos dos<br />
navios), que a relevância económica desta actividade desapareceu.<br />
A cartografia relativa a este volume é apresentada nas seguintes cartas:<br />
• Carta [15], folhas 1 e 2: vegetação e biótopos;<br />
• Carta [16], folhas 1 e 2: habitats classificadas;<br />
• Carta [17], folhas 1 e 2: fauna.<br />
1.2 Flora e Vegetação<br />
1.2.1 Comunidades Estuarinas<br />
No meio estuarino existem três grandes fontes de produção primária: o fitoplâncton, o<br />
microfitobentos ou algas unicelulares epibênticas, as macrófitas, que incluem algas e<br />
angiospérnicas marinhas (por exemplo Zostera spp.) e as halófitas (Odum, 1971).<br />
Os elevados níveis de produtividade primária em meios estuarinos, dados como dos<br />
mais elevados da biosfera, são devidos principalmente ao fitoplâncton e às algas<br />
bentónicas. A produção primária dos estuários apresenta regra geral uma grande<br />
variabilidade interanual, o que é atribuído a vários factores abióticos que influenciam a<br />
distribuição vertical das massas de água salina e doce nos estuários, como o afluxo<br />
sazonal de água doce e o ritmo das marés. A produção primária avaliada para a<br />
totalidade do estuário é de aproximadamente 37 190 ton/ano (Dias e Marques, 1999),<br />
cabendo à vegetação do sapal a maior contribuição, seguida do microfitobentos e do<br />
fitoplâncton.<br />
6<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
1.2.1.1 Fitoplâncton<br />
O fitoplâncton é a base da produtividade aquática marinha e estuarina. Estima-se em<br />
cerca de 4 400 ton o carbono produzido anualmente no estuário através do<br />
fitoplâncton. O fitoplâncton entra na cadeia alimentar através do zooplâncton, mas<br />
também através de organismos bentónicos filtradores, como as ostras e certos peixes,<br />
por exemplo a sardinha e a anchova (Costa e Salgado, 1999).<br />
No estuário do Tejo os valores de produtividade do fitoplâncton são estimados em<br />
cerca de 26 g Cm -2 ano -1 (Cabeçadas, 1999). Em termos taxonómicos, o grupo das<br />
diatomáceas é o mais representado, constituindo 31 a 67% das comunidades<br />
fitoplanctónicas, seguido das Cryptophyceae, as quais podem no entanto dominar no<br />
verão, constituindo uma parte significativa dos “blooms” de algas.<br />
A salinidade é um factor importante na distribuição do fitoplâncton. O fitoplâncton de<br />
água doce predomina nas regiões superiores do estuário enquanto mais a jusante<br />
domina o fitoplâncton estuarino. As espécies eurihalinas são comuns nos estuários,<br />
como a diatomácea Skeletonema costatum que é abundante ao longo de todo o ano<br />
no estuário do Tejo. Outras espécies frequentes nas amostragens efectuadas por<br />
Gameiro (2000) no estuário são Asterionella japonica, Chaetoceros sp., Navicula sp.,<br />
Nitzschia sp., Thalassiosira spp. e Leptocylindrus minimus (diatomáceas).<br />
No que respeita a variações sazonais verifica-se uma variação quantitativa e<br />
qualitativa relacionada com a quantidade de água doce que aflui ao estuário e com as<br />
marés. Apesar desta variação verifica-se pouca estratificação das massas de água,<br />
apresentando o estuário uma mistura homogénea durante a maior parte do ano. São<br />
referidos também por Gameiro (2000) a existência de “blooms” de algas durante a<br />
Primavera (Abril) e Verão.<br />
1.2.1.2 Microfitobentos<br />
O microfitobentos está presente na superfície dos sedimentos intertidais, sendo fonte<br />
de alimento para vários invertebrados bentónicos que colonizam os mesmo bancos,<br />
que por sua vez são consumidos por aves limícolas e/ou por peixes. Este grupo é<br />
responsável pela produção de mais cerca de 11 000 ton C/ano (Cabeçadas, 1999 e<br />
Brotas, 1995 in Dias e Marques, 1999), sendo um elo fundamental da teia trófica<br />
estuarina, tendo uma função para o zoobentos equivalente à do fitoplâncton para as<br />
comunidades zooplanctónicas.<br />
No que respeita à distribuição do microfitobentos e à sua variabilidade, vários autores<br />
(Cartaxana et al., 2006) têm referido a ausência de tendências definidas sazonais no<br />
estuário do Tejo, as quais poderão ser ultrapassadas por uma variabilidade quinzenal<br />
(Serôdio e Catarino, 2000). Em relação ao tipo de sedimento, um dos mais<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 7
importantes factores determinantes para o fitobentos, Cartaxana et al., (2006) não<br />
detectaram diferenças significativas entre o lodo e a areia, excepto no que se refere à<br />
profundidade a que o fitobentos se distribui; no sedimento vasoso concentra-se nos<br />
500 μm superficiais, enquanto na areia de distribui mais homogeneamente no eixo<br />
vertical, até aos 3 mm. Esta diferença estará provavelmente relacionada com a zona<br />
fótica no sedimento, que é muito mais limitada no lodo (até 270 μm; Serôdio et al.,<br />
1997) do que na areia. Este facto vem levantar a importância da actividade dos<br />
invertebrados e correntes no enterramento de células de fitobentos em substrato de<br />
areia. O microfitobentos é constituído essencialmente por organismos unicelulares<br />
(Costa e Salgado, 1999; Cartaxana et al., 2006):<br />
• A clorofila a e c, fucoxantina, diadinoxantina e β-caroteno revelam a<br />
dominância das algas diatomáceas (principais espécies referenciadas:<br />
Cylindrotheca closterium, Navicula cryptocephala e Nitzchia spp.);<br />
• A presença de zeaxantina e a ausência luteina será indicadora da presença de<br />
cianobactérias;<br />
• A presença de clorofila b, detectada em pequenas quantidades, a par com<br />
outros factorres parece indicar a existência de Euglenófitas.<br />
1.2.1.3 Macrófitas<br />
Este grupo funcional inclui as macroalgas, as macrófitas aquáticas e a vegetação da<br />
faixa intertidal – sapal, caniçal e juncal. No estuário do Tejo foram identificados três<br />
tipos principais de habitats de macroalgas (Catarino, 1990 in FCUL, 1995):<br />
• Bancos de antigas ostreiras na zona intertidal superior, constuídos por vasa<br />
compacta com conchas de bivalves e/ou cascalho – encontram-se as espécies<br />
Fucus vesiculosus (algas castanha), Ulva lactuca e Enteromorpha compressa<br />
(algas verdes);<br />
• Bancos de antigas ostreiras na zona intertidal inferior só se encontram a<br />
descoberto na baixa-mar de marés vivas, apresentando como espécies mais<br />
comuns a Ulva lactuca, Enteromorpha compressa, Enteromorpha spp.,<br />
Cladophora spp. e Gracilaria cf. verrucosa (algas verdes), Ceramium rubrum,<br />
Griffithsia corallinoides, Rhodomela confervoides, Polysiphonia polisphora, P.<br />
denudata, P. nigrecens, Gelidium pusillum (algas vermelhas);<br />
• Sapais, que albergam nos seus caules, nomeadamente em Halimione<br />
portulacoides e de Arthrocnemum perene algas filamentosas com as seguintes<br />
espécies: Bostrychia scorpioides e Enteromorpha spp..<br />
Na faixa intertidal crescem as algas castanhas Bodelha (Fucus vesiculosus), a alga<br />
verde Ulva lactuca no limite inferior desta faixa e no subtidal a alga vermelha Gracilaria<br />
verrucosa. Silva (2004) refere como grupos dominantes no estuário a Ulva spp., as<br />
algas filamentosas e Gracilaria sp. O mesmo autor identificou ainda espécies novas<br />
para Portugal, Gracilaria gracilis, Catenella caespitosa, Polydes Rotundus e Ceramium<br />
8<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
virgatum. No que respeita à abundância das algas Silva (2004), observou uma<br />
tendência crescente do Inverno (33% de valor de cobertura) para o Verão, com a taxa<br />
de cobertura máxima (59%) mas a variabilidade interanual é importante para todas as<br />
espécies, tendo-se constatado que no ano consecutivo os máximos e mínimos de<br />
cobertura foram registados respectivamente na Primavera e no Outono. Em termos de<br />
espécies, as filamentosas atingem o máximo de cobertura no Outono, enquanto os<br />
géneros Gracilaria e Ulva têm o seu máximo na Primavera. O Inverno corresponde ao<br />
mínimo das algas filamentosas e género Ulva.<br />
A produção total líquida estuarina atribuída às algas macrófitas é de cerca de 5 000 –<br />
4 000 ton C ano -1 , sendo responsáveis pela remoção anual da coluna de água de<br />
cerca de 794 ton de azoto e 124 ton de fósforo (Costa e Salgado, 1999; Dias e<br />
Marques, 1999).<br />
O sapal e o caniçal constituem habitats exclusivamente estuarinos, compostos por<br />
espécies de flora superior que se encontram adaptadas às duras condições estuarinas<br />
de variação de salinidade e de grau de imersão. A produção anual da biomassa do<br />
sapal, no conjunto do estuário é estimada em cerca de 17 790 ton (Catarino e<br />
Caçador, 1981).<br />
Os sapais têm um importante papel na retenção e imobilização dos sedimentos em<br />
suspensão na coluna de água e dos metais a eles associados, sendo por isso<br />
considerados como formações vegetais depuradoras que contribuem para a<br />
minimização da poluição química em zonas industriais. Por outro lado os caules das<br />
halófitas constituem um habitat para algas verdes filamentosas, que participam na<br />
troca de nutrientes entre o estuário os sapais (Serôdio et al., 1992 e Bettencourt et al.,<br />
1993 in FCUL, 1995).<br />
Os sapais crescem sobre solos halomórficos geralmente mal estruturados devido ao<br />
excesso de sais de sódio e com um teor apreciável de matéria orgânica. São solos de<br />
aluvião salgados e compactos sujeitos à acção das marés. A vegetação do sapal<br />
contribui para a retirada de humidade dos solos e a fixação do sedimento,<br />
consolidando o solo. A zonação do sapal é essencialmente definida pela capacidade<br />
das plantas suportarem longos períodos de imersão, distinguindo-se várias “cinturas”<br />
no sapal:<br />
• Sapal baixo - é constituído por espécies típicas deste tipo de formação, como a<br />
Spartina maritima ou Spartina stricta (erva-morraça), uma espécie pioneira com<br />
elevada tolerância aos períodos de imersão e cuja função de consolidação e<br />
congregação dos sedimentos é importante; ocupa os fundos subtidais que só<br />
nas marés vivas ficam a descoberto;<br />
• Sapal de transição – ocupa a faixa mesotidal, apresentando espécies como<br />
Halimione portulacoides;<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 9
• Sapal alto – ocupa a faixa supratidal, sendo constituído por um conjunto de<br />
espécies designadas como gramata: Scirpus maritimus, Sarcocornia fruticosa,<br />
S. Perennis, Arthrocnemum glaucum, Suaeda vera, Aster tripolium, Salicornia<br />
nitens, Puccinellia maritima, Inula crithmoides, Limonium vulgare e Atriplex<br />
halimus.<br />
Enquanto habitat para a fauna o sapal desempenha igualmente uma função<br />
importante. O facto de ser um sistema altamente produtivo, a par com um sistema de<br />
junção e transição (dos biótopos terrestre e aquático), atrai muitas espécies, de ambos<br />
os biótopos, para além das espécies que lhe são exclusivas. Cerca de 50% das<br />
espécies do sapal são terrestres, embora sejam as espécies aquáticas as que têm<br />
papel mais importante nas transferências de energia. São locais de alimentação e<br />
reprodução mas também de refúgio, com destaque para as “nurseries” de várias<br />
espécies de peixes com valor comercial (Calvário, 1982).<br />
Muitas espécies piscícolas e algumas de invertebrados com valor económico utilizam<br />
o sapal alto como área de refúgio, alimentação e crescimento. A maioria das espécies<br />
que frequentam os canais do sapal são residentes nos estuários, com destaque para a<br />
tainha-fataça, Liza ramada e o caboz-comum, Pomatoschistus microps, seguidos de<br />
Syngnathus sp. e Anguilla anguilla (Salgado, et al., 2004). Entre os invertebrados<br />
salientam-se o caranguejo-verde Carcinus maenas e os camarões Crangon crangon e<br />
Paleomonetes varians. O sapal, apesar de ser menos rico em espécies dos que os<br />
bancos de lodo estuarinos e de ser relativamente pouco importante para espécies com<br />
valor comercial tais como a sardinha, cujos juvenis se concentram na boca do estuário<br />
e zona costeira adjacente (Salgado et al., 2004), constitui um elo importante na cadeia<br />
alimentar. Assim, por exemplo, a espécie Liza ramada tem um comportamento de<br />
herbivoria do epifitobentos nos canais do sapal, sendo a espécie mais importante em<br />
termos de biomassa (Salgado et al., 2004). Outra das funções do sapal é a de refúgio<br />
em relação a predadores, sendo na maré cheia que se encontram a maior parte das<br />
espécies.<br />
O sapal ocupa, no estuário, uma área de cerca 13 km 2 (Catarino, 1981), dos quais<br />
cerca de 1,4 km 2 são de Spartina maritima (Crespo, 1993). O sapal encontra-se<br />
distribuído essencialmente na parte superior do estuário e ao longo da margem<br />
esquerda, além de circundar grande parte dos Mouchões. Tendo em conta que estes<br />
habitats constituem zonas de transição entre biótopos aquáticos e terrestres uma<br />
descrição mais detalhada sobre a sua composição florística encontra-se no capítulo<br />
seguinte.<br />
1.2.2 Comunidades Terrestres<br />
A flora e vegetação terrestres constituem alguns dos elementos mais importantes da<br />
área de estudo em termos de valores naturais. Neste contexto são particularmente<br />
10<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
importantes os resquícios de bosques de folhosas, cuja raridade lhes confere um<br />
elevado valor conservacionista; os charcos temporários, elementos bem<br />
representados na área de estudo, embora em alguns casos a plantação de eucaliptos<br />
nestes habitats constitua uma ameça a sua preservação; e o ecossistema dunar,<br />
embora na área de estudo este se encontre muito degradado, facto que decorre das<br />
actividades humanas.<br />
Foi efectuado um levantamento do elenco florístico na área de estudo, durante a<br />
Primavera e Verão de 2006, no qual foram observados e identificados 242 taxa. Este<br />
número aumenta para 515, com a adição dos taxa referenciados bibliograficamente,<br />
(ANEXO I). Deste total ocorrem 27 famílias que possuem 5 ou mais taxa,<br />
representando cerca de 78% dos taxa encontradas na área de estudo, sendo que as<br />
famílias Gramineae, Compositae e Leguminosae são as famílias com maior número de<br />
taxa: 76, 58 e 47 taxa respectivamente, ou seja, cerca de 35% do total. Foram<br />
designadas por outras, todas as famílias com 4 ou menos taxa (Figura 1.2.1).<br />
120<br />
100<br />
Nº de espécies<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
Famílias<br />
Figura 1.2.1. Número de espécies da flora em cada uma das famílias com maior<br />
representatividade na área de estudo.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 11
1.2.2.1 Habitats naturais<br />
A área de estudo apresenta uma grande diversidade biológica e paisagística e enorme<br />
produtividade quer associada aos habitats da zona húmida estuarina, a mais extensa<br />
do país e uma das mais importantes da Europa, quer aos habitats terrestres (ICN,<br />
2006).<br />
Para salvaguardar os habitats naturais foi criada a Directiva 92/43/CEE do Conselho<br />
da Europa, conhecida como “Directiva Habitats” que, no seu Anexo I, discrimina o tipo<br />
de habitats naturais de interesse comunitário cuja conservação exige a designação de<br />
zonas especiais de conservação. Deste modo, a importância ecológica dos diversos<br />
habitats presentes no Anexo I da Directiva Habitats é internacionalmente reconhecida.<br />
Esses habitats naturais distinguem-se das restantes zonas por possuírem<br />
características geográficas, abióticas e bióticas, de elevado valor e podendo muitas<br />
vezes estar em perigo de desaparecimento nas suas áreas naturais.<br />
Para além do papel que um habitat desempenha no ecossistema em que está<br />
integrado, a nível dos ciclos geo-físico-químicos da água, ar e solo, fundamentais para<br />
a manutenção das condições ecológicas adequadas à vida, constitui a base de que<br />
depende todo um conjunto mais ou menos alargado de seres vivos e um leque<br />
complexo de relações mutuamente interdependentes, não só entre si, como também<br />
entre esse conjunto de seres e o meio onde estão inseridos (Alves, 1998).<br />
Relativamente aos Habitats, a sua definição baseou-se nos Habitats listados para o<br />
Sítio PTCON0009 – “Estuário do Tejo” (REDE NATURA 2000, Lista Nacional de Sítios,<br />
Resolução do Conselho de Ministros nº 142/97 de 28-08-1997, Anexo I, Directiva<br />
Habitats (92/43/CEE). Os Habitats naturais e semi-naturais contantes do anexo B-I do<br />
Dec. Lei nº 49/2005, para esta área são os apresentados no Quadro 1.2.1.<br />
12<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Quadro 1.2.1. Habitats naturais e semi-naturais contantes do anexo B-I do Dec. Lei nº 49/2005<br />
na área de estudo.<br />
1110 Bancos de areia permanentemente cobertos por água do mar pouco profunda<br />
1130 Estuários<br />
1140 Lodaçais e areais a descoberto na maré baixa<br />
1150* Lagunas costeiras<br />
1210 Vegetação anual das zonas de acumulação de detritos pela maré<br />
1310 Vegetação pioneira de Salicornia e outras espécies anuais das zonas lodosas e<br />
arenosas<br />
1320 Prados de Spartina (Spartinion maritimae)<br />
1410 Prados salgados mediterrânicos (Juncetalia maritimi)<br />
1420 Matos halófilos mediterrânicos e termoatlânticos (Sarcocornetea fruticosi)<br />
1430 Matos halonitrófilos (Pegano-Salsoletea)<br />
1510* Estepes salgadas mediterrânicas (Limonietalia)<br />
2130* Dunas fixas com vegetação herbácea («dunas cinzentas»)<br />
2150* Dunas fixas descalcificadas atlânticas (Calluno-Ulicetea)<br />
2230 Dunas com prados de Malcolmietalia<br />
2250* Dunas litorais com Juniperus spp.<br />
2260 Dunas com vegetação esclerófila da Cisto-Lavanduletalia<br />
2270* Dunas com florestas de Pinus pinea e ou Pinus pinaster<br />
2330 Dunas interiores com prados abertos de Corynephorus e Agrostis<br />
3120 Águas oligotróficas muito pouco mineralizadas em solos geralmente arenosos do<br />
oeste mediterrânico com Isoetes spp.<br />
3150 Lagos eutróficos naturais com vegetação da Magnopotamion ou da Hydrocharition<br />
3160 Lagos e charcos distróficos naturais<br />
3170* Charcos temporários mediterrânicos<br />
3260 Cursos de água dos pisos basal a montano com vegetação da Ranunculion fluitantis<br />
e da Callitricho-Batrachion<br />
3280 Cursos de água mediterrânicos permanentes da Paspalo-Agrostidion com cortinas<br />
arbóreas ribeirinhas de Salix e Populus alba<br />
4030 Charnecas secas europeias<br />
6310 Montados de Quercus spp. de folha perene<br />
6420 Pradarias húmidas mediterrânicas de ervas altas da Molinio-Holoschoenion<br />
91B0 Freixiais termófilos de Fraxinus angustifolia<br />
92A0 Florestas-galerias de Salix alba e Populus alba<br />
9330 Florestas de Quercus suber<br />
Alguns dos Habitats listados para o Sítio PTCON0009 – Estuário do Tejo (REDE<br />
NATURA 2000, Lista Nacional de Sítios, Resolução do Conselho de Ministros nº<br />
142/97 de 28-08-1997, Anexo I, Directiva Habitats (92/43/CEE) não foram identificados<br />
na área de estudo. Aqueles que não existem na área de estudo são:<br />
• Bancos de areia permanentemente cobertos por água do mar pouco profunda<br />
(1110). Justificação: Na área de estudo, não se encontram areais, apenas<br />
lodaçais sem vegetação vascular.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 13
• Lagunas costeiras (1150*). Justificação: Esta designação corresponde a lagoas<br />
que retém a água do mar, podendo ser ou não alimentadas por escorrências<br />
de água doce e que pelo menos temporariamente mantém uma ligação com o<br />
mar, não ocorrendo na área de estudo.<br />
• Estepes salgadas mediterrânicas (Limonietalia) (1510*). Justificação: Nos<br />
locais onde o sapal alto se torna seco e se mistura com espécies típicas de<br />
pastagens não se verificou a dominância da espécie indicadora, Salicornia<br />
patula.<br />
• Dunas com prados de Malcolmietalia (2230). Justificação: Embora ocorram em<br />
pequenas áreas, algumas das plantas deste habitat (Malcolmia ramosissima,<br />
Cutandia maritima e Silene niceensis), de uma forma geral, apresentam-se<br />
muito alteradas e entre outros habitats.<br />
• Dunas com florestas de Pinus pinea e ou Pinus pinaster (2270*). Justificação:<br />
Na área de estudo, as plantações de pinhais não apresentam os critérios de<br />
elegibilidade, para serem considerados habitats prioritários. Por um lado estão<br />
resumidos ao estrato herbáceo, não apresentando estrato arbustivo, devido à<br />
pastorícia de gado bovino, por outro, apenas têm idades que não ultrapassam<br />
os 50 anos.<br />
• Dunas interiores com prados abertos de Corynephorus e Agrostis (2330).<br />
Justificação: Habitat que pode existir conjuntamente em mosaico ou como<br />
etapa de degradação do habitat 2150 e 2260. Apesar de ocorrer Corynephorus<br />
canescens na área de estudo, não se considerou que este seja dominante no<br />
local de colheita.<br />
• Águas oligotróficas muito pouco mineralizadas em solos geralmente arenosos<br />
do oeste mediterrânico com Isoetes spp (3120). Justificação: foram visitadas<br />
algumas charcas de água doce, na sua maior parte temporárias e<br />
potencialmente oligotróficas, nomeadamente nas margens do sapal das<br />
Hortas, além dos charcos temporários na mata do Catapereiro, que<br />
correspondem ao habitat “Charcos temporários mediterrâncos”. Contudo a<br />
espécie determinante, o feto Isoetes sp., nunca foi encontrado sendo uma<br />
espécie muito rara que não está nem na lista bibliográfica nem nos registos de<br />
campo.<br />
• Cursos de água dos pisos basal a montano com vegetação da Ranunculion<br />
fluitantis e da Callitricho-Batrachion (3260). Justificação: Este habitat é típico de<br />
zonas de água doce e foi prospectado nas áreas onde teria sido referenciado,<br />
na realidade estes locais não apresentam as condições naturais para este<br />
habitat pois tratam-se de valas de escoamento na lezíria com grande influência<br />
de água salgada, altamente intervencionadas, nas margens onde cresce o<br />
caniço (Phragmites australis), uma espécie com elevada tolerância à<br />
salinidade.<br />
• Charnecas secas europeias (4030). Justificação: As charnecas secas<br />
europeias ocorrem normalmente em zonas localizadas das serras e montanhas<br />
interiores. Na área de estudo não ocorre este habitat.<br />
14<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
• Freixiais termófilos de Fraxinus angustifólia (91B0). Justificação: não foram<br />
registados freixiais na área de estudo. De um modo geral as galerias ripíciolas<br />
existentes, quando arbóreas são dominadas por salgueiro (Salix atrocinerea)<br />
acompanhadas por Choupos (Populus spp.), sendo o freixo (Fraxinus<br />
angustifolia) uma espécie de ocorrência pontual na área de estudo, nunca<br />
ocorrendo em maciço. Deste modo não se considera este habitat presente.<br />
• Florestas de Quercus suber (9330). Justificação: todos os povoamentos de<br />
sobreiro na área de estudo correspondem a povoamentos humanizados e<br />
explorados pela sua cortiça, mesmo nos casos em que o mato cresce durante<br />
vários anos atingindo um porte arborescente e com uma riqueza específica<br />
assinalável. Deste modo as florestas da área de estudo não se enquadram<br />
neste habitat mas sim no 6310 – montados de Quercus.<br />
1.2.2.2 Breve descrição dos habitats naturais<br />
Estuários (1130)<br />
Os estuários são as regiões dinâmicas e heterogéneas, situadas entre a foz e o limite<br />
das águas salobras, em permanente contacto com a água marinha, correspondendo à<br />
parte dos rios sujeita ao fluxo bidiário das marés. Os sistemas estuarinos possuem<br />
elevada complexidade ecológica e geomorfológica, possuindo, para além de áreas<br />
desprovidas de vegetação vascular, áreas com comunidades de plantas vasculares<br />
halófilas ou sub-halófilas, designadas por sapais. Estes desenvolvem-se sobre<br />
lodaçais onde as correntes são incapazes de transportar a totalidade dos sedimentos<br />
e a sua composição florística depende de muitos factores físicos sendo nas nossas<br />
latitudes, exclusivamente herbácea ou arbustiva. A probabilidade e a duração da<br />
submersão pela água da maré são os factores físicos que mais influenciam a<br />
composição e zonação da vegetação dos sapais. Diferenciam-se fundamentalmente<br />
três tipos de sapal: alto, médio e baixo. O sapal baixo situa-se em zonas mais baixas,<br />
permanentemente saturadas com água salgada, o sapal médio apresenta condições<br />
intermédias entre os sapais baixo e alto e finalmente o sapal alto só é visitado pelas<br />
águas marinhas durante a maré-alta. Os sapais proporcionam condições ecológicas<br />
muito selectivas para as plantas e apenas um pequeno número de espécies halófitas<br />
existe nestes locais. As espécies características do sapal baixo pertencem às famílias<br />
Chenopodiaceae e Gramineae (Spartina sp. ou Puccinellia sp.). O sapal médio<br />
também é dominado por plantas da família Chenopodiaceae. O sapal alto apresenta<br />
além das Chenopodiaceae, espécies de outras famílias (Gramineae, Compositae ou<br />
Plumbaginaceae).<br />
Subtipo: Estuários mediterrânicos (1130pt1)<br />
Os estuários mediterrânicos são um tipo de estuários que estão sujeitos a marés de<br />
menor amplitude, e a uma estação seca prolongada, o que origina uma maior<br />
concentração de sais no sapal alto. Apresentam uma maior diversidade florística,<br />
quando comparados com os sapais dos territórios eurosiberianos.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 15
Lodaçais e areais a descoberto na maré baixa (1140)<br />
Habitats emersos na maré baixa, constituídos por sedimentos finos não consolidados,<br />
sem vegetação vascular ou ocupados por algas azuis e diatomáceas.<br />
Subtipo: Lodaçais e areais desprovidos de vegetação vascular (1140pt1)<br />
Subtipo encontrado no estuário do Tejo que se caracteriza pela ausência de plantas<br />
vasculares, mas frequentemente colonizado por algas azuis e diatomáceas. Este<br />
habitat constitui a zona intertidal lodosa, ao longo da margem sul do estuário,<br />
conhecidas por bancos de lodo e de areia, ricas em macrofauna bentônica, que são<br />
local de alimento para muitas aves limícolas e de apanha de marisco.<br />
Vegetação anual das zonas de acumulação de detritos pela maré (1210)<br />
Este habitat compreende a faixa intermareal das dunas costeiras, enriquecidas pelos<br />
detritos orgânicos trazidos pelo mar. Possui comunidades psamófilas, costeiras,<br />
relativamente pobres em espécies e constituídas sobretudo por Beta maritima. Este<br />
habitat encontra-se numa estreita faixa ao longo da praia de Alcochete, na zona entremarés.<br />
Vegetação pioneira de Salicornia e outras espécies anuais das zonas lodosas e<br />
arenosas (1310)<br />
Habitats com vegetação anual halófila ou halonitrófila, suculenta ou de fisionomia<br />
graminóide. Na área de estudo apresentam-se sob a forma de sapais ou salinas<br />
submetidos a inundações temporárias de água salgada ou taludes de salinas<br />
temporariamente encharcados por água salgada ou salobra, ou sob contínuo efeito da<br />
maresia salina.<br />
Subtipo: Vegetação pioneira anual estival e outonal de plantas suculentas de sapal<br />
baixo ou médio (1310pt1)<br />
Subtipo muito frequente na área da reserva natural do estuário do Tejo, que se<br />
desenvolve em solos de textura arenosa a limosa, salinos e saturados em água,<br />
submetidos a uma inundação bi-diária por água salgada ou salobra e à perturbação<br />
mecânica das marés. Caracteriza-se por possuir vegetação de sapal baixo ou médio,<br />
dominada por espécies anuais suculentas da família Chenopodiaceae (Salicornia<br />
ramosissima e Suaeda maritima).<br />
Prados de Spartina (Spartinion maritimae) (1320)<br />
Os prados de Spartina (S. maritima) instalam-se em sedimentos marinhos ou fluviomarinhos,<br />
mais ou menos finos, com a forma de pequenas ilhas isoladas, saturados na<br />
maré baixa e sujeitos à influência diária das marés. Este habitat apresenta uma<br />
vegetação pioneira, mono ou pauciespecífica dominada pela gramínea vivaz Spartina<br />
marítima, que apresenta um papel fundamental na estabilização dos fundos dos<br />
sapais, ao favorecerem a sedimentação, permitindo formação de pequenas ilhotas de<br />
16<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
vegetação pioneira. Na área em estudo este habitat encontra-se principalmente ao<br />
longo do sapal de Pancas, jusante do Mouchão da Povoa e do Mouchão do Lombo do<br />
Tejo.<br />
Prados salgados mediterrânicos (Juncetalia maritimi) (1410)<br />
Habitats frequentes em sapais estuarinos, lagoas e rias, ocorrendo preferencialmente<br />
em solos arenosos, mas também em solos areno-limosos. Nos sapais constituem a<br />
banda de vegetação halófila situada mais a montante, dominados por juncais halófilos<br />
(Juncus maritimus, J. acutus ou J. subulatus) ou Aster tripolium subsp. pannonicus,<br />
mas com frequência acompanhados por outras espécies halófilas como Apium<br />
graveolens, Centaurium spicatum, Elymus elongatus, Inula crithmoides, Limonium<br />
vulgare, Oenanthe lachenalii, Polygonum equisetiforme, Spartina versicolor,<br />
Spergularia marina. Estes habitats apresentam uma comunidade com amplitude<br />
ecológica elevada, ocorrendo tanto em locais húmidos como em locais muito secos.<br />
Os juncais poderão ter origem em salinas abandonadas ou em depressões de sapais<br />
onde há acumulação de água salobra durante o Inverno ou ainda áreas de sapal<br />
convertidas à agricultura e posteriormente abandonadas é comum observar pequenas<br />
manchas de juncal em cuja génese está a ascensão capilar de sais. Este habitat está<br />
presente, muitas vezes em conjunto com o sapal médio e alto, nas margens dos<br />
Mouchões, sendo ainda facilmente observável na zona do sapal das Hortas.<br />
Matos halófilos mediterrânicos e termoatlânticos (Sarcocornetea fruticosi) (1420)<br />
Os matos halófilos mediterrânicos e termoatlânticos surgem em solos fortemente<br />
salinos, ricos em sais de sódio, em geral húmidos e frequentemente inundados por<br />
água salgada ou salobra de origem marinha. Caracterizam-se por possuir uma<br />
vegetação perene de sapal externo geralmente pobre em espécies e dominada por<br />
arbustos halófilos suculentos da família Chenopodiaceae apresentando também com<br />
frequência plantas da família Plumbaginaceae (Limonium sp.). Incluem-se neste<br />
habitat algumas comunidades halófilas perenes de salinas e arribas litorais não<br />
dominadas por Chenopodiaceae arbustivas suculentas. Dominam os sapais da área<br />
de estudo, que se distribuem desde Sarilhos Pequenos, passando pelo Samouco,<br />
Hortas, Pancas, foz do rio Sorraia, mouchões, margem norte do estuário (frente ao<br />
mouchão da Póvoa) e numa estreita faixa pelas margens da lezíria até à ponte de Vila<br />
Franca; apresenta-se muitas vezes em conjunto com juncal e caniçal ou pode estar<br />
ausente dando lugar as estas comunidades.<br />
Subtipo: Sapal baixo de Sarcocornia perennis subsp. perennis (1420pt1)<br />
Subtipo que se desenvolve no sapal externo baixo, sujeito ao fluxo bidiário das marés<br />
e que apresenta uma dominância de Sarcocornia perennis subsp. perennis. Embora<br />
ficando completamente submerso durante a preia-mar não sofre grandes variações de<br />
salinidade e de profundidade ao longo do ano, tendo no Verão um dos mais baixos<br />
níveis de salinidade de todo o sapal externo.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 17
Subtipo: Sapal médio de Sarcocornia fruticosa ou de Halimione portulacoides<br />
(1420pt2)<br />
Subtipo que ocupa preferencialmente margens de esteiros, canais e taludes no sapal<br />
externo médio, sendo visitado bidiariamente pelas águas marinhas na preiamar.<br />
Apresenta dominância de Sarcocornia fruticosa ou de Halimione portulacoides,<br />
apresentando variavelmente outras espécies como Cistanche phelypaea e Puccinellia<br />
maritima.<br />
Subtipo: Sapal médio de Sarcocornia perennis subsp. alpini (1420pt3)<br />
Subtipo que se desenvolve no sapal externo médio, sujeito ao fluxo bidiário das marés,<br />
ficando submerso durante a preia-mar, é dominado por Sarcocornia perennis subsp.<br />
alpini e ou Halimione portulacoides, apresentando variavelmente outras espécies<br />
como Limonium vulgare, Limonium ferulaceum, Sarcocornia fruticosa, Triglochin<br />
bulbosa subsp. barrelieri e Inula crithmoides.<br />
Subtipo: Sapal alto de Arthrocnemum macrostachyum (1420pt4)<br />
Subtipo que ocupa a cotas mais elevadas do sapal (sapal externo alto), em solos<br />
salinos preferencialmente argilosos ou argilo-limosos e em muros de salinas, sendo<br />
apenas visitado pelas águas marinhas pouco mais de 200 dias/ano. Apresenta<br />
dominancia por Arthrocnemum macrostachyum, com presença de outras espécies<br />
halófilas, como Inula crithmoides, Limonium ferulaceum, Limonium ovalifolium,<br />
Limonium daveaui, Halimione portulacoides, Sarcocornia fruticosa, Sarcocornia<br />
perennis subsp. alpini, Suaeda vera, Artemisia caerulescens subsp. caerulescens,<br />
Triglochin bulbosa subsp. barrelieri.<br />
Subtipo: Comunidades de Suaeda vera (1420pt5)<br />
Subtipo frequente no sapal alto, no espaço compreendido entre os limites da preia-mar<br />
viva e da preia-mar morta, onde se acumulam resíduos orgânicos transportados pelas<br />
marés e que se desenvolve em marachas e caminhos de salinas, em arribas costeiras<br />
fortemente batidas pelas águas do mar e muito nitrofilizadas pelos dejectos de aves<br />
marinhas e ainda em solos salinos secos perturbados de sapal, frequentemente de<br />
textura arenosa ou areno-limosa, que nunca são submersas na preia-mar. Composto<br />
por comunidades halonitrófilas, dominadas por Suaeda vera, com presença de um<br />
número variável de espécies halófilas, como Cistanche phelypaea, Arthrocnemum<br />
macrostachyum, Halimione portulacoides, Limonium ferulaceum, Sarcocornia perennis<br />
subsp. alpini, Sarcocornia fruticosa, Inula crithmoides e Beta maritima.<br />
Subtipo: Comunidades de Limonium ferulaceum (1420pt7)<br />
Subtipo que ocorre em sapais, frequentemente nitrofilizados, nunca inundados, só<br />
visitados pelas águas das marés equinociais, em biótopos onde ocorre ascensão de<br />
sais ou ainda em arribas costeiras fortemente batidas pelas águas do mar. Possuem<br />
comunidades dominadas por Limonium ferulaceum sendo também frequentes Inula<br />
crithmoides e Halimione portulacoides.<br />
18<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Matos halonitrófilos (Pegano-Salsoletea) (1430)<br />
Habitats que compreendem a vegetação halonitrófila das margens e/ou orlas de<br />
sapais e salinas, com solos, apresentando alguma salinidade e nitrofilizados por<br />
resíduos orgânicos ou não, do arrastamento de detritos pela água das marés e da<br />
deposição de detritos orgânicos de origem antrópica. Composta por comunidades de<br />
caméfitos e nanofanerófitos frequentemente suculentos de folhas pequenas.<br />
Apresentam dominância de Atriplex halimus, Frankenia laevis, Salsola vermiculata,<br />
ocorrendo também Beta marítima e Suaeda vera.<br />
Dunas fixas com vegetação herbácea («dunas cinzentas») (2130*)<br />
As dunas cinzentas constituem uma sucessão de cristas e corredores interdunares e<br />
caracterizam-se por apresentarem estabilidade das suas partículas arenosas. Habitat<br />
dominado por comunidades arbustivas de baixo porte, psamófilas, com um grau de<br />
cobertura muito elevado, um importante papel na estabilização das areias dunares,<br />
contribuindo fortemente para a conservação dos solos que aí se originam e para a<br />
protecção e reabastecimento das toalhas freáticas de água doce. Em Portugal<br />
continental as dunas cinzentas são das mais ricas em endemismos ou espécies de<br />
Armeria pungens e Linaria caesia. Na área de estudo este habitat ocorre por exemplo<br />
junto à Ponte Vasco da Gama, no entanto, estas zonas parecem por vezes muito<br />
descaracterizadas e sujeitas a poluição.<br />
Dunas fixas descalcificadas atlânticas (Calluno-Ulicetea) (2150*)<br />
Este habitat surge em solos de textura arenosa, oligotróficos e com baixa capacidade<br />
de retenção de água. As dunas fixas apresentam comunidades subseriais de bosques<br />
de Querci ou Pinus, que são favorecidas pelo fogo. Caracterizam-se por possuir<br />
comunidades vegetais de tojais, tojais-urzais e tojais-estevais psamófilos litorais ou<br />
sublitorais da classe Calluno-Ulicetea, dominadas por arbustos espinhosos da família<br />
Leguminosae (Ulex australis subsp. welwitschianus ou U. europaeus subsp.<br />
latebracteatus).<br />
Subtipo: Dunas fixas com tojais-urzais e tojais-estevais psamófilos com Ulex australis<br />
subsp. welwitschianus (2150pt1)<br />
Subtipo que ocorre em paleodunas, com sinais de hidromorfismo, com dominância de<br />
U. australis subsp. welwitschianus. Para além deste apresentam um número variável<br />
de espécies entre as quais Calluna vulgaris, Cistus ladanifer, Erica scoparia, E.<br />
umbellata, Genista triacanthos e Halimium halimifolium. Pode contactar com outros<br />
habitats como os matagais de Juniperus navicularis (habitat 2250, subtipo 2250pt2), os<br />
prados de Malcolmietalia (habitat 2230) e ainda arrelvados de Corynephorus<br />
canescens var. maritimus (habitat 2330).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 19
Dunas litorais com Juniperus spp. (2250*)<br />
Os zimbrais litorais ocorrem em solos arenosos de textura grosseira, ácidos, pobres<br />
em nutrientes e com pouca capacidade de retenção de água, ocupando dunas<br />
consolidadas. Podem ainda ocorrer, por acção antrópica, em ambientes florestais de<br />
pinhal ou sobreiral. Caracterizam-se pelo domínio de formações arbustivas do género<br />
Juniperus (J. turbinata subsp. turbinata e/ou J. navicularis), onde são também<br />
frequentes arbustos como: Rhamnus alaternus, Pistacia lentiscus, Myrtus communis,<br />
Asparagus aphyllus, Phillyrea angustifolia, Corema album, Quercus coccifera subsp.<br />
coccifera e Antirrhinum majus subsp. cirrhigerum. Podem ocorrer contactando com<br />
formações de cistáceas (habitat 2260) ou eventualmente montados (habitat 6310).<br />
Apresenta vegetação que, além do seu valor de conservação elevado, constitui o<br />
habitat para variada fauna terrestre e contribui para manutenção da dinâmica<br />
geomorfológica dos sistemas dunares. A acção antrópica tem contribuído para<br />
redução da diversidade e estrutura deste habitats. Na área de estudo estes zimbrais<br />
aparecem em ambiente florestal, no Pinhal de Camarate.<br />
Subtipo: Paleodunas com matagais de Juniperus navicularis (2250pt2)<br />
Subtipo caracterizado por possuir vegetação das associações Daphno gnidii-<br />
Juniperetum navicularis e Junipero navicularis-Quercetum lusitanicae, com domínio de<br />
Juniperus navicularis. Podem ocorrer também, Corema album, Pistacia lentiscus,<br />
Calluna vulgaris, Stipa gigantea, Quercus lusitanica, Ulex australis subsp.<br />
welwitschianus, Halimium calycinum, Thymus capitellatus, Stauracanthus genistoides,<br />
Armeria rouyana, etc. Na ZPE do Tejo, a sua área potencial coincide com pinhal de P.<br />
Pinea (Pinhal de Camarate).<br />
Dunas com vegetação esclerófila da Cisto-Lavanduletalia (2260)<br />
Habitats presentes em dunas holocénicas terciárias activas estabilizadas, paleodunas<br />
plio-pleistocénicas sub-litorais ou interiores e em depósitos de areias soltas, de origem<br />
diversa, como aluviões e granitos arenizados. Apresentam substratos arenosos secos<br />
hidricamente, sem compensação freática ou níveis impermeáveis areníticos subsuperficiais.<br />
Contêm comunidades vegetais arbustivas espinhosas, xerofíticas,<br />
aciculifólias ou micrófilas, da classe Cisto-Lavanduletea.<br />
São dominantes as plantas da família Leguminosae como Stauracanthus genistoides<br />
(Brot.) Sampaio. Apresentam ainda outros taxa, alguns com elevado valor de<br />
conservação como Armeria rouyana, Halimium halimifolium, Halimium calycinum,<br />
Helichrysum italicum subsp. picardii, Iberis ciliata subsp. welwitschii, Lavandula<br />
stoechas subsp. sampaiana, Thymus capitellatus, Ulex australis subsp.<br />
welwitschianus, Cistus salvifolius, Calluna vulgaris, Cistus crispus, Corema album e<br />
Corynephorus canescens.<br />
20<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Lagos eutróficos naturais com vegetação da Magnopotamion ou da<br />
Hydrocharition (3150)<br />
Lagos, lagoas, charcos, açudes, valas, paúis e linhas de água de reduzido caudal de<br />
águas eutróficas, paradas ou lentas com comunidades dulçaquícolas flutuantes ou<br />
submersas, enraizadas ou suspensas na água. Apresentam comunidades vegetais de<br />
um grande número de famílias, como: Lemnaceae, Azollaceae, Ranunculaceae,<br />
Potamogetonaceae, sendo normalmente dominadas por espécies como: P. Natans e<br />
Wolfia arrhiza. Este habitat é susceptível de ser encontrado, na zona de Pancas, nas<br />
lagoas artificiais de água doce (águas represadas), no açude da Herdade da Barroca<br />
d’ Alva, que apresentam vegetação aquática abundante, já na zona a sul da barragem<br />
do Vale Cobrão, onde estão referidos outros açudes, este habitat não foi confirmado,<br />
podendo ter ocorrência sazonal.<br />
Lagos e charcos distróficos naturais (3160)<br />
Habitats que ocorrem em lagos ou charcos, com águas oligo a mesotróficas, ricas em<br />
ácidos húmicos e com um substrato por vezes turfoso, por vezes em processo de<br />
terrestrialização, raramente secam no Verão. São colonizados por comunidades<br />
vegetais dominadas por hidrófitos dulçaquícolas não enraizados, suspensos na água,<br />
pertencentes aos géneros Sparganium e Utricularia, com dominância de U. Gibba e U.<br />
Australis. Este habitat não foi confirmado com o trabalho de campo efectuado,<br />
apresentando-se como potencial na carta de habitats (Carta [16]).<br />
Charcos temporários mediterrânicos (3170*)<br />
Charcos formados nas depressões de terreno planos, sazonalmente inundados por<br />
água doce, em solos siliciosos e oligotróficos ou em depósitos fluviais onde<br />
predominam arenitos e conglomerados numa matriz argilosa. Apresentam<br />
comunidades variáveis, normalmente anuais, de plantas vasculares, adaptadas a<br />
solos temporariamente encharcados, de floração primaveril e de elevada diversidade.<br />
Têm como espécies dominantes o Eryngium corniculatum e várias espécies<br />
pertencentes ao género Isoetes (I. velatum subsp. velatum, I. setaceum, I. histrix), com<br />
presença sazonal de Illecebrum verticillatum, Lotus hispidus, Juncus pygmaeus,<br />
Lythrum hyssopifolia, Mentha pulegium, Agrostis pourretii, Chaetopogon fasciculatus.<br />
Os charcos temporários mediterrânicos foram confirmados apenas na área da Mata do<br />
Catapereiro, embora a sua localização não seja considerada exaustiva, devido ao<br />
período em que o trabalho de campo foi efectuado. Nos outros locais potenciais, todos<br />
os charcos encontrados destinavam-se a fornecer água ao gado, estando muito<br />
descaracterizados.<br />
Cursos de água mediterrânicos permanentes da Paspalo-Agrostidion com<br />
cortinas arbóreas ribeirinhas de Salix e Populus alba (3280)<br />
Cursos de água mediterrânicos permanentes, com depósitos fluviais ricos em<br />
compostos azotados, normalmente de granulometria fina, muito húmidos e quase todo<br />
o ano submersos ou encharcados. Possuem arrelvados dominados por Paspalum<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 21
paspalodes, que servem de pastagem a diversos herbívoros durante o verão e são<br />
ladeados por cortinas arbóreas ribeirinhas de Salix e Populus alba. Podem surgir<br />
também várias espécies da família Gramineae (Agrostis stolonifera, Elymus repens<br />
subsp. repens, Polypogon viridis e Panicum repens) e de outras familias (Lythrum<br />
junceum, Mentha suaveolens, Ranunculus repens e Rumex sp.). São ainda frequentes<br />
salgueirais, juncais nitrófilos de Juncus inflexus, arrelvados de Cynodon dactylon, bem<br />
como um número variável de comunidades anfíbias e aquáticas. O trabalho de campo<br />
identificou como potencial este tipo de habitat, na vala de rega longitudinal à ribeira do<br />
Vale Cobrão e em afluentes represados desta ribeira.<br />
Montados de Quercus spp. de folha perene (6310)<br />
Os montados integram pastagens naturais perenes com um coberto arbóreo, pouco<br />
denso, de sobreiros (Quercus suber) e/ou azinheiras (Q. ilex subsp. ballota). São<br />
habitats de origem e manutenção antrópica, que tem por base a regular e moderada<br />
pastagem que dificulta a invasão de arbustos heliófilos, por vezes incluindo<br />
parcialmente sistemas de agricultura arvense extensiva em rotações longas. Nos<br />
montados com declínio da actividade pastorícia verifica-se uma recuperação<br />
sucessional do bosque. Para além do porte arbóreo, que pode variar bastante em<br />
densidade, existe dominância dos hemicriptófitos das pastagens (T. tomentosum,<br />
Parentucellia latifolia, Bellis annua, Erodium botrys, Gynandriris sisyrynchium,<br />
Paronychia argentea, Hypochaeris radicata). Pode por vezes possuir esporadicamente<br />
outras plantas como Quercus coccifera, Arbutus unedo, Asparagus sp. e Myrtus<br />
communis remanescentes do bosque que originou o montado. Os montados possuem<br />
um enorme valor de conservação como paisagem cultural e para a biodiversidade<br />
faunística e florística. Este habitat descreve todos os povoamentos de sobreiro<br />
existentes na área de estudo.<br />
Pradarias húmidas mediterrânicas de ervas altas da Molinio-Holoschoenion<br />
(6420)<br />
Habitats que ocorrem em solos de textura ligeira, húmidos que possuem um lençol<br />
freático próximo da superfície. São constituídos por juncais não halófilos e não<br />
nitrófilos de elevado grau de cobertura, dominados por Scirpoides holoschoenus,<br />
Juncus acutus e/ou J. maritimus e ausência de espécies halófilas. Possuem ainda<br />
frequentemente outras espécies da família Cyperaceae (Cyperus sp., Schoenus sp.) e<br />
Gramineae (Agrostis sp., Briza sp., Cynodon sp., Holcus sp., Phalaris sp., Poa sp.).<br />
Este habitat foi referenciado, com base em trabalho de campo, para as margens da<br />
ribeira do Vale Cobrão, onde se verifica a existência simultânea de Scirpus<br />
holoshoenus e de Malcomia sp. ou apenas de Scirpus holoshoenus, ao longo das<br />
margens desta albufeira.<br />
22<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Florestas-galerias de Salix alba e Populus alba (92A0)<br />
Habitats maioritariamente ripícolas em solos ácidos derivados de material aluvionar.<br />
Formam bosques ou matagais, densos, dominadas por choupos (Populus nigra e P.<br />
alba), salgueiros arbóreos (Salix alba e S. atrocinerea) ou salgueiros arbustivos (S.<br />
salviifolia). Com presença de Hedera sp., Rubus sp., Rosa sp., Bellis sp., Geranium<br />
sp., Torilis sp.. Este habitat encontra-se ao longo de algumas linhas de água,<br />
encontrando-se bem conservado na vala de rega longitudinal à ribeira do Vale Cobrão<br />
e nas valas da Malhada do mar e vala do Mosqueiro, embora de forma descontínua,<br />
com a presença de choupos ou apenas de salgueiros (Salix atrocinerea, Salix sp.). na<br />
Herdade da Barroca d ‘ Alva tem uma presença mais limitada às margens da represa e<br />
ribeira do paul da barroca, embora seja natural e potencial ao longo das margens das<br />
ribeira afluentes.<br />
Subtipo: Salgueirais-choupais de choupos-negros e/ou salgueiros-brancos (92A0pt2)<br />
Subtipo que ocorre em aluviões de margens de rios e ribeiras, valas de drenagem ou<br />
mesmo margens de lameiros, apresenta dominância de choupo-negro (Populus nigra)<br />
e/ou salgueiro-branco (Salix alba).<br />
Subtipo: Salgueirais arbustivos de Salix salviifolia subsp. salviifolia (92A0pt4)<br />
Subtipo que se encontra em vales muito estreitos, no leito de cheias ou em curvas<br />
pronunciadas dos rios, em depósitos fluviais grosseiros. Estes habitats ocupam as<br />
margens de linhas de água (oligotróficas) e são dominados por Salix salviifolia subsp.<br />
salviifolia.<br />
1.2.2.3 Identificação e caracterização fitossociologica das comunidades vegetais<br />
O termo comunidade foi aplicado a unidades de vegetação cartografadas, que podem<br />
abranger mais que um habitat, mas representam uma unidade, isto é, são manchas<br />
relativamente homogéneas de ponto de vista fitocenótico. (Proposta de metodologia<br />
para os planos de ordenamento das áreas protegidas, ICN, 2000). Utilizando esta<br />
terminologia, foram identificadas as seguintes Comunidades e/ou Unidades de<br />
Vegetação na área de estudo:<br />
• Montados de Quercus suber<br />
• Vegetação arbustiva e subarbustiva (matagais)<br />
• Vegetação ripícola (galerias ripícolas e herbáceas higrófilas)<br />
• Sistemas húmidos intertidais (sapal, juncal e caniçal)<br />
• Vegetação dunar<br />
• Vegetação aquática<br />
• Prados Naturais<br />
• Área agrícola: regadio<br />
• Área agrícola: sequeiro/pastagens<br />
• Vegetação ruderal<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 23
• Povoamento de coníferas<br />
• Plantações de Eucalipto<br />
Segundo a nomenclatura adoptada para os planos de Ordenamento a nível nacional,<br />
as comunidades vegetais da área de estudo dividem-se nas seguintes classes:<br />
1 Comunidades vegetais naturais e seminaturais<br />
1.1 Vegetação halófita litoral, da faixa intermareal<br />
1.1.1 Sapal estuarino predominantemente contínuo<br />
1.1.2 Sapal estuarino predominantemente meandrizado<br />
1.1.3 Complexos sapal/taludes/salinas/piscicultura não intensiva<br />
1.2 Vegetação psamófila litoral<br />
1.2.1 Comunidades de areias estabilizadas<br />
1.3 Vegetação aquática dulçaquicola, em águas paradas, fixa na vasa,<br />
flutuante e de margem<br />
1.3.1 Charcas, lagoachos e depressões temporariamente alagadas<br />
1.3.2 Albufeiras e açudes não naturalizados<br />
1.4 Vegetação ripícola de cursos de águas correntes<br />
1.4.1 Vegetação ripícola de cursos de água permanentes<br />
1.5 Vegetação herbácea (não halófita, não psamófila, não rupícola e não<br />
ripícola)<br />
1.5.1 Prados e arrelvados com predominância de ervas vivazes<br />
1.5.1.1 Depressões húmidas não paludosas (incluindo juncais)<br />
1.6 Vegetação arbustiva [matos - matagais, matos de porte médio e matos<br />
rasteiros]<br />
1.6.1 Matos de espécies perenifólias<br />
1.6.1.1 Matos de espécies perenifólias esclerófilas<br />
1.6.1.1.1 Matos de espécies micrófilas<br />
1.6.1.1.1.1 Matos não higrofílicos<br />
1.6.1.1.1.2 Outros matos de espécies perenifólias<br />
1.7 Vegetação arbórea [bosques e matas naturais]<br />
1.7.1 Montados (com aproveitamento sob coberto)<br />
2 Comunidades vegetais com influência antropogénica<br />
2.1 Área agrícola<br />
2.1.1 Áreas de sequeiro<br />
2.1.2 Áreas de regadio<br />
2.1.3 Áreas de alagamento<br />
2.2 Vegetação ruderal<br />
2.3 Povoamento de coníferas<br />
2.4 Plantações de eucalipto<br />
24<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
DESCRIÇÃO DAS UNIDADES<br />
1 Comunidades vegetais naturais e seminaturais<br />
1.1 Vegetação halófita litoral da faixa intermareal<br />
1.1.1 Sapal estuarino predominantemente contínuo<br />
1.1.2 Sapal estuarino predominantemente meandrizado<br />
1.1.3 Complexos sapal/taludes/salinas/piscicultura não intensiva<br />
A vegetação halófita litoral, da faixa intermareal está localizada na zona sob influência<br />
das marés, estando sujeita quer às condições de agitação marítima, quer a variações<br />
no teor de salinidade das águas, como acontece na foz dos rios, que podem ser do<br />
tipo estuário, delta, ria, laguna. São sistemas vulneráveis, de elevada biodiversidade e<br />
muito dinâmicos devido à influência da orla costeira e do escoamento fluvial. Em<br />
termos de fitossociologia, algumas comunidades e associações características deste<br />
tipo de habitats, estão incluídas nas classes Juncetea maritimi, Spartinetea maritimae,<br />
Phragmiti-Magnocaricetea, Thero-Salicornietea e Saginetea maritimae. Estas<br />
comunidades estão representadas pelos seguintes habitats: 1130 Estuários; 1140<br />
Lodaçais e areais a descoberto na maré baixa; 1210 Vegetação anual das zonas de<br />
acumulação de detritos pela maré; 1310 Vegetação pioneira de Salicornia e outras<br />
espécies anuais das zonas lodosas e<br />
arenosas; 1320 Prados de Spartina<br />
(Spartinion maritimae); 1410 Prados<br />
salgados mediterrânicos (Juncetalia<br />
maritimi); 1420 Matos halófilos<br />
mediterrânicos e termoatlânticos<br />
(Sarcocornetea fruticosi); 1430 Matos<br />
halonitrófilos (Pegano-Salsoletea).<br />
O número de habitats dos sistemas<br />
húmidos intertidais é revelador da sua<br />
importância. Estão incluídos nestas<br />
comunidades, os sapais, juncais e<br />
caniçais. Os sapais originam-se em zonas costeiras de águas calmas. O reduzido<br />
fluxo das marés facilita a deposição<br />
dos detritos e sedimentos em<br />
suspensão e assim vão surgindo<br />
bancos de vasa onde, a certa altura,<br />
há substrato para a instalação de uma<br />
vegetação particular denominada<br />
halófita. O sapal está entre as zonas<br />
mais produtivas da biosfera, no que<br />
respeita à produção de matéria viva<br />
ou biomassa, os nutrientes chegam a<br />
ele naturalmente, levados pelo<br />
movimento constante de fluxo e<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 25
efluxo das marés, pelos sedimentos provenientes da zona continental, pelos seres<br />
vivos que nele se fixam e, morrendo, ali se decompõem. A vegetação do sapal tem um<br />
papel muito importante na depuração das águas, devido à grande capacidade de<br />
absorver e fixar metais pesados, muitos dos quais são tóxicos para outros seres vivos;<br />
por outro lado, os abundantes microorganismos aqui existentes metabolizam e<br />
convertem em nutrientes, materiais que, de outro modo, poluiriam as suas águas.<br />
Assim sendo o sapal contribui para a diminuição do nível de eutrofização provocado<br />
por efluentes urbanos e industriais. No sapal podem-se distinguir 3 zonas: sapal baixo,<br />
margem húmida ou limite inferior do sapal, sapal médio ou zona intermédia, e sapal<br />
alto, limite superior do sapal ou margem seca, sendo cada uma destas zonas<br />
colonizadas por espécies distintas, influenciadas pela variação de salinidade, período<br />
de submersão, sedimentação e arejamento do solo. Os juncais são extensões<br />
vegetais, que aparecem nas orlas mais afastadas do sapal alto, onde a espécie<br />
dominante é o junco-marítimo ou junco-das-esteiras (Juncus maritimus). Os caniçais<br />
têm o seu nome associado ao caniço (Phragmites australis), pelo facto de ser<br />
predominante neste habitat. Geralmente tem uma distribuição ainda mais periférica<br />
que o juncal, pois é uma espécie que tolera pouco a salinidade, surgindo com o<br />
aumento da proporção de água doce, que favorece esta espécie hidrófila. É um habitat<br />
de grande importância para muitas espécies de avifauna, para as quais além de<br />
proporcionarem alimento, óptimas condições de nidificação e abrigo contra a predação<br />
dos animais terrestres, fornecem microclimas no seu interior, estando menos sujeitos a<br />
variações do nível da água e abrigadas do vento.<br />
1.2 Vegetação psamófila litoral<br />
1.2.1 Comunidades de areias estabilizadas<br />
Unidade de vegetação que representa uma área muito pequena da Reserva Natural<br />
do Estuário do Tejo e que ocorre em dunas estabilizadas. A sua vegetação<br />
caracteriza-se por se desenvolver em areias mais ou menos fixas e que apenas se<br />
movimentam em pequenos corredores de deflação sem movimentação nas cristas<br />
(“dunas cinzentas”). Os solos destas dunas são pouco salinos e possuem um pH<br />
26<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
neutro ou ácido, sendo constituídos<br />
por uma baixa percentagem de<br />
matéria orgânica. Estas<br />
comunidades são representadas por<br />
um único habitat prioritário, dunas<br />
fixas com vegetação herbácea<br />
(“dunas cinzentas”) (2130*).<br />
Apresentam uma flora de baixo<br />
porte, que está normalmente<br />
abrigada dos ventos marinhos, com<br />
uma cobertura muito elevada e um<br />
papel muito importante na fixação e<br />
estabilização das areias dunares. Existem diversas associações, como Crucianellion<br />
maritimae, Stellarietea mediae, Linario polygalifoliae e Vulpion alopecuroris. São locais<br />
ricos em endemismos, como Armeria welwitschii, Coincya johnstonii, Jasione lusitana,<br />
Herniaria maritima, Malcolmia alyssoides, Verbascum ligiosum e outras espécies de<br />
distribuição restrita como Anthemis maritima, Armeria pungens subsp. pungens,<br />
Linaria caesia subsp. decumbens, L. lamarckii, Herniaria ciliolata subsp. robusta,<br />
Matthiola sinuata, Thymus carnosus. Na área da Reserva há uma notória degradação<br />
desta unidade de vegetação.<br />
1.3 Vegetação aquática dulçaquicola, em águas paradas, fixa na vasa, flutuante e de<br />
margem<br />
1.3.1 Charcas, lagoachos e depressões temporariamente alagadas<br />
1.3.2 Albufeiras e açudes não naturalizados<br />
Devido à localização da Reserva Natural numa zona estuarina, existem vários tipos de<br />
ambientes aquáticos de água doce, que ocupam uma área considerável. Esta unidade<br />
reúne os habitats de água doce que se encontram em lagos, charcos temporários ou<br />
depressões pantanosas de planície (Lagos eutróficos naturais com vegetação da<br />
Magnopotamion ou da Hydrocharition (3150); Lagos e charcos distróficos naturais<br />
(3160); Charcos temporários mediterrânicos (3170*), este último prioritário).<br />
Encontram-se todos em depressões do terreno com solos relativamente impermeáveis<br />
ou em locais onde a bacia freática atinge a superfície durante o Inverno, constituindo<br />
lagoas temporárias, que podem secar durante o Verão. Ocorrem em águas<br />
oligotróficas, mesotróficas ou eutróficas, paradas ou de corrente muito fraca sobre<br />
diversos tipos de substrato.<br />
Os cursos de água com corrente lenta (lagoas, charcos, açudes, valas, paúis e linhas<br />
de água de reduzido caudal), devido à sedimentação das partículas soltas,<br />
proporcionam a instalação de plantas enraizadas. As comunidades vegetais que<br />
colonizam este tipo de habitats é muito diversa, incluindo: vegetação das margens,<br />
vegetação enraizada, flutuante ou submersa e vegetação não enraizada, flutuante e<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 27
dependem não só da disponibilidade de água, mas também do nível de nutrientes<br />
orgânicos presente. Podem ser colonizados por plantas de diversas famílias, como<br />
Isoetaceae, Lemnaceae, Azollaceae, Ranunculaceae, Hydrocharitaceae,<br />
Haloragaceae, Nymphaeaceae,<br />
Callitrichaceae, Potamogetonaceae,<br />
Najadaceae,<br />
Zannichelliaceae<br />
Sparganiaceae e Lentibulariaceae, nas<br />
margens ocorrem sobretudo plantas das<br />
famílias Gramineae, Juncaceae e<br />
Caryophyllaceae Lythraceae e<br />
Umbelliferae. Estes habitats de água<br />
doce desempenham um papel primordial<br />
na regulação dos cursos de água e dos<br />
nutrientes, pela grande produtividade e<br />
diversidade biológica que apresentam.<br />
Na área de estudo, os habitats destas comunidades encontram-se muito diminuídos,<br />
degradados (eutrofizados) e artificializados por acção antrópica.<br />
1.4 Vegetação ripícola de cursos de águas correntes<br />
1.4.1 Vegetação ripícola de cursos de água permanentes<br />
Estas comunidades estabelecem-se ao longo das margens dos cursos de água,<br />
desempenhando uma importante função ecológica de fixação e manutenção das<br />
margens, bem como a regularização e retenção de águas em picos de cheia, para<br />
além de constituírem habitats próprios para muitas espécies animais.<br />
As formações vegetais de margem podem apresentar porte arbóreo, arbustivo ou<br />
herbáceo. Na área de estudo são caracterizadas ao nível do estrato arbóreo, pelo<br />
amieiro (Alnus glutinosa), freixo (Fraxinus angustifolia), salgueiros (Salix spp), choupos<br />
(Populus spp) e ulmeiro (Ulmus minor). No estrato arbustivo podemos encontrar o<br />
sanguinho (Frangula alnus), o pilriteiro (Crataegus monogyna), a urze-branca (Erica<br />
arborea), silvas (Rubus ulmifolius) e a rosa-de-cão (Rosa canina).<br />
Tanto nas comunidades arbóreas,<br />
como nas herbáceas, a distribuição<br />
das espécies é condicionada pelas<br />
exisgências bio-edafo-climáticas de<br />
cada uma delas. A vegetação<br />
desenvolvida<br />
inclui-se,<br />
predominantemente, na classe<br />
Phragmiti-Magnocaricetea.<br />
28<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
A flora herbácea associada a estes sistemas é muito variada e está estritamente<br />
ligada ao caudal, tipo de margem e declive. Assim, o estrato herbáceo é composto por<br />
muitas herbáceas higrófilas. Na área de estudo podemos salientar como mais<br />
representativas: o poejo (Mentha pulegium), Myosotis discolor subsp. discolor e<br />
Myosotis debilis, Lycopus europeus, Carex spp. e Juncus spp. etc. Estas comunidades<br />
constituem já habitats de transição entre os terrestres e os claramente aquáticos<br />
dulçaquicolas. A vegetação desenvolvida inclui-se predominantemente nas classes<br />
Bidentetea tripartitae e Isoeto-Nanojuncetea. Podemos considerar ainda o estrato<br />
lianóide (trepadeiras), onde podemos encontrar: a hera (Hedera madeirenses subsp.<br />
iberica), as madressilvas (Lonicera spp), o arrebenta-boi (Tamus communis) e a<br />
salsaparrilha-bastarda (Smilax aspera).<br />
Nestas comunidades estão incluídos os seguintes habitats: Cursos de água<br />
mediterrânicos permanentes da Paspalo-Agrostidion com cortinas arbóreas ribeirinhas<br />
de Salix e Populus alba (3280) e Florestas-galerias de Salix alba e Populus alba<br />
(92A0).<br />
1.5 Vegetação herbácea (não halófita, não psamófila, não rupícola e não ripícola)<br />
1.5.1 Prados e arrelvados com predominância de ervas vivazes<br />
1.5.1.1 Depressões húmidas não paludosas (incluindo juncais)<br />
Os prados naturais são pradarias<br />
higrofílicas, localizadas em depressões<br />
com um lençol freático próximo da<br />
superfície. Possuem solos de textura<br />
ligeira e de humidade elevada, mais ou<br />
menos constante ao longo do ano,<br />
correspondendo neste local a único<br />
habitat (Pradarias húmidas<br />
mediterrânicas de ervas altas da Molinio-<br />
Holoschoenion (6420)). Apresentam<br />
vegetação não halófila e não nitrófila,<br />
com elevado grau de cobertura, sobretudo da aliança Molinio-Holoschoenion. São<br />
dominados por juncais (Scirpoides holoschoenus, Juncus acutus e/ou J. Maritimus).<br />
Possuem ainda frequentemente outras espécies da família Cyperaceae (Cyperus sp.,<br />
Schoenus sp.) e Gramineae (Agrostis sp., Briza sp., Cynodon sp., Gaudinia sp.,<br />
Holcus sp., Phalaris sp., Poa sp.).<br />
1.6 Vegetação arbustiva [matos - matagais, matos de porte médio e matos rasteiros]<br />
1.6.1 Matos de espécies perenifólias<br />
1.6.1.1 Matos de espécies perenifólias esclerófilas<br />
1.6.1.1.1 Matos de espécies micrófilas<br />
1.6.1.1.1.1 Matos não higrofílicos<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 29
1.6.1.1.1.2 Outros matos de espécies perenifólias<br />
Inclui-se aqui os matos baixos, e os matos altos pertencentes aos habitats: 2150*<br />
Dunas fixas descalcificadas atlânticas<br />
(Calluno-Ulicetea); 2250* Dunas<br />
litorais com Juniperus spp. e 2260<br />
Dunas com vegetação esclerófila da<br />
Cisto-Lavanduletalia. Os matos baixos<br />
apresentam um porte subarbustivo, e<br />
constituem formas edaficamente<br />
condicionadas, de comunidades que<br />
usualmente apresentam estrutura mais<br />
evoluída, ou representam etapas<br />
seriais evolutivas ou regressivas<br />
(Alves, 1998). Nas regiões com<br />
características mediterrânicas, estes matos podem ser dominados por rosmaninho,<br />
tomilhos, sargaços, urzes xéricas e por carrascos de porte reduzido, podendo ainda<br />
surgir, em solos menos básicos, a carvalhiça (Quercus lusitanica), estevas, etc. A<br />
vegetação inclui-se nas classes Calluno-Ulicetea, Cisto-Lavanduletea e Rosmarinetea<br />
officinalis.<br />
Podem-se considerar matos altos ou deporte elevado, em geral densos a muito<br />
densos, as comunidades arbustivas a subarbóreas, com altura superior a 1,5 metros e<br />
inferior a 2,5/3 metros, dependendo da estrutura e fisionomia. Na região mediterrânica<br />
do nosso pais, estão representados, predominantemente, nas zonas calcárias por<br />
matagais com folhados, por medronhais, urzais, carrascais, zambujais, lentiscais,<br />
sabinais e sanguinhais mais ou menos densos e evoluídos, e por matos evoluídos com<br />
Osyris e Juniperus nas zonas arenosas perto do litoral. Do ponto de vista<br />
fitissociológico, esta vegetação inclui-se na classe Quercetea ilicis.<br />
1.7 Vegetação arbórea [bosques e matas naturais]<br />
1.7.1 Montados (com aproveitamento sob coberto)<br />
Os montados, constituem um tipo muito particular de formações florestais<br />
seminaturais, caracterizado fundamentalmente pela existência de um estrato arbóreo<br />
geralmente pouco denso, com uma pastagem natural ou seminatural sob coberto. Os<br />
montados de sobreiro, são mais frequentes que os de azinheira e ocorrem em locais<br />
de temperaturas menos extremas e com alguma humidade atmosférica e edáfica. Esta<br />
comunidade, corresponde ao habitat 6310, estando definida como: estruturas culturais<br />
de origem antrópica, em parque, cuja dominância ecológica é partilhada pelo<br />
remanescente arbóreo de um antigo bosque de sobreiros (Quercus suber) ou<br />
azinheiras (Q. ilex subsp. ballota) e por uma pastagem cespitosa vivaz com origem e<br />
persistência associada à pastorícia extensiva. Outras plantas remanescentes do sub-<br />
30<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
osque de outras etapas de substituição do bosque podem estar pontualmente<br />
presentes (e.g. Quercus coccifera, Arbutus unedo, Asparagus sp. pl., Viburnum tinus,<br />
Myrtus communis). Em alguns montados persistem algumas manchas de matagal alto<br />
correspondentes às antigas orlas do bosque (medronhais, carrascais). Nos montados<br />
sub-pastoreados ou não-pastoreados assiste-se ao estabelecimento de comunidades<br />
secundárias correspondentes a etapas de recuperação sucessional do bosque (urzaistojais,<br />
estevais, sargaçais ou giestais). Num montado típico, a regeneração das<br />
árvores encontra-se muito deprimida ou mesmo inexistente por efeito do uso pastoril<br />
(agrícola) do sob-coberto, que impede o sucesso das plântulas de sobreiro ou<br />
azinheira. Em Portugal, a área de montado tem vindo a decrescer, em parte devido ao<br />
envelhecimento dos efectivos, devido a doenças provocadas por fungos e outras<br />
pragas e também devido a práticas culturais desadequadas (Alves, 1998).<br />
2 Comunidades vegetais com influência antropogénica<br />
2.1 Área agrícola<br />
A área agrícola, corresponde a uma unidade de vegetação, inteiramente artificial e que<br />
tem sido modelada de acordo com as necessidades humanas. A agricultura praticada<br />
é de sequeiro (pastagens) e regadio, nesta última dominam as culturas de arroz<br />
(Oryza sativa), milho (Zea mays) e forrageiras. Salienta-se a necessidade de evitar<br />
explorações intensivas dos terrenos, que a longo prazo conduzirão a eutrofização das<br />
águas das lagoas e charcos, pondo em risco a flora dos mesmos.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 31
2.5 Vegetação ruderal<br />
A vegetação ruderal corresponde a comunidades<br />
vegetais sujeitas a alterações antropológicas em<br />
maior ou menor grau, dos factores edáficos. Estes<br />
habitats artificializados podem ser bermas de<br />
caminhos, taludes de estradas, entulhos, campos<br />
abandonados sujeitos a intervenção humana, etc.<br />
São predominantes comunidades herbáceas e<br />
32<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
subarbustivas, com um grande número de espécies, que tendem a evoluir para<br />
comunidades com maior grau de naturalidade, na ausência de intervenção humana.<br />
São típicas as classes de vegetação como, a Artemisetea vulgaris, a Stellarietea<br />
mediae, a Polygono-Poetea annua e a Geranio purpurei-Cardaminea.<br />
2.6 Povoamento de coníferas<br />
Estes povoamentos são mais<br />
vulgarmente conhecidos como pinhais.<br />
Correspondem a formações<br />
antropógenas, seminaturais, que foram<br />
instaladas em diversas áreas do nosso<br />
país e em grandes extensões, dando<br />
origem a massas florestais<br />
monoespecíficas e contínuas, com baixa<br />
diversidade biológica. São<br />
essencialmente constituídos por<br />
povoamentos de pinheiro-bravo (Pinus pinaster), pinheiro-manso (Pinus pinea) e ou<br />
mistos, associados por vezes a outras coníferas tais como: Pseudotsuga menziezii,<br />
Cryptomeria japonica, Chamaecyparis lawsoniana, etc.<br />
2.7 Plantações de eucalipto<br />
As plantações de eucalipto (Eucalyptus globulus) ocupam actualmente uma grande<br />
área (quase um terço) das florestas de Portugal. Esta espécie encontrou no nosso<br />
País condições ecológicas excepcionais, daí a sua plantação, sobretudo com vista à<br />
produção de pasta de papel. A Reserva Natural do Estuário do Tejo possui algumas<br />
plantações, que se restringem a pequenos núcleos, ocupando no total uma pequena<br />
percentagem da área total. Parte da área florestal é delimitada por peculiares “sebes<br />
vivas” de eucaliptos. Para além de E. globulus, também é possível encontrar com<br />
representação significativa na área de estudo E. camaldulensis, mas de uma forma<br />
geral estes povoamentos são muito pobres em termos de diversidade e interesse<br />
florístico. Deve ser salientado o facto de que, a continua plantação de eucaliptos em<br />
zonas húmidas conduzirá a drenagem das zonas húmidas, podendo por em perigo<br />
alguns habitats das comunidades de vegetação aquática e dos prados naturais.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 33
1.3 Fauna<br />
1.3.1 Comunidades estuarinas<br />
A cadeia alimentar estuarina, assente nos organismos vegetais, desenvolve-se através<br />
de uma complexa teia de organismos, desde os invertebrados bentónicos e<br />
zooplâncton até aos elos superiores da cadeia, nomeadamente répteis, aves e<br />
mamíferos, culminando no Homem.<br />
1.3.1.1.1 Zooplâncton<br />
O zooplâncton é constituído por organismos animais que flutuam ao sabor das<br />
correntes, alimentando-se do fitoplâncton e servindo por sua vez de alimento para<br />
peixes, principalmente juvenis, representando deste modo o segundo elo da cadeia<br />
trófica na coluna de água. O zooplâncton é constituído essencialmente por pequenas<br />
medusas, ctenóforos, protozoários, microcrustáceos (Copépodes e os Misidáceos) e<br />
formas larvares de crustáceos, moluscos, anelídeos e equinodermes. Apresenta picos<br />
de densidade na Primavera e no Outono, que dependem essencialmente da<br />
abundância de fitoplâncton. A montante no estuário predominam os Copépodes, dos<br />
quais a espécie Acartia tonsa é a mais comum, e os Cladóceros. Segundo Cabral<br />
(1998), comparando duas zonas do estuário – Vila Franca de Xira e Alcochete –<br />
verificou-se uma marcante predominância de misidáceos a montante enquanto os<br />
copépodes dominam a jusante. As densidades obtidas são também muito diferentes,<br />
com Alcochete a apresentar valores da ordem dos 3 mil indivíduos m -3 e a segunda<br />
valores da ordem das duas centenas de indivíduos m -3 .<br />
O Ictioplâncton é um subgrupo do zooplâncton, correspondendo aos ovos e às fases<br />
larvares de peixes. A anchova (Engraulis encrasicolus), os cabozes (Pomatoschistus<br />
minutus e P. microps), os charrocos (Halobatrachus didactylus) e a corvina<br />
(Argyrossomus regius) fazem as suas posturas no estuário. Por outro lado o linguado<br />
(Solea senegalensis) integra o ictioplâncton estuarino já no estado pós-larvar,<br />
completando o ciclo de crescimento dentro do estuário (Costa e Salgado, 1999).<br />
34<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
1.3.1.1.2 Macrozoobentos<br />
O zoobentos, em particular o macrozoobentos, coloniza os fundos subtidais e<br />
intertidais vasosos, vaso-arenosos e areno-vasosos do estuário. No estuário do Tejo<br />
os grupos mais abundantes são os anelídeos, os moluscos e os crustáceos (Costa e<br />
Salgado, 1999).<br />
O poliqueta mais abundante no estuário do Tejo é Hediste diversicolor, típico de<br />
ambientes intertidais. Constitui uma importante como fonte de alimento para aves,<br />
como a tarambola-cinzenta e peixes, como o linguado ou a patruça, sendo alvo de<br />
apanha comercial, como isco para pesca. Os oligoquetas, os poliquetas Cirratulidae,<br />
Capitella capitata e Streblospio shrubsolli, e os crustáceos Corophium sp. e Cyatura<br />
carinata, são espécies conhecidas por serem tolerantes ao enriquecimento do<br />
sedimento em matéria orgânica e são comuns no estuário (Silva et al., 2006). Estas e<br />
outras espécies de poliquetas também muito abundantes no estuário, são dominantes<br />
em comunidades macrozoobentónicas influenciadas por poluição.<br />
Entre os moluscos, destacam-se as espécies que possuem valor comercial no<br />
estuário: os bivalves lambujinha (Scrobicularia plana) e o berbigão (Cerastoderma<br />
edule), o mexilhão (Mytillus galloprovincialis), além da ostra-portuguesa (Crassostrea<br />
angulata), cuja população decresceu drasticamente a partir dos anos 60-70 devido a<br />
factores exógenos (bactéria e malformações originais pelo TBT – tributilestanho).<br />
Entre os moluscos cefalópodes salienta-se o choco-vulgar (Sepia officinalis), que se<br />
reproduz no estuário entre Fevereiro-Março até Agosto, e é alvo de pesca comercial<br />
(Dias e Marques, 1999).<br />
A nível de crustáceos decápodes, destacam-se pela sua importância ecológica ou<br />
comercial o camarão-mouro (Crangon crangon), o camarão-branco (Palaemon<br />
longirostris), o camarão-branco-legítimo (Palaemon serratus), o caranguejo-verde<br />
(Carcinus maenas) e o caranguejo-chinês (Eriocheir sinensis) (Costa e Salgado,<br />
1999). O camarão-mouro e o caranguejo verde são espécies dominantes no estuário e<br />
desempenham um papel muito importante nas cadeias tróficas estuarinas, servindo de<br />
alimento preferencial para espécies como o robalo, o congro ou a enguia (Dias e<br />
Marques, 1999). O caranguejo chinês é uma espécie exótica recentemente introduzida<br />
no estuário, que compete com as espécies indígenas (Carcinus maenas) sendo<br />
considerada potencialmente nociva.<br />
O primeiro estudo efectuado depois da construção da Ponte Vasco da Gama (Cabral,<br />
2001) sobre os crustáceos decápodes, revelou para a zona oligohalina do estuário que<br />
se estende até Vila Franca de Xira, a existência de 3 espécies: camarão-branco,<br />
caranguejo-chinês e camarão-mouro. Nas estações de amostragem de montante,<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 35
mais próximas da área de estudo, o camarão-branco surge com maiores densidades<br />
na Primavera e no Outono, o camarão-mouro é mais frequente na Primavera,<br />
enquanto o caranguejo-chinês é mais comum no Verão. No entanto, as densidades<br />
observadas nesta zona do estuário são bem mais baixas do que em outras estações,<br />
situadas a jusante. Deve também ser destacada a antiga riqueza dos bancos de ostras<br />
no estuário, que se formaram até ao final da década de 60, onde terá sido originária a<br />
ostra portuguesa (Crassostrea lusitanica). As ostreiras hoje em dia não tem qualquer<br />
interesse comercial, sendo colonizadas por macroalgas. As antigas ostreiras ocupam<br />
uma área de 16 km 2 .<br />
Em termos de biótopos, o macrozoobentos distribui-se pelos seguintes habitats<br />
principais (Calvário, 1982):<br />
• Sapal – Reconhecem-se duas comunidades: uma do supra-tidal (sapal com<br />
Juncus maritimus), essencialmente com Lygia oceanica e Porcellio pruinosus;<br />
e outra no sapal médio e baixo onde predominam os insectos, seguidos dos<br />
crustáceos e dos moluscos. Como espécies exclusivas registam-se<br />
Sphaeroma rugicauda que domina os povoamentos. Predominantes são<br />
também Orchestia spp. e Hydrobia ulvae. São ainda importantes o isópode<br />
Lygia oceanica e o caranguejo Carcinus maenas, Orchestia kosswigi,<br />
Paragnathia formica e Physa acuta.<br />
• Ostreiras – Possuem sedimento variável que tanto pode ser de areia vasosa,<br />
vasa arenosa até às vasas negras compactas, pelo que a comunidade<br />
macrozoobentónica se distribui também ao longo deste gradiente. É neste<br />
tipo de substrato que se encontram as comunidades com fácies do Mytilus<br />
galloprovincialis (mexilhão) e de Cerastoderma edule (berbigão). É também<br />
de referir a presença de Hediste diversicolor e o crustáceo Cyathura carinata,<br />
comuns nos três tipos de sedimentos e ainda Scrobicularia plana, mais<br />
comum em vasa arenosa e vasa negra. As espécies Melita palmata, Hydrobia<br />
ulva e Carcinus maenas são capturadas especialmente em areia vasosa. As<br />
ostreiras possuem ainda um grande número de espécies exclusivas tanto<br />
poliquetas, como crustáceos ou moluscos: Marphysa sanguinea, Nereis<br />
succinea, Lagisca extenuata, Eunöe nodosa, Autolytus sp., Hymeniacidon<br />
sanguinea, Reniera spp., Lepa anatifera, Heterotanais oerstedii, Sphaeroma<br />
hookeri, Leptocheiros pilosus, Littorina littorea, Conopeum sp.<br />
• Areias vasosas – Apresentam como espécie dominante, o poliqueta Hediste<br />
diversicolor. Refere-se ainda a espécie de crustáceo comum, Cyathura<br />
carinata e a espécie exclusiva Glycera convoluta (rara). É ainda de salientar a<br />
presença de Cerastoderma edule. Este tipo de sedimento, quando em<br />
transição para os os povoamentos lóticos menos salinos (cerca de 5%),<br />
apresenta como espécie representativa o crustáceo Gammarus chevreuxi.<br />
• Vasas arenosas e vasas negras compactas – Nestes habitats predomina a<br />
Scrobicularia plana e Hediste diversicolor, tendo com espécie exclusiva,<br />
embora rara, a Diopatra neapolitana (minhoca-da-pesca).<br />
36<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
• Areias – As praias interiores do estuário, são constituídas por areias mais ou<br />
menos grosseiras e mal calibradas, com origem terrígena e fluvial. Nestes<br />
habitats domina o anfípode Talitrus saltator (54% das capturas). Referem-se<br />
ainda outras espécies exclusivas da areia: Talorchestia deshayesei, Hyale<br />
perieri, Tylos europaeus, Eurydice pulchra, Idotea baltica e Zenobiana<br />
prismatica. O supralitoral da praia, onde os detritos se acumulam, caracterizase<br />
pelos anfípodes detritívoros Talitrus saltator e Talorchestia deshayesei. No<br />
mesotidal superior, que é inundado em todas as preia-mar, abundam os<br />
anfípodes Orchestia sp., também detritívoros. Nesta faixa encontra-se areia<br />
fina sobre sedimentos mais vasosos. Numa faixa inferior, preenchida por<br />
areia vasosa que gradualmente se transforma em vasa arenosa e<br />
frequentemente inundada, refere-se o anfípode Melita palmata, o poliqueta,<br />
Hediste diversicolor, os moluscos Hydrobia ulvae, Phytia myosotis,<br />
Leucophytia bidentata e pelo isópode Cyathura carinata. Em níveis inferiores<br />
da praia, já vasosos, a espécie Hediste diversicolor e o molusco Scrobicularia<br />
plana (lambujinha) dominam, prolongando-se pelo infratidal.<br />
Além do sedimento, outros factores são preponderantes na distribuição do<br />
macrozoobentos: temperatura, salinidade e duração do dia/noite, resultando em<br />
comunidades representativas de Verão e de Inverno (Silva et al., 2006). A<br />
variabilidade interanual, contudo, também é destacada por estes autores, bem como<br />
fenómenos episódicos, como por exemplo chuvas intensas.<br />
1.3.1.1.3 Ictiofauna<br />
A ictiofauna do estuário pode dividir-se consoante a sua ecologia (Costa, 1982):<br />
• Peixes ocasionais no estuário: geralmente encontrados na preia-mar, se de<br />
origem marinha, ou na baixa-mar, se de origem fluvial;<br />
• Peixes marinhos migradores: que utilizam o estuário com área de desova ou<br />
nursery; estes entram estuário para desovar ou na sua fase larvar juvenil,<br />
enquanto ictioplâncton;<br />
• Peixes migradores anfihalinos: catádromos ou anádromos consoante se<br />
reproduzem no mar e entram no estuário para passarem a sua fase adulta em<br />
ambiente dulciaquícola ou em meio marinho entrando nos rios apenas para a<br />
reprodução;<br />
• Peixes residentes: que vivem a totalidade do seu ciclo de vida no estuário.<br />
Em termos de evolução temporal, Costa e Cabral (1999) assinalam a evolução positiva<br />
de algumas espécies ou grupos ecológicos e a evolução negativa de outros, como se<br />
pode observar no Quadro 1.3.1.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 37
Quadro 1.3.1. Número de espécies por grupo ecológico.<br />
Grupo ecológico 1978-1980 1994-1996<br />
Residentes 25 35<br />
Anádromos 3 0<br />
Catádromos 3 6<br />
“nursery” 18 16<br />
Marinhas ocasionais 46 40<br />
dulciaquícolas 5 3<br />
Total 39 42<br />
Verifica-se que espécies comuns no estuário como os Syngnathidae, no período 94-96<br />
tornaram-se raras, enquanto outras pouco habituais mostram um aumento, tal como o<br />
caboz (Gobius spp.), o sargo (Diplodus vulgaris), a taínha (Liza ramada), o charroco<br />
(Halobatrachus didactylus) e a corvina (Argyrossomus regius). A maior parte das<br />
espécies piscícolas ocorrentes no estuário do Tejo são espécies cujo habitat<br />
predominante é a zona marinha costeira e que frequentam o estuário ocasionalmente<br />
(Dias e Marques, 1999). Muitas espécies, como a sardinha (Sardinia pilchardus), o<br />
salmonete (Mullus surmuletus), a dourada (Sparus aurata), as tainhas (Liza aurata,<br />
Mugil cephalus e Chelon labrosus) e o peixe-rei (Atherina boyerii), usam o estuário<br />
como área de crescimento, embora não preferencialmente. O estuário é mais<br />
importante para os peixes marinhos que utilizam o estuário como área de postura,<br />
como a corvina, o cação e o biqueirão. Outros peixes utilizam o estuário apenas como<br />
área de viveiro (nursery) preferencial, como o linguado-legítimo (Solea solea), o<br />
linguado do senegal (Solea senegalensis), o robalo (Dicentrarchus labrax), a faneca<br />
(Trisopterus luscus), a cabra-cabaço (Trigla lucerna), o laibeque-dos-cinco-barbilhos<br />
(Ciliata mustela) e a solha ou patruça (Platichthys flesus).<br />
Em relação aos locais de nursery a zona de montante do estuário (Mar-da-Palha até<br />
Vila Franca de Xira) possui um papel importante (ver carta [15], vegetação e biótopos).<br />
Estudos realizados em 1978-80 e 1994-96 (Costa e Cabral, 1999) mostram um<br />
decréscimo na abundância de muitas espécies que utilizam o estuário como “nursery”,<br />
nomeadamente da faneca, o laibeque-dos-cinco-barbilhos, o ruivo e a solha. Apenas o<br />
linguado e o robalo mantêm a importância no estuário, apesar de apresentarem um<br />
padrão de abundância irregular, conforme se representa na Figura 1.3.1 e Figura<br />
1.3.2. O decréscimo verificado na maioria das espécies foi associado pelos autores à<br />
poluição das águas estuarinas. De notar que as espécies que viram diminuir os seus<br />
efectivos estuarinos têm hábitos demersais, alimentando-se de crustáceos, enquanto<br />
que o robalo e as solhas são bênticos com alimentação mais variada.<br />
38<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
ind./1000m2<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
Dicentrarchus labrax<br />
Solea spp.<br />
0<br />
1978 1979 1980 1986 1988 1994 1995 1996<br />
Figura 1.3.1. Evolução temporal das capturas de robalo (Dicentrarchus labrax) e do linguado<br />
(Solea solea e Solea senegalensis) no estuário do Tejo (Fonte: Costa e Cabral, 1999).<br />
O linguado-legítimo (Solea solea) entra no estuário em Abril e atinge a zona de<br />
nursery nos canais entre os mouchões (Vila Franca de Xira). O linguado-do-senegal<br />
(Solea senegalensis) entra no estuário mais tarde, entre Junho e Agosto, distribuindose<br />
por duas zonas de alimentação principais: a área anterior e uma área próxima de<br />
Alcochete (Cabral, 2000). Na zona de Vila Franca de Xira a sua alimentação é<br />
generalista, consoante a disponibilidade de organismos bentónicos, tendo sido<br />
registadas nos últimos anos densidades máximas de 410 indivíduos ha -1 para S.<br />
senegalensis e 616 indivíduos ha -1 para S. solea (Costa et al., 1996; Cabral, 1998 in<br />
Dias e Marques, 1999). Segundo Fonseca (2004), as variáveis ambientais que melhor<br />
descrevem a adequabilidade de habitat para os juvenis destas duas espécies são a<br />
temperatura da água, as áreas intertidais e a qualidade e quantidade de alimento.<br />
60<br />
50<br />
ind./1000m2<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
1978 1979 1980 1988 1994 1995 1996<br />
Trisopterus luscus<br />
Ciliata mustela<br />
Trigla lucerna<br />
Platichthys flesus<br />
Figura 1.3.2. Evolução temporal das capturas de faneca (Trisopterus luscus), laibeque-decinco-barbilhos<br />
(Ciliata mustela), cabra-cabaço (Trigla lucerna) e solha (Platichthys flesus) no<br />
estuário do Tejo (Fonte: Costa e Cabral, 1999).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 39
O robalo (Dicentrarchus labrax) entra no estuário em Maio e atinge as maiores<br />
densidades em Junho. A área de maior concentração parece ser junto à margem<br />
esquerda do estuário, na zona de Alcochete. Frequenta também as áreas entre os<br />
mouchões, alimentando-se de crustáceos – decapoda, mysidacea e isopoda (Cabral e<br />
Costa, 2001). As densidades de robalo atingem valores máximos na zona de<br />
Alcochete, com 360 a 818 indivíduos ha -1 (Cabral, 1998 in Dias e Marques, 1999).<br />
O sargo (Diplodus bellotti) e a safia (Diplodus vulgaris) são espécies que se<br />
distribuem, por todo o estuário excepto no alto estuário (desde o canal da Cala das<br />
Barcas / Mouchão da Póvoa até Vila Franca de Xira). Enquanto a espécie D. bellottii<br />
mostra maiores densidades de adultos e juvenis na boca do estuário e zona costeira<br />
adjacente, a espécie D. vulgaris prefere a zona intermédia do estuário, desde os<br />
mouchões do Lombo do Tejo e de Alhandra, até à Ponte Vasco da Gama. No entanto,<br />
verifica-se uma considerável sobreposição de habitat, na zona da ponte Vasco da<br />
Gama.<br />
O grupo dos peixes residentes apresenta espécies como as marinhas (Syngnathus<br />
abaster, S. acus e S. typhle), os cavalos-marinhos (Hippocampus hippocampus e H.<br />
ramulosus), os cabozes (Gobius niger, G. Paganellus, Pomatoschistus minutus e P.<br />
microps) e o charroco (Halobatrachus didactylus). A anchova (Scomber japonicus),<br />
que também mantém uma população residente no estuário. O caboz-vulgar<br />
(Potamoschistus microps) e o caboz-da-areia (Potamoschistus minutus) são as<br />
espécies mais comuns no estuário (Cabral et al., 2001 in Salgado et al., 2004) e com<br />
uma função importante na teia alimentar estuarina. Estas espécies frequentam as<br />
zonas intertidais do estuário, alimentando-se essencialmente de poliquetas (Salgado<br />
et al., 2004).<br />
Um grupo com grande importância conservacionista e económico embora em<br />
progressivo declínio, é o dos migradores anfihalinos, na sua maioria protegidos a nível<br />
europeu (Dec.-Lei nº 49/2005 de 24 de Fevereiro que transpõe a Directiva comunitária<br />
“Habitats”: 92/43/CE). Encontram-se referidos para o Tejo os peixes anádromos<br />
Lampreia-de-mar, a Lampreia-de-rio, a savelha e o sável, e entre os peixes<br />
catádromos a enguia e a taínha-fataça.<br />
A Lampreia-de-mar (Petromyzon marinus) é uma espécie ameaçada, com estatuto de<br />
vulnerável em Portugal (Cabral et al., 2006) e Espanha e que tem verificado um<br />
declínio populacional acentuado nos rios portugueses (Almeida et al., 2000).<br />
Apresenta elevado valor comercial que tem aumentado com a elevada procura e a<br />
diminuição dos efectivos desta espécie nos rios. Para além da pesca como factor de<br />
mortalidade da espécie, outros factores, nomeadamente a poluição e a destruição de<br />
habitat, associada à construção de barragens e extracção de inertes (Almeida et al.,<br />
2000). Esta espécie ocorre nas bacias hidrográficas do norte e centro e no estuário do<br />
Tejo efectuando a migração entre Dezembro e Maio, com um pico entre Fevereiro e<br />
40<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Março, altura em que é abundante no estuário. Durante a migração anádroma, as<br />
lampreias não se alimentam e, após a desova, a maior parte morre. As lampreias<br />
sobem alguns afluentes, como o Sorraia e a ribeira do Divor, e o rio Tejo até à<br />
barragem de Belver, para desovarem. O substrato dos locais de desova é dominando<br />
por sdimento groseiro, podendo mesmo ter pedras, mas também sedimento mais fino,<br />
para fixação dos ovos. Após a eclosão a larva, denominada amoceta, enterra-se e<br />
alimenta-se por filtração. Após a metamorfose, o adulto dirige-se para o mar, só<br />
voltando a entrar no estuário para a reprodução. Os leitos de larvas da lampreia foram<br />
prospectados por Ferreira e Oliveira (1996 in PBH Tejo, 2000). Entre as ameaças são<br />
referidas a construção de açudes e barragens a pesca profissional e o furtivismo, a<br />
alteração dos caudais e a poluição e dragagem nos rios (Cabral et al., 2006).<br />
A lampreia-de-rio (Lampetra fluviatilis) distribui-se desde as águas costeiras do NW da<br />
Europa até ao sul (Almeida, PR, coord, 2004). Em Portugal só é conhecida para a<br />
bacia hidrográfica do rio Tejo, nomeadamente nas bacias hidrográficas do rio Sorraia e<br />
da Ribeira de Muge. Esta espécie tem estatuto de Criticamente Em Perigo no livro<br />
Vermelho (2006) e está provavelmente extinta em Portugal, apesar de, em termos<br />
globais, ser considerada como de baixo risco, pela UICN (PBH Tejo, 2000). Tem um<br />
período de migração e reprodução desconhecido, preferindo locais abrigados com<br />
areia fina ou gravilha e baixa profundidade (cerca de 30 cm) para a desova. As larvas<br />
enterram-se alimentando-se por filtração, durante um período que pode ir dos três aos<br />
sete anos. A forma adulta desce o rio, vivendo no estuário ou na zona costeira<br />
adjacente. A principal ameaça a esta espécie poderá ser a interrupção do continuum<br />
lótico, através da construção de açudes e barragens (Almeida, coord., 2004).<br />
O sável (Alosa alosa) é uma espécie considerada Em Perigo em Portugal (Livro<br />
Vermelho, 2006), sendo raro no Tejo (PBH, 2000), tendo as suas populações a nível<br />
nacional sofrido um franco declínio. Entra no estuário a partir de Janeiro/Fevereiro,<br />
constituindo o estuário um habitat de passagem para os rios. No entanto após a<br />
eclosão, em meio dulciquícola, o juvenis dirijem-se para o estuário, entre Agosto e<br />
Outubro, onde permanecem durante um a dois anos, antes de migrarem para o mar.<br />
A savelha (Alosa fallax), considerada Vulnerável a nível nacional (Livro Vermelho,<br />
2006), mantém uma população abundante no rio Tejo, embora em regressão (PBH,<br />
1990), sendo classificada também como vulnerável. A savelha tem a época de<br />
migração a partir de Março. Após a eclosão, em meio dulciaquícola desce até ao<br />
estuário onde permanece mais tempo do que o sável, alimentando-se de outros<br />
peixes: sardinha, biqueirão, caboz (Pomatoschistus minutus e P. microps) e peixe-rei e<br />
secundariamente de invertebrados e detritos orgânicos (Assis et al., 1992).<br />
Em relação a factores de risco para estas duas espécies, destaca-se a construção de<br />
açudes e barragens, a pesca profissional e o furtivismo, a alteração dos caudais, a<br />
poluição e dragagens nos rios, além da sobrepesca (Cabral et al., 2006). A enguia<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 41
(Anguilla anguilla) apresenta em Portugal estatuto de Em Perigo (Cabral et al., 2006),<br />
sendo alvo de pesca ilegal em larga escala, principalmente na sua fase larvar, quando<br />
atinge os preços mais elevados no mercado internacional. No entanto, no estuário<br />
ainda é considerada abundante. A enguia europeia reproduz-se no mar dos sargaços,<br />
migrando as suas larvas de forma passiva através do Atlântico. Ao chegar à<br />
plataforma continental sofre metamorfose e passa a apresentar a forma de enguia-devidro,<br />
meixão ou angula, que tem o aspecto de uma pequena enguia hialina. Com esta<br />
forma migra através dos estuários, sendo gradualmente pigmentada, adquirindo então<br />
o nome de “enguia amarela”. Com a maturação sexual denomina-se enguia-de-prata<br />
ou eiroz. Costa (1989) estudou a enguia no estuário e zonas dulciaquícolas: os<br />
machos adultos iniciam a migração de volta ao local da reprodução com cerca de 2 a 4<br />
anos de idade. No estuário a população é mais abundante do que nos rios,<br />
possivelmente devido à disponibilidade de alimento, onde têm como presas mais<br />
comuns o caranguejo (Carcinus maenas) e anfípodes. A actividade das enguias é<br />
inibida por temperaturas baixas (< 7º C) e altas (> 25ºC), sendo a actividade<br />
particularmente intensa entre meados do Inverno e o Outono, no estuário do Tejo. Em<br />
ambientes dulciaquícolas os insectos são a presa preferencial das enguias. Sendo a<br />
densidade no estuário superior à do rio, há mais machos no primeiro e mais fêmeas no<br />
segundo, pois o sexo está relacionado com as densidades (Costa et al., 1993; Costa,<br />
1989). A grande plasticidade ambiental da enguia, permite-lhe adaptar-se a condições<br />
muito diferentes, quer a nível de sedimento (desde vasoso até cascalhento),<br />
salinidade, profundidade da água, oxigenação da água, etc. Entre as ameaças a esta<br />
espécie são referidas acima de todas a pesca profissional e o furtivismo. São também<br />
graves os factores como a construção de açudes e barragens, a alteração dos<br />
caudais, a poluição e as dragagens nos rios. É de salientar a disseminaçao do<br />
nematodo Anguillica crassus doença que tem afectado a viabilidade reprodutora desta<br />
espécie (Cabral et al., 2006).<br />
A taínha, fataça ou muge (Liza ramada) é o único peixe diádromo que não se encontra<br />
ameaçado em Portugal, possivelmente devido ao seu ciclo de vida e à ausência de<br />
valor comercial (Almeida et al., 2000). Segundo Almeida et al., (1992) a taínha-fataça<br />
efectua migrações para o mar, para reprodução entre Setembro e Novembro. Entra<br />
enquanto juvenil de novo no estuário, concentrando-se essencialmente na zona de<br />
Alcochete, preferindo fundos pouco profundos de vasa negra. Encontram-se também<br />
documentadas migrações para montante, para ambientes dulciaquícolas cuja função<br />
não é bem conhecida e que decorrem nos meses de Abril a Agosto. Os adultos<br />
ingerem detritos e sedimento, digerindo a parte orgânica, mas também poliquetas e<br />
algas enquanto os juvenis se presumem carnívoros (Costa et al., 1993).<br />
Finalmente é de referir, uma vez que a área de estudo se encontra na zona de<br />
montante, que há espécies tipicamente dulciaquícolas que podem ser visitantes<br />
ocasionais desta parte do estuário. Nestas condições encontram-se o barbo (Barbus<br />
bocagei) - uma espécie endémica da península Ibérica e classificada no Dec.-Lei nº<br />
42<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
49/2005 de 24 de Fevereiro - e a carpa (Cyprinus carpio), uma espécie introduzida.<br />
Em termos de densidades, Fonseca (2004) registou nas estações de montante, que<br />
interessam ao presente estudo, densidades médias totais entre 5 a 20 indivíduos por<br />
1000 m 2 . Em termos de riqueza específica, a zona de montante apresentou, segundo<br />
este autor, entre 3,4±1,7 e 5±2,7 espécies, com um máximo de 9 espécies.<br />
1.3.1.2 Evolução das comunidades estuarinas e algumas ameaças<br />
Em relação aos peixes tem-se vindo a observar uma diminuição das capturas de<br />
algumas espécies a par com o aumento de outras, como é referido por Cabral et al.,<br />
(2001). Verifica-se uma diminuição na abundância de várias espécies que utilizam o<br />
estuário como zona de viveiro ou nursery e o aumento de algumas espécies<br />
residentes como o caboz (Gobio spp.) e o charroco (Halobatrachus didactylus). Por<br />
outro lado, tem-se verificado o aparecimento de algumas espécies de águas mais<br />
quentes no estuário do Tejo, tais como a dourada (Sparus aurata) ou o sargo<br />
(Diplodus bellottii). Esta modificação da comunidaede íctica poderá estar relacionada<br />
com as alterações climáticas recentes, atribuídas às actividades humanas,<br />
nomeadamente as emissões industriais à escala planetária.<br />
Em relação às espécies que utilizam o estuário como viveiro, tem-se revelado a<br />
diminuição de Trisopterus luscus, Ciliata mustela, Trigla lucerna e Platichthys flesus<br />
permanecendo os linguados e o robalo (Costa e Cabral, 2001; Vasconcelos,<br />
200/2001). O sargo (Diplodus bellottii), uma espécie originária de Africa tem visto os<br />
seus efectivos crescer no estuário e mostra uma sobreposição de habitat razoável com<br />
a espécie indígena, a safia (Diplodus vulgaris). Em relação a uma potencial<br />
competição entre as duas espécies, não há evidência mas poderá vir a ocorrer já que<br />
ambas têm uma ecologia alimentar semelhante, no caso de haver escassez do<br />
recurso alimentar (Horta et al., 2004). Em relação à sua distribuição no estuário<br />
observam-se as densidades mais elevadas na zona da ponte Vasco da Gama,<br />
possivelmente associadas ao tipo de substrato, rochoso e à disponibilidade de<br />
alimento para estas espécies omnívoras: algas, bivalves, poliquetas e crustáceos.<br />
Em relação a invertebrados, destaca-se a recente colonização do caranguejo-chinês<br />
(Eriocheir sinensis), que já é uma espécie comum nas comunidades de crustáceos<br />
decápodes estuarinas (Cabral, 2001), podendo vir a tornar-se uma espécie infestante,<br />
pois compete com o seu congénere indígena, o caranguejo-verde (Costa e Salgado,<br />
1999). É encontrado nas redes de pesca da enguia, desde o médio-alto estuário<br />
(Alcochete, Vila Franca de Xira) até cerca de 80 km para montante da foz. Este<br />
caranguejo é comercializado em algumas localidades, podendo atingir preços mais<br />
elevados do que os seus congéneres indígenas (Carcinus maenas e Crangon<br />
crangon) (Cabral e Costa, 1999).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 43
1.3.2 Avifauna<br />
O Estuário do Tejo é considerado como uma das dez zonas húmidas mais importantes<br />
para as aves aquáticas migradoras da Europa e a mais importante a nível nacional<br />
(Dias e Marques, 1999). Das cerca de 200 espécies de ocorrência regular, 46<br />
encontram-se incluídas no anexo I da Directiva Aves (Directiva 79/409/CEE) (Costa et<br />
al., 2003). Situa-se na rota de migração de importantes contingentes de aves<br />
invernantes que o procuram em busca de alimento, tranquilidade e refúgio,<br />
preparando-se para a época de reprodução que vai depois decorrer nas regiões mais<br />
setentrionais do Paleártico. É uma zona húmida de importância internacional que,<br />
concentra durante a época de invernada, um número substancialmente superior a 20<br />
000 aves aquáticas (mínimo considerado necessário para a atribuição do estatuto de<br />
zona húmida de valor internacional). Destacam-se, por um claro predomínio, as<br />
populações de limícolas, acolhendo em média (anos de 1987 a 1998) cerca 72% dos<br />
efectivos invernantes nacionais daquele grupo no estuário do Tejo. Entre as limícolas<br />
mais abundantes figuram o maçarico-de-bico-direito (Limosa limosa), o pilrito-comum<br />
(Calidris alpina), o alfaiate (Recurvirostra avosetta), a tarambola-cinzenta (Pluvialis<br />
squatarola) e o perna-vermelha (Tringa totanus). Também no que respeita aos<br />
anatídeos, o Tejo albergou em Janeiro (1989-1992) mais de 30% do total dos efectivos<br />
recenseados a nível nacional. A zona possui também grande valor como local de<br />
migração Outonal de passeriformes transarianos, onde se incluem espécies como o<br />
pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica), a felosa-dos-juncos (Acrocephalus<br />
schoenobaenus), entre outros (Dias e Marques, 1999).<br />
A área justifica ainda a sua importância internacional por suportar mais de 1% da<br />
população de várias espécies incluídas no anexo I da Directiva Aves, durante as<br />
épocas de reprodução e/ou invernada. São elas, a garça-vermelha (Ardea purpurea), o<br />
perna-longa (Himantopus himantopus), o alfaiate (R. avosetta), a garça-branca<br />
(Egretta garzetta), a garça-pequena (Ixobrychus minutus), a cegonha-branca (Ciconia<br />
ciconia), o colhereiro (Platelea leucorodia), a águia-sapeira (Circus aeruginosus), a<br />
águia-pesqueira (Pandion haliaetus), a franga-d´água-pequena (Porzana pusilla), o<br />
combatente (Philomachus pugnax), a gaivina-de-bico-preto (Gelochelidon nilotica), o<br />
garajau-comum (Sterna sandvicensis), a andorinha-do-mar-anã (Sterna albifrons), a<br />
gaivina-dos-paúis (Chlidonias hybridus), a gaivina-preta (Chlidonias niger) e a corujado-nabal<br />
(Asio flammeus) (Dias e Marques, 1999). As aves nidificantes constituem um<br />
grupo muito menos numeroso do que o constituído pelas aves invernantes. Ainda<br />
assim, o estuário assume grande importância para a conservação de algumas delas<br />
como sejam: a garça-vermelha (A. purpurea), a águia-sapeira (C. aeruginosus), o<br />
perna-longa (H. himantopus) e a andorinha-do-mar-anã (S. albifrons) (Dias e Marques,<br />
1999). As principais ameaças à avifauna aquática são as que concorrem para a<br />
deterioração ou destruição dos seus habitats. Sobretudo devido à ampliação de zonas<br />
portuárias e industriais à custa de zonas de sapal, transformação de salinas para<br />
aquacultura, expansão urbanística nas margens do estuário, poluição (industrial,<br />
44<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
urbana e agrícola), aumento da extensão das culturas de regadio, drenagens, etc. A<br />
consciencialização do valor desta zona húmida, por parte da comunidade científica,<br />
dos ornitólogos e da sociedade em geral, é um passo fundamental para que sejam<br />
tomadas medidas necessárias para a preservação deste património ímpar em Portugal<br />
(Dias e Marques, 1999).<br />
1.3.2.1 Biótopos e comunidades de aves associadas<br />
Como já foi anteriormente referido o estuário do Tejo é constituído por vários biótopos.<br />
Zona subtidal ou permanentemente submersa<br />
Esta zona abrange cerca de 60% da área total estuarina, na qual ainda se podem<br />
considerar dois biótopos:<br />
• Zona subtidal de pequena profundidade - Constitui um biótopo importante<br />
de alimentação para aves piscívoras como a garça-branca-pequena e a garçacinzenta<br />
que pescam nos canais e charcas durante a baixa-mar (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
• Restante zona do corpo central de águas estuarinas - É um dos maiores<br />
biótopos do estuário, servindo de habitat a espécies de origem<br />
predominantemente marinha. Os grupos de peixes e crustáceos são aqui<br />
claramente dominantes encontrando nas águas estuarinas um meio favorável à<br />
colonização. Em termos de avifauna o garajau-comum e o corvo-marinho-defaces-brancas<br />
têm aqui uma das suas principais zonas alimentares (Dias e<br />
Marques, 1999).<br />
Zona entre-marés sem vegetação<br />
A zona intermareal, intertidal ou entre marés, com cerca de 13 600 ha, abrange um<br />
pouco mais de 40% da área total estuarina (Dias e Marques, 1999). A natureza do<br />
sedimento tem um papel importante na classificação destes biótopos, uma vez que<br />
influencia fortemente as comunidades vegetais e animais que neles se desenvolvem.<br />
A granulometria, a composição e a natureza dos elementos minerais e biológicos do<br />
sedimento permite a identificação da vasa, vasa arenosa, banco de ostras e areias<br />
vasosas, como sendo os tipos mais representativos das zonas entre marés. A<br />
comunidade de aves associada a estas zonas entre marés é composta por um<br />
conjunto de espécies principalmente invernantes e/ou migradoras de passagem, que<br />
possuem uma grande capacidade de aproveitamento do alimento disponível durante a<br />
baixa-mar (Leitão et al., 1998).<br />
A existência no estuário do Tejo de uma faixa entre marés, junto ao limite do sapal,<br />
que permanece exposta em preia-mar de águas mortas, oferece às aves um refúgio<br />
de preia-mar alternativo a outras zonas abrigadas do efeito da maré, nomeadamente<br />
as salinas. No que diz respeito à utilização destes dois tipos de refúgios é nítida a<br />
preferência das aves pelos refúgios entre marés, onde permanecem sempre que<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 45
existe espaço disponível. A abundância de aves nas salinas não é independente da<br />
altura de preia-mar já que o seu número só aumenta substancialmente nas alturas de<br />
preia-mar em que a água chega ao limite do sapal e a zona entre marés fica<br />
completamente submersa. No estuário do Tejo a perturbação causada por predadores<br />
aéreos, parece ser o factor mais importante na selecção de refúgios de preia-mar. O<br />
número de aves que se concentra nos refúgios atrai os predadores, sobretudo aves de<br />
rapina, como a águia-sapeira e águia-calçada e ainda a águia-de-asa-redonda, falcãoperegrino,<br />
águia-cobreira e a águia-caçadeira. A sua influência é superior nas salinas,<br />
onde factores como a fraca visibilidade e a grande concentração de indivíduos<br />
aumentam o estado de alerta das aves. Um maior nível de perturbação, aliado ao<br />
consequente dispêndio de energia, parece tornar a permanência nas salinas<br />
desvantajosas para as aves, relativamente aos refúgios de preia-mar (Encarnação,<br />
2002).<br />
A densidade e biomassa de invertebrados disponíveis para as aves limícolas são<br />
inferiores nas áreas de refúgio entre-marés relativamente às zonas entre marés<br />
adjacentes. As reduzidas densidade e biomassa de invertebrados nas zonas de<br />
refúgio, devem-se por um lado a factores físicos que determinam a comunidade de<br />
invertebrados ai existente e por outro, à forte pressão predatória a que estão sujeitas.<br />
A relação inversa existente entre a densidade de invertebrados e o número máximo de<br />
horas consecutivas de exposição das áreas condiciona a utilização destas zonas de<br />
refúgio como locais de alimentação pelas aves limícolas. Assim as aves limícolas<br />
permanecem preferencialmente nas zonas com menor tempo de exposição, onde a<br />
abundância de presas é maior e consequentemente a proporção de aves em<br />
alimentação também é mais elevada (Encarnação, 2002).<br />
Algumas zonas intertidais do estuário durante a noite encontram-se iluminadas, devido<br />
à proximidade de centros urbanos. Algumas aves limícolas, como Charadrius hiaticula,<br />
Pluvialis squatarola e Calidris alpina, parecem preferir realizar actividades de<br />
alimentação em zonas sujeitas a essa iluminação artificial. Os predadores visuais<br />
como C. hiaticula e P. squatarola apresentam uma maior actividade alimentar nas<br />
zonas onde os níveis de iluminação são mais elevados. Assim a importância nocturna<br />
de áreas iluminadas deve ser tida em conta para a conservação das limícolas e dos<br />
seus habitats (Miranda, 2005).<br />
A paisagem da margem Norte do estuário do Tejo sofreu alterações profundas (entre<br />
1967 a 1996), ou seja, os campos agrícolas, o coberto predominante em 1967,<br />
ocupando 67% desta zona, foram em grande parte substituídos por zonas urbanas, as<br />
quais se tornaram na unidade predominante. As salinas registaram decréscimos, em<br />
termos de área, de cerca de 40%. O sapal sofreu um diminuição menos acentuada<br />
que as salinas e os campos. Estas alterações sugerem que esta margem tenha sido,<br />
num passado relativamente recente, e em termos de habitat potencial, uma zona mais<br />
46<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
importante em termos ecológicos para as aves, a nível dos biótopos salinas, zonas<br />
agrícolas e sapal (em menor grau) (Rosa, 1999).<br />
Em 1996 a comunidade de aves aquáticas das zonas entre marés da margem Norte<br />
do estuário do Tejo apresentou uma diversidade específica apreciável, embora<br />
individualmente as espécies apresentem densidades relativamente baixas, em<br />
comparação com outras zonas entre-marés da margem sul do estuário (Moreira,<br />
1995). As espécies mais abundantes são o guincho, o flamingo, a gaivota-de-asaescura<br />
e o alfaiate. A garça-cinzenta apresentou um número de efectivos apreciável.<br />
Nesta zona ocorrem 32 espécies, pertencentes maioritariamente à ordem dos<br />
Charadriiformes (69%), representando as ordens dos Ciconiformes e dos Anseriformes<br />
16% e 9%, respectivamente, da totalidade das espécies. O tipo de sedimento é<br />
praticamente homogéneo (constituído essencialmente por vasa; Calvário, 1982),<br />
constituindo um local favorável à exploração de outros factores, nomeadamente<br />
relacionados com a humanização, como é o caso dos efluentes. Assim o tipo de<br />
substrato, a humanização da zona e a presença de vegetação de sapal na margem<br />
adjacente à zona entre marés, condicionam a distribuição das espécies na margem<br />
Norte do estuário. Nesta zona os efluentes com maior carga poluente, são<br />
seleccionados pelas espécies de gaivotas. O alfaiate e a gaivota-de-asa-escura são<br />
favorecidos pela ocupação das margens por construções humanas e a presença de<br />
pessoas na margem. O resultado de futuras intervenções humanas na margem Norte,<br />
em termos da ocupação da zona entre marés e da zona de sapal, será de esperar que<br />
uma diminuição da diversidade de espécies, acompanhada de um favorecimento de<br />
espécies antropofílicas e oportunistas (Rosa, 1999).<br />
Vasas (vasa e vasa arenosa) – Vulgarmente conhecidas por lodos ou lamas, formam<br />
indubitavelmente o biótopo mais importante no que respeita à produção de alimento<br />
para a avifauna migradora invernante. Estas grandes extensões de lama sujeitas à<br />
acção das marés são povoadas por macro invertebrados bentónicos, tendo como<br />
espécies mais comuns o poliqueta Hediste diversicolor, o bivalve Scrobicularia plana e<br />
o isópode Cyathura carinata, que constituem a dieta de alfaiates e maçaricos-de-bicodireito<br />
(Dias e Marques, 1999). Os macroinvertebrados bentónicos como, H.<br />
diversicolor, Hydrobia ulvae e S. plana, presentes nas zonas de vasa apresentam<br />
densidades significativamente mais elevadas nas zonas próximas de canais de<br />
escoamento. Na proximidade destes canais (nos 2 m mais próximos) são observadas<br />
densidades significativamente mais elevadas de algumas espécies de aves limícolas,<br />
nomeadamente o pilrito-comum, a seixoeira, o maçarico-de-bico-direito e o fuselo, a<br />
tarambola-cinzenta e o perna-vermelha, que nas zonas envolventes (Lourenço, 2003).<br />
A vasa arenosa apresenta um outro tipo de granulometria reflectindo-se na diferença<br />
de comunidades, constituídas maioritariamente pelas espécies anteriormente referidas<br />
e pelo anfípode Melita palmata e pelo gastrópode Peringia ulvae. São as áreas de<br />
alimentação preferênciais do pilrito-comum, da seixoeira e da tarambola-cinzenta (Dias<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 47
e Marques, 1999). Outras espécies que se alimentam de invertebrados como o<br />
flamingo, o pato-trombeteiro, a marrequinha, o borrelho-grande-de-coleira, o borrelhode-coleira-interrompida,<br />
o perna-vermelha, o guincho e a gaivota-d’asa-escura,<br />
percorrem ou sondam a vasa em busca das suas presas (Leitão et al., 1998).<br />
Os bancos de cascas de ostras correspondem às antigas ostreiras, as quais<br />
apresentam como espécies predominantes o poliqueta Hediste diversicolor, o<br />
caranguejo-verde Carcinus maenas, entre outras. Estas espécies constituem parte da<br />
dieta do maçarico-real Numenius arquata, constituindo as ostreiras o habitat<br />
preferencial de alimentação desta ave (Dias e Marques 1999; Silva 1995).<br />
As Areias vasosas constituem o biótopo alimentar do Fuselo (Dias e Marques, 1999).<br />
Sapal<br />
Várias espécies de aves nidificam nos sapais, tal como a águia-sapeira, a alvéolaamarela<br />
e o pintarroxo. Durante as migrações e no Inverno, outras espécies ocorrem<br />
nos sapais, utilizando-os como dormitórios, refúgios de preia-mar ou alimentando-se<br />
dos invertebrados que ali abundam tais como a marrequinha, o ganso-comum, a<br />
piadeira e o pato-trombeteiro (Dias e Marques, 1999). A garça-real, o maçarico-real, o<br />
maçarico-de-bico-direito e o perna-vermelha são algumas das espécies que se<br />
refugiam nos sapais durante a preia-mar (Leitão et al., 1998). No sapal a abundância<br />
de espécies é maior em Janeiro, sendo a riqueza específica menor nesse período (3 a<br />
11 espécies), e atingindo os valores mais elevados nos meses de Janeiro e Fevereiro<br />
(19 e 17 espécies, respectivamente). Os não passeriformes mais abundantes são o<br />
pato-real, que é residente, e a garça-branca-pequena e a garça-real, que ocorrem<br />
principalmente fora da época de reprodução. Nos passeriformes, existem três<br />
residentes, a fuinha-dos-juncos, o pintarroxo e a escrevedeira-dos-caniços e sete<br />
invernantes, a petinha-dos-prados, a felosa-do-mato, o pisco-de-peito-azul, o pardal, o<br />
verdilhão, o pintassilgo e o trigueirão. Ocorrem também duas espécies estivais, a<br />
andorinha-das-chaminés e a alvéola-amarela (Leitão, 1993).<br />
Salinas ou marinhas<br />
As marinhas são antigas áreas de sapal que foram artificializadas e protegidas da<br />
acção das marés, com a finalidade de nelas se produzir sal (Leitão et al., 1998). As<br />
alterações do uso das salinas representam uma perda substancial no habitat de<br />
alimentação e nidificação para várias espécies de aves que delas dependem devido<br />
aos elevados níveis da água.<br />
Cada marinha é constituída por três grupos distintos de superfícies, que se subdividem<br />
em diferentes ordens de compartimentos, as quais comunicam entre si através de uma<br />
rede de canais. O primeiro grupo denominado viveiro recebe a água directamente de<br />
um canal ou esteiro através de uma comporta (profundidade entre 40/50 cm e 90/100<br />
cm). O segundo grupo é constituído pelos evaporadores (profundidade média inferior a<br />
48<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
30 cm), que tem a função de libertar a solução de vários elementos que cristalizam em<br />
grau mais baixo que o sal (sais de ferro, carbonato de cálcio e gesso). O conjunto do<br />
viveiro e evaporadores é denominado superfície preparatória. Finalmente, os<br />
cristalizadores ou talhos, onde ocorre a precipitação dos cristais de sal. É nesta<br />
superfície que se dá a maior intervenção humana, uma vez que decorrem as<br />
operações de extracção e carrego (Neves e Rufino, 1992). O nível de água nos<br />
viveiros proporciona o aparecimento de algumas espécies de peixes e camarões<br />
(como o Palaemonetes varians) e de larvas de insectos, pequenos coleópteros e<br />
pequenos crustáceos como a Artemia sp. nos restantes tanques (sobretudo nos<br />
cristalizadores). Esta disponibilidade alimentar e a condição de áreas abrigadas,<br />
decorrente da sua localização em antigas zonas de sapal, conduziram à sua eleição<br />
como habitat de refúgio e alimentação, na maré-alta, para várias espécies de limícolas<br />
(Dias e Marques, 1999). A vegetação superior restringe-se aos cômoros, sendo<br />
principalmente constituída por arbustos típicos de sapal e por pastagens ou cultivos<br />
forrageiros. O pato-real, a cotovia-de-poupa, a fuínha-dos-juncos, a toutinegra-dosvalados<br />
e os melros são nidificantes comuns na vegetação das margens e dos<br />
cômoros dos tanques. Por outro lado, o borrelho-de-coleira-interrompida, o pernilongo<br />
e a andorinha-do-mar-anã nidificam nos cômoros e barachões das salinas. Grande<br />
número de espécies utiliza ainda as salinas como área de alimentação e como refúgio<br />
de preia-mar, quer durante as migrações, quer durante o período de invernada.<br />
Destacam-se por serem muito abundantes os borrelho-grande-de-coleira, borrelho-decoleira-interrompida,<br />
tarambola-cinzenta, pilrito-de-bico-comprido, o pilrito-comum, a<br />
seixoeira, o pilrito-pequeno, o maçarico-de-bico-direito, o fuselo, o perna-vermelha, o<br />
guincho, a gaivota-d’asa-escura, o garajau-comum e andorinha-do-mar-anã (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
As aves limícolas tendem a entrar nas salinas a alturas de água da maré diferentes, o<br />
que está relacionado, por um lado, com o seu tamanho, e por outro, com o tempo de<br />
exposição das suas áreas preferenciais de alimentação. A redução da área disponível<br />
nas áreas entre marés à medida que a maré se aproxima do estofo de preia-mar,<br />
induz a elevadas concentrações de aves nas zonas junto do sapal, tendendo as aves<br />
a aí permanecer até que a altura da água o permita. Assim que as suas zonas de<br />
alimentação preferidas ficam a descoberto partem dos locais de refúgio. As espécies<br />
tendem a entrar “desfasadas” nas salinas, havendo claramente um grupo de aves que<br />
tende a chegar a alturas inferiores, as duas espécies do género Charadrius (borrelhogrande-de-coleira<br />
e borrelho-de-coleira-interrompida), um outro grupo que tende a<br />
chegar quando a altura da água se situa perto dos 3-3,2 m, constituído por pilritocomum,<br />
rola-do-mar e tarambola-cinzenta, e um último grupo que tende a entrar a<br />
alturas da água já relativamente altas (superiores a 3,2 m), onde constam o fuselo, o<br />
maçarico-de-bico-direito e o alfaiate. De forma geral, as espécies que entram com<br />
alturas da água elevadas, também saem com alturas da água superiores, o mesmo<br />
acontecendo para aquelas que entram com alturas de águas inferiores, saindo de igual<br />
forma com alturas inferiores. Algumas espécies como a rola-do-mar e o maçarico-de-<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 49
ico-direito permanecem mais tempo nas salinas, que a maioria das outras espécies<br />
(Lecoq, 2002b). Assim a permanência destas duas espécies revela que as salinas são<br />
utilizadas também como habitat de alimentação alternativo às zonas de marés<br />
(Masero et al., 2000).<br />
As salinas do Gaio - Rosário encontram-se em avançado estado de degradação,<br />
estando os muros e o leito dos tanques invadidos por vegetação de sapal e, ainda,<br />
numa grande parte dos tanques o nível das águas está em função da maré, o que não<br />
permite utilizar esses locais como refúgios de preia-mar pelas aves. Alguns tanques<br />
apresentam níveis de água independentes da maré, permitindo a apanha de<br />
camarinha. Nesses tanques e durante o período reprodutor de 2006 foi possível<br />
observar uma média de 15,67 (± 3,78) pernilongos, 1,67 (± 0,58) borrelhos-de-coleirainterrompida,<br />
2, 67 (± 1,15) chilretas, 2 (± 1,73) garças-branca-pequena. Foi<br />
observado pelo menos um ninho activo de borrelhos-de-coleira-interrompida e três de<br />
pernilongos. Relativamente a esta ultima espécie, foram ainda observadas duas crias.<br />
O complexo de salinas do Samouco tem vindo a assumir um papel cada vez mais<br />
importante no contexto do estuário do Tejo como local de refúgio de preia-mar e local<br />
de nidificação de espécies como a chilreta, o pernilongo e o borrelho-de-coleirainterrompida.<br />
Como local de refúgio entre o período de 1995 e 2003 as salinas<br />
apresentaram uma riqueza específica superior a 25 espécies, com um mínimo de 18<br />
espécies em 1995 e um máximo de 33 em 2002. Em termos de abundância, nos<br />
últimos anos (1999 a 2003), têm apresentado um valor relativamente constante na<br />
ordem das 50 000 aves, embora se tenha verificado um pico de quase 120 000 aves<br />
em 1997 (Naturibérica, 2004). Segundo vários ornitólogos, actualmente o complexo de<br />
salinas do Samouco é o salgado com maior riqueza específica e abundância de aves<br />
durante o período de preia-mar de todo o Tejo. A importância actual deste local devese<br />
sobretudo a dois factores: este local é monitorizado e tem sofrido uma manutenção<br />
constante desde 1995; por outro lado, os outros salgados encontram-se ao abandono,<br />
sendo grande parte deles explorados para captura de camarinha (como é o caso das<br />
salinas de Vasa sacos), o que leva a uma gestão os níveis de água inadequados à sua<br />
utilização pela maioria das aves limícolas.<br />
Lagoas salobras<br />
A Lagoa do Mouchão do Lombo do Tejo é um corpo de água actualmente artificial,<br />
cujo nível de água e controlado pelas comportas que o separam do meio estuarino,<br />
sendo o único corpo que se enuadra na definição de uma lagoa permamnete mas com<br />
água salobra.<br />
A sua importância a nível histórico foi notável com a reprodução de várias espécies de<br />
anatídeos, destacando-se o pato-de-bico-vermelho, Netta rufina, o que determinou a<br />
sua classificaçao como área de reserva integral. Esta lagoa passou por um período de<br />
50<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
degradação e reconstrução, nomeadamemnte das margens, com vista à sua<br />
estabilização, perdendo grande parte do interesse avifaunístico. Hoje em dia, contudo,<br />
há indícios de reabilitação do valor ornitológico da lagoa, pois encontram-se<br />
restabelecidas ou em fase de recuperação algumas das condições ambientais<br />
responsáveis pela atractividade deste habitat para as aves.<br />
Apresenta margens com enrocamento na maior parte do seu perímetro e algumas<br />
“ilhotas” com vegetação ripícola (junco, caniço), que providenciam abrigo para as<br />
aves, Encontram-se referidos para a lagoa muitos anatídeos com destaque para a<br />
piadeira, Anas penelope, a marrequinha, Anas crecca; o marreco, Anas querquedula,<br />
a galinha d’agua, Gallinula chloropus, sendo dados como potenciais o caimão,<br />
Porphyrio porphyrio, e a Netta rufina, como nidificantes.<br />
Areias supralitorais<br />
Nas areias supralitorais são comuns os anfípodes, como as pulgas-do-mar Talitrus<br />
saltador e Orchestia spp., aqui tendo o habitat preferencial alimentar o pilrito-daspraias,<br />
bem como frequentemente, na parte superior da zona entre-marés, as duas<br />
espécies de borrelhos, o borrelho-grande-de-coleira e o borrelho-de-coleirainterrompida<br />
(Dias e Marques, 1999).<br />
Caniçal<br />
As manchas de caniço Phragmites australis, desenvolvem-se nas zonas superiores do<br />
estuário onde a salinidade das águas é baixa. Constituem um biótopo que se reveste<br />
de grande importância para a conservação de algumas espécies de aves,<br />
nomeadamente os rouxinóis-dos-caniços (Acrocephalus scirpaceus e Acrocephalus<br />
arundinaceus e A. paludicola, com presença provável durante a migração), a<br />
cigarrinha-ruiva (Locustella luscinioides), a garça-vermelha (Ardea purpurea), a garçapequena<br />
(Ixobrychus minutus) e a águia-sapeira (Circus aeruginosus) que os utilizam<br />
preferencialmente como local de nidificação (Dias e Marques, 1999). Relativamente à<br />
garça-vermelha, existe um grande núcleo de nidificação no caniçal do Lombo do Tejo,<br />
e núcleos de pequenas dimensões nos caniçais do rio Sorraia e da Herdade da<br />
Barroca d’Alva.<br />
Açudes e charcos temporários<br />
Cursos de água, que durante o Verão podem secar por completo, nomeadamente os<br />
charcos temporários. São ladeados por vegetação ripícola, com estratos herbáceo,<br />
arbustivo e arbóreo, que os limita do montado onde se inserem. Os açudes e charcos<br />
temporários existentes nas herdades da Barroca d’Alva e na Companhia das Lezírias,<br />
entre Junho e Julho de 2006 apresentaram uma riqueza específica de 36 espécies.<br />
Este biótopo confere um acréscimo de espécies aos montados adjacentes (24<br />
espécies ao montado de sobro e de 21 espécies aos montados mistos com sub<br />
coberto arbustivo) (Rocha, 2006a).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 51
No açude da Barroca d’Alva (Ponto BA 1) foram detectadas 19 espécies. Destas a que<br />
mais se evidenciou foi o chapim-azul com uma média de 3,33 contactos/5min, em<br />
seguida surge a trepadeira-comum com 1,33 contactos/5min, e ainda o andorinhãopreto,<br />
chapim-real e o chamariz ambos com 1contacto/5min. A predominância de<br />
espécies típicas de montado, pertencentes às famílias Paridae e Certhidae em<br />
detrimento de espécies típicas de vegetação ripícola (família Sylviidae), deveu-se a<br />
dois factores: por um lado, a vegetação ripícola embora bem desenvolvida (com<br />
estratos arbóreo, arbustivo e herbáceo), ocorria numa pequena área; e por outro, a<br />
zona envolvente ao açude é constituída por montado misto (sobro e pinheiro-bravo)<br />
aberto, sem sub coberto arbustivo (Rocha, 2006a).<br />
Noutro açude desta herdade foram detectadas 18 espécies, das quais o pato-real foi a<br />
que apresentou um maior número de contactos (4 contactos/5min). Nas margens<br />
desse açude ocorrem ainda a galinha-d’água e a garça-real ou, sobre a vegetação<br />
marginal arbustiva, o guarda-rios, o rouxinol e o rouxinol-bravo (Rocha, 2006a).<br />
O charco temporário, nesta altura do ano (Junho) já se encontrava praticamente seco,<br />
contudo a vegetação herbácea aí existente continuava verdejante, sendo observadas<br />
23 espécies, das quais o estorninho-preto é o mais abundante, apresentando um<br />
número médio de 5,33 contactos/5min. A existência de pequenas manchas de matos<br />
entre o charco e o montado com sub coberto arbustivos que envolve a zona<br />
aumentam a riqueza específica do local. Ocorrendo espécies aquáticas como a garçareal,<br />
espécies arborícolas como a trepadeira-azul ou o chapim-real, espécies de matos<br />
como a toutinegra-dos-valados e a toutinegra-de-barrete-preto, entre outras (Rocha,<br />
2006a). No açude na herdade da Companhia das Lezírias foram detectadas 26<br />
espécies. Esta diversidade de espécies, pareceu dever-se aos vários tipos de biótopos<br />
existentes no local. Ou seja, no interior do açude a existência de caniço e nas margens<br />
vegetação ripícola arbustiva e arbórea. A ladear esta área existe uma pastagem e<br />
montado de sobro com sub coberto arbustivo. No caniço e vegetação arbustiva ripícola<br />
ocorreram espécies como o pintassilgo (2 contactos/5min.), a toutinegra-de-barretepreto<br />
(1,33 contactos/5min.), rouxinol-grande-dos-caniços, o rouxinol (ambas com 0,67<br />
contactos/5min), o rouxinol-bravo e o bico-de-lacre (ambas com 0,67 contactos/5min).<br />
Na vegetação ripícola arbórea e no montado, foi detectado abundantemente o pardal,<br />
devido à proximidade de habitações (4,67 contactos/5min.) e ainda o pardal-montez<br />
(1,67 contactos/5min.). A proximidade de habitações também pareceu ser importante<br />
para a ocorrência da rola-turca no estrato arbóreo. Na pastagem envolvente, ocorre a<br />
gralha e o trigueirão (ambos com 1,67 contactos/5min.), o chamariz (1 contacto/5min.),<br />
a fuinha-dos-juncos (0,67 contactos/5min.) e o cartaxo (0,33 contactos/5min.) (Rocha,<br />
2006a).<br />
52<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Barragem<br />
A barragem do Vale Cobrão situa-se no interior da área compreendida pela<br />
Companhia das Lezírias, onde foram detectadas 22 espécies de aves. As garças<br />
foram as aves mais abundantes, a garça-branca-pequena apresentou em média 11,75<br />
contactos/5min. e a garça-real 5 contactos/5min. Foram ainda observadas outras aves<br />
aquáticas, nomeadamente, o pato-real e o guarda-rios, mas também limícolas como o<br />
maçarico-das-rochas e o borrelho-pequeno-de-coleira (3,5 contactos/5min.). Esta<br />
última espécie deve utilizar as margens arenosas da barragem para nidificar. As<br />
espécies das famílias Sylviidae e Paridae foram detectadas na zona ripícola anterior<br />
ao muro da barragem. Destaca-se ainda na zona a ocorrência do milhafre-preto (0,75<br />
contactos/5min.) e da águia-de-asa-redonda (0,5 contactos/5min.), espécies que<br />
podem nidificar na zona de pinhal contígua à barragem.<br />
Lezírias<br />
As lezírias do Tejo correspondem aos terrenos agrícolas situados entre a linha<br />
superior de preia-mar e as áreas florestais. Toda esta área, situada a uma cota muito<br />
baixa (menos de 5 m acima do nível do mar), está protegida da acção das marés por<br />
um sistema de diques e comportas que, juntamente com uma vasta rede de canais de<br />
escoamento, drenam o excesso de água durante os períodos mais chuvosos do ano.<br />
A agricultura que aqui se pratica assenta essencialmente na criação de gado bovino e<br />
os cultivos de sequeiro. Existem grandes extensões de pastagens e de cultivos<br />
forrageiros, cereais de Inverno (trigo e aveia) e girassol. O regadio tem aumentado nos<br />
últimos anos e serve principalmente o cultivo de milho, arroz e melão. A cultura do<br />
arroz, em particular, tem sofrido um incremento assinalável, ocupando hoje uma área<br />
significativa. A vegetação espontânea destes terrenos está limitada aos canais de<br />
escoamento, às pastagens, às orlas, aos restolhos e às fases iniciais dos cultivos. São<br />
essencialmente espécies herbáceas, destacando-se pela sua grande abundância as<br />
gramíneas, as leguminosas, entre outras. Existe apenas uma espécie arbustiva e<br />
perene (Suaeda vera), que ocorre sob a forma de pequenos arbustos nas zonas mais<br />
próximas dos taludes e dos canais de escoamento, nos quais são observadas<br />
algumas espécie típicas de habitats alagados, como o caniço, o escarlacho Cynodon<br />
dactyleon, os juncos Juncus effusus e Scirpus maritimus, etc. As espécies arbóreas<br />
são representadas pelas tamargueiras Tamarix africana ao longo dos diques, o<br />
pinheiro-manso Pinus pinea e a oliveira Olea europea nas zonas arenosas a sul do rio<br />
Sorraia e várias linhas de eucaliptos Eucaliptus sp. e choupos Populus alba existentes<br />
junto à EN10 (Leitão et al., 1998).<br />
As lezírias tal como a maioria dos habitats agrícolas são muito sazonais no que diz<br />
respeito à estrutura do coberto vegetal e à abundância de alimento para as aves. Esta<br />
situação deve-se principalmente à forte actividade humana que ali se desenvolve, mas<br />
também às condicionantes climáticas da região. As práticas agrícolas podem causar<br />
alterações tão bruscas e adversas como a destruição do coberto vegetal em plena<br />
época de nidificação ou alterações tão favoráveis como a disponibilidade de alimento<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 53
na sequência das lavouras outonais. Cerca de 15 espécies nidificam nos terrenos,<br />
canais e construções das lezírias do Tejo, sendo as mais abundantes o pato-real, a<br />
codorniz, a galinha-d’água, a perdiz-do-mar, a laverca, a calhandrinha-comum, a<br />
andorinha-das-chaminés, a alvéola-amarela, a fuínha-dos-juncos, o cartaxo e o<br />
trigueirão. Outras espécies como a águia-sapeira, o tartaranhão-caçador, o<br />
andorinhão-preto e a andorinha-dos-beirais, são comuns nas lezírias, mas nidificam<br />
nos biótopos envolventes. No Inverno a avifauna das lezírias é globalmente mais<br />
abundante e diversa, neste período ocorrem mais de 30 espécies, das quais a garçaboieira,<br />
o peneireiro-vulgar, o sisão, o abibe, a tarambola-dourada, a narceja-comum,<br />
o guincho, a coruja-das-torres, o guarda-rios, a laverca, a petinha-dos-prados, a<br />
alvéola-branca, o cartaxo, a fuinha-dos-juncos, a felosa-comum, o pardal, o chamariz,<br />
o pintassilgo, o pintarrôxo e o Trigueirão são das mais abundantes (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Os Charadriiformes ocorrem em todos os biótopos da lezíria, principalmente durante o<br />
Inverno (Novembro a Fevereiro), período em que se registam as maiores abundâncias<br />
e maior número de espécies. Em alguns biótopos agrícolas (7 biótopos) os<br />
Charadriiformes chegam a deter durante os meses de Inverno mais de 20% da<br />
abundância em termos de densidade (aves/ha). Das 23 espécies registadas apenas 3<br />
nidificam na área: o pernilongo, o alcaravão e perdiz-do-mar. As espécies invernantes<br />
foram as mais abundantes e melhor distribuídas, designadamente o abibe, a<br />
tarambola-dourada e o maçarico-real, que ocorrem preferencialmente nas pastagens e<br />
forragens, e a narceja, o maçarico-de-bico-direito e o guincho, mais ligadas aos<br />
restolhos alagados de milho e arroz. A abundância de Charadriiformes,<br />
nomeadamente limícolas, nesta área agrícola, está ligada ao carácter alagadiço dos<br />
solos durante o Inverno e à influência dos sapais, extensões de vasa e salinas<br />
adjacentes (Leitão, 1993).<br />
Campos de girassol – O girassol é semeado geralmente entre Março e Maio, em<br />
terrenos previamente lavrados. Frequentemente constitui uma cultura de regadio,<br />
utilizando-se, durante o seu crescimento, aparelhos de rega circulares (pivots). As<br />
plantações de girassol constituem monoculturas relativamente densas de crescimento<br />
bastante rápido, podendo as plantas atingir cerca de 1,5 metros de altura em cerca de<br />
três meses. A ceifa ocorre geralmente durante o mês de Setembro, recorrendo-se a<br />
maquinaria especializada a fim de recolher as sementes. Os talhões semeados com<br />
girassol são, normalmente, os mesmos todos os anos. Podem, no entanto,<br />
permanecer um ano em pousio, ocupados por restolho, que gradualmente se<br />
transforma em pastagem (Tomé, 1994).<br />
Restolhos de girassol – Após a ceifa do girassol, em Setembro, os talhões podem<br />
ser lavrados e semeados com cereal ou permanecer ocupados por restolho,<br />
geralmente até à Primavera seguinte. Neste caso, os restolhos são caracterizados,<br />
durante os primeiros dias após a ceifa, por uma densidade relativamente elevada de<br />
54<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
caules secos de girassol sobre um solo quase nú. Durante o Inverno assiste-se ao<br />
desenvolvimento de várias espécies oportunistas que gradualmente transformam o<br />
restolho em pastagem. Os restolhos podem, então, ser usados como pastos para o<br />
gado. No início da Primavera os talhões são lavrados a fim de se proceder a nova<br />
sementeira (na maioria dos casos, novamente girassol) ou permanecem em pousio<br />
por um ano. Neste caso, são normalmente aproveitados como pastagens para gado<br />
durante essa Primavera ou Verão (Tomé 1994). No restolho de girassol a abundância<br />
de avifauna é máxima nos meses de Dezembro (43,82 aves/ha) e Janeiro e mínima<br />
em Novembro e Fevereiro (28,90 aves/ha). Estes valores são superiores aos máximos<br />
obtidos após a sementeira de girassol (10,8 aves/ha). A riqueza específica do restolho<br />
é maior em Dezembro (12 espécies/ha) e menor em Janeiro e Fevereiro (6 e 8<br />
espécies, respectivamente), registando um aumento acentuado após a sementeira do<br />
girassol, com um máximo de 16 espécies em Junho (a riqueza é superior nos campos<br />
de girassol, do que no respectivo restolho). No Inverno (no restolho), as espécies mais<br />
abundantes são, o carraceiro, o abibe, a tarambola-dourada, o guincho, a laverca, a<br />
petinha-dos-prados, o pardal e o pintassilgo. Na Primavera (no girassol) as espécies<br />
mais abundantes são, a perdiz, o maçarico-galego, o andorinhão-preto, a calhandrareal,<br />
a fuinha-dos-juncos, o cartaxo, o pardal, o pintassilgo, o pintarroxo e o trigueirão<br />
(Leitão, 1993).<br />
Milheirais – O milho é semeado em regadio em Março ou Abril. A intensidade da rega,<br />
realizada por “pivots” provoca um relativo alagamento dos solos nos milheirais. Os<br />
milheirais desenvolvidos, constituem monoculturas muito densas, em que a maior<br />
parte das plantas pode atingir cerca de 3 metros de altura. O milho cresce até<br />
Setembro ou Outubro, altura em que se procede à recolha das espigas e ao corte dos<br />
caules. Na Primavera seguinte os milheirais são normalmente implantados nos<br />
mesmos talhões (Tomé, 1994).<br />
Restolhos de milho – Estes restolhos consistem em terrenos relativamente alagados<br />
onde permanecem apenas as bases dos caules de milhos cortados. Os talhões<br />
permanecem em restolho entre Setembro e Outubro e a Primavera seguinte, altura em<br />
que são lavrados e semeados novamente com milho ou, mais raramente, com girassol<br />
(Tomé, 1994). Nos restolhos de milho, a abundância de aves é maior no Inverno, em<br />
especial no mês de Janeiro (27,57 aves/ha). A partir deste mês regista uma diminuição<br />
progressiva até atingir o mínimo no mês de Abril (0,6 aves/ha), durante o qual ocorre a<br />
sementeira do milho, com a consequente destruição do coberto vegetal desenvolvido<br />
durante o Inverno. A partir da sementeira, a abundância aumenta ligeiramente. A<br />
riqueza específica apresenta uma variação idêntica à da abundância, com valores<br />
máximos obtidos em Dezembro, Janeiro e Junho (15, 16 e 14 espécies,<br />
respectivamente) e mínimos em Novembro e Abril, durante a sementeira (6 espécies).<br />
As espécies residentes mais abundantes são, a perdiz e o pardal, como invernantes<br />
ocorrem 8 espécies, o carraceiro, a codorniz, o abibe, a narceja, a laverca, a petinha-<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 55
dos-prados, a petinha-ribeirinha e a petinha-maritima. Como estival a cotovia-depoupa<br />
é a espécie mais comum (Leitão, 1993).<br />
Plantações de melão – O melão é semeado em regadio em Março ou Abril, após a<br />
lavra dos terrenos. Os talhões ocupados por esta cultura matem o solo muito<br />
descoberto e sofrem uma intervenção humana muito intensa até à colheita de todos os<br />
frutos, que decorre sobretudo em Julho e Agosto (Tomé, 1994). A abundância de<br />
espécies de aves neste biótopo é reduzida, apresentando um aumento após a<br />
sementeira (2,8 aves/ha). A riqueza específica variou entre 3 e 6 espécies. Foram<br />
observadas entre Abril e Junho 7 espécies, o andorinhão-preto, a calhandrinha, o<br />
alvéola-amarela, a fuinha-dos-juncos, o cartaxo, o pardal e o pintarroxo (Leitão, 1993)<br />
Restolhos de melão – Após a colheita dos melões, os talhões permanecem<br />
geralmente em pousio durante alguns meses, período em que podem ser ocupados<br />
pelas espécies vegetais típicas das pastagens. Estes talhões podem, depois ser<br />
aproveitados para pastagens ou qualquer cultura agrícola (Tomé, 1994).<br />
Campos de cereal – A grande maioria dos talhões cultivados com espécies<br />
cerealíferas encontra-se ocupado por aveia (Avena sterilis L.) embora também se<br />
cultive trigo. A lavra e sementeira dos terrenos decorre geralmente em Outubro ou<br />
Novembro. O cereal cresce até Maio ou Junho, altura em que se procede à ceifa com<br />
auxílio de maquinaria especializada. As searas, já muito desenvolvidas em Abril,<br />
constituem monoculturas muito densas, de grande cobertura e que atingem cerca 1,5<br />
metros de altura (Tomé, 1994). A riqueza específica de avifauna deste biótopo é<br />
reduzida ao longo de todo o ano, não ultrapassando as 9 espécies, e apresentando<br />
um mínimo de 4 espécies em Janeiro. A densidade das espécies é mais elevada no<br />
início do Inverno (41,7 aves/ha), registando uma descida acentuada até à Primavera.<br />
A laverca é responsável por 70% da abundância total durante o Inverno (excepto em<br />
Fevereiro) e a fuinha-dos-juncos assume a mesma percentagem durante a Primavera.<br />
Como espécies residentes, ocorrem a fuinha-dos-juncos, o cartaxo e o trigueirão,<br />
como invernantes, a calhandra-real, a laverca e a petinha-dos-prados, e como estival a<br />
codorniz (Leitão, 1993).<br />
Restolhos de cereal – Este biótopo surge no final da Primavera, após a ceifa dos<br />
campos de cereal. É caracterizado por uma cobertura relativamente escassa e rala<br />
das partes dos caules que sobraram da ceifa. Durante o Verão é geralmente utilizado<br />
como pasto para o gado. Durante Outubro ou Novembro os talhões são normalmente<br />
lavrados, permanecendo com alqueives (terrenos lavrados) até à Primavera seguinte,<br />
quando são semeados com girassol (principalmente) ou melão. Os talhões não<br />
lavrados no Outono continuam em pousio, sendo aproveitados para pastagens ou<br />
lavrados mais tarde e semeados com culturas de Verão (girassol ou melão) (Tomé,<br />
1994).<br />
56<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Campos de forrageiras – A forragem consiste num conjunto de espécies<br />
(denominadas forrageiras) provenientes da área, destinadas à produção de rações<br />
para o gado. A lavra e sementeira dos talhões processam-se em Outubro ou<br />
Novembro, decorrendo a ceifa a partir de Abril e, sobretudo, em Maio e Junho. As<br />
searas de forragem desenvolvidas constituem, tal como os campos de cereal, biótopos<br />
muito densos e de grande cobertura, em que a maioria das plantas atinge cerca de 1,5<br />
metros de altura. As espécies mais bem representadas são Melilotus messanensis (L.)<br />
All, Brassica nigra (L.) Koch e várias espécies de gramíneas (Avena sterilis L.,<br />
Hordeum marinum Hudson, Bromus diandrus Roth, etc; Tomé, 1994). O número de<br />
espécies que ocorrem neste biótopo é relativamente estável, apresentando um<br />
máximo de 12 e um mínimo de 8 espécies. As densidades de aves variaram sobretudo<br />
no Inverno (entre 2,9 e 6,8 aves/ha), permanecendo relativamente constantes na<br />
Primavera (5 aves/ha). Nas forragens a laverca e a fuínha-dos-juncos são espécies<br />
residentes, ocorrendo 5 espécies invernantes, o peneireiro-vulgar, o abibe, a<br />
tarambola-dourada, a petinha-dos-prados e a felosinha. Como estivais, ocorrem a<br />
codorniz, o andorinhão-preto, a calhandrinha, a andorinha-das-chaminés, a alvéolaamarela<br />
e o trigueirão. Durante a ceifa das forragens, entre Maio e Abril, espécies,<br />
como a codorniz, a alvéola-amarela, a fuinha-dos-juncos e o trigueirão, diminuem a<br />
sua abundância ou acabam mesmo por desaparecer (Leitão, 1993).<br />
Restolhos de forragem – Muito semelhantes em termos fisionómicos e estruturais<br />
aos restolhos de cereal, a sua utilização é semelhante. No Verão são, da mesma<br />
forma, normalmente usados como pastagens. No Outono podem ser lavrados e<br />
permanecer com alqueives até à Primavera seguinte (sendo então, semeados com<br />
girassol) ou, ao contrário do que acontece com os restolhos de cereal, imediatamente<br />
semeados com cereal ou forragem. Podem, também, permanecer em pousio durante<br />
todo o Inverno, sendo aproveitados como pastagens ou lavrados na Primavera (Tomé,<br />
1994).<br />
Arrozal – Existem várias zonas de arrozal. O arrozal da Giganta é fortemente<br />
mecanizado, caracteriza-se pela divisão dos terrenos de cultivo em parcelas, cujas<br />
margens são rectilíneas e perpendiculares. Estas parcelas (canteiros) ocupam, de<br />
modo geral, 3 a 4 ha. Apresentam um complexo sistema de irrigação e de drenagem<br />
por valas ladeadas por vegetação, constituída por Typha sp. e Phragmites sp.. O arroz<br />
Oryzea sativa, planta herbácea anual, é cultivada de Abril/Maio a Setembro/Outubro<br />
(nesta zona), em terreno inundado quase permanente. No resto do ano, os terrenos de<br />
cultivo de arroz encontram-se secos (em condições meteorológicas para época),<br />
ocorrendo em consequência do ciclo anual de cultivo. O nível de água oscila entre os<br />
5 e 20 cm, no entanto, a seguir à utilização de herbicidas, pode ser drenada toda a<br />
água, mantendo-se os terrenos quase secos. Este arrozal de 645 ha encontra-se<br />
envolvido por pastos e é explorado desde 1991 (Martins, 1999).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 57
Restolho de arrozal – devido ao alagamento necessário para cultivar o arroz, a<br />
principal característica deste biótopo é o encharcamento do solo, onde permaneciam<br />
os restos dos caules não colhidos daquela planta (Tomé, 1994). Neste biótopo, a<br />
maior abundância de avifauna registou-se em Janeiro (16,24 aves/ha), após o qual<br />
ocorreu um grande declínio até Abril (2,92 aves/ha). Durante este mês procede-se à<br />
sementeira do arroz, altura em que o solo é lavrado, semeado e alagado. A partir<br />
daqui verifica-se uma recuperação das densidades de aves, atingindo as 10,58<br />
aves/ha em Maio. A riqueza específica foi maior em Janeiro e Fevereiro (24 e 28<br />
espécies, respectivamente), diminuindo até Abril (10 espécies) e recuperando até Maio<br />
e Junho (22 e 15 espécies, respectivamente). Ocorrem como residentes 9 espécies, a<br />
garça-branca-pequena, o carraceiro, a garça-real, a cegonha, o maçarico-de-bicodireito,<br />
a fuinha-dos-juncos, o cartaxo, o pardal e o bico-de-lacre. Como invernantes<br />
ocorrem apenas 12 espécies, o abibe, a narceja, a laverca, a petinha-dos-prados, a<br />
petinha-ribeirinha, a petinha-maritima, o rouxinol-bravo, a felosinha, o tentilhão, o<br />
verdilhão, o trigueirão e a escrevedeira-dos-caniços. Como estivais surgem 4<br />
espécies, o pato-real, a andorinha-das-barreiras, a andorinha-das-chaminés e a<br />
andorinha-dos-beirais. Após o alagamento dos campos de arroz, ocorrem ainda várias<br />
espécies de limícolas, o borrelho-grande-de-coleira, o borrelho-de-coleirainterrompida,<br />
a rola-do-mar, a tarambola-cinzenta, o pilrito-comum, a seixoeira, o<br />
maçarico-das-rochas, o combatente e o pernilongo (Leitão, 1993).<br />
Valas – São os canais de escoamento da lezíria, correspondem a zonas<br />
permanentemente alagadas, onde podem existir manchas densas de vegetação<br />
aquática. Esta vegetação é frequentemente destruída pelo gado das pastagens<br />
adjacentes, ou por acções de limpeza dos canais. Neste biótopo, as densidades de<br />
avifauna foram maiores no início do Inverno (43,71 aves/ha em Novembro e 35,53<br />
aves/ha em Dezembro), diminuindo em seguida e mantendo-se abaixo das 20<br />
aves/ha, durante a Primavera. O número de espécies foi maior no Inverno (14<br />
espécies em Dezembro e 15 em Fevereiro) e menor na Primavera (abaixo das 10<br />
espécies). Quanto às espécies que ocorrem neste biótopo, pode-se realçar a grande<br />
abundância dos não passeriformes, sobretudo ligados ao meio aquático. Assim como<br />
residente ocorre, a galinha-d’água, como invernantes, garça-real, a garça-brancapequena<br />
e o guarda-rios, como estivais ocorrem a garça-vermelha e o pato-real.<br />
Relativamente aos passeriformes, ocorrem como residentes o fuinha-dos-juncos e o<br />
cartaxo, como invernantes, a petinha-dos-prados, a petinha-ribeirinha, a petinhamaritima,<br />
a alvéola-branca, o rouxinol-bravo, a felosinha e o pisco-de-peito-azul, e<br />
como estivais a andorinha-das-chaminés e a alvéola-amarela (Leitão, 1993).<br />
Pastagens Primaveris – durante o Outono, o Inverno e parte da Primavera, as<br />
pastagens permanecem sem gado, assistindo-se ao crescimento de uma grande<br />
variedade de gramíneas (Avena sterilis L., Vulpia geniculata (L.) Link, Lolium perenne<br />
L., Gaudinia fragilis (L.) P. Beaur., Bromus diandrus Roth e Hordeum marinum<br />
Hudson). Em Maio ou Junho, as pastagens encontram-se bem desenvolvidas,<br />
58<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
constituindo um biótopo muito denso em que as plantas têm mais de 1 metro de altura.<br />
Nesta altura são ocupadas por gado (sobretudo bovino) que nelas permanece durante<br />
algumas semanas. O seu efeito é muito intenso e quando o gado é retirado, em Julho<br />
ou Agosto, o biótopo encontra-se totalmente alterado. Nesta altura, a cobertura das<br />
espécies vegetais é muito pequena, e a grande maioria das plantas não ultrapassa os<br />
10 cm de altura. Estas pastagens permanecem sem gado até se encontrarem de novo<br />
desenvolvidas, na Primavera do ano seguinte (Tomé, 1994). A riqueza específica de<br />
aves deste biótopo é superior no Inverno (16 a 19 espécies) do que na Primavera (11<br />
a 13 espécies). A abundância varia entre 6 e 10 aves/ha ao longo de todo o ano. A<br />
diminuição da riqueza específica e abundância registada na Primavera, parece deverse<br />
à perturbação causada pelo pastoreio. É nestes meses que o gado bovino é<br />
transferido para estas pastagens, causando grande destruição no coberto vegetal.<br />
Neste biótopo ocorrem 4 espécies residentes, a águia-sapeira, a laverca, a fuinha-dosjuncos<br />
e o cartaxo, e 13 espécies invernantes, como a garça-real, o carraceiro, a<br />
garça-branca-pequena, o sisão, o peneireiro-vulgar, o abibe, a tarambola-dourada, a<br />
narceja, a petinha-dos-prados, o picanço-real, a felosinha, o pintassilgo e o pintarroxo.<br />
E ainda 7 espécies estivais, o pato-real, a codorniz, o andorinhão-preto, a andorinhadas-chaminés,<br />
a andorinha-dos-beirais, a alvéola-amarela e o trigueirão (Leitão, 1993).<br />
Pastagens permanentes – distinguem-se do biótopo anterior pelo facto de<br />
comportarem gado durante praticamente todo o ano. O efeito de herbívoria é, assim,<br />
permanente e as plantas nunca atingem grande desenvolvimento. Constituem<br />
pastagens relativamente ralas, de menos cobertura que as pastagens primaveris e em<br />
que a maioria das plantas raramente ultrapassa os 50 cm de altura. A maioria das<br />
espécies é a mesma, que se desenvolvem nas pastagens primaveris, contudo nas<br />
pastagens permanentes assumem importância outras espécies, mais adaptadas á<br />
pressão do gado e mais características de terrenos perturbados ou salgados. Entre<br />
elas podem destacar-se Beta vulgaris L., Carlina racemosa L., Cardaria draba (L.)<br />
Desv., Suaeda vera J.F. Gemelin, Fankaenia laevis L. e Arthocnemum fruticosum (L.)<br />
Moq. (Tomé, 1994).<br />
A abundância e riqueza específica são maiores no Inverno que na Primavera. A<br />
abundância atinge um máximo em Dezembro (15,6 aves/ha), diminuindo até Junho<br />
(2,5 aves/ha). O número de espécies foi máximo no mês de Janeiro (22 espécies)<br />
oscilando até ás 9 espécies obtidas em Maio. Estas oscilações parecem dever-se à<br />
perturbação causada pela presença de gado, principalmente durante a estação mais<br />
seca, altura em que o coberto vegetal quase desaparece. Neste biótopo a laverca<br />
ocorre ao longo de todo o ano, mas outras 4 espécies de cariz residente são<br />
observadas embora com alguma irregularidade, são a águia-sapeira, a fuinha-dosjuncos,<br />
o cartaxo e o trigueirão. Como invernantes ocorrem essencialmente 10<br />
espécies, a garça-branca-pequena, o carraceiro, a garça-cinzenta, o abibe, a<br />
tarambola-dourada, a petinha-dos-prados, os estorninhos, o chamariz, o pintassilgo e<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 59
o pintarroxo, enquanto como estivais surgem apenas 3 espécies, a águia-caçadeira, a<br />
calhandrinha e a alvéola-amarela (Leitão, 1993).<br />
Terrenos lavrados e alqueives – Os alqueives são terrenos lavrados praticamente<br />
desprovidos de vegetação que ocupam os talhões durante algumas semanas ou<br />
meses, antes de se proceder à sementeira de culturas de sequeiro (cereal ou<br />
forragem) ou de Verão (girassol ou melão), respectivamente. Também os talhões<br />
ocupados por pastagens permanentes podem ser lavrados, normalmente no Verão,<br />
com o intuito de impedir o desenvolvimento excessivo de espécies típicas dos terrenos<br />
salgados e sapais (sobretudo Suaeda vera J.F. Gemelin, Fankaenia laevis L.). Algum<br />
tempo após a lavra, os talhões são de novo ocupados pelas espécies que<br />
normalmente constituem as pastagens (Tomé, 1994).<br />
Nos alqueives a abundância da avifauna é maior no pico de Inverno (3,99 aves/ha),<br />
diminuindo drasticamente até à Primavera (0,44 aves/ha). Nos terrenos lavrados a<br />
abundância é superior nos meses de Maio e Junho. A riqueza específica é reduzida<br />
(um máximo de 8 espécies) e segue um padrão idêntico à abundância, sendo mais<br />
elevada em Janeiro e Junho. As espécies mais abundantes no Inverno são, o abibe, a<br />
tarambola-dourada e a laverca e nos meses de Maio e Junho os passeriformes, a<br />
calhandrinha, a laverca, alvéola-amarela e o cartaxo, correspondem à quase totalidade<br />
da densidade (Leitão, 1993).<br />
Área Florestal<br />
Toda a área florestal desde Porto Alto até Alcochete teria sido outrora ocupada por<br />
extensos sobreirais. Nestas formações, cujo estrato arbóreo é dominado pelo sobreiro<br />
Quercus suber, o sub-bosque é rico e variado, podendo ser encontradas mais de 15<br />
espécies de arbustos. Pela sua abundância, destacam-se as Cistáceas, as Ericáceas<br />
e as leguminosas. Posteriormente, a pressão exercida durante décadas pelo pastoreio<br />
de bovinos quase fez desaparecer o coberto arbustivo, transformando os sobreirais<br />
em montados de sobro. Nos últimos cinquenta anos a situação piorou ainda mais, uma<br />
vez que cerca de 50% dos montados de sobro foram substituídos por plantações de<br />
pinheiro-manso Pinus pinea e eucalipto Eucaliptus globulus, vinha, pastagens<br />
permanentes e, mais recentemente, por regadio de milho e estufas para a floricultura.<br />
As sebes possuem também porte arbóreo, mas têm uma estrutura tipicamente linear,<br />
existem nas margens de ribeiras, valas, açudes e ao longo da zona de transição<br />
montado/lezíria. As primeiras são constituídas salgueiros Salix sp. e amieiros Alnus<br />
glutinosa e as segundas por aroeiras Pistacia lentiscus e silvas Rubus sp. de porte<br />
arbóreo. Estas formações embora escassas têm sofrido um processo de degradação<br />
devido a queimadas e cortes com o argumento de recuperação de terrenos agrícolas<br />
ou práticas de “ordenamento” cinegético (Leitão et al., 1998).<br />
A comunidade de aves dos biótopos florestais é sem dúvida uma das mais diversas no<br />
estuário do Tejo, sendo constituída por mais de 40 espécies nidificantes regulares, das<br />
60<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
quais mais de 30 são residentes. A perdiz, o cuco, a coruja-do-mato, o noitibó-denuca-vermelha,<br />
abelharuco, a poupa, o peto-verde, o pica-pau-grande-malhado, a<br />
cotovia-pequena, o rouxinol, melro, a tordeia, o rouxinol-bravo, a felosa-poliglota, a<br />
toutinegra-dos-valados, o chapim-de-poupa, o chapim-azul, o chapim-real, o chapimrabilongo,<br />
a trepadeira-azul, a trepadeira-comum, o estorninho-preto, o picançobarreteiro,<br />
o picanço-real, o gaio, o charneco, a carriça, o pardal-françês, o tentilhão, o<br />
chamariz, e o pintassilgo são alguns dos nidificantes mais comuns dos montados,<br />
pinhais e sebes do estuário do Tejo (Leitão et al., 1998).<br />
Montado sem sub-bosque – Montados de sobro, nos quais o estrato arbustivo é<br />
reduzido ou mesmo inexistente, servem normalmente de pastagens permanentes para<br />
o gado bovino e equino. A riqueza específica do biótopo é maior durante a Primavera<br />
que no Inverno, o mesmo acontece com a abundância das espécies. Das 61 espécies<br />
que ocorrem neste tipo de montado, 34 (55,7%) são passeriformes. As espécies não<br />
passeriformes mais representativas são a garça-branca-pequena, o abibe e o pombotorcaz,<br />
como invernantes, o cuco, o abelharuco e a poupa, como estivais, e a perdiz<br />
como residente. Quanto aos passeriformes, ocorrem como residentes a cotovia-dosbosques,<br />
os estorninhos, o charneco, a carriça, a toutinegra-dos-valados, o melro, o<br />
chapim-azul, o chapim-real, a trepadeira comum, o pardal-francês, o tentilhão e o<br />
chamariz. Como invernantes, a petinha-dos-prados, a felosinha e o pisco-de-peitoruivo,<br />
e como estivais o picanço-barreteiro, a tordeia e o pardal-montez (Leitão, 1993).<br />
Montado com sub-bosque – Montados que possuem um estrato arbustivo<br />
relativamente bem conservado. Este biótopo encontra-se em pequenas parcelas,<br />
onde, além das actividades cinegéticas e corticeiras, não existem outras actividades<br />
humanas. Neste montado a riqueza específica é geralmente menor no Inverno que na<br />
Primavera, registando-se uma maior abundância em Novembro (18 aves/ha). Em<br />
Novembro é atingido um mínimo de 16 espécies, mas na primavera, ocorrem<br />
geralmente 26 espécies. Como espécies residentes ocorrem o pica-pau-malhadogrande,<br />
a cotovia-dos-bosques, os estorninhos, a carriça, a toutinegra dos valados, o<br />
cartaxo, o melro, o chapim-de-poupa, o chapim-azul, o chapim-real, o chapimrabilongo,<br />
a trepadeira-azul, a trepadeira-comum, o pardal-francês, o tentilhão e o<br />
chamariz. Como invernantes, ocorrem a ferreirinha, a felosa-do-mato, a felosinha,<br />
estrelinha-real e o pisco-de-peito-ruivo, e como estivais ocorrem o cuco, o picançobarreteiro,<br />
o papa-figos e a felosa-poliglota (Leitão, 1993).<br />
Pinhal – O pinhal, plantações de pinheiro-bravo, algumas com mais de 30 anos, onde<br />
podem ocorrer alguns sobreiros e pinheiros-mansos. São áreas de pouca perturbação<br />
humana, excepto nos períodos em que se resinam os pinheiros ou se processam<br />
outras actividades madeireiras. A riqueza é maior na Primavera, registando o mínimo<br />
de 11 espécies em Novembro 11 espécies e o máximo de 19 espécies em Março e<br />
Maio. A densidade de espécies é maior em Novembro e Dezembro (10,2 e 10,5 aves/<br />
ha, respectivamente), diminuindo sempre até atingir um mínimo de 6,2 aves/ha, em<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 61
Maio e Junho. Tal como os outros biótopos florestados, também no pinhal os<br />
passeriformes são mais abundantes que os outros grupos de aves. Durante o Inverno,<br />
a felosinha é a espécie mais abundante. Como residentes, são mais frequentes os<br />
estorninhos, o gaio, a toutinegra-dos-valados, o melro, o chapim-de-poupa, o chapimazul,<br />
o chapim-real, a trepadeira-azul, a trepadeira-comum, o tentilhão e o chamariz.<br />
Como invernantes, ocorrem a felosinha, estrelinha-real, o pisco-de-peito-ruivo e o<br />
chapim-rabilongo, e como estivais ocorrem a carriça, o cartaxo, o verdilhão e o<br />
pintassilgo (Leitão, 1993).<br />
1.3.2.2 Lista das espécies de aves registadas no Estuário do Tejo<br />
1.3.2.2.1 Ordem Podicepidiformes<br />
Família Podicepididae<br />
Mergulhão-pequeno, Tachybaptus ruficollis<br />
Fenologia: Espécie residente em Portugal. No estuário do Tejo a espécie é residente<br />
nidificante raro e invernante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie considerada Pouco Preocupante em Portugal e pela<br />
IUCN. Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: O Mergulhão-pequeno tem uma área de distribuição<br />
vasta, que engloba África, Europa e Sul da Ásia. A subespécie T. ruficollis ruficollis<br />
distribui-se pela Europa e Noroeste africano. Esta espécie é residente, mas pode<br />
apresentar carácter dispersivo ou migratório, dependendo das condições atmosféricas<br />
durante o Inverno (del Hoyo et al., 1992) (Costa e Guedes, 1997).<br />
Habitat: Ocorre numa grande diversidade de zonas húmidas, geralmente com água<br />
pouco profunda (del Hoyo et al., 1992), evitando fortes ondulações ou correntes<br />
violentas (Carmp e Simmons, 1977). No estuário tem preferência por tanques de<br />
salinas, valas da lezíria e açudes (Leitão et al., 1998). Nos Invernos de 2004/05 e<br />
2005/2006 a espécie utilizou preferencialmente as salinas do Samouco e a lagoa<br />
artificial do mouchão do Lombo do Tejo como local de invernada.<br />
População: A população do Paleártico ocidental é estimada num intervalo entre 100<br />
000 e 1 000 000 de indivíduos (Rose e Scott 1994). Nidifica em Portugal, sendo uma<br />
espécie residente, mais abundante no Sul do país (Costa e Guedes, 1994). Tratandose<br />
de uma espécie de hábitos mergulhadores, dificulta a sua contagem rigorosa,<br />
reflectindo-se este facto nos registos serem muito irregulares bem como as datas de<br />
contagens máximas variarem muito de ano para ano Costa e Guedes, 1997). Em<br />
Janeiro de 1991 e 1992 foram contados, entre Alcochete e Vila Franca de Xira, 134 e<br />
192 indivíduos, respectivamente. A população nidificante não deve atingir os 5 casais<br />
(Leitão et al., 1998). No Inverno de 1992/93 foram contadas no estuário um máximo de<br />
15 aves no mês de Dezembro e 51 indivíduos no esteiro do Montijo no mês de<br />
Novembro. Registos mais recentes nomeadamente dos Invernos de 2004/05 e<br />
62<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
2005/2006 foram observados 69 e 45 aves, respectivamente (Encarnação, dados não<br />
publicados).<br />
Mergulhão-de-pescoço-preto, Podiceps nigricollis<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é invernante. No estuário do Tejo é uma espécie<br />
invernante rara. Ocorrendo no estuário durante os meses Março, Agosto e entre os<br />
meses de Novembro a Fevereiro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie considerada Pouco Preocupante em Portugal e<br />
internacionalmente Não Ameaçada e pela BirdLife International (2004) e Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna<br />
(ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A subespécie P. nigricollis nigricollis apresenta uma<br />
distribuição muito alargada, ocorrendo desde Espanha até à China (Hagemeijer e Blair<br />
1997). Contudo, a maioria da população concentra-se entre a região Central da França<br />
e o Sul da Rússia, ocorrendo nas áreas mais a norte (ICN, 2006).<br />
Habitat: Durante o período de Inverno ocorre em zonas húmidas costeiras e de<br />
interior, com alguma preferência por água doce. Ocorre em albufeiras e pequenas<br />
charcas, observando-se ocasionalmente em salinas (ICN, 2006). No estuário do Tejo<br />
tem é observado em tanques de salinas, canais e águas livres (Leitão et al., 1998).<br />
População: A população europeia é estimada em cerca de 100.000 indivíduos (Rose<br />
e Scott, 1994), com a maioria destes nas regiões mais orientais (Cramp e Simmons,<br />
1977). Existem diversos registos desta espécie em Portugal, estimando-se um efectivo<br />
invernante de 1000 indivíduos dispersos pelo país, e com números mais significativos<br />
no estuário do Sado (Moore 1998). A maior parte das observações efectuadas no<br />
estuário do Tejo envolveram indivíduos isolados (Leitão et al., 1998).<br />
Factores de ameaça: Não estão identificados factores de ameaça específicos para<br />
esta espécie. Estando estreitamente dependente de zonas húmidas, esta espécie é<br />
afectada por todas as intervenções que resultem na degradação da qualidade<br />
ambiental destas áreas, designadamente alterações dos níveis de água, eutrofização,<br />
contaminação por poluentes, presença de engenhos de pesca, caça entre outras (ICN,<br />
2006).<br />
Medidas de Conservação: Algumas áreas de ocorrência integram a Rede Nacional<br />
de Áreas Protegidas, beneficiando assim da protecção atribuída a esses locais (ICN,<br />
2006).<br />
1.3.2.2.2 Ordem Pelecaniformes<br />
Família Phalacrocoracidae<br />
Corvo-marinho-de-faces-brancas, Phalacrocorax carbo<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é invernante. Ocorre no estuário do Tejo com<br />
invernante comum, sobretudo entre os meses de Junho a Maio (Leitão et al., 1998).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 63
Estatuto de Protecção: Espécie considerada Pouco Preocupante em Portugal e<br />
internacionalmente Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo III<br />
da convenção de Berna (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Ocorrem em Portugal, durante o Inverno, as duas<br />
subespécies europeias do corvo-marinho-de-faces-brancas, que evidenciam algumas<br />
diferenças quanto à ocupação preferencial dos vários tipos de zonas húmidas. Os<br />
corvos-marinhos da subespécie carbo invernantes em Portugal são originários<br />
maioritariamente da Grã-Bretanha e Irlanda, enquanto os da subespécie sinensis são<br />
provavelmente da Alemanha, Holanda e Dinamarca, e, possivelmente de outros<br />
países da Europa central e oriental (Rose e Scott, 1994; Costa e Guedes, 1994).<br />
Habitat: A subespécie P. carbo carbo predomina nas regiões litorais, já a subespécie<br />
P. c. sinensis é mais comum nas áreas mais continentais, como albufeiras, açudes e<br />
lagos. No Tejo tem preferência por zonas de águas livres do estuário e viveiros das<br />
salinas (Leitão et al., 1998). Os registos dos Invernos de 2004/05 a 2005/06 mostram a<br />
preferência por zonas de águas livres do estuário, obtendo-se mais 94% e 87%<br />
respectivamente do total da população invernante no estuário.<br />
População: A população de P. c. carbo está estimada em cerca de 150 000 indivíduos<br />
e a de P. c. sinensis em 120.000 indivíduos, encontrando-se esta última em acentuado<br />
crescimento (Rose e Scott, 1994). Durante o período de 1980 e 1982 a população<br />
invernante do estuário do Tejo foi estimada em 200 a 400 aves, sendo que no Inverno<br />
de 1981/82 a população terá ascendido a cerca de 300 indivíduos. Em Dezembro de<br />
1982 foram contados 342 aves no estuário do Tejo (Teixeira 1985). A população<br />
média invernante no período 1992 a 1996 foi de 403 aves, com um máximo de 616<br />
registado em Janeiro de 1992. Apesar os números médios não se afastarem muito do<br />
máximo obtido em 1982, tudo leva a crer que a população invernante no estuário<br />
esteja a aumentar, devido não só à recuperação das populações da Europa<br />
Setentrional, mas também à expansão de pisciculturas, que proporcionam uma fácil<br />
fonte de alimento (Leitão et al., 1998). Este aumento foi visível nos Invernos de<br />
2004/05 e 2005/06 onde foram registados 681 e 707 indivíduos, respectivamente<br />
(Encarnação, dados não publicados).<br />
1.3.2.2.3 Ordem Ciconiiformes<br />
Família Ardeidae<br />
Garçote, Ixobrychus minutos<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante raro ou ocasional, sendo observado nos meses de Junho e<br />
Julho (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie com estatuto de Vulnerável em Portugal. A nível<br />
europeu é considerada uma espécie Depauperada pela BirdLife International (2004) e<br />
Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de<br />
64<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Berna (Anexo II), Bona (Anexo II), e da Directiva Aves/Habitats (Anexo A -I) (ICN,<br />
2006).<br />
Distribuição e movimentos: No Paleártico Ocidental distribui-se do Atlântico aos<br />
Montes Urais e da Finlândia até ao Golfo Pérsico. Na Europa, não se encontra<br />
presente em Inglaterra, Irlanda e Escandinávia. No entanto tem ocorrido<br />
ocasionalmente nos Açores, Madeira, ilhas Canárias, etc. A população europeia passa<br />
o Inverno na África Oriental, desde o Sudão e da Etiópia até ao Congo e o Sul da<br />
África do Sul. Em Portugal a população estende-se de Norte a Sul do país, ao longo<br />
de rios e ribeiras principais e em lagoas e albufeiras, embora aparentemente esteja<br />
melhor distribuída na zona centro do país (ICN, 2006).<br />
Habitat: Frequenta normalmente zonas com abundante vegetação palustre. Inclui<br />
lagoas costeiras, valas em zonas de arrozal, cursos de água, pauis, açudes e<br />
barragens (ICN, 2006). No estuário do Tejo tem preferência por caniçais e outras<br />
manchas de vegetação palustre em pequenos açudes (Leitão et al., 1998).<br />
População: Estima-se que a população nacional esteja compreendida entre 250 e<br />
1000 aves, admitindo-se uma tendência de decréscimo dos efectivos (ICN, 2006).<br />
Observações efectuadas em 1990 e 1991 sugerem a hipótese de nidificação de um ou<br />
dois casais no estuário do Tejo (Leitão et al., 1998).<br />
Factores de ameaça: Destacam-se a drenagem e a destruição de caniçais para<br />
aproveitamento agrícola e pecuário e a má gestão dos recursos hídricos. Com efeito,<br />
tratando-se de uma aves extremamente sensível a alterações do nível da água, pode<br />
ser negativamente afectada por intervenções hidráulicas associadas a alterações dos<br />
níveis de água, com origem na gestão de açudes e barragens. Também alterações do<br />
uso do solo nas áreas circundantes às colónias que são utilizadas como locais de<br />
alimentação, nomeadamente o abandono da cultura de arroz ou conversão para<br />
cultura de sequeiro ameaçam a conservação desta espécie. O corte e queima dos<br />
caniçais também prejudicam esta espécie, dado que o caniço é utilizado para a<br />
construção e é também no seu interior que a ave se alimenta. É uma espécie<br />
extremamente sensível a qualquer tipo de perturbação nas áreas de nidificação, sendo<br />
negativamente afectada pelas acções associadas ao turismo, caça e pesca. Dada a<br />
sua grande dependência do meio aquático, é muito afectada pela poluição da água,<br />
por efluentes domésticos, industriais e agrícolas e ainda pela utilização de adubos,<br />
pesticidas e herbicidas nas zonas de alimentação (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: A conservação desta espécie requer a manutenção e<br />
incremento das áreas de habitat de suporte potencial para a nidificação da espécie,<br />
nomeadamente de manchas de caniço, bem como das condições nos habitats de<br />
alimentação, assegurando a existência de zonas ricas em peixes e anfíbios. É uma<br />
espécie que beneficiará largamente com a melhoria da eficácia do controlo e<br />
tratamento das descargas de efluentes. Carece também de medidas que visam reduzir<br />
a perturbação nos locais de nidificação e invernada. A criação e implementação de<br />
Planos de Ordenamento para áreas ecologicamente sensíveis onde a espécie ocorre<br />
que integrassem estas orientações, asseguraria a sua conservação. A monitorização<br />
dos efectivos nidificantes é fundamental. A informação e sensibilização das<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 65
populações em geral e das entidades responsáveis, tem um papel importante para a<br />
preservação da espécie (ICN, 2006).<br />
Carraceiro, Bulbucus ibis<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. Ocorre no estuário do Tejo como<br />
residente comum não nidificante (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal. A nível europeu é<br />
considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos<br />
anexos das convenções de Berna (Anexo II) e CITES (Anexo A).<br />
Distribuição e movimentos: Oriundo da África central, o carraceiro coloniza hoje<br />
todos os continentes exceptuando-se a Antártida, o Árctico e as suas áreas boreais<br />
correspondentes (Marquez 1987). Em Portugal distribui-se por todo o país, estando a<br />
população nidificante melhor distribuída na metade Sul do país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Nidifica colonialmente, não demonstrando especial preferência por um tipo de<br />
habitat. As colónias conhecidas localizam-se em ilhotes em rios e barragens, cria em<br />
árvores, em ilhéus rochosos no mar, pinhais etc. (Rufino, 1989). No estuário do Tejo<br />
ocorre em pastagens na lezíria, zonas de montado aberto e arrozais (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
População: A população nacional nidificante foi estimada entre 14.000 e 18.000<br />
casais (Candeias, Rufino e Araújo, 1987). Entre Agosto de 1990 e Agosto de 1991<br />
efectuaram-se contagens mensais num dormitório de grandes dimensões localizado<br />
na Ponta da Erva. O número de indivíduos presente variou entre 4300, em Novembro<br />
de 1990 e 25 em Maio de 1991. No Inverno seguinte contaram-se 846 indivíduos em<br />
dois dormitórios da zona (Leitão et al., 1998). Nos Invernos de 2004/05 e 2005/06<br />
foram registados 80 e 24 aves, respectivamente, em ambos os casos nos dormitórios<br />
existentes na Ponta da Erva (Encarnação, dados não publicados).<br />
Goraz, Nycticorax nycticorax<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. Ocorre ocasionalmente no<br />
estuário do Tejo.<br />
Estatuto de Protecção: Espécie com estatuto de Em Perigo em Portugal. A nível<br />
europeu é considerada uma espécie Depauperada pela BirdLife International (2004) e<br />
Pouco Preocupante pela IUCN (versão 3.1). Está incluída nos anexos das convenções<br />
de Berna (Anexo II) e da Directiva Aves/Habitats (Anexo A -I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Na Europa a sua área de distribuição estende-se pelo<br />
Sudoeste, centro, Sudeste e Este da Europa, sendo limitada pela disponibilidade<br />
alimentar e pela existência de locais de nidificação (Cramp e Simmons, 1977). É uma<br />
espécie migratória que maioritariamente inverna em África, no Sul do Sara; apenas<br />
cerca de 1% da população passa o Inverno no sul da Europa. A sua área de<br />
distribuição em Portugal Continental situa-se na zona centro sul do país, sendo a sua<br />
presença mais importante a Sul da bacia do rio Tejo. Como nidificante, ocupa uma<br />
área restrita. Ocorre em zonas de nidificação muito bem definidas (actualmente são<br />
conhecidos 5 locais) e é raramente observada fora dessas áreas (ICN, 2006).<br />
66<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Habitat: Frequenta lagoas costeiras, cursos de água, pauis, açudes e barragens.<br />
Marcadamente arborícola, onde descansa, dorme e nidifica, utiliza uma grande<br />
variedade de espécies de árvores e arbustos, normalmente localizados na orla de rios,<br />
mas também por vezes junto de aglomerados urbanos. No entanto a falta de árvores<br />
ou arbustos, pode usar também caniçais. Durante o Inverno ou em passagem pode<br />
ocorrer em zonas costeiras ou regiões mais secas. A sua adaptabilidade pode ser uma<br />
das razões para a sua recuperação, após o declínio no século XIX (ICN, 2006).<br />
População: Em Portugal a população representa 0-4% da população global (Livro<br />
vermelho dos vertebrados de Portugal). Nos últimos dez a população tem sofrido uma<br />
redução na ordem dos 50%, tendo desaparecido importantes colónias, nomeadamente<br />
na bacia do Guadiana. A população está compreendida entre 50 e 250 indivíduos, os<br />
quais actualmente apresentam alguma estabilidade, principalmente ao longo do rio<br />
Tejo e do paul do Boquilobo (ICN, 2006). No estuário do Tejo a espécie é observada<br />
em possível habitat de nidificação durante o período reprodutor (ICN, dados<br />
provisórios). Foi observado um juvenil entre 15 e 30 de Setembro no estuário do Tejo<br />
(Leitão et al., 1998). Os censos realizados no Inverno de 2004/05 foram observados 5<br />
indivíduos no paul da Barroca d’Alva (Encarnação, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: Destacam-se a drenagem de zonas húmidas e corte de árvores<br />
ao longo da margem dos rios. Também a perturbação exercida por actividades<br />
associadas ao turismo e prática de desportos aquáticos, nomeadamente nas<br />
proximidades das margens onde se situam as colónias de Ardeídeos, tem afectado<br />
particularmente esta espécie devido à sua pouca tolerância à presença humana (ICN,<br />
2006).<br />
Medidas de Conservação: A conservação desta espécie requer a manutenção e<br />
incremento das áreas de habitat de suporte potencial para a nidificação da espécie,<br />
nomeadamente a manutenção das galerias ripícolas que proporcionem condições de<br />
nidificação junto a áreas de alimentação mais ricas e adequadas. É também<br />
necessária a manutenção e melhoria das condições nos habitats de alimentação,<br />
assegurando a existência de zonas ricas em peixes e anfíbios. É uma espécie que<br />
beneficiará largamente com a melhoria da eficácia do controlo e tratamento das<br />
descargas de efluentes. Carece também de medidas que visam reduzir a perturbação<br />
nos locais de nidificação e invernada. A monitorização dos efectivos nidificantes é<br />
fundamental. A informação e sensibilização das populações em geral e das entidades<br />
responsáveis, tem um papel importante para a preservação da espécie (ICN, 2006).<br />
Papa-ratos, Ardeola ralloides<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante e invernante. No estuário do<br />
Tejo ocorre ocasionalmente.<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal ocorrem duas populações, uma nidificante com<br />
o estatuto de Criticamente em Perigo e uma invernante considerada Em Perigo. A<br />
nível europeu é considerada uma espécie Em Declínio pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 67
convenções de Berna (Anexo II), Bona (Anexo II) e da Directiva Aves/Habitats (Anexo<br />
A -I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A sua distribuição estende-se desde o Sul da Europa,<br />
Ásia Central até à região do Mar Aral, assim como na zona tropical de África e no<br />
Norte de África. Pode ocorrer nas ilhas Canárias, ilhas de Cabo Verde. A maioria das<br />
espécies de Papa-ratos do Paleártico Ocidental migra para a zona tropical do Norte de<br />
África, e em menor número para Marrocos, Mediterrâneo, Iraque, Irão e Golfo Pérsico<br />
(Cramp e Simmons, 1977). Em Portugal, a sua potencial área de distribuição situa-se<br />
a Sul do Tejo. Como nidificante ocorre em zonas de nidificação bem definidas<br />
(actualmente são conhecidos 5 locais). Como invernante são menos de 10 os locais<br />
de ocorrência conhecidos (ICN, 2006).<br />
Habitat: Frequenta normalmente zonas com vegetação palustre, lagoas costeiras,<br />
arrozais, cursos de água, pauis e açudes (ICN, 2006). No estuário do Tejo a espécie<br />
foi observada em 1995 durante o mês de Setembro, nos arrozais a Norte do rio<br />
Sorraia e nos arrozais de da Ponta da Erva (1 indivíduo em ambos os casos) (Leitão et<br />
al., 1998). É observada ainda no paul da Barroca d’Alva.<br />
População: Trata-se de uma espécie com baixa detectabilidade e que não tem sido<br />
alvo de contagens dirigidas, sobre a qual não existe muita informação disponível.<br />
Contudo, o conhecimento existente permite inferir uma população nidificante e<br />
invernantes inferiores a 50 indivíduos. A redução de observações durante o período<br />
reprodutor e a não confirmação da sua nidificação, leva a crer um declínio acentuado<br />
desta população. Por outro lado, existem cada vez mais registos da sua presença no<br />
Inverno (ICN, 2006). No estuário do Tejo a espécie é observada em possível habitat<br />
de nidificação durante o período reprodutor (ICN, dados provisórios).<br />
Factores de ameaça: Destacam-se a drenagem e a destruição de caniçais para<br />
aproveitamento agrícola e pecuário e a má gestão dos recursos hídricos. Com efeito,<br />
tratando-se de uma aves extremamente sensível a alterações do nível da água, pode<br />
ser negativamente afectada por intervenções hidráulicas associadas a alterações dos<br />
níveis de água, com origem na gestão de açudes e barragens. Também alterações do<br />
uso do solo nas áreas circundantes às colónias que são utilizadas como locais de<br />
alimentação, nomeadamente o abandono da cultura de arroz ou conversão para<br />
cultura de sequeiro ameaçam a conservação desta espécie. O corte e queima dos<br />
caniçais também prejudicam esta espécie, dado que o caniço é utilizado para a<br />
construção e é também no seu interior que a ave se alimenta. É uma espécie<br />
extremamente sensível a qualquer tipo de perturbação nas áreas de nidificação, sendo<br />
negativamente afectada pelas acções associadas ao turismo, caça e pesca. Dada a<br />
sua grande dependência do meio aquático, é muito afectada pela poluição da água,<br />
por efluentes domésticos, industriais e agrícolas e ainda pela utilização de adubos,<br />
pesticidas e herbicidas nas zonas de alimentação (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: A conservação desta espécie requer a manutenção e<br />
incremento das áreas de habitat de suporte potencial para a nidificação da espécie,<br />
nomeadamente de manchas de caniço, bem como das condições nos habitats de<br />
alimentação, assegurando a existência de zonas ricas em peixes e anfíbios. É uma<br />
68<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
espécie que beneficiará largamente com a melhoria da eficácia do controlo e<br />
tratamento das descargas de efluentes. Carece também de medidas que visam reduzir<br />
a perturbação nos locais de nidificação e invernada. A criação e implementação de<br />
Planos de Ordenamento para áreas ecologicamente sensíveis onde a espécie ocorre<br />
que integrassem estas orientações, asseguraria a sua conservação. A monitorização<br />
dos efectivos nidificantes é fundamental. A informação e sensibilização das<br />
populações em geral e das entidades responsáveis, tem um papel importante para a<br />
preservação da espécie (ICN, 2006).<br />
Garça-branca-pequena, Egretta garzetta<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é residente e no arquipélago dos<br />
Açores é invernante. No estuário do Tejo ocorre como residente comum (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie é Pouco Preocupante em Portugal continental e<br />
apresenta Informação Insuficiente nos Açores. A nível europeu é considerada uma<br />
espécie Não Ameaçada pela BirdLife International (2004) e Pouco Preocupante pela<br />
IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo II), CITES<br />
(Anexo A) e da Directiva Aves/Habitats (Anexo A -I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie que ocorre na Europa, Sudoeste Asiático, África<br />
e Austrália (del Hoyo et al., 1992). Na Europa apresenta distribuição circummediterrânica,<br />
com as populações mais abundantes em Itália (Hagemeijer e Blair<br />
1997). Nos Açores a garça-branca-pequena é uma espécie migratória invernante<br />
sendo observada com regularidade em várias ilhas do arquipélago (Bannerman e<br />
Bannerman 1966).<br />
Habitat: Ocorre em zonas costeiras e zonas de águas pouco profundas. No estuário<br />
do Tejo tem preferência pelas zonas entre marés, tanques de salinas, arrozais e valas<br />
(Leitão et al., 1998). São observadas em maior abundância nas salinas do Samouco,<br />
de Vasa Saco e Giganta (Encarnação dados não publicados). Em 1992 foram<br />
observadas aproximadamente 70 garças-brancas-pequenas alimentando-se em<br />
canais e poças isoladas na baixa-amr (vasa negra compacta) na zona de Alcochete.<br />
As suas presas consistiram sobretudo em Pomatoschistus spp. e o crustáceo Crangon<br />
crangon, mas outras espécies de peixes e invertebrados estão incluídos na sua dieta<br />
(Moreira, 1992).<br />
População: A população de E. garzetta nidificante em Portugal foi estimada entre<br />
5000 e 5500 casais (Candeias, 1987; Rufino e Araújo, 1987). No Inverno de 1981/82 a<br />
população invernante no estuário do Tejo foi estimada em 500-600 indivíduos.<br />
Passados dez anos, população foi estimada em 480 aves, durante o Inverno de<br />
1991/92 (Leitão et al., 1998). Na margem Norte do estuário foi observado um máximo<br />
de 17 aves numa densidade 0,072 aves/ha (no período entre Dezembro de 1998 e<br />
Abril de 1999) (Rosa, 1999). Nos Invernos de 2004/05 e 2005/6 no estuário do Tejo,<br />
foram recenseados 54 e 218 indivíduos, respectivamente (Encarnação, dados não<br />
publicados). Nas salinas do Samouco a espécie apresentou máximos de 153 e 157 em<br />
2004 durante os meses de Julho e Agosto, respectivamente (Rocha, dados não<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 69
publicados). Na barragem do Vale Cobrão foi observada uma média 11,75 aves em<br />
Junho de 2006, tendo se registado um máximo de 16 aves (Rocha, 2006a).<br />
Factores de ameaça: Destruição de zonas húmidas e a ocupação das zonas<br />
costeiras pelo homem, constituem as principais ameaças para a espécie (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: a espécie encontra-se protegida por legislação nacional e<br />
internacional no âmbito das normas gerais de protecção das aves e dos seus habitats,<br />
não tendo sido alvo de acções específicas de conservação. As prioridades de<br />
conservação incluem a obtenção de dados sobre a distribuição e a abundância da<br />
população nos Açores (ICN, 2006).<br />
Garça-real, Ardea cinerea<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie ocorre como residente e invernante, e<br />
invernante no arquipélago dos Açores. No estuário do Tejo ocorre como invernante e<br />
migrador de passagem comum, não nidifica. No fim do Verão e início de Outubro é<br />
possível observar grandes concentrações de Garças-reais nos biótopos favoráveis<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental ocorrem duas populações, uma<br />
residente e outra invernante, ambas com estatuto Pouco Preocupante. Nos Açores<br />
ocorre uma população migratória invernante com o estatuto de Informação<br />
Insuficiente. A nível europeu é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife<br />
International (2004 in ICN 2006) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída<br />
no anexo III da convenção de Berna (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A distribuição mundial da espécie inclui a Europa, Ásia e<br />
África. A população europeia é abundante e tem uma distribuição muito alargada<br />
(Cramp e Simmons, 1977). Nos Açores a espécie é observada com regularidade em<br />
várias ilhas do arquipélago, embora não sendo conhecida com detalhe a sua<br />
distribuição, a espécie pode ser residente (Bannerman e Bannerman, 1966).<br />
Habitat: Ocorre em zonas costeiras e lagoas. No estuário tem preferência pelas<br />
margens de valas, vasas, ostreiras, arrozais salinas e sapais (Leitão et al., 1998). No<br />
Inverno de 1981/82 as maiores concentrações foram observadas junto à foz da ribeira<br />
de Sacavém e ainda nas ostreiras de Pancas (Teixeira 1985). Foi observada com<br />
maior abundância durante o Inverno de 2004/2005 na zona de Reserva Integral, no rio<br />
Ponta da Erva, no Mouchão da Póvoa, Giganta e salinas do Samouco (Encarnação,<br />
dados não publicados). Segundo Moreira (1992 in ICN 2006) a garça-real alimenta-se<br />
em valas de vaza negra e compacta captura exclusivamente a tainha (Liza ramada),<br />
sendo ingeridas presas com aproximadamente 25 cm.<br />
População: O número de aves presente no estuário do Tejo varia muito ao longo do<br />
ano. No período de 1977 a 1982 foram registadas até cerca de 200 aves<br />
(principalmente em Janeiro) (Teixeira, 1985). Em Setembro de 1992, por exemplo<br />
foram estimados 400-500 indivíduos no decurso do transepto de barco efectuado entre<br />
Alcochete e o rio Sorraia. A população média invernante no período de 1992 a 1996 foi<br />
de 311 indivíduos, com um máximo de 609 aves registado em Janeiro de 1994 (Leitão<br />
et al., 1998). Nos Invernos de 2004/05 e 2005/6 foram recenseados 441 e 771<br />
70<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
indivíduos, respectivamente (Encarnação, dados não publicados). Na barragem do<br />
Vale Cobrão foi observada uma média 5 aves em Junho de 2006, registando-se um<br />
máximo de 9 aves. Foi observada ainda indivíduos isolados em charcos temporários<br />
nas Herdades de Barroca d’Alva da Companhia das Lezírias (Rocha, 2006a).<br />
Factores de ameaça: Destruição de zonas húmidas e a ocupação das zonas<br />
costeiras pelo homem, constituem as principais ameaças para a espécie (ICN, 2006),<br />
durante a época de caça muitas garças-cinzentas continuam a ser alvo de abate<br />
indiscriminado no estuário do Tejo (Teixeira, 1985).<br />
Medidas de Conservação: a espécie encontra-se protegida por legislação nacional e<br />
internacional no âmbito das normas gerais de protecção das aves e dos seus habitats,<br />
não tendo sido alvo de acções específicas de conservação. As prioridades de<br />
conservação incluem a obtenção de dados sobre a distribuição e a abundância da<br />
população nos Açores, assim como a obtenção de dados sobre a sua distribuição e<br />
abundância a nível regional (ICN, 2006).<br />
Garça-vermelha, Ardea purpurea<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante comum, sendo observada entre os meses de Março a<br />
Setembro e em Outubro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Em Perigo em Portugal. A nível europeu é<br />
considerada uma espécie Em Declínio pela BirdLife International (2004) e Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna<br />
(Anexo II), Bona (Anexo II), e da Directiva Aves/Habitats (Anexo A -I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Está distribuída pelo Paleártico Ocidental estando<br />
limitada a Norte pela Holanda e Polónia a Sul pelo Irão, Casaquistão, Balcãs e África<br />
subsariana. Menos de um quarto da população encontra-se na Europa. A população<br />
europeia migra para a África subsariana, embora muitas aves invernem no Sul da<br />
Europa e Arábia (Cramp e Simmons, 1977). Em Portugal, como nidificante distribui-se<br />
amplamente ao longo do litoral português, onde está presente de Março a Setembro,<br />
nidificando em zonas húmidas ou nas suas imediações (ICN, 2006).<br />
Habitat: Associada a zonas húmidas com áreas de vegetação densa de caniçais<br />
Phragmites australis. Frequenta estuários, rias, lagoas costeiras, valas, açudes,<br />
barragens e pequenos canais e diques que pertencem aos sistemas de irrigação dos<br />
arrozais. Prefere águas eutróficas pouco profundas, paradas ou com pouca corrente,<br />
de substrato arenoso, sedimentar, lodoso ou com vegetação, e ausente de rochas ou<br />
outro tipo de obstáculos. No estuário do Tejo tem preferência por caniçais, valas na<br />
lezíria, águas pouco profundas junto a manchas de vegetação palustre e arrozais<br />
(Leitão et al., 1998). As principais colónias do estuário do Tejo, situadas no Mouchão<br />
do Lombo do Tejo e Póvoa construíram os seus ninhos sobre o caniçal de P. australis<br />
(Coelho, 1997). Segundo Leitão (1993), a garça-vermelha utiliza apenas os biótopos<br />
alagados dulciaquículas, ocorrendo em grandes densidades nas valas da lezíria, que<br />
constituem um dos principais biótopos de alimentação da colónia do mouchão do<br />
Lombo do Tejo. Em termos de importância de habitats, ao longo e após a época<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 71
eprodutora, é importante salientar o papel das valas durante o período de postura,<br />
eclosão e alimentação das crias, e a relevância dos arrozais como principal habitat de<br />
alimentação dos Juvenis emancipados e dos adultos (Coelho, 1997).<br />
População: Nos últimos anos, as populações de garça-vermelha têm vindo a sofrer<br />
um declínio acentuado, em grande parte devido à degradação e destruição de zonas<br />
húmidas, fundamentais à nidificação e alimentação da espécie (Kayser in Tucker e<br />
Heath, 1994). Em 1989 estimou-se a população nacional em cerca 100 a 150 casais,<br />
distribuídos por 17 colónias numa faixa ao longo da costa e no interior sul do país<br />
(Dias, 1989; Rufino, 1989). Nos censos nacionais realizados a partir de 1998 indicam<br />
que a população está compreendida entre os 270 e 600 casais (Encarnação, dados<br />
não publicados). No estuário do Tejo existem três núcleos de nidificação. Um, de<br />
grandes dimensões, localizado nos caniçais do Mouchão do Lombo do Tejo (um dos<br />
mais importantes do país, registando em 1991, 38 casais (Costa et al., 1992), os<br />
outros dois, mais reduzidos, situados no Mouchão da Póvoa e nos caniçais do rio<br />
Sorraia. Em 1991 a população nidificante foi estimada em pelo menos 44 casais, valor<br />
que contemplava a população do Paul da Barroca d’Alva (1a 5 casais). Com base em<br />
estudos efectuados em 1996, a população foi estimada em 153 a 168 casais, estando<br />
75,1% concentrados numa colónia no Mouchão do Lombo do Tejo e 21,2% no<br />
Mouchão do Lombo do Tejo (foram ainda registados 1-3 casais no rio Sorraia, 2 casais<br />
no Açude de Vale de Frades e 1-3 casais no açude do Buraco (Herdade da Barroca<br />
d’Alva) (Coelho, 1997). Nos últimos anos a tendência de incremento que se vinha a<br />
verificar em termos nacionais alterou-se em alguns locais, tendo-se verificado um<br />
acentuado decréscimo nas colónias mais importantes, nomeadamente no estuário do<br />
Tejo. Assim, em 1999 foram recenseados 294-299 casais, passando para 52-59<br />
casais em 2001 (Coelho, com. pess).<br />
Factores de ameaça: Destacam-se a drenagem e a destruição de caniçais para<br />
aproveitamento agrícola e pecuário e a má gestão dos recursos hídricos. Com efeito,<br />
tratando-se de uma aves extremamente sensível a alterações do nível da água, pode<br />
ser negativamente afectada por intervenções hidráulicas associadas a alterações dos<br />
níveis de água, com origem na gestão de açudes e barragens. Também alterações do<br />
uso do solo nas áreas circundantes às colónias que são utilizadas como locais de<br />
alimentação, nomeadamente o abandono da cultura de arroz ou conversão para<br />
cultura de sequeiro ameaçam a conservação desta espécie. O corte e queima dos<br />
caniçais também prejudicam esta espécie, dado que o caniço é utilizado para a<br />
construção e é também no seu interior que a ave se alimenta. É uma espécie<br />
extremamente sensível a qualquer tipo de perturbação nas áreas de nidificação, sendo<br />
negativamente afectada pelas acções associadas ao turismo, caça e pesca. Sofre<br />
ainda os efeitos da caça ilegal, sobretudo na ria de Aveiro. Dada a sua grande<br />
dependência do meio aquático, é muito afectada pela poluição da água, por efluentes<br />
domésticos, industriais e agrícolas e ainda pela utilização de adubos, pesticidas e<br />
herbicidas nas zonas de alimentação (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: A conservação desta espécie requer a manutenção e<br />
incremento das áreas de habitat de suporte potencial para a nidificação da espécie,<br />
72<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
nomeadamente de manchas de caniço, bem como das condições nos habitats de<br />
alimentação, assegurando a existência de zonas ricas em peixes e anfíbios. É uma<br />
espécie que beneficiará largamente com a melhoria da eficácia do controlo e<br />
tratamento das descargas de efluentes. Carece também de medidas que visam reduzir<br />
a perturbação nos locais de nidificação e de um reforço na vigilância à caça ilegal. A<br />
criação e implementação de Planos de Ordenamento para áreas ecologicamente<br />
sensíveis onde a espécie ocorre que integrassem estas orientações, asseguraria a sua<br />
conservação. A monitorização dos efectivos nidificantes é fundamental. A informação<br />
e sensibilização das populações em geral e das entidades responsáveis, tem um papel<br />
importante para a preservação da espécie (ICN 2006). As principais medidas de<br />
conservação a implementar no estuário do Tejo, consistem no impedimento da<br />
drenagem e destruição dos caniçais, para aproveitamento agrícola e pecuário; na<br />
fiscalização e acompanhamento das concentrações e composição dos adubos e<br />
pesticidas, nos arrozais e nas valas; na elaboração de um plano de monitorização que<br />
avalie os efeitos da acumulação dos contaminantes químicos nas aves, nos seus<br />
parâmetros ecológicos e nos habitats; e na contaminação da prática da cultura de<br />
arroz de regadio (Coelho, 1997).<br />
Família Ciconiidae<br />
Cegonha-branca, Ciconia ciconia<br />
Fenologia: Em Portugal ocorrem duas populações, uma residente e outra estival<br />
nidificante. No estuário do Tejo a espécie ocorre como estival nidificante pouco comum<br />
e invernante raro, sobretudo entre os meses de Dezembro a Novembro (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal. A nível europeu é<br />
considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos<br />
anexos das convenções de Berna (Anexo II), Bona (Anexo II), e da Directiva<br />
Aves/Habitats (Anexo A -I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A sua área de distribuição estende-se pela Europa<br />
Continental, Médio Oriente, Norte de África e África do Sul (Cramp e Simmons, 1977).<br />
Na Europa ocorrem duas populações, com rotas migratórias e áreas de invernada<br />
distintas. A população ocidental migra principalmente pelo estreito de Gibraltar,<br />
invernando na sua maioria na África Central e Ocidental. A população oriental migra<br />
principalmente através do Estreito do Bósforo e por Israel (Araújo, 1998). A sua área<br />
de distribuição estende-se praticamente por todo território nacional continental,<br />
exceptuando o Minho, Douro Litoral e o maciço da Serra da Estrela. Segundo Rosa et<br />
al., (2005), a população nidificante estende-se por todo o interior do Norte e do Centro<br />
do País (onde é mais comum), envolvendo a Ria de Aveiro, Baixo Mondego e região<br />
de Leiria. Da bacia hidrográfica do rio Tejo para Sul, a espécie nidifica em<br />
praticamente todo o território nacional, excluindo as serras algarvias. As populações<br />
ibéricas têm alterado os seus hábitos, tornando-se sedentárias. É provável que esta<br />
mudança de estratégia de migração e invernada (Hernandéz, 1995; Marchamalo de<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 73
Blas 1995; Tortosa et al., 1995; Rosa et al., 1998a), devidas à utilização de novos<br />
recursos tróficos, nomeadamente o lagostim-vermelho Procambarus clarkii introduzido<br />
em Portugal no final da década de 70 (Ramos e Pereia 1981; Hobbs et al., 1989) e<br />
resíduos sólidos obtidos em lixeiras e aterros sanitários, sejam os principais causas<br />
desta recuperação (Rosa et al., 2005).<br />
Habitat: Encontra-se sobretudo em zonas abertas ocupadas com pastagens, pousios<br />
ou culturas de sequeiro, montado aberto, estuários, lagoas costeiras, prados húmidos,<br />
arrozais, cursos de água, pauis, charcos, açudes, barragens e lixeiras sobretudo<br />
durante o Inverno (Farinha e Costa, 1999). Evita locais frios e zonas de densa<br />
vegetação alta (desde caniçais a floresta). Nidifica em locais ensolarados, em árvores<br />
altas, igrejas, chaminés, telhados, ruínas e postos de alta tensão, geralmente perto de<br />
zonas favoráveis de alimentação. No estuário do Tejo ocorre em charcos de água<br />
pouco profunda, açudes, arrozais, lezírias e, raramente nas zonas entre marés (Leitão<br />
et al., 1998). Durante o Inverno é observada em maior abundância na Giganta, e em<br />
reduzido número na companhia das lezírias, Ponta da Erva e salinas de Vasa sacos.<br />
População: A cegonha tem sofrido uma acentuada regressão desde o início do<br />
século, particularmente na Europa Ocidental, extinguindo-se como nidificante em<br />
alguns países. Em Portugal, segundo Candeias e Araújo, registou-se um decréscimo<br />
de cerca de 70% entre os anos 50 e 80. No entanto, após a década de 80 a espécie<br />
conheceu um forte incremento em toda a Península Ibérica, sobretudo a sul, tendo na<br />
segunda metade da década de 90 alargado e reforçado a sua área de distribuição a<br />
norte do Tejo. Nos últimos anos, o número de aves invernantes na Península Ibérica<br />
aumentou substancialmente (Araújo, 1998). Da mesma forma, também na última<br />
década se verificou a sedentarização de um crescente número de indivíduos,<br />
inicialmente confinados à região algarvia, mas actualmente já instalados no Alentejo e<br />
Ribatejo. Os efectivos nidificantes recenseados no censo efectuado em 1994 foi de<br />
3490 casais. Relativamente ao número de aves invernantes foram recenseados em<br />
1997, 1708 indivíduos localizando-se os núcleos principais no Estuário do Sado e<br />
Castro Marim (Rosa et al., 1998). Em 2004, realizou-se o V Censo Nacional de<br />
cegonha-branca, durante o qual foram recenseados 8.205 desta espécie estando<br />
ocupados 93,7% deles. Assim a população nacional foi estimada em 7.684 casais, a<br />
qual apresentou um aumento de 133%, relativamente ao anterior censo (Rosa et al.,<br />
2005). No estuário do Tejo em 1991 criaram 17 casais, no entanto a espécie é mais<br />
comum como nidificante na zona envolvente do estuário (Leitão et al., 1998).<br />
Relativamente aos dados do Censo Nacional em 2004, podemos analisar os<br />
resultados dos concelhos de Vila Franca de Xira e Alcochete por contemplarem a<br />
maior área da ZPE do estuário do Tejo. No distrito de Lisboa a espécie encontra-se<br />
especialmente associada às áreas de arrozal da envolvente ao estuário do Tejo<br />
(Concelho de Vila Franca de Xira) onde foram recenseados 59 ninhos ocupados, os<br />
quais se encontravam maioritariamente em postes eléctricos de alta tensão.<br />
Pertencente ao distrito de Setúbal, o conselho de Alcochete apresentou um total de 80<br />
ninhos ocupados todos situados em postes de alta tensão. Assim, para o estuário do<br />
Tejo podemos estimar uma população nidificante máxima de 139 casais em 2004. Nos<br />
74<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Invernos de 2004/05 e 2005/06 foram registadas 9 e 85 aves, respectivamente<br />
(Encarnação, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: A drenagem de pastagens húmidas e outras zonas húmidas<br />
constitui uma ameaça porque aqueles biótopos são muito importantes como áreas de<br />
alimentação da espécie. A poluição da água por efluentes domésticos, industriais e<br />
agrícolas. A utilização de adubos, pesticidas e herbicidas nas zonas de alimentação,<br />
sobretudo em arrozais, contamina os recursos alimentares, reduzindo-os e ainda<br />
diminui a fertilidade da espécie e aumenta a frequência de ocorrência de deformações<br />
nas crias. A colisão e electrocussão em linhas aéreas de transporte de energia uma<br />
vez que espécie utiliza frequentemente apoios eléctricos como poiso, dormitório e local<br />
de nidificação (Rosa et al., 2005).<br />
Medidas de Conservação: Condicionar drenagens de pastagens húmidas e zonas<br />
húmidas; Restringir o uso de agro-químicos em áreas importantes de alimentação,<br />
nomeadamente arrozais, e adoptar técnicas de controlo alternativas; Manter e<br />
melhorar a qualidade da água pelo tratamento eficaz das descargas de efluentes.<br />
Fiscalizar e controlar o funcionamento e eficácia das ETAR e monitorizar a qualidade<br />
da água. Reduzir a mortalidade de aves por colisão e electrocussão em linhas aéreas<br />
de transporte de energia. Corrigir e sinalizar traçados e apoios da rede de distribuição<br />
de electricidade que sejam muito perigosos para a espécie; Monitorizar o impacte das<br />
linhas eléctricas de transporte de energia nas áreas mais importantes da Espécie<br />
(Rosa et al., 2005).<br />
Família Therskiornithidae<br />
Maçarico-preto, Plegadis falcinellus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Reprodutora (ICN, 2006). Ocorre no estuário do<br />
Tejo como migrador de passagem raro.<br />
Estatuto de Protecção: Espécie com estatuto de Regionalmente Extinto em Portugal.<br />
A nível europeu é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluído nos anexos das convenções de Berna (Anexo II), Bona (Anexo II), e da<br />
Directiva Aves/Habitats (Anexo A -I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A sua área de nidificação apresenta uma distribuição<br />
alargada, mas bastante descontínua, que inclui a região mediterrânica, Europa central,<br />
África, sudoeste da América do Norte, Antilhas, sudoeste asiático e Oceania. O<br />
maçarico-preto é uma espécie migratória e dispersiva, possuindo um carácter nómada.<br />
No Outono, as aves que nidificam na região Paleártica Ocidental migram, na sua<br />
maioria, para África subsariana, para Sul do Sara (Moreau 1972; del Hoyo et al.,<br />
1992), ocorrem movimentos dispersivos de imaturos e de adultos em todas as<br />
direcções a partir das áreas de nidificação. Nos últimos 100 anos tem-se verificado<br />
uma acentuada contracção da área de distribuição na Europa e Norte de África,<br />
restringindo-se actualmente a algumas regiões circundantes ao Mar Mediterrâneo e<br />
Europa Central (Moreau, 1972; Cramp e Simmons, 1977). No entanto, surgem<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 75
actualmente alguns sinais de recuperação, voltando a colonizar alguns locais como<br />
Israel e França (Costa, 1993).<br />
Habitat: Está geralmente associado a zonas húmidas, como lagos e lagoas, pântanos,<br />
rios, arrozais e outros terrenos alagados, e também regiões costeiras e estuários<br />
(Cramp e Simmons, 1977; del Hoyo et al., 1992) (Costa, 1993).<br />
População: No século passado, o Maçarico-preto tinha uma área de distribuição mais<br />
alargada do que a actual e, provavelmente, passava com regularidade na zona de<br />
Esmoriz (Tait, 1896). Até 1945 diversos autores consideram a espécie como rara, não<br />
havendo entre 1966 e 1985 registos assinalados para a espécie. No entanto, desde<br />
1985 surgiram várias observações da espécie (Costa, 1993). Tait (1924) e Coverley<br />
(1945) referem a ocorrência desta ave durante a época de nidificação, sugerindo<br />
mesmo a hipótese da espécie ter nidificado em Pancas. Em Fevereiro de 1991 existe<br />
uma observação de uma ave no estuário do Tejo (Costa, 1993). Nas contagens de<br />
Inverno de 2005/06 foram registadas 178 aves no Paul da Barroca d’ Alva<br />
(Encarnação, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: Espécie globalmente não ameaçada, embora seja vulnerável a<br />
alterações no seu habitat, à caça, ao uso de pesticidas e á perturbação humana (del<br />
Hoyo et al., 1992) (Costa, 1993).<br />
Colhereiro, Platalea leucorodea<br />
Ocorrência: Em Portugal a espécie ocorre como migrador de passagem e invernante.<br />
No estuário do Tejo ocorre como residente pouco comum, não nidificante. É<br />
observado em especial entre os meses de Julho a Janeiro e de Fevereiro a Maio<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal ocorre duas populações, uma nidificante com<br />
estatuto de Vulnerável e uma população invernante com estatuto de Quase<br />
Ameaçada. A nível europeu é considerada uma espécie Rara pela BirdLife<br />
International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos<br />
das convenções de Berna (Anexo II), Bona (Anexo II), e da Directiva Aves/Habitats<br />
(Anexo A -I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A área de distribuição desta espécie estende-se desde a<br />
Europa até à China, Índia, Mar Vermelho e Norte de África. No Paleártico a<br />
distribuição é ampla mas fragmentada. Os locais de reprodução são pontuais,<br />
encontrando-se, de modo geral, situados na parte oriental (Cramp e Simmons, 1977).<br />
As aves do Noroeste e sudoeste da Europa invernam essencialmente na África<br />
Ocidental. As do Sudeste da Europa invernam no Mediterrâneo e no Norte de África,<br />
as do Leste da Europa e Turquia movem-se para o Médio Oriente e Índia. A sua área<br />
de distribuição em Portugal continental estende-se, como invernante, desde a Ria de<br />
Aveiro até ao Algarve, sendo no entanto apenas a sul da bacia do rio Tejo que se<br />
estabelece como nidificante (ICN, 2006).<br />
Habitat: Os locais de invernada e de passagem são normalmente marinhos,<br />
encontrando-se confinados a estuários, lagoas, zonas costeiras baixas e abrigadas e,<br />
por vezes, barragens. As colónias nidificantes estão presentes na orla costeira,<br />
76<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
estuários, rias, salinas, cursos de água, pauis, açudes, com elevado grau de<br />
segurança face à perturbação e à predação. Evita águas estagnadas ou turbulentas,<br />
com densa vegetação, quer seja submersa, a flutuar ou emergente (ICN, 2006). No<br />
estuário do Tejo ocorre em zonas entre marés, tanques de salinas e arrozais (Leitão et<br />
al., 1998). Os maiores registos da população invernante ocorrem na área<br />
compreendida pela Reserva Integral.<br />
População: A população invernante no Mediterrâneo Ocidental e na costa Ocidental<br />
de África, na Europa Ocidental apresenta-se em aumento (Wetlands International<br />
2002). Em Portugal o colhereiro chegou a desaparecer como nidificante, contudo na<br />
última década estabeleceu-se como nidificante em vários locais (Paul do Boquilobo,<br />
Barragem de Odivelas, Pêro Pião e Ria Formosa) e, desde então, o número de casais<br />
reprodutores tem aumentado (Elias et al., 1998). Estima-se que o seu número esteja<br />
entre 100 e 250 indivíduos (Encarnação, dados não publicados). Os censos de aves<br />
aquáticas invernantes indicam que a população invernante deve compreender 250 e<br />
1.000 indivíduos (Rufino 1993; Costa e Rufino 1993, 1996 e 1997; Encarnação e<br />
Guedes, dados não publicados). A maior parte das observações realizadas no estuário<br />
do Tejo referem-se a indivíduos isolados ou bandos de pequena dimensão. A 26 de<br />
Novembro de 1990 observou-se um bando com 26 indivíduos em Pancas (Leitão et<br />
al., 1998). Em Janeiro de 1992, 1993, 1995 e 1996 foram recenseados 8, 7, 34 e 36<br />
aves, respectivamente (Costa e Rufino, 1993, 1995, 1996). No período de 1996/97 e<br />
1997/98 foram recenseados em média 78 indivíduos, apresentando um máximo de 80<br />
aves observadas em Fevereiro de 1997 (Encarnação, dados não publicados). No<br />
estuário o número de colhereiros invernantes tem vindo a aumentar, comprovando-se<br />
esta tendência de crescimento nos censos realizados nos Invernos de 2004/05 e<br />
2005/06, onde foram registados 267 e 476 (48% da população nacional) indivíduos,<br />
respectivamente (Encarnação, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: Destacam-se a drenagem de zonas húmidas naturais ou<br />
artificiais e corte de árvores ao longo da margem dos rios, lagoas e albufeiras, que<br />
resultam na em perda e degradação quer do habitat de alimentação como dos locais<br />
de nidificação. Também a perturbação exercida por actividades associadas ao turismo<br />
e prática de desportos aquáticos, nomeadamente nas proximidades das margens onde<br />
se situam os seus locais de nidificação, tem afectado particularmente esta espécie<br />
devido à sua pouca tolerância à presença humana. Dada a sua grande dependência<br />
do meio aquático, é muito afectada pela poluição da água, por efluentes domésticos,<br />
industriais e agrícolas e ainda pela utilização de adubos, pesticidas e herbicidas nas<br />
zonas de alimentação (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: A conservação desta espécie requer a manutenção e<br />
incremento das áreas de habitat de suporte potencial para a nidificação da espécie em<br />
bom estado de conservação. É também necessária a manutenção e melhoria das<br />
condições nos habitats de alimentação através da melhoria da eficácia do controlo e<br />
tratamento das descargas de efluentes. Carece também de medidas que visam reduzir<br />
a perturbação nos locais de nidificação. A monitorização dos efectivos nidificantes é<br />
fundamental (ICN, 2006).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 77
Família Phoenicopteridae<br />
Flamingo, Phoenicopterus ruber<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é invernante. No estuário do Tejo é residente<br />
comum, não nidificante (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal ocorre uma população invernante com estatuto<br />
de Vulnerável, contudo segundo as anotações de D. Carlos de Bragança (inéditos)<br />
existia uma população nidificante no Sul do Guadiana no século XIX, actualmente<br />
extinta (Catry, 1999). A nível europeu é considerada uma espécie Localizada pela<br />
BirdLife International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos<br />
anexos das convenções de Berna (Anexo II), Bona (Anexo II), CITES (Anexo II A) e da<br />
Directiva Aves/Habitats (Anexo A -I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: O flamingo distribui-se localmente por vários<br />
continentes, encontrando-se no Norte, Sul e Este de África, Sudoeste de Ásia,<br />
Galápagos, e também na Europa (Tucker e Heath 1994). No Paleártico Ocidental<br />
nidifica em Espanha, França, Tunísia e, mais recentemente, na Sardenha (Cramp e<br />
Simmons, 1977). Realiza movimentos dispersivos e erráticos, que ainda não são<br />
totalmente conhecidos. A sua distribuição no território continental abarca sobretudo a<br />
faixa litoral a Sul da ria de Aveiro, sendo os núcleos mais importantes os dos estuários<br />
do Tejo e Sado, ria Formosa e Castro Marim. Começa no entanto a ser encontrado<br />
nos açudes, barragens, lagoas ou em zonas de arrozal no interior do país (ICN, 2006).<br />
Habitat: Frequenta lagoas abertas e pouco profundas, lagoas ou deltas lodosos,<br />
zonas costeiras e menos frequentemente interiores, zonas com água salgada e<br />
alcalina; inclui estuários, salinas, arrozais, lagoas costeiras e ocasionalmente<br />
barragens. Requer grandes espaços, abertos e tranquilos (pouco tolerável à<br />
perturbação). No entanto pode encontrar-se em zonas de sapal artificial e em outras<br />
zonas húmidas rodeadas pelo homem (ICN, 2006). No estuário do Tejo ocorre nas<br />
zonas entre marés, águas pouco profundas no estuário e salinas. Ocorre<br />
principalmente na faixa situada entre Alcochete e a foz do rio Sorraia. É menos regular<br />
área dos mouchões, nas salinas do Samouco e no esteiro do Montijo (Leitão et al.,<br />
1998). No estuário do Tejo mostra uma marcada preferência por zonas de vasa<br />
estuarina a descoberto durante a baixa-mar, recorrendo a salinas sobretudo, na preiamar<br />
(Farinha et al., 1990). Durante o Inverno são observados em grandes<br />
concentrações na área da Reserva Integral, salinas do Samouco, Belavista, Tarouca,<br />
Atalaia e no mouchão da Póvoa (Encarnação, dados não publicados).<br />
População: Em Portugal, segundo Tait (1924), a sua ocorrência era rara é irregular no<br />
início do século XX, e também na década de 70 (Cramp e Simmons, 1977). Ao longo<br />
da década de 80 o flamingo passou a ser uma ave comum nos principais estuários<br />
portugueses, onde apresenta no entanto variações significativas de mês para mês<br />
(Farinha et al., 1992). A sua população invernante situa-se entre os 3.000 e 7.000<br />
indivíduos (Rufino 1993, Costa e Rufino 1993, 1996 e 1997; Encarnação e Guedes,<br />
dados não publicados). A presença regular da espécie no estuário do Tejo parece ser<br />
78<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
um fenómeno relativamente recente e que se insere no contexto do aumento<br />
generalizado da população no mediterrâneo Ocidental (Leitão et al., 1998). Entre os<br />
anos de 1978 e 1990 foram recenseados do estuário do Tejo 64 indivíduos, embora<br />
em alguns anos a espécie não tenha sido registada, e apresentando um máximo de<br />
240 aves em 1989 (Catry et al., 1992). Só a partir de 1988 é que espécie passa a ser<br />
assinada em todas as contagens de Inverno. Em anos normais, o número de<br />
indivíduos presente, varia consideravelmente, com as maiores concentrações a<br />
ocorrerem no final do Verão e durante o mês de Outubro, como resultado de<br />
movimentos de migração e dispersão pós-nupcial. Em 1990 o número de indivíduos<br />
presente oscilou entre 21, em Janeiro, e 1955, em Outubro. Em anos secos, como em<br />
1992, o número médio mensal de aves presente é maior, provavelmente como<br />
resultado da falta de água nos locais de nidificação. Nesse ano, o número de aves<br />
variou entre 350, em Janeiro, e 2008, em Setembro. A população média invernante no<br />
período 1992 a 1996 foi de 1220 indivíduos, com um máximo de 2781 registado em<br />
Janeiro de 1993 (Leitão et al., 1998). Nos Invernos de 1996/97 e 1997/98 foram<br />
observados como valor médio máximo de 2786 indivíduos, apresentando um máximo<br />
de 3383 em Outubro de 1997 (Encarnação, dados não publicados). Na margem Norte<br />
do estuário no período entre Dezembro de 1998 e Abril de 1999 foi recenseado um<br />
número máximo de 239 aves, numa densidade de 0,794 aves/ha (Rosa, 1999). Nos<br />
Invernos de 2004/05 e 2005/06 foram registadas 2750 aves (Encarnação, dados não<br />
publicados). Nas salinas do Samouco entre 2004/2005 foram atingidos valores<br />
máximos de 602 aves nos meses de Fevereiro e Maio de 2005 (Rocha, dados não<br />
publicados).<br />
Factores de ameaça: O abandono e transformação de salinas para outras<br />
actividades, tem constituído um dos grandes factores de ameaça para a sua fixação.<br />
Esta alteração traduz-se em perda de habitat de alimentação, quer pela drenagem das<br />
mesmas quer pela sua inundação em níveis que não permitem a concentração de sal<br />
na água e assim inviabilizar a produção de pequenos crustáceos como a Artemia<br />
salina, o seu recurso alimentar principal. A ampliação de zonas industriais e portuárias,<br />
nomeadamente à custa de zonas de sapal, constitui uma ameaça a esta espécie. As<br />
zonas de vaza junto ou nos meandros, formados pelo sapal constituem uma<br />
importante alternativa como zonas de alimentação. Trata-se de uma espécie pouco<br />
tolerante à presença humana e outro tipo de perturbações sendo por isso afectada<br />
negativamente pela expansão turística e urbanística. A utilização de herbicidas e<br />
insecticidas nas áreas de arrozal, ao inviabilizar a existência das suas principais<br />
presas, corresponde a uma diminuição da qualidade do habitat de alimentação. É<br />
ainda uma ave vítima de abate ilegal (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: A preservação do Flamingo em Portugal depende da<br />
manutenção em bom estado de conservação dos seus locais de conservação dos<br />
seus locais de refúgio e alimentação. A criação de salinas artificiais e lagos salgados<br />
temporários pode justificar nalgumas áreas. Esta espécie, beneficiará ainda com o<br />
controlo e tratamento eficaz das descargas de efluentes, na sua área de ocorrência.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 79
Também a redução da pressão de abate ilegal é uma medida importante. A<br />
monitorização da população é fundamental (ICN, 2006).<br />
1.3.2.2.4 Ordem Anseriformes<br />
Família Anatidae<br />
Ganso-bravo, Anser anser<br />
Fenologia: Espécie invernante em Portugal. Ocorre no estuário do Tejo como<br />
invernante comum, entre os meses de Novembro a Fevereiro, apresentando registos<br />
máximos entre os meses de Dezembro e Fevereiro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Quase Ameaçada em Portugal. A nível europeu é<br />
considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International (2004) e Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna<br />
(Anexo III), Bona (Anexo II), e da Directiva Aves/Habitats (Anexo A -III) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se pela Europa e Ásia, desde a Islândia a<br />
Oeste até à costa da Rússia a Este. No Paleártico ocidental tem uma distribuição<br />
descontínua, sendo actualmente consideradas cinco populações distintas (Madsen<br />
1987, 1991 in Costa e Guedes, 1994). A população do Noroeste da Europa nidifica na<br />
Escandinávia e Nordeste Europeu, invernando no Norte da Europa e Península Ibérica<br />
(Madsen, 1987 in Costa e Guedes, 1997).<br />
Habitat: Surge na zona entre marés, sapais, águas pouco profundas do estuário e<br />
pastagens na lezíria. Ocorrência localizada dentro da área considerada, estando<br />
restrito quase em exclusive à zona da Ponta da Erva e do Mouchão do Lombo do Tejo<br />
(Leitão et al., 1998). No Inverno de 2004/04 foi observado em maior abundância no<br />
Mouchão do Lombo do Tejo, no rio propriamente dito e ainda na Ponta da Erva. No<br />
Inverno seguinte mantêm a preferência pelo o Mouchão do Lombo do Tejo, onde<br />
ocorreu mais de 76% da população invernante.<br />
População: No Nordeste da Europa, o efectivo populacional atinge os 120.000<br />
indivíduos, apresentando uma tendência de crescimento (Madsen, 1991). O principal<br />
local de invernada do Ganso-bravo em Portugal é o estuário do Tejo, onde ocorre a<br />
quase totalidade das aves contadas no país (Costa e Guedes, 1994). A população<br />
invernante no estuário do Tejo tem vindo a aumentar ao longo dos últimos anos. No<br />
Inverno de 1972/73 foram vistos 3 gansos numa contagem aérea e no Inverno de<br />
1978/79 foram contados 150 indivíduos (Leitão et al., 1998). Nesta área foram<br />
contados em 1992/93 mais de 1% da população em causa, isto é mais de 1200<br />
indivíduos (Costa e Guedes, 1994). Entre 1993 e 1996 os números mais elevados<br />
foram registados nos meses de Dezembro e Fevereiro, sendo o máximo de 3320 aves<br />
em Janeiro de 1996. Este número é o maior registado desde sempre e para além de<br />
seguir a tendência de crescimento populacional, deve também ser consequência do<br />
Inverno rigoroso que se fez sentir no Norte da Europa (Costa e Guedes, 1997). Em<br />
1996/97 as contagens de ganso-bravo (2740 indivíduos) correspondem a cerca de<br />
1,3% da população do Nordeste da Europa (Costa e Rufino, 1997). Em 1997/98 foram<br />
80<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
egistadas 3024 aves, confirmando assim o crescimento da população que inverna no<br />
Tejo. Em 2005 e 2006 foram recenseados 2204 e 2718 aves nas contagens de<br />
Inverno (Encarnação, dados não publicados).<br />
Factores de Ameaça: Destacam-se a drenagem e destruição de zonas húmidas,<br />
assim como a poluição da água por efluentes domésticos, industriais e agrícolas (ICN,<br />
1996).<br />
Medidas de Conservação: A preservação desta espécie requer a conservação das<br />
zonas de repouso e alimentação. É particularmente importante assegurar a<br />
manutenção de áreas pantanosas e de prados que proporcionem alimento, adjacentes<br />
ás zonas de repouso. Por outro lado a espécie beneficiará da melhoria da eficácia do<br />
controlo e tratamento das descargas de efluentes. Importa também assegurar a<br />
monitorização dos efectivos invernantes (ICN, 1996).<br />
Pato-branco, Tadorna tadorna<br />
Fenologia: Invernante pouco comum. Ocorre no estuário do Tejo durante os meses<br />
de Novembro a Janeiro e ainda no mês de Fevereiro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie com estatuto de Rara em Portugal. Está incluída nos<br />
anexos das convenções de Berna (Anexo II) e Bona (Anexo II) (SNPRCN, 1990).<br />
Distribuição e movimentos: Consideram-se duas populações para esta espécie,<br />
uma com área de distribuição no Noroeste da Europa, e outra que nidifica desde o<br />
Sudeste europeu até à Ásia (Costa e Guedes, 1994). As aves que nidificam no Norte<br />
da Europa Migram para Sul durante o Inverno, logo após a época de muda, altura em<br />
que se concentram na costa atlântica de França e da Alemanha (Nehls et al., 1992).<br />
Habitat: esta espécie tem preferência por zonas lodosas e salgadas (Cramp e<br />
Simmons, 1977; del Hoyo et al., 1992). No Tejo apresenta uma ocorrência localizada<br />
sobretudo no sector do estuário compreendido entre a foz da ribeira das Enguias e<br />
Pancas, tem preferência pelas zonas entre marés e salinas (Leitão et al., 1998).<br />
População: A população norte-europeia está estimada em cerca de 250 000 aves<br />
(Monval e Pirot, 1989 in Costa e Guedes, 1994). O Pato-branco é, desde há muito<br />
tempo, uma espécie protegida a nível europeu, o que tem permitido um grande<br />
crescimento populacional nas últimas décadas (Gélinaud et al., 1992). No Período de<br />
1992/93, a presença da espécie em Portugal restringiu-se a Castro Marim e ao<br />
estuário do Tejo (Costa e Guedes, 1994). É assinalado irregularmente nas contagens<br />
de Inverno no estuário do Tejo e sempre em pequeno número. Em 1987 foram<br />
contados 10 aves. No período de 1991 e 1998 foram recenseadas em média 151<br />
aves, observando-se um máximo de 850 aves em Dezembro de 1995 (não foram<br />
observados nos Invernos de 1994/05 e 1996/97) Em 2004/05 foram recenseados 90<br />
aves e 2005/06 apenas 8 aves (Encarnação, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: A perturbação dos locais onde nidifica e o abate ilegal<br />
SNPRCN, 1990).<br />
Medidas de Conservação: Defesa do habitat, sensibilização dos caçadores e<br />
necessária investigação biológica adicional (SNPRCN, 1990).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 81
Piadeira, Anas penelope<br />
Fenologia: Em Portugal é uma espécie invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante comum, sendo observada entre os meses de Setembro a Maio<br />
apresentando máximos entre os meses de Dezembro a Fevereiro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Considerada uma espécie Pouco Preocupante em Portugal e<br />
internacionalmente pela IUCN (2001). Incluída nos anexos das convenções de Berna<br />
(Anexo III), Bona (Anexo II), CITES (anexo C), nas Directivas Aves/Habitats (Anexo D)<br />
e na Lei de Bases de Caça (Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal).<br />
Distribuição e movimentos: A área de distribuição engloba o Norte da Europa e<br />
Ásia, onde a espécie nidifica. São consideradas 3 populações para esta espécie<br />
(Monval e Pirot, 1989): uma nidificante na Islândia e invernante na Escócia e Irlanda;<br />
uma segunda, nidificante na Escandinávia e Rússia, que inverna no Noroeste da<br />
Europa; e ainda uma outra que tem como área de reprodução a Rússia, a oriente do<br />
meridiano 60ºE, e que inverna no Mar Negro e na bacia mediterrânea. Portugal faz<br />
parte da região utilizada sobretudo por esta ultima população (Monval e Pirot, 1989),<br />
embora possam também ocorrer no país aves provenientes do Noroeste europeu.<br />
Habitat: A piadeira é uma espécie gregária, formando grandes bandos durante o<br />
período de invernada, especialmente em estuários, zonas alagadas sazonalmente e,<br />
embora em menor número em lagoas de água doce (Madge e Burn, 1988). São<br />
observadas em zonas entre marés e águas pouco profundas do estuário, ocorrendo<br />
em concentrações apreciáveis em frente a Alcochete (Leitão et al., 1998). No Inverno<br />
de 2004/05 foi mais abundante no Mouchão da Povoa e do rio, no Inverno seguinte<br />
para além de ocorrer abundantemente no Mouchão do Lombo do Tejo, surge ainda no<br />
Mouchão da Povoa e na Reserva Integral.<br />
População: A população do Mar Negro e mediterrânica está estimada em 600 000<br />
indivíduos, com tendência para o decréscimo (Rose, 1995). A espécie inverna<br />
sobretudo na região do Ludo e no estuário do Tejo. A população Em Dezembro de<br />
1992 a região do Ludo constituiu uma área de importância internacional para a<br />
piadeira, pois apresentou aproximadamente 1% da população mediterrânica desta<br />
espécie (5865 aves) seguida do Tejo onde foram registadas 3377 aves<br />
correspondendo a 0,56% da população mediterrânica (Costa e Guedes, 1994). Entre<br />
os Invernos de 1993 e 1996 o estuário do Tejo tem vindo a ser preterido (5593, 4989,<br />
4120 aves em 1993/94, 1994/95 e 1995/96 respectivamente) pela espécie em relação<br />
à região do Ludo, contudo verifica-se um decréscimo da população em especial no<br />
último ano, o que poderá ser consequência das más condições atmosféricas, que se<br />
fizeram sentir nas zonas habituais de maior ocorrência (Costa e Guedes, 1997). No<br />
Inverno seguinte (1996/97) a população do Tejo registou um recorde de ocorrências,<br />
registando-se 6875 indivíduos (1,15% da população mediterrânica) no mês de<br />
Novembro. Mas no Inverno de 1997/98 a população invernante teve um decréscimo de<br />
mais de metade (2859 aves), talvez devido a questões metrológicas. Em 2004/5 e<br />
2005/6 foi observado um aumento da espécie sendo recenseadas 4340 e 4930 aves<br />
respectivamente (Encarnação, dados não publicados).<br />
82<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Frisada Anas strepera<br />
Fenologia: Em Portugal ocorrem duas populações, uma residente e outra invernante.<br />
No Estuário a espécie é invernante pouco comum. Ocorre no estuário entre os meses<br />
de Setembro a Maio ocorrendo ainda durante o mês de Agosto, os registos mais<br />
relevantes ocorrem em Novembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal população residente tem o estatuto de<br />
Vulnerável e a invernante Quase Ameaçada. A nível europeu é considerada<br />
Depauperada pela BirdLife International (2004) e pouco preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo III), Bona (Anexo<br />
II), na Directiva Aves/Habitats (Anexo D) e incluída na Lei de Bases de Caça (ICN,<br />
2006).<br />
Distribuição e movimentos: A área de distribuição inclui grande parte da América do<br />
Norte e da Eurásia. Durante a época de invernada ocorre na América do Norte e<br />
Central, no Sul e Centro da Europa, Norte de África e Sul da Ásia (del Hoyo et al.,<br />
1992). Contrariamente à maioria das restantes espécies de anatídeos, apresenta uma<br />
distribuição bastante dispersa durante o Inverno, não formando grande concentrações.<br />
De todas as espécies de patos de superfície que ocorrem em Portugal, é a que se<br />
distribui mais a Sul e, nas regiões temperadas, são habitualmente encontradas a<br />
invernar nos locais de nidificação (Madge e Burn).<br />
Habitat: A frisada é uma das espécies de anatídeos que nidifica em Portugal,<br />
associada a meios de água doce (Rufino, 1989 in Costa e Guedes, 1994). Os habitats<br />
preferidos são lagos e albufeiras da água doce e pauis com vegetação aquática.<br />
Ocorre localmente em estuários e raramente em zonas costeiras (Madge e Burn, 1988<br />
in Costa e Guedes, 1997). No estuário do Tejo ocorre na zona entre-marés, e águas<br />
pouco profundas do estuário (Leitão et al., 1998). No Inverno de 2005/06 foi observada<br />
sobretudo no Mouchão do Lombo do Tejo.<br />
População: A população desta espécie encontra-se actualmente em expansão na<br />
Europa (Fox, 1988; Monval e Pirot, 1989), sendo a população mediterrânica estimada<br />
em cerca de 75.000 indivíduos (Rose e Scott, 1994). Em Portugal ocorrem duas<br />
populações, uma residente estimada entre 250 e 1000 indivíduos, e uma Invernante<br />
com um efectivo inferior a 1000 indivíduos (Costa e Guedes, 1997). As contagens de<br />
1992/93 mostram que o número de frisada no estuário do Tejo muito é reduzido tendo<br />
sido observadas 6 aves. A população média invernante entre 1993 e 1998 foi de 34<br />
aves. Em 2004/05 e 2005/06 foram recenseadas 2 e 77 aves respectivamente, sendo<br />
este último valor, o máximo de aves recenseadas no estuário do Tejo (Encarnação,<br />
dados não publicados).<br />
Marrequinha, Anas crecca<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo é Invernante<br />
comum, ocorrendo entre os meses de Agosto a Maio e ainda durante o mês de Junho,<br />
e apresenta máximos entre os meses de Dezembro a Fevereiro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a população tem o estatuto de Pouco<br />
Preocupante. A nível europeu é considerada Não Ameaçada pela BirdLife International<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 83
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das<br />
convenções de Berna (Anexo III), Bona (Anexo II), CITES (Anexo D) das Directivas<br />
Aves/Habitats (Anexo D) e incluída na Lei de Bases de Caça (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Embora a marrequinha nidifique em praticamente toda a<br />
área contínua de Tundra costeira e floresta desde a Escandinávia até ao Norte da<br />
Rússia, notam-se algumas diferenças entre populações (Monval e Pirot, 1989). Assim,<br />
as aves que criam desde o Norte da Rússia até ao Mar Báltico invernam no Noroeste<br />
europeu; as aves que criam na Islândia invernam na Grã-bretanha; as que criam na<br />
Grã-bretanha, França e Holanda apresentam um carácter fortemente residente; e por<br />
fim, as marrequinhas que nidificam no Norte da Sibéria e na Rússia invernam na zona<br />
mediterrânica (Rüger et al., 1986; Monval e Pirot, 1989).<br />
Habitat: A marrequinha é uma espécie fortemente migratória, que se agrupa em<br />
grandes concentrações durante o Inverno (Madge e Burn, 1988). Esta espécie ocupa<br />
uma grande variedade de habitats, podendo ocorrer praticamente em qualquer tipo de<br />
zona húmida (Cramp e Simmons, 1977), embora surja com maior frequência em zonas<br />
com vegetação aquática bem desenvolvida (Madge e Burn, 1988). As principais de<br />
invernada situam-se em sapais salgados dos estuários e pauis com coberto vegetal<br />
abundante, sendo os estuários do Tejo e do Sado as áreas mais importantes de<br />
invernada da marrequinha no país (Costa e Guedes, 1994). No estuário do Tejo ocorre<br />
nas zonas entre marés, águas pouco profundas do estuário e tanques das salinas. As<br />
maiores concentrações desta espécie ocorrem na faixa do estuário compreendida<br />
entre Alcochete e a foz do rio Sorraia (Leitão et al., 1998). Segundo Moreira (1995) a<br />
espécie tem preferência por zonas com vegetação de sapal e com vaza arenosa. Nos<br />
Invernos de 2004/05 e 2005/06 a espécie ocorreu preferencialmente Mouchão do<br />
Lombo do Tejo, na Reserva integral (Encarnação, dados não publicados).<br />
População: Em Portugal ocorrem aves da população mediterrânica (Rüger et al.,<br />
1986; Monval e Pirot, 1989) e um grande número de aves provenientes do Noroeste<br />
europeu (Silva e Castro, 1991). Estas aves surgem provavelmente como<br />
consequência de movimentos associados a vagas de frio naquela região (Monval e<br />
Pirot, 1989). A população mediterrânica está estimada em 1.000.000 de indivíduos<br />
(Rose e Scott, 1994), apresentando um aumento global desde 1978, com algumas<br />
flutuações (Monval e Pirot, 1989). O número de indivíduos presente no estuário do<br />
Tejo tem vindo a aumentar significativamente ao longo dos últimos anos. A média de<br />
aves no período de 1976 e 1981 foi de 675 indivíduos, com um máximo de 1151 no<br />
Inverno de 1980/81 (Leitão et al., 1998). No período de 1991/92 a marrequinha<br />
apresentou picos de abundância durante o Inverno, entre os meses de Dezembro e<br />
Março, sendo a densidade mais elevada registada a 17 de Dezembro de 1992, de 17,2<br />
aves/ha na Ponta da Erva (Moreira, 1995). Entre o período de 1992/93 e 1997/98 a<br />
população média de marrequinhas no Tejo foi estimada em 7775 aves, atingindo mais<br />
de 1% da população mediterrânica em Dezembro de 1993 e Novembro de 1995<br />
(Costa e Guedes, 1994, 1997; dados não publicados). Na margem Norte entre<br />
1991/92, a espécie apresentou um máximo de 106 aves e uma densidade de 0,296<br />
aves/ha (Rosa, 1999). E entre 2004/05 2005/6 foram recenseadas 4201 e 6087 aves,<br />
84<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
espectivamente (Encarnação, dados não publicados). Nas salinas do Samouco a<br />
espécie apresentou um máximo de 92 aves durante o período de baixa-mar em<br />
Dezembro de 2005 (Rocha, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: Destruição de zonas húmidas e a caça excessiva constituem as<br />
principais ameaças para esta população (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: Esta espécie cinegética encontra-se protegida por<br />
legislação nacional e internacional. As prioridades de conservação visam a obtenção<br />
de dados sobre a sua distribuição e abundância a nível regional (ICN, 2006).<br />
Pato-real, Anas platyrhynchos<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente e invernante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como residente nidificante e invernante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental tem uma situação Pouco<br />
Preocupante. A nível europeu é considerada não ameaçada pela BirdLife International<br />
(2004) e pouco preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das<br />
convenções de Berna (Anexo III), Bona (Anexo II), das Directivas Aves/Habitats<br />
(Anexo D) e incluída na Lei de Bases de Caça (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A área de distribuição engloba quase toda a América<br />
Central e do Norte, a Europa e a Ásia e o Norte de África. Para além disso ocorre<br />
também na Austrália onde a espécie foi introduzida (Monval e Pirot, 1989; del Hoyo et<br />
al., 1992). A relação entre áreas de nidificação e de invernada é bastante complexa<br />
para esta espécie. As aves que nidificam no Sul e Oeste da Europa são principalmente<br />
residentes, como é o caso de Portugal, às quais se juntam aves provenientes da<br />
Islândia, Báltico, Rússia e Escandinávia. Os Patos-reais que nidificam no Norte,<br />
Centro e Leste da Europa são principalmente migradores, invernando na costa Norte<br />
do Mediterrâneo (Monval e Pirot, 1989). Em Portugal o pato-real ocorre e nidifica em<br />
praticamente todo o país, sendo no essencial, residente (Rufino, 1989).<br />
Habitat: De entre todos os anatídeos, o pato-real é talvez aquele que se encontra<br />
melhor adaptado a todos os tipos de zonas húmidas, distribuindo-se por toda a região<br />
Holártica. Espécie oportunista, apresenta grande tolerância à perturbação, explicandose<br />
assim a ocupação dos mais variados tipos de habitat (Monval e Pirot, 1989). Ocorre<br />
nas zonas entre-marés, águas pouco profundas no estuário do Tejo, tanques de<br />
salinas, valas, açudes, arrozais e lezírias. No Verão juntam-se em grandes bandos,<br />
alimentando-se nas lezírias. De Inverno as maiores concentrações ocorrem nas vasas<br />
entre Alcochete e Pancas (Leitão et al., 1998). Segundo Moreira (1995) a espécie<br />
prefere as zonas de sapal com vasa arenosa como local de alimentação, ocorrendo no<br />
interior da Reserva e na zona de Palhais. No Inverno de 2004/05 o Mouchão do<br />
Lombo do Tejo, o Mouchão da Póvoa foram os principais locais de invernada da<br />
espécie no estuário. No Inverno seguinte para além dos locais anteriormente referidos,<br />
destaca-se também a zona da Reserva Integral, que no seu conjunto representam<br />
mais de 80% e 84% (em 2004/05 e 2005/06, respectivamente) do efectivo invernante<br />
desta espécie no estuário do Tejo (Encarnação, dados não publicados).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 85
População: A população mediterrânica é estimada em cerca de 4 milhões de<br />
indivíduos (Rose e Scott, 1994). Não existem estimativas da população nidificante na<br />
no estuário do Tejo. Ao contrário da maioria das outras espécies de patos que ocorrem<br />
no estuário, o número de invernantes tem vindo a diminuir nos últimos anos. No<br />
período compreendido entre 1976 e 1981 a média anual de patos-real foi de 2377<br />
indivíduos, com um máximo de 4810 no Inverno de 1978/79. A população média<br />
(máxima) invernante no período de 1992/93 a 1997/98 foi de 4472 aves apresentando<br />
um máximo em Outubro de 1997 de 9462 indivíduos (0,24% da população<br />
mediterrânica). As contagens máximas ocorrem nos meses de Outubro a Novembro,<br />
período onde ainda se observam grandes concentrações de aves em período pósnupcial.<br />
Na margem Norte do estuário a espécie ocorre em densidades muito<br />
reduzidas (0,020 aves/ha), tendo sido observadas um máximo de 7 aves entre<br />
1998/1999 (Rosa, 1999). No período compreendido entre 2004/05 e 2005/06 o número<br />
médio de aves invernantes no estuário foi 5856 aves (Encarnação, dados não<br />
publicados). Nas salinas do Samouco entre 2004/05 o número máximo de pato-real foi<br />
de 137 aves registado durante Fevereiro de 2005 (Rocha, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: Destruição de zonas húmidas e a caça excessiva constituem as<br />
principais ameaças para esta população (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: Esta espécie cinegética encontra-se protegida por<br />
legislação nacional e internacional. As prioridades de conservação visam a obtenção<br />
de dados sobre a sua distribuição e abundância a nível regional (ICN, 2006).<br />
Arrábio, Anas acuta<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é invernante. Ocorre no estuário do Tejo como<br />
invernante pouco comum, sendo observado entre os meses de Setembro a Abril/Maio<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie considerada Pouco Preocupante em Portugal mas<br />
também ao nível internacional pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das<br />
convenções de Berna (Anexo III), Bona (Anexo II), CITES (Anexo C) das Directivas<br />
Aves/Habitats (Anexo D) e incluída na Lei de Bases de Caça (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Nidifica no Norte e Centro da Europa, Norte asiático e<br />
América do Norte. Migra para Sul para aí passar o Inverno, no Sul e Centro da Europa,<br />
Sul da Ásia e África (del Hoyo et al., 1992). A principal zona de invernada das<br />
populações euro-asiáticas situa-se na África equatorial (Monval e Pirot, 1989).<br />
Habitat: É uma ave de zonas húmidas abertas, com boa visibilidade. Forma grandes<br />
concentrações durante as passagens migratórias e em algumas zonas de invernada,<br />
especialmente em estuários, sapais de água salobra e lagoas costeiras (Madge e<br />
Burn, 1988). No estuário do Tejo, ocorre nas zonas entre marés, águas pouco<br />
profundas no estuário e nas salinas (Leitão et al., 1998). Nos Invernos de 2004 a 2006<br />
a espécie teve preferência quase exclusiva pela zona da Reserva Integral e zona de<br />
águas profundas do estuário onde foram observadas mais de 85% e 96% (2004/05 e<br />
2005/06, respectivamente) da população invernante.<br />
86<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
População: A população do Mar Negro e Mediterrâneo estima-se em cerca de<br />
300.000 indivíduos (Scott e Rose, 1993), havendo grandes flutuações populacionais<br />
desde a década de 1970 (Monval e Pirot, 1989), sendo por isso difícil de tirar<br />
conclusões sobre as tendências populacionais desta espécie (Costa e Guedes, 1994).<br />
Em Portugal as principais zonas de invernada do arrábio são os estuários do Sado, do<br />
Tejo, o Paul do Boquilobo e Castro Marim (Costa e Guedes, 1997). O número de aves<br />
presente no estuário do Tejo é geralmente reduzido, embora, aparentemente tenda a<br />
aumentar (Leitão et al., 1998). A população média invernante entre o período de<br />
1992/93 e 1997/98 foi de 1221 indivíduos apresentando um máximo em Fevereiro de<br />
1995 com 2216 aves. No período compreendido entre 2004/05 e 2005/06 o número<br />
médio de aves invernantes no estuário foi 799 aves. No primeiro Inverno deste período<br />
foi registado o menor número de observações desta espécie no estuário (248 aves)<br />
(Encarnação, dados não publicados).<br />
Marreco, Anas querquedula<br />
Fenologia: Migrador de passagem raro. Ocorre no estuário do Tejo entre os meses de<br />
Março a Abril e ainda em Setembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie considerada Vulnerável. Está incluída nos anexos<br />
das convenções de Berna (Anexo III), Bona (Anexo II), CITES (Anexo C1) da Directiva<br />
Aves/Habitats (Anexo II/1) e incluída na Lei de Bases de Caça (SNPRCN, 1990).<br />
Distribuição e movimentos: A área de nidificação do marreco estende-se desde a<br />
Europa Central até ao Leste asiático (Cramp e Simmons, 1977), ocorrendo também<br />
em Portugal, embora em números comparativamente reduzidos e de forma irregular<br />
(Rufino, 1989). É uma espécie migradora, que inverna essencialmente em zonas da<br />
África tropical. A migração de Primavera ocorre sobretudo em Março, época em que é<br />
possível observar esta espécie em Portugal (Madge e Burn, 1988).<br />
Habitat: Preferem lagos de água doce e sapais com vegetação abundante e paisagem<br />
aberta, frequentemente regiões costeiras (Madge e Burn, 1988 in Costa e Guedes,<br />
1994). No estuário do Tejo procura águas pouco profundas, valas, açudes e tanques<br />
de salinas (Leitão et al., 1998).<br />
População: Ocorrência irregular, sobretudo na Primavera, durante a passagem<br />
migratória. A inexistência de mais registos no período de migração pós-nupcial poderá<br />
ficar a dever-se a dificuldades de identificação da espécie durante essa época do ano<br />
(Leitão et al., 1998). No estuário do Tejo durante os períodos de 1992/93 e 1997/98,<br />
2004/05 e 2005/06 foram recenseados apenas dois indivíduos durante o mês de<br />
Março de 1993.<br />
Factores de ameaça: destruição do habitat (SNPRCN, 1990).<br />
Medidas de Conservação: conservação do habitat, necessidade de informação sobre<br />
a biologia da espécie (SNPRCN, 1990).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 87
Pato-trombeteiro, Anas clypeata<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. Ocorre no estuário do Tejo como<br />
invernante comum, entre os meses de Agosto a Abril (Leitão et al., 1998), sendo mais<br />
abundante no mês de Janeiro.<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal ocorrem duas populações, uma residente muito<br />
reduzida que tem o estatuto de espécie Em Perigo e uma invernante muito numerosa<br />
com o estatuto Pouco Preocupante. A nível europeu é considerada uma espécie em<br />
Declínio, embora este seja recente e moderado, (BirdLife International 2004) e Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna<br />
(Anexo III), Bona (Anexo II), CITES (Anexo C) da Directiva Aves/Habitats (Anexo D) e<br />
incluída na Lei de Bases de Caça (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Ocorre na maior parte do hemisfério Norte, com<br />
excepção da região Árctica, dos maciços montanhosos do Centro da Ásia e do deserto<br />
do Sara. Embora possa ser residente em alguns pontos do Norte da Europa, a maioria<br />
desta população migra para a bacia mediterrânica e África (del Hoyo et al., 1992).<br />
Habitat: Esta espécie ocupa grande variedade de zonas húmidas, sendo frequente<br />
tanto em massas de água doce (açudes, albufeiras e lagos de baixa profundidade),<br />
como em zonas de influência marinha, por exemplo estuários e lagoas costeiras<br />
(Madge e Burn, 1988). No estuário do Tejo ocorre em zonas entre marés, águas pouco<br />
profundas no estuário, açudes e tanques de salinas (Leitão et al., 1998). Segundo<br />
Moreira (1995) a espécie apresenta uma maior actividade alimentar nas zonas de<br />
sapal da zona interior da Reserva (densidades máximas de 2 aves/ ha). No Inverno de<br />
2004/05 a espécie ocorreu sobretudo nas salinas de Vasa Sacos e a zona mais<br />
profunda do estuário. No Inverno seguinte a espécie ocorreu sobretudo na zona da<br />
Reserva Integral.<br />
População: A maior parte da população concentra-se na bacia mediterrânica, sendo a<br />
população mediterrânica ocidental estimada em cerca 175 000 indivíduos (Rose e<br />
Scott, 1994). Esta população tem apresentado, nos últimos anos um crescimento<br />
significativo (Monval e Pirot, 1989). Em Portugal o principal local de invernada do patotrombeteiro<br />
é o estuário do Tejo, seguido do Ludo e do estuário do Sado. A população<br />
invernante no estuário do Tejo tem vindo a aumentar nos últimos anos. Durante o<br />
período de 1976 a 1981 o número médio de indivíduos foi de 669, com um máximo de<br />
2620 no Inverno de 1978/79. Entre 1990 e 1993 o número médio de aves no estuário<br />
foi de 2943, correspondendo a 28,2% do efectivo nacional. Durante o qual a espécie<br />
ocorreu no estuário em maiores concentrações entre Dezembro e Janeiro, obtendo a<br />
maior densidade em Vasa Sacos, com 27 aves/ha (Moreira, 1995). No período de<br />
1992/93 e 1997/98 foi de 3437 indivíduos apresentando um máximo em Janeiro de<br />
1997 com 4770 aves (quase 3% da população mediterrânica) (Encarnação, dados não<br />
publicados). No período compreendido entre 2004/05 e 2005/06 o número médio de<br />
aves invernantes no estuário foi de 2492, apresentando o Inverno de 2005/06 um<br />
máximo de 3614 indivíduos (mais de 2% população mediterrânica) (Encarnação,<br />
dados não publicados). Nas salinas do Samouco entre 2004/05 o número máximo de<br />
88<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
pato-trombeteiro foi de 578 aves registado durante Janeiro de 2005 (Rocha, dados não<br />
publicados).<br />
Factores de Ameaça: Perda de habitat, em resultado da drenagem e destruição de<br />
zonas húmidas, e a sua degradação da sua qualidade devido à poluição da água por<br />
efluentes domésticos, industriais e agrícolas. Começam a registar-se alguns surtos de<br />
mortalidade elevada durante o Verão em resultado da alimentação em lagoas das<br />
estações de tratamento de águas residuais, muito eutrofisadas. Também a<br />
perturbação provocada pelo homem ameaça a sua fixação em locais apropriados à<br />
nidificação, normalmente pequenos açudes e pauis fora de áreas protegidas (ICN,<br />
1996).<br />
Medidas de Conservação: Esta espécie beneficiará com a manutenção dos níveis de<br />
água nas áreas onde nidifica, bem como com a minimização da perturbação nos locais<br />
quer de nidificação quer de invernada e, principalmente, com o controlo da caça ilegal.<br />
Por outro lado a espécie beneficiará da melhoria da eficácia do controlo e tratamento<br />
das descargas de efluentes. Importa também assegurar a monitorização dos efectivos<br />
invernantes (ICN, 1996).<br />
Pato-de-bico-vermelho, Netta rufina<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie ocorre como residente e invernante. No estuário do<br />
Tejo é uma espécie nidificante rara, sendo observada entre os meses Maio a Abril,<br />
Maio a Julho e em Outubro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal ocorrem duas populações, uma residente muito<br />
reduzida (50 a 250 indivíduos) que tem o estatuto de espécie Em Perigo e uma<br />
população invernante reduzida (250 a 1000 indivíduos) com o estatuto Quase<br />
Ameaçada. A nível europeu é considerada uma espécie em Não Ameaçada pela<br />
BirdLife International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos<br />
anexos das convenções de Berna (Anexo III) e Bona (Anexo II).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se pela Eurásia, em núcleos populacionais<br />
dispersos desde a Península Ibérica até ao Centro e Sudeste asiático, estando no<br />
entanto maioritariamente concentrada entre o Mar Negro e Turquia, até Noroeste da<br />
China. É parcialmente migradora, encontrando-se durante o Inverno na bacia<br />
mediterrânica (onde também são residentes), Sudoeste da Rússia, Índia e Sudeste<br />
asiático. Apresenta na Europa uma distribuição fragmentada em numerosos núcleos<br />
reprodutores, encontrando-se a maior parte da população na Europa Ocidental (del<br />
Hoyo et al., 1992)<br />
Habitat: Nidifica em lagoas eutróficas médias ou de grande dimensão, em zonas<br />
baixas que estão limitadas com caniçais. Frequenta também lagoas de água salobra,<br />
estuários e outras zonas costeiras com caniçais. Fora da época de nidificação,<br />
encontra-se em águas costeiras ou interiores, em espaços abertos ou rodeados de<br />
caniçais, com vegetação bem desenvolvida e submersa; lagoas costeiras, estuários,<br />
pisciculturas, pauis, charcos salinos e alcalinos, barragens e açudes (ICN, 2006)<br />
População: A população mediterrânica é estimada em 20 000 indivíduos (Rose e<br />
Scott, 1994). Nas últimas décadas do século XX, o pato-de-bico-vermelho sofreu uma<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 89
edução nas populações mais numerosas em particular na Rússia e Roménia, no<br />
entanto as populações centro-ocidentais da Europa e do Mediterrâneo Ocidental<br />
apresentam uma tendência de aumento (Wetlands International, 2002). Actualmente a<br />
Lagoa de Santo André é o principal local de conhecido de nidificação e invernada do<br />
Pato-de-bico-vermelho em Portugal (Catry 1993 in Costa e Guedes, 1994). Em Abril<br />
de 1980 o Pato-de-bico-vermelho foi encontrado a nidificar num lagoa artificial<br />
localizada no Mouchão do Lombo do Tejo, tendo sido detectadas 21 ninhadas. Em<br />
1981 e 1982 a população nidificante foi estimada em 20-25 casais, mas em 1990 e<br />
1991 foi observada apenas uma ninhada em cada ano. Desde então, a destruição da<br />
comporta que regulava o nível da água, levou à degradação completa da lagoa e ao<br />
desaparecimento das condições propícias à nidificação da espécie. Apesar disso,<br />
continuam a observar-se com regularidade alguns indivíduos no rio e em tanques de<br />
piscicultura, sendo de admitir a hipótese de a espécie ainda nidificar na zona (Leitão et<br />
al., 1998). No período de 1992/93 e 1997/98 e 2004/05 e 2005/06 apenas foram<br />
recenseados 3 aves (2 em 1996 e 1 em 1997), ambas durante o mês de Março<br />
(Encarnação, dados não publicados).<br />
Factores de Ameaça: Destacam-se a drenagem zonas húmidas, estas são muitas<br />
vezes utilizadas para o cultivo do arroz, o que inviabiliza a sua utilização pela espécie.<br />
É afectada pela construção de infra-estruturas hidráulicas, a subida do nível da água<br />
reduz o caniçal que protege os ninhos da ondulação e/ou a ausência de caniçal pode<br />
levar à inundação dos ninhos. É muito afectado pela poluição da água, por efluentes<br />
domésticos, industriais e agrícolas e ainda pela utilização de adubos, pesticidas e<br />
herbicidas nas zonas de alimentação. A caça ilegal e em particular, acções de caça<br />
com redes de emalhar, representam um dos maiores factores de ameaça para a<br />
espécie no Inverno (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: A conservação desta espécie requer a manutenção e o<br />
incremento das áreas de habitat de suporte potencial à nidificação da espécie, bem<br />
como reduzir a perturbação nos locais de nidificação. Assim, a manutenção de zonas<br />
húmidas, especialmente as que tenham áreas de caniçal significativas, e a criação de<br />
zonas de caniçal em torno de massas de água de pequena dimensão, possibilitam a<br />
expansão e a melhor distribuição da espécie, sobretudo durante a época de<br />
reprodução. Por outro lado a espécie beneficiará da melhoria da eficácia do controlo e<br />
tratamento das descargas de efluentes. A informação e sensibilização das populações<br />
em geral e das entidades responsáveis e assegurar a monitorização dos efectivos<br />
nidificantes e invernantes, são medidas necessárias à preservação desta espécie<br />
(ICN, 2006).<br />
Zarro, Aythya ferina<br />
Fenologia: Invernante raro, ocorre no estuário do Tejo entre os meses de Fevereiro e<br />
Março, Agosto e Setembro e Outubro e Dezembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal ocorrem duas populações, uma residente muito<br />
reduzida (cerca de 15 casais) que tem o estatuto de espécie Em Perigo e uma<br />
população invernante reduzida (250 a 1000 indivíduos) com o estatuto Vulnerável. A<br />
90<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
nível europeu é considerada uma espécie em Declínio embora este seja recente e<br />
moderado (BirdLife International 2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (versão 3.1).<br />
Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo III), Bona (Anexo II), da<br />
Directiva Aves/Habitats (Anexo D) e incluída na Lei de Bases de Caça (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A área de distribuição estende-se pela Europa e Ásia,<br />
desde a Península Ibérica até ao sudoeste da Ásia, havendo ainda alguns núcleos<br />
populacionais no sudoeste asiático e Japão. A maioria das aves migra para passar o<br />
Inverno na bacia mediterrânica, África equatorial e Médio Oriente (del Hoyo et al.,<br />
1992).<br />
Habitat: O zarro é um pato mergulhador de água doce, que se concentra durante o<br />
Inverno em bandos de dimensão variável (Madge e Burn, 1988). Prefere águas pouco<br />
profundas (Phillips, 1991), principalmente lagos e albufeiras da água doce e,<br />
ocasionalmente, zonas estuarinas (Cramp e Simmons, 1977; Madge e Burn, 1988). No<br />
estuário do Tejo está presente em águas pouco profundas no estuário e pisciculturas<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
População: Não se pode falar com segurança na existência de uma divisão de<br />
populações na Europa, visto que uma parte importante das aves que invernam na<br />
região mediterrânica tem a mesma origem que as aves invernantes no Noroeste da<br />
Europa (Monval e Pirot, 1989). O total de invernantes na região mediterrânica é<br />
calculado em cerca de 1 250 000 aves (Rose e Scott 1994), notando-se um forte<br />
declínio a partir da década de 1980 (Monval e Pirot, 1989). Em Portugal, o zarro é uma<br />
espécie nidificante, embora o faça de uma forma irregular e em números bastante<br />
reduzidos (Rufino, 1989). As contagens desta espécie têm sido extremamente<br />
regulares desde o início dos censos de anatídeos invernantes. As contagens máximas<br />
ocorreram sempre em Janeiro. A migração outonal é algo tardia, só se verificando a<br />
presença de um número mais significativo de aves a partir de Dezembro. As principais<br />
zonas de ocorrência no país são o Paul do Boquilobo e o complexo Ludo - Quinta do<br />
Lago. O número de indivíduos presente durante o Inverno é normalmente muito<br />
reduzido. Existe pelo menos um registo de nidificação, onde foram observadas duas<br />
ninhadas em meados de Junho de 1981 na lagoa do Mouchão do Lombo do Tejo<br />
(Leitão et al., 1998). No período de 1992/93 e 1997/98 e 2004/05 e 2005/06 apenas<br />
foram recenseadas 2 aves durante o mês de Novembro de 1992 (Encarnação, dados<br />
não publicados).<br />
Factores de ameaça: Entre os factores de ameaça desta espécie destacam-se a<br />
drenagem e destruição de zonas húmidas, a poluição da água, por efluentes<br />
domésticos, industriais e agrícolas. É também muito sensível a alterações do nível de<br />
água, o que em muitos casos o leva a frequentar planos de água artificiais (ICN,<br />
2006).<br />
Medidas de Conservação: É favorecida com a manutenção dos níveis de água nas<br />
áreas onde nidifica, bem como com a minimização da perturbação nos locais de<br />
nidificação e invernada (ICN, 2006).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 91
Zarro-negrinha, Aythya fuligula<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é invernante. No estuário do Tejo é invernante raro,<br />
ocorre entre os meses de Fevereiro e Março, Junho e entre Outubro e Janeiro (Leitão<br />
et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie considerada Vulnerável. A nível europeu é<br />
considerada uma espécie em Declínio embora este seja recente e moderado (BirdLife<br />
International 2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos<br />
das convenções de Berna (Anexo III), Bona (Anexo II), da Directiva Aves/Habitats<br />
(Anexo D) e incluída na Lei de Bases de Caça (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Esta espécie nidifica no Norte da Europa, desde a<br />
Islândia até ao Leste da Sibéria. Os zarros-negrinhas que invernam na Europa central<br />
e no Mediterrâneo são originários da população nidificante da Europa central, aos<br />
quais se juntam aves provenientes da Sibéria (Monval e Pirot, 1989). As recapturas<br />
em Portugal de aves anilhadas no estrangeiro referem-se a aves da Islândia (Tait sem<br />
data, Borges de Carvalho, 1975).<br />
Habitat: Prefere zonas húmidas naturais e artificiais de água doce, de preferência<br />
profundas, calmas e abertas, e em alguns casos que ofereçam vegetação emergente<br />
abundante com margens suaves ou ilhas. Concentram-se igualmente em zonas<br />
abrigadas de estuários (ICN, 2006). Ocorre em águas profundas no estuário do Tejo e<br />
em pisciculturas (Leitão et al., 1998).<br />
População: A população de zarro-negrinha é actualmente estimada em cerca de<br />
600.000 indivíduos (Scott e Rose, 1993), denotando um acentuado crescimento desde<br />
o início das contagens internacionais de aves aquáticas, em 1967. Na Europa central,<br />
este crescimento deve-se sobretudo à introdução e expansão do molusco Dreissena<br />
polymorpha, que se tornou a principal presa desta espécie (Schifferli, 1983). Em<br />
Portugal a espécie ocorre tanto em zonas húmidas do interior como do litoral, mas é<br />
no estuário do Minho que ocorre regularmente o maior número de indivíduos (ICN,<br />
2006). Actualmente o número de indivíduos invernantes no estuário é bastante<br />
reduzido, não ultrapassando geralmente a dezena. No entanto, a situação seria<br />
provavelmente diferente há mais de 30 anos atrás. No Inverno de 1968/69, foram<br />
estimados cerca de 1000 indivíduos numa contagem efectuada de avião. As causas<br />
deste declínio são desconhecidas (Leitão et al., 1998). No período de 1992/93 e<br />
1997/98 e 2004/05 e 2005/06 não foi recenseada qualquer ave no estuário<br />
(Encarnação, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: Entre os factores de ameaça desta espécie destaca-se a<br />
poluição da água por efluentes domésticos, industriais e agrícolas. Devem ainda<br />
destacar-se a drenagem e destruição de zonas húmidas costeiras, assim como a<br />
perturbação nestas áreas, que constituem refúgios alternativos (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: Esta espécie beneficiará da melhoria da eficácia do<br />
controlo e tratamento das descargas de efluentes, bem como com a minimização da<br />
perturbação nos locais de invernada e, principalmente, do controlo da caça ilegal.<br />
Importa também assegurar a monitorização dos efectivos residentes e invernantes<br />
(ICN, 2006).<br />
92<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Merganso-de-poupa, Mergus serrator<br />
Fenologia: Em Portugal é uma espécie invernante. Ocorre no estuário do Tejo como<br />
invernante pouco comum, sobretudo durante os meses de Novembro a Abril (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie considerada Em Perigo. A nível europeu é<br />
considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International (2004) e Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna<br />
(Anexo III) e Bona (Anexo II) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: São conhecidas duas populações desta espécie no<br />
Paleártico ocidental: uma com área de nidificação na Islândia e no Noroeste da<br />
Rússia, e que inverna no Noroeste europeu; e uma população mediterrânica, que<br />
nidifica no Norte da Rússia e na Sibéria (Cramp e Simmons, 1977; Monval e Pirot,<br />
1989).<br />
Habitat: Embora nidifique sobretudo em lagos e rios de águas profundas, durante a<br />
época de invernada ocorre quase exclusivamente em zonas costeiras: estuários e<br />
baías (Madge e Burn, 1988). No estuário ocorre em águas profundas. É observado<br />
regularmente no esteiro do Montijo e, com menos frequência, na zona da Ponta da<br />
Erva (Leitão et al., 1998).<br />
População: A população do Mediterrâneo tem cerca de 50 000 indivíduos (Rose e<br />
Scott, 1994), dos quais a grande maioria inverna na região do Mar Negro (Monval e<br />
Pirot, 1989). O núcleo populacional de merganço-de-poupa em Portugal é<br />
relativamente reduzido, e confina-se aos estuários do Minho, Tejo e Sado, à Lagoa de<br />
Albufeira e à Ria Formosa (Costa e Guedes, 1997). A população média invernante no<br />
estuário do Tejo durante o período de 1992/93 e 1997/98 foi de 19 indivíduos, com um<br />
máximo de 62 indivíduos em Janeiro de 1994. No estreito do Montijo, no Inverno<br />
observam-se regularmente cerca de duas dezenas de aves. Em 1 de Março e 16 de<br />
Novembro de 1991 foram contados 51 indivíduos nesta zona (Leitão et al., 1998). No<br />
período 2004/05 e 2005/06 foram apenas recenseadas 8 aves durante o ultimo<br />
Inverno na água mais profundas (Encarnação, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: Entre os factores de ameaça desta espécie destaca-se a<br />
poluição da água por efluentes domésticos, industriais e agrícolas. Deve ainda<br />
destacar-se a perturbação exercida por actividades humanas e por caça ilegal, que<br />
põem em causa a utilização dos habitats preferenciais (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: Esta espécie beneficiará da melhoria da eficácia do<br />
controlo e tratamento das descargas de efluentes, bem como com a minimização da<br />
perturbação nos locais de invernada e, principalmente, do controlo da caça ilegal.<br />
Importa também assegurar a monitorização dos efectivos invernantes (ICN, 2006).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 93
1.3.2.2.5 Ordem Accipitriformes<br />
Família Accpitritridae<br />
Peneireiro-cinzento, Elanus caeruleus<br />
Fenologia: Espécie residente em. No Estuário do Tejo é residente nidificante raro<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie considerada Quase Ameaçada a nível nacional. A<br />
nível europeu é considerada uma espécie Rara pela BirdLife International (2004) e<br />
Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de<br />
Berna (Anexo II), Bona (Anexo II), CITES (Anexo II A) e das Directivas Aves/Habitats<br />
(Anexo A-I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: O peneireiro-cinzento encontra-se amplamente<br />
distribuído como nidificante no sul da Ásia e África (Rufino, 1994). No Paleártico<br />
Ocidental ocupa zonas de clima temperado quente, mediterrâneo e subtropical,<br />
ocorrendo marginalmente na Europa em Espanha, França e Portugal (BirdLife<br />
International/European Bird Census Council 2000; Rufino, 1994). Em Portugal a sua<br />
distribuição principal compreende o Alentejo e a Beira Baixa, mas também a<br />
Estremadura o vale do Tejo, Beira Alta e Trás-os-Montes, onde se expandiu<br />
ultimamente (ICN, 2006).<br />
Habitat: O seu habitat preferido são terrenos mais ou menos planos, onde é possível<br />
efectuar cerealicultura extensiva sob o coberto de montados abertos (Onofre, 1998).<br />
Pode nidificar em montados mais densos, desde que disponha de clareiras com<br />
cereais e pastagens nas proximidades (Onofre et al., 1986). Na Beira Interior ocorre<br />
em habitats com uma estrutura semelhante mas onde as árvores dominantes são o<br />
carvalho negral e o castanheiro (Rufino, 1989). O habitat no Inverno é similar, excepto<br />
que no Sul muitos indivíduos descem às várzeas fluviais, aos campos de restolho de<br />
arroz ou de outras culturas de regadio (Rufino 1989; Onofre 1998). Frequentemente<br />
utiliza postes ou topos de árvores (Acacia) e outros pontos de observação. Por vezes<br />
penetra em povoamentos humanos (Cramp e Simmons, 1980). No estuário do Tejo<br />
ocorre sobretudo em zonas de montado aberto e nas lezírias (Leitão et al., 1998).<br />
População: Calcula-se que actualmente a tendência populacional do peneireirocinzento<br />
seja de aumento. Com efeito, as observações de campo indicam que os<br />
efectivos aumentaram nos anos mais recentes, por exemplo nalgumas zonas do<br />
Alentejo (Pais, com. pes.) e em Trás-os-Montes, região onde antes não existia<br />
(Monteiro com. pes.; Rufino, 1989; Palma et al., 1999). Apesar de nesta espécie e<br />
neste género serem típicas as flutuações demográficas sazonais ou anuais, inclusive<br />
diminuições e aumentos drásticos a nível local e regional (Ferrero, 1996; Cramp,<br />
1980), a expansão no sudoeste europeu tem sido sustentada desde pelo menos a<br />
década de 1960 (Palma, 1985; Rufino, 1989; Ferrero, 1996). Esta expansão terá sido<br />
favorecida pelo aclaramento, limpeza e colocação sob cultivo cerealífero das áreas de<br />
montados na Península, segundo Palma (1985) e Carbajo e Ferrero (1985). A espécie<br />
no seu limite da área de distribuição, aparentemente encontra-se em fase de<br />
94<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
expansão moderada no território continental (SNPRCN, 1990) A maior parte da<br />
população portuguesa de peneireiros-cinzentos está localizada nas planícies<br />
alentejanas, tendo Palma et al., (1999) estimado em 100-150 casais. Ocorre no<br />
estuário do Tejo, sobretudo na zona de Pancas, sendo mais raro na Ponta da Erva. A<br />
população nidificante na zona deverá ser de 2 ou 3 casais (Leitão et al., 1998).<br />
Factores de ameaça: As ameaças à espécie residem principalmente na alteração e<br />
perda de habitat: a destruição dos montados e a instalação de maciços florestais de<br />
produção; a intensificação da agricultura através de monoculturas cerealíferas em<br />
detrimento de outros usos como leguminosas e pousios, resulta na redução do<br />
mosaico agrícola traduz-se em diminuição na disponibilidade alimentar e de locais<br />
importantes para a reprodução; a transformação do sequeiro em regadio, resultando a<br />
supressão da rotação de culturas; o abandono agrícola, origina o desenvolvimento de<br />
matos, com o desaparecimento da cobertura herbácea fundamental à população de<br />
presas. O abate ilegal e a pilhagem dos ninhos constituem um factor de mortalidade<br />
desta espécie; O aumento da utilização de agro-químicos intervém directa e<br />
indirectamente nas populações de aves, aumentando a mortalidade e reduzindo a<br />
capacidade reprodutiva e diminuindo as populações presa (ICN, 2006a).<br />
Medidas de Conservação: Conservar as áreas de reprodução e alimentação.<br />
Manter/melhorar as manchas de montado aberto já existentes ou instalação de novos<br />
povoamentos autóctones com esta configuração, assim como criar condições para a<br />
regeneração natural dos montados. Promover cerealicultura extensiva com rotação de<br />
culturas, mediante a aplicação de medidas agroambientais e/ou indemnizações<br />
compensatórias. Fiscalizar as actividades cinegéticas; Implementar normas de gestão<br />
cinegética nas áreas de habitat destas espécies em AC’s (Áreas de Caça).<br />
Desenvolver campanhas de sensibilização junto a proprietários e gestores agroflorestais<br />
e cinegéticos, bem como da restante população, com vista à diminuição do<br />
abate ilegal e roubo de ninhos. Regular o uso de pesticidas e adoptar técnicas de<br />
pestes alternativas, como por exemplo utilizar substâncias mais facilmente<br />
degradáveis, cujo impacto ambiental não seja tão nefasto. Monitorizar anualmente as<br />
populações nidificantes de peneireiro-cinzento e os requisitos de habitat, nas áreas<br />
mais importantes (ICN, 2004).<br />
Milhafre-preto, Milvus migrans<br />
Fenologia: Espécie estival nidificante em Portugal. No estuário do Tejo ocorre como<br />
estival nidificante raro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie considerada Pouco Preocupante a nível nacional e<br />
internacional pela IUCN. Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo<br />
II), Bona (Anexo II), CITES (Anexo II A) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I)<br />
(ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Apresenta uma distribuição bem definida ao nível<br />
nacional, sendo mais abundante nas bacias do Tejo e do Mondego (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Espécie normalmente associada a cursos de água e zonas húmidas,<br />
particularmente albufeiras, açudes, e pauis, dos quais depende em parte no que<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 95
espeita à sua alimentação (Rufino, 1989). Ocorre ainda em paisagens abertas com<br />
árvores ou bosques dispersos, mesmo longe de água. Frequenta quase todos os<br />
biótopos existentes no estuário do Tejo (Leitão et al., 1998).<br />
População: a população nidificante nacional foi estimada em cerca de 1000 a 10 000<br />
casais (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre sobretudo na zona de Pancas. A<br />
população nidificante no estuário não ultrapassará os dois casais (Leitão et al., 1998).<br />
Foi observado em Junho de 2006, na barragem do Vale Cobrão um máximo de 2<br />
aves. Miravent (2000), refere a ocorrência de um casal com nidificação possível em<br />
1999 na área do Campo de Tiro.<br />
Factores de ameaça: O milhafre-preto é ilegalmente perseguido dentro das zonas de<br />
regime cinegético especial e os ninhos são frequentemente pilhados ou destruídos<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Medidas de Conservação: Ampliar as sanções legais para os prevaricadores em<br />
matéria de perseguição/abate de espécies protegidas. Aumentar eficácia dos meios e<br />
dos esforços de fiscalização em zonas rurais. Compatibilizar a gestão cinegética com<br />
a conservação de aves de rapina, em zonas de caça através do estabelecimento de<br />
protocolos e implementação de manuais de gestão ambiental. Assegurar protecção e<br />
vigilância aos dormitórios importantes da espécie, nomeadamente condicionando os<br />
acessos. Realizar uma campanha nacional de sensibilização e educação ambiental da<br />
população rural relativamente às aves de rapina.<br />
Milhafre-real, Milvus milvus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente e invernante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como migrador de passagem, não nidificante, sobretudo nos meses de Janeiro,<br />
Março a Abril, Maio a Junho, Julho, Agosto e Outubro a Dezembro (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Estatuto de Protecção: A espécie ocorre em Portugal em duas populações: uma<br />
residente que está Criticamente em Perigo e uma segunda invernante com estatuto<br />
Vulnerável. Ao nível internacional apresenta o estatuto espécie Em Declínio pela<br />
BirdLife International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos<br />
anexos das convenções de Berna (Anexo II), Bona (Anexo II), CITES (Anexo II A) e<br />
das Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Está restrita essencialmente ao Paleártico Ocidental,<br />
desde a Península Ibérica até à Ucrânia, Rússia e Geórgia, tendo como limite<br />
setentrional o sul da Suécia e limite meridional o extremo Norte de Marrocos<br />
(Hagmeijer e Blair, 1997). As populações da Europa Setentrional e Central são<br />
essencialmente migradoras, invernando ao longo da bacia mediterrânica, enquanto as<br />
populações meridionais são residentes ou dispersivas (Cramp e Simmons, 1980). A<br />
invernada da espécie na Península Ibérica pode considerar-se relativamente<br />
importante. Segundo diversos autores (De Juana et al., 1988; Snow e Perrins 1998,<br />
Costa 1998; Viñuela et al., 1999), a maior parte dos milhafres-reais que invernam na<br />
Península serão originários da Europa Central, particularmente da Alemanha. Em<br />
Portugal, a distribuição actual da população nidificante está bastante fragmentada, na<br />
96<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
sua maioria (70-80%) está localizada no planalto Mirandês, região de Ribacôa e na<br />
área entre Castelo Branco e Idanha-a-Nova, encontrando-se o restante efectivo<br />
disperso por vários locais do Alentejo, e das bacias do Mondego e Tejo. A população<br />
invernante ocorre nessas mesmas áreas mas também de uma forma dispersa por todo<br />
o sul do país (ICN, 2006).<br />
Habitat: O milhafre-real está associado a zonas de relevo suave (planaltos, planícies,<br />
baixa montanha) com vocação/utilização agro-silvo-pastoril. Em Portugal essa<br />
paisagem corresponde essencialmente a áreas de aproveitamento cerealífero com<br />
criação de ovinos e bovinos em regime extensivo e presença de maciços arbóreos<br />
dispersos, de espécies do género Quercus, Fraxinus e Pinus. Trata-se de uma ave de<br />
rapina florestal, que nidifica em árvores, geralmente de grande porte, integradas em<br />
pequenos maciços ou mesmo isoladas, como bosques ribeirinhos, lameiros, pinhais,<br />
montados de sobro e azinho. Caça em terrenos abertos, como campos agrícolas e<br />
pastagens permanentes, mas também nas imediações de explorações agro-pecuárias,<br />
povoações, estradas e lixeiras. No estuário do Tejo ocorre sobretudo nas zonas de<br />
montado aberto e lezíria (Leitão et al., 1998).<br />
População: A população de milhafre-real tem vindo sistematicamente a decrescer<br />
desde meados do século XX, altura em que era comum e, em vários locais, seria<br />
mesmo mais comum que o seu congénere milhafre-preto (Coverley, sem data). Esse<br />
declínio é já mencionado por Bugalho (1970) que refere que a partir de 1960, e<br />
sobretudo depois de 65, observou-se um “enorme declínio” do milhafre-real em<br />
resultado do aumento do uso de pesticidas e da perseguição movida por caçadores,<br />
pastores; é também referido por Palma (1985) e, mais recentemente, por Palma et al.,<br />
(1999). No planalto do Douro internacional, bastião actual da população portuguesa,<br />
com 19-26 casais (Fernandes e Monteiro, 2003), os registos indicam um declínio<br />
elevado e continuado da população (Monteiro, com. press.), à semelhança das regiões<br />
vizinhas de Espanha (Viñuela et al., 1999; Monteiro et al., 2002) (Plano sectorial).<br />
Admite-se que nos últimos 20-25 anos se verificou uma redução da população<br />
nacional de cerca de 50%, tendência que se manterá no futuro se as causas dessa<br />
redução não cessarem (ICN, 2006). Em termos da população invernante é de supor<br />
que o efectivo se tenha mantido constante durante os últimos 10 anos devido à<br />
estabilidade das populações nidificantes no norte e centro da Europa (Snow e Perrins,<br />
1998; Viñuela et al., 1999), sendo a espécie observada com alguma regularidade nos<br />
tradicionais quartéis de invernada. Em termos populacionais o Iº censo nacional da<br />
espécie, promovido pelo ICN em 2001 permitiu contabilizar a população nacional em<br />
50 a 100 casais nidificantes (Monteiro et al., 2003). Contudo, mais recentemente o<br />
Monteiro e Pacheco (2003) e Pais (Com. press.) referem ser comum no Inverno<br />
observar dormitórios com dezenas ou mesmo centenas destas aves e admitem que o<br />
território nacional seja frequentado por cerca de um milhar de indivíduos (ICN, 2006).<br />
No estuário do Tejo Leitão et al., (1998) refere que a espécie é observada<br />
irregularmente no estuário, em especial no período de passagem pós-nupcial.<br />
Factores de ameaça: O abate por caçadores/proprietários de explorações agropecuárias<br />
constitui a principal causa de mortalidade da espécie, afectando tanto a<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 97
população sedentária como a invernante. Os hábitos necrófagos desta ave e a<br />
capacidade detecção de pequenos cadáveres ou dos seus restos, fazem com que seja<br />
bastante vulnerável ao uso de veneno. A electrocussão em linhas eléctricas de média<br />
tensão, o Milhano-real deverá ser uma das aves de rapina mais afectadas por esta<br />
ameaça, uma vez que as zonas de prospecção alimentar correspondem a áreas rurais<br />
onde a rede de distribuição de energia eléctrica está bem representada e constitui uma<br />
estrutura atractiva como poiso de caça e dormitório. A redução da disponibilidade<br />
alimentar devido ao cumprimento das exigências higieno-sanitárias, levando o<br />
encerramento de lixeiras a céu aberto onde as aves buscavam alimento. O corte de<br />
maciços florestais O abandono da agricultura tradicional e consequente perda do<br />
mosaico agro-florestal. A instalação de parques eólicos em corredores importantes<br />
para a migração e dispersão de aves pode constituir um importante factor de<br />
mortalidade da espécie através da colisão nas pás dos aerogeradores. Em especial,<br />
se esses parques eólicos forem instalados nas zonas importantes em termos de<br />
nidificação e dispersão de juvenis, ou ainda nas zonas de alimentação situadas nas<br />
cumeadas das serras. A competição com outras rapinas florestais (ICN, 2006a).<br />
Medidas de Conservação: Assegurar o incremento e manutenção, a longo prazo, do<br />
efectivo nidificante e invernante de milhafre-real, no território nacional. Melhorar as<br />
condições de habitat. Ampliar as sanções legais para os prevaricadores em matéria de<br />
perseguição/abate de espécies protegidas. Aumentar eficácia dos meios e dos<br />
esforços de fiscalização em zonas rurais. Compatibilizar a gestão cinegética com a<br />
conservação de aves de rapina, em zonas de caça através do estabelecimento de<br />
protocolos e implementação de manuais de gestão ambiental. Assegurar protecção e<br />
vigilância aos dormitórios importantes da espécie, nomeadamente condicionando os<br />
acessos. Realizar uma campanha nacional de sensibilização e educação ambiental da<br />
população rural relativamente às aves de rapina. Estabelecer ferramentas de decisão<br />
legal acerca da instalação de traçados eléctricos nas áreas importantes para a<br />
espécie. Alterar as características técnicas da rede de linhas de média tensão em<br />
zonas importantes para a espécie, nomeadamente proceder à sinalização e correcção<br />
de apoios e traçados problemáticos. Implementar um programa nacional de<br />
erradicação do uso de venenos. Estabelecer sistemas eficazes de vigilância de áreas<br />
problemáticas e de detecção e penalização de casos de uso de venenos para controlo<br />
de predadores. Regular o uso de pesticidas e adoptar técnicas de controlo<br />
alternativas, como por exemplo utilizar substâncias mais facilmente degradáveis, cujo<br />
impacto ambiental não seja tão nefasto. Promover a manutenção e valorização do<br />
mosaico agro-florestal nas áreas classificadas através de aplicação de programas de<br />
medidas agro-ambientais nos principais núcleos da espécie. Proibir o corte de maciços<br />
florestais ou de árvores isoladas de grande porte nas áreas mais importantes para a<br />
conservação da espécie. Aumentar a disponibilidade alimentar associada às<br />
explorações agro-pecuárias através da criação e gestão de campos de alimentação de<br />
aves necrófagas. Condicionar a instalação de parques eólicos nas áreas mais<br />
importantes para a migração e reprodução da espécie no nosso país. Todos os<br />
parques eólicos devem ser equipados com sinalizadores anti-colisão e armações de<br />
98<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
apoios seguras para aves. Desenvolver estudos de monitorização do impacte dos<br />
aerogeradores já existentes, tendo em conta a sua localização geográfica, a sua<br />
situação em termos de habitats e a sua tipologia de equipamento, de forma a conhecer<br />
o seu efeito na população nacional destas aves. Monitorizar os núcleos mais<br />
importantes da população, quer nidificante (determinando os parâmetros reprodutivos)<br />
quer invernante. Colaborar em programas internacionais de conservação e estudo da<br />
espécie (ICN, 2006a).<br />
Águia-cobreira, Circaetus gallicus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é nidificante estival. Ocorre no estuário do Tejo<br />
como estival nidificante raro, sobretudo entre os meses de Março a Agosto e em<br />
Outubro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie considerada Quase Ameaçada a nível nacional. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Rara pela BirdLife International (2004) e<br />
Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de<br />
Berna (Anexo II), Bona (Anexo II), CITES (Anexo II A) e das Directivas Aves/Habitats<br />
(Anexo A-I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A distribuição da águia-cobreira durante a nidificação<br />
estende-se desde o Sudeste e Sudoeste Europeu, Norte de África, Médio Oriente e<br />
Ásia (Rocamora, 1994). No Paleártico Ocidental, encontra-se Noroeste de África, nos<br />
países mediterrâneos e do Leste da Europa, estendendo-se ainda pela Rússia<br />
europeia, Iraque, irão, Casaquistão até à Mongólia, Índia e arquipélago de Sonda (del<br />
Hoyo et al., 1994). No Paleártico Ocidental é essencialmente migradora e inverna na<br />
África subsariana, à excepção de alguns indivíduos que na estação fria são<br />
observados na Europa do Sul e Norte de África (Rocamora, 1994). Em Portugal,<br />
segundo Palma et al., (in Onofre 1998) a espécie ocorre como nidificante em grande<br />
parte do território nacional, mas principalmente no Alentejo, estando ausente em no<br />
Centro e Norte do país.<br />
Habitat: Frequenta habitats com agricultura tradicional e pastoreio extensivo, onde as<br />
presas são abundantes, como matas secas e abertas, habitats mediterrânicos<br />
rochosos, pastagens pedregosas, terra inculta ou áreas abertas com arvoredo e<br />
sebes. No Centro e Norte de Portugal ocorre predominantemente em áreas onde o<br />
coberto florestal forma manchas de maior dimensão, dando preferência ao pinhal<br />
(Pinus pinaster) para nidificar, tanto nas zonas planas das extensas matas nacionais<br />
litorais, como nas zonas serranas (Silva 1998; Onofre et al., 1999). No Baixo Alentejo<br />
a espécie aparece quase sempre associada a zonas húmidas, frequentando sobretudo<br />
caniçais, sapais, arrozais e lezírias (Onofre, 1998). Nidifica em árvores altas,<br />
requerendo áreas de floresta alternadas com habitas abertos em planícies e montes<br />
(Rocamora, 1994); excepcionalmente também em rochas ou no solo (Cramp e<br />
Simmons, 1980). No estuário do Tejo correr sobretudo nas zonas florestais e lezírias<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
População: Segundo Palma et al., (in Onofre, 1998) em Portugal a espécie está<br />
aparentemente estável (esteve localmente em expansão no Nordeste). As populações<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 99
mais importantes estarão localizadas no Alto Alentejo e nas serras algarvias e<br />
alentejanas, em montados de sobro e sobreirais de Quercus suber, onde se atingem<br />
densidades da ordem dos 2,6-5 ca./100 Km2 (Onofre et al., 1999) e 3,3 ca./100 Km2<br />
(Pereira, 1993). De acordo com as estimativas que têm sido feitas para a espécie, a<br />
sua população nacional estará compreendida entre 100 e 600 casais (Palma et al.,<br />
1999, Ivanowsky et al., 1997, BirdLife International/European Bird Census Council.<br />
2000, BirdLife International 2004). No estuário do Tejo segundo Leitão et al., (1998) a<br />
espécie nidifica provavelmente, nas zonas florestais envolventes ao estuário.<br />
Factores de ameaça: A redução da área de pinhal, devido a corte ou a fogos<br />
florestais e consequente reconversão de vastas áreas para eucaliptal deve ser o factor<br />
de ameaça com maior relevância, devido à perda de habitat de nidificação e à redução<br />
das populações presa. As podas severas em áreas extensas de montados e o corte e<br />
a rarefacção de pinheiros-bravos de grande porte são causa de degradação ou<br />
eliminação do substrato de nidificação, desestabilizando os casais e aumentando o<br />
insucesso reprodutor. A intensificação da agricultura através de monoculturas,<br />
irrigação e constituição de densos cobertos forrageiros, ou a reconversão de olivais e<br />
pomares velhos resulta na redução do mosaico agrícola com decréscimo da<br />
diversidade de habitat e traduz-se em diminuição na disponibilidade alimentar. A<br />
colisão e electrocussão em linhas aéreas de transporte de energia podem ser um<br />
factor de mortalidade importante. O abate a tiro por caçadores/proprietários de<br />
explorações agro-pecuárias, nomeadamente durante a migração pós-nupcial. A<br />
destruição e roubo de ninhos, nomeadamente durante as operações de<br />
descortiçamento ou de poda. A destruição de sebes resulta em perda de habitat<br />
adequado para as populações presa. O aumento da utilização de agro-químicos<br />
intervém directa e indirectamente nas populações de aves, aumentando a mortalidade<br />
e reduzindo a capacidade reprodutiva e diminuindo as populações presa. A instalação<br />
de parques eólicos em corredores importantes para a migração e dispersão de aves<br />
pode constituir um importante factor de mortalidade da espécie através da colisão nas<br />
pás dos aerogeradores (ICN, 2004).<br />
Medidas de Conservação: Condicionar as plantações de elevada densidade de<br />
eucalipto ou pinheiro nos espaços abertos adjacentes ou existentes no seio de áreas<br />
de montado mais importantes de ocorrência da espécie. Ordenar as podas (tanto na<br />
intensidade como na extensão e ordenamento no espaço) nas áreas de montado mais<br />
importantes de ocorrência da espécie. Limitar a densidade de plantação nas acções<br />
de arborização, mesmo com sobreiro ou azinheira, nas áreas mais importantes de<br />
ocorrência da espécie. Manter alguns pinheiros-bravos de elevado porte dispersos;<br />
Corrigir e sinalizar os traçados e apoios da rede de distribuição de electricidade que<br />
sejam muito perigosos para a espécie. Promover os sistemas agro-pecuários<br />
extensivos, nomeadamente a pastorícia de percursos e a silvo-pastorícia, em zonas<br />
importantes para a espécie. Ampliar as sanções legais para os prevaricadores em<br />
matéria de perseguição/abate de espécies protegidas. Reduzir o risco de incêndios e<br />
os efeitos destes em determinados maciços florestais prioritários para a espécie;<br />
Regular o uso de pesticidas e adoptar técnicas de pestes alternativas. Implementar<br />
100<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
normas de gestão cinegética nas áreas de habitat destas espécies em AC’s (Áreas de<br />
Caça) e a sua fiscalização. Aumentar o nível de informação e sensibilização do público<br />
e decisores através de campanhas de sensibilização e divulgação. Condicionar a<br />
instalação de parques eólicos nas áreas mais importantes para a migração da espécie<br />
no nosso país. Todos os parques eólicos devem ser equipados com sinalizadores anticolisão<br />
e armações de apoio seguras para aves. Desenvolver estudos sobre o impacte<br />
dos parques eólicos na avifauna durante os períodos de passagem migratória das<br />
aves. Monitorizar os parâmetros populacionais (avaliação das tendências na<br />
distribuição e tamanho da população) (ICN, 2006a).<br />
Águia-sapeira, Circus aeruginosos<br />
Fenologia: Em Portugal existe uma população residente e ocorre um influxo<br />
significativo de aves que aqui vem passar o Inverno. No estuário do Tejo é uma<br />
espécie residente nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: A população residente e a população invernantes<br />
apresentam um estatuto Vulnerável a nível nacional. A nível internacional é<br />
considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International (2004) e Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna<br />
(Anexo II), Bona (Anexo II), CITES (Anexo II A) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo<br />
A-I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Encontra-se em latitudes médias do Paleártico<br />
Ocidental, essencialmente em climas temperados e Mediterrânicos estendendo-se<br />
para zonas boreais, de estepe e subtropicais (Cramp e Simmons, 1980). A sua área<br />
de distribuição na Europa compreende a Albânia, Andorra, Bielo-Rússia, Bulgária,<br />
Croácia, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, França, Grécia, Hungria, Itália,<br />
Letónia, Lituânia, Moldávia, Polónia, Portugal, Roménia, Rússia, Turquia e Ucrânia,<br />
onde se estima uma população global de 52000 a 88000 casais (BirdLife<br />
International/European Bird Census Council 2000). As populações da Europa<br />
Setentrional e Central são sobretudo migradoras, invernando desde a bacia<br />
mediterrânica e Médio Oriente até à África subsariana, enquanto as populações<br />
meridionais são essencialmente dispersivas (Cramp e Simmons, 1980). Em Portugal<br />
continental, a população reprodutora de águia-sapeira distribui-se ao longo da faixa<br />
costeira ocidental, limitada às principais zonas húmidas, das quais se destacam os<br />
estuários do Tejo e Sado, a ria de Aveiro e o baixo Mondego (Rosa et al., 2001). A<br />
população invernante distribui-se principalmente pelos mesmos núcleos, embora<br />
apresente uma distribuição mais alargada, estando presente em diversas zonas<br />
húmidas onde não ocorre durante o período reprodutor (Rosa et al., 1998).<br />
Habitat: Nidifica em zonas húmidas de águas doces ou salobras como pauis, sapais,<br />
pântanos, margens de lagos e rios e canais com fraco caudal, desde que possuam<br />
vegetação aquática emergente abundante, principalmente Phragmites, Typha e<br />
Scirpus, (Del Hoyo et al., 1994). Em Portugal, as manchas de caniçal são o habitat<br />
preferencial de nidificação, uma vez que aí foram edificados cerca de 90% dos ninhos<br />
detectados durante o último censo (Rosa et al., 2001). As manchas de caniçal onde a<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 101
espécie nidifica no nosso país são relativamente extensas (>11 ha), pelo menos<br />
quando comparadas com as utilizadas em algumas regiões de Espanha, que podem<br />
ter uma dimensão inferior a 1 ha (Rosa et al., 2001). No estuário do Tejo a população<br />
nidifica em manchas de sapal, em 1991 foram confirmados 10 ninhos implantados em<br />
caniçais e outros 10 com a mesma possível localização (Costa et al., 1993). Procura<br />
alimento em águas pouco profundas, doces ou salobras, com vegetação aquática<br />
emergente densa, principalmente Phragmites, Typha e Scirpus, em sapais, pauis e<br />
pântanos (del Hoyo et al., 1994). Também frequenta habitats correspondentes, em<br />
margens de lagos e rios com fraco caudal, ou resultantes de inundações.<br />
Normalmente necessita de áreas contínuas de vegetação aquática, onde existe<br />
alimento em abundância. Caça ainda frequentemente em campos agrícolas (arrozais,<br />
campos de cereais de sequeiro, pousios, prados) nas imediações das zonas húmidas.<br />
É sem dúvida o acípiterídeo mais abundante do estuário do Tejo e que regista uma<br />
maior amplitude de utilização de biótopos (Leitão et al., 1998), a maior parte da<br />
população de águia-sapeira no Tejo caça na faixa de zonas abertas delimitadas a<br />
Norte pela estrada Vila Franca/Porto Alto e a Sul pela vila de Alcochete (Costa et al.,<br />
1993). Ocorre com maior abundância nos biótopos alagados (valas nas lezírias e<br />
sapal), mas também com muita frequência nas pastagens, forragem e cereal de toda a<br />
lezíria. Surge ainda nas zonas de vaza, salinas e caniçais (Leitão et al., 1998). Como<br />
outras espécies do mesmo género, passa a noite no solo ou sobre vegetação palustre.<br />
Fora da época de nidificação, dormem comunalmente, em dormitórios que podem<br />
atingir várias centenas de indivíduos (Del Hoyo et al., 1994). Em Portugal os<br />
dormitórios de Inverno localizam-se maioritariamente em caniçais de extensão<br />
considerável (>11 ha) que podem ser ocupados durante semanas consecutivas (Rosa<br />
et al., 1998). No estuário do Tejo apenas um dormitório (Mouchão do Lombo do Tejo)<br />
alberga regularmente mais de 10 aves (Costa et al., 1993).<br />
População: A espécie apresentou uma tendência populacional positiva. Foram<br />
efectuados dois censos da população nidificante (1990/1994 e 1998), em que o<br />
esforço de prospecção se pode considerar comparável, tendo-se observado um<br />
incremento de cerca de 40% (Fernandes et al., 1996, Rosa et al., em publ.). Este<br />
incremento deveu-se principalmente a um aumento de efectivo nos três núcleos<br />
principais para a espécie, nomeadamente os estuários do Tejo e Sado e a ria de<br />
Aveiro, e não a um aumento significativo da área de distribuição. Quanto à população<br />
invernante a tendência é idêntica, tendo sido observado um incremento muito<br />
significativo entre os dois censos realizados (1990-1994 e 1998-99, respectivamente)<br />
(Fernandes et al., 1996, Rosa et al., 2001). A população residente no país foi estimada<br />
em 38 a 49 casais em 1990-1994 (Fernandes et al., 1995) e em 1998 a estimativa foi<br />
de 64 a 69 casais (Rosa et al., 2001). Houve ainda um incremento pouco relevante<br />
que se deveu à colonização de locais onde a espécie não nidificava pelo menos há 10<br />
anos (Rosa et al., 2001). A população invernante foi estimada em 135 indivíduos em<br />
Janeiro durante o censo de 1990-94 (Fernandes et al., 1996) e em 347 indivíduos no<br />
mesmo período do ano de 1999 (Rosa et al., 2001) (ICN, 2006a). No estuário do Tejo<br />
a espécie nidifica sobretudo nos caniçais dos mouchões. A população nidificante foi<br />
102<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
estimada em 14 casais em 1990 e em 20 casais em 1991. Ocorrendo em dois núcleos:<br />
um na parte norte do estuário compreendendo 86-90% dos casais e outro com dois<br />
casais na zona da Base Aérea do Montijo (Costa et al., 1993). Em 1998 houve um<br />
acréscimo da população nidificante a qual foi estimada em cerca de 29-32 casais<br />
(Rosa et al., 2001). Com base em contagens realizadas nos principais dormitórios<br />
(destacando-se o Mouchão do Lombo do Tejo) em Janeiro de 1991, estimou-se o<br />
número de invernantes em 60 a 70 indivíduos (Leitão et al., 1998). Segundo Rosa et<br />
al., (2001) em Janeiro de 1989 foram registas 165 águias-sapeiras em 4 dormitórios no<br />
estuário do Tejo No ano seguinte houve um decréscimo da população nidificante na<br />
ordem dos 13,9 % (142 indivíduos), embora se tenha incluído mais um dormitório (com<br />
3 aves). Durante as contagens das aves invernantes em Portugal, foram observados<br />
no estuário do Tejo durante o mês de Janeiro 9, 10 e 7, referentes aos anos de 1993,<br />
1995 e 1996 (Costa e Rufino, 1993, 1995 e 1996). Nos Invernos de 2004/05 e 2005/06<br />
foram observadas nessas mesmas contagens 16 e 17 aves, respectivamente<br />
(Encarnação, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: A perda de habitat, durante o final do século XIX e o século XX,<br />
um grande número de zonas húmidas foram drenadas e convertidas em campos de<br />
cultivo e, mais recentemente, para construção de infra-estruturas de turismo e áreas<br />
urbanas, facto que se verifica ainda nos dias de hoje. As alterações do habitat. A<br />
perda ou alteração da composição da vegetação palustre emergente devido a sobre<br />
exploração ou gestão desregrada dos recursos hídricos e da vegetação e a poluição<br />
agrícola, urbana e industrial, são fortes causadores de degradação do habitat desta<br />
espécie. A escassa informação existente sobre os parâmetros reprodutores da espécie<br />
em Portugal, embora meramente indicativa, aponta para uma produtividade muito<br />
baixa, quando comparada com outros países da Europa (Rosa et al., 2001). As causas<br />
podem estar relacionadas com fraca disponibilidade alimentar, que por sua vez pode<br />
dever-se a uma degradação da qualidade do habitat. O abate ilegal é provavelmente<br />
uma causa importante de mortalidade para esta espécie. A perturbação provocada<br />
pelas actividades humanas pode ter um impacto negativo no sucesso reprodutivo ou<br />
na sobrevivência dos indivíduos, ou mesmo na sua permanência em áreas de<br />
pequenas dimensões. Durante o Inverno a perturbação causada pela actividade<br />
cinegética, por exemplo, durante a caça aos anatídeos, pode ser determinante para a<br />
não utilização de um determinado dormitório e obrigar as aves a procurar locais menos<br />
favoráveis. O saturnismo, embora não estejam documentados casos comprovados de<br />
saturnismo em Portugal, foram detectados em Espanha vários casos de indivíduos<br />
envenenados com chumbo. A poluição e aumento da utilização de agro-químicos, têm<br />
sido responsáveis pelo envenenamento de presas e serão responsáveis pela<br />
diminuição das suas populações (ICN, 2006a).<br />
Medidas de Conservação: Assegurar a manutenção do efectivo populacional de<br />
águia-sapeira. Conservar as áreas de reprodução, alimentação e dormida. Assegurar<br />
protecção legal aos sítios com habitat favorável para a águia-sapeira. Interditar o uso<br />
do chumbo na actividade cinegética em zonas húmidas. Promover a manutenção e<br />
incremento do habitat apropriado para a espécie, nomeadamente os maciços de<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 103
plantas palustres. Recuperar as manchas de caniçal mais degradadas ou<br />
desaparecidas de forma a incrementar o número e a área de locais propícios à<br />
nidificação da águia-sapeira. Condicionar as operações de drenagem em importantes<br />
zonas de nidificação da espécie. Regular o uso de pesticidas e adoptar técnicas de<br />
pestes alternativas, como por exemplo utilizar substâncias mais facilmente<br />
degradáveis, cujo impacto ambiental não seja tão nefasto. Promover e valorizar a<br />
exploração sustentada e os usos tradicionais da vegetação palustre (por exemplo o<br />
bunho) e a exploração económica do património natural associado à espécie. Reduzir<br />
a perturbação por actividades humanas nos locais mais sensíveis. Regulamentar a<br />
actividade turística dentro das ZPE’s. Promover restrições e fiscalização à actividade<br />
cinegética nos locais mais importantes para a espécie. Promover estudos sobre<br />
aspectos da biologia da águia-sapeira, nomeadamente biologia reprodutiva,<br />
movimentos, requisitos de habitat e mecanismos para a sua gestão e disponibilidade<br />
trófica. Implementar um programa de censo e monitorização da população nacional.<br />
Investigar o efeito do saturnismo, da poluição e dos agro-químicos sobre a espécie e<br />
restantes elementos da sua cadeia alimentar. Desenvolver e implementar programas<br />
educacionais de modo a aumentar o conhecimento do público sobre a espécie e a<br />
necessidade de se preservar o seu habitat (ICN, 2006a).<br />
Tartaranhão-cinzento, Circus cyaneus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente e invernante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como invernante raro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Estatuto de Protecção: A população residente apresenta<br />
um estatuto Criticamente em Perigo e a população invernante Vulnerável a nível<br />
nacional. A nível internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela<br />
BirdLife International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos<br />
anexos das convenções de Berna (Anexo II), Bona (Anexo II), CITES (Anexo II A) e<br />
das Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: O tartaranhão-caçador reproduz-se na Eurásia (desde a<br />
Península Ibérica até à Península de Kamchatka, exceptuando a Itália, Grécia e outros<br />
países adriáticos), e na América do Norte, com populações com populações<br />
totalmente migradoras na parte norte destas regiões e populações residentes,<br />
parcialmente migradoras ou dispersivas na restante (del Hoyo et al., 1994; Cramp,<br />
1998). C. c. cyaneus inverna desde a Escócia e o Sul da Suécia até à península<br />
ibérica e algumas áreas no extremo norte de África e desde a Península Ibérica até a<br />
sudeste chinês, passando pela Turquia e irão, enquanto que a C. c. hudsonius inverna<br />
principalmente em torno do Golfo do México até ao extremo Norte da América do Sul<br />
(del Hoyo et al., 1994, Cramp 1998). Poucos indivíduos invernam em África<br />
(Hagemeijer e Blair 1994, Cramp 1998) (ICN, 2006). Em Portugal, segundo Onofre et<br />
al., (1995), a espécie ocorre como nidificante apenas numa estreita faixa situada no<br />
extremo Norte, correspondendo a um prolongamento da população espanhola do<br />
norte da península. No Inverno o tartaranhão-cinzento ocorre em grande parte do<br />
104<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
território, praticamente de norte a sul, com a maioria das observações registadas no<br />
Alentejo (Onofre, 1998).<br />
Habitat: Em Portugal, na época de nidificação, ocupa terrenos abertos revestidos por<br />
matos baixos de urzes e outros matos, como giestais, tojais, etc., e por pinhais jovens,<br />
entrecortados por searas e pastagens de altitude, sendo os matos preferidos como<br />
biótopo de nidificação (Reino, 1994; Onofre et al., 1995; Pimenta e Santarém, 1996;<br />
Silva 1998). Em Portugal, no Inverno, o tartaranhão-cinzento utiliza um número variado<br />
de biótopos que incluem zonas húmidas (açudes, sapais, pauis, canteiros de arroz,<br />
etc.), culturas arvenses de sequeiro (searas, pousios e alqueives), pastagens, matos<br />
de urze, bem como montados de azinho ou de sobro relativamente abertos (Onofre<br />
1998) (ICN, 2006a). No estuário do Tejo ocorre nas lezírias, sapais e salinas (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
População: O tartaranhão-cinzento nunca terá sido uma espécie nidificante comum<br />
ou abundante no país, de acordo com o referido por Paulino d’Oliveira (1928) e Reis<br />
Júnior (1931). A única estimativa existente para a população ocorrente na faixa norte<br />
do país data de 1993 e é 10-20 casais (Onofre et al., 1995; Palma et al., 1999),<br />
pensando-se hoje que, em resultado do aparente declínio em número e em área<br />
nalguns locais (Pimenta e Santarém 1996), os efectivos possam ser mesmo menores<br />
(ICN, 2006a). Contudo, aquela estimativa não é muito diferente da que se pode obter<br />
através dos dados constantes nas fichas das IBA’s Serra da Peneda Gerês e Serras<br />
de Montesinho e Nogueira (Costa et al., 2003), que apontavam para um intervalo de<br />
13-19 casais (ICN, 2006).<br />
Factores de ameaça: A florestação de terrenos abandonados pela agricultura e de<br />
áreas de matos adequadas à nidificação da espécie. Embora, nalguns casos, estas<br />
acções possam beneficiar inicialmente a espécie, enquanto as árvores ainda são<br />
pequenas, por providenciar habitat de nidificação, posteriormente levam à perda de<br />
habitat; O abandono agrícola e do pastoreio extensivo resulta em perda de habitat<br />
adequado para a nidificação e alimentação. O abandono do pastoreio extensivo é<br />
causa de desaparecimento de usos de solo favoráveis a esta espécie (pastagens<br />
permanentes e temporárias, culturas forrageiras) e de pousios cuja manutenção era<br />
rentabilizada por essa prática; A elevada frequência de incêndios em zonas, onde a<br />
espécie tradicionalmente frequenta e se reproduz. A destruição ou degradação de<br />
zonas húmidas e da sua vegetação, onde esta espécie muitas vezes pernoita em<br />
grupo e onde caça. As acções de drenagem ameaçam as zonas húmidas<br />
frequentadas por esta espécie (sapais, pauis e arrozais). O sobre pastoreio afecta a<br />
composição e estrutura da vegetação, reduzindo quer a disponibilidade alimentar quer<br />
a protecção para nidificar; A intensificação da agricultura ameaça as zonas de cereal<br />
extensivo e pastagens naturais e seminaturais, através de monoculturas cerealíferas<br />
em detrimento de outros usos como leguminosas e pousios, resulta na redução do<br />
mosaico agrícola com decréscimo da diversidade de habitat e traduz-se em diminuição<br />
na disponibilidade alimentar e de locais importantes para a reprodução; O aumento da<br />
utilização de agro-químicos intervém directa e indirectamente nas populações de aves,<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 105
aumentando a mortalidade e reduzindo a capacidade reprodutiva e diminuindo as<br />
populações presa (ICN, 2006a).<br />
Medidas de Conservação: Aumentar a população nidificante para o dobro num<br />
horizonte de 10 anos (por exemplo 20 a 30 casais na ZPE Montesinho - Nogueira) e<br />
conservar o habitat de reprodução, alimentação e dormida. Para tal é necessário:<br />
Proibir e/ou condicionar a reflorestação em urzais e zonas montanhosas com matos,<br />
onde a espécie ocorre como nidificante e/ou onde estes habitats estejam ameaçados;<br />
Ordenar o pastoreio extensivo nas áreas de nidificação da espécie condicionando ou<br />
proibindo o seu acesso a áreas percorridas pelo fogo que não resultem de fogos<br />
controlados devidamente autorizados; Promover cerealicultura extensiva com rotação<br />
de culturas, mediante a aplicação de medidas agro-ambientais e/ou indemnizações<br />
compensatórias em áreas prioritárias; Impedir a drenagem em zonas húmidas<br />
prioritárias para a espécie; Condicionar o encabeçamento em áreas importantes de<br />
alimentação e nidificação; Regular o uso de pesticidas e adoptar técnicas de pestes<br />
alternativas, como por exemplo utilizar substâncias mais facilmente degradáveis, cujo<br />
impacto ambiental não seja tão nefasto; Monitorizar os parâmetros populacionais<br />
(avaliação das tendências na distribuição e tamanho da população) e realizar estudos<br />
sobre a ecologia e biologia da espécie (sucesso reprodutivo, selecção de habitat,<br />
demografia, movimentos e proveniências, etc.); Desenvolver acções de sensibilização<br />
das populações locais, em particular agricultores, proprietários e técnicos florestais,<br />
visando a conservação da espécie e dos seus habitats (ICN, 2006a).<br />
Águia-caçadeira, Circus pygargus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. Ocorre no estuário do Tejo<br />
como estival nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Em Perigo a nível nacional. A nível internacional é<br />
considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International (2004) e Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna<br />
(Anexo II), Bona (Anexo II), CITES (Anexo II A) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo<br />
A-I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A área de nidificação estende-se pelo Paleártico<br />
Ocidental, geralmente a Sul da latitude 60ºN, desde a Península Ibérica ao<br />
Kazaquistão, registando-se a ocorrência de alguns casais nidificantes em zonas<br />
costeiras do nordeste africano. Inverna na África subsariana, principalmente mo<br />
Sudão, Etiópia e África do Leste e no sub-continente indiano (Krogulec, 1997). Tem<br />
duas áreas de invernada: uma subsariana, ao longo do Sahel estendendo-se pela<br />
África Oriental até à África do Sul, outra no sub-continente indiano e Sri Lanka.<br />
Segundo Onofre e Rufino (1995), o tartaranhão-caçador ocorre como nidificante em<br />
grande parte do território nacional, em particular na metade este do país, de Norte a<br />
Sul, acompanhando a distribuição dos terrenos abertos e das searas nas planícies do<br />
Alentejo e os planaltos serranos do Centro Leste e Norte. Segundo o Novo Atlas das<br />
Aves Nidificantes de Portugal está praticamente ausente de grande parte do oeste do<br />
país e com representação pouco significativa no Algarve (ICN em prep.) (ICN, 2006a).<br />
106<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Habitat: Utiliza solos secos ou húmidos (incluindo terrenos agrícolas), charnecas,<br />
dunas e turfeiras. Também se adapta a zonas arbustivas com Ulex e áreas plantadas<br />
com coníferas jovens, urzais e até campos de milho; em condições favoráveis tendem<br />
a reproduzir-se em zonas húmidas (Cramp e Simmons, 1980). Frequenta áreas<br />
predominantemente desarborizadas. Na região mediterrânica 90% dos casais<br />
nidificam no interior de searas mas em latitudes superiores são essencialmente<br />
escolhidas áreas de vegetação herbácea natural, matos baixos e plantações florestais<br />
recentes. Em Portugal, segundo Franco et al., (1995), as maiores densidades<br />
encontram-se associadas às culturas cerealíferas a sul do Tejo, mas há casais que<br />
nidificam em dunas do litoral algarvio, sapais do estuário do Tejo e em matos e<br />
culturas de centeio dos planaltos serranos do Norte e Centro do país. Claro (2000)<br />
afirma, com base num estudo realizado em Évora, que a espécie prefere searas de<br />
trigo, aveia ou cevada em detrimento de pousios em geral sobre pastoreados. Os<br />
ninhos concentram-se também em áreas com maior proporção de searas e com maior<br />
comprimento de orlas (limites de parcelas e linhas de água), por constituírem locais<br />
preferências de obtenção de alimento (Claro, 2000). Fora da época de nidificação<br />
demonstra pouco interesse por zonas húmidas e pela vizinhança de lagos ou águas<br />
interiores (Cramp e Simmons, 1980) (ICN, 2006a).<br />
No estuário do Tejo ocorre sobretudo nas lezírias, sapais e salinas (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
População: No nosso país o tartaranhão-caçador apresenta declínio continuado<br />
(Cabral et al., em prep.; ICN em prep). A ausência de um censo nacional desta<br />
espécie não permite avaliar a sua dinâmica populacional nos últimos anos. Contudo,<br />
conhecem-se declínios dramáticos do tartaranhão-caçador nalgumas zonas,<br />
nomeadamente em Campo Maior, onde a espécie sofreu uma forte redução,<br />
associada à intensificação da agricultura. Considera-se que a população se apresenta<br />
em declínio devido ao grande decréscimo da cerealicultura extensiva, habitat de que<br />
depende a larga maioria dos seus efectivos. Os casais nidificantes em Portugal<br />
representam cerca de 13% da população europeia (excluindo a Rússia).<br />
A população nidificante em Portugal na década de 80, segundo Rufino et al., (1985),<br />
foi estimada em 1000-1300 casais, sendo posteriormente avaliada por Onofre e Rufino<br />
(1995) em 900-1200 casais, com base em censos realizados em algumas áreas e<br />
extrapolando para o território nacional os valores obtidos. Esta última estimativa<br />
mantém-se actual, não tendo entretanto surgido informações suficientes que permitam<br />
uma reformulação consistente (ICN, 2006a). No estuário do Tejo deverão nidificar 2 a<br />
3 casais que utilizam a zona de sapal para construírem os ninhos (Leitão et al., 1998).<br />
Factores de ameaça: A actividade da ceifa nos campos cerealíferos, segundo Claro<br />
(2000), constitui o principal factor de insucesso reprodutivo, pelo facto de ao ser<br />
cortada a vegetação, estes tornarem-se mais vulneráveis à perturbação pelo homem e<br />
à predação natural (quando a ceifa é efectuada durante a incubação, regista-se 90-<br />
100% de insucesso reprodutivo). A intensificação da agricultura através de<br />
monoculturas cerealíferas em detrimento de outros usos como leguminosas e pousios,<br />
resulta na redução do mosaico agrícola com decréscimo da diversidade de habitat e<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 107
traduz-se em diminuição na disponibilidade alimentar e de locais importantes para a<br />
reprodução. O abandono agrícola. O aumento da utilização de agro-químicos intervém<br />
directa e indirectamente nas populações de aves. A florestação das terras agrícolas<br />
resulta na perda de habitat e induz o aumento das taxas de predação nas áreas<br />
adjacentes. A expansão de cultivos lenhosos. A perturbação provocada pelas<br />
actividades humanas, resultante da expansão urbana e construção dispersa e da<br />
actividade turística, desportiva e cinegética, influencia muito a escolha do habitat de<br />
nidificação por esta espécie, que evita áreas densamente povoadas. O abate ilegal<br />
constitui um factor de mortalidade desta espécie. A pilhagem e destruição de ninhos.<br />
O aumento de predadores de ovos e crias, nomeadamente os cães assilvestrados. A<br />
electrocussão e colisão em linhas aéreas de transporte de energia. Os parques eólicos<br />
nas proximidades dos locais de nidificação da espécie, são considerada uma ameaça<br />
importante devido à perturbação provocada, colisão com as pás dos aerogeradores.<br />
Os traçados eléctricos que estão associados aos parques eólicos constituem outro<br />
problema importante devido aos subsequentes riscos de colisão e electrocussão (ICN,<br />
2006a).<br />
Medidas de Conservação: Para Manter/aumentar a população nidificante de águiacaçadeira<br />
é necessário conservar as zonas de nidificação e alimentação. Para tal é<br />
importante: Atrasar a ceifa de forma a salvaguardar as crias e os ovos. Promover<br />
cerealicultura extensiva com rotação de culturas, mantendo o mosaico agrícola,<br />
mediante a aplicação de medidas agro-ambientais e/ou indemnizações<br />
compensatórias em áreas estepárias prioritárias. Incrementar a sustentabilidade<br />
económica das áreas estepárias através da certificação de produtos provenientes de<br />
áreas “amigas da avifauna estepária”. Proibir ou condicionar a intensificação agrícola<br />
em áreas importantes para a espécie; Condicionar a edificação nas ZPE’s importantes<br />
para a espécie. Ordenar a actividade turística dentro das ZPE’s; Implementar normas<br />
de gestão cinegética nas áreas de habitat destas espécies em AC’s (Áreas de Caça).<br />
Fiscalizar as actividades de abate e envenenamento; Fiscalizar e vigiar activamente as<br />
principais colónias na época de nidificação. Regular o uso de pesticidas e adoptar<br />
técnicas de pestes alternativas. Proibir a florestação e o cultivo de lenhosas nas áreas<br />
mais importantes para a conservação da espécie. Controlar as populações de cães<br />
assilvestrados em áreas onde se verifique predação. Condicionar a instalação de<br />
parques eólicos e de linhas eléctricas de transporte de energia nas áreas mais<br />
importantes para a espécie no nosso país. Equipar os parques eólicos e as linhas<br />
eléctricas de transporte de energia com sinalizadores anti-colisão e armações de<br />
apoios seguras para aves. Desenvolver estudos de monitorização do impacte dos<br />
aerogeradores a das linhas eléctricas de transporte de energia já existentes, tendo em<br />
conta a sua localização geográfica, a sua situação em termos de habitats e a sua<br />
tipologia de equipamento, de forma a conhecer o seu efeito na população nacional<br />
destas aves. Elaborar e implementar Planos de Gestão nas ZPE’s com ocorrência da<br />
espécie (Moura-Mourão- Barrancos, Campo Maior, Castro Verde). Implementar o<br />
Plano Nacional de Acção para as Aves Estepárias; Estudar a dieta e a selecção de<br />
habitats de alimentação da águia-caçadeira; Monitorizar anualmente as populações<br />
108<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
nidificantes da espécie nas áreas mais importantes (avaliação das tendências na<br />
distribuição e tamanho da população). Estabelecer uma estratégia conjunta<br />
Portugal/Espanha visando a conservação das aves dependentes da estepe<br />
cerealífera; Inventariar as zonas com características estepárias no Alentejo; Informar a<br />
comunidade rural e a população em geral sobre os valores naturais das áreas<br />
agrícolas extensivas de sequeiro e sobre as necessidades de conservação das<br />
espécies delas dependentes. Esta espécie é contemplada no Plano de acção para a<br />
conservação das aves dependentes da estepe cerealífera (Almeida et al., 2003) (ICN,<br />
2006a).<br />
Águia-de-asa-redonda, Buteo buteo<br />
Fenologia: Residente, em Portugal continental e nos arquipélagos da Madeira e dos<br />
Açores. Ocorre no estuário do Tejo como residente nidificante raro e invernante pouco<br />
comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante a nível nacional. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo II), Bona (Anexo II) e CITES<br />
(Anexo II A) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Amplamente distribuída por todo o território continental<br />
(Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta uma grande variedade de habitats, ocorrendo tanto em planície<br />
como em serras. Nidifica em praticamente todos os habitats arborizados, desde<br />
montados de sobro e azinho até pinhais e carvalhais (Rufino 1989). No estuário do<br />
Tejo ocorre com maior frequência no montado e áreas adjacentes, e frequenta a lezíria<br />
mais no Inverno (Leitão et al., 1998).<br />
População: Em temos nacionais a sua abundância é maior na charneca alentejana, a<br />
população nacional foi estimada em cerca de 1.000 a 10.000 casais (Rufino, 1989). No<br />
estuário do Tejo, Leitão et al., (1998) referem que existiram provavelmente 3 ou 4<br />
casais nidificantes. Foram observadas 2 aves em Junho de 2006 na barragem do Vale<br />
Cobrão. É provável que a espécie nidifique na zona, segundo Miravent (2000) foi a<br />
espécie com maior número de casais na zona do Campo de Tiro de Alcochete.<br />
Factores de ameaça: A espécie é ilegalmente perseguida dentro das zonas de<br />
regime cinegético especial (Leitão et al., 1998)<br />
Medidas de Conservação: Fiscalizar as actividades cinegéticas especialmente<br />
durante a migração e Implementar normas de gestão cinegética nas áreas de habitat<br />
destas espécies em AC’s (Áreas de Caça).<br />
Águia-calçada, Hieraetus pennatus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. Ocorre no estuário do Tejo<br />
como estival nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Quase Ameaçada a nível nacional. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Rara pela BirdLife International (2004) e<br />
Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 109
Berna (Anexo II), Bona (Anexo II), CITES (Anexo II A) e das Directivas Aves/Habitats<br />
(Anexo A-I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A espécie ocorre regularmente até 1600 m de altitude,<br />
sendo mais comum nas zonas circum-mediterraneas do que nas no centro e leste da<br />
Europa Central (Veiga e Viñuela, 1994). A sua área de distribuição no Paleártico<br />
Ocidental é constituída por dois núcleos principais: um abrange a Península Ibérica,<br />
França e o Norte de África; o outro abrange a Europa Oriental e Ásia Menor (Cramp e<br />
Simmons, 1980). A águia-calçada é uma espécie migradora invernando no centro e sul<br />
de África (Veiga e Viñuela, 1994), e a sua permanência na Europa durante esta época<br />
é normalmente considerada excepcional (Cramp e Simmons, 1980). No entanto, a<br />
invernada regular de um número reduzido de indivíduos tem sido assinalada, nos<br />
últimos anos, em algumas regiões da Península Ibérica e Norte de África (Costa,<br />
1998). Em Portugal a espécie é sobretudo estival, podendo considerar-se<br />
relativamente comum em algumas zonas no Sul do país. Ocorre regularmente em<br />
Trás-os-Montes, Beiras interiores e no Alentejo, apresentando uma distribuição<br />
contínua nos distritos de Évora, Portalegre, Setúbal, Santarém, Castelo-Branco e<br />
Guarda (Palma et al., 1999) (ICN, 2006a).<br />
Habitat: Trata-se de uma ave tipicamente florestal, e a sua distribuição é determinada<br />
pela presença de manchas de vegetação arbórea com clareiras e zonas abertas, em<br />
geral formadas pela actividade agro-pecuária extensiva. Na Península Ibérica ocorre<br />
desde os povoamentos de resinosas das zonas montanhosas, também em galerias<br />
ribeirinhas, e montados de sobro e azinho que são o seu habitat por excelência nesta<br />
região. Nidifica num vasto leque de habitats: principalmente em áreas florestais<br />
(intercaladas com clareiras), incluindo arbustos, pastagens, mas também em<br />
montados de sobro, associado ou não a pinheiro, pinhal e, com menor frequência<br />
montado de azinho (Rufino, 1989). Os seus terrenos de caça estendem-se às zonas<br />
abertas de mato, de culturas arvenses e de pousios (Rufino, 1989) (ICN, 2006a). No<br />
estuário do Tejo a espécie ocorre nas zonas florestais e nas lezírias (Leitão et al.,<br />
1998). Segundo Miravent (2000) na primavera de 1999 foram registados 8 casais com<br />
nidificação confirmada e 12 com nidificação provável na zona do Campo de tiro de<br />
Alcochete.<br />
População: A população ibérica encontra-se em situação estável (Moñoz Gallego e<br />
Blas García 2003), estando assinalados aumentos demográficos em determinadas<br />
regiões, nomeadamente em Portugal. Por comparação entre os dados do 1º Atlas<br />
(Rufino, 1989) e a informação disponível dos trabalhos do 2º Atlas Nacional de Aves<br />
Nidificantes (ICN, em prep.) observa-se um aumento substancial da sua área de<br />
distribuição no centro e norte do país. Tem sido igualmente detectado um aumento no<br />
número de indivíduos invernantes no sul do país.<br />
A estimativa mais recente aponta para uma população nidificante de 250 a 350 casais<br />
(Palma et. al. 1999). A sul do Tejo, no Alto Alentejo, onde predominam os montados<br />
densos de sobro, a espécie atinge as suas mais elevadas densidades, 19-25<br />
casais/100Km 2 (Onofre e tal. 1999) ou 8-10 casais em 35 Km 2 (grosso modo 23-28<br />
110<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
casais/100Km 2 ) (Miravent 2001). No estuário do Tejo, segundo Leitão et al., (1998)<br />
nidificam apenas 1 a 2 casais.<br />
Factores de ameaça: A destruição de áreas florestais importantes para a espécie<br />
devido ao abate de árvores, fogo, podas desregradas, urbanização e construção de<br />
infra-estruturas é o principal factor de ameaça para a espécie. A arborização com<br />
eucalipto de terrenos abertos (vales e outras terras de agricultura marginal, matos). As<br />
acções de adensamento excessivo dos montados, que limitam o habitat de caça<br />
potencial da espécie. O abate ilegal constitui um factor de mortalidade desta espécie.<br />
A pilhagem de ninhos tem sido apontada como um dos factores que intervêm na<br />
diminuição da produtividade das colónias de águia-calçada, em algumas áreas de<br />
nidificação, praticada principalmente durante as tiragens de cortiça ou apanha de<br />
pinhas. A colisão e electrocussão em linhas de transporte de energia é um factor de<br />
mortalidade importante para a espécie. O aumento da utilização de agro-químicos<br />
intervém directa e indirectamente nas populações de águia-calçada, nos locais de<br />
invernada, reduzindo a capacidade reprodutiva e diminuindo as populações presa. A<br />
instalação de parques eólicos em corredores importantes para a migração e dispersão<br />
de aves pode constituir um importante factor de mortalidade da espécie através da<br />
colisão nas pás dos aerogeradores. Os traçados eléctricos que estão associados aos<br />
parques eólicos constituem outro problema importante devido aos subsequentes riscos<br />
de colisão e electrocussão (ICN, 2006a). Segundo Leitão et al., (1998), a espécie é<br />
perseguida ilegalmente dentro das zonas de regime cinegético do estuário do Tejo.<br />
Medidas de Conservação: Manter/melhorar as manchas de montado aberto já<br />
existentes ou instalação de novos povoamentos, em áreas de ocorrência de águiacalçada,<br />
assim como criar condições para a regeneração natural dos montados.<br />
Condicionar as plantações florestais de elevada densidade, por exemplo de eucalipto<br />
ou pinheiro, nas clareiras existentes no seio de áreas de montado ou a ele adjacentes<br />
(incluindo em particular os vales e linhas de água). Elaborar recomendações dos<br />
limites máximos de densidade de plantação nas acções de beneficiação ou<br />
arborização de montados, com sobreiro, azinheira ou pinheiro. As práticas florestais<br />
devem ser realizadas fora da época de nidificação, de forma a minimizar a<br />
perturbação. Promover a manutenção e recuperação de sistemas de agricultura e<br />
ovinicultura tradicionais e também do reordenamento da floresta portuguesa de modo<br />
a preservar e criar espaços florestais diversificados, tanto ao nível dos cobertos<br />
arbóreos como de outros, e a prevenir a ocorrência dos grandes incêndios florestais.<br />
Promover estudos do impacto provocado pelas infra-estruturas hidráulicas ao habitat<br />
da espécie. Fiscalizar as actividades cinegéticas especialmente durante a migração.<br />
Implementar normas de gestão cinegética nas áreas de habitat destas espécies em<br />
AC’s (Áreas de Caça). Diminuir actos de pilhagem de ninhos/juvenis através da<br />
vigilância activa das principais colónias no período de nidificação. Estudar o impacte<br />
das linhas eléctricas de transporte de energia sobre a espécie através da avaliação do<br />
impacte dos principais troços e determinação da perigosidade das linhas. Regular o<br />
uso de pesticidas e adoptar técnicas de pestes alternativas, como por exemplo utilizar<br />
substâncias mais facilmente degradáveis, cujo impacto ambiental não seja tão nefasto.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 111
Condicionar a instalação de parques eólicos nas áreas mais importantes para a<br />
migração da espécie no nosso país. Desenvolver campanhas de sensibilização para a<br />
conservação das aves de rapina e do seu habitat, junto a proprietários rurais,<br />
agricultores, pastores, caçadores, guardas e gestores de caça e público em geral.<br />
Desenvolver estudos sobre o impacte dos parques eólicos na avifauna durante os<br />
períodos de passagem migratória das aves. Monitorizar a espécie (distribuição e<br />
densidade), a selecção de habitat, a dinâmica populacional, dieta local e potencial<br />
impacte dos pesticidas na fertilidade (ICN, 2006a).<br />
Águia-de-Bonelli, Hieraetus fasciatus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. Ocorre no estuário do Tejo como<br />
invernante raro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie prioritária, com estatuto Em Perigo a nível nacional.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Em Perigo pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das<br />
convenções de Berna (Anexo II), Bona (Anexo II), CITES (Anexo II A) e das Directivas<br />
Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A águia-de-Bonelli possui uma distribuição indo-africana,<br />
numa extensa área desde a Indochina, Sul da Ásia, Médio Oriente, e em África a Norte<br />
e Sul do Sara até à bacia do Mediterrâneo (Rocamora, 1994). No Paleártico Ocidental<br />
encontra-se confinada à zona mediterrânica, nomeadamente na Albânia, Bulgária,<br />
Chipre, Croácia, Espanha, França, Grécia, Itália, Portugal e Turquia (Cramp e<br />
Simmons, 1980, BirdLife International/European Bird Census Council 2000). Em<br />
Portugal, a águia-de-Bonelli nidifica principalmente nas regiões montanhosas e nos<br />
vales alcantilados do nordeste, na Beira Baixa, no Alentejo e nas serras algarvias<br />
(Palma et al., 1999). Ocorre também de forma dispersa na faixa litoral centro, em<br />
alguns dos pequenos maciços montanhosos cársicos dessa zona. Diversas áreas do<br />
Baixo Alentejo, nomeadamente as vastas zonas estepárias, são regularmente<br />
utilizadas pela espécie como quartéis de dispersão e invernada de imaturos e subadultos<br />
(Pais, 1996).<br />
Habitat: Trata-se de uma espécie características dos ecossistemas mediterrâneos,<br />
ocorrendo em zonas de média e baixa montanha que combinem zonas tranquilas e<br />
protegidas em termos de nidificação com espaços de aproveitamento agro-silvopastoril<br />
onde se verifique abundância das suas principais presas. Os seus habitats de<br />
alimentação preferenciais no nosso país correspondem essencialmente a formações<br />
pré florestais de diferente composição e estrutura (matos esparsos, matagais<br />
mediterrâneos e bosques abertos), mas também outro tipo de habitats dependendo da<br />
disponibilidade de presas (montados de sobro e azinho, olivais, orlas de bosques).<br />
Dada a especialização na predação de aves, nomeadamente columbiformes, também<br />
explora zonas peri-urbanas, falésias litorais e escarpas montanhosas. Fora da época<br />
de nidificação recorre também a zonas húmidas, habitats estepários e outros<br />
associados a zonas de relevo suave (Cramp e Simmons, 1980). No Norte de Portugal<br />
nidifica principalmente em escarpas e noutros afloramentos rochosos e caça nos<br />
112<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
terrenos agro-pastorís, montados de azinho e matagais das redondezas (Fráguas,<br />
1999). Contudo, no Sul e nomeadamente nas serras do Sudoeste, existe uma<br />
população que ocupa habitats florestais ou de matagal arborizado e que nidifica<br />
maioritariamente em árvore – grandes sobreiros e eucaliptos (Palma et al., 1999) (ICN,<br />
2006a). No estuário do Tejo ocorre nas zonas de montado e lezírias (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
População: A nível Europeu tem sido assinalada uma drástica redução da população<br />
em diversas regiões nomeadamente França e na metade norte da Península Ibérica<br />
(Real et al.,1997). Em Portugal a população apresenta duas tendências demográficas<br />
distintas, no norte e centro litoral tem vindo a regredir apresentando parâmetros<br />
reprodutores muito baixos. Enquanto que no centro interior, Alentejo e Algarve<br />
apresenta alguma estabilidade com parâmetros reprodutores normais, e inclusive em<br />
algumas zonas tem sido detectado a instalação de novos casais (Palma com. pess.). A<br />
população nacional nidificante foi recenseada em 2000 e corresponde a 77-80 casais<br />
(Pais 2000), que se encontram distribuídos pelos seguintes núcleos: Bacia do Douro –<br />
30 casais, Estremadura – 4 casais, Bacia do Tejo – 8-10 casais, Bacias do Sado e<br />
Guadiana – 11 casais e Serras do Sudoeste – 24 casais (Palma et al., 1999) (ICN,<br />
2006a). A maioria das observações diz respeito a aves imaturas (Leitão et al., 1998).<br />
Factores de ameaça: A colisão e electrocussão em linhas aéreas de distribuição e<br />
transporte de energia uma vez que espécie possui muita actividade em zonas rurais e<br />
peri-urbanas, e utiliza frequentemente apoios eléctricos como poiso de caça e<br />
dormitório; A perseguição humana através do abate a tiro e da utilização de iscos<br />
envenenados, motivada por conflitos associados ao seu comportamento predatório,<br />
constitui um importante factor de mortalidade desta espécie; A rarefacção das<br />
populações de coelho-bravo provocado pelas epizootias mixomatose e pneumonia<br />
viral hemorrágica; O abandono e alteração de diversas práticas agro-pecuárias<br />
tradicionais, caso da cerealicultura, pastoreio extensivo, pombais tradicionais<br />
conduzem a uma diminuição das populações de presas; A perturbação humana em<br />
zonas de nidificação e durante os períodos mais sensíveis, provocada por actividades<br />
agro-silvicolas, actividades cinegéticas, turismo e lazer, conduz a um abaixamento da<br />
produtividade da população; Os incêndios florestais assumem forte impacte sobre a<br />
população devido à perda de habitat em especial nos núcleos nidificantes do sul do<br />
pais onde a espécie nidifica em árvores; A degradação dos habitats de nidificação e/ou<br />
alimentação devido à construção de infra-estruturas (barragens, parques eólicos,<br />
estradas), instalação de regadios, produção florestal, actividade de extracção de<br />
inertes; A competição com outras espécies, caso do Grifo e da Águia-real, em termos<br />
de locais de nidificação, nas zonas onde estas coexistem sempre que há pouca<br />
disponibilidade de afloramentos rochosos escarpados. A mortalidade de juvenis por<br />
doenças, nomeadamente devido à Tricomoniose transmitida a partir dos pombos,<br />
pode assumir grande importância para casais muito dependentes desse tipo de<br />
alimento; A falta de sensibilidade ambiental por parte de alguns sectores da população<br />
rural, como caçadores, criadores de gado, columbófilos, gestores florestais, que vêem<br />
nesta espécie um certo entrave para algumas actividades é a causa de conflitos que<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 113
levam à perseguição da espécie; A falta de conhecimento acerca dos processos da<br />
biologia e ecologia da espécie e dos seus factores de ameaça, tem acarretado<br />
problemas em termos de selecção e aplicação das mais adequadas estratégias de<br />
conservação (ICN, 2006a).<br />
Medidas de Conservação: Para assegurar a manutenção e recuperação da<br />
população nacional e melhorar a sua produtividade, é necessário a conservação das<br />
áreas de reprodução, alimentação e invernada/dispersão. Assim é necessário: Criar<br />
ferramentas de decisão legal acerca da instalação de traçados eléctricos nas zonas<br />
importantes para espécie (nidificação, invernada/dispersão); Corrigir e sinalizar os<br />
traçados e apoios da rede de distribuição de electricidade que sejam muito perigosos<br />
para a espécie; Monitorizar o impacte das linhas eléctricas de transporte de energia<br />
sobre os núcleos mais importantes da espécie; Ampliar as sanções legais para os<br />
prevaricadores em matéria de perseguição/abate de espécies protegidas; Aumentar<br />
eficácia dos meios e esforços de fiscalização e vigilância nas áreas de nidificação<br />
durante os períodos de nidificação; Elaborar e implementar planos de gestão nas<br />
ZPES mais importantes para a espécie; Promover a manutenção e valorização do<br />
mosaico agro-florestal nas áreas classificadas através de aplicação de programas de<br />
medidas agro-ambientais nos principais núcleos da espécie; Estabelecer programas<br />
de recuperação das populações de coelho-bravo fundamentadas no melhoramento<br />
dos recursos ecológicos desta espécie, e a título excepcional através da<br />
implementação de técnicas de repovoamento e reforço dos efectivos com controlo<br />
sanitário; Compatibilizar a gestão cinegética com a conservação da espécie, em zonas<br />
de caça através do estabelecimento de protocolos e implementação de manuais de<br />
gestão ambiental; Estabelecer um conjunto de acções de gestão e ordenamento<br />
florestal nas áreas mais importantes da espécie; Recuperar, repovoar, manter e<br />
proceder ao acompanhamento sanitário de pombais nas áreas mais importantes para<br />
a conservação da espécie; Implementar um programa nacional de erradicação do uso<br />
de venenos; Fornecer de alimentação suplementar aos casais e núcleos com maior<br />
carência e maior risco de desaparecimento; Reforçar e construir suportes e ninhos nos<br />
núcleos que nidificam em árvore ou em zonas com escassa disponibilidade de habitat<br />
de nidificação; Proceder ao tratamento de Tricomoniose nos núcleos mais afectados<br />
por esta doença; Realizar uma campanha nacional de sensibilização e educação<br />
ambiental da população rural relativamente às aves de rapina; Estabelecer sistemas<br />
eficazes de monitorização da população nas áreas problemáticas e/ou especialmente<br />
importantes para a população nacional; Colaborar em programas internacionais de<br />
conservação e estudo da espécie (ICN, 2006a).<br />
Família Pandionidae<br />
Águia-pesqueira, Pandion haliaetus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente e invernante. Ocorre no estuário do<br />
Tejo como invernante raro (Leitão et al., 1998).<br />
114<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Estatuto de Protecção: Em Portugal ocorrem duas populações: uma invernante com<br />
estatuto Em Perigo e outra residente, que na realidade é composta apenas por um<br />
indivíduo, com estatuto Criticamente em Perigo. A nível internacional é considerada<br />
uma espécie Rara pela BirdLife International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo II), Bona (Anexo<br />
II), CITES (Anexo II A) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie cuja área de ocorrência abrange todos os<br />
continentes à excepção da Antártida, embora as maiores áreas de distribuição se<br />
situem na América do Norte, na Ásia e na Europa (Cramp e Simmons, 1980). Nesta<br />
última região, ocorre sobretudo no Centro e Norte da Europa, podendo considerar-se<br />
relativamente comum na Escandinávia e Finlândia e em algumas regiões da Rússia.<br />
Na região Mediterrânica a espécie é mais rara e de ocorrência localizada (Cramp e<br />
Simmons, 1980). As populações setentrionais são em grande parte migradoras,<br />
invernando sobretudo nas zonas costeiras da África Ocidental, enquanto as<br />
populações meridionais são essencialmente residentes. A invernada na bacia<br />
mediterrânica é normalmente pouco importante (Cramp e Simmons, 1980). Em<br />
Portugal continental a águia-pesqueira inverna numa larga porção do território, em<br />
particular no Centro e Sul do país. São observados regularmente alguns indivíduos<br />
invernantes em várias zonas húmidas, do litoral e do interior, como açudes, barragens,<br />
pauis, lagoas costeiras e estuários. Outrora relativamente comum como nidificante ao<br />
longo da Costa Portuguesa, a Águia-pesqueira já nidificou desde a costa rochosa da<br />
Estremadura portuguesa (possivelmente até mesmo no Pinhal de Leiria) até à costa<br />
sul algarvia (zona de Albufeira) (Palma, 2001). Presentemente encontra-se<br />
virtualmente extinta como nidificante desde que, na época de reprodução de 1997, a<br />
fêmea do único casal morreu no ninho situado na costa Sudoeste. Desde então o<br />
macho tem sido observado regularmente nas imediações do ninho, mas, até à data,<br />
não voltou a ser observada a nidificação bem sucedida da espécie na costa<br />
Portuguesa (ICN, 2006a).<br />
Habitat: Sendo uma ave de rapina especialista que se alimenta apenas de peixe, a<br />
águia-pesqueira é totalmente dependente de reservas consideráveis de peixe onde<br />
possa pescar durante todo o ano (Cramp e Simmons, 1980; Saurola e Sablevicius<br />
1997). A população Mediterrânica é estritamente marinha frequentando<br />
essencialmente zonas costeiras, estuários, lagoas costeiras e albufeiras (Cramp e<br />
Simmons, 1980). As áreas de alimentação correspondem essencialmente às zonas<br />
costeiras, mas em condições climatéricas desfavoráveis (e.g. temporais, ventos fortes)<br />
são substituídas por zonas húmidas interiores como estuários, albufeiras e açudes. A<br />
área de pesca é geralmente afastada do ninho podendo ser partilhada por vários<br />
indivíduos (Cramp e Simmons, 1980). Faz o ninho em falésias e ilhéus rochosos<br />
(Rufino 1989) utilizando ramos, ervas e mesmo desperdícios de redes de pesca ou<br />
outros detritos (ICN, 2006a). No estuário do Tejo frequenta águas livres do estuário,<br />
salinas e pisciculturas (Leitão et al., 1998).<br />
População: Em termos globais, a Águia-pesqueira não se encontra ameaçada. No<br />
entanto, durante o século XIX e princípio do século XX a espécie sofreu uma forte<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 115
egressão da sua área de distribuição europeia tendo desaparecido nalguns países da<br />
Europa Central e apresentando uma situação bastante precária nos países<br />
Mediterrânicos (Tomialojc 1994). De acordo com Palma (2001), a regressão desta<br />
espécie em Portugal decorreu durante o século XX de forma bastante acentuada. No<br />
princípio do século a população nidificante terá atingido os 22-30 casais, e nos finais<br />
dos anos setenta já só existiam dois casais activos. A partir de 1991 a população ficou<br />
reduzida a um casal e em 1997 a um único macho, que conseguiu emparelhar com<br />
uma nova fêmea em 2000, sem que no entanto se tenham reproduzido. Assim, podese<br />
considerar que actualmente a espécie se encontra em situação de pré-extinção<br />
como nidificante, ocorrendo sobretudo de passagem ou durante o Inverno. Nos últimos<br />
dez anos a população nidificante da espécie esteve reduzida a um casal nidificante<br />
que entretanto desapareceu. A ocorrência desta espécie durante o Inverno em<br />
Portugal é relativamente rara, com efectivos que não devem ultrapassar as duas<br />
dezenas de indivíduos (Costa et al., 1999). Apresenta no entanto carácter regular ao<br />
longo dos anos, em vários locais. A população do invernante do estuário do Tejo é<br />
geralmente constituída por 2 a 3 aves (Leitão et al., 1998). Durante as contagens de<br />
Inverno realizadas no mês de Janeiro foram observadas 2 águias-pesqueias em 1993,<br />
nenhuma em 1995 e 1 indivíduo em 1996 (Costa e Rufino 1993, 1995 e 1996). Nos<br />
Invernos de 2004/05 e 2005/06 foram observadas respectivamente, 3 e 2 aves<br />
(Encarnação, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: A baixa capacidade de recrutamento de indivíduos reprodutores<br />
da população nacional constitui o principal problema de conservação desta espécie.<br />
Dada a acentuada filopatria revelada por esta espécie e a fragilidade demográfica das<br />
populações mediterrânicas a probabilidade de vir a ocorrer a recuperação natural da<br />
espécie na costa portuguesa é reduzida. O uso recreativo intensivo da orla costeira<br />
associado ao aumento das áreas urbanas e turísticas e rede viária ao longo da costa<br />
resulta na perturbação e degradação dos locais de nidificação (Palma e Beja, 1999). A<br />
perturbação associada às actividades recreativas é especialmente intensa durante os<br />
meses de Verão. O acesso desordenado a pesqueiros ao longo da costa por<br />
pescadores locais constitui igualmente um factor de perturbação importante para<br />
indivíduos que possam vir a estabelecer-se como nidificantes. A perturbação<br />
associada à pesca é particularmente preocupante já que a época de maior actividade<br />
piscatória coincide com o período mais crítico da época de nidificação da águiapesqueira<br />
(Palma, 2001). A morte acidental em fios de pesca abandonados por<br />
pescadores à linha nas falésias e o abate ilegal (Palma, 2001). A sobre-exploração<br />
dos recursos piscícolas pode provocar a diminuição dos recursos alimentares<br />
disponíveis ou até mesmo o esgotamento da principal fonte de alimento desta espécie<br />
(Tomialojc, 1994; Palma, 2001). A poluição da água em meios marinhos e<br />
dulciaquícolas, por efluentes domésticos, industriais e agrícolas, intervém directa e<br />
indirectamente nas populações de águia-pesqueira, pelo aumento da mortalidade,<br />
redução da capacidade reprodutora por acumulação de mercúrio e organoclorados, e<br />
diminuição das populações piscícolas (Tomialojc, 1994) (ICN, 2006a).<br />
116<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Medidas de Conservação: A conservação da águia-pesqueira em Portugal passa<br />
pelo restabelecimento da população nidificante, a manutenção da população<br />
invernante e garantir a conservação do habitat favorável à nidificação e alimentação<br />
da espécie. Para tal é necessário: Proceder ao reforço demográfico através da<br />
transferência de juvenis de populações dadoras para a costa portuguesa; Monitorizar<br />
regularmente os troços da costa com ocupação histórica de águia-pesqueira e dos<br />
últimos ninhos conhecidos, a fim de maximizar a capacidade de detecção de casais<br />
que venham eventualmente a estabelecer-se na costa portuguesa; Melhorar o habitat<br />
de nidificação através da instalação de ninhos artificiais, a fim de atrair potenciais<br />
casais nidificantes para áreas do litoral com perturbação reduzida; Controlar rigorosa e<br />
eficazmente a expansão urbano-turística; Implementar o ordenamento e a gestão dos<br />
acessos a pesqueiros ao longo da costa, principalmente nos troços com ocupação<br />
histórica da águia-pesqueira; Regulamentar e fiscalizar com rigor as actividades de<br />
pesca à linha nas falésias e do acesso do público em geral nas imediações dos ninhos<br />
antigos e locais ainda activos, por meio de restrições espaciais e sazonais; Fiscalizar a<br />
actividade piscatória; Aumentar a disponibilidade alimentar através do repovoamento<br />
piscícola de açudes e albufeiras costeiras e/ou fornecimento de alimentação<br />
suplementar aos indivíduos residentes; Implementar uma política eficaz de tratamento<br />
e fiscalização dos efluentes industriais, agrícolas e urbanos, e suas descargas no meio<br />
hídrico; Fiscalizar eficazmente a orla costeira, de forma a impedir o lançamento de<br />
hidrocarbonetos para o mar, incluindo as limpezas de tanques; Sensibilizar os<br />
pescadores, os caçadores, os gestores de aquiculturas e a população em geral para a<br />
conservação desta espécie (ICN, 2006a).<br />
Açor, Accipiter gentilis<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente.<br />
Estatuto de Protecção: Espécie com estatuto Vulnerável a nível nacional. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das<br />
convenções de Berna (Anexo II), Bona (Anexo II) e CITES (Anexo II A) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A área de distribuição desta espécie é muito vasta,<br />
estendendo-se de modo contínuo por grande parte do Holártico (del Hoyo et al., 1994).<br />
O açor distribui-se por uma área bastante grande em Portugal continental, a qual<br />
deverá ser superior àquela que é evidenciada no atlas de Rufino (1989) ou no Novo<br />
Atlas (ICN dados não publicados). Este facto deve-se á dificuldade da metodologia dos<br />
atlas em representar a dispersão real no terreno de algumas espécies, nomeadamente<br />
as aves florestais de comportamento mais discreto. No Centro e Norte do país a<br />
distribuição do açor é mais contínua da que vem representada no atlas e tem uma<br />
população mais densa. A espécie também existe em largas áreas do Sul (Alentejo e<br />
serras algarvias), embora a sua presença aqui seja bastante mais dispersa, bem como<br />
a sua densidade (Palma et al., 1999a), encontrando-se ausente nalgumas regiões<br />
(ICN, 2006).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 117
Habitat: No Sul de Portugal o açor encontra-se quase sempre em barrancos<br />
arborizados de cursos de água, mas algumas zonas, como na Comporta, cria também<br />
em pinhal bravo e terrenos planos. No centro e Norte do país o principal habitat de<br />
nidificação da espécie é composto por pinhais bravos adultos e possuidores de<br />
árvores de grande porte, por bosques e bosquetes de folhosas autóctones (e.g.<br />
carvalhais maduros) e, por vezes, eucaliptais. Circundantes às formações arbóreas<br />
onde nidifica, encontram-se terrenos abertos de mato, culturas agrícolas e pastagens<br />
(Rufino, 1989; Pimenta e Santarém, 1996; Silva, 1998), onde tende a caçar perto das<br />
orlas. Evita as paisagens demasiado compartimentadas ou demasiado contínuas<br />
(Rufino, 1989), mas em áreas predominantemente florestais, como na região de Mira<br />
ou o pinhal de Leiria (onde a cobertura de pinhal é superior a 85%), quantificaram-se<br />
ainda assim densidades de açores da ordem de 4-5 casais (Petronilho, 2001a) e 2-3<br />
casais (Onofre et al., 1999) por km 2 (ICN, 2006).<br />
População: Tal como para grande parte das aves de rapina florestais do país, nunca<br />
se fez um censo específico e completo para esta espécie a nível nacional, com base<br />
em amostragem e metodologia apropriadas. A única estimativa existente é a de Palma<br />
et al. (1999a), a qual apontava para uma população de 200-300 casais, que se pensa<br />
estar em declínio, devido à destruição e escassez crescente do seu habitat preferido,<br />
os pinhais bravos. Atendendo à grande perda de pinhal que se tem verificado nos<br />
últimos anos devido a incêndios florestais e que em 2003 tiveram uma incidência<br />
particularmente grave, é provável que uma parte não desprezável da população<br />
indicada por Palma et al. (1999a) tenha sido directamente afectada (ICN, 2006). No<br />
estuário do Tejo existem 3 registos da espécie na zona de Pancas durante o Inverno<br />
de 1990/91 (Leitão et al., 1998).<br />
Factores de ameaça: Os incêndios florestais que destroem áreas mais ou menos<br />
vastas de pinhal e outro arvoredo maduro são a principal ameaça para o açor em<br />
Portugal. A par deste factor de destruição, a reconversão para eucaliptal de curta<br />
rotação das antigas manchas de pinhal das serras da região Centro limita<br />
grandemente a adequação do habitat para efeitos de nidificação. Com efeito, salvo<br />
alguns exemplares de grande porte, a maioria dos eucaliptos e em particular os das<br />
plantações florestais, devido ao tipo de inserção e à fragilidade dos seus ramos, não<br />
providenciam as melhores condições para o suporte ninhos (González 2004, Onofre<br />
dados não publicados) (LV 2006). O corte de povoamentos ou árvores onde a espécie<br />
nidifica, a perseguição através do abate directo, destruição dos ninhos e o roubo de<br />
crias são outros factores que afectam a população portuguesa. Por se tratar de um<br />
predador essencialmente ornitófago, o açor é uma espécie potencialmente vencível<br />
aos efeitos dos pesticidas e metais pesados, que poderão afectar o sucesso<br />
reprodutivo. Por outro lado, sendo os pombos uma presa muito frequente na sua dieta,<br />
como acontece na região de Mira (Petronilho e Vingada, 2002), é provável que se<br />
verifique alguma morbilidade e mortalidade em resultado de Tricomoníase e<br />
Candidíase (LV 2006).<br />
Medidas de Conservação: As medidas de conservação da espécie prendem-se<br />
fundamentalmente com as politicas florestais de reordenamento, gestão e<br />
118<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
epovoamento florestal e de prevenção de incêndios. Importa promover espaços<br />
florestais diversificados, tanto ao nível dos cobertos arbóreos como de outros, e<br />
prevenir a ocorrência dos grandes incêndios florestais. Adicionalmente, Manual de<br />
Boas Práticas Florestais deverá incorporar num futuro próximo medidas com vista à<br />
conservação das aves de rapina e do seu habitat, para além de outros valores<br />
naturais. Deve ainda ser dinamizada a reflorestação com folhosas naturais e a<br />
conversão dos bosques e bosquetes de carvalhos (puros ou mistos), através da<br />
sensibilização ao recurso generalizado de medidas agro-ambientais apropriadas. A<br />
reconversão para eucaliptal das antigas áreas de pinhal deve ser desencorajada, não<br />
devendo a rearborização com pinheiro bravo ser apoiada. Devem ser desenvolvidas<br />
campanhas de educação ambiental junto aos proprietários e gestores florestais e<br />
cinegéticos, madeireiros, resineiros, com vista à sensibilização destes para a<br />
conservação das aves de rapina. Importa ainda reforçar a fiscalização e tornar a<br />
aplicação da lei mais efectiva, relativamente às infracções e crimes contra a natureza<br />
e as aves de rapina em particular. Urge realizar estudos sobre a biologia e ecologia da<br />
espécie, que são praticamente inexistentes e a realização de censos ou programas de<br />
monitorização periódicos (ICN, 2006).<br />
Gavião, Accipiter nisus<br />
Fenologia: Residente em Portugal continental e no arquipélago da Madeira.<br />
Estatuto de Protecção: Espécie com estatuto Pouco Preocupante a nível nacional. A<br />
nível internacional é considerada Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída<br />
nos anexos das convenções de Berna (Anexo II), Bona (Anexo II), CITES (Anexo II A)<br />
e a sub espécie A. n. granti está incluída nas Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I)<br />
(ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A espécie apresenta uma boa distribuição na metade<br />
Norte do país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Espécie típica de paisagens em mosaico, com um misto de bosquetes e<br />
zonas agrícolas ou pousios. Evita grandes manchas florestais bem como as zonas<br />
pouco arborizadas (Rufino, 1989).<br />
População: A população nacional de gavião foi estimada em 100 a 1.000 casais,<br />
apresentando uma maior abundância no Norte do país (Rufino, 1989). No estuário do<br />
Tejo o gavião possui dois registos recentes, dois indivíduos em Pancas (2 de Outubro<br />
de 1990) e um indivíduo na ponta da Erva (5 de Novembro de 1990) (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Família Falconidae<br />
Peneireiro-vulgar, Falco tinnunculus<br />
Fenologia: Residente em Portugal continental e na Madeira. Ocorre no estuário do<br />
Tejo como residente nidificante raro e invernante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie com estatuto Pouco Preocupante a nível nacional. A<br />
nível internacional é considerada Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 119
nos anexos das convenções de Berna (Anexo II), Bona (Anexo II) e CITES (Anexo II<br />
A) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: O peneireiro-vulgar distribui-se amplamente por todo o<br />
país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta uma grande diversidade de habitats, tanto em planície como em<br />
planalto ou em zona montanhosas. Ocorre em terrenos agrícolas intensivos e<br />
extensivos, com árvores dispersas ou na proximidade de bosquetes ou florestas.<br />
Nidifica ainda nas zonas nas zonas alcantiladas, da costa ou do interior. Encontra-se<br />
ausente das grandes manchas florestais (Rufino, 1989). Frequenta as zonas de<br />
montado aberto, lezírias, sapais (Leitão et al., 1998) e salinas.<br />
População: A população nacional foi estimada em cerca de 1.000 a 10.000 aves<br />
(Rufino, 1989). Espécie regular na zona de Pancas. Na Ponta da Erva, o número de<br />
indivíduos é variável, sendo consideravelmente superior no Outono e Inverno. A<br />
população nidificante na área estudada deverá ser constituída por 1 ou 2 casais<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Esmerilhão-comum, Falco columbarius<br />
Fenologia: Invernante em Portugal. Ocorre no estuário do Tejo como invernante raro<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie com estatuto Vulnerável a nível nacional. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das<br />
convenções de Berna (Anexo II), Bona (Anexo II), CITES (Anexo II A) e das Directivas<br />
Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Tem uma vasta distribuição, essencialmente circumpolar<br />
no Holártico como nidificante. Á excepção de um pequeno número de populações, as<br />
restantes populações são migradoras. Embora as populações ocidentais invernam<br />
fundamentalmente na Europa, em regra as áreas de invernada não se sobrepõem às<br />
áreas de nidificação (del Hoyo et al., 1994). A região circum-mediterrânea (por<br />
exemplo a Península Ibérica e Itália) não parece assumir muita importância como<br />
quartel de Inverno (ao contrário do que acontece na região europeia central) e são<br />
poucos os indivíduos que chegam ao Norte de África (de Juana et al., 1988; Cramp<br />
1998). Em Portugal continental, o esmerilhão ocorre em praticamente em todo o<br />
território (Costa et al., 1996). Não obstante a ainda deficiente cobertura geográfica e a<br />
possibilidade de algum enviasamento nas observações registadas, a espécie tende a<br />
ocorrer com maior frequência no baixo Tejo, a sul deste rio e junto ao litoral. Segundo<br />
Costa et al., (1996), esta tendência poderá ser explicada pelo facto de o esmerilhão<br />
ser essencialmente ornitófago e procurar regiões e locais ricos em aves, como as<br />
zonas húmidas e os terrenos agrícolas das extensas planícies alentejanas (ICN,<br />
2006).<br />
Habitat: O habitat onde a espécie ocorre em Portugal é constituído por culturas de<br />
sequeiro, pousios e pastagens, principalmente no Sul, lezírias, albufeiras, pauis,<br />
120<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
prados costeiros e prados de montanha (Costa 1995, Costa 1998e, Costa et al., 1996).<br />
No estuário do Tejo ocorre na zona das lezírias e sapal (Leitão et al., 1998).<br />
População: A informação sobre o efectivo de esmerilhão que inverna em Portugal é<br />
muito reduzida. Parece no entanto consensual que é baixa a abundância de<br />
esmerilhões a invernarem no país, tendo em conta o número de registos mais<br />
recentes, estimando-se que a população invernante esteja compreendida entre 50 e<br />
250 indivíduos. Segundo Costa et al., (1996) e Costa (1998e) de grosso modo são<br />
observados em média 10 a 3 indivíduos por ano, mas devido à conspicuidade da<br />
espécie, ao seu reduzido tamanho e comportamento estes valores devem estar<br />
subestimados. No estuário do Tejo no período entre 1983/84 e 1993/94 foram<br />
observados 12 aves, das quais 7 ocorreram no estuário e 5 nas lezírias (Costa et al.,<br />
1996).<br />
Factores de ameaça: O continuado declínio dos sistemas de exploração tradicional<br />
agrícola e a sua sub-distribuição por culturas agrícolas ou florestais de carácter<br />
intensivo ou mesmo o mero abandono e conversão para matos degradados, pode vir a<br />
ter implicações negativas para a espécie a médio e longo prazo. O uso abusivo e<br />
desregrado de pesticidas pode constituir uma ameaça para as populações cujos<br />
indivíduos vêm invernar no nosso país, em face aos efeitos nefastos da bioacumulação<br />
no seu organismo e no sucesso reprodutor. O abate a tiro constitui<br />
igualmente uma ameaça para esta espécie, pois a sua estadia coincide com a época<br />
venatória (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: Campanhas de sensibilização ambiental e de<br />
conservação da fauna, em particular das aves de rapina e outros predadores, dirigidas<br />
quer a agricultores, caçadores, guardas e gestores de caça, quer ao público em geral.<br />
Sensibilização dos agricultores para a adopção de boas práticas agrícolas. Divulgação<br />
e incentivo ao recurso mais generalizado das Medidas Agro Ambientais junto dos<br />
proprietários e produtores agrícolas. Tendo em vista a manutenção de habitat<br />
favorável desta espécie, as acções de arborização de terras agrícolas marginais<br />
deverão ser efectuadas com folhosas autóctones (sobreiros e azinheiras), e em<br />
densidades não muito elevadas. É importante realizar censos que permitam conhecer<br />
os efectivos médios anuais que visitam o país no Inverno, identificar as regiões ou<br />
áreas de maior importância para a espécie e estudar temas como a selecção de<br />
habitat e alimentação invernal (ICN, 2006).<br />
Ógea, Falco subbuteo<br />
Fenologia: Estival nidificante em Portugal. Ocorre no estuário do Tejo como migrador<br />
de passagem raro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie com estatuto Vulnerável a nível nacional. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das<br />
convenções de Berna (Anexo II), Bona (Anexo II) e CITES (Anexo II A) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie de distribuição sobretudo Euro-asiática como<br />
nidificante, embora também exista no Norte de África (Marrocos e Tunísia), e que<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 121
ocorre de modo contínuo desde a Península Ibérica, e Reino Unido até ao leste da<br />
Sibéria e da China, e ainda no Kamchatka, ilhas Sacalinas e norte do Japão. De Norte<br />
a Sul, estende-se do Circulo Polar Árctico até ao Mediterrâneo, Ásia menor, região do<br />
Turquemenistão e Tajiquistão e Sudoeste da China (del Hoyo et al., 1994). Á<br />
excepção de uma pequena região no sul da China e nordeste da Indochina, onde a<br />
espécie é residente todo o ano, as restantes populações são migradoras, invernando<br />
no sul de África e no norte do sub-continente indiano (del Hoyo et al., 1994, Cramp<br />
1998). Em Portugal, ocorre em grande parte do país, com excepção das regiões<br />
demasiado desarborizadas do leste alentejano e em parte da região Norte, em<br />
particular no Douro litoral, onde é escasso ou está mesmo ausente (Rufino 1989,<br />
Palma et al.,1999a, ICN dados não publicados) (ICN, 2006).<br />
Habitat: Em Portugal aparece tanto em terrenos planos, inclusive junto do litoral, como<br />
nas zonas serranas, sempre que o habitat lhe é propício. Assim, no Norte e no Centro<br />
ocorre principalmente em paisagens mistas de pequenos bosques (pinhas, carvalhais<br />
e bosquetes ripícolas), e de terrenos abertos (campos agrícolas, pastagens, pousios,<br />
pauis, lagoas e outras zonas húmidas ou matos) (Rufino 1989; Pimenta e Santarém<br />
1996; Silva 1988). Poderá aparecer em áreas florestais mais extensas, mas neste<br />
caso tende a localizar-se perto destas manchas, contíguas a amplos terrenos abertos,<br />
como acontece no pinhal de Leiria (Onofre et al., 1999). No Sul aparece<br />
principalmente nas zonas de montado de sobro e em áreas de povoamentos mistos<br />
(com pinheiro bravo e manso), usualmente com clareiras agrícolas e pastagens nas<br />
proximidades, ao mesmo tempo evita os montados mais ralos e não aparece nos<br />
terrenos pouco arborizados no geral (Onofre e Palma 1986, Rufino 1989) (ICN, 2006).<br />
No estuário do Tejo surge sobretudo nos montados, lezírias e salinas (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
População: O curto período de permanência da espécie em Portugal (de Abril a<br />
Agosto) e a sua reduzida conspicuidade, tornam difícil a obtenção de estimativas do<br />
seu efectivo populacional. No entanto tendo em conta as observações no decurso dos<br />
trabalhos do Novo Atlas (ICN, dados não publicados), estima-se que a sua população<br />
poderá ser inferior a 1.000 indivíduos (ICN, 2006).<br />
Factores de ameaça: A destruição, degradação e simplificação do habitat, devido a<br />
incêndios, arborizações massivas com eucalipto, destruição de bosquetes ribeirinhos e<br />
de outras linhas ou cortinas de arvoredo, bem como o abandono agrícola, constituem<br />
sem dúvida uma ameaça importante à espécie, em particular no Norte e Centro do<br />
país. O abate de gralha-preta, para correcção de densidade ou a sua eventual<br />
integração na lista de espécies cinegéticas exploráveis, poderá afectar negativamente<br />
este falcão, pois diminuirá a disponibilidade de plataformas naturais de nidificação em<br />
árvore a médio prazo. Á semelhança do que está referido para Doňana (Palacín,<br />
2003), não será de excluir que em Portugal a utilização de pesticidas afecte a<br />
produtividade da espécie. As actividades florestais que levam ao corte de árvores com<br />
ninhos ou que de outro modo perturbam o desenrolar do processo reprodutivo da<br />
espécie, afectam também o sucesso reprodutor da espécie indirecta ou directamente.<br />
O abate ilegal, o roubo de ninhos, a colisão e a electrocussão em linhas eléctricas,<br />
122<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
podem ainda constituir factores de ameaça, embora a sua relevância não esteja<br />
quantificada (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: Campanhas de sensibilização ambiental e de<br />
conservação da fauna, em particular das aves de rapina e outros predadores, dirigidas<br />
quer a agricultores, caçadores, guardas e gestores de caça, quer ao público em geral.<br />
Sensibilização dos agricultores para a adopção de boas práticas agrícolas. Deve ser<br />
reforçada a fiscalização e a aplicação da lei deve ser mais efectiva relativamente às<br />
infracções e crimes contra as aves de rapina em particular. Divulgação e incentivo ao<br />
recurso mais generalizado das Medidas Agro Ambientais junto dos proprietários e<br />
produtores agrícolas. Para as regiões Centro e Norte e nas serras do Sul, e à<br />
semelhança do proposto para outras aves de rapina de ecologia florestal, as medidas<br />
de conservação para esta espécie prendem-se ainda com politicas florestais de<br />
reordenamento, gestão e repovoamento florestal e de prevenção de incêndios. Não<br />
deverá ser permitida a inclusão da gralha-preta como espécie cinegética explorável no<br />
calendário venatório. É importante realizar censos que permitam melhorar a estimativa<br />
populacional e assegurar a sua monitorização. Devem ainda ser estudados aspectos<br />
da sua biologia e ecologia, nomeadamente a selecção do habitat e interdependência<br />
coma gralha-preta, níveis de toxicidade e sucesso reprodutivo. Monitorizar a<br />
mortalidade da espécie ao longo das linhas eléctricas (ICN, 2006).<br />
Falcão-peregrino, Falco peregrinos<br />
Fenologia: Residente em Portugal. Ocorre no estuário do Tejo como migrador de<br />
passagem e invernante raro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie com estatuto Vulnerável a nível nacional. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das<br />
convenções de Berna (Anexo II), Bona (Anexo II), CITES (Anexo I A) e das Directivas<br />
Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie de distribuição quase mundial (com excepção<br />
da Antártida), que, nidifica na maioria dos países da Europa (Snow e Perrins 1998,<br />
BirdLife International/European Bird Census Council, 2000). O seu estatuto migrador<br />
está relacionado com a latitude a que cria, sendo os indivíduos escandinavos<br />
migradores, ao passo que os sul-europeus são sedentários, efectuando apenas<br />
dispersões locais. As áreas de invernada estendem-se desde a Europa Central até<br />
África, a sul do Equador (Cramp e Simmons, 1980). Em Portugal distribui-se por todos<br />
os principais maciços montanhosos do país, assim como pelos vales escarpados do<br />
nordeste, e ao longo de toda a franja litoral centro e sul (Rufino, 1989). As aves<br />
invernantes e dispersantes ocorrem por grande parte do território mas com maior<br />
frequência nas vastas áreas estepárias do Alentejo (ICN, 2006a).<br />
Habitat: Nidifica em arribas marítimas, também em ilhas rochosas ou em precipícios<br />
em zonas montanhosas, e ao longo de vales de rios. Dado a sua adaptabilidade, e em<br />
situações sem perturbação, encontra-se por vezes em estruturas construídas pelo<br />
Homem altas e inacessíveis, como torres, ruínas, antenas e pontes. Evita zonas com<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 123
intensa actividade humana, ou florestas densas, pântanos com vegetação densa,<br />
extensas áreas de planície e zonas agrícolas, e áreas abertas e extensas de água.<br />
Requer extensos campos abertos para caçar, incluindo biótopos estepárias, zonas<br />
húmidas e arribas costeiras. Caça também nas proximidades de encostas escarpadas<br />
e falésias aproveitando a surpresa e o desnível para alcançar as suas presas em voo.<br />
No Inverno o falcão-peregrino está associado a zonas abertas com abundância de<br />
presas, o que no Baixo Alentejo corresponde geralmente às proximidades de zonas<br />
húmidas (estuários, vales de rios e barragens) (Cramp e Simmons, 1980; Santos<br />
1998) (ICN, 2006a). Ocorre no estuário do Tejo em lezírias, salinas e sapais (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
População: Apesar da escassa informação quantitativa anterior ao primeiro censo<br />
nacional da espécie realizado em 2001 e 2002 é provável que nos últimos 10 anos a<br />
população nacional tenha apresentado alguma estabilidade ou aumento,<br />
nomeadamente terá ocorrido a reinstalação de alguns casais. Esta tendência é similar<br />
à detectada em outros países europeus, entre os quais Espanha (Gainzarain et al.,<br />
2003). Estima-se que a população actual esteja compreendida entre 75 e 110 casais.<br />
De acordo com Costa et al., (2003), as IBA’s nacionais (excluindo a da Costa<br />
Sudoeste, para a qual não são dados valores), totalizam 45-71 casais. No Parque<br />
Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina foram identificados 21-23<br />
casais/territórios no (Alcazar et al., 2003). Dados recentes apontam ainda para um<br />
mínimo adicional de 12-18 territórios no litoral rochoso entre Lagos e Portimão, entre a<br />
serra da Arrábida e o Cabo Mondego e para mais alguns locais do país onde a<br />
espécie tem sido observada (ICN, em prep.) (ICN, 2006a).<br />
Factores de ameaça: O aumento da utilização de agro-químicos intervém<br />
indirectamente nas populações do falcão-peregrino. Sendo ornitófago e situando-se no<br />
topo da cadeia trófica, acumula no seu organismo os produtos tóxicos que consome<br />
através das suas presas. A perseguição humana através do abate a tiro e utilização de<br />
iscos envenenados, motivada por conflitos associados ao seu comportamento<br />
predatório, constitui um importante factor de mortalidade desta espécie; A pilhagem de<br />
ninhos e o roubo de juvenis, para a falcoaria, continuam a ser factores importantes que<br />
intervêm na diminuição da produtividade das colónias; A perturbação humana em<br />
zonas de nidificação e durante os períodos mais sensíveis, provocada por actividades<br />
de turismo e lazer, actividades cinegéticas, conduz ao abandono de territórios e<br />
abaixamento da produtividade da população; O abandono e alteração de diversas<br />
práticas agro-pecuárias tradicionais, caso da cerealicultura, pastoreio extensivo,<br />
pombais tradicionais conduzem a uma diminuição das populações de presas; A<br />
colisão e electrocussão em linhas aéreas de distribuição e transporte de energia; A<br />
degradação dos habitats de nidificação e/ou alimentação devido à construção de infraestruturas<br />
(barragens, parques eólicos, estradas), instalação de regadios, produção<br />
florestal, actividade de extracção de inertes; As doenças dos pombos (por exemplo, a<br />
Candidíase Tricomoníase, etc.). Como outras aves ornitófagas, este falcão pode ser<br />
afectado por morbilidade e mortalidade causadas pelas doenças daquelas aves. A<br />
instalação de parques eólicos nas proximidades dos locais de nidificação da espécie<br />
124<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
está considerada como uma ameaça importante devido à perturbação provocada quer<br />
durante a fase de construção quer durante a fase de exploração, e devido à colisão<br />
nas pás dos aerogeradores (ICN, 2006a).<br />
Medidas de Conservação: Para assegurar a manutenção e recuperação da<br />
população nacional da espécie, é necessário melhorar a produtividade reprodutiva da<br />
população, bem como a conservação das áreas de reprodução, alimentação e<br />
invernada/dispersão. Para tal será necessário: Regular o uso de pesticidas e promover<br />
a utilização de substâncias mais facilmente degradáveis, Aumentar eficácia dos meios<br />
e esforços de fiscalização e vigilância nas áreas de nidificação durante os períodos de<br />
nidificação; Restringir o acesso às áreas de nidificação importantes e ordenar as e<br />
actividades radicais em escarpas, dada a vulnerabilidade da espécie à perturbação;<br />
Ampliar as sanções legais para os prevaricadores em matéria de perseguição/abate<br />
de espécies protegidas; Elaborar e implementar planos de gestão nas ZPES mais<br />
importantes para a espécie; Promover a manutenção e valorização do mosaico agroflorestal<br />
nas áreas classificadas através de aplicação de programas de medidas agroambientais<br />
nos principais núcleos da espécie; Recuperar, repovoar, manter e proceder<br />
a acompanhamento sanitário de pombais nas populações de falcão-peregrino do<br />
nordeste do País; Criar ferramentas de decisão legal acerca da instalação de traçados<br />
eléctricos nas zonas importantes para espécie (nidificação, invernada/dispersão);<br />
Corrigir e sinalizar os traçados e apoios da rede de distribuição de electricidade que<br />
sejam muito perigosos para a espécie; Condicionar a instalação de parques eólicos<br />
nas áreas mais importantes para a espécie no nosso país; Todos os parques eólicos<br />
devem ser equipados com sinalizadores anti-colisão e armações de apoios seguras<br />
para aves; Promover campanhas de sensibilização ambiental e de conservação da<br />
fauna, em particular das aves de rapina, dirigidas a caçadores, guardas e gestores de<br />
caça, afim de minimizar ou erradicar o abate ilegal e roubo de ninhos; Sensibilizar os<br />
agricultores para a adopção de boas práticas agrícolas, tanto em termos da<br />
racionalização no emprego de pesticidas, como da utilização preferencial pela luta<br />
integrada e de produtos de mais rápida e inofensiva degradação; Desenvolver estudos<br />
de monitorização do impacte dos aerogeradores já existentes, tendo em conta a sua<br />
localização geográfica, a sua situação em termos de habitats e a sua tipologia de<br />
equipamento, de forma a conhecer o seu efeito na população nacional destas aves;<br />
Estabelecer sistemas eficazes de monitorização da população nas áreas<br />
problemáticas e/ou especialmente importantes para a população nacional; Colaborar<br />
em programas internacionais de conservação e estudo da espécie (ICN, 2006a).<br />
1.3.2.2.6 Ordem Galliformes<br />
Família Phasianidae<br />
Perdiz, Alectoris rufa<br />
Fenologia: Residente nidificante em Portugal continental e ilhas. Ocorre no estuário<br />
do Tejo como uma espécie residente nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 125
Estatuto de Protecção: Espécie com estatuto Pouco Preocupante em Portugal<br />
continental, nos arquipélagos dos Açores e da Madeira tem o estatuto de Não<br />
Aplicável. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela<br />
IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo III), das<br />
Directivas Aves/Habitats (Anexo D) e na Lei de Bases de Caça (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A perdiz apresenta uma distribuição muito alargada no<br />
país, sendo mais no Sul do que no Norte (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Espécie típica de culturas cerealíferas em confluência com áreas de mato e<br />
pousios (Rufino, 1989). No estuário do Tejo, frequenta áreas florestais, principalmente<br />
montados abertos, bem como nos terrenos agrícolas adjacentes. Ocorre na mancha<br />
florestal entre o Porto Alto e Alcochete, onde nidifica, observando-se na lezíria apenas<br />
esporadicamente (Leitão et al., 1998).<br />
População: As densidades de perdiz no estuário do Tejo, em 1991/1992, raramente<br />
ultrapassaram 0,3 aves/10ha.<br />
Factores de ameaça: A caça excessiva constitui a principal ameaça para a população<br />
(Rufino, 1989).<br />
Medidas de Conservação: Esta espécie cinegética encontra-se protegida por<br />
legislação nacional e internacional, não tendo sido alvo de acções específicas de<br />
conservação.<br />
Codorniz, Coturnix coturnix<br />
Fenologia: Em Portugal continental surgem como Invernantes, estivais nidificantes, e<br />
residentes, nas ilhas ocorrem como estivais nidificantes, e residentes. No estuário do<br />
Tejo a codorniz é uma espécie estival nidificante comum e invernante rara (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie com estatuto Pouco Preocupante em Portugal<br />
continental e arquipélago da Madeira e nos Açores tem o estatuto de Informação<br />
Insuficiente. A nível internacional é considerada uma espécie Depauperada pela<br />
BirdLife International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos<br />
anexos das convenções de Berna (Anexo III), de Bona (Anexo II), das Directivas<br />
Aves/Habitats (Anexo D) e na Lei de Bases de Caça (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A distribuição mundial da espécie inclui a Europa, a<br />
Ásia, e a África. A população europeia tem registado flutuações marcadas, com<br />
tendência para a espécie se expandir para norte e para oeste em anos de elevadas<br />
abundâncias (Cramp e Simmons, 1980). Em Portugal continental é uma espécie<br />
abundante e com distribuição alargada. Ocorre ainda nas ilhas da Madeira e Porto<br />
Santo. Nos Açores, segundo Bannerman e Bannerman (1966) ocorrem as<br />
subespécies C. c. coturnix e C. c. conturbans, a primeira com estatuto migratório e a<br />
segunda residente em todas as ilhas do arquipélago (ICN, 2006).<br />
Habitat: Ocorre em campos abertos cultivados (ICN, 2006). No estuário do Tejo a<br />
espécie é muito comum nos terrenos agrícolas e pastagens da lezíria (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
126<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
População: As densidades desta espécie obtidas em 1991/92 no estuário do Tejo<br />
variam entre 0,5 e 2,5 aves/10ha (Leitão et al., 1998).<br />
Factores de ameaça: A caça excessiva constitui a principal ameaça para a população<br />
(ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: Esta espécie cinegética encontra-se protegida por<br />
legislação nacional e internacional, não tendo sido alvo de acções específicas de<br />
conservação. As prioridades de conservação da codorniz incluem a clarificação do<br />
estatuto taxonómico e fenológico da população que ocorre nos Açores, assim como a<br />
obtenção de dados sobre a biologia de reprodução, distribuição e abundância a nível<br />
regional (ICN, 2006).<br />
1.3.2.2.7 Ordem Gruiformes<br />
Família Rallidae<br />
Frango-d’água, Rallus aquaticus<br />
Fenologia: Residente em Portugal. Ocorre no estuário do Tejo como residente<br />
nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie com estatuto Pouco Preocupante a nível nacional. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída no anexo III da convenção de Berna (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: É uma espécie nitidamente mais comum nas zonas da<br />
costa ocidental do que no resto do país, devido à maior disponibilidade de habita<br />
(Rufino, 1989)<br />
Habitat: Frequenta zonas húmidas de características bastante diferentes como<br />
lagoas, pauis, estuários e rios, desde que existam manchas de vegetação aquática<br />
densa e bem desenvolvida (Rufino, 1989). No estuário ocorre em caniçais, sapais,<br />
salinas abandonadas e valas (Leitão et al., 1998).<br />
População: A população nacional foi estimada em cerca de 1.000 a 10.000 casais<br />
(Rufino, 1989)<br />
Galinha-d’água, Galinulla chloropus<br />
Fenologia: Residente em Portugal continental e nos arquipélagos da Madeira e dos<br />
Açores, neste ultimo a espécie ocorre ainda como estival nidificante. No estuário do<br />
Tejo é uma espécie residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie com estatuto Pouco Preocupante em Portugal<br />
continental, Em Perigo no arquipélago da Madeira e com Informação Insuficiente nos<br />
Açores. A nível internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife<br />
International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos<br />
das convenções de Berna (Anexo III) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo D), e na<br />
Lei de Bases de Caça ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie com distribuição alargada na Europa, Ásia,<br />
África e América nas zonas temperada e tropical, ocorrendo regularmente em ilhas<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 127
oceânicas. Na Europa, ocorre na Finlândia, na Escandinávia, ilhas Britânicas e nas<br />
ilhas Atlânticas (Cramp e Simmons, 1980). Em Portugal Continental, a espécie<br />
apresenta uma distribuição alargada (ICN, 2006).<br />
Habitat: Espécie de hábitos secretivos que ocorre em charcos e lagoas com<br />
vegetação nas margens (ICN, 2006). No estuário do Tejo ocorre em valas nas lezírias<br />
e pequenos açudes (Leitão et al., 1998).<br />
População: No Continente, a espécie apresenta uma população numerosa. Nos<br />
Açores, segundo Bannerman e Bannerman (1966) ocorrem as subespécies: a G. c.<br />
chloropus que é migradora e tem origem no continente europeu e a G. c. correiana<br />
residente no arquipélago. Neste arquipélago a espécie nunca foi alvo de estudos<br />
dirigidos, não existindo dados sobre a sua abundância. Na Madeira, com base nas<br />
contagens efectuadas entre 2001 e 2003, a população foi estimada em menos de 50<br />
indivíduos (Nunes e Faguntes, com. press.) (ICN, 2006).<br />
Factores de ameaça: A destruição de zonas húmidas constitui a principal ameaça à<br />
preservação da espécie. Na Madeira devido à reduzida área de habitat disponível,<br />
esta ameaça é muito relevante (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: Esta espécie encontra-se protegida por legislação<br />
nacional e internacional, não tendo sido alvo de acções específicas de conservação.<br />
Nos Açores as prioridades de conservação da galinha-d’água incluem a clarificação do<br />
estatuto taxonómico e fenológico da população, assim como a obtenção de dados<br />
sobre a sua distribuição e abundância a nível regional (ICN, 2006).<br />
Caimão, Porphyrio porphyrio<br />
Fenologia: Residente em Portugal. Não tem registos nos estuário do Tejp mas<br />
considera-se a sua presença como potecncial, pois é dada para outras zonas húmidas<br />
próximas no concelho de Benavente, situando-se no corredor de migração litoral esta<br />
ave.<br />
Estatuto de Protecção: estatuto Vulnerável. A nível internacional é considerada uma<br />
espécie Localizada pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de<br />
Berna (Anexo II), da Directiva Aves/Habitats (Anexo I, prioritária)<br />
Distribuição e movimentos: vasta área de distribuição, incluindo África, região<br />
mediterrânica, sul da Ásia e a Oceânia. Na Europa tem uma distribuição fragmentada,<br />
ocorrendo em Portugal, Espanha, França, Italia e sudeste da Rússia. Em Portugal os<br />
nidifica nas zonas húmidas litorais, principalmente no Algarve, sendo referido um casal<br />
para a bacia do Tejo. No estuário do Tejo considera-se como provável em lagoas<br />
/represas com abundante vegetação (como o caniço, tabúa), sno confirmada na<br />
proximidade da ZPE.<br />
Habitat: Esta ave não se encontra referenciada na literatura especializada, mas será<br />
possível de encontrar em lagoas permanentes e cujo nível de água não sofra grandes<br />
oscilações, como o são as zonas entre-marés, na ZPE e na RNET, em particular na<br />
Lagoa do Mouchão do Lombo do Tejo, como invernante ou como nidificante<br />
(Encarnação, com. Pess.).<br />
128<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
População: são estimados em cerca de 49-67 os pares nificantes. No anos 80 esta<br />
espécie regrediu muito, ficando restrita ao Algarve, mas a população nidfificante<br />
recuperou na dácvada seguinte, expandindo-se naturalmemnte para as zonas<br />
húmidas costeiras no sule através de um programa de repovoamento no baixo<br />
Mondego<br />
Galeirão-comum, Fulica atra<br />
Fenologia: Residente e invernante em Portugal. Ocorre no estuário do Tejo como<br />
residente nidificante e invernante raro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal ocorrem duas populações, uma residente e<br />
outra invernante, ambas com o estatuto Pouco Preocupante. A nível internacional é<br />
considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos<br />
anexos das convenções de Berna (Anexo III), Bona (Anexo II), da Directiva<br />
Aves/Habitats (Anexo D) e incluída na Lei de Bases de Caça (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A área de distribuição inclui a Eurásia, o Norte de África,<br />
e a Oceânia. A população da bacia mediterrânica é sobretudo residente, embora se<br />
verifique a migração de aves no Norte e Centro da Europa para Sul, para aí passar o<br />
Inverno (Cramp e Simmons, 1980). Em Portugal os principais de invernada da espécie<br />
situam-se na Lagoa de Santo André, Ludo, Castro Marim e Lagoa de Albufeira (Costa<br />
e Guedes, 1997).<br />
Habitat: Presente numa grande variedade de zonas húmidas, geralmente com águas<br />
pouco profundas, mas também lagos, albufeiras de grandes dimensões (Cramp e<br />
Simmons, 1980) (Costa e Guedes, 1997). No estuário do Tejo ocorre em tanques de<br />
salinas e açudes. Até ao início da década de 90 um pequeno número de indivíduos<br />
nidificou na lagoa artificial do mouchão do Lombo do Tejo. Em 1991, alguns casais<br />
nidificaram num pequeno açude perto de Pancas. (Leitão et al., 1998). Em 2006, nas<br />
salinas do Samouco foi registado um casal nidificante. Relativamente à população<br />
Invernante concentra-se sobretudo na lagoa do mouchão no Lombo do Tejo e nas<br />
salinas da Atalaia (representaram mais de 92% e 97% da população invernante nos<br />
Invernos de 2004 a 2006), e em menor número na Ponta da Erva e salinas da<br />
Saragoça (Encarnação, dados não publicados).<br />
População: A população mediterrânea e do Mar Negro foi estimada em cerca de<br />
2.500.000 indivíduos (Rose e Scott, 1994) apresentando um decréscimo (Rose, 1995).<br />
O número de indivíduos invernantes no estuário do Tejo é normalmente bastante<br />
baixo, em Dezembro de 1991 foram contados um máximo de 20 galeirões nos tanques<br />
da salina de Saragoça (Leitão et al., 1998). Em Janeiro de 1992 foram recenseados<br />
130 aves (Rufino, 1992), mas em Janeiro de 1993, 1995 e 1996 não foram registadas<br />
quaisquer aves durante os Censos de Aves Invernantes em Portugal (Costa e Rufino,<br />
1993, 1995 e 1996). Contudo nos Invernos de 2004/05 e 2005/06 foram observadas<br />
em média 430 aves no estuário do Tejo (Encarnação, dados não publicados).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 129
1.3.2.2.8 Família Otididae<br />
Família tetrax<br />
Sisão, Tetrax tetrax<br />
Fenologia: Espécie residente em Portugal. Ocorre no estuário do Tejo como<br />
invernante comum, residente nidificante raro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal o sisão é uma espécie prioritária em termos<br />
conservacionistas, apresentando um estatuto Vulnerável. A nível internacional é<br />
considerada uma espécie Vulnerável pela BirdLife International (2004) e Quase<br />
Ameaçado pela IUCN (2004a). Está incluída nos anexos das convenções de Berna<br />
(Anexo II), CITES (Anexo II A) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: O sisão é uma espécie de distribuição Paleártica, que<br />
ocupa, de forma descontínua, a faixa compreendida entre os paralelos 35º N e 50º N<br />
(Cramp e Simmons, 1980). Apresenta dois núcleos principais: um ocidental,<br />
abrangendo a Península Ibérica, França e extremo sudeste de Itália (na Sardenha), e<br />
outro oriental, no sudeste da Rússia Europeia e o Kazaquistão (Schulz, 1985ª; BirdLife<br />
International/European Bird Census Council, 2000). Inverna numa vasta área desde o<br />
Mediterrâneo, passando pela Turquia e o Cáucaso, até ao Irão. De forma errática<br />
ocorre ainda no Sul da Ásia. No Inverno o sisão é gregário, formando bandos que<br />
podem atingir milhares de indivíduos e é habitual o uso de dormitórios comunitários.<br />
As populações do Sul da sua área de distribuição, em particular da Península Ibérica,<br />
tendem a ser sedentárias ou parcialmente migradoras, ao contrário das populações do<br />
Norte que são totalmente migradoras (Cramp e Simmons, 1980). Apesar do<br />
conhecimento ser parco neste domínio, foi provado recentemente invernada na<br />
Estremadura Espanhola de sisões que se reproduziram em França (Almeida et al.,<br />
2003). Em Portugal distribui-se desde Trás-os-Montes até ao Algarve, sendo mais<br />
localizada a Norte do Tejo e, por isso, menos abundante (ICN, 2006a).<br />
Habitat: O sisão frequenta regiões estepárias, planícies ligeiramente onduladas com<br />
vegetação rasteira pouco densa. Tal como a abetarda tende a ocupar extensas áreas<br />
de mosaicos formadas pela prática da cerealicultura extensiva, pousios e pastagens<br />
(pseudo-estepes), seleccionando áreas com vegetação rasteira, não excedendo os 20<br />
cm (Martinez, 1994; Salamolard e Moreau, 1999; Silva et al., 2004). Na época de<br />
nidificação os machos adultos optam preferencialmente pelos pousios para formar os<br />
seus territórios, e em locais com uma maior disponibilidade de insectos (Martinez<br />
1998; Salamolard e Moreau, 1999). No Inverno os bandos tendem a ocorrer no topo<br />
das elevações e são sensíveis à perturbação humana evitando a proximidade de<br />
estradas e casas habitadas (Silva et al., 2004). Em Portugal encontra-se em planícies<br />
abertas ou com árvores dispersas, ocupando ocasionalmente e de forma marginal<br />
montados pouco densos. Está sobretudo associado a zonas agrícolas (De Juana e<br />
Martinez, 2001) e particularmente em locais onde é praticada a cerealicultura<br />
extensiva e pastagens em época de reprodução (ICN, 2006a). No estuário do Tejo<br />
ocorre desde Pancas até Vila Franca de Xira em pastagens, terrenos cultivados e<br />
130<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
estolhos da lezíria. Existe um pequeno grupo reprodutor nas pastagens e montados<br />
abertos próximos de Pancas (Leitão et al., 1998). De salientar ainda a permanência,<br />
como invernantes, nos campos de cereal da Ponta da Erva, na Lezíria (Encarnação,<br />
com.pess.), o que atesta a importância deste biótopo na diversidade do estuário do<br />
Tejo.<br />
População: Actualmente, segundo Schulz (1985a) e De Juana e Martinez (1996 e<br />
2001), considera-se que a população mais viável desta espécie se encontra na<br />
Península Ibérica, constituindo mais de metade da população mundial. Desconhece-se<br />
qual a tendência populacional à escala nacional, suspeitando-se, no entanto, de<br />
regressões locais em zonas com agricultura mais intensificada (Silva, com. pess.).<br />
Terá regredido como nidificante nas zonas de Campo Maior, Estuário do Tejo e Castro<br />
Marim. Em Castro Verde, segundo Borralho (com. pess.), dados referentes à<br />
monitorização do Plano Zonal indicam que terá havido um aumento no número de<br />
sisões no interior da área de intervenção deste plano. Os efectivos de sisão para<br />
Portugal estão estimados entre 10 000 e 20 000 indivíduos (Goriup, 1994). Apenas<br />
existem estimativas populacionais recentes para a região de Castro Verde, com 2400<br />
indivíduos, segundo Moreira (1999) e para a ZPE de Campo Maior com uma<br />
estimativa de 79 machos territoriais em 1998 (Silva et al., 2004). O número de<br />
nidificantes no estuário do Tejo não deve ultrapassar os 20 indivíduos, com um<br />
máximo de 6 macho observados em 1992. A população invernante foi de cerca de 700<br />
aves em 1991/92 e de cerca 300 aves em 1992/93 (Leitão et al., 1998).<br />
Factores de ameaça: A intensificação da agricultura através de monoculturas<br />
cerealíferas em detrimento de outros usos como leguminosas, pousios e montado<br />
disperso, resulta na redução do mosaico agrícola com decréscimo da diversidade de<br />
habitat e traduz-se em diminuição na disponibilidade alimentar. O incremento dos<br />
tratamentos agrícolas (adubos, herbicidas, etc.) permite aumentar o rendimento da<br />
terra com consequente redução da área de pousio: traduz-se em diminuição<br />
(qualitativa e quantitativa) da disponibilidade alimentar por eliminação de um<br />
importante biótopo de alimentação, rico em insectos. Além disso a transformação do<br />
sequeiro em regadio afecta negativamente a espécie conduzindo a perda de<br />
diversidade de habitats resultante da supressão de rotação de culturas. A florestação<br />
das terras agrícolas resulta na perda de habitat e induz o aumento das taxas de<br />
predação nas áreas adjacentes. A expansão de cultivos lenhosos: a plantação de<br />
pomares, amendoais, vinha, olival resultam em perda de habitat adequado à<br />
alimentação e reprodução. A construção de estradas, albufeiras, outras infraestruturas<br />
e introdução de outras actividades humanas resultam em perda de habitat<br />
adequado à alimentação e reprodução e são factores de fragmentação de habitat.<br />
Acrescem ainda perturbação na fase de instalação e por vezes durante a fase de<br />
exploração. A ceifa e a lavoura efectuadas no período de nidificação da espécie são<br />
responsáveis pela destruição de ovos e crias. O abandono agrícola e do pastoreio<br />
extensivo resulta em perda de habitat. O abandono do pastoreio extensivo é causa de<br />
desaparecimento de usos de solo favoráveis a esta espécie (como pastagens e<br />
pousios) cuja manutenção era rentabilizada por essa prática. Por outro lado, origina o<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 131
desenvolvimento de matos, com o desaparecimento da cobertura herbácea<br />
fundamental à espécie. O sobrepastoreio afecta a composição e estrutura da<br />
vegetação, reduzindo a disponibilidade alimentar. A presença de gado em alta<br />
densidade nos locais de nidificação representa, também, perigo elevado de pisoteio<br />
dos ninhos e das crias. Também, a instalação de vedações para gado resulta em<br />
perda de habitat para a espécie. O aumento da utilização de agro-químicos intervém<br />
directa e indirectamente nas populações de aves estepárias, aumentando a<br />
mortalidade e reduzindo a capacidade reprodutiva e diminuindo as populações presa.<br />
A colisão com linhas aéreas de transporte de energia é um importante factor de<br />
mortalidade em aves gregárias, particularmente em dias de fraca visibilidade. O<br />
aumento de predadores de ovos e crias, nomeadamente os cães assilvestrados pode<br />
influir no êxito reprodutor das espécies de aves que nidificam no solo. A expansão<br />
urbano-turística resulta na perda e fragmentação do habitat e na introdução de<br />
perturbação. A perturbação provocada pelas actividades humanas causa stress nas<br />
aves, voos de fuga em condições desfavoráveis (com risco de danos associados) e<br />
uma redução do tempo dedicado pelas aves à alimentação. A redução da<br />
tranquilidade pode levar ao abandono de locais seleccionados para reprodução e<br />
alimentação. Como principais factores perturbação destaca-se a actividade cinegética,<br />
o “birdwatching” e actividades recreativas e desportos com veículos motorizados (ICN,<br />
2006a).<br />
Medidas de Conservação: Para preserva a população de sisão é necessário manter<br />
ou melhorar as áreas de reprodução, alimentação e dormida. Para tal é fundamental:<br />
Promover a cerealicultura extensiva com rotação de culturas, e manter o mosaico<br />
agrícola, mediante aplicação de medidas agro-ambientais e/ou indemnizações<br />
compensatórias em áreas estepárias prioritárias; Proibir ou condicionar a<br />
intensificação agrícola em áreas importantes para a espécie; Promover o pastoreio<br />
extensivo e condicionar o encabeçamento nas áreas mais importantes de reprodução;<br />
Proibir ou condicionar a instalação de vedações em áreas importantes para a espécie;<br />
Regular o uso de agro-químicos em áreas importantes para a avifauna estepária;<br />
Retardar a ceifa e condicionar a lavoura de pousios durante o período de nidificação<br />
nas áreas mais importantes de reprodução da espécie; Proibir a florestação e o cultivo<br />
de lenhosas nas áreas mais importantes para a conservação da espécie; Incrementar<br />
a sustentabilidade económica das áreas estepárias através da certificação de produtos<br />
provenientes de áreas “amigas da avifauna estepária”; Ordenar e regulamentar<br />
práticas de observação de aves e desportos de natureza nas áreas mais importantes<br />
para a conservação da espécie; Controlar as populações de cães assilvestrados em<br />
áreas onde se verifique predação; Elaborar e implementar Planos de Gestão nas<br />
ZPE’s com ocorrência da espécie (Moura-Mourão- Barrancos, Campo Maior, Castro<br />
Verde); Implementar o Plano Nacional de Acção para as Aves Estepárias; Estabelecer<br />
uma estratégia conjunta Portugal/Espanha visando a conservação das aves<br />
dependentes da estepe cerealífera; Sujeitar projectos de construção e asfaltamento de<br />
caminhos municipais e de linhas eléctricas de alta tenção a AIA, tendo em conta a<br />
perda de habitat estepário e a sua fragmentação, o incremento esperado no número<br />
132<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
de predadores e o efeito cumulativo/sinérgico dos projectos individuais; As AIA<br />
referentes a projectos de construção de estradas, vias férreas, linhas eléctricas, outras<br />
infra-estruturas, plantações florestais, vinhas e perímetros de rega e outros usos<br />
devem ter em conta a perda de habitat estepário e a sua fragmentação, o incremento<br />
esperado no número de predadores e o efeito cumulativo/sinérgico dos projectos<br />
individuais; Fiscalizar o cumprimento das medidas de minimização e compensação<br />
previstas nas avaliações de EIA; Restringir a construção de edifícios, estradas,<br />
albufeiras e outras infra-estruturas em ZPE’s importantes para avifauna estepária;<br />
Controlar a expansão urbano-turística em áreas importantes para a avifauna estepária;<br />
Ordenar a actividade turística e a prática de desporto de natureza em áreas<br />
importantes para a avifauna estepária e proceder à respectiva fiscalização; Regular a<br />
actividades cinegética; Promover estudos sobre a distribuição e abundância da<br />
espécie para os períodos de reprodução, pós-nupcial e Inverno, procurando entender<br />
igualmente os movimentos e áreas concretas de que dependem ao longo do ano;<br />
Monitorizar os parâmetros populacionais da espécie (avaliação das tendências na<br />
distribuição e tamanho da população); Inventariar as zonas com características<br />
estepárias no Alentejo; Informar a comunidade rural e a população em geral sobre os<br />
valores naturais das áreas agrícolas extensivas de sequeiro e sobre as necessidades<br />
de conservação das espécies delas dependentes (ICN, 2006a). Esta espécie é<br />
contemplada no Plano de acção para a conservação das aves dependentes da estepe<br />
cerealífera (Almeida et al., 2003).<br />
1.3.2.2.9 Ordem Charadriiformes<br />
Família Haematopodidae<br />
Ostraceiro, Haematopus ostralegus<br />
Fenologia: Invernante em Portugal. Ocorre no estuário do Tejo como migrador de<br />
passagem e invernante pouco comum, não nidifica (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem um estatuto Quase Ameaçado, contudo até<br />
à década de 30 (Coverley 1939) existia uma população nidificante, actualmente extinta<br />
e por isso com o estatuto de Regionalmente Extinto. A nível internacional é<br />
considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International (2004) e Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo III da convenção de Berna<br />
(ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Nidifica na Europa e Ásia Oriental. A subespécie que<br />
ocorre em Portugal nidifica na Islândia, Ilhas Britânicas, Escandinávia, Europa<br />
ocidental e Mediterrâneo até à Turquia. Inverna no Oeste da Europa e África (del Hoyo<br />
et al., 1996). Em Portugal continental está presente ao longo da faixa litoral (Farinha e<br />
Costa 1999).<br />
Habitat: Zonas húmidas, nomeadamente estuários (salinas e zonas entre marés) e<br />
zonas húmidas do interior (lagoas). Pode também ocorrer na orla costeira, em praias<br />
(ICN, 2006). No estuário do Tejo tem preferência pelas zonas entre marés arenosas e<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 133
salinas (especialmente nas salinas do Samouco, onde são observados regularmente)<br />
(Leitão et al., 1998). Segundo os dados de censos de aves invernantes, as salinas do<br />
Samouco parecem ser o local mais importante para a espécie no estuário do Tejo.<br />
População: Nas zonas estuarinas esta espécie tem sido monitorizada desde a década<br />
de 1970. Na última década, a sua abundância tem oscilado entre 500 e 1.500<br />
indivíduos. A análise destes censos até 2000, permitiu verificar que a abundância da<br />
população tem permanecido estável (Sousa, 2002b). No estuário do Tejo a população<br />
média invernante no período de 1975/1978 foi de 12 aves, apresentando um máximo<br />
de 26 aves em 1978 (Rufino, 1978). No Inverno de 1989 foram recenseadas 2 aves<br />
(Rufino, 1989) e em 1991, 50 aves (Rufino, 1991). No período de 1992 a 1996 a<br />
população foi estimada em 10 indivíduos (Leitão et al., 1998). Em Janeiro de 2004<br />
foram recenseados 148 aves, 138 nas salinas do Samouco (Encarnação, dados não<br />
publicados). No Inverno seguinte foram observadas 150 aves em Fevereiro, também<br />
nas salinas do Samouco.<br />
Factores de ameaça: Perda ou degradação de habitat (por acção do Homem),<br />
nomeadamente abandono ou degradação de salinas, a transformação de salinas em<br />
aquaculturas e a destruição ou degradação das zonas entre marés (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: A maior parte das áreas estuarinas utilizadas por esta<br />
população durante o Inverno estão incluídas em áreas com estatuto legal de protecção<br />
(Reservas Naturais, Zonas de Protecção Especial, Sítio Ramsar). Várias outras zonas<br />
foram recentemente designadas como Zonas Importantes para as Aves (Costa et al.,<br />
2003). No entanto, é necessário uma monitorização mais eficaz, de modo a obter<br />
estimativas mais fiáveis da sua abundância (ICN, 2006).<br />
Família Recurvirostridae<br />
Alfaiate, Recurvirostra avosetta<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
migrador de passagem e invernante pouco comum, ocasionalmente nidifica (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal ocorrem duas populações, uma nidificante com<br />
estatuto Quase Ameaçada e outra Invernante Pouco Preocupante. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Estão incluídas nos anexos das<br />
convenções de Berna (Anexo II), de Bona (Anexo II) e das Directivas Aves/Habitats<br />
(Anexo I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A espécie distribui-se por todo o Paleártico. Os<br />
indivíduos que se reproduzem no limite norte da área de distribuição da espécie são<br />
tipicamente migratórios, mas as populações nidificantes no Sul da Europa são<br />
residentes ou efectuam movimentos de pequena dimensão (Cramp e Simmons, 1983).<br />
A sua área de distribuição estende-se pela Europa e Ásia Central e Oeste até ao<br />
Sudeste da Sibéria e Nordeste da China. Inverna na Europa Ocidental, África, Médio<br />
134<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Oriente, China Oriental (del Hoyo et al., 1996) (ICN, 2006). A sua área de distribuição<br />
como invernante, abrange as zonas estuarinas do litoral do Minho ao Algarve, estando<br />
presente como nidificante habitual apenas no Algarve (ICN, em prep.). Ocorre<br />
esporadicamente como nidificante nos Estuários do Tejo e Sado (Farinha e Costa<br />
1999).<br />
Habitat: Utiliza salinas activas ou abandonadas, aquaculturas e outras zonas húmidas<br />
costeiras (por exemplo, lagoas) como habitat de nidificação (Rufino 1989, Catry et al.,<br />
in press.). No estuário do Tejo tem preferência pelas vazas entre marés e salinas<br />
(Leitão et al., 1998). Segundo (Moreira, 1995) a espécie selecciona como habitats de<br />
alimentação, áreas com sedimento vasoso fino, sendo que este apresenta<br />
quantidades de água consideráveis, nesses locais (sobretudo na zona interior da<br />
Reserva e na parte central do estuário) apresentam densidades com um valor médio<br />
máximo de 23 aves/ha. Segundo o mesmo autor, o alfaiate revela ainda uma<br />
preferência por áreas humanizadas. No estuário R. avosetta é mais abundante nas<br />
zonas de alimentação (vasa) durante o dia (apresenta um intake energético<br />
semelhante entre a noite e o dia), capturando presas como, Tharix sp., Hediste<br />
diversicolor e S. chrubsolii (preferência decrescente) (Silva, 2005). Como local de<br />
refúgio de preia-mar as salinas de Vasa Sacos, Tarouca e Samouco, são os locais<br />
mais importantes para a espécie, no estuário do Tejo.<br />
População: A população desta espécie tem vindo a registar um decréscimo em<br />
Portugal, em parte justificado pela redução dos efectivos invernantes no Estuário do<br />
Tejo. A população invernante regista números entre 10 000 e 15 000 indivíduos, sendo<br />
a população nidificante bastante mais reduzida. De acordo com Catry et al., (2004),<br />
em 2001 e 2002, durante a época de reprodução, foram registados 702 e 908<br />
indivíduos maturos, respectivamente (ICN, 2006a). No estuário do Tejo a população<br />
média invernante no período de 1975/1978 foi de 8170 aves, apresentando um<br />
máximo de 9200 aves em 1977 (Rufino, 1978). No Inverno de 1989 foram<br />
recenseadas 13661 aves (Rufino, 1989) e em 1991, 10175 aves (Rufino, 1991). No<br />
estuário do Tejo a população média invernante no período de 1992 a 1996 foi de 6682<br />
indivíduos, com um máximo de 12373 a ser atingido em Janeiro de 1992. Em 1993 foi<br />
detectado um casal que nidificou (sem sucesso) nas salinas do Samouco. Em 2 de<br />
Julho de 1996 foram observados1 adulto e 5 juvenis não voadores nas salinas de<br />
Vaza Sacos (Leitão et al., 1998). Segundo Moreira (1995) a população média de<br />
alfaiates no período de 1990/93 no estuário foi de 8387 aves, correspondendo a 53,3%<br />
do efectivo nacional. As maiores densidades da espécie entre 1991 1992 ocorreram<br />
entre meados de Janeiro e Março, na ordem das 5 aves/ha, obtendo um máximo de<br />
35,4 aves/ha na zona na Arrentela a 28 de Março. Na margem Norte do estuário entre<br />
1998/1999, a espécie apresentou densidades de 0,588 aves/ha, tendo sido<br />
observadas um máximo de 116 aves (Rosa, 1999). No Inverno de 1999/2000 foram<br />
recenseados 1460 aves, sendo que 1429 foram observadas nas salinas da Tarouca.<br />
No ano seguinte o número de invernantes foi menor, apresentando um total de 916<br />
aves, mas no Inverno de 2003/2004 o seu efectivo teve um incremento, registando-se<br />
1579 aves (Encarnação, dados não publicados). Nas salinas do Samouco entre<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 135
2004/05 o número máximo de alfaiates foi de 652 aves registado durante o mês<br />
Janeiro de 2005 (Rocha, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: Perda ou degradação de habitat (por acção do Homem),<br />
nomeadamente abandono ou degradação de salinas e a transformação de salinas em<br />
aquaculturas são as principais ameaças à conservação da espécie (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: A maior parte das áreas estuarinas utilizadas por esta<br />
população durante a nidificação estão incluídas em áreas com estatuto legal de<br />
protecção (Reservas Naturais, Zonas de Protecção Especial, Sítio Ramsar) ou Zonas<br />
Importantes para as Aves (Costa et al., 2003). São necessárias acções de controlo da<br />
predação e perturbação humana e restauração e manutenção dos complexos de<br />
salinas, utilizados por esta espécie (ICN, 2006).<br />
Pernilongo, Himantopus himantopus<br />
Fenologia: Residente e estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre como estival<br />
nidificante comum e invernante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Pouco Preocupante. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
incluído nos anexos das convenções de Berna (Anexo II), de Bona (Anexo II) e das<br />
Directivas Aves/Habitats (Anexo I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: No Paleártico Ocidental e durante a época de<br />
reprodução a espécie distribui-se de uma forma descontínua pela Europa Ocidental e<br />
Meridional, Balcãs, Ucrânia e Cáucaso. Encontra-se ausente na Europa Central e<br />
Escandinávia (Cramp e Simmons, 1983). A área de distribuição da espécie como<br />
nidificante no território continental, abrange sobretudo as zonas costeiras estuarinas a<br />
sul da bacia do rio Vouga. É frequente ainda em lagoas, albufeiras, arrozais e mesmo<br />
pequenos charcos, quer na costa quer no interior a Sul do Tejo. De Inverno, ocorre ao<br />
longo da costa quer nos estuários quer em lagoas costeiras, mas apenas a sul do<br />
Mondego (ICN, 2006a). Em 1990, o estuário do Tejo suportou 5% da população<br />
reprodutora de H. himantopus (Farinha e Trindade, 1994)<br />
Habitat: Confinada a águas pouco profundas, doces ou salobras, não marcadamente<br />
tidal, de substrato arenoso, argiloso ou lodoso, sem vegetação ou pedras. Requer<br />
águas de elevada produtividade biológica, com grande disponibilidade de<br />
invertebrados. Não necessita de zonas de abrigo, tolerando vegetação esparsa de<br />
Salicornia, Scirpus ou Spartina. Ocorre em salinas, pisciculturas, lagoas costeiras,<br />
terrenos alagados, arrozais, pauis, charcos, açudes e barragens com margens de<br />
declive suave e áreas de lama a descoberto, lagoas e estações de tratamento de<br />
águas (ETAR) (ICN, 2006a). No estuário do Tejo tem preferência por salinas, arrozais<br />
e outros terrenos alagados. Os locais de nidificação preferidos são as salinas<br />
inactivas, seguindo-se as salinas activas e finalmente as pisciculturas tradicionais. Nos<br />
últimos anos os arrozais têm vindo a ser crescentemente utilizados (Leitão et al.,<br />
1998). Como local de invernada as salinas do Vau, Samouco, Vasa Sacos e Tarouca<br />
parecem ser os local mais importantes no estuário. Como local de nidificação as<br />
salinas do Samouco parecem constituir o local de maior relevo para a espécie.<br />
136<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
População: Os censos realizados anualmente sugerem a estabilidade da população,<br />
tanto nidificante como invernante, apesar dos resultados de anilhagem desta espécie<br />
indicarem que alguns indivíduos, efectuam movimentos dispersivos durante os<br />
primeiros anos de vida, enquanto outros permanecem fiéis aos locais onde nasceram.<br />
A população nidificante ronda os 1.500 a 2.000 casais e a população invernante está<br />
estimada entre os 1.000 e os 1.300 indivíduos (ICN, 2006a). A população nidificante<br />
no estuário do Tejo foi avaliada em 472 casais em 1983 e 252 casais (dos quais 113<br />
casais nidificaram em salinas activas, 121 em salinas inactivas e 18 pisciculturas<br />
(Rufino e Neves, 1991)) em 1990. A população média invernante no período de 1992 a<br />
1996 foi de 18 indivíduos, com um máximo de 28 a ser atingido em Janeiro de 1994<br />
(Leitão et al., 1998). E 1997 foram detectadas 112 posturas da espécie nas salinas de<br />
Vaza Sacos e 81 no arrozal da Giganta. Nestes locais o sucesso de eclosão, não<br />
apresentou diferenças significativas, tendo sido registado 79,6% em Vaza Sacos e<br />
72,9% na Ginga. O número médio de juvenis voadores por núcleo familiar foi de 1,7<br />
nas salinas em Vaza Sacos e 2,1 no arrozal da Giganta, sendo a predação<br />
responsável pelo reduzido sucesso reprodutor (86,6% nas salinas e 39,5% no arrozal)<br />
(Martins et al., 1999) Nas salinas do Samouco entre 1996 e 2005 a população média<br />
nidificante, foi de 117 casais, obtendo um máximo de 311 casais em 1997. Nestas<br />
salinas, durante o período de 2004/2005 foram observadas em média 188 aves,<br />
registando-se um máximo de 417 aves em Maio de 2005 (Rocha, dados não<br />
publicados). O número médio de H. himantopus invernantes no estuário do Tejo no<br />
período de 1995 a 1998 foi de 22,5 aves. Nos Invernos de 1999/00 e 2000/01foram<br />
recenseados 81 aves (a espécie não foi recenseada nas salinas do Samouco). Em<br />
Janeiro de 2004 foram recenseadas 214 aves das quais 82 foram observadas nas<br />
salinas do Samouco (Encarnação, dados não publicados). Em Janeiro de 2005 foram<br />
observados 87 aves nas Salinas do Samouco (Rocha, dados não publicados)<br />
Factores de ameaça: O abandono e reconversão da actividade salineira tradicional. A<br />
predação por animais domésticos e selvagens. Os casos mais graves são sem dúvida<br />
as salinas nos Estuários do Tejo e do Sado, devido ao facto das salinas na sua quase<br />
totalidade se encontrarem abandonadas, sem manutenção e guarda possibilitando o<br />
acesso fácil dos predadores, principalmente os domésticos; A pressão urbanística e<br />
turística da zona litoral, afecta a Ria Formosa, onde nidifica cerca de 5% da população<br />
da Europa Ocidental (Farinha e Trindade 1994). A poluição da água, por efluentes<br />
domésticos, industriais e agrícolas. A contaminação com mercúrio, metal pesado<br />
cumulativo no organismo, afecta principalmente o Estuário do Tejo (ICN, 2006a).<br />
Medidas de Conservação: Proteger as zonas mais importantes de reprodução<br />
evitando a sua ocupação por actividades turísticas, controlando os níveis de água nas<br />
zonas de nidificação ou promovendo a criação de zonas de nidificação artificiais;<br />
Fiscalizar a perturbação humana decorrente da actividade turística não sustentável;<br />
Manter as salinas em actividade e efectuar gestão adequada das salinas<br />
abandonadas, nomeadamente através de medidas específicas de incentivo, nas áreas<br />
mais importantes para a conservação da espécie; Reduzir a predação pela construção<br />
de cercas eléctricas à volta das colónias, nos locais de nidificação e pelo controlo dos<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 137
animais assilvestrados; Manter e melhorar a qualidade da água pelo tratamento eficaz<br />
das descargas de efluentes. Fiscalizar e controlar o funcionamento e eficácia das<br />
ETAR e monitorizar a qualidade da água; Restringir o uso de agro-químicos e adoptar<br />
técnicas alternativas; Promover estudos sobre aspectos básicos da biologia da<br />
espécie (ecologia, movimentos, requisitos de habitat e recursos alimentares);<br />
Monitorizar a população; Elaborar os planos de gestão / ordenamento dos locais de<br />
que a espécie depende, nomeadamente das ZPE’s mais importantes para a espécie<br />
(ICN, 2006a). No estuário do Tejo para além de todas as medidas anteriormente<br />
referidas, é importante a manutenção e controlo dos níveis de água (5-15cm) em<br />
salinas abandonadas e activas, ao longo de todo o ano e em especial durante o<br />
período de nidificação; As nas águas devem ser renovadas, de forma a favorecer o<br />
desenvolvimento invertebrados, que vão servir de alimento à espécie (Engilis e Reid,);<br />
Criação de ilhas artificiais para a nidificação da espécie; Corte da vegetação dos<br />
cômoros das salinas, proporcionando locais favoráveis à nidificação da espécie;<br />
Avaliação do impacto dos principais predadores, nomeadamente a ratazana-castanha,<br />
Rattus norvegicus no sucesso reprodutor da espécie, os seus efectivos populacionais<br />
e medidas de controlo; Determinação dos níveis de pesticidas presentes nos arrozais<br />
e sua possível correlação com o sucesso reprodutor da espécie nesse biótopo;<br />
Determinação dos níveis de metais pesados presentes nos arrozais e salinas da ZPE<br />
e sua possível correlação com o sucesso reprodutor da espécie nesses biótopos (ICN,<br />
2006a).<br />
Família Burhinidae<br />
Alcaravão, Burhinus oedicnemus<br />
Fenologia: Residente e invernante em Portugal. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Vulnerável. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Vulnerável pela BirdLife International (2004)<br />
e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluído nos anexos das convenções de<br />
Berna (Anexo II), de Bona (Anexo II) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo I) (ICN,<br />
2006).<br />
Distribuição e movimentos: O alcaravão ocorre em latitudes baixas e médias baixas<br />
no Mediterrâneo, estepes, zonas de clima temperado moderado, zonas áridas de clima<br />
continental e ilhas do Atlântico e do Mediterrâneo (Cramp e Simmons, 1983). No<br />
Paleártico distribui-se na Europa do Sul e Central, perfazendo um quarto da população<br />
mundial. A população da Península Ibérica comporta-se fundamentalmente como<br />
sedentária podendo, no entanto, apresentar movimentos dispersivos e pequeno<br />
acréscimo de aves invernantes. As populações do Norte e Este Europeu são<br />
migradoras, invernando no Sul da Europa, Norte de África e no Sul do Sara (Heath,<br />
1994). Em Portugal continental a população nidificante desta espécie encontra-se<br />
distribuída pelas regiões do interior Norte e Centro e por todo o território a sul do Rio<br />
138<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Tejo, sendo claramente mais abundante no Sul do país (Rufino, 1989). Relativamente<br />
à população invernante, e apesar de não existirem elementos seguros que permitam<br />
delimitar com precisão a sua actual distribuição no nosso país, é de esperar que a<br />
tendência de maior concentração populacional na região sul do território nacional se<br />
mantenha (Brito, 1998).<br />
Habitat: Em Portugal o alcaravão frequenta habitats abertos com vegetação herbácea<br />
e/ou arbustiva rala, com poucas ou nenhumas árvores, como dunas, pousios e<br />
culturas arvenses de sequeiro. Prefere locais a baixa altitude, ocorrendo ainda em<br />
planalto e, ocasionalmente, em searas (Rufino, 1989). O ninho é feito no solo em<br />
zonas abertas, preferencialmente em superfícies irregulares e fragmentadas, mas<br />
também em superfícies planas com vegetação rasteira; muitas vezes em ramos<br />
depositados no solo, pequenos arbustos, etc. (Cramp e Simmons, 1983). Em Mourão<br />
as preferências desta espécie durante o período reprodutor, estavam<br />
significativamente associados ao tipo de habitat incultos, apresentando no local de<br />
postura uma maior percentagem de solo nu e de pedregosidade e menor cobertura e<br />
altura da vegetação (Brito, 1996). No estuário do Tejo frequenta zonas de montado<br />
aberto, lezírias (Leitão et al., 1998), tanques de salinas secos e faixa dunar que ladeia<br />
o complexo de salinas do Samouco.<br />
População: As populações do Noroeste da Europa e Europa Central têm sofrido, nos<br />
últimos 20-30 anos, uma forte regressão, cuja causa principal é atribuída às alterações<br />
dos habitats tradicionais de nidificação (Heath, 1994). Em Portugal, embora se<br />
desconheça a tendência geral no país, observações efectuadas em algumas regiões<br />
indicam decréscimo no número de efectivos. A população europeia deverá estar entre<br />
os 40.000 e 150.000 casais, albergando a Península Ibérica a maior população<br />
reprodutora desta espécie (Barros 1994). A população reprodutora portuguesa está<br />
estimada em 2.500 a 10.000 indivíduos (ICN, dados não publicados). Nos montados<br />
pouco densos do estuário do Tejo, nidificaram 1-5 casais (Leitão, 1993). Nas salinas<br />
do Samouco no período de 2004/05 registou-se a nidificação de 3 casais (2 em salinas<br />
abandonadas e 1 no cordão dunar), no ano seguinte apenas se verificou a nidificação<br />
de um casal no cordão dunar (Rocha, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: A intensificação da agricultura através de monoculturas<br />
cerealíferas em detrimento de outros usos como leguminosas e pousios, resulta na<br />
redução do mosaico agrícola com decréscimo da diversidade de habitat e traduz-se<br />
em diminuição na disponibilidade alimentar e de locais importantes para a reprodução.<br />
A florestação de áreas abertas, nomeadamente com espécies de rápido crescimento,<br />
resulta na perda de habitat e induz o aumento das taxas de predação nas áreas<br />
adjacentes. A construção de estradas, albufeiras, outras infra-estruturas e introdução<br />
de outras actividades humanas resultam em perda de habitat adequado à alimentação<br />
e reprodução e são factores de fragmentação de habitat. O aumento da utilização de<br />
agro-químicos intervém directa e indirectamente nas populações de aves, aumentando<br />
a mortalidade e reduzindo a capacidade reprodutiva e a disponibilidade alimentar<br />
(nomeadamente, invertebrados). O sobrepastoreio afecta a composição e estrutura da<br />
vegetação, reduzindo a disponibilidade alimentar. A utilização de maquinaria agrícola<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 139
perturba a espécie especialmente na época de nidificação e a destruição das posturas<br />
e das crias, durante a lavoura. O aumento de predadores de ovos e crias, por<br />
corvídeos e cães assilvestrados. A actividade cinegética afecta directamente a espécie<br />
através da caça ilegal e gera movimentação de pessoas e ruído que, causando<br />
perturbação, fazem com que o tempo dedicado pelas aves à alimentação seja<br />
substituído pela vigilância. A colisão com linhas aéreas de transporte de energia é um<br />
importante factor de mortalidade em aves gregárias, particularmente em dias de fraca<br />
visibilidade. A expansão urbano-turística resulta na perda e fragmentação do habitat e<br />
na introdução de perturbação. As actividades recreativas e desportos com veículos<br />
motorizados, causam stress nas aves (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: Promover cerealicultura extensiva com rotação de<br />
culturas, assegurando o mosaico agrícola, mediante a aplicação de medidas agroambientais<br />
e/ou indemnizações compensatórias; Promover o pastoreio extensivo e<br />
condicionar o encabeçamento nas áreas mais importantes de reprodução; Controlar as<br />
populações de cães assilvestrados em áreas onde se verifique predação; Restringir a<br />
construção de estradas, albufeiras e outras infra-estruturas em ZPE’s importantes para<br />
avifauna estepária; Regular o uso de pesticidas e adoptar técnicas de pestes<br />
alternativas, como por exemplo utilizar substâncias mais facilmente degradáveis, cujo<br />
impacto ambiental não seja tão nefasto; Restringir a utilização de maquinaria agrícola<br />
durante a época de nidificação ou remover as crias em risco para parcelas contíguas;<br />
Fiscalizar as actividades cinegéticas; Condicionar a instalação de linhas eléctricas de<br />
transporte de energia nas áreas mais importantes para a espécie no nosso país;<br />
Equipar as linhas eléctricas de transporte de energia com sinalizadores anti-colisão e<br />
armações de apoios seguros para aves; Desenvolver estudos de monitorização do<br />
impacte das linhas eléctricas de transporte de energia já existentes, tendo em conta a<br />
sua localização geográfica, a sua situação em termos de habitats e a sua tipologia de<br />
equipamento, de forma a conhecer o seu efeito na população nacional destas aves;<br />
Monitorizar os parâmetros populacionais (avaliação das tendências na distribuição e<br />
tamanho da população). Controlar a expansão urbano-turística em áreas importantes<br />
para a avifauna estepária (ICN, 2006).<br />
Família Glareolidae<br />
Perdiz-do-mar, Glareola pranticola<br />
Fenologia: Residente e invernante em Portugal. No estuário do Tejo ocorre como<br />
estival nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Vulnerável. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Em Declínio pela BirdLife International (2004)<br />
e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluído nos anexos das convenções de<br />
Berna (Anexo II), de Bona (Anexo II) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo I) (ICN,<br />
2006).<br />
140<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Distribuição e movimentos: Espécie migratória, inverna na zona subsariana desde o<br />
Senegal à Etiópia (Cramp e Simmons, 1983), ocupando igualmente a costa leste<br />
africana. Nidifica na zona circum-mediterrânica e leste europeu, estendendo-se no seu<br />
limite de distribuição a alguns países do Centro-Sul asiático (e.g. Casaquistão, Irão e<br />
Paquistão) (Dolz 1994) (ICN, 2006a). Em Portugal continental distribui-se pelo Sul,<br />
principalmente nos estuários do Tejo e do Sado, Alentejo e Algarve (Rufino 1989;<br />
Farrobo e Leitão 1997; ICN dados não publicados).<br />
Habitat: Esta ave colonial nidifica em habitats com características particulares,<br />
nomeadamente: zonas abertas, de vegetação rasteira, escassa ou ausente; locais<br />
planos ou de inclinação mínima; terrenos secos, mas sempre localizados em áreas<br />
associadas a sistemas estuarinos, lacustres ou ripícolas e portanto com grande<br />
disponibilidade em insectos (Calvo 1994b). Como por exemplo pastagens baixas,<br />
pousios ou alqueives, terrenos lavrados, ilhas ou margens semi-desérticas de açudes<br />
ou albufeiras, zonas de sapal com lamas secas com nível freático a 28 cm abaixo do<br />
solo (segundo Dolz, 1989), salgados e também cômoros de salinas. Frequenta<br />
também arrozais (Farinha e Costa, 1999) que pela sua maior disponibilidade em<br />
insectos se apresentam como boas áreas de alimentação. No estuário do Tejo<br />
ocorrem nas lezírias, sapais, arrozais e salinas (Leitão et al., 1998). O habitat de<br />
nidificação consiste essencialmente em terrenos agrícolas situados próximos de valas<br />
de irrigação, excepto no mouchão do Lombo do Tejo onde as aves nidificam no sapal.<br />
No estuário do Tejo é provável que as actuais zonas de nidificação na lezíria tenham<br />
sido locais de nidificação no antigo sapal, que posteriormente foi drenado, tendo em<br />
conta a fidelidade da espécie aos locais de nidificação apesar da transformação da<br />
paisagem (Calco e Alberto, 1990; Calvo 1994a) (Farrobo, 1996).<br />
População: Após uma fase de declínio generalizado na Europa, nos últimos 10 anos a<br />
sua abundância na Europa Ocidental tem permanecido estável, ao contrário das<br />
populações da Europa de Leste que continua em declínio (Wetlands International,<br />
2002).<br />
Em Portugal não tem havido monitorização nos últimos 10 anos que permita avaliar a<br />
tendência populacional. É normalmente pouco abundante, podendo ser comum em<br />
alguns locais com condições de habitat favoráveis. No território nacional nidificam pelo<br />
menos 7% da população ibérica (Farrobo, 1996) que, sem incluir a população russa<br />
(para a qual não existem dados precisos), representa aproximadamente 70% do<br />
efectivo europeu de perdiz-do-mar (Calvo, 1994b). Dados de 1985 a 1995 permitiram<br />
estimar a população nacional em aproximadamente 315 a 550 casais, distribuídos por<br />
cerca de 33 colónias (Farrobo e Leitão, 1997). A espécie deve ocorrer no estuário do<br />
Tejo pelo menos desde 1891. Embora com uma lacuna entre 1981 e 1987, desde<br />
1978 há observações regulares da ocorrência da espécie nesta zona, tendo-se<br />
inicialmente confirmado a sua nidificação em 1979. Este núcleo integra várias colónias<br />
nidificantes, respectivamente no Mouchão do Lombo do Tejo, na lezíria e também na<br />
zona a Oeste de Benavente (Farinha e Trindade, 1994). Em 1992 Leitão (1993),<br />
estimou a população nidificante de parte da área em 83 a 103 casais, distribuídos por<br />
5 colónias (4 na lezíria e 1 no mouchão do Lombo do Tejo). Em 1995 Farrobo (1996),<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 141
estimou para a totalidade da área cerca de 137 casais, distribuídos por 9 colónias<br />
distintas. Segundo a mesma autora a população de perdiz-do-mar no estuário do Tejo<br />
deve possuir perto de 150 casais. Leitão et al., (1998) estima a actual população<br />
nidificante em cerca de 120-150 casais, distribuídas por 10 colónias. Actualmente a<br />
Lezíria do estuário do Tejo é sem dúvida a área de reprodução da espécie mais<br />
importantes do país, representando mais de 30% do total nacional (Farrobo, 1996).<br />
Factores de ameaça: Em áreas predominantemente agrícolas a perdiz-do-mar<br />
selecciona como habitats de nidificação terrenos agricultados, os quais são durante a<br />
nidificação e criação alvo de lavoura, rega, pulverização, e outras práticas decorrentes<br />
do uso agrícola. Estas actividades, sobretudo em regimes de intensificação agrícola,<br />
perturbam a população, diminuem a disponibilidade alimentar e afectam o sucesso<br />
reprodutivo, podendo mesmo destruir as posturas; A utilização inadequada de<br />
produtos fitossanitários para controlo de insectos, base da dieta de Glareola pratincola,<br />
contribui para a diminuição da disponibilidade alimentar; A perda de habitat de<br />
nidificação favorável por drenagem de zonas húmidas, o que provoca a redução das<br />
áreas potenciais de instalação de colónias em sapal, bem como das áreas de<br />
alimentação (e.g. caniçais e juncais). Estudos efectuados sobre a biologia de<br />
reprodução da perdiz-do-mar destacam a grande vulnerabilidade desta espécie a<br />
predadores, relacionando parte do insucesso reprodutor com a predação de ovos e<br />
pintos por rapinas, corvídeos, cães e ratazanas (Calvo 1994b). A perturbação nos<br />
locais de nidificação devido à presença humana, (associada frequentemente a<br />
actividades recreativas) despoleta na maioria das vezes comportamentos de defesa da<br />
colónia com o levantamento das aves, provocando perdas energéticas<br />
desnecessárias, diminuição dos cuidados parentais, aumento do risco de predação, e<br />
consequentemente a diminuição do sucesso reprodutor. Nas salinas, a pilhagem de<br />
ovos pode ser um risco não negligenciável. A presença de gado em elevadas<br />
densidades nos locais de instalação da colónia pode ser prejudicial pelo perigo de<br />
pisoteio de ninhos ou crias. Contudo, um maneio adequado do encabeçamento pode<br />
ter efeitos positivos ao manter a vegetação baixa e ao aumentar a disponibilidade em<br />
invertebrados associados aos excrementos (ICN, 2006a).<br />
Medidas de Conservação: Manter usos agrícolas extensivos; Minimizar as<br />
perturbações derivadas das actividades agrícolas nos locais de nidificação. Muitas<br />
localizações de colónias são constantes de ano para ano, pelo que é possível<br />
identificar locais prioritários para aplicação de medidas agrícolas sustentáveis, tais<br />
como: - Compatibilização espaço-temporal das actividades agrícolas com o período de<br />
nidificação e criação e, sempre que possível, manter em pousio o terreno ocupado<br />
pela colónia; - Restrição do uso de produtos fitossanitários, tendo em conta o Código<br />
de Boas Práticas Agrícolas, ou segundo os princípios da agricultura biológica; -<br />
Implementação de medidas financeiras de compensação dos prejuízos aos<br />
agricultores, recorrendo a financiamentos no âmbito da nova PAC; Conservar ou<br />
recuperar áreas de vegetação natural e reservas de águas (lagunas, esteiros, canais,<br />
arrozais) nos locais de nidificação em terrenos agrícolas, dada a importância destas<br />
zonas húmidas para a alimentação; Interditar a drenagem nas áreas de sapal,<br />
142<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
assegurando a manutenção de zonas potenciais de nidificação; Assegurar vigilância<br />
sobre locais reconhecidamente alvo de pilhagem de ovos; Restringir o livre acesso das<br />
áreas mais vulneráveis; Realizar acções de sensibilização dirigidas aos<br />
proprietários/usufrutuários, de modo a adequar o maneio do gado nos locais de<br />
instalação das colónias, onde o pastoreio deverá ser deslocado durante o período de<br />
nidificação ou mantido em baixas densidades; Realizar estudos de bio-ecologia,<br />
monitorização e conservação, dirigidos para: - monitorização das populações<br />
(especialmente de parâmetros de dinâmica populacional) para avaliação da tendência<br />
populacional, bem como da eficiência das ZPE na protecção da espécie; - análise do<br />
impacto de alguns factores limitantes ainda não confirmados em Portugal, que afectam<br />
negativamente a população; - identificação das colónias que carecem de protecção,<br />
devido a vulnerabilidade à perturbação humana (ICN, 2006a).<br />
Família Charadriidae<br />
Borrelho-pequeno-de-coleira, Charadrius dubius<br />
Fenologia: Residente nidificante. No estuário do Tejo ocorre como estival nidificante,<br />
migrador de passagem pouco comum e invernante raro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Pouco Preocupante. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
incluído nos anexos das convenções de Berna (Anexo II) e de Bona (Anexo II) (ICN,<br />
2006).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se amplamente na metade Sul do território<br />
nacional (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Nidifica em ilhéus e margens, de areia ou cascalho, de rios ou ribeiros não<br />
muito rápidos. Ocorre ainda em margens arenosas ou barrentas de albufeiras e<br />
açudes (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre em salinas, charcos na lezíria<br />
(Leitão et al., 1998) e barragem do Vale Cobrão.<br />
População: Surge sempre em número muito reduzido. O máximo de indivíduos<br />
observados durante a migração outonal foi de 14 em finais de Julho de 1993. Nas<br />
contagens de Inverno de 1990 foram registados 25 aves. Em 1993 foram detectados<br />
dois casais a nidificar, um numa salina abandonada junto à ribeira das enguias e outro<br />
num areeiro abandonado perto de pancas (Leitão et al., 1998). No fim de Junho de<br />
2006 foram registados na barragem do Vale Cobrão uma média de 3,5 aves,<br />
observando-se um máximo de 6 aves. Pelo comportamento de algumas aves a<br />
espécie parece nidificar nas margens da barragem (Rocha, 2006a).<br />
Borrelho-grande-de-coleira, Charadrius hiaticula<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
Invernante e migrador de passagem comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Pouco Preocupante. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 143
incluído nos anexos das convenções de Berna (Anexo II) e de Bona (Anexo II) (ICN,<br />
2006).<br />
Distribuição e movimentos: No Paleártico Ocidental nidifica no domínio da tundra<br />
árctica e em toda a faixa costeira dos mares do Norte, Báltico e de Wadden. A sua<br />
área de distribuição como reprodutora estende-se desde a Alemanha, Bélgica, Bielo-<br />
Rússia, Dinamarca (Ilhas Féroe e Gronelândia), Estónia, Finlândia, França, Holanda,<br />
Islândia, Letónia, Lituânia, Noruega (Svalbard), Polónia, Reino Unido, República da<br />
Irlanda, Rússia e Suécia (BirdLife International/European Bird Census Council, 2000).<br />
Tal como a maioria das limícolas migradoras, quanto mais setentrionais são as<br />
populações nidificantes mais meridionais são os seus quartéis de Inverno, atingindo<br />
esta espécie a África Ocidental e do Sul (Cramp e Simmons, 1983) (ICN, 2006a).<br />
A sua distribuição em Portugal abrange toda a faixa costeira do continente desde o<br />
Minho ao Algarve, ocorrendo ainda, embora em número muito reduzido, em alguns<br />
açudes e barragens do interior do país, sobretudo no Alentejo (ICN, 2006a).<br />
Habitat: Concentram-se em areais extensos ou praias; em áreas abertas, sem<br />
árvores, arbustos e ervas altas, nem excessivamente lodosas e rochosas. Frequenta<br />
também a costa rochosa, embora em números reduzidos, normalmente em áreas com<br />
pequenas praias e lagoas expostas na maré baixa. Pontualmente ocorre em zonas<br />
húmidas interiores (orlas de albufeiras, por exemplo) desde que a estas estejam<br />
associadas áreas de lama relativamente extensa e também em estuários, rios, lagoas<br />
costeiras, arrozais e terrenos alagados. É comum em planícies com vasa. Apesar da<br />
preferência por terrenos húmidos, passa aí pouco tempo, mesmo em águas pouco<br />
profundas. Como pontos de refúgio de maré-alta elege sobretudo salinas, sapais<br />
praias e restingas de areia, formando bandos mistos com o pilrito-comum Calidris<br />
alpina, normalmente muito compactos (ICN, 2006a). No estuário do Tejo ocorrem em<br />
zonas entre marés principalmente arenosas e salinas (Leitão et al., 1998). O borrelhogrande-de-coleira<br />
ocorre no estuário ao longo de todo o ano em densidades que<br />
raramente excederam as 3 aves/ha. A espécie é observada em actividade alimentar<br />
todo o ano na zona do Samouco e em maiores densidades na zona superior do<br />
estuário no Outono e Inverno. A espécie apresenta uma preferência por áreas de<br />
alimentação de areia longe da linha de maré (onde o substrato é pouco húmido).<br />
Ocorre ainda em áreas de areia misturada com vasa, e nas ostreiras (Moreira, 1995).<br />
Esta espécie, é um predador visual que no estuário do Tejo se alimenta mais<br />
intensamente durante o dia nas zonas vasosas (apresentando intake energético<br />
superior durante o dia) embora seja mais abundante nessas zonas durante a noite.<br />
Durante o dia alimenta-se preferencialmente de Hydrobia ulvae e Hediste diversicolor<br />
seguido dos sifões de Scrobicularia plana, de noite alimenta-se principalmente de<br />
Hediste diversicolor (Silva, 2005).<br />
População: Tem sido registado um ligeiro aumento nas populações invernantes desta<br />
espécie. (Wetlands International, 2002.). Em Portugal tem sido registado igualmente<br />
algum incremento nos números obtidos nos censos realizados anualmente. Os<br />
efectivos populacionais invernantes têm flutuado entre os 2 500 e os 6 000 indivíduos<br />
(ICN, 2006a). No estuário do Tejo durante os Invernos de 1975/1978 foram<br />
144<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
ecenseados em termos médios 581 aves, apresentando um máximo de 950 aves em<br />
1977 (Rufino, 1978). No Inverno de 1989 foram recenseadas 200 aves (Rufino, 1989)<br />
e em 1991, 206 aves (Rufino, 1991). No estuário do Tejo a população média<br />
invernante no período 1992-96 foi de 325 indivíduos, com um máximo de 420 aves a<br />
ser atingido em Janeiro de 1996. É abundante durante as passagens migratórias no<br />
Outono. Em 1981 foi registado um máximo de 1715 aves em finais de Agosto (Leitão<br />
et al., 1998). Na margem Norte do estuário entre 1998/1999, a espécie apresentou<br />
densidades muito reduzidas na ordem de 0,006 aves/ha, tendo sido observadas um<br />
máximo de 3 aves (Rosa, 1999). O número médio de médio de aves observadas no<br />
período de 1990/93, foi de 437 aves, correspondendo a 13,6 % do efectivo nacional<br />
(Moreira, 1995). No Inverno de 2000/01 foram recenseados 330 indivíduos dos quais<br />
300 foram observados nas salinas do Vau, em 2004 foram registados 19 aves,<br />
maioritariamente nas salinas do Samouco (Encarnação, dados não publicados). Nas<br />
salinas do Samouco entre 2004/05 o número máximo de borrelho-de-grande-decoleira<br />
foi de 549 aves registados em Dezembro de 2004 (Rocha, dados não<br />
publicados).<br />
Factores de ameaça: A pressão turística nos locais de refúgio e alimentação. As<br />
actividades ligadas ao turismo, nomeadamente as relacionadas com os desportos<br />
náuticos, provocam a perturbação no período em que as aves se alimentam,<br />
obrigando-as a constantes voos e consequente perda de energia; O abandono e<br />
reconversão da actividade salineira tradicional. A transformação ou abandono de<br />
salinas, importante habitat de alimentação, deixa esta espécie em muitos casos, sem<br />
alternativa; A caça ilegal, incluindo a caça fora da época, seja o abate directo ou a<br />
perturbação provocada pelo exercício da caça a outras espécies, é um problema<br />
grave. Na Ria de Aveiro, importante local de invernada para a espécie, representa<br />
uma ameaça séria à presença da espécie naquela região; A poluição da água, por<br />
efluentes domésticos, industriais e agrícolas; A destruição do habitat de descanso e<br />
alimentação. O crescente interesse sobre a faixa litoral para a instalação de<br />
complexos turísticos, tem afectado fortemente as zonas habituais de descanso e<br />
alimentação desta espécie, quer pela ocupação do solo, com a consequente<br />
destruição ou alteração do habitat, quer por um aumento significativo de perturbação<br />
que esses empreendimentos induzem em toda a área envolvente das zonas húmidas.<br />
A colisão com linhas aéreas de transporte de energia pode ser um importante factor de<br />
mortalidade, particularmente em dias de fraca visibilidade, quando aquelas estruturas<br />
são colocadas perto das áreas utilizadas pela espécie ou nas suas rotas de migração;<br />
A instalação de parques eólicos em corredores importantes para a migração e<br />
dispersão de aves pode constituir um importante factor de mortalidade da espécie<br />
através da colisão nas pás dos aerogeradores. Os traçados eléctricos que estão<br />
associados aos parques eólicos constituem outro problema importante devido aos<br />
subsequentes riscos de colisão (ICN, 2006a).<br />
Medidas de Conservação: Efectuar a protecção efectiva das zonas mais importantes<br />
de invernada evitando a sua ocupação por actividades turísticas; Manter as salinas em<br />
actividade e efectuar gestão adequada das salinas abandonadas, nomeadamente<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 145
através de medidas específicas de incentivo, nas áreas mais importantes para a<br />
conservação da espécie; Incrementar a sustentabilidade económica das salinas,<br />
nomeadamente através da certificação de produtos; Restringir o exercício da caça e<br />
da exploração cinegética inadequada nos locais de descanso e de invernada; Manter e<br />
melhorar a qualidade da água pelo tratamento eficaz das descargas de efluentes;<br />
Fiscalizar e controlar o funcionamento e eficácia das ETAR e monitorizar a qualidade<br />
da água; Restringir o uso de agro-químicos e adoptar técnicas alternativas; Proibir a<br />
instalação de linhas eléctricas de transporte de energia nas áreas mais importantes<br />
para a espécie; Equipar as linhas eléctricas de transporte de energia já existentes, e<br />
que se revelem mortíferas para a espécie, com sinalizadores anti-colisão; Condicionar<br />
a instalação de parques eólicos nas áreas mais importantes para a migração e<br />
dispersão da espécie. Melhorar eficácia de fiscalização sobre a perturbação e abate<br />
ilegal; Monitorizar as populações invernantes a nível nacional; Desenvolver estudos de<br />
monitorização do impacte das linhas eléctricas de transporte de energia já existentes,<br />
de forma a conhecer o seu efeito na população nacional destas aves; Elaborar os<br />
planos de gestão / ordenamento dos locais de que a espécie depende, nomeadamente<br />
das ZPE’s mais importantes para a espécie; Promover estudos sobre aspectos<br />
básicos da biologia da espécie (ecologia, movimentos, requisitos de habitat e recursos<br />
alimentares) (ICN, 2006a).<br />
Borrelho-de-coleira-interrompida, Charadrius alexandrinus<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é residente e migrador de passagem,<br />
nos arquipélagos dos Açores e Madeira é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante e migrador de passagem comum, sendo particularmente<br />
abundante entre os meses de Agosto a Setembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto de Pouco<br />
Preocupante, Informação Insuficiente nos Açores e Criticamente em Perigo na<br />
Madeira. A nível internacional é considerada uma espécie Em Declínio pela BirdLife<br />
International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos<br />
das convenções de Berna (Anexo II), de Bona (Anexo II) e das Directivas<br />
Aves/Habitats (Anexo I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: No Paleártico Ocidental a espécie tem uma distribuição<br />
marcadamente meridional, embora esteja presente como nidificante nas costas Norte -<br />
europeias entre a Bretanha e o Ocidente do Mar Báltico. No Norte de África e Médio<br />
Oriente está presente do Sara Ocidental ao delta do Nilo e Turquia. As populações<br />
Norte - europeias possuem um carácter fortemente migratório. A maioria das aves<br />
europeias, invernam em áreas costeiras no Mediterrâneo e ao longo da costa no Sul<br />
de África até ao Equador.A sua distribuição em Portugal abrange toda a faixa costeira<br />
do continente desde o Minho ao Algarve, ocorrendo ainda, embora em número muito<br />
reduzido, em alguns açudes e barragens do interior do país, sobretudo no Alentejo<br />
(ICN, 2006a). Nos Açores ocorre nas ilhas do Faial, Pico, graciosa, Terceira, São<br />
Miguel e Santa Maria (Bannerman e Bannerman 1966). No arquipélago da Madeira<br />
ocorre unicamente em Porto Santo (ICN, 2006).<br />
146<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Habitat: No Inverno procura normalmente praias, salinas ou pequenas ilhas de areia.<br />
Gosta de superfícies macias de areia e zonas lodosas, tolera praias com cascalho e<br />
evita terrenos rochosos e costas expostas ao vento. Depende de áreas protegidas<br />
como reservas naturais e de salinas, que lhes providencia alimento e ausência de<br />
grandes perturbações. O alimento é obtido em águas pouco profundas, na vasa ou em<br />
terreno aberto. Embora essencialmente costeiro em grande parte da área de<br />
nidificação, encontrando-se em zonas arenosas e em lagoas costeiras, ocorre também<br />
em zonas interiores muito diferenciadas de região para região, desde zonas húmidas<br />
artificiais, a salinas, estuários e arrozais (ICN, 2006a). No estuário do Tejo a espécie<br />
tem preferência pelas zonas entre marés, salinas e arrozais (Leitão et al., 1998). O<br />
borrelho-de-coleira-interrompida ocorre no estuário ao longo de todo o ano em<br />
densidades que raramente excederam as 2 aves/ha. A espécie é observada em<br />
actividade alimentar na parte central/superior e ainda na zona do Samouco. Nestas<br />
zonas ocorre em maiores densidades em áreas longe da linha de maré e com<br />
substrato de vasa arenosa (Moreira, 1995). C. alexandrinus é um predador visual que<br />
na zona vasosa se alimenta mais intensamente durante o dia (apresentando intake<br />
energético superior durante esse período) embora seja mais abundante nas áreas de<br />
alimentação durante a noite. Durante a noite alimenta-se preferencialmente de<br />
Hydrobia ulvae, seguido de Hediste diversicolor e dos sifões de Scrobicularia plana, de<br />
dia alimenta-se principalmente de Hediste diversicolor (Silva, 2005).<br />
População: A tendência populacional é de declínio, quer ao nível global quer em<br />
Portugal (Wetlands International 2002). Os efectivos populacionais invernantes têm<br />
flutuado entre os 2.500 e os 4.000 indivíduos, sendo as estimativas para o efectivo<br />
nidificante situadas entre 1.200 e 3.000 casais (ICN, 2006a). No estuário do Tejo a<br />
população média invernante no período de 1975/1978 foi de 123 aves, apresentando<br />
um máximo de 212 aves em 1978 (Rufino, 1978). No Inverno de 1989 foram<br />
recenseadas 423 aves (Rufino, 1989) e em 1991, foram recenseadas 245 aves<br />
(Rufino, 1991). A população média invernante no estuário do Tejo no período de 1992-<br />
1996 foi de 318 indivíduos, com um máximo de 548 aves atingido em Janeiro de 1995.<br />
Nos Invernos de 1999/00 e 2000/01 foram recenseados 153 indivíduos, em 2004<br />
foram registados 159 aves (Encarnação, dados não publicados) e em Dezembro de<br />
2005 390 aves nas salinas do Samouco (Rocha, dados não publicados). A população<br />
nidificante foi estimada em 98 casais em 1983. Nos meses em que a espécie é muito<br />
abundante, o número de aves desta espécie pode ascender aos 1700 indivíduos como<br />
sucedeu em Setembro de 1993 (Leitão et al., 1998). Na margem Norte do estuário<br />
entre 19989/1999, a espécie apresentou densidades reduzidas na ordem de 0,025<br />
aves/ha, tendo sido observadas um máximo de 11 aves (Rosa, 1999). Nas salinas do<br />
Samouco entre 2004/05 o número máximo de borrelho-de-coleira-interrompida foi de<br />
667 aves registado durante Agosto de 2005. As salinas do Samouco parecem ser um<br />
local importante para a nidificação da espécie no estuário do Tejo, o número médio de<br />
posturas entre 1996 e 2005 foi de 257,6 ocorrendo um máximo de 467 ninhos em<br />
1997 e um mínimo de 80 ninhos em 1999 (Rocha, dados não publicados). Durante o<br />
período reprodutor de 2005 foi estimada uma população nidificante de 31 casais<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 147
(Rocha, 2005). O número médio de médio de aves observadas no período de 1990/93,<br />
foi de 372 aves, correspondendo a 20,2 % do efectivo nacional (Moreira, 1995).<br />
Factores de ameaça: A pressão turística nos locais de nidificação, devido a<br />
perturbação, mas também a destruição dos ninhos em consequência do pisoteio; O<br />
abandono e reconversão da actividade salineira tradicional. A transformação ou<br />
destruição de salinas, importante habitat de alimentação e de nidificação; A caça<br />
ilegal, incluindo a caça fora da época, seja o abate directo ou a perturbação provocada<br />
pelo exercício da caça a outras espécies, é um problema grave. Para além do Homem,<br />
muitos animais, como raposas, gaivota, cães e gatos domésticos alimentam-se dos<br />
ovos, provocando importante redução no sucesso reprodutor da espécie; A poluição<br />
da água, por efluentes domésticos, industriais e agrícolas; A destruição do habitat de<br />
descanso e alimentação (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: Efectuar a protecção efectiva das zonas mais importantes<br />
de reprodução evitando a sua ocupação por actividades turísticas ou promovendo a<br />
criação de zonas de nidificação artificiais; Manter as salinas em actividade e efectuar<br />
gestão adequada das salinas abandonadas, nomeadamente através de medidas<br />
específicas de incentivo, nas áreas mais importantes para a conservação da espécie;<br />
Restringir o exercício da caça e da exploração cinegética inadequada nos locais de<br />
descanso e de invernada; Reduzir a predação, nomeadamente pela construção de<br />
cercas eléctricas à volta das colónias, nos locais de nidificação e controlando os<br />
animais assilvestrados; Manter e melhorar a qualidade da água pelo tratamento eficaz<br />
das descargas de efluentes. Fiscalizar e controlar o funcionamento e eficácia das<br />
ETAR e monitorizar a qualidade da água; Restringir o uso de agro-químicos e adoptar<br />
técnicas alternativas; Proceder a fiscalização adequada sobre a perturbação humana<br />
decorrente da actividade turística; Elaborar os planos de gestão / ordenamento dos<br />
locais de que a espécie depende, nomeadamente das ZPE’s mais importantes para a<br />
espécie; Monitorizar os efectivos populacionais; Promover estudos sobre aspectos<br />
básicos da biologia da espécie (ICN, 2006a).<br />
Tarambola-dourada, Pluvialis apricaria<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo III), de Bona (Anexo II), das<br />
Directivas Aves/Habitats (Anexo I, D) e incluída na Lei de Bases de Caça (ICN, 2006).<br />
Habitat: No estuário do Tejo, ocorre em toda a lezíria, onde frequenta pastagens,<br />
forragens e terrenos lavrados (Leitão et al., 1998).<br />
População: No estuário do Tejo a população a invernante em 1990/1991 foi de 79<br />
aves (Rufino, 1991). No Inverno de 1991/92 as densidades de Tarambola-dourada<br />
variam entre 5 e 26 aves/10ha em Novembro e Dezembro e entre 0,4 e 7aves/10ha<br />
em Janeiro e Fevereiro. Esta forte diminuição na abundância a partir de Janeiro<br />
poderá ter estado relacionada, entre outros factores, com a elevada pressão<br />
148<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
cinegética que esta espécie sofre na lezíria e com o grande desenvolvimento da<br />
vegetação nas pastagens temporárias no final do Inverno (Leitão et al., 1998). Em<br />
1997 foram recenseadas 916 aves, 300 em 2001 (sobretudo na Giganta e salina do<br />
Vau) e 5 em 2004 (Encarnação, dados não publicados).<br />
Tarambola-cinzenta, Pluvialis squatarola<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante e migrador de passagem comum (Leitão et al., 1998), sendo mais<br />
abundante durante o Outono e Inverno (Andrade, 2001).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo III) e de Bona (Anexo II) (ICN,<br />
2006).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie marcadamente boreal, presente apenas na<br />
tundra árctica, pelo que a sua distribuição no Paleártico Ocidental como reprodutora<br />
está restrita ao extremo norte da Rússia. Inverna na Europa Ocidental, Mediterrâneo,<br />
África Ocidental, Central e do Sul (Cramp e Simmons, 1983). A sua área de<br />
distribuição no território nacional continental abrange sobretudo a faixa costeira de<br />
Norte a Sul do país, constituindo os estuários as zonas de maior concentração (ICN,<br />
2006a).<br />
Habitat: Espécie limícola predominantemente estuarina, pode, ainda, encontrar-se em<br />
salinas, lagoas costeiras, terrenos alagados e arrozais. Alimenta-se principalmente em<br />
zonas de vasa (ICN, 2006a). No estuário do Tejo ocorre na zona entre-marés, salinas<br />
e mais raramente, terrenos cultivados (Leitão et al., 1998). A tarambola-cinzenta<br />
ocorre no estuário ao longo de todo o ano (diminuindo os seus efectivos entre Junho e<br />
Agosto) em densidades geralmente abaixo das 4 aves/ha. Com excepção do Verão a<br />
espécie é observada em actividade alimentar nas zonas central e superior do estuário.<br />
Apresenta uma preferência por áreas de alimentação de vasa arenosa (principalmente<br />
no Inverno) e por áreas com canais, próximos da linha de maré, mas com longos<br />
períodos de emersão. No Verão não apresenta preferência por qualquer tipo de<br />
substrato (Moreira, 1995). A espécie é um predador visual que na zona vasosa se<br />
alimenta mais intensamente durante o dia (contudo apresenta um intake energético<br />
superior durante a noite). Durante o dia alimenta-se preferencialmente de Hydrobia<br />
ulvae e Hediste diversicolor e durante a noite inverte essa preferência (Silva, 2005). O<br />
poliqueta Hediste diversicolor representou pelo menos 83% da biomassa ingerida pela<br />
espécie, sendo as suas presas secundárias os gastrópodes Peringia ulvae e os sifões<br />
de Scrobicularia plana (Moreira, 1995). Os principais locais de refúgio de preia-mar da<br />
espécie são as salinas do Samouco, Bela vista, Vasa Sacos e Vale Frades.<br />
População: A tendência sugerida pelos censos internacionais para esta área<br />
geográfica de distribuição da espécie é de incremento. Os censos anuais de aves<br />
invernantes em Portugal indicam uma população entre 8 000 e 10 000 indivíduos<br />
(Encarnação, com pess.) (ICN, 2006). No estuário do Tejo a população média<br />
invernante no período de 1975/1978 foi de 4345 aves, apresentando um máximo de<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 149
8900 aves em 1978 (Rufino, 1978). No Inverno de 1989 foram recenseadas 6836 aves<br />
(Rufino, 1989). O número médio de médio de aves observadas no período de 1990/93,<br />
foi de 4261 aves, correspondendo a 55,9 % do efectivo nacional (Moreira, 1995). A<br />
população média invernante no período de 1992/96 foi de 3402 indivíduos, com um<br />
máximo de 5200 aves a ser atingido em Janeiro de 1993. As contagens de tarambolas<br />
feitas no Verão e Outono de 1981 permitiram constatar a existência de grandes<br />
flutuações nos efectivos presentes no estuário, sugerindo assim uma forte migração<br />
pós-nupcial nesta zona (Leitão et al., 1998). Na margem Norte do estuário entre<br />
1998/1999, a espécie apresentou densidades na ordem de 0,377 aves/ha, tendo sido<br />
observadas um máximo de 71 aves (Rosa, 1999). Nos Invernos de 1995/98 foram<br />
observadas 2678 aves e entre 1999/00 e 2000/01 1377 aves. Em Janeiro de 2004<br />
foram recenseadas apenas 455 aves (Encarnação, dados não publicados), no ano<br />
seguinte foram observadas 408 aves nas salinas do Samouco durante o mês de<br />
Dezembro. Nas salinas do Samouco entre 2004/05 o número máximo de tarambolacinzenta<br />
foi de 2660 aves registado em Agosto de 2004 (Rocha, dados não<br />
publicados).<br />
Factores de ameaça: A pressão turística nos locais de invernada. A poluição da água,<br />
por efluentes domésticos, industriais e agrícolas. No Inverno esta espécie ocupa<br />
preferencialmente zonas estuarias, sendo extremamente vulnerável a incidentes<br />
relacionados com a poluição; A caça ilegal. Em Aveiro a caça ilegal, incluindo a caça<br />
fora da época, seja o abate directo ou a perturbação provocada pelo exercício da caça<br />
a outras espécies, é um problema grave. A colisão com linhas aéreas de transporte de<br />
energia pode ser um importante factor de mortalidade, particularmente em dias de<br />
fraca visibilidade, quando aquelas estruturas são colocadas perto das áreas utilizadas<br />
pela espécie ou nas suas rotas de migração; A instalação de parques eólicos em<br />
corredores importantes para a migração e dispersão de aves pode constituir um<br />
importante factor de mortalidade da espécie através da colisão nas pás dos<br />
aerogeradores. Os traçados eléctricos que estão associados aos parques eólicos<br />
constituem outro problema importante devido aos subsequentes riscos de colisão<br />
(ICN, 2006a).<br />
Medidas de Conservação: Proceder à protecção efectiva das zonas mais importantes<br />
de invernada evitando a sua ocupação por actividades turísticas. Diminuir a utilização<br />
de fertilizantes orgânicos; Manter e melhorar a qualidade da água pelo tratamento<br />
eficaz das descargas de efluentes. Fiscalizar e controlar o funcionamento e eficácia<br />
das ETAR e monitorizar a qualidade da água; Restringir o uso de agro-químicos e<br />
adoptar técnicas alternativas; Controlar a caça ilegal sobretudo na zona do Baixo<br />
Vouga; Monitorizar as áreas de invernada e de passagem mais importantes; Ordenar<br />
práticas de desporto da natureza; Ordenar actividades de recreio e lazer; Proibir a<br />
instalação de linhas eléctricas de transporte de energia nas áreas mais importantes<br />
para a espécie; Equipar as linhas eléctricas de transporte de energia já existentes, e<br />
que se revelem mortíferas para a espécie, com sinalizadores anti-colisão; Condicionar<br />
a instalação de parques eólicos nas áreas mais importantes para a migração e<br />
dispersão da espécie. Desenvolver estudos de monitorização do impacte das linhas<br />
150<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
eléctricas de transporte de energia já existentes, de forma a conhecer o seu efeito na<br />
população nacional destas aves; Elaborar os planos de gestão / ordenamento dos<br />
locais de que a espécie depende, nomeadamente das ZPE’s mais importantes para a<br />
espécie (ICN, 2006a).<br />
Abibe, Vanellus vanellus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo III) e de Bona (Anexo II) (ICN,<br />
2006).<br />
Habitat: Frequenta um largo espectro de biótopos da lezíria, desde pastagens,<br />
forragens e cultivos de cereal, até restolhos alagados, alqueives e montados abertos<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
População: No estuário do Tejo a população a invernante em 1989, foi de 200 aves<br />
(Rufino, 1989) e em 1990/1991 foram recenseadas 793 aves (Rufino, 1991). Neste<br />
último Inverno as densidades registadas nas pastagens permanentes, nos alqueives e<br />
nos restolhos de girassol e milho ultrapassaram frequentemente 10 aves/10ha, tendo<br />
sido mais baixas nos restantes biótopos (Leitão et al., 1998). Nos Invernos de 1995/98<br />
foram observadas 528 aves e entre 1999/00 e 2000/01 742 aves, sobretudo na<br />
Companhia das Lezírias. Em Janeiro de 2004 foram recenseadas apenas 4629 aves,<br />
na sua maioria observadas na Giganta (Encarnação, dados não publicados)<br />
Família Scolopacidae<br />
Seixoeira, Calidris canutos<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante pouco comum e migrador de passagem comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Vulnerável. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Em Declínio pela BirdLife International (2004)<br />
e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de<br />
Berna (Anexo III) e de Bona (Anexo II) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Nidifica em várias zonas do Árctico, desde o Alasca,<br />
Canadá, Gronelândia, até à Sibéria. Em Portugal continental ocorrem duas<br />
subespécies distintas: Calidris canutos canutos e C. c. islandica. As subespécies que<br />
ocorrem em Portugal nidificam no Canadá, Gronelândia e Sibéria central. Inverna no<br />
Oeste da Europa, Mediterrâneo e África, e provavelmente na Austrália (del Hoyo et al.,<br />
1996).<br />
Habitat: Ocorre preferencialmente em zonas húmidas costeira (salinas, zonas entremarés).<br />
No estuário do Tejo tem preferência pelas zonas entre-marés de areia vasosa<br />
com valas e vegetação de sapal e ainda salinas (Leitão et al., 1998). A seixoeira<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 151
ocorre no estuário em densidades que raramente ultrapassam as 5 aves/ha,<br />
apresentando alguns picos que correspondem a movimentos pré-nupciais. A espécie<br />
surge em densidades mais elevadas na parte terminal do estuário, nas zonas de vasa<br />
arenosa (no Inverno) e nas zonas de vasa (no Outono). Na Primavera ocorre em<br />
zonas de vasa mais interiores do estuário (Moreira, 1995). Alimenta-se<br />
preferencialmente de poliquetas, gastrópodes e bivalves, sendo a principal presa o<br />
gastrópode Peringia ulvae (Moreira, 1995).<br />
População: Esta espécie tem sido monitorizada nas zonas estuarinas desde a década<br />
de 1970. A análise destes censos até 2000 permitiu verificar que a abundância da<br />
população tem permanecido estável, oscilando entre 400 e 900 indivíduos (Sousa<br />
2002b) (ICN, 2006). No estuário do Tejo a população média invernante no período de<br />
1975/1978 foi de 346 aves, apresentando um máximo de 625 aves em 1976 (Rufino,<br />
1978). No Inverno de 1989 foram recenseadas 1010 aves (Rufino, 1989). O número<br />
médio de médio de aves observadas no estuário do Tejo no período de 1990/93, foi de<br />
91 aves, correspondendo a 29,6 % do efectivo nacional (Moreira, 1995). A população<br />
média invernante no estuário no período de 1992 a 1996 foi de 220 aves, com um<br />
máximo de 550 indivíduos a ser atingido em Janeiro de 1996. Ocorre em maior<br />
número durante a migração pós-nupcial (1405 aves em Setembro de 1981) e na<br />
migração pré-nupcial (Leitão et al., 1998). No Inverno de 2000/2001 foram observados<br />
3690 nas salinas de Vasa Sacos, em 2003/04 foram recenseadas 112 aves<br />
(Encarnação, dados não publicados), 95 nas salinas do Samouco. Nas salinas do<br />
Samouco entre 2004/05 o número médio de tarambola-cinzenta foi de 245 aves,<br />
registando-se um máximo de 1285 aves em Novembro de 2004 (Rocha, dados não<br />
publicados).<br />
Factores de ameaça: Perda ou degradação de habitat (por acção do Homem),<br />
nomeadamente abandono ou degradação de salinas, a transformação de salinas em<br />
aquaculturas e a destruição ou degradação das zonas entre marés (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: A maior parte das áreas estuarinas utilizadas por esta<br />
população durante o Inverno estão incluídas em áreas com estatuto legal de protecção<br />
(Reservas Naturais, Zonas de Protecção Especial, Sítio Ramsar). Várias outras zonas<br />
foram recentemente desiganadas como Zonas Importantes para as Aves (Costa et al.,<br />
2003). Deve ser promovida a manutenção da actividade salineira e condicionada a<br />
alteração de uso das áreas ocupadas por salinas, também fora de áreas classificadas<br />
(por exemplo, estuário do Tejo). É necessário uma monitorização mais eficaz, de<br />
modo a obter estimativas mais fiáveis da sua abundância (ICN, 2006).<br />
Pilrito-sanderlingo, Calidris alba<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante e migrador de passagem pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo II) e de Bona<br />
(Anexo II) (ICN, 2006).<br />
152<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Distribuição e movimentos: Nidifica no extremo Árctico. Os locais de invernada mais<br />
importantes localizam-se em África, nas ilhas Britânicas e no mar de Wadden (Smith e<br />
Piersma, 1989).<br />
Habitat: No estuário do Tejo ocorre principalmente nas salinas do Samouco, surge<br />
ainda noutras salinas e nas zonas entre marés arenosas (Leitão et al., 1998). No<br />
estuário do Tejo, o pilrito-sanderlingo é observado em duas zonas com padrões de<br />
ocupação diferente: - nas praias próximas da foz (Santo Amaro e Cruz Quebrada) a<br />
densidade da espécie foi extremamente elevada, atingindo valores médios da ordem<br />
das 50 aves/ha; -nas áreas tipicamente estuarinas, as densidades foram muito baixas,<br />
raramente excedendo as 6 aves/ha. As maiores densidades da espécie em actividade<br />
alimentar surgem nas zonas arenosas e rochosas na parte terminal do estuário (foz)<br />
durante o Outono e Inverno. Na Primavera a espécie surge em maiores densidades<br />
nas zonas de vasa no interior do estuário (Moreira, 1995).<br />
População: No estuário do Tejo a população média invernante no período de<br />
1975/1978 foi de 6 aves, apresentando apenas um registo em 1976de 24 aves em<br />
(Rufino, 1978). No Inverno de 1989 foram recenseadas 20 aves (Rufino, 1989) e em<br />
1991, 20 aves (Rufino, 1991). A população média invernante no estuário do Tejo no<br />
período de 1992 a 1996 foi de 50 aves, com um máximo de 105 indivíduos a ser<br />
atingido em Janeiro de 1994. É mais abundante nas passagens migratórias. Em<br />
Agosto de 1993 foram observados 171 indivíduos. (Leitão et al., 1998). Em Janeiro de<br />
2004, foram registadas 215 aves, 210 na Praia (Encarnação, dados não publicados).<br />
Nas salinas do Samouco entre 2004/05 o número médio de pilrito-sanderlingo foi de<br />
54 aves, registando-se um máximo de 100 aves em Novembro de 2004 (Rocha, dados<br />
não publicados).<br />
Pilrito-pequeno, Calidris minuta<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante pouco comum e migrador de passagem comum. Como migrador de<br />
passagem é mais abundante no Outono do que na Primavera (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo II) e de Bona<br />
(Anexo II) (ICN, 2006).<br />
Habitat: No estuário do Tejo ocorre principalmente nas salinas e nas zonas entre<br />
marés (Leitão et al., 1998).<br />
População: No estuário do Tejo a população média invernante no período de<br />
1975/1978 foi de 23 aves, apresentando um máximo de 37 aves em 1978 (Rufino,<br />
1978). No Inverno de 1989 foram recenseadas 110 aves (Rufino, 1989) e em 1991, 24<br />
aves (Rufino, 1991). A população média invernante no estuário do Tejo no período de<br />
1992 a 1996 foi de 178 aves, com um máximo de 336 indivíduos a ser atingido em<br />
Janeiro de 1995. É mais abundante nas passagens migratórias. Em Agosto de 1993<br />
foram observados 171 indivíduos. Em Outubro de 1993 observaram-se pelo menos<br />
888 indivíduos (Leitão et al., 1998). Nos Invernos de 1995/98 foram observadas 218<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 153
aves, 105 em 2000 e 108 em 2004, 93 das quais nas salinas do Samouco<br />
(Encarnação, dados não publicados). Em Janeiro de 2005 foram observadas 156 aves<br />
nas salinas do Samouco, apresentando um máximo de 607 aves no mês de Dezembro<br />
(Rocha, dados não publicados).<br />
Pilrito-de-Temminck, Calidris temminckii<br />
Fenologia: No estuário do Tejo ocorre como migrador de passagem raro (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Não Ameaçado.<br />
Está incluído nos anexos das convenções de Berna (Anexo II) e de Bona (Anexo II)<br />
(SNPRCN, 1990).<br />
Habitat: No estuário do Tejo ocorre nas salinas, charcos e terrenos alagados (Leitão<br />
et al., 1998).<br />
População: A maioria das observações diz respeito a indivíduos isolados (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
Pilrito-de-bico-comprido, Calidris ferruginea<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante e migradora de passagem. No<br />
estuário do Tejo ocorre como invernante pouco comum e migrador de passagem<br />
comum. Na migração pré-nupcial é pouco comum. É mais abundante na migração<br />
pós-nupcial, de Julho a Setembro. (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Vulnerável. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo II) e de Bona (Anexo II) (ICN,<br />
2006).<br />
Distribuição e movimentos: Nidifica na Sibéria. Inverna predominantemente na<br />
África subsariana, península arábica, até à Austrália (del Hoyo et al., 1996). Em<br />
Portugal ocorre principalmente em zonas húmidas, nomeadamente na Ria Formosa<br />
(Farinha e Costa 1999).<br />
Habitat: Ocorre preferencialmente em zonas húmidas costeira, em salinas e zonas<br />
entre-marés tal como acontece no estuário do Tejo (Leitão et al., 1998).<br />
População: Esta espécie tem sido monitorizada nas zonas estuarinas desde a década<br />
de 1970. A análise destes censos até 2000 mostra que, embora nos primeiros anos a<br />
sua abundância seja pequena e irregular, na década de 1990 o número de aves<br />
aumentou. Verifica-se que na última década a sua abundância tem permanecido<br />
estável, tendo oscilado entre 50 e 350 indivíduos (Sousa, 2002b) (ICN, 2006). No<br />
estuário do Tejo a durante o período de 1975/1978 foi recenseada apenas, 1 ave em<br />
1977 (Rufino, 1978). Em finais de Julho de 1981 foram contados 930 indivíduos<br />
(Leitão et al., 1998). No Inverno de 1996 foram observados 200 aves, em 2000 foram<br />
recenseadas 112 aves nas salinas da Atalaia (Encarnação, dados não publicados).<br />
Em Novembro de 2004 foram observadas 1785 aves nas salinas do Samouco (Rocha,<br />
dados não publicados).<br />
154<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Factores de ameaça: Perda ou degradação de habitat (por acção do Homem),<br />
nomeadamente abandono ou degradação de salinas, a transformação de salinas em<br />
aquaculturas e a destruição ou degradação das zonas entre marés (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: A maior parte das áreas estuarinas utilizadas por esta<br />
população durante o Inverno estão incluídas em áreas com estatuto legal de protecção<br />
(Reservas Naturais, Zonas de Protecção Especial, Sítio Ramsar). Várias outras zonas<br />
foram recentemente desiganadas como Zonas Importantes para as Aves (Costa et al.,<br />
2003). No entanto, é necessário assegurar a conservação do habitat e a minimização<br />
dos factores de ameaça referidos, nomeadamente a promoção e a manutenção da<br />
actividade salineira. É necessário obter estimativas fiáveis da sua abundância e<br />
distribuição (ICN, 2006).<br />
Pilrito-comum, Calidris alpina<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante e migradora de passagem. No<br />
estuário do Tejo ocorre como invernante e migrador de passagem comum (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001<br />
in ICN 2006). Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo II), de Bona<br />
(Anexo II) e a subespécie Calidris alpina schinzii está incluída no anexo I das<br />
Directivas Aves/Habitats (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Tem uma distribuição holárctica, nidificando em regiões<br />
árcticas e sub árcticas, ocorrendo ainda como nidificante nas zonas temperadas no<br />
Norte da Europa. No Inverno distribuem-se predominantemente pelas zonas húmidas<br />
costeiras das regiões temperadas e subtropicais, desde o sudoeste da Europa e<br />
noroeste de África até ao noroeste da Índia e raramente ao Bangladesh (del Hoyo et<br />
al.,1996). A espécie Calidris alpina é uma migradora de longa distância com uma<br />
distribuição circumpolar da sua área de reprodução, sendo conhecidas nove<br />
subespécies (del Hoyo et al., 1996). Ocorrem em Portugal três subespécies (C. a.<br />
alpina, C. a. schinzii e C. a. arctica) que integram bandos mistos. Em Portugal ocorre<br />
sobretudo ao longo da faixa litoral, os estuários do Tejo e do Sado, a ria de Aveiro e a<br />
ria Formosa albergam, no seu conjunto, a maioria da população invernante no nosso<br />
país. O estuário do Tejo pode albergar, em alguns anos, mais de 1% da população<br />
invernante da costa oeste europeia (Farinha e Costa, 1999).<br />
Habitat: O habitat ocupado por esta espécie é composto pela presença de água e de<br />
zonas sem vegetação ou com vegetação herbácea de pequena dimensão. Evita zonas<br />
secas pedregosas ou rochosas e locais com densa vegetação ou arbustos altos.<br />
Encontra-se frequentemente associada a extensas áreas lamacentas deixadas a<br />
descoberto na maré baixa, rica em invertebrados. Também ocorre regularmente em<br />
estuários, salinas, lagoas costeiras, terrenos alagados, arrozais, açudes e barragens.<br />
As salinas, praias e bancos de sapal, constituem importantes áreas de refúgio das<br />
marés. A actividade desta espécie tende a seguir o regime das marés mais do que a<br />
periodicidade diurna. Descansa nos estuários e durante a preia-mar em salinas, ilhas<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 155
ou zonas de sapal, geralmente estendendo-se ao longo da linha de água (ICN, 2006).<br />
As aves tendem a seleccionar áreas entre marés próximas dos locais de refúgio, tanto<br />
no que diz respeito à escolha de áreas de refúgios durante as águas-mortas<br />
(localizados junto ao sapal), como no que diz respeito às áreas de alimentação no<br />
interior do estuário (Lecoq, 2002a). A dieta de C. alpina é constituída essencialmente<br />
por anelídeos no Outono e bivalves no Inverno (sobretudo Scrobicularia plana). Na<br />
Primavera, preda essencialmente Hediste diversicolor (Moreira, 1995). O pilrito-comum<br />
apresenta preferência marcada por sedimentos vaso-arenosos durante os meses de<br />
Inverno. Esta preferência parece estar relacionada com uma maior abundância das<br />
suas presas preferidas nestes sedimentos. A sua dieta é constituída por o anelídeo<br />
Hediste diversicolor (corresponde a 80% da biomassa consumida), os bivalves<br />
Scrobicularia plana e Abra tenuis e o gastrópode Hydrobia ulvae (Santos, 2001). O<br />
plirito-comum ocorre no estuário em densidades que variam as 0 e 20 aves/ha,<br />
apresentando alguns picos em Janeiro e Abril/Maio. A espécie tem preferência<br />
marcada por áreas de vasa arenosa em especial junto de vegetação de sapal,<br />
seleccionando ainda áreas humanizadas (embora seja sensível à presença humana).<br />
Na Primavera a espécie surge em maiores densidades nas zonas de vasa no interior<br />
do estuário (Moreira, 1995). Utiliza como principais locais de refúgio de preia-mar as<br />
salinas do Samouco, Belavista, Vasa Sacos, Vale Frades e Atalaia, e ainda a Giganta<br />
e a Reserva Integral.<br />
População: A estabilidade tem caracterizado a tendência registada nos últimos anos<br />
para esta espécie. Contudo, a subespécie C. a. schinzii tem apresentado decréscimo<br />
do número de efectivos na sua área de distribuição (Wetlands International, 2002).<br />
Mais de 62 000 indivíduos permanecem em Portugal durante o Inverno e muitas mais<br />
aves usam a costa portuguesa durante a sua migração para África (Lopes 2004). No<br />
estuário do Tejo a população média invernante no período de 1975/1978 foi de 29346<br />
aves, apresentando um máximo de 34400 aves em 1977 (Rufino, 1978). No Inverno<br />
de 1989 foram recenseadas 22980 aves (Rufino, 1989) e em 1991, 9681 aves (Rufino,<br />
1991). O número médio de médio de aves observadas no período de 1990/93, foi de<br />
14364 aves, correspondendo a 34,6 % do efectivo nacional (Moreira, 1995). Nos<br />
Invernos de 1995/98 foram observadas 9943 aves, 6520 aves entre 2000 e 2001 e<br />
6056 aves em 2004 (Encarnação, dados não publicados). Na margem Norte do<br />
estuário entre 1998/1999, a espécie apresentou densidades na ordem de 0,124<br />
aves/ha, tendo sido observadas um máximo de 130 aves (Rosa, 1999). Entre os<br />
meses de Dezembro de 2001 e Janeiro de 2002 os principais locais de refugio de<br />
preia-mar do pilrito-comum no estuário do Tejo foram as salinas de Vasa Sacos,<br />
Samouco e Vale de Frades, tendo sido observadas em média 5130 (±362), 3761<br />
(±532) e 1476 (±187) aves, respectivamente (Lecoq, 2002a). Nas salinas do Samouco<br />
entre 2004/05 o número médio de pilrito-comum foi de 2477 aves, registando-se um<br />
máximo de 5331 aves em Novembro de 2004 (Rocha, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: A pressão urbanística e turística da zona litoral, tem afectado<br />
fortemente as zonas habituais de descanso e alimentação, quer pela ocupação do<br />
solo, com a consequente destruição ou alteração do habitat, quer por um aumento<br />
156<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
significativo de perturbação que esses empreendimentos induzem em toda a área<br />
envolvente das zonas húmidas; A poluição da água, por efluentes domésticos,<br />
industriais e agrícolas. No Inverno esta espécie ocupa preferencialmente zonas<br />
estuarias, sendo extremamente vulnerável a incidentes relacionados com a poluição.<br />
O abandono e reconversão da actividade salineira tradicional. As salinas constituem<br />
importantes áreas de refúgio de marés e alternativa na busca de alimentação, quando<br />
as zonas habituais estão submersas ou são perturbadas; A transformação ou<br />
destruição de salinas, importante habitat de alimentação, deixa esta espécie em<br />
muitos casos sem habitat alternativo. A colisão com linhas aéreas de transporte de<br />
energia pode ser um importante factor de mortalidade, quando aquelas estruturas são<br />
colocadas perto das áreas utilizadas pela espécie ou nas suas rotas de migração; A<br />
instalação de parques eólicos em corredores importantes para a migração e dispersão<br />
de aves pode constituir um importante factor de mortalidade da espécie através da<br />
colisão nas pás dos aerogeradores (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: Manter as salinas em actividade e efectuar gestão<br />
adequada das salinas abandonadas, nomeadamente através de medidas específicas<br />
de incentivo, nas áreas mais importantes para a conservação da espécie; Manter e<br />
melhorar a qualidade da água pelo tratamento eficaz das descargas de efluentes.<br />
Fiscalizar e controlar o funcionamento e eficácia das ETAR e monitorizar a qualidade<br />
da água; Restringir o uso de agro-químicos e adoptar técnicas alternativas;<br />
Condicionar expansão urbano-turística; Proibir a instalação de linhas eléctricas de<br />
transporte de energia nas áreas mais importantes para a espécie; Equipar as linhas<br />
eléctricas de transporte de energia já existentes, e que se revelem mortíferas para a<br />
espécie, com sinalizadores anti-colisão; Condicionar a instalação de parques eólicos<br />
nas áreas mais importantes para a migração e dispersão da espécie. Ordenar e<br />
regulamentar a actividade de observação de aves; Desenvolver estudos de<br />
monitorização do impacte das linhas eléctricas de transporte de energia já existentes,<br />
de forma a conhecer o seu efeito na população nacional destas aves; Monitorizar as<br />
populações do Pilrito-comum nos estuários; Elaborar os planos de gestão /<br />
ordenamento dos locais de que a espécie depende, nomeadamente das ZPE’s mais<br />
importantes para a espécie (ICN, 2006).<br />
Combatente, Philomachus pugnax<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante e migrador de passagem. No estuário<br />
do Tejo ocorre como migrador de passagem pouco comum e invernante raro (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Em Perigo. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Em Declínio pela BirdLife International (2004)<br />
e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de<br />
Berna (Anexo III), de Bona (Anexo II) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN,<br />
2006).<br />
Distribuição e movimentos: Nidifica no Noroeste da Europa até à Sibéria Oriental.<br />
Inverna no Mediterrâneo e África subsariana, Médio Oriente, e sub-continente indiano<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 157
(del Hoyo et al., 1996). Em Portugal ocorre principalmente em zonas húmidas,<br />
costeiras e interiores (Farinha e Costa, 1999).<br />
Habitat: Ocorre principalmente nas margens de rios, lagoas, albufeiras, campos<br />
agrícolas alagados, sapais e mais raramente em zonas costeiras (por exemplo, áreas<br />
entre-marés). É observado no estuário do Tejo em salinas e terrenos agrícolas<br />
alagados (Leitão et al., 1998). No estuário do Tejo a espécie ocorre com maior<br />
abundância na Giganta e Companhia das Lezírias.<br />
População: Esta espécie tem sido monitorizada nas zonas estuarinas desde a década<br />
de 1970. A análise destes censos até 2000 permitiu verificar que se trata de uma<br />
espécie que ocorre em reduzida abundância na maior parte dos anos. O efectivo<br />
populacional tem permanecido estável, tendo na última década oscilado entre 50 a<br />
300 indivíduos (Sousa, 2002b). No entanto, devido à sua presença em outros locais<br />
esta estimativa poderá estar subestimada (Farinha e Costa 1999) (ICN, 2006). No<br />
estuário do Tejo a população média invernante no período de 1975/1978 foi de 6 aves,<br />
apresentando um máximo de 9 aves em 1976 (Rufino, 1978). No Inverno de 1991 foi<br />
recenseada 1 ave (Rufino, 1991). Em finais de Julho de 1981 foram contados 930<br />
indivíduos (Leitão et al., 1998). A migração pré-nupcial através do estuário do Tejo<br />
inicia-se logo no princípio de Fevereiro. Em 23 Fevereiro de 1993 foram observados<br />
pelo menos 200 aves abandonando o estuário para se irem alimentar em campos de<br />
arroz. Na migração pós-nupcial, o número de aves vistas no Tejo é geralmente<br />
reduzido (máximo de 231 aves em Setembro de 1993). Nos Invernos de 1995/98<br />
foram observadas 4 aves, 22 aves entre 2000 e 2001 e 131 aves em 2004<br />
(Encarnação, dados não publicados). Em Março de 2005 foram observadas 9 aves<br />
nas salinas do Samouco (Rocha, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: Perda ou degradação de habitat (por acção do Homem),<br />
nomeadamente abandono ou degradação de habitats estuarinos e a destruição ou<br />
degradação das zonas entre marés (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: A maior parte das áreas estuarinas utilizadas por esta<br />
população durante o Inverno estão incluídas em áreas com estatuto legal de protecção<br />
(Reservas Naturais, Zonas de Protecção Especial, Sítio Ramsar). Várias outras zonas<br />
foram recentemente desiganadas como Zonas Importantes para as Aves (Costa et al.,<br />
2003). No entanto, é necessário assegurar a conservação do habitat e a minimização<br />
dos factores de ameaça referidos. É necessário obter estimativas mais fiáveis da sua<br />
abundância e distribuição (ICN, 2006).<br />
Narceja-comum, Gallinago gallinago<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é invernante, migrador de passagem e<br />
nidificante no Noroeste do país. Nos Açores a espécie é residente. No estuário do Tejo<br />
ocorre como invernante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a população nidificante tem o estatuto de<br />
Criticamente em Perigo e a população Invernante de Pouco Preocupante. No<br />
arquipélago dos Açores a espécie apresenta Informação Insuficiente. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Em Declínio pela BirdLife International (2004)<br />
158<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de<br />
Berna (Anexo III), de Bona (Anexo II), das Directivas Aves/Habitats (Anexo D) e<br />
incluída na Lei de Bases de Caça (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se desde o Norte e Centro da Europa, Ásia e<br />
América do Norte. A subespécie que ocorre em Portugal distribui-se desde as ilhas<br />
britânicas, Escandinávia e Oeste da Europa, abrangendo o Norte e Centro da Eurásia<br />
até ao estreito de Bering (del Hoyo et al., 1996; Hagemeijer e Blair, 1997). Em Portugal<br />
continental a distribuição actual da população nidificante é muito restrita, no Norte do<br />
território, provavelmente num único local. A sua área se distribuição tem diminuindo<br />
durante as últimas décadas (Santos 1979; Rufino 1989; Pimenta e Santarém 1996;<br />
ICN dados não publicados). Nos Açores a espécie ocorre em todos os grupos do<br />
arquipélago, não existindo contudo confirmação da nidificação em todas as ilhas.<br />
Habitat: No continente, os habitats utilizados para a nidificação são caracterizados por<br />
solos com elevado conteúdo de matéria orgânica, rico em invertebrados e com<br />
cobertura herbácea. Por essa razão prefere zonas húmidas de altitude,<br />
nomeadamente matos higrófilos e lameiros abandonados. Nos Açores a espécie<br />
nidifica em terras alagadiças, nomeadamente em zonas de turfeira. Ocorre no estuário<br />
do Tejo em biótopos alagados dulciaquícolas, como restolhos alagados de milho e<br />
arroz, margens de valas, açudes, charcos temporários e por vezes salinas, sapais e<br />
caniçais (Leitão et al., 1998).<br />
População: A população do oeste da Europa tem mantido valores estáveis durante as<br />
últimas décadas (Wetlands International, 2002). Em Espanha, durante a última<br />
década, a sua população tem também mantido valores estáveis (Salvadores et al.,<br />
2003). Em Portugal continental a população invernante parece sofrer variações<br />
apreciáveis em certos locais, provavelmente em consequência da variabilidade dos<br />
movimentos realizados em direcção a áreas mediterrânicas, quando as condições<br />
meteorológicas no Norte e Leste da Europa são mais rigorosas (Moore, 1998). Sobre a<br />
população nidificante não existem dados pormenorizados da sua tendência de<br />
declínio. Contudo, a área de distribuição tem diminuído durante as ultimas décadas<br />
(Santos 1979; Rufino 1989; Pimenta e Santarém 1996; ICN em prep.). As dificuldades<br />
de detecção da espécie limitam a obtenção de dados sobre a dimensão da população,<br />
pelo que não são conhecidos os números de invernantes. Quanto à população<br />
nidificante, existem poucas estimativas fiáveis, admitindo-se que contenha menos de<br />
50 indivíduos maturos. A nidificação foi raramente confirmada durante as últimas<br />
décadas. Desde a última confirmação de nidificação nos finais da década de 1970<br />
(Santos, 1979) o mais recente registo de nidificação confirmada foi em 2003, ano em<br />
que se detectaram 3 ninhos (Pimenta e Santarém em prep). No estuário do Tejo a<br />
população invernante em 1991, foi de 41 aves (Rufino, 1991). No Inverno de 1991/92<br />
as densidades desta espécie nos restolhos de milho e arroz, e nas valas da lezíria do<br />
estuário do Tejo ultrapassaram frequentemente 5 aves / 10ha, tendo sido mais baixa<br />
nas pastagens (Leitão et al., 1998). Nos Invernos de 1995/98 foram observadas 8 aves<br />
e em 2004, 50 aves sobretudo na Giganta e companhia das Lezírias (Encarnação,<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 159
dados não publicados). Em Dezembro de 2004 foram observadas 3 aves nas salinas<br />
do Samouco (Rocha, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: A população nidificante é ameaçada principalmente por factores<br />
intrínsecos, nomeadamente a sua densidade baixa e distribuição restrita. A sua<br />
dependência de habitats de nidificação específicos torna esta população muito<br />
vulnerável à perda ou degradação de habitat (por acção do Homem), nomeadamente<br />
a alteração do regime de gestão dos locais de nidificação conhecidos. A drenagem<br />
visando a transformação das zonas húmidas em áreas de pastagem ou de cultivo, a<br />
extracção de água, o abandono dos sistemas pastoris tradicionais, o sobrepastoreio e<br />
o fogo têm levado à degradação do habitat de nidificação (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: Promover a manutenção de prados húmidos<br />
nomeadamente os lameiros extensivos de montanha nas áreas de nidificação;<br />
Condicionar a drenagem de zonas húmidas nas áreas mais importantes de nidificação<br />
da espécie; Promover a manutenção dos sistemas de pastoris tradicionais, mediante a<br />
aplicação de medidas agro-ambientais em áreas prioritárias para espécie; Estabelecer<br />
uma estratégia conjunta Portugal/Espanha visando a conservação da espécie.<br />
Promover estudos sobre a distribuição e abundância da população nidificante<br />
procurando entender igualmente os movimentos e áreas concretas de que dependem<br />
ao longo do ano; Monitorizar os parâmetros populacionais da espécie (avaliação das<br />
tendências na distribuição e tamanho da população nidificante). Como a população<br />
nidificante em Portugal está muito dependente dos esforços de conservação em<br />
Espanha, a protecção das restantes zonas de nidificação na Galiza são essenciais<br />
para a viabilidade da população portuguesa, nomeadamente a expansão do Parque<br />
Natural Baixa Limia-Serra do Xurés (Espanha) (Marti e Del Moral, 2003) (ICN, 2006).<br />
Galinhola, Scolopax rusticola<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é invernante e nos arquipélagos dos<br />
Açores e da madeira é residente. No estuário do Tejo ocorre como invernante raro<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental e nos Açores as populações têm o<br />
estatuto de Informação Insuficiente e na Madeira Vulnerável. A nível internacional é<br />
considerada uma espécie Em Declínio pela BirdLife International (2004) e Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna<br />
(Anexo III), de Bona (Anexo II), das Directivas Aves/Habitats (Anexo D) e incluída na<br />
Lei de Bases de Caça (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se pelos Açores, Madeira, Ilhas Canárias, e<br />
Britânicas, Europa Ocidental, Cáucaso, China, Norte da Índia até ao Japão. Inverna no<br />
Oeste e Sul da Europa, Norte de África, índia e Indochina (del Hoyo et al., 1996). Em<br />
Portugal continental distribui-se principalmente no Norte do país. Nos Açores, segundo<br />
Bannerman e Bannerman (1966), a espécie ocorre em todo o arquipélago, não<br />
existindo confirmação da sua nidificação em todas as ilhas. Na Madeira, ocorre<br />
exclusivamente na ilha com o mesmo nome, onde é uma espécie pouco abundante.<br />
160<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Habitat: No continente a espécie está presente em florestas e zonas arbustivas. Pode<br />
também utilizar prados, principalmente durante a noite. Nos Açores ocorre em altitudes<br />
elevadas, nidificando na floresta natural húmida em zonas de clareira ou em áreas de<br />
transição para pastagem. Na Madeira vive sobretudo em zonas com vegetação<br />
arbustiva densa e zonas de urzal bem desenvolvido. No estuário do Tejo ocorre em<br />
zonas encharcadas em montados de sobro e outros biótopos florestados (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
População: Devido ao seu comportamento discreto, é difícil a sua observação pelo<br />
que não existem estimativas fiáveis do tamanho e da distribuição da sua população no<br />
continente. Nos Açores não existem dados pormenorizados sobre a sua abundância a<br />
nível regional. No arquipélago da Madeira, a população está estimada em entre os 250<br />
e os 2500 indivíduos (ICN, 2006).<br />
Factores de ameaça: No continente e nos Açores a população é ameaçada<br />
principalmente pela caça e pela destruição do habitat (por exemplo, incêndios<br />
florestais). Para além das ameaças já referida, a predação por ratos é um factor<br />
limitante da população de Galinhola na Madeira (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: Esta espécie cinegética encontra-se protegida por<br />
legislação nacional e internacional no âmbito das normas gerais de protecção de aves<br />
e dos seus habitats, não tendo sido alvo de acções específicas de conservação. As<br />
prioridades de conservação visam a obtenção de dados sobre a sua distribuição e<br />
abundância.<br />
Nos Açores as prioridades da conservação da Galinhola passam pela obtenção de<br />
dados sobre a biologia de reprodução, distribuição e abundância da Galinhola a nível<br />
regional (ICN, 2006).<br />
Maçarico-de-bico-direito, Limosa limosa<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante e migrador de passagem comum, não nidifica (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo III) e de Bona<br />
(Anexo II) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Reproduz-se em latitudes médias, oceânicas e<br />
continentais, principalmente em terras baixas de zonas temperadas e boreais (Cramp<br />
e Simmons, 1983). Espécie que se distribui por todas as regiões biogeográficas à<br />
excepção do Novo Mundo (Cramp e Simmons, 1983). A principal área de invernada da<br />
população do Noroeste da Europa é na África Ocidental, a Sul do Saara, apesar de<br />
algumas aves passarem o Inverno ao longo da costa Atlântica do Noroeste da Europa,<br />
e na bacia do Mediterrâneo. As aves que nidificam na Europa Oriental invernam na<br />
África Oriental e Central (ICN, 2006a).<br />
Em Portugal é invernante e ocorrem duas subespécies: L. limosa limosa, que nidifica<br />
principalmente nos Países Baixos e na Alemanha, e L. l. islandica, que cria sobretudo<br />
na Islândia (Cidraes Vieira, 1998). A sua distribuição estende-se ao longo da faixa<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 161
litoral a sul da Ria de Aveiro, sendo o Estuário do Tejo a zona de maior concentração<br />
(ICN, 2006a).<br />
Habitat: Encontra-se sobretudo ao longo das praias e estuários e alguns no interior.<br />
Prefere águas pouco profundas, como pântanos, campos inundados, lagos interiores,<br />
etc. As<br />
aves descansam juntas e os bandos muitas vezes encontram-se misturados com<br />
outras Charadrii. O alimento é obtido principalmente em estuários (ICN, 2006a). No<br />
estuário do Tejo ocorre nas zonas entre marés, salinas, terrenos de cultivo e arrozais.<br />
As aves que se alimentam nas vasas do estuário ingerem principalmente o bivalve<br />
Scrobicularia plana, sendo o poliqueta Nereis diversicolor a presa secundária mais<br />
importante (Leitão et al., 1998). A proporção das duas presas principais na dieta de L.<br />
limosa variou ao longo do Inverno. Assim, a taxa alimentar de H. diversicolor enquanto<br />
que a sobre S. plana foi aumentando, ao longo do Inverno (Moreira, 1995). Nos<br />
restolhos de arroz, estas aves ingerem quase exclusivamente grãos dessa planta<br />
(Leitão et al., 1998). O maçarico-de-bico-direito ocorre no estuário entre os meses<br />
Julho a Março, em densidades que variam as 1 e 10 aves/ha. As maiores densidades<br />
da espécie em actividade alimentar surgem na central /superior do estuário, durante o<br />
Outono atingem valores médios máximos 8,9 aves/ha. Embora não apresente<br />
preferência marcada por um tipo de sedimento, e evitando a areia vasosa e<br />
sedimentos grosseiros, as maiores densidades surgem nas áreas de sedimento fino,<br />
nomeadamente vasa, com algum teor em água e sujeita a períodos longos de<br />
emersão (Moreira, 1995).<br />
População: As populações europeias desta espécie têm conhecido nos últimos dez<br />
anos um período de declínio (Wetlands International 2002). A população média<br />
invernante em Portugal foi estimada em 50 000 aves (Rufino 1993, Rufino e Costa<br />
1993, Costa e Rufino 1994) (ICN, 2006a). Durante o Inverno ocorrem no Tejo duas<br />
populações distintas: a Limosa limosa limosa que utiliza o estuário principalmente<br />
como local de repouso, alimentando-se nos restolhos de arroz e milho da região, e a L.<br />
L. Islandica que habita o estuário propriamente dito. O número médio de médio de<br />
aves observadas no período de 1990/93, foi de 35572 aves, correspondendo a 87,2 %<br />
do efectivo nacional (Moreira, 1995). No estuário do Tejo a população média<br />
invernante no período de 1975/1978 foi de 7274 aves, apresentando um máximo de<br />
12195 aves em 1976 (Rufino, 1978). No Inverno de 1989 foram recenseadas 3112<br />
aves (Rufino, 1989) e em 1991, 35371 aves (Rufino, 1991). A população média<br />
invernante no período de 1992 a 1996 foi de 29474. Os censos até agora realizados<br />
não permitem distinguir com segurança as duas populações, sendo a O total da<br />
população L. l. limosa foi estimado em 81993 aves em Fevereiro de 1992 e 48170 em<br />
Fevereiro de 1993. Estas aves começam a chegar ao estuário vindas de África, já em<br />
Janeiro. Na passagem pós-nupcial são menos abundantes. L. l. islandica, por outro<br />
lado, é mais escassa, sendo no entanto difícil de estimar o seu número uma vez que<br />
se confunde com a subespécie nominal. No Inverno de 1994/95 foram recenseadas<br />
mais de 4500 aves em censos durante a baixa-mar (é provável que a sua maioria<br />
fosse L. l. islandica) (Leitão et al., 1998). Na margem Norte do estuário entre<br />
162<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
1998/1999, a espécie apresentou densidades na ordem de 0,335 aves/ha, tendo sido<br />
observadas um máximo de 76 aves (Rosa, 1999). Nos Invernos de 1999/00 e 2000/01<br />
foram observadas 11309 aves na sua maioria na Companhia das Lezírias e em 2004,<br />
1410 aves sobretudo na Reserva Integral e nas salinas do Samouco (Encarnação,<br />
dados não publicados). Nas salinas do Samouco entre 2004/05 o número médio de<br />
maçarico-de-bico-direito foi de 266 aves, registando-se um máximo de 395 aves em<br />
Novembro de 2004 (Rocha, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: A pressão urbanística e turística da zona litoral; A drenagem de<br />
zonas húmidas nas áreas de invernada da espécie e a sua conversão em terrenos<br />
agrícolas, nomeadamente em pastagem ou culturas de regadio; O crescente uso de<br />
fertilizantes; A poluição da água, por efluentes domésticos, industriais e agrícolas; O<br />
abandono e reconversão da actividade salineira tradicional; A colisão com linhas<br />
aéreas de transporte de energia pode ser um importante factor de mortalidade; A<br />
instalação de parques eólicos em corredores importantes para a migração e dispersão<br />
de aves (ICN, 2006a).<br />
Medidas de Conservação: Manter as zonas húmidas e áreas de pastagem húmidas;<br />
Reduzir e controlar a utilização de fertilizantes orgânicos e pesticidas; Manter e<br />
melhorar a qualidade da água pelo tratamento eficaz das descargas de efluentes;<br />
Restringir o uso de agro-químicos e adoptar técnicas alternativas; Manter as salinas<br />
em actividade e efectuar gestão adequada das salinas abandonadas, nomeadamente<br />
através de medidas específicas de incentivo, nas áreas mais importantes para a<br />
conservação da espécie; Proibir a instalação de linhas eléctricas de transporte de<br />
energia nas áreas mais importantes para a espécie e equipar as linhas eléctricas de<br />
transporte de energia já existentes com sinalizadores anti-colisão; Condicionar a<br />
instalação de parques eólicos nas áreas mais importantes para a migração e<br />
dispersão da espécie; Monitorizar os efectivos da espécie nas áreas de invernada e de<br />
passagem mais importantes; Elaborar os planos de gestão / ordenamento dos locais<br />
de que a espécie depende, nomeadamente das ZPE’s mais importantes para a<br />
espécie (ICN, 2006a).<br />
Fuselo, Limosa lapponica<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante e migrador de passagem comum (sendo mais abundante no Inverno<br />
(Andrade, 2001)), não nidifica (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo III), de Bona<br />
(Anexo II) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: No Paleártico a distribuição do Fuselo como nidificante<br />
restringe-se às zonas de tundra costeira do Norte da Noruega, Finlândia e Rússia.<br />
Inverna ao longo da costa da Europa Ocidental, bem como nas zonas húmidas<br />
costeiras da África Ocidental. É observado ao longo da costa Portuguesa,<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 163
essencialmente em estuários, albergando a Ria de Faro a maioria da população<br />
nacional (Neves e Rufino 1998).<br />
Habitat: Em Portugal é uma limícola invernante essencialmente estuarina (Rufino e<br />
Costa 1993). Fortemente gregária, desloca-se em bandos compactos, associando-se a<br />
outras espécies. Descansa e dorme na praia, excepto nas marés vivas, retirando-se<br />
para locais mais elevados e por vezes mais distantes. Refugia-se em sapais durante a<br />
preia-mar, nas áreas confinantes às zonas de alimentação. Utiliza também, em menor<br />
escala, salinas como pontos de refúgio, sendo raramente observada a alimentar-se<br />
neste biótipo (Neves e Rufino 1998). A procura de alimento é feita em bando, na vasa<br />
arenosa, refugiando-se durante a preia-mar nos sapais das áreas confinantes (Farinha<br />
e Costa 1999). No estuário do Tejo ocorre sobretudo nos sectores de vasa compacta<br />
ou arenosa (Leitão et al., 1998). O Fuselo ocorre no estuário em densidades reduzidas<br />
que raramente ascendem as 2 aves/ha, sendo o valor mais elevado registado na zona<br />
de preia-mar adjacente às secas do bacalhau, de 2,7 aves/ha. Ocorrem em actividade<br />
alimentar sobretudo na zona superior do estuário onde atingem um valor médio<br />
máximo de 8,9 aves/ha durante o Inverno. Têm preferência por sedimentos mais finos<br />
como a vasa arenosa, evitando zonas próximas do sapal e áreas humanizadas<br />
(Moreira, 1995).<br />
População: Os censos de aves invernantes internacionais indicam a estabilidade das<br />
populações da espécie (Wetlands International 2002). Os censos nacionais efectuados<br />
anualmente indicam uma população invernante entre 3 000 e 6 000 indivíduos<br />
(Encarnação dados não publicados) (ICN, 2006a). No estuário do Tejo a população<br />
média invernante no período de 1975/1978 foi de 1611 aves, apresentando um<br />
máximo de 3100 aves em 1977 (Rufino, 1978). Em Setembro de 1981 foram contadas<br />
2500 aves, provavelmente de passagem (Leitão et al., 1998). No Inverno de 1989<br />
foram recenseadas 1300 aves (Rufino, 1989) e em 1991, 1400 aves (Rufino, 1991). O<br />
número médio de médio de fuselos observados no estuário do Tejo durante o período<br />
de 1990/93, foi de 797 aves, correspondendo a 33,8 % do efectivo nacional (Moreira,<br />
1995). A população média invernante no estuário no período de 1992 a 1996 foi de<br />
716 aves, com um máximo de 1500 indivíduos a ser atingido em Janeiro de 1996<br />
(Leitão et al., 1998). No Inverno de 2000/01 foram recenseadas 445 aves nas salinas<br />
de Vasa Sacos e 1100 aves em 2003/04, sendo que 1000 foram observadas nas<br />
salinas do Samouco (Encarnação, dados não publicados). Em Janeiro de 2005 foram<br />
recenseadas 118 aves nas salinas do Samouco, contudo durante o mês de Novembro<br />
de 2004 foram observadas 910 aves (Rocha, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: A pressão urbanística e turística da zona litoral; A drenagem de<br />
zonas húmidas nas áreas de invernada da espécie e a sua conversão em terrenos<br />
agrícolas, nomeadamente em pastagem ou culturas de regadio; O crescente uso de<br />
fertilizantes; A poluição da água, por efluentes domésticos, industriais e agrícolas; O<br />
abandono e reconversão da actividade salineira tradicional; A colisão com linhas<br />
aéreas de transporte de energia pode ser um importante factor de mortalidade; A<br />
instalação de parques eólicos em corredores importantes para a migração e dispersão<br />
de aves (ICN, 2006a).<br />
164<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Medidas de Conservação: Impedir a conversão de sapais; Manter e melhorar a<br />
qualidade da água pelo tratamento eficaz das descargas de efluentes; Restringir o uso<br />
de agro-químicos e adoptar técnicas alternativas; Reduzir a perturbação nas zonas de<br />
refúgio e alimentação consideradas mais importantes; Proibir a instalação de linhas<br />
eléctricas de transporte de energia nas áreas mais importantes para a espécie e<br />
equipar as linhas eléctricas de transporte de energia já existentes com sinalizadores<br />
anti-colisão; Condicionar a instalação de parques eólicos nas áreas mais importantes<br />
para a migração e dispersão da espécie; Monitorizar os efectivos da espécie nas áreas<br />
de invernada e de passagem mais importantes; Elaborar os planos de gestão /<br />
ordenamento dos locais de que a espécie depende, nomeadamente das ZPE’s mais<br />
importantes para a espécie (ICN, 2006).<br />
Maçarico-galego, Numenius phaeopus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
migrador de passagem comum e invernante raro, não nidifica (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Vulnerável. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das<br />
convenções de Berna (Anexo III) e de Bona (Anexo II) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Presente na maior parte do Alasca, Norte do Canadá e<br />
Norte da Europa e Ásia. A subespécie que ocorre em Portugal nidifica na Islândia,<br />
Ilhas Féroe, Escócia, Escandinávia até à Península de Taymyr. Inverna na maior parte<br />
do sudoeste da Europa, África, Médio Oriente, Oeste da Índia e Sri Lanka (del Hoyo et<br />
al., 1996). Em Portugal distribui-se ao longo da faixa costeira (Farinha e Costa 1999).<br />
Habitat: Principalmente em zonas entre marés, salinas, campos agrícolas húmidos ou<br />
alagados. No estuário do Tejo ocorre na zona entre marés, salinas e, durante as<br />
passagens migratórias, terrenos agrícolas e montados (Leitão et al., 1998).<br />
População: Esta espécie tem sido monitorizada nas zonas estuarinas desde a década<br />
de 1970. Na última década, a sua abundância tem oscilado. A análise destes censos<br />
até 2000 permitiu verificar que é uma espécie que ocorre em abundância reduzida na<br />
maior parte dos anos e que a população tem permanecido estável na última década,<br />
com oscilações entre 100 e 400 indivíduos (Sousa 2002b). No estuário do Tejo a<br />
população invernante em 1991, foi de 150 aves (Rufino, 1991). Entre 1992 e 1996 só<br />
foi registado três vezes nas contagens de Inverno realizadas no estuário do Tejo: 35<br />
aves em 1992, 10 em 1993 e 3 em 1995. Não existem contagens nos períodos de<br />
passagem excepto para a migração pós-nupcial de 1981, em que o número de<br />
exemplares atingiu os 345 no final de Agosto (Leitão et al., 1998). Em 2001 foram<br />
recenseadas 25 aves na Ponta da Erva (Encarnação, dados não publicados), nas<br />
salinas do Samouco a espécie apresentou um máximo de 98 indivíduos durante o mês<br />
de Julho de 2004 (Rocha, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: Perda ou degradação de habitat (por acção do Homem),<br />
nomeadamente abandono ou degradação de salinas, a transformação de salinas em<br />
aquaculturas e a destruição ou degradação das zonas entre marés. A caça ilegal<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 165
também afecta esta espécie (por exemplo, a ria de Aveiro e estuário do Mondego)<br />
(ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: A maior parte das áreas estuarinas utilizadas por esta<br />
população durante o Inverno estão incluídas em áreas com estatuto legal de protecção<br />
(Reservas Naturais, Zonas de Protecção Especial, Sítio Ramsar). Várias outras zonas<br />
foram recentemente desiganadas como Zonas Importantes para as Aves (Costa et al.,<br />
2003). É necessário uma monitorização mais eficaz para obter estimativas fiáveis. O<br />
reforço da fiscalização da actividade cinegética (ICN, 2006).<br />
Maçarico-real, Numenius arquata<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
migrador de passagem comum e invernante raro, não nidifica (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo III) e de Bona<br />
(Anexo II) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: É uma espécie migratória que nidifica na Europa Central<br />
e do Norte (Cramp e Simmons, 1983). A área das ilhas Britânicas e Mar de Wadden, o<br />
banco de Arguim (Mauritânia) e o Golfo do gabes (Tunísia) são os principais locais de<br />
invernada da espécie (Smit e Piersma, 1989)<br />
Habitat: No estuário do Tejo ocorre na zona entre marés e terrenos agrícolas<br />
alagados (Leitão et al., 1998). O Maçarico-real ocorre no estuário ao longo de todo o<br />
ano com densidades que raramente ascendem as 1,5 aves/ha, apresentando um pico<br />
de abundância no Inverno. Durante esse período, as maiores densidades de aves em<br />
actividade alimentar são registadas na zona central do estuário, apresentando uma<br />
preferência marcada por ostreiras (Moreira, 1995).<br />
População: No estuário do Tejo a população média invernante no período de<br />
1975/1978 foi de 671 aves, apresentando um máximo de 1110 aves em 1978 (Rufino,<br />
1978). No Inverno de 1989 foram recenseadas 295 aves (Rufino, 1989) e em 1991,<br />
241 aves (Rufino, 1991). O número médio de médio de aves observadas no estuário<br />
do Tejo durante o período de 1990/93, foi de 616 aves, correspondendo a 23,2 % do<br />
efectivo nacional (Moreira, 1995).<br />
A população média invernante no estuário do Tejo no período de 1992 a 1996 foi de<br />
644 aves, com um máximo de 927 indivíduos a ser atingido em Janeiro de 1992<br />
(Leitão et al., 1998). Na margem Norte do estuário entre 1998/1999, a espécie<br />
apresentou densidades muito reduzidas na ordem de 0,011 aves/ha, tendo sido<br />
observadas um máximo de 4 aves (Rosa, 1999). Nos Invernos de 1995/98 foram<br />
recenseadas 316 aves, em 2001, 80 aves sobretudo na Ponta da Erva e em 2004, 167<br />
aves maioritariamente no mouchão da Povoa (Encarnação dados não publicados).<br />
Perna-vermelha-escuro, Tringa erythropus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
migrador de passagem e invernante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
166<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Vulnerável. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Em Declínio pela BirdLife International (2004)<br />
e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de<br />
Berna (Anexo III) e de Bona (Anexo II) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Nidifica no Norte da Escandinávia e Rússia até à<br />
Sibéria. Inverna no Oeste da Europa, Mediterrâneo e África, Médio Oriente, Sul da<br />
Ásia, até à ilha Formosa (del Hoyo et al., 1996). Em Portugal continental apresenta<br />
uma distribuição alargada, ocorrendo principalmente em zonas húmidas costeiras,<br />
como o Estuário do Sado e Tejo, e a ria Formosa (Farinha e Costa 1999) (ICN, 2006).<br />
Habitat: Zonas húmidas costeiras (salinas, zonas entre marés) e zonas húmidas<br />
interiores (lagoas) (ICN, 2006). No estuário do Tejo ocorre na zona entre marés,<br />
salinas e charcos ou terrenos alagados (Leitão et al., 1998).<br />
População: Esta espécie tem sido monitorizada nas zonas estuarinas desde a década<br />
de 1970. É uma espécie que ocorre em abundância reduzida na maior parte dos anos.<br />
A análise destes censos até 2000, permitiu verificar que a abundância da população<br />
tem permanecido estável, oscilando entre 50 e 100 indivíduos (Sousa 2002b). No<br />
estuário do Tejo a população média invernante no período de 1975/1978 foi de 21<br />
aves, apresentando um máximo de 66 aves em 1978 (Rufino, 1978). No Inverno de<br />
1989 foram recenseadas 4 aves (Rufino, 1989) e em 1991, 13 aves (Rufino, 1991). A<br />
população média invernante no estuário do Tejo no período entre 1992 e 1996 foi de<br />
15 indivíduos, com um máximo de 24 aves obtido em Janeiro de 1993. Durante as<br />
passagens migratórias é um pouco mais numeroso, nunca sendo porém observadas<br />
mais do que algumas dezenas de exemplares (Leitão et al., 1998). Nos Invernos de<br />
1995/98 foram recenseadas 3,5 aves, em 2000, 6 aves e em 2004, 11 aves, 5 das<br />
quais nas salinas do Samouco (Encarnação dados não publicados). Nas salinas do<br />
Samouco foi registado um máximo de 62 aves de Novembro de 2005 (Rocha, dados<br />
não publicados).<br />
Factores de ameaça: Perda ou degradação de habitat (por acção do Homem),<br />
nomeadamente abandono ou degradação de salinas, a transformação de salinas em<br />
aquaculturas e a destruição ou degradação das zonas entre marés (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: A maior parte das áreas estuarinas utilizadas por esta<br />
população durante o Inverno estão incluídas em áreas com estatuto legal de protecção<br />
(Reservas Naturais, Zonas de Protecção Especial, Sítio Ramsar). Várias outras zonas<br />
foram recentemente desiganadas como Zonas Importantes para as Aves (Costa et al.,<br />
2003). No entanto, é necessário assegurar a conservação do habitat e a minimização<br />
dos factores de ameaça anteriormente referidos. É necessário obter estimativas mais<br />
fiáveis da sua abundância e distribuição (LV, 2006).<br />
Perna-vermelha, Tringa totanus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante e nidificante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como migrador de passagem e invernante comum, nidificante ocasional (Leitão<br />
et al., 1998).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 167
Estatuto de Protecção: Em Portugal a população nidificante tem o estatuto de<br />
Criticamente Ameaçada e a população Invernante Pouco Preocupante. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Em Declínio pela BirdLife International (2004)<br />
e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de<br />
Berna (Anexo III) e de Bona (Anexo II) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Islândia, Europa e Ásia Central. A subespécie que<br />
ocorre em Portugal distribui-se desde as ilhas Orkney e Shetland, abrangendo a<br />
Península Ibérica, Europa do Norte, Norte de Itália, Tunísia, Turquia até à Sibéria (del<br />
Hoyo et al., 1996, Hagemeijer e Blair 1997). Em Portugal continental distribui-se pelo<br />
Centro e Sul do país, restrita a várias zonas húmidas costeiras e interiores,<br />
nomeadamente Estuário do Tejo e Sado, ria Formosa e Castro Marim (Rufino 1989,<br />
Farinha e Costa 1991, ICN dados não publicados).<br />
Habitat: Utiliza vários tipos de zonas húmidas costeiras e do interior, nomeadamente<br />
sapais salobros, salinas abandonadas e lagoas ou albufeiras. No estuário do Tejo<br />
ocorre nas zonas entre marés de sedimento mais fino, salinas e, com menor<br />
frequência, zonas alagadas na lezíria e nos montados (Leitão et al., 1998). O pernavermelha<br />
ocorre no estuário com densidades que foram sempre inferiores a 2 aves/ha.<br />
Ocorre de forma generalizada nas partes central e superior do estuário, durante o<br />
Outono e Inverno, onde as maiores densidades de aves em actividade alimentar<br />
atingem um valor máximo de 6,9 aves/ha. Na selecção das áreas de alimentação tem<br />
preferência pela presença da linha de maré e por sedimentos finos com longos<br />
períodos de emersão. As presas principais são os sifões do bivalve Scrobicularia<br />
plana, o poliqueta Hediste diversicolor e o gastrópode Peringia ulvae (Moreira, 1995).<br />
No estuário a espécie alimenta-se mais intensamente na zona vasosa durante o dia,<br />
período em que também é mais abundante nessas zonas de alimentação, e onde<br />
captura Hydrobia ulvae e Hediste diversicolor. Durante a noite inverte essa preferência<br />
(apresenta um intake energético semelhante entre o dia e a noite) (Silva, 2005). No<br />
período de preia-mar a espécie refugia-se nas salinas do Samouco, Atalaia, Vale<br />
Frades e Tarouca, e ainda na Reserva Integral.<br />
População: A população nidificante é muito reduzida, provavelmente menor que 50<br />
aves. Existem registos isolados de nidificação confirmada em várias zonas húmidas<br />
costeiras e em outras zonas húmidas interiores também pode nidificar (ICN, dados não<br />
publicados). A ocorrência de registos aumentou nos últimos anos, provavelmente<br />
devido mais a um maior esforço de obtenção de registos de nidificação do que a uma<br />
tendência populacional (ICN, 2006). No estuário do Tejo a população média invernante<br />
no período de 1975/1978 foi de 2000 aves, apresentando um máximo de 2620 aves<br />
em 1978 (Rufino, 1978). No Inverno de 1989 foram recenseadas 1820 aves (Rufino,<br />
1989) e em 1991, 2565 aves (Rufino, 1991).<br />
O número médio de aves observadas no estuário do Tejo durante o período de<br />
1990/93, foi de 2210 aves, correspondendo a 49,9 % do efectivo nacional (Moreira,<br />
1995). A população média invernante no estuário no período entre 1992 e 1996 foi de<br />
1848 indivíduos, com um máximo de 2910 a ser atingido em Janeiro de 1995.<br />
Também é muito numeroso como migrador de passagens, tendo sido contados 5185<br />
168<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
indivíduos no estuário no final de Julho de 1981. Em 1983 foi confirmada a nidificação<br />
de dois casais em salinas (Leitão et al., 1998). Nos Invernos de 1995/98 foram<br />
recenseadas 1760 aves (Encarnação dados não publicados). Na margem Norte do<br />
estuário entre 1998/1999, a espécie apresentou densidades na ordem de 0,442<br />
aves/ha, tendo sido observadas um máximo de 96 aves (Rosa, 1999). Nos Invernos de<br />
1999/00 e 2000/01 foram recenseadas 226 aves e em 2004, 971 aves (Encarnação,<br />
dados não publicados). Nas salinas do Samouco entre 2004/05 o número médio de<br />
perna-vermelha foi de 170 aves, registando-se um máximo de 375 aves em Agosto de<br />
2004 (Rocha, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: Esta população está ameaçada principalmente por factores<br />
intrínsecos, nomeadamente a sua distribuição restrita. A sua dependência do habitat<br />
de nidificação torna esta população muito vulnerável à perda ou degradação de habitat<br />
(por acção do Homem), nomeadamente abandono ou degradação de salinas, a<br />
transformação de salinas e sapais em aquaculturas ou a sua drenagem (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: A maior parte das áreas estuarinas utilizadas por esta<br />
população durante o Inverno estão incluídas em áreas com estatuto legal de protecção<br />
(Reservas Naturais, Zonas de Protecção Especial, Sítio Ramsar). Várias outras zonas<br />
foram recentemente desiganadas como Zonas Importantes para as Aves (Costa et al.,<br />
2003). No entanto, é necessário assegurar a conservação do habitat e a minimização<br />
dos factores de ameaça anteriormente referidos. É necessário obter estimativas mais<br />
fiáveis da sua abundância e distribuição (ICN, 2006).<br />
Perna-verde, Tringa nublaria<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
migrador de passagem e invernante pouco comum (sendo mais abundante no Outono<br />
e Inverno (Andrade, 2001)), não nidificante (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Vulnerável. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das<br />
convenções de Berna (Anexo III) e de Bona (Anexo II) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Nidifica desde a Escócia e Escandinávia até à Sibéria.<br />
Inverna no Oeste da Europa, Mediterrâneo e África, Médio Oriente, Sul de Ásia,<br />
Indonésia e Austrália (del Hoyo et al., 1996). Em Portugal continental distribui-se<br />
principalmente pelas zonas húmidas costeiras (Farinha e Costa 1999). Como local de<br />
refúgio de preia-mar a espécie tem preferência pelas salinas do Samouco e Giganta.<br />
Habitat: Utiliza as zonas húmidas costeiras (salinas, sapais, zonas entre marés) e do<br />
interior (lagoas e pauis), e ainda, campos agrícolas inundados. No estuário do Tejo<br />
ocorre nas zonas entre marés, salinas e terrenos alagados (Leitão et al., 1998).<br />
População: Esta espécie tem sido monitorizada nas zonas estuarinas desde a década<br />
de 1970. É uma espécie que ocorre em abundância reduzida na maior parte dos anos.<br />
A análise destes censos até 2000, permitiu verificar que a abundância da população<br />
tem permanecido estável, oscilando entre 150 e 200 indivíduos (Sousa 2002b). No<br />
estuário do Tejo a população média invernante no período de 1975/1978 foi de 10<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 169
aves, apresentando um máximo de 28 aves em 1978 (Rufino, 1978). No Inverno de<br />
1989 foi recenseada 1 ave (Rufino, 1989) e em 1991, 4 aves (Rufino, 1991). A<br />
população média invernante no estuário do Tejo no período entre 1992 e 1996 foi de<br />
17 indivíduos, com um máximo de 59 aves obtido em Janeiro de 1993. Durante as<br />
passagens migratórias parece ser igualmente escasso (Leitão et al., 1998). No Inverno<br />
de 2000 foram recenseadas 8 aves, em 2001, 21 aves e em 2004, 72 aves, das quais<br />
57 aves nas salinas do Samouco (Encarnação, dados não publicados), Em Março de<br />
2005 foi observado um máximo de 171 aves, nas salinas do Samouco (Rocha, dados<br />
não publicados).<br />
Factores de ameaça: Perda ou degradação de habitat (por acção do Homem),<br />
nomeadamente abandono ou degradação de salinas, a transformação de salinas em<br />
aquaculturas (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: A maior parte das áreas estuarinas utilizadas por esta<br />
população durante o Inverno estão incluídas em áreas com estatuto legal de protecção<br />
(Reservas Naturais, Zonas de Protecção Especial, Sítio Ramsar). Várias outras zonas<br />
foram recentemente desiganadas como Zonas Importantes para as Aves (Costa et al.,<br />
2003). No entanto, é necessário assegurar a conservação do habitat e a minimização<br />
dos factores de ameaça anteriormente referidos, nomeadamente a promoção da<br />
salicultura. É necessário obter estimativas mais fiáveis da sua abundância e<br />
distribuição (ICN, 2006).<br />
Maçarico-bique-bique, Tringa ochropus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
migrador de passagem e invernante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Quase Ameado. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das<br />
convenções de Berna (Anexo II) e de Bona (Anexo II) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Nidifica desde a Escandinávia e Europa oriental até à<br />
Sibéria. Inverna no Oeste da Europa, Mediterrâneo, África tropical, Turquia, Médio<br />
Oriente, sub-continente Indiano, até ao Sul do Japão, China do Leste, Filipinas e<br />
Bornéu (del Hoyo et al., 1996). Em Portugal continental distribui-se principalmente pelo<br />
Centro e Sul do país, restrita a várias zonas húmidas costeiras e interiores (Farinha e<br />
Costa 1999).<br />
Habitat: Utiliza as zonas húmidas interiores (pauis), margens de rios, pequenas<br />
lagoas e canais com vegetação riparia. É menos frequente em zonas entre marés,<br />
mas mais frequente em sapais, salinas abandonadas e canais de sapal (ICN, 2006).<br />
No estuário do Tejo frequenta as valas da lezíria, charcos e açudes (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
População: Esta espécie tem sido monitorizada nas zonas estuarinas desde a década<br />
de 1970. A análise destes censos até 2000, permitiu verificar que a abundância da<br />
população tem permanecido estável, oscilando entre 50 e 70 indivíduos (Sousa<br />
2002b). No entanto, consideram-se estimativas muito subestimadas devido a vários<br />
170<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
factores, nomeadamente a dificuldade em observar esta espécie nos locais<br />
recenseados e em outros locais, e admite-se que a população poderá conter entre 250<br />
a 1.000 aves (ICN, 2006). No estuário do Tejo a população média invernante no<br />
período de 1975/1978 foi de 8 aves, apresentando um máximo de 11 aves em 1978<br />
(Rufino, 1978). No Inverno de 1989 foram recenseadas 2 aves (Rufino, 1989). Em<br />
1995 foram recenseadas 2 aves invernantes e em 2004, 16 aves, observadas na<br />
Companhia das Lezírias e Giganta (Encarnação, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: Perda ou degradação de habitat (por acção do Homem),<br />
nomeadamente abandono ou degradação de salinas, destruição de sapais, corte de<br />
vegetação riparia ao longo de zonas húmidas interiores (ICN, 2006).<br />
Medidas de Conservação: A maior parte das áreas estuarinas utilizadas por esta<br />
população durante o Inverno estão incluídas em áreas com estatuto legal de protecção<br />
(Reservas Naturais, Zonas de Protecção Especial, Sítio Ramsar). Várias outras zonas<br />
foram recentemente desiganadas como Zonas Importantes para as Aves (Costa et al.,<br />
2003). No entanto, é necessário assegurar a conservação do habitat e a minimização<br />
dos factores de ameaça anteriormente referidos, nomeadamente a promoção da<br />
salicultura. É necessário obter estimativas mais fiáveis da sua abundância e<br />
distribuição (ICN, 2006).<br />
Maçarico-bastardo, Tringa glareola<br />
Fenologia: No estuário do Tejo ocorre como migrador de passagem raro (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Não Ameado. Está incluído<br />
nos anexos das convenções de Berna (Anexo II), de Bona (Anexo II) e Directivas<br />
Aves/Habitats (Anexo I-A) (SNPRCN, 1990).<br />
Habitat: No estuário do Tejo frequenta charcos e tanques de salinas (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Maçarico-das-rochas, Actitis hypoleucos<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante e nidificante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como migrador de passagem e invernante pouco comum, sendo mais<br />
abundante no Verão e início do Outono. (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a população nidificante e invernante têm o<br />
estatuto de Vulnerável. A nível internacional é considerada uma espécie Em Declínio<br />
pela BirdLife International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo II) e de Bona (Anexo II) (ICN,<br />
2006).<br />
Distribuição e movimentos: Nidifica na Europa, abrangendo a Ásia Central até ao<br />
Japão. Durante o Inverno distribui-se principalmente pelo Sul da Europa, África, Sul da<br />
Ásia, Indonésia e Austrália (del Hoyo et al., 1996). Em Portugal continental durante a<br />
época de nidificação é mais comum no interior do território, ocorrendo principalmente<br />
junto de cursos de água corrente, mas encontra-se também em zonas húmidas<br />
costeiras. De Inverno, distribui-se principalmente por zonas próximas de cursos de<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 171
água e por zonas costeiras, nomeadamente estuários (Rufino 1989, Farinha e Costa<br />
1999, ICN, dados não publicados).<br />
Habitat: Utiliza vales de montanha e cursos de rios, preferencialmente de água<br />
corrente durante o Verão, com pequenas ilhas ou praias e sem perturbação humana.<br />
Pode utilizar também lagunas, açudes e albufeiras, principalmente com vegetação<br />
ripícola e habitats estuarinos (e. g. canais e esteiros de salinas). Durante o Inverno é<br />
encontrado principalmente junto de cursos de água interiores e na costa utiliza<br />
predominantemente zonas entre-marés, salinas, outros habitats estuarinos e ainda,<br />
campos agrícolas alagados (ICN, 2006). No estuário do Tejo frequenta as valas de<br />
salinas, salinas, zonas com taludes relativamente abruptos à beira de água (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
População: Não existe nenhuma estimativa actual da população nidificante. No<br />
entanto, a estimativa actual do território espanhol (Balmori 2003) permite estimar a<br />
população portuguesa em 500 a 4000 aves. Durante o Inverno, a espécie tem sido<br />
monitorizada nas zonas estuarinas desde a década de 1970. A análise destes censos<br />
até 2000, permitiu verificar que a abundância da população invernante tem<br />
permanecido estável, oscilando em redor dos 100 indivíduos (Sousa 2002b). No<br />
entanto, uma vez que as contagens não têm assegurado uma cobertura nacional a<br />
sua abundância estará subestimada, admitindo-se que a população invernante<br />
nacional esteja entre os 250 e os 1.000 indivíduos (ICN, 2006). No estuário do Tejo a<br />
população invernante em 1989 foi de 97 aves (Rufino, 1989) e em 1991, 13 aves<br />
(Rufino, 1991). A população média invernante no estuário do Tejo no período entre<br />
1992 e 1996 foi de 9 indivíduos. O número deve estar muito subestimado. (Leitão et<br />
al., 1998). Entre o período de 2000 e 2001 foram recenseadas 4 aves invernantes e<br />
em 2004, 7 aves (Encarnação, dados não publicados). Nas salinas do Samouco foi<br />
observado um máximo de 25 aves em Julho de 2004 (Rocha, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: Perda ou degradação de habitat (por acção do Homem). A<br />
população nidificante é ameaçada, entre outros factores, pela construção de<br />
barragens, alterações na quantidade de sedimentos transportados pelos rios e a<br />
destruição da vegetação ripícola. A população invernante é afectada pelo abandono<br />
ou degradação de salinas e pela transformação de salinas em aquaculturas (ICN,<br />
2006).<br />
Medidas de Conservação: Alguns trechos de rios e a maior parte das áreas<br />
estuarinas utilizadas por esta população estão incluídas em áreas com estatuto legal<br />
de protecção (Reservas Naturais, Zonas de Protecção Especial, Sítio Ramsar). Várias<br />
outras zonas foram recentemente desiganadas como Zonas Importantes para as Aves<br />
(Costa et al., 2003). No entanto, é necessário assegurar a conservação do habitat e a<br />
minimização dos factores de ameaça anteriormente referidos, nomeadamente a<br />
promoção da salicultura. É necessário obter estimativas mais fiáveis da sua<br />
abundância e distribuição (ICN, 2006).<br />
172<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Rola-do-mar, Arenaria interpres<br />
Fenologia: Em Portugal continental e nos Açores a espécie é Invernante. Segundo<br />
Catry et al., (1992), em Portugal é um visitante não nidificante razoavelmente comum,<br />
ocorrendo tanto no Inverno como durante a passagem migratória, embora já tenha<br />
sido detectada em todos os meses do ano. No estuário do Tejo ocorre como migrador<br />
de passagem e invernante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie têm o estatuto de Pouco<br />
Preocupante e nos Açores de Informação Insuficiente. A nível internacional é<br />
considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International (2004) e Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna<br />
(Anexo II) e de Bona (Anexo II) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A Rola-do-mar possui uma distribuição holárctica,<br />
nidificando numa vasta área que compreende a maioria do Árctico e se estende desde<br />
a Ilha de Ellesmere e Oeste da Gronelândia até à Escandinávia a Escandinávia e à<br />
Península de Chuckchi (Cramp e Simmons, 1983). É uma espécie essencialmente<br />
migradora, que inverna na orla costeira de todos os continentes. A sua área de<br />
distribuição em Portugal continental abrange sobretudo os estuários e outras zonas<br />
costeiras, a sul da Ria de Aveiro (ICN, 2006a).<br />
Habitat: Prefere plataformas rochosas do litoral e lamas estuarinas, ocorrendo ainda<br />
em menor quantidade em zonas de praia nomeadamente em bancos de areia,<br />
marismas e entre algas, habitualmente em pequeno número. Alimenta-se na beira de<br />
água, esgravatando e virando as pedras e as algas. A dormida é exclusivamente<br />
comunal, usualmente em dormitórios predefinidos perto da primeira zona que fica a<br />
descoberto após a maré-alta. Quando o vento é forte procura abrigo na vegetação, em<br />
cavidades, etc. (ICN, 2006). No estuário do Tejo surge com mais frequência em zonas<br />
com sedimentos arenosos e salinas (Leitão et al., 1998). A rola-do-mar ocorre<br />
sobretudo nas praias próximas da foz do estuário, durante o Outono e Inverno, no<br />
entanto é observada todo ano no estuário. As maiores densidades de aves em<br />
actividade alimentar são observadas em áreas rochosas ou de calhaus perto da foz do<br />
rio (Moreira, 1995).<br />
População: A tendência populacional sugerida pelos censos internacionais é de<br />
incremento. (Wetlands International, 2002), não existindo estimativas seguras para<br />
Portugal. Em Portugal, os censos de aves invernantes indicam uma população média<br />
entre 1000 e 1500 indivíduos (Encarnação, dados não publicados). Ao contrário do<br />
que sucede com a maior parte das outras espécies de limícolas, a rola-do-mar não se<br />
concentra nos grandes estuários e os seus efectivos apresentam-se bastantes<br />
dispersos, o que dificulta a obtenção de uma estimativa para a população invernante<br />
(Elias et al., 1998) (ICN, 2006a). No estuário do Tejo a população média invernante no<br />
período de 1975/1978 foi de 4 aves, apresentando apenas uma observação de 15<br />
aves em 1978 (Rufino, 1978). No Inverno de 1989 foram recenseadas 10 aves (Rufino,<br />
1989) e em 1991, 48 aves (Rufino, 1991). A população média invernante no estuário<br />
do Tejo no período entre 1992 e 1996 foi de 79 indivíduos, com um máximo de 155<br />
aves a ser atingido em Janeiro de 1993. Durante as passagens migratórias é mais<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 173
abundante, havendo observações de até 200 aves na Primavera e 182 no Outono<br />
(Leitão et al., 1998). Nos Invernos de 1995/98 foram recenseadas 31 aves, em 2000, 4<br />
aves e em 2004, 125 aves, 55 das quais na praia (Encarnação dados não publicados).<br />
Nas salinas do Samouco entre 2004/05 o número médio de rola-do-mar foi de 167<br />
aves, registando-se um máximo de 793 aves em Agosto de 2004 (Rocha, dados não<br />
publicados).<br />
Factores de ameaça: A poluição da água, por efluentes domésticos, industriais e<br />
agrícolas; A pressão turística nos locais de refúgio e alimentação; A destruição do<br />
habitat de descanso e alimentação. A colisão com linhas aéreas de transporte de<br />
energia pode ser um importante factor de mortalidade, quando aquelas estruturas são<br />
colocadas perto das áreas utilizadas pela espécie ou nas suas rotas de migração; A<br />
instalação de parques eólicos em corredores importantes para a migração e dispersão<br />
de aves pode constituir um importante factor de mortalidade da espécie através da<br />
colisão nas pás dos aerogeradores (ICN, 2006a).<br />
Medidas de Conservação: Manter e melhorar a qualidade da água pelo tratamento<br />
eficaz das descargas de efluentes; Restringir o uso de agro-químicos e adoptar<br />
técnicas alternativas; Controlar e fiscalizar a perturbação dos locais habituais de<br />
refúgio e de alimentação; Proibir a instalação de linhas eléctricas de transporte de<br />
energia nas áreas mais importantes para a Espécie e equipar as linhas eléctricas já<br />
existentes, com sinalizadores anti-colisão; Condicionar a instalação de parques eólicos<br />
nas áreas mais importantes para a migração e dispersão da espécie; Monitorizar os<br />
efectivos invernantes; Elaborar os planos de gestão / ordenamento dos locais de que a<br />
espécie depende, nomeadamente das ZPEs mais importantes para a espécie (ICN,<br />
2006a).<br />
Falaropo-de-bico-fino, Phalaropus lobatus<br />
Fenologia: No estuário do Tejo ocorre como migrador de passagem raro (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Não Ameado. Está incluído<br />
nos anexos das convenções de Berna (Anexo II), de Bona (Anexo III) e Directivas<br />
Aves/Habitats (Anexo I-A) (SNPRCN, 1990).<br />
Habitat: No estuário do Tejo surge em salinas (Leitão et al., 1998).<br />
Família Laridae<br />
Gaivota-de-cabeça-preta, Larus melanocephalus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
migrador de passagem e invernante pouco comum, não nidifica (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Pouco Preocupante. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo II), de Bona (Anexo II) e das<br />
Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2006).<br />
174<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Habitat: No estuário do Tejo ocorre em salinas e zonas de águas livres. É mais<br />
abundante nas salinas do Samouco e Vaza Sacos (Leitão et al., 1998).<br />
População: Geralmente surge no estuário do Tejo em pequeno número, em Setembro<br />
de 1990 foram registados 250 indivíduos (Leitão et al., 1998). Durante o período de<br />
2004 e 2005 foi observado um número máximo de 60 aves em Julho, nas salinas do<br />
Samouco (Rocha, dados não publicados).<br />
Gaivota-pequena, Larus minutus<br />
Fenologia: No estuário do Tejo ocorre como migrador de passagem raro (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Não Ameaçada. Está incluída<br />
no anexo II da convenção de Berna (SNPRCN, 1990).<br />
Habitat: No estuário do Tejo ocorre em salinas (Leitão et al., 1998).<br />
População: Em 29 de Abril de 1990 foi observado um máximo de 5 aves nas salinas<br />
do Samouco.<br />
Guincho-comum, Larus ridibundos<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
migrador de passagem e invernante comum, não nidificante (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Pouco Preocupante. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
incluída no anexo III da convenção de Bona (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: A área geográfica de nidificação desta espécie engloba<br />
toda a Europa Central e o do Leste e ilhas Britânicas. No sul é mais raro como<br />
nidificante (Cramp e Simmons, 1983). No Inverno é vulgar não só nas zonas costeiras<br />
mas também nas zonas interiores. Em Portugal, é uma espécie muito abundante no<br />
Inverno, designadamente no estuário do Tejo, onde se observou a maior concentração<br />
da Península Ibérica (Galissa, 1988)<br />
Habitat: No estuário do Tejo ocorre em zona de águas livres, zonas entre marés,<br />
salinas, valas da lezíria, arrozais e por vezes em campos agrícolas (Leitão et al.,<br />
1998). O guincho ocorre todo o ano nalgumas áreas do estuário, apresentando uma<br />
densidade geralmente abaixo das 20 aves/ha, registando-se os maiores valores perto<br />
da foz, onde é mais comum sobretudo no Inverno. Como áreas de alimentação, a<br />
espécie tem preferência por zonas de areia vasosa, próximas da linha de maré e com<br />
forte influência humana. Durante o Inverno apresenta as maiores densidades aves em<br />
actividade alimenta em zonas de areia vasosa e de sedimentos grosseiros, já no<br />
Verão prefere zonas de vasa e vasa arenosa (Moreira, 1995). A dieta de L. ridibundos<br />
nas zonas entre marés durante o Verão é constituída sobretudo pelo poliqueta Hediste<br />
diversicolor. No Inverno a sua presa principal são os sifões do bivalve Scrobicularia<br />
plana, ingerindo ainda outras presas como Peringia ulvae, o anfípode Corophium<br />
volutator e os crustáceos Crangon spp. e Carcinus maenas, o berbigão Cerastoderma<br />
edule e outros poliquetas (Moreira, 1995).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 175
População: No período de Dezembro de 1981 a Março de 1982 a população de<br />
guinchos invernante no estuário do Tejo foi estimada em 42570 indivíduos (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
O número médio de aves observadas no estuário durante o período de 1990/93, foi de<br />
42570 a 58180 aves (Teixeira 1981, 1985). Na margem Norte do estuário entre<br />
1998/1999, a espécie apresentou densidades na ordem de 2,134 aves/ha, tendo sido<br />
observadas um máximo de 491 aves (Rosa, 1999). Nas salinas do Samouco entre<br />
2004/05 o número médio de guincho foi de 328 aves, registando-se um máximo de<br />
808 aves em Fevereiro de 2005 (Rocha, dados não publicados).<br />
Alcatraz-pardo, Larus canus<br />
Fenologia: No estuário do Tejo ocorre como migrador de passagem raro (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Não Ameaçada. Está incluída<br />
no anexo III da convenção de Berna (SNPRCN, 1990).<br />
Habitat: No estuário do Tejo ocorre em águas livres e salinas. Observam-se<br />
regularmente alguns indivíduos nas salinas do Samouco e esteiro do Montijo. Na foz<br />
de estuário é um invernante raro mas regular (Leitão et al., 1998).<br />
População: Em 29 de Abril de 1990 foi observado um máximo de 5 aves nas salinas<br />
do Samouco (Leitão et al., 1998).<br />
Gaivota-d’asa-escura, Larus fuscus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante e nidificante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como migrador de passagem e invernante comum, não nidifica (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a população nidificante tem o estatuto de<br />
Vulnerável e a invernante Pouco Preocupante. A nível internacional é considerada<br />
uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International (2004) e Pouco Preocupante<br />
pela IUCN (2001) (ICN, 2006).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie amplamente distribuída por todo o Paleártico,<br />
que está maioritariamente concentrada no Reino Unido (Cramp, 1985; Hagemeijer e<br />
Blair, 1997). E Portugal a Gaivota-d’asa-escura nidifica em pequenos núcleos<br />
localizados no arquipélago das Berlengas, ilha do Pessegueiro e ria Formosa. Não<br />
excluindo a hipótese de em situações pontuais nidificar ao longo da costa a Sul do<br />
cabo Sardão, e no estuário do Sado, no sei de núcleos reprodutores de gaivota-depatas-amarelas<br />
(ICN, 2006).<br />
Habitat: Em Portugal nidifica ilhas e em zonas estuarinas ou lagunares (ICN, 2006).<br />
No estuário do Tejo ocorre em zonas entre maré, zonas de águas livres, salinas,<br />
arrozais, lezíria e zonas urbanas (Leitão et al., 1998). A Gaivota-d’asa-escura ocorre<br />
durante todo o ano no estuário, sendo que entre Setembro e início de Fevereiro<br />
surgem as maiores densidades em sectores mais próximos da foz do rio, onde pode<br />
ocorrer em densidades geralmente superiores a 100 aves/ha. Tem preferência por<br />
176<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
áreas de alimentação com grande influência humana, em zonas com períodos de<br />
emersão curtos e/ou áreas com sedimentos grosseiros (Moreira, 1995).<br />
A dieta de L. fuscos na zona entre-marés é constituída por bivalves (principalmente o<br />
berbigão Cerastoderma edule), crustáceos (caranguejos) e por vezes alimentam-se<br />
ainda de cadáveres de tainhas (Moreira, 1995).<br />
População: A estimativa actual em Portugal sugere um valor máximo de 50 casais<br />
(Granadeiro, L. Morais e N.M. Lecoq, com pess.), com os principais núcleos<br />
localizados no arquipélago das Berlengas e na ria Formosa. População (ICN, 2006). O<br />
número médio de aves observadas no estuário do Tejo durante o período de 1990/93,<br />
foi de 19356 a 21370 aves (Teixeira 1981, 1985). No estuário a população invernante<br />
foi estimada em 19356 aves no período de 1981/82 (Leitão et al., 1998). Na margem<br />
Norte do estuário entre 1998/1999, a espécie apresentou densidades na ordem de<br />
0,679 aves/ha, tendo sido observadas um máximo de 175 aves (Rosa, 1999). Nas<br />
salinas do Samouco entre 2004/05 o número médio de guincho foi de 315 aves,<br />
registando-se um máximo de 401 aves em Abril de 2005 (Rocha, dados não<br />
publicados).<br />
Factores de ameaça: Embora possua um efectivo reduzido no nosso país,<br />
essencialmente por se encontrar no limite sul da sua distribuição, esta espécie não<br />
sofre actualmente de ameaças directas, sendo a ave marinha mais comum na costa<br />
portuguesa durante o Inverno. Contudo, à semelhança de outras aves marinhas, esta<br />
espécie pode ser gravemente afectada por ameaças globais como derrames de<br />
hidrocarbonetos, podendo igualmente sofrer algumas perdas em artes de pesca (ICN,<br />
2006).<br />
Medidas de Conservação: A maioria das colónias está incluída em áreas protegidas,<br />
sendo por isso alvo de alguma vigilância e gestão (ICN, 2006).<br />
Gaivota-de-patas-amarelas, Larus cachinnans<br />
Fenologia: Em Portugal continental e nos arquipélagos dos Açores e Madeira a<br />
espécie é Residente. No estuário do Tejo ocorre como invernante raro (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a população tem o estatuto Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo III da convenção de Bona (ICN, 2006).<br />
Habitat: No estuário do Tejo ocorre em salinas e zonas de águas livres (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
População: No estuário do Tejo a espécie é mais abundante na foz do estuário e na<br />
zona costeira adjacente (Leitão et al., 1998).<br />
Alcatraz-comum, Larus marinus<br />
Fenologia: No estuário do Tejo ocorre como invernante raro (Leitão et al., 1998).<br />
Habitat: No estuário do Tejo ocorre na parte mais larga do estuário, na zona entre<br />
Lisboa e a Base Aérea nº 6 do Montijo (Leitão et al., 1998).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 177
Família Sternidae<br />
Tagaz, Gelochelidon nilotica<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como migrador de passagem raro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Em Perigo. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Vulnerável pela BirdLife International (2004)<br />
e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de<br />
Berna (Anexo II), de Bona (Anexo II) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN,<br />
2006).<br />
Distribuição e movimentos: A espécie apresenta uma distribuição cosmopolita, mas<br />
descontínua. A subespécie Gelochelidon nilotica nilotica nidifica na Europa, África<br />
Ocidental, Médio Oriente, Manchúria, Paquistão e no Sri Lanka (Hagemeijer e Blair,<br />
1997). Na Europa nidifica sobretudo na região do Mediterrâneo e no Mar Negro. A<br />
população europeia inverna em África: as aves da Europa Ocidental invernam<br />
possivelmente entre a Mauritânia e o Chade e as aves da Europa Oriental entre o<br />
Sudão e o Botswana (Hagemeijer e Blair, 1997).<br />
Em Portugal, ocorre no estuário do Tejo e em barragens no Alentejo (Farinha e Costa<br />
1999), ocupando uma área inferior a 100 km2. A albufeira de Alqueva assume<br />
actualmente grande importância para a espécie (ICN dados não publicados) (ICN,<br />
2006).<br />
Habitat: Em Portugal nidifica em zonas húmidas costeiras, barragens e arrozais. A<br />
cobertura vegetal é um factor importante como habitat de nidificação, pois os ninhos<br />
são construídos junto a tufos de vegetação. Alimenta-se voando a baixa altitude sobre<br />
a superfície a superfície da água ou em zonas abertas secas (ICN, 2006). O estuário<br />
do Tejo ocorre em arrozais, salinas e terrenos e valas da lezíria (Leitão et al., 1998).<br />
População: Nos anos 30 nidificava na ria de Aveiro e nos estuários de Sado e Mira<br />
(Tait, 1924; Coverley, 1939), mas nos anos seguintes possivelmente extinguiu-se<br />
como nidificante. Na década de 80, a espécie foi observada nalguns do Sul do país,<br />
não sendo confirmada a sua nidificação (Rufino, 1989). Em 1999 foi confirmada a sua<br />
nidificação no Alentejo (Catry, 1999). A população deve ser inferior a 250 aves (em<br />
trabalhos na região do Alqueva foram contabilizadas duas colónias com 70-80<br />
indivíduos (Moreira, com. pess.). (ICN, 2006). No estuário do Tejo uma boa parte das<br />
observações dizem parte a aves isoladas, no entanto a 22 de Julho de 1995 foram<br />
observados 22 aves nos arrozais da lezíria da Ponta da Erva (Leitão et al., 1998).<br />
Factores de ameaça: Embora possua um efectivo reduzido no nosso país,<br />
essencialmente por se encontrar no limite sul da sua distribuição, esta espécie não<br />
sofre actualmente de ameaças directas, sendo a ave marinha mais comum na costa<br />
portuguesa durante o Inverno. Contudo, à semelhança de outras aves marinhas, esta<br />
espécie pode ser gravemente afectada por ameaças globais como derrames de<br />
hidrocarbonetos, podendo igualmente sofrer algumas perdas em artes de pesca (ICN,<br />
2006).<br />
178<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Medidas de Conservação: A maioria das colónias está incluída em áreas protegidas,<br />
sendo por isso alvo de alguma vigilância e gestão (ICN, 2006).<br />
Garajau-grande, Sterna caspia<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é invernante, mas também migrador de passagem.<br />
No estuário do Tejo ocorre como migrador de passagem raro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Em Perigo. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Vulnerável pela BirdLife International (2004)<br />
e Pouco Preocupante pela IUCN (1994). Está incluída nos anexos das convenções de<br />
Berna (Anexo II), de Bona (Anexo II) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN,<br />
2005).<br />
Distribuição e movimentos: Ocorre em todos os continentes à excepção da América<br />
do Sul e Antártida. No Paleártico Ocidental esta espécie ocorre do Báltico e Norte do<br />
Mar Vermelho até à Ásia Central. Na Europa existem três populações, ambas<br />
migradoras: mar Báltico, Norte do Mar Negro e Norte do mar Cáspio. As populações<br />
europeias invernam sobretudo na zona do rio Níger, Mali, África Ocidental, mas alguns<br />
indivíduos invernam no Mediterrâneo (Hagemeijer e Blair 1997). Em Portugal a<br />
espécie inverna sobretudo ao longo da costa algarvia: Ria formosa, sapal de Castro<br />
Marim (Farinha e Costa, 1999) (ICN, 2005).<br />
Habitat: Inverna em estuários e zonas húmidas costeiras, em particular no Algarve<br />
(ICN, 2005). No estuário do Tejo segundo Leitão et al., (1998) a espécie ocorre em<br />
águas livres e salinas.<br />
População: Inverna regularmente no Algarve, mas em reduzido número. O máximo de<br />
indivíduos contados na Ria formosa e Castro Marim foi de 52, em 1992 (Farinha e<br />
Costa, 1999). Não têm sido realizados censos sistemáticos que possam contribuir para<br />
detectar possíveis oscilações na população invernante, no entanto, não há evidências<br />
que sugiram que esteja em declínio continuado. Os indivíduos observados no país são<br />
oriundos sobretudo da Escandinávia (Farinha e Costa, 1999) (ICN, 2005). No estuário<br />
do Tejo a maioria das observações diz respeito a indivíduos isolados (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Factores de ameaça: A população nidificante europeia tem diminuído desde os anos<br />
70 (Hagemeijer e Blair 1997), mas as causas não são conhecidas. A perturbação<br />
humana não é um factor importante, pois as suas colónias no mar Báltico, em<br />
regressão desde os anos 70, são protegidas e o seu acesso está vedado durante a<br />
reprodução. Uma possível causa para este declínio poderá ser a caça durante a<br />
migração e nas zonas de invernada no Mali. A pequena população que inverna no<br />
Algarve não está sujeita a ameaças particulares. Assim, a manutenção desta pequena<br />
população deverá estar dependente da conservação da espécie nas áreas de<br />
reprodução e nas principais áreas de invernada (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: São necessários estudos para determinar as causas do<br />
declínio verificado nas colónias europeias. Em Portugal, a espécie inverna sobretudo<br />
em áreas protegidas. É importante a sensibilização do público em geral, e dos<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 179
pescadores e mariscadores do Algarve em particular, para a importância desta<br />
população (ICN, 2005).<br />
Garajau-comum, Sterna sandvicensis<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
migrador de passagem comum e invernante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Quase Ameaçado.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Depauperada pela BirdLife<br />
International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos<br />
das convenções de Berna (Anexo II), de Bona (Anexo II) e das Directivas<br />
Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Apresenta uma distribuição muito alargada. A área de<br />
nidificação compreende zonas costeiras da América do Norte e do Sul, Caraíbas e<br />
Eurásia. A subespécie nominal Sterna sandvicensis sandvicensis nidifica em zonas<br />
costeiras da Europa Ocidental (França, Bélgica, Holanda, Dinamarca e Grã-bretanha),<br />
mar Báltico, mar Negro, mar Cáspio, mar de Azov e Mediterrâneo Ocidental<br />
(Hagemeijer e Blair 1997). As populações da Europa Ocidental invernam sobretudo<br />
entre a Mauritânia e a África do sul. As populações dos mares Negro, Cáspio e de<br />
Azov invernam sobretudo no mar Negro e Mediterrâneo Oriental (Hagemeijer e Blair<br />
1997). Em Portugal os indivíduos invernantes distribuem-se ao longo da costa<br />
continental, ocorrendo sobretudo na ria de Aveiro, estuários do Tejo e Sado, ria de<br />
alvor e ria Formosa (ICN, 2005).<br />
Habitat: Inverna ao longo da orla costeira, nomeadamente em estuários e zonas<br />
húmidas (ICN, 2005). No estuário do Tejo a espécie ocorre em águas livres e salinas<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
População: A população ocidental desta espécie, invernante na costa da península<br />
Ibérica, apresenta-se em aumento (Wetlands International, 2002). Não existem<br />
estimativas concretas da população invernante. As observações de vários ornitólogos<br />
nas diferentes zonas húmidas costeiras sugerem uma população de cerca de 1000<br />
indivíduos, não existindo evidências que apresente declínio continuado. No, entanto<br />
desconhece-se se esta população sofre flutuações acentuadas, como acontece<br />
noutras espécies desta família. Durante o período de passagem pós-nupcial, chegam<br />
a observar-se concentrações de mais de 1000 indivíduos em zonas húmidas do litoral<br />
(Farinha e Costa, 1999). Ocorre em todo o estuário do Tejo, sendo menos abundante<br />
nas zonas a montante de Alcochete. Durante a migração pós-nupcial podem observarse<br />
grandes dormitórios desta espécie nas salinas e praias fluviais. No complexo de<br />
salinas do Samouco, foram observados concentrações de 1000 e 700, em Agosto de<br />
1990 e Julho de 1992, respectivamente. A 20 de Agosto de 1993 foram observados<br />
entre 1000 a 1500 indivíduos a pescar na parte mais larga do estuário, entre Lisboa e<br />
a Base Aérea nº6 do Montijo. O máximo observado nas salinas de Vasa Sacos foi de<br />
200 indivíduos em Julho de 1992. Durante os restantes meses do ano não são<br />
geralmente observados mais de 20 indivíduos nas salinas do Samouco, nem mais de<br />
50 entre o Montijo e Lisboa (Leitão et al., 1998). Nos Invernos de 2004/05 e 2005/06<br />
180<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
foram recenseados 34 e 35 aves, respectivamente. Durante o período de 2004 e 2005,<br />
foi observado um máximo de 35 aves em Julho (Rocha, dados não publicados).<br />
Factores de ameaça: Desconhece-se a dieta da espécie ao longo da costa, bem<br />
como o possível impacto que actividades como a aquacultura e pesca artesanal<br />
poderão ter nos recursos alimentares desta espécie. Não estão apontadas ameaças<br />
particulares para os locais de refúgio (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: As maiores concentrações da espécie ocorrem sobretudo<br />
em áreas protegidas. São necessários censos que localizem concretamente todas as<br />
áreas de ocorrência ao longo da orla costeira. Estudos que identificassem as principais<br />
zonas de alimentação e descanso, bem como as suas características seriam úteis<br />
para propor medidas de gestão adequadas (ICN, 2005).<br />
Gaivina, Sterna hirundo<br />
Fenologia: Ocorre como estival nidificante em Portugal continental e nos arquipélagos<br />
da Madeira e Açores. No estuário do Tejo ocorre como migrador de passagem pouco<br />
comum e estival nidificante raro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto de Em<br />
Perido e nas ilhas de Vulnerável. A nível internacional é considerada uma espécie Não<br />
Ameaçada pela BirdLife International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo II), de Bona (Anexo II) e<br />
das Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Apresenta uma distribuição muito largada. A área de<br />
nidificação é contínua desde o noroeste europeu, através da Eurásia até à Península<br />
de Kamchatka. Encontrando-se Portugal no limite sul da área de distribuição da<br />
população nidificante europeia (Hagemeijer e Blair 1997). Nidifica igualmente na costa<br />
Leste da América do norte. Inverna na América do sul até ao sul da argentina, ao<br />
longo da costa Africana e no Leste da Austrália (Hagemeijer e Blair 1997). Em<br />
Portugal continental nidifica em números muito reduzidos, nos estuários do Tejo e<br />
Sado. No arquipélago dos açores nidifica em todas as ilhas em pequenas colónias,<br />
cujo número total varia de ano para ano (9-15 colónias). No arquipélago da Madeira<br />
distribui-se de uma forma dispersa e em colónias de reduzidas dimensões ao longo de<br />
todas as ilhas (ICN, 2005).<br />
Habitat: trata-se uma espécie costeira, contudo nidifica frequentemente ao longo de<br />
rios e em zonas húmidas no interior. Em Portugal continental nidifica em salinas e<br />
pisciculturas (Elias e Leitão, 1992). Nos Açores nidifica em praias de areia ou calhau<br />
associadas a falésias costeiras e ilhéus. Na Madeira ocorre fundamentalmente em<br />
zonas de falésias costeiras e ilhéus (ICN, 2005). No estuário do Tejo segundo Leitão<br />
et al., (1998) a espécie ocorre em águas livres e salinas.<br />
População: No passado existem registos de nidificação na ria de Aveiro (Vieira, 1904<br />
in ICN, 2005) e no estuário do Sado (Coverley, 1939). A partir dos anos 90 a sua<br />
nidificação tem sido observada regularmente nos estuários do Tejo e Sado, mas<br />
sempre em pequenos números (menos de 10 casais). Os censos de toda a zona<br />
costeira dos Açores, realizados em 1989 permitiram estimar uma população de 4015<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 181
casais (Monteiro et al., 1996b). No arquipélago da Madeira a população foi estimada<br />
em cerca de 250 a 2500 indivíduos.<br />
No estuário do Tejo é claramente mais abundante durante a migração pós-nupcial,<br />
tendo sido registados entre Montijo e Lisboa máximos de 20 e 30 indivíduos, nos<br />
meses de Agosto e Setembro, respectivamente. No complexo de salinas do Samouco<br />
foi contado um máximo de 130 aves em Agosto de 1992. Quanto à nidificação, foram<br />
assinalados dois casais, um nas salinas do Samouco em 1992 e outro nas salinas de<br />
Vasa Sacos em 1993 (Leitão et al., 1998). Entre nas salinas do Samouco a um casal<br />
nidificou no período de 2003/04 e 2004/05 (Rocha, dados não publicados)<br />
Factores de ameaça: a principal ameaça à conservação da espécie é a destruição do<br />
habitat de nidificação. A pequena população nidificante em Portugal pode sofrer<br />
efeitos adversos de abandono de salinas e de perturbação elevada nas pisciculturas.<br />
Nos arquipélagos dos Açores e Madeira para além da destruição do habitat de<br />
nidificação através da ocupação humana (e introdução de plantas e animais não<br />
indígenas nos Açores) e a perturbação das colónias, constituem as principais ameaças<br />
a esta espécie (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: No continente, as áreas onde a espécie nidifica são Áreas<br />
Protegidas ou Zonas de Protecção Especial (ZPE). A sensibilização do público em<br />
geral e, em particular, de salineiros e piscicultores para a conservação desta e de<br />
outras espécies em ecologia semelhante é uma medida de grande prioridade.<br />
Nos Açores a maior parte das colónias ocorre em ZPE’s, foram elaborados planos de<br />
gestão que têm que postos em prática, as prioridades à conservação da espécie<br />
passam pela erradicação de mamíferos não indígenas, restauro dos habitats naturais<br />
e monitorização das populações. Ao abrigo do projecto Life “Gestão integrada de<br />
zonas costeiras marinhas dos Açores”, foram realizados: programa experimental de<br />
erradicação de espécies não indígenas invasoras; estudo da biologia e ecologia das<br />
aves marinhas dos Açores. Na Madeira parte da sua área de ocorrência está incluída<br />
em distintas áreas protegidas (ICN, 2005).<br />
Chilreta, Sterna albifrons<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como migrador de passagem comum e estival nidificante pouco comum, sendo<br />
observada entre os meses de Abril a Outubro (início) (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Vulnerável. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Em Declínio pela BirdLife International (2004)<br />
e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de<br />
Berna (Anexo II), de Bona (Anexo II) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN,<br />
2005).<br />
Distribuição e movimentos: A Chilreta tem uma distribuição cosmopolita. No<br />
Paleártico a sua área de nidificação vai desde a costa atlântica à Ásia Central, e desde<br />
o Mediterrâneo e Norte do Médio Oriente até a Fenoscândia e Rússia (BirdLife<br />
International/ European Bird Census Council, 2000). A população Europeia inverna ao<br />
longo da costa Ocidental e Oriental de África, no Mar Vermelho e Golfo Pérsico<br />
182<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
(Tomialojc, 1994). Em Portugal a espécie distribui-se ao longo da costa em estuários e<br />
lagoas costeiras, a Sul da ria de Aveiro. As aves que nidificam em Portugal passam o<br />
Inverno na costa atlântica de África, da Guiné aos Camarões (Farinha e Costa 1999).<br />
Habitat: Distribui-se essencialmente ao longo da faixa litoral, em zonas de baixa<br />
profundidade, nomeadamente nos estuários, lagunas costeiras, salinas, pisciculturas e<br />
lagoas costeiras. Evita vegetação densa. Reproduz-se geralmente em zonas abertas<br />
perto de água, preferindo ilhas isoladas ou penínsulas, quer em praias de areia ou<br />
seixos, lagos arenosos pouco profundos ou em pequenas ilhotas em grandes rios.<br />
Pode nidificar em zonas de salinas (ICN, 2005). No estuário do Tejo a Chilreta ocorre<br />
nas águas livres e salinas (Leitão et al., 1998).<br />
População: Os censos internacionais sugerem uma situação de estabilidade, o<br />
mesmo sucedendo em Portugal onde apesar de algumas variações pontuais, se têm<br />
mantido os efectivos populacionais nidificantes mais ou menos estáveis desde os anos<br />
70 (Catry 2000, Catry et al., 2004). Os resultados de censos ocorridos em 2000-2002<br />
sugerem uma estimativa de cerca de 440 casais (Catry 2000; Catry et al., 2004). No<br />
estuário do Tejo é mais abundante durante a migração pós-nupcial. Entre o Montijo e<br />
Lisboa foram registados máximos de 50 indivíduos em Julho de 1992 e Agosto de<br />
1991 e 280 em Setembro de 1993. Nas salinas do Samouco em 1992 foram<br />
observados 500, 650 e 44 indivíduos em Julho, Agosto e Setembro, respectivamente,<br />
enquanto que em Julho de 1993 foram registados 553 indivíduos. Nas salinas de Vasa<br />
Sacos registaram-se máximos de 150 e 250 indivíduos em Julho e Agosto de 1992,<br />
respectivamente. Em 2004 durante no período entre Abril a Agosto foram observadas<br />
em média 68,4 aves, surgindo um máximo de 189 aves em Julho (Rocha, dados não<br />
publicados). O primeiro registo de nidificação da espécie no estuário do Tejo refere-se<br />
a três casais nas salinas do Samouco em 1985. Em 1993 foram registados 46 casais,<br />
dos quais 28 estavam localizados no areal do Bugio e os restantes 18 em salinas entre<br />
o Samouco e Vasa Sacos (Leitão et al., 1998). No período entre 1995 e 2005 a<br />
espécie nidificou nas salinas do Samouco apresentando uma população reprodutora<br />
média de 28 casais, obtendo como mínimo 1 casal em 1999 e 2001 e um máximo em<br />
2005 de 74 casais (Rocha, dados não publicados). Neste último ano o sucesso de<br />
eclosão dos ovos foi de 42% (Rocha, 2005).<br />
Factores de ameaça: A pressão turística nos locais de nidificação. As praias estão<br />
sujeitas a grande exploração turística, provocando não só o abandono dos locais de<br />
nidificação em resultado da perturbação, mas também a destruição dos ninhos em<br />
consequência do pisoteio; O abandono e reconversão da actividade salineira<br />
tradicional. A transformação, abandono ou destruição de salinas, importante habitat de<br />
alimentação e de nidificação, deixa esta espécie em muitos casos, sem habitats<br />
alternativos; A predação por gaivotas, cães e gatos domésticos que, ao alimentaremse<br />
dos ovos, provocam importante redução no sucesso reprodutor da espécie; A<br />
poluição da água, por efluentes domésticos, industriais e agrícolas. A utilização de<br />
adubos, pesticidas e herbicidas nas zonas de alimentação e reprodução, contaminam<br />
os recursos alimentares (ICN, 2005).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 183
Medidas de Conservação: As medidas de conservação da espécie passam: -<br />
Efectuar a protecção efectiva das zonas mais importantes de reprodução evitando a<br />
sua ocupação por actividades turísticas ou promovendo a criação de reservas integrais<br />
nas principais áreas de nidificação; - Manter as salinas em actividade e efectuar<br />
gestão adequada das salinas abandonadas; - Reduzir a predação, nomeadamente<br />
pela construção de cercas eléctricas à volta das colónias, nos locais de nidificação e<br />
controlando os animais assilvestrados; - Construir cercados ou locais abrigados para<br />
protecção dos juvenis da predação, de forma a aumentar o sucesso de nidificação; -<br />
Criar praias artificiais de substrato arenoso e ilhas artificiais em salinas abandonadas; -<br />
Atrair a espécie para habitats potenciais de nidificação protegidos da perturbação<br />
humana e de predadores; - Manter e melhorar a qualidade da água pelo tratamento<br />
eficaz das descargas de efluentes; - Restringir o uso de agro-químicos e adoptar<br />
técnicas alternativas; - Promover estudos sobre aspectos básicos da biologia da<br />
espécie (ecologia, movimentos, requisitos de habitat e recursos alimentares); -<br />
Monitorizar os efectivos nidificantes; - Efectuar campanhas de sensibilização ambiental<br />
para as populações e autoridades competentes, nomeadamente para prevenir o<br />
pisoteio e a perturbação junto das colónias; -Elaborar os planos de gestão /<br />
ordenamento dos locais de que a espécie depende, nomeadamente das ZPE’s mais<br />
importantes para a espécie (ICN, 2005).<br />
Gaivina-dos-pauis, Chlidonias hybridus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como migrador de passagem pouco comum e invernante raro, sendo observada<br />
sobretudo entre os meses de Março a Abril (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Criticamente Em<br />
Perigo. A nível internacional é considerada uma espécie Depauperada pela BirdLife<br />
International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos<br />
da convenção de Berna (Anexo II) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN,<br />
2005).<br />
Distribuição e movimentos: A sua área de distribuição é alargada, estendendo-se da<br />
Europa à Austrália. Na Europa, a espécie encontra-se dispersa pelo Sul e Leste. As<br />
populações da Europa Ocidental migram para a África Ocidental, embora algumas<br />
aves invernem no Sul da Europa. As populações da Europa de leste invernam no delta<br />
do Nilo Austrália (Hagemeijer e Blair, 1997). A sua distribuição em Portugal<br />
Continental, situa-se na zona centro sul do país, onde frequenta pequenos pauis ou<br />
lagoas. Existem poucas confirmações da sua nidificação, sendo normalmente<br />
inconstante. Em 1995 foi confirmada a nidificação em Salreu, ria de Aveiro (Neto e<br />
Meireles, 1999). O Paul do Boquilobo constitui a principal zona húmida nacional para<br />
esta espécie (ICN, 2005).<br />
Habitat: Frequenta normalmente zonas com abundante vegetação aquática flutuante.<br />
Inclui estuários, salinas, arrozais, pauis e açudes. Nidifica em massas de água<br />
naturais ou artificiais, seleccionando locais com água moderadamente profunda. Em<br />
condições naturais as colónias de gaivinha-dos-pauis, preferem vegetação flutuante<br />
184<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
em águas paradas ou com pouca corrente, de preferência límpida, lagos, estuários e<br />
por vezes pântanos (ICN, 2005).<br />
No estuário do Tejo é observada em canais de águas livres, salinas, valas da lezíria e<br />
arrozais. A expansão da área ocupada por arrozais na lezíria da Ponta da Erva parece<br />
favorecer a ocorrência da espécie na zona (Leitão et al., 1998).<br />
População: O carácter de nidificação irregular desta espécie dificulta a detecção de<br />
tendências nas estimativas populacionais. Contudo, trata-se de uma espécie com área<br />
de ocupação muito reduzida e que tem sofrido declínio da qualidade do seu habitat, da<br />
área de ocupação e do número de localizações (ICN, em prep.). Segundo Farinha e<br />
Costa (1999) a estimativa populacional para 1991, foi entre 40 e 200 indivíduos. A<br />
população do Paul do Boquilobo foi acompanhada entre 1980 e 1995, situando-se<br />
entre alguns e 240 indivíduos, o que reflecte o carácter de nidificação irregular desta<br />
espécie (Catry et al., 1997). A maioria das colónias europeias raramente excede os 50<br />
casais (Van der Winden 1997).<br />
Na Ponta da Erva em 22 de Julho de 1995 foram observados 75 indivíduos (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
Factores de ameaça: A drenagem dos pântanos resulta na perda de habitat favorável<br />
para a nidificação e para a alimentação; A regularização intensiva dos rios. A gestão<br />
desajustada dos cursos de água, especialmente pisciculturas, reservatórios e alguns<br />
estuários de grandes rios, envolvendo reduções drásticas e regulares da vegetação<br />
flutuante emergente; O aumento da pressão turística e dos desportos aquáticos junto<br />
às colónias de nidificação, provoca a perda dos locais de nidificação; A colisão com<br />
linhas aéreas de transporte de energia pode ser um importante factor de mortalidade,<br />
particularmente em dias de fraca visibilidade, quando aquelas estruturas são<br />
colocadas perto das áreas utilizadas pela espécie ou nas suas rotas de migração; A<br />
instalação de parques eólicos em corredores importantes para a migração e dispersão<br />
de aves pode constituir um importante factor de mortalidade da espécie através da<br />
colisão nas pás dos aerogeradores (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: A conservação desta espécie passa por: - Recuperar e<br />
conservar as zonas húmidas de características ajustadas à espécie, mantendo os<br />
cursos de água com bom desenvolvimento da vegetação emergente e flutuante; -<br />
Estabelecer um perímetro de protecção nos locais de nidificação contra a perturbação<br />
humana; - Criar plataformas artificiais em cursos de água geridos intensivamente,<br />
proporcionando locais apropriados para a nidificação; - Proibir a instalação de linhas<br />
eléctricas de transporte de energia nas áreas mais importantes para a espécie, e<br />
equipar as linhas eléctricas existentes, e que se revelem mortíferas para a espécie,<br />
com sinalizadores anti-colisão; - Condicionar a instalação de parques eólicos nas<br />
áreas mais importantes para a migração e dispersão da espécie. - Desenvolver<br />
estudos de monitorização do impacte das linhas eléctricas de transporte de energia já<br />
existentes, de forma a conhecer o seu efeito na população nacional destas aves;<br />
Promover estudos sobre aspectos básicos da biologia da espécie (ecologia,<br />
movimentos, requisitos de habitat e recursos alimentares); - Monitorizar os efectivos<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 185
nidificantes; - Elaborar os planos de gestão / ordenamento dos locais de que a espécie<br />
depende, nomeadamente das ZPE’s mais importantes para a espécie (ICN, 2005).<br />
Gaivina-preta, Chlidonias niger<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como migrador de passagem pouco comum, sendo observada sobretudo entre os<br />
meses de Abril a Maio e entre Julho a Outubro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Não Ameaçada. Está incluída<br />
nos anexos da convenção de Berna (Anexo II) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo<br />
I-A) (SNPRCN, 1990).<br />
Habitat: No estuário do Tejo ocorre em canais e águas livres, salinas, valas da lezíria<br />
e arrozais (Leitão et al., 1998).<br />
População: É mais abundante durante a migração pós-nupcial. No troço<br />
Montijo/Lisboa os registos de Abril e Maio nunca vão além dos 10 indivíduos, enquanto<br />
em Agosto e Setembro já foram observados cerca de 60 indivíduos. Nas salinas do<br />
Samouco foram registados 93 aves em Setembro de 1992 (Leitão et al., 1998) e 10<br />
aves em Agosto de 2005 (Rocha, dados não publicados)<br />
1.3.2.2.10 Ordem Columbiformes<br />
Família Columbidae<br />
Pombo-bravo, Columba oenas<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente e invernante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como migrador de passagem pouco comum e invernante raro, sendo<br />
observada sobretudo entre os meses de Janeiro a Fevereiro e entre Outubro e<br />
Novembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Informação<br />
Insuficiente. A nível internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela<br />
BirdLife International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos<br />
anexos da convenção de Berna (Anexo III), da Directiva Aves/Habitats (Anexo D) e<br />
incluída na Lei de Bases de Caça (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: O pombo-bravo distribui-se por quase toda a Europa,<br />
desde o mediterrâneo até ao sul da Escandinávia e ainda Norte de África, Irão, Mar<br />
Cáspio e Sibéria Ocidental (del Hoyo et al., 1997 in ICN, 2005). Em Portugal a<br />
população nidificante tem uma distribuição muito fragmentada, apresentando núcleos<br />
de nidificação pouco numerosos e descontínuos, localizando-se mais alargado no<br />
extremo Nordeste (ICN, dados não publicados). Como invernante, a sua distribuição é<br />
pouco conhecida. No Baixo Alentejo, de Inverno, é mais abundante na metade<br />
oriental, estando ausente da faixa costeira e das serras na fronteira com o Algarve<br />
(Elias et al., 1998).<br />
Habitat: No Norte frequenta soutos e carvalhais com árvores velhas (Rufino, 1989 in<br />
ICN, 2005), sendo observado em alimentação em terrenos lavrados, pousios, prados e<br />
186<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
lameiros na proximidade de soutos (Patacho, 1998). No Centro e Sul do país ocorre<br />
em montados de sobro e de azinho abertos, zonas acidentadas com estevais e<br />
montados, terrenos agrícolas e pousios (Elias et al., 1998). Nidificam em árvore, mas<br />
também em construções (ICN, 2005). No estuário do Tejo, ocorre em terrenos<br />
cultivados nas proximidades de áreas florestadas (Leitão et al., 1998).<br />
População: De acordo com Rufino (1989) a população nidificante será possivelmente<br />
residente e durante o Inverno acresce uma população migradora proveniente do Norte<br />
da Europa, como sugerem os dados de anilhagem (Elias et al., 1998). Desconhece-se<br />
o tamanho exacto da população nacional de pombo-bravo, que não tem sido alvo de<br />
censos dirigidos durante a época de nidificação ou de invernada. Normalmente são<br />
observados no estuário do Tejo um máximo de 10 a 20 pombos-bravos, contudo de<br />
forma excepcional a 22 de Outubro de 1991 observaram-se cerca de 300 aves em<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Factores de ameaça: em Portugal não são bem conhecidos os factores de ameaça.<br />
Em Espanha, a pressão cinegética e a redução dos locais de nidificação, por<br />
eliminação de árvores mais velhas e ruína de construções rurais, são os principais<br />
factores limitantes da espécie (Fernández e Bea, 2003).<br />
Medidas de Conservação: Não foram identificadas medidas de conservação<br />
específicas, para além das normas gerais de protecção das aves e dos seus habitats.<br />
Importa assegurar a monitorização das suas populações e apurar estatísticas de caça<br />
fiáveis. É também necessário obter mais informação sobre a biologia e ecologia da<br />
espécie (ICN, 2005).<br />
Pombo-torcaz, Columba palumbus<br />
Fenologia: Em Portugal continental residente e migrador de passagem, nos<br />
arquipélagos dos Açores e da Madeira é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante pouco comum e invernante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto de Pouco<br />
Preocupante e Informação Insuficiente e Regionalmente Extinto, nos Açores e na<br />
Madeira, respectivamente. A nível internacional é considerada uma espécie Não<br />
Ameaçada pela BirdLife International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída nos anexos D e A-I (a subespécie Columba palumbus azorica) da<br />
Directiva Aves/Habitats (Anexo D) e incluída na Lei de Bases de Caça (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie com distribuição alargada na Europa e na Ásia,<br />
estendendo-se para oriente até aos Urais e à Ásia central, e para sul até Omã. Na<br />
Europa o pombo-torcaz esteve uma expansão marcada desde o século XIX,<br />
nidificando ocasionalmente na Islândia (Cramp, 1985).<br />
Habitat: Ocupa preferencialmente zonas florestadas de pinheiro Pinus spp. E faia<br />
Myrica faya e zonas de mata de urze Erica azorica e cedro-do-mato Juniperus<br />
brevifolia (Bannerman e Bannerman, 1966 in ICN, 2005). No estuário do Tejo ocorre<br />
preferencialmente em montados de sobro e pinhais (Leitão et al., 1998).<br />
População: Não existem dados sobre a sua abundância em Portugal continental e no<br />
arquipélago dos Açores. No continente existem populações numerosas e com<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 187
distribuição alargada. Nos Açores ocorre a subespécie endémica Columba palumbus<br />
azorica e na Madeira ocorria a subespécie endémica C. p. madeirensis, actualmente<br />
extinta. Na zona de Pancas foi observado um máximo de cerca de 50.000 aves em 28<br />
de Novembro de 1991. No mesmo local em 21 de Fevereiro de 1992 foram<br />
observados 10.000 aves. No entanto, o número de aves é habitualmente muito mais<br />
reduzido (Leitão et al., 1998).<br />
Factores de ameaça: Nos Açores a substituição em larga escala de áreas de floresta<br />
natural por zonas de pastagem e a caça ilegal constituem as principais ameaças para<br />
a população do arquipélago (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: Parte da área de distribuição da espécie nos Açores situase<br />
em Reservas Florestais Naturais e em Zonas de Protecção especial. Nesta Região<br />
a conservação da espécie passa pelo estudo do estatuto taxonómico da população de<br />
pombo-torcaz dos Açores, nomeadamente através de padrões biométricos, de<br />
variabilidade genética, distribuição e tendências populacionais no arquipélago (ICN,<br />
2005).<br />
Rola-brava, Streptopelia turtur<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente e migradora de passagem. No estuário<br />
do Tejo ocorre como migrador de passagem pouco comum e estival nidificante raro<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Pouco Preocupante. A nível<br />
internacional Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos da<br />
convenção de Berna (Anexo III), CITES (Anexo A) e da Directiva Aves/Habitats (Anexo<br />
D) e incluída na Lei de Bases de Caça (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie distribuída praticamente por todo o país, sendo<br />
mais abundante no norte do país, nomeadamente em Trás-os-Montes (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta habitats mistos, particularmente associações de culturas arvenses<br />
ou outras agrícolas, com manchas de vegetação arbórea, sejam matas de coníferas,<br />
matas ribeirinhas ou bosques de carvalhos. Ocorre ainda em parques de grandes<br />
dimensões e em montados (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre<br />
preferencialmente em biótopos florestados, mas também em restolhos de cereal e<br />
cultivos de girassol (Leitão et al., 1998).<br />
População: O maior bando observado foi de 150 aves em 2 de Setembro de 1992<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Factores de ameaça: A diminuição gradual da população verificada nos últimos anos,<br />
deve estar relacionada com as áreas de invernada e com a excessiva pressão de caça<br />
(Rufino, 1989).<br />
Medidas de Conservação: Importa assegurar a monitorização das suas populações e<br />
apurar estatísticas de caça fiáveis.<br />
Rola-turca, Streptopelia decaoto<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente e nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
188<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Pouco Preocupante. A nível<br />
internacional Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo III da<br />
convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Habitat: Na Península Ibérica parece preferir as zonas portuárias de descarga de<br />
cereais e os parques urbanos pouco movimentados e bem desenvolvidos (Rufino,<br />
1989). Ocorre nas imediações dos centros urbanos e nos seus jardins, nomeadamente<br />
na vila de Alcochete.<br />
1.3.2.2.11 Ordem Cuculiformes<br />
Família Cuculidae<br />
Cuco-rabilongo, Clamator glandarius<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante raro, sendo observado de forma descontínua entre os meses<br />
de Março a Agosto (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção Em Portugal o cuco-rabilongo é uma espécie prioritária em<br />
termos conservacionistas, apresentando um estatuto Vulnerável. A nível internacional<br />
é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International (2004) e Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluído no anexo II Directiva Aves/Habitats (ICN,<br />
2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se pela Europa do sul, Turquia, Irão, Iraque e<br />
Médio Oriente até ao Egipto e Norte de África. Ocorre ainda na África subsariana, do<br />
Senegal e Libéria até ao Sudão, Eritreia, Etiópia, Somália, Quénia, Tanzânia, Angola e<br />
África do Sul (del Hoyo et al., 1996). A população inverna em África. Em Portugal a<br />
espécie ocupa uma faixa mais interior de Norte a Sul do país (ICN, 2005).<br />
Habitat: Em Portugal a espécie frequenta habitats mistos de bosques de zonas<br />
abertas (mato, culturas arvenses e pousios) e, por vezes, montados abertos, parasita<br />
sobretudo da pega e da gralha-preta (Rufino 1989). No estuário do Tejo ocorre<br />
preferencialmente em sebes de arbustos e em montado disperso (Leitão et al., 1998).<br />
População: Admite-se que a população de cuco-rabilongo esteja em declínio<br />
continuado. Com efeito, na década de 80 a espécie era pouco abundante em toda a<br />
sua área de distribuição e mais comum nas zonas do interior do que na proximidade<br />
do litoral (Rufino, 1989,). Esta situação acentuou-se, verificando-se que terá ocorrido<br />
uma contracção da sua área de ocorrência, agora restringida à faixa interior (ICN,<br />
dados não publicados). As observações de campo sugerem uma redução do número<br />
de aves, na ordem dos 30% nos últimos 10 anos, tendência que se poderá manter no<br />
futuro próximo. A população nacional foi estimada como contendo entre 1.000 e<br />
10.000 indivíduos (ICN, 2005).<br />
Factores de ameaça: Não estão identificados factores de ameaça específicos à<br />
conservação desta espécie em Portugal (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: Não foram identificadas medidas de conservação<br />
específicas, para além de normas gerais de protecção das aves e dos seus habitats. A<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 189
conservação desta espécie beneficiará com a manutenção de áreas agro-silvopastorís<br />
extensivas. Dado que esta espécie depende dos seus hospedeiros para se<br />
reproduzir, a sua conservação depende da manutenção dessas espécies num estado<br />
favorável. Deve ser assegurada a monitorização das tendências na distribuição e no<br />
tamanho da população desta espécie (ICN, 2005).<br />
Cuco, Cuculos canorus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante pouco comum, sendo observado sobretudo entre os meses de<br />
Março a Junho (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção Em Portugal o cuco apresenta um estatuto Pouco<br />
Preocupante. A nível internacional é considerado uma espécie Pouco Preocupante<br />
pela IUCN (2001). Está incluído no anexo III Directiva Aves/Habitats (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie bem distribuída por todo o país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta praticamente todos os habitats disponíveis em Portugal, excepto<br />
floresta densa, em particular de pinheiro e eucalipto. Evita ainda os andares superiores<br />
das serras e as zonas urbanas. Parece preferir habitats mistos (Rufino, 1989). No<br />
estuário do Tejo ocorre em todas as zonas que possuam árvores bem desenvolvidas e<br />
em montado disperso (Leitão et al., 1998).<br />
População: A sua abundância varia sobretudo com o habitat utilizado, não parecendo<br />
existir diferenças significativas entre o norte e o sul (Rufino, 1989).<br />
1.3.2.2.12 Ordem Strigiformes<br />
Família Tytonidae<br />
Coruja-das-torres, Tyto alba<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente e invernante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como invernante comum e estival nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma Pouco Preocupante pela IUCN (2001 in ICN,<br />
2005). Está incluída nos anexos da convenção de Berna (Anexo II) e CITES (Anexo II-<br />
A) (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie de distribuição cosmopolita, bem distribuída no<br />
continente europeu, onde apenas se encontra ausente no extremo norte, nos Pirinéus<br />
e nos Alpes (Cramp, 1985). Os movimentos de maior extensão, que envolvem um<br />
maior número de indivíduos, ocorrem principalmente nas populações do Norte da<br />
Europa, levando algumas aves a invernar na Península Ibérica (Elias et al., 1998). Em<br />
Portugal ocorre por todo o país, sendo aparentemente mais comum no centro e sul<br />
(Rufino, 1989).<br />
Habitat: Segundo Tomé (1994 in ICN, 2005), a espécie está associada a biótopos<br />
abertos (como pastagens e terrenos agrícolas) ou semiabertos (como montados pouco<br />
densos). Nas zonas agrícolas ou em áreas reflorestadas ocorre apenas em zonas com<br />
190<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
extensa rede de corredores de alimentação (pastagens), situadas ao longo das<br />
margens de valas de drenagem, rios e sebes (Shawyer 1994) ou semiabertos (como<br />
montados pouco densos). Nas zonas agrícolas ou em áreas reflorestadas ocorre<br />
apenas em zonas com extensa rede de corredores de alimentação (pastagens),<br />
situadas ao longo das margens de valas de drenagem, rios e sebes (Shawyer 1994).<br />
Procura alimento na berma de auto-estradas (Cramp 1985). Em áreas mais<br />
agricultadas, os restolhos de milho e girassol são particularmente seleccionados<br />
durante o Outono e Inverno (Elias et al., 1998). Nidifica em quintas, montes, moinhos,<br />
celeiros, ruínas e igrejas, e mesmo em grandes povoações. Ocorre ainda em<br />
montados de azinho e em soutos, onde cria em cavidades de árvores (Rufino 1989).<br />
No estuário do Tejo ocorre em campos cultivados, pastagens da lezíria e montados de<br />
sobro (Leitão et al., 1998). Segundo Tomé (1994) os restolhos de girassol e de milho<br />
são os biótopos preferenciais da espécie no estuário do Tejo durante o Outono e<br />
Inverno. Durante a Primavera, as corujas seleccionam sobretudo as pastagens<br />
primaveris, preferindo sobretudo os restolhos de forragem no Verão.<br />
População: Nos últimos anos as populações de coruja-das-torres têm apresentado,<br />
na globalidade, um declínio moderado na Europa, embora em Espanha se verifique<br />
declínio acentuado. Em Portugal a população residente é considerada estável (BirdLife<br />
International 2004 in ICN, 2005) podendo a população invernante apresentar<br />
flutuações. Por comparação dos dados dos dois Atlas das Aves que nidificam em<br />
Portugal Continental verifica-se que não há alteração na sua área de distribuição<br />
(Rufino 1989, ICN em prep). Embora não sejam efectuados censos a nível nacional,<br />
mas apenas localizados, a população nacional de coruja-das-torres está estimada em<br />
2000-6000 casais (BirdLife International, 2004). A população nidificante no estuário do<br />
Tejo poderá situar-se entre os 5 e os 10 casais. Fora da época de cria pode observarse<br />
um grande aumento do número de indivíduos presentes na zona (Leitão et al.,<br />
1998). A população da espécie na zona da Ponta da Erva é relativamente reduzida<br />
(talvez devido à falta de locais propícios à nidificação), não deve de ultrapassar os 10<br />
casais. Esta zona é sobretudo frequentada por aves juvenis em dispersão, registandose<br />
a máxima abundância no período outonal (talvez pela grande disponibilidade de<br />
recursos tróficos). A maior parte das aves permanecerá na Ponta da Erva por um curto<br />
período de tempo, abandonando-a de seguida, provavelmente em busca de uma área<br />
mais propícia à nidificação (Tomé, 1994).<br />
Factores de ameaça: A intensificação da agricultura resulta na redução do mosaico<br />
agrícola com decréscimo da diversidade de habitat e traduz-se em diminuição na<br />
disponibilidade alimentar (Shawyer, 1994). A demolição e reconversão de edifícios<br />
antigos, juntamente com o aumento da ocupação humana nos edifícios, reduzem<br />
seriamente as oportunidades de nidificação e de dormida da espécie (Shawyer, 1994).<br />
O aumento da utilização de agro-químicos, provoca uma diminuição das populações<br />
presa e uma redução da eficácia reprodutiva, nomeadamente devido a uma diminuição<br />
da espessura da casca do ovo. A crescente mecanização na agricultura resulta no<br />
desaparecimento de terrenos com uma elevada disponibilidade de presas e locais de<br />
dormida (Shawyer, 1994). O abate ilegal e a pilhagem de ninhos constituem factores<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 191
de mortalidade da coruja-das-torres, que por ser uma ave nocturna continua a estar<br />
associada a superstições. A colisão com viaturas que ocorre nas estradas, continua a<br />
levar à morte inúmeras aves, tendo para isso contribuído o aumento do volume e<br />
velocidade do tráfego automóvel. Numa paisagem agrícola, a pouca ou nenhuma<br />
gestão das bermas das estradas, permite a colonização de vegetação silvestre,<br />
desenvolvendo-se habitats de orla pouco perturbados, propícios para os micro<br />
mamíferos e outras espécies de presas essenciais para a coruja-das-torres (Shawyer,<br />
1994) elevando assim a probabilidade de colisão com viaturas. O uso de iscos<br />
envenenados para eliminar espécies prejudiciais à agricultura, nomeadamente às<br />
sementeiras, como é o caso dos roedores, pode conduzir à morte da coruja-das-torres,<br />
visto a sua dieta ser essencialmente constituída por estas espécies.<br />
Medidas de Conservação: As medidas de conservação da espécie passam por<br />
manter os efectivos populacionais, manter a presença de população invernante no<br />
país e conservar as áreas de reprodução, dormida/refúgio e alimentação. Para isso é<br />
necessário: - Promover os sistemas agrícolas extensivos, nomeadamente a policultura<br />
e os sistemas cerealíferos tradicionais, indispensáveis à manutenção das populações<br />
presa da espécie; - Diminuir actos de pilhagem de ninhos/juvenis através da vigilância<br />
activa no período de nidificação; - Realização de acções de esclarecimento sobre a<br />
espécie junto do público em geral; - Fiscalizar as actividades cinegéticas; -<br />
Implementar normas de gestão cinegética nas áreas de habitat destas espécies em<br />
AC’s (Áreas de Caça); - Prevenir a mortalidade por colisão nas estradas através da<br />
implementação de medidas minimizadoras; - Restringir o uso de pesticidas,<br />
nomeadamente por utilização de substâncias mais facilmente degradáveis, cujo<br />
impacto ambiental não seja tão nefasto; - Monitorização de parâmetros populacionais<br />
(avaliação das tendências na distribuição e tamanho da população). A estratégia de<br />
conservação de Tyto alba na área da Ponta da Erva (e em locais de utilização agrícola<br />
e pecuária semelhante) deverá incluir a manutenção das faixas de vegetação natural<br />
existentes entre cultivos (em valas, sebes e junto às cearas), a conservação do<br />
mosaico paisagístico existente compreendo pastagens naturais e cultivos agrícolas, a<br />
implementação de caixas-ninho e manutenção dos locais potenciais de nidificação, o<br />
controlo rigoroso na aplicação de pesticidas e o não alargamento da rede viária<br />
alcatroada para o interior desta área (Tomé, 1994).<br />
Família Strigidae<br />
Mocho-galego, Athene noctua<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
incluída nos anexos da convenção de Berna (Anexo II) e CITES (Anexo II-A) (ICN,<br />
2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se por todo o país (Rufino, 1989).<br />
192<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Habitat: Frequenta uma grande diversidade de habitats, sobretudo em planície e<br />
planalto, ocorrendo com menos frequência nas zonas montanhosas, acima dos 1.000<br />
metros. Nidifica em terrenos abertos e sem árvores, paisagens mistas de terreno<br />
agrícola com árvores e mesmo em jardins de grandes dimensões em zonas urbanas.<br />
Pode construir o ninho em árvores, buracos em paredes ou mesmo em montes de<br />
pedras (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre sobretudo em zonas de montado de<br />
sobro, associadas ou não a habitações humanas (Leitão et al., 1998).<br />
População: Aparentemente é mais abundante ao sul no Tejo do que no resto do país,<br />
sendo particularmente abundante em olivais (Rufino, 1989).<br />
Coruja-do-mato, Strix aluco<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
incluída nos anexos da convenção de Berna (Anexo II) e CITES (Anexo II-A) (ICN,<br />
2005).<br />
Distribuição e movimentos: Aparentemente é mais abundante no Centro - Sul do<br />
país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: É uma espécie que se encontra associada à floresta e ao bosque, embora<br />
evite as grandes manchas florestais, em particular as de resinosas. Trata-se de uma<br />
espécie da orla da floresta, nidificando nas proximidades de terrenos agrícolas. Não<br />
frequenta zonas abertas, como culturas arvenses e matos (Rufino, 1989). No estuário<br />
do Tejo ocorre em zonas com árvores bem desenvolvidas, nomeadamente montados<br />
de sobro e pinhais (Leitão et al., 1998).<br />
Bufo-pequeno, Asio otus<br />
Fenologia: Em Portugal continental e arquipélago dos Açores a espécie é residente.<br />
No estuário do Tejo ocorre como residente nidificante raro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental e Açores a espécie tem o estatuto de<br />
Informação Insuficiente. A nível internacional é considerada uma espécie Não<br />
Ameaçada pela BirdLife International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída nos anexos da convenção de Berna (Anexo II) e CITES (Anexo II-A)<br />
(ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Ocorre no Holártico, com uma distribuição desde<br />
aproximadamente o Círculo Polar Árctico até ás regiões mediterrânicas e de estepe.<br />
No Paleártico nidifica desde as ilhas Britânicas, Península Ibérica e Marrocos até ao<br />
extremo leste da Sibéria, Kamchatka e Japão e de Norte para sul desde a<br />
Escandinávia e Sibéria até ao noroeste de África, Ásia Menor, região do sudeste do<br />
Mar Cáspio, com bolsas no norte do Paquistão, índia e sudoeste da China (Sibley e<br />
Monroe 1990, Cramp 1998). As populações do norte do Paleártico, são migradoras,<br />
invernando no Egipto, norte da Índia e no Sul da china, enquanto que as meridionais<br />
são principalmente sedentárias (Cramp 1998). Nidifica sobretudo em quase todo o<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 193
território continental nacional, com uma distribuição provavelmente não tão dispersa<br />
como indicada no atlas (Rufino 1989, Reino 1994, Lourenço et al., 2001, ICN dados<br />
não publicados). Nos Açores a espécie ocorre em todos os grupos do arquipélago<br />
(ICN, 2005).<br />
Habitat: Em Portugal continental o habitat da espécie é constituído por pinhais (Pinus<br />
ssp.), carvalhais (quercus spp.), pequenos soutos (Castanea sativa), matas ribeirinhas<br />
(Rufino 1989, Silva 1998, Petronilho 2001a,b in ICN, 2005) e por montados de azinho<br />
(Q. rotundifolia) abertos, com sobreiros (Q. suber) e pinheiros no sul (Cruz et al., 1994,<br />
Godinho, com. pess). Tem sido observada a nidificação em ninhos antigos de aves de<br />
rapina diurnas, principalmente, construídos em pinheiros, sobreiros e azinheiras (Cruz<br />
et al., 1994, Petronilho 2001a, Godinho, com. pess). Nos açores, ocorre em zonas de<br />
bosques ou floresta, nomeadamente de coníferas (ICN, 2005). No estuário do Tejo<br />
ocorre em zonas florestais e terrenos abertos da lezíria. A maior parte das<br />
observações provêm da zona das lezírias, onde por vezes é detectado de noite<br />
pousado em postes de vedações ou nas escassas árvores ali existentes. Em 1994 foi<br />
possível confirmar a sua nidificação na zona de Pancas (Leitão et al., 1998).<br />
População: As características da espécie, nomeadamente ser muito discreta e a<br />
grande irregularidade na nidificação, tornam difícil estimar o tamanho da população. É<br />
referida como uma ave rara ou pelo menos pouco abundante e localizada (Rufino<br />
1989, Reino 1993, ICN dados não publicados). A tendência da população desta<br />
espécie em Portugal é desconhecida, mas de acordo com as observações a nível<br />
local, deve ser irregular ou flutuante, com oscilações inter ou plurianuais (ICN, 2005).<br />
Factores de ameaça: As ameaças a esta espécie no nosso país não são bem<br />
conhecidas. A competição com a coruja-do-mato, pelo espaço, plataformas de<br />
nidificação e alimentação pode ser um factor limitante desta espécie (Fajardo e<br />
Babiloni 1996, Cortés e Martí 2003, entre outros). O envenenamento na sequência de<br />
campanhas de controlo e extermínio de pragas de roedores na agricultura, nas<br />
arborizações florestais e nas lixeiras constitui uma ameaça potencial. Morte por colisão<br />
com em linhas eléctricas (Onofre, dados não publicados) ou por colisão com<br />
automóveis poderá também constituir um factor de mortalidade não-natural. Também<br />
é provável que o abate ilegal ainda seja um importante factor de ameaça, tendo em<br />
conta o número de exemplares embalsamados encontrados em vários pontos do país<br />
(Palma 1985, Cruz et al., 1994). A destruição por incêndio ou corte de manchas de<br />
pinhal e bosquetes ribeirinhos, onde existam ninhos de aves de rapina e de corvídeos<br />
e que constituem locais de nidificação para a espécie, actuais ou potenciais,<br />
constituem um factor de perda ou degradação de habitat. O abate da gralha-preta,<br />
para correcção de densidades ou a sua eventual integração na lista de espécies<br />
cinegéticas exploráveis, afectará negativamente o bufo-pequeno, pois diminuirá a<br />
disponibilidade de plataformas naturais de nidificação em arvora a médio prazo (ICN,<br />
2005).<br />
Medidas de Conservação: A conservação da espécie pode ser assegurada através<br />
das seguintes medidas: - dinamização de campanhas de sensibilização ambiental e de<br />
conservação das aves de rapina, dirigidas a caçadores, guardas e gestores de caça,<br />
194<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
proprietários florestais e público em geral, afim de minimizar o abate ilegal e roubo de<br />
ninhos; - a adopção e divulgação de boas práticas agrícolas e florestais,<br />
nomeadamente a minimização do corte de árvores com ninhos de corvídeos e aves de<br />
rapina; - implementação de medidas de controlo da venda e do uso de substâncias<br />
tóxicas para o controle de roedores; - No Centro e Norte e ainda nas serras do Sul,<br />
deverá ser condicionado o corte de linhas ou cortinas de arvoredo, nomeadamente<br />
ripícolas, e no caso das pequenas manchas de pinheiro-bravo devem ser realizados<br />
apenas cortes selectivos; - No Sul, a conservação do seu habitat passa por ordenar e<br />
fiscalizar as podas de arvoredo de montados. A conservação do habitat pode ser<br />
obtida através de uma maior divulgação das medidas Agro-ambientais; Não deverá ser<br />
permitida a inclusão da gralha-preta como espécie cinegética, e por outro lado as<br />
acções de correcção de densidades dessa espécie só deve ser autorizada pelas<br />
autoridades competentes após um estudo prejuízos/impacte no bufo-pequeno; - Deve<br />
ser reforçada a fiscalização relativamente ao abate ilegal e roubo de ninhos; - Importa<br />
realizar censos e monitorizações periódicas, e aprofundar aspectos da sua biologia e<br />
ecologia; - Deve ser feita a monitorização da mortalidade nas linhas eléctricas e a<br />
correcção das mesmas, sempre que tal se justifique (ICN, 2005).<br />
Coruja-do-Nabal, Asio flammeus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante raro, é pode ser observado entre os meses de Outubro a Março (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Em Perigo. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Depauperada pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos da<br />
convenção de Berna (Anexo II), CITES (Anexo II-A) e das Directivas Aves/Habitats<br />
(Anexo A-I) (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: A coruja-do-nabal tem uma distribuição circumpolar,<br />
estendendo-se pela região holárctica (Lindberg 1994). No Paleártico Ocidental, a<br />
espécie nidifica no Norte da Europa, e em populações mais fragmentadas, na Europa<br />
Central e Sudeste europeu, ocorrendo nestas áreas unicamente durante os anos de<br />
elevada densidade de roedores ou quando o alimento é limitado na zona Norte da sua<br />
área de distribuição (Cramp 1985, Lindberg 1994). A coruja-do-nabal inverna no sul da<br />
sua área de nidificação, nomeadamente no Mediterrâneo, e também no Norte de<br />
África, Índia e Ásia Oriental. Espécie caracterizada sobretudo, pelos seus hábitos<br />
dispersivos e pelas grandes migrações que efectua (Cramp 1985). Em Portugal, esta<br />
espécie ocorre por todo o território continental em baixas densidades e de forma algo<br />
localizada, conhecendo-se alguns locais tradicionais de ocorrência, nomeadamente<br />
zonas estuarinas onde se verifica a sua ocorrência associada a sapais e a salinas,<br />
registando-se a sua presença também em certos locais do interior, como por exemplo,<br />
Moura (Elias et al., 1998). De acordo com Tomé et al., (1994) o estuário do Sado deve<br />
ser um dos principais locais de invernada.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 195
Habitat: No Inverno procura zonas baixas junto à costa, por vezes em pequenos<br />
grupos e, em áreas abertas tais como, terrenos agrícolas, restolhos, pântanos, em<br />
salgueiros, arbustos e plantações (Cramp 1985, Lindberg 1994). Os dormitórios<br />
normalmente proporcionam uma boa protecção, em moitas, pilhas de ramos e<br />
pilriteiros; em áreas pantanosas. Algumas áreas de invernada são utilizadas ano após<br />
ano (Cramp 1985). No Baixo Alentejo, foi observada por Tomé et al., (1994), em zonas<br />
de sapal e salinas adjacentes ao estuário do Rio Sado, local que se deverá revestir de<br />
grande importância para esta espécie e onde poderão invernar algumas dezenas de<br />
indivíduos. Foi ainda detectada em zonas abertas, tanto isoladamente como em grupo.<br />
Caça em lezírias, sendo também importantes, as salinas, os arrozais e a vegetação<br />
ripícola (Elias et al., 1998). No estuário do Tejo ocorre em zonas em zonas abertas,<br />
preferencialmente perto de água, como valas da lezíria, salinas, sapais e caniçais<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
População: Não existe informação disponível que permita de um modo sustentado,<br />
interpretar a tendência populacional da população invernante da espécie no nosso<br />
país. Contudo, no norte da Europa a sua abundância pode variar significativamente de<br />
uns anos para os outros (Mikkola 1983). O mesmo poderá ocorrer no nosso território,<br />
como reflexo dessas oscilações (Cramp 1998). Em Portugal é considerada como rara<br />
ou pouco comum (Tomé et al., 1994), sendo escassa a informação sobre o seu<br />
efectivo populacional, admitindo-se que esteja entre os 50 – 250 indivíduos (Almeida<br />
et al., in Cabral et al., em publ.).<br />
Factores de ameaça: A intensificação da agricultura, através de monoculturas<br />
cerealíferas em detrimento de outros usos como leguminosas e pousios, resulta na<br />
redução do mosaico agrícola com decréscimo da diversidade de habitat, contribuindo<br />
para a diminuição de zonas de refúgio das espécies que ocupam este tipo de habitat,<br />
e influenciando a abundância, distribuição e vulnerabilidade das populações presas. A<br />
alteração, decréscimo ou abandono das actividades tradicionais nas zonas húmidas<br />
nomeadamente a salicultura e orizicultura. A limpeza da vegetação ribeirinha de valas<br />
e cursos de água, leva à destruição do habitat de descanso e de alimentação desta<br />
espécie. A expansão urbanística e turística afecta as zonas habituais de descanso e<br />
de alimentação desta espécie, quer pela ocupação do solo, com a consequente<br />
destruição ou alteração do habitat, quer por um aumento significativo de perturbação<br />
que esses empreendimentos induzem em toda a área envolvente das zonas húmidas;<br />
O abate ilegal constitui um factor de mortalidade desta espécie. O uso de iscos<br />
envenenados para eliminar espécies prejudiciais à agricultura, nomeadamente às<br />
sementeiras, como é o caso dos roedores, pode conduzir à morte da coruja-do-nabal,<br />
visto a sua dieta alimentar ser essencialmente constituída por estas espécies. A<br />
colisão ou electrocussão com linhas aéreas de transporte de energia, são factores<br />
assinalados para Espanha (Fajardo e Babiloni, 1996) e que deverão ser certamente<br />
nocivos esta espécie em Portugal. A colisão com viaturas que ocorre nas estradas,<br />
continua a levar à morte de aves, tendo para isso contribuído o aumento do volume e<br />
velocidade do tráfego automóvel. Numa paisagem agrícola, a pouca ou nenhuma<br />
gestão das bermas das estradas, permite a colonização de vegetação silvestre,<br />
196<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
desenvolvendo-se habitats de orla pouco perturbados, propícios para os micro<br />
mamíferos e outras espécies de presas essenciais para a coruja-do-nabal (Lindberg<br />
1994) elevando assim a probabilidade de colisão com viaturas. O aumento da<br />
utilização de agro-químicos, provoca uma diminuição das populações presa e uma<br />
redução da eficácia reprodutiva, nomeadamente devido a uma diminuição da<br />
espessura da casca do ovo (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: Para a preservação desta espécie é necessário conservar<br />
as áreas de dormida refúgio e alimentação. Para além disso será necessário: - Manter<br />
extensas áreas contíguas de pastagens, pântanos, pousios e prados húmidos; -<br />
Manter as salinas em actividade e efectuar gestão adequada das salinas<br />
abandonadas, nomeadamente através de medidas específicas de incentivo, nas áreas<br />
mais importantes para a conservação da espécie; - Incrementar a sustentabilidade<br />
económica das salinas, nomeadamente através da certificação de produtos; -<br />
Condicionar a limpeza da vegetação em margens de canais de drenagem e irrigação e<br />
fiscalizar o cumprimento da lei no que se refere à conservação da vegetação ribeirinha<br />
de linhas de água e à conservação do seu perfil natural; - Condicionar expansão<br />
urbano-turística nas áreas mais importantes de invernada da espécie; - Fiscalizar as<br />
actividades cinegéticas; - Implementar normas de gestão cinegética nas áreas de<br />
habitat favorável para esta espécie em AC’s (Áreas de Caça); - Proibir a instalação de<br />
linhas eléctricas de transporte de energia nas áreas mais importantes para a espécie; -<br />
Equipar as linhas eléctricas de transporte de energia já existentes, e que se revelem<br />
mortíferas para a espécie, com sinalizadores anti-colisão; - Desenvolver estudos de<br />
monitorização do impacte das linhas eléctricas de transporte de energia já existentes,<br />
de forma a conhecer o seu efeito na população nacional destas aves; - Prevenir a<br />
mortalidade por colisão nas estradas através da implementação de medidas<br />
minimizadoras; - Dinamizar campanhas de sensibilização ambiental, sobre a fauna e<br />
em especial sobre a conservação das aves de rapina, dirigidas tanto a caçadores,<br />
guardas e gestores de caça, como a exploradores e produtores agrícolas e florestais e<br />
ao público em geral, afim de minimizar ou erradicar o abate ilegal; - Sensibilizar os<br />
agricultores, em particular, para a adopção de boas práticas agrícolas, nomeadamente<br />
no que se refere ao controle de roedores. Este deve estar sujeito a autorização e ao<br />
acompanhamento permanente por parte das entidades competentes, deve implicar a<br />
obrigatoriedade da utilização de tóxicos cuja nocividade tenha uma persistência a mais<br />
curta possível e a remoção imediata de cadáveres. Adicionalmente, a venda de<br />
qualquer tóxico, dos pesticidas em particular, deve passar a ser acompanhada pelo<br />
registo do nome e morada do comprador e deverá ser desenvolvida e divulgada a<br />
investigação sobre métodos alternativos de controlo ou de protecção das culturas<br />
agrícolas e florestais; - Restringir o uso de pesticidas, nomeadamente por utilização de<br />
substâncias mais facilmente degradáveis, cujo impacto ambiental não seja tão nefasto;<br />
- Monitorizar os parâmetros populacionais (avaliação das tendências na distribuição e<br />
tamanho da população) (ICN, 2005).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 197
1.3.2.2.13 Ordem Caprimulgiformes<br />
Família Caprimulgidae<br />
Noitibó-cinzento, Caprimulgus europaeus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante pouco comum, sendo observado entre os meses de Abril a<br />
Agosto (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Vulnerável. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Depauperada pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das<br />
convenções de Berna (Anexo II) e Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Encontra-se amplamente distribuído durante o período<br />
reprodutor pelo continente europeu, o Noroeste de África e pela Ásia Central até à<br />
China. Inverna sobretudo na África subsariana (del Hoyo et al., 1999). Em Portugal<br />
continental distribui-se principalmente pelo Norte e Centro, sendo escasso no Sul<br />
(Rufino, 1989). Ocorre numa elevada diversidade de habitats, estando presente desde<br />
zonas litorais até zonas montanhosas (ICN, 2005).<br />
Habitat: Ocupa principalmente áreas de arvoredo disperso, frequentando clareiras e<br />
áreas marginais de bosques de quercíneas, caducifólias e coníferas, povoamentos<br />
florestais jovens e zonas abertas com coberto arbustivo (Rufino, 1989 in ICN, 2005).<br />
Pode ser encontrado desde o nível do mar até altitudes de 800-1.000 m.<br />
Aparentemente evita povoamentos florestais densos e extensos. Algumas das áreas<br />
tradicionalmente ocupadas pela espécie tendem a ser florestadas, o que se tem vindo<br />
a traduzir em perda de habitat (ICN, 2005). No estuário do Tejo ocorre nas zonas<br />
arborizadas, nomeadamente montados, pinhais e eucaliptais (Leitão et al., 1998).<br />
População: Não existem estimativas precisas da população presente em Portugal.<br />
Rufino (1989 in ICN, 2005) estimou grosseiramente que a população deverá situar-se<br />
no intervalo de 1.000 a 10.000 casais. No entanto, e apesar da clara falta de dados<br />
populacionais fiáveis, observa-se um declínio continuado do seu habitat pelo que se<br />
infere que a população se encontra em declínio. Esta tendência parece ser confirmada<br />
com observações de campo em alguns locais, que revelam o declínio da população,<br />
nomeadamente na região da Beira Litoral e parte ocidental das Beiras Interiores (C.<br />
Pacheco, com. pess.)<br />
Factores de ameaça: Os factores de ameaça para o noitibó-cinzento em Portugal não<br />
são muito bem conhecidos, uma vez que não se conhece com exactidão a situação<br />
actual da população, a magnitude do declínio e os requisitos ecológicos. A degradação<br />
do habitat e o uso de pesticidas são apontados como causas principais do seu declínio<br />
na Europa (Tucker e Heath, 1994). Em Portugal tem-se verificado um aumento das<br />
áreas de povoamentos florestais densos (eucalipto e pinheiro), que aparentemente<br />
são evitados pela espécie, e também alguma intensificação agrícola, da qual<br />
geralmente resulta um incremento do uso de agro-químicos desfavorável a esta<br />
198<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
espécie. Outro factor que pode ter um impacte negativo significativo nesta espécie é a<br />
mortalidade causada por atropelamento (Tucker e Heath, 1994).<br />
Medidas de Conservação: Será necessário aprofundar o conhecimento sobre a<br />
dimensão do efectivo populacional desta espécie, sua tendência e requisitos de<br />
habitat. Uma redução do uso de pesticidas e de produtos fitossanitários na agricultura<br />
parece ser uma medida importante para a conservação da espécie. Por outro lado, a<br />
manutenção de áreas extensas de habitat que possuam zonas abertas intercaladas<br />
com bosquetes e uma politica florestal equilibrada são importantes para a conservação<br />
dos habitats de que depende. No mesmo sentido, a manutenção dos sistemas agrosilvo-pastorís<br />
tradicionais e da agricultura extensiva será positiva para a espécie (ICN,<br />
2005).<br />
Noitibó-de-nuca-vermelha, Caprimulgus ruficollis<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante pouco comum, sendo observado entre os meses de Abril a<br />
Agosto (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Vulnerável. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II da<br />
convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Encontra-se confinado à península Ibérica e ao<br />
Noroeste de África (Marrocos, Argélia e Tunísia). Inverna na África subsariana (del<br />
Hoyo et al., 1999). Em Portugal distribui-se principalmente pela metade Sul do país e<br />
no interior das regiões Centro e Norte (Rufino, 1989). Está ausente em regiões<br />
montanhosas (ICN, 2005).<br />
Habitat: Ocupa principalmente áreas compostas por arvoredo disperso, intercaladas<br />
com matagal mediterrâneo e zonas abertas (pastagens, áreas agrícolas) (Rufino,<br />
1989), utilizando estas últimas para se alimentar. É uma espécie de zonas de baixa ou<br />
média altitude, não sendo encontrado geralmente acima dos 800 m. Evita<br />
povoamentos florestais densos e extensos (ICN, 2005). No estuário do Tejo frequenta<br />
quase exclusivamente os montados de sobro, podendo também surgir em eucaliptais<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
População: Não existem estimativas precisas da população presente em Portugal.<br />
Segundo Rufino (1989) a população deverá situar-se entre 1.000 a 10.000 casais. No<br />
entanto, e apesar da clara falta de dados populacionais fiáveis, observa-se um declínio<br />
continuado do seu habitat (por intensificação agrícola, aumento da área de<br />
povoamentos florestais densos, aumento da rede viária alcatroada, etc.), pelo que se<br />
infere que a população se encontra em declínio. Esta tendência parece ser confirmada<br />
com observações de campo em alguns locais, que revelam o declínio da população,<br />
nomeadamente na região da ocidental da Beira interior Sul e em áreas do concelho de<br />
Odemira (Pacheco, com. pess.).<br />
Factores de ameaça: Os factores de ameaça para o noitibó-de-nuca-vermelha em<br />
Portugal não são muito bem conhecidos, uma vez que não se conhece com exactidão<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 199
a situação actual da população, a magnitude do declínio e os requisitos ecológicos. A<br />
mortalidade por atropelamento é provavelmente a principal causa de morte não<br />
natural. O alcatroamento de caminhos em zonas rurais, com consequente aumento da<br />
velocidade e intensidade de circulação, contribui para o aumento da mortalidade em<br />
algumas zonas (e.g. Beira Baixa) (C. Pacheco, com. pess.). A degradação do habitat e<br />
o uso de pesticidas são provavelmente causadores do seu declínio. Em Portugal temse<br />
verificado um aumento das áreas de povoamentos florestais densos (eucalipto e<br />
pinheiro), que são evitados pela espécie, e também alguma intensificação agrícola, da<br />
qual geralmente resulta um incremento do uso de agro-químicos desfavorável a esta<br />
espécie (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: Será necessário aprofundar o conhecimento sobre a<br />
dimensão do efectivo populacional desta espécie, sua tendência e requisitos de<br />
habitat. Uma redução do uso de pesticidas e de produtos fitossanitários na agricultura<br />
parece ser uma medida importante para a conservação da espécie. A manutenção dos<br />
sistemas agro-silvo-pastorís tradicionais e da agricultura extensiva será positiva para a<br />
espécie. Limitar o alcatroamento de caminhos rurais e a velocidade nos mesmos<br />
contribuirá para não incrementar a mortalidade não natural (ICN, 2005).<br />
1.3.2.2.14 Ordem Apodiformes<br />
Família Apodidae<br />
Andorinhão-preto, Apus apus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante comum, sendo observado entre os meses de Março a Outubro<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Pouco Preocupante. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída no anexo III da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Em Portugal distribui-se por todo o país. A sua<br />
abundância parece estar condicionada pela existência de locais de ninho apropriados<br />
e, por isso, torna-se mais abundante nas grandes cidades do que em outros locais<br />
(Rufino, 1989).<br />
Habitat: Para nidificar, utiliza edifícios urbanos, barragens, pontes e paredões, falésias<br />
de costa e de interior e, localmente árvores com buracos (por exemplo, palmeiras). As<br />
áreas de alimentação não estão confinadas às proximidades das colónias podendo a<br />
espécie ser observada em locais distantes das mesmas, durante a época de<br />
reprodução (Rufino, 1989). No estuário do Tejo nidifica nos núcleos urbanos<br />
periféricos, utilizando todo o estuário para se alimentar (Leitão et al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional no intervalo de 10.000 a<br />
100.000 casais.<br />
200<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Andorinhão-pálido, Apus pallidus<br />
Fenologia: Em Portugal continental e arquipélago da Madeira a espécie é estival<br />
nidificante. No estuário do Tejo ocorre como estival nidificante pouco comum, sendo<br />
observado entre os meses de Março a Setembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Pouco<br />
Preocupante, mas na Madeira tem o estatuto de Informação Insuficiente. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II da<br />
convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Nidifica nas zonas costeiras e em ilhas do Mediterrâneo,<br />
em zonas interiores do Sul da Europa, na Península Arábica, Norte de África, Madeira,<br />
Sul do Sara e Este do Paquistão (Hagemeijer e Blair, 199). Em todo arquipélago da<br />
Madeira, embora seja aparentemente pouco abundante (ICN, 2005).<br />
Habitat: O habitat preferido são os ilhéus e falésias costeiras, contudo pode ocorrer<br />
em habitats mais variados do interior, como zonas de montanha, rurais e suburbanas<br />
(Oliveira, 1999). No estuário do Tejo nidifica em núcleos urbanos periféricos,<br />
alimentando-se em toda a área do estuário (Leitão et al., 1998).<br />
População: É uma das espécies menos conhecidas do arquipélago da Madeira, o que<br />
em larga escala se fica a dever ao facto de existirem poucos observadores regulares<br />
nesta região, que consigam fazer a distinção entre a espécie A. unicolor (ICN, 2005).<br />
Factores de ameaça: Não existe qualquer tipo de referência sobre a existência ou<br />
não de ameaças históricas e presentes que ponham em causa a perpetuação da<br />
espécie (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: Não se preconizam medidas de conservação concretas a<br />
implementar. Importa aumentar o conhecimento sobre a situação da espécie (efectivos<br />
e tendências) na Madeira (ICN, 2005).<br />
Andorinhão-real, Apus melba<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como migrador de passagem raro, sendo observado entre os meses de Março<br />
a Maio e Julho a Agosto (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Quase<br />
ameaçado A nível internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela<br />
BirdLife International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no<br />
anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se como reprodutor desde a Península Ibérica<br />
e restantes países mediterrâneos até à Ásia Menor, Paquistão, Índia e Sri Lanka,<br />
havendo ainda populações isoladas na Península Arábica, Este e Sul de África e<br />
Madagáscar. A sua distribuição no período de nidificação está condicionada pela<br />
disponibilidade de escarpas rochosas de grande dimensão, onde nidifica (del Hoyo et<br />
al., 1999). Em Portugal encontra-se apenas em áreas onde este tipo de habitat ocorre,<br />
nomeadamente na costa rochosa do Algarve, Alentejo e Estremadura, nas zonas<br />
alcantiladas do rio Douro (principalmente na zona do Douro internacional) e,<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 201
pontualmente, em escarpas serranas no centro do país (Rufino, 1989, ICN, dados não<br />
publicados). Está ausente de zonas com habitat aparentemente favorável como o<br />
Parque Natural da Serra da Estrela (ICN, 2005).<br />
Habitat: Nidifica em escarpas rochosas de grande dimensão ou em estruturas<br />
humanas apropriadas, cuja disponibilidade condiciona genericamente a sua<br />
distribuição no país (Rufino, 1989). Ocorre principalmente abaixo dos 1.700 m<br />
(Carmona, 2003). Na costa rochosa do Algarve, Alentejo e Estremadura, nidifica em<br />
falésias costeiras de arenito, xisto e calcário, enquanto que nas zonas alcantiladas do<br />
rio Douro as escarpas são graníticas. Nas regiões serranas nidifica em maciços<br />
calcários e as construções humanas. As aves alimentam-se em diversos tipos de<br />
habitats, geralmente a grande altitude e por vezes a grande distância dos locais de<br />
nidificação. Contudo, é frequente observar aves a caçar a baixa altitude sobre arrozais<br />
na região algarvia e no Baixo Alentejo (Pereira e Pacheco, com pess.). No estuário do<br />
Tejo sobrevoa todo o estuário (Leitão et al., 1998).<br />
População: Em Portugal, a informação sobre a abundância é muito escassa. No<br />
período de 1978-84, Rufino (1989) estimou grosseiramente a população em cerca de<br />
100 a 1.000 casais. Apesar da falta de dados populacionais fiáveis, observou-se na<br />
última década o abandono de alguns locais tradicionais de cria (e.g. Tejo internacional)<br />
e uma redução do número de efectivos em grandes colónias, pelo que se infere que a<br />
população se encontre em declínio.<br />
Factores de ameaça: A perturbação dos locais de nidificação por actividades<br />
humanas, pode ser localmente importante. Dado que se alimenta de insectos sobre<br />
campos agrícolas (e.g. arrozais), a contaminação com pesticidas é um problema que<br />
pode ser importante para a espécie. Pode ainda ocorrer a predação de ovos e crias<br />
por outras aves, como a gralha-de-nuca-cinzenta (Algarve e Alentejo), contudo o seu<br />
efeito é desconhecido (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: Será necessário aprofundar o conhecimento sobre a<br />
dimensão do efectivo populacional desta espécie, bem como eventuais ameaças às<br />
populações. Uma redução do uso de pesticidas e de produtos fitossanitários na<br />
agricultura parece ser uma medida importante para a conservação da espécie.<br />
Condicionar as actividades humanas potencialmente perturbadoras junto das zonas de<br />
nidificação, contribuirá para um aumento do sucesso reprodutor (ICN, 2005).<br />
1.3.2.2.15 Ordem Coraciiformes<br />
Família Alcedinidae<br />
Guarda-rios, Alcedo atthis<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante e migrador de passagem pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Pouco<br />
Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante<br />
202<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo II) e da<br />
Directiva Aves/Habitats (Anexo A -I) (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: a espécie deve nidificar em todo o território, parecendo<br />
ser menos abundante no interior, centro e Norte, do que no resto do país, talvez<br />
devido à maior altitude dessas zonas (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta uma grande variedade de habitats de água doce, salobra e<br />
salgada. Principalmente em rios de curso lento ou moderado, açudes, valas de rega,<br />
esteiros de salinas, lagoas, estuários, e localmente, na orla costeira. No estuário do<br />
Tejo frequenta qualquer zona com água, nomeadamente no estuário, salinas, valas,<br />
ribeiros e açudes (Leitão et al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 1.000 a 10.000<br />
casais. Em Setembro de 2006 a espécie foi observada em açudes e na barragem,<br />
sendo mais abundante num açude da Herdade de Barroca d’Alva onde foi observado<br />
numa média de 1,5 aves (Rocha, 2006a)<br />
Família Meropidae<br />
Abelharuco, Merops apiaster<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante pouco comum, sendo observado durante os meses de Março a<br />
Agosto (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Pouco Preocupante. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo II) e Bona (Anexo II) (ICN,<br />
2005).<br />
Distribuição e movimentos: É mais abundante na zona Centro e sul e ainda na zona<br />
interior do país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta uma grande variedade de habitats abertos, desde montados pouco<br />
densos e com clareiras até aos vales com encostas cobertas de mato e outras zonas<br />
de mato com clareiras. Colonial constrói os seus ninhos em barreiras, como<br />
protecções de valas, muros de salinas e mesmo no chão (Rufino, 1989). No estuário<br />
do Tejo ocorre em areeiros e zonas de arvoredo disperso (Leitão et al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 10.000 a<br />
100.000 casais. Em 2006 a espécie foi mais abundante no montado de sobro da<br />
Herdade de Barroca d’Alva que na barragem do Vale Cobrão e montado da<br />
Companhia da Lezírias, apresentando um valor médio de 2,5 aves (Rocha, 2006a)<br />
Família Coraciidae<br />
Rolieiro, Coracias garrulus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como migrador de passagem raro, sendo observado nos meses de Março e Agosto<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 203
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Criticamente em<br />
Perigo. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela<br />
IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo II), Bona<br />
(Anexo II) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se como nidificante no Paleártico, desde o<br />
Noroeste de África e Península Ibérica a Oeste dos Himalaias, e inverna na África<br />
subsariana (Tucker e Heath, 1994, del Hoyo et al., 1999 in ICN, 2005). Em Portugal<br />
apresenta uma distribuição fragmentada, existindo três principais grupos<br />
populacionais: Castro Verde, Vila Fernando/Elvas e Beira Baixa. Aparentemente<br />
extinguiu-se em algumas zonas do país, podendo-se referir que a área de distribuição<br />
está a diminuir (ICN, 2005).<br />
Habitat: Na Beira Baixa frequenta áreas planas e abertas com árvores dispersas ou<br />
pequenos bosquetes de carvalho-negral (Quercus pyrenaica), mas também montados<br />
de sobro (Quercus suber) e azinho (Quercus rotundifolia) esparsos. Utiliza<br />
principalmente pastagens, pousios, zonas incultas com matos esparsos e terrenos de<br />
cerealicultura extensiva. Nidifica em cavidades de árvores velhas e também em<br />
antigos ninhos de pica-pau-malhado-grande. Na zona de Castro Verde e Elvas a<br />
espécie ocorre essencialmente no mosaico cerealífero extensivo em sistema rotativo e<br />
pastagens, com árvores (azinheiras, sobreiros, oliveiras (Olea europaea)) e habitações<br />
abandonadas dispersas, onde nidifica (ICN, 2005). No estuário do Tejo ocorre em<br />
zonas abertas ou com árvores dispersas (Leitão et al., 1998).<br />
População: A informação sobre a população de rolieiro em Portugal é escassa em<br />
algumas regiões. No período de 1978-84 Rufino (1989) estimou a população nacional<br />
em 100 a 1.000 casais. Em 2003 a SPEA estimou a população em 100 a 300 casais.<br />
Em 2005 realizaram-se censos parciais em algumas áreas, os quais sugerem uma<br />
população ainda menor constituída por 80 a 150 casais (Silva, 2003; Moreira, Pacheco<br />
e Silva, com. pess.). Apesar da clara falta de dados populacionais fiáveis, observa-se<br />
um declínio continuado do habitat em algumas zonas do país (Beira Alta, Trás-os-<br />
Montes e Alto Douro, Beira Baixa e do Alto Alentejo), inferindo-se que a população<br />
também se encontre em declínio (ICN, 2005).<br />
Factores de ameaça: As principais ameaças para o rolieiro são a perda e a<br />
fragmentação do habitat, devido à intensificação agrícola, florestação de terrenos<br />
agrícolas, abandono agrícola e do pastoreio extensivo (Tucker e Heath, 1994;<br />
Pacheco, com. pess.; Silva, com. pess.; Infante, com. pess). A perturbação humana<br />
junto dos locais de nidificação pode levar ao abandono dos ninhos. A predação e a<br />
pilhagem dos ovos e crias também são factores negativos. A perda de suportes de<br />
nidificação, por obstrução ou destruição de cavidades em construções humanas e,<br />
corte e queda de árvores maduras. A escassez de locais de nidificação parece ser um<br />
factor limitante da espécie. A mortalidade por electrocussão em linhas eléctricas,<br />
embora a sua magnitude seja desconhecida, pode ser um factor importante no declínio<br />
da espécie (Pacheco, com. pess).<br />
Medidas de Conservação: As medidas prioritárias para a preservação da espécie,<br />
passam pela conservação dos habitas de alimentação e nidificação. Assim sendo será<br />
204<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
necessário: - informar os agricultores das áreas de agrícolas extensivas de sequeiro<br />
sobre incentivos existentes; - Promover a agricultura biológica; - impedir a utilização de<br />
subsídios com efeitos negativos sobre os habitats em causa; - Manutenção de<br />
construções humanas em ruínas e se possível criar cavidades para a nidificação da<br />
espécie; - Colocação de ninhos artificiais em zonas com poucos recursos para a<br />
nidificação; a espécie beneficiará com a classificação de mais áreas com<br />
características estepárias. Em determinadas zonas (onde se verificar mortalidades<br />
acentuadas) será necessário corrigir as linhas eléctricas; Será importante implementar<br />
um programa de monitorização da espécie e promover campanhas de sensibilização<br />
para a comunidade rural e publico em geral (ICN, 2005).<br />
Família Upupidae<br />
Poupa, Upupa epops<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é invernante e residente nidificante, no<br />
arquipélago da Madeira é residente. No estuário do Tejo ocorre como estival<br />
nidificante comum e invernante raro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Pouco<br />
Preocupante e Vulnerável na Madeira. A nível internacional é considerada uma<br />
espécie Em Declínio pela BirdLife International (2004) e Pouco Preocupante pela<br />
IUCN (2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se nas zonas temperadas e subtropicais, das<br />
ilhas Canárias até à costa chinesa do Pacífico, a Oeste e até à Sibéria, a Este<br />
(Hagemeijer e Blair, 1997). No continente existe uma população residente a que se<br />
junta uma população invernante, ambas numerosas e com distribuição alargada. Na<br />
Madeira é uma ave rara, nidificando apenas na ilha de Porto Santo (Câmara, 1997).<br />
Habitat: A poupa usa muito o solo pelo que o seu habitat envolve áreas com um<br />
coberto herbáceo e arbustivo pouco denso e áreas agrícolas. No geral trata-se de uma<br />
espécie que procura zonas secas (ICN, 2005). No estuário do Tejo ocorre em zonas<br />
arborizadas com clareiras e orlas de campos cultivados (Leitão et al., 1998).<br />
População: No arquipélago da Madeira como resultado do Novo Atlas das Aves que<br />
Nidificam em Portugal, a população da subespécie foi estimada em 250 a 2.500 aves<br />
(Oliveira e Menezes, 2004). A tendência desta população parece ser estável (ICN,<br />
2005).<br />
Factores de ameaça: Apesar de escassos conhecimentos sobre a poupa, a julgar<br />
pela tendência populacional da espécie não existem ameaças (pelo menos a curto<br />
prazo), que ponham em risco a sua preservação (Oliveira, 1999).<br />
Medidas de Conservação: Não existe um plano de gestão dirigido a esta espécie,<br />
nem a sua principal área de ocorrência tem qualquer tipo de protecção legal. Seria<br />
importante realizar a monitorização da sua tendência populacional (ICN, 2005).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 205
1.3.2.2.16 Ordem Piciformes<br />
Família Picidae<br />
Torcicolo, Jynx torquila<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante e invernante. No estuário do<br />
Tejo ocorre como migrador de passagem raro, sendo observado entre os meses de<br />
Abril a Maio e Agosto a Setembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Informação<br />
Insuficiente. A nível internacional é considerada uma espécie Em Declínio pela BirdLife<br />
International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II<br />
da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: A área de nidificação da espécie distribui-se pelas zonas<br />
boreais, temperadas e subtropicais da Europa e de grande parte da Ásia, para Este<br />
até Sakhalin e Hokkaio (Hagemeijer e Blair, 1997). Em Portugal apresenta uma<br />
distribuição alargada, parecendo evitar a faixa ocidental, sobretudo na zona Centro e<br />
Norte (ICN, 2005).<br />
Habitat: Espécie associada a habitats arborizados, com disponibilidades de cavidades<br />
para nidificar e abundância de alimento (e.g. formigas), correspondendo a zonas de<br />
subcoberto pouco abundante ou com clareiras em zonas mais soalheiras (Cortés e<br />
González, 2003). Em Portugal nidifica em montados, carvalhais, pomares, bosques<br />
mistos, zonas agrícolas e galerias ripícolas (ICN, 2005). No estuário do Tejo é<br />
observado em zonas arborizadas (Leitão et al., 1998).<br />
População: Trata-se de uma espécie pouco conhecida, para a qual não foram<br />
realizados censos dirigidos, pelo que se desconhece o tamanho da população. Os<br />
resultados do Novo Atlas das Aves que Nidificam em Portugal, a população nidificante<br />
foi estimada em 2.500 a 10.00 aves. Desconhece-se a tendência da população (ICN,<br />
2005).<br />
Factores de ameaça: Os principais factores de ameaça prendem-se com a<br />
diminuição da disponibilidade de alimento em resultado das modernas técnicas de<br />
produção agrícola e por influência de condições meteorológicas menos favoráveis que<br />
também interferem na disponibilidade de alimento (Cortés e González, 2003).<br />
Medidas de Conservação: As medidas de conservação da espécie passam pela<br />
preservação do habitat de nidificação, disponibilizando ninhos artificiais. E por outro<br />
lado, aumentando a disponibilidades de alimentar através da redução do uso de<br />
insecticidas e favorecendo a produção agrícola e animal em regime extensivo (ICN,<br />
2005).<br />
206<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Peto-verde, Picus viridis<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Pouco Preocupante. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: É claramente mais abundante na parte Norte e Centro -<br />
Oeste do país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: No Norte do país frequenta sobretudo pinhais e outras manchas florestais<br />
principalmente as descontínuas. No Sul, ocorre sobretudo em pinhal e montado de<br />
sobro, e ainda com menor frequência em montado de azinho (Rufino, 1989). No<br />
estuário do Tejo tem preferência por montados de sobre e pinhais (Leitão et al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional no intervalo de 10.000 a<br />
100.000 casais.<br />
Pica-pau-malhado-grande, Dendrocopos major<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Pouco Preocupante. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: A espécie distribui-se por praticamente todo o país,<br />
sendo aparentemente mais comum no Centro e Sul do mesmo (Rufino, 1989)<br />
Habitat: Frequenta habitats florestais, evitando no entanto, os povoamentos puros de<br />
pinheiro. Ocorre ainda em pequenos bosquetes ripícolas, em manchas de mato com<br />
árvores dispersas e em pinhais queimados. Utiliza, com frequência, os postes<br />
telefónicos como local de nidificação, nas zonas pouco arborizadas (Rufino, 1989). No<br />
estuário do Tejo tem preferência por montados de sobro, pinhais e sebes (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional no intervalo de 10.000 a<br />
100.000 casais. Em Junho 2006 apresentou abundância média de 0,67 aves no<br />
montado misto (Herdade de Camarate) (Rocha, 2006a).<br />
Pica-pau-galego, Dendrocopos minor<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante raro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Pouco Preocupante. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Dada a irregularidade da distribuição da espécie e a sua<br />
raridade, não é possível saber onde é mais abundante (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta zonas de arvoredo denso, nomeadamente sobreirais densos e<br />
com sub-bosque desenvolvido ou matas ribeirinhas de choupo e salgueiro. Existem<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 207
ainda observações da espécie em habitats diferentes como os montados de sobro<br />
aberto (ICN, 2005). No estuário do Tejo ocorre em montados de sobro e pinhais<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
1.3.2.2.17 Ordem Passeriformes<br />
Família Alaudidae<br />
Calhandra-real, Melanocorypha calandra<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Quase Ameaçada. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Em Declínio pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das<br />
convenções de Berna (Anexo II) e das Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN,<br />
2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se na região mediterrânica, Mar Negro, parte<br />
Norte do Médio Oriente, Norte de África e estepes da Ásia Central (Hagemeijer e Blair,<br />
1997). Em Portugal a calhandra-real ocorre no interior Sul, com algumas regiões<br />
localizadas de ocorrência na Beira Alta. Da década de 1980 até aos dias de hoje a<br />
espécie desapareceu do Algarve, região de Lisboa e Trás-os-Montes (ICN, 2005).<br />
Habitat: A espécie ocorre nas estepes cerealíferas, nomeadamente em pousios e<br />
pastagens. É mais abundante nos pousios que em terrenos lavrados e pastagens, e<br />
durante o Outono a espécie ocorre ainda em restolhos (ICN, 2005). No estuário do<br />
Tejo ocorre em pastagens, cultivos de cereal e alqueives da lezíria (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
População: O tamanho da população foi estimada em mais de 10.000 aves, só em<br />
Castro Verde a população poderá ser superior a 8.500 aves (Moreira, 1999). Num<br />
estudo realizado no estuário do Tejo em 1991/92, a calhandra-real foi registada<br />
unicamente em três biótopos (pastagem permanente, cereal e alqueive), em<br />
densidades que apenas uma vez foram superiores a 3 aves/10ha (Leitão et al., 1998).<br />
Factores de ameaça: A intensificação agrícola, abandono da agricultura em terrenos<br />
marginais conjugados com a florestação, levam à diminuição da área de pousios e<br />
pastagens. Os pousios sofreram uma redução na ordem dos 50% no período de<br />
1979/99 (INE, 1979, 2001), prevendo-se a continuação desta tendência (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: Será importante a manutenção da agricultura cerealífera e<br />
pastoreio extensivos, evitando a florestação de terras agrícolas importantes para a<br />
espécie (ICN, 2005).<br />
Calhandrinha, Calandrella brachydactyla<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
208<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Pouco Preocupante. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo II) e das Directivas<br />
Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se à volta do Mar Mediterrâneo e Negro e<br />
estende-se em direcção a Este para as estepes da Ásia central (Díaz Esteban, 1994).<br />
A maior parte da população europeia nidifica na Península Ibérica e na Rússia (Díaz<br />
Esteban, 1994). Espécie essencialmente migratória, inverna em planícies de estepe e<br />
semi-desertos de África, no Sul do Sara. As aves da Europa invernam nas zonas<br />
costeiras do Mar Vermelho e em Sahel, excepto uma população sedentária ou<br />
parcialmente migratória da Grécia (Díaz Esteban, 1994). É particularmente abundante<br />
no sul e nordeste de Portugal, principalmente devido à grande disponibilidade de<br />
habitat (Rufino 1989).<br />
Habitat: Espécie estepária, frequenta planícies e planaltos, terrenos com socalcos e<br />
declivosos. Em alguns países as aves podem ocupar zonas baixas e arbustivas de<br />
garrigue com pequenas áreas sem vegetação (Díaz Esteban, 1994). Em Espanha os<br />
efectivos populacionais são mais altos nos habitats estepários, desde dunas até zonas<br />
de estepe arbustivas. Também podem ocorrer em áreas cultivadas, pouco intensivas,<br />
onde seleccionam os lavrados para nidificar (Díaz Esteban, 1994) e os pousios<br />
(Rufino, 1989). Nidifica no solo em pequenas depressões abrigadas por vegetação,<br />
mas por vezes também em espaços abertos (Cramp 1988) principalmente em pousios<br />
(Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre largamente na lezíria, numa vasta gama de<br />
biótopos agrícolas, principalmente aqueles onde a cobertura vegetal é mais reduzida,<br />
como pastagens permanentes, terrenos lavrados ou recentemente semeados e<br />
restolhos (Leitão et al., 1998).<br />
População: Ao comparar-se os mapas de Rufino (1989) e os mapas provisórios do<br />
actual Atlas das Aves que Nidificam em Portugal (ICN em prep.) verifica-se uma<br />
regressão na distribuição desta espécie num espaço de 20 anos. Esta regressão<br />
observa-se ao nível de todo o país, litoral e interior Norte, Centro e interior Sul.<br />
Desconhecem-se os efectivos populacionais. Na primavera de 1992 as maiores<br />
densidades desta espécie foram registadas nas pastagens permanentes com uma<br />
média de 10 aves/ 10 ha, e as menores nos cultivos de melão, com uma média de 4<br />
aves/ 10 ha (Leitão et al., 1998).<br />
Factores de ameaça: A intensificação da agricultura seguida da perda da cultura<br />
tradicional de cereais e das pastagens (substituição das culturas tradicionais por<br />
campos intensivamente irrigados). O abandono agrícola e do pastoreio extensivo<br />
resulta em perda de habitat adequado para a nidificação, alimentação e descanso. A<br />
florestação das terras agrícolas resulta na perda de habitat e induz o aumento das<br />
taxas de predação nas áreas adjacentes. A construção de infra-estruturas turísticas,<br />
nomeadamente junto à costa, pode também constituir uma ameaça uma vez que<br />
resulta em perda de habitat adequado à alimentação e reprodução, sendo um factor<br />
de fragmentação de habitat. O aumento da utilização de agro-químicos intervém<br />
directa e indirectamente nas populações de aves estepárias, aumentando a<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 209
mortalidade e reduzindo a capacidade reprodutiva e diminuindo as populações presa<br />
(ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: A conservação da espécie está dependente das seguintes<br />
medidas: - Implementar áreas de pousio dentro de zonas agrícolas de cereal intensivo;<br />
- Promover cerealicultura extensiva com rotação de culturas, assegurando o mosaico<br />
de habitat e o pastoreio extensivo, mediante a aplicação de medidas agro-ambientais<br />
e/ou indemnizações compensatórias; - Condicionar ou proibir a florestação de terras<br />
agrícolas; - Condicionar a edificação em ZPE’s importantes para avifauna estepária. -<br />
Regular o uso de pesticidas e adoptar técnicas de controlo alternativas; - Controlar as<br />
populações de cães assilvestrados em áreas onde se verifique predação; -<br />
Monitorização de parâmetros populacionais (avaliação das tendências na distribuição<br />
e tamanho da população); - Informar a comunidade rural e a população em geral sobre<br />
os valores naturais das áreas agrícolas extensivas de sequeiro e sobre as<br />
necessidades de conservação das espécies delas dependentes (ICN, 2005).<br />
Cotovia-de-poupa, Galerida cristata<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Pouco Preocupante. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída no anexo III da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: É mais frequente em zonas próximas da costa do que<br />
no interior (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta zonas abertas, como culturas arvenses, dunas, pousios, orla de<br />
estradas e, por vezes, mesmo zonas agrícolas em mosaico, estando ausente em<br />
zonas montanhosas (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre sobretudo em salinas,<br />
pastagens e cultivos adjacentes a áreas florestadas (Leitão et al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional no intervalo de 10.000 a<br />
100.000 casais. As densidades desta espécie no estuário do Tejo em 1991/92,<br />
raramente foram superiores a 2 aves/10ha (Leitão et al., 1998).<br />
Cotovia-dos-bosques, Lullula arborea<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante e Invernante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Pouco Preocupante. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo III) e das Directivas<br />
Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: É o Alaudideo mais comum, devendo nidificar<br />
provavelmente em todo o território nacional, observando-se diferenças entre habitats<br />
(Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta uma grande variedade de habitats, como montados abertos, matos<br />
esparsos com árvores, dunas arborizadas, olivais e mesmo mosaicos de zonas<br />
210<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
agrícolas e bosques (principalmente pinhais). Presente em mesmo em zonas<br />
montanhosas acima dos 1000 m (Rufino, 1989). É observado no estuário do Tejo em<br />
zonas florestais, principalmente em montados sem coberto arbustivo (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional no intervalo de 100.000 a<br />
1.000.000 casais. As maiores densidades da espécie no estuário do Tejo ocorrem no<br />
montado sem sub-bosque, na ordem das 1 a 9 aves/10 ha (Leitão et al., 1998).<br />
Laverca, Alauda arvensis<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é residente e invernante. No estuário do<br />
Tejo ocorre como residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Pouco<br />
Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante<br />
pela IUCN (2001). Está incluída no anexo III da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se pelo território nacional de Norte a Sul,<br />
contudo a Sul do Tejo encontra-se quase exclusivamente nas zonas litorais (Rufino,<br />
1989).<br />
Habitat: Frequenta zonas abertas com matos esparsos, culturas arvenses e<br />
pastagens. No Norte do país frequenta ainda pastagens em montanha e culturas<br />
arvenses nos planaltos, mas a Sul do Tejo é exclusiva das zonas costeiras (Rufino,<br />
1989). No estuário do Tejo ocorre sobretudo em pastagens e forragens, alqueives e<br />
cereais de Inverno e cultivos de Primavera e respectivos restolhos (Leitão et al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional no intervalo de 100.000 a<br />
1.000.000 casais. As densidades da espécie no estuário do Tejo durante o Inverno são<br />
bastante elevadas, chegando a ultrapassar as 50 aves/10 ha, na pastagem primaveril<br />
e 300 aves/10 ha, no cereal recentemente semeado e restolho de girassol. Na<br />
primavera as densidades são mais baixas não ultrapassando 18, 16 e 14 aves/10 ha,<br />
na pastagem primaveril, terreno lavrado e restolho de forragem, respectivamente<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Família Hirundinidae<br />
Androrinha-das-barreiras, Riparia riparia<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como estival nidificante e migrador de passagem comum, sendo observada<br />
principalmente entre os meses Fevereiro a Setembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Pouco<br />
Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante<br />
pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: A distribuição desta espécie coincide em parte, com mas<br />
principais zonas de regadio do país. Segundo Coverley (sem data), na primeira meta<br />
do século, a espécie também tinha uma distribuição localizada, contudo era mais<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 211
alargada. As principais colónias da espécie localizam-se no vale do Mondego, Tejo,<br />
Sorraia e Guadiana (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Nidifica normalmente na proximidade de água, seja de rios, arrozais ou<br />
albufeiras. Os seus ninhos são escavados barreiras arenosas naturais ou artificiais,<br />
sendo frequente constituírem colónias em areeiros (Rufino, 1989). No estuário do Tejo<br />
ocorre em montados de sobro abertos, terrenos cultivados, sapais e salinas (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional no intervalo de 10.000 a<br />
100.000 casais. Em 1993, no Estuário do Tejo foi detectada uma colónia com cerca de<br />
100 casais num areeiro perto de Pancas (Leitão et al., 1998).<br />
Andorinha-das-chaminés, Hirundo rustica<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como estival nidificante e migrador de passagem comum, sendo observada de<br />
Janeiro a Novembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Pouco<br />
Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante<br />
pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Encontra-se uniformemente distribuída por todo o país,<br />
aparentemente com maiores densidades em zonas agrícolas (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequente praticamente todos os habitats disponíveis em Portugal, à<br />
excepção da floresta. Constrói os seus ninhos numa grande variedade de construções<br />
humanas (azenha de estábulos, telheiros, pontões e pontes, etc.) (Rufino, 1989). No<br />
estuário do Tejo frequenta todos os habitas desta zona, nidificando em todo o tipo de<br />
estruturas humanas, desde edifícios, poços, pontes, comportas, etc. (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional em mais de 1.000.000<br />
casais. Em 1993, no Estuário do Tejo foi detectada uma colónia com cerca de 100<br />
casais num areeiro perto de Pancas. Durante a migração pós-nupcial, conjuntamente<br />
com a andorinha-das-barreiras, formam grandes dormitórios em caniçais no estuário<br />
do Tejo, os quais podem albergar mais de um milhar de aves (Leitão et al., 1998)<br />
Andorinha-dáurica, Hirundo daurica<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como estival nidificante raro, sendo observada de forma irregular entre os<br />
meses de Abril e Dezembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Pouco<br />
Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante<br />
pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie cuja distribuição está associada ao clima<br />
mediterrânico. Segundo Coverley (sem data) e Santos (1960) a sua área de<br />
212<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
distribuição há mais de vinte anos, seria muito mais reduzida que a actual, o que<br />
sugere uma expansão da área de distribuição da espécie (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta principalmente paisagens pouco humanizadas, como vales de rios<br />
e ribeiros, mas também certas zonas de cultura arvense, em especial no Sul do país.<br />
Os ninhos são construídos isoladamente ou em pequenos grupos, numa grande<br />
variedade de construções humanas (à semelhança da andorinha-das-chaminés) e por<br />
vezes em fragas (Rufino, 1989). No estuário do Tejo frequenta exclusivamente<br />
montados de sobro (Leitão et al., 1998).<br />
População: É geralmente pouco abundante em toda a sua área de distribuição, sendo<br />
talvez um pouco mais frequente no interior Sul. Rufino (1989) estimou a população<br />
nacional em cerca de 10.000 a 100.000 casais.<br />
Andorinha-dos-beirais Delichon urbica<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como estival nidificante comum, sendo observada entre os meses de Dezembro<br />
a Outubro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Pouco<br />
Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante<br />
pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie associada a aglomerados populacionais e, por<br />
isso, distribuída por todo o território (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Prefere as povoações humanas para nidificar, embora crie fora destas. Os<br />
ninhos em colónia são construídos em beirais, pontes, barragens e por vezes em<br />
fragas (Rufino, 1989). No estuário do Tejo nidifica nas zonas urbanas (onde se localiza<br />
a maior parte das colónias), embora existam alguns pequenos núcleos fora dessas<br />
zonas. Alimentam-se em todos os habitats existentes no estuário (Leitão et al., 1998).<br />
População: Parece ser mais abundante em zonas de densidade populacional média e<br />
próximas de rios e barragens. Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca<br />
de 100.000 a 1.000.000 casais.<br />
Família Motacillidae<br />
Petinha-dos-campos, Anthus campestris<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como estival nidificante raro, migrador de passagem pouco comum e invernante<br />
raro, sendo observada principalmente entre os meses Março a Agosto (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Pouco<br />
Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante<br />
pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos da convenção de Berna (Anexo II) e das<br />
Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Apresenta uma distribuição contínua embora seja pouco<br />
abundante em especial na metade Sul do território (Rufino, 1989).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 213
Habitat: O habitat preferido desta espécie é o cume, não arborizado e com pouco<br />
mato, das serras do Centro e Norte. No entanto frequenta ainda pousios extensos e<br />
pastagens a baixas altitudes (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre em pastagens<br />
na lezíria, salinas e áreas florestais abertas (Leitão et al., 1998).<br />
População: É mais abundante nas zonas montanhosas do que na planície (Rufino,<br />
1989). Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 1.000 a 10.000<br />
casais. Na primavera de 1992 foram registados na lezíria um casal e três machos em<br />
parada nupcial (Leitão et al., 1998).<br />
Petinha-das-árvores, Anthus trivialis<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é estival nidificante e migradora de<br />
passagem. No estuário do Tejo ocorre como migrador de passagem comum, sendo<br />
observada entre os meses Agosto a Novembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Quase<br />
Ameaçada. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela<br />
IUCN (2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Como nidificante apresenta uma distribuição Paleártica,<br />
ocorrendo na Europa e Ásia Ocidental. Inverna na África subsariana e na Índia<br />
(Cramp, 1998). Nidifica na maior parte da Europa, estando no entanto ausente da<br />
Irlanda, Centro e Sul da Península Ibérica e parte da orla do Mediterrâneo. Em<br />
Portugal apresenta uma distribuição restrita ao Norte do país, com sinais de expansão<br />
nos últimos dez anos (Pimenta e Santarém, com. pess.).<br />
Habitat: No Gerês frequenta orlas de bosques abertos de carvalho-negral e matas de<br />
pinheiro-silvestre, nas imediações de matos e pastagens, acima dos 800 m de altitude<br />
(Pimenta e Santarém, 1996). Em Nogueira ocorre em orlas de bosques mistos de<br />
resinosas com clareiras ou campos de cereais, carvalho-negral por vezes associado a<br />
pinheiros-silvestres e ainda em carvalhais arbustivos, entre os 1.000 e 1.200 m de<br />
altitude (Patacho, 1998). No estuário do Tejo ocorre em pastagens, restolhos e<br />
montados de sobro abertos (Leitão et al., 1998).<br />
População: No decorrer dos trabalhos do Novo Atlas a população nacional foi<br />
estimada entre 250 e 1000 aves. Não havendo evidências de declínio continuado da<br />
população (ICN, 2005).<br />
Factores de ameaça: Não se conhecem problemas de conservação específicos, para<br />
além dos associados a perda e degradação do habitat, como resultado, por exemplo<br />
dos incêndios (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: Parte significativa da sua área de distribuição está<br />
englobada em Áreas Protegidas e em Rede Natura. A conservação do habitat da<br />
espécie deve estar contemplado nos planos de gestão das Áreas Protegidas, onde<br />
ocorre (Rufino, 1989).<br />
214<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Petinha-dos-prados, Anthus pratensis<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é invernante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como invernante comum, sendo observada entre os meses Outubro a Abril<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Pouco<br />
Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante<br />
pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Habitat: No estuário do Tejo ocorre em sapais, salinas, pastagens, cultivos, restolhos<br />
e áreas florestais abertas (Leitão et al., 1998).<br />
População: É a petinha mais abundante no estuário do Tejo, as densidades<br />
registadas no Inverno de 1991/92 chegaram a atingir 50 aves/10 ha nas pastagens<br />
primaveris e 63 aves/10 ha nas margens de valas (Leitão et al., 1998).<br />
Petinha-ribeirinha, Anthus spinoletta<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é invernante e nidificante. No estuário<br />
do Tejo ocorre como invernante comum, sendo observada principalmente entre os<br />
meses Outubro a Maio (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a população invernante tem o<br />
estatuto Pouco Preocupante e Em Perigo a população nidificante. A nível internacional<br />
é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International (2004) e Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna<br />
(ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie com distribuição holártica (Cramp, 1998) e<br />
parcialmente migradora. Na Europa como nidificante, apresenta uma distribuição<br />
fragmentada e na Península Ibérica está confinada aos cumes das montanhas<br />
desflorestadas do Centro e Norte. Em Portugal como nidificante, tem uma distribuição<br />
muito restrita, a Norte. Nidificando apenas no Gerês (nidificação possível) e em<br />
Montesinho. Já a população invernante tem uma distribuição muito alargada (ICN,<br />
2005).<br />
Habitat: No Gerês ocorre a mais de 1.100 m de altitude, em lameiros, pastagens de<br />
montanha, ou extensões rochosas intercaladas com matos esparsos (Pimenta e<br />
Santarém, 1996). Em Montesinho a espécie encontra-se associa a lameiros em<br />
altitude, com sebes de vidoeiros e pinheiros-silvestres (ICN, 2005). No estuário do<br />
Tejo ocorre em restolhos alagados, margens de sapais e salinas (Leitão et al., 1998).<br />
População: Ocorre no país uma população invernante bastante numerosa. Contudo, a<br />
população nidificante é constituída apenas por um casal com nidificação confirmada<br />
(Montesinho), pelo que a população nacional foi estimada como sendo inferior a 50<br />
aves. Não existem evidências de declínio continuado da sua população (ICN, 2005).<br />
Factores de ameaça: Não se conhecem problemas de conservação específicos.<br />
Contudo alterações pontuais do seu habitat, resultantes do turismo, instalação de<br />
parques eólicos, entre outras, podem constituir uma grave ameaça a esta espécie com<br />
uma distribuição tão localizada no país (ICN, 2005).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 215
Medidas de Conservação: Parte significativa da sua área de distribuição está<br />
englobada em Áreas Protegidas e em Rede Natura. A conservação do habitat da<br />
espécie deve estar contemplado nos planos de gestão das Áreas Protegidas, onde<br />
ocorre (ICN, 2005).<br />
Alvéola-amarela, Motacilla flava<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como estival nidificante comum, sendo observada principalmente entre os<br />
meses Fevereiro a Novembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Pouco Preocupante. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: A sua distribuição cobre praticamente todas as manchas<br />
de habitat utilizável pela espécie e que se localizam no litoral do país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta zonas húmidas, como arrozais, salinas, pauis e lagoas costeiras.<br />
No Norte ocorre ainda em zonas alagadiças de montanha, como lameiros (Rufino,<br />
1989). No estuário do Tejo ocorre em sapais, caniçais, salinas, pastagens, forragens,<br />
arrozais, cultivos e margens de valas (Leitão et al., 1998).<br />
População: Parece ser uniformemente abundante de Norte a Sul do país, não<br />
existindo diferenças entre habitats. Rufino (1989) estimou a população nacional em<br />
cerca de 10.000 a 100.000 casais. Na Primavera de 1992 ocorreu com maior<br />
densidade no sapal (máximo 66 aves/10 ha), na pastagem primaveril (máximo 29<br />
aves/10 ha) e nas valas (máximo 36 aves/10 ha). As densidades médias nos sapais<br />
variaram entre 0,72 e 6.01 casais/10 ha (Leitão et al., 1998).<br />
Alvéola-cinzenta, Motacilla cinerea<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é residente e invernante e, nos<br />
arquipélagos dos Açores e da Madeira é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante raro, sendo observada principalmente entre os meses de Agosto a Março<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental e ilhas a espécie tem o estatuto<br />
Pouco Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna<br />
(ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Segundo Coverley (sem data) a distribuição da espécie<br />
na primeira metade do século, a área de nidificação da espécie estendia-se de forma<br />
uniforme de Norte a Sul do país. Contudo actualmente a espécie é mais abundante no<br />
Norte e Centro do país do que a Sul do rio Tejo (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta cursos de água, sobretudo rápidos, desde regatos de montanha<br />
(em altitudes superiores a 1000 m) até aos grandes rios. Com menor frequência ocorre<br />
ainda em habitats agrícolas (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre nas margens<br />
de charcas, açudes, valas e ribeiras (Leitão et al., 1998).<br />
216<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
População: Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 10 000 a 100<br />
000 casais (Rufino, 1989). Em Junho de 2006 a espécie, apresentou uma abundância<br />
média de 1,5 aves na barragem de Vale Cobrão (Rocha, 2006a)<br />
Alvéola-branca, Motacilla alba<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente e invernante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como invernante comum, sendo observada principalmente entre os meses de<br />
Setembro a Abril (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Pouco Preocupante. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Segundo Coverley (sem data) durante a primeira<br />
metade do século a área de distribuição da alvéola-branca estaria limitada à metade<br />
Norte do país. Actualmente a espécie distribui-se a Sul do rio Tejo de forma não<br />
uniforme mas com alguma frequência (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta uma grande variedade de habitats mas normalmente associados a<br />
cursos de água. No Norte e Centro do país tem preferência por zonas agrícolas.<br />
Contudo nidifica também ao longo de cursos de água, que no Sul do país são<br />
utilizados quase em exclusivo (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre nas lezírias e<br />
áreas florestais abertas (Leitão et al., 1998).<br />
População: É mais abundante no Centro e Norte, do que no Sul do país. Rufino<br />
(1989) estimou a população nacional em cerca de 10.000 a 100.000 casais (Rufino,<br />
1989). No Inverno de 1991/92, as maiores densidades foram registadas nas valas da<br />
lezíria (mais de 5 aves/10 ha) (Leitão et al., 1998).<br />
Família Troglodytidae<br />
Carriça, Troglodytes troglodyites<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Pouco<br />
Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante<br />
pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se de forma uniforme ao longo de todo o país, à<br />
excepção da Beira Interior e Baixo Alentejo onde a espécie é mais rara (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Ocorre em sebes, bosques húmidos e floresta desde que com sub-bosque<br />
bem desenvolvido. Ocorre ainda em jardins e zonas urbanas e suburbanas. No interior<br />
Centro e Sul está confinada quase exclusivamente a matas ribeirinhas (Rufino, 1989).<br />
No estuário do Tejo tem preferência por sub-bosques em habitats florestais e margens<br />
de ribeiras com vegetação densa (Leitão et al., 1998).<br />
População: É mais abundante no Centro e Norte, do que no Sul do país. Rufino<br />
(1989) estimou a população nacional em cerca de 10 000 a 100 000 casais (Rufino,<br />
1989). No Inverno de 1991/92 as maiores densidades de carriça no estuário do Tejo,<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 217
foram registadas no montado de sobro com sub-bosque (mais de 8 aves/10 ha) (Leitão<br />
et al., 1998).<br />
Família Prunellidae<br />
Ferreirinha, Prunella modularis<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante pouco comum, sendo observada entre os meses de Setembro e Abril<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Pouco<br />
Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante<br />
pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se de como nidificante no Noroeste onde é<br />
abundante, escasseando à medida que nos afastamos dessa zona (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta sebes e matos mesmo ao nível do mar (na zona Nordeste) e de<br />
forma quase exclusiva em urzais e plantações jovens de coníferas, normalmente em<br />
zonas montanhosas acima dos 1000 m de altitude (zona Leste e Sul da área de<br />
distribuição) (Rufino, 1989). No estuário do Tejo tem preferência por montados de<br />
sobro com sub-bosque e sebes (Leitão et al., 1998).<br />
População: É mais abundante no Nordeste do país. Rufino (1989) estimou a<br />
população nacional em cerca de 10 000 a 100 000 casais (Rufino, 1989). No Inverno<br />
de 1991/92 as maiores densidades de ferreirinha no estuário do Tejo, foram registadas<br />
no montado de sobro com sub-bosque (mais de 9 aves/10 ha) (Leitão et al., 1998).<br />
Família Turdidae<br />
Pisco-de-peito-ruivo, Erithacus rubecula<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é residente e invernante, nos<br />
arquipélagos dos Açores e Madeira é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante comum, sendo observada entre os meses de Setembro e Abril (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental e ilhas a espécie tem o estatuto<br />
Pouco Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II das convenções de Berna e<br />
de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: A Norte do rio Tejo tem uma distribuição mais ou menos<br />
uniforme, sendo no entanto mais abundante na faixa litoral e central do que no interior<br />
e estando praticamente ausente nas zonas de características mediterrânicas de Trásos-Montes<br />
e Beira Interior. A Sul do rio Tejo tem uma presença muito localizada,<br />
nomeadamente à serra de São Mamede, no Alentejo e ao complexo de serranias de<br />
Monchique e Caldeirão, no Algarve (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Nidifica em complexos de vegetação arbórea/arbustiva sombrios e húmidos,<br />
geralmente densos (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre em terrenos florestados,<br />
218<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
sebes, zonas com vegetação ripícola, salinas e valas da lezíria com coberto arbustivo<br />
bem desenvolvido (Leitão et al., 1998).<br />
População: É mais abundante no Nordeste do país (Rufino, 1989). Rufino (1989)<br />
estimou a população nacional em cerca de 10 000 a 100 000 casais. Em 1991/92 as<br />
maiores densidades de pisco-de-peito-ruivo no estuário do Tejo, foram registadas no<br />
montado de sobro com e sem sub-bosque (máximo de 20 a 16 aves/10 ha,<br />
respectivamente), do que em pinhais (máximo de 6 aves/10 ha) (Leitão et al., 1998).<br />
Rouxinol, Luscinia megarhynchos<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante e migrador de passagem comum, sendo observada entre os<br />
meses de Março a Setembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Pouco Preocupante. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída no anexo II das convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie com uma distribuição alargada em Portugal<br />
(Rufino, 1989). Em Junho 2006 foi observada associada a vegetação ripícola de<br />
charcas temporárias e açudes, sendo o valor médio máximo de uma ave, obtido num<br />
açude (Rocha, 2006a).<br />
Habitat: Tem preferência por habitats com vegetação muito densa, como formações<br />
arbóreas-arbustivas húmidas e sombrias, como as que marginal determinados cursos<br />
de água um pouco por todo o país. E ainda, por formações arbustivas em zonas muito<br />
secas encontradas em vales de cursos de água, permanentes ou temporários (no<br />
Alentejo e serras algarvias) (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre zonas com<br />
vegetação arbustiva ou arbórea densa, nomeadamente sebes e margens de ribeiras,<br />
valas e açudes (Leitão et al., 1998).<br />
População: É mediamente abundante por todo o país, com excepção do litoral Norte<br />
onde a espécie é pouco comum (Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população<br />
nacional em cerca de 10 000 a 100 000 casais.<br />
Pisco-de-peito-azul, Luscinia svecica<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante e migrador de passagem comum, sendo observada entre os meses de<br />
Agosto a Março (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Pouco Preocupante. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo II), de Bona (Anexo II) e<br />
das Directivas Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2005).<br />
Habitat: No estuário do Tejo ocorre em sapais, salinas, caniçais, valas da lezíria, e<br />
outros habitats alagados com vegetação de porte arbustivo bem desenvolvido (Leitão<br />
et al., 1998).<br />
População: A população invernante é originária de França e pertence à subespécie L.<br />
s. namnetum. A subespécie L. s. cyanecula, oriunda da Europa Central, ocorre apenas<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 219
de passagem e com pouca abundância. No Inverno de 1991/92 as densidades<br />
registadas no sapal e nas valas da lezíria variaram entre 10 a 56 aves/10 ha e entre 9<br />
e 23 aves/ 10 ha, respectivamente (Leitão et al., 1998).<br />
Rabirruivo-preto, Phoenicurus ochruros<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante pouco comum, sendo observada entre os meses de Outubro e Março<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Pouco Preocupante. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída no anexo II das convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie com uma distribuição uniforme a Norte do rio<br />
Tejo e limitada sobretudo à faixa costeira a Sul de Portugal (Rufino, 1989).<br />
Habitat: No Norte do país ocorre na faixa costeira rochosa, aglomerados urbanos e<br />
ainda em vários tipos de habitats rochosos (vales com escarpas e socalcos) e habitats<br />
de montanha que podem ultrapassar os 1200 m de altitude. Na zona Sul do país<br />
ocorre sobretudo em falésias costeiras, vales escarpados, aglomerados urbanos e em<br />
grande construções humanas (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre em montados<br />
abertos, geralmente próximos de construções humanas e lezíria (Leitão et al., 1998).<br />
População: Parece ser mais abundante na metade Norte do país, até porque aí se<br />
encontra mais bem distribuído (Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população<br />
nacional em cerca de 10.000 a 100.000 casais.<br />
Rabirruivo-de-testa-branca, Phoenicurus phoenicurus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como migrador de passagem raro, sendo observada entre os meses de Setembro e<br />
Outubro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Pouco Preocupante. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída no anexo II das convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Esta espécie ocorre em várias regiões do país, mas de<br />
forma localizada (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Embora a escassez de informação sobre esta espécie, o rabirruivo-de-testabranca<br />
parece preferir manchas de castanheiros e carvalho em confluência com zonas<br />
mais abertas, sobreirais nas serras do Sul do país e parques de árvores frondosas<br />
desde que relativamente espaçadas (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre em<br />
montados de sobro pouco densos e campos agrícolas adjacentes (Leitão et al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 100 a 1.000<br />
casais.<br />
220<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Cartaxo-nortenho, Saxicola rubetra<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como migrador de passagem pouco comum, sendo observada principalmente entre os<br />
meses de Setembro e Novembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Vulnerável. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International<br />
(2004 in ICN, 2005) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II<br />
das convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: A área de distribuição estende-se por grande parte da<br />
Europa, embora esta espécie seja rara ou ausente em muitas regiões mais<br />
meridionais. Fora da Europa, encontra-se na zona mais ocidental da Ásia. É um<br />
migrador transariano, invernando em África (Cramp, 1998). Em Portugal durante a<br />
época de nidificação a espécie localiza-se em alguns sectores elevados no Gerês e<br />
Montesinho (Coverley, 1933; Rufino, 1989; Pimenta e Santarém, 1996; Reino, 1996).<br />
Habitat: Ocorre geralmente em altitudes de 1.000-1.200 m, em matos higrófilos<br />
associados a cabeceiras de linhas de água (Pimenta e Santarém, com. pess.).<br />
Frequenta ainda prados de montanha com carvalho-negral disperso (Reino, 1994). No<br />
estuário do Tejo ocorre em salinas, terrenos da lezíria e montados de sobro abertos<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
População: A população nacional está compreendida entre 50 a 1.000 aves, sendo o<br />
Parque Nacional da Peneda Gerês, uma das principais áreas de ocorrência da espécie<br />
em Portugal, existindo uma população nidificante de 50 casais (Pimenta e Santarém,<br />
com. pess.). Ocorre ainda no Parque Natural de Montesinho, mas ai a população é<br />
muito escassa (Reino 1994, 1996). Ocorre em Portugal uma população migradora de<br />
passagem que é consideravelmente mais numerosa do que a população nidificante.<br />
Factores de ameaça: As reflorestações, os incêndios e a alteração das práticas de<br />
pastoreio tradicionais constituem ameaças potenciais para esta espécie nas áreas de<br />
reprodução (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: A quase totalidade das áreas de reprodução da espécie<br />
em Portugal, estão inseridas em Área Protegidas. Assim é fundamental a inclusão de<br />
medidas , nos planos de ordenamento e gestão das Áreas Protegidas, que permitam a<br />
conservação do habitat onde a espécie ocorre. É importante monitorizar a tendência<br />
populacional desta rara espécie (ICN, 2005).<br />
Cartaxo, Saxicola torquata<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Pouco Preocupante. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída no anexo II das convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Esta espécie distribui-se por todo o país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta habitats muito variados, como complexos de vegetação dunar,<br />
prados, e pastagens de montanha (mesmo acima dos 1000 m), montados abertos, etc.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 221
(Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre numa grande variedade de habitats, desde<br />
caniçais e salinas, passando pelos terrenos da lezíria, até aos montados de sobro e<br />
pinhais (Leitão et al., 1998). Nos sapais do Tejo, o cartaxo é típico das zonas<br />
marginais deste biótopo, sendo observado ainda em biótopos onde domina<br />
Phragmites communis e onde domina Arthrocnemum perenne ou de A. Perenne e<br />
Arthrocnemum sp. dada a proximidade destes com os taludes. É uma espécie pouco<br />
no coberto vegetal do sapal, apresentando densidades reduzidas (0,55 casais / 10 ha)<br />
(Crespo, 1993).<br />
População: O cartaxo parece mais abundante no Alentejo e Beira Interior do que no<br />
resto da sua área de distribuição. Por outro lado é raro no extremo sueste do país e na<br />
zona de Aveiro, onde ocorre em densidades muito baixas (Rufino, 1989). Rufino<br />
(1989) estimou a população nacional em cerca de 10.000 a 100.000 casais. Em<br />
1991/92 dos 14 biótopos estudados (sapal, valas, 9 biótopos agrícolas e 3 florestais), a<br />
espécie só não foi registada no sapal. Com excepção das valas, as densidades<br />
raramente ultrapassam as 10 aves/10 ha (Leitão et al., 1998).<br />
Chasco-cinzento, Oenanthe oenanthe<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como migrador de passagem comum, sendo observado principalmente durante os<br />
meses de Agosto a Novembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto Pouco Preocupante. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída no anexo II das convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Segundo Coverley (sem data) a espécie apresentava na<br />
primeira metade do século uma distribuição mais alargada no Norte do país, sendo<br />
comum nos complexos dunares do litoral Norte. Actualmente embora a população se<br />
mantenha o seu limite a Sul, na zona litoral Norte é meramente residual (Rufino,<br />
1989).<br />
Habitat: Frequenta áreas abertas muito variadas, preferindo habitats de montanha,<br />
como prados e pastagens, desde que sejam húmidos e com afloramentos rochosos<br />
(Rufino, 1989). No estuário do Tejo é o chasco-cinzento é observado na lezíria, salinas<br />
e montados de sobro abertos (Leitão et al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 1.000 a 10.000<br />
casais.<br />
Factores de ameaça: A redução da população na zona litoral Norte do país poderá<br />
ser resultado da ocupação desses locais pela construção. Para disso, sofreu uma<br />
redução do habitat nas zonas montanhosas, como consequência da florestação<br />
progressiva das zonas mais altas das serras do país (Rufino, 1989).<br />
Melro-preto, Turdus merula<br />
Fenologia: Em Portugal continental e nos arquipélagos dos Açores da Madeira a<br />
espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como residente nidificante comum<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
222<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental e nas ilhas a espécie tem o estatuto<br />
Pouco Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna<br />
(Anexo III), de Bona (Anexo II), das Directivas Aves/Habitats (Anexo D) e na Lei de<br />
Bases de Caça (ICN, 2005)<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se por todo o território nacional, sendo<br />
igualmente comum no Norte e Sul do país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: É observado numa elevada diversidade de habitats, como: pomares, jardins,<br />
parques, bosques, bosquetes mistos, zonas de culturas agrícolas com sebes vivas,<br />
complexos arbustivos de toda a natureza, formações dunares, charnecas e matagais,<br />
povoamentos arbóreos, etc. (Rufino, 1989). No estuário do Tejo é o melro ocorre<br />
sobretudo em áreas florestais e sebes (Leitão et al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 100.000 a<br />
1.000.000 casais. Em 1991/92 as densidades nos montados de sobro variaram entre 3<br />
e 17 aves/10 ha, enquanto que no pinhal não ultrapassaram as 2 aves/10 ha (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
Tordo-pinto, Turdus philomelos<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante e nidificante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como invernante comum, sendo observado entre os meses de Outubro e Março<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a população nidificante tem o estatuto de Quase<br />
ameaçada e, Pouco Preocupante no caso da população invernante. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo III), de Bona (Anexo II), das<br />
Directivas Aves/Habitats (Anexo D) e na Lei de Bases de Caça (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Como nidificante distribui-se por quase toda a Europa, à<br />
excepção dos sectores mais meridionais, e por grande parte da Ásia Ocidental. Tem<br />
uma área de invernada essencialmente circum-mediterrânica (Cramp, 1998). Em<br />
Portugal a espécie nidifica nas zonas serranas do extremo Norte do país, no Minho e<br />
Trás-os-Montes (ICN, 2005).<br />
Habitat: Ocorre em bosques de folha caduca ou mistos, com predominância para<br />
carvalhais, bosques de faias e matas ribeirinhas com amieiros e freixos (Reino, 1994;<br />
Pimenta e Santarém, 1996; Patacho, 1998; Cardoso, 1999). No estuário do Tejo é<br />
observado em zonas arborizadas e sebes (Leitão et al., 1998).<br />
População: A população invernante é numerosa e com distribuição alargada. A<br />
população nidificante nunca foi recenseada, mas através da realização de vários<br />
trabalhos foi possível determinar que esta população é reduzida. Esta está<br />
provavelmente compreendida entre 250 e 10.000 aves e em expansão (Pimenta, com.<br />
pess.).<br />
Factores de ameaça: Os factores de ameaça não estão devidamente estudadas, mas<br />
os incêndios, com a consequente destruição das zonas de matas caducifólias onde<br />
nidificam, são sempre uma ameaça. A população invernante sofre uma grande<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 223
pressão cinegética (Fontoura 1996a, b), contudo desconhece-se o efeito sobre essa<br />
mesma população (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: A proibição da caça nas áreas de reprodução e a<br />
protecção do habitat são medidas susceptíveis de favorecer a espécie.<br />
Tordo-ruivo, Turdus iliacus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é Invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante pouco comum, sendo observado entre os meses de Dezembro e Fevereiro<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída nos anexos das convenções de Berna (Anexo III), de Bona<br />
(Anexo II), das Directivas Aves/Habitats (Anexo D) e na Lei de Bases de Caça (ICN,<br />
2005).<br />
Habitat: No estuário do Tejo é observado em zonas florestadas (Leitão et al., 1998).<br />
Tordoveia, Turdus viscivorus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída nos anexos da convenção de Berna (Anexo III), das Directivas<br />
Aves/Habitats (Anexo D) e na Lei de Bases de Caça (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: A tordoveia distribui-se por todo o país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Mostra preferência por habitas mistos, como culturas agrícolas em<br />
confluência com bosques mistos, sebes vivas, matas ribeirinhas, etc. Ocorre ainda na<br />
orla de grandes povoamentos de coníferas (existem registo de nidificação acima dos<br />
1.000 m), montados de sobro e azinho, por vezes associados a pastagens e culturas<br />
arvenses (no Alentejo) (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre em zonas florestais,<br />
nomeadamente montados de sobro abertos (Leitão et al., 1998).<br />
População: Nidifica normalmente em densidades baixas e parece ser mais abundante<br />
no Centro e Norte do país (Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população nacional<br />
em cerca de 10.000 a 100.000 casais.<br />
Família Sylviidae<br />
Rouxinol-bravo, Cettia cetti<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo II das convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
224<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Distribuição e movimentos: Distribui-se praticamente por todo o país, estando<br />
contudo ausente no Noroeste (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Ocorre zonas junto de água desde que exista vegetação densa (por exemplo,<br />
os silvados). O importante na selecção do habitat parece estar o tipo de vegetação e a<br />
sua proximidade à água, e não as características da massa de água (Rufino, 1989).<br />
No estuário do Tejo ocorre em sapais, caniçais, tamargueiras e na vegetação das<br />
margens de valas, ribeiras e açudes (Leitão et al., 1998). No sapal do Tejo, a espécie<br />
ocorre essencialmente em taludes e caniçais (Crespo, 1993).<br />
População: É mais abundante em todo o país, com excepção do Noroeste onde se<br />
torna rara (Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de<br />
100.000 a 1.000.000 casais. Num estudo realizado no estuário do Tejo em 1992 as<br />
maiores densidades da espécie foram registadas no caniçal e na orla do sapal (1,36 e<br />
5,7 casais/10 ha, respectivamente), tendo sido inferiores noutros tipos de sapal<br />
estudados (máximo de 0,18 casais/10 ha) (Leitão et al., 1998).<br />
Fuinha-dos-juncos, Cisticola juncidis<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo II das convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: A distribuição da espécie parece ser condicionada pela<br />
altitude, daí que esteja ausente em grande parte do Noroeste do país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Ocorre numa grande variedade de habitas abertos, nomeadamente dunas,<br />
orlas de caniçais, searas, pousios, incultos suburbanos, etc. (Rufino, 1989). No<br />
estuário do Tejo ocorre em zonas abertas desde que possuam vegetação herbácea ou<br />
arbustiva bem desenvolvida, o que acontece na lezíria, em sapais, salinas e caniçais<br />
(Leitão et al., 1998). Segundo Crespo (1993) durante o período reprodutor a espécie<br />
tem preferência por zonas mais húmidas ou próximas de água (caso da proximidade<br />
de Halimione portucaloides aos canais de irrigação do sapal).<br />
População: É aparentemente mais abundante no Sul e litoral do que no Centro<br />
interior (Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de<br />
100.000 a 1.000.000 casais. Num estudo realizado no estuário do Tejo em 1991/92 a<br />
espécie ocorreu com maior regularidade e abundância no sapal que nos restantes<br />
biótopos estudados. As densidades máximas registadas após a época de nidificação,<br />
foram de 61 e 81 aves/10 ha no sapal e valas, respectivamente. A espécie foi<br />
registada em todas as classes de sapais estudadas na Primavera de 1992, com<br />
densidades médias que variaram de 0,79 a 8,48 casais/10 ha (Leitão et al., 1998).<br />
Cigarrinha-malhada, Locustella naevia<br />
Fenologia: No estuário do Tejo ocorre como migrador de passagem raro (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 225
Habitat: No estuário do Tejo ocorre em caniçais, sapais e zonas com vegetação<br />
ripícola (Leitão et al., 1998).<br />
Cigarrinha-ruiva, Locustella luscinioides<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante raro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Vulnerável. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II das<br />
convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Como nidificante, distribui-se em latitude médias e<br />
baixas no Paleártico, desde a Europa Ocidental e Noroeste de África até à Mongólia. É<br />
migrador transariano, invernando na África subsariana (Cramp, 1998). Em Portugal<br />
ocorre na faixa litoral, desde o Minho ao Alentejo, sendo as principais áreas de<br />
ocorrência, zonas húmidas litorais, nomeadamente a ria de Aveiro, o baixo Mondego<br />
ou a lagoa de Santo André (ICN, 2005).<br />
Habitat: Ocorre em zonas de vegetação palustre do tipo predominantemente<br />
herbáceo. Parece ter preferência por povoamentos extensos e diversificados, e por<br />
zonas não sujeitas ao regime das marés (ICN, 2005). No estuário do Tejo ocorre em<br />
manchas de caniçal de dimensão média ou grande (Leitão et al., 1998).<br />
População: Estima-se que a população nacional esteja compreendida entre 1.000 e<br />
10.000 aves. Não existem indícios concretos que a espécie esteja em declínio, no<br />
entanto não é de excluir essa hipótese, dada a degradação que se tem assistido dos<br />
povoamentos palustres nas zonas húmidas nacionais (ICN, 2005). No estuário do Tejo<br />
em 1992 a espécie foi registada nos caniçais da área com densidades de 0,18 e 1,36<br />
casais/10 ha (Leitão et al., 1998).<br />
Factores de ameaça: O principal factor de ameaça da espécie é a degradação do<br />
habitat, nomeadamente a drenagem ou alteração das zonas húmidas para<br />
aproveitamento agrícola, pastoreio ou outros usos do solo. A transformação de<br />
sistemas palustres herbáceos em outros dominados por arbustos ou árvores, afecta a<br />
espécie. E ainda a alteração das zonas de invernada em África constitui uma ameaça<br />
potencial à preservação da espécie (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: Manutenção de povoamentos palustres extensos e<br />
diversificados. Embora grande parte da área de nidificação da espécie se encontre<br />
incluída em Áreas Protegidas, será necessário incluir a espécie no plano de gestão e<br />
ordenamento dessas mesmas áreas onde a espécie ocorre (ICN, 2005).<br />
Felosa-dos-juncos, Acrocephalus schoenobaenus<br />
Fenologia: No estuário do Tejo ocorre como migrador de passagem pouco comum<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: A espécie em Portugal é considerada Não Ameaçada. Está<br />
incluída no anexo II das convenções de Bona e Berna (SNPRCN, 1990)<br />
226<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Habitat: No estuário do Tejo ocorre em caniçais, valas pastagens e forragens (Leitão<br />
et al., 1998).<br />
Rouxinol-pequeno-dos-caniços, Acrocephalus scirpaceus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante e migrador de passagem comum, sendo observada durante os<br />
meses de Março e Setembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Quase Ameaçada.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife<br />
International (2004 in ICN, 2005) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
incluída no anexo II das convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Como nidificante, distribui-se por quase toda a Europa, à<br />
excepção das zonas mais setentrionais, Norte de África e nalguns sectores ocidentais<br />
da Ásia (Cramp, 1998). Inverna na África subsariana (ICN, 2005). Em Portugal ocorre<br />
em habitats extremamente restritos formados por caniçal encontrando-se ao longo de<br />
toda a franja litoral e penetrando para o interior no Ribatejo e Alto Alentejo (ICN, 2005).<br />
Habitat: Ocorre quase exclusivamente em caniçais de Phragmites communis com<br />
extensão média ou grande, sendo escasso ou estando mesmo ausente em manchas<br />
de caniço muito pequenas ou noutros povoamentos de vegetação palustre (ICN,<br />
2005). No estuário do Tejo ocorre principalmente em caniçais e ocasionalmente em<br />
sapais, salinas e regadio de milho (Leitão et al., 1998).<br />
População: A população nidificante nacional foi estimada como sendo superior a<br />
2.500 aves. Em Portugal ocorre ainda uma população migradora de passagem bem<br />
mais numerosa que a população nidificante (ICN, 2005). No estuário do Tejo as<br />
densidades médias registadas em 1992 foram de 6,13 e 19,94 casais/10 ha em dois<br />
tipos de caniçal (Leitão et al., 1998).<br />
Factores de ameaça: A drenagem ou degradação das zonas húmidas em geral, e dos<br />
caniçais em particular, constituem a principal ameaça da espécie em Portugal. A perda<br />
de caniçal pela sucessão natural e ao assoreamento também são factores a<br />
considerar. A alteração das zonas de invernada em África constitui uma ameaça<br />
potencial à preservação da espécie (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: A conservação e gestão activa dos caniçais são<br />
fundamentais para a espécie. Embora grande parte da área de distribuição da espécie<br />
se encontre zonas húmidas com algum estatuto de protecção, é necessário um plano<br />
gestão do caniçal (ICN, 2005).<br />
Rouxinol-grande-dos-caniços, Acrocephalus arundinaceus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante e migrador de passagem comum, sendo observada durante os<br />
meses de Março e Setembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Quase Ameaçada.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo II das convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 227
Distribuição e movimentos: Distribui-se ao longo do litoral, sendo que a Sul do rio<br />
Tejo a sua distribuição alarga-se para o interior do país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Ocorre em caniçais, tábua, bunho e por vezes associações de tábua,<br />
tamargueira e salgueiro. Ocorre em manchas de habitat reduzido, dai que surja<br />
também no interior do país (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre principalmente<br />
em caniçais (Leitão et al., 1998). Em Junho de 2006 a espécie, apresentou uma<br />
abundância média de 0,67 aves num açude na Companhia das Lezírias (Rocha,<br />
2006a).<br />
População: Parece ser igualmente comum no Norte e Sul do país (Rufino, 1989).<br />
Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 1.000 a 10.000 casais. No<br />
estuário do Tejo em 1992, registaram-se densidades médias de 2,47 casais/10 ha em<br />
caniçais (Leitão et al., 1998).<br />
Felosa-aquática, Acrocephalus paludicola<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é migrador de passagem. No estuário não tem sido<br />
observada, o que deriva do facto de não se fazerem contagens de passeriformes<br />
migradores nesta região (Encarnação, com pess.), estando provavelmente presente<br />
mas em números muito baixos;<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Em perigo. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Vulnerável pela IUCN (2001). Está incluída<br />
nas convenções de Berna (anexo II) e de Bona (anexos II e III) e como espécie<br />
prioritária do Anexo I da Directiva Habitats (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se ao longo do litoral, sendo que a Sul do rio<br />
Tejo a sua distribuição se alarga para o interior do país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Ocorre em caniçais de Phragmites australis, bunho ou outra vegetação<br />
palustre.<br />
População: é rara em Portugal, aparentando ter alguma tendência para a sua<br />
diminuiçao, a par do se que se passa nas zonas norte-europeias de nidificação.<br />
Felosa-poliglota, Hippolais polyglotta<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante e migrador de passagem pouco comum, sendo observada<br />
durante os meses de Abril e Setembro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo II das convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se ao longo de todo o país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Ocorre numa grande variedade de habitats, preferindo sebes, matas<br />
ribeirinhas, orla de montados e outros bosques, mistos de mato com clareiras e ainda<br />
matos de ribeiros temporários (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre sobretudo em<br />
sebes, margens de ribeiras e açudes. Ocorre ainda na de sapais e caniçais (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
228<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
População: Parece ser mais abundante no Sul que no Norte do país (Rufino, 1989).<br />
Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 1000.000 a 1.000.000<br />
casais.<br />
Toutinegra-do-mato, Sylvia undata<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante comum, sendo observada durante os meses de Outubro e Fevereiro (Leitão<br />
et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída nos anexos da convenção de Berna (Anexo II) e das Directivas<br />
Aves/Habitats (Anexo A-I) (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se ao longo de todo o país, ocorrendo falhas<br />
em consequência sobretudo da falta de habitat (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta sobretudo urzais, em zonas montanhosas, matos de duna e matos<br />
de esteva nas zonas mais áridas do país. Tem preferência por formações sem<br />
clareiras e com altura média uniforme, ocorrendo desde o nível do mar e acima dos<br />
1000 m. Ocasionalmente é observada em pinhais com mato bem desenvolvido e em<br />
jovens plantações de coníferas (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre sobretudo<br />
em zonas com vegetação arbustiva, nomeadamente, no sub-bosque do montado de<br />
sobro, margens de valas na lezíria, salinas e sapais (Leitão et al., 1998).<br />
População: Aparentemente é mais comum no litoral e nas zonas montanhosas,<br />
embora isso possa resultar de uma maior disponibilidade de habitat nestas zonas<br />
(Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 10.000 a<br />
100.000 casais. No Inverno de 1991/92 as maiores densidades foram registadas no<br />
sapal (máximo de 15 aves/10 ha) e no montado com sub-bosque (máximo de 7<br />
aves/10 ha) do estuário do Tejo (Leitão et al., 1998).<br />
Toutinegra-de-bigodes, Sylvia cantillans<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como migradora de passagem rara, sendo observada durante os meses de Setembro<br />
e Outubro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo II das convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: apresenta uma distribuição bem definida, sendo uma<br />
espécie típica do interior com um prolongamento para o litoral na serra algarvia<br />
(Rufino, 1989).<br />
Habitat: Ocorre principalmente em matos altos com árvores dispersas, como os de<br />
esteva com azinho e os de giesta com carvalho negral. Com menor frequência é<br />
observada em matos sem árvores, no Nordeste do país, nidifica ainda em sebes bem<br />
desenvolvidas (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre sobretudo em sebes (Leitão<br />
et al., 1998).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 229
População: É mais comum no Nordeste e Beira interior do que no resto do país<br />
(sendo a Sylvia mais comuns em Trás-os-Montes) (Rufino, 1989). Rufino (1989)<br />
estimou a população nacional em cerca de 10.000 a 100.000 casais.<br />
Toutinegra-dos-valados, Sylvia melanocephala<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo II das convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se ao longo de todo o país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Ocorre numa grande variedade de habitats, desde matos de esteva a<br />
montados de sobro e azinho com matos, dos silvados aos olivais, localmente em<br />
jardins suburbanos, mas está ausente nas zonas montanhosas (Rufino, 1989). No<br />
estuário do Tejo ocorre em montados, sapais, salinas, zonas com vegetação ripícola e<br />
sebes (Leitão et al., 1998). Nos sapais do Tejo, a espécie tem preferência pelas zonas<br />
marginais deste biótopo, onde apresenta densidades que podem atingir 1,075<br />
casais/10 há. Pode ser ainda observada em biótopos onde domina Arthrocnemum<br />
perenne ou A. Perenne e Arthrocnemum sp., mas em menores densidades (0,180 a<br />
0,204 casais/10 ha) (Crespo, 1993).<br />
População: É claramente mais abundante no Sul do que no Norte do país, sendo a<br />
mais comum das toutinegras (Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população<br />
nacional em cerca de 100.000 a 1.000.000 casais. No estuário do Tejo em 1991/92 as<br />
maiores densidades foram registadas nos montados de sobro com sub-bosque<br />
(máximo de 30 aves/10 ha) (Leitão et al., 1998).<br />
Papa-amoras, Sylvia communis<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como migradora de passagem pouco comum, sendo observada entre os meses de<br />
Agosto e Outubro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo II das convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Apresenta uma distribuição confinada sobretudo ás<br />
zonas montanhosas do Norte e Centro do país, ocorrendo ainda ao nível do mar no<br />
Noroeste (Rufino, 1989). Segundo (Coverley, sem data), durante a primeira metade do<br />
século passado, a espécie nidificaria mais para Sul do que actualmente.<br />
Habitat: É observada em matos de giesta e urze nas zonas montanhosas, preferindo<br />
os matos descontínuos. No Norte e Noroeste ocorre ainda em sebes vivas com ou<br />
sem arvoredo (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre nos matos dos montados,<br />
sebes, salinas e sapais (Leitão et al., 1998).<br />
230<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
População: A sua abundância diminui, de um modo geral, à medida que nos<br />
deslocamos para Sul da sua área de distribuição (Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou<br />
a população nacional em cerca de 1.000 a 10.000 casais.<br />
Toutinegra-das-figueiras, Sylvia borin<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante e migrador de passagem pouco comum, sendo observada<br />
durante os meses de Agosto e Outubro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Vulnerável. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International<br />
(2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II das<br />
convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Como nidificante distribui-se de forma alargada por toda<br />
a Europa, Oeste da Ásia até à Sibéria Central (Hagemeijer e Blair, 1997). Em Portugal<br />
restrita ao extremo Noroeste do território, apesar de ocorrerem alguns registos em<br />
áreas mais a Sul (ICN, dados não publicados).<br />
Habitat: Ocorre em bosques ribeirinhos, bosques de folhosas, sobretudo carvalhais,<br />
normalmente na proximidade de lameiros (Rufino, 1989). O Parque Nacional da<br />
Peneda Gerês (deverá albergar a maioria da população nacional) a espécie ocorre<br />
principalmente em carvalhais de carvalho-negral com sub-bosque bem desenvolvido, e<br />
ainda em bosques ribeirinhos na proximidade de lameiros e silvados (Pimenta e<br />
Santarém, 1996). No estuário do Tejo ocorre na vegetação arbustiva bem<br />
desenvolvida (Leitão et al., 1998).<br />
População: A população nacional nidificante, será superior a 50 e inferior a 1000 aves<br />
(ICN, 2005).<br />
Factores de ameaça: Não existem factores de ameaça da espécie conhecidos.<br />
Contudo dado o reduzido tamanho da população, esta deverá ser muito susceptível à<br />
destruição de carvalhais de carvalho-negral e bosques ribeirinhos (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: Manutenção de bosques ribeirinhos e carvalhais de<br />
carvalho-negral (ICN, 2005).<br />
Toutinegra-de-barrete, Sylvia atricapilla<br />
Fenologia: Em Portugal continental e nos arquipélagos dos Açores e da Madeira a<br />
espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como residente nidificante pouco<br />
comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental e ilhas a espécie tem o estatuto de<br />
Pouco Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II das convenções de Berna e<br />
de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: É uma espécie com uma distribuição quase contínua por<br />
todo o país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Ocorre em zonas mais ocidentais, numa grande variedade de habitats, desde<br />
jardins, pomares e bosques de folhosas. No interior frequenta quase exclusivamente<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 231
matas ribeirinhas, de freixo, amieiro ou salgueiro. Existe desde o nível do mar a zonas<br />
montanhosas acima dos 1000 m (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre em<br />
árvores e sebes junto de linhas de água (Leitão et al., 1998).<br />
População: É mais abundante nas zonas ocidentais que nas interiores (Rufino, 1989).<br />
Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 100.000 a 1.000.000 casais.<br />
Felosinha, Phylloscopus collybita<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante comum, sendo observado entre os meses de Outubro a Março (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Pouco Preocupante. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
incluída no anexo II das convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
Habitat: No estuário do Tejo ocorre em zonas com vegetação com porte arbustivo ou<br />
arbóreo (Leitão et al., 1998).<br />
População: No Inverno de 1991/92, foi registada em oito biótopos diferentes, com<br />
maior abundância nas valas (máximo de 250 aves/10 ha) e nos montados (máximo de<br />
46 aves/10 ha). Em 6 de Dezembro de 1980 foi observado um indivíduo da subespécie<br />
P. c. tristis na Ponta da Erva.<br />
Felosinha-ibérica, Phylloscopus ibericus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante, rara (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Pouco Preocupante. Em<br />
Espanha é considerada uma espécie Pouco Preocupante. Está incluída no anexo II<br />
das convenções de Berna e de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Espécie bem distribuída pelo país é mais comum na<br />
zona litoral do país do que nas zonas mais orientais.<br />
Habitat: Frequenta bosques e floresta húmida, como matas ribeirinhas, matas nas<br />
encostas e vales ensombrados, desde que densas e com sub-bosque bem<br />
desenvolvido. Evita as serras (sendo rara acima dos 1000 m) e as zonas áridas do<br />
interior (Rufino, 1989). No estuário do Tejo a espécie ocorre em zonas com vegetação<br />
arbórea bem desenvolvida nas margens de linhas de água (Leitão et al., 1998).<br />
População: É mais comum na parte ocidental da sua área de nidificação do nas<br />
interiores (Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de<br />
10.000 a 100.000 casais.<br />
Felosa-musical, Phylloscopus trochilus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é migradora de passagem. No estuário do Tejo<br />
ocorre como migrador de passagem, sendo observado entre os meses de Agosto e<br />
Outubro (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal tem o estatuto de Não Ameaçada. Está incluída<br />
no anexo II das convenções de Berna e de Bona (SNPRCN, 1990).<br />
232<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Habitat: No estuário do Tejo ocorre em zonas com árvores, arbustos e caniço (Leitão<br />
et al., 1998).<br />
Estrelinha-real, Regulus ignicapillus<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é residente e invernante e no<br />
arquipélago da Madeira é residente. No estuário do Tejo ocorre residente invernante<br />
pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental e Madeira a espécie tem o estatuto<br />
de Pouco Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II das convenções de Berna e<br />
de Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se sobretudo na zona Noroeste e em algumas<br />
zonas litorais do Centro do país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Espécie típica de bosque frondoso e sombrio, ocorrendo sobretudo em<br />
coníferas mas também em matas de folhosas, no Norte e Noroeste e ainda parques<br />
mistos na Beira Alta. Nidifica desde o nível do mar até ao limite arbóreo nas serras<br />
(Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre em pinhal, montado de sobro, e por vezes<br />
em zonas com vegetação ripícola (Leitão et al., 1998).<br />
População: É mais abundante no extremo Norte da sua área de distribuição do que<br />
no resto do país (Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca<br />
de 10.000 a 100.000 casais. Num estudo realizado no estuário do Tejo em 1991/92<br />
apenas foi registado nos biótopos florestais, sendo as maiores densidades registadas<br />
no montado com sub-bosque (máximo de 16 aves/10 ha).<br />
Família Muscicapidae<br />
Taralhão-cinzento, Muscicapa striata<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como migrador de passagem pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Quase<br />
Ameaçada. A nível internacional é considerada uma espécie Depauperada pela<br />
BirdLife International (2004 in ICN, 2005) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Está incluída no anexo II da convenção de Berna e Bona (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se como reprodutor no pelo Paleártico Central e<br />
Ocidental, desde a Escandinávia até ao Norte de África e do Irão até à Mongólia e o<br />
Oeste dos Himalaias (Cramp e Perrins 1993; Tucker e Heath, 1994). Inverna na África<br />
subsariana (Cramp e Perrins 1993). Em Portugal embora se distribua de Norte a Sul<br />
do país, a espécie encontra-se essencialmente região Sul da Estremadura, Alto<br />
Alentejo e serras algarvias. No resto do país apresenta uma distribuição fragmentada,<br />
ocorrendo de forma dispersa nas serras do Centro e Norte, geralmente abaixo dos<br />
1.000 m de altitude (ICN, 2005).<br />
Habitat: Tem preferência por arvoredo pouco denso, como margens de bosques e<br />
clareiras, montados e soutos. Evita zonas desflorestadas e com densidades arbóreas<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 233
muito altas (Huertas, 2003). No estuário do Tejo tem preferência por zonas<br />
arborizadas e sebes (Leitão et al., 1998).<br />
População: Em Portugal a informação sobre a abundância da espécie é escassa. No<br />
período de 1978-1984, Rufino (1989) estimo grosseiramente a população em cerca de<br />
100 a 1.000 casais. Apesar da clara falta de dados populacionais, observa-se um<br />
declínio continuado do seu habitat, devido essencialmente à degradação do habitat<br />
(ICN, 2005).<br />
Factores de ameaça: As principais causas do declínio da espécie devem-se à<br />
destruição do seu habitat, devido nomeadamente, à ocorrência de incêndios que<br />
destroem extensas áreas de florestais, substituição de áreas florestais autóctones por<br />
plantações de pinheiro e eucalipto. A proliferação de do uso de pesticidas em zonas<br />
agrícolas e a contaminação das águas, parece ser um factor relevante (ICN, 2005). É<br />
referido por alguns autores, que as populações podem ser afectadas por secas e<br />
vagas de frio, as quais limita a disponibilidade de presas (Tucker e Heath, 1994).<br />
Medidas de Conservação: - Será necessário aprofundar o conhecimento sobre a<br />
dimensão do efectivo populacional, a tendência da população e seus requisitos de<br />
habitat; - A adopção de medidas que visem a redução de pesticidas e produtos<br />
fitossanitários na agricultura; - Promover a florestação com espécies autóctones; -<br />
Criar faixas folhosas entre manchas extensas de florestas de produção; - Adoptar<br />
medidas de prevenção de fogos florestais (ICN, 2005).<br />
Papa-moscas, Ficedula hypoleuca<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como migrador de passagem comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Rara. Está<br />
incluída no anexo II da convenção de Berna e de Bona (SNPRCN, 1990).<br />
Distribuição e movimentos: A espécie deve nidificar apenas no extremo Noroeste<br />
numa zona muito restrita e talvez na serra de Monchique (Algarve). Ocorre ainda em<br />
Portugal uma população migradora de passagem, sendo mais abundante no Sul do<br />
país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: A reduzida população nidificante do Noroeste do país tem preferência por<br />
matas de folhosas associadas a zonas abertas (Rufino, 1989). No estuário do Tejo tem<br />
preferência por zonas com árvores, arbustos e sebes (Leitão et al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nidificante nacional em cerca de 10 a<br />
100 casais.<br />
Família Aegithalidae<br />
Chapim-rabilongo, Aegithalos caudatus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
234<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo III da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Encontra-se distribuído por todo a país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta bosques húmidos como matas ribeirinhas e bosques de montanha,<br />
encostas sombrias de planície e planalto, carvalhais, sobreirais e pinhais (Rufino,<br />
1989). No estuário do Tejo ocorre nas zonas com vegetação ripícola (em especial<br />
salgueiros), montados de sobro e pinhais (Leitão et al., 1998).<br />
População: Tendo em conta as diferenças na abundância da espécie em diferentes<br />
habitats, na generalidade é mais abundante no Norte que no Sul (Rufino, 1989).<br />
Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 100.000 a 1.000.000 casais.<br />
Em 1991/92 as maiores densidades de chapim-rabilongo detectadas no estuário do<br />
Tejo, ocorreram no montado com sub-bosque (7 aves/ 10 ha) e no pinhal (9 aves/10<br />
ha) (Leitão et al., 1998). Em Junho de 2006 a espécie, foi mais abundante no montado<br />
misto com subcoberto arbustivo do que no montado de sobro sem subcoberto<br />
arbustivo, apresentando um abundância média de 1,33 aves em oposição a 0,5 aves<br />
observado no montado de sobro (Rocha, 2006a)<br />
Família Paridae<br />
Chapim-de-poupa, Parus cristatus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Encontra-se distribuído uniformemente por todo o país,<br />
apresentando algumas descontinuidades que resultam da falta de habitat, pelo menos<br />
no interior Centro e Sul do país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Espécie florestal, que ocorre montados de sobro e azinho, olivais na metade<br />
Sul do país. No Norte ocorre sobretudo em pinhais e ainda em matas de carvalhais<br />
(Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre nas zonas florestadas, especialmente em<br />
pinhais (Leitão et al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 100.000 a<br />
1.000.000 casais. Em 1991/92 as densidades de chapim-de-poupa em pinhais do<br />
estuário do Tejo (16 aves/10 ha) foram superiores às obtidas no montado com subbosque<br />
(2 aves/10 ha) (Leitão et al., 1998).<br />
Chapim-azul, Parus caeruleus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 235
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Encontra-se distribuído uniformemente por todo o país<br />
(Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta habitats florestais (é pouco abundante em pinhais), sebes com<br />
árvores, matas ribeirinhas, pomares, olivais, zonas de arvoredo, disperso e jardins<br />
urbanos (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre em montados, pinhais, zonas com<br />
vegetação ripícola, sebes e raramente caniçais (Leitão et al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional em mais de 1.000.000<br />
casais. Em 1991/92 o chapim-azul ocorreu no estuário do Tejo sobretudo em<br />
montados e pinhal com densidades até 27 aves/10 ha (Leitão et al., 1998). No<br />
montado misto com subcoberto arbustivo a espécie apresentou uma abundância 4,25<br />
aves, superior à obtida para o chapim-real, de 2,25 aves (Rocha, 2006a)<br />
Chapim-real, Parus major<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Encontra-se distribuído uniformemente por todo o país<br />
(Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta habitats florestais, de folhosas ou resinosas, e ainda outros<br />
habitats não florestais, como pomares, jardins públicos, sebes, matas ribeirinhas e<br />
mesmo matos com árvores dispersas (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre em<br />
montados, pinhais, sebes bem desenvolvidas e zonas com vegetação ripícola (Leitão<br />
et al., 1998).<br />
População: É aparentemente tão abundante a Norte como a Sul do país, verificandose<br />
diferenças apenas entre habitats (Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população<br />
nacional em mais de 1.000.000 casais. No estudo realizado no estuário do Tejo em<br />
1991/92 o chapim-real ocorreu no sobretudo em montados e pinhal com densidades<br />
até 24 aves/10 ha (Leitão et al., 1998).<br />
Família Sittidae<br />
Trepadeira-azul, Sitta europaea<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
236<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Distribuição e movimentos: Encontra-se distribuído uniformemente por todo o país,<br />
apresentando algumas descontinuidades que resultam da falta de habitat (Rufino,<br />
1989).<br />
Habitat: Espécie típica de floresta de folhosas, nomeadamente carvalhais, montados e<br />
soutos. Ocorre ainda em pinhais, embora com menor frequência e evita povoamentos<br />
dispersos ou constituídos por arvoredo jovem (Rufino, 1989). No estuário do Tejo<br />
ocorre especialmente em montados e pinhais (Leitão et al., 1998).<br />
População: As diferenças na abundância da espécie ao longo do país devem-se à<br />
existência de habitas favoráveis ou não, apresentando densidades elevadas em<br />
montados de sobro e azinho (Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população<br />
nacional em cerca de 10.000 a 100.000 casais. No estudo realizado no estuário do<br />
Tejo em 1991/92 a trepadeira-azul ocorreu no sobretudo em montados com subbosque<br />
e pinhal com densidades máximas de 7 e 10 aves/10 ha, respectivamente.<br />
Não foi registada no montado sem sub-bosque (Leitão et al., 1998). Em Junho de<br />
2006, a espécie, teve preferência pelo montado misto com coberto arbustivo em<br />
detrimento do montado de sobro sem coberto arbustivo. Dentro do montado misto foi<br />
mais abundante na Herdade de Camarate onde registou uma abundância média de 3<br />
aves (Rocha, 2006a).<br />
Família Certhiidae<br />
Trepadeira-comum, Certhia brachydactyla<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Encontra-se distribuído uniformemente por todo o país<br />
(Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta uma grande variedade de habitats, floresta de folhosas ou<br />
resinosas, pomares (em particular amendoais), olivais e matas ribeirinhas. Ocorre<br />
preferencialmente em povoamentos florestais densos e maduros, e é sobretudo uma<br />
espécie de planície e planalto (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre<br />
especialmente em montados, pinhais e outros habitats florestais (Leitão et al., 1998).<br />
População: Demonstra ser mais abundante na metade Sul da sua área de distribuição<br />
(Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 100.000 a<br />
1.000.000 casais. No estuário do Tejo a espécie não revela diferenças significativas<br />
nos vários biótopos em que a espécie ocorre, apresentando densidades máximas de 6<br />
a 8 aves/10 ha (Leitão et al., 1998). Em Junho de 2006, a espécie, teve preferência<br />
pelo montado misto com coberto arbustivo em detrimento do montado de sobro sem<br />
coberto arbustivo. Dentro do montado misto foi mais abundante na Herdade de<br />
Camarate onde registou uma abundância média de 2,3 aves (Rocha, 2006a)<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 237
Família Remizidae<br />
Chapim-de-faces-pretas, Remiz pendulinus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Quase Ameaçada.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo III da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Habitat: No estuário do Tejo ocorre em manchas de caniço e ocasionalmente outro<br />
tipo de vegetação palustre (Leitão et al., 1998).<br />
Família Oriolidae<br />
Papa-figos, Oriolus oriolus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
estival nidificante pouco comum, sendo observada entre os meses de Maio a Agosto<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Encontra-se distribuído por todo o país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Nidifica preferencialmente em habitats arborizados, nomeadamente<br />
povoamentos de árvores altas e frondosas, como as que marginam os cursos de água<br />
(por exemplo, choupos e freixos). Nidifica ainda em bosques mistos, pomares, parques<br />
em confluência com habitats mais abertos, árvores baixas com coberto arbustivo<br />
reduzido (quando não existem árvores de porte elevado) (Rufino, 1989). No estuário<br />
do Tejo ocorre especialmente em montados de sobro e zonas com vegetação ripícola<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 10.000 a<br />
100.000 casais.<br />
Família Laniidae<br />
Picanço-real, Lanius meridionalis<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribuído pelas planícies a Sul e pelas serranias a<br />
Norte e Centro do país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta habitats abertos, com árvores e arbustos isolados, onde faz o seu<br />
ninho. Ocorre tanto em zonas agrícolas como em dunas, pastagens ou matos<br />
238<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
dispersos (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre praticamente em todos os tipos<br />
de zonas abertas, excepto sapais e zonas entre marés (Leitão et al., 1998).<br />
População: É mais abundante nas planícies do Sul do que na restante área de<br />
nidificação (Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de<br />
10.000 a 100.000 casais.<br />
Picanço-barreteiro, Lanius senator<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como estival nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Quase<br />
Ameaçada. A nível internacional é considerada uma espécie Em Declínio pela BirdLife<br />
International (2004) e Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II<br />
da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Como nidificante distribui-se quase exclusivamente pelo<br />
Paleártico Ocidental, perimediterrânea. Ocorre desde o Norte de África e até à Europa<br />
Central e a Este alcança o Irão. Migrador subsariano, Inverna na África central (Cramp<br />
e Perrins 1993). Em Portugal apresenta uma distribuição muito alargada, mas<br />
encontra-se ausente da faixa ocidental do Norte do país (ICN, 2005).<br />
Habitat: Frequenta habitats agro-florestais, como montados abertos, mas também<br />
olivais, pomares, sebes e matas ribeirinhas (ICN, 2005). No estuário do Tejo tem<br />
preferência por montados de sobro e terrenos agrícolas adjacentes (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
População: A população nacional foi estimada como sendo superior a 10.000 aves. A<br />
espécie é mais comum e abundante no Sul do país, desconhecendo-se se encontra<br />
em declínio continuado (ICN, 2005). No estuário do Tejo durante a Primavera de 1992<br />
foram registadas densidades máximas de 2 e 8 aves/10 ha nos montados (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
Factores de ameaça: O efeito da utilização de biocidas na regressão desta espécie é<br />
referenciado para Espanha (Martí e Moral, 2003). O abandono da pastorícia extensiva,<br />
a expansão de mato, a instalação de povoamentos florestais, a eliminação de sebes e<br />
de bosques ripícolas, constituem ameaças à conservação da espécie. Tratando-se de<br />
uma ave migradora está sujeita a ameaças que operem na zona de invernada em<br />
África, nomeadamente a caça, secas prolongadas e alterações das práticas agrícolas<br />
(ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: Carece de monitorização à escala nacional e investigação<br />
ecológica de forma a conhecer a tendência populacional da espécie e possíveis<br />
ameaças; Devem ser conservadas extensas manchas de montado e bosquetes<br />
associados a áreas abertas; A espécie deve ser incluída no anexo I da Directiva Aves,<br />
é apontada como uma medida importante (ICN, 2005).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 239
Família Corvidae<br />
Gaio, Garrulus glandarius<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo D das Directivas Aves/Habitats e na Lei de Bases de<br />
Caça (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribuído por todo o território nacional (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Ave de floresta e bosque, em planície, planalto e montanha. Frequenta<br />
pinhal, carvalhais, montados e matas mistas de azinheiras e zambujeiros. Prefere<br />
matas com densidades médias, evitando montados muito abertos e as plantações<br />
densas de pinheiro e de eucalipto (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre em<br />
montados de sobro e pinhais (Leitão et al., 1998).<br />
População: Distribui-se de forma uniforme por todo o território nacional, embora seja<br />
um pouco mais abundante no Centro e Norte do país (Rufino, 1989). Rufino (1989)<br />
estimou a população nacional em cerca de 10.000 a 100.000 casais.<br />
Charneco, Cyanopica Cyanus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se pela metade Sul do território nacional, à<br />
excepção do Alto Alentejo onde a espécie está ausente, e pela Beira interior (Rufino,<br />
1989).<br />
Habitat: Frequenta principalmente bosque aberto em planície e planalto, ocorrendo<br />
ainda em montanha. Tem preferência por montados de sobro, mas ocorre ainda em<br />
pomares, pinhais, montados de azinho e bosques de carvalho-negral (Rufino, 1989).<br />
No estuário do Tejo ocorre em montados de sobro e pinhais (Leitão et al., 1998).<br />
População: É mais abundante na bacia dos rios Tejo e Sado do que na restante área<br />
de distribuição (Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca<br />
de 10.000 a 100.000 casais.<br />
Gralha-preta, Corvus corone<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo D das Directivas Aves/Habitats e na Lei de Bases de<br />
Caça (ICN, 2005).<br />
240<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Distribuição e movimentos: Distribui-se por todo o território nacional, à excepção de<br />
parte do Algarve (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Encontra-se associada a zonas mistas de terrenos agrícolas e bosques,<br />
particularmente pinhal. É mais comum em paisagens em mosaico do que em zonas de<br />
culturas extensivas (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre em zonas florestais,<br />
como montados e pinhais, e também campos de cultivo adjacentes (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
População: É mais abundante na região centro e oeste/noroeste do que no resto do<br />
país (Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 1.000 a<br />
10.000 casais.<br />
Família Sturnidae<br />
Estorninho-malhado, Sturnus vulgaris<br />
Fenologia: Em Portugal continental a espécie é invernante e no arquipélago dos<br />
Açores é residente. No estuário do Tejo ocorre como invernante pouco comum (Leitão<br />
et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental e Açores a espécie tem o estatuto de<br />
Pouco Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo D das Directivas Aves/Habitats<br />
e na Lei de Bases de Caça (ICN, 2005).<br />
Habitat: No estuário do Tejo ocorre em zonas florestais (especialmente em montados<br />
abertos), pastagens e terrenos de cultivo (Leitão et al., 1998).<br />
Estorninho-preto, Sturnus unicolor<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem o estatuto de Pouco Preocupante.<br />
A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN<br />
(2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se por todo o território nacional, sendo uma das<br />
espécies mais abundantes da avifauna nidificante Portuguesa (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta praticamente todos os habitats disponíveis em Portugal, à<br />
excepção das grandes manchas florestais resinosas. Tem preferência por paisagens<br />
em mosaico, com bosquetes ou montados e explorações agrícolas. Ocorre tanto ao<br />
nível do mar como acima dos 1000 m de altitude (Rufino, 1989). No estuário do Tejo<br />
ocorre em zonas florestais (especialmente em montados abertos), pastagens e<br />
terrenos de cultivo (Leitão et al., 1998).<br />
População: É mais abundante nas zonas mais orientais do país (Rufino, 1989). Rufino<br />
(1989) estimou a população nacional em cerca de 100.000 a 1.000.000 casais. No<br />
estuário do Tejo durante a Primavera de 1992 as maiores densidades foram<br />
registadas nos montados sem sub-bosque (12 aves/10 ha) (Leitão et al., 1998).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 241
Família Passeridae<br />
Pardal, Passer domesticus<br />
Fenologia: Em Portugal continental e arquipélago dos Açores (introduzida) a espécie<br />
é residente. No estuário do Tejo ocorre como residente nidificante comum (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto de Pouco<br />
Preocupante e nos Açores Não Aplicável. A nível internacional é considerada uma<br />
espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001).<br />
Distribuição e movimentos: Distribui-se por todo o território nacional, sendo uma das<br />
espécies mais abundantes da avifauna nidificante Portuguesa (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Ocorre geralmente associada a povoações humanas, quintas, fábricas,<br />
armazéns, etc. Não ocorre nas zonas mais elevadas das serranias e nas florestas<br />
densas e extensas (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre em zonas urbanas,<br />
florestais e agrícolas, bem como salgados e salinas (Leitão et al., 1998).<br />
População: É abundante em todo o país (Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a<br />
população nacional em cerca de mais de 1.000.000 casais. No estuário do Tejo<br />
durante o Inverno de 1991/92 as maiores densidades foram registadas nos restolhos<br />
de milho (64 e 96 aves/10 ha) e no girassol (21 e 90 aves/10 ha) (Leitão et al., 1998).<br />
Pardal-montêz, Passer montanus<br />
Fenologia: Em Portugal é uma espécie residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal é uma espécie Pouco Preocupante. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela IUCN (2001). Está<br />
incluída no anexo III da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Embora esteja presente em Portugal continental, os<br />
dados são insuficientes para caracterizar a sua distribuição. Contudo, segundo Rufino<br />
(1989), esta espécie é pouco comum no interior e sul e mais comum no litoral norte e<br />
centro do país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Pode ser encontrado em zonas agrícolas, de cultura não arvense, em<br />
mosaico associada a bosquetes de folhosas. No interior do Alentejo, frequenta em<br />
especial matas ribeirinhas próximas de explorações agrícolas (Rufino, 1989). No<br />
Estuário do Tejo ocorre em montados, sebes e terrenos agrícolas adjacentes e<br />
arrozais. Encontra-se menos associado aos meios humanizados do que o pardal<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional como no intervalo de<br />
100.000 e 1000.000 casais. No Estuário do Tejo, no estudo realizado em 1991/92, a<br />
densidade de pardal-montês foi maior nos arrozais (máximo de 4 aves/10 ha) e no<br />
montado sem sub-bosque (máximo de 8 aves/10 ha) (Leitão et al., 1998). Em Junho<br />
de 2006, a espécie foi observada em maior número junto de um açude, juntamente<br />
com o pardal, apresentando uma abundância média de 1,67 aves (rocha, 2006a)<br />
242<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Pardal-francês, Petronia petronia<br />
Fenologia: Em Portugal continental e arquipélago da Madeira é uma espécie<br />
residente. No estuário do Tejo ocorre como residente nidificante comum (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental a espécie tem o estatuto Pouco<br />
Preocupante, no entanto é considerada Vulnerável na Madeira. A nível internacional é<br />
considerada uma espécie Não Ameaçada pela BirdLife International (2004) e Pouco<br />
Preocupante pela IUCN (2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna<br />
(ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Apresenta distribuição pelo Sul da Europa, Norte de<br />
África, Médio Oriente e da Ásia Central até ao Leste da Manchúria (Hagemeijer e Blair,<br />
1997). No Arquipélago da Madeira ocorre nas ilhas da Madeira e Porto Santo (existem<br />
ainda registos de nidificação nas Desertas) (ICN, 2005).<br />
Habitat: Pode ser encontrado em locais com vegetação rasteira, falésias sobre o mar<br />
e áreas cultivadas (ICN, 2005). No Estuário do Tejo ocorre em zonas florestais,<br />
sobretudo montados de sobro (Leitão et al., 1998).<br />
População: No Arquipélago da Madeira, de acordo com os levantamentos efectuados<br />
para o novo Atlas das Aves que nidificam em Portugal, estima-se que a população<br />
deverá situar-se entre 250 e 2.500 indivíduos maturos (Oliveira e Menezes 2004). No<br />
Estuário do Tejo, no estudo realizado em 1991792 foi mais abundante no montado<br />
sem sub-bosque (máximo de 12 aves710ha) do que nos restantes habitats florestais<br />
(Leitão et al., 1998). Rufino (1989) estimou a população nacional como sendo de<br />
10.000 a 100.000 casais.<br />
Factores de ameaça: Embora não existam dados concretos que confirmem, uma das<br />
explicações para o declínio populacional e redução drástica da área de distribuição<br />
desta espécie é a existência de competição com o pardal-espanhol Passer<br />
hispaniolensis. Contudo, hoje em dia esta ameaça não existe, devido ao declínio<br />
acentuado do pardal-espanhol (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: Não existe um plano de acção ou qualquer medida de<br />
gestão dirigida a esta espécie, no entanto, algumas áreas do seu habitat estão<br />
incluídas em zonas protegidas com estatuto de Reserva Integral e de Reserva Parcial.<br />
Será importante a realização de monitorização, para definir a tendência populacional,<br />
de forma a que possam ser tomadas medidas adequadas (ICN, 2005).<br />
Família Estrildidae<br />
Bico-de-lacre, Estrilda astrild<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é não indígena com nidificação provável ou<br />
confirmada (ICN, 2005). No estuário do Tejo ocorre como residente nidificante comum<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie tem um estatuto Não Aplicável. Está<br />
incluída nos anexos da convenção CITES (Anexo C) e da lei que regula a introdução<br />
na natureza de espécies não-indígenas da flora e da fauna (Anexo I) (ICN, 2005).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 243
Distribuição e movimentos: O bico-de-lacre ocorre a Sul do Sara, nomeadamente da<br />
Guiné-Bissau à Costa do Marfim e do Leste do Gana à Etiópia. Para Sul pode ser<br />
observado de forma fragmentada até à África do Sul (Matias, 2002). Em Portugal foi<br />
inicialmente introduzido em Óbitos, em 1967 (Xavier, 1968) e posteriormente noutros<br />
locais, nomeadamente no vale do Tejo, ocupa hoje uma grande parte do habitat onde<br />
foi inicialmente introduzido, estando a colonizar novos habitats. A sua distribuição temse<br />
alargado continuamente nos últimos anos (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Ocorre em caniçais e sebes bem desenvolvidas e próximas de água, e matas<br />
ribeirinhas com denso coberto arbustivo (Rufino, 1989). No estuário do Tejo ocorre em<br />
caniçais, salinas, cultivos de regadio, sebes, margens de valas, ribeiras e açudes<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
População: É particularmente abundante nos vales do Sado, Tejo, Sorraia e Mondego<br />
(Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 10.000 a<br />
100.000 casais.<br />
Família Fringillidae<br />
Tentilhão, Fringilla coelebs<br />
Fenologia: Em Portugal continental e nos arquipélagos dos Açores e da Madeira a<br />
espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como residente nidificante e<br />
invernante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental e ilhas é uma espécie Pouco<br />
Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante<br />
pela (IUCN, 2001). Está incluída no anexo III da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: O tentilhão apresenta uma distribuição muito ampla no<br />
nosso país, embora sua abundância não seja uniforme em todas as regiões,<br />
dependendo do habitat disponível (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Ocorre e nidifica praticamente em todo o tipo de habitat onde exista arvoredo.<br />
Tem preferência por bosques mistos com cobertura arbustiva, em confluência com<br />
culturas agrícolas, sebes vivas, pomares, montados, parques e jardins (Rufino, 1989).<br />
No Estuário do Tejo ocorre em habitats florestais e terrenos agrícolas adjacentes<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional em mais de 1.000.000<br />
casais. No Estuário do Tejo, num estudo realizado em 1991/92, a espécie ocorreu de<br />
forma mais regular e com maior abundância no montado sem sub-bosque (densidade<br />
entre 7 e 12 aves/10 ha). É aparentemente ausente nos meses de Verão (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Chamariz, Serinus serinus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
244<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Estatuto de Protecção: Em Portugal a espécie é Pouco Preocupante. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante pela (IUCN, 2001). Está<br />
incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: O chamariz apresenta uma distribuição muito alargada<br />
no nosso país, sendo talvez a espécie mais comum da nossa avifauna nidificante<br />
(Rufino, 1989).<br />
Habitat: Ocorre e nidifica numa grande variedade de habitat tanto em zonas humanas<br />
como em zonas inóspitas. Tem preferência por jardins, pomares, parques, bosques de<br />
qualquer natureza, culturas agrícolas em confluência com matas ribeirinhas ou sebes<br />
vivas, dunas com pequenos povoamentos de pinheiro, etc. No Estuário do Tejo ocorre<br />
sobretudo em terrenos arborizados, no Outono e Inverno ocorre ainda em pastagens e<br />
cultivos na lezíria (Leitão et al., 1998).<br />
População: É igualmente abundante no Norte e Sul do país (Rufino, 1989). Rufino<br />
(1989) estimou a população nacional em mais de 1.000.000. No Estuário do Tejo,<br />
durante o Inverno de 1991/92, as maiores densidades da espécie foram registadas<br />
nas pastagens permanentes e no restolho de girassol (máximos de 5 e 30 aves/10 ha,<br />
respectivamente). Na Primavera seguinte, as densidades máximas registaram-se no<br />
montado sem sub-bosque e no pinhal (15 e 16 aves/10 ha, respectivamente) (Leitão et<br />
al., 1998).<br />
Verdilhão, Carduelis chloris<br />
Fenologia: Em Portugal continental e nos arquipélagos dos Açores e da Madeira a<br />
espécie é residente (foi introduzida nos Açores). No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental e no arquipélago da Madeira é uma<br />
espécie Pouco Preocupante, na Madeira Não é Aplicável. A nível internacional é<br />
considerada uma espécie Pouco Preocupante (IUCN, 2001). Está incluída no anexo II<br />
da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: O verdilhão tem uma distribuição muito alargada no<br />
nosso país, sendo mais abundante no litoral, Oeste e Sul, do que no interior (Rufino,<br />
1989).<br />
Habitat: Tem uma preferência marcada por zonas mistas (dependente da presença de<br />
árvores), estando bem adaptado aos povoamentos de resinosas, nomeadamente de<br />
pinheiro-manso (Rufino, 1989). No Estuário do Tejo ocorre em habitats florestais e por<br />
vezes na lezíria e caniçais (Leitão et al., 1998).<br />
População: Rufino (1989) estimou a população nacional em mais de 1.000.000<br />
casais. No Estuário do Tejo, em 1991/92, as maiores densidades de verdilhão foram<br />
registadas no restolho de arroz e (4 aves/10 ha,) durante o Inverno e no pinhal (9<br />
aves/10 ha) na Primavera (Leitão et al., 1998).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 245
Pintassilgo, Carduelis carduelis<br />
Fenologia: Em Portugal continental e nos arquipélagos dos Açores e da Madeira a<br />
espécie é residente (foi introduzida nos Açores). No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante e invernante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental e no arquipélago da Madeira é uma<br />
espécie Pouco Preocupante, na Madeira Não é Aplicável. A nível internacional é<br />
considerada uma espécie Pouco Preocupante (IUCN, 2001). Está incluída no anexo II<br />
da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: O pintassilgo tem uma distribuição muito alargada no<br />
nosso país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta zonas mistas, com árvores dispersas, orla de bosques em<br />
confluência com campos agrícolas, sebes vivas, pomares, jardins, etc. (Rufino, 1989).<br />
No Estuário do Tejo ocorre em habitats florestais, sebes, pastagens e cultivos na<br />
lezíria (Leitão et al., 1998). O pintassilgo surge nos sapais do Tejo, apresentando uma<br />
maior frequência no talude que margina a faixa deste habitat (Crespo, 1993).<br />
População: É particularmente abundante no litoral Centro e Sudoeste e ainda no<br />
Algarve (Rufino, 1989). Rufino (1989) estimou a população nacional em mais de<br />
1.000.000 casais. No Estuário do Tejo, em 1991/92, as maiores densidades de<br />
pintassilgo foram registadas no restolho de girassol e na pastagem permanente<br />
(máximo de 121 e 65 aves/10 ha, respectivamente) durante o Inverno e no pinhal<br />
(máximo de 14 aves/10 ha) na Primavera (Leitão et al., 1998).<br />
Lugre, Carduelis spinus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é invernante. No estuário do Tejo ocorre como<br />
invernante pouco comum, sendo observado entre os meses de Outubro a Fevereiro<br />
(Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal é uma espécie Pouco Preocupante. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante (IUCN, 2001 in ICN,<br />
2005). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Habitat: No Estuário do Tejo ocorre em habitats florestais e sebes (Leitão et al., 1998).<br />
Pintarroxo, Carduelis cannabina<br />
Fenologia: Em Portugal continental e arquipélago da Madeira a espécie é residente.<br />
No estuário do Tejo ocorre como residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal continental e Madeira é uma espécie Pouco<br />
Preocupante. A nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante<br />
(IUCN, 2001). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: O pintarroxo tem uma ampla zona de distribuição no<br />
nosso país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Como nidificante tem preferência por zonas que apresentam coberto<br />
arbustivo denso e alto, com árvores dispersas. Ocorre em dunas, orla de estuários,<br />
salinas, urzais em zonas de montanha (mesmo acima dos 1000 m de altitude). No<br />
Estuário do Tejo ocorre em terrenos abertos, nomeadamente salinas, sapais e na<br />
246<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
lezíria (Leitão et al., 1998). No estuário do Tejo a espécie parece ocorrer com<br />
preferência nos taludes que marginam a faixa de sapal e nos biótopos onde<br />
predominam Halimione portucaloides e Arthroncemum perenne, A. Fruticosum e A.<br />
Glaucum. Podem-se, assim, encontrar em zonas de sapal alto e zonas limítrofes onde<br />
os machos encontram postos de canto ou observação (Crespo 1993).<br />
População: A sua abundância varia conforme o habitat, parecendo ser um pouco<br />
mais abundante no Norte e Centro do que no Sul (Rufino, 1989). Rufino (1989)<br />
estimou a população nacional em cerca de 100.000 a 1.000.000 casais (Rufino, 1989).<br />
No Estuário do Tejo, em 1991/92, as densidades máximas de pintarroxo foram<br />
registadas no sapal e restolho de girassol (44 e 33 aves/10 ha, respectivamente). Na<br />
Primavera a espécie ocorreu em cinco classes diferentes de sapal, em densidades<br />
que oscilaram entre 0,27 e 1,67 casais/10 ha (Leitão et al., 1998).<br />
Bico-grossudo, Coccothraustes coccothraustes<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal é uma espécie Pouco Preocupante. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante (IUCN, 2001 in ICN,<br />
2005). Está incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: O bico-grossudo é uma espécie que nidifica em baixas<br />
densidades e a sua nitidez torna a sua detectabilidade reduzida, dificultando a<br />
determinação da sua distribuição exacta no nosso país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Ocorre principalmente em dois tipos de habitats: um misto de pequenas<br />
explorações agrícolas, pomares e bosques de árvores frondosas (no interior Norte do<br />
e algumas zonas do Algarve); os pinhais de pinheiro-manso, simples ou associados<br />
com sobro (bacias do Tejo e Sado) (Rufino, 1989). No Estuário do Tejo ocorre em<br />
zonas florestais, em particular montados de sobro, pinhais de pinheiro-manso e zonas<br />
com vegetação ripícola (Leitão et al., 1998).<br />
População: A sua abundância varia conforme o habitat, parecendo ser um pouco<br />
mais abundante no Norte e Centro do que no Sul (Rufino, 1989). Rufino (1989)<br />
estimou a população nacional em cerca de 100.000 a 1.000.000 casais. No Estuário<br />
do Tejo, em 1991/92, as densidades máximas de pintarroxo foram registadas no sapal<br />
e restolho de girassol (44 e 33 aves/10 ha, respectivamente). Na Primavera a espécie<br />
ocorreu em cinco classes diferentes de sapal, em densidades que oscilaram entre 0,27<br />
e 1,67 casais/10 ha (Leitão et al., 1998).<br />
Família Emberizidae<br />
Escrevedeira, Emberiza cirlus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante pouco comum (Leitão et al., 1998).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 247
Estatuto de Protecção: Em Portugal é uma espécie Pouco Preocupante. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante (IUCN, 2001). Está<br />
incluída no anexo II da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: apresenta uma distribuição bem delimitada, estando a<br />
espécie ausente das zonas mais áridas do Sul do país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Ocorre principalmente na orla de vários habitats, nomeadamente montados,<br />
pinhais, pomares, olivais e mosaicos agrícolas. Na Estremadura ocorre ainda em<br />
zonas abertas de mato com afloramentos rochosos (Rufino, 1989). No Estuário do<br />
Tejo ocorre em zonas florestais e terrenos agrícolas adjacentes (Leitão et al., 1998).<br />
População: É aparentemente mais abundante no Oeste e Norte da sua área de<br />
distribuição, ocorrendo normalmente em densidades baixas (Rufino, 1989). Rufino<br />
(1989) estimou a população nacional em cerca de 10.000 a 100.000 casais.<br />
Sombria, Emberiza hortulana<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é estival nidificante. No estuário do Tejo ocorre<br />
como migradora de passagem rara (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal é uma espécie com Informação insuficiente. A<br />
nível internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante (IUCN, 2001). Está<br />
incluída nos anexos da convenção de Berna (Anexo III) e das directivas Aves/Habitats<br />
(Anexo A-I) (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: A área de nidificação da espécie estende-se desde o<br />
Norte do Mediterrâneo ao círculo árctico até à Ásia Central (Hagemeijer e Blair, 1997).<br />
Em Portugal distribui-se principalmente no Centro Norte do continente, geralmente em<br />
altitudes superiores a 800 m (Rufino, 1989; ICN, dados não publicados).<br />
Habitat: Ocorre no mosaico paisagístico de urzais e pastagem em zonas de<br />
montanha, normalmente com blocos de pedra (Rufino, 1989). No Estuário do Tejo<br />
ocorre em campos abertos e salinas (Leitão et al., 1998).<br />
População: Não existem censos dirigidos para esta espécie, contudo através dos<br />
trabalhos realizados para o Novo Atlas, a população foi estimada em 250 a 2.500<br />
aves. Desconhece-se a tendência da população (ICN, 2005).<br />
Factores de ameaça: Alterações nas paisagens rurais onde ocorre, as quais incluem<br />
perda de sebes arbóreas e arbustivas, redução da diversidade de cultivos, são as<br />
principais ameaças da espécie (Tucker e Heath, 1994). Em Portugal, as ameaças à<br />
espécie são desconhecidas (ICN, 2005).<br />
Medidas de Conservação: São necessárias estimativas exactas da sua abundância e<br />
distribuição, bem como estudos sobre a sua ecologia (ICN, 2005).<br />
Escrevedeira-dos-caniços, Emberiza shoeniclus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente e invernante. No estuário do Tejo<br />
ocorre como residente nidificante pouco comum e invernante comum (Leitão et al.,<br />
1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal a população residente tem o estatuto de<br />
Vulnerável e a população invernante é Pouco Preocupante. A nível internacional é<br />
248<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
considerada uma espécie Pouco Preocupante (IUCN, 2001). Está incluída no anexo II<br />
da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Existem várias subespécies que ocorrem desde a<br />
Europa Ocidental até ao Japão e ilha de Sacalina, e desde a zona subártica até à zona<br />
quente continental da Ásia Central (Hagemeijer e Blair, 1997). Em Portugal, durante a<br />
época de nidificação ocorre sobretudo a Norte do Tejo, de forma muito localizada em<br />
zonas húmidas litorais, mas também algumas interiores. A população invernante<br />
apresenta uma distribuição mais alargada por todo o país (ICN, 2005).<br />
Habitat: Ocorre em caniçais, juncais, valas de arroz com vegetação bem desenvolvida<br />
e outras zonas húmidas de água doce ou salobra (Rufino, 1989). No Estuário do Tejo<br />
ocorre em caniçais, sapais e restolhos de arroz (Leitão et al., 1998).<br />
População: A população nidificante foi estimada como sendo inferior a 1.000 aves,<br />
estando maioritariamente localizada na ria de Aveiro. A tendência da população é<br />
desconhecida, contudo existem evidências de redução na área de habitat e mesmo<br />
extinções locais (ICN, 2005). No Estuário do Tejo, durante o Inverno de 1991/92, as<br />
densidades máximas foram registadas no sapal e no restolho de arroz (19 e 16<br />
aves/10 ha, respectivamente). No estudo da avifauna dos sapais, a espécie ocorreu<br />
em cinco classes diferentes de sapal, em densidades que oscilaram entre 0,07 e 2,00<br />
casais/10 ha (Leitão et al., 1998). Segundo Crespo (1993) a espécie predomina em<br />
manchas de sapal baixo e de transição, dominadas por Halimione portucaloide e<br />
marginadas por manchas de Scripus sp., apresentando uma densidade de 2,5 casais/<br />
10 ha.<br />
Factores de ameaça: Drenagem de zonas húmidas (principalmente na ria de Aveiro),<br />
corte de vegetação durante o período de nidificação (Neto, 2003).<br />
Medidas de Conservação: Evitar a drenagem de zonas húmidas; - O corte do caniço<br />
e junco apenas deverá ser efectuado de Setembro a Fevereiro, inclusive (ICN, 2005).<br />
Trigueirão, Miliaria calandra<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é residente. No estuário do Tejo ocorre como<br />
residente nidificante comum (Leitão et al., 1998).<br />
Estatuto de Protecção: Em Portugal é uma espécie Pouco Preocupante. A nível<br />
internacional é considerada uma espécie Pouco Preocupante (IUCN, 2001). Está<br />
incluída no anexo III da convenção de Berna (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: apresenta uma distribuição alargada em todo o território,<br />
estando a espécie ausente em parte da zona Centro - Oeste do país (Rufino, 1989).<br />
Habitat: Frequenta uma grande variedade de habitats abertos, sem árvores ou com<br />
árvores dispersas, como culturas arvenses extensivas, matos de estevas e de giesta<br />
com clareiras, zonas montanhosas até aos 800 m de altitude. Evita pequenas<br />
manchas e paisagens muito compartimentada (Rufino, 1989). No Estuário do Tejo<br />
ocorre na lezíria em outras zonas abertas (Leitão et al., 1998). Não sendo uma<br />
espécie típica de sapal ocorre neste habitat predominantemente nas zonas marginais,<br />
com densidades que podem ascender a 4,63 casais/ 10 ha (Crespo 1993).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 249
População: É mais abundante na metade Sul da sua área de distribuição (Rufino,<br />
1989). Rufino (1989) estimou a população nacional em cerca de 100.000 a 1.000.000<br />
casais. No Estuário do Tejo, durante o Inverno de 1991/92, as densidades máximas<br />
foram registadas no restolho de arroz e no cereal (29 e 10 aves/10 ha,<br />
respectivamente) e na Primavera foram máximas nas pastagens e cultivos forrageiros<br />
(8 e 5 aves/10 ha, respectivamente) (Leitão et al., 1998).<br />
1.3.2.2.18 Espécies exóticas que ocorrem no estuário do tejo<br />
Família Psittacidae<br />
Periquito-de-colar, Psittacula Krameri<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é não indígena com nidificação provável ou<br />
confirmada.<br />
Estatuto de Protecção: Não Aplicável (ICN, 2005)<br />
Distribuição e movimentos: Espécie de distribuição alargada, podendo ser<br />
encontrado em África, numa estreita faixa a Sul do Sara desde o Sul da Mauritânia à<br />
Eritreia e Etiópia. Na Ásia ocorre no Paquistão e da Índia ao Sudeste da China. Em<br />
Portugal ocorre sobretudo na região de Lisboa, existindo observações no noutros<br />
locais do país, como Pancas (Benavente), na região do grande Porto, Comporta<br />
(Alcácer do Sal) (onde a espécie tem nidificação confirmada), Guimarães, Torres<br />
Novas, Reserva Natural do Paul do Boquilobo e Amadora (Matias, 2002).<br />
Habitat: Ocorre principalmente em grandes jardins urbanos (Matias, 2002).<br />
População: No estuário do Tejo, nomeadamente em Pancas foi observado nos finais<br />
de 1970 o primeiro registo da espécie em Portugal (Matias, 2002).<br />
Família Ploceidae<br />
Tecelão-de-cabeça-preta, Ploceus melanocephalus<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é não indígena com nidificação provável ou<br />
confirmada.<br />
Estatuto de Protecção: Não Aplicável (ICN, 2005)<br />
Distribuição e movimentos: Espécie que se distribui pela África a Sul do Sara<br />
ocorrendo desde o Sul da Mauritânia ao Nordeste do Sudão e, para Sul, até ao Norte<br />
da Zâmbia. A presença deste tecelão no nosso país é muito recente, tendo sido<br />
observada pela primeira vez em 1996 na Herdade de Barroca D’Alva (Alcochete). A<br />
partir dessa data foi observado em diversos locais, Algarve (nidificação no caniçal de<br />
Vilamoura, Loulé), é comum no Paul da Tornada (Caldas da Rainha), Paul das<br />
Caniceiras (Loures), Paul do Boquilobo (Golegã). Aparentemente está a expandir as<br />
suas áreas de ocorrência, quer devido a novas fugas de cativeiro quer, possivelmente,<br />
devido a uma dispersão a partir dos locais de nidificação já existente (Matias, 2002).<br />
250<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Habitat: Ocorre principalmente em zonas de caniçal como os pauis. Nos seus locais<br />
de nidificação compete directamente com o rouxinol-grande-dos-caniços e com o<br />
rouxinol-pequeno-dos-caniços (Matias, 2002).<br />
População: No estuário do Tejo, nomeadamente na Herdade de Barroca d’Alva foi o<br />
primeiro local onde a espécie foi observada em Portugal, em 1996 (Matias, 2002).<br />
Pardal-de-bico-vermelho, Quelea quelea<br />
Fenologia: Em Portugal é uma espécie não indígena, com nidificação provável.<br />
Estatuto de Protecção: Não Aplicável (ICN, 2005)<br />
Distribuição e movimentos: Ocorre numa grande parte da África subsariana,<br />
nomeadamente desde o Senegal, Gambia e Guiné-Bissau, estendendo-se numa faixa<br />
até ao Chade, ocorrência ainda da Eritreia, Somália e Quénia até à África do Sul e<br />
Namíbia (Matias, 2002). Existem poucas observações da espécie em Portugal, sendo<br />
esses locais a Lagoa de Santo André (Santiago do Cacém), Ponta da Erva (Vila<br />
Franca de Xira), Cabo Espichel (Sesimbra), Gafanha do Areão (Mira) e no Paul da<br />
Madriz (Soure).<br />
Habitat: Ocorre principalmente em zonas de cultivo, como o arrozal (Matias, 2002).<br />
População: O estatuto desta espécie permanece incógnito. A sua nidificação não está<br />
confirmada, não sendo conhecida nenhuma área de ocorrência regular no país. Foi<br />
observado um bando de 15 aves na Ponta da Erva, nos finais de Março de 1998<br />
(Matias, 2002).<br />
Bispo-de-coroa-amarela, Euplectes afer<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é não indígena com nidificação provável ou<br />
confirmada.<br />
Estatuto de Protecção: Não Aplicável (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Tem uma distribuição bastante alargada a Sul do Sara,<br />
embora descontínua e fragmentada, ocorrendo no Senegal, Gambia, Guiné-Bissau<br />
para Leste até ao Oeste do Sudão e para Sul, até à África do Sul. Ocorre ainda na<br />
Etiópia, no Quénia e na Tanzânia. Os primeiros registos da espécie foram obtidos em<br />
1980 no Algarve. Actualmente tem uma área de distribuição muito alargada no nosso<br />
país, podendo ser encontrado ao longo de quase toda a zona litoral, embora de forma<br />
descontínua (Matias, 2002).<br />
Habitat: Ocorre principalmente em zonas de arrozal e de caniçal. Actualmente a<br />
espécie ocorre apenas numa parte do habitat disponível, sendo de esperar que a sua<br />
expansão continue (Matias, 2002).<br />
População: O estuário do Tejo é um dos principais locais de ocorrência de espécie<br />
em Portugal (o outro situa-se na Quinta do Canal), sendo observada em diversos<br />
locais. O mais importante parece ser a zona de arrozal na Herdade de Barroca D’Alva,<br />
pode ser ainda observada na Ponta da Erva, e nos arrozais de Porto de Montalvo e<br />
Corte Marquesa. A população desta área foi estimada em 70 aves, podendo a<br />
população nidificante nacional contar com um mínimo de 200 aves (Matias, 2002).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 251
Durante o Inverno foram observadas na Ponta da Erva 30 aves (15/04/1992) e 10 aves<br />
(10/11/1999) (Matias, 2002).<br />
Bispo-vermelho, Euplectes orix<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é não indígena com nidificação provável ou<br />
confirmada.<br />
Estatuto de Protecção: Não Aplicável (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Ocorre na África meridional desde o Uganda até à África<br />
do Sul. É muitas vezes observado nos mesmos locais frequentados pelo bispo-decoroa-amarela<br />
(ao longo de quase toda a zona litoral), mas sempre em número<br />
reduzido, é observado de forma regular na Quinta do Canal e Barrinha de Esmoriz,<br />
embora em números reduzidos. Existem ainda observações de indivíduos isolados em<br />
várias zonas do país (Matias, 2002).<br />
Habitat: Ocorre principalmente em zonas de arrozal e de caniçal (Matias, 2002).<br />
População: Foram observados machos isolados em plumagem nupcial em Agosto de<br />
1996 na Herdade de Barroca D’Alva (Matias, 2002).<br />
Família Estrildidae<br />
Bengali-vermelho, Amandava amandava<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é não indígena com nidificação provável ou<br />
confirmada (ICN, 2005).<br />
Estatuto de Protecção: m Portugal a espécie tem um estatuto Não Aplicável. Está<br />
incluída nos anexos da convenção CITES (Anexo C) e da lei que regula a introdução<br />
na natureza de espécies não-indígenas da flora e da fauna (Anexo I) (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Ocorre no Sul da Ásia ao Norte da Oceânia, podendo<br />
ser encontrado do Centro do Paquistão ao Sudoeste da China. Ocorre ainda na<br />
Tailândia, Cambodja, Vietname (Sul) e ainda nas Ilhas de Java, Bali, Lombok, Flores,<br />
Sumba, Roti e Timor (Matias, 2002). Os primeiros registos de bengali-vermelho na<br />
Península ibérica ocorreram no início dos anos de 1970. A espécie expandiu-se<br />
rapidamente pelo vale do Guadiana até chegar à fronteira portuguesa, possivelmente<br />
no início dos anos 1980. É na zona de Elvas, junto aos rios Caia e Guadiana, na<br />
continuidade da área de distribuição espanhola, que a espécie ocorre hoje em maior<br />
número, tendo sido estimada em pelo menos 2.000 indivíduos. Ocorre ainda no<br />
estuário do Tejo em diversas zonas, no Algarve, Barrinha de Esmoriz (Ovar), estuário<br />
do Sado, etc. (Matias, 2002).<br />
Habitat: Ocorre principalmente em zonas de caniçal (Matias, 2002).<br />
População: O estuário do Tejo é a segunda área mais importante do país para o<br />
bengali-vermelho, ocorrendo em diversos locais e em ambas as margens. Foi<br />
observado na Herdade de Barroca D’Alva (Alcochete), Paul das Carniceiras (Loures),<br />
perto da Base área da Ota (Alenquer) e no Rio Frio (Montijo) (Matias, 2002). Na<br />
Herdade de Barroca D’Alva, ocorre de forma regular, tendo sido observado um<br />
252<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
máximo de 10 a 15 aves em 9/04/1994 (Matias, 2002). Foi ainda, observado um<br />
macho na Ponta da Erva em 19/10/89 (Leitão et al., 1998).<br />
Bico-de-chumbo-de-cabeça-preta, Lonchura malacca<br />
Fenologia: Em Portugal a espécie é não indígena com nidificação provável ou<br />
confirmada (ICN, 2005).<br />
Estatuto de Protecção: m Portugal a espécie tem um estatuto Não Aplicável. Está<br />
incluída nos anexos da convenção CITES (Anexo C) e da lei que regula a introdução<br />
na natureza de espécies não-indígenas da flora e da fauna (Anexo I) (ICN, 2005).<br />
Distribuição e movimentos: Ocorre numa vasta área no Sul e Sudeste da Ásia.<br />
(Matias, 2002). Ocorre ao longo do rio Arade, do Portimão a Silves. Desconhece-se a<br />
dimensão da população local, sendo as observações referentes à subespécie L. m.<br />
atricapilla. O bico-de-chumbo-de-cabeça-preta foi observado ainda na Barrinha de<br />
Esmoriz (Ovar), Salreu e Estarreja (Aveiro) e foram capturados dois indivíduos na<br />
Lagoa de Santo André (Matias, 2002).<br />
Habitat: Ocorre principalmente em zonas de caniçal (Matias, 2002).<br />
População: A espécie ocorre regularmente desde 1992, na Herdade de Barroca<br />
d’Alva, onde foram observados um máximo de 15 aves em Junho de 1992 (Matias,<br />
2002).<br />
1.3.3 Mamíferos<br />
Os mamíferos não marinhos são um grupo que apresenta 78 espécies descritas em<br />
Portugal, das quais 27 são mamíferos voadores, pertencentes à Ordem Quiróptera. A<br />
área de estudo apresenta uma considerável variedade de habitats entre zonas<br />
agrícolas, montados, floresta de produção, áreas alagadas, zonas salobras, ilhas e<br />
águas estuarinas. No entanto, muitas das áreas são propriedade privada,<br />
encontrando-se vedadas, o que dificulta o movimento dos animais de locomoção<br />
terrestre e dimensões médias entre parcelas. Por outro lado a área de estudo<br />
apresenta-se consideravelmenrte humanizada e relativamene fragmentada, o que a<br />
torna menos adequada à sobrevivencia das espécies menos tolerantes à espécie<br />
humana.<br />
1.3.3.1 Habitats<br />
Os mamíferos na área de estudo distribuem-se por biótopos muitos variados, sendo<br />
indicadas as suas preferências por espécie e por grupo, pois apresentam muitas vezes<br />
hábitos ecológicos semelhantes.<br />
1.3.3.1.1 Insectívoros<br />
O grupo dos insectívoros, no estuário do Tejo, é representado por três espécies por<br />
vezes associadas a habitats humanizados. São espécies relativamente comuns e com<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 253
ampla distribuição na Europa. Ocorrem principalmente nos biótopos agrícolas, na zona<br />
urbanas (jardins, quintais), áreas florestadas autóctones.<br />
1.3.3.1.2 Quiropteros<br />
Os Quiropteros assumem elevada importância em termos conservacionistas pois,<br />
entre as 25 espécies referenciadas para Portugal continental, apenas 5 apresentam<br />
estatuto de Pouco Preocupante. Das restantes, 9 encontram-se ameaçadas e 9 com<br />
Informação insuficiente ou Não avaliadas. A importância deste grupo é confirmda pelo<br />
facto de todas espécies existentes no país se encontrarem classificadas nas<br />
convenções de Bona e de Berna e na Directiva (das quais 10 no Anexo B-II e 25 no<br />
Anexo B-IV do D.L. nº 49/2005 de 24 de Fevereiro).<br />
Na área de estudo foram identificadas 10 espécies de morcegos 14 abrigos activos de<br />
morcegos, todos localizados em edifícios. No entanto, a importância destes abrigos é<br />
relativamente baixa (Rainho, 1997).<br />
No que se refere aos habitats de ocorrência, os habitats aquáticos, albufeiras e<br />
ribeiros mostram ser os mais importantes, seguidos do montado e das pastagens (de<br />
sequeiro). Por outro lado os pinhais, zonas agrícolas (arrozais e lezírias), salinas<br />
(activas ou não), zonas urbanas apresentam uma importância moderada, enquanto os<br />
habitats sapal, aquacultura e eucaliptal não se regista nenhuma ocorrência.<br />
Os biótopos terrestres montados e pastos mostram maior riqueza específica, com 4<br />
espécies registadas, enquanto os aquáticos obtém maior número de encontros<br />
(abundância) e menos de espécies (2 espécies). As espécies referenciadas para a<br />
área de estudo são indicadas no Quadro 1.3.2.<br />
A maior parte das espécies são comuns em Portugal, não estando ameaçadas.<br />
Salienta-se a presença do morcego-arboricola-pequeno (Nyctalus leisleri) que foi<br />
encontrado em vários locais da área de estudo (ver carta [17], fauna) que apresenta<br />
um estatuto de vulnerável a nível nacional.<br />
Em relação a outras espécies com estatuto de conservação desfavorável, como o<br />
morcego-de-peluche ou indeterminadas, como o morcego-rabudo apenas apresentam<br />
referências do início do Século XX (1910), não tendo sido confirmadas em estudos<br />
mais recentes (Rainho, 1997). As principais ameaças a este grupo são:<br />
• A falta de local de abrigo, um factor que poderá justificar a ausência de uma<br />
maior riqueza deste grupo na área de estudo;<br />
• O uso intensivo de pesticidas, pois, sendo um grupo com elevado consumo de<br />
insectos, é vulnerável à bioacumulação e biomagnificação das substâncias<br />
tóxicas;<br />
254<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
• São também um grupo considerado vulnerável ao atropelamento em rodovias,<br />
principalmente quando estas se situam próximo de abrigos, pois é na fase<br />
juvenil que são mais susceptíveis a este risco.<br />
Quadro 1.3.2. Espécies de morcegos referenciadas para a área de estudo (Rainho, et al., 2003)<br />
Família / Espécie Nome-comum Estatuto<br />
Vespertilionidae<br />
Myotis daubentonii Morcego-de-água LC<br />
Pipistrellus pipistrelus Morcego-anão LC<br />
Pipistrellus nathusii Morcego-de-nathusii NE<br />
Pipistrellus kuhli Morcego-de-Kuhl LC<br />
Nyctalus leisleri leisleri Morcego-arboricola-pequeno DD<br />
Nyctalus lasiopterus Morcego-arboricola-gigante DD<br />
Eptesicus serotinus Morcego-hortelão LC<br />
Plecotus austriacus Morcego-orelhudo-cinzento LC<br />
Miniopteridae<br />
Miniopterus schreibersii Morcego-de-peluche VU<br />
Molossidae<br />
Tadarida lasiopterus Morcego-rabudo DD<br />
1.3.3.1.3 Roedores<br />
Na sua maioria os roedores são um grupo comum e muitas vezes comensal da<br />
espécies humana, sendo geralmente considerados como “praga”. No entanto, na área<br />
de estudo encontram-se referidas três espécies que pela sua raridade ou<br />
endemicidade apresentam elevado valor conservacionista: o rato de Cabrera (Microtus<br />
cabrerae), um endemismo ibérico, considerado Vulnerável e o Leirão (Elyomis<br />
quercinus), que apenas tem um registo indirecto (encontrado em dejectos de-corujadas-torres),<br />
na Lezíria norte (Mira et al., 2003), sendo considerado Insuficientemente<br />
Conhecido.<br />
O rato de Cabrera apresenta elevado valor conservacionista tendo sido alvo de vários<br />
estudos específicos. No estuário do Tejo está definida uma área desde Pancas até<br />
Porto Alto como uma zona de prioridade de conservação (Mathias e Costa, s/data).<br />
Nesta área o rato de Cabrera, distribui-se pelo Sapal (86% dos registos), agricultura de<br />
sequeiro (pastagens) (12%) e montado (2%). O rato de Cabrera alimenta-se da parte<br />
subterrânea dos talos de juncáceas e herbáceas, como o escarlacho, o que confere<br />
aos seus excrementos uma cor verde-vivo (C. Matos, com. Pess.). De um modo geral<br />
esta espécie frequenta zonas húmidas, onde as ervas são verdes, sendo muito<br />
sensível à perturbação representada pelo revolvimento de terras, plantação. Como<br />
ameaças salienta-se o regadio, a competição com o rato-cego (Microtus lusitanicus).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 255
1.3.3.1.4 Lagomorfos<br />
Os lagomorfos são um grupo de destaque pois tanto são valorizadas pelo Homem,<br />
como espécie cinegética, como constituem um elo importante na cadeia alimentar,<br />
pois sendo como espécies de estratégia reprodutiva R (colonizadores com elevada<br />
fertilidade) representam um recurso alimentar abundante para várias espécies, tais<br />
como mamíferos carnívoros ou aves de rapina.<br />
A lebre e o coelho são consumidores primários que beneficiam muito do mosaico de<br />
habitats agrícola e florestal, que lhes proporciona refúgio e alimento: na área de<br />
estudo foram encontradas com maior frequência nas áreas de montado com pastagem<br />
semi-natural no sob-coberto (por exemplo Barroca d’Alva, montado misto de Pinus<br />
spp., na ribeira de Vale Cobrão), zonas de pinhal com áreas abertas de matos e<br />
pastagens (mata do Catapereiro).<br />
1.3.3.1.5 Carnívoros<br />
Os carnívoros são muitas vezes considerados como daninhos e prejudiciais às<br />
actividades humanas, quer da criação de aves de capoeira quer como “competidores”<br />
pelo mesmo recurso, a caça. No entanto grande parte da predação deste grupo incide<br />
sobre os roedores e a sua dieta inclui também o consumo de frutos e de<br />
invertebrados.<br />
Os carnívoros são normalmente perseguidos em Portugal, sendo alvo privilegiado do<br />
controlo de predadores, uma prática vulgarizada no mundo rural, que recorre ao<br />
envenenamento ou armadilhagem, mesmo que ilegais. Regra geral, este grupo<br />
apresenta territórios bem definidos e percorre os habitats das suas presas: áreas de<br />
mosaico com zonas agrícola e zonas de refúgio com vegetação natural densa (matos,<br />
galerias ripícolas e zonas arborizadas).<br />
Destaque ainda para os mamíferos de hábitos aquáticos que é a lontra. Esta espécie<br />
tem-se revelado mais comum do que se pensava há 15 anos em Portugal, embora<br />
esteja em acentuado declínio na Europa, denotando uma plasticidade ambiental<br />
notável. Na área de estudo está presente ao longo de toda a sub-bacia hidrográfica do<br />
rio Sorraia e vários afluentes que desembocam na margem sul do estuário do Tejo,<br />
como a ribeira das enguias (Trindade et al., 1998).<br />
1.3.3.1.6 Artiodáctilos<br />
O Javali é o única espécie de caça grossa que se encontra na área de estudo, sendo<br />
bastante comum, nomeadamente nos biótopos de montado com pastagem ou mato,<br />
256<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
tendo sido referida a sua presença regular na mata do catapereiro, na envolvente da<br />
barragem de Vale Cobrão e na Barroca d’Alva.<br />
1.3.3.2 Lista de espécies ocorrentes na área de estudo<br />
1.3.3.2.1 Insectívoros<br />
Família Erinacidae<br />
Ouriço-cacheiro, Erinaceus europaeus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
no Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Comum em todo o país.<br />
Habitat: Ocorre em vários tipos de biótopos, desde zonas florestadas e agrícola e até<br />
em jardins.<br />
Ameaças: A mais conhecida é o atropelamento nas estradas, pois são animais que<br />
apresentam hábitos nocturnos e se deslocam lentamente.<br />
Família Soricidae<br />
Musaranho-de-dentes-brancos, Crocidura russula<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
no Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Comum em todo o país.<br />
Habitat: Ocorre zonas de transição entre biótopos – hortas, jardins, florestas e<br />
campos abertos; tolera bem a presença humana encontrando-se associado a habiatts<br />
humanizados.<br />
Musaranho-anão, Suncus etruscus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
nos Anexos II da Convenção de Berna e da Convenção de Bona e no Anexo IV da<br />
Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: Encontra-se em baixas densidades distribuído pelo ribatejo, Lisboa e<br />
vale do Tejo, Alentejo e Algarve.<br />
Habitat: Ocorre em fendas de casas e muros, em terrenos abandonados e<br />
colonizados por vegetação xerófila mediterrânica, estando registado também em<br />
sapais.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 257
1.3.3.2.2 Quirópteros<br />
Família Vespertilionidae<br />
Morcego-de-água, Myotis daubentonii<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
nos Anexos II da Convenção de Berna e da Convenção de Bona e no Anexo IV da<br />
Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: Em Portugal ocorre em todo o pais, sendo muito comum.<br />
Habitat: Encontra-se principalmente em zonas urbanas.<br />
Morcego-anão, Pipistrellus pipistrelus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
nos Anexos II da Convenção de Berna e da Convenção de Bona e no Anexo IV da<br />
Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: Em Portugal ocorre em todo o pais, sndo muito comum.<br />
Habitat: geralmente alimenta-se em qualquer tipo de biótopo, com preferência pelos<br />
habitats urbano e zonas húmidas; pode encontrar abrigos em edigícios ou cavidades<br />
em árvores ou rochas.<br />
Morcego de Kuhl, Pipistrellus kuhli<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Vulnerável em Portugal continental; incluída nos<br />
Anexos II da Convenção de Berna e da Convenção de Bona e no Anexo IV da<br />
Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: Em Portugal ocorre no norte e centro, embora seja provável também no<br />
sul.<br />
Habitat: Geralmente alimenta-se sobre a copa das árvores; não são conhecidos<br />
abrigos em portugal, estando referenciada em cavidades de árvores.<br />
Morcego-de-nathusii, Pipistrellus nathusii<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
nos Anexos II da Convenção de Berna e da Convenção de Bona e no Anexo IV da<br />
Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: Há dúvidas sobre se esta espécie ocorre em Portugal ou não,<br />
estimando-se que em caso positivo, seja rara e localizada.<br />
Habitat: não há dados para Portugal, embora esteja descrita como alimentando-se em<br />
zonas arborizadas, próximo de água e com abrigos em cavidades de árvores.<br />
Morcego-arboricola-pequeno, Nyctalus leisleri<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Insuficientemente Conhecida em Portugal<br />
continental; incluída nos Anexos II da Convenção de Berna e da Convenção de Bona e<br />
no Anexo IV da Directiva “Habitats”.<br />
258<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Distribuição: Há dúvidas sobre se esta espécie ocorre em Portugal ou não,<br />
estimando-se que em caso positivo, seja rara e localizada.<br />
Habitat: não há dados para Portugal, embora esteja descrita como alimentando-se em<br />
zonas arborizadas, próximo de água e com abrigos em cavidades de árvores.<br />
Morcego-arboricola-gigante, Nyctalus lasiopterus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Insuficientemente Conhecida em Portugal<br />
continental; incluída nos Anexos II da Convenção de Berna e da Convenção de Bona e<br />
no Anexo IV da Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: Aparentemente ocorre de norte a sul, embora com distribuição<br />
localizada.<br />
Habitat: Descrita como alimentando-se em zonas arborizadas, embora possa também<br />
frequentar zonas húmidas e zonas urbanas; não são conhecidos abrigos em Portugal<br />
para esta espécie, sendo descrita como abrigando-se em cavidades de árvores.<br />
Ameaças: A diminuição de floretas de folhosas, com árvores velhas que tenham<br />
cavidades, adequadas para o abrigo desta espécie; a utilização de pesticidas e<br />
insecticidas na agricultura; supostamente é uma espécie susceptível de colidir com<br />
aerogeradores, devido ao seu voo alto.<br />
Morcego-hortelão, Eptesicus serotinus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
nos Anexos II da Convenção de Berna e da Convenção de Bona e no Anexo IV da<br />
Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: Comum em todo o país.<br />
Habitat: Ocorre em vários tipos de biótopos, desde zonas florestadas, agrícolas e,<br />
massas de água, sendo frequente em áreas urbanas; abriga-se principalmente<br />
edifícios, mas também ocorre em pontes e cavidades rochosas.<br />
Morcego-orelhudo-cinzento, Plecotus austriacus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
nos Anexos II da Convenção de Berna e da Convenção de Bona e no Anexo IV da<br />
Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: Comum em todo o país.<br />
Habitat: Ocorre em vários tipos de biótopos, desde zonas florestadas, agrícolas e<br />
massas de água, sendo frequente em áreas urbanas; abriga-se em edifícios ou<br />
árvores ocas.<br />
Família Miniopteridae e família Molossidae<br />
O Morcego-de-peluche (Miniopterus schreibersii) e o morcego-rabudo (Tadarida<br />
teniotis) – são espécies que se põe em dúvida a sua existência na área de estudo,<br />
sendo a primeira exclusivamente cavernícola e a segunda abriga-se em fendas de<br />
rochas. De um modo geral, considera-se que a área de estudo não apresenta elevado<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 259
valor para este grupo: embora tenham sido encontrados vários abrigos, todos eles se<br />
situam em edifícios e apresentam-se como espécies de vasta distribuição em Portugal.<br />
1.3.3.2.3 Roedores<br />
Família Muridae<br />
Rato-cego-mediterrânico, Microtus duodecimcostatus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental.<br />
Distribuição: Distribui-se pelo SW da França e SW da Península Ibérica. Comum no<br />
centro e sul do país.<br />
Habitat: Principalmente em áreas agrícolas, pomares, hortas e campos de arroz, por<br />
vezes encontra-se em povoamentos de sobreiro, pinhais e olivais, com sub-bosque de<br />
gramíneas.<br />
Rato-cego, Microtus lusitanicus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental;<br />
Distribuição: Distribui-se pelo NW da Península Ibérica, em Portugal é comum no<br />
norte e no centro.<br />
Habitat: Mais abundante em pomares e hortas, mas ocorre também em prados e<br />
lameiros.<br />
Rato de Cabrera, Microtus cabrerae<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Vulnerável em Portugal continental; incluída no<br />
Anexos II da Convenção de Berna e nos Anexos II e IV da Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: Endemismo ibérico. Ocorre no SW Alentejano, bacias do Tejo e Sado,<br />
litoral centro, e pela bacia do Tejo até ao interior centro.<br />
Habitat: Prefere zonas relativamente húmidas com ervas altas como juncais,<br />
policulturas e montados;<br />
Ameaças: A destruição de habitat é referedida como o mais sério factor de ameaça,<br />
mas são uma espécie muito sensível à perturbação, quer causada por pessoas ou<br />
gado (C. Matos, Com. Pess.).<br />
Ratinho-do-campo, Apodemus sylvaticus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental;<br />
Distribuição: Distribuição paleártica. Comum em todo o país.<br />
Habitat: Ocorre em vários tipos de biótopos, desde zonas florestadas a agrícolas. Por<br />
vezes comensal do Homem.<br />
Ratazana-castanha, Rattus norvegicus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental.<br />
Distribuição: Distribuição em todo o mundo devido à introdução acidental levada a<br />
cabo pelo Homem. Comum em todo o país.<br />
260<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Habitat: Ocorre em vários tipos de biótopos, geralmente em zonas com batante água,<br />
desde esgotos em áreas urbanas, dunas, pantanos, mas também áreas agrícolas (por<br />
exemplo cerealíferas). É uma espécie comensal do Homem que se tem expandido<br />
juntamente com as actividades humanas. É geralmente considerada praga.<br />
Ratazana-preta, Rattus rattus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental.<br />
Distribuição: Distribuição em todo o mundo devido à introdução acidental levada a<br />
cabo pelo Homem. Ocorre de norte a sul do país, embora menos comum do que a<br />
ratazana-castanha, com a qual sofre competição.<br />
Habitat: Ocorre em vários tipos de biótopos, tolerando melhor a secura do que a<br />
anterior: desde zonas florestadas, agrícolas e áreas urbanas, onde é comensal do<br />
Homem.<br />
Ratinho caseiro, Mus domesticus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental;<br />
Distribuição: Distribuição em todo o mundo devido à introdução acidental levada a<br />
cabo pelo Homem. Comum em todo o país.<br />
Habitat: Ocorre em vários tipos de biótopos: áreas urbanas, hortas, jardins, áreas<br />
litorais arenosas e margens dos cursos de água. É uma espécie comensal do Homem.<br />
Ratinho ruivo, Mus spretus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental;<br />
Distribuição: NW África, Península Ibérica e sul de França. Comum em todo o país.<br />
Habitat: Ocorre em vários tipos de biótopos secos: pinhais, jardins e áreas agrícolas -<br />
sequeiro ou vinhas.<br />
Família Gliridae<br />
Leirão, Eliomys quercinus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie com Informação insuficiente em Portugal continental;<br />
incluída no Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Na Europa (excepto Grã-Bretanha e Escandinávia) e norte de África.<br />
Existe de norte a sul do país, embora em manchas fragmentadas e sempre com<br />
registos escassos.<br />
Habitat: Ocorre em vários tipos de biótopos. Montados, pinhais, zonas pedregosas<br />
com vegetação escassa, matagal, mas também em habitações, hortas jardins e<br />
pomares.<br />
Ameaças: Não se encontram ainda definidos, mas a espécie tem sofrido sérias<br />
regressões em alguns países europeus.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 261
1.3.3.2.4 Lagomorfos<br />
Família Leporidae<br />
Lebre, Lepus granatensis<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
no Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Na Europa do sul e Grã-Bretanha, África, Asia, América do Norte e<br />
central. Existe de norte a sul do país, embora de forma descontínua, com maior<br />
representatividade no centro e leste.<br />
Habitat: Zonas florestadas que alteram com áreas agrícolas, frequentemente área<br />
abertas como vinha ou pomares.<br />
Coelho, Oryctolagus cuniculi<br />
Estatuto de Protecção: Espécie com Quase Ameaçado em Portugal continental.<br />
Distribuição: Na Europa, América, Austrália e N. África. Existe em todo o país.<br />
Habitat: Matos mediterrânicos, zonas agrícolas, orlas de pomares, sapais, matas e<br />
bosques.<br />
Ameaças: As epizotias, a mixomatose e a doença hemorrágica viral, têm sido vários<br />
os factores que contribuiram para baixar as densidades desta espécie em todo o<br />
continente de uma forma muito acentuada. A perda de habitat por abandono das<br />
zonas agrícolas e a caça excessiva também são factores importantes (Alves e<br />
Ferreira, s/ data).<br />
1.3.3.2.5 Carnívoros<br />
Família Canidae<br />
Raposa, Vulpes vulpes<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
no Anexo III da Convenção de Berna; espécie cinegética.<br />
Distribuição: Eurásia, norte de África e América do Norte; em Portugal cobre todo o<br />
território.<br />
Habitat: Ocupa uma grande variedade de biótopos, preferindo áreas em mosaico:<br />
zonas agrícolas, bosques, terrenos abertos e matagais.<br />
Família Mustelidae<br />
Texugo, Meles meles<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
no Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Eurásia. Existe em todo o país, sendo mais frequente no centro e no sul.<br />
Habitat: Mosaico de bosques caducifólios com pastagens e áreas agrícolas.<br />
262<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Lontra, Lutra lutra<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
no Anexos B-II e B-IV da Directiva “Habitats” e no Anexo II da Convenção de Berna;<br />
Distribuição: Eurásia e norte de África. Existe em todo o país.<br />
Habitat: Mosaico de bosques caducifólios com pastagens e áreas agrícolas.<br />
Doninha, Mustela nivalis<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
no Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: N. África, América central e do Norte, Ásia central e setentrional e<br />
Europa. Distribui-se por todo o país sendo um dos carnívoros mais comuns.<br />
Habitat: Pode encontrar-se em quase todo o tipo de habitat, preferindo áreas<br />
agrícolas com orlas com muros de pedra solta e vegetação densa.<br />
Toirão, Mustela putorius<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Insuficientemente conhecida em Portugal<br />
continental; incluída no Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Europa, excepto as ilhas e a Península Balcânica e Marrocos. Encontrase<br />
de norte a sul do país, de forma descontínua.<br />
Habitat: Associada a habitats aquáticos, como margens de rios ou pantanos, zonas<br />
arborizadas ou pastagens com árvores;<br />
Ameaças: Provavelmente uma combinação de factores tem levado a diminuição desta<br />
espécie, um declínio cuja magnitude não se consegue ainda avaliar. Diminuição de<br />
habitat disponível, decréscimo da população-presa (coelho), atropelamento e<br />
perseguição ilegal.<br />
Fuinha, Martes foina<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
no Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Na maior parte da Eurásia, excepto ilhas atlânticas e mediterrânicas,<br />
excepto as ilhas e a Península Balcânica e Marrocos. Encontra-se em todo o país.<br />
Habitat: Áreas arborizadas como pinhais e áreas rochosas; frequenta muitas vezes<br />
habitats rurais humanizados, como quintas etc.<br />
Família Felidae<br />
Geneta, Genetta genetta<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
no Anexo III da Convenção de Berna e no Anexo B-V da Directiva “Habitats”; espécie<br />
cinegética.<br />
Distribuição: Sul de França e Península Ibérica, África do Norte, oriental e sul. Em<br />
Portugal cobre todo o território, sendo um dos carnívoros mais comuns.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 263
Habitat: Ocupa uma grande variedade de biótopos, preferindo florestas de<br />
caducifólias e mistas e zonas rochosas; encontra-se também na proximidades de<br />
corpos de água, desde que com vegetação densa na margem.<br />
Sacarrabos, Herpestes ichneumon<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
no Anexo III da Convenção de Berna e no Anexo B-V da Directiva “Habitats”; espécie<br />
cinegética.<br />
Distribuição: África, Península Ibérica, Ásia menor e Palestina. Em Portugal está<br />
presente no sul e a área de distribuição mostra tendência de expansão para norte do<br />
rio Tejo.<br />
Habitat: Ocupa uma grande variedade de biótopos, desde que com vegetação densa<br />
(matagal alto, vegetação densa nas margens das linhas de água).<br />
1.3.3.2.6 Artiodáctilos<br />
Família Suidae<br />
Javali, Sus scrofa<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; espécie<br />
cuja caça se encontra regulada.<br />
Distribuição: Europa, excepto Grã-Bretanha e Escandinávia, norte de África, e sul da<br />
Ásia. Em Portugal está presente de norte a sul, sendo mais comum na zona fronteiriça<br />
e a sul do rio Tejo; aparenta ser comum na área de estudo, nomeadamente nos<br />
biótopos de montado com pastagem ou mato.<br />
Habitat: Ocupa uma grande variedade de biótopos, desde que com vegetação densa<br />
(matagal alto, vegetação densa nas margens das linhas de água).<br />
1.3.4 Herpetofauna<br />
A designação de herpetofauna engloba as classes Amphibia e Reptilia, dois grupos<br />
com funções e nichos ecológicos distintos, mas que têm em comum serem terrestres e<br />
poiquilotérmicos, ou seja, regulam a temperatura exteriormente. Este factor condiciona<br />
a sua distribuição a nível dos grandes biomas da terra sendo grupos cuja maior<br />
riqueza se encontra nas regiões tropicais e sub-tropicais, sendo praticamente<br />
ausentes dos climas com frio extremo.<br />
1.3.4.1 Anfíbios<br />
Os anfíbios são os vertebrados terrestres que mais dependência mostram do meio<br />
aquático, uma vez que, para se reproduzirem, têm obrigatoriamente de voltar ao meio<br />
aquático, sendo os ovos e as fases larvares aquáticos. Deste modo esta classe<br />
encontra-se mais dependente dos biótopos aquáticos dulciaquícolas, pelo menos<br />
264<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
durante parte do seu ciclo de vida, pelo que este tipo de habitats são considerados<br />
cruciais para a sobrevivência das espécies desta classe.<br />
Em Portugal continental existem 17 espécies de anfíbios, entre as quais 5 constituem<br />
endemismos ibéricos. Apenas duas espécies se encontram com estatuto de ameaça.<br />
Na área de estudo estão contabilizadas 11 espécies de anfíbios (Quadro 1.3.3), sendo<br />
duas delas endemismos e uma com estatuto de quase ameaçada.<br />
Quadro 1.3.3. Espécies de anfíbios referenciadas para a área de estudo.<br />
Nome científico Nome comum Habitat típico Reprodução<br />
Estatuto<br />
Conserv.<br />
Observações<br />
Nº de<br />
registos<br />
(1)<br />
Pleurodeles waltl<br />
Salamandra<br />
salamandra ssp.<br />
gallaica<br />
Triturus boscai<br />
Triturus marmoratus<br />
Alytes cisternasii<br />
Discoglossus<br />
galganoi<br />
Pelobates cultripes<br />
Pelodytes<br />
punctatuts/ibericus<br />
Salamandra<br />
Discoglosso<br />
Sapinho-deverrugas-verdes<br />
Depósitos aquáticos<br />
Charcos temporários<br />
de natureza arenosa<br />
Poços, tanques<br />
Prados, bosques e<br />
zonas agricolas;<br />
ribeiros, poços,<br />
charcos<br />
Charcos, lagos,<br />
tanques, represa,<br />
albufeiras...<br />
Ordem Caudata<br />
Meados de<br />
Outubro -<br />
Inverno<br />
Setembro a<br />
Maio<br />
Novembro a<br />
Junho<br />
Ordem Anura<br />
Outubro a fim<br />
Ribeiros temporários<br />
de Abril<br />
Terrenos<br />
encharcados, charcos<br />
com vegetação,<br />
lagoas litorais<br />
Areais, campos,<br />
cultivados,<br />
pastagens, onde se<br />
enterram<br />
Montados, dunas<br />
costeiras, matos<br />
LC 13<br />
LC 9<br />
LC<br />
Endemismo ibérico<br />
ocidental<br />
Outubro-Maio LC DH (IV) 12<br />
Inverno até ao<br />
Verão<br />
Salamandra-decostelassalientes<br />
Tritão-deventre-laranja<br />
Tritãomarmorado<br />
Sapo-parteiroibérico<br />
Sapo-de-unhanegra<br />
Outubromeados<br />
da<br />
Primavera<br />
Fim Outono-fim<br />
Primavera<br />
Bufo bufo Sapo Hábitos terrestres Novembro-abril LC<br />
Bufo calamita<br />
Hyla arborea<br />
Rana perezi<br />
Sapo-corredor<br />
Rela<br />
Rã-verde<br />
Hábitos terrestres;<br />
charcos temporários<br />
para a reprodução<br />
Arborícola (arbustos,<br />
canas, juncos), junto<br />
a charcos, pantânos,<br />
etc.<br />
Quase ubíqua –<br />
ribeiros, barragens,<br />
charcos, tanques,<br />
pantanos<br />
Meados<br />
Inverno-<br />
Primavera<br />
Fevereiro-<br />
Abril/Maio<br />
Primavera<br />
NT<br />
Endemismo ibérico.<br />
DH (DH-IV)<br />
Endemismo ibérico.<br />
DH (II e IV)<br />
10<br />
LC (DH-IV) 12<br />
LC 13<br />
LC<br />
Pode efectuar<br />
longas migrações<br />
para reprodução<br />
Volta ao charco de<br />
origem para a<br />
reprodução.<br />
(DH-IV)<br />
3<br />
1<br />
12<br />
LC (DH-IV) 25<br />
LC<br />
Muito comum.<br />
(DH-V)<br />
5<br />
57<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 265
Fontes: Oliveira e Crespo, 1989; Ferrand de Almeida et al., 2001; (1) dados não publicados do Novo Atlas<br />
dos Anfíbios e Répteis. LC – baixa preocupação, NT – Quase Ameaçado.; DH (II e IV) - Directiva<br />
“Habitats” (Decreto-Lei nº 49/2005 de 24 de Fevereiro, anexo B-II - espécies cuja conservação exige a<br />
designação de zonas especiais de conservação e anexo B-IV – espécies de interesse comunitário que<br />
exigem protecção rigorosa; anexo V – Espécies cuja apanha pode ser sujeita a regulamentação).<br />
1.3.4.1.1 Habitats<br />
A maioria dos anfíbios concentra-se em zonas com águas doces paradas ou com fraca<br />
corrente. Muitos anfíbios, apesar das limitações adaptativas, vivem quase todo o ciclo<br />
de vida em habitats terrestres, necessitando de regressar ao biótopo aquático só para<br />
a reprodução, em zonas pelo menos temporariamente alagadas. Fora do período de<br />
reprodução podem dispersar-se pelos biótopos vizinhos, nomeadamente o montado,<br />
habitat típico do sapinho-de-verrugas-verdes, um dos anuros de menor dimensão,<br />
pastagens, terrenos agrícolas, jardins etc (por exemplo o sapo, o sapo-de-unha-negra<br />
ou o sapo-corredor). Geralmente de meios dulciaquícolas, há algumas espécies de<br />
anfíbios que toleram salinidades relativamente elevadas, tais como a rã-de-focinhopontiagudo<br />
(Oliveira et al., 2006, in Livro Vermelho dos Vertebrados, 2006). Como<br />
espécies mais comuns na área de estudo realçam-se a rã-verde (Rana perezi),<br />
espécie comum em todo o país e a rela, uma rã-arborícola. A espécie com maior valor<br />
conservacionista é o discoglosso, um endemismo ibérico com estatuto de Quase<br />
Ameaçado (NT). Esta espécie encontra-se classificada na Convenção de Berna, como<br />
a generalidade dos anfíbios e na Directiva “Habitats” (Decreto-Lei nº 49/2005 de 24 de<br />
Fevereiro). Trata-se também da espécie de anfíbio mais rara a nível do estuário do<br />
Tejo, com apenas uma referência. Esta espécie geralmente ocorre nas proximidades<br />
de massas de água com vegetação, podendo encontrar-se em terrenos húmidos ou<br />
encharcados. Reproduz-se em charcos, temporários ou permanentes, ribeiros, canais,<br />
resistindo a salinidades relativamente elevadas.<br />
O segundo endemismo ibérico ocorrente na área de estudo é o sapo-parteiro-ibérico,<br />
para o qual existem apenas três referências na área de estudo, situadas na área da<br />
Herdade da Barroca d’Alva. Esta espécie, confinada à Península Ibérica ocidental,<br />
encontra-se em Portugal de norte a sul, com algumas lacunas: assim o alto Douro, o<br />
Tejo, no seu troço intermédio e o Alentejo interior, não encontram referência para este<br />
sapo. O sapo-parteiro-ibérico adapta-se a ambientes áridos e quentes. Tem hábitos<br />
fossadores, enterrando-se sob pedras, raízes ou em buracos podendo entrar em<br />
inactividade com temperaturas desfavoráveis. A reprodução ocorre em duas épocas<br />
do ano, no Outono e na Primavera. O nome deste sapo deriva do facto dos machos<br />
carregarem as posturas, o que é uma forma de manterem as condições de humidade<br />
e temperatura que os ovos necessitam; após cerca de 3 semanas largam os ovos em<br />
charcos, pantanos, tanques ou ribeiros, onde as larvas eclodem. Ambas as espécies<br />
ocorrem no sudoeste da área de estudo, na região da Herdade da Barroca d’Alva.<br />
266<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
1.3.4.1.2 Lista de Espécies ocorrentes no estuário do Tejo<br />
ORDEM URODELOS<br />
Família Salamandridae<br />
Salamandra-de-costelas-salientes, Pleurodeles waltl<br />
Estatuto de Protecção: Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída nos<br />
Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Distribui-se pelo norte de Ãfrica e Península Ibérica. Em Portugal ocorre<br />
no centro e sul do país e a norte pela zona interior até à terra quente transmontana.<br />
Na área de estudo apresenta 13 registos.<br />
Habitat: Habita em regiões de clima quente e seco, desde o nível do mar até aos<br />
890m (Parque Natural de Montesinho); apresentam hábitos aquáticos frequentando<br />
uma grande variedade de habitats: charcos, poços, lagoas, tanques represas e<br />
remansos de rios; resiste relativamente bem à poluição.<br />
Reprodução: Entre Setembro a Julho, dependendo da região.<br />
Salamandra-de-pintas-amarelas, Salamandra salamandra<br />
Estatuto de Protecção: Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída nos<br />
Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Tem ampla distribuição a nível do globo, ocupando grande parte da<br />
região paleártica ocidental: Europa, Ásia menor, próximo oriente e norte de África. Em<br />
Portugal ocorre e todo o pais excepto nas regiões mais áridas do Alentejo. Na área de<br />
estudo apresenta 9 registos.<br />
Habitat: Prefere zonas montanhosas húmidas e sombrias, podendo também ocorrer<br />
em lameiros, prados, campos agrícolas, pinhais, azinhais e sobreirais; procura o meio<br />
aquático apenas para se reproduzir.<br />
Reprodução: Entre Setembro a Maio (período mais húmido), ovovivípera e vivípera,<br />
permanece na água 2-6 meses, até à metamorfose.<br />
Tritão-de-ventre-laranja, Triturus boscai<br />
Estatuto de Protecção: Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída nos<br />
Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Endemismo da região ocidental da Península Ibérica. Em Portugal<br />
ocorre em todo o pais.<br />
Habitat: Habita uma grande variedade de ambientes, incluindo prados, bosques,<br />
zonas agrícolas e massas de água muito diversas, charcos, ribeiros de corrente fraca<br />
e vegetação aquática, poços, lagoas, tanques, albufeiras e represas; pode ser<br />
encontrado em água praticamente todo o ano, podendo ter um período terrestre estival<br />
(Oliveira e Crespo, 1989).<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 267
Reprodução: De meados do Inverno até fim da Primavera (Novembro a Maio)<br />
variando com o clima: nas zonas baixas e quentes observa-se desde Novembro-<br />
Dezembro; os ocovos eclodem após 10 a 20 dias.<br />
Tritão-marmorado, Triturus marmoratus<br />
Estatuto de Protecção: Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída nos<br />
Anexo III da Convenção de Berna e no Anexo IV da Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: França e Península Ibérica. Em Portugal ocorre em todo o país.<br />
Habitat: Habita uma grande variedade de ambientes, incluindo prados, bosques e<br />
zonas agrícolas e massas de água muito diversas, charcos, ribeiros de corrente fraca<br />
e vegetação aquática, poços, lagoas, tanques, albufeiras e represas; terrestre, volta à<br />
água para a reprodução.<br />
Reprodução: Entre Outubro a Maio (dependendo da temperatura), em massa de água<br />
parada com com fraca corrente.<br />
ORDEM ANURA<br />
Família Discoglossidae<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Quase Ameaçada (NT) e em Portugal continental;<br />
incluída nos Anexo III da Convenção de Berna e nos Anexos II e IV da Directiva<br />
“Habitats”.<br />
Distribuição: Endemismo ibérico. Em Portugal ocorre de norte a sul, embora em<br />
núcleos populacionais fragmentados.<br />
Habitat: Frequenta uma grande variedade de habitats, geralmente prados, lameiros ou<br />
terrenos encharcados nas imediações de corpos de água.<br />
Reprodução: Reproduz-se em ribeiros, poças, charcos, canais de rega, etc, entre<br />
meados do Inverno até ao princípio do Verão.<br />
Factores de Ameaça e conservação: Os principais factores de ameaça são a perda<br />
de habitat, por fragmentação ou degradação, devido por exemplo à instalação de<br />
agricultura intensiva, florestação com espécies de produção, poluição aquática ou<br />
urbanização.<br />
Sapo-parteiro-ibérico, Alytes cisternasii<br />
Estatuto de Protecção: Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída no<br />
Anexo II da Convenção de Berna no Anexo IV da Directiva “Habitats”;<br />
Distribuição: Endemismo ibérico. Em Portugal ocorre a sul do Tejo e acima deste,<br />
pela zona raiana até Trás-os-Montes.<br />
Habitat: Habita zonas de baixa altitude, em zonas de solos arenosos e pouco<br />
consistentes. Durante o Verão enterram-se muitas vezes em leitos de ribeiras, quando<br />
estes secam.<br />
Reprodução: Reproduz-se em ribeiros, poças, charcos ou tanques entre Outubro a<br />
fins de Abril.<br />
268<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Família Peloditidae<br />
Sapinho-de-verrugas-verdes, Pelodytes sp.<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
nos Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: França, NW Itália e Península Ibérica; em Portugal distribui-se pela<br />
metade sul do País e costa atlântica até Vila do Conde.<br />
Habitat: Grande variedade de habitats, como bosques, matos, dunas costeiras,<br />
aparentemente preferindo zonas calcárias, ocupando muitas vezes concavidades ou<br />
grutas para se refugiar.<br />
Reprodução: Reproduz-se em charcos temporários, remansos em ribeiros, lagos e<br />
até águas salobras, desde final de Outubro a final da Primavera.<br />
Família Pelobatidae<br />
Sapo-de-unha-negra, Pelobates cultripes<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
nos Anexo III da Convenção de Berna no Anexo IV da Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: Sul e oeste de França e Península Ibérica. Em Portugal ocorre a sul do<br />
Tejo e acima deste, pela zona raiana até Trás-os-Montes e pelo litoral até Vila do<br />
Conde.<br />
Habitat: Em zonas de solos arenosos, como dunas, campos agrícolas, pastagens e<br />
zons planálticas. Para a reprodução pode tolerar zonas com águas salobras.<br />
Reprodução: Reproduz-se de meados de Outono até à Primavera, dependendo<br />
essencialmente da precipitação, em ribeiros, poças, charcos ou tanques entre Outubro<br />
a fins de Abril.<br />
Família Bufonidae<br />
Sapo-corredor, Bufo calamita<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
nos Anexo III da Convenção de Berna no Anexo IV da Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: Desde a Estónia até à Península Ibérica; Em Portugal ocupa quase todo<br />
o território excepto zona centro litoral.<br />
Habitat: Desde o nível do mar até à serra da estrela, procura solos pouco<br />
compacados e locais abertos.<br />
Reprodução: Desde o Inverno até fim da Primavera, dependendo essencialmente da<br />
precipitação; procuram sempre o mesmo charco, geralmente charcos temporários,<br />
pequenos e pouco profundos, mas os machos por vezes podem procurar também<br />
outros charcos.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 269
Sapo-comum, Bufo bufo<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
nos Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Ocorre em toda a Eurásia, excepto no extremo norte. Em Portugal é<br />
bastante comum, desde norte a sul.<br />
Habitat: Em grande variedade de habitats: áreas agrícolas, montanha, montados e<br />
boques de caducifólias.<br />
Reprodução: Reproduz-se entre Novembro a Abril, em massa de água permanentes,<br />
rios, albufeiras e charcos grandes.<br />
Família Ranidae<br />
Rã-verde, Rana perezi<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental e<br />
apresenta Informação insuficiente nos Açores. Incluída no Anexo III da Convenção de<br />
Berna e no Anexo V da Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: Ocorre desde o sul da França até à Península Ibérica; em Portugal tem<br />
distribuição ubíqua a nível do país e muito comum.<br />
Habitat: Apresenta enorme plasticidade ambiental, frequentando quase todo o género<br />
de corpos de água doce, inclusivé em lagos de cidade, independentemente do biótopo<br />
circundante (57 registos) e desde o nível do mar até à serra da Estrela.<br />
Reprodução: Reproduz-se essencialmente na Primavera.<br />
Família Hylidae<br />
Rela, Hyla arborea<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental, Incluída<br />
no Anexo III da Convençao de Berna e no Anexo IV da Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: Ocorre em toda a Europa, excepto nos países do Norte, Grã-Breanha e<br />
Irlanda. Em Portugal tem distribuição na maior parte do País, embora fragmentada e<br />
no sudeste, onde existe a Hyla meridionalis. No sul existe nas bacias hidrográficas do<br />
Sado, Tejo (jusante) e cursos de água litorais, desde Peniche até ao Alentejo e no<br />
centro, nas bacias hidrográficas do Mondego, Vouga e cabeceiras do Tejo. Existem<br />
ainda pequenos núcleos populacionais supostamente isolados uns dos outros no Alto<br />
Alentejo, Montesinho e bacia do Douro (25 registos).<br />
Habitat: Normalmente frequenta a vizinhança de charcos, cursos de água, pantanos,<br />
lagos e lagoas, com abundante vegetação.<br />
Reprodução: Reproduz-se essencialmente na Primavera.<br />
1.3.4.2 Répteis<br />
Os répteis são uma classe que adquiriu maior independência do meio aquático, pois<br />
os seus ovos são revestidos por uma casca dura que evita a dissecação, podendo<br />
270<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
também apresentar ovoviviparidade. Outra adaptação ao meio terrestre são as<br />
escamas epidérmicas que cobrem o corpo dos répteis, as quais, como não regulam a<br />
temperatura internamente, os protegem da dissecação. A classe dos répteis na<br />
Península Ibérica tem tanto as influências atlânticas como as africanas, incluindo<br />
também alguns endemismos. Registam-se 36 espécies de répteis em Portugal<br />
continental, das quais 4 aparecem como divagantes na costa (tartarugas marinhas) e<br />
duas são exóticas, introduzidas recentemente (tartaruga da Florida e lagartixa italiana).<br />
Da fauna nativa terrestre, 7 espécies têm estatuto de ameaçadas e duas Quase<br />
Ameaçadas. Para a área de estudo estão referenciadas 17 espécies, entre elas uma<br />
Em Perigo, uma Vulnerável e uma Quase Ameaçada (Quadro 1.3.4).<br />
Quadro 1.3.4. Répteis ocorrentes na área de estudo.<br />
Nome científico Nome comum Habitat típico<br />
Ordem Testudines<br />
Mauremys leprosa<br />
Emys orbicularis<br />
Tarentola<br />
mauritanica<br />
Blanus cinereus<br />
Acantodactylus<br />
erithrurus<br />
Lacerta lepida<br />
Podarcis<br />
hispanica<br />
Psammodromus<br />
algirus<br />
Psammodromus<br />
hispanicus<br />
Osga<br />
Cobra-cega<br />
sardão<br />
Lagartixa-ibérica<br />
Lagos, charcos, ribeiros<br />
Estatuto<br />
Conserv.<br />
LC<br />
Observações Nº de registos (1)<br />
Endemismo<br />
iberico. DH (II e<br />
IV)<br />
Lagos, charcos, ribeiros EN DH (II e IV) 2<br />
Ordem Sauria<br />
Zonas urbanas, locais<br />
pedregoso<br />
Hábitos subterrâneos em<br />
terrenos relativamente áridos<br />
Pinhais litorais, matos<br />
dispersos<br />
Areais costeiros, terrenos<br />
cultivados, charnecas,<br />
matagais e bosques<br />
Áreas húmidas: pastos,<br />
clareiras, campos agrícolas<br />
LC<br />
Comum no sul<br />
do país<br />
12<br />
12<br />
LC - 2<br />
NT - 2<br />
LC<br />
ubíqua em<br />
Portugal<br />
LC DH (IV) 60<br />
Pinhais arenosos LC - 30<br />
Terrenos arenosos com grau<br />
de aridez variável, com matos<br />
baixos dispersos<br />
NT - 15<br />
Chalcides striatus Fura-pastos Pinhais sobre areia, matos LC - 13<br />
Ordem Serpentes<br />
Coronella<br />
girondica<br />
Elaphe scalaris<br />
Malpolon<br />
monspessulanus<br />
Natrix maura<br />
Vipera latastei<br />
Cobra-rateira<br />
Cágadomediterrânico<br />
Cágado-decarapaçaestriada<br />
Lagartixa-dededosdenteados<br />
Lagartixa-domato<br />
Lagartixa-domato-ibérica<br />
Cobra-lisameridional<br />
Cobra-deescada<br />
Cobra-de-águaviperina<br />
Víbora-cornuda<br />
Locais semi-áridos e rochosos LC - 2<br />
Biótopos sedemiáridos, bem<br />
expostos<br />
Matos, bosques com sobreiro,<br />
pinhais arenosos, jardins,<br />
zonas pedregosas<br />
Lagos, charcos, represas,<br />
pantanos, barragens e cursos<br />
de água<br />
Matagais, z. Agrícolas e<br />
pinhais arenosos.<br />
LC - 9<br />
LC - 31<br />
LC - 14<br />
VU - 3<br />
8<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 271
Fontes: Oliveira e Crespo, 1989; Ferrand de Almeida et al., 2001; (1) dados não publicados do Novo Atlas<br />
dos Anfíbios e Répteis. LC – baixa preocupação, NT – quase ameaçado; VU – Vulnerável; EN – Em<br />
Perigo. DH (II e IV) - Directiva “Habitats” (Decreto-Lei nº 49/2005 de 24 de Fevereiro, anexo B-II -<br />
espécies cuja conservação exige a designação de zonas especiais de conservação e anexo B-IV –<br />
espécies de interesse comunitário que exigem protecção rigorosa )<br />
1.3.4.2.1 Habitats<br />
O réptil mais comum na área de estudo é sem dúvida a lagartixa-ibérica (Podarcis<br />
hispanica, tipo 2, que ocorre a sul do Douro, em Portugal), seguida da lagartixa-domato<br />
(P. algirus ssp. algirus). Estas são espécies comuns em Portugal, com uma<br />
distribuição que abrange praticamente toda a Península Ibérica (excepto o extremo<br />
norte), o SW da França e o norte de África. A primeira ocorre preferencialmente em<br />
zonas arenosas ou de solos pouco compactos, com arbustos de pequeno porte, com<br />
pouca cobertura e pouco densa, enquanto a segunda procura solos pedregosos<br />
nomeadamente bosques com zonas abertas, como montados e olivais. As espécies<br />
com maior valor conservacionista são relativamente pouco abundantes na área de<br />
estudo, nomeadamente:<br />
• O Cágado-de-carapaça-estriada (Emys orbicularis) é uma espécie<br />
considerada Em Perigo a nível nacional, tendo sofrido uma perda de 70%<br />
ou mais dos efectivos populacionais. Este cágado distribui-se desde a<br />
Europa oriental até à Península ibérica, incluindo também o norte de<br />
África. Em Portugal apresenta uma distribuição descontínua, sendo os<br />
núcleos mais importantes confirmados na bacia do Guadiana (troço<br />
intermédio), NE Alentejano e Tejo internacional, costa sudoeste e sulocidental<br />
e pequenos núcleos dispersos. Na bacia do Tejo, são<br />
consideradas zonas prioritárias para protecçção desta espécie, o paúl do<br />
Boquilobo, o Tejo interior e Aviz. No estuário do Tejo, as três referências<br />
dizem respeito à uma área pertencente à Companhia das Lezírias, na<br />
sub-bacia da Ribeira de Vale Cobrão em simpatria com o cágadomediterrânico.<br />
Como factores de ameaça a esta espécie são referidas<br />
alteração ou destruição de zonas húmidas, construção, captação ou<br />
poluição de água. Por outro lado referem-se também a captura acidental<br />
ou intencional de espécimens.<br />
• O cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa) constitui um endemismo<br />
ibérico, sendo o cágado mais comum em Portugal e Espanha. Para além<br />
da Península, ocorre também no norte de África. Em Portugal existe em<br />
todo o território excepto no centro (acima da bacia hidrográfica do<br />
Mondego) e norte litorais.no estuário do Tejo ocorre em várias áreas, por<br />
vezes em conjuntamente com o cágado-de-carapaça-estriada.<br />
• A víbora-cornuda (Vipera latastei) distribui-se por toda a Península<br />
Ibérica, excepto na costa norte e pela costa norte-africana. Em Portugal é<br />
referenciada essencialmente no norte e centro, especialmente nas serras<br />
272<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
do Gerês, Alvão, Montesinho e Estrela e em núcleos “isolados”, na serra<br />
de S. Mamede, bacia do Tejo, costa sudoeste e bacia do Guadiana (troço<br />
intermédio). É uma espécie pouco comum e entre os factores de ameaça<br />
salientam-se a perda ou fragmentação de habitat por incêndio, silvicultura<br />
intensiva, agricultura. Outros factores referidos são o atropelamento em<br />
estradas e a perseguição, devido a ser considerada uma espécie<br />
perigosa para o Homem. Na área do estuário do Tejo ocorre na zona de<br />
Alcochete/Montijo, uma área relativamente fragmentada em termos de<br />
habitat por inúmeras rodovias, aglomerados urbanos e indústrias.<br />
• A Lagartixa-de-dedos-denteados (Acantodactylus erythrurus ssp.<br />
erythrurus) a sua área de distribuição inclui a Portugal, Espanha e o norte<br />
de África, sendo a subespécie nominal restrita à Península. Em Portugal<br />
restringe-se às bacias do baixo Tejo e baixo Sado, zonas fronteiriça do<br />
centro (cabeceiras dos rios Zêzere, Erges, Côa e Douro internacional) e<br />
núcleos pontuais no norte, oeste (Nazaré), alto alentejo (ribeira de Nisa) e<br />
Algarve (Ria Formosa). É uma espécie sensível às alterações do uso do<br />
solo, nomeadamente para a silvicultura e agricultura e entre os factores<br />
de ameaça salientam-se a perda ou perturbação do seu habitat. Tolera,<br />
contudo, uma pressão humana moderada.<br />
1.3.4.2.2 Lista de Espécies ocorrentes no estuário do Tejo<br />
ORDEM SAURIA<br />
Família Gekkonidae<br />
Osga, Tarentola mauritanica<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
nos Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Distribui-se pelo norte de África e Península Ibérica. Em Portugal ocorre<br />
no centro e sul do país e a norte pela zona interior até à terra quente transmontana.<br />
Na área de estudo apresenta 13 registos.<br />
Habitat: Habita em regiões de clima quente e seco, desde o nível do mar até aos<br />
800m (serra do Reboredo); locais pedregosos, muros, troncos de árvores paredes etc.,<br />
Reprodução: entre Março e Junho, com a postura anual entre Abril e Junho.<br />
Cobra-cega, Blanus cinereus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
nos Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Endémica da Península Ibérica. Em Portugal tem uma distribuição<br />
termófila, isto é, ocorre principalmente em zonas de climas amenos.<br />
Habitat: Geralmente zonas quentes e um pouco húmidas a baixa e média altitude,<br />
com solos pouco compactados, pois tem vida subterrânea.<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 273
Reprodução: O período reprodutor inicia-se bastante cedo, antes da Primavera e a<br />
postura realiza-se até Junho.<br />
Família Lacertidae<br />
Sardão, Lacerta lepida<br />
Estatuto de Protecção: Espécie é Pouco Preocupante em Portugal continental;<br />
incluída nos Anexo II da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Distribui-se pela Península Ibérica, sudeste de França e NW de Itália.<br />
Em Portugal a espécie é ubíqua.<br />
Habitat: Habita em areais costeiros, charnecas, matagais, terrenos agrícoas e<br />
bosques.<br />
Reprodução: Na Primavera, com a postura anual entre Março e Maio.<br />
Lagartixa-ibérica, Podarcis hispanica<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
nos Anexo III da Convenção de Berna; Anexo IV da Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: Distribui-se pelo norte de África, sul de França e Península Ibérica. Em<br />
Portugal ocorre em todo o país.<br />
Habitat: Encontra-se numa grande variedade de habitats, geralmente pedregosos e<br />
em zonas abertas (em carvalhais, sobreirais e olivais) e em zonas urbanas.<br />
Reprodução: Entre Fevereiro e Junho, com a posturas (que podem ir até três<br />
posturas anuais) entre Abril e Junho.<br />
Lagartixa-do-mato, Psammodromus algirus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
nos Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Distribui-se pelo norte de África, sul de França e Península Ibérica. Em<br />
Portugal ocorre em todo o país, com excepção de uma zona no litoral norte.<br />
Habitat: Ocorre numa grande variedade de habitats, encontrando-se associada a<br />
pinhais arenosos.<br />
Reprodução: Entre Abril e Julho, geralmente com duas posturas anuais e<br />
excepcionalmente três.<br />
Lagartixa do mato-ibérica, Psammodromus hispanicus<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Quase ameaçada em Portugal continental; incluída<br />
nos Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Distribui-se pelo sul de França e Península Ibérica. Em Portugal ocorre<br />
principalmente no centro e sul e pelo interior ate Montesinho.<br />
Habitat: Ocorre em áreas secas e abertas, com solos arenosos e cobertura arbustiva<br />
baixa e dispersa.<br />
Reprodução: Entre Março e Maio, com as posturas entre Abril e Junho.<br />
274<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
Família Sincidae<br />
Fura-pastos, cobra-de-pernas-pentadáctila, Chalcides bedriagai<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
nos Anexo II da Convenção de Berna e no Anexo IV da Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: Distribui-se pelo sul de França e Península Ibérica. Em Portugal ocorre<br />
principalmente no centro e sul e pelo interior até Montesinho.<br />
Habitat: ocorre em áreas secas e abertas, com solos arenosos ou pedregosos e<br />
cobertura vegetal dispersa em matagais e bosques, desde o nivel do mar até aos 1120<br />
m (serra do Gerês).<br />
Reprodução: Desde a Primavera até ao Verão.<br />
ORDEM SERPENTES<br />
Família Colubridae<br />
Cobra-lisa-meridional, Coronella girondica<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
no Anexo II da Convenção de Berna e no Anexo IV da Directiva “Habitats”.<br />
Distribuição: Distribui-se pelos Alpes, Itália, Sicília, norte de África, sul de França e<br />
Península Ibérica. Em Portugal ocorre de norte a sul mas em pequenos núcleos.<br />
Habitat: Ocorre em áreas semi-áridas, com solos pedregosos e cobertura vegetal<br />
dispersa, em matagais e bosques, a sua distribuição vai até à serra da Estrela embora,<br />
seja mais frequente a baixas altitudes.<br />
Reprodução: Inicia-se em Maio-Junho com as posturas em Julho.<br />
Cobra-de-escada, Elaphe scalaris<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
no Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Distribui-se pelo NW Itália, sul de França e Península Ibérica. Em<br />
Portugal ocorre em todo o país.<br />
Habitat: Prefere áreas secas e expostas dispersa, podendo ser encontrada em matos,<br />
pinhais, áreas agrícolas e até zonas urbanas; a sua distribuição vai dese o nível do<br />
mar até aos 900 m (Montesinho).<br />
Reprodução: desde fim da Primavera até meados do Verão (geralmente Maio-Julho).<br />
Cobra-rateira (Malpolon monspessulanus).<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
no Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Distribui-se pelo sul da Europa, ásia ocidental e Península Ibérica. Em<br />
Portugal ocorre em todo o país.<br />
Habitat: Ocupa uma grande variedade de habitats: zonas de matos, áreas<br />
pedregosas, bosques de sobreiros, estepes cerealíferas, zonas agrícolas, pinhais<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 275
arenosos, ruínas e jardins, encontrando-se desde o nível do mar até à serra da<br />
Estrela.<br />
Reprodução: Desde em Maio-Junho, com as posturas em Julho.<br />
Cobra-de-água-viperina, Natrix maura<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Pouco Preocupante em Portugal continental; incluída<br />
no Anexo III da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Distribui-se pelo centro e sul da França, SW Suiça, NW Itália, Córsega,<br />
Sardenha, norte de África e Península Ibérica. Em Portugal ocorre em todo o país.<br />
Habitat: Associada a habitats aquáticos: lagos, charcos, represas, barragens,<br />
pantanos e cursos de água, desde o desde o nível do mar até à serra da Estrela.<br />
Reprodução: Desde Março a Maio, mas por vezes também no Outono.<br />
Família Viperidae<br />
Víbora-cornuda, Vipera latastei<br />
Estatuto de Protecção: Espécie Vulnerável em Portugal continental; incluída no<br />
Anexo II da Convenção de Berna.<br />
Distribuição: Distribui-se pelo norte de África e Península Ibérica. Em Portugal ocorre<br />
em todo o país, embora em núcleos descontínuos: SW Alentejano, zona raiana baixoalentejana,<br />
Serra de S. Mamede, Grande Lisboa, Malcata, centro-litoral e acima do<br />
Douro, excepto no litoral.<br />
Habitat: Em zonas baixas ocorre em matagais, áreas agrícolas e pinhais arenosos.<br />
Reprodução: Desde Março a Maio, mas por vezes também no Outono.<br />
276<br />
ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30)
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ESTUDOS DE BASE – <strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO. VOLUME II (REV 1 – 2007-04-30) 301
ICNB<br />
INSTITUTO DA CONSERVAÇÃO DA NATUREZA<br />
E DA BIODIVERSIDADE<br />
PLANO DE ORDENAMENTO E GESTÃO<br />
PARA A RESERVA NATURAL DO ESTUÁRIO<br />
DO TEJO<br />
ESTUDOS DE BASE<br />
<strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO<br />
Volume II / III<br />
ABRIL 2007
ICNB<br />
INSTITUTO DA CONSERVAÇÃO DA NATUREZA<br />
E DA BIODIVERSIDADE<br />
PLANO DE ORDENAMENTO E GESTÃO<br />
PARA A RESERVA NATURAL DO<br />
ESTUÁRIO DO TEJO<br />
ESTUDOS DE BASE<br />
<strong>ETAPA</strong> 1 – DESCRIÇÃO<br />
Volume II / III<br />
ABRIL 2007<br />
Trabalho elaborado por HIDROPROJECTO, Engenharia e Gestão, SA, cujo sistema da Qualidade e<br />
Ambiente está certificado pela APCER, respectivamente com os n.ºs 1998/CEP.777 e 2002/AMB.72