Pesquisadores e ativistas ligam avanço tecnológico à comunicação ...
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Opiniões sobre<br />
Jornal da<br />
mídiacidadã<br />
Mídia Cidadã<br />
pág. 4<br />
Entrevistas<br />
pág. 2 e 3<br />
nº 3 - São Bernardo do Campo, 30 de novembro de 2005<br />
<strong>Pesquisadores</strong> e <strong>ativistas</strong> <strong>ligam</strong> avanço<br />
tecnológico à comunicação comunitária<br />
Fabiola Catherine Correa<br />
Em mais um dia de seminário sobre Mídia<br />
Cidadã, pesquisadores e <strong>ativistas</strong> de várias<br />
instituições abordaram os temas “Folk–<br />
comunicação” e “Mídia Digital”, na tentativa de<br />
estabelecer uma conexão entre tecnologia e<br />
comunicação comunitária.<br />
Pela manhã, o conferencista prof Dr André<br />
Barbosa, assessor especial do Gabinete Civil da<br />
Presidência da República, foi o responsável pelo<br />
território midiático Mídia Digital e discutiu<br />
questões como o surgimento da TV e a suposta<br />
manipulação exercida pela Rede Globo. “A<br />
questão da Rede Globo é muito séria, já que<br />
antes de jogarmos pedra nela, é preciso ver que a<br />
Globo também dá emprego, também produz.<br />
Ela é o que é pela incompetência dos outros<br />
também”, disse André Barbosa.<br />
O assessor do Gabinete Civil também<br />
expôs suas idéias sobre rádios comunitárias: “Às<br />
vezes, a solução para a rádio comunitária não<br />
está na faixa de freqüência modulada. Pode estar<br />
na faixa de ondas curtas, que está sendo utilizada<br />
na Europa agora. Quando nós tivermos o rádio<br />
digital, não haverá mais diferença, vai pegar tudo<br />
junto. Então, acredito que o rádio digital vai<br />
Fotos: Bruno Galhardi<br />
Acima: grupo de dicussão se<br />
reúne para discutir propostas.<br />
Abaixo, público acompanha<br />
conferência pela manhã<br />
permitir que a rádio comunitária tenha várias<br />
emissoras no Brasil em pouco tempo”.<br />
Sobre a mesma discussão, o comentarista<br />
prof. Dr. Sebastião Squirra concluiu que na área<br />
de comunicação entendemos pouco de<br />
tecnologia. “Nós temos a tecnologia em nosso<br />
cotidiano, mas compreendê-la é complexo”. Já<br />
o também comentarista prof. Dr. Marcelo<br />
Sabbatini, da Universidade Federal Rural de<br />
Pernambuco, concluiu que para a tecnologia ser<br />
realmente adotada, ela “deve ser apropriada<br />
pela população em geral”.<br />
Em se tratando do território midiático de<br />
Folkcomunicação, o conferencista prof Dr<br />
Osvaldo Trigueiro expôs a importância encíclica<br />
de ciclos de acontecimentos populares. “Alguns<br />
<strong>ativistas</strong> midiáticos já possuem seus espaços<br />
conquistados também na mídia local, na mídia<br />
regional. Alguns cantores de viola do Nordeste<br />
já têm espaço em programas de rádio”, afirmou<br />
Osvaldo Trigueiro. Além disso, Trigueiro falou<br />
sobre a abordagem regional que uma reportagem<br />
possui e o desejo que a sociedade tem de mostrar<br />
seus produtos culturais.<br />
A conclusão da comentarista Cristina<br />
Schmidt foi de que a sociedade midiática é<br />
discriminatória, até mesmo no meio acadêmico<br />
e que “alguns líderes folks acabam refletindo o<br />
poder das lideranças regionais”. Já para o prof<br />
Dr Daniel Galindo, “é fundamental que a<br />
folkcomunicação não perca a idéia de<br />
cibercomunicação”.<br />
No período da tarde, pesquisadores e<br />
<strong>ativistas</strong> foram divididos em quatro grupos.<br />
“O objetivo comum dos grupos é juntar o<br />
que ouvimos pela manhã com as opiniões de<br />
agora (da tarde) e tentar ligar as novas<br />
tecnologias com a comunicação comunitária”,<br />
explicou o coordenador de um dos grupos,<br />
prof. Dr Daniel Galindo. Nos encontros,<br />
foram abordados sub-temas variados como<br />
a necessidade de se existir uma cultura<br />
tecnológica, devido ao rápido avanço da<br />
tecnologia. Segundo eles, não basta implantar<br />
rede de computadores em comunidades<br />
carentes, é preciso ensinar aos moradores os<br />
programas principais de um computador.<br />
Outro subtema abordado foi a diferença<br />
entre o uso do computador para obtenção de<br />
informação e o uso do computador para puro<br />
entretenimento. “É preferível que as pessoas<br />
de comunidades carentes acessem a Internet,<br />
nem que seja por entretenimento. Se a gente<br />
for pensar em TV, é igual. Há quem assista<br />
informação e há a grande maioria que assiste<br />
entretenimento”, disse a professora adjunta<br />
da Universidade do Vale do Rio dos Sinos,<br />
Cosette Castro.
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Territórios<br />
Analíticos<br />
Território Analítico: Folkcomunicação<br />
Conferencista: Osvaldo Trigueiro (UFPB)<br />
Comentarista: Daniel Galindo (Metodista, S.B.Campo/SP)<br />
Cristina Schmidt (Rede Folkcom, UMC/SP)<br />
Manifestações populares<br />
na comunicação de massa<br />
Paloma Minke<br />
O segundo dia de debates do<br />
Fórum Mídia Cidadã foi<br />
direcionado para os territórios<br />
midiáticos “Folkcomunicação” e<br />
“Mídias Digitais”. Os grupos de<br />
discussão reuniram-se à tarde<br />
e à noite para dar<br />
encaminhamento às análises<br />
que servirão de suporte para a<br />
constituição da Carta de São<br />
Bernardo, a ser produzida hoje.<br />
O conferencista Osvaldo<br />
Trigueiro afirma que, na<br />
sociedade atual, a análise da<br />
cultura popular não pode mais<br />
ser dissociada da sua<br />
imbricação com a mídia, que a<br />
projeta e lhe traz visibilidade.<br />
André Barbosa, conferencista<br />
do tema Mídias Digitais,<br />
acredita na Internet como<br />
ferramenta de inclusão, desde<br />
que aliada a projetos<br />
educacionais direcionados às<br />
minorias.<br />
AC<br />
Na visão de Osvaldo Trigueiro, professor e pesquisador<br />
da Universidade Federal da Paraíba, não há fronteiras entre o<br />
processo de comunicação e o contexto histórico e cultural de<br />
um determinado espaço. Para ele, é fundamental que a mídia<br />
perceba essa relação, pois é seu dever divulgar aspectos da sociedade<br />
na qual está inserida. “Nós não podemos mais estudar<br />
cultura popular desassociada da cultura midiática”, observa.<br />
No artigo “Folkcomunicação”, Trigueiro afirma não ser<br />
“mais possível persistir em compreender-se a influência dos meios<br />
de comunicação sem entender o que as sociedades fazem com<br />
os acontecimentos difundidos pelos meios midiáticos”.<br />
Mais do que isso, Trigueiro busca analisar o comportamento<br />
da sociedade em relação às manifestações culturais veiculadas<br />
pela mídia. O artigo é resultado de um estudo reflexivo<br />
dos comunicadores de massa e os agentes populares, que<br />
estabelecem um contato cada vez maior na produção da chamada<br />
Folkcomunicação.<br />
Por meio do crescimento cultural da América Latina e<br />
pela expansão dos meios de comunicação, os movimentos<br />
populares tendem a ganhar mais espaço.<br />
É interessante notar a influência do ator social sobre a massa,<br />
uma vez que neste caso independe o fator econômico, mas a<br />
proximidade com o público e ao mesmo tempo com os meios<br />
de comunicação massivos. “O ator social ou ativista midiático<br />
na sociedade contemporânea tem o papel de dar visibilidade ao<br />
produto cultural de sua comunidade, aproveitando as brechas<br />
dos meios de comunicação consagrados que oferecem algo à<br />
sociedade, ainda que esporadicamente”, justifica.<br />
Desta forma, é o ativista midiático que media a divulgação<br />
da infomação na mídia, baseada em interesses próprios de lucro<br />
e divulgação e na opinião pública, numa espécie de porta-voz<br />
das necessidades e principalmente da visão da sociedade.<br />
Ele também faz uma observação a respeito dos diferentes<br />
receptores da informação, classificando o indivíduo que<br />
simplesmente consome a notícia e aquele que atua como produtor<br />
a partir daquilo que é veiculado.<br />
O pesquisador discute também o componente<br />
folkmidiático, que se trata de um novo conceito que busca a<br />
compreensão dos segmentos da mídia e da folkcomunicação.<br />
Segundo o pesquisador, a globalização tem impulsionado a<br />
folkcomunicação. “Desde a alienação cultural em 1970 o que<br />
está acontecendo hoje é um ressurgimento das culturas locais,<br />
mas com uma nova dinâmica que agrega valores midiáticos”,<br />
declara Trigueiro.
Território Analítico: Mídia Digital<br />
Conferencista: André Barbosa (PR - Casa Civil, Brasília)<br />
Comentarista: Sebastião Squirra (Metodista, S.B.Campo/SP)<br />
Marcelo Sabbatini (UFRPE/Pernambuco)<br />
Prof. Dr. Osvaldo Trigueiro<br />
Profa. Dra. Anamaria Fadul e prof. Dr. André<br />
Barbosa<br />
Fotos: Talita Itabaiana<br />
Talita Itabaiana<br />
Profa.<br />
Mesa<br />
Cicilia<br />
de abertura<br />
Peruzzo<br />
da conferência Mídia Digital<br />
Sociedade Digital<br />
Fabíola Catherine Corrêa<br />
Muito se fala sobre os avanços tecnológicos e a grande<br />
revolução processada na sociedade em razão de tais<br />
avanços. Vivemos em uma Sociedade de Informação, na<br />
qual o grande passo da mídia digital é a Internet. Desde<br />
sua criação, a vida não é mais a mesma.<br />
“A mídia digital é o retrato de uma conquista que<br />
poderia ser expressa como um dos maiores atributos da<br />
cidadania plena. Ter fluência nos domínios do mundo<br />
digital significa estar alinhado com a realidade em<br />
tempo real; condição fundamental para a conquista de<br />
espaços de realização pessoal nestes tempos de<br />
convergência e diversidade”, afirma o assessor especial da<br />
Casa Civil André Barbosa, conferencista responsável pelo<br />
território analítico de Mídia Digital.<br />
Em se tratando de liberdade de expressão, a Rede<br />
Mundial parece ter surgido para salvar, se levarmos em<br />
consideração a suposta democracia que a envolve.<br />
Enquanto a TV surgiu sob uma grande polêmica, em relação<br />
à agilidade de informação e à manipulação - o grande<br />
número de opiniões, idéias e formas de participação cidadã<br />
que encontramos na Internet podem ser vistos como<br />
democracia, já que não há nenhuma forma de censura.<br />
Porém, nada garante que a web possa realmente ser<br />
considerada democrática. É preciso, antes, levar em<br />
consideração alguns fatores, como, por exemplo, o de que<br />
a minoria da população tem acesso à Internet. “O Brasil<br />
apresenta hoje uma brecha digital que supera a casa dos<br />
80% de excluídos e este cenário é inaceitável”, diz André<br />
Barbosa. Para isso, estuda-se uma inclusão digital, trazendo<br />
à tona fatores prioritários como educação e condições<br />
monetárias para se ter acesso à rede. “As pessoas ficariam<br />
admiradas em ver o que um jovem da periferia de uma<br />
grande cidade, sem emprego, sem escola, pode realizar em<br />
contato com uma ferramenta digital. Os centros coletivos<br />
de acesso digital conectados em atividade em diversas<br />
capitais brasileiras provam que basta dar uma oportunidade<br />
para surgirem talentos incríveis em meio a tanta exclusão”,<br />
afirma o conferencista.<br />
O governo já tem projetos para que ocorra essa inclusão,<br />
e André Barbosa acredita neste projeto: “O ‘Programa<br />
Brasileiro de Inclusão Digital’ está em andamento. Precisa<br />
de muitos ajustes, mas já podem ser observados<br />
alguns pontos de avanço consistente. Os projetos<br />
de infocentros e de espaços de acesso a terminais<br />
conectados à banda larga crescem a cada dia no país,<br />
devendo oferecer, cada vez mais, acesso ao mundo<br />
digital para as populações de baixa renda. Temos ainda que<br />
avançar consistentemente nos programas de conexão nas<br />
escolas públicas. O desafio é grande, mas esta é a boa<br />
batalha”.<br />
3
Quais as análises e contribuições<br />
deixadas pelo Fórum Mídia Cidadã?<br />
Bruno Galhardi<br />
“<br />
Éum pontapé<br />
porque é a<br />
primeira vez que<br />
a Cátedra toma a iniciativa de<br />
reunir não só pesquisadores<br />
do meio acadêmico como<br />
também <strong>ativistas</strong> midiáticos.<br />
Que este evento seja<br />
disseminado para outras<br />
universidades porque ainda há<br />
muito o que discutir sobre<br />
isso”.<br />
Paulo Gomes<br />
Trabalha com mídia comercial<br />
na rádio Super Condá, que tem<br />
abrangência em 400 municípios<br />
e três estados do sul.<br />
Por Lucilene Santos<br />
“O bom é que a discussão não vai ficar<br />
aqui, vai para todos os interessados, mas<br />
faltou a comunidade representada. Para<br />
um próximo evento, já que estão<br />
querendo institucionalizá-lo, devemos<br />
organizar a sociedade para participar<br />
também”.<br />
Bruna Guimarães<br />
Mestranda na Metodista.<br />
Trabalhou três anos no jornal<br />
Imprensa Livre, o único jornal<br />
regional do litoral Norte.<br />
“O evento contribuiu para encontrar<br />
as pessoas que atuam ou pesquisam<br />
em diversas áreas e procurar o<br />
pensamento comum entre esses<br />
atuantes, para se formular um<br />
documento que seja uma intervenção,<br />
tanto da academia quanto da<br />
sociedade civil e do governo”.<br />
Adilson Cabral<br />
Professor da Universidade Federal<br />
Fluminense e coordenador de um<br />
informativo eletrônico sobre<br />
política de comunicação.<br />
“Chegar a um consenso que permita<br />
um diálogo mais claro sobre o conceito<br />
de comunidade, porque cada<br />
universidade fala uma coisa. É<br />
fundamental o envolvimento do<br />
representante do Governo e a<br />
institucionalização do tema<br />
Comunicação Comunitária”.<br />
Patrícia Saldanha<br />
Doutoranda da UFRJ e Membro do<br />
LEC (Laboratório de Estudos de<br />
Comunicação Comunitária) da<br />
ECU (Escola de Comunicação da<br />
UFRJ).<br />
“É muito importante porque a gente<br />
socializa idéias com colegas de quase<br />
todo país. Troca-se experiência e fazse<br />
uma reciclagem tanto no sentido<br />
positivo quanto no negativo.<br />
Trazemos para cá nossos erros e<br />
acertos”.<br />
Orlando Berti<br />
Pesquisador de folkcomunicação<br />
sertaneja na Universidade Estadual<br />
do Piauí e na Faculdade Santo<br />
Agostinho.<br />
“A valorização da cultura popular que<br />
não se vê representada. Uma reflexão<br />
para a formação do estudante e<br />
profissional de comunicação na<br />
relação entre a prática social e as<br />
pesquisas feitas, com o objetivo de<br />
aproximar essa discussão da sociedade<br />
também”.<br />
Roseli Araújo Professora de<br />
Comunicação na Faculdade de<br />
Brasília. Trabalha também na rede<br />
pública com o terceiro setor.<br />
Universidade Metodista de São Paulo - Reitor - Davi Ferreira Barros; Vice-Reitor Acadêmico -<br />
Clóvis Pinto de Castro; Vice-Reitor Administrativo - Márcio de Moraes<br />
WACC - World Association for Christian Communication - Vice Presidente para América Latina<br />
- Luciano Sathler Rosa Guimarães<br />
Cátedra Unesco de Comunicação para o Desenvolvimento Regional - Diretor Titular -José<br />
Marques de Melo; Diretora Suplente - Maria Cristina Gobbi<br />
Faculdade de Jornalismo e Relações Públicas - Diretora - Maria Aparecida Ferrari; Coordenador de<br />
Jornalismo - Rodolfo Martini<br />
Editor-chefe:Roberto Joaquim de Oliveira; Professores-editores: Eduardo Grossi, Marli dos Santos,<br />
Maurício Gasparotto e Mônica Caprino; Equipe de reportagem: Alunos do Curso de Jornalismo da<br />
Universidade Metodista de São Paulo Érika Pontes de Faria, Fabíola Correa, Fernando, Layla<br />
Cristina, Paloma Minke, Thaísa Carolina Yadnak, Filipe Rubim, Lucilene Santos.<br />
AC