Uma Homenagem merecida - Post Milenio
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10 6 a 12 de Novembro de 2009<br />
<strong>Post</strong>-Milénio... Às Sextas-feiras, bem pertinho de si!<br />
Os intocáveis<br />
Oprocesso Face Oculta<br />
deu-me, finalmente,<br />
resposta à pergunta<br />
que fiz ao ministro da<br />
Presidência Pedro Silva<br />
Pereira - se no sector do<br />
Estado que lhe estava confiado<br />
havia ambiente para trocas<br />
de favores por dinheiro.<br />
Pedro Silva Pereira respondeu-me<br />
na altura que a<br />
minha pergunta era insultuosa.<br />
Agora, o despacho judicial que<br />
descreve a rede de corrupção que<br />
abrange o mundo da sucata, executivos<br />
da alta finança e agentes do<br />
Estado, responde-me ao que Silva<br />
Pereira fugiu: Que sim. Havia esse<br />
ambiente. E diz mais. Diz que continua<br />
a haver. A brilhante investigação<br />
do Ministério Público e da<br />
Polícia Judiciária de Aveiro revela<br />
um universo de roubalheira demasiado<br />
gritante para ser encoberto por<br />
segredos de justiça.<br />
O país tem de saber de tudo<br />
porque por cada sucateiro que dá um<br />
Mercedes topo de gama a um agente<br />
do Estado há 50 famílias desempregadas.<br />
É dinheiro público que paga<br />
concursos viciados, subornos e<br />
sinecuras. Com a lentidão da Justiça<br />
e a panóplia de artifícios dilatórios à<br />
disposição dos advogados, os silêncios<br />
dão aos criminosos tempo.<br />
Tempo para que os delitos caiam no<br />
esquecimento e a prática de crimes<br />
na habituação. Foi para isso que o<br />
primeiro-ministro contribuiu quando,<br />
questionado sobre a Face Oculta,<br />
respondeu: "O Senhor jornalista<br />
devia saber que eu não comento<br />
processos judiciais em curso (…)". O<br />
"Senhor jornalista" provavelmente já<br />
sabia, mas se calhar julgava que<br />
Sócrates tinha mudado neste mandato.<br />
Armando Vara é seu camarada de<br />
partido, seu amigo, foi seu colega de<br />
governo e seu companheiro de<br />
carteira nessa escola de saber que era<br />
a Universidade Independente.<br />
Licenciaram-se os dois nas ciências<br />
lá disponíveis quase na mesma<br />
altura. Mas sobretudo, Vara geria (de<br />
facto ainda gere) milhões em dinheiros<br />
públicos. Por esses, Sócrates<br />
tem de responder. Tal como tem de<br />
responder pelos valores do<br />
património nacional que lhe foram e<br />
ainda estão confiados e que à força<br />
de milhões de libras esterlinas podem<br />
ter sido lesados no Freeport.<br />
Face ao que (felizmente) já se<br />
sabe sobre as redes de corrupção em<br />
Portugal, um chefe de Governo não<br />
se pode refugiar no "no comment" a<br />
que a Justiça supostamente o obriga,<br />
porque a Justiça não o obriga a nada<br />
disso. Pelo contrário. Exige-lhe que<br />
fale. Que diga que estas práticas não<br />
podem ser toleradas e que dê conta<br />
do que está a fazer para lhes pôr um<br />
fim. Declarações idênticas de nãocomentário<br />
têm sido produzidas pelo<br />
presidente Cavaco Silva sobre o<br />
Freeport, sobre Lopes da Mota, sobre<br />
Mário Crespo<br />
o BPN, sobre a SLN, sobre Dias<br />
Loureiro, sobre Oliveira Costa e tudo<br />
o mais que tem lançado dúvidas<br />
sobre a lisura da nossa vida pública.<br />
Estes silêncios que variam entre o<br />
ameaçador, o irónico e o cínico, estão<br />
a dar ao país uma mensagem clara:<br />
os agentes do Estado protegem-se<br />
uns aos outros com silêncios cúmplices<br />
sempre que um deles é apanhado<br />
com as calças na mão (ou sem<br />
elas) violando crianças da Casa Pia,<br />
roubando carris para vender na sucata,<br />
viabilizando centros comerciais<br />
em cima de reservas naturais, comprando<br />
habilitações para preencher<br />
os vazios humanísticos que a aculturação<br />
deixou em aberto ou aceitando<br />
acções não cotadas de uma qualquer<br />
obscuridade empresarial que rendem<br />
147,5% ao ano. Lida cá fora a mensagem<br />
traduz-se na simplicidade brutal<br />
do mais interiorizado conceito em<br />
Portugal: nos grandes ninguém toca.<br />
PS. Mário Crespo é um jornalista de<br />
grande prestígio em Portugal.<br />
Moçambicano como é permitiu que<br />
ao contactá-lo de imediato se<br />
entrasse numa conversa entre dois<br />
velhos moçambicanos. Pedimos-lhe<br />
a devida autorização para que ele<br />
fosse mais um enorme factor de<br />
enriquecimento do <strong>Post</strong> Milénio,<br />
com o que ele concordou de imediato.<br />
Assim sendo, e com a regularidade<br />
possível, teremos em <strong>Post</strong><br />
Milénio artigos rubricados por<br />
Mário Crespo.<br />
Face Oculta:<br />
Armando Vara deslocou-se<br />
ao Banco de Portugal<br />
Armando Vara, arguido no processo Face Oculta,<br />
esteve presente no Banco de Portugal, no mesmo<br />
dia que a imprensa dava como certa uma audição<br />
do vice-presidente do Millennium BCP pelo banco central.<br />
Armando Vara deixou o banco central pelas 15:30, pela<br />
garagem nas traseiras do edifício do Banco de Portugal na<br />
Avenida Almirante Reis, em Lisboa.<br />
Vara sentava-se no lugar da frente de um automóvel azul,<br />
conduzido por um motorista, não tendo parado para prestar<br />
declarações aos jornalistas.<br />
O jornal Público dava como certo que Armando Vara seria<br />
hoje ouvido pelo Banco de Portugal, no âmbito de um inquérito<br />
que poderá levar ao eventual cancelamento do seu registo<br />
como vice-presidente do Millennium BCP.<br />
Vara, segundo o jornal, vai prestar declarações como parte<br />
interessada no processo de verificação de idoneidade para<br />
exercer o cargo de administrador de uma instituição financeira.<br />
No seguimento do que disser ao supervisor, o banco central<br />
poderá cancelar o registo de Armando Vara como gestor no<br />
sector financeiro.<br />
O Banco de Portugal deverá também pedir a Armando<br />
Vara explicações quanto ao facto de o seu nome surgir no<br />
âmbito da investigação relativa à operação "Face Oculta".<br />
A Polícia Judiciária (PJ) desencadeou no dia 28 de<br />
Outubro a operação "Face Oculta" em vários pontos do país,<br />
no âmbito de uma investigação relacionada com alegados<br />
crimes económicos de um grupo empresarial de Ovar que integra<br />
a O2-Tratamento e Limpezas Ambientais, a que está ligado<br />
o empresário Manuel José Godinho, que está em prisão preventiva,<br />
no quadro deste processo.<br />
No decurso da operação foram efectuadas cerca de 30 buscas,<br />
domiciliárias e a postos de trabalho, e 15 pessoas foram<br />
constituídas arguidas, incluindo Armando Vara, José Penedos,<br />
presidente da Rede Eléctrica Nacional (REN), e o seu filho<br />
Paulo Penedos, advogado da empresa SCI-Sociedade<br />
Comercial e Industrial de Metalomecânica SA, de Manuel<br />
José Godinho.<br />
Um administrador da Indústria de Desmilitarização da<br />
Defesa (IDD) também foi constituído arguido no processo<br />
"Face Oculta", segundo o presidente da EMPORDEF, a holding<br />
das indústrias de defesa portuguesas.<br />
ARA/RBV.