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MOACyR FENElON - Instituto Moreira Salles

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por conta de sua preocupação temática nitidamente<br />

social e pela valorização da coloquialidade<br />

na fala, na interpretação e nas situações<br />

dramáticas.<br />

Com a perda da obra anterior é nesta filmografia<br />

de 1948 a 1953 que se pode perceber<br />

a lenta, porém decidida introdução de uma<br />

reconfiguração do espetáculo cinematográfico<br />

brasileiro. Não se tratava apenas da troca dos<br />

números musicais por enredos de cunho social.<br />

Fenelon sempre soube que a sustentação<br />

do empreendimento cinematográfico no Brasil<br />

dependia da relação do público com a base<br />

cultural emanada do rádio e do disco, e que o<br />

sucesso deste tipo de filme seria a base para<br />

projetos de maior envergadura. A rigor, nenhum<br />

dos filmes realizados por Fenelon nunca<br />

dispensou a presença de números musicais.<br />

Porém, cumpria descobrir se o rádio não poderia<br />

ser explorado em outras dimensões que<br />

não a musical e se as canções apresentadas tinham<br />

mesmo que ser sempre os sucessos do<br />

próximo carnaval. O que era entrevisto neste<br />

sentido por um ou outro filme, ou um ou outro<br />

comentário em fontes de época, revelou-se<br />

mais consistente com o desenvolvimento do<br />

Projeto de Recuperação da Obra de Moacyr<br />

Fenelon. Os cinco títulos selecionados pelo<br />

projeto para reconstituição, confecção de novas<br />

matrizes e copiagem – Obrigado doutor,<br />

Poeira de estrelas, Estou aí?, O dominó negro e<br />

A inconveniência de ser esposa – dão conta de<br />

um sem número de tentativas de fugir dos cânones<br />

escapistas da nascente chanchada, ironicamente<br />

criados pela Atlântida de Fenelon,<br />

embora a seu contragosto. Preparam de forma<br />

sutil a incorporação dos temas do momento, a<br />

introdução de novas roupagens em traços típicos<br />

da comédia ou do melodrama musical<br />

popular e mesmo uma abordagem cinematográfica<br />

diferenciada em termos de tratamento<br />

dramático e estilo, fatores a rigor só consagrados<br />

de forma significativa em Tudo azul e<br />

Agulha no palheiro.<br />

Com a reapresentação pública dos cinco títulos<br />

restaurados pelo Projeto de Recuperação da<br />

Obra de Moacyr Fenelon será possível constatar<br />

essa reorientação na produção do período<br />

e a importância da atuação de Fenelon nesse<br />

sentido. Não é a toa que a chamada geração<br />

independente dos anos 1950 – Nelson Pereira<br />

dos Santos, Hélio Silva, Alex Viany e Roberto<br />

Santos, entre outros – seguiu sua orientação<br />

política nos congressos de cinema e aprofundou<br />

suas lições cinematográficas em filmes tão<br />

decisivos como Rio 40 graus, cujo modelo de<br />

Cinco exemplos de um tempo em que<br />

a sustentação do empreendimento cinematográfico no Brasil<br />

dependia da relação do público<br />

com a base cultural emanada do rádio e do disco.

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