I Musicom_template - Curso de Música - Universidade Federal do ...
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I Encontro <strong>de</strong> Pesquisa<strong>do</strong>res em Comunicação e Música Popular<br />
Tendências e convergências da música na cultura midiática<br />
21 a 23 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2009, UFMA, São Luis – MA.<br />
2<br />
Como os Beatles, que apren<strong>de</strong>ram no estúdio, eu lá aprendi tu<strong>do</strong>, os macetes.<br />
Aprendi a fazer música fácil, comercial, intuitiva e bonitinha, que leva direitinho o<br />
que a gente quer dizer. Aí eu <strong>de</strong>sisti <strong>de</strong> vez <strong>do</strong> livro que eu ia fazer, o trata<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
metafísica. Decidi chegar ao livro através <strong>do</strong>s discos, <strong>do</strong>s sulcos, das rádios. É mais<br />
positivo, é melhor (SEIXAS, apud PASSOS, 2003, p. 27).<br />
Atento à dimensão comunicativa da música, que no Brasil assume papel significativo,<br />
Raul tinha o anseio <strong>de</strong> oferecer suas canções como registro <strong>de</strong> seu tempo, entrelaçan<strong>do</strong><br />
conteú<strong>do</strong> autobiográfico e memória social. A sua obra, em gran<strong>de</strong> parte elaborada enquanto<br />
ocorriam no Brasil batalhas entre as forças <strong>de</strong> repressão e as <strong>de</strong> resistência, representa uma<br />
rememoração das tensões que ocorriam no Brasil durante a ditadura militar.<br />
Rememorar os anos <strong>de</strong> chumbo é comunicar - tornar comum - a barbárie <strong>de</strong> nosso<br />
passa<strong>do</strong> recente, com suas catástrofes, ruínas e cicatrizes. E, como indica Jaime Ginzburg,<br />
ainda é necessário rememorar o perío<strong>do</strong>, pois há um esforço conserva<strong>do</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezar a<br />
memória das vítimas <strong>do</strong> autoritarismo. Nas palavras <strong>do</strong> crítico:<br />
A memória da ditadura militar brasileira se impõe como um problema fundamental<br />
para a crítica literária. Em um país em que as heranças conserva<strong>do</strong>ras são<br />
monumentais, e as dificulda<strong>de</strong>s para esclarecer o passa<strong>do</strong> são consolidadas e<br />
reforçadas, o papel <strong>de</strong> escritores, cineastas, músicos, artistas plásticos, atores e<br />
dançarinos po<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r a uma necessida<strong>de</strong> histórica. Enquanto instituições e<br />
arquivos ainda encerram mistérios fundamentais sobre o passa<strong>do</strong> recente, o<br />
pensamento criativo po<strong>de</strong> procurar mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mediar o contato da socieda<strong>de</strong> consigo<br />
mesma, trazen<strong>do</strong> consciência responsável a respeito <strong>do</strong> que ocorreu (GINZBURG,<br />
2007, p. 43-44).<br />
A obra <strong>de</strong> Raul Seixas, marcada pelo caráter traumático das experiências coletivas <strong>de</strong> violência<br />
política, nos permite reelaborar as heranças <strong>do</strong> autoritarismo. Todavia, segun<strong>do</strong> Márcio Seligmann-<br />
Silva, a tarefa <strong>de</strong> rememorar a catástrofe é árdua e ambígua, pois envolve o confronto com as<br />
feridas abertas pelo trauma e a tentativa <strong>de</strong> sua superação. Ao mesmo tempo em que há<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lembrar e comunicar, na maioria das vezes aquilo que se rememora é o<br />
incomunicável, a morte - “[...] o indizível por excelência, que a toda hora tentamos dizer [...]”<br />
(SELIGMANN-SILVA, 2003, P. 52).<br />
Seja <strong>de</strong>dican<strong>do</strong> suas “cusparadas” à morte ou à vida, com melancolia ou <strong>de</strong>sbun<strong>de</strong>, a obra <strong>de</strong><br />
Raul Seixas nos oferece um diagnóstico <strong>de</strong> seu tempo. A sua lírica, nascida <strong>de</strong> experiências<br />
que brotam da concreta vida cotidiana, apresenta-se sob a tensão <strong>do</strong> caos vigente em que se<br />
mostram tanto as oportunida<strong>de</strong>s para a emancipação quanto os obstáculos reais a ela.<br />
2. DESBUNDE & CENSURA<br />
Desbun<strong>de</strong> era o nome que os militantes <strong>de</strong> esquerda davam para a atitu<strong>de</strong> da<br />
turma da contracultura, o pessoal que usava drogas, escutava rock, lia os poetas<br />
beat, fazia filmes em Super-8, não cortava os cabelos e preferia fumar maconha a<br />
pegar em armas. Contra as atitu<strong>de</strong>s beligerantes <strong>do</strong> sistema, ações pacíficas e irreverentes.<br />
Heloísa Buarque <strong>de</strong> Hollanda (2004) afirma que o <strong>de</strong>sbun<strong>de</strong>, longe <strong>de</strong> ser uma simples<br />
alienação naqueles anos <strong>de</strong> chumbo, foi uma atitu<strong>de</strong> intempestiva e marginal que transgredia<br />
as normas sociais e políticas então vigentes. Na procura <strong>de</strong> uma forma nova <strong>de</strong> pensar o<br />
mun<strong>do</strong>, o <strong>de</strong>sbun<strong>de</strong> tornava-se uma perspectiva capaz <strong>de</strong> romper com a razão instrumental<br />
característica tanto da direita quanto da esquerda. Nas palavras <strong>de</strong> Wilberth Salgueiro: