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Ano VII • nº 153<br />
29 de outubro de 2008<br />
<strong>R$</strong> 5,<strong>90</strong>
empoucaspalavras<br />
Nosso mais novo colunista, o chef belga Quentin<br />
Geenem de Saint Maur, vem se revelando também ótimo<br />
pauteiro. Para fazer a reportagem de capa desta edição,<br />
nós buscamos inspiração no artigo em que ela chamou<br />
a atenção para as surpreendentes possibilidades de utilização<br />
de frutos do Cerrado na gastronomia. E lamentou<br />
que isso ainda não tivesse a merecida divulgação.<br />
Pois a deficiência apontada por ele felizmente começa<br />
a ser corrigida pela Embrapa Cerrados, que, após anos<br />
de pesquisas – coordenadas por José Orlando Madalena<br />
– está finalizando um livro com mais de 200 receitas<br />
cujos ingredientes são os exóticos baru, cagaita, murici,<br />
jatobá, araticum, buriti, gabiroba e buriti, entre outros.<br />
Este último, inclusive, está presente na receita “Ouro do<br />
Cerrado”, que José Orlando antecipa para os leitores da<br />
<strong>Roteiro</strong> (página 4).<br />
Esta edição está também repleta de boas sugestões de<br />
filmes. Em sua décima edição, o Festival Internacional<br />
de Cinema vai movimentar a Academia de Tênis entre<br />
29 de outubro e 9 de novembro. O jornalista Sérgio<br />
Moriconi conta as novidades do FIC, que começa logo<br />
com um filme de Woody Allen e elenco estelar – Scarlett<br />
Johansson, Rebecca Hall, Javier Bardem e Penélope Cruz<br />
(leia na página 28).<br />
Mas não é só isso, em matéria de sétima arte! Na<br />
página 32, Reynaldo Domingos Ferreira comenta o<br />
filme Mandela – luta pela liberdade, que fala da aproximação<br />
do líder negro com seu carcereiro James Gregory,<br />
racista, que revê seus conceitos e tardiamente sente<br />
remorso por praticar atos criminosos contra os negros<br />
nos tempos do apartheid.<br />
Por fim, não deixe de conferir, na página 30, a<br />
mostra Poemas Visionários, que reúne 12 dos 24 filmes<br />
do cineasta expressionista alemão F.W. Murnau. Ele<br />
fez cinema mudo logo após a Primeira Guerra, inovou,<br />
ao criar a chamada “câmara desvencilhada”, e virou<br />
referência para diretores das gerações seguintes.<br />
Boa leitura e até a próxima quinzena<br />
Maria Teresa Fernandes e<br />
Adriano Lopes de Oliveira<br />
Editores<br />
28 luzcâmaraação<br />
Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen, com Penélope<br />
Cruz, Javier Bardem e Scarlett Johansson, é uma das<br />
atrações do 10º Festival Internacional de Cinema de Brasília<br />
4<br />
8<br />
10<br />
12<br />
14<br />
16<br />
20<br />
22<br />
24<br />
25<br />
26<br />
34<br />
águanaboca<br />
picadinho<br />
garfadas&goles<br />
pão&vinho<br />
palavradochef<br />
roteirogastronômico<br />
dia&noite<br />
diáriodeviagem<br />
galeriadearte<br />
avenidadasnações<br />
queespetáculo<br />
cartadaeuropa<br />
Divulgação<br />
ROTEIRO BRASÍLIA é uma publicação da Editora <strong>Roteiro</strong> Ltda | SHS, Ed. Brasil 21, Bloco E, Sala 1208 – Tel: 3964.0207 Fax: 3964.0207 | Redação<br />
roteirobrasilia@alo.com.br | Editores Adriano Lopes de Oliveira e Maria Teresa Fernandes | Produção Célia Regina | Capa Carlos Roberto Ferreira<br />
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águanaboca<br />
Araticum<br />
Cajuzinho<br />
Gostosos e nutritivos<br />
POR LÚCIA LEÃO<br />
Tudo começou, para José Orlando<br />
Madalena, quando, funcionário de uma<br />
empresa agropecuária, conviveu, em andanças<br />
por áreas rurais do Planalto Central,<br />
com brasileirinhos desnutridos povoando<br />
uma região de natureza especialmente<br />
generosa em sabores e nutrientes. “É<br />
como morrer de sede na beira de um poço<br />
de água cristalina”, ele comparava, observando<br />
pequis, barus, jatobás, macaúbas e<br />
outras jóias dando sopa na paisagem retorcida,<br />
sem cair nas panelas enegrecidas<br />
pela lenha dos fogões rústicos dos casebres<br />
da região.<br />
Aliando a preocupação com a segurança<br />
alimentar daquela gente ao gosto<br />
pelas lidas culinárias que traz do berço es-<br />
panhol, Orlando começou a preparar guloseimas<br />
e quitutes com plantas nativas<br />
do bioma. Hoje, elas são o foco de sua<br />
pesquisa na Embrapa Cerrados e matériaprima<br />
para mais de 200 receitas do livro<br />
que o pesquisador está por finalizar.<br />
Diferente do agrônomo, Francisco Ansiliero<br />
era um professor e fazia do cozinhar<br />
um hobby, um exercício descompromissado<br />
de puro prazer. Era uma situação<br />
confortável para fazer experimentos, e ele,<br />
um catarinense de sangue italiano, resolveu<br />
experimentar os sabores brasileiros<br />
regionais. Primeiro os da Amazônia, onde<br />
viveu por um tempo. Depois os do Cerrado,<br />
onde se fixou definitivamente há vinte<br />
anos, quando inaugurou em Brasília a primeira<br />
casa da rede de restaurantes Dom<br />
Francisco.<br />
Rita Medeiros era jornalista. Junto<br />
com o marido, o também jornalista Bartolomeu<br />
Rodrigues, comprou uma terrinha<br />
em Pirenópolis, sem maiores pretensões<br />
do que investir a pequena poupança num<br />
refúgio sossegado, longe do stress das redações<br />
dos jornais. Embrenhar-se pelo<br />
Cerrado, descobrindo e catando frutas estranhas,<br />
era brincadeira de fins de semana<br />
até o casal perceber que podia fazer daquele<br />
prazer seu dia-a-dia. Foi aí que Ritinha e<br />
Bartô criaram a Sorbê, uma indústria de<br />
sorvetes artesanais presentes hoje em vários<br />
pontos de venda da cidade.<br />
Com trajetórias e motivações distintas,<br />
os caminhos de José Orlando, Francisco,<br />
Rita e Bartô chegaram àquele que,<br />
até pouco tempo, era o primo pobre dos<br />
biomas brasileiros. Sem a exuberância das<br />
4
Fotos: Divulgação Sorbê<br />
Jenipapo<br />
Primo pobre dos biomas brasileiros até pouco tempo atrás, o<br />
Cerrado hoje fornece ingredientes para alimentos deliciosos<br />
florestas tropicais nem a tradição cultural<br />
que difundiu os hábitos alimentares dos<br />
Pampas e da Caatinga, o Cerrado e seus<br />
frutos são descobertas recentes tanto para<br />
pesquisadores como para gourmets. Mas<br />
rapidamente se desvendam os segredos de<br />
seus preparos e a estranheza dos sabores vira<br />
admiração.<br />
“Os produtos do Cerrado têm sabor<br />
forte e são muito aromáticos. Tendem ao<br />
herbáceo, têm uma acidez significativa e às<br />
vezes um certo amargor. É preciso paciência<br />
para trabalhar com eles, buscar o equilíbrio<br />
e amenizar essas características para<br />
agradar ao paladar de um universo maior<br />
de pessoas”, ensina Francisco, com a acuidade<br />
didática que nunca abandonou.<br />
Convidado a preparar um cardápio<br />
com espécies típicas do Cerrado para um<br />
workshop sobre “sabores do Brasil” – parte<br />
da programação da feira Ciência para a<br />
Vida, realizada pela Embrapa no último<br />
mês de setembro – Francisco usou cagaitas,<br />
pequi, baru, murici, gueroba, jatobá<br />
e araticum para preparar<br />
entradas, pratos<br />
principais e sobremesas<br />
dignos de um banquete<br />
e capazes de satisfazer<br />
à plenitude turistas<br />
exigentes e curiosos<br />
como Zé Carlos<br />
Baratino, o chef paulista<br />
que, em visita a<br />
Brasília, pouco pôde<br />
conhecer dos sabores<br />
regionais além dos sorvetes<br />
da Sorbê, a ele<br />
apresentados pelo também chef e colunista<br />
da <strong>Roteiro</strong> Quentin Geenen de Saint<br />
Maur, um dos quais ilustra nossa capa.<br />
Esse tipo de curiosidade pode salvar o<br />
gato! Neste caso, o Cerrado! Comprando<br />
Divulgação Embrapa<br />
5
águanaboca<br />
Photoagência<br />
Divulgação Embrapa<br />
O chef Francisco Ansil<br />
volumes cada vez maiores de frutos coletados<br />
por associações de catadores organizadas<br />
em várias áreas do Entorno de Brasília,<br />
a Sorbê contribui para manter, pelo<br />
menos nessas áreas, a vegetação nativa em<br />
pé. Imagine o que poderiam fazer os responsáveis<br />
pelos cardápios das recepções<br />
oficiais que movimentam a Esplanada dos<br />
Ministérios ou os hotéis da cidade!<br />
Esse é um dos focos do trabalho de José<br />
Orlando na Embrapa. Concentrado<br />
em onze espécies – pequi, buriti, araticum,<br />
cagaita, macaúba, cajuzinho, mangaba,<br />
gueiroba, gabiroba, murici e jatobá – o<br />
pesquisador/cozinheiro desenvolveu receitas<br />
que, acredita, encheriam de charme<br />
os bufês de café da manhã dos hotéis da<br />
capital e os eventos aqui realizados. Para<br />
demonstrar isso, ele próprio foi para a cozinha,<br />
em setembro do ano passado, e<br />
preparou o coffee break dos 200 convidados<br />
do Ministério do Meio Ambiente nas<br />
comemorações do Dia do Cerrado.<br />
“Neste momento, estamos negociando<br />
com um grupo de hotéis para apoiar<br />
um programa de turismo gastronômico<br />
onde eles ofereçam um cardápio regional<br />
do Cerrado pelo menos um dia por semana.<br />
Nós vamos colocar à disposição nossas<br />
receitas e fazer contato com as comunidades<br />
extrativistas para garantir o fornecimento<br />
dos produtos”, diz o pesquisador.<br />
Entre as metas de José Orlando está a<br />
de atingir a perfeição na elaboração de licores<br />
de frutas do Cerrado (“o que se faz<br />
por aí são cachaças aromatizadas!”), estrelas<br />
do livro de receitas que ele promete<br />
lançar até fevereiro. Lá estará também a receita<br />
da “Ouro do Cerrado”, torta salgada<br />
de buriti e pequi oferecida para degustação<br />
aos visitantes da feira Ciência para a<br />
Vida.<br />
Experimente preparar a receita de José<br />
Orlando Madalena e veja como é o gosto<br />
do Cerrado.<br />
Ouro do Cerrado<br />
INGREDIENTES<br />
Da massa<br />
1 xícara (chá) de raspa de buriti moída<br />
4 xícaras (chá) de farinha de trigo<br />
3 xícaras (chá) de leite<br />
1 xícara (chá) de óleo<br />
10 colheres (sopa) de queijo ralado parmesão (opcional)<br />
4 colheres (sopa) de margarina<br />
1 colher (sopa) de fermento em pó<br />
2 colher (sopa) de óleo de polpa de pequi<br />
1 pitada de açúcar<br />
4 ovos grandes<br />
1 pitada de sal em função do queijo parmesão<br />
Do recheio<br />
500g de carne de frango desfiada temperada e refogada<br />
2 xícaras de brócolis ou caruru de porco<br />
1 lata de ervilha e 1 lata de milho doce (opcional)<br />
MODO DE PREPARO<br />
Bater todos os ingredientes da massa no liquidificador ou<br />
batedeira. Fazer o recheio de frango desfiado com tempero a gosto,<br />
acrescentando opcionalmente a ervilha e o milho doce. Num tabuleiro<br />
untado com óleo e polvilhado com farinha de trigo, despejar metade<br />
da massa. Distribuir em seguida o frango uniformemente e recobri-lo<br />
com o resto da massa. Levar ao forno pré-aquecido a 180 - 210º C<br />
por 35 a 40 minutos.<br />
6
Chopes<br />
e petiscos<br />
Começa a<br />
segunda<br />
edição do<br />
festival<br />
Bar em Bar<br />
Nem os rigores da “lei seca” nem as<br />
turbulências econômicas dos últimos meses<br />
foram capazes de vencer a resistência<br />
dos empresários da gastronomia. Tanto é<br />
verdade que a segunda edição do festival<br />
Bar em Bar, promovido em todo o país<br />
pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes<br />
(Abrasel), está ainda maior e<br />
promete ser melhor do que a primeira.<br />
Em Brasília, 35 estabelecimentos participam<br />
este ano da promoção, 20% a<br />
mais do que em 2007. Durante o festival,<br />
até 5 de dezembro, deliciosos petiscos da<br />
culinária de boteco – picadinhos de filé,<br />
costelinhas defumadas, ceviches, robalo<br />
na brasa, quibes, esfihas, carne de sol,<br />
anéis de lula crocantes, nachos de camarones,<br />
pasteizinhos chineses, tortilhas, camarões<br />
empanados, escondidinhos – estarão<br />
com preços promocionais em nada<br />
menos de 50 pontos de venda.<br />
A Abrasel vai aproveitar o festival para<br />
reeditar a campanha Porções de Harmonia,<br />
de grande sucesso em 2007. “Bar é alegria,<br />
poesia, namoro e reunião de família;<br />
é tira-gosto, bebida gelada, papo com amigos<br />
e boa música” – é o que vai reafirmar<br />
a campanha publicitária. Sete bolachas de<br />
chope temáticas lembram que os bares<br />
têm uma participação importante na construção<br />
da cidadania.<br />
As bolachas podem ser colecionadas<br />
pelos fregueses e têm ilustrações e frases<br />
criativas. Alguns exemplos: “Ao entrar<br />
num bar, sirva-se com uma dose de responsabilidade<br />
antes de beber – lembre-se,<br />
principalmente, que bebida e direção não<br />
combinam”; “O som nos bares deve encher<br />
os ouvidos, não a paciência da vizinha”;<br />
“Os melhores bares servem qualidade<br />
e segurança para o cliente”. Essa<br />
ação é realizada simultaneamente em todos<br />
os Estados.<br />
Em sua primeira edição, no ano passado,<br />
o festival contou com a participação de<br />
443 estabelecimentos de 33 cidades. Um<br />
milhão de bolachas de chope da campanha<br />
Porções de Harmonia foram distribuídas<br />
entre 15 de novembro e 15 de dezembro.<br />
O site do festival – www.barembar.<br />
com.br – deu oportunidade aos internautas<br />
de comentar os pratos e marcar encontros<br />
com os amigos, recebendo mais de<br />
seis milhões de visitas.<br />
Festival Bar em Bar<br />
De 29/10 a 5/12 em 50 bares e restaurantes<br />
da cidade (relação completa dos<br />
participantes, com endereços, telefones,<br />
descrição e preços dos tira-gostos<br />
em www.abraseldf.com.br ou<br />
www.barembar.com.br)<br />
Divulgação<br />
7
picadinho<br />
Nordestino light<br />
O restaurante Severina (201 Sul)<br />
resolveu mostrar que a comida<br />
nordestina nem sempre precisa ser<br />
pesada. Para isso, lançou um cardápio<br />
light com opções como a salada<br />
Dona Severina, com feijão de corda<br />
temperado com azeite, cenoura<br />
ralada, tomate e cheiro verde, e a<br />
salada nordestina, que leva carne de<br />
sol desfiada, alface crespa, queijo<br />
coalho, cenoura, molho de laranja e<br />
melado de cana (ambas a <strong>R$</strong> 6,80).<br />
Novidades do Dudu<br />
O chef Dudu Camargo dá uma<br />
renovada em suas casas. A Cantina<br />
Italiana Unanimità está de cardápio<br />
novo, com mais de 15 lançamentos,<br />
entre eles o filé ao molho de queijo<br />
parmesão com risoto de vinho tinto,<br />
cebola à Juliana e ervas crocantes. O<br />
Your´s (QI 11 Lago Sul) foi repaginado:<br />
além de novo piso, pintura,<br />
iluminação e uniformes para a<br />
equipe, ganhou uma varanda com<br />
capacidade para 25 pessoas. E em<br />
novembro também estará com novo<br />
cardápio. A pizzaria Fratello Uno<br />
da 103 Sul também foi ampliada –<br />
agora tem capacidade para 120<br />
pessoas. No Dudu Camargo Restaurante<br />
(103 Sul), a novidade é a<br />
retomada do “almoço dos amigos”,<br />
às sextas-feiras – nesse dia, além do<br />
cardápio tradicional, os clientes<br />
encontram sugestões especiais com<br />
salada e prato principal, acompanhados<br />
de aperitivos quentes e frios.<br />
Festival do Camarão<br />
Está em cartaz na Crepe Royale<br />
(207 Sul) o 3º Festival do Camarão.<br />
O cardápio foi invadido pelas mais<br />
variados crepes recheados com o<br />
apreciado crustáceo. Alguns dos<br />
destaques são o crepe de camarão<br />
ao champangne e o de camarão<br />
à espanhola (camarões salteados<br />
no azeite ao creme de chadornay<br />
e curimã).<br />
Franco-italiano<br />
O Espaço Maria Tereza (QI 5 do Lago<br />
Sul) acaba de ganhar um reforço: o<br />
franco-italiano Bottarga Ristorante.<br />
Para comandar a casa, foi contratado<br />
o chef Felipe Bronze. O cardápio<br />
conta com uma variedade de pratos<br />
clássicos com toques contemporâneos,<br />
entre elas o Prime Rib Red Angus<br />
– grelhado com batatinhas assadas<br />
no tomilho e chantilly de raiz forte.<br />
Outra interessante pedida é o mini<br />
penne gratinado com endívias,<br />
aspargos e presunto cru.<br />
Promoções do Jorjão<br />
Os bares do popular Baixo Jorjão –<br />
Armazém do Ferreira, Bar do Brasil e<br />
Café do Brasil, na 202 Norte – estão<br />
com ótimas promoções. Às sextas, o<br />
Confraria do Camarão na Asa Sul<br />
Após 12 anos de sucesso no ParkShopping e quatro no Terraço Shopping,<br />
a Confraria do Camarão finalmente chegou às ruas da cidade. E o local<br />
escolhido por Anínio Terra e Ricardo Carvalho foi a esquina da 212 Sul.<br />
Lá, ao contrário dos shoppings, prevalece o conceito diferenciado do<br />
slow-food, um movimento que celebra o alimento de qualidade e os<br />
prazeres da mesa. O menu, como não poderia deixar de ser, é repleto<br />
de frutos do mar. Entre as novidades estão os pratos-família, que servem<br />
de quatro a seis pessoas, como o bobó de camarão (<strong>R$</strong> 99), a moqueca<br />
de camarão (<strong>R$</strong> 98) e o penne com camarões (<strong>R$</strong> 99). Outras boas pedidas<br />
são o tabule de frutos do mar (<strong>R$</strong> 19,50 por pessoa), o camarão manacá,<br />
visto na foto ao lado (<strong>R$</strong> 29 por pessoa) e o camarão caipira (recheado<br />
com queijo coalho, envolvo em delicads fatias de bacon e mergulhados em<br />
mel de engenho, a <strong>R$</strong> 14,50, seis unidades). Para as crianças, há o menu<br />
kids (<strong>R$</strong> 18,<strong>90</strong>). A casa ainda possui uma seleta carta de vinhos da Mistral.<br />
8
cliente que optar pela feijoada ganha<br />
um cupom de desconto de 50% para<br />
a semana seguinte. Nos dias de jogos<br />
de futebol, quem acertar o placar<br />
ganha 20 chopes (se houver mais de<br />
um ganhador, o prêmio é dividido).<br />
Os aniversariantes também têm suas<br />
vantagens: os que levarem cinco<br />
amigos ganham de presente igual<br />
número de chopes.<br />
Café sofisticado<br />
A rede Vanilla Caffè,<br />
de São Paulo,<br />
abriu sua primeira<br />
franquia em<br />
Brasília. Localizada<br />
na 408<br />
Sul, a casa<br />
conta com<br />
um variado<br />
cardápio de<br />
bebidas à base de<br />
café, além de crepes,<br />
sanduíches, quiches, sopas e salgados.<br />
Entre as bebidas, destaque para<br />
o Vanilla Cappuccino (com syrup de<br />
baunilha) e o Biscotti & Crema Caffè<br />
(expresso, leite, sorvete Häagen-Dazs<br />
de baunilha, biscoito de chocolate e<br />
syrup de irish-cream batidos com<br />
gelo e cobertura de chantilly). Outro<br />
atrativo é o charme do ambiente, que<br />
conta com espaços para leitura,<br />
internet sem fio e sonorização<br />
ambiente. A loja de Brasília é a 22ª<br />
Alessandro Dantas<br />
da rede, eleita pela revista Pequenas<br />
Empresas Grandes Negócios e o<br />
Instituto FGV como a melhor franquia<br />
de café e confeitaria de 2007.<br />
Galetos,<br />
massas e uvas<br />
Desde que topou o desafio de<br />
reinaugurar o restaurante Vercelli, o<br />
empresário Fernando Pereira Borges<br />
não pára de incrementar sua casa. O<br />
primeiro passo foi a reformulação do<br />
menu, que especializou-se em galetos<br />
e massas. A combinação típica do Rio<br />
Grande do Sul é servida no sistema<br />
de rodízio, com direito a polenta,<br />
arroz carreteiro, saladas, nhoque,<br />
talharim e rondeli, entre outros<br />
acompanhamentos. Melhorou<br />
também a carta de vinhos, composta<br />
principalmente de rótulos nacionais.<br />
Entre as opções estão o vinho da<br />
casa, que sai direto do tonel feito<br />
de grápia, uma madeira bastante<br />
utilizada nas vinícolas do sul. E para<br />
quem preferir há a versão não etílica:<br />
o tradicional suco de uva concentrado<br />
vindo de um produtor exclusivo<br />
do restaurante – companhia perfeita<br />
para os galetos.<br />
Panettone Fasano<br />
O Natal já chegou na Enoteca Fasano,<br />
que está colocando à venda 40%<br />
mais panettones do que em 2007.<br />
Confeccionado artesanalmente,<br />
seguindo a clássica receita milanesa,<br />
o panettone Fasano foi eleito o<br />
melhor do país pela revista Veja São<br />
Paulo, em novembro do ano passado.<br />
Disponível em embalagens de um<br />
quilo, custa <strong>R$</strong> 60 e é vendido<br />
também em kits especiais em que<br />
vem acompanhado de uma garrafa<br />
de Prosecco Valdizze (<strong>R$</strong> 121),<br />
Prosecco Fae 2007 (<strong>R$</strong> 189) ou<br />
Calle Funes Cosechia Tardia (<strong>R$</strong> 170).<br />
O panettone e os kits podem ser<br />
adquiridos nas lojas de São Paulo,<br />
Rio, Ribeirão Preto e Campos do<br />
Jordão, nos revendedores espalhados<br />
pelo Brasil ou pelo televendas<br />
(11) 3074. 3959.<br />
Chef in box<br />
9
Entre despedidas<br />
LUIZ RECENA<br />
garfadasegoles<br />
@alo.com.br<br />
10garfadas&goles<br />
10<br />
e bons augúrios<br />
Meu prezado editor, volto ao estilo missivista. Agora com mais razão: já estou em Salvador, conforme<br />
anunciado e comemorado, bem comemorado em Brasília na segunda semana de outubro. Os poucos dias<br />
soteropolitanos ainda não ensejam uma coluna com sotaque local, ainda que os frutos do mar tenham<br />
marcado presença desde o primeiro momento em solo baiano. Em verdade, digo: lambretas, camarões,<br />
peixe vermelho do rabo aberto, tudo numa barraca de beira da praia, a Toca do Dinho, tudo isso reafirma<br />
nosso velho conceito de que o negócio é aqui. Como diria o filósofo Romário, a capital baiana é do tipo<br />
“esse é o cara!”. Nesta primeira missiva, porém, quero lembrar ainda garfadas brasilienses. As primeiras,<br />
na casa do meu vizinho de coluna, o mestre de vinhos Alexandre Franco. De vinhos e da arte de receber.<br />
Quem cozinhou, a vera: Rodrigo Sanches e Dr. Paixão. O primeiro fez a entrada, saladinha de lagosta, fria,<br />
tudo parecendo simples, como a arte de quem sabe. Nota dez. O segundo fez a pièce de resistance: um<br />
bacalhau que ele chama de “não dá pra parar”... A modéstia não traduz a excelência do prato. Pedi a lista<br />
dos vinhos ao Alexandre, mas não recebi. Acho que ele reservou para a coluna dele. Egoísta e ingrato...<br />
Depois veio a despedida com a galera da secretaria de comunicação da UnB, gestão pro tempore, no Bar<br />
do Mineiro. Cerveja hiper gelada, tira-gostos de boteco, um velho steinheger de guerra e o carinho da meninada,<br />
que recicla a alma meio cansada. Outras aconteceram até a grande final, no Madrid, com o carinho<br />
antigo das crianças e dos amigos. O fígado, ao final, protestou. Parecia uma criança berrando. E não<br />
de fome nem sede, evidentemente. Em certos momentos a gente maltrata o distinto... Agora ele vai repousar<br />
um pouco na paz dos coqueiros. Mas só um pouco. Prometo. E assim, nestes termos, meu caro<br />
editor e amigo, inauguro um novo modelo nesta sempre novidadeira revista: um texto inicial, de abertura,<br />
desde Salvador, algumas notas baianas e uma seção já batizada de “Pelo Telefone”, com suspiros, fofocas,<br />
pequenas intrigas vindas de Brasília, das fontes fiéis que nunca abandonaram a revista. Sejamos felizes!<br />
Com a admiração de sempre, receba meu abraço baiano.<br />
Barulho infernal<br />
Não sei como chamá-los, se cefetelhos ou chatocefes.<br />
Mas o barulho que fizeram e fazem os grevistas<br />
da Caixa não é capaz de produzir um único apoio<br />
de verdade. E, para os donos de bares e restaurantes<br />
da comercial 202 Sul, eles só espantam a freguesia.<br />
E o pior de tudo é que se eles ganharem certamente<br />
não irão gastar o aumento nos bares da quadra.<br />
Quem faz aquele tipo de barulho não tem classe<br />
para beber ali.<br />
Test drive<br />
As primeiras pizzas estilo napoletanas começaram<br />
a ser testadas. Gil Mauro diz que estão ótimas.<br />
Não sei, ainda não participei dos testes. O Baco<br />
Pizza Na po letana substitui o Barcelona, ceifado no<br />
começo da vida pela Lei Seca, a infame. O local, na<br />
206 Sul, deu lugar a uma nova casa, cheia de estilo<br />
italiano.<br />
Novo mercadinho<br />
O La Palma abriu filial na Asa Sul, na 412. Chique,<br />
muito chique. Como todo asanortista que migra para<br />
o sul, botou roupa nova que surpreende, além de<br />
caprichar nos produtos, como sempre. Rogério está<br />
de parabéns com a nova casa.<br />
Primeira baiana<br />
Em Salvador o Detran não precisa fazer cena ou fita<br />
para os donos do poder. Na praia não tem blitz.<br />
Aqui, a “infame” não bota tanta banca. Mas ajuda<br />
o discurso do amigo da vez. É o velho equilíbrio<br />
entre o que pode e o que não deve, um completo<br />
desconhecido dos nossos comissários brasilienses.
Bon voyage!<br />
ALEXANDRE<br />
DOS SANTOS<br />
FRANCO<br />
paoevinho<br />
@alo.com.br<br />
pão&vinho<br />
Quando por aqui aportei, ao final de 2006, vindo<br />
de São Paulo, onde desfrutava da companhia<br />
de bons amigos e enófilos, previa um período mais<br />
ou menos longo de abstemia desses prazeres que<br />
me eram tão caros – e, em princípio, me resignei.<br />
Mais cedo do que minha esperança podia conceber,<br />
no entanto, convidado pelo meu senhorio, vizinho<br />
e amigo Fernando Queirós, juntei-me a ele<br />
num evento no Mercado Municipal de Jorge Ferreira,<br />
no qual um delicioso cordeiro foi preparado<br />
pelo Luiz Paixão e saboreado pelo Luiz Recena, entre<br />
tantos outros. Apresentado, pois, a essas três<br />
figuras ilustres, pude conversar melhor com o Recena,<br />
jornalista de correspondências ultramares de<br />
importância e longevidade.<br />
De cara, desenvolvemos um interesse mútuo<br />
nascido de negócios meus com a Rússia e seu profundo<br />
relacionamento com os russos. Desse início<br />
mais voltado para interesses comerciais nasceu,<br />
cresceu e se fortaleceu uma amizade profunda e<br />
sincera que muito prezo e que levarei sempre comigo.<br />
A partir dele, desenvolvi mais laços com figuras<br />
magníficas como o Luiz Paixão, o Jaime Recena, o<br />
Gil Guimarães, do Bacco, o Celso Kaufman, o Adriano,<br />
o Jorge, o Fábio e o Mauro de tantos restaurantes,<br />
o Ricardo Pedreira, o Ronaldo, do Nippon, o Rodrigo<br />
Sanches e outros que passaram a, com galhardia,<br />
completar em meu dia-a-dia algumas das<br />
lacunas que ficaram da época de São Paulo. Junto<br />
com essa turma, passamos a organizar alguns jantares,<br />
grandes degustações de vinhos e a deliciosa<br />
“mesa da sexta-feira”. Foi aliás o Recena, quem me<br />
convidou a escrever esta coluna na <strong>Roteiro</strong>.<br />
Ao final do primeiro semestre deste ano, o galhofeiro<br />
Recena veio com a novidade: estava preparando<br />
malas e bagagens para se mudar para<br />
Salvador. No início, pensei que era trote; depois, a<br />
cada adiamento da data de partida, achei que não<br />
passaria de um “sonho de verão”. Mas a realidade<br />
me atingiu com o comunicado recente de que, de<br />
fato, ele partiria em meados de outubro. Combalido<br />
e incrédulo, como todos os amigos, me dei finalmente<br />
por vencido e nada mais me restou do<br />
que desejar sorte, felicidades e um retorno breve,<br />
ou ao menos muitos e constantes retornos.<br />
Aliás, uma necessidade me restava: oferecer<br />
um jantar de despedida com os amigos mais chegados<br />
e grandes vinhos para alimentar as memórias<br />
futuras. Embora não tenha sido possível reunir<br />
todos os amigos, estivemos juntos em minha casa<br />
no último dia 8: eu, Recena, Jaime, Ricardo, Gil,<br />
Paixão, Rodrigo e Márcio (aquele pastor da igreja<br />
hedonista do qual já falei noutras ocasiões).<br />
Para engrandecer a ocasião, pedi ao Paixão e<br />
ao Rodrigo que fizessem as vezes no fogão. O Rodrigo<br />
preparou para a entrada uma salada de lagostas<br />
e o Paixão, como prato principal, seu famoso<br />
bacalhau “nunca chega”. Estava tudo perfeito!<br />
Para acompanhar, abri, de início, um prosecco nacional,<br />
Estrelas do Brasil, que apesar de “fraco”,<br />
como todos os proseccos nacionais que já provei,<br />
trouxe o aroma da ansiedade pela chegada do homenageado<br />
– que, como sempre, estava atrasado.<br />
Em seguida, abrimos um espumante rosé, um Pinot<br />
Noir, também da Estrelas do Brasil, que muito<br />
melhor que o anterior, rescindia a empolgação pela<br />
noite que se iniciava. Com a chegada dos convidados<br />
que faltavam e do próprio Recena, abri uma<br />
garrafa daquele que considero o melhor espumante<br />
nacional, um Angheben Brut, cuja avaliação pelos<br />
demais presentes acordou com a minha; e os<br />
aromas eram de harmonia e amizade.<br />
Iniciamos os aperitivos feitos de guloseimas diversas<br />
do Mercado Municipal, escoltadas por um<br />
Sauvignon Blanc Amayna 2005, para mim dos melhores<br />
do Chile, cuja presença de frescor harmonizou<br />
com a amizade simples e desinteressada. Para<br />
acompanhar a salada de lagostas, ofereci um Matanzas<br />
Creeck 2004, um dos grandes Chardonnay<br />
americanos, cuja untuosidade ressaltou os aromas<br />
de alegria pela reunião entre bons amigos.<br />
O “nunca chega” ficou pronto e servi um dos<br />
grandes portugueses, um Ferreira Reserva 1992,<br />
que deleitou a todos, em especial ao Paixão, e con-<br />
12
firmou em boca seus aromas de irmandade.<br />
Segui-se o formidável Pêra<br />
Manca 1998, que, como esperado,<br />
consagrou-se o melhor da noite, com<br />
seus aromas indistintos de gratidão.<br />
Passado o auge, como uma parábola<br />
de descida suave, servi um Herdade<br />
do Peso Alfrocheiro 2000, delicioso e<br />
raro como seus aromas de companheirismo.<br />
Seguimos com uma garrafa de<br />
Quinta da Alorna Reserva 2005, saboroso<br />
como poucos, produzido por um<br />
amigo de Portugal, o Manuel Lopo de<br />
Carvalho, com aromas de despedida.<br />
O Jaime Recena, filho do homenageado,<br />
nos brindou então com uma<br />
garrafa de Quinta do Carmo Reserva<br />
2005, grande vinho alentejano, de produção<br />
dos Rothschild, que rescindia a<br />
admiração. Depois, foi a vez do Ricardo<br />
Pedreira, que nos ofertou um Cartuxa<br />
2005, com seus aromas frutados de<br />
“até breve”. Apresentei então um dos<br />
bons durienses, o Quinta do Vallado<br />
Reserva 2005, de aromas primários de<br />
adeus, mas confirmação em boca de<br />
retorno breve.<br />
Por fim, para encerrar a noite,<br />
acompanhando alguns bons charutos,<br />
de Hoyos a Montecristos, o Jaime sacramentou<br />
o encontro com um inesquecível<br />
Porto Vintage 1999 da Sandemans,<br />
cujo retro-gosto de saudade<br />
perdura até hoje e, tenho certeza, permanecerá<br />
ainda por muito em todos<br />
os presentes e se realçará a cada visita<br />
do Recena para o nosso convívio.<br />
Foi, sem dúvida, uma ótima noite,<br />
que espero repetiremos ao menos mensalmente,<br />
segundo a promessa do amigo<br />
Recena.<br />
Bon voyage!<br />
13
Falar ou calar?<br />
QUENTIN<br />
GEENEN DE<br />
SAINT MAUR<br />
palavradochef<br />
@alo.com.br<br />
palavradochef<br />
Sábado, no sítio, o artista aniversariante recebeu<br />
cinqüenta pessoas para almoçar galinhada<br />
caipi ra com quiabo, costeleta de porco, mandioca<br />
com manteiga de garrafa, lingüiça frita e torresmo.<br />
A “mesa da diretoria”, com tampa de cacos de<br />
azulejos, estava ancorada na terra aos cuidados da<br />
sombra das árvores do Cerrado. A vista privilegiada<br />
escorregava para um grande vale manso.<br />
Os amigos traziam queijos, geléias, café, tortas<br />
e pães, quitutes feitos por eles ou por artesãos da<br />
região.<br />
Tudo indicava que a comunicação entre os convivas<br />
ia começar na linguagem da culinária, as dicas<br />
de produtos e receitas, a troca de novos endereços,<br />
tudo em volta dos sabores.<br />
O vinho soltou a língua dos amigos. Uma matéria<br />
publicada no dia sobre o registro do queijo<br />
Canastra como patrimônio cultural imaterial do<br />
Brasil animou a conversa.<br />
Uma senhora, mineira da gema, coberta com<br />
chapéu de palha amarrado com um lenço, sentada<br />
na cabeceira da mesa, fez o elogio do queijo de<br />
sua cidade natal. É sempre bom saber que as variedades<br />
de queijos feitos com leite cru estão sobrevivendo<br />
e se multiplicando.<br />
Aproveitei para contar que alguns chefs de São<br />
Paulo e uma sorveteria de Brasília já haviam incorporado<br />
o queijo Canastra a seus cardápios com<br />
muito sucesso. Não demorou a vir a pergunta:<br />
– O senhor é de São Paulo?<br />
– Sim.<br />
– Estive há pouco tempo jantando com meu<br />
marido num restaurante famoso de lá, que já conhecíamos<br />
e tínhamos gostado muito da primeira<br />
vez, e foi uma decepção. Da comida ao serviço,<br />
uma porcaria.<br />
Levei um susto. Difícil acreditar que um restaurante<br />
de renome seja descrito com essas palavras.<br />
– O chef estava no bar e não veio até nossa mesa.<br />
O vinho era caro e a conta bem apimentada.<br />
Ela logo emendou na conversa sua ida a um<br />
outro restaurante no mesmo bairro, cujo chef tinha<br />
sido premiado como revelação do ano por<br />
uma revista gastronômica.<br />
– O sommelier nos reconheceu, ele é da nossa<br />
cidade. Atendeu a gente com a maior gentileza,<br />
trouxe o chef até a mesa, tudo impecável e maravilhoso.<br />
A polêmica estava acesa e os ânimos esquentados.<br />
Um pâtissier de Brasília sentando na nossa frente<br />
concordou com a senhora, relatando que já tinha<br />
ouvido essa queixa. Não pude deixar de retorquir<br />
ao doceiro que já tinha ouvido e defendido<br />
algumas vezes críticas parecidas ao seu estabelecimento.<br />
Lógico que é muito desagradável você ir a um<br />
restaurante com a maior expectativa e sair dele<br />
frustrado.<br />
A pergunta foi, então:<br />
– A senhora se queixou ao chef? Ao maître? Ao<br />
gerente?<br />
– Não, mas vou escrever para ele e oficializar<br />
minha decepção.<br />
A arte culinária é uma arte efêmera. Cada refeição<br />
é uma performance sensível. Às vezes, não<br />
adianta o dono receber a crítica de um cliente alguns<br />
dias após ele ter deixado a mesa.<br />
Parece que a boa educação ensina a não fazer<br />
crítica. Mas, nesse caso, em que o cliente paga por<br />
um serviço e uma obra, o melhor é chamar um<br />
dos responsáveis da casa, de preferência durante<br />
o jantar, quando a questão é a comida, e deixar<br />
de pagar o serviço facultativo se o erro está no<br />
atendimento.<br />
Essa contribuição do cliente ajudará o responsável<br />
pela casa a acertar as falhas e a tomar as devidas<br />
providências para evitar descuidos futuros,<br />
consertar o mal-entendido e apaziguar os ânimos.<br />
Identificar-se e fazer comentários na hora é um<br />
exercício notável e recomendável.<br />
14<br />
14
oteirogastronômico<br />
MÚSICA AO VIVO ACESSO PARA DEFICIENTES DELIVERY MANOBRISTA<br />
ESPAÇO VIP ÁREA EXTERNA FRALDÁRIO BANHEIRO PARA DEFICIENTE<br />
CARTÕES DE CRÉDITO: CC / VISA: V / MASTERCARD: M / AMERICAN EXPRESS: A / DINERS: D / REDECARD: R<br />
Armazém do Ferreira<br />
Restaurante inspirado no Rio de<br />
Janeiro dos anos 40. O buffet,<br />
com cerca de 20 tipos de frios,<br />
sanduíches e rodadas de empadas<br />
e quibes, com a performance do<br />
garçom Tampinha, são boas opções<br />
para os freqüentadores.<br />
202 Norte (3327.8342)<br />
CC: Todos<br />
BUFFET DE RESTAURANTE<br />
Camarão 206<br />
Cardápio variado, sabor e qualidade.<br />
Buffet no almoço é o carro-chefe, com<br />
mais de 10 pratos quentes, diversos<br />
tipos de saladas e várias opções de<br />
sobremesa, a <strong>R$</strong> 35,<strong>90</strong> (2ª a 6ª) e<br />
<strong>R$</strong> 39,<strong>90</strong> (sáb, dom e feriados) por<br />
pessoa.<br />
206 Sul (3443.4841), Liberty Mall<br />
e Brasília Shopping CC: todos<br />
Bar Brasília<br />
Empório da Cachaça<br />
BARES<br />
Em plena W3 Sul, o Bar Brasília tem<br />
decoração caprichada, com móveis e<br />
objetos da primeira metade do século<br />
XX. Destaques para os pasteizinhos.<br />
Sugestão de gourmet: Cordeiro<br />
ensopado com ingredientes<br />
especiais, que realçam seu sabor.<br />
506 Sul Bloco A (3443.4323)<br />
CC: Todos<br />
CACHAÇARIA<br />
Recém inaugurada a versão bar da<br />
cachaçaria temática de Brasília.<br />
Decoração colonial, cachaças<br />
artesanais, chopp, petiscos exclusivos<br />
e o famoso prato da casa, o arroz<br />
de senzala, são opções para quem<br />
valoriza a gastronomia brasileira. No<br />
Happy Hour, Chopp Brahma a <strong>R$</strong>2,50 e<br />
caipirinha com Sagatiba a <strong>R$</strong> 4,00.<br />
405 Sul (3443.0299)<br />
CC: todos<br />
Monumental<br />
Numa das esquinas mais valorizadas<br />
da cidade, a casa tem uma ampla<br />
varanda e o chope bem gelado. No<br />
almoço, buffet variado de saladas,<br />
massas e grelhados. À noite, as<br />
lingüiças mineiras estão entre os<br />
petiscos mais pedidos.<br />
201 Sul (3224.9313)<br />
CC: todos<br />
CONFEITARIAS<br />
Praliné<br />
O cardápio é bastante variado, com<br />
tortas doces e salgadas, bolos, pães,<br />
géleias, caldos quentes, quiches,<br />
tarteletes, chás, café e sucos de frutas<br />
naturais. Café da manhã por <strong>R$</strong> 11,<strong>90</strong><br />
de 2ª a 6ª e Chá da tarde por <strong>R$</strong> 18,50<br />
2ª e 3ª (bufê por pessoa).<br />
205 Sul bl A lj 3<br />
(3443.74<strong>90</strong>) CC: V<br />
BRASILEIROS<br />
CONTEMPORÂNEOS<br />
Café Antiquário<br />
No almoço de 2ª. a 6ª., Grandes Receitas:<br />
Peixada, Cozido, Cassoulet, Galinhada e<br />
Baião de Dois. Cinco strogonoffs e sete<br />
escondidinhos atendem carnívoros e<br />
vegetarianos. Saladas, simples grelhados e o<br />
ambiente à beira lago satisfazem aos gostos<br />
mais exigentes.<br />
Pontão do Lago Sul (3248.7755)<br />
CC: Todos<br />
BUFFET DE FESTA<br />
Sweet Cake<br />
É um dos mais renomados buffets de<br />
festa da cidade, com mais de dez anos<br />
de experiência. Além dos salgados<br />
e doces finos oferecidos no buffet,<br />
destaque para o Risoto de Foie-Gras, o<br />
Carré de Cordeiro ao Molho de Alecrim<br />
e o Filé ao Molho de Tâmaras.<br />
QI 21 do Lago Sul (3366.3531)<br />
412 Sul (3345.3531)<br />
CREPERIAS<br />
C’est si bon<br />
Inspirado nas tradicionais panquecas de<br />
dulce de leche da Argentina que o chef<br />
Sérgio Quintiliano criou o crepe Astor<br />
Piazzolla, batizando-o com o nome<br />
do maior compositor contemporâneo<br />
argentino de tangos. Após o sucesso de<br />
vendas durante o Festival Sabor Brasília<br />
2008, o Crepe Piazzolla foi incorporado<br />
ao cardápio por <strong>R$</strong> 15,70.<br />
408 Sul (3244.6353) CC: V, M e D<br />
16
Crepe au Chocolat<br />
Para domar o calor, o Crepe au<br />
Chocolat oferece o delicioso<br />
Sherazade, crepe de frutas vermelhas<br />
com chocolate derretido e sorvete. Ou<br />
então Lolita, uma vertiginosa taça com<br />
três bolas de sorvete, frutas, calda e<br />
chantilly. Refrescante pecado!<br />
210 Sul (3443.2050),<br />
109 Norte (3340.7002)<br />
Deck Brasil QI 11 Lago Sul<br />
(3037.2357) CC: V, C<br />
CREPERIAS<br />
Oliver<br />
Cozinha internacional, música e arte em<br />
dois endereços. No Clube de Golfe, desde<br />
2005 é referência de bom gosto. Na Asa<br />
Norte (foto), o destaque é a noite, com<br />
ambiente aconchegante mesclando as<br />
belezas clássica e moderna.<br />
Brasília Golfe Center - SCES Trecho 2<br />
(3323.5961)<br />
Espaço Cultural Contemporâneo<br />
ECCO - SCN Qd.3 (3326.1250)<br />
CC: Todos<br />
INTERNACIONAIS<br />
BSB Grill<br />
Desde 1998 oferece as melhores e os<br />
mais diversos cortes nobres de carne:<br />
Bife Ancho, Bife de tira, Prime Ribe,<br />
Picanha, além de peixe na brasa, esfirras,<br />
quibes e outras especialidades árabes.<br />
Adega climatizada e espaço reservado<br />
completam os ambientes das casas.<br />
304 Norte (3326.0976)<br />
413 Sul (3346.0036) CC: A, V<br />
Cantina da Massa<br />
Agora, todo sábado é dia de<br />
dobradinha na cantina da massa.<br />
Dobradinha bovina com mocotó,<br />
molho de tomate, alho, cebola,<br />
salsinha, cebolinha, nós-moscada,<br />
louro, sálvia e pimenta, acompanha<br />
pao italiano e caseiro(<strong>R$</strong> 15,00).<br />
302 Sul (3226.8374)<br />
CC: Todos<br />
San Marino<br />
Roadhouse Grill<br />
Criado nos EUA, foi eleito por três anos<br />
consecutivos o preferido da família<br />
americana. Com mais de 100 lojas,<br />
seus generosos pratos foram criados,<br />
pesquisados e inspirados nas raízes da<br />
América. Conheça tais delícias: ribs,<br />
steaks, pasta, hambúrgueres.<br />
S.Clubes Sul Tr. 2 ao lado do<br />
Pier 21 (3321.8535)<br />
Terraço Shopping (3034.8535)<br />
GRELHADOS<br />
Durante todo o mês de outubro,<br />
no jantar, o Rodízio de Pizza<br />
estará com preços especiais: de<br />
domingo a quarta por <strong>R$</strong> 14,20 e de<br />
quinta a sábado por <strong>R$</strong> 16,50. No<br />
almoço, Buffet com saladas, pratos<br />
executivos e grelhados<br />
209 Sul (3443.5050)<br />
CC: Todos<br />
Trattoria 101<br />
Cardápio com produtos italianos<br />
autênticos e tradicionais. Massas,<br />
filés, peixes e risotos, carpaccio. Tudo<br />
preparado na hora. Execelente carta de<br />
vinhos com <strong>90</strong> rótulos, entre nacionais<br />
e importados. Ambiente charmoso<br />
e varanda completam o ambiente.<br />
Manobrista na 6ª, sáb. e dom.<br />
101 Sudoeste (3344.8866)<br />
CC: V, M e D.<br />
ITALIANOS<br />
Bier Fass Gilberto Salomão<br />
O Bierfass Gilberto Salomão completa em<br />
2007 seu 38º ano de sucesso, com uma<br />
fórmula que agrega tradição, ambiente,<br />
cozinha e público diferenciado. Destaque<br />
para a cozinha internacional, variando<br />
pratos clássicos aos modernos, que influi<br />
tanto nos ingredientes usados como na<br />
apresentação dos pratos.<br />
GIlberto Salomão<br />
QI 5 Lago Sul (3248.1519)<br />
CC: Todos<br />
INTERNACIONAIS<br />
Villa Borghese<br />
O charme da decoração e a<br />
iluminação à luz de velas dão o clima<br />
romântico. Aberto diariamente para<br />
almoço e jantar. Sugestão: Filetto<br />
al gorgonzola (Filet mignon recheado<br />
com creme de gorgonzola servido<br />
com arroz cremoso de abobrinha<br />
e farofinha crocante de alho), por<br />
<strong>R$</strong> 41,00.<br />
201 Sul (3226.5650) CC: Todos<br />
17
oteirogastronômico<br />
MÚSICA AO VIVO ACESSO PARA DEFICIENTES DELIVERY MANOBRISTA<br />
ESPAÇO VIP ÁREA EXTERNA FRALDÁRIO BANHEIRO PARA DEFICIENTE<br />
CARTÕES DE CRÉDITO: CC / VISA: V / MASTERCARD: M / AMERICAN EXPRESS: A / DINERS: D / REDECARD: R<br />
NATURAIS<br />
ORIENTAIS<br />
Oca da Tribo<br />
Além do saboroso e diversificado<br />
buffet, com produtos orgânicos e<br />
carnes exóticas, a casa oferece noites<br />
temáticas. Oca Lounge e jazz, sempre<br />
com música ao vivo. O buffet de<br />
domingo, atende a família inteira, com<br />
pratos especiais, como o bacalhau de<br />
natas e o arroz de pequi.<br />
PADARIA<br />
Belini<br />
A casa premiada é um misto de<br />
padaria, delikatessen, confeitaria<br />
e restaurante. O restaurante serve<br />
risotos, massas e carnes. Destaque<br />
para o café gourmet, único torrado na<br />
própria loja, para as pizzas especiais<br />
e os buffets servidos na varanda.<br />
SCS trecho 2 (3226.9880)<br />
CC: Todos<br />
113 Sul (3345.0777) CC: Todos<br />
Haná<br />
Diariamente no almoço e jantar,<br />
festival de sushi e sashimi, com<br />
mais de 35 opções de pratos.<br />
Nas 2 as e 3 as , o tradicional buffet<br />
conta com o Festival do Camarão.<br />
Funciona também à la carte e tem<br />
delivery. Horário: diariamente das<br />
12h às 15h e das 19h às 24h.<br />
408 Sul (3244.9999)<br />
CC: Todos<br />
PESCADOS<br />
Peixe na Rede<br />
A vedete do cardápio é a tilápia, servida<br />
de 30 maneiras. O frescor é garantido<br />
pela criteriosa criação em cativeiro na<br />
fazenda exclusiva do restaurante, a<br />
100 Km de Bsb. Há também pratos de<br />
camarão e bacalhau.<br />
405 Sul (3242.1938)<br />
309 Norte (3340.6937)<br />
CC: Todos<br />
Maki Temakeria<br />
Baco<br />
ORIENTAIS<br />
É o lugar ideal para fanáticos por<br />
cozinha japonesa que nem todos os<br />
dias estão com apetite ou bolso para<br />
ir a um restaurante tradicional. São 20<br />
opções de temakis, como o delicioso<br />
camarão tempurá, e oito opções<br />
de rolinhos. Às sextas e sábados,<br />
funciona até as quatro da manhã.<br />
405 Sul (3242.3460)<br />
www.makitemakeria.com.br<br />
Nippon<br />
PIZZARIAS<br />
Premiada por todas as revistas.<br />
Massas originais da Itália, vinhos<br />
e ambiente. No cardápio, pizzas<br />
tradicionais e exóticas. Novidades são<br />
uma constante. Opção de rodízio em<br />
dias especiais – na 309 Norte, toda 3ª<br />
e domingo, e na 408 Sul, às 2 as .<br />
309 Norte (3274.8600), 408 Sul<br />
(3244.2292) CC: Todos<br />
Baco Delivery (3223.0323)<br />
Gordeixo<br />
Tradicional e inovador. Sushis e<br />
sashimis ganham toques inusitados.<br />
Exemplo disso é o sushi de atum<br />
picado, temperado com gengibre e<br />
cebolinha envolto em fina camada de<br />
salmão. As novidades são fruto de<br />
muita pesquisa do proprietário Jun Ito.<br />
Ambiente agradável, comida boa e<br />
área de lazer para as crianças fazem<br />
o sucesso da casa desde 1987. No<br />
almoço, além das pizzas, o buffet de<br />
massas preparadas na hora, onde<br />
o cliente escolhe os molhos e os<br />
ingredientes para compor seu prato.<br />
403 Sul (3224.0430 /<br />
3323.5213) CC: Todos<br />
306 Norte (3273.8525)<br />
CC: V, M e D<br />
18
Toca do Bacalhau<br />
Self-Service, por <strong>R$</strong> 31,<strong>90</strong>kg de<br />
terça a sábado, com carne suína,<br />
pato e carneiro, além do legítimo<br />
bacalhau norueguês. Tradicional<br />
cardápio à la carte todos os dias.<br />
Novidade: deliciosas saltenhas de<br />
bacalhau, carne e frango.<br />
407 Sul (3244.3309)<br />
CC: V e M<br />
Feitiço Mineiro<br />
A culinária de raiz das Minas Gerais<br />
e uma programação cultural que<br />
inclui músicos de renome nacional e<br />
eventos literários. Diariamente, buffet<br />
com oito a nove tipos de carnes.<br />
Destaque para a leitoa e o pernil à<br />
pururuca, servidos às 6 as e domingos.<br />
306 Norte (3272.3032)<br />
CC: Todos<br />
PORTUGUÊS<br />
REGIONAIS<br />
Saborella<br />
Sorvetes com sabores regionais e<br />
tecnologia italina são a especialidade<br />
da casa. Os mais pedidos: tapioca,<br />
cupuaçu, açaí e frutas vermelhas. Na<br />
varanda, pode-se apreciar café bem<br />
tirado e fresquinho, acompanhado<br />
de tapiocas quentinhas.<br />
112 Norte (3340.4894) e<br />
Casa Park (Praça Central)<br />
CC: Todos<br />
Sorbê<br />
Sorveteria genuinamente artesanal, com<br />
receitas que utilizam frutos nativos do<br />
cerrado. São mais de 150 sabores. Os<br />
sabores tradicionais, cremosos, como as<br />
variedades de chocolate, dentre outros,<br />
contêm leite e creme de leite em suas<br />
fórmulas. Já os sorvetes de frutas (com<br />
algumas exceções, como abacate, pequi,<br />
araticum e outros) são produzidos com água.<br />
405 Norte (3447.4158), 103 Sudoeste<br />
(3967.6727) e 210 Sul (3244- 3164)<br />
SORVETERIAS<br />
19
dia&noite<br />
weissmann<br />
Imagens da imensidão é o nome da mostra que ocupa a galeria principal da Caixa<br />
Cultural até dia 23. Organizada pelo Instituto Tomie Ohtake, apresenta 16 esculturas –<br />
três inéditas – de um dos artistas plásticos mais importantes da arte brasileira: Franz<br />
Weissmann. De acordo com o curador Marcus de Lontra Costa, “essas obras fazem<br />
parte de um pequeno, mas valioso patrimônio da iconografia nacional”. Weissmann<br />
integrou, na década de 50, os grandes movimentos abstratos de caráter<br />
construtivista que acabaram por criar a identidade artística brasileira. Três obras<br />
projetadas pelo artista e executadas somente agora estão na exposição: coluna em<br />
planos triangulares, a coluna neoconcreta e dois cubos em fita.<br />
De terça a domingo, das 9 às 21h. Entrada franca.<br />
Divulgação<br />
Luiza Venturelli<br />
evocaçõesdeluiza<br />
“Não é um olhar sociológico ou político, mas apenas evocações plásticas e<br />
estéticas sobre o elemento mais precioso e complexo de nosso planeta: o ser<br />
humano”. É assim que a fotógrafa Luiza Venturelli define sua exposição na<br />
Aliança Francesa (708/<strong>90</strong>7 Sul). São 25 fotos em preto e branco (60x<strong>90</strong>cm)<br />
realizadas entre 1982 e 2007 no Brasil, na França, no Chile e no País de Gales.<br />
De acordo com a fotógrafa, as imagens evocam semelhanças de gestos,<br />
expressões ou atividades entre as pessoas fotografadas, sejam elas crianças,<br />
adultos ou idosos de diferentes lugares e em diferentes épocas. Até dia 8,<br />
de segunda a sexta, das 9 às 19h, e sábado, das 9 às 12h30.<br />
rapourepente?<br />
É a batalha das pick-ups contra as<br />
violas. O festival Cara e Cultura Negra<br />
2008, que acontece no Dia da<br />
Consciência Negra, resolveu<br />
confrontar essas duas tradições orais<br />
brasileiras. Rappers e repentistas vão<br />
se encontrar em batalha cuja arma<br />
principal será a rima improvisada.<br />
O primeiro lugar de cada categoria<br />
disputa a final no dia 20 de novembro.<br />
Para se inscrever, os repentistas e<br />
rappers devem mandar e-mail para<br />
caraeculturanegra@gmail.com<br />
até 30 de outubro. Além disso,<br />
a programação inclui duas oficinas<br />
nos dias 9, 11 e 12 de novembro,<br />
no Teatro Nacional. Na primeira, o<br />
paraibano Babilak Bah (foto) vai<br />
mostrar como a enxada pode ser um<br />
instrumento musical versátil. Na<br />
segunda, o baiano Peu Meurray vai<br />
ensinar como pneus velhos podem se<br />
transformar em sonoros tambores.<br />
Informações: 8571.4531 e 81562912.<br />
festbandas<br />
Covers de bandas famosas como Led Zepplin, Pink Floyd, Red Hot Chilli<br />
Peppers e Titãs, além de novas bandas da cidade mostrando suas composições.<br />
Assim é a sétima edição do FestBandas, que será realizada no Teatro<br />
dos Bancários (515 Sul), dias 28 e 29. Com músicos de todas as idades, o<br />
festival tem como mote incentivar cerca de 40 grupos que reúnem 150<br />
integrantes no mesmo palco. Às 19h30, com ingressos a <strong>R$</strong> 10 e <strong>R$</strong> 5.<br />
Divulgação<br />
20
Divulgação<br />
legrandeivan<br />
Na turnê que fará no Brasil entre o dia 28 e 4 de novembro, só aqui em Brasília o pianista,<br />
arranjador e compositor francês Michel Legrand vai dividir o palco com um amigo.<br />
Será, sem dúvida, um desses momentos raros, em que a inspiração e o talento<br />
dos artistas se unem à irreverência dos gênios para se tornar um momento<br />
clássico, inesquecível. O amigo em questão é ninguém menos que Ivan Lins,<br />
um dos compositores brasileiros mais gravados no exterior. O encontro será no<br />
Centro de Convenções Ulysses Guimarães, dia 30, às 21h. A turnê abre as comemorações<br />
do Ano da França no Brasil, em 2009. Considerado um dos maiores compositores<br />
da música moderna, Legrand tem estilo sofisticado, melodias marcantes<br />
e elegância que garantiram sua presença em trilhas musicais de filmes<br />
de sucesso. Seu último show no Brasil foi realizado no Rio, há sete anos.<br />
Fez também uma participação no Festival de Jazz de Ouro Preto, em<br />
2005. Ingressos entre <strong>R$</strong> 150 e <strong>R$</strong> 300 à venda no Brasília Shopping.<br />
tocandoemfrente<br />
Há quatro anos o professor de música Tonicesa Badu forja talentos em seu<br />
galpão do Gama. De lá já saíram bons cantores, compositores, bateristas,<br />
percussionistas e tecladistas que se encaixaram no mercado de trabalho da<br />
cidade – alguns até já alçaram vôos mais altos fora daqui. O projeto de inclusão<br />
social Tocando em frente ensina música a jovens entre 14 e 23 anos que moram<br />
na periferia de Brasília. O professor Badu explica que não é preciso ter muito<br />
conhecimento, basta uma boa afinação vocal, senso rítmico e saber alguns<br />
acordes no violão, guitarra ou teclado. O talento é indispensável. “É preciso ter<br />
jeito para a música, ter um pouco de dom, o que não é difícil identificar. Além de<br />
querer levar a sério o curso, que é bastante puxado”, afirma. Ele informa ainda<br />
que estão abertas, até o dia 14, as inscrições para seus cursos de 2009. Avise,<br />
então, os talentos que você conhece e não têm chance de se profissionalizar<br />
com qualidade. Informações: 3556.1924 e www.tocandoemfrente.com.<br />
narrativadoolhar<br />
“Tal como a literatura, a fotografia também conta<br />
histórias. O ensaio fotográfico se apropria do<br />
espaço e do tempo para reproduzir, de forma não<br />
fragmentada, uma história contada pela luz”.<br />
A partir do conceito segundo o qual a fotografia é<br />
um processo continuado, o Espaço ECCO criou o curso Narrativa do olhar,<br />
ministrado pelo professor baiano Marcelo Reis. No programa, um estudo da<br />
metodologia de trabalho de alguns dos mais importantes fotógrafos ensaístas,<br />
como Sebastião Salgado e Henri-Cartier Bresson. Destinado a fotógrafos,<br />
estudantes e pessoas com conhecimentos em artes visuais, o curso<br />
tem carga horária de 12 horas. Dias 6 e 7, quinta e sexta, das 14 às 17h e das<br />
19 às 22h. Informações: 3327.2027, ramais 20, 22 e 24.<br />
vialenta<br />
“Que atire a primeira pedra aquele<br />
que nunca pensou ou ensaiou, mesmo<br />
que mentalmente, o assassinato de<br />
alguém.” A frase, do escritor francês<br />
Jean Genet, resume o tema do espetáculo<br />
Vialenta, em cartaz no Teatro<br />
Goldoni até dia 23. Primeira de uma<br />
trilogia teatral intitulada Estudos<br />
Sobre a Violência, a peça se passa<br />
num bar onde uma garçonete de<br />
patins, um boxeador frustrado e<br />
quatro mulheres dão vazão a sentimentos<br />
como vingança, sadismo e<br />
intolerância, explorados em duas<br />
histórias que misturam drama,<br />
comédia e suspense. Quintas, sextas e<br />
sábados, às 21h. Domingos, às 20h.<br />
Ingressos a <strong>R$</strong> 20 e <strong>R$</strong> 10.<br />
Diego Bresani<br />
21
diáriodeviagem<br />
Sombra<br />
e água de coco<br />
A menos badalada<br />
capital nordestina<br />
é um raro oásis de<br />
tranqüilidade no<br />
litoral brasileiro<br />
TEXTO E FOTOS SUSAN FARIA<br />
Aracaju, Sergipe, 550 mil habitantes,<br />
a capital do menor Estado brasileiro (dois<br />
milhões de habitantes), merece ser visitada<br />
por sua tranqüilidade, beleza e vigor.<br />
Cidade com melhor qualidade de vida do<br />
Brasil, ultrapassando até Curitiba no<br />
ranking deste ano do Ministério da Saúde,<br />
a capital sergipana oferece lazer para<br />
todos os gostos, independentemente da<br />
classe social. A cidade dos cajueiros tem<br />
50 km de ciclovias, dezenas de quadras<br />
poliesportivas, muita praia, parques infantis,<br />
como o Maravilhoso Mundo das<br />
Crianças, gratuito, extensos calçadões,<br />
com banquinhos de cimento e madeira,<br />
quiosques de coco padronizados, barraquinhas<br />
de tapioca, mercados típicos,<br />
com refeições de boa qualidade e baixo<br />
preço, muito artesanato e guloseimas.<br />
Com 153 anos de existência, Aracaju<br />
é jovem na aparência, com ruas limpas,<br />
restaurantes, pizzarias e casas noturnas de<br />
bom gosto. E uma outra preciosidade, pelo<br />
menos em baixa temporada: trânsito<br />
sem engarrafamentos. A capital tem um<br />
Oceanário, museus, mirante, o monumento<br />
“Ser feliz”, feira de artesanato, a<br />
Colina de São Antônio, manguezais, plataformas<br />
da Petrobras, o bairro nobre 13<br />
de Julho, o mais caro da cidade, e o Coroa<br />
do Meio, cheio de construções e novos<br />
edifícios. Tem os shoppings Riomar e Jardins<br />
e muito fórro pé-de-serra, diariamente,<br />
com dois ambientes de dança, no bar<br />
Cariri, na passarela do Caranguejo, no<br />
bairro de Atalaia. Camarão, peixe, moqueca<br />
e caranguejo não faltam nas casas<br />
ao redor.<br />
Por causa da afluência dos rios Sergipe<br />
e Poxim, as águas do mar em Aracaju<br />
são amarronzadas, pouco transparentes.<br />
Depois das ondas, límpidas. A distância<br />
da orla das praias até o mar também não<br />
ajuda. Mas sentir a brisa, o vento, e caminhar<br />
sem compromisso pela areia de Atalaia,<br />
sem a muvuca dos famosos litorais, é<br />
22
tudo de bom, assim como provar os sucos regionais, as<br />
tapiocas e os picolés do Picuí, como o de castanha e o de<br />
coco. É bom conhecer as barracas do litoral sul, por onde<br />
a cidade cresce, como a Paraíso do Baixinho, em Robalo,<br />
e a Parati, na praia dos Náufragos.<br />
Passeios turísticos à antiga capital, São Cristóvão,<br />
Xingó, Delta do São Francisco, a 138 km em direção a<br />
Alagoas, e Mangue Seco, a 75 km, na Bahia, são outras<br />
opções. Com <strong>R$</strong> 69 – que inclui a escuna e o almoço –<br />
chega-se ao Delta. O passeio até as gravações de Deus é<br />
brasileiro, de Cacá Diegues, passa por Brejo Grande, último<br />
e mais pobre município de Sergipe, no litoral norte.<br />
Contradição entre a grandiosidade da natureza, com<br />
praias, dunas, piscinas naturais, o encontro do São Francisco<br />
com as águas do Atlântico e a precariedade de vida<br />
da população ribeirinha.<br />
O passeio em Xingó é para quem está com muita disposição:<br />
240 km de estrada, entre terras áridas, até a hidroelétrica,<br />
com imensos canyons. Já em Mangue Seco,<br />
pequena vila de pescadores, terra de Tieta do Agreste,<br />
personagem de Jorge Amado que virou novela e filme, o<br />
barulho que se ouve é apenas do vento nos coqueirais. A<br />
travessia é feita por balsa, no rio Real, onde está sendo<br />
construída a ponte Joel Silveira, em homenagem ao jornalista<br />
sergipano. Depois de tomar uma escuna e andar<br />
quatro quilômetros no Bugre, em dunas douradas, o paraíso<br />
de águas mansas.<br />
Conceição Magalhães, 45 anos, e o marido, o militar<br />
Edir Guimarães, percorreram 1.600 km de carro de Formosa,<br />
Goiás, até a capital sergipana: “A cidade é bonita,<br />
receptiva”, sentencia Ceiça. Já o bancário Gilberto Preto,<br />
33 anos, de Campinas, escolheu Aracaju para “ficar longe<br />
da bagunça”. Mas em janeiro tem o Pré-Caju, animado<br />
por desfiles e trios elétricos, e em junho o forró Caju,<br />
com 15 dias de arrasta-pé, na Praça Hilton Lopes.<br />
Como toda capital brasileira, Aracaju não escapa da<br />
violência e dos assaltos. De janeiro a setembro último,<br />
foram 979 assaltos em ônibus, principalmente no centro<br />
da cidade. Contudo, além de uma capital que se renova,<br />
com muitas atrações turísticas, Sergipe tem calcário, cloreto<br />
de potássio, cimento e petróleo (é o quarto estado<br />
do país com essa riqueza) que se converte em royaltes para<br />
os municípios onde a Petrobras explora. São mais de<br />
dois mil poços no Estado. A enfermeira Ângela Maria<br />
Amorim, 54 anos, residente na Asa Sul, em Brasília, elogia:<br />
“Tinha curiosidade de conhecer e gostei muito”. O<br />
casal brasiliense Julião e Aurea Helena Pinheiro, residente<br />
no Lago Sul, ficou 15 dias descansando na cidade:<br />
“É uma capital limpa, com um povo alegre”, diz Áurea.<br />
Conheça em Aracaju:<br />
Casquinha de Caranguejo – Orla de Atalaia (79-243.7011)<br />
Encanto do Mar – Quiosque 5, Atalaia (79-3243.5422)<br />
Bar & Restaurante Silvestre – Mercado Antônio Franco,<br />
128, Centro (79-9997.2996)<br />
Barraca Parati – Rodovia José Sarney, litoral sul, praia dos<br />
Náufragos<br />
23
galeriadearte<br />
Bem à<br />
vontade<br />
Desenhos de Evandro Salles, curador da mostra, inspirados em poemas de Manoel de Barros<br />
“Menino, não toca nisso!” É só passar<br />
algum tempo em qualquer museu ou exposição<br />
de arte para ver uma mãe falando<br />
para o filho a inevitável frase. Para afastar<br />
essa idéia de que exposição de arte não é<br />
lugar apropriado para a molecada, o<br />
CCBB decidiu realizar, de 31 de outubro a<br />
18 de janeiro, a mostra Arte para crianças.<br />
“A idéia básica é que os conceitos que<br />
constituem a arte mais avançada e sofisticada<br />
podem e devem ser experimentados<br />
por um público de crianças de uma maneira<br />
plena e direta, fazendo com que a experiência<br />
estética seja um instrumento de<br />
conhecimento e educação incorporado à<br />
cultura infantil”, explica o curador Evandro<br />
Salles.<br />
Inteiramente idealizada para o público<br />
infantil, a mostra reúne 16 dos mais importantes<br />
artistas da arte contemporânea<br />
brasileira e norte-americana, como Yoko<br />
Ono, Lawrence Weiner e Emmanuel Nassar.<br />
Yoko está presente com sete obras,<br />
que chamam atenção por pregarem o<br />
ideal “paz e amor” com o qual ela sempre<br />
foi identifica.<br />
A vídeo-instalação Onochord propõe<br />
ao público que, munido de uma pequena<br />
lanterna, escreva a mensagem “Eu te<br />
amo”, por meio de um simples código numérico<br />
de luzes. Na instalação Jogue com<br />
confiança, Yoko apresenta um jogo de xadrez<br />
onde todas as peças são brancas, diluindo<br />
as idéias de oposição e vencedor à<br />
medida em que o jogo avança.<br />
A interatividade também marca várias<br />
outras obras da exposição. O público poderá<br />
montar e remontar, sobre uma parede<br />
imantada, reproduções dos famosos<br />
azulejos de Athos Bulcão. Esculturas em<br />
madeira do mestre Amilcar de Castro serão<br />
deixadas em cima de mesas, livres para<br />
serem manipuladas junto com vários<br />
desenhos de projetos de esculturas impressos,<br />
que poderão ser recortados e<br />
transformados em pequenas esculturas de<br />
papel pelos visitantes.<br />
O hall do CCBB será dedicado à produção<br />
audiovisual, com a projeção dos vídeos<br />
especialmente produzidos para a exposição.<br />
Lá será exibida, entre outras, a<br />
animação Sobre dois quadrados, que mostra<br />
o trabalho construtivista do artista russo<br />
El Lissitzky. Outra animação, Xifópagas<br />
capilares entre nós, baseada na obra homônima<br />
de Tunga, apresenta poemas de<br />
Manoel de Barros.<br />
Todos os espaços do CCBB serão<br />
ocupados pela mostra, inclusive os jardins,<br />
as áreas externas e o teatro, que receberá,<br />
aos sábados e domingos, às 16 e<br />
17h, Desenhando labirintos, peça para bebês<br />
dirigida por Carlos Laredo, da companhia<br />
espanhola La Casa Incierta. Em termos<br />
de dimensões, Arte para crianças é a<br />
maior exposição que o CCBB Brasília já<br />
recebeu.<br />
Arte para crianças<br />
De 31/10 a 18/01 no CCBB. De terça a<br />
domingo, das 9 às 21h. Entrada franca.<br />
Mais informações: 3310.7087<br />
24
avenidadasnações<br />
Fotos: Divulgação<br />
Uma cultura<br />
cheia de cores<br />
Quatro dias<br />
de celebração<br />
do país-irmão<br />
Moçambique<br />
POR AKEMI NITAHARA<br />
Moçambique fica na África, a língua<br />
oficial é o português e a capital é Maputo.<br />
É o máximo de informação que a maioria<br />
dos brasileiros tem sobre o país-irmão.<br />
Pouca gente conhece a diversidade cultural<br />
e a riqueza natural desse país da costa<br />
oriental da África, banhado pelo Oceano<br />
Índico e que fala mais de 20 línguas.<br />
Em tempos de acordo ortográfico, nada<br />
melhor do que conhecer outros membros<br />
da Comunidade dos Países de Língua<br />
Portuguesa (CPLP). No turismo, além<br />
de montanhas, florestas, savanas e praias<br />
paradisíacas, Moçambique tem elefantes,<br />
leões, antílopes e hipopótamos.<br />
Entre os dias 6 e 9 de novembro, um<br />
pouco do país vai aterrissar no Museu da<br />
República. É o primeiro Festival Cultural<br />
de Moçambique, uma celebração das diversas<br />
parcerias políticas e econômicas<br />
que o Brasil tem feito com eles, e também<br />
um resgate das raízes culturais que nos<br />
unem.<br />
Um dos principais centros culturais<br />
africanos, Moçambique é reconhecido in-<br />
ternacionalmente pela literatura, artes<br />
plásticas, canto, dança, teatro, cinema e<br />
fotografia – além da gastronomia, parecida<br />
com a do Brasil. Também lembram o<br />
Brasil a maneira de vestir, a dança e os traços<br />
físicos dos moçambicanos, trazidos<br />
para cá como escravos e que também ajudaram<br />
a formar a miscigenada população<br />
brasileira.<br />
Com apoio da Embaixada de Moçambique<br />
e presença prevista da primeira-ministra<br />
Luisa Dias Diogo, o brasiliense vai<br />
ter a oportunidade de ver o grupo de canto<br />
e dança Milorho, que pesquisa danças<br />
e cantos típicos de diversas etnias moçambicanas,<br />
e uma exposição de bonecas típicas<br />
em trajes tradicionais conhecidos como<br />
capulana, criados por Suzette Honwana.<br />
Dançarinas do Milorho também servirão<br />
de modelo para os trajes de capulana.<br />
Outra atração será o cantor e compositor<br />
Stewart Sukuma, com repertório de ritmos<br />
moçambicanos em bantu e português.<br />
Além disso, serão exibidos os filmes<br />
Junot, de Camilo de Sousa, Nguenha – o<br />
crocodilo, de Isabel Noronha, O grande bazar<br />
e O hóspede da noite, de Licínio de Azevedo,<br />
e Herança da viúva, de Sol de Carvalho.<br />
Todos os diretores são membros fundadores<br />
da Associação dos Cineastas Moçambicanos.<br />
Nas artes literárias, os escritores Mia<br />
Couto e Calena Silva lançam seus livros.<br />
E na gastronomia a influência do Oriente<br />
Médio e de Portugal, com base na culinária<br />
bantu, poderá ser apreciada no trabalho<br />
do chef Carlos Alberto da Graça, que<br />
tem apresentado as delícias moçambicanas<br />
em festivias internacionais mundo<br />
afora.<br />
Moçambique. País com mais de 20<br />
milhões de habitantes, que passou por invasões<br />
e migrações, abrigou os povos bosquianos,<br />
bantu e árabes islâmicos, recebeu<br />
os portugueses de Vasco da Gama a<br />
partir do século XV e conseguiu a independência<br />
apenas em 1975. País africano<br />
de muitas riquezas e belezas que, agora, o<br />
Brasil tem a oportunidade de conhecer<br />
um pouco melhor.<br />
1º Festival Cultural de Moçambique<br />
De 6 a 9/11, às 9 às 20h, no Museu da<br />
República. Acesso livre. Mais informações:<br />
www.festivalculturalmocambique.com.br.<br />
25
queespetáculo<br />
baSiraH é 10<br />
Com um ano de<br />
atraso, por falta<br />
de patrocínio,<br />
a companhia<br />
de dança<br />
contemporânea<br />
comemora seu<br />
décimo aniversário<br />
POR AKEMI NITAHARA<br />
Uma década de muita dedicação e trabalho,<br />
recompensados com prêmios e reconhecimento<br />
do público. É o que a companhia<br />
de dança contemporânea baSiraH<br />
comemora deste 28 de outubro até 9 de<br />
novembro. Na verdade, os dez anos do<br />
grupo foram completados em 2007, mas,<br />
pela dificuldade de conseguir patrocínios,<br />
a comemoração só se concretizou agora.<br />
Valeu a pena esperar.<br />
Quatro dos espetáculos mais marcantes<br />
e que tiveram mais repercussão serão<br />
reapresentados: Sebastião (2000), com coreografia<br />
abstrata e expressionista de Giselle<br />
Rodrigues, Márcia Duarte e Howard<br />
Sonenklar e trilha original de Alex Queiroz<br />
e André Togni, inspirado no trabalho<br />
do fotógrafo Sebastião Salgado; De água e<br />
sal (2005), dança-performance de criação<br />
coletiva do grupo, que coloca o corpo como<br />
objeto de análise e reflexão das artes,<br />
filosofia e ciências; Só existo quando ninguém<br />
me olha (2002), coreografia de Alessandro<br />
Brandão, Dorka Hepp e Édi Oliveira<br />
que fala de solidão e expõe a intimidade<br />
de maneira lúdica e poética; e O homem<br />
na parede (1999), que trata dos diversos<br />
tipo de fanatismo contemporâneos,<br />
26
aseados em suas expressões e sem juízo<br />
de valor.<br />
A coreógrafa e fundadora do grupo,<br />
Giselle Rodrigues, define o baSiraH como<br />
experimentação e investigação, com criatividade<br />
que leva a uma eficiente comunicação<br />
com o público. “Nós trazemos temáticas<br />
novas, com elementos de teatro, e<br />
mesclamos posicionamentos para que o<br />
público reflita”. Entre os projetos recentes<br />
está o Espaço Vivo de Dança baSiraH,<br />
que “busca novos mercados e trabalha na<br />
formação de novos bailarinos”, como explica<br />
Giselle.<br />
Outra inovação lançada pelo grupo é<br />
o Módulo Ação Continuada, com apresentações<br />
e oficinas de orientação pedagógica<br />
para professores e alunos da rede pública.<br />
“Os professores vão receber capacitação<br />
para orientar os alunos e depois trabalhar<br />
o tema em sala de aula, usando a<br />
linguagem da dança contemporânea no<br />
processo educativo”, diz a coreógrafa.<br />
Além disso, a Ação Continuada democratiza<br />
o acesso à cultura, forma platéia<br />
e estimula o público jovem a apreciar a<br />
dança contemporânea. Também difunde<br />
a história da dança de Brasília. Em quatro<br />
apresentações, uma de cada espetáculo,<br />
professores, dançarinos e 1.600 alunos<br />
vão debater a linguagem do grupo, suas<br />
impressões e interpretações sobre o trabalho<br />
do baSiraH. “O objetivo”, explica Giselle,<br />
“é levar a dança contemporânea a<br />
novos públicos, principalmente às camadas<br />
da população com poucas opções de<br />
lazer”.<br />
Basirah significa “olho do coração”,<br />
em armênio. E o baSiraH – Núcleo de<br />
Dança Contemporânea – coloca o coração,<br />
o corpo e a alma no trabalho, para<br />
nos brindar com coreografias de encher<br />
os olhos.<br />
Fotos: Mila Petrillo<br />
Mostra baSiraH 10 Anos<br />
28 a 30/10, às 21h: Sebastião – Teatro<br />
Galpão (Espaço Cultural 508 Sul)<br />
1/11, às 21h, e 2/11, às 20h: De água e sal<br />
– Sala Multiuso (Espaço Cultural 508 Sul)<br />
4 e 5/11, às 21h: Eu só existo quando<br />
ninguém me olha – Teatro Plínio Marcos<br />
(Complexo Cultural Funarte)<br />
7 e 8/11, às 21h, e 9/11, às 20h: O homem<br />
na parede – Teatro Plínio Marcos. .<br />
Ingressos a <strong>R$</strong> 20 e <strong>R$</strong> 10<br />
Passaporte baSiraH 10 Anos (para os<br />
quatro espetáculos): <strong>R$</strong> 30.<br />
Espaço baSiraH (3202.9461)<br />
27
luzcâmeraação<br />
Uma década do<br />
Ao comemorar sua 10ª edição, o Festival Internacional de Cinema<br />
POR SÉRGIO MORICONI<br />
Evento muito importante para a criação<br />
e consolidação de uma cultura de cinema<br />
na cidade, o FIC chega ao seu décimo<br />
aniversário com uma programação abrangente<br />
e vária. O festival abre no dia 29<br />
com a exibição de Vicky Cristina Barcelona,<br />
último longa-metragem de Woody Allen,<br />
um filme cuja exibição tem tudo a ver<br />
com Brasília, já que a arquitetura da cidade<br />
espanhola indicada no título ocupa lugar<br />
de destaque no enredo. Seu elenco inclui<br />
a habitual Scarlett Johansson, Rebecca<br />
Hall, Javier Bardem e Penélope Cruz.<br />
Além dos filmes da mostra competitiva, o<br />
festival vai exibir várias produções do Japão,<br />
em comemoração ao centenário da<br />
imigração japonesa, e prestará homenagem<br />
ao ator Paulo José, presente nas telas<br />
e em carne e osso. Ele é um dos convidados<br />
ilustres do FIC.<br />
Outras personalidades internacionais<br />
que deverão marcar presença são os diretores<br />
canadenses de Fabricando polêmica<br />
– desmascarando Michael Moore, Debbie<br />
Melnyk e Rick Caine, assim como o diretor<br />
de fotografia do filme Liverpool, de Lisandro<br />
Alonso, o argentino Lucio Bonelli,<br />
e ainda, como jurado, o escritor italiano<br />
Giorgio Armitrano, principal tradutor<br />
para o italiano da obra da escritora japonesa<br />
Banana Yoshimoto, e o diretor colombiano<br />
de O coração, Diego Garcia Moreno.<br />
Entre os brasileiros, vão estar presentes<br />
o diretor Domingos de Oliveira<br />
(autor de Todas as mulheres do mundo e<br />
Edu coração de ouro, dois dos filmes que<br />
compõem a homenagem a Paulo José),<br />
Daniel Junce e Marcela Bourseau, produtor<br />
e diretor do documentário Mataram<br />
Irmã Dorothy, Matheus Nachtergaele, diretor<br />
de A festa da menina morta, Paulo<br />
Pons, de Vingança, Selton Mello, ator e<br />
diretor de Feliz Natal, e os jurados Carlos<br />
Mattos, Ítala Nandi e Jom Tob Azulay.<br />
Na edição deste ano, vale a pena destacar<br />
a presença latino-americana. A programação<br />
inclui uma mostra de filmes da Venezuela,<br />
o que não deixa de ser super interessante,<br />
já que as obras dos realizadores<br />
do país nunca chegam às nossas salas de<br />
exibição. Até a metade do novo século, o<br />
cinema da Venezuela tinha uma média de<br />
produção muito baixa, três a quatro filmes<br />
por ano. Mas a partir de 2006, com uma<br />
reforma na legislação para o cinema, promovida<br />
pelo governo, houve um incremento<br />
importante na atividade cinematográfica,<br />
incluindo distribuição e exibição.<br />
Algumas produções venezuelanas chegaram<br />
a fazer mais de 100 mil espectadores<br />
em seu próprio mercado, até então um fato<br />
inédito. La clase, de José Antônio Varela,<br />
e Leningrado, de Mariana Rondon, são<br />
frutos e beneficiários da nova situação.<br />
Os representantes da Argentina são<br />
de grande peso. Autor de Liverpool, Lisandro<br />
Alonso é considerado um dos iniciadores<br />
e um dos principais representantes<br />
do “novo cinema argentino”. Seu filme<br />
La libertad, de 2001, causou grande impacto<br />
ao retratar num realismo quase documental<br />
a vida de um lenhador. Alonso<br />
acompanha minuto a minuto o cotidiano<br />
da personagem de Misael, induzindo o espectador<br />
a perceber, através de pequenos<br />
movimentos e ações, sua maneira de ver o<br />
28
Fotos: Divulgação<br />
FIC Brasília<br />
de Brasília exibe mais de 100 produções estrangeiras e nacionais<br />
mundo. Na época do lançamento do filme,<br />
o diretor chegou a dizer que se tivesse<br />
tido a oportunidade de filmar um dia em<br />
sua vida, isto seria igual ao seu filme, e se<br />
tivesse feito um filme sobre sua vida, este<br />
seria igual a La libertad. A declaração dá<br />
uma perfeita idéia do tipo de “realismo<br />
austero” desse realizador único.<br />
Tão importante quanto Lisandro Alonso,<br />
Daniel Burman apresenta no festival<br />
El nido vacio, seu quinto longa-metragem,<br />
uma co-produção com a Espanha e a França.<br />
Conhecido do público brasileiro por<br />
O abraço partido, Burman é também produtor<br />
e frequentemente aposta em novos<br />
cineastas. Esta dupla faceta o coloca numa<br />
posição singular, já que ele próprio<br />
costuma considerar muito difícil trabalhar<br />
na incipiente indústria de cinema argentina.<br />
“É um milagre”, ele acrescenta, e<br />
ninguém em sã consciência pode achar<br />
que vai encontrar ali estabilidade e fortuna<br />
pessoal. Burman é também um lúcido<br />
crítico do medíocre pragmatismo dos<br />
tempos atuais, uma época em que se decretou<br />
a morte do autor e o desaparecimento<br />
do indivíduo como sujeito, emancipado,<br />
pensante e crítico.<br />
É um pensamento que pode ser estendido<br />
a outro argentino, Pablo Trapero,<br />
presente no FIC com Leonera. Também<br />
conhecido do público brasileiro por A família<br />
rodante, Trapero consegue com seus<br />
filmes resultados surpreendentes. Utiliza<br />
sempre recursos mínimos e é um dos que<br />
preconizam um cinema não como reflexo<br />
da realidade, mas como uma expressão<br />
“que toma partido a favor de alguma coisa<br />
ou contra alguma coisa”.<br />
Muitas outras atrações devem despertar<br />
grande interesse do público. Há obras<br />
de realizadores consagrados como Bernardo<br />
Bertolucci (La via del petróleo), Isabel<br />
Coixet (Elegy) e Yoji Yamada (Kabei). Este<br />
último participa da Mostra Japão Contemporâneo,<br />
que exibirá ainda First love,<br />
de Imaizumi Koichi, Glory to the filmmaker,<br />
do grande Takeshi Kitano, e Sad<br />
vacation, de Aoyama Shinji.<br />
Haverá também a interessante Mostra<br />
Infanto-juvenil Jovens Heróis. Entre<br />
os filmes programados estão Cidade das<br />
abelhas, de Laila Hodell e Bertel Torne<br />
Osen, Tom W, de Anna Wieckowska, O<br />
mundo de Zezil, de Catherine Marchen<br />
Asmussen, Meninas, de Menna Laura<br />
Meijer, Vamos brincar, de François Lecauchois,<br />
e Safári, de Blogárka e Róbert Pölcz.<br />
Como em anos anteriores, o FIC vai<br />
estar associado ao III Prêmio Itamaraty<br />
para o Cinema Brasileiro, iniciativa conjunta<br />
com o Ministério das Relações Exteriores,<br />
cuja intenção é promover as produções<br />
nacionais.<br />
X Festival Internacional<br />
de Cinema de Brasília<br />
De 29/10 a 9/11 na Academia de<br />
Tênis José Farani. Dez longas-metragens<br />
concorrem ao Prêmio Buriti, oferecido<br />
ao vencedor da Mostra Competitiva do<br />
X FIC: Ballast (Lance Hammer, 2008), First<br />
love (Kouichi Imaizumi, 2007), Liverpool<br />
(Lisandro Alonso, 2008), Mataram Irmã<br />
Dorothy (Daniel Junge, 2008), Mermaid<br />
(Anna Melikyan, 2007), O coração (Diego<br />
Garcia-Moreno, 2006), Sleep dealer (Alex<br />
Rivera, 2008), Um homem bom (Vicente<br />
Amorim, 2008), Up the Yangtze (Yung<br />
Chang, 2007) e Por un polvo (Carlos Daniel<br />
Malavé, 2008). Ingressos a <strong>R$</strong> 12 e <strong>R$</strong> 6.<br />
Mais informações: www.ficbrasilia.com.br<br />
29
luzcâmeraação<br />
Fausto, filmado na<br />
Alemanha em 1925,<br />
conta a história de<br />
um professor que é<br />
induzido a fazer um<br />
pacto com o diabo.<br />
Em cartaz no dia 8<br />
Ousadia em<br />
preto e<br />
branco<br />
Uma ótima oportunidade de conhecer a filmografia<br />
do expressionista alemão Murnau, cultuado por<br />
nove entre dez cinéfilos do mundo todo<br />
POR MARIA TERESA FERNANDES<br />
Quando ele começou a fazer filmes, a<br />
invenção dos irmãos Lumière ainda não<br />
tinha completado 25 anos. E Friedrich<br />
Wilhelm Murnau se dedicou<br />
tanto a essa paixão<br />
que passou para a história<br />
do cinema como criador<br />
da câmera em movimento,<br />
num tempo em<br />
que ela era usada<br />
de forma estática.<br />
Ousou também na<br />
construção de cenários<br />
grandiosos – as atuais<br />
cidades cenográficas – e dirigiu<br />
um dos primeiros filmes de<br />
terror: Nosferatu.<br />
Para comemorar os 120<br />
anos de nascimento do diretor, o CCBB<br />
vai exibir 12 dos 24 filmes produzidos por<br />
esse expoente do cinema expressionista<br />
alemão surgido logo após a Primeira Guerra<br />
Mundial. A mostra Poemas visionários<br />
– o cinema de F. W. Murnau – estará de 4<br />
a 16 de novembro no CCBB.<br />
Nascido em 1888, Murnau fez seus<br />
principais filmes – Nosferatu, Castelo Vogelod<br />
e A última gargalhada – nos anos 20,<br />
na Alemanha. Em 1926, mudou-se para<br />
os Estados Unidos, onde dirigiu três filmes,<br />
entre eles City girl e Aurora. Este último<br />
rendeu o prêmio de melhor atriz a Janet<br />
Gaynor na primeira edição do Oscar,<br />
em 1928, mas nem isso impediu que<br />
Murnau rompesse com a 20th Century<br />
Fox, em função do fracasso de bilheteria<br />
de Aurora e da exigência dos produtores<br />
para que fizesse filmes mais comerciais.<br />
Três anos depois, o cineasta conseguiu<br />
partir para uma produção independente<br />
e rodou Tabu, numa ilha da Polinésia.<br />
Só que o destino não permitiu que ele<br />
chegasse ao lançamento do filme que fez<br />
com Robert Flaherty. Murnau morreu<br />
pouco antes da estréia, num acidente de<br />
carro em Los Angeles, aos 42 anos.<br />
Os movimentos rápidos de câmera, as<br />
luzes moduladas com sutileza e o espaço<br />
aberto fascinavam o diretor, que registrava<br />
com habilidade e sensibilidade paisagens<br />
aparentemente intocadas, a imensidão dos<br />
mares, as forças indomáveis da natureza.<br />
Refletindo o astral de uma sociedade profundamente<br />
abatida com a guerra, Murnau<br />
explorava temas fantásticos e sombrios,<br />
anseios e medos infantis. Nosferatu,<br />
inspirado na novela Drácula, de Brom<br />
Stocker, foi seu primeiro filme de terror.<br />
Um refletor persegue a sombra de Nosferatu,<br />
30 filme programado para os dias 5, 7 e 9
Um dos curadores da mostra inédita,<br />
que está sendo apresentada também no<br />
Rio e em São Paulo, é Arndt Roskens,<br />
que a considera “indispensável objeto de<br />
estudo para todos os amantes e estudiosos<br />
do cinema arte”. Ele respondeu, de São<br />
Paulo, às três perguntas enviadas pela <strong>Roteiro</strong><br />
(leia abaixo).<br />
Poemas visionários<br />
De 4 a 16/11 no cinema do CCBB.<br />
Programação no www.bb.com.br/cultura.<br />
Ingressos a <strong>R$</strong> 4 e <strong>R$</strong> 2.<br />
Fotos: acervo FW Murnau<br />
Fantasma, filme de 1922, atração dos dias 6 e 11 City girl, filmado nos Estados Unidos em 1929, em cartaz nos dias 11 e 15<br />
Qual é, de um modo geral, a temática<br />
dos filmes de Murnau?<br />
Sua obra inclui temáticas bem diferentes.<br />
Nosferatu, por exemplo, que<br />
é uma adaptação do Drácula, de Bram<br />
Stoker, conta a história do vampiro. É<br />
um filme de suspense mas que, sutilmente,<br />
expressa as ansiedades e traumas<br />
daquela época, de uma sociedade<br />
pós-guerra. Fausto explora os<br />
limites da procura do homem moderno<br />
com a sua vontade de explorar,<br />
saber e controlar o mundo ao seu redor.<br />
Aurora, por sua vez, se concentra<br />
em uma história de amor e reflete sobre<br />
amor-desejo, campo (vida simples)<br />
e cidade (vida moderna). As finanças<br />
do grão duque é uma comédia mais<br />
leve, que diverte o espectador. As temáticas<br />
dos filmes são bem diferentes.<br />
Os filmes de Murnau têm em comum<br />
a interminável procura de felicidade e<br />
realização pessoal pelo homem moderno,<br />
os limites impostos pela natureza<br />
e pela sociedade e os conflitos<br />
entre a vida moderna e a vida simples,<br />
entre os valores do campo e da cidade<br />
e entre o indivíduo e a sociedade.<br />
Como era filmar nos anos 20?<br />
Fazer filmes era uma coisa recente,<br />
que ofereceu uma área grande a ser explorada.<br />
Quando ele começou a filmar, o<br />
primeiro filme de todos os tempos tinha<br />
sido feito há menos de 30 anos. No decorrer<br />
desses 30 anos, a tecnologia cinematográfica<br />
desenvolveu-se de forma rápida,<br />
mas obviamente não chega perto da<br />
atual. Murnau fez parte do expressionismo<br />
alemão dos anos 20, na Alemanha,<br />
que caracteriza um estilo cinematográfico<br />
com estética e temática próprias. Era a<br />
época da modernidade entre as duas<br />
guerras. O que faz de Murnau uma figura<br />
importante para o mundo do cinema, ainda<br />
hoje, é que ele teve um olhar muito<br />
preciso na composição das imagens, na<br />
perspectiva da câmera, construção de espaços,<br />
montagem, colocação dos atores<br />
no espaço e diante da câmera. Uma das<br />
maiores heranças de Murnau é ter descoberto<br />
a câmera desvencilhada em A última<br />
gargalhada. Até então, a câmera era estática<br />
e o movimento acontecia diante dela.<br />
Este foi o primeiro filme em que a câmera<br />
estava em movimento, ela é que foi atrás<br />
dos atores, que passou pela porta do prédio<br />
etc. Era uma maneira completamente<br />
nova de se fazer filmes. Nos<br />
dias de hoje, é completamente normal<br />
que a câmera esteja em movimento,<br />
graças a Murnau.<br />
Por que ele saiu de seu país e foi<br />
fazer filmes nos EUA?<br />
Murnau fez sucesso internacional<br />
com Nosferatu e conseguiu inovar a<br />
linguagem e tecnologia do cinema<br />
com A última gargalhada. Isso chamou<br />
a atenção da 20th Century Fox,<br />
que o chamou para trabalhar nos EUA,<br />
oferecendo total liberdade financeira e<br />
artística para seu primeiro filme americano,<br />
Aurora. Com ele, Murnau conseguiu<br />
ganhar vários Oscars na primeira<br />
cerimônia de todos os tempos. A crítica<br />
amou o filme, mas ele foi um fracasso<br />
econômico. O estúdio começou<br />
a exigir filmes mais comerciais de Murnau,<br />
querendo interferir na produção<br />
e concepção artísticas. Ele dissolveu o<br />
contrato antes de finalizar City girl e<br />
foi para o Tahiti realizar o sonho de<br />
filmar na ilha tropical. Usou recursos<br />
próprios para fazer o filme, que vendeu<br />
posteriormente para a Fox.<br />
31
luzcâmeraação<br />
Divulgação<br />
Meu prisioneiro,<br />
meu amigo<br />
POR REYNALDO DOMINGOS FERREIRA<br />
A aproximação com o grande líder<br />
Nelson Mandela faz com que seu carcereiro<br />
James Gregory, racista, reveja seus conceitos<br />
e, tardiamente, sinta remorso por<br />
haver praticado atos criminosos contra<br />
negros nos tempos do apartheid, nos anos<br />
60, na África do Sul. É esse o tema do filme<br />
Mandela – luta pela liberdade, do dinamarquês<br />
Billy August, baseado no livro<br />
Goodbye bafana, my prisoner, my friend, de<br />
Gregory,<br />
August, notável realizador de Pelle, o<br />
conquistador, Palma de Ouro em Cannes<br />
(1988), e de As melhores intenções (1992),<br />
que tem roteiro de Ingmar Bergman sobre<br />
o casamento de seus pais, concretiza,<br />
desta feita, competente mas frio trabalho<br />
de direção, que em momento algum chega<br />
a empolgar ou emocionar o espectador.<br />
É bem possível que isso se deva, em parte,<br />
ao fato de haver ele seguido ao pé da letra<br />
o pouco inspirado roteiro de Greg Latter,<br />
de muitas omissões.<br />
A mais grave delas é a de sequer oferecer<br />
pistas ao espectador sobre o motivo<br />
que teria levado Gregory (Joseph Fiennes)<br />
a desenvolver, nos anos da mocidade,<br />
mesmo sob pressão social, terrível ódio racial,<br />
se na infância, no interior do país,<br />
seu melhor amigo fora um menino (bafana)<br />
negro, que lhe ensinara não só um tipo<br />
de luta marcial mas também o próprio<br />
dialeto xhosa, no qual se expressa fluentemente.<br />
E é graças ao conhecimento do xhosa<br />
que Gregory é destacado para atuar na prisão<br />
da ilha Robben – onde se encontra<br />
Nelson Mandela (Dennis Heysbert) – como<br />
espião do serviço de inteligência, para<br />
repassar informações sobre o grupo do famoso<br />
prisioneiro. Embora a nova missão<br />
não represente para Gregory nenhuma<br />
melho ria salarial, a mulher dele, Gloria<br />
(Diane Kruger), se entusiasma, pois interpreta<br />
o convite como sinalização de futura<br />
promoção, que os leve a residir em Pretória,<br />
uma das três capitais da África do Sul.<br />
Para ajudar nas despesas da casa, Gloria<br />
volta a exercer a profissão que tinha<br />
nos tempos de solteira, de cabeleireira, fazendo<br />
com que sua casa se torne verdadeiro<br />
salão de beleza, no qual possa atender<br />
às esposas dos oficiais. Enquanto isso,<br />
Gregory, na cadeia, orienta o encontro de<br />
Nelson e Winnie Mandela (Faith Ndukwana),<br />
que conversam separados por grades.<br />
Inadvertidamente, porém, Winnie conta<br />
a Nelson que, apesar de todo sofrimento<br />
pela ausência dele, o filho se sentia feliz,<br />
alegre, por haver adquirido seu primeiro<br />
carro.<br />
32
Sabedor disso, Gregory dá conhecimento<br />
ao serviço secreto e, dias depois, recebe<br />
a missão de transmitir a Mandela o<br />
comunicado da morte do filho num “desastre”<br />
de automóvel. Por um recado oculto<br />
num cartão postal enviado a um amigo<br />
de Mandela prestes a deixar a cadeia, Gregory<br />
fica sabendo ainda que companheiros<br />
o esperariam, para saudá-lo, num determinado<br />
ponto da Cidade do Cabo. Ele<br />
repassa a informação e, pelo noticiário da<br />
imprensa, dias depois, toma conhecimento<br />
de que todos foram executados.<br />
A autoridade moral de Mandela, porém,<br />
se impõe. Suas palavras significam<br />
algo mais do que Gregory estava acostumado<br />
a ouvir em seu meio. Em pouco<br />
tempo, ele adere à causa de Mandela, ajudando-o,<br />
primeiro, em seus contatos familiares,<br />
e depois adotando procedimentos<br />
que, percebidos pelos oficiais, o colocam<br />
em choque com a corporação. Ele sofre<br />
ameaças, chega a ser espancado num bar<br />
e a mulher perde suas clientes no salão de<br />
beleza. Então, pede demissão, que não é<br />
aceita.<br />
O major Pieter Jordaan (Patrick Lyster),<br />
a quem Gregory se reporta no serviço<br />
de inteligência, empenha-se pessoalmente<br />
para conseguir sua transferência para um<br />
cargo burocrático na Cidade do Cabo,<br />
também uma das capitais do país, o que<br />
acaba se concretizando. Haverá um momento,<br />
entretanto, em que o reencontro<br />
de Gregory com Mandela será inevitável.<br />
Nessa oportunidade, o soldado está convicto<br />
de que, sob pressão internacional, o<br />
regime do apartheid tem os dias contados.<br />
E sabe também que, atuando ao lado de<br />
Mandela, estará participando de um momento<br />
histórico importante na vida de<br />
seu país.<br />
O ator Joseph Fiennes, intérprete do<br />
papel de Gregory, é o dono do filme. De<br />
menos holofotes sobre sua beleza física<br />
que o irmão Ralph, Joseph, também de<br />
formação teatral, procura se destacar pelo<br />
rigor técnico que observa em suas composições<br />
desde que apareceu pela primeira<br />
vez na tela em Shakespeare apaixonado<br />
(1998), de John Madden. Nessa sua recriação<br />
de Gregory – falecido em 2003 –<br />
ele impressiona pelo tom de disciplina<br />
que soube imprimir à personagem, cujo<br />
amadurecimento se torna perceptível não<br />
só pela maquiagem de envelhecimento,<br />
que se lhe aplicou ao corpo e à fisionomia,<br />
mas também por um processo de<br />
competente interiorização de suas novas<br />
convicções.<br />
Também se destacam como intérpretes<br />
Diane Kruger, no papel de Gloria Gregory,<br />
Patrick Lyster, como Major Pieter<br />
Jordaan, e Faith Ndukwana, personificando<br />
a elegante Winnie Mandela. Já o ator<br />
Dennis Haysbert convence pouco como a<br />
personagem que dá título ao filme. Parece<br />
que lhe pesou no ombro a responsabilidade<br />
de interpretar o papel do grande líder.<br />
Se Haysbert fosse um pouco mais convincente,<br />
a cena em que Gregory revela seus<br />
atos criminosos a Mandela poderia ser<br />
bem mais dramática e comovente.<br />
Mandela – luta pela liberdade<br />
Alemanha/França/Bélgica/África do Sul/<br />
Itália/Inglaterra/Luxemburgo/2007, 140<br />
min. Direção: Billy August. <strong>Roteiro</strong>: Greg<br />
Latter, baseado em livro de Bob Graham<br />
e James Gregory. Com Joseph Fiennes,<br />
Dennis Heysbert, Diane Kruger, Shiloh<br />
Henderson, Patrick Lyster, Faith Ndukwana<br />
e Mehboob Bawa.<br />
33
cartadaeuropa<br />
Divulgação<br />
Um mestre da<br />
espionagem<br />
POR SILIO BOCCANERA, DE LONDRES<br />
John Le Carré, um<br />
dos maiores escritores<br />
de ficção de espionagem,<br />
senão o maior,<br />
acaba de lançar seu mais<br />
novo livro sobre o assunto<br />
– A most wanted<br />
man (Um homem muito<br />
procurado, em tradução<br />
literal, não comercial)<br />
– e os críticos têm<br />
reagido com entusiasmo à nova aventura.<br />
A trama se passa na Alemanha multicultural<br />
de hoje, descreve traições de agências<br />
internacionais de espionagem e combate<br />
ferozmente a política externa dos Estados<br />
Unidos, uma das implicâncias do<br />
autor. “Minha briga não é com os americanos;<br />
é com a maneira usada por seus líderes<br />
para enganá-los”, disse ele em entrevista<br />
à imprensa para promover o livro.<br />
Le Carré, na verdade, se chama David<br />
Cornwell, vive em semi-isolamento na<br />
Cornuália, região charmosa à beira-mar,<br />
mas distante do centro nervoso de Londres,<br />
onde ele reaparece periodicamente<br />
quando lança um novo livro. Às vezes ele<br />
ressurge também quando sai algum filme<br />
baseado em obra sua e – caso raro – ele<br />
aprova a adaptação. Foi assim com O jardineiro<br />
fiel, que o brasileiro Fernando<br />
Meirelles dirigiu e Le Carré elogiou. De<br />
seus livros anteriores, um dos poucos a receber<br />
sua aprovação foi o clássico (texto e<br />
filme) O espião que veio do frio.<br />
O livro mal chegou às livrarias e já foi<br />
chamado de “vitorioso” pelo jornal britânico<br />
The Independent, que foi mais longe<br />
nos elogios: o crítico Tim Martin disse<br />
que não conseguia entender porque as<br />
pessoas tratam Le Carré como romancista<br />
popular ou, pior ainda, simples autor de<br />
thrillers. “Ele é um tragedista subversivo,<br />
que nos vende o que menos queremos ouvir<br />
sobre os guardiões de nossa liberdade”,<br />
escreveu Martin. “Ele apenas disfarça<br />
essa realidade como entretenimento”.<br />
Por sua vez, o crítico do Sunday Times<br />
chamou atenção para o fato de que “o poder<br />
narrativo e a devoção humanitária de<br />
Le Carré permanecem intactos à medida<br />
que ele se aproxima dos 80 anos” (tem<br />
76). O livro, disse o crítico Stephen Amidon,<br />
“é uma condenação dos governos<br />
que autorizamos a agir em nosso nome”.<br />
O personagem principal da nova trama<br />
é um muçulmano filho de russos e<br />
chechênios, de nome Issa, que vive em<br />
Hamburgo sob o olhar de várias agências<br />
de espionagem desconfiadas – sem provas<br />
– de que ele pretende deslanchar uma<br />
ação fundamentalista na Alemanha.Quem<br />
se assustou com a história dos terroristas<br />
que atacaram os Estados Unidos em 2001<br />
se lembra de que os líderes da operação viveram<br />
em Hamburgo.<br />
Le Carré reserva a atuação mais repreensível<br />
para o espião americano, reflexo<br />
de sua aversão de muito tempo à política<br />
externa dos Estados Unidos, sobretudo<br />
no governo Bush. Apesar dos convites para<br />
promover seus livros no maior mercado<br />
do mundo, Le Carré se recusa a visitar<br />
os Estados Unidos desde o início da guerra<br />
no Afeganistão, em 2001.<br />
Ele pode se dar ao luxo de marcar sua<br />
posição política sem preocupação com a<br />
venda de livros, pois a fama e a riqueza<br />
acumuladas com o sucesso de seus 20 livros<br />
anteriores permitem-lhe uma vida<br />
confortável. Ele nega ser antiamericano,<br />
mas não esconde sua repulsa à atuação externa<br />
do governo de Washington. “Se estou<br />
com raiva da América é porque sou<br />
um romântico decepcionado”, diz.<br />
Entre as várias entrevistas e depoimentos<br />
públicos em torno do lançamento do<br />
livro, Le Carré eletrizou a platéia de um<br />
auditório no South Bank, em Londres, ao<br />
falar de sua infância como filho de um negociante<br />
desonesto e traiçoeiro (inspiração<br />
para seu livro The perfect spy) e sua atividade<br />
clandestina como espião britânico<br />
na Áustria e na Alemanha logo após o fim<br />
da Segunda Guerra Mundial.<br />
Apesar das suspeitas de seus leitores e<br />
das insinuações de especialistas em espionagem,<br />
Le Carré levou anos para admitir<br />
que foi agente secreto do governo britânico<br />
no período mais tenso da Guerra Fria.<br />
Alguns anos atrás, acabou assumindo publicamente<br />
esse lado sombrio do seu passado,<br />
que abandonou há meio século, em<br />
troca da literatura.<br />
Atuante no setor durante um período<br />
de agudo confronto Leste-Oeste, com desconfiança<br />
de lado a lado sobre intenções<br />
maléficas, Le Carré contou que desenvolveu<br />
na época uma visão de espionagem<br />
como “a busca do centro secreto de um<br />
país, daquilo que mais temíamos, o mais<br />
difícil de obter”. E completou: “Demorei<br />
para perceber que o cofre estava vazio”.<br />
Ele diz que na sua idade “é difícil não<br />
ver tudo o que escrevo como conclusão”.<br />
Deu a entender que esse novo livro pode<br />
ser seu adeus à ficção de espionagem.<br />
“Sempre vivi assombrado com o exemplo<br />
de Graham Greene, cujos últimos trabalhos<br />
não deveriam ter sido publicados. Eu<br />
gostaria de terminar com um livro forte”.<br />
A se julgar pela reação inicial a A most<br />
wanted man, o desejo de Le Carré será<br />
satisfeito.<br />
34