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o papel do projeto em empreendimentos públicos - Escola de ...

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O PAPEL DO PROJETO EM EMPREENDIMENTOS PÚBLICOS:<br />

DIFICULDADES E POSSIBILIDADES EM RELAÇÃO À QUALIDADE<br />

Otávio J. OLIVEIRA<br />

Doutoran<strong>do</strong> <strong>em</strong> Tecnologia e Gestão da Produção na Construção Civil pela <strong>Escola</strong> Politécnica da USP,<br />

Mestre <strong>em</strong> Administração e Engenheiro Civil. Av. Prof. Almeida Pra<strong>do</strong>, travessa 2, n° 271, CEP 05508-900<br />

São Paulo (SP), Brasil - Correio eletrônico: otavio.jose@poli.usp.br<br />

Silvio B. MELHADO<br />

Doutor, Mestre e Engenheiro Civil. Professor <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Construção Civil da <strong>Escola</strong> Politécnica da<br />

USP. Av. Prof. Almeida Pra<strong>do</strong>, travessa 2, n° 271, CEP 05508-900 São Paulo (SP), Brasil - Correio<br />

eletrônico: silvio.melha<strong>do</strong>@poli.usp.br<br />

RESUMO<br />

Este artigo procura discutir quais os principais entraves para a melhoria da qualida<strong>de</strong> nos <strong>em</strong>preendimentos públicos<br />

sob o enfoque <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> <strong>projeto</strong>. Inicialmente são apresentadas as principais características <strong>do</strong>s<br />

<strong>em</strong>preendimentos públicos como um to<strong>do</strong> e da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>projeto</strong> propriamente dita neste ambiente. Na seqüência<br />

são salienta<strong>do</strong>s seus principais probl<strong>em</strong>as e potencialida<strong>de</strong>s e; por fim, são feitas algumas consi<strong>de</strong>rações sobre o atual<br />

estágio <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> <strong>projeto</strong> nos <strong>em</strong>preendimentos públicos, sua direta relação com a lei <strong>de</strong> licitação e contratos e<br />

então são apresentadas sugestões para melhoria <strong>de</strong>ste quadro.<br />

1 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS EMPREENDIMENTOS PÚBLICOS DE<br />

CONSTRUÇÃO CIVIL<br />

Exist<strong>em</strong> particularida<strong>de</strong>s que diferenciam os <strong>em</strong>preendimentos públicos <strong>do</strong>s priva<strong>do</strong>s e que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser leva<strong>do</strong>s <strong>em</strong><br />

consi<strong>de</strong>ração tanto na etapa <strong>de</strong> i<strong>de</strong>alização como <strong>de</strong> execução da obra. Dentre eles pod<strong>em</strong>os citar: aspecto social,<br />

visão <strong>em</strong> prol <strong>do</strong> coletivo, necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> racionalização <strong>do</strong> dinheiro público, sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> contratação <strong>de</strong> obra<br />

estabeleci<strong>do</strong> através da lei 8.666, maior responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong>res (transparência pública) e a existência <strong>do</strong><br />

PBQP-H. Uma breve explanação sobre estes itens será feita a seguir.<br />

Aspecto social: Os <strong>em</strong>preendimentos públicos têm como principal objetivo aten<strong>de</strong>r a uma d<strong>em</strong>anda social, mesmo que<br />

eles não tenham uma relação direta com a população. Esta característica lhe é garantida <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong> seu<br />

<strong>em</strong>preen<strong>de</strong><strong>do</strong>r ser o esta<strong>do</strong>, que é representante <strong>do</strong>s cidadãos que o compõ<strong>em</strong>.<br />

Visão <strong>em</strong> prol <strong>do</strong> coletivo: Os <strong>em</strong>preendimentos públicos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> privilegiar o uso coletivo, tanto <strong>do</strong>s funcionários<br />

públicos como da população <strong>em</strong> geral, conforme o caso; e, portanto, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong>s com características físicas<br />

que proporcion<strong>em</strong> o atendimento a este objetivo. Para isto <strong>de</strong>ve-se procurar concebê-los com base nas reais<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses usuários e nas estratégias políticas <strong>do</strong>s dirigentes responsáveis.<br />

Racionalização <strong>do</strong> dinheiro público: Os <strong>em</strong>preendimentos públicos <strong>de</strong>v<strong>em</strong>, <strong>em</strong> princípio, primar pela racionalização<br />

<strong>do</strong> numerário a ser aplica<strong>do</strong> <strong>em</strong> sua execução, tanto por questões éticas como por questão <strong>de</strong> estratégia política, pois<br />

<strong>de</strong>ssa forma será possível <strong>de</strong>senvolver um maior número <strong>de</strong> benfeitorias, <strong>de</strong> forma que os objetivos traça<strong>do</strong>s sejam<br />

atendi<strong>do</strong>s s<strong>em</strong> comprometer as relações custo x benefício, que neste tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> t<strong>em</strong> fundamental importância.<br />

Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Contratação <strong>de</strong> Obras e Serviços estabeleci<strong>do</strong> através da Lei 8.666: O esta<strong>do</strong> dispõe <strong>de</strong> uma<br />

regulamentação oficial para contratação <strong>de</strong> obras e serviços que é a Lei 8.666/93 <strong>de</strong> 21/06/1993 e suas atualizações<br />

pelas Leis 8.883 <strong>de</strong> 08/06/1994, 9.032 <strong>de</strong> 28/04/1995 e 9.648 <strong>de</strong> 27/05/1998. Estas leis procuram garantir licitu<strong>de</strong> e<br />

padronização nos processos <strong>de</strong> contratação <strong>de</strong> obras e serviços pelos órgãos públicos, <strong>de</strong> maneira que não pair<strong>em</strong><br />

dúvidas sobre a forma como eles são executa<strong>do</strong>s, mas que, <strong>em</strong> contrapartida, traz<strong>em</strong> uma série <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>projeto</strong>, conforme será visto mais adiante neste artigo.


Responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong>res: Os <strong>em</strong>preendimentos públicos têm seu ponto <strong>de</strong> partida geralmente da<strong>do</strong> por<br />

dirigentes que ocupam cargos por um t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> (por rodízio <strong>de</strong> funções, indicação ou eleição) e, <strong>em</strong> geral,<br />

não estarão neste posto caso aconteçam probl<strong>em</strong>as com estas obras no futuro, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ssa forma, dificultar uma<br />

eventual apuração <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s. Isto dá uma característica aos <strong>em</strong>preendimentos públicos que os diferenciam<br />

da gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s <strong>em</strong>preendimentos priva<strong>do</strong>s e que requer um maior grau <strong>de</strong> ética e responsabilida<strong>de</strong> na sua<br />

i<strong>de</strong>alização e execução.<br />

PBQP-H: O Programa Brasileiro da Qualida<strong>de</strong> e Produtivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Habitat prevê a implantação <strong>de</strong> Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Gestão<br />

da Qualida<strong>de</strong> <strong>em</strong> <strong>em</strong>presas construtoras, através <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> setorial. Ele t<strong>em</strong> começa<strong>do</strong> a ser a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> como<br />

critério pré-seleciona<strong>do</strong>r por entida<strong>de</strong>s públicas contratantes <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> construção civil e, até mesmo, pela<br />

iniciativa privada. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se os impactos que este programa t<strong>em</strong> incita<strong>do</strong> no setor <strong>de</strong> construção, po<strong>de</strong>-se<br />

afirmar que ele figura como um novo fator que impacta e caracteriza, além <strong>do</strong> setor público, to<strong>do</strong> o novo cenário <strong>do</strong><br />

construbusiness.<br />

2 – O PAPEL DO PROJETO PARA OBTENÇÃO DA QUALIDADE EM<br />

EMPREENDIMENTOS PÚBLICOS<br />

Em tese, o <strong>projeto</strong> t<strong>em</strong> funções no po<strong>de</strong>r público similares ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha<strong>do</strong> na iniciativa privada: informar as<br />

características <strong>do</strong> produto (<strong>projeto</strong> básico e <strong>projeto</strong> executivo), sua forma <strong>de</strong> execução (<strong>projeto</strong> <strong>de</strong> produção e <strong>projeto</strong> <strong>de</strong><br />

canteiro), permitir a introdução <strong>de</strong> inovações tecnológicas, reduzir a existência <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as patológicos, garantir as<br />

características <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, racionalida<strong>de</strong> e construtibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>em</strong>preendimento com reflexos na a<strong>de</strong>quação ao uso,<br />

redução <strong>do</strong> lead time <strong>de</strong> execução da obra e redução <strong>do</strong>s custos totais (Oliveira, 2001 - b).<br />

Portanto, “as possibilida<strong>de</strong>s” para obtenção <strong>de</strong> benefícios liga<strong>do</strong>s à qualida<strong>de</strong>, advin<strong>do</strong>s da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>projeto</strong> nos<br />

<strong>em</strong>preendimentos <strong>do</strong> setor público, não se diferenciam muito <strong>do</strong> que é verifica<strong>do</strong> na iniciativa privada. Porém,<br />

consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>-se as características legais <strong>de</strong> contratação e gerenciamento <strong>de</strong> <strong>projeto</strong>s e obras pelos órgãos públicos,<br />

que vêm impon<strong>do</strong> um atraso no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s se compara<strong>do</strong>s com o que v<strong>em</strong> sen<strong>do</strong> pratica<strong>do</strong><br />

pela iniciativa privada, po<strong>de</strong>-se vislumbrar um gran<strong>de</strong> potencial para avanço na aplicação <strong>do</strong>s mecanismos e<br />

ferramentas da qualida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> gerar conseqüências positivas sobre a produtivida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses<br />

<strong>em</strong>preendimentos.<br />

Muitos são os fatores que têm contribuí<strong>do</strong> para dificultar o amadurecimento da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>projeto</strong> no setor público<br />

brasileiro. Não se preten<strong>de</strong> aqui esgotar a discussão sobre estes itens e, sim, citar àqueles consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s por nós mais<br />

importantes e, limitadamente, traçar uma pequena explanação sobre suas características e influências neste contexto.<br />

Seria muito difícil, dada a complexida<strong>de</strong> <strong>do</strong> assunto e da proximida<strong>de</strong> das ativida<strong>de</strong>s, não consi<strong>de</strong>rar nesta sucinta<br />

explanação a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção propriamente dita, sob pena <strong>de</strong> analisar parcialmente e ten<strong>de</strong>nciosamente o<br />

cenário nacional <strong>de</strong> obras públicas - mesmo que enfocan<strong>do</strong> principalmente a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>projeto</strong>, que certamente se<br />

comporta <strong>de</strong> forma sistêmica, com gran<strong>de</strong> interação <strong>em</strong> relação à etapa <strong>de</strong> execução e <strong>de</strong> uso.<br />

Em virtu<strong>de</strong> <strong>do</strong> exposto, segue abaixo alguns <strong>do</strong>s itens que caracterizam as dificulda<strong>de</strong>s vividas pelo setor público <strong>em</strong><br />

relação a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>preendimentos <strong>de</strong> construção civil, sob o enfoque principal da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>projeto</strong>.<br />

2<br />

2.1 – Dificulda<strong>de</strong>s para obtenção da qualida<strong>de</strong> no processo <strong>do</strong> <strong>projeto</strong> <strong>em</strong><br />

<strong>em</strong>preendimentos públicos<br />

Rigi<strong>de</strong>z da Lei 8.666: a Lei <strong>de</strong> Licitações e Contratos brasileira <strong>de</strong>fine a meto<strong>do</strong>logia para contratação <strong>de</strong> obras ou<br />

serviços relaciona<strong>do</strong>s, on<strong>de</strong> não se permite impl<strong>em</strong>entar novas formas <strong>de</strong> contratação que não àquelas nela<br />

especificadas (SPF, 1993). Este é um fator que dificulta a introdução <strong>de</strong> mecanismos mais inova<strong>do</strong>res na contratação e,<br />

conseqüent<strong>em</strong>ente, no gerenciamento <strong>de</strong> obras e <strong>projeto</strong>s nos órgãos públicos.<br />

Falta <strong>de</strong> comunicação <strong>projeto</strong> x obra: Nos <strong>em</strong>preendimentos públicos, <strong>em</strong> geral, a execução é contratada após a<br />

finalização da etapa <strong>de</strong> <strong>projeto</strong> (<strong>projeto</strong> básico + <strong>projeto</strong> executivo), salvo quan<strong>do</strong> o <strong>projeto</strong> executivo é contrata<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

conjunto com a etapa <strong>de</strong> execução <strong>de</strong> obras. Porém, <strong>em</strong> qualquer um <strong>do</strong>s casos não há a participação <strong>do</strong> construtor na<br />

etapa inicial <strong>de</strong> i<strong>de</strong>alização e concepção genérica <strong>do</strong> produto; e é nesta etapa que se <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> as principais<br />

características <strong>do</strong> <strong>em</strong>preendimento, as tecnologias a ser<strong>em</strong> utilizadas (que <strong>de</strong>viam estar <strong>em</strong> consonância com as<br />

competências <strong>do</strong> construtor), as convergências <strong>do</strong>s <strong>projeto</strong>s <strong>de</strong> execução e <strong>de</strong> canteiro com os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> gestão <strong>do</strong><br />

construtor, etc (Melha<strong>do</strong>, 2001).


Ausência <strong>de</strong> acompanhamento da obra pelos projetistas: O próprio sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> contratação <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> <strong>projeto</strong>s<br />

e obras induz uma ruptura entre a equipe <strong>de</strong> <strong>projeto</strong> e o pessoal responsável pela execução <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> construção<br />

– fato este que a legislação procurou minimizar, com a permissão da contratação <strong>do</strong>s projetistas como consultores<br />

técnicos no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> execução das obras, porém s<strong>em</strong> muito sucesso. Esta situação t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s pontos críticos<br />

para que se proceda a garantia da qualida<strong>de</strong> nos <strong>em</strong>preendimentos <strong>do</strong> setor público. Cabe aqui ressaltar que <strong>em</strong><br />

virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa ruptura, o processo <strong>de</strong> retroalimentação das equipes <strong>de</strong> <strong>projeto</strong> à partir das obras nos <strong>em</strong>preendimentos<br />

públicos t<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> muito a <strong>de</strong>sejar e, portanto, caracteriza outro ponto a ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma mais cuida<strong>do</strong>sa.<br />

Fiscalização <strong>de</strong>ficiente: Como salienta a própria Lei <strong>de</strong> Licitações, é possível a contratação <strong>de</strong> uma equipe externa<br />

para auxiliar na fiscalização da obra, inclusive o próprio autor ou a <strong>em</strong>presa responsável pelos <strong>projeto</strong>s (como<br />

consultores técnicos <strong>do</strong> órgão licitante), porém o que se t<strong>em</strong> verifica<strong>do</strong> <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s <strong>em</strong>preendimentos, <strong>em</strong><br />

virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> restrições orçamentárias, é a não contratação <strong>de</strong>sses profissionais, ou mesmo, quan<strong>do</strong> eles são contrata<strong>do</strong>s,<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a uma subordinação extr<strong>em</strong>amente rígida a um responsável técnico da administração pública ou disputa <strong>de</strong><br />

autorida<strong>de</strong>, têm ti<strong>do</strong> dificulda<strong>de</strong>s para o cumprimento <strong>de</strong> suas funções.<br />

Contratação <strong>de</strong> <strong>projeto</strong> pelo menor valor: A Lei <strong>de</strong> Licitações permite a contratação <strong>de</strong> obras e serviços basea<strong>do</strong>s <strong>em</strong><br />

outros critérios, que não o <strong>de</strong> menor preço, tais como: melhor técnica, técnica e preço, e <strong>de</strong> maior lance ou oferta (Art.<br />

45). Contu<strong>do</strong>, o que se observa, <strong>em</strong> geral, é a utilização quase que exclusiva <strong>do</strong> critério “menor preço” sob a justificativa<br />

<strong>de</strong> simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> julgamento da melhor proposta no processo licitatório, que não necessita <strong>de</strong> maiores justificativas<br />

junto aos concorrentes, ao Tribunal <strong>de</strong> Contas (caso haja algum recurso) e à socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> geral, ou seja, acaba sen<strong>do</strong><br />

a forma <strong>de</strong> licitação que menos compromete os dirigentes quanto à ética da escolha <strong>do</strong> ganha<strong>do</strong>r, mas que, quase<br />

s<strong>em</strong>pre, não se mostra como a melhor alternativa, face à ausência <strong>de</strong> critérios técnicos <strong>de</strong> seleção mais específicos.<br />

Dificulda<strong>de</strong> e morosida<strong>de</strong> das licitações: In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> licitação a ser realizada e <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong><br />

meto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> escolha <strong>do</strong> vence<strong>do</strong>r, os processos licitatórios, <strong>em</strong> geral, são morosos e com muitas exigências legais,<br />

o que t<strong>em</strong> <strong>de</strong>sestimula<strong>do</strong> muitas <strong>em</strong>presas com petentes <strong>de</strong> <strong>projeto</strong> e construção a participar<strong>em</strong> <strong>de</strong> sua realização,<br />

trazen<strong>do</strong> notórias perdas <strong>em</strong> relação às possibilida<strong>de</strong>s técnicas que estas <strong>em</strong>presas po<strong>de</strong>riam proporcionar.<br />

Despreparo das equipes técnicas: As equipes técnicas que faz<strong>em</strong> parte <strong>do</strong> quadro <strong>de</strong> pessoal <strong>do</strong>s órgãos públicos e<br />

são responsáveis pela especificação inicial <strong>do</strong> <strong>em</strong>preendimento (pesquisa das necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s usuários, confecção<br />

<strong>do</strong> <strong>projeto</strong> básico e execução da lista <strong>de</strong> custos unitários para contratação <strong>do</strong> <strong>projeto</strong> executivo), <strong>em</strong> geral, estão<br />

<strong>de</strong>fasadas tecnicamente <strong>em</strong> relação a iniciativa privada e possu<strong>em</strong> um efetivo <strong>em</strong> número insuficiente para que<br />

<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penh<strong>em</strong> um trabalho <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e, por isso, pod<strong>em</strong> comprometer o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>do</strong> <strong>em</strong>preendimento como um<br />

to<strong>do</strong>.<br />

Dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> relação a <strong>de</strong>s<strong>em</strong>bolso financeiro: Apesar <strong>de</strong> o Esta<strong>do</strong> só po<strong>de</strong>r efetuar a contratação <strong>de</strong> uma obra<br />

ou serviço após a disponibilização oficial <strong>de</strong> numerário para tal, não é incomum a ocorrência <strong>de</strong> atrasos no cronograma<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>bolso financeiro por parte <strong>de</strong>stas instituições, prejudican<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ssa forma, a continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s serviços das<br />

<strong>em</strong>presas contratadas. Este it<strong>em</strong> po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como um importante entrave ao <strong>de</strong>senvolvimento da qualida<strong>de</strong><br />

nas obras públicas como um to<strong>do</strong>, <strong>em</strong> função da <strong>de</strong>smotivação que esta situação provoca nas <strong>em</strong> presas presta<strong>do</strong>ras<br />

<strong>de</strong> serviço.<br />

Empreendimentos pod<strong>em</strong> iniciar e terminar <strong>em</strong> gestões distintas: Alguns <strong>em</strong>preendimentos públicos, dada sua<br />

amplitu<strong>de</strong>, complexida<strong>de</strong> e, conseqüente, duração iniciam -se <strong>em</strong> uma gestão e terminam <strong>em</strong> outra, fato que v<strong>em</strong> tornar<br />

ainda mais complexas as etapas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>alização e planejamento <strong>do</strong>s <strong>em</strong>preendimentos. Como ex<strong>em</strong>plo pod<strong>em</strong>os citar<br />

algumas unida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> “Projeto Cingapura” na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo e o <strong>projeto</strong> “CIEP – Centro Integra<strong>do</strong> <strong>de</strong> Educação<br />

Pública” no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, que ultrapassaram a gestão <strong>de</strong> seus i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong>res e foram, ou pelo menos<br />

“<strong>de</strong>veriam”, ser termina<strong>do</strong>s <strong>em</strong> gestões subseqüentes.<br />

Favorecimento: Não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar neste trabalho, mesmo s<strong>em</strong> <strong>em</strong>basamento científico, a possibilida<strong>de</strong><br />

da prática <strong>de</strong> “favorecimento” no serviço público, on<strong>de</strong> muitas vezes é relega<strong>do</strong> um aspecto técnico na contratação <strong>de</strong><br />

projetistas ou mesmo <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas para execução <strong>de</strong> obras para privilegiar relações pessoais on<strong>de</strong> interesses<br />

nebulosos, às vezes, são mais fortes que a lógica, o bom senso e o interesse público.<br />

3<br />

3 – CONSIDERAÇÕES


O principal instrumento que <strong>de</strong>termina e <strong>de</strong>limita toda sist<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> contratação <strong>de</strong> obras e serviços da esfera pública<br />

e que, conseqüent<strong>em</strong>ente, acaba induzin<strong>do</strong> a <strong>de</strong>finição <strong>do</strong>s mecanismos <strong>de</strong> fiscalização e meto<strong>do</strong>logias <strong>de</strong> construção<br />

<strong>de</strong>sses <strong>em</strong>preendimentos, é a Lei 8.666.<br />

Ela, portanto, <strong>de</strong>ve ser alvo <strong>de</strong> intenso estu<strong>do</strong> para que se proponham modificações <strong>em</strong> seu conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma a<br />

possibilitar ao Esta<strong>do</strong> acompanhar, ou pelo menos minimizar, as diferenças existentes entre seu sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> concepção<br />

<strong>de</strong> obras <strong>em</strong> relação aos da iniciativa privada.<br />

Po<strong>de</strong>-se verificar que as meto<strong>do</strong>logias <strong>de</strong> contratação <strong>do</strong>s serviços na esfera pública dificultam a aplicação <strong>de</strong> diversas<br />

ferramentas <strong>de</strong> melhoria da qualida<strong>de</strong>, principalmente no que concerne ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> produtos a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s<br />

aos anseios <strong>do</strong>s clientes, face à precarieda<strong>de</strong> existente na pesquisa <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s e mesmo na coleta <strong>de</strong><br />

informações iniciais, trazen<strong>do</strong> dificulda<strong>de</strong>s para a concepção simultânea <strong>do</strong>s <strong>projeto</strong>s <strong>do</strong> produto e da produção, fato<br />

este ainda mais grave se consi<strong>de</strong>rarmos que é nesta fase que as primeiras e <strong>de</strong>cisivas características <strong>do</strong> produto são<br />

<strong>de</strong>finidas. Mesmo <strong>em</strong> relação ao processo <strong>de</strong> fiscalização e acompanhamento das obras, não se verifica a presença da<br />

equipe ou representante da etapa <strong>de</strong> <strong>projeto</strong>, tornan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ficiente o importante instrumento <strong>de</strong> melhoria contínua da<br />

ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>projeto</strong> que é a retroalimentação.<br />

A análise <strong>de</strong> quais aspectos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser muda<strong>do</strong>s, suprimi<strong>do</strong>s ou acrescenta<strong>do</strong>s na Lei <strong>de</strong> Licitações e Contratos <strong>de</strong>ve<br />

ser objeto <strong>de</strong> um estu<strong>do</strong> sist<strong>em</strong>ático, on<strong>de</strong> particip<strong>em</strong> das discussões profissionais das mais diversas áreas<br />

relaciona<strong>do</strong>s ao t<strong>em</strong>a, <strong>de</strong> forma que possamos ter um instrumento ágil, versátil e que propicie i<strong>do</strong>neida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />

processos licitatórios, garantin<strong>do</strong> ao Esta<strong>do</strong> economia e segurança na contratação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> construção civil.<br />

Em geral, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r da<strong>do</strong> <strong>projeto</strong> (obra) é sentida internamente no segmento <strong>do</strong> setor público e<br />

lá mesmo são traçadas as primeiras características funcionais e, às vezes, até físicas <strong>de</strong>ste <strong>em</strong>preendimento, o que<br />

t<strong>em</strong> limita<strong>do</strong> a gama <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s técnicas <strong>de</strong> equipes mais experientes e mais tecnologicamente capacitadas que<br />

venham a ser contratadas posteriormente.<br />

T<strong>em</strong>os também que consi<strong>de</strong>rar o fato <strong>de</strong> que os órgãos públicos já têm o hábito <strong>de</strong> trabalhar com normas e<br />

procedimentos escritos e que esta característica <strong>do</strong> seu processo administrativo contribui significativamente para a<br />

criação <strong>de</strong> novas regras e regulamentações para contratação, fiscalização e acompanhamento <strong>de</strong> <strong>projeto</strong>s e obras,<br />

po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> suprir <strong>de</strong>ficiências das Normas ABNT que tratam <strong>do</strong> assunto e que, na iniciativa privada, necessitariam <strong>de</strong> um<br />

esforço muito maior para ser<strong>em</strong> revisadas ou criadas, geran<strong>do</strong>, portanto, instrumentos que possam contribuir para a<br />

evolução das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>projeto</strong> e construção.<br />

Não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar nesta etapa <strong>do</strong> trabalho a significativa influência sobre a qualida<strong>de</strong> final <strong>do</strong>s produtos<br />

relaciona<strong>do</strong>s à construção que o mecanismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>bolso financeiro <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> possui. É necessário que se<br />

procedam modificações <strong>em</strong> sua estrutura, <strong>de</strong> forma que sejam cont<strong>em</strong>pla<strong>do</strong>s mecanismos mais mo<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> reajuste<br />

<strong>do</strong> preço <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> longa duração e mesmo sobre a prática “oficiosa” <strong>em</strong> relação aos aditivos.<br />

Também existe uma consi<strong>de</strong>rável possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ganho <strong>em</strong> qualida<strong>de</strong>, principalmente na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>projeto</strong>, se<br />

for<strong>em</strong> estudadas maneiras <strong>de</strong> permitir o acesso <strong>de</strong> pequenos especialistas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que <strong>de</strong>vidamente capacita<strong>do</strong>s para<br />

tal, ao processo licitatório, que po<strong>de</strong>rá se dar através da redução da burocracia no processo <strong>de</strong> seleção e contratação<br />

<strong>de</strong> projetistas (redução da <strong>do</strong>cumentação não ligada à capacitação técnica) e através da criação <strong>de</strong> um histórico<br />

nacional <strong>de</strong> serviços presta<strong>do</strong>s por estes projetistas aos órgãos públicos, ou mesmo aprimorar o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> histórico<br />

que já v<strong>em</strong> sen<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> pelos órgãos públicos (SICAFI – Sist<strong>em</strong>a Integra<strong>do</strong> <strong>de</strong> Cadastro <strong>de</strong> Fornece<strong>do</strong>res) para dar<br />

suporte a mais esta ativida<strong>de</strong>.<br />

Ao tratarmos <strong>de</strong> órgãos públicos, não pod<strong>em</strong>os <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar que as mudanç as, <strong>de</strong> uma forma geral, traz<strong>em</strong><br />

inquietações que instintivamente se transformam <strong>em</strong> entraves a sua implantação e <strong>de</strong>senvolvimento e que as<br />

conseqüências <strong>de</strong> qualquer atitu<strong>de</strong> são <strong>em</strong> escala significativamente maior <strong>do</strong> que <strong>em</strong> outros segmentos da socieda<strong>de</strong>.<br />

Por tal motivo, atitu<strong>de</strong>s isoladas, s<strong>em</strong> o consenso <strong>de</strong> grupos multidisciplinares e s<strong>em</strong> o aval da socieda<strong>de</strong>, pod<strong>em</strong> se<br />

transformar <strong>em</strong> mais um probl<strong>em</strong>a e não <strong>em</strong> benefícios.<br />

A maneira como o Esta<strong>do</strong> faz a gestão <strong>de</strong> seus <strong>em</strong>preendimentos, suas normas ultrapassadas e <strong>de</strong> difícil mudança<br />

apresentam um campo fértil para estu<strong>do</strong>s; portanto, pod<strong>em</strong>os concluir que exist<strong>em</strong> inúmeras possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

melhorias a ser<strong>em</strong> sugeridas, principalmente no que tange à contratação <strong>de</strong> <strong>projeto</strong>s e obras, que não foram esgotadas<br />

aqui e que merec<strong>em</strong> um aprofundamento face às possibilida<strong>de</strong>s já citadas.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

MELHADO, Silvio B. Qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>projeto</strong> na construção <strong>de</strong> edifícios: aplicação ao caso das<br />

<strong>em</strong>presas <strong>de</strong> incorporação e construção. São Paulo: EPUSP, 1994 (Tese <strong>de</strong> Doutora<strong>do</strong>).<br />

4


______. Gestão, cooperação e integração para um novo mo<strong>de</strong>lo volta<strong>do</strong> à qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

processo <strong>de</strong> <strong>projeto</strong> na construção <strong>de</strong> edifícios. São Paulo: EPUSP, 2001 (Tese <strong>de</strong> Livre-<br />

Docência).<br />

MENDES, Renato G. Lei <strong>de</strong> licitações e contratos. São Paulo: NZT Editora, 1998.<br />

OLIVEIRA, Otávio J (a). Gestão da qualida<strong>de</strong> na indústria da construção civil. São Paulo:<br />

PUC-SP, 2001 (Dissertação <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong>).<br />

______ (b). Influências <strong>do</strong> <strong>projeto</strong> <strong>de</strong> produção e <strong>do</strong> <strong>projeto</strong> <strong>de</strong> canteiro no sist<strong>em</strong>a logístico<br />

da construção <strong>de</strong> edifícios. In: Workshop Nacional: Gestão <strong>do</strong> Processo <strong>de</strong> Projeto na<br />

Construção <strong>de</strong> Edifícios. São Carlos: EESC/USP, 2001.<br />

SPF - SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL. Licitações e contratos: Lei n. 8.666/93. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Imprensa Oficial, 1993.<br />

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