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R$ 5,90 - Roteiro Brasília

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Ano VII • nº 153<br />

29 de outubro de 2008<br />

<strong>R$</strong> 5,<strong>90</strong>


empoucaspalavras<br />

Nosso mais novo colunista, o chef belga Quentin<br />

Geenem de Saint Maur, vem se revelando também ótimo<br />

pauteiro. Para fazer a reportagem de capa desta edição,<br />

nós buscamos inspiração no artigo em que ela chamou<br />

a atenção para as surpreendentes possibilidades de utilização<br />

de frutos do Cerrado na gastronomia. E lamentou<br />

que isso ainda não tivesse a merecida divulgação.<br />

Pois a deficiência apontada por ele felizmente começa<br />

a ser corrigida pela Embrapa Cerrados, que, após anos<br />

de pesquisas – coordenadas por José Orlando Madalena<br />

– está finalizando um livro com mais de 200 receitas<br />

cujos ingredientes são os exóticos baru, cagaita, murici,<br />

jatobá, araticum, buriti, gabiroba e buriti, entre outros.<br />

Este último, inclusive, está presente na receita “Ouro do<br />

Cerrado”, que José Orlando antecipa para os leitores da<br />

<strong>Roteiro</strong> (página 4).<br />

Esta edição está também repleta de boas sugestões de<br />

filmes. Em sua décima edição, o Festival Internacional<br />

de Cinema vai movimentar a Academia de Tênis entre<br />

29 de outubro e 9 de novembro. O jornalista Sérgio<br />

Moriconi conta as novidades do FIC, que começa logo<br />

com um filme de Woody Allen e elenco estelar – Scarlett<br />

Johansson, Rebecca Hall, Javier Bardem e Penélope Cruz<br />

(leia na página 28).<br />

Mas não é só isso, em matéria de sétima arte! Na<br />

página 32, Reynaldo Domingos Ferreira comenta o<br />

filme Mandela – luta pela liberdade, que fala da aproximação<br />

do líder negro com seu carcereiro James Gregory,<br />

racista, que revê seus conceitos e tardiamente sente<br />

remorso por praticar atos criminosos contra os negros<br />

nos tempos do apartheid.<br />

Por fim, não deixe de conferir, na página 30, a<br />

mostra Poemas Visionários, que reúne 12 dos 24 filmes<br />

do cineasta expressionista alemão F.W. Murnau. Ele<br />

fez cinema mudo logo após a Primeira Guerra, inovou,<br />

ao criar a chamada “câmara desvencilhada”, e virou<br />

referência para diretores das gerações seguintes.<br />

Boa leitura e até a próxima quinzena<br />

Maria Teresa Fernandes e<br />

Adriano Lopes de Oliveira<br />

Editores<br />

28 luzcâmaraação<br />

Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen, com Penélope<br />

Cruz, Javier Bardem e Scarlett Johansson, é uma das<br />

atrações do 10º Festival Internacional de Cinema de Brasília<br />

4<br />

8<br />

10<br />

12<br />

14<br />

16<br />

20<br />

22<br />

24<br />

25<br />

26<br />

34<br />

águanaboca<br />

picadinho<br />

garfadas&goles<br />

pão&vinho<br />

palavradochef<br />

roteirogastronômico<br />

dia&noite<br />

diáriodeviagem<br />

galeriadearte<br />

avenidadasnações<br />

queespetáculo<br />

cartadaeuropa<br />

Divulgação<br />

ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora <strong>Roteiro</strong> Ltda | SHS, Ed. Brasil 21, Bloco E, Sala 1208 – Tel: 3964.0207 Fax: 3964.0207 | Redação<br />

roteirobrasilia@alo.com.br | Editores Adriano Lopes de Oliveira e Maria Teresa Fernandes | Produção Célia Regina | Capa Carlos Roberto Ferreira<br />

sobre foto de Lula Lopes | Diagramação Carlos Roberto Ferreira | Reportagem Akemi Nitahara, Alexandre Marino, Alexandre dos Santos Franco,<br />

Beth Almeida, Catarina Seligman, Diego Recena, Eduardo Oliveira, Heitor Menezes, Lúcia Leão, Luis Turiba, Luiz Recena, Reynaldo Domingos<br />

Ferreira, Ricardo Pedreira, Sérgio Moriconi, Silio Boccanera, Súsan Faria e Vicente Sá | Fotografia Eduardo Oliveira, Rodrigo Oliveira e Sérgio Amaral<br />

| Diretor Comercial Jaime Recena (7814.16<strong>90</strong>) | Contatos Comerciais André Gil (9988.6676) e Giselma Nascimento (9985.5881) | Administrativo/<br />

Financeiro Daniel Viana e Rafael Oliveira | Assinaturas (3964.0207)| Impressão Gráfica Coronário.


águanaboca<br />

Araticum<br />

Cajuzinho<br />

Gostosos e nutritivos<br />

POR LÚCIA LEÃO<br />

Tudo começou, para José Orlando<br />

Madalena, quando, funcionário de uma<br />

empresa agropecuária, conviveu, em andanças<br />

por áreas rurais do Planalto Central,<br />

com brasileirinhos desnutridos povoando<br />

uma região de natureza especialmente<br />

generosa em sabores e nutrientes. “É<br />

como morrer de sede na beira de um poço<br />

de água cristalina”, ele comparava, observando<br />

pequis, barus, jatobás, macaúbas e<br />

outras jóias dando sopa na paisagem retorcida,<br />

sem cair nas panelas enegrecidas<br />

pela lenha dos fogões rústicos dos casebres<br />

da região.<br />

Aliando a preocupação com a segurança<br />

alimentar daquela gente ao gosto<br />

pelas lidas culinárias que traz do berço es-<br />

panhol, Orlando começou a preparar guloseimas<br />

e quitutes com plantas nativas<br />

do bioma. Hoje, elas são o foco de sua<br />

pesquisa na Embrapa Cerrados e matériaprima<br />

para mais de 200 receitas do livro<br />

que o pesquisador está por finalizar.<br />

Diferente do agrônomo, Francisco Ansiliero<br />

era um professor e fazia do cozinhar<br />

um hobby, um exercício descompromissado<br />

de puro prazer. Era uma situação<br />

confortável para fazer experimentos, e ele,<br />

um catarinense de sangue italiano, resolveu<br />

experimentar os sabores brasileiros<br />

regionais. Primeiro os da Amazônia, onde<br />

viveu por um tempo. Depois os do Cerrado,<br />

onde se fixou definitivamente há vinte<br />

anos, quando inaugurou em Brasília a primeira<br />

casa da rede de restaurantes Dom<br />

Francisco.<br />

Rita Medeiros era jornalista. Junto<br />

com o marido, o também jornalista Bartolomeu<br />

Rodrigues, comprou uma terrinha<br />

em Pirenópolis, sem maiores pretensões<br />

do que investir a pequena poupança num<br />

refúgio sossegado, longe do stress das redações<br />

dos jornais. Embrenhar-se pelo<br />

Cerrado, descobrindo e catando frutas estranhas,<br />

era brincadeira de fins de semana<br />

até o casal perceber que podia fazer daquele<br />

prazer seu dia-a-dia. Foi aí que Ritinha e<br />

Bartô criaram a Sorbê, uma indústria de<br />

sorvetes artesanais presentes hoje em vários<br />

pontos de venda da cidade.<br />

Com trajetórias e motivações distintas,<br />

os caminhos de José Orlando, Francisco,<br />

Rita e Bartô chegaram àquele que,<br />

até pouco tempo, era o primo pobre dos<br />

biomas brasileiros. Sem a exuberância das<br />

4


Fotos: Divulgação Sorbê<br />

Jenipapo<br />

Primo pobre dos biomas brasileiros até pouco tempo atrás, o<br />

Cerrado hoje fornece ingredientes para alimentos deliciosos<br />

florestas tropicais nem a tradição cultural<br />

que difundiu os hábitos alimentares dos<br />

Pampas e da Caatinga, o Cerrado e seus<br />

frutos são descobertas recentes tanto para<br />

pesquisadores como para gourmets. Mas<br />

rapidamente se desvendam os segredos de<br />

seus preparos e a estranheza dos sabores vira<br />

admiração.<br />

“Os produtos do Cerrado têm sabor<br />

forte e são muito aromáticos. Tendem ao<br />

herbáceo, têm uma acidez significativa e às<br />

vezes um certo amargor. É preciso paciência<br />

para trabalhar com eles, buscar o equilíbrio<br />

e amenizar essas características para<br />

agradar ao paladar de um universo maior<br />

de pessoas”, ensina Francisco, com a acuidade<br />

didática que nunca abandonou.<br />

Convidado a preparar um cardápio<br />

com espécies típicas do Cerrado para um<br />

workshop sobre “sabores do Brasil” – parte<br />

da programação da feira Ciência para a<br />

Vida, realizada pela Embrapa no último<br />

mês de setembro – Francisco usou cagaitas,<br />

pequi, baru, murici, gueroba, jatobá<br />

e araticum para preparar<br />

entradas, pratos<br />

principais e sobremesas<br />

dignos de um banquete<br />

e capazes de satisfazer<br />

à plenitude turistas<br />

exigentes e curiosos<br />

como Zé Carlos<br />

Baratino, o chef paulista<br />

que, em visita a<br />

Brasília, pouco pôde<br />

conhecer dos sabores<br />

regionais além dos sorvetes<br />

da Sorbê, a ele<br />

apresentados pelo também chef e colunista<br />

da <strong>Roteiro</strong> Quentin Geenen de Saint<br />

Maur, um dos quais ilustra nossa capa.<br />

Esse tipo de curiosidade pode salvar o<br />

gato! Neste caso, o Cerrado! Comprando<br />

Divulgação Embrapa<br />

5


águanaboca<br />

Photoagência<br />

Divulgação Embrapa<br />

O chef Francisco Ansil<br />

volumes cada vez maiores de frutos coletados<br />

por associações de catadores organizadas<br />

em várias áreas do Entorno de Brasília,<br />

a Sorbê contribui para manter, pelo<br />

menos nessas áreas, a vegetação nativa em<br />

pé. Imagine o que poderiam fazer os responsáveis<br />

pelos cardápios das recepções<br />

oficiais que movimentam a Esplanada dos<br />

Ministérios ou os hotéis da cidade!<br />

Esse é um dos focos do trabalho de José<br />

Orlando na Embrapa. Concentrado<br />

em onze espécies – pequi, buriti, araticum,<br />

cagaita, macaúba, cajuzinho, mangaba,<br />

gueiroba, gabiroba, murici e jatobá – o<br />

pesquisador/cozinheiro desenvolveu receitas<br />

que, acredita, encheriam de charme<br />

os bufês de café da manhã dos hotéis da<br />

capital e os eventos aqui realizados. Para<br />

demonstrar isso, ele próprio foi para a cozinha,<br />

em setembro do ano passado, e<br />

preparou o coffee break dos 200 convidados<br />

do Ministério do Meio Ambiente nas<br />

comemorações do Dia do Cerrado.<br />

“Neste momento, estamos negociando<br />

com um grupo de hotéis para apoiar<br />

um programa de turismo gastronômico<br />

onde eles ofereçam um cardápio regional<br />

do Cerrado pelo menos um dia por semana.<br />

Nós vamos colocar à disposição nossas<br />

receitas e fazer contato com as comunidades<br />

extrativistas para garantir o fornecimento<br />

dos produtos”, diz o pesquisador.<br />

Entre as metas de José Orlando está a<br />

de atingir a perfeição na elaboração de licores<br />

de frutas do Cerrado (“o que se faz<br />

por aí são cachaças aromatizadas!”), estrelas<br />

do livro de receitas que ele promete<br />

lançar até fevereiro. Lá estará também a receita<br />

da “Ouro do Cerrado”, torta salgada<br />

de buriti e pequi oferecida para degustação<br />

aos visitantes da feira Ciência para a<br />

Vida.<br />

Experimente preparar a receita de José<br />

Orlando Madalena e veja como é o gosto<br />

do Cerrado.<br />

Ouro do Cerrado<br />

INGREDIENTES<br />

Da massa<br />

1 xícara (chá) de raspa de buriti moída<br />

4 xícaras (chá) de farinha de trigo<br />

3 xícaras (chá) de leite<br />

1 xícara (chá) de óleo<br />

10 colheres (sopa) de queijo ralado parmesão (opcional)<br />

4 colheres (sopa) de margarina<br />

1 colher (sopa) de fermento em pó<br />

2 colher (sopa) de óleo de polpa de pequi<br />

1 pitada de açúcar<br />

4 ovos grandes<br />

1 pitada de sal em função do queijo parmesão<br />

Do recheio<br />

500g de carne de frango desfiada temperada e refogada<br />

2 xícaras de brócolis ou caruru de porco<br />

1 lata de ervilha e 1 lata de milho doce (opcional)<br />

MODO DE PREPARO<br />

Bater todos os ingredientes da massa no liquidificador ou<br />

batedeira. Fazer o recheio de frango desfiado com tempero a gosto,<br />

acrescentando opcionalmente a ervilha e o milho doce. Num tabuleiro<br />

untado com óleo e polvilhado com farinha de trigo, despejar metade<br />

da massa. Distribuir em seguida o frango uniformemente e recobri-lo<br />

com o resto da massa. Levar ao forno pré-aquecido a 180 - 210º C<br />

por 35 a 40 minutos.<br />

6


Chopes<br />

e petiscos<br />

Começa a<br />

segunda<br />

edição do<br />

festival<br />

Bar em Bar<br />

Nem os rigores da “lei seca” nem as<br />

turbulências econômicas dos últimos meses<br />

foram capazes de vencer a resistência<br />

dos empresários da gastronomia. Tanto é<br />

verdade que a segunda edição do festival<br />

Bar em Bar, promovido em todo o país<br />

pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes<br />

(Abrasel), está ainda maior e<br />

promete ser melhor do que a primeira.<br />

Em Brasília, 35 estabelecimentos participam<br />

este ano da promoção, 20% a<br />

mais do que em 2007. Durante o festival,<br />

até 5 de dezembro, deliciosos petiscos da<br />

culinária de boteco – picadinhos de filé,<br />

costelinhas defumadas, ceviches, robalo<br />

na brasa, quibes, esfihas, carne de sol,<br />

anéis de lula crocantes, nachos de camarones,<br />

pasteizinhos chineses, tortilhas, camarões<br />

empanados, escondidinhos – estarão<br />

com preços promocionais em nada<br />

menos de 50 pontos de venda.<br />

A Abrasel vai aproveitar o festival para<br />

reeditar a campanha Porções de Harmonia,<br />

de grande sucesso em 2007. “Bar é alegria,<br />

poesia, namoro e reunião de família;<br />

é tira-gosto, bebida gelada, papo com amigos<br />

e boa música” – é o que vai reafirmar<br />

a campanha publicitária. Sete bolachas de<br />

chope temáticas lembram que os bares<br />

têm uma participação importante na construção<br />

da cidadania.<br />

As bolachas podem ser colecionadas<br />

pelos fregueses e têm ilustrações e frases<br />

criativas. Alguns exemplos: “Ao entrar<br />

num bar, sirva-se com uma dose de responsabilidade<br />

antes de beber – lembre-se,<br />

principalmente, que bebida e direção não<br />

combinam”; “O som nos bares deve encher<br />

os ouvidos, não a paciência da vizinha”;<br />

“Os melhores bares servem qualidade<br />

e segurança para o cliente”. Essa<br />

ação é realizada simultaneamente em todos<br />

os Estados.<br />

Em sua primeira edição, no ano passado,<br />

o festival contou com a participação de<br />

443 estabelecimentos de 33 cidades. Um<br />

milhão de bolachas de chope da campanha<br />

Porções de Harmonia foram distribuídas<br />

entre 15 de novembro e 15 de dezembro.<br />

O site do festival – www.barembar.<br />

com.br – deu oportunidade aos internautas<br />

de comentar os pratos e marcar encontros<br />

com os amigos, recebendo mais de<br />

seis milhões de visitas.<br />

Festival Bar em Bar<br />

De 29/10 a 5/12 em 50 bares e restaurantes<br />

da cidade (relação completa dos<br />

participantes, com endereços, telefones,<br />

descrição e preços dos tira-gostos<br />

em www.abraseldf.com.br ou<br />

www.barembar.com.br)<br />

Divulgação<br />

7


picadinho<br />

Nordestino light<br />

O restaurante Severina (201 Sul)<br />

resolveu mostrar que a comida<br />

nordestina nem sempre precisa ser<br />

pesada. Para isso, lançou um cardápio<br />

light com opções como a salada<br />

Dona Severina, com feijão de corda<br />

temperado com azeite, cenoura<br />

ralada, tomate e cheiro verde, e a<br />

salada nordestina, que leva carne de<br />

sol desfiada, alface crespa, queijo<br />

coalho, cenoura, molho de laranja e<br />

melado de cana (ambas a <strong>R$</strong> 6,80).<br />

Novidades do Dudu<br />

O chef Dudu Camargo dá uma<br />

renovada em suas casas. A Cantina<br />

Italiana Unanimità está de cardápio<br />

novo, com mais de 15 lançamentos,<br />

entre eles o filé ao molho de queijo<br />

parmesão com risoto de vinho tinto,<br />

cebola à Juliana e ervas crocantes. O<br />

Your´s (QI 11 Lago Sul) foi repaginado:<br />

além de novo piso, pintura,<br />

iluminação e uniformes para a<br />

equipe, ganhou uma varanda com<br />

capacidade para 25 pessoas. E em<br />

novembro também estará com novo<br />

cardápio. A pizzaria Fratello Uno<br />

da 103 Sul também foi ampliada –<br />

agora tem capacidade para 120<br />

pessoas. No Dudu Camargo Restaurante<br />

(103 Sul), a novidade é a<br />

retomada do “almoço dos amigos”,<br />

às sextas-feiras – nesse dia, além do<br />

cardápio tradicional, os clientes<br />

encontram sugestões especiais com<br />

salada e prato principal, acompanhados<br />

de aperitivos quentes e frios.<br />

Festival do Camarão<br />

Está em cartaz na Crepe Royale<br />

(207 Sul) o 3º Festival do Camarão.<br />

O cardápio foi invadido pelas mais<br />

variados crepes recheados com o<br />

apreciado crustáceo. Alguns dos<br />

destaques são o crepe de camarão<br />

ao champangne e o de camarão<br />

à espanhola (camarões salteados<br />

no azeite ao creme de chadornay<br />

e curimã).<br />

Franco-italiano<br />

O Espaço Maria Tereza (QI 5 do Lago<br />

Sul) acaba de ganhar um reforço: o<br />

franco-italiano Bottarga Ristorante.<br />

Para comandar a casa, foi contratado<br />

o chef Felipe Bronze. O cardápio<br />

conta com uma variedade de pratos<br />

clássicos com toques contemporâneos,<br />

entre elas o Prime Rib Red Angus<br />

– grelhado com batatinhas assadas<br />

no tomilho e chantilly de raiz forte.<br />

Outra interessante pedida é o mini<br />

penne gratinado com endívias,<br />

aspargos e presunto cru.<br />

Promoções do Jorjão<br />

Os bares do popular Baixo Jorjão –<br />

Armazém do Ferreira, Bar do Brasil e<br />

Café do Brasil, na 202 Norte – estão<br />

com ótimas promoções. Às sextas, o<br />

Confraria do Camarão na Asa Sul<br />

Após 12 anos de sucesso no ParkShopping e quatro no Terraço Shopping,<br />

a Confraria do Camarão finalmente chegou às ruas da cidade. E o local<br />

escolhido por Anínio Terra e Ricardo Carvalho foi a esquina da 212 Sul.<br />

Lá, ao contrário dos shoppings, prevalece o conceito diferenciado do<br />

slow-food, um movimento que celebra o alimento de qualidade e os<br />

prazeres da mesa. O menu, como não poderia deixar de ser, é repleto<br />

de frutos do mar. Entre as novidades estão os pratos-família, que servem<br />

de quatro a seis pessoas, como o bobó de camarão (<strong>R$</strong> 99), a moqueca<br />

de camarão (<strong>R$</strong> 98) e o penne com camarões (<strong>R$</strong> 99). Outras boas pedidas<br />

são o tabule de frutos do mar (<strong>R$</strong> 19,50 por pessoa), o camarão manacá,<br />

visto na foto ao lado (<strong>R$</strong> 29 por pessoa) e o camarão caipira (recheado<br />

com queijo coalho, envolvo em delicads fatias de bacon e mergulhados em<br />

mel de engenho, a <strong>R$</strong> 14,50, seis unidades). Para as crianças, há o menu<br />

kids (<strong>R$</strong> 18,<strong>90</strong>). A casa ainda possui uma seleta carta de vinhos da Mistral.<br />

8


cliente que optar pela feijoada ganha<br />

um cupom de desconto de 50% para<br />

a semana seguinte. Nos dias de jogos<br />

de futebol, quem acertar o placar<br />

ganha 20 chopes (se houver mais de<br />

um ganhador, o prêmio é dividido).<br />

Os aniversariantes também têm suas<br />

vantagens: os que levarem cinco<br />

amigos ganham de presente igual<br />

número de chopes.<br />

Café sofisticado<br />

A rede Vanilla Caffè,<br />

de São Paulo,<br />

abriu sua primeira<br />

franquia em<br />

Brasília. Localizada<br />

na 408<br />

Sul, a casa<br />

conta com<br />

um variado<br />

cardápio de<br />

bebidas à base de<br />

café, além de crepes,<br />

sanduíches, quiches, sopas e salgados.<br />

Entre as bebidas, destaque para<br />

o Vanilla Cappuccino (com syrup de<br />

baunilha) e o Biscotti & Crema Caffè<br />

(expresso, leite, sorvete Häagen-Dazs<br />

de baunilha, biscoito de chocolate e<br />

syrup de irish-cream batidos com<br />

gelo e cobertura de chantilly). Outro<br />

atrativo é o charme do ambiente, que<br />

conta com espaços para leitura,<br />

internet sem fio e sonorização<br />

ambiente. A loja de Brasília é a 22ª<br />

Alessandro Dantas<br />

da rede, eleita pela revista Pequenas<br />

Empresas Grandes Negócios e o<br />

Instituto FGV como a melhor franquia<br />

de café e confeitaria de 2007.<br />

Galetos,<br />

massas e uvas<br />

Desde que topou o desafio de<br />

reinaugurar o restaurante Vercelli, o<br />

empresário Fernando Pereira Borges<br />

não pára de incrementar sua casa. O<br />

primeiro passo foi a reformulação do<br />

menu, que especializou-se em galetos<br />

e massas. A combinação típica do Rio<br />

Grande do Sul é servida no sistema<br />

de rodízio, com direito a polenta,<br />

arroz carreteiro, saladas, nhoque,<br />

talharim e rondeli, entre outros<br />

acompanhamentos. Melhorou<br />

também a carta de vinhos, composta<br />

principalmente de rótulos nacionais.<br />

Entre as opções estão o vinho da<br />

casa, que sai direto do tonel feito<br />

de grápia, uma madeira bastante<br />

utilizada nas vinícolas do sul. E para<br />

quem preferir há a versão não etílica:<br />

o tradicional suco de uva concentrado<br />

vindo de um produtor exclusivo<br />

do restaurante – companhia perfeita<br />

para os galetos.<br />

Panettone Fasano<br />

O Natal já chegou na Enoteca Fasano,<br />

que está colocando à venda 40%<br />

mais panettones do que em 2007.<br />

Confeccionado artesanalmente,<br />

seguindo a clássica receita milanesa,<br />

o panettone Fasano foi eleito o<br />

melhor do país pela revista Veja São<br />

Paulo, em novembro do ano passado.<br />

Disponível em embalagens de um<br />

quilo, custa <strong>R$</strong> 60 e é vendido<br />

também em kits especiais em que<br />

vem acompanhado de uma garrafa<br />

de Prosecco Valdizze (<strong>R$</strong> 121),<br />

Prosecco Fae 2007 (<strong>R$</strong> 189) ou<br />

Calle Funes Cosechia Tardia (<strong>R$</strong> 170).<br />

O panettone e os kits podem ser<br />

adquiridos nas lojas de São Paulo,<br />

Rio, Ribeirão Preto e Campos do<br />

Jordão, nos revendedores espalhados<br />

pelo Brasil ou pelo televendas<br />

(11) 3074. 3959.<br />

Chef in box<br />

9


Entre despedidas<br />

LUIZ RECENA<br />

garfadasegoles<br />

@alo.com.br<br />

10garfadas&goles<br />

10<br />

e bons augúrios<br />

Meu prezado editor, volto ao estilo missivista. Agora com mais razão: já estou em Salvador, conforme<br />

anunciado e comemorado, bem comemorado em Brasília na segunda semana de outubro. Os poucos dias<br />

soteropolitanos ainda não ensejam uma coluna com sotaque local, ainda que os frutos do mar tenham<br />

marcado presença desde o primeiro momento em solo baiano. Em verdade, digo: lambretas, camarões,<br />

peixe vermelho do rabo aberto, tudo numa barraca de beira da praia, a Toca do Dinho, tudo isso reafirma<br />

nosso velho conceito de que o negócio é aqui. Como diria o filósofo Romário, a capital baiana é do tipo<br />

“esse é o cara!”. Nesta primeira missiva, porém, quero lembrar ainda garfadas brasilienses. As primeiras,<br />

na casa do meu vizinho de coluna, o mestre de vinhos Alexandre Franco. De vinhos e da arte de receber.<br />

Quem cozinhou, a vera: Rodrigo Sanches e Dr. Paixão. O primeiro fez a entrada, saladinha de lagosta, fria,<br />

tudo parecendo simples, como a arte de quem sabe. Nota dez. O segundo fez a pièce de resistance: um<br />

bacalhau que ele chama de “não dá pra parar”... A modéstia não traduz a excelência do prato. Pedi a lista<br />

dos vinhos ao Alexandre, mas não recebi. Acho que ele reservou para a coluna dele. Egoísta e ingrato...<br />

Depois veio a despedida com a galera da secretaria de comunicação da UnB, gestão pro tempore, no Bar<br />

do Mineiro. Cerveja hiper gelada, tira-gostos de boteco, um velho steinheger de guerra e o carinho da meninada,<br />

que recicla a alma meio cansada. Outras aconteceram até a grande final, no Madrid, com o carinho<br />

antigo das crianças e dos amigos. O fígado, ao final, protestou. Parecia uma criança berrando. E não<br />

de fome nem sede, evidentemente. Em certos momentos a gente maltrata o distinto... Agora ele vai repousar<br />

um pouco na paz dos coqueiros. Mas só um pouco. Prometo. E assim, nestes termos, meu caro<br />

editor e amigo, inauguro um novo modelo nesta sempre novidadeira revista: um texto inicial, de abertura,<br />

desde Salvador, algumas notas baianas e uma seção já batizada de “Pelo Telefone”, com suspiros, fofocas,<br />

pequenas intrigas vindas de Brasília, das fontes fiéis que nunca abandonaram a revista. Sejamos felizes!<br />

Com a admiração de sempre, receba meu abraço baiano.<br />

Barulho infernal<br />

Não sei como chamá-los, se cefetelhos ou chatocefes.<br />

Mas o barulho que fizeram e fazem os grevistas<br />

da Caixa não é capaz de produzir um único apoio<br />

de verdade. E, para os donos de bares e restaurantes<br />

da comercial 202 Sul, eles só espantam a freguesia.<br />

E o pior de tudo é que se eles ganharem certamente<br />

não irão gastar o aumento nos bares da quadra.<br />

Quem faz aquele tipo de barulho não tem classe<br />

para beber ali.<br />

Test drive<br />

As primeiras pizzas estilo napoletanas começaram<br />

a ser testadas. Gil Mauro diz que estão ótimas.<br />

Não sei, ainda não participei dos testes. O Baco<br />

Pizza Na po letana substitui o Barcelona, ceifado no<br />

começo da vida pela Lei Seca, a infame. O local, na<br />

206 Sul, deu lugar a uma nova casa, cheia de estilo<br />

italiano.<br />

Novo mercadinho<br />

O La Palma abriu filial na Asa Sul, na 412. Chique,<br />

muito chique. Como todo asanortista que migra para<br />

o sul, botou roupa nova que surpreende, além de<br />

caprichar nos produtos, como sempre. Rogério está<br />

de parabéns com a nova casa.<br />

Primeira baiana<br />

Em Salvador o Detran não precisa fazer cena ou fita<br />

para os donos do poder. Na praia não tem blitz.<br />

Aqui, a “infame” não bota tanta banca. Mas ajuda<br />

o discurso do amigo da vez. É o velho equilíbrio<br />

entre o que pode e o que não deve, um completo<br />

desconhecido dos nossos comissários brasilienses.


Bon voyage!<br />

ALEXANDRE<br />

DOS SANTOS<br />

FRANCO<br />

paoevinho<br />

@alo.com.br<br />

pão&vinho<br />

Quando por aqui aportei, ao final de 2006, vindo<br />

de São Paulo, onde desfrutava da companhia<br />

de bons amigos e enófilos, previa um período mais<br />

ou menos longo de abstemia desses prazeres que<br />

me eram tão caros – e, em princípio, me resignei.<br />

Mais cedo do que minha esperança podia conceber,<br />

no entanto, convidado pelo meu senhorio, vizinho<br />

e amigo Fernando Queirós, juntei-me a ele<br />

num evento no Mercado Municipal de Jorge Ferreira,<br />

no qual um delicioso cordeiro foi preparado<br />

pelo Luiz Paixão e saboreado pelo Luiz Recena, entre<br />

tantos outros. Apresentado, pois, a essas três<br />

figuras ilustres, pude conversar melhor com o Recena,<br />

jornalista de correspondências ultramares de<br />

importância e longevidade.<br />

De cara, desenvolvemos um interesse mútuo<br />

nascido de negócios meus com a Rússia e seu profundo<br />

relacionamento com os russos. Desse início<br />

mais voltado para interesses comerciais nasceu,<br />

cresceu e se fortaleceu uma amizade profunda e<br />

sincera que muito prezo e que levarei sempre comigo.<br />

A partir dele, desenvolvi mais laços com figuras<br />

magníficas como o Luiz Paixão, o Jaime Recena, o<br />

Gil Guimarães, do Bacco, o Celso Kaufman, o Adriano,<br />

o Jorge, o Fábio e o Mauro de tantos restaurantes,<br />

o Ricardo Pedreira, o Ronaldo, do Nippon, o Rodrigo<br />

Sanches e outros que passaram a, com galhardia,<br />

completar em meu dia-a-dia algumas das<br />

lacunas que ficaram da época de São Paulo. Junto<br />

com essa turma, passamos a organizar alguns jantares,<br />

grandes degustações de vinhos e a deliciosa<br />

“mesa da sexta-feira”. Foi aliás o Recena, quem me<br />

convidou a escrever esta coluna na <strong>Roteiro</strong>.<br />

Ao final do primeiro semestre deste ano, o galhofeiro<br />

Recena veio com a novidade: estava preparando<br />

malas e bagagens para se mudar para<br />

Salvador. No início, pensei que era trote; depois, a<br />

cada adiamento da data de partida, achei que não<br />

passaria de um “sonho de verão”. Mas a realidade<br />

me atingiu com o comunicado recente de que, de<br />

fato, ele partiria em meados de outubro. Combalido<br />

e incrédulo, como todos os amigos, me dei finalmente<br />

por vencido e nada mais me restou do<br />

que desejar sorte, felicidades e um retorno breve,<br />

ou ao menos muitos e constantes retornos.<br />

Aliás, uma necessidade me restava: oferecer<br />

um jantar de despedida com os amigos mais chegados<br />

e grandes vinhos para alimentar as memórias<br />

futuras. Embora não tenha sido possível reunir<br />

todos os amigos, estivemos juntos em minha casa<br />

no último dia 8: eu, Recena, Jaime, Ricardo, Gil,<br />

Paixão, Rodrigo e Márcio (aquele pastor da igreja<br />

hedonista do qual já falei noutras ocasiões).<br />

Para engrandecer a ocasião, pedi ao Paixão e<br />

ao Rodrigo que fizessem as vezes no fogão. O Rodrigo<br />

preparou para a entrada uma salada de lagostas<br />

e o Paixão, como prato principal, seu famoso<br />

bacalhau “nunca chega”. Estava tudo perfeito!<br />

Para acompanhar, abri, de início, um prosecco nacional,<br />

Estrelas do Brasil, que apesar de “fraco”,<br />

como todos os proseccos nacionais que já provei,<br />

trouxe o aroma da ansiedade pela chegada do homenageado<br />

– que, como sempre, estava atrasado.<br />

Em seguida, abrimos um espumante rosé, um Pinot<br />

Noir, também da Estrelas do Brasil, que muito<br />

melhor que o anterior, rescindia a empolgação pela<br />

noite que se iniciava. Com a chegada dos convidados<br />

que faltavam e do próprio Recena, abri uma<br />

garrafa daquele que considero o melhor espumante<br />

nacional, um Angheben Brut, cuja avaliação pelos<br />

demais presentes acordou com a minha; e os<br />

aromas eram de harmonia e amizade.<br />

Iniciamos os aperitivos feitos de guloseimas diversas<br />

do Mercado Municipal, escoltadas por um<br />

Sauvignon Blanc Amayna 2005, para mim dos melhores<br />

do Chile, cuja presença de frescor harmonizou<br />

com a amizade simples e desinteressada. Para<br />

acompanhar a salada de lagostas, ofereci um Matanzas<br />

Creeck 2004, um dos grandes Chardonnay<br />

americanos, cuja untuosidade ressaltou os aromas<br />

de alegria pela reunião entre bons amigos.<br />

O “nunca chega” ficou pronto e servi um dos<br />

grandes portugueses, um Ferreira Reserva 1992,<br />

que deleitou a todos, em especial ao Paixão, e con-<br />

12


firmou em boca seus aromas de irmandade.<br />

Segui-se o formidável Pêra<br />

Manca 1998, que, como esperado,<br />

consagrou-se o melhor da noite, com<br />

seus aromas indistintos de gratidão.<br />

Passado o auge, como uma parábola<br />

de descida suave, servi um Herdade<br />

do Peso Alfrocheiro 2000, delicioso e<br />

raro como seus aromas de companheirismo.<br />

Seguimos com uma garrafa de<br />

Quinta da Alorna Reserva 2005, saboroso<br />

como poucos, produzido por um<br />

amigo de Portugal, o Manuel Lopo de<br />

Carvalho, com aromas de despedida.<br />

O Jaime Recena, filho do homenageado,<br />

nos brindou então com uma<br />

garrafa de Quinta do Carmo Reserva<br />

2005, grande vinho alentejano, de produção<br />

dos Rothschild, que rescindia a<br />

admiração. Depois, foi a vez do Ricardo<br />

Pedreira, que nos ofertou um Cartuxa<br />

2005, com seus aromas frutados de<br />

“até breve”. Apresentei então um dos<br />

bons durienses, o Quinta do Vallado<br />

Reserva 2005, de aromas primários de<br />

adeus, mas confirmação em boca de<br />

retorno breve.<br />

Por fim, para encerrar a noite,<br />

acompanhando alguns bons charutos,<br />

de Hoyos a Montecristos, o Jaime sacramentou<br />

o encontro com um inesquecível<br />

Porto Vintage 1999 da Sandemans,<br />

cujo retro-gosto de saudade<br />

perdura até hoje e, tenho certeza, permanecerá<br />

ainda por muito em todos<br />

os presentes e se realçará a cada visita<br />

do Recena para o nosso convívio.<br />

Foi, sem dúvida, uma ótima noite,<br />

que espero repetiremos ao menos mensalmente,<br />

segundo a promessa do amigo<br />

Recena.<br />

Bon voyage!<br />

13


Falar ou calar?<br />

QUENTIN<br />

GEENEN DE<br />

SAINT MAUR<br />

palavradochef<br />

@alo.com.br<br />

palavradochef<br />

Sábado, no sítio, o artista aniversariante recebeu<br />

cinqüenta pessoas para almoçar galinhada<br />

caipi ra com quiabo, costeleta de porco, mandioca<br />

com manteiga de garrafa, lingüiça frita e torresmo.<br />

A “mesa da diretoria”, com tampa de cacos de<br />

azulejos, estava ancorada na terra aos cuidados da<br />

sombra das árvores do Cerrado. A vista privilegiada<br />

escorregava para um grande vale manso.<br />

Os amigos traziam queijos, geléias, café, tortas<br />

e pães, quitutes feitos por eles ou por artesãos da<br />

região.<br />

Tudo indicava que a comunicação entre os convivas<br />

ia começar na linguagem da culinária, as dicas<br />

de produtos e receitas, a troca de novos endereços,<br />

tudo em volta dos sabores.<br />

O vinho soltou a língua dos amigos. Uma matéria<br />

publicada no dia sobre o registro do queijo<br />

Canastra como patrimônio cultural imaterial do<br />

Brasil animou a conversa.<br />

Uma senhora, mineira da gema, coberta com<br />

chapéu de palha amarrado com um lenço, sentada<br />

na cabeceira da mesa, fez o elogio do queijo de<br />

sua cidade natal. É sempre bom saber que as variedades<br />

de queijos feitos com leite cru estão sobrevivendo<br />

e se multiplicando.<br />

Aproveitei para contar que alguns chefs de São<br />

Paulo e uma sorveteria de Brasília já haviam incorporado<br />

o queijo Canastra a seus cardápios com<br />

muito sucesso. Não demorou a vir a pergunta:<br />

– O senhor é de São Paulo?<br />

– Sim.<br />

– Estive há pouco tempo jantando com meu<br />

marido num restaurante famoso de lá, que já conhecíamos<br />

e tínhamos gostado muito da primeira<br />

vez, e foi uma decepção. Da comida ao serviço,<br />

uma porcaria.<br />

Levei um susto. Difícil acreditar que um restaurante<br />

de renome seja descrito com essas palavras.<br />

– O chef estava no bar e não veio até nossa mesa.<br />

O vinho era caro e a conta bem apimentada.<br />

Ela logo emendou na conversa sua ida a um<br />

outro restaurante no mesmo bairro, cujo chef tinha<br />

sido premiado como revelação do ano por<br />

uma revista gastronômica.<br />

– O sommelier nos reconheceu, ele é da nossa<br />

cidade. Atendeu a gente com a maior gentileza,<br />

trouxe o chef até a mesa, tudo impecável e maravilhoso.<br />

A polêmica estava acesa e os ânimos esquentados.<br />

Um pâtissier de Brasília sentando na nossa frente<br />

concordou com a senhora, relatando que já tinha<br />

ouvido essa queixa. Não pude deixar de retorquir<br />

ao doceiro que já tinha ouvido e defendido<br />

algumas vezes críticas parecidas ao seu estabelecimento.<br />

Lógico que é muito desagradável você ir a um<br />

restaurante com a maior expectativa e sair dele<br />

frustrado.<br />

A pergunta foi, então:<br />

– A senhora se queixou ao chef? Ao maître? Ao<br />

gerente?<br />

– Não, mas vou escrever para ele e oficializar<br />

minha decepção.<br />

A arte culinária é uma arte efêmera. Cada refeição<br />

é uma performance sensível. Às vezes, não<br />

adianta o dono receber a crítica de um cliente alguns<br />

dias após ele ter deixado a mesa.<br />

Parece que a boa educação ensina a não fazer<br />

crítica. Mas, nesse caso, em que o cliente paga por<br />

um serviço e uma obra, o melhor é chamar um<br />

dos responsáveis da casa, de preferência durante<br />

o jantar, quando a questão é a comida, e deixar<br />

de pagar o serviço facultativo se o erro está no<br />

atendimento.<br />

Essa contribuição do cliente ajudará o responsável<br />

pela casa a acertar as falhas e a tomar as devidas<br />

providências para evitar descuidos futuros,<br />

consertar o mal-entendido e apaziguar os ânimos.<br />

Identificar-se e fazer comentários na hora é um<br />

exercício notável e recomendável.<br />

14<br />

14


oteirogastronômico<br />

MÚSICA AO VIVO ACESSO PARA DEFICIENTES DELIVERY MANOBRISTA<br />

ESPAÇO VIP ÁREA EXTERNA FRALDÁRIO BANHEIRO PARA DEFICIENTE<br />

CARTÕES DE CRÉDITO: CC / VISA: V / MASTERCARD: M / AMERICAN EXPRESS: A / DINERS: D / REDECARD: R<br />

Armazém do Ferreira<br />

Restaurante inspirado no Rio de<br />

Janeiro dos anos 40. O buffet,<br />

com cerca de 20 tipos de frios,<br />

sanduíches e rodadas de empadas<br />

e quibes, com a performance do<br />

garçom Tampinha, são boas opções<br />

para os freqüentadores.<br />

202 Norte (3327.8342)<br />

CC: Todos<br />

BUFFET DE RESTAURANTE<br />

Camarão 206<br />

Cardápio variado, sabor e qualidade.<br />

Buffet no almoço é o carro-chefe, com<br />

mais de 10 pratos quentes, diversos<br />

tipos de saladas e várias opções de<br />

sobremesa, a <strong>R$</strong> 35,<strong>90</strong> (2ª a 6ª) e<br />

<strong>R$</strong> 39,<strong>90</strong> (sáb, dom e feriados) por<br />

pessoa.<br />

206 Sul (3443.4841), Liberty Mall<br />

e Brasília Shopping CC: todos<br />

Bar Brasília<br />

Empório da Cachaça<br />

BARES<br />

Em plena W3 Sul, o Bar Brasília tem<br />

decoração caprichada, com móveis e<br />

objetos da primeira metade do século<br />

XX. Destaques para os pasteizinhos.<br />

Sugestão de gourmet: Cordeiro<br />

ensopado com ingredientes<br />

especiais, que realçam seu sabor.<br />

506 Sul Bloco A (3443.4323)<br />

CC: Todos<br />

CACHAÇARIA<br />

Recém inaugurada a versão bar da<br />

cachaçaria temática de Brasília.<br />

Decoração colonial, cachaças<br />

artesanais, chopp, petiscos exclusivos<br />

e o famoso prato da casa, o arroz<br />

de senzala, são opções para quem<br />

valoriza a gastronomia brasileira. No<br />

Happy Hour, Chopp Brahma a <strong>R$</strong>2,50 e<br />

caipirinha com Sagatiba a <strong>R$</strong> 4,00.<br />

405 Sul (3443.0299)<br />

CC: todos<br />

Monumental<br />

Numa das esquinas mais valorizadas<br />

da cidade, a casa tem uma ampla<br />

varanda e o chope bem gelado. No<br />

almoço, buffet variado de saladas,<br />

massas e grelhados. À noite, as<br />

lingüiças mineiras estão entre os<br />

petiscos mais pedidos.<br />

201 Sul (3224.9313)<br />

CC: todos<br />

CONFEITARIAS<br />

Praliné<br />

O cardápio é bastante variado, com<br />

tortas doces e salgadas, bolos, pães,<br />

géleias, caldos quentes, quiches,<br />

tarteletes, chás, café e sucos de frutas<br />

naturais. Café da manhã por <strong>R$</strong> 11,<strong>90</strong><br />

de 2ª a 6ª e Chá da tarde por <strong>R$</strong> 18,50<br />

2ª e 3ª (bufê por pessoa).<br />

205 Sul bl A lj 3<br />

(3443.74<strong>90</strong>) CC: V<br />

BRASILEIROS<br />

CONTEMPORÂNEOS<br />

Café Antiquário<br />

No almoço de 2ª. a 6ª., Grandes Receitas:<br />

Peixada, Cozido, Cassoulet, Galinhada e<br />

Baião de Dois. Cinco strogonoffs e sete<br />

escondidinhos atendem carnívoros e<br />

vegetarianos. Saladas, simples grelhados e o<br />

ambiente à beira lago satisfazem aos gostos<br />

mais exigentes.<br />

Pontão do Lago Sul (3248.7755)<br />

CC: Todos<br />

BUFFET DE FESTA<br />

Sweet Cake<br />

É um dos mais renomados buffets de<br />

festa da cidade, com mais de dez anos<br />

de experiência. Além dos salgados<br />

e doces finos oferecidos no buffet,<br />

destaque para o Risoto de Foie-Gras, o<br />

Carré de Cordeiro ao Molho de Alecrim<br />

e o Filé ao Molho de Tâmaras.<br />

QI 21 do Lago Sul (3366.3531)<br />

412 Sul (3345.3531)<br />

CREPERIAS<br />

C’est si bon<br />

Inspirado nas tradicionais panquecas de<br />

dulce de leche da Argentina que o chef<br />

Sérgio Quintiliano criou o crepe Astor<br />

Piazzolla, batizando-o com o nome<br />

do maior compositor contemporâneo<br />

argentino de tangos. Após o sucesso de<br />

vendas durante o Festival Sabor Brasília<br />

2008, o Crepe Piazzolla foi incorporado<br />

ao cardápio por <strong>R$</strong> 15,70.<br />

408 Sul (3244.6353) CC: V, M e D<br />

16


Crepe au Chocolat<br />

Para domar o calor, o Crepe au<br />

Chocolat oferece o delicioso<br />

Sherazade, crepe de frutas vermelhas<br />

com chocolate derretido e sorvete. Ou<br />

então Lolita, uma vertiginosa taça com<br />

três bolas de sorvete, frutas, calda e<br />

chantilly. Refrescante pecado!<br />

210 Sul (3443.2050),<br />

109 Norte (3340.7002)<br />

Deck Brasil QI 11 Lago Sul<br />

(3037.2357) CC: V, C<br />

CREPERIAS<br />

Oliver<br />

Cozinha internacional, música e arte em<br />

dois endereços. No Clube de Golfe, desde<br />

2005 é referência de bom gosto. Na Asa<br />

Norte (foto), o destaque é a noite, com<br />

ambiente aconchegante mesclando as<br />

belezas clássica e moderna.<br />

Brasília Golfe Center - SCES Trecho 2<br />

(3323.5961)<br />

Espaço Cultural Contemporâneo<br />

ECCO - SCN Qd.3 (3326.1250)<br />

CC: Todos<br />

INTERNACIONAIS<br />

BSB Grill<br />

Desde 1998 oferece as melhores e os<br />

mais diversos cortes nobres de carne:<br />

Bife Ancho, Bife de tira, Prime Ribe,<br />

Picanha, além de peixe na brasa, esfirras,<br />

quibes e outras especialidades árabes.<br />

Adega climatizada e espaço reservado<br />

completam os ambientes das casas.<br />

304 Norte (3326.0976)<br />

413 Sul (3346.0036) CC: A, V<br />

Cantina da Massa<br />

Agora, todo sábado é dia de<br />

dobradinha na cantina da massa.<br />

Dobradinha bovina com mocotó,<br />

molho de tomate, alho, cebola,<br />

salsinha, cebolinha, nós-moscada,<br />

louro, sálvia e pimenta, acompanha<br />

pao italiano e caseiro(<strong>R$</strong> 15,00).<br />

302 Sul (3226.8374)<br />

CC: Todos<br />

San Marino<br />

Roadhouse Grill<br />

Criado nos EUA, foi eleito por três anos<br />

consecutivos o preferido da família<br />

americana. Com mais de 100 lojas,<br />

seus generosos pratos foram criados,<br />

pesquisados e inspirados nas raízes da<br />

América. Conheça tais delícias: ribs,<br />

steaks, pasta, hambúrgueres.<br />

S.Clubes Sul Tr. 2 ao lado do<br />

Pier 21 (3321.8535)<br />

Terraço Shopping (3034.8535)<br />

GRELHADOS<br />

Durante todo o mês de outubro,<br />

no jantar, o Rodízio de Pizza<br />

estará com preços especiais: de<br />

domingo a quarta por <strong>R$</strong> 14,20 e de<br />

quinta a sábado por <strong>R$</strong> 16,50. No<br />

almoço, Buffet com saladas, pratos<br />

executivos e grelhados<br />

209 Sul (3443.5050)<br />

CC: Todos<br />

Trattoria 101<br />

Cardápio com produtos italianos<br />

autênticos e tradicionais. Massas,<br />

filés, peixes e risotos, carpaccio. Tudo<br />

preparado na hora. Execelente carta de<br />

vinhos com <strong>90</strong> rótulos, entre nacionais<br />

e importados. Ambiente charmoso<br />

e varanda completam o ambiente.<br />

Manobrista na 6ª, sáb. e dom.<br />

101 Sudoeste (3344.8866)<br />

CC: V, M e D.<br />

ITALIANOS<br />

Bier Fass Gilberto Salomão<br />

O Bierfass Gilberto Salomão completa em<br />

2007 seu 38º ano de sucesso, com uma<br />

fórmula que agrega tradição, ambiente,<br />

cozinha e público diferenciado. Destaque<br />

para a cozinha internacional, variando<br />

pratos clássicos aos modernos, que influi<br />

tanto nos ingredientes usados como na<br />

apresentação dos pratos.<br />

GIlberto Salomão<br />

QI 5 Lago Sul (3248.1519)<br />

CC: Todos<br />

INTERNACIONAIS<br />

Villa Borghese<br />

O charme da decoração e a<br />

iluminação à luz de velas dão o clima<br />

romântico. Aberto diariamente para<br />

almoço e jantar. Sugestão: Filetto<br />

al gorgonzola (Filet mignon recheado<br />

com creme de gorgonzola servido<br />

com arroz cremoso de abobrinha<br />

e farofinha crocante de alho), por<br />

<strong>R$</strong> 41,00.<br />

201 Sul (3226.5650) CC: Todos<br />

17


oteirogastronômico<br />

MÚSICA AO VIVO ACESSO PARA DEFICIENTES DELIVERY MANOBRISTA<br />

ESPAÇO VIP ÁREA EXTERNA FRALDÁRIO BANHEIRO PARA DEFICIENTE<br />

CARTÕES DE CRÉDITO: CC / VISA: V / MASTERCARD: M / AMERICAN EXPRESS: A / DINERS: D / REDECARD: R<br />

NATURAIS<br />

ORIENTAIS<br />

Oca da Tribo<br />

Além do saboroso e diversificado<br />

buffet, com produtos orgânicos e<br />

carnes exóticas, a casa oferece noites<br />

temáticas. Oca Lounge e jazz, sempre<br />

com música ao vivo. O buffet de<br />

domingo, atende a família inteira, com<br />

pratos especiais, como o bacalhau de<br />

natas e o arroz de pequi.<br />

PADARIA<br />

Belini<br />

A casa premiada é um misto de<br />

padaria, delikatessen, confeitaria<br />

e restaurante. O restaurante serve<br />

risotos, massas e carnes. Destaque<br />

para o café gourmet, único torrado na<br />

própria loja, para as pizzas especiais<br />

e os buffets servidos na varanda.<br />

SCS trecho 2 (3226.9880)<br />

CC: Todos<br />

113 Sul (3345.0777) CC: Todos<br />

Haná<br />

Diariamente no almoço e jantar,<br />

festival de sushi e sashimi, com<br />

mais de 35 opções de pratos.<br />

Nas 2 as e 3 as , o tradicional buffet<br />

conta com o Festival do Camarão.<br />

Funciona também à la carte e tem<br />

delivery. Horário: diariamente das<br />

12h às 15h e das 19h às 24h.<br />

408 Sul (3244.9999)<br />

CC: Todos<br />

PESCADOS<br />

Peixe na Rede<br />

A vedete do cardápio é a tilápia, servida<br />

de 30 maneiras. O frescor é garantido<br />

pela criteriosa criação em cativeiro na<br />

fazenda exclusiva do restaurante, a<br />

100 Km de Bsb. Há também pratos de<br />

camarão e bacalhau.<br />

405 Sul (3242.1938)<br />

309 Norte (3340.6937)<br />

CC: Todos<br />

Maki Temakeria<br />

Baco<br />

ORIENTAIS<br />

É o lugar ideal para fanáticos por<br />

cozinha japonesa que nem todos os<br />

dias estão com apetite ou bolso para<br />

ir a um restaurante tradicional. São 20<br />

opções de temakis, como o delicioso<br />

camarão tempurá, e oito opções<br />

de rolinhos. Às sextas e sábados,<br />

funciona até as quatro da manhã.<br />

405 Sul (3242.3460)<br />

www.makitemakeria.com.br<br />

Nippon<br />

PIZZARIAS<br />

Premiada por todas as revistas.<br />

Massas originais da Itália, vinhos<br />

e ambiente. No cardápio, pizzas<br />

tradicionais e exóticas. Novidades são<br />

uma constante. Opção de rodízio em<br />

dias especiais – na 309 Norte, toda 3ª<br />

e domingo, e na 408 Sul, às 2 as .<br />

309 Norte (3274.8600), 408 Sul<br />

(3244.2292) CC: Todos<br />

Baco Delivery (3223.0323)<br />

Gordeixo<br />

Tradicional e inovador. Sushis e<br />

sashimis ganham toques inusitados.<br />

Exemplo disso é o sushi de atum<br />

picado, temperado com gengibre e<br />

cebolinha envolto em fina camada de<br />

salmão. As novidades são fruto de<br />

muita pesquisa do proprietário Jun Ito.<br />

Ambiente agradável, comida boa e<br />

área de lazer para as crianças fazem<br />

o sucesso da casa desde 1987. No<br />

almoço, além das pizzas, o buffet de<br />

massas preparadas na hora, onde<br />

o cliente escolhe os molhos e os<br />

ingredientes para compor seu prato.<br />

403 Sul (3224.0430 /<br />

3323.5213) CC: Todos<br />

306 Norte (3273.8525)<br />

CC: V, M e D<br />

18


Toca do Bacalhau<br />

Self-Service, por <strong>R$</strong> 31,<strong>90</strong>kg de<br />

terça a sábado, com carne suína,<br />

pato e carneiro, além do legítimo<br />

bacalhau norueguês. Tradicional<br />

cardápio à la carte todos os dias.<br />

Novidade: deliciosas saltenhas de<br />

bacalhau, carne e frango.<br />

407 Sul (3244.3309)<br />

CC: V e M<br />

Feitiço Mineiro<br />

A culinária de raiz das Minas Gerais<br />

e uma programação cultural que<br />

inclui músicos de renome nacional e<br />

eventos literários. Diariamente, buffet<br />

com oito a nove tipos de carnes.<br />

Destaque para a leitoa e o pernil à<br />

pururuca, servidos às 6 as e domingos.<br />

306 Norte (3272.3032)<br />

CC: Todos<br />

PORTUGUÊS<br />

REGIONAIS<br />

Saborella<br />

Sorvetes com sabores regionais e<br />

tecnologia italina são a especialidade<br />

da casa. Os mais pedidos: tapioca,<br />

cupuaçu, açaí e frutas vermelhas. Na<br />

varanda, pode-se apreciar café bem<br />

tirado e fresquinho, acompanhado<br />

de tapiocas quentinhas.<br />

112 Norte (3340.4894) e<br />

Casa Park (Praça Central)<br />

CC: Todos<br />

Sorbê<br />

Sorveteria genuinamente artesanal, com<br />

receitas que utilizam frutos nativos do<br />

cerrado. São mais de 150 sabores. Os<br />

sabores tradicionais, cremosos, como as<br />

variedades de chocolate, dentre outros,<br />

contêm leite e creme de leite em suas<br />

fórmulas. Já os sorvetes de frutas (com<br />

algumas exceções, como abacate, pequi,<br />

araticum e outros) são produzidos com água.<br />

405 Norte (3447.4158), 103 Sudoeste<br />

(3967.6727) e 210 Sul (3244- 3164)<br />

SORVETERIAS<br />

19


dia&noite<br />

weissmann<br />

Imagens da imensidão é o nome da mostra que ocupa a galeria principal da Caixa<br />

Cultural até dia 23. Organizada pelo Instituto Tomie Ohtake, apresenta 16 esculturas –<br />

três inéditas – de um dos artistas plásticos mais importantes da arte brasileira: Franz<br />

Weissmann. De acordo com o curador Marcus de Lontra Costa, “essas obras fazem<br />

parte de um pequeno, mas valioso patrimônio da iconografia nacional”. Weissmann<br />

integrou, na década de 50, os grandes movimentos abstratos de caráter<br />

construtivista que acabaram por criar a identidade artística brasileira. Três obras<br />

projetadas pelo artista e executadas somente agora estão na exposição: coluna em<br />

planos triangulares, a coluna neoconcreta e dois cubos em fita.<br />

De terça a domingo, das 9 às 21h. Entrada franca.<br />

Divulgação<br />

Luiza Venturelli<br />

evocaçõesdeluiza<br />

“Não é um olhar sociológico ou político, mas apenas evocações plásticas e<br />

estéticas sobre o elemento mais precioso e complexo de nosso planeta: o ser<br />

humano”. É assim que a fotógrafa Luiza Venturelli define sua exposição na<br />

Aliança Francesa (708/<strong>90</strong>7 Sul). São 25 fotos em preto e branco (60x<strong>90</strong>cm)<br />

realizadas entre 1982 e 2007 no Brasil, na França, no Chile e no País de Gales.<br />

De acordo com a fotógrafa, as imagens evocam semelhanças de gestos,<br />

expressões ou atividades entre as pessoas fotografadas, sejam elas crianças,<br />

adultos ou idosos de diferentes lugares e em diferentes épocas. Até dia 8,<br />

de segunda a sexta, das 9 às 19h, e sábado, das 9 às 12h30.<br />

rapourepente?<br />

É a batalha das pick-ups contra as<br />

violas. O festival Cara e Cultura Negra<br />

2008, que acontece no Dia da<br />

Consciência Negra, resolveu<br />

confrontar essas duas tradições orais<br />

brasileiras. Rappers e repentistas vão<br />

se encontrar em batalha cuja arma<br />

principal será a rima improvisada.<br />

O primeiro lugar de cada categoria<br />

disputa a final no dia 20 de novembro.<br />

Para se inscrever, os repentistas e<br />

rappers devem mandar e-mail para<br />

caraeculturanegra@gmail.com<br />

até 30 de outubro. Além disso,<br />

a programação inclui duas oficinas<br />

nos dias 9, 11 e 12 de novembro,<br />

no Teatro Nacional. Na primeira, o<br />

paraibano Babilak Bah (foto) vai<br />

mostrar como a enxada pode ser um<br />

instrumento musical versátil. Na<br />

segunda, o baiano Peu Meurray vai<br />

ensinar como pneus velhos podem se<br />

transformar em sonoros tambores.<br />

Informações: 8571.4531 e 81562912.<br />

festbandas<br />

Covers de bandas famosas como Led Zepplin, Pink Floyd, Red Hot Chilli<br />

Peppers e Titãs, além de novas bandas da cidade mostrando suas composições.<br />

Assim é a sétima edição do FestBandas, que será realizada no Teatro<br />

dos Bancários (515 Sul), dias 28 e 29. Com músicos de todas as idades, o<br />

festival tem como mote incentivar cerca de 40 grupos que reúnem 150<br />

integrantes no mesmo palco. Às 19h30, com ingressos a <strong>R$</strong> 10 e <strong>R$</strong> 5.<br />

Divulgação<br />

20


Divulgação<br />

legrandeivan<br />

Na turnê que fará no Brasil entre o dia 28 e 4 de novembro, só aqui em Brasília o pianista,<br />

arranjador e compositor francês Michel Legrand vai dividir o palco com um amigo.<br />

Será, sem dúvida, um desses momentos raros, em que a inspiração e o talento<br />

dos artistas se unem à irreverência dos gênios para se tornar um momento<br />

clássico, inesquecível. O amigo em questão é ninguém menos que Ivan Lins,<br />

um dos compositores brasileiros mais gravados no exterior. O encontro será no<br />

Centro de Convenções Ulysses Guimarães, dia 30, às 21h. A turnê abre as comemorações<br />

do Ano da França no Brasil, em 2009. Considerado um dos maiores compositores<br />

da música moderna, Legrand tem estilo sofisticado, melodias marcantes<br />

e elegância que garantiram sua presença em trilhas musicais de filmes<br />

de sucesso. Seu último show no Brasil foi realizado no Rio, há sete anos.<br />

Fez também uma participação no Festival de Jazz de Ouro Preto, em<br />

2005. Ingressos entre <strong>R$</strong> 150 e <strong>R$</strong> 300 à venda no Brasília Shopping.<br />

tocandoemfrente<br />

Há quatro anos o professor de música Tonicesa Badu forja talentos em seu<br />

galpão do Gama. De lá já saíram bons cantores, compositores, bateristas,<br />

percussionistas e tecladistas que se encaixaram no mercado de trabalho da<br />

cidade – alguns até já alçaram vôos mais altos fora daqui. O projeto de inclusão<br />

social Tocando em frente ensina música a jovens entre 14 e 23 anos que moram<br />

na periferia de Brasília. O professor Badu explica que não é preciso ter muito<br />

conhecimento, basta uma boa afinação vocal, senso rítmico e saber alguns<br />

acordes no violão, guitarra ou teclado. O talento é indispensável. “É preciso ter<br />

jeito para a música, ter um pouco de dom, o que não é difícil identificar. Além de<br />

querer levar a sério o curso, que é bastante puxado”, afirma. Ele informa ainda<br />

que estão abertas, até o dia 14, as inscrições para seus cursos de 2009. Avise,<br />

então, os talentos que você conhece e não têm chance de se profissionalizar<br />

com qualidade. Informações: 3556.1924 e www.tocandoemfrente.com.<br />

narrativadoolhar<br />

“Tal como a literatura, a fotografia também conta<br />

histórias. O ensaio fotográfico se apropria do<br />

espaço e do tempo para reproduzir, de forma não<br />

fragmentada, uma história contada pela luz”.<br />

A partir do conceito segundo o qual a fotografia é<br />

um processo continuado, o Espaço ECCO criou o curso Narrativa do olhar,<br />

ministrado pelo professor baiano Marcelo Reis. No programa, um estudo da<br />

metodologia de trabalho de alguns dos mais importantes fotógrafos ensaístas,<br />

como Sebastião Salgado e Henri-Cartier Bresson. Destinado a fotógrafos,<br />

estudantes e pessoas com conhecimentos em artes visuais, o curso<br />

tem carga horária de 12 horas. Dias 6 e 7, quinta e sexta, das 14 às 17h e das<br />

19 às 22h. Informações: 3327.2027, ramais 20, 22 e 24.<br />

vialenta<br />

“Que atire a primeira pedra aquele<br />

que nunca pensou ou ensaiou, mesmo<br />

que mentalmente, o assassinato de<br />

alguém.” A frase, do escritor francês<br />

Jean Genet, resume o tema do espetáculo<br />

Vialenta, em cartaz no Teatro<br />

Goldoni até dia 23. Primeira de uma<br />

trilogia teatral intitulada Estudos<br />

Sobre a Violência, a peça se passa<br />

num bar onde uma garçonete de<br />

patins, um boxeador frustrado e<br />

quatro mulheres dão vazão a sentimentos<br />

como vingança, sadismo e<br />

intolerância, explorados em duas<br />

histórias que misturam drama,<br />

comédia e suspense. Quintas, sextas e<br />

sábados, às 21h. Domingos, às 20h.<br />

Ingressos a <strong>R$</strong> 20 e <strong>R$</strong> 10.<br />

Diego Bresani<br />

21


diáriodeviagem<br />

Sombra<br />

e água de coco<br />

A menos badalada<br />

capital nordestina<br />

é um raro oásis de<br />

tranqüilidade no<br />

litoral brasileiro<br />

TEXTO E FOTOS SUSAN FARIA<br />

Aracaju, Sergipe, 550 mil habitantes,<br />

a capital do menor Estado brasileiro (dois<br />

milhões de habitantes), merece ser visitada<br />

por sua tranqüilidade, beleza e vigor.<br />

Cidade com melhor qualidade de vida do<br />

Brasil, ultrapassando até Curitiba no<br />

ranking deste ano do Ministério da Saúde,<br />

a capital sergipana oferece lazer para<br />

todos os gostos, independentemente da<br />

classe social. A cidade dos cajueiros tem<br />

50 km de ciclovias, dezenas de quadras<br />

poliesportivas, muita praia, parques infantis,<br />

como o Maravilhoso Mundo das<br />

Crianças, gratuito, extensos calçadões,<br />

com banquinhos de cimento e madeira,<br />

quiosques de coco padronizados, barraquinhas<br />

de tapioca, mercados típicos,<br />

com refeições de boa qualidade e baixo<br />

preço, muito artesanato e guloseimas.<br />

Com 153 anos de existência, Aracaju<br />

é jovem na aparência, com ruas limpas,<br />

restaurantes, pizzarias e casas noturnas de<br />

bom gosto. E uma outra preciosidade, pelo<br />

menos em baixa temporada: trânsito<br />

sem engarrafamentos. A capital tem um<br />

Oceanário, museus, mirante, o monumento<br />

“Ser feliz”, feira de artesanato, a<br />

Colina de São Antônio, manguezais, plataformas<br />

da Petrobras, o bairro nobre 13<br />

de Julho, o mais caro da cidade, e o Coroa<br />

do Meio, cheio de construções e novos<br />

edifícios. Tem os shoppings Riomar e Jardins<br />

e muito fórro pé-de-serra, diariamente,<br />

com dois ambientes de dança, no bar<br />

Cariri, na passarela do Caranguejo, no<br />

bairro de Atalaia. Camarão, peixe, moqueca<br />

e caranguejo não faltam nas casas<br />

ao redor.<br />

Por causa da afluência dos rios Sergipe<br />

e Poxim, as águas do mar em Aracaju<br />

são amarronzadas, pouco transparentes.<br />

Depois das ondas, límpidas. A distância<br />

da orla das praias até o mar também não<br />

ajuda. Mas sentir a brisa, o vento, e caminhar<br />

sem compromisso pela areia de Atalaia,<br />

sem a muvuca dos famosos litorais, é<br />

22


tudo de bom, assim como provar os sucos regionais, as<br />

tapiocas e os picolés do Picuí, como o de castanha e o de<br />

coco. É bom conhecer as barracas do litoral sul, por onde<br />

a cidade cresce, como a Paraíso do Baixinho, em Robalo,<br />

e a Parati, na praia dos Náufragos.<br />

Passeios turísticos à antiga capital, São Cristóvão,<br />

Xingó, Delta do São Francisco, a 138 km em direção a<br />

Alagoas, e Mangue Seco, a 75 km, na Bahia, são outras<br />

opções. Com <strong>R$</strong> 69 – que inclui a escuna e o almoço –<br />

chega-se ao Delta. O passeio até as gravações de Deus é<br />

brasileiro, de Cacá Diegues, passa por Brejo Grande, último<br />

e mais pobre município de Sergipe, no litoral norte.<br />

Contradição entre a grandiosidade da natureza, com<br />

praias, dunas, piscinas naturais, o encontro do São Francisco<br />

com as águas do Atlântico e a precariedade de vida<br />

da população ribeirinha.<br />

O passeio em Xingó é para quem está com muita disposição:<br />

240 km de estrada, entre terras áridas, até a hidroelétrica,<br />

com imensos canyons. Já em Mangue Seco,<br />

pequena vila de pescadores, terra de Tieta do Agreste,<br />

personagem de Jorge Amado que virou novela e filme, o<br />

barulho que se ouve é apenas do vento nos coqueirais. A<br />

travessia é feita por balsa, no rio Real, onde está sendo<br />

construída a ponte Joel Silveira, em homenagem ao jornalista<br />

sergipano. Depois de tomar uma escuna e andar<br />

quatro quilômetros no Bugre, em dunas douradas, o paraíso<br />

de águas mansas.<br />

Conceição Magalhães, 45 anos, e o marido, o militar<br />

Edir Guimarães, percorreram 1.600 km de carro de Formosa,<br />

Goiás, até a capital sergipana: “A cidade é bonita,<br />

receptiva”, sentencia Ceiça. Já o bancário Gilberto Preto,<br />

33 anos, de Campinas, escolheu Aracaju para “ficar longe<br />

da bagunça”. Mas em janeiro tem o Pré-Caju, animado<br />

por desfiles e trios elétricos, e em junho o forró Caju,<br />

com 15 dias de arrasta-pé, na Praça Hilton Lopes.<br />

Como toda capital brasileira, Aracaju não escapa da<br />

violência e dos assaltos. De janeiro a setembro último,<br />

foram 979 assaltos em ônibus, principalmente no centro<br />

da cidade. Contudo, além de uma capital que se renova,<br />

com muitas atrações turísticas, Sergipe tem calcário, cloreto<br />

de potássio, cimento e petróleo (é o quarto estado<br />

do país com essa riqueza) que se converte em royaltes para<br />

os municípios onde a Petrobras explora. São mais de<br />

dois mil poços no Estado. A enfermeira Ângela Maria<br />

Amorim, 54 anos, residente na Asa Sul, em Brasília, elogia:<br />

“Tinha curiosidade de conhecer e gostei muito”. O<br />

casal brasiliense Julião e Aurea Helena Pinheiro, residente<br />

no Lago Sul, ficou 15 dias descansando na cidade:<br />

“É uma capital limpa, com um povo alegre”, diz Áurea.<br />

Conheça em Aracaju:<br />

Casquinha de Caranguejo – Orla de Atalaia (79-243.7011)<br />

Encanto do Mar – Quiosque 5, Atalaia (79-3243.5422)<br />

Bar & Restaurante Silvestre – Mercado Antônio Franco,<br />

128, Centro (79-9997.2996)<br />

Barraca Parati – Rodovia José Sarney, litoral sul, praia dos<br />

Náufragos<br />

23


galeriadearte<br />

Bem à<br />

vontade<br />

Desenhos de Evandro Salles, curador da mostra, inspirados em poemas de Manoel de Barros<br />

“Menino, não toca nisso!” É só passar<br />

algum tempo em qualquer museu ou exposição<br />

de arte para ver uma mãe falando<br />

para o filho a inevitável frase. Para afastar<br />

essa idéia de que exposição de arte não é<br />

lugar apropriado para a molecada, o<br />

CCBB decidiu realizar, de 31 de outubro a<br />

18 de janeiro, a mostra Arte para crianças.<br />

“A idéia básica é que os conceitos que<br />

constituem a arte mais avançada e sofisticada<br />

podem e devem ser experimentados<br />

por um público de crianças de uma maneira<br />

plena e direta, fazendo com que a experiência<br />

estética seja um instrumento de<br />

conhecimento e educação incorporado à<br />

cultura infantil”, explica o curador Evandro<br />

Salles.<br />

Inteiramente idealizada para o público<br />

infantil, a mostra reúne 16 dos mais importantes<br />

artistas da arte contemporânea<br />

brasileira e norte-americana, como Yoko<br />

Ono, Lawrence Weiner e Emmanuel Nassar.<br />

Yoko está presente com sete obras,<br />

que chamam atenção por pregarem o<br />

ideal “paz e amor” com o qual ela sempre<br />

foi identifica.<br />

A vídeo-instalação Onochord propõe<br />

ao público que, munido de uma pequena<br />

lanterna, escreva a mensagem “Eu te<br />

amo”, por meio de um simples código numérico<br />

de luzes. Na instalação Jogue com<br />

confiança, Yoko apresenta um jogo de xadrez<br />

onde todas as peças são brancas, diluindo<br />

as idéias de oposição e vencedor à<br />

medida em que o jogo avança.<br />

A interatividade também marca várias<br />

outras obras da exposição. O público poderá<br />

montar e remontar, sobre uma parede<br />

imantada, reproduções dos famosos<br />

azulejos de Athos Bulcão. Esculturas em<br />

madeira do mestre Amilcar de Castro serão<br />

deixadas em cima de mesas, livres para<br />

serem manipuladas junto com vários<br />

desenhos de projetos de esculturas impressos,<br />

que poderão ser recortados e<br />

transformados em pequenas esculturas de<br />

papel pelos visitantes.<br />

O hall do CCBB será dedicado à produção<br />

audiovisual, com a projeção dos vídeos<br />

especialmente produzidos para a exposição.<br />

Lá será exibida, entre outras, a<br />

animação Sobre dois quadrados, que mostra<br />

o trabalho construtivista do artista russo<br />

El Lissitzky. Outra animação, Xifópagas<br />

capilares entre nós, baseada na obra homônima<br />

de Tunga, apresenta poemas de<br />

Manoel de Barros.<br />

Todos os espaços do CCBB serão<br />

ocupados pela mostra, inclusive os jardins,<br />

as áreas externas e o teatro, que receberá,<br />

aos sábados e domingos, às 16 e<br />

17h, Desenhando labirintos, peça para bebês<br />

dirigida por Carlos Laredo, da companhia<br />

espanhola La Casa Incierta. Em termos<br />

de dimensões, Arte para crianças é a<br />

maior exposição que o CCBB Brasília já<br />

recebeu.<br />

Arte para crianças<br />

De 31/10 a 18/01 no CCBB. De terça a<br />

domingo, das 9 às 21h. Entrada franca.<br />

Mais informações: 3310.7087<br />

24


avenidadasnações<br />

Fotos: Divulgação<br />

Uma cultura<br />

cheia de cores<br />

Quatro dias<br />

de celebração<br />

do país-irmão<br />

Moçambique<br />

POR AKEMI NITAHARA<br />

Moçambique fica na África, a língua<br />

oficial é o português e a capital é Maputo.<br />

É o máximo de informação que a maioria<br />

dos brasileiros tem sobre o país-irmão.<br />

Pouca gente conhece a diversidade cultural<br />

e a riqueza natural desse país da costa<br />

oriental da África, banhado pelo Oceano<br />

Índico e que fala mais de 20 línguas.<br />

Em tempos de acordo ortográfico, nada<br />

melhor do que conhecer outros membros<br />

da Comunidade dos Países de Língua<br />

Portuguesa (CPLP). No turismo, além<br />

de montanhas, florestas, savanas e praias<br />

paradisíacas, Moçambique tem elefantes,<br />

leões, antílopes e hipopótamos.<br />

Entre os dias 6 e 9 de novembro, um<br />

pouco do país vai aterrissar no Museu da<br />

República. É o primeiro Festival Cultural<br />

de Moçambique, uma celebração das diversas<br />

parcerias políticas e econômicas<br />

que o Brasil tem feito com eles, e também<br />

um resgate das raízes culturais que nos<br />

unem.<br />

Um dos principais centros culturais<br />

africanos, Moçambique é reconhecido in-<br />

ternacionalmente pela literatura, artes<br />

plásticas, canto, dança, teatro, cinema e<br />

fotografia – além da gastronomia, parecida<br />

com a do Brasil. Também lembram o<br />

Brasil a maneira de vestir, a dança e os traços<br />

físicos dos moçambicanos, trazidos<br />

para cá como escravos e que também ajudaram<br />

a formar a miscigenada população<br />

brasileira.<br />

Com apoio da Embaixada de Moçambique<br />

e presença prevista da primeira-ministra<br />

Luisa Dias Diogo, o brasiliense vai<br />

ter a oportunidade de ver o grupo de canto<br />

e dança Milorho, que pesquisa danças<br />

e cantos típicos de diversas etnias moçambicanas,<br />

e uma exposição de bonecas típicas<br />

em trajes tradicionais conhecidos como<br />

capulana, criados por Suzette Honwana.<br />

Dançarinas do Milorho também servirão<br />

de modelo para os trajes de capulana.<br />

Outra atração será o cantor e compositor<br />

Stewart Sukuma, com repertório de ritmos<br />

moçambicanos em bantu e português.<br />

Além disso, serão exibidos os filmes<br />

Junot, de Camilo de Sousa, Nguenha – o<br />

crocodilo, de Isabel Noronha, O grande bazar<br />

e O hóspede da noite, de Licínio de Azevedo,<br />

e Herança da viúva, de Sol de Carvalho.<br />

Todos os diretores são membros fundadores<br />

da Associação dos Cineastas Moçambicanos.<br />

Nas artes literárias, os escritores Mia<br />

Couto e Calena Silva lançam seus livros.<br />

E na gastronomia a influência do Oriente<br />

Médio e de Portugal, com base na culinária<br />

bantu, poderá ser apreciada no trabalho<br />

do chef Carlos Alberto da Graça, que<br />

tem apresentado as delícias moçambicanas<br />

em festivias internacionais mundo<br />

afora.<br />

Moçambique. País com mais de 20<br />

milhões de habitantes, que passou por invasões<br />

e migrações, abrigou os povos bosquianos,<br />

bantu e árabes islâmicos, recebeu<br />

os portugueses de Vasco da Gama a<br />

partir do século XV e conseguiu a independência<br />

apenas em 1975. País africano<br />

de muitas riquezas e belezas que, agora, o<br />

Brasil tem a oportunidade de conhecer<br />

um pouco melhor.<br />

1º Festival Cultural de Moçambique<br />

De 6 a 9/11, às 9 às 20h, no Museu da<br />

República. Acesso livre. Mais informações:<br />

www.festivalculturalmocambique.com.br.<br />

25


queespetáculo<br />

baSiraH é 10<br />

Com um ano de<br />

atraso, por falta<br />

de patrocínio,<br />

a companhia<br />

de dança<br />

contemporânea<br />

comemora seu<br />

décimo aniversário<br />

POR AKEMI NITAHARA<br />

Uma década de muita dedicação e trabalho,<br />

recompensados com prêmios e reconhecimento<br />

do público. É o que a companhia<br />

de dança contemporânea baSiraH<br />

comemora deste 28 de outubro até 9 de<br />

novembro. Na verdade, os dez anos do<br />

grupo foram completados em 2007, mas,<br />

pela dificuldade de conseguir patrocínios,<br />

a comemoração só se concretizou agora.<br />

Valeu a pena esperar.<br />

Quatro dos espetáculos mais marcantes<br />

e que tiveram mais repercussão serão<br />

reapresentados: Sebastião (2000), com coreografia<br />

abstrata e expressionista de Giselle<br />

Rodrigues, Márcia Duarte e Howard<br />

Sonenklar e trilha original de Alex Queiroz<br />

e André Togni, inspirado no trabalho<br />

do fotógrafo Sebastião Salgado; De água e<br />

sal (2005), dança-performance de criação<br />

coletiva do grupo, que coloca o corpo como<br />

objeto de análise e reflexão das artes,<br />

filosofia e ciências; Só existo quando ninguém<br />

me olha (2002), coreografia de Alessandro<br />

Brandão, Dorka Hepp e Édi Oliveira<br />

que fala de solidão e expõe a intimidade<br />

de maneira lúdica e poética; e O homem<br />

na parede (1999), que trata dos diversos<br />

tipo de fanatismo contemporâneos,<br />

26


aseados em suas expressões e sem juízo<br />

de valor.<br />

A coreógrafa e fundadora do grupo,<br />

Giselle Rodrigues, define o baSiraH como<br />

experimentação e investigação, com criatividade<br />

que leva a uma eficiente comunicação<br />

com o público. “Nós trazemos temáticas<br />

novas, com elementos de teatro, e<br />

mesclamos posicionamentos para que o<br />

público reflita”. Entre os projetos recentes<br />

está o Espaço Vivo de Dança baSiraH,<br />

que “busca novos mercados e trabalha na<br />

formação de novos bailarinos”, como explica<br />

Giselle.<br />

Outra inovação lançada pelo grupo é<br />

o Módulo Ação Continuada, com apresentações<br />

e oficinas de orientação pedagógica<br />

para professores e alunos da rede pública.<br />

“Os professores vão receber capacitação<br />

para orientar os alunos e depois trabalhar<br />

o tema em sala de aula, usando a<br />

linguagem da dança contemporânea no<br />

processo educativo”, diz a coreógrafa.<br />

Além disso, a Ação Continuada democratiza<br />

o acesso à cultura, forma platéia<br />

e estimula o público jovem a apreciar a<br />

dança contemporânea. Também difunde<br />

a história da dança de Brasília. Em quatro<br />

apresentações, uma de cada espetáculo,<br />

professores, dançarinos e 1.600 alunos<br />

vão debater a linguagem do grupo, suas<br />

impressões e interpretações sobre o trabalho<br />

do baSiraH. “O objetivo”, explica Giselle,<br />

“é levar a dança contemporânea a<br />

novos públicos, principalmente às camadas<br />

da população com poucas opções de<br />

lazer”.<br />

Basirah significa “olho do coração”,<br />

em armênio. E o baSiraH – Núcleo de<br />

Dança Contemporânea – coloca o coração,<br />

o corpo e a alma no trabalho, para<br />

nos brindar com coreografias de encher<br />

os olhos.<br />

Fotos: Mila Petrillo<br />

Mostra baSiraH 10 Anos<br />

28 a 30/10, às 21h: Sebastião – Teatro<br />

Galpão (Espaço Cultural 508 Sul)<br />

1/11, às 21h, e 2/11, às 20h: De água e sal<br />

– Sala Multiuso (Espaço Cultural 508 Sul)<br />

4 e 5/11, às 21h: Eu só existo quando<br />

ninguém me olha – Teatro Plínio Marcos<br />

(Complexo Cultural Funarte)<br />

7 e 8/11, às 21h, e 9/11, às 20h: O homem<br />

na parede – Teatro Plínio Marcos. .<br />

Ingressos a <strong>R$</strong> 20 e <strong>R$</strong> 10<br />

Passaporte baSiraH 10 Anos (para os<br />

quatro espetáculos): <strong>R$</strong> 30.<br />

Espaço baSiraH (3202.9461)<br />

27


luzcâmeraação<br />

Uma década do<br />

Ao comemorar sua 10ª edição, o Festival Internacional de Cinema<br />

POR SÉRGIO MORICONI<br />

Evento muito importante para a criação<br />

e consolidação de uma cultura de cinema<br />

na cidade, o FIC chega ao seu décimo<br />

aniversário com uma programação abrangente<br />

e vária. O festival abre no dia 29<br />

com a exibição de Vicky Cristina Barcelona,<br />

último longa-metragem de Woody Allen,<br />

um filme cuja exibição tem tudo a ver<br />

com Brasília, já que a arquitetura da cidade<br />

espanhola indicada no título ocupa lugar<br />

de destaque no enredo. Seu elenco inclui<br />

a habitual Scarlett Johansson, Rebecca<br />

Hall, Javier Bardem e Penélope Cruz.<br />

Além dos filmes da mostra competitiva, o<br />

festival vai exibir várias produções do Japão,<br />

em comemoração ao centenário da<br />

imigração japonesa, e prestará homenagem<br />

ao ator Paulo José, presente nas telas<br />

e em carne e osso. Ele é um dos convidados<br />

ilustres do FIC.<br />

Outras personalidades internacionais<br />

que deverão marcar presença são os diretores<br />

canadenses de Fabricando polêmica<br />

– desmascarando Michael Moore, Debbie<br />

Melnyk e Rick Caine, assim como o diretor<br />

de fotografia do filme Liverpool, de Lisandro<br />

Alonso, o argentino Lucio Bonelli,<br />

e ainda, como jurado, o escritor italiano<br />

Giorgio Armitrano, principal tradutor<br />

para o italiano da obra da escritora japonesa<br />

Banana Yoshimoto, e o diretor colombiano<br />

de O coração, Diego Garcia Moreno.<br />

Entre os brasileiros, vão estar presentes<br />

o diretor Domingos de Oliveira<br />

(autor de Todas as mulheres do mundo e<br />

Edu coração de ouro, dois dos filmes que<br />

compõem a homenagem a Paulo José),<br />

Daniel Junce e Marcela Bourseau, produtor<br />

e diretor do documentário Mataram<br />

Irmã Dorothy, Matheus Nachtergaele, diretor<br />

de A festa da menina morta, Paulo<br />

Pons, de Vingança, Selton Mello, ator e<br />

diretor de Feliz Natal, e os jurados Carlos<br />

Mattos, Ítala Nandi e Jom Tob Azulay.<br />

Na edição deste ano, vale a pena destacar<br />

a presença latino-americana. A programação<br />

inclui uma mostra de filmes da Venezuela,<br />

o que não deixa de ser super interessante,<br />

já que as obras dos realizadores<br />

do país nunca chegam às nossas salas de<br />

exibição. Até a metade do novo século, o<br />

cinema da Venezuela tinha uma média de<br />

produção muito baixa, três a quatro filmes<br />

por ano. Mas a partir de 2006, com uma<br />

reforma na legislação para o cinema, promovida<br />

pelo governo, houve um incremento<br />

importante na atividade cinematográfica,<br />

incluindo distribuição e exibição.<br />

Algumas produções venezuelanas chegaram<br />

a fazer mais de 100 mil espectadores<br />

em seu próprio mercado, até então um fato<br />

inédito. La clase, de José Antônio Varela,<br />

e Leningrado, de Mariana Rondon, são<br />

frutos e beneficiários da nova situação.<br />

Os representantes da Argentina são<br />

de grande peso. Autor de Liverpool, Lisandro<br />

Alonso é considerado um dos iniciadores<br />

e um dos principais representantes<br />

do “novo cinema argentino”. Seu filme<br />

La libertad, de 2001, causou grande impacto<br />

ao retratar num realismo quase documental<br />

a vida de um lenhador. Alonso<br />

acompanha minuto a minuto o cotidiano<br />

da personagem de Misael, induzindo o espectador<br />

a perceber, através de pequenos<br />

movimentos e ações, sua maneira de ver o<br />

28


Fotos: Divulgação<br />

FIC Brasília<br />

de Brasília exibe mais de 100 produções estrangeiras e nacionais<br />

mundo. Na época do lançamento do filme,<br />

o diretor chegou a dizer que se tivesse<br />

tido a oportunidade de filmar um dia em<br />

sua vida, isto seria igual ao seu filme, e se<br />

tivesse feito um filme sobre sua vida, este<br />

seria igual a La libertad. A declaração dá<br />

uma perfeita idéia do tipo de “realismo<br />

austero” desse realizador único.<br />

Tão importante quanto Lisandro Alonso,<br />

Daniel Burman apresenta no festival<br />

El nido vacio, seu quinto longa-metragem,<br />

uma co-produção com a Espanha e a França.<br />

Conhecido do público brasileiro por<br />

O abraço partido, Burman é também produtor<br />

e frequentemente aposta em novos<br />

cineastas. Esta dupla faceta o coloca numa<br />

posição singular, já que ele próprio<br />

costuma considerar muito difícil trabalhar<br />

na incipiente indústria de cinema argentina.<br />

“É um milagre”, ele acrescenta, e<br />

ninguém em sã consciência pode achar<br />

que vai encontrar ali estabilidade e fortuna<br />

pessoal. Burman é também um lúcido<br />

crítico do medíocre pragmatismo dos<br />

tempos atuais, uma época em que se decretou<br />

a morte do autor e o desaparecimento<br />

do indivíduo como sujeito, emancipado,<br />

pensante e crítico.<br />

É um pensamento que pode ser estendido<br />

a outro argentino, Pablo Trapero,<br />

presente no FIC com Leonera. Também<br />

conhecido do público brasileiro por A família<br />

rodante, Trapero consegue com seus<br />

filmes resultados surpreendentes. Utiliza<br />

sempre recursos mínimos e é um dos que<br />

preconizam um cinema não como reflexo<br />

da realidade, mas como uma expressão<br />

“que toma partido a favor de alguma coisa<br />

ou contra alguma coisa”.<br />

Muitas outras atrações devem despertar<br />

grande interesse do público. Há obras<br />

de realizadores consagrados como Bernardo<br />

Bertolucci (La via del petróleo), Isabel<br />

Coixet (Elegy) e Yoji Yamada (Kabei). Este<br />

último participa da Mostra Japão Contemporâneo,<br />

que exibirá ainda First love,<br />

de Imaizumi Koichi, Glory to the filmmaker,<br />

do grande Takeshi Kitano, e Sad<br />

vacation, de Aoyama Shinji.<br />

Haverá também a interessante Mostra<br />

Infanto-juvenil Jovens Heróis. Entre<br />

os filmes programados estão Cidade das<br />

abelhas, de Laila Hodell e Bertel Torne<br />

Osen, Tom W, de Anna Wieckowska, O<br />

mundo de Zezil, de Catherine Marchen<br />

Asmussen, Meninas, de Menna Laura<br />

Meijer, Vamos brincar, de François Lecauchois,<br />

e Safári, de Blogárka e Róbert Pölcz.<br />

Como em anos anteriores, o FIC vai<br />

estar associado ao III Prêmio Itamaraty<br />

para o Cinema Brasileiro, iniciativa conjunta<br />

com o Ministério das Relações Exteriores,<br />

cuja intenção é promover as produções<br />

nacionais.<br />

X Festival Internacional<br />

de Cinema de Brasília<br />

De 29/10 a 9/11 na Academia de<br />

Tênis José Farani. Dez longas-metragens<br />

concorrem ao Prêmio Buriti, oferecido<br />

ao vencedor da Mostra Competitiva do<br />

X FIC: Ballast (Lance Hammer, 2008), First<br />

love (Kouichi Imaizumi, 2007), Liverpool<br />

(Lisandro Alonso, 2008), Mataram Irmã<br />

Dorothy (Daniel Junge, 2008), Mermaid<br />

(Anna Melikyan, 2007), O coração (Diego<br />

Garcia-Moreno, 2006), Sleep dealer (Alex<br />

Rivera, 2008), Um homem bom (Vicente<br />

Amorim, 2008), Up the Yangtze (Yung<br />

Chang, 2007) e Por un polvo (Carlos Daniel<br />

Malavé, 2008). Ingressos a <strong>R$</strong> 12 e <strong>R$</strong> 6.<br />

Mais informações: www.ficbrasilia.com.br<br />

29


luzcâmeraação<br />

Fausto, filmado na<br />

Alemanha em 1925,<br />

conta a história de<br />

um professor que é<br />

induzido a fazer um<br />

pacto com o diabo.<br />

Em cartaz no dia 8<br />

Ousadia em<br />

preto e<br />

branco<br />

Uma ótima oportunidade de conhecer a filmografia<br />

do expressionista alemão Murnau, cultuado por<br />

nove entre dez cinéfilos do mundo todo<br />

POR MARIA TERESA FERNANDES<br />

Quando ele começou a fazer filmes, a<br />

invenção dos irmãos Lumière ainda não<br />

tinha completado 25 anos. E Friedrich<br />

Wilhelm Murnau se dedicou<br />

tanto a essa paixão<br />

que passou para a história<br />

do cinema como criador<br />

da câmera em movimento,<br />

num tempo em<br />

que ela era usada<br />

de forma estática.<br />

Ousou também na<br />

construção de cenários<br />

grandiosos – as atuais<br />

cidades cenográficas – e dirigiu<br />

um dos primeiros filmes de<br />

terror: Nosferatu.<br />

Para comemorar os 120<br />

anos de nascimento do diretor, o CCBB<br />

vai exibir 12 dos 24 filmes produzidos por<br />

esse expoente do cinema expressionista<br />

alemão surgido logo após a Primeira Guerra<br />

Mundial. A mostra Poemas visionários<br />

– o cinema de F. W. Murnau – estará de 4<br />

a 16 de novembro no CCBB.<br />

Nascido em 1888, Murnau fez seus<br />

principais filmes – Nosferatu, Castelo Vogelod<br />

e A última gargalhada – nos anos 20,<br />

na Alemanha. Em 1926, mudou-se para<br />

os Estados Unidos, onde dirigiu três filmes,<br />

entre eles City girl e Aurora. Este último<br />

rendeu o prêmio de melhor atriz a Janet<br />

Gaynor na primeira edição do Oscar,<br />

em 1928, mas nem isso impediu que<br />

Murnau rompesse com a 20th Century<br />

Fox, em função do fracasso de bilheteria<br />

de Aurora e da exigência dos produtores<br />

para que fizesse filmes mais comerciais.<br />

Três anos depois, o cineasta conseguiu<br />

partir para uma produção independente<br />

e rodou Tabu, numa ilha da Polinésia.<br />

Só que o destino não permitiu que ele<br />

chegasse ao lançamento do filme que fez<br />

com Robert Flaherty. Murnau morreu<br />

pouco antes da estréia, num acidente de<br />

carro em Los Angeles, aos 42 anos.<br />

Os movimentos rápidos de câmera, as<br />

luzes moduladas com sutileza e o espaço<br />

aberto fascinavam o diretor, que registrava<br />

com habilidade e sensibilidade paisagens<br />

aparentemente intocadas, a imensidão dos<br />

mares, as forças indomáveis da natureza.<br />

Refletindo o astral de uma sociedade profundamente<br />

abatida com a guerra, Murnau<br />

explorava temas fantásticos e sombrios,<br />

anseios e medos infantis. Nosferatu,<br />

inspirado na novela Drácula, de Brom<br />

Stocker, foi seu primeiro filme de terror.<br />

Um refletor persegue a sombra de Nosferatu,<br />

30 filme programado para os dias 5, 7 e 9


Um dos curadores da mostra inédita,<br />

que está sendo apresentada também no<br />

Rio e em São Paulo, é Arndt Roskens,<br />

que a considera “indispensável objeto de<br />

estudo para todos os amantes e estudiosos<br />

do cinema arte”. Ele respondeu, de São<br />

Paulo, às três perguntas enviadas pela <strong>Roteiro</strong><br />

(leia abaixo).<br />

Poemas visionários<br />

De 4 a 16/11 no cinema do CCBB.<br />

Programação no www.bb.com.br/cultura.<br />

Ingressos a <strong>R$</strong> 4 e <strong>R$</strong> 2.<br />

Fotos: acervo FW Murnau<br />

Fantasma, filme de 1922, atração dos dias 6 e 11 City girl, filmado nos Estados Unidos em 1929, em cartaz nos dias 11 e 15<br />

Qual é, de um modo geral, a temática<br />

dos filmes de Murnau?<br />

Sua obra inclui temáticas bem diferentes.<br />

Nosferatu, por exemplo, que<br />

é uma adaptação do Drácula, de Bram<br />

Stoker, conta a história do vampiro. É<br />

um filme de suspense mas que, sutilmente,<br />

expressa as ansiedades e traumas<br />

daquela época, de uma sociedade<br />

pós-guerra. Fausto explora os<br />

limites da procura do homem moderno<br />

com a sua vontade de explorar,<br />

saber e controlar o mundo ao seu redor.<br />

Aurora, por sua vez, se concentra<br />

em uma história de amor e reflete sobre<br />

amor-desejo, campo (vida simples)<br />

e cidade (vida moderna). As finanças<br />

do grão duque é uma comédia mais<br />

leve, que diverte o espectador. As temáticas<br />

dos filmes são bem diferentes.<br />

Os filmes de Murnau têm em comum<br />

a interminável procura de felicidade e<br />

realização pessoal pelo homem moderno,<br />

os limites impostos pela natureza<br />

e pela sociedade e os conflitos<br />

entre a vida moderna e a vida simples,<br />

entre os valores do campo e da cidade<br />

e entre o indivíduo e a sociedade.<br />

Como era filmar nos anos 20?<br />

Fazer filmes era uma coisa recente,<br />

que ofereceu uma área grande a ser explorada.<br />

Quando ele começou a filmar, o<br />

primeiro filme de todos os tempos tinha<br />

sido feito há menos de 30 anos. No decorrer<br />

desses 30 anos, a tecnologia cinematográfica<br />

desenvolveu-se de forma rápida,<br />

mas obviamente não chega perto da<br />

atual. Murnau fez parte do expressionismo<br />

alemão dos anos 20, na Alemanha,<br />

que caracteriza um estilo cinematográfico<br />

com estética e temática próprias. Era a<br />

época da modernidade entre as duas<br />

guerras. O que faz de Murnau uma figura<br />

importante para o mundo do cinema, ainda<br />

hoje, é que ele teve um olhar muito<br />

preciso na composição das imagens, na<br />

perspectiva da câmera, construção de espaços,<br />

montagem, colocação dos atores<br />

no espaço e diante da câmera. Uma das<br />

maiores heranças de Murnau é ter descoberto<br />

a câmera desvencilhada em A última<br />

gargalhada. Até então, a câmera era estática<br />

e o movimento acontecia diante dela.<br />

Este foi o primeiro filme em que a câmera<br />

estava em movimento, ela é que foi atrás<br />

dos atores, que passou pela porta do prédio<br />

etc. Era uma maneira completamente<br />

nova de se fazer filmes. Nos<br />

dias de hoje, é completamente normal<br />

que a câmera esteja em movimento,<br />

graças a Murnau.<br />

Por que ele saiu de seu país e foi<br />

fazer filmes nos EUA?<br />

Murnau fez sucesso internacional<br />

com Nosferatu e conseguiu inovar a<br />

linguagem e tecnologia do cinema<br />

com A última gargalhada. Isso chamou<br />

a atenção da 20th Century Fox,<br />

que o chamou para trabalhar nos EUA,<br />

oferecendo total liberdade financeira e<br />

artística para seu primeiro filme americano,<br />

Aurora. Com ele, Murnau conseguiu<br />

ganhar vários Oscars na primeira<br />

cerimônia de todos os tempos. A crítica<br />

amou o filme, mas ele foi um fracasso<br />

econômico. O estúdio começou<br />

a exigir filmes mais comerciais de Murnau,<br />

querendo interferir na produção<br />

e concepção artísticas. Ele dissolveu o<br />

contrato antes de finalizar City girl e<br />

foi para o Tahiti realizar o sonho de<br />

filmar na ilha tropical. Usou recursos<br />

próprios para fazer o filme, que vendeu<br />

posteriormente para a Fox.<br />

31


luzcâmeraação<br />

Divulgação<br />

Meu prisioneiro,<br />

meu amigo<br />

POR REYNALDO DOMINGOS FERREIRA<br />

A aproximação com o grande líder<br />

Nelson Mandela faz com que seu carcereiro<br />

James Gregory, racista, reveja seus conceitos<br />

e, tardiamente, sinta remorso por<br />

haver praticado atos criminosos contra<br />

negros nos tempos do apartheid, nos anos<br />

60, na África do Sul. É esse o tema do filme<br />

Mandela – luta pela liberdade, do dinamarquês<br />

Billy August, baseado no livro<br />

Goodbye bafana, my prisoner, my friend, de<br />

Gregory,<br />

August, notável realizador de Pelle, o<br />

conquistador, Palma de Ouro em Cannes<br />

(1988), e de As melhores intenções (1992),<br />

que tem roteiro de Ingmar Bergman sobre<br />

o casamento de seus pais, concretiza,<br />

desta feita, competente mas frio trabalho<br />

de direção, que em momento algum chega<br />

a empolgar ou emocionar o espectador.<br />

É bem possível que isso se deva, em parte,<br />

ao fato de haver ele seguido ao pé da letra<br />

o pouco inspirado roteiro de Greg Latter,<br />

de muitas omissões.<br />

A mais grave delas é a de sequer oferecer<br />

pistas ao espectador sobre o motivo<br />

que teria levado Gregory (Joseph Fiennes)<br />

a desenvolver, nos anos da mocidade,<br />

mesmo sob pressão social, terrível ódio racial,<br />

se na infância, no interior do país,<br />

seu melhor amigo fora um menino (bafana)<br />

negro, que lhe ensinara não só um tipo<br />

de luta marcial mas também o próprio<br />

dialeto xhosa, no qual se expressa fluentemente.<br />

E é graças ao conhecimento do xhosa<br />

que Gregory é destacado para atuar na prisão<br />

da ilha Robben – onde se encontra<br />

Nelson Mandela (Dennis Heysbert) – como<br />

espião do serviço de inteligência, para<br />

repassar informações sobre o grupo do famoso<br />

prisioneiro. Embora a nova missão<br />

não represente para Gregory nenhuma<br />

melho ria salarial, a mulher dele, Gloria<br />

(Diane Kruger), se entusiasma, pois interpreta<br />

o convite como sinalização de futura<br />

promoção, que os leve a residir em Pretória,<br />

uma das três capitais da África do Sul.<br />

Para ajudar nas despesas da casa, Gloria<br />

volta a exercer a profissão que tinha<br />

nos tempos de solteira, de cabeleireira, fazendo<br />

com que sua casa se torne verdadeiro<br />

salão de beleza, no qual possa atender<br />

às esposas dos oficiais. Enquanto isso,<br />

Gregory, na cadeia, orienta o encontro de<br />

Nelson e Winnie Mandela (Faith Ndukwana),<br />

que conversam separados por grades.<br />

Inadvertidamente, porém, Winnie conta<br />

a Nelson que, apesar de todo sofrimento<br />

pela ausência dele, o filho se sentia feliz,<br />

alegre, por haver adquirido seu primeiro<br />

carro.<br />

32


Sabedor disso, Gregory dá conhecimento<br />

ao serviço secreto e, dias depois, recebe<br />

a missão de transmitir a Mandela o<br />

comunicado da morte do filho num “desastre”<br />

de automóvel. Por um recado oculto<br />

num cartão postal enviado a um amigo<br />

de Mandela prestes a deixar a cadeia, Gregory<br />

fica sabendo ainda que companheiros<br />

o esperariam, para saudá-lo, num determinado<br />

ponto da Cidade do Cabo. Ele<br />

repassa a informação e, pelo noticiário da<br />

imprensa, dias depois, toma conhecimento<br />

de que todos foram executados.<br />

A autoridade moral de Mandela, porém,<br />

se impõe. Suas palavras significam<br />

algo mais do que Gregory estava acostumado<br />

a ouvir em seu meio. Em pouco<br />

tempo, ele adere à causa de Mandela, ajudando-o,<br />

primeiro, em seus contatos familiares,<br />

e depois adotando procedimentos<br />

que, percebidos pelos oficiais, o colocam<br />

em choque com a corporação. Ele sofre<br />

ameaças, chega a ser espancado num bar<br />

e a mulher perde suas clientes no salão de<br />

beleza. Então, pede demissão, que não é<br />

aceita.<br />

O major Pieter Jordaan (Patrick Lyster),<br />

a quem Gregory se reporta no serviço<br />

de inteligência, empenha-se pessoalmente<br />

para conseguir sua transferência para um<br />

cargo burocrático na Cidade do Cabo,<br />

também uma das capitais do país, o que<br />

acaba se concretizando. Haverá um momento,<br />

entretanto, em que o reencontro<br />

de Gregory com Mandela será inevitável.<br />

Nessa oportunidade, o soldado está convicto<br />

de que, sob pressão internacional, o<br />

regime do apartheid tem os dias contados.<br />

E sabe também que, atuando ao lado de<br />

Mandela, estará participando de um momento<br />

histórico importante na vida de<br />

seu país.<br />

O ator Joseph Fiennes, intérprete do<br />

papel de Gregory, é o dono do filme. De<br />

menos holofotes sobre sua beleza física<br />

que o irmão Ralph, Joseph, também de<br />

formação teatral, procura se destacar pelo<br />

rigor técnico que observa em suas composições<br />

desde que apareceu pela primeira<br />

vez na tela em Shakespeare apaixonado<br />

(1998), de John Madden. Nessa sua recriação<br />

de Gregory – falecido em 2003 –<br />

ele impressiona pelo tom de disciplina<br />

que soube imprimir à personagem, cujo<br />

amadurecimento se torna perceptível não<br />

só pela maquiagem de envelhecimento,<br />

que se lhe aplicou ao corpo e à fisionomia,<br />

mas também por um processo de<br />

competente interiorização de suas novas<br />

convicções.<br />

Também se destacam como intérpretes<br />

Diane Kruger, no papel de Gloria Gregory,<br />

Patrick Lyster, como Major Pieter<br />

Jordaan, e Faith Ndukwana, personificando<br />

a elegante Winnie Mandela. Já o ator<br />

Dennis Haysbert convence pouco como a<br />

personagem que dá título ao filme. Parece<br />

que lhe pesou no ombro a responsabilidade<br />

de interpretar o papel do grande líder.<br />

Se Haysbert fosse um pouco mais convincente,<br />

a cena em que Gregory revela seus<br />

atos criminosos a Mandela poderia ser<br />

bem mais dramática e comovente.<br />

Mandela – luta pela liberdade<br />

Alemanha/França/Bélgica/África do Sul/<br />

Itália/Inglaterra/Luxemburgo/2007, 140<br />

min. Direção: Billy August. <strong>Roteiro</strong>: Greg<br />

Latter, baseado em livro de Bob Graham<br />

e James Gregory. Com Joseph Fiennes,<br />

Dennis Heysbert, Diane Kruger, Shiloh<br />

Henderson, Patrick Lyster, Faith Ndukwana<br />

e Mehboob Bawa.<br />

33


cartadaeuropa<br />

Divulgação<br />

Um mestre da<br />

espionagem<br />

POR SILIO BOCCANERA, DE LONDRES<br />

John Le Carré, um<br />

dos maiores escritores<br />

de ficção de espionagem,<br />

senão o maior,<br />

acaba de lançar seu mais<br />

novo livro sobre o assunto<br />

– A most wanted<br />

man (Um homem muito<br />

procurado, em tradução<br />

literal, não comercial)<br />

– e os críticos têm<br />

reagido com entusiasmo à nova aventura.<br />

A trama se passa na Alemanha multicultural<br />

de hoje, descreve traições de agências<br />

internacionais de espionagem e combate<br />

ferozmente a política externa dos Estados<br />

Unidos, uma das implicâncias do<br />

autor. “Minha briga não é com os americanos;<br />

é com a maneira usada por seus líderes<br />

para enganá-los”, disse ele em entrevista<br />

à imprensa para promover o livro.<br />

Le Carré, na verdade, se chama David<br />

Cornwell, vive em semi-isolamento na<br />

Cornuália, região charmosa à beira-mar,<br />

mas distante do centro nervoso de Londres,<br />

onde ele reaparece periodicamente<br />

quando lança um novo livro. Às vezes ele<br />

ressurge também quando sai algum filme<br />

baseado em obra sua e – caso raro – ele<br />

aprova a adaptação. Foi assim com O jardineiro<br />

fiel, que o brasileiro Fernando<br />

Meirelles dirigiu e Le Carré elogiou. De<br />

seus livros anteriores, um dos poucos a receber<br />

sua aprovação foi o clássico (texto e<br />

filme) O espião que veio do frio.<br />

O livro mal chegou às livrarias e já foi<br />

chamado de “vitorioso” pelo jornal britânico<br />

The Independent, que foi mais longe<br />

nos elogios: o crítico Tim Martin disse<br />

que não conseguia entender porque as<br />

pessoas tratam Le Carré como romancista<br />

popular ou, pior ainda, simples autor de<br />

thrillers. “Ele é um tragedista subversivo,<br />

que nos vende o que menos queremos ouvir<br />

sobre os guardiões de nossa liberdade”,<br />

escreveu Martin. “Ele apenas disfarça<br />

essa realidade como entretenimento”.<br />

Por sua vez, o crítico do Sunday Times<br />

chamou atenção para o fato de que “o poder<br />

narrativo e a devoção humanitária de<br />

Le Carré permanecem intactos à medida<br />

que ele se aproxima dos 80 anos” (tem<br />

76). O livro, disse o crítico Stephen Amidon,<br />

“é uma condenação dos governos<br />

que autorizamos a agir em nosso nome”.<br />

O personagem principal da nova trama<br />

é um muçulmano filho de russos e<br />

chechênios, de nome Issa, que vive em<br />

Hamburgo sob o olhar de várias agências<br />

de espionagem desconfiadas – sem provas<br />

– de que ele pretende deslanchar uma<br />

ação fundamentalista na Alemanha.Quem<br />

se assustou com a história dos terroristas<br />

que atacaram os Estados Unidos em 2001<br />

se lembra de que os líderes da operação viveram<br />

em Hamburgo.<br />

Le Carré reserva a atuação mais repreensível<br />

para o espião americano, reflexo<br />

de sua aversão de muito tempo à política<br />

externa dos Estados Unidos, sobretudo<br />

no governo Bush. Apesar dos convites para<br />

promover seus livros no maior mercado<br />

do mundo, Le Carré se recusa a visitar<br />

os Estados Unidos desde o início da guerra<br />

no Afeganistão, em 2001.<br />

Ele pode se dar ao luxo de marcar sua<br />

posição política sem preocupação com a<br />

venda de livros, pois a fama e a riqueza<br />

acumuladas com o sucesso de seus 20 livros<br />

anteriores permitem-lhe uma vida<br />

confortável. Ele nega ser antiamericano,<br />

mas não esconde sua repulsa à atuação externa<br />

do governo de Washington. “Se estou<br />

com raiva da América é porque sou<br />

um romântico decepcionado”, diz.<br />

Entre as várias entrevistas e depoimentos<br />

públicos em torno do lançamento do<br />

livro, Le Carré eletrizou a platéia de um<br />

auditório no South Bank, em Londres, ao<br />

falar de sua infância como filho de um negociante<br />

desonesto e traiçoeiro (inspiração<br />

para seu livro The perfect spy) e sua atividade<br />

clandestina como espião britânico<br />

na Áustria e na Alemanha logo após o fim<br />

da Segunda Guerra Mundial.<br />

Apesar das suspeitas de seus leitores e<br />

das insinuações de especialistas em espionagem,<br />

Le Carré levou anos para admitir<br />

que foi agente secreto do governo britânico<br />

no período mais tenso da Guerra Fria.<br />

Alguns anos atrás, acabou assumindo publicamente<br />

esse lado sombrio do seu passado,<br />

que abandonou há meio século, em<br />

troca da literatura.<br />

Atuante no setor durante um período<br />

de agudo confronto Leste-Oeste, com desconfiança<br />

de lado a lado sobre intenções<br />

maléficas, Le Carré contou que desenvolveu<br />

na época uma visão de espionagem<br />

como “a busca do centro secreto de um<br />

país, daquilo que mais temíamos, o mais<br />

difícil de obter”. E completou: “Demorei<br />

para perceber que o cofre estava vazio”.<br />

Ele diz que na sua idade “é difícil não<br />

ver tudo o que escrevo como conclusão”.<br />

Deu a entender que esse novo livro pode<br />

ser seu adeus à ficção de espionagem.<br />

“Sempre vivi assombrado com o exemplo<br />

de Graham Greene, cujos últimos trabalhos<br />

não deveriam ter sido publicados. Eu<br />

gostaria de terminar com um livro forte”.<br />

A se julgar pela reação inicial a A most<br />

wanted man, o desejo de Le Carré será<br />

satisfeito.<br />

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