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MOACyR FENElON - Instituto Moreira Salles

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de um certo teatro popular e seus mecanismos<br />

de construção, caso que se apresenta como ligeiro<br />

pano de fundo em Poeira de estrelas, segunda<br />

produção da parceria Cine Produções<br />

Fenelon / Cinédia.<br />

O interesse crescente pelos bastidores da indústria<br />

cultural e que terá sua grande expressão<br />

desmistificadora em Agulha no palheiro<br />

(Brasil, 1953, direção de Alex Viany) e sobretudo<br />

em Rio, zona norte (Brasil, 1958, direção<br />

de Nelson Pereira dos Santos), surge já mais<br />

significativo em Estou aí?. Há também uma<br />

crescente insubordinação de Fenelon frente<br />

aos ditames desta mesma indústria, que via<br />

na comédia musical uma oportunidade para<br />

alavancar ainda mais os sucessos musicais do<br />

momento. À obrigatoriedade de só inserir<br />

canções novas nos filmes, sobrepõe-se o resgate<br />

de clássicos mais antigos e a inserção de<br />

composições criadas diretamente para o cinema,<br />

caso da famosa e antiga Boneca de pixe,<br />

de Ary Barroso e Luís Iglésias, e da Rumba,<br />

composta por Guerra Peixe, as duas presentes<br />

em Poeira de estrelas. As canções suscitaram<br />

também um outro tipo de abordagem em termos<br />

de sua apresentação cinematográfica. Em<br />

vez do acanhamento cênico que existia nas<br />

chanchadas da Atlântida, devido ao pequeno<br />

tamanho do primeiro palco de filmagem<br />

da companhia, Fenelon propõe um maior requinte<br />

de encenação, com cenários mais amplos<br />

e mesmo em dois andares, o que os estúdios<br />

da Cinédia permitiam, como se vê em<br />

Estou aí?, produção dirigida por Cajado Filho<br />

e orçada em 1 milhão de cruzeiros, em moeda<br />

da época, quando o normal para comédia musical<br />

era algo em torno de 500 mil cruzeiros<br />

até o final dos anos 1950. Há também uma<br />

transfiguração do papel narrativo da canção,<br />

seja pelo tema, pelos elementos cênicos que a<br />

expressam ou pelo posicionamento orgânico<br />

em meio ao enredo, caso por exemplo do número<br />

Algodão, de Poeira de estrelas, onde Cyro<br />

Monteiro aparece maquiado como preto velho,<br />

tendo se submetido também a um processo<br />

de envelhecimento, bastante inovador para<br />

a época e realizado pelos maquiadores Arlete<br />

Lester e Erick Rzepecki.<br />

Poeira de estrelas surge como um filme de velada<br />

ousadia, seja por lançar em papel dramático<br />

a cantora Emilinha Borba, seja por insinuar<br />

fortemente um relacionamento homossexual<br />

entre as personagens femininas principais, seja<br />

por evidenciar esse affair sobretudo pelas canções,<br />

em números dirigidos por Cajado Filho<br />

(Fenelon assina o filme mas responsabilizou-<br />

Em O dominó negro<br />

o carnaval encobre um outro mundo, mais sórdido, cruel e desigual.<br />

Uma trama paralela à festa, se não chega a ser sua negação,<br />

põe o carnaval definitivamente em questão.

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