Referências Bibliográficas - Nestlé
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O nascimento da Gabi foi uma<br />
experiência maravilhosa, mas<br />
também teve seus momentos<br />
difíceis. Eu sentia dor ao<br />
amamentar. Se não fosse pela<br />
Dra. Renata, eu acho que teria<br />
desistido. Foi ela quem me<br />
motivou a continuar, mostrando<br />
o quanto amamentar seria<br />
importante para a saúde da<br />
minha filha. E valeu a pena!<br />
Agora tô muito mais tranquila<br />
para o nascimento da Maria.<br />
Daniela, mãe de Gabi, futura<br />
mãe de Maria.<br />
Uma iniciativa:<br />
Consulte o seu pediatra regularmente.<br />
Saúde para o seu filho. Tranquilidade para você.
APOIOS CIENTÍFICOS<br />
Sociedade Paranaense de Pediatria<br />
Departamentos de Pediatria das Escolas Médicas do Estado do Paraná<br />
2011<br />
Publicação destinada aos Pediatras participantes do 68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Editorial<br />
CURITIBAPR<br />
Caro(a) Pediatra,<br />
É com grande prazer que realizamos o 68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em<br />
Pediatria, em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria.<br />
Este livro apresenta os resumos das aulas, com os temas deste Curso <strong>Nestlé</strong><br />
que esperamos ser de grande valia para sua atualização científica.<br />
Esperamos que você tenha acesso ao que há de mais atualizado nos temas<br />
de Pediatria e que seja de grande valia para o seu dia a dia na prática<br />
pediátrica. Consideramos de grande importância a excelência em informação<br />
e o comprometimento contínuo com os pediatras.<br />
Este é um compromisso que a <strong>Nestlé</strong> mantém há praticamente 90 anos<br />
com a Pediatria brasileira.<br />
Nós da <strong>Nestlé</strong> acreditamos que uma infância saudável é a base para uma<br />
vida saudável e que o pediatra tem papel fundamental nesta jornada. Por<br />
isto lançamos a campanha “Quem vai ao pediatra, volta tranquilo” em<br />
parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria, visando incentivar a visita<br />
frequente ao pediatra.<br />
Agradecemos a sua presença, e aos professores que tanto se dedicaram<br />
para a elaboração deste livro que você está recebendo.<br />
Desejamos que o 68º Curso <strong>Nestlé</strong> e esse livro sejam uma excelente<br />
oportunidade de cooperarmos com sua missão.<br />
Serena Aboutboul<br />
Diretora de<br />
<strong>Nestlé</strong> Nutrition
Editorial<br />
CURITIBAPR<br />
Prezados Colegas<br />
A Sociedade Brasileira de Pediatria, em parceria com a <strong>Nestlé</strong> Nutrition<br />
está entregando a cada um de vocês mais um exemplar do livro sobre<br />
atualizações pediátricas, que serão apresentadas durante o 68º Curso <strong>Nestlé</strong><br />
de Atualização em Pediatria.<br />
Este ano o curso contará com 14 mesas redondas, seguidas de colóquios.<br />
O temário versará sobre as áreas de Neonatologia, Gastroenterologia e Nutrologia.<br />
Como sempre a defesa profissional não poderia estar de fora de evento tão<br />
grandioso, discutindo temas: “Quem determina o valor do Pediatra”?, “Onde<br />
estão os Pediatras”, e “Duração da Residência Médica – Mais é melhor?”.<br />
Os cuidados com o prematuro suas infecções e as implicações nutricionais<br />
estarão presentes. Terão destaques em Gastroenterologia, o Refluxo<br />
Gastroesofágico, Constipação, Diarreias e Alergia à Proteína do Leite de Vaca.<br />
A Nutrição como pilar no Crescimento e Desenvolvimento do indivíduo<br />
estará presente, com ênfase na alimentação saudável.<br />
Este trabalho contou com a participação de excelentes professores associados<br />
da SBP, em especial dos participantes dos Departamentos Científicos<br />
de Neonatologia, Nutrologia e Gastroenterologia.<br />
Destacamos o empenho da Diretoria de Cursos e Eventos e Promoções<br />
da SBP e da Diretoria de Departamentos Científicos.<br />
Agradecemos especialmente à Sociedade Paranaense de Pediatria através<br />
de seus Departamentos Científicos e Diretoria.<br />
Aproveitem o Curso e a cidade de Curitiba.<br />
Um abraço fraterno a cada um de vocês Pediatras Brasileiros.<br />
Eduardo da Silva Vaz<br />
Presidente<br />
da Sociedade Brasileira de Pediatria
Índice<br />
Diretorias - Sociedade Brasileira de Pediatria e<br />
Sociedade Paranaense de Pediatria ..................................................................................................... 8<br />
Organização ........................................................................................................................................................... 13<br />
Programa Científico ............................................................................................................................................... 15<br />
Titulação dos Professores ...................................................................................................................................... 21<br />
Resumos ................................................................................................................................................................. 25<br />
Conferência de Abertura<br />
Investimento na primeira infância: estratégia para a evolução da sociedade ................................................... 27<br />
Refluxo Gastroesofágico<br />
Considerações sobre o Refluxo Gastroesofágico e a Doença do Refluxo Gastroesofágico no paciente pediátrico ... 29<br />
Doença do Refluxo Gastroesofágico – Exames subsidiários – quais são, quando solicitar, como interpretar? ...... 33<br />
Tratamento da Doença do Refluxo Gastroesofágico ............................................................................................ 37<br />
Constipação Crônica<br />
Diagnósticos diferenciais ........................................................................................................................................ 41<br />
Exames subsidiários – Quais são, quando solicitar, como interpretar ................................................................ 45<br />
Como tratar ............................................................................................................................................................ 50<br />
Gastroenterologia Clínica<br />
Alergia à proteína do leite de vaca – Quando suspeitar ...................................................................................... 57<br />
Intolerância à lactose ............................................................................................................................................ 59<br />
Hepatites virais agudas - Interpretando os marcadores ....................................................................................... 62<br />
Diarreia Aguda<br />
Rotavírus ................................................................................................................................................................ 69<br />
Norovírus ................................................................................................................................................................ 71<br />
Diarreia aguda ....................................................................................................................................................... 73<br />
O Papel da Alimentação Saudável<br />
Programação metabólica ...................................................................................................................................... 79<br />
Aleitamento materno/alimentação saudável ....................................................................................................... 83<br />
Suplementos Nutricionais ..................................................................................................................................... 88<br />
Nutrologia Clínica<br />
Avaliação Nutricional em Pediatria ...................................................................................................................... 91<br />
Curvas OMS e referenciais ..................................................................................................................................... 92<br />
Terapia nutricional para o desnutrido .................................................................................................................. 95<br />
6 68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Índice<br />
CURITIBAPR<br />
Da Prevenção ao Diagnóstico: como proceder?<br />
Fome oculta ......................................................................................................................................................... 101<br />
Alergia alimentar ................................................................................................................................................. 107<br />
Obesidade na infância e adolescência ................................................................................................................ 109<br />
Desafios da pediatria<br />
Quem determina o valor do pediatra? ................................................................................................................. 113<br />
Onde estão os pediatras? ..................................................................................................................................... 115<br />
Dislipidemias<br />
Dislipidemias fatores de risco e prevenção ....................................................................................................... 121<br />
Diagnóstico em Dislipidemia ............................................................................................................................. 123<br />
Tratamento Nutricional e Medicamentoso das Dislipidemias .......................................................................... 127<br />
Situações frequentes em neonatologia<br />
Uso do surfactante no recém-nascido ................................................................................................................ 131<br />
Líquido amniótico meconial em sala de parto - Conduta ................................................................................. 132<br />
Taquipneia transitória do recém-nascido ........................................................................................................... 135<br />
Manejo inicial na UTI Neonatal<br />
CPAP nasal: quando usar? ................................................................................................................................... 137<br />
Sepse neonatal – Diagnóstico e tratamento ....................................................................................................... 140<br />
Indicação de fototerapia – Criança a termo e prematuro ................................................................................. 143<br />
Alimentando o prematuro<br />
Alimentação enteral do prematuro .................................................................................................................... 149<br />
Hidratação venosa no prematuro – Necessidades hídricas e eletrolíticas ........................................................ 153<br />
Alimentação enteral do prematuro após a alta ................................................................................................. 158<br />
Infecções congênitas – Diagnóstico, tratamento e prognóstico<br />
Sífilis Congênita Diagnóstico-Tratamento e Prognóstico ................................................................................... 163<br />
Citomegalovírus ................................................................................................................................................... 167<br />
Toxoplasmose Congênita ..................................................................................................................................... 170<br />
Planejando o futuro<br />
A importância da orientação nutricional - Quando e como introduzir alimentos novos ................................ 175<br />
Transição nutricional ........................................................................................................................................... 178<br />
O crescimento pós-alta do prematuro. Quais os riscos? ..................................................................................... 180<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
7
Diretoria<br />
Sociedade Brasileira de Pediatria<br />
(Triênio 2010/2012)<br />
EDUARDO DA SILVA VAZ - RJ<br />
Presidente<br />
FÁBIO ANCONA LOPEZ - SP<br />
1º Vice-Presidente<br />
JOEL ALVES LAMOUNIER - MG<br />
2º Vice-Presidente<br />
MARILENE AUGUSTA R. CRISPINO SANTOS - RJ<br />
Secretária Geral<br />
SIDNEI FERREIRA - RJ<br />
1º Secretário<br />
MÁRCIA GARCIA ALVES GALVÃO - RJ<br />
2ª Secretária<br />
CARLOS EDUARDO NERY PAES - RS<br />
3º Secretário<br />
MARIA MARTA REGAL DE LIMA TORTORI - RJ<br />
Diretora Financeira<br />
LEDA AMAR DE AQUINO - RJ<br />
2ª Diretora Financeira<br />
DENISE GARCIA F MACHADO E SILVA - RJ<br />
3ª Diretora Financeira<br />
Assessorias da Presidência<br />
DIOCLÉCIO CAMPOS JÚNIOR - DF<br />
Assessoria para Assuntos Parlamentares<br />
ELIANE MARA CESÁRIO PEREIRA - PR<br />
Assessoria de Saúde Ambiental<br />
CARLOS EDUARDO NERY PAES - RS<br />
Assessoria de Políticas Públicas<br />
AMIRA CONSUELO DE MELO FIGUEIRAS - PA<br />
Assessoria de Políticas Públicas – Crianças e Adolescentes<br />
com Deficiência<br />
LUCIANO BORGES SANTIAGO - MG<br />
MARIBEL NAZARÉ SMITH NEVES - AP<br />
PAULO EDUARDO DE ARAÚJO IMAMURA - SP<br />
VALDENISE MARTINS LAURINDO CALIL - SP<br />
Assessoria de Acompanhamento da Licença Maternidade<br />
NEY MARQUES FONSECA - RN<br />
Assessoria para Assuntos Estratégicos<br />
MARIA DE LOURDES FONSECA VIEIRA - AL<br />
Assessoria de Legislação Escolar<br />
ELIANE DE SOUZA - MG<br />
MARIÂNGELA MEDEIROS BARBOSA - PB<br />
Assessoria de Apoio às Filiadas<br />
RACHEL NISKIER SANCHEZ - RJ<br />
Assessoria para Campanhas<br />
CONSUELO SILVA DE OLIVEIRA - PA<br />
Assessoria para Assuntos da Região Norte<br />
HENRIQUE FERREIRA DANTAS - PE<br />
Assessoria para Assuntos da Região Nordeste<br />
JOÃO SERAFIM FILHO - GO<br />
Assessoria para Assuntos da Região Centro-Oeste<br />
VALMIN RAMOS DA SILVA - ES<br />
Assessoria para Assuntos da Região Sudeste<br />
MARIA MARLENE DE SOUZA PIRES - SC<br />
Assessoria para Assuntos da Região Sul<br />
Diretorias e Coordenações<br />
DIRETORIA DE QUALIFICAÇÃO<br />
E CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAIS<br />
MARIA MARLUCE VILELA - SP<br />
HÉLCIO VILLAÇA SIMÕES - RJ<br />
Coordenação do CEXTEP<br />
ANGELA MARIA SPÍNDOLA CASTRO - SP<br />
WELLINGTON BORGES - DF<br />
Coordenação de Áreas de Atuação<br />
MITSURU MIYAKI - PR<br />
Coordenação de Certificação Profissional<br />
DIRETORIA DE RELAÇÕES<br />
INTERNACIONAIS<br />
FERNANDO JOSÉ DE NÓBREGA - SP<br />
DIOCLÉCIO CAMPOS JÚNIOR - DF<br />
Representante na International Pediatric Association (IPA)<br />
NEY MARQUES FONSECA - RN<br />
Representante na Academia Americana de Pediatria (AAP)<br />
VERA REGINA FERNANDES - SC<br />
Representante do MERCOSUL<br />
8 68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Diretoria<br />
CURITIBAPR<br />
Sociedade Brasileira de Pediatria<br />
(Triênio 2010/2012)<br />
DIRETORIA DE DEFESA PROFISSIONAL<br />
MILTON MACEDO DE JESUS - PR<br />
CARLINDO DE SOUZA MACHADO S. FILHO - RJ<br />
Diretoria-Adjunta de Defesa Profissional<br />
COORDENAÇÃO VIGILASUS<br />
DENNIS ALEXANDER BURNS - DF<br />
FERNANDO DE CASTRO BARREIRO - BA<br />
Secretário<br />
CORINA MARIA NINA BATISTA - AM<br />
ÉRICO JOSÉ FAUSTINI - RS<br />
EUZE MÁRCIO SOUZA CARVALHO - MT<br />
JORGE HARADA - SP<br />
NYMPHA CARMEN AKEL SALOMÃO - RR<br />
VILMA FRANCISCA HUTIM SOUZA - PA<br />
DIOCLÉCIO CAMPOS JÚNIOR - DF<br />
EDSON FERREIRA LIBERAL - RJ<br />
MARILENE AUGUSTA R. CRISPINO SANTOS - RJ<br />
GIL SIMÕES BATISTA - RJ<br />
Membros<br />
COORDENAÇÃO DE SAÚDE SUPLEMENTAR<br />
MARIO LAVORATO DA ROCHA - MG<br />
ADRIANA MARIA GURGEL MAIA - CE<br />
Secretária<br />
SIDNEI FERREIRA - RJ<br />
SILO TADEU CAVALCANTI - PE<br />
PAULO TADEU FALANGHE - SP<br />
JOAO BATISTA SALOMÃO - SP<br />
GILCA DE CARVALHO GOMES - PB<br />
REGINA LUCIA PORTELA DINIZ - CE<br />
MARIO TIRONI JUNIOR - ES<br />
MARCELO PAVESE PORTO - RS<br />
Membros<br />
JOSÉ PAULO VASCONCELLOS FERREIRA - RS<br />
MARIA NAZARETH RAMOS SILVA - RJ<br />
MÁRIO LAVORATO DA ROCHA - MG<br />
REGINA MARIA SANTOS MARQUES - GO<br />
Coordenação do Programa de Gestão de Consultório<br />
Diretoria dos Departamentos<br />
Científicos e Coordenação de<br />
Documentos Científicos<br />
DENNIS ALEXANDER R. BURNS - DF<br />
JOSÉ SABINO DE OLIVEIRA - MG<br />
Diretoria-Adjunta dos Departamentos Científicos<br />
Diretoria de Cursos,<br />
Eventos e Promoções<br />
ERCIO AMARO DE OLIVEIRA FILHO - RS<br />
LUIZ ANDERSON LOPES - SP<br />
Coordenação de Congressos e Simpósios<br />
EDMAR DE AZAMBUJA SALLES - MS<br />
FERNANDO ANTONIO DE CASTRO BARREIRO - BA<br />
Coordenação dos CIRAPS<br />
LUIZ FERNANDO LOCH - RS<br />
PAULO ROBERTO ANTONACCI CARVALHO - RS<br />
Coordenação dos Programas de Reanimação Pediátrica<br />
MARIA FERNANDA BRANCO DE ALMEIDA - SP<br />
RUTH GUINSBURG - SP<br />
Coordenação dos Programas de Reanimação Neonatal<br />
VALÉRIA BEZERRA SILVA LUNA - PE<br />
Coordenação do Suporte Básico de Vida<br />
RITA DE CÁSSIA SILVEIRA - RS<br />
Coordenação do Centro de Informação Científica<br />
Programa de Atualização Continuada à Distância<br />
EDUARDO JAEGER - RS<br />
Coordenação do Centro de Informação Científica<br />
Portal SBP<br />
JOEL ALVES LAMOUNIER - MG<br />
JOSÉ SABINO DE OLIVEIRA - MG<br />
PAULO CESAR PINHO RIBEIRO - MG<br />
Editores da Revista SBP Ciência<br />
FERNANDA LUISA CERAGIOLI OLIVEIRA - SP<br />
Coordenação do PRONAP<br />
ROSELI OSELKA SACCARDO SARNI - SP<br />
Coordenação do Programa de Atualização em Nutrologia<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
9
Diretoria<br />
Sociedade Brasileira de Pediatria<br />
(Triênio 2010/2012)<br />
Diretoria de Ensino<br />
e Pesquisa<br />
SANDRA JOSEFINA FERRAZ GRISI - SP<br />
MAURO BATISTA DE MORAIS - SP<br />
RICARDO QUEIROZ GURGEL - SE<br />
Coordenação de Pesquisa<br />
VIRGÍNIA RESENDE SILVA WEFFORT - MG<br />
Coordenação de Graduação<br />
RITA DE CÁSSIA SILVEIRA - RS<br />
Coordenação-Adjunta de Graduação<br />
EDUARDO JORGE DA FONSECA LIMA - PE<br />
RENATA DEJTIAR WAKSMAN - SP<br />
Coordenação de Pós Graduação<br />
VERA LUCIA VILAR DE ARAÚJO BEZERRA - DF<br />
Coordenação de Residência e Estágios em Pediatria<br />
GIL SIMÕES BATISTA - RJ<br />
Coordenação-Adjunta de Residência e Estágios em Pediatria<br />
LUCIANA RODRIGUES SILVA - BA<br />
Coordenação de Doutrina Pediátrica<br />
IZILDA DAS EIRAS TAMEGA - SP<br />
Coordenação das Ligas dos Estudantes<br />
Diretoria de Publicações<br />
DANILO BLANK - RS<br />
Diretoria de Benefícios<br />
e Previdência<br />
ANA MARIA RAMOS - ES<br />
Comissão de Sindicância<br />
TITULARES:<br />
ANGELA MARINHO BARRETO FONTES - SE<br />
ARISTIDES SCHIER DA CRUZ - PR<br />
CORINA MARIA NINA V. BATISTA - AM<br />
SILO TADEU HOLANDA CAVALCANTI - PE<br />
TERESA CRISTINA MAIA DOS SANTOS - AC<br />
SUPLENTES:<br />
ANTONIO DA SILVA MACEDO - PI<br />
CLÁUDIO DE REZENDE ARAÚJO - MA<br />
HÉLIO HERMENEGILDO MAUÉS - TO<br />
ROBSON JORGE BEZERRA - RO<br />
ROSANE COSTA GOMES - RN<br />
Conselho Fiscal<br />
ALBERTO CUBEL BRULL JUNIOR - MS<br />
Presidente<br />
GILCA DE CARVALHO GOMES - PB<br />
Vice-Presidente<br />
CLÓVIS FRANCISCO CONSTANTINO - SP<br />
Secretário<br />
EDITOR DO JPED<br />
RENATO PROCIANOY - RS<br />
ACADEMIA BRASILEIRA DE PEDIATRIA<br />
FERNANDO JOSÉ DE NÓBREGA - SP<br />
Presidente<br />
JOSÉ DIAS REGO - RJ<br />
Secretário Geral<br />
Diretoria de Patrimônio<br />
SHEILA SOUZA MUNIZ TAVARES - RJ<br />
10 68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Diretoria<br />
CURITIBAPR<br />
Sociedade Paranaense de Pediatria<br />
(Triênio 2010/2012)<br />
DARCI VIEIRA DA SILVA BONETTO<br />
Presidente<br />
ARISTIDES SCHIER DA CRUZ<br />
Presidente de Honra<br />
MITSURU MIYAKI<br />
1º Vice Presidente<br />
SÉRGIO ANTONIUK<br />
2º Vice Presidente<br />
KENNEDY LONG SCHISLER<br />
3º Vice Presidente<br />
JOSÉ CARLOS AMADOR<br />
4º Vice Presidente<br />
TONY TANNOUS TAHAN<br />
Secretário Geral<br />
CRISTINA RODRIGUES DA CRUZ<br />
1º Secretário<br />
RENATO TAMEHIRO<br />
2º Secretário<br />
TESOURARIA<br />
GILBERTO PASCOLAT<br />
1º Tesoureiro<br />
ELIANE MARA CESÁRIO PEREIRA MALUF<br />
2º Tesoureiro<br />
CONSELHO FISCAL<br />
ARISTIDES SCHIER DA CRUZ<br />
DIETHER H. GARBERS<br />
DONIZETTI DIMER GIAMBERARDINO FILHO<br />
ELIANE MARA CESÁRIO PEREIRA MALUF<br />
NELSON AUGUSTO ROSÁRIO FILHO<br />
COMISSÃO DE SINDICÂNCIA<br />
ALLÉSSIO FIORI SANDRI JUNIOR<br />
GILBERTO SACILOTO<br />
MÁRIO CÉSAR VIEIRA<br />
MILTON MACEDO DE JESUS<br />
REGINA PAULA GUIMARÃES V. CAVALCANTE DA SILVA<br />
WILMA SUELY RIBEIRO REQUE<br />
CONSELHO CONSULTIVO<br />
ANTONIO CARLOS SANSEVERINO FILHOCARLOS<br />
FREDERICO OLDENBURG NETO<br />
CLAUDETE TEIXEIRA K. CLOSS<br />
GERALDO MIRANDA GRAÇA FILHO<br />
ROSANGELA DE FATIMA I. GARBERS<br />
VÂNIA OLIVEIRA DE CARVALHO<br />
VITOR COSTA PALAZZO<br />
DIRETORIA DE DEFESA PROFISSIONAL<br />
ARMANDO SALVATIERRA BARROSO<br />
Coordenador<br />
ÁLVARO LUIZ DE OLIVEIRA<br />
ANTONIO CARLOS SANSEVERINO FILHO<br />
LUIZ ERNESTO PUJOL<br />
MARIO MARCONDES MARQUES JUNIOR<br />
MARISTELA GOMES GONÇALVES<br />
GREGOR PAULO CHERMIKOSKI SANTOS<br />
DIRETORIA DE PATRIMÔNIO<br />
MARCELO HENRIQUE DE ALMEIDA<br />
DIRETORIA DE INFORMÁTICA<br />
DORIVAM CELSO NOGUEIRA<br />
DIRETORIA DE EVENTOS CIENTÍFICOS<br />
ROSANE CRISTINA VIANA MINGOT<br />
Coordenadora<br />
DU SU YING<br />
JULIO CESAR PEREIRA DIAS<br />
KERSTIN TANIGUCHI ABAGGE<br />
MARCOS ANTONIO DA SILVA CRISTOVAM<br />
SÉRGIO FUJIMURA<br />
TSUKIO OBU KAMOI<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
11
Diretoria<br />
Sociedade Paranaense de Pediatria<br />
(Triênio 2010/2012)<br />
COMISSÃO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA<br />
WILMAR MENDONÇA GUIMARÃES<br />
Coordenador<br />
CAMILO ANTONIO DE LIMA<br />
LIGIA SILVANA LOPES FERRARI<br />
LUCIO ESTEVES JUNIOR<br />
MARCOS ANTONIO DA SILVA CRISTOVAM<br />
MARGARIDA DE FÁTIMA FERNANDES CARVALHO<br />
DEPARTAMENTO DE RESIDÊNCIA<br />
PAULO BRENO NORONHA LIBERALESSO<br />
Coordenador<br />
ADRIANA CHASSOT BRESOLIN<br />
ANGELA SARA JAMUSSE DE BRITO<br />
GILBERTO PASCOLAT<br />
LUCIO ESTEVE JUNIOR<br />
REGINA PAULA GUIMARÃES VIEIRA<br />
SANDRA LANGE ZAPONE MELEK<br />
GRUPO DE TRABALHO DA DOR<br />
LUCIANE CRISTINE OLIVEIRA VALDEZ<br />
GRUPO DE TRABALHO MEIO AMBIENTE<br />
DARCI VIEIRA DA SILVA BONETTO<br />
DENISE SIQUEIRA DE CARVALHO<br />
ELIANE MARA CESÁRIO PEREIRA MALUF<br />
OUVIDORIA<br />
LUIZ ERNESTO PUJOL<br />
COMITÊ ASSESSOR DE TRABALHOS<br />
INTERINSTITUCIONAIS<br />
ANA LUCIA FIGUEIREDO SARQUIS<br />
IOLANDA MARIA NOVADZKI<br />
LENIRA MARIA SMANHOTTO FACIN<br />
SANDRA LUCIA SCHULER<br />
12 68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Organização<br />
CURITIBAPR<br />
SERENA ABOUTBOUL<br />
ANDREA OLIVEIRA<br />
CLAUDIA THURING<br />
CLAUDIO NUNES<br />
CRISTIANE ROCHA<br />
ELIEZER GONZALEZ<br />
EVELIZE PEREIRA<br />
FERNANDA SYUFFI<br />
FABIOLA COTRIM<br />
GABRIELA SANZ<br />
IRINEU ZETTEL<br />
KARINA NEGRO<br />
LUIZ ALEXANDRE OLIVEIRA<br />
MARIA JOSE LEITE DE BARROS<br />
RICARDO MOREIRA<br />
ROBERTA PORTES<br />
ROBERTO SATO<br />
ROBSON SANTOS<br />
RUBENS FABEL<br />
IONAH KOCHEN<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
13
Programa<br />
Científico
Programa Científico<br />
CURITIBAPR<br />
17/05/2011<br />
Terça-feira<br />
Manhã<br />
Tarde<br />
das 8h00<br />
às 9h30<br />
das 9h30<br />
às 10h30<br />
das 10h30<br />
às 11h30<br />
das 11h30<br />
às 12h00<br />
das 12h00<br />
às 14h00<br />
Retirada de material<br />
Abertura Solene<br />
Conferência de Abertura<br />
Investimento na primeira<br />
infância: estratégia para<br />
a evolução da sociedade<br />
Presidente: Fernando José de Nóbrega (SP)<br />
Palestrante: Dioclécio Campos Júnior (DF)<br />
Sessão de perguntas<br />
Momento <strong>Nestlé</strong><br />
Delícias do Sul<br />
das 14h00<br />
às 15h00<br />
das 15h00<br />
às 16h00<br />
das 16h00<br />
às 16h30<br />
das 16h30<br />
às 17h30<br />
Mesa Redonda<br />
Refluxo Gastroesofágico<br />
Presidente: Vera Lucia Sdepanian (SP)<br />
1. Fisiológico ou doença –<br />
Como diferenciar<br />
Luciana Rodrigues Silva (BA)<br />
2. Exames subsidiários – Quais são,<br />
quando solicitar, como interpretar<br />
Cristina Targa Ferreira (RS)<br />
3. Como tratar<br />
Mauro Sergio Toporovski (SP)<br />
Colóquio<br />
Intervalo<br />
Mesa Redonda<br />
Constipação Crônica<br />
Presidente: Elizete Aparecida Lomazi<br />
da Costa Pinto (SP)<br />
1. Diagnósticos diferenciais<br />
Aristides Schier da Cruz (PR)<br />
2. Exames subsidiários – Quais são,<br />
quando solicitar, como interpretar<br />
Rosane Costa Gomes (RN)<br />
3. Como tratar<br />
Elisa de Carvalho (DF)<br />
das 17h30<br />
às 18h30<br />
Colóquio<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
17
Programa Científico<br />
CURITIBAPR<br />
18/05/2011<br />
Quarta-feira<br />
Manhã<br />
Tarde<br />
das 8h00<br />
às 9h00<br />
das 9h00<br />
às 10h00<br />
das 10h00<br />
às 10h30<br />
das 10h30<br />
às 11h30<br />
Mesa Redonda<br />
Gastroenterologia Clínica<br />
Presidente: Elisa de Carvalho (DF)<br />
1. Alergia à proteína do leite de vaca<br />
– Quando suspeitar<br />
Mario César Vieira (PR)<br />
2. Intolerância à lactose –<br />
Quando suspeitar<br />
Sheila Nogueira Percope Rodrigues<br />
Guerra (RJ)<br />
3. Hepatites virais agudas –<br />
Interpretando os marcadores<br />
Gilda Porta (SP)<br />
Colóquio<br />
Intervalo<br />
Mesa Redonda<br />
Diarreia Aguda<br />
Presidente: Vanessa Liberalesso (PR)<br />
1. Rotavírus<br />
Rosa Helena Porto Gusmao (PA)<br />
2. Norovírus<br />
Giselia Alves Pontes Da Silva (PE)<br />
3. Como tratar<br />
Sandra Lúcia Schüler (PR)<br />
das 14h00<br />
às 15h00<br />
das 15h00<br />
às 16h00<br />
das 16h00<br />
às 16h30<br />
das 16h30<br />
às 17h30<br />
Mesa Redonda<br />
O papel da alimentação<br />
saudável<br />
Presidente: Virgínia Resende Silva Weffort (MG)<br />
1. Programação metabólica<br />
Roseli Oselka Saccardo Sarni (SP)<br />
2. Leite materno e alimentação<br />
saudável<br />
Severino Dantas Filho (ES)<br />
3. Suplementos nutricionais<br />
Maria Marlene de Souza Pires (SC)<br />
Colóquio<br />
Intervalo<br />
Mesa Redonda<br />
Nutrologia Clínica<br />
Presidente: Jocemara Gurmini (PR)<br />
1. Avaliação nutricional<br />
Luiz Anderson Lopes (SP)<br />
2. Curvas OMS e referenciais<br />
Marileise dos Santos Obelar (SC)<br />
3. Terapia nutricional para<br />
o desnutrido<br />
Valmin Ramos da Silva (ES)<br />
das 11h30<br />
às 12h30<br />
Colóquio<br />
das 17h30<br />
às 18h30<br />
Colóquio<br />
das 12h30<br />
às 14h00<br />
Almoço<br />
18 68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Programa Científico<br />
CURITIBAPR<br />
19/05/2011<br />
Quinta-feira<br />
Manhã<br />
Tarde<br />
das 8h00<br />
às 9h00<br />
das 9h00<br />
às 10h00<br />
das 10h00<br />
às 10h30<br />
das 10h30<br />
às 11h30<br />
Mesa Redonda<br />
Da Prevenção ao<br />
Diagnóstico: como<br />
proceder?<br />
Presidente: Dennis Alexander R. Burns (DF)<br />
1. Fome oculta<br />
Junaura Rocha Barreto (BA)<br />
2. Alergia alimentar<br />
Monica Lisboa Chang Wayhs (SC)<br />
3. Obesidade na infância<br />
e adolescência<br />
Elza Daniel de Mello (RS)<br />
Colóquio<br />
Intervalo<br />
Mesa Redonda<br />
Desafios da pediatria<br />
Presidente: Ercio Amaro de Oliveira Filho (RS)<br />
1. Quem determina o valor<br />
do pediatra?<br />
Milton Macedo de Jesus (PR)<br />
2. Onde estão os pediatras?<br />
Eduardo da Silva Vaz (RJ)<br />
3. Duração da residência –<br />
Mais é melhor?<br />
Sandra Josefina Ferraz Ellero Grisi (SP)<br />
das 14h00<br />
às 15h00<br />
das 15h00<br />
às 16h00<br />
das 16h00<br />
às 16h30<br />
das 16h30<br />
às 17h30<br />
Mesa Redonda<br />
Dislipidemias<br />
Presidente: Fabíola Isabel Suano de Souza (SP)<br />
1. Fatores de risco e prevenção<br />
Izaura Merola Faria (PR)<br />
2. Diagnóstico<br />
Fernanda Luisa Ceragioli Oliveira (SP)<br />
3. Tratamento nutricional<br />
e medicamentoso<br />
Maria Arlete Meil Schimith Escrivão (SP)<br />
Colóquio<br />
Intervalo<br />
Mesa Redonda<br />
Situações frequentes<br />
em neonatologia<br />
Presidente: Renato Soibelmann Procianoy (RS)<br />
1. Uso do surfactante<br />
no recém-nascido<br />
Rosângela Garbers (PR)<br />
2. Líquido amniótico meconial<br />
em sala de parto – Conduta<br />
Leila Denise Cesario Pereira (SC)<br />
3. Taquipnéia transitória do<br />
recém-nascido – Diagnóstico e manejo<br />
Durval Batista Palhares (MS)<br />
das 11h30<br />
às 12h30<br />
Colóquio<br />
das 17h30<br />
às 18h30<br />
Colóquio<br />
das 12h30<br />
às 14h00<br />
Almoço<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
19
Programa Científico<br />
CURITIBAPR<br />
20/05/2011<br />
Sexta-feira<br />
Manhã<br />
Tarde<br />
das 8h00<br />
às 9h00<br />
Mesa Redonda<br />
Manejo inicial na UTI<br />
Neonatal<br />
Presidente: Wilmar Guimarães (PR)<br />
1. CPAP nasal - Quando usar<br />
Eliana Kuchpill Branco (PR)<br />
2. Sepse neonatal –<br />
Diagnóstico e tratamento<br />
Mitsuru Miyaki (PR)<br />
3. Indicação de fototerapia –<br />
Criança a termo e prematuro<br />
Maria Fernanda Branco de Almeida (SP)<br />
das 14h00<br />
às 15h00<br />
Mesa Redonda<br />
Infecções congênitas –<br />
Diagnóstico, tratamento<br />
e prognóstico<br />
Presidente: Fábio de Araújo Motta (PR)<br />
1. Lues<br />
Lícia Maria Oliveira Moreira (BA)<br />
2. Citomegalovirus<br />
Heloisa Ihle Garcia Giamberardino (PR)<br />
3. Toxoplasmose<br />
Manoel Reginaldo Rocha de Holanda (RN)<br />
das 9h00<br />
às 10h00<br />
Colóquio<br />
das 15h00<br />
às 16h00<br />
Colóquio<br />
das 10h00<br />
às 10h30<br />
Intervalo<br />
das 16h00<br />
às 16h30<br />
Intervalo<br />
das 10h30<br />
às 11h30<br />
das 11h30<br />
às 12h30<br />
das 12h30<br />
às 14h00<br />
Mesa Redonda<br />
Alimentando o prematuro<br />
Presidente: Gislayne Castro e Souza Nieto (PR)<br />
1. Alimentação enteral do prematuro<br />
Ligia Maria Suppo de Souza Rugolo (SP)<br />
2. Hidratação venosa do prematuro –<br />
Necessidades hídricas e eletrolíticas<br />
Evanguelia Athanasio Shwetz (PR)<br />
3. Alimentação enteral do prematuro<br />
após a alta<br />
Rita de Cássia Silveira (RS)<br />
Colóquio<br />
Almoço<br />
das 16h30<br />
às 17h30<br />
das 17h30<br />
às 18h30<br />
Mesa Redonda<br />
Planejando o futuro<br />
Presidente: Eduardo da Silva Vaz (RJ)<br />
1. A importância da orientação<br />
nutricional – Quando e como<br />
introduzir alimentos novos<br />
Virgínia Resende Silva Weffort (MG)<br />
2. Transição Nutricional –<br />
A facilidade tem um preço?<br />
Vera Lucia Sdepanian (SP)<br />
3. O crescimento pós-alta do<br />
prematuro. Quais os riscos?<br />
Renato Soibelmann Procianoy (RS)<br />
Colóquio<br />
20 68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Professores<br />
CURITIBAPR<br />
Aristides Schier da Cruz<br />
Professor Adjunto da Disciplina de Pediatria da Faculdade<br />
Evangélica do Paraná<br />
Especialista em Pediatria com área de atuação em<br />
Gastroenterologia Pediátrica<br />
Presidente de honra da Sociedade Paranaense de Pediatria<br />
Cristina Targa Ferreira<br />
Gastroenterologista / Endocopista Pediátrica do HCPA, HMV e IAD<br />
de Poa - Rs<br />
Mestre em Hepatologia<br />
Doutora em Gastroenterologia pela UFRGS<br />
Professora Convidada da Universidade McGuill no Canadá<br />
Membro do Dpto Bras de Gastro Ped da SBP<br />
Dennis Alexander R Burns<br />
Médico do Setor de Alergia – Unidade de Pediatria – Hospital<br />
Universitário de Brasília<br />
Preceptor de Residência em Pediatria - Hospital Universitário de Brasília<br />
Diretor da Sociedade Brasileira de Pediatria<br />
Dioclécio Campos Júnior<br />
Professor Titular de Pediatria da Universidade de Brasília (Unb)<br />
Chefe do Centro de Clínicas Pediátricas do Hospital Universitário<br />
Formado pela Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro<br />
Doutor em Pediatria pela Université Libre de Bruxelles<br />
Foi Coordenador Nacional do Programa de Assistência Integral<br />
à Saúde da Criança do Ministério da Saúde de 1985 a 1987 e<br />
Secretário Executivo do Ministério da Saúde de 1993 a 1995<br />
Durval Batista Palhares<br />
Graduação: Universidade Federal do Paraná,<br />
Residência em Pediatria - Hospital das Clínicas da UFPR<br />
(Universidade Federal Paraná),<br />
Mestrado e Doutorado na Faculdade de Medicina da USP/<br />
Ribeirão Preto<br />
Pós Doutorado - (Raibon Babies Childrens Hospital - CWRV-Clevand/<br />
Ohio/USA<br />
Prof Titular de Pediatria da UFMS<br />
Eduardo da Silva Vaz<br />
Presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria<br />
Eliana Kuchpill Branco<br />
Pediatra Neonatologista<br />
Membro do Departamento de Neonatologia da Soc Paranaense<br />
de Pediatria (SPP)<br />
Chefe da UTI Neonatal do HNS das Graças - Curitiba - PR<br />
Elisa de Carvalho<br />
Doutora em Ciências da Saúde (Área de Concentração: Pediatria)<br />
Coordenadora da Residência de Gastroenterologia Pediátrica - HBDF<br />
Chefe da Pediatria do Hospital de Base do DF<br />
Elizete Aparecida Lomazi da Costa Pinto<br />
Professora Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente pela<br />
Universidade Estadual de Campinas, atua no Departamento de<br />
Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, no Setor<br />
de Gastroenterologia Pediátrica<br />
Pesquisadora em Motilidade Intestinal e Coordenadora do<br />
Laboratório de Investigação em Gastropediatria do Hospital de<br />
Clínicas da Unicamp<br />
Elza Daniel de Mello<br />
Gastropediatra e Nutróloga<br />
Doutora em Pediatria<br />
Professora de Pediatria na UFRGS<br />
Ercio Amaro de Oliveira Filho<br />
Médico Pediatra e Neonatologista pela SBP,<br />
Mestre em Pediatria pela UFRGS,<br />
Chefe da UTI Neonatal do Hospital Mãe de Deus - Porto Alegre<br />
Evanguelia Athanasio Shwetz<br />
Responsável pela Serviço de Neonatologia e UTI Neonatal do<br />
Hospital Universitário Evangélico de Curitiba<br />
Professora de Pediatria do Curso de Medicina da Faculdade<br />
Evangélica da Paraná<br />
Fábio de Araújo Motta<br />
Pediatra, Médico do Serviço de Epidemiologia e Controle de<br />
Infecção Hospitalar do Hospital Pequeno Príncipe<br />
Vice Coordenador do Núcleo de Pesquisa Clínica do Hospital<br />
Pequenopríncipe; Consultor em Gestão da Qualidade<br />
Fabíola Isabel Suano de Souza<br />
Médica do Serviço de Nutrologia do Departamento de Pediatria da<br />
Faculdade de Medicina do ABC<br />
Fernanda Luisa Ceragioli Oliveira<br />
Doutora em Pediatria - Departamento de Pediatria UNIFESP/EPM<br />
Chefe do Setor de Suporte Nutricional da Disciplina de Nutrologia<br />
Pediátrica do Departamento de Pediatria da UNIFESP/EPM<br />
Assessora do Núcleo de Nutrição do Instituto de Ensino e Pesquisa<br />
(IEP) do Hospital Israelita Albert Einstein<br />
Vice Presidente do Departamento de Nutrologia da Sociedade de<br />
Pediatria de São Paulo<br />
Membro Participante do do Departamento de Nutrologia da<br />
Sociedade Brasileira de Pediatria<br />
Fernando José de Nóbrega<br />
Professor Titular de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo<br />
- Escola Paulista de Medicina (Aposentado)<br />
Presidente da Academia Brasileira de Pediatria<br />
Diretor Executivo da International Society of Pediatric Nutrition<br />
Coordenador do Núcleo de Nutrição Humana do Instituto de Ensino<br />
e Pesquisa do Hospital Albert Einstein<br />
Orientador do Curso de Pós-Graduação de Nutrição da Universidade<br />
Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina<br />
Gilda Porta<br />
Prof Livre Docente em Pediatria Fmusp<br />
Médica da Unidade de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição<br />
do ICR HC-FMUSP<br />
Membro da Equipe de Transplante Hepático Pediátrico do Hospital<br />
Sírio Libanês e H A C Camargo São Paulo<br />
Giselia Alves Pontes da Silva<br />
Professora Titular de Pediatria/Universidade Federal de Pernambuco<br />
Doutora em Pediatria EPM/UNIFESP<br />
Coordenadora da Pós-Graduação em Saúde da Criança e do<br />
Adolescente/UFPE<br />
Bolsista Produtividade em Pesquisa CNPQ<br />
Gislayne Castro e Souza Nieto<br />
Neonatologista do Hospital Pequeno Príncipe<br />
Médica Responsável UTI Neonatal Maternidade Santa Brígida<br />
Pós Graduação em Nutrologia pela ABRAN<br />
Presidente Departamento de Neonatologia da SPP<br />
Heloisa Ihle Garcia Giamberardino<br />
Responsável Técnica do Centro de Vacinas Hospital Pequeno Príncipe;<br />
Mestre em Medicina Interna UFPR<br />
Coordenadora Serviço de Epidemiologia e Controle de Infecção<br />
Hospitalar do Hospital Pequeno Príncipe e do Hospital do<br />
Trabalhador<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
21
Professores<br />
Izaura Merola Faria<br />
Especialista em Medicina Intensiva, Pediatria, Nutrição Parenteral e<br />
Enteral e Nutrologia;<br />
Presidente da Sociedade Paranaense de Nutrição Parenteral e Enteral;<br />
Coordenadora Técnica da EMTN do Hospital Pequeno Príncipe de<br />
Curitiba e da Maternidade Santa Brígida de Curitiba<br />
Jocemara Gurmini<br />
Médica do Centro de Gastroenterologia e Coordenadora Clínica<br />
do Grupo de Terapia Nutricional Enteral e Parenteral do Hospital<br />
Pequeno Príncipe;<br />
Especialista em Pediatria com Área de Atuação em<br />
Gastroenterologia e Nutrição Pediátrica (AMB - SBP - FBG)<br />
Especialista em Terapia Nutricional Parenteral e Enteral (AMB - SBNPE)<br />
Mestre em Ciências da Saúde pela PUC-PR<br />
Junaura Rocha Barreto<br />
Pediatra, Gastropediatra, Nutróloga<br />
Mestre em Medicina e Saúde pela UFBA<br />
Membro do Departamento de Nutrologia da SBP<br />
Professora Assistente da Pediatria da Escola Baiana de Medicina e<br />
Saúde Pública<br />
Leila Denise Cesario Pereira<br />
Mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal de Santa Catarina<br />
Chefe da UTI Neonatal da Maternidade Carmela Dutra e<br />
Neonatologista da Clínica Santa Helena - Florianópolis - SC<br />
Membro do Grupo Executivo do Programa de Reanimação Neonatal<br />
da Sociedade Brasileira de Pediatria<br />
Membro do Departamento Científico de Neonatologia da Sociedade<br />
Brasileira de Pediatria<br />
Lícia Maria Oliveira Moreira<br />
Profa Titular de Neonatologia da Ufba<br />
Membro do Núcleo Gerencial do Depto de Neonatologia da SBP<br />
Ligia Maria Suppo de Souza Rugolo<br />
Prof Adjunto do Departamento de Pediatria FMB - UNESP; Chefe da<br />
Disciplina de Neonatologia e da Unidade Neonatal da FMB - UNESP;<br />
Membro do Depto Científico de Neonatologia da SBP e da SPSP<br />
Luciana Rodrigues Silva<br />
Prof Titular Doutor e Pós-Doutor de Pediatria da Faculdade de Medicina<br />
Chefe do Serviço de Gastroenterologia Pediátrica da Universidade<br />
Federal da Bahia e Coordenadora da Doutrina Pediátrica da<br />
Sociedade Brasileira de Pediatria<br />
Luiz Anderson Lopes<br />
Responsável pelos Ambulatórios de Distúrbios do Crescimento<br />
da Disciplina de Nutrologia do Departamento de Pediatria da<br />
Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina -<br />
UNIFESP/EPM e do Núcleo de Pediatria da Universidade de Santo<br />
Amaro - Unisa<br />
Professor Convidado da Disciplina de Nutrologia da UNIFESP/EPM<br />
Professor Titular de Pediatria da Unisa<br />
Manoel Reginaldo Rocha de Holanda<br />
Membro do Departamento de Neonatologia da SBP<br />
Coordenador do Serviço de Neonatologia do Hospital Estadual Dr<br />
Jose Pedro Bezerra - Natal<br />
Chefe da UTI Neonatal do Hospital Promater - Natal<br />
Vice Presidente da Sociedade de Terapia Intensiva do Rio Grande<br />
do Norte<br />
Preceptor do Internato de Medicina da Universidade Estadual do<br />
Rio Grande do Norte e da Universidade Potiguar<br />
Mestre em Ciencias da Saude pela Universidade Federal do Rio<br />
Grande do Norte<br />
Maria Arlete Meil Schimith Escrivão<br />
Doutora pelo Departamento de Pediatria - UNIFESP<br />
Chefe do Setor de Obesidade da Disciplina de Nutrologia do<br />
Departamento de Pediatria da UNIFESP<br />
Membro do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade<br />
Brasileira de Pediatria<br />
Secretária do Departamento de Nutrição da Sociedade de Pediatria<br />
de São Paulo<br />
Maria Fernanda Branco de Almeida<br />
Professora Associada da Disciplina de Pediatria Neonatal da<br />
Universidade Federal de São Paulo<br />
Coordenadora do Programa de Reanimação Neonatal da Sociedade<br />
Brasileira de Pediatria<br />
Membro do ILCOR International Liaision Committee On<br />
Resuscitation - Neonatal Task Force<br />
Maria Marlene de Souza Pires<br />
Professora Associada do Departamento de Pediatria e Membro do<br />
Colegiado de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Universidade<br />
Federal de Santa Catarina<br />
Doutorado em Medicina pela USP/SP<br />
Coordenadora do Serviço de Metabologia e Nutrologia do Hospital<br />
Infantil Joana de Gusmão de Florianópolis<br />
Marileise dos Santos Obelar<br />
Pediatra e Nutróloga do Hospital da Universidade Federal de Santa<br />
Catarina e Hospital Infantil Joana de Gusmão<br />
Coordenadora do Serviço de Suporte Nutricional Enteral e<br />
Parenteral do Hospital Infantil Joana de Gusmão<br />
Mestre em Ciências Médicas/Pediatria-UFSC<br />
Professora de Pediatria da Universidade do Sul de Santa Catarina<br />
Membro Participante do Departamento de Nutrologia da Sociedade<br />
Brasileira de Pediatria<br />
Secretária da Sociedade Catarinense de Nutrição Parenteral e Enteral<br />
Mario César Vieira<br />
Professor do Departamento de Pediatria - PUCPR<br />
Mestre em Medicina Interna pela Universidade Federal do Paraná<br />
Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pelo St Bartholomew’s<br />
Hospital Medical College - Universidade de Londres<br />
Especialista em Endoscopia Digestiva - Sobed<br />
Chefe do Serviço e Coordenador da Residência Médica em<br />
Gastroenterologia Pediátrica - Hospital Pequeno Príncipe / Curitiba-PR<br />
Mauro Sergio Toporovski<br />
Responsável pela Disciplina de Gastroenterologia Pediátrica da<br />
Santa Casa de São Paulo<br />
Diretor de Cursos da Associação Paulista Pediátrica de<br />
Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição<br />
Milton Macedo de Jesus<br />
Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria<br />
Diretor de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Pediatria<br />
Titular da Academia Paranaense de Pediatria<br />
Diretor do Departamento de Pediatria e C Pediátrica da Associação<br />
Médica de Londrina<br />
Mitsuru Miyaki<br />
Professor Titular do Departamento de Pediatria da UFPR;<br />
Chefe da UTI Neonatal do Hospital de Clínicas da UFPR;<br />
Vice Presidente da Sociedade Paranaense de Pediatria<br />
Monica Lisboa Chang Wayhs<br />
Professora do Departamento de Pediatria da UFSC<br />
Pediatra do Serviço de Metabologia e Nutrologia Pediátrica do<br />
Hospital Infantil Joana de Gusmão<br />
22 68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Professores<br />
CURITIBAPR<br />
Renato Soibelmann Procianoy<br />
Professor Titular de Pediatria da Universidade Federal do Rio<br />
Grande do Sul<br />
Chefe do Serviço de Neonatologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre<br />
Editor do Jornal de Pediatria<br />
Presidente do Departamento de Neonatologia da Sociedade<br />
Brasileira de Pediatria<br />
Rita de Cássia Silveira<br />
Professora do Departamento de Pediatria da Universidade Federal<br />
do Rio Grande do Sul<br />
Neonatologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre<br />
Chefe da Unidade de Ambulatório da Neonatologia do Hospital de<br />
Clínicas de Porto Alegre<br />
Rosa Helena Porto Gusmao<br />
Professora Titular de Pediatria da Universidade do Estado do Pará<br />
Presidente do Departamento de Gastroenterologia da Sociedade<br />
Paraense de Pediatria<br />
Chefe do Ambulalatório de Gastroenterologia Pediátrica da<br />
Universidade do Estado do Pará<br />
Rosane Costa Gomes<br />
Professora Assistente do Departamento de Pediatria da<br />
Universidade Federal do Rio Grande do Norte<br />
Mestre em Pediatria<br />
Especialista em Gastroenterologia Pediátrica<br />
Membro do Departamento Científico de Gastroenterologia da<br />
Sociedade Brasileira de Pediatria<br />
Rosângela Garbers<br />
Pediatra e Neonatologista pela Sociedade Brasileira de Pediatria;<br />
Intensivista Neonatal da UTI do Hospital Pequeno Príncipe;<br />
Responsável pela UTI Neonatal da Maternidade N Sra de Fátima -<br />
Curitiba - PR<br />
Roseli Oselka Saccardo Sarni<br />
Doutora em Medicina pela UNIFESP<br />
Médica Assistente e Pesquisadora da Disciplina de Alergia,<br />
Imunologia Clínica e Reumatologia do Departamento de Pediatria<br />
da UNIFESP<br />
Professor Livre Docente do Departamento de Pediatria da<br />
Faculdade de Medicina do ABC<br />
Presidente do Departamento Científico de Nutrologia - SBP<br />
Sandra Josefina Ferraz Ellero Grisi<br />
Professora Titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de<br />
Medicina da Universidade de São Paulo<br />
Sandra Lúcia Schüler<br />
Gastroenterologista Pediátrico,<br />
Especialista em Suporte Nutricional Enteral e Parenteral<br />
Mestre em Ciências da Saúde -PUO PR<br />
Coordenadora Clínica do Serviço de Transplante Hepático do HPP<br />
Sheila Nogueira Percope Rodrigues Guerra<br />
Professora Adjunta de Pediatria da UFRJ<br />
Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela SBP<br />
Coordenadora dos Cursos de Pós Graduação em Gastroenterologia<br />
Pediátrica do IPPMG - UFRJ<br />
Chefe do Serviço de Gastroenterologia do IPPMG - UFRJ<br />
Presidente do Comitê de Gastroenterologia da Soperj<br />
Valmin Ramos da Silva<br />
Prof Adjunto - Departamento de Pediatria e Coordenador do Curso<br />
de Medicina da Faculdade de Medicina da Emescam - Vitória - Es<br />
Coordenador do Programa de Residência Médica em Nutrologia<br />
Pediátrica (R3) do Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória<br />
Doutor em Pediatria/UFMG<br />
Vanessa Liberalesso<br />
Pediatra Nutróloga<br />
Especialista em Terapia Nutricional Parenteral e Enteral<br />
Presidente do Departamento de Suporte Nutricional da Sociedade<br />
Paranaense de Pediatria<br />
Vera Lucia Sdepanian<br />
Professora Adjunta e Chefe da Disciplina de Gastroenterologia<br />
Pediátrica da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)<br />
Mestre em Pediatria pela UNIFESP<br />
Doutora em Medicina pela UNIFESP<br />
Mestre em Gastroenterologia Pediátrica e Nutrição pela<br />
Universidade Internacional de Andaluzia, Espanha<br />
Pós-Doutorado no Departamento de Gastroenterologia Pediátrica<br />
da Universidade de Maryland, Baltimore, EUA<br />
Presidente do Departamento de Gastroenterologia da Sociedade<br />
Brasileira de Pediatria<br />
Vice-Presidente da Sociedade Latino Americana de<br />
Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica<br />
Vice-Presidente do Departamento de Gastroenterologia da<br />
Sociedade de Pediatria de São Paulo<br />
Vice-Presidente da Associação Paulista Pediátrica de<br />
Gastroenterologia Hepatologia e Nutrição<br />
Virgínia Resende Silva Weffort<br />
Mestre e Doutora em Pediatria pela Faculdade de Medicina de<br />
Ribeirão Preto - USP<br />
Pediatra Nutróloga pela SBP/Abran<br />
Presidente do Departamento Científico de Nutorlogia da SBP<br />
Professora Adjunto e Responsavel pela Disciplina de Pediatria da<br />
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)<br />
Pró-Reitora de Extensão Universitária da UFTM<br />
Wilmar Guimarães<br />
Pediatra<br />
Neonatologista<br />
Berçarista do Hospital Maternidade Santa Brígida<br />
Severino Dantas Filho<br />
Professor do Departamento de Pediatria e Puericultura da<br />
Escola Superior de Ciências da Santa Casa Misericórcia de Vitória<br />
(EMESCAM)<br />
Professor do Departamento de Pediatria do Centro Biomédico da UFES<br />
Membro do Departamento de Nutrologia Brasileira de Pediatria<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
23
Resumos
Conferência de Abertura<br />
CURITIBAPR<br />
Investimento na<br />
primeira infância:<br />
estratégia para a<br />
evolução da sociedade<br />
DIOCLÉCIO CAMPOS JÚNIOR<br />
Primeira infância é o período de vida que se<br />
estende de zero a cinco anos de idade. Integra<br />
o ciclo de vida marcado pelo fenômeno de<br />
crescimento e desenvolvimento, presente desde<br />
o nascimento até o final da adolescência.<br />
Trata-se de fase decisiva para a formação da<br />
personalidade do indivíduo. Decisiva e insubstituível,<br />
posto que as transformações bioneuropsíquicas<br />
e comportamentais que nela se<br />
passam representam o alicerce que dará solidez<br />
à construção do ser humano ao longo dos anos<br />
subsequentes. Alicerce faz-se no início da construção.<br />
Sem ele, o equilíbrio da obra será frágil,<br />
insustentável. Compensar a posteriori a falta de<br />
tal componente pode segurar a construção, mas<br />
o equilíbrio nunca será igual. Assim é a natureza<br />
relevante da primeira infância.<br />
O crescimento cerebral da espécie humana se<br />
faz com a mais alta velocidade entre o sexto e<br />
nono mês da vida intra-uterina. O incremento<br />
diário é da ordem de 03 gramas. Após o nascimento,<br />
a velocidade mantém-se elevada nos<br />
seis primeiros meses, numa média de 02 gramas<br />
diários. A partir do sétimo mês, reduz-se para<br />
cerca de 0,30 g, mantendo-se em lento decréscimo<br />
até o final da primeira infância, quando<br />
suas dimensões já são quase equivalentes às<br />
do adulto. A expansão dimensional do cérebro<br />
pressupõe nutrição adequada, preferencialmente<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
o leite materno exclusivo nos seis primeiros meses.<br />
Em seguida, recomenda-se o leite materno<br />
associado aos alimentos de transição até o final<br />
do segundo ano.<br />
O cérebro do recém-nascido contém cerca de 100<br />
bilhões de neurônios, ainda sem as conexões que<br />
rapidamente serão estabelecidas, as sinapses.<br />
Esse processo de formação de sinapses adquire<br />
rapidez e intensidade inimagináveis nos primeiros<br />
três anos de vida. Chega a atingir milhares<br />
de trilhões no primeiro ano. A dinâmica dessa<br />
intrincada estruturação resulta essencialmente<br />
dos estímulos neurosensoriais nos primeiros<br />
tempos da vida do novo ser. Aconchego, ternura,<br />
musicalidade, doçura da voz, olhar sensível, entre<br />
outros, estão presentes na relação normal que<br />
enriquece o contacto mãe-filho(a), pai-filho(a)<br />
no verdadeiro ninho em que deve ser acolhida<br />
a nova criatura. Gera-se por tais mecanismos o<br />
vínculo afetivo, dando-se ao bebê a possibilidade<br />
de viver a sensação de pertencimento, fundamental<br />
à percepção de sua identidade própria,<br />
pressuposto das etapas de maior consistência<br />
para a formação da personalidade. É esse ambiente<br />
caloroso que propicia a diferenciação<br />
do cérebro na fase destinada biologicamente a<br />
prover o indivíduo com o equipamento essencial<br />
e qualificado para o exercício do direito à vida<br />
em plenitude.<br />
Por conta de tantas peculiaridades dos fenômenos<br />
estruturantes da personalidade na primeira<br />
infância, algumas características lhe são inerentes.<br />
As evidências científicas comprovam-nas<br />
de forma inquestionável. O mais importante,<br />
mercê dos desdobramentos futuros na vida da<br />
pessoa, é a aptidão cognitiva que se concentra<br />
em quantidade e qualidade no mencionado<br />
período. É quando a criança aprende a aprender<br />
de maneira impressionante. Assimila conceitos<br />
abstratos com facilidade incomparável. Desenvolve<br />
habilidades psicomotoras em crescente<br />
complexidade. O potencial de originalidades<br />
27
Conferência de Abertura<br />
emerge e projeta-se no comportamento criativo,<br />
enriquecido pela inesgotável energia do brincar,<br />
estilo único de vida no mundo infantil.<br />
Estudos científicos comprovam a importância<br />
dos cuidados com a primeira infância. Segundo<br />
análises prospectivas, as crianças que não sofreram<br />
privação materna no período, atingirão a<br />
adolescência e idade adulta com capacidade de<br />
lidar com o afeto, tanto para dá-lo quanto para<br />
recebê-lo. Lidarão bem com o estresse. Terão<br />
comportamento de maior equilíbrio, com pouca<br />
tendência para condutas violentas e atos agressivos.<br />
Ao contrário, aquelas que experimentaram<br />
a privação materna na primeira infância, não<br />
aprendem a lidar com o afeto. Reagem mal ao<br />
estresse. Tendem a comportamentos agressivos<br />
e violentos na adolescência e quando adultos.<br />
Ademais de tal constatação, os resultados das<br />
pesquisas feitas pelo economista americano James<br />
Heckman, prêmio Nobel de economia, apontam<br />
para inadiável necessidade de investimento na<br />
primeira infância. Partindo da observação, ao<br />
longo de anos, de grupos de crianças oriundas<br />
da periferia pobre de cidades americanas, trouxe<br />
à tona dados contundentes neste domínio de conhecimento.<br />
Das crianças estudadas, aquelas que<br />
chegam com maior frequência à universidade,<br />
aprendem melhor, conseguem ter casa própria<br />
quando adultas, dispensam assistência social<br />
para evoluir, são mais absorvidas pelo mercado<br />
de trabalho com salários iguais ou maiores que<br />
2.000 dólares, e aos 27 anos de idade têm o<br />
menor índice de detenções por crimes e delinquência,<br />
são aquelas que tiveram acesso aos<br />
cuidados na primeira infância, beneficiando-se<br />
de estimulação adequada às aquisições cognitivas<br />
feitas no momento apropriado, e que dificilmente<br />
poderão ser feitas mais tarde. O economista<br />
conclui que não há investimento mais seguro<br />
e com maior retorno para a sociedade do que<br />
aquele que se faz em saúde e educação na primeira<br />
infância. Para cada dólar assim aplicado,<br />
há retorno de 12 dólares. Sem falar nas outras<br />
transformações asseguradas por iniciativa dessa<br />
natureza, mormente no espectro da violência,<br />
cujos indicadores mostram queda significante.<br />
A economia brasileira cresceu acentuadamente<br />
na última década. Porém, sem qualquer<br />
preocupação com o fundamento cognitivo que<br />
qualifica os recursos humanos, fonte maior<br />
do progresso que sustenta a evolução real da<br />
sociedade. Nos dias de hoje, apenas 12% das<br />
crianças brasileiras na faixa etária da primeira<br />
infância têm acesso à educação infantil. Os<br />
resultados negativos são cada vez mais visíveis.<br />
Desigualdade social flagrante. Violência em nítida<br />
propagação. Mão de obra desqualificada.<br />
Novas gerações chegando à idade produtiva<br />
com baixos índices de escolaridade e precária<br />
capacidade de aprendizagem. Pesquisa recente<br />
feita pela Confederação Nacional da Indústria<br />
revela que apenas 30% das empresas no país<br />
encontram trabalhadores capacitados para o<br />
grau de exigência dos procedimentos produtivos<br />
específicos. O estudo revela também a dificuldade<br />
de número expressivo dessa população<br />
para assimilar conhecimentos e desenvolver<br />
habilidades para o desempenho das funções<br />
que as empresas necessitam cumprir.<br />
A investigação científica comprova à exaustão<br />
que doravante a sociedade somente evoluirá<br />
mediante o investimento prioritário nos cuidados<br />
com a primeira infância. Caso contrário, a<br />
degradação social prevalecerá. Atualmente, o<br />
Brasil investe 10 vezes mais na terceira idade<br />
que na infância. Não há outro caminho: ou se<br />
revê a prioridade, ou o país avançará na rota<br />
das nações claudicantes.<br />
28 68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Refluxo Gastroesofágico<br />
CURITIBAPR<br />
Considerações sobre o<br />
Refluxo Gastroesofágico<br />
e a Doença do Refluxo<br />
Gastroesofágico no<br />
paciente pediátrico<br />
LUCIANA RODRIGUES SILVA<br />
Introdução<br />
É comum a queixa na consulta pediátrica envolvendo<br />
problemas de regurgitação ou vômitos<br />
recorrentes, sobretudo durante o primeiro<br />
ano de vida. A intensidade dos sintomas pode<br />
variar de regurgitações ocasionais a vômitos<br />
persistentes, sem quaisquer sintomas ou sinais<br />
associados numa criança que se desenvolve<br />
normalmente ou apresentarem-se em associação<br />
com complicações graves que possam até<br />
ameaçar a vida dos pequenos pacientes. Nos<br />
consultórios dos gastroenterologistas pediatras<br />
cerca de 18 a 40% das avaliações ocorrem por<br />
regurgitação e vômitos em lactentes, sem outras<br />
repercussões.<br />
A avaliação diagnóstica na maioria dessas<br />
crianças que chega ao consultório não revela<br />
qualquer etiologia, se anatômica, infecciosa,<br />
metabólica ou neurológica e essas crianças têm<br />
o diagnóstico de refluxo fisiológico, representado<br />
pelo fluxo retrógrado do conteúdo gástrico<br />
para o esôfago.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
Devido à alta frequência desta condição na<br />
infância, o pediatra deve ser muito criterioso<br />
no diagnóstico, a fim de estabelecer bem a<br />
diferença entre o refluxo fisiológico (RGE) e o<br />
refluxo patológico, este representado pela Doença<br />
do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), a fim<br />
de decidir quando investigar e tratar ou apenas<br />
quando acompanhar estas crianças com quadros<br />
benignos e orientar adequadamente seus pais e<br />
familiares. Além deste aspecto, o pediatra deve<br />
estar atento para as várias possibilidades de<br />
manifestações clínicas que podem estar associadas<br />
a esta condição, os fatores de risco que<br />
podem estar presentes e quando há evidências<br />
de quadros mais graves, quadros atípicos e até<br />
silenciosos.<br />
É importante enfatizar que o RGE pode ser<br />
uma manifestação fisiológica, que traduz a<br />
passagem do conteúdo gástrico para o esôfago,<br />
com a presença ou não de regurgitação ou<br />
vômitos, sem qualquer repercussão patológica<br />
e que tende a diminuir de frequência<br />
e intensidade com o avançar da idade. Pode<br />
acontecer em crianças e adultos, e quando<br />
fisiológico é de curta duração, ocorre após<br />
as refeições e não causa sintomas. Nos lactentes<br />
esta situação fisiológica tende a ser<br />
mais frequente, sobretudo após as refeições;<br />
aos 4 meses de idade, até cerca 67% dos<br />
lactentes ainda regurgitam. Admite-se que<br />
metade das crianças aos dois meses de idade<br />
vomitam, pelo menos, duas vezes ao dia e<br />
aos 20 meses, cerca de 1% ainda vomita pelo<br />
menos duas vezes ao dia e destas, apenas de<br />
fato 2% necessita de intervenções médicas<br />
especializadas.<br />
Por outro lado, o refluxo patológico está associado<br />
com o surgimento de complicações,<br />
dando origem à doença do refluxo gastroesofágico.<br />
A DRGE determina a presença de sintomas<br />
ou complicações que estão relacionadas<br />
com o retorno do conteúdo gástrico para o<br />
esôfago; é a sua frequência e persistência,<br />
com episódios duradouros que podem tornar<br />
o refluxo patológico, determinando repercussões<br />
esofágicas, respiratórias, nutricionais e<br />
neurocomportamentais.<br />
29
Refluxo Gastroesofágico<br />
Classificação<br />
O refluxo gastroesofágico pode ser classificado em:<br />
• Fisiológico<br />
• Patológico<br />
• Oculto<br />
• Primário<br />
• Secundário<br />
O RGE fisiológico representa a maior parte dos<br />
casos e geralmente se inicia entre o nascimento<br />
e os três meses de vida, sem qualquer repercussão<br />
clínica. A evolução é satisfatória sem<br />
comprometimento do crescimento e desenvolvimento<br />
da criança, e não há outros sintomas<br />
ou complicações associadas.<br />
O RGE patológico ou a doença do refluxo gastroesofágico<br />
(DRGE) está associado a manifestações<br />
clínicas e/ou sequelas significativas para o paciente.<br />
Os sinais ou sintomas incluem uma série<br />
de itens, podendo ser traduzido por vômitos<br />
e regurgitações ou por vários outros achados.<br />
O RGE oculto é assim denominado, nos casos<br />
onde não há vômitos e regurgitações, mas, sobretudo<br />
manifestações respiratórias e otorrinolaringológicas,<br />
dor retroesternal com complicações<br />
esofágicas ou extra-esofágicas, que podem tardar<br />
a surgir, mas que podem aparecer precocemente<br />
apenas com inquietação, saciedade precoce, falta<br />
de ganho ponderal ou dor abdominal.<br />
O RGE primário é o que ocorre na ausência<br />
de patologias subjacentes. O RGE secundário é<br />
determinado por patologias específicas, que o<br />
favorecem e que podem ser representadas por<br />
alterações anatômicas, digestórias, respiratórias<br />
ou neurológicas, tais como:<br />
• Pseudobstrução intestinal<br />
• Estenose Hipertrófica de Piloro<br />
• Hérnia de hiato<br />
• Pâncreas anular<br />
• Atresia, estenose, fístula de esôfago<br />
• Cirurgias prévias no trato digestório alto<br />
• Alergia alimentar<br />
• Fibrose cística<br />
• Distúrbios neurológicos, sobretudo paralisia<br />
cerebral<br />
• Asma<br />
• Obesidade<br />
• Ascite, massas abominais ou visceromegalia<br />
• Infecções (candidíase, herpes)<br />
• Miopatias<br />
• Distúrbios de deglutição<br />
• Esofagite eosinofílica<br />
• Anorexia/bulimia<br />
• Afecções com alterações da motilidade<br />
• Úlcera gástrica ou duodenal<br />
• Colagenoses<br />
• Alterações vasculares<br />
• Pacientes em uso de quimio e radioterapia<br />
• Ação de cáusticos<br />
• Doença de Crohn<br />
Deve-se ainda lembrar que algumas situações<br />
representam maior risco para que a criança<br />
tenha RGE ou DRGE, tais como o uso de<br />
certas drogas (alendronato, corticosteróides,<br />
broncodilatadores, teofilina, progesterona, bloqueadores<br />
de canal de cálcio, anticolinérgicos,<br />
morfina); a obesidade; o fumo e o álcool entre<br />
adolescentes; exercícios vigorosos; cafeína, alimentos<br />
gordurosos, chocolate, bebidas gasosas<br />
e algumas frutas; procedimento de intubação<br />
prolongada; transplante e cirurgias de pulmão,<br />
diálise peritonial, doenças respiratórias como<br />
asma e a apnéia, presença mantida de sondas<br />
e gastrostomia e os distúrbios do sono. A obesidade<br />
como uma situação que vem aumentando<br />
em todas as faixas etárias, tem se associado à<br />
maior frequência de DRGE mesmo em crianças,<br />
e em adultos já há relatos de maior incidência<br />
também de neoplasia esofágica.<br />
Fisiopatologia<br />
O RGE tem etiologia multifatorial. Múltiplos<br />
são fatores que podem estar envolvidos na sua<br />
determinação: fatores genéticos, ambientais<br />
(alimentação, álcool, fumo), alterações anatômicos,<br />
hormonais e neurogênicas. Vários são<br />
os elementos que funcionam como fatores<br />
protetores contra o refluxo: o diafragma, a<br />
posição e o tamanho do esôfago, a posição do<br />
esfíncter esofágico inferior (EEI) e do ligamento<br />
frenoesofágico, a porção intra-abdominal do esô-<br />
30<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Refluxo Gastroesofágico<br />
fago, o tamanho do ângulo de His, o conteúdo<br />
gástrico, o clareamento esofágico e o gástrico,<br />
a resistência da mucosa esofágica e a própria<br />
gravidade. Todos estes fatores são menos atuantes<br />
nos lactentes pequenos.<br />
Já os fatores que atuam determinando o refluxo<br />
gastroesofágico são representados por:<br />
relaxamento transitório e hipotonia do esfíncter<br />
esofagiano inferior, hérnia hiatal, esvaziamento<br />
gástrico lento, aumento de pressão intra-abdominal,<br />
presença de agentes neurotransmissores,<br />
peptídeos intestinais vasoativos e ácido nítrico,<br />
além de alterações anatômicas e da mucosa e do<br />
esvaziamento esofágico. Nas crianças pequenas<br />
também o esôfago intra-abdominal é curto, e<br />
refeições volumosas podem propiciar o retorno<br />
do conteúdo gástrico. Atualmente se considera<br />
que a maioria dos episódios do refluxo ocorre<br />
devido a relaxamentos transitórios do EEI, quando<br />
ocorre redução da pressão de curta duração,<br />
não associados à peristalse esofagiana. Esses<br />
relaxamentos transitórios parecem ocorrer como<br />
resposta à ação de neurotransmissores liberados<br />
pelo um sistema neuroentérico. Os agentes<br />
neurotransmissores, possivelmente peptídeos<br />
intestinais vasoativos ou óxido nítrico, estão<br />
implicados no relaxamento dessa musculatura.<br />
Relaxamentos inapropriados do EEI também<br />
podem estar relacionados com atividade do sistema<br />
nervoso central ou com o desenvolvimento<br />
exagerado do refluxo entérico, cuja origem pode<br />
ser proximal (esofagiana) ou distal no estômago,<br />
devido à distensão gástrica. O retardo do esvaziamento<br />
do esôfago, possivelmente associado à<br />
ineficácia da salivação e do peristaltismo parece<br />
ter importância no desenvolvimento da esofagite<br />
de refluxo. O refluxo em geral tem conteúdo<br />
ácido, com presença de ácido clorídrico e pepsina,<br />
e em algumas circunstâncias há refluxo<br />
duodenogástrico com presença de ácidos biliares<br />
e tripsina. Admite-se portanto que a DRGE ocorre<br />
quando existe falha dos mecanismos que atuam<br />
como barreira antirrefluxo, ocorrendo um desequilíbrio<br />
entre os mecanismos de agressão e de<br />
defesa. Há ainda recentes estudos demonstrando<br />
predisposição genética para esta condição em<br />
alguns pacientes, revelando maior incidência de<br />
doenças esofágicas em certas famílias.<br />
Manifestações clínicas<br />
CURITIBAPR<br />
Os pacientes com RGE fisiológico crescem e se<br />
desenvolvem bem e os episódios de regurgitações<br />
ou vômitos tendem a ir diminuindo ao longo<br />
dos primeiros meses de vida. Os portadores de<br />
DRGE podem ter apresentações clínicas diversas.<br />
Vômitos e regurgitações estão presentes na<br />
maioria das crianças com DRGE, acompanhadas<br />
ou não de retardo pondoestatural e anemia,<br />
constituindo este quadro a síndrome clássica.<br />
Quando os vômitos são importantes e frequentes,<br />
podem comprometer o estado nutricional<br />
das crianças. Nos prematuros, esses vômitos<br />
podem faltar e se sugerir o diagnóstico através<br />
de quadros de apnéia de repetição.<br />
Existem crianças que não apresentam a sintomatologia<br />
clássica e a mãe chama atenção para<br />
irritabilidade mantida ou gemido que ocorre<br />
geralmente depois da alimentação quando a<br />
criança é colocada em decúbito dorsal. Os relatos<br />
de criança irritada, choro constante com sono<br />
inquieto, recusa alimentar ou saciedade precoce<br />
estão relacionados com a presença de esofagite.<br />
Por outro lado, a criança maior queixa-se de<br />
dor retroesternal e pirose, que podem inclusive<br />
despertar o paciente durante a noite. Halitose<br />
e alterações dentárias têm sido descritas em<br />
pacientes com DRGE.<br />
Deve-se ter em conta que desde o início da<br />
sintomatologia até as alterações estruturais mais<br />
graves do esôfago podem passar por períodos<br />
variáveis de tempo e muitas vezes a criança<br />
é trazida à consulta, devido a queixas agudas<br />
e graves, secundárias a alterações da mucosa<br />
esofágica, como por exemplo, dor abdominal,<br />
disfagia, sangramento digestivo ou anemia. Esta<br />
variedade de sintomas pode ir desde simples<br />
regurgitações ou vômitos frequentes, até um<br />
grau mais grave de desnutrição ou caquexia,<br />
devido à esofagite que causa disfagia precoce<br />
ou tardia, podendo evoluir em alguns casos para<br />
estenose. O esôfago, banhado pelo conteúdo<br />
gástrico, passa a apresentar processo inflamatório<br />
crônico, a esofagite, complicação significativa<br />
da DRGE, de intensidade variável, em alguns<br />
casos demonstrando ulcerações com hemorragia,<br />
perfuração ou intensa fibrose, causando como<br />
consequência estenose e disfagia.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 31
Refluxo Gastroesofágico<br />
A presença de esofagite pode ser suspeitada de<br />
diferentes formas, conforme a idade da criança.<br />
Em lactentes é observado choro excessivo, irritabilidade,<br />
distúrbio do sono, agitação e recusa da<br />
dieta, podendo estar também presente a ruminação.<br />
A Síndrome de Sandifer, caracterizada pela<br />
associação de esofagite, anemia e postura típica<br />
de inclinação da cabeça em resposta ao refluxo<br />
frequente, pode ser identificada em crianças<br />
pequenas. Outros achados como hematêmese,<br />
melena, sangue oculto nas fezes e anemia ferropriva<br />
podem estar presentes em qualquer idade.<br />
A criança maior pode queixar-se de disfagia,<br />
pirose, dor torácica tipo angina, dor e queimor<br />
na região epigástrica, odinofagia, sialorréia e dor<br />
abdominal recorrente. Alguns pacientes podem<br />
exacerbar a sintomatologia após a ingestão de<br />
determinados alimentos. Como complicação em<br />
longo prazo está o esôfago de Barrett, condição<br />
pré-neoplásica mais comum em adultos, mas<br />
que tem sido também evidenciada em pacientes<br />
pediátricos, necessitando de acompanhamento<br />
periódico frequente.<br />
Outros pacientes podem não ter manifestação<br />
clínica digestiva e sim respiratória exclusivamente<br />
ou apenas anemia. Apneia, atelectasias,<br />
pneumonias recidivantes, bronquites obstrutivas<br />
e laringites seriam as consequências mais graves<br />
da DRGE. Sibilos, estridor, ou tosse noturna<br />
constante, resposta inadequada ao tratamento<br />
medicamentoso para asma, ausência de história<br />
familiar de atopia e inicio precoce de hiperreatividade<br />
brônquica podem levantar a suspeita da<br />
DRGE. Em algumas crianças, o broncoespasmo<br />
pode ser a única manifestação, traduzindo um<br />
refluxo oculto continuado. A melhora clínica do<br />
broncoespasmo com a terapia antirefluxo sugere<br />
fortemente a associação das duas patologias.<br />
Em qualquer paciente com pneumonia recorrente,<br />
o refluxo oculto deve ser excluído. A<br />
apneia e a DRGE podem ocorrer nos primeiros<br />
quatro meses de vida, entretanto a relação<br />
causa e efeito raramente pode ser estabelecido.<br />
Quando a apneia ocorre logo após os episódios<br />
de vômitos, é possível que seja secundária ao<br />
RGE. Quadros de laringoespasmo induzido por<br />
refluxo tem sido apontados como possível fator<br />
desencadeante da apneia obstrutiva de lactentes,<br />
explicando ainda os estridores recorrentes,<br />
a hipóxia aguda e a asfixia, e às vezes é discutível<br />
até morte súbita. Há relatos ainda de<br />
que a acidificação do esôfago e o refluxo alto<br />
tem sido associado com soluços, rouquidão e<br />
erosões dentárias.<br />
Crianças com doença pulmonar recorrente (asma,<br />
pneumonia de repetição e tosse noturna) devem<br />
ser submetidas a testes diagnósticos para RGE,<br />
com o intuito de excluir essa condição como<br />
causa ou fator coadjuvante para os quadros<br />
respiratórios.<br />
O RGE também pode induzir manifestações otorrinolaringológicas<br />
decorrentes da presença de<br />
secreção ácida na mucosa da via aérea superior,<br />
incluindo manifestações como laringite crônica,<br />
rouquidão, piora dos sintomas de laringomalácea,<br />
otites de repetição e sinusites.<br />
Uma complicação significativa ocorre sobre a<br />
qualidade de vida dos pacientes e seus familiares<br />
quando há muita ansiedade, sobretudo<br />
em primeiros filhos e o pediatra tem um papel<br />
fundamental na orientação adequada e na<br />
informação detalhada da situação, a fim de<br />
tranquilizar os pais.<br />
O atendimento da criança deve começar pela<br />
elaboração de uma anamnese detalhada, enfatizando-se<br />
as perguntas sobre soluços frequentes,<br />
salivação excessiva, gemência enquanto dorme,<br />
choro excessivo, determinada posição de conforto<br />
como deitar de bruços, sono agitado, pigarros,<br />
eructações frequentes, ruminação, cabeça em<br />
posição inclinada para trás, tosse noturna, quadros<br />
respiratórios de repetição, asma, saciedade<br />
precoce e sinusite crônica. Lembrar que as manifestações<br />
do lactente podem ser inespecíficas e<br />
que aquelas do escolar já são mais semelhantes<br />
à apresentação do adulto.<br />
Outro quadro clínico que deve ser mencionado<br />
é caracterizado por pacientes com torcicolo, postura<br />
anormal, opistótono e convulsões atípicas;<br />
esta apresentação pode ser secundária a um<br />
episódio de aspiração, onde a criança apresenta<br />
sons guturais, movimentos dos olhos e bate os<br />
braços, podendo ser confundida com uma convulsão<br />
e após avaliação neurológica detalhada,<br />
deve ser investigada para DRGE.<br />
32<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Refluxo Gastroesofágico<br />
O lactente com sintomas de vômitos e ou regurgitações<br />
que não apresentam outras queixas ou<br />
manifestações clínicas e sem alteração do exame<br />
físico, com bom desenvolvimento ponderoestatural<br />
não necessita de exames complementares<br />
para o diagnóstico; nesta situação, apenas devese<br />
tranquilizar os familiares, pois entre 6 a 12<br />
meses os sintomas tendem a diminuir e na maioria<br />
das vezes estarão resolvidos. Recomenda-se<br />
somente o acompanhamento clínico.<br />
As crianças com sintomas expressivos de refluxo<br />
e suas complicações, devem passar por<br />
investigação apropriada e deve-se nestes casos,<br />
quando possível ter uma avaliação conjunta<br />
com o gastroenterologista para evitar duas<br />
tendências inadequadas: a realização indevida<br />
de provas diagnósticas e o excesso de prescrições<br />
medicamentosas diante de um refluxo<br />
fisiológico. Por outro lado, na dúvida diante de<br />
outra possibilidade menos frequente, mas que<br />
também pode ocorrer, o pediatra deve solicitar<br />
a avaliação do especialista, pois pode haver situações<br />
onde há o retardo no diagnóstico de um<br />
refluxo patológico, postergando seu tratamento<br />
e propiciando o aparecimento de complicações.<br />
No entanto, convém enfatizar que a maioria dos<br />
quadros benignos são representados pelo refluxo<br />
fisiológico, que pode ser orientado muito bem<br />
pelo pediatra geral.<br />
CURITIBAPR<br />
Cabe, portanto ao pediatra geral identificar os<br />
pacientes com refluxo fisiológico e com a Doença<br />
do refluxo gastroesofágico, fazendo uma anamnese<br />
completa e um exame físico detalhado do<br />
paciente, se possível observando como a mãe<br />
alimenta a criança, identificando se a criança<br />
é portadora de alguma condição que apresenta<br />
maior chance de ter o refluxo associado e refletir<br />
de modo crítico e individualizado sobre as orientações<br />
que irá propor, pois sempre cada orientação<br />
diagnóstica e terapêutica deve ser analisada com<br />
rigor baseada em argumentação adequada e<br />
evidências comprovadas. Para os pacientes com<br />
refluxo fisiológico acompanhar periodicamente o<br />
crescimento e o desenvolvimento, evitando exames<br />
e medicamentos desnecessários e nos casos mais<br />
difíceis ou quando houver dúvida, consultar o especialista<br />
para avaliarem o paciente em conjunto.<br />
Como perspectivas desta condição são necessários<br />
para o futuro a fim de se ampliar o conhecimento:<br />
Estudos com maiores populações, randomizados,<br />
duplo-cegos, especialmente nas várias faixas<br />
etárias pediátricas sobre as manifestações e o<br />
tratamento; análise da eficácia de tratamento X<br />
Riscos X Custos; estudos genéticos para identificar<br />
os grupos de doenças com apresentações diversas;<br />
melhor acompanhamento em longo prazo<br />
das complicações, além da atualização continuada<br />
dos médicos que atendem estes pacientes.<br />
Doença do Refluxo<br />
Gastroesofágico –<br />
Exames subsidiários –<br />
quais são, quando<br />
solicitar, como<br />
interpretar?<br />
CRISTINA TARGA FERREIRA<br />
O refluxo gastroesofágico (RGE) é a condição mais<br />
comum que acomete o esôfago na faixa etária<br />
pediátrica e uma das queixas mais frequentes em<br />
consultórios de Gastroenterologia Pediátrica. 1,2<br />
De acordo com o guideline da NASPGHAN (North<br />
American Society for Pediatric Gastroenterology,<br />
Hepatology and Nutrition) e ESPGHAN (European<br />
Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology<br />
and Nutrition), 3 publicado em 2009, o RGE<br />
consiste na passagem do conteúdo gástrico para<br />
o esôfago, com ou sem regurgitação e vômito.<br />
É um processo normal, fisiológico, que ocorre<br />
várias vezes ao dia em lactentes, crianças, adoles-<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 33
Refluxo Gastroesofágico<br />
centes e adultos. 3 Os episódios de RGE fisiológico<br />
em indivíduos saudáveis são, na maioria das<br />
vezes, de curta duração (
Refluxo Gastroesofágico<br />
A ultrassonografia tem papel importante apenas<br />
no diagnóstico diferencial com a estenose<br />
hipertrófica de piloro.<br />
pHmetria<br />
A pHmetria representa uma medida quantitativa<br />
válida da exposição ácida do esôfago, com valores<br />
de referência bem estabelecidos. Entretanto,<br />
a gravidade do refluxo ácido não se correlaciona<br />
consistentemente com a gravidade dos sintomas<br />
e nem com complicações demonstráveis. 3 O<br />
exame é útil também para avaliar a eficácia do<br />
tratamento antiácido. 3,5<br />
A recente introdução da impedanciometria intraluminal<br />
trouxe novos conhecimentos sobre a<br />
DRGE. Atualmente os dois exames são realizados<br />
simultaneamente.<br />
Impedanciometria intraluminal<br />
Esse é um novo método que detecta o movimento<br />
retrógrado de fluidos, sólidos e de ar<br />
no esôfago, para qualquer nível, em qualquer<br />
quantidade, independentemente do pH, pois<br />
mede as alterações de resistência elétrica e é<br />
realizado com múltiplos canais. Atualmente,<br />
ela é sempre utilizada em conjunto com a<br />
monitorização do pH, chamada pH-impedancio<br />
ou pH-MII (Multichannel intraluminal impedance).<br />
5,6,7<br />
A combinação pH-MII, com monitorização simultânea<br />
dos sintomas, usando vídeo-polissonografia<br />
ou manometria, tem-se mostrado útil para<br />
avaliações de correlações entre refluxo e alguns<br />
sintomas como apneia, tosse, outros sintomas<br />
respiratórios e comportamentais. 3<br />
A pH-MII é superior a monitorização do pH<br />
isolada para avaliar a relação temporal entre<br />
sintomas e refluxo. 3,5,6,7,8<br />
Manometria esofágica<br />
A manometria avalia a motilidade do esôfago,<br />
estando indicada naqueles pacientes que<br />
apresentam quadro sugestivo de dismotilidade<br />
esofágica, cujos principais sintomas são a disfagia<br />
e a odinofagia. 3<br />
CURITIBAPR<br />
Endoscopia digestiva alta com biópsia<br />
A endoscopia digestiva alta permite a avaliação<br />
macroscópica da mucosa esofágica e a coleta<br />
de material para estudo histopatológico. 3 Sendo<br />
assim, possibilita o diagnóstico das complicações<br />
esofágicas da DRGE (esofagite, estenose péptica<br />
ou esôfago de Barrett). 2,3 Apresenta, também, papel<br />
fundamental no diagnóstico diferencial com<br />
outras doenças pépticas e não-pépticas, como<br />
a esofagite eosinofílica (EE), a úlcera duodenal<br />
e a gastroenteropatia eosinofílica, capazes de<br />
produzir sintomas semelhantes aos da DRGE.<br />
As alterações erosivas da mucosa do esôfago inferior,<br />
visíveis endoscopicamente, constituem-se na<br />
maior evidência de esofagite de refluxo. 3 Nesses<br />
casos, na maioria das vezes, outros exames diagnósticos<br />
não são necessários, pois a esofagite já<br />
confirma a presença da DRGE. Por outro lado, a<br />
ausência de esofagite na endoscopia não exclui<br />
DRGE, já que alguns pacientes apresentam a<br />
doença do refluxo endoscópico-negativa (NERD<br />
– non-erosive reflux disease). Eritema de mucosa<br />
e linha Z irregular não são sensíveis o suficiente<br />
para diagnosticar esofagite de refluxo. Da mesma<br />
maneira, achados histológicos de eosinofilia leve,<br />
alongamento das papilas, hiperplasia da camada<br />
basal e dilatação dos espaços intercelulares<br />
(espongiose) não são sensíveis nem específicos<br />
para fazer diagnóstico de esofagite de refluxo.<br />
São apenas alterações reacionais, não específicas,<br />
que podem ser encontradas em outros tipos de<br />
esofagites ou até em indivíduos normais. 3<br />
De acordo com o consenso atual da NASPGHAN e<br />
da ESPGHAN 3 só se deve levar em consideração,<br />
como esofagite péptica endoscópica, aquele paciente<br />
que apresenta lesões erosivas, não sendo<br />
mais considerada a esofagite apenas histológica.<br />
A identificação dos pacientes portadores de<br />
esofagite erosiva é muito benéfica, já que os<br />
estudos indicam que o tratamento agressivo<br />
desses pacientes evita a progressão para outras<br />
complicações, como a estenose e o esôfago de<br />
Barrett.<br />
As biópsias endoscópicas são fundamentais nesse<br />
grupo de pacientes, ainda que não se considere<br />
mais a esofagite de refluxo apenas histológica,<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 35
Refluxo Gastroesofágico<br />
tanto para o diagnóstico de esôfago de Barrett,<br />
como para o diagnóstico diferencial com outras<br />
entidades. A DRGE ainda é a causa mais frequente<br />
de esofagite em crianças, mas deve-se ter em<br />
mente que existem várias outras causas de esofagite,<br />
também na faixa etária pediátrica, como<br />
esofagite eosinofílica, doença de Crohn, infecções,<br />
entre outras. 3 Assim, por meio do estudo histopatológico,<br />
pode-se fazer o diagnóstico diferencial<br />
da DRGE com outras entidades, principalmente a<br />
EE, que vem sendo cada vez mais reconhecida e<br />
diagnosticada na faixa etária pediátrica. 9<br />
Esofagite eosinofílica e esofagite péptica apresentam<br />
quadro clínico similar e podem ser<br />
distinguidas por endoscopia e biópsias. 9 Endoscopicamente,<br />
uma diferença importante é que a<br />
EE não costuma ser doença erosiva, mas tem seus<br />
achados característicos como pontilhado branco,<br />
traquealização do esôfago ou pregas verticais. 9<br />
Teste terapêutico empírico com<br />
supressão ácida<br />
Em adultos, os tratamentos empíricos com<br />
supressão ácida são utilizados, sem nenhum<br />
exame diagnóstico, para sintomas de azia, dor<br />
torácica, tosse crônica e dispepsia. As crianças<br />
maiores e os adolescentes, com sintomas típicos<br />
de DRGE, podem ser submetidos a um teste<br />
empírico terapêutico com fármacos inibidores da<br />
bomba de prótons, durante 4 semanas, podendo<br />
estender este tempo para 12 semanas, se houver<br />
melhora clínica. 3 Não há evidências para indicar<br />
um teste terapêutico em crianças menores, nas<br />
quais os sintomas são bem menos específicos. 3<br />
Exames que analisam fluidos nos<br />
ouvidos, nos pulmões e no esôfago<br />
Alguns estudos mostram que o achado de<br />
pepsina, macrófagos cheios de lipídios, lactose<br />
ou glicose no lavado brônquico ou nas efusões<br />
dos ouvidos indicam que a DRGE tem um papel<br />
etiológico nas condições subjacentes (otites e<br />
infecções respiratórias de repetição). 3 Nenhum<br />
estudo controlado demonstrou que o refluxo é<br />
a única razão para o encontro desses fluidos ou<br />
que isso seja causado por DRGE.<br />
No momento atual, não há evidência suficiente<br />
para recomendar monitorização desses fluidos<br />
para avaliação de DRGE. 3<br />
Tratamento<br />
A decisão de iniciar um tratamento anti-DRGE é<br />
diretamente influenciada pela probabilidade de<br />
se tratar de doença do refluxo gastroesofágico,<br />
com seus prejuízos para a criança. Cursos prolongados<br />
ou repetidos de tratamentos medicamentosos<br />
não devem ser prescritos anteriormente à<br />
confirmação diagnóstica. 3<br />
O tratamento da DRGE deve ser instituído de<br />
maneira progressiva, passo a passo, iniciando-se<br />
com medidas gerais e alterações nos hábitos de<br />
vida, passando por terapias medicamentosas e<br />
terminando muitas vezes em técnicas endoscópicas<br />
ou cirúrgicas, mais invasivas. As mudanças<br />
dos hábitos de vida, os pró-cinéticos e os fármacos<br />
que neutralizam ou inibem a secreção<br />
ácida (bloqueadores H2 e inibidores de bomba<br />
de prótons) são as opções de tratamento clínico,<br />
atualmente utilizadas.<br />
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36<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Refluxo Gastroesofágico<br />
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CURITIBAPR<br />
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Tratamento da<br />
Doença do Refluxo<br />
Gastroesofágico<br />
MAURO SERGIO TOPOROVSKI<br />
O tratamento da DRGE visa fundamentalmente<br />
resolver ou diminuir a intensidade dos sintomas,<br />
melhorar a qualidade de vida, prevenir as complicações<br />
da DRGE. Quando o RGE é considerado<br />
não complicado em lactentes, caracterizado por<br />
regurgitações variáveis, grau de desconforto<br />
discreto e ganho ponderal adequado, pode-se<br />
iniciar o tratamento com medidas de suporte,<br />
sem solicitar exames complementares.<br />
O lactente deve ser mantido em posição vertical<br />
após as mamadas por um período de 20 a 30<br />
minutos, prazo esse que facilita a eructação e o<br />
esvaziamento gástrico. O mesmo não deve ser colocado<br />
em posição semi-sentado no bebê-conforto<br />
pois desta forma a compressão mesmo discreta do<br />
abdome, facilita a ocorrência de RGE. A posição<br />
supina, mesmo com elevação de 30º mostra-se<br />
inadequada. TOBIN et al (1997), considerando o<br />
número de refluxos ácidos apontam vantagens<br />
da posição prona e decúbito lateral esquerdo<br />
como medidas posturais anti-refluxo mais efetivas.<br />
Atualmente, nos primeiros meses de vida, não se<br />
recomenda a posição prona, devido ao risco mais<br />
elevado de ocorrência de morte súbita. Considerase<br />
pouco seguro os decúbitos laterais, pois muitos<br />
lactentes durante o sono deslizam e assumem a<br />
posição prona. Recente ensaio clínico publicado<br />
por VANDENPLAS et al (2010) 35 demonstram resultados<br />
satisfatórios das medidas posturais em<br />
novo berço desenvolvido para lactentes denominado<br />
“Multicare AR-bed”. O mesmo, mantém os<br />
lactentes menores de 6 meses em decúbito supino<br />
mais elevado, a 40º, com anteparos laterais para<br />
evitar o escorregamento. Estudos preliminares<br />
demonstram redução sensível dos refluxos ácidos<br />
e número de regurgitações/vômitos.<br />
As modificações dietéticas propostas para reduzir<br />
os episódios de refluxo devem respeitar as necessidades<br />
nutricionais da criança. Entre as medidas<br />
recomendadas, o espessamento da dieta representa<br />
o de maior eficácia para alivio das regurgitações.<br />
As diferentes fórmulas AR (anti-regurgitações) têm<br />
como princípio básico, a redução de 20% do teor de<br />
lactose, substituindo-a por carboidrato preparado<br />
à base de amido pré-gelatinizado de arroz, milho<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 37
Refluxo Gastroesofágico<br />
ou batata, que ao entrar na cavidade gástrica em<br />
contato com o ácido clorídrico, torna-se viscoso<br />
e denso, com menor possibilidade de refluir. A<br />
fórmula AR de amido não digerível tem como<br />
base, a adição da goma de jataí na proporção<br />
de 0,4 gramas por 100 ml. Alguns ensaios experimentais,<br />
demonstraram que a maior concentração<br />
de fitatos das fórmulas com amido não digerível,<br />
interferem na absorção de micronutrientes, outros<br />
não comprovam essa ação in-vivo. Deve-se frisar<br />
que o Codex Alimentar recomenda a adição de<br />
amido não- digerível em concentração de até 0,1<br />
gr/100ml para situações tidas como fisiológicas.<br />
Um efeito benéfico adicional das dietas espessadas<br />
é a de promover em lactentes, diminuição<br />
do número de regurgitações e/ou vômitos, o que<br />
contribui para menor perda dos nutrientes ingeridos.<br />
Alguns autores observaram em lactentes,<br />
depuração pouco mais lenta do refluxo ácido<br />
decorrente do aumento da viscosidade, outros<br />
não confirmam esses dados 38 . Salientamos que as<br />
fórmulas AR são consideradas anti-regurgitações<br />
e não anti-refluxo.<br />
WENZEL et al (2003), utilizando a técnica de<br />
impedanciometria intraluminal associada à<br />
pHmetria esofágica demonstraram que as fórmulas<br />
AR não modificam substancialmente o<br />
número de refluxos ácidos pós-prandiais, porém<br />
diminuem a extensão do refluxo para o esôfago,<br />
assim como o volume total do mesmo.<br />
Nos lactentes com poucas semanas que apresentem<br />
as situações de apnéia e fenômenos ALTE, devem<br />
ser instituídas medidas de apoio e salientar aos<br />
familiares que os eventos, na maioria dos casos,<br />
diminuem consistentemente com o transcorrer<br />
da idade, independentemente de qualquer ação<br />
medicamentosa. Os estudos atuais, não apontam<br />
benefícios para instituir terapia anti-secretora de<br />
prova, a não ser em situações especiais, selecionados<br />
a partir de dados obtidos pela pHmetria esofágica<br />
ou IMP-pH e polissonografia correlacionando ALTE<br />
com o RGE. Em situações especiais, de crises repetitivas<br />
e cianose mais prolongada, faz-se necessária<br />
a monitorização cardiorespiratória domiciliar.<br />
A alergia à proteína do leite de vaca pode determinar<br />
em lactentes, um quadro sintomatológico<br />
muito parecido à DRGE, caracterizado por vômitos,<br />
38<br />
regurgitações excessivas, dificuldade alimentar,<br />
cólicas abdominais e déficit ponderal. O pediatra<br />
deve estar atento ao fato de que esses pacientes,<br />
invariávelmente não respondem às medidas<br />
terapêuticas anti-refluxo. IACONO et al (1996)<br />
detectaram a ocorrência de alergia alimentar em<br />
85 dos 204 lactentes, com mediana de 6,1 meses<br />
e que apresentavam quadro clínico de DRGE, totalizando<br />
41,8% dos casos. Esses pacientes foram<br />
submetidos aos testes laboratoriais para alergia<br />
e prova de exclusão/desencadeamento para confirmação<br />
de alergia ao leite de vaca. Anos mais<br />
tarde, NIELSEN et al (2004) observaram através<br />
de dados de pHmetria esofágica, que os casos de<br />
alergia alimentar, determinam refluxos ácidos mais<br />
numerosos e duradouros, quando comparados aos<br />
determinados pela DRGE isoladamente. Atualmente,<br />
tanto a Sociedade Norteamericana de Gastroenterologia<br />
Pediátrica (NASPGHAN) quanto a Européia<br />
(ESPGHAN) preconizam para lactentes com quadros<br />
não responsivos às medidas posturais e dietéticas,<br />
testar 2 semanas de fórmulas extensamente hidrolisadas<br />
ou à base de aminoácidos, antes de iniciar o<br />
tratamento medicamentoso antiácido para a DRGE.<br />
Em relação a essa conduta, não há até o momento,<br />
posicionamento das entidades de gastroenterologia<br />
pediátrica latinoamericana ou brasileira.<br />
São igualmente importantes como medidas antirefluxo,<br />
as recomendações relativas ao estilo de<br />
vida. As orientações dietéticas para crianças maiores<br />
e adolescentes são baseadas naquelas definidas<br />
para adultos. Devem ser evitados alimentos que<br />
potencialmente diminuem o tônus do EEI ou<br />
aumentam a acidez gástrica, como por exemplo:<br />
alimentos gordurosos, frutas cítricas, tomate,<br />
café, bebidas alcoólicas e gasosas. As crianças e<br />
adolescentes obesos apresentam DRGE com maior<br />
frequência e gravidade, sendo recomendada a<br />
redução do peso corpóreo e dietas com menores<br />
teores de gordura. O fumo, mesmo passivo promove<br />
maior número de relaxamentos transitórios<br />
do EEI, tendo impacto na piora da DRGE.<br />
Evidentemente, essas medidas acima citadas,<br />
embora importantes, tem alcance limitado do<br />
ponto de vista terapêutico para serem utilizadas<br />
isoladamente. Assim sendo, os pacientes com<br />
DRGE comprovada, necessitarão de tratamento<br />
medicamentoso.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Refluxo Gastroesofágico<br />
Ao iniciar o tratamento antiácido para os casos<br />
mais leves e moderados destacam-se os anti-H2<br />
como medida inicial. Esta classe de drogas é<br />
mais eficiente em inibir secreção ácida basal,<br />
particularmente no período noturno, sendo segura<br />
e determinando poucos efeitos colaterais.<br />
Às vezes, podem ser observados alguns episódios<br />
de cefaléia, fadiga, dor abdominal e diarréia.<br />
Os antagonistas de receptores H2 disponíveis<br />
para uso são: cimetidina (20 a 30 mg/kg/dia<br />
em 2 tomadas), ranitidina (6 a 8 mg/kg/dia<br />
em 2 tomadas), famotidina e nizatidina. Em<br />
nosso meio, utiliza-se em especial, os dois primeiros<br />
acima citados. SALVATORE et al (2006)<br />
utilizando em lactentes menores de 6 meses<br />
doses elevadas de ranitidina, em média 10 mg/<br />
kg/dia, constataram a perda de capacidade de<br />
tamponamento ácido em aproximadamente 30%<br />
dos lactentes com poucas semanas de uso da<br />
medicação anti-H2. Esse fenômeno, denominado<br />
taquifilaxia, foi confirmado em outros estudos,<br />
o que tem limitado o emprego dessa classe de<br />
antiácido, para os casos mais graves de DRGE<br />
e nas esofagites erosivas.<br />
Nos últimos anos, tem sido crescente o uso de<br />
inibidores de bomba de prótons (IBP) para o tratamento<br />
anti-refluxo. O omeprazol, lansoprazol<br />
e esomeprazol são as drogas mais comumente<br />
utilizadas para lactentes acima de 1 ano de<br />
idade, em casos mais graves e não responsivos<br />
aos anti-H2. Em todos os serviços de gastroenterologia<br />
pediátrica, tanto norteamericanos<br />
quanto europeus houve aumento considerável<br />
na prescrição de IBP para lactentes menores de 1<br />
ano de idade. Há vários ensaios terapêuticos em<br />
curso, utilizando IBP em lactentes nos primeiros<br />
meses de vida, e em prematuros, com ótimos<br />
resultados e boa margem de segurança. A dose<br />
é variável e por vezes de difícil acerto. A maior<br />
parte das vezes, consegue-se um efeito antiácido<br />
satisfatório com doses entre 0,7 a 2,0 mg/kg/dia.<br />
As crianças, em geral, metabolizam os IBP de<br />
forma mais rápida e necessitam de doses mais<br />
elevadas em relação ao peso corpóreo. Algumas<br />
vezes, há falhas do efeito antiácido noturno, o<br />
que exige fracionamento da dose para duas vezes<br />
ao dia, ou mesmo emprego do IBP matinal e<br />
anti-H2 noturno.<br />
CURITIBAPR<br />
O horário da dose é crítica para atingir o máximo<br />
de supressão ácida e seus benefícios terapêuticos.<br />
Como um grande número de bombas de prótons<br />
são ativadas com a alimentação, logo após um<br />
período de jejum, os IBP devem ser administrados<br />
30 a 60 minutos antes do café da manhã<br />
ou da 1ª refeição substancial do dia. Os efeitos<br />
colaterais ocorrem na proporção de 4 a 7% dos<br />
casos, registrando-se como os mais comuns: cefaléia,<br />
fadiga, dor abdominal, diarréia e erupção<br />
cutânea. Alguns trabalhos, apontam para a maior<br />
ocorrência de pneumonias e gastroenterites em<br />
crianças submetidas ao tratamento antiácido. Há<br />
um risco potencial maior de ocorrência de enterite<br />
necrotizante e infecção fúngica em prematuros.<br />
Os IBP geralmente são apresentados na forma de<br />
microgrânulos ácidos-resistentes, fotossensíveis,<br />
envoltos por uma cápsula, que deve se desintegrar<br />
no duodeno para que a droga seja absorvida<br />
em meio alcalino. As formas mais seguras em<br />
pediatria, que garantem absorção mais adequada,<br />
são as formas MUPS “multipe unit pellet system”<br />
constituída de microgrânulos com invólucro ácidoresistente<br />
ou comprimidos com microgrânulos<br />
dispersíveis. GREMSE et al (2006) constataram<br />
efeito altamente satisfatório na cicatrização das<br />
esofagites erosivas em crianças, com o emprego<br />
do lanzoprazol na dose de 15 mg/dia para os<br />
menores de 30 kg e 30 mg/dia para os maiores<br />
de 30 kg após 2 semanas de tratamento. Alguns<br />
estudos, em crianças, apontam alta eficácia do<br />
esomeprazol na dose de 1,7 mg/kg/dia no controle<br />
dos sintomas extraesofágicos da DRGE.<br />
Os procinéticos não devem ser utilizados rotineiramente<br />
como drogas de escolha no tratamento<br />
anti-refluxo. Atualmente, considera-se que<br />
possam ser prescritos, após avaliação criteriosa,<br />
como medicação coadjuvante em casos de RGE<br />
onde persistem os sintomas de emese ou plenitude<br />
pós-prandial, mesmo com a supressão ácida<br />
adequada. A Domperidona é um antagonista periférico<br />
do receptor da dopamina, que estimula<br />
a motilidade do trato gastrointestinal superior.<br />
A droga tem pouca penetração pela barreira<br />
hematoencefálica e geralmente não determina<br />
efeitos sobre o sistema nervoso central. A dose<br />
recomendada é de 0,2 mg/kg/dose, três a quatro<br />
vezes ao dia, 15 a 30 minutos antes das refeições.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 39
Refluxo Gastroesofágico<br />
Na prática, há poucos estudos controlados que<br />
confirmem a eficácia da medicação no sentido de<br />
diminuir os episódios de refluxo gastroesofágico.<br />
A mesma exerce efeito mais positivo no sentido<br />
de acelerar o esvaziamento gástrico, porém o<br />
efeito sobre a clearence esofágico do refluxo e<br />
sobre o número de relaxamentos do EEI não é<br />
confirmado nas publicações de literatura.<br />
A Metoclopramida e a Bromoprida são agentes<br />
farmacocinéticamente similares com apenas a<br />
substituição de cloro por bromo. São agentes<br />
antidopaminérgicos com efeitos colinérgicos e seratoninérgicos.<br />
Agem aumentando o tônus do EEI,<br />
melhorando o peristaltismo esofágico e o esvaziamento<br />
gástrico. O uso dessas medicações deve ser<br />
muito criterioso, pois as mesmas apresentam efeitos<br />
adversos importantes e não raros, tais como; liberação<br />
extra-piramidal, reações distônicas e sonolência.<br />
Há uma pequena margem de segurança entre a<br />
dose terapêutica e tóxica. A dose recomendada é<br />
de 0,5 a 0,1 mg/kg/dia, 3 a 4 vezes ao dia, trinta<br />
minutos antes das refeições. Uma meta-análise<br />
de 7 estudos que utilizaram metoclopramida em<br />
lactentes entre 1 mês e 2 anos de idade, demonstra<br />
algum efeito da droga reduzindo os sintomas de<br />
refluxo e os índices de refluxo ácido, porém muitos<br />
pacientes apresentaram efeitos colaterais.<br />
O tratamento cirúrgico deve ser considerado nos<br />
casos de estenose cicatricial péptica, manifestações<br />
extra-esofágicas graves, comprovadamente secundários<br />
à DRGE, não responsiva ao tratamento clínico.<br />
Nas grandes hérnias hiatais, graves crises de apnéia<br />
e em pacientes neuropatas com alterações motoras<br />
graves do trato digestório, está indicada a fundoplicatura<br />
cirúrgica do esôfago distal. Segundo LEE et<br />
al (2008), recomenda-se, quando possível em casos<br />
graves, a realização de manometria esofágica para<br />
afastar distúrbios de motilidade esofágica antes de<br />
indicar cirurgia. A DRGE pode recidivar no período<br />
pós-cirúrgico em até 30-70%, principalmente nos<br />
neuropatas, nos casos de atresia esôfago e nos<br />
portadores doença pulmonar crônica.<br />
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Joint Recommendations of the North American<br />
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for Pediatric Gastroenterology, Hepatology, and<br />
Nutrition (ESPGHAN). J Pediatric Gastroenterol Nutr<br />
2009; 49:498–547.<br />
2. Tobin JM, McCloud P, Cameron DJ. Posture and gastrooesophageal<br />
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AR-Bed(R)” in 3 weeks – 3 month old infants on<br />
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Arch Dis Child 2010;95:26–30.<br />
4. Chao H, Vandenplas Y. Effect of cereal-thicekned<br />
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Cow Milk Hypersensitivity in Infants and Children:<br />
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with persisting reflux-symptoms. Acta Paediatr. 2006<br />
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following pediatric Nissen fundoplication. Arch Surg.<br />
2008 Sep; 143(9):873-6.<br />
40<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Constipação Crônica<br />
CURITIBAPR<br />
Diagnósticos<br />
diferenciais<br />
ARISTIDES SCHIER DA CRUZ<br />
A constipação intestinal é um transtorno clínico<br />
de alta prevalência, com 16 a 36% das crianças<br />
e adolescentes acometidas, de acordo com as<br />
pesquisas realizadas no Brasil. Em ambulatório<br />
geral de pediatria a constipação intestinal é<br />
motivo da consulta em 3% dos atendimentos,<br />
sendo 25% dos casos em ambulatório de gastroenterologia<br />
pediátrica.<br />
Constipação intestinal é um sintoma que está<br />
presente em vários tipos de doenças e situações<br />
clínicas. Sendo assim, não é prudente<br />
uma atitude simplista diante de um paciente<br />
com constipação, na qual o médico assistente<br />
considere sempre o diagnóstico de constipação<br />
funcional. Se assim fosse, bastaria a conduta<br />
médica de orientar ingestão rica em fibras,<br />
maior ingestão de água, treinamento do controle<br />
esfincteriano e laxantes apropriados e todos os<br />
casos estariam bem orientados. Não deve ser<br />
assim, pois esta orientação simplista resulta em<br />
grande número de situações mal resolvidas,<br />
crônicas, ou até mesmo de evolução grave.<br />
Há casos em que a constipação é causada por<br />
alimentos, especialmente o leite de vaca, por<br />
doenças neuromusculares, por medicamentos,<br />
por defeitos anatômicos, por outras doenças.<br />
Cabe ao médico assistente estar preparado para<br />
identificar e tratar as formas de maior prevalência,<br />
especialmente a constipação funcional<br />
ou causada pelo leite de vaca, e saber quando<br />
encaminhar para o especialista em gastroenterologia<br />
ou cirurgia pediátrica os casos rebeldes<br />
ao tratamento ou os de origem orgânica.<br />
Constipação funcional<br />
Foram publicados em 2006 os Critérios de<br />
Roma III, que definem as condições para<br />
diagnóstico clínico das desordens gastrointestinais<br />
funcionais. A constipação funcional<br />
é a desordem gastrointestinal funcional de<br />
maior prevalência populacional e deve ser<br />
bem conhecida por todos os pediatras e médicos<br />
clínicos. Seguem abaixo os critérios para<br />
diagnóstico de constipação funcional:<br />
Critérios de Roma III: Constipação<br />
Funcional em crianças e adolescentes<br />
Ao menos duas das seguintes manifestações:<br />
1. Duas ou menos evacuações/semana<br />
2. Ao menos 1 episódio semanal de incontinência<br />
involuntária, após adquirir<br />
controle anal<br />
3. Retenção excessiva de fezes (comportamento<br />
de retenção para evitar a defecação)<br />
4. Evacuações com dor ou esforço intenso<br />
à eliminação das fezes<br />
5. Presença de grande massa fecal no reto<br />
6. Eliminações de fezes com grande diâmetro,<br />
que podem entupir o vaso<br />
* ao menos uma vez/semana, nos 2 meses anteriores<br />
Com estes novos critérios houve algumas mudanças<br />
na nomenclatura diagnóstica. Se antes<br />
era obrigatória a presença de fezes endurecidas,<br />
evacuadas com esforço e sofrimento, isto agora<br />
não é mais obrigatório na constipação funcional,<br />
apesar de ser a situação mais comum. Se o nome<br />
que se dava a certas situações era encoprese (escape<br />
fecal em crianças acima de quatro anos) ou,<br />
mais recentemente, retenção fecal funcional, estas<br />
mesmas condições agora são denominadas de<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
41
Constipação Crônica<br />
constipação funcional, nestes casos com encoprese<br />
retentiva. Isto porque passam a ser reconhecidos<br />
como constipação funcional mesmo alguns casos<br />
em que a criança não apresenta intervalo longo<br />
entre as evacuações, ou fezes endurecidas e evacuadas<br />
com sofrimento. Basta ter comportamento<br />
de retenção voluntária das fezes, com formação de<br />
fecaloma no reto e a criança já tem diagnóstico<br />
de constipação funcional. Nesses casos geralmente<br />
a criança apresenta escape fecal na roupa.<br />
É importante conhecer as definições dos<br />
critérios de Roma III para outros transtornos<br />
relacionados à defecação, e que não devem<br />
ser confundidos com constipação funcional:<br />
- disquesia infantil: lactentes de menos de<br />
seis meses que apresentam 10 a 20 minutos<br />
de irritabilidade e choro antes da evacuação,<br />
porém com intervalo normal entre<br />
evacuações e consistência normal das fezes.<br />
Costuma ter boa evolução, e desaparece espontaneamente<br />
em algumas semanas.<br />
- incontinência fecal não retentiva: uma ou<br />
mais vezes por semana, num total de três<br />
meses, em crianças de quatro anos ou mais:<br />
1) evacuação em local e horário inapropriado<br />
ao contexto social; 2) ausência de doença<br />
estrutural ou inflamatória; 3) ausência de<br />
sinais de retenção fecal. Apesar de ser um<br />
transtorno funcional, não são indivíduos<br />
formadores de fecaloma e as tentativas de<br />
tratamento são frequentemente frustradas.<br />
Na fisiopatogenia da constipação funcional<br />
devem ser levados em consideração três fatores<br />
importantes:<br />
A – Dieta pobre em fibras ou água: nas pesquisas<br />
realizadas no Brasil e no exterior ficou esclarecido<br />
que a dieta pobre em fibra alimentar tem influência<br />
apenas parcial na gênese da constipação<br />
intestinal funcional em crianças e adolescentes.<br />
Pode-se dizer que é um fator decisivo, mas apenas<br />
em uma minoria de casos, nos quais basta o<br />
enriquecimento da dieta com fibra vegetal e água<br />
para obter resolução completa da constipação.<br />
B – Comportamento de retenção fecal voluntária:<br />
é o fator comportamental, responsável por<br />
um grande desafio a partir da fase pré-escolar.<br />
O comportamento de reter as fezes com todo<br />
o empenho possível é um importante fator de<br />
agravamento da constipação, pois o pré-escolar<br />
consegue segurar por tempo cada vez mais<br />
longo, com piora clínica, formação de fecaloma<br />
cada vez mais volumoso no reto e sigmóide e<br />
surgimento de escape fecal na roupa. Este fator<br />
se faz presente de duas maneiras possíveis: a)<br />
a criança já apresentava a constipação desde<br />
lactente, pelos outros fatores funcionais, mas<br />
devido ao sofrimento e dor para evacuar, após<br />
um ano de vida passa a fazer retenção voluntária<br />
das fezes e o quadro agrava. É a típica constipação<br />
presente desde o primeiro ano e que piora<br />
bastante no segundo ou terceiro ano de vida; b)<br />
constipação funcional que se inicia entre 18 meses<br />
a três anos de vida, em crianças previamente<br />
normais, por ocasião do início do treinamento<br />
esfincteriano e tentativa de retirada da fralda,<br />
ou quando entra na creche. São pré-escolares<br />
emocionalmente imaturos ou de personalidade<br />
difícil, que se recusam a evacuar no vaso sanitário<br />
ou pinico. A família não percebe a iminência do<br />
agravo que está para se instalar e retira a fralda<br />
da criança. Ela não está emocionalmente pronta<br />
para evacuar no vaso sanitário e é inevitável<br />
que o faça no chão ou na roupa. Como ela vê a<br />
fisionomia de frustração dos cuidadores, assume<br />
a decisão de reter definitivamente as fezes, até<br />
quando puder. Pode demorar de vários meses<br />
a vários anos para um agravo comportamental<br />
desta natureza se reverter. É por causa desta<br />
minoria de pré-escolares que se determina como<br />
18 meses a quatro anos de idade a faixa etária<br />
para se retirar a fralda das crianças. Ou seja, não<br />
se deve ter pressa. Todos os pais e cuidadores de<br />
creche deveriam ter esta informação preventiva.<br />
C – Retardo de trânsito colônico proximal, distal ou<br />
retal: é o componente idiopático da constipação<br />
funcional. Em caráter individual, ou até mesmo<br />
hereditário e familiar, são pessoas que apresentam<br />
comprometimento parcial na força de propulsão<br />
peristáltica do cólon proximal, do sigmóide, ou<br />
no relaxamento do esfíncter anal interno. É difícil<br />
saber a importância deste fator na gênese da constipação<br />
funcional em cada caso, ou em famílias<br />
em que vários são acometidos. Cerca de 40% dos<br />
42<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Constipação Crônica<br />
casos de constipação funcional são definitivamente<br />
dependentes de tratamento medicamentoso para<br />
controle da constipação e este fator pode ser um<br />
dos motivos responsáveis por esta dependência.<br />
Constipação por leite de vaca:<br />
CURITIBAPR<br />
Grande porcentagem dos pacientes com constipação<br />
intestinal apresenta história clínica sugestiva<br />
de que o início do problema coincidiu<br />
com a perda do leite materno ou o início de<br />
leite de vaca ou fórmula infantil. Há casos em<br />
que o fenômeno é fugaz, pois em semanas ou<br />
meses o lactente passa a tolerar o leite de vaca.<br />
Em outros casos a constipação é induzida pelo<br />
leite de vaca e esta reação adversa ao leite<br />
perdurará por muitos anos.<br />
São diversos os mecanismos através dos quais<br />
o leite de vaca causa constipação:<br />
A – Alergia à proteína do leite de vaca: os estudos<br />
de Iacono G et al. (1995, 1998), assim como<br />
outros realizados posteriormente, demonstraram<br />
que grande parcela dos pré-escolares com constipação<br />
intestinal cursam com alívio ou resolução<br />
do sintoma a partir da adoção de uma dieta<br />
de exclusão do leite de vaca e derivados, com<br />
substituição por alimentos à base de soja. Os<br />
sintomas recidivam por ocasião da re-exposição<br />
ao leite de vaca. Em uma parcela desses casos<br />
o paciente apresentava, antes da exclusão da<br />
proteína do leite de vaca, proctite e inflamação<br />
retal eosinofílica, com sangramento ao evacuar,<br />
reversível com a dieta de exclusão. Em outra<br />
parcela os pacientes ficavam assintomáticos<br />
com a dieta de exclusão do leite, mas não havia<br />
inflamação de mucosa. Há possibilidade de<br />
mecanismo alérgico sem presença de processo<br />
inflamatório de tecidos, mas com transtorno<br />
na motilidade intestinal. Em vários casos não<br />
há alergia à proteína, e sim outros mecanismos<br />
induzidos pelo leite.<br />
B – Qualidade da microbiota intestinal com a<br />
transição de leite materno para leite de vaca:<br />
estudos dos últimos 18 anos revelaram que a microbiota<br />
intestinal nos lactentes em aleitamento<br />
materno tem predomínio de bifidobactérias e<br />
lactobacilos. Esta microbiota fermentativa favorece<br />
a formação de bolo fecal semi-líquido ou<br />
de consistência macia. Com o desmame ou o<br />
início de leite de vaca, rapidamente se instala<br />
uma microbiota de padrão adulto, com predomínio<br />
de anaeróbios bacteróides e veillonela,<br />
além de enterobactérias facultativas. Este padrão<br />
de microbiota cursa em muitos lactentes com<br />
a formação de um bolo fecal de consistência<br />
mais endurecida. Ficou demonstrado que um<br />
dos principais motivos da diferença de microbiota<br />
de acordo com o tipo de leite ingerido é a<br />
presença de alta concentração, no leite humano,<br />
dos prebióticos galacto-oligossacarídeos (GOS) e<br />
fructo-oligossacarídeos (FOS), benefício este perdido<br />
por ocasião do desmame. Entre os últimos<br />
avanços das fórmulas infantis está a adição de<br />
GOS e FOS, com efetiva redução da prevalência<br />
da constipação intestinal pós-desmame.<br />
C – Digestibilidade ruim da gordura do leite de<br />
vaca: o ácido palmítico é o componente de maior<br />
concentração nos leites produzidos pelos mamíferos.<br />
Porém, no leite humano ele predomina<br />
em posição alfa na molécula de triglicerídeo,<br />
enquanto no leite de vaca ele predomina em<br />
posição beta. Com esta diferença, em alguns<br />
lactentes até 15% da gordura do leite de vaca<br />
não é digerida e absorvida. O resultado é que as<br />
bactérias do cólon metabolizam e saponificam<br />
a gordura não absorvida. Assim, o bolo fecal<br />
de alguns lactentes em uso de leite de vaca<br />
torna-se uma pasta dura de sabão de ácido<br />
graxo impregnada de cálcio (o leite de vaca<br />
possui bastante cálcio, mas grande parte não é<br />
absorvida). Este fenômeno não é observado nas<br />
fezes de lactentes em aleitamento materno. Os<br />
avanços na qualidade da gordura das modernas<br />
fórmulas infantis, bem como a correta relação<br />
cálcio:fósforo, contribuem com a prevenção da<br />
constipação pós-desmame.<br />
D – Ingestão de grande volume de leite de vaca:<br />
há pré-escolares e escolares que ingerem 1 a 2<br />
litros de leite por dia e possuem constipação. A<br />
simples redução do volume de leite para 500ml/<br />
dia promove controle da constipação, devido à<br />
mudança para uma dieta mais rica em fibras<br />
vegetais, além da redução da intensidade dos<br />
mecanismos descritos acima.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 43
Constipação Crônica<br />
Constipação associada<br />
às neuropatias:<br />
A prevalência de constipação intestinal é alta em<br />
pacientes portadores de paralisia cerebral espástica,<br />
doenças neurodegenerativas e síndromes<br />
hipotônicas. Os motivos que induzem a constipação<br />
nesses casos são diversos: imobilidade<br />
corporal, má ingestão de líquidos, intensidade e<br />
qualidade do comprometimento do peristaltismo<br />
intestinal, espasticidade da musculatura que<br />
compõe o esfíncter anal externo, entre outros.<br />
Mielomeningocele, malformações na coluna<br />
lombossacra, traumas ou tumores medulares<br />
geram transtornos neurológicos que podem cursar<br />
com bexiga neurogênica, incontinência fecal<br />
ou constipação intestinal. Displasia neuronal<br />
intestinal e lesões musculares ou ganglionares<br />
de parede colônica geram constipação intestinal<br />
primária ou adquirida muito grave, bem como a<br />
síndrome de pseudo-obstrução intestinal crônica.<br />
Constipação associada a defeitos<br />
anatômicos que requerem<br />
cirurgias<br />
Alguns pacientes têm a constipação causada<br />
por defeitos anatômicos, tais como: doença de<br />
Hirschsprung, também conhecida como megacólon<br />
agangliônico ou megacólon congênito;<br />
ânus anteriorizado e ectópico; estenose anal<br />
primária ou secundária a fibrose pós cirurgia<br />
para correção de imperfuração anal ou megacólon<br />
agangliônico e violência sexual.<br />
Constipação associada a doenças<br />
crônicas e medicamentos:<br />
A constipação intestinal é uma das manifestações<br />
possíveis em diversas doenças crônicas, entre elas<br />
a doença celíaca, fibrose cística, hipotireoidismo,<br />
diabetes tipo 1, bem como no uso de medicamentos,<br />
como opiáceos, anticonvulsivantes,<br />
antiácidos, anti-hipertensivos, anticolinérgicos<br />
e simpaticomiméticos.<br />
Abordagem Diagnóstica<br />
Considerando todas as causas de constipação intestinal<br />
discutidas acima, bem como os outros transtornos<br />
de evacuação, fica evidente a necessidade de<br />
que os profissionais médicos utilizem os seguintes<br />
instrumentos para abordagem diagnóstica:<br />
1. Anamnese: busca informações sobre idade em<br />
que eliminou mecônio pela primeira vez, idade de<br />
início da constipação, intervalo entre evacuações,<br />
aspecto das fezes, se o bolo fecal entope o vaso<br />
sanitário, sofrimento ao evacuar, sangramento<br />
anal, escape fecal, idade da perda do leite materno,<br />
do início de leite substituto, quantidade de fibra<br />
alimentar, ingestão de líquidos, atividade física,<br />
comportamento de retenção das fezes, recusa ou<br />
medo de evacuar no vaso sanitário, uso de medicamentos,<br />
dor e distensão abdominal, vômitos,<br />
emagrecimento, fraqueza, etc.<br />
2. Exame físico: inspeção abdominal na busca<br />
de movimentos peristálticos visíveis; palpação<br />
abdominal para avaliar presença e localização<br />
de fecaloma; inspeção anal na busca de fissura<br />
anal, plicoma, ânus ectópico, fibrosado, malformação<br />
anorretal; toque retal para avaliar tônus<br />
esfincteriano (intensidade, resposta motora voluntária),<br />
conteúdo da ampola retal, permitindo<br />
diferenciar doença de Hirschsprung clássica do<br />
fecaloma retal por constipação funcional; inspeção<br />
de coluna lombossacra, busca de estigmas<br />
de doenças neuromusculares, hipotireoidismo,<br />
doença celíaca, desnutrição protéico-energética,<br />
obesidade, etc.<br />
3. Exames complementares: (aula seguinte)<br />
<strong>Referências</strong> <strong>Bibliográficas</strong><br />
1. Junqueira JCF, Calçado AC, Gracia J, Guerra SP, Carvalho<br />
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criança e no adolescente. <strong>Nestlé</strong> Nutrition Institute<br />
2010, Temas de Pediatria no 87, p5-31.<br />
2. Morais MB, Maffei HVL. Constipação intestinal e<br />
encoprese. In. Ferreira CT, Carvalho E, Silva LR.<br />
Gastroenterologia e hepatologia em pediatria:<br />
diagnóstico e tratamento – Ed. MEDSI (Rio de Janeiro)<br />
2003, p.215-229.<br />
44<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Constipação Crônica<br />
Exames subsidiários –<br />
Quais são, quando<br />
solicitar, como<br />
interpretar<br />
ROSANE COSTA GOMES<br />
Quando solicitar?<br />
A propedêutica da constipação crônica na infância<br />
está limitada aos casos suspeitos de etiologia orgânica.<br />
A anamnese completa e o exame físico bem<br />
detalhado (Tabela 1), incluindo o exame digital<br />
do reto, permitem per si chegar ao diagnóstico de<br />
constipação crônica funcional, sem a necessidade<br />
de confirmação por exames complementares.<br />
Algumas manifestações clínicas constituem sinais<br />
de alerta para causa orgânica (Tabela 2), sendo<br />
importante identificá-las à primeira consulta, pois<br />
a presença destas norteará a necessidade de uma<br />
investigação complementar e conduta terapêutica.<br />
A constipação crônica funcional embora correspondendo<br />
a 95% dos casos de constipação na<br />
infância, deve ser diferenciada de ampla variedade<br />
de causas orgânicas e dentre estas, a doença de<br />
Hirschsprung ou aganglionose congênita deve ser<br />
sempre afastada, independentemente da idade de<br />
início dos sintomas e da idade em que a criança<br />
chega ao serviço médico, uma vez que seu tratamento<br />
requer procedimento cirúrgico e a demora<br />
no diagnóstico aumenta o risco de complicações.<br />
Ressalta-se que os portadores de aganglionose de<br />
segmento curto ou ultra-curto por terem manifestações<br />
muito semelhantes aqueles com constipação<br />
crônica funcional, o tratamento clínico é muitas<br />
vezes iniciado, mas a resposta insatisfatória os<br />
conduzem a uma abordagem complementar.<br />
Quando a anamnese e o exame físico não apresentam<br />
dados compatíveis com constipação secundária<br />
a causas intestinais ou extra-intestinais,<br />
deve prevalecer então o diagnóstico de constipação<br />
crônica funcional.<br />
CURITIBAPR<br />
Tabela 1 – Anamnese na constipação crônica<br />
Idade de início de sintomas<br />
Eliminação de mecônio<br />
Calibre das fezes<br />
Comportamento de retenção<br />
Dor abdominal<br />
Soiling<br />
Evolução do peso (perda de peso)<br />
Anorexia / Vômitos<br />
Sintomas urinários<br />
Inquérito alimentar (estimar a adequação<br />
de fibra)<br />
História familiar de constipação<br />
Tratamento anterior<br />
Alterações anorretais / cirurgias prévias<br />
Uso de medicamentos<br />
História psicossocial (ambiente familiar e<br />
escolar)<br />
Tabela 2 – Sinais de alerta para constipação<br />
de causa orgânica<br />
Idade de início inferior a 12 meses<br />
Retardo de eliminação de mecônio<br />
Déficit de crescimento ou desnutrição<br />
Ausência de comportamento de retenção<br />
Distensão abdominal pronunciada<br />
Ampola retal vazia na presença de fecaloma<br />
Fezes finas ou em fita<br />
Ausência de escape fecal (soiling)<br />
Eliminação explosiva de gases e fezes ao<br />
exame digital do reto<br />
Anormalidades na pigmentação cutânea<br />
Relação com introdução de alimentos (leite<br />
de vaca ou glúten)<br />
Presença de sintomas extra-intestinais<br />
Resposta insatisfatória ao tratamento convencional<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 45
Constipação Crônica<br />
Quais são?<br />
É evidente que a investigação complementar está<br />
na dependência da provável hipótese diagnóstica<br />
elaborada a partir da anamnese e exame físico.<br />
Para os casos em que há dúvida entre megacólon<br />
funcional e megacólon agangliônico, o enema<br />
opaco, a manometria anorretal e a biópsia retal<br />
para exame anátomo patológico agregado ao<br />
método histoquímico compreendem os exames<br />
apropriados para esta investigação.<br />
Exames bioquímicos são indicados quando se<br />
suspeita de deficiência ou excesso de hormônios<br />
tireiodianos ou adrenais e distúrbios eletrolíticos,<br />
assim como marcadores sorológicos específicos<br />
e a dosagem de cloro no suor são úteis quando<br />
a doença celíaca e a fibrose cística respectivamente<br />
constituem hipóteses para a causa da<br />
constipação crônica.<br />
O enema opaco é útil para avaliar o diâmetro<br />
dos segmentos colônicos, seja dilatação ou<br />
estenose, a distância reto/sacro, o índice retosigmoideo,<br />
o espaço pré-sacral e sinais indiretos<br />
sugestivos de doença de Hirschsprung em recém<br />
nascidos (RN) e lactentes pequenos, onde ainda<br />
não houve tempo de se instalar o megacólon.<br />
A retenção fecal contínua dá origem ao cólon<br />
sigmóide redundante, ao megacólon e/ou megarreto.<br />
Na constipação crônica, é de fundamental<br />
importância que o enema seja realizado sem<br />
preparo prévio (técnica de Neuhausen), para<br />
não provocar dilatação de possível segmento<br />
agangliônico com consequente resultado falso<br />
negativo. A técnica consiste em posicionar uma<br />
sonda no reto e introduzir contraste (bário)<br />
fracionadamente, com leve pressão, observando<br />
se há ou não enchimento de zona agangliônica.<br />
As radiografias devem ser obtidas em perfil<br />
para estudar o reto e o sigmóide e, depois de<br />
enchido o sigmóide, uma radiografia de frente,<br />
panorâmica, é realizada para demonstrar as<br />
dimensões do cólon sigmóide. A incidência em<br />
perfil visualiza o espaço pré-sacral onde pode<br />
ser visto possíveis compressões extrínsecas. A<br />
medida do índice retosigmoideo é avaliada<br />
através da medida transversa do reto, comparada<br />
com a do cólon sigmóide. Normalmente<br />
os diâmetros do sigmóide e do reto apresentam<br />
uma relação 1:1 e o diâmetro retal é maior. O<br />
enema opaco pode contribuir para o diagnóstico<br />
das formas clássicas de Hirschsprung, entretanto<br />
nas formas de segmento curto, principalmente<br />
ultracurto, esse diagnóstico deve ser descartado<br />
pela demonstração do reflexo de relaxamento<br />
do EAI. Esse exame não é diagnóstico em 25%<br />
dos casos, principalmente nos RN.<br />
A manometria anorretal (MAR) é um procedimento<br />
que vem sendo amplamente utilizado em<br />
crianças com constipação crônica, muitas vezes<br />
fazendo parte da primeira etapa da abordagem<br />
em alguns serviços, seguindo a recomendação<br />
da Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia<br />
Pediátrica e Nutrição. Existem várias<br />
técnicas para realizar a MAR e os aparelhos de<br />
perfusão com múltiplos canais para captação<br />
de pressão tem sido os mais utilizados. Em<br />
indivíduos normais, toda vez que há distensão<br />
retal, há uma resposta reflexa representada por<br />
uma queda de pressão do EAI. Esse relaxamento<br />
é denominado reflexo inibitório retoanal (RIRA)<br />
ou reflexo de relaxamento reto esfincteriano. O<br />
RIRA, para estar presente, requer a integridade<br />
anatômica e a maturidade funcional das estruturas<br />
nervosas do cólon. O exame consiste na<br />
obtenção de traçado representativo das pressões<br />
do reto e canal anal e avalia a função anorretal<br />
e dinâmica da evacuação. É um método não<br />
invasivo onde um cateter ao qual é anexado<br />
balão na extremidade distal, é introduzido<br />
através do ânus e posicionado no canal anal<br />
funcional. Assim, as pressões de repouso do<br />
canal anal, a função do esfíncter anal interno<br />
(reflexo de relaxamento reto-esfincteriano), a<br />
função do esfíncter anal externo, a sensibilidade<br />
retal e a disfunção do assoalho pélvico (anismo)<br />
podem ser evidenciados. Realiza-se em qualquer<br />
idade e requer preparo prévio no dia anterior<br />
ao exame. Não é necessário o jejum. O exame<br />
é feito sem anestesia, porém há necessidade de<br />
total colaboração da criança, o que dificulta a<br />
realização em crianças muito pequenas. Com<br />
uma sensibilidade de 83% e especificidade de<br />
93%, a MAR permite o estudo funcional da região<br />
anorretal da criança com constipação crônica, na<br />
avaliação da criança neurológica incontinente,<br />
no controle da função continente depois de<br />
46<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Constipação Crônica<br />
cirurgia corretiva de anomalias anorretais e<br />
doença de Hirschsprung e após traumas que<br />
lesem a região anorretal. Sem dúvida, a grande<br />
importância da MAR é o diagnóstico diferencial<br />
entre a doença de Hirschsprung e a constipação<br />
crônica funcional.<br />
A biópsia retal é realizada para a pesquisa de<br />
células ganglionares presentes nos plexos mioentéricos<br />
de Auerbah e Meissner. Indicada nos<br />
casos em que à MAR não se observou o reflexo<br />
de relaxamento reto-esfincteriano ou quando<br />
o enema mostra imagem sugestiva de doença<br />
de Hirschsprung. O fragmento é coletado por<br />
técnica cirúrgica ou por aspiração. Geralmente<br />
são obtidos 3 a 5 fragmentos entre 2 e 5 cm<br />
acima da linha pectínea, uma vez que abaixo<br />
dessa distância crítica, normalmente não há<br />
células ganglionares, portanto, fragmentos de<br />
segmentos muito distais não permitem afirmar<br />
ou excluir a doença de Hirschsprung. Para ter<br />
valor diagnóstico, o fragmento da parede retal<br />
necessita ter extensão e profundidade adequados,<br />
ou seja, incluir ambas as musculaturas<br />
da parede intestinal (muscular da mucosa e<br />
submucosa) e, ter mais de 0,5 cm em extensão.<br />
Os cortes são montados em parafina e corados<br />
pela hematoxilina-eosina. A biópsia retal possui<br />
sensibilidade de 93% e especificidade de 100%<br />
para o diagnóstico de doença de Hirschsprung.<br />
Resultados falsos negativos podem ocorrer por<br />
topografia inadequada. A biópsia retal também<br />
permite o estudo de outras anomalias do sistema<br />
nervoso entérico, como a displasia neuronal<br />
intestinal e a pseudo-obstrução intestinal.<br />
O método histoquímico no estudo das biópsias<br />
de mucosa e submucosa do reto, o qual avalia<br />
a atividade da acetilcolinesterase (ACE), agrega<br />
valor ao diagnóstico da doença de Hirschsprung<br />
e da displasia neuronal intestinal. O paciente<br />
portador da doença de Hirschsprung apresenta<br />
histologicamente, ausência de células ganglionares<br />
e presença de troncos nervosos com fibras<br />
não mielinizadas em grande quantidade nos<br />
plexos de Meissner e Auerbach. A transmissão de<br />
impulsos nervosos é efetuada pelos mediadores<br />
químicos acetilcolina e a noradrenalina. Na ausência<br />
de células ganglionares, as fibras nervosas<br />
CURITIBAPR<br />
sofrem hiperplasia, hipertrofia e ficam impregnadas<br />
por ACE. A displasia neuronal intestinal<br />
apresenta hiperplasia dos plexos com formação<br />
de células ganglionares gigantes, moderada elevação<br />
da ACE nas fibras nervosas parassimpáticas<br />
da lâmina própria e camada muscular circular,<br />
mas não tão acentuada como na aganglionose.<br />
A ocorrência de células ganglionares gigantes na<br />
submucosa exclui a doença de Hirschsprung e<br />
confirma o diagnóstico de displasia neuronal.<br />
O estudo do tempo de trânsito colônico total<br />
e segmentar com marcadores radiopacos fornece<br />
informações sobre a função motora colônica e<br />
retal, detectando-se diferentes padrões de distúrbios<br />
de motilidade intestinal. Em crianças com<br />
constipação crônica funcional, o padrão mais<br />
frequentemente encontrado é a obstrução da<br />
via de saída. Este procedimento não é exame<br />
realizado de rotina pela dificuldade técnica.<br />
A eletromiografia do assoalho pélvico constitui<br />
exame indicado nos casos suspeitos de<br />
incontinência fecal de origem neuromuscular.<br />
Perspectivas do ponto de vista imuno-histoquímico<br />
com anticorpos antineurofilamentos<br />
monoclonais e policlonais, ainda representa um<br />
campo em aberto na abordagem diagnóstica da<br />
doença de Hirschsprung.<br />
Como interpretar?<br />
Enema opaco<br />
A imagem radiológica clássica sugestiva da<br />
doença de Hirschsprung é o “cone de transição”.<br />
O contraste entra através de uma região de calibre<br />
afilado para em seguida passar para um<br />
segmento dilatado, configurando a transição.<br />
O segmento agangliônico geralmente é o reto<br />
distal, melhor visualizado na incidência em perfil,<br />
observando-se um reto curto, de pequenas<br />
dimensões e um sigmóide bastante dilatado<br />
(Figura A). No megacólon funcional o contraste<br />
flui livremente para uma grande ampola retal,<br />
portanto, encontra-se um reto distendido, cheio<br />
de fezes e a região reto-sigmóide também,<br />
bastante dilatada. A imagem radiológica é de<br />
dilatação uniforme do cólon (Figura B).<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 47
Constipação Crônica<br />
Sinais radiológicos<br />
Doença de Hirschsprung<br />
cone de transição<br />
Megacólon funcional<br />
dilatação uniforme dos segmentos<br />
reto e sigmóide<br />
índice retosigmóideo < 1 índice reto sigmóide normal (1:1)<br />
irregularidades no contorno das alças<br />
acometidas: dentes em serra<br />
espaço pré-sacral livre<br />
cólon fino com perdas de haustrações<br />
(aganglionose total)<br />
não visualisado<br />
espaço pré-sacral livre<br />
—————<br />
Manometria anorretal<br />
A doença de Hirschsprung se caracteriza<br />
manometricamente pela ausência do RIRA.<br />
A falta de células ganglionares no segmento<br />
colônico acometido, não induz queda da<br />
pressão no EAI, quando volumes progressivos<br />
de ar (20, 40 e 60 mL) são insuflados<br />
no balão e, portanto, o reflexo não ocorre.<br />
A resposta característicamente normal à<br />
manometria anorretal, consiste na contração<br />
breve do EAE, seguido de relaxamento do<br />
EAI de pelo menos 5 mmHg (Figura B).No<br />
megacolon funcional, o RIRA está presente,<br />
mas a longa duração da constipação pode<br />
levar a alterações da função anorretal, traduzidas<br />
manometricamente por:<br />
• Aumento do limiar de sensibilidade retal<br />
• Aumento do volume crítico<br />
• Alterações da pressão esfincteriana basal (diminuição)<br />
• Aumento do limiar do RIRA<br />
• Contração paradoxal (presente em 30 a 80%<br />
dos casos)<br />
Biópsia retal<br />
• Padrão ouro no diagnóstico da doença de<br />
Hirschsprung<br />
• Sinais histológicos:<br />
Sinais Hirschsprung Funcional Displasia neuronal<br />
Células ganglionares Ausentes Presentes Presentes e gigantes<br />
Troncos nervosos na<br />
muscular mucosa e<br />
lâmina própria<br />
Fibras nervosas<br />
não mielinizadas<br />
hiperplasiadas e<br />
hipertrofiadas<br />
Normal<br />
Presentes<br />
Histoquímica<br />
• Atividade da ACE<br />
• Fragmentos menores (biópsia por aspiração)<br />
• Coloração pela prata<br />
• Detectada até 24 horas após biópsia realizada<br />
• Sinais histoquímicos:<br />
A atividade da ACE está aumentada na doença de<br />
Hirschsprung em virtude do aumento do número<br />
e tamanho das fibras nervosas e, na displasia<br />
neuronal intestinal encontra-se moderadamente<br />
aumentada.<br />
48<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Constipação Crônica<br />
Estudo do tempo de trânsito<br />
• Ingestão de marcadores radiopacos<br />
• Radiografias simples de abdome seriadas<br />
• Classificação de acordo com o padrão de<br />
distúrbio de motilidade colônica:<br />
- Obstrução da via de saída: marcadores retidos<br />
apenas no retosigmóide<br />
- Obstrução distal: marcadores concentrados no<br />
cólon esquerdo e direito<br />
- Inércia colônica: marcadores retidos em todo<br />
o cólon<br />
Figura A<br />
CURITIBAPR<br />
Ampola<br />
retal<br />
EAI<br />
EAE<br />
Imagem A<br />
Figura B<br />
ESFÍNCTER ANAL INTERNO<br />
Normal<br />
D. Hirschsprung<br />
DISTENSÃO RETAL<br />
Imagem B<br />
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68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 49
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Como tratar<br />
ELISA DE CARVALHO<br />
I. Introdução<br />
A constipação intestinal, apesar de ser considerada<br />
mais um sintoma do que uma doença, pode<br />
se associar a importantes problemas a longo<br />
prazo, com impacto negativo na qualidade de<br />
vida do paciente e na dinâmica familiar.<br />
Tem alta prevalência na população pediátrica,<br />
acometendo 2 a 30% das crianças. No Brasil,<br />
estudos realizados em ambulatórios de pediatria,<br />
creches, comunidades e centros de saúde,<br />
demonstraram prevalências que variaram entre<br />
15% a 38%. Em consultórios de Gastroenterologia<br />
Pediátrica é uma das três queixas mais<br />
frequentes, juntamente com a dor abdominal e<br />
o refluxo gastroesofágico. Assim, a constipação<br />
intestinal é responsável por um grande número<br />
de consultas (com pediatras e especialistas),<br />
internações e uso de laxantes, o que representa<br />
um alto custo econômico para a sociedade.<br />
Do ponto de vista etiológico, a constipação<br />
intestinal crônica pode ser decorrente de alterações<br />
funcionais ou orgânicas, como descrito<br />
na Tabela 1. O início precoce (< 03 meses de<br />
idade) ou durante aleitamento materno exclusivo,<br />
o comprometimento do estado nutricional<br />
e a presença de outros sinais e/ou sintomas,<br />
descritos na Tabela 2, sugerem a possibilidade de<br />
causas orgânicas. No período neonatal, o diagnóstico<br />
diferencial deve ser feito com a doença<br />
de Hirschsprung, o íleo meconial, as atresias<br />
intestinais e as más formações anorretais. Além<br />
disso, o diagnóstico de alergia à proteína do<br />
leite de vaca deve ser considerado em lactentes<br />
que apresentam choro, irritabilidade, distensão<br />
abdominal, diarréia ou constipação, insuficiência<br />
do crescimento, vômitos e/ou recusa alimentar.<br />
50<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Constipação Crônica<br />
Tabela 1 - Causas de constipação intestinal<br />
crônica em pediatria<br />
Constipação crônica funcional<br />
Causas orgânicas<br />
Doenças do trato digestório<br />
Aganglionose adquirida<br />
Aganglionose congênita (doença de<br />
Hirschsprung)<br />
Alergia alimentar<br />
Ânus anteriorizado<br />
Ânus ectópico anterior<br />
Ânus imperfurado<br />
Doença celíaca<br />
Estenose anal<br />
Fibrose cística<br />
Má formação anorretal<br />
Pseudo-obstrução intestinal<br />
Doenças endócrinas e metabólicas<br />
Diabetes melito e insipidus<br />
Hipercalcemia<br />
Hipocalemia<br />
Hipotiroidismo<br />
Doenças neurológicas<br />
Anormalidades da medula espinhal<br />
Encefalopatia crônica<br />
Uso de fármacos<br />
Antiácidos<br />
Anticolinérgicos<br />
Codeína<br />
Sais de ferro<br />
A constipação intestinal crônica funcional (CICF) é<br />
responsável pela maioria dos casos de constipação<br />
crônica e pode induzir o desenvolvimento de complicações,<br />
que contribuem para a persistência e a<br />
progressão da constipação. Com a retenção fecal<br />
progressiva, as crianças podem apresentar irritabilidade,<br />
saciedade precoce, anorexia, distensão<br />
abdominal e cólicas. Com a evolução do quadro,<br />
se instalam complicações, como o escape fecal.<br />
Assim, pela sua importância em relação à alta<br />
prevalência e à morbidade com a qual pode<br />
CURITIBAPR<br />
Tabela 2 – Sinais de alarme nos quadros de<br />
constipação intestinal<br />
Hábito intestinal anormal ao nascimento<br />
Insuficiência do crescimento<br />
Distensão abdominal<br />
Vômitos<br />
Malformações lombo-sacrais e/ou perineais<br />
Ânus anteriorizado<br />
Sangue nas fezes ou retal<br />
Fezes explosivas ao toque retal<br />
Neuropatia<br />
Atrofia glútea<br />
se associar, esta publicação tem como objetivo<br />
abordar o tratamento da CICF. Para melhor<br />
compreensão da terapêutica recomendada, é<br />
importante o entendimento dos conceitos relacionados<br />
à definição e à fisiopatologia da CICF.<br />
II. Definição<br />
A constipação intestinal é caracterizada pela eliminação<br />
de fezes endurecidas, em cíbalos, seixos<br />
ou cilíndricas com rachaduras; dificuldade ou dor<br />
para evacuar; eliminação de fezes calibrosas, que<br />
entopem o vaso sanitário; e/ou frequência de<br />
evacuações inferior a 3 vezes por semana (exceto<br />
em recém-nascidos e lactentes em aleitamento<br />
natural exclusivo). As crianças maiores e os adolescentes<br />
podem referir sensação de esvaziamento<br />
retal incompleto após as evacuações. Recentemente,<br />
procurando aumentar a especificidade e<br />
a precocidade do diagnóstico da CICF, um grupo<br />
de trabalho internacional, elaborou os critérios<br />
diagnósticos de Roma III (2006) para a constipação<br />
funcional na população pediátrica, conforme a<br />
faixa etária. Estes critérios estabeleceram que o<br />
diagnóstico da constipação funcional nos recémnascidos,<br />
lactentes e pré-escolares (crianças até<br />
4 anos), baseia-se na presença de dois ou mais<br />
dos aspectos descritos a seguir, presentes por pelo<br />
menos 01 mês antes do diagnóstico:<br />
- Duas ou menos evacuações por semana.<br />
- Pelo menos um episódio semanal de incontinência<br />
fecal, após a aquisição do controle<br />
do esfíncter anal.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 51
Constipação Crônica<br />
- História de retenção fecal.<br />
- Relatos de evacuações dolorosas ou de dificuldade<br />
para evacuar.<br />
- Presença de grande quantidade de fezes no reto.<br />
- Eliminação de fezes de grande volume, que<br />
podem obstruir o vaso sanitário.<br />
Nos pré-escolares, escolares e adolescentes<br />
(crianças maiores de 4 anos), dois ou mais<br />
dos critérios descritos, devem estar presentes<br />
por pelo menos uma vez por semana, por um<br />
mínimo de 2 meses.<br />
A incontinência fecal por retenção, muitas vezes<br />
denominada escape fecal ou “soiling”, ocorre<br />
naqueles pacientes com constipação e impactação<br />
(retenção) fecal e consiste na eliminação de<br />
fezes nas vestes, de modo involuntário. Deve-se<br />
enfatizar que o escape fecal é facilmente caracterizado<br />
após o quarto ano de vida, isto é,<br />
após a aquisição do controle do esfíncter anal.<br />
Nas crianças menores, esta condição pode ser<br />
reconhecida, quando o controle do esfíncter<br />
anal ocorreu antes da constipação.<br />
III. Fisiopatologia<br />
A compreensão da anatomia da região anorretal<br />
e da fisiologia da defecação é fundamental para<br />
o entendimento da continência fecal, da constipação<br />
intestinal e de sua terapêutica. O ato de<br />
evacuar depende do funcionamento adequado e<br />
sincronizado da motilidade intestinal (peristalse)<br />
e dos esfíncteres interno e externo que envolvem<br />
o ânus (musculatura pélvica). O primeiro esfíncter<br />
é um espessamento da musculatura lisa circular<br />
do intestino e o segundo é constituído por<br />
musculatura estriada, com controle voluntário.<br />
Ao chegar à ampola retal, o bolo fecal dilata o<br />
reto e, consequentemente, estimula receptores<br />
que determinam o relaxamento do esfíncter anal<br />
interno. Este reflexo é conhecido como reflexo<br />
retoanal ou retoesfincteriano. Neste momento,<br />
ocorre o relaxamento voluntário do esfíncter anal<br />
externo, permitindo a eliminação das fezes ou,<br />
se o indivíduo encontra-se em local inapropriado<br />
para defecar, a contração, também voluntária,<br />
deste esfíncter, pode adiar a evacuação. Nas<br />
crianças que ainda não adquiriram o controle<br />
do esfíncter anal, a evacuação ocorrerá logo após<br />
a chegada do bolo fecal no reto e a dilatação<br />
involuntária do esfíncter anal interno.<br />
Quando as fezes não são eliminadas, ocorre<br />
um acúmulo destas no reto (impactação fecal).<br />
Quanto mais tempo as fezes permanecem no<br />
cólon, mais água é reabsorvida, o que torna as<br />
fezes mais endurecidas e calibrosas, e as evacuações<br />
mais dolorosas. Se o paciente não recebe o<br />
tratamento adequado, um ciclo vicioso pode se<br />
instalar: a eliminação dolorosa de fezes duras e<br />
grossas estimula o comportamento de retenção<br />
fecal e a inibição da defecação, por meio da<br />
contração voluntária do esfíncter anal externo<br />
e do assoalho pélvico (anismo). A persistência<br />
deste quadro pode ocasionar aumento progressivo<br />
do calibre do reto e do cólon (megarreto e<br />
megacólon funcionais), bem como a diminuição<br />
gradual da sensibilidade retal e alteração da<br />
motilidade intestinal. A progressão deste processo<br />
relaciona-se à diminuição da vontade de<br />
defecar e à incontinência fecal por retenção<br />
(escape fecal), como descrito na Figura 1. O<br />
tratamento efetivo, dependendo da gravidade<br />
destas alterações, pode reverter estas situações.<br />
IV. Tratamento<br />
Nos últimos anos vem ocorrendo uma transformação<br />
no tratamento da constipação intestinal<br />
na criança, especialmente, na desimpactação<br />
fecal (do uso de remoção manual, supositórios<br />
e enemas; pela desimpactação via oral, com<br />
laxantes osmóticos). De modo geral, o tratamento<br />
da CICF depende da idade do paciente<br />
e da gravidade da constipação, compreendendo<br />
03 fases:<br />
• Esclarecimentos aos pais e desmistificação de<br />
alguns conceitos<br />
• Desimpactação fecal<br />
• Terapia de manutenção<br />
- Orientações dietéticas e de hábitos de vida<br />
- Uso de laxantes<br />
52<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Constipação Crônica<br />
Figura 1 - Fisiopatologia da CICF: ciclo vicioso estimulando a retenção fecal.<br />
CURITIBAPR<br />
Erros alimentares<br />
Alergia alimentar<br />
Anorexia (pode<br />
ser por infecção)<br />
Fissura<br />
anal<br />
Aspectos<br />
emocionais<br />
Outras causas<br />
de constipação<br />
Evacuação<br />
dolorosa<br />
Medo de evacuar<br />
Fezes mais duras<br />
e calibrosas<br />
Retenção<br />
fecal<br />
Esclarecimentos aos pais e desmistificação<br />
de alguns conceitos<br />
A participação adequada dos pais e dos outros<br />
cuidadores é fundamental para o sucesso do<br />
tratamento. Para tal, é necessário que eles<br />
compreendam que:<br />
- As fezes precisam tornar-se macias e as evacuações<br />
não dolorosas, para que o paciente<br />
perca o medo de evacuar e a postura de<br />
retenção fecal.<br />
- Para tal, no início do tratamento, em geral, é<br />
necessária uma dose alta de laxantes. Com a<br />
melhora gradual do paciente, esta dose inicial<br />
é ajustada, até que seja alcançada a dose<br />
mínima necessária para o paciente (dose de<br />
manutenção).<br />
- A suspensão dos laxantes deve ser gradual. A<br />
desobediência a esta norma é causa frequente<br />
de reimpactação e recidiva do quadro de<br />
constipação.<br />
- Medidas coercitivas não podem ser utilizadas<br />
com a criança, que não pode ser punida pelos<br />
acidentes (escapes fecais). Pelo contrário, ela<br />
deve ser compreendida e, em alguns casos,<br />
pode ser necessária a avaliação psicológica, pois<br />
mesmo que os fatores emocionais não tenham<br />
sido a causa inicial da constipação intestinal,<br />
o desconforto, as situações constrangedoras<br />
relacionadas ao escape fecal, os sentimentos<br />
de fragilidade e inferioridade que muitas vezes<br />
estes pacientes apresentam, exigem esta abordagem<br />
como parte integrante do tratamento.<br />
Ademais, como o tratamento da constipação<br />
crônica funcional com escape fecal e/ou outras<br />
complicações é, em geral, longo, necessitando<br />
de terapia de manutenção por cerca de 6 a<br />
24 meses, os pais, comumente, se preocupam<br />
com o uso crônico dos laxantes e com a possibilidade<br />
da criança ficar “dependente” destas<br />
medicações para evacuar. Neste contexto, é<br />
importante esclarecer que os laxantes utilizados<br />
são seguros, mesmo por vários meses, e que<br />
o risco de “dependência” é maior se a criança<br />
não for medicada, pois quanto mais tempo ela<br />
permanecer constipada, maior a possibilidade<br />
de evolução para megarreto e outras complicações.<br />
Com o tratamento efetivo da constipação,<br />
espera-se: regressão progressiva da distensão do<br />
reto e do cólon, recondicionamento do hábito<br />
intestinal, restabelecimento do reflexo da evacuação,<br />
bem como a recuperação da confiança<br />
e da autoestima da criança e do adolescente.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 53
Constipação Crônica<br />
Desimpactação fecal<br />
Quando existe retenção fecal, fecaloma, megarreto<br />
e/ou escape fecal, o primeiro passo é<br />
promover a desimpactação, isto é, a completa<br />
eliminação das fezes impactadas. Esta é uma<br />
etapa essencial para o sucesso do tratamento.<br />
Se este objetivo não for alcançado, é alta a<br />
possibilidade de falha terapêutica.<br />
O esvaziamento retal e o colônico podem ser<br />
promovidos por via oral ou retal. Este último, por<br />
meio de enemas de soluções fosfatadas, sorbitol,<br />
glicerina ou vaselina, especificados na Tabela 3,<br />
por cerca de dois a quatro dias. O uso de enemas<br />
aumenta o risco de traumas mecânicos à<br />
parede retal e de problemas emocionais. Além<br />
disso, os enemas fosfatados podem ocasionar<br />
episódios graves e letais de hiperfosfatemia e<br />
hipocalcemia, especialmente em nefropatas e<br />
nos pacientes com doença de Hirschsprung.<br />
A desimpactação por via oral é uma tendência<br />
atual, por evitar manipulações dolorosas em<br />
pacientes que já apresentam medo de evacuar.<br />
Podem ser utilizadas doses elevadas de óleo<br />
mineral e polietilenoglicol (PEG), descritas na<br />
Tabela 3. Vale enfatizar que o óleo mineral pode<br />
ocasionar pneumonia lipoídica, se aspirado, não<br />
sendo recomendado em crianças menores que<br />
dois anos, neuropatas e portadores de refluxo<br />
gastroesofágico.<br />
Apesar de haver variações entre as condutas<br />
médicas, atualmente, tem se difundido rapidamente<br />
o uso do polietilenoglicol, tanto<br />
para a desimpactação, quanto para a terapia<br />
de manutenção. A água é responsável por<br />
cerca de 75 a 80% do peso das fezes e uma<br />
diferença de apenas 10% na hidratação das<br />
fezes pode resultar em importante alteração<br />
na consistência destas. O PEG tem alto peso<br />
molecular, é um polímero solúvel em água<br />
e tem a capacidade de formar pontes de<br />
hidrogênio com 100 moléculas de água por<br />
molécula de PEG. Assim, quando administrado<br />
via oral, a hidratação do conteúdo colônico<br />
facilita o trânsito intestinal e promove uma<br />
defecação indolor.<br />
Terapia de manutenção<br />
Orientações dietéticas e de hábitos de vida<br />
Nos pacientes com constipação leve e sem complicações<br />
associadas, recomenda-se modificações<br />
Tabela 3 - Soluções para desimpactação do bolo fecal<br />
Solução<br />
Via retal<br />
Enema fosfatado*<br />
Solução glicerinada 12%<br />
Dose<br />
Crianças > 02 anos<br />
6mL/kg<br />
Máximo: 135 mL<br />
10 mL/kg<br />
Via oral<br />
Óleo mineral*<br />
15 a 30 mL/ano de idade, até 240 mL/dia<br />
20 a 50 mL/vez<br />
PEG 1,0 a 1,5 g/kg/dia, máximo de 100 g,<br />
por 3 a 5 dias.<br />
*Não deve ser utilizado em crianças menores de 02 anos.<br />
54<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Constipação Crônica<br />
na dieta, corrigindo os erros alimentares, se<br />
presentes, e proporcionando uma alimentação<br />
saudável, com bom aporte de líquidos e dos<br />
alimentos ricos em fibras. Nos lactentes em uso<br />
de alimentação artificial deve-se avaliar a possibilidade<br />
de constipação decorrente de alergia<br />
alimentar, mais frequentemente à proteína do<br />
leite de vaca, e a necessidade de teste terapêutico<br />
com dietas hipoalergênicas. Nas crianças maiores,<br />
deve-se estimular e aumentar o consumo<br />
de leguminosas (feijão, ervilha, lentilha e grão<br />
de bico), milho, pipoca, coco, verduras, frutas<br />
(com casca e bagaço) e o farelo de trigo.<br />
Quanto aos hábitos de vida, deve-se estimular<br />
as atividades físicas, não adiar as evacuações e<br />
recondicionar o hábito intestinal. Neste contexto,<br />
as crianças são estimuladas a permanecerem<br />
sentadas no vaso sanitário, com apoio fixo para<br />
os pés, após as principais refeições, aproveitando<br />
o reflexo gastrocólico. Para as crianças em treinamento<br />
esfincteriano, recomenda-se a interrupção<br />
deste treinamento, até que o paciente apresente<br />
melhora da constipação.<br />
Em torno de 25% dos casos de constipação,<br />
em geral as crianças maiores de 02 anos, com<br />
constipação leve e sem complicações, evoluem<br />
bem apenas com estas orientações. Quando<br />
estas medidas falham, em geral nos pacientes<br />
CURITIBAPR<br />
com CICF de maior gravidade ou associada a<br />
complicações, deve-se associar à estas orientações,<br />
o tratamento farmacológico, que inclui o<br />
uso de laxantes.<br />
Uso de laxantes<br />
O tratamento farmacológico de manutenção<br />
baseia-se no uso de laxantes, como o óleo<br />
mineral, o leite de magnésia, a lactulose e o<br />
polietilenoglicol (Tabela 4). O óleo mineral, um<br />
laxante emoliente, não deve ser utilizado antes<br />
dos dois anos de idade, pelo risco de aspiração,<br />
já mencionado. Nos casos de recusa por parte do<br />
paciente, lembramos que a refrigeração melhora<br />
o paladar. A perda anal de óleo limpo indica<br />
dose excessiva deste medicamento.<br />
Dos laxantes osmóticos, o hidróxido de magnésia<br />
pode ocasionar intoxicação em lactentes, caracterizada<br />
por hipermagnesemia, hipofosfatemia e<br />
hipocalcemia secundária. Este laxante não deve<br />
ser utilizado nos pacientes com insuficiência renal.<br />
A lactulose, um dissacarídeo sintético, é bem<br />
tolerado por longo prazo, mas pode desencadear<br />
flatulência e cólicas. Seu uso em doses elevadas<br />
pode provocar hipernatremia. O polietilenoglicol<br />
tem apresentação com e sem eletrólitos. A apresentação<br />
sem eletrólitos tem melhor aceitação<br />
pelo paciente, por não ter sabor.<br />
Tabela 4 - Laxantes utilizados no tratamento da constipação crônica<br />
Laxativos<br />
Óleo mineral*<br />
Hidróxido de magnésia<br />
Lactulose (10 g/15 mL)<br />
Xarope de Sene**<br />
(8,8 mg de sene/ 5 mL)<br />
Polietilenoglicol***<br />
Dose<br />
1-3 ml/kg/dia<br />
1-3 ml/kg/dia<br />
1-3 ml/kg/dia<br />
2-6 anos: 2,5-7,5 ml/dia.<br />
6-12 anos: 5-15 ml/dia.<br />
0,3 a 1,0 g/kg/dia.<br />
* Não deve ser utilizado em crianças menores de 02 anos.<br />
**Xarope de Sene: usar por curto período, especialmente na terapia de “resgate”.<br />
***Recomenda-se a apresentação sem eletrólitos.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 55
Constipação Crônica<br />
V. Considerações finais<br />
A constipação intestinal crônica funcional tem<br />
alta prevalência em crianças e adolescentes,<br />
pode associar-se a complicações, com impacto<br />
negativo na qualidade de vida do paciente e<br />
de sua família; bem como econômico. Assim,<br />
a prevenção é tão importante quanto o tratamento,<br />
o que pode ser feito com as medidas<br />
descritas a seguir:<br />
- Estimular o aleitamento materno.<br />
- Garantir uma alimentação saudável, com bom<br />
aporte de água e fibras.<br />
- Evitar o treinamento esfincteriano precoce e/<br />
ou coercitivo.<br />
- Orientar que não se deve coibir ou adiar a<br />
defecação.<br />
- Estimular a defecação após as refeições (reflexo<br />
gastrocólico).<br />
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68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Gastroenterologia Clínica<br />
CURITIBAPR<br />
Alergia à proteína<br />
do leite de vaca –<br />
Quando suspeitar<br />
MÁRIO CÉSAR VIEIRA<br />
O pediatra enfrenta vários desafios no diagnóstico<br />
e manejo dos pacientes com alergia à proteína do<br />
leite de vaca. As manifestações clínicas são variadas<br />
dependendo do órgão-alvo, dos mecanismos<br />
imunológicos envolvidos e da idade do paciente.<br />
Podem ocorrer manifestações no trato gastrointestinal,<br />
no aparelho respiratório, ou na pele.<br />
Na maior parte dos casos as manifestações não<br />
são isoladas tornando o quadro clínico variável<br />
e abrangente. É importante ressaltar que os<br />
sintomas não são específicos. Anorexia, náuseas,<br />
cólicas, vômitos, diarreia, hematoquezia, anemia<br />
e perda de peso podem ser decorrentes de outros<br />
processos, tais como doenças inflamatórias, metabólicas,<br />
infecciosas e distúrbios da motilidade.<br />
Os mecanismos envolvidos nas alergias alimentares<br />
são distintos: mediados por IgE; parcialmente<br />
mediados por IgE e; mediados por células. As reações<br />
mediadas por IgE produzem manifestações<br />
clínicas mais precoces, minutos ou horas após a<br />
ingestão do alérgeno alimentar, enquanto que as<br />
reações mediadas por células são mais tardias, em<br />
geral, ocorrendo após 24 a 72 horas da exposição.<br />
Há manifestações clínicas que podem ocorrer com<br />
a participação de ambos os mecanismos.<br />
Na maioria das vezes os sintomas e sinais ocorrem<br />
quando há interrupção do aleitamento materno<br />
exclusivo e utilização de fórmulas à base de proteína<br />
do leite de vaca. No entanto, podem ocorrer<br />
manifestações mesmo quando o leite materno<br />
é a única fonte de alimentação uma vez que o<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
lactente pode apresentar reações aos antígenos<br />
alimentares ingeridos pela mãe. O diagnóstico é<br />
mais simples quando há reações de início rápido.<br />
Por outro lado, quando os sintomas são tardios,<br />
pode ser mais difícil se suspeitar desta associação.<br />
Quando se suspeita de que os sintomas sejam<br />
causados por alergia alimentar, procede-se com a<br />
tentativa de confirmação diagnóstica e de identificação<br />
do alimento causador. Deve-se procurar<br />
identificar o mecanismo mais provavelmente<br />
envolvido (mediado por IgE ou não mediado<br />
por IgE) e os alimentos suspeitos.<br />
O primeiro passo é fazer uma história clínica<br />
detalhada e um exame físico adequado com<br />
especial atenção à avaliação nutricional. É muito<br />
importante abordar os antecedentes familiares de<br />
atopia, o tempo de aleitamento materno, a idade<br />
de início das manifestações e da introdução de<br />
proteína do leite de vaca na dieta. O intervalo<br />
entre a ingestão do alimento e os primeiros<br />
sintomas, sua recorrência, a quantidade de alimento<br />
ingerido quando de sua ocorrência e suas<br />
características precisas devem ser investigados.<br />
Quadro 1 - Manifestações clínicas que podem<br />
motivar investigação de alergia<br />
• Reações imediatas após a ingestão de um alimento<br />
• Evacuações mucosas / sanguinolentas em lactentes<br />
• Síndrome de má-absorção / enteropatia perdedora<br />
de proteínas<br />
• Vômitos, diarréia ou disfagia de evolução crônica<br />
• Sintomas gastrointestinais em pacientes atópicos<br />
• Déficit de crescimento<br />
• Sintomas de doença do refluxo gastroesofágico<br />
refratários a tratamento habitual (recusa alimentar,<br />
choro frequente e irritabilidade)<br />
• Cólica do lactente refratária a tratamento conservador<br />
• Constipação crônica refratária<br />
• Eczema/ dermatite<br />
• Rinite/congestão nasal<br />
57
Gastroenterologia Clínica<br />
É necessário diferenciar os distúrbios alérgicos<br />
de outras causas de sintomas similares, já que<br />
o tratamento implica na identificação e exclusão<br />
dos alimentos responsáveis pelo quadro da dieta.<br />
Deve-se ter atenção na abordagem de pacientes<br />
sem quadro clínico exuberante que apresentem<br />
queda na curva de peso, nos quais se inicia<br />
lentamente um quadro de desnutrição.<br />
Quando houver dúvida, alguns exames complementares,<br />
em conjunto com o quadro clínico,<br />
podem ajudar no diagnóstico.<br />
Quadro 2 - Exames de laboratório utilizados<br />
na avaliação da alergia alimentar com sintomas<br />
gastrointestinais (*)<br />
• Dosagem de anticorpos IgE específicos para<br />
alimentos - RAST(radioallergoabsorbent test)<br />
• Testes cutâneos (prick test e atopy patch test)<br />
• Exames auxiliares<br />
• Endoscopia e biópsia<br />
• Exames proctológicos (leucócitos, eosinófilos,<br />
α-1-antitripsina fecal)<br />
• pHmetria esofagiana<br />
(*) Os exames são indicados com base nos sintomas<br />
individuais<br />
Embora os níveis de IgE sérica possam ser elevados<br />
em crianças com alergia alimentar, sua<br />
utilidade é limitada, pois a faixa de normalidade<br />
varia amplamente. Os anticorpos IgE específicos<br />
contra os antígenos do alimento podem ser quantificados<br />
(RAST, CAP System FEIA), porém assim<br />
como as provas cutâneas (prick test), estes testes<br />
avaliam apenas as reações de início imediato.<br />
O teste de desencadeamento duplo-cego controlado<br />
com placebo (DBPCFC - double-blind<br />
placebo-controlled food-challenge) é considerado<br />
o padrão-ouro para o diagnóstico, no entanto<br />
apresenta dificuldades para sua aplicação na<br />
prática clínica por dificuldade de execução.<br />
O laboratório auxilia no diagnóstico quando<br />
apresenta testes positivos. No entanto não se<br />
deve esquecer que não se faz o diagnóstico<br />
quando um teste é positivo, nem se afasta alergia<br />
alimentar quando há um resultado negativo.<br />
A análise histológica da mucosa do trato gastrointestinal<br />
pode ser útil nos pacientes com<br />
manifestações digestivas e confirmar o diagnóstico<br />
de algumas afecções específicas.<br />
Considerações Finais<br />
Do ponto de vista prático, deve-se suspeitar do<br />
diagnóstico de alergia à proteína do leite de vaca<br />
quando houver sintomas e sinais sugestivos, tendose<br />
em mente o diagnóstico diferencial com outras<br />
enfermidades. A avaliação clínica criteriosa das<br />
manifestações e da resposta à dieta de exclusão<br />
pode ser considerada como medida inicial antes<br />
da utilização empírica de medicamentos com<br />
potenciais efeitos colaterais e da indicação de exames<br />
complementares com caráter mais invasivo.<br />
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58<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Gastroenterologia Clínica<br />
Intolerância à lactose<br />
SHEILA NOGUEIRA PERCOPE RODRIGUES<br />
GUERRA<br />
Um mesmo alimento, leite animal, contém<br />
componentes que podem determinar sintomas,<br />
em nossos pacientes, por dois mecanismos:<br />
imunológico e metabólico.<br />
Quando o mecanismo imunológico está presente,<br />
temos reações de hipersensibilidade, de vários<br />
tipos, ao diferentes componentes proteicos. Cada<br />
mamífero tem componente proteico específico<br />
para seu grupo.<br />
Quando o mecanismo metabólico está envolvido<br />
temos problemas relacionados, na sua maioria, à<br />
lactose, por deficiente atividade enzimática para<br />
sua digestão (aqueles relacionados ao seu produto<br />
de digestão, galactose são bem mais raros).<br />
A lactose é a mesma no leite de todos os mamíferos,<br />
inclusive no leite materno. Portanto não<br />
há possibilidade de haver “alergia a lactose”,<br />
pela ausência de especificidade e por ser um<br />
componente não proteico. Figura 1<br />
Figura 1 - Intolerância aos leites animais<br />
Imunológica<br />
caseína<br />
proteínas<br />
do soro...<br />
caseína<br />
proteínas<br />
do soro...<br />
Metabólica<br />
lactose<br />
lactose<br />
A lactose depende, para sua digestão, de atividade<br />
normal da dissacaridase lactase do bordo em<br />
escova das vilosidades intestinais. Os produtos<br />
desta digestão são: uma molécula de Glicose<br />
(presente após digestão de todos os hidratos de<br />
CURITIBAPR<br />
carbono e que usa os mesmos receptores para<br />
absorção, independente da fonte) e uma molécula<br />
de Galactose. As dissacaridases intestinais são<br />
sintetizadas nos polissomas do retículo endoplasmático<br />
dos enterocitos. Migram para o aparelho<br />
de Golgi onde a glicolisação se completa. Daí,<br />
são transportadas, em vesículas de Golgi, para<br />
a membrana dos enterócitos maduros do topo<br />
das vilosidades do intestino delgado, onde são<br />
fixadas e onde se tornam mais vulneráveis a<br />
agressões do que as outras dissacaridases. O gen<br />
responsável pela síntese da lactase está localizado<br />
no cromossoma 2 (onde podem ocorrer mutações<br />
que irão interferir na tolerância ao dissacarídeo).<br />
A partir da 38ª semana de gestação, a atividade<br />
de lactase já é suficiente para a digestão<br />
da lactose. Na 20ª semana de gestação, já há<br />
atividade enzimática suficiente para digestão<br />
de sacarose e maltose (sacarase-α-dextrinase e<br />
maltase). Figura 2<br />
Figura 2 - Atividade das dissacaridases<br />
Lactase<br />
Sacarase-α-dextrinase<br />
Maltase<br />
38ª semana Recém-nascido<br />
Os produtos da ação da enzima lactase sobre a<br />
lactose (glicose e galactose) são absorvidos pela<br />
mucosa do intestino delgado. Uma pequena<br />
quantidade de hidratos de carbono pode não ser<br />
digerida pelas enzimas e chegar, ao cólon, intacta.<br />
Aí, sofre fermentação pela flora bacteriana local<br />
com produção de ácidos graxos de cadeia curta<br />
(ácido butírico, propiônico, acético), e gases (H 2 e<br />
CO 2 ). Os produtos da fermentação bacteriana dos<br />
hidratos de carbono no cólon são absorvidos e as<br />
calorias, aproveitadas, contribuindo para a manutenção<br />
do equilíbrio energético. Este processo é<br />
conhecido como resgate colônico de hidratos de<br />
carbono. Nas deficiências, quando a atividade da<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 59
Gastroenterologia Clínica<br />
dissacaridase é baixa, acentuam-se os eventos no<br />
cólon com maior resgate de produtos que podem<br />
ter efeito tóxico ao organismo e maior produção<br />
de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), H 2 e CO 2 ,<br />
que têm papel importante nas manifestações<br />
clínicas: assaduras, flatulência, distensão e dor<br />
abdominal. A lactose não digerida, aumenta a<br />
carga osmótica no tubo digestório, levando a<br />
diarreia e náuseas, que complementam o quadro<br />
clínico da intolerância à lactose. Figura 3<br />
A quantidade de lactose que levará a sintomas<br />
varia de indivíduo para indivíduo. Depende<br />
da quantidade de lactose ingerida, do grau da<br />
deficiência de lactase e da forma do alimento<br />
que contenha o dissacarídeo.<br />
Má absorção de lactose se manifesta como<br />
intolerância à lactose, quando ocorre desequilíbrio<br />
entre a quantidade de lactose ingerida e<br />
a atividade enzimática presente no indivíduo.<br />
Figura 3 - Digestão e absorção da lactose<br />
(Linhas pontilhadas se intensificam na baixa atividade de lactase)<br />
Cólon<br />
Lactose<br />
Intestino delgado<br />
Lactase<br />
Glicose<br />
Galactose<br />
flora<br />
anaeróbica<br />
Lactose<br />
AGCC<br />
H 2<br />
CO 2<br />
H 2 O e eletrólitos<br />
Deficiência de lactase pode ser: primária (congênita,<br />
fisiológica do recém-nascido e tardia) e secundária.<br />
Deficiência primária de lactase<br />
• Congênita<br />
É extremamente rara (poucos casos na literatura<br />
mundial). A criança apresenta diarreia severa com<br />
desidratação e perda de eletrólitos, logo após<br />
ingerir qualquer leite que contenha lactose (leite<br />
materno, leite de vaca, ou de qualquer outro<br />
mamífero). Vômitos, distensão abdominal, cólicas<br />
e dermatite perianal completam o quadro clínico.<br />
Em casos severos pode haver choque hipovolêmico.<br />
Os sintomas desaparecem em poucas horas após<br />
a suspensão da lactose da dieta. A deficiência<br />
primária congênita da lactase é permanente.<br />
60<br />
• Fisiológica do recém-nascido<br />
A atividade da lactase atinge níveis normais<br />
na mucosa intestinal do feto na 38ª semana<br />
de gestação. Tanto o recém-nascido a termo,<br />
quanto o prematuro, têm uma deficiência de<br />
lactase considerada “fisiológica” e os sintomas<br />
de malabsorção só aparecem quando concentrações<br />
acima de 10% de lactose são administradas<br />
(no leite materno a concentração é de,<br />
aproximadamente, 7g/100ml). A lactose, “fisiologicamente”<br />
não absorvida e outros hidratos<br />
de carbono presentes no leite materno e em<br />
algumas fórmulas, tem papel importante na<br />
manutenção da flora colônica dos lactentes com<br />
Bifidobacterium e Lactobacillus evitando flora<br />
agressiva com predomínio de Proteus, Escherichia<br />
coli e Klebsiella. Em lactente saudável e com bom<br />
desenvolvimento pondero-estatural a presença<br />
de alterações que mostrem o desequilíbrio entre<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Gastroenterologia Clínica<br />
a quantidade de lactose ingerida e a atividade<br />
enzimática presente, não requer substituição da<br />
lactose por outra fonte de hidrato de carbono.<br />
• Tardia<br />
Deficiência enzimática herdada por traço autossômico<br />
recessivo. O mecanismo genético, que<br />
regula esta deficiência, não está bem conhecido.<br />
Nos mamíferos a atividade da lactase cai logo<br />
após o desmame. É a evolução normal desta enzima<br />
(ontogenia da lactase). O mesmo acontece<br />
na maioria dos indivíduos da espécie humana.<br />
Os níveis de atividade da lactase na mucosa<br />
intestinal caem a partir de 3 a 5 anos de idade,<br />
com surgimento de sintomas de intolerância à<br />
lactose, que estarão na dependência da quantidade<br />
de lactose ingerida em curto espaço de<br />
tempo, do nível residual de lactase no epitélio<br />
intestinal e da capacidade de sequestro colônico<br />
da lactose e seus produtos de degradação pela<br />
flora anaeróbica do cólon. O quadro clínico pode<br />
variar desde discretos sintomas de flatulência<br />
até franca diarreia com cólicas.<br />
Os adultos que toleram bem a lactose são<br />
minoria (aproximadamente 70% da população<br />
mundial tem deficiência ontogenética da lactase).<br />
Admite-se que eles seriam descendentes dos<br />
povos que habitavam regiões ricas em produção<br />
de leite, principalmente países do norte<br />
da Europa, algumas regiões da Índia (Punjab e<br />
New Delhi) e da África (Hima, Tussi, Nomadic<br />
Fulani). Teria ocorrido seleção genética e os<br />
indivíduos desta região passaram a produzir<br />
lactase mesmo após o desmame para poderem<br />
continuar usando alimento rico em cálcio e<br />
reduzir os riscos de doenças ósseas desmineralizantes<br />
(mutação útil). Com a migração destes<br />
povos e sua posterior miscigenação, surgiram<br />
descendentes que toleram a lactose na vida<br />
adulta (mutantes).<br />
Deficiência secundária de lactase<br />
CURITIBAPR<br />
A lactase é a enzima que existe em menor<br />
concentração na mucosa intestinal e a que está<br />
situada mais superficialmente nas microvilosidades<br />
dos enterócitos. É, também, mais lenta para<br />
hidrólise do que as outras dissacaridases. Portanto,<br />
qualquer doença que agrida a mucosa intestinal<br />
pode diminuir sua atividade, antes de reduzir a<br />
atividade da sacarase-α-dextrinase e da maltase.<br />
Os agentes causadores de diarreias infecciosas em<br />
nosso meio (vírus, bactérias protozoários) são os<br />
principais causadores de má absorção de lactose,<br />
por reduzirem os níveis de atividade da lactase na<br />
borda em escova do epitélio intestinal. À medida<br />
que a mucosa intestinal se recupera das agressões,<br />
os níveis de atividade de lactase retornam ao<br />
normal e a criança volta a tolerar a lactose. Isto<br />
não ocorre se a criança for de família intolerante<br />
à lactose e já estiver na idade de aparecimento<br />
da deficiência primária tardia de lactase.<br />
Diagnóstico<br />
• Anamnese:<br />
Exame físico<br />
Buscar sinais de doenças que possam causar má absorção<br />
secundária de hidratos de carbono. Observar<br />
presença de distensão abdominal, peristalse acelerada,<br />
borborigma hiperfonético, dermatite perianal.<br />
Correlacionar época de introdução do hidrato de<br />
carbono, época de aparecimento dos sintomas e<br />
época de início de desaceleração pondero-estatural<br />
no gráfico de crescimento, caso ocorra.<br />
Exames complementares:<br />
Mais comuns: pH fecal (< 5,5)<br />
pesquisa de substâncias redutoras<br />
nas fezes (> 0,5%)<br />
Mais especializados: teste do H 2 expirado positivo<br />
após a ingestão de lactose.<br />
biópsia duodenal (para<br />
avaliação da histologia e<br />
atividade enzimática<br />
• Resposta clínica à suspensão do HC da dieta:<br />
prova terapêutica valiosa para diagnóstico.<br />
Sintomas cessam rapidamente com suspensão<br />
da lactose e, às vezes, a criança fica constipada.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 61
Gastroenterologia Clínica<br />
Tratamento<br />
• De acordo com o grau de intolerância, suspender<br />
ou diminuir a lactose da dieta (leites<br />
e derivados). Alguns pacientes toleram bem<br />
alimentos com lactose parcialmente digerida<br />
como yogurtes, alguns queijos e produtos<br />
contendo Lactobacillus acidophilus.<br />
• Utilizar leites especiais isentos de lactose ou<br />
com baixo teor de lactose (dependendo da<br />
atividade residual de lactase)<br />
• Enzimas de substituição: muito utilizadas em<br />
outros países e menos difundida entre nós.<br />
Na intolerância primária ontogenética permite<br />
não se restringir completamente os produtos<br />
com lactose, a ponto de causar transtornos,<br />
até mesmo sociais. O produto mais disponível<br />
comercialmente no exterior é o Lactaid em gotas<br />
e comprimidos.<br />
• Reposição de cálcio com uma boa fonte alimentar<br />
e/ou suplementação medicamentosa<br />
para atingir níveis diários recomendados.<br />
Estudos recentes indicam que a lactose da dieta<br />
aumenta a absorção de cálcio, portanto, dietas<br />
sem lactose já resultam em pobre aproveitamento<br />
deste mineral.<br />
<strong>Referências</strong> <strong>Bibliográficas</strong><br />
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the roleOf the lactose breath test. Am J Gastroenterl.<br />
2010 105: 1726-8.<br />
Hepatites virais<br />
agudas - Interpretando<br />
os marcadores<br />
GILDA PORTA<br />
As hepatites por vírus hepatotrópicos são<br />
doenças infecciosas, de transmissibilidade<br />
inter-humana, evolução aguda ou crônica, que<br />
acometem particularmente o fígado. As manifestações<br />
predominantes são decorrentes da<br />
lesão e disfunção hepática. Têm alta morbidade<br />
universal, constituindo importante problema de<br />
saúde pública.<br />
As hepatites virais são causadas principalmente<br />
pelos cinco principais vírus hepatotrópicos, cujas<br />
características estão listadas no quadro ao lado.<br />
62<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Gastroenterologia Clínica<br />
CURITIBAPR<br />
Hepatite A Hepatite B Hepatite C Hepatite D Hepatite E<br />
Família Picornavírus Hepadnavírus Flavivirus Satelite calicivirus<br />
Genoma RNA DNA RNA RNA RNA<br />
Envelope Não Sim Sim Sim Não<br />
Incubação<br />
15 a 40 dias<br />
(média=28)<br />
30 a 180 dias<br />
(média=80)<br />
15 a 160 dias<br />
(média=50)<br />
30 a 180 dias<br />
(média=80)<br />
15 a 64 dias<br />
(média=40)<br />
Transmissão<br />
Orofecal<br />
Parenteral<br />
Sexual<br />
Perinatal<br />
Habitual<br />
Raro<br />
––<br />
––<br />
––<br />
Habitual<br />
Sim<br />
Sim<br />
––<br />
Habitual<br />
Menos comum<br />
Sim<br />
––<br />
Habitual<br />
Menos comum<br />
––<br />
Habitual<br />
––<br />
––<br />
––<br />
Sequelas<br />
Portador<br />
Hep. Crônica<br />
Ausente<br />
Ausente<br />
Sim<br />
Sim<br />
Sim<br />
Sim<br />
Sim<br />
Sim<br />
Ausente<br />
Ausente<br />
Características clínicas das hepatites virais<br />
Hepatite A Hepatite B Hepatite C Hepatite D Hepatite E<br />
Início Agudo Insidioso Insidioso agudo/insidioso Agudo<br />
Pródromo --- Artrite/rash Artrite/rash Desconhecido ––<br />
Sintomas<br />
Febre<br />
Icterícia<br />
Outros<br />
Comum<br />
Incomum em<br />
crianças<br />
Náuseas/vômitos<br />
Ausente<br />
Comum<br />
Artralgia,<br />
náuseas, vômitos<br />
Ausente<br />
Incomum<br />
Náuseas/vômitos<br />
Ausente<br />
Incomum<br />
Náuseas/vômitos<br />
Comum<br />
Comum<br />
Náuseas/vômitos<br />
Mortalidade 0,1-0,2%<br />
0,5-2% não<br />
complicados<br />
1-2% não<br />
complicados<br />
2-20% 20% grávidas<br />
Fulminante 0,1% 0,1-1% 0,1% 5-20% 1-2%<br />
Interpretando os marcadores virais<br />
HEPATITE A (HVA)<br />
Anti-HVA IgM<br />
Anti-HVA IgG<br />
Infecção atual ou recente, presente durante 4-6 m<br />
Infecção passada (fase de recuperação). Confirma exposição<br />
e imunidade ao HVA<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 63
Gastroenterologia Clínica<br />
HEPATITE B (VHB)<br />
Marcadores sorológicos hepatite B<br />
AgHBs<br />
Infecção por HBV (aguda ou crônica)<br />
AgHBc<br />
AgHBe<br />
Anti-HBs<br />
Detectável apenas no tecido hepático<br />
Infecção ativa, correlaciona-se com<br />
replicação viral e indica alta infectividade.<br />
Se persistir por 6-8 sem sugere evolução<br />
para cronicidade.<br />
Recuperação clínica e imunidade.<br />
Anti-HBc<br />
Contacto com VHB (agudo ou pregresso)<br />
Anti-HBc IgM<br />
Anti-HBe<br />
DNA HBV<br />
Infecção aguda. Ausente na infecção crônica.<br />
Pouca replicação viral<br />
Replicação viral<br />
64<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Gastroenterologia Clínica<br />
Interpretação dos marcadores sorológicos da hepatite B<br />
CURITIBAPR<br />
AgHBs AgHBe Anti-HBe<br />
Anti-<br />
HBc IgM<br />
Anti-HBc Anti-HBs Significado<br />
+ + – + + –<br />
+ – + – + –<br />
+ + – – + –<br />
– – – – + –<br />
– – + – + +<br />
Hepatite aguda ou fase de<br />
reagudização de hepatite crônica<br />
Portador crônico (estado de<br />
portador ou hepatite crônica)<br />
com baixa replicação viral<br />
Portador crônico (estado de<br />
portador ou hepatite crônica)<br />
com alta replicação viral<br />
Recuperação ou contato<br />
prévio com o VHB<br />
Recuperação ou contato<br />
prévio com o VHB<br />
– – – – – + Pós-vacinação<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 65
Gastroenterologia Clínica<br />
HEPATITE C (HCV)<br />
– Fase aguda:<br />
– Sorologia:<br />
• Anticorpos anti-HCV: O aparecimento<br />
se dá 2 a 6 semanas após o início do<br />
quadro clínico e persiste na grande<br />
maioria dos casos por toda a vida.<br />
• RNA HCV: É o marcador que surge<br />
precocemente, já no fim da primeira<br />
semana após a contaminação, está<br />
positivo no início do quadro clínico.<br />
O seu desaparecimento se correlaciona<br />
com a resolução do processo, enquanto<br />
a positividade indica viremia<br />
persistente e na grande maioria das<br />
vezes evolui para hepatite crônica.<br />
– Hepatite crônica:<br />
– PCR – VHC sempre positivo<br />
66<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Gastroenterologia Clínica<br />
Esquema a ser adotado quando a sorologia para VHC é positivo<br />
CURITIBAPR<br />
Anti HVC +<br />
Solicitar PCR e ALT<br />
PCR+<br />
PCR–<br />
ALT normal<br />
ALT ALT normal<br />
ALT<br />
Portador<br />
Hepatite crônica<br />
Falso + ou curado<br />
Outras causas<br />
PCR<br />
Repetir mais 2 vezes<br />
Repetir ALT<br />
a cada 4m e<br />
PCR anual<br />
Considerar tratamento<br />
se tiver atividade<br />
histológica<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 67
Gastroenterologia Clínica<br />
68<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Diarreia Aguda<br />
CURITIBAPR<br />
Rotavírus<br />
ROSA HELENA PORTO GUSMAO<br />
Os rotavírus (RVs) são reconhecidos como os<br />
principais agentes associados à diarreia grave<br />
em crianças menores de cinco anos, em todo o<br />
mundo, independente das condições socioeconômicas<br />
de onde vivem 1 . Os resultados promissores<br />
de eficácia e segurança, oriundos de estudos de<br />
campo com as duas vacinas licenciadas contra<br />
os RVs e os registros de redução das diarreias<br />
graves por esses vírus, após o uso rotineiro das<br />
mesmas, podem indicar que a almejada redução<br />
da morbimortalidade infantil por diarreia aguda,<br />
possa enfim ser alcançada 1,2 .<br />
A partícula viral é constituída por de 11 segmentos<br />
de RNA, que codificam as proteínas<br />
virais, dentre as quais destacam-se as VP7 e VP4,<br />
que induzem a produção de anticorpos neutralizantes,<br />
protetores contra reinfecções mais<br />
graves e portanto de interesse para elaboração<br />
das vacinas 3,4 . Os RVs são classificados em tipos<br />
“G” e “P”. As cepas que mais frequentemente<br />
infectam o homem são G1 P[8], G2 P[4], G3P[8]<br />
G4 P[8] e G9 P[8]. Os RVs são transmitidos via<br />
fecal-oral, através de água, alimentos contaminados<br />
e fômites, multiplicam-se nos enterócitos,<br />
principalmente no jejuno e duodeno. Os mecanismos<br />
produtores de diarreia pelos RVs não<br />
estão bem esclarecidos; estudos experimentais<br />
demonstram achatamento das vilosidades e<br />
destruição das microvilosidades, redução da<br />
atividade das dissacaridases, má digestão e<br />
absorção dos açúcares da dieta, aumento da<br />
pressão osmótica no lúmen intestinal, com a<br />
eliminação de fezes mais aquosas, caracterizando<br />
a diarreia osmótica. Nos enterócitos<br />
de ratos infectados pelos RVs, a proteína<br />
viral NSP4 induziu aumento do cálcio, saída<br />
do cloro e ocorrência de diarreia secretora,<br />
sendo a primeira toxina viral descrita. A NSP4<br />
induz a produção de substâncias inflamatórias<br />
secretoras, após estimular o Sistema Nervoso<br />
Entérico 3,4 . Tem sido demonstrada viremia/<br />
antigenemia em animais e crianças infectadas<br />
por esses vírus, o que poderia esclarecer os<br />
sintomas extra-intestinais como encefalopatias,<br />
nefrite, pneumonia observados em pacientes<br />
com diarreia por esses patógeno 5 . Crianças<br />
entre 6 a 36 meses são as que mais comumente<br />
apresentam episódios de diarreia de<br />
maior gravidade. O quadro clínico em geral<br />
tem início com vômitos, febre e após um a<br />
dois dias surge a diarreia. As perdas hidroeletrolíticas,<br />
acarretam quadros de desidratação<br />
de intensidade variável, que podem culminar<br />
com choque hipovolêmico, grave distúrbio hidroeletrolítico<br />
e morte. A diarreia tem duração<br />
média cinco a oito dias 3,4 . Em recém-nascidos<br />
as rotaviroses são, em geral, assintomáticas,<br />
possivelmente pela ação de anticorpos maternos<br />
adquiridos via transplacentária ou pela<br />
amamentação. A excreção viral ocorre um a<br />
dois dias do início da diarreia e até cinco a<br />
dez dias de seu término. O diagnóstico pode<br />
ser feito através de métodos imunoenzimáticos,<br />
que detectam os vírus nas fezes, assim como<br />
anticorpos específicos no plasma e fezes de<br />
infectados; prova da aglutinação das partículas<br />
de látex,de fácil e rápida execução. Detecção do<br />
genoma viral através da eletroforese em gel de<br />
poliacrilamida, PCR, sequenciamento genômico<br />
e a identificação viral em células de cultura e<br />
microscopia eletrônica são restritos a laboratórios<br />
de pesquisas científicas. A OMS recomenda<br />
a reposição das perdas hidroeletrolíticas com<br />
sais de reidratação oral ou por via venosa, na<br />
impossibilidade da primeira. A administração<br />
de zinco é recomendada por reduzir a duração<br />
e gravidade das diarreias. Deve-se atentar<br />
para as reações adversas aos alimentos, como<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
69
Diarreia Aguda<br />
a intolerância à lactose e alergia às proteínas<br />
do leite de vaca; o aumento do volume ou<br />
frequência das evacuações, após a introdução<br />
do leite, pode ser sugestivo. O homem pode<br />
sofrer várias infecções pelos RVs, em geral por<br />
cepas distintas, a primeira infecção de maior<br />
gravidade que as subsequentes, observações<br />
que serviram de subsídio para a elaboração das<br />
vacinas. Em geral, a resposta imune à primeira<br />
infecção é homotípica, e a partir da segunda<br />
ocorre a produção de anticorpos também contra<br />
outros tipos de RVs, resposta heterotípica. A<br />
imunidade celular e a produção de IgA secretora<br />
na mucosa intestinal também têm sido<br />
referidas como indutores de proteção 3,4 .<br />
Dada a premissa de que a prevenção das<br />
diarreias por RVs não dependeria apenas da<br />
melhoria das condições de saneamento básico<br />
e higiene, a partir dos anos 1980 intensificaram-se<br />
os estudos para a elaboração de uma<br />
vacina contra os RVs. Em 1998 foi introduzida<br />
e logo após, retirada do mercado nos EUA a<br />
vacina tetravalente, Rotashield (Wyeth-Lederle)<br />
pela provável associação com casos de intussuscepção<br />
6 . Em 2006 duas vacinas contra os RVs<br />
foram licenciadas e em 2009 recomendadas<br />
para uso global pela OMS, Rotarix (Glaxo Smithkline<br />
Biologicals, Bélgica) e Rotateq (Merck,<br />
EUA). Testadas em países desenvolvidos e em<br />
desenvolvimento, mostraram que são comparáveis<br />
quanto à segurança, imunogenicidade<br />
e eficácia contra as gastroenterites por RVs.<br />
Não interferiram na resposta imune a outras<br />
vacinas administradas e não se associaram<br />
à intussuscepção 7,8 . Estima-se que as duas<br />
vacinas possam prevenir 74% (95% IC:35-90%)<br />
e de 47 a 57 % das mortes e hospitalizações<br />
por diarreia RVs, respectivamente 3,9 . A Rotateq,<br />
vacina atenuada, pentavalente, originária do<br />
rearranjo genético entre cepas que infectam<br />
o homem (G1, G2, G3 e G4) e a cepa bovina<br />
P[8]. A amostra vacinal inclui os tipos “G” e<br />
“P” que mais frequentemente infectam o homem.<br />
Estudos de campo mostraram proteção<br />
contra diarreias de qualquer gravidade e as<br />
que necessitam de hospitalização de 74 e 98%<br />
respectivamente. Esta redução se manteve após<br />
3 anos da vacinação e ocorreu também em<br />
crianças maiores, não vacinadas, possivelmente<br />
pela redução da transmissão viral. Administrada<br />
via oral, por volta de 2, 4 e 6 meses de vida<br />
e idades mínima e máxima da primeira dose<br />
de 6 a 12 semanas, intervalo mínimo entre<br />
as doses de 4 semanas, a vacinação deve ser<br />
completada antes das 32 semanas 6,7 .<br />
A vacina Rotarix, monovalente, constituída<br />
por cepa humana, atenuada de rotavírus P[8]<br />
G1, que no período pré-vacinal predominava<br />
globalmente. Foi incluída no Programa Nacional<br />
de Vacinação em 2006. Estudo multicêntrico<br />
com mais de 100.000 participantes<br />
na A. Latina, Europa, Ásia e África mostrou<br />
proteção de 85% a 96% contra as diarreias<br />
graves causadas por G1 e não –G1. Na A.<br />
Latina e Europa, reduziu as hospitalizações<br />
por diarreia em torno de 40 e 75%, respetivamente.<br />
A eficácia contra G2 foi de cerca<br />
de 41% na A. Latina e de 81% na Europa.<br />
São recomendadas duas doses em torno de<br />
2 e 4 meses de vida; a primeira deve ser<br />
dada entre 6 a 12 semanas, com intervalo<br />
mínimo de 4 semanas entre as doses. O esquema<br />
deve ser completado até 24 semanas<br />
e 6 dias. Recentemente os EUA estenderam<br />
o prazo máximo para a segunda dose para<br />
32 semanas 6,8 . Em geral, estudos para avaliar<br />
a segurança e proteção das vacinas após seu<br />
uso rotineiro (efetividade) têm confirmado<br />
os achados do período pré-licenciamento 2,9 .<br />
No Brasil, estudos de efetividade da vacina<br />
evidenciam redução significante das hospitalizações<br />
por diarreia por RVs 10,11 .De modo<br />
semelhante ao registrado em outros países,<br />
há maior frequência de episódios associados<br />
ao G2 P[4], o que pode dever-se à pressão<br />
imunológica da vacina contra os tipos não-G2<br />
P[4], menor proteção heterotípica da vacina<br />
monovalente ou ainda, à flutuações das cepas<br />
circulantes com predominância de uma delas,<br />
característica da epidemiologia dos RVs 10,11 .Os<br />
achados recentes de DNA do circovírus suíno<br />
1 na vacina monovalente, por ser inócuo ao<br />
homem, não contra-indica a vacinação,que<br />
tem se mostrado altamente eficaz contra as<br />
diarreias agudas em crianças, principalmente<br />
nos episódios de maior gravidade 12 .<br />
70<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Diarreia Aguda<br />
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Norovírus<br />
GISELIA ALVES PONTES DA SILVA<br />
A diarreia aguda (DA) na infância continua a ser<br />
um problema de saúde pública em todo o mundo,<br />
mas as maiores taxas de morbimortalidade<br />
são observadas nas regiões menos desenvolvidas<br />
economicamente, onde grandes parcelas<br />
da população vivem em condições ambientais<br />
desfavoráveis o que favorece a disseminação<br />
dos enteropatógenos.<br />
A etiologia mais frequente da DA independente<br />
da região geográfica onde a pesquisa foi realizada<br />
é a viral (rotavírus, norovírus, adenovírus,<br />
astrovírus), sendo o rotavírus o agente etiológico<br />
isolado com maior frequência, até recentemente.<br />
A introdução da vacina anti-rotavírus teve um<br />
impacto importante na epidemiologia da diarreia<br />
viral, principalmente na redução da incidência<br />
das formas mais graves da DA rotavírus-positiva<br />
que resultavam em alto número de hospitalizações<br />
e de mortes.<br />
Desde a década de 1970 o norovírus emergiu<br />
como uma causa importante de diarreia aguda,<br />
inicialmente associada a surtos diarreicos. No<br />
início era conhecido como vírus Norwalk-símile<br />
por ter sido isolado pela primeira vez em um<br />
surto diarreico que afetou crianças em uma<br />
escola na cidade de Norwalk, Ohio, EEUU,<br />
na primavera de 1968. Em 1972 o vírus foi<br />
identificado por Kapikian et al. Desde então<br />
tem sido isolado em todos os continentes e<br />
hoje com a redução dos casos de DA associada<br />
ao rotavírus é considerado a causa mais frequente<br />
de diarreia adquirida na comunidade,<br />
apresentando um padrão endêmico embora<br />
seja frequente apresentar-se sob a forma de<br />
surtos diarreicos.<br />
A partir de 2002 tem se observado um número<br />
crescente de relatos de diarreia aguda associada<br />
ao norovírus, não se sabe ainda se isso reflete<br />
um aumento na incidência da doença ou se<br />
decorre da utilização de métodos laboratoriais<br />
mais adequados. Estima-se que a frequência da<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 71
Diarreia Aguda<br />
diarreia aguda associada ao norovírus seja em<br />
torno de 15%, embora se observe uma ampla<br />
variação nos estudos publicados que pode ser<br />
explicado por particularidades associadas aos<br />
sujeitos estudados e as diferentes técnicas laboratoriais<br />
utilizadas.<br />
O norovírus (gênero:norovírus; família: caliciviridae)<br />
apresenta uma ampla variabilidade<br />
genética (cinco genogrupos) e em humanos a<br />
infecção está associada principalmente aos GI,<br />
II e IV. Dentro dos genogrupos os norovírus são<br />
divididos em genótipos e já foram identificados<br />
mais de 40 tipos.<br />
Até o momento ainda não foi identificado um<br />
modelo animal para o estudo da doença o que<br />
dificulta o estabelecimento da sua patogenia.<br />
O tipo de resposta imunológica do hospedeiro<br />
humano e como se dá o clearance viral ainda<br />
não estão bem estabelecidos.<br />
Afeta igualmente crianças e adultos e pode<br />
ter um curso mais grave em indivíduos imune<br />
comprometidos e nos portadores de doença<br />
crônica. Frequentemente ocorre surtos em hospitais,<br />
escolas, asilos, restaurantes e cruzeiros.<br />
Daí ser foco de interesse não apenas científico,<br />
mas também da mídia.<br />
A diarreia é aquosa não há presença de sangue<br />
nas fezes. A duração média da doença é de<br />
cerca de três dias.<br />
A infecção pode se manifestar como episódios<br />
de vômitos agudos principalmente na infância<br />
e adolescência e essa forma clínica por ocorrer<br />
no hemisfério norte com maior frequência no<br />
inverno é conhecida como “winter vomiting<br />
disease”. A forma de apresentação clínica predominante<br />
na idade adulta é diarreia de início<br />
abrupto, vômito, dor abdominal e náusea sendo<br />
menos frequente a presença de febre, cefaléia,<br />
mialgias e mal estar geral.<br />
A veiculação do norovírus se dá pela via fecaloral<br />
e a propagação se faz através da água, de<br />
alimentos ou pelo contato pessoa-a-pessoa. O<br />
período de incubação da infecção é de 24 a<br />
48 horas. Na maioria dos casos manifesta-se<br />
como um quadro leve ou moderado de diarreia<br />
e/ou vômitos, mas em crianças menores e em<br />
indivíduos imunecomprometidos pode ter um<br />
curso grave. Nos últimos anos, diferentes autores<br />
têm relatado ser uma causa frequente de DA<br />
quando são analisadas crianças hospitalizadas.<br />
Algumas complicações da DA associada ao norovírus<br />
tem sido descritas na literatura, tais como<br />
enterocolite necrosante em um recém-nascido<br />
prematuro, diarreia persistente em lactentes, e<br />
associação com a síndrome do intestino irritável<br />
pós-infecciosa.<br />
Na identificação do norovírus diferentes técnicas<br />
moleculares (PCR) têm sido utilizadas e ainda<br />
não há uma padronização aceita universalmente,<br />
uma dificuldade decorrente da ampla variedade<br />
genética do vírus. Em alguns surtos tem sido<br />
usada a técnica de ELISA, mas tem mostrado<br />
baixa sensibilidade, portanto não é recomendável<br />
em casos isolados.<br />
Uma preocupação do ponto de vista da saúde<br />
pública é entender porque a DA associada ao<br />
norovírus é tão comum, possivelmente por<br />
causa da baixa dose infectante (18 a 1000<br />
partículas virais), por sua resistência à desinfecção<br />
e estabilidade no ambiente, porque o<br />
homem pode atuar como reservatório do vírus,<br />
a imunidade espécie-específica ser de curta<br />
duração, as múltiplas vias de transmissão, a<br />
diversidade e plasticidade genética das cepas.<br />
Ainda não há tratamento específico, sendo as<br />
medidas de prevenção da desidratação o aspecto<br />
mais importante no manejo inicial dos<br />
portadores da doença. A desidratação quando<br />
instalada deve ser tratada corretamente.<br />
O Centro de Controle de Doença (CDC) dos EEUU<br />
recomendam que os indivíduos adultos infectados<br />
com o norovírus ausentem-se do trabalho até<br />
dois dias após o desaparecimento da diarreia.<br />
Para crianças não há recomendação específica.<br />
Ainda não há vacinas disponíveis.<br />
<strong>Referências</strong> <strong>Bibliográficas</strong><br />
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and clinical features of norovirus gastroenteritis<br />
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68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Diarreia Aguda<br />
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Diarreia aguda<br />
SANDRA LÚCIA SCHÜLER<br />
A gastroenterite aguda (GEA) é uma doença extremamente<br />
comum na infância. Cerca de 40%<br />
dos casos que acontecem nos primeiros 5 anos<br />
de vida são causados por rotavírus, enquanto<br />
que 30% são por outros vírus, principalmente<br />
norovírus e adenovírus. Campylobacter jejuni,<br />
Yersinia, Salmonella, Shigella, E.coli patogênica<br />
ou Clostridium difficile, podem ser identificados<br />
nas fezes de crianças com GEA em torno de 20%.<br />
As causadas por parasitas, representam menos<br />
de 5% (Giardia, Cryptosporidium, Entamoeba<br />
histolytica, e outros) 15 .<br />
É a segunda principal causa de morbidade e<br />
mortalidade no mundo 26 . Está associada a um<br />
número substancial de hospitalizações e a um<br />
custo muito alto. A gravidade da GEA está relacionada<br />
com a etiologia de acordo com a faixa<br />
etária, e o rotavírus é responsável pelos casos<br />
mais graves 11, 21 .<br />
Segundo a UNICEF e Organização Mundial de<br />
Saúde (OMS), sete pontos fazem parte das estratégias<br />
para prevenir e tratar a diarreia 6 :<br />
SRO/Suplementação com zinco/Vacinas contra<br />
rotavírus e sarampo/Promoção do aleitamento<br />
materno precoce e exclusivo e Suplementação<br />
de vitamina A/Promoção da lavagem das mãos<br />
com água e sabão/Saneamento básico e/Água<br />
potável acessível para população.<br />
Novas opções em termos de diagnóstico, intervenções<br />
nutricionais, medicamentos e vacinas<br />
atualmente disponíveis podem diminuir a gravidade,<br />
atenuar os sintomas, encurtar o tempo de<br />
doença, bem como reduzir a taxa de infecção.<br />
Algumas necessitam de comprovação científica<br />
para serem incluídos protocolos e ou diretrizes 15 .<br />
O desenho de estudo que possui validade interna<br />
mais adequada são as revisões sistemáticas<br />
com ou sem metanálises (consideradas nível I<br />
de evidências), seguidas dos grandes ensaios<br />
clínicos, denominados mega trials (com mais<br />
de 1.000 pacientes – nível II de evidências),<br />
ensaios clínicos com menos de 1.000 pacientes<br />
(nível III de evidências), estudos de coorte (não<br />
possuem o processo de randomização – nível IV<br />
de evidências), estudos caso-controle (nível V de<br />
evidências), séries de casos (nível VI de evidências),<br />
relatos de caso (nível VII de evidências),<br />
opiniões de especialistas, pesquisas com animais<br />
e pesquisas in vitro.<br />
Recomendações baseadas na consistência: A-1<br />
estudo; B-2 a 3 estudos, ou extrapolação do<br />
nível 1; C-4 estudos ou extrapolação do nível 2<br />
ou 3; D-5 evidências ou estudos inconsistentes<br />
ou inconclusivos.<br />
1 - Hidratação oral<br />
A desidratação é a principal característica clínica<br />
e geralmente reflete a gravidade da doença<br />
diarreica. Um dos grandes avanços na redução<br />
da mortalidade por diarreia foi a introdução da<br />
solução de reidratação oral (SRO) pela OMS, no<br />
entanto, esta conduta não diminui a produção<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 73
Diarreia Aguda<br />
de fezes e a duração da diarreia e, portanto,<br />
outras abordagens somadas ou adicionadas para<br />
melhorar a SRO disponíveis tem sido propostas.<br />
A reidratação representa a pedra fundamental<br />
no tratamento da GEA. Deve ser oferecida por<br />
via oral ad libitum, o mais precoce possível 10 .<br />
A dosagem sérica de eletrólitos nos episódios<br />
de GEA não é uma recomendação de rotina 10 .<br />
Recomendação: Nível de evidência I, A<br />
1.1 - Hidratação com sonda nasogástrica<br />
e/ou intravenosa<br />
A hospitalização deve ser reservada quando o<br />
paciente apresentar:<br />
Choque/Desidratação grave (>9% do peso corporal)/Alterações<br />
neurológicas (sonolência, torpor,<br />
crise convulsiva, etc.)/Vômitos persistentes ou<br />
biliosos/Fracasso com a SRO/Falta de condições<br />
para os cuidados no domicílio ou problemas<br />
sociais/Suspeita de processo cirúrgico 5,15 .<br />
A OMS e a UNICEF seguem testando qual seria<br />
a composição ideal da SRO. Após anos de apoio<br />
à formulação original com 90mmol / L de sódio,<br />
para áreas com maior prevalência de cólera,<br />
apresenta a SRO com menor teor de sódio e<br />
osmolaridade (75mmol de sódio), mostrado na<br />
tabeal 1 10 .<br />
Comparação entre as fórmulas da SRO<br />
mMol/L OMS/UNICEF ESPGHAN/AAP<br />
Nan 90 40-60<br />
K 20 20<br />
Cl 80 30-60<br />
Alcali 30(Bic.) 10(Citrato)<br />
Glucosa 111 90(74-111)<br />
Osmolaridade<br />
(mOsm/L)<br />
331 200-250<br />
BMC Infect Dis 2011 18 .<br />
Sociedade Europeia de Gastroenterologia , Hepatologia e Nutrição<br />
em Pediatria (ESPGHAN) e Academia Americana de Pediatria (AAP)<br />
A nova fórmula hipoosmolar permite uma abrangência<br />
maior no combate frente às doenças<br />
diarreicas agudas e possibilita avançar no “Desenvolvimento<br />
do Milênio” cuja meta principal<br />
é a de reduzir a mortalidade infantil em dois<br />
terços até 2015 18 . Recomendação: Nível de<br />
evidência I, A<br />
Embora haja uma abundância de evidências<br />
e revisões sistemáticas sobre a eficácia e segurança<br />
dos probióticos no tratamento da GEA,<br />
há indícios mínimos da sua eficácia quando<br />
combinada com a SRO 12 . Recomendação:<br />
Nível de evidência II, B<br />
2 - Dieta<br />
a alimentação regular não deve ser interrompida,<br />
exceto nos casos de desidratação acompanhadas<br />
por vômitos. Tão logo a reidratação seja<br />
alcançada, a alimentação deve ser reiniciada 11 .<br />
Recomendação: Nível de evidência I, A<br />
A amamentação não deve ser interrompida<br />
durante o quadro agudo 12 . Recomendação:<br />
Nível II, B<br />
Não existe suficiente evidência que aprove a<br />
diluição das fórmulas infantis, nem a utilização<br />
de fórmulas sem lactose, tampouco as de soja 12 .<br />
Recomendação: Nível de evidência I, A<br />
Devido ao alto teor de açúcares não se recomenda<br />
a utilização de sucos de frutas in natura<br />
durante os episódios de GEA 12 . Recomendação:<br />
Nível de evidência II, B<br />
3 - Medicamentos<br />
Racecadotril<br />
É um antidiarreico antissecretor que atua como<br />
inibidor seletivo da encefalinase plasmática, que<br />
regula a secreção intestinal. A sua ação parece<br />
ser apenas periférica, não afetando secreção<br />
basal e nem o tempo de trânsito intestinal 6 .<br />
Vem sendo comercializado para o uso concomitante<br />
ao da SRO na doença diarreica aguda,<br />
na dose de 1,5mg/kg/dose, com o objetivo de<br />
abreviar os sintomas (dias, volume e a frequência<br />
das fezes) 10 .<br />
Pouca evidência científica quanto a segurança e<br />
também em relação ao custo-benefício.<br />
74<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Diarreia Aguda<br />
Os efeitos adversos incluem: náuseas, sede,<br />
vertigem, constipação, dor de cabeça, vômitos<br />
e hipersensibilidade. Sugere-se maior exploração<br />
nesta área antes de recomendar o seu uso<br />
em diretrizes o tratamento da GEA 24 . Nível de<br />
evidência: I, B<br />
Antieméticos<br />
Não devem ser usados sistematicamente 12 .<br />
Há alguns relatos na literatura do uso de ondansetrona<br />
com efeitos positivos no tratamento<br />
do vômito associado à gastrenterite aguda, no<br />
entanto, a dose ideal não é bem conhecida.<br />
Publicações com um grau de evidência mais<br />
forte em relação ao uso de antieméticos deverão<br />
surgir 8 . Nível de evidência: I, B<br />
Adição de zinco<br />
A deficiência deste micronutriente pode estar<br />
presente em crianças com diarreia aguda em<br />
consequência das perdas intestinais 2 .<br />
A adição de zinco na SRO tem sido proposta<br />
tanto para reidratação como para o tratamento<br />
da diarreia, na dose de 20 mg/dia, em crianças<br />
acima de 6 meses. O zinco é um micronutriente<br />
essencial e funciona como antioxidante, protegendo<br />
as membranas celulares. O equilíbrio do<br />
zinco sérico se dá entre a ingestão, absorção e<br />
as perdas.<br />
Em vários ensaios clínicos, randomizados e<br />
controlados e em metanálises, tem mostrado<br />
que há uma redução na produção, frequência<br />
e duração da diarreia aguda e persistente com<br />
a suplementação de zinco 17 . Nível de evidência:<br />
I, A<br />
Suplementação de Vitamina A<br />
Apresenta resultados contraditórios na literatura.<br />
Em um estudo de metanálise encontrou-se uma<br />
diminuição da mortalidade geral entre crianças<br />
de 6 meses a 5 anos com episódios de diarreia<br />
aguda, quando a suplementação era realizada.<br />
Essa rotina deve ser empregada. principalmente<br />
quando a diarreia está associada à quadros<br />
pulmonares, em pacientes com baixo nível<br />
socioeconômico e sem saneamento básico 10 .<br />
Nível de evidência: I, B<br />
CURITIBAPR<br />
Probióticos<br />
Probióticos podem alterar a composição da flora<br />
intestinal e agir contra patógenos entéricos. No<br />
entanto, o mecanismo através do qual exercem<br />
a sua função permanece desconhecida. Possíveis<br />
mecanismos incluem a síntese de substâncias<br />
antimicrobianas, mecanismos competitivos<br />
por nutrientes necessários para o crescimento<br />
de patógenos, toxinas ou modificação de seus<br />
receptores, e estimulação da resposta imune<br />
específica a patógenos e não-específica 11, 27 .<br />
O uso de probióticos parece reduzir a duração e<br />
intensidade dos sintomas. Baseados em estudos<br />
randomizados e em metanálises, até o momento,<br />
há efeitos benéficos, moderados, dos probióticos,<br />
quando usados na GEA, principalmente quando<br />
da forma “diarreia secretora” induzida pela<br />
rotavírus. Há redução, em média de 1 dia na<br />
duração dos sintomas se empregados logo no<br />
início da doença 25 . Os preparados devem conter<br />
determinadas cepas, previamente selecionadas<br />
e com quantidades estáveis de colônias (> 10 10-<br />
10 11 unidades formadoras de colônias/ dose) 3, 10 .<br />
A Sociedade Europeia de Gastroenterologia ,<br />
Hepatologia e Nutrição em Pediatria e a Sociedade<br />
Europeia de Pediatria, comitê de Doenças<br />
Infecciosas afirma que determinados probióticos<br />
tem eficácia clínica comprovada como os<br />
Lactobacillus rhamnosus GG 23 , Saccharomyces<br />
boulardii e L.reuteri 22 . Estes preparados podem<br />
ser utilizados como coadjuvantes no tratamento<br />
da GEA em crianças, principalmente na diarreia<br />
aguda causada pelo rotavírus, junto com a reidratação<br />
10 . Outras cepas probióticas merecem<br />
mais estudos 24 .<br />
Em um estudo experimental recente mostra que<br />
cepas selecionadas de Lactobacillus acidophilus<br />
LB podem também antagonizar a atividade<br />
secretora da diarreia induzida por vírus nãorotavírus<br />
16 .<br />
Os benefícios dos probióticos foram mais evidentes<br />
em experimentos testados em crianças<br />
com diarreia aguda em países desenvolvidos 10, 11 .<br />
Rossignol et al, 2006, publicaram o uso deste<br />
medicamento em crianças desnutridas com<br />
diarreia pelo rotavírus, com uma diminuição<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 75
Diarreia Aguda<br />
dos sintomas. Adicionais trabalhos com um<br />
número maior de participantes poderão contribuir<br />
para validar estes resultados 19 . Nível de<br />
evidência: I, A<br />
Terapia antiviral<br />
Nenhuma terapia específica para o tratamento<br />
da diarreia viral está disponível no momento<br />
para ser recomendada.<br />
A literatura mostra alguns estudos com ribaverina<br />
e intérferon para o tratamento do norovírus 4 .<br />
Nitazoxanida<br />
Essa substância está sendo divulgada como<br />
“mágica” para tratamento de uma gama de infecções<br />
entéricas, não só causada por bactérias<br />
mas também por vírus. Tem sido empregada<br />
para tratamento: Cryptosporidium parvum, Giardia<br />
lamblia, Entamoeba histolytica, Blastocystis<br />
hominis, C. Difficile.<br />
Há alguns relatos na literatura sobre o uso<br />
deste medicamento na diarreia de etiologia<br />
desconhecida, principalmente a de etiologia<br />
infecciosa, sugerindo uma redução na duração<br />
dos sintomas.<br />
Apresenta uma ação sobre os vírus e isto se<br />
deve à inibição da síntese da estrutura viral<br />
chamada de proteína 7, em uma interação com<br />
a célula, bloqueia a habilidade do vírus em se<br />
multiplicar. É possível que outros mecanismos<br />
ainda não esclarecidos sejam responsáveis por<br />
sua ação sobre vírus (em associação com outros<br />
antivirais para tratamento da hepatite C) 19 .<br />
O uso de nitazoxamide por 3 dias parece abreviar<br />
o tempo de duração da diarreia quando<br />
comparado ao placebo (1,5 versus 2,5 dias<br />
respectivamente, P=0,0295) 19 .<br />
Não há um consenso na literatura com este<br />
medicamento para tratamento da diarreia<br />
viral.<br />
Até o momento, nenhuma terapia está disponível<br />
para o tratamento da diarreia viral. 4<br />
Uso de imunoglubulinas<br />
A imunoglobulina também tem sido estudada,<br />
administrada por via oral ou intravenosa, principalmente<br />
nos pacientes transplantados com<br />
quadro de gastrienterite pelo norovírus 7, 9 .<br />
Vacina<br />
Rotavírus - prevenção com a vacinação é recomendada<br />
para todas as crianças (seguir o<br />
calendário) 20 .<br />
Norovírus - Há uma série de barreiras ao desenvolvimento<br />
de uma vacina eficaz, principalmente:<br />
pela falta de uma correlação entre a<br />
doença e o tempo de proteção (curta duração<br />
da imunidade após um episódio de doença,<br />
menor que 2-3 anos), pelas características do<br />
vírus, ou seja, um elevado polimorfismo somado<br />
à diversidade genética (genótipo do vírus varia<br />
conforme a população) 1 .<br />
Novas perspectivas para futuras vacinas: o uso<br />
de plantas transgênicas (expressão transgênica<br />
do vírus no tabaco, na batata e no tomate) 14 .<br />
Conclusão<br />
Diarreia Viral<br />
1-Hidratação oral logo no início dos sintomas/<br />
Intravenosa quando necessária.<br />
2-Dieta<br />
Seguir com aleitamento materno/não diluir as<br />
fórmulas infantis/via de regra não retirar lactose/<br />
evitar suco de frutas.<br />
3-Probióticos<br />
Reduzir a duração e intensidade dos sintomas<br />
(média de 1 dia) se empregados logo no início<br />
da doença.<br />
Os preparados devem conter determinadas<br />
cepas, previamente selecionadas e com quantidades<br />
estáveis de colônias (> 10 10- 10 11 unidades<br />
formadoras de colônias/dose)<br />
Lactobacillus rhamnosus GG, Saccharomyces boulardii<br />
e L.reuteri - rotavírus.<br />
Lactobacillus acidophilus LB - vírus nao-rotavírus.<br />
4-Racecadotril<br />
É um antidiarreico antissecretor, não altera o<br />
tempo de trânsito intestinal. Pode ser usado<br />
concomitante à SRO.<br />
Há necessidade de mais estudos, principalmente<br />
76<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Diarreia Aguda<br />
com um maior número de participantes.<br />
5- Terapia antiviral<br />
Nenhuma específica para o tratamento da diarreia<br />
viral (norovírus) está disponível no momento.<br />
Nitazoxanida (por inibir a síntese viral)- ainda<br />
sem nenhum consenso para o tratamento do<br />
norovírus.<br />
6-Prevenção<br />
Norovírus é altamente contagioso. Apenas 100<br />
partículas virais podem ser suficientes para<br />
causar infecção, responsável por grandes epidemias<br />
13 .<br />
Ainda é o melhor método, bem como o combate<br />
ao vírus, quer seja na higienização das mãos,<br />
descontaminação do meio ambiente e maior<br />
controle da vigilância sanitária 13 .<br />
O uso de desinfetantes à base de álcool está<br />
associado a um menor nível de contaminação<br />
da sala de aula em surtos de gastroenterites 1 .<br />
7-Vacina<br />
A prevenção com a vacinação antirotavírus é<br />
recomendada para todas as crianças.<br />
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78 68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
O Papel da Alimentação Saudável<br />
CURITIBAPR<br />
Programação<br />
metabólica<br />
ROSELI OSELKA SACCARDO SARNI<br />
Os dois primeiros anos de vida representam um<br />
período de intenso desenvolvimento físico, cognitivo,<br />
emocional e social. Práticas alimentares<br />
inapropriadas, nessa fase da vida, podem repercutir<br />
de maneira negativa no desenvolvimento<br />
de forma global e ocasionar sequelas futuras.<br />
Estudos epidemiológicos, em modelos animais<br />
e ensaios clínicos evidenciam que fatores nutricionais<br />
e metabólicos nas fases iniciais do<br />
desenvolvimento humano têm efeito na programação<br />
metabólica (programming) a longo prazo<br />
da saúde, do bem-estar e do desempenho, com<br />
efeitos que persistem na vida adulta. O termo<br />
programming foi introduzido na literatura por<br />
Dörner em 1974.<br />
A programação metabólica (programming) é definida<br />
como a indução, a deleção ou o prejuízo<br />
do desenvolvimento de uma estrutura somática<br />
permanente ou o ajuste de um sistema fisiológico<br />
por um estímulo ou agressão precoce,<br />
ocorrendo num período suscetível, resultando<br />
em consequências de longo prazo para a função.<br />
O padrão de ingestão de gordura pela mãe,<br />
durante a gestação, tem sido relacionado ao<br />
desenvolvimento de doenças alérgicas na criança,<br />
sendo a ingestão de alimentos ricos em ácido<br />
graxo linoleico (n-6) e ácido graxo linolênico<br />
(n-3) associada respectivamente a aumento e<br />
redução no risco de desenvolvimento dessas<br />
enfermidades em lactentes.<br />
Verificou-se também que, além do baixo peso<br />
ao nascer, o ganho ponderal acentuado pre-<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
cocemente, nos primeiros seis meses de vida,<br />
relaciona-se com o desenvolvimento futuro de<br />
obesidade e adiposidade central.<br />
Estudo multicêntrico americano conduzido por<br />
Stettler et al. em 2002, envolvendo 19.397 participantes,<br />
salientou a importância do rápido<br />
ganho de peso durante os quatro primeiros<br />
meses de vida como determinante de sobrepeso<br />
e obesidade aos 7 anos de idade, independentemente<br />
do peso ao nascer. Esse achado aponta<br />
para a importância da vigilância do crescimento<br />
ponderoestatural, não só refletindo as condições<br />
de saúde no momento da avaliação como também<br />
norteando a orientação a ser dada para a<br />
prevenção de doenças.<br />
Entretanto, cabe salientar que a preocupação<br />
dos profissionais que lidam com crianças e<br />
adolescentes, quanto à orientação de práticas<br />
apropriadas de alimentação, deve ter como<br />
meta também outros desafios: diminuição do<br />
risco de desenvolvimento de carências nutricionais<br />
(exemplo: de 40% a 80% dos lactentes<br />
brasileiros são portadores de anemia carencial<br />
ferropriva), orientações quanto à importância<br />
do acesso a água potável e cuidados adequados<br />
com saneamento básico, o pleno funcionamento<br />
de órgãos, sistemas e aparelhos (exemplo: o<br />
fornecimento adequado de nutrientes específicos,<br />
como ácidos graxos essenciais, favorece<br />
o desenvolvimento do sistema nervoso central<br />
e do sistema imune) e por fim o de reduzir o<br />
risco de desenvolvimento de doenças crônicas<br />
não-transmissíveis, cuja prevalência se encontra<br />
em ascensão na faixa etária pediátrica, como<br />
obesidade, diabetes, hipertensão, entre outras.<br />
Recentemente, a partir da incorporação de<br />
conhecimentos em nutrigenômica, procura-se<br />
compreender melhor os mecanismos de como<br />
diferentes nutrientes ou compostos bioativos<br />
podem interagir com genes específicos, modificando<br />
sua estrutura ou expressão e interferindo<br />
79
O Papel da Alimentação Saudável<br />
no risco de enfermidades. Outro aspecto importante<br />
é que modificações gênicas relacionadas<br />
à nutrição podem ser transgeracionais, ou seja,<br />
influenciar futuras gerações, além de ocasionar<br />
danos ao próprio indivíduo. Assim, fica evidente<br />
como o conceito de alimentação saudável<br />
foi ampliado e pode influenciar de maneira<br />
importante o binômio saúde-doença. O ácido<br />
fólico, por exemplo, tem função-chave na regulação<br />
da expressão gênica por participar da<br />
metilação do ácido desoxirribonucleico (DNA).<br />
Sua deficiência leva à hipometilação do DNA,<br />
o que pode ocasionar, por exemplo, o câncer<br />
de cólon. Os ácidos graxos poli-insaturados de<br />
cadeia longa (LC-PUFAs), por sua vez, suprimem<br />
a produção hepática do ácido ribonucleico<br />
mensageiro (mRNA) envolvido na síntese da<br />
enzima ácido graxo sintase (AGS), que participa<br />
na regulação da lipoproteinemia. Para essa<br />
função participam especialmente ácidos graxos<br />
da família n-3, como o ácido docosaexanóico<br />
(DHA) e eicosapentaenóico (EPA).<br />
Contemplando todas essas características e metas,<br />
enfatizamos a importância do incentivo ao<br />
aleitamento materno exclusivo até os 6 meses,<br />
da introdução de alimentação complementar<br />
saudável, da manutenção do aleitamento materno<br />
até 2 anos ou mais e de um estilo de<br />
vida adequado.<br />
Realizamos estudo para avaliar o consumo<br />
alimentar (share of stomach) de lactentes com<br />
idade inferior a 1 ano que não se encontravam<br />
em regime de aleitamento materno exclusivo. O<br />
estudo foi apoiado por <strong>Nestlé</strong> Nutrition, em 2007.<br />
Para a avaliação considerou-se uma amostra<br />
de crianças representativa de todos os estratos<br />
socioeconômicos para essa faixa etária, em três<br />
cidades brasileiras: São Paulo, Curitiba e Recife. O<br />
método utilizado foi o registro alimentar de sete<br />
dias. A análise de ingestão qualitativa e o cálculo<br />
de ingestão quantitativa foram realizados por<br />
nutricionistas com base no Programa de Apoio<br />
à Nutrição (NutWin), da Universidade Federal de<br />
São Paulo. Utilizaram-se como valores de referência<br />
os das Recommended Dietary Allowances<br />
(RDA) de 1989 para classificar a adequação de<br />
ingestão, considerando-se ingestão inadequada<br />
aquela inferior a 80% do recomendado. A seguir<br />
apresentamos dados parciais do ensaio.<br />
A tabela 1 chama a atenção para o elevado<br />
percentual de lactentes que não se encontram<br />
em regime de aleitamento materno exclusivo<br />
e utilizam leite de vaca integral. O estudo<br />
americano The Feeding Infants and Toddlers<br />
(FITS), de avaliação do consumo alimentar de<br />
lactentes, demonstrou que recebiam leite de<br />
vaca integral (ao menos uma vez ao dia) apenas<br />
1%, 3% e 20% das crianças nas faixas etárias<br />
de 4 a 6 meses, de 7 a 8 meses e de 9 a 11<br />
meses, respectivamente. A utilização do leite de<br />
vaca integral no primeiro ano de vida oferece<br />
riscos à saúde, como aumento da carga renal<br />
de soluto (alto conteúdo de proteína e sódio),<br />
risco de desenvolvimento de anemia carencial<br />
ferropriva (baixa biodisponibilidade do ferro nele<br />
contido), baixo conteúdo de ácidos graxos essenciais,<br />
alterações hormonais secundárias à elevada<br />
quantidade de proteína (4,5 vezes superior ao<br />
Tabela 1. Distribuição dos lactentes avaliados de acordo com o tipo de leite consumido<br />
Variável < 6 meses ≥ 6 meses<br />
(n=67) (n=112)<br />
Recebe leite materno Sim 39 50<br />
também<br />
(58,2%) (44,6%)<br />
Tipo de leite consumido Fórmula infantil 13 21<br />
(19,4%) (18,7%)<br />
Leite de vaca integral fluido ou pó 51 87<br />
(76,1%) (77,7%)<br />
Outros 3 4<br />
(4,5%) (3,7%)<br />
80<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
O Papel da Alimentação Saudável<br />
conteúdo encontrado no leite materno) e perfil<br />
de aminoácidos com estímulo à produção excessiva<br />
de insulina e somatomedina C (que favorece<br />
o desenvolvimento futuro de obesidade e resistência<br />
insulínica) e inadequação no fornecimento<br />
de vários micronutrientes.<br />
Na tabela 2 chama a atenção, além da precocidade<br />
de introdução da fórmula infantil e do leite<br />
de vaca integral, o início precoce da alimentação<br />
da família (5,5 meses). No FITS verificou-se que<br />
três em cada dez crianças recebem alimentos<br />
sólidos antes dos 4 meses de idade.<br />
O consumo precoce de alimentos da família<br />
está associado a maior consumo de energia e<br />
redução na ingestão de um ou mais nutrientes<br />
essenciais.<br />
Outro aspecto relevante da introdução precoce<br />
da alimentação da família diz respeito ao<br />
risco de consumo elevado de sódio. Em ensaio<br />
CURITIBAPR<br />
representativo da população adulta americana<br />
verificou-se que o consumo médio de sódio era<br />
1,5 vez superior ao limite máximo de ingestão<br />
previsto nas recomendações nutricionais, sendo<br />
os alimentos processados industrialmente responsáveis<br />
por 77% do valor ingerido.<br />
Sabemos que cerca de 40% da população adulta<br />
brasileira acima de 20 anos de idade é portadora<br />
de excesso de peso e que 30% dos indivíduos<br />
são portadores de doenças crônicas não-transmissíveis,<br />
o que nos leva a questionar sobre os<br />
hábitos alimentares de mães e pais brasileiros<br />
e nos faz refletir sobre a orientação dada, com<br />
frequência pelos pediatras, a mães de crianças<br />
por volta de 8 a 9 meses com desenvolvimento<br />
neuropsicomotor adequado: “Seu filho já pode<br />
receber a alimentação da família”. Nesse momento,<br />
cabe ao pediatra verificar quais são os<br />
hábitos alimentares dessa família e corrigi-los<br />
previamente a essa orientação, tarefa nada fácil.<br />
Tabela 2. Mediana (de idade em meses) de introdução da alimentação complementar<br />
FI LVI Queijo Papas Suco Farinhas Frutas Alimentação Sopa<br />
petit suisse<br />
da família<br />
Mediana 2 4 5 5 4 4 4 5,5 4<br />
Máx- (1-6) (1-6) (2-6) (3-6) (1-6) (2-6) (2-6) (3-6) (3-6)<br />
Mín<br />
N 64 57 35 33 148 39 103 66 132<br />
FI = fórmula infantil; LVI = leite de vaca integral fluido ou em pó (não-modificado)<br />
A tabela 3 aponta para algumas inadequações<br />
na introdução de novos alimentos. Salientamos<br />
o consumo precoce de alimentos industrializados<br />
pré-prontos, macarrão instantâneo, sucos<br />
artificiais e refrigerantes. No FITS verificou-se<br />
consumo de sobremesas doces entre 40% e 75%<br />
das crianças nas faixas etárias de 7 a 8 meses<br />
e de 19 a 24 meses, respectivamente. A ingestão<br />
desse tipo de sobremesa foi associada com<br />
aumento na ingestão de energia e diminuição<br />
no consumo de frutas. Salgadinhos também<br />
aparecem precocemente na dieta, verificando-se<br />
que a proporção de crianças que consomem o<br />
produto cresce de 16% (entre 12 e 14 meses) para<br />
37% (de 19 a 24 meses). Ou seja, os hábitos<br />
alimentares ruins que acreditávamos começar<br />
mais tarde estão sendo iniciados em idades<br />
muito precoces.<br />
No FITS verificou-se também que há incremento<br />
expressivo (82%) no consumo de vegetais na faixa<br />
etária de 19 a 24 meses, comparada à de 7 a<br />
8 meses. Entretanto, refinando a avaliação, os<br />
autores observaram que entre crianças de 15 a<br />
18 meses a batata frita era o alimento vegetal<br />
mais consumido em comparação a outros de<br />
origem vegetal e de preparações mais saudáveis.<br />
Esse achado reforça a necessidade de envolver<br />
a família no trabalho de educação nutricional.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 81
O Papel da Alimentação Saudável<br />
Tabela 3. Frequência de ingestão semanal e mediana do número de vezes por semana que o<br />
alimento era ingerido, segundo a faixa etária<br />
< 6 meses (n=65) ≥ 6 meses (n=111)<br />
N % Mediana N % Mediana<br />
Queijinho petit suisse 19 29,2 3 (1;7) 57 51,3 2 (1;7)<br />
Carne 22 33,8 3 (1;7) 87 78,3 4 (1;7)<br />
Fritura 0 0 0 10 9,0 1 (1;2)<br />
Embutidos 0 0 0 6 5,4 1 (1;2)<br />
Biscoito 25 38,5 2 (1;7) 88 79,3 3,5 (1;7)<br />
Salgadinho 1 1,5 1 (1;1) 6 5,4 2 (1;4)<br />
Macarrão instantâneo 8 12,3 2 (1;4) 18 16,2 2 (1;5)<br />
Doce 1 1,5 1 (1;1) 29 26,1 1 (1;5)<br />
Alimento ind.-* 13 20 3 (1;7) 33 29,7 2 (1;7)<br />
Refrigerante 0 0 0 10 9,0 1 (1;4)<br />
Suco artificial 1 1,5 1 (1;1) 23 20,7 1 (1;3)<br />
Frutas 55 84,6 6 (1;7) 108 97,3 6 (1;7)<br />
Hortaliças 41 63 4 (1;7) 90 81,1 3 (1;7)<br />
*Alimentos industrializados semiprontos.<br />
Os resultados parciais do estudo por nós conduzido<br />
apontam para práticas alimentares inapropriadas<br />
iniciadas em fases precoces da vida.<br />
Há um padrão de risco nutricional evidente na<br />
alimentação complementar tanto do ponto de<br />
vista quantitativo como qualitativo. Torna-se,<br />
portanto, emergencial o desenvolvimento de<br />
estratégias no âmbito de políticas públicas de<br />
saúde, assim como no atendimento pediátrico<br />
individualizado de puericultura, que deve<br />
contemplar um amplo trabalho de educação<br />
nutricional e intervenção precoce visando a<br />
promoção da saúde e a prevenção de doenças.<br />
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Aleitamento materno/<br />
alimentação saudável<br />
SEVERINO DANTAS FILHO<br />
Amamentar é muito mais do que nutrir a criança.<br />
É um processo que envolve interação profunda<br />
entre mãe e filho, com repercussões no estado<br />
nutricional da criança, em sua habilidade de<br />
se defender de infecções, em sua fisiologia e<br />
no seu desenvolvimento cognitivo e emocional,<br />
além de ter implicações na saúde física e<br />
psíquica da mãe.<br />
Apesar de todas as evidências científicas provando<br />
a superioridade da amamentação sobre<br />
outras formas de alimentar a criança pequena,<br />
e apesar dos esforços de diversos organismos<br />
nacionais e internacionais, as taxas de aleitamento<br />
materno no Brasil, em especial a amamentação<br />
exclusiva estão bastante aquém do<br />
recomendado, e o profissional de saúde tem um<br />
papel fundamental na reversão desse quadro.<br />
Mas para isso ele precisa estar preparado, pois,<br />
por mais competente que ele seja nos aspectos<br />
técnicos relacionados à lactação, o seu trabalho<br />
de promoção e apoio ao aleitamento materno<br />
não será bem sucedido se ele não tiver um olhar<br />
atento, abrangente, sempre levando em consideração<br />
os aspectos emocionais, a cultura familiar,<br />
a rede social de apoio à mulher, entre outros.<br />
Esse olhar necessariamente deve reconhecer a<br />
mulher como protagonista do seu processo de<br />
amamentar, valorizando-a, e educando-a.<br />
Portanto, cabe ao profissional de saúde identificar<br />
e compreender o processo do aleitamento<br />
materno no contexto sociocultural e familiar<br />
e, a partir dessa compreensão, cuidar tanto da<br />
dupla mãe/bebê como de sua família. O profissional<br />
precisa estar preparado para prestar uma<br />
assistência eficaz, solidária, integral e contextualizada,<br />
que respeite o saber e a história de<br />
vida de cada mulher e que a ajude a superar<br />
medos, dificuldades e inseguranças.<br />
Apesar de a maioria dos profissionais de saúde<br />
considerar-se favorável ao aleitamento materno,<br />
muitas mulheres se mostram insatisfeitas com<br />
o tipo de apoio na amamentação. As mães<br />
que estão amamentando querem suporte ativo<br />
(inclusive emocional), bem como informações<br />
precisas, para se sentirem confiantes, mas o<br />
suporte oferecido pelos profissionais costuma<br />
ser passivo, reativo. Se o profissional de saúde<br />
realmente quer apoiar o aleitamento materno,<br />
ele precisa entender que tipo de apoio, informação<br />
e interação as mães desejam, precisam<br />
ou esperam dele.<br />
Tipos de aleitamento materno<br />
É muito importante conhecer e utilizar as definições<br />
de aleitamento materno adotadas pela<br />
Organização Mundial de Saúde (OMS) e são<br />
reconhecidas no mundo inteiro. Assim, o aleitamento<br />
materno costuma ser classificado em:<br />
Aleitamento materno exclusivo-quando a criança<br />
recebe somente leite materno, direto da mama<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 83
O Papel da Alimentação Saudável<br />
ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte,<br />
sem outros líquidos ou sólidos, com exceção<br />
de gotas ou xaropes contendo vitaminas, sais<br />
de hidratação oral, suplementos minerais ou<br />
medicamentos.<br />
Aleitamento materno predominante-quando a<br />
criança recebe, além do leite materno, água ou<br />
bebidas à base de água (água adocicada, chás,<br />
infusões), sucos de frutas e fluidos rituais.<br />
Aleitamento materno-quando a criança recebe<br />
leite materno (direto da mama ou ordenhado),<br />
independente de receber ou não outros<br />
alimentos.<br />
Aleitamento materno complementado-quando a<br />
criança recebe, além do leite materno, qualquer<br />
alimento sólido ou semi-sólido.<br />
Com a finalidade de complementá-lo, e não<br />
de substituí-lo. Nessa categoria a criança pode<br />
receber, além do leite materno, outro tipo de<br />
leite, mas esse não é considerado alimento<br />
complementar.<br />
Aleitamento materno misto ou parcial-quando<br />
a criança recebe leite materno e outros tipos<br />
de leite.<br />
Amamentar os bebês após o nascimento pode reduzir<br />
consideravelmente a mortalidade neonatal<br />
(aquela que acontece até o 28º dia de vida) nos<br />
países em desenvolvimento, lembra o UNICEF. A<br />
amamentação logo após o parto pode salvar vidas,<br />
pois proporciona nutrientes fundamentais,<br />
protege os recém-nascidos de doenças fatais e<br />
estimula o crescimento e o desenvolvimento. O<br />
aleitamento materno na primeira hora de vida<br />
é importante tanto para o bebê quanto para<br />
a mãe, porque auxilia nas contrações uterinas,<br />
diminuindo o risco de hemorragias.<br />
Os bebês até os seis meses de idade não precisam<br />
de chás, sucos, outros leites, nem mesmo água.<br />
Após essa idade deve ser dada alimentação complementar<br />
apropriada, mas a amamentação deve<br />
continuar até o segundo ano de vida ou mais.<br />
O UNICEF calcula que o aleitamento materno<br />
exclusivo até o sexto mês de vida pode evitar,<br />
anualmente, 1,3 milhão de mortes de crianças<br />
com menos de 5 anos em todo o mundo. No<br />
84<br />
Brasil, do total de mortes de crianças com menos<br />
de 1 ano ,ocorrem no período neonatal é<br />
de 49,4% na primeira semana de vida.<br />
O incentivo e apoio ao aleitamento materno<br />
deve sempre ocorrer no pré-natal, sala de parto<br />
(colocar para mamar na 1ª meia hora após o<br />
parto), alojamento conjunto e após alta hospitalar<br />
(procurar um atendimento pediátrico entre<br />
o 3º e 5º dia), para uma avaliação e orientação<br />
sobre as suas dúvidas, angústias, preocupações<br />
em relação a amamentação e a ela própria.<br />
É chegado o momento de dar toda a atenção<br />
necessária a essa mãe.<br />
Não poderemos jamais tratá-la como um objeto,<br />
uma espécie de mamadeira natural. Deve<br />
sim ser o centro de nossa orientação e ação. A<br />
amamentação só se dá através dela, e só se dará<br />
a contento se suas necessidades físicas, emocionais,<br />
sociais, culturais, intelectuais e profissionais<br />
forem pelo menos razoavelmente atendidas. É<br />
preciso cuidar bem da mãe para que ela possa<br />
cuidar bem do bebê. O sucesso do aleitamento<br />
materno pode ainda ser definido pela qualidade<br />
da interação entre mãe e bebê, durante a mamada,<br />
pois este proporciona a oportunidade de<br />
contato físico e visual e a vivência da cooperação<br />
mútua entre a mãe e o bebê.<br />
Uma boa interação entre a mãe e o bebê durante<br />
a mamada pode ser definida como uma<br />
valsa na qual cada um dos interlocutores, mãe<br />
e bebê, emite sinais ao outro, sinais esses que<br />
são descodificados, dando origem a comportamentos<br />
de respostas contingentes e adequados,<br />
conduzindo a uma adaptação mútua de mãe<br />
e bebê, cada vez mais rica e complexa. Alguns<br />
autores responsabilizam a inexistência de bons<br />
padrões interativos - entre a mãe e bebê, durante<br />
a mamada - pela falência do crescimento de<br />
causa não-orgânica que se verifica em algumas<br />
crianças.<br />
“Se fosse disponibilizada uma nova vacina que<br />
pudesse prevenir a morte de 1 milhão de crianças<br />
ou mais por ano e que, além disso, fosse barata,<br />
segura, de administração oral e não exigisse<br />
uma cadeia de frio, tornar-se-ia numa prioridade<br />
imediata para a saúde pública. A amamentação<br />
pode fazer tudo isso e mais ainda, mas precisa<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
O Papel da Alimentação Saudável<br />
da sua própria “cadeia quente” de apoios ou<br />
seja, cuidados profissionalizados que permitam<br />
às mães ganhar confiança e lhes mostrem o que<br />
fazer e as protejam de más práticas.’’<br />
As mães merecem e precisam de:<br />
Informação básica, correta no momento oportuno.<br />
Esse é o momento em que a mulher necessita<br />
de apoio, que não pode ser adiado. Ajuda<br />
prática de pessoas capacitadas e de familiares<br />
Uma ajuda prática para: facilitar o posicionamento<br />
e a pega.<br />
Dar mais conforto à mãe. Diminuir a carga de<br />
trabalho em casa.<br />
As mães merecem e precisam de: INCENTIVO<br />
Acreditar em si mesma um componente para<br />
ser bem sucedida.<br />
O apoio que a mãe recebe pode ser algo formal<br />
como uma consulta do profissional de saúde<br />
ou informal como um sorriso de aprovação<br />
de outra mãe. A família compõe uma rede de<br />
apoio imediata e contínua, a começar pelo pai<br />
da criança, seja ele o marido, companheiro,<br />
namorado ou outra condição. Esta rede ainda<br />
pode incluir sua mãe, suas irmãs e parentes<br />
próximos.<br />
Regras de apoio ao aleitamento materno<br />
Tratar a situação de cada mãe e bebê como<br />
individual e única. Sensível às necessidades da<br />
mãe que amamenta.<br />
Escutar com empatia para conhecer as preocupações<br />
maternas.<br />
Evitar falar, a não ser para esclarecer. Oferecer<br />
informações suficientes para que as mães façam<br />
as próprias escolhas.<br />
Não é fácil amamentar o bebê exclusivamente<br />
durante os seis primeiros meses de vida e continuar<br />
amamentando depois desse período até<br />
os dois anos de idade ou mais, junto com os<br />
alimentos complementares.<br />
Apóie uma mãe para que ela possa proporcionar<br />
um excelente começo de vida ao bebê! Com a<br />
amamentação todos ganham!<br />
Alimentação complementar<br />
saudável para crianças<br />
menores de 2 anos<br />
CURITIBAPR<br />
A definição do período adequado para iniciar a<br />
introdução dos alimentos devem levar em consideração<br />
a maturidade fisiológica e neuromuscular<br />
da criança e as necessidades nutricionais. Até<br />
os quarto meses de idade, a criança ainda não<br />
atingiu o desenvolvimento fisiológico necessário<br />
para que possa receber alimentos sólidos. Apesar<br />
de o reflexo de protrusão (que faz com que o<br />
bebê jogue para fora tudo que é colocado em<br />
sua boca) estar desaparecendo, a criança ainda<br />
não senta sem apoio e não obtém o controle<br />
neuromuscular da cabeça e do pescoço para<br />
mostrar desinteresse ou saciedade, afastando<br />
a cabeça ou jogando-a para trás. Portanto, em<br />
função dessas limitações funcionais, nessa fase ela<br />
está preparada para receber basicamente refeição<br />
líquida (leite materno somente). Por volta dos<br />
quatro meses de vida, a aceitação e tolerância<br />
da alimentação pastosa melhoram sensivelmente<br />
não só em função do desaparecimento do reflexo<br />
de protrusão da língua, como também pela<br />
maturação da função gastrointestinal e renal e<br />
também do desenvolvimento neuromuscular. Com<br />
a aproximação do sexto mês de vida, o grau de<br />
tolerância gastrointestinal e a capacidade de absorção<br />
de nutrientes atingem um nível satisfatório<br />
e, por sua vez, a criança vai se adaptando física<br />
e fisiologicamente para uma alimentação mais<br />
variada quanto a consistência e textura. Após os<br />
seis meses, a criança amamentada deve receber<br />
três refeições ao dia (duas papas de fruta e uma<br />
papa (comida de panela). Após completar sete<br />
meses de vida, respeitando-se a evolução da<br />
criança, a segunda papa (comida de panela). Entre<br />
os seis aos 12 meses de vida, a criança necessita<br />
se adaptar aos novos alimentos cujos sabores,<br />
texturas e consistências são muito diferentes do<br />
leite materno. Durante essa fase, não é preciso se<br />
preocupar com a quantidade de comida ingerida;<br />
o mais importante é proporcionar introdução<br />
lenta e gradual dos novos alimentos para que<br />
a criança se acostume aos poucos. Portanto, é<br />
importante lembrar que a partir dos seis meses<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 85
O Papel da Alimentação Saudável<br />
de idade o uso exclusivo de leite materno não<br />
supre as necessidades nutricionais da criança. É<br />
bom lembrar que meses 7 e 9 meses, iniciam-se<br />
movimentos rítmicos de morder, com a erupção<br />
dos primeiros dentes: começa a mastigação. Essa<br />
idade que a maioria das crianças atinge estágio<br />
de desenvolvimento com maturidade fisiológica e<br />
neurológica, o que facilita a ingestão de alimentos<br />
semi-sólidos. Além de suprir as necessidades<br />
nutricionais, a partir dos seis meses a introdução<br />
da alimentação complementar aproxima progressivamente<br />
a criança aos hábitos alimentares<br />
de quem cuida dela e exige todo um esforço<br />
adaptativo a uma nova fase do ciclo de vida, na<br />
qual lhe são apresentados novos sabores, cores,<br />
aromas e texturas. Portanto a criança pode ser<br />
alimentada com os alimentos disponíveis para<br />
família, assegurando-se a consistência e a densidade<br />
energética adequadas. Preparações que<br />
não atinjam a densidade mínima recomendada<br />
de energia, tais como sopas por exemplo, devem<br />
ser evitadas.<br />
Tabela 1. Esquema para introdução dos alimentos complementares.<br />
Alimentação no primeiro ano<br />
Esquema para introdução dos alimentos complementares<br />
Faixa Etária<br />
Alimento<br />
Até 6º mês<br />
Leite materno exclusivo<br />
6 aos 24 meses Leite materno complementado<br />
6º mês Papa de frutas, papa de cereal<br />
6º mês Papa (refeição principal), ovo<br />
7º ao 8º mês Segunda papa<br />
9º ao 11º mês Gradativamente passar para alimentação<br />
na consistência da família<br />
12º mês Alimentação da família<br />
Suplementação com ferro<br />
A OMS recomenda que a suplementação profilática<br />
com ferro medicamentoso para lactentes seja<br />
realizada de maneira universal, em regiões cm<br />
alta prevalência de anemia carencial ferropriva,<br />
na dose de diária de 12,5 mg a partir do sexto<br />
mês de vida. A recomendação do Departamento<br />
de Nutrologia da SBP, quanto a suplementação<br />
de ferro está descrita na tabela 2 abaixo.<br />
Além da prevenção medicamentosa da anemia<br />
ferropriva, deve-se estar atento para a oferta dos<br />
alimentos ricos ou fortificados com ferro (cereal,<br />
86<br />
farinha e leite), lembrando que, a partir de 18 de<br />
junho de 2004, as farinhas de trigo e de milho<br />
devem ser fortificadas, segundo a resolução do<br />
Ministério da Saúde, com 4,2 mg de ferro e 150<br />
microgramas de ácido fólico por 100g de farinha.<br />
O ferro pode ser encontrado sob duas formas:<br />
heme (boa disponibilidade; carnes e vísceras) e<br />
não heme (baixa disponibilidade: leguminosas,<br />
verduras de folhas verde-escuras). Para melhorar<br />
a absorção do ferro não heme, deve-se introduzir<br />
os agentes facilitadores, como carnes e vitamina<br />
C, evitar os agentes inibidores, como refrigerantes<br />
e chás.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
O Papel da Alimentação Saudável<br />
Tabela 2. Recomendação quanto a suplementação de ferro<br />
CURITIBAPR<br />
Situação<br />
Recomendação<br />
Recém-nascidos a termo, de peso adequado<br />
1 mg de ferro elementar/kg/peso/dia.<br />
para a idade gestacional em aleitamento<br />
A partir do 6º mês (ou da introdução<br />
materno exclusivo.<br />
de outros alimentos) até 24 meses de vida.<br />
Recém-nascidos a termo, de peso adequado<br />
Não recomendado<br />
para a idade gestacional, em uso de 500 ml<br />
de fórmula infantil.<br />
Recém-nascidos pré-termo e recém-nascidos 2 mg/kg/peso/dia, durante um ano.<br />
de baixo peso até 1.500 g, a partir do 30º dia Após este prazo, 1 mg/kg/dia, mais um<br />
de vida.<br />
ano (24 meses).<br />
Recém-nascidos pré-termo com peso de<br />
3 mg/ferro/kg/peso/dia durante 1 ano e<br />
1.500 g a 1.000 g a seguir 1 mg/kg/dia até completar 2 anos.<br />
de idade.<br />
Recém-nascidos pré-termo com peso inferior 4 mg/kg/peso/dia durante um ano, e a<br />
a 1.000 g<br />
seguir 1 mg/kg/dia até completar 24 meses.<br />
Considerações finais.<br />
1. Para alimentar o lactente de forma saudável,<br />
deve-se seguir os dez passos preconizados<br />
pelo MS/OPAS e pela SBP.<br />
2. Prestar atenção aos sinais de saciedade da<br />
criança e não superalimentá-la. Lactente e<br />
crianças jovens têm capacidade de autoregular<br />
a sua ingestão calórica total.<br />
3. A introdução dos alimentos complementares<br />
deve seguir o seguinte esquema:<br />
- até o 6º mês, apenas leite materno;<br />
- depois disso, continuar com o leite materno<br />
e introduzir papa de frutas;<br />
- continuar com leite materno e introduzir<br />
papa de frutas;<br />
- a partir do sexto mês, primeira papa com<br />
alimentação complementar;<br />
- do sétimo ao oitavo mês, segunda papa<br />
como alimentação complementar;<br />
- do nono ao décimo segundo mês, passar<br />
gradativamente para a consistência da<br />
refeição da família, desde que adequada;<br />
- a partir do décimo segundo mês, comida<br />
da família.<br />
4. Introduzir alimentos saudáveis e continuar<br />
oferecendo-os se houver recusa inicial.<br />
5. Os alimentos que constituem a papa devem<br />
ser preparados com: cereal ou tubérculo,<br />
alimento proteico de origem animal, leguminosas<br />
e hortaliças (múltiplas misturas).<br />
6. Respeitando o período de aleitamento materno<br />
exclusivo, deve-se estimular o consumo<br />
de água, frutas e sucos.<br />
7. Diante da impossibilidade do aleitamento<br />
materno, deve-se utilizar fórmula infantil<br />
que satisfaça as necessidades desse grupo<br />
etário. Antes do sexto mês, usar as fórmulas<br />
infantis para lactentes e, após essa idade,<br />
fórmulas de seguimento.<br />
8. Estimular o consumo de leite (600 ml/dia),<br />
assim como de seus derivados, visando à boa<br />
oferta de cálcio, no segundo ano de vida.<br />
9. Cuidado com a ingestão de sal e açúcar.<br />
10. Administrar 400 UI/dia de vitamina D a todos<br />
os lactentes que recebem leite materno sem<br />
exposição regular ao sol ou menos que 500<br />
ml de fórmula infantil.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 87
O Papel da Alimentação Saudável<br />
11. Administrar vitamina A, na forma de megadoses,<br />
nas regiões de alta prevalência de<br />
hipovitaminose A cada 4 a 6 meses.<br />
12. Administrar sulfato ferroso para todo lactente<br />
nascido a termo que não estiver em<br />
aleitamento materno exclusivo ou em uso<br />
de fórmula infantil, na dose de 1mg/kg/dia,<br />
até os 2 anos de idade.<br />
<strong>Referências</strong> <strong>Bibliográficas</strong><br />
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2. Ministério da Saúde-Saúde da Criança:Nutrição Infantil.<br />
Aleitamento Materno e Alimentação Complementar.<br />
Caderno de Atenção Básica,nº23-Brasília-DF,2009<br />
3. Manual de Aleitamento Materno-Comitê Português<br />
para a UNICEF/Comissão Nacional.Iniciativa Hospitais<br />
Amigos dos Bebês-Edição Revisada de 2008<br />
4. IBGE.Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-<br />
2003/Suplemento a Pesquisa Nacional de Amostras<br />
em Domicílio(PNDA,2003)/Pesquisa Nacional de<br />
Demogafia e Saúde a Criança e da Mulher,2008<br />
5. www.ibfan.org.br/documentos/ibifan/doc-288.pdf<br />
6. NóbegaFJ.Vinculo Mãe/Filho.Rio deJaneiro:Revnter,2005<br />
7. Giddding SS ET AL. Circulation 2005; 112:2061-75.<br />
8. Manual de Orientação. Departamento de Nutrologia.<br />
2ª Edição-Revista e Ampliada.<br />
•Alimentação do lactente ao adolescente<br />
•Alimentação na escola<br />
•Alimentação saudável e vínculo mãe-filho<br />
•Alimentação saudável e prevenção de doenças<br />
•Segurança alimentar<br />
Suplementos<br />
Nutricionais<br />
MARIA MARLENE DE SOUZA PIRES<br />
Evidências apontam que os hábitos alimentares<br />
de gestantes, lactantes e lactentes têm importantes<br />
implicações no desenvolvimento da criança<br />
e sua saúde a longo prazo. A nutrição nesse<br />
período inicial da vida modula o crescimento<br />
e o desenvolvimento funcional do organismo,<br />
determinando a programação metabólica que<br />
exercerá efeitos na saúde, na função neural e<br />
no comportamento, assim como nos riscos do<br />
desenvolvimento de doenças e de mortalidade<br />
na idade adulta, influenciando na qualidade de<br />
vida dos indivíduos. O período de introdução da<br />
alimentação complementar é também muito<br />
importante, tendo em vista o elevado risco<br />
88<br />
para a criança, em função da probabilidade de<br />
oferta de alimentos desaconselháveis (quanto a<br />
quantidade e qualidade) e do risco de sua contaminação<br />
devido à manipulação e ao preparo<br />
inadequados, que podem favorecer a ocorrência<br />
de doença diarreica e desnutrição. Os estudos<br />
tem mostrado que as diversas faixas etárias tem<br />
particularidades em relação a alimentação que<br />
merecem cuidados específicos. O avanço das<br />
pesquisas na área de nutrologia, tendo como<br />
base evidências científicas, oferece novas janelas<br />
de oportunidades para os conceitos de saúde<br />
preventiva, aconselhamento nutricional, bem<br />
como o desenvolvimento de produtos alimentares<br />
de melhor qualidade.<br />
Esse fato destaca e valoriza a importância do<br />
pediatra e dos procedimentos de puericultura na<br />
determinação de uma sociedade mais saudável.<br />
A pediatria mudou, tornou-se mais complexa<br />
e os procedimentos de puericultura hoje são<br />
ferramentas para prevenção na infância das<br />
doenças crônicas na idade adulta. O pediatra é<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
O Papel da Alimentação Saudável<br />
o profissional que têm a formação, habilidade<br />
e conhecimento para essa ação.<br />
A orientação da alimentação no primeiro ano<br />
de vida deve focar uma alimentação saudável,<br />
que possibilite, além do desenvolvimento e<br />
crescimento adequados, alcançar o máximo<br />
do potencial genético, otimizar maturação e o<br />
funcionamento de órgãos e sistemas, atuando<br />
na prevenção de doenças a curto e longo prazos.<br />
Dentro desse contexto o planejamento de uma<br />
alimentação saudável requer do pediatra um<br />
profundo conhecimento da fisiologia da criança<br />
e do adolescente.<br />
As necessidades nutricionais das crianças e dos<br />
adolescentes saudáveis são influenciadas pela<br />
idade, peso, velocidade de crescimento, metabolismo,<br />
atividade física e enfermidades. Os<br />
valores recomendados disponíveis são resultados<br />
de estudos de grupos populacionais que não<br />
apresentam deficiências nutricionais, que têm<br />
bom índice de crescimento e condições de saúde<br />
adequadas. As prescrições dietéticas, quando<br />
embasadas nas RDA (RecommendedDietaryAIlowances),<br />
garantem que 97 a 98% dos indivíduos<br />
tenham suas necessidades atendidas.<br />
A princípio, crianças e adolescentes que seguem<br />
as orientações alimentares recomendadas de<br />
acordo com as faixas etárias, têm suprimento<br />
de nutrientes necessários ao seu crescimento e<br />
desenvolvimento, não havendo necessidade de<br />
suplementos nutricionais.<br />
No entanto, em algumas situações especiais pode<br />
ser necessário a introdução de dietas específicas<br />
ou complementares. Situações como as enfermidades<br />
(dificuldade em atingir as recomendações),<br />
os erros alimentares (enquanto são corrigidos)<br />
com repercussões no estado nutricional, o mau<br />
aproveitamento dos nutrientes, o metabolismo<br />
individual, a depleção das reservas, a desaceleração<br />
do crescimento, entre outros, podem<br />
indicar o uso de suplementos nutricionais transitoriamente,<br />
uma vez que a alimentação por si<br />
só pode não ser capaz de suprir as necessidades<br />
ou de restaurar os depósitos em curto prazo.<br />
A indicação de suplementos nutricionais, está<br />
na dependência de um diagnóstico preciso,<br />
CURITIBAPR<br />
tendo como base não só os dados clínicos,<br />
mas principalmente a faixa etária do paciente.<br />
Entretanto, suplementos como ferro, cálcio e<br />
vitamina D, já bem evidenciados em pesquisas<br />
clínicas, têm fundamental importância em toda<br />
faixa pediátrica por serem considerados suplementos<br />
essenciais ao adequado crescimento e<br />
desenvolvimento.<br />
Frente a essas evidências, fica claro que os<br />
médicos pediatras são pessoas chave no domínio<br />
da saúde infantil atuando como médicos,<br />
educadores e formadores de opinião. A ação<br />
do pediatra por meio de uma puericultura de<br />
ponta pode transformar o falso simplismo da<br />
orientação nutricional em um procedimento de<br />
alta complexidade, uma vez que irá atuar na<br />
prevenção de doenças a curto e longo prazo.<br />
<strong>Referências</strong> <strong>Bibliográficas</strong><br />
1. Manual de orientação para a alimentação do lactente,<br />
do pré-escolar, do escolar, do adolescente e na escola.,<br />
Departamento de Nutrologia, 2º Edição. Departamento<br />
de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria,<br />
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2. Vidailhet M.Obesity and complementary feeding<br />
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reference intakesJ Am Diet Assoc. 2010 Dec;110(12<br />
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Diet: The Omega-6/Omega-3 Ratio and the Brain.<br />
MolNeurobiol, 2010.<br />
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of Diet. Omega-3 fatty acids and athletics.Curr Sports<br />
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8. William W. Hay*, Patti Thureen. Protein for Preterm<br />
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O Papel da Alimentação Saudável<br />
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90<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Nutrologia Clínica<br />
CURITIBAPR<br />
Avaliação Nutricional<br />
em Pediatria<br />
LUIZ ANDERSON LOPES<br />
Em todas as circunstâncias da atividade pediátrica,<br />
a correta avaliação do estado nutricional<br />
guarda relação não apenas com a definição de<br />
condutas e orientações visando práticas de vida<br />
saudável, como também demonstra ser decisiva<br />
para avaliação prognóstica de doenças agudas<br />
ou crônicas graves.<br />
Deste modo, em todos os níveis de assistência<br />
à saúde, faz-se necessário a promoção do conhecimento,<br />
o treinamento de profissionais da<br />
área e atualização dos critérios e referências<br />
utilizadas para avaliar indivíduos em atendimento/orientação.<br />
A avaliação do estado nutricional envolve, por<br />
definição, o conjunto de técnicas e medidas que<br />
permite definir indicadores que irão caracterizar<br />
distúrbios de ordem nutricional.<br />
Deste modo, considera-se adequado associar<br />
mais de um indicador ou método com o intuito<br />
de melhorar a precisão e acurácia do<br />
procedimento.<br />
Na prática clínica, são utilizados os seguintes<br />
indicadores: Anamnese Clínica e Nutricional;<br />
Exame Físico Detalhado; Avaliação da Composição<br />
Corporal; Exames Bioquímicos.<br />
Durante a realização das anamneses clínica e<br />
nutricional, pretende-se identificar e correlacionar<br />
dados da história pregressa daquele indivíduo<br />
(características de nascimento, velocidade<br />
de crescimento e dados relativos a doenças as<br />
intolerâncias, as reações adversas e as alergias<br />
alimentares) que possam comprometer o potencial<br />
de crescimento.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
Os dados relativos aos hábitos alimentares - horários<br />
das refeições, a introdução dos alimentos<br />
complementares, as práticas específicas relacionadas<br />
à etnia ou a tabus alimentares, por<br />
exemplo, bem como a seletividade e aceitação<br />
relacionadas ao consumo alimentar, podem ser<br />
melhor conhecidos e explorados por meio dos<br />
diferentes métodos de investigação definidos<br />
pelos inquéritos alimentares (registro de 24<br />
horas, recordatório de 24 horas, frequência de<br />
consumo, entre outros), mas exigem conhecimento<br />
técnico específico e treinamento para a<br />
coleta dos dados.<br />
Estes dados coletados por meio das anamneses<br />
deverão ser confrontados com sinais associados<br />
à carências/excessos alimentares específicas, sistematicamente<br />
procurados quando da realização<br />
do exame físico detalhado; para tanto, necessário<br />
se faz conhecer as manifestações mais comuns<br />
das diferentes condições nutricionais.<br />
Por vezes, o diagnóstico nutricional é realizado<br />
por meio da interpretação de medidas<br />
antropométricas (peso, estatura, perímetros e<br />
circunferências, entre outros) que requerem rigor<br />
técnico para a tomada das medidas.<br />
Todo processo de interpretação das medidas<br />
coletadas irá depender, portanto, da qualidade<br />
técnica da realização da medida, da referência<br />
a ser utilizada e dos critérios definidos como<br />
limites das condições específicas.<br />
Durante o primeiro ano de vida, em função do<br />
ritmo de crescimento acelerado, recomenda-se<br />
a utilização de critério mais sensível (ganho<br />
de peso diário) em associação aos indicadores<br />
definidos.<br />
Os indicadores de adequação expressos em percentis<br />
ou escores-z deverão ser interpretados por<br />
meio dos critérios definidos pela Organização<br />
Mundial da Saúde (OMS) e/ou Sistema Nacional<br />
de Vigilância Alimentar e Nutricional – Ministério<br />
da Saúde (SISVAN-MS), ressaltando a necessidade<br />
de considerarem-se dados específicos e<br />
91
Nutrologia Clínica<br />
complementares, de cada indivíduo quando<br />
considerados de “per sí”.<br />
Considera-se adequado utilizar a referência da<br />
OMS (2006) para avaliação de crianças menores<br />
de cinco anos, e a OMS (2007) para as maiores<br />
e adolescentes.<br />
Contudo, a utilização dos dados até agora descritos<br />
pode não ser suficiente para a definição<br />
do estado nutricional de crianças e adolescentes<br />
com prognósticos mais reservados (Obesos com<br />
Síndrome Metabólica, p.ex.).<br />
Para estas, são definidos procedimentos assistidos<br />
que melhor podem caracterizar a composição<br />
corporal (Bioimpedânciometria, Densitometria-<br />
DXA; entre outro s) que, analisados em conjunto<br />
com indicadores bioquímicos (proteínas plasmáticas,<br />
enzimas, eletrólitos, entre outros), poderão<br />
favorecer sobremaneira o diagnóstico e orientar<br />
a intervenção terapêutica necessária.<br />
Conclui-se, portanto, que ao programar-se a<br />
avaliação do estado nutricional de um indivíduo,<br />
a antropometria realizada por meio de técnicas<br />
corretas é o processo mais utilizado; a estes<br />
dados deverão/poderão ser acrescidos àqueles<br />
definidos pelos demais métodos e técnicas comentadas,<br />
na dependência da intensidade do<br />
agravo nutricional e da condição de saúde da<br />
criança ou adolescente.<br />
<strong>Referências</strong> <strong>Bibliográficas</strong><br />
1. www.who.int/growthcharts.<br />
2. http://www.saude.al.gov.br/sites/default/files/sisvan_<br />
norma_tecnica_criancas.pdf<br />
3. http://www.sbp.com.br/pdfs/MANUAL-AVAL-NUTR2009.pdf<br />
Curvas OMS e<br />
referenciais<br />
MARILEISE DOS SANTOS OBELAR<br />
Um dos principais aspectos diferenciais da criança<br />
é o crescimento. Desde a vida intrauterina até<br />
o final da adolescência, estas etapas apresentam<br />
características específicas. Embora as influências<br />
genéticas sejam fortes, podem ser modificadas<br />
por muitos fatores ambientais. O desenvolvimento<br />
de um padrão próprio de crescimento está<br />
relacionado a determinação genética e sofre influências<br />
da secreção hormonal, da alimentação<br />
e do ambiente. Nos períodos iniciais da vida o<br />
crescimento é regulado mais intensamente pelos<br />
fatores nutricionais, e durante a puberdade é<br />
influenciado pelos hormônios sexuais.<br />
O controle do crescimento e o diagnóstico de<br />
seus desvios se faz pelo método universalmente<br />
aceito, da antropometria. As medidas consideradas<br />
são o peso e a estatura, cuja obtenção deve<br />
ser sistemática, estão relacionadas ao sexo e são<br />
bastante variáveis de indivíduo para indivíduo<br />
em função de sua idade.<br />
A combinação de mais de uma medida denomina-se<br />
índice antropométrico.<br />
Na prática pediátrica diária é indispensável para<br />
avaliar uma criança ou um adolescente que está<br />
crescendo, a verificação da normalidade desses<br />
parâmetros ou índices.<br />
A maneira mais objetiva de avaliar a normalidade<br />
é comparar as medidas obtidas de cada<br />
indivíduo com as de crianças ou adolescentes<br />
de mesma idade e mesmo sexo, e analisar a<br />
evolução de seus parâmetros antropométricos<br />
em função da idade, num determinado referencial<br />
antropométrico de uma população adotada<br />
como referência.<br />
Os referenciais mais utilizados são os gráficos,<br />
92<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Nutrologia Clínica<br />
que reproduzem, para cada idade e sexo, os<br />
diferentes valores de cada medida corpórea, com<br />
base nos observados em amostras de crianças<br />
e adolescentes estimados como normais e sadios,<br />
além de também mostrar a tendência de<br />
evolução em função da idade.<br />
É importante, além de comparar o crescimento<br />
da criança em relação ao padrão de uma população<br />
sadia de referência, da mesma idade<br />
e sexo, realizar a avaliação da velocidade de<br />
crescimento, comparando a criança de forma<br />
evolutiva, com ela mesma, por meio da verificação<br />
do seu canal de crescimento e da estimativa<br />
do percentil familiar. É o método mais sensível<br />
para reconhecer os desvios de crescimento da<br />
normalidade. O crescimento deficiente pode<br />
manifestar-se clinicamente como estatura abaixo<br />
do percentil familiar, estatura inferior ao padrão<br />
populacional ou velocidade de crescimento<br />
inadequada ao sexo, à idade ou ao grau de desenvolvimento<br />
puberal. A estatura é considerada<br />
inadequada quando o paciente está mais de 1<br />
DP abaixo do esperado em relação a seus pais.<br />
O portador de baixa estatura (BE) é o paciente<br />
com estatura abaixo de -2 DP.<br />
A OMS admite que se possa utilizar um referencial<br />
internacional comum, que teria a vantagem<br />
de viabilizar comparações entre os diversos<br />
grupos populacionais.<br />
Considera-se como o melhor referencial atualmente,<br />
disponível para crianças de 0 a 5 anos<br />
de idade, o proposto pela OMS em 2006. É um<br />
referencial recente, elaborado por ela própria,<br />
produzido a partir de uma amostra de 8440<br />
crianças de diferentes origens étnicas, proveniente<br />
dos vários continentes, que abrangem o<br />
Brasil (Pelotas), Estados Unidos (Davis), Ghana<br />
(Accra), Índia (Nova Delhi), Noruega (Oslo) e<br />
Oman (Muscat). Incluiu crianças que pertenciam<br />
a famílias de boas condições sócio-econômicas,<br />
filhos de mãe não fumante, nascidos a termo,<br />
de parto único, sem doença, que estivessem em<br />
aleitamento materno exclusivo ou predominante<br />
durante 4 meses e complementado pelo menos<br />
até os 12 meses. O estudo foi longitudinal de 0<br />
a 24 meses e transversal de 18 a 71 meses. As<br />
medidas avaliadas foram o peso, o cumprimento/<br />
estatura, perímetro cefálico, circunferência do<br />
CURITIBAPR<br />
braço e pregas cutâneas tricipital e subescapular<br />
(a partir de 3 meses). Os dados foram analizados<br />
por estatísticos e peritos em crescimento<br />
da OMS, e a partir daí, foram construídas as<br />
curvas de Peso/idade (P/I), peso/comprimento,<br />
peso/altura, IMC/idade (IMC/I), Altura/idade (A/I),<br />
comprimento/idade, perímetro cefálico/idade,<br />
circunferência do braço/idade, prega tricipital/<br />
idade e a indicação do desenvolvimento motor<br />
nas diferentes faixas etárias. Este referencial tem<br />
vantagens sobre o anteriormente preconizado,<br />
o do CDC/NCHS 2000, por trazer referência para<br />
mais parâmetros antropométricos, além de ter<br />
referencial de índice de massa corporal também<br />
para as crianças com menos de 2 anos de idade.<br />
Estes índices antropométricos são representados<br />
em percentis ou Z escores<br />
Na distribuição em percentis, dos parâmetros<br />
antropométricos, os valores de tendência central<br />
são os mais frequentemente observados na<br />
população normal, enquanto os de extremos<br />
são os mais raros. Representa uma ordenação<br />
de valores que inviabiliza o cálculo da média<br />
do grupo, sendo um obstáculo a publicação de<br />
trabalhos de pesquisa.<br />
Na distribuição em escores z o parâmetro é de<br />
acordo com a sua diferença em relação ao valor<br />
mediano estimado para aquele sexo e aquela<br />
idade. Essa distância da mediana é avaliada em<br />
unidades de desvios padrão, considerando-se que<br />
cada desvio padrão de diferença da mediana<br />
corresponde a uma unidade de escore z.<br />
Em 2007 a OMS lançou um novo referencial<br />
para crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos<br />
de idade que contempla curvas de A/I, de P/I<br />
(este apenas até os 10 anos) e de IMC/I referentes<br />
a ambos os sexos. Este referencial trata da<br />
reconstrução de tabelas e gráficos a partir dos<br />
dados do CDC/NCHS 2000, realizada de maneira<br />
a atenuar algumas das restrições existentes no<br />
anterior, com a exclusão dos dados de crianças<br />
e/ou adolescentes da amostra original, cujos<br />
parâmetros eram excessivamente discrepantes<br />
do conjunto de dados de seus pares. Estes novos<br />
dados não apresentaram grande discrepância no<br />
ponto de junção com o referencial OMS 2006, aos<br />
5 anos de idade, e os pontos de corte propostos<br />
para a avaliação nutricional são próximos em<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 93
Nutrologia Clínica<br />
valores absolutos aos propostos para a avaliação<br />
de adultos jovens.<br />
É possível baixar as tabelas e gráficos do referencial<br />
OMS 2006, 2007 e também o software de<br />
cálculo de percentil e escore z da organização,<br />
o WHO Anthro e o AnthroPlus, com o respectivo<br />
manual, gratuitamente, no endereço eletrônico:<br />
http://www.who.int/growthref/en.<br />
A definição de pontos de corte de normalidade/<br />
Crianças ≤ 5 anos<br />
VALORES CRÍTICOS<br />
DIAGNÓSTICO<br />
NUTRICIONAL<br />
< Percentil 0,1 Percentil 85 ≥ Escore-z +1 e<br />
e ≤ Percentil 97 ≤ Escore-z +2<br />
> Percentil 97 e ≥ Escore-z +2 e<br />
≤ Percentil 99,9 ≤ Escore-z +3<br />
Magreza<br />
Eutrofia<br />
Risco de sobrepeso<br />
Sobrepeso<br />
>Percentil 99,9 > Escore-z +3 Obesidade<br />
anormalidade é baseada em conceitos estatísticos<br />
e epidemiológicos, decorrentes da frequência<br />
com que determinados valores se apresentam<br />
na população normal pesquisada.<br />
Os pontos de corte propostos pela Organização<br />
Mundial da Saúde, pelo Ministério da Saúde e<br />
preconizados pelo Departamento Científico de<br />
Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria<br />
para avaliação do estado nutricional, são descritos<br />
na tabela abaixo:<br />
Crianças > 5 anos e adolescentes<br />
VALORES CRÍTICOS<br />
DIAGNÓSTICO<br />
NUTRICIONAL<br />
< Percentil 0,1 Percentil 85 ≥ Escore-z +1 e<br />
e ≤ Percentil 97 ≤ Escore-z +2<br />
> Percentil 97 e ≥ Escore-z +2 e<br />
≤ Percentil 99,9 ≤ Escore-z +3<br />
Magreza<br />
Eutrofia<br />
Sobrepeso<br />
Obesidade<br />
>Percentil 99,9 > Escore-z +3 Obesidade grave<br />
O crescimento é um indicador bastante sensível<br />
do estado nutricional da criança. As suas<br />
desacelerações ou acelerações estão associadas<br />
com aumento do risco de desenvolvimento de<br />
doenças a curto e a longo prazos. Existem fortes<br />
evidências que os desvios acentuados negativos<br />
ou positivos, do padrão médio de crescimento,<br />
especialmente durante as fases mais precoces da<br />
vida, estão relacionados ao comprometimento<br />
do desenvolvimento e déficits cognitivos ou ao<br />
maior risco de apresentar doenças crônicas não<br />
transmissíveis em idades mais avançadas. Os<br />
indivíduos com baixo peso ao nascer tem maior<br />
risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares<br />
e aqueles que mostram uma elevada<br />
velocidade de crescimento durante a infância,<br />
apresentam risco aumentado para desenvolver<br />
obesidade e diabetes tipo 2. A baixa estatura<br />
pode estar associada à presença de doenças crônicas.<br />
As doenças agudas e as crônicas interferem<br />
94<br />
no crescimento, manifestando-se com parada e<br />
falência do crescimento, respectivamente. Em<br />
populações com carência nutricional a baixa<br />
estatura é o resultado da desnutrição crônica<br />
e a magreza, o resultado da desnutrição aguda.<br />
Quando potenciais problemas são identificados<br />
precocemente, os Pediatras e os pais podem<br />
trabalhar juntos para atuar antes que o estado<br />
nutricional ou a saúde da criança fiquem gravemente<br />
comprometidos.<br />
<strong>Referências</strong> <strong>Bibliográficas</strong><br />
1. Ministério da saúde, CGPAN. Incorporação da curvas<br />
de Crescimento da Organização Mundial da Saúde<br />
de 2006 e 2007 no SISVAN. Disponível em: http://<br />
nutricao.saude.gov.br/documentos/curvasoms-2006-2007.<br />
Acessado em março de 2010.<br />
2. World Health Organization. de Onis M, Onyango AW,<br />
Borghi E, Siyam A, Nishida C, Siekmann J. Development<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Nutrologia Clínica<br />
of a WHO growth reference for school-aged children<br />
and adolescents. Bulletin of the World Health<br />
Organization 2007; 85: 660-667.<br />
3. World Health Organization. WHO Child Growth<br />
Standards: length/height for age, weight for age,<br />
weight for length, weight fo -height and body<br />
mass index for age. Methods and development.<br />
WHO(nonserial publication). Geneva, Switzerland:<br />
WHO, 2006.<br />
4. Child growth. Michaelsen K F. In: Pediatric Nutrition<br />
in Practice. Koletzko B, Cooper P, Makrides M, et al.<br />
Karger. Basel, 2008. pgs: 1-5.<br />
CURITIBAPR<br />
5. Avaliação nutricional da criança e do adolescente:<br />
Manual de Orientação. Sociedade Brasileira de<br />
Pediatria. Departamento de Nutrologia. São Paulo,<br />
2009. pgs:35-45.<br />
6. Anthropometry as a tool for measuring malnutrition:<br />
impact of the new WHO growth standards and<br />
reference. M. B. DUGGAN. Annals of Tropical<br />
Paediatrics (2010) 30, 1–17.<br />
7. A health professional’s guide for using the new<br />
WHO growth charts. Canadian Paediatric Society and<br />
Dietitians of Canada. Paediatr Child Health Vol 15 No<br />
2 February 2010.<br />
Terapia nutricional<br />
para o desnutrido<br />
VALMIN RAMOS DA SILVA<br />
1. Introdução<br />
Seguindo tendência mundial, observa-se no<br />
Brasil um aumento do interesse pelos temas<br />
ligados à Nutrologia Pediátrica e à Terapia Nutricional.<br />
Em consequência, houve um aumento<br />
no lançamento de livros e de outras publicações;<br />
organização de eventos científicos e a criação<br />
de cursos de especialização e de capacitação,<br />
contribuindo para a ampliação dos conhecimentos<br />
nesta área.<br />
Os avanços tecnológicos possibilitaram ampliar<br />
os meios de diagnósticos para identificar erros<br />
inatos do metabolismo e as doenças que<br />
envolvem o trato digestório. Ampliaram-se os<br />
conhecimentos sobre os cuidados aos recémnascidos<br />
de alto risco e as repercussões sobre<br />
o crescimento e o desenvolvimento infantil. As<br />
fórmulas e dietas enterais especiais facilitaram<br />
em muito as possibilidades de tratamento de<br />
doenças complexas, há bem pouco tempo com<br />
poucas possibilidades terapêuticas. No entanto,<br />
apesar dos avanços, ainda não houve melhora<br />
significativa na redução da prevalência da desnutrição,<br />
que permanece superior a 50% nas<br />
crianças hospitalizadas.<br />
Pesquisas recentes em hospitais públicos nos estados<br />
de Minas Gerais e Espírito Santo indicaram<br />
falhas nos processos de diagnóstico do estado<br />
nutricional e das necessidades nutricionais; na<br />
oferta de calorias, de macro e micronutrientes e<br />
no acompanhamento da evolução nutricional 1,2 .<br />
Em muitos hospitais, no Brasil, não existe a<br />
prática da realização da antropometria e do<br />
seu registro no prontuário. O peso geralmente<br />
é estimado e a estatura, raramente obtida e<br />
sem essas informações não é possível fazer o<br />
diagnóstico nutricional, contribuindo para uma<br />
inadequação da terapia nutricional. Essa situação<br />
contribui para aumentar o risco de desnutrição<br />
ou agravamento de desnutrição pré-existente,<br />
contribuindo para aumentar o tempo de internação,<br />
risco de infecção, morbidade, mortalidade<br />
e aumento dos custos hospitalares 3-6 .<br />
Existem evidências de que a desnutrição está<br />
associada à diminuição da imunidade; aumento<br />
das complicações infecciosas e metabólicas; do<br />
tempo de internação; do uso de antibióticos;<br />
da morbidade e da mortalidade. Apesar disso,<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 95
Nutrologia Clínica<br />
em muitos serviços não é feita a avaliação<br />
nutricional no momento da internação. Existe<br />
uma justa preocupação na utilização de todo o<br />
arsenal terapêutico e tecnológico de alto custo,<br />
mas não parece haver preocupação ou valorização<br />
das repercussões clínicas e metabólicas da<br />
desnutrição no paciente doente.<br />
Para minorar as consequências da desnutrição<br />
intra-hospitalar, o Ministério da Saúde instituiu<br />
a Portaria 272/98 7 e a RDC 63/00 8 que define as<br />
normas referentes à prática da Terapia de Nutrição<br />
Enteral e Parenteral e a obrigatoriedade da<br />
formação da Equipe Multidisciplinar de Terapia<br />
Nutricional (EMTN), em todos os hospitais. No<br />
entanto, não existe fiscalização sobre o cumprimento<br />
da legislação, facilitando a desnutrição<br />
entre os hospitalizados.<br />
A EMTN tem como principais funções estabelecer<br />
os protocolos sobre a avaliação nutricional;<br />
os requerimentos nutricionais e da oferta da<br />
terapia nutricional que inclui desde a questão<br />
dos insumos até a administração da terapia de<br />
nutrição enteral e parenteral. A instituição desses<br />
protocolos pode representar grande avanço no<br />
tratamento do paciente hospitalizado e reduzir<br />
drasticamente a desnutrição nessa população.<br />
Existem poucos profissionais interessados ou<br />
habilitados para atuação na EMTN. Os gestores<br />
geralmente não têm interesse em constituir a<br />
Equipe, justificando o baixo número de hospitais<br />
credenciados para a prática da terapia nutricional.<br />
Isso pode representar o desconhecimento,<br />
por parte da equipe hospitalar, da importância<br />
da nutrição para o paciente hospitalizado e a<br />
ausência do poder público em fazer cumprir a<br />
legislação vigente no país 9-11 .<br />
Apesar da importância, a EMTN enfrenta em<br />
muitos hospitais, problemas relacionados à<br />
falta de adesão de diretores; a resistência dos<br />
membros da equipe de saúde; a dificuldade<br />
para despertar os profissionais de saúde para<br />
a importância da nutrição; a inadequação de<br />
espaço físico, recursos humanos, materiais e<br />
equipamentos; deficiência na estrutura para<br />
assegurar a qualidade da terapia nutricional.<br />
Esse conjunto de fatores contribui para impedir<br />
que a EMTN chegue até a criança internada,<br />
sendo esse o maior problema, pois pode levar<br />
a insegurança alimentar e nutricional para um<br />
grupo de alto risco para desnutrição.<br />
É importante salientar que a doença de base é<br />
um fator importante na origem da desnutrição<br />
intra-hospitalar, mas apesar disso, o jejum prolongado<br />
continua sendo ignorado em doentes<br />
graves. Cirurgiões e anestesistas de muitos hospitais,<br />
baseado em evidências científicas, utilizam<br />
períodos mínimos de jejum no pré-operatório ou<br />
em procedimentos. No entanto, não é incomum<br />
a prescrição de jejum por longos períodos para<br />
realização de curativos, exames e cirurgia que são<br />
suspensos sem nenhuma justificativa clínica e o<br />
mais grave é que essa prática pode ser repetir<br />
por dias seguidos, com o mesmo paciente.<br />
Não são incomuns as situações de iatrogenias,<br />
onde uma criança doente pode receber menos<br />
da metade das necessidades nutricionais diárias<br />
por vários dias. Nem sempre existe a preocupação<br />
em administrar a dieta prescrita ou em<br />
registrar no prontuário a quantidade da dieta<br />
recusada pelo paciente. O desconhecimento dos<br />
profissionais da saúde sobre a importância da<br />
nutrição no tratamento global da criança doente<br />
e da fisiopatologia da desnutrição grave pode<br />
justificar a manutenção de uma criança doente<br />
em jejum ou a suspensão da dieta, muitas vezes<br />
por motivos totalmente evitáveis.<br />
2. Aspectos gerais da terapia<br />
nutricional no desnutrido<br />
A criança é diagnosticada com desnutrição<br />
energético-proteica (DEP) moderada/grave quando<br />
apresenta, na antropometria, percentual de<br />
adequação da relação peso/estatura inferior<br />
a 70% ou escore z dessa relação inferior a -2<br />
desvios-padrão. O tratamento hospitalar está<br />
indicado quando existe descompensação metabólica,<br />
infecciosa, hidreletrolítica, instabilidade<br />
hemodinâmica, hipotermia e anemia grave.<br />
As etapas do tratamento hospitalar a serem<br />
consideradas consistem de:<br />
a) Desidratação (sem choque) – Preferir hidratação<br />
por via oral com solução apropriada<br />
96<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Nutrologia Clínica<br />
contendo menor quantidade de sódio e maior<br />
de potássio, acrescida de micronutrientes –<br />
ReSoMal, contendo a seguinte composição<br />
(mmol/L): glicose (126), sódio (45), potássio<br />
(40), cloro (70), citrato (7), magnésio (3), zinco<br />
(0,3), cobre (0,045) e osmolaridade de 300.<br />
Iniciar com 5 mL/kg a cada 30 minutos por<br />
2 horas, seguido por 5 a 10 mL/kg com reavaliação<br />
a cada hora, com cerca de 70 a 100<br />
mL de ReSoMal. Iniciar dieta no máximo 2<br />
a 3 horas após o início da reidratação (OMS,<br />
1999).<br />
Na ausência do ReSoMal, recomenda-se a<br />
diluição de 1 pacote dos sais de reidratação<br />
oral convencional em 2 litros de água,<br />
adicionado de 50 g de sacarose e 40 mL da<br />
solução de eletrólitos e minerais da OMS que<br />
contém Cloreto de potássio (224 g), citrato<br />
tripotassico (81 g), cloreto de magnésio (76<br />
g), acetato de zinco (8,2 g), sulfato de cobre<br />
(1,4 g) e água para completar 2.500 mL (OMS,<br />
1999). Na impossibilidade da via oral ou em<br />
criança com desidratação grave, mas em choque,<br />
utilizar 30 mL/kg solução glicofisiológica<br />
ao meio (0,45 mEq/L de sódio) em 2 horas,<br />
podendo ser repetido se necessário. Retornar<br />
a via oral o mais rápido possível.<br />
b) Hipoglicemia (glicemia
Nutrologia Clínica<br />
A avaliação do peso diário é essencial para o<br />
acompanhamento da terapia nutricional, devendo<br />
ser considerado como insuficiente o ganho<br />
de peso 10 g/kg/dia (OMS, 1999).<br />
As principais informações estão sumarizadas nas<br />
tabelas abaixo:<br />
Tabela 1 - Composição das dietas (100mL) fase<br />
inicial e de crescimento rápido<br />
Constituinte<br />
Fase<br />
Inicial<br />
Crescimento<br />
Energia 75 kcal 100 kcal<br />
Proteína 0,9 g 2,9 g<br />
Lactose 1,3 g 4,2 g<br />
Potássio 3,6 mmol 5,9 mmol<br />
Sódio 0,6 mmol 1,9 mmol<br />
Magnésio 0,43 mmol 0,73 mmol<br />
Zinco 2 mg 2,3 mg<br />
Cobre 0,25 mg 0,25 mg<br />
Energia<br />
Proteína 5% 12%<br />
Gordura 32% 53%<br />
Osmolaridade 330 mOsm/L<br />
419 mOsm/L<br />
Tabela 2 - Preparo prático para 1000 mL das<br />
fórmulas inicial e crescimento rápido<br />
Ingrediente F75 F100<br />
Leite 75 g 110 g<br />
Açúcar 100 g 50 g<br />
Óleo vegetal 20 g 30 g<br />
Solução de<br />
eletrólitos 20 mL 20 mL<br />
e minerais<br />
Tabela 3 - Composição do Mix de Vitaminas<br />
Vitamina<br />
Quantidade/litro<br />
da dieta líquida<br />
Hidrossolúveis<br />
Tiamina<br />
0,7 mg<br />
Riboflavina<br />
2 mg<br />
Ác. Nicotínico<br />
10 mg<br />
Piridoxina<br />
0,7 mg<br />
Cianocobalamina<br />
1 mcg<br />
Ác. Fólico<br />
0,35 mg<br />
Ác. Ascórbico<br />
100 mg<br />
Ác. Pantotênico<br />
3 mg<br />
Biotina<br />
1 mg<br />
Retinol<br />
Calciferol<br />
α-tocoferol<br />
Vitamina K<br />
Lipossolúveis<br />
1,5 mg<br />
30 mcg<br />
22 mg<br />
40 mcg<br />
Tabela 4 - Esquema para alimentação utilizando<br />
preparado alimentar<br />
Dias Freq. Volume/kg<br />
Peso/refeição Peso/dia<br />
1-2 2/2h 11 130<br />
3-5 3/3h 16 130<br />
6-7 4/4h 16 130<br />
Tabela 5 - Suplementação de micronutrientes<br />
Micronutriente<br />
Multivitaminas<br />
Ferro<br />
Zinco<br />
Cobre<br />
Ác. Fólico<br />
Reposição diária<br />
3 mg/kg<br />
2 mg/kg<br />
0,2 mg/kg<br />
1 mg<br />
1º administrar 5 mg de Ác. Fólico<br />
98<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Nutrologia Clínica<br />
Tabela 6 - Suplementação de vitamina A<br />
Idade<br />
Cápsulas*<br />
Nutrologia Clínica<br />
100 68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Da Prevenção ao Diagnóstico:<br />
como proceder?<br />
CURITIBAPR<br />
Fome oculta<br />
JUNAURA ROCHA BARRETTO<br />
Quase um terço da população mundial sofre de<br />
deficiência de micronutrientes, também conhecida<br />
como “fome oculta”, este problema afeta<br />
principalmente aqueles que vivem em países em<br />
desenvolvimento. No inicio da década de 90 a<br />
questão da fome oculta demandou uma atenção<br />
mundial. Ações direcionadas para o diagnóstico<br />
e estratégias de prevenção foram implementadas<br />
em diversos países. Após a Conferência Internacional<br />
de Nutrição em 1992, ficou evidente que<br />
grande parte dos países em desenvolvimento era<br />
afetado por deficiências de micronutrientes, que<br />
ainda que oculta, trazia consequências desastrosas<br />
para a saúde e nutrição da população.<br />
As deficiências de nutrientes essenciais, não<br />
só afeta a saúde humana, mas compromete o<br />
desenvolvimento sócio-econômico do país, com<br />
repercussões importantes na capacidade cognitiva<br />
afetando de forma direta a produtividade.<br />
O número de pessoas acometidas por carências<br />
de micronutrientes vem crescendo, globalmente<br />
são cerca de 250 milhões de crianças sob o<br />
risco de deficiência de vitamina A, a principal<br />
causa de cegueira na infância. E, em países<br />
onde as campanhas de imunização não estão<br />
bem implantadas, milhões de crianças morrem<br />
por complicações infecciosas decorrentes desta<br />
deficiência, como o sarampo, por exemplo.<br />
As carências de vitamina A, iodo e ferro, afeta<br />
cerca de 1/3 da população mundial. Entretanto,<br />
existem outras microdeficiências que comumente<br />
causam repercussões importantes na saúde<br />
humana, como as de zinco e ácido fólico. A população<br />
de maior risco para as microdeficiências<br />
são os lactentes e crianças, gestantes e idosos.<br />
Vitamina A<br />
A vitamina A é encontrada nos alimentos na<br />
forma de retinol, as fontes principais são os<br />
alimentos de origem animal (leite e derivados,<br />
fígado, peixes, etc) enquanto que nos alimentos<br />
de origem vegetal (óleos, frutas e vegetais),<br />
encontra-se os carotenóides que também são<br />
convertidos em Vitamina A.<br />
As recomendações nutricionais (RDA-Recommended<br />
Dietary Allowance) para a vitamina A são de 300µg<br />
ER/dia para crianças entre 1-3 anos de idade; 400<br />
µg ER/dia para crianças de 4-8 anos, 600µg ER/<br />
dia para crianças de 9-13 anos; 900µg ER/dia para<br />
meninos entre 14-18 anos e 700µg ER/dia para<br />
meninas nesta mesma faixa etária. A vitamina<br />
A é importante para o desempenho de várias<br />
funções no organismo, tais como: Manutenção da<br />
visão normal, reprodução e desenvolvimento do<br />
embrião, expressão gênica, diferenciação tissular,<br />
ação antioxidante e função imunológica.<br />
A deficiência de vitamina (DVA) é um problema<br />
de saúde pública em mais da metade dos países.<br />
Acomete mais de 125 milhões de crianças<br />
menores de 5 anos.<br />
A população mais acometida está em regiões<br />
periurbanas ou em zonas rurais, nas quais o<br />
consumo de alimentos -fonte de vitamina A<br />
é escasso e as infecções são frequentes, onde<br />
também as taxas de mortalidade infantil são<br />
superiores a 70/100.000 nascidos-vivos.<br />
O Brasil foi classificado pela Organização Mundial de<br />
Saúde como um país de carência sub-clínica grave.<br />
Calcula-se que o número de crianças com carência<br />
marginal de vitamina A seja de cinco a 10<br />
vezes maior do que o número de crianças que<br />
apresentam sintomas decorrentes da deficiência<br />
desta vitamina.<br />
Os primeiros sinais clínicos da DVA são, a cegueira<br />
noturna, xerose da conjuntiva, o aparecimento<br />
de manchas Bitot e xerose da córnea (xeroftal-<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
101
Da Prevenção ao Diagnóstico: como proceder?<br />
mia); com a progressão da doença, ocorre uma<br />
ruptura da córnea (queratomalácia) permanente<br />
e a úlcera de córnea, evoluindo para a cegueira.<br />
A deficiência subclínica de vitamina aumenta a<br />
susceptibilidade à infecção, reduz o crescimento<br />
físico e aumenta a mortalidade em algumas<br />
doenças, especialmente as infecciosas. Estudos<br />
epidemiológicos recentes nos países em desenvolvimento<br />
identificaram uma relação entre a<br />
deficiência subclínica de vitamina A e maiores<br />
taxas de morbidade e mortalidade por doenças<br />
infecciosas comuns, tais como infecções respiratórias<br />
e diarréicas.<br />
Em países em desenvolvimento, a DVA tem<br />
sido associada com sarampo. Esta associação<br />
contribui para a maior morbidade associada ao<br />
sarampo, por este motivo, a Academia Americana<br />
de Pediatria recomenda a suplementação de<br />
vitamina A em crianças com sarampo.<br />
Caetano et al. relata em estudo realizado no Brasil,<br />
no qual avaliou ténicas inadequadas de alimentação<br />
complementar do lactente, que havia consumo<br />
inadequado de ferro, zinco e vitamina A. Em dados<br />
recentes da Pesquisa Nacional de Demografia e<br />
Saúde da Criança e da Mulher (PNDS) há relato de<br />
anemia e DVA em 20,5 e 17,4%, respectivamente<br />
em crianças abaixo de 5 anos.<br />
Existem diversos tipos de indicadores largamente<br />
empregados no diagnóstico da DVA, dentre os<br />
quais a dosagem de retinol sérico, o retinol no<br />
leite materno e inquéritos dietéticos (quantitativo<br />
e qualitativos) são os mais práticos e bem aceitos.<br />
As lesões oculares vem apresentando um decréscimo<br />
desde a década de 90, graças às intervenções<br />
governamentais com objetivo de prevenir<br />
as deficiências em países de risco. No Brasil<br />
através da Portaria de nº 2160, publicada em 29<br />
de dezembro de 1994, foi instituído o Programa<br />
de combate à deficiência de vitamina A, através<br />
da administração profilatica de megadoses na<br />
população de maior risco (mulheres em puerpério<br />
imediato e crianças. Como estratégia para alcançar<br />
uma cobertura ideal, utiliza-se as campanhas de<br />
vacinação para a poliomielite e administra-se as<br />
doses profiláticas de vitamina A, por via oral a<br />
cada 4/6 meses nas seguintes doses: (100.000 UI<br />
102<br />
para crianças entre 6 e 11 meses e 200.000 UI<br />
para crianças entre 12 e 59 meses)<br />
Ferro<br />
A anemia por deficiência de ferro é a mais<br />
comum das carências nutricionais, com maior<br />
prevalência em mulheres e crianças, principalmente<br />
nos países em desenvolvimento. Crianças<br />
entre seis e 24 meses apresentam risco duas<br />
vezes maior para desenvolver a doença do que<br />
aquelas entre 25 e 60 meses.<br />
Embora ainda não haja um levantamento nacional,<br />
estudos apontam que aproximadamente metade<br />
dos pré-escolares brasileiros sejam anêmicos (cerca<br />
de 4,8 milhões de crianças) com a prevalência chegando<br />
a 67,6% nas idades entre 6 e 24 meses. No<br />
caso de gestantes, estima-se uma média nacional<br />
de prevalência de anemia em torno de 30%.<br />
Como sequelas da doença cita-se alterações do<br />
desenvolvimento mental e psicomotor, aumento<br />
da morbimortalidade materna e infantil, além<br />
da queda no desempenho do indivíduo no<br />
trabalho e redução da resistência às infecções.<br />
A mudança de hábitos alimentares, que se sucedem<br />
à transição nutricional vivida no nosso<br />
país, contribui de forma significativa para o<br />
aumento da prevalência da anemia ferropriva.<br />
O ferro é componente de várias proteínas,<br />
incluindo enzimas, citocromos, mioglobina e<br />
hemoglobina. As melhores fontes deste mineral,<br />
por possuírem maior proporção de<br />
ferro heme, são as carnes, principalmente as<br />
vermelhas e vísceras (fígado, rim e coração). A<br />
recomendação de ferro para crianças (RDA –<br />
recommended dietary allowance) é de 11 mg/<br />
dia para lactentes entre 7 e 12 meses, 7 mg/dia<br />
entre 1 a 3 anos, 10 mg/dia entre 4 a 8 anos, 8<br />
mg/dia entre 8 e 13 anos, sendo entre 14 e 18<br />
anos de 11 mg/dia para meninos e 15 mg/dia<br />
para meninas. No leite materno a concentração<br />
de ferro é em média 0,5 mg/litro, com elevada<br />
biodisponibilidade.<br />
A partir do quinto mês a concentração de ferro<br />
do leite materno inicia um decréscimo fisioló-<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Da Prevenção ao Diagnóstico: como proceder?<br />
gico, daí a importância da introdução de uma<br />
alimentação complementar balanceada a partir<br />
do sexto mês de idade. Nesta fase, cerca de 70%<br />
das necessidades de ferro do lactente devem<br />
ser supridas pela alimentação complementar<br />
rica em alimentos fonte de ferro de elevada<br />
biodisponibilidade.<br />
Crianças nascidas de mães com anemia ferropriva<br />
apresentam risco elevado para o desenvolvimento<br />
desta deficiência. A prematuridade,<br />
hemorragia materno-fetal, a síndrome de transfusão<br />
feto-fetal e a alimentação complementar<br />
inadequada podem levar ao desenvolvimento<br />
precoce da anemia ferropriva.<br />
A introdução precoce do leite de vaca integral em<br />
bebês aumenta o risco da perda sanguínea intestinal.<br />
É importante ressaltar que o leite de vaca<br />
integral é pobre em ferro, além deste apresentar<br />
baixa biodisponibilidade. Não se recomenda o uso<br />
de leite de vaca integral para lactentes menores<br />
de 1 ano de idade, nos casos raros de impossibilidade<br />
do uso do leite materno, indica-se o uso de<br />
fórmulas infantis, pois estas são suplementadas<br />
com ferro, obedecendo as recomendações do<br />
CODEX ALIMENTARIUS, fornecendo as quantidades<br />
adequadas de nutrientes para o lactente.<br />
Embora a deficiência de ferro (DF) tipicamente<br />
se apresenta como uma anemia de origem nutricional,<br />
a anemia ferropriva ocorre secundária<br />
a outras doenças, incluindo doença celíaca,<br />
infecções por Helicobacter pylori e anemia de<br />
doença crônica.<br />
A anemia ferropriva é diagnosticada por uma<br />
baixa concentração de hemoglobina (< 11g/dl para<br />
crianças de 6 meses a 5 anos), associada a uma<br />
baixa concentração de ferritina (embora saibamos<br />
que esta não tem elevada especificidade para o<br />
diagnóstico, uma vez que eleva-se em diversas situações,<br />
principalmente nas inflamações e infecções).<br />
Uma avaliação mais completa para diagnóstico<br />
da anemia ferropriva incluiria também um ferro<br />
sérico, capacidade total de ligação de ferro e a<br />
saturação de transferrina. Outros exames laboratoriais,<br />
embora não seja utilizado rotineiramente,<br />
tais como protoporfirina eritrocitária, receptor<br />
de transferrina sérica e reticulócitos podem ser<br />
instrumentos úteis para auxiliar no diagnóstico.<br />
CURITIBAPR<br />
Para crianças com DF confirmada, indica-se o<br />
uso do sulfato ferroso (3-4 mg / kg de ferro<br />
elementar, em doses divididas, entre as refeições<br />
com um suco de frutas cítricas), e esta dose<br />
deve ser mantida por mais 2 a 3 meses após<br />
normalização da hemoglobina.<br />
No nosso país, a prevalência da anemia carencial é<br />
elevada, especialmente em lactentes, por isso medidas<br />
de intervenção para combater as deficiências<br />
subclínicas foram implantadas. Desde junho de<br />
2004 a fortificação de alimentos (farinhas de trigo<br />
e de milho) é obrigatória. A administração de ferro<br />
profilática também é uma ação de intervenção<br />
do ministério da saúde, que foi implantada em<br />
1998, como Programa Nacional de Suplementação<br />
Medicamentosa de ferro aos grupos de risco<br />
(crianças de seis a 18 meses, ges-tantes e mulheres<br />
no pós-parto). Neste programa recomenda-se a<br />
suplementação de 25mg semanal de ferro elementar<br />
para crianças dos 6 aos 18 meses de idade. A<br />
suplementação profilática de ferro, recomendada<br />
pelo Departamento de Nutrologia da Sociedade<br />
Brasileira de Pediatria para lactentes a termo, que<br />
não consumam no mínimo 500ml de fórmula<br />
infantil por dia é de 1mg/kg/dia, a partir do 6º<br />
mês até os dois anos de idade. Para prematuros e<br />
recém-nascidos de baixo peso a partir de 30 dias<br />
de vida a dose é de 2mg/kg/dia durante todo o<br />
primeiro ano de vida e depois, mantém-se 1mg/<br />
kg/dia até o segundo ano de vida.<br />
Até o ano de 2007 o programa tinha uma<br />
cobertura de 14% para crianças e 87% para<br />
gestantes. O Brasil é classificado como país de<br />
elevada prevalência para a deficiência de ferro,<br />
ações mais efetivas no sentido de garantir uma<br />
maior cobertura da suplementação profilática<br />
devem ser realizadas.<br />
Iodo<br />
O iodo é um componente essencial da tiroxina<br />
(T4) e triiodotironina (T3). É adquirido exclusivamente<br />
da dieta. Desde 1985, o Conselho<br />
Internacional para o Controle da Deficiência de<br />
Iodo (http://www.iccidd.org), apoiado pela OMS<br />
e UNICEF, tem trabalhado mundialmente na<br />
redução da prevalência de deficiência de iodo.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 103
Da Prevenção ao Diagnóstico: como proceder?<br />
Apesar dos progressos significativos com a introdução<br />
do sal iodado, a deficiência de iodo<br />
ainda é um problema importante de saúde<br />
pública em muitos países em desenvolvimento<br />
e até em nações industrializadas.<br />
A OMS estima (dados de 1993-2003) que a<br />
prevalência mundial de deficiência de iodo em<br />
crianças em idade escolar é de 36,4%. A menor<br />
prevalência de deficiência de iodo é encontrado<br />
nas Américas (10,1%),onde o consumo de<br />
sal iodado é o mais alto do mundo (90%). A<br />
prevalência de deficiência de iodo na Europa<br />
é elevada (59,9%) o que se correlaciona com o<br />
baixo consumo de sal iodado (27%).<br />
Há relato de redução da prevalência desta deficiência<br />
através da maior cobertura nas campanhas<br />
de prevenção, nas quais inclui a iodização<br />
universal do sal desde 1990. Descreve-se uma<br />
cobertura de 80% desta intervenção em cerca de<br />
130 países de maior risco para esta deficiência.<br />
A deficiência de Iodo pode causar, em crianças,<br />
cretinismo (retardo mental grave e irreversível),<br />
surdo-mudez, anomalias congênitas, bem como<br />
o bócio. As causas dos distúrbios por déficit de<br />
Iodo são: consumo de alimentos oriundos de<br />
solos pobres neste micronutriente; uso de sal<br />
não iodado na alimentação; baixo consumo de<br />
alimentos ricos em Iodo.<br />
No Brasil, a deficiência de iodo foi vista como<br />
um problema de saúde pública na década de<br />
50, época na qual cerca de 20% da população<br />
apresentava bócio. Através da iodização do<br />
sal, após cerca de 5 décadas observa-se uma<br />
significativa redução nas prevalências de bócio,<br />
estando o Brasil atualmente entre os países que<br />
praticamente eliminaram as alterações decorrentes<br />
da deficiência de iodo (20,7% em 1955;<br />
14,1% em 1974;1,3% em 1994; e 1,4% em 2000).<br />
Como estratégia de manutenção da erradicação<br />
dos distúrbios decorrentes da deficiência de iodo,<br />
o Ministério da saúde em 2005, criou o Programa<br />
Pro-iodo, cujas ações principais são: o monitoramento<br />
do sistema de iodação do sal; a atualização<br />
dos parâmetros legais dos teores de iodo do sal<br />
destinado ao consumo humano; monitoramento<br />
do teor de iodo do sal; e a implementação contínua<br />
de estratégias para informação, educação,<br />
comunicação e mobilização social.<br />
Zinco<br />
Estima-se que cerca de 20% da população mundial<br />
estão sob risco de deficiência de zinco por<br />
baixa ingesta. Os grupos de maior risco são os<br />
bebês prematuros ou pequenos para a idade<br />
gestacional e pré-escolares, particularmente<br />
entre 6 e 23 meses de idade.<br />
O zinco é um micronutriente essencial para o<br />
crescimento humano, desenvolvimento e função<br />
imunológica. A ingesta de zinco está intimamente<br />
relacionada à ingestão de proteínas. Os sintomas<br />
moderados a graves atribuíveis à deficiência de<br />
zinco incluem desde manifestações leves com o<br />
atraso do crescimento, déficit de ganho ponderal<br />
e massa muscular, oligoespermia, o aumeno da<br />
suscetibilidade à infecções (por redução da imunidade),<br />
a disguesia (alterações de paladar), até<br />
manifestações mais graves como a acrodermatite<br />
enteropática, alopécia, dermatite acro-orificial, anorexia,<br />
alterações emocionais (irritabilidade, depressão,<br />
letargia) e deficit importante de crescimento.<br />
As principais fontes alimentares de zinco incluem<br />
produtos de origem animal, como carnes, frutos<br />
do mar e leite. A absorção do zinco é inibida<br />
pela presença de fitatos e fibras alimentares,<br />
que ligam zinco e inibe sua absorção.<br />
Embora a deficiência nutricional de zinco tenha<br />
sido muitas vezes associada à desnutrição energético-proteica,<br />
outras patologias podem comprometer<br />
a absorção deste nutriente causando<br />
deficiências, a saber: doença de Crohn, anemia<br />
falciforme, síndrome nefrótica, dentre outras.<br />
As necessidades diárias de zinco variam de<br />
acordo com a faixa etária e para lactentes de<br />
0 a 6 meses seria: 2mg/dia, entre 7 meses e 3<br />
anos: 3mg/dia, crianças entre 4-8 anos 5mg/dia<br />
e entre 9-13 anos: 8mg/dia.<br />
Os parâmetros bioquímicos para diagnóstico da<br />
deficiência de zinco são: zinco plasmático (valor<br />
normal é superior a 70 ug/dL), cuja alteração<br />
ocorre apenas em situações de maior gravidade,<br />
portanto não é recomendado como um indicador<br />
104<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Da Prevenção ao Diagnóstico: como proceder?<br />
seguro para diagnóstico. O zinco eritrocitário (valor<br />
normal: 42,2 + 5,5 ug Zn/g de hemoglobina),<br />
este reflete melhor os estados de deficiência<br />
marginal ou crônica. E, como o zinco funciona<br />
como co-fator de algumas enzimas, a avaliação<br />
de atividade da anidrase carbônica, fosfatase<br />
alcalina e Carboxipeptidases podem ser avaliadas.<br />
Atualmente as estratégias de prevenção da deficiência<br />
de zinco seguem as estratégias adotadas<br />
para a deficiências de outros micronutrientes, que<br />
seria a orientação e diversificação da alimentação,<br />
a fortificação e biofortificação dos alimentos<br />
e a suplementação em situações pontuais de<br />
maior risco.<br />
A OMS indica a suplementação de zinco, atualmente<br />
em duas situações: Na diarreia aguda e na desnutrição<br />
grave. Na diarreia aguda a suplementação de<br />
zinco mostrou-se efetiva na redução da duração e<br />
na gravidade, bem como na redução da recorrência<br />
de episódios nos 2 a 3 meses seguintes. Recomendase<br />
20mg de zinco elementar/dia por 10-14 dias em<br />
crianças acima de 6 meses de idade e 10mg/dia<br />
para crianças menores de 6 meses de idade, na<br />
forma de gluconato, sulfato ou acetato de zinco.<br />
No desnutrido grave, além da suplementação de<br />
outros micronutrientes compondo um suplemento<br />
vitamínico, recomenda-se 2mg/kg/dia de zinco<br />
elementar, com dose máxima de 20mg/dia.<br />
Estratégias para redução das deficiências de<br />
Micronutrientes:<br />
Como estratégias mundiais de intervenção na<br />
redução das deficiências de micronutrientes,<br />
podemos citar a promoção do aleitamento<br />
materno, as estratégias de educação para diversificação<br />
e adequação da alimentação, a<br />
suplementação medicamentosa, a fortificação<br />
dos alimentos, sendo estas ações de custo baixo<br />
e benefício elevado.<br />
- A diversificação alimentar engloba estratégias<br />
não só para fornecer o acesso ao alimento,<br />
mas, também, envolve outros fatores, como<br />
a melhoria da condição econômica da população<br />
para adquiri-lo, a biodisponibilidade e<br />
aproveitamento do micronutriente em questão,<br />
e isto envolve também questões relacionadas<br />
à hábitos alimentares.<br />
CURITIBAPR<br />
- A biofortificação ou modificações genéticas<br />
das plantas, que visa enriquecer o alimento<br />
com micronutrientes através do plantio,<br />
é uma estratégia excelente especialmente<br />
para regiões de difícil acesso a alimentos<br />
industrializados, porém os estudos ainda<br />
são incipientes.<br />
- A fortifi cação alimentar tem se mostrado<br />
efetiva e tem melhor valor custo-efetividade,<br />
sendo uma estratégia extremamente prática.<br />
O alimento fortificado deve conter no<br />
mínimo 15% do micronutriente em questão<br />
para alimentos líquidos, e 30% no caso de<br />
alimentos sólidos.<br />
A OMS descreve 4 tipos de fortificação:<br />
1) Fortificação universal ou em massa: geralmente<br />
ocorre de forma obrigatória e consiste<br />
na adição de micronutrientes a alimentos de<br />
consumo pela maioria da população. Exemplo:<br />
Fortificação obrigatória das farinhas de<br />
milho e trigo com ferro em países de risco<br />
elevado para anemia ferropriva.<br />
2) Fortificação em mercado aberto: Utilizada<br />
pelas indústrias alimentícias, com o objetivo<br />
de agregar maior valor nutricional aos seus<br />
produtos;<br />
3) Fortificação focalizada ou direcionada: Estratégia<br />
direccionada que fornece o consumo<br />
dos alimentos enriquecidos para grupos de<br />
elevado risco de deficiência, pode ser obrigatória<br />
ou voluntária.<br />
4) Fortificação domiciliar comunitária: Neste<br />
caso, suplementos são adicionados às refeições.<br />
Requer uma orientação da população<br />
e ainda tem custo elevado.<br />
- Suplementação medicamentosa: Apesar de<br />
efetiva a médio-longo prazo, apresenta algumas<br />
desvantagens: a necessidade de uso prolongado,<br />
dificuldade de acesso ao medicamento,<br />
distribuição inadequada pela rede de saúde,<br />
e adesão do paciente.<br />
A melhor intervenção está em combinar as<br />
estratégias e especialmente no treinamento de<br />
profissionais de saúde para vigilância e garantia<br />
da execução dessas medidas preventivas.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 105
Da Prevenção ao Diagnóstico: como proceder?<br />
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106<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Da Prevenção ao Diagnóstico: como proceder?<br />
Alergia alimentar<br />
MÔNICA LISBOA CHANG WAYHS<br />
As estratégias de prevenção da alergia alimentar<br />
(AA) consistem numa variedade de medidas profiláticas<br />
com os objetivos de evitar a sensibilização,<br />
o desenvolvimento de manifestações da doença<br />
numa criança assintomática, e o desenvolvimento<br />
de manifestações e a progressão da doença<br />
numa criança sintomática. Podemos dividir os<br />
níveis de prevenção em primária, secundária e<br />
terciária. A prevenção primária visa prevenir o<br />
desenvolvimento da alergia numa criança saudável.<br />
A prevenção secundária visa a prevenção<br />
dos sintomas e a progressão da doença numa<br />
criança alérgica. A prevenção terciária visa evitar<br />
a progressão da doença e a deterioração clínica<br />
do paciente alérgico (1) . Ressaltaremos a prevenção<br />
primária, tendo em vista que a prevenção<br />
secundária e terciária estão relacionadas ao<br />
tratamento da criança sintomática.<br />
Ao estabelecer uma estratégia para prevenção<br />
é primordial a identificação da criança de risco.<br />
A chance de uma criança apresentar clínica ou<br />
exames complementares compatíveis com alergia<br />
é 3x maior se os dois pais apresentam história<br />
de alergia, e 2x maior caso somente um dos pais<br />
apresente história positiva, quando comparado<br />
com filhos de pais sem antecedentes alérgicos (1, 2) .<br />
Estudos demonstram que o leite humano (LH)<br />
apresenta efeito protetor da alergia em lactentes<br />
com risco familiar, quando ofertado exclusivamente<br />
até no mínimo os 4 meses de idade, com<br />
redução do desenvolvimento de alergia alimentar,<br />
eczema atópico e manifestações alérgicas<br />
respiratórias (1, 3-6) . O período de introdução de<br />
outros alimentos não deve ser inferior a 4 meses,<br />
mas também não pode ser tardio, sob pena de<br />
aumentar o risco do desenvolvimento de alergia<br />
alimentar e inalantes (7, 8) . É importante ressaltar<br />
que o ideal e preconizado pela Sociedade Brasileira<br />
de Pediatria e Organização Mundial da<br />
Saúde é a manutenção do aleitamento materno<br />
exclusivo até os seis meses de idade. Durante<br />
CURITIBAPR<br />
os primeiros seis meses de vida, o LH fornece<br />
todos os nutrientes necessários para o adequado<br />
crescimento e desenvolvimento. Nas crianças com<br />
alto risco alérgico, impossibilitadas de receberem<br />
LH, o uso de fórmulas de hidrolisado de proteína<br />
parece reduzir o aparecimento da alergia, com<br />
efeito protetor até seis anos de idade (4, 9, 10) .<br />
Apesar de alguns estudos serem sugestivos de que<br />
a suplementação com as vitaminas A, D, E e C,<br />
além do zinco e selênio, possa estar associada a<br />
prevenção das alergias, ainda não existem evidências<br />
suficientes para recomendar esta prática (4, 11) .<br />
Não existem evidências científicas suficientes para<br />
recomendar a exclusão de proteínas potencialmente<br />
alergênicas da dieta materna durante a gestação<br />
e lactação. Apesar da Academia Americana de<br />
Pediatria ponderar a eliminação de ovos, leite de<br />
vaca e peixe durante a lactação, novos estudos são<br />
necessários para referendar ou não esta conduta (1,<br />
3)<br />
. As fórmulas de soja não apresentam benefícios<br />
na prevenção primária da alergia (1, 3) .<br />
Estudos tem demonstrado efeito positivo do uso<br />
dos probióticos na prevenção da AA. A suplementação<br />
de gestantes e lactantes com Bifidobacterium<br />
bificum BGN4, B. Lactis AD011 e Lactobacillus<br />
acidophilus AD 031, esteve relacionada com a<br />
prevenção do desenvolvimento de eczema em<br />
crianças de risco (12) . Deve-se considerar que cada<br />
variedade de probiótico apresenta efeito diferente<br />
e não pode ser extrapolado para outra variedade,<br />
sendo necessários estudos com metodologia adequada<br />
sobre a influência dos probióticos na AA (13) .<br />
A imunoterapia pode ser uma alternativa para<br />
prevenção da AA, mas ainda não há consenso<br />
sobre o uso da mesma. Estudos tem sido realizados<br />
com imunoterapia sublingual e oral, com<br />
resultados promissores (14) .<br />
Os níveis secundário e terciário da prevenção focam<br />
no tratamento da criança sintomática, sendo<br />
necessário a correta confirmação do diagnóstico<br />
da AA. Para confirmação do diagnóstico, o teste<br />
de provocação oral (TPO) é o método considerado<br />
padrão ouro. O alimento suspeito é ofertado<br />
em doses crescentes e intervalos regulares. Após<br />
período mínimo de 2 horas sob observação, o<br />
paciente pode ser liberado. O teste de provocação<br />
pode ser de três tipos: aberto (todos sabem qual<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 107
Da Prevenção ao Diagnóstico: como proceder?<br />
a substância está sendo ingerida); simples cego<br />
(somente o médico sabe qual é a substância) e<br />
duplo cego controlado por placebo (nenhuma das<br />
partes tem conhecimento da substância que está<br />
sendo ingerida). O teste duplo cego controlado<br />
por placebo é considerado o padrão ouro para<br />
o diagnóstico, entretanto é pouco realizado na<br />
prática diária em decorrência das dificuldades<br />
envolvidas na sua realização (3) . Na prática clínica<br />
diária, são mais utilizados o teste aberto ou o<br />
simples cego. É importante ressaltar a necessidade<br />
da realização do teste de provocação oral<br />
em ambiente hospitalar, devido ao risco de uma<br />
reação mais grave. O TPO é contraindicado nos<br />
casos de anafilaxia grave e presença de anticorpo<br />
IgE específico para o alimento causador da reação.<br />
Dependendo do quadro clínico do paciente, pode<br />
ser indicado uma endoscopia ou colonoscopia,<br />
cuja coleta de material para estudo histológico<br />
poderá ser de auxílio na comprovação diagnóstica,<br />
por meio da observação do infiltrado<br />
eosinofílico (3) . As dosagens de IgE específicas e os<br />
testes cutâneos apresentam baixa sensibilidade<br />
e baixo valor preditivo positivo (15) . É importante<br />
ressaltar que o TPO é o melhor método para<br />
o diagnóstico da AA, apesar de sua dificuldade<br />
operacional, e deve ser o preconizado para a<br />
confirmação do diagnóstico da AA.<br />
O aleitamento materno até os seis meses de<br />
idade e a introdução da alimentação complementar<br />
adequada em qualidade e quantidade,<br />
tem papel fundamental na prevenção primária<br />
da AA. O correto diagnóstico da AA é imprescindível<br />
para o estabelecimento da terapêutica<br />
adequada, prevenindo nos níveis secundário e<br />
terciário a AA, bem como os riscos nutricionais<br />
inerentes ao tratamento e diagnóstico incorretos.<br />
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108<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Da Prevenção ao Diagnóstico: como proceder?<br />
Obesidade<br />
na infância e<br />
adolescência<br />
ELZA DANIEL DE MELLO<br />
A obesidade deve ser considerada uma doença<br />
crônica de difícil manejo. Obesidade é um traço<br />
complexo e multifatorial que envolve a interação<br />
de influências metabólicas, fisiológicas, comportamentais,<br />
sociais, celulares e moleculares.<br />
Entre os fatores ambientais, pode-se citar dieta<br />
hipercalórica e baixo nível de atividade física.<br />
Vários fatores neuroendócrinos parecem estar<br />
envolvidos nesse desequilíbrio, como a produção<br />
elevada de leptina e diminuída de adiponectinas,<br />
proteínas produzidas pelo tecido adiposo<br />
visceral, cuja função é regular processos fisiológicos<br />
ligados ao metabolismo de carboidratos<br />
e gorduras. Durante as últimas duas décadas, a<br />
prevalência de sobrepeso e obesidade infantojuvenil<br />
tem crescido rapidamente em todo o<br />
mundo, tornando-se um problema de saúde<br />
pública. A obesidade parece ser um importante<br />
gatilho para o desenvolvimento de doenças crônicas<br />
não transmissíveis, especialmente quando<br />
já presente na infância. O alto índice de massa<br />
corporal (IMC) na infância está associado ao<br />
desenvolvimento de dislipidemia, resistência<br />
insulínica, hipertensão arterial e doença cardiovascular.<br />
Além das complicações clínicas, o<br />
excesso de peso tem impacto imediato sobre<br />
aparência física e autoestima das crianças. Podese<br />
classificar obesidade em de origem exógena,<br />
que abrange 95 a 98% dos casos, e a de origem<br />
endógena. Algumas causas de obesidade endógena<br />
são: síndromes de Prader-Willi, de Alström,<br />
de Laurence-Moon-Bardet-Biedl, e de Cushing,<br />
pseudohipoparatireoidismo e hiperinsulinismo<br />
primário. A obesidade exógena origina-se do<br />
desequilíbrio entre a ingestão e o gasto calóricos.<br />
Vários aspectos influenciam o comportamento<br />
alimentar, entre eles fatores externos (unidade<br />
familiar e suas características, atitudes de pais<br />
CURITIBAPR<br />
e amigos, normas e valores sociais e culturais,<br />
mídia, alimentos rápidos, conhecimentos de<br />
nutrição e manias alimentares), e fatores internos<br />
(necessidades e características psicológicas,<br />
imagem corporal, valores e experiências pessoais,<br />
autoestima, preferências alimentares, saúde e<br />
desenvolvimento psicológico). Esses fatores são<br />
atrelados ao sistema sócio-político-econômico, à<br />
disponibilidade de alimentos, à produção e ao<br />
sistema de distribuição que levam a determinado<br />
estilo de vida, acarretando o hábito alimentar<br />
individual. O ato de alimentar-se tem um papel<br />
social tão importante quanto o papel nutricional.<br />
Existem vários métodos diagnósticos para<br />
classificar o indivíduo em obeso e sobrepeso.<br />
O IMC e a medida da dobra cutânea do tríceps<br />
são bastante utilizados em estudos clínicos e<br />
epidemiológicos. No sobrepeso, o IMC encontrase<br />
entre percentis 85 e 95, e obesidade, acima<br />
do percentil 95, considerando-se sexo e idade.<br />
É importante salientar que além do IMC elevado,<br />
é necessário que o percentual de gordura<br />
corporal seja elevado e não à custa de massa<br />
magra. A obesidade endógena é secundária a<br />
uma doença básica, que deve ser diagnosticada<br />
para o manejo específico. A obesidade exógena,<br />
por sua vez, deve ser manejada com a orientação<br />
alimentar, especialmente com mudanças de<br />
hábitos, e um incremento da atividade física. A<br />
formação dos hábitos alimentares é um “jogo”<br />
imbricado, resultado do processo biopsicológico,<br />
tecnológico, econômico, demográfico e,<br />
predominantemente, ambiental. Tais processos<br />
infraestruturais evoluem para formas distintas<br />
de estrutura (organização doméstica e política)<br />
e superestrutura (sistema simbólico, fisiológico,<br />
religioso e padrão estético). A aquisição dos<br />
alimentos é definida por três fatores: alimentos<br />
com siderados necessários e que fazem parte da<br />
alimentação central; alimentos de que a família<br />
gosta e que também fazem parte da alimentação<br />
central; e alimentos adquiridos por influência da<br />
publicidade, por sugestão de amigos e que são<br />
periféricos, ou seja, consumidos irregularmente.<br />
As mudanças nos hábitos alimentares, nas<br />
últimas décadas no país, têm sido observadas<br />
e traduzidas como momento de transição nutricional.<br />
Essas mudanças são determinadas, prin-<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 109
Da Prevenção ao Diagnóstico: como proceder?<br />
cipalmente, pelo desenvolvimento de sistemas<br />
de produção e distribuição de alimentos, além<br />
do fenômeno da urbanização, influenciando<br />
no estilo de vida (aumento do sedentarismo)<br />
e na saúde da população. A mudança básica é<br />
definida como “alimentação ocidental”, caracterizada<br />
por aumento no consumo de gordura<br />
e carboidratos simples e pela diminuição de<br />
fibras e carboidratos complexos, de acordo com<br />
análises de dados nacionais. Assim, a mudança<br />
de hábito alimentar, aspecto fundamental no<br />
manejo a longo prazo da obesidade, deve englobar<br />
fundamentalmente mudança de valores<br />
familiares e aquisição de conhecimentos. É um<br />
processo mais lento e com envolvimento da<br />
família, quando se tratando de criança. A educação<br />
no seu sentido mais amplo é o aspecto<br />
mais importante. O papel da atividade física<br />
regular no manejo da obesidade é importante<br />
não apenas para melhorar a aptidão física,<br />
mas também para diminuir a gordura corporal<br />
e manter ou ganhar massa muscular. Isto poderá<br />
repercutir num aumento do metabolismo<br />
basal e de repouso, ao contrário do que uma<br />
restrição calórica isolada, que poderá deprimir<br />
o metabolismo basal. Independentemente da<br />
gravidade da obesidade, a primeira consideração<br />
é manter o peso, pois com o crescimento, haverá<br />
mudança da composição corporal. Medicamentos<br />
são pouco utilizados, somente com alguns estudos<br />
insipientes, devido aos potenciais efeitos<br />
colaterais e ao risco de dependência química<br />
e/ou psicológica. Hábitos sedentários, como assistir<br />
televisão e jogar videogames, contribuem<br />
para uma diminuição do gasto calórico diário.<br />
Observaram uma diminuição importante da<br />
taxa de metabolismo de repouso enquanto as<br />
crianças assistiam a um determinado programa<br />
de televisão, sendo ainda menor nas obesas.<br />
Então, além do gasto metabólico de atividades<br />
diárias, o metabolismo de repouso pode<br />
também influenciar a obesidade. As estratégias<br />
de manejo do excesso de peso infantil são<br />
centradas na aquisição de hábitos saudáveis<br />
de vida como: (a) aumento da realização de<br />
atividade física (mínimo 60min/dia), (b) redução<br />
do tempo de televisão/computador/games (até<br />
110<br />
2h/dia) e (c) aumento do consumo de frutas<br />
e vegetais (5 porções/dia), para as crianças e<br />
adolescentes em risco, enquanto um tratamento<br />
mais intensivo deve ser iniciado para aqueles<br />
que já apresentam complicações cardiopulmonares,<br />
metabólicas, ortopédicas e/ou psicológicas.<br />
Parece haver necessidade de implementação de<br />
políticas governamentais na atenção primária à<br />
saúde, na sociedade, no ambiente escolar e familiar<br />
que sejam capazes de promover alterações<br />
no estilo de vida da criança e de sua família,<br />
possibilitando comportamentos sinérgicos, o<br />
mais precoce possível.<br />
Algumas sugestões para o manejo da obesidade<br />
infantil na infância: a) fazer exercício, mas este<br />
deve ser realizado com prazer, pois o fundamental<br />
é adquirir este hábito para a vida. Este exercício<br />
não necessariamente precisa ser sistemático,<br />
pode ser dançar, pular corda e jogar futebol com<br />
amigos; b) ter horário para refeições, comer num<br />
intervalo mínimo de 1 hora e 30 minutos e<br />
máximo de 3 horas; c) não comer vendo TV;<br />
d) não ter em casa alimentos que possam<br />
fazer a criança sair do manejo, como bolachas<br />
recheadas e salgadinhos; e) dar o exemplo é<br />
fundamental; f) mudar o hábito familiar de<br />
comemorar situações comendo e sim ter outras<br />
formas de comemorar, como ir ao parque, ao<br />
zoológico e ao cinema (sem pipoca!); g) não<br />
usar adoçantes de forma indiscriminada, já que<br />
não alteram hábito e estimulam mais para o<br />
prazer doce; h) incluir a criança ativamente<br />
na escolha das diretrizes do manejo de sua<br />
obesidade, pois ela não merece outra frustação<br />
(como a de falhar em seguir a “dieta”), além<br />
do fato de ser gordo. É muito fácil falhar em<br />
seguir dietas não compatíveis com a realidade<br />
ou muito hipocalóricas; i) prevenir é sempre<br />
preferível. Se a família já tem uma tendência à<br />
obesidade, cuidar desde o início com os hábitos<br />
alimentares: não insistir para “raspar” o prato;<br />
não oferecer porções fartas; evitar o hábito da<br />
sobremesa; não educar para saciar a sede com<br />
sucos e chás, mas com água; evitar alimentos<br />
com maior densidade calórica como frutas e<br />
mamadeiras acrescidas de cereais e açúcar.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Da Prevenção ao Diagnóstico: como proceder?<br />
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MA and Bordallo MAN. Impact of obesity on metabolic<br />
syndrome components and adipokines in prepuberal<br />
children. J Pediatr (Rio J) 2009;85:261-8.<br />
11. Obesidade na Infância e adolescência - Manual<br />
de Orientação/ Sociedade Brasileira de Pediatria.<br />
Departamento de Nutrologia. 2008;116p.<br />
12. Positional of the American Dietetic Association:<br />
nutrition guidance for healthy children ages 2 to 11<br />
years. J Am Diet Assoc. 2008;108(6):1038-44,1046-7.<br />
13. Reinehr T, Kleber M, Lass N and Toschke AM. Body mass<br />
index patterns over 5 y in obese children motivated<br />
to participate in a 1-y lifestyle intervention: age as<br />
a predictor of long-term success. Am J Clin Nutr.<br />
2010;91:1165-71.<br />
14. Singh GK, Kogan MD and van Dyck PC. Change in statespecific<br />
childhooh obesity and overweight prevalence<br />
in the United States from 2003 to 2007. Arch Pediatr<br />
Adolesc Med. 2010; 164:598-607.<br />
15. Vos, MB and Welsh J. Childhood Obesity: Update on<br />
predisposing factors and prevention strategies. Curr<br />
Gastroenterol Rep. 2010;12(4):280-7.<br />
16. I Diretriz de prevenção de aterosclerose na infância e<br />
na adolescência. Arq Bras de Cardiol. 2007; 85(VI):1-36.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 111
Da Prevenção ao Diagnóstico: como proceder?<br />
112<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Desafios da pediatria<br />
CURITIBAPR<br />
Quem determina o<br />
valor do pediatra?<br />
MILTON MACEDO DE JESUS<br />
Embora a pediatria seja a especialidade médica<br />
que cuida da saúde do ser humano no ciclo de<br />
vida marcado pelo crescimento e desenvolvimento<br />
- a infância e a adolescência - a sociedade não tem<br />
dado a devida importância a essa especialidade<br />
médica. Mesmo na saúde suplementar, vemos os<br />
pediatras insatisfeitos com a baixa remuneração<br />
oferecida pelas operadoras de saúde, embora já<br />
tenha sido demonstrado ser a pediatria a especialidade<br />
mais resolutiva e ainda motivo pelo qual<br />
os pais aderem aos planos de saúde.<br />
O prêmio nobel de economia em 2000, o economista<br />
americano James Heckman, através de uma<br />
série de métodos precisos para avaliar o sucesso<br />
de programas sociais e de educação, demonstrou<br />
que não há investimento com maior retorno econômico<br />
para a sociedade do que o investimento<br />
em saúde e educação na primeira infância.<br />
A SBP, visando reverter o processo de desvalorização<br />
da pediatria, realizou em 21 de julho<br />
de 2009, em Brasília, o Fórum em Defesa da<br />
Dignidade no Exercício Profissional, que desencadeou<br />
a Mobilização Nacional pela Valorização<br />
da Pediatria, com as seguintes diretrizes:<br />
• Prioridade para ações junto aos planos de<br />
saúde com o intuito de conquistarmos remuneração<br />
respeitosa;<br />
• Valor mínimo a ser alcançado para a consulta<br />
pelos planos de saúde: R$ 80,00 (oitenta reais);<br />
• Salário mínimo para pediatras que trabalhem<br />
em serviço público ou privado: R$ 8.300,00<br />
(oito mil e trezentos reais) para regime de<br />
20 horas semanais. É o valor defendido pelo<br />
ENEM (Encontro Nacional de Entidades Médicas)<br />
para o salário mínimo do médico; (R$<br />
9.188,22, atualizado para 2011)<br />
• Reajuste anual do valor da consulta e do salário<br />
pelo INPC ou outro indicador que o substitua;<br />
• Luta por condições dignas de trabalho a serem<br />
padronizadas pelo VigilaSUS, núcleo da<br />
SBP já em atividade, com o primeiro estudo<br />
diagnóstico, relativo à neonatologia, já em fase<br />
de entendimento com instituto de pesquisa<br />
de renome nacional;<br />
• Recomendação aos pediatras para que somente<br />
aceitem trabalho assalariado em instituição<br />
que tenha plano de cargos, carreira e salários.<br />
Naquela época, o então presidente da SBP, Dr<br />
Dioclécio Campos Junior, destacava a importância<br />
da participação de todos os pediatras: “Sua<br />
adesão ao movimento ora iniciado é indispensável<br />
para as conquistas que esperamos alcançar. Sem<br />
você fica difícil avançarmos”.<br />
O movimento iniciado em Brasília, continua<br />
repercutindo em todo país, alcançando vitórias<br />
expressivas de acordo com a mobilização e envolvimento<br />
dos pediatras nas diversas filiadas.<br />
O exercício da pediatria está sujeito às normas<br />
do Código de Ética Médica, que destaca entre<br />
seus princípios fundamentais, capítulo I:<br />
“Para exercer a Medicina com honra e dignidade,<br />
o médico necessita ter boas condições de trabalho<br />
e ser remunerado de forma justa”.<br />
“Compete ao médico aprimorar continuamente<br />
seus conhecimentos e usar o melhor do progresso<br />
científico em benefício do paciente”.<br />
“O médico não pode, em nenhuma circunstância<br />
ou sob nenhum pretexto, renunciar à sua liberdade<br />
profissional, nem permitir quaisquer restrições ou<br />
imposições que possam prejudicar a eficiência e<br />
a correção de seu trabalho”.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
113
Desafios da pediatria<br />
“O trabalho do médico não pode ser explorado<br />
por terceiros com objetivos de lucro, finalidade<br />
política ou religiosa”.<br />
“O médico será solidário com os movimentos de<br />
defesa da dignidade profissional, seja por remuneração<br />
digna e justa seja por condições de trabalho<br />
compatíveis com o exercício ético-profissional da<br />
Medicina e seu aprimoramento técnico-científico”.<br />
No capítulo II, sobre direitos dos médicos: É direito<br />
do médico:<br />
“Suspender suas atividades, individualmente ou<br />
coletivamente, quando a instituição pública ou<br />
privada para a qual trabalhe não oferecer condições<br />
adequadas para o exercício profissional ou<br />
não o remunerar digna e justamente, ressalvadas<br />
as situações de urgência e emergência, devendo<br />
comunicar imediatamente sua decisão ao Conselho<br />
Regional de Medicina”.<br />
“Estabelecer seus honorários de forma justa<br />
e digna”.<br />
No capítulo VII, sobre relação entre médicos:<br />
É vedado ao médico:<br />
Art. 49 - “Assumir condutas contrárias a movimentos<br />
legítimos da categoria médica com a<br />
finalidade de obter vantagens”.<br />
O pediatra consciente de seu valor, deve cumprir<br />
além das determinações do Código de Ética<br />
Médica, as resoluções do Conselho Federal de<br />
Medicina, estar atento às diretrizes da Associação<br />
Médica Brasileira, especialmente as da Sociedade<br />
Brasileira de Pediatria e lembrar-se ainda de outras<br />
variáveis que interferem no valor do pediatra, tais<br />
como a sua qualificação e o mercado de trabalho.<br />
Valor é diferente de preço, sendo valor o quanto<br />
vale e preço o quanto se paga! Segundo Paul<br />
Singer na formação do valor, há a teoria do<br />
valor-trabalho e a teoria do valor–utilidade. Pela<br />
teoria do valor-trabalho, o valor é determinado<br />
pela quantidade de trabalho empregado para a<br />
produção de um bem ou de um serviço. Os médicos<br />
e outros profissionais de prestação de serviço<br />
têm o que se chama de “capital-trabalho”, ou<br />
“patrimônio-capacidade de trabalho”, decorrente<br />
de sua preparação. Pela teoria do valor-utilidade,<br />
o valor é determinado pela utilidade que o bem<br />
ou serviço tem para o adquirente, não importa o<br />
tempo de trabalho empregado. O valor pode ser<br />
decrescente em razão da quantidade de oferta.<br />
Desde o início do Movimento pela Valorização da<br />
Pediatria, foram desenvolvidas várias ações pela<br />
SBP e suas filiadas no sentido de garantir um atendimento<br />
de qualidade às crianças e adolescentes<br />
e uma remuneração mais justa aos pediatras.<br />
Uma conquista das mais significativas, por iniciativa<br />
da SBP e apoio da ANS, foi a assinatura<br />
em 10 de fevereiro de 2010, do acordo histórico<br />
com a UNIDAS, que deve ser adotado como<br />
referencial para as negociações regionais. Esse<br />
acordo está publicado na íntegra no SBP Notícias<br />
nº 60 e disponível também no portal da SBP, em<br />
Documentos e Informações – Defesa Profissional.<br />
Depois de vários anos, a SBP finalmente conseguiu,<br />
em 26 de fevereiro de 2010, que a Câmara<br />
Técnica da CBHPM-AMB, aprovasse duas de<br />
suas antigas reivindicações, o teste do reflexo<br />
vermelho em recém nato (teste do olhinho) e<br />
o Atendimento Ambulatorial em Puericultura,<br />
ambos com código, porte e valor.<br />
CÓDIGO PROCEDIMENTO PORTE<br />
VALOR<br />
(CBHPM 2010)<br />
4.13.01.47-1<br />
Teste do reflexo vermelho em recém<br />
nato (teste do olhinho) *<br />
1C R$ 33,00<br />
1.01.06.14-6<br />
Atendimento Ambulatorial<br />
em Puericultura<br />
3B R$ 124,00<br />
* ROL 211 da ANS – Vigência obrigatória para todas as operadoras desde 07 de junho de 2010.<br />
114<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Desafios da pediatria<br />
A SBP continua reivindicando a ampliação do Rol<br />
da ANS e nesse sentido, em fevereiro de 2011,<br />
foi solicitada a inclusão, no Rol de 2012, de uma<br />
série de procedimentos pediátricos objetivando<br />
o atendimento de qualidade às crianças e adolescentes<br />
e a valorização do pediatra.<br />
Desde o 1º Fórum de Defesa Profissional realizado<br />
pela SBP no Rio de Janeiro em março de 1999,<br />
tem sido acatada a orientação de inclusão de<br />
temas de Defesa Profissional em todos eventos<br />
promovidos e/ou apoiados pela entidade e o<br />
Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria tem<br />
propiciado um espaço importante de discussão<br />
e reflexão sobre a situação do pediatra, tanto<br />
pelo grande número de participantes quanto pela<br />
sua programação, com horário exclusivo para a<br />
Defesa Profissional – Mesa Redonda e Colóquio.<br />
Vários Fóruns de Defesa Profissional tem sido realizados<br />
pela SBP, propiciando troca de informações<br />
entre as filiadas, reavaliação e definição de novas<br />
estratégias para manter a Mobilização pela Valorização<br />
da Pediatria e garantir novas conquistas.<br />
Pelos relatos no último fórum realizado em São<br />
Paulo, aos 18 de março de 2011, os pediatras estão<br />
mais cientes de seu valor, mais unidos e até mesmo<br />
dispostos a solicitar descredenciamento das operadoras<br />
que não negociam ou praticam reajustes<br />
insuficientes. Os avanços tem sido significativos,<br />
mas o pediatra ainda tem muito a conquistar. A<br />
mobilização tem que continuar e o engajamento<br />
de cada um é fundamental para o alcance de<br />
nossos objetivos: a Valorização do Pediatra.<br />
CURITIBAPR<br />
“Sua adesão ao movimento ora iniciado é indispensável<br />
para as conquistas que esperamos<br />
alcançar. Sem você fica difícil avançarmos”.<br />
Dioclécio Campos Junior – Brasília, julho de 2009<br />
<strong>Referências</strong> <strong>Bibliográficas</strong><br />
1. CBHPM 2010 – disponível em: http://www.amb.org.<br />
br/teste/cbhpm/cbhpm_2010.pdf<br />
2. Código Ética Médica – disponível em: http://www.<br />
portalmedico.org.br/novocodigo/integra.asp<br />
3. Educação Infantil: O bom de educar desde cedo –<br />
disponível em: http://educarparacrescer.abril.com.<br />
br/politica-publica/entrevista-james-heckman-477453.<br />
shtml<br />
4. Inclusão na CBHPM de novos procedimentos<br />
pediátricos aprovados pela Câmara Técnica, AMB (26<br />
de fevereiro de 2010),- disponível em: http://www.<br />
sbp.com.br/show_item2.cfm?id_categoria=89&id_<br />
detalhe=3517&tipo_detalhe=s<br />
5. Mobilização Nacional dos Pediatras - (Mensagem do<br />
presidente da SBP – Portal da SBP – 24/07/2010)<br />
– disponível em: http://www.sbp.com.br/show_<br />
item2.cfm?id_categoria=52&id_detalhe=3166&tipo_<br />
detalhe=s<br />
6. Paul Singer - Curso de Introdução à Economia Política,<br />
8ª ed., Editora Forense Universitária, RJ.<br />
7. SBP e Unidas assinam acordo histórico - (Portal<br />
da SBP- 10/02/2010) – disponível em: http://www.<br />
sbp.com.br/show_item2.cfm?id_categoria=52&id_<br />
detalhe=3457&tipo_detalhe=s1662&tipo=D<br />
8. Tratado de Pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria.<br />
2ª ed. Barueri, SP: Manole, 2010.<br />
Onde estão<br />
os pediatras?<br />
EDUARDO DA SILVA VAZ<br />
Esta é uma pergunta que vem sendo feita com<br />
frequência, principalmente por parte de gestores,<br />
tanto da saúde pública, quanto da suplementar.<br />
Antes, no entanto, de abordar a questão numérica<br />
dos profissionais, é preciso observar as modificações<br />
sócio-demográficas que vem ocorrendo no País,<br />
com importante redução de nascimentos e com<br />
o envelhecimento da população. Na década de<br />
70, as mulheres brasileiras tinham em média seis<br />
filhos cada uma. Hoje, segundo dados recentes, o<br />
número de filhos por mulher está na ordem de<br />
1,76 – similar ao que ocorre na Europa. Naturalmente,<br />
não seria o caso de haver uma tendência<br />
na formação dos especialistas em pediatria numericamente<br />
inversa à reposição dos pacientes.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 115
Desafios da pediatria<br />
Mesmo assim, se tomarmos como base levantamento<br />
realizado pelo próprio Ministério da<br />
Saúde em 2005, dentre os municípios com mais<br />
de um milhão de habitantes, a única Região que<br />
não atingia o percentual adequado de pediatras<br />
era a Norte, com 16,5 profissionais por 100.000<br />
pessoas. No Sul e no Sudeste, foram registrados<br />
mais pediatras do que a necessidade, havendo<br />
31,4 e 26,1, respectivamente. Fica evidente que<br />
o problema não é a falta de pediatras, mas a<br />
má distribuição, que ocorre, aliás, na medicina<br />
em geral e em várias outras profissões, e é resultado<br />
da falta de uma política adequada de<br />
recursos humanos.<br />
Notemos, por outro lado, que não é apenas na<br />
diminuição da taxa de natalidade que estamos<br />
nos aproximando dos países ditos desenvolvidos.<br />
Com ela, famílias menores têm também<br />
mais tempo e recursos para o cuidado com suas<br />
crianças, requerendo ainda mais o trabalho da<br />
pediatria e, com o aumento da circulação de<br />
informação, exigindo cada vez mais qualidade.<br />
Cresce, assim, no Brasil, a preocupação da<br />
sociedade civil com as crianças e adolescentes.<br />
É preciso agora que a mudança chegue, com<br />
urgência, às autoridades responsáveis.<br />
No entanto...<br />
Há mais de uma década, a Sociedade Brasileira<br />
de Pediatria vem denunciando a “despediatrização”<br />
da atenção básica de saúde. É notória a<br />
política de desvalorização do profissional responsável<br />
pela atenção integral à saúde da população<br />
infanto-juvenil por parte dos administradores do<br />
SUS, pois sabemos que, no Brasil, o Programa<br />
Saúde da Família vem sendo implantado com<br />
exclusão do clínico geral da faixa etária de 0 a<br />
20 anos incompletos, o médico especializado no<br />
crescimento e no desenvolvimento.<br />
De seu lado, a lógica da saúde suplementar, de<br />
remuneração por procedimentos, inviabilizou<br />
a maioria dos consultórios pediátricos. Nossa<br />
resposta, no entanto, tem sido um movimento<br />
crescente em favor do direito de crianças e<br />
adolescentes à melhor assistência médica, uma<br />
ação de valorização da profissão.<br />
Números e respostas<br />
Um fato importante, que coincide com o fortalecimento<br />
das ações da SBP na área da “Defesa<br />
Profissional” ao longo da última década, é o<br />
recente crescimento da procura por vagas de<br />
residência em pediatria. Analisando dados da<br />
Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM),<br />
podemos observar, a partir de 2005, uma tendência<br />
de reversão do quadro anterior, quando<br />
o número de estudantes que optavam pela<br />
pediatria estava diminuindo. Em 2009, foram<br />
1350 os residentes de primeiro ano.<br />
Também voltou a subir a marca dos interessados<br />
em fazer a prova para o Título de<br />
Especialista em Pediatria (TEP): 961 candidatos<br />
em 2010, 15% a mais que no ano anterior,<br />
quando foram 835 (já demonstrando uma<br />
estabilidade/pequena variação positiva em<br />
relação a 2008, com 831 inscrições). Outro<br />
motivo de satisfação se refere ao nosso quadro<br />
associativo que, em 1997 registrava 11.553<br />
adimplentes e hoje conta com 16.048 pediatras<br />
em dia com suas obrigações estatutárias,<br />
significando, pois, um importante aumento<br />
de cerca de 50%.<br />
Entre os marcos da nossa luta, está a manifestação<br />
de mil pediatras que, reunidos em Brasília<br />
para o Curso <strong>Nestlé</strong> de 2006, decidiram sair<br />
do Centro de Convenções e levar ao Palácio<br />
do Planalto um documento que, com 1.500<br />
assinaturas, explicitava nossas reivindicações.<br />
Defendemos ali a inclusão da pediatria no<br />
Programa Saúde da Família. Lembramos que<br />
os gestores públicos do Brasil levam seus filhos<br />
ao pediatra e não é justo oferecer aos pobres<br />
medicina de pior qualidade.<br />
Verdade é que, nos últimos anos, os pediatras<br />
vêm ganhando destaque no cenário nacional<br />
associativo dos médicos. Um marco decisivo<br />
foi, sem dúvida, a paralisação dos pediatras<br />
de Brasília, que resolveram dar um basta ao<br />
desrespeito por parte das empresas de saúde.<br />
O exemplo dos colegas e as muitas iniciativas<br />
lideradas pela diretoria da SBP têm levado ao<br />
crescimento da mobilização e a importantes<br />
conquistas.<br />
116<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Desafios da pediatria<br />
Dentre as mudanças relevantes, está a inauguração<br />
de um novo modelo de negociação com<br />
as operadoras e seguradoras de saúde. Foi em<br />
setembro de 2009 que nos reunimos pela primeira<br />
vez com a direção da Agência Nacional<br />
de Saúde (ANS) e esta, em respostas às nossas<br />
reivindicações, agendou rodada de discussão direta<br />
e entre a SBP e as empresas – inédita entre<br />
as sociedades de especialidades. Em fevereiro de<br />
2010, já assinávamos um histórico acordo com<br />
a direção da União Nacional das Instituições de<br />
Autogestão (Unidas), que tem servido de base<br />
para negociações nos estados.<br />
Ao mesmo tempo, obtivemos na Câmara Técnica<br />
da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos<br />
Médicos (CBHPM), em fevereiro de<br />
2010, outra conquista histórica, com a aprovação<br />
unânime da inclusão do Atendimento Ambulatorial<br />
de Puericultura (com porte 3B), já na<br />
quinta edição. Foi uma mudança de lógica na<br />
atenção às famílias, com a valorização prática<br />
da tão elogiada prevenção.<br />
Pacientes e bons exemplos<br />
Com a liderança das Sociedades de Pediatria<br />
filiadas, temos obtido vitórias significativas junto<br />
aos planos de saúde, em vários estados e, neste<br />
plano, vamos avançar mais. Estamos também<br />
atentos às necessidades da maioria da população<br />
e sabemos que, analisando a taxa de cobertura<br />
da assistência médica suplementar por faixa<br />
etária, a constatação é que somente 17% das<br />
crianças de 0 a 9 anos e 16% dos pacientes de<br />
10 a 19 anos possuem planos de saúde. Cerca<br />
de 80% das crianças e adolescentes brasileiros<br />
contam apenas com o atendimento público.<br />
De norte a sul, o movimento nacional da pediatria<br />
tem levado ao surgimento de lideranças<br />
importantes, que atuam tanto no setor público,<br />
quanto na medicina privada. Ao contar um pouco<br />
sobre quatro delas, nosso objetivo é tornar<br />
mais visível onde estamos todos nós.<br />
Dr. Mario Tironi Júnior é pediatra com área de<br />
atuação em pneumologia. Trabalha em Vitória,<br />
atuando em consultório e no serviço público<br />
desde 1982, quando também se associou à<br />
CURITIBAPR<br />
entidade. É preceptor de residência médica em<br />
pediatria há 29 anos. Integra a Comissão de<br />
Honorários Médicos da Sociedade Espiritossantensse<br />
de Pediatria (Soespe) e, juntamente com<br />
os drs. Valentim Sipolatti, Rousseou Ramos, Ana<br />
Maria Ramos e Rodrigo Aboudib, esteve à frente<br />
do vitorioso movimento da pediatria no estado.<br />
A mobilização no Espírito Santo teve inicio em<br />
2009. Contou com mais de 20 reuniões, debates e<br />
assembleias, passou pela notificação extrajudicial<br />
das empresas, pelo descredenciamento das que<br />
estavam mais irredutíveis e teve grande adesão<br />
dos pediatras. O Ministério Público foi notificado<br />
e todas as operadoras de saúde suplementar<br />
estiveram na mesa de negociação. Estão entre<br />
as conquistas: o fim das consultas de retorno<br />
não remuneradas; reajustes anuais nos contratos;<br />
pagamento diferenciado para a puericultura e a<br />
melhoria da remuneração mínima das consultas<br />
por agravos.<br />
A São Bernardo Saúde está pagando R$ 100,00<br />
para o Atendimento Ambulatorial de Puericultura<br />
e implantou um pacote pediátrico no modelo<br />
do Procedimento Padronizado em Pediatria. A<br />
Unimed Vitória está remunerando o Atendimento<br />
Ambulatorial em Puericultura no valor<br />
de R$ 80,00, um por mês até os dois anos de<br />
idade. O valor das consultas por agravos, que<br />
podem ser até três em cada mês, é R$ 50,00.<br />
O grupo Unidas, integrado por 29 operadoras<br />
de saúde, assim como a Arselomital, aceitou a<br />
pagar R$ 60,00 a consulta, enquanto o Bradesco<br />
remunera em R$ 68,00.<br />
Dra. Vilma Hutim G. de Souza, neonatologista,<br />
trabalha em Belém, e integra o Núcleo do<br />
VigilaSUS da SBP – criado pela diretoria com<br />
a finalidade de acompanhar a qualidade da<br />
atenção à criança e ao adolescente no sistema<br />
público de saúde. Integra o Comitê de Mortalidade<br />
Neonatal da Fundação Santa Casa de<br />
Misericórdia do Pará, onde trabalha há 10 anos.<br />
É instrutora do Curso de Reanimação Neonatal<br />
da Sociedade e também do Método Canguru.<br />
Atualmente, está na supervisão da Residência<br />
(R3) em Neonatologia da Universidade Federal.<br />
Na Sociedade Paraense de Pediatria (Sopape),<br />
preside o Departamento de Defesa Profissional e<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 117
Desafios da pediatria<br />
integra o de Neonatologia. Com os colegas, tem<br />
lutado intensamente pela melhoria da qualidade<br />
da atenção aos recém-nascidos no estado.<br />
Em 2006, a primeira Comissão de Neonatologia<br />
da Santa Casa conseguiu aumentar o número<br />
de plantonistas na Unidade de Cuidados<br />
Intermediários de um para dois, por plantão<br />
de 12 horas (quando o número de recémnascidos<br />
atendidos era de até 50). Também<br />
foi conseguida uma melhor remuneração dos<br />
plantões, com os valores pagos saltando de<br />
R$ 280,00 por 12 horas para R$ 520,00, sendo<br />
que o movimento resultou em um decreto do<br />
governador garantindo a conquista. Outro fato<br />
importante foi a contratação de um segundo<br />
pediatra neonatologista para a sala de parto,<br />
pois a maternidade tinha uma média de 500<br />
nascimentos ao mês. Foi feita a reestruturação<br />
da Unidade Neonatal, com objetivo de regular<br />
e respeitar a capacidade, que era e continua<br />
sendo de 107 leitos.<br />
No entanto, em 2008, a situação de trabalho na<br />
Santa Casa chegou ao limite do insustentável,<br />
levando vários médicos a pedirem demissão.<br />
Desde 2009, juntamente com o Sindicato dos<br />
Médicos e com apoio do Conselho Regional de<br />
Medicina, a Sociedade Paraense de Pediatria e o<br />
VigilaSUS têm se empenhado em buscar solução<br />
para a grave situação da Santa Casa.<br />
Em fevereiro de 2011, com a presença do diretor<br />
responsável pela área na SBP, a Sopape realizou<br />
o 1ª Fórum de Valorização Profissional, reunindo<br />
mais de 60 pediatras na Santa Casa. Como resultado<br />
e com ativa participação de Vilma Hutim,<br />
foi estabelecida uma pauta de reivindicações –<br />
entre as quais a garantia da regulação de leitos<br />
–, que está sendo negociada com o governo do<br />
estado e com as empresas de saúde.<br />
Dra. Dulce Maria de Carvalho Lucas é pediatra<br />
e trabalha, há 32 anos no Hospital Municipal da<br />
Piedade, no Rio de Janeiro, onde também fez<br />
residência. Assim como vários colegas, já poderia<br />
ter se aposentado, mas antes disso, tenta uma<br />
solução para os graves problemas enfrentados<br />
pelo serviço. O Piedade atende pacientes pediátricos<br />
em geral, de zero a 19 anos incompletos,<br />
faz puericultura, acompanhamento, assistência<br />
118<br />
em alergia, pneumologia e reumatologia pediátricas,<br />
incluindo casos de asma grave, febre<br />
reumática, tem também um pólo para anemia<br />
falcifome. Além disso, é o único hospital do<br />
município com leitos específicos para adolescentes,<br />
tendo sido responsável, desde 2006,<br />
quando teve início esta enfermaria, por quase<br />
500 internações. Isso fora ter grande tradição<br />
na formação acadêmica, tendo sido reconhecido<br />
recentemente pelos Ministérios da Educação e da<br />
Saúde como “Hospital de Ensino do município”.<br />
Recebe residentes, internos e graduandos.<br />
Apesar de tudo isso, faltam hoje pediatras para<br />
o atendimento dos 18 leitos. Há dois anos, dra.<br />
Dulce vem alertando a direção do hospital sobre<br />
a necessidade de contratação imediata de mais<br />
sete profissionais, para a reposição daqueles<br />
que se aposentaram ou saíram da instituição,<br />
insatisfeitos com a baixa remuneração. Os problemas<br />
também foram apresentados ao Secretário<br />
de Saúde do município sem, no entanto, que<br />
alguma solução satisfatória esteja prevista.<br />
A saída apontada pela direção do Hospital é<br />
diminuir o número de leitos, aceitando apenas<br />
10 pacientes. Mas preocupados com situações<br />
como as epidemias de dengue, comprometidos<br />
com os pacientes e com a instituição na qual<br />
muitos foram formados, os pediatras fizeram<br />
uma contraproposta – ampliar os leitos para<br />
21, desde que sejam feitas as contratações<br />
necessárias.<br />
Dra. Glória Tereza Lopes, presidente da Sociedade<br />
Sergipana de Pediatria (Sosepe), trabalha<br />
em Aracaju desde a formatura, em 1986, quando<br />
também se associou à entidade. Sempre atuou<br />
como pediatra emergencista e também em consultório.<br />
Há nove anos, por questões econômicas,<br />
precisou ingressar também no PSF, como clínica<br />
geral. Desde criança queria ser pediatra, mesmo<br />
não tendo nenhum médico na família. Nasceu<br />
no 27 de julho, Dia do Pediatra, e se considera<br />
“predestinada” à profissão.<br />
Em Sergipe, dra. Glória vem liderando movimento<br />
que já obteve conquistas muito relevantes,<br />
junto à maioria dos planos de saúde do estado.<br />
Após cerca de quatro meses de mobilização, os<br />
rendimentos do pediatra no consultório pratica-<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Desafios da pediatria<br />
mente dobraram. A remuneração das consultas<br />
passou de R$ 33,00 e R$ 38,00 para valores<br />
que vão de R$ 60,00 a R$ 80,00. O movimento<br />
obteve apoio de instituições como o Ministério<br />
Público, Procon e ANS – que esteve no estado<br />
e abriu processo de fiscalização em 16 operadoras,<br />
para avaliar irregularidades denunciadas<br />
pelos pediatras.<br />
Dentre as estratégias utilizadas, foi apresentada<br />
pauta às empresas e buscada a negociação.<br />
No caso das operadoras que estavam se mostraram<br />
irredutíveis, depois do prazo estipulado,<br />
foi paralisado o atendimento pelas guias. A<br />
ANS confirmou que não tem gerência sobre os<br />
prestadores de serviço e que as empresas devem<br />
CURITIBAPR<br />
reembolsar integralmente os usuários durante<br />
a suspensão do atendimento.<br />
Tem sido muito grande a luta da Sosepe por<br />
melhores condições de trabalho para os pediatras<br />
e de assistência às crianças e adolescentes. Em<br />
conjunto com a OAB/SE e o Ministério Público<br />
estadual, e depois de dois meses, foi conseguida,<br />
em março, a reabertura dos serviços de emergência<br />
pediátrica de dois hospitais na capital.<br />
É certo que muito falta ainda para ser conquistado<br />
em todos os estados brasileiros e no Distrito<br />
Federal. Mas o fato é que nossa presença é cada<br />
vez mais percebida por todos, nossa energia vem<br />
contagiando também outras especialidades e<br />
médicos e pacientes exigem respeito!<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 119
Desafios da pediatria<br />
120<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Dislipidemias<br />
CURITIBAPR<br />
Dislipidemias<br />
fatores de risco<br />
e prevenção<br />
DRA. IZAURA MEROLA FARIA<br />
As dislipidemias são alterações do metabolismo<br />
das gorduras, repercutindo sobre os níveis das<br />
lipoproteínas ricas em triglicérides – a VLDL<br />
(densidade muito baixa), e as ricas em colesterol:<br />
a LDL-C (baixa densidade), a IDL-C (densidade<br />
intermediária) e a HDL-C (alta densidade) – e as<br />
concentrações de seus diferentes componentes<br />
presentes na circulação sanguínea. As dislipidemias<br />
são por si só importantes fatores de<br />
risco para doença cardiovascular aterosclerótica,<br />
juntamente com a hipertensão arterial, a obesidade<br />
e o diabetes mellitus. A herança genética,<br />
o sexo e a idade têm grande importância para<br />
a sua gênese e estima-se que atinja 38,5% das<br />
crianças no mundo. Pesquisas sobre o perfil<br />
lipídico de crianças e adolescentes mostraram<br />
que o nível de colesterol na infância é um fator<br />
que está diretamente relacionado ao nível dessa<br />
substância na idade adulta. Há uma tendência<br />
mundial para investigar precocemente a existência<br />
de dislipidemias, objetivando a intervenção<br />
precoce para diminuição dos fatores de risco.<br />
Portanto a dislipidemia pode se iniciar na infância<br />
e manter a sua característica durante o<br />
crescimento e desenvolvimento – mais frequentemente<br />
em famílias com história de aterosclerose<br />
precoce ou de dislipidemia. Estas crianças<br />
apresentam, na vida adulta, maiores espessuras<br />
da camada média e íntima das artérias, além<br />
de marcadores inflamatórios positivos, demonstrando<br />
que a dislipidemia isolada na infância<br />
pode influir na velocidade de instalação da<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
aterosclerose, especialmente naquelas crianças<br />
com elevado nível de LDL-colesterol (vide valores<br />
de referência na tabela 3).<br />
As crianças devem ser rotineiramente submetidas<br />
à triagem quanto à dislipidemia aos 10<br />
anos de idade, ou antes – a partir dos 2 anos,<br />
quando houver histórico pessoal de doença hiperlipemiante<br />
ou, histórico familiar de doença<br />
cardiovascular e dislipidemia.<br />
O CT superior a 150 mg/dL e o LDL acima de<br />
100 mg/dL, em duas amostras, determinam a<br />
necessidade de seguimento.<br />
Fatores de risco na infância para o desenvolvimento<br />
de dislipidemia além da herança genética<br />
incluem doenças graves, hábitos de vida inadequados<br />
e utilização de certos medicamentos,<br />
como listados nas Tabelas 1 e 2.<br />
A prevenção da hiperlipidemia deve ter início<br />
idealmente, antes do nascimento com adequada<br />
orientação a alimentação da gestante<br />
e com a recomendação da amamentação do<br />
lactente. O perfil lipídico de adolescentes que<br />
receberam aleitamento materno é melhor que<br />
o dos adolescentes que receberam leite de<br />
vaca. Aparentemente, os níveis mais elevados<br />
de colesterol do leite humano podem induzir<br />
à regulação endógena do metabolismo dos<br />
lipídios ao longo da vida. As crianças amamentadas<br />
têm menor possibilidade de ingerir dietas<br />
hipercalóricas, reduzindo o risco de obesidade<br />
e de hiperlipidemia. Deve haver orientação<br />
aos lactentes obesos e/ou hiperlipêmicos com<br />
recomendações de ingestão a partir do 6º mês<br />
de frutas, legumes, carboidratos complexos, e<br />
gorduras poli-insaturadas, porém, não é realizada<br />
restrição dietética nos dois primeiros anos<br />
de vida, pois a ingestão de gorduras nessa fase<br />
é fundamental para a mielinização do sistema<br />
nervoso central.<br />
A partir dos 2 anos de idade, os hiperlipêmicos<br />
devem receber orientação alimentar qualitativamente<br />
adequada e com restrição moderada<br />
121
Dislipidemias<br />
de gorduras para o máximo de 35% do valor<br />
calórico total planejado limitando-se em 1/3<br />
as gorduras saturadas, o que pode determinar<br />
a diminuição dos níveis de colesterol sérico, sem<br />
prejuízo do crescimento e do desenvolvimento<br />
da criança.<br />
Os tipos de dieta mais adequados a cada caso e<br />
o eventual uso de medicamentos vão depender<br />
da intensidade das alterações e de fatores clínicos<br />
de cada criança. Em casos de hipercolesterolemia<br />
com CT superior a 150 mg/dL e LDL-C superior<br />
a 100 mg/dL, são recomendadas dietas mais<br />
restritivas.<br />
Não há consenso sobre a diminuição dos níveis<br />
de CT e LDL-C com a prática esportiva, mas à<br />
semelhança das recomendações para adultos,<br />
esta é indicada tanto na prevenção quanto<br />
no tratamento coadjuvante das dislipidemias<br />
na criança e no adolescente. A atividade física<br />
regular pode propiciar a melhora da obesidade<br />
infantil e, secundariamente, o controle da dislipidemia.<br />
Os estudos populacionais mostram<br />
que o sedentarismo infantil é a causa mais<br />
importante da epidemia mundial de obesidade<br />
nessa faixa etária, que determinou o aumento da<br />
prevalência de dislipidemia em todo o mundo.<br />
Os pacientes pediátricos dislipidêmicos que<br />
têm maior benefício com a atividade física são<br />
aqueles com síndrome metabólica. Nesses, há<br />
diminuição significante dos níveis de CT, LDL,<br />
TG e da relação CT/HDL após curto período<br />
de atividade supervisionada – duas semanas,<br />
mesmo antes de haver diminuição do índice de<br />
massa corporal. Adicionalmente, há melhora da<br />
tolerância à glicose e a diminuição dos níveis<br />
tensionais. Atualmente, recomenda-se uma hora<br />
por dia de atividade física moderada a intensa<br />
para a criança hiperlipêmica. Simultaneamente,<br />
deve haver redução para, no máximo, duas horas/dia<br />
de atividades sedentárias, como televisão,<br />
jogos eletrônicos e computador.<br />
Tabela 1. Principais doenças que cursam com dislipidemia na criança 14-17<br />
Doenças hepáticas<br />
Doenças endócrinas<br />
Doenças renais<br />
Doenças hereditárias<br />
Atresia biliar congênita, colestases crônicas<br />
Deficiência de hormônio do crescimento, diabetes melito,<br />
hipopituitarismo, hipotireoidismo<br />
Insuficiência renal crônica, síndrome nefrótica<br />
Obesidade, doenças metabólicas de depósito, síndrome dos ovários<br />
policísticos, síndrome de Prader - Willi<br />
Doenças graves sistêmicas Leucemia aguda, lúpus eritematoso sistêmico, infecções graves, Aids,<br />
transplantes de órgãos sólidos<br />
Tabela 2. Drogas e nutrientes que mais comumente alteram o perfil lipídico 18-23<br />
Classe de drogas<br />
Anticonvulsivantes<br />
Anti-hipertensivos<br />
Drogas lícitas<br />
Esteróides sexuais<br />
Imunossupressores<br />
Dieta<br />
Outros<br />
Substâncias<br />
Ácido valpróico, carbamazepina<br />
Betabloqueadores, clortalidona, espironolactona, tiazidas<br />
Álcool, tabagismo primário ou passivo<br />
Contraceptivos orais, estrógenos, progestágenos<br />
Ciclosporina, prednisona, prednisolona<br />
Dieta cetogênica, nutrição parenteral<br />
Ácido acetilsalicílico, ácido ascórbico, alopurinol, amiodarona,<br />
asparaginase, inibidores de protease, hemodiálise<br />
122<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Dislipidemias<br />
CURITIBAPR<br />
Tabela 3. Valores de referência para lípides em crianças e adolescentes 24<br />
Lípides Desejável (mg/dL) Limítrofe (mg/dL) Aumentado (mg/dL)<br />
CT < 150 150 a 169 ≥ 170<br />
LDL-C < 100 100 a 129 ≥ 130<br />
HDL-C ≥ 45 - -<br />
TG < 100 100 a 129 ≥ 130<br />
<strong>Referências</strong> <strong>Bibliográficas</strong><br />
1. CARVALHO, D.F.; PAIVA, A.A.; MELO, A.S.O. Perfil<br />
lipídico e estado nutricional do adolescente. Rev<br />
Bras. Epidemiol, 10(4): 491-8. 2007.<br />
2. FAGHERAZZI, S.; DIAS, R.L.; BORTOLON, F. Impacto<br />
do exercício físico isolado e combinado com dieta<br />
sobre os níveis séricos de HDL, LDL, colesterol total<br />
e triglicerídeos. Rev Bras Med Esporte. Vol 14, no.<br />
4, jul/ago, 2008.<br />
3. FARIA, E.C.; DALPINO, F.B.; TAKATA. Lípides e<br />
lipoproteínas séricos em crianças e adolescentes<br />
ambulatorias de um hospital universitário públlico.<br />
Rev Paul Pediatr, São Paulo, 26(1): 54-58, 2008.<br />
4. IV DIRETRIZ BRASILEIRA SOBRE DISLIPIDEMIAS E<br />
PREVENÇÃO DA ATEROSCLEOROSE. Departamento de<br />
Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia.<br />
Arq Bras Cardiol, Rio de Janeiro. 88, suplemento I,<br />
abril, 2007.<br />
5. SCHERR, C.; MAGALHÃES, C.K.; MALLHEIROS, W. Análise<br />
do perfil lipídico em escolares. Arq Bras Cardiol, Rio<br />
de Janeiro. 89 (2): 73-78, 2007.<br />
6. SILVA, R.A.; KANAAN, S.; SILVA, L.E.; PERALTA, R.H.S.<br />
Estudo do perfil lipídico em crianças e jovens do<br />
ambulatório pediátrico do Hospital Universitário<br />
Antônio Pedro associado ao risco de dislipidemias. J.<br />
Bras Patol Med Lab. Vol 43, no. 2, p. 95-101. Abril,<br />
2007.<br />
7. Back GI, Caramelli B, Pellanda L, Duncan B, Mattos<br />
S, Fonseca FH. I diretriz brasileira para a prevenção<br />
da aterosclerose na infância e na adolescência. Arq<br />
Bras Cardiol 2005;85(Suppl 6):4-36.<br />
Diagnóstico em<br />
Dislipidemia<br />
FERNANDA LUISA CERAGIOLI OLIVEIRA<br />
A necessidade de prevenção da arteriosclerose<br />
na infância torna-se cada vez mais evidente<br />
devido ao fato da história natural desta doença<br />
iniciar-se na infância e ao risco de morbimortalidade<br />
na fase de adulto, acarretando alto custo<br />
à sociedade. Estudos epidemiológicos como<br />
Bogalusa, Muscatine e Cincinatti demonstraram<br />
fatores de riscos genéticos e ambientais para<br />
desenvolvimento de arteriosclerose na população<br />
pediátrica 1,2,3,4 .<br />
As dislipidemias são alterações no metabolismo<br />
das lipoproteínas detectadas por testes<br />
laboratoriais e geralmente ocorrem sem sinais<br />
ou sintomas durante a infância e adolescência.<br />
A correta identificação e o cuidado dessas<br />
desordens podem reduzir a morbimortalidade<br />
cardiovascular 5,6 .<br />
A dislipidemia pode ser primária ou secundária<br />
7 . As causas primárias são decorrentes de<br />
modificações genéticas do metabolismo lipídico,<br />
que podem sofrer influência do fator ambiental<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 123
Dislipidemias<br />
como consumo inadequado de gordura na dieta,<br />
tabagismo e sedentarismo 8 .<br />
As causas secundárias de dislipidemias 8 são<br />
hábitos de vida inadequados (dieta rica em<br />
carboidratos e/ou gorduras saturadas e trans;<br />
tabagismo e etilismo), obesidade, utilização de<br />
inibidores de protease em pacientes com SIDA,<br />
síndrome nefrótica, hipotireodismo, anorexia<br />
nervosa, lúpus eritematoso sistêmico, doenças<br />
hepáticas e utilização de terapia medicamentosa<br />
como corticoterapias (quadro 1).<br />
As dislipidemias podem ser classificadas segundo<br />
padrão fenotípico, baseado nos níveis de colesterol<br />
total, triglicérides, quilomícrons e frações<br />
VLDL e LDL do colesterol 9 . A classificação por<br />
padrão fenotípico não está associada à causa<br />
da dislipidemia, portanto também se utiliza a<br />
classificação metabólica de dislipidemias.<br />
Quadro 1. Causas de Dislipidemias Secundárias<br />
Adaptado Alwaili K et , 2009 8 , Kwiterovich PO et al, 2008 18 ; Zappalla & Gidding,2009 19 .<br />
Estilo de vida – dieta, atividade física, tabagismo, obesidade, anorexia.<br />
Uso de medicamentos regulares – corticóides, ácido retinóico, estrógenos exógenos, imunossupressivos,<br />
ciclosporinas, inibidores de proteases HIV, beta bloqueadores, testosteronas, contraceptivos<br />
orais e esteróides anabólicos, drogas antineoplásicas.<br />
Doenças – metabólicas (diabetes, lipodistrofias); hormonais (hipotiroidismo, Cushing); depósitos<br />
(Gaucher, Tays Sachs juvenil, Niemann- Pick); renais (insuficiência renal crônica, glomeronefrites,<br />
síndrome nefróticas); hepáticas (cirrose e atresia biliar congênita); crônicas inflamatórias (lúpus<br />
sistêmico, artrite reumatóide) e outras (kawasaki, coartação aorta).<br />
O aumento da fração LDL-C consiste no tipo mais<br />
frequente encontrado de dislipidemia primária,<br />
com padrão hipercolesterolêmico sem elevação<br />
de triglicerídeos plasmáticos. Acomete cerca de<br />
3 a 5% das crianças e dos adolescentes 7,8 . A<br />
hipercolesterolemia familiar é a mais comum<br />
dislipidemia primária na criança, mas apenas<br />
5% dos adultos com padrão II possuem esta<br />
doença. Apresenta defeito molecular e atualmente<br />
existem 700 mutações que afetam o<br />
processo de síntese do receptor LDL. O defeito<br />
no receptor de LDL na grande parte das células<br />
do organismo acarreta prejuízo na endocitose<br />
da fração LDL-C e a produção de colesterol<br />
endógeno, que seria controlado pelo receptor<br />
LDL hepático, tendo sua inibição prejudicada<br />
nesta doença. Considerada herança autossômica<br />
co-dominante, cujo número de receptores de<br />
LDL seria 100% comprometimento nos homozigóticos<br />
e 50% nos heterozigóticos. Descrita<br />
como a dislipidemia primária mais frequente<br />
1:500 na sua forma heterozigota, sendo rara a<br />
forma homozigota (1:1.000.000).<br />
Na dislipidemia secundária, a causa mais frequente<br />
na infância e adolescência é a obesidade.<br />
O perfil lipídico mais frequente consiste em<br />
aumento de triglicérides, do LDLc de particulas<br />
densas e pequenas e do VLDL-1 e remanescentes,<br />
além de diminuição da fração HDL do colesterol.<br />
Assim, o valor de LDLc e colesterol total<br />
tendem a estar dentro dos valores adequados<br />
de referência 10 . O diagnóstico de dislipidemia<br />
deve ser efetuado após constatação de mais de<br />
uma mensuração de um perfil lipídico alterado,<br />
colhido adequadamente após 12 horas de jejum,<br />
no mesmo laboratório de análises clínicas.<br />
A dosagem sérica universal de colesterol total<br />
não é preconizada na infância, entretanto a<br />
presença de antecedentes familiares positivos ou<br />
doenças que acarretem dislipidemias secundárias<br />
ou a presença de fatores de risco como álcool,<br />
tabagismo e anticoncepcionais orais, exige a solicitação<br />
de perfil lipídico completo: triglicérides,<br />
colesterol total e frações. Os valores de perfil<br />
lipídico segundo sexo e idade por percentis foi<br />
publicado pela Academia Americana de Pediatria<br />
11 . A Sociedade Brasileira de Cardiologia e a<br />
124<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Dislipidemias<br />
Sociedade Brasileira de Pediatria recomendam<br />
na I Diretriz de Prevenção de Arteriosclerose na<br />
Infância e Adolescência, que a dosagem sérica<br />
de triglicerídeos, colesterol total e frações deve<br />
ser realizada em todos adolescentes acima de<br />
10 anos 12 . A conduta baseia-se que nesta fase<br />
ocorrem fatores fisiológicos de modificação do<br />
perfil lipídico, além de exposição de fatores<br />
de riscos ambientais como tabagismo, álcool e<br />
anticoncepcionais nas meninas.<br />
CURITIBAPR<br />
Considera-se perfil lipídico alterado quando<br />
um ou mais valores séricos de triglicerídeos,<br />
colesterol total e frações estiverem inadequados<br />
para idade. A Sociedade Brasileira de Pediatria<br />
e a Sociedade Brasileira de Cardiologia recomendam<br />
os valores da I Diretriz de Prevenção<br />
da Aterosclerose na Infância e na Adolescência<br />
(2005) 12,13 para determinação do perfil lipídico<br />
adequado da criança (acima de 2 anos) e do<br />
adolescente (Tabela 1).<br />
Tabela 1. Perfil Lipídico de crianças acima de dois anos e adolescentes, de acordo com a I Diretriz<br />
de Prevenção de Arteriosclerose na Infância e Adolescência 12<br />
Lipoproteínas (mg/dL) Aceitável Limítrofe Elevado<br />
TC < 150 150 a 169 ≥ 17<br />
LDLc < 100 100 a 129 ≥ 130<br />
HDLc < 45 - -<br />
TG < 100 100 a 129 ≥ 130<br />
Figura 1. Algoritmo de diagnóstico e tratamento de Dislipidemia – Ambulatório de Dislipidemia-<br />
Disciplina de Nutrologia Departamento de Pediatria - UNIFESP/EPM 14<br />
Adaptado: NCEP,1992 15; Kwiterovich, 2008 18 ; Zappalla & Gidding (2009) 19<br />
História familiar Positiva<br />
Adolescente<br />
Doenças cardiovasculares<br />
Dislipidemia nos pais<br />
Dislipidemia secundária<br />
Condições Clínicas<br />
Estilo de vida obesidade<br />
Uso medicamentos regulares<br />
Doenças Metábolicas, renais hepáticas<br />
Distúrbios Hormonais<br />
Tratamento medicamentoso aliado<br />
dietoterapia e atividade física<br />
LDLc > 190 mg/dL<br />
LDLc > 160 mg/dL associate with risk factors:<br />
- Positive family history<br />
- Premature CVD<br />
- Metabolic syndrome<br />
- Tobacco use.<br />
LDL > 130mg/dL - Diabetes mellitus<br />
TG > 400mg/dL - High risk of development<br />
of pancreatitis<br />
Jejum 12 horas:<br />
CT, TG, LDLc, HDLc<br />
Repetir exame e utilizar media<br />
LDLc < 110mg/dL Repetir em 1 ano<br />
Programa educação Nutricional<br />
Orientar estilo vida e riscos Lifestyle and risk<br />
LDLc 110 - 130mg/dL<br />
Reavaliar estilo de vida a cada três meses<br />
Repetir perfil lipídico em 1 ano<br />
Aconselhar fatores de risco<br />
Treatment: diet /physical activity<br />
LDLc > 130 mg/dL<br />
Reavaliar estilo de vida a cada três meses<br />
Repetir perfil lipídico em três meses<br />
Pesquisar causas primárias ou secundárias<br />
Avaliar todos membros da família<br />
Intervenção intensa clínica: Atividade física e dietética.<br />
Meta: Mínima < 130mg/dL<br />
Ideal < 110 mg/dL<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 125
Dislipidemias<br />
Deve-se solicitar perfil lipídico (TG, CT e frações)<br />
de todos pacientes que apresentarem as seguintes<br />
características: adolescente, presença de<br />
história familiar de DCV, pais com dislipidemias<br />
e fatores de riscos (medicação, dieta, doenças,<br />
síndromes) que acarretem dislipidemia secundária<br />
14 (figura 1).<br />
O valor plasmático da fração LDL do colesterol<br />
indica a conduta ser seguida 15,16,17,18,19 :<br />
• Valores aceitáveis de LDL colesterol (
Dislipidemias<br />
CURITIBAPR<br />
15. National Cholesterol Education Program: Third Report<br />
of the National Cholesterol Education Program (NCEP)<br />
Expert Panel on detection, evaluation, and treatment<br />
of high blood cholesterol in adults (Adults Treatment<br />
Panel III). Executive Summary. Publication nº 01-3670,<br />
National Heart, Lung, and Blood Institute. Bethesda:<br />
National Institutes of Health (NIH), 2001.<br />
16. Kwiterowich JR, P.O. Plasma lipid and lipoprotein<br />
levels in childhood. Ann NY Acad Sci 623:90-107, 1991.<br />
17. Jacobson MS. Introduction to pediatric atherosclerosis<br />
prevention. IN: Atherosclerosis prevention.<br />
Identification and treatment of children with high<br />
cholesterol. Chur, Swtzerland, Harwood Academic<br />
Publishers, 1991.<br />
18. Kwiterovich PO Jr. Recognition and management of<br />
dyslipidemia in children and adolescents. J. Clin.<br />
Endocrinol. Metab. 93(11):4200-4209 (2008).<br />
19. Zappalla FR, Gidding SS. Lipid management in children.<br />
Endocrinol. Metab. Clin. N. Am. 38:171-183 (2009).<br />
Tratamento<br />
Nutricional e<br />
Medicamentoso<br />
das Dislipidemias<br />
MARIA ARLETE MEIL SCHIMITH ESCRIVÃO<br />
O tratamento das dislipidemias, na criança e no<br />
adolescente, deve ser sempre iniciado com modificações<br />
na dieta e no estilo de vida. Quando<br />
ocorrer insucesso com a dietoterapia e nos casos<br />
de dislipidemias primárias, com graves anormalidades<br />
do perfil lipídico e/ou a presença de<br />
outros fatores de risco cardiovascular, a terapia<br />
farmacológica pode ser necessária.<br />
Tratamento Nutricional<br />
Faz parte das estratégias de intervenção nutricional,<br />
nas dislipidemias, o estímulo à adoção<br />
de hábitos alimentares saudáveis, com ingestão<br />
energética suficiente para a manutenção ou<br />
aquisição do peso corporal adequado, sem<br />
prejudicar a velocidade de crescimento e o<br />
desenvolvimento puberal.<br />
Para as crianças acima de 2 anos e os adolescentes,<br />
com aumento do LDL-C, a ingestão de<br />
gorduras não deve ultrapassar 30% do valor energético<br />
total da dieta, sendo
Dislipidemias<br />
• diminuição da ingestão de carboidratos simples<br />
e substituição pelos carboidratos complexos<br />
(cereais integrais);<br />
• diminuição do consumo de alimentos industrializados<br />
ricos em gorduras saturadas e trans.<br />
Tratamento Medicamentoso<br />
O uso de medicamentos deve ser considerado em<br />
crianças a partir de 10 anos, após 6 a 12 meses<br />
de dietoterapia, quando o LDL-C permanecer ≥<br />
190mg/dL ou ≥ 160 mg/dL, com história familiar<br />
de doença cardiovascular precoce ou dois<br />
ou mais outros fatores de risco cardiovascular<br />
presentes (obesidade, hipertensão arterial, diabetes,<br />
síndrome metabólica).<br />
Estatinas<br />
As estatinas, já bastante utilizadas no adulto,<br />
são, atualmente, recomendadas para crianças<br />
e adolescentes como drogas de primeira linha.<br />
Diminuem a síntese endógena do colesterol,<br />
aumentam a atividade dos receptores de LDL-C,<br />
no fígado, levando a maior remoção do LDL-C<br />
circulante e dos seus precursores remanescentes<br />
(VLDL e IDL). Promovem reduções de 20 a 55%<br />
e de 5 a10% nos níveis de LDL-C e TG, respectivamente,<br />
e aumento de 5 a 10% no HDL-C.<br />
As estatinas são potencialmente teratogênicas,<br />
podem levar ao desenvolvimento de miopatia<br />
(aumento da creatinoquinase - CK) e também<br />
aumentar as aminotransferases (alanina aminotransferase<br />
- ALT e aspartato aminotransferase<br />
- AST), pela hepatotoxicidade.<br />
As estatinas aprovadas pelo FDA (Food and<br />
Drug Administration) americano, para uso em<br />
crianças e adolescentes, com as doses diárias<br />
recomendadas, encontram-se no quadro abaixo:<br />
Nome Droga Idade (anos) Dose (mg/dia)<br />
Sinvastatina 10-17 10-40<br />
Lovastatina 10-17 10-40<br />
Atorvastatina 10-17 20<br />
Pravastatina 8-13 20<br />
14-18 40<br />
Recomendações para o<br />
uso das Estatinas<br />
As estatinas podem ser introduzidas após os 10<br />
anos de idade, no estágio puberal de Tanner ≥ 2<br />
e, se possível, depois da menarca, nas meninas.<br />
A escolha do tipo de estatina é uma questão de<br />
preferência do profissional. Devem ser iniciadas<br />
com doses baixas (1x/dia), à noite, ao deitar, com<br />
dosagens prévias de ALT, AST e CK.<br />
A presença de hepatopatia importante é uma<br />
contraindicação para o uso das estatinas. Durante<br />
o tratamento devem ser observados sinais de<br />
miopatia (câimbras, fraqueza muscular, astenia),<br />
assim como tomadas medidas contraceptivas,<br />
nas meninas. Podem ocorrer interações medicamentosas<br />
de estatinas, que são metabolizadas<br />
principalmente pelo citocromo P450 3A4, com<br />
inibidores de protease, antibióticos macrolídios,<br />
imidazólicos, ciclosporina, elevando os níveis<br />
séricos destas e causando toxicidade.<br />
Após 4 semanas de tratamento, espera-se que<br />
o LDL-C esteja < 110 mg/dL ou, no mínimo, <<br />
130 mg/dL. São toleráveis níveis de CK até 10<br />
vezes acima do nível normal (considerar impacto<br />
da atividade física) e de ALT e AST, até 3 vezes<br />
acima do normal.<br />
Se as metas para o LDL-C foram atingidas e<br />
não houver anormalidades nos demais exames<br />
laboratoriais, a terapia pode ser continuada e<br />
128<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Dislipidemias<br />
novos controles deverão ser feitos em 8 semanas<br />
e depois, em 3 meses. Se ocorreram alterações<br />
nos exames laboratoriais ou sintomas foram<br />
referidos, a droga deve ser suspensa temporariamente,<br />
os exames devem ser repetidos após<br />
2 semanas e uma vez normalizados, a medicação<br />
pode ser reintroduzida, com monitoramento<br />
mais rigoroso.<br />
Quando as metas do LDL-C não são atingidas, a<br />
dose pode ser dobrada e os exames devem ser<br />
repetidos em 4 semanas. A dose pode continuar<br />
sendo aumentada, gradativamente, até a dose<br />
máxima recomendada para atingir as metas ou<br />
até surgirem sinais de toxicidade.<br />
O perfil lipídico e as dosagens de CK, ALT e AST<br />
devem ser realizados de 3/3 ou de 6/6 meses,<br />
dependendo da gravidade do caso.<br />
Tanto o desenvolvimento pôndero estatural<br />
quanto o puberal precisam ser cuidadosamente<br />
monitorados durante o tratamento.<br />
Resinas sequestradoras de<br />
ácidos biliares (Colestiramina<br />
e Colestipol)<br />
Ligam-se aos ácidos biliares, no lúmen intestinal,<br />
impedindo a recaptação êntero-hepática<br />
e removendo-os do pool de colesterol, o que<br />
acarreta maior regulação dos receptores de LDL-C<br />
nas células hepáticas e aumento do clearance<br />
de LDL-C circulante. Podem reduzir de 13 a 20%<br />
os níveis de LDL-C.<br />
Como não são absorvidas, as resinas costumam<br />
ser indicadas para crianças.<br />
A dose inicial é de 4 a 5 g/dia, podendo chegar<br />
até 20 g/dia.<br />
Apresentam efeitos adversos gastrointestinais,<br />
podem aumentar os TG e interferir na absorção<br />
de vitaminas lipossolúveis.<br />
O Colesevelam é uma nova resina, com maior<br />
poder de ligação aos ácidos biliares e menos<br />
efeitos colaterais, porém, ainda não estudada<br />
na população pediátrica.<br />
Fibratos<br />
CURITIBAPR<br />
Diminuem os níveis de TG, aumentam o HDL-C,<br />
pela inibição da síntese hepática de VLDL.<br />
Apresentam efeitos adversos, como distúrbios<br />
gastrointestinais, aumento da predisposição para<br />
colelitíase, elevação das transaminases hepáticas<br />
e da CK (miopatia).<br />
Devem ser usados preferencialmente em crianças<br />
ou adolescentes com elevações importantes de<br />
TG (> 400mg/dL), que apresentam risco para o<br />
desenvolvimento de pancreatite, pois, os níveis<br />
podem ficar ≥ 1000mg/dL no pós prandial.<br />
Ácido Nicotínico (Niacina)<br />
Reduz a síntese hepática de LDL-C e a secreção<br />
de VLDL-C, diminuindo o LDL-C e os TG e aumentando<br />
o HDL-C. É a única droga que abaixa<br />
os níveis da Lp(a).<br />
O ácido nicotínico tem importantes efeitos adversos,<br />
como rubor, intolerância à glicose, hiperuricemia,<br />
miopatia, falência hepática fulminante.<br />
Não deve ser rotineiramente recomendado devido<br />
à baixa tolerância, ao potencial para efeitos<br />
adversos graves e aos escassos dados disponíveis<br />
de seu uso em crianças.<br />
Inibidores da Absorção de<br />
Colesterol (Ezetimibe)<br />
Impedem a absorção intestinal do colesterol<br />
alimentar e a reabsorção do colesterol derivado<br />
da bile. São utilizados associados às estatinas,<br />
em casos graves de hipercolesterolemia.<br />
O ezetimibe foi bem tolerado e considerado<br />
seguro, em um estudo realizado com 50 indivíduos<br />
portadores de hipercolesterolomia familiar<br />
homozigótica, que incluiu adolescentes a partir<br />
de 12 anos.<br />
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68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 129
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130<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Situações frequentes em neonatologia<br />
CURITIBAPR<br />
Uso do surfactante<br />
no recém-nascido<br />
ROSÂNGELA FÁTIMA INTERAMINENSE GARBERS<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
A neonatologia vem recebendo nas últimas duas<br />
décadas, avanços importantes em seu campo<br />
de trabalho com o desenvolvimento tecnológico<br />
na área de monitorização e ventilação, acesso<br />
quase instantâneo a informações atualizadas,<br />
medicamentos, meios diagnósticos sofisticados,<br />
entre outros. Porém, o medicamento que mudou<br />
a evolução dos bebês prematuros, aumentando<br />
suas chances de sobrevivência, foi a utilização<br />
comercial do surfactante pulmonar exógeno<br />
para o tratamento da síndrome do desconforto<br />
respiratório neonatal (SDR), cuja incidência é<br />
inversamente proporcional a idade gestacional<br />
do recém-nato.<br />
Os bebês prematuros com SDR apresentam<br />
deficiência de surfactante pulmonar endógeno,<br />
cujos sistemas de produção e reciclagem de<br />
surfactante estão em desenvolvimento, possuindo<br />
em decorrência da prematuridade, maior<br />
permeabilidade endotelial e alveolar a proteínas<br />
séricas, as quais, extravasando para o interior<br />
dos alvéolos pulmonares, inibem a função do<br />
surfactante endógeno e também daquele utilizado<br />
para o tratamento da doença.<br />
As consequências destes fatos são atelectasia<br />
alveolar difusa, edema pulmonar e lesão celular,<br />
traduzidas clinicamente por gemência, taquipnéia,<br />
retrações esternais, batimento de aletas<br />
nasais e cianose. O Rx de tórax tem aparência<br />
de vidro moído, reticulogranular difuso, com<br />
broncogramas aéreos.<br />
No pulmão fetal o surfactante é produzido,<br />
reciclado e armazenado no citoplasma das células<br />
alveolares do tipo II. Sua função principal<br />
é evitar o colabamento pulmonar, reduzindo<br />
a tensão superficial existente no interior dos<br />
alvéolos ao final da expiração. A redução da<br />
tensão superficial leva a uma menor passagem<br />
de líquidos do interstício para a luz alveolar,<br />
reduzindo o edema que se instala no pulmão<br />
prematuro logo após o nascimento.<br />
O surfactante pulmonar possui dois componentes<br />
principais com funções distintas: a porção<br />
lipídica e porção proteica. A porção fosfolipídica<br />
representa cerca de 90% do surfactante, sendo<br />
seu principal componente a fosfatidilcolina<br />
cuja função básica é a de atuar como redutor<br />
da tensão superficial intraalveolar. Os cerca de<br />
10% restantes da massa do surfactante natural é<br />
constituída por quatro proteínas, denominadas<br />
proteína A (SP-A), B(SP-B), C(SP-C), D(SP-D), todas<br />
com funções distintas. A SP-A é uma glicoproteína<br />
não sérica e constitui a principal e mais<br />
abundante proteína do surfactante (cerca de 5%),<br />
regula o fluxo de surfactante para dentro e para<br />
fora do pneumócito tipo II, auxilia na formação<br />
da estrutura da mielina tubular, é facilitadora da<br />
fagocitose pelos macrófagos alveolares e exerce<br />
papel importante na inibição da inativação do<br />
surfactante pulmonar pelas proteínas presentes<br />
no interior do alvéolo.<br />
A principal diferença entre a composição dos<br />
surfactantes exógenos comerciais utilizados para<br />
o tratamento da SDR do RN e o surfactante<br />
natural presente nas vias aéreas está no conteúdo<br />
proteico. Os surfactantes de origem animal,<br />
utilizando extratos ou lavados de pulmões de<br />
bovinos ou suínos, não contém SP-A e SP-D em<br />
sua composição, mas as SP-B e SP-C estão presentes<br />
no composto final em menor quantidade<br />
que no surfactante natural.<br />
Os surfactantes sintéticos não possuem nenhuma<br />
proteína, tem uma composição lipídica própria,<br />
diferente do surfactante natural, conferindo uma<br />
função biológica menor.<br />
131
Situações frequentes em neonatologia<br />
Também melhoram a insuficiência respiratória,<br />
embora seus efeitos sejam de início mais lento que<br />
o dos surfactantes naturais ou o dos surfactantes<br />
que contêm proteínas ou peptídeos hidrofóbicos.<br />
Os surfactantes exógenos utilizados para o tratamento<br />
da SDR do RN, disponíveis comercialmente,<br />
de origem animal, são o CUROSURF (extrato de<br />
pulmão porcino purificado), SURVANTA (extrato<br />
lipídico de pulmão bovino), ALVEOFACT (extrato<br />
lipídico de lavado de pulmão bovino), SURFACTEN<br />
(extrato lipídico de pulmão bovino associado à<br />
lípides e ácido palmítico sintético) e o INFASURF<br />
(extrato lipídico de lavado de pulmão de bezerro).<br />
Os surfactantes artificiais sintéticos são o EXO-<br />
SURF e PUMACTANTE. Outros tipos de surfactantes<br />
vêm sendo pesquisados, inclusive com<br />
pesquisa nacional.<br />
Em relação ao uso de surfactante natural ou<br />
sintético, há várias publicações demonstrando<br />
que ambos são efetivos para prevenção e/ou<br />
tratamento da SDR do RN, porém, dados sugerem<br />
haver maior eficácia com uso dos surfactantes<br />
naturais, talvez pela presença das proteínas<br />
contidas neste tipo de surfactante.<br />
A administração do surfactante pode ser feita<br />
de forma profilática ou precoce (até 2 a 4 h de<br />
vida), seletiva ou resgate, associado à ventilação<br />
mecânica ou CPAP NASAL.<br />
A conclusão de alguns autores, é que a administração<br />
profilática de surfactante para RNs com<br />
alto risco em desenvolver SDR (RNs menores<br />
30-32 sem), comparados ao uso seletivo ou de<br />
resgate em RNs com SDR já instalado, parece ter<br />
melhores resultados clínicos. RNs que recebem<br />
surfactante profilático tem diminuição dos riscos<br />
de pneumotórax, enfisema intersticial e mortalidade.<br />
Contudo, ainda não são totalmente claros os<br />
critérios para se julgar quais bebês são realmente<br />
de risco para receber surfactante profilático.<br />
Entre outras indicações para o uso de surfactante<br />
pulmonar incluem-se pneumonia e aspiração<br />
de mecônio.<br />
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Rebello, C., Diniz, E. M. A, 2000<br />
Líquido amniótico<br />
meconial em sala de<br />
parto - Conduta<br />
LEILA DENISE CESARIO PEREIRA<br />
LAM e SALAM: prevalência<br />
A presença de mecônio no líquido amniótico<br />
ocorre em 13% dos nascidos vivos e aumenta<br />
com o avanço da idade gestacional, sendo a<br />
taxa de 7 a 20% nos nascimentos a termo e de<br />
23 a 52% nos pós-termo. É pouco frequente em<br />
gestações com menos de 37 semanas (5 a 6%).<br />
A síndrome de aspiração de líquido amniótico<br />
meconial (SALAM) acomete 4 a 5% dos recémnascidos<br />
que nascem banhados por líquido amniótico<br />
meconial (LAM), podendo ocorrer antes ou<br />
durante o processo do nascimento.<br />
SALAM: a dimensão do problema<br />
A SALAM é importante causa de mortalidade em<br />
recém-nascidos a termo e pós-termo, com taxas<br />
132<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Situações frequentes em neonatologia<br />
variando amplamente, de 5 a 40%. Embora tenha<br />
sido documentado, recentemente, um declínio<br />
significativo na prevalência e na mortalidade<br />
associada à SALAM nos países desenvolvidos,<br />
tais indicadores ainda representam um grande<br />
problema nos países em desenvolvimento.<br />
Mesmo nos países que conquistaram uma importante<br />
redução na mortalidade, a morbidade<br />
da SALAM continua significante. Vários estudos<br />
constataram consequências pulmonares e neurológicas<br />
a curto e a longo prazo. Pode ocorrer<br />
pneumopatia grave, com hipertensão pulmonar<br />
associada em 15 a 20% dos casos. Existem evidências<br />
recentes de que o mecônio é um potente<br />
indutor da resposta inflamatória e de apoptose<br />
celular, determinando efeitos a nível pulmonar<br />
e sistêmico. Crianças que sobrevivem a SALAM<br />
grave apresentam alta prevalência de asma e<br />
hiperreatividade brônquica, bem como distúrbios<br />
do comportamento, de atenção e cognitivos, geralmente<br />
não diagnosticados até a idade escolar.<br />
Estratégias Preventivas<br />
A significante morbimortalidade associada à<br />
SALAM foi determinante para o desenvolvimento<br />
de estratégias preventivas, instituídas antes e<br />
após o nascimento.<br />
1. Prevenção Antenatal<br />
Uma revisão recente de estudos randomizados que<br />
analisaram o efeito preventivo de uma série de<br />
intervenções antenatais constatou efeito positivo<br />
somente com relação à indução do parto nas<br />
gestações pós-termo, que reduziu em 25% a taxa<br />
de LAM e em 61% a taxa de SALAM. As evidências<br />
disponíveis, portanto, permitem recomendar o<br />
encurtamento das gestações pós-termo com o objetivo<br />
de reduzir a ocorrência de LAM e de SALAM.<br />
2. Manejo na Sala de Parto<br />
Os procedimentos relativos à assistência dos<br />
recém-nascidos com LAM na sala de parto tem<br />
sofrido modificações nos últimos 30 anos. Os<br />
primeiros estudos clínicos baseavam-se na crença<br />
de que as alterações fisiopatológicas da SALAM<br />
CURITIBAPR<br />
eram primariamente a obstrução das vias aéreas<br />
e o preenchimento dos alvéolos por mecônio.<br />
Com base nesse pressuposto, nos anos 70, a<br />
aspiração das vias aéreas intraparto, a intubação<br />
pós-natal imediata e a aspiração traqueal eram<br />
práticas consideradas de valor para prevenir a<br />
SALAM. Embora durante os anos 80 e 90 tenha<br />
sido adotado um critério mais seletivo para a<br />
intubação traqueal, somente a partir do ano<br />
2000 os resultados de grandes estudos clínicos<br />
randomizados demonstraram que alguns<br />
procedimentos tradicionalmente praticados<br />
e defendidos por obstetras e neonatologistas<br />
eram, de fato, inúteis, levando à modificação<br />
das recomendações.<br />
2.1 Aspiração da Oro e Nasofaringe Intraparto<br />
A evidência da efetividade da aspiração da oro e<br />
nasofaringe intraparto, após a exteriorização da<br />
cabeça, antes do desprendimento dos ombros,<br />
surgiu de resultados de um único estudo de<br />
cohort retrospectivo indicando uma tendência<br />
não significativa de redução da ocorrência da<br />
SALAM. Posteriormente, outros estudos não<br />
encontraram diferenças nos desfechos de<br />
recém-nascidos submetidos e não submetidos<br />
à aspiração intraparto.<br />
Um estudo multicêntrico, controlado e randomizado<br />
realizado por Vain e colaboradores,<br />
publicado em 2004, comparou aspiração versus<br />
não aspiração intraparto e não encontrou<br />
diferença entre os grupos com relação à incidência<br />
de SALAM, mortalidade, necessidade e<br />
duração da ventilação mecânica, necessidade e<br />
duração da oxigenioterapia e tempo de hospitalização,<br />
mesmo nos subgrupos considerados<br />
de alto risco (LAM espesso, sofrimento fetal,<br />
necessidade de reanimação, cesariana). Concluíram<br />
que a aspiração intraparto de rotina,<br />
em recém-nascidos a termo com LAM, não<br />
prevenia a SALAM.<br />
A aspiração intraparto não é um procedimento<br />
livre de risco. Podem ocorrer complicações como<br />
atraso no nascimento da criança e no início dos<br />
procedimentos de reanimação, traumatismo<br />
de vias aéreas superiores e arritmia cardíaca<br />
secundária a estímulo vagal.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 133
Situações frequentes em neonatologia<br />
Com base nas evidências científicas disponíveis<br />
atualmente, a aspiração intraparto de rotina<br />
causa com mais frequência efeitos adversos do<br />
que benéficos, não sendo mais recomendada.<br />
2.2 Aspiração Traqueal<br />
A intubação e aspiração traqueal em recémnascidos<br />
com LAM se tornou uma prática de<br />
rotina a partir do estudo de Gregory (1974),<br />
tanto em recém-nascidos vigorosos como nos<br />
deprimidos ao nascer, e independente do aspecto<br />
do LAM (fluido ou espesso). Após o estudo de<br />
Linder e colaboradores (1988), a prática de aspiração<br />
traqueal em recém-nascidos vigorosos foi<br />
abandonada. Em 1992, a Academia Americana de<br />
Pediatria passou a recomendar o procedimento<br />
apenas em recém-nascidos com maior risco<br />
para SALAM, principalmente em caso de LAM<br />
espesso. A partir do ano 2000 a recomendação<br />
passou a ser de aspirar a traqueia somente<br />
nos recém-nascidos deprimidos. No entanto,<br />
apesar desses recém-nascidos possuírem maior<br />
risco de apresentar SALAM, a adoção das novas<br />
recomendações não reduziu sua ocorrência nem<br />
diminuiu a mortalidade associada. A intubação<br />
e aspiração traqueal em recém-nascidos deprimidos,<br />
antes de iniciar a ventilação com pressão<br />
positiva, não foi avaliada por meio de estudos<br />
clínicos controlados e randomizados.<br />
A intubação traqueal é um procedimento invasivo<br />
que requer habilidade e pode acarretar<br />
efeitos adversos incluindo bradicardia, flutuações<br />
na pressão sanguínea, hipoxia e traumatismo<br />
de partes moles.<br />
As limitações das medidas voltadas à desobstrução<br />
das vias aéreas em prevenir a ocorrência<br />
da SALAM reforçam a existência de eventos antenatais,<br />
como episódios de asfixia, hipoxemia<br />
e acidose que levam à aspiração intra-útero.<br />
Recomendações Atuais<br />
As diretrizes de reanimação neonatal publicadas<br />
pelo International Liaison Committee on<br />
Resuscitation (ILCOR), em outubro de 2010, não<br />
recomendam a aspiração da oro e nasofaringe<br />
intraparto e não adotam uma recomendação<br />
específica quanto à intubação e aspiração traqueal,<br />
pelo fato das evidências disponíveis não<br />
suportarem nem refutarem a rotina de aspiração<br />
traqueal de recém-nascidos com LAM, mesmo<br />
quando estes nascem deprimidos.<br />
A partir das diretrizes do ILCOR, o Programa de<br />
Reanimação Neonatal da Sociedade Brasileira<br />
de Pediatria (PRN-SBP) atualizou e adaptou suas<br />
recomendações à realidade brasileira.<br />
Segundo as recomendações atuais do PRN-SBP,<br />
a conduta do pediatra quando existe LAM depende<br />
da vitalidade do recém-nascido. Quando<br />
este nasce vigoroso (movimentos respiratórios<br />
rítmicos e regulares, tônus muscular adequado<br />
e FC >100 bpm), deve-se colocá-lo sob fonte de<br />
calor radiante, executar os passos iniciais da reanimação<br />
(posicionar, aspiraro excesso de secreções<br />
da boca e do nariz, secar, desprezar os campos<br />
úmidos e reposicionar) e avaliar a respiração e a<br />
FC. Se a respiração continuar rítmica e regular e<br />
a FC >100 bpm, proceder aos cuidados de rotina<br />
da sala de parto. A aspiração da hipofaringe e<br />
da traqueia sob visualização direta não deve ser<br />
realizada nos recém-nascidos vigorosos.<br />
Caso o recém-nascido nasça deprimido (apneia<br />
ou respiração irregular e/ou hipotonia e/ou<br />
FC
Situações frequentes em neonatologia<br />
3. Vain NE, Szyld EG, Prudent LM, Wiswell TE, Aguilar AM,<br />
Vivas NI. Oropharyngeal and nasopharyngeal suctioning<br />
of meconium-stained neonates before delivery of their<br />
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CURITIBAPR<br />
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Brasileira de Pediatria: Condutas 2011 [acesso 2011<br />
Mar 20]. Disponível em hptt://www.sbp.com.br.<br />
Taquipneia transitória<br />
do recém-nascido<br />
DURVAL BATISTA PALHARES<br />
1. Definição: Taquipneia transitória do recémnascido<br />
(TTR) é uma doença do parênquima<br />
pulmonar caracterizada por edema pulmonar,<br />
resultante da absorção tardia e eliminação de<br />
líquido alveolar fetal 1 . Embora é referido que<br />
se trata de uma doença benigna, autolimitada,<br />
cada vez há mais dados que TTR aumenta o<br />
risco da criança ter síndrome de sibilância no<br />
início da vida 2 .<br />
2. Incidência: 5.7 casos por 1000 nascidos vivos.<br />
Nos Estados Unidos aproximadamente 1% dos<br />
recém-nascidos apresentam algum desconforto<br />
respiratório e dentro desta incidência, 33 a 50%<br />
são devido taquipneia transitória.<br />
3. Fisiopatologia: O processo de limpeza do<br />
líquido alveolar fetal começa antes do nascimento<br />
do recém-nascido de termo e continua<br />
através do trabalho de parto e após o parto.<br />
Tem sido correlacionado com níveis baixos de<br />
catecolaminas circulantes após uma cesariana.<br />
Imaturidade pulmonar tem sido também<br />
proposto como fator causal, com deficiência<br />
leve de surfactante mas recém-nascidos prétermo<br />
ou muito pequenos, frutos mesmo de<br />
parto vaginal, que não sofrem compressão<br />
suficiente durante o nascimento ou não tem<br />
ação hormonal suficiente para a limpeza<br />
pulmonar, podem ter mais líquido pulmonar<br />
que o normal nas suas primeiras respirações,<br />
mas crianças com sintomas de outras situações<br />
clínicas, com a síndrome de desconforto<br />
respiratório (SDR), podem ter predominância<br />
clínica sobre os sintomas causados pela TTR. O<br />
excesso de líquido pulmonar no recém-nascido<br />
leva ao aumento da resistência na via aérea e<br />
diminuição da complacência pulmonar. Além<br />
disso, o acúmulo de líquido no interstício e vasos<br />
linfáticos peribronquiolar promove colapso<br />
parcial dos bronquíolos com posterior aprisionamento<br />
aéreo. Recém-nascidos masculinos e<br />
macrossômicos parecem ser mais propensos a<br />
apresentarem TTR 3 .<br />
4. Manifestações clínicas: taquipneia superior<br />
a 60 mpm, gemido, batimento de asa de<br />
nariz, tiragem intercostal, retrações, cianose.<br />
Ausculta pulmonar é normal ou pode apresentar<br />
estertores subcrepitantes finos. Alvéolos<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 135
Situações frequentes em neonatologia<br />
mau ventilados e com perfusão pobre, leva à<br />
hipoxemia e edema alveolar com redução da<br />
ventilação, algumas vezes resultando hipercapnia.<br />
TTR é mais frequente em recém-nascidos<br />
menores de 38 semanas de idade gestacional,<br />
nascidos de parto cesariana e filhos de mães<br />
diabéticas.<br />
5. Evolução clínica: TTR é um diagnóstico<br />
de exclusão, pois é uma condição benigna<br />
que pode ter sinais e sintomas semelhantes a<br />
doenças mais graves, como a SDR, pneumonia<br />
neonatal, até mesmo manifestações de chiado 4 .<br />
A história materna da criança com TTR consiste<br />
habitualmente de cesariana sem trabalho de<br />
parto ou cesária eletiva antes do termo. Dentro<br />
de 24 a 48 horas a respiração de bebês com<br />
TTR geralmente melhora e volta ao normal<br />
e, dentro de 72 horas nenhum recém-nascido<br />
apresenta mais sintomatologia. Caso a sintomatologia<br />
persiste além de 72 horas e a criança<br />
não está melhorando, deverá ser investigado<br />
algum outro problema clínico.<br />
6. Diagnóstico: Os sintomas de TTN inicialmente<br />
são semelhantes à clínica de recémnascidos<br />
com problemas respiratórios mais<br />
graves, (pneumonia, hipertensão pulmonar,<br />
SDR), mas uma radiografi a de tórax, além<br />
do exame físico e história clínica, pode ser<br />
suficiente para o diagnóstico. A radiografia de<br />
tórax pode apresentar: congestão para-hilar<br />
simétrica (coração cabeludo). Espessamento<br />
das cisuras interlobares e hiperinsuflação podem<br />
estar presentes. Ocasionalmente, discreta<br />
cardiomegalia ou derrame pleural pode ser<br />
observado (figuras 1 e 2).<br />
Figura 1 Figura 2<br />
7. Tratamento: medidas de suporte<br />
Líquidos endovenoso e alimentação por gavagem.<br />
Com a diminuição da FR, iniciar alimentação oral.<br />
Oxigenação: caixa de hood, CPAP (pressão positiva<br />
contínua na via aérea) se a gemência persistir.<br />
A necessidade de ventilação mecânica é rara.<br />
Manter a temperatura<br />
Recém-nascidos com TTR podem evoluir para<br />
hipertensão pulmonar e nestes casos esses pacientes<br />
devem receber tratamento diferenciado.<br />
Aerossóis beta agonistas podem ser utilizados<br />
no tratamento 5 .<br />
Embora furosemide pode aumentar a reabsorção<br />
do líquido pulmonar e causar vasodilatação pulmonar,<br />
este diurético oral ou por aerossol não é<br />
recomendado como tratamento da TTR, até que<br />
dados mais contundentes estejam disponíveis 5 .<br />
Recentemente foi referido que ventilação nasal<br />
percussiva de alta frequência é melhor tolerado<br />
e efetivo do que CPAP nasal 6 .<br />
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positive airway pressure in transient tachypnea of the<br />
newborn: A pilot randomized controlled trial. Pediatr<br />
Pulmonol. 2010; 20 (Epub ahead of print)<br />
136<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Manejo inicial na UTI Neonatal<br />
CURITIBAPR<br />
CPAP nasal:<br />
quando usar?<br />
ELIANA KUCHPIL BRANCO<br />
• Diminui a necessidade de oxigenação, diminuindo<br />
o shunt intrapulmonar, aumentando<br />
a relação ventilação/perfusão e diminuindo o<br />
edema pulmonar.<br />
• Estabiliza a caixa torácica e aumenta a atividade<br />
do diafragma.<br />
• Preserva a função do surfactante.<br />
O CPAP (continuous positive airway pressure)<br />
é um modo de ventilação não invasiva que se<br />
caracteriza pela aplicação de uma pressão de<br />
distensão constante durante todo o ciclo respiratório,<br />
na via aérea de um paciente em respiração<br />
espontânea. A aplicação nasal da pressão (CPAP<br />
nasal) é a mais frequentemente utilizada.<br />
O método, já utilizado em adultos desde os anos<br />
30, foi introduzido por Gregory e cols. em 1971,<br />
no tratamento de recém-nascidos com síndrome<br />
de desconforto respiratório com grande impacto<br />
na redução da mortalidade. No entanto, à<br />
medida que foram desenvolvidos respiradores<br />
mais adequados ao paciente neonatal e o uso<br />
rotineiro do surfactante exógeno, o CPAP passou<br />
a ser menos utilizado. Atualmente, com a grande<br />
preocupação em minimizar os efeitos deletérios<br />
da ventilação invasiva e reduzir as complicações,<br />
como a displasia broncopulmonar, o CPAP teve<br />
o seu uso resgatado.<br />
Efeitos do CPAP<br />
O conhecimento dos efeitos provocados pela<br />
aplicação do CPAP é fundamental para a sua<br />
utilização adequada.<br />
• Melhora a permeabilidade das vias aéreas,<br />
diminuindo a resistência e aumentando a sua<br />
pressão média.<br />
• Diminui o trabalho respiratório, aumentando<br />
o volume corrente, aumentando a capacidade<br />
residual funcional e aumentando a complacência<br />
pulmonar.<br />
Indicações do CPAP<br />
O CPAP é usado, principalmente, para manter a<br />
expansão pulmonar em condições nas quais os<br />
alvéolos tendem a se colapsar ou a ser preenchidos<br />
por líquido. Estas condições são encontradas<br />
na síndrome do desconforto respiratório, apnéia<br />
da prematuridade, pós extubação imediata e<br />
manejo respiratório em pós-operatório, síndrome<br />
de aspiração de mecônio e outras aspirações,<br />
taquipnéia transitória do recém-nascido, edema<br />
pulmonar, insuficiência cardíaca congestiva,<br />
pneumonia, ressuscitação na sala de parto, situações<br />
com alta complacência da parede torácica<br />
(como em prematuros extremos), hemorragia<br />
pulmonar, laringotraqueomalácia. As indicações<br />
mais frequentes são:<br />
Síndrome do desconforto respiratório (SDR):<br />
Em prematuros com SDR sem falência respiratória<br />
o CPAP é uma alternativa à ventilação mecânica,<br />
prevenindo atelectasias e diminuindo o risco de<br />
displasia broncopulmonar (DBP). Prematuros com<br />
peso > 1500g em CPAP apresentam mortalidade<br />
e morbidade menores quando comparados aos<br />
que usam ventilação assistida. Estes prematuros<br />
podem, também, ser extubados e estabilizados<br />
em CPAP, após a administração de surfactante.<br />
No entanto, destes pacientes os que foram colocados<br />
em CPAP, mas não receberam surfactantes,<br />
podem ter um risco aumentado de pneumotórax.<br />
Em relação ao prematuro de muito baixo peso<br />
(peso
Manejo inicial na UTI Neonatal<br />
nica, é menos claro. Comparando-se os pacientes<br />
que utilizaram CPAP aos que foram colocados<br />
em ventilação assistida, não foram encontradas<br />
diferenças na mortalidade e na necessidade de<br />
oxigênio com 36 semanas de idade gestacional<br />
corrigida. Ainda nesta comparação, a administração<br />
de surfactante foi mais baixa no grupo que recebeu<br />
CPAP, mas a presença de pneumotórax foi maior.<br />
Naqueles recém-nascidos que requerem surfactante,<br />
a ventilação mecânica pode ser evitada<br />
utilizando-se a técnica INSURE (INtubate - SURfactant<br />
- Extubate to CPAP). Ela se caracteriza<br />
por intubar o recém-nascido, aplicar surfactante<br />
e extubar logo em seguida, colocando-o em<br />
CPAP. Este método tem mostrado uma redução<br />
na necessidade de ventilação mecânica e, consequentemente,<br />
de DBP.<br />
Pós extubação: O CPAP reduz a necessidade de<br />
reintubação quando aplicado após a extubação<br />
e retirada da ventilação mecânica. Para alcançar<br />
este objetivo ao menos 5 cm de H2O são necessários.<br />
O uso do CPAP torna a transição para<br />
a respiração espontânea mais fácil, com diminuição<br />
da incidência de apnéias e atelectasia.<br />
As prongas curtas binasais são melhores que as<br />
simples para reduzir a reintubação.<br />
Apnéia da prematuridade: A maioria das apnéias<br />
do recém-nascido tem um componente<br />
obstrutivo. Nestas situações, o CPAP melhora a<br />
oxigenação, a modulação dos reflexos pulmonares,<br />
a estabilização alveolar e, principalmente, a<br />
manutenção da permeabilidade das vias aéreas<br />
e a redução da resistência supraglótica.<br />
Contra indicações do CPAP<br />
Apesar da importância do CPAP, há algumas<br />
situações clínicas nas quais ele deve ser evitado:<br />
• Insuficiência respiratória com irregularidade<br />
respiratória.<br />
• Insuficiência respiratória com necessidade de<br />
FiO2 > 60%.<br />
• Insuficiência respiratória com retenção de CO2<br />
(incapacidade de se manter uma pCO2 7,25).<br />
• Recém-nascidos com instabilidade cardiovascular.<br />
• Recém-nascidos com enterocolite necrosante.<br />
• Recém-nascidos com alterações congênitas<br />
(doença obstrutiva intestinal, atresia de coanas,<br />
fissura palatina, hérnia diafragmática,<br />
fístula traqueo-esofágica, defeitos da parede<br />
abdominal como onfalocele e gastrosquise).<br />
Sistema de aplicação<br />
do CPAP nasal<br />
O CPAP é constituído por três componentes:<br />
1. Fluxo contínuo de mistura gasosa aquecida<br />
e umidificada (ar comprimido e oxigênio).<br />
2. Dispositivo para a conexão do sistema à via<br />
aérea do paciente: a pronga nasal dupla é<br />
a mais utilizada, embora seja insatisfatória<br />
em vários aspectos: ao provocar lesões nas<br />
narinas, deslocar-se de sua posição, ou ficar<br />
bloqueada e não liberar a pressão desejada.<br />
3. Mecanismo para a geração de pressão positiva<br />
no sistema: ela pode ser obtida através<br />
do uso do ventilador mecânico programado<br />
para o modo CPAP com ajuste no manômetro<br />
da pressão positiva final desejada, ou mergulhando-se<br />
a porção expiratória do circuito<br />
em recipiente com conteúdo líquido, cujo<br />
nível em centímetros corresponde à pressão<br />
positiva desejada (CPAP de bolhas).<br />
Complementam o sistema, além dos equipamentos<br />
para aquecimento e umidificação, os<br />
utilizados para medição de fluxo e da fração<br />
inspirada de oxigênio.<br />
Parâmetros do CPAP<br />
Os parâmetros a serem ajustados são o fluxo da<br />
mistura gasosa, a fração inspiratória de oxigênio<br />
e a pressão positiva.<br />
Fluxo<br />
Deve ser ajustado em 2 a 3 vezes o volume<br />
minuto do RN, que na prática deve ficar entre<br />
5 a 10 litros, evitando-se fluxos muito altos<br />
138<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Manejo inicial na UTI Neonatal<br />
que podem aumentar a resistência expiratória,<br />
aumentando o trabalho respiratório.<br />
Pressão positiva<br />
A utilização da pressão de distensão exige um<br />
equilíbrio entre oxigenação e retenção de CO2.<br />
Não há uma única pressão ótima. O nível de<br />
pressão positiva precisa ser individualizado de<br />
acordo com as alterações do quadro clínico.<br />
Com o objetivo de estabilizar a oxigenação,<br />
pode-se iniciar com pressões em torno de 4 a<br />
5 cm de H2O e aumentar progressivamente até<br />
8 cm H2O, desde que o paciente se mantenha<br />
com pH > 7,25 e pCO2 < 60 mmHg.<br />
Entretanto, deve-se levar em consideração que<br />
o aumento da pressão aumenta a oxigenação,<br />
mas também pode aumentar a retenção de CO2,<br />
cujos níveis, para serem atenuados, podem exigir<br />
uma diminuição da pressão positiva.<br />
Além dos parâmetros clínicos e gasométricos, um<br />
recurso bem acessível que pode ser utilizado para<br />
ajustar a pressão de distensão é a radiografia<br />
torácica. Uma radiografia com pulmão colapsado<br />
indica a necessidade de uma pressão maior, e,<br />
por outro lado, uma radiografia com pulmão<br />
muito expandido indica que se deve reduzir a<br />
pressão aplicada.<br />
Outro aspecto que deve ser levado em consideração<br />
na utilização da pressão de distensão<br />
é o peso do recém-nascido. Recém-nascidos<br />
com mais de 1500g podem ser manejados com<br />
pressão de distensão de até 8 cm de H2O. Mas,<br />
estes níveis de pressão, podem não ser tolerados<br />
em recém-nascidos com pesos menores.<br />
E, por fim, deve-se estar atento aos sinais de<br />
baixo débito cardíaco quando são utilizadas<br />
pressões mais elevadas.<br />
Efeitos colaterais<br />
Como todo recurso terapêutico, uma parte<br />
considerável do sucesso na utilização do CPAP<br />
se deve ao conhecimento de suas limitações,<br />
principalmente dos seus efeitos colaterais. Alguns<br />
dos principais são apresentados a seguir:<br />
CURITIBAPR<br />
Cardiovasculares: Aumento da pressão venosa<br />
central e pressão do átrio direito, levando à<br />
redução do débito cardíaco. Aumento da resistência<br />
vascular pulmonar, derivada da compressão<br />
capilar alveolar com elevação da pós carga do<br />
ventrículo direito e consequente aumento da<br />
pressão arterial pulmonar.<br />
Renais: São secundárias ao baixo débito cardíaco.<br />
Neurológicos: Aumento da pressão intracraniana,<br />
que pode levar à hemorragia periventricular.<br />
A associação com o baixo débito cardíaco pode<br />
levar a lesões isquêmicas.<br />
Gastrointestinais: Diminuição do fluxo esplâncnico<br />
e complicações gástricas envolvendo<br />
distensão, rupturas e hemorragias.<br />
Respiratórios: Lesões traumáticas e necrose de<br />
septo e aletas nasais, lesões da mucosa oral e<br />
acúmulo de secreções. Lesões secundárias à<br />
hiperdistensão alveolar, com extravazamento<br />
de ar (pneumotórax, enfisema intersticial, pneumomediastino).<br />
Retirada do CPAP<br />
Algumas condições devem ser preenchidas para<br />
se considerar a retirada do CPAP, como:<br />
• Estabilidade clínica (hemodinâmica).<br />
• Níveis esperados de O2, CO2 e pH.<br />
• Diminuição dos sinais de insuficiência respiratória.<br />
• Ausência de apnéias nas últimas 48 horas.<br />
• Diminuição da FiO2 até 30-40%.<br />
• Diminuição da pressão positiva até 3-4 cm<br />
de H2O.<br />
Falha do CPAP<br />
As principais situações que indicam o esgotamento<br />
ou fracasso na utilização do CPAP são:<br />
Incapacidade de se manter a PaO2 e SatO2<br />
desejadas com uso de FiO2 muito elevada.<br />
Necessidade de se administrar surfactante exógeno.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 139
Manejo inicial na UTI Neonatal<br />
PaCO2 > 60mm Hg em patologia aguda.<br />
Apnéias que necessitem de reanimação vigorosa<br />
ou mais do que três episódios por hora.<br />
No entanto, antes de se considerar a falha do<br />
CPAP, é necessário verificar a posição correta da<br />
via aérea, evitando flexão ou rotação excessivas<br />
do pescoço, verificar a posição da pronga, descartando<br />
a sua obstrução por secreções, verificar<br />
se a boca está se mantendo aberta (quando se<br />
pode perder de 2 a 3 cm de H2O), verificar o<br />
correto funcionamento da fonte de gás.<br />
<strong>Referências</strong> <strong>Bibliográficas</strong><br />
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nov 25.<br />
Sepse neonatal –<br />
Diagnóstico e<br />
tratamento<br />
MITSURU MIYAKI<br />
A sepse neonatal é definida como uma inflamação<br />
sistêmica acompanhada de bacteremia<br />
documentada por hemocultura. Apesar de todos<br />
os avanços ocorridos nos últimos anos, continua<br />
sendo um problema significativo, com prevalência<br />
estimada em 20 a 40% dos recém-nascidos<br />
(RN) internados na UTI neonatal e mortalidade<br />
de 10 a 25% (responsável por até 35% dos óbitos<br />
neonatais).<br />
Epidemiologicamente, a sepse no período neonatal<br />
é subdividida em sepse precoce (primeiros<br />
três dias de vida), de aquisição vertical e relacionada<br />
com a flora genital materna (estreptococo<br />
do grupo B, E. coli e Listeria monocitogenes) e<br />
tardia (após 72 horas de vida) relacionada, na<br />
maioria das vezes, quando internados, com procedimentos<br />
invasivos (cateter venoso e ventilação<br />
mecânica) e, portanto, com a flora hospitalar<br />
(estafilococo não produtor de coagulase e aureus,<br />
Klebsiella, Pseudomonas, Serratia, Acinetobacter<br />
e Candida albicans).<br />
140<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Manejo inicial na UTI Neonatal<br />
Diagnóstico<br />
Na forma precoce, grande parte dos RN nasce<br />
assintomática (suspeita pelos fatores de risco, tais<br />
como: trabalho de parto e nascimento prematuro<br />
sem causa, amniorrexe prematura, bolsa rota > 18<br />
horas, diagnóstico obstétrico de corioamnionite e<br />
colonização materna por estreptococo B), ou apresentar<br />
asfixia perinatal, desconforto respiratório<br />
precoce e, menos frequentemente, instabilidade<br />
hemodinâmica. Já na forma tardia, a suspeita é<br />
realizada quando pelo menos duas das seguintes<br />
manifestações estiverem presentes: taquipnéia,<br />
aumento da necessidade de oxigênio suplementar,<br />
apnéia, hipoatividade, instabilidade térmica,<br />
distensão abdominal e dificuldade na tolerância<br />
alimentar. Nos casos graves, ocorre instabilidade<br />
hemodinâmica e mais raramente escleredema.<br />
A primeira grande dificuldade observada na prática<br />
diária, além das manifestações clínicas sutis<br />
e incaracterísticas, é a inexistência de um exame<br />
laboratorial, facilmente exequível e de resultado<br />
imediato, que apresenta sensibilidade e especificidade<br />
elevadas, para confirmar ou excluir uma<br />
suspeita clínica de sepse. A segunda dificuldade<br />
é a frequência relativamente baixa de hemocultura<br />
positiva nos casos de sepse suspeita (8 a<br />
73%), além do que ela exige pelo menos 24 a 72<br />
horas de espera para que o seu resultado possa<br />
ser provisoriamente editado. Para melhorar esta<br />
frequência de hemocultura positiva, bem como<br />
diminuir o risco de contaminação por ocasião<br />
da coleta de amostra de sangue, é importante<br />
a tomada de alguns cuidados básicos: preparo<br />
adequado da pele no local de punção (30 segundos<br />
de aplicação de álcool ou clorexedine + 30<br />
segundos de espera para sua secagem); sangue<br />
coletado de cateter sempre acompanhado de<br />
outra amostra colhida por punção (venosa ou<br />
arterial); volume mínimo de 1 ml de sangue, método<br />
automatizado e pelo menos duas amostras<br />
de sangue (de locais diferentes).<br />
Tendo em vista as dificuldades acima relacionadas<br />
e, particularmente, as características do recémnascido,<br />
especialmente do prematuro extremo,<br />
que pode ter evolução fulminante, temos como<br />
consequência o uso frequente de antibióticos,<br />
que muitas vezes não trazem nenhum benefício<br />
CURITIBAPR<br />
concreto ao paciente. Estima-se que em até 80%<br />
das prescrições de antibióticos ocorra na ausência<br />
de infecção bacteriana comprovada.<br />
Frente a RN com risco ou suspeita clínica de sepse<br />
os exames laboratoriais de triagem que devem ser<br />
solicitados são: hemograma, proteína C reativa, RX<br />
de tórax (se clínica de desconforto respiratório),<br />
hemocultura, parcial de urina e cultura (na sepse<br />
tardia) e exame de líquor completo (realização<br />
rotineira questionável na sepse precoce). Infelizmente<br />
não existe um exame laboratorial com<br />
sensibilidade e especificidade elevadas para o<br />
diagnóstico de sepse neonatal, que seja de fácil<br />
execução e de resultado rápido. Na prática, pecase<br />
por excesso, ou seja, utilizam-se exames que<br />
tenham grande sensibilidade, mesmo que com<br />
baixa especificidade, para reduzir o risco de deixar<br />
de tratar um paciente com sepse. Analisa-se o<br />
conjunto do hemograma, com suas sub análises<br />
(como por exemplo o escore de Manroe et al<br />
ou Rodwell et al) e a proteína C reativa. Alguns<br />
estudos mostram que a procalcitonina é mais<br />
sensível e precoce do que a proteína C reativa,<br />
especialmente em prematuros. Outros exames,<br />
como as dosagens de interleucinas, marcadores<br />
de superfície celular e de genética molecular são<br />
pouco disponíveis ou extremamente caros para o<br />
uso rotineiro. O objetivo desta avaliação laboratorial<br />
é melhorar a probabilidade do diagnóstico<br />
de sepse neonatal, e definir, o mais precocemente<br />
possível, a duração da antibioticoterapia. Todos<br />
estes exames auxiliares, na realidade, apresentam<br />
muito mais um valor preditivo negativo alto, ou<br />
seja, dois exames normais, com intervalo de 24<br />
a 48 horas apresentam mais de 99% de chance<br />
de não existir infecção bacteriana.<br />
Em resumo o diagnóstico de sepse clínica neonatal<br />
é feito quando existem fatores de risco ou<br />
manifestações clínicas associado a hemograma e<br />
proteína C reativa alterados (≥ 10 mg/L). A sepse<br />
será considerada laboratorialmente confirmada<br />
se o resultado de cultura de líquido estéril (hemocultura<br />
ou cultura de LCR) for positivo.<br />
A sepse por Cândida (albicans e não albicans)<br />
é cada vez mais descrita como causa de sepse<br />
nosocomial, especialmente em prematuros extremos<br />
submetidos a antibioticoterapia de amplo<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 141
Manejo inicial na UTI Neonatal<br />
espectro, nutrição parenteral por cateter central,<br />
ventilação mecânica ou cirurgia abdominal.<br />
Suspeitar sempre nos casos de sepse que não<br />
melhoram com esquema de antibiótico empírico,<br />
associado à plaquetopenia persistente. A<br />
presença de leveduras na urina, coletada por<br />
sondagem ou punção vesical, pode tornar o uso<br />
de fluconazol ou anfotericina B mais correto,<br />
pois, esta última, é droga nefrotóxica.<br />
Tratamento<br />
As medidas gerais incluem o controle térmico, a<br />
assistência ventilatória, o suporte cardiovascular<br />
e a transfusão de hemoderivados, quando indicados.<br />
Se o paciente apresentar o diagnóstico<br />
de baixo débito ou hipotensão, é importante<br />
realizar a expansão de volume com soro fisiológico,<br />
seguido de suporte inotrópico com aminas<br />
(dopamina, dobutamina, adrenalina) e, nos casos<br />
refratários, o corticóide.<br />
A seleção do antibiótico deve levar em conta<br />
a forma de aquisição da infecção (precoce ou<br />
tardia), o foco da infecção e a flora bacteriana da<br />
UTI neonatal. De forma geral, o antibiótico inicial<br />
para os casos de sepse precoce, é a associação<br />
de penicilina ou ampicilina com aminoglicosídeo.<br />
Para os casos de infecção hospitalar sem<br />
foco aparente ou com cateter vascular, oxacilina<br />
associado a amicacina. A vancomicina associada<br />
ou não a cefepime deve ser reservada para os<br />
casos graves, para os com suspeita de meningite,<br />
ou após 48 horas de resposta ausente ao<br />
esquema inicial. O uso empírico da cefalosporina<br />
de 3ª ou de 4ª geração, de modo rotineiro, não<br />
é recomendado pelo risco de selecionar rapidamente<br />
espécies de Enterobacter, Serratia, E. coli<br />
e Klebsiella multiresistentes (ESBL). Para os casos<br />
de enterocolite necrosante, indica-se a associação<br />
de ampicilina, gentamicina e metronidazol, e nos<br />
casos de suspeita de candidemia, o fluconazol<br />
ou anfotericina B.<br />
É importante a reavaliação periódica da indicação<br />
e do esquema de antibiótico empírico,<br />
através dos resultados das culturas (para adequar<br />
o antibiótico ao seu resultado), colhidas antes<br />
do seu início, bem como, do hemograma e da<br />
proteína C reativa evolutivos (com 24, 48 e 72<br />
horas após início do antibiótico). Se o recémnascido<br />
encontra-se bem, resultados de PCR<br />
e hemograma normais com 12 e 48 horas de<br />
evolução e hemocultura preliminar negativa com<br />
72 horas após sua coleta, o antibiótico pode ser<br />
suspenso. Para os casos de sepse clínica (clínica<br />
+ hemograma + PCR alterados) ou confirmados<br />
(idem + hemocultura positiva) o tempo mínimo<br />
de antibiótico é de 10 a 14 dias.<br />
Portanto, dadas as grandes dificuldades, tanto<br />
diagnóstica como terapêuticas, é importante o<br />
investimento na prevenção da sepse precoce e,<br />
principalmente, da sepse tardia. Um pré-natal<br />
de qualidade, o tratamento precoce e correto<br />
das infecções maternas, a alimentação do RN<br />
precoce com leite materno, o emprego universal<br />
das medidas de controle de infecção hospitalar, a<br />
limitação dos procedimentos invasivos e do uso<br />
abusivo de antibióticos, são todos medidas importantes<br />
de prevenção. Continuam as pesquisas<br />
sobre o uso de pré e probióticos, especialmente<br />
relacionadas ao seu tipo e dose. Tendo em vista<br />
a morbimortalidade da candidemia neonatal,<br />
recomenda-se nos prematuros extremos com<br />
fatores de risco (cateter e ventilação mecânica) o<br />
uso profilático de fluconasol EV ou oral (3mg/kg<br />
duas vezes por semana) por até 42 dias de vida.<br />
Antibioticoterapia específica<br />
Uma vez que os resultados das culturas e do<br />
antibiograma estejam disponíveis, deve ser realizada<br />
a adequação do esquema de antibióticos,<br />
de acordo com a bactéria isolada:<br />
• Estreptococo do grupo B: ampicilina ou penicilina<br />
cristalina;<br />
• Listeria: ampicilina na dose de 200 mg/kg/dia;<br />
• Enterococo: ampicilina (200mg/kg/d) + amicacina;<br />
• Staphylococcus aureus meticilino sensível:<br />
oxacilina;<br />
• Staphylococcus epidermidis e aureus MRSA:<br />
teicoplamina ou vancomicina (se meningite);<br />
• Pseudomonas: ceftazidima + amicacina;<br />
• Gram negativos ESBL: meropenem;<br />
142<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Manejo inicial na UTI Neonatal<br />
<strong>Referências</strong> <strong>Bibliográficas</strong><br />
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Indicação de<br />
fototerapia – Criança<br />
a termo e prematuro<br />
MARIA FERNANDA BRANCO DE ALMEIDA<br />
As formas de terapia mais utilizadas no tratamento<br />
da hiperbilirrubinemia indireta em<br />
recém-nascidos (RN) compreendem a fototerapia<br />
e a exsanguíneo-transfusão, e em alguns casos,<br />
a imunoglobulina “standard” endovenosa.<br />
Os níveis séricos de BT para a indicação da fototerapia<br />
e de exsanguíneo-transfusão em RN de termo<br />
e em prematuros não são considerados de maneira<br />
uniforme pelos autores. Com base em evidências<br />
limitadas leva-se em conta a avaliação periódica<br />
da bilirrubinemia total (BT), a idade gestacional<br />
e a idade pós-natal, além dos fatores agravantes<br />
da lesão bilirrubínica neuronal, para indicar a fototerapia<br />
e a exsanguíneo-transfusão. De maneira<br />
simplificada, a Tabela 1 mostra os valores para RN<br />
com 35 ou mais semanas de gestação.<br />
Recém-nascidos com 35 ou mais semanas<br />
readmitidos após a alta hospitalar com BT de<br />
17 a 19 mg/dL devem receber imediatamente<br />
fototerapia de alta intensidade (irradiância de<br />
30 µW/cm 2 /nm na maior superfície corpórea<br />
possível), sendo a BT colhida em 4 a 6 horas.<br />
Nos pacientes com BT entre 20 e 25 mg/dL,<br />
colher em 3 a 4 horas, e nos pacientes com BT<br />
maior que 25 mg/dL, colher em 2 a 3 horas,<br />
enquanto o material da ex-sanguíneo transfusão<br />
está sendo preparado. Nestas situações, a<br />
fototerapia é suspensa quando a BT for inferior<br />
a 13-14 mg/dL, sendo realizada nova dosagem<br />
24 horas após a suspensão.<br />
Para os prematuros, a indicação de fototerapia<br />
depende dos níveis de BT e do peso ao<br />
nascer (Tabela 2). Em pacientes com peso ao<br />
nascer inferior a 1000g, existem dois tipos<br />
de conduta: início entre 12-24 horas de vida,<br />
independentemente do valor de BT, ou introdução<br />
da fototerapia com BT de 4 a 6 mg/dL,<br />
sendo a exsanguíneo-transfusão indicada entre<br />
13-15 mg/dL (Morris at al, 2008).<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 143
Manejo inicial na UTI Neonatal<br />
Tabela 1 - Nível de BT (mg/dL) para indicação de fototerapia e ex-sanguíneo transfusão (EST) em RN<br />
≥35 semanas de idade gestacional ao nascer. Adaptado de American Academy of Pediatrics (2004)<br />
IDADE<br />
35 0/7 - 37 6/7<br />
semanas<br />
BILIRRUBINA TOTAL (mg/dL)<br />
FOTOTERAPIA<br />
EX-SANGUÍNEO TRANSFUSÃO<br />
≥ 38 0/7<br />
semanas<br />
35 0/7 - 37 6/7<br />
semanas<br />
≥38 0/7<br />
semanas<br />
24 horas 8 10 15 18<br />
36 horas 9,5 11,5 16 20<br />
48 horas 11 13 17 21<br />
72 horas 13 15 18 22<br />
96 horas 14 16 20 23<br />
5 a 7 dias 15 17 21 24<br />
• Diminuir 2mg/dL o nível de indicação de fototerapia ou EST se doença hemolítica (Rh, ABO, outros antígenos),<br />
deficiência de G-6-PD, asfixia, letargia, instabilidade na temperatura, sepse, acidose, ou albuminemia
Manejo inicial na UTI Neonatal<br />
Considera-se a irradiância de 8-10 µW/cm 2 /nm<br />
como “convencional” e a de 30 µW/cm 2 /nm, disponível<br />
na maior superfície corporal possível,<br />
como fototerapia de “alta intensidade”. Como<br />
a irradiância é inversamente proporcional<br />
à distância entre as lâmpadas e o paciente,<br />
quanto menor a distância entre a luz e o<br />
paciente, maior é a irradiância e a eficácia<br />
da fototerapia.<br />
Quanto maior a superfície corpórea exposta à<br />
luz, maior é a eficácia da fototerapia. Portanto,<br />
RNs que recebem a luz na parte anterior e<br />
posterior do tronco e membros e permanecem<br />
sem fraldas, recebem maior irradiância espectral.<br />
Desta forma a fototerapia é mais eficaz, desde<br />
que a irradiância seja adequada.<br />
Existem diversos aparelhos de fototerapia disponíveis<br />
no mercado nacional com diferentes<br />
lâmpadas. Em pacientes com peso acima de<br />
2000g, sejam RNs de termo ou prematuros<br />
tardios e que permanecem em berço comum,<br />
recomenda-se a fototerapia convencional superior<br />
ou inferior (reversa) com 6 a 8 lâmpadas<br />
fluorescentes brancas e/ou azuis especiais, com<br />
irradiância mínima de 8 a 10 µW/cm 2 /nm. Nos<br />
casos de bilirrubinemia superior ao percentil<br />
95 no nomograma de Bhutani et al. (1999)<br />
é preferível introduzir a fototerapia de alta<br />
intensidade, por meio de um aparelho de<br />
fototerapia superior e outro inferior (reversa),<br />
de preferência com lâmpadas azuis especiais,<br />
para aumentar a irradiância e a superfície<br />
corpórea exposta à luz, melhorando assim a<br />
eficácia da fototerapia.<br />
Já nos prematuros com peso ao nascer abaixo<br />
de 2000g que permanecem em incubadoras,<br />
além da fototerapia convencional superior,<br />
é possível utilizar o spot com Super-LED<br />
(lighting-emitting diodes) localizado acima<br />
da parede da incubadora ou o colchão de<br />
fibra óptica sob o dorso da criança, possibilitando<br />
a utilização de fototerapia dupla<br />
se necessária.<br />
O uso de spot com lâmpada halógena deve<br />
ser evitado para o tratamento da hiperbilirrubinemia<br />
neonatal. Se utilizado deve-se tomar<br />
CURITIBAPR<br />
especial cuidado com a distância mínima<br />
preconizada de 50 cm do paciente, existindo a<br />
possibilidade de queimaduras quando instalado<br />
à distância inferior.<br />
Os tipos de aparelhos fabricados no Brasil e<br />
aprovados pela Agência Nacional de Vigilância<br />
Sanitária (ANVISA) estão descritos no Quadro.<br />
Alguns cuidados devem ser seguidos durante o<br />
uso de fototerapia:<br />
− Verificar a temperatura corporal, a cada três<br />
horas para detectar hipotermia ou hipertermia,<br />
e o peso diariamente.<br />
− Aumentar a oferta hídrica, pois a fototerapia<br />
com lâmpada fluorescente ou halógena pode<br />
provocar elevação da temperatura com consequente<br />
aumento do consumo de oxigênio, da<br />
frequência respiratória e do fluxo sanguíneo na<br />
pele, culminando em maior perda insensível<br />
de água.<br />
− Proteger os olhos com cobertura radiopaca<br />
por meio de camadas de veludo negro ou<br />
papel carbono negro envolto em gaze.<br />
− Não utilizar ou suspender a fototerapia se os<br />
níveis de BD estiverem elevados ou se houver<br />
colestase para evitar o aparecimento da síndrome<br />
do bebê bronzeado, que se caracteriza<br />
pelo depósito de derivados de cobreporfirina<br />
no plasma, urina e pele.<br />
− Cobrir a solução parenteral e o equipo com<br />
papel alumínio ou usar extensores impermeáveis<br />
à luz, pois a exposição de soluções de<br />
aminoácidos ou multivitamínicas ao comprimento<br />
de luz azul reduz a quantidade de<br />
triptofano, além da metionina e histidina.<br />
Adicionalmente, a solução de lipídeos é<br />
altamente susceptível à oxidação quando<br />
exposta à luz, originando hidroperóxidos de<br />
triglicérides citotóxicos.<br />
− A prática da descontinuidade da fototerapia<br />
durante a alimentação, inclusive com a retirada<br />
da cobertura dos olhos, e a visita dos pais<br />
é recomendável, desde que a bilirrubinemia<br />
não esteja muito elevada.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 145
Manejo inicial na UTI Neonatal<br />
Quadro. Aparelhos de fototerapia fabricados no Brasil<br />
Aparelho Lâmpadas Observações<br />
Convencional<br />
superior<br />
Berço com<br />
fototerapia<br />
reversa ou<br />
inferior<br />
Spot<br />
Colchão de<br />
fibra óptica<br />
Spot com<br />
focos de<br />
Superled<br />
Berço com<br />
focos de<br />
Superled<br />
reversa ou<br />
inferior<br />
6 a 8 tubos<br />
fluorescentes<br />
paralelos de 20 a<br />
50 cm acima do RN<br />
7 tubos fluorescentes<br />
paralelos 7 cm abaixo<br />
do RN<br />
1 lâmpada halógena<br />
(400-550 nm)<br />
50 cm perpendicular<br />
acima do RN<br />
1 lâmpada halógena<br />
(400-550 nm) com<br />
feixes de fibra óptica<br />
5 conjuntos de<br />
lâmpadas LED com<br />
espectro azul<br />
(455 nm)<br />
17 conjuntos de<br />
lâmpadas LED com<br />
espectro azul<br />
(455 nm) dispostas<br />
7 cm abaixo do RN<br />
− Uso sobre berço e incubadoras<br />
− Pode ser necessário chegar a 20 cm do RN para<br />
irradiância 8-12 µW/cm 2 /nm com lâmpadas brancas/<br />
luz do dia (possibilidade de hipertermia)<br />
− Irradiância > 30 µW/cm 2 /nm com lâmpadas azuis<br />
especiais (BB)<br />
− Cobertura branca ao redor do aparelho aumenta<br />
a irradiância<br />
− Indicada somente para RN ≥ 2000g<br />
− Irradiância ≥ 30 µW/cm 2 /nm com lâmpadas azuis<br />
especiais (BB)<br />
− Irradiância de 15-20 µW/cm 2 /nm com lâmpadas<br />
brancas/luz do dia<br />
− Fototerapia de alta irradiância em associação com<br />
o aparelho convencional superior<br />
− Colchão de silicone diminui a irradiância<br />
− Possibilidade de hipertermia ou hipotermia<br />
− Utilizada em RN < 1500g em incubadoras<br />
− Irradiância de 18-25 µW/cm 2 /nm somente no foco<br />
central luminoso com irradiância total de 4 µW/cm 2 /nm.<br />
− Possibilidade de hipertermia e queimaduras.<br />
− Uso sob o dorso do RN em berço ou incubadoras<br />
− Indicado para fototerapia em incubadora em<br />
conjunto com a fototerapia superior para aumentar<br />
a superfície corpórea exposta à luz<br />
− Uso sobre berço e incubadoras<br />
− Utilizada em RN < 2000g em incubadoras<br />
− Possibilita controlar a irradiância, sendo maior<br />
no centro do foco luminoso<br />
− Indicada somente para RN ≥ 2000g.<br />
− Possibilita controle da irradiância.<br />
− Fototerapia de alta irradiância em associação com<br />
o aparelho convencional superior<br />
− Colchão de silicone diminui a irradiância<br />
− Possibilidade de hipertermia ou hipotermia<br />
A irradiância da fototerapia deve ser medida antes do uso e diariamente com radiômetro sobre o colchão<br />
(calcular a média de 5 pontos = 4 pontas de um retângulo de 30 x 60 cm e no centro).<br />
Irradiância de 8-10 µW/cm 2 /nm é denominada de “standard” ou “convencional”.<br />
Fototerapia de “alta intensidade” corresponde a irradiância > 30 µW/cm 2 /nm na maior superfície corporal possível.<br />
146<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Manejo inicial na UTI Neonatal<br />
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68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 147
Manejo inicial na UTI Neonatal<br />
148<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Alimentando o prematuro<br />
CURITIBAPR<br />
Alimentação enteral<br />
do prematuro<br />
LIGIA MARIA SUPPO DE SOUZA RUGOLO<br />
1. Desafios 1<br />
O nascimento prematuro impõe grande desafio<br />
nutricional ao recém-nascido (RN), bem como a<br />
toda equipe de saúde. Para o RN implica em uma<br />
transição antecipada da vida intrauterina quando<br />
o feto era nutrido via transplacentária com todos<br />
os nutrientes necessários ao seu crescimento e<br />
desenvolvimento, passando na vida pós-natal a<br />
receber dieta via trato gastrointestinal imaturo.<br />
Cabe à equipe de saúde propiciar que essa difícil<br />
transição seja realizada de forma segura e efetiva.<br />
As necessidades nutricionais dos prematuros (PT)<br />
são elevadas, enquanto que a oferta nutricional<br />
nos primeiros dias e semanas é geralmente limitada<br />
por vários fatores inerentes à condição<br />
clínica do RN, assim os mais imaturos e doentes<br />
acumulam maiores deficiências proteico-energéticas,<br />
culminando na desnutrição pós-natal<br />
que é uma condição extremamente frequente<br />
em prematuros de muito baixo peso (PT-MBP).<br />
A nutrição no início da vida tem implicações na<br />
saúde do adulto, e os distúrbios nutricionais, seja a<br />
deficiência ou o excesso aumentam o risco de doenças<br />
futuras. A restrição do crescimento pós-natal<br />
associa-se a maior risco de baixa estatura e atraso<br />
no desenvolvimento neurocognitivo, enquanto que<br />
o crescimento excessivo associa-se com obesidade,<br />
hipertensão, diabetes e doença coronariana.<br />
O objetivo do neonatologista é garantir a adequada<br />
nutrição do PT-MBP para favorecer o<br />
crescimento e desenvolvimento sem aumentar<br />
a morbidade e complicações. Como as necessidades<br />
metabólicas e nutricionais do PT são<br />
maiores que dos RN termo e não cessam ao<br />
nascimento a meta é iniciar precocemente a<br />
nutrição “completa”, mantendo a quantidade e<br />
qualidade dos nutrientes fetais a fim de que o<br />
PT mantenha a taxa de crescimento fetal.<br />
2. Necessidades nutricionais<br />
Em 2010 a ESPGHAN 1 publicou as recomendações<br />
para nutrição enteral de prematuros, que<br />
se aplicam a PT estáveis em crescimento. Pela<br />
escassez de dados não foram feitas recomendações<br />
específicas para PT < 1000g.<br />
Em resumo foi recomendado:<br />
Preferência pelo leite materno aditivado (LMA),<br />
a fórmula para PT pode ser uma alternativa.<br />
Volume: 135 a 200 ml/kg/dia. A oferta de 150-<br />
180 ml/kg/dia supre as necessidades.<br />
Energia: 110-135 kcal/kg/d. Essa necessidade varia<br />
conforme a condição do RN, nos pequenos p/<br />
idade gestacional é > que nos adequados. Para<br />
síntese de tecido novo é importante manter a<br />
relação Proteína: Energia de 3 -3.6g / 100 kcal,<br />
assim, se crescimento inadequado com a oferta<br />
energética recomendada é provável que a oferta<br />
proteica seja o fator limitante. Proteína: 3.5 a<br />
4.5 g/kg/d. A quantidade é inversamente proporcional<br />
à idade gestacional, sendo sugerido: 4 a<br />
4.5g/kg/d para PT< 1000g e 3.5 a 4g/kg/d para<br />
PT de 1000-1800g. A qualidade é importante,<br />
mas a oferta ideal de aminoácidos específicos<br />
não está estabelecida.<br />
Lipídios: 4.8 a 6.6 g/kg/d (40-55% do total energia).<br />
Destaca-se a importância dos ácidos graxos<br />
essenciais, especialmente o α-linolênico, precursor<br />
da síntese dos ácidos graxos poli-insaturados<br />
da série Ω-3 (heicosapentaenóico e docosahexaenóico),<br />
importantes para desenvolvimento<br />
cerebral e visual.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
149
Alimentando o prematuro<br />
Carboidratos: 11.6 a 13.2 g/kg/dia<br />
Cálcio: 120-140 mg/kg/dia Fósforo: 60-90 mg/kg/dia.<br />
Relação cálcio: fósforo de 1.5 a 2. Recomendase<br />
monitorar cálcio e fósforo urinários para<br />
individualizar a necessidade.<br />
Vitaminas D: 800-1000 UI/d A: 400-1000 µg/kg/d<br />
(1 µg = 3.33 UI) E: 2.2-11 mg/kg/d<br />
Ácido fólico: 35-100 µg/kg/d<br />
Ferro: 2-3 mg/kg/d a partir de 3-4 semanas,<br />
exceto nos politransfundidos, nos quais deve ser<br />
avaliado o nível sérico de ferritina para indicar<br />
o início da suplementação.<br />
3. Principais questões na<br />
alimentação enteral do PT,<br />
especialmente do PT-MBP 3-10<br />
– Quando e como iniciar a alimentação pela via<br />
enteral, tem sido bastante discutido e estudado,<br />
sendo atualmente proposto o início precoce com<br />
leite materno (preferencialmente o colostro da<br />
mãe do prematuro). Há poucos ensaios clínicos<br />
randomizados (ECR) sobre nutrição enteral precoce,<br />
entretanto, vários benefícios dessa prática têm<br />
sido documentados em estudos experimentais<br />
ou clínicos observacionais, incluindo: estimular<br />
a maturação e prevenir atrofia da mucosa intestinal,<br />
aumentar a motilidade, a secreção de<br />
hormônios e a atividade enzimática intestinal,<br />
melhorar a tolerância alimentar, atingir mais<br />
rápido a dieta plena, reduzir as taxas de infecção<br />
hospitalar. A preocupação com o início precoce<br />
da nutrição enteral é o risco de enterocolite necrosante<br />
(NEC), mas não tem sido documentado<br />
aumento da NEC, e há estudos que mostram<br />
diminuição do risco de NEC e de sepse tardia<br />
com o uso do leite materno.<br />
Para PT estáveis recomenda-se iniciar a nutrição<br />
enteral no primeiro dia de vida.<br />
Maior cautela na introdução da nutrição enteral<br />
deve ser tomada nos PT de alto risco para NEC,<br />
incluindo: PT extremos, PT < 1000g e aqueles<br />
submetidos a condições de hipoxia e/ou baixo<br />
fluxo sanguíneo no trato gastrointestinal, tais<br />
como: restrição do crescimento intrauterino<br />
(especialmente se houver alteração do Doppler<br />
de artéria umbilical), asfixia perinatal, hipoxemia<br />
persistente, instabilidade hemodinâmica,<br />
hipotensão, PCA com repercussão hemodinâmica<br />
e uso de indometacina. Para esses RN<br />
de risco, assim que houver estabilidade clínica<br />
(geralmente no 2º ou 3º dia de vida), iniciar<br />
a nutrição enteral trófica com leite materno<br />
e mantê-la até o final da primeira semana<br />
de vida.<br />
Nutrição enteral trófica consiste na administração<br />
de pequeno volume de leite (≤ 1ml/<br />
kg/h ou 10-20 ml/kg/dia) visando promover<br />
a maturação e adaptação funcional do tubo<br />
digestivo imaturo e assim melhorar a tolerância<br />
alimentar e atingir mais rápido a dieta<br />
plena. O intervalo de administração varia<br />
de 3 a 6 horas, conforme a tolerância. Em<br />
revisão sistemática da Cochrane a nutrição<br />
trófica em PT-MBP comparada ao jejum na<br />
primeira semana de vida, não aumentou o<br />
risco de NEC, mas também não trouxe benefícios.<br />
Entretanto estudos que compararam a<br />
nutrição trófica com a progressão da dieta<br />
mostraram efeito protetor da nutrição trófica<br />
na ocorrência de NEC.<br />
– Como progredir a dieta: rápido ou lentamente?<br />
Recente ECR com PT estáveis < 34 semanas e<br />
peso de nascimento de 1000-1500g comparou<br />
o aumento de 30 x 20 ml/kg/dia e mostrou<br />
que o aumento de 30 ml/kg/dia foi bem tolerado<br />
e teve vantagens: menor tempo para<br />
atingir a dieta plena, para recuperar o peso<br />
de nascimento e de internação. Em revisão<br />
da Cochrane para avaliar se o aumento lento<br />
da dieta previne NEC no PT-MBP, não houve<br />
diferença na incidência de NEC com incremento<br />
diário de 15-20 ml/kg versus 30-35 ml/kg. Com<br />
o aumento de 15-20 ml/kg/dia houve maior<br />
demora para atingir a dieta plena e recuperar<br />
o peso de nascimento. É importante considerar<br />
que nessa revisão a maioria dos PT teve peso<br />
entre 1000-1500g e não apresentou restrição<br />
de crescimento intrauterino. Mais estudos são<br />
necessários para avaliar a progressão da dieta<br />
nos PT < 1000g e naqueles com restrição do<br />
crescimento intrauterino.<br />
150<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Alimentando o prematuro<br />
Para PT de baixo risco a dieta pode ser aumentada<br />
em torno de 30 ml/kg/dia, enquanto que<br />
para os de alto risco o aumento deve ser de<br />
10-20 ml/kg/dia.<br />
– Quanto ao modo de administração da dieta:<br />
PT < 34 semanas não apresentam boa coordenação<br />
entre sucção-deglutição-respiração,<br />
motivo pelo qual são alimentados por sonda<br />
oro ou nasogástrica. Não há evidências que a<br />
passagem da sonda por via oral seja melhor<br />
que a nasal, mas ao usar a via nasal deve-se<br />
introduzir a sonda pela narina menor, para<br />
evitar o aumento da resistência em vias aéreas<br />
e do trabalho respiratório. A administração intermitente<br />
da dieta, com infusão por gravidade<br />
em 10-20 minutos, a cada 2 a 4 horas, é a<br />
mais utilizada e considerada mais fisiológica.<br />
O problema nessa forma de administração é<br />
a intolerância alimentar devido ao atraso no<br />
esvaziamento gástrico ou no trânsito intestinal.<br />
A administração contínua pode favorecer<br />
o ganho ponderal em PT < 1000g, mas tem<br />
como inconveniente o fato da gordura do leite<br />
aderir à sonda.<br />
Seja intermitente ou contínua, a dieta deve<br />
ser administrada via gástrica, pois há evidências<br />
que a alimentação transpilórica não<br />
tem vantagens em comparação à via gástrica<br />
e tem efeitos adversos (> risco de distúrbios<br />
gastrointestinais e > mortalidade), assim essa<br />
via deve ser reservada para casos graves de<br />
refluxo gastroesofágico.<br />
4. Problemas na alimentação<br />
enteral do prematuro 11-13<br />
– Intolerância alimentar: caracterizada pela<br />
presença de resíduos gástricos, distensão abdominal<br />
e vômito (menos frequente). É um<br />
problema frequente que interfere na progressão<br />
da dieta, prolonga o uso de nutrição parenteral<br />
e é preocupante, pois a intolerância pode ser<br />
precursora da NEC, embora a relação entre elas<br />
não esteja bem estabelecida. A frequência e o<br />
volume do resíduo gástrico não são preditores<br />
de NEC.<br />
CURITIBAPR<br />
A dificuldade na interpretação do resíduo iniciase<br />
na definição, que é bastante variável, sendo<br />
considerado: > 2 ml/kg, ou > 20% do volume<br />
da dieta prévia, ou > 1/3 do volume da dieta<br />
prévia. O volume e a cor do resíduo são mais<br />
indicativos de imaturidade do que disfunção<br />
intestinal, sendo questionado o significado do<br />
resíduo gástrico isolado, sem outros sinais de<br />
intolerância alimentar. Assim, na presença de<br />
resíduos gástricos isolados a alimentação não<br />
precisa ser imediatamente suspensa, devendo<br />
ser valorizada a impressão clínica do cuidador<br />
quanto à condição do RN.<br />
Embora esse tópico seja pouco estudado, foi<br />
documentado melhor evolução dos PT com<br />
intolerância alimentar mantidos com nutrição<br />
enteral trófica em comparação aos mantidos<br />
em jejum.<br />
Dois fatores contribuem para reduzir a intolerância<br />
alimentar no PT: uso de leite materno<br />
e rapidez na primeira eliminação de mecônio.<br />
A imaturidade motora do trato gastrointestinal é<br />
o fator predisponente da intolerância alimentar.<br />
PT < 32 semanas não apresentam contrações<br />
efetivas no período interdigestivo, devido à falta<br />
da fase propagativa III do complexo motor<br />
migratório no duodeno.<br />
Uma possível intervenção para melhorar a<br />
tolerância alimentar dos PT seria o uso de<br />
procinéticos. Cisaprida foi uma opção utilizada,<br />
mas atualmente não é recomendada devido aos<br />
efeitos adversos (prolongamento do intervalo QT<br />
e arritmias). A eritromicina é um agonista da<br />
motilina, peptídeo gastrointestinal que estimula<br />
a atividade contrátil propagativa durante a<br />
fase III do complexo motor migratório. Seu uso<br />
em dose alta melhora a tolerância alimentar<br />
em PT > 32 semanas, mas existe preocupação<br />
com o risco de desenvolvimento de resistência<br />
antimicrobiana e alteração da microbiota. Mais<br />
estudos são necessários antes que o uso seja<br />
recomendado.<br />
– Enterocolite necrosante: É a mais temida<br />
complicação. Acomete cerca de 10% dos PT-MBP,<br />
com mortalidade ≥ 20% e risco aumentado de<br />
sequelas no crescimento e desenvolvimento.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 151
Alimentando o prematuro<br />
A fisiopatologia é complexa e não totalmente<br />
esclarecida, mas a isquemia de mucosa, a colonização<br />
patológica e as práticas nutricionais<br />
são importantes fatores envolvidos.<br />
Probióticos (suplementos de micróbios vivos, dentre<br />
os quais os lactobacilos e bifidobacterium são<br />
os mais usados) previnem a migração de bactérias<br />
através da mucosa, competem com bactérias patogênicas,<br />
aumentam a resposta imune e podem<br />
reduzir o risco de NEC, o que foi documentado<br />
em revisão sistemática da Cochrane, na qual metanalise<br />
de 5 ECR mostrou que o uso profilático de<br />
probióticos reduz o risco de NEC e de morte em<br />
PT > 1000g, sem diferença no risco de infecção<br />
ou sepse. Entretanto não foram avaliados os PT<br />
< 1000g, houve grande variabilidade na idade<br />
gestacional, peso ao nascer, práticas nutricionais,<br />
bem como no tipo de probiótico, dose e tempo<br />
de uso. Mais estudos são necessários para avaliar<br />
a eficácia e segurança desse uso nos PT < 1000g<br />
que têm maior risco de NEC.<br />
5. Leite materno na nutrição<br />
do prematuro 14,15<br />
É a proposta de maior impacto positivo na nutrição<br />
do prematuro e deve ser uma prioridade<br />
em UTI neonatal. Vários estudos documentaram<br />
muitos benefícios com o uso do leite materno,<br />
especialmente o da mãe do PT no prognóstico<br />
do RN em curto e longo prazo, incluindo: menor<br />
risco de intolerância alimentar, menores taxas<br />
de infecção/sepse, de NEC, de displasia broncopulmonar<br />
e de retinopatia da prematuridade,<br />
melhor desenvolvimento e menos re-internações<br />
nos primeiros anos de vida. Importante notar<br />
que esses benefícios são dose-dependente,<br />
ou seja, quanto maior a quantidade ofertada<br />
de leite materno durante a internação em<br />
UTI, maior será o benefício. Os mecanismos<br />
envolvidos nesses efeitos benéficos são vários:<br />
imunológico, anti-infeccioso, anti-inflamatório,<br />
epigenético, propriedade protetora de mucosa,<br />
além de componentes específicos como ácidos<br />
graxos poli-insaturados de cadeia longa, grande<br />
quantidade de oligossacarídeos e presença de<br />
células tronco.<br />
Há períodos críticos após o nascimento, nos quais<br />
o uso exclusivo do leite materno ou a quantidade<br />
do leite materno (mesmo que não exclusivo) são<br />
fundamentais para os benefícios. Na introdução da<br />
nutrição enteral o uso de colostro (rico em fatores<br />
de crescimento, componentes anti-inflamatórios e<br />
anti-infecciosos, semelhante ao líquido amniótico)<br />
facilita a transição nutricional intraútero-extraútero,<br />
especialmente nos PT extremos.<br />
Como nem todas as mães conseguem suprir o<br />
volume de leite necessário ao seu filho, o uso<br />
de leite humano pasteurizado de banco é a<br />
segunda opção, embora os benefícios desse uso<br />
não sejam tão evidentes quanto os do leite da<br />
própria mãe.<br />
Há que se considerar que o leite materno não<br />
supre todas as necessidades nutricionais para o<br />
crescimento do prematuro (especialmente proteína,<br />
cálcio e fósforo), sendo recomendada a fortificação<br />
do leite materno com multicomponentes ao<br />
atingir o volume de 100 ml/kg/dia. O leite materno<br />
fortificado (aditivado) propicia melhor crescimento,<br />
mineralização óssea e retenção de nitrogênio, sem<br />
aumentar o risco de intolerância alimentar e NEC.<br />
É promissora a possibilidade de fortificação com<br />
produto derivado do leite humano.<br />
Em resumo, os principais aspectos a serem recomendados<br />
na alimentação enteral do prematuro<br />
são: o início precoce da alimentação por via<br />
enteral e o uso do leite materno, especialmente<br />
o da própria mãe, cujos benefícios persistem no<br />
longo prazo. Medidas de suporte à lactação devem<br />
ser implementadas em todas as UTI neonatais.<br />
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Hidratação venosa<br />
no prematuro –<br />
Necessidades hídricas<br />
e eletrolíticas<br />
EVANGUELIA ATHANASIO SHWETZ<br />
A terapêutica hídrica desempenha um importante<br />
papel na conduta precoce dos recém-nascidos<br />
(RN), principalmente os RN prematuros (RNPT) e<br />
em especial os de extremo baixo peso (RNEBP),<br />
devido ao alto aporte de fluidos parenterais a<br />
esses RN e que pode ser um importante fator no<br />
desenvolvimento de algumas de suas morbidades<br />
como Persistência sintomática do canal arterial, Displasia<br />
broncopulmonar, Enterocolite necrosante e<br />
Hemorragia intraventricular. Portanto, é de extrema<br />
importância que o neonatologista preste atenção<br />
aos detalhes da terapia de reposição hídrica.<br />
Deve-se estar atento para a composição corporal,<br />
função renal e neuroendócrina de cada idade<br />
gestacional.<br />
A água corporal total (ACT) compõe 75% peso<br />
corporal do RNT e em maior proporção ainda<br />
no RNPT. Ela é igual a soma da LIC (líquido<br />
intracelular) e da LEC (líquido extracelular) e a<br />
LEC é formada pelo líquido intravascular e intersticial,<br />
sendo este facilmente avaliado quando<br />
se planeja a terapia hidroeletrolítica.<br />
Objetivos da terapia:<br />
a) manter um volume de LEC apropriado, que é<br />
determinado principalmente pelo sódio (Na)<br />
corporal total;<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 153
Alimentando o prematuro<br />
b) manter a osmolaridade apropriada do LIC e<br />
do LEC, determinado pela quantidade de ACT<br />
relativa aos solutos.<br />
RNPT Extremo:<br />
1. nasce em período de maior volume de ACT.<br />
2. Composição de fluídos e eletrólitos fetais é<br />
influenciada pela administração de líquidos e<br />
eletrólitos do trabalho de parto (homeostase<br />
materna e trocas placentárias).<br />
Ao nascimento:<br />
• Expansão do LEC - nas primeiras horas de vida<br />
- transfusão placentária, reabsorção de líquido<br />
pulmonar e passagem de água do intracelular<br />
para o extracelular.<br />
• Contração do LEC - a partir do 4º dia de vida<br />
- perda insensível de água (PIA), aumento da<br />
diurese e baixa oferta oral.<br />
Em RNMBP, e principalmente nos criticamente<br />
doentes, pode ocorrer atraso na diurese. Então,<br />
falha na contração do LEC e sobrecarga de líquidos<br />
poderão levar ao edema pulmonar, PCA<br />
com repercussão hemodinâmica, enterocolite<br />
necrosante e displasia broncopulmonar.<br />
Durante a 1ª semana de vida, o RNMBP pode<br />
perder até 20% de seu peso como resultado da<br />
diminuição do LEC e do catabolismo.<br />
Fatores relevantes para o<br />
equilíbrio hidreletrolítico:<br />
• Perda insensível de água (PIA): entrada de<br />
líquido-débito urinário+ alteração do peso.<br />
Quando elevada nos prematuros, se deve ao<br />
desenvolvimento de aquaporinas e sua baixa<br />
expressão na pele imatura, o que pode levar a<br />
grande desequilíbrio hidreletrolítico. A queratina<br />
da camada córnea é a barreira para a perda<br />
de água sendo que somente após 34 semanas<br />
é que se resolve esse processo.<br />
A PIA é inversamente proporcional à Idade<br />
gestacional e a Idade cronológica.<br />
RN com 24-25 semanas, em umidade relativa a<br />
50%. No 2º dia de vida a PIA é de 140 ml/kg/dia<br />
e com 28 dias diminui para 56 ml/kg/dia. Em RN<br />
com > 32 semanas gestacional e com 2 semanas<br />
de vida, a PIA é de 12 ml/kg/dia e no RNPT<br />
< 1000g em ambiente com alta umidade (> 90%)<br />
é de < 40 ml/kg/dia.<br />
O calor radiante e a fototerapia fazem o RNPT<br />
perder mais pela PIA que pela urina.<br />
Fatores que aumentam a PIA<br />
Prematuridade 100-300%<br />
Calor radiante 50-100%<br />
Fototerapia convencional 30-50%<br />
Hiperatividade ou choro 20-70%<br />
Hipertermia 30-50%<br />
Hiperpneia 20-30%<br />
Infusão de lipídios 60%<br />
↑ Temperatura ambiente proporcional ao<br />
↑ da temperatura<br />
lesões de continuidade<br />
da pele<br />
Fatores que diminuem a PIA<br />
Incubadora de parede 30-50%<br />
dupla<br />
Umidificação de 30%<br />
incubadora<br />
Protetor plástico 30-70%<br />
Ventilação mecânica 30%<br />
Membrana semiimpermeável<br />
50%<br />
proporcional à<br />
extensão da lesão<br />
• Função Renal<br />
Perdas urinárias variáveis de água e eletrólitos:<br />
Taxa de filtração glomerular reduzida, menor<br />
absorção de Na nos túbulos proximais e distais,<br />
redução da capacidade de concentrar ou diluir<br />
urina e redução de íons potássio e hidrogênio.<br />
Após o parto:<br />
- oligúria (0,5 a 1,0 ml/kg/h) por 24 horas em<br />
RN saudável e até 96 horas em RNPT com<br />
síndrome de desconforto respiratório.<br />
154<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Alimentando o prematuro<br />
- fase de diurese e natiurese com ↑ da filtração<br />
glomerular por até 96 horas.<br />
- após 96 horas a excreção de água e eletrólitos<br />
irá variar com a ingestão.<br />
• Outros: Perda Fecal, Água Endógena, Água<br />
para crescimento.<br />
Necessidades hídricas do RNPT<br />
São 3 fases de equilíbrio hidroeletrolítico:<br />
- 1ª fase de transição: ocorre durante os primeiros<br />
3 a 5 dias de vida com grande PIA e uma<br />
diurese aumentada.<br />
Oferta hídrica = 70-90 ml/kg/dia.<br />
Meta = 150 ml/kg/dia no final da 1ª semana.<br />
- 2ª fase de estabilização: até 10 a 15 dias de vida, em<br />
que as PIA diminuem no RNPT (queratinização).<br />
Oferta hídrica = 150 ml/kg/dia<br />
- 3ª fase de crescimento: após a 2ª semana de vida<br />
Oferta hídrica = 150 a 180 ml/kg/dia, se a<br />
oferta for por via enteral.<br />
Avaliação do balanço hídrico<br />
- Observação atenta.<br />
- Considerar toda água utilizada no RN.<br />
- Alterações do peso corporal: mudanças importantes<br />
refletem variações na água corporal<br />
total em qualquer de seus compartimentos.<br />
Avaliação deve ser feita pelo menos 1x/dia.<br />
Perda máxima – 15% em RNMBP ao nascer<br />
nos primeiros cinco dias de vida (3% ao dia).<br />
- Turgor pele não é um índice sensível (pouco<br />
tecido celular subcutâneo).<br />
- Fontanela bregmática com tensão anormal e<br />
mucosas secas refletem anormalidade no LEC.<br />
- Edema seria sinal precoce de hiperhidratação.<br />
- Aparelho cardiovascular: são tardias e mais<br />
evidentes quando a perda líquida é de 15%.<br />
- A taquicardia pode acontecer tanto com<br />
aumento do LEC (ICC) quanto na diminuição<br />
(diminuição da pré-carga).<br />
CURITIBAPR<br />
- Hematócrito: queda = retirada de sangue para<br />
laboratório<br />
aumento = transfusões de sangue<br />
- Débito urinário: 1 a 3 ml/kg/dia nos primeiros<br />
dias de vida.<br />
- Eletrólitos séricos e osmolaridade: refletem a<br />
água extracelular<br />
Na - 135-145 mEq/L no RN, e 130 mEq/L no RNMBP.<br />
Na - > 150 - oferta hídrica insuficiente<br />
< 130 - oferta hídrica exagerada<br />
Avaliar cada 12 a 24 horas.<br />
- Osmolaridade plasmática – 285-295 mOsm/L.<br />
Tem íntima relação com a concentração do<br />
Na no plasma.<br />
- Eletrólitos e Densidade urinários: 1008-1012 =<br />
capacidade renal de concentrar ou diluir urina<br />
e de reabsorver ou excretar Na.<br />
Reflete perdas renais agudas<br />
Esquema de Hidratação para<br />
Prematuros (após o 1º dia)<br />
Aumentar o aporte de líquidos se:<br />
Mais que 2 a 5% peso/dia 10 a 15% em qualquer<br />
época.<br />
débito urinário < 0,5 ml/kg/hora por 8 horas.<br />
Reduzir o aporte de líquidos se:<br />
RN perder menos 1 a 3% do peso/dia.<br />
Ganhar peso excessivo após perda de 8 a 15% peso.<br />
Aumentar a concentração de sódio (Na) se:<br />
* Na < 135 mEq/L na ausência de ganho ponderal.<br />
* Na < 140 e perda de peso > 2 a 5%/dia.<br />
Reduzir a concentração de Na se:<br />
* Na > 140 mEq/L, na ausência de ganho ponderal.<br />
* Na > 135 mEq/L, na vigência de ganho ponderal.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 155
Alimentando o prematuro<br />
Distúrbios do Metabolismo<br />
do Sódio<br />
A homeostase do sódio neonatal está envolvida<br />
na manutenção do LEC, mineralização óssea e<br />
síntese proteica.<br />
O sódio é filtrado nos glomérulos e quase que<br />
totalmente reabsorvido.<br />
A Fração excretada do Na(FENa) reflete o equilíbrio<br />
entre a filtração glomerular e a reabsorção<br />
tubular de Na.<br />
FENa = (Na urinário x creatinina plasmática) /<br />
(Na plasmático x creatinina urinária) x 100<br />
Resultados: 2,5= é<br />
frequente em RN 150 mEq/L e<br />
quase sempre assintomática ou se for PT pode<br />
ocorrer HPIV.<br />
Causas:<br />
1) distúrbios no balanço hídrico do PT na 1ª<br />
semana de vida com enormes perdas insensíveis.<br />
A correção deve ser feita com aumento<br />
do aporte hídrico, não excedendo 0,5 mEq/<br />
kg/h para evitar variações de osmolaridade<br />
plasmática.<br />
2) oferta excessiva de Na na reanimação neonatal,<br />
na lavagem de cateteres arteriais e<br />
venosas, exosanguineotransfusão com sangue<br />
citratado, uso de medicamentos ricos em Na<br />
como heparina e carbenicilina.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Alimentando o prematuro<br />
Prognóstico – tanto a hiponatremia quanto a<br />
hipernatremia estão associadas com alterações<br />
no desenvolvimento neuropsicomotor e perda<br />
auditiva a longo prazo.<br />
Recomendação – iniciar a reposição do Na no<br />
3º dia de vida se Na < 145 mEq/L, ou antes, se<br />
Na plasmático inferior a 130 mEq/L e não for<br />
dilucional. Começar com oferta de 2 a 3 mEq/<br />
kg/dia e aumentar na fase de crescimento para<br />
5 mEq/kg/dia.<br />
Distúrbios do Metabolismo<br />
do Potássio<br />
O potássio (K) é o principal cátion do espaço<br />
intracelular e sua homeostase é controlada<br />
por mecanismos renais e extra-renais. O RNPT<br />
pode ter aumento significativo do K devido à<br />
imaturidade tubular distal e menor taxa de<br />
filtração glomerular.<br />
Hipopotassemia<br />
É a concentração plasmática de K < 3,7 mEq/L,<br />
considerando níveis críticos < 2,5 mEq/L.<br />
Clínica: arritmias, íleo, hipoatividade, distúrbios<br />
de concentração renal do RN.<br />
Causas: síndrome pós-acidótica, (captação celular<br />
de K), hipotermia, aumento de insulina, perda<br />
por sonda gastrointestinal, uso de diuréticos, IRA.<br />
Tratamento: aumentar gradualmente o aporte oral<br />
ou parenteral de K (3 a 5 mEq/kg). Casos graves,<br />
administrar 0,3 a 0,5 mEq/kg/hora em concentração<br />
< 80 mEq/L com monitorização cardíaca.<br />
Hiperpotassemia<br />
É definida como K plasmático > 6,5 mEq/L,<br />
podendo levar a arritmias graves até fibrilação<br />
ventricular.<br />
A hiperpotassemia não oligúrica no RNPT de<br />
MBP ocorre em 30-50% deles, nas primeiras 48<br />
horas de vida e é decorrente da transferência<br />
do K do intracelular para o extracelular por<br />
provável diminuição de atividade enzimática<br />
(NaK-ATPase).<br />
CURITIBAPR<br />
Outras causas: administração excessiva de K,<br />
transfusão de sangue, aumento da liberação<br />
de K intracelular (acidose metabólica, coleções<br />
sanguíneas), diminuição da excreção renal (insuficiência<br />
renal, uso de espironolactona, captopril<br />
e indometacina).<br />
Tratamento:<br />
K > 7mq/L ou alteração do ECG<br />
São vários os tratamentos como o Gluconato<br />
de cálcio 10%, o Bicarbonato de sódio 3%, o<br />
Salbutamol, as Resinas de troca – poliesrirenossulfomato<br />
de cálcio (SORCAL®) ou poliestirenossulfanato<br />
de sódio (Kayexalate®), os<br />
diuréticos de alça (Furosemide se função renal<br />
normal) – 2 a 4 mg/kg/dia cada 6 -12 horas<br />
e a Insulina simples, EV- 0,2 µ/g de glicose +<br />
0,5 g/kg glicose (solução 5 a 10%) com controle<br />
rigoroso da glicemia. Aumenta a captação<br />
intracelular do K.<br />
A diálise peritoneal é a solução utilizada quando<br />
há falhas em outras terapêuticas.<br />
De todos os tratamentos citados, o de primeira<br />
escolha deve ser a infusão de insulina com<br />
glicose.<br />
A oferta de K (1 a 2 mEq/kg/dia) deve ser iniciada<br />
quando seus níveis plasmáticos forem menores<br />
que 5 mEq/L e deve ser aumentada para 2 a<br />
3 mEq/kg/dia, na fase de crescimento.<br />
<strong>Referências</strong> <strong>Bibliográficas</strong><br />
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68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 157
Alimentando o prematuro<br />
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Neonatologia. 6ª ed Editora Guanabara Koogan, 2008.<br />
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Eletrolítico. In: Aguiar CR, Costa HPF, Rugolo LMSS,<br />
Sadeck LSR, Costa MTZ, Pachi PR, Marba STM. O<br />
Recém-nascido de muito baixo peso. 2ª edição Editora<br />
Aheneu, 2010. p. 77-86<br />
Alimentação enteral do<br />
prematuro após a alta<br />
RITA DE CÁSSIA SILVEIRA<br />
Apesar de nossos esforços para ofertar o requerimento<br />
proteico e energético mínimo necessário<br />
para atingir as taxas de crescimento intra-uterino,<br />
a maioria dos prematuros experimenta uma<br />
situação de déficit nutricional durante a hospitalização<br />
na UTI neonatal, classicamente conhecida<br />
como crescimento extra-uterino restrito. Dados do<br />
National Institute of Child and Human Development<br />
(NICHD) e da Neonatal Research Network<br />
evidenciam que 16% dos pré-termos de muito<br />
baixo peso são pequenos para idade gestacional<br />
ao nascimento, e quando atingem 36 semanas de<br />
idade corrigida, esta falha no crescimento aumenta<br />
para 89%. Além disso, o déficit de crescimento<br />
após a alta hospitalar tende a ser sustentado;<br />
tanto que no seguimento ambulatorial aos 18 a<br />
22 meses de idade corrigida aproximadamente<br />
40% dos prematuros ainda apresenta significativo<br />
déficit de crescimento.<br />
Após a alta da UTI Neonatal, nosso papel é<br />
determinar o requerimento nutricional do nosso<br />
158<br />
prematuro, com especial atenção no catch up<br />
do crescimento. As necessidades nutricionais dos<br />
prematuros ainda não estão completamente<br />
definidas na literatura, mas se acreditam que<br />
sejam maiores que as de crianças nascidas a<br />
termo, em função do objetivo de recuperação<br />
de um déficit prévio no crescimento (catch up).<br />
De forma geral, é aceito como necessidades<br />
básicas no primeiro ano de vida a oferta hídrica<br />
de 150 – 200 ml/kg/dia; calórica de 120 –<br />
130 cal/kg/dia; proteica de 2,5 - 3,5 g/kg/dia;<br />
lipídica de 6,0 – 8,0 g/kg/dia e de carboidratos<br />
de 10 - 14 g/kg/dia.<br />
Para alcançar esta meta nutricional básica, o<br />
prematuro necessita um programa de orientação<br />
alimentar e nutricional padronizado, incluindo<br />
rotinas básicas e adequando as suas necessidades.<br />
O pediatra necessita estar preparado<br />
para orientar a família e coordenar a equipe<br />
multiprofissional que usualmente acompanha<br />
as crianças muito prematuras.<br />
Rotinas para alimentação<br />
O leite materno é sempre a primeira escolha<br />
na alimentação enteral após a alta. É sabido<br />
que contém altas concentrações de ácido docosahexaenóico<br />
(DHA), e este está relacionado<br />
com melhor desempenho no neurodesenvolvimento.<br />
Além disso, o leite materno fornece<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Alimentando o prematuro<br />
crescimento harmônico, com ganho de peso<br />
adequado nos primeiros anos de vida, possui<br />
nucleotídeos, lactoferrina e predominam bifidobactérias.<br />
Há evidências que apontam para um<br />
efeito anti-infeccioso da lactoferrina presente<br />
no leite humano.<br />
Devemos ter em mente e reforçar junto à família<br />
que a longa permanência na UTI Neonatal não<br />
impede de amamentar, devendo ser um reforço<br />
para a mãe.<br />
Fórmulas lácteas para primeiro (de início) e<br />
segundos semestres (de seguimento); são alternativas<br />
ao aleitamento materno (AM), podendo<br />
ser empregadas em conjunto com AM se for<br />
necessário (aleitamento misto). O volume de<br />
200ml/kg/dia das fórmulas de início é suficiente<br />
para oferta proteica e calórica adequadas.<br />
Crianças nascidas prematuras que receberam<br />
suplementação de DHA e AA (ácido araquidônico)<br />
no primeiro ano de vida, aos 12 meses<br />
de idade corrigida apresentavam mais massa<br />
magra e menos massa gorda, que as crianças<br />
alimentadas sem esta suplementação, este dado<br />
reforça a importância de fórmulas adicionadas<br />
de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia<br />
longa (LC-PUFAS).<br />
Nos prematuros com ganho de peso subnormal<br />
para idade pós-concepcional ou com Displasia<br />
broncopulmonar, patologia com necessidade<br />
de restrição hídrica, está indicado suplementar<br />
com altas ofertas de proteína, minerais e oligoelementos<br />
além de LC-PUFAS, pelo menos até<br />
52 semanas de idade corrigida. Como nestes<br />
casos mais graves o aleitamento materno é<br />
mais difícil, pois a longa permanência na UTI<br />
neonatal gera maior nível de stress e prejudica<br />
o pleno aleitamento materno, a alternativa é<br />
o uso de fórmulas infantis mais concentradas.<br />
Como aumentar a oferta de proteína, minerais<br />
e oligoelementos e manter a restrição hídrica?<br />
Na prática, prepara-se uma medida do pó em<br />
25 ml de água fervida, ao invés dos 30 ml<br />
recomendados pelo fabricante, o que resulta<br />
em densidade calórica 20% maior e obtém-se<br />
com volume 150 ml/kg/dia a oferta calórica de<br />
120 kcal/kg/dia.<br />
Alimentação complementar<br />
no prematuro<br />
CURITIBAPR<br />
O início da alimentação complementar depende<br />
da maturidade neurológica da criança, razão<br />
pela qual, emprega-se a idade corrigida como<br />
parâmetro de decisão, e não a idade cronológica<br />
da criança.<br />
A Idade corrigida ou pós-concepcional (IC) pode<br />
ser determinada, pela seguinte fórmula:<br />
IC = I cronológica (dv ou sem) - (40 sem- IGP<br />
sem), exemplificando:<br />
Nasce um prematuro com idade gestacional<br />
de 32 semanas, recebe alta hospitalar com<br />
três meses de vida (doze semanas), sua idade<br />
corrigida na alta será de 44 semanas ou um<br />
mês de IC.<br />
Numa situação de neurodesenvolvimento normal,<br />
entre 3 e 4 meses de idade corrigida, a<br />
criança nascida prematura é capaz de fazer<br />
rolar para 2/3 posterior da língua os alimentos<br />
semi-sólidos colocados no 1/3 anterior da<br />
língua. Já o reflexo de mastigação estará presente<br />
somente entre 5 e 6 meses; nesta fase<br />
a criança é capaz de controlar o reflexo de<br />
abrir a boca para dar entrada à colher e girar<br />
a cabeça para os lados. Portanto, geralmente<br />
inicia-se alimentação complementar entre 4 e<br />
6 meses de idade corrigida e quando a criança<br />
adquire pelo menos 5 kg de peso, ou seja, tem<br />
condições de gastar calorias.<br />
A alimentação complementar é iniciada aos<br />
6 meses de idade corrigida, nas crianças em<br />
aleitamento materno exclusivo, já o prematuro<br />
que recebe apenas aleitamento artificial poderá<br />
iniciar com alimentação complementar mais<br />
cedo, com 3 meses de idade corrigida.<br />
Suplementos: Vitaminas,<br />
ferro e zinco<br />
A introdução da suplementação com ferro e<br />
vitaminas ACD, inicia na internação neonatal.<br />
As vitaminas com 10 dias de vida e o ferro<br />
entre 15 dias e 2 meses de vida, quando haveria<br />
a queda da saturação dos transportadores<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 159
Alimentando o prematuro<br />
plasmáticos e da ferritina, o início depende<br />
ainda das condições clínicas para alimentação<br />
enteral.<br />
A quantidade do ferro ofertada varia com o mais<br />
baixo peso ao nascer: nos prematuros acima de<br />
1500 gramas de peso de nascimento, a partir<br />
de 30 dias de vida, recomenda-se 2mg/kg/dia<br />
durante 1 ano e 1 mg/kg/dia por mais 1 ano,<br />
naqueles nascidos entre 1500 gramas e 1000 gramas<br />
de peso, 3 mg/kg/dia durante 1 ano e mais<br />
1 mg/kg/dia entre 1 e 2 anos de idade e aos<br />
recém-nascidos com peso inferior a 1000 gramas,<br />
deve ser ofertado 4mg/kg/dia durante 1 ano e<br />
1 mg/kg/dia mais 1 ano.<br />
O zinco é oligoelemento fundamental nos processos<br />
fisiológicos que envolvem função imune,<br />
defesa antioxidante e influencia no crescimento<br />
e no desenvolvimento de tal forma que a sua<br />
deficiência pode causar déficit de crescimento<br />
pôndero-estatural. A suplementação diária com<br />
5 mg de zinco por seis meses melhora significativamente<br />
crescimento do prematuro.<br />
Como a suplementação de zinco melhora significativamente<br />
o desenvolvimento cognitivo<br />
e motor em pacientes prematuros de muito<br />
baixo peso, na rotina assistencial do Hospital<br />
de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), iniciamos<br />
com sulfato de zinco quando o recém-nascido<br />
atinge as 36 semanas de idade corrigida e<br />
mantemos no ambulatório até o sexto mês de<br />
idade corrigida. O Sulfato de zinco deve ser<br />
formulado (10mg/ml) e adicionado a oferta<br />
alimentar.<br />
Dificuldades comportamentais<br />
alimentares<br />
São frequentemente observadas no seguimento<br />
ambulatorial do prematuro. As dificuldades alimentares<br />
do prematuro podem ser consequências<br />
de alguma morbidade do período neonatal,<br />
como enterocolite necrosante ou displasia<br />
bronco-pulmonar, ou ainda causada pelo “stress<br />
de memória” decorrente dos múltiplos procedimentos<br />
a que estes recém-nascidos estão sujeitos<br />
durante a sua hospitalização. O uso prolongado<br />
de sonda gástrica tem sido descrito como causa<br />
de fobia alimentar no seguimento ambulatorial<br />
após a alta.<br />
A fobia alimentar pode ocorrer sempre que a<br />
criança sofreu alguma experiência assustadora<br />
(engasgo por disfagia, distúrbio de deglutição,<br />
problemas neurológicos, são alguns exemplos).<br />
As manifestações clínicas que auxiliam no diagnóstico<br />
desta situação são:<br />
• Presença de comportamento oral defensivo<br />
importante, a criança chora ao ver o alimento<br />
ou a mamadeira, resiste à alimentação:<br />
chorando, arqueando o corpo, recusando-se<br />
a abrir a boca;<br />
• Alteração no processamento sensorial extraoral<br />
e intra-oral, observado durante a avaliação<br />
fonoaudiológica;<br />
• Disfagia orofaríngea com sinais clínicos de<br />
aspiração para todas as consistências (tanto<br />
líquida, quanto pastosa);<br />
• Reflexo de náusea muito acentuado, contribuindo<br />
para ocorrência de vômitos;<br />
• Demanda de muito tempo durante as refeições<br />
e lanches: em média uma hora/refeição;<br />
• Alimentação muito frequente, sendo descrita<br />
pela família e/ou cuidadores, como de<br />
2/2 horas, mesmo ao final do primeiro ano de<br />
vida e inclusive a noite, causando alterações<br />
no padrão sono/vigília.<br />
Considerações finais<br />
É indispensável monitorizar a ingestão calórica e<br />
interpretar o ritmo de crescimento do prematuro,<br />
baseando-se em um entendimento mais amplo<br />
da história pregressa de cada um destes recémnascidos,<br />
conhecendo as morbidades durante<br />
sua longa permanência na UTI Neonatal, seus<br />
problemas no follow-up e suas expectativas de<br />
crescimento no futuro. A adequada orientação<br />
alimentar enteral pós-alta, especialmente no<br />
primeiro ano de vida, amplia a expectativa<br />
de melhor qualidade de vida ao prematuro,<br />
proporcionando crescimento e desenvolvimento<br />
saudáveis, enquanto processos integrados e<br />
contínuos.<br />
160<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Alimentando o prematuro<br />
<strong>Referências</strong> <strong>Bibliográficas</strong><br />
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68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 161
Alimentando o prematuro<br />
162<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Infecções congênitas – Diagnóstico,<br />
tratamento e prognóstico<br />
CURITIBAPR<br />
Sífilis Congênita<br />
Diagnóstico-<br />
Tratamento e<br />
Prognóstico<br />
LÍCIA MARIA OLIVEIRA MOREIRA<br />
A Sífilis é uma das enfermidades mais antigas<br />
descritas na literatura médica.<br />
O agente etiológico é o Treponema pallidum,<br />
identificado em 1905, composto de proteína,<br />
polissacarídeo e lipídios, multiplica-se por divisão<br />
binária e é facilmente destruído. O homem é o<br />
seu reservatório natural.<br />
A Sifilis Congênita (SC) tem sido considerada<br />
uma infecção perinatal crônica com grandes<br />
repercussões médico sociais, em decorrência da<br />
sua morbimortalidade.<br />
Define-se SC para fins de vigilância epidemiológica:<br />
1) Toda criança ou aborto ou natimorto de mãe<br />
com evidência clínica para sífilis e/ou com<br />
sorologia não treponêmica reagente para sífilis<br />
com qualquer titulação, na ausência de teste<br />
confirmatório treponêmico, realizada no pré<br />
natal ou no momento do parto ou curetagem,<br />
que não tenha sido tratada ou tenha recebido<br />
tratamento inadequado.<br />
2) Todo indivíduo com menos de 13 anos com<br />
as seguintes evidências sorológicas:<br />
- titulações ascendentes (testes não treponêmicos);<br />
e/ou<br />
- testes não treponêmicos reagentes após 6<br />
meses (exceto em situação de seguimento<br />
terapêutico); e/ou<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
- testes treponêmicos reagentes após 18 meses;<br />
e/ou<br />
- títulos em teste não treponêmico maiores<br />
do que os da mãe.<br />
3) Todo indivíduo com menos de 13 anos, com teste<br />
não treponêmico reagente e evidência clínica<br />
ou liquórica ou radiológica de sífilis congênita.<br />
4) Toda situação de evidência de T. pallidum em<br />
placenta ou cordão umbilical e/ou amostra<br />
de lesão, biópsia ou necropsia de criança,<br />
aborto ou natimorto.<br />
Pesquisas da Organização Mundial de Saúde<br />
(OMS) estimam que nos países em desenvolvimento,<br />
10 a 15% das gestantes têm Sífilis.<br />
No Brasil, conforme dados do Ministério da Saúde,<br />
a soroprevalência para sífilis em gestantes é<br />
de 3, 5 a 4%, estimando-se que ocorram cerca de<br />
1 a 5 casos de SC para cada mil nativivos. Tratase<br />
de doença de notificação compulsória desde<br />
1986, mas mantém uma incidência elevada.<br />
Risco de Transmissão<br />
Mãe com sífilis não tratada pode transmitir ao<br />
seu concepto em qualquer estágio de doença.<br />
Quando a mãe está em fase primária ou secundária<br />
da doença o risco pode chegar a 100%,<br />
em decorrência da elevada espiroquetemia; cai<br />
para 40% na sífilislatente precoce e em torno de<br />
20% quando a mãe está na fase latente tardia.<br />
Diagnóstico<br />
O diagnóstico é clínico, epidemiológico e laboratorial.<br />
Quadro Clínico<br />
Cerca de 2/3 das crianças infectadas são assintomáticas<br />
ao nascer, apresentando manifestações<br />
clínicas posteriormente.<br />
163
Infecções congênitas – Diagnóstico, tratamento e prognóstico<br />
A Sífilis Precoce quando as manifestações clínicas<br />
ocorrem dentro dos dois primeiros anos<br />
de vida, parece ocorrer quando a infecção do<br />
concepto é mais tardia. O quadro clínico pode<br />
envolver múltiplos sistemas, podendo apresentar<br />
lesões máculopapulares, pênfigo, palmoplantar,<br />
periostite, osteocondrite, rinorreia persistente e<br />
condiloma, consideradas lesões major.<br />
Podem ter ainda: anemia, HEM, perda de pelos,<br />
fissuras periorificiais, atrofia ungeal, perionix,<br />
laringite, icterícia, diátese hemorrágica, diarreia,<br />
miocardite, pneumonia, hipertensão pulmonar,<br />
meningite, hidrocefalia, hipopituitarismo<br />
transitório, neurite óptica, glaucoma, uveite,<br />
glomérulo-nefrite, síndrome nefrótica, pseudoparalisia<br />
de Parrot e osteomielite.<br />
Sífilis Tardia<br />
Postula-se que a infecção foi muito precoce ou<br />
por treponemas pouco virulentos. As manifestações<br />
clínicas ocorrem após o segundo ano de vida.<br />
Pode ocorrer ceratite, surdez labiríntica, dentes<br />
de Hutschinson, nariz em sela, tíbia em lâmina<br />
de sabre, paralisia geral, hidrocefalia, retardo<br />
mental, paralisia dos nervos cranianos, meningoencefalite,<br />
irite, corioretinite, iridociclite, lesões<br />
gomosas em véu do palato, fibrose hepática.<br />
Diagnóstico Inespecífico<br />
Hemograma completo (anemia, linfocitose,<br />
trombocitopenia).<br />
Estudo liquórico (estudo imunológico, aumento<br />
de celularidade e de proteínas)<br />
Raio X de tórax: (pneumonia)<br />
Raio X e de ossos longos: periostite, osteocondrite<br />
e osteomielite<br />
Exame da Placenta (aumento de volume, infiltrado<br />
inflamatório mononuclear, vilosite)<br />
Avaliação Oftalmológica<br />
Avaliação Audiológica (surdez, lesão do oitavo par)<br />
Função hepática e renal<br />
T.C. de Crânio<br />
Ecocardiograma: miocardite, insuficiência tricúspide,<br />
hipertensão pulmonar.<br />
Investigar outras Infecções perinatais. Afastar<br />
co-infecção por HIV!<br />
Evidências Radiológicas<br />
Envolvimento de metáfise e diáfise de ossos<br />
longos (tíbia, fêmur e úmero), causando osteocondrite,<br />
osteíte e periostite, são achados comuns<br />
na sífilis congênita sintomática, as radiografias de<br />
ossos longos revelam anormalidades metafisárias<br />
sugestivas da infecção em aproximadamente<br />
70 a 90% dos casos em torno de 4 a 20% dos<br />
recém-nascidos assintomáticos infectados, a<br />
única alteração é o achado radiográfico, o que<br />
justifica a realização deste exame nos casos<br />
suspeitos de sífilis congênita.<br />
Testes Não Treponêmicos mais utilizados<br />
VDRL (Veneral Disease Research Laboratory)<br />
RPR (Rapid Plasm Reagin)<br />
ART (Automated Reagin Test)<br />
O VDRL é o mais empregado no nosso país; tratase<br />
de teste cujo antígeno é a cardiolipina, sua<br />
positividade pode ocorrer a partir da primeira<br />
semana. Pode ser quantitativo ou qualitativo. As<br />
crianças infectadas têm titulagem três a quatro<br />
vezes a materna e/ou duas diluições superiores.<br />
A avaliação quantitativa é considerada positiva<br />
quando superior a 1:2.<br />
Pode ser falso negativo se a infecção for tardia<br />
e não houver tido tempo de positivar, pode ser<br />
falso positivo se associado à hepatite, doença de<br />
Chagas, colagenoses na genitora, mas em geral<br />
os títulos são baixos. Os testes não treponêmicos<br />
têm principal utilização como triagem, ficando<br />
os testes específicos para estabelecer um diagnóstico<br />
presuntivo.<br />
Os testes não treponêmicos têm aplicação importante<br />
como critério de cura, com uso frequente<br />
para este objetivo.<br />
O diagnóstico laboratorial de SC tem sido feito<br />
com o VDRL quantitativo do binômio; quando<br />
não há uma definição utiliza-se testes treponê-<br />
164<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Infecções congênitas – Diagnóstico, tratamento e prognóstico<br />
micos, sobretudo o TP-PA pela sua sensibilidade,<br />
especificidade e rapidez de realização.<br />
O VDRL positivo no LCR deve ser diagnosticado<br />
como neurosífilis, independentemente de haver<br />
alterações na celularidade e/ou na proteinorraquia.<br />
A ocorrência de alterações no LCR é mais<br />
frequente nas crianças com outras evidências<br />
clínicas de sífilis congênita que nas oligossintomáticas<br />
(86% e 8%, respectivamente); para<br />
avaliar este material deve-se utilizar o VDRL ou<br />
testes Treponêmicos.<br />
Testes Treponêmicos<br />
Exame Direto do Treponema<br />
FTA Abs<br />
FTA Abs 19S Igm<br />
TP-PA (Teste de Aglutinação do T.pallidum)<br />
ELISA IgM<br />
Imunoblot IgM<br />
PCR<br />
Os anticorpos IgM anti- T. pallidum começam<br />
a ser detectáveis durante a segunda semana da<br />
infecção e os IgG por volta da quarta semana e<br />
usualmente alcançam títulos maiores que o IgM.<br />
O TP-PA é bem específico, tem elevada sensibilidade,<br />
semelhante ao FTA Abs e fácil execução pelos<br />
laboratórios, daí sua crescente utilização, sobretudo<br />
quando o VDRL tem positividade inferior a 1.16 e<br />
não há uma definição clínica para o diagnóstico.<br />
O FTA Abs do binômio, é utilizado para comprovação<br />
diagnóstico.<br />
O IgM FTA Abs tem 10% de falso positividade<br />
e 20 a 40% de falsa negatividade.<br />
O ELISA IgM por captura tem sensibilidade de<br />
88%, é bastante utilizado pela sua acurácia e<br />
facilidade de realização.<br />
O Imunoblot IgM é o melhor método para<br />
detectar infecção por Treponema pallidum- IgM<br />
especifica no período neonatal.<br />
O PCR tem 96% de especificidade e 74% de<br />
sensibilidade; no líquor sua especificidade é de<br />
99% e sensibilidade de 71%.<br />
CURITIBAPR<br />
• A sorologia materna realizada simultânea<br />
à do recém-nascido é de grande valia<br />
quando não se dispõe de testes mais específicos<br />
e sensíveis. Compara-se títulos de<br />
anticorpos de modo seriado para afastar<br />
transferência de anticorpos maternos.<br />
A avaliação liquórica é imperativa com<br />
atenção especial a celularidade aumentada<br />
e hiperproteinorraquia. VDRL a partir de<br />
1:1(sen.78 a 100%)<br />
Diagnóstico Específico: Sensibilidade<br />
e Especificidade<br />
Exame direto do Treponema<br />
FTA Abs (Esp. 70 a 100%)*Sen.70 a 100%<br />
FTA Abs IgM-19S<br />
ELISA (Esp.97 a 100%)*Sen.82 a 100%<br />
TPHA (Esp.98 a 100%)*Sen.85 a 100%<br />
Imunoblot IgM (Esp.97.2%) Sen.88%*<br />
PCR melhor para LA e LCR<br />
*Diag.Microbiol.Infect.Dis.set.2007<br />
Diagnóstico Diferencial<br />
Deve ser feito com sepse, infecções perinatais<br />
crônicas (TORCHS), Parvovírus<br />
Incompatibilidade Sanguínea Materno Fetal.<br />
O pênfigo tem como diagnóstico diferencial com<br />
a Dermatite de Ritter e a<br />
Epidermólise Bolhosa. A pseudoparalisia de<br />
Parrot deve ser diferenciada da poliomielite e<br />
da Síndrome da Criança Espancada.<br />
Tratamento<br />
O tratamento deve ser com:<br />
Penicilina Benzatina – 50000 UI/kg/dia, IM, dose<br />
única diária (Esquema A).<br />
Penicilina Cristalina (Esquema B) -100 a<br />
150000UI/kg/dia EV, quando há comprovação<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 165
Infecções congênitas – Diagnóstico, tratamento e prognóstico<br />
de envolvimento liquórico ou quando a criança<br />
com SC não tiver possibilidade de investigação<br />
do líquor. Trata-se por 10 a 14 dias, cada 12, 8<br />
ou 6 horas à depender da idade e maturidade<br />
do recém-nascido.<br />
Penicilina Procaína (Esquema C) – 50000UI/kg/<br />
dia IM, dose única diária por dez dias.<br />
Caso haja alergia, que é uma condição rara no<br />
período neonatal, fazer dessensibilizarão ou<br />
tentar uso de cefalosporina ou eritromicina.<br />
Algoritmo de manejo do RN com sífilis congênita<br />
Mãe com sífilis<br />
Não tratada ou<br />
inadequadamente tratada<br />
Adequadamente tratada<br />
RN<br />
sintomático<br />
RN<br />
assintomático<br />
RN sintomático<br />
RN assintomático<br />
Raios-X ossos, punção<br />
lombar e hemograma<br />
Raios-X ossos, punção<br />
lombar e hemograma<br />
VDRL<br />
LCR normal<br />
LCR alterado<br />
(Neurosífilis)<br />
Exames<br />
normais<br />
e<br />
VDRL<br />
negativo<br />
LCR normal<br />
LCR alterado<br />
(Neurosífilis)<br />
≤ materno > materno negativo<br />
Tratar-A1<br />
(cristalina/<br />
procaína)<br />
Tratar-A2<br />
(cristalina)<br />
Tratar-A3<br />
(benzatina)<br />
Tratar-A1<br />
(cristalina/<br />
procaína)<br />
Tratar-A2<br />
(cristalina)<br />
Raios-X ossos, punção<br />
lombar e hemograma<br />
Seguimento<br />
ou<br />
Tratar-A3<br />
(benzatina)<br />
Resumo esquemático do tratamento<br />
A1 – penicilina G cristalina 50.000 UI/kg/dose IV, 12/12h<br />
(até 7 dias de vida) ou 8/8h (após 7 dias de vida), ou<br />
procaína 50.000 UI/kg IM dose diária – 10 dias.<br />
A2 – penicilina G cristalina 50.000 UI/kg/dose IV, 12/12h<br />
(até 7 dias de vida) ou 8/8h (após 7 dias de vida) – 10 dias.<br />
A3 – penicilina G benzatina 50.000 UI/kg/dose única.<br />
Exames<br />
normais<br />
LCR normal<br />
Tratar-A3<br />
(benzatina)<br />
Exames<br />
alterados<br />
LCR normal<br />
Tratar-A1<br />
(cristalina/<br />
procaína)<br />
LCR alterado<br />
(Neurosífilis)<br />
Tratar-A2<br />
(cristalina)<br />
Fonte: PN DST-AIDS<br />
Complicações / Prognóstico<br />
Reação de Jarisch Herxheimer.<br />
Sequelas: ósseas, oculares e sobretudo neurológicas.<br />
Óbitos: Se a genitora tem sífilis primária<br />
ou secundária pode haver 50% de nati ou<br />
neomortos.<br />
Seguimento<br />
VDRL com 1, 3, 6, 12, 18 e 24 meses.<br />
Exame liquórico aos seis meses e se necessário<br />
repetir cada semestre até os 24 meses.<br />
Deve-se ficar atento para a necessidade de repetir<br />
o tratamento, sobretudo quando há envolvimento<br />
do sistema nervoso central.<br />
166<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Infecções congênitas – Diagnóstico, tratamento e prognóstico<br />
Prevenção<br />
• Avaliação sorológica pré-gestaci onal.<br />
• Triagem sorológica no primeiro e terceiro<br />
trimestre da gestação.<br />
• Tratar gestantes infectadas e seus parceiros.<br />
• Realizar VDRL ou RPR em toda mulher admitida<br />
para parto ou abortamento.<br />
• Investigar recém-nascidos de mães soropositivas<br />
para sífilis.<br />
• Evitar alta precoce do binômio (menos de<br />
48 horas).<br />
• Educar a população quanto a DST.<br />
Vigilância do óbito fetal e neonatal.<br />
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Citomegalovírus<br />
HELOISA IHLE GARCIA GIAMBERARDINO<br />
Citomegalovírus (CMV) é atualmente a causa<br />
mais frequente de infecção congênita, estudos<br />
soroepidemiológicos demonstram que a infecção<br />
por CMV está disseminada globalmente, havendo<br />
uma relação direta entre nível sócio-econômico<br />
da população e a incidência de infecção congênita.<br />
Nos EUA o CMV atinge de 0,2 a 2,22% dos<br />
nascidos vivos, na França esta taxa de infecção é<br />
de aproximadamente 1% e no Brasil estudos tem<br />
demonstrado prevalência entre 2,1% até 6,2% (1) .<br />
O CMV é um vírus DNA da família Herpesviridae,<br />
está amplamente distribuído no mundo animal<br />
e conforme outros vírus desta família, possui<br />
capacidade de manter-se replicando no hospedeiro<br />
infectado por períodos prolongados, em<br />
especial nos recém-nascidos (RN) com infecções<br />
congênitas ou perinatal. Dessa forma a excreção<br />
viral em urina e saliva pode perdurar por muitos<br />
meses ou anos após a infecção inicial.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 167
Infecções congênitas – Diagnóstico, tratamento e prognóstico<br />
A infecção congênita pode ocorrer em qualquer<br />
época da gestação, porém a maioria absoluta das<br />
infecções maternas são assintomáticas, porém<br />
vários estudos tem demonstrado de que o risco<br />
de doença disseminada grave, é maior quando a<br />
infecção ocorre no início da gestação, tal como<br />
ocorre com outras infecções virais congênitas.<br />
A relação entre o tempo da seroconversão materna<br />
e do desfecho no feto, está diretamente ligado ao<br />
momento da ocorrência desta infecção durante<br />
a gestação. Fetos infectados durante o primeiro<br />
trimestre são mais suscetíveis a apresentarem<br />
sequelas no Sistema Nervoso Central (SNC), do que<br />
aqueles infectados após, em uma proporção de<br />
32% vs. 15% (2) . A infecção fetal intrauterina pode<br />
ser ocasionada após a primo-infecção materna ou<br />
devido a reativação de infecção durante a gestação.<br />
As taxas de transmissão são muito diferentes nessas<br />
duas formas de transmissão. Assim enquanto na<br />
infecção primária a taxa de transmissão ao feto é<br />
em média 40% (24 a 75%) (3) , no caso de infecção<br />
materna recorrente esta taxa situa-se em torno<br />
de 1% a 2%.As sequelas são muito mais comuns<br />
nos RNs expostos a infecção materna primária.<br />
Alta carga viral no sangue e urina, são preditivos<br />
para o desenvolvimento de sequelas (1) .<br />
A transmissão vertical do CMV pode ocorrer devido<br />
a uma das formas: 1) intra-uterina: passagem<br />
transplacentária do vírus do sangue materno, 2)<br />
no momento do parto ou 3) no período pósnatal<br />
devido a ingestão de leite materno CMV<br />
positivo. A infecção cervical materna é frequente,<br />
o que determina a exposição ao CMV a muitos<br />
neonatos no momento do parto. As taxas de<br />
excreção cervical são máximas em mães jovens<br />
de grupo sócio-econômico mais baixo. A infecção<br />
do RN durante o trabalho de parto apresenta<br />
um período de incubação variável entre 4 a 12<br />
semanas, sendo em média 8 semanas. Uma das<br />
complicações causadas por esta exposição é a<br />
pneumonia intersticial que pode manifestar-se<br />
nos primeiros meses de vida, porém a maioria<br />
dos infectados não apresentam nenhuma repercussão<br />
clínica. De modo similar, ocorre com os<br />
infectados pelo leite materno, com período de<br />
incubação entre 4 semanas a 4 meses de idade.<br />
Dentre o total de neonatos expostos ao CMV, por<br />
meio de secreções cervicais ou leite materno, os<br />
168<br />
prematuros são os que apresentam maior risco de<br />
desenvolvimento de doença e sequelas por CMV.<br />
As manifestações clínicas da infecção por CMV<br />
congênita são variáveis podendo ser silenciosa.<br />
Alguns recém-nascidos são assintomáticos e<br />
posteriormente irão apresentar hipoacusia e<br />
transtornos de aprendizagem. Aproximadamente<br />
10 a 15% (2) dos RN com infecção congênita,<br />
apresentarão sinais e sintomas precoces, evidente<br />
ao nascimento com manifestações que<br />
incluem atraso do desenvolvimento intra-uterino,<br />
icterícia, púrpura, hepatoesplenomegalia, microcefalia,<br />
calcificações encefálicas e retinite. Destes<br />
infectados e sintomáticos, 50 a 90% irão desenvolver<br />
sequelas neurológicas ou neurosensoriais.<br />
A forma mais grave de apresentação clínica,<br />
denominada Doença de Inclusão Citomegálica,<br />
caracteriza-se clinicamente por icterícia,<br />
hepatoesplenomegalia, petéquias, microcefalia,<br />
coriorretinite e calcificações cerebrais periventriculares.<br />
A forma mais comum de apresentação<br />
clínica é a associação de petéquias, icterícia e<br />
hepatoesplenomegalia.<br />
Esta infecção possui consequências devastadoras<br />
tanto no período neonatal quanto nos anos<br />
seguintes do desenvolvimento infantil, incluindo<br />
desde a surdez neurosensorial até sequelas<br />
neurológicas severas. As sequelas mais frequentes<br />
da infecção congênita são: surdez neurosensorial,<br />
defeitos visuais, déficit psicomotor, retardo<br />
mental, paralisia cerebral e convulsões. Déficit<br />
auditivo está presente em aproximadamente 50<br />
a 65% dos neonatos sintomáticos e nos assintomáticos<br />
atinge entre 7 a 15% dos neonatos. Nos<br />
sintomáticos 50% apresentam surdez bilateral.<br />
Déficit visual é comum, ocorre em 10 a 20%<br />
dos neonatos sintomáticos e as principais manifestações<br />
são: coriorretinite, estrabismo, atrofia<br />
ótica, retinite pigmentar e cegueira. Os danos<br />
neurológicos e mentais resultam em hipotonia,<br />
deficit neuromotor, convulsões e deficit cognitivo.<br />
O diagnóstico laboratorial do CMV pode ser<br />
realizado por diferentes métodos que incluem:<br />
• Isolamento de CMV em culturas de células,<br />
a partir de urina, sangue, leite materno,<br />
secreções de orofaringe e de outros fluídos<br />
corpóreo e/ou fragmentos de tecidos;<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Infecções congênitas – Diagnóstico, tratamento e prognóstico<br />
• Diagnóstico presuntivo pode ser realizado<br />
baseado na quaduplicação dos títulos de CMV<br />
em amostras pareadas de soro;<br />
• Sorologia: Imunofluorescência direta e Testes<br />
imunoenzimáticos(ELISA)- detecção de IgG e IgM;<br />
• Técnicas Rápidas:<br />
• Detecção de Antígenos do CMV por meio<br />
de Anticorpos Monoclonais<br />
• Ampliação do DNA viral pela Reação em<br />
Cadeia por Polimerase (PCR)<br />
O diagnóstico da infecção congênita é realizado<br />
atualmente por meio do isolamento do vírus<br />
ou detecção de DNA viral na urina. A excreção<br />
viral é prolongada e pode perdurar por meses<br />
ou anos. Porém para diferenciar infecção congênita<br />
da perinatal o isolamento do vírus, deve<br />
ser executado nas 2 primeiras semanas de vida.<br />
O tratamento da infecção congênita por CMV com<br />
Ganciclovir (GCV) é controverso, pois não existem<br />
dados suficientes sobre sua eficácia e segurança<br />
em neonatos e lactentes. Caso seja utilizado, deve<br />
ser administrado por via parenteral, na dose de<br />
5mg/kg de 12/12h durante 14 a 21 dias. O GCV<br />
oral é menos eficaz que o endovenoso devido a<br />
menor biodisponibilidade. Dados limitados sugerem<br />
segurança e eficácia do GCV em neonatos<br />
e lactentes. O principal evento adverso deste<br />
tratamento é a neutropenia, que ocorre em 30%-<br />
60% dos pacientes tratados. Alguns estudos tem<br />
demonstrado benefícios clínicos e virológicos com<br />
o uso de ganciclovir, especialmente nos neonatos<br />
sintomáticos envolvendo SNC. O uso de ganciclovir<br />
endovenoso durante 6 semanas demonstrou<br />
redução na perda da acuidade auditiva (3) . Outra<br />
droga em avaliação é o Valganciclovir (VGCV) o<br />
qual possui apresentação oral.<br />
Medidas de controle<br />
Ao paciente hospitalizado com diagnóstico de<br />
CMV, apenas recomenda-se precauções universais.<br />
Cuidados com as pessoas expostas: ao atender<br />
pacientes com diagnóstico de CMV deve-se seguir<br />
as precauções universais, intensificando a higiene<br />
das mãos principalmente, as profissionais de<br />
CURITIBAPR<br />
saúde que encontrem-se em período gestacional.<br />
Conforme já é rotina em vários serviços pediátricos,<br />
recomenda-se o uso de luvas de procedimentos<br />
as trocas de fraldas, seguida de higiene<br />
das mãos (lavar as mãos seguindo a técnica com<br />
água e sabão e após fricção com àlcool a 70%).<br />
Imunoprofilaxia: existe imunoglobulina endovenosa<br />
contra CMV para a profilaxia em receptores<br />
de transplantados renais soro-negativos<br />
com eficácia moderada. Existem estudos sobre<br />
o uso desta imunoglobulina para reduzir a<br />
transmissão de CMV aos fetos e parece ter efeitos<br />
benéficos.Também estão sendo avaliadas vacinas<br />
em estudos de eficácia fase 3, com resultados<br />
preliminares satisfatórios.<br />
Crianças em creches: é importante implementar<br />
algumas medidas educativas com relação a<br />
epidemiologia do CMV e seus possíveis riscos de<br />
transmissão, a fim de minimizar a transmissão<br />
em ambientes de trabalho com predomínio de<br />
mulheres em idade fértil. O risco é máximo<br />
em creches e/ou centros de educação infantil<br />
que prestam cuidados a crianças menores de<br />
2 anos de idade. Não se recomenda de rotina<br />
a investigação de anticorpos contra CMV dos<br />
profissionais destes ambientes, porém este grupo<br />
deve ser orientado quanto aos riscos também do<br />
CMV, no momento do seu planejamento familiar.<br />
Prevenção da transmissão de CMV pelo leite<br />
materno: a pasteurização e o congelamento<br />
podem reduzir o risco de transmissão. Porém<br />
deve-se considerar a administração somente de<br />
leite materno de mulheres que não apresentem<br />
anticorpos de CMV.<br />
A prevenção da infecção congênita por CMV e<br />
suas sequelas é um grande desafio. A soroprevalência<br />
materna de CMV varia significativamente<br />
conforme a região, país, condição sócio-econômica<br />
e a infecção congênita por CMV é fortemente<br />
dependente do status sorológico materno, idade<br />
materna e idade gestacional do momento da infecção.<br />
Considerando-se a gravidade e a frequência<br />
de sequelas nos neonatos infectados deve-se<br />
analisar o custo – benefício de um programa de<br />
screening universal para gestantes e RN dentro<br />
do contexto epidemiológico brasileiro, até que<br />
uma vacina efetiva seja disponibilizada.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 169
Infecções congênitas – Diagnóstico, tratamento e prognóstico<br />
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Pediatrics.<br />
Toxoplasmose<br />
Congênita<br />
MANOEL REGINALDO ROCHA DE HOLANDA<br />
Definição<br />
A toxoplasmose é uma infecção com variabilidade<br />
de apresentação clínica, produzida pelo<br />
Toxoplasma gondii, um parasita intracelular<br />
obrigatório com afinidade por várias células<br />
animais. Diz-se toxoplasmose congênita quando<br />
a doença é transmitida da mãe para o feto<br />
durante a gestação.<br />
Agente Etiológico<br />
O Toxoplasma gondii foi inicialmente descrito<br />
por Nicolle and Manceaux (1908), em Tunis,<br />
em tecido de gundi (Ctenodoactylus gundé) e<br />
por Splendore (1908) no Brasil em tecidos de<br />
coelhos. O microorganismo é um coccídio que<br />
existe sob três formas: oocistos produzidos no<br />
ciclo entero-epitelial (sexuada) no intestino<br />
dos gatos (hospedeiro definitivo) que produz<br />
esporozoítos; taquizoítas, resultantes do ciclo<br />
extra-intestinal (assexuado), que ocorre no gato<br />
e nos demais hospedeiros intermediários, que<br />
é uma forma proliferativa, que necessita de<br />
ambiente intracelular para sobreviver e reproduzir;<br />
e os cistos teciduais, a forma de resistência<br />
do microorganismo, com bradizoítas no seu<br />
interior, com capacidade de reprodução lenta,<br />
mais comumente observados no tecido cerebral,<br />
músculo esquelético e cardíaco 1,2 .<br />
Transmissão<br />
A transmissão congênita da Toxoplasmose foi<br />
a primeira forma descrita 3 . Diversos estudos<br />
experimentais em animais confirmaram este<br />
modo de transmissão, ressaltando a associação<br />
entre infecção aguda e o risco de transmissão<br />
vertical da doença 4,5 . Em humanos a associação<br />
entre o isolamento de Toxoplasma gondii na<br />
placenta e a infecção do neonato reforça o<br />
conceito da cadeia: parasitemia materna, infecção<br />
placentária e infecção fetal. A parasitemia<br />
materna ocorre em fase precoce da primoinfecção,<br />
antes que as manifestações clínicas da<br />
doença ocorram. Foi observada uma correlação<br />
positiva entre tempo de gestação em que ocorreu<br />
a primoinfecção materna e a presença de<br />
infecção fetal, evidenciando o papel da maturação<br />
placentária na transmissão da doença,<br />
em trabalho de Desmonts e Crouvreur. Neste<br />
170<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Infecções congênitas – Diagnóstico, tratamento e prognóstico<br />
estudo quando a infecção ocorreu no primeiro<br />
trimestre da gestação o percentual de doença<br />
fetal foi de 14% (17/126), na primoinfecção<br />
adquirida no segundo trimestre da gestação<br />
a infecção fetal ocorreu em 30% (73/1246) e<br />
quando adquirida no terceiro trimestre de<br />
gestação a infecção fetal foi observada em<br />
60% (76/128). Foi observada uma correlação<br />
negativa entre a gravidade da doença fetal<br />
e a idade gestacional em que ocorreu a primoinfecção<br />
materna 6 . Na infecção materna<br />
adquirida antes da gestação, a transmissão<br />
fetal é rara, sendo descrita poucos casos, em<br />
geral relacionados à grave imunodeficiência da<br />
gestante 7 . Na síndrome da imunodeficiência<br />
adquirida, devido a infecção pelo HIV, foram<br />
relatados casos de transmissão congênita durante<br />
a infecção crônica 8,9 .<br />
De acordo com estas evidências podemos concluir<br />
que a infecção fetal depende de três fatores:<br />
parasitemia materna (inicial ou recorrente), a<br />
maturidade da placenta (volume e fluxo sanguíneo<br />
no órgão) e o estado e competência da<br />
resposta imunológica materna ao Toxoplasma<br />
gondii (completa, deficiente ou ausente).<br />
Na forma adquirida, os humanos adquirem<br />
a toxoplasmose através da ingestão de carnes<br />
mal cozidas contaminadas com cistos ou pela<br />
ingestão dos oocistos (esporozoitos) a partir da<br />
manipulação de objetos ou alimentos consumidos<br />
crus ou mal cozidos contaminados com fezes<br />
de gatos. Foi descrito a transmissão através do<br />
leite de animais para o homem 10 , mas a transmissão<br />
pelo leite materno não foi demonstrada.<br />
As transfusões sanguíneas de doadores com<br />
parasitemia assintomática já foram veiculadas<br />
como potenciais transmissores da infecção 11 .<br />
Em crianças com toxoplasmose congênita foi<br />
observado a presença do Toxoplasma gondii na<br />
saliva, lágrima, escarro, urina e fezes alertando<br />
para o manuseio adequado destas secreções pelo<br />
pessoal da assistência 12 . Infecção acidental em<br />
pessoal de laboratório, inclusive em necropsia,<br />
já foram relatados 13 . A transmissão por órgãos<br />
transplantados de doadores soropositivos para<br />
receptores soronegativos para toxoplasmose já<br />
foi documentada 14 .<br />
Prevalência<br />
CURITIBAPR<br />
A prevalência da infecção congênita é variável e<br />
dependente dos hábitos alimentares e condições<br />
sócio-econômicas da população estudada. Em<br />
um estudo nos Estados Unidos, os principais fatores<br />
de risco para toxoplasmose adquirida foram<br />
ingestão de carne crua ou insuficientemente cozidas,<br />
ingestão de carne de cordeiro, ingestão de<br />
carne curada, seca ou defumada, trabalhadores<br />
que manipulam carnes, consumidores de leite<br />
não pasteurizado e pessoas que convivem com<br />
três ou mais gatos 15 . No Brasil, em um estudo<br />
de 41.112 gestantes, utilizando os critérios da<br />
Rede Europeia de Pesquisa em Toxoplasmose<br />
Congênita (ERNCT) para diagnóstico da infecção<br />
aguda materna e para toxoplasmose congênita<br />
a prevalência de toxoplasmose aguda foi de<br />
4,8/1000 gestantes e de 0,6/1000 recém-nascidos<br />
ao nascimento, que aumentou para 0,9/1000<br />
durante o seguimento de follow-up no primeiro<br />
ano de vida. A taxa de transmissão nos recémnascidos<br />
expostos durante a gestação foi de<br />
18,5% (37/200) 16 . Na França, um estudo revelou<br />
uma transmissibilidade materna fetal de 24%,<br />
sendo 7%, 24% e 59% no primeiro, segundo e<br />
terceiro trimestre de gestação, respectivamente 17 .<br />
Em um estudo em Natal, RN, foi observado uma<br />
prevalência de 66,3% de gestantes infectadas<br />
(126/190), sendo uma com infecção aguda.<br />
Neste estudo os fatores de risco associados com<br />
a infecção materna foram: contato direto com<br />
gatos e cachorros, menor escolaridade, condições<br />
sócio-econômicas precárias e informações<br />
insuficientes sobre a doença 18 .<br />
Aspectos Clínicos<br />
A toxoplasmose congênita se expressa de quatro<br />
formas clínicas: doença neonatal, doença<br />
moderada ou severa ocorrendo nos primeiros<br />
meses de vida, sequela ou recidiva de infecção<br />
congênita durante a infância ou adolescência<br />
de doença não diagnosticada previamente ou<br />
infecção subclínica.<br />
Aproximadamente 70% dos neonatos infectados<br />
são assintomáticos ao nascimento, mas se não<br />
tratados desenvolvem a doença semanas ou<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 171
Infecções congênitas – Diagnóstico, tratamento e prognóstico<br />
meses após. Estes neonatos podem apresentar<br />
anormalidades liquóricas como pleocitose e<br />
proteinorraquia elevada, coriorretinite e calcificações<br />
intracranianas se investigados 19 . Nos<br />
recém-nascidos sintomáticos a doença pode ser<br />
leve, moderada ou grave, mas quando presente<br />
ao nascimento é usualmente grave. A doença<br />
pode se manifestar de forma generalizada,<br />
com sinais e sintomas multissistêmicos, sempre<br />
com envolvimento do sistema nervoso central.<br />
Uma outra forma observada é o acometimento<br />
neurológico mais proeminente, com a ocorrência<br />
de convulsões, abaulamento de fontanela,<br />
nistagmo, aumento da circunferência do crânio<br />
e coriorretinite.<br />
Segundo Eichenwald, em um dos mais completos<br />
estudos sobre o curso clínico da toxoplasmose<br />
congênita foi observado na forma<br />
neurológica: 94% de coriorretinite, 55% de<br />
alterações liquóricas, 51% de anemia, 50% de<br />
convulsões e 50% de calcificações intracranianas,<br />
dentre outras. Na forma generalizada,<br />
observou-se 90% de esplenomegalia, 84% de<br />
alterações liquóricas, 80% de icterícia, 77% de<br />
anemia, 77% de febre e 68% de linfadenomegalias,<br />
dentre outros 20.<br />
Diagnóstico<br />
Os critérios sorológicos de primoinfecção materna<br />
pelo Toxoplasma gondii, definida pela<br />
Rede Europeia de Pesquisa em Toxoplamose<br />
Congenita, são: soroconversão durante a gestação;<br />
aumento significativo de IgG (maior que<br />
3 vezes) e do teste dye (maior que 4 vezes),<br />
presença de IgM específica ou um alto título<br />
de IgG (teste dye maior que 300 UI/mL) 21 . Atualmente<br />
outros critérios foram incluídos como o<br />
teste de avidez IgG baixa e a cadeia de reação<br />
da polimerase (PCR) positiva. Com estes exames<br />
complementares associados à confirmação de<br />
caso de toxoplasmose fetal podemos classificar<br />
o estado materno de infecção aguda como:<br />
infecção definida, infecção provável, infecção<br />
possível e infecção improvável 16 .<br />
A toxoplasmose congênita é confirmada pelo<br />
isolamento do agente na placenta, no líquido<br />
172<br />
amniótico ou no sangue dos recém-nascidos nas<br />
primeiras semanas de vida, ou pela detecção<br />
do DNA ou antígenos do Toxoplasma gondii no<br />
soro, urina ou líquor 22 .<br />
A sensibilidade dos testes IgM específicos depende<br />
da técnica utilizada. Os testes de imunofluorescência<br />
(IgM-IFA) indireta são pouco sensíveis<br />
(25%), já os testes de IgM-ELISA podem obter<br />
sensibilidade de 75% e nos de IgM-ISAGA a sensibilidade<br />
é maior 23 . Alguns estudos comprovaram<br />
que os anticorpos séricos IgA anti-toxoplasma<br />
são mais frequentemente detectáveis do que<br />
os IgM 24 .<br />
Nas crianças nascidas de gestação que se enquadram<br />
nos critérios acima, além de um detalhado<br />
exame físico, são indicados hemograma<br />
completo com plaquetas, pesquisa de anticorpos<br />
específicos IgG e IgM para Toxoplasma gondii,<br />
exame do líquor, ultrassonografia transfontanelar<br />
e/ou outros exames de imagem, PCR no<br />
sangue ou líquor e exame oftalmológico detalhado.<br />
Estes recém-nascidos devem ser seguidos<br />
e investigados durante o primeiro ano de vida,<br />
no mínimo.<br />
Tratamento<br />
As evidências sugerem que o tratamento na<br />
gestante com infecção aguda reduz o risco de<br />
transmissão da doença para o feto. Em uma<br />
meta-análise com 1.438 mulheres infectadas<br />
durante a gestação observou-se que o tratamento<br />
iniciado até três semanas após a soroconversão<br />
reduz a transmissão mãe filho quando comparado<br />
com o tratamento iniciado após oito semanas<br />
desta conversão. No entanto este tratamento<br />
não reduz o risco das manifestações clínicas no<br />
recém-nascido infectado 25 .<br />
As drogas utilizadas no tratamento não erradicam<br />
a forma encistada do parasita (bradizoitas).<br />
Diversas drogas são utilizadas no tratamento<br />
da toxoplasmose. A sulfonamida, agente bacteriostático,<br />
antagonista do PABA (ácido 4,<br />
aminobenzóico); os antiparasitários como a<br />
pirimetamina, antagonista do ácido fólico e o<br />
atavacone, inibidor do transporte mitocondrial;<br />
os antibióticos macrolídeos como a espirami-<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Infecções congênitas – Diagnóstico, tratamento e prognóstico<br />
cina e a azitromicina, cuja ação no ribossomo<br />
altera a síntese proteica do microorganismo;<br />
e os antibióticos da classe dos lincosamidas<br />
como a clindamicina, com ação também nos<br />
ribossomos do parasita 26 . O tratamento dos<br />
recém-nascidos e lactentes com doença confirmada<br />
é realizado com uma combinação de<br />
sufadiazina, pirimetamina e suplemento com<br />
ácido fólico por 6 meses. Recomenda-se, após<br />
este ciclo, associação de espiramicina em etapas<br />
intercaladas com as drogas anteriores durante<br />
o primeiro ano de vida. Os corticóides, predinisona<br />
ou metilpredinisolona, são indicados na<br />
vigência de coriorretinite e elevação das proteínas<br />
liquóricas 27 . Nos recém-nascidos sadios de<br />
mãe com toxoplasmose aguda na gestação nos<br />
quais os testes sorológicos forem inconclusivos<br />
é indicado realizar tratamento com um ciclo<br />
de pirimetamina, sulfadizina e ácido fólico,<br />
seguido de um ciclo de espiramicina, até a<br />
elucidação do caso 22 .<br />
Prognóstico<br />
A ocorrência de sequelas neurológicos nos neonatos<br />
que apresentam-se sintomáticos ao nascimento,<br />
é considerável, especialmente retardo do<br />
neuro-desenvolvimento e deficiência visual 22,28 .<br />
Estudos de seguimento, a curto prazo, indicam<br />
que o tratamento materno durante a gestação,<br />
seguido do tratamento de todos os recém-nascidos<br />
e lactentes com infecção congênita melhora<br />
o prognóstico. Hohfeld et al, observaram que<br />
a infecção permaneceu subclínica em 76% dos<br />
casos, quase todos os pacientes adequadamente<br />
tratados tiveram desenvolvimento neuropsicosomotor<br />
normal, no entanto, foi encontrado<br />
uma incidência de coriorretinite em 10% dos<br />
pacientes, entre 5 e 17 meses de idade 29 .<br />
Os estudos de seguimento à longo prazo, de<br />
pacientes com toxoplasmose congênita sintomáticos<br />
ou subclínicos, sugerem que a maioria<br />
dos pacientes desenvolvem coriorretinite com 10<br />
a 20 anos de vida. Nestes casos o tratamento<br />
adequado reduz esta incidência. A recidiva da<br />
<strong>Referências</strong><br />
toxoplasmose ocular pode ocorrer também mais<br />
30, 31.<br />
frequentemente nos pacientes não tratados<br />
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174<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Planejando o futuro<br />
CURITIBAPR<br />
A importância da<br />
orientação nutricional<br />
- Quando e como<br />
introduzir alimentos<br />
novos<br />
VIRGINIA RESENDE S. WEFFORT<br />
O leite materno é o alimento ideal e natural<br />
para a criança. Apesar da afirmação antiga, a<br />
taxa de aleitamento materno no Brasil ainda<br />
é baixa. Os dados da pesquisa nacional realizada<br />
pelo Ministério da Saúde, em 2008,<br />
mostram que a prevalência de aleitamento<br />
materno exclusivo em menores de 6 meses<br />
foi de 41% e em menores de 4 meses, 51,2%<br />
ou seja, observa-se um indício de que existe<br />
a introdução de alimentos líquidos ou sólidos<br />
em momento não oportuno.<br />
As práticas alimentares no primeiro ano de<br />
vida constituem marco importante na formação<br />
dos hábitos alimentares da criança. No<br />
primeiro semestre de vida recomenda-se o<br />
aleitamento materno que é um meio econômico,<br />
acessível e adequado de alimentação,<br />
sendo recomendada a amamentação exclusiva<br />
durante os primeiros seis meses de vida,<br />
após este período, as crianças devem iniciar a<br />
diversificação alimentar, mantendo-se o aleitamento<br />
materno até aos dois anos de vida<br />
ou mesmo durante mais tempo. Assim, é de<br />
fundamental importância, que nesse período,<br />
as mães recebam orientações e sejam apoiadas<br />
para a adequada introdução dos alimentos<br />
complementares.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria<br />
Na impossibilidade do aleitamento materno deve<br />
ser indicada uma fórmula infantil. As fórmulas<br />
infantis podem ser classificadas em: para prétermo,<br />
fórmula infantil para lactentes ou de<br />
partida (até seis meses de vida), fórmula infantil<br />
de seguimento (dos seis aos 12 meses de vida) e<br />
formulas especiais. As fórmulas possuem quantidades<br />
de macro e micronutrientes que atendem<br />
às necessidades do lactente.<br />
A duração do aleitamento materno exclusivo<br />
tem sido intensamente debatido nos últimos<br />
anos, refletindo a disponibilidade limitada de<br />
evidências científicas dos países industrializados<br />
para informar a recomendação da OMS e<br />
do fato de que os problemas encontrados nos<br />
países industrializados são diferentes dos países<br />
em desenvolvimento. Revisão sistemática sobre<br />
o assunto, publicado em 2009, que inclui estudos<br />
realizados em países desenvolvidos e em<br />
desenvolvimento, mostra conclusões favoráveis<br />
às atuais recomendações da OMS e da SBP. A revisão<br />
verificou que os resultados de dois ensaios<br />
clínicos controlados e 18 outros estudos sugerem<br />
que a amamentação exclusiva por 6 meses tem<br />
várias vantagens sobre a amamentação exclusiva<br />
por 3-4 meses seguido por aleitamento misto.<br />
Essas vantagens incluem um menor risco de<br />
infecção gastrointestinal para o bebê, a perda de<br />
peso mais rápida materna após o nascimento,<br />
e atraso da menstruação. Nenhum efeito adverso<br />
sobre o crescimento foi documentado com<br />
aleitamento materno exclusivo por seis meses.<br />
O Comitê Europeu de Gastro, hepato, alergia e<br />
nutro Pediátrica (ESPGHAN), com base nos dados<br />
disponíveis, concluiu que é meta desejável que<br />
o leite materno exclusivo seja até 6 meses e<br />
que outros alimentos não sejam introduzidos<br />
antes de 17 semanas ou após 26 semanas de<br />
idade. A Academia Americana de Pediatria (AAP)<br />
recomenda leite materno exclusivo no mínimo<br />
por 4 meses mas de preferência até 6 meses<br />
de idade.<br />
175
Planejando o futuro<br />
A chamada “programação metabólica” ou “imprinting<br />
metabólico” que propõem que a indução, a<br />
deleção ou o prejuízo no desenvolvimento de uma<br />
estrutura somática permanente ou de ajuste de<br />
um sistema fisiológico por estímulo ou agressão,<br />
que ocorre num período suscetível (fases precoces<br />
da vida), resultariam em consequências em longo<br />
prazo para as funções fisiológicas, podendo ser<br />
positivas (melhora da saúde) ou negativas (riscos<br />
para a saúde futura, tais como doenças cardiovasculares<br />
e diabetes). Um importante exemplo<br />
de programming em humanos é a relação entre<br />
a alimentação no primeiro ano de vida e o<br />
desenvolvimento de obesidade. O aleitamento<br />
materno tem efeito protetor e dose-dependente<br />
na redução do risco de obesidade na vida adulta.<br />
A alimentação saudável deve possibilitar crescimento<br />
e desenvolvimento adequados, otimizar o<br />
funcionamento de órgãos, sistemas e aparelhos e<br />
atuar na prevenção de doenças em curto e longo<br />
prazo (Ex: anemia, obesidade e doenças crônicas<br />
não transmissíveis como dislipidemia, obesidade,<br />
diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial,<br />
asma, dermatite atópica, doença célica, doença<br />
inflamatória intestinal e neoplasia pediátrica).<br />
Schack-Nielsen L et al. (2010) observaram que para<br />
cada mês de retardo na introdução da alimentação<br />
complementar (faixa de 2 a 6 meses) diminui de 6<br />
a 10% o risco de excesso de peso na vida adulta.<br />
A introdução oportuna de alimentos complementares<br />
durante a infância é necessária por<br />
razões nutricionais e de desenvolvimento, e<br />
para permitir a transição do aleitamento para<br />
alimentos da família. A capacidade do leite<br />
materno para atender às necessidades de macronutrientes<br />
e micronutrientes, torna-se limitada<br />
com o aumento da idade da criança.<br />
Para uma criança metabolizar alimentos sólidos<br />
é necessária a maturação fisiológica da função<br />
renal e gastrointestinal e que o desenvolvimento<br />
neurológico esteja completo para a idade. É<br />
sabido que a exposição a substâncias sólidas<br />
é marcada pela transição de um alto teor de<br />
gorduras (leite materno) para uma dieta rica em<br />
carboidrato (alimentação complementar) sendo<br />
associada a respostas hormonais (por exemplo,<br />
insulina, hormônios suprarrenais) que resultam<br />
na adaptação das funções digestivas para a natureza<br />
dos alimentos ingeridos, aumentando a<br />
taxa de maturação de algumas funções enzimáticas<br />
e / ou atividades. Assim, faz-se necessária<br />
a maturação gastrointestinal completa.<br />
A deglutição é uma função neuromotora variável,<br />
sendo importante esta avaliação para introdução<br />
de alimentos sólidos. Por volta dos 4 meses de<br />
idade, apesar de o reflexo de protrusão estar desaparecendo,<br />
algumas crianças ainda não sentam<br />
sem apoio e não obtém o controle neuromuscular<br />
da cabeça e do pescoço, portanto não mostram<br />
saciedade, afastando a cabeça ou jogando-a<br />
para trás, nestes casos ela ainda está preparada<br />
para receber refeição líquida (leite materno<br />
somente). Com a aproximação do sexto mês de<br />
vida, o grau de tolerância gastrointestinal e a<br />
capacidade de absorção de nutrientes atingem<br />
um nível satisfatório, a criança vai se adaptando<br />
física e fisiologicamente, a maioria das crianças<br />
pode sentar com apoio e pode comer com colher,<br />
permitindo uma alimentação mais variada<br />
quanto a consistência e textura. Em torno de 8<br />
meses, elas têm desenvolvido a flexibilidade da<br />
língua suficiente para permitir mastigar e engolir<br />
alimentos mais sólidos e em porções maiores. De<br />
9 a 12 meses, a maioria das crianças têm habilidades<br />
manuais para se alimentar, beber de um<br />
copo padrão, utilizando as duas mãos, e comer<br />
alimentos preparados para o resto da família.<br />
Não há evidência científica convincente de que<br />
a introdução tardia de alimentos potencialmente<br />
alergênicos, tais como peixes, ovos, aveia e trigo<br />
reduz alergias, tanto em crianças consideradas<br />
em risco aumentado para o desenvolvimento de<br />
alergia ou naqueles que não sejam considerados<br />
de risco. É prudente evitar tanto a introdução<br />
precoce (
Planejando o futuro<br />
Os guias de conduta (europeu, americano e<br />
brasileiro) respaldam a afirmação que a introdução<br />
de peixe antes dos 9 meses de idade<br />
diminui em 24% o risco de dermatite atópica,<br />
e a introdução do ovo (inteiro cozido) após os<br />
CURITIBAPR<br />
9 meses aumenta em 1,5 vezes o risco de alergia<br />
e dobra o risco, se introduzido após os 12<br />
meses, em comparação com a introdução aos<br />
6 meses de idade (Koplin JJ, et al. J Allergy Clin<br />
Immunol. 2010).<br />
Esquema para introdução dos alimentos complementares<br />
Faixa etária<br />
Tipo de alimento<br />
Até 6º mês<br />
Leite materno exclusivo<br />
Após o 6º mês até 24 meses Leite materno complementado<br />
A partir do 6º mês<br />
Frutas amassadas ou raspadas, sucos naturais*<br />
Entre 6º e 7º mês<br />
Primeira papa de misturas, ovo<br />
Entre 7º e 8º mês<br />
Segunda papa de misturas<br />
A partir do 9º ao 11º mês Gradativamente passar para a consistência da comida da família<br />
12º mês Comida da família<br />
*Os sucos de frutas devem se restringir ao volume de 100 mL por dia, devendo ser naturais e feitos no<br />
momento da oferta.<br />
Com a introdução da alimentação complementar faz-se necessário a introdução de água, 0 a 6 meses: 700 mL;<br />
7 a 12 meses: 800 mL; 1 a 3 anos: 1300 mL, segundo recomendações diárias de ingestão.<br />
Componentes das papas de misturas<br />
Cereal ou tubérculo + Leguminosa + Proteína animal + Hortaliça<br />
Arroz Feijão Carne bovina Legumes<br />
Milho Soja Carne suína Verduras<br />
Macarrão Ervilha Carne de frango<br />
Batata Lentilhas Peixes<br />
Mandioca Grão de bico Vísceras<br />
Inhame<br />
Ovos<br />
Cará<br />
É importante lembrar que:<br />
– Deve-se incluir todos os grupos de alimentos<br />
(cereais ou tubérculos, proteína animal, hortaliças<br />
e leguminosas) desde a primeira papa.<br />
– Não se deve acrescentar sal e condimentos<br />
industrializados.<br />
– Carne bovina (100 g nas duas papas).<br />
– Peixes fontes de ômega 3 devem ser consumidos<br />
pelo menos duas vezes/semana.<br />
– Óleo vegetal deve ser introduzido ao final do<br />
preparo (não refogar), preferencialmente de<br />
soja e deve ser usado o equivalente a 30%<br />
do total calórico das porções, o que equivale<br />
de 3 a 3,5 ml por cada 100ml ou 100gramas<br />
de preparação.<br />
– Deve-se variar os alimentos oferecidos.<br />
– Verificar ingestão adequada de micronutrientes,<br />
principalmente ferro, zinco, vitamina A.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 177
Planejando o futuro<br />
<strong>Referências</strong> <strong>Bibliográficas</strong><br />
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by the ESPGHAN Committee on Nutrition J Pediatr<br />
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2. Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à<br />
Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da<br />
criança: nutrição infantil: aleitamento materno e<br />
alimentação complementar. Brasília; 2009. 112p.<br />
3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à<br />
Saúde. Departamento de Atenção Básica. Dez passos<br />
para uma alimentação saudável: guia alimentar<br />
para crianças menores de dois anos: um guia para o<br />
profissional da saúde na atenção básica / Ministério da<br />
Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento<br />
de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília : Ministério da<br />
Saúde, 2010.<br />
4. Bright I. Nwaru, Maijaliisa Erkkola, Suvi Ahonen,<br />
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Kippilä, Raili Salmelin, Riitta Veijola, Jorma Ilonen,<br />
Olli Simell, Mikael Knip and Suvi M. Virtanen. Age at<br />
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5. British Dietetic Association. The BDA Paediatric<br />
Group Position Statement: weaning infants onto<br />
solid foods. The British Dietetic Association Specialist<br />
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Michaelsen KF. Late introduction of complementary<br />
feeding, rather than duration of breastfeeding,<br />
may protect against adult overweight. Am J Clin<br />
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9. Sociedade Brasileira de Pediatria. Manual de<br />
orientação para alimentação do lactente, do préescolar,<br />
do escolar, do adolescente e na escola.<br />
Departamento de Nutrologia. Sociedade Brasileira<br />
de Pediatria 2.ed. São Paulo. 2008. 120p Manual de<br />
orientação<br />
10. WHO. www.who.int/features/factfiles/breastfeeding/<br />
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best for babies everywhere (15 janeiro de 2011)<br />
11. World Health Organization, UNICEF. Global strategy<br />
for infant and young child feeding, 2003, 14-15.<br />
Transição<br />
nutricional<br />
VERA LUCIA SDEPANIAN<br />
Transição nutricional refere-se ao processo em<br />
que ao mesmo tempo observam-se redução<br />
significante da desnutrição energético-proteica<br />
e aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade.<br />
A população brasileira passa atualmente<br />
por uma transição nutricional uma vez que<br />
ocorre, principalmente, nos grandes centros<br />
urbanos diminuição da desnutrição e aumento<br />
da obesidade. Este fato também ocorre em<br />
muitos outros países.<br />
Desta forma, a obesidade se tornou um dos<br />
principais problemas de saúde pública, visto que<br />
se inicia cada vez mais cedo e está relacionada<br />
com fatores de risco para doenças cardiovasculares<br />
e síndrome metabólica.<br />
No entanto, a desnutrição energético-proteica<br />
ainda representa importante problema de saúde<br />
pública, em especial nos menores de 5 anos de<br />
idade. Deve-se destacar que, nas formas moderadas<br />
e graves de desnutrição energético-proteica,<br />
178<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Planejando o futuro<br />
o índice de mortalidade ainda é muito alto,<br />
mantendo os mesmos patamares nas últimas<br />
décadas.<br />
Segundo dados da Pesquisa Nacional de Demografia<br />
e Saúde (PNDS), de 2006, financiada pelo<br />
Ministério da Saúde, a prevalência da desnutrição<br />
na população brasileira de crianças menores de<br />
cinco anos, aferida pela proporção de crianças<br />
com déficit de crescimento, foi de 7% em 2006.<br />
A distribuição espacial dessa prevalência indica<br />
frequência máxima do problema na região Norte<br />
(15%) e pouca variação entre as demais regiões<br />
(6% nas regiões Centro-Oeste, Nordeste, Sudeste<br />
e 8% na região Sul).<br />
Ainda segundo os dados da PNDS 2006, situações<br />
de excesso de peso em relação à altura foram<br />
encontradas em 7% das crianças brasileiras menores<br />
de cinco anos, variando de 6% na região<br />
Norte a 9% na região Sul, indicando exposição<br />
moderada à obesidade infantil em todas as<br />
regiões do país. A estratificação segundo escolaridade<br />
das mães indica tendência de aumento<br />
da exposição à obesidade com o aumento dos<br />
anos de estudo da mãe (4% de crianças com<br />
excesso de peso nos filhos de mulheres sem<br />
escolaridade e 9% nos filhos de mulheres com<br />
12 ou mais anos de escolaridade).<br />
Comparando-se os dados das PNDS de 1996 e<br />
2006 com respeito à prevalência de desnutrição<br />
na infância, observa-se redução de cerca de 50%:<br />
de 13% para 7%. Na região Nordeste, a redução<br />
foi excepcionalmente elevada, chegando a 67%<br />
(de 22,1% para 5,9%). Na região Centro-Oeste, a<br />
redução foi de aproximadamente 50% (de 11%<br />
para 6%). Nas áreas urbanas da região Norte,<br />
as únicas estudadas nessa região em 1996, a<br />
CURITIBAPR<br />
redução na desnutrição foi mais modesta, em<br />
torno de 30% (de 21% para 14%). Nas regiões<br />
Sul e Sudeste, os dados indicam estabilidade<br />
estatística das prevalências.<br />
Por outro lado, comparando-se os dados das<br />
PNDS de 1996 e 2006 com respeito à prevalência<br />
de excesso de peso para altura, os dados não<br />
indicam mudança na exposição da população à<br />
obesidade (cerca de 7% em ambos os inquéritos).<br />
O processo de transição nutricional se produziu,<br />
especialmente, em razão de modificações dos<br />
padrões de hábitos alimentares determinados<br />
por mudanças econômicas, demográficas, ambientais<br />
e culturais, registrados nos últimos 25<br />
anos do século XX, na maioria dos países em<br />
desenvolvimento.<br />
Deve-se mencionar que ações que combatam<br />
eficientemente a pobreza serão de extrema<br />
importância para a luta contra a desnutrição.<br />
Para alcançar este objetivo, os países em desenvolvimento<br />
devem intensificar as ações de<br />
investimentos em educação, saneamento do<br />
meio e cuidados básicos de saúde, incluindo o<br />
monitoramento do estado nutricional infantil<br />
e a detecção assim como correção precoce da<br />
desnutrição.<br />
Com relação às medidas contra a obesidade,<br />
sabe-se que para a influência genética se expressar<br />
há necessidade da interação com fatores<br />
ambientais, em especial dos hábitos alimentares<br />
com excessiva ingestão calórica e do sedentarismo.<br />
Assim, a abordagem multidisciplinar deve<br />
ser considerada para o tratamento da obesidade<br />
no sentido de se contemplar os diversos fatores<br />
etiológicos ambientais envolvidos.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria 179
Planejando o futuro<br />
O crescimento pós-alta<br />
do prematuro.<br />
Quais os riscos?<br />
RENATO SOIBELMANN PROCIANOY<br />
A avaliação do crescimento pós-alta de um recém-nascido<br />
pré-termo é feita pela utilização das<br />
curvas de crescimento da Organização Mundial<br />
da Saúde (OMS). Essas curvas foram confeccionadas<br />
em países de diferentes continentes para<br />
ter uma representatividade universal e tem a<br />
finalidade de monitorizar o crescimento normal<br />
das crianças. Apesar de serem utilizadas para<br />
avaliar o crescimento dos recém-nascidos prétermo,<br />
não são adequadas para este fim, tanto,<br />
que, neste momento, existe em andamento um<br />
projeto da OMS para confecção de curvas de<br />
crescimento específicas para recém-nascidos<br />
pré-termos.<br />
Quando se avalia o crescimento de um recémnascido<br />
pré-termo, além de levar em consideração<br />
o grau de imaturidade (idade gestacional e<br />
peso de nascimento), também tem que se levar<br />
em conta o estado nutricional intra-útero deste<br />
recém-nascido. O crescimento pós-natal é necessariamente<br />
diferente se o recém-nascido sofreu<br />
restrição de crescimento intra-uterino ou não.<br />
Metabolicamente os recém-nascidos com crescimento<br />
intra-uterino restrito são diferentes e estas<br />
diferenças se manterão após o nascimento. O<br />
recém-nascido que sofreu restrição intra-uterina<br />
terá um crescimento mais lento que aquele que<br />
não sofreu este processo.<br />
No que tange aos recém-nascidos de muito<br />
baixo peso (peso de nascimento ≤ 1500 gramas)<br />
é sabido que durante o período de permanência<br />
hospitalar, por melhor que seja o cuidado<br />
nutricional destes pacientes, há uma piora do<br />
estado nutricional 1 . A grande maioria dos recémnascidos<br />
de muito baixo não cresce de forma<br />
semelhante ao crescimento intra-uterino durante<br />
o período de sua estada no hospital.<br />
180<br />
A restrição de crescimento extra-uterina está<br />
associada a comprometimento do processo<br />
de desenvolvimento. Estudo envolvendo em<br />
torno de 400 pacientes com peso de nascimento<br />
≤ 1000 gramas, observando os seus<br />
ganhos de peso durante a hospitalização foi<br />
constatado que aqueles que ganharam menos<br />
peso apresentaram pior desenvolvimento aos<br />
22 meses de idade corrigida 2 .<br />
O pobre crescimento pós-alta também influi<br />
no desenvolvimento. Estudo com mais de 700<br />
recém-nascidos pré-termo avaliados aos 8 anos<br />
de idade mostrou que aqueles que menos<br />
cresceram até esta idade apresentaram pior<br />
desenvolvimento 3 . Estudo anterior, realizado<br />
no início da década de 90, já havia mostrado<br />
que aqueles com crescimento do perímetro<br />
cefálico subnormal até os 8 anos de idade são<br />
os que apresentam maior comprometimento<br />
da cognição 4 .<br />
O ideal do recém-nascido pré-termo de muito<br />
baixo peso é que faça catch-up de crescimento.<br />
Define-se como catch-up a recuperação de uma<br />
perda anterior. O padrão ideal do recém-nascido<br />
pré-termo é que faça primeiro o catch-up do<br />
perímetro cefálico (em geral nos primeiros 12<br />
meses), após do comprimento (até 2 a 3 anos)<br />
e, posteriormente, do peso. Os recém-nascidos<br />
pequenos para a idade gestacional costumam<br />
fazer o catch-up mais tardio (até 5 a 8 anos).<br />
O grande problema na atualidade é definir o<br />
momento mais adequado e a velocidade certa<br />
com que vai ocorrer o catch-up no recém-nascido<br />
pré-termo de muito baixo peso.<br />
Alguns estudos tem relacionado o catch-up precoce<br />
e rápido ao aparecimento de dislipidemia,<br />
hipertensão arterial e resistência insulínica na<br />
adolescência com possíveis consequências na<br />
idade adulta como coronariopatias e acidente<br />
vascular cerebral 5 . Este conjunto de sinais e<br />
sintomas constituem a síndrome metabólica.<br />
A teoria do “Programming” sugere que determinados<br />
fatos biológicos que aconteçam em<br />
fases críticas do desenvolvimento de uma pessoa<br />
podem programar o indivíduo a apresentar<br />
determinadas alterações ao longo de sua vida.<br />
68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
Planejando o futuro<br />
Atualmente existe a tendência de pensar que<br />
um catch-up exageradamente precoce ou excessivamente<br />
intenso possa programar o indivíduo<br />
a vir apresentar sinais clínicos de Síndrome<br />
Metabólica na idade adulta.<br />
Desta forma podemos afirmar que o catch-up<br />
é bom e fundamental para o bom desenvolvimento<br />
de um recém-nascido, entretanto, neste<br />
momento não é sabido qual o padrão ideal<br />
de catch-up para um recém-nascido de muito<br />
baixo peso.<br />
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Planejando o futuro<br />
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68º Curso <strong>Nestlé</strong> de Atualização em Pediatria
<strong>Nestlé</strong><br />
Nutrition.<br />
Líder mundial<br />
em Nutrição<br />
Infantil.