PDF - Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge
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Observações_ Boletim Epi<strong>de</strong>miológico<br />
2013<br />
numero:<br />
04<br />
2ª série<br />
www.insa.pt<br />
artigos breves_ n. 2<br />
_Epi<strong>de</strong>miologia <strong>de</strong> base laboratorial<br />
da doença meningocócica invasiva<br />
em Portugal<br />
Maria João Simões<br />
Departamento <strong>de</strong> Doenças Infecciosas, INSA.<br />
_Introdução<br />
A Doença meningocócica (DM) constitui um grave problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
pública <strong>de</strong>vido à elevada taxa <strong>de</strong> incidência em crianças com<br />
ida<strong>de</strong> inferior a quatro anos (20 a 50 por 100 000 em países<br />
industrializados), à elevada letalida<strong>de</strong> (8 a 10%), à elevada frequência<br />
<strong>de</strong> sequelas graves (cerca <strong>de</strong> 20%) e ao facto <strong>de</strong> ser potencialmente<br />
epidémica (1) .<br />
_A caracterização das estirpes circulantes <strong>de</strong> N. meningitidis e a<br />
monitorização da sua dispersão no tempo e no espaço, é parte<br />
da vigilância epi<strong>de</strong>miológica, a qual <strong>de</strong>ve constituir a base da<br />
fundamentação <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> controlo e da monitorização do impacto<br />
das mesmas.<br />
_Em Portugal, a partir <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2002, a notificação da<br />
DM passou a incluir, para além da notificação clínica já obrigatória<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1939, a notificação laboratorial, por implementação do<br />
Sistema <strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica Integrada da Doença<br />
Meningocócica, estabelecida pela Circular Normativa (CN) Nº 13/DEP<br />
da Direção Geral da Saú<strong>de</strong> (DGS), <strong>de</strong> 5 em setembro <strong>de</strong> 2002 (2) .<br />
Re<strong>de</strong> Europeia <strong>de</strong> Vigilância <strong>de</strong> Doenças Bacterianas Invasivas<br />
Portugal, através do <strong>Instituto</strong> <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Doutor <strong>Ricardo</strong><br />
<strong>Jorge</strong> (INSA, IP), integra conjuntamente com outros 29 países europeus,<br />
a re<strong>de</strong> europeia “European Invasive Bacterial Diseases Surveillance<br />
Network” (EU-IBD), coor<strong>de</strong>nada pelo European Centre for<br />
Disease Prevention and Control (ECDC). No âmbito <strong>de</strong>sta re<strong>de</strong>, cada<br />
país notifica anualmente os seus dados <strong>de</strong> vigilância na base europeia<br />
– “The European Surveillance System” (TESSy). Esta re<strong>de</strong> tem<br />
como principais objectivos melhorar a vigilância nos países membros<br />
e promover a utilização alargada dos dados europeus com benefício da<br />
saú<strong>de</strong> pública europeia. O compromisso dos países participantes<br />
na re<strong>de</strong> EU-IBD para com o ECDC compreen<strong>de</strong> a pesquisa e i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>de</strong> N. meningitidis a partir <strong>de</strong> produtos biológicos habitualmente estéreis,<br />
a caracterização molecular <strong>de</strong> estirpes (grupo, subtipo, FetA e MLST)<br />
e a <strong>de</strong>terminação da suscetibilida<strong>de</strong> a quatro antibióticos (Penicilina,<br />
Ceftriaxine Rifampicina e Ciprofloxacina).<br />
_Métodos<br />
De acordo com a CN 13/DEP, os patologistas dos laboratórios dos<br />
hospitais <strong>de</strong> internamento enviam ao INSA as notificações laboratoriais<br />
(em papel ou online na plataforma “Rios”), as estirpes <strong>de</strong> meningococos<br />
isoladas no laboratório ou, nos casos clinicamente suspeitos <strong>de</strong> DM com<br />
cultura negativa, enviam amostras clínicas para pesquisa e caracterização<br />
<strong>de</strong> DNA <strong>de</strong> N. meningitidis.<br />
_Presentemente, no Laboratório <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Referência <strong>de</strong> Neisseria<br />
meningitidis a tipagem <strong>de</strong> estirpes é inteiramente realizada por<br />
métodos moleculares. De acordo com as recomendações do EMGM (3) ,<br />
a <strong>de</strong>signação do genótipo <strong>de</strong>ve referir o grupo: as duas zonas variáveis<br />
(VR) <strong>de</strong> PorA: o tipo <strong>de</strong> FetA: o ST (complexo clonal). exemplo -<br />
B:P1.5-1,10-8:F1-8:ST-16(-). Esta é a nomenclatura utilizada nos<br />
boletins <strong>de</strong> resultados emitidos pelo laboratório.<br />
_O estudo <strong>de</strong> suscetibilida<strong>de</strong> aos antibióticos é realizado pela<br />
<strong>de</strong>terminação da concentração inibitória mínima pelo método ETest,<br />
<strong>de</strong> acordo com os critérios do Clinical and Laboratory Standards<br />
Institute.<br />
_Resultados<br />
Entre 1 <strong>de</strong> janeiro e 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011 registaram-se 85 casos<br />
<strong>de</strong> doença invasiva meningocócica, dos quais 68 casos (80%) tiveram<br />
confirmação laboratorial e 17 foram classificados como prováveis.<br />
A notificação clínica e laboratorial foi feita em 47 dos casos confirmados<br />
(69,1%), dando cumprimento à circular normativa Nº 13/DEP, e em<br />
15 casos (22,1%) houve apenas notificação laboratorial ao INSA<br />
(VigLab DM). Seis casos confirmados em laboratórios hospitalares,<br />
sem caracterização genotípica (8,8%) foram apenas notificados à<br />
DGS (Gráfico 1).<br />
Gráfico 1:<br />
%<br />
80,0<br />
60,0<br />
40,0<br />
20,0<br />
0<br />
Tipos <strong>de</strong> notificação <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> doença<br />
meningocócica com confirmação laboratorial.<br />
Notificações<br />
INSA e DGS<br />
Notificações<br />
apenas INSA<br />
Notificações<br />
apenas DGS<br />
Estudo <strong>de</strong> incidências<br />
Em 2011 a incidência da DM na população total foi <strong>de</strong> 0,80 por 100 mil<br />
habitantes, valor que confirma a tendência <strong>de</strong>crescente, observada<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2003 (Gráfico 2).<br />
continua<br />
06
Observações_ Boletim Epi<strong>de</strong>miológico<br />
2013<br />
numero:<br />
04<br />
2ª série<br />
www.insa.pt<br />
artigos breves_ n. 2<br />
Gráfico 2:<br />
Incidência<br />
2,5<br />
2<br />
1,5<br />
1<br />
Incidências da doença meningocócica observadas<br />
no período entre 2003 e 2011.<br />
_Este aumento, quer do número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> DM por meningococos<br />
do grupo Y quer da sua proporção relativamente aos outros grupos<br />
(aumentou <strong>de</strong> 1,7% no período 2002 a 2010 para 14,5% em 2011),<br />
tem vindo a ser observado em países europeus <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do século<br />
XXI (4) . Entre 2003 e 2011 verificou-se que a incidência da DM por<br />
estirpes do serogrupo B foi a mais alta em todo o período (Gráfico 5).<br />
O serogrupo C evi<strong>de</strong>nciou uma marcada diminuição a<br />
partir <strong>de</strong> 2003-2004.<br />
0,5<br />
0<br />
2003<br />
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011<br />
_A incidência por grupo etário apresenta uma incidência máxima<br />
em crianças menores <strong>de</strong> um ano, <strong>de</strong>cresce acentuadamente no grupo<br />
<strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> um a <strong>de</strong>z anos e mantêm-se com valores baixos na<br />
ida<strong>de</strong> adulta (Gráfico 3).<br />
Gráfico 3: Incidências da doença meningocócica em 2011,<br />
por grupo etário.<br />
Gráfico 5:<br />
100,00<br />
80,00<br />
60,00<br />
40,00<br />
Distribuição da percentagem <strong>de</strong> estirpes <strong>de</strong><br />
N. meningitidis <strong>de</strong> diferentes serogrupos,<br />
responsáveis por casos confirmados e prováveis<br />
<strong>de</strong> DM (percentagem estimada), entre 2003 e 2011.<br />
Incidência<br />
18,00<br />
16,00<br />
14,00<br />
12,00<br />
10,00<br />
8,00<br />
6,00<br />
4,00<br />
2,00<br />
0,00<br />
=45<br />
anos<br />
16,54 6,75 2,29 1,06 0,88 0,86 0,13 0,32<br />
_Em 2011, as estirpes mais frequentes foram as do grupo B (72%).<br />
Em apenas dois doentes foram isoladas estirpes do grupo C: num<br />
indivíduo adulto, não nacional, em turismo na ilha da Ma<strong>de</strong>ira e numa<br />
criança portuguesa <strong>de</strong> 11 anos, da qual se <strong>de</strong>sconhece o status vacinal.<br />
No conjunto das estirpes dos diversos grupos <strong>de</strong>stacam-se as do grupo<br />
Y cujo número aumentou significativamente (Gráfico 4). Uma<br />
caracterização mais <strong>de</strong>talhada, indica que estas pertencem<br />
maioritariamente ao complexo clonal ST-23).<br />
Gráfico 4:<br />
Nº estirpes<br />
10<br />
8<br />
Número <strong>de</strong> estirpes invasivas do grupo Y, isoladas<br />
em Portugal no período entre 2003 e 2011.<br />
20,00<br />
0<br />
2003<br />
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011<br />
Grupo C Grupo B Outros grupos<br />
Grupo <strong>de</strong>sconhecido<br />
Caracterização do subtipo<br />
Da caracterização da proteína PorA, verifica-se que existe uma associação<br />
entre subtipo e grupo. As estirpes B apresentam uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> subtipos, dos quais os dois mais frequentes são P1.7-2,4 (22%)<br />
e P1.22,9 (12%). As estirpes Y são maioritariamente do subtipo<br />
P1.5-1,2-2 (45%) e P1.5-1,10-4 (33%) (Gráfico 6).<br />
continua<br />
Gráfico 6:<br />
Meningococos do grupo B<br />
Proporção <strong>de</strong> subtipos <strong>de</strong> meningococos dos grupos<br />
B e Y responsáveis por doença invasiva em 2011<br />
P1.7-2,4 22%<br />
P1.22,9 12%<br />
P1.5-1, 2-2 6%<br />
P1.19-2, 13-1 6%<br />
Meningococos do grupo Y<br />
%<br />
P1.22-4,14 6%<br />
Outros<br />
38%<br />
P1.22,14 4%<br />
P1.22,14-17 6%<br />
6<br />
4<br />
2<br />
0<br />
2003<br />
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011<br />
Outros<br />
22%<br />
P1.5-1, 10-4<br />
33%<br />
%<br />
P1.5-1, 2-2<br />
45%<br />
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Observações_ Boletim Epi<strong>de</strong>miológico<br />
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numero:<br />
04<br />
2ª série<br />
www.insa.pt<br />
artigos breves_ n. 2<br />
Caracterização da proteína FetA<br />
A caracterização da zona variável da proteína FetA apresenta<br />
uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> genética, Predominam as variantes F5-8 (14%),<br />
F1-5 (12%) e F4-1 (12%) (Gráfico 7).<br />
Gráfico 7:<br />
Proporção <strong>de</strong> variantes <strong>de</strong> FetA <strong>de</strong> estirpes invasivas<br />
<strong>de</strong> meningococos i<strong>de</strong>ntificados em 2011.<br />
_Conclusões<br />
As características epi<strong>de</strong>miológicas da DM em Portugal, nomeadamente<br />
no que se refere à incidência global, por grupo etário, serogrupos e<br />
genótipos circulantes, são semelhantes às dos países participantes<br />
na re<strong>de</strong> europeia <strong>de</strong> vigilância. Atualmente, os meningococos do<br />
grupo B são os mais frequentemente associados a doença meningocócica<br />
invasiva. Em 2011 observou-se em Portugal um aumento acentuado<br />
<strong>de</strong> meningococos invasivos do grupo Y.<br />
Outros<br />
32%<br />
F1-7 10%<br />
_Referências bibliográficas:<br />
%<br />
F1-5 12%<br />
(1) Heymann DL (ed.). Control of Communicable Diseases Manual. 18th ed. Baltimore:<br />
American Public Health Assoc, United Book Press, 2000.<br />
F5-9 8%<br />
F5-8 14%<br />
F5-2 6%<br />
F4-1 12%<br />
F3-9 6%<br />
(2) Direção Geral da Saú<strong>de</strong>. Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica Integrada da Doença Meningocócica.<br />
Circular Normativa 13/DEP <strong>de</strong> 05-09-02. Lisboa: DGS, 2002.<br />
(3) Jolley KA, Brehony C, Mai<strong>de</strong>n MC. Molecular typing of meningococci: recommendations<br />
for target choice and nomenclature. FEMS Microbiol Rev. 2007 Jan; 31(1):89-96.<br />
(4) Bröker M, Jacobsson S, Kuusi M, et al. Meningococcal serogroup Y emergence in Europe:<br />
Update 2011. Hum Vaccin Immunother. 2012 Oct 2;8(12).<br />
I<strong>de</strong>ntificação dos tipos <strong>de</strong> sequência (ST) e <strong>de</strong> complexos clonais<br />
A maioria das estirpes híper virulentas (estirpes, habitualmente associadas<br />
a doença particularmente severa) agrupa-se num número limitado<br />
<strong>de</strong> complexos clonais: ST-8, ST-11, ST-32, ST-41/44 e ST-269 (5) .<br />
A distribuição <strong>de</strong> complexos clonais (cc) <strong>de</strong> meningococos isolados<br />
em 2011 indica que existe uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> genótipos<br />
com predomínio <strong>de</strong> estirpes co cc ST-41/44 e ST-269 (Gráfico 8).<br />
(5) Yazdankhah SP, Kriz P, Tzanakaki G, et al. Distribution of serogroups and genotypes among<br />
disease-associated and carried isolates of Neisseria meningitidis from the Czech Republic,<br />
Greece, and Norway. J Clin Microbiol. 2004 Nov;42(11):5146-5<br />
Gráfico 8:<br />
Proporção <strong>de</strong> complexos clonais <strong>de</strong> estirpes invasivas<br />
<strong>de</strong> meningococos isoladas em Portugal em 2011,<br />
com indicação (a vermelho) dos cc hipervirulentos.<br />
Outros11,5%<br />
ST-41/44 26,9%<br />
ST-32 1,9%<br />
ST-11 1,9%<br />
ST-167 3,8%<br />
Sem cc 5,8%<br />
ST-461 5,8%<br />
ST-213 5,8%<br />
%<br />
ST-35 7,7%<br />
ST-269 11,5%<br />
ST-162 9,6%<br />
ST-23 7,7%<br />
Suscetibilida<strong>de</strong> aos antibióticos<br />
Relativamente à Penicilina, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2009 que se tem observado o aumento<br />
<strong>de</strong> estirpes com CIM > = 0,12 mg/L, valor limite inferior interpretável como<br />
suscetibilida<strong>de</strong> intermédia.<br />
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