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ENTIDADE MANTENEDORA: NTIDADE MANTENEDORA ... - UniFil

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA<br />

<strong>E<strong>NTIDADE</strong></strong> <strong>MANTENEDORA</strong>:<br />

INSTITUTO FILADÉLFIA DE LONDRINA<br />

Diretoria:<br />

Sra. Ana Maria Moraes Gomes .................................. Presidente<br />

Sr. Edson Aparecido Moreti ...................................... Vice-Presidente<br />

Dr. Claudinei João Pelisson........................................ 1º Secretário<br />

Sra. Edna Virgínia C. Monteiro de Melo ..................... 2ºVice-Secretário<br />

Sr. Alberto Luiz Candido Wust ................................. 1º Tesoureiro<br />

Sr. José Severino....................................................... 2º Vice-Tesoureiro<br />

Dr. Osni Ferreira (Rev.) .............................................. Chanceler<br />

Dr. Eleazar Ferreira .................................................... Reitor


ISSN 0104-8112<br />

TERRA E CULTURA<br />

Ano XXIII – nº 45 – Agosto a Dezembro de 2007<br />

CONSELHO EDITORIAL<br />

PRESIDENTE<br />

Leandro Henrique Magalhães<br />

CONSELHEIROS<br />

Conselho Editorial Interno<br />

Prof. Ms. Ademir Morgenstern Padilha<br />

Prof. Dr. Cezar Bueno de Lima<br />

Profa. Dra. Damares Tomasin Biazin<br />

Profa. Dra. Denise Hernandes Tinoco<br />

Profa. Ms. Elen Gongora Moreira<br />

Profa. Esp. Izabel Fernandes G. de Souza<br />

Prof. Dr. João Antonio Cyrino Zequi<br />

Prof. Dr. João Juliani<br />

Prof. Ms. José Antônio Baltazar<br />

Prof. Ms. José Martins Trigueiro Neto<br />

Profa. Dra. Lenita Brunetto Bruniera<br />

Prof. Ms. Marcos Roberto Garcia<br />

Profa. Ms. Maria Eduvirges Marandola<br />

Profa. Ms. Marisa Batista Brighenti<br />

Profa. Ms. Marta Regina F. de Oliveira<br />

Profa. Dra. Miriam Ribeiro Alves<br />

Profa. Ms. Patrícia Martins C. Branco<br />

Prof. Ms. Pedro Lanaro<br />

Prof. Dr. Sérgio Akio Tanaka<br />

Prof. Ms. Silvia do Carmo Pattarelli<br />

Profa. Ms. Karina de Toledo Araújo<br />

Conselho Editorial Externo<br />

Prof. Dr.Abdalah Achour Junior<br />

Prof. Ms. Adalberto Brandalize<br />

Profa. Ms. Angela Maria de Sousa Lima<br />

Profa. Dra. Dirce S. Fujisawa<br />

Profa. Dra. Gislayne Fernandes L. T. Vilas Boas<br />

Prof. Ms. Ivan Dutra<br />

Prof. Dr. Jefferson Rosa Cardoso<br />

Prof. Dr. José Eduardo Garcia<br />

Prof. Dr. José Miguel Arias Neto<br />

Prof. Dr. Laurival Antonio Vilas Boas<br />

Profa. Dra. Lúcia Helena Tiosso Moretti<br />

Prof. Dr. Luis Filipe Silverio Lima<br />

Profa. Ms. Mara Lúcia Garanhani<br />

Profa. Ms. Marcia Josefina Beffa<br />

Profa. Ms. Márcia Regina Garanhani<br />

Profa. Ms. Maria Elisa Pacheco<br />

Profa. Dra. Nair Simone de Toledo Costa<br />

Profa. Ms. Patrícia Queiroz<br />

Profa. Dra. Selma Frossard Costa<br />

Profa. Ms. Silvia Helena Carvalho<br />

Profa. Esp. Thais Berbert<br />

REVISORES<br />

Thiago Tomasin Biazin<br />

Profa. Ms. Esmera Fatel Aureliano Rossi<br />

SECRETARIA<br />

Elaine Dias Giroldo<br />

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO<br />

Wagner Werner


R349<br />

Revista Terra e Cultura: cadernos de ensino e pesquisa, v.1, n.1, jan./<br />

jun., 1985- . – Londrina: <strong>UniFil</strong>, 1985.<br />

Semestral<br />

Revista da <strong>UniFil</strong> – Centro Universitário Filadélfia.<br />

ISSN 0104-8112<br />

Filadélfia<br />

1. Educação superior – periódicos. I. <strong>UniFil</strong> – Centro Universitário<br />

CDD 378.05<br />

Bibliotecária responsável Thais Fauro Scalco CRB 9/1165


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TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezembro 2007


CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA<br />

REITOR:<br />

Dr. Eleazar Ferreira<br />

PRÓ-REITOR DE ENSINO DE GRADUAÇÃO:<br />

Profa. Dra. Georfravia Montoza Alvarenga<br />

COORDENADOR DE CONTROLE ACADÊMICO:<br />

Prof. Esp. Paulo da Silva<br />

COORDENADORA DE AÇÃO ACADÊMICA:<br />

Laura Maria dos Santos Maurano<br />

PRÓ-REITORA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO:<br />

Profª. Dra. Damares Tomasin Biazin<br />

COORDENADOR DE PROJETOS ESPECIAIS E ASSESSOR DO REITOR:<br />

Prof. MSc. Reynaldo Camargo Neves<br />

COORDENADOR DE PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS:<br />

Prof. Dr. Leandro Henrique Magalhães<br />

PRÓ-REITOR DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL:<br />

Profª. Ms. Jose Gonçalves Vicente<br />

7<br />

COORDENADORES DE CURSOS DE GRADUAÇÃO:<br />

Administração<br />

Prof. Ms. Luís Marcelo Martins<br />

Arquitetura e Urbanismo Prof. Ms. Ivan Prado Junior<br />

Biomedicina<br />

Prof. Esp. Eduardo Carlos Ferreira Tonani<br />

Ciências Biológicas<br />

Prof. Dr. João Antônio Cyrino Zequi<br />

Ciências Contábeis<br />

Prof. Ms. Eduardo Nascimento da Costa<br />

Direito<br />

Prof. Ms. Osmar Vieira da Silva<br />

Educação Física<br />

Prof. Ms. Pedro Lanaro Filho<br />

Enfermagem<br />

Profª. Ms. Rosângela Galindo de Campos<br />

Farmácia<br />

Profª. Dra.Lenita Brunetto Bruniera<br />

Fisioterapia<br />

Profª. Dra. Suhaila Mahmoud Smaili Santos<br />

Nutrição<br />

Profª. Ms. Ivoneti Barros Nunes de Oliveira<br />

Pedagogia<br />

Profª. Ms. Marta Regina Furlan de Oliveira<br />

Psicologia<br />

Profª. Dra. Denise Hernandes Tinoco<br />

Secretariado Executivo Profª. Ms. Izabel Fernandes Garcia Souza<br />

Sistema de Informação Prof. Ms. Sérgio Akio Tanaka<br />

Teologia<br />

Prof. Ms. José Martins Trigueiro Neto<br />

Turismo<br />

Profª. Esp. Michelle Ariane Novaki<br />

Rua Alagoas, nº 2.050 - CEP 86.020-430<br />

Fone: (0xx43) 3375-7400 - Londrina - Paraná<br />

www.unifil.br<br />

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TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Julho a Dezembro 2006


E D I T O R I A L<br />

A Revista Terra e Cultura: Caderno de Ensino e Pesquisa alcança, com esta edição, o número<br />

45. São 23 anos de trabalho voltados para a divulgação da produção científica da <strong>UniFil</strong> e de<br />

outras instituições de ensino e pesquisa do Brasil, favorecendo assim o diálogo fundamental para a<br />

construção do conhecimento. No ano de 2007 a política de ampliação dos periódicos de divulgação<br />

científica da <strong>UniFil</strong> garantiu não só a disponibilização das edições da Terra e Cultura no site da<br />

instituição (www.unifil.br), mas também a criação de mais duas revistas: a Revista Eletrônica de<br />

Educação e a Revista Eletrônica de Ciências Empresarias, já disponíveis para acesso. Há previsão<br />

ainda de publicação no site da Revista Jurídica, periódico de circulação impressa do curso de<br />

Direito. Complementando nossa política de divulgação do conhecimento e diálogo entre pesquisadores<br />

e instituições, estão disponíveis os anais do I Encontro de Extensão da <strong>UniFil</strong> e do XV<br />

Simpósio de Iniciação Científica.<br />

A novidade desta edição é a reorganização dos núcleos, seguindo orientação institucional.<br />

Assim, a revista está organizada da seguinte forma: O NÚCLEO DE CIÊNCIAS BIOLÓGI-<br />

CAS E SAÚDE conta com três importantes artigos, um deles tratando da humanização em hospitais,<br />

outro da saúde do professor e o terceiro abordando questões relativas às habilidades motoras<br />

de jogadores de futebol. Já o NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS trás um<br />

artigo da área de psicologia sobre intervenção com casais e um interessante estudo sobre o trabalho<br />

exploratório no Brasil. O NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS compõe a<br />

revista com quatro artigos da área organizacional, tratando de temas como comunicação, gestão de<br />

micro e pequenas empresas, a importância dos sujeitos na mudança organizacional e liderança. Por<br />

fim temos o NÚCLEO DE ARQUITETURA, URBANISMO E TECNOLOGIAS, com um<br />

artigo da área de arquitetura e outro da área de sistemas de informações.<br />

Estamos publicando ainda os artigos premiados no XV Simpósio de Iniciação Científica. É o<br />

segundo ano consecutivo que proporcionamos aos melhores trabalhos apresentados no evento a<br />

publicação integral de seus artigos, visando estimular a produção do conhecimento entre nossos<br />

alunos de graduação.<br />

Esperamos que aproveitem a leitura e aguardamos, desde já, os artigos que comporão a<br />

próxima edição da revista.<br />

Prof. Dr. Leandro Henrique Magalhães<br />

Presidente do Conselho Editorial


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TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezembro 2007


SUMÁRIO<br />

NÚCLEO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE - NCBS<br />

A HUMANIZAÇÃO EM INTERIORES DE AMBIENTES HOSPITALARES ........... 17<br />

THE HUMANIZE IN INTERIOR HOSPITAL ENVIRONMENT<br />

Elisabete Cardoso Simão Horevicz<br />

Ivanóe De Cunto<br />

AS IMPLICAÇÕES DAS ATIVIDADES DOCENTES NA SAÚDE FÍSICA E MENTAL<br />

DO PROFESSOR .................................................................................................................... 24<br />

THE IMPLICATIONS OF THE ACADEMICIAN ACTIVITIES IN THE PHYSICS AND MENTAL HEALTH<br />

OF THE TEACHER<br />

Ana Carolina de Athayde Raymundi Braz<br />

ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO: INTER-RELAÇÕES COM A APRENDIZAGEM E<br />

PERFORMANCE DE HABILIDADES MOTORAS NO FUTEBOL ........................... 35<br />

ATTENTION AND CONCENTRATION: INTERACTS RELATIONS WITH THE LEARNIG AND THE<br />

PERFORMANCE OF MOVING SKILLS IN SOCCER<br />

Marco A. C Ferreira<br />

Rosane S. E. Ferreira<br />

Ricardo W. Coelho<br />

NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - NCHS<br />

INTEGRATIVE COUPLE THERAPY: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO COM<br />

CASAIS NA TERAPIA ANALÍTICA COMPORTAMENTAL ....................................... 49<br />

INTEGRATIVE COUPLE THERAPY: A PROPOSAL OF INTERVENTION WITH COUPLES IN<br />

ANALYTICAL BEHAVIOR THERAPY<br />

Jacqueline Franciele Asse<br />

Marcos Roberto Garcia<br />

11<br />

TRABALHO EXPLORATÓRIO: O BRASIL NÃO ESQUECE E A QUESTÃO PER-<br />

MANECE.................................................................................................................................. 56<br />

EXPLORER JOB: BRAZIL DOESN’T FORGET AND THE QUESTION STILL REMAINS<br />

Agnaldo Kupper<br />

NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAS APLICADAS - NCSA<br />

COMUNICA-AÇÃO: O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS NO<br />

MEIO ORGANIZACIONAL ................................................................................................ 67<br />

COMUNIC-ACTIO: THE DEVELOPMENT OF THE SOCIAL SKILLS IN THE INSTITUTION<br />

ENVIRONMENT<br />

Ligia Cristina Bitencourt<br />

Nayana Kathrin Tanaka<br />

Elen Gongora Moreira<br />

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TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Julho a Dezembro 2006


A ESTRATÉGIA DOS CUSTOS PARA A GESTÃO DAS MICRO E PEQUENAS<br />

EMPRESAS ............................................................................................................................ 7 5<br />

THE STRATEGY OF COSTS TO THE MANAGEMENT OF THE MICRO AND SMALL COMPANIES<br />

Josinei Marcos Candido da Silva<br />

Luís Marcelo Martins<br />

Rodrigo Candido Damas<br />

MUDANÇA ORGANIZACIONAL: ONDE ESTÁ O SUJEITO NESSE<br />

PROCESSO?....................................................................................................................... 8 7<br />

ORGANIZATIONAL CHANGE: WHERE IS THE INDIVIDUAL IN THIS PROCESS?<br />

Mariza Cecílio Janeiro<br />

Edelvais Keller<br />

O APRIMORAMENTO DAS HABILIDADES DE LIDERANÇA POR INTERMÉDIO<br />

DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO, DESENVOLVIMENTO E EDUCAÇÃO<br />

ORGANIZACIONAL ............................................................................................................. 97<br />

THE IMPROVEMENT OF THE LEADRESHIP SKILLS INTERMEDIATED BY A DRILLED PROGRAM,<br />

ORGANIZATIONAL DEVELOPMENT AND EDUCATION<br />

Andréa Mita<br />

Ana Paula Takahashi<br />

Jacqueline Montilha Leonardi<br />

Mari Teresa Molinari<br />

Elen Gongora Moreira<br />

NÚCLEO DE ARQUITETURA, URBANISMO E TECNOLOGIAS - NAUT<br />

12<br />

BASES PARA O PROJETO DE CENTROS DE CULTURA E ARTE ........................ 107<br />

BASES TO THE PROJECT OF CULTURAL AND ART CENTERS<br />

Agnaldo Adélio Eduardo<br />

Antonio Manuel Nunes Castelnou<br />

ESTUDO DE FERRAMENTAS DE MODELAGEM EM RELAÇÃO À UML 2.0 ...... 122<br />

STUDY OF TOOLS FOR THE MODELING IN RELATION TO THE UML 2.0<br />

Sergio A. Tanaka<br />

Thiago A. Herek<br />

Simone S. Tanaka<br />

Ruy T. Nishimura<br />

PRÊMIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA<br />

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CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO NA AQUISIÇÃO<br />

DA LINGUAGEM E FORMAÇÃO DO PENSAMENTO: A APRENDIZAGEM ESCO-<br />

LAR DA CRIANÇA DE 05 E 06 ANOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ....................... 133<br />

CONTRIBUTIONS OF PSYCHOLOGY OF DEVELOPMENT IN THE ACQUISITION OF LANGUAGE AND<br />

TRAINING AND THOUGHT FORMATION: THE LEARNING OF SCHOOL CHILDREN FROM 05 AND 06<br />

YEARS IN CHILD REARING<br />

Eliana Aparecida Assis Motta<br />

Ana Cláudia Cerini Trevisan<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezembro 2007


A IMPORTÂNCIA DA ENGENHARIA E SEGURANÇA DO TRABALHO NA PRE-<br />

VENÇÃO DE ACIDENTES E DOENÇAS OCUPACIONAIS ...................................... 139<br />

THE IMPORTANCE OF THE SECURITY ENGINEERING OF WORK IN THE PREVENTION OF<br />

OCCUPATIONAL ACCIDENT AND DISEASES<br />

Zuleide Maria Janesch<br />

Fernanda de Souza Moura<br />

Giselle Chagas Bueno<br />

Antonio Belincanta<br />

BIOENERGIA E SUA RELAÇÃO COM A ADMINISTRAÇÃO ................................ 150<br />

BIOENERGY AND ITS RELATION WITH THE ADMINISTRATION<br />

Alexandre Roberto Strelling<br />

Alexandro Nunes de Lima<br />

André Vieira Costa<br />

Gilson Eduardo Igawa<br />

Adalberto Brandalize<br />

ÉTICA NA PESQUISA: UMA ABORDAGEM EM SALA DE AULA UTILIZANDO O<br />

FILME “COBAIAS” ............................................................................................................ 157<br />

ETHICS IN RESEARCH: AN APPROACH IN SCHOOL CLASSES USING THE MOVIE “MISS EVERS<br />

BOYS”<br />

Alessandra Cabral Leite Duim<br />

Juliandra Rodrigues Rosisca<br />

Eduardo Mozart Machado<br />

Lázara Pereira Campos Caramori<br />

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NÚCLEO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE


A Humanização em Interiores de Ambientes Hospitalares<br />

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Elisabete Cardoso Simão Horevicz e Ivanóe De Cunto<br />

A HUMANIZAÇÃO EM INTERIORES DE AMBIENTES HOSPITALARES<br />

THE HUMANIZE IN INTERIOR HOSPITAL ENVIRONMENT<br />

Elisabete Cardoso Simão Horevicz*<br />

Ivanóe De Cunto**<br />

RESUMO:<br />

Este artigo aborda a importância que a humanização do ambiente hospitalar pode causar na recuperação<br />

do paciente, auxiliando seu processo de cura. Apresenta algumas soluções arquitetônicas<br />

para promover a humanização, como o uso de cores, o controle da iluminação, o contato com a<br />

natureza e a personalização dos espaços, visando proporcionar ao ambiente hospitalar um valor<br />

mais humano, aproximando-se da vida do paciente e afastando-se do caráter unicamente institucional.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Arquitetura hospitalar; Ambientes Hospitalares; Humanização no Ambiente.<br />

ABSTRACT:<br />

This article is about the importance of the humanization in the hospitalar places and it speaks that it<br />

can cause a transformation in the recuperation of the patient, helping his process of cure. Its shows<br />

some architectural solutions based on the creating of a humanization in the process. Then, we can<br />

use colors, the control of the illumination, the contact with the nature and the personalization of the<br />

spaces to improve these ends. The principal goal is to furnish to the hospitalar place a human value,<br />

creating a bridge between the patient and the world and no only basing this relation on the institution.<br />

KEY-WORDS: Hospitalar Architecture. Hospitalar Places. Humanization.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

17<br />

A arquitetura hospitalar tem passado por um processo de transformação nos últimos<br />

anos em função da preocupação com o bem-estar dos pacientes. Isso provocou mudanças<br />

nas instalações e nos tratamentos de saúde. Essa nova visão abrange o conceito de Humanização<br />

dos Ambientes Hospitalares, aproximando o ambiente físico dos valores humanos, tratando o homem<br />

como foco principal do projeto. Segundo Mezzomo (2003), “a humanização é entendida como<br />

valor, na medida em que resgata o respeito à vida humana. Abrange circunstâncias sociais, éticas,<br />

educacionais e psíquicas presentes em todo relacionamento humano...”.<br />

A humanização de ambientes busca promover ao seu usuário conforto físico e<br />

psicológico. Este trabalho busca apontar algumas considerações através de atributos ambientais<br />

que provocam estímulos sensoriais benéficos aos seres humanos, tais como luz, cor, som, aroma,<br />

textura, forma, além de analisar aspectos ambientais, sensoriais e comportamentais. O objetivo<br />

deste artigo é indicar possíveis caminhos que direcionem a importância da humanização nos projetos<br />

de interiores de ambientes hospitalares.<br />

* Centro Universitário Filadélfia – especialista em Arquitetura de Interiores. Rua Damasco Adão Sotille, 45. 86300-000 –<br />

Cornélio Procópio - PR. Correio eletrônico: sh_arquitetura@hotmail.com<br />

** Centro Universitário Filadélfia – mestre pela UEL. Av. Juscelino Kubitscheck, 1626. 86020 - 000 – Londrina – PR. Correio<br />

eletrônico: ivanoedc@gmail.com<br />

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2. HUMANIZAÇÃO DE AMBIENTES HOSPITALARES<br />

“Parece paradoxal falar-se em humanização do hospital como se sua vocação não<br />

fosse essencialmente humana. Ocorre, porém, que o hospital, a semelhança de outras instituições<br />

públicas, esquece facilmente a finalidade pela qual foi criado.” Este depoimento de João C. Mezzomo<br />

(2003) deixa clara a necessidade de tratar o ambiente hospitalar com qualidade, e não apenas no<br />

aspecto institucional que sempre predominou neste tipo de edificação.<br />

Os hospitais vêm sofrendo transformações consideráveis, seja quanto ao avanço<br />

tecnológico e científico, seja quanto ao espaço físico e sua importância para a população usuária.<br />

Segundo João C. Mezzomo (2003) “De vinte anos para cá, assistimos a um trabalho de total<br />

renovação e transformação no campo da arquitetura hospitalar no sentido de responder às necessidades<br />

do homem atual”. Os administradores da saúde cada vez mais têm se conscientizado<br />

da importância de tratar o paciente como o centro das atenções, deixando para trás aquela<br />

imagem clássica de hospital com ambientes frios por ambientes agradáveis para os pacientes e<br />

seus familiares.<br />

3. O ARQUITETO HOSPITALAR<br />

18<br />

O ser humano está o tempo todo inserido num espaço onde desenvolve suas ações,<br />

seja ele um espaço destinado ao trabalho, ao lazer ou ao descanso. Considerando esta relação<br />

homem-espaço, o edifício construído deixa de ser encarado a partir da suas características físicas<br />

e passa a ser avaliado e discutido enquanto espaço sujeito à ocupação, leitura e reinterpretação.<br />

(ELALI,1997).<br />

O arquiteto deve estar a par das exigências da entidade mantenedora do programa,<br />

da equipe de trabalho do hospital e da população de pacientes que utilizará o espaço. Todas<br />

essas informações devem ser somadas aos conhecimentos técnicos necessários e à capacidade<br />

criativa para embutir nesse espaço complexo, sistemático e em constante evolução, os atributos de<br />

um projeto de interiores que irá humanizar o ambiente, tornando-o funcional e confortável ao mesmo<br />

tempo. Carlos Eduardo Pompeu – professor de arquitetura hospitalar na FAU/USP – defende<br />

a idéia de que o hospital funcione em moldes semelhantes aos de um hotel (POMPEU, 1997).<br />

Para Costi (2002), mesmo que administrado como uma empresa, parecido com um<br />

hotel que oferece qualidade de atendimento e conforto, como uma fábrica produtora de sangue e<br />

de leite materno, ou como um shopping center que vende seus serviços, ainda assim, o hospital<br />

permanece sendo um estabelecimento de saúde que prioriza a saúde humana no seu sentido mais<br />

completo. Portanto, ainda segundo Costi (2002) o principal objetivo do projeto, além de beleza,<br />

funcionalidade e competitividade para seu cliente, deve ser a promoção da cura para os pacientes.<br />

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4. ATRIBUTOS DE HUMANIZAÇÃO DO AMBIENTE HOSPITALAR<br />

Muitas das teorias atuais sobre projetos de humanização são baseadas nas pesquisas<br />

de Roger S. Ulrich, que é diretor do Center for Health Systems and Design no College of<br />

Archietcture at Texas A&M University.<br />

De acordo com Ulrich (1991) “alterando o espaço hospitalar através da redução<br />

do estresse ambiental, pode-se melhorar o processo dos cuidados com a saúde, e ainda reduzir os<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Elisabete Cardoso Simão Horevicz e Ivanóe De Cunto<br />

custos dos tratamentos”. Apesar de não haver nenhuma prescrição para criar um ambiente que<br />

promova a cura, pelo menos há uma grande concordância entre os pesquisadores no assunto no<br />

que se refere aos fatores que causam reações fisiológicas no corpo humano e ajudam na recuperação<br />

dos pacientes hospitalizados. Ainda segundo Ulrich (1991) os responsáveis pela redução do<br />

estresse e promoção do bem estar aos pacientes são: controle do ambiente; suporte social possibilitado<br />

pelo ambiente; distrações positivas do ambiente.<br />

4.1 Controle do Ambiente<br />

As pessoas sentem necessidade de poder controlar o ambiente que os cerca. A<br />

sensação de controle é um importante fator que influencia o nível de estresse e o bem-estar em<br />

diversos grupos de pessoas, principalmente em pacientes hospitalizados que já estão fragilizados<br />

física e psicologicamente.<br />

Evidências científicas demonstram que um hospital barulhento, confuso, sem privacidade<br />

e que não permite ao indivíduo controlar seu ambiente imediato, prejudica o paciente<br />

reduzindo sua sensação de autonomia, o que pode causar depressão, passividade, aumentar a<br />

pressão arterial e reduzir a funcionalidade do sistema imunológico. (ULRICH, 1991)<br />

Algumas soluções arquitetônicas, segundo Malkin (2003) podem proporcionar ao<br />

paciente a sensação de controle do ambiente, tais como: oferecer privacidade visual para pacientes<br />

vestir-se em salas de imagens; permitir o controle do canal e do volume da televisão tanto nos<br />

quartos como nas salas de visitas; incluir jardins ou pátios acessíveis a pacientes; criar um local<br />

onde os pacientes possam dedicar-se a coisas de seu interesse ou a algum hobby.<br />

4.2 Suporte Social<br />

Muitos estudos nos campos da medicina comportamental e da psicologia clínica<br />

descobriram, dentre uma variada gama de situações que envolvem ambientes de saúde, que indivíduos<br />

com suporte social apresentam menores níveis de estresse do que aqueles que não têm<br />

nenhum tipo de apoio da família, amigos ou sociedade. (ULRICH, 1991)<br />

De acordo com Malkin (2003) alguns exemplos de estratégias para promoção do<br />

suporte social incluem: áreas de espera para visitantes com assentos móveis que permitam reunião<br />

em grupo; jardins externos ou locais de encontro que estimulem a interação social entre pacientevisitantes<br />

e paciente-pacientes; evitar cadeiras lado a lado, encostadas às paredes ou fixas, pois<br />

elas reduzem a interação social; criar ambientes com espaços específicos para a realização de<br />

reuniões, formação de grupos de estudo, espaços para o lazer e capela para oração.<br />

4.3 Distrações Positivas<br />

A distração positiva é proporcionada por um ambiente formado por elementos que<br />

provocam sentimentos positivos no paciente, prendendo sua atenção e despertando seu interesse<br />

para outras coisas além da sua doença, o que reduz ou até mesmo bloqueia os pensamentos ruins.<br />

(ULRICH, 1991)<br />

É importante tomar conhecimento das características da população que utilizará o<br />

espaço, como por exemplo, idade, sexo, nível cultural e social, e também tomar conhecimento de<br />

quais atividades serão desenvolvidas no local. Algumas sugestões segundo Malkin (2003), para<br />

proporcionar distrações positivas no ambiente hospitalar são: presença de átrios, jardins internos ou<br />

espaços abertos ao exterior; uso de elementos, tais como fontes, lareiras e aquários; janelas baixas.<br />

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A Humanização em Interiores de Ambientes Hospitalares<br />

5. PSICONEUROIMUNOLOGIA<br />

É a arte e ciência de criar ambientes que ajudam a evitar doenças, a acelerar a<br />

cura e a promover o bem-estar das pessoas. Estuda os estímulos sensoriais e os elementos do<br />

ambiente que os causam, além das relações entre estresse e saúde.<br />

O bem estar físico e emocional do homem é influenciado por seis fatores: luz, cor,<br />

som, aroma, textura e forma. Essas elementos do ambiente têm impacto tão grande no psicológico<br />

e no físico dos indivíduos que uma instalação médica bem projetada, aplicando adequadamente<br />

estes fatores, pode ser considerada parte importantes do tratamento. (GAPPELL, 1995)<br />

5.1 Luz<br />

Até recentemente um projeto de iluminação visava apenas à função visual, onde a<br />

quantidade e a qualidade da luz eram fundamentais. Hoje, arquitetos e designers já estão cientes<br />

dos benefícios que a luz traz à saúde. A luz influencia o controle endócrino, o relógio biológico, o<br />

desenvolvimento sexual, a regulação de estresse e a supressão da melatonina, além de proporcionar<br />

um dinamismo no ambiente pelas tonalidades diferentes no decorrer do dia. (FONSECA, 2000).<br />

Conforme Gurgel (2004), existem inúmeros tipos de lâmpadas e diferentes modelos<br />

de luminárias que possibilitam várias opções de efeitos, tais como estímulo visual, clima próprio<br />

para reflexão mental, ambiente com atmosfera íntima, destaque de objetos. É preciso prestar atenção<br />

às necessidades de cada grupo de pacientes. Os idosos, por exemplo, têm necessidades especiais<br />

de iluminação, requerendo três vezes mais luz do que jovens e adultos para realizar tarefas do<br />

dia-a-dia ou para identificar objetos.<br />

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5.2 Cor<br />

Cor e luz são elementos do ambiente que estão intimamente ligados, tanto que a<br />

intensidade da luz afeta substancialmente o resultado da cor. Por isso, a escolha das cores deve ser<br />

baseada nos estudos científicos que indicam o efeito psicológico das cores nos usuários do espaço.<br />

De acordo com Modesto (2006) as cores podem ser classificadas como frias e quentes. As cores<br />

quentes parecem dar uma sensação de proximidade, calor, densidade, opacidade, secura, além de<br />

serem estimulantes. Em contraposição, as cores frias parecem distantes, leves, transparentes,<br />

úmidas, aéreas e são calmantes.<br />

Esses efeitos são tão significativos que, em alguns hospitais da Suécia, os pacientes<br />

são direcionados para os quartos com cores adequadas à natureza de sua doença, conforme o<br />

processo de cura avança, eles são transferidos gradualmente para quartos com cores que possuem<br />

maior nível de estimulação (JONES, 1996).<br />

A cor pode ser aplicada ao ambiente com a intenção de destacar algum objeto ou<br />

elemento construtivo, com a intenção de tornar o ambiente mais aconchegante, ou simplesmente<br />

para criar uma atmosfera de brincadeira e alegria, evitando a monotonia.<br />

O conforto térmico também é afetado pela cor. Pessoas sentem mais frio em<br />

ambientes que possuem tonalidades frias e mais calor em ambientes de tonalidades quentes, embora<br />

a temperatura seja a mesma.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Elisabete Cardoso Simão Horevicz e Ivanóe De Cunto<br />

5.3 Som<br />

Segundo Jones (1996) o barulho estressante causa irritação e frustração, agrava o<br />

mau humor, afeta a percepção visual e diminui a capacidade de aprendizado. Entre os idosos, por<br />

exemplo, altos níveis de ruídos causam insônia e desorientação. Já para os bebês, a exposição a<br />

ambientes barulhentos torna-os mais lentos, o que os faz persistir em comportamentos infantis,<br />

tendo maior dificuldade para falar e para desenvolver atividades.<br />

A escolha apropriada de materiais de revestimento e o posicionamento adequado<br />

de janelas e portas podem facilmente evitar ou corrigir problemas acústicos. (GURGEL 2004). O<br />

uso de fontes de água e de jardins internos tem aumentado consideravelmente nos projetos hospitalares<br />

por causa dos efeitos visuais e sonoros. Esse lado positivo do som causa a redução da dor<br />

e a distração para situações de desconforto. (ULRICH, 1991)<br />

5.4 Aroma<br />

O cheiro é o mais evocativo dos sentidos, tem uma relação muito íntima com o lado<br />

emocional e faz o caminho mais rápido de ligação com o cérebro, estimulando-o a resgatar memórias.<br />

Enquanto os aromas desagradáveis aceleram a respiração e o batimento cardíaco, os cheiros<br />

agradáveis reduzem o estresse. Por isso é preciso ter muito cuidado com o aroma em ambientes de<br />

saúde. O cheiro de medicamentos pode estimular a ansiedade, o medo e o estresse dos pacientes,<br />

enquanto os aromas agradáveis podem reduzir a pressão sanguínea e diminuir a percepção da dor.<br />

(JONES,1996)<br />

5.5 Forma<br />

A forma do espaço físico interfere no processo de tratamento dos pacientes hospitalares,<br />

ajudando ou inibindo o seu desenvolvimento. Alguns indivíduos requerem privacidade para<br />

seus momentos de tensão e alterações comportamentais, por isso quartos individuais são importantes.<br />

Quando isso não é possível, é importante que o arranjo espacial das enfermarias permita o<br />

isolamento do leito, através de cortinas fixadas no teto ou biombos.<br />

O desenho da planta arquitetônica afeta a satisfação do paciente. Por exemplo,<br />

uma planta radial com os quartos ao redor do posto de enfermagem, proporciona redução de<br />

estresse porque a proximidade com os enfermeiros causa sensação de segurança e bem estar.<br />

Outro aspecto a considerar é o uso de formas variadas num mesmo espaço, provocando<br />

estimulação sensorial e criando distração positiva no ambiente. As formas podem ser<br />

destacadas pelo uso de cores.<br />

5.6 Textura<br />

Cada material apresenta diferentes características e propriedades de textura que<br />

permitem várias combinações e diferentes resultados. A escolha personaliza o projeto e os materiais<br />

empregados devem conter características compatíveis com as necessidades de cada ambiente.<br />

Considerar e avaliar as características dos materiais como durabilidade, resistência, manutenção,<br />

aspectos térmicos, acústicos e antiderrapantes são fundamentais para um correto funcionamento<br />

do ambiente.<br />

Conforme Gurgel (2004), os materiais são de aparência dura ou macia. São duros<br />

os materiais tais como ferro, tijolo, granito, azulejos e cerâmicas, vidro, vinil, aço, cromo, bambu,<br />

madeira, concreto. Já materiais como algodão, seda, veludo, couro, sisal, lã, tapetes, são ditos<br />

macios ou confortáveis.<br />

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A Humanização em Interiores de Ambientes Hospitalares<br />

6. CONCLUSÃO<br />

A conscientização de que o ambiente físico pode ser um fator a mais na recuperação<br />

da saúde dos pacientes é o primeiro passo para a implantação de um novo conceito de edifício<br />

hospitalar. As preocupações devem ser muito mais que eficiência, funcionalidade, marketing, custos<br />

e respeito às normas.<br />

Novos estudos comprovam que a humanização tem como objetivo principal oferecer<br />

aos pacientes ambientes projetados para auxiliar na sua recuperação, ou seja, ambientes criados<br />

com a intenção de levar benefícios físicos e psicológicos aos pacientes, fazendo com que se<br />

sintam melhor.<br />

Ai se insere a justificativa deste artigo, pois cabe ao arquiteto, responsável pela<br />

relação do homem com o ambiente construído, a tarefa de adequar o projeto do ambiente hospitalar<br />

às necessidades de seus usuários-pacientes fragilizados orgânica, física e/ou psicologicamente e<br />

difundir os conhecimentos teóricos adquiridos para tal função.<br />

Vale recomendar ao arquiteto hospitalar uma reavaliação de sua prática profissional<br />

a partir da reflexão sobre a verdadeira função do edifício hospitalar, e a busca de conhecimento<br />

dos estudos científicos que agregam valor humano à produção arquitetônica dos edifícios de saúde,<br />

criando ambientes hospitalares que contribuem efetivamente à recuperação dos pacientes.<br />

7. REFERÊNCIAS<br />

22<br />

COSTI, Marilice. A influência da luz e da cor em salas de espera e corredores hospitalares.<br />

Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.<br />

ELALI, Gleice A. Psicologia e arquitetura: em busca do lócus interdisciplinar. 1997. Disponível<br />

em . Acesso em 05 de novembro 2005.<br />

FONSECA, Ingrid C. L.; PORTO, Maria M.; CLARK, Cynthia. Qualidade da luz e sua influência<br />

de ânimo no usuário. In: Seminário Internacional de Psicologia e Projeto do Ambiente<br />

Construído, 2000, Rio de Janeiro. Anais do Seminário Internacional de Psicologia e Projeto do<br />

Ambiente Construído-CD ROM, 2000, Rio de Janeiro.<br />

GAPPEL,Millicent. Psychoneuroimmunology. In; Symposium on Healthcare Design, Boston,1991.<br />

Innovations in Healthcare Design: selacted presentations from the first five Symposia on<br />

Healthcare Desing. New York: Sara o. Marberry, 1995.<br />

GURGEL, Miriam. Projetando espaços: guia de arquitetura de interiores para áreas residenciais.<br />

São Paulo: Senac, 2004.<br />

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JONES, Beth F. Environments that Support Healing. ISdesigNET, North Palm Beach, Jul/Aug<br />

1996. Disponível em . Acesso em: 10 de maio<br />

2006.<br />

MALKIN, Jain. Hospital interior architecture creating healing environments for special patient<br />

populations. New York:, 2003.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Elisabete Cardoso Simão Horevicz e Ivanóe De Cunto<br />

MEZZOMO, Augusto A. Fundamentos da humanização hospitalar. Fortaleza: Augusto A.<br />

Mezzomo, 2003.<br />

MODESTO, Farina. Psicodinâmica das cores em comunicação. São Paulo: Edgar Blucher,<br />

2006.<br />

POMPEU, Carlos E. Mudança de conceitos e aporte de novas tecnologias preparam Hospital<br />

do Coração para virada do século. Projeto Design. São Paulo, n. 214, p.46-51, nov. 1997.<br />

ULRICH, Roger S. Human responses to vegetation and landscapes. Journal of Environmental<br />

Psychology,v.11, p201-230, 1991.<br />

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As Implicações das Atividades Docentes na Saúde Física e Mental do Professor<br />

AS IMPLICAÇÕES DAS ATIVIDADES DOCENTES NA SAÚDE FÍSICA E MEN-<br />

TAL DO PROFESSOR<br />

THE IMPLICATIONS OF THE ACADEMICIAN ACTIVITIES IN THE PHYSICS AND MENTAL HEALTH<br />

OF THE TEACHER<br />

Ana Carolina de Athayde Raymundi Braz*<br />

RESUMO:<br />

O tema abordado no presente trabalho apresenta uma análise sobre as características que envolvem<br />

a profissão docente e a influência dessas características na sua prática docente e na saúde<br />

física e mental. Procura ainda refletir sobre as especificidades da prática docente, entendidas<br />

como as ocupações profissionais do professor, com sua saúde física e mental. A constituição do<br />

‘Ser Professor e as suas atribuições profissionais repercutem na sua saúde, assim como, em que<br />

medida a saúde do profissional influenciam na motivação e efetivação do trabalho docente. O<br />

acúmulo de tarefas, o ambiente de trabalho e as particularidades no desenvolvimento da formação<br />

e da profissão docente têm como conseqüência para saúde, entre outros, o aparecimento da Síndrome<br />

de Burnout. É grande o número de absenteísmo do professor e/ou de afastamento de suas ocupações<br />

e, ainda a antecipação de aposentadoria por invalidez por doenças causadas pelas atividades<br />

da profissão docente. Sendo assim, se faz urgente um atendimento especial ao professor a partir<br />

das necessidades e características de sua profissão, assim como melhorias nas condições do ambiente<br />

de trabalho relacionadas aos diferentes e complexos aspectos da ocupação docente.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Profissão docente. Saúde do trabalhador. Saúde do professor. Síndrome<br />

de Burnout.<br />

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ABSTRACT:<br />

The boarded subject in the present work presents an analysis on the characteristics that involve the<br />

teaching profession and the influence of these characteristics in its practical professor and the<br />

physical and mental health. Search still to reflect on the particularitys of the practical professor,<br />

understood as the professional occupations of the professor, with its physical and mental health.<br />

The professional constitution of ‘ To be Professor ‘ and its attributions re-echo in its health, as well<br />

as, where measured the health of the professional they influence in the motivation of the teaching<br />

work. The accumulation of tasks, the environment of work and the particularitys in the development<br />

of the formation and the teaching profession have as consequence for health, among others, the<br />

appearance of the Syndrome of Burnout. The number of absenteeism of the professor and/or<br />

removal of its occupations is great and, still the anticipation of retirement for invalidity for illnesses<br />

caused for the activities of the teaching profession. Being thus, if it makes urgent a special attendance<br />

to the professor from the necessities and characteristics of its profession as well as improvements<br />

in the conditions of the related environment of work to the different and complex aspects of the<br />

teaching occupation.<br />

KEY-WORDS: Teaching profession. Health of the worker. Health of the professor. Syndrome of<br />

Burnout.<br />

* Graduada em Fisioterapia pela Universidade Norte do Paraná – UNOPAR; Professora da Rede Estadual de Ensino – Curso<br />

Técnico Profissionalizante em Segurança do Trabalho; Aluna do curso de pós-graduação em nível de especialização em Saúde<br />

Coletiva e da Família – Centro Universitário Filadélfia – <strong>UniFil</strong>.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Ana Carolina de Athayde Raymundi Braz<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

O principal objetivo deste estudo é apresentar e discutir as condições de trabalho<br />

do professor, a partir das características de suas ocupações laborais as quais fundamentam a<br />

profissão docente. Acredita-se que tais condições e características incidem de maneira efetiva<br />

sobre a saúde do professor e as doenças possivelmente relacionadas a tal profissão.<br />

Por meio da prática, observação da realidade e reflexões sobre o tema proposto<br />

a partir de diferentes referências bibliográficas – apresentado e discutido por inúmeros autores<br />

– pode-se averiguar que a classe trabalhadora formada pelos professores comumente apresenta<br />

um alto índice de faltas ou afastamento de seu trabalho como descrito por Gasparini, Barreto e<br />

Assunção (2005).<br />

Como apresentado anteriormente, serão descritas e discutidas algumas idéias no<br />

que diz respeito a relação entre: profissão, saúde e doença. Sendo assim, faz-se necessário conceituar<br />

os termos doença e, principalmente, saúde; entendendo esta como algo muito além da contraposição<br />

do conceito de doença.<br />

2. O BINÔMIO SAÚDE E DOENÇA<br />

Conforme Gutierrez e Oberdiek (2001), o conceito de doença e de saúde e,<br />

consequentemente, o questionamento sobre o que é estar doente e o que é ter saúde é decorrente<br />

desde a antiguidade e persiste até os dias atuais, primeira década do século XXI.<br />

Sendo assim, a partir de uma breve releitura é possível analisar os conceitos anteriormente<br />

mencionados, com o objetivo de entender as considerações realizadas acerca do binômio<br />

saúde/doença em diferentes tempos e sociedades e, então, contrapor tais conceitos com vistas a<br />

uma melhor compreensão do que se pensa e do por quê se pensa sobre saúde e doença na sociedade<br />

brasileira na atualidade.<br />

Outro ponto primordial no trabalho aqui apresentado é o estudo da relação entre<br />

saúde de um modo geral com a saúde do trabalhador e a saúde deste no trabalho, desde as condições<br />

de trabalho às conseqüências trazidas por estas. Para tanto, faz-se necessário apresentar<br />

alguns pontos no tocante as discussões acerca da saúde no trabalho até chegar à apresentação das<br />

reflexões sobre as doenças ocupacionais relacionadas às condições em que se dá o trabalho e as<br />

ocupações laborais.<br />

A falta do conhecimento empírico sobre o processo de saúde-doença fez com que<br />

durante muitos séculos a doença fosse simplesmente aceita e vivenciada sem que muito pudesse<br />

ser feito em favor das pessoas que a apresentavam.<br />

Para Gutierrez e Oberdiek (2001), na antiguidade pouco ou nada se sabia a respeito<br />

dos grandes males que assolavam as populações, a partir do aparecimento das doenças pouco<br />

podia ser feito. Em virtude das condições sanitárias de cidades e regiões e do desconhecimento<br />

sobre a etiologia das doenças, grandes epidemias atingiram populações no passado.<br />

Durante muitos séculos existiu a crença de que as pessoas recebiam a doença<br />

como castigo ou punição, assim, essa deveria ser aceita e enfrentada com dores e sofrimentos, já<br />

que tinham justificativa na fé religiosa; outra possibilidade considerada era de que a pessoa doente<br />

estaria possuída por maus espíritos, que se apoderando da alma, poderiam levar a conseqüências<br />

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fatais, a pessoa que sobrevivia teria então sido absolvida de seus pecados através do “milagre” da<br />

cura, tendo assim o direito a uma vida nova.<br />

O comentário da Bíblia esclarece: Deus insuflou o espírito da vida nas narinas<br />

de Adão, e é pelas narinas que o homem respira. O espírito manifesta o<br />

retorno à vida. Esta descrição é interpretada como sendo o primeiro exemplo<br />

da respiração boca a boca para a reanimação, como ainda se faz hoje. (OLI-<br />

VEIRA, 1981 apud GUTIERREZ e OBERDIEK, 2001, p. 03).<br />

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Em meio a uma sociedade religiosa, surgiram grandes estudiosos, que através do<br />

conhecimento científico puderam fazer as primeiras considerações de que a doença fazia parte de<br />

um desequilíbrio corporal, assim como, desenvolver diagnósticos baseados no atendimento aos<br />

doentes.<br />

Conforme Gutierrez e Oberdiek (2001), muito antes da Idade Média, mais<br />

especificadamente na Grécia Antiga, Hipócrates chegou à teoria dos quatro humores corporais<br />

através de seu entendimento sobre o funcionamento do organismo humano, incluindo a personalidade.<br />

Segundo ele, a quantidade dos fluídos corporais era a principal responsável pelo estado de<br />

equilíbrio ou de doença. Em seus estudos, pôde fazer as primeiras constatações com as relações de<br />

muitas epidemias a fatores climáticos, alimentares, raciais e do meio ambiente. Deixou assim muitas<br />

descrições clínicas que contribuíram para as indicações iniciais de uma medicina preventiva.<br />

Então como entender o binômio saúde-doença? Em 1948, a Organização Mundial<br />

de Saúde 1 (OMS) assumiu como definição de saúde “um estado de completo bem-estar físico,<br />

social e mental e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. Sobre essa e outras definições<br />

de saúde, muitos pesquisadores têm discutido. Entretanto, muitos deles afirmam que a definição<br />

da OMS ainda hoje, primeira década do século XXI, vem ao encontro dos pensamentos da<br />

comunidade científica.<br />

Dejours (1993) apud Mariano e Muniz (2006), afirmam que saúde é, antes de<br />

tudo, um fim, um objetivo a ser conquistado. O estado de bem estar social e psíquico não é entendido<br />

como um processo estável, que, uma vez atingido, seja possível de ser mantido, mas como algo<br />

que deve ser buscado constantemente. Com essa visão é possível entender por que hoje se coloca<br />

a prevenção como principal medida a ser adotada em qualquer âmbito da saúde.<br />

Para Gomes (1990), doença é um abalo transitório ou definitivo no equilíbrio entre<br />

as funções do organismo; um desvio na expectativa de vida de um indivíduo, proporcionando riscos<br />

de conseqüências adversas.<br />

O adoecimento pode ser motivado por causas diversas, entre as quais podem ser<br />

citadas as biológicas (vírus, bactérias, fungos, etc.), as causas externas (meio ambiente e social) e,<br />

principalmente, o estilo de vida de um indivíduo. Neste sentido, entende-se como estilo de vida, a<br />

relação que as pessoas estabelecem com o ambiente em que vivem. Ambiente este que pode ser<br />

comparado às atividades cotidianas e ao contato com a realidade que envolve as pessoas.<br />

1 OMS: A Organização Mundial da Saúde foi criada pela ONU em 1948 com o principal objetivo de elevar os padrões mundiais<br />

de saúde. A proposta de criação da OMS foi de autoria dos delegados do Brasil, que propuseram o estabelecimento de um<br />

“organismo internacional de saúde pública de alcance mundial”. Desde então, Brasil e OMS desenvolvem intensa cooperação.<br />

Ver in: http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/relext/mre/nacun/agespec/oms/index.htm.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Ana Carolina de Athayde Raymundi Braz<br />

A maneira com que a pessoa se relaciona com o mundo ou com a realidade que a<br />

cerca em todas as dimensões, inclusive no que diz respeito às suas ocupações laborais, pode<br />

atender em maior ou menor proporção a qualidade idealizada para essas relações.<br />

3. AS ATIVIDADES LABORAIS E A SAÚDE DO TRABALHADOR: a profissão<br />

docente<br />

Ao referir atividades laborais, nem sempre se fala somente de atividades lucrativas,<br />

mas sim de toda e qualquer atividade produtiva, ou seja, atividades que possibilitem a transformação<br />

de algo posto em algo novo.<br />

A qualidade das relações nas atividades acima descritas indica o estilo de vida de<br />

cada um, o que se reflete no grupo do qual ela faz parte e em devidas proporções o qual incide<br />

sobre essas relações. Sendo assim, quando se fala em estilo de vida deve-se dar atenção à ocupação<br />

desse indivíduo, já que representa significativamente boa parte do seu ciclo de vida. Principalmente<br />

na sociedade capitalista e excludente em que se vive, sociedade esta que evidencia a qualidade<br />

de vida de cada pessoa em detrimento ao trabalho produtivo e lucrativo. O processo de<br />

trabalho desencadeia uma transformação real no trabalhador.<br />

Para Dubar (1992; 1994) citado por Tardif (2006, p.56) “trabalhar não é, apenas,<br />

transformar um objeto ou situações em uma outra coisa, é também transformar a si mesmo no e<br />

pelo trabalho”.<br />

O enaltecimento do trabalho, no sentido apresentado anteriormente, evidencia o<br />

reflexo da qualidade e o estilo de vida do trabalhador para a sociedade de maneira geral.<br />

As idéias apresentadas acima podem ser comparadas aos dizeres de Umberto Eco:<br />

27<br />

Nosso século está doente, carregado de saberes fragmentados, incapaz de<br />

reconhecer seus inimigos. O diagnóstico do autor é curto: RESPIRAMOS<br />

NEURASTENIA 2 e vivemos em busca de uma cura para o nosso mal.<br />

(CAMILLO, 2003, p. 77).<br />

Esta relação ‘neurastênica’ se estende às relações da pessoa no e com o seu<br />

trabalho ocasionando um mal estar individual e, consequentemente, social. Esse ‘mal estar’ pode<br />

ser observado em inúmeros ambientes de trabalhos e está relacionado às mais diferentes ocupações.<br />

Os principais resultados dessa ‘relação doentia’ podem ser observados nas diferentes doenças<br />

decorrentes do ambiente de trabalho.<br />

Doença do trabalho é definida legalmente como a adquirida ou desencadeada em<br />

função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente -<br />

Lei n. 8.213 3 , de 24/07/91.<br />

O professor, como qualquer outro trabalhador, também estabelece relações em<br />

seu ambiente de trabalho a partir de fatores específicos que envolvem a profissão docente.<br />

2 Neurastenia: Neurose que acarreta enfraquecimento da força nervosa; perturbações mentais caracterizadas pela debilidade do<br />

sistema nervoso, com sintomas de tristeza, falta de vontade, perda de memória, ideação difícil, impotência, e, com maior<br />

freqüência, males físicos do tipo das dores de cabeça, perturbações vasomotoras e sensitivas. / Pop. MAU HUMOR;<br />

IRRITABILIDADE FÁCIL. (http://www.kinghost.com.br/dicionario).<br />

3 Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991 – DOU de 14/08/91. TÍTULO I DA FINALIDADE E DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA<br />

PREVIDÊNCIA SOCIAL. Ver in: http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/42/1991/8213.htm. Acesso em: 27 ago de<br />

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Sendo assim, surge o questionamento: a saúde do professor está em perigo? Por<br />

quê? Seria exagero questionar sobre o fato da saúde do professor estar em perigo? Acredita-se<br />

que não, à medida que este está exposto aos mais diversos riscos.<br />

A identidade do trabalhador carrega marcas de sua própria atividade e uma boa<br />

parte de sua existência é caracterizada por sua atuação profissional. Em certos ofícios tradicionais,<br />

o tempo de aprendizagem do trabalho confunde-se com o tempo de vida, pois o trabalho é aprendido<br />

no ambiente familiar e social, no contato direto com as tarefas dos mais experientes, (TARDIF,<br />

2002)<br />

Segundo Costa apud Nóvoa (1995), o magistério (enquanto profissão/trabalho) tal<br />

como é concebido hoje – início do séc. XXI – constituiu-se a partir do séc. XV, no seio de uma<br />

sociedade disciplinar, erigida no conjunto das transformações que produzem a modernidade.<br />

Em várias outras ocupações profissionais (no caso do magistério) a aprendizagem<br />

do trabalho passa por uma ESCOLARIZAÇÃO mais ou menos longa, cuja função é fornecer<br />

CONHECIMENTOS TEÓRICOS e TÉCNICOS que os preparem para o trabalho,(TARDIF,<br />

2002)<br />

Dessa forma, o trabalho do professor é complexo e envolve capacidades e habilidades<br />

diferentes e necessárias, ou seja, a profissão docente necessita de saberes e ações<br />

multidimensionais entre os quais os saberes científicos, os políticos, os afetivos e os saberes pedagógicos,<br />

o que provoca, inúmeras vezes, um acúmulo de deveres e responsabilidades profissionais<br />

que mereceriam atenção e valorização demasiadamente superior do que é observado na realidade<br />

de sua profissão. Na maioria das vezes, o profissional se sente desvalorizado, como afirmam Tardif,<br />

Lessard, Lahaye (1991) citado por Candau (1998, p. 59), “o saber docente é um saber plural,<br />

estratégico e desvalorizado”.<br />

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FIGURA 1: A Complexidade do ser Professor e sua ação Docente<br />

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Ana Carolina de Athayde Raymundi Braz<br />

Acredita-se que o ambiente de trabalho é outra variável importantíssima na análise<br />

do ‘ser professor’. Se conceituado, o ambiente de trabalho, por si já carrega uma complexidade<br />

considerável, em se tratando do ambiente ensino e aprendizagem, por ser o ambiente de trabalho<br />

do professor, tal complexidade envolve diferentes fatores que integram o ambiente escolar, entre<br />

eles: os recursos físicos e materiais, a relação professor/aluno, professor/funcionários, professor/<br />

família dos alunos, professor/equipe pedagógica entre outros.<br />

Outros problemas advêm destas lacunas quase intransponíveis que assolam<br />

a vida do professor, como: o trabalho com alunos, direção da escola,<br />

reuniões, pais, comunidade, exigem uma dedicação além da disponibilidade<br />

do tempo do professor, deflagrando conflitos relacionais (interpessoal e<br />

intrapessoal), motivados pela multiplicidade dos papéis desempenhados<br />

(SOMBRIO, 2003, p. 28).<br />

O docente, em sua prática, se sente sobrecarregado ao sentir a obrigação, mesmo<br />

que não seja a sua obrigação, em ter que lidar com essa quantidade exacerbada de fatores que<br />

integram seu ambiente de trabalho e interferem na sua prática pedagógica.<br />

É a integração desses fatores que acaba sobrecarregando o ambiente de trabalho<br />

do professor. Tal sobrecarga pode ser considerada responsável pelo desencadeamento de inúmeras<br />

doenças ocupacionais docentes.<br />

Sendo assim, considera-se que o ambiente profissional docente é significativo para<br />

o desenvolvimento do trabalho e influencia na saúde do professor nos diferentes níveis de ensino.<br />

Segundo Rosa (2006), especialistas alertam que os ambientes de trabalho estão<br />

desencadeando doenças ocupacionais. Problemas como o estresse, despontam nas pesquisas como<br />

a principal causa de adoecimento. No entanto, esse sintoma é apenas a ponta do iceberg, apontam<br />

psicólogos e estudiosos da medicina do trabalho. Por trás da tensão diária, decorrente do alto grau<br />

de exigência imposto pelas instituições, podem ser desenvolvidas doenças que comprometem de tal<br />

forma a saúde física e mental que o profissional corre o risco de ficar incapacitado para o trabalho.<br />

Conforme Sombrio (2003), a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação<br />

(CNTE 4 ) através de seus estudos aponta que no Brasil é grande o número de professores<br />

“readaptados” (afastados temporária ou permanentemente para atividades administrativas) afetados<br />

por uma ou algumas doenças desse conjunto, ou de professores que se mantêm com sucessivas<br />

licenças-saúde e, não raro, como objeto de desprezo e como fonte de problemas para os<br />

quadros docente e discente.<br />

Através destes apontamentos podem ser listadas as principais dificuldades encontradas<br />

pelo profissional em questão, com base nas colocações feitas anteriormente a respeito do<br />

‘ser professor’:<br />

29<br />

4 CNTE: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação é uma entidade nacional que foi consolidada em 1990, em<br />

Congresso extraordinário, a partir da discussão sobre a unificação de várias Federações de diferentes setores da educação em<br />

todo Brasil. Atualmente, primeira década do século XXI, conta com novas regras de organização sindical e a filiação de vinte<br />

e nove entidades e quase 700 mil sindicalizados em todo o país. (http://www.cnte.org.br. Acesso em 26 de ago. de 2007).<br />

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• jornadas excessivas<br />

• excesso de alunos por classe<br />

• sobrecarga de trabalho e de funções<br />

• ausência de material e recursos didáticos<br />

• ambiente de trabalho inadequado<br />

• falta de comprometimento do aluno<br />

• falta de reconhecimento do aluno<br />

• desvalorização do magistério (instabilidade, maus salários)<br />

• falta de perspectivas profissionais e motivação.<br />

30<br />

Dificuldades como as apresentadas são observadas no cotidiano dos profissionais<br />

da educação. Não se pode esquecer que estes educadores são base para todas as outras profissões<br />

e especializações, assim, como estes profissionais podem suportar rotinas de trabalho<br />

desgastantes, sem apresentar conseqüências severas em sua saúde?<br />

A Organização Internacional do Trabalho (OIT 5 ) já em 1984 reconhece o lugar<br />

central que os professores ocupam na sociedade, uma vez que são os responsáveis pelo preparo do<br />

cidadão para a vida. Como esses educadores podem formar e capacitar profissionais em meio a<br />

tantos problemas e sacrifícios?<br />

A dinâmica escolar tem afetado diretamente a execução da atividade docente,<br />

proporcionando um movimento de tensões em sua prática cotidiana. Este quadro torna-se ainda<br />

mais agravado quando adicionado a outras dificuldades e empecilhos para a efetivação da prática<br />

docente, e o que é mais grave, o somatório de tudo isso contribui para o processo de sofrimento dos<br />

professores. (MARIANO; MUNIZ, 2006)<br />

Os alunos chegam à escola com um comportamento que não envolve limites,<br />

acham que podem tudo. O professor depara-se com a situação de ter que transmitir<br />

noções básicas de educação e, ainda assim, levar adiante um conteúdo<br />

programático [...]. Tal situação é no mínimo desgastante. (CODO, 2002, p. 242).<br />

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As condições de trabalho, ou seja, as circunstâncias sob as quais os docentes<br />

mobilizam as suas capacidades físicas, cognitivas e afetivas para atingir os objetivos da produção<br />

escolar, podem gerar um esforço excessivo ou grande solicitação de suas funções psicofisiológicas.<br />

(GASPARINI; BARRETO e ASSUNÇÃO, 2005), isso quer dizer que o sofrimento tanto pode<br />

ser físico como psicológico, tendo em ambos, sinais e sintomas clínicos, que explicam os altos<br />

índices de afastamento do exercício do trabalho.<br />

Podem ser citadas como principais conseqüências físicas à saúde do professor: as<br />

dores musculares, os problemas posturais, rouquidão e/ou falta de voz, doenças circulatórias, doenças<br />

e dificuldades respiratórias, doenças gástricas e digestivas, cefaléias e até mesmo perturbações<br />

do sono.<br />

5 OIT: Foi criada pela Conferência de Paz após a Primeira Guerra Mundial. A sua Constituição converteu-se na Parte XIII do<br />

Tratado de Versalhes. Em 1944, à luz dos efeitos da Grande Depressão a da Segunda Guerra Mundial, a OIT adotou a Declaração<br />

da Filadélfia como anexo da sua Constituição. A Declaração antecipou e serviu de modelo para a Carta das Nações Unidas e para<br />

a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Em 1998, após o fim da Guerra Fria, foi adotada a Declaração da OIT sobre os<br />

Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho e seu Seguimento. Desde 1999, OIT trabalha pela manutenção de seus valores<br />

e objetivos em prol de uma agenda social que viabilize a continuidade do processo de globalização através de um equilíbrio entre<br />

objetivos de eficiência econômica e de equidade social. Ver in: http://www.oitbrasil.org.br/inst/hist/index.php.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Ana Carolina de Athayde Raymundi Braz<br />

É compreensível que um educador exercendo sua profissão em dois ou três períodos<br />

do seu dia, sofra ao final do processo de trabalho conseqüências como acima citadas. Como o<br />

professor desempenha sua atividade laboral? Quais as exigências físicas para este profissional?<br />

As necessidades para a prática pedagógica levam este docente a permanecer em<br />

pé por longas jornadas de trabalho, as estruturas físicas encontradas nos ambientes escolares nem<br />

sempre estão em favor do profissional da educação. Salas de aula repletas de alunos somadas a<br />

estruturas ergonomicamente incorretas resultam em danos severos à saúde física do professor.<br />

Codo (1999) citado por Gasparini, Barreto e Assunção (2005) afirma que são<br />

inúmeros os aspectos e elementos que estão associados ao adoecimento do professor, pois a prática<br />

docente que se efetiva no trabalho do professor não se restringe ao exercício de sua função<br />

dentro da sala de aula, exige atualização e preparação constantes para ser realizada de modo<br />

satisfatório.<br />

O trabalho do professor vai muito além das horas/aulas referentes à sua permanência<br />

nas salas de aula. Para Gasparini, Barreto e Assunção (2005), muitas tarefas são realizadas<br />

sem a presença dos alunos, fora da sala de aula. As tarefas docentes se estendem para fora da<br />

escola o que amplia a sua jornada de trabalho.<br />

Quando o professor ministra aulas em várias turmas para alunos em níveis de<br />

ensino, escolas e turnos diferentes, a preparação das aulas vai requerer avaliações múltiplas e<br />

esquemas variados. Serão necessários maiores investimentos de tempo na execução de um volume<br />

maior de trabalho e mais dedicação e esforço intelectual.<br />

4. A SÍNDROME DE BURNOUT: a doença do ‘Ser professor’<br />

É necessário salientar também outras conseqüências geradas pelo exercício docente:<br />

os abalos psicológicos. Os professores sofrem com problemas como: angústias, medos,<br />

ansiedade, estresse, depressão, descontentamento, insatisfação, frustração, fadiga, exaustão (sobrecarga<br />

mental). Esses males resultam em uma patologia conhecida por Síndrome de Burnout 6 .<br />

31<br />

[...] Ultimamente tenho sentido um certo desânimo em relação à vinda ao<br />

colégio. Acho que isso deve-se ao fato de não sentir uma correspondência<br />

por parte dos alunos e da escola, de modo geral. Às vezes, sinto que gostaria<br />

de ter mais tempo livre, incluindo este que dedico à escola, para dedicar a<br />

outras coisas [...] (CODO, 2002, p. 243).<br />

Segundo Benevides-Pereira 7 em entrevista concedida a Rosa (2006), Burnout é<br />

uma doença multifatorial e multidimensional que começa necessariamente por um estresse. Alguns<br />

fatores podem levar os profissionais da educação a desenvolver esta Síndrome, estes podem ter<br />

suas origens institucionais e/ou organizacionais, como o clima laboral, o assédio moral, a falta de<br />

suporte organizacional e condições adversas de trabalho.<br />

6Síndrome de Burnout: A primeira descrição sistemática da síndrome de burnout foi realizada pelo psiquiatra Herbert J.<br />

Freudenberg em 1974. O termo é uma composição de burn = queima e out = exterior, sugerindo, assim, que a pessoa com esse<br />

tipo de estresse consome-se física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço. Em<br />

1981, a síndrome foi definida por Maslach e Jackson como uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato<br />

direto e excessivo com outros seres humanos. (ROSA, 2006).<br />

7Ana Maria T. Benevides-Pereira pesquisa sobre o tema há mais de 10 anos. Professora da Universidade Estadual de Maringá<br />

(UEM), da PUC do Paraná, da Universidad Autónoma de Madrid e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre estresse e<br />

Burnout.<br />

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Conforme Codo (2002), a Síndrome de Burnout é caracterizada por componentes<br />

como: exaustão emocional, despersonalização e falta de envolvimento no trabalho e, nestes componentes,<br />

existem situações em que os trabalhadores. sentem que não podem dar mais de si mesmos,<br />

suas energias parecem esgotadas e desenvolvem sentimentos, atitudes e evoluções negativas<br />

no trabalho.<br />

Benevides-Pereira (ROSA, 2006) ainda afirma que os principais sinais e sintomas<br />

de Burnout no que diz respeito ao comportamento são a irritabilidade e a agressividade aumentadas,<br />

a pessoa passa a se isolar e a manter uma relação superficial, defensiva, procurando não se<br />

envolver emocionalmente, podendo, inclusive, ser cínica e irônica com os demais. A desumanização<br />

é um sintoma que diferencia o estresse da síndrome de burnout. Por isso, a pessoa com essa<br />

síndrome passa a tratar o outro como se fosse uma coisa. Emocionalmente, torna-se mais instável<br />

e denota alienação dos fatos ao seu redor, muitas vezes a própria equipe de trabalho percebe que<br />

o professor mudou, tornou-se “desagradável”.<br />

A pessoa ainda pode desenvolver doenças psicossomáticas, como dores de cabeça,<br />

palpitações, insônia, gastrite, problemas cardiovasculares, úlceras, infarto e por conseqüência<br />

até mesmo a morte.<br />

Os resultados apresentados por um docente acometido por esses agravantes aparecem<br />

como falta de dedicação, atenção e paciência com alunos e colegas de trabalho, afastamento<br />

das atividades e, com isso, prejuízos para o aluno e seu aprendizado e para a saúde do professor.<br />

Para Zaragoza (1999), o absenteísmo seria um mecanismo de defesa utilizado<br />

contra a tensão derivada do exercício docente, uma forma de atingir um alívio para escapar das<br />

tensões acumuladas. Em suas pesquisas busca identificar os ciclos de estresse ao longo do ano<br />

escolar. Nos finais de trimestre (especialmente do primeiro) e no final do curso o número de<br />

licenças médicas aumenta progressivamente. De acordo com Sombrio (2003), as especialidades<br />

médicas ligadas ao maior número de dispensas são as de psiquiatria, neurologia, otorrinolaringologia,<br />

doenças cardiovasculares.<br />

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

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Conforme Sombrio (2003), muitos fatores possibilitam o aparecimento de doenças<br />

e/ou colaboram com a falta de estímulo ou motivações para a constituição e exercício do<br />

trabalho do professor. Esses fatores vão desde a falta de salários condizentes com a real necessidade<br />

e valor do profissional o que obriga o profissional a cumprir uma dupla ou tripla jornada de<br />

trabalho, até a dificuldade de autonomia profissional constantemente submetida ao autoritarismo<br />

burocrático.<br />

A falta de limites impostos no trabalho docente repercute em problemas de saúde<br />

física ou psicológica. No Brasil, é grande o número de professores readaptados (afastados temporariamente<br />

ou permanentes para atividades administrativas), ou aposentados por invalidez.<br />

Faz-se necessário voltar as atenções para a urgência em se formular novas políticas<br />

baseadas em informações adequadas e atualizadas com respeito ao profissional docente, incluindo<br />

também reflexões que envolvam a promoção da saúde e a qualidade de vida dos trabalhadores<br />

em educação contemplando as reais necessidades dessa classe trabalhadora.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Ana Carolina de Athayde Raymundi Braz<br />

6. REFERÊNCIAS<br />

AO MESTRE com carinho. Campanha em defesa da aposentadoria especial na Constituição Federal.<br />

Estratégia e Informação. Jul.,1997. Disponível em: .<br />

Acesso em 27 de setembro de 2007.<br />

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do Projeto MRE/BID (UEP). Projeto Hipermídia e Editoração Eletrônica. Laboratório de<br />

Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Disponível em . Acesso em 26 de agosto<br />

de 2007.<br />

BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Brasília: Presidência da República; Casa Civil;<br />

Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: . Acesso em: 15 de agosto de 2007<br />

CAMILLO, R. P. Análise da aprendizagem organizacional: contribuições para o processo de<br />

mudança. Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis, 2003. (Dissertação de Mestrado).<br />

Disponível em: . Acesso em 08 de agosto de 2007.<br />

CANDAU, V. M. (Org.). Magistério: construção cotidiana. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1998.<br />

CODO, W. Educação e carinho: Burnout, a síndrome da desistência do educador, que pode levar<br />

à falência da educação. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 2002.<br />

GASPARINI, S. M.; BARRETO, S. M.; ASSUNCAO, A. A. O professor, as condições de trabalho<br />

e os efeitos sobre sua saúde. Educação e Pesquisa. v.31, n.2, p.189-199. mai/ago, 2005,.<br />

Disponível em: . Acesso em 18 de agosto de<br />

2007.<br />

33<br />

GOMES, F. Z. & ADORNO, R.C.F. Crescimento e desenvolvimento na prática dos serviços de<br />

saúde. Revisão histórica do conceito de criança. Revista de Saúde Pública. São Paulo, vol. 24,<br />

n.3, 1990. Disponível em: . Acesso em 19 de agosto<br />

de 2007.<br />

GUTIERREZ, P. R.; OBERDIEK, H. I. Concepções sobre a saúde e a doença. In: ANDRADE,<br />

S. M.; SOARES, D. A. e CORDONI JR., L. Bases da saúde coletiva. Londrina: Ed. UEL, 2001.<br />

MARIANO, M. S. S.; MUNIZ, H. P. Trabalho docente e saúde: o caso dos professores da segunda<br />

fase do ensino fundamental. Estudos e Pesquisas em Psicologia. Rio de Janeiro: UERJ, n.1,<br />

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21 de agosto de 2007.<br />

NÓVOA, A. (org). Profissão Professor. Porto: Porto Editora, 1995.<br />

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As Implicações das Atividades Docentes na Saúde Física e Mental do Professor<br />

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Line. Disponível em:. Acesso em 25 de agosto de 2007.<br />

ROSA, S. Saúde do professor e ambiente escolar. Jornal Extra Classe: especial saúde. Sinpro/<br />

RS. ano 11, n. 107, out., 2006. Disponível em . Acesso: 15 de agosto de 2007.<br />

SOMBRIO, K. N. Ser professora - o sentido de uma escolha: um estudo sobre âncoras de carreira.<br />

2003. Dissertação (Mestre em Educação). Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis,<br />

2003. Disponível em: . Acesso em 26 de agosto de<br />

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TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2006.<br />

ZARAGOZA, J. M. E. O mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores. 3ª ed.<br />

Bauru: Edusc, 1999.<br />

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Marco A. C Ferreira, Rosane S. E. Ferreira e Ricardo W. Coelho<br />

ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO: INTER-RELAÇÕES COM A APRENDIZA-<br />

GEM E PERFORMANCE DE HABILIDADES MOTORAS NO FUTEBOL<br />

ATTENTION AND CONCENTRATION: INTERACTS RELATIONS WITH THE LEARNIG AND THE<br />

PERFORMANCE OF MOVING SKILLS IN SOCCER<br />

Marco A. C Ferreira*<br />

Rosane S. E. Ferreira**<br />

Ricardo W. Coelho***<br />

RESUMO:<br />

O processo de atenção tem, segundo estudos na área da aprendizagem motora, participação fundamental<br />

na aprendizagem de qualquer habilidade motora. Na tentativa de estabelecer inter-relações<br />

entre os processos de atenção e concentração na prática de habilidades motoras apresentamos<br />

alguns conceitos teóricos para a compreensão do processo de atenção discutindo os estágios<br />

de aprendizagem e o papel do professor/técnico enquanto agente externo responsável por direcionar<br />

a atenção em determinados momentos.O controle da atenção pode ser considerado como uma<br />

habilidade de grande importância na hora de desempenhar qualquer atividade. No futebol, tem a<br />

característica de que a perda da bola no momento errado pode causar a derrota. Este artigo tem<br />

por objetivo abordar alguns aspectos teóricos relacionados com a atenção e concentração no<br />

esporte e sua inter-relação com a aprendizagem de uma habilidade motora no futebol.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Atenção. Concentração. Futebol<br />

ABSTRACT:<br />

The attention process has, according to studies in the area of the motor learning, basic participation<br />

in the learning of any motor ability. In the attempt to establish Inter-relations between the attention<br />

processes and concentration in the practical one of motor abilities we present some theoretical<br />

concepts for the understanding of the attention process arguing the periods of training of learning<br />

and the paper of the professor/technician while responsible external agent for directing the attention<br />

at definitive moments. The control of the attention can be considered as an ability of great importance<br />

in the hour to play any activity. In the soccer, it has the characteristic of that the loss of the ball at<br />

the wrong moment can cause the defeat. This article has for objective to approach some theoretical<br />

aspects related with the attention and concentration in the sport and its interrelation with the learning<br />

of a motor ability in the soccer.<br />

35<br />

KEY-WORDS: Attention. Concentration. Soccer.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

O processo de atenção tem, segundo estudos na área da aprendizagem motora,<br />

participação fundamental na aprendizagem de qualquer habilidade motora. A partir de teorias e<br />

estudos mais aplicados que envolvem a atenção como objeto de estudo é possível, também, ressaltar<br />

que sua participação na aprendizagem tem níveis de relevância diferenciados em relação ao<br />

sujeito e à tarefa que é desempenhada.<br />

* Centro Universitário Filadélfia – <strong>UniFil</strong>. Centro de Pesquisa em Exercício e Esporte – UFPR<br />

** Clínica de Psicologia Londrina<br />

*** Centro de Pesquisa em Exercício e Esporte – UFPR<br />

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Atenção e Concentração: Inter-Relações com a Aprendizagem e Performance de Habilidades Motoras no Futebol<br />

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Nesse sentido, ao discutir o papel da atenção e da concentração na aprendizagem<br />

e performance de habilidades motoras, torna-se necessário resgatar os conceitos de estágios<br />

de aprendizagem, a participação da memória enquanto centro de armazenamento de informações,<br />

além de outras variáveis como complexidade da tarefa, tempo e qualidade da prática,<br />

motivação etc.<br />

Na tentativa de estabelecer inter-relações entre os processos de atenção e concentração<br />

na prática de habilidades motoras nosso esforço busca, nesse primeiro momento, apresentar<br />

alguns conceitos teóricos para a compreensão do processo de atenção, discutindo os estágios<br />

de aprendizagem e o papel do professor/técnico enquanto agente externo responsável por<br />

direcionar a atenção em determinados momentos.<br />

Posteriormente, o mesmo se fará quanto à abordagem da concentração, procurando<br />

apresentar definições encontradas na literatura e que, provavelmente, serão alguns dos pontos<br />

de discussão e, finalmente, buscaremos apontar algumas possibilidades de estudos futuros cujo<br />

foco temático esteja relacionado com os conceitos aqui apresentados.<br />

Como ponto de partida podemos nos lembrar de como foi nossa performance na<br />

primeira tentativa de dirigir um carro, onde várias ações são executadas quase simultaneamente.<br />

Por outro lado, e, mais reconfortante, podemos avaliar nosso desempenho para essa mesma tarefa,<br />

após alguns meses de prática. Analogamente, aprendizagem dos movimentos nos esportes ocorre<br />

da mesma maneira.<br />

O controle da atenção pode ser considerado como uma habilidade de grande importância<br />

na hora de desempenhar qualquer atividade. No esporte de rendimento qualquer perda<br />

de atenção pode influenciar diretamente no resultado final do jogo ou da competição. O futebol tem<br />

a característica de que a perda da bola no momento errado pode causar a derrota. Este artigo tem<br />

por objetivo abordar alguns aspectos teóricos relacionados com a atenção e concentração no esporte<br />

e sua inter-relação com a aprendizagem de uma habilidade motora no futebol.<br />

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2. REVISÃO DE LITERATURA<br />

2.1 Futebol<br />

Na opinião de Jesus (2002) o futebol ultrapassou rapidamente os muros dos fechados<br />

recintos da colônia inglesa para ganhar os estabelecimentos escolares e clubes nacionais da<br />

burguesia e, a seguir, as ruas.<br />

Jesus (2003) considera que o Brasil se distingue da grande maioria dos países<br />

praticantes de futebol, por sua ênfase na base local. Neste sentido, no estudo das profundas mudanças<br />

que atualmente se operam neste esporte em escala mundial, o Brasil apresenta-se como<br />

um laboratório particular e expressivo, da tensão existente entre as forças da globalização e as do<br />

lugar.<br />

O desenvolvimento do futebol exige, cada vez mais, conhecimentos científicos<br />

para a sua plena performance. Para Fernandes (1994), os verdadeiros conteúdos do treinamento e<br />

competição correspondem ao trabalho de desenvolvimento e manutenção das capacidades físicas<br />

coordenativas e psicológicas, todas elas decisivas para o rendimento.<br />

Num jogo de Futebol, não é possível saber, a partir de um estado inicial, qual o<br />

estado final duma ação ou seqüência, o que quer dizer que estamos em presença de situações de<br />

final aberto.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Marco A. C Ferreira, Rosane S. E. Ferreira e Ricardo W. Coelho<br />

Para Garganta (2001) o jogo é um acontecimento que decorre na convergência de<br />

várias polaridades: a polaridade global entre duas equipes; a polaridade entre ataque e defesa; a<br />

polaridade entre cooperação e tensão. (ELIAS E DUNNING, 1992; DUNNING, 1994)<br />

Cada vez mais a prática do futebol moderno, dependente da tática de jogo, se torna<br />

mais adequada ao jogador mais completo, ou seja, àquele que desenvolve da forma mais satisfatória<br />

possível um conjunto maior dessas habilidades. A cada dia diminui mais o espaço no futebol profissional<br />

para aqueles jogadores especialistas em apenas uma das habilidades específicas, ou seja,<br />

para aqueles que são somente bons passadores ou mesmo bons finalizadores. Como conseqüência<br />

da análise dessas habilidades, naturalmente, pode-se quantificar a performance individual ou coletiva<br />

da equipe e, dessa forma, construir um programa mais adequado de treinamento, individualizado,<br />

de forma a corrigir ou melhorar as performances.<br />

Estes fundamentos (passe/condução domínio de bola etc...), conteúdos de ensino,<br />

são divididos e organizados em uma seqüência pedagógica, atenta às diferentes faixas etárias.<br />

Os fundamentos básicos do futebol começam a ser trabalhados aos sete anos, mas seu aprendizado<br />

não tem um fim em si mesmo, ou seja, tornam-se meios para a aquisição e ampliação do<br />

vocabulário motor das crianças. A ênfase do trabalho, nesta faixa etária, paira sobre a exploração<br />

das habilidades motoras. Faz-se de fundamental importância, não somente nesta idade, mas<br />

em todas, a aquisição de um considerável acervo motor, para que a criança tenha a possibilidade<br />

de realizar vários movimentos, tendo um controle sobre eles, em variadas situações e não em<br />

uma especificamente.<br />

A análise individual do conjunto dessas habilidades vai demonstrar uma correlação<br />

entre as habilidades num mesmo jogador, e também as diferenças entre os vários jogadores da<br />

equipe, sejam “titulares” ou “reservas”.<br />

37<br />

2.2 Atenção e Concentração<br />

A atenção é o processo que direciona nossa vigília quando as informações são<br />

captadas pelos nossos sentidos, ela também pode ser vista como um mecanismo que consiste na<br />

estimulação da percepção seletiva e dirigida (GUALLAR & PONS, 1994; MARTENS, 1987;<br />

SAMULSKI, 2002).<br />

Dentre seus diversos tipos destaca-se a concentração que pode ser definida como<br />

a focalização da atenção em um determinado objeto ou em uma ação (SAMULSKI, 2002). No<br />

esporte ela é a habilidade de focalizar em estímulos relevantes do ambiente e de manter esse foco<br />

ao longo do evento esportivo (WEINBERG, 1988; WEINBERG & GOULD, 2001) e ela pode ser<br />

dividida em três partes: concentração em sinais relevantes, manutenção do foco de atenção todo o<br />

tempo e consciência da situação.<br />

Dentre os pesquisadores que mais se destacaram no estudo da atenção, enquanto<br />

variável do comportamento humano, nos seus primórdios estão Sir William Hamilton (Inglaterrra),<br />

Willian Wundt (Alemanha) e em 1980 Willian James nos EUA.<br />

Estudos relacionados com a atenção no comportamento e na performance ganharam<br />

significativa importância durante a 2º Guerra Mundial dada a necessidade de exercer tarefas<br />

simultaneamente, além de ter que obter êxito naquelas em que a tomada de decisão frente a um<br />

estímulo era uma questão de sobrevivência. Podemos, a partir da estrutura, estabelecer algumas<br />

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Atenção e Concentração: Inter-Relações com a Aprendizagem e Performance de Habilidades Motoras no Futebol<br />

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definições que serão operacionalizadas no decorrer do texto.<br />

Segundo Magill (1998), quando o tempo é utilizado no contexto do desempenho<br />

humano, a atenção se refere ao envolvimento das atividades perceptivas, cognitivas e motoras<br />

associadas ao desempenho de habilidades.<br />

Moran (1999) destaca que o termo “atenção” foi utilizado no século passado para<br />

retratar 3 tipos de atividades mentais: a primeira delas, e, mais freqüente, é que o construto da<br />

atenção surgiu para explicar a concentração, ou nossa capacidade para focar ou dirigir o esforço<br />

mental sobre um dado alvo (objetivo), o que teria um caráter seletivo da percepção e, este por sua<br />

vez, o objetivo de proteger o sistema contra uma possível sobrecarga cognitiva.<br />

Um segundo significado para a atenção diz respeito ao fato de que, em certas<br />

condições, podemos dividir a atenção e executar simultaneamente (tarefas de naturezas diferentes,<br />

como dirigir e conversar, ou driblar e contar). O terceiro significado se relaciona com o estado<br />

de alerta ou preparação para a ação. O autor sintetiza sua concepção de atenção realçando que:<br />

“... o conceito de atenção é multifacetado, e que envolve, em particular, três diferentes processos<br />

psicológicos, seletivamente de percepção, regulação de ações concernentes e manutenção da vigília<br />

(MORAN, 1996, P. 40)”.<br />

Ladewig (2000) destaca que, de uma maneira abrangente, a atenção pode ser<br />

definida como o processo que direciona, seleciona, alerta, delibera e contempla, ou como generaliza<br />

Albernethy (1993) atenção é um termo global que pode ser utilizado para definir uma série de<br />

processos que variam num contínuo entre vigilância e concentração.<br />

Na tentativa de relacionar à atenção, concentração e comportamento, Damásio (2000)<br />

nos propõe que entendamos o comportamento como a execução de uma peça musical cuja partitura<br />

está sendo criada enquanto a música se desenvolve, e isso se dá de forma paralela (fig. 1).<br />

Figura 1. A partitura do comportamento (modificado de Damásio, 2000).<br />

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Nesse sentido, o estado de vigília, a emoção de fundo e a atenção básica (linha<br />

melódica) estarão presentes continuamente desde o despertar até o adormecer. Esses 3 mecanismos<br />

são, pois, sinais externos de nossas condições internas compatíveis com a ocorrência da<br />

consciência.<br />

No que tange a atenção, Damásio (2000) sinaliza que a presença de atenção voltada<br />

para um objeto externo indica em geral, a presença de consciência, mas não necessariamente.<br />

A presença da consciência, num dado comportamento em relação à atenção, só poderá ser confirmada<br />

quando esta por sua vez pode ser mantida por um longo período de tempo - muitos minutos ou<br />

horas e não segundos. E o autor continua: “A meu ver, consciência e atenção ocorrem em níveis e<br />

gradações, não são monólitas e se influenciam mentalmente em uma espécie de espiral ascendente.<br />

A atenção básica precede a consciência central; é necessária para acionar os processos que<br />

geram esta última” (p.124).<br />

Quanto à definição de teorias, que utilizamos para compreender o processo de<br />

atenção, novamente Damásio expõe que:<br />

Estado de alerta (alertness): diferente de acordado, com visível inclinação para<br />

perceber e agir, o significado apropriado será algo entre despeito e atitude;<br />

Ativação: denota sinais de ativação do sistema nervoso autônomo (mudanças na<br />

cor de pele, pêlos, diâmetro das pupilas, suor etc.);<br />

Consciência: é o termo abrangente para designar os fenômenos mentais que permitem<br />

o estranho processo que faz de você o observador ou conhecedor das coisas observadas,<br />

proprietário dos pensamentos formados de suas perspectivas, o agente em potencial; não é externado<br />

no processo, é uma parte de seu processo mental.<br />

39<br />

2.2.1 Modelos teóricos para o estudo da atenção<br />

Retrocedendo na história sobre as pesquisas relacionadas à atenção, podemos<br />

encontrar que o início desses estudos é datado no século passado. Moran (1996) ressalta que o<br />

objetivo de compreender sobre o funcionamento da mente foi um dos fatores geradores desses<br />

estudos onde a atenção tinha um papel vital.<br />

Sintetizando as diversas abordagens designadas ao estudo da atenção nos seus<br />

respectivos períodos podemos esquematizar:<br />

(Allport;Posner;Scheineider;Shiffrin)<br />

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2.2.2 Teoria do filtro (gargalo)<br />

Essa teoria destacava que a dificuldade encontrada para executar diversas tarefas<br />

simultaneamente ocorre em função de o sistema de processo da informação podem desempenhar<br />

somente um mínimo limitado de função por vez (MAGILL, 1998)<br />

Esse processo ocorre, segundo os defensores dessa teoria, uma vez que as fontes<br />

de informação presentes no ambiente são muito maior que a capacidade limitada do nosso organismo<br />

para percebê-las e processá-las. Em segundo lugar, essa seleção é necessária para entrar uma<br />

sobrecarga de informação.<br />

Broadbent, um dos expoentes dessa teoria destacou que a denominação de filtro<br />

se referia à entrada da informação no sistema nervoso, a qual era limitada por aceitar algumas<br />

classes de estímulos em detrimento de outras.<br />

As pesquisas nessa teoria perderam sua expressividade uma vez que não conseguiram<br />

identificar uma localização fixa para a seleção da informação pelo sistema (localização do<br />

filtro).<br />

40<br />

2.2.3 Teoria da capacidade de recursos centrais<br />

Proposto por Kahneman nos anos 70, esse modelo destaca que existe um reservatório<br />

único atencional e que os limites dessa capacidade são flexíveis. Os fatores que podem alterar<br />

a capacidade estão relacionados com as características da pessoa, da tarefa e da situação.<br />

De acordo com Kahneman (APUD MORAN, 1999): “... atenção é melhor compreendida<br />

quando vista como um reservatório diferenciado de energia mental” (p.56).<br />

2.2.4 Teorias de recursos múltiplos<br />

Os precursores dessas teorias que mais destacaram foram Allport, Naron e Gopher<br />

e Wickens. Eles apontam que dispomos de diversos mecanismos de atenção, cada um com recursos<br />

limitados. Dessas teorias, Wickens propõe a mais popular de todas. Ele afirmou que o sucesso<br />

no desempenho de 2 ou mais tarefas simultaneamente, depende se essas tarefas solicitam nossa<br />

atenção a partir de um recurso comum (p.e. visão) ou de recursos diferentes ( membros inferiores<br />

e códigos verbais). Nesse caso, quando as tarefas requisitarem o mesmo recurso simultaneamente<br />

à performance,estará prejudicadas (Magill, 1998)<br />

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2.2.5 Atenção como uma habilidade<br />

Moran (1999) propõe compreender a atenção como uma habilidade que pode ser<br />

desenvolvida e aprimorada com a prática. Segundo ele: “... há um forte apoio para a idéia de que a<br />

prática de uma dada tarefa tende a reduzir a quantidade de recursos cognitivos que ela requer”<br />

(p.58).<br />

Na proposta de Moran, a principal mudança é que a prática no que diz respeito à<br />

direção (foco) da atenção em conjunto com o nível de habilidade do praticante reduz o esforço<br />

mental para executar determinada tarefa, o que implica num redimensionamento da intensidade do<br />

potencial de atenção.<br />

No que diz respeito à mensuração da atenção, Moran (1999) destaca as técnicas<br />

de mensuração psicológica (eletroencefalograma, freqüência cardíaca e os eventos relacionados<br />

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Marco A. C Ferreira, Rosane S. E. Ferreira e Ricardo W. Coelho<br />

ao potencial cortical), mensuração experimental pelo paradigma da tarefa dupla, aqueles relacionados<br />

ao auto-relato (medidas psicométricas) e o teste escalar denominado “Teste do estilo atencional<br />

e interpessoal” proposto por Nideffer.<br />

2.3 Os Estágios de Aprendizagem e a Relação com a Demanda de Atenção<br />

Partindo da abordagem proposta por Moran (1999) quanto à participação da atenção<br />

na aprendizagem de habilidades motoras destacamos, a seguir, os estágios de aprendizagem<br />

pelos quais todos que iniciam a prática de novas habilidades motoras transitarão desde seu início<br />

com uma performance insatisfatória até o momento em que adquirem um nível (padrão) surpreendentemente<br />

bom após um determinado tempo de prática.<br />

Entre esses estágios podemos destacar:<br />

Tabela 1: Características gerais dos Estágios de aprendizagem<br />

41<br />

É importante ressaltar que a velocidade na transição de um estágio para o outro se<br />

dá na presença de alguns fatores como: Tempo de prática (quantidade); Participação do professor/<br />

técnico quanto à orientação e motivação; Experiência anterior; Solicitação da demanda dos recursos<br />

e estratégias cognitivas; atenção, capacidade para armazenar e recuperar informações na<br />

memória; Resultados obtidos - sucesso/fracasso; prazer/obrigação.<br />

2.4 Concentração<br />

A compreensão de conceitos ou temas aplicados nos construtos, processos, mecanismos<br />

ou eventos de ordem cognitiva referentes à concentração não tem sido uma tarefa fácil,<br />

nem mesmo conclusiva. Aliás, tal afirmação é logo identificada por Moran (1999).<br />

Segundo o autor, muitos psicólogos do esporte usaram os termos “atenção” e “concentração”<br />

intercambiavelmente. Schimidt e Peper (apud MORAN, 1999) definem concentração<br />

como a capacidade que alguém tem para focar a atenção na tarefa e não ser perturbado por<br />

estímulos irrelevantes dentro ou fora da tarefa.<br />

Cox (apud MORAN, 1999) afirma que a capacidade para atender seletivamente o<br />

estímulo apropriado é crítica na maioria das situações atléticas. O sucesso do atleta é dependente<br />

da capacidade de selecionar a atenção.<br />

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Jackson & Csikszentmihalyi (1999) destacam a concentração como uma das dimensões<br />

básicas do estado de fluxo. Segundo eles, aprender a excluir os pensamentos irrelevantes<br />

da consciência e estar sintonizado com a tarefa a ser executada é um sinal de uma mente disciplinada.<br />

Direcionar o foco para a atividade presente é a condição essencial para que a experiência do<br />

fluir possa acontecer. E isso significa:“Cada vez que eu piso numa quadra de basquete, eu nunca<br />

sei o que acontecerá. Eu vivo o momento. Eu jogo para o momento” (MICHEL JORDAN IN<br />

JACKSON & CSIKSZENTMIHALYI, 1999, p. 119).<br />

Nesse sentido, os autores ainda propõem que dirigir o foco atencional para a tarefa<br />

auxilia no seu envolvimento com a atividade. Participar a direção da atenção em diferentes situações<br />

ou caminhos é viável para desenvolver a sua habilidade em focar a atenção sob diferentes<br />

circunstâncias e imprevistos, fatos que sempre ocorrem nas situações de competição.<br />

42<br />

Qual foco utilizar?<br />

Um outro aspecto da atenção, o tipo de foco utilizado, é de suma importância para<br />

o processamento seja adequado e eficiente (quadro 1). Para Cervelló (1999) pode-se identificar<br />

quatro tipos de focos: amplo interno, amplo externo, estreito interno e estreito externo.<br />

Quando um indivíduo mantém o primeiro tipo de foco ele é capaz de organizar e<br />

integrar um grande número de pensamentos e percepções, é o estilo adequado para analisar e<br />

planejar ações. O segundo estilo permite ao sujeito explorar, perceber e organizar um grande<br />

número de estímulos externos, é o foco adequado frente a situações complexas e com um grande<br />

nível de informação. O terceiro tipo auxilia a pessoa a focalizar a atenção para uma determinada<br />

linha de pensamento, e é adequada para solucionar problemas concretos ou para meditar. O último<br />

estilo atencional ajuda o indivíduo a focalizar a atenção para uma atividade mais ou menos complexa<br />

evitando as distrações, com o objetivo de realizar uma determinada ação, e é adequado para um<br />

grande número de esportes.<br />

A amplitude do foco faz referência à quantidade de estímulos aos quais o atleta<br />

deve prestar atenção a cada instante. Sendo que o foco amplo está relacionado com um grande<br />

número de estímulo e o foco estreito com apenas um ou dois estímulos mais importantes. Já a<br />

direção do foco faz referência a dirigir a atenção para aspectos externos ou internos do indivíduo.<br />

Uma pesquisa realizada na Espanha por Solanellas, Font & Rodríguez (1996) com jogadores de<br />

tênis sobre estilos atencionais (215 tenistas do sexo masculino e 215 do sexo feminino, com idades<br />

variando de 12 a idade adulta), os autores utilizaram uma versão adaptada do teste TAIS de Nideffer<br />

(1976), que mostrou que a grande maioria dos jogadores usava um foco estreito durante os jogos<br />

(83.85%). Já em relação à direção do foco, os resultados mostraram uma predominância do foco<br />

externo (64.60%), porém com uma diferença significativa entre sexo masculino (58.8%) e feminino<br />

(71.1%).<br />

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Quadro 1. Quatro diferentes tipos de foco de atenção (adaptado de Murray, 2002)<br />

Diversos autores realizaram pesquisas relacionando o tipo de foco de atenção e o<br />

desempenho, entre os quais destacam-se Robazza, Bortoli & Nougier (1998) que trabalharam com<br />

atletas de alto nível, do sexo feminino, da seleção italiana da modalidade de arco e flecha; Radlo,<br />

Steinberg, Singer, Barba & Melnikov (2002) com indivíduos que deviam lançar dardos tentando<br />

acertar num alvo na parede, os sujeitos eram divididos em dois grupos, um com foco interno e outro<br />

com foco externo; Shea & Wulf (1999) avaliou a influência sobre a aprendizagem da atenção num<br />

foco externo ou interno e do feedback de foco externo ou interno. Wulf, McConnel, Gärtner &<br />

Schwarz (2002) realizaram um estudo com dois experimentos realizados no campo, um com voleibol<br />

e outro com futebol. Os resultados desses estudos indicam que o uso do foco de atenção<br />

externo, em atividades “fechadas” (saque no tênis), está relacionado com um melhor desempenho<br />

nas tarefas executadas pelos sujeitos.<br />

43<br />

3. CONCLUSÃO<br />

Os resultados encontrados neste estudo de revisão indicam que há uma estreita<br />

relação entre atenção e concentração com a aprendizagem de uma habilidade motora no futebol.<br />

Destacou-se neste estudo a relação entre atenção e aprendizagem motora, de<br />

forma a evidenciar a importância das fases de aprendizagem e eficiência motora.<br />

Apesar de jogadores terem uma competência conhecida, algumas vezes nos meios<br />

desportivos, com freqüência, é ressaltada por parte de vários agentes desportivos que perderam<br />

um jogo “porque a equipe se desconcentrou”, a verdade é que existem algumas dificuldades em<br />

concretizar claramente os métodos e estratégias específicas para promover uma melhor atenção e<br />

concentração nos atletas.<br />

Entendendo-se a atenção como o processo de pensamento que dirige e mantém o<br />

conhecimento acerca das experiências sensoriais, ela envolve três competências básicas: (a) a<br />

capacidade para selecionar as informações relevantes a prestar atenção, sendo importante que o<br />

atleta, em função daquilo que tem de fazer, saiba centrar-se apenas nas dicas relevantes dessa<br />

tarefa; (b) a capacidade para alterar o foco atencional sempre que acontecem modificações nas<br />

situações de competição, ou seja, conseguir prestar atenção a estímulos diferentes sempre que<br />

ocorram alterações no meio; e (c) a capacidade para manter a atenção e concentração durante o<br />

tempo suficiente para executar a tarefa, não cometendo erros devido a “distrações”.<br />

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Deste modo selecionamos algumas normas e princípios do treino da atenção e<br />

concentração (ADAPTADO DE BUMP, 1989; HARDY, JONES, & GOULD,1996<br />

;MORAN,1996; VIANA, 1996,):<br />

1. simulações das situações reais de competição, devendo os treinadores procurarem<br />

recriar nos treinos o máximo de semelhanças com as tarefas que os atletas têm mais dificuldades<br />

em enfrentar e gerir corretamente nos jogos, possibilitando-lhes assim “habituarem-se” a<br />

lidar com esses distrativos (ex: presença de público; mesmas condições físicas do recinto de jogo,<br />

etc.);<br />

2. utilização de planos mentais e palavras-chave, os atletas são ensinados a adaptar<br />

um conjunto de rotinas de pensamento e de comportamentos apropriados às tarefas a realizar<br />

durante as competições;<br />

3. focalização no processo de execução e não apenas no seu resultado, ou seja, os<br />

atletas devem ser encorajados a pensar naquilo que têm de fazer para executar bem uma determinada<br />

tarefa, e não somente no resultado final dessa execução, em termo de ganhar ou perder;<br />

4. ensinar aos atletas as “dicas” ou aspectos das tarefas e/ou situações competitivas<br />

a que têm de prestar atenção e como devem reagir perante situações novas ou negativas,<br />

utilizando os treinos como o melhor contexto para começarem a automatizar esses aspectos;<br />

5. definir com os atletas um conjunto de pensamentos e comportamentos que devem<br />

ser efetuadas antes da execução de uma determinada tarefa ou gesto motor, de forma a<br />

melhor realizarem essa competência;<br />

6. procurar conscientizar o atleta acerca dos efeitos negativos de ele atuar como<br />

um “juiz” de si próprio em situações de insucesso durante as competições (ex.: “sou um fracasso”),<br />

incentivando-o a aprender e a desenvolver rotinas de avaliação e de correção dos erros cometidos<br />

para recuperar mais rapidamente a concentração.<br />

Após uma boa quantidade de prática, as crianças podem aprender a executar o<br />

passe correto no futebol, porém o professor poderá facilitar a aprendizagem e quem sabe, diminuir<br />

o tempo necessário para chegar ao movimento ideal, utilizando-se de dicas que direcionem a atenção<br />

e facilitem a aprendizagem de uma habilidade motora.<br />

4. REFERÊNCIAS<br />

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NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS


Integrative Couple Therapy: uma proposta de intervenção com casais na terapia analítica comportamental<br />

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Jacqueline Franciele Asse e Marcos Roberto Garcia<br />

INTEGRATIVE COUPLE THERAPY: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO<br />

COM CASAIS NA TERAPIA ANALÍTICA COMPORTAMENTAL<br />

INTEGRATIVE COUPLE THERAPY: A PROPOSAL OF INTERVENTION WITH COUPLES IN<br />

ANALYTICAL BEHAVIOR THERAPY<br />

Jacqueline Franciele Asse*<br />

Marcos Roberto Garcia**<br />

RESUMO:<br />

Muitas abordagens teóricas da Psicologia trazem uma literatura extensa sobre a terapia com casais,<br />

porém não acontece o mesmo dentro da teoria da Análise do Comportamento Aplicada. O<br />

objetivo deste trabalho foi de apresentar a proposta terapêutica da “Integrative Couple Therapy:<br />

Promoting Acceptance and Change” de Jacobson e Christensen (1996) em detrimento a proposta<br />

da Terapia Comportamental de Casal. Este trabalho tem o formato de uma pesquisa teórica, e<br />

por isso o procedimento adotado foi a utilização de livros, periódicos e dissertações encontrados<br />

em bibliotecas e também em sites de pesquisa. A diferença entre as propostas de intervenção está<br />

nos objetivos iniciais. A terapia comportamental de casal volta-se para a modificação do comportamento<br />

na vida cotidiana do casal em detrimento a queixa trazida pelos cônjuges, enquanto que a<br />

Integrative Couple Therapy busca analisar a relação terapêutica trazida pelo casal e a partir disso<br />

criar um contexto no qual os cônjuges podem explorar um ao outro pela aceitação e mudança.<br />

Durante a realização deste trabalho pode-se verificar que a proposta de Jacobson e Christensen<br />

(1996) pode ser utilizada conjuntamente com a Terapia de Aceitação e Compromisso prosposta<br />

por Hayes (1987) e a Psicoterapia Analítica Funcional de Kohlenberg e Tsai (2001).<br />

PALAVRAS-CHAVES: Terapia comportamental, Psicoterapia analítico funcional, Terapia de aceitação<br />

e compromisso.<br />

ABSTRACT:<br />

Several theoretical approaches of Psychology bring an extended literature about couple therapy,<br />

however, the same doesn’t happen inside the theory of Behaviour Applied Analysis. The aim of this<br />

work was to present a therapeutics proposal of the Integrative Couple Therapy: Promoting<br />

Acceptance and Change, from Jacobson and Christensen (1996) in detriment to the proposal of<br />

Behaviour of Couple Therapy. This work has the format of a theoretical research, and because of<br />

this the adopted procedure was the utilization of books, periodical and dissertations founded in<br />

library and searched in web sites also. The difference between the proposals of intervention is in<br />

the initial objectives. The behaviour of couple therapy is turned to the modification of the behaviour<br />

of the daily life of the couple in detriment of the complaint brought by the partners, while the<br />

Integrative Couple Therapy research to analysis the therapeutics relationship brought by the couple<br />

and from that to create a context in which the partners can explore one another by the acceptance<br />

and change. During the realization of this work it was able to verify that the proposal of Jacobson<br />

and Christensen (1996) can be used in conjunction with the Acceptance and Commitment Therapy<br />

proposed by Haves (1987) and the Functional Analytical Psychotherapy from Kohlenberg and<br />

Tsai (2001).<br />

KEY-WORDS: behavior therapy,funcional analytic, psychotherapy acceptance and commitment<br />

therapy.<br />

* Psicóloga, discente do Curso de Especialização de Análise do Comportamento Aplicada de 2007 da <strong>UniFil</strong>.<br />

** Docente e Coordenador do Curso de Especialização em Psicologia: Análise do Comportamento aplicada da <strong>UniFil</strong><br />

e-mail:marcos.garcia@unifil.br<br />

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Integrative Couple Therapy: uma proposta de intervenção com casais na terapia analítica comportamental<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

50<br />

Segundo Pavan (1982), a terapia comportamental de casal é a utilização de técnicas<br />

com a finalidade de modificar o relacionamento de casais desajustados. Ela, além de trabalhar<br />

com o casal, enfatiza o trabalho com cada cônjuge individualmente, levando em conta a relação<br />

conjugal na vida comum. Com isto, o objetivo é que no cotidiano, cada cônjuge mantenha seus<br />

direitos e liberdades, formando uma união harmônica.<br />

A terapia comportamental de casal auxilia os cônjuges a descobrir formas das<br />

suas necessidades serem satisfeitas. Contudo, se todos os meios terapêuticos forem usados sem<br />

efeitos positivos, é preferível ajudar o casal a aceitar a separação, dando-lhes apoio, para que a<br />

nova adaptação traga menos traumas.<br />

A terapia comportamental de casal utiliza-se de técnicas para eliminação de comportamentos<br />

não adaptativos por outros mais adequados. Essas transformações ocorrem no dia-adia,<br />

na relação interpessoal.<br />

Para Pavan (1982), a grande maioria dos casais, quando procura terapia, já apresenta<br />

em seu repertório comportamentos inadequados, fixados e generalizados, sendo os mais<br />

comuns o irritamento mútuo, o excesso de punição e a falta de reforçamento por comportamento<br />

desejado, levando a um sentimento de rejeição. A falta de interação entre o casal também é uma<br />

característica marcante, no qual ambos isolam-se e não se comunicam.<br />

Segundo Jacobson e Christensen (1996), a terapia comportamental para casais<br />

realiza treinamento de comunicação e resolução de problemas como técnicas de modificação de<br />

comportamento. Para eles, o ideal para a da terapia comportamental de casal é que ambos os<br />

cônjuges sejam jovens, com promessa de ficarem juntos, emocionalmente engajados e que tenham<br />

as mesmas definições do que é um bom relacionamento. Os casais passam a conceituar seus<br />

problemas em termos de déficits em comunicação e mudança de comportamento. Porém, é raro<br />

este ideal ser alcançado. Quando o comprometimento de um ou de ambos for baixo, não houver<br />

colaboração ou o modelo não se enquadrar na ideologia do casal, a terapia comportamental de<br />

casal não cumpre seu papel.<br />

O objetivo da terapia comportamental de casal, nestes casos, é discriminar os<br />

estímulos responsáveis por comportamentos inadequados para eliminá-los, e ensinar ao casal não<br />

reforçar comportamentos mal adaptivos e a consequenciar comportamentos desejados.<br />

2. TERAPIA DE CASAL INTEGRATIVA (INTEGRATIVE COUPLE THERAPY)<br />

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O trabalho da abordagem integrativa é criar condições para que o casal decida por<br />

si mesmo se o relacionamento tem ou não futuro viável através da criação de uma atmosfera<br />

terapêutica, na qual os cônjuges podem explorar um ao outro pela aceitação e mudança, ambos<br />

propostas pela Terapia de Casal Integrativa (ICT).<br />

Para Jacobson e Christensen (1996), a Terapia de Casal Tradicional tem uma<br />

limitação significativa em relação à modificação de comportamentos governados por regras e em<br />

relação à incompatibilidade entre o casal. Para isso, a melhor alternativa é o trabalho de aceitação<br />

da ICT, o que significa o distanciamento da terapia comportamental de casal.<br />

O trabalho de aceitação auxilia os casais a se amarem na diferença e não apenas<br />

quando são compatíveis. Ela é realizada quando ambos não vêem as diferenças como um caminho<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Jacqueline Franciele Asse e Marcos Roberto Garcia<br />

construtivo e apresenta dois componentes: a tentativa em converter os problemas para a intimidade<br />

e compreender para negociar com incompatibilidades e problemas indissolúveis.<br />

O procedimento utilizado para promover a aceitação envolve primeiramente que<br />

os cônjuges identifiquem que as diferenças entre si são intoleráveis. Depois eles permitem que o<br />

esforço remodele seu companheiro (a) com a imagem idealizada de marido ou esposa, e a seguir<br />

passam a tolerar melhor os comportamentos que eles não gostam um no outro ao invés de preferir<br />

que os comportamentos indesejáveis desapareçam. A intervenção de aceitação pode ajudar os<br />

casais de três formas: gerando intimidade com a área de conflito, gerando tolerância e mudança.<br />

Na promoção da aceitação, conflitos são transformados em veículos de intimidade.<br />

São invocadas técnicas de tolerância pelo terapeuta como meio de neutralizar o impacto do<br />

comportamento negativo dos cônjuges e de bloquear esquivas. Entretanto, mesmo com essas técnicas<br />

de tolerância, os clientes gostariam que os conflitos não existissem, que o comportamento<br />

negativo não fosse evocado e que o comportamento positivo ocorresse com mais freqüência.<br />

Jacobson e Christensen (1996) colocam que mesmo quando estas técnicas são<br />

invocadas pelo terapeuta, o objetivo é neutralizar o impacto do comportamento negativo no parceiro.<br />

Então,<br />

A diferença básica entre aceitação focada na intimidade e estratégias de<br />

tolerância é que no primeiro caso conflitos contribuem para o crescimento e<br />

desenvolvimento do relacionamento, enquanto no último os conflitos são<br />

ainda indesejáveis, mas são mais aceitáveis do que foram no início da terapia<br />

(JACOBSON E CHRISTENSEN, 1996, P.93)<br />

Como o trabalho do terapeuta é ensinar os cônjuges a considerarem a diferença<br />

entre eles apenas como diferenças e não como defeitos, a descrever ao invés de avaliar e validar<br />

ao invés de invalidar o comportamento do outro, é proposto aos casais tarefas de pensar sobre as<br />

características do parceiro, sobre quais comportamentos passou a aceitar com o decorrer do tempo<br />

e sobre o que acha que não poderia aceitar.<br />

Outra proposta de intervenção é a promoção de mudança de comportamento,<br />

partindo de um problema formulado pelo casal, pela negociação da solução e pela implementação<br />

de um acordo de mudança. Este acordo se transforma em uma regra. O terapeuta mantém a regra,<br />

mas espera que o casal mantenha o acordo para que ocorra um tipo de reforço natural ocorra com<br />

uma interação mais harmoniosa.<br />

Embora os cônjuges procurem ver as mudanças como espontâneas, elas são algo<br />

mais, elas são produtos de mudanças no relacionamento funcional entre os comportamentos dos<br />

dois e na história de aprendizagem do casal, produzidos por eventos dentro e entre as sessões de<br />

terapia. Somente algumas vezes as intervenções de mudança da Terapia de Casal Tradicional se<br />

fazem necessárias na ICT.<br />

A terapia de Casal Tradicional é utilizada quando a mudança não ocorreu com o<br />

trabalho de aceitação ou quando promove o aumento da aceitação no relacionamento, todavia<br />

sem produção de mudanças. Contudo, a mudança de comportamento é realizada mais facilmente<br />

quando há contexto de colaboração, que pode estar em si mesmo ou ser produzido por aceitação<br />

emocional.<br />

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Então, a Terapia de Casal Integrativa tem como objetivo proporcionar um contexto<br />

favorável para a expressão da dor sem culpa, e esta expressão é recebida pelo outro de forma<br />

favorável. Por isso faz-se importante a promoção de aceitação e mudança de comportamentos.<br />

Jacobson e Christensen (1996), apresentam o procedimento para se chegar à aceitação<br />

e à mudança. Eles denominam tal procedimento como sendo “elaboração da formulação”<br />

pelo terapeuta. Essa formulação consiste em três componentes a serem incorporados pelo casal:<br />

um tema, um processo de polarização e uma armadilha mútua.<br />

1. O tema descreve o conflito primário do casal. É visto como um identificador da<br />

função do comportamento no conflito. Para Jacobson e Christensen (1996), os comportamentos<br />

são mantidos pelo contexto, quando o comportamento muda o contexto também se modifica. Quando<br />

um dos parceiros modifica seu comportamento, o comportamento do outro também muda como<br />

conseqüência. Então, a função de identificar o tema é que ele ajuda a focalizar os comportamentos<br />

a serem modificados e generalizados em outras áreas do relacionamento. Esse trabalho de modificar<br />

o contexto conflituoso é feito pelo trabalho de aceitação e intervenções de mudança.<br />

Para Jacobson e Christensen (1996), o tema intimidade distante 1 é o mais comum<br />

entre os casais, no qual um dos cônjuges, normalmente a mulher, exige mais tempo junto, mais<br />

conversas íntimas ou atividades sexuais com carinho e afeto antes da relação. Normalmente os<br />

temas não variam, eles fixam-se nas diferenças entre os cônjuges. Cada um tem um ideal de<br />

relacionamento e essas diferenças transformam-se em incompatibilidades e como conseqüência,<br />

em busca de alternativas para a sua resolução de diferentes formas.<br />

2. O processo de polarização é descrito como um processo destrutivo de interação<br />

presente nos conflitos. Segundo Jacobson e Christensen (1996) quando um dos parceiros experimenta<br />

o comportamento negativo do outro, a reação natural é tentar modificar tal comportamento.<br />

Normalmente, casais que procuram terapia são mal-sucedidos nesta tarefa. Terapeutas do comportamento<br />

assumem que o fracasso na mudança é devido à deficiência na comunicação e conflitos<br />

nas habilidades para resolução de problemas, já que cada esforço para mudança vai contra os<br />

esforços do outro em manter as diferenças.<br />

Para Jacobson e Christensen (1996) colocam que através da polarização o relacionamento<br />

ruim transforma as diferenças em deficiências, fazendo parecerem maiores do que<br />

realmente são. Isso acarreta o desaparecimento de reforçadores positivos anteriores. Como conseqüência,<br />

maximiza-se o valor do reforçador negativo.<br />

3. A armadilha mútua, situação em que o casal se encontra como conseqüência<br />

do processo de polarização, de não saber lidar com as diferenças, o que pode levá-los a uma<br />

separação.<br />

Para os autores, o principal objetivo da Terapia de Casal Integrativa é que os<br />

casais adotem a “elaboração da formulação”, para que se transformem transformando durante o<br />

tratamento, mas é preciso se manter sempre como uma organização para o casal, levando-os a se<br />

livrarem de suas culpas, comportamentos de acusação e devem permitir a si mesmos e ao outro a<br />

aceitação e a mudança.<br />

1Intimidade distante é uma relação conflituosa entre duas pessoas, no qual uma busca mais intimidade e a outra sente-se mais<br />

confortável com a distância estabelecida.<br />

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Jacqueline Franciele Asse e Marcos Roberto Garcia<br />

A “elaboração da formulação” fornece um princípio de organização tanto para o<br />

terapeuta quanto para os clientes, ajudando a apoiar os casais durante os conflitos ou durante as<br />

sessões. Ela fornece um vocabulário que os casais possam usar para se unirem contra seus problemas<br />

e para criarem distância entre eles e seus problemas. Com o passar do tempo, o terapeuta<br />

espera que eles reconheçam a polarização como ela ocorre e identifiquem conflitos particulares<br />

como exemplos de seus temas.<br />

A formulação é elaborada através de uma estrutura de avaliação particular e é<br />

informada aos casais através de uma sessão de feedback.<br />

O terapeuta, segundo Jacobson e Christensen (1996), também passa a ser uma<br />

fonte de análise. Os autores destacam as habilidades do terapeuta, como sendo uma delas - a<br />

capacidade de usar o humor, pois isto forma um contraponto, encorajando o casal a levar seus<br />

problemas com menos seriedade para que possam aceitar melhor um ao outro, o que acaba sendo<br />

uma forma de criar um ambiente terapêutico ameno de estimulações aversivas.<br />

O terapeuta deve estar consciente não apenas do que o cliente diz, mas também<br />

da sua expressão facial e corporal para auxiliá-lo a determinar o curso do tratamento. Ele deve<br />

desenvolver a habilidade para encontrar compaixão e simpatia em cada história pessoal, mesmo<br />

que o cônjuge esteja apresentando comportamentos de antipatia e desprezo.<br />

Na ICT, segundo Jacobson e Christensen (1996), o terapeuta busca desenvolver<br />

comportamentos de empatia e compaixão através de discussões abertas sobre todas as causas de<br />

conflitos. Ele busca modelar comportamentos como se comunicar, como se comportar sem punir o<br />

outro (posturas não culpáveis), assim como avaliar comportamentos que não foram realizados.<br />

3. ANÁLISE E DISCUSSÃO<br />

Como a Terapia Comportamental de Casal só pode ser utilizada em casais que são<br />

capazes e estão dispostos a mudar, quando estes se deparam com problemas insolúveis e diferenças<br />

irreconciliáveis, a Terapia Comportamental de Casal não dispõe de técnicas para a mudança<br />

destes problemas. Requisitos que não são necessários na Terapia de Casal Integrativa (ICT) com<br />

a proposta de aceitação.<br />

Aceitação envolve mudança de reações emocionais para o comportamento e<br />

mudança no valor do estímulo. Além dela, como já visto, a ICT também realiza mudança de comportamento<br />

que envolve aumento ou diminuição na freqüência ou intensidade do comportamento<br />

evocado. Com isto, a ICT utiliza estas duas estratégias que são intimamente relacionadas, pois<br />

mudando o valor que o estímulo tem para o parceiro, seu comportamento modifica-se conseqüentemente.<br />

Em razão disto, estratégias de aceitação fazem-se necessárias como primeiro recurso na<br />

Terapia de Casal Integrativa.<br />

Como a ICT objetiva promover a aceitação de comportamentos e estados privados<br />

tanto da própria pessoa como do seu parceiro, ela leva-os a mudarem o foco do tema<br />

(discrimina a função do comportamento no conflito) para o processo de polarização (processo<br />

destrutivo de relacionamento), para que ambos percebam a forma negativa com que se relacionam.<br />

Jacobson e Christensen (1996) dizem que o importante não é o parceiro entender que o<br />

outro se sente aprisionado, mas experienciar a sensação dele. Esta experiência leva à maior<br />

intimidade e proximidade.<br />

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Além de o terapeuta ensinar os parceiros a reconhecerem o processo de polarização,<br />

deve também ensiná-los a formularem e descreverem suas histórias de vida deve evitar que<br />

ocorram conflitos, não permitir linguagem raivosa e acusatória e utilizar linguagem familiar a do<br />

cliente, justificando a necessidade de habilidades sutis por parte do terapeuta. Portanto, o trabalho<br />

de aceitação visa desenvolver no casal uma forma diferente de falar sobre os problemas, levando<br />

o terapeuta, muitas vezes, a utilizar-se de metáforas (utilização de linguagem não literal) como na<br />

Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) proposta por Hayes (1987), para que o casal encare<br />

seus problemas de uma outra maneira e mude a forma de experienciar o que o outro fez ou disse.<br />

A Terapia Comportamental de Casal é mais extensa em número de sessões do que<br />

a Terapia de Casal Integrativa, pois leva mais sessões para alcançar resultados positivos, além de<br />

apresentar maior número de casais com recaídas após o tratamento (JACOBSON E<br />

CHRISTENSEN, 1996). Como atualmente as pessoas buscam atendimento terapêutico com urgência<br />

em relação à alta no tratamento tanto por condições financeiras como por disponibilidade de<br />

tempo, a ICT torna-se uma boa proposta de tratamento.<br />

Quando a utilização de técnicas da Terapia Comportamental de casal produzirem<br />

conflitos, o terapeuta deve retornar ao trabalho de aceitação. Já na ICT, quando há conflitos entre<br />

o casal, encontra-se a oportunidade ideal para o trabalho de aceitação, ainda mais quando o casal<br />

está experimentando sofrimento em relação ao tema ou à polarização, como a grande maioria dos<br />

clientes apresenta quando buscam terapia.<br />

A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e a Terapia de Casal Integrativa<br />

assumem a própria responsabilidade com a mudança e aceitação de estados emocionais e experiências<br />

privadas, acarretando uma modificação do comportamento e, como conseqüência, uma<br />

mudança de contingências, levando os parceiros a experienciarem novos reforçadores positivos e<br />

a aproximarem-se mais um do outro.<br />

O terapeuta da ICT assemelha-se ao terapeuta da ACT, visto que ambos têm<br />

como objetivo promover a aceitação de eventos privados e de comportamentos para a promoção<br />

de mudança, além do compromisso com o tratamento, tanto pela freqüência nas sessões, como<br />

pela realização de tarefas propostas.<br />

Na ACT, a resistência é definida como sendo um comportamento do cliente de<br />

utilizar razões sociais para explicar seu comportamento. Na Terapia de Casal Integrativa, a resistência<br />

é definida como a dificuldade do terapeuta em lidar com a não realização de tarefas por<br />

parte do cliente. Isto demonstra que, para um trabalho completo, pode-se analisar a resistência de<br />

ambos dentro da sessão, buscando na relação terapêutica a responsabilidade de cada um. Neste<br />

momento, a Psicoterapia Analítica Funcional (FAP) de Kohlenberg e Tsai (2001) pode auxiliar o<br />

terapeuta da ICT a formular o tema através da observação dos CRB1 (Comportamentos Clinicamente<br />

Relevantes) apresentados na sessão, visto que os comportamentos dos parceiros, um em<br />

relação ao outro são grandes fontes para a análise funcional, ou seja, para o tema. Como a FAP<br />

enfatiza os efeitos dos relacionamentos, ela pode aliar-se com a ICT no atendimento a casais.<br />

Já na Terapia Comportamento de Casal, o comportamento do cônjuge é selecionado<br />

através de comportamentos a serem modificados, mesmo que os parceiros não estejam preparados<br />

para a mudança.<br />

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Jacqueline Franciele Asse e Marcos Roberto Garcia<br />

Apesar do objetivo principal da ICT ser equacionar o casal, é necessário também<br />

que cada um dos parceiros discrimine os comportamentos que influenciam no relacionamento, para<br />

poder mantê-los ou mudá-los e aceitar algumas características do parceiro para que haja melhora<br />

no relacionamento.<br />

4. REFERÊNCIAS<br />

HAYES, S.C. A Contextual approach to therapeutic chance. In: N. JACOBSON (Ed.)<br />

Psychotherapist in Clinical Practice: Cognitive and Behavioral Perspectives. New York:Guilford,<br />

1987<br />

JACOBSON, N.S; CHRISTENSEN, A. Integrative Couple Therapy: Promoting Acceptance<br />

and Change. New York, London: W.W. Norton & Company, 1996.<br />

KOHLENBERG, Roberto, J; T´Sai, Mavis. Psicoterapia Analítica Funcional: Criando Relações<br />

Terapêuticas Intensas e Curativas. Santo André, SP: ESETec Editores Associados, 2001.<br />

PAVAN, M.L.O. Aplicação da Terapia Comportamental no Tratamento de Casais. 283 f.<br />

Livre Docência (USP – Instituto de Psicologia). São Paulo, 1982.<br />

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TRABALHO EXPLORATÓRIO: o Brasil não Esquece e a Questão Permanece<br />

TRABALHO EXPLORATÓRIO: o Brasil não Esquece e a Questão Permanece<br />

EXPLORER JOB: Brazil Doesn’t Forget and the Question Still Remains<br />

Agnaldo Kupper*<br />

RESUMO:<br />

As relações de trabalho no Brasil inserem-se nas relações do país com as suas questões históricas<br />

e, portanto, com sua condição de dependência a nível internacional.Onze gerações separam o fim<br />

da escravidão e o início do trabalho moderno no âmbito do capitalismo brasileiro. Analisando todo<br />

esse período, a questão não se apresenta de forma animadora, embora tenhamos deixado de ser<br />

um grande latifúndio produtor de recursos primários para estarmos situados entre os dez principais<br />

países produtores industriais. Falta ao Brasil uma plena regulamentação nas relações do trabalho,<br />

o que permite fazer sobreviver, em pleno século XXI, o trabalho escravo, fruto de uma incorporação<br />

social pífia e excludente.<br />

PALAVRAS-CHAVE: trabalho; dependência; exploração; escravidão contemporânea.<br />

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ABSTRACT:<br />

The job relationships in Brazil are inserted with the relationships of the country with its historical<br />

questions and, thus, with its condition of dependence at an international level. Eleven generations<br />

separate the end of slave labor to the beginning of the modern job in the ambit of the Brazilian<br />

capitalism. Analyzing all this period, the question is not shown in an encouraged manner even so we<br />

are not anymore a big latifundium producer of primary resources to be placed between the top ten<br />

countries that are industrial producers. There is a lack in Brazil of a regulation in the job relationships,<br />

what may be able to survive, in full twenty first century, the slavery work, a result of a rough and<br />

excluded social incorporation.<br />

KEY-WORDS: work; dependence; exploration; slavery; contemporary.<br />

RESUMEN:<br />

Las relaciones laborales en Brasil se inserta en las relaciones del país con sus cuestiones históricas<br />

y, por lo tanto, con su condición de dependencia a nivel internacional.Once generaciones separan el<br />

término de la esclavitud y el ejercicio del trabajo en el ámbito del capitalismo brasileño. Analizando<br />

todo este periodo, la situación no se presenta de una manera animadora, sin embargo hemos dejado<br />

de ser un gran latifundio como productor de recursos primarios para que estemos situados entre los<br />

diez principales países de productos manufacturados. A Brasil le hace falta una reglamentación en<br />

las relaciones laborales, lo que permite de cierto modo hacer sobrevivir, en pleno siglo XXI, el<br />

trabajo esclavo, fruto de una incorporación social vil y excluyente.<br />

PALABRAS-CLAVE: Trabajo; dependencia; exploración; esclavitud contemporánea.<br />

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* Professor de ensino superior, médio e de pré-vestibulares; autor de livros didáticos e paradidáticos; historiador; doutorando.<br />

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Agnaldo Kupper<br />

1. O VALOR DO TRABALHO<br />

Historicamente, a palavra trabalho sempre esteve vinculada a uma visão negativa.<br />

A começar com Adão e Eva; o primeiro, punido com o trabalho; a segunda, a realizar o “trabalho de<br />

parto”.<br />

Na sociedade greco-romana, não se via o trabalho como o vemos hoje, ou melhor,<br />

não se organizava o trabalho como o fazemos em nossas sociedades contemporâneas, distinguindo-o<br />

em três concepções: práxis (trabalho voltado para a política, ou seja, vida pública), o labor<br />

(voltado para a sobrevivência do corpo) e o poesis (trabalho de criar, a partir das transformações<br />

das matérias fornecidas pela natureza). Apesar de instrumentos do senhor, os escravos, base da<br />

produção greco-romana, eram, em geral, encarados como os assalariados dos nossos dias atuais. A<br />

luta dos escravos da antiguidade clássica era pela alforria, mesmo que não ganhassem a condição<br />

de cidadãos. Para os gregos, o trabalho era visto como um negócio (negottium = que nega o ócio).<br />

Para os romanos, o termo trabalho provém do latim tripollium, aparelho de tortura utilizado para<br />

atar condenados ou animais difíceis de ferrar. Podemos, para ilustrar, remetermo-nos a Platão: “o<br />

trabalho atenta contra a nobreza”.<br />

Na Alta Idade Média européia (V ao XI), assistimos à dominação das mentalidades<br />

pela Igreja, justificadora da sociedade tripartite estruturada: uns oram e rezam (clero), outros<br />

guerreiam e protegem (nobreza), outros trabalham (campesinato), atendendo às necessidade de<br />

manutenção da comunidade. Segundo a concepção feudal, o trabalho era uma maldição, não possuindo<br />

valor em si mesmo.<br />

Nas sociedades tribais, as atividades vinculadas à produção também não possuem<br />

valor em si, se separados de outras coisas, ou seja, tais atividades estão associadas aos ritos e<br />

mitos, portanto, a toda a vida social.<br />

Hegel (1770-1831), em sua obra “A Fenomenologia do Espírito”, teria sido o primeiro<br />

grande teórico a valorizar a idéia do trabalho. Marx (1818-1883) criticou a visão otimista de<br />

Hegel ao afirmar que “de nada adianta a liberdade reconquistada se o que o trabalhador revolto ao<br />

mundo capitalista realiza não pertença a ele”. Claro, Marx valoriza o trabalho como a grande<br />

capacidade humana, desde que o produto, oriundo da transformação, pertença ao trabalhador, a<br />

que Freud (1856-1939) satirizaria: “Marx erotizou a atividade do trabalho”. Paul Lafargue (1842-<br />

1911), contrariando Marx, afirmou ver o trabalho “a causa da degeneração intelectual”.<br />

O trabalho, na visão que hoje dele possuímos, só foi valorizado no mundo moderno<br />

ocidental, em especial com a internacionalização industrial dos séculos XIX e XX. Desde então, a<br />

maioria da população capitalista passou a preferir o ócio inteligente. Os próprios sindicatos de<br />

trabalhadores, na atualidade, lutam mais por salários do que pelo prazer nas atividades do trabalho.<br />

Assim, desde os gregos, para quem o trabalho manual era considerado penoso,<br />

passando pelo sistema feudal (quando a Igreja considerava a atividade como resultado do pecado<br />

original) a atividade do trabalho foi vista como algo dolorido. Entretanto, as mudanças ocorridas<br />

nas relações sociais passaram a valorizar a atividade como criadora de toda a riqueza, em que pese<br />

a apropriação da mesma por um seleto grupo possuidor dos meios de produção.<br />

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2. A EVOLUÇÃO DO TRABALHO NO BRASIL<br />

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Ao desembarcarem no Brasil e apropriarem-se da terra, os lusos apropriaram-se<br />

também dos que aqui viviam. O trabalho exploratório sobre nativos, que se inicia no Brasil no<br />

século XVI, foi ampliado com a introdução de africanos na condição escrava, uma vez que haveria<br />

ganhos abaixo do Equador (“onde Deus não vê”) também com o tráfico, além, é claro, da mão-deobra<br />

que baratearia a produção açucareira introduzida.<br />

Segundo Caio Prado Jr (1985), a escravidão imposta nas regiões americanas não<br />

teve precedentes na história da humanidade. No caso do Brasil, veio a cana, as atividades<br />

mineradoras, o café, sempre utilizadores da mão-de-obra escrava negra.<br />

Após o fim do tráfico de escravos em 1850, acompanhado pela Lei 601 (ou de<br />

Terras), iniciaram-se algumas experiências para o desenvolvimento da produção agrária com força<br />

de trabalho livre, com incentivo à imigração européia. Este mecanismo não deixou de impor forças<br />

exploratórias do trabalho, com o desenvolvimento do colonato. Esses mesmos imigrantes não foram<br />

apenas utilizados com sua força de trabalho no café, mas também nas cidades, que proliferavam,<br />

sendo utilizados nas indústrias nascentes, num claro processo de exploração.<br />

Em meio às condições de trabalho impostas ao imigrante urbano no Brasil, os<br />

trabalhadores envolveram-se em movimentos que procuraram modificar a situação precária a eles<br />

imposta, passando pela estruturação de sindicatos e pelas manifestações de greve, como as que<br />

paralisaram a cidade de São Paulo em 1917. Agiu-se como sempre na primeira República (1889-<br />

1930): movimentos sociais tratados como caso de polícia, com prisões e expulsões de europeus e<br />

seus descendentes do país.<br />

A partir de 1930, com a necessidade de organização do cenário nacional e da<br />

necessidade de tornar o país menos vulnerável às oscilações internacionais, procurou-se atentar às<br />

necessidades dos trabalhadores urbanos, introduzindo Getúlio Vargas uma política trabalhista que<br />

incluía o salário-mínimo (DECRETO-LEI 2.162 DE 1940), embora sua trajetória tenha nivelado<br />

por baixo todas as remunerações, beneficiando mais os empregadores do que os empregados, já<br />

que chegou a rebaixar salários de quem ganhava mais do que o mínimo.<br />

O que se viu a partir da introdução efetiva do salário-mínimo (julho de 1940), foi a<br />

sua consolidação (entre 1940 e 1951), sua recuperação (de 1952 a 1964) e seu arrocho (de 1965<br />

até os nossos dias). Mesmo um presidente cuja trajetória fez-se na luta trabalhista (LUIS INÁCIO<br />

LULA DA SILVA) dá mostras da incapacidade de valorizá-lo, mantendo-o como referência. Não<br />

se pode desconsiderar, no entanto, que a reorganização do movimento sindical a partir do final da<br />

década de 1970 (com destaque ao próprio Lula), e sua luta por negociações coletivas efetivas e<br />

contra o arrocho salarial, freou um pouco a queda da desvalorização dos salários.<br />

A ausência de uma política trabalhista efetiva, assim como a sucessão de planos<br />

econômicos (Cruzado, Bresser, Collor, Real), fez elevar o setor produtivo informal no país. Esse<br />

setor é formado por trabalhadores que desenvolvem suas funções por conta própria, o que vai<br />

desde o comerciante ambulante à prestação de serviços pessoais (empregados domésticos, pequenos<br />

consertos, entre outros). Esses trabalhadores, ditos informais, não aparecem nas estatísticas<br />

oficiais dos trabalhadores, o que caracteriza a luta pela manutenção em nossa sociedade e a sujeição<br />

a todo tipo de trabalho, seja de bóias-frias, seja de servis, seja de trabalhadores em condição<br />

escrava. Mostra-se, assim, a trágica trajetória do trabalhador e do trabalho brasileiro.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Agnaldo Kupper<br />

A presença do trabalho infantil no Brasil é gritante e mostra a condição acima<br />

citada. A Organização Mundial do Trabalho 1 , estima em mais de meio milhão o número de crianças<br />

entre 10 e 17 anos sendo exploradas no Brasil, em especial como trabalhadoras domésticas. Em<br />

sua maioria são meninas, que raramente recebem pagamento e muitas vezes sofrem desde agressões<br />

físicas e verbais até abuso sexual. Apesar de proibida, a exploração do trabalho infantil é<br />

tolerada por governos como o do Brasil, talvez como uma alternativa à pobreza, em especial nas<br />

regiões menos desenvolvidas do país.<br />

3. AS CONDIÇÕES GERAIS DO TRABALHO NO BRASIL<br />

As condições do trabalho no Brasil, historicamente, nunca foram das melhores.<br />

Tais condições estão vinculadas à ausência de uma política consistente que diminua a distância<br />

entre os mais favorecidos economicamente e os mais pobres e ao desajuste costumaz da economia<br />

tupiniquim. O “dumping social” mantém-se, gerando a impossibilidade de consumo imposta<br />

à maioria dos trabalhadores (contraditoriamente, consumo este cada vez mais estimulado).Tal<br />

condição exige grandes jornadas de trabalho aos empregados, a exploração do trabalho da mulher,<br />

o trabalho informal (estimulado pelas altas taxas e impostos trabalhistas em vigor) e a luta<br />

árdua pela própria sobrevivência do brasileiro. Assim, permanece uma sociedade trabalhadora<br />

pouco estruturada no trabalho regular e regulamentado, que luta pela manutenção em uma estrutura<br />

selvagem de capitalismo.<br />

Analisando ampla pesquisa realizada pelo Jornal Folha de São Paulo 2 em 2002,<br />

conclui-se que a maioria dos brasileiros não usufrui dos direitos sociais previstos em lei. Em números:<br />

54% dos trabalhadores não desfrutam do 13º-salário; 55% não se beneficiam de férias remuneradas;<br />

81% não dispõem de plano de saúde; 39% dos ocupados trabalham acima de 8h/dia; 75%<br />

não são contemplados com vale-transporte e vale-refeição; 83% dos trabalhadores não são sindicalizados;<br />

46% não possuem carteira de trabalho; metade não tem tempo suficiente para o lazer.<br />

O “exército de reserva” no Brasil, segundo dados admitidos pelo próprio Ministério<br />

do Trabalho 3 , chega à incrível marca de onze milhões de trabalhadores, o que confirma que, na<br />

luta pela sobrevivência, aceitam-se as piores condições possíveis de trabalho, incluindo aí o trabalho<br />

em condição escrava e a exploração do trabalho infantil.<br />

59<br />

Ocupação principal - EM %<br />

Fonte: Datafolha, Março de 2004.<br />

1 Dados divulgados em 06/2002 pela OIT (Organização Internacional do Trabalho)<br />

2 Instituto de Pesquisas Datafolha, órgão do jornal de São Paulo, divulgada em 14/03/2002.<br />

3 Dados do Ministério do Trabalho, divulgados em maio de 2004.<br />

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BRASILEIRO TRABALHA MAIS DO QUE 40 HORAS SEMANAIS - EM %<br />

60<br />

Fonte: Datafolha, Março de 2004.<br />

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Assiste-se no Brasil a uma bruta traição nos direitos trabalhistas entre os anos de<br />

1999 e 2003, quando analisados os últimos dados do DIEESE 4 . Assim, em 1999, 54% dos trabalhadores<br />

possuíam 13º salário; ao final de 2003, apenas 46%; se as férias remuneradas contemplavam<br />

50% dos trabalhadores, três anos mais tarde a taxa caiu para 45%; se 23% dos trabalhadores<br />

possuíam auxílio saúde, em 2003 queda para 19%. Com estes números, parece-me, a aceitação de<br />

qualquer condição e processo de trabalho é bem-vinda, estando o trabalhador sujeito a todo tipo de<br />

exploração.<br />

A situação mais lamentável é a do negro, mesmo após 116 anos do fim da escravidão.<br />

A cor da pele faz grande diferença: os empregados negros ganham 42% menos que a média<br />

paga ao trabalhador em geral; os classificados como pardos, 35% menos; os de origem oriental,<br />

33% mais 5 .<br />

4 DIEESE, Relatórios de 1999 a 2003.<br />

5 RAIS 2000 (Relação Anual de Informações Sociais).<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Agnaldo Kupper<br />

DISCRIMINAÇÃO SALARIAL CONTRA NEGROS NO BRASIL<br />

ABRANGE TODOS OS NÍVEIS DE ESCOLARIDADE<br />

61<br />

Fonte: Datafolha, Março de 2004, a partir de dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais)<br />

Na continuação dos números, em mais uma clara traição à CLT, cerca de um<br />

terço dos trabalhadores amparados, atualmente, no país, costumam fazer horas-extras, mas apenas<br />

40% deles recebem algum tipo de remuneração. Outros 31% não recebem qualquer tipo de<br />

compensação por trabalhar a mais, 14% são pagos “em folgas”. 6<br />

Na busca do trabalho, busca-se a dignidade, como bem proferem as ideologias no<br />

mundo capitalista. Na suposta busca do digno, sujeita-se ao indigno, ao vergonhoso, em um claro<br />

desajuste, tão bem explorado pelos que da situação beneficiam-se.<br />

6 DIEESE, Relatório parcial de 2004.<br />

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4. AS RAÍZES QUE SUSTENTAM O TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL<br />

62<br />

O assassinato de três auditores fiscais do Trabalho, ligados ao Departamento Regional<br />

de Belo Horizonte, em 28 de janeiro de 2004, trouxe à tona a questão do trabalho escravo<br />

que persiste no Brasil, em que pese estarmos no século XXI. O objetivo dos fiscais mortos era<br />

vistoriar as condições de trabalho, remuneração e acomodação das pessoas atraídas para a colheita<br />

de feijão na região de Unaí (Noroeste do Estado de MG). Provavelmente, ao traírem interesses,<br />

foram assassinados.<br />

Antes deste fato, o presidente brasileiro Lula da Silva já havia lançado (março/<br />

2003) o Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo, anunciando que o combate a este<br />

tipo de crime exploratório seria uma das prioridades do governo federal.<br />

Mas por que este tipo de “modo de produção” persiste contrariando a Constituição<br />

Federal e o Decreto-Lei 2.848/40 do Código Penal?<br />

Os primeiros registros de trabalho escravo nas condições praticadas atualmente<br />

no Brasil apareceram na década de 70 do século passado, no período de expansão da fronteira<br />

agrícola na região amazônica. A ocupação deu-se de forma desenfreada. Migrantes nordestinos<br />

foram aliciados para o trabalho nas fazendas em troca de comida, remédios e promessas de pagamento.<br />

Claro, o trabalho escravo que vigorou no Brasil a partir de sua colonização pelos portugueses<br />

e que se estendeu até (oficialmente) 1888, era baseada em questões raciais. O contemporâneo<br />

é baseado em questões socioeconômicas, sendo caracterizado pela presença de seguranças armadas,<br />

restrição do direito de ir e vir e sistemas de individualidade.<br />

Nos Estados onde a escravidão persiste (Tocantins, Rondônia, Maranhão, Bahia,<br />

Pará e Mato Grosso – embora com denúncias da prática em São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa<br />

Catarina), a prática aproxima-se da normalidade. Em 2002, segundo dados do Ministério do Trabalho,<br />

fiscais libertaram 2.306 trabalhadores nas áreas rurais do país. Em 2003, 4.932. Ao que parece,<br />

são números insignificantes. A impunidade dos infratores parece ser o principal fator estimulante<br />

do trabalho escravo neste princípio de milênio no Brasil. As ações que coíbam a prática não têm<br />

suficiência. Estima-se entre 25 e 40 mil o número de brasileiros que trabalham em formas contemporâneas<br />

de escravidão 7 , especialmente em áreas rurais, os números podem ser maiores, já que<br />

em nosso país persiste a amplitude da exploração do trabalho infantil. Se assim, não é de se estranhar<br />

a presença do trabalho escravo. Pelo baixo custo econômico, estima-se que a escravidão<br />

contemporânea atinja 200 mil pessoas no país (BALES, 2000).<br />

Segundo Bales, no mundo há um número expressivo de seres humanos em situação<br />

de escravização: 27 milhões. Estudiosos do tema afirmam que “não são números absolutos”,<br />

mas não deixam de apontar a prática também nos EUA, onde o tráfico de pessoas da América<br />

Latina, Ásia, Leste europeu e África, persiste.<br />

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7 Dados do Comitê para Eliminação da Discriminação Racial e Comissão Pastoral da Terra.<br />

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Agnaldo Kupper<br />

RANKING DE ACUSAÇÃO<br />

Número de supostos escravos libertados<br />

63<br />

A escravidão contemporânea diferencia-se da escravidão colonial pelo custo do<br />

escravo. No passado, um escravo era mercadoria cara. Hoje, leva-se à escravidão por promessa,<br />

o que não significa um investimento. A ignorância sobre a escravidão moderna encoraja os que<br />

dela se aproveitam. Não é o caso específico do Brasil, mas também do Haiti, México, República<br />

Dominicana, Peru, Colômbia e Venezuela (para não sairmos da América).<br />

No Brasil, o que parece facilitar a ação dos escravizadores é o fato de possuir<br />

grandes áreas de fronteira, onde o Estado de Direito é desconhecido, onde a violência é usada<br />

como forma de obtenção de controle de vidas, em especial na Amazônia Legal. Outro fator: a<br />

pobreza gritante, que faz pessoas submeterem-se a promessas de exploração. Outro: o desprezo<br />

permitido às próprias leis que regulamentam a questão do trabalho no país.<br />

Não podemos estabelecer o critério da cor do indivíduo, mas pode-se afirmar que<br />

prevalece. Isto porque, como se sabe, negros possuem menos oportunidades sociais e econômicas,<br />

até pela herança que carregam.<br />

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5. CONCLUSÃO<br />

Por estar enraizada na sociedade capitalista globalizada a idéia do ganho e, portanto,<br />

de exploração, e por ser o Brasil um país ainda marcado pelas chagas da escravidão oficial que<br />

perdurou até 1888, o trabalho forçado mantém-se.<br />

Algumas medidas, no entanto, podem e devem ser tomadas. A título de propostas,<br />

citaria: a liberação de recursos para a composição de uma força-tarefa que tenha como objetivo<br />

extinguir a escravidão e o tráfico humano; punição exemplar aos que teimam em manter a escravidão<br />

contemporânea; grande trabalho divulgador, educacional e conscientizador, utilizando a grande<br />

mídia; punição severa à corrupção das forças de correção ao sistema exploratório de mão-deobra,<br />

incluindo aí policiais e funcionários públicos; imposição de leis severas e rudes aos beneficiados<br />

de tal tipo de exploração humana; maior preocupação social, em detrimento ao mercado, por<br />

parte das estruturas governamentais.<br />

Não consigo visualizar o fim do trabalho escravo contemporâneo sem medidas<br />

duras, definidas e definitivas. Até porque, próprio do modo de produção capitalista, explorar estruturouse<br />

como ação legítima e mantenedora. Mas até quando admitiremos os desequilíbrios gerados pelo<br />

capitalismo selvagem que se vê voltado contra toda a estrutura social?<br />

6. REFERÊNCIAS<br />

BALES, Kevin. Disposable People: New Slavery in the Global Economy. EUA, 2000.<br />

64<br />

KOWARICK, Lúcio. Trabalho e vadiagem: a origem do trabalho livre no Brasil. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1987.<br />

KUPPER, A; CHENSO, P.A. História Crítica do Brasil. São Paulo: FTD, 1998.<br />

PRADO JR. Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1985.<br />

PRANDI, J.R. O trabalhador por conta própria sob o capital. São Paulo: Símbolo, 1978.<br />

SILVA, Zélia L. da. A domesticação dos trabalhadores nos anos 30. São Paulo: Marco Zero,<br />

1990.<br />

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NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAS APLICADAS


COMUNICA-AÇÃO: O Desenvolvimento de Habilidades Sociais no Meio Organizacional<br />

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Ligia Cristina Bitencourt, Nayana Kathrin Tanaka e Elen Gongora Moreira<br />

COMUNICA-AÇÃO: O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS NO<br />

MEIO ORGANIZACIONAL<br />

COMUNIC – ACTIO: THE DEVELOPMENT OF THE SOCIAL SKILLS IN THE INSTITUTION<br />

ENVIRONMENT<br />

Ligia Cristina Bitencourt *<br />

Nayana Kathrin Tanaka*<br />

Elen Gongora Moreira**<br />

RESUMO:<br />

As organizações atuais além de visarem crescimento e lucro, também estão preocupadas não<br />

somente com o resultado, mas com o processo de obtenção desse objetivo. Em função disto o<br />

processo de desenvolvimento organizacional merece atenção especial, pois tem como base a modificação<br />

dos comportamentos dos colaboradores que nela se inserem. Este artigo é o relato da<br />

experiência de Estágio em Formação de Psicólogo lll vivenciada no Setor Financeiro de uma empresa<br />

localizada na cidade de Londrina – PR. Após a realização do diagnóstico organizacional<br />

constatou-se que o principal problema do Setor estava relacionado com a deficiência na comunicação<br />

e dificuldade para negociar com os clientes. Sendo assim, a proposta do grupo de desenvolvimento<br />

de pessoas foi discutir com os colaboradores que atuavam na organização os problemas por<br />

eles vivenciados no ambiente de trabalho e desenvolver habilidades necessárias para facilitar a<br />

execução do trabalho, tais como: agilidade na realização das tarefas; iniciativa para tomada de<br />

decisão; apresentação de sugestões para resolução de problemas; e promover reflexões sobre a<br />

importância da comunicação para o desenvolvimento do trabalho. Participaram do processo de<br />

treinamento e desenvolvimento vinte e um colaboradores, tendo sido realizados seis encontros<br />

semanais, com duração de uma hora cada. Durante a intervenção foi observado que os colaboradores<br />

tinham repertório necessário para cumprir suas funções, porém a estrutura do Setor permitia<br />

que o Gerente passasse por cima da autoridade do colaborador o que prejudica o desenvolvimento<br />

de sua autonomia. Concluiu-se que a intervenção serviu para que os reais problemas da Instituição<br />

viessem à tona, como uma complementação ao Diagnóstico Institucional realizado anteriormente.<br />

67<br />

PALAVRAS-CHAVES: Psicologia Organizacional, Treinamento & Desenvolvimento, Comunicação.<br />

* Alunas do 5°ano do curso de Psicologia da UNIFIL. Ligia Cristina Bitencourt. E-mail: ligiabvp@yahoo.com.br, Nayana<br />

Kathrin Tanaka. E-mail: nayanakathrin@hotmail.com<br />

** Docente do curso de Psicologia da UNIFIL. Mestre pela PUC-SP em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento,<br />

com área de concentração em Gestão do Comportamento Organizacional. E-mail: egmoreira@hotmail.com<br />

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ABSTRACT:<br />

The current organizations besides it seek growth and profit, it is also concerned not only with the<br />

result, but with the process of obtaining of that objective. In function of this the process of<br />

organizational development deserves special attention, because it has as base the modification of<br />

the collaborators’ behaviors that interfere in it. This article is the report of the experience of<br />

Apprenticeship in Formation of Psychologist III lived in the Financial Section of a located company<br />

in the city of Londrina - PR. After the accomplishment of the organizational diagnosis it was<br />

verified that the most serious problem of the Section was related with the deficiency in the<br />

communication and difficulty to negotiate with the customers, being like this, the proposal of the<br />

group of people’s development went to discuss with the collaborators that acted in the organization<br />

the problems for them lived in the work atmosphere and to develop necessary abilities to facilitate<br />

the execution of the work, such as: agility in the accomplishment of the tasks; initiative for socket<br />

of decision; presentation of suggestions for resolution of problems; and to promote reflections on<br />

the importance of the communication for the development of the work. They participated in the<br />

training process and development twenty-one collaborators, having been accomplished six weekly<br />

encounters, with duration of one hour each. During the intervention it was observed that the<br />

collaborators had necessary repertoire to accomplish their functions, however the structure of the<br />

Section allowed the Manager to pass over the collaborator’s authority that he harms the development<br />

of his autonomy. It was ended that the intervention served so that the real problems of the institution<br />

came to the surface, as a complementation to the institutional Diagnosis accomplished previously.<br />

KEY-WORD: Organizational Psychology, Training & Development, Communication<br />

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1. INTRODUÇÃO<br />

O Desenvolvimento Organizacional é um conjunto de técnicas que ajuda as organizações<br />

a melhorarem a comunicação organizacional, a qualidade de vida no trabalho e a produtividade.<br />

Além dos fatores citados anteriormente, programas de Desenvolvimento Organizacional<br />

têm por objetivo modificar os comportamentos dos colaboradores para que estes interajam melhor<br />

com seus colegas de trabalho e por conseqüência acabem se comportando de forma mais produtiva<br />

no trabalho (SPECTOR, 2004).<br />

Para que haja uma mudança organizacional é importante que o comportamento<br />

das pessoas também se modifique. E é justamente por auxiliar os processos de mudança dentro de<br />

uma empresa que os programas de desenvolvimento de pessoas são considerados tão importantes,<br />

tanto para a empresa quanto para os colaboradores que passam pelo processo de desenvolvimento<br />

de alguma competência, seja uma competência técnica ou humana (GIL, 1994).<br />

De acordo com Morin (2001) a empresa consegue por intermédio do processo de<br />

desenvolvimento de pessoas, colaboradores mais satisfeitos no trabalho e por conseqüência mais<br />

comprometidos com suas funções. Por isto, desenvolver pessoas está intimamente ligado à educação,<br />

ou seja, ao desenvolvimento das potencialidades do colaborador. Pode-se dizer que o processo<br />

de educação favorece a aquisição de um novo repertório comportamental favorecendo a um desempenho<br />

mais adequado.<br />

Este trabalho foi fruto do estágio em Formação de Psicólogo lll realizado no setor<br />

Financeiro de uma empresa e teve por objetivo o desenvolvimento pessoal e profissional dos colaboradores.<br />

Inicialmente a queixa trazida pelo gerente do setor financeiro da empresa estava relacionada<br />

à falta de comprometimento e de autonomia dos colaboradores em seu trabalho. O setor<br />

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Ligia Cristina Bitencourt, Nayana Kathrin Tanaka e Elen Gongora Moreira<br />

em questão estava passando por transformações como, por exemplo, a descentralização do setor.<br />

A partir da realização do diagnóstico organizacional constatou-se que 75% dos colaboradores que<br />

atuavam no setor Financeiro estavam contratadas há apenas um ano ou menos e não tinha todas as<br />

habilidades necessárias para desempenharem suas funções, como, por exemplo, responder a dúvidas<br />

simples dos clientes. Essa falta de habilidades por parte dos colaboradores acarretava por<br />

sobrecarregar o gerente, que muitas vezes tinha que resolver pequenas tarefas de outros colaboradores,<br />

como caso de como negociar dividendos dos alunos que era função do setor de cobrança 1 .<br />

Os resultados do diagnóstico organizacional mostraram que, devido ao fato dos<br />

colaboradores serem novos na empresa (75% estava há menos de um ano no cargo) e não terem<br />

conhecimento sobre o funcionamento da Instituição como um todo acabavam ocorrendo falhas no<br />

processo de comunicação entre os setores da Instituição e entre os colaboradores do próprio setor<br />

Financeiro.<br />

A dinâmica do trabalho dos colaboradores do setor Financeiro era deficitária, pois<br />

ocorria re-trabalho, atraso na realização das tarefas e irritabilidade dos clientes. O diagnóstico<br />

também indicou a necessidade de um trabalho que abordasse o tema negociação, pois ao que tudo<br />

indicava os colaboradores estavam com dificuldades em lidar com as situações que exigiam habilidades<br />

de persuasão e negociação com os clientes.<br />

Algumas outras questões também foram investigadas no diagnóstico organizacional<br />

e serviram de apoio para o trabalho de treinamento e desenvolvimento realizado no setor Financeiro.<br />

As questões observadas foram: 1) o nível de satisfação dos colaboradores em relação à existência<br />

de um Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) foi considerado baixo (20% dos colaboradores<br />

estava satisfeito com este item); 2) baixa oportunidade (10% dos colaboradores consideravam-se<br />

muito satisfeitos) para participação dos colaboradores que atuam na Organização em<br />

programas de treinamento e desenvolvimento; 3) segundo a opinião dos colaboradores, não havia<br />

reconhecimento profissional por parte da Instituição. 4) o grau de satisfação apresentado com<br />

relação à perspectiva de crescimento profissional também foi considerado baixo (40%); 5) o nível<br />

de satisfação quanto aos critérios para promoção interna foi avaliado como sendo insatisfatório<br />

para 65% dos colaboradores e 6) por fim, a maioria (55%) dos colaboradores percebiam que a<br />

Instituição utilizava mal o potencial dos colaboradores no trabalho.<br />

Analisando os resultados obtidos com o diagnóstico organizacional foi proposto à<br />

Instituição a realização de um programa de desenvolvimento de pessoas para os colaboradores do<br />

setor com o objetivo de trabalhar as experiências relacionadas ao cargo, mas que também proporcionasse<br />

oportunidades para o crescimento e desenvolvimento profissional.<br />

A proposta do grupo de desenvolvimento de pessoas foi a de discutir com os colaboradores<br />

os problemas por eles vivenciados no ambiente de trabalho e desenvolver habilidades<br />

necessárias para facilitar a execução do trabalho, tais como: agilidade na realização das tarefas;<br />

iniciativa para tomada de decisão; apresentação de sugestões para resolução de problemas; e<br />

promover reflexões sobre a importância da comunicação para o desenvolvimento do trabalho.<br />

1 O setor de cobrança era uma dos setores que compunham o setor financeiro.<br />

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2. MÉTODO<br />

2.1 População<br />

Participaram do programa de treinamento e desenvolvimento vinte e um colaboradores<br />

do setor Financeiro da Instituição.<br />

2.2 Materiais<br />

Papel sulfite, canetas, caixa de bombons e técnicas e dinâmicas de grupos.<br />

2.3 Duração<br />

Foram realizados seis encontros semanais, com duração de uma hora cada.<br />

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2.4 Procedimento<br />

Todo setor Financeiro foi dividido em dois grupos de dez e onze colaboradores<br />

respectivamente. Os encontros ocorreram em dias previamente agendados com os participantes<br />

sendo que o grupo A teve seus encontros realizados em seis terças - feiras consecutivas e o grupo<br />

B as quintas - feira.<br />

Após o Levantamento das Necessidades de Treinamento realizado a partir do<br />

diagnóstico organizacional, foram definidos os objetivos do grupo 2 . Definidos quais seriam os objetivos<br />

foi elaborado o plano e o projeto do programa de treinamento e desenvolvimento.<br />

O projeto foi elaborado com informações dos objetivos e do programa a ser desenvolvido<br />

e depois foi submetido à aprovação do Gerente do setor Financeiro.<br />

O plano de treinamento e desenvolvimento continha informações semelhantes ao<br />

projeto, porém havia um detalhamento maior dos encontros a serem realizados, pois o plano é um<br />

roteiro a ser seguido 3 pelo profissional durante o programa de T&D.<br />

Após o aceite do projeto pela empresa iniciou-se a condução dos encontros que<br />

foram inicialmente planejados da seguinte forma:<br />

• 1° Encontro: Foi apresentado o Diagnóstico Organizacional para que os colaboradores<br />

compreendessem quais eram os objetivos da intervenção. Também foi<br />

feito o contrato psicológico, para que os participantes pudessem confiar suas opiniões<br />

e dar sugestões sem medo de represálias. E ao final deste encontro, foi<br />

realizada uma Dinâmica de Integração que serviu para o melhor conhecimento<br />

das funções dos integrantes do grupo entre si.<br />

• 2º Encontro: Este encontro foi conduzido pelo Gerente do setor que discutiu os<br />

seguintes pontos: a importância do departamento Financeiro para a Instituição,<br />

bem como a importância dos colaboradores que atuam do setor Financeiro; expectativa<br />

do Gerente e da Instituição em relação ao trabalho executado pelos<br />

colaboradores.<br />

• 3º Encontro: Neste encontro foi discutido um caso fictício elaborado pelas<br />

estagiárias com o intuito de trabalhar com o grupo habilidades de negociação.<br />

2 Os objetivos foram citados ao final da sessão de Introdução.<br />

3 Embora haja um roteiro prévio para a execução do programa de treinamento e desenvolvimento isto não significa que não<br />

ocorram mudanças durante a execução do processo, pois, os encontros podem sofrer alterações de acordo com as necessidades<br />

levantadas pelo grupo.<br />

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Ligia Cristina Bitencourt, Nayana Kathrin Tanaka e Elen Gongora Moreira<br />

• 4º Encontro: O quarto encontro foi destinado a uma discussão sobre a importância<br />

da comunicação no trabalho. Uma dinâmica em grupo foi utilizada para facilitar<br />

a discussão.<br />

• 5º Encontro: A habilidade no atendimento ao público foi uma questão abordada<br />

no quinto encontro. Um novo caso fictício, também elaborado pelas estagiárias,<br />

foi utilizado para auxiliar a atingir os objetivos da discussão.<br />

• 6º Encontro: O último encontro foi destinado à discussão da importância do<br />

trabalho em equipe. E para encerrar os encontros foi realizada uma dinâmica de<br />

encerramento com os grupos.<br />

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

No primeiro encontro do programa de treinamento e desenvolvimento, o grupo se<br />

manifestou e questionou a validade do trabalho, dizendo que gostaria que os outros setores da<br />

Instituição também participassem, pois o problema mais grave para eles era a falha de comunicação<br />

entre os setores da empresa como um todo. Algumas idéias surgiram para melhorar o atendimento<br />

ao público, como por exemplo, a realização de um programa de treinamento para todas as<br />

recepcionistas da Instituição, para que elas pudessem fornecer informações corretas ao público, o<br />

que muitas vezes não ocorre pelo fato delas não conhecerem a própria empresa em que trabalham.<br />

Outro problema que eles apontaram neste primeiro encontro foi a falta de uma central telefônica<br />

ou o treinamento de uma telefonista para passar os telefonemas para as pessoas certas, pois os<br />

colaboradores deste setor recebem telefonemas que não dizem respeito a suas atribuições e isso<br />

atrapalha e deixa os clientes irritados, o que por sua vez acaba interferindo na saúde ocupacional<br />

dos colaboradores.<br />

O segundo encontro foi conduzido pelo Gerente do setor. Antes da realização<br />

deste encontro, foi feita com o Gerente uma preparação para que o mesmo conduzisse a reunião<br />

de forma assertiva. Nessa reunião foram propostos alguns assuntos que seriam importantes que o<br />

Gerente comentasse com os seus colaboradores, como o tipo de setor que ele gostaria de formar e<br />

qual era seu objetivo neste trabalho. A preparação do Gerente foi importante para que ele pudesse<br />

pensar em suas idéias e para que as estagiárias fossem indicando a melhor maneira de expor suas<br />

opiniões.<br />

Nesse encontro os colaboradores falaram, a pedido do Gerente, quais os problemas<br />

que eles tinham para a realização adequada de suas respectivas funções. De uma forma geral<br />

os comentários foram os seguintes: as reclamações estavam relacionadas à falta de treinamento<br />

de pessoas para atender telefones e dar as informações corretas para os clientes. O Gerente disse<br />

que estaria aberto a sugestões para resolver os problemas do setor e que a expectativa dele em<br />

relação ao trabalho dos colaboradores é que os mesmos resolvessem os problemas que surgem no<br />

dia-a-dia. A fala do Gerente exprime a característica do setor que ele almeja enquanto líder, um<br />

setor com colaboradores que busquem soluções para os problemas que aparecerem, demonstrando<br />

autonomia e comprometimento.<br />

No terceiro encontro discutiu-se um caso fictício elaborado pelas estagiárias especialmente<br />

para este grupo. O caso foi elaborado baseando-se em informações dos próprios colaboradores<br />

e do Gerente Financeiro. Como foi dito anteriormente, o objetivo da discussão era a veri-<br />

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ficação das habilidades de negociação dos colaboradores. Durante a discussão deste caso, verificou-se<br />

que os colaboradores estavam aptos a negociar nos termos que a Instituição exigia. Percebeu-se<br />

também que eles tinham repertório para negociar, sabiam todas as regras da negociação o<br />

que indicou que outra variável os impedia de realizar seu trabalho por completo. Após discussão<br />

com o grupo identificou-se uma possível contingência para a não ocorrência do comportamento de<br />

negociar. Na discussão, os colaboradores apontaram que havia uma falha no funcionamento da<br />

Instituição, pois os mesmos faziam a negociação conforme solicitado, porém se o cliente pedisse ao<br />

Gerente Financeiro para ser atendido por ele,o atendimento ocorria e o próprio Gerente acabava<br />

passando por cima da autoridade do colaborador. Essa variável fazia com que o colaborador se<br />

sentisse lesado em sua autoridade de negociador, o que por sua vez acarretava em falta de autonomia<br />

e aparente descompromisso com o trabalho, características que o Gerente queria mudar no<br />

seu setor e das quais ele tanto reclamava. A hierarquia rígida da Instituição fazia com que essas<br />

situações fossem comuns no trabalho, pois para se ter um setor com colaboradores se comportando<br />

da forma almejada pelo Gerente a forma de comandar o setor deverá ser transformada.<br />

A comunicação foi um assunto especificamente abordado no quarto encontro, com<br />

auxílio de uma dinâmica de grupo intitulada “Dinâmica do gato”. Nessa dinâmica a coordenadora<br />

do grupo contava uma história e depois pedia que um participante contasse a história novamente<br />

para alguém que estivesse fora do grupo. O participante que ouvia a narrativa deveria repeti-la<br />

para outra pessoa e assim por diante. Essa dinâmica foi interessante, pois nos comentários realizados<br />

após o termino da atividade os colaboradores perceberam que os fatos contados mudaram<br />

muito de uma pessoa para outra, porém os colaboradores alegaram que o final ou a moral da<br />

história foi sempre mantida. As estagiárias levaram os colaboradores a refletir sobre a semelhança<br />

da narrativa e as situações vivenciadas no trabalho, uma vez que tanto o cliente como o colaborador<br />

pode destorcer os fatos, já que o mesmo cliente pode passar por muitos colaboradores durante<br />

a negociação.<br />

Porque o cliente pode não aceitar os termos da negociação e pedir pra ser atendido<br />

pelo Gerente Financeiro ou precisar retornar ao Setor Financeiro para acertar detalhes da<br />

negociação. Os colaboradores chegaram à conclusão de que o uso adequado do sistema de<br />

informática que eles têm para trabalhar é importante, porque o sistema possui um cadastro de<br />

todos os atendimentos que são realizados e, além dos procedimentos obrigatórios, há a possibilidade<br />

de se acrescentar informações adicionais sobre os atendimentos. Essas informações adicionais<br />

ajudam a todos os colaboradores a saberem exatamente o que foi negociado, evitando assim os<br />

mal-entendidos e tornando os atendimentos mais eficientes.<br />

No quinto encontro foram abordadas habilidades de atendimento ao público. Como<br />

estratégia para iniciar a discussão foi utilizado um caso fictício elaborado também pelas estagiárias.<br />

Os colaboradores disseram que sempre tentam acalmar o cliente, pois quando ele chega pode estar<br />

estressado ou chorando devido à dívida existente com a Instituição. Mas, às vezes, por conhecerem<br />

previamente os clientes, os colaboradores ficam irritados por saberem que estão sendo “enrolados”,<br />

ou seja, que os clientes estão tentando passar informações não verídicas. Os colaboradores<br />

relataram no grupo casos de pessoas que têm sempre o mesmo comportamento, todos os anos<br />

voltam para renegociar a dívida e não cumprem com o contrato que negociaram, essa situação é<br />

percebida pelos colaboradores como injusta com os clientes que pagam em dia. Percebeu-se que a<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Ligia Cristina Bitencourt, Nayana Kathrin Tanaka e Elen Gongora Moreira<br />

variação de humor dos clientes, as não verídicas e as renegociações não honradas são estressantes<br />

para os colaboradores, pois segundo relato deles esse é um trabalho que desgasta e que muitas<br />

vezes é inútil, pois sabem que os clientes não cumprirão o contrato renegociado, ou ainda irão<br />

procurar o Gerente Financeiro para tentar conseguir um desconto maior.<br />

No último encontro o assunto discutido foi o trabalho em grupo. Para isso foi<br />

utilizada a dinâmica da corrida de carros e para finalizar os encontros foi realizada uma dinâmica<br />

de encerramento. Cada grupo foi dividido em dois para facilitar a execução da tarefa, os colaboradores<br />

tiveram quinze minutos para resolver a corrida de carros. Eles não resolveram e disseram<br />

que isso é muito ruim, que ficariam pensando o resto do dia na solução. Quanto ao trabalho em<br />

grupo, alguns não participaram e revelaram o motivo, o grupo disse como se sentiu com a não<br />

participação de um integrante da equipe. É Preciso ampliar um pouco mais a discussão deste<br />

encontro.<br />

O trabalho de desenvolvimento organizacional foi proposto, a princípio, a pedido do<br />

gerente do setor e como forma de melhorá-lo no que se refere ao desempenho dos colaboradores<br />

no ambiente de trabalho. Durante os encontros realizados percebeu-se, no entanto, que os colaboradores<br />

apresentam um repertório comportamental adequado ao desempenho de suas funções.<br />

Sendo assim, foi preciso analisar quais eram os reais motivos para o não desempenho do trabalho<br />

da forma idealizada pelo Gerente, ou seja, com autonomia e em equipe.<br />

Um dos problemas verificados no diagnóstico e nos encontros foi à rígida hierarquia<br />

estabelecida no setor. As regras são definidas e os colaboradores devem segui-las sem questionar.<br />

Tratando-se de um setor que trabalha diretamente com dinheiro, qualquer falha na execução<br />

das tarefas pode acarretar sérias complicações para o próprio colaborador. A insegurança em<br />

tomar uma decisão no momento de se negociar uma dívida pode fazer com que o colaborador<br />

apresente uma autonomia considerada baixa. Uma decisão errada pode acarretar punições para o<br />

colaborador, tais como: se negociar com um juro muito abaixo do permitido pode ser repreendido<br />

pelo Gerente Financeiro ou por seu superior, o que pode diminuir a probabilidade de ocorrência do<br />

comportamento de tomada de decisão.<br />

Outro fator relevante apresentado foi a falta de estrutura administrativa da organização<br />

como um todo. Como a Instituição não possui uma área destinada ao trabalho com pessoas,<br />

muitos problemas ficam sem solução. O espaço aberto pelas estagiárias foi relevante no sentido de<br />

dar esse “direito” ao colaborador, o direito de se expressar. A comunicação se mostra um problema<br />

a partir daí. Através do diagnóstico pôde-se perceber que a Instituição necessita de um plano<br />

de Carreira, Cargos e Salários, pois isso é a base para o desenvolvimento de toda organização. Os<br />

colaboradores, como já relatado anteriormente, são jovens em idade e período dentro da empresa.<br />

Muitos dos colaboradores que atuam no setor Financeiro são estudantes e parece que o trabalho<br />

auxilia como renda para pagar os estudos. Geralmente esses estudantes desempenham uma função<br />

que é incompatível com sua área de estudo e, em função disso, o comprometimento apresentase<br />

de forma sutil, pois provavelmente esses estudantes, depois de formados, tentarão carreira na<br />

área, para a qual estão estudando.<br />

Para finalizar o trabalho, após um período de quarenta e cinco dias, foi conduzido<br />

um encontro de follow-up. Nesse último encontro, os resultados das intervenções realizadas foram<br />

discutidos com os colaboradores, assim como houve um feedback dos mesmos em relação ao<br />

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COMUNICA-AÇÃO: O Desenvolvimento de Habilidades Sociais no Meio Organizacional<br />

programa de treinamento e desenvolvimento. Segundo os participantes dos grupos, o trabalho mostrou-se<br />

válido devido à melhora na comunicação dentro do setor. Os relatos dos colaboradores<br />

mostraram que esse objetivo foi alcançado já que agora o departamento parece estar mais integrado,<br />

pois os erros que inicialmente ocorriam diminuíram de freqüência ou quase desapareceram.<br />

No entanto, mesmo com algumas mudanças significativas que ocorreram no Setor<br />

Financeiro, uma intervenção mais ampla destinada a toda a organização se faz necessário, pois os<br />

departamentos são interligados, havendo interferência em toda a organização.<br />

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Diante de todo o trabalho exposto neste artigo, considera-se imprescindível a continuidade<br />

deste trabalho para alcançar os objetivos da empresa, que são a autonomia e o comprometimento<br />

dos colaboradores. No entanto, é importante salientar que a autonomia e o comprometimento<br />

somente serão obtidos se houver um comprometimento também da Instituição em relação<br />

às atividades profissionais de seus colaboradores.<br />

Para continuidade do programa de desenvolvimento organizacional propõe-se que<br />

sejam conduzidas as seguintes atividades na organização:<br />

74<br />

1. realização do diagnóstico organizacional nos demais setores da Instituição;<br />

2. elaboração do PCCS objetivando uma profissionalização dos setores<br />

da empresa;<br />

3. após a condução e análise dos resultados obtidos no diagnóstico organizacional,<br />

formar novos grupos de discussão, com colaboradores dos diversos setores da<br />

Instituição com o intuito de alcançar tanto uma comunicação eficiente entre os<br />

setores, quanto intervir de forma eficiente nos reais problemas diagnosticados em<br />

cada setor; e,<br />

4. reanálise da gerência da instituição como um todo quanto à sua forma hierárquica<br />

de atuar.<br />

5. REFERÊNCIAS<br />

GIL, A. C. Administração de recursos humanos: um enfoque profissional. São Paulo: Atlas,<br />

1994.<br />

GOULART, I. B. Gerenciamento de pessoas, conceito, evolução e perspectivas atuais. In: Psicologia<br />

Organizacional e do trabalho: teoria, pesquisa e temas correlatos. São Paulo: Casa do<br />

Psicólogo, 2002.<br />

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MORIN, E. M. Os sentidos do trabalho. Revista de Administração de Empresas, jul/set.. São<br />

Paulo, v. 41. n. 3 p. 8-19,2001.<br />

SPECTOR, P. E. Psicologia nas organizações. São Paulo: Editora Saraiva, 2004.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Josinei Marcos Candido da Silva,<br />

Luís Marcelo Martins e Rodrigo Candido Damas<br />

A ESTRATÉGIA DOS CUSTOS PARA A GESTÃO DAS MICRO E PEQUENAS<br />

EMPRESAS<br />

THE STRATEGY OF COSTS TO THE MANAGEMENT OF THE MICRO AND SMALL COMPANIES<br />

Josinei Marcos Candido da Silva*<br />

Luís Marcelo Martins**<br />

Rodrigo Candido Damas***<br />

RESUMO:<br />

Este trabalho demonstra a importância da micro e pequena empresa no mercado nacional e as<br />

dificuldades encontradas por estas para se manterem num ambiente altamente competitivo, tendo<br />

em vista as dificuldades em se gerenciar pela ausência de bons controles sobre os custos de suas<br />

atividades, assim como pela falta de informações e ferramentas que conduzam à boa tomada de<br />

decisão. Para obter resultados favoráveis e dar continuidade aos negócios é de suma importância<br />

implantar processo de gestão estratégica de custos. Como objetivo, buscou-se apresentar ao micro<br />

e pequeno empresário qual a importância em se conhecer e manter um controle sobre os custos de<br />

sua atividade, enfatizando e informando os benefícios e funções dos serviços contábeis que sua<br />

empresa recebe, que na grande maioria dos casos, acaba representando simplesmente mais um<br />

custo para empresa; servindo apenas como uma mera ferramenta para apurar impostos, não oferecendo<br />

nenhuma contribuição para a administração, manutenção e crescimento das atividades da<br />

empresa. Portanto, a conclusão a que se chegou é que implantando os controles de custos, utilizando-se<br />

da contabilidade como ferramenta para esse fim, há o favorecimento da manutenção das<br />

micro e pequenas empresa, a ampliação da possibilidade de sucesso, bem como a utilização destas<br />

informações como vantagem competitiva frente aos seus concorrentes.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Custos, contabilidade, informação e vantagem competitiva.<br />

ABSTRACT:<br />

This work demonstrates the importance of the micro and small company in the national market and<br />

the difficulties founded by them to keep themselves in a very competitive environment, aiming the<br />

difficulties do manager by the lack of good controls over costs of its activities, as well as by the lack<br />

of information and tools that lead to the good decision taken. To get favorable results and keep the<br />

business it is very important to introduce a process of strategy management of costs. As a goal, it<br />

was looked to present to the micro and small businessman how important it is to know and keep a<br />

control over costs of its activities, pointing out and informing the benefits and functions of the<br />

accountancy services that his company receive, witch in the major part of the cases, ended up<br />

representing only one more cost to the company; serving only as a simple tool to find out tributes,<br />

and not offering any contribution to the management, maintenance and growth of the activities of<br />

the company. So, the conclusion that it was able to get is that if they introduce the cost control,<br />

using the accountancy as a tool for this end, there will be a collaboration to the maintenance of the<br />

micro and small companies, the amplification of the possibility of success, as well as the utilization<br />

of those information as a competitive advantage in front of their competitive.<br />

KEY-WORDS: Costs, accountancy, competitive information and advantage.<br />

* Aluno do Curso de Especialização em Controladoria e Finanças da FAFICOP, Cornélio Procópio – e-mail:<br />

josineimarcos@hotmail.com<br />

** Mestre em Administração Financeira (Unopar) e Mestre em Administração – Gestão de Organizações (UEL), Professor de<br />

Graduação e Pós-Graduação, Pesquisador, Coordenador do Curso de Graduação e de Pós-Graduação e Consultor de Empresas.<br />

*** Aluno do Curso de Especialização em Controladoria e Finanças da FAFICOP, Cornélio Procópio e Mestrando em Ciências<br />

Contábeis pela Universidade Regional de Blumenau – FURB, Blumenau/SC – e-mail: rodrigo.cnt@gmail.com<br />

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A Estratégia dos Custos para a Gestão das Micro e Pequenas Empresas<br />

1.INTRODUÇÃO<br />

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O mundo vem passando por grandes transformações ao longo dos últimos anos.<br />

Tem-se observado que as características desse ambiente alteram-se com uma velocidade cada<br />

vez mais acentuada, contudo, essas mudanças começaram a acontecer com a explosão causada<br />

pela Revolução Industrial, quando se deixa de pensar na manufatura artesanal ou na produção para<br />

a subsistência e passa-se a buscar a produção em massa em novos mercados. No Brasil, na<br />

década de 90, houve a abertura das portas para o mundo, começando assim uma nova era, quando<br />

surgiram novos concorrentes, fortes, com novas metodologias de produção, colocando o “velho”<br />

sistema de produção numa produção de extrema desvantagem. Essas novas empresas trouxeram<br />

não só as novas tecnologias, mas também novas formas de gerir seus negócios e, desta forma,<br />

iniciaram um processo de revisão de toda a plataforma de custeamento de seus produtos, o que<br />

lhes dava base para oferecer aos brasileiros preços altamente competitivos e, na grande maioria<br />

dos casos, imbatíveis.<br />

Com toda essa transformação, a micro e pequena empresa são as que mais sofreram<br />

e vêm sofrendo os maiores impactos. O forte empenho da concorrência dessas grandes<br />

empresas em ganhar cada vez mais mercado, acaba por ampliar suas áreas de atuação e cada vez<br />

mais o mercado da micro e pequena empresa torna-se escasso. Assim, faz-se necessário que<br />

essas busquem informações para a condução dos seus negócios, principalmente as que são administradas<br />

por empresários que não têm formação ou grandes conhecimentos de ferramentas de<br />

gestão e, desta forma, vão conduzindo seus negócios de forma empírica.<br />

Destaca-se como um grande problema na administração de micro e pequenas<br />

empresas a questão da gestão de seus custos, que de forma em geral não são conhecidos e/ou<br />

levados em consideração na formação dos preços, ou ainda, são tratados com pouca importância.<br />

No que se refere à participação na geração de empregos no Brasil, segundo o<br />

SEBRAE, as micro e pequenas empresas representam cerca de 60% destes, ou ainda, respondem<br />

pela parcela aproximada de 20% do PIB nacional. São 98% das empresas existentes no país.<br />

Assim, por esses dados, passa-se a ser impossível não dar a devida atenção a estas empresas, que<br />

em sua grande maioria, são administradas por empreendedores que gerenciam seus negócios de<br />

forma muito simples e sem uso de ferramentas apropriadas de gestão e com controles de custos<br />

praticamente que inexistentes.<br />

2.Contexto Empresarial Do Brasil da Micro E Pequena Empresa<br />

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De acordo com dados estatísticos divulgados pelo Sebrae, a seguir apresentados<br />

na Tabela 1, retirado da página da internet do Sebrae Nacional, o número de micro e pequenas<br />

empresas formalizadas no Brasil vem crescendo significativamente, destacando-se as de porte<br />

considerado como “micro”.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Josinei Marcos Candido da Silva,<br />

Luís Marcelo Martins e Rodrigo Candido Damas<br />

Tabela 1 - Número de empresas formais, por porte e setor (1996 – 2002)<br />

Fonte: Sebrae - http://www.sebrae.com.br/br/download/boletim_brasil.pdf , acessado em 31/10/2006.<br />

Representando o grande potencial de empregabilidade das Micro e Pequenas, há<br />

de se considerar o volume de pessoas ocupadas nestas empresas. A Tabela 2, demonstra o número<br />

de pessoas empregadas por porte das empresas e por setor. Observa-se que no total, as empresas<br />

consideradas “micro“, no ano de 2002 já empregavam um número maior de pessoas que as<br />

empresas de “grande” porte.<br />

Tabela 2 – Número de pessoas ocupadas nas empresas formais, por porte e setor (1996 – 2002)<br />

77<br />

Fonte: Sebrae - http://www.sebrae.com.br/br/download/boletim_brasil.pdf, acessado em 31/10/2006.<br />

Apesar dos números revelarem a importância da micro e pequena empresa para<br />

economia do país, as estatísticas de fechamento destas é preocupante. No ranking dos principais<br />

motivos de fechamento destas empresas, está a falta de informação e controles internos para<br />

manterem estas empresas no mercado, competitivas e gerando emprego.<br />

Em nosso país, 98% dos estabelecimentos mercantis são pequena empresas<br />

e detêm 60% da produção nacional. Essas pequenas empresas estão ligadas<br />

às empresas de serviços Contábeis. O ciclo de vida das pequenas empresas<br />

é inferior a 10 anos, na maioria dos casos que analisamos, por falta de informações<br />

para gerir negócios. (RIPAMONTI, 1997, p.52)<br />

A informação é necessária para qualquer tipo de negócio, seja para a vida particular<br />

ou empresarial. As informações são alteradas e atualizadas a todo instante, das mais diversas<br />

formas, necessária ou não, desejada ou indesejada, por onde se passa existe informação sendo<br />

apresentada, e cabe a todos aqueles que se utilizarão destas a filtragem e adoção daquelas que<br />

serão utilizadas no dia-a-dia. Para as empresas esse será o grande diferencial frente aos concorrentes<br />

espalhados pelo mundo todo, assim, administrar e tomar decisões baseados em informações<br />

precisas pode colocar a empresa em posição extremamente competitiva.<br />

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A Estratégia dos Custos para a Gestão das Micro e Pequenas Empresas<br />

Porém, para a maioria das micro e pequenas empresas, informação é algo bem<br />

diferente do que muitas delas pensam. Muitos empresários e administradores dessas esquecem de<br />

gerar informações necessárias, tais como controlar seus custos, estoque, custo de estocagem,<br />

realizar boas compras, entre tantas outras necessárias à boa administração. Contudo, em razão<br />

desta falta, a micro e a pequena empresa acabam por enfrentar dificuldades para vencer as dificuldades<br />

e superar a concorrência.<br />

Desta forma, as empresas que detêm esses bancos de dados e os conserva constantemente<br />

alimentados e atualizados acabam por manter o gestor abastecido de informações<br />

hábeis e necessárias à tomada de decisão em qualquer instante. Esse sistema deve fornecer, entre<br />

tantas, informações, especificamente neste estudo, que visem salientar os custos da empresa,<br />

procurando demonstrar por processos, áreas ou departamentos, a fim de que com estas o gestor<br />

possa elaborar um plano estratégico e de ações relacionadas aos custos da organização, podendo<br />

assim gerar melhores condições competitivas e diferenciais perante o mercado.<br />

3.GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS<br />

78<br />

Qualquer empresa que está em atividade tem uma estratégia, ou ao menos deveria<br />

tê-la. Essas não podem simplesmente pensar em vender, comprar, pagar as contas e auferir resultados<br />

positivos, têm sim que se planejar para alcançar tudo isso, caracterizando o “como fazer”<br />

para alcançar seus propósitos. Colocar uma meta onde se pretende chegar e o que se deve fazer<br />

para chegar é definir um plano ou uma estratégia para empresa, isso é a chave para o sucesso.<br />

Na grande maioria das micro e pequenas empresas os gestores acabam por administrar<br />

seus negócios de forma a deixar que o andamento do mercado conduza seu desempenho ou,<br />

como o dito popular, “que o mar dê o destino do seu barco” não se preocupando em estabelecer<br />

uma análise da situação ambiental e uma estratégia para seu negócio.Neste momento é que a<br />

busca de um diferencial através da gestão estratégica dos custos da empresa toma seu lugar de<br />

importância.<br />

Mas afinal o vem a ser realmente o conceito de uma estratégia de custo?<br />

Buscando uma definição apropriada, cita-se Martins (2001, p. 318), o qual apresenta<br />

o seguinte:<br />

Numa visão muito mais abrangente, a Gestão Estratégica de Custos requer<br />

análises que vão além dos limites da empresa para se conhecer toda a cadeia<br />

de valor: desde a origem dos recursos materias, humanos, financeiros e<br />

tecnológicos que utiliza, até o consumidor final. Passa a não ser apenas<br />

importante conhecer os custos da sua empresa, mas os dos fornecedores e<br />

os dos clientes que sejam ainda intermediários, a fim de procurar, ao longo de<br />

toda a cadeia de valor (até chegar ao consumidor final), onde estão as chances<br />

de redução de custos e de aumento de competitividade.<br />

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Partindo da visão do autor, é necessário que o gestor esteja atento a todos os<br />

processos que envolvam o produto, desde sua aquisição até que este seja comprado pelo consumidor.<br />

Conhecer, não unicamente os fatores internos da empresa, como os fornecedores e concorrentes,<br />

tentar avaliar toda sua cadeia de custos e procurar formas de gerenciá-los melhor, objetivando<br />

uma maior competitividade no mercado.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Josinei Marcos Candido da Silva,<br />

Luís Marcelo Martins e Rodrigo Candido Damas<br />

4. CONTROLE PARA O GERENCIAMENTO DOS CUSTOS DA MICRO E<br />

PEQUENA EMPRESA<br />

Diversas são as ferramentas que contribuem de forma significativa para a gestão<br />

eficaz de uma empresa e ainda que ajudem a construir uma estratégia adequada e eficaz para a<br />

empresa. Dentre essa pode-se citar o Balanced Scorecard, RKW, GECON entre outras ferramentas,<br />

as quais são muito conhecidas e úteis ao processo, utilizadas geralmente em grandes<br />

corporações. Porém para empresas de pequeno porte estas podem ser ferramentas que oferecem<br />

alto grau de complicação para serem implantadas e utilizadas, ou ainda, que se tornem inviáveis<br />

para a empresa, a qual necessitaria de contratar um consultor especializado para implantar e gerenciar<br />

as mesmas. Não obstante a isso, é necessários que as empresas consigam manter meios para a<br />

implantação, controles e o estabelecimento de planos e estratégias mais simplificados, que utilizem<br />

parcialmente as ferramentas citadas e gerem informações semelhantes, as quais venham trazer<br />

diferenciais e evoluções nos processo de administração da empresa, contribuindo para se tornarem<br />

mais competitivas e lucrativas.<br />

Uma das ferramentas que as micro e pequenas empresas já fazem uso, inclusive<br />

pagam pelo serviço, é o profissional da contabilidade. Toda e qualquer empresa tem que ter um<br />

contador responsável pela escrituração contábil de sua empresa. A contabilidade são os olhos das<br />

organizações. É ela quem deveria encarregar-se do controle financeiro, fiscal, patrimonial e ainda<br />

geras informações sobre os custos, é quem deveria ser capaz de criar sistemas hábeis a gerar<br />

informações precisas e necessárias ao gestor da empresa e auxiliá-lo na elaboração de um plano<br />

estratégico, proporcionando assim uma base sólida para a tomada de decisão. Porém há um mau<br />

uso ou falta de conhecimento dos empresários e gestores sobre qual a verdadeira função da contabilidade<br />

e do profissional da contabilidade. As empresas de pequeno porte acabam por habilitar o<br />

contador e a contabilidade simplesmente para registrar os documentos legais, gerando mais custos<br />

e impostos.<br />

É preciso que haja uma melhor utilização dos serviços prestados pelo contador.<br />

Este deverá ser visto como um gerador de informações, utilizando a informação contábil a seu<br />

favor e não simplesmente como forma de se saber da arrecadação de impostos. Se os gestores das<br />

micro e pequenas empresas conhecessem a real função da contabilidade, ter-se-ia um maior auxilio<br />

especializado em sua gestão e não simplesmente mais um custo para empresa, mais um profissional<br />

que estaria a serviço, contribuindo para o crescimento e fortalecimento da empresa no<br />

mercado.<br />

Para ilustrar melhor a importância da contabilidade no processo estratégico de<br />

uma empresa e até um modelo de contabilidade estratégica que contribuirá diretamente para<br />

gerenciamento de custo da empresa, apresenta-se a seguir modelo citado e adaptado por Palepu et<br />

al (2004):<br />

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A Estratégia dos Custos para a Gestão das Micro e Pequenas Empresas<br />

Fonte: Adaptado de Palepu, 2004<br />

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Pode-se perceber no modelo apresentado que todo ciclo operacional da empresa<br />

passa pela contabilidade, sendo esta a responsável por registrar, sintetizar e fornecer as informações<br />

sobre as suas atividades e processos. E é por meio de uma contabilidade bem elaborada que<br />

se pode criar uma boa estratégia de custos para empresa. Assim, conclui-se que a contabilidade<br />

pode efetivamente contribuir para a criação da estratégia da micro e pequena empresa aproveitando<br />

de um custo que ela já mantém - com o contador.<br />

Por meio de um sistema contábil bem organizado e adaptado para a empresa e<br />

suas necessidades, e sendo este sistema alimentado com informações precisas, em tempo hábil e<br />

real das movimentações da empresa, é possível que o contador possa, disponibilizar ao gestor um<br />

leque enorme de informações, relatórios e ilustrações que venham a contribuir diretamente para a<br />

tomada de decisão.<br />

Pode-se citar a título de exemplo:<br />

• relatório que Demonstrará o resultado da empresa, discriminando todos os custos<br />

dos processos da empresa;<br />

• posição do estoque da empresa e seu ciclo;<br />

• resultado por produto ou atividade;<br />

• necessidade de capital de giro.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Josinei Marcos Candido da Silva,<br />

Luís Marcelo Martins e Rodrigo Candido Damas<br />

5. IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA DE CONTROLE<br />

O objetivo de qualquer empresa com sua atuação no mercado é a obtenção de<br />

lucro, para que haja a remuneração do capital investido e assim dar continuidade às suas atividades.<br />

Porém para alcançar esses objetivos, algumas empresas ainda utilizam, por falta de orientação<br />

técnica ou seguindo uma fórmula que o mercado segue há muito tempo, a equação baseada na<br />

somatória dos custos mais o lucro, conforme informações apresentadas pelo SEBRAE-SP:<br />

Custo + Lucro = "Preço"<br />

Como pode ser observado, dessa forma o preço era predeterminado pelo custo<br />

mais o lucro desejado, sem levar em consideração o fator “mercado”. À medida que a<br />

competitividade foi aumentando, essa influência passou a ser mais acentuada na determinação dos<br />

preços e este passa a ser conduzido pelo mercado. Desta forma, a equação passa a ser vista da<br />

seguinte maneira:<br />

Preço - Custo = "Lucro"<br />

Atualmente, os aspectos da competitividade são baseados na satisfação total do<br />

cliente, o qual tem exigências cada vez mais focadas na qualidade, ficando o preço determinado<br />

pelo mercado. Assim, há uma nova determinação na equação da formação ou análise do preço,<br />

passando a ser:<br />

Preço - Lucro = "Custo"<br />

Com esse modelo, o gerenciamento dos fatores geradores de custos é que passam<br />

a merecer uma maior atenção da administração, uma vez que a determinação do preço está extremamente<br />

relacionada ao mercado e a expectativa de lucratividade estará vinculada à necessidade<br />

de remuneração do capital, ou ainda, à expectativa gerada pela empresa.<br />

Diante disso, para uma empresa ser competitiva precisará estabelecer uma melhor<br />

gestão e controle dos custos visando a redução não só dos valores componentes dos custos,<br />

mas deverá atuar como gestora dos fatores que poderão onerar o custo do produto ou da empresa,<br />

tais como: defeitos, desperdícios, re-trabalhos etc.Haverá a necessidade de rever, procurando uma<br />

melhora contínua, todos os seus processos e equipamentos e, muitas vezes, os projetos dos seus<br />

produtos. Para isso ser possível é essencial que se conheça toda a estrutura da empresa, todos os<br />

detalhes do negócio, de forma a ser possível conseguir um controle de custos extremamente funcional<br />

e que este seja uma ferramenta nas tomadas de decisões.<br />

Mas para obter resultados com controles de custos é preciso conhecer o comportamento<br />

destes. E é preciso definir alguma forma para conhecer esses comportamentos, ou seja,<br />

tomar como base alguns parâmetros.<br />

Um conceito de parâmetro, segundo Leone (2000), é a unidade de medida que<br />

representa a atividade de um segmento qualquer dentro da empresa. Por essa definição entendese<br />

que qualquer atividade, em qualquer setor, de qualquer produto deve ser medida para obter um<br />

controle do comportamento.<br />

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Segundo o autor:<br />

Todos os custos dentro das firmas observam comportamentos definidos em<br />

relação a parâmetros operacionais selecionados. Os custos são originados<br />

pelas atividades e pelo volume dessas atividades. Os volumes das atividades<br />

são medidos por parâmetros quantitativos, físicos, denominados parâmetros<br />

operacionais. (LEONE, 2000, P.109)<br />

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Diante disso, percebe-se que todas as atividades são geradoras de fatores de produção<br />

ou operação, esses fatores – consequentemente - são geradores de custos. Então, os custos<br />

são efeitos de uma determinada atividade, não surgem por si. Quando a empresa tem um controle<br />

eficiente dos seus custos esses serão agregados em cada etapa do processo, uma vez conhecido,<br />

torna possível localizar com maior facilidade onde ela deve concentrar esforços para sua melhor<br />

gestão. Também, dentro desse contexto, é necessário saber quanto custa a estrutura administrativa,<br />

quanto representa esse valor no preço do produto, visando dar condições de se administrar<br />

melhor.<br />

Porém, em se tratando de micro e pequenas empresas, esse controle poderá ser<br />

visto como um grande problema, pois na maioria delas isso não é uma prática comum por parte dos<br />

microempresários. Algumas dificuldades podem ser de ordem conceitual, envolvendo desde o entendimento<br />

do conceito de custo e uma visão gerencial acerca deste, até a compreensão das<br />

características dos diversos métodos disponíveis. O que é observado é o simples controle do desembolso<br />

de caixa.<br />

Outro exemplo é a falta de uma melhor política de gestão dos estoques, uma vez<br />

que tais gestores, em muitos casos, efetuam compras sem necessidade, reposições de estoques<br />

além das necessidades ou sem seguir nenhum critério baseado em alguma ferramenta técnica,<br />

observando que tal procedimento poderá comprometer a aplicação dos recursos da empresa.<br />

Ainda, dentro desse contexto da gestão de custos nas micro e pequenas empresas,<br />

outro fator observado é que grande parte possui um fluxo de caixa estruturado, visando controlar<br />

as entradas e saídas de recursos. O reflexo de tal situação é a impossibilidade de previsões de<br />

desencaixes, gerando custos adicionais de caixa (juros), assim como a perda da possibilidade de<br />

negociações mais favoráveis para a aplicação de excedentes de caixa. Tudo isso contribui para<br />

que os custos aumentem, muitas vezes desnecessariamente, por falta de um controle básico ou de<br />

uma gestão mais ativa.<br />

Com isso, conclui-se que é de suma importância que, além dos gestores, todos os<br />

colaboradores envolvidos com o processo de elaboração de um produto e/ou serviço, estejam<br />

conscientes da gestão de custos. Fatores como o desperdício de matéria-prima, re-trabalho, má<br />

conservação dos ativos envolvidos no processo, horas gastas na produção e na prestação de um<br />

serviço, desatenção à gestão dos recursos materiais e financeiros são operacionalizados por toda a<br />

equipe de trabalho, dessa forma, deverá haver a conscientização de todos sobre suas responsabilidades.<br />

Martins conceitua:<br />

Controlar significa conhecer a realidade, compará-la com o que deveria ser,<br />

tomar conhecimento rápido das divergências e suas origens e tomar atitudes<br />

para sua correção. (MARTINS, 2006, P.305)<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Josinei Marcos Candido da Silva,<br />

Luís Marcelo Martins e Rodrigo Candido Damas<br />

Portanto, não basta apenas ter um ótimo sistema de controle de custos, é preciso<br />

entender a sistemática do negócio, efetuar um bom planejamento e utilizar esse controle para<br />

otimizar os processos objetivando tomadas de decisões conscientes, as quais propiciarão uma forma<br />

mais segura de se alcançar resultados satisfatórios e dar continuidade à empresa.<br />

6. A CONTABILIDADE DE CUSTOS COMO FERRAMENTA NA GESTÃO DE<br />

CUSTOS.<br />

Não obstante a tudo o que foi apresentado anteriormente, o empresário tem uma<br />

ótima ferramenta de gestão à sua disposição que é a contabilidade de custos. Mas não uma contabilidade<br />

de custos nos moldes antigos, que apenas controlava estoque, mas sim com enfoque gerencial,<br />

podendo ser usada no âmbito decisório das organizações. Mattos (2007) define os objetivos da<br />

contabilidade de custos da seguinte forma:<br />

A.Inventariar os produtos fabricados e vendidos<br />

-Determinar o valor inicial e final de matéria-prima em estoque;<br />

-Determinar o valor final dos produtos terminados e em processamento;<br />

-Elaborar demonstrativos do custo de produção de cada produto fabricado;<br />

-Elaborar demonstrativos do custo dos produtos vendidos;<br />

-Elaborar demonstrativos de lucros e prejuízos.<br />

B.Planejar e controlar as atividades empresariais<br />

-Analisar o comportamento dos custos (análise vertical e horizontal);<br />

-Preparar orçamentos com base no custo de fabricação;<br />

-Determinar o custo padrão de fabricação;<br />

-Determinar as responsabilidades dentro do processo de produção;<br />

-Determinar o preço de venda de cada item de produção;<br />

-Determinar o volume da produção (além do ponto de equilíbrio, porém dentro da<br />

capacidade física da empresa).<br />

83<br />

C.Servir como instrumento para tomada de decisão<br />

-Formar preço de venda;<br />

-Eliminar, criar, aumentar ou diminuir a linha de produção de certos produtos;<br />

-Produzir ou adquirir no mercado;<br />

-Aceitar ou rejeitar encomendas;<br />

-Alugar ou comprar.<br />

Portanto, se considerados esses objetivos, pode-se utilizar suas informações geradas<br />

para subsidiar a gestão dessas organizações, analisando seus vários departamentos e seus<br />

respectivos custos. Quando se aprimoram essas informações, automaticamente elas proporcionam<br />

uma melhor alocação dos custos aos produtos e serviços.<br />

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7. CLASSIFICAÇÃO DOS CUSTOS<br />

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Para que o gestor domine um controle de custos, é essencial que ele entenda as<br />

várias classificações que os custos possuem. Basicamente nas atividades desenvolvidas encontram-se<br />

os custos fixos e variáveis, indiretos e diretos, controláveis e não controláveis. Tornando<br />

assim de suma importância que os gestores saibam diferenciar e registrar adequadamente cada um<br />

desses custos para poder ter um controle efetivo e eficaz.<br />

Martins (2006, p. 50) define que um custo é fixo quando seu valor, num determinado<br />

mês, independe de aumentos ou diminuições de volumes de produtos elaborados. Portanto,<br />

considera-se que custos fixos são aqueles que permanecem constantes em determinado período de<br />

tempo, mesmo que ocorra variação na quantidade produzida e/ou vendida no curto prazo. Como<br />

por exemplo, o pagamento de salário ao funcionário do setor administrativo, o aluguel do imóvel, os<br />

honorários do contador. Com relação aos custos variáveis, Martins (2006, p. 49) define que são<br />

aqueles custos que dependem diretamente do volume de produção. Quanto maior a quantidade<br />

produzida, maior será o custo. Nesse sentido entende-se que os custos variáveis têm como características<br />

sua proporcionalidade com quantidade produzida e/ou vendida, pois na medida em que<br />

ocorre um aumento nessa quantidade, esses custos elevam-se na mesma proporção em razão<br />

direta. Como por exemplo, a comissão paga ao vendedor, as embalagens dos produtos vendidos.<br />

Martins (2006, p.49) conceitua custos indiretos aqueles que têm uma relação indireta<br />

com o produto, que não oferecem condição de uma medida objetiva e precisa. Portanto custos<br />

indiretos, que podem ser variáveis e fixos, são aqueles que só chegarão aos produtos ou serviços<br />

mediante um critério de rateio que facilitará a alocação de um departamento ou produto que não<br />

esteja ligado diretamente ao processo produtivo. Já com relação aos custos diretos, Martins (2006,<br />

p.48) conceitua que são os custos que têm relação direta com os produtos, ou seja, após uma<br />

análise é possível, utilizando-se de alguma medida de consumo, apropriar esses valores aos produtos.<br />

Então se conclui que os custos diretos também podem ser variáveis ou fixos, mas devem<br />

aparecer de maneira clara, direta e objetiva, com facilidade de associação e apropriação através<br />

de mensuração direta.<br />

Com relação aos custos controláveis e não controláveis, Martins (2006, p. 309)<br />

define que controláveis são aqueles que estão diretamente sob a responsabilidade e controle de<br />

alguma pessoa e os não controláveis estão fora dessa responsabilidade e controle. Portanto são<br />

controláveis quando os itens de custos podem ser controlados por alguém dentro de sua escala<br />

hierárquica, podem ser previstos, realizados e organizados pelo responsável daquela unidade, o<br />

qual poderá ser cobrado por desvios apurados; os não controláveis fogem ao controle do responsável<br />

do departamento.<br />

Para obter um controle de custos que forneça todas as informações requeridas, é<br />

necessário estabelecer certos critérios padronizados para serem usados como base de comparação<br />

e como unidade de medida.<br />

Uma forma bastante eficaz e até fácil e objetiva para um controle de custos é a<br />

departamentalização. Sendo que são usados alguns cálculos para a correta apropriação. Esses<br />

cálculos são os rateios.<br />

Rateio é uma forma de apropriação de custos indiretamente, na qual é feita a<br />

distribuição de maneira a seguir critérios específicos de cada empresa na melhor forma de alocação<br />

dos custos aos produtos ou serviços. Cabe ao gestor definir a melhor forma de alocar seu custo em<br />

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Josinei Marcos Candido da Silva,<br />

Luís Marcelo Martins e Rodrigo Candido Damas<br />

função de sua natureza, utilização e grau de participação no processo produtivo de obtenção de<br />

produtos e serviços.<br />

Vale ressaltar que para a contabilidade gerar essas informações, o profissional<br />

técnico responsável, o contador, deverá ter uma visão ampla e um perfil empreendedor para saber<br />

demonstrar essas informações ao gestor de uma maneira clara e dinâmica. Ainda deverá ter conhecimento<br />

de todos os processos da atividade da empresa e esteja junto com os gestores acompanhar<br />

o desenvolvimento de suas atividade, com todas as informações necessárias e mensurá-las<br />

em um bom sistema contábil. Um bom plano de contas contábil será necessário, esse deverá<br />

atender às necessidades de informação da empresa e gerar - posteriormente – os relatórios gerenciais<br />

que venham a ser de fácil análise e interpretação pelos gestores.<br />

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O mundo vem evoluindo a cada instante, mudanças notórias vêm aparecendo e a<br />

necessidade da mudança não pode ser descartada em nenhuma hipótese. No caso das ciências<br />

essas mudanças são fundamentais para que o mundo possa crescer cada vez mais, não em termos<br />

simplesmente de mundo, mas de técnicas que venham a contribuir para que este esteja em harmonia<br />

constante com os meios que permitiram as mudanças. Tais reflexos influenciam de forma<br />

direta o mundo empresarial, de modo que para as empresas conseguirem se manter num mercado<br />

em constante evolução e mudanças é fundamental que tenham ou desenvolvam meios para que<br />

isso ocorra.<br />

A derrubada das fronteiras ou globalização provocou o crescimento das<br />

multinacionais e empresas com grandes capitais, as quais “engolem” as micro e pequenas empresa<br />

de forma avassaladora, utilizando de capital humano capacitado e recursos financeiros que provocam<br />

a geração de informações precisas e que lhes permitem crescer cada vez mais. Tal situação<br />

causa, para os pequenos um mercado cada vez menor, uma série de dificuldades competitivas e,<br />

consequentemente, de sobrevivência. Contudo, com informações precisas e corretas, haverá a<br />

possibilidade de uma sobrevida e ampliação das chances de crescimento para os pequenos.<br />

Nesse contexto a contabilidade se posiciona de forma estratégica para auxiliar o<br />

micro e pequeno empresário em seu processo de gestão, oferecendo informações que possam<br />

contribuir diretamente para o processo decisório e, consequentemente, para a maximização dos<br />

resultados. Concluindo, a necessidade de uma gestão de custos de forma eficiente e eficaz muito<br />

contribuirá para a administração desses empreendimentos. O foco da contabilidade como um gerador<br />

de custos, impostos e encargos a serem recolhidos deverá ser superado , passando para a sua<br />

primeira função que é a de gerar informações e contribuir para o desenvolvimento de empresas de<br />

forma saudável e com informações de qualidade.<br />

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A Estratégia dos Custos para a Gestão das Micro e Pequenas Empresas<br />

9. REFERÊNCIAS:<br />

LEONE, George S G. Custos: planejamento, implantação e controle. 3ª Ed. São Paulo: Atlas, 2000.<br />

MARION, José C Disponível em <br />

acessado em 09 de outubro de 2006.<br />

MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. 9ª Ed. São Paulo: Atlas, 2006.<br />

MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. 8ª Ed. São Paulo: Atlas, 2001.<br />

MATTOS, José Geraldo de. Custo de produção (história, teoria & conceitos).<br />

Disponível na internet . Acessado em 02 de Julho<br />

de 2007<br />

PADOVEZE, Clóvis L.. Curso básico gerencial de custos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,<br />

2003.<br />

PALEPU, Krishna G. et al. Business analysis & valuation: using financial statements. 3. ed.<br />

Thomson Learning: USA, 2004.<br />

RIPAMONTI, Alexandre. Profilaxia Contábil em Empresas de Serviços Contábeis. Rev. Brasileira<br />

de Contabilidade. RBC n 108, p.40-52. nov/dez. de 1997.<br />

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Mariza Cecílio Janeiro e Edelvais Keller<br />

MUDANÇA ORGANIZACIONAL: ONDE ESTÁ O SUJEITO NESSE PROCESSO?<br />

ORGANIZATIONAL CHANGE: WHERE IS THE INDIVIDUAL IN THIS PROCESS?<br />

Mariza Cecílio Janeiro*<br />

Edelvais Keller**<br />

RESUMO:<br />

Este artigo apresenta algumas considerações sobre o processo de mudança<br />

organizacional e a identidade do sujeito. São citados pontos sobre a importância da construção da<br />

identidade do sujeito e da organização, abordando aspectos da cultura organizacional e o comprometimento<br />

do servidor. Refere-se ao processo de mudança em organizações privadas e públicas,<br />

salientando a importância da participação ativa do funcionário neste processo como ator principal<br />

e a importância da reconstrução de uma nova identidade pessoal e organizacional. Cita algumas<br />

formas de intervenção possíveis, como o teatro organizacional e a abordagem da psicossociologia.<br />

O artigo salienta a participação ativa do funcionário como requisito fundamental para o sucesso<br />

organizacional em um processo de mudança.<br />

PALAVRAS CHAVE: mudança organizacional; identidade do sujeito; cultura organizacional.<br />

ABSTRAT:<br />

This article presents some considerations from psicossociology point of view about the organizacional<br />

changing process and the identity of the subjects. Points about the importance of the subject’s<br />

identity construction and the organization are quoted, approaching aspects of the organizacional<br />

culture and the worker commitment. It refers to process of change in private and public organizations,<br />

pointing out the importance of the employee active participation in this process as principal actor,<br />

and the importance of the reconstruction of a new personal and organizacional identity. It quotes<br />

some possible forms of intervention as the organizacional theater and the boarding of the<br />

psicosociology. The article pointing out the active participation of the employee as fundamental<br />

requisite for the organizational success in a change process.<br />

87<br />

KEY-WORDS: organizational change; identity of the subject, organizational culture.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Com o rápido avanço tecnológico e de globalização, as organizações se vêem<br />

cada vez mais com urgência de adequar suas atividades e tecnologia à competitividade do mercado<br />

de trabalho. Para isso as organizações privadas têm se transformado, se fundido, almejando<br />

incrementar suas forças na busca de novos nichos de mercado e novos resultados de lucratividade<br />

e produtividade.<br />

Essa realidade chegou às organizações públicas e os governos também se vêem<br />

impelidos a acompanhar esse processo de constante mudança e, muitas vezes, alteram a máquina<br />

pública administrativa à revelia de seus funcionários, mudando o funcionamento de processos que<br />

são utilizados há décadas, o que leva as pessoas a sentirem o impacto dessas mudanças de forma<br />

mais brusca.<br />

* Aluna do Curso de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia – <strong>UniFil</strong>. marizajan@gmail.com<br />

** Docente do Curso de Psicologia da Unifil; Mestre em Administração: “Recursos Humanos e Organizacional” pela PUC/SP.<br />

edelvais.keller@unifil.br<br />

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Mudança Organizacional: Onde Está o Sujeito Nesse Processo?<br />

A princípio, percebe-se que normalmente o processo de mudança nas organizações<br />

tem sido feito sem uma ampla discussão, participação ou conscientização dos seus trabalhadores.<br />

A visão administrativa nem sempre tem levado em consideração uma questão humana que<br />

se refere à identidade do sujeito e muitas vezes tacha suas inquietudes como “resistência”. Esse<br />

termo tem sido usado para pôr fim a muitas discussões e reivindicações do seu corpo funcional.<br />

Nos órgãos públicos essa situação parece ser mais agravante, pois os funcionários<br />

recebem as novas diretrizes de forma arbitrária, muitas vezes por papeletas, ordens de serviço,<br />

portarias, sem que tenham tido a oportunidade de conhecimento ou manifestação prévia.<br />

Ao promover mudanças organizacionais significativas nas organizações públicas,<br />

a falta de inclusão do funcionário nesse processo pode gerar muitas dúvidas, temores e desequilíbrio<br />

entre as pessoas. Isso pode ser fruto de uma falha no planejamento estratégico, pode ser resultado<br />

de problemas de comunicação, falta de informação ou trata-se de descaso com o sujeito que faz<br />

parte dessa organização?<br />

Os resultados disso? Podem ser caóticos. Cria-se um clima de desconfiança do<br />

funcionário para com o órgão e governo, e alimenta-se um clima organizacional desfavorável.<br />

Cabe, então, destacar a importância do sujeito e da construção de sua nova identidade<br />

no processo de mudança organizacional.<br />

2. A ID<strong>E<strong>NTIDADE</strong></strong> DO INDIVÍDUO E DA ORGANIZAÇÃO<br />

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As pessoas não estão separadas da organização da qual fazem parte. Segundo<br />

Vergara e Silva (2002a), as questões organizacionais afetam profundamente a identidade das pessoas.<br />

Para muitos, sua identidade organizacional pode ser muito mais importante do que as identidades<br />

recebidas com base no gênero, raça, sexo ou nacionalidade.<br />

A identidade pessoal é como a pessoa define suas características próprias e a<br />

social refere-se aos conceitos que o indivíduo tem sobre si e derivam de sua afiliação em categorias<br />

ou grupos significantes para ele (TING-TOOMEY apud VERGARA E SILVA, 2002a).<br />

As pessoas, mesmo afiliadas em categorias, tendem a caminhar se reconstruindo<br />

de acordo com suas novas formas de ver e sentir a vida. Essa reconstrução influencia e é influenciada<br />

pelo que acontece em seu contexto organizacional.<br />

Lopes apud Vergara e Silva (2002a) aponta que as identidades sociais não são<br />

fixas, elas estão sempre se reconstruindo no processo de construção do significado.<br />

Para Gioia, Schultz e Corley apud Vergara e Silva (2002a), a identidade organizacional<br />

é a compreensão coletiva dos membros da organização sobre suas características presumidas que<br />

as distinguem de outras organizações. Ela é fluida, contínua e adaptativa, e o sentimento de preservação<br />

do self é tão forte como nas identidades individuais.<br />

Preservar a vida, o que se tem e o que se crê faz parte de todos. Nas organizações<br />

esse instinto de preservação também é visível e forte, portanto a palavra mudança requer tempo<br />

para ser absorvida e levar à certeza de que o self pessoal e organizacional não morrerá.<br />

Vergara e Silva (2002a) acreditam que na implementação de mudanças o sucesso<br />

parece estar diretamente relacionado com a capacidade de reconstituição das identidades tanto<br />

dos indivíduos como da organização. Os indivíduos têm que ter a possibilidade de adequar sua<br />

identidade a esse contexto para não se tornarem alienados ao processo.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Mariza Cecílio Janeiro e Edelvais Keller<br />

A construção dessa nova identidade só é possível se o indivíduo tiver espaço para<br />

compreender e manifestar seus sentimentos, para elaborar seus medos e angústias e passar por<br />

um processo de subjetivação. O aspecto que mais parece contribuir para a auto-descoberta do<br />

sujeito é o uso da palavra, a oportunidade de poder compartilhar com as pessoas os seus sentimentos<br />

e suas opiniões (VERGARA E SILVA, 2002b).<br />

Segundo Chanlat (1996) o ser humano é um ser de palavra. O pensamento e o<br />

conhecimento são indissociáveis da linguagem.<br />

A palavra dá vida ao sentir, aos desejos e pensamentos. Quando as pessoas se<br />

expressam e falam o que sentem, elas percebem quem são e qual o significado de sua fala<br />

para quem as escuta. Ao falar, elaboram as idéias, minimizam os medos e fica mais claro para<br />

si mesmas aonde pretendem chegar. A fala conta a história individual e dela surgem as emoções<br />

vividas que nem sempre foram percebidas e elaboradas para se transformarem em um<br />

aprendizado pessoal.<br />

A mudança organizacional implica mudança de relações e ela mobiliza as emoções<br />

dos indivíduos. As supostas resistências nada mais são do que manifestações de emoções como<br />

ansiedade, medo, raiva, nostalgia (VERGARA E SILVA, 2002b).<br />

O vínculo do sujeito com a organização não é apenas material e sim afetivo,<br />

imaginário e psicológico. As organizações se utilizam da estrutura psíquica dos indivíduos, elas<br />

tentam moldar os pensamentos de seus membros e penetrar no íntimo do espaço psíquico, com<br />

as sutilezas das regras não escritas para conseguir controlar o comportamento, levando-o ao<br />

desejado (FREITAS, 2000).<br />

Freitas (2000) afirma que a organização parece como perfeita e apta a restaurar a<br />

perfeição de seus membros. Isso leva o sujeito a:<br />

89<br />

(...) idealizar a organização, a vê-la como único lugar que ele pode almejar<br />

para realizar-se não apenas como profissional, mas também como pessoa.<br />

Aqui, realização profissional é sinônimo de auto-estima; identidade profissional<br />

é o mesmo que identidade pessoal; fracasso profissional quer dizer<br />

fracasso como ser humano; a parte toma o lugar do todo e fala por ele.<br />

(FREITAS, 2000, p. 98).<br />

3. CULTURA ORGANIZACIONAL<br />

Há muitas definições sobre o conceito de cultura e várias são as visões da relação<br />

da cultura com as organizações.<br />

Para Schein,<br />

Cultura é um padrão de suposições básicas demonstradas; inventadas, descobertas<br />

ou desenvolvidas por um dado grupo; que ensina a lidar com seus<br />

problemas externos de adaptação e internos de integração; que funcionou<br />

bem o bastante para ser considerado válido e, ainda, para ser ensinado aos<br />

novos membros do grupo como a forma correta de perceber, pensar e sentir<br />

em relação àqueles problemas. (apud PIRES E MACEDO, 2006)<br />

Segundo Pires e Macedo (2006), “cultura significa construção de significados partilhados<br />

pelo conjunto de pessoas pertencentes a um mesmo grupo social”. Argumentam, também,<br />

que falar sobre cultura é falar da capacidade de adaptação do sujeito ao grupo em que está inserido.<br />

O indivíduo é um ser de cultura.<br />

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Mudança Organizacional: Onde Está o Sujeito Nesse Processo?<br />

90<br />

Freitas (2000) vê a cultura organizacional como conjunto de representações imaginárias<br />

que se constroem nas relações e se expressam nos seus valores, normas, significados e<br />

interpretações, tornando a organização como fonte de identidade para seus membros. Também a<br />

vê como instrumento de poder, onde por ela é definido o que é importante ou não, a forma correta<br />

de pensar e agir, o que é a realização pessoal.<br />

As organizações são locais coletivos que são formados por indivíduos que não<br />

deixam seu psiquismo em casa quando vão ao trabalho. Então a leitura da cultura organizacional<br />

deve ser feita a partir dos processos psíquicos inconscientes (FREITAS, 2000).<br />

O sujeito vai construindo e carrega consigo o seu imaginário, o seu entendimento<br />

do mundo que o cerca. O peso da organização nessa construção é muito grande. A forma como a<br />

organização o enxerga diz muito sobre o que ele é e como ele deve ser, havendo pressão à conformidade<br />

por meio das regras e padrões de atuação. Nas organizações públicas essa pressão é mais<br />

forte. Difícil é o processo de quebra de algumas visões já enraizadas nas pessoas há longas décadas<br />

e que necessitam de reforma.<br />

Segundo Pires e Macedo (2002), as características das organizações públicas não<br />

diferem das demais, mas possuem algumas particularidades como maior apego às regras, à rotina,<br />

uma supervalorização da hierarquia, certo paternalismo e apego ao poder. Esses itens são importantes<br />

na formação de valores e crenças organizacionais.<br />

No Brasil, os membros das organizações públicas necessitam de habilidades diplomáticas<br />

nas suas relações de trabalho. De um lado está o corporativismo, a burocracia, e do outro<br />

estão as forças inovadoras que procuram introduzir uma maior flexibilidade que aumente a eficiência<br />

e o sucesso na implementação de projetos de reforma (PIRES E MACEDO, 2006).<br />

Os mesmos autores ainda dizem que a tendência da cultura de uma organização é<br />

de se perpetuar e que ela só pode ser mudada por um processo de construção social. No contexto<br />

das organizações públicas, os projetos de mudanças deveriam abordar aspectos estruturais e<br />

normativos sim, mas se faz necessário enfocar os trabalhadores, pois somente por meio das pessoas<br />

é que se transforma uma sociedade.<br />

4. COMPROMETIMENTO DO SERVIDOR<br />

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A literatura das teorias administrativas mostra a importância do clima organizacional<br />

positivo para o bem estar das pessoas no trabalho e do comprometimento do trabalhador com sua<br />

organização, dando sentido e significado ao trabalho realizado pelo trabalhador (CODA, 1997).<br />

Para Coda (1997), o comprometimento do trabalhador com a organização está<br />

diretamente ligado à percepção de como é valorizado dentro dessa organização. A insatisfação<br />

impede que ele se comprometa com os novos desafios e objetivos da empresa.<br />

A pesquisa do Clima Organizacional é o canal de comunicação dos empregados<br />

com a direção da organização. Por ela é dado o diagnóstico da empresa, é ouvida a opinião dos<br />

seus membros, havendo um constante feedback, com o foco voltado para as necessidades por eles<br />

apontadas (CODA, 1997).<br />

Para Rego (2003), falar de comprometimento do servidor implica temas como<br />

assiduidade, pontualidade, comportamento como cidadão, aceitação de mudanças, desempenho<br />

funcional. As pessoas estão dispostas a fazer sacrifícios se estiverem comprometidas, e se assim o<br />

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Mariza Cecílio Janeiro e Edelvais Keller<br />

fizerem podem se tornar modelos de atuação que outros vão imitar.<br />

Em um processo de mudança, é necessário perceber que seus desdobramentos<br />

atingem os trabalhadores implicando reestruturações dos vínculos psicológicos do indivíduo e da<br />

organização. O comprometimento desse trabalhador com a organização é requisito fundamental<br />

para o sucesso de qualquer mudança (BASTOS E ANDRADE, 2002).<br />

Quais são os impactos do comprometimento dos indivíduos com o trabalho quando<br />

ocorre uma transformação organizacional? Há pouca literatura científica sobre as associações<br />

entre mudança organizacional e comprometimento do trabalhador (BASTOS E ANDRADE, 2002).<br />

Mas percebe-se que a vontade dos indivíduos, o empenho em contribuir com a organização é<br />

influenciada pelos laços psicológicos que eles possuem para com ela (REGO, 2003).<br />

5. MUDANÇA ORGANIZACIONAL<br />

Quando se fala de mudança organizacional não se pode pensar somente em equipamentos,<br />

logística, processamento de dados, e outros fatores concretos. As pessoas que fazem<br />

parte da organização é que são os atores principais, são elas que dão forma à organização.<br />

Segundo Schommer (2003), os indivíduos são atores que dão significado e vida às<br />

instituições. Para o pleno envolvimento dos membros da organização no processo de mudança é<br />

preciso que cada sujeito esteja engajado como um ator que se apropria do sentido de coletividade<br />

(VERGARA E SILVA, 2002b).<br />

A forma de sentir, ver e agir numa organização não se muda por um ato legal<br />

instituído. São necessárias condições para que esse processo seja digerido e elaborado.<br />

Vergara e Silva (2002b) afirmam que o trabalho precisa ser tratado com sentido e<br />

os sentimentos a ele relacionados precisam ser compreendidos e expressos para se construir um<br />

novo significado num processo de mudança que tanto exige das pessoas e das organizações.<br />

As teorias administrativas, muitas vezes, tentam simplificar o que é por natureza<br />

complexo: o comportamento humano, achando que um mero discurso constrói uma nova aceitação,<br />

uma nova forma de existir (VERGARA E SILVA, 2002b).<br />

Os autores acima sugerem um novo enfoque, que a mudança organizacional seja<br />

vista com uma teia de relações entre os indivíduos, e não mais se aplique a visão reducionista<br />

adotada por muitos textos da administração.<br />

91<br />

5.1 Fusões Organizacionais<br />

Segundo Hogg e Terry apud Vergara e Silva (2002a), a fusão é um caso especial<br />

de alteração da dinâmica das relações intragrupos e intergrupos nas organizações. Quando duas<br />

organizações se fundem a entidade pós fusão engloba essas relações que muitas vezes são antagônicas<br />

e competitivas. Cria-se uma dinâmica de “nós” e “eles”, que pode destruir toda a possibilidade<br />

de sucesso dessa fusão.<br />

Nas fusões, a mobilização das identidades nas organizações é potencialmente ativada,<br />

pois esse processo força o indivíduo a renunciar a seu passado, a desconstruir o que já está<br />

construído e ter que reconstruir o novo tanto em termos de trabalho como de relações. Esse é um<br />

processo traumático, que vai depender das circunstâncias de como é feito e do nível de informações<br />

fornecidas (VERGARA E SILVA, 2002a).<br />

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No processo de fusão, em algumas pessoas, surge uma sensação de morte real.<br />

De fato existe um luto a ser elaborado, o self da organização e do indivíduo estão sendo alterados.<br />

Como será agora? O que restou de nossa cultura com essa fusão? Posso confiar nessa nova<br />

diretoria, formada por quem não conheço? Esses são exemplos de questionamentos que aparecem<br />

e que mostram um clima de insegurança e desconfiança do corpo funcional.<br />

Nas empresas do governo a insegurança é acentuada, pois a autoridade que legitima<br />

a mudança quase sempre não pertence ao corpo funcional de nenhuma das duas organizações<br />

que estão se fundindo. Basta uma assinatura para provocar tantas alterações na vida de tantas<br />

pessoas e normalmente o funcionário não é participativo nesse processo.<br />

Nos órgãos públicos não se visualiza a importância dada aos servidores e suas<br />

entidades associativas, pois sempre são relegados a um papel secundário quando se trata de reforma<br />

da administração. Para garantir o sucesso na implementação de reformas, a cooperação ativa<br />

dos servidores públicos é fundamental (CHEIBUB, 2000).<br />

Segundo Cheibub (2000), estudos demonstram que é necessária cooperação entre<br />

políticos, administradores e sindicatos de servidores públicos num processo de reforma. Duas ordens<br />

de fatores fundamentais seriam: as condições institucionais, como criação de novas estruturas<br />

que envolvam os sindicatos, provisão de meios de sustentação da nova estrutura como verbas,<br />

treinamentos, troca ampla e franca de informações, e outros; fatores políticos, onde se estabelece<br />

o compromisso formal e público de cooperação entre autoridades e sindicatos para se atingir um<br />

fim.<br />

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5.2 Formas de Intervenção para a Mudança Organizacional<br />

Há formas de se amenizar o impacto em um processo de mudança organizacional.<br />

Uma delas é o teatro organizacional e a abordagem da Psicossociologia. Ambos podem ser extremamente<br />

úteis como auxílio nesse processo.<br />

5.2.1 Teatro organizacional<br />

No Teatro Organizacional as situações problemáticas típicas são dramatizadas,<br />

como por exemplo, em situações de fusões de empresas, barreiras de comunicação, resistências a<br />

mudanças, e outros casos (SCHREYÖGG, 2002).<br />

Para o encontro com a situação problema e com as verdades muitas vezes dolorosas,<br />

a platéia é exposta a uma dramatização dos problemas comuns do dia a dia, representada por<br />

estranhos. Isso gera tensão, risos, lágrimas. Como resultado pode ocorrer a liberação de situações<br />

paralisantes, do que foi bloqueado, abre-se a possibilidade de discutir aquilo que até então era<br />

indiscutível (SCHREYÖGG, 2002).<br />

As pessoas vão ver a observação do seu dia a dia pelos olhos dos atores. Assim, a<br />

realidade é dividida em 2 níveis, a usual e a teatral. Essa realidade sendo vista por uma outra forma,<br />

por novas pessoas que a interpretam de forma diferente, fazendo novas combinações dos fatos,<br />

levam todos a raciocinar e pensar de forma reflexiva. Essa divisão da realidade em duas realidades<br />

diferentes traz a percepção de que há a possibilidade de construção, onde a visão anterior já não é<br />

tão certa assim, tornando-se instável e aberta a mudanças (SCHREYÖGG, 2002).<br />

Nas palavras de Schreyögg (2002),<br />

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(...) o teatro organizacional confronta a platéia com uma perspectiva diferente<br />

de sua conhecida construção dos problemas e estimula uma análise mais<br />

detalhada dos padrões de comportamento habituais, construções perceptivas<br />

estabelecidas ou possíveis visões prejudiciais.<br />

5.2.2 A abordagem psicossociológica<br />

A Abordagem da Psicossociologia considera elementos como processos grupais,<br />

construção do imaginário social, dos sistemas de valores comuns, as identificações e idealizações<br />

(AZEVEDO, BRAGA NETO E SÁ, 2002).<br />

Pela identificação, o indivíduo assimila características do outro, transformando-se.<br />

É estabelecido um laço afetivo com os membros do grupo por conta de uma qualidade comum<br />

partilhada por eles. Na idealização, essa identificação é levada ao grau de perfeição, podendo<br />

produzir um falso julgamento da realidade (AZEVEDO, BRAGA NETO E SÁ, 2002).<br />

As organizações caracterizam-se como um sistema cultural, simbólico e imaginário.<br />

Seus valores e normas condicionam os membros a uma certa forma de percepção do mundo e<br />

orientação de conduta. Essas representações interiorizam no sujeito, do ponto de vista psíquico, um<br />

imaginário social. Por esse prisma a organização é vista como uma microssociedade geradora de<br />

angústias e que luta contra a desorganização, desta forma o imprevisto, espontâneo, o desconhecido<br />

são vistos como desordem (ENRIQUEZ apud AZEVEDO, BRAGA NETO E SÁ, 2002).<br />

A Psicossociologia entende que a organização tem a tendência de resistir às mudanças,<br />

refreando a criatividade tão desejada. Os processos de mudança precisam ser enxergados<br />

como um processo que antes de sua objetividade, é psíquico, subjetivo. Eles precisam incluir a<br />

inserção de indivíduos criativos comprometidos, mas sem querer controlar seus pensamentos (AZE-<br />

VEDO, BRAGA NETO E SÁ, 2002).<br />

O trabalho de intervenção psicossociológica começa com o conhecimento da demanda,<br />

centra-se nos problemas concretos, na formação de grupos de trabalho que permitam que<br />

as pessoas se manifestem sobre seus sentimentos e representações que fazem da organização e se<br />

abram para novas significações a partir da análise desse material (ENRIQUEZ apud AZEVEDO,<br />

BRAGA NETO E SÁ, 2002).<br />

A literatura existente elenca outras ferramentas além dessas duas citadas que<br />

podem auxiliar a organização em suas mudanças. Talvez o início desse processo seja a mudança<br />

da forma de ver a organização.<br />

Segundo Watson (2005), o pensamento sistêmico-controlador deixa de lado os<br />

aspectos relativos aos valores humanos e ao controle, tratando a organização como um sistema<br />

mecânico que funciona alheia aos membros que a constituem.<br />

Esse mesmo autor explica que já no pensamento processual-relacional há o enfoque<br />

dessas questões não valorizadas no sistema anterior. A organização é tratada como relações<br />

organizadoras, onde se enxerga os membros da organização e a organização como mutantes em<br />

constante interação, produzindo novos significados. Os gestores se envolvem em um processo de<br />

persuasão e criação de significado, não se limitando a distribuir comandos.<br />

Qualquer funcionário tende a cooperar mais em situações lideradas de forma processual-relacional<br />

do que de forma sistêmico–controladora (WATSON, 2005).<br />

Necessário se faz mudar a forma de pensar, que em grande parte do tempo está<br />

enraizada no sistema administrativo governamental controlador.<br />

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

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Sendo a mudança organizacional um processo tão importante e às vezes doloroso<br />

para o corpo funcional, em especial quando ocorre fusões que descaracterizam as organizações,<br />

ocasionando perda de seus referenciais até então instalados, cabe ao psicólogo organizacional e do<br />

trabalho contribuir para que os processos de mudança possam ser realizados de forma harmoniosa,<br />

com impactos menos traumatizantes para preservar a saúde mental dos trabalhadores.<br />

Tanto o sujeito quanto a organização passam por um processo de intenso stress,<br />

quando se exige deles mudanças rápidas as quais não eram esperadas.<br />

A identidade profissional é muito significativa na constituição do sujeito, é por ela<br />

que ele se enxerga e valoriza-se. Como ser abortado desse processo? Como construir uma nova<br />

identidade organizacional e lidar com ela sem preparo, em processos organizacionais de mudança<br />

radical? Onde fica o sujeito? Como serão tratados os seus valores, suas crenças, a sua forma de<br />

existir?<br />

Na era da informática, estaria visualizando o sujeito como alguém que muda pelo<br />

comando de uma tecla? E a organização, ela pode mudar sua cultura com um simples documento<br />

que legitima sua mudança? Num processo de fusão de duas organizações o que sobrará de cada<br />

uma? Ambas as organizações podem se perguntar: quem somos nós agora?<br />

Quanto mais antiga é a organização na sua forma de existir, mais cuidadoso deve<br />

ser o processo de mudança, pois ele vai mexer com valores enraizados e de fortes significados, e<br />

em especial nos processos de fusão isso é mais forte.<br />

O indivíduo que se torna um formador dessa nova organização num processo de<br />

fusão deve ser entendido em sua forma de ser e participante desse processo, sendo ator dessa<br />

nova construção, adaptando-se e reconstruindo, se preciso for, sua nova identidade nesse novo<br />

caminhar que se inicia.<br />

Isso tudo pode ser muito rico, contribuindo para a formação de uma nova casa, um<br />

novo lar organizacional, uma nova cultura organizacional, com pessoas participantes, engajadas,<br />

estimuladas no seu trabalho e avançando juntas nesse novo caminhar.<br />

Acredito que em organizações públicas isso também seja possível. Para tanto os<br />

dirigentes só precisam tomar os cuidados devidos na realização desse processo de mudança<br />

organizacional, tendo como base os estudos científicos disponíveis e as experiências de outras<br />

organizações públicas que já passaram por esse processo.<br />

7. REFERÊNCIAS<br />

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Andréa Mita, Ana Paula Takahashi, Jacqueline M. Leonardi, Mari T. Molinari e Elen G. Moreira<br />

O APRIMORAMENTO DAS HABILIDADES DE LIDERANÇA POR INTERMÉ-<br />

DIO DE UM PROGRAMA DE TREINAMENTO, DESENVOLVIMENTO E EDU-<br />

CAÇÃO ORGANIZACIONAL<br />

THE IMPROVEMENT OF THE LEADRESHIP SKILLS INTERMEDIATED BY A DRILLED PROGRAM,<br />

ORGANIZATIONAL DEVELOPMENT AND EDUCATION<br />

Andréa Mita*<br />

Ana Paula Takahashi*<br />

Jacqueline Montilha Leonardi*<br />

Mari Teresa Molinari*<br />

Elen Gongora Moreira**<br />

RESUMO:<br />

O presente artigo apresenta a experiência vivenciada no estágio de formação de psicólogo na área<br />

de Psicologia Organizacional e do Trabalho. O estágio foi realizado em uma Instituição Hospitalar<br />

não governamental que presta atendimento específico ao tratamento de uma patologia de alta<br />

complexidade, situado na cidade de Londrina- Pr. Inicialmente foi realizado um Diagnóstico<br />

Organizacional com o objetivo de levantar as necessidades dos colaboradores em relação ao seu<br />

ambiente e condições de trabalho. Para a execução do Diagnóstico foram realizadas entrevistas<br />

semi-estruturadas com os coordenadores de área do Hospital, sendo as questões referentes às<br />

dificuldades encontradas no dia-a-dia de trabalho: responsabilidades de cada cargo e forma de<br />

resolver os problemas dos dia-a-dia. Nesse Diagnóstico foram levantadas várias queixas como,<br />

por exemplo: déficit de recursos humanos; falta de integração entre os colaboradores e entre a<br />

organização e os colaboradores; ausência do Plano de Cargos, Carreiras e Salários e dificuldade<br />

em participar de treinamentos e eventos profissionais. Diante dessas queixas, a intervenção foi<br />

iniciada pela descrição e análise de cargos e por um programa de Treinamento e Desenvolvimento<br />

(T&D) voltado aos coordenadores de área da Instituição. O programa de T&D teve como finalidade<br />

trabalhar Habilidades de Liderança com coordenadores. A partir do Levantamento das Necessidades<br />

de Treinamento foi possível identificar que havia a necessidades de discutir com os<br />

coordenadores o papel que o líder ocupa na organização, as expectativas da organização em relação<br />

às lideranças, habilidades de comunicação e dar e receber feedback. Para condução do<br />

programa de T&D foram formados dois grupos (A e B) com aproximadamente dezessete pessoas<br />

cada um. No decorrer das atividades o grupo A não seguiu a programação inicial devido à maneira<br />

como os participantes discutiam as atividades, este grupo mostrou-se muito preocupado com a<br />

organização e empenhados em realizar o seu papel da melhor maneira possível. Durante os encontros<br />

também foi possível verificar que os participantes sentiam-se à vontade para fazer suas colocações<br />

e que a ética e a confiança dos participantes foram mútuas. Já nas atividades do grupo B,<br />

a programação foi seguida da maneira como foi proposta inicialmente. Porém, a assiduidade dos<br />

participantes não foi satisfatória e a continuidade do trabalho ficou comprometida. Da mesma<br />

forma as discussões não foram tão ricas e os participantes pareciam não estar à vontade para<br />

relatar suas experiências. Sugere-se a continuidade do programa de T&D pois, embora tenha<br />

havido melhoras nas queixas iniciais diagnosticadas os coordenadores de setores ainda precisam<br />

aprimorar algumas habilidades de liderança. Já em relação às descrições e análises dos cargos<br />

ainda se faz necessário sua finalização.<br />

PALAVRAS-CHAVE: treinamento e desenvolvimento, hospital, coordenadores.<br />

* Alunas do 5°ano do curso de Psicologia da UNIFIL. Ana Paula Takahashi E-mail: kaapts@hotmail.com, Andréa Mita E-mail:<br />

psicosepsiquic@bol.com.br, Jacqueline Montilha Leonardi E-mail jacque_leonardi@yahoo.com.br e Mari Teresa Molinari E-<br />

mail mariteresa.molinari@bol.com.br<br />

** Docente do curso de Psicologia da UNIFIL. Mestre pela PUC-SP em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento,<br />

com área de concentração em Gestão do Comportamento Organizacional. E-mail: egmoreira@hotmail.com<br />

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O Aprimoramento das Habilidades de Liderança por Intermédio de um Programa de Treinamento,<br />

Desenvolvimento e Educação Organizacional<br />

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ABSTRACT:<br />

The present article presents the experience lived the period of training of formation of psychologist<br />

in the area of Organizational Psychology and the Work. The period of training was carried through<br />

in a Hospital Institution that gives specific attendance to the treatment of a pathology of high<br />

complexity, situated in the city of Londrina-PR. Initially a Organizational Diagnosis was carried<br />

through with the objective of raising the necessities of the collaborators in relation to its environment<br />

and conditions of work. For the execution of the Diagnosis interviews half-structuralized with the<br />

coordinators of area of the Hospital had been carried through, being the referring questions to the<br />

difficulties found in day-by-day of work; responsibilities of each position e; form to decide the<br />

problems of day-by-day. In this Diagnosis some complaints had been raised as, for example: deficit<br />

of human resources; lack of integration between the collaborators and the organization and the<br />

collaborators; absence of the Plan of Positions, Careers and Wages and; difficulty in participating<br />

of training and professional events. Ahead of these complaints the intervention was initiated by the<br />

description and analysis of positions and by a program of Training and Development (T&D) directed<br />

to the area coordinators of the Institution. The T&D program had as purpose to work Abilities of<br />

Leadership with coordinators. From the Survey of the Necessities of Training it was possible to<br />

identify that it had necessities to argue with the coordinators the paper that the leader occupies in<br />

the organization, to the expectations of the organization in relation to the leaderships, communication<br />

abilities and to give and to receive feedback. For conduction of the T&D program two groups (A<br />

and B) with approximately seventeen people in each one of them had been formed. In elapsing of<br />

the activities the group A did not follow the initial programming due the way as the participants<br />

argued the activities, this group revealed very worried about the organization and pledged in carrying<br />

through its paper in the best possible way. During the meeting it was also possible to verify that the<br />

participants felt it the will to make its ranks and that the ethics and the confidence of the participants<br />

had been mutual. However, the assiduity of the participants was not satisfactory and the continuity<br />

of the work was engaged. In the same way the quarrels had not been so rich and the participants<br />

seemed not to be to the will to tell its experiences. It is suggested continuity of the T&D program<br />

therefore, even so has had improvements in the initial of the diagnosis complaints, the coordinators<br />

of sectors still needs to improve some abilities of leadership. Already in relation the descriptions and<br />

analyses of the positions still its finishing becomes necessary.<br />

KEY-WORD: training and development, hospital, coordinators.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

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A produção deste artigo teve como finalidade compartilhar a experiência vivenciada<br />

no trabalho de estágio de formação em Psicologia Organizacional e do Trabalho realizado em uma<br />

Instituição Hospitalar da cidade de Londrina-Pr. Este Hospital é uma Instituição não governamental<br />

que se mantém, principalmente, por doações de recursos diversos advindos da comunidade e<br />

presta atendimento específico ao tratamento de uma patologia de alta complexidade.<br />

A queixa inicial da empresa se referia à ausência de repertório comportamental<br />

relacionado à habilidade de liderança dos coordenadores de setores do Hospital. Segundo a empresa,<br />

os próprios coordenadores de área da organização reivindicavam a realização de treinamentos<br />

voltados para o desenvolvimento de habilidades de liderança. Diante dessa queixa foi proposto ao<br />

Hospital a realização de um Diagnóstico Organizacional com o objetivo de mapear as necessidades<br />

dos coordenadores de área da Instituição em relação ao seu ambiente e condições de trabalho.<br />

Para a realização do Diagnóstico Organizacional foram conduzidas entrevistas<br />

semi-estruturadas com todos os coordenadores de cada setor do Hospital. O roteiro de entrevista<br />

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Andréa Mita, Ana Paula Takahashi, Jacqueline M. Leonardi, Mari T. Molinari e Elen G. Moreira<br />

envolvia questões sobre as atividades profissionais de cada colaborador, bem como, questionamentos<br />

a respeito das dificuldades enfrentadas no dia-a-dia de trabalho; responsabilidades; formas de<br />

solucionar problemas; relacionamento interpessoal e habilidades gerenciais. Após o término das<br />

entrevistas as mesmas foram categorizadas de acordo com a representatividade das queixas de<br />

cada colaborador envolvido no processo.<br />

Os resultados do Diagnóstico mostraram que 77% dos coordenadores concordavam<br />

que havia falta de integração entre colaboradores e entre colaboradores e a organização; 74%<br />

afirmavam haver um déficit de Recursos Humanos no Hospital (este item refere-se à falta de<br />

pessoas para a realização do trabalho); 54% apontavam a ausência de um Plano de Cargos, Carreiras<br />

e Salários; 50% relatavam dificuldade para participar de treinamentos e eventos profissionais;<br />

47% reclamaram da deficiência de recursos materiais; 27% incomodavam-se com a postura<br />

da presidência e direção por não levar em consideração as colocações dos colaboradores em<br />

relação às mudanças e 14% não concordavam com o fato de terem que utilizar produtos inadequados<br />

à necessidade Hospitalar em função das doações recebidas (por exemplo, produtos de limpeza<br />

e alimentícios).<br />

O Diagnóstico foi finalizado no final do primeiro semestre de 2006 e as seguintes<br />

propostas de intervenção foram feitas: Descrição e Análise de todos os cargos existentes na organização;<br />

Desenvolvimento Organizacional trabalhando: 1) Programa de Integração entre os Setores,<br />

2) Treinamentos voltados para as Lideranças, 3) Elaboração do programa de Avaliação de<br />

Desempenho; Elaboração de um Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) e Planejamento de<br />

Contratação de Colaboradores.<br />

Estando de acordo com o Diagnóstico, a direção do Hospital aceitou as propostas<br />

de intervenção e os trabalhos iniciados foram os de Descrição e Análise dos Cargos e um Programa<br />

de Treinamento e Desenvolvimento de Habilidades de Liderança para todos os colaboradores<br />

que exerciam cargos de coordenação de equipe de trabalho administrativo e clínico.<br />

Intervenções na área de TD&E são fundamentais para o aprimoramento profissional<br />

dos colaboradores de uma organização, pois as ações de treinamento, desenvolvimento e<br />

educação (TD&E) se constituíram, desde o início das organizações industriais (século XIX), em<br />

elemento fundamental para a área de gestão de pessoas (MALVEZZI apud PILATI, 2006).<br />

Hinrichs (apud VARGAS E ABBAD, 2006) define Treinamento como quaisquer<br />

procedimentos, de iniciativa organizacional, cujo objetivo é ampliar a aprendizagem entre os<br />

membros de uma organização. Wexley (apud VARGAS e ABBAD, 2006) defende que Treinamento<br />

é o esforço planejado pela organização para facilitar a aprendizagem de comportamentos<br />

relacionados com o trabalho por parte de seus empregados. Goldstein (VARGAS E ABBAD,<br />

2006) por sua vez aponta Treinamento como sendo uma aquisição/modificação de comportamentos<br />

voltados para melhorar o desempenho no trabalho. Para Mager (2001) o Treinamento é justificado<br />

somente quando há trabalhos que as pessoas não sabem fazer e precisam estar aptas a<br />

realizar para o bom desempenho de suas funções e, portanto, o treinamento por qualquer outra<br />

razão é uma fraude e/ou extravagância.<br />

Sendo assim, as ações de TD&E não podem ser compreendidas de modo<br />

descontextualizado em relação ao ambiente organizacional, é essencial ligar todo o processo de<br />

treinamento nas organizações às variáveis de comportamento organizacional objetivando a promoção<br />

de aprendizagem no trabalho, como sendo, o aprimoramento do desempenho e de variáveis<br />

comportamentais dos treinandos. (PILATI, 2006).<br />

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TD&E é parte da organização, influenciando e sofrendo influências do sistema<br />

organizacional. Portanto o objetivo geral do programa de Treinamento e Desenvolvimento conduzido<br />

no Hospital foi aprimorar o desenvolvimento de habilidades gerenciais visando um desempenho<br />

adequado frente às atividades realizadas pelas coordenações, já os objetivos específicos foram<br />

deixar os processos de comunicação entre os coordenadores mais assertivos, desenvolver a troca<br />

de feedback adequado com os colaboradores, ampliar as habilidades de liderança e de treinar a<br />

habilidade de organização do trabalho de maneira eficiente recorrendo o mínimo possível ao coordenador<br />

hierárquico<br />

2. MÉTODO<br />

2.1 População<br />

Participaram do programa de Treinamento e Desenvolvimento de Habilidade de<br />

Liderança de pessoas 40 coordenadores de setor do Hospital.<br />

2.2 Instrumentos e Materiais<br />

Cartolinas, pincéis atômicos, canetas, folhas de sulfite.<br />

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2.3 Procedimento<br />

Para a realização do treinamento inicialmente foi elaborado um questionário para<br />

auxiliar na realização do Levantamento de Necessidades de Treinamento (LNT). As questões<br />

referiam-se a situações reais de trabalho, os participantes deveriam assinalar a resposta que, segundo<br />

cada colaborador, era a mais adequada para solucionar o problema em questão. É importante<br />

ressaltar que as questões contidas nos questionários não possuíam respostas óbvias nem diretas,<br />

por exemplo: Se um colaborador cometeu um erro em seu trabalho que irá trazer prejuízos para a<br />

organização, assim como prejudicar o andamento de outros setores, o que você faz? a) Adverteo<br />

perante a equipe e pergunta qual o motivo que justifica o seu comportamento na expectativa de<br />

que os outros colaboradores aprendam com seu erro; b) Chama o colaborador para conversar em<br />

particular, descreve-lhe o ato observado, diz-lhe onde errou mostrando as conseqüências que isso<br />

pode trazer e ajuda-o a resolver da melhor maneira possível o problema; c) Resolve o problema<br />

você mesmo, sem falar nada para a pessoa, justamente para não se indispor com o colaborador.<br />

Porém, demonstra ao colaborador a sua insatisfação por meio de gestos (cara fechada, olhares<br />

severos, suspiros e demonstração de irritabilidade). O objetivo da condução do LNT era conhecer<br />

melhor quais as reais necessidades dos colaboradores a serem trabalhadas no programa de Treinamento<br />

e Desenvolvimento.<br />

Na análise dos resultados obtidos no LNT constatou-se que as maiores dificuldades<br />

referiam-se à forma inadequada de lidar com as reclamações dos colaboradores, não verificando<br />

uma reclamação específica com toda a equipe; à visão dos coordenadores em relação à<br />

função do líder,distanciando-se da aplicação real da tarefa e à utilização de feedback somente<br />

para fins positivos como forma de superação de limites dos colaboradores. Diante dessas constatações<br />

foi elaborada uma proposta de Treinamento e Desenvolvimento que contemplasse atividades visando<br />

discutir o papel e a função de coordenação, dificuldades de gerenciamento, desenvolvimento<br />

da habilidade de dar e receber feedback e proporcionar melhorias na qualidade de comunicação<br />

tais como clareza e objetividade nas mensagens verbais.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Andréa Mita, Ana Paula Takahashi, Jacqueline M. Leonardi, Mari T. Molinari e Elen G. Moreira<br />

Para a realização do programa de treinamento o grupo de 40 coordenadores foi<br />

subdividido em dois grupos para melhor viabilidade do trabalho. Cada grupo foi coordenado por<br />

uma dupla de estagiárias, sendo assim faz-se necessário o relato diferenciado de cada grupo, para<br />

isso serão chamados de Grupo A e Grupo B. Ambos tiveram a mesma programação e o mesmo<br />

número de encontros, sendo formados de acordo com a disponibilidade de horário dos colaboradores,<br />

os encontros aconteceram no horário de trabalho.<br />

Abaixo segue a programação dos encontros de Treinamento e Desenvolvimento<br />

de Liderança. Como havia dois grupos, A e B, o programa também foi divido e será apresentado<br />

em separado.<br />

2.3.1 Programação grupo A:<br />

O primeiro encontro teve como objetivo o estabelecimento do contrato psicológico<br />

de trabalho, o esclarecimento dos objetivos do programa de Treinamento e Desenvolvimento e a<br />

realização de uma dinâmica de apresentação e integração do grupo.<br />

O contrato psicológico foi construído verbalmente entre os participantes ficando<br />

estabelecidas as seguintes regras: pontualidade, assiduidade, comprometimento, respeito aos colegas<br />

e utilização dos encontros para discussão de assuntos estritamente profissionais. O esclarecimento<br />

dos objetivos também foi feito verbalmente pelas coordenadoras do grupo.<br />

Para a realização da dinâmica de apresentação foi solicitado aos participantes que<br />

confeccionassem um cartaz individual fazendo uma breve apresentação sobre as atividades que<br />

são desenvolvidas no seu respectivo cargo. Após a confecção dos cartazes cada coordenador fez<br />

a apresentação do seu cartaz verbalmente possibilitando assim que os outros integrantes do grupo<br />

pudessem conhecer um pouco melhor as atividades de cada cargo.<br />

Para o segundo encontro foi elaborado previamente um cartaz com as características<br />

de líderes esperadas pela organização. No início do encontro o grupo foi dividido em dois<br />

subgrupos, onde cada um deveria elaborar um cartaz com as características que um líder deveria<br />

ter. Após o término dessa atividade abriu-se para discussão dos cartazes que foram produzidos<br />

pelos subgrupos. A programação do encontro previa a discussão e comparação dos cartazes elaborados<br />

pelos subgrupos com o cartaz contendo as expectativas da organização. Porém não foi<br />

possível realizar a comparação, pois a discussão dos subgrupos estendeu-se além do esperado.<br />

No terceiro encontro foi retomada a discussão anterior dos cartazes dos subgrupos<br />

e realizada uma comparação entre as características colocadas pelos subgrupos e as esperadas<br />

pela organização.<br />

O quarto encontro, em função da necessidade do grupo A, foi aberto para que eles<br />

elaborassem uma proposta de formação de um grupo de coordenadores para reunião periódica,<br />

tendo como objetivo a discussão dos problemas referentes ao dia-a-dia de trabalho. Para tal atividade<br />

o grupo foi subdividido em dois subgrupos e cada qual deveria montar uma proposta em cima<br />

de um roteiro previamente elaborado pelas coordenadoras do treinamento. Esse roteiro continha os<br />

seguintes itens a serem preenchidos: objetivos gerais e específicos, justificativa, público alvo, período<br />

e horário. Cada subgrupo preencheu sua proposta e, logo após, as propostas foram abertas<br />

para discussão e o grupo chegou a um consenso.<br />

Para o quinto encontro a proposta de formação do grupo passou pelas correções<br />

necessárias e neste encontro essas correções foram discutidas e a proposta foi finalizada.<br />

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Desenvolvimento e Educação Organizacional<br />

No sexto encontro pediu-se aos integrantes do grupo A que individualmente elegessem<br />

um problema de seu setor para que os mesmos fossem discutidos no grupo e as soluções<br />

fossem propostas. Cada participante do grupo escreveu o seu problema e o expôs para o grupo<br />

que dava sugestões de solução. Não foi possível finalizar esta atividade neste encontro, dando<br />

continuidade na atividade no sétimo e oitavo encontros.<br />

No oitavo encontro além da finalização da atividade o treinamento foi encerrado<br />

sendo que para isso foi pedido informalmente o feedback dos participantes sobre os encontros<br />

realizados.<br />

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2.3.2 Programação grupo B:<br />

O primeiro encontro, assim como no Grupo A, teve como objetivo estabelecer o<br />

contrato psicológico de trabalho, esclarecer os objetivos do programa de Treinamento e Desenvolvimento<br />

e realizar uma dinâmica de apresentação e integração do grupo. Tanto o contrato psicológico<br />

quanto a dinâmica de apresentação foram realizados da mesma forma que no Grupo A.<br />

No segundo encontro foi realizada uma reunião para discussão da formação do<br />

Núcleo de Coordenadores do Hospital. Como o Grupo A neste momento já estava quarto encontro<br />

e a questão de criação do Núcleo de Coordenadores foi uma proposta inicialmente sugerida por<br />

eles, foram as coordenadoras do Grupo A que levaram aos participantes do Grupo B a proposta de<br />

criação do Núcleo de Coordenadores do Grupo. A participação das coordenadoras do Grupo A<br />

ocorreu pela necessidade de elaboração da proposta, devido às discussões ocorridas no quarto<br />

encontro deste grupo. As coordenadoras relataram que a formação deste Núcleo seria a formação<br />

de um grupo de coordenadores para reunião periódica, tendo como objetivo a discussão dos problemas<br />

referentes ao dia-a-dia de trabalho. Após o esclarecimento, foi aberta uma discussão a fim de<br />

obter as possibilidades de dias e horários dos participantes do Grupo B para a ocorrência deste<br />

Núcleo.<br />

Para o terceiro encontro foi elaborado previamente um cartaz com as características<br />

de líderes esperadas pela organização. No início do encontro o grupo foi dividido em dois<br />

subgrupos, cada um deveria elaborar um cartaz com as características que um líder deveria ter.<br />

Após o término desta atividade abriu-se para discussão de seus cartazes produzidos e comparação<br />

destes com o cartaz contendo as expectativas da organização. Finalizou-se o encontro com uma<br />

discussão da função de líder e os aspectos gerais da liderança.<br />

No quarto encontro foi solicitado para que cada participante escrevesse um problema<br />

específico do seu setor. Depois cada coordenador de setor relatou o problema do seu setor<br />

para todos os participantes do grupo, e na seqüência abriu-se para discussão. Após a discussão do<br />

problema, foi pedido para que os coordenadores resolvessem o problema levantado por eles da<br />

maneira que julgassem mais adequada e, no final, abriu-se para discussão novamente.<br />

O quinto encontro teve como objetivo discutir sobre comunicação e feedback.<br />

Assim, foi realizada a dinâmica em que se utilizou um texto intitulado de “Mulher Fere Marido Ao<br />

Matar Uma Barata”. Nesta dinâmica a história era relatada verbalmente de integrante para integrante,<br />

a fim de verificar as mudanças ocorridas em cada relato, focando a facilidade de ocorrer<br />

mudanças na transferência de uma informação e suas conseqüências imediatas e em longo prazo.<br />

No final, discutiu-se sobre a importância e eficácia da comunicação.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Andréa Mita, Ana Paula Takahashi, Jacqueline M. Leonardi, Mari T. Molinari e Elen G. Moreira<br />

No sexto encontro foi retomada a discussão do encontro anterior. Para facilitar o<br />

processo de discussão foi realizada uma dinâmica com o objetivo de discutir a comunicação e o<br />

feedback. Nessa dinâmica dividiu-se o grupo em trio, em cada trio um integrante ficou com as<br />

mãos presas, o outro teve os olhos vedados e o último teve a boca tampada. Então, foram entregues<br />

jornais para o trio, esses tiveram como tarefa construir um instrumento para pegar água de<br />

um balde. No final abriu-se uma discussão sobre a importância da comunicação e da integração.<br />

No sétimo encontro foi realizado o encerramento. Nesse dia, foi pedido informalmente<br />

um feedback dos participantes sobre os encontros realizados.<br />

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Os resultados e discussões dos encontros também serão apresentados<br />

separadamente.<br />

3.1. Encontros Grupo A<br />

Os três primeiros encontros do grupo A estavam voltados para a discussão em<br />

relação ao papel de líder e a comparação entre o que a organização esperava do trabalho dos<br />

coordenadores e o que eles de fato conseguiam executar na prática. No grupo A, durante esses<br />

encontros, por vários momentos, os participantes começavam a utilizar a oportunidade de estarem<br />

reunidos para discutirem sobre acontecimentos do dia-a-dia de trabalho tais como problemas de<br />

ordem profissional que atingiam outros setores da organização e também para dar recados referentes<br />

a mudanças normativas da empresa. Ao identificar que tais comportamentos estavam ocorrendo,<br />

as coordenadoras do Programa de Treinamento, Desenvolvimento e Educação verbalizaram<br />

aos participantes do grupo o que estava ocorrendo e pediram para que os coordenadores do grupo<br />

A pensassem em uma solução.<br />

O grupo A após discutir sobre o fato de seus membros aproveitarem a oportunidade<br />

do encontro para resolverem problemas do dia-a-dia de trabalho, no quarto encontro, entrou em<br />

um acordo propondo a formação de um grupo que se chamaria de Núcleo de Coordenadores da<br />

organização e que este grupo se reuniria periodicamente para discutir sobre os problemas cotidianos,<br />

assim como propor soluções adequadas e viáveis para os mesmos.<br />

Os encontros do grupo A acabaram tomando uma direção diferenciada ao programa<br />

proposto, pois a necessidade emergencial do grupo não era exatamente a ausência de habilidade<br />

para ser líder de um setor, mas sim a necessidade de aprender a discutir os problemas existentes<br />

na organização levando-os ao conhecimento de presidência e direção do Hospital de uma maneira<br />

geral e não individualizada.<br />

Durante os encontros, foi possível perceber que os participantes do grupo A estavam<br />

preocupados com a organização, que se esforçavam para realizar o seu trabalho adequadamente<br />

apesar das dificuldades encontradas. Também foi possível verificar que o grupo tornou-se<br />

coeso e a confiança na ética dos participantes foi mútua.<br />

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Desenvolvimento e Educação Organizacional<br />

3.2 Encontros Grupo B<br />

Os encontros do grupo B, diferentemente do grupo A, se desenvolveram de acordo<br />

com a programação prevista no programa de Treinamento e Desenvolvimento planejado.<br />

Durante os encontros foi possível perceber que a presença dos participantes, além<br />

de ser menor que o previsto 1 variava de encontro para encontro e, devido a isso, o desenvolvimento<br />

das atividades propostas foi comprometida, pois exigia a participação mais constante dos colaboradores.<br />

Supõe-se que durante as discussões propostas no grupo não houve o estabelecimento<br />

adequado do contrato psicológico de trabalho, pois os participantes não relatavam as dificuldades<br />

encontradas no dia-a-dia de trabalho.<br />

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

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De acordo com o andamento dos grupos de Treinamento e Desenvolvimento verificou-se<br />

que houve diferenças na participação dos colaboradores durante o desenvolvimento dos<br />

encontros.<br />

No grupo A não foi possível seguir a programação estabelecida inicialmente, pois<br />

os integrantes do grupo discutiram as tarefas de forma minuciosa e entraram em discussão sobre<br />

a necessidade de formação de um grupo entre os coordenadores a fim de debater questões referentes<br />

aos problemas do trabalho de cada setor.<br />

Já no grupo B a programação seguiu conforme tinha sido previsto inicialmente e,<br />

devido à falta de integrantes nas atividades desenvolvidas, as discussões não puderam ser mais<br />

bem aprofundadas e nem ter uma continuidade de encontro para encontro. No encontro final de<br />

feedback, os integrantes solicitaram que o grupo de Treinamento, Desenvolvimento e Educação<br />

tivesse mais conteúdo teórico apresentado pelo coordenador do grupo.<br />

5.REFERÊNCIAS<br />

MAGER, R.F. O que todo chefe deve saber sobre Treinamento. São Paulo: Market Biiks, 2001.<br />

PILATI, R. História e importância de TD&E. In: Treinamento, Desenvolvimento e Educação<br />

em Organizações de Trabalho: Fundamentos para a gestão de pessoas. São Paulo: Artmed,<br />

2006.<br />

VARGAS, M.R.; ABBAD, G. Bases conceituais em treinamento, desenvolvimento e educação –<br />

TD&E. In: Treinamento, Desenvolvimento e Educação em Organizações de Trabalho: Fundamentos<br />

para a gestão de pessoas. São Paulo: Artmed, 2006.<br />

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1 Inicialmente o grupo B tinha dezessete participantes, mas em média participaram nove colaboradores.<br />

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NÚCLEO DE ARQUITETURA, URBANISMO E TECNOLOGIAS


Bases para o Projeto de Centros de Cultura e Arte<br />

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Agnaldo Adélio Eduardo e Antonio Manuel Nunes Castelnou<br />

BASES PARA O PROJETO DE CENTROS DE CULTURA E ARTE<br />

BASES TO THE PROJECT OF CULTURAL AND ART CENTERS<br />

Agnaldo Adélio Eduardo*<br />

Antonio Manuel Nunes Castelnou**<br />

RESUMO:<br />

O objetivo deste artigo é apresentar algumas considerações fundamentais para a concepção e<br />

projeto de centros de cultura e arte. A partir de uma pesquisa bibliográfica e uma análise de<br />

correlatos, foi possível destacar pontos de relevância no que se relaciona ao conceito de cultura e<br />

arte e de como a arquitetura, através dos tempos, forneceu espaços para abrigar suas atividades,<br />

produzindo teatros, museus e bibliotecas, de modo a atender as mais diversas exigências de ordem<br />

política, econômica, social e tecnológica.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Arquitetura; Projeto; Arte; Centros de Cultura e Arte.<br />

ABSTRACT:<br />

The purpose of that article is to present some fundamental considerations with respect to conception<br />

and project of culture and art centers. From a bibliographic research and a correlative buildings<br />

analysis, it was possible to detach relevance points in that if it relates to the culture and art concepts<br />

and as the architecture, through the times, supplied spaces to shelter its activities, producing theaters,<br />

museums and libraries, in order to take care of the most diverse politics, economic, social and<br />

technological requirements.<br />

KEY-WORDS: Architecture; Architectural Project; Art; Culture and Art Centers.<br />

107<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

A relação do homem com as tradições culturais e suas manifestações artísticas<br />

vem ao encontro com a própria história das civilizações. A cultura de um povo, que pode envolver<br />

desde a música, a dança e o teatro até as artes plásticas em geral e demais formas de expressão,<br />

consiste no conjunto de registros mais eloqüentes da identidade de uma comunidade no decorrer da<br />

sua existência. Desta forma, desde a Antigüidade, os homens sentem a necessidade de se reunirem<br />

em espaços públicos para o desenvolvimento de atividades culturais e de lazer. Durante séculos,<br />

esses espaços passaram por inúmeras transformações, abrigando a cada momento as necessidades<br />

funcionais, espaciais e estéticas voltadas à sua época histórica.<br />

* Acadêmico (em 2002) do 5o. ano do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Filadélfia de<br />

Londrina – <strong>UniFil</strong>, realizou seu Trabalho Final de Graduação – TFG na área de Projeto de Edificações intitulado “Anteprojeto<br />

do Centro Cultural Henrique de Aragão em Ibiporã PR”.<br />

** Orientador do TFG, arquiteto e engenheiro civil, mestre em Tecnologia do Ambiente Construído pela Escola de Engenharia<br />

de São Carlos da Universidade de São Paulo – EESC/USP; e doutorando em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade<br />

Federal do Paraná – UFPR. Docente na área de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário<br />

Filadélfia de Londrina – <strong>UniFil</strong>.<br />

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Bases para o Projeto de Centros de Cultura e Arte<br />

A partir de meados do século passado, esses locais vieram suprir as necessidades<br />

do homem contemporâneo, decorrentes do processo de globalização e também do próprio consumo<br />

em massa, disseminado pelo sistema capitalista. Por conseguinte, a arquitetura não ficou inerte<br />

a essas transformações, demonstrando sua força e valor, através da elaboração de espaços e/ou<br />

edificações voltadas tanto para a produção como a difusão e democratização da arte, cultura e<br />

lazer, os quais acompanham todos os valores dentro desta presente realidade. Assim, pode-se<br />

relacionar inúmeros exemplos de espaços que vieram atender às expectativas do seu tempo, desde<br />

a antiga ágora grega, o fórum romano, as feiras medievais e os museus modernos, até os atuais<br />

complexos culturais. Dentro do contexto contemporâneo, grandes instituições culturais, como o<br />

Centre George Pompidou de Paris, a Tate Gallery de Londres ou o Museum of Modern Art –<br />

MoMA de Nova York, podem ser considerados grandes obras voltadas ao acervo e valorização<br />

cultural de várias épocas.<br />

No Brasil, isso não poderia ser diferente. De bibliotecas a galerias de arte, a cultura<br />

tem seu reduto preservado, reunindo obras de valor nacional como internacional. Fundamentais<br />

são as contribuições do Museu de Arte de São Paulo – MASP, o maior da América Latina, assim<br />

como de várias outras instituições espalhadas de norte a sul. Partindo desse contexto, este artigo<br />

pretende apresentar algumas considerações básicas para o projeto de espaços destinados à cultura<br />

e arte, abordando desde suas conceituações gerais até a evolução histórica dessas obras, as quais<br />

proliferaram em todos os momentos da história da humanidade. Com base na pesquisa bibliográfica,<br />

procura-se despertar o interesse para essa temática, cada vez mais corrente nos âmbitos acadêmicos<br />

da arquitetura e urbanismo.<br />

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2. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE CULTURA E ARTE<br />

A palavra “cultura” provém do latim colere, termo que originalmente se relacionava<br />

ao cultivo da terra, para depois se aplicar à instrução e conhecimentos adquiridos. Em seu<br />

sentido antropológico e sociológico, cultura consiste no complexo de hábitos, idéias ou criações do<br />

homem, estes recebidos do grupo social em que aquele nasceu, ou ainda adquiridos ao contato com<br />

outros grupos. As leis da natureza que regulam o organismo humano são universais, mas as regras<br />

da cultura são sempre particulares, resultado da história de cada povo. O ditado popular que diz:<br />

“cada povo com seu uso e cada roca com seu fuso” lembra assim a diversidade de costumes que<br />

caracterizam a humanidade.<br />

Segundo a Enciclopédia Abril (1975), foi a partir do estudo dos povos primitivos<br />

que os antropólogos sentiram a necessidade de definir esse conjunto de costumes ao qual se denomina<br />

cultura. Em 1871, o antropólogo inglês Edward Burnett Tylor (1831-1917) descreveu cultura<br />

como um conjunto complexo de conhecimentos, arte, moral, direito, costumes e todas as outras<br />

aptidões ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade. Conforme Santos<br />

(1994), ela diz respeito à humanidade como um todo e, ao mesmo tempo, a cada povo, nação,<br />

sociedade e grupo humano. Quando se considera as culturas particulares que existem ou existiram,<br />

logo se constata a sua grande variação: cada realidade cultural tem sua lógica interna, a qual se<br />

deve procurar conhecer para que façam sentido as práticas, costumes, concepções e também<br />

transformações pelas quais essas passam.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Agnaldo Adélio Eduardo e Antonio Manuel Nunes Castelnou<br />

Desse modo, é preciso relacionar a variedade de procedimentos culturais com o<br />

contexto em que estes são produzidos. As variações nas formas de família, por exemplo; ou nas<br />

maneiras de habitar, de se vestir ou de distribuir os produtos do trabalho, não são gratuitas. Fazem<br />

sentido para os agrupamentos humanos que as vivem e são resultado de sua história, relacionandose<br />

com suas condições materiais de existência. Entendido assim, o estudo da cultura contribui no<br />

combate a preconceitos, oferecendo uma plataforma firme para o respeito e a dignidade e todas as<br />

relações humanas.<br />

De acordo com Prestes-Campos apud Siqueira (2001), cultura seria a forma<br />

pela qual uma comunidade se realiza através de suas necessidades materiais e psicossociais.<br />

Nessa idéia está implícita a noção de ambiente como fonte de sobrevivência e crescimento. Já<br />

para Bidermann apud Bicudo (2000), cultura significa o conjunto de tradições e valores materiais<br />

e espirituais característico de uma sociedade. O significado adquirido pelo termo “cultura” quando<br />

diz respeito às relações sociais ramifica-se a um outro termo, o qual se refere ao primitivismo<br />

(tradições mantidas), ao comunitarismo (espírito coletivo) e ao purismo (inocência diante do<br />

mundo novo), definindo assim, segundo os românticos, a chamada cultura popular. Esta se<br />

refere quase sempre ao povo primitivo ou àquele afastado dos centros urbanos. A partir daí, o<br />

significado do termo estende-se a toda cultura que não seja aquela chamada erudita ou oficial.<br />

Desta forma o folclore estaria incluso nas culturas populares por se relacionar às maneiras de<br />

pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular e imitação, sem a influência<br />

direta do erudito ou oficial.<br />

Conforme Santos (1994), a significação de cultura pode ser dividida em duas concepções<br />

básicas: a primeira remete a todos os aspectos de uma realidade social; e a segunda se<br />

refere mais especificamente aos conhecimentos, às idéias e às crenças de um povo. Assim, a<br />

primeira concepção preocupar-se-ia com todos os aspectos de uma realidade social, na qual cultura<br />

diz respeito a tudo aquilo que caracterizaria a existência social de um povo ou nação; ou ainda a<br />

grupos no interior de uma sociedade. Pode-se assim falar de cultura francesa ou na cultura xavante,<br />

do mesmo modo que se comenta da cultura camponesa; ou então na cultura dos antigos astecas.<br />

Nesses casos, cultura refere-se a realidades sociais bem distintas, embora o sentido em que se fala<br />

de cultura seja o mesmo.<br />

Já na segunda concepção, quando se fala de cultura está-se referindo mais especificamente<br />

aos conhecimentos, idéias e crenças, assim como às maneiras em que elas existem na<br />

vida social. Entende-se aqui que a cultura diz respeito a uma esfera, a um domínio, da vida social.<br />

De acordo com essa concepção, quando se discute sobre cultura francesa, refere-se à língua<br />

francesa, à sua literatura; ao conhecimento filosófico, científico e artístico produzidos na França, e<br />

às instituições mais de perto associadas a eles. Outro exemplo comum dessa segunda forma de<br />

entendimento seria a referência à cultura alternativa, compreendendo tendências de pensar a<br />

vida e a sociedade na qual a natureza e a realização individual são enfatizadas, e que tem por temas<br />

principais a ecologia, a alimentação, o corpo, as relações pessoais e a espiritualidade.<br />

Nesses termos, é interessante observar a relação que existe entre arte e cultura,<br />

pois uma forma que a cultura de um povo tem para se manifestar acontece através das atividades<br />

artísticas. Segundo Bosi (2001), a arte é um fazer, ou seja, um conjunto de atos pelos quais se muda<br />

a forma transforma-se a matéria oferecida pela natureza e pela cultura. Neste sentido, qualquer<br />

atividade humana, desde que conduzida regularmente a um fim, pode ser chamada de artística. A<br />

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arte seria uma manifestação ligada intimamente ao espírito humano. Desde as origens das civilizações,<br />

o homem busca dar aos objetos que cria, além de uma forma mais eficiente e útil para o fim<br />

a que se destina, qualidades que independem da simples utilidade e que satisfazem uma necessidade<br />

de harmonia e beleza. E, sendo uma produção, logo, a arte supõe trabalho – movimento que<br />

arranca o ser do não ser; a forma do amorfo; o ato da potência; o cosmos do caos. Os gregos<br />

chamavam-na de techné, isto é, o modo exato de perfazer uma tarefa, antecedente de todas as<br />

técnicas dos dias atuais.<br />

A palavra latina ars, matriz do termo português “arte”, esta na raiz do verbo “articular”,<br />

que denota a ação de fazer junturas entre as partes de um todo. Antigamente, pelo fato de<br />

serem operações estruturantes, podiam receber o mesmo tratamento e o mesmo nome de arte não<br />

só as atividades que visavam a comover a alma – a música, a poesia, o teatro, a dança –, quanto<br />

os ofícios de artesanato, cerâmica, tecelagem e ourivesaria, que aliavam o útil ao belo. Aliás, a<br />

distinção entre as primeiras e os últimos, que se impôs durante o Império Romano, tinha, na essência,<br />

um claro sentido econômico-social. As artes liberales eram exercidas por homens livres,<br />

enquanto os ofícios, as artes serviles, de condição humilde. Até hoje, os termos “artista” e “artífice”<br />

– de artifex: o que faz arte – mantêm a milenar oposição de classe entre trabalho intelectual e<br />

o trabalho manual.<br />

Na arte, de acordo com a Enciclopédia Abril (1975), existem dois aspectos complementares,<br />

os quais os teóricos procuram harmonizar conteúdo e forma; ou essência e aparência.<br />

Pedra ou som, madeira ou tela, palavra ou imagem constituem o aspecto externo de uma obra<br />

de arte, a organização formal dos meios materiais que lhe permitem exprimir certo conteúdo estético<br />

e aparência. Logo, arte pode ser considerada a atividade simbólica por excelência, pois qualquer<br />

material trabalhado com intenção estética, seja o som de flauta ou uma chapa de bronze,<br />

acabará por se tornar signo de idéias, sentimentos e valores de um homem e, indiretamente, de um<br />

grupo ou comunidade. Deste modo, do ponto de vista da semiologia, os elementos técnicos da<br />

pintura, escultura, música, dança ou cinema – a linha, a cor, a superfície, o volume, o som, o corpo<br />

humano, a imagem em movimento – funciona como significantes atribuídos pela cultura na qual se<br />

insere seu criador.<br />

Essa pluralidade da arte leva ao questionamento de outra área problemática referente<br />

à função da atividade artística. Já os pensadores antigos como Platão (427-347 a.C.) e<br />

Aristóteles (384-322 a.C.) ressaltam o papel educativo da arte. O primeiro atribuía à música e à<br />

dança coral uma ação terapêutica capaz de salvaguardar a alma dos jovens, propensa à corrupção.<br />

O segundo via a tragédia como purificadora das paixões e, sobretudo, do terror e da piedade,<br />

através de seu efeito moral: a cartase. Esta idéia reapareceu em Sigmund Freud (1856-1939), que<br />

a rebatizou como “sublimação dos instintos”, incluindo a arte entre os modos de consegui-la. Esse<br />

papel da arte que invade o campo de suas relações com a moral, foi também realçado por Friedrich<br />

von Schiller(1750-1805), para quem a atividade artística aparecia como o primeiro passo para a<br />

dignidade dos sentidos, de maneira a conciliar a passividade da paixão com a liberdade da razão.<br />

Segundo Mosquera (1973), arte e sociedade compõem-se de três elementos básicos:<br />

o artista, a obra de arte e o público. Enquanto o artista é o agente da arte, uma obra de arte<br />

seria toda e qualquer expressão artística que, utilizando uma linguagem própria, representaria para<br />

o homem o poder de expressar tudo que a razão não pode elaborar, revelando assim o inconsciente.<br />

Neste sentido, toda manifestação de arte seria representativa, pois recria, a partir de experiências<br />

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Agnaldo Adélio Eduardo e Antonio Manuel Nunes Castelnou<br />

pessoais, sociais e culturais, a realidade do mundo. Desta maneira, compreender o conceito de arte<br />

significa também reconhecer os diversos sentidos que a mesma adquiriu no decorrer da história da<br />

humanidade: a concepção de arte é tão abrangente quanto às diversas formas que a mesma pôde<br />

se manifestar. Para alguns estetas, a arte seria, portanto, eminentemente social, o que quer dizer<br />

que ela tem um verdadeiro papel na sociedade, pois representaria o momento histórico peculiar que<br />

o indivíduo vive.<br />

Além disso, a arte teria um grande papel na educação. Inicialmente, pode ser<br />

compreendida como um dos mais válidos recursos para expressar idéias e sentimentos em determinados<br />

momentos da vida humana. Outro aspecto importante estaria na oportunidade de experiência<br />

vicária que a arte oferece, projetando vivência, sensações íntimas e enfoques estéticos da<br />

realidade. As expressões comportamentais colocadas pela arte estariam em íntima união com a<br />

fantasia, conhecimento e afetividade do ser humano. Daí a relevância essencial em que o processo<br />

artístico toma sentido de autêntica manifestação. Em um plano mais amplo, a arte apareceria como<br />

um veículo de comunicação social e coletiva, colocando os defeitos e as virtudes da sociedade<br />

através das representações que adota.<br />

Historicamente, as artes maiores eram a arquitetura, a escultura e a pintura. Sendo<br />

a arquitetura uma arte formal, de acordo com Aldrich (1976), há a tentação em considerar um<br />

grande arquiteto como um artista. Naturalmente, ele também necessariamente deve ser um construtor<br />

e um ser humano. Contudo, como artista, o arquiteto fica muitas vezes tentado a usar o seu<br />

conhecimento técnico das tensões e pressões materiais para produzir, primariamente, uma composição<br />

que faça mais justiça à unidade orgânica de um compartimento com outro – e de todo o<br />

prédio com a sua área – do que à “função” de um prédio como um lar, ou seja, um lugar de se viver.<br />

A arte da escultura está ligada à arquitetura pela própria força dos materiais. Esses são quase os<br />

mesmos para ambas as artes – madeira, pedra, metal e gesso – e isso constitui uma aliança íntima,<br />

com as tentações a servir naturalmente tais afinidades.<br />

Devido a essa relação, os prédios naturalmente possuem muito da escultura –<br />

frisos, relevos e estátuas inteiras emergindo das paredes ou colunas, e mesmo servindo de pilares.<br />

Porém, a estatuária, antes de tudo, é mais pitoresca que a arquitetura, é mais representacional e,<br />

assim, dotada de maior capacidade de expressão, no sentido restrito que acima se especificou.<br />

Uma estátua é para ser vista e sentida como algo, diferentemente de um prédio, por mais artisticamente<br />

composto que este seja. Assim, a escultura surgiu como uma arte separada, ou seja, uma<br />

Bela-Arte que se preocupa basicamente com a manipulação dos materiais plásticos, com vistas à<br />

animação do meio por um conteúdo. A estátua não é, simplesmente, um pedaço de pedra, bronze<br />

ou madeira com formato de um homem ou de um cavalo; é um homem ou cavalo “em” pedra,<br />

madeira ou bronze, com o conteúdo dando-lhe alma como objeto estético. Portanto, o amor do<br />

escultor pelos seus materiais não deve ser exagerado. Como artista, ele é um compositor no espaço<br />

estético, onde o que conta são, primordialmente, o meio formulado e a expressão. A maior parte<br />

das estátuas, obviamente, exibe essa relação complexa como primária.<br />

Ainda segundo Aldrich (1976), um homem talhado em pedra é significativamente<br />

diferente de um homem pintado em um quadro. O homem na pedra parece menos problemático,<br />

porque a pedra, mesmo apenas como material, tem um vulto, em virtude de que ela pode acomodar<br />

– ou corporificar – uma imagem, proporcionando uma coincidência mais fácil do formato de tal<br />

material com a forma da imagem petrificada. Um quadro, porém, como pigmento sobre tela ou<br />

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como impressão fotográfica, parece ser curiosamente distendido e inflado pelo conteúdo ou imagem,<br />

pelo menos para alguns epistemologistas da arte. As pinturas, embora estáticas como estátuas,<br />

estão mais próximas da música e da poesia. Referem-se mais ao modo pelo qual o espaço<br />

estético da composição é determinado e à forma do conteúdo imagístico. Em uma estátua, o formato<br />

do material importa mais, enquanto que em uma pintura este tem importância somente como<br />

contorno – o formato das manchas esboçadas ou pigmentadas.<br />

3.CONCEITUAÇÃO DE CENTRO CULTURAL<br />

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Atualmente, vive-se em uma época em que a questão de preservação da memória<br />

e da cultura é bastante debatida e valorizada, tratando-se de um fenômeno tanto nacional como<br />

internacional, pois reflete todo o processo de globalização. Os espaços dedicados à preservação<br />

da história e também das manifestações culturais e artísticas vêm ganhando terreno a olhos<br />

vistos, constituindo-se inclusive em destaques de políticas de Estado. À medida que os povoados<br />

crescem e as cidades aumentam de tamanho, o poder público sente empiricamente a necessidade<br />

de construir centros especializados para a prática de lazer, cultura e arte. A pressão da<br />

existência de atividades culturais e esportivas diluídas nos centros urbanos vem aos poucos<br />

sensibilizar os políticos da atualidade para a necessidade de criação de espaços nobres para a<br />

sua prática e assistência.<br />

Conforme Camargo (1986), o estádio de futebol vem, quase sempre, em primeiro<br />

lugar. Em seguida, aparecem os centros para a vida intelectual e artística, sob a forma de<br />

teatros, auditórios e conchas acústicas. Em cidades médias, as prefeituras já optam por centros<br />

de prática e assistência polivalente, centros culturais propriamente ditos ou também centros de<br />

convivência, estes dotados tanto de espaços cênicos como de ateliês de criatividade manual e<br />

artística, bares, restaurantes e, nos casos mais esclarecidos, espaços para o lazer esportivo,<br />

evitando-se a tradicional oposição entre cultura física e artística.As metrópoles maiores são<br />

ainda pressionadas para que, além desses equipamentos estarem todos distribuídos pelos bairros<br />

e pelo centro da cidade, sejam construídos locais especializados e mais requintados, tanto para<br />

grandes espetáculos esportivos e musicais, como teatros para grandes companhias operísticas e<br />

de teatro, ou salas para o desfrute adequado e total de músicas de composição e execução mais<br />

refinadas, normalmente eruditas.<br />

Na realidade, em uma análise mesmo que superficial, percebe-se que esses equipamentos<br />

de lazer e cultura que pontificam a cidade contemporânea atendem a uma minoria de<br />

todas as classes sociais. É realmente ultrajante que alguns desses espaços, sobretudo os teatros<br />

de ópera, ainda sejam reservados ao ritual social das parcelas mais privilegiadas da população,<br />

não por possuírem um gosto artístico mais refinado, mas como uma forma de lazer ostentatório<br />

de suas riquezas e afirmação de seu poder político sobre as demais classes que constituem a<br />

dinâmica social.<br />

De qualquer forma, é importante lembrar que todo equipamento de lazer e cultura,<br />

bem planejado, prevê investimentos não apenas de construção como de manutenção e animação.<br />

Não importa quanto se tenha investido esteticamente na construção, as municipalidades têm de se<br />

conscientizar de que não adianta apenas abrir as portas de seus monumentos para que a população<br />

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os freqüente. Ao cabo e ao fim, esses espaços são criações artificiais de uma política cultural, que<br />

precisa ser traduzida concretamente em uma programação que atenda às necessidades da população<br />

e, assim, seja por ela sentida. A esta modalidade de ação educativa se dá o nome de animação<br />

cultural. Partindo dessa premissa, conforme Silva (1995), muitas instituições têm sido criadas com<br />

a denominação de centros culturais ou outras semelhantes, tais como: casas de cultura, centros<br />

de cultura, espaços culturais, etc. Em sua essência, o termo “centro cultural” é bastante recente e<br />

não está completamente definido. Talvez a dificuldade de defini-lo seja justamente devido à falta de<br />

estudos, pesquisa e reflexão sobre o tema e sua importância no quadro contemporâneo.<br />

Sem dúvida, a França foi o país que mais se destacou na discussão de centros<br />

culturais, naturalmente como conseqüência da criação do Beaubourg, cuja repercussão internacional<br />

transformou-o em um grande marco e modelo de centro cultural, inclusive em nosso país.<br />

Alguns estudiosos acreditam ser o centro cultural um prolongamento das instituições tradicionais<br />

no que se refere às dimensões de suas atividades. Neste caso, teria como origem o arquivo, a<br />

biblioteca e o museu. Milanesi (1991), exemplificando, acredita que o berço dos centros culturais<br />

no Brasil tenham sido as bibliotecas públicas, sublinhando a influência que aqui teve o exemplo<br />

parisiense. Pode-se inclusive confirmar este fato através da Biblioteca Estadual Celso Kelly,<br />

situada no Rio de Janeiro RJ, embora não se encontre, na literatura, menção a isto. Outros acreditam<br />

que os centros de cultura teriam surgido através de um conjunto de múltiplas ações, retomando<br />

os antigos complexos culturais e reunindo, em um único local, diversas atividades que são tradicionalmente<br />

realizadas em locais próprios. Tratar-se-ia de uma volta ao passado, onde não haveria<br />

fronteiras nem barreiras entre o público e o privado; entre a ciência e a magia. Assim, os centros<br />

culturais não se proporiam a serem especializados, necessariamente, mas sim a se tornarem um<br />

lugar diferente dos tradicionais, onde as atividades não permaneceriam de exclusividade desta ou<br />

daquela área do conhecimento; em suma, um lugar alternativo para a produção e difusão da cultura<br />

e arte.<br />

Essa gama de possibilidades permite que um centro de cultura possa ter características<br />

completamente diferentes, as quais são justamente aqui estudadas. Percebe-se de antemão<br />

que um centro cultural, por sua própria natureza, sempre refletirá a cultura de sua sociedade<br />

ou grupo social, devendo realizar suas atividades em harmonia com essa comunidade a que pertence.<br />

Ele pode surgir como um serviço ou um espetáculo, fruto de uma ação das possíveis relações<br />

entre a cultura e a arte, a educação e o lazer. Por se tratar de um programa arquitetônico relativamente<br />

recente, a tarefa de traçar a sua origem ou identificar as primeiras instituições que foram<br />

criadas com esta denominação torna-se bastante difícil. A literatura, de modo geral, nos conduz a<br />

vislumbrar uma relação entre centros culturais, museus e bibliotecas, principalmente públicas.<br />

Em termos metodológicos, na ausência do conceito, deve-se buscar alguns caminhos<br />

para alcançá-lo. Parafraseando Dahlberg (1978), cada enunciado sobre determinado objeto<br />

corresponderia uma unidade do conhecimento a respeito deste mesmo objeto. Estas<br />

unidades seriam os elementos ou características de seu conceito. Assim, pode-se dizer que um<br />

conjunto de características determinaria um conceito e, no caso específico, tendo em vista que o<br />

termo “centro cultural” não possui um conceito definido ou pré-estabelecido, faz-se necessário<br />

identificar e analisar as suas características para melhor compreendê-lo. Recentemente, segundo<br />

Nunes apud Silva (1995), surgiu a necessidade de transformação das instituições que trabalhavam<br />

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com os bens culturais em centros ativos de cultura, objetivando não somente a guarda de documentos<br />

históricos para gerações futuras, mas, sobretudo, comportando-se também como instrumentos<br />

de comunicação, educação e desenvolvimento.<br />

Logo, tais instituições deixariam de ser meras guardiãs de objetos para se tornarem<br />

centros produtores e difusores de cultura. Sua responsabilidade científica transcenderia à<br />

conservação física e material dos documentos, passando a atuar de forma a fazer e administrar<br />

cultura. Em um segundo nível, sua proposta estaria centrada nas relações existentes entre sociedade/cultura<br />

e centros culturais, ou seja, através de ações da sociedade, estas expressas pelas manifestações<br />

culturais e a interação com os centros culturais. Esta relação dar-se-ia através de processos<br />

construídos pelo espírito humano (em sentido hegeliano), que se consubstanciariam na memória<br />

e no documento. A vinculação entre a memória e a cultura seria uma condição indispensável<br />

para os estudos de identidade cultural.<br />

A autora ainda destaca que a cultura seria essencial para o desenvolvimento, isso<br />

por si só já traria embutida a justificativa social e/ou de utilidade de um centro cultural. Para Nunes<br />

apud Silva (1995), faz-se necessário pensar em cultura como uma questão fundamental da sociedade<br />

para, a partir daí, procurar transformar esses centros em locais dinâmicos. Conforme Coelho<br />

Neto (1986) e Milanesi (1991), a amplitude de ação de um complexo cultural seria a cidade. Logo,<br />

deve-se associar o centro à cidade, em uma relação onde a própria cidade pode ser vista como um<br />

centro de cultura, o que a tornaria viva, em mutação, integrando passado e presente, no sentido de<br />

melhorá-lo, e não apenas “viver o passado”. Em outro sentido, o centro cultural é parte integrante<br />

da cidade e vice-versa:<br />

114<br />

[...] a cidade é a realidade e nela se instala um centro cultural. Esse centro não<br />

deve refletir apenas a cultura popular ou erudita, deve ser um espaço dinâmico<br />

e pertencer à cidade, isto é, ser freqüentado pela maior parte dos habitantes<br />

e não fazer distinção entre eles; deve ser o local da cultura viva, que<br />

permita a formação de uma consciência sobre a realidade, que é a cidade e<br />

pode oferecer seus serviços de biblioteca, museu, teatro, cinema, danças,<br />

atividades lúdicas. (NUNES apud SILVA, 1995, p.87)<br />

Nesse trecho, o importante de se ressaltar é o tipo de relação existente entre a<br />

cidade e o centro cultural, não devendo haver discriminação de seus freqüentadores. Deve-se<br />

enfatizar o indivíduo em si, assim como a formação da consciência da realidade em que se vive,<br />

onde a instituição seria apenas um instrumento: o conhecimento pronto e acabado não tem vez em<br />

um local vivo, dinâmico, sempre debatendo e refletindo sobre as questões emergentes dentro do<br />

seu âmbito de atuação. Segundo Várzea apud Silva (1995), os centros culturais devem ainda saber<br />

organizar informações, através das quais se faz o contato com o público, de forma a provocar o<br />

debate, isto é:<br />

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Os centros culturais vêm corresponder à perda histórica que nós sentimos<br />

cada vez mais presente do espaço público e político, onde os homens se<br />

encontravam e onde a presença de outros que vêem o que vemos e ouvem o<br />

que ouvimos, garante-nos a realidade do mundo e de nós mesmos (VÁRZEA<br />

apud SILVA, 1995, p.133).<br />

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Torna-se aqui fundamental enfatizar este aspecto: o centro cultural como lugar<br />

público e político, que serve de ponto de encontro, onde as pessoas podem ir para trocar idéias,<br />

debater sobre temas atuais, emergentes e polêmicos. Um espaço onde a liberdade de expressão se<br />

faça presente, sem ser tendencioso. Aqui se pode abrir um parêntese e relembrar a semelhança<br />

com o espaço e propósito da ágora, na Grécia antiga.<br />

De acordo com Passos apud Silva (1995), um centro cultural pode ser caracterizado,<br />

segundo o museológo holandês Peter Van Mensch, como um organismo de informação.<br />

Atualmente, a escola e a biblioteca já não atenderiam os desejos e o imaginário social da população,<br />

o que se justificaria pela inadequação da informação que veiculam. O centro cultural, por<br />

outro lado, buscando essa adequação, poderia desenvolver esta demanda, estabelecendo relações<br />

entre o homem e a sua realidade. Desta forma, o centro passaria a ser um local onde as pessoas<br />

encontrariam as informações úteis no dia-a-dia. Entretanto, sem esquecer a sua função para com<br />

o acervo, já que um centro cultural:<br />

Visa reunir bens culturais e colocá-los à disposição do público. Neste ponto,<br />

fica assegurada a idéia de preservação. Entretanto, ele quer mais, quer ser<br />

um espaço de criação de novos bens. Isto garante a sua funcionalidade. Ao<br />

reunir os bens culturais pode se promover também a sua reinterpretação. O<br />

conhecimento adquire um caráter dinâmico. Não se trata somente da memória,<br />

mas da consciência dela, tornando-a viva. Tudo passa a ser informação<br />

(PASSOS apud SILVA, 1995, p.121).<br />

Segundo Ocampo apud Silva (1995), cujas idéias também se baseiam em Milanesi<br />

(1991), um centro cultural deveria conter uma idéia de dinamismo que o diferenciaria das demais<br />

instituições. Trata-se de um centro irradiador de informações e idéias, que abrangeria e possibilitaria<br />

manifestações culturais de diferentes naturezas; trabalharia com todo o tipo de suporte físico da<br />

informação, atendendo a vários públicos. Como irradiador, não se encontraria fechado para a<br />

comunidade, mas sim abriria um leque de opções para atender diferentes demandas, sem que<br />

sejam estabelecidas barreiras. Sua característica principal seria, mais uma vez, o dinamismo: fator<br />

de diferenciação do centro cultural das demais instituições de cultura.<br />

Esse dinamismo permitiria uma ampla e infinita atuação do centro cultural, sem<br />

barreiras a serem estabelecidas, e sempre aberto às manifestações culturais da comunidade. Ao se<br />

enfatizar o dinamismo como elemento diferenciador, deve-se ressaltar que ele carrega também um<br />

valor de instabilidade, levando a duas vertentes: ao mesmo tempo em que o centro cultural continuaria,<br />

como as outras instituições, preservando a memória e a história da sociedade, ele não seria<br />

estático, pois forneceria condições para novas criações e meios de registrá-las. Por fim, arrisca-se<br />

uma definição:<br />

O centro cultural é uma instituição contemporânea que tenta responder ao<br />

ritmo social, constituindo-se da diversidade das manifestações culturais existentes,<br />

sendo sempre renovada, incentivando produções culturais, proporcionando<br />

espaços e recursos, continuando com o objetivo primordial das<br />

outras instituições, que é o de recuperar a informação, dispô-la e preservá-la,<br />

a fim de manter uma unidade social. Contudo, há a preocupação dessa ação,<br />

dentro dos centros culturais, de não se resumir a pura passagem da informação.<br />

Ele quer mexer no usuário, tocá-lo, fazer com que ele sinta a informação,<br />

e se incomode com ela, eliminando uma atitude passiva de assimilação<br />

(OCAMPO apud SILVA, 1995. p. 214).<br />

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4. ESPAÇOS ARQUITETÔNICOS DE CULTURA E ARTE<br />

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A esta altura, torna-se interessante abordar alguns dos programas que constituem<br />

os atuais centros culturais, sem procurar conceituá-los de forma profunda, mas ao menos defini-los<br />

como espaços arquitetônicos específicos que compõem a dinâmica da produção de difusão da<br />

cultura e arte: o teatro, a biblioteca e o museu. Quanto ao teatro como arte, segundo a Enciclopédia<br />

Abril (1975), ele não existe tradicionalmente se não houver, no mínimo, três elementos – o ator, o<br />

texto e o público. Em termos etimológicos, a palavra surgiu do grego theatron, que significava<br />

“platéia; lugar de onde se vê”. Sua forma espacial era em trapézio, na época de Ésquilo (525-456<br />

a.C), o que pode ser exemplificado através do Teatro de Siracusa, do século V a.C., passando a<br />

semicírculo, comum no século IV a.C, como o Teatro de Epidauro, posterior à época áurea da<br />

tragédia.<br />

Em Atenas antiga, as representações teatrais ocorriam inicialmente na praça do<br />

velho mercado, a ágora. A cada ano, montavam-se – em torno de uma plataforma denominada<br />

orkêstra, onde ficavam os atores e o coro – cadafalsos de madeira que suportavam arquibancadas<br />

para o público. Inicialmente, o lugar dos espectadores chamado propriamente de theatron cercava<br />

toda a orquestra, mas, com o tempo, converteu-se em uma espécie de leque aberto em direção à<br />

encosta. A skene ou cena era primitivamente uma simples barraca de madeira e pano, na qual o<br />

ator mudava de roupa segundo os papéis. Com o tempo, o caráter religioso das festividades cênicas<br />

gregas foi substituído pelas representações laicas dos antigos romanos, cujos temas passaram<br />

a ser familiares e amorosos, através dos gêneros da comédia e da tragédia.<br />

A partir dos séculos III e II a.C., a marcada diferença de classes sociais inspirou<br />

os projetos dos espaços cênicos antigos, que repartiam os espectadores em diversos lugares com<br />

acomodações melhores ou piores, em um espírito que iria persistir durante séculos. Na verdade, o<br />

edifício teatral típico dos romanos era uma adaptação dos últimos teatros gregos. A principal diferença<br />

foi que já não se construía o teatro em uma colina, mas em um lugar plano. As dimensões do<br />

proskenion aumentaram e, como não havia mais o coro para atuar na orquestra, esta passou a ser<br />

ocupada pelas poltronas dos senadores. O palco e a platéia ligavam-se por uma passagem coberta,<br />

chamada vomitoria. Os romanos foram os criadores da cortina, usada ao fim de cada ato e antes<br />

da apresentação. Um teto cobria o palco e a platéia, servindo como proteção contra sol e chuva.<br />

Segundo Graeff (1986), durante a Idade Média, não se construíram teatros e representavam-se<br />

apenas certas passagens bíblicas, geralmente dentro das igrejas ou nas ruas das<br />

cidades. Por volta do século IX, quando o drama contaminou-se de elementos profanos, as peças<br />

passaram a ser encenadas no adro de igrejas, sendo emoldurada pelos seus pórticos de entrada.<br />

Contudo, foi no Renascimento que o teatro recuperou seu antigo brilho, passando a ser considerado<br />

uma arte erudita e ganhando um edifício especial, dotado de divisões hierárquicas. No palco, um<br />

cenário fixo – representando ruas e palácios – era construído em perspectiva, normalmente com<br />

um único ponto de fuga e apresentado como um amplo quadro estático. Recriavam-se assim paisagens<br />

naturais, campestres ou urbanas, acompanhando o tipo de encenação. Foi a partir do século<br />

XVI que surgiram as perspectivas sucessivas com o objetivo de alargar ilusoriamente o espaço<br />

onde se desenrolava a ação cênica.<br />

Conforme a Coleção História em Revista (1993), uma das mais perfeitas sintonias<br />

entre dramaturgia e local de montagem ocorreria com o aparecimento do chamado teatro<br />

elisabetano, cujo exemplo mais importante foi o Globe Theater de Londres, que tinha a forma<br />

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exterior hexagonal com uma abertura no centro, a céu aberto. As demais construções da época<br />

eram circulares, possuindo também um espaço central sem teto. Junto às paredes, superpunhamse<br />

os balcões ocupados pela nobreza, enquanto o público permanecia em pé, na área descoberta.<br />

No meio dessa arena, colocava-se um estrado, sem proteção superior, e o fundo era coberto por<br />

um telhado sustentado por duas colunas no centro do palco, cuja parte superior era constituída pelo<br />

balcão, usado em algumas cenas e algumas vezes ocupado por espectadores privilegiados. Os<br />

intérpretes misturavam-se praticamente aos espectadores.<br />

Foi com o surgimento da chamada cena italiana, no século XVII em diante, que<br />

se observou a separação definitiva dos dois espaços fundamentais do teatro: o palco e a platéia. O<br />

primeiro fechou-se e distanciou-se do público, ocupando o lugar de um grande quadro, dentro de<br />

cuja moldura as personagens se moviam. Os espectadores dispunham-se em cadeiras diante dele,<br />

afastados por uma rampa que delimitava as áreas. O palco comunicava-se internamente por espaços<br />

laterais, através dos quais os cenários eram trocados, ao fim dos quadros e dos atos. Importante<br />

papel teve Richard Wagner (1813-1883), que aumentou ainda mais a distância entre palco e<br />

platéia, acentuando o caráter ilusionista do espetáculo, propondo o chamado abismo místico. De<br />

acordo com Mantovani (1989), o início do século XIX inaugurou a busca da realidade histórica nos<br />

cenários, tornando a pesquisa obrigatória ao se encenar um texto dramático e a cenografia deixou<br />

de ser um mero elemento decorativo.<br />

A princípio, a difusão dos teatros de arena foi uma tentativa de minimizar os custos<br />

das montagens cênicas. No século XIX, o luxo dos antigos edifícios tornava as encenações proibitivas<br />

e eles não favoreciam a intimidade entre ator e espectador. Assim, o teatro de arena ressurgiu com<br />

a vantagem de se adaptar a qualquer sala onde cadeiras ou arquibancadas pudessem ser dispostas<br />

em torno de um círculo, quadrado ou retângulo para representação. Em 1919, Max Reinhardt<br />

(1873-1943) aboliu o palco fechado e instalou um grande proscênio que se lançava em direção à<br />

platéia. Tal idéia do palco avançado provou ser eficaz e inspirou projetos de vários edifícios teatrais,<br />

os quais passaram a ser conhecidos como teatros de palco aberto. O teatro moderno abriuse<br />

enfim para novas possibilidades de arranjo espacial e cenografia, opondo-se à rigidez das regras<br />

clássicas.<br />

Concluindo, pode-se dizer que atualmente convivem vários tipos de espaços cênicos,<br />

entre os quais: o teatro italiano, cuja platéia tem formas diversas (retangular, em leque,<br />

ferradura, etc.) e é disposta frontalmente ao palco geralmente retangular, obrigatoriamente dotado<br />

de boca de cena (abertura na “parede” que divide palco e platéia por onde o espectador vê o<br />

espetáculo); o teatro de arena, cuja platéia tem formato diversificado (circular, quadrado, etc.) e é<br />

disposta em toda a volta do palco, que também pode ter várias formas; o teatro múltiplo ou<br />

experimental, caracterizado por um espaço único, sem determinação fixa de locais e formas para<br />

a platéia e o palco, estando dotado de equipamentos móveis para localização do público (arquibancada,<br />

cadeiras, etc.) e da cena (praticáveis, módulos, etc.), que permitem a montagem de diversas<br />

disposições de palco e platéia; e o teatro ao ar livre, formado basicamente por espaços com<br />

qualquer disposição de platéia e palco, sem contar com cobertura.<br />

Quanto ao museu, conforme a Enciclopédia Abril (1975), este pode ser conceituado<br />

como um estabelecimento, no qual se encontram coleções de objetos de uma ou várias categorias<br />

que podem ser apreciados, examinados e estudados. A principal função de um museu seria a<br />

de reconstrução histórica, mostrando como se desenvolveram as artes, as técnicas, a cultura e a<br />

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civilização. Desde a Antigüidade, o homem vem guardando obras de arte e objetos preciosos,<br />

geralmente em templos ou lugares sagrados. Isto foi muito comum, por exemplo, no Egito e Grécia<br />

antigos. Entretanto, não havia nessa acumulação nenhum interesse histórico ou estético, havendo<br />

apenas uma preocupação em separar as imagens sagradas do mundo profano.<br />

O Museu da Alexandria, que Ptolomeu Soter (360-283 a.C) fundou na cidade<br />

egípcia do mesmo nome, sob a inspiração da política helenizante de Alexandre, o Grande (356-323<br />

a.C.), talvez tenha sido o mais antigo edifício desse gênero, embora se constituísse mais em uma<br />

biblioteca ou centro de altos estudos dedicados à cultura helenística. De acordo com Graeff (1986),<br />

os romanos, após suas grandes conquistas, costumavam organizar mostras dos troféus saqueados<br />

de outros lugares e a Igreja medieval procurava preservar as relíquias eclesiásticas, sem no entanto<br />

estar preocupada em facilitar o estudo das atividades e das culturas humanas. Foi a partir da<br />

Renascença que reis, príncipes, ricos senhores e simples estudiosos começaram a colecionar objetos<br />

de arte, amostras de espécies minerais, vegetais e animais, além de moedas e documentos. Isto<br />

pode ser considerado o germe da museologia.<br />

Hoje em dia, a principal preocupação é a de desvincular a idéia de museu de seus<br />

padrões iniciais. Não mais se amontoam obras de arte para serem admiradas à distância. O maior<br />

intuito de um museu atual seria o de colocar o público em contato com a arte de maneira bem<br />

espontânea, levando-se em consideração os problemas relacionados à iluminação, ventilação,<br />

ambientação, etc., assim como a preparação das pessoas para o que vão ver, oferecendo-lhes um<br />

catálogo ou ainda considerações sobre os autores e as obras expostas. Mantendo-se mais ou<br />

menos fechados até princípios do século XIX, eram somente freqüentados por estudiosos, quadro<br />

que se alterou a partir de então.<br />

Anteriormente adaptados em palácios ou mansões com alguma importância histórica,<br />

os museus passaram, em meados do século XVIII, a dispor de edifícios especialmente<br />

construídos, tais como o Museu Del Prado, realizado em 1784, Madrid. Assim, além de alterarem<br />

a técnica expositiva, as galerias passaram, no século seguinte, a variar em tamanho e forma, de<br />

acordo com as obras a serem reunidas e expostas. Desde então, construíram-se também salas<br />

especiais para as exposições relativas a determinados períodos históricos ou artistas. Com o crescimento<br />

da importância cultural e da variedade dos museus, as maiores instituições passaram a se<br />

dividir em departamentos com escritórios, salas de estudo e de trabalho, publicações, etc.. Neles,<br />

especialistas incubem-se da aquisição, conservação e restauração de obras. Em vez de exposições<br />

permanentes de todo o acervo, muitos museus adotaram as rotativas e temporárias, que permitem<br />

ao público uma maior diversificação. Aqueles que possuem mais recursos, podem ainda organizar<br />

retrospectivas de grandes artistas ou exposições de época, reunindo grande número de obras abertas<br />

a um número cada vez maior de visitantes.<br />

Entre os museus mais antigos do mundo estão o British Museum, de Londres, que<br />

se originou das coleções de sir Hans Solan, em 1725; e o Museu da República de Paris, atualmente<br />

denominado Musée du Louvre, de 1793. Segundo Graeff (1986), no século XIX, os museus<br />

tornaram-se instituições públicas, tais como a Art Gallery, criado pelo arquiteto sir John Soane<br />

(1753-1837) em 1811, Dulwich; o Museu de Arte Medieval de Cluny, construído em 1844; ou o<br />

Museu de Arte Industrial de South Kensington, realizado em 1852, hoje denominado Victoria &<br />

Albert Museum. A partir da década de 20 do século passado, no norte da Europa e nos EUA, os<br />

museus converteram-se em centros culturais, definindo-se não apenas como uma galeria, mas<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Agnaldo Adélio Eduardo e Antonio Manuel Nunes Castelnou<br />

também como um local de estudos, dotado de bibliotecas, salas de conferências e exposições<br />

didáticas, cujo objetivo seria a participação integral do público.<br />

Essa tendência foi se alastrando por todo o mundo e hoje, cada vez mais, procurase<br />

transformar os museus em pontos de encontro de artistas e público, como ocorre, por exemplo,<br />

no Museum of Modern Art – MoMA, criado em 1931 a partir do espólio de Lillie P. Bliss, em<br />

Nova York; e no Museu de Arte de São Paulo – MASP, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi<br />

(1914-1992), entre 1959 e 1969. Além de sua função de conservar o acervo, o museu contemporâneo<br />

vem assumindo um novo papel social, integrando-se ao sistema educativo e cultural .<br />

Em relação às bibliotecas, estas se originaram como locais para a guarda de manuscritos<br />

e também para a transcrição dos títulos de livros. De acordo com a Grande Enciclopédia<br />

Larousse Cultural (1998), acredita-se que a primeira biblioteca tenha sido a do faraó Ramsés II<br />

(1314-1312 a.C.), do Egito antigo. Outra biblioteca importante do passado foi a de Nínive, organizada<br />

entre 669 e 627 a.C., por Assurbanipal, na antiga Assíria. Entretanto, a mais célebre foi a de<br />

Alexandria, já citada, formada no século III a.C. e que possuía cerca de 700.000 volumes. Sabe-se<br />

que as bibliotecas gregas já eram públicas, mas foram os romanos que difundiram e popularizaram<br />

seu uso, sendo que sua primeira biblioteca pública data de 39 d.C..<br />

Segundo Graeff (1986), durante a Idade Média, as bibliotecas funcionaram em<br />

mosteiros, conventos e igrejas, havendo ainda bibliotecas particulares, montadas por grandes senhores,<br />

sábios e eruditos, normalmente ligados ao clero. Entretanto, até fins da era medieval, a<br />

biblioteca era apenas um depósito de escritos ou um lugar aberto apenas às pessoas socialmente<br />

privilegiadas. Os livros das bibliotecas medievais podiam ser de cunho religioso ou pagão, pois<br />

ambos interessavam à Igreja, a qual era a detentora de todo o conhecimento da Antigüidade. Os<br />

espaços onde se guardavam os livros até o século XIV não se pareciam nada com o conceito atual<br />

de biblioteca, lugares esses chamados armarium.<br />

Nos monastérios medievais, os livros costumavam ser colocados no coro ou, mais<br />

comumente, em um nicho na parede oeste do claustro, situada ao lado leste do transepto da igreja.<br />

Caso não houvesse mais lugares para abrigar os livros, substituía-se por uma pequena habitação<br />

abobadada. Com o passar do tempo, essas instalações evoluíram, passando a serem, além de locais<br />

de armazenamento e consulta, espaços também de produção de livros. A fundação das universidades<br />

representou um marco na história das bibliotecas, pois esses centros foram responsáveis pela<br />

laicização da cultura ocidental.<br />

Essa laicização ocorreu durante o século XIII, devido à necessidade, cada vez<br />

mais evidente, da propagação da leitura, principalmente graças ao comércio e à administração. As<br />

bibliotecas passaram assim a acompanhar a difusão das universidades e dos colégios, adquirindo<br />

um aspecto um pouco menos restrito. A biblioteca mais importante desse período foi a de Sorbonne,<br />

na Universidade de Paris, criada em 1254, a qual mantinha acorrentados os livros de seu acervo,<br />

costume medieval para salvaguardar as obras. As bibliotecas das Universidades de Cambridge e<br />

de Oxford surgiram em meados do século XV, época em que surgiram as primeiras bibliotecas<br />

especializadas, principalmente na França, como a de Orléans, voltada aos conhecimentos jurídicos.<br />

Somente com o Renascimento, as bibliotecas passaram a adquirir suas características<br />

modernas, inclusive possibilitadas com a invenção de Johannes G. Gutenberg (1394-1468) e,<br />

na época contemporânea, ganharam edifícios especialmente projetados para seu fim.<br />

Exemplificando, tem-se a Biblioteca da Universidade da Virgínia, EUA, criada em 1817; e a<br />

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Bibliothèque Impériale, construída em 1855, Paris. Atualmente, uma das maiores bibliotecas do<br />

mundo é a Bibliothèque Nationale de Paris, a qual alberga mais de 12 milhões de títulos, alguns<br />

datados de seis séculos atrás. Outras bibliotecas européias igualmente importantes são as de Londres<br />

e Viena, além do Museu do Vaticano. No Brasil, as maiores são a Biblioteca Nacional do<br />

Rio de Janeiro, realizada entre 1905 e 1910; e a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, em<br />

São Paulo, a segunda do país, fundada em 1925, mas cujo projeto data somente de 1935. Resta<br />

agora analisar alguns casos correlatos de exemplos de centros culturais, os quais possam vir a<br />

contribuir com as diretrizes de projeto, em termos funcionais, técnicos e estéticos, além de possibilitarem<br />

uma contextualização das diferentes soluções e objetivos dessas instituições voltadas à<br />

cultura e arte.<br />

5. CONCLUSÃO<br />

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Conforme Camargo (1986) quando se fala em interesses artísticos, ressalta-se a<br />

busca do imaginário, do sonho, do belo e do fazer-de-conta. Por atividades artísticas entendem-se<br />

habitualmente a prática e a assistência de todas as formas de cultura erudita conceituadas como<br />

arte, tais como cinema, teatro, literatura, artes plásticas, etc..Essas atividades não fazem parte do<br />

universo cultural da maioria da população, porém, como imaginar que alguma pessoa consiga algum<br />

equilíbrio na vida cotidiana, sem seu espaço de encantamento e de beleza? Paralelamente,<br />

qualquer que seja a acepção de cultura, ela inevitavelmente refletirá uma determinada posição<br />

ideológica.<br />

Desse modo, qualquer que seja a concepção de centro cultural, significará sempre<br />

um recorte da realidade, e não a concepção por inteiro. Quanto maior a clareza deste recorte, mais<br />

fácil seria o trabalho de um centro cultural. Na verdade, todo museu, biblioteca ou arquivo é um<br />

centro cultural. No entanto, nem todo centro cultural é uma biblioteca, um arquivo ou um museu. A<br />

questão aí se colocaria da seguinte forma: que centro cultural se quer? Portanto, um centro cultural<br />

não é apenas um espaço de espetáculo, mas também um espaço de reflexão, de produção de<br />

conhecimento e de preservação de memória, cultura e arte. Para os arquitetos interessados em<br />

projetar centros de cultura e arte, deve-se ter sempre em mente a própria etimologia da expressão.<br />

O termo centro sempre corresponde a alguma coisa que tem existência espacial, pressupondo uma<br />

delimitação que, em termos geométricos, seria a circunferência. O centro seria o ponto, surgindo<br />

daí as noções de eqüidistância, de convergência e de dispersão; ou ainda de irradiação. O centro<br />

também seria o lugar ou a pessoa para coisas estão agregadas, o que promoveria uma relação<br />

dialética entre centro e circunferência ou periferia. Já as palavras “cultura” e “arte” são mais<br />

complicadas, pois nenhum termo é mais polêmico, problemático e polissêmico que estes.<br />

Mesmo assim, é possível concluir que um edifício que se pretenda ser um centro<br />

cultural deva ser um espaço ou território de convergência e disseminação da cultura e da arte.<br />

Trata-se de um espaço historicamente condicionado; um espaço-território onde se processam relações<br />

culturais, as quais são mediatizadas pelos bens culturais. Para Silva (1995), o espaço de<br />

relação é destacado aqui, porque “cultura não é ter; cultura é ser”. A cultura não está na coisa, mas<br />

sim na relação que se mantém com ela. Logo, como a cultura estaria em uma relação, o centro<br />

cultural inevitavelmente seria um espaço de relação com as coisas. Essas coisas, seriam os bens<br />

artísticos e culturais.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Agnaldo Adélio Eduardo e Antonio Manuel Nunes Castelnou<br />

6.REFERÊNCIAS<br />

ALDRICH, V. Filosofia da arte. São Paulo: Zahar, 1976.<br />

BICUDO, J. N. H. Anteprojeto de centro de identidade cultural paulista em Itu SP. 2000.<br />

Trabalho Final de Graduação. Centro de Estudos Superiores de Londrina – Cesulon. Londrina.<br />

BOSI, A. Reflexões sobre a arte. 7a. ed. São Paulo: Ática, 2001.<br />

CAMARGO, L. O. de L. O que é lazer. São Paulo: Brasiliense, 1986.<br />

COELHO NETO, J. T. Usos da cultura: política de ação cultural. Rio de Janeiro: Paz e Terra,<br />

1986.<br />

COLEÇÃO HISTÓRIA EM REVISTA. Rio de Janeiro: Abril,1995.<br />

DAHLBERG, I. Fundamentos teórico-conceituais de classificação. In: Revista Bibliotecon. Brasília,<br />

6 (1) jan./jun. 1978. p. 9-21<br />

ENCICLOPÉDIA ABRIL. São Paulo: Abril, 1975<br />

GRAEFF, E. Edifício. 3a. ed. São Paulo: Projeto, Cadernos Brasileiros da Arquitetura, n. 7, 1986.<br />

GRANDE ENCICLOPÉDIA LAROUSSE CULTURAL. São Paulo: Nova Cultural, 1998.<br />

MANTOVANI, A. Cenografia. São Paulo: Ática, Série Princípios, 1989.<br />

MILANESI, L. A casa da invenção. São Paulo: Siciliano, 1991.<br />

121<br />

MOSQUERA, J. J. M. Psicologia da arte. São Paulo: Sulina, 1973.<br />

SANTOS, J. L. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.<br />

SILVA, M. C. S. de M.. Centro cultural: construção e reconstrução de conceitos. 1995 .Universidade<br />

do Rio de Janeiro – UNI-RIO. Rio de Janeiro.<br />

SIQUEIRA, A. de L. Proposta de bar cultural em Maringá PR. 2001.TCC. (Trabalho Final de<br />

Graduação) - Centro Universitário Filadélfia de Londrina – <strong>UniFil</strong>. Lo<br />

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Estudo de Ferramentas de Modelagem em Relação à UML 2.0<br />

ESTUDO DE FERRAMENTAS DE MODELAGEM EM RELAÇÃO À UML 2.0<br />

STUDY OF TOOLS FOR THE MODELING IN RELATION TO THE UML 2.0<br />

Sergio A. Tanaka*<br />

Thiago A. Herek**<br />

Simone S. Tanaka***<br />

Ruy T. Nishimura****<br />

RESUMO:<br />

A necessidade de se ter uma linguagem unificada para comunicação e sincronização dos envolvidos<br />

em um projeto de desenvolvimento de software, estimulou a criação de uma linguagem padrão<br />

de modelagem para software orientado a objeto. A UML é considerada o auge de todos os esforços<br />

para padronizar as ferramentas utilizadas para expressar os conceitos do software. Atualmente<br />

é utilizada em todo mundo, em conjunto com diversas ferramentas de apoio ao desenvolvimento<br />

de Software. Este artigo utiliza a UML 2.0, para confrontar a capacidade de algumas ferramentas<br />

de modelagem disponíveis no mercado na aplicação desta linguagem.<br />

PALAVRAS-CHAVE: UML, Ferramentas de CASEs<br />

122<br />

ABSTRACT:<br />

The need for a unified language for communication and synchronization of those involved in a<br />

project of software development stimulated the creation of a standard language of modeling for<br />

software guided by an object. The UML is considered the summit of all efforts to standard the<br />

used tools to express the software concepts. Now on days it is used all around the world, together<br />

with a whole of support tools to the development of software. This article uses the UML 2.0 to face<br />

the capacity of some tools of modeling available in the market in the application of this language.<br />

KEY-WORDS: UML, Tools of CASEs<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

A grande importância e complexidade do software necessitam, que se tenha métodos<br />

de engenharia sólidos o suficiente para garantir a qualidade do produto final. O mesmo modo,<br />

também é preciso manter a equipe e todos os envolvidos atualizados com os requisitos de software<br />

e a análise do sistema.<br />

Este artigo aborda a utilização da UML 2.0, quatro ferramentas de Modelagem<br />

foram analisadas, a IBM Rational Software Modeler 7.0, Sparx Enterprise Architect 6.5.802, o<br />

Borland Together for Eclipse 2006 R2 e o Poseidon for UML CE 4.2.1, comparando as características<br />

de cada ferramenta em relação a UML.<br />

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*Coordenador do curso de Pós-Graduação - Engenharia de Software com UML da <strong>UniFil</strong>, e-mail:sergio.tanaka@unifil.br<br />

** Discente do curso de Especialização Engenharia de Software e UML em 2006, e-mail: thiagoh@yahoo.com<br />

*** Docente do curso de Sistemas de Informação da <strong>UniFil</strong>, e-mail: simone.tanaka@unifil.br<br />

**** Docente do curso de Engenharia de Software do curso de Pós Graduação da <strong>UniFil</strong><br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Sergio A. Tanaka, Thiago A. Herek, Simone S. Tanaka e Ruy T. Nishimura<br />

No capítulo 2 são apresentados a linguagem UML e seus diagramas, no capítulo 3<br />

são apresentados os conceitos de ferramentas de modelagem e as ferramentas utilizadas no trabalho.<br />

O capítulo 4 apresenta o estudo comparativo entre as ferramentas e finalmente no capítulo 5<br />

as conclusões e trabalhos futuros.<br />

2. UML<br />

A linguagem UML é mundialmente conhecida e utilizada largamente para a<br />

visualização, especificação, construção e documentação de projetos de software.<br />

A UML surgiu da unificação de outras linguagens gráficas de modelagem utilizadas<br />

na década de 80 e inicio da década de 90. Seu primeiro esboço, a versão 0.8, surgiu no final de 1994,<br />

e em 1997 na versão 1.1 passou a ser controlada pela OMG, um consórcio aberto de empresas.<br />

De acordo com Pender (2004), a versão 2.0 é uma melhoria substancial da arquitetura<br />

básica, acertando muitas das definições fundamentais e melhorando o alinhamento com<br />

outras tecnologias importantes, patrocinadas pelo OMG.<br />

A UML 2.0 descreve 13 diagramas que são divididos em três tipos: Diagramas de<br />

Estrutura, Diagramas de Comportamento e Diagramas de interação:<br />

• diagramas da Estrutura: Diagrama da Classe, Diagrama do Objeto, Diagrama<br />

Componente, Diagrama de Estrutura Composta, Diagrama do Pacote e<br />

Diagrama de Distribuição.<br />

• diagramas do Comportamento: Diagrama do Caso do Uso, Diagrama da<br />

Atividade e Diagrama da Máquina do Estado.<br />

• diagramas da Interação: Diagrama de Seqüência, Diagrama de Comunicação,<br />

Diagrama de Sincronismo e Diagrama Visão Geral da Interação.<br />

123<br />

A UML recebeu novos diagramas após a versão 1, outros receberam algumas<br />

mudanças, na Tabela 1 estão os diagramas da UML 2.0 e seus objetivos.<br />

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Estudo de Ferramentas de Modelagem em Relação à UML 2.0<br />

Tabela 1 – Diagramas Oficiais da UML (FOWLER 2004, p. 33).<br />

124<br />

3. FERRAMENTAS DE MODELAGEM<br />

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Pressman (1995) define ferramentas de engenharia de software como ferramentas<br />

que proporcionam apoio automatizado ou semi-automatizado aos métodos de planejamento e<br />

estimativa de projeto, análise de requisitos de software e de sistemas, projeto da estrutura de<br />

dados, arquitetura do programa e algoritmo de processamento, codificação, teste e manutenção.<br />

Quando as ferramentas são integradas de forma que a informação criada por uma ferramenta<br />

possa ser usada por outra, é estabelecido um sistema de suporte ao desenvolvimento de software,<br />

chamado engenharia de software auxiliada por computador (CASE – Computer-Aided Software<br />

Engineering).<br />

De acordo com Pender (2004), essas ferramentas eram consideradas como a<br />

“bola de prata” da época, pois prometiam geração de código completa a partir de modelos, de<br />

modo que os modeladores de negócios poderiam projetar o workflow dos negócios e apertar um<br />

botão para gerar as aplicações de suporte.<br />

Sabe-se que tal promessa não foi cumprida, e segundo Pender (2004), por esse<br />

motivo o termo CASE ficou um tanto manchado, e tem sido evitada a utilização desse termo nas<br />

novas ferramentas de modelagem, porém com o passar dos anos observou-se que tais ferramentas<br />

eram extremamente importantes na ajuda aos usuários para analisar e projetar seus sistemas.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Sergio A. Tanaka, Thiago A. Herek, Simone S. Tanaka e Ruy T. Nishimura<br />

Por esse motivo ferramenta de modelagem tornou-se mais apropriado para descrever<br />

essas ferramentas, já que as mesmas auxiliavam na modelagem, captura e disseminação de<br />

informações do projeto e não geravam o código como inicialmente prometido.<br />

Segundo Pender (2004) a tecnologia avançou tanto que a geração completa de<br />

código de uma ferramenta de modelagem novamente está sendo examinada como uma possibilidade<br />

real. O alinhamento direto do código orientado a objeto com modelos orientados a objeto, a<br />

maturidade contínua da especificação UML e o advento de serviços WEB e linguagens de execução<br />

comercial, tornaram a geração completa de código a partir de modelos de negócios e tecnológicos<br />

um objetivo imaginável.<br />

As ferramentas de modelagem modernas geram algumas partes de código, o que<br />

realmente automatiza a construção de uma parte do sistema, porém por mais especificado e detalhado<br />

que seja a modelagem do sistema, o código gerado ainda é limitado a algumas especificações<br />

básicas dos modelos.<br />

Nas próximas seções são apresentadas algumas informações das ferramentas<br />

utilizadas neste trabalho.<br />

3.1 Rational Software Modeler<br />

A Rational Software Modeler (RSM, 2006), é uma ferramenta de modelagem da<br />

fabricante Rational (IBM), atualmente (Dezembro – 2006) está na versão 7.0.<br />

De acordo com as especificações da IBM, a versão 7.0 do RSM, que foi objeto<br />

de estudo deste artigo, possui suporte para modelagem na UML 2.1 na análise e projeto usando<br />

Casos de Uso, Classe, Seqüência, Atividade, Diagramas de Estruturas Compostos, Máquina de<br />

Estado, Comunicação, Componente e Distribuição e suporte a transformação MDA.<br />

125<br />

3.2 Sparx Enterprise Architect<br />

O Enterprise Architect - EA (SPARX, 2006) é uma ferramenta de modelagem da<br />

fabricante australiana Sparx Systems e atualmente (Dezembro – 2006) está na versão 6.5.<br />

De acordo com as especificações da Sparx Systems, a versão 6.5, que foi utilizada<br />

neste artigo, possui suporte aos diagramas da UML 2.1 e suporte à transformação MDA.<br />

3.3 Borland Together<br />

Together (BORLAND, 2006) é uma ferramenta de modelagem da fabricante<br />

Borland e atualmente (Dezembro – 2006) está na versão 2006 R2, neste artigo foi utilizado a<br />

versão “Together 2006 Release 2 for Eclipse”, a Borland é muito conhecida na área de desenvolvimento<br />

devido a ferramenta IDE Delphi.<br />

De acordo com a fabricante, Together é uma plataforma de modelagem visual<br />

baseada em papéis que amparam arquitetos, desenvolvedores, designers de UML, analistas de<br />

processos de negócios e modeladores de dados na criação acelerada de aplicações de software de<br />

alta-qualidade.<br />

3.4 Gentleware Poseidon for UML<br />

O Poseidon (GENTLEWARE, 2006) é uma ferramenta de modelagem da fabricante<br />

Gentleware, empresa fundada em 2000 em Hamburgo na Alemanha. A empresa possui 5<br />

versões para a ferramenta de modelagem, entre elas uma voltada para usuários não comerciais<br />

chamada de Community Edition (CE).<br />

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Estudo de Ferramentas de Modelagem em Relação à UML 2.0<br />

De acordo com o fabricante, a versão CE, é perfeita para estudantes, iniciantes e<br />

usuários não comerciais, suporta a UML 2.0 e engenharia reversa com JAVA.<br />

4. ESTUDO COMPARATIVO<br />

Além dos treze diagramas da UML foi avaliada a geração de códigos a partir da<br />

modelagem e a engenharia reversa nas linguagens JAVA, C++ e Visual Basic, com o objetivo de<br />

constatar o suporte a linguagem UML e avaliar os recursos largamente utilizados pela comunidade<br />

de engenharia de software.<br />

A Tabela 2 apresenta as principais informações sobre as ferramentas testadas<br />

neste artigo.<br />

Tabela 2 - Resumo das Ferramentas<br />

126<br />

No item “facilidade de uso” foi avaliado o desempenho e o ambiente de trabalho<br />

das ferramentas levando em conta o suporte multilíngüe, ícones intuitivos, organização das janelas,<br />

opções e o conteúdo de ajuda.<br />

Para o suporte a UML 2.0 foram avaliados os 13 diagramas, com os novos recursos<br />

da linguagem. Enquanto que na geração de código foi avaliada a codificação a partir do diagrama<br />

de classe.<br />

Na avaliação do recurso engenharia reversa foram utilizados os próprios códigos<br />

gerados pelas ferramentas para gerar os modelos em UML.<br />

A Tabela 3 demonstra o resultado do estudo entre as ferramentas.<br />

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Sergio A. Tanaka, Thiago A. Herek, Simone S. Tanaka e Ruy T. Nishimura<br />

Tabela 3 - Comparativo Entre Ferramentas<br />

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Estudo de Ferramentas de Modelagem em Relação à UML 2.0<br />

5. CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS<br />

128<br />

As ferramentas de modelagem estão evoluindo rapidamente para atender as novas<br />

versões da UML, é possível constatar que todas as ferramentas estudadas foram capazes de<br />

suportar completamente a UML 2.0 com seus 13 diagramas.<br />

Além da linguagem UML, foram confrontadas as capacidades de transformação<br />

de códigos, recurso que auxilia e economiza muitas linhas de código para os analistas de sistema, a<br />

engenharia reversa e também a capacidade multiplataforma das ferramentas.<br />

Após a comparação entre as ferramentas, pode-se verificar que as diferenças são<br />

pequenas. Mesmo em ferramentas de baixo custo a qualidade nos recursos para a modelagem do<br />

sistema se mantém da mesma maneira, como nas ferramentas mais conceituadas.<br />

A transformação e a engenharia reversa podem ser consideradas satisfatórias, a<br />

maioria das ferramentas atende as linguagens largamente usadas no mundo. No caso da ferramenta<br />

Poseidon alguns destes recursos são limitados pela versão “Community Edition”, sendo que a<br />

fabricante Gentleware possui outras versões mais completas, voltadas para profissionais.<br />

Outro requisito avaliado foi a capacidade multiplataforma, para qual todas as ferramentas<br />

possuem no mínimo versões para duas plataformas distintas. Foram avaliadas as capacidades<br />

para as plataformas Windows e Linux, porém algumas ferramentas suportam outras plataformas<br />

como Solaris, Mac entre outras.<br />

Verificou-se que as ferramentas de modelagem estão evoluindo em conjunto com<br />

as novas versões da UML, possibilitando aos analistas manterem seus projetos atualizados com a<br />

última versão da linguagem padrão de modelagem. Este papel é muito importante, pois os esforços<br />

da OMG e seus colaboradores em relação à criação e a manutenção da UML seriam em vão se<br />

não houvesse ferramentas capazes de atender as necessidades dos analistas na utilização desta<br />

linguagem.<br />

O estudo deste trabalho possibilita a iniciação de confrontos com novas ferramentas<br />

de modelagem que estão no mercado, mas seria atraente avaliar a comparação da transformação<br />

MDA, a geração de códigos em outras linguagens, e a modelagem UML com as próximas<br />

versões que certamente surgirão.<br />

6. REFERÊNCIAS<br />

BOOCH, Grady; FOWLER, Martin; KOBRYN, Cris. UML Essencial. São Paulo: Bookman,<br />

2005.<br />

BORLAND, Together. Borland Together Technologies. Disponível em: . Acesso em 27 de dezembro de 2006.<br />

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GENTLEWARE, Poseidon. About the Community Edition. Disponível em: . Último acesso em 20 de dezembro de 2006.<br />

PENDER, Tom. UML a Bíblia. Rio de Janeiro: Campus, 2004.<br />

PRESSMAN, Roger S. Engenharia de Software. São Paulo: Makron Books, 1995<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Sergio A. Tanaka, Thiago A. Herek, Simone S. Tanaka e Ruy T. Nishimura<br />

RATIONAL. Rational Software Modeler. Disponível em . Acesso<br />

em 27 de dezembro de 2006.<br />

SPARX, Enterprise Architect. UML Design Tools. Disponível em . Acesso em 27 de dezembro de 2006.<br />

UML, Unified Modeling Language. Introduction to OMG UML. Disponível em . Acesso em 22 de dezembro de 2006.<br />

UML, Unified Modeling Language. UML Resource Page. Disponível em .<br />

Acesso em 22 de dezembro de 2006.<br />

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PRÊMIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA


Contribuições da Psicologia do Desenvolvimento na Aquisição da Linguagem e Formação do Pensamento:<br />

A Aprendizagem Escolar da Criança de 05 e 06 Anos na Educação Infantil<br />

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Eliana Aparecida Assis Motta e Ana Cláudia Cerini Trevisan<br />

CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO NA AQUISI-<br />

ÇÃO DA LINGUAGEM E FORMAÇÃO DO PENSAMENTO: A APRENDIZA-<br />

GEM ESCOLAR DA CRIANÇA DE 05 E 06 ANOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL<br />

CONTRIBUTIONS OF PSYCHOLOGY OF DEVELOPMENT IN THE ACQUISITION OF LANGUAGE<br />

AND TRAINING AND THOUGHT FORMATION: THE LEARNING OF SCHOOL CHILDREN FROM 05<br />

AND 06 YEARS IN CHILD REARING<br />

Eliana Aparecida Assis Motta*<br />

Ana Cláudia Cerini Trevisan**<br />

Não acredites nos que sabem tudo. Os que muito sabem,<br />

sabem que têm muito a aprender. A educação é do tamanho<br />

da vida. Não há começo. Não há fim. Só travessia<br />

(Rubens Alves).<br />

RESUMO:<br />

Este artigo discute brevemente a relação entre desenvolvimento cognitivo, aquisição de linguagem<br />

e formação do pensamento dentro do processo de aprendizagem da criança. Tal se faz necessário,<br />

pois o educador precisa conhecer como se dá a inteligência humana e como ocorre cada passo do<br />

processo de desenvolvimento. Parte do pressuposto de que o educador que conhece o processo de<br />

desenvolvimento da criança, como ela pensa, como se desenvolve, como adquire linguagem, como<br />

se forma seu conhecimento, e o que pode ou não influenciar nesse processo, terá facilidade em<br />

respeitar a criança em sua individualidade, e possibilitar que ela tenha um desenvolvimento saudável<br />

e adequado dentro do ambiente familiar, social e consequentemente escolar.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem. Desenvolvimento. Linguagem.<br />

ABSTRACT:<br />

This article briefly discusses the relation between cognitive development, acquisition of language<br />

and thought formation inside the learning process of the infant. That is necessary, therefore the<br />

educator needs to know the process of the human intelligence and how occurs each step of the<br />

development. Starts from the budget that the educator who knows the infant´s process of<br />

development, how it thinks, how it develops, how it acquires the language, how it forms its knowledge<br />

and what is able to influence or not in that process, will have facillity to respect the infant in its<br />

individuality, and enable that it has an adequate and healthy development inside the family and<br />

social environments, and as a consequence, the school.<br />

133<br />

KEY-WORDS: Development. Language. Learning.<br />

O presente artigo refere-se a um estudo, em andamento, que tem como intuito<br />

realizar uma análise sobre o desenvolvimento, formação do pensamento e aquisição da linguagem<br />

no processo de ensino aprendizagem da criança na Educação Infantil.<br />

O desenvolvimento está diretamente relacionado à aprendizagem e à forma de<br />

raciocinar, de aprender e à construção da linguagem se dá por estágios ou fases, que vão se<br />

desenvolvendo através de um processo continuo e progressivo.<br />

* Aluna do 2ª ano do curso de Pedagogia da <strong>UniFil</strong>. E-mail: elianamotta1@hotmail.com.br<br />

** Professora Orientadora. Pedagoga.<br />

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Contribuições da Psicologia do Desenvolvimento na Aquisição da Linguagem e Formação do Pensamento:<br />

A Aprendizagem Escolar da Criança de 05 e 06 Anos na Educação Infantil<br />

O processo do pensamento humano muda lentamente, do nascimento até a maturidade,<br />

de acordo com nossas intenções de dar significado ao mundo e da nossa relação com o<br />

mesmo. A linguagem é um instrumento essencial para o desenvolvimento mental e também um<br />

instrumento de pensamento. Portanto, o desenvolvimento da linguagem e do pensamento deve ser<br />

visto como um processo interdependente.<br />

Deste modo, torna-se imprescindível que educadores conheçam o processo de<br />

desenvolvimento da criança e suas fases para poder respeitá-las, pois, de acordo com essa teoria,<br />

o processo de desenvolvimento da criança pode influenciar o processo de ensino e aprendizagem e<br />

auxiliar na compreensão do nível de raciocínio da criança.<br />

1. AS FASES DE DESENVOLVIMENTO E A APRENDIZAGEM DA CRIANÇA<br />

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Nas últimas décadas vem se discutindo muito sobre o processo de desenvolvimento<br />

e de aprendizagem, as contribuições da psicologia do desenvolvimento, bem como as implicações<br />

mútuas, entre esses processos e o ensino.<br />

Em primeiro lugar, é preciso compreender que estudiosos do desenvolvimento humano<br />

focalizam o estudo científico pro posto como as pessoas mudam e se desenvolvem desde a<br />

concepção até a morte. Buscando ver o que as pessoas precisam para se desenvolver normalmente<br />

e como elas reagem diante das influências internas ou externas e como podem melhorar a<br />

realização de seus potenciais e qualidades.<br />

O estudo do desenvolvimento humano é complexo, pois as mudanças, demasiados<br />

numerosas e muitas vezes aleatórias, ocorrem em vários aspectos diferentes. Contudo, esses estão<br />

entrelaçados, um pode afetar o outro, e acontecem ao longo de toda a vida. A mudança de desenvolvimento<br />

pode ser sistemática, enquanto coerente e organizada, e pode ser adaptativa no sentido<br />

que tem como objetivo lidar com as condições internas e externas da existência humana. (PAPAIA,<br />

OLDS, 2000).<br />

Existem dois tipos de mudança de desenvolvimento, a quantitativa que é uma mudança<br />

em número ou quantidade, como o aumento de peso, altura, ou de vocabulário; e a qualitativa<br />

que é marcada pelo aparecimento de novos fenômenos, sendo uma mudança de tipo, estrutura ou<br />

organização.<br />

No entanto, dentro da Psicologia do desenvolvimento existem várias teorias sobre<br />

o desenvolvimento, que explicam de diferentes maneiras como o ser humano atinge o conhecimento,<br />

adquire linguagem e desenvolve o pensamento.<br />

Destacamos aqui, de acordo com Rego (1995, p. 86-92), três grandes teorias que<br />

abordam essa questão: o INATISMO acredita que a criança nasce com o conhecimento préformado,<br />

e os acontecimentos que ocorrem após o nascimento não são importantes ou essenciais<br />

para seu desenvolvimento, pois, sua personalidade e valores já nascem prontos, sendo assim, não<br />

acontecem grandes transformações ao longo da vida da criança. Carl Rogers é um dos teóricos<br />

que se embasa nesta teoria.<br />

No EMPIRISMO acredita-se que o conhecimento se forma na mente do indivíduo<br />

por meio de experiências sensoriais, o conhecimento é algo estático que pode se esgotar, será<br />

transmitido ao sujeito que é considerado passivo, que nada sabe e tem a mente vazia. O empirismo<br />

é a base do ensino tradicional, pois somente o professor detém o conhecimento e o aluno é um<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Eliana Aparecida Assis Motta e Ana Cláudia Cerini Trevisan<br />

mero ouvinte. Entre os teóricos que se embasam nesta teoria estão J. B. Watson e B. F. Skinner.<br />

Já no INTERACIONISMO (Cognitivo, Sócio-interacinismo), parte da relação entre<br />

sujeito e objeto, e a aprendizagem se dá através da relação entre sujeito e o ambiente social em que<br />

vive. Dentre os teóricos que se embasam nesta teoria estão J. Piaget e Lev. S. Vygotsky.<br />

O desenvolvimento humano é estudado em todos os seus aspectos. O aspecto<br />

físico-motor, refere-se ao crescimento orgânico, à maturação neurofisiológica, à capacidade de<br />

manipulação de objetos e de exercício do corpo. Já o intelectual, refere-se à capacidade de pensamento<br />

e raciocínio. O aspecto afetivo-emocional refere-se ao modo particular do indivíduo integrar<br />

as suas experiências. Por fim, o aspecto social, diz respeito à maneira como o indivíduo reage<br />

diante das situações e acontecimentos e na relação com os outros. (BOCK; FURTADO;<br />

TEIXEIRA, 2005, p. 100)<br />

Além disso, existem alguns fatores que influenciam no desenvolvimento humano<br />

como: a hereditariedade que é a carga genética que estabelece o potencial do indivíduo, que pode<br />

ou não se desenvolver; o crescimento orgânico, que se refere ao aspecto físico; a maturação<br />

neurofisiológica que torna possível determinado padrão de comportamento; e o meio que é o conjunto<br />

de influências e estimulações ambientais. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2005, p. 100)<br />

A linguagem é um dos aspectos do desenvolvimento humano, e, assim como os<br />

outros, não pode ser estudada separadamente, pois pode afetá-los. Para Papalia e Olds (2000, p.<br />

25), a linguagem é essencial para o desenvolvimento mental, sendo um instrumento do pensamento,<br />

que ajuda a classificar objetos, compreender inferências e analogias e pensar sobre as idéias. Além<br />

disso, pode ter um enorme efeito sobre a auto-estima e os relacionamentos sociais.<br />

Segundo Vygotsky citado por Barros (1996, p. 125), a construção da linguagem se<br />

dá por fases, sendo que na primeira fase a criança tem uma fala individual, pós-pensamento, ou<br />

seja, ela fala, mas não consegue fazer a interação com a ação. Na segunda fase a criança já<br />

consegue falar e pensar ao mesmo tempo. Finalmente, na terceira fase, a criança consegue pensar<br />

antes de agir, ou seja, o pensamento vem antes da ação.<br />

Desse modo, a linguagem vai se desenvolvendo através de um processo contínuo<br />

e progressivo.<br />

Para Piaget (1932) o desenvolvimento humano apóia-se principalmente no biológico.<br />

As estruturas cognitivas serão resultado da relação entre criança e o ambiente, apoiada no<br />

aparato biológico. Sendo assim, para o desenvolvimento da inteligência é necessária a maturação<br />

biológica. Todo esse processo nos leva a compreender o homem em todos os seus aspectos, psíquico,<br />

físico, emocional, cognitivo; e a compreender como o ser humano se constrói como sujeito<br />

cognitivo. (COLL; GILLIÉRON, 1887).<br />

Piaget sustenta que a origem do conhecimento está no próprio sujeito, e o pensamento<br />

não é inato, mas é fundamentalmente construído na interação homem e objeto.<br />

(RAPPAPORT, 1981, p. 20),<br />

La Taille (2003) explica que para Piaget (1969) o processo de desenvolvimento<br />

possui dois aspectos importantes: a assimilação e a acomodação.<br />

A assimilação consiste na tentativa da criança em solucionar uma determinada<br />

situação, pois a criança vive em uma constante atividade de interpretação da sua realidade. Na<br />

apropriação do objeto de conhecimento, do meio ambiente, sem alterar suas estruturas a criança<br />

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Contribuições da Psicologia do Desenvolvimento na Aquisição da Linguagem e Formação do Pensamento:<br />

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desenvolve ações destinadas a atribuir significações a partir de experiências já conhecidas por ela,<br />

dando-lhe significado.<br />

Já a acomodação consiste na capacidade de modificação da estrutura mental,<br />

adequando os novos esquemas aos novos dados, buscando dominar, aprender e conhecer um novo<br />

objeto, uma nova situação. Acomodação se dá em decorrência da assimilação.<br />

Os processos de assimilação e de acomodação são complementares e estão presentes<br />

durante toda a vida do indivíduo, mas no decorrer do desenvolvimento um processo pode<br />

sobrepor ao outro.<br />

Segundo Piaget (1978, p. 46), a relação com o objeto, é essencial para o desenvolvimento<br />

cognitivo, pois é necessário que se estabeleça uma relação com o meio e o objeto, para<br />

poder avançar na construção do desenvolvimento. “Com efeito, a vida é uma criação contínua de<br />

formas cada vez mais complexas e o estabelecimento de um equilíbrio progressivo entre estas<br />

formas e o meio”.<br />

A teoria de Piaget do desenvolvimento é uma teoria de etapas, assim pressupõe<br />

que os seres humanos passam por uma série de mudanças ordenadas e previsíveis. E pode ser<br />

influenciado por fatores como: maturação, exercitação, aprendizagem social e equilibração.<br />

Deste modo, Coll e Gillièron (1987) afirmam que Piaget (1969) divide o desenvolvimento<br />

humano em quatro etapas ou fases, sendo cada uma caracterizada por formas diferentes<br />

de organização mental, possibilitando à criança diferentes maneiras de interagir com a realidade<br />

que a rodeia.<br />

As etapas ou fases do desenvolvimento classificam-se em: Período sensório-motor<br />

(0 a 2 anos); Período Pré-preparatório (2 a 7 anos); Período operatório concreto (7 a 11 anos);<br />

Período operatório formal (12 anos em diante).<br />

O período Sensório motor é o estágio inicial e vai do nascimento até os dois anos<br />

de idade. Nesse a atividade intelectual é de natureza sensorial motora. Esse estágio é a base que<br />

garante a seqüência de avanços dos demais estágios. A criança constrói através de esquemas de<br />

ação para assimilação uma pequena idéia do universo, do mundo, construindo uma noção de objeto,<br />

tempo e espaço, pela ação o contato com o meio é direto e imediato.<br />

O período Pré-operatório caracteriza-se pelo aparecimento da função simbólica, a<br />

linguagem é aos poucos inserida no mundo da criança, porém ainda é uma linguagem egocêntrica,<br />

centrada em si mesma. Tudo tem que ter uma explicação, é a fase dos “Por quês”.<br />

No terceiro período, Operatório Concreto, a característica predominante é a possibilidade<br />

da criança fazer com a cabeça o que até então fazia com as mãos, a criança começa a<br />

usar a lógica e o raciocínio na manipulação dos objetos concretos, também neste período a criança<br />

começa estabelecer relações.<br />

A criança desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, objeto, já sendo<br />

capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade.<br />

Por fim, no período Operatório formal a criança amplia sua capacidade de raciocinar,<br />

não se limita mais a representações imediatas nem somente a relações já conhecidas por ela,<br />

mas aqui a criança é capaz de pensar em todas as relações possíveis, buscando soluções a partir de<br />

hipóteses e não apenas pela observação da realidade, ela tem capacidade de criticar e de elaborar<br />

pensamentos mais concretos e raciocínio lógico.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Eliana Aparecida Assis Motta e Ana Cláudia Cerini Trevisan<br />

adaptação:<br />

Para Dolle (1981 p. 49) Piaget define a inteligência como uma das formas de<br />

A inteligência humana é uma das formas de adaptação que assumiu a vida<br />

em sua evolução. [...], com efeito, a vida é uma criação contínua de formas<br />

cada vez mais complexas e um equilíbrio progressivo entre essas formas e o<br />

meio. A inteligência [...] é essencialmente uma organização com a função de<br />

estruturar o universo como o organismo estrutura o meio imediato.<br />

Assim, podemos dizer que a inteligência também é um processo de assimilação e<br />

acomodação ao meio e suas variações. Pois, pela assimilação o indivíduo produz transformações<br />

no mundo objetivo, e já pela acomodação ele produz transformações em si mesmo, no mundo<br />

subjetivo (BECKER, 2001).<br />

Nas palavras de Piaget (1937, p. 311 apud SUBSTRATUM, 1997, p. 99),<br />

[...] a inteligência não começa nem pelo conhecimento do self nem pelo das<br />

coisas como tais, mas, sim, pela sua interação e é orientando-se simultaneamente<br />

em direção aos dois pólos dessa interação que ela organiza o mundo,<br />

organizando-se a si mesma.<br />

Dando significado ao mundo e à sua realidade, a criança vai se conhecendo e<br />

descobrindo cada vez mais a si mesmo e se tornando independente da realidade.<br />

O educador conhecendo o processo de desenvolvimento cognitivo da criança ,<br />

entendendo como nasce a inteligência humana, e como se dá cada passo desse processo cognitivo<br />

pode, pela educação, possibilitar o avanço da inteligência da criança.<br />

Sabendo questionar e ouvir a criança, o educador pode perceber melhor qual o seu<br />

nível de entendimento, de aprendizagem e de leitura do mundo físico, podendo levá-la a uma interação<br />

com o mundo real e despertar a vontade de pensar, refletir e aprender sempre mais, proporcionando<br />

momentos e atividades nos quais a criança possa se expressar livremente e colocar para fora<br />

todas as suas potencialidades.<br />

O processo do pensamento do ser humano muda lentamente, do nascimento até a<br />

maturidade, de acordo com nossas intenções de dar significado ao mundo e da nossa relação com<br />

o mesmo. (PAPAIA; OLDS, 2000)<br />

Sendo assim, é importante que se estimule e atue no potencial da própria criança,<br />

proporcionando o avanço para níveis maiores de pensamento, através da ação e reflexão. E aqui<br />

entra a necessidade de avaliar como está o nível de pensamento da criança, para que o educador<br />

com este conhecimento, possibilite que a criança avance para níveis superiores do pensamento.<br />

O processo de desenvolvimento da criança é muito importante, por isso, deve<br />

acontecer de forma natural e saudável, para mais tarde não prejudicar o processo de aprendizagem<br />

escolar da mesma. É essencial a participação do educador nesse processo, como mediador, porém<br />

também é fundamental que o professor seja capaz de criar situações que levem a criança a aprender,<br />

e a desenvolver as suas habilidades e potenciais.<br />

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Contribuições da Psicologia do Desenvolvimento na Aquisição da Linguagem e Formação do Pensamento:<br />

A Aprendizagem Escolar da Criança de 05 e 06 Anos na Educação Infantil<br />

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A análise das múltiplas e profundas imbricações entre aprendizagem, desenvolvimento<br />

e linguagem não se esgotam aqui. Contudo, conforme visto, é de suma importância compreender<br />

o desenvolvimento infantil e suas implicações no processo de aprendizagem da criança,<br />

analisando o processo de formação de pensamento e aquisição da linguagem.<br />

Segundo Carl R. Rogers (1961) o único homem que se educa aprendeu como<br />

aprender, como se adaptar e mudar; capacitou-se de que nenhum conhecimento é seguro, que<br />

nenhum processo de busca de conhecimento oferece uma base de segurança.<br />

Assim, também é fundamental que o educador busque uma formação contínua e<br />

atualizada e, a partir daí, promova, auxilie e estimule um desenvolvimento integral da criança dentro<br />

de todos os âmbitos.<br />

3. REFERÊNCIAS<br />

BARROS, Célia Silva Guimarães. Psicologia e Construtivismo. São Paulo: Ática, 1996.<br />

BOCK, Ana Mercês Bahia, FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias:<br />

uma introdução ao estudo da psicologia. 13ª ed. Refor. e ampl. 1999. São Paulo: Saraiva, 2002.<br />

COLL, C., GILLIÈRON, C. Jean Piaget: o desenvolvimento da inteligência e a construção do<br />

pensamento racional. In. LEITE, L. B. (org.). Piaget e a Escola de Genebra. SP: Cortez, 1987.<br />

138<br />

DOLLE, Jean-Marie. Para compreender Jean Piaget: uma iniciação à psicologia genética<br />

piagetiana. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1974.<br />

LA TAILLE, Yves de. Prefácio. In: PIAGET, J. A construção do real na criança. 3ª ed. São<br />

Paulo: Ática, 2003.<br />

PAPALIA, Diane E., OLDS, Sally Wendkos. Desenvolvimento Humano. 7ª ed. Porto Alegre:<br />

Artmed, 2000<br />

RAPPAPORT, C. R. Modelo piagentiano. In. Rappaport; Fiori; Davis. Teoria do Desenvolvimento:<br />

conceitos fundamentais. v. 1, EPU, 1981.<br />

REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: Uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis/<br />

RJ: Vozes, 1995.<br />

ROGERS, Carl R. Torna-se pessoa. 2ª ed. Santos: Martins Fontes, 1961.<br />

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SUBSTRATUM: Temas fundamentais em Psicologia e Educação. Direção Ana Teberosk e<br />

Liliana Tolchinsky. v. 1, n. 1 (Cem Anos de Jean Piaget). Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Zuleide Maria Janesch, Fernanda de Souza Moura, Giselle Chagas Bueno e Antonio Belincanta<br />

A IMPORTÂNCIA DA ENGENHARIA E SEGURANÇA DO TRABALHO NA<br />

PREVENÇÃO DE ACIDENTES E DOENÇAS OCUPACIONAIS<br />

THE IMPORTANCE OF THE SECURITY ENGINEERING OF WORK IN THE PREVENTION OF<br />

OCCUPATIONAL ACCIDENT AND DISEASES<br />

Zuleide Maria Janesch<br />

Fernanda de Souza Moura<br />

Giselle Chagas Bueno*<br />

Antonio Belincanta**<br />

RESUMO:<br />

O presente artigo teve como objetivo tecer uma reflexão acerca da comemoração do Dia Nacional<br />

de Prevenção de Acidentes de Trabalho. Precipuamente neste dia são divulgadas estatísticas sobre<br />

acidentes de trabalho e doenças ocupacionais e o quanto essas despesas oneram os cofres<br />

públicos. Ressalta-se que tais dados são computados somente através dos cadastros dos trabalhadores<br />

formais, ou seja, aqueles trabalhadores que possuem registro em Carteira de Trabalho e<br />

Previdência Social. É lastimável constatar que com o aumento do número de postos de trabalho<br />

também há o aumento de acidentes e doenças ocupacionais. No Estado do Paraná houve um<br />

aumento do número de acidentes de trabalho no ano de 2004 para 2005, passando o referido estado<br />

a ocupar a terceira posição no ranking nacional. No ano de 2005, dos 491 mil acidentes ocorridos<br />

no país, 36 mil foram no Paraná, sendo que o maior número de acidentes registrados por classe de<br />

trabalho se deu em atividades de atendimento hospitalar. Assim, o momento é oportuno para se<br />

definir o conceito de acidente de trabalho e doença ocupacional, como também para pensar como<br />

prevenir e tentar eliminar tais ocorrências. Para tanto foi preciso proceder à revisão bibliográfica<br />

acerca do tema bem como frizar a necessidade das empresas saberem da importância em contratar<br />

profissionais habilitados para que estes minimizem tais problemas. Saliente-se a importância da<br />

Engenharia de Segurança como forma de contribuição nos processos industriais, ergonômicos e de<br />

gerenciamento nas organizações. Demonstra-se o exemplo de um grupo de hospitais da cidade de<br />

Curitiba que adotou medidas de prevenção e de redução do número de acidentes para que mais<br />

empresas divulguem suas ações.<br />

139<br />

PALAVRAS-CHAVE: acidentes de trabalho; doenças ocupacionais; engenharia de segurança do<br />

trabalho.<br />

* Aluna do Mestrado em Engenharia Urbana da Universidade Estadual de Maringá - UEM. E-mail: zulmarajn@bol.com.br;<br />

zulmarajn@bol.com.br; nandacivill@hotmail.com<br />

** Prof. Dr., Universidade Estadual de Maringá - UEM - Departamento de Engenharia Civil. E-mail: abelincanta@uem.br<br />

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ABSTRACT:<br />

The present article had as a goal to weave a reflection about the commemorations of the National<br />

Day of Prevention of Accidents at Work. Mainly in this day there are divulgated the statistics about<br />

work accident and occupational diseases and how much those expenses burden the public safes. It<br />

is shown that those bases are calculated trough the official registers of formal workers, or else,<br />

those workers that have a registration in the Worker Identity and Social Security. It is pitiable to<br />

verify that with the raising of the number of work position there is also an increasing of occupational<br />

accidents and diseases. In the State of Paraná there where an increasing of the number of work<br />

accidents on the year of 2004 to 2005, it makes the reported state to occupy the third position in the<br />

national rank. In the year of 2005, from the 491 thousand accidents that happened in the country,<br />

36 thousand where in Paraná, and the greater number of accident registered by category of work<br />

happened in hospital attendance activities. So, the moment is convenient to define the concept of<br />

work accident and occupational disease, as well to think on how to prevent and try to eliminate<br />

those occurrences. For that it was needed to proceed to the bibliographical review about the theme<br />

as well as to frieze the need of the companies to know the importance on hiring qualified professionals<br />

so those problems cam be dropped to the minimal. To point out the importance of Security Engineering<br />

as a way to contribute in the industrial, ergometrical and management process in the organizations.<br />

It is demonstrated and example of a group of hospitals in the city of Curitiba that adopted the<br />

prevention measures and the reduction of the number of accidents so more companies can publish<br />

their actions.<br />

KEY-WORDS: work accident; occupational diseases; job security engineering.<br />

140<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

O trabalho, enquanto atividade humana produtiva, na forma como se estrutura e se<br />

organiza, produz danos à saúde do trabalhador. Tais danos podem ser identificados através de<br />

doenças ocupacionais, acidentes de trabalho, morte do trabalhador e outros diversos e inespecíficos<br />

danos. À medida que o homem modifica o mundo em que vive, também modifica e transforma a si<br />

mesmo, e isso revela quem ele realmente é:<br />

Além de o trabalho ser necessário para a manutenção da vida humana sobre<br />

a terra, ele também é fundamental para definir as condições de saúde de cada<br />

indivíduo, pois o momento do trabalho é o espaço privilegiado para a realização<br />

do ser humano enquanto espécie consciente de sua própria existência e<br />

de sua intemporalidade (MERLO apud BAPTISTA, 2004).<br />

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Os acidentes de trabalho são considerados um problema de saúde pública em todo<br />

o mundo, por se tratarem de eventos potencialmente fatais, incapacitantes e acometerem, em<br />

especial, pessoas jovens e em idade produtiva, fato que acarreta grandes conseqüências sociais e<br />

econômicas. “São responsáveis pelo maior número de mortes e incapacidades graves causados<br />

pelo trabalho em todo o mundo” (TAKALA apud SANTANA et. al., 2005).<br />

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Zuleide Maria Janesch, Fernanda de Souza Moura, Giselle Chagas Bueno e Antonio Belincanta<br />

2. ACIDENTES DE TRABALHO E DOENÇAS OCUPACIONAIS<br />

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) define acidente do trabalho<br />

como “(...) ocorrência imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionada com o exercício<br />

do trabalho, de que resulte ou que possa resultar lesão pessoal” (apud FISCHER, 2005).<br />

Segundo Araújo (2006, p. 191), os conceitos legais de acidente do trabalho e de<br />

doença profissional utilizados atualmente pela Previdência Social brasileira referem-se ao estabelecido<br />

no artigo 19 e 20 da Lei 8.213 de 24 de julho de 1991, que os definem respectivamente da<br />

seguinte maneira:<br />

Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da<br />

empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII<br />

do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional<br />

que cause a morte ou a perda ou a redução, permanente ou temporária, da<br />

capacidade para trabalho”; e “Doença profissional, assim entendida a produzida<br />

ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada<br />

atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do<br />

Trabalho e da Previdência Social.<br />

Além das definições propostas na legislação, verificam-se outras definições na<br />

literatura.<br />

Meister (apud FISCHER, 2005) define acidente como “um evento não antecipado<br />

que prejudica o sistema e/ou o indivíduo ou afeta a realização da missão do sistema ou de uma<br />

tarefa individual”. Na concepção de Guimarães e Costella (apud FISCHER, 2005), acidente “é o<br />

incidente que tem como conseqüência a ocorrência de lesão corporal, com perda ou redução da<br />

capacidade, permanente, temporária ou morte”.<br />

Do ponto de vista prevencionista, um “acidente” é o evento não desejado que<br />

tem por resultado uma lesão ou enfermidade a um trabalhador ou um dano à propriedade<br />

(SHERIQUE, s/d).<br />

Para Chiavenato (1999, p. 382), “acidente é um fato não premeditado que resulta<br />

dano considerável”. Segundo este mesmo autor, o National Safety Council define acidente como<br />

uma ocorrência numa série de fatos que, sem intenção, produz lesão corporal, morte ou dano<br />

material.<br />

Barbosa Filho (2001, p. 30) tece algumas considerações acerca do acidente de<br />

trabalho e da doença profissional, entendendo que “o acidente tem como resultado uma resposta<br />

abrupta, a curto prazo, e, geralmente, associa danos pessoais e perdas materiais, tendo uma ocorrência<br />

mais aparente. A doença, por sua vez, apresenta na maioria dos casos uma resposta lenta.<br />

Manifesta-se a médio e longo prazos de forma insidiosa e sorrateira”.<br />

Muitas são as teorias que se propõem a explicar as causas dos acidentes, a maioria<br />

delas tende a uma interpretação monocausal sendo a causa do acidente uma característica<br />

individual: propensão nata para o acidente, habilidades tendenciosas, grau de maturidade (idade<br />

versus experiência) e desvios psicológicos, por exemplo. Contudo, isso não é a regra pois, apesar<br />

de um número reduzido, verificam-se algumas teorias que enfocam o acidente como decorrência<br />

das condições de trabalho sobre o trabalhador, entre elas fatores ambientais, técnicos e<br />

organizacionais.<br />

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2.1 Custos dos Acidentes de Trabalho e Doenças Ocupacionais<br />

No dia 27 de julho comemora-se o Dia Nacional de Prevenção de Acidentes no<br />

Trabalho. Durante esse dia deve-se prestar a atenção nas estatísticas e nos custos com acidentes<br />

e doenças ocupacionais. Dentre muitas coisas que preocupam os brasileiros, uma delas é a perda<br />

com gastos em acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Segundo uma estimativa da USP –<br />

Universidade de São Paulo, o país perde todos os anos cerca de R$ 21 bilhões por conta dos<br />

acidentes de trabalho ou doenças ocupacionais, considerando os custos diretos e indiretos. Tais<br />

gastos são somente sobre o emprego formal, calcula-se que o número de trabalhadores informais<br />

e a atualização monetária podem levar a gastos em torno de R$ 51 bilhões. Somente no estado do<br />

Paraná foram gastos R$ 2 bilhões, o estado, de 2004 para 2005, pulou do quarto para o terceiro<br />

lugar no ranking nacional de acidentes de trabalho . Durante o ano de 2005, no Brasil, ocorreram<br />

491 mil acidentes, no estado do Paraná foram 36 mil, sendo que o maior número de acidentes de<br />

trabalho registrado em uma única classe aconteceu com as atividades de atendimento hospitalar.<br />

Tais dados são assustadores, pois 4% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro estão sendo perdidos<br />

por conta de acidentes e doenças ocupacionais. José Pastore, pesquisador da USP revela que<br />

a cada R$ 1,00 investido em segurança e saúde do trabalhador, economiza-se R$ 4,00 com acidentes<br />

e doenças ocupacionais (BEMPARANÁ, 2007).<br />

De acordo com o boletim da Previdência Social, os acidentes de trabalho ocorridos<br />

no Brasil nos anos de 2003 a 2005 alcançam o importe de um bilhão e trezentos e cinqüenta e seis<br />

milhões de reais, assim distribuídos:<br />

142<br />

Tabela 1 – Demonstrativo do número de acidentes de trabalho no Brasil<br />

entre o período de 2003 a 2005<br />

Fonte: BEMPARANÁ, 2007.<br />

No ano de 2005, dos 491 milhões de acidentes 2.700 foram com vítimas fatais no<br />

ambiente de trabalho. O motivo dos aumentos de acidentes e doenças ocupacionais se deve ao fato<br />

de que houve um aumento de registros em carteira, conforme dados fornecidos pelo Caded –<br />

Cadastro Geral de Empregados e Desempregados:<br />

Tabela 2 – Demonstrativo do aumento do número de registros em carteira entre o<br />

período de 2003 a 2005<br />

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Fonte: BEMPARANÁ, 2007.<br />

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De acordo com o diretor do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho do<br />

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Rinaldo Marinho, há um número maior de trabalhadores<br />

expostos, consequentemente um número maior de acidentes de trabalho. Marinho cita que há<br />

outros fatores que contribuem:<br />

• Aumento das fiscalizações do trabalho;<br />

• Notificações de acidentes de trabalho e<br />

• Profissionais capacitados para reconhecer os casos que são acidentes de<br />

trabalho.<br />

De acordo com a Previdência Social em junho de 2007 foram pagos 29.290 benefícios<br />

que somaram R$ 20.700.000,00 divididos da seguinte maneira:<br />

Tabela 3 – Relação dos benefícios pagos no mês de Junho de 2007<br />

Fonte: BEMPARANÁ, 2007.<br />

É importante salientar que no Brasil, os dados divulgados pelo Ministério da Previdência<br />

Social (MPS) limitam-se somente aos trabalhadores segurados, uma vez que esses dados<br />

são obtidos através do número de CAT’s (Comunicados de Acidente de Trabalho) emitidas pelas<br />

empresas.<br />

Entretanto, sabe-se que é crescente no país o número de trabalhadores sem contrato<br />

formal de trabalho, chegando a representar “a maioria da força de trabalho em algumas regiões<br />

urbanas (CACCIAMALLI apud SANTANA et. al., 2003). Estes trabalhadores informais muitas<br />

vezes estão envolvidos em atividades mais perigosas que as dos trabalhadores formais, como manutenção,<br />

ou atividades que são realizadas sem as medidas de proteção impostas aos demais trabalhadores.<br />

Tais aspectos colocam o referido grupo de trabalhadores “em maior risco para acidentes e<br />

ouras enfermidades ocupacionais” (QUINLAN et. al. apud SANTANA et. al., 2003).<br />

Muito embora se verifique uma tendência de declínio nas ultimas décadas, a mortalidade<br />

por acidente de trabalho no Brasil vem se mantendo em níveis mais elevados do que em<br />

outros países (MACHADO & GOMES apud SANTANA et. al., 2005). Isso expressa a precariedade<br />

das condições de trabalho e a baixa efetividade da regulamentação dos ambientes de trabalho<br />

existentes no país. Entretanto, há que se atentar ao fato de que, inversamente à queda do índice de<br />

acidentes de trabalho, ocorreu um forte crescimento das doenças relacionadas ao trabalho, afigurando-se<br />

como caso emblemático as LER/Dort (SALIM, 2003).<br />

Para que esses números não sejam tão elevados e os acidentes possam ser evitados<br />

é necessário que as empresas e organizações implementem ações que visem conscientizar os<br />

trabalhadores sobre os acidentes de trabalho e as doenças profissionais. Neste sentido, a Engenharia<br />

de Segurança do Trabalho galga um patamar de extrema importância na medida em que figura<br />

como a sentinela da integridade e capacidade laborativa do trabalhador.<br />

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3. ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO<br />

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Segundo o Dicionário de Segurança do Trabalho da Universidade Paulista, Engenharia<br />

de Segurança do Trabalho é o ramo da Engenharia que se dedica a planejar, elaborar programas<br />

e a desenvolver soluções que visam minimizar os acidentes de trabalho, doenças<br />

ocupacionais, como também proteger a integridade e a capacidade de trabalho do trabalhador.<br />

Um dos elos mais importantes no processo de melhoria dos ambientes laborais é o<br />

Engenheiro de Segurança do Trabalho, profissional que após ter completado o curso de graduação<br />

em qualquer uma das áreas da engenharia ou o curso de arquitetura, habilita-se através de um<br />

curso de pós-graduação em nível de especialização, com carga horária de 600 horas, a desenvolver<br />

as várias atividades prevencionistas na área de segurança e saúde do trabalho (MOREIRA, 2003).<br />

O engenheiro de segurança do trabalho é o profissional que visa à proteção do<br />

trabalhador em todas as instâncias de sua atuação dentro de uma empresa. É ele quem analisa o<br />

ambiente de trabalho, segundo as condições de higiene, segurança e verifica se as normas do<br />

Ministério do Trabalho estão sendo cumpridas, para que o trabalhador não seja explorado ou tratado<br />

de forma sub-humana pelos seus empregadores.<br />

De acordo com Moreira (2003), o profissional da engenharia e segurança do trabalho<br />

poderá atuar na área de consultoria às empresas, ser perito judicial e/ou assistente nas<br />

questões trabalhistas, fazer parte do Serviço Especializado de Segurança e Medicina do Trabalho<br />

- SESMT, ser professor, etc. Tem como objetivo prevenir a ocorrência de acidentes e doenças<br />

dentro da empresa. As responsabilidades do Engenheiro de Segurança do Trabalho, enquanto integrante<br />

do Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT, estão<br />

estabelecidas na Norma Regulamentadora nº 4, dentre as quais destacam-se:<br />

• aplicar os conhecimentos de engenharia de segurança do trabalho ao ambiente<br />

de trabalho e a todos os seus componentes, inclusive máquinas e equipamentos,<br />

de modo a reduzir até eliminar os riscos ali existentes à saúde do trabalhador;<br />

• determinar, quando esgotados todos os meios conhecidos para a eliminação do risco<br />

e este persistir, mesmo reduzido, a utilização, pelo trabalhador, de Equipamentos de<br />

Proteção Individual-EPI, de acordo com o que determina a NR 6, desde que a concentração,<br />

a intensidade ou característica do agente assim o exija;<br />

• manter permanente relacionamento com a CIPA, valendo-se ao máximo de suas<br />

observações, além de apoiá-la, treiná-la e atendê-la, conforme dispõe a NR 5;<br />

• colaborar, quando solicitado, nos projetos e na implantação de novas instalações<br />

físicas e tecnológicas da empresa;<br />

• responsabilizar-se tecnicamente pela orientação quanto ao cumprimento do disposto<br />

nas NR aplicáveis às atividades executadas pela empresa e/ou seus estabelecimentos;<br />

• promover a realização de atividades de conscientização, educação e orientação<br />

dos trabalhadores;<br />

• esclarecer e conscientizar os empregadores sobre acidentes do trabalho e doenças<br />

ocupacionais, estimulando-os em favor da prevenção;<br />

• analisar e registrar em documento(s) específico(s) todos os acidentes e doenças<br />

ocupacionais ocorridos na empresa ou estabelecimento.<br />

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A Norma Regulamentadora nº 4 prevê ainda que as atividades dos profissionais<br />

integrantes dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho<br />

são essencialmente prevencionistas, embora não seja vedado o atendimento de emergência, quando<br />

se tornar necessário.<br />

Essa é a forma mais eficiente de se promover e preservar a saúde e integridade<br />

física dos trabalhadores e prevenir os riscos ocupacionais. Uma vez conhecido o nexo causal entre<br />

diversas manifestações de enfermidades e a exposição a determinados riscos, fica claro que, toda<br />

vez que se atua na eliminação ou neutralização desses riscos, está-se prevenindo uma doença ou<br />

impedindo o seu agravamento.<br />

A antecipação dos riscos envolve a análise de projetos de novas instalações, métodos<br />

ou processos de trabalho, ou de modificação dos já existentes, visando identificar os riscos<br />

potenciais e introduzir medidas de proteção para sua redução ou eliminação. A atuação eficaz do<br />

Engenheiro de Segurança, nessa etapa, irá garantir projetos que eliminem alguns riscos antecipados<br />

e neutralizem aqueles inerentes à atividade ou aos equipamentos.<br />

4. METODOLOGIA<br />

Com base na tipologia de (VERGARA, 1998), que classifica as pesquisas quanto<br />

aos fins e quanto aos meios, este estudo pode ser classificado como uma pesquisa descritiva<br />

qualitativa, quanto aos fins; e como uma pesquisa bibliográfica e de campo, quanto aos meios.<br />

Pesquisas descritivas, segundo (GIL, 1996), podem ter como objetivo estudar as características de<br />

um grupo, levantar opiniões, atitudes e crenças de uma população. A pesquisa também é bibliográfica<br />

porque, para a fundamentação teórico-metodológica do trabalho, foi realizada uma investigação<br />

sobre os preceitos teóricos dos acidentes de trabalho e doenças ocupacionais e engenharia de<br />

segurança do trabalho. Configura-se como pesquisa de campo porque foi realizado um estudo nas<br />

unidades hospitalares do GRUPO VITA, localizadas no município de Curitiba, capital do estado do<br />

Paraná.<br />

A coleta de dados e a estruturação de modelos para diagnóstico se processaram<br />

pela observação, análise de documentos e pela realização de entrevistas não-estruturadas com o<br />

superintendente do grupo e funcionários responsáveis pelo gerenciamento das ações preventivas<br />

contra acidentes do trabalho e doenças ocupacionais.<br />

Ressalta-se que os dados obtidos foram tratados de forma qualitativa e interpretados<br />

a partir das discussões contidos na fundamentação teórica que norteou o desenvolvimento<br />

deste estudo.<br />

145<br />

5. O CASO DO HOSPITAL VITA DE CURITIBA/PR<br />

As organizações iniciam o processo de desenvolvimento de uma unidade responsável<br />

pela saúde e segurança do trabalho adotando as condições impostas pela legislação trabalhista,<br />

garantindo à força de trabalho as condições adequadas para a execução de suas atividades.<br />

A implantação de um sistema de saúde e segurança do trabalho torna-se cada vez<br />

mais incorporada ao dia-a-dia das organizações, uma vez que essas começam a perceber as vantagens<br />

intrínsecas desta prática, inclusive como diferencial frente à sociedade.<br />

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Os processos de desenvolvimento e manutenção das unidades que constituem o<br />

sistema de saúde e segurança do trabalho acontecem lentamente, por meio de muitas lutas e<br />

conquistas. Entretanto, pode-se observar um grande avanço na permanência da saúde e segurança<br />

do trabalho como uma função nobre das organizações. Esse interesse vem crescendo por iniciativa<br />

das organizações e é controlado com base no aperfeiçoamento dos documentos legais que visam<br />

garantir os direitos e as condições de trabalho dos trabalhadores. Um número expressivo de empresas<br />

traz para si campanhas e programas permanentes de desenvolvimento social, ambientação<br />

e educação, que incluem questões relevantes de saúde e segurança do trabalho, como o exemplo<br />

do Grupo VITA.<br />

Os hospitais do Grupo VITA, na cidade de Curitiba contam com mais de 1.200<br />

colaboradores diretos e indiretos, entre médicos, pessoal de enfermagem, administrativo e de suporte,<br />

adotam constantemente ações preventivas contra acidentes do trabalho e doenças ocupacionais<br />

(PARANASHOP, 2007).<br />

A prevenção nos hospitais do grupo VITA é prioridade e todos os setores estão<br />

engajados num mesmo objetivo, segundo o superintendente Maurício Uhle, a empresa precisa de<br />

homens e mulheres sadios, criativos, inteligentes, felizes e com qualidade de vida. Para isso alguns<br />

locais da empresa são disponibilizados para os colaboradores, destinados ao convívio, descanso,<br />

sessões de quick massage e ginástica laboral, alimentação e lazer, bem como as atividades físicas,<br />

culturais e religiosas oferecidas dentro dos próprios hospitais.<br />

As medidas preventivas adotadas pelos hospitais VITA Curitiba e VITA Batel são<br />

as seguintes (PARANASHOP, 2007):<br />

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• controle de ruídos, vibrações, temperatura, radiação, umidade;<br />

• controle de produtos químicos;<br />

• treinamento constante da brigada de incêndio e primeiros socorros;<br />

• campanhas educativas;<br />

• controle de higiene;<br />

• vacinação dos trabalhadores;<br />

• utilização de equipamentos de segurança;<br />

• manutenção dos equipamentos;<br />

• eliminação adequada dos materiais tóxicos;<br />

• adoção de rotinas corretas quanto ao recolhimento, transporte e processamento<br />

da roupa suja.<br />

O grande destaque, em termos de prevenção e redução no número de acidentes<br />

de trabalho, é o Projeto de Gerenciamento de Resíduos, adotado pelo Grupo VITA desde o ano de<br />

2004. Só o VITA Curitiba – uma das unidades hospitalares do grupo – descarta mais de 10 toneladas<br />

de lixo por mês. O hospital realiza treinamento e campanhas de orientação do manejo e destino<br />

correto dos dejetos e monitora diariamente todos os processos dos resíduos.<br />

Também há a campanha de conscientização lançada pelo grupo visando alertar os<br />

colaboradores para os riscos presentes dentro do ambiente hospitalar. A campanha inclui peças<br />

gráficas por todas as áreas dos hospitais envolvidos, além de treinamentos, palestras e consultorias<br />

individualizados.<br />

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Segundo a infectologista do Grupo VITA, Marta Fragoso, doenças infecto contagiosas,<br />

dores na coluna, fadigas musculares, doenças alérgicas, exposição a produtos químicos e<br />

radiação, quedas por piso liso ou molhado e sofrimento psíquico são os riscos aos quais os profissionais<br />

da saúde estão mais expostos. Todo funcionário da área da saúde deve ser vacinado – é<br />

uma forma de prevenir a Hepatite B e outros vírus – exceto a Hepatite C e o HIV (Vírus da AIDS)<br />

(PARANASHOP, 2007).<br />

A médica ressalta a importância do uso de equipamentos de proteção individual<br />

(EPI’s), tais como: máscaras, luvas, aventais, óculos e roupas adequadas para cada ambiente e<br />

situação. “No caso de acidentes perfurocortantes com agulhas, foi demonstrado que uma luva<br />

pode reduzir o volume de sangue injetado de 35% a 70%”.<br />

6. CONCLUSÕES E PROPOSTAS<br />

Através do trabalho o homem transforma a natureza e produz sua vida material,<br />

satisfazendo assim as suas necessidades. O trabalho é também um dos meios pelo qual o homem<br />

se diferencia dos outros animais e através do qual se realiza. Todavia, o trabalho pode causar danos<br />

ao ser humano, inclusive a sua morte.<br />

Os acidentes de trabalho e as doenças ocupacionais são atos de violência ao trabalhador<br />

que têm onerado gravemente o setor financeiro das empresas e também os cofres públicos.<br />

Entretanto, medidas podem ser adotadas e ações podem ser empreendidas no intuito de minimizar<br />

os danos advindos desses eventos.<br />

Conforme mencionado, a Engenharia de Segurança do Trabalho é imprescindível<br />

quando o propósito é manter um ambiente de trabalho saudável e produtivo. Tais questões estão<br />

diretamente ligadas à valorização do elemento humano como primordial para o sucesso de qualquer<br />

organização.<br />

A disseminação de informações sobre a prevenção de acidentes e doenças do<br />

trabalho se torna decisiva para que a qualidade de vida no ambiente de trabalho seja valorizada. O<br />

trabalho educativo dentro das empresas é de extrema importância, uma vez que permite que haja<br />

cada vez mais trabalhadores e empresários conscientes da importância da Engenharia e Segurança<br />

do Trabalho.<br />

A produção de conhecimentos necessários à proteção e promoção da saúde dos<br />

trabalhadores deve levar em consideração dois aspectos:<br />

• o primeiro deles é o entendimento de que o acidente de trabalho deve ser visto<br />

como uma forma de violência contra a saúde do trabalhador;<br />

• o segundo é o fato de que a realização de estudos analíticos sobre fatores de<br />

risco e determinantes de acidentes de trabalho pode conduzir à implementação de<br />

ações que visem condições de trabalho mais seguras culminando com a redução<br />

no nível de acidentes e doenças laborais.<br />

Considerando sua grande responsabilidade social, é indispensável que a indústria e<br />

os órgãos institucionais brasileiros se preocupem com a promoção de iniciativas que possibilitem a<br />

redução de problemas tão graves.<br />

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A Importância da Engenharia e Segurança do Trabalho na Prevenção de Acidentes e Doenças Ocupacionais<br />

O presente trabalho abriu caminho para outros estudos, que podem aprofundar o<br />

entendimento da prática dos profissionais, como a realização de pesquisa com outras categorias<br />

profissionais envolvidas com a questão da prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, tais<br />

como Técnicos de Segurança do Trabalho e Médicos do Trabalho.<br />

7. REFERÊNCIAS<br />

ARAÚJO, L. C. G. de. Gestão de pessoas: estratégias e integração organizacional. São Paulo:<br />

Atlas, 2006.<br />

BAPTISTA, R. C. Doenças e outros agravos à saúde produzidos pelo trabalho. In: Revista Redentor<br />

– Cadernos Interdisciplinares: Saúde, Tecnologia e Questão Social. ano 1, n. 1, v. 1, 2004.<br />

Disponível em: . Acesso em 27 de julho<br />

de 2007.<br />

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TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


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VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 1998.<br />

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TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezembro 2007


Bioenergia e sua Relação com a Administração<br />

BIOENERGIA E SUA RELAÇÃO COM A ADMINISTRAÇÃO<br />

BIOENERGY AND ITS RELATION WITH THE ADMINISTRATION<br />

Alexandre Roberto Strelling<br />

Alexandro Nunes de Lima<br />

André Vieira Costa<br />

Gilson Eduardo Igawa*<br />

Adalberto Brandalize**<br />

RESUMO:<br />

Com a atual preocupação em preservar e diminuir a agressão ao meio ambiente e a de diminuir a<br />

dependência de países quanto a utilização do petróleo vindo de países em crise no oriente médio,<br />

vários acordos entre países estão sendo feitos para incentivar a produção e utilização de combustíveis<br />

renováveis.O Brasil tem despertado interesse de países como Itália, EUA e Japão, por estar<br />

à frente em termos de tecnologia e pesquisa e produção deste meio alternativo de energia<br />

“biocombustível, etanol, entre outros”. O Brasil tem vários projetos em negociação do biocombustível<br />

e álcool a outros países como África, Itália e Japão, que apontam esse segmento como promissora<br />

ao país, destacando o Brasil como provável matriz energética, em futuro não muito distante.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Biocombustível, Oportunidades, Commodities,Vantagens, álcool.<br />

150<br />

ABSTRACT:<br />

With the actual concern to preserve and to reduce the aggression to the environment and to reduce<br />

the dependence of countries, related to the utilization of the petroleoum from countries in crisis in<br />

the meddle east, several agreements between countries in the world are being made to stimulate<br />

the production and utilization of renovated fuel, and Brazil has awakened the interest of countries<br />

as Italy, EUA and Japan, because Brazil is ahead in terms of technology and research and production<br />

of this alternative way of energy “biofuel, ethanol, among others”. Brazil has several projects being<br />

negotiated of biofuel and alcohol to other countries as Africa, Italy and Japan, witch notice these<br />

divisions as promising to the country, pointing out Brazil as the most probable energetic matrix, in a<br />

not far future.<br />

KEY-WORDS: Biofuel, Oportunities, Commodities, Advantages, Alcohool.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Pesquisas mostram que a quantidade de petróleo existente no mundo abastecerá<br />

por mais cinqüenta anos as necessidades de demanda da população mundial. Sendo que países do<br />

oriente médio detêm as maiores reservas de petróleo existentes no mundo, fazendo com que, quem<br />

precise por não ter produção ou tecnologia própria, importe pagando altos preços.<br />

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* Discentes do curso de Administração – Gestão Empresarial pela <strong>UniFil</strong> 4º Ano.<br />

** Mestre em Administração, Administrador, Professor de Administração na UNIFIL e de Pós-Graduação, Consultor Empresarial,<br />

Pesquisador e autor de artigos científicos, Executivo, Palestrante, Coordenador de Estágio Supervisionado na UNIFIL,<br />

Diretor Presidente do INDESPE-Instituto de Desenvolvimento Social Pesquisa e Ensino, autor de projetos de extensão,<br />

Coordenador Acadêmico de Pós-Graduação. Diretor Vice-Presidente da BPC- Brasil/Paraná-China.Câmara de Comércio,<br />

Industria, Desenvolvimento e Cultura. BPI- Brasil/Paraná-India. Conciliador do Tribunal de Justiça do Est. do Paraná.<br />

Orientador de trabalhos de conclusão a nível de graduação e pós-graduação. adalberto.brandalize@unifil.br.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Alexandre R. Strelling, Alexandro N. de Lima, André V. Costa, Gilson E. Igawa e Adalberto Brandalize<br />

Com essa escassez de combustíveis fósseis, os altos preços pagos e a preocupação<br />

que se volta para a preservação do meio ambiente, se fizeram necessários a pesquisa e<br />

utilização de energias alternativas que agridam menos o meio ambiente e que possam ser<br />

renováveis. Foi por meio dessas necessidades, e também pelo fato de que a energia renovável é<br />

mais barata, que se começou a ser introduzida nas políticas de utilização energéticas de países<br />

que têm déficits na produção interna de energia o biocombustível, com a promessa de solucionar<br />

o problema no mundo.<br />

O Brasil saiu na frente, sendo utilizado desde os anos 80 o etanol provido da canade-açúcar,<br />

e agora investe na pesquisa do biocombustível.<br />

Este trabalho aborda as oportunidades do Brasil se desenvolver ainda mais nessa<br />

fonte energética através de produção na África e também as necessidades e interesses de outros<br />

países com relação a este combustível.<br />

2. METODOLOGIA<br />

Na pesquisa bibliográfica utilizou-se de fontes primárias, buscando a coleta de<br />

dados em publicações adequadas e direcionadas de autores a cada abordagem do trabalho. Na<br />

pesquisa de sites, utilizou-se de reportagens e pesquisas publicadas de autores citados.<br />

3. BIOCOMBUSTÍVEIS<br />

Os biocombustíveis são fontes de energias renováveis, derivados de produtos agrícolas<br />

como a cana-de-açúcar, plantas oleaginosas, biomassa florestal e outras fontes de matéria<br />

orgânica. Em alguns casos, os biocombustíveis podem ser usados tanto isoladamente, como adicionados<br />

aos combustíveis convencionais. Como exemplos, podemos citar o biodiesel, o etanol, o<br />

metanol, o metano e o carvão vegetal.<br />

151<br />

4. OPORTUNIDADES PARA O BRASIL<br />

Segundo Garcia (2007) o governo brasileiro está convencido de que os combustíveis<br />

renováveis – etanol e biodiesel – apontam para o enfrentamento de quatro grandes desafios do<br />

século. O primeiro é o da crise energética, que afeta todos os países, inclusive os desenvolvidos, e<br />

que, em nossa região, constitui sério obstáculo à retomada do desenvolvimento acelerado de que<br />

necessitamos. Na África, na Ásia, na América Central e em quase todo Caribe, os biocombustíveis<br />

são a grande alternativa para resolver o dramático déficit energético de muitos países vítimas da<br />

estagnação e da dependência externa. O segundo desafio é dar resposta ao problema do desemprego<br />

e da concentração de renda. A produção de biocombustíveis é capaz de gerar milhões de<br />

empregos, fixando o homem na terra e distribuindo a renda, sobretudo se, como prevê a legislação<br />

brasileira, a agricultura familiar for estimulada. O terceiro é o de contribuir para a redução do<br />

aquecimento do planeta. Como combustível ou aditivo aos combustíveis fósseis o etanol e o biodiesel<br />

reduzem consideravelmente a emissão de poluentes na atmosfera. O último desafio é o de assentar<br />

as bases para uma indústria de nova geração, sucessora da petroquímica, capaz de produzir materiais,<br />

medicamentos, adubos e alimentos para animais.<br />

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Resta ao Brasil aproveitar as oportunidades que advém dessa nova fonte energética<br />

que poderia trazer benefícios não somente para o país, como também para muitas pessoas que<br />

dependem de um emprego.<br />

Com a demanda que pode surgir, o país ainda pode estudar uma forma de formar<br />

uma joint venture com uma empresa, como por exemplo, na África, para poder produzir um<br />

volume maior de matéria-prima para a produção industrial.<br />

5. BRASIL É EXEMPLO PARA DESENVOLVIMENTO DE COMMODITIES<br />

O Brasil é o maior exemplo no desenvolvimento sustentado de commodities agrícolas<br />

como café, soja, cana-de-açúcar, entre outras. Essa é a avaliação do CFC (Common Fund<br />

for Commodities), que financia projetos relacionados a esses produtos em países de todo o mundo.<br />

Por conta disso, a entidade escolheu o país para ser sede do primeiro Global Initiative on Commodities<br />

(Iniciativas Globais para Commodities) que irá discutir o crescimento sustentado do mercado de<br />

commodities agrícolas. O Brasil irá receber representantes de mais de 100 países entre os dias 7<br />

e 11 de maio, em Brasília.<br />

De acordo com Ali Mchumo, embaixador e diretor geral do CFC, o intuito do<br />

encontro será construir um relatório que promova uma agenda de desenvolvimento em relação às<br />

commodities, contribuindo para a redução da pobreza (RODRIGUES, 2007).<br />

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6. ÁLCOOL<br />

O secretário de relações internacionais do Ministério da Agricultura do Brasil,<br />

Célio Porto, disse que dois temas têm despertado interesse de outros países no Brasil: as tecnologias<br />

da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e o álcool. Tanto que visitas à Embrapa<br />

e a uma usina de álcool estão na programação do encontro promovido pelo CFC.<br />

“O petróleo é finito e produzido por poucos países em região de conflito. Por isso,<br />

queremos repassar nossa experiência para que o álcool seja produzido por muitos países. Assim, o<br />

consumidor não migrará para um combustível concentrado em poucos países e não terá insegurança<br />

na oferta”, disse Porto.<br />

Ali Mchumo disse que do ponto de vista teórico, o álcool pode oferecer novas<br />

oportunidades de negócios para o desenvolvimento de outros países. No entanto, ele afirmou que<br />

uma comissão do CFC na Malásia estuda os aspectos positivos e negativos do combustível para<br />

que a entidade tome partido definitivo sobre o assunto.<br />

Porto listou exemplos de sucesso do Brasil na área de commodities, reforçando o<br />

aumento de produtividade conseguido pelo Brasil e a experiência com o álcool. “Queremos compartilhar<br />

a experiência da agricultura tropical com outros países.”Questionado sobre as manifestações<br />

contrárias de Venezuela e Bolívia sobre a produção de biocombustível, sob a alegação de que<br />

isso ocupa áreas para plantação de alimentos, Porto disse que na visão brasileira o problema não é<br />

a falta de alimentos, mas sim a falta de renda da população para comprar alimentos.<br />

A produção de álcool pode ser uma oportunidade de renda para a população<br />

mais pobre, que é, na maioria dos casos, a que vive no campo<br />

(RODRIGUES, 2007).<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Alexandre R. Strelling, Alexandro N. de Lima, André V. Costa, Gilson E. Igawa e Adalberto Brandalize<br />

7. VANTAGENS DO BIODIESEL<br />

Por se tratar de uma fonte de energia renovável, o Brasil possui terras cultiváveis<br />

que podem produzir matérias-primas para a produção em solos menos produtivos e com<br />

um baixo custo.<br />

8. JOINT VENTURES<br />

As joint ventures são empresas diferentemente constituídas, sobretudo quanto a<br />

seus objetivos sociais, que influenciam nas cadeias produtivas agroindustriais de acordo com seu<br />

porte em relação a seus demais componentes. Quanto maior seu porte relativo dentro da cadeia<br />

produtiva, maior é sua possibilidade de coordenação (ARAÚJO, 2005).<br />

9. A LOGÍSTICA DO BIODIESEL<br />

Quanto à logística de suprimento de biodiesel dois pontos fundamentais devem ser<br />

observados, a localização relativa das áreas de produção e os centros de consumo, e os locais onde<br />

se dará a mistura com o diesel de petróleo.<br />

10. CRISE ENERGÉTICA<br />

Cada vez mais o preço da gasolina, diesel e derivados de petróleo tendem a subir.<br />

A cada ano o consumo aumenta e as reservas diminuem. Além do problema físico, há o problema<br />

político: a cada ameaça de guerra ou crise internacional, o preço do barril de petróleo dispara<br />

(BIODIESELBR, 2007).<br />

153<br />

11. O BIOCOMBUSTÍVEL É UMA BOA OPORTUNIDADE PARA O BRASIL<br />

Os chamados biocombustíveis, como por exemplo, o etanol e o biodiesel, são alternativas<br />

reais à gasolina e ao diesel tradicionalmente utilizado no setor de transportes.<br />

As tecnologias voltadas à produção do álcool, desenvolvidas no Brasil durante o<br />

Pró-Álcool, bem como um geo-clima extremamente favorável à cultura de cana de açúcar, colocam<br />

o país numa posição estratégica e de liderança, no setor sucroalcocooleiro.<br />

O bioetanol, em estado puro ou em mistura, não é apenas uma alternativa aos<br />

combustíveis derivados do petróleo, mas uma fonte de energia não poluente que se encontra em<br />

conformidade com os mais exigentes padrões internacionais. Esse é, portanto, um mercado<br />

emergente, altamente atrativo para os produtores brasileiros que têm todas as condições de se<br />

destacar nele.<br />

A demanda por biocombustíveis é grande. Em dezembro de 2003, a União Européia<br />

editou a Diretiva 2003/30/CE relativa à promoção da utilização de biocombustíveis ou de<br />

combustíveis renováveis no setor de transportes. Essa não é apenas uma declaração política, mas<br />

uma verdadeira norma jurídica de caráter obrigatório, que vincula todos os Estados Membros da<br />

União Européia.<br />

De acordo com as disposições previstas no documento, os países europeus têm a<br />

obrigação de, até o final de 2005, acrescentarem à gasolina e ao diesel 2% de biocombustíveis ou<br />

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de outros combustíveis renováveis. Os níveis da referida meta são elevados para 5,57% até 31 de<br />

dezembro de 2010. Os países deverão ainda apresentar à Comissão Européia, anualmente, as<br />

medidas que estão sendo adotadas para promover a utilização dos biocombustíveis ou de outros<br />

combustíveis renováveis.<br />

Ocorre que, até o momento, apenas alguns países encaminharam à Comissão suas<br />

propostas. Esta, no intuito de zelar pelos interesses comunitários, enviou cartas de notificação de<br />

não cumprimento da norma aos diversos Estados-Membros que ainda não informaram, oficialmente,<br />

quais medidas estão sendo adotadas para efetivar a transposição da norma comunitária para a<br />

legislação nacional.<br />

O cenário parece, portanto, adequado para que os produtores e exportadores brasileiros,<br />

já organizados e experientes no setor de biocombustíveis, comecem a se mobilizar e a<br />

utilizar os mecanismos internamente disponíveis para oferecerem, desde já, oportunidades atrativas<br />

aos futuros compradores europeus.<br />

O papel do governo brasileiro, neste contexto, também será de grande relevância.<br />

As tarifas incidentes sobre a importação do biocombustível ainda são elevadas. Cabe, portanto, ao<br />

nosso Governo, conduzir negociações com a União Européia, apoiando os importadores europeus<br />

e os exportadores brasileiros (MORAIS, 2005).<br />

12. PRODUÇÃO DE BIODIESEL NA ÁFRICA<br />

154<br />

A Petrobras receberá na próxima semana executivos da Ente Nazionale Idrocarburi<br />

(ENI), multinacional italiana do setor de petróleo que está interessada em adquirir tecnologia de<br />

refino de óleos pesados da estatal brasileira* .<br />

O objetivo da parceria com a ENI, segundo Costa, seria a implantação de unidades<br />

de biodiesel no Brasil e na África, em países como Moçambique e Angola, visando à exportação do<br />

produto para o mercado italiano.<br />

Dentro de uma visão, num futuro não muito distante, de que o etanol se torne uma<br />

commodity, é bastante importante que outros países de clima tropical venham a aderir a esse tipo<br />

de programa. Então, podem existir oportunidades tanto na produção de biodiesel como na produção<br />

de etanol em países da África.<br />

A Petrobras também está em negociações com o Japão, informou Costa, avaliando<br />

a possibilidade de aquisição de uma refinaria na cidade de Okinawa, com capacidade de refino<br />

de 60 a 70 mil barris de petróleo (AGENCIABRASIL, 2007).<br />

13. INTERESSE DOS EUA SOBRE A INTENÇÃO DE AUMENTAR A PRODUÇÃO<br />

DE ÁLCOOL NO BRASIL<br />

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Após a visita no terminal da Transpetro, subsidiária da Petrobras, em Guarulhos,<br />

os presidentes George W. Bush e Luiz Inácio Lula da Silva discursaram sobre a intenção de<br />

aumentar a produção de etanol e biodiesel, como forma de alterar o panorama mundial das fontes<br />

de energia, muito dependente do petróleo. A proposta é um dos principais pontos discutidos pelos<br />

chefes de Estado.<br />

* Notícia vinculada no dia 20 de maio de 2007 pelo site Agência Brasil.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Alexandre R. Strelling, Alexandro N. de Lima, André V. Costa, Gilson E. Igawa e Adalberto Brandalize<br />

O presidente Lula da Silva levantou a possibilidade de incentivar os países em<br />

geral a trocar suas principais fontes de produção de energia. Dirigindo-se a George W. Bush,<br />

sugeriu uma atuação conjunta com esse fim. “A sua visita ao Brasil pode significar definitivamente<br />

uma aliança estratégica que permita um convencimento do mundo mudar sua matriz<br />

energética”, disse.<br />

O presidente citou a criação do Fórum Internacional de Biocombustíveis, lançado<br />

na última sexta-feira (2) por Brasil, África do Sul, China, Estados Unidos, Índia e União Européia<br />

na Organização das Nações Unidas (ONU)* . “Somente assim teremos a escala de produção<br />

necessária para potencializar os benefícios do etanol e o biodiesel”, comentou.<br />

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, disse que planeja aumentar<br />

em mais de seis vezes o consumo de etanol (álcool combustível) de seu país até 2017, passando dos<br />

atuais 20 bilhões de litros anuais para 132 bilhões. Ao lado de Lula, Bush fez um discurso que<br />

enfatizou as vantagens do etanol, a necessidade de proteger o meio ambiente e as vias de cooperação<br />

com o Brasil.<br />

Uma das possibilidades mencionadas foi na área de pesquisa. Bush elogiou os<br />

acadêmicos dos dois países e afirmou que eles podem trabalhar conjuntamente no desenvolvimento<br />

de tecnologia de biocombustível. Contou também que pediu ao Congresso a aplicação de US$<br />

1,6 bilhão a mais nos próximos dez anos em pesquisas na área. O presidente mencionou também a<br />

relação com países pobres, citando especificamente a América Central. “Quero colaborar com o<br />

Lula para fazer com que a América Central aumente sua independência do petróleo e se torne<br />

auto-suficiente em energia”.<br />

A idéia recebe apoio e crítica. Nos bastidores, a parceria anda a todo o vapor<br />

desde o fim do ano passado. Segundo o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, uma comissão<br />

de âmbito continental criada em dezembro, Comissão Interamericana de Etanol, já encomendou<br />

um diagnóstico geral sobre a América Latina, para saber onde e como será possível plantar<br />

cana-de-açúcar ou aproveitar a produção já existente para fabricar etanol (TOYOMURA, 2007).<br />

155<br />

14. JAPONESES TÊM INTERESSE EM INVESTIR EM ETANOL NO BRASIL<br />

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, explicou hoje o interesse do Japão<br />

em investir na produção de etanol e biodiesel no Brasil* . “A idéia central se prende a uma substituição<br />

das importações do Japão: de produtos derivados do petróleo para produtos de origem agrícola”,<br />

afirmou. Uma nova lei japonesa obriga a mistura de 3% de etanol à gasolina, o que demandará<br />

1,8 bilhões de litros por ano. O Japão quer garantir fornecedores. Além da diversificação na<br />

dependência de combustíveis, os japoneses estão preocupados com a questão ambiental.<br />

A contrapartida do Brasil será a tecnologia, capacitação e desenvolvimento de<br />

projetos. “O aporte de capital japonês nos ajuda a manter a liderança mundial (na produção de<br />

etanol)”, comentou. Na terça-feira, o ministro recebeu de representantes do Japan Bank International<br />

Cooperation (JBIC) o estudo “Programa Brasileiro de Agricultura Energética”, que detalha a liberação<br />

de recursos da instituição financeira para a produção de etanol e biodiesel no País.<br />

* Notícia vinculada no dia 17 de julho de 2007 pelo site Polobio.<br />

* Notícia vinculada dia 17 de junho de 2007 pelo site Biodiselbr.<br />

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Bioenergia e sua Relação com a Administração<br />

O estudo começou a ser feito em 2003 numa parceria entre técnicos da Secretaria<br />

de Produção e Agroenergia e do banco japonês, principal instituição de desenvolvimento do Japão.<br />

Ao entregar o estudo de 350 páginas, o banco comprometeu-se a liberar R$ 1,286 bilhão para o<br />

programa, recursos que serão disponibilizados a partir de abril de 2007, início do calendário japonês.<br />

O estudo avalia a situação atual e as restrições do etanol no País (JORNALCANA, 2007).<br />

15. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Nos próximos anos haverá grande substituição do petróleo, atendendo aos acordos<br />

governamentais em diminuir a emissão de poluentes, e devido ao aumento da utilização de combustíveis<br />

alternativos ao petróleo. Com toda a tecnologia que o Brasil tem neste segmento energético,<br />

o país, nos próximos anos terá um grande crescimento econômico proveniente das negociações<br />

que devem ser feitas com potências econômicas e do aumento da utilização do biocombustível,<br />

aproveitando uma tendência do cenário mundial e ajudando a derrubar outras barreiras políticas<br />

que o Brasil tem com países desenvolvidos.<br />

A adaptação em relação à demanda que poderá surgir é uma questão que deve ser<br />

prevista com certa urgência. Existem países que poderão suprir a capacidade que o Brasil não poderá<br />

atender, é o caso dos países africanos. Com isso, não somente o Brasil, mas também esses países<br />

poderão tirar vantagem e se desenvolver através do cultivo e da produção dessa fonte energética.<br />

156<br />

16. REFERÊNCIAS<br />

BIODIESELBR 2007. Disponível em .<br />

Acesso em 17 de junho de 2007.<br />

ARAÚJO, Massilon J. Fundamentos de Agronegócios. 2ª Edição, São Paulo: Atlas, 2005.<br />

GARCIA, Marco Aurélio. Defesanet. Disponível em . Acesso em 26 de abril de 2007.<br />

POLOBIO. Disponível em . Acesso em<br />

17 de junho de 2007.<br />

AGENCIABRASIL. Disponível em . Acesso em 20 de maio de 2007.<br />

TOYOMURA. Disponível em . Acesso em 20 de maio de 2007.<br />

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JORNALCANA. Disponível em . Acesso em 20 de maio de 2007.<br />

MORAIS Roberta Jardim de. Disponível em .<br />

Acesso em 17 de junho de 2007.<br />

RODRIGUES, Márcio Rodrigues. Disponível em . Acesso em 17 de junho de 2007.<br />

TERRA E CULTURA - Nº 45 - Ano 23 - Agosto a Dezebro 2007


Alessandra C. L. Duim, Juliandra R. Rosisca, Eduardo M. Machado e Lázara P. C. Caramori<br />

ÉTICA NA PESQUISA: UMA ABORDAGEM EM SALA DE AULA UTILIZANDO<br />

O FILME “COBAIAS”<br />

ETHICS IN RESEARCH: AN APPROACH IN SCHOOL CLASSES USING THE MOVIE “MISS EVERS<br />

BOYS”<br />

Alessandra Cabral Leite Duim<br />

Juliandra Rodrigues Rosisca<br />

Eduardo Mozart Machado*<br />

Lázara Pereira Campos Caramori**<br />

RESUMO:<br />

A utilização de materiais audiovisuais como vídeos, documentários e animações tem sido uma<br />

alternativa para levar o conhecimento nos diversos níveis de ensino, do fundamental ao universitário.<br />

Embora haja muitas produções especialmente para uso em salas de aula, o acesso a esses<br />

materiais nem sempre é fácil. O uso de filmes comerciais para discutir temas como o papel dos<br />

sujeitos envolvidos na construção do conhecimento científico e os valores morais e éticos tem sido<br />

uma alternativa utilizada por diversos autores. Neste trabalho utilizou-se o filme “Cobaias” (Miss<br />

Ever´s Boys) como meio de reflexão sobre os aspectos éticos envolvidos no projeto de pesquisa<br />

Tuskegee, realizado em seres humanos no período entre 1932 e 1972 pelo Serviço de Saúde<br />

Pública dos Estados Unidos da América, que conduziu a conseqüências trágicas. Para analisar o<br />

filme, foi seguido um roteiro de oito questões, que faz parte da publicação “Capacitação para<br />

Comitês de Ética em Pesquisa vol. I”, do Ministério da Saúde. Os alunos assistiram ao filme e as<br />

questões foram debatidas dentro da sala de aula como parte da disciplina de Bioética do primeiro<br />

ano do Curso de Ciências Biológicas. Observou-se grande interesse dos alunos pelo assunto e a<br />

ferramenta didática mostrou-se uma excelente forma de transferir os conhecimentos bioéticos e<br />

estimular a reflexão sobre os temas abordados no filme. Essa experiência com os alunos de graduação<br />

mostra que outros filmes comerciais podem ser utilizados no ensino de bioética e outros<br />

assuntos da biologia, ampliando as possibilidades de difusão do conhecimento nas escolas.<br />

157<br />

PALAVRAS-CHAVE: Bioética, ética em pesquisa, filmes.<br />

* Alunos do Curso de Ciências Biológicas da <strong>UniFil</strong><br />

** Bióloga, Doutora, Docente da <strong>UniFil</strong>, orientadora.<br />

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Ética na Pesquisa: Uma Abordagem em Sala de Aula Utilizando O Filme “Cobaias”<br />

ABSTRACT:<br />

The utilization of audiovisual materials as videos, documentary and animations has been an alternative<br />

to carry knowledge in the different level of teaching, from elementary school to university. Even<br />

there are several productions made specially to be used in classrooms, the access to this material is<br />

not easy. The use of commercial movies to argue themes as the paper of the individual involved in<br />

the construction of the scientific knowledge, the moral values and ethics have been and alternative<br />

used by several authors. This work used the movie Miss Evers Boys as a way of reflection about<br />

the ethics aspects involved in the research project Tuskegee realized in human beings in the period<br />

of 1932 and 1972 by the Public Health Service of the United States of America that conducted to<br />

tragic consequences. To analysis the movie there where followed and guide of eight questions, that<br />

are part of the publication “Capability for Ethics Committee in Research vol. I”, from the Health<br />

Ministry. The students watched to the movie and the questions where debated inside classroom as<br />

a part of the discipline of Bioethics from the first year of the course of Biological Science. It was<br />

observed great interest from the students by the subject and the teaching tool showed to be an<br />

excellent way to transfer the bioethical knowledge and stimulate the reflection about themes<br />

approached by the movie. This experience with the graduation students shows that other commercial<br />

movies can be used in the bioethics teaching and other topics of biology, amplifying the possibilities<br />

of diffusion of the knowledge in schools.<br />

KEY-WORDS: Bioethics, research ethics, movies.<br />

1.INTRODUÇÃO<br />

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Diferentes fontes de material audiovisual têm sido difundidas nas escolas, envolvendo<br />

desde o nível fundamental até o universitário. Se por um lado o avanço tecnológico tem<br />

propiciado a multiplicação de animações, documentários e vídeos produzidos especialmente para<br />

uso em salas de aula, por outro lado o acesso a essas informações nem sempre é fácil. A Internet<br />

tem se constituído uma importante fonte de busca, mas muitas vezes os melhores conteúdos são<br />

partes de livros caros, ou são comercializados a preços pouco acessíveis à maioria dos profissionais<br />

e alunos.<br />

Filmes comerciais têm sido utilizados como ferramenta de ensino em diferentes<br />

campos do conhecimento como saúde, educação e ética. Encontramos relatos do uso de filmes<br />

comerciais no ensino superior não só para auxiliar o ensino de temas ligados à microbiologia,<br />

farmacologia, psicologia e psiquiatria (Bhagar, 2005; Lepicard e Fridman, 2003; Garcia-Sanchez et<br />

al., 2002; Fritz e Poe, 1979; Alexander et al., 1994; Pappas et al., 2003; Farre et al., 2004; Sierles et<br />

al., 2005; Baumann et al., 2003; Koren, 1993), e para abordar o trato com os pacientes, principalmente<br />

em cursos de enfermagem (Hyde e Fife, 2005; Elder e Schwarzer, 2002; Masters, 2005;<br />

Wall e Rossen, 2004; Matusevich e Matusevich, 2005; Weerts, 2005; Hyler e Schanzer ,1997).<br />

Maestrelli e Ferrari (2006) utilizaram o filme “O Óleo de Lorenzo”, uma produção<br />

americana de 1992, baseada em fatos reais, para explorar junto aos alunos os conhecimentos<br />

básicos de genética e fisiologia humana, bem como os efeitos psicossociais na família do diagnóstico<br />

de uma doença rara e aspectos do relacionamento médico-paciente.<br />

No presente trabalho foi utilizado filme “COBAIAS” como meio de reflexão sobre<br />

os aspectos éticos envolvidos no projeto de pesquisa Tuskegee, realizado em seres humanos no<br />

período entre 1932 e 1972 pelo Serviço de Saúde Pública dos Estados Unidos.<br />

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Alessandra C. L. Duim, Juliandra R. Rosisca, Eduardo M. Machado e Lázara P. C. Caramori<br />

2. METODOLOGIA<br />

Inicialmente todos os alunos assistiram o filme “Cobaias”, cujos dados e sinopse<br />

são apresentados a seguir:<br />

Filme: Cobaias (Miss Ever´s Boys)<br />

Diretor: Joseph Sargent<br />

Ano: 1997<br />

Atores: Alfre Woodard, Laurence Fishburne, Craig Sheffer, Joe Morton, Obba<br />

Babatunde.<br />

Sinopse: Baseado em uma história verdadeira e chocante, o filme Cobaias (Miss<br />

Ever´s Boys) apresenta o relato de uma pesquisa médica em seres humanos, financiada pelo<br />

governo dos Estados Unidos, desenvolvida durante o período de 40 anos e que conduziu a conseqüências<br />

trágicas. Ancorado na investigação realizada pelo Senado Americano sobre o infame Estudo<br />

Tuskegee, o filme utiliza uma estrutura retrospectiva para nos levar de volta a esse período de<br />

40 anos e mostrar a inserção da enfermeira Eunice Evers (Alfre Woodword) no programa projetado<br />

para tratar a sífilis entre negros no Alabama e que se transformou em um experimento absolutamente<br />

desumano. Em 1932, a leal e dedicada enfermeira Eunice Evers é convidada para trabalhar<br />

com Dr. Brodus (José Morton) e Dr. Douglas (Craig Sheffer) no programa financiado com<br />

fundos federais. Tratamento gratuito é oferecido aos pacientes com teste positivo para a doença,<br />

do qual participaram os profissionais Caleb Humphries (Laurence Fishburne) e Willie Johnson<br />

(Obba Babatunde). Mas quando o governo decide retirar o financiamento para o tratamento, são<br />

oferecidos fundos para aquele que ficou conhecido como o Estudo Tuskegee, um experimento para<br />

verificar os efeitos de sífilis em pacientes que não receberam tratamento. A partir desse momento<br />

os pacientes são levados a acreditar que existe uma preocupação especial para com eles e que<br />

estão sendo tratados com os melhores recursos disponíveis, quando na realidade lhes está sendo<br />

negado o tratamento que poderia curá-los. O filme, com uma estrutura moral complexa, foge das<br />

polaridades existentes entre negros e brancos e focaliza os acordos iniciais entre o governo federal<br />

e os médicos que coordenam o estudo e que terão influência direta sobre o resto de suas vidas. A<br />

faceta perturbadora do drama está direcionada para o fato de que o estudo não poderá ser descoberto<br />

de forma alguma e que os homens inseridos no experimento foram utilizados como bodes<br />

expiatórios pelos pesquisadores e pelo governo sem que lhes fossem oferecida a oportunidade de<br />

tratamento que lhes salvaria a vida. Eunice Evers enfrenta um terrível dilema: abandonar o experimento<br />

e contar a verdade para os pacientes/sujeitos ou permanecer calada e oferecer apenas<br />

cuidado e conforto. É uma decisão entre a vida e a morte que ditará os rumos não apenas da vida<br />

dela, mas, também, de todos os seus “garotos”.<br />

A seguir, foi utilizado o roteiro proposto pelo Comitê de Ética em Pesquisa com<br />

Seres Humanos do Ministério da Saúde para analisar o filme, que consta de um questionário para<br />

orientar e direcionar as discussões sob o ponto de vista ético. O roteiro foi utilizado pelo professor<br />

para conduzir as discussões em sala de aula.<br />

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3. RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

O roteiro para análise do filme “Cobaias” proposto pelo Ministério da Saúde mostrou-se<br />

muito adequado para a discussão e entendimento dos aspectos éticos do projeto Tuskegee.<br />

Para cada questão proposta, foram seguidos os comentários e observações conforme apresentado<br />

a seguir:<br />

1. Qual o contexto social de inserção da pesquisa?<br />

O professor procurou destacar as principais questões relativas à pesquisa envolvendo<br />

seres humanos e que estão retratadas no filme, de forma que fossem discutidas em grupo.<br />

Os seguintes aspectos foram focalizados:<br />

a) desigualdade social – donos de fazendas (ricos) e agricultores (pobres);<br />

b) desigualdade racial – brancos X negros;<br />

c) desigualdade de acesso a bens de consumo e serviços – incluindo os<br />

serviços de saúde;<br />

d) desigualdade de gênero – homens e mulheres;<br />

e) momento histórico – 1932 a 1972.<br />

160<br />

2. Como se davam as relações de poder entre:<br />

a) equipe do Governo Federal dos Estados Unidos (NIH) x equipe local;<br />

b) entre os membros da equipe médicos-pesquisadores (negro e branco) x enfermeira<br />

pesquisadora;<br />

c) entre equipe de pesquisa x sujeitos do estudo<br />

Em relação a este aspecto é importante salientar:<br />

a) a existência da hierarquização de saberes e poderes em todas as esferas;<br />

b) um claro viés de gênero nas relações;<br />

c) a omissão de informações.<br />

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3. O que leva os profissionais médico/pesquisador e enfermeira/pesquisadora a<br />

agirem de forma contrária ao preconizado pelos seus códigos de ética?<br />

Os seguintes aspectos foram enfatizados nas discussões em grupo:<br />

a) a opressão pode submeter pessoas a agirem de forma contrária às suas convicções<br />

e concepções pessoais e profissionais;<br />

b) a possibilidade de ganhos pessoais resultantes da inserção de um profissional<br />

em um projeto de pesquisa pode obscurecer aquilo que é considerado uma postura correta (neste<br />

caso procurou-se mostrar competência, que negros são tão inteligentes como os brancos, passar<br />

para a história, conseguir emprego na sua área de atuação);<br />

c) a confusão entre os papéis de “profissional de saúde” e de “pesquisador” pode<br />

contribuir para concepções errôneas sobre o que é certo e errado em determinada situação (aqui<br />

entra a questão do cuidado x o avanço científico).<br />

4. As pessoas incluídas como sujeitos da pesquisa poderiam ser consideradas<br />

vulneráveis?<br />

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Seguramente os sujeitos de pesquisa envolvidos eram pessoas vulneráveis. Estimulou-se<br />

o grupo a fazer uma comparação entre vulnerabilidade e desigualdade (semelhanças e<br />

diferenças). No caso desses sujeitos de pesquisa, a vulnerabilidade estava vinculada aos seguintes<br />

aspectos:<br />

a) pobreza;<br />

b) baixa ou nenhuma escolaridade;<br />

c) submissão a uma hierarquia social e racial iníqua;<br />

d) dificuldade de acesso aos serviços de saúde;<br />

e) estavam doentes;<br />

f) falta de informações que lhes permitisse decidir sobre o que era melhor para eles;<br />

g) foram enganados, pois não tiveram a informação de que faziam parte de um<br />

experimento científico;<br />

h) foi-lhes negada a possibilidade de acesso aos medicamentos que poderiam curálos<br />

(cerca de 3 décadas);<br />

i) foram submetidos a procedimentos altamente invasivos.<br />

5. Houve algum tipo de sedução/indução/coerção para a participação na pesquisa?<br />

Conduziu-se a discussão para apontar alguns momentos em que claramente foram<br />

envolvidos no que se refere a estes aspectos:<br />

Sedução/Indução:<br />

a) quando eles foram levados no carro do hospital para participar do concurso<br />

de música;<br />

b) quando o médico branco diz que visitou o Cotton Club e dança, demonstrando<br />

interesse pelos ídolos daquelas pessoas;<br />

c) o oferecimento de um “seguro de vida” para comprarem o caixão e deixar de<br />

serem enterrados como seus avós-escravos;<br />

Coerção:<br />

d) entrar no Programa seria a forma de obterem os melhores tratamentos para<br />

sua doença;<br />

e) ter profissionais que cuidavam exclusivamente deles e que zelavam pela<br />

sua saúde.<br />

161<br />

6. Quais os grandes dilemas (conflitos morais) enfrentados pelos personagens<br />

do filme?<br />

Médico negro:<br />

a) aceitar participar de um programa que ele sabia que seria prejudicial para as<br />

pessoas que ele cuidava e que pertenciam à sua comunidade;<br />

b) decidir entre seguir o juramento de sua profissão e “passar para a história” na<br />

condução do experimento;<br />

c) ir contra os princípios da profissão e negar o tratamento aos sujeitos, mesmo<br />

quando este tornou-se disponível para todas as outras pessoas;<br />

d) enganar as pessoas em nome dos benefícios para a ciência e para a raça.<br />

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Enfermeira:<br />

a) decidir sobre sua participação em um experimento infame e enganoso e que<br />

colocava as pessoas de sua própria comunidade e raça em situação de extrema vulnerabilidade;<br />

b) saber que existia tratamento disponível e oferecer “placebos” como se esses<br />

fossem o “melhor tratamento disponível”;<br />

c) por ser o elo com os sujeitos de pesquisa, fornecer as alternativas de acesso a<br />

estas pessoas;<br />

d) continuar como membro da equipe de pesquisa.<br />

Sujeito mais esclarecido:<br />

Ao tomar conhecimento do objetivo da pesquisa e ter acesso ao tratamento, tomou<br />

a iniciativa de levar os companheiros para tomar a penicilina, mas deparou-se com a negativa dos<br />

serviços e depois da enfermeira do Programa. Frente a essa situação não encontrou a maneira de<br />

subverter a situação estabelecida.<br />

7. Como analisar a relação risco-benefício no contexto desta pesquisa?<br />

Estimulou-se o grupo no sentido de discutir a diferença existente entre direito e<br />

benefício, pois persiste uma confusão sobre estes dois conceitos e muitas vezes se oferece como<br />

beneficio algo que é de direito das pessoas. A questão da análise entre riscos e benefícios e como<br />

estes riscos são distribuídos entre os participantes e a sociedade também foi focalizada.<br />

162<br />

Sujeitos:<br />

a) foram alvos de todos os riscos, sem ter conhecimento de que faziam parte do<br />

experimento e sem ter sido informados sobre a sua participação na pesquisa e tão pouco fornecerem<br />

sua permissão para isso;<br />

b) foram submetidos a procedimentos invasivos de alta periculosidade;<br />

c) receberam placebo quando existia tratamento disponível;<br />

d) foram estudados mesmo após a sua morte;<br />

e) receberam “incentivos” para continuar no estudo.<br />

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Sociedade:<br />

a) não é possível negar que grande parte do conhecimento que hoje se tem sobre<br />

a sífilis é resultante da realização deste experimento;<br />

b) os ganhos para a sociedade foram imensos, pois muito do que se conhece a<br />

respeito da sífilis hoje é decorrente da realização deste estudo. É importante relembrar que o<br />

experimento só terminava com a realização da necropsia. Mas a que custo? É justo utilizar um<br />

grupo de pessoas vulneráveis para o benefício principal de outras pessoas ou grupos? Neste caso<br />

específico, não houve retorno para o grupo incluído no experimento, pois a eles foi negado o acesso<br />

ao medicamento (penicilina) que poderia tê-los curado. Essa é uma situação de franca exploração<br />

dos sujeitos de pesquisa em nome da ciência.<br />

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Ciência:<br />

a) obteve “dados puros” sobre a sífilis, já que o Estudo Tuskegee era sobre a sífilis<br />

não tratada;<br />

b) o custo para as pessoas envolvidas em nenhum momento foi impeditivo para a<br />

interrupção do estudo ou a modificação de suas premissas;<br />

c) a presença de diretrizes internacionais e legislações nacionais específicas para<br />

a proteção de sujeitos de pesquisa e para a condução ética dos estudos nem sempre fornecem a<br />

garantia de que estes critérios serão cumpridos.<br />

Departamento de Saúde Pública:<br />

a) financiaram a pesquisa durante 40 anos, sem questionar, justamente porque ela<br />

era realizada com pessoas negras, pobres e sem educação formal;<br />

b) permitiram que os sujeitos fossem mantidos em situação de vulnerabilidade<br />

como forma de perseguirem a obtenção de “dados puros”;<br />

c) em nenhum momento tiveram qualquer tipo de conflito em manter a continuidade<br />

do estudo.<br />

8. Como encarar a questão dos direitos humanos e sua relação com a pesquisa em<br />

situação de desigualdade social, moral e hierárquica dentro da sociedade?<br />

Para resposta a esta pergunta seguiu-se o seguinte procedimento:<br />

a) foi enfatizada a importância que a Declaração Universal dos Direitos Humanos<br />

assume como instrumento (ainda que teórico) de proteção dos direitos e dignidade da pessoa<br />

humana;<br />

b) em situações de desigualdade, a parte mais favorecida (que detém conhecimento<br />

e recursos) deverá assumir a responsabilidade de garantir a implementação das diretrizes<br />

delineadas na Declaração de forma a assegurar a sua aplicabilidade prática;<br />

c) essa premissa diz respeito, portanto, à responsabilidade que devem assumir<br />

patrocinadores, instituições de pesquisa e pesquisadores de respeitar e garantir os direitos e a<br />

dignidade dos sujeitos envolvidos.<br />

A motivação e as respostas dos alunos durante as discussões dos aspectos éticos<br />

da pesquisa abordada no filme mostraram que essa ferramenta tem um enorme potencial didático<br />

e deve ser melhor explorada nos cursos de graduação. As questões que fazem parte do roteiro<br />

para estudo e interpretação do filme “COBAIAS” aqui apresentadas foram utilizadas no curso de<br />

Bioética da <strong>UniFil</strong>, mas podem ser adaptadas para nortear discussões sobre ética na pesquisa com<br />

seres humanos nos Comitês de Ética em Pesquisa ou em salas de aula nos cursos de graduação<br />

nas áreas de saúde em geral, direito ou biologia.<br />

Através de discussões dos limites da ciência, ética e sociedade, é possível contribuir<br />

para a formação de cidadãos conscientes e críticos, de maneira que absurdos como os relatados<br />

no filme jamais venham a ocorrer novamente.<br />

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4. CONCLUSÕES<br />

A utilização de filmes comerciais como ferramenta para discutir temas importantes<br />

do cotidiano tem grande potencial para utilização em cursos de graduação, pela sua fácil disponibilidade,<br />

acessibilidade e interesse dos estudantes. A escolha de temas ligados à ética, seguindo<br />

uma orientação embasada em critérios estabelecidos oficialmente, possibilita a capacitação de<br />

estudantes e profissionais para a realização de atividades de pesquisa envolvendo seres humanos e<br />

estimula a reflexão sobre temas importantes do cotidiano.<br />

5. REFERÊNCIAS<br />

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AOS COLABORADORES<br />

A Revista TERRA E CULTURA é uma publicação<br />

semestral da <strong>UniFil</strong>. Tem por finalidade<br />

divulgar artigos científicos e/ou culturais que<br />

possam contribuir para o conhecimento, o desenvolvimento<br />

e a discussão nos diversos ramos<br />

do saber. Um artigo encaminhado para publicação<br />

deve obedecer às seguintes normas:<br />

1- Estar consoante com as finalidades da<br />

Revista.<br />

2- Ser escrito em língua portuguesa e digitado<br />

em espaço 1,5 (um e meio), papel tamanho<br />

A4, mantendo a configuração e<br />

formatação de acordo com as normas<br />

da ABNT. Recomenda-se que o número<br />

de páginas não ultrapasse a 15 (quinze).<br />

3- Publicar-se-ão trabalhos originais que se enquadrem<br />

em uma das seguintes categorias:<br />

3.1- Relato de Pesquisa: apresentação de investigação<br />

sobre questões direta ou<br />

indiretamente relevantes ao conhecimento científico,<br />

através de dados analisados com<br />

técnicas estatísticas pertinentes.<br />

3.2- Artigo de Revisão Bibliográfica: destinado a<br />

englobar os conhecimentos disponíveis sobre<br />

determinado tema, mediante análise e interpretação<br />

da bibliografia pertinente.<br />

3.3- Análise Crítica: será bem-vinda, sempre que<br />

um trabalho dessa natureza possa apresentar<br />

especial interesse.<br />

3.4- Atualização: destinada a relatar informações<br />

técnicas atuais sobre tema de interesse<br />

para determinada especialidade.<br />

3.5- Resenha: não poderá ser mero resumo, pois<br />

deverá incluir uma apreciação crítica.<br />

3.6- Atualidades e informações: texto destinado<br />

a destacar acontecimentos contemporâneos<br />

sobre áreas de interesse científico.<br />

4 - Redação:<br />

4.1) Nos casos de relato de pesquisa, embora<br />

permitindo liberdade de estilos aos autores,<br />

recomenda-se que, de um modo geral, sigam<br />

à clássica divisão:<br />

Introdução – proposição do problema e das<br />

hipóteses em seu contexto mais amplo, incluindo<br />

uma análise da bibliografia pertinente;<br />

Metodologia - descrição dos passos principais<br />

de seleção da amostra, escolha ou elaboração<br />

dos instrumentos, coleta de dados e procedimentos<br />

estatísticos de tratamento de dados;<br />

Resultados e Discussão – apresentação dos<br />

resultados de maneira clara e concisa, seguidos<br />

de interpretação dos resultados e da análise de<br />

suas implicações e limitações.<br />

4.2) Nos casos de Revisão Bibliográfica, Análises<br />

Críticas, Atualizações e Resenhas, recomenda-se<br />

que os autores observem às tradicionais<br />

etapas:<br />

Introdução, Desenvolvimento e Conclusões.<br />

5- Deve ser encaminhado por e-mail, para o<br />

endereço revistaterraecultura@unifil.br<br />

6- O artigo deverá apresentar resumo e palavras<br />

chaves em português e abstract e<br />

keywords em inglês.<br />

7- Indicar, por uma chamada de asterisco, em<br />

nota de rodapé, a qualificação<br />

técnicoprofissional do(s) autor(es), com<br />

acréscimo dos respectivos e-mails para que<br />

ocorram possíveis contatos por parte dos<br />

leitores.<br />

8- O sistema de chamada para citações deverá<br />

ser o alfabético (autor-data), nesse caso, as<br />

referências deverão ser listadas por ordem<br />

alfabética ao final do Artigo, respeitando a<br />

última edição das Normas da ABNT.<br />

A publicação do trabalho nesta Revista dependerá<br />

da observância das normas acima<br />

sugeridas, da apreciação por parte do Conselho<br />

Editorial e dos pareceres emitido pelos Consultores.<br />

Serão selecionados os artigos apresentados<br />

de acordo com a relevância a atualidade do<br />

tema, com o n° de artigos por autor, e com a<br />

atualidade do conhecimento dentro da respectiva<br />

área.<br />

Conselho Editorial de<br />

TERRA E CULTURA<br />

Av Juscelino Kubitschek,1626<br />

86020-000 – Londrina-PR.<br />

Telefone: 43_3375-7400<br />

E-mail: revistaterraecultura@unifil.br<br />

www.unifil.br

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